No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas. Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia. Deus disse: «Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras.» E assim aconteceu. Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam sob o firmamento das que estavam por cima do firmamento. Deus chamou céus ao firmamento. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia. Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom. Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente.» E assim aconteceu. A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respectiva semente. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia. Deus disse: «Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a Terra.» E assim aconteceu. Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia. Deus disse: «Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus.» Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. Deus abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar e multipliquem-se as aves sobre a terra.» Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia. Deus disse: «Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies.» E assim aconteceu. Deus fez os animais ferozes, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei, multiplicai-vos, enchei e submetei a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.» Deus disse: «Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir.» E assim aconteceu. Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. Foram assim terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto. Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado. Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação. Esta é a origem da criação dos céus e da Terra. Quando o Senhor Deus fez a Terra e os céus, e ainda não havia arbusto algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara ainda, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para a cultivar, e da terra brotava uma nascente que regava toda a superfície, então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. O Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer; a árvore da Vida estava no meio do jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal. Um rio nascia no Éden para regar o jardim, dividindo-se, a seguir, em quatro braços. O nome do primeiro é Pichon, rio que rodeia toda a região de Havilá, onde se encontra ouro, ouro puro, sem misturas, e também se encontra lá bdélio e ónix. O nome do segundo rio é Guion, o qual rodeia toda a terra de Cuche. O nome do terceiro é Tigre, e corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates. O Senhor Deus levou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e, também, para o guardar. E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: «Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás.» O Senhor Deus disse: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele.» Então, o Senhor Deus, após ter formado da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem, a fim de verificar como ele os chamaria, para que todos os seres vivos fossem conhecidos pelos nomes que o homem lhes desse. O homem designou com nomes todos os animais domésticos, todas as aves dos céus e todos os animais ferozes; contudo, não encontrou auxiliar semelhante a ele. Então, o Senhor Deus fez cair sobre o homem um sono profundo; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas, cujo lugar preencheu de carne. Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem. Então, o homem exclamou: «Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, visto ter sido tirada do homem!» Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne. Estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher, mas não sentiam vergonha. A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus fizera; e disse à mulher: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?» A mulher respondeu-lhe: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis.’ A serpente retorquiu à mulher: ‘Não, não morrereis; porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal’.» Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele também a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu. Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, coseram folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturas, à volta dos rins. Ouviram, então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do Senhor Deus, por entre o arvoredo do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: «Onde estás?» Ele respondeu: «Ouvi a tua voz no jardim e, cheio de medo, escondi-me porque estou nu.» O Senhor Deus perguntou: «Quem te disse que estás nu? Comeste, porventura, da árvore da qual te proibi comer?» O homem respondeu: «Foi a mulher que trouxeste para junto de mim que me ofereceu da árvore e eu comi.» O Senhor Deus perguntou à mulher: «Porque fizeste isso?» A mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi.» Então, o Senhor Deus disse à serpente: «Por teres feito isto, serás maldita entre todos os animais domésticos e entre os animais selvagens. Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-ás de terra todos os dias da tua vida. Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar.» Depois, disse à mulher: «Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez, entre dores darás à luz os filhos. Procurarás apaixonadamente o teu marido, mas ele te dominará.» A seguir, disse ao homem: «Porque atendeste à voz da tua mulher e comeste o fruto da árvore, a respeito da qual Eu te tinha ordenado: ‘Não comas dela’, maldita seja a terra por tua causa. E dela só arrancarás alimento à custa de penoso trabalho, todos os dias da tua vida. Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a erva dos campos. Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado; porque tu és pó e ao pó voltarás.» Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela seria mãe de todos os viventes. O Senhor Deus fez a Adão e à sua mulher túnicas de peles e vestiu-os. O Senhor Deus disse: «Eis que o homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.» O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra, da qual fora tirado. Depois de ter expulsado o homem, colocou, a oriente do jardim do Éden, os querubins com a espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da Vida. Adão conheceu Eva, sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: «Gerei um homem com o auxílio do Senhor.» Depois, deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor, e Caim, lavrador. Ao fim de algum tempo, Caim apresentou ao Senhor uma oferta de frutos da terra. Por seu lado, Abel ofereceu primogénitos do seu rebanho e as suas gorduras. O Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta. Caim ficou muito irritado e andava de rosto abatido. O Senhor disse a Caim: «Porque estás zangado e de rosto abatido? Se procederes bem, certamente voltarás a erguer o rosto; se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo.» Entretanto, Caim disse a Abel, seu irmão: «Vamos ao campo.» Porém, logo que chegaram ao campo, Caim lançou-se sobre o irmão e matou-o. O Senhor disse a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» O Senhor replicou: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim. De futuro, serás amaldiçoado pela terra, que, por causa de ti, abriu a boca para beber o sangue do teu irmão. Quando a cultivares, não voltará a dar-te os seus frutos. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra.» Caim disse ao Senhor, «A minha culpa é excessivamente grande para ser suportada. Expulsas-me hoje desta terra; obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á.» O Senhor respondeu: «Não! Se alguém matar Caim, será castigado sete vezes mais.» E o Senhor marcou-o com um sinal, a fim de nunca ser morto por quem o viesse a encontrar. Caim afastou-se da presença do Senhor e foi residir na região de Nod, ao oriente do Éden. Caim conheceu a sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Henoc. E começou, depois, a edificar uma cidade, à qual deu o nome de seu filho Henoc. De Henoc, nasceu Irad, que gerou Meujael; Meujael gerou Metusael; Metusael gerou Lamec. Lamec teve duas mulheres: uma chamava-se Ada, e o nome da outra era Cila. Ada deu à luz Jabal, que foi o pai de quantos habitavam em tendas e conduziam rebanhos. O nome do seu irmão era Jubal, que foi pai de quantos tocam cítara e flauta. Por seu lado, Cila deu à luz Tubal-Caim, pai daqueles que fabricavam todos os instrumentos de cobre e ferro. A irmã de Tubal-Caim era Naamá. Lamec disse às suas mulheres: «Ada e Cila, escutai a minha voz; mulheres de Lamec, ouvi a minha palavra: Matei um homem porque me feriu, e um rapaz porque me pisou. Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete.» Adão conheceu de novo a sua mulher, que teve um filho, e deu-lhe o nome de Set, dizendo: «Porque Deus concedeu-me outro no lugar de Abel, morto por Caim.» Set também teve um filho, ao qual chamou Enós. Foi então que se começou a invocar o nome do Senhor. Este é o livro da descendência de Adão. Quando Deus criou o ser humano, fê-lo à semelhança de Deus. Criou-os homem e mulher e abençoou-os. Chamou-lhes ser humano, no dia em que os criou. Com cento e trinta anos, Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança, e pôs-lhe o nome de Set. Após o nascimento de Set, Adão viveu oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Adão foi de novecentos e trinta anos; depois morreu. Set, com cento e cinco anos, gerou Enós. Depois do nascimento de Enós, Set viveu ainda oitocentos e sete anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Set foi de novecentos e doze anos; depois, morreu. Enós, com noventa anos, gerou Quenan. Após o nascimento de Quenan, Enós ainda viveu oitocentos e quinze anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Enós foi de novecentos e cinco anos; depois morreu. Quenan, com setenta anos, gerou Maalaleel. Após o nascimento de Maalaleel, Quenan viveu ainda oitocentos e quarenta anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Quenan foi de novecentos e dez anos; depois, morreu. Maalaleel, com sessenta e cinco anos, gerou Jéred. Após o nascimento de Jéred, Maalaleel viveu ainda oitocentos e trinta anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Maalaleel foi de oitocentos e noventa e cinco anos; depois morreu. Jéred, com cento e sessenta e dois anos, gerou Henoc. Depois do nascimento de Henoc, Jéred viveu ainda oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Jéred foi de novecentos e sessenta e dois anos; depois morreu. Henoc, com sessenta e cinco anos, gerou Matusalém. Após o nascimento de Matusalém, Henoc andou na presença de Deus durante trezentos anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Henoc foi de trezentos e sessenta e cinco anos. Henoc andou na presença de Deus, e desapareceu, pois Deus arrebatou-o. Matusalém, com cento e oitenta e sete anos, gerou Lamec. Após o nascimento de Lamec, Matusalém viveu ainda setecentos e oitenta e dois anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Matusalém foi de novecentos e sessenta e nove anos; depois morreu. Lamec, com cento e oitenta e dois anos, gerou um filho, ao qual deu o nome de Noé, dizendo: «Este aliviar-nos-á dos nossos sofrimentos e do trabalho doloroso das nossas mãos, com os proventos auferidos da terra que o Senhor amaldiçoou.» Depois do nascimento de Noé, Lamec ainda viveu quinhentos e noventa e cinco anos, e gerou filhos e filhas. Ao todo, a vida de Lamec foi de setecentos e setenta e sete anos; depois morreu. Com a idade de quinhentos anos, Noé gerou Sem, Cam e Jafet. Aconteceu que os homens começaram a multiplicar-se sobre a Terra, e deles nasceram filhas. Os filhos de Deus, vendo que as filhas dos homens eram belas, escolheram entre elas as que bem quiseram, para mulheres. Então, o Senhor disse: «O meu espírito não permanecerá indefinidamente no homem, pois o homem é carne, e os seus dias não ultrapassarão os cento e vinte anos.» Naquele tempo, havia gigantes na Terra – e também depois – quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e delas tiveram filhos. Eram esses os famosos heróis dos tempos remotos. O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra, e o seu coração sofreu amargamente. E o Senhor disse: «Eliminarei da face da Terra o homem que Eu criei, e, juntamente com o homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus, pois estou arrependido de os ter feito.» Noé, porém, era agradável aos olhos do Senhor. Esta é a descendência de Noé. Noé era um homem justo e perfeito, entre os homens do seu tempo, e andava sempre com Deus. Noé teve três filhos: Sem, Cam e Jafet. A Terra estava corrompida diante de Deus e cheia de violência. Deus olhou para a Terra e viu que ela estava corrompida, pois toda a humanidade seguia, na Terra, os caminhos da corrupção. Então Deus disse a Noé: «O fim de toda a humanidade chegou diante de mim, pois ela encheu a Terra de violência. Vou exterminá-la juntamente com a Terra. Constrói uma arca de madeiras resinosas. Dividi-la-ás em compartimentos e calafetá-la-ás com betume, por fora e por dentro. Hás-de fazê-la desta maneira: o comprimento será de trezentos côvados, a largura de cinquenta côvados, e a altura de trinta côvados. Ao alto, farás nela uma janela, à qual darás a dimensão de um côvado. Colocarás a porta da arca a um lado, construirás nela um andar inferior, um segundo e um terceiro andar. É que Eu vou lançar um dilúvio que, inundando tudo, eliminará debaixo do céu todos os seres vivos. Tudo quanto existe na Terra perecerá. Contigo, porém, farei a minha aliança: entrarás na arca com os teus filhos, a tua mulher e as mulheres dos teus filhos. De tudo o que tem vida, de todos os animais, levarás para a arca dois de cada espécie, para os conservares vivos junto de ti: um macho e uma fêmea. De cada espécie de aves, de cada espécie de quadrúpedes e de cada espécie de animais que rastejam pela terra, um casal virá ter contigo para que lhe conserves a vida. E tu, recolhe tudo quanto há de comestíveis, armazena-os, a fim de te servirem de alimento, assim como a eles.» Noé começou a trabalhar; e executou tudo o que lhe fora ordenado por Deus. O Senhor disse, depois, a Noé: «Entra na arca, tu e toda a tua família, porque só a ti reconheci como justo nesta geração. De todos os animais puros levarás contigo sete pares, o macho e a fêmea; dos animais que não são puros levarás um par, o macho e a sua fêmea; das aves do céu, também sete pares, macho e fêmea, a fim de conservares a sua raça viva sobre a Terra. Porque dentro de sete dias, vou mandar chuva sobre a Terra, durante quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei na superfície de toda a Terra todos os seres que Eu criei.» E Noé cumpriu tudo quanto o Senhor lhe ordenara. Noé tinha seiscentos anos, quando o dilúvio caiu sobre a Terra. Para fugir à inundação do dilúvio, entrou na arca com os filhos, a mulher e as mulheres de seus filhos. Dos animais puros e daqueles que não são puros, das aves e de todos os seres que rastejam sobre a Terra, entraram com Noé na arca, dois a dois, um macho e uma fêmea, como Deus tinha ordenado a Noé. Ao cabo de sete dias, as águas do dilúvio submergiram a Terra. Tendo Noé seiscentos anos de vida, no dia dezassete do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e abriram-se as cataratas do céu. A chuva caiu sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites. Naquele mesmo dia, Noé entrou na arca com seus filhos Sem, Cam e Jafet, e com eles sua mulher e as três mulheres dos seus filhos. Juntamente com eles, entraram os animais selvagens, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, os répteis que rastejam pela terra, segundo as suas espécies, e todos os animais voláteis, todas as aves, tudo quanto possui asas, segundo as suas espécies. Entraram com Noé na arca, dois a dois, todas as espécies de seres que têm vida. De todos os seres vivos e de cada espécie entrou o macho e a fêmea, como Deus tinha ordenado a Noé. Depois, o Senhor fechou a porta atrás dele. Choveu torrencialmente durante quarenta dias sobre a terra. As águas cresceram e levantaram a arca, que foi elevada acima da terra. As águas iam sempre crescendo e subiram muito acima da terra; e a arca flutuava à superfície das águas. A enchente aumentava cada vez mais, e tanto que cobriu todos os altos montes existentes debaixo dos céus; as águas ultrapassaram quinze côvados por cima das montanhas. Todas as criaturas que se moviam na terra pereceram: aves, animais domésticos, animais selvagens, tudo o que rastejava pela terra e todos os homens. Todos os seres que tinham sopro de vida e viviam na terra firme morreram. Foram assim exterminados todos os seres que se encontravam à superfície da terra, desde os homens até aos quadrúpedes, aos répteis e aves dos céus. Desapareceram da face da terra, excepto Noé e os que se encontravam com ele na arca. As águas cobriram a terra, durante cento e cinquenta dias. Deus recordou-se de Noé e de todos os animais, tanto domésticos como selvagens, que estavam com ele na arca. Por isso, Deus mandou um vento sobre a terra e as águas começaram a descer. As fontes do abismo e as cataratas dos céus foram encerradas, e a chuva parou de cair do céu. As águas retiraram-se gradualmente da terra e começaram a diminuir ao fim de cento e cinquenta dias. No dia dezassete do sétimo mês, a arca poisou sobre os montes de Ararat. As águas foram diminuindo até ao décimo mês. No primeiro dia do décimo mês, emergiram os cumes das montanhas. Decorridos quarenta dias, Noé abriu a janela que tinha feito na arca e soltou o corvo, que saiu repetidas vezes, enquanto iam secando as águas sobre a terra. Depois, soltou a pomba, a fim de verificar se as águas tinham diminuído à superfície da terra. Mas, não tendo encontrado sítio para poisar, a pomba regressou à arca, para junto dele, pois as águas cobriam ainda a superfície da terra. Estendeu a mão, agarrou a pomba e meteu-a na arca. Aguardou mais sete dias; depois soltou novamente a pomba, que voltou para junto dele, à tarde, trazendo no bico uma folha verde de oliveira. Noé soube, então, que as águas sobre a terra tinham baixado. Aguardou ainda outros sete dias; depois tornou a soltar a pomba, mas, desta vez, ela não regressou mais para junto dele. No ano seiscentos e um, no primeiro dia do primeiro mês, as águas começaram a secar sobre a terra. Noé abriu o tecto da arca e viu que a superfície da terra estava seca. No vigésimo sétimo dia do segundo mês, a terra estava seca. Deus, então, disse a Noé: «Sai da arca com a tua mulher, os teus filhos e as mulheres dos teus filhos. Retira também da arca os animais de toda a espécie que estão contigo, as aves, os quadrúpedes, os répteis todos que rastejam, a fim de se espalharem pela terra; que sejam fecundos e se multipliquem sobre a terra.» Noé saiu com os seus filhos, a sua mulher e as mulheres dos seus filhos. Todos os animais selvagens, todos os répteis, todas as aves, todos os seres que se movem sobre a terra, segundo as suas espécies, também saíram da arca. Noé construiu um altar ao Senhor e, de todos os animais puros e de todas as aves puras, ofereceu holocaustos no altar. O Senhor sentiu o agradável odor e disse no seu coração: «De futuro, não amaldiçoarei mais a terra por causa do homem, pois as tendências do coração humano são más, desde a juventude, e não voltarei a castigar os seres vivos, como fiz. Enquanto subsistir a terra, haverá sempre a sementeira e a colheita, o frio e o calor, o Verão e o Inverno, o dia e a noite.» Deus abençoou Noé e os seus filhos, e disse-lhes: «Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar; ponho-os à vossa disposição. Tudo o que se move e tem vida servir-vos-á de alimento; dou-vos tudo isso como já vos tinha dado as plantas verdes. Porém, não comereis a carne com a sua vida, o sangue. Ficai também a saber que pedirei contas do vosso sangue a todos os animais, por causa das vossas vidas; e ao homem, igualmente, pedirei contas da vida do homem, seu irmão. A quem derramar o sangue do homem, pela mão do homem será derramado o seu, porque Deus fez o homem à sua imagem. Quanto a vós, sede fecundos e multiplicai-vos; espalhai-vos pela Terra e multiplicai-vos sobre ela.» A seguir, Deus disse a Noé e a seus filhos: «Vou estabelecer a minha aliança convosco, com a vossa descendência futura e com os demais seres vivos que vos rodeiam: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, todos aqueles que saíram da arca. Estabeleço convosco esta aliança: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a Terra.» E Deus acrescentou: «Este é o sinal da aliança que faço convosco, com todos os seres vivos que vos rodeiam e com as demais gerações futuras: coloquei o meu arco nas nuvens, para que seja o sinal da aliança entre mim e a Terra. Quando cobrir a Terra de nuvens e aparecer o arco nas nuvens, recordar-me-ei da aliança que firmei convosco e com todos os seres vivos da Terra, e as águas do dilúvio não voltarão mais a destruir todas as criaturas. Estando o arco nas nuvens, Eu, ao vê-lo, recordar-me-ei da aliança perpétua concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na Terra.» Dirigindo-se a Noé, Deus disse: «Esse é o sinal da aliança que estabeleci entre mim e todas as criaturas existentes na Terra.» Os filhos de Noé, que saíram da arca, eram: Sem, Cam e Jafet. Cam era o pai de Canaã. São estes os três filhos de Noé, e por eles foi povoada a Terra inteira. Noé, que era agricultor, foi o primeiro a plantar a vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se e despiu-se dentro da sua tenda. Cam, o pai de Canaã, ao ver a nudez do pai, saiu a contar o sucedido aos seus dois irmãos. Então Sem e Jafet agarraram uma capa, colocaram-na sobre os ombros e, andando de costas, cobriram a nudez do pai, sem a terem visto, porque não voltaram o rosto para trás. Quando despertou da sua embriaguez, Noé soube o que tinha feito o seu filho mais novo e disse: «Maldito seja Canaã! Que ele seja o último dos servos dos seus irmãos.» E acrescentou: «Bendito seja o Senhor, Deus de Sem, e que Canaã seja seu servo. Que Deus aumente as posses de Jafet e que Ele resida nas tendas de Sem, e que Canaã seja o seu servo.» Noé viveu trezentos e cinquenta anos, depois do dilúvio. Ao todo, a vida de Noé foi de novecentos e cinquenta anos; depois morreu. Esta é a descendência dos filhos de Noé*, Sem, Cam e Jafet. Nasceram-lhes filhos após o dilúvio. Filhos de Jafet:* Gómer, Magog, Madai, Javan, Tubal, Méchec e Tirás. Filhos de Gomer: Asquenaz, Rifat e Togarma. Filhos de Javan: Elicha, Társis, Kitim e Rodanim. Deles nasceram os povos que se dispersaram por países e línguas, por famílias e nações. Filhos de Cam*, Cuche, Misraim, Put e Canaã. Filhos de Cuche: Seba, Havilá, Sabta, Rama e Sabteca. Filhos de Rama: Sabá e Dedan. Cuche gerou também Nimerod, o primeiro homem poderoso na terra. Foi um valente caçador diante do Senhor, e daí a expressão: «Como Nimerod, valente caçador diante do Senhor.» O ponto de partida do seu império foi Babel, Érec, Acad e Calné, na terra de Chinear. Desta terra foi para Assur, e edificou Nínive, Reobot-Ir, Calá, e Réssen, entre Nínive e Calá. Esta foi a grande cidade. Misraim gerou os de Lud, os de Aném, os de Leab, os de Naftú, os de Patros, os de Caslú, dos quais provieram os filisteus, e os de Caftor. Canaã gerou Sídon, o seu primogénito, e Het, assim como o jebuseu, o amorreu, o guirgaseu, o heveu, o araqueu, o sineu, o arvadeu, o cemareu e o hamateu. Seguidamente, as famílias cananeias dispersaram-se, e o território dos cananeus estendeu-se desde Sídon, na direcção de Guerar, até Gaza, e, na direcção de Sodoma, Gomorra, Adma e Seboim, até Lecha. São estes os filhos de Cam, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, países e nações. De Sem*, irmão mais velho de Jafet, nasceram também todos os filhos de Éber. Filhos de Sem: Elam, Assur, Arfaxad, Lud e Aram. Filhos de Aram: Uce, Hul, Guéter e Más. Arfaxad gerou Chela, e Chela gerou Éber. Éber teve dois filhos. O nome de um era Péleg, porque no seu tempo foi dividida a terra, e o nome do seu irmão era Joctan. Joctan gerou Almodad, Chélef, Haçarmávet, Jara, Hadoram, Uzal, Dicla, Obal, Abimael, Sabá, Ofir, Havilá e Jobab. São estes os filhos de Joctan. A terra em que eles habitavam estendia-se desde Mecha até ao monte Sefar, situado ao oriente. Foram esses os filhos de Sem, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, países e nações. São estas as famílias dos filhos de Noé segundo as suas genealogias e as respectivas nações. Delas descendem os povos que se espalharam, após o dilúvio, sobre a Terra. Em toda a Terra, havia somente uma língua, e empregavam-se as mesmas palavras. Emigrando do oriente, os homens encontraram uma planície na terra de Chinear e nela se fixaram. Disseram uns para os outros: «Vamos fazer tijolos, e cozamo-los ao fogo.» Utilizaram o tijolo em vez da pedra, e o betume serviu-lhes de argamassa. Depois disseram: «Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra.» O Senhor, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar. E o Senhor disse: «Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos. Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.» E o Senhor dispersou-os dali por toda a superfície da Terra, e suspenderam a construção da cidade. Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, visto ter sido lá que o Senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da Terra, e foi também dali que o Senhor os dispersou por toda a Terra. Esta é a descendência de Sem: aos cem anos de idade, Sem gerou Arfaxad, dois anos depois do dilúvio. Sem, após o nascimento de Arfaxad, viveu ainda quinhentos anos e gerou filhos e filhas. Arfaxad, de trinta e cinco anos, gerou Chela. Depois do nascimento de Chela, Arfaxad viveu ainda quatrocentos e três anos, e gerou filhos e filhas. Chela, de trinta anos, gerou Éber. Depois do nascimento de Éber, Chela viveu ainda quatrocentos e três anos e gerou filhos e filhas. Éber, de trinta e quatro anos, gerou Péleg. Depois do nascimento de Péleg, Éber viveu ainda quatrocentos e trinta anos e gerou filhos e filhas. Péleg, de trinta anos, gerou Reú. Depois do nascimento de Reú, Péleg viveu ainda duzentos e nove anos e gerou filhos e filhas. Reú, de trinta e dois anos, gerou Serug. Depois do nascimento de Serug, Reú viveu ainda duzentos e sete anos, e gerou filhos e filhas. Serug, de trinta anos, gerou Naor. Depois do nascimento de Naor, Serug viveu ainda duzentos anos, e gerou filhos e filhas. Naor, de vinte e nove anos, gerou Tera. Depois do nascimento de Tera, Naor viveu ainda cento e dezanove anos e gerou filhos e filhas. Tera, de setenta anos, gerou Abrão, Naor e Haran. Esta é a descendência de Tera: Tera gerou Abrão, Naor e Haran. Haran gerou Lot. E Haran morreu, vivendo ainda Tera, seu pai, na terra da sua naturalidade, em Ur, na Caldeia. Abrão e Naor casaram-se. O nome da mulher de Abrão era Sarai, e a de Naor era Milca, filha de Haran, pai de Milca e de Jiscá. Sarai era estéril, não tinha filhos. Tera tomou seu filho Abrão, seu neto Lot, filho de Haran, e sua nora Sarai, mulher de Abrão, seu filho, e partiu com eles de Ur, na Caldeia, e dirigiram-se para a terra de Canaã. Chegados a Haran, aí se fixaram. Tera viveu duzentos e cinco anos, e morreu em Haran. O Senhor disse a Abrão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas.» Abrão partiu, como o Senhor lhe dissera, levando consigo Lot. Quando saiu de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos. Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho do seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Haran, e partiram todos para a terra de Canaã, e chegaram à terra de Canaã. Abrão percorreu-a até ao lugar de Siquém, até aos Carvalhos de Moré. Os cananeus viviam, então, naquela terra. O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: «Darei esta terra à tua descendência.» E Abrão construiu ali um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido. Deixando esta região, prosseguiu até ao monte situado ao oriente de Betel, e montou ali as suas tendas, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente. Construiu também um altar ao Senhor e invocou o seu nome. Abrão continuou a sua viagem, acampando aqui e ali, em direcção ao Négueb. Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abrão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo. Quando já estavam quase a entrar no Egipto, Abrão disse a Sarai, sua mulher: «Ouve, sei que és uma mulher de belo aspecto. Quando os egípcios te virem, dirão: ‘É a mulher dele.’ E matar-me-ão, e a ti conservarão a vida. Diz, pois, que és minha irmã, peço-te, a fim de que eu seja bem tratado por causa de ti, e salve a minha vida, graças a ti.» Quando Abrão chegou ao Egipto, os egípcios notaram que a sua mulher era muito bonita. Os grandes da corte, que a viram, referiram-se elogiosamente a ela, na presença do Faraó, e a mulher foi conduzida ao palácio. Por causa dela, Abrão foi muito bem tratado, e recebeu ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Mas o Senhor infligiu tremendos castigos ao Faraó e à sua casa, devido a Sarai, mulher de Abrão. O Faraó mandou chamar Abrão para lhe dizer: «Que é que te levou a fazer-me semelhante coisa? Porque não disseste que ela era tua mulher? Porque disseste que era tua irmã, dando lugar a que eu a tomasse por mulher? Agora, aqui tens a tua mulher, toma-a e vai-te embora.» O Faraó ordenou, então, aos seus homens que mandassem embora Abrão, sua mulher e tudo quanto lhe pertencia. Abrão saiu do Egipto, em direcção ao Négueb, com a sua mulher e tudo o que lhe pertencia. Lot acompanhava-o. Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro. Regressou, depois, do Négueb a Betel, até ao lugar do seu primeiro acampamento, entre Betel e Ai, no sítio em que erigira um altar pela primeira vez e onde invocara o nome do Senhor. Lot, que acompanhava Abrão, possuía, igualmente, ovelhas, bois e tendas; a terra não era bastante grande para nela se estabelecerem os dois, porque os bens de ambos eram avultados. Houve questões entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os pastores dos rebanhos de Lot. Os cananeus e os perizeus habitavam, então, aquela terra. Abrão disse a Lot: «Peço-te que entre nós e entre os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos. Aí tens essa região toda diante de ti. Separemo-nos. Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.» Lot ergueu os olhos e viu todo o vale do Jordão, que era inteiramente regado. Antes de o Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, estendendo-se até Soar, o vale era um maravilhoso jardim, como a terra do Egipto. Lot escolheu para si todo o vale do Jordão e dirigiu-se para o oriente, separando-se um do outro. Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades do vale, no qual ergueu as suas tendas até Sodoma. Ora, os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor. Depois de Lot o ter deixado, Deus disse a Abrão: «Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. Toda a terra que estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre. Farei que a tua descendência seja numerosa como o pó da terra, de modo que só se alguém puder contar o pó da terra é que a tua posteridade poderá ser contada. Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei.» Abrão desmontou as suas tendas e foi residir junto aos carvalhos de Mambré, próximo de Hebron; e ali construiu um altar ao Senhor. No tempo de Amerafel, rei de Chinear, de Arioc, rei de Elassar, de Cadorlaomer, rei de Elam e de Tidal, rei de Goim, aliaram-se todos estes reis e declararam guerra a Bera, rei de Sodoma; a Birchá, rei de Gomorra; a Chinab, rei de Adma; a Cheméber, rei de Seboim, e ao rei de Bela, que é Soar. Concentraram-se todos no vale de Sidim, que é o Mar do Sal. Durante doze anos estiveram submetidos a Cadorlaomer, mas, no décimo terceiro, revoltaram-se. No décimo quarto ano, Cadorlaomer e os reis seus aliados puseram-se a caminho e derrotaram os refaítas, em Astarot-Carnaim, os zuzitas, em Ham, os emitas, na planície de Quiriataim, e os horritas, no monte de Seir até El-Paran, situado no deserto. Depois, retrocedendo, chegaram a En-Mispat, que é Cadés, e devastaram todas as terras amalecitas e as dos amorreus residentes em Haceçon-Tamar. O rei de Sodoma, o rei de Gomorra, o rei de Adma, o rei de Seboim e o rei de Bela, que é Soar, saíram e alinharam-se para a batalha contra eles no vale de Sidim, contra Cadorlaomer, rei de Elam, Tidal, rei de Goim, Amerafel, rei de Chinear, e Arioc, rei de Elassar: quatro reis contra cinco. Havia no vale de Sidim numerosos poços de betume. O rei de Sodoma e de Gomorra, ao tentarem fugir, caíram neles; os sobreviventes refugiaram-se na montanha. Os vencedores apoderaram-se de todos os bens de Sodoma e Gomorra, de todos os víveres e retiraram-se. Apoderaram-se também de Lot, filho do irmão de Abrão, que habitava em Sodoma, e de todos os seus bens. Mas um dos fugitivos correu a anunciá-lo a Abrão, o hebreu. Este habitava junto aos carvalhos de Mambré, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, aliados de Abrão. Ao saber que o seu parente ficara prisioneiro, Abrão armou trezentos e dezoito dos seus servos mais valentes, nascidos na sua casa, e perseguiu os inimigos até Dan. Dividindo a sua tropa, ele e os seus servos atacaram-nos de noite e destroçaram-nos, perseguindo-os até Hoba, situada ao norte de Damasco. Retomou todos os bens saqueados, libertou também Lot, seu sobrinho, e todas as suas riquezas, assim como as mulheres e outros prisioneiros. Quando Abrão regressava vencedor de Cadorlaomer e dos reis seus aliados, o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro no vale de Chavé, que é o vale do Rei. Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como era sacerdote do Deus Altíssimo, abençoou Abrão, dizendo: «Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo que criou os céus e a Terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos!» E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. O rei de Sodoma disse a Abrão: «Dá-me as pessoas e fica tu com os bens.» Abrão respondeu: «Ergo a minha mão para o Senhor, o Deus Altíssimo que criou os céus e a Terra. De tudo quanto possuis, não quero nada, nem um fio, nem sequer uma correia de sandália, para que não digas: ‘Eu enriqueci Abrão.’ Nada quero para mim, salvo o que os meus servos comeram; quanto à parte dos meus aliados, Aner, Escol e Mambré, estes hão-de receber a parte que lhes compete.» Após estes acontecimentos, o Senhor disse a Abrão numa visão: «Nada temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, a tua recompensa será muito grande.» Abrão respondeu: «Que me dareis, Senhor Deus ? Vou-me sem filhos e o herdeiro da minha casa é Eliézer, de Damasco.» Acrescentou: «Não me concedeste descendência, e é um escravo, nascido na minha casa, que será o meu herdeiro.» Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida, nos seguintes termos: «Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das tuas entranhas.» E, conduzindo-o para fora, disse-lhe: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de as contar.» E acrescentou: «Pois bem, será assim a tua descendência.» Abrão confiou no Senhor, e Ele considerou-lhe isso como mérito. O Senhor disse-lhe depois: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur, na Caldeia, para te dar esta terra.» Perguntou-lhe Abrão: «Senhor Deus, como saberei que tomarei posse dela?» Disse-lhe o Senhor, «Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rola e um pombo ainda novo.» Abrão foi procurar todos estes animais, cortou-os ao meio e dispôs cada metade em frente uma da outra; não cortou, porém, as aves. As aves de rapina desciam sobre as carnes mortas, mas Abrão afugentava-as. Ao pôr-do-sol, apoderou-se dele um sono profundo; ao mesmo tempo, sentiu-se apavorado e foi envolvido por densa treva. O Senhor disse-lhe: «Fica desde já a saber que os teus descendentes habitarão como estrangeiros numa terra que não é deles, que serão reduzidos à escravidão e hão-de oprimi-los durante quatrocentos anos. Mas Eu próprio julgarei também a nação que os escravizar, e sairão, depois, com grandes riquezas dessa terra. Tu, porém, irás em paz reunir-te aos teus pais e serás sepultado após uma ditosa velhice. Apenas à quarta geração eles voltarão para aqui, pois a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu termo.» Quando o Sol desapareceu, e sendo completa a escuridão, surgiu um braseiro fumegante e uma chama ardente, que passou entre as metades dos animais. Naquele dia, o Senhor concluiu uma aliança com Abrão, dizendo-lhe: «Dou esta terra à tua descendência, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates, a terra dos quineus, dos quenizeus, dos cadmoneus, dos hititas, dos refaítas, dos perizeus, dos amorreus, dos cananeus, dos guirgaseus e dos jebuseus.» Sarai, mulher de Abrão, que não lhe dera filhos, tinha uma escrava egípcia, chamada Agar. Sarai disse a Abrão: «Visto que o Senhor me tornou uma estéril, peço-te que vás ter com a minha escrava. Talvez, por ela, eu consiga ter filhos.» Abrão aceitou a proposta de Sarai. Então, Sarai, mulher de Abrão, tomou Agar, sua escrava egípcia, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido, depois de Abrão ter vivido dez anos na terra de Canaã. Ele abeirou-se de Agar, e ela concebeu. E, reconhecendo-se grávida, começou a olhar desdenhosamente para a sua senhora. Sarai disse a Abrão: «Recaia sobre ti a vergonha que sofro por tua causa. Fui eu que entreguei a minha escrava nos teus braços e, agora que sabe ter concebido, despreza-me. Que o Senhor julgue aos dois, a ti e a mim!» Abrão respondeu-lhe: «A tua escrava está sob o teu domínio; faz dela o que te aprouver.» Então, Sarai tratou-a mal e humilhou-a, e Agar fugiu da sua presença. O mensageiro do Senhor encontrou-a junto de uma fonte no deserto, a caminho de Chur. Ele disse-lhe: «Agar, escrava de Sarai, de onde vens tu? E para onde vais?» Ela respondeu-lhe: «Fujo de Sarai, a minha senhora.» O mensageiro do Senhor disse-lhe: «Volta para a casa dela e humilha-te diante da tua senhora.» O mensageiro do Senhor acrescentou: «Multiplicarei a tua descendência, e será tão numerosa que ninguém a poderá contar.» O mensageiro do Senhor disse-lhe ainda: «Estás grávida e vais ter um filho, e dar-lhe-ás o nome de Ismael, porque o Senhor escutou a voz da tua angústia. Ele será como um cavalo selvagem entre os homens; a sua mão erguer-se-á contra todos, a mão de todos erguer-se-á contra ele, e colocará a sua tenda em frente de todos os seus irmãos.» Agar deu ao Senhor, que lhe falara, o nome de Attá-El-Roí, porque ela disse: «Não vi eu também aqui o mesmo Deus que me vê?» Por isso, chamaram àquele poço, situado entre Cadés e Bered, o poço de Lahai-Roí. Agar teve um filho de Abrão; este pôs o nome de Ismael ao seu filho dado à luz por Agar. Abrão tinha oitenta e seis anos quando Agar lhe deu Ismael. Abrão tinha noventa e nove anos, quando o Senhor lhe apareceu e lhe disse: «Eu sou o Deus supremo. Anda na minha presença e sê perfeito. Quero fazer uma aliança contigo e multiplicarei a tua descendência até ao infinito.» Abrão prostrou-se com o rosto por terra e Deus disse-lhe: «A aliança que faço contigo é esta: serás pai de inúmeros povos. Já não te chamarás Abrão*, mas sim Abraão*, porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos. Tornar-te-ei extremamente fecundo, farei que de ti nasçam povos e terás reis por descendentes. Estabeleço a minha aliança contigo e com a tua posteridade, de geração em geração; será uma aliança perpétua, em virtude da qual Eu serei o teu Deus e da tua descendência. Dar-te-ei, a ti e à tua descendência depois de ti, o país em que resides como estrangeiro, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei Deus para eles.» Deus disse a Abraão: «Da tua parte, cumprirás a minha aliança, tu e a tua descendência, nas futuras gerações. Eis a aliança estabelecida entre mim e vós, que tereis de respeitar: todo o homem, entre vós, será circuncidado. Circuncidareis a pele do vosso prepúcio, e este será o sinal de aliança entre mim e vós. Oito dias depois de nascer, toda a criança do sexo masculino, das vossas gerações futuras, será circuncidada por vós; os servos, nascidos em casa ou estrangeiros adquiridos a dinheiro, serão também circuncidados, ainda que não pertençam à tua raça. Tanto o indivíduo do sexo masculino nascido em casa, como o que for adquirido a dinheiro, deverão ser circuncidados; e, desta forma, será marcado na vossa carne o sinal da minha aliança perpétua. O indivíduo do sexo masculino incircunciso, aquele que não tiver sido circuncidado na sua carne, será afastado do meio do seu povo, por ter quebrado a minha aliança.» Deus disse a Abraão: «Não chamarás mais à tua mulher, Sarai*, mas o seu nome será Sara*. Abençoá-la-ei e dar-te-ei um filho, por meio dela. Será por mim abençoada, e será mãe de nações, e dela sairão reis.» Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e sorriu, dizendo para consigo: «Pode uma criança nascer de um homem de cem anos? E Sara, mulher de noventa anos, vai agora ter filhos?» Depois, disse a Deus: «Possa Ismael viver diante de ti!» Mas Deus respondeu-lhe: «Não! Sara, tua mulher, dar-te-á um filho, a quem hás-de chamar Isaac. Farei a minha aliança com ele, aliança que será perpétua para a sua descendência depois dele. Quanto a Ismael, também te escutei. Abençoá-lo-ei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extremamente a sua descendência. Será pai de doze príncipes, e farei sair dele um grande povo. Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» E, tendo acabado de falar com ele, Deus desapareceu de junto de Abraão. Abraão tomou Ismael, seu filho, todos quantos tinham nascido na sua casa e todos aqueles que adquirira a dinheiro, todos os indivíduos do sexo masculino da sua casa, e circuncidou-os nesse mesmo dia, como Deus lhe tinha ordenado. Abraão tinha já noventa e nove anos, quando foi circuncidado. Ismael, seu filho, tinha treze anos, quando foi circuncidado. Abraão e Ismael foram circuncidados no mesmo dia; e todos os varões da sua casa, os nascidos na sua casa ou adquiridos por dinheiro a estranhos, foram circuncidados com ele. O Senhor apareceu a Abraão junto dos Carvalhos de Mambré, quando ele estava sentado à porta da sua tenda, durante as horas quentes do dia. Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé em frente dele. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu encontro, prostrou-se por terra e disse: «Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante, sem parar em casa do teu servo. Permite que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai debaixo desta árvore. Vou buscar um bocado de pão e, quando as vossas forças estiverem restauradas, prosseguireis o vosso caminho, pois não deve ser em vão que passastes junto do vosso servo.» Eles responderam: «Faz como disseste.» Abraão foi, sem perda de tempo, à tenda onde se encontrava Sara e disse-lhe: «Depressa, amassa já três medidas de flor de farinha e coze uns pães no borralho.» Correu ao rebanho, escolheu um vitelo dos mais tenros e gordos e entregou-o ao servo, que imediatamente o preparou. Tomou manteiga, leite e o vitelo já pronto e colocou-o diante deles. E ficou de pé junto dos estranhos, debaixo da árvore, enquanto eles comiam. Então, disseram-lhe: «Onde está Sara, tua mulher?» Ele respondeu: «Está aqui na tenda.» Um deles disse: «Passarei novamente pela tua casa dentro de um ano, nesta mesma época; e Sara, tua mulher, terá já um filho.» Ora, Sara estava a escutar à entrada da tenda, mesmo por trás dele. Abraão e Sara eram já velhos, de idade muito avançada, e Sara já não estava em idade de ter filhos. Sara riu-se consigo mesma e pensou: «Velha como estou, poderei ainda ter esta alegria, sendo também velho o meu senhor?» O Senhor disse a Abraão: «Porque está Sara a rir e a dizer: ‘Será verdade que eu hei-de ter um filho, velha como estou?’ Haverá alguma coisa que seja impossível para o Senhor ? Dentro de um ano, nesta mesma época, voltarei à tua casa, e Sara terá já um filho.» Cheia de medo, Sara negou, dizendo: «Não me ri.» Mas Ele disse-lhe: «Não! Tu riste-te mesmo.» Os homens levantaram-se e partiram em direcção de Sodoma, e Abraão acompanhou-os para deles se despedir. O Senhor disse, então: «Ocultarei a Abraão o que vou fazer? Ele deve tornar-se uma nação grande e poderosa e Eu abençoarei nele todos os povos da Terra. Escolhi-o, de facto, para que dê ordens a seus filhos e à sua casa depois dele, no sentido de seguirem os caminhos do Senhor, praticando a justiça e a rectidão, a fim de que o Senhor cumpra a favor de Abraão as promessas que lhe fez.» O Senhor acrescentou: «O clamor de Sodoma e Gomorra é imenso e o seu pecado agrava-se extremamente. Vou descer a fim de ver se, na realidade, a conduta deles corresponde ao brado que chegou até mim. E se não for assim, sabê-lo-ei.» Os homens partiram dali, e encaminharam-se para Sodoma. Abraão, porém, continuava ainda na presença do Senhor. Abraão aproximou-se e disse: «E será que vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o culpado? Talvez haja cinquenta justos na cidade; matá-los-ás a todos? Não perdoarás à cidade, por causa dos cinquenta justos que nela podem existir? Longe de ti proceder assim e matar o justo com o culpado, tratando-os da mesma maneira! Longe de ti! O juiz de toda a Terra não fará justiça?» O Senhor disse: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos perdoarei a toda a cidade, por causa deles.» Abraão prosseguiu: «Pois que me atrevi a falar ao meu Senhor, eu que sou apenas cinza e pó, continuarei. Se, por acaso, para cinquenta justos faltarem cinco, destruirás toda a cidade, por causa desses cinco homens?» O Senhor respondeu: «Não a destruirei, se lá encontrar quarenta e cinco justos.» Abraão insistiu ainda e disse: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta.» O Senhor disse: «Não destruirei a cidade, em atenção a esses quarenta.» Abraão voltou a dizer: «Que o Senhor não se irrite, por eu continuar a insistir. Talvez lá se encontrem trinta justos.» O Senhor respondeu: «Se lá encontrar trinta justos, não o farei.» Abraão prosseguiu: «Perdoa, meu Senhor, a ousadia que tenho de te falar. Talvez não se encontrem lá mais de vinte justos.» O Senhor disse: «Em atenção a esses vinte justos, não a destruirei.» Abraão insistiu novamente: «Que o meu Senhor não se irrite; não falarei, porém, mais do que esta vez. Talvez lá não se encontrem senão dez.» E Deus respondeu: «Em atenção a esses dez justos, não a destruirei.» Terminada esta conversa com Abraão, o Senhor afastou-se, e Abraão voltou para a sua morada. Os dois mensageiros chegaram a Sodoma já tarde, e Lot estava sentado à porta da cidade. Ao vê-los, ergueu-se, foi ao encontro deles e, prostrado com o rosto por terra, disse-lhes: «Peço-vos, meus senhores, que venhais para a casa do vosso servo passar a noite e lavar os pés. Levantar-vos-eis de manhã cedo e prosseguireis o vosso caminho.» Responderam-lhe: «Não; passaremos a noite na praça.» Mas Lot tanto insistiu que o acompanharam e entraram em casa dele. Preparou-lhes de jantar, mandou cozer pães ázimos, e eles comeram. Ainda não se tinham deitado, quando os homens da cidade, os homens de Sodoma, desde os mais novos até aos mais velhos sem excepção, rodearam a casa, chamaram Lot e disseram-lhe: «Onde estão os homens que entraram na tua casa, esta noite? Trá-los para fora, a fim de os conhecermos.» Lot veio à entrada da casa, e, fechando a porta atrás de si, disse-lhes: «Suplico-vos, meus irmãos, não cometais semelhante maldade. Eu tenho duas filhas ainda virgens. Eu vo-las trarei. Fazei delas o que vos aprouver, mas não façais mal a esses homens, porque vieram acolher-se à sombra do meu tecto.» Eles responderam: «Retira-te daí!» E acrescentaram: «Cá está um homem que chegou como estrangeiro e quer agora ser o nosso juiz! Pois bem, vamos fazer-te pior do que a eles.» E, empurrando Lot violentamente, avançaram para arrombar a porta. Mas os dois homens estenderam a mão, meteram Lot dentro de casa e fecharam a porta. Feriram de cegueira os homens que estavam em frente da casa, novos e velhos, de tal modo que eles inutilmente se esforçavam por encontrar a porta. Os dois homens disseram a Lot: «Quantas pessoas ainda tens aqui? Manda sair desta região os teus genros, os teus filhos, as tuas filhas e todos os parentes que tiveres na cidade. Pois vamos destruir todas estas terras, porque o clamor que se eleva contra os seus habitantes é enorme diante do Senhor, e Ele enviou-nos para os aniquilar.» Lot saiu e falou aos genros, os que deveriam casar com as suas filhas, e disse-lhes: «Levantai-vos e saí daqui, pois o Senhor vai destruir a cidade.» Mas os seus genros pensaram que ele estava a gracejar. Ao amanhecer, os mensageiros insistiram com Lot, dizendo-lhe: «Ergue-te, foge com a tua mulher e as tuas duas filhas que estão aqui, a fim de não morreres também tu no castigo da cidade.» E como ele se demorava, os homens agarraram-no pela mão, a ele, à mulher e às duas filhas, porque o Senhor queria poupá-los, e conduziram-nos para fora da cidade. Depois de os terem conduzido para fora, um dos mensageiros disse-lhe: «Escapa-te, se quiseres conservar a tua vida. Não olhes para trás nem te detenhas em parte alguma do vale. Foge para o monte, de contrário morrerás.» Lot disse-lhe: «Não, Senhor, peço-te! Este teu servo mereceu a tua benevolência, pois demonstraste a tua imensa generosidade para comigo, conservando-me a vida, mas não poderei fugir até ao monte, pois a destruição atingir-me-ia antes e eu morreria. Há aqui perto uma cidade, na qual obterei refúgio. É muito pequena; permiti que eu vá para lá. É tão pequena! E salvarei a minha vida.» Ele disse-lhe: «Concedo-te ainda o favor de não destruir a cidade a que te referes. Apressa-te, porém, a refugiar-te nela, pois nada posso fazer antes de lá chegares.» Por isso, deram àquela cidade o nome de Soar. Erguia-se o sol sobre a terra, quando Lot entrou em Soar. Então, o Senhor fez cair do céu, sobre Sodoma e Gomorra, uma chuva de enxofre e de fogo, enviada pelo Senhor. Destruiu estas cidades, todo o vale e todos os habitantes das cidades e até a vegetação da terra. A mulher de Lot olhou para trás e ficou transformada numa estátua de sal. Abraão levantou-se de manhã cedo e foi ao lugar onde tinha estado na presença do Senhor. Voltando os olhos para o lado de Sodoma e Gomorra e para a extensão do vale, viu elevar-se da terra um fumo semelhante ao fumo de uma fornalha. Ao destruir as cidades do vale, porém, Deus recordou-se de Abraão e salvou Lot do cataclismo com que arrasou as cidades onde habitava Lot. Lot deixou Soar e fixou-se no monte com as suas duas filhas, porque temia continuar em Soar. Habitava numa caverna com as duas filhas. A mais velha disse à mais nova: «O nosso pai está velho, e não há homens nesta região, com quem nos possamos casar, como é de uso em toda a parte. Vamos embriagar o nosso pai e deitarmo-nos com ele, a fim de não deixar extinguir a raça do nosso pai. Naquela mesma noite, pois, deram a beber vinho ao pai, e a mais velha deitou-se com ele, que de nada se apercebeu, nem quando ela se deitou nem quando se levantou. No dia seguinte, a mais velha disse à mais nova: «Deitei-me ontem com o nosso pai; embriaguemo-lo também esta noite, e vai deitar-te com ele, a fim de não se extinguir a raça do nosso pai.» Também naquela noite deram a beber vinho ao pai, e a mais nova deitou-se com ele, que de nada se apercebeu, nem quando ela se deitou nem quando se levantou. E, assim, as duas filhas de Lot conceberam do próprio pai. A mais velha deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Moab, pai dos moabitas, que vivem ainda hoje. A mais nova teve igualmente um filho, ao qual deu o nome de Ben-Ami, pai dos amonitas, que vivem ainda hoje. Abraão partiu dali para a região de Négueb, fixou-se entre Cadés e Chur, permanecendo durante algum tempo em Guerar. Referindo-se a Sara, ele dizia que era sua irmã. Abimélec, rei de Guerar, mandou raptar Sara. Deus, porém, apareceu em sonhos a Abimélec, durante a noite, e disse-lhe: «Vais morrer por causa da mulher que raptaste, visto ela ser casada.» Abimélec, que não se tinha aproximado dela, respondeu: «Senhor, dareis a morte mesmo a inocentes? Não me disse ele que era sua irmã? Ela própria me disse: ‘É meu irmão.’ Procedi com pureza de coração e mãos inocentes.» Deus disse-lhe em sonhos: «Eu bem sei que agiste com pureza de coração; por isso, evitei que pecasses contra mim e não permiti que lhe tocasses. Manda novamente a mulher para esse homem, que é um profeta, e ele rezará por ti, e conservarás a vida. Se não a mandares entregar, fica sabendo que morrerás com certeza, tu e todos os teus.» Ao erguer-se de manhã, Abimélec convocou os seus servos e narrou-lhes todas estas coisas, e foram dominados por grande terror. Depois, Abimélec chamou Abraão e disse-lhe: «Que nos fizeste? Em que te ofendi eu, para nos expores, a mim e ao meu reino, ao castigo de um tão grande pecado? Não devias ter procedido comigo da forma como procedeste.» Acrescentou: «Qual a tua intenção, ao fazeres isto?» Abraão respondeu: «Julgava que poderia não haver temor de Deus neste país, e que iriam matar-me por causa da minha mulher. De resto, é verdade que ela é minha irmã, filha do meu pai, mas não de minha mãe; e tornou-se minha mulher. Quando Deus me levou para longe da casa do meu pai, eu disse-lhe: ‘Vais fazer-me a mercê de dizer em todos os lugares, onde formos, que sou teu irmão.’» Então, Abimélec tomou ovelhas, bois, servos e servas e deu-os de presente a Abraão, ao entregar-lhe Sara, sua mulher. Abimélec disse: «O meu país está à tua disposição; podes fixar-te onde melhor te parecer.» Disse também a Sara: «Dei ao teu irmão mil moedas de prata. Isto será para ti como um véu perante os que vivem contigo. De tudo ficas, assim, compensada.» Abraão intercedeu junto de Deus e Deus curou Abimélec, sua mulher e as suas servas, e tiveram novamente filhos, porque o Senhor tinha ferido de esterilidade todas as mulheres da casa de Abimélec, por causa de Sara, mulher de Abraão. O Senhor visitou Sara, como lhe tinha dito, e realizou nela o que prometera. Sara concebeu e, na data marcada por Deus, deu um filho a Abraão, quando este já era velho. Ao filho que lhe nascera de Sara, deu Abraão o nome de Isaac. Abraão circuncidou seu filho Isaac oito dias após o nascimento, como Deus lhe ordenara. Abraão tinha cem anos quando nasceu Isaac, seu filho. Sara disse: «Deus concedeu-me uma alegria, e todos quantos o souberem, alegrar-se-ão comigo.» Ela acrescentou: «Quem poderia dizer a Abraão que Sara amamentaria filhos? No entanto, dei um filho à sua velhice.» O filho cresceu até à idade em que deixou de mamar, e nesse dia Abraão ofereceu um grande banquete. Sara viu que o filho que a egípcia Agar dera a Abraão estava a brincar. E ela disse a Abraão: «Expulsa esta escrava e o filho, porque o filho desta escrava não herdará com o meu filho Isaac.» Esta frase desgostou profundamente Abraão, por causa de Ismael, seu filho. Mas Deus disse-lhe: «Não te preocupes com a criança e com a tua escrava. Faz tudo quanto Sara te pedir, pois de Isaac há-de nascer a descendência que usará o teu nome. Contudo, farei sair também uma nação do filho da escrava, porque também ele é teu filho.» No dia seguinte de manhã, Abraão tomou pão e um odre de água, deu-o a Agar e pô-lo sobre os ombros dela; depois, mandou-a embora com o seu filho. Ela partiu e, embrenhando-se no deserto de Bercheba, por lá andou ao acaso. Tendo-se acabado a água do odre, deixou o filho debaixo de um arbusto e foi sentar-se do lado oposto, à distância de um tiro de arco, porque dizia: «Não quero ver o meu filho morrer.» Sentou-se, pois, do lado oposto e começou a chorar. Deus escutou a voz do menino, e o mensageiro de Deus chamou do céu Agar e disse-lhe: «Que tens tu, Agar? Nada temas, porque Deus ouviu a voz do menino, do lugar em que está. Ergue-te, vai buscar outra vez o teu filho, toma-o pela mão, pois farei nascer dele um grande povo.» Deus abriu-lhe os olhos e ela viu um poço onde foi encher o odre e deu de beber ao filho. Deus protegeu o menino. Ele cresceu, residiu no deserto e tornou-se um hábil arqueiro. Permaneceu no deserto de Paran e a mãe escolheu para ele uma mulher oriunda do Egipto. Por aquele tempo, Abimélec, acompanhado por Picol, chefe do seu exército, disse a Abraão: «Deus está contigo em tudo quanto fazes. Jura-me, então, por Deus, que nunca me atraiçoarás nem aos meus filhos, nem aos meus netos e que usarás comigo e para com a terra onde tens vivido da mesma benevolência que tive para contigo.» Abraão respondeu: «Juro.» Todavia, Abraão apresentou reclamações a Abimélec a respeito de um poço, de que os servos de Abimélec se tinham apoderado. Abimélec respondeu: «Ignoro quem fez isso, tu nunca me disseste coisa alguma sobre o assunto, e só hoje ouvi falar dele.» Então, Abraão tomou ovelhas e bois e ofereceu-as a Abimélec, e estabeleceram uma aliança entre os dois. Abraão separou sete cordeiros do rebanho. Perguntou-lhe Abimélec: «Que significam estes sete cordeiros, que puseste de parte?» Abraão respondeu: «Aceitarás da minha mão estes sete cordeiros, como testemunhas de ter sido eu quem abriu este poço.» Por isso, chamaram Bercheba àquele lugar. Com efeito, os dois prestaram ali juramento um ao outro, estabelecendo, assim, aliança em Bercheba. Depois, Abimélec e Picol, chefe do seu exército, voltaram para a terra dos filisteus. Abraão plantou uma tamareira em Bercheba e lá invocou o Senhor, Deus eterno. Abraão viveu durante muito tempo na terra dos filisteus. Após estas ocorrências, Deus pôs Abraão à prova e chamou-o: «Abraão!» Ele respondeu: «Aqui estou.» Deus disse: «Pega no teu filho, no teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que Eu te indicar.» No dia seguinte de manhã, Abraão aparelhou o jumento, tomou consigo dois servos e o seu filho Isaac, partiu lenha para o holocausto e pôs-se a caminho para o lugar que Deus lhe tinha indicado. Ao terceiro dia, erguendo os olhos, viu à distância aquele lugar. Disse então aos servos: «Ficai aqui com o jumento; eu e o menino vamos até além, para adorarmos; depois, voltaremos para junto de vós.» Abraão apanhou a lenha destinada ao holocausto, entregou-a ao seu filho Isaac e, levando na mão o fogo e o cutelo, seguiram os dois juntos. Isaac disse a Abraão, seu pai: «Meu pai!» E ele respondeu: «Que queres, meu filho?» Isaac prosseguiu: «Levamos fogo e lenha, mas onde está a vítima para o holocausto?» Abraão respondeu: «Deus proverá quanto à vítima para o holocausto, meu filho.» E os dois prosseguiram juntos. Chegados ao sítio que Deus indicara, Abraão construiu um altar, dispôs a lenha, atou Isaac, seu filho, e colocou-o sobre o altar, por cima da lenha. Depois, estendendo a mão, agarrou no cutelo, para degolar o filho. Mas o mensageiro do Senhor gritou-lhe do céu: «Abraão! Abraão!» Ele respondeu: «Aqui estou.» O mensageiro disse: «Não levantes a tua mão sobre o menino e não lhe faças mal algum, porque sei agora que, na verdade, temes a Deus, visto não me teres recusado o teu único filho.» Erguendo Abraão os olhos, viu então um carneiro preso pelos chifres a um silvado. Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto, em substituição do seu filho. Abraão chamou a este lugar: «O SENHOR providenciará*»; e dele ainda hoje se diz: «Na montanha, o Senhor providenciará.» O mensageiro do Senhor chamou Abraão do céu, pela segunda vez, e disse-lhe: «Juro por mim mesmo, declara o Senhor, que, por teres procedido dessa forma e por não me teres recusado o teu filho, o teu único filho, abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar. Os teus descendentes apoderar-se-ão das cidades dos seus inimigos. E todas as nações da Terra se sentirão abençoadas na tua descendência, porque obedeceste à minha voz.» Abraão voltou para junto dos servos, e regressaram juntos a Bercheba, onde Abraão fixou residência. Decorridos estes factos, foram dizer a Abraão: «Milca também deu filhos a Naor, teu irmão. Uce é o primogénito, Buz, seu irmão, Quemuel, pai de Aram, Quéssed, Hazô, Pildás, Jidlaf e Betuel.» Betuel foi o pai de Rebeca. São esses os oito filhos que Milca deu a Naor, irmão de Abraão. A sua concubina, chamada Reúma, também deu à luz Teba, Gaam, Taás e Maacá. Sara viveu cento e vinte e sete anos. Foi esta a duração da sua vida. Morreu em Quiriat-Arbá, a actual Hebron, na terra de Canaã. Abraão foi lá para fazer o funeral de Sara e para a chorar. Retirando-se da presença da sua morta, Abraão falou assim aos hititas: «Sou estrangeiro e hóspede entre vós; permiti que eu adquira, como propriedade minha, um sepulcro na vossa terra, para que eu possa tirar a minha morta de diante de mim e sepultá-la.» Os hititas responderam a Abraão: «Escuta-nos, senhor: tu és um príncipe divino entre nós. Sepulta a tua morta no melhor dos nossos sepulcros. Nenhum de nós poderá recusar-te o seu sepulcro, para nele depositares a tua morta.» Abraão avançou e, prostrando-se perante o povo daquela terra, os hititas, disse-lhes: «Se achais bem que tire de diante de mim a minha morta e lhe dê sepultura, escutai-me e intercedei por mim junto de Efron, filho de Soar, para que ele me ceda, por seu justo preço, a caverna de Macpela, que lhe pertence e está situada no extremo da sua propriedade, de modo que eu seja o dono do sepulcro.» Ora Efron estava sentado entre os hititas. E Efron, o hitita, respondeu a Abraão, na presença dos hititas e de todos aqueles que entravam pela porta da sua cidade: «Não, meu senhor! Ouve-me. Dou-te a terra e a caverna que nela existe. Ofereço-tas, em presença dos filhos do meu povo; enterra a tua morta.» Abraão prostrou-se diante do povo do país e, dirigindo-se a Efron, de modo a ser por todos ouvido, disse-lhe: «Rogo-te que me escutes. Dar-te-ei o preço do terreno, aceita-o e, então, sepultarei a minha morta.» Efron respondeu a Abraão: «Meu senhor, ouve-me. Que representa para mim e para ti um terreno cujo valor é de quatrocentos siclos de prata? Enterra a tua morta.» Abraão aceitou as condições de Efron, e pesou-lhe diante dos hititas a prata por ele mencionada, quer dizer, quatrocentos siclos de prata em moeda corrente. O terreno de Efron, situado em Macpela, em frente de Mambré, o terreno e a caverna nele existente e todas as árvores que cresciam em redor, dentro dos limites deste terreno, tornaram-se, assim, propriedade de Abraão, diante dos hititas e de toda a gente que entrava pela porta da cidade. Depois, Abraão enterrou Sara, sua mulher, na caverna de Macpela, em frente de Mambré, isto é, em Hebron, na terra de Canaã. O terreno e a caverna nele situada passaram dos hititas para a posse de Abraão, como propriedade tumular. Abraão estava velho, tinha uma idade já avançada, e o Senhor abençoara-o em tudo. Abraão disse ao mais antigo servo da casa, aquele que administrava todos os seus bens: «Coloca a tua mão sob a minha coxa. Quero que jures pelo Senhor, Deus do céu e da terra, que não escolherás para o meu filho uma mulher entre as filhas dos cananeus, no meio dos quais resido; mas irás à minha terra, à minha família, e nela escolherás mulher para o meu filho Isaac.» O servo respondeu: «E se a mulher não quiser vir comigo para esta terra, levarei então o teu filho para a terra de onde ela é natural?» Abraão disse-lhe: «Livra-te de levar para lá o meu filho! O Senhor, Deus do céu, que me tirou da casa de meu pai e da minha pátria, falou-me e jurou-me que daria esta terra à minha descendência; Ele enviará o seu mensageiro diante de ti, e trarás de lá uma mulher para o meu filho. Se ela não quiser seguir-te, ficarás desligado do juramento que te impus, mas de modo algum voltarás com meu filho, outra vez, para lá.» O servo colocou a mão sob a coxa de Abraão, seu amo, e jurou o que este lhe ordenara. O servo preparou dez camelos do seu amo e partiu, levando consigo inúmeros e valiosos presentes, da parte de Abraão. Tomou o caminho da Mesopotâmia e foi para a cidade de Naor. Fez ajoelhar os camelos para descansarem, fora da cidade, junto de um poço, já de tarde, quando as mulheres saíam para buscar água. E ele disse: «Senhor, Deus de Abraão, meu amo, fazei que eu encontre hoje o que pretendo, e manifestai a vossa bondade para com o meu amo Abraão. Vou colocar-me junto da fonte, pois as jovens da cidade vão sair para vir buscar água. Aquela jovem a quem eu disser: ‘Inclina, por favor, o teu cântaro, para eu beber’, e me responder: ‘Bebe e darei também de beber aos teus camelos’ – essa seja a que destinaste ao teu servo Isaac. E assim ficarei a saber que manifestas a tua bondade ao meu senhor.» Não acabara ainda de falar, quando Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, apareceu com o cântaro ao ombro. A jovem era muito bela e virgem, pois homem algum a tinha conhecido. Ela desceu à fonte, encheu o cântaro e subiu. O servo correu ao encontro dela e disse-lhe: «Deixa-me, por favor, beber um pouco de água do teu cântaro.» Ela respondeu: «Bebe, meu senhor.» E logo inclinou o cântaro sobre a mão e deu-lhe de beber. Depois de ter bebido, ela disse: «Vou também buscar água para os teus camelos, até que tenham bebido o que quiserem.» Imediatamente despejou o cântaro no bebedoiro e correu de novo à fonte a buscar água para todos os camelos. O homem observava-a em silêncio, para saber se o Senhor teria ou não conduzido a bom termo a sua viagem. Quando os camelos acabaram de beber, o homem tirou um anel de ouro com meio siclo de peso e duas pulseiras que pesavam dez siclos e disse à jovem: «De quem és filha? Peço-te que mo digas. Haverá lugar para nós passarmos a noite em casa do teu pai?» Ela respondeu: «Sou filha de Betuel, o filho que Milca deu a Naor.» E acrescentou: «Em nossa casa há palha e muito feno, para alimentação do gado, e também lugar para pernoitar.» Então o homem inclinou-se e, prostrando-se diante do Senhor, exclamou: «Bendito seja o Senhor, Deus de Abraão, meu amo, que não deixou de ser bondoso e fiel para com o meu amo e me conduziu, a mim, directamente à casa dos parentes do meu senhor.» A jovem correu e foi contar, em casa de sua mãe, o que se acabava de passar. Rebeca tinha um irmão chamado Labão, que se apressou a ir ao poço, em busca do homem. Ele tinha visto o anel e as pulseiras nas mãos da irmã e ouvira Rebeca a dizer: «Assim me falou o homem.» Foi ter, pois, com o estrangeiro e encontrou-o junto dos camelos, na fonte. E disse-lhe: «Vem, bendito do Senhor; porque estás aqui fora? Eu já preparei a casa e um lugar para os camelos.» O homem entrou em casa. Labão mandou descarregar os camelos, deu palha e feno aos animais, e água para lavar os pés do homem e daqueles que o acompanhavam. Depois, serviram-lhe de comer. Ele, porém, disse: «Não comerei nada antes de dizer o que tenho a dizer.» Labão disse: «Fala.» Ele disse: «Sou servo de Abraão. O Senhor cumulou o meu amo de bênçãos e tornou-o poderoso. Deu-lhe ovelhas e bois, prata e ouro, servos e servas, camelos e jumentos. Sara, mulher do meu amo, apesar da sua velhice, deu-lhe um filho, ao qual ele deu todos os seus bens. Então, o meu senhor fez-me jurar que eu não escolheria para o filho uma mulher entre as filhas dos cananeus, em cujo país reside, mas sim, que iria a casa do pai e, na sua família, escolheria mulher para o filho. Eu disse-lhe: ‘E se a mulher não quiser vir comigo?’ Ele respondeu-me: ‘O Senhor, na presença de quem tenho sempre caminhado, enviará o seu mensageiro contigo, para que a tua viagem alcance o fim desejado. Escolherás para o meu filho uma mulher da minha família, da casa de meu pai. Só ficarás desligado do juramento que me fizeste se, depois de chegares junto dos meus parentes, eles se opuserem a conceder-ta.’ Mas, ao chegar hoje à fonte, eu disse: ‘Senhor, Deus do meu amo Abraão, se te dignares permitir que a viagem por mim empreendida seja coroada de êxito, vou colocar-me junto da fonte, e a jovem que sair para vir buscar água e a quem eu disser: ‘Por favor, deixa-me beber um pouco da água do teu cântaro’, e me responder: ‘Bebe, e vou também buscar água para os camelos’, essa é a mulher que o Senhor destinou ao filho do meu amo.’ Não tinha acabado de dizer isto comigo mesmo, quando Rebeca saiu com o cântaro ao ombro e desceu à fonte para buscar água. Disse-lhe: ‘Dá-me de beber, por favor.’ Ela inclinou o cântaro no ombro e disse-me: ‘Bebe, e também darei de beber aos camelos.’ Eu bebi, e ela deu de beber aos camelos. Depois, perguntei-lhe de quem era filha. Ela respondeu-me: ‘Sou filha de Betuel, o filho de Naor, e de Milca.’ Então, coloquei-lhe o anel no nariz e as pulseiras nos braços. Depois, ajoelhei-me, prostrei-me diante do Senhor; e louvei o Senhor, o Deus do meu amo Abraão, que me conduziu directamente ao lugar onde podia encontrar a filha do irmão do meu amo, para mulher do seu filho. Agora, se desejais mostrar ao meu amo a vossa afeição e fidelidade, dizei-mo; se, porém, decidis o contrário, dizei-mo também, para que eu saiba que caminho devo tomar.» Labão e Betuel responderam, dizendo: «É do Senhor que tudo isto vem. Nós não podemos dizer-te nem bem nem mal. Aqui está Rebeca; toma-a e parte, e que ela seja a mulher do filho do teu amo, como o Senhor disse.» Ao ouvir tais palavras, o servo de Abraão prostrou-se por terra diante do Senhor. Tirando, seguidamente, os objectos de prata, os objectos de ouro e vestuário, ofereceu-os a Rebeca. Ofereceu também ricos presentes ao seu irmão e à sua mãe. Depois, comeram e beberam, ele e os seus companheiros, e pernoitaram. No dia seguinte, quando se ergueram, o servo disse: «Permiti que regresse à casa do meu amo.» O irmão e a mãe de Rebeca responderam: «Que a jovem fique connosco ainda alguns dias, uns dez, e depois partirá.» Ele replicou: «Não me façais demorar e, como o Senhor coroou de sucesso a minha viagem, deixai-me partir e voltar para a casa do meu amo.» Eles disseram: «Chamemos a jovem e perguntemos-lhe o que pensa ela.» Chamaram Rebeca e perguntaram-lhe: «Queres partir com este homem?» Ela respondeu: «Sim.» Deixaram então partir Rebeca, sua irmã, e a sua ama, com o servo de Abraão e os seus homens. E abençoaram-na dizendo: «Tu és nossa irmã! Possas tu vir a ser mãe de milhares de milhares! Que a tua descendência se apodere das cidades dos seus inimigos!» Rebeca e as suas servas levantaram-se, subiram para os camelos e seguiram o homem. E o servo que conduzia Rebeca pôs-se a caminho. Ao cair da tarde, Isaac regressara do poço de Lahai-Roí; ele residia então no Négueb. Nessa tarde, em que saíra a dar uma volta pelos campos, ergueu os olhos e viu camelos a aproximarem-se. Também Rebeca, erguendo os olhos, o viu e desceu do camelo. Ela disse ao servo: «Quem é o homem que vem ao nosso encontro, pelo campo?» O servo respondeu: «É o meu amo.» Imediatamente Rebeca cobriu-se com o véu. O servo narrou a Isaac tudo quanto fizera. Depois, Isaac conduziu Rebeca para a tenda de Sara, sua mãe, recebeu-a por esposa, e amou-a. Assim, ficou Isaac reconfortado da morte de sua mãe. Abraão voltou a tomar uma mulher de nome Quetura, que lhe deu à luz Zimeran, Jocsan, Medan, Madian, Jisbac e Chua. Jocsan gerou Sabá e Dedan. Os filhos de Dedan foram os achuritas, os letuchitas e os leumitas. Os filhos de Madian foram Efá, Éfer, Henoc, Abidá e Eldaá. Foram esses os filhos de Quetura. Abraão deu todos os seus bens a Isaac. Quanto aos filhos das suas concubinas, deu-lhes apenas presentes e enviou-os, ainda em vida, para longe de Isaac, seu filho, para as terras do oriente. Esta é a duração da vida de Abraão: ele viveu cento e setenta e cinco anos. Abraão foi-se extinguindo e morreu numa ditosa velhice; de idade avançada e repleto de dias, foi reunir-se aos seus. Isaac e Ismael, seus filhos, sepultaram-no na caverna de Macpela, situada na terra de Efron, filho de Soar, o hitita, em frente de Mambré, a terra que Abraão adquirira aos hititas. Ali foi sepultado com Sara, sua mulher. Após a sua morte, Deus abençoou Isaac, seu filho, que residia junto do poço de Lahai-Roí. Esta é a descendência de Ismael, o filho de Agar, a escrava egípcia que Sara dera a Abraão. Eis os nomes dos filhos de Ismael, por ordem de nascimento: Nebaiot, primogénito de Ismael; a seguir, Quedar, Adbiel, Mibsam, Michemá, Dumá, Massá, Hadad, Tema, Jetur, Nafis e Quedma. São estes os filhos de Ismael. São estes os nomes segundo as suas aldeias e respectivos acampamentos, e foram os doze chefes das suas tribos. A duração da vida de Ismael foi de cento e trinta e sete anos. Depois, expirando, morreu, indo reunir-se aos seus. Os seus filhos habitaram desde Havilá até Chur, que está na fronteira do Egipto, em direcção de Achur. Instalou-se, assim, diante de todos os seus irmãos. Esta é a descendência de Isaac, filho de Abraão. Abraão gerou Isaac. Isaac tinha quarenta anos, quando casou com Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padan-Aram, e irmã de Labão, o arameu. Isaac pediu a protecção do Senhor para a sua mulher, que era estéril. O Senhor ouviu-o e Rebeca, sua mulher, concebeu. As crianças lutavam no seu seio, e ela disse: «Se isto devia suceder, para que havia eu de conceber?» E foi consultar o Senhor, que lhe respondeu: «Duas nações estão no teu seio: dois povos sairão das tuas entranhas. Um prevalecerá sobre o outro, e o mais velho servirá o mais novo.» Quando chegou o tempo em que devia dar à luz, saíram dois gémeos do seu seio. O primeiro que nasceu era ruivo, todo coberto de pêlos como se fosse um manto, e por isso lhe deram o nome de Esaú. Depois, saiu o irmão, segurando com a mão o calcanhar de Esaú. E por isso lhe deram o nome de Jacob. Quando eles vieram ao mundo, Isaac tinha sessenta anos. As crianças cresceram. Esaú fez-se hábil caçador, um homem dos campos, ao passo que Jacob era um homem tranquilo, que habitava em tendas. Isaac preferia Esaú, porque gostava de caça, mas a ternura de Rebeca ia para Jacob. Certo dia, estando Jacob a preparar um guisado, Esaú regressou do campo muito cansado. E disse a Jacob: «Deixa-me comer desse guisado vermelho, pois estou muito cansado.» Por isso, puseram a Esaú o nome de Edom. Jacob disse-lhe: «Vende-me o direito de primogenitura.» Esaú retorquiu: «Que me importa a mim o direito de primogenitura, se estou a morrer de fome?» Jacob disse-lhe: «Jura imediatamente.» Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacob. Então Jacob deu-lhe pão e um prato de lentilhas. Esaú comeu e bebeu; depois ergueu-se e partiu. Foi assim que Esaú renunciou ao seu direito de primogenitura. Sobreveio uma grande fome naquela terra, além da primeira fome no tempo de Abraão. Isaac foi para Guerar, na intenção de falar a Abimélec, rei dos filisteus. O Senhor apareceu-lhe e disse: «Não desças ao Egipto, fica na terra que Eu te indicar. Vive aí durante algum tempo; Eu estou contigo e abençoar-te-ei, pois é a ti e à tua descendência que Eu darei toda esta terra e cumprirei o juramento que fiz a Abraão, teu pai. Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu, dar-te-ei todas estas regiões, e nela serão abençoadas todas as nações da Terra, porque Abraão obedeceu à minha voz e cumpriu os meus preceitos, os meus mandamentos e as minhas leis.» Isaac habitou, portanto, em Guerar. Quando os homens daquele lugar lhe faziam perguntas acerca de sua mulher, ele respondia: «É minha irmã», pois eles poderiam matá-lo, se dissesse: «É minha mulher», visto Rebeca ser realmente bela. Ao fim de muito tempo, aconteceu que, um dia, Abimélec, rei dos filisteus, olhando através da janela, viu Isaac a acariciar Rebeca, sua mulher. Abimélec chamou Isaac e disse-lhe: «Com certeza ela é tua mulher! E porque te atreveste a dizer: ‘É minha irmã’?» Isaac respondeu: «Disse tudo isso, porque temia ser morto por causa dela.» Abimélec retorquiu: «Que é que nos fizeste? Pouco faltou para que qualquer homem do nosso povo se tivesse deitado com a tua mulher, e terias, assim, atraído sobre nós um pecado.» Então, Abimélec mandou proclamar esta ordenação a todo o povo: «Quem tocar neste homem ou na sua mulher será morto.» Isaac fez as suas sementeiras naquelas terras e, no mesmo ano, recolheu cem vezes mais, pois o Senhor abençoara-o. E este homem tornou-se rico, e foi aumentando cada vez mais a sua fortuna, até chegar a ser extraordinariamente poderoso. Possuía rebanhos de toda a espécie, de gado miúdo e graúdo, e numerosos servos. Por isso, os filisteus tiveram inveja de Isaac. Todos os poços que tinham sido abertos pelos servos do seu pai Abraão, quando ele ainda vivia, foram obstruídos pelos filisteus, enchendo-os de terra. E Abimélec disse a Isaac: «Vai-te embora daqui, pois agora és muito mais poderoso do que nós.» Isaac partiu e, erguendo as suas tendas na torrente de Guerar, ali resolveu permanecer. Isaac abriu novamente os poços que tinham sido abertos no tempo de Abraão, seu pai, e que os filisteus entulharam após a morte de Abraão, dando-lhes o mesmo nome que o pai lhes tinha dado. Os servos de Isaac, prosseguindo as suas escavações no vale, descobriram uma nascente de águas vivas, mas os pastores de Guerar entraram em conflito com os pastores de Isaac e disseram: «Esta água pertence-nos.» Então, Isaac a esse poço chamou «Poço de Discussão*», por lhe terem impugnado falsamente a sua propriedade. Abriram um outro poço e logo surgiu nova discussão; por isso, chamou-o «Poço de Reclamação*.» Partiu imediatamente dali e, mais adiante, abriram um poço, a respeito do qual não houve discussões, e deu-lhe o nome de «Poço de Largueza*», porque ele disse: «O Senhor agora deu-nos largueza, e havemos de prosperar nesta terra.» Depois, Isaac subiu dali para Bercheba. O Senhor apareceu-lhe naquela noite e disse-lhe: «Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Nada temas, pois estou contigo. Abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência, por causa de Abraão, meu servo.» Isaac construiu um altar naquele sítio e invocou o nome do Senhor; depois, levantou ali também a sua tenda, e os seus servos abriram ali um poço. Abimélec partiu de Guerar em companhia de Auzat, seu amigo, e de Picol, chefe do seu exército, e foi ter com Isaac. Isaac disse-lhes: «Qual a razão que vos traz até junto de mim, vós que me odiais e me expulsastes da vossa terra?» Eles responderam: «Porque é evidente que o Senhor está contigo, e dissemos: É indispensável um juramento entre nós e ti. Queremos, portanto, fazer uma aliança contigo. Jura que não nos farás mal algum, assim como nós nunca te maltrataremos e só te fizemos bem, deixando-te partir em paz. Tu, agora, és o abençoado do Senhor.» Isaac ofereceu-lhes um banquete, e eles comeram e beberam. No dia seguinte, de manhã, ficaram unidos, por juramento, um ao outro; depois, Isaac despediu-os, e eles afastaram-se em paz, da sua presença. Nesse mesmo dia, os servos de Isaac foram dar-lhe notícias acerca do poço que estavam a abrir e disseram-lhe: «Encontrámos água.» Ele deu a esse poço o nome de Cheba. Por isso, é que a cidade se chama Bercheba, até ao dia de hoje. Aos quarenta anos de idade, Esaú tomou por mulheres Judite, filha de Beeri, o hitita, e Basemat, filha de Elon, o hitita. Elas causaram muita amargura ao coração de Isaac e ao coração de Rebeca. Isaac estava velho e os seus olhos enfraqueceram-se tanto que já não via. Chamou Esaú, seu primogénito, e disse-lhe: «Meu filho!» Ele respondeu: «Aqui estou.» Isaac disse: «Como vês, estou velho e desconheço qual será o dia da minha morte. Peço-te que tomes as tuas armas, a aljava e o arco, vás para o campo e, quando tiveres caçado alguma coisa, faz-me um guisado suculento como eu gosto e traz-mo para eu comer, a fim de te abençoar antes de morrer.» Ora, Rebeca estava à escuta e ouviu o que Isaac dizia a Esaú, seu filho. E Esaú foi para o campo caçar alguma coisa, para depois trazer ao pai. Rebeca disse a Jacob, seu filho: «Acabo de ouvir teu pai a dizer ao teu irmão Esaú o seguinte: ‘Vai caçar alguma coisa para mim e faz-me um guisado suculento, para eu comer. Depois, quero abençoar-te diante do Senhor, antes de morrer.’ Agora, meu filho, escuta bem o que te vou dizer: Vai buscar ao rebanho dois cabritos gordos e traz-mos. Eu farei com eles um prato suculento para o teu pai, como ele gosta. Levá-lo-ás para o teu pai comer e, assim, te abençoar antes de morrer.» Jacob respondeu à sua mãe Rebeca: «Mas Esaú, meu irmão, é um homem peludo, e eu não tenho pêlo algum. Se acontecer que meu pai me toque, passarei a seus olhos por mentiroso e atrairei sobre mim uma maldição em vez de uma bênção.» A mãe replicou: «Que essa maldição recaia sobre mim, meu filho. Ouve o que te digo; e vai buscar o que te disse.» Jacob foi e trouxe os dois cabritos à sua mãe, que fez um prato suculento, como o pai gostava. E Rebeca escolheu as mais belas roupas de Esaú, seu filho mais velho, as mais belas que tinha em casa, e vestiu-as a Jacob, seu filho mais novo. Depois, cobriu-lhe as mãos e o pescoço, que não tinham pêlos, com a pele dos cabritos, e colocou nas mãos de Jacob, seu filho, o guisado suculento e o pão, que ela preparara. Jacob foi ter com o pai e disse-lhe: «Meu pai!» Isaac respondeu: «Estou aqui.» «Mas quem és tu, meu filho?» Jacob respondeu a seu pai: «Sou Esaú, teu primogénito; fiz o que me pediste. Peço-te, pois, que te levantes, que te sentes e comas da minha caça, a fim de me abençoares.» Isaac disse: «Como pudeste encontrar caça tão depressa, meu filho?» E Jacob respondeu: «Porque o Senhor, teu Deus, trouxe-a para diante de mim.» Isaac disse a Jacob: «Anda, aproxima-te para eu te tocar, meu filho, e ver se és realmente o meu filho Esaú ou não.» Jacob aproximou-se de Isaac, seu pai, que o tocou e disse: «A voz é a voz de Jacob, mas as mãos são as de Esaú.» Ele não o reconheceu por estarem as suas mãos peludas como as do seu irmão Esaú. Dispôs-se a abençoá-lo, mas ainda voltou a perguntar-lhe: «És, na verdade, o meu filho Esaú?» Jacob respondeu: «Sim.» Isaac disse: «Serve-me a tua caça, para que eu coma e te abençoe.» Jacob serviu-o e ele comeu; levou-lhe também vinho e ele bebeu. Então, Isaac, seu pai, disse-lhe: «Aproxima-te, meu filho, e dá-me um beijo.» Jacob aproximou-se e beijou-o. E, ao sentir a fragrância das suas roupas, Isaac abençoou-o, dizendo: «Sim! O odor do meu filho é como odor de um campo abençoado pelo Senhor. Que Deus te conceda o orvalho do céu e a fertilidade da terra, trigo e mosto em abundância! Que os povos te sirvam e as nações se prostrem na tua presença! Sê o senhor dos teus irmãos; diante de ti se curvem os filhos da tua mãe! Maldito seja quem te amaldiçoar, e bendito seja quem te abençoar.» Mal Isaac acabara de abençoar Jacob, e Jacob se tinha retirado da presença do pai, Esaú regressou da caça. Preparou também um guisado suculento e levou-o ao pai, dizendo-lhe: «Levanta-te, meu pai, e come a caça do teu filho, para me abençoares.» Isaac, seu pai, perguntou-lhe: «Quem és tu?» Ele respondeu: «Sou Esaú, teu filho primogénito.» Isaac, dominado por fortíssima emoção, disse: «Quem foi, então, que me trouxe a caça que eu comi antes de chegares? Abençoei-o e, portanto, ficará abençoado.» Ao ouvir tais palavras do pai, Esaú começou a gritar e a chorar amargamente e disse-lhe: «Abençoa-me também a mim, meu pai!» Isaac disse: «O teu irmão veio astuciosamente e recebeu a tua bênção.» Esaú disse-lhe: «É por se chamar Jacob que já me venceu duas vezes? Apoderou-se do meu direito de primogenitura e agora apodera-se da minha bênção!» E acrescentou: «Não tens nenhuma bênção para mim?» Isaac respondeu-lhe: «Fiz dele o teu senhor, dei-lhe todos os seus irmãos como servos e entreguei-lhe o trigo e o mosto. Que posso eu fazer agora por ti, meu filho?» Esaú disse ao pai: «Tens apenas uma bênção, meu pai? Abençoa-me também, meu pai.» E começou a chorar. Isaac, respondeu-lhe: «A tua casa será privada da fertilidade da terra e do orvalho que desce dos céus. Viverás da tua espada e servirás o teu irmão, mas, nas tuas andanças de vagabundo, afastarás o seu jugo do teu pescoço.» Esaú concebeu profunda aversão a Jacob, mercê da bênção que o pai lhe dera, e disse no seu coração: «Estão próximos os dias de luto por meu pai, e então matarei meu irmão Jacob.» Rebeca foi informada das palavras de Esaú, seu filho mais velho. Ela mandou chamar Jacob, seu filho mais novo, e disse-lhe: «O teu irmão Esaú quer vingar-se de ti, matando-te. Escuta-me, pois, meu filho, e foge depressa para junto de Labão, meu irmão, em Haran. Fica em casa dele durante algum tempo, o suficiente para acalmar o furor do teu irmão, até que a cólera do teu irmão se afaste para longe de ti. Quando ele estiver apaziguado e se tiver esquecido do que lhe fizeste, mandar-te-ei buscar. Porque haveria eu de ser privada dos meus dois filhos, num único dia?» Rebeca disse a Isaac: «Estou desgostosa da vida por causa das filhas dos hititas. Se Jacob casar com uma mulher como aquelas, entre as filhas dos hititas, de que me serve viver?» Isaac chamou Jacob, abençoou-o e deu-lhe esta ordem: «Não casarás com nenhuma filha de Canaã. Ergue-te e vai a Padan-Aram, à casa de Betuel, pai da tua mãe, e escolhe aí uma mulher entre as filhas de Labão, irmão da tua mãe. Que o Deus supremo te abençoe, te faça crescer e multiplicar, de modo a vires a ser uma imensidade de povos! Que Ele te conceda, e à tua descendência, a bênção de Abraão, a fim de possuíres a terra onde resides, que foi dada por Deus a Abraão.» Isaac despediu-se de Jacob, que se dirigiu a Padan-Aram, à casa de Labão, filho de Betuel, o arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacob e de Esaú. Esaú viu que Isaac tinha abençoado Jacob e que o enviara a Padan-Aram, a fim de ali casar e que, ao abençoá-lo, lhe tinha proibido de arranjar mulher entre as filhas de Canaã; obedecendo a seu pai e a sua mãe, Jacob tinha ido para Padan-Aram. Esaú compreendeu que as filhas de Canaã desagradavam ao pai. Foi, então, ter com Ismael e tomou para mulher, além das que já tinha, Maalat, filha de Ismael, filho de Abraão e irmã de Nebaiot. Jacob saiu de Bercheba e tomou o caminho de Haran. Chegou a determinado sítio e resolveu ali passar a noite, porque o sol já se tinha posto. Serviu-se de uma das pedras do lugar como travesseiro e deitou-se. Teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus. Por cima dela estava o Senhor, que lhe disse: «Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac. Esta terra, na qual te deitaste, dar-ta-ei, assim como à tua posteridade. A tua posteridade será tão numerosa como o pó da terra; estender-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul, e todas as famílias da Terra serão abençoadas em ti e na tua descendência. Estou contigo e proteger-te-ei para onde quer que vás e reconduzir-te-ei a esta terra, pois não te abandonarei antes de fazer o que te prometi.» Despertando do sono, Jacob exclamou: «O Senhor está realmente neste lugar e eu não o sabia!» Atemorizado, acrescentou: «Que terrível é este lugar! Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu.» No dia seguinte de manhã, Jacob agarrou na pedra que lhe servira de travesseiro e, depois de a erguer como um monumento, derramou óleo sobre ela. Chamou a este sítio Betel, quando, originariamente, a cidade se chamava Luz. Jacob fez, então, o seguinte voto: «Se Deus estiver comigo, se me proteger durante esta viagem, se me der pão para comer e roupa para vestir, e se eu regressar em paz à casa do meu pai, o Senhor será o meu Deus. E esta pedra, que eu erigi à maneira de monumento, será para mim casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo quanto Ele me conceder.» Jacob retomou o caminho para as terras do Oriente. Olhando em redor, viu no campo um poço, junto do qual estavam deitados três rebanhos de ovelhas. Este poço servia de bebedouro aos rebanhos. Como, porém, a pedra que tapava a boca do poço era grande, afastavam-na da abertura só quando se reuniam todos os rebanhos. Davam, então, de beber aos animais e depois tornavam a colocar a pedra no respectivo lugar. Jacob perguntou aos pastores: «De onde sois, meus irmãos?» Responderam: «Somos de Haran.» Ele disse-lhes: «Conheceis Labão, filho de Naor?» Responderam: «Conhecemos.» Disse-lhes ele: «E está de boa saúde?» Responderam: «Está de boa saúde, e ali vem Raquel, sua filha, com o rebanho.» Ele disse: «Ainda é dia claro, é cedo para recolher os rebanhos; dai de beber às ovelhas e voltai com elas a pastar.» Responderam: «Não podemos, enquanto todos os rebanhos não estiverem reunidos. Então, afasta-se a pedra da boca do poço e damos de beber ao gado.» Estava ainda a conversar com eles, quando apareceu Raquel com o rebanho do seu pai, pois ela era pastora. Logo que Jacob viu Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e o rebanho de seu tio Labão, aproximou-se, removeu a pedra que estava sobre a abertura do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, seu tio. Depois, beijou Raquel e começou a chorar. Jacob declarou a Raquel que era parente do seu pai e filho de Rebeca. Ela correu a participar tudo a seu pai. Quando Labão ouviu falar de Jacob, filho da sua irmã, foi imediatamente ao encontro dele, apertou-o nos braços, beijou-o e levou-o para a sua casa. Jacob contou a Labão tudo quanto se tinha passado. E Labão disse-lhe: «Sim, tu és do meu sangue, pertences à minha própria família.» E Jacob morou com Labão um mês inteiro. Depois disso, Labão disse a Jacob: «Acaso estás a servir-me sem qualquer recompensa, apenas por seres meu parente? Diz que salário deverá ser o teu.» Ora, Labão tinha duas filhas. A mais velha chamava-se Lia e a mais nova, Raquel. Lia tinha o olhar terno; Raquel era esbelta e de belo rosto. Jacob amava Raquel e disse: «Servir-te-ei sete anos por Raquel, a tua filha mais nova.» Labão respondeu: «Melhor é dar-ta a ti do que a outro; fica em minha casa.» E Jacob serviu por Raquel sete anos, que lhe pareceram apenas alguns dias, tanto era o amor que por ela sentia. Então, Jacob disse a Labão: «Dá-me a minha mulher, porque o meu tempo findou, e quero casar com ela.» Labão reuniu todos os homens do lugar e ofereceu um banquete. Mas, já de noite, conduziu Lia a Jacob, que dela se aproximou. E para serva de Lia, sua filha, Labão deu-lhe sua escrava Zilpa. No dia seguinte de manhã, Jacob, vendo que era Lia, disse a Labão: «Porque me fizeste isso? Não foi por Raquel que eu te servi? Porque me enganaste?» Labão respondeu: «Aqui, não é costume dar a mais nova em casamento, antes da mais velha. Terminada a semana de núpcias, dar-te-ei também a outra, sua irmã, na condição de me servires ainda mais sete anos.» Assim fez Jacob; e, terminada a semana de núpcias de Lia, Labão deu-lhe Raquel, sua filha, por mulher. E Labão deu à sua filha Raquel a sua escrava Bila, para ficar ao serviço dela. Jacob uniu-se também a Raquel, que amava mais do que a Lia. E serviu ainda em casa de Labão durante outros sete anos. Vendo o Senhor que Lia não era amada, tornou-a fecunda, enquanto Raquel permanecia estéril. Lia concebeu e deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Rúben, porque disse: «O Senhor olhou para a minha humilhação; agora serei amada por meu marido.» Concebeu outra vez e deu à luz um filho; e disse: «O Senhor, sabendo que eu era desdenhada, deu-me também este.» E deu-lhe o nome de Simeão. Tornou a conceber novamente e deu à luz um filho; e disse: «Agora meu marido prender-se-á a mim, porque já lhe dei três filhos.» Por isso, deu-lhe o nome de Levi. Concebeu ainda mais outra vez e deu à luz um filho; e disse: «Sim, agora louvarei o Senhor.» E deu-lhe, por isso, o nome de Judá. Depois não teve mais filhos. Vendo que não dava à luz filhos a Jacob, Raquel começou a ter inveja da irmã e disse a Jacob: «Dá-me filhos ou, então, morro!» E Jacob irritou-se com Raquel e disse-lhe: «Julgas-me capaz de substituir Deus, que te recusou a fecundidade?» Ela respondeu: «Aqui tens a minha serva Bila; vai ter com ela. Que ela dê à luz sobre os meus joelhos; assim, por ela, eu também terei filhos.» Deu-lhe, pois, a sua serva Bila por mulher, e Jacob aproximou-se dela. Bila concebeu e deu um filho a Jacob. Raquel disse, então: «Deus fez-me justiça, escutou a minha voz e deu-me um filho.» Por isso, deu-lhe o nome de Dan. Bila, a escrava de Raquel, concebeu outra vez e deu um segundo filho a Jacob. Raquel disse: «Lutei contra a minha irmã, junto de Deus, e venci-a!» Por isso, chamou-lhe Neftali. Ao ver extinta a sua fecundidade, Lia tomou a sua escrava Zilpa e deu-a por mulher a Jacob. Zilpa, a escrava de Lia, deu um filho a Jacob. Lia exclamou: «Que felicidade!» E deu-lhe o nome de Gad. Zilpa, a serva de Lia, deu um segundo filho a Jacob. Lia exclamou: «Como sou feliz! As donzelas chamar-me-ão bem-aventurada.» E deu-lhe o nome de Aser. Certo dia, na época da ceifa do trigo, saindo Rúben para o campo, encontrou mandrágoras e levou-as a Lia, sua mãe. Raquel disse a Lia: «Dá-me, por favor, parte das mandrágoras do teu filho.» Lia respondeu: «Não te parece bastante teres roubado o meu marido, e queres também roubar-me as mandrágoras do meu filho?» Raquel retorquiu: «Pois bem, em troca das mandrágoras do teu filho, que ele fique contigo esta noite.» Quando Jacob regressava do campo, à tarde, Lia saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: «Vem comigo, pois hoje paguei por ti o preço das mandrágoras do meu filho.» E ficou com ele nessa noite. Deus ouviu Lia, que concebeu e deu um quinto filho a Jacob. Lia exclamou: «Deus recompensou-me por ter dado a minha serva a meu marido.» E deu-lhe o nome de Issacar. Lia concebeu novamente e deu um sexto filho a Jacob. Lia exclamou: «Deus concedeu-me um belo presente. Agora, o meu marido habitará comigo, porque já lhe dei seis filhos.» E deu-lhe o nome de Zabulão. A seguir, deu à luz uma filha, a quem chamou Dina. Deus recordou-se de Raquel, ouviu-a e tornou-a fecunda. Ela concebeu e deu à luz um filho. E disse: «Deus apagou a minha vergonha.» E chamou-lhe José, dizendo: «Que o Senhor me acrescente ainda outro filho!» Depois de Raquel ter dado à luz José, Jacob disse a Labão: «Deixa-me partir, a fim de voltar para a minha casa e para o meu país. Dá-me as minhas mulheres e os meus filhos, pelos quais te servi, antes de me ir embora; pois tu sabes com que zelo te servi.» Labão disse-lhe: «Possa eu merecer a tua benevolência! Reconheço que o Senhor me abençoou por tua causa. Fixa-me o teu salário, para que to dê.» Jacob respondeu: «Tu sabes como te servi e o que ganhaste comigo. Porque o que tinhas, antes da minha chegada, era pouco, e tudo aumentou muitíssimo: o Senhor abençoou-te por minha causa. Agora, quando trabalharei também para a minha família?» Disse-lhe Labão. «Que te hei-de dar?» Jacob respondeu: «Não me darás nada, mas, se acatares a minha proposta, tornarei a apascentar e a guardar o teu rebanho. Passarei hoje, através de todo o teu rebanho e separarei todo o animal malhado e com manchas; entre os cordeiros, todos os animais negros e, entre as cabras, as malhadas e com manchas; será essa a minha recompensa. A minha rectidão responderá por mim, no dia de amanhã, quando vieres verificar o meu salário. Tudo o que estiver comigo e não for malhado e com manchas, entre as cabras, e negro, entre os cordeiros, será animal roubado.» Labão respondeu: «Está bem, seja como dizes!» E, no mesmo dia, Labão pôs de parte os bodes listrados e com manchas, todos os cabritos malhados e com manchas, todos os cordeiros negros, e confiou-os aos seus filhos. Depois, pô-los à distância de três dias de jornada; e Jacob apascentava o resto do rebanho de Labão. Jacob tomou, então, varas verdes de choupo, de amendoeira e de plátano; tirou-lhes parte da casca, pondo a nu o branco das varas, e colocou-as diante dos olhos das ovelhas, nos regueiros e nos bebedouros, aonde iam beber. Ora as ovelhas entravam em excitação quando iam beber e, ao entrarem em excitação diante das varas, concebiam cordeiros listrados, malhados e com manchas. Jacob colocava de lado esses cordeiros; e o gado de Labão ia ficando malhado e negro. E assim juntou rebanhos para si, que não reuniu ao gado de Labão. Quando as ovelhas eram vigorosas e ficavam excitadas, Jacob punha-lhes as varas diante dos olhos, nos regueiros, para que concebessem perto das varas. Mas, quando as ovelhas eram fracas, não o fazia, de modo que os cordeiros enfezados eram para Labão e os vigorosos para Jacob! Este homem enriqueceu prodigiosamente e adquiriu numerosos rebanhos, escravos e escravas, camelos e jumentos. E Jacob ouviu as palavras dos filhos de Labão, que diziam: «Jacob apoderou-se de tudo o que era do nosso pai, e foi com os bens do nosso pai que acumulou toda esta riqueza.» Jacob observou também, pela fisionomia de Labão, que este não tinha para com ele os mesmos sentimentos de antes. E o Senhor disse a Jacob: «Volta para o país dos teus pais, para a tua terra natal; Eu estarei contigo.» Então, Jacob mandou vir Raquel e Lia ao campo, junto do seu rebanho, e disse-lhes: «Vejo, pelo semblante de vosso pai, que ele não é para mim o mesmo que era dantes; mas o Deus de meu pai está comigo. Sabeis que servi o vosso pai com todas as minhas forças, ao passo que ele zombou de mim, mudando dez vezes o meu salário; mas Deus não permitiu que ele me prejudicasse. Se ele dizia: ‘Os animais malhados serão o teu salário’, todo o gado produzia animais malhados. E se ele dizia: ‘Os animais listrados serão o teu salário’, todo o gado produzia animais listrados. Deus tomou o rebanho de vosso pai e deu-mo. No tempo em que os rebanhos andam excitados, ergui os olhos e vi em sonhos que os machos, que fecundavam o gado, eram listrados, malhados e com manchas. E um enviado do Senhor disse-me em sonho: ‘Jacob!’ ao que respondi: ‘Eis-me aqui.’ Ele continuou: ‘Levanta os olhos e vê; todos os animais que fecundam o gado são listrados, malhados e com manchas, porque Eu vi o que Labão te fez. Eu sou o Deus de Betel, onde ergueste e consagraste um monumento, onde pronunciaste um voto em minha honra. Agora levanta-te, sai deste país e regressa à terra em que nasceste.’» Raquel e Lia responderam, dizendo: «Existe para nós uma herança na casa do nosso pai? Não somos consideradas como estranhas para ele? Depois de nos ter vendido, devorou todos os nossos bens. Além disso, a fortuna que Deus retirou a nosso pai é nossa e dos nossos filhos. Faz, então, tudo o que Deus te disse.» Jacob preparou-se e mandou que as suas mulheres e os seus filhos montassem sobre os camelos; levou todo o seu gado e todos os bens que juntara, tudo o que lhe pertencia e que adquirira no território de Padan-Aram, e partiu para junto de seu pai Isaac, para o país de Canaã. E como Labão fora fazer a tosquia das suas ovelhas, Raquel roubou os deuses familiares de seu pai. Jacob enganou assim Labão, o arameu, e fugiu sem lhe dizer nada. Fugiu com tudo o que lhe pertencia; atravessou o rio e, depois, dirigiu-se para a montanha de Guilead. Três dias depois, disseram a Labão que Jacob tinha fugido; ele tomou consigo os seus parentes e perseguiu-o durante sete dias de marcha, alcançando-o na montanha de Guilead. Mas Deus visitou Labão, o arameu, num sonho nocturno, e disse-lhe: «Livra-te de pedir explicações a Jacob, seja sobre o que for, a bem ou a mal.» Labão aproximou-se de Jacob, que tinha levantado a sua tenda sobre a montanha, enquanto Labão dispôs os seus irmãos sobre a mesma montanha de Guilead. Labão disse a Jacob: «Que fizeste? Enganaste-me e levaste-me as minhas filhas como prisioneiras de guerra! Porque fugiste furtivamente, enganando-me, em lugar de me avisar? Ter-te-ia despedido com alegria e cânticos, ao som de tambores e da cítara! Nem me deixaste abraçar os meus filhos e as minhas filhas! Na verdade, agiste como um insensato. A minha mão é suficientemente forte para fazer-vos mal; mas o Deus do vosso pai falou-me esta noite, dizendo: ‘Livra-te de pedir explicações a Jacob, seja a bem ou a mal.’ Vais-te porque tinhas saudades da casa de teu pai. Mas porque roubaste os meus deuses?» Jacob respondeu a Labão: «Tive medo de te avisar, pois pensei que me tirarias as tuas filhas. Quanto àquele que estiver na posse dos teus deuses, esse não viverá! Examina, tu mesmo, tudo o que está comigo e recupera aquilo que te pertence.» Jacob não sabia que era Raquel que tinha roubado os deuses familiares. Labão entrou na tenda de Jacob, na de Lia, na das duas escravas, e não os encontrou. Saindo da tenda de Lia, entrou na de Raquel. Mas esta pegara nos deuses familiares, escondera-os na sela do camelo e sentara-se em cima. Labão procurou em toda a tenda e não os encontrou. E Raquel disse ao pai: «Que o meu senhor não se ofenda, se não posso levantar-me diante de ti, por causa do incómodo habitual das mulheres.» Ele continuou a procurar, mas não encontrou os deuses familiares. E Jacob ficou encolerizado e censurou Labão. Dirigindo-se a ele, disse: «Qual é o meu crime, qual é a minha falta, para que assim te irrites contra mim? Depois de revistar todas as minhas bagagens, encontraste alguma coisa que pertença à tua casa? Apresenta-o aqui, diante dos meus irmãos e dos teus, e que eles sejam juízes entre nós dois. Passei vinte anos contigo; nem as tuas ovelhas nem as tuas cabras abortaram e não comi os carneiros do teu rebanho. Não te entreguei nenhum animal despedaçado pelas feras: fui eu próprio que sofri esse prejuízo, pois tu fizeste-me pagar o que foi roubado de dia e o que foi roubado de noite. Durante o dia, eu era consumido pelo calor, durante a noite, pelo frio, e o sono fugia dos meus olhos. Passei assim vinte anos na tua casa! Servi-te catorze anos pelas tuas duas filhas, e seis anos pelo teu rebanho; mas tu trocaste dez vezes o meu salário. Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o que Isaac venera, não me ajudasse, com certeza ter-me-ias deixado partir de mãos vazias. Mas Deus viu a minha humilhação e o trabalho das minhas mãos e pronunciou a sentença ontem à noite.» Labão respondeu a Jacob: «Estas filhas são minhas filhas, estes filhos são meus filhos, este gado é o meu gado; tudo o que vês me pertence. Que farei eu agora pelas filhas e pelos filhos que elas tiveram? Façamos, então, uma aliança, que será um testemunho entre nós.» Jacob tomou uma pedra e levantou um monumento. E disse aos irmãos: «Juntai pedras.» Eles pegaram em pedras, puseram-nas em monte e comeram junto daquele monte de pedras. Labão chamou-lhe Jegar-Saduta, e Jacob chamou-lhe Galed. E Labão disse: «Este monte de pedras, a partir de hoje, é um testemunho entre nós os dois.» Por isso, lhe chamou Galed. E também Mispá, porque disse: «O Senhor estará vigilante entre nós dois, quando nos separarmos um do outro. Se maltratares as minhas filhas e tomares outras esposas além delas, embora ninguém esteja connosco, recorda-te de que Deus é testemunha entre mim e ti.» Labão disse ainda a Jacob: «Vês este monte de pedras e este monumento que pus entre nós os dois? Sirva este monte de pedras e este monumento, de testemunha de que nem eu os transporei para aí nem tu os transporás para aqui, para fazer algum mal. Que o Deus de Abraão, o Deus de Naor, o Deus de cada um deles seja juiz entre nós!» E Jacob jurou pelo Deus que venerava seu pai Isaac. Jacob sacrificou animais sobre a montanha e convidou os seus irmãos para o banquete. Tomaram parte nele e passaram a noite sobre a montanha. No dia seguinte, Labão levantou-se cedo, abraçou os filhos e as filhas e abençoou-os; depois, pôs-se a caminho e voltou para sua casa. Jacob prosseguiu o seu caminho e encontrou uns mensageiros de Deus. Ao vê-los, disse: «É o exército de Deus!» E deu àquele lugar o nome de Maanaim. Jacob mandou mensageiros adiante de si a seu irmão Esaú, ao país de Seir, na região de Edom, dando-lhes esta ordem: «Assim falareis ao meu senhor Esaú: Assim fala o teu servo Jacob: ‘Residi em casa de Labão e ali permaneci até ao presente. Adquiri bois e jumentos, gado miúdo, escravos e escravas; e agora envio uma mensagem ao meu senhor Esaú, para obter a sua benevolência.’» Os mensageiros voltaram para junto de Jacob, dizendo: «Fomos ter com teu irmão Esaú; ele vem ao teu encontro com quatrocentos homens.» Jacob ficou cheio de temor e de inquietação. Distribuiu os que estavam com ele em dois grupos, assim como o gado graúdo e miúdo e os camelos, dizendo: «Se Esaú atacar um dos nossos grupos e o destroçar, o outro poderá salvar-se.» Depois, Jacob disse: «Ó Deus de meu pai Abraão, Deus de meu pai Isaac, ó Senhor que me disseste: ‘Regressa ao teu país e à tua terra natal e Eu hei-de proteger-te’; eu sou indigno de todos os teus favores e de toda a fidelidade que testemunhaste ao teu servo; passei este Jordão só com o meu bordão e agora possuo duas caravanas. Salva-me, por favor, da mão do meu irmão Esaú, pois temo que ele me ataque, ferindo-me juntamente com a mãe e os filhos. Mas Tu disseste: ‘Encher-te-ei de benefícios e farei que a tua posteridade seja como a areia do mar, cujo número é incalculável.’» Jacob passou ali a noite e escolheu, entre os seus bens, um presente para seu irmão Esaú: duzentas cabras e vinte bodes, duzentas ovelhas e vinte carneiros, trinta camelas que amamentavam, com as suas crias; quarenta vacas e dez touros; vinte jumentas e dez jumentos. Entregou-os aos seus servos, cada rebanho à parte, dizendo-lhes: «Passai à frente e deixai um intervalo entre cada rebanho.» E deu ao primeiro esta ordem: «Quando meu irmão Esaú te encontrar e te perguntar: ‘Quem és tu? Aonde vais? E porque é que este gado vai adiante de ti?’ Responderás: É um presente que manda o teu servo Jacob ao meu senhor Esaú. Ele vem já aí atrás de nós.» Deu a mesma ordem ao segundo, ao terceiro e a todos os que conduziam os rebanhos, dizendo: «É assim que falareis a Esaú, quando o encontrardes. Dir-lhe-eis: ‘Também o teu servo Jacob vem atrás de nós.’» Com efeito, Jacob dizia: «Quero aplacar o seu rosto com este presente que me precede e, depois, comparecerei diante dele; talvez me faça bom acolhimento.» Estes presentes avançaram, então, adiante dele; e Jacob passou essa noite no acampamento. Levantou-se naquela mesma noite, tomou as suas duas mulheres, as duas escravas e os seus onze filhos, e passou o vau de Jaboc. Ajudou-os a atravessar a torrente, e passou tudo o que lhe pertencia. Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora. Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. E disse-lhe: «Deixa-me partir, porque já rompe a aurora.» Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» Jacob interrogou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» – respondeu ele. E então abençoou-o. Jacob chamou àquele lugar Penuel; «porque vi um ser divino, face a face, e conservei a vida» – disse ele. O sol principiara a levantar-se, quando Jacob deixou Penuel, coxeando por causa da sua coxa. É por isso que os filhos de Israel não comem, ainda hoje, o nervo ciático que está na cavidade da coxa – porque Jacob foi ferido no nervo ciático da coxa, que ficou paralisado. Jacob, levantando os olhos, viu Esaú que avançava acompanhado por quatrocentos homens. Repartiu os filhos entre Lia e Raquel e entre as duas servas. Colocou à frente as servas com os seus filhos, depois Lia com seus filhos, e Raquel, com José, em último lugar. Passou adiante deles e prostrou-se por sete vezes, antes de se aproximar de seu irmão. Esaú correu ao seu encontro, abraçou-o, atirou-se-lhe ao pescoço e beijou-o; e ambos choraram. Levantando os olhos, Esaú viu as mulheres e as crianças e perguntou: «Que te são estes?» Jacob respondeu: «São os filhos que Deus concedeu ao teu servo.» As servas aproximaram-se também com os seus filhos e prostraram-se; Lia também se aproximou com os seus filhos e prostraram-se; depois, aproximou-se José com Raquel e prostraram-se. Esaú prosseguiu: «Que significa todo esse grupo, enviado por ti e que encontrei?» Jacob respondeu: «É para alcançar benevolência da parte do meu senhor.» E Esaú disse-lhe: «Possuo mais do que o suficiente, meu irmão; guarda o que é teu.» Jacob respondeu: «Oh! Não! Se alcancei a tua benevolência, aceitarás de minha mão este presente, pois olhei a tua face, como se olha para a face de Deus, e tu recebeste-me bem. Aceita, pois, o meu presente que te ofereceram por mim, porque Deus foi generoso comigo e possuo o suficiente.» E tanto insistiu que Esaú aceitou. Então, Esaú disse: «Partamos, prossigamos juntos e seguirei os teus passos.» Jacob respondeu-lhe: «O meu senhor sabe que as crianças são delicadas e que o gado miúdo e graúdo, que ainda mama, exige os meus cuidados; se os apressarem, ainda que só por um dia, todo o gado novo perecerá. Que o meu senhor queira passar adiante do seu servo; eu caminharei devagar, ao passo da caravana que me precede e ao passo dos meninos, até juntar-me ao meu senhor, em Seir.» Esaú disse-lhe: «Vou, então, mandar-te escoltar por alguns dos meus homens.» Jacob respondeu: «Para quê? Eu queria apenas encontrar benevolência diante do meu senhor!» E nesse mesmo dia Esaú retomou o caminho de Seir. Mas Jacob dirigiu-se para Sucot; edificou ali uma casa e construiu cabanas para o gado. Foi por isso que chamaram àquele lugar Sucot. Quando Jacob regressou são e salvo de Padan-Aram, chegou à cidade de Siquém no país de Canaã; e fixou-se em frente dessa cidade. Adquiriu aos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem moedas, uma parcela de terreno, onde acampou, e construiu ali um altar, que dedicou «a El, Deus de Israel.» Dina, a filha que Lia dera a Jacob, saiu para travar conhecimento com as raparigas do país. Tendo-a visto Siquém, filho de Hamor, o heveu, governador do país, raptou-a e apoderou-se dela, violando-a. O seu coração prendeu-se, então, a Dina, filha de Jacob; amou a donzela e falou-lhe ao coração. E Siquém disse a Hamor, seu pai: «Dá-me esta jovem por mulher.» Jacob soube que Dina, sua filha, fora violada. Seus filhos estavam com o gado no campo e, por isso, Jacob calou-se até ao seu regresso. E Hamor, pai de Siquém, foi ter com Jacob, para lhe falar. Mas os filhos de Jacob tinham voltado do campo e estavam consternados com o que sucedera. A sua indignação era muito grande, porque uma infâmia caíra sobre Israel: Siquém dormira com a filha de Jacob, o que não se devia fazer. Hamor falou-lhe nestes termos: «O coração de meu filho Siquém está preso à vossa filha; concedei-lha como esposa, peço-vos. Aparentai-vos connosco: dai-nos as vossas filhas e casai com as nossas. Habitai connosco e o país ficará à vossa disposição; ficai aqui, explorai o país, estabelecei-vos nele.» Siquém disse ao pai e aos irmãos da jovem: «Possa eu encontrar a vossa benevolência. O que me pedirdes, eu vo-lo darei. Darei o que pedirdes, por mais elevados que sejam o dote e os presentes; mas dai-me somente a jovem por mulher.» Os filhos de Jacob responderam astuciosamente a Siquém e a Hamor, seu pai, porque tinham ultrajado Dina, sua irmã. Disseram-lhe: «Não poderemos agir assim, dando a nossa irmã a um homem incircunciso; seria uma desonra para nós. Só estaremos de acordo convosco, se procederdes como nós, circuncidando todos os varões que estão entre vós. Então, dar-vos-emos as nossas filhas e aceitaremos as vossas; habitaremos convosco e formaremos um só povo. Mas, se não nos ouvirdes acerca da circuncisão, tomaremos a nossa filha e separar-nos-emos.» As suas palavras agradaram a Hamor e a Siquém, seu filho. O jovem não hesitou em fazer o que se lhe pedia, pois estava enamorado da filha de Jacob; além disso, era muito considerado entre todos os parentes de seu pai. Hamor foi com Siquém, seu filho, para a porta da sua cidade e falaram aos habitantes da cidade, nestes termos: «Estes homens procedem de boa fé para connosco; habitem eles no país e que o explorem, pois o país é suficientemente vasto para os receber. Tomaremos as suas filhas para esposas e dar-lhes-emos as nossas. Mas estes homens só com uma condição consentem habitar connosco, a fim de formarmos um só povo: todo o varão que vive entre nós deve ser circuncidado como eles o são. Não é verdade que todos os seus rebanhos, os seus bens e todo o seu gado será para nós? Concordemos com os seus desejos, e eles ficarão connosco.» Todos os que habitavam no recinto da cidade ouviram Hamor e Siquém, seu filho; e todo o varão foi circuncidado, entre os cidadãos da cidade. No terceiro dia, sofrendo eles dores violentas, dois dos filhos de Jacob, Simeão e Levi, irmãos de Dina, tomaram cada um a sua espada, marcharam resolutamente sobre a cidade e mataram todos os varões. Passaram a fio da espada Hamor e Siquém, seu filho, levaram Dina da casa de Siquém e retiraram-se. Os filhos de Jacob despojaram os cadáveres e saquearam a cidade, porque tinham ultrajado sua irmã. Apossaram-se do seu gado miúdo e graúdo, dos seus jumentos e do que estava na cidade e nos campos. Levaram todos os seus bens, os seus filhos e as suas mulheres e tudo o que estava nas casas. Então Jacob disse a Simeão e a Levi: «Tornastes-me desditoso, deixando-me mal visto entre os habitantes do país, os cananeus e os perizeus; reunir-se-ão contra mim e, como só tenho um punhado de homens, fustigar-me-ão e serei exterminado com a minha família.» Eles responderam: «Devíamos deixar tratar a nossa irmã como uma prostituta?» O Senhor disse a Jacob: «Vai, sobe a Betel e permanece lá; constrói ali um altar ao Deus que te apareceu, quando fugias diante de Esaú, teu irmão.» Jacob disse à família e a todos os que estavam com ele: «Fazei desaparecer os deuses estrangeiros que estão no meio de vós; purificai-vos e mudai de vestes. Preparemo-nos para subir a Betel; construirei ali um altar ao Deus que me atendeu no dia da minha angústia e que esteve comigo nos caminhos por onde andei.» Entregaram então a Jacob todos os deuses estrangeiros que possuíam e as jóias que traziam nas orelhas. Jacob enterrou-as debaixo do terebinto que estava junto de Siquém. E partiram dominados pelo terror divino; as cidades em redor não perseguiram os filhos de Jacob. Jacob chegou, com todos os que o acompanhavam, a Luz, ou seja, Betel, que está no país de Canaã. Construiu ali um altar e chamou a esse lugar El-Betel, porque fora ali que o Senhor Deus lhe aparecera, quando fugia por causa de seu irmão. Entretanto, morreu Débora, ama de Rebeca, e foi enterrada abaixo de Betel, junto de um carvalho, que foi chamado Carvalho dos Prantos. Deus apareceu novamente a Jacob, depois do seu regresso de Padan-Aram, e abençoou-o. Deus disse-lhe: «Chamas-te Jacob; mas de futuro já não te chamarás Jacob e o teu nome será Israel.» Deu-lhe, assim, o nome de Israel. E Deus disse-lhe: «Eu sou o Deus supremo; vais crescer e multiplicar-te; de ti sairá um povo, uma multidão de povos sairá de ti, e das tuas entranhas sairão reis. Concedo-te o país que dei a Abraão e a Isaac e dá-lo-ei à tua posteridade depois de ti.» Deus desapareceu de junto dele e do lugar em que lhe falara. Jacob levantou um monumento naquele lugar sobre o qual fez uma libação e derramou óleo. E Jacob chamou Betel àquele lugar, no qual Deus conversara com ele. Partiram de Betel, e faltava ainda um pouco de tempo para chegarem a Efrata, quando Raquel deu à luz e o seu parto foi difícil. Durante as dores do parto, a parteira disse-lhe: «Ânimo, porque voltas a ter um filho.» Ora no momento do último suspiro – pois estava a morrer – deu-lhe o nome de Ben-Oni; mas seu pai chamou-o Benjamim. Então Raquel morreu e foi enterrada no caminho de Efrata, que é Belém. Jacob levantou um monumento sobre o seu túmulo: é o monumento do túmulo de Raquel, que ainda hoje existe. Israel partiu e levantou a sua tenda além de Migdal-Éder. Enquanto Israel residiu nesta região, Rúben teve relações com Bila, concubina de seu pai, e Israel soube-o. Foram doze os filhos de Jacob*, Filhos de Lia: o primogénito de Jacob, Rúben, depois Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zabulão. Filhos de Raquel: José e Benjamim. Filhos de Bila, escrava de Raquel: Dan e Neftali. E filhos de Zilpa, escrava de Lia; Gad e Aser. Estes são os filhos de Jacob, que nasceram no território de Padan-Aram. Jacob chegou junto de Isaac, seu pai, em Mambré, em Quiriat-Arbá, que é Hebron, onde viveram Abraão e Isaac. Os dias de Isaac foram de cento e oitenta anos. Expirando, morreu e reuniu-se aos seus pais, já velho e satisfeito com os seus dias. Esaú e Jacob, seus filhos, sepultaram-no. Esta é a descendência de Esaú, isto é, Edom. Esaú escolheu as suas mulheres entre as filhas de Canaã: Ada, filha de Elon, o hitita, e Oolibama, filha de Aná, filha de Cibeon, o heveu; depois, Basemat, filha de Ismael e irmã de Nebaiot. Ada deu a Esaú, Elifaz; Basemat deu à luz Reuel; e Oolibama deu à luz a Jeús, Jalam e Corá. São estes os filhos de Esaú, que nasceram no país de Canaã. Esaú tomou as suas mulheres, os seus filhos, as suas filhas e todas as pessoas da sua casa, os seus rebanhos, todos os seus animais e todos os bens que adquirira no país de Canaã, e emigrou para outra terra, por causa do seu irmão Jacob. Efectivamente, os seus bens eram demasiado numerosos para poderem habitar em comum, e o lugar em que viviam era insuficiente para os rebanhos de ambos. Esaú, isto é, Edom, estabeleceu-se, então, sobre a montanha de Seir. Esta é a descendência de Esaú, antepassado dos edomitas, sobre a montanha de Seir. Eis os nomes dos filhos de Esaú*, Elifaz, filho de Ada, mulher de Esaú; Reuel, filho de Basemat, mulher de Esaú. Os filhos de Elifaz foram: Teman, Omar, Sefó, Gatam e Quenaz. Timna tornou-se concubina de Elifaz, filho de Esaú, e deu-lhe Amalec. São estes os filhos de Ada, mulher de Esaú. Eis os filhos de Reuel: Naat, Zera, Chamá e Miza. Estes eram os filhos de Basemat, outra mulher de Esaú. Estes foram os filhos de Oolibama, filha de Aná, filha de Cibeon, mulher de Esaú: Jeús, Jalam e Corá. Seguem-se os chefes de família dos filhos de Esaú*. Filhos de Elifaz, primogénito de Esaú: o chefe Teman, o chefe Omar, o chefe Sefó, o chefe Quenaz, o chefe Corá, o chefe Gatam e o chefe Amalec. São estes os chefes saídos de Elifaz, no país de Edom; estes eram filhos de Ada. E estes são os filhos de Reuel, filho de Esaú: o chefe Naat, o chefe Zera, o chefe Chamá e o chefe Miza. São estes os chefes saídos de Reuel, no país de Edom; estes eram os descendentes de Basemat, mulher de Esaú. Estes são os filhos de Oolibama, mulher de Esaú: o chefe Jeús, o chefe Jalam e o chefe Corá. São estes os chefes nascidos de Oolibama, filha de Aná e mulher de Esaú. São estes os filhos de Esaú e são estes os seus chefes; isto é, de Edom. Estes são os filhos de Seir*, os horritas, primeiros habitantes do país: Lotan, Chobal, Cibeon, Aná, Dichon, Écer e Dichan. São estes os chefes dos horritas, filhos de Seir, no país de Edom. Os filhos de Lotan foram Hori e Hemam; e a irmã de Lotan, Timna. Eis os filhos de Chobal: Alvan, Manaat, Ebal, Sefó e Onam. Eis os filhos de Cibeon: Aiá e Aná. Foi este Aná que encontrou no deserto as fontes de água quente, quando apascentava os jumentos de Cibeon, seu pai. Aná teve um filho, Dichon, e uma filha, Oolibama. Eis os filhos de Dichon: Hemedan, Echeban, Jitran e Caran. Eis os filhos de Écer: Bilean, Zaavan e Jacan. Eis os filhos de Dichan: Uce e Aran. Seguem-se os chefes de família dos horritas: o chefe Lotan, o chefe Chobal, o chefe Cibeon, o chefe Aná, o chefe Dichon, o chefe Écer e o chefe Dichan. São estes os chefes dos horritas, segundo as suas famílias, no país de Seir. São estes os reis que reinaram no país de Edom, antes que um rei reinasse sobre os filhos de Israel: em Edom reinou primeiro Bela, filho de Beor; e o nome da sua cidade natal era Dinaba; Bela morreu, e reinou em seu lugar Jobab, filho de Zera de Bosra; Jobab morreu, e reinou em seu lugar Hucham, da região de Teman. Hucham morreu, e reinou em seu lugar Hadad, filho de Bedad, que derrotou Madian, nos campos de Moab. O nome da sua cidade era Avit. Hadad morreu, e reinou em seu lugar Sámela, de Massereca. Sámela morreu, e reinou em seu lugar Saul, de Reobot, nas margens do Eufrates. Saul morreu, e reinou em seu lugar Baal-Hanan, filho de Acbor. Baal-Hanan, filho de Acbor, morreu, e reinou em seu lugar Hadar, cuja cidade era Paú; a sua mulher era Meetabiel, filha de Matred, filha de Mê-Zaab. Eis agora os nomes dos chefes oriundos de Esaú, segundo as suas famílias, lugares e denominações: o chefe Timna, o chefe Alva, o chefe Jétet, o chefe Oolibama, o chefe Elá, o chefe Pinon, o chefe Quenaz, o chefe Teman, o chefe Mibçar, o chefe Magdiel e o chefe Iram. São estes os chefes de Edom, conforme as suas residências e as terras que ocuparam. Esaú foi o antepassado dos habitantes de Edom. Jacob habitou no país em que seu pai peregrinou, no país de Canaã. Esta é a descendência de Jacob. José, que era um jovem com dezassete anos, apascentava as ovelhas com os seus irmãos, os filhos de Bila e de Zilpa, mulheres de seu pai; e José contava ao pai o mal que se dizia de seus irmãos. Ora Israel preferia José aos seus outros filhos, porque era o filho da sua velhice, e mandara-lhe fazer uma túnica comprida. Os irmãos, vendo que o pai o amava mais do que a todos eles, ganharam-lhe ódio e não podiam falar-lhe amigavelmente. José teve um sonho que contou aos irmãos; e estes ficaram a odiá-lo ainda mais. José disse-lhes: «Peço-vos que ouçais o sonho que tive: fazíamos feixes no campo e, de repente, o meu feixe ergueu-se e ficou de pé, enquanto os vossos se puseram à volta e se prostraram diante dele.» Os irmãos disseram-lhe: «O quê? Reinarás tu sobre nós, tornar-te-ás senhor nosso?» E odiaram-no ainda mais, por causa dos seus sonhos e por causa das suas palavras. José teve ainda outro sonho, que contou aos irmãos, dizendo: «Tive ainda um sonho, no qual vi o Sol, a Lua e onze estrelas prostrarem-se diante de mim.» Contou-o ao pai e aos irmãos, e o pai repreendeu-o, dizendo: «Que significa um tal sonho? Será possível que eu, a tua mãe e os teus irmãos tenhamos de prostrar-nos por terra, a teus pés?» Os irmãos de José invejaram-no, mas o pai aguardou os acontecimentos. Um dia, os irmãos de José conduziram os rebanhos de seu pai para Siquém. E Israel disse a José: «Os teus irmãos apascentam os rebanhos em Siquém. Prepara-te, pois quero enviar-te para junto deles.» José respondeu: «Estou pronto.» E Israel continuou: «Peço-te que vás ver como vão os teus irmãos e como está o gado, e vem dizer-me.» Enviou-o, assim, do vale de Hebron e José partiu para Siquém. Um homem encontrou-o perdido pelo campo e perguntou-lhe: «Que procuras?» José respondeu: «Procuro os meus irmãos. Indica-me, por favor, onde é que apascentam o seu gado.» O homem disse-lhe: «Partiram daqui, pois ouvi-lhes dizer: ‘Vamos para Dotain.’» José seguiu os passos dos irmãos e encontrou-os em Dotain. Eles viram-no de longe e, antes que se aproximasse, fizeram planos para o matar. Disseram uns aos outros: «Eis que se aproxima o homem dos sonhos. Vamos, matemo-lo, atiremo-lo a qualquer cisterna e depois diremos que um animal feroz o devorou. Veremos, então, como se realizarão os seus sonhos.» Rúben ouviu-os e quis salvá-lo das suas mãos. Então disse: «Não atentemos contra a sua vida.» Rúben disse ainda: «Não derrameis sangue! Atirai-o à cisterna que está no deserto, mas não levanteis a mão contra ele.» O seu intento era livrá-lo das suas mãos para o fazer regressar ao seu pai. Quando José chegou junto dos irmãos, estes despojaram-no da túnica comprida que usava e, agarrando-o, lançaram-no à cisterna. Esta estava vazia e sem água. Depois, sentaram-se para comer. Erguendo, porém, os olhos, viram uma caravana de ismaelitas que vinha de Guilead. Os camelos estavam carregados de aroma, de bálsamo e láudano, que levavam para o Egipto. Judá disse aos irmãos: «Que vantagem tiramos da morte de nosso irmão, ocultando o seu sangue? Vinde, vendamo-lo aos ismaelitas e que a nossa mão não caia sobre ele, porque é nosso irmão e da nossa família.» E os irmãos consentiram. Passaram por ali alguns negociantes madianitas, que conseguiram tirar José da cisterna; e eles venderam-no aos ismaelitas por vinte moedas de prata. Estes levaram José para o Egipto. Rúben voltou à cisterna e, vendo que José já não estava ali, rasgou os vestidos e, voltando para junto dos irmãos, disse: «O menino já não está ali, e eu, para onde irei?» Mas eles tomaram a túnica de José, degolaram um cabrito e mergulharam a túnica no sangue; depois enviaram a Jacob a túnica comprida, mandando-lhe dizer: «Eis o que encontrámos; verifica se é ou não a túnica do teu filho.» Jacob reconheceu-a e exclamou: «A túnica de meu filho! Um animal feroz devorou-o! José foi despedaçado!» E Jacob rasgou as suas vestes, pôs um cilício sobre os rins e usou luto por seu filho, durante muito tempo. Todos os seus filhos e filhas procuraram consolá-lo, mas ele recusou toda a consolação, dizendo: «Não! Chorando, juntar-me-ei ao meu filho, na sepultura!» E seu pai continuou a chorá-lo. Quanto aos madianitas, venderam José, no Egipto, a Potifar, eunuco do faraó e chefe dos guardas. Naquele tempo, Judá apartou-se dos seus irmãos e encaminhou-se para junto de um dos habitantes de Adulam, chamado Hirá. Judá viu ali a filha de um cananeu, de nome Chua: tomou-a por mulher e uniu-se com ela. Ela concebeu e deu à luz um filho, que ele chamou Er. Voltou a conceber e teve um filho que chamou Onan. Concebeu de novo e deu à luz um filho que chamou Chelá. Judá estava em Quesib, quando ela deu à luz Chelá. Judá escolheu para Er, seu primogénito, uma mulher chamada Tamar. Er, primogénito de Judá, desagradou ao Senhor e Ele feriu-o de morte. Então Judá disse a Onan: «Casa com a mulher do teu irmão, pois é essa a tua obrigação como cunhado, para dares descendência ao teu irmão.» Mas Onan compreendeu que essa descendência não seria a sua e, quando se aproximava da mulher de seu irmão, derramava no chão o sémen, a fim de não dar descendência a seu irmão. A sua conduta desagradou ao Senhor, que também lhe deu a morte. E Judá disse a Tamar, sua nora: «Conserva-te viúva na casa de teu pai, até que meu filho Chelá cresça.» Judá, porém, temia que ele também morresse como os irmãos. E Tamar foi morar para casa de seu pai. Muito tempo depois, morreu a filha de Chua, mulher de Judá. Passado o luto, foi Judá a Timna com o seu amigo Hirá, de Adulam, a fim de vigiar a tosquia das ovelhas. Informaram disso Tamar, nestes termos: «Teu sogro sobe neste momento para Timna, para a tosquia das ovelhas.» Então ela tirou as vestes de viúva, cobriu-se com um véu e sentou-se à entrada de Enaim, no caminho de Timna, porque via que Chelá já tinha crescido e ela não lhe fora dada por mulher. Ao vê-la, Judá tomou-a por uma prostituta, porque tinha a cara coberta com um véu. Aproximou-se dela e disse-lhe: «Deixa-me ir contigo.» Pois ignorava que ela fosse a sua nora. Ela respondeu: «O que me darás para vires comigo?» Judá respondeu: «Mandar-te-ei um cabrito do meu rebanho.» Tamar replicou: «Está bem, se me deres um penhor, enquanto espero que envies o cabrito.» Judá perguntou-lhe: «Que penhor te hei-de dar?» Ao que ela respondeu: «O teu selo, o teu cordão e o bastão que tens na mão.» Judá deu-lhos, uniu-se a ela, e Tamar concebeu um filho. Depois, levantando-se, partiu e tirou o véu da cabeça, voltando a vestir as roupas de viúva. Judá enviou o cabrito por intermédio do seu amigo Hirá de Adulam, a fim de retirar o penhor das mãos daquela mulher; mas ele não a encontrou. Interrogou os habitantes daquela terra, dizendo: «Onde está a prostituta, que aparece em Enaim, à beira do caminho?» Responderam-lhe: «Nunca houve aqui nenhuma prostituta.» Voltou então para junto de Judá e disse-lhe: «Não a encontrei e, além disso, os habitantes daquela terra disseram que ali nunca houve prostituta alguma.» Judá disse: «Que ela fique com o que tem, para que não tenhamos de nos envergonhar: eu que lhe enviei o cabrito, e tu que não a pudeste encontrar.» Cerca de três meses depois, disseram a Judá: «Tamar, a tua nora, prevaricou e até ficou grávida com a sua prostituição. Judá respondeu: «Levai-a, e que seja queimada.» Quando a levavam, ela mandou dizer ao sogro: «Na verdade, estou grávida do homem a quem estas coisas pertencem.» E continuou: «Verifica, peço-te, a quem pertence este selo, este cordão e este bastão.» Judá reconheceu-os e disse: «Ela é mais justa do que eu, pois é verdade que não lhe dei o meu filho Chelá.» Contudo, a partir de então, não voltou a conhecê-la. E quando chegou a ocasião de dar à luz, Tamar trazia dois gémeos no seio. Durante o parto, um deles estendeu a mão e a parteira pegou nela, atando-lhe um fio escarlate, para indicar que era o primogénito. Mas ele retirou a mão e nasceu seu irmão. Então a parteira disse: «Que passagem abriste para ti!» E chamaram-lhe Peres. Em seguida, nasceu o irmão; numa das mãos trazia o fio escarlate, e chamaram-lhe Zera. José foi levado para o Egipto e Potifar, um egípcio, eunuco do faraó e chefe dos guardas, comprou-o aos ismaelitas que para lá o tinham conduzido. O Senhor estava com José, que veio a ser um homem afortunado, sendo admitido na casa do seu senhor egípcio. O seu senhor viu que o Senhor estava com ele e que fazia prosperar todas as obras das suas mãos. José obteve a sua benevolência, tornando-se seu servidor; Potifar pô-lo à frente da sua casa e confiou-lhe tudo o que possuía. A partir do momento em que o pôs à frente da sua casa e de todos os seus negócios, o Senhor abençoou a casa do egípcio, por causa de José; e a bênção divina estendeu-se sobre todos os seus bens, tanto em casa como nos campos. Então, abandonou tudo o que possuía nas mãos de José e não se ocupou com mais nada, a não ser com o pão que comia. Ora José era esbelto de corpo e belo de rosto. E aconteceu que, depois de tudo isto, a mulher do seu senhor lançou os olhos sobre José e disse-lhe: «Dorme comigo.» José recusou, dizendo à mulher do seu senhor: «Sabe que o meu senhor não me pede contas de nada da sua casa e que entregou nas minhas mãos todos os seus negócios; não há ninguém maior do que eu nesta casa, e ele não me proibiu coisa alguma, excepto tu, porque és sua esposa; como poderei cometer uma tão grande falta e assim ofender a Deus?» Apesar de ela repetir o convite todos os dias a José, este não acedeu aos seus desejos e não se aproximou dela. Mas um dia, numa dessas ocasiões, ao entrar em casa para fazer o seu trabalho, não se encontrando ali ninguém, ela segurou-o pelo manto, dizendo: «Vem, comigo.» José abandonou o manto na mão dela, e fugiu para fora. Quando ela viu que lhe deixara o manto na mão e que fugira, gritou pela gente da casa e disse-lhes: «Vede! Trouxeram-nos um hebreu para se rir de nós! Aproximou-se de mim para se deitar comigo e tive de gritar bem alto. Quando me ouviu levantar a voz pedindo ajuda, deixou o manto junto de mim e fugiu para fora.» Depois guardou o manto de José junto dela, até que o seu amo regressasse a casa. E repetiu-lhe a mesma história, dizendo: «O escravo hebreu que nos trouxeste aproximou-se para abusar de mim. Depois, como gritei, deixou o manto junto de mim e fugiu para fora.» Quando o amo de José ouviu a exposição feita por sua mulher, a qual dizia: «Aqui está o que me fez o teu escravo», enfureceu-se. O senhor de José mandou-o agarrar e fecharam-no na prisão, onde estavam detidos os prisioneiros do rei. E José ficou na prisão. O Senhor estava com José, tornou-o estimado e fê-lo obter as boas graças do governador da prisão. O governador confiou-lhe todos os prisioneiros, que estavam na prisão, e tudo o que ali se fazia era dirigido por ele. O governador não examinava coisa alguma do que lhe confiara, porque o Senhor estava com ele; e o Senhor fazia com que fosse bem sucedido em tudo o que empreendia. Depois destes acontecimentos, sucedeu que o copeiro-mor e o padeiro-mor do rei do Egipto ofenderam o seu senhor, o rei do Egipto. O faraó, irritado contra estes dois eunucos – o copeiro-mor e o padeiro-mor – mandou-os prender na casa do chefe dos guardas, no mesmo lugar onde José estava detido. O chefe dos guardas pôs José à sua disposição e este servia-os. O copeiro e o padeiro do faraó do Egipto já estavam presos havia algum tempo, quando ambos tiveram um sonho, na mesma noite, cada um o seu, e com sentidos diferentes. Ao aproximar-se deles, de manhã, José notou que estavam preocupados e perguntou aos eunucos do faraó que estavam presos juntamente com ele na casa do seu senhor: «Porque está hoje sombrio o vosso rosto?» Responderam-lhe: «Tivemos um sonho e não há ninguém para o interpretar.» José disse-lhes: «Não pertence a interpretação a Deus? Contai-me o sonho.» O copeiro-mor contou o seu sonho a José, dizendo: «No meu sonho, uma videira estava diante de mim. E nessa videira havia três ramos. Apenas ela floriu, as flores cresceram e os rebentos da videira deram uvas maduras. Eu tinha na mão a taça do faraó, colhia as uvas, espremia o sumo na taça do faraó e apresentava a taça ao rei.» José respondeu: «Eis a explicação: os três ramos são três dias. Três dias ainda, e o faraó libertar-te-á, restabelecendo-te no teu posto; e porás a taça do faraó na sua mão, na tua anterior qualidade de copeiro. Se te lembrares de mim, quando fores ditoso, presta-me, por favor, um bom serviço: fala de mim ao faraó e faz-me sair desta prisão. Pois fui arrebatado do país dos hebreus; e também aqui não tinha feito nada, quando me atiraram para esta prisão.» O padeiro-mor, ao ver que José dera uma interpretação favorável, disse-lhe: «Quanto a mim, no meu sonho, eu tinha três cestos de pães sobre a minha cabeça. No cesto superior havia os manjares do faraó, que o padeiro costuma preparar, mas as aves comiam-nos do cesto que estava à minha cabeça.» José respondeu nestes termos: «Eis a explicação: os três cestos são três dias. Três dias ainda e o faraó mandar-te-á cortar a cabeça e suspender numa forca; e os pássaros virão debicar a tua carne.» Ora, no terceiro dia, aniversário do nascimento do faraó, este deu um banquete a todos os seus servos e, dentre eles, chamou o copeiro-mor e o padeiro-mor. Encarregou o copeiro-mor de lhe dar de novo de beber, e ele apresentou a taça ao faraó. Quanto ao padeiro-mor, mandou-o enforcar, como José vaticinara. Mas o copeiro-mor não se lembrou mais de José e esqueceu-se dele. Dois anos depois, o faraó teve um sonho: estava de pé junto do Nilo. E do Nilo saíram sete vacas, belas e gordas, que se puseram a pastar a erva; depois destas saíram do rio outras sete vacas, enfezadas e magras, e pararam junto das primeiras, na margem do rio. E as vacas enfezadas e magras devoraram as sete vacas belas e gordas. Então, o faraó acordou. Adormeceu de novo e teve um segundo sonho: sete espigas, grandes e belas, subiram de uma mesma haste; depois, sete espigas raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente germinaram a seguir às primeiras. E as espigas raquíticas engoliram as sete espigas grandes e cheias. Então, o faraó acordou: era um sonho. Pela manhã, com o espírito agitado, o faraó mandou chamar todos os magos do Egipto e todos os seus sábios. Contou-lhes os sonhos, mas ninguém conseguia explicá-los. Então o copeiro-mor falou diante do faraó nestes termos: «Hoje devo confessar a minha falta. Um dia, o faraó estava irritado contra os seus servos; mandou-os encerrar na casa do chefe dos guardas, a mim e ao padeiro-mor. Ambos tivemos um sonho na mesma noite, e os nossos sonhos tinham, cada um, o seu significado. Estava lá connosco um jovem hebreu, escravo do chefe dos guardas. Contámos-lhe os nossos sonhos e ele interpretou-os, dando a cada um de nós o significado do sonho. E tudo aconteceu como ele tinha interpretado: eu fui restabelecido no meu posto e o outro foi enforcado.» O faraó mandou procurar José, o qual foi rapidamente tirado da prisão. Barbeou-se, mudou de vestidos e apresentou-se diante do faraó. E o faraó disse a José: «Tive um sonho que ninguém me explica, mas ouvi dizer que tu sabes interpretar os sonhos.» José respondeu ao faraó, dizendo: «Não sou eu, é Deus quem dará ao faraó uma resposta satisfatória.» Então, o faraó falou assim a José: «No meu sonho, estava na margem do rio. E do rio saíram sete vacas, belas e gordas que se puseram a pastar a erva; depois, seguiram-nas outras sete vacas magras, muito enfezadas e todas descarnadas; nunca vi outras tão magras em todo o país do Egipto. As vacas magras e enfezadas devoraram as sete primeiras vacas, as gordas; estas passaram para o seu corpo, sem que parecesse terem ali entrado: o seu aspecto permaneceu enfezado como antes. Então acordei. Vi depois, num outro sonho, sete espigas elevarem-se sobre uma mesma haste, cheias e belas; mas em seguida eis que nasceram outras sete espigas, raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente. E estas espigas raquíticas engoliram as sete espigas grandes. Contei isso aos magos e nenhum deles mo explicou.» José disse ao faraó: «O sonho do faraó é só um. Deus anunciou ao faraó o que vai fazer. As sete vacas belas são sete anos; as sete espigas grandes são sete anos; é um mesmo sonho. E as sete vacas magras e feias, que subiam em segundo lugar, são sete anos; e as sete espigas raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente são sete anos. Serão sete anos de fome. É o que eu disse ao faraó: Deus revelou ao faraó o que vai fazer. Sim, vão chegar sete anos de grande abundância a todo o território do Egipto. Mas sete anos de fome surgirão a seguir, de modo que toda a abundância desaparecerá do Egipto e a fome devastará o país. A recordação da abundância apagar-se-á no país, devido à fome que se seguirá, porque será excessiva. E se o sonho do faraó se repetiu duas vezes, é porque isto está decidido diante de Deus e porque Deus está quase a realizá-lo. Agora escolha o faraó um homem prudente e sábio, encarregando-o do país do Egipto. Que o faraó nomeie comissários para o país e lance o imposto de um quinto sobre as colheitas do Egipto, durante os sete anos de abundância. Que se acumulem todas as sobras de víveres desses anos férteis que se aproximam; que se armazene trigo sob a autoridade do faraó, nas cidades, como reserva de víveres. Essas provisões serão um recurso para o país durante os sete anos de fome que vão chegar ao Egipto, a fim de que o país não pereça pela fome.» Estas palavras agradaram ao faraó e a todos os seus servos. E o faraó disse aos servos: «Poderemos nós encontrar outro homem como este, cheio do espírito de Deus?» E o faraó disse a José: «Visto que Deus te revelou tudo isso, não há ninguém tão inteligente e tão sábio como tu. Tu mesmo serás o chefe da minha casa; todo o meu povo será governado por ti e somente pelo trono é que serei maior do que tu.» E disse ainda a José: «Eis que te ponho à frente de todo o país do Egipto.» Então o faraó tirou da mão o anel, passou-o para a de José, mandou-o vestir com vestes de linho fino e pôs-lhe ao pescoço o colar de ouro. Mandou-o subir para o segundo dos seus carros, e gritavam diante dele: «Prestem homenagem!» E assim foi estabelecido chefe de todo o país do Egipto. O faraó disse a José: «Eu sou o faraó; mas, sem a tua permissão, ninguém moverá a mão ou o pé em todo o Egipto.» O faraó cognominou José Safnat-Panéa e deu-lhe por mulher Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On. E José partiu para inspeccionar o país do Egipto. Tinha trinta anos quando apareceu diante do faraó, rei do Egipto. E saindo da presença do faraó, José percorreu todo o país do Egipto. A terra, durante os sete anos de fertilidade, produziu colheitas abundantes. Acumularam-se as provisões dos sete anos de abundância, que houve no Egipto, e abasteceram-se as cidades; puseram em cada cidade os géneros dos campos que as rodeavam e guardaram-nos em cada uma. José acumulou trigo como a areia do mar, em tão grande quantidade que deixaram de o medir, pois era incalculável. Antes que chegasse o período da fome, nasceram a José dois filhos, que lhe deu Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On. José chamou ao primogénito Manassés: «Porque – disse ele – Deus fez-me esquecer todas as minhas tribulações e toda a casa de meu pai.» Ao segundo chamou Efraim: «Porque – disse ele – Deus fez-me frutificar, no país do meu infortúnio.» Tendo terminado os sete anos de abundância, no país do Egipto, sobrevieram os sete anos da fome, como José predissera. Houve fome em todos os países, mas no Egipto havia pão. Quando a fome começou a manifestar-se no Egipto, o povo clamou por pão ao faraó; mas o faraó respondeu aos egípcios: «Ide ter com José; fazei o que ele vos disser.» Estendendo-se a fome a toda a terra, José abriu todos os celeiros e vendeu trigo aos egípcios. Mas a fome persistiu no país do Egipto. De todos os países vinham ao Egipto para comprar trigo a José, pois a fome era violenta em toda a terra. Sabendo Jacob que havia trigo à venda no Egipto, disse aos seus filhos: «Porque olhais uns para os outros?» E disse ainda: «Ouvi dizer que há trigo à venda no Egipto. Ide lá comprá-lo, para nós continuarmos vivos e não morrermos.» Os irmãos de José partiram, em número de dez, para comprar trigo no Egipto. Quanto a Benjamim, irmão de José, Jacob não o deixou ir com os irmãos, porque, dizia ele de si para consigo: «Poderia acontecer-lhe algum mal.» E os filhos de Israel foram comprar trigo, juntamente com outros que iam, pois também havia fome no país de Canaã. Ora José era governador do país; era ele que mandava distribuir o trigo a todo o povo do país. Quando os irmãos de José chegaram, prostraram-se diante dele com o rosto por terra. Vendo os irmãos, José reconheceu-os; dissimulou, porém, diante deles e falou-lhes com dureza, dizendo: «Donde vindes?» Ao que eles responderam: «Do país de Canaã, para comprar víveres.» José reconheceu os irmãos mas eles não o reconheceram. José recordou-se, então, dos sonhos que tivera acerca deles e disse-lhes: «Sois espiões! É para descobrir o lado fraco do país que viestes.» Responderam-lhe: «Não, senhor, os teus servos vieram para comprar víveres. Somos todos filhos de um mesmo pai; somos pessoas honestas: os teus servos nunca foram espiões.» Disse-lhes José: «Não é assim! Viestes reconhecer os lados fracos do território.» Responderam-lhe: «Nós, os teus servos, éramos doze irmãos, filhos de um mesmo pai e habitantes do país de Canaã; o mais novo está junto do nosso pai neste momento e o outro já não existe.» José disse-lhes: «É aquilo que eu disse: sois espiões! Por isso vos porei à prova: pela vida do faraó, não saireis daqui enquanto o vosso irmão mais novo não tiver vindo. Mandai um de vós buscá-lo, enquanto ficais prisioneiros; verificar-se-á, assim, a sinceridade das vossas palavras. Doutro modo, pela vida do faraó, sereis considerados espiões.» E fechou-os na prisão durante três dias. No terceiro dia, José disse-lhes: «Fazei o seguinte e vivereis, porque temo o Senhor, se procedeis de boa fé, que só um de vós fique detido na prisão, enquanto ireis levar às vossas famílias com que lhes matar a fome. Depois, trazei-me o vosso irmão mais novo: assim, as vossas palavras serão justificadas, e não morrereis.» E eles concordaram. Disseram, então, uns aos outros: «Na verdade, nós estamos a ser castigados por causa do nosso irmão; vimos o seu desespero quando nos implorou compaixão, e não o escutámos. Por isso veio sobre nós esta desgraça.» Rúben respondeu-lhes nestes termos: «Eu bem vos dizia, então: ‘Não pequeis contra o menino!’ Mas não me escutastes. Agora respondemos pelo seu sangue.» Ora eles não sabiam que José os compreendia, porque lhes falava por meio de um intérprete. José afastou-se deles e chorou. Depois voltou para junto dos irmãos e falou-lhes. Escolheu Simeão e mandou-o encarcerar na presença deles. José ordenou, então, que lhes enchessem de trigo os sacos; que pusessem o dinheiro de cada um no seu saco e que lhes dessem provisões para a viagem. Tudo isso foi executado. Eles carregaram o trigo nos jumentos e partiram. Na estalagem, ao abrir o saco para dar a ração ao jumento, um deles encontrou o dinheiro, que estava na boca do saco. E disse aos seus irmãos: «Devolveram-me o dinheiro; está aqui no meu saco.» Desfaleceu-lhes o coração e olharam uns para os outros, atemorizados, dizendo: «O que é isto que Deus nos fez?» Chegando junto de Jacob, seu pai, no país de Canaã, contaram-lhe tudo o que lhes tinha acontecido, nestes termos: «O homem, que é senhor do país, falou-nos com dureza; tratou-nos como a espiões que iam explorar o país. Nós dissemos-lhe: ‘Somos pessoas honestas, nunca fomos espiões. Éramos doze irmãos, filhos do mesmo pai: um já não vive, e o mais novo está agora com o nosso pai no país de Canaã.’ E o homem, que é senhor daquele país, respondeu-nos: ‘Reconhecerei que sois sinceros, se deixardes junto de mim um de vós; tomai o que é preciso para as necessidades das vossas famílias e parti; depois, trazei-me o vosso irmão mais novo. Saberei, assim, que não sois espiões e que sois pessoas honestas. Entregar-vos-ei, então, o vosso irmão, e podereis circular no país, fazendo as vossas compras.’» Ao esvaziarem os seus sacos, todos eles encontraram o dinheiro dentro deles; à vista desse dinheiro, tanto eles como o pai estremeceram. Então Jacob, seu pai, disse-lhes: «Ainda me ides deixar sem meus filhos! José desapareceu, Simeão desapareceu e quereis agora tirar-me Benjamim! É sobre mim que tudo isto cai.» Rúben disse ao pai: «Tira a vida aos meus dois filhos, se eu to não trouxer; entrega-o nas minhas mãos e trá-lo-ei para junto de ti.» Jacob respondeu: «O meu filho não irá convosco; porque o seu irmão já não existe e só ele ficou. Se lhe acontecesse algum mal durante a viagem que ides fazer, os meus cabelos brancos desceriam ao túmulo com o peso da dor.» Entretanto, a fome pesava sobre o país. Quando consumiram todo o trigo que tinham trazido do Egipto, o pai disse-lhes: «Voltai e comprai-nos alguns víveres.» Judá respondeu-lhe: «Aquele homem falou categoricamente e disse-nos: ‘Não torneis à minha presença sem que esteja convosco o vosso irmão.’ Se consentes que o nosso irmão vá connosco, então iremos comprar-te víveres. Mas se não o deixares ir, não podemos lá voltar, pois aquele homem disse-nos: ‘Não apareçais diante de mim, se não vierdes acompanhados pelo vosso irmão.’» E Israel replicou: «Porque procedestes mal para comigo, informando esse homem de que tínheis ainda um irmão?» Responderam-lhe: «Aquele homem fez muitas perguntas, a nosso respeito e da nossa família, dizendo: ‘Vosso pai vive ainda? Tendes mais algum irmão?’ E nós respondemos às suas perguntas. Podíamos acaso prever que ele diria: ‘Fazei vir o vosso irmão?’» E Judá disse a Israel, seu pai: «Deixa ir o menino comigo, a fim de que possamos partir; e assim poderemos viver, nós, tu e os nossos filhos, em vez de morrermos. Sou eu que respondo por ele; é a mim que o reclamarás; se eu não o trouxer e não o puser diante de ti, declarar-me-ei culpado para contigo, para todo o sempre. Se não tivéssemos demorado tanto, já estávamos de volta pela segunda vez!» Israel, seu pai, disse-lhe: «Visto que é assim, está bem! Fazei isto: metei nas vossas bagagens os melhores produtos do país e levai-os como homenagem a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, aromas, láudano, pistácios e amêndoas. Levai também convosco o dobro do dinheiro, assim como a soma que encontrastes na boca dos sacos, certamente por engano. Levai o vosso irmão e preparai-vos para voltar à presença desse homem. Que o Deus supremo vos faça encontrar compaixão junto desse homem, a fim de que vos deixe vir com o outro vosso irmão e com Benjamim. Quanto a mim, se tiver de ser privado dos meus filhos, paciência, que eu seja privado deles.» Os homens tomaram consigo os presentes, muniram-se com o dobro do dinheiro e levaram Benjamim. Puseram-se a caminho do Egipto e apresentaram-se diante de José. Logo que José viu Benjamim entre eles, disse ao seu intendente: «Manda entrar esses homens em minha casa; manda matar um animal e prepara-o, porque esses homens comerão comigo ao meio-dia.» O intendente obedeceu às ordens e introduziu os viajantes na casa de José. Mas, quando os introduziram na casa de José, eles alarmaram-se e disseram: «É por causa do dinheiro reposto nos nossos sacos, da outra vez, que nos trouxeram para aqui; é para nos agredirem, caindo sobre nós, para nos escravizarem e se apoderarem dos nossos jumentos.» Aproximaram-se do homem, que governava a casa de José, e falaram-lhe à entrada da casa, dizendo: «Perdão, senhor! Já aqui estivemos uma vez para comprar víveres. Ora aconteceu que, ao chegarmos a uma estalagem, abrimos os nossos sacos e encontrámos o dinheiro de cada um na boca de cada saco – o nosso próprio dinheiro. Temo-lo nas mãos e trouxemos connosco uma outra quantia, para comprar víveres. Não sabemos quem tornou a pôr o nosso dinheiro nos nossos sacos.» Disse-lhes ele: «Tranquilizai-vos, não vos atemorizeis. O vosso Deus, o Deus do vosso pai, é que vos fez encontrar um tesouro nos vossos sacos: o vosso dinheiro foi-me entregue.» E trouxe-lhes Simeão. O intendente mandou-os entrar na casa de José; deram-lhes água para lavarem os pés e deram forragem aos animais. Enquanto esperavam José, que devia chegar ao meio-dia, prepararam os presentes, porque lhes tinham dito que comeriam ali. Quando José entrou em casa, levaram-lhe os presentes que tinham trazido e inclinaram-se até ao chão, diante dele. José informou-se da sua saúde e depois disse: «Como está o vosso velho pai, esse ancião do qual me falastes? Ainda é vivo?» Eles responderam: «O teu servo, nosso pai, está de saúde e vive ainda.» Então inclinaram-se, prostrando-se. Levantando os olhos, José viu Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: «É este o vosso irmão mais novo, do qual me falastes?» E continuou: «Que Deus te seja favorável, meu filho!» E José apressou-se a sair, porque ficou enternecido, à vista do seu irmão, e tinha necessidade de chorar; entrou no seu aposento e chorou. Depois, lavou o rosto e voltou a sair. Então, procurando dominar-se, disse: «Servi a refeição.» Serviram-lhes a refeição em três mesas separadas: numa para José, na outra para os irmãos e na terceira para os egípcios; porque não é permitido aos egípcios comer com os hebreus, pois isto é uma abominação, no Egipto. Sentaram-se à mesa diante dele, o primogénito segundo a sua idade e o mais novo segundo a sua; e os homens olhavam uns para os outros com assombro. José mandou que lhes servissem iguarias na sua mesa, mas a porção de Benjamim foi cinco vezes maior do que a dos outros. Beberam e alegraram-se todos juntos. José deu a seguinte ordem ao intendente da sua casa: «Enche de víveres os sacos destes homens, tanto quanto eles puderem conter e põe o dinheiro de cada um na boca do saco. Põe também a minha taça de prata na boca do saco do mais novo, juntamente com o preço do trigo.» E tudo foi executado como José ordenara. Quando chegou a manhã, deixaram partir os homens com os seus jumentos. Acabavam de sair da cidade e ainda estavam a pouca distância, quando José disse ao intendente da sua casa: «Vai, corre atrás desses homens e, assim que os encontrares, diz-lhes: ‘Porque pagastes o bem com o mal? É precisamente por essa taça que bebe o meu senhor, e é dela que ele se serve para adivinhar. Praticastes uma má acção!’» Tendo-os alcançado, o intendente disse-lhes essas mesmas palavras. Eles responderam-lhe: «Porque fala assim o meu senhor? Longe de teus servos terem cometido uma tal acção! Trouxemos-te do país de Canaã o dinheiro que encontrámos na boca dos nossos sacos. Como poderíamos, então, furtar da casa de teu amo ouro ou prata? Aquele dos teus servos que o tiver em seu poder morrerá, e nós mesmos seremos escravos do meu senhor!» O intendente replicou: «Sim, é certo e justo o que dizeis: somente aquele que for encontrado na posse da taça será meu escravo, e vós ficareis livres.» Todos eles se apressaram a pousar os sacos no chão e cada um abriu o seu. E o intendente revistou-os, começando pelo mais velho e acabando no mais novo. A taça foi encontrada no saco de Benjamim. Rasgaram, então, as suas vestes; tornaram a carregar os jumentos e voltaram para a cidade. Judá entrou com os irmãos na casa de José, que ainda ali se encontrava e prostraram-se no chão, aos seus pés. José disse-lhes: «Que procedimento foi o vosso? Não sabeis que um homem como eu tem poder de adivinhar?» Judá respondeu: «Que havemos de dizer ao meu senhor? Como falar e como justificar-nos? Deus descobriu a iniquidade dos teus servos. Seremos agora os escravos do meu senhor, tanto nós como aquele em cujo poder se encontrou a taça.» E José replicou: «Longe de mim proceder assim! O homem, em cujo poder se encontrou a taça, é que será meu escravo. Quanto a vós, voltai em paz para junto do vosso pai.» Então, Judá aproximou-se de José e disse-lhe: «Por favor, senhor, que o teu servo possa dizer uma palavra aos ouvidos do meu senhor, e que a tua cólera não se inflame contra o teu servo! Porque tu és igual ao faraó. Quando o meu senhor interrogou os seus servos, dizendo: ‘Tendes ainda pai ou outro irmão?’, nós respondemos ao meu senhor: ‘Temos um pai idoso e um irmão jovem, filho da sua velhice. Seu irmão morreu, ficando ele só, dos filhos de sua mãe, e o pai está muito afeiçoado a ele.’ Tu disseste então aos teus servos: ‘Trazei-mo, para que eu o veja.’ E nós respondemos ao meu senhor: ‘O menino não poderá deixar o pai; se ele o deixasse, seu pai morreria.’ Mas tu disseste aos teus servos: ‘Se o vosso irmão mais novo não vos acompanhar, não torneis a aparecer diante de mim.’ Ao voltarmos para junto do teu servo, nosso pai, repetimos-lhe as mesmas palavras do meu senhor. E o nosso pai disse-nos: ‘Voltai, comprai-nos alguns víveres.’ Respondemos-lhe: ‘Não podemos partir. Se o nosso irmão mais novo não for connosco, não voltaremos; porque não podemos aparecer diante daquele homem, se o nosso irmão mais novo não estiver connosco.’ O teu servo e meu pai, disse-nos: ‘Sabeis que a minha mulher deu-me dois filhos. Um desapareceu de junto de mim e eu disse: Com certeza foi devorado! E não tornei a vê-lo, até hoje. Se me tirardes também este e se lhe acontecer algum mal, fareis descer os meus cabelos brancos ao túmulo, com o peso da dor.’ Agora, ao voltarmos para junto do teu servo e meu pai, como poderíamos não ir acompanhados pelo menino, cuja vida à dele está ligada?! Com certeza, não vendo o menino, ele morrerá; e os teus servos terão feito descer ao túmulo, dolorosamente, os cabelos brancos do teu servo e meu pai. Foi este teu servo que se responsabilizou pelo menino, perante meu pai, dizendo: ‘Se não o trouxer para junto de ti, serei para sempre culpado para com meu pai.’ Então, por favor, que o teu servo fique como escravo do meu senhor, em lugar do menino; que fique escravo do meu senhor e que o menino volte com os irmãos. Como poderei voltar para junto de meu pai, sem levar comigo o seu filho? Nem quero ver a dor que sobreviria a meu pai!» José não pôde conter-se diante dos que o rodeavam e exclamou: «Mandai sair toda a gente daqui!» Por isso não ficou ninguém presente, quando José se deu a conhecer aos irmãos. Mas ele chorava tão alto que os egípcios ouviram-no, e a notícia chegou também ao palácio do faraó. José disse então aos irmãos: «Eu sou José; meu pai ainda é vivo?» Mas eles não puderam responder-lhe, porque ficaram perturbados diante dele. José disse aos irmãos: «Aproximai-vos de mim, peço-vos!» E eles aproximaram-se. José continuou: «Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egipto. Mas não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós próprios, por me terdes vendido para este país; porque foi para podermos conservar a vida que Deus me mandou para aqui à vossa frente. Com efeito, há dois anos que a fome reina em toda esta região; e, durante cinco anos, não voltará a haver lavoura nem colheita. Deus enviou-me à vossa frente para vos preparar recursos, neste país, e para vos conservar a vida e garantir sobrevivência de uma forma maravilhosa. Não, não fostes vós que me fizestes vir para aqui. Foi Deus; foi Ele que me tornou como um pai para o faraó, senhor da sua casa e administrador de todo o país do Egipto. Apressai-vos a voltar para junto de meu pai e dizei-lhe: ‘Assim fala o teu filho José: Deus fez-me senhor de todo o Egipto. Vem para junto de mim, sem demora! Habitarás na terra de Góchen e estarás perto de mim; tu e os teus filhos, os teus netos, o teu gado miúdo e graúdo e tudo o que te pertence. Sustentar-te-ei ali, porque, durante cinco anos, ainda haverá fome, a fim de que nada sofras, tu, a tua família e tudo o que te pertence.’ Vedes com os vossos olhos, assim como meu irmão Benjamim, que, na verdade, sou eu que vos falo. Contai a meu pai todas as honras que me rodeiam no Egipto e tudo o que vistes, e apressai-vos a trazer o meu pai para cá.» Então lançou-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, e chorou; e Benjamim também chorou nos seus braços. José abraçou todos os seus irmãos e chorou abraçado a eles. Só então é que os irmãos puderam falar-lhe. A notícia espalhou-se por toda a corte do faraó: «Chegaram os irmãos de José!» E isto agradou ao faraó e aos seus servos. O faraó disse a José: «Diz aos teus irmãos: ‘Fazei assim: tornai a carregar os vossos animais e ponde-vos a caminho para Canaã. Trazei vosso pai e as vossas famílias e vinde para junto de mim; dar-vos-ei a melhor província do Egipto, e comereis os melhores frutos deste país.’ E ficas encarregado de transmitir esta ordem: ‘Fazei assim: tomai carros para os vossos filhos e para as vossas mulheres, no país do Egipto; fazei subir para eles o vosso pai e voltai. Não tenhais pena das vossas terras, porque o melhor do Egipto será para vós.’» Assim fizeram os filhos de Israel. José deu-lhes carros, segundo as ordens do faraó; forneceu-lhes provisões para a viagem e deu a todos, individualmente, vestidos novos; a Benjamim deu de presente trezentas moedas de prata e cinco mudas de roupa. E também enviou a seu pai dez jumentos carregados com os melhores produtos do Egipto e dez jumentas carregadas com trigo, pão e provisões que lhe serviriam para a viagem. Despediu-se dos irmãos, quando eles partiram, e disse-lhes: «Não entreis em discussões durante a viagem.» Partiram do Egipto e chegaram ao país de Canaã, à casa de seu pai Jacob. Disseram-lhe que José ainda era vivo e que governava todo o Egipto, mas o seu coração permaneceu frio, porque não acreditava neles. Repetiram-lhe então todas as palavras que José dissera e, quando viu os carros que José enviara para o levar, a vida voltou ao coração de Jacob, seu pai. E Israel exclamou: «Meu filho José ainda está vivo! Isso basta-me. Vou vê-lo antes de morrer.» Israel partiu com tudo o que lhe pertencia e chegou a Bercheba, onde imolou vítimas ao Deus de seu pai Isaac. Deus falou a Israel numa visão, durante a noite, e disse-lhe: «Jacob! Jacob!» Ele respondeu: «Eis-me aqui.» E Deus prosseguiu: «Eu sou o Deus de teu pai: não hesites em descer ao Egipto, porque tornar-te-ei ali uma grande nação. Eu mesmo descerei contigo ao Egipto; e Eu mesmo far-te-ei voltar de lá; e será José quem te fechará os olhos.» Jacob partiu de Bercheba. Os filhos de Israel fizeram subir Jacob, seu pai, assim como as suas mulheres e os seus filhos, para os carros enviados pelo faraó para os transportar. Tomaram os seus rebanhos e os bens que tinham adquirido no país de Canaã e foram para o Egipto, Jacob e toda a família. Os seus filhos e os seus netos, as suas filhas e as suas netas e toda a sua descendência acompanharam-no para o Egipto. Eis os nomes dos filhos de Israel que entraram no Egipto: Jacob e seus filhos: Rúben*, o primogénito de Jacob, e os filhos de Rúben: Henoc, Palú, Hesron e Carmi; e os filhos de Simeão*, Jemuel, Jamin e Oad, Jaquin e Soar; depois Saul, filho de uma cananeia. Os filhos de Levi* são: Gérson, Queat e Merari. Os filhos de Judá*, Er, Onan, Chelá, Peres e Zera. Er e Onan morreram no país de Canaã; e os filhos de Peres foram Hesron e Hamul. Os filhos de Issacar* foram: Tola, Puvá, Job e Chimeron. Os filhos de Zabulão* foram: Séred, Elon e Jaliel. São estes os filhos que Lia* deu a Jacob no território de Padan-Aram, e depois Dina*, sua filha. Total dos seus filhos e das suas filhas: trinta e três pessoas. Os filhos de Gad* foram: Sifion, Hagui, Chuni, Ecebon, Eri, Arodi e Areli. Os filhos de Aser* foram: Jimna, Jisva, Jisvi, Beria e sua irmã Sera; e os filhos de Beria foram: Héber e Malquiel. São estes os filhos de Zilpa*, serva que Labão dera a sua filha Lia; foi ela que os deu a Jacob, ao todo dezasseis pessoas. Os filhos de Raquel*, mulher de Jacob foram: José e Benjamim. Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On, deu a José*, no Egipto, Manassés e Efraim. E os filhos de Benjamim* foram: Bela, Bécer, Achebel, Guera, Naaman, Eí, Rós, Mupim, Hupim e Ard. São estes os filhos que Raquel deu a Jacob; ao todo catorze pessoas. Filho de Dan*, Huchim. Filhos de Neftali* foram: Jaciel, Guni, Jécer e Chilém. São estes os filhos de Bila*, serva que Labão dera a Raquel, sua filha; foi ela que os deu a Jacob, ao todo sete pessoas. E todas as pessoas da família de Jacob e seus descendentes, que entraram no Egipto, além das mulheres dos filhos de Jacob, foram ao todo sessenta e seis pessoas. Depois, os filhos de José, que nasceram no Egipto: duas pessoas. Total das pessoas da casa de Jacob que foram para o Egipto: setenta pessoas. Jacob mandara Judá adiante encontrar-se com José, para que este preparasse a sua entrada em Góchen. Quando chegaram ali, José mandou atrelar o seu carro e foi a Góchen, ao encontro de seu pai. Ao vê-lo, lançou-se-lhe ao pescoço e chorou longamente, entre os seus braços. E Israel disse a José: «Agora posso morrer, pois vi o teu rosto e ainda vives!» José disse aos irmãos e à família de seu pai: «Vou regressar, a fim de informar o faraó. Dir-lhe-ei: ‘Meus irmãos e toda a família de meu pai, que viviam no país de Canaã, vieram para junto de mim. Esses homens são pastores de rebanhos, pois possuem gado; trouxeram o seu gado miúdo e graúdo e tudo o que possuíam.’ Quando o faraó vos mandar chamar e disser: ‘Qual é o vosso trabalho?’ respondereis: ‘Os teus servos dedicam-se a pastorear os rebanhos, desde a juventude até ao presente. Assim fizeram também os nossos pais.’ Deste modo, podereis viver na província de Góchen, porque os egípcios abominam todos os pastores de gado miúdo.» José foi dar a notícia ao faraó, dizendo: «Meu pai e meus irmãos vieram do país de Canaã com o seu gado miúdo e graúdo e com tudo o que possuem, e encontram-se na província de Góchen.» Depois tomou alguns dos irmãos, cinco homens, e apresentou-os ao faraó. E o faraó disse-lhes: «Qual é o vosso trabalho?» Responderam ao faraó: «Os teus servos são pastores, como o foram seus pais.» Disseram ainda ao faraó: «Emigrámos para este país, porque os pastos faltam aos rebanhos dos teus servos, e a miséria é muita no país de Canaã. Permite, então, aos teus servos que habitem na província de Góchen.» O faraó disse a José: «Teu pai e teus irmãos vieram para junto de ti. O país do Egipto está à tua disposição; instala teu pai e teus irmãos na sua melhor província. Que habitem na terra de Góchen e, se vires que entre eles há pessoas de valor, nomeia-os inspectores dos meus domínios.» José introduziu Jacob, seu pai, e apresentou-o ao faraó; e Jacob saudou o faraó. Este disse a Jacob: «Qual é o número dos anos da tua vida?» Jacob respondeu-lhe: «O número dos anos da minha peregrinação é de cento e trinta. Breve e infeliz foi o tempo dos anos da minha vida e não se compara aos anos da vida dos meus pais, aos dias das suas peregrinações.» Jacob saudou o faraó e retirou-se da presença dele. José instalou seu pai e seus irmãos e concedeu-lhes direitos de propriedade no Egipto, no melhor território, o de Ramessés, como o faraó lhe tinha ordenado. E José sustentou seu pai, seus irmãos e toda a casa de seu pai, dando-lhes víveres, de acordo com as necessidades de cada família. Faltava o pão em toda a região; a miséria era muita, e o Egipto e o país de Canaã estavam reduzidos à miséria. José recolheu todo o dinheiro que havia no país do Egipto e no de Canaã, em troca do trigo que eles compravam, e fez entrar esse dinheiro no palácio do faraó. Quando o dinheiro estava esgotado no país do Egipto e no de Canaã, todos os egípcios se dirigiram a José, dizendo: «Dá-nos pão. Havemos de morrer diante de ti, porque se acabou o dinheiro?» José respondeu: «Entregai os vossos animais, e dar-vos-ei pão em troca deles, visto faltar o dinheiro.» Trouxeram o gado a José e ele deu-lhes pão em troca dos cavalos, do gado miúdo, do gado graúdo e dos jumentos; e forneceu-lhes alimentação em troca do gado, durante aquele ano. Passado aquele ano, vieram novamente ter com José e disseram-lhe: «Não podemos ocultar ao nosso amo que, tendo o dinheiro e o gado passado por completo para o seu poder, só podemos agora oferecer-lhe os nossos corpos e as nossas terras. Será que nos vais deixar morrer e deixar perdidas as nossas terras? Torna-te nosso proprietário e das nossas terras, em troca de víveres: nós e as nossas terras seremos pertença do faraó; dá-nos sementes para vivermos e não perecermos, e para que os nossos campos não fiquem desertos.» José adquiriu, assim, toda a terra do Egipto para o faraó, pois todos os egípcios venderam os campos, constrangidos como estavam, pela fome. Assim, todo o Egipto ficou a pertencer ao faraó. Quanto ao povo, José reduziu-o à servidão, em toda a extensão do território egípcio. Contudo, não adquiriu as terras dos sacerdotes. É que os sacerdotes recebiam do faraó uma porção fixa e viviam com essa porção que o faraó lhes concedia, de modo que eles não venderam as propriedades. E José disse ao povo: «De hoje em diante, vós, assim como as vossas terras, sereis propriedade do faraó. Aqui estão as sementes para semeardes a terra; depois, na altura da produção, dareis um quinto ao faraó; as outras quatro partes servir-vos-ão para semear os campos e para vos sustentardes, assim como à vossa gente e às vossas famílias.» Eles responderam: «Tu conservaste-nos a vida! Possamos alcançar o favor do nosso senhor e permanecer servos do faraó.» José impôs à terra do Egipto esta contribuição de um quinto, para o faraó, a qual subsiste ainda. Só as terras dos sacerdotes é que foram exceptuadas, porque não dependiam do faraó. Israel estabeleceu-se, então, no país do Egipto, na província de Góchen; os israelitas adquiriram propriedades e multiplicaram-se prodigiosamente. Jacob viveu dezassete anos no país do Egipto; o tempo da sua vida foi de cento e quarenta e sete anos. Quando os dias de Israel se aproximaram do fim, ele mandou chamar seu filho José e disse-lhe: «Se tens alguma afeição por mim, peço-te que ponhas a tua mão sob a minha coxa para jurar que procederás para comigo com bondade e fidelidade, não me sepultando no Egipto. Quando descansar com meus pais, hás-de levar-me para fora do Egipto e enterrar-me no túmulo deles.» José respondeu: «Farei o que tu dizes.» Jacob continuou: «Jura-mo.» Ele jurou, e Israel inclinou-se em adoração à cabeceira da cama. Depois destes acontecimentos, vieram dizer a José: «Teu pai está doente.» José partiu, levando com ele os dois filhos, Manassés e Efraim. Anunciaram-no a Jacob, dizendo: «O teu filho José vem ver-te.» Israel juntou as suas forças e sentou-se no leito. E disse a José: «O Deus supremo apareceu-me em Luz, no país de Canaã e abençoou-me, dizendo: ‘Quero que cresças e frutifiques; converter-te-ei numa multidão de povos e darei este país à tua posteridade, depois de ti, como propriedade perpétua.’ E agora, os dois filhos que tiveste no Egipto, antes da minha vinda para junto de ti, para o Egipto, tornam-se meus. Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão. Quanto aos filhos que tiveste depois deles, ficarão para ti: em nome dos seus irmãos, receberão a sua herança. Vindo eu de Padan-Aram, Raquel morreu nos meus braços, no país de Canaã, durante a viagem, quando eu estava a certa distância de Efrata; sepultei-a ali, no caminho de Efrata, que é Belém.» Israel reparou nos filhos de José e disse: «Quem são estes?» José respondeu a seu pai: «São os meus filhos, que Deus me deu neste país.» Jacob replicou: «Aproxima-os de mim, peço-te, para que eu os abençoe.» Pois, os olhos de Israel, enfraquecidos pela velhice, já não distinguiam bem. José mandou-os aproximar dele e Israel beijou-os, apertando-os nos seus braços; e disse a José: «Não contava tornar a ver o teu rosto e, contudo, Deus mostrou-me também a tua posteridade!» José retirou-os de entre os joelhos de seu pai e prostrou-se por terra diante dele. Depois, José tomou-os a ambos: Efraim à sua direita, isto é, à esquerda de Israel; e Manassés à sua esquerda, isto é, à direita de Israel; e aproximou-os dele. Israel estendeu a mão direita, pondo-a sobre a cabeça de Efraim, que era o mais novo, e pôs a mão esquerda sobre a cabeça de Manassés, apesar de Manassés ser o mais velho. Abençoou José, e depois disse: «Que o Deus, por cujos caminhos andaram meus pais, Abraão e Isaac, que o Deus, que velou por mim desde o meu nascimento até este dia, que o mensageiro que me livrou de todo o mal, abençoe estes meninos. Que eles possam perpetuar o meu nome, e o nome dos meus pais, Abraão e Isaac. Que eles possam multiplicar-se com abundância neste país.» José reparou que seu pai tinha a mão direita sobre a cabeça de Efraim e isso desagradou-lhe; levantou a mão de seu pai, para a mudar da cabeça de Efraim para a de Manassés, e disse ao pai: «Assim não, meu pai! Pois este é o mais velho. Põe a tua mão direita sobre a sua cabeça.» Mas seu pai recusou, dizendo: «Eu sei, meu filho, eu sei; também ele se converterá num povo e também ele será poderoso; mas o seu irmão mais novo será mais do que ele, e a sua posteridade converter-se-á numa multidão de nações.» Abençoou-os, naquele dia, e disse: «Israel pronunciará esta bênção, dizendo: ‘Deus te faça como Efraim e Manassés!’» E pôs, assim, Efraim à frente de Manassés. Israel disse a José: «Agora vou morrer. Deus estará convosco e vos reconduzirá ao país dos vossos antepassados. Mais do que aos teus irmãos, prometo-te Siquém, que conquistei aos amorreus com a minha espada e o meu arco.» Jacob mandou vir os seus filhos e disse: «Reuni-vos, pois quero revelar-vos o que vos acontecerá no futuro. Juntai-vos para escutar, filhos de Jacob, para escutar Israel, vosso pai. Rúben,* tu foste o meu primogénito, o meu orgulho e as primícias da minha virilidade, o primeiro em dignidade, o primeiro em poder. Impetuoso como a onda, não terás a preeminência porque atentaste contra o leito paterno. Aviltaste a honra do meu leito. Simeão* e Levi* são irmãos! As suas armas são instrumentos de violência. Não te associes aos seus desígnios, ó minha alma! Não sejas, ó minha honra, cúmplice da sua aliança! Porque, na sua cólera, imolaram homens. E, na sua exaltação, derrubaram touros. Maldita seja a sua cólera tão cruel. E a sua indignação tão funesta! Quero separá-los, em Jacob. E dispersá-los, em Israel. A ti, Judá*, teus irmãos te louvarão. A tua mão fará curvar o pescoço dos teus inimigos. Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti! Tu és um leãozinho, Judá, quando regressas, ó meu filho, com a tua presa! Ele deita-se. É o repouso do leão e da leoa; quem ousará despertá-lo? O ceptro não escapará a Judá, nem o bastão de comando à sua descendência, até que venha aquele a quem pertence o comando e ao qual obedecerão os povos. Então, há-de atar-se à vide o seu jumentinho, e à parreira, o filho da sua jumenta. O seu vestuário vai ser lavado em vinho, e a sua túnica, no sangue das uvas. Os seus olhos ficarão turvos de vinho, e os dentes serão brancos de leite. Zabulão* ocupará o litoral dos mares; oferecerá portos aos navios. E a sua praia atingirá Sídon. Issacar* é um jumento musculoso que se deita entre as colinas. Saboreou o encanto do repouso, e as delícias do pasto; entregou os ombros ao jugo e tornou-se tributário. Dan* julgará o seu povo, como qualquer tribo de Israel. Dan será uma serpente sobre o caminho, uma áspide no carreiro: pica o pé do cavalo, e o cavaleiro cai de costas. Conto com o Senhor para te auxiliar. Gad* será assaltado por assaltantes, mas ele assaltá-los-á pelas costas. Quanto a Aser,* o seu pão será abundante; é ele que proverá os prazeres dos reis. Neftali* é uma corça em liberdade, que produz formosas crias. José* é um cavalo selvagem, um cavalo selvagem à beira de uma fonte. Ultrapassa os outros ramos ao longo da muralha. Exasperaram-no e feriram-no; odiaram-no os arqueiros orgulhosos. Mas o seu arco manteve-se firme e os músculos dos seus braços permaneceram vigorosos, graças ao Protector de Jacob, graças ao Pastor, ao Rochedo de Israel; graças ao Deus de teu pai, que será o teu apoio, e o Deus supremo, que será a tua bênção, com as bênçãos superiores do céu, com as bênçãos subterrâneas do abismo, com as bênçãos dos seios e das entranhas! As bênçãos de teu pai, excedendo as dos meus antepassados, atingem os limites das montanhas eternas; e cumprir-se-ão sobre a cabeça de José, sobre a fronte do eleito entre os seus irmãos! Benjamim* é um lobo predador: pela manhã farta-se com a carnificina, e de tarde repartirá o espólio.» São estes os que formam as doze tribos de Israel; e foi assim que seu pai lhes falou e os abençoou, dando a cada um a sua própria bênção. Jacob deu-lhes as suas ordens, dizendo: «Vou juntar-me ao meu povo. Sepultai-me junto dos meus pais, no jazigo que está no domínio de Efron, o hitita, no jazigo que está no território de Macpela, diante de Mambré, no país de Canaã, terra que Abraão comprou a Efron, o hitita, para propriedade sepulcral. Ali foram enterrados Abraão e Sara, sua esposa; foram lá enterrados também Isaac e Rebeca, sua esposa, e ali enterrei Lia. A compra dessa terra e do jazigo que ali se encontra foi feita no país dos hititas.» E tendo Jacob ditado aos seus filhos as suas últimas vontades, juntou os pés na sua cama, expirou e reuniu-se a seus pais. José precipitou-se sobre o rosto de seu pai e cobriu-o de lágrimas e de beijos. Ordenou aos médicos, seus servidores, que embalsamassem seu pai; e os médicos embalsamaram Israel, empregando nisso, quarenta dias, que são os dias precisos para o embalsamamento. Mas os egípcios puseram luto durante setenta dias. Quando os dias de luto passaram, José falou assim aos homens do faraó: «Se encontrei o vosso favor, peço-vos que leveis aos ouvidos do faraó estas palavras: ‘Meu pai fez-me jurar nestes termos: Agora vou morrer: sepulta-me no sepulcro que adquiri no país de Canaã, no meu sepulcro’. Queria, pois, partir; sepultarei meu pai e depois regressarei.» O faraó respondeu: «Parte, sepulta teu pai, como ele te fez jurar.» E José partiu, a fim de sepultar seu pai. Foi acompanhado por todos os oficiais do faraó, pelos anciãos da sua corte, por todos os anciãos do Egipto, por toda a casa de José, por seus irmãos e pela casa de seu pai. Só as crianças e o seu gado miúdo e graúdo é que ficaram na província de Góchen. Seguiram-no carros e cavaleiros, e o cortejo foi muito grande. Chegando à eira de Atad, situada na margem do Jordão, celebraram ali grandes e solenes funerais, e José ordenou um luto de sete dias, em honra de seu pai. Os habitantes do país, os cananeus, presenciaram o luto na eira de Atad e disseram: «Eis um grande luto para o Egipto!» Por isso chamaram Abel-Misraim ao lugar situado no outro lado do Jordão. Os filhos procederam a seu respeito exactamente como ele lhes tinha ordenado: transportaram-no para o país de Canaã e enterraram-no no jazigo do campo de Macpela, o campo que Abraão comprara, como propriedade tumular, a Efron, o hitita, diante de Mambré. Depois de sepultar seu pai, José voltou para o Egipto com os seus irmãos e com todos os que o tinham acompanhado, a fim de sepultar seu pai. Ora os irmãos de José, depois da morte de seu pai, disseram uns aos outros: «E se José nos guarda rancor? Se vai vingar-se de todo o mal que lhe fizemos sofrer?» Mandaram então dizer a José o seguinte: «Teu pai ordenou-nos antes da sua morte: ‘Falai assim a José: Perdoa, por favor, a ofensa dos teus irmãos, a sua falta e o mal que te fizeram! Perdoa, pois, o seu erro, aos servos do Deus do teu pai!’» E José chorou quando lhe falaram assim. Depois os seus irmãos vieram e caíram aos seus pés, dizendo: «Estamos prontos a tornar-nos teus escravos.» José respondeu-lhes: «Não temais; estou eu no lugar de Deus? Premeditastes contra mim o mal. Mas Deus aproveitou-o para o bem, a fim de que acontecesse o que hoje aconteceu, e um povo numeroso foi salvo. Nada receeis, então! Eu cuidarei de vós e das vossas famílias.» E assim tranquilizou-os e falou-lhes ao coração. José residiu no Egipto, com a sua família e a de seu pai, e viveu cento e dez anos. Viu os filhos de Efraim até à terceira geração; e os filhos de Maquir, filho de Manassés, nasceram sobre os seus joelhos. José disse aos seus irmãos: «Vou morrer! Mas Deus visitar-vos-á, fazendo-vos regressar deste país ao país que prometeu por juramento a Abraão, a Isaac e a Jacob.» E José fez jurar aos filhos de Israel, dizendo: «Deus há-de visitar-vos e então levareis os meus ossos deste país.» José morreu com a idade de cento e dez anos. Embalsamaram-no e puseram-no num sarcófago, no Egipto. Estes são os nomes dos filhos de Israel, e as respectivas famílias, que foram com Jacob para o Egipto: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zabulão, Benjamim, Dan, Neftali, Gad e Aser. Os descendentes de Jacob perfaziam um total de setenta pessoas. José encontrava-se já no Egipto. Depois, José morreu, bem como todos os seus irmãos e toda aquela geração. Os filhos de Israel foram fecundos e multiplicaram-se; tornaram-se tão numerosos e poderosos que encheram o país. Subiu então ao trono do Egipto um novo rei que não conhecera José. E ele disse ao seu povo: «Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e poderoso do que nós. Temos de proceder astuciosamente contra ele, a fim de impedirmos que se desenvolva ainda mais. Em caso de guerra, juntar-se-ia também aos nossos inimigos, lutaria contra nós, e sairia deste país.» Impuseram-lhe então chefes de trabalhos forçados para o oprimirem com carregamentos. E construiu para o faraó as cidades-armazém de Pitom e Ramessés. Todavia, quanto mais o oprimiam, mais ele se multiplicava e aumentava; e os egípcios estavam preocupados com os filhos de Israel, e reduziram-nos a uma dura servidão. Tornaram-lhes a vida amarga com uma pesada servidão: barro, tijolos, toda a espécie de trabalhos no campo, tudo uma dura servidão. O rei do Egipto disse às parteiras dos hebreus, das quais uma se chamava Chifra e outra Pua: «Quando assistirdes aos partos das mulheres dos hebreus, reparai na criança: se for um menino, matai-o; se for uma menina, deixai-a viver.» Mas as parteiras temeram a Deus: não fizeram como lhes tinha falado o rei do Egipto, e deixaram viver os meninos. Então, o rei do Egipto chamou-as e disse-lhes: «Porque fizestes dessa maneira e deixastes viver os meninos?» As parteiras disseram ao faraó: «As mulheres dos hebreus não são como as egípcias; elas são fortes: antes de chegar a parteira, já elas deram à luz.» Deus retribuiu o bem às parteiras, e o povo multiplicou-se e tornou-se muito poderoso. Como as parteiras temeram a Deus, e Ele lhes concedeu uma descendência, o faraó ordenou a todo o seu povo: «Atirai ao rio os meninos recém-nascidos; as meninas, porém, deixai-as viver todas.» Um homem da casa de Levi tomou por esposa uma filha de Levi. A mulher concebeu e deu à luz um filho. Viu que era belo, e escondeu-o durante três meses. Não podendo mantê-lo escondido por mais tempo, arranjou-lhe uma cesta de papiro, calafetou-a com betume e pez, colocou nela o menino, e foi pô-la nos juncos da margem do rio. A irmã dele colocou-se a uma certa distância para saber o que lhe sucederia. Ora a filha do faraó desceu ao rio para tomar banho, enquanto as suas jovens acompanhantes caminhavam ao longo do rio. Viu a cesta no meio dos juncos e enviou a sua serva para a trazer. Abriu-a e viu a criança: era um menino que chorava. Compadeceu-se dele e disse: «Este é um dos filhos dos hebreus.» Então a irmã dele disse à filha do faraó: «Queres que te vá chamar uma ama entre as mulheres dos hebreus, para te amamentar o menino?» «Vai», disse-lhe a filha do faraó. E a jovem foi chamar a mãe do menino. A filha do faraó disse-lhe: «Leva este menino e amamenta-mo, e dar-te-ei o teu salário.» A mulher levou o menino e amamentou-o. O menino cresceu, e ela devolveu-o à filha do faraó. Foi para ela como um filho, e deu-lhe o nome de Moisés, dizendo: «Porque o tirei das águas.» Entretanto, Moisés cresceu, foi ao encontro dos seus irmãos e viu os seus carregamentos. Viu também um egípcio que açoitava um dos seus irmãos hebreus. Olhando para todos os lados e vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio e enterrou-o na areia. Saiu outra vez no dia seguinte e viu dois hebreus a brigar. Disse ao culpado: «Porque bates no teu companheiro?» Ao que ele replicou: «Quem te estabeleceu como chefe e juiz sobre nós? Acaso pensas matar-me como mataste o egípcio?» Moisés teve medo e disse para consigo: «Com certeza que o assunto já é conhecido.» O faraó ouviu falar deste assunto e procurou matar Moisés. Mas Moisés fugiu da presença do faraó, foi residir na terra de Madian e sentou-se junto do poço. O sacerdote de Madian tinha sete filhas, que vieram tirar água e encher os bebedouros, para dar de beber ao rebanho do seu pai. Mas chegaram os pastores e expulsaram-nas. Levantou-se então Moisés, defendeu-as e deu de beber ao rebanho. Elas voltaram para Reuel, seu pai, que lhes disse: «Porque regressastes tão cedo hoje?» Elas disseram: «Um egípcio libertou-nos da mão dos pastores, e até tirou água para nós e deu de beber ao rebanho.» Ele disse às suas filhas: «Onde está ele? Porque abandonastes esse homem? Chamai-o! Que venha comer!» Moisés decidiu residir com aquele homem, que deu a Moisés a sua filha Séfora. Ela deu à luz um filho, e ele deu-lhe o nome de Gérson, porque disse: «Sou um estrangeiro residente numa terra alheia.» E aconteceu que, decorrido muito tempo, morreu o rei do Egipto. Os filhos de Israel gemiam na servidão, e ergueram até Deus o seu grito de socorro na sua servidão. Deus ouviu os seus gemidos e recordou-se da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. Deus viu os filhos de Israel e reconheceu-os. Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada. Moisés disse: «Vou adentrar-me para ver esta grande visão: por que razão não se consome a sarça?» O Senhor viu que ele se adentrava para ver; e Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele disse: «Eis-me aqui!» Ele disse: «Não te aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa.» E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus. O Senhor disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel, terra do cananeu, do hitita, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e vi também a tirania que os egípcios exercem sobre eles. E agora, vai; Eu te envio ao faraó, e faz sair do Egipto o meu povo, os filhos de Israel.» Moisés disse a Deus: «Quem sou eu para ir ter com o faraó e fazer sair os filhos de Israel do Egipto?» Ele disse: «Eu estarei contigo. Este é para ti o sinal de que Eu te enviei: quando tiveres feito sair o povo do Egipto, servireis a Deus sobre esta montanha.» Moisés disse a Deus: «Eis que eu vou ter com os filhos de Israel e lhes digo: ‘O Deus dos vossos pais enviou-me a vós’. Eles dir-me-ão: ‘Qual é o nome dele?’ Que lhes direi eu?» Deus disse a Moisés: «EU SOU AQUELE QUE SOU.*» Ele disse: «Assim dirás aos filhos de Israel: ‘Eu sou’* enviou-me a vós!» Deus disse ainda a Moisés: «Assim dirás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, Deus dos vossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós: este é o meu nome para sempre, o meu memorial de geração em geração’. Vai, reúne os anciãos de Israel e diz-lhes: ‘O Senhor, Deus dos vossos pais, Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, apareceu-me e disse: Observei-vos com atenção e vi o que vos tem sido feito no Egipto, e Eu disse para comigo: Far-vos-ei subir da opressão do Egipto para a terra do cananeu, do hitita, do amorreu, do perizeu, do heveu, do jebuseu, para a terra que mana leite e mel’. Eles escutarão a tua voz, e tu irás, tu e os anciãos de Israel, à presença do rei do Egipto, e dir-lhe-eis: ‘O Senhor, Deus dos hebreus, saiu ao nosso encontro; e agora permite-nos fazer uma peregrinação de três dias pelo deserto, para oferecermos sacrifícios ao Senhor, nosso Deus.’ Eu bem sei que o rei do Egipto não vos deixará partir senão obrigado por mão forte. Estenderei então a minha mão e ferirei o Egipto com todas as maravilhas que farei no meio dele. Depois disso, deixar-vos-á partir. E Eu farei este povo encontrar benevolência aos olhos dos egípcios; e assim, quando partirdes, não ireis de mãos vazias. Cada mulher pedirá à sua vizinha e àquela que habita na mesma casa, objectos de prata, objectos de ouro e mantos, que poreis sobre os vossos filhos e sobre as vossas filhas. E assim despojareis os egípcios.» Moisés respondeu dizendo: «E se eles não acreditarem em mim e não ouvirem a minha voz e disserem: ‘O Senhor não te apareceu!’» O Senhor disse-lhe: «O que é isso que tens na mão?» Ele respondeu: «Uma vara.» «Atira-a ao chão», disse Ele. Atirou-a ao chão, e ela transformou-se numa cobra, e Moisés fugiu dela. O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão e agarra-a pela cauda.» Ele estendeu a sua mão e segurou-a com força, e ela transformou-se em vara na palma da sua mão. «É para que eles acreditem que te apareceu o Senhor, o Deus dos seus pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob.» Disse-lhe ainda o Senhor, «Mete a tua mão no teu seio.» Ele meteu a sua mão no seu seio e tirou-a fora, e eis que a sua mão estava coberta de lepra como neve. E o Senhor disse: «Volta a meter a tua mão no teu seio.» Meteu outra vez a mão no seu seio e tirou-a sã, e eis que se tornou como a sua carne. «Se suceder que eles não acreditem em ti e não ouçam a voz do primeiro sinal, acreditarão no segundo sinal. E se suceder que não acreditem nestes dois sinais nem escutem a tua voz, tomarás da água do rio e derramá-la-ás sobre a terra seca; e a água que tiveres tirado do rio transformar-se-á em sangue sobre a terra seca.» Moisés disse ao Senhor, «Mas Senhor, eu não sou um homem dotado para falar; e isto não é de ontem nem de anteontem nem desde que começaste a falar com o teu servo; na verdade, tenho a boca e a língua pesadas.» O Senhor disse-lhe: «Quem deu ao homem uma boca? Quem torna alguém mudo ou surdo? Quem faz ver bem ou ser cego? Não sou Eu, o Senhor? E agora, vai, que Eu estarei com a tua boca e te ensinarei o que deverás dizer.» Ele disse: «Eu te peço, Senhor, envia a mensagem pela mão de outro que queiras enviar.» Acendeu-se então a ira do Senhor contra Moisés, e disse: «Não existe, porventura, Aarão, teu irmão, o levita? Eu sei que ele fala fluentemente. E ei-lo que sai ao teu encontro! Logo que te vir, alegrar-se-á no seu coração. Falar-lhe-ás e porás as palavras na boca dele. E Eu estarei com a tua boca e com a boca dele, e ensinar-vos-ei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo: ele será para ti a boca, e tu serás deus para ele. E esta vara, leva-a na tua mão! É com ela que farás os sinais. Moisés partiu dali, e voltou para Jetro, seu sogro, e disse-lhe: «Vou ter de partir e voltar para os meus irmãos que estão no Egipto, para ver se estão ainda vivos.» Jetro disse a Moisés: «Vai em paz!» O Senhor disse a Moisés em Madian: «Vai, volta ao Egipto, pois estão mortos todos os homens que atentavam contra a tua vida.» Moisés tomou consigo a sua mulher e os seus filhos, fê-los montar no jumento, e voltou à terra do Egipto. E Moisés pegou na vara de Deus com a sua mão. O Senhor disse a Moisés: «No teu caminho de regresso ao Egipto, vê todos os prodígios que Eu pus na tua mão: fá-los-ás diante do faraó, e Eu endurecerei o seu coração, e ele não deixará o povo partir. E dirás ao faraó: ‘Assim fala o Senhor: O meu filho primogénito é Israel. Eu digo-te: Deixa partir o meu filho para que me sirva, e tu recusas deixá-lo partir! Então, Eu matarei o teu filho primogénito.’» E aconteceu que, no caminho, num acampamento, o Senhor veio ao encontro dele e tentou matá-lo. Séfora pegou numa pedra e cortou o prepúcio do seu filho, tocou os pés de Moisés com ele, e disse: «Tu és para mim um esposo de sangue.» E Ele deixou-o. Daí ela dizer «esposo de sangue», a propósito da circuncisão. O Senhor disse a Aarão: «Vai ao encontro de Moisés no deserto.» Ele partiu e encontrou-o na montanha de Deus, e beijou-o. E Moisés relatou a Aarão todas as palavras com que o Senhor o tinha enviado e todos os sinais que lhe tinha ordenado fazer. Moisés e Aarão partiram e reuniram todos os anciãos dos filhos de Israel. E Aarão comunicou todas as palavras que o Senhor tinha dito a Moisés, e fez os sinais diante do povo. E o povo acreditou. Eles compreenderam que o Senhor tinha visitado os filhos de Israel e tinha visto a sua opressão. E inclinaram-se e prostraram-se. Depois disto, Moisés e Aarão foram dizer ao faraó: «Assim disse o Senhor, Deus de Israel: ‘Deixa partir o meu povo, para que eles celebrem para mim uma festa no deserto.’» O faraó disse: «Quem é o Senhor, para que eu escute a sua voz e deixe partir Israel? Não conheço o Senhor, e não deixarei partir Israel.» Eles disseram: «O Deus dos hebreus saiu ao nosso encontro; permite que vamos a três dias de caminho no deserto para oferecermos sacrifícios ao Senhor, nosso Deus, para que não nos ataque com a peste ou a espada.» Disse-lhes o rei do Egipto: «Moisés e Aarão, porque sublevais o povo, afastando-o dos seus afazeres? Ide para os vossos carregamentos.» O faraó disse ainda: «Eis que agora o povo da terra é numeroso, e vós quereis fazê-los descansar dos seus carregamentos!» Naquele dia, o faraó ordenou aos inspectores do povo e aos escribas, dizendo: «Não continuareis a fornecer palha ao povo para fabricar os tijolos como ontem e anteontem. Que vão eles mesmos recolher a palha necessária. Mas a quantidade de tijolos que faziam ontem e anteontem, imponde-a sobre eles sem lhes diminuir nada, porque são preguiçosos. É por isso que clamam, dizendo: ‘Vamos oferecer sacrifícios ao nosso Deus’. Que se torne pesada a servidão sobre esses homens, para que se ocupem nela, e não dêem ouvidos a palavras mentirosas.» Os inspectores do povo e os seus escribas saíram e disseram ao povo: «Assim disse o faraó: ‘Eu não vos darei mais palha’. Ide vós mesmos buscar palha onde a encontrardes, pois não haverá nenhuma redução do vosso trabalho.» Então o povo dispersou-se por toda a terra do Egipto para recolher restolho para servir de palha. Os inspectores constrangiam-nos, dizendo: «Completai o vosso trabalho de cada dia, como quando havia palha.» E foram açoitados os escribas dos filhos de Israel, aqueles que os inspectores do faraó tinham posto sobre eles, dizendo: «Porque não concluístes ontem e hoje a vossa conta de tijolos, como fazíeis antes?» Os escribas dos filhos de Israel foram queixar-se junto do faraó, dizendo: «Porque procedes assim com os teus servos? Palha, não a dão aos teus servos; mas tijolos, dizem-nos: ‘Fazei-os’. E eis que os teus servos são açoitados. Isto é um pecado contra o teu povo.» Ele disse: «Sois mesmo muito preguiçosos! E é por isso que dizeis: ‘Vamos oferecer sacrifícios ao Senhor’. E agora, ide e trabalhai! Palha não vos será dada, mas vós tereis de dar o mesmo número de tijolos.» Os escribas dos filhos de Israel viram-se em má situação, ao dizer-lhes: «Não reduzireis nada do número dos vossos tijolos, conforme o estipulado para cada dia.» Ao saírem da presença do faraó, encontraram Moisés e Aarão diante deles, e disseram-lhes: «Que o Senhor vos examine e vos julgue, pois tornastes repugnante o nosso odor aos olhos do faraó e aos olhos dos seus servos, colocando na mão deles uma espada para nos matarem.» Então Moisés voltou-se para o Senhor, e disse: «Senhor, porque maltrataste este povo? Porque me enviaste? Desde que vim ter com o faraó para falar em teu nome, ele maltratou este povo, e Tu não libertaste de modo nenhum o teu povo.» O Senhor disse a Moisés: «Agora verás o que Eu vou fazer ao faraó, pois é obrigado por mão forte que os deixará partir, e é coagido por mão forte que os expulsará da sua terra.» Deus falou a Moisés, dizendo-lhe: «Eu sou o Senhor. Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacob como Deus supremo, mas pelo meu nome ‘Senhor’, Eu não fui conhecido por eles. Também estabeleci a minha aliança com eles, para lhes dar a terra de Canaã, a terra das suas peregrinações, onde residiram como estrangeiros. E também fui Eu que ouvi o gemido dos filhos de Israel, que os egípcios reduziram à servidão, e recordei-me da minha aliança. Por isso, diz aos filhos de Israel: ‘Eu sou o Senhor, e far-vos-ei sair do peso dos carregamentos do Egipto, hei-de libertar-vos da sua servidão e resgatar-vos com braço estendido e com grande autoridade. Tomar-vos-ei para mim como povo e Eu serei para vós Deus, e reconhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos fez sair do peso dos carregamentos do Egipto. E far-vos-ei entrar na terra pela qual levantei a minha mão para a dar a Abraão, a Isaac e a Jacob, e vo-la darei em posse: Eu sou o Senhor.’» Moisés falou assim aos filhos de Israel, mas eles não o escutaram por causa da angústia e da pesada servidão. O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Vai falar ao faraó, rei do Egipto, para que deixe partir os filhos de Israel da sua terra.» Mas Moisés falou ao Senhor, dizendo: «Eis que os filhos de Israel não me escutaram. Como vai então escutar-me o faraó, a mim que sou incircunciso de lábios?» O Senhor falou a Moisés e a Aarão, e deu-lhes as suas ordens para os filhos de Israel e para o faraó, rei do Egipto, para fazer sair os filhos de Israel da terra do Egipto. São estes os chefes das suas famílias. Filhos de Rúben, primogénito de Israel: Henoc, Palú, Hesron e Carmi. São estes os clãs de Rúben. Filhos de Simeão: Jemuel, Jamin, Oad, Jaquin, Soar e Saul, o filho da cananeia; são estes os clãs de Simeão. E estes são os nomes dos filhos de Levi, segundo as suas gerações: Gérson, Queat e Merari. Os anos da vida de Levi foram cento e trinta e sete. Filhos de Gérson: Libni e Chimei, segundo os seus clãs. Filhos de Queat: Ameram, Jiçar, Hebron e Uziel. Os anos da vida de Queat foram cento e trinta e três. Filhos de Merari: Maali e Muchi. São estes os clãs de Levi, segundo as suas gerações. Ameram tomou por esposa Jocbed, sua tia, que lhe deu Aarão e Moisés. Os anos da vida de Ameram foram cento e trinta e sete. Filhos de Jiçar: Coré, Néfeg e Zicri. Filhos de Uziel: Michael, Elisafan e Sitri. Aarão tomou por esposa Elicheba, filha de Aminadab, irmã de Nachon, que lhe deu Nadab, Abiú, Eleázar e Itamar. Filhos de Coré: Assir, Elcana e Abiasaf. São estes os clãs dos coreítas. Eleázar, filho de Aarão, tomou por esposa uma das filhas de Putiel, que lhe deu Fineias. São estes os chefes das famílias dos levitas, segundo os seus clãs. Foi a este Aarão e a Moisés que o Senhor disse: «Fazei sair os filhos de Israel da terra do Egipto, segundo os seus exércitos.» Foram eles, isto é, Moisés e Aarão, que falaram ao faraó, rei do Egipto, para fazer sair os filhos de Israel do Egipto. No dia em que o Senhor falou a Moisés na terra do Egipto, falou-lhe, dizendo: «Eu sou o Senhor. Diz ao faraó, rei do Egipto, tudo o que Eu te digo a ti.» Mas Moisés disse ao Senhor, «Eis que eu sou incircunciso de lábios. Como me escutará o faraó?» O Senhor disse a Moisés: «Vê, Eu faço de ti um deus para o faraó, e Aarão, teu irmão, será o teu profeta. Tu dirás tudo o que Eu te ordenar, e Aarão, teu irmão, falará ao faraó para que deixe partir os filhos de Israel da sua terra. Mas Eu tornarei obstinado o coração do faraó e multiplicarei os meus sinais e os meus prodígios na terra do Egipto. Contudo, o faraó não vos escutará, e Eu porei a minha mão sobre o Egipto e farei sair os meus exércitos, o meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egipto com grandes castigos. E os egípcios reconhecerão que Eu sou o Senhor, quando Eu estender a minha mão contra o Egipto, e fizer sair os filhos de Israel do meio deles.» Moisés e Aarão fizeram exactamente como lhes tinha ordenado o Senhor. Moisés tinha oitenta anos e Aarão tinha oitenta e três quando falaram ao faraó. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Se o faraó vos falar, dizendo: ‘Fazei um prodígio em vosso favor’, tu dirás a Aarão: ‘Pega na tua vara e lança-a diante do faraó, e ela transformar-se-á num dragão.» Moisés e Aarão foram ter com o faraó e fizeram como o Senhor tinha ordenado. Aarão lançou a sua vara diante do faraó e diante dos seus servos, e ela transformou-se em dragão. Mas o faraó chamou também os sábios e os encantadores, e também eles, os magos do Egipto, fizeram a mesma coisa com os seus sortilégios. Eles lançaram cada um a sua vara, e se transformaram em dragões; mas a vara de Aarão devorou as varas deles. No entanto, o coração do faraó endureceu-se, e não escutou Moisés e Aarão, como o Senhor tinha dito. O Senhor disse a Moisés: «O coração do faraó tornou-se pesado; ele recusou deixar partir o povo. Vai ter com o faraó, de manhã, quando ele sair para a água. Espera-o na margem do rio, e levarás na mão a vara que se transformou em cobra. Dir-lhe-ás: ‘O Senhor, Deus dos hebreus, enviou-me ao teu encontro, dizendo: Deixa partir o meu povo, para que me sirva no deserto. E eis que até agora não escutaste. Assim diz o Senhor, Nisto reconhecerás que Eu sou o Senhor, eis que, com a vara que tenho na mão, ferirei as águas que estão no rio, e elas transformar-se-ão em sangue. Os peixes que estão no rio morrerão, o rio cheirará mal e os egípcios não poderão beber a água do rio.’» O Senhor disse a Moisés: «Diz a Aarão: ‘Toma a tua vara e estende a tua mão sobre as águas do Egipto, sobre os seus rios, sobre os seus canais, sobre os seus lagos e sobre todos os seus depósitos de água – e que elas se transformem em sangue. Haverá sangue em toda a terra do Egipto, tanto nos recipientes de madeira como nos de pedra.’» Assim fizeram Moisés e Aarão, como o Senhor tinha ordenado. Ele levantou a vara e bateu nas águas do rio, aos olhos do faraó e aos olhos dos seus servos, e todas as águas que estavam no rio se transformaram em sangue. Os peixes que estavam no rio morreram; o rio ficou a cheirar mal e os egípcios não puderam beber a água do rio. E houve sangue em toda a terra do Egipto. Mas os magos do Egipto fizeram a mesma coisa com as suas artes secretas. Mas o coração do faraó endureceu-se, e não os escutou, como o Senhor tinha falado. O faraó virou as costas e entrou em sua casa, e não voltou a pensar naquilo. Todos os egípcios se puseram a cavar nas proximidades do rio para beber água, pois não podiam beber as águas do rio. Passaram-se sete dias desde que o Senhor ferira o rio. O Senhor disse a Moisés: «Vai ter com o faraó e diz-lhe: ‘Assim disse o Senhor, Deixa partir o meu povo para que me sirva. Se te recusares a deixá-lo partir, eis que Eu vou flagelar todo o teu território com rãs. O rio fervilhará de rãs; elas subirão e entrarão na tua casa, no teu quarto de dormir e para cima da tua cama, na casa dos teus servos e do teu povo, nos teus fornos e nos teus amassadoiros. Contra ti, contra o teu povo e contra todos os teus servos subirão as rãs.’» O Senhor disse a Moisés: «Diz a Aarão: ‘Estende a tua mão e a tua vara sobre os rios, sobre os canais e sobre os lagos, e faz subir as rãs sobre a terra do Egipto.’» Aarão estendeu a sua mão sobre as águas do Egipto, e as rãs subiram e cobriram a terra do Egipto. Mas os magos fizeram a mesma coisa com as suas artes secretas: fizeram subir as rãs sobre a terra do Egipto. O faraó chamou Moisés e Aarão e disse: «Rezai ao Senhor para que afaste as rãs de mim e do meu povo, e então eu deixarei partir o povo para que ofereça sacrifícios ao Senhor.» Moisés disse ao faraó: «Que sejas glorificado em mim! Quando devo ir rezar por ti, pelos teus servos e pelo teu povo, para retirar as rãs de ti e das tuas casas, e que fiquem somente no rio?» Ele disse: «Amanhã.» Moisés disse: «Que seja como falaste, para que conheças que não há ninguém como o Senhor, nosso Deus. As rãs afastar-se-ão de ti, das tuas casas, dos teus servos e do teu povo; ficarão somente no rio.» Saiu Moisés e também Aarão; saíram da presença do faraó, e Moisés clamou ao Senhor acerca das rãs que Ele tinha enviado contra o faraó. O Senhor fez o que Moisés pediu, e as rãs morreram, desaparecendo das casas, dos pátios e dos campos. Juntaram-nas aos montões, e a terra ficou a cheirar mal. Mas o faraó viu que havia algum alívio, tornou pesado o seu coração, e não os escutou, como o Senhor tinha dito. O Senhor disse a Moisés: «Diz a Aarão: ‘Estende a tua vara e bate no pó da terra, e haverá mosquitos em toda a terra do Egipto.’» Eles assim fizeram. Aarão estendeu a sua mão e a sua vara e bateu no pó da terra, e houve mosquitos sobre os homens e sobre os animais. Todo o pó da terra se transformou em mosquitos em toda a terra do Egipto. Os magos tentaram fazer a mesma coisa com as suas artes secretas para produzirem os mosquitos, mas não conseguiram. Havia mosquitos sobre os homens e sobre os animais. E os magos disseram ao faraó: «É o dedo de Deus.» Mas o coração do faraó endureceu-se, e não os escutou, como o Senhor tinha dito. O Senhor disse a Moisés: «Levanta-te de manhã cedo e põe-te diante do faraó, quando ele sair para a água, e diz-lhe: ‘Assim diz o Senhor, Deixa partir o meu povo para que me sirva. Pois se tu não deixares partir o meu povo, eis que Eu enviarei moscas contra ti, contra os teus servos, contra o teu povo e contra as tuas casas. E as moscas encherão as casas dos egípcios, e até o solo sobre o qual eles estiverem. Separarei naquele dia a terra de Góchen, onde se encontra o meu povo; lá não haverá moscas, para que tu conheças que Eu sou o Senhor no meio da terra. Porei uma separação entre o meu povo e o teu povo. Amanhã acontecerá este sinal.’» O Senhor assim fez. As moscas entraram em grande quantidade na casa do faraó, na casa dos seus servos e em toda a terra do Egipto, que foi devastada pela invasão das moscas. O faraó chamou Moisés e Aarão e disse: «Ide, oferecei sacrifícios ao vosso Deus nesta terra.» Moisés disse: «Não convém proceder assim, pois é uma abominação para os egípcios que ofereçamos sacrifícios ao Senhor, nosso Deus. Se oferecermos em sacrifício o que é abominável aos olhos dos egípcios, não nos apedrejarão? É a três dias de caminho no deserto que iremos para oferecermos sacrifícios ao Senhor, nosso Deus, como Ele nos dirá.» O faraó disse: «Eu vos deixarei partir, e vós oferecereis sacrifícios ao Senhor, vosso Deus, no deserto; simplesmente não deveis afastar-vos para muito longe. Rezai por mim.» Moisés disse: «Eis que vou sair da tua presença e vou rezar ao Senhor. Amanhã as moscas hão-de afastar-se do faraó, dos seus servos e do seu povo. Simplesmente, que o faraó não continue a zombar de nós, não deixando partir o povo para oferecer sacrifícios ao Senhor.» Moisés saiu de junto do faraó e rezou ao Senhor. O Senhor fez conforme a palavra de Moisés. As moscas afastaram-se do faraó, dos seus servos e do seu povo, e não ficou nenhuma. Mas o faraó tornou pesado o seu coração ainda desta vez, e não deixou partir o povo. O Senhor disse a Moisés: «Entra em contacto com o faraó e fala-lhe: ‘Assim diz o Senhor, Deus dos hebreus: deixa partir o meu povo para que me sirva. Se tu recusares deixá-lo partir, e se o retiveres por mais tempo, eis que a mão do Senhor estará sobre o teu gado que está nos campos, sobre os cavalos, sobre os jumentos, sobre os camelos, sobre os bois e sobre as ovelhas, e haverá uma peste muito pesada. O Senhor porá uma separação entre o gado de Israel e o gado do Egipto. E não morrerá nada do que pertence aos filhos de Israel.’» E o Senhor fixou o tempo, dizendo: «Amanhã, o Senhor fará isso na terra.» E o Senhor fez isso no dia seguinte: morreu o gado todo dos egípcios, mas do gado dos filhos de Israel nem sequer uma cabeça morreu. O faraó mandou ver o que se passava: eis que do gado de Israel nem sequer uma cabeça tinha morrido! Mas o coração do faraó tornou-se pesado, e ele não deixou partir o povo. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Apanhai uma mão-cheia de cinza de forno e Moisés lançá-la-á para os céus, diante do faraó. Ela tornar-se-á em pó fino sobre toda a terra do Egipto, e haverá nos homens e nos animais úlceras com erupções de pústulas por toda a terra do Egipto.» Tomaram então cinza de forno e colocaram-se de pé diante do faraó. Então Moisés lançou-a para os céus e houve úlceras pustulentas com erupções nos homens e nos animais. Os magos não puderam manter-se de pé diante de Moisés por causa das úlceras, porque havia úlceras nos magos e em todos os egípcios. Mas o Senhor endureceu o coração do faraó, e ele não os escutou, como o Senhor tinha dito a Moisés. O Senhor disse a Moisés: «Levanta-te de manhã cedo, apresenta-te diante do faraó e diz-lhe: ‘Assim diz o Senhor, Deus dos hebreus: Deixa partir o meu povo para que me sirva. Porque desta vez Eu vou enviar todas as minhas pragas contra o teu coração, contra os teus servos e o teu povo, para que conheças que não há ninguém como Eu em toda a terra. Se agora tivesse enviado a minha mão contra ti e o teu povo, com a peste, certamente já terias desaparecido da terra. Mas por causa disto te conservei de pé: para te fazer ver a minha força a fim de que o meu nome seja proclamado em toda a terra. E tu continuas a pôr obstáculos ao meu povo, para não o deixares partir! Eis que farei chover, amanhã, a esta mesma hora, um granizo muito pesado, como não houve no Egipto desde o dia da sua fundação até hoje. E agora manda pôr em segurança o teu gado e tudo o que tens no campo: sobre todos os homens e todos os animais que se encontrarem no campo e não se recolherem a casa, cairá o granizo e eles morrerão.’» Quem, de entre os servos do faraó, temeu a palavra do Senhor, fez fugir a toda a pressa para as casas os seus servos e o seu gado; mas quem não deu atenção à palavra do Senhor, esse deixou os seus servos e o seu gado no campo. O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão para os céus, e que haja granizo em toda a terra do Egipto, sobre os homens e sobre os animais e sobre toda a erva do campo na terra do Egipto.» Moisés estendeu a sua vara para os céus e o Senhor desencadeou trovões e granizo, e veio fogo sobre a terra; e o Senhor fez chover granizo sobre a terra do Egipto. Houve granizo e fogo que se acendia a si mesmo no meio do granizo muito pesado, como não houve em toda a terra do Egipto desde que se tinha tornado uma nação. O granizo destruiu em toda a terra do Egipto tudo o que estava no campo desde os homens aos animais; o granizo estragou toda a erva do campo e quebrou todas as árvores do campo. Somente na terra de Góchen, lá onde estavam os filhos de Israel, não houve granizo. O faraó mandou chamar Moisés e Aarão, e disse-lhes: «Desta vez pequei; o Senhor é o justo, e eu e o meu povo somos os culpados. Rezai ao Senhor! Há muitos trovões de Deus e granizo! Então deixar-vos-ei partir e não permanecereis mais aqui.» Disse-lhe Moisés: «Ao sair da cidade, levantarei as palmas das mãos para o Senhor; os trovões cessarão e não haverá mais granizo, para que tu conheças que do Senhor é a terra. Mas eu sei que tu e os teus servos não temereis ainda o Senhor Deus.» O linho e a cevada foram destruídos, porque a cevada estava em espiga e o linho em flor. O trigo e o centeio não foram destruídos, porque eram serôdios. Saiu, pois, Moisés da presença do faraó e da cidade, e levantou as palmas das mãos para o Senhor; então cessaram os trovões e o granizo, e a chuva não caiu mais sobre a terra. O faraó viu que tinham cessado a chuva, o granizo e os trovões, e continuou a pecar. Tornou pesado o seu coração, ele e os seus servos. Endureceu-se o coração do faraó, e não deixou partir os filhos de Israel, como o Senhor tinha falado por meio de Moisés. O Senhor disse a Moisés: «Entra em contacto com o faraó, porque fui Eu que tornei pesado o seu coração e o coração dos seus servos, a fim de realizar estes meus sinais no meio deles; e para que tu possas narrar aos ouvidos do teu filho e do filho do teu filho o modo como Eu zombei do Egipto, e como mostrei os meus sinais que Eu realizei no meio deles. E vós conhecereis que Eu sou o Senhor.» Moisés e Aarão entraram em contacto com o faraó e disseram-lhe: «Assim diz o Senhor, Deus dos hebreus: ‘Até quando recusarás humilhar-te diante de mim? Deixa partir o meu povo para que me sirva. Pois se te recusas a deixar partir o meu povo, eis que Eu farei vir amanhã gafanhotos para o teu território. Eles cobrirão a superfície visível da terra, e não se poderá mais ver a terra; eles comerão o resto do que escapou e o que ficou para vós depois do granizo; comerão todas as árvores que crescem para vós no campo. Eles encherão as tuas casas, as casas de todos os teus servos e as casas de todos os egípcios, coisa que não viram os teus pais e os pais dos teus pais, desde o dia em que estão sobre a terra até este dia.’» Depois voltou-se e saiu da presença do faraó. Os servos do faraó disseram-lhe: «Até quando será este homem para nós uma cilada? Deixa partir essa gente para que sirvam o Senhor, seu Deus. Acaso não reconheces que o Egipto está perdido?» Fizeram regressar Moisés e Aarão à presença do faraó, e ele disse-lhes: «Ide servir o Senhor, vosso Deus. Mas quem são os que vão?» Moisés disse: «Nós iremos com os nossos jovens e com os nossos velhos; iremos com os nossos filhos e com as nossas filhas, com as nossas ovelhas e com os nossos bois, porque é uma festa do Senhor para nós.» Ele disse-lhes: «Que o Senhor esteja convosco, tanto como eu vos deixarei partir, a vós e às vossas crianças! Vede como o mal está diante de vós! Não será assim! Podeis ir vós, os homens fortes, e servi o Senhor, pois é isso que pretendeis.» E expulsaram-nos da presença do faraó. O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão sobre a terra do Egipto para fazer vir os gafanhotos. Que eles se levantem sobre a terra do Egipto e comam toda a erva da terra, tudo o que o granizo deixou.» Moisés estendeu a sua vara sobre a terra do Egipto, e o Senhor fez soprar um vento do oriente sobre a terra durante todo aquele dia e toda a noite. Pela manhã, o vento do oriente tinha trazido os gafanhotos. Os gafanhotos levantaram-se sobre toda a terra do Egipto e poisaram em grande quantidade por todo o território do Egipto. Nunca houve gafanhotos assim antes nem haverá depois. Eles cobriram a superfície visível de toda a terra, e a terra escureceu. Comeram toda a erva da terra e todos os frutos das árvores que o granizo deixou. Não ficou nada de verde nas árvores nem na erva do campo em toda a terra do Egipto. O faraó apressou-se a chamar Moisés e Aarão, e disse: «Pequei contra o Senhor, vosso Deus, e contra vós. E agora digna-te perdoar o meu pecado só mais esta vez, e rezai ao Senhor, vosso Deus, para que ao menos afaste de mim esta morte.» E Moisés saiu da presença do faraó e rezou ao Senhor. O Senhor mudou a situação, fazendo soprar do mar um vento muito forte, que levou os gafanhotos, e os arrastou para o Mar dos Juncos. Não ficou nem sequer um gafanhoto em todo o território do Egipto. Mas o Senhor endureceu ainda o coração do faraó, e este não deixou partir os filhos de Israel. O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão para os céus, e que haja trevas sobre a terra do Egipto, trevas onde se ande às apalpadelas!» Moisés estendeu a sua mão para os céus, e houve trevas densas em toda a terra do Egipto durante três dias. Um homem não via o seu irmão, e ninguém se levantou do seu lugar durante três dias; mas para todos os filhos de Israel havia luz onde residiam. O faraó chamou Moisés e disse: «Ide servir o Senhor. Apenas as vossas ovelhas e os vossos bois ficarão aqui. Também as vossas crianças podem ir convosco.» Moisés disse: «Tu colocarás também nas nossas mãos sacrifícios e holocaustos, para nós oferecermos ao Senhor, nosso Deus. Também o nosso gado irá connosco. Não ficará nem sequer um animal, pois é deles que nos serviremos para prestar culto ao Senhor, nosso Deus; e nós não teremos conhecimento de como temos de servir o Senhor, senão quando lá chegarmos.» O Senhor endureceu o coração do faraó, e ele não quis deixá-los partir. O faraó disse-lhe: «Vai-te da minha presença! Livra-te de voltares a ver a minha face, pois no dia em que voltares a ver a minha face, morrerás.» Moisés disse: «Será como disseste! Não voltarei a ver a tua face!» O Senhor disse a Moisés: «Farei vir ainda uma praga sobre o faraó e sobre o Egipto. Depois disso, ele deixar-vos-á partir daqui; e quando decidir deixar-vos partir, até vos expulsará daqui. Fala, pois, ao povo, para que peçam, cada um ao seu amigo, e cada uma à sua amiga, objectos de prata e objectos de ouro.» O Senhor fez com que o povo alcançasse benevolência da parte dos egípcios. O próprio Moisés, por sua vez, era muito importante na terra do Egipto, aos olhos dos servos do faraó e aos olhos do povo. Moisés disse: «Assim diz o Senhor, ‘A meio da noite, Eu apresentar-me-ei no meio do Egipto, e morrerá todo o primogénito na terra do Egipto, desde o primogénito do faraó, que se sentará no seu trono, até ao primogénito da escrava, que está atrás da mó, e todo o primogénito dos animais. Haverá um grande clamor em toda a terra do Egipto, como nunca tinha havido antes e como nunca mais haverá. Mas, entre todos os filhos de Israel, nem sequer um cão latirá a homens e a animais, para que conheçais que o Senhor fez uma separação entre o Egipto e Israel. Então, todos estes teus servos descerão até mim e se prostrarão diante de mim, dizendo: Sai, tu e todo o povo que te segue. Depois disso, sairei.» E ele saiu da presença do faraó, ardendo de ira. O Senhor disse a Moisés: «O faraó não vos escutará, para que se multipliquem os meus prodígios na terra do Egipto.» Moisés e Aarão fizeram todos estes prodígios diante do faraó, mas o Senhor endureceu o coração do faraó, e ele não deixou partir os filhos de Israel da sua terra. O Senhor disse a Moisés e a Aarão na terra do Egipto: «Este mês será para vós o primeiro dos meses; ele será para vós o primeiro dos meses do ano. Falai a toda a comunidade de Israel, dizendo que, aos dez deste mês, tomará cada um deles um animal do rebanho para a família, um animal do rebanho por casa. Se a família for pouco numerosa para um animal do rebanho, tomar-se-á com o vizinho mais próximo da casa, segundo o número das pessoas; calculareis o animal do rebanho conforme o que cada um puder comer. O animal do rebanho para vós será sem defeito, um macho, filho de um ano, e tomá-lo-eis de entre os cordeiros ou de entre os cabritos. Vós o tereis sob guarda até ao dia catorze deste mês, e toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao crepúsculo. Tomar-se-á do sangue e colocar-se-á sobre as duas ombreiras e sobre o dintel da porta das casas em que ele se comerá. Comer-se-á a carne naquela noite; comer-se-á assada no fogo com pães sem fermento e ervas amargas. Não a comereis nem crua nem cozida na água, mas assada no fogo, a cabeça com as patas e as entranhas. Não deixareis dela nada até pela manhã; e o que restar dela pela manhã, queimá-lo-eis no fogo. Comê-la-eis desta maneira: os rins cingidos, as sandálias nos pés, e o cajado na mão. Comê-la-eis à pressa. É a Páscoa em honra do Senhor. E Eu atravessarei a terra do Egipto naquela noite, e ferirei todos os primogénitos na terra do Egipto, desde os homens até aos animais, e contra todos os deuses do Egipto farei justiça, Eu, o Senhor. E o sangue será para vós um sinal nas casas em que vós estais. Eu verei o sangue e passarei ao largo; e não haverá contra vós nenhuma praga de extermínio, quando Eu ferir a terra do Egipto. Aquele dia será para vós um memorial, e vós festejá-lo-eis como uma festa em honra do Senhor. Ao longo das vossas gerações, a deveis festejar como uma lei perpétua. Durante sete dias comereis pães sem fermento. No primeiro dia, fareis desaparecer o fermento das vossas casas, pois todo aquele que comer pão fermentado, do primeiro dia ao sétimo dia, será eliminado de Israel. No primeiro dia, tereis uma convocação sagrada, assim como no sétimo dia. Não se fará nenhum trabalho nesses dias; apenas aquilo que será comido por cada pessoa, só isso será feito por vós. Guardareis a festa dos pães sem fermento, porque foi precisamente neste dia que Eu fiz sair os vossos exércitos da terra do Egipto. Guardareis este dia nas vossas gerações como uma lei perpétua. No primeiro mês, no dia catorze à tarde, comereis pães sem fermento até ao dia vinte e um do mês, à tarde. Durante sete dias, não se encontrará fermento nas vossas casas, porque todo aquele que comer pão fermentado, essa pessoa será eliminada da comunidade de Israel, quer seja estrangeiro residente, quer natural da terra. Não comereis nenhum pão fermentado. Em qualquer lugar em que habitardes, comereis pães sem fermento.» Moisés chamou todos os anciãos de Israel e disse-lhes: «Escolhei e tomai para vós um animal do rebanho, segundo os vossos clãs, e imolai a Páscoa. Tomareis depois um ramo de hissopo, mergulhá-lo-eis no sangue que estiver na bacia, e marcareis o dintel e as duas ombreiras da porta com o sangue que estiver na bacia, e nenhum de vós sairá da porta da sua casa até pela manhã. O Senhor passará para ferir o Egipto, verá o sangue sobre o dintel e sobre as duas ombreiras da porta, e o Senhor passará ao largo da porta e não deixará que o Exterminador entre nas vossas casas para ferir. Observareis isto como uma prescrição para vós e para os vossos filhos para sempre. Quando tiverdes entrado na terra que o Senhor vos dará, como Ele falou, observareis este serviço cultual. Quando os vossos filhos vos disserem: ‘O que é este serviço cultual para vós?’, vós direis: ‘É o sacrifício da Páscoa em honra do Senhor, que passou ao largo das casas dos filhos de Israel no Egipto, quando feriu o Egipto e salvou as nossas casas.’» O povo inclinou-se e prostrou-se. Os filhos de Israel foram e fizeram como o Senhor tinha ordenado a Moisés e a Aarão. Assim fizeram. E aconteceu que, no meio da noite, o Senhor feriu todos os primogénitos na terra do Egipto, desde o primogénito do faraó, que havia de sentar-se no seu trono, até ao primogénito do prisioneiro, que está na prisão, e todos os primogénitos dos animais. O faraó levantou-se durante a noite, ele, todos os seus servos e todo o Egipto, e houve um grande clamor no Egipto, porque não havia casa que não tivesse lá um morto. Ele chamou Moisés e Aarão durante a noite e disse: «Levantai-vos e saí do meio do meu povo, vós e também os filhos de Israel, e ide servir o Senhor, como tendes falado. Tomai também as vossas ovelhas e os vossos bois, como tendes falado, ide e abençoai-me também a mim.» Os egípcios pressionaram o povo para que partisse depressa da terra, pois diziam: «Morreremos todos!» O povo levou a sua farinha amassada antes de levedar, e sobre os ombros as suas amassadeiras envoltas nos seus mantos. Os filhos de Israel fizeram como tinha falado Moisés, e pediram aos egípcios objectos de prata, objectos de ouro e mantos. O Senhor fez com que o povo alcançasse benevolência da parte dos egípcios, que acederam aos seus pedidos. E assim despojaram os egípcios. Os filhos de Israel partiram de Ramessés para Sucot, cerca de seiscentos mil a pé, só os homens fortes, sem contar as crianças. Também uma turba numerosa partiu com eles, juntamente com ovelhas, bois e gado em grande quantidade. Eles cozeram a farinha amassada com que tinham saído do Egipto em bolos sem fermento, pois não tinha fermento. Tinham, na verdade, sido expulsos do Egipto, e não puderam demorar-se; nem sequer fizeram provisões para eles. A estadia dos filhos de Israel que residiram no Egipto foi de quatrocentos e trinta anos. No final dos quatrocentos e trinta anos, precisamente naquele dia, saíram todos os exércitos do Senhor da terra do Egipto. Aquela foi uma noite de vigília para o Senhor, quando Ele os fez sair da terra do Egipto. Esta noite do Senhor será de vigília para todos os filhos de Israel nas suas gerações. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Esta é a prescrição da Páscoa: nenhum filho de estrangeiro comerá dela. Todo o escravo adquirido com dinheiro, tu o circuncidarás, e então comerá dela. Os estrangeiros, residentes ou assalariados, não comerão dela. Comer-se-á numa só casa. Não se fará sair carne da casa para fora, e não lhe quebrareis nenhum osso. Toda a comunidade de Israel a celebrará. E se morar contigo um estrangeiro residente, que queira fazer a Páscoa do Senhor, será circuncidado todo o macho da sua casa, e então se aproximará para a fazer, e será como um natural da terra, mas nenhum incircunciso comerá dela. Haverá uma só lei para o natural e para o estrangeiro residente que habite no meio de vós.» Todos os filhos de Israel fizeram assim; fizeram exactamente como o Senhor tinha ordenado a Moisés e a Aarão. Foi precisamente neste dia que o Senhor fez sair os filhos de Israel da terra do Egipto, segundo os seus exércitos. O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Consagra-me todo o primogénito, aquele que abre o ventre materno, entre os filhos de Israel, dos homens e dos animais. Ele é para mim.» Moisés disse ao povo: «Recorda-te deste dia em que saíste do Egipto, da casa da servidão, pois foi com mão forte que o Senhor te fez sair daqui. Não se comerá pão fermentado. É hoje que vós saís, no mês de Abib. Quando o Senhor te fizer entrar na terra do cananeu, do hitita, do amorreu, do heveu e do jebuseu, que jurou aos teus pais dar-te a ti, terra que mana leite e mel, farás este serviço cultual neste mês. Durante sete dias comer-se-á pães sem fermento, e no sétimo dia haverá uma festa para o Senhor. Comer-se-á pães sem fermento durante sete dias, e não se verá contigo pão fermentado, e não se verá contigo fermento em todo o teu território. Explicarás naquele dia ao teu filho, dizendo: ‘É por causa daquilo que o S fez por mim quando saí do Egipto’. E será para ti como um sinal sobre a tua mão e como um memorial entre os teus olhos, para que esteja a lei do Senhor na tua boca, porque foi com mão forte que o Senhor te fez sair do Egipto. Observarás esta prescrição no tempo estabelecido, ano após ano.» «Quando o Senhor te fizer entrar na terra do cananeu, como jurou a ti e aos teus pais, e ta tiver dado, consagrarás ao Senhor todo o ser que abre o ventre materno e toda a primeira cria que os animais te derem: os machos são para o S. Toda a primeira cria do jumento, resgatá-la-ás com um animal do rebanho; se não a resgatares, quebrar-lhe-ás a nuca. Todo o primogénito do homem, entre os teus filhos, resgatá-lo-ás. E se amanhã o teu filho te perguntar, dizendo: ‘O que é isto?’, dir-lhe-ás: ‘Foi com mão forte que o Senhor nos fez sair do Egipto, da casa da servidão. E porque o faraó era duro em deixar-nos partir, o Senhor fez morrer todos os primogénitos na terra do Egipto, desde os primogénitos dos homens até aos primogénitos dos animais. É por isso que eu ofereço em sacrifício ao Senhor todo o macho que abre o ventre materno e resgato todo o primogénito dos meus filhos’. Será como um sinal sobre a tua mão e como um frontal entre os teus olhos, pois foi com mão forte que o Senhor nos fez sair do Egipto.» E aconteceu que, quando o faraó deixou partir o povo, Deus não o conduziu pela estrada da terra dos filisteus, embora fosse a mais curta, pois Deus disse: «Que o povo não se arrependa perante uma batalha e volte para o Egipto.» E Deus desviou o povo para a estrada do deserto do Mar dos Juncos. Preparados para o combate, os filhos de Israel subiram da terra do Egipto. Moisés tomou consigo os ossos de José, porque ele tinha feito jurar os filhos de Israel, dizendo: «Deus há-de visitar-vos, e vós fareis que os meus ossos saiam daqui convosco.» Eles partiram de Sucot e acamparam em Etam, no limite do deserto. O Senhor caminhava diante deles; durante o dia, numa coluna de nuvem para os conduzir na estrada, e de noite, numa coluna de fogo para os alumiar, para que pudessem caminhar de dia e de noite. A coluna de nuvem não se retirou de diante do povo durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite. O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Fala aos filhos de Israel para retrocederem e acamparem diante de Pi-Hairot, entre Migdol e o mar, diante de Baal-Safon, em frente do qual acampareis, junto do mar. E o faraó dirá dos filhos de Israel: ‘Andam perdidos na terra. Fechou-se contra eles o deserto’. Eu endurecerei o coração do faraó, e ele persegui-los-á; Eu serei glorificado por meio do faraó e de todo o seu exército e os egípcios saberão que Eu sou o Senhor.» Assim fizeram. Foram anunciar ao rei do Egipto que o povo fugira, e o coração do faraó e dos seus servos mudou para com o povo, e disseram: «Que fizemos, pois deixámos partir Israel do nosso serviço?» O faraó atrelou o seu carro de guerra e tomou o seu povo consigo. Tomou seiscentos carros de guerra escolhidos e todos os carros de guerra do Egipto com três combatentes em cada um. O Senhor endureceu o coração do faraó, rei do Egipto, e ele perseguiu os filhos de Israel, e os filhos de Israel saíram de mão erguida. Os egípcios perseguiram-nos e alcançaram-nos quando acampavam junto do mar; todos os cavalos e carros de guerra do faraó, os seus cavaleiros e o seu exército estavam junto de Pi-Hairot, diante de Baal-Safon. Quando o faraó se aproximou, os filhos de Israel ergueram os olhos, e eis que os egípcios acampavam atrás deles, e os filhos de Israel tiveram muito medo e clamaram ao Senhor. Disseram a Moisés: «Foi por falta de túmulos no Egipto que nos trouxeste para morrermos no deserto? O que é isto que nos fizeste, fazendo-nos sair do Egipto? Não foi isto que te dissemos no Egipto, quando dizíamos: ‘Deixa-nos! Queremos estar ao serviço do Egipto, porque é melhor para nós servir o Egipto do que morrer no deserto’?» Moisés disse ao povo: «Não tenhais medo. Permanecei firmes e vede a salvação que o Senhor fará para vós hoje. Pois vós vistes os egípcios hoje, mas nunca mais os tornareis a ver. O Senhor combaterá por vós. E vós ficai tranquilos!» O Senhor disse a Moisés: «Porque clamas por mim? Fala aos filhos de Israel e manda-os partir. E tu, levanta a tua vara e estende a mão sobre o mar e divide-o, e que os filhos de Israel entrem pelo meio do mar, por terra seca. E eis que Eu vou endurecer o coração dos egípcios para que venham atrás deles, e serei glorificado por meio do faraó e de todo o seu exército, dos seus carros de guerra e dos seus cavaleiros. E os egípcios saberão que Eu sou o Senhor, quando for glorificado por meio do faraó, dos seus carros de guerra e dos seus cavaleiros.» O anjo de Deus, que caminhava à frente do acampamento de Israel, levantou-se, partiu e passou a caminhar atrás deles. E a coluna de nuvem levantou-se de diante deles e colocou-se atrás deles. Veio colocar-se entre o acampamento do Egipto e o acampamento de Israel. E houve nuvens e trevas, e iluminou-se a noite, e não se aproximaram um do outro toda a noite. Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez recuar o mar com um vento forte de oriente, toda a noite, e pôs o mar a seco. As águas dividiram-se, e os filhos de Israel entraram pelo meio do mar, por terra seca, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. Os egípcios perseguiram-nos, e todos os cavalos do faraó, os seus carros de guerra e os seus cavaleiros, entraram atrás deles para o meio do mar. E aconteceu que, na vigília da manhã, o Senhor olhou da coluna de fogo e de nuvem, para o acampamento dos egípcios, e lançou a confusão no acampamento dos egípcios. Ele desviou as rodas dos seus carros de guerra, e eles conduziam com dificuldade. Os egípcios disseram: «Fujamos diante de Israel, porque o Senhor combate por eles contra o Egipto.» O Senhor disse a Moisés: «Estende a tua mão sobre o mar, e que as águas voltem sobre os egípcios, sobre os seus carros de guerra e sobre os seus cavaleiros.» Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar voltou ao seu leito normal, ao raiar da manhã, e os egípcios a fugir foram ao seu encontro. E o Senhor desfez-se dos egípcios no meio do mar. As águas voltaram e cobriram os carros de guerra e os cavaleiros; de todo o exército do faraó que entrou atrás deles no mar, não ficou nenhum. Os filhos de Israel caminharam em terra seca, pelo meio do mar, e as águas eram para eles um muro à sua direita e à sua esquerda. O Senhor salvou, naquele dia, Israel da mão do Egipto, e Israel viu os egípcios mortos à beira do mar. Israel viu a mão poderosa com que o Senhor actuou contra o Egipto, o povo temeu o Senhor e acreditou nele e em Moisés, seu servo. Então, Moisés cantou, e os filhos de Israel também, este cântico ao Senhor. Eles disseram: «Cantarei ao Senhor que é verdadeiramente grande: cavalo e cavaleiro lançou no mar. Minha força e meu canto é o Senhor, Ele foi para mim a salvação. É este o meu Deus: glorificá-lo-ei; o Deus de meu pai: exaltá-lo-ei. O Senhor é um guerreiro: Senhor é o seu nome. Os carros de guerra do faraó e o seu exército Ele atirou ao mar; e os seus combatentes escolhidos foram afundados no Mar dos Juncos. Cobrem-nos os abismos: desceram às profundezas como uma pedra. A tua direita, Senhor, resplandeceu de força; a tua direita, Senhor, apanhou o inimigo. Com a grandeza da tua majestade, destróis os que se levantam contra ti: envias a tua ira, que os devora como palha. Com o sopro das tuas narinas, as águas amontoaram-se, as ondas ficaram paradas como um muro, os abismos coalharam no coração do Mar. O inimigo disse: ‘Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos: neles se saciará a minha alma. Desembainharei a minha espada: a minha mão os exterminará.’ Sopraste com o teu vento, e o mar os recobriu. Afundaram-se como chumbo nas águas alterosas. Quem como Tu, entre os deuses, Senhor? Quem como Tu, enaltecido de santidade, temível de glória, fazendo maravilhas? Estendeste a tua direita: a terra engoliu-os. Com o teu amor conduziste este povo que resgataste. Com a tua força o guiaste para a tua morada santa. Os povos ouviram e estremecem: um tremor se apoderou dos habitantes da Filisteia; transidos de pavor ficaram então os chefes de Edom; um tremor se apoderou dos poderosos de Moab; esmorecem todos os habitantes de Canaã. Cairão sobre eles o pavor e o tremor; com a grandeza do teu braço, ficarão paralisados como pedra, até que passe o teu povo, Senhor, até que passe este povo que resgataste. Fá-lo-ás entrar e plantá-lo-ás na montanha que é a tua herança, lugar que fizeste para Tu habitares, Senhor, santuário que as tuas mãos, Senhor, estabeleceram. O Senhor reinará eternamente e para sempre.» De facto, os cavalos do faraó, com os seus carros de guerra e os seus cavaleiros, entraram no mar, e o Senhor fez voltar sobre eles as águas do mar, mas os filhos de Israel caminharam em terra seca pelo meio do mar. Maria, a profetisa, irmã de Aarão, tomou nas mãos uma pandeireta, e todas as mulheres saíram atrás dela com pandeiretas, a dançar. E Maria entoou para eles: «Cantai ao Senhor, que é verdadeiramente grande: lançou no mar cavalo e cavaleiro.» Moisés fez partir Israel do Mar dos Juncos, e saíram para o deserto de Chur. Caminharam três dias no deserto e não encontraram água. Chegaram a Mara, mas não puderam beber a água de Mara, porque era amarga. Por isso se chamou àquele lugar Mara. O povo murmurou contra Moisés, dizendo: «Que beberemos?» E ele clamou ao Senhor, e o Senhor indicou-lhe um tronco que ele lançou à água; e a água tornou-se doce. Foi lá que o Senhor deu ao povo um preceito e uma norma; foi lá que o pôs à prova. E disse: «Se escutares com atenção a voz do Senhor, teu Deus, e se fizeres o que é recto aos seus olhos, se deres ouvidos aos seus mandamentos e se guardares todos os seus preceitos, não farei vir sobre ti nenhum dos flagelos que infligi ao Egipto, porque Eu sou o Senhor que te cura.» Chegaram a Elim, onde estão doze nascentes de água e setenta palmeiras, e acamparam ali à beira da água. Partiram de Elim e toda a comunidade dos filhos de Israel chegou ao deserto de Sin, que está entre Elim e o Sinai, no décimo quinto dia do segundo mês, após a sua saída da terra do Egipto. Toda a comunidade dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Aarão no deserto. Os filhos de Israel disseram-lhes: «Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egipto, quando estávamos descansados junto da panela de carne, quando comíamos com fartura! Mas vós fizestes-nos sair para este deserto para fazer morrer de fome toda esta assembleia!» O Senhor disse a Moisés: «Eis que vou fazer chover do céu pão para vós. O povo sairá e recolherá em cada dia a porção de um dia. Isto é para o pôr à prova e ver se andará, ou não, na minha lei. No sexto dia, quando prepararem o que tiverem trazido, haverá o dobro daquilo que recolhem em cada dia.» Moisés e Aarão disseram a todos os filhos de Israel: «Ao cair da tarde reconhecereis que foi o Senhor que vos fez sair da terra do Egipto, e pela manhã vereis a glória do Senhor, porque Ele terá ouvido as vossas murmurações contra o Senhor. Nós, porém, o que somos para que murmureis contra nós?» Disse Moisés: «Quando o Senhor vos der esta noite carne para comer, e pela manhã pão com fartura, então o Senhor terá ouvido as murmurações que vós proferistes contra Ele. Nós, porém, o que somos? Não são contra nós as vossas murmurações, mas contra o Senhor.» Moisés disse a Aarão: «Diz a toda a comunidade dos filhos de Israel: ‘Aproximai-vos do Senhor, porque Ele ouviu as vossas murmurações.’» Enquanto Aarão falava a toda a comunidade dos filhos de Israel, eles voltaram-se para o deserto, e eis que a glória do Senhor apareceu na nuvem. O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Ouvi as murmurações dos filhos de Israel. Fala-lhes, dizendo: ‘Ao crepúsculo comereis carne, e pela manhã saciar-vos-eis de pão, e conhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus.’» À tardinha caíram tantas codornizes que cobriram o acampamento, e pela manhã havia uma camada de orvalho ao redor do acampamento. A camada de orvalho levantou, e eis que à superfície do deserto havia uma substância fina e granulosa, fina como geada sobre a terra. Os filhos de Israel viram e disseram uns aos outros: «Que é isto?», pois não sabiam o que era aquilo. Disse-lhes Moisés: «Isto é o pão que o Senhor vos deu para comer. Foi isto que o Senhor ordenou: ‘Recolhei cada um conforme o que comer, um gómer por cabeça, segundo o número das vossas pessoas, recolhei cada um conforme os que estejam na sua tenda.’» Assim fizeram os filhos de Israel, e recolheram, uns muito, outros pouco. Mediam com o gómer, e não sobejava a quem tinha muito nem faltava a quem tinha pouco. Cada um tinha recolhido conforme o que comia. Disse-lhes Moisés: «Ninguém o guarde até de manhã.» Porém, alguns não escutaram Moisés, e guardaram-no até de manhã; mas ganhou vermes e cheirava mal. E Moisés irritou-se contra eles. Recolhiam-no todas as manhãs, cada um conforme o que comia. E quando o sol aquecia, derretia-se. Vindo o sexto dia, recolheram o dobro do pão, dois gómeres para cada um, e todos os chefes da comunidade vieram comunicá-lo a Moisés. Ele disse-lhes: «Foi isto que o Senhor falou. Amanhã é descanso completo, um sábado consagrado ao Senhor, aquilo que deveis cozer, cozei; aquilo que deveis ferver, fervei; tudo o que sobejar, conservai-o guardado para vós até de manhã.» Conservaram-no até de manhã, como tinha ordenado Moisés, e não cheirava mal nem ganhou vermes. Disse Moisés: «Comei-o hoje, porque hoje é sábado consagrado ao Senhor; hoje não o encontrareis no campo. Recolhê-lo-eis durante seis dias, mas no sétimo dia, sábado, não haverá.» No sétimo dia saíram alguns do povo para fazer recolha, mas não o encontraram. O Senhor disse a Moisés: «Até quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis? Vede que o Senhor vos deu o sábado; e é por isso que vos dá, no sexto dia, o pão para dois dias. Fique cada um onde está, que ninguém saia do seu lugar no sétimo dia.» E o povo descansou no sétimo dia. A casa de Israel deu-lhe o nome de maná. Era como semente de coentro, branco, e o seu sabor, como bolo de mel. Disse Moisés: «Eis o que o Senhor ordenou: ‘Enchei um gómer dele e guardai-o para as vossas gerações, para que vejam o pão que vos dei a comer no deserto, quando vos fiz sair da terra do Egipto.’» Moisés disse a Aarão: «Toma um vaso, e põe lá um gómer cheio de maná, e coloca-o diante do Senhor a fim de ser conservado para as vossas futuras gerações.» Como o Senhor tinha ordenado a Moisés, Aarão colocou-o diante do testemunho, a fim de ser conservado. Os filhos de Israel comeram o maná durante quarenta anos, até chegarem à terra habitada. Comeram o maná até chegarem aos confins da terra de Canaã. O gómer é um décimo do efá. Toda a comunidade dos filhos de Israel partiu do deserto de Sin para as suas etapas, segundo a palavra do Senhor. Eles acamparam em Refidim, mas não havia água para o povo beber. O povo litigou com Moisés, e disse: «Dá-nos água para beber.» Disse-lhes Moisés: «Porque litigais comigo? Porque pondes o Senhor à prova?» Ali o povo teve sede de água, e murmurou contra Moisés, dizendo: «Porque nos fizeste subir do Egipto para nos fazer morrer à sede, a nós, aos nossos filhos e ao nosso gado?» Moisés clamou ao Senhor, dizendo: «Que farei a este povo? Mais um pouco e vão apedrejar-me.» O Senhor disse a Moisés: «Passa diante do povo e toma contigo alguns anciãos de Israel; e leva na tua mão a vara com que feriste o rio, e vai. Eis que estarei diante de ti, lá, sobre a rocha no Horeb. Tu ferirás a rocha e dela sairá água, e o povo beberá.» Assim fez Moisés diante dos anciãos de Israel. Ele deu àquele lugar o nome de Massá e Meribá, por causa do litígio dos filhos de Israel, e por terem posto o Senhor à prova, dizendo: «Está o Senhor no meio de nós ou não?» Veio então Amalec e combateu contra Israel em Refidim. Moisés disse a Josué: «Escolhe para nós homens, e sai para combater contra Amalec. Amanhã eu permanecerei firme no cimo da colina e terei a vara de Deus na minha mão.» Josué fez como Moisés lhe tinha dito, para combater contra Amalec. Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. E acontecia que, enquanto Moisés tinha as mãos levantadas, era Israel o mais forte; mas quando descansava as mãos, o mais forte era Amalec. Mas as mãos de Moisés ficaram pesadas. Pegaram então numa pedra e puseram-na debaixo dele, e ele sentou-se sobre ela. Aarão e Hur sustentavam as mãos dele, um de um lado e outro do outro. E assim as mãos dele permaneceram firmes até ao pôr-do-sol. Josué venceu Amalec e o seu povo ao fio da espada. O Senhor disse a Moisés: «Escreve isto, como memorial, no livro e declara a Josué que Eu hei-de apagar a memória de Amalec de debaixo dos céus.» Moisés construiu um altar e chamou-o com o nome: «O Senhor é o meu estandarte.» E ele disse: «Porque uma mão se levantou contra o trono do Senhor, haverá guerra do Senhor contra Amalec, de geração em geração.» Jetro, sacerdote de Madian, sogro de Moisés, ouviu tudo o que Deus tinha feito a Moisés e a Israel, seu povo: como o Senhor tinha feito sair Israel do Egipto. Jetro, sogro de Moisés, tomou Séfora, mulher de Moisés, depois de ela ter sido mandada embora, e os seus dois filhos, dos quais o nome de um era Gérson, pois ele disse: «Eu sou um imigrante num país estrangeiro», e o nome do outro era Eliézer, pois «o Deus do meu pai veio ‘em meu auxílio’ e libertou-me da espada do faraó.» Jetro, sogro de Moisés, os seus filhos e a sua mulher foram ter com Moisés, ao deserto onde ele estava acampado. Era lá a montanha de Deus. Ele disse a Moisés: «Eu sou o teu sogro Jetro; venho ter contigo, juntamente com a tua mulher e os seus dois filhos com ela.» Moisés saiu ao encontro do seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Fizeram um ao outro saudações de paz e entraram na tenda. Moisés relatou ao seu sogro tudo o que o Senhor tinha feito ao faraó e ao Egipto por causa de Israel, todas as dificuldades encontradas no caminho, e das quais o Senhor os tinha livrado. Jetro alegrou-se por todo o bem que o Senhor tinha feito a Israel, libertando-o da mão do Egipto. Jetro disse: «Bendito seja o Senhor que vos libertou da mão do Egipto e da mão do faraó, que libertou o povo da mão do Egipto. Agora reconheço que o Senhor é maior que todos os deuses, pelo modo como eram arrogantes contra eles.» Jetro, sogro de Moisés, ofereceu um holocausto e sacrifícios a Deus. Aarão e todos os anciãos de Israel vieram para comer com o sogro de Moisés diante de Deus. Sucedeu que no dia seguinte Moisés se sentou para julgar o povo, e o povo manteve-se de pé na frente de Moisés de manhã até à noite. O sogro de Moisés viu tudo o que ele fazia pelo povo e disse: «O que é isso que tu fazes pelo povo? Por que razão te sentas tu sozinho, e todo o povo fica junto de ti de manhã até à noite?» Moisés disse ao seu sogro: «É que o povo vem ter comigo para consultar a Deus. Quando há alguma questão entre eles, vêm ter comigo, e eu julgo entre um e outro e faço-lhes conhecer os preceitos de Deus e as suas instruções.» O sogro de Moisés disse-lhe: «Não está bem aquilo que estás a fazer. Com certeza desfalecerás, tu e este povo que está contigo, porque a tarefa é demasiado pesada para ti; não poderás realizá-la sozinho. Agora, escuta a minha voz; vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo! Tu estarás em nome do povo em frente de Deus, e tu próprio levarás as causas a Deus. Adverti-los-ás dos preceitos e das instruções e dar-lhes-ás a conhecer o caminho que devem seguir e as obras que devem praticar. Escolhe tu mesmo entre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, homens íntegros, que odeiem o lucro ilícito, e estabelecê-los-ás como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgarão o povo em todo o tempo. Toda a questão que seja grande, eles a apresentarão a ti, mas toda a questão menor, julgá-la-ão eles mesmos. Torna assim mais leve a tua carga, e que eles a levem contigo. Se fizeres desta maneira, e se Deus to ordenar, tu poderás permanecer de pé, e também todo este povo entrará em paz nas suas casas.» Moisés escutou a voz do seu sogro e fez tudo o que ele disse. Moisés escolheu de todo o Israel homens capazes e colocou-os à cabeça do povo, como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez. Eles julgavam o povo em todo o tempo: as questões difíceis levavam-nas a Moisés, mas todas as questões menores julgavam-nas eles mesmos. E Moisés deixou partir o seu sogro, que se dirigiu para o seu país. Na terceira Lua-nova depois da saída dos filhos de Israel da terra do Egipto, naquele mesmo dia, chegaram ao deserto do Sinai. Partiram de Refidim e chegaram ao deserto do Sinai e acamparam no deserto. Israel acampou lá, diante da montanha. Moisés subiu até junto de Deus. Da montanha o Senhor chamou-o, dizendo: «Assim dirás à casa de Jacob e declararás aos filhos de Israel: ‘Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim. E agora, se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular entre todos os povos, porque é minha a terra inteira. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.’ Estas são as palavras que transmitirás aos filhos de Israel.» Moisés veio e chamou os anciãos do povo e pôs diante deles todas estas palavras, como o Senhor lhe tinha ordenado. Todo o povo, unânime, respondeu, dizendo: «Tudo o que o Senhor disse, nós o faremos.» E Moisés transmitiu ao Senhor as palavras do povo. O Senhor disse a Moisés: «Eis que Eu venho ter contigo no coração da nuvem, para que o povo oiça quando Eu falar contigo e também acredite em ti para sempre.» E Moisés transmitiu ao Senhor as palavras do povo. O Senhor disse a Moisés: «Vai ter com o povo, e fá-los santificar hoje e amanhã; que eles lavem as suas roupas. Que estejam prontos para o terceiro dia, porque no terceiro dia o Senhor descerá aos olhos de todo o povo sobre a montanha do Sinai. Põe limites ao redor do povo, dizendo: ‘Livrai-vos de subir à montanha e de tocar os seus limites. Todo aquele que tocar na montanha morrerá. Ninguém tocará nela, pois será apedrejado ou atravessado de flechas: seja animal ou seja homem, não viverá. Quando soar longamente o chifre de carneiro, eles subirão à montanha.’» Moisés desceu da montanha ao encontro do povo. Ele santificou o povo, e eles lavaram as suas roupas. E disse ao povo: «Estai prontos para o terceiro dia. Não vos aproximeis de mulher alguma.» E eis que, no terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha, e um som muito forte de trombeta, e todo o povo que estava no acampamento tremia. Moisés fez sair o povo do acampamento ao encontro de Deus, e colocaram-se no sopé da montanha. A montanha do Sinai estava toda coberta de fumo, porque o Senhor tinha descido sobre ela no fogo; e o seu fumo subia como o fumo de um forno, e toda a montanha tremia muito. O som da trombeta era cada vez mais forte. Moisés falava, e Deus respondia-lhe no trovão. O Senhor desceu sobre a montanha do Sinai, no cimo da montanha. O Senhor chamou Moisés ao cimo da montanha, e Moisés subiu. O Senhor disse a Moisés: «Desce e adverte solenemente o povo para que não se precipite, a fim de ver o Senhor; muitos deles morreriam. E que também os sacerdotes que se aproximam do Senhor se santifiquem, para que o Senhor não os fira.» Moisés disse ao Senhor, «O povo não pode subir à montanha do Sinai, pois Tu advertiste-nos solenemente, dizendo: ‘Põe limites à montanha e santifica-a.’» O Senhor disse-lhe: «Vai, desce; depois subirás tu e Aarão contigo; os sacerdotes e o povo, porém, que não se precipitem em subir para o Senhor, para que Ele não os fira.» Moisés desceu ao encontro do povo e comunicou-lhes tudo isto. Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão. Não haverá para ti outros deuses na minha presença. Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o Senhor, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam, mas que trato com bondade até à milésima geração aqueles que amam e guardam os meus mandamentos. Não usarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão. Recorda-te do dia de sábado, para o santificar. Trabalharás durante seis dias e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado consagrado ao Senhor, teu Deus. Não farás trabalho algum, tu, o teu filho e a tua filha, o teu servo e a tua serva, os teus animais, o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que está neles, mas descansou no sétimo dia. Por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e santificou-o. Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, te dá. Não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás. Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa. Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.» Perante o espectáculo dos trovões, dos relâmpagos, do som da trombeta e da montanha fumegante, o povo tremia e mantinha-se à distância. Disseram a Moisés: «Fala tu connosco, que nós escutaremos; mas que não fale Deus connosco, para que não morramos.» Moisés disse ao povo: «Não temais, pois foi para vos pôr à prova que Deus veio, e para que o seu temor esteja diante de vós, de modo que não pequeis.» O povo manteve-se à distância e Moisés aproximou-se da nuvem escura, onde estava Deus. O Senhor disse a Moisés: «Assim dirás aos filhos de Israel: Vós mesmos vistes que foi dos céus que Eu falei convosco. Não fareis ao lado de mim deuses de prata e deuses de ouro; não fareis isso para vós. Farás para mim um altar de terra e oferecerás sobre ele os teus holocaustos, os teus sacrifícios de comunhão, as tuas ovelhas e os teus bois. Em todo o lugar em que Eu fizer recordar o meu nome, virei a ti e te abençoarei. Se fizeres para mim um altar de pedras, não o construirás com pedras lavradas, porque ao vibrares o teu cinzel sobre elas, profaná-las-ias. Não subirás por degraus ao meu altar, para que não seja descoberta a tua nudez sobre ele. São estas as normas que porás diante deles: quando adquirires um escravo hebreu, ele servirá seis anos; mas no sétimo, ele sairá em liberdade, sem nada pagar. Se veio sozinho, sairá sozinho; se tinha uma mulher, a sua mulher sairá com ele. Se o seu senhor lhe deu uma mulher, e se ela lhe gerou filhos ou filhas, a mulher e os seus filhos serão para o seu senhor, e ele sairá sozinho. Mas se o escravo declarar: ‘Eu amo o meu senhor, a minha mulher e os meus filhos, não quero sair em liberdade’, o seu senhor fá-lo-á aproximar de Deus, fá-lo-á aproximar da porta ou do umbral, e perfurar-lhe-á a orelha com uma sovela, e ele servi-lo-á para sempre. E quando um homem vender a sua filha como serva, ela não sairá como saem os escravos. Se ela desagradar aos olhos do seu senhor, de modo que ele não a destine para si, fá-la-á resgatar; não é senhor de a vender a um povo estrangeiro, tratando-a com deslealdade. E se a destinar para o seu filho, fará com ela segundo o direito das filhas. Se tomar outra para si, não reduzirá o seu alimento, nem o seu vestuário nem os seus direitos conjugais. Se não cumprir para com ela estas três coisas, ela poderá sair sem pagar nada, sem recorrer a dinheiro. Aquele que ferir um homem até à morte, deverá morrer. Se ele não armou uma cilada, e foi Deus que o fez cair na sua mão, fixarei para ti um lugar onde ele se possa refugiar. Mas quando alguém se enfurecer contra o seu próximo para o assassinar à traição, arrancá-lo-ás até mesmo do meu altar, para que morra. Quem ferir o seu pai ou a sua mãe, deverá morrer. Quem raptar um homem e o vender, ou o retiver em seu poder, deverá morrer. Quem amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe, deverá morrer. E quando alguns homens litigarem e um deles ferir o seu próximo com uma pedra ou com o punho, sem o matar, mas levando-o a cair de cama, se ele se levantar e andar por fora agarrado ao seu cajado, aquele que o feriu será absolvido; apenas lhe retribuirá pela sua paragem forçada e o curará completamente. E quando um homem ferir o seu escravo ou a sua serva com um bastão, e vierem a morrer sob a sua mão, serão vingados; se, porém, sobreviverem um dia ou dois, não serão vingados, pois eles são o seu dinheiro. E quando alguns homens brigarem e ferirem uma mulher grávida, e ela abortar, mas não houver acidente fatal, será paga uma indemnização, como impuser sobre o assunto o marido da mulher, e será dada através de juízes. Mas se houver acidente fatal, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão. E quando um homem ferir a vista do seu escravo ou a vista da sua escrava, e a destruir, deixá-los-á partir em liberdade pela sua vista. E se fizer cair um dente do seu escravo ou um dente da sua serva, deixá-lo-á partir em liberdade pelo seu dente. E quando um boi marrar num homem ou numa mulher, vindo a causar a morte, o boi será apedrejado e a sua carne não será comida, mas o dono do boi será absolvido. Mas se esse boi já antes marrava, e se o seu dono já tinha sido avisado e não o guardava, e se causar a morte a um homem ou a uma mulher, o boi será apedrejado e também o seu dono será morto. Se lhe for imposto um resgate, dará então como resgate pela sua vida tudo o que lhe for imposto. Se marrar num filho ou se marrar numa filha, far-se-á com ele segundo esta norma. Se o boi marrar num escravo ou numa serva, dar-se-á ao senhor deles trinta siclos em dinheiro, e o boi será apedrejado. E quando um homem destapar um poço, ou quando um homem escavar um poço e não o cobrir, e lá cair um boi ou um jumento, o dono do poço pagará em dinheiro ao seu dono, mas o animal morto será para ele. E quando o boi de um homem ferir de morte o boi do seu próximo, venderão o boi vivo e repartirão o seu dinheiro; e repartirão também o morto. Mas se era conhecido que aquele boi já antes marrava, e o seu dono não o guardou, terá de pagar boi por boi, e o animal morto será para ele. E quando um homem roubar um boi ou um animal do rebanho, e o abater ou o vender, pagará cinco bois pelo boi, e quatro ovelhas pelo animal do rebanho. Se o ladrão for surpreendido quando procede a um arrombamento, e for ferido de morte, não haverá para ele vingança de sangue. Se o sol brilhava sobre ele, haverá para ele vingança de sangue. Ele deverá pagar; se não tiver com que pagar, será vendido pelo seu roubo. Se for encontrado na sua mão o roubo de um boi ou de um jumento ou de um animal do rebanho ainda vivos, pagará o dobro. Quando um homem tiver em pastagem um campo ou uma vinha, e deixar o seu gado pastar no campo de outrem, pagará com o melhor do seu campo e com o melhor da sua vinha. Quando um fogo alastrar e alcançar espinheiros, e devorar medas ou searas ou campos, o incendiário pagará o que tiver sido queimado. Quando um homem der ao seu próximo dinheiro ou objectos para guardar, e forem roubados de casa do homem, se o ladrão for encontrado, pagará o dobro; se o ladrão não for encontrado, o dono da casa jurará diante de Deus que não pôs a sua mão sobre os bens do seu próximo. Em toda a causa de litígio sobre um boi, sobre um jumento, sobre um animal do rebanho, sobre vestuário, sobre qualquer coisa perdida, o litígio apresentar-se-á diante de Deus; aquele que Deus declarar culpado pagará o dobro ao seu próximo. Quando um homem der ao seu próximo um jumento, ou um boi, ou um animal do rebanho, ou qualquer animal para guardar, e este morrer, ou fracturar um membro, ou for levado, sem ninguém ver, haverá um juramento em nome do Senhor entre as duas partes. Se este não estendeu a sua mão sobre os bens do seu próximo, o seu dono aceitará, e o outro nada pagará. Mas se foi roubado junto dele, pagará ao seu dono. Se foi despedaçado, trará como prova o animal despedaçado, e nada pagará. E quando um homem pedir emprestado ao seu companheiro um animal, e for fracturado um membro ou morrer, e o seu dono não estiver com ele, terá de pagar. Se o seu dono estiver com ele, não pagará. Se ele tinha sido alugado, pagará o preço do seu aluguer. E quando um homem seduzir uma virgem que não esteja noiva, e se deitar com ela, dar-lhe-á o dote e será sua esposa. Se o pai dela se recusa terminantemente a dar-lha, ele pagará em dinheiro conforme o dote das virgens. Não deixarás viver a feiticeira. Todo aquele que se deitar com um animal deverá morrer. Quem sacrifica aos deuses será votado ao anátema, excepto se sacrifica ao Senhor e só a Ele. Não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egipto. Não maltratarás nenhuma viúva nem nenhum órfão. Se tu o maltratares, e se ele clamar a mim, hei-de ouvir o seu clamor; a minha ira inflamar-se-á e matar-vos-ei à espada, e as vossas mulheres ficarão viúvas e os vossos filhos ficarão órfãos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao indigente que está contigo, não serás para ele como um usurário: não lhe imporás juros. Se penhorares o manto do teu próximo, devolver-lho-ás até ao pôr-do-sol, porque a capa é tudo o que ele tem para cobrir a pele. Com que é que ele se deitaria? E se vier a clamar a mim, ouvi-lo-ei, porque Eu sou misericordioso. Não blasfemarás contra Deus e não amaldiçoarás um chefe do teu povo. Não reterás os teus frutos maduros e o que escorre do teu lagar. Dar-me-ás o primogénito dos teus filhos. Farás o mesmo com o primogénito do teu boi e das tuas ovelhas: sete dias ficará com a sua mãe, e no oitavo dia mo darás. Sereis para mim homens santos. Não comereis carne de animal despedaçado no campo. Lançá-la-eis aos cães. Não levantarás rumores falsos. Não ponhas a tua mão com o culpado, para seres uma testemunha de injustiça. Não irás atrás da maioria para o mal, e não intervirás num processo para te inclinares atrás da maioria, violando a justiça. Não favorecerás o fraco no seu processo. Quando encontrares um boi do teu inimigo ou o seu jumento, desgarrados, tu lhos levarás de volta. Quando vires um jumento daquele que te odeia caído debaixo da sua carga, não o abandones. Deves soltá-lo com ela. Não falsificarás o direito dos teus pobres no seu processo. Manter-te-ás longe da causa mentirosa. Não matarás um inocente e um justo, porque Eu não declaro justo um culpado. Não aceitarás presentes, porque o presente cega aqueles que vêem e perverte as palavras dos justos. Não oprimirás um estrangeiro residente; vós conheceis a vida do estrangeiro residente, porque fostes estrangeiros residentes na terra do Egipto. Durante seis anos semearás a tua terra e colherás o seu produto. No sétimo ano, porém, deixá-la-ás em pousio e abandoná-la-ás; os pobres do teu povo comerão, e os animais do campo comerão o que restar. Farás do mesmo modo para a tua vinha, para o teu olival. Durante seis dias farás os teus afazeres, mas no sétimo dia deixarás de trabalhar, para que descansem o teu boi e o teu jumento, e tomem fôlego o filho da tua serva e o estrangeiro residente. Guardareis tudo o que vos disse. Do nome de outros deuses não fareis menção: não se oiça na vossa boca. Três vezes no ano, farás uma festa em minha honra. Guardarás a festa dos pães sem fermento. Durante sete dias comerás pães sem fermento, como te ordenei, no tempo fixado do mês de Abib, porque foi nele que saíste do Egipto. E ninguém se apresente diante de mim de mãos vazias. Guardarás também a festa da ceifa, das primícias do teu trabalho, daquilo que semeaste no campo, e a festa da colheita, à saída do ano, quando recolheres os teus frutos do campo. Três vezes no ano todos os teus varões se apresentarão diante do Senhor D. Não oferecerás o sangue do meu sacrifício com pão fermentado; e a gordura da minha festa não passará a noite até de manhã. Trarás à casa do Senhor, teu Deus, os primeiros frutos das primícias do teu solo. Não ferverás um cabrito no leite da sua mãe. Eis que Eu envio um anjo diante de ti, para te guardar no caminho e para te fazer entrar no lugar que Eu preparei. Mantém-te atento na sua presença e escuta a sua voz. Não lhe causes amargura, porque ele não suportará a vossa transgressão, porque está nele a minha autoridade. Mas se escutares a sua voz e se fizeres tudo o que Eu falar, Eu serei inimigo dos teus inimigos e serei adversário dos teus adversários, pois o meu anjo caminhará diante de ti e te fará entrar na terra do amorreu, do hitita, do perizeu, do cananeu, do heveu e do jebuseu, e Eu exterminá-lo-ei. Não te prostrarás diante dos seus deuses, não os servirás, não farás como eles fazem, mas destruí-los-ás e quebrarás as suas estelas. Servireis o Senhor, vosso Deus, e Ele abençoará o teu pão e a tua água, e Eu afastarei a doença do meio de ti. Não haverá na tua terra mulher que aborte ou que seja estéril, e Eu encherei o número dos teus dias. Enviarei diante de ti o meu pavor e provocarei a confusão em todos os povos em cuja terra entrares, e todos os teus inimigos fugirão de ti. Enviarei diante de ti vespas, para que expulsem da tua frente o heveu, o cananeu e o hitita. Não os expulsarei da tua frente num ano só, para que a terra não fique deserta, e se multipliquem contra ti os animais do campo. Vou expulsá-los da tua frente pouco a pouco, até que tenhas crescido e possas herdar a terra. Fixarei os teus confins desde o Mar dos Juncos até ao mar dos Filisteus, e do deserto até ao rio, pois colocarei nas tuas mãos os habitantes da terra, e tu os expulsarás da tua frente. Não farás aliança com eles nem com os seus deuses. Eles não habitarão na tua terra, para que não te façam pecar contra mim; porque tu servirias os seus deuses, e isso seria para ti uma armadilha.» E Ele disse a Moisés: «Sobe ao encontro do Senhor, tu, Aarão, Nadab, Abiú e setenta dos anciãos de Israel, e prostrar-vos-eis de longe. Moisés aproximar-se-á sozinho do Senhor. Eles não se aproximarão, e o povo não subirá com ele.» Moisés veio e relatou ao povo todas as palavras do Senhor e todas as normas, e todo o povo respondeu a uma só voz, e disse: «Poremos em prática todas as palavras que o Senhor pronunciou.» Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. Levantou-se de manhã cedo e construiu um altar no sopé da montanha, e doze estelas pelas doze tribos de Israel. E enviou os jovens dos filhos de Israel, e ofereceram holocaustos e sacrificaram ao Senhor novilhos como sacrifícios de comunhão. Moisés tomou metade do sangue e colocou-o em bacias, e metade do sangue espalhou-o sobre o altar. Tomou o Livro da Aliança* e leu-o na presença do povo, que disse: «Tudo o que o Senhor disse, nós o faremos e obedeceremos.» Moisés tomou o sangue e aspergiu com ele o povo, dizendo: «Eis o sangue da aliança que o Senhor concluiu convosco, mediante todas estas palavras.» Moisés subiu com Aarão, Nadab e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel. Contemplaram o Deus de Israel. Sob os seus pés, havia como que um pavimento de safiras, tão puro como o próprio céu. E Ele não estendeu a mão contra estes eleitos dos filhos de Israel, os quais contemplaram a Deus e depois comeram e beberam. O Senhor disse a Moisés: «Sobe até mim, ao alto da montanha; e fica ali para que Eu te dê as tábuas de pedra, com as leis e os mandamentos que nelas escrevi, para lhos ensinares.» Moisés partiu com Josué, seu servidor, e subiu ao monte de Deus. E aos anciãos ele disse: «Esperai aqui por nós até regressarmos para junto de vós. Eis que Aarão e Hur ficam convosco. Todo aquele que tiver uma questão, dirija-se a eles.» E Moisés subiu à montanha. A nuvem cobria a montanha, e a glória do Senhor permaneceu sobre a montanha do Sinai, e a nuvem envolveu-o durante seis dias. No sétimo dia, o Senhor chamou por Moisés do meio da nuvem. Aos olhos dos filhos de Israel, a majestade do Senhor tinha o aspecto de um fogo devorador no cimo da montanha. Moisés entrou pelo meio da nuvem e subiu à montanha, e ali esteve Moisés durante quarenta dias e quarenta noites. O Senhor falou a Moisés, dizendo-lhe: «Fala aos filhos de Israel para que me façam uma oferta. Recebê-la-eis de todo o homem que a der de boa vontade. Recebereis deles as seguintes ofertas: ouro, prata, bronze, púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim, linho fino, pêlo de cabra, peles de carneiro tingidas de vermelho, couro fino, madeira de acácia, azeite para o lampadário, aromas para o óleo de unção e para o incenso de queimar, pedras de ónix e outras pedras para guarnecer a insígnia sacerdotal e o peitoral. Construir-me-eis um santuário, para que resida no meio deles. Fareis o santuário e todos os seus utensílios, de acordo com os modelos que vou mostrar-vos.» «Fareis uma Arca de madeira de acácia, e terá de comprimento dois côvados e meio; um côvado e meio de largura, um côvado e meio de altura. Revesti-la-ás de ouro puro, tanto no interior como no exterior, e cercá-la-ás de uma cornija de ouro. Fundirás, para a Arca, quatro argolas de ouro, e fixá-las-ás nos seus quatro ângulos: duas de um lado, duas de outro. Mandarás fazer varais de madeira de acácia revestidos de ouro; introduzirás os varais nas argolas, ao longo dos lados da Arca, a fim de servirem para a transportar. Os varais devem estar sempre nas argolas da Arca; não mais poderão ser retirados. Depositarás na Arca o testemunho que te darei. Também farás um propiciatório de ouro puro, com dois côvados e meio de comprimento, e um côvado e meio de largura. Depois, farás dois querubins de ouro martelado, de uma só peça, sobressaindo nas duas extremidades do propiciatório, um querubim numa extremidade e outro querubim na outra extremidade, de maneira que fiquem em frente um do outro. Estes querubins terão as asas estendidas para diante, cobrindo com elas o propiciatório, estarão voltados um para o outro, e os seus rostos estarão inclinados para o propiciatório. Colocarás o propiciatório sobre a Arca e porás dentro da Arca o testemunho que te darei. É ali que me encontrarei contigo; é do alto do propiciatório, entre os dois querubins dispostos sobre a Arca do testemunho, que te comunicarei todas as minhas ordens para os filhos de Israel.» «Construirás em seguida uma mesa de madeira de acácia, que terá de comprimento dois côvados, de largura um côvado, e de altura um côvado e meio. Revesti-la-ás de ouro puro e rodeá-la-ás de uma moldura de ouro. Adaptarás a toda a volta uma moldura de uma mão de largura, com uma cercadura de ouro. Farás para a mesa quatro argolas de ouro e prendê-las-ás nas quatro extremidades, formadas pelos seus quatro pés. Estas argolas estarão colocadas frente a frente e por elas passarão varais destinados ao transporte da mesa. Farás os varais de madeira de acácia revestidos de ouro e servirão para transportar a mesa. Farás as escudelas, as colheres, os vasos e as taças para as libações, de ouro puro. Colocarás sobre esta mesa os pães da oferenda, que estarão permanentemente diante de mim.» «Farás também um candelabro de ouro puro. Fá-lo-ás de ouro martelado; a sua base e a sua haste serão feitas de uma só peça; os cálices, os botões e as flores formarão uma única peça com ele. Seis braços partirão dos lados, três de um lado e três do outro. Num braço haverá três cálices, em forma de flor de amendoeira, com botão e flor, e três cálices, em forma de flor de amendoeira, com botão e flor, no outro braço; e assim hão-de ser os restantes braços que saiam do candelabro. Na haste central do candelabro, haverá quatro taças em forma de flor de amendoeira, com os seus botões e flores; haverá um botão sob os dois primeiros braços que saírem do candelabro, um botão sob os dois braços seguintes, e um botão sob os dois últimos: será assim para os seis braços do candelabro. Estes botões e estes braços formarão uma única peça com o candelabro, e todo o conjunto será feito de uma só barra de ouro puro. Depois farás sete lâmpadas, que hão-de ser colocadas de maneira a iluminarem a parte da frente. Os espevitadores e os vasos para os morrões serão de ouro puro. Empregar-se-á um talento de ouro puro na execução do candelabro e de todos estes acessórios. Toma todas as providências para que o trabalho seja executado segundo o modelo que te mostrei neste monte.» «A seguir farás o santuário, com dez tapeçarias de linho tecido de púrpura violácea, púrpura escarlate e púrpura carmesim, nas quais serão bordados artisticamente querubins. Cada tapeçaria terá vinte e oito côvados de comprimento e quatro côvados de largura. Todas as outras tapeçarias terão as mesmas dimensões. Cinco destas tapeçarias serão unidas umas às outras, e as restantes cinco também serão unidas umas às outras. Na orla da tapeçaria que está na extremidade do primeiro conjunto, colocarás laços de púrpura violácea; farás o mesmo para a orla da tapeçaria que termina o outro conjunto. Farás cinquenta laços para a primeira tapeçaria e cinquenta laços para a extremidade da última tapeçaria do segundo conjunto, de modo que os laços se correspondam uns aos outros. Farás também cinquenta ganchos de ouro, e unirás as tapeçarias umas às outras com estes ganchos a fim de que o santuário forme um todo. Farás tapeçarias de pêlo de cabra para formar uma tenda por cima do santuário. Farás onze dessas tapeçarias. O comprimento de uma delas será de trinta côvados e a largura de quatro côvados; todas as onze tapeçarias terão a mesma medida. Unirás cinco dessas tapeçarias de um lado, e as seis restantes do outro, ficando a sexta dobrada diante da entrada da tenda. Colocarás cinquenta laços na orla da tapeçaria que está na extremidade de um conjunto, e cinquenta laços na orla da outra. Farás cinquenta ganchos de cobre que introduzirás nos laços, e unirás assim a tenda, de modo a formar um todo. E o resto que sobejar das tapeçarias da tenda, a metade da tapeçaria que sobejar, cairá sob a face posterior do santuário. Os côvados excedentes, um de um lado e o outro do lado contrário, ao comprido das tapeçarias da tenda, cairão sobre cada um dos lados do santuário para o cobrir. Farás para a tenda uma cobertura de peles de carneiro tingidas de vermelho e, por cima, uma cobertura de peles finas.» «Farás também para o santuário pranchas verticais de madeira de acácia. O comprimento de cada prancha será de dez côvados e a largura será de um côvado e meio. Cada prancha terá dois encaixes, para se unirem umas às outras. Farás o mesmo para todas as pranchas do santuário. Farás, portanto, para o santuário, vinte pranchas, que hão-de ser colocadas na direcção do Négueb, ao sul. Distribuirás, sob as vinte pranchas, quarenta suportes de prata, dois sob cada prancha, para os dois encaixes. Para o segundo lado do santuário, ao norte, farás vinte pranchas, e quarenta suportes de prata, sendo dois suportes para cada prancha. Para o fundo do santuário, ao ocidente, farás seis pranchas. Farás duas pranchas para os ângulos do fundo do santuário: estarão unidas em baixo e igualmente unidas em cima, por meio de uma só argola. Far-se-á o mesmo com as duas pranchas colocadas nos dois ângulos. Serão, pois, oito pranchas, com os seus suportes de prata em número de dezasseis, dois sob cada prancha. Farás travessas de madeira de acácia, cinco para as pranchas de um dos lados do santuário, cinco travessas para as pranchas do segundo lado e cinco travessas para as pranchas do santuário do lado ocidental, formando o fundo. A travessa do meio, ao centro das pranchas, ligá-la-ás de uma à outra extremidade. Revestirás de ouro as argolas pelas quais passarão as travessas, revestidas também de ouro. Assim construirás o santuário, conforme a norma que te mostrei neste monte.» «Farás, a seguir, um véu de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de linho tecido, artisticamente fabricado, e no qual serão bordados querubins. Suspendê-lo-ás em quatro colunas de madeira de acácia revestidas de ouro, com ganchos de ouro sobre quatro pedestais de prata. Prenderás o véu nos ganchos e, neste recinto protegido pelo véu, depositarás a Arca do testemunho. O véu marcará para vós a separação entre o santuário e o Santo dos Santos. Colocarás o propiciatório sobre a Arca do testemunho, no Santo dos Santos. Colocarás a mesa da parte de fora do véu, e o candelabro em frente da mesa, do lado sul do santuário, ficando a mesa do lado norte. Para a entrada da tenda farás uma cortina de protecção de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de linho tecido, artisticamente bordado. Farás para esta cortina cinco colunas de acácia, revestidas de ouro; os seus ganchos serão de ouro, e fundirás para elas cinco bases de cobre.» «Farás o altar de madeira de acácia, com cinco côvados de comprimento e cinco côvados de largura. O altar será quadrado e terá três côvados de altura. Nos quatro ângulos, modelarás hastes que formarão uma única peça com o altar e revesti-lo-ás de cobre. Farás para o altar cinzeiros, para recolher as cinzas, pás, bacias e braseiros; todos estes utensílios serão feitos de cobre. Farás também uma grade de cobre, em forma de rede, e adaptarás a esta rede, nos seus quatro cantos, quatro argolas de cobre. Colocá-la-ás, em baixo, sob a cornija do altar, e esta grade erguer-se-á até ao meio do altar. Farás, para o altar, varais de madeira de acácia, revestidos de cobre. Estes varais, metidos nas argolas, estarão dos dois lados do altar, quando for transportado. O altar será de madeira, oco por dentro, como te mostrei no monte, e assim o executarão.» «Construirás, a seguir, o átrio do santuário. Do lado sul, o átrio terá cortinas de linho tecido, num comprimento de cem côvados, formando um lado. Terá vinte colunas assentes sobre vinte bases de cobre. Os ganchos das colunas e as suas molduras serão de prata. Do lado norte, haverá também cortinas no comprimento de cem côvados, com vinte colunas e as suas vinte bases de cobre; os ganchos e as molduras serão de prata. Do lado ocidental, na largura do átrio, haverá cinquenta côvados de cortinas, com dez colunas munidas de dez bases. Do lado oriental, a largura do átrio será de cinquenta côvados: quinze côvados de cortinas, com três colunas de três bases formarão uma ala. A segunda ala terá, igualmente, quinze côvados de cortinas com três colunas e três bases. A porta do átrio será uma cortina com vinte côvados, de púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim e linho tecido, artisticamente bordado, e terá quatro colunas e quatro bases. Todas as colunas que delimitam o recinto do átrio serão ligadas por varais de prata, os ganchos serão de prata e as bases de cobre. O comprimento do átrio será de cem côvados; a largura de cinquenta e terá de altura cinco côvados de cortinas de linho tecido, com bases de cobre. Todos os utensílios destinados aos serviços do santuário, todas as suas cavilhas, e todas as cavilhas do átrio serão de cobre. Ordenarás aos filhos de Israel que te tragam para o candelabro azeite puro de azeitonas pisadas, a fim de manter as lâmpadas sempre acesas. Na tenda de reunião, da parte de fora do véu que encobre o testemunho, Aarão e os seus filhos colocarão este óleo para arder, desde a tarde até de manhã, na presença do Senhor. E é esta uma lei perpétua a observar pelos filhos de Israel e pelas suas gerações futuras.» «Manda vir para junto de ti, de entre os filhos de Israel, o teu irmão Aarão e os seus filhos, a fim de exercerem o sacerdócio em minha honra; Aarão com Nadab, Abiú, Eleázar e Itamar, seus filhos. Farás, para o teu irmão Aarão, vestes sagradas, pela sua dignidade e como ornamento. Encarregarás então, todos os artífices capazes, que dotei com o espírito da sabedoria, de confeccionarem as vestes de Aarão, para o santificarem e para exercer o meu sacerdócio. As vestes que terão de fazer, são as seguintes: um peitoral, uma insígnia sacerdotal, um manto, uma túnica bordada, uma tiara e um cíngulo. São estas as vestes que hão-de fazer para Aarão, teu irmão, e para os filhos, a fim de exercerem o sacerdócio, ao meu serviço. Utilizarão o ouro, a púrpura violácea, a púrpura escarlate, a púrpura carmesim e o linho fino.» «A insígnia sacerdotal será feita de ouro, de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de linho tecido, trabalhado por um artista. Nas suas duas extremidades, terá duas ombreiras para unir uma à outra. O cíngulo, que se prenderá por cima para o fixar, será trabalhado da mesma forma e do mesmo tecido: será de ouro, de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de fios de linho. Tomarás duas pedras de ónix e gravarás nelas os nomes dos filhos de Israel: seis dos seus nomes numa pedra e os nomes dos outros seis na outra pedra, segundo a sua ordem de nascimento. Gravarás nas duas pedras os nomes dos filhos de Israel, como os lapidários sabem gravar em pedras preciosas e sinetes, e as duas pedras serão cravadas e embutidas em ouro. Adaptarás estas duas pedras às ombreiras da insígnia, em memória dos filhos de Israel, cujos nomes serão levados por Aarão, nas suas duas ombreiras, à presença do Senhor, como recordação. Farás também cravações de ouro e duas pequenas correntes de ouro puro, entrançadas em forma de cordões, que prenderás nas cravações.» «Farás o peitoral do julgamento, artisticamente trabalhado, do mesmo tecido que a insígnia; fá-lo-ás de ouro, de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de linho tecido. Será quadrado, dobrado em dois, com um palmo de comprimento e um palmo de largura. Guarnecê-lo-ás de quatro filas de pedrarias. Na primeira fila colocarás um rubi, um topázio e uma esmeralda; na segunda fila, um jaspe, uma safira e um diamante; na terceira fila, uma opala, uma ágata e uma ametista; na quarta fila, um crisólito, um ónix e um jaspe. Todas estas pedras serão cravadas em ouro, em número de doze, correspondendo aos nomes dos filhos de Israel; em cada uma delas será gravado o nome de cada uma das doze tribos, como se gravam nos sinetes. Farás também, para o peitoral, pequenas correntes de ouro puro, entrançadas em forma de cordões. Farás, igualmente, para o peitoral, duas argolas de ouro, que colocarás nas duas extremidades do peitoral. Passarás as duas correntes de ouro pelas duas argolas das extremidades do peitoral; fixarás as duas pontas de cada corrente nas duas cravações, e adaptá-las-ás, pela frente, às ombreiras da insígnia. Farás também duas argolas de ouro, que colocarás nas duas extremidades do peitoral, na orla interior que se contrapõe à insígnia. E farás outras duas argolas de ouro, que fixarás sob as duas ombreiras da insígnia do lado anterior, no sítio em que se unem, por cima do cíngulo da insígnia. Prender-se-á o peitoral, juntando as suas argolas às argolas da insígnia por meio de um cordão de púrpura violácea, de forma a fixá-lo sobre o cíngulo da insígnia; e assim o peitoral não oscilará. Quando Aarão entrar no santuário, levará sobre o coração os nomes dos filhos de Israel, gravados no peitoral do julgamento, em perpétua recordação diante do Senhor. No peitoral do julgamento colocarás os dados sagrados, para que estejam sobre o peito de Aarão, quando ele se apresentar diante do Senhor. Assim levará Aarão, constantemente, sobre o coração, diante do Senhor, o julgamento dos filhos de Israel.» «Farás o manto da insígnia inteiramente de púrpura violácea. A abertura superior será redonda e guarnecida a toda a volta por um debrum tecido, como na abertura de uma cota de malha, para evitar rasgões. Na barra colocarás romãs de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim, entremeadas de campainhas de ouro, a toda a volta. Uma campainha de ouro e depois, uma romã; uma campainha de ouro e depois outra romã, na barra do manto e a toda a volta. Aarão vesti-lo-á para exercer as suas funções, quando entrar no santuário, diante do Senhor, e quando sair ouvir-se-á o som das campainhas, para que ele não morra.» «Farás uma lâmina de ouro puro na qual gravarás, como se fora num sinete: “Consagrado ao Senhor.” Prendê-la-ás com uma fita de púrpura violácea, à frente da tiara. Estará sobre a fronte de Aarão, que carregará, assim, os pecados cometidos pelos filhos de Israel, ao consagrarem as suas ofertas religiosas. Estará sempre sobre a fronte de Aarão, na presença do Senhor, para que os filhos de Israel obtenham benevolência. Farás a túnica de linho, a tiara também de linho e o cíngulo será bordado. Para os filhos de Aarão farás, igualmente, túnicas, cíngulos, e farás tiaras como sinal de dignidade e como ornamento. Revestirás com ele o teu irmão Aarão e os seus filhos; hás-de ungi-los, investi-los e consagrá-los, para que sejam sacerdotes ao meu serviço. Farás também calções de linho vulgar, a fim de lhes cobrir a nudez, desde a cinta até às coxas. Aarão e os filhos hão-de usá-los, quando entrarem na tenda da reunião, ou quando se aproximarem do altar para oficiar no santuário; assim, não incorrerão em falta e não morrerão. Esta é uma norma perpétua para Aarão e para os seus descendentes.» «Procederás como se segue, para os consagrares como sacerdotes ao meu serviço: separarás um novilho e dois carneiros sem defeito; pães sem fermento, tortas sem fermento amassadas com azeite, e filhós sem fermento, untadas de azeite. Tudo será preparado com flor de farinha de trigo. Colocá-los-ás num cesto, para serem oferecidos ao mesmo tempo que o novilho e os dois carneiros. Mandarás que Aarão e os seus filhos avancem até à entrada da tenda da reunião, e lavá-los-ás com água. Depois, tomarás as vestes e revestirás Aarão com a túnica, o manto da insígnia sacerdotal, a insígnia e o peitoral que apertarás com o cíngulo da insígnia. Impôr-lhe-ás a tiara na cabeça, e sobre a tiara colocarás o diadema santo. Tomarás o óleo da unção e, derramando-o sobre a sua cabeça, ungi-los-ás. Mandarás aproximar os filhos e revesti-los-ás com as túnicas. Cingirás com o cíngulo Aarão e os seus filhos, aos quais imporás as tiaras. O sacerdócio pertencer-lhes-á por uma norma perpétua. É assim que sagrarás Aarão e os seus filhos.» «Conduzirás o novilho para a frente da tenda da reunião. Aarão e os seus filhos imporão as mãos sobre a cabeça do novilho. Na presença do Senhor, imolarás o novilho, à entrada da tenda da reunião. Molhando o teu dedo no sangue do novilho, ungirás as hastes do altar e derramarás todo o sangue na base do altar. Tomarás toda a gordura que cobre as entranhas, a membrana do fígado, os dois rins com a gordura que os envolve, e queimarás tudo sobre o altar. Mas a carne do novilho, a sua pele e o seu excremento, hás-de queimá-los fora do acampamento: este é um sacrifício pelo pecado. Tomarás um dos carneiros, sobre a cabeça do qual Aarão e os seus filhos imporão as mãos. Depois de o teres imolado, tomarás o seu sangue e derramá-lo-ás sobre todos os lados do altar. Dividirás o carneiro em quartos e, depois de lhe teres lavado as entranhas e as patas, colocá-las-ás sobre os quartos e sobre a cabeça, e queimarás todo o carneiro sobre o altar. Este é um holocausto ao Senhor, um sacrifício de agradável odor, consumido pelo fogo, em honra do Senhor. Tomarás em seguida o outro carneiro, sobre a cabeça do qual Aarão e os seus filhos imporão as mãos. Depois de o teres imolado, tomarás do seu sangue e pô-lo-ás sobre o lóbulo da orelha direita de Aarão e sobre o lóbulo da orelha direita dos seus filhos, no polegar da mão direita, no dedo grande do pé direito de cada um deles; derramarás o resto do sangue sobre todos os lados do altar. Tomarás do sangue que estará sobre o altar e do óleo da unção e aspergirás Aarão e as suas vestes assim como os seus filhos e as suas vestes. Ele e as suas vestes assim como os seus filhos e as vestes ficarão consagrados. Extrairás a gordura do carneiro, a cauda, a gordura que envolve as entranhas, a membrana do fígado, os dois rins e a gordura que os rodeia, e a coxa direita, porque é um carneiro de consagração. Tomarás também do cesto com os pães sem fermento, depositado diante do Senhor, um dos pães, uma das tortas e uma filhó. Colocarás todas estas coisas nas mãos de Aarão e nas dos seus filhos, agitando-as diante do Senhor. Depois, retomá-las-ás das suas mãos e queimá-las-ás sobre o altar, a seguir ao holocausto; este é um sacrifício de agradável odor oferecido ao Senhor, sacrifício oferecido em sua honra. Tomarás o peito do carneiro que serviu para a consagração de Aarão e agitá-lo-ás em apresentação diante do Senhor, e tornar-se-á a tua parte. Consagrarás, assim, do carneiro de consagração, que serviu para Aarão e para os seus filhos, o peito de apresentação e a coxa de tributo, agitando-a e elevando-a separadamente, a fim de que pertençam a Aarão e aos seus filhos, como um direito perpétuo, devido pelos israelitas, pois é uma oferta reservada; será a oferta reservada que os israelitas terão de oferecer, em honra do Senhor, sobre os seus sacrifícios de comunhão. As vestes sagradas de Aarão servirão depois para os seus filhos; hão-de usá-las quando forem ungidos e investidos. Aquele dos seus filhos que lhe suceder como sacerdote, aquele que entrar na tenda da reunião para fazer o serviço no santuário, deverá usá-la durante sete dias. Tomarás o carneiro da consagração e cozerás a sua carne num lugar santo. Aarão e os seus filhos comerão, à entrada da tenda da reunião, a carne do carneiro e o pão que estará no cesto. Comerão assim o que serviu como expiação, quando forem investidos e consagrados; nenhum estrangeiro comerá destas coisas, porque são santas. Se ficar para o dia seguinte carne e pão da consagração, queimarás tudo quanto sobejar; ninguém o comerá, porque está santificado. Relativamente a Aarão e aos seus filhos, procederás como te ordenei; investi-los-ás durante sete dias. Imolarás diariamente um novilho em sacrifício expiatório, além dos sacrifícios precedentes. Com este sacrifício expiatório purificarás o altar e, depois, ungi-lo-ás para o consagrar. Purificarás durante sete dias o altar, consagrá-lo-ás e ele será santíssimo, e tudo quanto nele tocar será sagrado.» «Sobre o altar oferecerás o seguinte: dois cordeiros de um ano, diariamente e para sempre. Oferecerás um destes cordeiros de manhã e oferecerás o outro cordeiro ao entardecer. Com o primeiro cordeiro, oferecerás um décimo de efá de flor de farinha, amassada com um quarto de hin de azeite puro de azeitonas e uma libação de um quarto de hin de vinho. Oferecerás o segundo cordeiro ao entardecer, acompanhado de uma oferta e de uma libação iguais às da manhã, em sacrifício de agradável odor ao Senhor. Este holocausto será perpétuo e deve ser oferecido por vós, de geração em geração, à entrada da tenda da reunião, diante do Senhor, no lugar em que me encontrarei convosco, para te falar. É nesse lugar que me encontrarei com os filhos de Israel, e será um lugar santificado pela minha glória. Sim, santificarei a tenda da reunião e o altar; santificarei também Aarão e os seus filhos, para que exerçam o meu sacerdócio. Residirei entre os filhos de Israel e serei o seu Deus. Saberão que Eu, o Senhor, sou o seu Deus, que os fiz sair da terra do Egipto, para residir no meio deles; Eu, o Senhor, seu Deus.» «Também construirás um altar para queimar perfumes, e fá-lo-ás de madeira de acácia. Terá um côvado de comprimento e um côvado de largura; será quadrado e terá dois côvados de altura. As suas hastes formarão com ele uma peça única. Revestirás de ouro puro a parte superior do altar, todos os lados e as hastes. E terá em volta uma guarnição de ouro. Adaptar-lhe-ás duas argolas de ouro por cima da guarnição, nos dois lados, colocando-as de um e de outro lado, para nelas se meterem os varais que servirão para o transportar. Farás os varais de madeira de acácia e revesti-los-ás de ouro. Colocarás o altar defronte do véu que encobre a Arca do testemunho, diante do propiciatório que está sobre a Arca, no lugar em que me encontrarei contigo. É neste lugar que Aarão queimará perfumes todas as manhãs, quando preparar as lâmpadas; e queimá-los-á também ao entardecer, quando acender as lâmpadas. Assim, haverá perpetuamente, de geração em geração, perfumes a arder na presença do Senhor. Não oferecereis sobre este altar um perfume profano, nem holocausto, nem oferenda, e não derramareis nele libação alguma. Aarão, uma vez por ano, purificará as hastes do altar; fá-lo-á com o sangue dos sacrifícios no dia da expiação, uma só vez por ano, que será purificado, de geração em geração. Este altar será santíssimo diante do Senhor.» O Senhor disse a Moisés: «Quando contares os filhos de Israel para os recenseares, cada um deles pagará ao Senhor o resgate da sua pessoa, por ocasião do recenseamento, a fim de que não caia sobre eles nenhum flagelo. Todos os recenseados apresentarão meio siclo, conforme o peso do santuário, que é de vinte gueras, cuja metade será a oferta reservada ao Senhor. Todo o homem recenseado, de vinte anos para cima, satisfará a importância devida ao Senhor. O rico não dará mais e o pobre não dará menos que meio siclo, para pagar o tributo que o Senhor impôs como resgate das vossas pessoas. Receberás dos filhos de Israel o dinheiro do resgate e empregá-lo-ás no serviço da tenda da reunião; e ele servirá de lembrança aos filhos de Israel diante do Senhor, expiando pelas vossas vidas.» O Senhor disse a Moisés: «Farás uma bacia de bronze com uma base de bronze para abluções. Colocá-la-ás entre a tenda da reunião e o altar, e nela deitarás água. Aarão e os seus filhos lavarão ali as mãos e os pés. Quando entrarem na tenda da reunião, lavar-se-ão com esta água, para não morrerem; e também quando se aproximarem do altar, para o exercício do culto e para oferecerem sacrifícios ao Senhor, lavarão os pés e as mãos, a fim de não morrerem. Esta é uma norma perpétua para eles: para Aarão e para os seus descendentes, por todas as gerações.» O Senhor disse a Moisés: «Toma dos melhores aromas: mirra virgem, quinhentos siclos; cinamomo, metade do anterior – duzentos e cinquenta siclos; junco odorífero, duzentos e cinquenta siclos; cássia, quinhentos siclos, segundo o peso do siclo do santuário; e um hin de azeite de oliveira. Farás com isto um óleo para a unção sagrada e um perfume composto, de harmonia com a arte de perfumista. Será este o óleo para a unção sagrada. Ungirás com ele a tenda da reunião e a Arca do testemunho, a mesa e todos os acessórios, o candelabro e os acessórios, o altar dos perfumes, o altar dos holocaustos com todos os utensílios e a bacia com a base. Santificá-los-ás assim e tornar-se-ão santíssimos; tudo quanto neles tocar tornar-se-á santo. Ungirás com ele Aarão e os seus filhos e hás-de consagrá-los, para que exerçam o meu sacerdócio. Dirás então aos filhos de Israel: Este será para mim o óleo da unção sagrada, de geração em geração. Não será derramado sobre o corpo de um homem qualquer, e não fareis outro semelhante, com a mesma composição, porque foi santificado; é para vós uma coisa sagrada. Quem dele fizer uma imitação, ou com ele ungir um profano, será excluído do seu povo.» O Senhor disse a Moisés: «Escolhe ingredientes em partes iguais: bálsamo, unha aromática, gálbano, diversos ingredientes e incenso puro. Farás com esta mistura um perfume preparado com sal, segundo a arte de perfumista; será uma coisa pura e santa. Reduzi-lo-ás a um pó fino e colocá-lo-ás diante do testemunho, na tenda da reunião, onde me encontrarei contigo. Este perfume será para vós uma coisa santíssima. Não fareis para vosso uso outro perfume com a mesma composição. Considerá-lo-ás coisa sagrada, reservada ao Senhor. Quem dela fizer uma imitação para aspirar o aroma, será excluído do seu povo.» O Senhor disse a Moisés: «Olha, Eu designei expressamente Beçalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá e enchi-o do espírito de Deus, de habilidade, sabedoria e inteligência para toda a espécie de trabalhos, para idealizar projectos, trabalhar o ouro, a prata e o cobre; gravar pedras e cravá-las, trabalhar a madeira e executar toda a espécie de obras. Como auxiliar, dei-lhe Ooliab, filho de Aisamac, da tribo de Dan. Enchi de sabedoria o coração de todo o homem hábil, para que possa executar quanto te ordenei: a tenda da reunião, a Arca do testemunho, o propiciatório que a cobrirá e todas as peças da tenda; a mesa com os acessórios, o candelabro de ouro puro e todos os acessórios e o altar do perfume; o altar do holocausto e todos os utensílios, e a bacia com a base; as vestes litúrgicas, as vestes sagradas para o sacerdote Aarão e as dos seus filhos para as funções sacerdotais; o óleo de unção e o perfume aromático para o santuário. Executarão todas as ordens que te dei.» O Senhor falou assim a Moisés: «Diz aos filhos de Israel: Guardai o meu sábado, porque é um sinal perpétuo entre mim e vós, em todas as vossas gerações, para que se saiba que sou Eu, o Senhor, quem vos santifica. Guardai, então, o sábado, porque é para vós uma coisa santa. Quem o violar será punido com a morte; quem nesse dia fizer qualquer trabalho será excluído do meio do seu povo. Trabalhar-se-á durante seis dias, mas no sétimo dia haverá descanso total consagrado ao Senhor. Quem trabalhar no dia de sábado será punido com a morte. Portanto, os filhos de Israel guardarão o sábado, através de todas as suas gerações, como uma aliança perpétua. Entre mim e os filhos de Israel é um sinal externo de que o Senhor fez os céus e a Terra em seis dias, e que no sétimo dia terminou a obra e descansou.» Depois de ter acabado de falar a Moisés no monte Sinai, Deus entregou-lhe as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas com o seu dedo. Vendo que Moisés demorava a descer do monte, o povo reuniu-se à volta de Aarão e disse-lhe: «Vamos! Façamos para nós um deus que caminhe à nossa frente, pois a Moisés, esse homem que nos persuadiu a sair do Egipto, não sabemos o que lhe terá acontecido.» Aarão respondeu-lhes: «Tirai as argolas de ouro das orelhas das vossas mulheres, dos vossos filhos e das vossas filhas, e trazei-mas.» Eles tiraram as argolas que tinham nas orelhas e levaram-nas a Aarão. Recebeu-as das mãos deles, deitou-as num molde e fez um bezerro de metal fundido. Então exclamaram: «Israel, aqui tens o teu deus, aquele que te fez sair do Egipto.» Vendo isso, Aarão construiu um altar diante do ídolo, e disse em voz alta: «Amanhã haverá festa em honra do Senhor.» No dia seguinte de manhã, ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão. O povo sentou-se para comer e beber e depois levantou-se para se divertir. O Senhor disse a Moisés: «Vai, desce, porque o teu povo, aquele que tiraste do Egipto, está pervertido. Desviaram-se bem depressa do caminho que lhes prescrevi. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: «Israel, aqui tens o teu deus, aquele que te fez sair do Egipto.» O Senhor prosseguiu: «Vejo bem que este povo é um povo de cerviz dura. Agora, deixa-me; a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destruí-los-ei. Mas farei de ti uma grande nação.» Moisés implorou ao Senhor, seu Deus, dizendo-lhe: «Porquê, Senhor, a tua cólera se inflamará contra o teu povo, que fizeste sair do Egipto com tão grande poder e com mão tão poderosa? Não é conveniente que se possa dizer no Egipto: ‘Foi com má intenção que Ele os fez sair, foi para os matar nas montanhas e suprimi-los da face da Terra!’ Não te deixes dominar pela cólera e abandona a decisão de fazer mal a este povo. Recorda-te de Abraão, de Isaac e de Israel, teus servos, aos quais juraste por ti mesmo: tornarei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e concederei à vossa posteridade esta terra de que falei, e eles hão-de recebê-la como herança eterna.» E o Senhor arrependeu-se das ameaças que proferira contra o seu povo. Moisés desceu do monte, trazendo nas mãos as duas tábuas do testemunho, escritas nos dois lados, numa e noutra face. As tábuas eram obra de Deus e o que estava gravado nas tábuas fora escrito por Deus. Ao ouvir o barulho que o povo fazia, gritando, Josué disse a Moisés: «Há no acampamento alaridos de batalha.» Moisés respondeu: «Não são nem gritos de vitória, nem gritos de derrota. O que oiço são vozes de gente a cantar.» Ao chegar junto do acampamento, viu o bezerro e as danças. Acendeu-se a sua cólera, atirou com as tábuas e partiu-as ao pé do monte. Depois, agarrando no bezerro que tinham feito, queimou-o e reduziu-o a pó fino que espalhou na água. E deu-a a beber aos filhos de Israel. Moisés disse a Aarão: «Que te fez este povo para o deixares cometer um tão grande pecado?» Aarão respondeu: «Que o meu senhor não se irrite. Tu próprio sabes como este povo é inclinado para o mal. Disseram-me: ‘Faz-nos um deus que caminhe à nossa frente, pois a Moisés, esse homem que nos fez sair do Egipto, não sabemos o que lhe terá acontecido.’ Eu disse-lhes: ‘Quem tem ouro?’ Despojaram-se dele e entregaram-mo; lancei-o ao fogo e saiu este bezerro.» Moisés viu que o povo se entregara à desordem, porque Aarão o deixara desviar-se, expondo-o à irrisão dos seus inimigos. Moisés foi colocar-se à entrada do acampamento e gritou: «Quem é pelo Senhor junte-se a mim!» Todos os filhos de Levi se uniram à volta dele. Ele disse-lhes: «O Senhor, o Deus de Israel, diz o seguinte: Cinja cada um de vós a espada sobre a coxa. Passai e tornai a passar através do acampamento, de uma ponta à outra, e cada um de vós mate o irmão, o amigo e o vizinho!» Os filhos de Levi fizeram o que Moisés lhes ordenara, e cerca de três mil homens morreram nesse dia, entre o povo. Moisés disse: «Consagrai-vos desde hoje ao Senhor porque, sacrificando o vosso filho e o vosso irmão, atraístes hoje sobre vós uma bênção.» No dia seguinte, Moisés disse ao povo: «Cometestes um enorme pecado. No entanto, vou subir para junto do Senhor. Talvez alcance o perdão para o vosso pecado.» Moisés voltou para junto do Senhor e disse: «Ah, este povo cometeu um grande pecado. Fizeram para si um deus de ouro. Apesar disso, perdoa-lhes este pecado, ou então apaga-me do livro que escreveste.» O Senhor disse a Moisés: «Apagarei do meu livro aquele que pecou contra mim. Vai agora, e conduz o povo para onde te disser. O meu anjo caminhará diante de ti. Mas no dia da prestação de contas, puni-los-ei pelo seu pecado.» O Senhor castigou o povo, por ter instigado Aarão a fazer o bezerro. O Senhor disse a Moisés: «Vai, parte daqui com o povo que fizeste subir do Egipto; ide para a terra que prometi a Abraão, a Isaac e a Jacob dizendo: Hei-de dá-la à tua posteridade. Eu enviarei um anjo à tua frente e expulsarei o cananeu, o amorreu, o hitita, o perizeu, o heveu e o jebuseu. Ide para essa terra, onde corre leite e mel. Mas Eu não irei convosco, porque sois um povo de cerviz dura, e poderia aniquilar-vos pelo caminho.» Ao ouvir estas duras palavras, o povo ficou mergulhado em tristeza e ninguém ousou colocar os seus adornos. O Senhor disse então a Moisés: «Diz aos filhos de Israel: Sois um povo de cerviz dura. Se me encontrasse, um instante apenas, no meio de vós, aniquilar-vos-ia. Deponde, pois, todos os vossos ornamentos, e verei depois o que vos devo fazer.» Os filhos de Israel despojaram-se dos seus adornos, ao partir do monte Horeb. Moisés pegou na tenda e foi colocá-la a certa distância do acampamento. Deu-lhe o nome de tenda da reunião. E todos aqueles que desejavam consultar o Senhor iam à tenda da reunião, fora do acampamento. Quando Moisés se dirigia para a tenda, todo o povo se levantava, permanecendo cada um à entrada da própria tenda, para o seguir com os olhos, até Moisés entrar na tenda. Logo que Moisés entrava na tenda, a coluna de nuvem descia e mantinha-se à entrada, e o Senhor falava com Moisés. E, ao ver a coluna de nuvem que permanecia à entrada da tenda, todo o povo se levantava e se prostrava, cada um à entrada da sua tenda. O Senhor falava com Moisés, frente a frente, como um homem fala com o seu amigo. Moisés voltava, em seguida, para o acampamento; mas Josué, filho de Nun, o seu servidor, homem ainda novo, não se afastava do interior da tenda. Moisés disse ao Senhor, «Tu dizes-me: Conduz este povo; mas não me dás a saber quem indicarás para me acompanhar. E, contudo, disseste-me: Eu conheço-te pelo nome e tu alcançaste graça aos meus olhos. Se é verdade que alcancei graça aos teus olhos, revela-me as tuas intenções e que eu te conheça, a fim de realmente alcançar graça aos teus olhos. Considera que esta gente é o teu povo.» E Deus respondeu: «Eu mesmo irei adiante de ti, e dar-te-ei descanso.» Moisés disse: «Se Tu mesmo não vieres connosco, não nos obrigues a partir deste lugar. Como havemos de saber que eu e o teu povo alcançámos graça aos teus olhos? Para isso, não será indispensável que caminhes connosco? É a única forma de nos distinguirmos, eu e o teu povo, de todas as nações da terra.» O Senhor retorquiu: «Farei o que me pedes, porque alcançaste graça aos meus olhos, e conheço-te pelo nome.» Moisés disse: «Mostra-me a tua glória.» E Deus respondeu: «Farei passar diante de ti toda a minha bondade, e proclamarei diante de ti o nome do Senhor. Concedo a minha benevolência a quem Eu quiser, e uso de misericórdia com quem for do meu agrado.» E acrescentou: «Mas tu não poderás ver a minha face, pois o homem não pode contemplar-me e continuar a viver.» O Senhor disse: «Está aqui um lugar próximo de mim; conservar-te-ás sobre o rochedo. Quando a minha glória passar, colocar-te-ei na cavidade do rochedo e cobrir-te-ei com a minha mão, até que Eu tenha passado. Retirarei a mão, e poderás então ver-me por detrás. Quanto à minha face, ela não pode ser vista.» O Senhor disse a Moisés: «Talha duas tábuas de pedra, iguais às primeiras e escreverei nelas as palavras que se encontravam nas primeiras tábuas, que tu quebraste. Prepara-te para subires, amanhã cedo, o monte Sinai. Apresentar-te-ás diante de mim no vértice do monte. Que ninguém suba contigo e que ninguém esteja em parte alguma do monte; que não haja nem ovelhas nem bois a pastar nas proximidades.» Moisés talhou, pois, duas tábuas de pedra iguais às primeiras. No dia seguinte de manhã subiu o monte Sinai, como o Senhor lhe tinha ordenado, e levava na mão as duas tábuas de pedra. O Senhor desceu na nuvem e, passando junto dele, pronunciou o nome do Senhor. O Senhor passou em frente dele e exclamou: «Senhor! Senhor! Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e de fidelidade, que mantém a sua graça até à milésima geração, que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado, mas não declara inocente o culpado e pune o crime dos pais nos filhos, e nos filhos dos seus filhos até à terceira e à quarta geração.» Moisés curvou-se imediatamente até ao chão e prostrou-se em adoração, dizendo: «Se, entretanto, alcancei graça aos teus olhos, ó Senhor, vem, por favor, caminhar no meio de nós, pois este é um povo de cerviz dura. Mas perdoa-nos as nossas iniquidades e os nossos pecados e aceita-nos como propriedade tua.» Deus respondeu: «Vou fazer uma aliança contigo: na presença de todo o povo, realizarei prodígios, como jamais se fizeram em parte alguma, nem em nenhuma nação; e o povo que te cerca há-de ver então a obra do Senhor, porque espantosas são as coisas que vou fazer por teu intermédio. Ouve com atenção o que hoje te ordeno. Vou expulsar da tua presença o amorreu, o cananeu, o hitita, o perizeu, o heveu e o jebuseu.» «Livra-te de estabelecer qualquer aliança com os habitantes da terra em que vais entrar, para que eles não sejam uma armadilha no meio de vós. Derrubareis os seus altares, quebrareis os seus monumentos e cortareis as suas árvores sagradas. Não adorarás nenhum outro deus, pois o Senhor chama-se zeloso; é um Deus zeloso. Não faças aliança alguma com os habitantes desta terra porque, quando se prostituem aos seus deuses e lhes oferecem sacrifícios, poderiam aliciar-te e comerias as vítimas dos seus sacrifícios; poderias também escolher, entre as suas filhas, mulheres para os teus filhos; e essas mulheres, prostituindo-se aos seus deuses, arrastariam os teus filhos, que também se prostituiriam a esses deuses. Não farás para ti deuses de metal fundido. Observa a festa dos ázimos: comerás, sete dias, pão sem fermento, durante o mês de Abib, como te ordenei, porque foi nesse mês que saíste do Egipto. A mim pertence todo o primogénito. E assim todo o primogénito macho do teu gado, quer graúdo quer miúdo, oferecê-lo-ás em memorial. Mas resgatarás com um cordeiro o primogénito do jumento ou, então, quebrar-lhe-ás a nuca. Resgatarás sempre o primogénito dos teus filhos e não aparecerás diante de mim de mãos vazias. Trabalharás durante seis dias, mas descansarás no sétimo, embora decorra o tempo da lavra e da ceifa. Celebrarás também a festa das semanas, no tempo das primícias da ceifa do trigo, e depois a festa da colheita, no fim do ano. Todos os vossos indivíduos do sexo masculino apresentar-se-ão três vezes por ano, diante do Senhor, Deus de Israel. Porque Eu expulsarei as nações da tua presença, ampliarei as tuas fronteiras e ninguém cobiçará o teu campo enquanto subires para te apresentares, três vezes por ano, diante do Senhor teu Deus. Quando me sacrificares uma vítima, não oferecerás o seu sangue juntamente com pão fermentado, e o sacrifício da Páscoa não será conservado durante a noite, até ao dia seguinte. Levarás à casa do Senhor, teu Deus, as primícias dos frutos da tua terra. Não cozerás um cabrito no leite da sua mãe!» O Senhor disse a Moisés: «Regista por escrito estas palavras, porque é de acordo com elas que Eu faço a aliança contigo e com Israel.» Moisés permaneceu junto do Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água. E escreveu nas tábuas as palavras da aliança, os dez mandamentos. Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas do testemunho. Não sabia, enquanto descia o monte, que a pele do seu rosto resplandecia, depois de ter falado com Deus. Quando Aarão e todos os filhos de Israel o viram, notaram que a pele do seu rosto se tornara resplandecente e não se atreveram a aproximar-se dele. Moisés, porém, chamou-os; Aarão e todos os chefes da assembleia foram ter com ele, e ele falou-lhes. Em seguida, aproximaram-se todos os filhos de Israel, aos quais transmitiu todas as ordens que tinha recebido do Senhor, no monte Sinai. Depois de ter acabado de falar com eles, Moisés cobriu o rosto com um véu. Ao entrar para estar na presença do Senhor e falar com Ele, Moisés retirava o véu até sair. Então, depois de sair, comunicava aos filhos de Israel as ordens recebidas. Os filhos de Israel viam resplandecer a face de Moisés que, em seguida, tornava a colocar o véu sobre o rosto, até entrar novamente para falar com Deus. Moisés convocou toda a comunidade dos filhos de Israel, e disse-lhes: «O Senhor ordenou que se faça o seguinte: Trabalhareis seis dias, mas o sétimo será santo para vós, dia de completo repouso em honra do Senhor. Quem fizer qualquer trabalho nesse dia, será condenado à morte. Em nenhuma das vossas casas acendereis fogo no dia de sábado.» Moisés disse a toda a comunidade dos filhos de Israel: «O Senhor ordenou o seguinte: Retirai dos vossos bens uma parte, para oferecer ao Senhor. Todo o homem de coração generoso deve apresentar, como oferta ao Senhor, ouro, prata e cobre; púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim, linho fino, pêlo de cabra; peles de carneiro tingidas de vermelho, peles finas, madeira de acácia; azeite para o candelabro, aroma para óleo de unção e para o incenso odorífero; pedras de ónix e pedras de cravar, para guarnecer a insígnia e o peitoral. Depois, todos aqueles dentre vós que forem habilidosos venham executar o que o Senhor ordenou: o santuário, com a sua tenda, a sua cobertura, as argolas, as pranchas, as travessas, as colunas e bases; a Arca, com os varais, o propiciatório e o véu protector; a mesa com os varais, todos os utensílios e os pães da oferenda; o candelabro e os acessórios, as lâmpadas e o azeite para o candelabro; o altar dos perfumes com os varais, o óleo de unção, o incenso aromático e a cortina para a porta de entrada do santuário; o altar dos holocaustos, com a sua grelha de cobre, os varais e todos os acessórios; a bacia com a sua base, as cortinas do átrio, as colunas, as bases e a cortina da porta do átrio; as cavilhas do santuário, a do átrio e os cordões; as vestes litúrgicas para o serviço litúrgico do santuário, os ornamentos sagrados do sacerdote Aarão, e as vestes dos seus filhos para as funções sacerdotais.» Toda a assembleia dos filhos de Israel se retirou da presença de Moisés, e todas as pessoas de boa vontade e coração generoso foram, depois, levar a sua oferta ao Senhor, para a construção da tenda da reunião, para o serviço e para as vestes sagradas. Homens e mulheres, enfim, todos aqueles que tinham o coração generoso, apresentaram-se, levando argolas, brincos, pulseiras, colares, toda a espécie de objectos de ouro; cada um fez a apresentação de ouro ao Senhor. Todos aqueles que tinham em sua casa púrpura violácea, e púrpura escarlate, púrpura carmesim, linho fino, pêlo de cabra, peles de carneiro tingidas de vermelho e peles finas, levaram-nas. Todos aqueles que puderam apresentar um contributo em prata ou em cobre, levaram-no ao Senhor. Todos aqueles que tinham em suas casas madeiras de acácia, utilizáveis para as obras a executar, levaram-nas. Todas as mulheres habilidosas fiaram, com as próprias mãos, e levaram púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim e linho. Todas as mulheres habilidosas, e com predisposição para isso, fiaram o pêlo de cabra. Os chefes do povo levaram pedras de ónix e outras pedras de cravar, para a insígnia sacerdotal e o peitoral; aromas e óleo para o candelabro, para o óleo de unção e para o incenso aromático. Todos os filhos de Israel, homens ou mulheres, cujo coração estava inclinado a contribuir para qualquer das obras que o Senhor, por intermédio de Moisés, tinha mandado fazer, levaram espontaneamente as suas ofertas ao Senhor. Moisés disse aos filhos de Israel: «Sabei que o Senhor escolheu Beçalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá. Encheu-o do espírito de Deus, que lhe deu sabedoria, inteligência e capacidade para toda a espécie de trabalho; tornou-o apto a idealizar obras, a trabalhar o ouro, a prata e o bronze; a gravar pedras e a cravá-las, a trabalhar a madeira e a executar toda a espécie de trabalho artístico. Concedeu-lhe também o dom de ensinar, assim como a Ooliab, filho de Aisamac, da tribo de Dan. Encheu-os de sabedoria e talento para executar todas as obras de escultura e de arte; para bordar em tecidos de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de linho fino, e para levar a cabo, bem como planificar, toda a espécie de trabalhos. Beçalel, Ooliab e todos os homens de sabedoria e talento, que o Senhor dotou com sabedoria e inteligência, para executar todos os trabalhos destinados ao santuário, executarão completamente as instruções recebidas do Senhor.» Moisés chamou Beçalel, Ooliab e todos os homens de sabedoria e talento, a quem o Senhor enchera o coração de inteligência, todos aqueles cujo coração estava disposto a empreender a execução deste trabalho. E eles receberam de Moisés todos os contributos que os filhos de Israel tinham levado, para efectuar os trabalhos necessários ao serviço do santuário. Como todas as manhãs o povo continuava ainda a levar ofertas voluntariamente, todos os homens esclarecidos, que estavam ocupados nos trabalhos do santuário, deixaram as tarefas que tinham entre mãos e foram dizer a Moisés: «O povo traz muito mais do que o necessário para executar a obra que o Senhor mandou fazer.» Então, por ordem de Moisés, anunciou-se no acampamento o seguinte: «Ninguém, seja homem ou mulher, levará mais contributos para o santuário.» Impediu-se assim que o povo continuasse a levá-los. Os materiais reunidos eram mais do que o preciso para todos os trabalhos a realizar. Os mais sábios e talentosos entre os artífices fizeram o santuário, utilizando dez tapeçarias de linho tecido, púrpura violácea, púrpura escarlate e púrpura carmesim, com os querubins artisticamente bordados. O comprimento de cada tapeçaria era de vinte e oito côvados: todas eram da mesma medida. Uniram-se cinco destas tapeçarias num conjunto e cinco noutro. Colocaram-se laços de púrpura violácea na orla da tapeçaria que terminava cada um dos conjuntos. Colocaram-se cinquenta laços numa destas tapeçarias e cinquenta laços na orla da última tapeçaria do segundo conjunto, situados perfeitamente em frente uns dos outros. Uniram-se as tapeçarias por meio de cinquenta ganchos de ouro, de modo que o santuário formava um só corpo. Fizeram-se, depois, tapeçarias de pêlo de cabra, para servirem de tenda ao santuário. Fizeram-se onze dessas tapeçarias. De comprimento, uma tapeçaria tinha trinta côvados, e de largura quatro côvados; todas as onze tapeçarias eram da mesma medida. Cinco tapeçarias foram unidas de uma parte, e seis de outra parte. Colocaram-se cinquenta laços na orla da última tapeçaria de um dos conjuntos e cinquenta laços na orla da última tapeçaria do outro conjunto. Fizeram-se cinquenta ganchos de cobre para ligar a tenda, de modo a formar um todo. Fizeram a cobertura da tenda com peles de carneiro tingidas de vermelho, sobre a qual colocaram uma cobertura de peles finas. As pranchas do santuário foram feitas de madeira de acácia, dispostas verticalmente. Cada uma das pranchas tinha dez côvados de comprimento e um côvado e meio de largura. Cada prancha tinha dois encaixes para se unirem umas às outras. E assim se fez em todas as pranchas do santuário. Fizeram para o lado sul do santuário vinte pranchas. Colocaram sob estas vinte pranchas quarenta suportes de prata, dois sob cada prancha, para os dois encaixes. Para o segundo lado do santuário, voltado a norte, fizeram vinte pranchas, com os seus quarenta suportes de prata, dois para cada prancha. Para o fundo do santuário, ao ocidente, fizeram seis pranchas, e para os ângulos do santuário, ao fundo, fizeram duas pranchas. Deviam ser unidas em baixo e ajustarem-se em cima por meio de uma só argola. Assim se fez para as duas pranchas dos dois ângulos. Havia, portanto, oito pranchas com os seus suportes de prata, estes em número de dezasseis, dois sob cada prancha. Fizeram cinco travessas de madeira de acácia para as pranchas de um dos lados do santuário, cinco para as pranchas do segundo lado e cinco para as pranchas do fundo do santuário, ao ocidente. A travessa do meio passava pelo centro das pranchas, de uma à outra extremidade. Revestiram as pranchas de ouro e fizeram para elas argolas de ouro, por onde deviam passar as travessas revestidas igualmente de ouro. Fizeram o véu de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de linho tecido, com querubins bordados artisticamente. Fizeram para ele quatro colunas de madeira de acácia revestidas de ouro, com ganchos de ouro, e fundiram para elas quatro bases de prata. Para a entrada da tenda, fizeram uma cortina de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e linho tecido, artisticamente bordado. Para esta cortina, fizeram cinco colunas com os seus ganchos; revestiram de ouro os capitéis e os varais, e as cinco bases feitas de cobre. Beçalel fez a Arca de madeira de acácia, com dois côvados e meio de comprimento, côvado e meio de largura e côvado e meio de altura. Revestiu-a de ouro puro, interior e exteriormente, e colocou-lhe em volta uma cornija de ouro. Mandou fundir, para a Arca, quatro argolas de ouro, que prendeu nos seus quatro cantos, duas de um lado e duas de outro. Fez varais de madeira de acácia, revestidos de ouro, que passou nas argolas colocadas aos lados da Arca, para a transportar. Fez um propiciatório de ouro puro, com dois côvados e meio de comprimento e um côvado e meio de largura. Fez dois querubins de ouro martelado, cada um numa só peça, sobressaindo das duas extremidades do propiciatório, um querubim numa extremidade e um querubim na outra extremidade, ficando os querubins nas duas extremidades do propiciatório. Ficaram com as faces voltadas um para o outro e com as asas estendidas para diante, cobrindo o propiciatório, sobre o qual tinham as faces inclinadas. Depois fez a mesa de madeira de acácia, com dois côvados de comprimento, um côvado de largura e côvado e meio de altura. Revestiu-a de ouro puro e rodeou-a de uma cercadura de ouro. Adaptou-lhe à volta um caixilho da largura da mão, com uma cercadura de ouro a toda a volta. Fundiu para a mesa quatro argolas de ouro e prendeu-as nas quatro extremidades formadas pelos quatro pés. Estas argolas estavam colocadas frente a frente, para receberem os varais destinados ao transporte da mesa. Fez os varais de madeira de acácia, revestidos de ouro, para transportar a mesa. Fez os utensílios que estão sobre a mesa, as escudelas, as colheres, os vasos e as taças para as libações, tudo de ouro puro. Fez o candelabro de ouro puro, de uma só peça, com a base, a haste, os cálices, os botões e as flores, formando uma única peça com ele. Seis braços partiam dos lados, três de um lado e três do outro. Num braço, havia três cálices em forma de flor de amendoeira, com botão e flor; e assim eram os restantes seis braços, que saíam do candelabro. Na haste central do candelabro, havia quatro cálices em forma de flor de amendoeira, com os seus botões e as suas flores. Havia um botão sob os dois primeiros braços que saíam do candelabro, um botão sob os dois braços seguintes. Era assim para os seis braços do candelabro. Estes botões, estes braços e o candelabro formavam uma única peça, e todo o conjunto era de ouro puro, feito de uma só barra. Fez as suas sete lâmpadas, bem como os espevitadores e os vasos para os morrões, tudo de ouro puro. Utilizou um talento de ouro puro na execução do candelabro e de todos os acessórios. Fez o altar dos perfumes de madeira de acácia, com um côvado de comprimento e um côvado de largura. Era quadrado e tinha dois côvados de altura. As suas hastes formavam com ele uma única peça. Revestiu de ouro puro a parte superior do altar, todos os seus lados e as hastes. Colocou em volta uma guarnição de ouro. Adaptou-lhe duas argolas de ouro, por cima da guarnição dos dois lados, de um e de outro lado, para receberem os varais destinados a transportá-lo. Fez os varais de madeira de acácia revestidos de ouro. Fez também o óleo para a unção santa e o perfume aromático, segundo a arte de perfumista. Fez o altar dos holocaustos de madeira de acácia, com cinco côvados de comprimento e cinco côvados de largura. Era quadrado e tinha três côvados de altura. Nos quatro cantos, modelou as hastes que formavam uma única peça com o altar e cobriu-as de bronze. Fez todos os utensílios do altar: cinzeiros, pás, bacias, garfos e braseiros; e todos estes utensílios foram feitos de cobre. Fez para o altar uma grade de cobre, em forma de rede, que colocou em baixo, sob a moldura do altar, até ao meio da altura. Para os quatro cantos da grade de cobre, fundiu quatro argolas destinadas a receberem os varais. Fez os varais de madeira de acácia e revestiu-os de cobre. Introduziu os varais nas argolas que estavam de um lado e de outro do altar, e serviam para o transportar. Fez o altar de tábuas, oco por dentro. Fez a bacia de bronze e a sua base de bronze, com os espelhos das mulheres que serviam à entrada da tenda da reunião. Fez, depois, o átrio. Do lado sul, fez uma cortina de linho tecido num comprimento de cem côvados, com as suas vinte colunas assentes sobre vinte bases de bronze. Os ganchos das colunas e os seus varais eram de prata. Do lado do norte, as cortinas tinham cem côvados de comprimento, com as suas vinte colunas e as vinte bases de bronze; os ganchos das colunas e os varais eram de prata. Do lado ocidental, tinha cinquenta côvados de cortinas, com as suas dez colunas e dez bases, com ganchos e varais de prata. Do lado oriental ou nascente tinha cinquenta côvados. Quinze côvados de cortinas, com três colunas e três bases, formavam uma ala. Quinze côvados de cortinas, com três colunas e três bases, formavam a segunda ala de um e de outro lado da entrada do átrio. As cortinas eram de linho tecido, formando o recinto do átrio. As bases das colunas eram de bronze, os ganchos das colunas e os seus varais eram de prata, e os capitéis eram revestidos de prata. Todas as colunas do átrio tinham argolas de prata. A cortina da porta do átrio era de púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim e linho tecido e era toda bordada. De comprimento tinha vinte côvados, de altura ou largura tinha cinco côvados, tal como as cortinas do átrio. Tinha quatro colunas com quatro bases de bronze; os ganchos eram de prata e os capitéis eram revestidos de prata, assim como os varais. Todas as anilhas, para o santuário e para o átrio, eram de bronze. Eis a relação dos materiais empregados no santuário, que é o santuário do testemunho, feita pelos levitas, por ordem de Moisés, sob a direcção de Itamar, filho do sacerdote Aarão. Beçalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, executou o que o Senhor tinha ordenado a Moisés, tendo como auxiliar Ooliab, filho de Aisamac, da tribo de Dan, hábil na escultura, em idealizar e bordar a púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim e linho fino. O total do ouro utilizado em todos os trabalhos do santuário, ouro proveniente das ofertas, montava a vinte e nove talentos e setecentos e trinta siclos, conforme o siclo do santuário. A prata recolhida entre os da assembleia, que foram recenseados, elevava-se a cem talentos e mil setecentos e setenta e cinco siclos, conforme o siclo do santuário. Era meio siclo, conforme o siclo do santuário, por cabeça, para cada homem incluído no recenseamento, de vinte anos para cima, ou seja, para seiscentos e três mil e quinhentos e cinquenta homens. Os cem talentos de prata serviram para fundir as bases do santuário e as bases do véu; cem bases para os cem talentos; ou seja, um talento para cada base. Com os mil setecentos e setenta e cinco siclos fizeram-se os ganchos para as colunas, o revestimento dos capitéis e os varais para as colunas. O cobre das ofertas atingiu setenta talentos e dois mil e quatrocentos siclos. Fizeram com ele as bases da entrada da tenda da reunião, o altar de bronze e todos os utensílios do altar, as bases do átrio e da porta de entrada do átrio, e todas as cavilhas do santuário e do átrio que o rodeia. Com a púrpura violácea, a púrpura escarlate e a púrpura carmesim fizeram as vestes sagradas para o serviço no santuário, e os ornamentos sagrados para Aarão, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Fizeram a insígnia sacerdotal de ouro, de púrpura violácea, de púrpura escarlate, de púrpura carmesim e de linho tecido. Estenderam o ouro em lâminas e cortaram fios que entrelaçaram na púrpura violácea, na púrpura escarlate, na púrpura carmesim e no linho fino, executando artísticos bordados. Adaptaram-lhe duas ombreiras, que juntavam as extremidades da parte superior. O cíngulo, que servia para fixar a insígnia, era do mesmo tecido e trabalhado da mesma forma: de ouro, de púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim e fios de linho, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Montaram as pedras de ónix em cravações de ouro, nas quais gravaram, à maneira dos sinetes, os nomes dos filhos de Israel. Ajustaram-se nas ombreiras da insígnia, com pedras destinadas a recordar os filhos de Israel, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Confeccionaram o peitoral – obra de artista – assim como a insígnia: de ouro, púrpura violácea, púrpura escarlate, púrpura carmesim e linho tecido. Era quadrado e dobrado, tinha um palmo de comprimento e um palmo de largura. Guarneceram-no de quatro filas de pedrarias. Na primeira fila colocaram um rubi, um topázio, uma esmeralda; na segunda fila, uma cornalina, uma safira, um diamante; na terceira fila, uma opala, uma ágata e uma ametista; na quarta fila, um crisólito, um ónix e um jaspe. Todas estas pedras estavam cravadas em ouro. Correspondendo aos nomes dos filhos de Israel, eram em número de doze e em cada uma delas estava gravado, como num sinete, o nome de cada uma das doze tribos. Fizeram também, para o peitoral, pequenas correntes de ouro puro, entrelaçadas em forma de cordões. Fizeram duas cravações de ouro e duas argolas de ouro que colocaram nos dois cantos do peitoral. Passaram as duas correntes de ouro pelas duas argolas dos cantos do peitoral, e fixaram as duas pontas de cada corrente nas duas cravações, adaptando-as, pela frente, às duas ombreiras da insígnia. Fizeram também duas argolas de ouro que colocaram nos dois cantos do peitoral, na orla interior que se justapõe à insígnia. E fizeram outras duas argolas de ouro que fixaram sob as duas ombreiras da insígnia, do lado exterior, no sítio em que se unem por cima do cíngulo da mesma insígnia. Ataram o peitoral, prendendo as suas argolas às da insígnia por meio de um cordão de púrpura violácea, a fim de fixar o peitoral sobre o cíngulo da insígnia, de forma a não oscilar, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Fizeram o manto da insígnia, tecido inteiramente de púrpura violácea. A abertura, feita no meio, era redonda como a de uma cota de armas e guarnecida de um debrum a toda a volta, para evitar rasgões. Guarneceram a barra do manto com romãs de púrpura violácea, de púrpura escarlate e de púrpura carmesim, a toda a volta. Fizeram campainhas de ouro puro, que entremearam com as romãs em toda a barra do manto. Uma campainha e depois uma romã a toda a volta da barra do manto, para o culto, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Fizeram as túnicas de linho fino para Aarão e seus filhos; a tiara de linho fino, as tiaras para as cerimónias e os calções de linho; o cíngulo de fios de linho, de púrpura escarlate e púrpura carmesim, bordado, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Fizeram a lâmina de ouro puro, o diadema sagrado, na qual gravaram, como se grava num sinete: «Consagrado ao Senhor.» Prenderam-na com uma fita de púrpura violácea à frente, na parte superior da tiara, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Terminaram-se, assim, os trabalhos do santuário, da tenda da reunião; os filhos de Israel executaram tudo de harmonia com as ordens dadas pelo Senhor a Moisés. Apresentaram, então, o santuário a Moisés; a tenda e todos os utensílios: ganchos, pranchas, travessas, colunas e bases; a cobertura de peles de carneiro tingidas de vermelho, a cobertura de peles finas, o véu de protecção; a Arca do testemunho com os seus varais e o propiciatório; a mesa, com todos os utensílios e os pães da oferenda; o candelabro de ouro puro, com todas as lâmpadas preparadas, todos os acessórios e o azeite para o candelabro; o altar de ouro, o óleo de unção e o incenso aromático; a cortina para a entrada da tenda; o altar, com a grade de bronze, os varais e todos os seus utensílios; a bacia com a base; as cortinas do átrio, as colunas e as suas bases; a cortina da porta do átrio, com os cordões e as cavilhas, enfim, todos os utensílios para o serviço do santuário, para a tenda da reunião; as vestes litúrgicas para o serviço no santuário, os ornamentos sagrados para o sacerdote Aarão e as vestes sacerdotais dos seus filhos. Os filhos de Israel fizeram todas as obras, obedecendo em tudo às ordens dadas a Moisés pelo Senhor. Moisés examinou todo o trabalho e verificou que fora executado de harmonia com as ordens do Senhor. E Moisés abençoou-os. O Senhor falou a Moisés nestes termos: «No primeiro dia do primeiro mês, erigirás o santuário da tenda da reunião. Colocarás nele a Arca do testemunho e vedarás a entrada com o véu. Introduzirás a mesa e colocarás nela o que a deve guarnecer; introduzirás o candelabro e acenderás as suas lâmpadas. Instalarás o altar de ouro para o perfume, diante da Arca do testemunho e fixarás o véu de entrada, diante do santuário. Instalarás o altar do holocausto diante da entrada do santuário da tenda da reunião. Colocarás a bacia entre a tenda da reunião e o altar e nela deitarás água. Disporás o átrio em redor e colocarás a cortina à porta do átrio. Tomarás o óleo de unção e ungirás o santuário e tudo quanto encerra; consagrá-lo-ás com todos os utensílios, e será santo. Ungirás o altar dos holocaustos e todos os seus utensílios; consagrarás o altar, que se tornará santíssimo. Ungirás a bacia e a sua base para a consagrar. Mandarás avançar Aarão e os filhos até à entrada da tenda da reunião e lavá-los-ás com água. Revestirás Aarão com as vestes sagradas; hás-de ungi-lo e consagrá-lo, e ele exercerá para mim o sacerdócio. Mandarás aproximar os filhos e vestir-lhes-ás as túnicas. Ungi-los-ás como ungiste o pai, e exercerão para mim o sacerdócio. Esta unção conferir-lhes-á o sacerdócio para sempre, de geração em geração.» Moisés obedeceu; fez tudo quanto o Senhor lhe ordenara. No primeiro dia do primeiro mês do segundo ano, foi erigido o santuário. Moisés erigiu o santuário: assentou as bases, as pranchas, as travessas e ergueu as colunas; estendeu a tenda sobre o santuário e, por cima, a cobertura da tenda, como o Senhor lhe tinha ordenado. Tomou o testemunho e depositou-o na Arca; meteu os varais na Arca, sobre a qual colocou o propiciatório. Transportou a Arca para o santuário, fixando o véu de protecção, para vedar o acesso à Arca do testemunho, como o Senhor lhe tinha ordenado. Colocou em seguida a mesa na tenda da reunião, do lado norte do santuário, da parte de fora do véu, e distribuiu ordenadamente sobre ela os pães diante do Senhor, como o Senhor lhe tinha ordenado. Colocou o candelabro na tenda da reunião, em frente da mesa, do lado sul do santuário, e acendeu as lâmpadas diante do Senhor, como o Senhor lhe tinha ordenado. Colocou o altar de ouro na tenda da reunião, diante do véu, e queimou os perfumes, como o Senhor lhe tinha ordenado. Fixou a cortina à entrada do santuário. Colocou o altar dos holocaustos à entrada do santuário, da tenda de reunião, e ali ofereceu o holocausto e a oblação, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Instalou a bacia entre a tenda da reunião e o altar, e nela deitou água para as abluções. Moisés, Aarão e os filhos deviam lavar ali as mãos e os pés. Sempre que entravam na tenda da reunião e se aproximavam do altar deviam fazer estas abluções, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Erigiu, por fim, o átrio em volta do santuário e do altar, e colocou a cortina à porta do átrio. E assim Moisés concluiu a sua obra. Então, a nuvem cobriu a tenda da reunião, e a majestade do Senhor encheu o santuário. Moisés já não pôde entrar na tenda da reunião, porque a nuvem pairava sobre ela, e a glória do Senhor enchia o santuário. Quando a nuvem se retirava de cima do santuário, os filhos de Israel partiam de viagem, e quando a nuvem não se retirava, não partiam, até ao instante em que ela se elevava. Porque uma nuvem do Senhor cobria o santuário durante o dia, e um fogo brilhava ali durante a noite, aos olhos de toda a casa de Israel, em todas as suas caminhadas. O Senhor chamou Moisés da tenda da reunião e falou-lhe, nestes termos: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: Quando alguém dentre vós apresentar ao Senhor uma oferta de animais, podereis escolher a vossa oferta entre o gado bovino ou entre as ovelhas e as cabras. Se a oferta for um holocausto de gado bovino, oferecerá um macho sem defeito; oferecê-lo-á à entrada da tenda da reunião, para ser agradável ao Senhor. Imporá a mão sobre a cabeça da vítima, para que seja aceite favoravelmente, servindo de expiação por ele. Imolará o novilho diante do Senhor, e os sacerdotes, descendentes de Aarão, oferecerão o sangue e, depois, aspergirão o altar, que está à entrada da tenda da reunião, a toda a volta. E, depois de esfolada a vítima, cortá-la-ão nas porções devidas. Os sacerdotes, descendentes de Aarão, colocarão o fogo sobre o altar, e disporão lenha sobre o fogo; depois, distribuirão as porções, a cabeça e a gordura sobre a lenha, disposta sobre o fogo do altar. Lavar-se-ão, com água, as entranhas e as patas; depois, o sacerdote queimará tudo sobre o altar, como um holocausto, como oferta queimada de odor agradável ao Senhor. Se a oferta destinada ao holocausto for de cordeiros ou de cabritos, oferecerá um macho sem defeito. Imolá-lo-á do lado norte do altar, diante do Senhor, e os sacerdotes, descendentes de Aarão, aspergirão com o sangue o altar a toda a volta. Será esquartejado nas porções devidas, separando-se a cabeça e a gordura; o sacerdote colocá-lo-á em cima da lenha, que está sobre o fogo do altar. Depois de lavadas com água as entranhas e as patas, o sacerdote oferecerá tudo, queimando-o sobre o altar. É um holocausto, uma oferta queimada de odor agradável ao Senhor. Se a oferta ao Senhor for um holocausto de aves, serão oferecidas rolas ou pombos ainda novos. O sacerdote oferecerá a ave sobre o altar e lhe torcerá o pescoço; queimá-la-á no altar, depois de ter espremido o sangue sobre os lados do altar. Retirará o papo e o seu conteúdo, assim como as penas e deitá-las-á ao lado do altar, a oriente, no lugar onde se deitam as cinzas. Então, o sacerdote abrirá a ave pelo lado das asas, sem as separar, e queimá-la-á no altar, sobre a lenha do braseiro. É um holocausto, uma oferta queimada, de odor agradável ao Senhor.» «Se alguém quiser apresentar ao Senhor uma oblação de cereais, a sua oferta será de flor de farinha, sobre a qual derramará azeite e colocará incenso. Levá-la-á aos sacerdotes, descendentes de Aarão. Um deles tomará um punhado desta farinha com o azeite e todo o incenso; queimará este memorial sobre o altar, como oferta queimada de odor agradável ao Senhor. O que restar da oblação será para Aarão e seus descendentes: esta é a parte mais sagrada da oblação consumida pelo fogo em honra do Senhor. Se quiseres apresentar uma oblação de cereais cozidos no forno, farás bolos de flor de farinha, sem fermento, amassada com azeite e tostas sem fermento, untadas com azeite. Se a oblação que ofereceres for preparada na sertã, será de flor de farinha sem fermento, amassada com azeite. Dividi-la-ás em bocados e deitarás azeite por cima: é uma oblação. Se a oblação que ofereceres for preparada numa caçarola, será de flor de farinha com azeite. Levarás, pois, ao Senhor a oblação assim preparada, entregando-a ao sacerdote, que a aproximará do altar; depois, tomará desta oblação o memorial e queimá-lo-á sobre o altar: é uma oferta queimada de odor agradável ao Senhor. O que restar da oblação será para Aarão e seus descendentes, como parte mais sagrada da oferta queimada em honra do Senhor. Toda a oblação de cereais que oferecerdes ao Senhor deverá ser preparada sem fermento; não colocareis nada que contenha fermento ou mel nas ofertas queimadas em honra do Senhor. Podereis apresentá-las como oferta dos primeiros frutos da terra, em honra do Senhor, mas não sobre o altar, como oferta de odor agradável. Deitarás sal em todas as oblações; e não permitirás que falte o sal da aliança do teu Deus sobre a tua oblação: a todas as tuas ofertas juntarás sal. Quando apresentares ao Senhor a oblação dos primeiros frutos da terra, oferecerás espigas torradas no fogo, grãos novos moídos, como oblação das tuas primícias. Deitarás azeite por cima, acrescentando também incenso: é uma oblação. O sacerdote queimará o memorial tirado dos grãos e do azeite, juntamente com o incenso; é uma oferta queimada em honra do Senhor.» «Se alguém oferecer, em sacrifício de comunhão, uma cabeça de gado bovino – macho ou fêmea – apresentá-lo-á sem defeito diante do Senhor. Imporá a mão sobre a cabeça da vítima oferecida, que imolará à entrada da tenda da reunião; depois, os sacerdotes, descendentes de Aarão, aspergirão com o sangue o altar, a toda a volta. Deste sacrifício de comunhão, oferecerão, como oferta queimada em honra do Senhor, toda a gordura que envolve as entranhas e toda a que lhes está aderente, os dois rins com a gordura que os envolve na região lombar, e a membrana do fígado, que se tirará juntamente com os rins. Os sacerdotes, descendentes de Aarão, tudo queimarão no altar, com o holocausto que está colocado sobre a lenha do braseiro; é uma oferta queimada, de odor agradável ao Senhor. Se alguém oferecer ao Senhor, em sacrifício de comunhão, uma cabeça de gado miúdo – macho ou fêmea – deve oferecê-lo sem defeito. Se apresentar como oferta um cordeiro, oferecê-lo-á diante do Senhor; depois, imporá a mão sobre a cabeça da vítima, que imolará diante da tenda da reunião e, com o sangue, os descendentes de Aarão aspergirão o altar, a toda a volta. Deste sacrifício de comunhão, o sacerdote oferecerá, como oferta queimada em honra do Senhor, toda a gordura: a cauda inteira, cortada junto da espinha dorsal, a gordura que envolve as entranhas e toda a que lhes está aderente, os dois rins com a gordura que os envolve na região lombar e a membrana do fígado, que se tirará juntamente com os rins. O sacerdote tudo queimará no altar. É um alimento de oferta queimada em honra do Senhor. Se oferecer uma cabra, apresentá-la-á diante do Senhor; depois, imporá a mão sobre a cabeça da vítima, que imolará diante da tenda da reunião e os descendentes de Aarão aspergirão com o sangue o altar a toda a volta. Da vítima, o sacerdote oferecerá, como oferta queimada em honra do Senhor, a gordura que envolve as entranhas e toda a que lhes está aderente, os dois rins com a gordura que os envolve na região lombar e a membrana do fígado, que se tirará juntamente com os rins. O sacerdote queimá-los-á no altar, como alimento de oferta queimada, de odor agradável. Toda a gordura pertence ao Senhor. Esta é uma lei perpétua para os vossos descendentes, em qualquer lugar em que habitardes: não deveis comer nem a gordura nem o sangue.» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: Se alguém pecou involuntariamente, contra alguma coisa que o Senhor tinha proibido, deve proceder da seguinte maneira: Se for um sacerdote consagrado quem pecou, tornando assim o povo culpado, oferecerá ao Senhor, pelo seu pecado, um novilho sem defeito, em sacrifício expiatório. Levará o novilho à entrada da tenda da reunião, diante do Senhor, e imporá a mão sobre a sua cabeça; depois, imolá-lo-á diante do Senhor. Seguidamente, o sacerdote consagrado levará parte do sangue do novilho à tenda da reunião; mergulhará o dedo no sangue e, com esse sangue, aspergirá sete vezes, diante do Senhor, a face visível do véu do santuário. Depois deitará parte do sangue sobre as hastes do altar dos perfumes, que está diante do Senhor, na tenda da reunião, e derramará o resto do sangue do novilho na base do altar dos holocaustos, que está à entrada da tenda da reunião. Depois, extrairá toda a gordura do novilho imolado pelo pecado, tanto a que envolve as entranhas como a que lhes está aderente, assim como os dois rins com a gordura que os envolve na região lombar e a membrana do fígado, que se tirará juntamente com os rins, tal como se procede com o novilho do sacrifício de comunhão. E o sacerdote queimará tudo isso no altar dos holocaustos. Mas a pele do novilho e toda a sua carne, incluindo a cabeça, as patas, as entranhas e os excrementos, numa palavra, o novilho inteiro, levá-lo-á para fora do acampamento, para um lugar puro, onde se deitam as cinzas, e aí o queimará sobre lenha. Será queimado onde se deitam as cinzas. Se for toda a comunidade de Israel quem pecou involuntariamente, e, sem disso se aperceber, fez alguma coisa que o Senhor tinha proibido, tornando-se, assim, culpada: quando o pecado cometido por ela vier a ser conhecido, a comunidade oferecerá, em sacrifício expiatório, um novilho que será conduzido diante da tenda da reunião. Os anciãos da comunidade hão-de impor as mãos sobre a cabeça do novilho, diante do Senhor, e aí mesmo o imolarão. Seguidamente, o sacerdote consagrado levará parte do sangue do novilho à tenda da reunião. Mergulhará o dedo no sangue e, com esse sangue, aspergirá sete vezes diante do Senhor, a face visível do véu; depois, deitará parte do sangue sobre as hastes do altar que está diante do Senhor, na tenda da reunião, e derramará o resto do sangue na base do altar dos holocaustos, que está à entrada da tenda da reunião. Depois, extrairá toda a gordura do novilho para a queimar sobre o altar, procedendo com este novilho como fez com o novilho do sacrifício expiatório. Assim fará o sacerdote o rito da expiação sobre todos, e o pecado ser-lhes-á perdoado. Depois levará o novilho para fora do acampamento, queimando-o como queimou o anterior. Este é um sacrifício pelo pecado da comunidade. Se foi um dos chefes quem pecou involuntariamente e, sem disso se aperceber, fez alguma coisa que o Senhor, seu Deus, tinha proibido, tornando-se, assim, culpado: quando o pecado cometido lhe for revelado, oferecerá em sacrifício um bode sem defeito. Imporá a mão sobre a cabeça do bode, que imolará no lugar onde se faz o holocausto, diante do Senhor. É um sacrifício de expiação. Seguidamente, o sacerdote tomará com o dedo parte do sangue da vítima sacrificada pelo pecado e deitá-lo-á sobre as hastes do altar dos holocaustos, derramando o resto do sangue na base do altar dos holocaustos. Queimará sobre o altar toda a gordura, como se faz com a gordura dos sacrifícios de comunhão. Quando o sacerdote fizer sobre o príncipe o rito de expiação, o seu pecado será perdoado. Se foi uma pessoa do povo quem pecou involuntariamente e, sem disso se aperceber, fez alguma coisa que o Senhor tinha proibido, tornando-se, assim, culpada: quando o pecado cometido lhe for revelado, oferecerá em sacrifício uma cabra sem defeito, pelo pecado que cometeu. Imporá a mão sobre a cabeça da vítima oferecida pelo pecado, que imolará no lugar do holocausto. Seguidamente, o sacerdote tomará com o dedo parte do sangue da vítima sacrificada pelo pecado e deitá-lo-á sobre as hastes do altar dos holocaustos, e derramará o resto do sangue na base do altar. Depois, extrairá toda a gordura, como no sacrifício de comunhão, para a queimar sobre o altar, como agradável odor em honra do Senhor. Quando o sacerdote fizer sobre ele o rito de expiação, o seu pecado será perdoado. Se oferecer um cordeiro para expiação do pecado, oferecerá uma fêmea sem defeito. Imporá a mão sobre a cabeça da vítima oferecida pelo pecado, que imolará no lugar do holocausto. Seguidamente, o sacerdote tomará com o dedo parte do sangue da vítima sacrificada pelo pecado e deitá-lo-á sobre as hastes do altar dos holocaustos, e derramará o resto do sangue na base do altar. Depois, extrairá toda a gordura, como no sacrifício de comunhão, para a queimar sobre o altar, como oferta queimada em honra do Senhor. Quando o sacerdote fizer sobre ele o rito de expiação pelo pecado que cometeu, este ser-lhe-á perdoado.» «Se alguém, apresentado como testemunha, não quiser declarar o que viu ou de que teve conhecimento, será culpado desse pecado. Se alguém tocar seja no que for de impuro, quer seja no cadáver de um animal impuro, doméstico ou selvagem, ou no de um réptil, mesmo sem disso ter conhecimento, tornar-se-á também impuro e culpado. Ou se, inadvertidamente, tocar numa pessoa que está impura, manchada com qualquer espécie de impureza, quando vier a sabê-lo, tornar-se-á culpado. Ou ainda, se alguém, falando irreflectidamente, se comprometer com juramento a fazer algo, seja penoso ou agradável – entre tudo o que se pode jurar irreflectidamente – quando se der conta, tornar-se-á responsável por essas coisas.» «Quando alguém é culpado de um destes delitos, deve confessar em que pecou; depois, apresentará ao Senhor, como reparação pelo pecado que cometeu, uma fêmea de gado miúdo, uma ovelha ou uma cabra, em sacrifício pelo pecado; e o sacerdote fará por ele o rito da expiação do seu pecado. Se não tiver meios para comprar uma ovelha ou uma cabra, oferecerá ao Senhor, em expiação do seu pecado, duas rolas ou duas pombas ainda novas: uma, como sacrifício pelo pecado, e outra, como holocausto. Levá-las-á ao sacerdote, que oferecerá, primeiramente, a vítima do pecado: há-de torcer-lhe o pescoço, junto da nuca, sem a separar do corpo; fará jorrar sangue da vítima pelo pecado, sobre os lados do altar, e o resto do sangue será espremido na base do altar. É um sacrifício pelo pecado. Com a segunda ave, oferecerá um holocausto, segundo o ritual. Assim, fará o sacerdote, por esse homem, a expiação do pecado que ele cometeu, e ser-lhe-á perdoado. Se não tiver meios suficientes para as duas rolas ou duas pombas ainda novas, apresentará, como oferta pelo seu pecado, a décima parte de um efá de flor de farinha, como sacrifício expiatório; não lhe misturará azeite nem lhe porá incenso, porque é um sacrifício expiatório. Levá-la-á ao sacerdote, que tomará um punhado, como memorial, e a queimará sobre o altar, sobre as ofertas queimadas em honra do Senhor, é uma expiação pelo pecado. Assim fará o sacerdote a expiação do pecado que esse homem cometeu, relativamente a um dos delitos mencionados, e ser-lhe-á perdoado. A farinha que restar pertencerá ao sacerdote, como na oblação.» O Senhor disse a Moisés: «Se alguém, mesmo por inadvertência, pecar gravemente contra os direitos sagrados do Senhor, oferecerá por essa falta um carneiro sem defeito, escolhido no rebanho, cujo valor em prata será calculado segundo os pesos do santuário, como sacrifício de reparação. Reparará o dano que causou ao santuário, juntando-lhe mais um quinto e entregando tudo ao sacerdote. Depois, o sacerdote fará a expiação por ele, com o carneiro oferecido em reparação, e ser-lhe-á perdoado. Se alguém pecar, involuntariamente, fazendo alguma coisa que o Senhor tenha proibido, será igualmente culpado e suportará a sua culpa; apresentará ao sacerdote um carneiro sem defeito, escolhido no rebanho, segundo a sua avaliação, como sacrifício de reparação. O sacerdote fará por ele o rito de expiação da falta cometida inadvertidamente, e esta ser-lhe-á perdoada. É um sacrifício de reparação, porque, diante do Senhor, ele era verdadeiramente culpado.» O Senhor disse ainda a Moisés: «Se alguém pecar, cometendo algumas destas faltas graves contra o Senhor, negando ao seu próximo um objecto recebido em depósito, um valor que lhe tenha sido confiado, um objecto roubado, ou que tenha defraudado de qualquer modo o seu próximo; ou negando ter encontrado um objecto perdido e se, além disso, jura falso por qualquer destas acções pelas quais o homem costuma pecar; aquele que assim pecar e for responsável pelo delito, deverá restituir o objecto roubado ou extorquido ao seu próximo, o depósito que lhe tinha sido confiado ou o objecto perdido que encontrou, ou outro qualquer objecto pelo qual jurou falsamente. Pagá-lo-á integralmente, acrescentando-lhe um quinto do seu valor. Entregá-lo-á ao seu proprietário no mesmo dia em que oferecer o sacrifício de reparação. Como reparação ao Senhor pelo seu delito, deverá trazer ao sacerdote um carneiro sem defeito, escolhido do rebanho, segundo o valor indicado para o sacrifício de reparação. Quando o sacerdote fizer sobre ele o rito da expiação, diante do Senhor, receberá o perdão da falta de que se tornou culpado.» O Senhor disse a Moisés: «Darás a Aarão e aos seus descendentes as seguintes ordens: estas são as leis do holocausto. O holocausto fica sobre o braseiro do altar toda a noite, até de manhã; o fogo do altar manter-se-á ali aceso. O sacerdote revestirá a túnica de linho, depois de ter vestido os calções de linho; retirará do altar as cinzas gordurosas do fogo que consumiu o holocausto, e depositá-las-á ao lado do altar. Depois, despojar-se-á das suas vestes e revestirá outras, para transportar as cinzas para fora do acampamento, para um lugar puro. O fogo do altar deverá ali arder sem se extinguir. O sacerdote ateá-lo-á com lenha, todas as manhãs, disporá sobre ela o holocausto e queimará a gordura do sacrifício de comunhão. O fogo arderá ininterruptamente sobre o altar, sem nunca se extinguir.» «Estas são as normas da oblação: os descendentes de Aarão hão-de apresentá-la ao Senhor diante do altar. Retirar-se-á um punhado da flor de farinha da oblação com o azeite e todo o incenso que a cobre; queimar-se-á sobre o altar, como memorial e oferta de agradável odor ao Senhor. O que restar da oblação será para Aarão e os seus descendentes comerem; comê-la-ão sob a forma de pão ázimo, num lugar santo, isto é, no átrio da tenda da reunião. Não será cozido com o fermento, pois é a parte que reservei para eles, das ofertas queimadas em minha honra; é uma coisa santíssima, como no sacrifício pelo pecado e como o sacrifício de reparação. Somente os homens da descendência de Aarão poderão comê-lo: é uma concessão perpétua feita aos vossos descendentes, sobre as ofertas queimadas em honra do Senhor. Tudo o que nelas tocar tornar-se-á santo.» O Senhor disse a Moisés: «Esta é a oferta que Aarão e seus descendentes apresentarão ao Senhor, no dia em que cada um deles receber a unção: um décimo de um efá de farinha, como oblação perpétua, metade de manhã e metade de tarde. Esta oblação será preparada numa sertã, com azeite, e, depois de estar bem amassada, dividi-la-ás em bocados, que oferecerás como odor agradável ao Senhor. Todo o descendente de Aarão que for ungido como seu sucessor fará esta oblação. Esta é uma lei perpétua diante do Senhor, e a oblação deve ser queimada totalmente. Toda a oblação de um sacerdote será também queimada integralmente, e dela nada será comido.» O Senhor disse a Moisés: «Diz a Aarão e aos seus descendentes: Estas são as leis do sacrifício pelo pecado: a vítima do sacrifício pelo pecado será imolada na presença do Senhor, no lugar onde se imola o holocausto; é uma coisa santíssima. O sacerdote que oferecer a vítima pelo pecado comê-la-á num lugar santo, isto é, no átrio da tenda da reunião. Tudo o que tocar nessa carne tornar-se-á santo. Se o sangue salpicar alguma veste, esta será lavada num lugar santo. A panela de barro, em que for cozida, será quebrada; se for cozida numa panela de bronze, esta será esfregada e lavada com água. Somente os homens da família sacerdotal poderão comê-la; é uma coisa santíssima. Mas a vítima pelo pecado, cujo sangue é levado para a tenda da reunião, para se fazer a expiação no santuário, não será comida em caso algum; será queimada no fogo.» «Estas são as leis do sacrifício de reparação. Trata-se de uma coisa santíssima: a vítima do sacrifício de reparação será imolada no lugar onde se imola o holocausto, e o sangue será aspergido em torno do altar. Depois, oferecer-se-á toda a gordura, a cauda, a gordura que envolve as entranhas, os dois rins com a gordura que os cobre na região lombar e a membrana do fígado, que se separa com os rins. O sacerdote queimará tudo isso sobre o altar, como oferta queimada em honra do Senhor. É um sacrifício de reparação. Somente os homens da família sacerdotal poderão comer a vítima oferecida. Será comida num lugar santo, porque é uma coisa santíssima. No sacrifício pelo pecado como no de reparação, a norma é a mesma. A vítima será para o sacerdote que fizer o rito de expiação. Quando um sacerdote oferecer o holocausto de um particular, a pele da vítima oferecida pertencer-lhe-á. Toda a oblação cozida no forno, ou preparada numa caçarola ou numa sertã, pertencerá ao sacerdote que a oferecer. Qualquer oblação amassada em azeite ou seca pertencerá aos descendentes de Aarão, a todos por igual.» «Esta é a lei do sacrifício de comunhão a oferecer ao Senhor, se for oferecido juntamente com o sacrifício de acção de graças, oferecer-se-ão, juntamente com a vítima do sacrifício de acção de graças, bolos sem fermento amassados com azeite, bolachas sem fermento, humedecidas de azeite, a flor de farinha, frita em filhós amassadas com azeite. Apresentar-se-á esta oferta com bolos de pão fermentado, juntamente com o sacrifício de comunhão, oferecido em acção de graças. Retirar-se-á um bolo de cada uma destas ofertas, como tributo ao Senhor e pertencerá ao sacerdote, que tiver derramado o sangue da vítima do sacrifício de comunhão. A carne da vítima deste sacrifício de acção de graças será comida no próprio dia da oferta. Nada será deixado para o dia seguinte. Se alguém oferecer uma vítima, em cumprimento de um voto ou como oferta voluntária, comerá dela no dia em que for oferecida, e o resto poderá ser comido no dia imediato. Se ainda restar carne do sacrifício no terceiro dia, será consumida pelo fogo. Se alguém, ao terceiro dia, ousar comer a carne deste sacrifício de comunhão, ele não beneficiará quem o ofereceu; será uma coisa reprovada e aquele que a comer suportará o peso da sua falta. Se a carne tiver tocado em qualquer coisa impura, não será comida e queimar-se-á no fogo; e todo aquele que estiver puro poderá comer da carne do sacrifício. Mas se alguém, em estado de impureza, comer a carne do sacrifício de comunhão, será exterminado do seu povo. Aquele que tocar nalguma coisa impura, numa impureza humana ou num animal impuro, ou seja, no que for abominável e impuro, se, em seguida, comer a carne do sacrifício de comunhão oferecido ao Senhor, será exterminado do seu povo.» O Senhor disse a Moisés: «Diz aos filhos de Israel o seguinte: ‘Não comereis a gordura de boi, nem de ovelha, nem de cabra. A gordura de um animal morto, ou despedaçado por uma fera, poderá ser aplicado a qualquer uso; mas não o podereis comer. Quem comer a gordura dos animais que foram apresentados como oferta queimada em honra do Senhor, esse será exterminado do seu povo. Seja qual for o lugar que habitardes, não comereis nenhuma espécie de sangue, seja de ave ou de animal. Quem comer sangue de qualquer espécie, será exterminado do seu povo.’» O Senhor disse ainda a Moisés: «Diz o seguinte aos filhos de Israel: «‘Aquele que oferecer ao Senhor o seu sacrifício de comunhão deve apresentar-lhe a parte que lhe pertence desse sacrifício. Apresentará com as suas próprias mãos as ofertas queimadas diante do Senhor, a gordura e o peito; mas o peito deve apresentar-se com o rito de apresentação diante do Senhor. O sacerdote queimará a gordura sobre o altar, mas o peito será para Aarão e para os seus descendentes. Dareis também ao sacerdote a coxa direita, como tributo dos vossos sacrifícios de comunhão. O sacerdote descendente de Aarão que oferecer o sangue e a gordura do sacrifício de comunhão é que receberá a coxa direita. Pois o peito oferecido em rito de apresentação e a coxa como parte reservada retirei-as Eu aos filhos de Israel, dos seus sacrifícios de comunhão, e destinei-as ao sacerdote Aarão e aos seus descendentes, como lei perpétua entre os filhos de Israel. Esta é a parte que cabe a Aarão e seus descendentes, nas ofertas queimadas em honra do Senhor, a partir do dia em que principiam a exercer o sacerdócio do Senhor. É o que o Senhor ordenou que os filhos de Israel dessem aos sacerdotes, desde o dia da unção, como lei perpétua, para todos os seus descendentes.’» Estas são as leis relativas ao holocausto, à oblação, ao sacrifício pelo pecado, ao sacrifício de reparação, de consagração dos sacerdotes e ao sacrifício de comunhão, conforme o Senhor prescreveu a Moisés, no monte Sinai, quando ordenou aos filhos de Israel que lhe apresentassem as suas ofertas no deserto do Sinai. O Senhor disse a Moisés: «Toma Aarão e seus filhos; toma também as vestes, o óleo de unção, o novilho para o sacrifício pelo pecado, os dois carneiros e o cesto de pães ázimos; convoca toda a assembleia para a entrada da tenda da reunião.» Moisés obedeceu ao que o Senhor ordenara: convocou a assembleia à entrada da tenda da reunião. Moisés disse, então, à assembleia: «Este é o cerimonial que o Senhor mandou cumprir.» Depois, mandou aproximar Aarão e filhos e lavou-os com água. Vestiu a Aarão a túnica sacerdotal, cingiu-o com o cinto e revestiu-o com o manto; colocou-lhe a insígnia votiva, e cingiu-o com o cíngulo da insígnia votiva. Colocou-lhe o peitoral, ao qual ajustou “os urim*” e “os tumim*”. Pôs-lhe a tiara na cabeça, e, na frente da tiara, fixou a flor de ouro, diadema sagrado, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Depois, Moisés tomou o óleo de unção, ungiu e consagrou a morada santa e tudo quanto ela encerrava. Aspergiu sete vezes o altar, ungiu-o a seguir com todos os seus utensílios, assim como a bacia e o seu suporte, a fim de os consagrar. Depois, derramou óleo da unção sobre a cabeça de Aarão e ungiu-o, para o consagrar. Moisés mandou aproximar os filhos de Aarão, revestiu-os com as túnicas e com os cintos e colocou-lhes as tiaras, como o Senhor lhe tinha ordenado. Mandou, a seguir, aproximar o novilho do sacrifício pelo pecado, e Aarão e os filhos impuseram as mãos sobre a cabeça do novilho. Moisés imolou-o, recolheu o sangue e, molhando nele o dedo, aplicou-o sobre as hastes do altar, a toda a volta, para o purificar; depois, derramou o resto do sangue na base do altar e consagrou-o, para se fazer sobre ele a expiação do pecado. Tomou toda a gordura das entranhas, a membrana do fígado, os dois rins com a sua gordura, e queimou tudo sobre o altar. Mas queimou fora do acampamento o novilho, a pele, a carne e os excrementos, como o Senhor lhe tinha ordenado. Mandou aproximar o carneiro do holocausto, e Aarão e os filhos impuseram-lhe as mãos sobre a cabeça. Moisés imolou-o e derramou o sangue em volta do altar. Cortou o carneiro nas porções devidas e queimou a cabeça, as várias partes e a gordura. Lavou com água as entranhas e as patas e queimou o carneiro todo sobre o altar. Foi um holocausto de odor agradável, uma oferta queimada em honra do Senhor como Ele tinha ordenado a Moisés. Mandou, em seguida, aproximar o segundo carneiro, o carneiro da consagração; Aarão e seus filhos impuseram-lhe as mãos sobre a cabeça. Moisés imolou-o, tomou um pouco de sangue e aplicou-o sobre o lóbulo da orelha direita de Aarão, sobre o polegar da mão direita e sobre o dedo grande do pé direito. Mandou, a seguir, aproximar os filhos de Aarão, e aplicou um pouco de sangue sobre o lóbulo da orelha direita, sobre o polegar da mão direita e sobre o dedo grande do pé direito de cada um deles, derramando o resto do sangue em volta do altar. Tomou as partes gordurosas, a cauda, toda a gordura das entranhas, a membrana do fígado, os dois rins com a sua gordura e a coxa direita. Tomou do cesto dos pães ázimos, que estava diante do Senhor, um bolo sem fermento, uma torta amassada com azeite e uma filhó, que juntou às gorduras e à coxa direita. Pôs tudo sobre as mãos de Aarão e de seus filhos, e agitou tudo diante do Senhor, em rito de apresentação. Depois, Moisés retirou isso das suas mãos e queimou tudo sobre o altar com o holocausto. Foi um sacrifício de consagração, de odor agradável, uma oferta queimada em honra do Senhor. Moisés tomou o peito do carneiro e fez com ele, diante do Senhor, o rito de apresentação. Esta parte do carneiro da consagração ficou a pertencer a Moisés, como o Senhor lhe tinha ordenado. Moisés tomou, então, óleo da unção e sangue que estava sobre o altar e aspergiu com eles Aarão, as suas vestes, assim como seus filhos e suas vestes; foi assim que ele consagrou Aarão e suas vestes, os filhos e também as suas vestes. Moisés disse-lhes: «Cozei a carne, à entrada da tenda da reunião; é ali que a deveis comer com o pão, que se encontra no cesto das ofertas da consagração, como ordenei quando disse: ‘Aarão e os seus filhos é que devem comer essa carne.’ O que restar da carne e do pão, queimá-lo-eis no fogo. Durante sete dias, não vos afastareis da tenda da reunião, até que se completem os dias da vossa consagração, a qual durará sete dias. Como se procedeu neste dia, o Senhor ordenou que se voltasse a proceder, a fim de fazer o rito da vossa purificação. Permanecereis, pois, sete dias à entrada da tenda da reunião, dia e noite, e cumprireis as ordens do Senhor, a fim de não morrerdes; porque assim me foi ordenado.» Aarão e seus filhos fizeram tudo quanto o Senhor lhes ordenara, por intermédio de Moisés. No oitavo dia, Moisés chamou Aarão e seus filhos, assim como os anciãos de Israel, e disse a Aarão: «Toma um novilho para o sacrifício pelo pecado, e um carneiro para o holocausto, ambos sem defeito, e apresenta-os diante do Senhor. E dirás aos filhos de Israel: ‘Tomai um bode para sacrifício pelo pecado, um novilho e um cordeiro de um ano, todos sem defeito, para o holocausto; um touro e um carneiro para o sacrifício de comunhão a fim de o sacrificardes diante do Senhor, e uma oblação de farinha amassada com azeite, porque o Senhor vai aparecer-vos hoje.’» Eles levaram para diante da tenda da reunião tudo o que Moisés ordenara; toda a assembleia se aproximou e manteve-se de pé diante do Senhor. Moisés disse: «Isto é o que o Senhor ordenou; ponde-o em prática, para que a glória do Senhor apareça.» Disse ainda a Aarão: «Aproxima-te do altar, oferece o teu sacrifício pelo pecado e o teu holocausto, e faz o rito de purificação em teu favor e em favor do povo; depois, apresenta a oferta do povo para expiar os seus pecados, como o Senhor ordenou.» Aarão aproximou-se do altar e imolou o novilho para expiação dos seus próprios pecados. Os seus filhos apresentaram-lhe o sangue e molhou nele o dedo, aplicando-o sobre as hastes do altar; e derramou o resto do sangue na base do altar. Depois, queimou sobre o altar a gordura, os rins e a membrana do fígado da vítima pelo pecado, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Queimou, porém, fora do acampamento, a carne e a pele. Imolou, seguidamente, a vítima do holocausto; os filhos de Aarão apresentaram-lhe o sangue, e ele derramou-o em volta do altar. Apresentaram-lhe a vítima do holocausto, peça por peça, e, depois, a cabeça; ele queimou tudo sobre o altar. Lavou as entranhas e as patas e queimou-as com o holocausto, sobre o altar. Apresentou, a seguir, a oferta do povo: tomou o bode que o povo tinha apresentado como sacrifício pelo pecado, imolou-o e ofereceu-o em expiação como tinha feito com a primeira vítima. Ofereceu também o holocausto, procedendo conforme a regra estabelecida. Juntou a isso a oblação de farinha, da qual retirou uma mão cheia, que queimou sobre o altar, independentemente do holocausto da manhã. Imolou depois o touro e o carneiro do sacrifício de comunhão oferecido pelo povo. Os filhos de Aarão apresentaram-lhe o sangue, com que ele aspergiu o altar a toda a volta. Depois, as gorduras do touro e do carneiro, a cauda, a gordura que envolve os rins e a membrana do fígado; todas as gorduras foram por eles colocadas sobre o peito dos animais e Aarão queimou tudo sobre o altar. Quanto ao peito e à coxa direita, Aarão agitou-os em rito de apresentação diante do Senhor, como Moisés ordenara. Estendendo as mãos sobre o povo, Aarão abençoou-os e desceu do altar, depois de ter oferecido o sacrifício pelo pecado, o holocausto e o sacrifício de comunhão. Moisés e Aarão entraram na tenda da reunião e, quando saíram, abençoaram o povo. E a glória do Senhor manifestou-se a todo o povo. Um fogo irrompeu da presença do Senhor, e consumiu o holocausto e as gorduras que estavam sobre o altar. Ao ver isto, todo o povo soltou gritos de alegria e prostrou-se com o rosto por terra. Os filhos de Aarão, Nadab e Abiú, tomando cada um o seu turíbulo, puseram neles fogo, e incenso por cima, e ofereceram ao Senhor um fogo profano, coisa que Ele não tinha ordenado. Irrompeu, então, da presença do Senhor, um fogo que os devorou e eles morreram diante do Senhor. Moisés disse a Aarão: «Foi isto mesmo que o Senhor anunciou quando disse: ‘Ao que está perto de mim mostro a minha santidade; e diante de todo o povo, mostro a minha glória.’» Aarão entoou uma lamentação. Moisés chamou Michael e Elsafan, filhos de Uziel, e disse-lhes: «Vinde, levai os vossos irmãos da frente do santuário, para fora do acampamento.» Eles avançaram e puxaram-nos pelas suas túnicas para fora do acampamento, como Moisés lhes dissera. Moisés disse a Aarão e a seus filhos, Eleázar e Itamar: «Não ponhais em desalinho os vossos cabelos nem rasgueis as vossas vestes, para não morrerdes e para que o Senhor não se irrite com toda a assembleia; aos vossos irmãos e a toda a casa de Israel, compete chorar aqueles que o Senhor fez morrer pelo fogo. Não vos afasteis da entrada da tenda da reunião, para não morrerdes; porque o óleo da unção do Senhor está sobre vós.» E eles procederam como Moisés tinha dito. O Senhor disse depois a Aarão: «Não beberás vinho nem bebidas alcoólicas, nem tu nem os teus filhos, quando tiverdes de entrar na tenda da reunião, para não morrerdes; é uma lei perpétua para os vossos descendentes, a fim de poderdes discernir entre o que é santo e o que é profano, entre o que é puro e o que é impuro, e ensinar aos filhos de Israel todas as leis que o Senhor lhes deu por intermédio de Moisés.» Moisés disse a Aarão e aos filhos que lhe restavam, Eleázar e Itamar: «Tomai a parte da oblação que sobejou das ofertas queimadas em honra do Senhor e comei-a sem fermento, ao lado do altar, porque é uma coisa santíssima. Comê-la-eis, num lugar santo; é o teu direito e o de teus filhos sobre as ofertas queimadas em honra do Senhor, porque assim me foi ordenado. Comereis num lugar puro, tu e os teus filhos e as tuas filhas, o peito que foi oferecido no rito de apresentação, e a coxa que te está reservada, porque são a parte destinada a ti e aos teus filhos sobre os sacrifícios de comunhão oferecidos pelos filhos de Israel. Juntarão a esta coxa de tributo e a este peito do rito de apresentação as gorduras destinadas ao fogo, a fim de serem também agitadas em rito de apresentação diante do Senhor, pertencer-te-ão a ti e aos teus filhos, como lei perpétua, conforme o Senhor ordenou.» Moisés quis saber o que era feito do bode do sacrifício pelo pecado, e averiguou que tinha sido queimado. Então, irritou-se com Eleázar e Itamar, os filhos de Aarão que ficaram vivos, e disse-lhes: «Porque não comestes a vítima da expiação pelo pecado no lugar santo, tratando-se de uma coisa santíssima? Ela foi-vos concedida para assumir as faltas da comunidade e para expiar o seu pecado diante do Senhor. Visto que o sangue desta vítima não foi introduzido no lugar santo, deveis comer a vítima no lugar santo, como vos ordenei.» Aarão respondeu-lhe: «Eles ofereceram hoje mesmo o seu sacrifício pelo pecado e o seu holocausto diante do Senhor, e o mesmo me aconteceu a mim. Se eu comesse hoje um sacrifício pelo pecado, porventura esse procedimento seria aceite de bom grado pelo Senhor?» Ao ouvir estas palavras, Moisés deu-se por satisfeito. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Falai assim aos filhos de Israel: Eis aqui os animais que podereis comer, de entre todos os quadrúpedes, que vivem sobre a terra: podereis comer todo o animal que tem unha de pé dividida em dois cascos e que rumina. Mas não comereis aqueles que só ruminam e não têm a unha dividida, ou só têm a unha dividida e não ruminam. A estes tê-los-eis por impuros, tal como o camelo que rumina, mas não tem a unha dividida. Igualmente, o coelho, que rumina, mas não tem a unha dividida: tê-lo-eis por impuro. A lebre, porque rumina, mas não tem a unha dividida, será impura, para vós. O porco, que tem a unha dividida, mas que não rumina, será impuro, para vós. Não comereis carne de nenhum deles nem tocareis em nenhum dos seus cadáveres: são impuros para vós. Entre os diversos animais aquáticos, eis os que podereis comer: podeis comer tudo o que, nas águas dos mares ou dos rios, tem barbatanas e escamas. Mas tudo o que não tem barbatanas nem escamas, nos mares ou nos rios, quer os répteis, quer os animais que vivem na água, e todos os seres vivos que nela se encontram são imundos para vós, e imundos continuarão a ser: não comais a carne e considerai os seus cadáveres como imundície. Todo o animal aquático que não tem barbatanas nem escamas será para vós imundo. De entre as aves, eis as que deveis considerar imundas e que não deveis comer, porque são abomináveis: a águia, o xofrango e o esmerilhão; o falcão e o abutre de qualquer espécie; toda a variedade de corvos; a avestruz, a andorinha, a gaivota e o gavião, de qualquer espécie; a coruja, o milhafre e o mocho; o corvo marinho; o pelicano e a cegonha, toda a variedade de garças, o faisão e o morcego. Todo o insecto voador que anda sobre quatro patas será para vós imundo. Mas, entre os insectos voadores que andam sobre quatro patas, podereis comer aqueles que têm além das patas, articulações para poderem saltar em terra. Podeis, então, comer os seguintes: toda a espécie de gafanhotos, de locustas, de saltões e de grilos. Qualquer outro insecto voador, de quatro patas será para vós considerado imundo. Eles tornar-vos-ão impuros; quem tocar nos seus cadáveres, ficará impuro até à tarde, e quem transportar o seu cadáver deve lavar as suas roupas e ficará impuro até à tarde. Todos os quadrúpedes que têm o casco não dividido, ou que não ruminam, esses são impuros para vós: quem neles tocar, ficará impuro. Todos aqueles que, de entre os quadrúpedes, caminham sem cascos nas patas, são impuros para vós; quem tocar nos seus cadáveres ficará impuro até à tarde, quem transportar os seus cadáveres deve lavar as suas roupas e ficar impuro até à tarde; são animais impuros para vós. Eis os animais que tereis por impuros de entre todos os que rastejam sobre a terra: a toupeira, o rato, o lagarto e todas as suas espécies; o ouriço-cacheiro, o crocodilo, a salamandra, a lagartixa e o camaleão. Entre todos os répteis, estes são impuros para vós; quem os tocar depois de mortos ficará impuro até à tarde. Todo o objecto sobre o qual cair qualquer animal destes, depois de morto, ficará impuro: utensílios de madeira, vestuário, peles, sacos e todo e qualquer objecto de uso, ficarão contaminados até à tarde. Por isso, devem ser lavados; só depois é que ficarão puros. Se cair algum destes animais no interior de algum vaso de barro, todo o seu conteúdo ficará impuro, e quebrareis o vaso. Todo o alimento que for tocado pela água desse vaso ficará impuro; toda a bebida por ela tocada, seja qual for o recipiente que a contenha, será impura. Todo o objecto sobre o qual cair alguma parte do seu cadáver ficará contaminado; ainda que seja um forno ou um fogão, serão destruídos; são impuros e impuros ficarão para vós. Contudo, uma fonte ou uma cisterna, contendo uma quantidade de água, permanecerá pura; mas quem tocar nos cadáveres ficará impuro. Se alguma parte dos seus cadáveres cair sobre o grão que se destina às sementeiras, a semente ficará pura. Mas, se o grão já foi molhado, e sobre ele cair algum destes cadáveres considerá-lo-eis impuro para vós. Se ocorrer a morte de um dos animais que vos é lícito comer, quem tocar no seu cadáver ficará impuro até à tarde. Aquele que comer essa carne morta deverá lavar as suas roupas e ficará impuro até à tarde; e aquele que a transportar deverá lavar as suas roupas e ficará impuro até à tarde. Todo o réptil que rasteja sobre a terra é coisa imunda; não poderá ser comido. Todo o animal que rasteja sobre o ventre, o que se move sobre as quatro patas, ou sobre um número maior de patas, não os comereis, porque são imundos. Não vos torneis vós mesmos imundos, por causa desses seres que rastejam; não vos contamineis com eles e não sejais contaminados por eles. Porque Eu sou o Senhor, vosso Deus, deveis santificar-vos e permanecer santos, porque Eu sou santo; e não vos torneis impuros por causa de todos esses répteis que rastejam sobre a terra. Porque Eu sou o Senhor que vos fez subir do Egipto, para ser o vosso Deus. Sede santos, porque Eu sou santo. Esta é a lei relativa aos quadrúpedes, às aves, a todos os seres vivos que se movem nas águas, e a todos aqueles que rastejam sobre a terra, a fim de que se distinga o que é impuro do que é puro, o animal que se pode comer daquele que se não deve comer.» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Diz aos filhos de Israel: ‘Quando uma mulher grávida der à luz uma criança do sexo masculino, ficará impura durante sete dias, tantos quantos os da sua impureza menstrual. No oitavo dia, proceder-se-á à circuncisão do prepúcio do filho. A mulher ficará ainda trinta e três dias para se purificar do sangue. Não tocará em coisa alguma consagrada e não entrará no lugar santo, até findar o tempo da sua purificação. Se der à luz uma filha, ficará impura durante duas semanas, como na sua impureza menstrual e permanecerá durante sessenta e seis dias para se purificar do sangue. Quando terminar o tempo da sua purificação, para um filho ou para uma filha, apresentará ao sacerdote, à entrada da tenda da reunião, um cordeiro de um ano, como holocausto e uma pomba ou uma rola, como sacrifício pelo pecado. O sacerdote oferecê-los-á ao Senhor, fará o rito da purificação por ela, e será purificada do fluxo do sangue. Esta é a lei relativa à mulher que dá à luz um filho ou uma filha. Se não tiver meios para oferecer um cordeiro, tomará duas rolas ou duas pombas, uma para o holocausto e outra para o sacrifício pelo pecado; o sacerdote fará a expiação por ela e será purificada.» O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Quando um homem tiver na pele do seu corpo um tumor, uma doença de pele ou uma mancha, podendo degenerar numa afecção leprosa sobre a pele, será apresentado ao sacerdote Aarão, ou a um dos sacerdotes seus descendentes. O sacerdote examinará a afecção da pele: se o pêlo que ali se encontra se tornou branco e se a chaga se apresenta mais funda que a pele do corpo, é uma chaga de lepra. Por isso, o sacerdote que o examinou declará-lo-á impuro. Se tiver na pele uma mancha branca, se a chaga não se apresenta mais funda que a pele ou se o pêlo não se tornou branco, o sacerdote isolará o enfermo durante sete dias. Depois, no sétimo dia, examiná-lo-á: se a chaga se apresentar estacionária e não se desenvolver sobre a pele, o sacerdote isolá-lo-á segunda vez, outros sete dias. No sétimo dia, examiná-lo-á novamente: se a chaga diminuiu e não se alargou sobre a pele, o sacerdote declará-lo-á puro, pois não passa de uma dermatose; o homem lavará as suas roupas e ficará puro. Mas se a doença de pele se alastrar sobre a pele, depois de se ter mostrado ao sacerdote e ter sido declarado puro, deve mostrar-se de novo ao sacerdote. O sacerdote, ao verificar que a doença alastrou sobre a pele, declará-lo-á impuro: é lepra. Quando um homem for atingido pela lepra, será levado ao sacerdote. Este o examinará: se tiver na pele um tumor branco, se esse tumor tiver embranquecido o pêlo e se aparecer no meio do tumor um pouco de carne viva, é uma lepra inveterada na pele do corpo; por isso, o sacerdote declará-lo-á impuro; não o isolará, porque está manifestamente impuro. Mas se a lepra continuar a alastrar sobre a pele e a cobrir desde a cabeça até aos pés, por toda a parte que o olhar do sacerdote atingir, este deve examiná-lo: se a lepra tomou todo o corpo, declarará o doente puro. Mas, quando ali se manifestar uma carne viva, será considerado impuro. Quando o sacerdote vir a carne viva, declará-lo-á impuro; a carne viva é coisa impura; há lepra. Contudo, se a carne viva se fizer branca, apresentar-se-á ao sacerdote. Ele o examinará e, verificando que a chaga se tornou branca, declarará-lo-á puro; ele está puro. Quando um homem tiver na pele do corpo uma úlcera que cicatrizou, mas, se no mesmo lugar se manifestar um tumor branco avermelhado, esse homem mostrar-se-á ao sacerdote para ser examinado. Este examinará e, verificando que o tumor se apresenta mais fundo do que a pele e que o pêlo se tornou branco, o sacerdote declarará esse homem impuro: é uma chaga de lepra que se desenvolveu sobre a úlcera. Mas, se o sacerdote verificar que o tumor não contém pêlo branco, que não está mais fundo do que a pele e que não está amortecido, isolará esse homem durante sete dias. Se, entretanto, alastrar sobre a pele, o sacerdote declará-lo-á impuro. É uma chaga de lepra. Mas se a mancha permanecer estacionária, sem se estender, é a cicatriz da úlcera, e o sacerdote considerá-lo-á puro. Quando uma pessoa tiver na pele do corpo uma queimadura, e a cicatriz da queimadura se transformar numa mancha branca ou branca-avermelhada, o sacerdote examiná-la-á. Se o pêlo se tornou branco no lugar da mancha e se ela parecer mais funda do que a pele, é lepra que se desenvolveu sobre a queimadura; por isso, o sacerdote, declarará impuro esse homem. É uma chaga de lepra. Mas se o sacerdote verificar que não existe pêlo branco na mancha, que ela não é mais funda do que a pele e que está amortecida, isolará esse homem durante sete dias. E no sétimo dia examiná-lo-á. Se a mancha alastrou, sobre a pele, o sacerdote declará-lo-á impuro, pois isso é uma chaga de lepra. Mas, se a mancha permanecer estacionária, sem se estender sobre a pele e permanecer amortecida, não passa da inflamação de uma queimadura. Quando um homem ou mulher tiver uma chaga na cabeça ou no queixo, o sacerdote, ao observar que esta chaga parece mais funda que a pele, e se aí encontrar pêlo amarelado e fraco, declarará a pessoa impura: é tinha, isto é, a lepra da cabeça ou do queixo. Mas, se o sacerdote verificar que a chaga da tinha não se apresenta mais funda do que a pele, e não tem pêlo preto, o sacerdote isolará o portador da chaga da tinha, durante sete dias. No sétimo dia, o sacerdote examinará a chaga: se a tinha não se desenvolveu, se nela não for encontrado nenhum pêlo amarelado, e se a tinha não parecer mais funda do que a pele, a pessoa rapar-se-á, mas não rapará a parte doente; depois, o sacerdote isolará essa pessoa pela segunda vez, durante sete dias. No sétimo dia, o sacerdote examinará a tinha: se não alastrou sobre a pele e não parecer mais funda do que a pele, o sacerdote declarará essa pessoa pura. Ela lavará as suas roupas e ficará pura. Mas se a tinha alastrar sobre a pele, depois desta declaração de pureza, o sacerdote verificará que a tinha alastrou sobre ela. Não tem que inquirir acerca do pêlo amarelado: a pessoa é impura. Mas se a tinha não se desenvolveu, se ali aparecer pêlo preto, a tinha está curada, e a pessoa está pura; por isso, o sacerdote declará-la-á pura. Se um homem ou uma mulher tem a pele do corpo semeada de manchas brancas, e o sacerdote, examinando-a, verificar sobre a pele manchas esbranquiçadas, é uma erupção simples que se desenvolveu sobre a pele: essa pessoa está pura. Se a cabeça de um homem perde cabelos, e ele se tornou calvo, está puro. Se a cabeça perder cabelos da parte da frente, é meio calvo, mas continua puro. Mas, se na parte posterior ou anterior da cabeça calva, aparecer uma chaga branca-avermelhada, é lepra que se desenvolve na calvície posterior ou anterior. Se o sacerdote, examinando-o, observar que a inflamação da chaga, sobre a parte posterior ou anterior da cabeça, é branca-avermelhada, revestindo-se do aspecto da lepra sobre a pele do corpo, essa pessoa é leprosa, é impura; o sacerdote declará-la-á impura; o mal atingiu-a na cabeça. E o leproso atingido por tal afecção deve rasgar as roupas, desalinhar o cabelo, tapar-se até à boca e gritar: ‘Impuro!... Impuro!’ Enquanto conservar a chaga, será impuro, viverá isolado, e a sua residência será fora do acampamento.» «Se for encontrada uma mancha de lepra, num pano de lã ou de linho, fio ou trama de linho ou de lã, numa pele ou qualquer trabalho em pele; se a parte atacada ficar esverdeada ou avermelhada, no pano, na pele, no fio, na trama ou em qualquer objecto feito de pele, é uma chaga de lepra, e terá de ser mostrada ao sacerdote. O sacerdote examinará a chaga e mandará encerrar o objecto durante sete dias. No sétimo dia examinará a chaga: se ela alastrou sobre o pano, o fio, a trama, a pele ou qualquer objecto de pele, a chaga é uma lepra corrosiva, esse objecto é impuro. Queimar-se-á o pano, o fio ou a trama, seja de lã ou de linho, e qualquer objecto feito de pele, que tiver sido atingida pela chaga: porque é uma lepra corrosiva, o objecto deve ser destruído pelo fogo. Mas, se o sacerdote reconheceu que a chaga não aumentou no pano, no tecido, na trama, ou no objecto feito de pele, mandará lavar a parte manchada; depois, encerrará o objecto outra vez durante sete dias. O sacerdote examinará a chaga, depois de ter sido lavada; se não mudou de aspecto nem aumentou, ela é impura: queimará o objecto no fogo, pois há corrosão do direito ou do avesso do pano. Mas se o sacerdote verificar que a chaga, depois de lavada, perdeu a cor, rasgará a parte do pano, da pele, do fio ou da trama. Mas, se a chaga reaparecer no pano, no fio, na trama, ou no objecto feito de pele, é porque a lepra está activa. Queimará no fogo o objecto atingido pela chaga. Mas o pano, o fio, a trama, ou o objecto feito de pele, que tiver lavado e do qual a chaga tiver desaparecido, será lavado uma segunda vez e ficará puro. Esta é a lei relativa à infecção da lepra, no pano de lã ou de linho, no fio, na trama, ou em qualquer objecto de pele, que for preciso declarar puros ou impuros.» O Senhor disse a Moisés: «Esta é a lei para o rito da purificação de um leproso: será apresentado ao sacerdote; este sairá do acampamento para o examinar. Se a chaga da lepra estiver curada, o sacerdote ordenará que se tome, por aquele que deve ser purificado, duas aves vivas e puras, madeira de cedro, um pano de púrpura e um ramo de hissope. O sacerdote mandará imolar uma das aves sobre um vaso de barro, cheio de água pura. Depois, tomará a ave viva, a madeira de cedro, o pano de púrpura e o ramo de hissope, mergulhando-os com a ave viva, no sangue da ave imolada, que se misturou com a água pura. Aspergirá sete vezes aquele que deve ser purificado da lepra e declará-lo-á puro; depois deixará partir em liberdade a ave viva. Aquele que for purificado lavará as suas vestes, rapará todo o pêlo, banhar-se-á e ficará puro. Poderá, então, regressar ao acampamento, mas ficará sete dias fora da sua tenda. No sétimo dia, rapará o pêlo de todo o corpo: os cabelos, a barba, as sobrancelhas e tudo o resto; lavará as suas vestes, banhará o corpo em água, e ficará puro. No oitavo dia, tomará dois cordeiros sem defeito, uma ovelha de um ano sem defeito, três décimos de efá de farinha amassada com azeite, como oblação, e meio litro de azeite. O sacerdote que faz a purificação apresentará o homem que se purifica, e todas estas ofertas, diante do Senhor, à entrada da tenda da reunião. Tomará um dos cordeiros e oferecê-lo-á como sacrifício de reparação, assim como o meio litro de azeite, e os apresentará ao Senhor com o rito da apresentação. Tomará depois o cordeiro no lugar onde se imolam as vítimas pelo pecado e o holocausto, no lugar santo, porque a vítima do sacrifício de reparação, como a do sacrifício pelo pecado, pertencem ao sacerdote; é uma coisa santíssima. O sacerdote tomará sangue do sacrifício de reparação, pô-lo-á sobre o lóbulo da orelha direita daquele que se purifica, sobre o polegar da mão direita e sobre o dedo grande do pé direito. Depois, o sacerdote tomará uma parte do meio litro de azeite e derramá-lo-á na palma da sua mão esquerda. Depois, molhará o indicador da mão direita no azeite que está na mão esquerda e fará com o indicador sete aspersões diante do Senhor. Do azeite que lhe ficar na palma da mão, o sacerdote porá uma parte sobre o lóbulo da orelha direita daquele que se purifica, sobre o polegar da mão direita e sobre o dedo grande do pé direito, por cima do sangue da vítima de reparação. O sacerdote porá o resto do azeite, que ainda lhe ficar na palma da mão, sobre a cabeça daquele que se purifica, e fará por ele o rito da purificação diante do Senhor. Então, o sacerdote oferecerá o sacrifício pelo pecado e fará o rito de purificação por aquele que se purifica da impureza; depois, oferecerá o holocausto. O sacerdote oferecerá este holocausto sobre o altar, juntamente com a oblação; fará, assim, o rito de purificação por ele e o homem ficará puro.» «Se o homem for pobre e os seus recursos insuficientes, tomará apenas um cordeiro, para o sacrifício de reparação e que será oferecido no rito da apresentação, para obter a purificação dos seus pecados; tomará também um décimo de efá de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, e meio litro de azeite. Levará ainda, conforme as suas posses, duas rolas ou dois pombos, um para o sacrifício pelo pecado e outro para o holocausto. No oitavo dia da sua purificação, apresentá-lo-á ao sacerdote, à entrada da tenda da reunião, diante do Senhor. O sacerdote tomará o cordeiro para o sacrifício de reparação e o meio litro de azeite, e fará com eles o rito de apresentação diante do Senhor. Depois de imolar o cordeiro do sacrifício de reparação, o sacerdote tomará um pouco do sangue da vítima e pô-lo-á sobre o lóbulo da orelha direita daquele que se purifica, sobre o polegar da mão direita e sobre o dedo grande do pé direito. O sacerdote derramará, então, uma parte do azeite na palma da sua mão esquerda; com o indicador da mão direita, fará sete aspersões diante do Senhor, com o azeite que tem na mão esquerda; depois porá um pouco do azeite, que está na sua mão, sobre o lóbulo da orelha direita daquele que se purifica, sobre o polegar da mão direita e sobre o dedo grande do pé direito, isto é, nos mesmos lugares em que pôs o sangue da vítima de reparação. Porá o resto do azeite que ficar na palma da sua mão, sobre a cabeça daquele que se purifica, a fim de obter para ele a purificação diante do Senhor. Oferecerá, depois, uma das rolas ou um dos pombos, conforme os recursos: um como sacrifício pelo pecado, outro como holocausto, além da oblação. E assim fará o sacerdote a purificação, diante do Senhor, por aquele que se purifica. Estas são as leis para a purificação daquele que teve uma chaga de lepra e que não tem mais posses para se purificar.» O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Quando entrardes na terra de Canaã, da qual vos darei posse, se Eu puser a lepra numa casa da terra que possuireis, o proprietário da casa irá ter com o sacerdote, dizendo-lhe: ‘Parece-me que na minha casa há uma mancha de lepra.’ O sacerdote, antes de entrar na casa para examinar a mancha, ordenará que a esvaziem, para que não fique contaminado tudo quanto nela se encontre; depois, o sacerdote entrará para inspeccionar a casa. Examinará a mancha e, se verificar que está nas paredes da casa e apresenta cavidades esverdeadas ou avermelhadas, mais fundas do que o nível da parede, o sacerdote sairá da casa e fechá-la-á por sete dias. Voltará ali, no sétimo dia e, se verificar que a mancha alastrou pelas paredes da casa, mandará arrancar as pedras atingidas e ordenará que as lancem fora da cidade, num lugar impuro. Depois, mandará raspar a casa por dentro, ao redor da mancha e lançar o pó que for raspado, fora da cidade, num lugar impuro. Colocar-se-ão outras pedras no lugar das primeiras, tomar-se-á outra argamassa e rebocar-se-á a casa. Se a mancha tornar a aparecer na casa, depois de se ter arrancado as pedras, raspado e rebocado a parede, o sacerdote voltará ali para a examinar. Se a mancha alastrar na casa, é uma lepra corrosiva, e a casa é impura. A casa deve ser demolida e as pedras, a madeira e toda a argamassa, serão levadas para fora da cidade, para um lugar impuro. Quem entrar na casa durante o tempo em que estiver fechada, ficará impuro até à tarde. Aquele que dormir na casa, lavará os seus vestidos, e aquele que nela comer também os lavará. Mas, se o sacerdote, ao voltar à casa, verificar que a mancha não alastrou, depois de a casa ter sido rebocada, declarará a casa pura, porque a mancha desapareceu. Para purificar a casa, tomará duas aves, madeira de cedro, um pano vermelho e um ramo de hissope. Imolará uma das aves sobre um vaso de barro, com água pura; tomará a madeira de cedro, o ramo de hissope, o pano vermelho e a ave viva, e molhá-los-á no sangue da ave degolada e na água pura, aspergindo a casa sete vezes. Purifica, assim, a casa com o sangue da ave, com a água pura, com a ave viva, com a madeira de cedro, com ramo de hissope e com o pano vermelho. Depois, deixará partir a ave viva em plena liberdade para fora da cidade; e fará assim a purificação pela casa, que ficará pura. Estas são as leis acerca de todas as manchas de lepra e de tinha, da lepra do vestuário e das casas, dos tumores, dos herpes e das manchas, a fim de distinguir quando uma coisa é impura e quando uma coisa é pura. Esta é a lei da lepra.» O Senhor falou a Moisés e a Aarão dizendo: «Falai aos filhos de Israel e dizei-lhes: ‘Quando o homem tiver um corrimento no seu corpo, é impuro. Este corrimento torna-o impuro. Eis a lei da impureza; se o seu corpo deixa correr o fluxo ou o retém, ele é impuro igualmente. Todo o leito em que se deitar e todo o móvel em que se sentar ficarão impuros. Quem tocar no seu leito deverá lavar as vestes, lavar-se-á em água e ficará impuro até à tarde; quem se sentar no lugar em que se sentou aquele que tem o fluxo, lavará as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Aquele que tocar no corpo do que tem o fluxo, lavará as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Se o que tem o fluxo cuspir sobre um homem puro, este lavará as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Toda a sela, em que cavalgar aquele que tem o fluxo, ficará impura. Quem tocar em algum objecto que estiver debaixo dela, ficará impuro até à tarde; e quem os transportar lavará os seus vestidos, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Todo aquele em quem tocar o que tem o fluxo, e não tiver ainda lavado as mãos em água, lavará as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Qualquer vaso de barro tocado pelo que tem o fluxo será quebrado; porém, todo o recipiente de madeira será lavado em água. Quando o que tem o fluxo estiver limpo do corrimento, contará sete dias, após o seu restabelecimento; depois, lavará as vestes, banhar-se-á em água corrente e ficará puro. No oitavo dia, tomará duas rolas ou dois pombos, apresentar-se-á diante do Senhor, à entrada da tenda da reunião, e entregá-los-á ao sacerdote. O sacerdote oferecerá um em sacrifício pelo pecado e outro em holocausto, e fará o rito da purificação do seu corrimento, diante do Senhor. O homem que tiver um derramamento de esperma lavará todo o seu corpo em água, e ficará impuro até à tarde. Todo o vestuário e toda a pele que forem atingidos pelo derramamento serão lavados em água, e ficarão impuros até à tarde. Se uma mulher coabitar com esse homem, banhar-se-ão os dois em água e ficarão impuros até à tarde.’» «Quando uma mulher tiver o fluxo de sangue que corre do seu corpo, permanecerá durante sete dias na sua impureza. Quem a tocar ficará impuro até à tarde. Todo o objecto sobre o qual ela se deitar, durante a sua impureza, ficará impuro; tudo aquilo em que se sentar, ficará impuro. Quem tocar no seu leito, deverá lavar as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quem tocar em qualquer objecto em que ela tenha estado sentada lavará as vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quem tocar nalguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre o móvel em que ela se sentou, ficará impuro até à tarde. Se um homem coabitar com ela e a sua impureza o atingir, ficará impuro durante sete dias, e todo o leito em que se deitar ficará impuro. Quando uma mulher tiver um fluxo de sangue durante vários dias, fora do tempo normal de impureza, isto é, se o fluxo se prolongar para além do tempo da sua impureza, ficará impura durante todo o tempo desse fluxo, como no tempo da sua impureza. Durante todo o tempo desse fluxo, todo o leito em que se deitar será para ela como o leito em que se deitava durante a sua impureza; qualquer móvel sobre o qual se sentar ficará impuro, como no tempo da sua impureza; quem os tocar ficará impuro; deverá lavar as suas vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde. Quando terminar o fluxo de sangue, contará sete dias e, depois, ficará pura. No oitavo dia, tomará duas rolas ou dois pombos, e levá-los-á ao sacerdote, à entrada da tenda da reunião. O sacerdote oferecerá um em sacrifício pelo pecado e outro em holocausto; e purificá-la-á da impureza do fluxo diante do Senhor. É assim que mantereis os israelitas afastados das suas impurezas, para que não morram por terem contaminado o meu tabernáculo, que está no meio deles.» Esta é a lei relativa ao que tiver um fluxo e ao que tiver um derramamento de esperma, que os tornam impuros; em relação à mulher durante o fluxo da impureza, ou seja, toda a pessoa, homem ou mulher, cujo fluxo se prolonga, e ao homem que coabita com uma mulher impura. O Senhor falou a Moisés, depois da morte dos dois filhos de Aarão, que morreram, por se terem aproximado do Senhor. Disse o Senhor a Moisés: «Avisa o teu irmão Aarão de que não pode entrar em qualquer altura no santuário, para além do véu, diante do propiciatório que está sobre a Arca, a fim de não morrer, quando Eu aparecer numa nuvem sobre o propiciatório. Eis como Aarão deve entrar no santuário: com um novilho para o sacrifício pelo pecado e um carneiro para o holocausto. Revestir-se-á de uma túnica de linho consagrada e cobrirá o corpo com calções de linho; cingir-se-á com um cinto de linho e cobrirá a cabeça com uma tiara de linho. É um vestuário sagrado, que só usará depois de se banhar em água. Por parte da assembleia dos filhos de Israel receberá dois bodes para o sacrifício pelo pecado e um carneiro para o holocausto. Aarão oferecerá o novilho em sacrifício pelo seu próprio pecado e fará o rito da purificação por si mesmo e pela sua casa. Tomará seguidamente os dois bodes e colocá-los-á diante do Senhor, à entrada da tenda da reunião. Aarão tirará à sorte os dois bodes: um para o Senhor e outro para Azazel. Aarão deverá oferecer ao Senhor o bode que a sorte designou para tal, apresentando-o em sacrifício pelo pecado; e o bode, que a sorte designou para Azazel, deverá ser apresentado vivo diante do Senhor, a fim de fazer sobre ele o rito da purificação e ser enviado a Azazel, no deserto. Aarão apresentará o novilho do sacrifício pelo seu próprio pecado, fará o rito da expiação por si e pela sua família e, depois, imolará o novilho em sacrifício pelo seu próprio pecado. Tomará depois o incensário cheio de brasas retiradas do altar que está diante do Senhor e dois punhados de incenso, em pó, levando tudo para além do véu. Deitará o incenso no fogo, diante do Senhor, para que a nuvem do perfume envolva o propiciatório, que está sobre o documento da aliança. Deste modo, não morrerá. Tomará, então, um pouco de sangue do novilho, aspergirá com o dedo o lado oriental do propiciatório; e fará com o dedo sete aspersões de sangue diante do propiciatório. Imolará, depois, o bode do sacrifício pelo pecado do povo, e levará o sangue para o santuário, para além do véu, fazendo com esse sangue o mesmo que fez com o sangue do novilho: aspergi-lo-á sobre o propiciatório e diante dele. Fará, assim, sobre o santuário o rito da purificação das impurezas dos filhos de Israel, das suas impiedades, de todos os seus pecados; procederá da mesma forma para a tenda da reunião, que está entre eles, no meio das suas impurezas. E que ninguém esteja na tenda da reunião, quando o Sumo Sacerdote entrar para fazer o rito da purificação no santuário, até que ele saia, depois de ter feito o rito da purificação por si mesmo, pela sua casa e por toda a assembleia de Israel. Depois, sairá em direcção ao altar, que está diante do Senhor, para fazer sobre ele o rito da purificação. Tomará sangue do novilho e do bode, espalhá-lo-á sobre as hastes do altar, a toda a volta. E fará com o dedo sete aspersões de sangue sobre o altar, purificando-o e santificando-o, assim, das impurezas dos filhos de Israel, a fim de o consagrar. Terminada a purificação do santuário, da tenda da reunião e do altar, apresentará o bode vivo. Aarão imporá as duas mãos sobre a cabeça do bode vivo e declarará sobre ele todas as iniquidades dos filhos de Israel, todas as suas impiedades e todos os seus pecados, fazendo-os assim cair sobre a cabeça do bode; depois, o enviará para o deserto, mediante um homem designado para isso. O bode levará sobre si todas as iniquidades deles, para uma região solitária e será abandonado nesse deserto. Aarão voltará a entrar na tenda da reunião, tirará as vestes de linho, de que se revestiu para entrar no santuário, e deixá-las-á ali. Banhará o corpo em água, num lugar santo, e tornará a revestir-se com as suas roupas; sairá, então, oferecerá o seu holocausto, o do povo, e fará o rito de purificação por si e pelo povo. E queimará sobre o altar a gordura das vítimas do sacrifício pelo pecado. Aquele que tiver levado o bode a Azazel, lavará as vestes, banhará o corpo em água, e só então entrará de novo no acampamento. O novilho e o bode de um sacrifício pelo pecado, cujo sangue tiver sido introduzido no santuário, para a purificação, serão levados para fora do acampamento, queimando-se-lhes a pele, a carne e os excrementos. Aquele que os tiver queimado, lavará as vestes, banhará o corpo em água e só então voltará a entrar no acampamento. Isto será para vós uma lei perpétua: no décimo dia do sétimo mês, jejuareis e não fareis trabalho algum, tanto os que são naturais da terra, como os estrangeiros que residirem no meio de vós. Porque, nesse dia, far-se-á por vós o rito da purificação, para serdes purificados; ficareis purificados de todos os vossos pecados diante do Senhor. Este será para vós um sábado, um sábado solene, durante o qual jejuareis: é uma lei perpétua. O rito de purificação será feito pelo sacerdote, pelo que tiver sido ungido e investido para exercer o sacerdócio em lugar de seu pai; revestirá as vestes de linho, o vestuário sagrado. E fará o rito da purificação pelo santuário consagrado, pela tenda da reunião e pelo altar, pelos sacerdotes e por todo o povo da assembleia. Que isto seja para vós uma lei perpétua, a fim de purificar, uma vez por ano, todos os pecados dos filhos de Israel.» E cumpriu-se tudo quanto o Senhor tinha ordenado a Moisés. O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão, aos seus filhos e a todos os filhos de Israel, e diz-lhes: ‘Isto é o que o Senhor me ordenou que dissesse: Qualquer homem da casa de Israel que matar um boi, um cordeiro ou uma cabra, no acampamento ou fora do acampamento, sem o ter levado à entrada da tenda da reunião, para o oferecer como dom ao Senhor, diante do seu tabernáculo, será acusado do sangue derramado; porque derramou sangue, será eliminado do meio do seu povo. Portanto, os filhos de Israel, que estão habituados a imolar as vítimas no campo, devem levá-las ao sacerdote, diante do Senhor, à entrada da tenda da reunião, e ofereçam-nas como sacrifício de comunhão em honra do Senhor. O sacerdote aspergirá o sangue sobre o altar do Senhor, à entrada da tenda da reunião, e queimará a gordura como odor agradável ao Senhor, e nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos sátiros, aos quais prestam culto. Que isso seja para eles uma lei perpétua, de geração em geração’. Dir-lhes-ás ainda: ‘Qualquer homem, da casa de Israel, ou qualquer estrangeiro residente no meio deles que oferecer um holocausto ou outro sacrifício, e não apresentar a vítima à entrada da tenda da reunião, para a oferecer ao Senhor, tal homem será eliminado do seu povo.’» «Se qualquer homem da casa de Israel, ou qualquer estrangeiro residente no meio deles, comer qualquer espécie de sangue, voltar-me-ei contra esse que come sangue e eliminá-lo-ei do seu povo. Porque o sangue é a vida do corpo, Eu vo-lo concedo, a fim de vos servir de purificação sobre o altar, pois o sangue é que faz expiação porque é vida. Por isso, disse aos filhos de Israel: Nenhum de vós comerá sangue, e o estrangeiro residente no meio de vós também não comerá sangue. Qualquer dos filhos de Israel, ou dos estrangeiros residentes no meio de vós, que caçar um animal selvagem ou uma ave própria para comer, derramará o seu sangue e cobri-lo-á com terra. Porque a vida do corpo está no seu sangue, no seu espírito vital, por isso, Eu disse aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma criatura, porque a sua vida é o seu sangue; quem o comer, será eliminado. Todo aquele, nascido no país ou no estrangeiro, que comer um animal morto ou despedaçado, lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e ficará impuro até à tarde; depois ficará puro. Mas, se não lavar as vestes e banhar o corpo, suportará o peso da sua culpa.» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Eu sou o Senhor, vosso Deus. Não imitareis os costumes do Egipto, onde vivestes, não procedereis como se faz na terra de Canaã, para onde vos conduzo, não ponhais em prática os seus costumes. Praticareis os meus preceitos, observareis os meus decretos e obedecer-lhes-eis: Eu sou o Senhor, vosso Deus. Observareis os meus decretos e os meus preceitos, porque o homem que os observar viverá por eles. Eu sou o Senhor. Nenhum de vós se aproximará de uma parente próxima, para lhe descobrir a nudez. Eu sou o Senhor. Não descobrirás a nudez do teu pai, nem da tua mãe. Ela é a tua mãe; não lhe descobrirás a nudez. Não descobrirás a nudez de uma mulher do teu pai; é a própria nudez do teu pai. Não descobrirás a nudez da tua irmã, seja ela filha do teu pai ou filha da tua mãe, que tenha nascido em casa ou fora de casa. Não descobrirás a nudez da filha do teu filho ou da filha da tua filha. É a tua própria nudez. Não descobrirás a nudez da filha de uma mulher do teu pai, porque nasceu do teu pai. É tua irmã. Não descobrirás a nudez da irmã do teu pai; é a mesma carne do teu pai. Não descobrirás a nudez da irmã da tua mãe, porque ela é da mesma carne da tua mãe. Não descobrirás a nudez do irmão do teu pai, ao aproximar-te da sua mulher, porque ela é tua tia. Não descobrirás a nudez da tua nora; porque é mulher do teu filho, não descobrirás a sua nudez. Não descobrirás a nudez da mulher do teu irmão: é a nudez do teu próprio irmão. Não descobrirás a nudez de uma mulher e de sua filha; também não tomarás a filha do seu filho, nem a filha da sua filha, para lhe descobrir a nudez; são da mesma carne que ela, e isso é um crime. Não tomarás por esposa uma mulher juntamente com a sua irmã. Isso é criar uma rivalidade, descobrindo a nudez de uma juntamente com a da outra, enquanto for viva. Não te aproximarás de uma mulher durante o período da sua impureza, para descobrir a sua nudez. Não coabitarás com a mulher do teu concidadão; ficarias impuro. Não entregarás nenhum dos teus filhos para serem sacrificados a Moloc, a fim de não profanares o nome do teu Deus. Eu sou o Senhor. Não coabitarás sexualmente com um varão; é uma abominação. Não te juntarás com animal, porque ficarias impuro com ele, e nenhuma mulher se juntará a animal algum, porque é uma depravação. Não vos torneis impuros com nenhuma dessas práticas, porque foi assim que se tornaram impuras as nações, que vou expulsar diante de vós. O país está contaminado e Eu castigarei as suas iniquidades. Por isso, o país vomitará os seus habitantes. Quanto a vós, cumprireis os meus decretos e os meus preceitos, e não cometereis nenhuma dessas abominações, quer o natural da terra, quer o estrangeiro residente no meio de vós. Porque os homens que vos precederam nesta terra cometeram todas essas abominações, é que o país ficou impuro. Que esta terra não vos tenha que vomitar por a terdes tornado impura, como vomitou o povo que a habitava antes de vós. Porque todos os que cometeram alguma dessas abominações serão eliminados do meio do seu povo. Guardai, pois, os meus mandamentos, não imitando nenhum dos costumes abomináveis que se praticavam antes de vós. Não vos contamineis com eles. Eu sou o Senhor, vosso Deus.’» O Senhor disse a Moisés: «Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Sede santos, porque Eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Que cada um de vós respeite a sua mãe, o seu pai, e guarde os meus sábados. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Não vos volteis para os ídolos e não façais para vós deuses de metal. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Quando oferecerdes ao Senhor um sacrifício de comunhão, oferecê-lo-eis de maneira que sejais aceites. A vítima deve ser comida no próprio dia do sacrifício ou no dia seguinte; o que sobejar, até ao terceiro dia, será queimado no fogo. Mas se alguém o comer no terceiro dia, será carne corrompida e não será aceite. Quem o comer suportará o peso da sua iniquidade, porque profanou o que foi consagrado ao Senhor, e será eliminado do seu povo. Quando procederdes à ceifa das vossas terras, não ceifareis as espigas até à extremidade do campo, e não apanhareis as espigas caídas. Não rebuscarás também a tua vinha, e não apanharás os bagos caídos. Deixá-los-ás para o pobre e para o estrangeiro. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Não furtareis, não mentireis, nem enganareis em detrimento de um compatriota. Não jurareis falso, em meu nome; desse modo profanareis o nome do vosso Deus. Eu sou o Senhor. Não roubarás nem furtarás nada ao teu próximo; o salário do jornaleiro não passará a noite em teu poder até à manhã seguinte. Não insultarás um surdo, não colocarás tropeços diante de um cego. Teme o teu Deus. Eu sou o Senhor. Não cometerás injustiças nos julgamentos. Não prejudicarás o pobre, nem serás complacente para com o poderoso. Julgarás o teu compatriota com imparcialidade. Não semearás o mal no meio do teu povo. Não peças o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor. Não odiarás o teu próximo no teu coração; mas repreende o teu compatriota para não caíres em pecado por causa dele. Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor. Guardarás os meus decretos. Não juntarás animais de espécies diferentes; não semearás no teu campo duas espécies de sementes; e não vestirás roupa com tecidos diferentes. Se um homem dormir com uma mulher, que é escrava, destinada a outro homem, mas não resgatada nem libertada, haverá uma indemnização, mas não serão condenados à morte, porque ela não era livre. Como sacrifício de reparação, o homem levará ao Senhor, à entrada da tenda da reunião, um carneiro. Com esse sacrifício, o sacerdote fará por esse homem o rito de purificação, diante do Senhor; e o pecado que ele cometeu ser-lhe-á perdoado. Quando entrardes na Terra Prometida e plantardes qualquer árvore frutífera, considerareis os frutos como impuros; durante três anos serão para vós impuros. Portanto, não os comereis. No quarto ano, todos os seus frutos serão consagrados ao Senhor numa festa de louvor; no quinto ano, podereis comer os seus frutos. Assim, aumentarão as vossas colheitas. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Não comereis nada que contenha sangue. Não praticareis a adivinhação nem a magia. Não arredondareis as extremidades do cabelo e não rapareis os cantos da barba. ‘Não fareis incisões no vosso corpo por um morto, nem tatuagens na pele. Eu sou o Senhor. Não desonres a tua filha, prostituindo-a, para que a terra não se entregue à prostituição e não seja invadida pela devassidão. Guardareis os meus sábados e respeitareis o meu santuário. Eu sou o Senhor Não vos volteis para os espíritos dos mortos nem consulteis os adivinhos. Não vos contamineis com isso. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Levanta-te perante uma cabeça branca e honra a pessoa do ancião. Teme o teu Deus. Eu sou o Senhor. Se um estrangeiro vier residir contigo na tua terra, não o oprimirás. O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque fostes estrangeiros na terra do Egipto. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Não cometereis injustiças nos julgamentos, nas medidas de comprimento, de peso e de capacidade. Tereis balanças exactas, pesos exactos, um efá exacto e um hin exacto. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos fiz sair da terra do Egipto. Guardareis todos os meus decretos e todos os meus preceitos, e cumpri-los-eis. Eu sou o Senhor.’» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Dirás aos filhos de Israel: ‘Todo o israelita ou estrangeiro, residente em Israel, que sacrificar o seu filho a Moloc, será punido com a morte. Será apedrejado pelo povo da sua terra. Voltarei o meu rosto contra esse homem e suprimi-lo-ei do meio do meu povo, porque deu um filho a Moloc, contaminando o meu santuário e profanando o meu santo nome. E se o povo da terra dele fechar os olhos a respeito desse homem que tiver oferecido um dos seus filhos a Moloc, e não lhe der a morte, Eu voltarei o meu rosto contra esse homem e contra a sua família, suprimi-lo-ei do meio do povo com todos os que, juntamente com ele, tiverem prestado culto a Moloc. Se alguém se voltar para os espíritos dos mortos e adivinhos, entregando-se a essas práticas, voltarei o meu rosto contra esse homem e suprimi-lo-ei do meio do seu povo. Santificai-vos e sede santos, porque Eu sou o Senhor, vosso Deus. Guardai os meus decretos e cumpri-os. Eu sou o Senhor que vos santifica. Todo aquele que amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe será punido com a morte. Amaldiçoou o seu pai ou a sua mãe, o seu sangue cairá sobre ele. Se um homem cometer adultério com a mulher do seu próximo, o homem adúltero e a mulher adúltera serão punidos com a morte. Se um homem se deitar com a mulher do seu pai, descobriu assim a nudez do seu pai; serão ambos punidos com a morte; o seu sangue cairá sobre eles. Se um homem se deitar com a sua nora, serão ambos punidos com a morte; cometeram uma depravação; o seu sangue cairá sobre eles. Se um homem coabitar sexualmente com um varão, cometeram ambos um acto abominável; serão os dois punidos com a morte; o seu sangue cairá sobre eles. Aquele que desposar uma mulher e a mãe dela, comete uma devassidão; serão queimados, ele e elas, para que não haja desonestidades entre vós. Se um homem se juntar com um animal, ele será punido com a morte, e matareis o animal. Se uma mulher se aproximar de um animal para se juntar com ele, matá-la-ás, assim como ao animal; serão condenados à morte; o seu sangue cairá sobre eles. Se um homem desposar a sua irmã, filha do seu pai ou filha da sua mãe, e se vir a sua nudez, ou ela vir a nudez dele, isso é vergonhoso e serão exterminados na presença dos seus concidadãos; como ele descobriu a nudez da sua irmã, suportará o peso da sua culpa. Se um homem coabitar com uma mulher durante o período menstrual, ao descobrir a sua nudez, descobre o seu fluxo e ela mesma descobre a fonte do seu sangue. Serão ambos eliminados do meio do povo. Não descobrirás a nudez da irmã da tua mãe, nem da do teu pai, porque é descobrir a nudez da carne dele; suportarão o peso da sua iniquidade. Aquele que coabitar com a sua tia, descobriu a nudez do tio; suportarão o seu pecado e morrerão sem filhos. Se um homem tomar a mulher do irmão, isso é uma impureza; porque descobriu a nudez do seu irmão, morrerão sem filhos. Guardareis os meus decretos e todos os meus preceitos e cumpri-los-eis, a fim de que a terra para onde vos levo para nela habitardes vos não rejeite. Não seguireis os costumes dos povos que vou expulsar diante de vós; porque fizeram todas estas coisas. Eu abominei-os. Eu disse-vos: Possuireis esta terra, dar-vos-ei a sua posse; é uma terra onde corre o leite e o mel. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei de entre os povos. Distinguireis os animais puros dos impuros e as aves impuras das puras; não vos contaminareis com os animais, as aves e os diversos répteis da terra, que vos ensinei a distinguir, declarando-os impuros. Sede santos para mim, porque Eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos para serdes o meu povo. O homem ou a mulher que se entregar à evocação dos espíritos ou adivinhações, será condenado à morte; serão apedrejados. O seu sangue cairá sobre eles.’» O Senhor disse a Moisés: «Fala aos sacerdotes, filhos de Aarão, e diz-lhes: ‘Nenhum sacerdote se torne impuro, aproximando-se do cadáver de um parente, a não ser dos parentes mais próximos: mãe ou pai, filho ou filha e irmão; quanto à sua irmã, se ela ainda é virgem, vivendo com ele e não tendo casado: por causa dela, pode tornar-se impuro. Não se contaminará o que é chefe entre os seus, porque não se deve desonrar. Os sacerdotes não farão a tonsura na cabeça, não raparão os cantos da barba e não farão incisões no corpo. Serão consagrados ao seu Deus, cujo nome não profanarão, pois são eles que apresentam as ofertas queimadas e o pão do Senhor. Por isso, serão santos. Não tomarão por esposa uma mulher prostituta ou desonrada, nem uma mulher repudiada pelo marido, porque o sacerdote é consagrado ao seu Deus. Considera-o santo, pois ele é que oferece o pão do teu Deus. Será santo para ti, porque Eu, o Senhor que vos santifica, sou santo. Se a filha de um sacerdote se desonrar pela prostituição, desonra seu pai. Será queimada no fogo.’» «Aquele que é Sumo Sacerdote dentre os seus irmãos, sobre cuja cabeça foi derramado o óleo da unção, e que recebeu a investidura, para revestir as vestes sagradas, não desgrenhará os cabelos da sua cabeça e não rasgará as vestes. Não se aproximará de nenhum morto para não se contaminar, mesmo que se trate de seu pai ou de sua mãe; não sairá do santuário, a fim de não profanar o santuário do seu Deus, porque o óleo da unção do seu Deus está sobre ele. Eu sou o Senhor. Tomará para esposa uma virgem. Não casará com uma viúva, com uma mulher repudiada ou desonrada pela prostituição. Só poderá tomar por mulher uma virgem do seu povo. Assim, não desonrará a sua descendência no meio do seu povo. Eu sou o Senhor que o consagrei.» O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão, dizendo: ‘Nas gerações futuras, nenhum dos teus descendentes, se sofrer de alguma deficiência, poderá oferecer o pão do seu Deus. Todo aquele que tiver alguma deformidade não poderá apresentar as ofertas: um cego ou coxo, um desfigurado ou deformado; um aleijado dos pés ou das mãos; um corcunda ou um anão, aquele que tiver uma névoa no olho ou sarna, uma impigem ou testículos lesionados. Homem algum dos descendentes do sacerdote Aarão que tiver alguma deficiência se apresentará para oferecer ofertas queimadas em honra do Senhor. Atingido por alguma deficiência, não pode apresentar-se para oferecer o pão do seu Deus. Poderá comer o pão do seu Deus proveniente tanto das ofertas usuais como das mais sagradas; mas não deve ultrapassar o véu nem aproximar-se do altar, para não profanar, com a sua deficiência, o meu santuário, porque Eu sou o Senhor que os santifica.’» E Moisés repetiu isto a Aarão, aos seus filhos e a todos os filhos de Israel. O Senhor disse a Moisés: «Diz a Aarão e aos seus filhos que venerem as coisas sagradas que os filhos de Israel me consagraram, a fim de não profanarem o meu santo nome. Eu sou o Senhor. Diz-lhes que, de futuro, todo o homem da vossa descendência que se aproximar das oferendas santas, consagradas ao Senhor pelos filhos de Israel, encontrando-se impuro esse homem, será eliminado da minha presença. Eu sou o Senhor. Nenhum homem da descendência de Aarão atingido pela lepra ou sofrendo de fluxo comerá oferendas santas até estar limpo. O mesmo acontecerá àquele que tocar em alguém contaminado por um cadáver, àquele que tiver um derramamento de esperma, àquele que tocar num animal qualquer que o torne impuro, àquele que tocar num homem que lhe transmita uma impureza, seja ela qual for. Quem tocar nestas coisas ficará impuro até à tarde, e não comerá das oferendas santas, sem ter lavado o corpo em água. Depois do pôr-do-sol, ficará puro; poderá, então, comer das oferendas santas, porque são o seu alimento. Não comerá um animal morto ou dilacerado, para não ficar impuro. Eu sou o Senhor. Observarão as minhas leis, para que não incorram em pecado e morram, por causa disso. Eu sou o Senhor que os santifica. Nenhum estranho à família do sacerdote comerá de uma oferta sagrada; nem o hóspede de um sacerdote nem o assalariado poderá comer uma oferenda sagrada. Mas uma pessoa adquirida a dinheiro pelo sacerdote podê-la-á comer; e também os nascidos em casa do sacerdote comerão do seu alimento. Se a filha de um sacerdote for casada com um estranho à família, não comerá das oferendas sagradas. Mas, se a filha do sacerdote enviuvar ou for repudiada e não tiver filhos, e voltar para casa do pai, como no tempo da juventude, nesse caso, poderá comer do alimento do seu pai; nenhum estranho, porém, o poderá comer. Se alguém, inadvertidamente, comer uma oferenda sagrada, restituirá ao sacerdote o seu valor, acrescido de um quinto. Os sacerdotes não deixarão profanar as oferendas santas que os filhos de Israel oferecem ao Senhor, para que não sofram o castigo da sua culpa, por terem comido as oferendas sagradas; porque Eu sou o Senhor que as santifica.» O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão, aos seus filhos e a todos os filhos de Israel, e diz-lhes: ‘Qualquer israelita ou qualquer estrangeiro que habite em Israel, que quiser apresentar a sua oferenda, em cumprimento de um voto ou como dom voluntário, se a oferecer ao Senhor em holocausto, deverá, para ser aceite, apresentar um macho sem defeito, escolhido entre os bois, as ovelhas, ou as cabras. Não oferecereis nenhum animal que tenha um defeito, porque não será aceite em vosso favor. Quando alguém quiser oferecer ao Senhor um sacrifício de comunhão, quer em cumprimento de um voto, quer como dom voluntário, a vítima, tomada do gado graúdo ou miúdo, para ser aceite, deve ser perfeita, e não ter qualquer defeito. Não oferecereis ao Senhor um animal cego, aleijado, mutilado, que tenha verrugas, sarna ou gangrena e não o queimareis sobre o altar, como oferta queimada, em honra do Senhor. Poderás apresentar, como dom voluntário, um boi ou um cordeiro com um membro comprido ou curto demais; mas essa vítima não será aceite para o cumprimento do voto. Não oferecereis ao Senhor um animal com os testículos pisados, lesionados, arrancados ou cortados. Não façais isso na vossa terra. Nem mesmo de um estrangeiro aceitareis nenhum desses animais para oferecer como alimento do vosso Deus; pois não seriam aceites em vosso favor, por estarem mutilados e por serem defeituosos.’» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Quando nascer um novilho, um cordeiro ou um cabrito deverá ficar sete dias com a mãe; somente a partir do oitavo dia estará em condições de ser oferecido validamente ao Senhor, como oferta queimada. Não matareis um animal juntamente com o seu filho, no mesmo dia, quer seja boi ou carneiro. Quando oferecerdes ao Senhor um sacrifício de acção de graças, oferecei-o de maneira a ser aceite em vosso favor: a vítima deverá ser comida no mesmo dia, e não deixareis nada para o dia seguinte. Eu sou o Senhor. Guardai os meus mandamentos e ponde-os em prática. Eu sou o Senhor. Não profaneis o meu santo nome, para que Eu seja santificado entre os filhos de Israel. Eu sou o Senhor que vos santifica, que vos fez sair da terra do Egipto, para ser vosso Deus. Eu sou o Senhor.» O Senhor falou assim a Moisés, dizendo: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘As festas do Senhor são aquelas nas quais convocareis assembleias sagradas. Eis aqui as minhas festas: trabalhar-se-á durante seis dias, mas o sétimo é dia de repouso absoluto, com reunião sagrada; não fareis trabalho algum. Será o sábado em honra do Senhor, em qualquer lugar onde habitardes. Eis aqui as festas do Senhor, as assembleias sagradas que proclamareis na devida data. No décimo quarto dia do primeiro mês, ao crepúsculo, é a Páscoa do Senhor. E no décimo quinto dia desse mês, terá lugar a festa do Pão Ázimo em honra do Senhor; durante sete dias comereis pão sem fermento. No primeiro dia, fareis uma assembleia sagrada. Não fareis nenhum trabalho servil. Oferecereis ao Senhor uma oferta queimada em cada um dos sete dias. No sétimo dia, haverá uma assembleia sagrada. Não fareis nenhum trabalho servil.’» O Senhor falou assim a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Quando chegardes à terra que vos concedo, e procederdes à ceifa, levareis ao sacerdote o primeiro molho da vossa colheita, e ele fará o ritual de apresentação diante do Senhor, para que vos seja aceite; o sacerdote fará essa apresentação no dia seguinte ao sábado. No dia em que o molho for apresentado, oferecereis um cordeiro de um ano, sem defeito, em holocausto ao Senhor, com uma oblação de dois décimos de efá de flor de farinha amassada em azeite. É uma oferta queimada em honra do Senhor como odor agradável; e com uma libação de um quarto de hin de vinho. Não comereis pão, nem grão torrado, nem espigas frescas, até esse mesmo dia em que tiverdes trazido a oferta do vosso Deus; é uma lei perpétua para os vossos descendentes, em qualquer lugar em que habitardes.’» «Depois, contareis sete semanas completas, a partir do dia seguinte ao do sábado, isto é, do dia em que tiverdes feito o rito da apresentação do molho de espigas. Contareis até ao dia seguinte da sétima semana, isto é, cinquenta dias, e oferecereis ao Senhor uma nova oblação. Trareis de onde quer que habiteis dois pães, feitos dos décimos de efá de flor de farinha, cozidos com fermento, para o rito da apresentação; serão as primícias para o Senhor. Juntamente com os pães, oferecereis sete cordeiros de um ano, sem defeito, um novilho e dois carneiros; serão um holocausto ao Senhor, com as suas oblações e as suas libações, como oferta queimada de odor agradável ao Senhor. Oferecereis também um bode em reparação pelo pecado, e dois cordeiros de um ano como sacrifício de comunhão. O sacerdote apresentá-los-á, junto com o pão das primícias, diante do Senhor, no rito de apresentação, assim como dois cordeiros; serão consagrados ao Senhor, em benefício do sacerdote. Proclamareis nesse mesmo dia uma assembleia sagrada e não fareis nenhum trabalho servil; é uma lei perpétua para todos os vossos descendentes onde quer que habitem. Quando procederdes à ceifa na vossa terra, não ceifareis completamente a extremidade do vosso campo e não apanhareis as espigas caídas. Deixai-as para o pobre e para o estrangeiro. Eu sou o Senhor, vosso Deus.» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Diz aos filhos de Israel: No primeiro dia do sétimo mês, fareis um descanso solene, celebrado ao som da trombeta, um dia de recordação e de aclamação com uma assembleia sagrada. Não fareis nenhum trabalho servil, e oferecereis uma oferta queimada ao Senhor.» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «No décimo dia deste sétimo mês, que é o dia do perdão, fareis uma assembleia sagrada; fareis penitência, e apresentareis uma oferta queimada em honra do Senhor. Não fareis nenhum trabalho nesse mesmo dia, porque é um dia de perdão, para se fazer sobre vós o rito da purificação diante do Senhor, vosso Deus. E todo aquele que não fizer penitência nesse mesmo dia, Eu o farei desaparecer do meio do seu povo. E todo aquele que fizer qualquer trabalho nesse mesmo dia, Eu o farei desaparecer do meio do seu povo. Não fareis, então, trabalho algum: é uma lei perpétua para os vossos descendentes, onde quer que habiteis. Este dia é para vós um dia de descanso absoluto, durante o qual jejuareis; a partir do nono dia do mês, de uma a outra tarde, observareis o vosso descanso sabático.» O Senhor falou a Moisés nestes termos: «Fala assim aos filhos de Israel: ‘No décimo quinto dia deste sétimo mês, celebrar-se-á a festa das Tendas, em honra do Senhor, durante sete dias. No primeiro dia haverá uma assembleia sagrada, não fareis nenhum trabalho servil. Em cada um dos sete dias, apresentareis uma oferta queimada ao Senhor. No oitavo dia, fareis ainda uma assembleia sagrada e apresentareis uma oferta queimada ao Senhor, é uma reunião festiva e não fareis nenhum trabalho servil.’» «São estas as festas em honra do Senhor, em que deveis convocar assembleias sagradas, apresentando uma oferta queimada ao Senhor, um holocausto e uma oblação, sacrifícios e libações, segundo o ritual de cada dia, independentemente dos sábados do Senhor, dos vossos dons e de todas as vossas ofertas votivas ou espontâneas que apresentareis ao Senhor. Além disso, no décimo quinto dia do sétimo mês, quando tiverdes recolhido os produtos da terra, fareis uma festa de peregrinação ao Senhor, que durará sete dias; o primeiro dia será de descanso absoluto, assim como o oitavo dia. No primeiro dia, apanhareis belos frutos, ramos de palmeira, ramos de árvores frondosas e dos salgueiros do rio; e regozijar-vos-eis na presença do Senhor, vosso Deus, durante sete dias. Celebrareis esta festa de peregrinação em honra do Senhor, durante sete dias cada ano. Será uma lei perpétua para os vossos descendentes; fareis esta peregrinação no sétimo mês. Habitareis nas tendas durante sete dias; todos os que nasceram em Israel deverão habitar em tendas, para que os vossos descendentes saibam que fiz habitar em tendas os filhos de Israel, quando os fiz sair da terra do Egipto. Eu, o Senhor, vosso Deus.’» Foi assim que Moisés deu a conhecer aos filhos de Israel as festas em honra do Senhor. O Senhor disse a Moisés: «Ordena aos filhos de Israel que te tragam azeite puro, de azeitonas trituradas, para o candelabro, a fim de que a lâmpada esteja permanentemente acesa. Aarão colocá-lo-á do lado de fora do véu que encobre o documento da aliança, na tenda da reunião, a fim de arderem ininterruptamente, desde a tarde até de manhã, diante do Senhor. É uma lei perpétua para os vossos descendentes. É sobre o candelabro de oiro puro que ele colocará as lâmpadas que ardem continuamente diante do Senhor.» «Tomarás também flor de farinha e cozerás doze pães de dois décimos de efá cada um. Dispô-los-ás em duas rimas, seis em cada rima, sobre a mesa de ouro puro, diante do Senhor. Porás, sobre cada rima, incenso puro que servirá de memorial aos pães, como oferta queimada em honra do Senhor. Colocar-se-ão estes pães diante do Senhor, continuamente, cada dia de sábado, da parte dos filhos de Israel. É uma aliança perpétua. Pertencerá este pão a Aarão e a seus filhos, que o comerão em lugar santo, porque é a parte mais sagrada das ofertas queimadas em honra do Senhor, que lhes é destinada. É uma lei perpétua.» Havia no acampamento um filho de uma mulher israelita e de um egípcio, que vivia com os filhos de Israel; um dia, levantou-se uma questão entre este filho de uma mulher israelita e um homem de Israel. O filho da mulher israelita blasfemou e insultou o nome de Deus, pelo que o levaram à presença de Moisés. Sua mãe chamava-se Chelomite, filha de Dibri, da tribo de Dan. Colocaram-no na prisão, até que se lhes declarasse da parte do Senhor o que se deveria fazer. O Senhor falou assim a Moisés: «Faz sair o blasfemo para fora do acampamento: todos os que o ouviram imponham as mãos sobre a sua cabeça, e que toda a comunidade o apedreje. Fala aos filhos de Israel nestes termos: ‘Todo aquele que profere uma blasfémia contra o seu Deus, suportará o peso do seu pecado. Aquele que proferir blasfémias contra o nome do Senhor, será punido com a morte e toda a comunidade o apedrejará. Quer seja estrangeiro quer seja natural do país, se proferir blasfémias contra o nome do Senhor, será morto.’» «Se um homem ferir mortalmente outro homem, será condenado à morte. Aquele que ferir mortalmente um animal, pagá-lo-á vida por vida. E se alguém fizer um ferimento ao seu próximo, far-se-á o mesmo a ele: fractura por fractura, olho por olho, dente por dente; conforme o dano que tiver feito a outro homem, assim se lhe fará a ele. Quem matar um animal pagá-lo-á, e quem matar um homem deverá morrer. Uma só lei vos governará, tanto aos estrangeiros como aos naturais do país, porque Eu sou o Senhor vosso Deus.» E Moisés repetiu tudo aos filhos de Israel. Levaram o blasfemo para fora do acampamento e apedrejaram-no. Os filhos de Israel fizeram o que o Senhor ordenara a Moisés. O Senhor falou a Moisés, no monte Sinai, nestes termos: «Fala aos filhos de Israel, e diz-lhes: ‘Quando entrardes na terra que vos dou, a terra gozará de um descanso, em honra do Senhor. Semearás o teu campo durante seis anos, durante seis anos podarás as tuas vinhas e recolherás os seus frutos. Mas, no sétimo ano, será concedido à terra um descanso, um sábado, em honra do Senhor, não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha. Não colherás o que nascer espontaneamente dos grãos caídos durante a ceifa, nem vindimarás as uvas da tua vinha que não foi podada. Será um ano sabático para a terra. O que a terra produzir durante o seu descanso, servir-vos-á de alimento, a ti, ao teu escravo, à tua serva, ao teu jornaleiro e ao inquilino que vive contigo. Também o teu gado, assim como os animais selvagens da tua terra, poderão alimentar-se com todos esses frutos.’» «Contarás sete semanas de anos, isto é, sete vezes sete anos; de forma que a duração de estas sete semanas de anos corresponderá a quarenta e nove anos. Depois, farás ressoar fortemente a trombeta, no décimo dia do sétimo mês. No dia do grande Perdão, fareis ressoar o som da trombeta através de toda a vossa terra. Santificareis o quinquagésimo ano, proclamando na vossa terra a liberdade de todos os que a habitam. Este ano será para vós um Jubileu; cada um de vós voltará à sua propriedade, e à sua família. O quinquagésimo ano é o ano do Jubileu: não semeareis, não colhereis do que cresce espontaneamente, nem vindimareis as vinhas que não foram podadas. Porque é o Jubileu, deve ser uma coisa santa para vós e comereis o produto dos campos. Neste Jubileu, cada um de vós recobrará a sua propriedade. Quando fizeres uma venda ao teu próximo, ou se comprares alguma coisa, não vos prejudiqueis um ao outro. Farás essa compra ao próximo, tendo em conta os anos decorridos depois do Jubileu, e ele fará essa venda tendo em conta os anos das colheitas. Conforme os anos forem mais ou menos numerosos, assim tu pagarás mais ou menos pelo que adquirires, porque é um número de colheitas que ele te vende. Não vos prejudiqueis uns aos outros. Teme o teu Deus, porque Eu sou o Senhor, vosso Deus.» «Cumpri as minhas leis, guardai os meus preceitos; ponde-os em prática para habitardes em segurança na terra. A terra dará os seus frutos, com os quais vos sustentareis abundantemente, e nela residireis em segurança. Se disserdes: ‘Que comeremos no sétimo ano, pois não podemos semear nem colher as nossas colheitas?’ Então, Eu vos concederei a minha bênção no sexto ano, de tal forma que produzirá a colheita de três anos; e quando semeardes no oitavo ano, comereis da colheita anterior até ao nono ano. Até que se proceda à sua colheita, vivereis da anterior.» «Nenhuma terra será vendida definitivamente porque a terra pertence-me, e vós sois apenas estrangeiros e meus hóspedes. Portanto, concedereis o direito de resgate a todas as terras que forem da vossa propriedade. Se o teu irmão cair na pobreza e vender uma parte da sua propriedade, a que tem direito de resgate, o seu parente mais próximo deve ir resgatar o que o seu irmão vendeu. Se um homem não tiver ninguém que resgate a sua propriedade e conseguir encontrar meios suficientes para o seu resgate, calculará os anos da sua venda, pagará o restante ao homem que lhe comprou e, deste modo, recobrará a sua propriedade. Se não tiver recursos suficientes para o resgate, o objecto vendido continuará na posse do comprador até ao Jubileu; no Jubileu, ficará livre e voltará à sua propriedade. Se um homem vender uma casa de habitação, situada numa cidade murada, o direito de resgate durará até ao fim do ano da venda; o seu direito ao resgate durará um ano inteiro. Se a casa, situada numa cidade murada, não for resgatada no prazo de um ano inteiro, pertencerá definitivamente ao comprador e aos seus descendentes; no Jubileu não ficará livre. Mas as casas das aldeias, não rodeadas de muros, serão consideradas como os campos do país; poderão ser resgatadas e ficarão livres no Jubileu. Quanto às cidades dos levitas, e às casas situadas nas cidades que lhes pertencem, os levitas terão sempre o direito de as resgatar. Se um levita não resgata a sua casa vendida numa cidade da sua propriedade, a casa ficará livre no Jubileu, porque as casas situadas nas cidades dos levitas são a sua propriedade entre os filhos de Israel. Uma terra situada nos arrabaldes das suas cidades não pode ser vendida; porque essa é uma propriedade que lhes pertence para sempre.» «Se um dos teus irmãos empobrecer e não satisfizer as suas obrigações para contigo, protegê-lo-ás, mesmo que seja um estrangeiro ou um inquilino, e deixa-o viver contigo. Não receberás dele juros nem lucro algum, mas teme o teu Deus para que o teu irmão viva contigo. Não lhe emprestes o teu dinheiro com juros, nem lhe dês os teus mantimentos para disso tirar proveito. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos fez sair da terra do Egipto, para vos dar a de Canaã, a fim de ser o vosso Deus.» «Se o teu irmão empobrecer, junto de ti, e se se vender a ti, não exigirás dele um trabalho de escravo. Estará contigo como um jornaleiro, como um inquilino; servirá em tua casa até ao ano do Jubileu. Então, sairá da tua casa, assim como os seus filhos; voltará para a sua família e recobrará os bens dos seus pais. Porque são meus servos, que fiz sair da terra do Egipto, não devem ser vendidos como se vende um escravo. Não o domines com dureza para temeres o teu Deus. O escravo ou a escrava que pretendais adquirir devem sair dos povos estrangeiros que vos rodeiam; poder-lhes-eis comprar escravos e escravas. Podê-los-eis, também, comprar entre os filhos dos estrangeiros que residam no meio de vós, entre as suas famílias que vivem convosco e entre os filhos que lhes nascerem no vosso país, e serão propriedade vossa. Podeis deixá-los em herança aos vossos filhos, a fim de que os possuam depois de vós, tratando-os perpetuamente como escravos; quanto aos vossos irmãos, os filhos de Israel, que ninguém domine o seu irmão com dureza. Se o estrangeiro que vive junto de ti adquirir riquezas, e o teu irmão, seu vizinho, empobrecido, se vender a esse estrangeiro que vive junto de ti ou ao descendente de uma família estrangeira, terá direito a resgate, depois de se ter vendido: um dos seus irmãos resgatá-lo-á. Será ainda resgatado pelo seu tio, pelo filho do seu tio, ou por qualquer outro dos seus parentes e da sua família; mas, se adquirir meios, resgatar-se-á a si mesmo. Neste caso, calculará, com aquele que o comprou, o intervalo entre o ano em que se vendeu e o ano do Jubileu, e o preço da sua venda será contado pelo número de anos, segundo o ordenado de um jornaleiro. Se faltarem ainda muitos anos, pagará pelo seu resgate uma parte proporcional do preço de aquisição. E se ficarem poucos anos até ao ano do Jubileu, tê-lo-á em conta; pagará o seu resgate em proporção ao número de anos. Estará na casa do comprador como jornaleiro ao ano, e tu não permitirás que ele o domine com dureza na tua presença. E, se não foi resgatado de nenhuma dessas maneiras, ficará livre no ano do Jubileu, tanto ele como os seus filhos. Porque os filhos de Israel só a mim pertencem como escravos: são os meus servos, que Eu fiz sair da terra do Egipto, Eu, o Senhor vosso Deus.» «Não façais para vós ídolos, nem levanteis entre vós imagens de madeira, estelas ou pedras esculpidas. Não as coloqueis na vossa terra, para vos prostrardes diante delas, porque Eu sou o Senhor, vosso Deus. Guardai os meus sábados, e reverenciai o meu santuário. Eu sou o Senhor. Se cumprirdes os meus decretos e guardardes os meus mandamentos, e os puserdes em prática, dar-vos-ei as chuvas na estação própria; a terra dará os seus produtos e as árvores dos campos darão os seus frutos. A debulha do trigo prolongar-se-á até à vindima, e a vindima, até ao tempo das sementeiras; comereis pão com abundância e habitareis em segurança na vossa terra. Farei reinar a paz na vossa terra e ninguém perturbará o vosso sono; farei desaparecer as feras, e a espada não passará pela vossa terra. Perseguireis os vossos inimigos, eles cairão sob a vossa espada. Cinco dos vossos perseguirão um cento, e cem dos vossos perseguirão dez mil; e os vossos inimigos cairão sob a vossa espada. Olharei por vós, far-vos-ei crescer e multiplicar, e manterei a minha aliança convosco. Comereis da colheita armazenada e tereis que a retirar para dar lugar à nova. Estabelecerei a minha morada no meio de vós, e não me hei-de aborrecer convosco. Caminharei no meio de vós, serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos fez sair da terra do Egipto, para que não continuásseis a ser escravos; quebrei as cadeias do vosso jugo e fiz que andásseis de cabeça erguida.» «Mas, se vós não me escutardes e deixardes de cumprir todos estes mandamentos, se desprezardes os meus decretos, se o vosso espírito rejeitar os meus preceitos, chegando ao ponto de não cumprirdes mais os meus mandamentos e de violar a minha aliança, então eis aqui o que vos farei: enviarei contra vós o terror, a fraqueza e a febre, que enfraquecem os olhos e consomem a vida; semeareis em vão a vossa semente, e os vossos inimigos alimentar-se-ão dos seus frutos. Voltarei o meu rosto contra vós e sereis derrotados pelos vossos inimigos; os que vos odeiam dominar-vos-ão, e fugireis sem que ninguém vos persiga. E, se apesar disto não me escutardes, vou continuar a castigar-vos sete vezes mais pelos vossos pecados. Quebrantarei o vosso orgulhoso poder, tornarei duro o vosso céu como o ferro e a vossa terra como o bronze. As vossas forças se consumirão em vão, a vossa terra não dará os seus produtos e as árvores não darão os seus frutos. Se procederdes hostilmente para comigo e, se não quiserdes escutar-me, castigar-vos-ei sete vezes mais, conforme os vossos pecados. Soltarei os animais ferozes sobre vós, e eles privar-vos-ão dos vossos filhos, exterminarão o vosso gado, dizimar-vos-ão e os vossos caminhos ficarão desertos. Se mesmo assim não aceitais a minha correcção, mas pelo contrário continuardes a hostilizar-me, também Eu procederei hostilmente contra vós e punir-vos-ei sete vezes mais pelos vossos pecados. Farei vir contra vós a espada vingadora dos direitos da minha aliança, e refugiar-vos-eis nas vossas cidades. Depois lançarei a peste no meio de vós e ficareis à mercê do inimigo. E, além disso, privar-vos-ei do pão, de modo que dez mulheres cozerão o vosso pão num só forno e ser-vos-á distribuído por peso; comê-lo-eis, mas não ficareis saciados. Se, apesar destas coisas, não me escutais e vos portardes hostilmente para comigo, também Eu me portarei hostilmente para convosco cheio de furor e castigar-vos-ei sete vezes mais pelos vossos pecados. Devorareis a carne dos vossos filhos e a carne das vossas filhas. Destruirei os vossos lugares altos, derrubarei os vossos altares portáteis e amontoarei os vossos cadáveres sobre os cadáveres dos vossos ídolos; e o meu espírito repelir-vos-á. Transformarei as vossas cidades em ruínas, devastarei os vossos santuários e não terei de respirar mais o odor dos vossos sacrifícios. Depois, Eu mesmo devastarei esta terra, de tal modo que os vossos inimigos, ao ocuparem-na, ficarão estupefactos. Dispersar-vos-ei entre as nações, perseguir-vos-ei à espada; a vossa terra ficará desolada e as vossas cidades ficarão em ruínas. Então, a terra gozará do seu descanso sabático, durante o tempo da sua desolação; e vós estareis na terra dos vossos inimigos. É então que a terra poderá gozar do descanso dos seus anos sabáticos. Descansará durante todo o tempo em que estiver desolada pelo descanso que não teve nos vossos anos sabáticos, quando a habitáveis. Quanto aos vossos sobreviventes, dar-lhes-ei tanta angústia na terra dos seus inimigos, que o simples ruído de uma folha ao cair os porá em fuga, pensando que alguém os persegue à espada. E cairão, sem ninguém os perseguir. Tropeçarão e cairão uns sobre os outros, como quando se foge da espada, mesmo sem ninguém os perseguir. Não podereis resistir aos vossos inimigos; perecereis entre as nações e a terra dos vossos inimigos devorar-vos-á. Os que sobreviverem, dentre vós, consumir-se-ão por causa da sua iniquidade, no país dos vossos inimigos, e também se consumirão por causa das iniquidades dos seus pais. Depois, confessarão a sua iniquidade e a dos seus pais, as transgressões que cometeram contra mim e a sua hostilidade para comigo. Por isso, Eu também os tratarei hostilmente, deportando-os para o país dos seus inimigos; então, o seu coração infiel se humilhará e expiarão a sua iniquidade.» «Recordar-me-ei, então, da minha aliança com Jacob; recordar-me-ei da minha aliança com Isaac, da minha aliança com Abraão, e também me recordarei deste país. Então, a terra abandonada e desolada pelos habitantes recuperará os seus sábados e eles próprios repararão a sua iniquidade, porque desprezaram os meus preceitos e rejeitaram os meus decretos. Mesmo assim, quando estiverem no país dos seus inimigos, não os abandonarei nem rejeitarei ao ponto de os aniquilar e de invalidar a minha aliança com eles, porque Eu sou o Senhor, seu Deus. Recordar-me-ei, a seu favor, da aliança feita com os seus antepassados, que fiz sair da terra do Egipto, à vista das nações, para ser o seu Deus, Eu, o Senhor.» Tais são os decretos, os preceitos e as leis que o Senhor estabeleceu entre Ele e os filhos de Israel, por intermédio de Moisés, no monte Sinai. O Senhor falou a Moisés, nestes termos: «Fala aos filhos de Israel, e diz-lhes: ‘Se alguém prometer ao Senhor, por voto, o valor equivalente a uma pessoa, o seu valor estimativo será o seguinte: por um homem de vinte a sessenta anos de idade, o valor será de cinquenta siclos de prata, conforme o peso do santuário. E tratando-se de uma mulher, o valor será de trinta siclos. A partir de cinco até vinte anos, será de vinte siclos para o rapaz, e de dez siclos para uma menina. A partir da idade de um mês até à idade de cinco anos, o valor será de cinco siclos de prata para um rapaz e de três siclos de prata por uma menina. De sessenta anos em diante, será de quinze siclos por um homem e de dez siclos por uma mulher. Se o que fez o voto é tão pobre que não pode pagar a avaliação, apresentará a pessoa diante do sacerdote e este calculará a avaliação; o valor será fixado pelo sacerdote de acordo com as posses daquele que fez voto. Se for um animal, com o qual se possa fazer uma oferta ao Senhor, todo o animal oferecido ao Senhor tornar-se-á uma coisa sagrada. Não se pode trocar, nem substituir, um bom por um defeituoso, ou um defeituoso por um melhor; se, apesar disso, tiverem substituído o animal por um outro, tanto o animal substituído como o substituto serão igualmente coisa sagrada. Se se tratar de um animal impuro, que não é apto para ser oferecido ao Senhor, apresentar-se-á o animal ao sacerdote; este o avaliará segundo as suas boas ou más qualidades; e a avaliação do sacerdote será respeitada. Se a pessoa, em seguida, o quiser resgatar, acrescentará um quinto ao valor da avaliação. Se um homem consagrar a sua casa ao Senhor, como coisa sagrada, o sacerdote procederá à sua avaliação, segundo o seu alto ou baixo preço; o seu preço será o da apreciação feita pelo sacerdote. Mas, se aquele que consagrou quiser resgatar a sua casa, acrescentará um quinto ao preço da avaliação, e ela pertencer-lhe-á. Se um homem consagrar ao Senhor um campo da sua propriedade, proceder-se-á à avaliação, segundo a semente nele semeada: um hómer de cevada valerá cinquenta siclos de prata. Se consagrou um campo, durante o ano do Jubileu, é pelo valor desse ano que ela será avaliada; se a consagrou, depois do ano do Jubileu, o sacerdote calculará o preço, de acordo com os anos que faltam até ao Jubileu, e fará uma redução sobre o valor da avaliação. Se aquele que consagrou a terra quiser resgatá-la, acrescentará um quinto ao preço da avaliação, e ela pertencer-lhe-á. Mas, se não resgatar o campo ou se este campo tiver sido vendido a qualquer outro, não poderá mais ser resgatado. Este campo, no fim do Jubileu, será consagrado ao Senhor como campo interdito e tornar-se-á propriedade do sacerdote. Se aquilo que consagrou ao Senhor for um campo adquirido por ele, que não faça parte do seu património, o sacerdote o avaliará de acordo com os anos que faltem até ao Jubileu, e esse valor será pago nesse mesmo dia, como coisa consagrada ao Senhor. No ano do Jubileu, a terra voltará à posse daquele a quem tinha sido comprada e que a possuía como património. E todas as avaliações serão feitas segundo o siclo do santuário; o siclo corresponde a vinte gueras. Não se poderá consagrar ao Senhor o primogénito de um animal, o qual, ao nascer, pertence já ao Senhor; quer seja boi ou ovelha é do Senhor. Se se tratar de um animal impuro, poder-se-á resgatá-lo pelo preço da avaliação, acrescentando-lhe um quinto; se não for resgatado, será vendido a outro pelo preço da avaliação. Qualquer coisa que alguém consagrar em honra do Senhor por voto, de entre as suas propriedades, quer seja uma pessoa, animal ou um campo do seu património, não poderá ser vendida ou resgatada; tudo o que assim for consagrado converte-se numa coisa sagrada para o Senhor. Mesmo que se trate de um ser humano, este voto é irrevogável: ele terá de morrer.’» «Todo o dízimo da terra, quer seja de produtos da terra ou de frutos das árvores, pertence ao Senhor, é consagrado ao Senhor. E se alguém quiser resgatar uma parte do seu dízimo, juntar-lhe-á um quinto. Todo o dízimo, seja ele de bois, de ovelhas e de cabras, isto é, o décimo de todos os animais que passarem debaixo da vara do pastor será consagrado ao Senhor. Não se examinará se são bons ou defeituosos e não se substituirão; se, contudo, tiverem sido substituídos, tanto ele como o seu substituto ficam igualmente consagrados; não se poderão resgatar.» Estes são os mandamentos que o Senhor deu a Moisés para os filhos de Israel, no monte Sinai. O Senhor falou a Moisés no deserto do Sinai, na tenda da reunião, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano após a saída da terra do Egipto, dizendo: «Fazei o recenseamento de toda a comunidade dos filhos de Israel segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos os que em Israel forem aptos para o exército. Tu e Aarão os recenseareis segundo os seus agrupamentos. Tereis convosco um homem de cada tribo, que seja chefe da casa de seus pais. Estes são os nomes dos homens que vos assistirão: pela tribo de Rúben, Eliçur, filho de Chediur; pela tribo de Simeão, Chelumiel, filho de Surichadai; pela tribo de Judá, Nachon, filho de Aminadab; pela tribo de Issacar, Natanael, filho de Suar; pela tribo de Zabulão, Eliab, filho de Helon; pelos filhos de José: Elichamá, filho de Amiud, por Efraim, Gamaliel, filho de Pedaçur, por Manassés; pela tribo de Benjamim, Abidan, filho de Guideoni; pela tribo de Dan, Aiézer, filho de Amichadai; pela tribo de Aser, Paguiel, filho de Ocran; pela tribo de Gad, Eliasaf, filho de Deuel; pela tribo de Neftali, Airá, filho de Enan.» Foram estes os convocados da comunidade, príncipes das tribos de seus pais, eles, os chefes dos milhares de Israel. Moisés e Aarão tomaram esses homens, que tinham sido designados nominalmente e convocaram toda a comunidade no primeiro dia do segundo mês, registando-os segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-os, nominalmente, por cabeça, de vinte anos para cima, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. E recensearam-nos no deserto do Sinai. Os descendentes de Rúben, primogénito de Israel, foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Rúben quarenta e seis mil e quinhentos. Os descendentes de Simeão foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Simeão cinquenta e nove mil e trezentos. Os descendentes de Gad foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Gad quarenta e cinco mil seiscentos e cinquenta. Os descendentes de Judá foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Judá setenta e quatro mil e seiscentos. Os descendentes de Issacar foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Issacar cinquenta e quatro mil e quatrocentos. Os descendentes de Zabulão foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Zabulão cinquenta e sete mil e quatrocentos. Quanto às tribos descendentes de José, os descendentes de Efraim foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Efraim quarenta mil e quinhentos. Os descendentes de Manassés foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Manassés trinta e dois mil e duzentos. Os descendentes de Benjamim foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Benjamim trinta e cinco mil e quatrocentos. Os descendentes de Dan foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Dan sessenta e dois mil e setecentos. Os descendentes de Aser foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Aser quarenta e um mil e quinhentos. Os descendentes de Neftali foram registados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, contando-se, nominalmente, por cabeça, todos os varões de vinte anos para cima, todos aptos para o exército. Foram recenseados na tribo de Neftali cinquenta e três mil e quatrocentos. Foi este o recenseamento feito por Moisés e Aarão juntamente com os chefes de Israel, os quais eram doze, um homem por cada uma das casas de seus pais. Foram recenseados, segundo a casa de seus pais, todos os filhos de Israel de vinte anos para cima, todos aptos para o exército em Israel, e todos os recenseados eram seiscentos e três mil quinhentos e cinquenta. Os levitas, contudo, em atenção à tribo de seus pais, não foram recenseados juntamente com eles. Então, o Senhor falou a Moisés: «Quanto à tribo de Levi, não a recensearás nem farás relação dela juntamente com os filhos de Israel. Tu encarregarás os levitas do tabernáculo do testemunho e de todos os seus utensílios e de tudo o que lhe pertence. Eles transportarão o tabernáculo e todos os seus utensílios; servirão e acamparão em volta do tabernáculo. Quando se deslocar o tabernáculo, os levitas o desmontarão e, quando for necessário parar o tabernáculo, eles o armarão; o estranho que dele se aproximar será morto. Os filhos de Israel acamparão cada um no seu acampamento, cada um sob a sua bandeira, segundo os seus agrupamentos. Os levitas, porém, acamparão em volta do tabernáculo do testemunho e não se inflamará a minha cólera contra a comunidade dos filhos de Israel. Os levitas terão a guarda do tabernáculo do testemunho.» E os filhos de Israel fizeram tudo o que o Senhor tinha ordenado a Moisés; assim fizeram. O Senhor falou a Moisés e a Aarão: «Cada um acampará com a sua bandeira por sinal; os filhos de Israel acamparão segundo a casa de seus pais de fronte e em volta da tenda da reunião. Os que acamparem de fronte, a oriente, ficarão sob a bandeira do acampamento de Judá, segundo os seus agrupamentos; o príncipe dos filhos de Judá é Nachon, filho de Aminadab. O seu agrupamento e os recenseados dele são setenta e quatro mil e seiscentos. Os que acampam junto dele são: a tribo de Issacar; e o príncipe dos filhos de Issacar é Natanael, filho de Suar. O seu agrupamento e os recenseados dele são cinquenta e quatro mil e quatrocentos. A tribo de Zabulão: o príncipe dos filhos de Zabulão é Eliab, filho de Helon. O seu agrupamento e os recenseados dele são cinquenta e sete mil e quatrocentos. Todos os recenseados do acampamento de Judá são cento e oitenta e seis mil e quatrocentos, segundo os seus agrupamentos. Serão os primeiros a pôr-se em marcha. A bandeira do acampamento de Rúben ficará a sul, segundo os seus agrupamentos. O príncipe dos filhos de Rúben é Eliçur, filho de Chediur. O seu agrupamento e os recenseados dele são quarenta e seis mil e quinhentos. Os que acampam junto dele são: a tribo de Simeão; o príncipe dos filhos de Simeão é Chelumiel, filho de Surichadai. O seu agrupamento e os recenseados dele são cinquenta e nove mil e trezentos. A tribo de Gad: o príncipe dos filhos de Gad: é Eliasaf, filho de Reuel. O seu agrupamento e os recenseados dele são quarenta e cinco mil seiscentos e cinquenta. Todos os recenseados do acampamento de Rúben são cento e cinquenta e um mil quatrocentos e cinquenta segundo os seus agrupamentos, e serão os segundos a pôr-se em marcha. A tenda da reunião seguirá com o acampamento dos levitas no meio dos acampamentos; conforme acamparem, assim se porão em marcha, cada um no seu posto, segundo os seus agrupamentos. A bandeira do acampamento de Efraim segundo os seus agrupamentos ficará a ocidente; o príncipe dos filhos de Efraim é Elichamá, filho de Amiud. O seu agrupamento e os recenseados dele são quarenta mil e quinhentos. Junto dele ficará a tribo de Manassés; o príncipe dos filhos de Manassés é Gamaliel, filho de Pedaçur. O seu agrupamento e os recenseados dele são trinta e dois mil e duzentos. A tribo de Benjamim; o príncipe dos filhos de Benjamim é Abidan, filho de Guideoni. O seu agrupamento e os recenseados dele são trinta e cinco mil e quatrocentos. Todos os recenseados do acampamento de Efraim são cento e oito mil e cem segundo os seus agrupamentos, e serão os terceiros a pôr-se em marcha. A bandeira do acampamento de Dan segundo os seus agrupamentos ficará a norte; o príncipe dos filhos de Dan é Aiézer, filho de Amichadai. O seu agrupamento e os recenseados dele são sessenta e dois mil e setecentos. Junto dele ficará a tribo de Aser; o príncipe dos filhos de Aser é Paguiel, filho de Ocran. O seu agrupamento e os recenseados dele são quarenta e um mil e quinhentos. A tribo de Neftali; o príncipe dos filhos de Neftali é Airá, filho de Enan. O seu agrupamento e os recenseados dele são cinquenta e três mil e quatrocentos. Todos os recenseados do acampamento de Dan são cento e cinquenta e sete mil e seiscentos. Serão os últimos a pôr-se em marcha segundo as suas bandeiras. Este foi o recenseamento dos filhos de Israel segundo a casa de seus pais. Todos os recenseados dos acampamentos segundo os seus agrupamentos são seiscentos e três mil quinhentos e cinquenta. Mas os levitas não foram recenseados juntamente com os filhos de Israel, conforme o Senhor tinha ordenado a Moisés. Fizeram os filhos de Israel tudo o que o Senhor tinha ordenado a Moisés. Assim, acamparam segundo as suas bandeiras e, assim, se puseram em marcha cada um por famílias, segundo a casa de seus pais. Estas são as gerações de Aarão e de Moisés, quando o Senhor falou a Moisés no monte Sinai. São estes os nomes dos filhos de Aarão: Nadab, o primogénito, Abiú, Eleázar e Itamar. Estes são os nomes dos filhos de Aarão, sacerdotes ungidos, cujas mãos foram consagradas para exercer o sacerdócio. Nadab e Abiú morreram diante do Senhor por terem apresentado um fogo profano em sua presença no deserto do Sinai; não tiveram filhos. Eleázar, porém, e Itamar exerceram o sacerdócio diante de Aarão, seu pai. O Senhor falou a Moisés: «Manda aproximar a tribo de Levi e apresenta-a ao sacerdote Aarão para o ajudar. Cumprirão o seu ministério e o ministério de toda a comunidade diante da tenda da reunião, executando o serviço do tabernáculo. Cuidarão de todos os utensílios da tenda da reunião e do ministério dos filhos de Israel, executando o serviço do tabernáculo. Entregarás os levitas a Aarão e a seus filhos, dados a ele como dádiva dentre os filhos de Israel. Recomendarás a Aarão e a seus filhos que guardem o seu ministério sacerdotal; o estranho que se aproximar será morto.» O Senhor falou a Moisés: «Eis que Eu tomei os levitas dentre os filhos de Israel em vez de todos os primogénitos, primícias da maternidade dos filhos de Israel. Os levitas serão para mim, porque todo o primogénito era meu quando Eu feri todos os primogénitos na terra do Egipto. Consagrei para mim todos os primogénitos de Israel, desde o homem até aos animais. Serão para mim. Eu sou o Senhor.» O Senhor falou a Moisés no deserto do Sinai: «Faz o recenseamento dos filhos de Levi segundo a casa de seus pais, segundo as suas famílias. Farás o recenseamento de todo o varão de um mês para cima.» E Moisés fez o recenseamento deles por ordem do Senhor, conforme Ele tinha ordenado. Estes são os nomes dos filhos de Levi: Gérson, Queat e Merari. Estes são os nomes dos filhos de Gérson segundo as suas famílias: Libni e Chimei. Filhos de Queat segundo as suas famílias: Ameram e Jiçar, Hebron e Uziel. Filhos de Merari segundo as suas famílias: Maali e Muchi. São estas as famílias de Levi segundo a casa de seus pais. De Gérson descendem a família de Libni e a família de Chimei. Essas são as famílias dos gersonitas. Contados todos os varões de um mês para cima, foram recenseados sete mil e quinhentos. As famílias dos gersonitas deviam acampar atrás do tabernáculo, a ocidente. O príncipe da casa patriarcal dos gersonitas era Eliasaf, filho de Lael. Aos filhos de Gérson competia guardar na tenda da reunião a sua cobertura, o véu da entrada da tenda da reunião, as cortinas do átrio e a cortina da entrada do átrio, que está à volta do tabernáculo e do altar, bem como as cordas de todo o seu serviço. De Queat descendem a família de Ameram, a família de Jiçar, a família de Hebron e a família de Uziel. Estas são as famílias dos queatitas. O número de varões de um mês para cima foi de oito mil e seiscentos, encarregados de guardar o santuário. As famílias dos filhos de Queat deviam acampar ao lado do tabernáculo, a sul. O príncipe da casa patriarcal para as famílias de Queat era Elisafan, filho de Uziel. Competia-lhes guardar a Arca, a mesa, o candelabro, os altares e os utensílios sagrados que neles serviam, o véu e tudo o que estava ao seu serviço. O príncipe dos príncipes de Levi era Eleázar, filho do sacerdote Aarão, encarregado dos guardas da custódia do santuário. De Merari descendem a família de Maali e a família de Muchi; estas são as famílias de Merari. Contados todos os varões de um mês para cima, eram seis mil e duzentos. O príncipe da casa patriarcal, segundo as famílias de Merari, era Suriel, filho de Abiaíl; deviam acampar ao lado do tabernáculo, a norte. Aos filhos de Merari competia a guarda das tábuas do tabernáculo, as suas travessas, as suas colunas, os seus pedestais, todos os seus utensílios e todo o seu serviço, as colunas em volta do átrio e seus pedestais, os seus cravos e as suas cordas. Os que acampavam diante do tabernáculo, em frente, diante da tenda da reunião, a oriente, eram Moisés e Aarão e seus filhos; estavam encarregados da custódia do santuário para protecção dos filhos de Israel. O estranho que se aproximasse seria morto. Todos os recenseados de Levi que, por ordem do Senhor, Moisés e Aarão registaram, segundo as suas famílias, todos os varões de um mês para cima, eram vinte e dois mil. Disse o Senhor a Moisés: «Faz o recenseamento de todos os primogénitos masculinos entre os filhos de Israel, de um mês para cima, e faz a relação dos seus nomes. Tomarás os levitas para mim – Eu sou o Senhor em vez de todos os primogénitos dos filhos de Israel, e os animais dos levitas em vez de todos os primogénitos dos animais dos filhos de Israel. E Moisés fez o recenseamento de todos os primogénitos dos filhos de Israel conforme lhe ordenara o Senhor. Todos os primogénitos masculinos de um mês para cima, contados pelos seus nomes, eram vinte e dois mil duzentos e setenta e três. O Senhor falou a Moisés: «Toma os levitas em vez de todos os primogénitos dos filhos de Israel e os animais dos levitas em vez dos seus animais. Os levitas serão para mim – Eu sou o Senhor! Os duzentos e setenta e três primogénitos dos filhos de Israel, que excedem o número dos levitas, ficarão resgatados. Tomarás cinco siclos por cabeça, do siclo do santuário, contando vinte gueras por siclo. Darás esse dinheiro a Aarão e a seus filhos, como resgate dos que os excedem.» Moisés recolheu o dinheiro dos resgatados, que excediam os resgatados de Levi. Foi dos primogénitos dos filhos de Israel que recolheu esse dinheiro, mil trezentos e sessenta e cinco pelo siclo do santuário. E Moisés deu esse dinheiro de resgate a Aarão e a seus filhos, por ordem do Senhor, conforme o Senhor tinha ordenado a Moisés. O Senhor falou a Moisés e a Aarão: «Faz o recenseamento dos filhos de Queat dentre os filhos de Levi, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, de trinta anos para cima até aos cinquenta, todos os que forem aptos para servir e desempenhar funções na tenda da reunião. Este será o serviço dos filhos de Queat na tenda da reunião: cuidar das coisas mais santas. Quando se levantar o acampamento, virão Aarão e seus filhos, tirarão a cobertura do véu e cobrirão com ele a Arca do testemunho; colocarão sobre ela uma cobertura de pele de golfinho; estenderão por cima um belo pano cor de jacinto e pôr-lhe-ão os varais. Estenderão sobre a mesa dos pães da oferenda um pano cor de jacinto e porão sobre ela os pratos, as colheres, as taças e jarras de libações; e ficará sobre ela o pão da oblação perpétua. Estenderão sobre estas coisas um pano carmesim, envolto ainda por uma cobertura de pele de golfinho e colocar-lhe-ão os varais. Tomarão um pano cor de jacinto e cobrirão com ele o candelabro da iluminação e as suas lâmpadas, os espevitadores, as tenazes, os cinzeiros e todos os vasos de azeite, que servem nele. Metê-lo-ão com todos os seus utensílios num estojo de pele de golfinho e pô-lo-ão sobre uma padiola. Estenderão sobre o altar de ouro um pano cor de jacinto e tapá-lo-ão com uma cobertura de pele de golfinho e colocar-lhe-ão os varais. Tomarão todos os utensílios do culto, de que se serviram no santuário, e metê-los-ão num pano cor de jacinto, tapando-os com uma cobertura de pele de golfinho e pô-lo-ão sobre uma padiola. Tirarão as cinzas do altar e sobre ele estenderão um pano de púrpura. Porão sobre ele todos os utensílios de que precisarem de se servir: braseiros, forquilhas, pás, bacias, e todos os utensílios do altar; estenderão sobre ele uma cobertura de pele de golfinho e colocar-lhe-ão os varais. Aarão e seus filhos acabarão de cobrir as coisas santas e todos os utensílios sagrados quando se levantar o acampamento. Depois disso, virão os filhos de Queat para carregar, mas não tocarão nas coisas santas para não morrerem. Esta é a tarefa dos filhos de Queat na tenda da reunião. Ao cuidado de Eleázar, filho do sacerdote Aarão, está o azeite do candelabro, o incenso, a oblação perpétua, o óleo da unção e a guarda de todo o tabernáculo e de tudo o que está no santuário e dos seus utensílios.» O Senhor falou a Moisés e a Aarão: «Não corteis o ramo das famílias de Queat do meio dos levitas. Isto lhes fareis, e eles continuarão a existir e não serão mortos quando se aproximarem das coisas mais santas. Aarão e seus filhos irão determinar a cada um deles o seu serviço e a sua carga. Eles não se porão a observar, nem mesmo de passagem, as coisas santas, para não morrerem.» O Senhor falou a Moisés: «Faz o recenseamento dos filhos de Gérson, também eles segundo a casa de seus pais, segundo as suas famílias, desde os trinta anos para cima até aos cinquenta; recensearás todos os que forem aptos para o serviço do culto na tenda da reunião. Este é o serviço das famílias de Gérson para o culto e para o transporte: transportarão os tapetes do tabernáculo, a tenda da reunião e a sua cobertura, a cobertura de pele de golfinho que a cobre, o véu que está à entrada da tenda da reunião, as cortinas do átrio e o véu da entrada da porta do átrio, que está em volta do tabernáculo e do altar, as suas cordas e todos os utensílios do seu serviço; todo o serviço que lhes for mandado fazer, eles o farão. À ordem de Aarão e seus filhos estará todo o serviço dos filhos de Gérson, para todo o transporte e para todo o serviço; confiar-lhes-eis o cuidado de tudo o que devem transportar. Este é o serviço das famílias dos filhos de Gérson na tenda da reunião; o cuidado deles estará a cargo de Itamar, filho do sacerdote Aarão. Recensearás os filhos de Merari segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais; desde os trinta anos para cima até aos cinquenta os recensearás, todos os que forem aptos para o exército, para servir no culto da tenda da reunião. Eis o serviço que devem fazer na tenda da reunião: as tábuas do tabernáculo, as suas travessas, as suas colunas, os seus pedestais, as colunas que estão em volta do átrio, as suas bases, os seus cravos, as suas cordas, todos os seus utensílios e todo o seu serviço; registareis nominalmente todos os utensílios, cujo transporte está ao cuidado deles. Este é o serviço das famílias dos filhos de Merari; em todo o seu serviço na tenda da reunião estarão a cargo de Itamar, filho do sacerdote Aarão.» Moisés e Aarão e os príncipes da comunidade recensearam os filhos de Queat segundo as suas famílias e segundo a casa de seus pais, desde os trinta anos para cima até aos cinquenta, todos os que estavam aptos para o serviço na tenda da reunião. Os recenseados por famílias eram dois mil setecentos e cinquenta. Estes foram os recenseados das famílias de Queat, todos a servir na tenda da reunião, aos quais recensearam Moisés e Aarão por ordem do Senhor através de Moisés. Recensearam os filhos de Gérson segundo as suas famílias e segundo a casa de seus pais, desde os trinta anos para cima até aos cinquenta, todos os que estavam aptos para o serviço na tenda da reunião. Foram recenseados segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, dois mil seiscentos e trinta. Estes foram os recenseados das famílias dos filhos de Gérson, todos os que serviam na tenda da reunião, que Moisés e Aarão recensearam por ordem do Senhor. Recensearam as famílias dos filhos de Merari segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, desde os trinta anos para cima até aos cinquenta, todos os que estavam aptos para o serviço na tenda da reunião. Foram recenseados segundo as suas famílias três mil e duzentos. Estes foram os recenseados das famílias dos filhos de Merari, que Moisés e Aarão recensearam por ordem do Senhor através de Moisés. Todos os levitas recenseados, que Moisés e Aarão e os príncipes de Israel recensearam, segundo as suas famílias e segundo a casa de seus pais, desde os trinta anos para cima até aos cinquenta, todos aptos para desempenhar funções no serviço do culto e no serviço do transporte da tenda da reunião, foram oito mil quinhentos e oitenta. Por ordem do Senhor, através de Moisés, foi indicado a cada um o seu serviço e a sua carga. Foram recenseados como o Senhor tinha ordenado a Moisés. O Senhor falou a Moisés: «Ordena aos filhos de Israel que expulsem do acampamento todo o leproso, todo o que tiver um fluxo e todo o que estiver manchado por ter tocado num cadáver. Sejam homens, sejam mulheres, expulsai-os para fora do acampamento; expulsá-los-eis e não contaminarão os seus acampamentos no meio dos quais Eu habito.» Assim fizeram os filhos de Israel expulsando-os para fora do acampamento. Como o Senhor tinha ordenado a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel. O Senhor falou a Moisés: «Fala aos filhos de Israel: ‘Homem ou mulher que causar prejuízo a alguém, tornando-se culpado de infidelidade para com o Senhor, e se reconhecer culpado, esse declarará o mal que fez, restituirá o objecto da culpa acrescentando-lhe o quinto e o entregará à pessoa lesada. Se a pessoa não tiver tutor para receber o objecto da culpa, esse objecto será restituído ao Senhor através do sacerdote, além do carneiro de expiação que será oferecido em expiação por ele. Todas as ofertas e todos os objectos consagrados dos filhos de Israel, que forem apresentados ao sacerdote, serão dele. Aquele que possuir um objecto sagrado, a ele pertencerá; mas aquele que o der ao sacerdote, deste será.’» O Senhor falou a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: “A mulher que se desviar do marido e lhe for infiel, tendo relações com outro, se o facto ficar oculto aos olhos do próprio marido, por ela se ter manchado em segredo e não haver quem deponha contra ela, então ela não se declarará. Mas se passar por ele um espírito de ciúme, e ele tiver ciúmes da sua mulher e ela se tiver manchado, ou passar por ele um espírito de ciúme e ele tiver ciúmes da sua mulher e ela se não tiver manchado, então o marido levará a sua mulher ao sacerdote, apresentando por ela a oferta, um décimo de efá de farinha de cevada, sem derramar azeite nem pôr incenso, porque é uma oblação de ciúme, uma oblação memorial a recordar uma iniquidade. O sacerdote mandará aproximar a mulher e a fará estar de pé diante do Senhor. Então, o sacerdote tirará água santa com um vaso de barro e deitará na água pó do chão do tabernáculo. O sacerdote fará permanecer de pé a mulher diante do Senhor, há-de descobrir-lhe a cabeça e colocar-lhe nas mãos a oblação memorial, oblação de ciúme, enquanto nas mãos do sacerdote estarão as águas amargas da maldição. O sacerdote a mandará prestar juramento e dirá à mulher: ‘Se nenhum homem teve relações contigo, se não te desviaste do teu marido, manchando-te, serás declarada inocente por estas águas amargas da maldição. Mas se te desviaste do teu marido e te manchaste tendo relações com outro homem que não o teu marido’, o sacerdote mandará a mulher prestar juramento, o juramento de imprecação, e o sacerdote dirá à mulher: ‘O Senhor realize em ti a maldição e o juramento no meio do teu povo; faça o Senhor murchar o teu sexo e secar o teu ventre. Que estas águas amargas penetrem nas tuas entranhas para secar o teu ventre e murchar o teu sexo.’ Então a mulher responderá: ‘Ámen! Ámen!’ O sacerdote escreverá estas maldições no livro, deitá-las-á nas águas amargas e fará com que a mulher beba as águas amargas da imprecação, a fim de penetrarem nela as águas amargas para amargura. O sacerdote tomará das mãos da mulher a oblação de ciúme, elevará a oblação diante do Senhor e a apresentará no altar. O sacerdote tomará um punhado desta oblação memorial, incensará o altar e, depois, dará a beber as águas à mulher. Quando ela tiver bebido as águas, se estiver manchada e se se tiver desviado do seu marido, as águas da maldição penetrarão nela para amargura e secará o seu ventre e murchará o seu sexo; a mulher será maldita no meio do seu povo. Mas, se a mulher não se tiver manchado e estiver pura, será declarada inocente e poderá ter descendência. Esta é a lei dos ciúmes, quando a mulher se desviar do seu marido e se manchar, ou quando um homem, levado pelo espírito de ciúme, tiver ciúme de sua mulher e apresentar a sua mulher diante do Senhor. Então o sacerdote cumprirá com ela toda esta lei. O marido ficará isento de culpa e a mulher suportará a sua iniquidade”.» O Senhor falou a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘O homem ou mulher, que cumprir um voto de nazirato para se consagrar ao Senhor, há-de abster-se de vinho e de bebida inebriante; não beberá vinagre de vinho nem vinagre de bebida inebriante; não beberá qualquer suco de uvas; não comerá uvas verdes nem secas. Em todos os dias da sua consagração, não comerá nada do que fabricar da vinha, desde a pele das uvas até à grainha. Em todos os dias da sua consagração, a navalha não passará pela sua cabeça até que se completem os dias pelos quais se consagrou ao Senhor. Será santo, deixará crescer livremente os cabelos da sua cabeça. Em todos os dias da sua consagração ao Senhor, não se aproximará de cadáver algum, nem de seu pai, nem de sua mãe, nem de seu irmão, nem de sua irmã; não se manchará com a morte deles, porque a consagração do seu Deus está sobre a sua cabeça. Em todos os dias da sua consagração, ele será santo para o Senhor. Se, de repente, alguém morrer junto dele, isso manchará a sua cabeça consagrada e ele rapará a cabeça no dia da sua purificação; tornará a rapá-la no sétimo dia. No oitavo dia, levará ao sacerdote, à entrada da tenda da reunião, duas rolas ou dois pombinhos. Então o sacerdote oferecerá um sacrifício pelo pecado e um em holocausto; expiará por ele o que tiver pecado e santificará a sua cabeça naquele dia. Consagrará ao Senhor os dias do seu voto e apresentará um cordeiro de um ano em expiação e ficarão nulos os dias anteriores, porque a sua consagração foi manchada. É esta a lei referente ao nazirato: quando terminarem os dias da sua consagração, conduzi-lo-ão à entrada da tenda da reunião, e apresentará a sua oferenda ao Senhor, um cordeiro de um ano, sem defeito, em holocausto, uma ovelha de um ano, sem defeito, pelo pecado e um carneiro, sem defeito, como sacrifício de comunhão. Ainda um cesto de pão ázimo, bolos de flor de farinha amassados com azeite e tortas de ázimos untadas com azeite, além das suas oblações e libações. O sacerdote apresentar-se-á diante do Senhor e oferecerá o seu sacrifício pelo pecado e o holocausto. Quanto ao carneiro, o sacerdote oferecê-lo-á ao Senhor como sacrifício de comunhão, juntamente com o cesto de pão ázimo; e fará igualmente a sua oblação e libação. Então, à entrada da tenda da reunião, o nazireu rapará a sua cabeça consagrada, tomará os cabelos da sua cabeça consagrada e os deitará ao fogo que está sob a vítima do sacrifício de comunhão. O sacerdote tomará a costela cozida do carneiro, um bolo sem fermento tirado da cesta e uma torta sem fermento e os porá nas mãos do nazireu depois de ele ter deixado rapar o cabelo de consagrado. O sacerdote os elevará, balanceando-os diante do Senhor. Isto é coisa santa do sacerdote, para além do peito balanceado e da coxa elevada como tributo; depois disto, o nazireu poderá beber vinho. Esta é a lei do nazireu que consagrar a sua oferta ao Senhor por voto, para além do que puder oferecer livremente. Conforme o voto que fez, assim cumprirá segundo a lei do seu voto’.» O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e a seus filhos: Assim abençoareis os filhos de Israel. Dizei-lhes: ‘O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te favoreça! O Senhor volte para ti a sua face e te dê a paz!’ Invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei!» Depois de Moisés ter levantado o tabernáculo, ungiu-o e santificou-o; ungiu e santificou todos os seus utensílios, o altar e todos os seus utensílios. Aproximaram-se, então, os príncipes de Israel, chefes das casas de seus pais, eles e os príncipes das tribos, que tinham presidido aos recenseamentos. Apresentaram as suas ofertas diante do Senhor, seis carros cobertos e doze bois, um carro por cada dois príncipes e um boi por cada um e conduziram-nos diante do tabernáculo. O Senhor disse então a Moisés: «Toma essas ofertas, que serão para servir no culto da tenda da reunião e as darás aos levitas, a cada um conforme o seu serviço.» Moisés tomou os carros e os bois e deu-os aos levitas. Deu dois carros e quatro bois aos filhos da casa de Gérson, segundo o seu serviço. Quatro carros e oito bois deu-os aos filhos de Merari, segundo o seu serviço, por mão de Itamar, filho do sacerdote Aarão. Aos filhos de Queat não deu nada porque, tendo o encargo do santuário, levavam-no aos ombros. Os príncipes fizeram as ofertas para a inauguração do altar no dia em que ele foi ungido; diante do altar apresentaram os príncipes as suas ofertas. Disse então o Senhor a Moisés: «Cada príncipe, em seu dia, apresente a sua oferta para a inauguração do altar.» O que apresentou a sua oferta, no primeiro dia, foi Nachon, filho de Aminadab, da tribo de Judá. Ofereceu uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos de peso pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto; um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Nachon, filho de Aminadab. No segundo dia, aproximou-se Natanael, filho de Suar, príncipe de Issacar. Apresentou a sua oferta: uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso; um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto; um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Natanael, filho de Suar. No terceiro dia, foi o príncipe dos filhos de Zabulão, Eliab, filho de Helon. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto; um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Eliab, filho de Helon. No quarto dia, foi o príncipe dos filhos de Rúben, Eliçur, filho de Chediur. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto; um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Eliçur, filho de Chediur. No quinto dia, foi o príncipe dos filhos de Simeão, Chelumiel, filho de Surichadai. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação; uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto; um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Chelumiel, filho de Surichadai. No sexto dia, foi o príncipe dos filhos de Gad, Eliasaf, filho de Deuel. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação; uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto; um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Eliasaf, filho de Deuel. No sétimo dia, foi o príncipe dos filhos de Efraim, Elichamá, filho de Amiud. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação; uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto, um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Elichamá, filho de Amiud. No oitavo dia, foi o príncipe dos filhos de Manassés, Gamaliel, filho de Pedaçur. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto, um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Gamaliel, filho de Pedaçur. No nono dia, foi o príncipe dos filhos de Benjamim, Abidan, filho de Guideoni. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto, um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Abidan, filho de Guideoni. No décimo dia, foi o príncipe dos filhos de Dan, Aiézer, filho de Amichadai. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto, um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Aiézer, filho de Amichadai. No décimo primeiro dia, foi o príncipe dos filhos de Aser, Paguiel, filho de Ocran. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação; uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto, um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Paguiel, filho de Ocran. No décimo segundo dia, foi o dia do príncipe dos filhos de Neftali, Airá, filho de Enan. A sua oferta foi uma malga de prata com cento e trinta siclos de peso, uma bacia de prata com setenta siclos pelo siclo do santuário, ambas cheias de flor de farinha amassada com azeite para a oblação, uma taça de ouro com dez siclos cheia de incenso, um novilho, um carneiro, um cordeiro de um ano para o holocausto, um bode novo para o sacrifício pelo pecado e, para o sacrifício de comunhão, dois bois, cinco carneiros, cinco bodes, cinco cordeiros de um ano. Esta foi a oferta de Airá, filho de Enan. Foram estas as dádivas dos príncipes dos filhos de Israel para a dedicação do altar, quando ele foi ungido: doze malgas de prata, doze bacias de prata, doze taças de ouro. As malgas de prata pesavam cada uma cento e trinta siclos; as bacias de prata pesavam cada uma setenta siclos; toda a prata destes utensílios pesava dois mil e quatrocentos siclos pelo siclo do santuário. As doze taças de ouro, cheias de incenso, pesavam cada uma dez siclos pelo siclo do santuário. Todo o ouro das taças pesava cento e vinte siclos. Todo o gado do holocausto foram doze bois, doze carneiros, doze cordeiros de um ano com a sua oblação, doze bodes novos para o sacrifício pelo pecado; e todo o gado para o sacrifício de comunhão foram vinte e quatro novilhos, sessenta carneiros, sessenta bodes, sessenta cordeiros de um ano. Estas foram as dádivas da dedicação do altar, depois que o ungiram. Quando Moisés entrava na tenda da reunião para falar com Deus, ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório, que estava sobre a Arca do testemunho, entre os dois querubins, e Moisés respondia-lhe. O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e diz-lhe: ‘Quando levantares as lâmpadas, é para diante do candelabro que as sete lâmpadas devem projectar luz’.» Assim fez Aarão; diante do candelabro levantou as lâmpadas, como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Esta foi a obra do candelabro: uma peça de ouro batido desde a base até aos ramos, uma peça única. Conforme o modelo que o Senhor mostrara a Moisés, assim fez ele o candelabro. O Senhor falou a Moisés: «Toma os levitas do meio dos filhos de Israel e purifica-os. Assim farás para os purificar: derrama sobre eles água da purificação e fá-los passar a navalha por todo o corpo; lavarão as vestes e ficarão purificados. Tomarão um novilho e uma oblação de flor de farinha amassada com azeite. Também tu tomarás um outro novilho para o sacrifício pelo pecado, mandarás que os levitas se apresentem diante da tenda da reunião e reunirás toda a assembleia dos filhos de Israel. Mandarás, então, que os levitas se apresentem diante do Senhor, e os filhos de Israel imporão as mãos sobre os levitas. Aarão oferecerá os levitas, oferta erguida de entre os filhos de Israel diante do Senhor, e eles passarão a exercer o culto do Senhor. Os levitas imporão as suas mãos sobre as cabeças dos novilhos e tu manda que cada um ofereça o sacrifício pelo pecado e o holocausto ao Senhor para expiação pelos levitas. Porás os levitas diante de Aarão e de seus filhos e os oferecerás como oferta ao Senhor. Separarás, então, os levitas do meio dos filhos de Israel, e os levitas serão meus. Depois disso, os levitas entrarão a servir na tenda da reunião, quando os tiveres purificado e apresentado em oferta erguida. Porque eles serão entregues como dom para mim de entre os filhos de Israel. Em substituição de todos os que são primícias de maternidade, de todos os primogénitos de entre os filhos de Israel, Eu tomei-os para mim. A mim pertencem todos os primogénitos de entre os filhos de Israel, do homem e dos animais. No dia em que feri todos os primogénitos na terra do Egipto, consagrei-os para mim e tomei os levitas em substituição de todo o primogénito dos filhos de Israel; e dei os levitas como dádiva a Aarão e seus filhos de entre os filhos de Israel, para exercerem o culto dos filhos de Israel na tenda da reunião e para fazerem expiação pelos filhos de Israel, de modo que não haja castigo para os filhos de Israel quando estes se aproximarem do santuário.» Moisés, Aarão e toda a assembleia dos filhos de Israel fizeram aos levitas tudo o que o Senhor tinha ordenado a Moisés; assim fizeram aos levitas os filhos de Israel. Os levitas purificaram-se e lavaram as suas vestes; Aarão apresentou-os em oferta erguida diante do Senhor e Aarão fez expiação por eles para os purificar. Depois disso, os levitas começaram a prestar o seu serviço na tenda da reunião diante de Aarão e diante de seus filhos; conforme o Senhor tinha ordenado a Moisés a respeito dos levitas, assim lhes fizeram. O Senhor falou a Moisés: «Isto ainda é a respeito dos levitas: aquele que tiver de vinte e cinco anos para cima entrará a servir no culto da tenda da reunião; mas, depois dos cinquenta anos, deixará de prestar serviço e não mais servirá. Contudo, poderá ajudar seus irmãos na tenda da reunião, velando pela sua guarda, sem exercer o culto. Assim farás com os levitas nas suas funções.» O Senhor falou a Moisés no deserto do Sinai, no segundo ano após a saída da terra do Egipto, no primeiro mês, dizendo: «Celebrem os filhos de Israel a Páscoa no tempo devido. No décimo quarto dia deste mês, ao entardecer, a celebrareis no tempo devido; de acordo com todos os preceitos e determinações a celebrareis.» Moisés falou aos filhos de Israel para celebrarem a Páscoa. E eles celebraram a Páscoa no décimo quarto dia do primeiro mês, ao entardecer, no deserto do Sinai; conforme tudo o que o Senhor tinha ordenado a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel. Houve, porém, alguns homens que estavam impuros por terem tocado num cadáver humano e não puderam celebrar a Páscoa. Apresentaram-se nesse mesmo dia a Moisés e a Aarão e disseram-lhes esses homens: «Nós estamos impuros por termos tocado num cadáver humano; porque havíamos de ser impedidos de apresentar a oferta ao Senhor, no tempo devido, juntamente com os filhos de Israel?» Disse-lhes Moisés: «Esperai aí e eu vou ouvir o que ordena o Senhor a vosso respeito.» Então o Senhor disse a Moisés: «Fala aos filhos de Israel: ‘Qualquer um de vós ou dos vossos descendentes que estiver impuro por ter tocado num cadáver ou por andar longe de vós, celebrará a Páscoa do Senhor; no segundo mês, no décimo quarto dia do mês, entre as duas tardes, a celebrareis; com pães ázimos e ervas amargas a comereis. Nada dela restará até de manhã; não quebrareis qualquer osso; conforme a lei da Páscoa a celebrareis. Quem, estando puro e não andar em viagem, deixar de celebrar a Páscoa, será eliminado do meu povo, porque não apresentou a oferta ao Senhor no tempo devido; esse homem suportará as consequências do seu pecado. E quando um estrangeiro habitar convosco celebrará a Páscoa do Senhor; conforme os preceitos e costumes a celebrará. Haverá uma só lei para vós, para o estrangeiro e para o natural do país.» No dia em que levantaram o tabernáculo, a nuvem cobria o tabernáculo; de tarde estava sobre a tenda do testemunho e parava sobre o tabernáculo, como que em forma de fogo, até de manhã. Assim sucedia sempre. A nuvem cobria-o de dia e, de noite, era em forma de fogo. Sempre que a nuvem se elevava acima da tenda, logo os filhos de Israel partiam e, no lugar onde parava a nuvem, aí acampavam os filhos de Israel. À ordem do Senhor, partiam os filhos de Israel e, à ordem do Senhor, acampavam. Todas as vezes que a nuvem parava sobre o tabernáculo, eles acampavam. Quando a nuvem se estendia muito tempo sobre o tabernáculo, os filhos de Israel montavam a guarda do Senhor e não partiam. Se a nuvem ficava pouco tempo sobre o tabernáculo, por ordem do Senhor acampavam e, por ordem do Senhor, partiam. Por vezes a nuvem parava de tarde até de manhã; se a nuvem se levantava pela manhã, também eles partiam; ou a nuvem ficava um dia e uma noite e, quando se levantava, eles partiam. Ou dois dias, ou um mês, ou um ano, enquanto a nuvem repousava sobre o tabernáculo, os filhos de Israel acampavam e não partiam mas, quando ela se elevava, partiam. À ordem do Senhor acampavam e à ordem do Senhor partiam. Montavam a guarda do Senhor, segundo ordem recebida do Senhor através de Moisés. O Senhor falou a Moisés: «Faz para ti duas trombetas; de prata batida as farás. Servir-te-ão para convocar a assembleia e para dar ordem de partida aos acampamentos. Quando as tocarem, toda a assembleia se reunirá junto de ti, à entrada da tenda da reunião. Se tocarem só uma, reunir-se-ão junto de ti os homens, chefes dos milhares de Israel. Se tocarem com som estridente, partirão os acampamentos dispostos a oriente. Se tocarem segunda vez com som estridente, partirão os acampamentos dispostos a sul; tocarão para dar os sinais da sua partida. Para reunir a comunidade, também tocareis, mas não com som estridente. Os filhos de Aarão, os sacerdotes, tocarão as suas trombetas; será para vós um preceito eterno através das vossas gerações. Quando fordes para a guerra, na vossa terra, contra o inimigo que vos atacar, tocareis com estridência as trombetas; sereis lembrados diante do Senhor, vosso Deus, e sereis salvos dos vossos inimigos. No dia das vossas festas, das vossas reuniões e no começo dos vossos meses, tocareis as trombetas para os vossos holocaustos, para os vossos sacrifícios de comunhão. Serão para vós um memorial diante do vosso Deus. Eu sou o Senhor, vosso Deus.» No segundo ano, no segundo mês, no vigésimo dia do mês, levantou-se a nuvem por cima do tabernáculo do testemunho. Os filhos de Israel partiram do deserto do Sinai segundo as suas ordens de marcha e a nuvem parou no deserto de Paran. Foi a primeira vez que partiram por ordem recebida do Senhor através de Moisés. E também pela primeira vez se pôs em marcha a bandeira do acampamento dos filhos de Judá segundo os seus agrupamentos, tendo à sua testa Nachon, filho de Aminadab; à testa da tribo dos filhos de Issacar estava Natanael, filho de Suar; à testa da tribo dos filhos de Zabulão estava Eliab, filho de Helon. Desmontado o tabernáculo, partiram os filhos de Gérson e os filhos de Merari levando o tabernáculo. Pôs-se em marcha a bandeira do acampamento de Rúben segundo os seus agrupamentos e, à sua testa, estava Eliçur, filho de Chediur. À testa da tribo dos filhos de Simeão estava Chelumiel, filho de Surichadai. À testa da tribo dos filhos de Gad estava Eliasaf, filho de Deuel. Partiram, então, os queatitas levando os objectos sagrados; levantaram o tabernáculo enquanto se aguardava a chegada deles. Partiu a bandeira do acampamento dos filhos de Efraim segundo os seus agrupamentos e, à testa dele, Elichamá, filho de Amiud. À testa da tribo dos filhos de Manassés estava Gamaliel, filho de Pedaçur. À testa da tribo dos filhos de Benjamim estava Abidan, filho de Guideoni. Partiu a bandeira do acampamento dos filhos de Dan, à retaguarda de todos os acampamentos, segundo os seus agrupamentos, e, à testa da tribo, estava Aiézer, filho de Amichadai. À testa da tribo dos filhos de Aser estava Paguiel, filho de Ocran. À testa da tribo dos filhos de Neftali estava Airá, filho de Enan. Estas as ordens de marcha em que partiram os filhos de Israel segundo os seus agrupamentos. Moisés disse a Hobab, filho de Reuel, o madianita, sogro de Moisés: «Nós partimos para o lugar que o Senhor prometeu que vos havia de dar. Vem connosco e nós te faremos bem, porque o Senhor prometeu o bem a Israel.» Mas ele respondeu-lhe: «Não irei senão para a minha terra e para a minha parentela.» Ele retorquiu-lhe: «Não nos abandones, porque conheces os nossos acampamentos no deserto e serás o nosso guia. Se nos acompanhares e obtivermos o bem que o Senhor nos prometeu dar, também te faremos bem.» Partiram do monte do Senhor, caminhando durante três dias e a Arca da aliança do Senhor foi à frente deles, durante três dias, para lhes indicar um sítio onde descansar. A nuvem do Senhor pairava sobre eles de dia quando partiam do acampamento. Ora, quando a Arca partia, Moisés dizia: «Levanta-te, Senhor, e dispersem-se os teus inimigos! Fujam os teus adversários diante da tua face!» Mas, quando a Arca parava, dizia: «Volta, Senhor! Multipliquem-se os milhares de Israel!» Sucedeu que o povo começou a queixar-se aos ouvidos do Senhor. O Senhor ouviu e inflamou-se a sua ira; então, o fogo do Senhor acendeu-se contra eles e devorou uma extremidade do acampamento. O povo clamou por Moisés; Moisés orou ao Senhor e o fogo extinguiu-se. Chamaram a esse lugar Tabera, porque o fogo do Senhor se tinha acendido contra eles. A população que estava no meio deles, deixou-se arrastar pela concupiscência e também os filhos de Israel se puseram a chorar, dizendo: «Quem nos dará carne para comer? Lembramo-nos do peixe que comíamos de graça no Egipto, dos pepinos, dos melões, dos alhos porros, das cebolas e dos alhos. Agora, a nossa garganta está seca; não há nada diante de nós senão maná.» O maná era como a semente do coentro e o seu aspecto como o bdélio. O povo espalhava-se a apanhá-lo e moía-o em moinhos ou pisava-o em almofarizes; cozia-o em panelas e fazia bolos; tinha o sabor de tortas com gordura de azeite. Quando o orvalho caía de noite sobre o acampamento, o maná também caía. Moisés ouviu o povo chorar agrupado por famílias, cada uma à entrada da sua tenda. Mas a ira do Senhor inflamou-se muito e Moisés sentiu o mal perto de si. Então Moisés falou ao Senhor, «Porque atormentas o teu servo? Porque é que não encontrei graça diante de ti, a ponto de pores todo este povo como um peso sobre mim? Acaso fui eu que concebi todo este povo? Fui eu que o dei à luz, para me dizeres: ‘Leva-o ao colo, como a ama leva a criança de peito, até à terra que prometeste a seus pais?’ Onde arranjarei carne para dar a todo este povo que chora junto de mim, dizendo: ‘Dá-nos carne para comer!’ Eu sozinho não consigo suportar todo este povo, porque é demasiado pesado para mim! Se me queres tratar assim, dá-me antes a morte; se encontrei graça diante de ti, que eu não veja mais a minha desgraça!» O Senhor disse a Moisés: «Reúne para mim setenta homens dos anciãos de Israel, que saibas serem anciãos do povo e terem autoridade sobre ele. Levá-los-ás à tenda da reunião e aí os farás esperar contigo. Então descerei ali, falarei contigo e tomarei do espírito que está sobre ti para o pôr sobre eles; partilharão contigo o peso do povo e não terás de o suportar tu sozinho. Dirás ao povo: ‘Santificai-vos para amanhã e comereis carne, pois chorastes aos ouvidos do Senhor, dizendo: Quem nos dará carne a comer? Melhor era para nós estar no Egipto.’» O Senhor vos dará carne a comer. E não comereis um dia, nem dois, nem cinco, nem dez, nem vinte dias, mas durante um mês até que vos saia pelas narinas e vos enfastie. Ultrajastes o Senhor que está no meio de vós e chorastes diante dele, dizendo: ‘Porque saímos nós do Egipto?’» Moisés disse: «Seiscentos mil caminhantes tem o povo no meio do qual eu estou, e Tu dizes: ‘Eu lhes darei carne e eles comerão durante um mês’. Iremos matar para eles ovelhas e bois? E onde os encontraremos? Se tivéssemos de juntar para eles todos os peixes do mar, onde os encontraríamos?» O Senhor disse a Moisés: «Acaso será curta a mão do Senhor ? Agora verás se a minha palavra se realiza ou não a teu respeito.» Moisés saiu e disse ao povo as palavras do Senhor; juntou setenta homens dos anciãos do povo e pô-los à volta da tenda. O Senhor desceu na nuvem e falou-lhe; tomando do espírito que estava sobre ele, deu-o aos setenta anciãos. Quando o espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas depois não o conseguiam. Dois desses homens tinham ficado no acampamento. O nome de um era Eldad e o nome do outro era Medad. O espírito desceu também sobre eles, porque estavam entre os inscritos, embora não tivessem ido para a tenda, e começaram a profetizar no acampamento. Um rapaz, porém, correu a anunciar isso a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento.» Então Josué, filho de Nun, servo de Moisés desde a juventude, ripostou: «Moisés, meu senhor, não lho consintas.» Respondeu-lhe Moisés: «Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor profetizasse, que o Senhor enviasse o seu espírito sobre ele!» Voltou Moisés para o acampamento, ele e os anciãos de Israel. Levantou-se, entretanto, um vento enviado pelo Senhor, vindo do mar; trouxe codornizes e abateu-se sobre o acampamento, de um lado e de outro, na extensão do caminho de um dia, à volta do acampamento e cerca de dois côvados acima da superfície da terra. Todo o povo naquele dia e naquela noite e em todo o dia seguinte se pôs a apanhar codornizes; aquele que menos apanhou, ainda apanhou dez hómeres. Estenderam-nas em volta do acampamento. A carne estava-lhes ainda entre os dentes, antes de ser mastigada, quando a ira do Senhor se inflamou contra o povo e o Senhor feriu o povo com um grande castigo. Deram àquele lugar o nome de Quibrot-Hataavá, porque sepultaram aí a gente de desejos desordenados. De Quiberot-Hatavá o povo partiu para Hacerot e ficou em Hacerot. Maria e Aarão falaram contra Moisés por causa da mulher etíope que ele tinha tomado, por ter desposado uma etíope; e disseram: «Acaso foi só a Moisés que o Senhor falou? Não nos falou também a nós?» Ora o Senhor ouviu. Na realidade, Moisés era um homem muito humilde, mais que todos os homens que há sobre a face da terra. Subitamente, o Senhor disse a Moisés, a Aarão e a Maria: «Ide vós três à tenda da reunião.» E foram os três. O Senhor desceu na coluna da nuvem, pôs-se à entrada da tenda e chamou Aarão e Maria. Aproximaram-se, e Ele disse: «Escutai bem as minhas palavras. Se existisse entre vós um profeta, Eu, o Senhor, manifestar-me-ia a ele numa visão. Eu me daria a conhecer em sonhos, falaria com ele. Não é assim com o meu servo Moisés? Eu estabeleci-o sobre toda a minha casa! Falo com ele frente a frente, à vista e não por enigmas; ele contempla a imagem do Senhor! Como é que não tivestes medo de falar contra o meu servo, contra Moisés?» A ira do Senhor inflamou-se contra eles e afastou-se. Retirou-se a nuvem de cima da tenda; e eis que Maria se encontrou coberta de lepra como neve. Aarão voltou-se para Maria e viu-a coberta de lepra. Disse Aarão a Moisés: «Por favor, meu senhor, não nos faças suportar esse pecado que cometemos e de que somos culpados. Que ela não seja como alguém que sai já morto do ventre de sua mãe e com a carne meio consumida.» Moisés suplicou ao Senhor, «Ó Deus, por favor, cura-a!» O Senhor disse a Moisés: «Se o pai dela lhe tivesse cuspido na cara, não ficaria ela envergonhada durante sete dias? Seja então excluída sete dias do acampamento e volte depois.» Maria foi excluída para fora do acampamento durante sete dias, e o povo não partiu enquanto Maria não voltou. Depois, o povo partiu de Hacerot e acampou no deserto de Paran. O Senhor falou a Moisés: «Manda homens para explorar a terra de Canaã, que Eu hei-de dar aos filhos de Israel; enviarás um homem por cada tribo da casa de seus pais, todos dentre os principais.» Moisés enviou-os desde o deserto de Paran, segundo a palavra do Senhor, todos eles homens chefes dos filhos de Israel. São estes os seus nomes: da tribo de Rúben, Chamua, filho de Zacur; da tribo de Simeão, Chafat, filho de Hori; da tribo de Judá, Caleb, filho de Jefuné; da tribo de Issacar, Jigal, filho de José; da tribo de Efraim, Oseias, filho de Nun; da tribo de Benjamim, Palti, filho de Rafú; da tribo de Zabulão, Gadiel, filho de Sodi; da tribo de José, da tribo de Manassés, Gadi, filho de Sussi; da tribo de Dan, Amiel, filho de Guemali; da tribo de Aser, Setur, filho de Micael; da tribo de Neftali, Naabi, filho de Vapsi; da tribo de Gad, Gueuel, filho de Maqui. Estes são os nomes dos homens que Moisés enviou a explorar a terra, e Moisés deu a Oseias, filho de Nun, o nome de Josué. Moisés enviou-os a explorar a terra de Canaã e disse-lhes: «Subi o Négueb, subi a montanha. Vede que terra é essa e que povo habita nela, se é forte ou fraco, pouco ou muito numeroso. Que tal a terra em que habita, boa ou má? Que tais as cidades em que habita, abertas ou fortificadas? Que tal o terreno, fértil ou estéril? Se há nele árvores de fruto ou não. Apanhai e trazei dos frutos da terra.» Era então o tempo das primeiras uvas. Subiram e exploraram a terra, desde o deserto de Cin até Reob, à entrada de Hamat. Subiram o Négueb e chegaram a Hebron, onde estavam Aiman, Chechai e Talmai, descendentes de Anac. Hebron foi construída sete anos antes de Soan do Egipto. Chegaram ao vale de Escol onde cortaram um ramo com um cacho de uvas; dois homens o levaram e também romãs e figos. Chamaram a esse lugar Naal-Escol por causa do cacho de uvas que aí tinham cortado os filhos de Israel. Ao fim de quarenta dias, regressaram de explorar a terra. Vieram ter com Moisés e Aarão e com toda a assembleia dos filhos de Israel no deserto de Paran, em Cadés. Transmitiram-lhes a informação e todo o testemunho, mostrando-lhes o fruto da terra. Contaram, dizendo: «Fomos à terra aonde nos enviastes; lá, em verdade, corre leite e mel, e estes são os seus frutos. Todavia, o povo que habita nessa terra é bastante forte, tem cidades muito grandes amuralhadas, e até lá vimos os descendentes de Anac. Amalec habita na terra do Négueb, os hititas, os jebuseus, os amorreus habitam na montanha e os cananeus habitam junto ao mar e na margem do Jordão.» Caleb fez calar o povo que murmurava contra Moisés e disse: «Subamos e apoderemo-nos da terra, pois, sem dúvida, havemos de conseguir conquistá-la.» Mas os homens que tinham subido com ele disseram: «Não podemos atacar esse povo, porque é mais forte do que nós.» E contaram a má fama da terra que tinham explorado, dizendo aos filhos de Israel: «A terra que atravessámos para a explorar é terra que devora os seus habitantes e todo o povo que nela vimos é gente de grande estatura. Até lá vimos os gigantes, filhos de Anac, da raça dos gigantes; parecíamos gafanhotos diante deles e eles assim nos consideravam.» Levantou-se toda a assembleia a gritar e o povo chorou toda essa noite. Murmuraram contra Moisés e contra Aarão todos os filhos de Israel, dizendo consigo toda a assembleia: «Antes tivéssemos morrido na terra do Egipto ou mesmo neste deserto. Porque nos fez sair o Senhor para esta terra a fim de nos matar à espada? As nossas mulheres e as nossas crianças serão humilhadas. Não nos seria melhor voltar para o Egipto?» E cada um dizia ao seu irmão: «Escolhamos um chefe e voltemos para o Egipto!» Moisés e Aarão prostraram-se com a face por terra diante de toda a comunidade da assembleia dos filhos de Israel. Então Josué, filho de Nun, e Caleb, filho de Jefuné, que eram dos exploradores da terra, rasgaram as suas vestes e falaram a toda a assembleia dos filhos de Israel, dizendo: «A terra que atravessámos para a explorar é uma terra muito, muito boa. Se a boa vontade do Senhor está connosco e nos fez sair para esta terra, Ele nos dará a terra onde corre leite e mel! Somente, não vos revolteis contra o Senhor e não temais o povo daquela terra, porque ele será o nosso pão. A sombra protectora afastou-se deles, mas o Senhor está connosco. Não temais!» Toda a assembleia falava em apedrejá-los, quando a glória do Senhor apareceu na tenda da reunião a todos os filhos de Israel. Disse o Senhor a Moisés: «Até quando andará este povo a ultrajar-me? Até quando se negarão a confiar em mim, apesar de tantos sinais que tenho realizado no meio deles? Vou feri-lo com a peste e destruí-lo, mas farei de ti um povo maior e mais poderoso do que ele.» Moisés, porém, disse ao Senhor, «Ouvirão os egípcios, do meio dos quais fizeste sair com tua força este povo e dirão aos habitantes desta terra. Ouvirão que Tu, Senhor, estás no meio deste povo, Tu, Senhor, que te manifestas olhos nos olhos e que a tua nuvem paira sobre eles e que caminhas à frente deles, de dia na coluna de nuvem e, de noite, na coluna de fogo. Irás porventura matar este povo como se fosse um só homem? Diriam então os povos que ouviram o teu nome: ‘O Senhor, como não pôde introduzir este povo na terra que lhes tinha prometido, matou-os no deserto’. Agora, Senhor, engrandece a tua força, como prometeste, ao dizer: ‘O Senhor é lento para a ira e de muita bondade; tolera a iniquidade e o pecado; mas não desculpa nada, descarregando a iniquidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração. Desculpa, então, a iniquidade deste povo segundo a tua grande bondade, tal como tens perdoado a este povo, desde o Egipto até aqui.’» O Senhor respondeu: «Desculparei, conforme o teu pedido! Mas, tanto como Eu sou vivo e a glória do Senhor enche a terra inteira, é certo que nenhum destes homens, que viram a minha glória e os sinais que Eu realizei no Egipto e no deserto e me tentaram já dez vezes e não ouviram a minha voz, nenhum verá a terra que Eu prometi com juramento a seus pais; nenhum dos que me desprezaram a verá. Todavia, o meu servo Caleb, porque teve consigo um espírito diferente e me permaneceu fiel, Eu o introduzirei na terra onde já entrou e a sua descendência a possuirá. Visto que os amalecitas e os cananeus habitam no vale, amanhã retrocedei e parti para o deserto pelo caminho do Mar dos Juncos.» O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Até quando terei de ouvir esta assembleia má a murmurar contra mim? Ouvi as murmurações que os filhos de Israel fazem continuamente contra mim. Dir-lhes-ás: ‘Como Eu sou vivo – oráculo do Senhor segundo as palavras que vos ouvi dizer, assim mesmo vos farei. Neste deserto cairão os vossos cadáveres e todos os vossos recenseados de vinte anos para cima, que murmuraram contra mim. Pois nenhum de vós entrará na terra pela qual levantei a minha mão para nela vos fazer morar, a não ser Caleb, filho de Jefuné, e Josué, filho de Nun, e as crianças que vós dizeis destinadas à humilhação. Eu os introduzirei nela e conhecerão a terra que vós desprezastes. Quanto a vós, os vossos cadáveres cairão neste deserto e os vossos filhos andarão errantes no deserto durante quarenta anos, carregando as vossas infidelidades até que os vossos cadáveres se desfaçam no deserto. Conforme o número de dias em que explorastes a terra, quarenta dias, equivalendo cada dia a um ano, haveis de carregar durante quarenta anos as vossas iniquidades e reconhecereis o meu desagrado’. Eu, o Senhor, declaro: Hei-de fazer isto a toda esta assembleia má que se revoltou contra mim neste deserto. Aqui acabarão e morrerão!’» De facto, os homens que Moisés enviara a explorar a terra, regressando, puseram a murmurar contra ele toda a assembleia, menosprezando a terra. Esses homens, que menosprezaram a terra como má, morreram fulminados diante do Senhor. Josué, filho de Nun, e Caleb, filho de Jefuné, foram os únicos que ficaram de entre aqueles homens que tinham ido explorar a terra. Moisés disse a todos os filhos de Israel estas palavras e o povo ficou muito angustiado. Levantaram-se cedo, de madrugada, e subiram ao cimo do monte, dizendo: «Eis-nos! Subiremos para o lugar que o Senhor indicou, pois pecámos.» Disse Moisés: «Porquê? Vós transgredis a ordem do Senhor e isso não resultará. Não subais, porque o Senhor não está no meio de vós; não vos entregueis aos vossos inimigos. Com efeito, os amalecitas e os cananeus estão ali diante de vós e caireis à espada por vos terdes afastado do Senhor; pois o Senhor não está convosco.» Mas eles teimaram em subir mesmo ao cimo do monte, embora a Arca da aliança do Senhor e Moisés não se tivessem movido do meio do acampamento. Os amalecitas e os cananeus que habitavam naquele monte desceram contra eles, ferindo-os e perseguindo-os até Horma. O Senhor disse a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Quando chegardes à terra em que haveis de morar, a qual Eu vos hei-de dar, e fizerdes oferta ao Senhor de um holocausto ou de um sacrifício para cumprimento de um voto, ou em oferta voluntária, e quando nas vossas festas fizerdes do gado ou do rebanho um dom de odor agradável ao Senhor, quem apresentar a sua oferenda ao Senhor apresentará a oferta de um décimo de flor de farinha, amassada num quarto de hin de azeite e um quarto de hin de vinho em libação. Juntareis isso ao holocausto ou ao sacrifício por cada cordeiro. Por carneiro farás uma oferta de dois décimos de flor de farinha amassada num terço de hin de azeite e um terço de hin de vinho em libação, que apresentarás como odor agradável ao Senhor. Quando ofereceres um novilho em holocausto ou em sacrifício, em cumprimento de um voto ou em sacrifício de comunhão, ao Senhor, apresentarás pelo novilho uma oferta de três décimos de flor de farinha amassada em meio hin de azeite e apresentarás em libação meio hin de vinho. É oferta de odor agradável ao Senhor. Assim se fará por cada boi ou por cada carneiro ou por cada cordeiro ou cabrito. Conforme o número que oferecerdes, assim fareis por cada um segundo o número deles. Todo o nativo do país procederá deste modo quando apresentar uma oferta de odor agradável ao Senhor. Se o estrangeiro, que habita entre vós ou se encontrar no meio de vós, ao longo das vossas gerações, fizer uma oferta de odor agradável ao Senhor, fará a oferta como vós fizerdes. Haverá uma só lei para vós e para o estrangeiro residente entre vós; uma lei eterna através das vossas gerações; como vós, assim será o estrangeiro diante do Senhor. Haverá uma só lei e um só preceito para vós e para o estrangeiro residente entre vós.’» O Senhor disse a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Quando entrardes na terra em que eu vos vou introduzir e comerdes do pão da terra, erguei uma oferta em tributo ao Senhor. Como primícias da vossa flor de farinha erguei um bolo em oferta; como oferta da eira, assim o oferecereis. Das primícias da vossa flor de farinha dareis ao Senhor uma oferta através das vossas gerações.» «Mas se acontecer, por acaso, que não cumpris algum destes preceitos que o Senhor ordenou a Moisés, isto é, tudo o que o Senhor ordenou sobre vós por intermédio de Moisés, desde o dia em que o Senhor o ordenou, e isto através das vossas gerações; se aos olhos da assembleia agistes por inadvertência, toda a assembleia oferecerá um novilho em holocausto de odor agradável ao Senhor com sua oblação e libação, segundo o preceito, e um bode novo em sacrifício pelo pecado. O sacerdote fará a expiação por toda a assembleia dos filhos de Israel e ser-lhes-á perdoado, porque foi por inadvertência e porque apresentaram a sua oblação como oferta ao Senhor e o seu sacrifício pelo pecado diante do Senhor, pelas suas inadvertências. Será perdoada toda a assembleia dos filhos de Israel e o estrangeiro residente no meio de vós, porque todo o povo agiu por inadvertência. Mas se for uma só pessoa a que pecar por inadvertência, oferecerá uma cabra de um ano em sacrifício pelo pecado. E o sacerdote fará a expiação pela pessoa que cometeu o pecado por inadvertência diante do Senhor, expiando por ela, e será perdoada. Tanto o nativo dos filhos de Israel como o estrangeiro residente no meio de vós, que agirem mal por inadvertência, terão uma só lei. Mas aquele que agir deliberadamente, quer dos nativos da terra quer dos estrangeiros, esse ultraja o Senhor e será eliminado do meio do seu povo por ter desprezado a palavra do Senhor e violado o seu preceito. Será eliminado; sobre ele cairá a sua iniquidade.’» Estando os filhos de Israel no deserto, encontraram um homem a apanhar lenha em dia de sábado. Os que o encontraram a apanhar lenha levaram-no a Moisés e a Aarão e a toda a assembleia e colocaram-no em custódia, porque não se decidira ainda o que se lhe devia fazer. Então o Senhor disse a Moisés: «Esse homem será morto. Toda a assembleia o apedrejará, fora do acampamento.» De facto, toda a assembleia o fez sair para fora do acampamento, apedrejando-o, e foi morto, como o Senhor ordenara a Moisés. O Senhor disse a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes que façam para si, ao longo das suas gerações, franjas nos cantos das suas vestes, pondo na franja de cada canto um cordão de lã purpúrea. Tereis, assim, franjas que, quando olhardes para elas, vos recordarão todos os preceitos do Senhor. Haveis de cumpri-los e não vos deixareis arrastar pelos vossos corações e pelos vossos olhos, que vos seduziriam para o mal. Por isso vos lembrareis de cumprir todos os meus preceitos e sereis santos para o vosso Deus! Eu sou o Senhor vosso Deus que vos fiz sair da terra do Egipto para ser o vosso Deus! – Eu sou o Senhor vosso Deus!» Coré, filho de Jiçar, filho de Queat, filho de Levi, tomou Datan e Abiram, filhos de Eliab, e On, filho de Pélet, filhos de Rúben, e revoltaram-se contra Moisés com duzentos e cinquenta homens dos filhos de Israel, príncipes da assembleia, membros do conselho, homens de posição. Reuniram-se contra Moisés e Aarão e disseram-lhes: «Estamos saturados de vós! Toda a assembleia, todos eles são santos e o Senhor está no meio deles. Porque vos impondes à comunidade do Senhor?» Moisés ouviu e caiu de face por terra; depois falou a Coré e a todo o seu grupo: «Amanhã o Senhor dará a conhecer quem lhe pertence, quem é santo e quem quer junto de si. Quem Ele escolher, esse se aproximará dele. Fazei isto: Tomai turíbulos, Coré, e todo o seu grupo. Amanhã, ponde fogo nos turíbulos e deitai-lhes incenso diante do Senhor. Aquele que o Senhor escolher, esse será santo. Basta convosco, filhos de Levi!» E Moisés disse a Coré: «Escutai, filhos de Levi! Acaso é pouco para vós ter-vos escolhido o Deus de Israel de entre a assembleia de Israel, deixando-vos aproximar de si para servir no culto do tabernáculo do Senhor e para estar diante da assembleia como seus ministros? Fez-te aproximar a ti e a todos os teus irmãos, filhos de Levi, contigo, e ainda ambicionais o sacerdócio? É por isso que tu e todo o teu grupo conspirais contra o Senhor? E quem é Aarão para murmurardes contra ele?» Moisés mandou chamar Datan e Abiram, filhos de Eliab, mas eles disseram: «Não vamos! Acaso é pouco teres-nos feito subir duma terra onde corre leite e mel para nos fazeres morrer no deserto? Quererás ainda dominar sobre nós? Não nos conduziste à terra onde corre leite e mel nem nos deste em herança campos e vinhas. Quererás cegar os olhos destes homens? Nós não vamos!» Moisés zangou-se muito e disse ao Senhor, «Não aceites as suas ofertas! Nunca lhes tirei um jumento e a nenhum deles fiz mal.» E Moisés disse a Coré: «Tu e todos os do teu grupo, apresentai-vos diante do Senhor, amanhã, tu, eles e Aarão. Cada um de vós tome o seu turíbulo e deite nele incenso e apresente-o diante do Senhor, cada um com o seu, ao todo duzentos e cinquenta turíbulos, tu e Aarão, cada um com o seu.» Cada um tomou o seu turíbulo, deitou-lhe fogo cobrindo-o de incenso e colocou-se à entrada do tabernáculo da reunião com Moisés e Aarão. Coré tinha convocado contra eles toda a assembleia à entrada da tenda da reunião. A glória do Senhor manifestou-se a toda a assembleia. Então o Senhor falou a Moisés e a Aarão, dizendo: «Separai-vos do meio dessa assembleia, pois vou exterminá-los num momento.» Mas eles caíram de rosto por terra e disseram: «Ó Deus, Deus dos espíritos de toda a humanidade! Só um homem pecou, e Tu irás enfurecer-te contra toda a assembleia?» E o Senhor disse a Moisés: «Fala à assembleia, dizendo: ‘Afastai-vos da beira da habitação de Coré, de Datan e de Abiram.’» Levantou-se, pois, Moisés e foi ter com Datan e Abiram, seguindo atrás dele os anciãos de Israel. Disse à assembleia: «Afastai-vos das tendas destes homens maus e não toqueis em nada que lhes pertença, para não perecerdes por causa de todos os seus pecados.» Retiraram-se, então, da beira da habitação de Coré, de Datan e de Abiram, enquanto Datan e Abiram se colocavam à entrada das tendas com suas mulheres, seus filhos e suas crianças. E Moisés disse: «Agora sabereis que foi o Senhor quem me enviou para fazer todas estas coisas, e não foi por mim mesmo. Se estes aqui morrerem como morre toda a gente; se o destino de toda a gente for também o deles, então não foi o Senhor que me enviou. Mas se o Senhor, em verdade, realizar um prodígio, se a terra se abrir para os engolir com tudo o que lhes pertence e eles descerem vivos ao mundo dos mortos, então sabereis que estes homens desprezaram o Senhor.» Ora aconteceu que, mal ele acabou de dizer todas estas coisas, o chão abriu-se debaixo deles e a terra, abrindo a sua boca, engoliu-os com todas as suas famílias e todos os homens de Coré com todos os seus bens. Assim desceram vivos ao mundo dos mortos, eles e tudo o que lhes pertencia. A terra cobriu-os e desapareceram do meio da comunidade. Todo o Israel que estava em volta deles fugiu com o grito que eles soltaram quando a terra os engoliu. Entretanto, da parte do Senhor, surgiu um fogo que devorou os duzentos e cinquenta homens que tinham apresentado o incenso. O Senhor falou a Moisés: «Diz ao sacerdote Eleázar, filho de Aarão, que retire os turíbulos de entre as chamas e espalhe ao longe o fogo, porque estão santificados. Com os turíbulos desses que pecaram e perderam a vida, fazei lâminas de metal batido para o altar, pois, sendo apresentadas diante do Senhor, serão santificadas e ficarão como sinal para os filhos de Israel.» Tomou o sacerdote Eleázar os turíbulos de bronze que tinham apresentado os que foram queimados e transformaram-nos em lâminas de metal batido para o altar. Isto é um memorial para os filhos de Israel, razão pela qual nenhum homem estranho, que não seja da descendência de Aarão, se deve aproximar para oferecer incenso diante do Senhor para que não lhe suceda como a Coré e ao seu grupo, quando o Senhor lhe falou por meio de Moisés. No dia seguinte, toda a assembleia dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e Aarão, dizendo: «Vós matastes o povo do Senhor!» Ora aconteceu que, ao reunir-se a assembleia contra Moisés e contra Aarão, eles se voltaram para a tenda da reunião e eis que a nuvem a cobriu aparecendo a glória do Senhor. Moisés e Aarão foram para diante da tenda da reunião. O Senhor disse a Moisés: «Afastai-vos do meio dessa assembleia e Eu os exterminarei num momento.» Mas eles caíram de face por terra. E Moisés disse a Aarão: «Toma o turíbulo, deita nele fogo do altar e põe incenso. Vai depressa para o meio da assembleia e faz expiação por eles, porque se desencadeou a ira do Senhor; o flagelo começa.» Fez Aarão como dissera Moisés, correndo para o meio da comunidade e eis que começou o flagelo contra o povo. Ele pôs o incenso e fez expiação pelo povo. Interpôs-se entre os mortos e os vivos e a calamidade cessou. Morreram na praga catorze mil e setecentos, além dos que tinham morrido por causa da palavra de Coré. Aarão voltou para junto de Moisés à entrada da tenda da reunião, e a calamidade cessou. O Senhor disse a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e toma deles uma vara, uma vara por casa patriarcal, de todos os seus príncipes, pelas suas casas patriarcais: doze varas. Escreverás o nome de cada um na sua vara. Escreverás o nome de Aarão na vara de Levi, porque só haverá uma vara para cada chefe de casa patriarcal. Depositá-las-ás na tenda da reunião, diante do testemunho onde Eu me revelo a vós. Florescerá, então, a vara do homem que Eu escolher e farei desaparecer da minha frente as murmurações que os filhos de Israel fizeram contra vós.» Moisés falou aos filhos de Israel e todos os seus príncipes lhe deram uma vara, uma vara por cada príncipe, um príncipe por cada casa patriarcal: doze varas. A vara de Aarão estava no meio de todas as outras. Moisés depositou as varas diante do Senhor na tenda do testemunho. Aconteceu no dia seguinte que, voltando Moisés à tenda do testemunho, eis que tinha florido a vara de Aarão, da casa de Levi: germinara um botão, desabrochara em flores e fizera amadurecer amêndoas. Moisés mandou retirar de diante do Senhor todas as varas para diante de todos os filhos de Israel que as viram e cada um tomou a sua. Disse o Senhor a Moisés: «Torna a trazer a vara de Aarão diante do testemunho como guarda e sinal para os rebeldes; e poderás fazer cessar as suas murmurações contra mim, e eles não morrerão.» Moisés assim fez; como o Senhor lhe ordenara, assim ele fez. Disseram os filhos de Israel a Moisés: «Com certeza vamos perecer; estamos perdidos; estamos todos perdidos! Todo aquele que se aproxima do tabernáculo do Senhor morre. Porventura iremos mesmo morrer?» Disse o Senhor a Aarão: «Tu e teus filhos, juntamente com a casa de teu pai, carregareis os pecados relativos ao santuário. Tu e teus filhos carregareis os pecados do vosso sacerdócio. Faz aproximar contigo também os teus irmãos, da tribo de Levi, tribo de teu pai, e eles colaborarão contigo e te servirão quando tu e teus filhos estiverdes diante da tenda do testemunho. Eles farão a tua guarda e a guarda de toda a tenda; só não se aproximarão dos objectos sagrados nem do altar para não morrerem, nem eles nem tu. Colaborarão contigo e farão a guarda da tenda da reunião em todo o serviço da tenda para que nenhum estranho se aproxime de vós. Fareis a guarda do santuário e a guarda do altar, para que a minha cólera não caia mais sobre os filhos de Israel. Eis que eu mesmo escolhi de entre os filhos de Israel os vossos irmãos, os levitas, entregues a vós como dádiva pelo Senhor, para fazerem o serviço da tenda da reunião. Tu e teus filhos contigo guardareis o vosso sacerdócio para todas as coisas do altar e atrás do véu; esse será o vosso serviço. Entreguei-vos o sacerdócio como dádiva de serviço; o estranho que se aproximar morrerá.» O Senhor falou a Aarão: «Eis que Eu próprio te dei a guarda dos meus tributos. Todas as coisas santas dos filhos de Israel são dadas a ti e a teus filhos por causa da unção, como lei eterna. Isto será para ti: de entre todas as coisas santificadas pelo fogo, todas as suas ofertas de todas as oblações, de todos os sacrifícios pelo pecado, de todos os sacrifícios de reparação; as coisas santas que me retribuírem serão para ti e para teus filhos. Comê-las-ás como as coisas mais sagradas; todo o varão as poderá comer, pois isso é para ti uma coisa santa. É para ti o tributo dos seus dons, de tudo o que for erguido em oferta pelos filhos de Israel; são dados a ti e a teus filhos e às tuas filhas que estiverem contigo, como lei eterna; todo o que estiver puro em tua casa poderá comer isso. As primícias de toda a gordura de azeite, de toda a gordura de vinho e trigo, que derem ao Senhor, são dadas a ti. As primícias de tudo o que estiver na terra, que eles apresentem ao Senhor, serão para ti: todo o que estiver puro em tua casa as poderá comer. Tudo o que em Israel for votado ao anátema será para ti. Todo o primogénito, de qualquer criatura, quer de homens quer de animais, que oferecerem ao Senhor, será para ti; no entanto, mandarás que se resgate o primogénito do homem e o primogénito do animal impuro. Resgatá-lo-ão a partir de um mês, segundo a tua avaliação, por cinco siclos de prata pelo siclo do santuário, de vinte gueras cada um. Só não resgatarás o primogénito da vaca ou da ovelha ou da cabra; são coisa sagrada. Derramarás o sangue deles sobre o altar, queimarás as suas gorduras em oferta de odor agradável ao Senhor. E a carne deles será para ti como o peito apresentado ritualmente e como a coxa direita. Todos os tributos santificados, que os filhos de Israel oferecem ao Senhor, Eu os darei a ti, aos teus filhos e às tuas filhas como lei perpétua, aliança de sal, eterna diante do Senhor, para ti e para a tua descendência.» O Senhor disse a Aarão: «Na terra deles não receberás herança nem terás parte junto com eles. Eu serei a tua parte e a tua herança entre os filhos de Israel. Aos levitas, eis que Eu darei em Israel todos os dízimos como herança, recompensa pelos serviços que eles prestaram no culto da tenda da reunião. Os filhos de Israel não mais se aproximarão da tenda da reunião, cometendo um pecado que levaria à morte. Os levitas prestarão o serviço da tenda da reunião e eles carregarão o seu pecado, lei perpétua através das vossas gerações. No meio dos filhos de Israel, eles não receberão qualquer herança, porque o dízimo, que os filhos de Israel oferecem em tributo ao Senhor, Eu o darei em herança aos levitas. Por isso, lhes disse que, entre os filhos de Israel, não receberiam qualquer herança.» O Senhor disse a Moisés: «Falarás aos levitas e lhes dirás: ‘Quando receberdes dos filhos de Israel o dízimo que deles vos dei como vossa herança, oferecereis de vós um tributo ao Senhor, o dízimo do dízimo. E esse será considerado por vós o vosso tributo como trigo da eira e colheita do lagar. Assim, também vós oferecereis tributo ao Senhor de todos os vossos dízimos que recebeis dos filhos de Israel e entregareis o tributo do Senhor ao sacerdote Aarão. De todos os vossos dons oferecereis tributo ao Senhor; a melhor parte é que será consagrada’. Dir-lhes-ás ainda: ‘Ao oferecerdes o melhor dele, será considerado pelos levitas como produto da eira e como tributo do lagar. Comê-lo-eis em todos os lugares, vós e as vossas famílias, porque ele será para vós o preço pelos vossos serviços na tenda da reunião. Não cometereis por causa disso pecado algum, ao oferecerdes o melhor dele, nem profanareis as coisas santas dos filhos de Israel nem morrereis.’» O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Este é o preceito da lei que vos ordena o Senhor, ao dizer: ‘Fala aos filhos de Israel para que te tragam uma vaca vermelha, sem defeito, que não tenha manchas nem tenha carregado o jugo. Entregá-la-eis ao sacerdote Eleázar, o qual a levará para fora do acampamento e a mandará degolar à sua vista. Então o sacerdote Eleázar com o dedo tomará do sangue e fará sete vezes com sangue aspersão para diante da tenda da reunião. Queimarão, depois, a vaca à vista dele: queimar-lhe-ão a pele, a carne, o sangue e também os intestinos. Então o sacerdote agarrará um pouco de madeira de cedro e de hissopo e um pano carmesim e os atirará ao fogo em que arde a vaca. O sacerdote lavará as suas vestes e o seu corpo e, depois, voltará para o acampamento; mas ficará impuro até à tarde. O que esteve a queimar a vaca lavará também as suas vestes e o seu corpo, mas ficará impuro até à tarde. Um homem puro recolherá a cinza da vaca e a porá fora do acampamento num lugar puro, ficando à guarda da comunidade dos filhos de Israel para as águas da purificação. Isto é um sacrifício pelo pecado. Aquele que juntou a cinza da vaca lavará as suas vestes e ficará impuro até à tarde. Isto será para os filhos de Israel e para os estrangeiros que habitam no meio deles uma lei perpétua. Quem tocar no cadáver de qualquer pessoa ficará impuro sete dias. Esse deve purificar-se no terceiro e no sétimo dia; mas, se não se purificar no terceiro e no sétimo dia com essa água, não ficará puro. Todo o que tocar no cadáver de qualquer pessoa que tenha morrido e não se purificar, profanará o tabernáculo do Senhor e será exterminado de Israel; porque as águas da purificação não correram sobre ele, ficará impuro enquanto a impureza estiver nele. Esta é a lei: Quando um homem morrer numa tenda, todos os que entrarem nessa tenda e todos os que lá estiverem ficarão impuros durante sete dias; e todo o vaso aberto, que não tiver cobertura, ficará impuro também. E todo aquele que, em pleno campo, tocar num homem trespassado pela espada ou num cadáver ou em ossos humanos ou numa sepultura, ficará impuro durante sete dias. Para o purificar, tomarão da cinza queimada do sacrifício pelo pecado e derramarão sobre ele um vaso de água da corrente. Depois, um homem puro tomará o hissope e o mergulhará na água e aspergirá a tenda, todos os objectos, as pessoas que lá se encontrarem e o que tiver tocado nos ossos ou no assassinado ou no cadáver ou no sepulcro. O homem puro aspergirá o impuro no terceiro e no sétimo dia e, quando estiver purificado no sétimo dia, lavará as suas vestes, tomará banho e, naquela tarde, ficará puro. O homem que se tornar impuro e não se purificar deverá ser expulso do meio da comunidade, porque ele mancha o santuário do Senhor; não tendo corrido sobre ele as águas da purificação, ele ficará impuro. Isto será para vós uma lei perpétua. Aquele que tiver feito a aspersão com água da purificação deve lavar as suas vestes, e aquele que tiver tocado nas águas da purificação ficará impuro até à tarde. Tudo aquilo que ele tocar ficará impuro e toda a pessoa que nele tocar ficará impura até à tarde.’» Toda a comunidade dos filhos de Israel chegou ao deserto de Cin, no primeiro mês, e o povo instalou-se em Cadés. Ali morreu Maria e ali foi sepultada. Como a comunidade não tinha água, amotinaram-se contra Moisés e Aarão. O povo começou a discutir com Moisés, dizendo: «Oxalá tivéssemos perecido com os nossos irmãos diante do Senhor! Porque conduzistes a comunidade do Senhor a este deserto? Foi para morrermos aqui com os nossos rebanhos? E porque nos tirastes do Egipto? Foi para nos fazer vir para este lugar mau, que não é lugar de sementeiras, nem de figueiras, nem de vinhas, nem de romãs, nem de água para beber?» Moisés e Aarão afastaram-se da comunidade, dirigiram-se à porta da tenda da reunião e inclinaram-se de rosto por terra. Apareceu-lhes então a glória do Senhor. E o Senhor disse a Moisés: «Toma a tua vara e convoca a assembleia. Tu e Aarão, teu irmão, falareis ao rochedo diante de todos, e ele dará as suas águas; farás jorrar para eles água do rochedo e darás de beber à assembleia e seus rebanhos.» Moisés tomou a vara que estava diante do Senhor, como Ele lhe tinha ordenado. Moisés e Aarão convocaram a comunidade para diante do rochedo, e ele falou-lhes: «Ouvi, rebeldes! Porventura, deste rochedo poderemos fazer jorrar água para vós?» Moisés levantou a mão e bateu com a sua vara duas vezes no rochedo. Jorrou, então, tanta água que a assembleia e seus rebanhos puderam beber. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: «Porque vós não acreditastes em mim, para provardes a minha santidade diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta comunidade na terra que lhes vou dar.» Estas são as águas de Meribá, onde os filhos de Israel discutiram com o Senhor e Ele lhes mostrou a sua santidade. De Cadés, Moisés enviou mensageiros ao rei de Edom: «Assim fala o teu irmão, Israel: Tu sabes todas as dificuldades que temos encontrado. Os nossos pais desceram ao Egipto, onde habitámos durante muito tempo, mas os egípcios trataram-nos mal a nós e aos nossos pais. Clamámos ao Senhor; Ele ouviu a nossa voz e mandou-nos um anjo que nos fez sair do Egipto. Eis-nos, agora, em Cadés, cidade junto à tua fronteira. Deixa-nos passar pelo teu país; não atravessaremos os campos nem as vinhas e não beberemos a água dos poços; seguiremos pela estrada real sem nos desviarmos para a direita nem para a esquerda, até que tenhamos atravessado o teu país.» Edom, porém, respondeu: «Não passarás por mim para eu não sair ao teu encontro com a espada.» Responderam-lhe os filhos de Israel: «Avançaremos pela estrada e, se bebermos das tuas águas, eu e os meus rebanhos, te pagaremos o preço; não ponhas problemas para nos deixar passar.» Mas ele replicou: «Não passarás.» E logo saiu Edom ao encontro dele com muita gente e com mão forte. Recusando Edom dar passagem a Israel através do seu país, Israel tomou outra direcção. Partiram de Cadés e toda a assembleia dos filhos de Israel chegou ao monte Hor. O Senhor disse a Moisés e a Aarão no monte Hor, nos confins da terra de Edom: «Aarão irá juntar-se aos seus antepassados, pois não entrará na terra que Eu vou dar aos filhos de Israel, por terdes sido rebeldes à minha voz junto das águas de Meribá. Toma Aarão e seu filho Eleázar e sobe com eles ao monte Hor. Tira a Aarão as suas vestes e veste-as a seu filho Eleázar; Aarão juntar-se-á aos seus e morrerá ali.» Moisés fez como o Senhor ordenara: subiram ao monte Hor à vista de toda a assembleia. Moisés despojou Aarão das suas vestes e revestiu com elas seu filho Eleázar. Aarão morreu ali, no cimo do monte. Moisés e Eleázar desceram do monte. Toda a assembleia viu que Aarão tinha falecido e toda a casa de Israel chorou Aarão, durante trinta dias. O cananeu, rei de Arad, que habitava no Négueb, soube que Israel avançava pelo caminho de Atarim; combateu contra Israel e levou alguns deles prisioneiros. Então Israel fez ao Senhor esta promessa: «Se entregares este povo nas minhas mãos, destruirei, em tributo, as suas cidades.» O Senhor ouviu a voz de Israel e entregou-lhe os cananeus; então ele destruiu, em tributo, as cidades deles. Aquele lugar passou a chamar-se Horma. Do monte Hor, os israelitas partiram pelo caminho do Mar dos Juncos para contornar a terra de Edom, mas cansaram-se na caminhada. O povo falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizestes subir do Egipto? Foi para morrer no deserto, onde não há pão nem água, estando enjoados com este pão levíssimo?» Mas o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes, que mordiam o povo, e por isso morreu muita gente de Israel. O povo foi ter com Moisés e disse-lhe: «Pecámos ao protestarmos contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor para que afaste de nós as serpentes.» E Moisés intercedeu pelo povo. O Senhor disse a Moisés: «Faz para ti uma serpente abrasadora e coloca-a num poste. Sucederá que todo aquele que tiver sido mordido, se olhar para ela, ficará vivo.» Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e fixou-a sobre um poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, vivia. Os filhos de Israel partiram e acamparam em Obot. Partiram de Obot e acamparam em Ié-Abarim, no deserto que se encontra em frente de Moab, a oriente. Partiram dali e acamparam no vale de Zéred. Partiram dali e acamparam além do Arnon, que sai do território dos amorreus e atravessa o deserto; na verdade, o Arnon é a fronteira de Moab, entre Moab e os amorreus. Por isso, se diz no “Livro das Guerras do Senhor”: «Vaeb em Sufá e as suas torrentes, o Arnon e a encosta das torrentes que se estende para as regiões de Ar e chegam à fronteira de Moab.» Daí foram para Beer. Este é o poço acerca do qual o Senhor dissera a Moisés: «Reúne o povo e Eu lhes darei água.» Então, Israel cantou este hino: «Sobe, água do poço! Aclamai-o! Poço aberto por príncipes, cavado por gente nobre, com ceptros, com seus bastões!» Do deserto foram para Mataná; de Mataná para Naaliel e de Naaliel para Bamot; de Bamot para o vale que está nos campos de Moab, ao cume do Pisga, de onde se domina a vastidão do deserto. Israel enviou mensageiros a Seon, rei dos amorreus, dizendo: «Deixa-me passar pela tua terra; não nos desviaremos por campos e vinhas, nem beberemos água de poços. Seguiremos pela estrada real até termos atravessado as tuas fronteiras.» Mas Seon não permitiu que Israel atravessasse as suas fronteiras; Seon ajuntou todo o seu povo e saiu ao encontro de Israel, no deserto. Foi a Jaás e combateu contra Israel. Israel atacou-o ao fio da espada e apoderou-se da terra dele desde o Arnon até ao Jaboc e ao país dos amonitas, porque estava fortificada a fronteira dos amonitas. Israel tomou todas aquelas cidades e estabeleceu-se em todas as cidades dos amorreus, em Hesbon e em todas as suas aldeias. Hesbon era a capital de Seon, rei dos amorreus. Este tinha combatido contra o anterior rei de Moab e tomara-lhe todo o seu país até ao Arnon. Por isso, dizem os poetas: «Vinde a Hesbon! Será reconstruída e fortificada a cidade de Seon! É que um fogo saiu de Hesbon, uma chama da fortaleza de Seon; devorou Ar de Moab, os senhores das colinas do Arnon! Ai de ti, Moab! Estás perdido, povo de Camós! Deu seus filhos sobreviventes e suas filhas aprisionadas a Seon, rei dos amorreus. Hesbon destruiu as suas crianças até Dibon, as mulheres até Nofa, os homens até Madabá!» Israel instalou-se, pois, no país dos amorreus. Moisés mandou explorar Jazer; apoderaram-se das suas aldeias e expulsaram os amorreus, que aí estavam. Inflectiram e subiram pelo caminho de Basan, mas Og, rei de Basan, saiu-lhes ao encontro com todo o seu povo para os combater em Edrei. Então o Senhor disse a Moisés: «Não o temas, porque o entregarei nas tuas mãos, bem como a todo o seu povo e ao seu país. Farás com ele como fizeste com Seon, rei dos amorreus, que habitava em Hesbon.» Derrotaram-no, de facto, e aos seus filhos e a todo o seu povo de forma a não ficar nenhum sobrevivente e, assim, lhe conquistaram o país. Os filhos de Israel partiram e acamparam nas estepes de Moab, do lado de lá do Jordão, em frente de Jericó. Balac, filho de Cipor, viu tudo o que Israel fizera aos amorreus. Moab teve muito medo à vista daquele povo tão numeroso; Moab amedrontou-se diante dos filhos de Israel. Disse Moab aos anciãos de Madian: «Em breve, esta multidão vai devorar os nossos arredores como o boi devora a erva dos campos!» Depois, Balac, filho de Cipor, rei de Moab, naquele tempo, enviou mensageiros a Balaão, filho de Beor, em Petor, que está junto do rio Eufrates, no país do seu povo, para o chamarem, dizendo-lhe: «Eis que um povo saiu do Egipto; já cobre a superfície desta terra e instalou-se na minha frente. Agora, pois, vem amaldiçoar por mim esse povo, porque é mais poderoso que eu. Talvez, assim, eu consiga derrotá-lo e expulsá-lo desta terra, porque sei que tudo o que abençoares será abençoado e aquilo que amaldiçoares será amaldiçoado.» Partiram os anciãos de Moab e os anciãos de Madian levando consigo o preço do oráculo. Ao chegarem junto de Balaão, transmitiram-lhe as palavras de Balac. Mas ele disse-lhes: «Ficai aqui esta noite e eu vos darei a resposta conforme o Senhor me disser.» Então os chefes de Moab ficaram com Balaão. Deus, porém, aproximou-se de Balaão e disse: «Quem são esses homens que estão contigo?» Respondeu Balaão a Deus: «Balac, filho de Cipor, rei de Moab, mandou-me dizer: ‘Eis que o povo que saiu do Egipto já cobre a superfície desta terra. Vem, pois, amaldiçoá-lo por mim. Talvez eu consiga combatê-lo e expulsá-lo.’» Mas Deus disse a Balaão: «Não irás com eles; não amaldiçoarás esse povo, porque está abençoado.» Balaão levantou-se de manhã cedo e disse aos chefes de Balac: «Voltai para a vossa terra, porque o Senhor não me deixa ir convosco.» Os chefes de Moab retiraram-se, foram ter com Balac e disseram-lhe: «Balaão não quis vir connosco.» Balac insistiu em enviar mais chefes e de mais elevada posição que os outros. Foram ter com Balaão e disseram-lhe: «Assim fala Balac, filho de Cipor: ‘Não te recuses a vir ter comigo, porque te cobrirei de honras e farei tudo quanto me mandares. Vem, pois, amaldiçoar por mim este povo.’» Balaão respondeu e disse aos servos de Balac: «Ainda que Balac me desse o recheio da sua casa em prata e ouro, eu não poderia transgredir a ordem do Senhor, meu Deus, para fazer o que quer que fosse, pequeno ou grande. Agora, ficai aqui também vós esta noite e procurarei saber o que o Senhor tem ainda a dizer-me.» Deus veio ter com Balaão durante a noite e disse-lhe: «Já que esses homens vieram chamar-te, levanta-te, vai com eles, mas só farás o que te mandar.» Levantou-se, pois, Balaão de manhã cedo, aparelhou a sua jumenta e partiu com os chefes de Moab. Todavia, Deus irritou-se por ele ter partido e o anjo do Senhor interpôs-se-lhe no caminho para o impedir. Ele ia montado sobre a sua jumenta e os seus dois criados iam com ele. A jumenta viu que o anjo do Senhor estava de pé no caminho, com a espada desembainhada na mão; então a jumenta desviou-se do caminho metendo-se pelos campos. Balaão vergastou a jumenta para a fazer voltar ao caminho. O anjo do Senhor interpôs-se de novo num carreiro dos vinhedos, com muro de um lado e do outro. A jumenta viu mais uma vez o anjo do Senhor e, encostando-se ao muro, entalou contra ele a perna de Balaão, mas este vergastou-a de novo. O anjo do Senhor adiantou-se de novo e foi colocar-se num lugar apertado, que não permitia desvio para a direita nem para a esquerda. Tornando a ver o anjo do Senhor,a jumenta acolheu-se debaixo de Balaão; este, irritado, começou a espancá-la com o bastão. Então, o Senhor abriu a boca à jumenta, que disse a Balaão: «Que é que te fiz para assim me bateres três vezes?» Retorquiu Balaão à jumenta: «Porque troças de mim? Se eu tivesse uma espada à mão, agora mesmo te mataria!» A jumenta retorquiu: «Não sou eu a tua jumenta, na qual sempre tens montado até hoje? Estavas acostumado a que eu procedesse assim contigo?» Ele respondeu: «Não.» Então o Senhor abriu os olhos de Balaão e ele viu o anjo do Senhor de pé, no caminho, com a espada desembainhada na mão; prostrou-se e adorou-o de rosto por terra. Disse-lhe o anjo do Senhor, «Porque vergastaste três vezes a tua jumenta? Fui eu que vim para te impedir, porque esse caminho é contrário a mim. A jumenta viu-me e, por três vezes, se desviou de mim; se ela não se tivesse desviado, talvez eu já agora te tivesse matado e a deixaria a ela viva.» Balaão respondeu ao anjo do Senhor, «Pequei, mas não sabia que tu estavas de pé, diante de mim, no caminho; contudo, se isto é mau a teus olhos, voltarei para casa.» O anjo do Senhor, porém, retorquiu a Balaão: «Vai com esses homens, mas só dirás aquilo que eu te mandar dizer.» E Balaão prosseguiu com os chefes de Balac. Quando Balac ouviu que Balaão tinha chegado, saiu-lhe ao encontro numa cidade de Moab, que estava junto dos confins do Arnon, na extremidade da fronteira. Balac perguntou a Balaão: «Porventura não te tinha já mandado chamar? Porque não vieste ter comigo? Acaso, as ofertas não eram suficientes para te honrar?» Balaão retorquiu a Balac: «Eis-me, aqui estou contigo! Agora, poderei dizer algo? Direi o que Deus puser na minha boca; isso direi!» Balaão seguiu com Balac e chegaram a Quiriat-Huçot. Balac sacrificou bois e ovelhas e mandou parte a Balaão e aos chefes que tinham vindo com ele. Sucedeu que, de manhã cedo, Balac tomou Balaão e subiram a Bamot-Baal donde se avistava um extremo do acampamento do povo. Então Balaão disse a Balac: «Constrói aqui para mim sete altares e prepara-me sete touros e sete carneiros.» Balac fez como ordenara Balaão. Depois, Balac e Balaão ofereceram um touro e um carneiro sobre cada altar. Disse Balaão a Balac: «Fica junto do teu holocausto; eu vou ver se o Senhor vem ao meu encontro e, depois, te direi o que Ele me revelar.» E foi para um lugar isolado. Deus veio ter com Balaão, que lhe disse: «Mandei construir sete altares e sacrifiquei um touro e um carneiro sobre cada altar.» Então o Senhor pôs na boca de Balaão a sua palavra e disse: «Vai ter com Balac e assim lhe falarás.» Voltou, pois, para junto dele e eis que ele ainda estava de pé junto do seu holocausto, ele e todos os chefes de Moab. Balaão pronunciou, então, o seu oráculo, dizendo: «De Aram, dos montes do oriente, me conduziu Balac, rei de Moab: ‘Vem amaldiçoar por mim a Jacob! Vem ameaçar Israel!’ Como amaldiçoarei aquele que Deus não amaldiçoou? E como ameaçarei aquele que o Senhor não ameaçou? De facto, estou a vê-los do alto dos rochedos e, das alturas, estou a contemplá-los! Eis um povo que viverá solitário e com os gentios não se misturará. Quem poderá calcular as areias de Jacob, e contar um quarto de Israel? Possa eu morrer como morrem os justos, e o meu fim seja como o deles!» Mas Balac disse a Balaão: «Que me estás a fazer? Procurei-te para amaldiçoar o meu inimigo e tu pões-te a abençoá-lo!» Ele, porém, respondeu: «Porventura aquilo que o Senhor pôs na minha boca não o deverei dizer fielmente?» Disse-lhe de novo Balac: «Vem comigo a um outro lugar, donde o poderás ver. É que só estás a ver um extremo dele e o seu todo não o vês; dali o amaldiçoarás por mim.» Conduziu-o ao planalto de Sofim, no cimo do Pisga, e construiu sete altares e ofereceu um touro e um carneiro em cada altar. Mas ele disse a Balac: «Fica aqui junto do teu holocausto; eu vou ali invocar.» O Senhor veio ter com Balaão, pôs a sua palavra na boca dele e disse: «Vai ter com Balac e desta maneira falarás.» Voltou, pois, para ele e eis que ele ainda estava de pé junto do seu holocausto e os chefes de Moab com ele. Perguntou-lhe Balac: «Que disse o Senhor?» Pronunciou, então, o seu oráculo, dizendo: «Levanta-te, Balac, e escuta-me; presta atenção, filho de Cipor: Deus não é homem para mentir; um ser humano que procure consolação. Porventura Ele diz e não faz? Promete e não cumpre? Olha que fui aqui trazido para abençoar. Então abençoarei e não voltarei atrás. Nenhuma desgraça apanhará Jacob e nenhum mal atingirá Israel. O Senhor, seu Deus, está com ele. É aclamado como seu rei. Deus fê-lo sair do Egipto, sendo para ele como a força de um búfalo. De facto, contra Jacob não valem feitiços, nem esconjuros contra Israel. A seu tempo, se dirá a Jacob e a Israel: «Que maravilhas fez Deus!» Eis um povo que se ergue como leoa, e se põe de pé como um leão. Não repousará enquanto não devorar a presa e não beber o sangue das vítimas!» Balac replicou a Balaão: «Não os amaldiçoes, então, mas também não os abençoes!» Respondeu Balaão e disse a Balac: «Não te tinha dito que tudo o que o Senhor mandar, eu o farei?» Balac disse a Balaão: «Vem, vou levar-te a outro lugar. Talvez pareça recto aos olhos de Deus que os amaldiçoes de lá por mim.» Balac conduziu Balaão ao cimo do monte Peor, que domina sobre a extensão do deserto. Balaão disse a Balac: «Constrói aqui sete altares e prepara-me aqui sete touros e sete carneiros.» Balac fez como Balaão mandara e ofereceu um touro e um carneiro em cada altar. Balaão viu que era agradável aos olhos do Senhor abençoar Israel e não foi como das outras vezes, à procura de presságios, mas virou-se para o deserto. Balaão levantou os olhos e viu Israel acampado por tribos. Desceu sobre ele o Espírito de Deus e ele proferiu o seu oráculo, dizendo: «Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem de olhar penetrante; oráculo do que escuta as palavras de Deus, que tem a visão do Omnipotente, que se prostra, mas de olhos abertos. Como são belas as tuas tendas, ó Jacob, as tuas moradas, ó Israel! Estendem-se como os vales, como jardins junto de um rio! O Senhor plantou-as como árvores de aloés, como cedros junto das águas! A água escorre de seus reservatórios e suas sementeiras têm água abundante. O seu rei é mais forte que Agag, e exalta o seu reino! Deus fê-lo sair do Egipto, sendo para ele como a força de um búfalo. Devora os povos seus inimigos, esmaga-lhes os ossos e quebra as suas flechas. Deita-se a descansar como um leão e como o leopardo. Quem o fará erguer-se? Bendito aquele que te abençoar e maldito quem te amaldiçoar!» Balac irritou-se contra Balaão, sacudiu as mãos e disse a Balaão: «Foi para amaldiçoares o meu inimigo que te chamei e tu abençoaste-o já três vezes. Pois, agora, vai-te embora para a tua terra. Tinha dito que te honraria, mas o Senhor impediu-te de ser honrado.» Balaão respondeu a Balac: «Eu tinha dito aos mensageiros que me enviaste: ‘Ainda que Balac me dê o recheio da sua casa em prata e ouro, por mim, não poderei transgredir a ordem do Senhor, para fazer bem ou para fazer mal. O que o Senhor disser, é o que eu direi.’ Agora volto para junto do meu povo; mas, olha, vou anunciar-te o que fará esse povo ao teu povo pelos tempos fora.» E Balaão pronunciou o seu oráculo, dizendo: «Oráculo de Balaão, filho de Beor, oráculo do homem de olhar penetrante. Oráculo daquele que escuta as palavras de Deus, e conhece a sabedoria do Altíssimo, que tem a visão do Omnipotente, que se prostra, mas de olhos abertos. Eu vejo, mas não para já; contemplo-o, mas ainda não próximo: uma estrela surge de Jacob e um ceptro se ergue de Israel. Derrubará as frontes de Moab e o crânio de todos os filhos de Set. Edom será conquista sua e Seir será sua presa, seu inimigo. Então, Israel triunfará! De Jacob ele vai descer, para devastar os sobreviventes da cidade.» Balaão viu também Amalec e pronunciou o seu oráculo: «Amalec é o primeiro dos povos, mas, no futuro, será destruído.» Viu ainda o quenita, e pronunciou o seu oráculo: «Fortifica a tua morada e põe no rochedo o teu ninho! Mas até esse ninho será queimado quando Assur te levar cativo.» Pronunciou o seu oráculo, e disse: «Ai de quem viver, quando Deus o realizar! Navios dos lados de Kitim submeterão Assur, submeterão Éber, mas também esses sucumbirão.» Balaão levantou-se e foi habitar na sua terra, e Balac seguiu também o seu caminho. Israel instalou-se em Chitim e o povo prostituiu-se com mulheres de Moab. Elas arrastaram o povo para os sacrifícios dos seus deuses e o povo comeu desses sacrifícios e adorou os deuses delas. Os israelitas associaram-se ao culto de Baal-Peor, de modo que se exacerbou a ira do Senhor contra Israel. Então, o Senhor disse a Moisés: «Reúne todos os chefes do povo e manda-os enforcar diante do Senhor em pleno dia; depois a ira do Senhor se afastará de Israel.» Disse Moisés aos juízes de Israel: «Cada um imole os seus homens que se associaram ao culto de Baal-Peor.» Entretanto, um dos filhos de Israel aproximou-se trazendo para junto dos seus irmãos uma madianita à vista de Moisés e de toda a assembleia dos filhos de Israel, estando eles a chorar à entrada da tenda da reunião. Viu isso Fineias, filho de Eleázar, filho do sacerdote Aarão; levantou-se do meio da assembleia e tomou uma lança na mão. Seguiu atrás do israelita até à alcova dele e trespassou os dois, o homem israelita e a mulher, no ventre. E logo o flagelo cessou entre os filhos de Israel. Os mortos, por causa do flagelo, foram em número de vinte e quatro mil. Depois, o Senhor falou a Moisés: «Fineias, filho de Eleázar, filho do sacerdote Aarão, afastou a minha ira dos filhos de Israel, com seu zelo zelou por mim no meio deles e assim não exterminei os filhos de Israel com o meu zelo. Por isso diz-lhe que faço com ele a minha aliança de paz. Será para ele e para a sua descendência uma aliança de sacerdócio perpétuo por se ter mostrado zeloso pelo seu Deus e por ter expiado pelos filhos de Israel.» O nome do israelita que foi morto com a madianita era Zimri, filho de Salú, príncipe duma casa patriarcal de Simeão. O nome da mulher madianita que foi morta era Cozbi, filha de Sur, chefe de tribos de uma casa patriarcal madianita. O Senhor disse a Moisés: «Atacai os madianitas e destruí-os, porque eles vos atacaram com as maquinações que tramaram contra vós, no caso de Peor e da sua compatriota Cozbi, filha de um chefe de Madian, a qual foi morta no dia do flagelo por causa do acontecido em Peor.» Ora, depois daquele flagelo… …o Senhor disse a Moisés e a Eleázar, filho do sacerdote Aarão: «Fazei o recenseamento de toda a assembleia dos filhos de Israel, de vinte anos para cima, segundo a casa de seus pais, todos os que forem aptos para o exército em Israel.» Moisés e o sacerdote Eleázar falaram nas estepes de Moab, junto do Jordão, em Jericó, dizendo: «Contai os homens desde os vinte anos para cima, como o Senhor mandara a Moisés.» E os filhos de Israel que saíram do Egipto eram: Rúben*, primogénito de Jacob. Filhos de Rúben: de Henoc, a família dos henoquitas; de Palú, a família dos paluítas; de Hesron, a família dos hesronitas; de Carmi, a família dos carmitas. Estas são as famílias dos Rubenitas e foram contados quarenta e três mil setecentos e trinta. Filhos de Palú: Eliab. Filhos de Eliab: Nemuel, Datan e Abiram. Este Datan e este Abiram foram os que reuniram a assembleia que se insurgiu contra Moisés e contra Aarão com o grupo de Coré, quando eles se revoltaram contra o Senhor. Mas a terra abriu-se e engoliu-os a eles e a Coré, morrendo o grupo, enquanto o fogo devorava duzentos e cinquenta homens. Isto serviu de exemplo, mas os filhos de Coré não morreram. Filhos de Simeão*, segundo as suas famílias: de Nemuel, a família dos nemuelitas; de Jamin, a família dos jaminitas; de Jaquin, a família dos jaquinitas; de Zera, a família dos zeraítas; de Saul, a família dos saulitas. Estas são as famílias dos de Simeão: vinte e dois mil e duzentos. Filhos de Gad*, segundo as suas famílias: de Sefon, a família dos sefonitas; de Hagui, a família dos haguitas; de Chuni, a família dos chunitas; de Ozeni, a família dos ozenitas; de Eri, a família dos eritas; de Arod, a família dos aroditas; de Areli, a família dos arelitas. Estas são as famílias dos filhos de Gad segundo os seus recenseamentos: quarenta mil e quinhentos. Filhos de Judá*, Er e Ornan, mas Er e Ornan morreram na terra de Canaã. Outros filhos de Judá, segundo as suas famílias, são: de Chelá, a família dos chelanitas; de Peres, a família dos peresitas; de Zera, a família dos zeraítas. Os filhos de Peres são: de Hesron, a família dos hesronitas; de Hamul, a família dos hamulitas. Estas são as famílias de Judá segundo os seus recenseamentos: setenta e seis mil e quinhentos. Filhos de Issacar,* segundo as suas famílias: de Tola, a família dos tolaítas; de Puvá, a família dos puvaítas; de Jassub, a família dos jassubitas; de Chimeron, a família dos chimeronitas. Estas são as famílias de Issacar segundo os seus recenseamentos: sessenta e quatro mil e trezentos. Filhos de Zabulão,* segundo as suas famílias: de Séred, a família dos sereditas; de Elon, a família dos elonitas; de Jaliel, a família dos jalielitas. Estas são as famílias de Zabulão segundo os seus recenseamentos: sessenta mil e quinhentos. Filhos de José,* segundo as suas famílias: Manassés e Efraim. Filhos de Manassés*, de Maquir, a família dos maquiritas: Maquir gerou Guilead; de Guilead, a família dos guileaditas. Estes são os filhos de Guilead; de Iézer, a família dos iezeritas; de Hélec, a família dos helequitas; de Asseriel, a família dos asserielitas; de Siquém, a família dos siquemitas; de Chemidá, a família dos chemidaítas; de Héfer, a família dos heferitas. Selofad, filho de Héfer, não teve filhos mas apenas filhas. Os nomes das filhas de Selofad são: Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirça. Estas são as famílias de Manassés segundo os seus recenseamentos: cinquenta e dois mil e setecentos. Estes são os filhos de Efraim,* segundo as suas famílias: de Chutela, a família dos chutelaítas; de Béquer, a família dos bequeritas; de Taan, a família dos taanitas. Estes são os filhos de Chutela: de Eran, a família dos eranitas. Estas são as famílias dos filhos de Efraim segundo os seus recenseamentos: trinta e dois mil e quinhentos. Estes são os filhos de José segundo as suas famílias. Filhos de Benjamim,* segundo as suas famílias: de Bela, a família dos belaítas; de Asbel, a família dos asbelitas; de Airam, a família dos airamitas; de Chefufam, a família dos chefufamitas; de Hufam, a família dos hufamitas. Os filhos de Bela são: Ard e Naaman. De Ard, a família dos arditas; de Naaman, a família dos naamanitas. Estes são os filhos de Benjamim segundo as suas famílias e os seus recenseamentos: quarenta e cinco mil e seiscentos. Estes são os filhos de Dan,* segundo as suas famílias: de Chuam, a família dos chuamitas. Estas são as famílias de Dan segundo as suas famílias. Todas as famílias dos chuamitas segundo os seus recenseamentos: sessenta e quatro mil e quatrocentos. Filhos de Aser,* segundo as suas famílias: de Jimna, a família dos jimnitas; de Jisvi, a família dos jisvitas; de Beria, a família dos beritas. Filhos de Beria: de Héber, a família dos heberitas; de Malquiel, a família dos malquielitas. A filha de Aser chamava-se Sara. Estas são as famílias dos filhos de Aser segundo os seus recenseamentos: cinquenta e três mil e quatrocentos. Filhos de Neftali,* segundo as suas famílias: de Jaciel, a família dos jacielitas; de Guni, a família dos gunitas; de Jécer, a família dos jeceritas; de Chilém, a família dos chilemitas. Estas são as famílias de Neftali segundo as suas famílias e os seus recenseamentos: quarenta e cinco mil e quatrocentos. Estes são os recenseados dos filhos de Israel: seiscentos e um mil setecentos e trinta. O Senhor falou a Moisés, dizendo: «A estes será distribuída a terra em herança, segundo o número dos nomes. Aos mais numerosos aumentarás a sua herança; aos menos numerosos diminuirás a sua herança; a cada um será dada a sua herança conforme os recenseados. Todavia, a partilha da terra far-se-á por sortes; todos herdarão segundo os nomes das tribos de seus pais. Por sortes se fará a partilha da herança, tanto entre os mais numerosos como entre os menos numerosos.» Estes são os recenseados de Levi segundo as suas famílias: de Gérson, a família dos gersonitas; de Queat, a família dos queatitas; de Merari, a família dos meraritas. Estas são as famílias de Levi: a família dos libnitas, a família dos hebronitas, a família dos maalitas, a família dos muchitas, a família dos coreítas. Queat gerou Ameram. A mulher de Ameram chamava-se Jocbed, filha de Levi, o qual a gerou no Egipto. Ela deu a Ameram: Aarão, Moisés e Maria, irmã deles. Nasceram a Aarão: Nadab e Abiú, Eleázar e Itamar. Nadab e Abiú morreram quando ofereciam um fogo profano ao Senhor. Foram recenseados vinte e três mil levitas, todos masculinos, de um mês para cima, mas não foram recenseados entre os filhos de Israel, porque não lhes foi dada herança entre os filhos de Israel. Estes são os recenseados por Moisés e pelo sacerdote Eleázar, os quais recensearam os filhos de Israel nas estepes de Moab, junto do rio Jordão, diante de Jericó, e entre eles não se encontrava nenhum dos recenseados por Moisés e pelo sacerdote Aarão, os quais recensearam os filhos de Israel no deserto do Sinai. É que o Senhor tinha-lhes dito que morreriam no deserto e nenhum deles herdaria, a não ser Caleb, filho de Jefuné, e Josué, filho de Nun. Aproximaram-se, então, as filhas de Selofad, filho de Héfer, filho de Guilead, filho de Maquir, filho de Manassés, filho de José. Estes são os nomes das suas filhas: Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirça. Puseram-se diante de Moisés e do sacerdote Eleázar, diante dos chefes e de toda a assembleia, à entrada da tenda da reunião, dizendo: «Nosso pai morreu no deserto, todavia não se achava entre os que, no grupo de Coré, se revoltaram contra o Senhor. Morreu, sim, devido ao seu pecado, sem deixar filhos. Porque é que o nome do nosso pai há-de ser cortado da sua família por não ter tido filhos? Dá-nos propriedade entre os irmãos do nosso pai!» Moisés apresentou a causa delas diante do Senhor, e o Senhor respondeu a Moisés: «Sim, as filhas de Selofad têm razão. Dar-lhes-ás a posse da herança entre os irmãos de seu pai e transmitir-lhes-ás a herança do pai delas. Falarás, depois, aos filhos de Israel: ‘Se um homem morrer sem deixar filhos, transmitireis a herança à sua filha. Se também não deixar filha, então dareis a herança aos seus irmãos. Se não tiver irmãos, dareis a herança aos irmãos de seu pai. E se não tiver irmãos do pai, dareis a herança ao sobrevivente que for mais próximo da sua família. Ele terá a posse, e isso será diante de Israel uma lei de direito, conforme o Senhor ordenou a Moisés.’» O Senhor disse a Moisés: «Sobe ali ao monte Abarim e contempla a terra que darei aos filhos de Israel. Depois de a contemplares, irás tu também juntar-te aos teus antepassados, como se juntou Aarão, teu irmão. Vós transgredistes as minhas ordens no deserto de Cin, quando a assembleia se revoltou, em vez de fazerdes reconhecer a minha santidade pelas águas diante deles. Essas são as águas de Meribá em Cadés no deserto de Cin.» Então Moisés disse ao Senhor, «Senhor Deus, que dais vida a todos os seres, nomeai um homem para esta assembleia, que saia à frente dela, que caminhe à sua frente, quando saírem e caminharem, de modo que a assembleia do Senhor não seja como um rebanho sem pastor.» O Senhor respondeu a Moisés: «Chama para junto de ti a Josué, filho de Nun, homem em quem reside o espírito, e impõe as tuas mãos sobre ele. Apresenta-o ao sacerdote Eleázar e a toda a assembleia e o instruirás diante deles. Entrega-lhe parte da tua responsabilidade de modo que lhe obedeça toda a assembleia dos filhos de Israel. Ele se apresentará ao sacerdote Eleázar e este consultará por ele o Senhor mediante os dados sagrados; por ordem dele sairão e por ordem dele caminharão, ele e todos os filhos de Israel, toda a assembleia.» Moisés fez como o Senhor lhe mandara. Chamou Josué e foi apresentá-lo diante do sacerdote Eleázar e diante de toda a assembleia. Impôs as mãos sobre ele e instruiu-o como o Senhor ordenara por meio de Moisés. O Senhor disse a Moisés: «Ordena aos filhos de Israel e diz-lhes que me apresentem a minha oferta, o meu pão, sacrifício de odor agradável; deveis apresentá-lo no tempo devido. Dir-lhes-ás ainda: ‘Esta é a oferta queimada que deveis apresentar ao Senhor, dois cordeiros de um ano, sem defeito, por dia, em holocausto perpétuo. Oferecerás um dos cordeiros pela manhã e o outro ao cair da tarde. E mais um décimo de efá de flor de farinha em oblação, amassada num quarto de hin de azeite puro. Holocausto perpétuo, já feito no monte Sinai, sacrifício de odor agradável em honra do Senhor. A sua libação será de um quarto de hin para o primeiro cordeiro. É no santuário que derramareis esta libação inebriante em honra do Senhor. O segundo cordeiro deveis oferecê-lo ao cair da tarde, como a oferta da manhã, e oferecereis a sua libação, sacrifício de odor agradável em honra do Senhor.’» «Em dia de sábado, oferecereis dois cordeiros de um ano, sem defeito, e dois décimos de flor de farinha, oblação amassada em azeite e a sua libação. Este é o holocausto de cada sábado, para além do holocausto perpétuo e sua libação.» «No primeiro dia dos meses, oferecereis um holocausto em honra do Senhor, dois touros, um carneiro, sete cordeiros de um ano, sem defeito, e três décimos de flor de farinha em oblação, amassada em azeite por cada touro; dois décimos de flor de farinha em oblação, amassada em azeite por cada carneiro e um décimo de flor de farinha em oblação amassada em azeite por cada cordeiro: holocausto de odor agradável, oferta queimada em honra do Senhor. As suas libações serão metade de um hin de vinho por um touro, um terço de hin por carneiro e um quarto de hin por cordeiro. Este será o holocausto do começo do mês para cada mês do ano. Oferecer-se-á também um bode em sacrifício pelo pecado ao Senhor, além do holocausto perpétuo e sua libação.» «No primeiro mês, no décimo quarto dia do mês, será a Páscoa em honra do Senhor. E no décimo quinto dia desse mês, será a festa: durante sete dias comereis pães ázimos. No primeiro dia, haverá uma reunião santa; não fareis qualquer encomenda de trabalho. Oferecereis como sacrifício para ser queimado em holocausto em honra do Senhor dois touros, um carneiro e sete cordeiros de um ano, sem defeito. Fareis a respectiva oferta de flor de farinha amassada em azeite: três décimos por touro, dois décimos por carneiro e um décimo por cada um dos sete cordeiros. E ainda um bode em sacrifício pelo pecado para vossa expiação. Fareis isto, além do holocausto da manhã, que é um holocausto perpétuo. Assim fareis durante os sete dias: é alimento de sacrifício de odor agradável queimado em honra do Senhor; fá-lo-eis em holocausto perpétuo e sua libação. No sétimo dia, tereis uma reunião santa; não fareis qualquer encomenda de trabalho.» «No dia das primícias, ao apresentardes a nova oferta ao Senhor, na festa das Semanas, haverá uma reunião santa; não fareis qualquer encomenda de trabalho. Oferecereis um holocausto de odor agradável em honra do Senhor, dois touros, um carneiro e sete cordeiros de um ano. A vossa oferta será de flor de farinha amassada em azeite: três décimos por cada touro; dois décimos por cada carneiro e um décimo por cada um dos sete cordeiros. E um bode para expiação vossa. Fareis isto, além do holocausto perpétuo e sua oblação. Todos eles têm de ser perfeitos, bem como as suas libações.» «No sétimo mês, no primeiro dia, fareis uma reunião sagrada; não fareis qualquer encomenda de trabalho. Será para vós o dia do toque das trombetas! Fareis um holocausto de odor agradável em honra do Senhor, um touro, um carneiro e sete cordeiros de um ano, sem defeito. A sua oblação será: três décimos de flor de farinha amassada com azeite, pelo touro; dois décimos, por carneiro e um décimo, por cada um dos sete cordeiros. E ainda um bode em sacrifício pelo pecado, para vossa expiação. Fareis isto, além do holocausto mensal e sua oblação. Será um holocausto perpétuo com a sua oblação e as libações segundo a norma própria, oferta de odor agradável queimada em honra do Senhor.» «No décimo dia deste sétimo mês, tereis uma reunião sagrada: fareis penitência e não fareis qualquer encomenda de trabalho. Oferecereis um holocausto de odor agradável em honra do Senhor, um touro, um carneiro e sete cordeiros de um ano, sem defeito. A sua oblação será: três décimos de flor de farinha amassada em azeite pelo touro; dois décimos pelo carneiro e um décimo por cada um dos sete cordeiros. Um bode em sacrifício pelo pecado, além do sacrifício pelo pecado próprio das expiações e do holocausto perpétuo com a sua oblação e as suas libações.» «No décimo quinto dia do sétimo mês, tereis uma reunião sagrada; não fareis qualquer encomenda de trabalho e celebrareis uma festa em honra do Senhor, durante sete dias. Oferecereis um holocausto, oferta de odor agradável em honra do Senhor, treze touros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sem defeito. A sua oblação será de flor de farinha amassada com azeite: três décimos por cada um dos treze touros; dois décimos por cada um dos dois carneiros, e um décimo por cada um dos catorze cordeiros. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e sua libação. No segundo dia, oferecereis doze touros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sem defeito. As suas oblações e libações pelos touros, pelos carneiros e pelos cordeiros, serão feitas conforme o seu número, segundo a norma. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e suas libações. No terceiro dia, oferecereis onze touros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sem defeito. As oblações e libações pelos touros, pelos carneiros e pelos cordeiros serão feitas conforme o seu número, segundo a norma. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e sua libação. No quarto dia, oferecereis dez touros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sem defeito. As suas oblações e libações pelos touros, carneiros e cordeiros serão feitas conforme o número, segundo a norma. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e libação. No quinto dia, oferecereis nove touros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sem defeito. As suas oblações e libações pelos touros, pelos carneiros e pelos cordeiros serão feitas conforme o número, segundo a norma. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e libação. No sexto dia, oferecereis oito touros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sem defeito. As suas oblações e libações pelos touros, pelos carneiros e pelos cordeiros serão feitas conforme o número, segundo a norma. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e libações. No sétimo dia, oferecereis sete touros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sem defeito. As suas oblações e libações pelos touros, pelos carneiros e pelos cordeiros serão feitas conforme o número, segundo a norma. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e libação. No oitavo dia, haverá uma reunião solene; não fareis qualquer encomenda de trabalho. Oferecereis um holocausto, oferta de odor agradável queimada em honra do Senhor, um touro, um carneiro e sete cordeiros de um ano, sem defeito. As suas oblações e libações pelo touro, pelo carneiro e pelos cordeiros serão feitas conforme o número, segundo a norma. E ainda um bode, em sacrifício pelo pecado, além do holocausto perpétuo com sua oblação e libação. Isto fareis em honra do Senhor nas vossas festas, além dos vossos votos e ofertas voluntárias: holocaustos, oblações, libações e sacrifícios de comunhão.» Moisés disse aos filhos de Israel tudo o que o Senhor lhe ordenara. Moisés disse, pois, aos chefes das tribos dos filhos de Israel: «Foi isto que o Senhor ordenou: Quando um homem fizer um voto ao Senhor ou fizer um juramento, impondo a si mesmo um compromisso, não faltará à sua palavra; faça tudo aquilo que disse. Quando uma mulher fizer um voto ao Senhor e tomar um compromisso na casa de seu pai, durante a sua juventude, e seu pai tiver conhecimento do voto e do compromisso que ela se impôs e não se opuser, serão válidos todos os votos e compromissos que ela se impôs. Mas se o pai dela a desaprovar no dia em que tiver conhecimento disso, todos os votos e compromissos que ela se impôs serão inválidos e o Senhor lhe perdoará, porque o pai a desaprovou. Se ela casar, estando obrigada a um voto ou a um compromisso que ela se impôs irreflectidamente saído dos seus lábios, quando o marido tiver conhecimento disso e não se opuser, serão válidos os votos e compromissos que ela se impôs. Mas se o marido dela, no dia em que tiver conhecimento disso, a desaprovar, quebrará o voto que ela se impôs e o compromisso irreflectido saído de seus lábios, que ela se impôs, e o Senhor lhe perdoará. O voto de uma viúva ou de uma repudiada, qualquer compromisso que ela se impôs será válido para ela. Se já na casa do seu marido se impuser um voto ou um compromisso, sob juramento, e o marido tiver conhecimento disso e não se opuser, não a desaprovará e serão válidos todos os seus votos e todos os compromissos que se impôs. Mas se o marido os quebrar no dia em que disso tiver conhecimento, todos os votos saídos de seus lábios e todos os compromissos que se impôs serão inválidos; o marido dela os quebrou e o Senhor lhe perdoará. Todos os votos e todos os juramentos que ela se tiver imposto para servir de penitência, o marido os poderá confirmar ou anular. Se o seu marido não se opuser de um dia até ao outro, serão válidos todos os seus votos ou todos os compromissos que ela se impôs, porque ele não se lhe opôs no dia em que disso teve conhecimento. E se os quebrar, depois que disso teve conhecimento, carregará a culpa dela.» Estas foram as normas que o Senhor ordenou a Moisés para marido e sua mulher, para pai e sua filha, enquanto for solteira em casa de seu pai. O Senhor disse a Moisés: «Faz que os filhos de Israel se vinguem dos madianitas; depois irás juntar-te aos teus antepassados.» Moisés falou então ao povo: «Armai de entre vós homens para a guerra e que vão contra Madian para realizarem a vingança do Senhor contra Madian. Mandareis para a guerra mil por cada tribo de todas as tribos dos filhos de Israel.» Juntaram-se, pois, dos milhares de Israel mil por cada tribo; doze mil foram armados para a guerra. Moisés mandou-os, mil por tribo, para a guerra e com eles Fineias, filho do sacerdote Eleázar, levando consigo os objectos sagrados e as trombetas para o toque de combate. Combateram contra Madian, como o Senhor tinha ordenado a Moisés, e mataram todos os varões. Mataram também os reis de Madian. Entre os abatidos estavam: Evi, Réquem, Sur, Hur e Reba, os cinco reis de Madian; e mataram também à espada a Balaão, filho de Beor. Os filhos de Israel aprisionaram ainda as mulheres de Madian com suas crianças e pilharam todos os seus animais, todas as suas propriedades e todas as suas riquezas. Destruíram também, pelo fogo, todas as suas cidades, povoados e acampamentos. Juntaram, depois, todo o espólio e todos os despojos em homens e animais; levaram os prisioneiros, os despojos e o espólio a Moisés, ao sacerdote Eleázar e a toda a assembleia dos filhos de Israel no acampamento das estepes de Moab, que estão junto do Jordão, em frente de Jericó. Moisés, o sacerdote Eleázar e todos os chefes da assembleia saíram-lhes ao encontro, fora do acampamento. Moisés, porém, irou-se contra os oficiais do exército, os chefes de milhares e os chefes de centenas, que regressavam da batalha, e disse-lhes Moisés: «Porque deixastes com vida todas as mulheres? Foram elas que, instigadas por Balaão, arrastaram os filhos de Israel a trocar o Senhor por Baal-Peor, o que foi causa do flagelo na assembleia do Senhor. Vamos, matai, agora, todo o rapaz, e também toda a mulher que tenha tido relações com homens; mas conservai com vida todas as raparigas que não tiveram relações com homens e elas serão para vós. Vós ficai fora do acampamento durante sete dias. Todo o que tiver morto alguma pessoa e todo o que tiver tocado em algum cadáver purificar-se-á no terceiro e sétimo dias, vós e os vossos prisioneiros. Purificareis toda a roupa, todos os objectos de couro, toda a obra de pele de cabra e todos os objectos de madeira.» Disse, então, o sacerdote Eleázar aos homens do exército, que tinham ido para a guerra: «Estas são as normas da lei que o Senhor ordenou a Moisés: Ouro, prata, cobre, ferro, estanho e chumbo, tudo o que vai ao fogo, passá-lo-eis pelo fogo e ficará puro; contudo, será purificado nas águas da purificação; e tudo o que não vai ao fogo passá-lo-eis pelas águas. Lavareis as vossas roupas no sétimo dia e ficareis puros; depois, podereis entrar no acampamento.» O Senhor disse a Moisés: «Tu, o sacerdote Eleázar e os chefes patriarcais da comunidade contai os despojos, os sobreviventes em homens e animais. Repartirás os despojos entre os que combateram, saindo para a guerra, e o resto da comunidade. Depois, como tributo para o Senhor, tomarás dos homens de guerra que saíram para a batalha: um por quinhentos, tanto de pessoas como de bois, jumentos e rebanhos. Tomá-los-ás da metade que lhes toca e os entregarás ao sacerdote Eleázar, como tributo para o Senhor. Da metade dos filhos de Israel tomarás um por cinquenta, tanto de homens como de bois, jumentos, rebanhos e de todos os animais e entregarás aos levitas que fazem a guarda ao santuário do Senhor.» Moisés e o sacerdote Eleázar fizeram como o Senhor ordenara a Moisés. O total dos despojos que capturaram os homens de guerra foi de seiscentas e setenta e cinco mil ovelhas, setenta e dois mil bois, sessenta e um mil jumentos, e trinta e duas mil mulheres que não tinham tido relações com homens. A metade dos que saíram para a guerra foi de trezentas e trinta e sete mil e quinhentas ovelhas, e fez-se para o Senhor o tributo de seiscentas e setenta e cinco ovelhas; de trinta e seis mil bois deu-se para o Senhor o tributo de setenta e dois; de trinta mil e quinhentos jumentos deu-se para o Senhor o tributo de sessenta e um; de dezasseis mil pessoas deu-se para o Senhor o tributo de trinta e duas pessoas. Moisés entregou ao sacerdote Eleázar o tributo da oferta para o Senhor, conforme o Senhor tinha ordenado a Moisés. A parte dos filhos de Israel, que Moisés requisitara dos homens de guerra, foi de trezentas e trinta e sete mil ovelhas, trinta e seis mil bois, trinta mil e quinhentos jumentos e dezasseis mil pessoas. Moisés tomou da parte dos filhos de Israel um por cinquenta, tanto de pessoas como de animais, e deu-os aos levitas que fazem a guarda ao santuário do Senhor, conforme o Senhor tinha ordenado a Moisés. Aproximaram-se, então, de Moisés os comandantes, que tinham estado à frente dos milhares do exército, chefes de milhares e chefes de centenas, e disseram a Moisés: «Os teus servos fizeram o recenseamento dos homens de guerra que estiveram à nossa ordem e não faltou nenhum. Por isso, cada um de nós quer apresentar uma oferta ao Senhor daquilo que encontrou em objectos de ouro: braceletes, pulseiras, anéis, brincos e colares em expiação por nós diante do Senhor.» Moisés e o sacerdote Eleázar receberam deles o ouro, tudo objectos trabalhados; e o ouro da oferta que os chefes de milhares e os chefes de centenas fizeram ao Senhor era de dezasseis mil setecentos e cinquenta siclos. Os homens de guerra retiveram para si o que tinham pilhado. Moisés e o sacerdote Eleázar receberam o ouro dos chefes de milhares e de centenas e levaram-no para dentro da tenda da reunião, como memorial dos filhos de Israel diante do Senhor. Os filhos de Rúben e os de Gad tinham posses muito grandes. Quando viram a terra de Jazer e de Guilead, acharam esta uma boa região para gado. Os filhos de Gad e de Rúben foram ter com Moisés, com o sacerdote Eleázar e com os chefes da comunidade e falaram-lhes nestes termos: «Atarot, Dibon, Jazer, Nimerá, Hesbon, Elalé, Sebam, Nebo e Beon, terras que o Senhor preparou para a comunidade de Israel, são uma terra boa para o gado e os teus servos possuem rebanhos.» E disseram ainda: «Se achámos graça aos teus olhos, seja dada esta terra em propriedade aos teus servos; não nos faças passar o Jordão!» Moisés respondeu aos filhos de Gad e de Rúben: «Iriam vossos irmãos à guerra para vós ficardes aqui? Porque quereis desanimar os filhos de Israel para não entrarem na terra que o Senhor lhes deu? Assim fizeram os vossos antepassados, quando os enviei de Cadés-Barnea para explorarem esta terra. Subiram até ao vale de Escol para explorar o país; depois os filhos de Israel desanimaram e não entraram na terra que o Senhor lhes havia de dar. Nesse dia, a ira do Senhor inflamou-se e Ele fez este juramento: ‘Os homens que subiram do Egipto, da idade de vinte anos para cima, não verão jamais a terra que jurei dar a Abraão, a Isaac e a Jacob, porque me foram infiéis. Só Caleb, filho de Jefuné, o quenizeu, e Josué, filho de Nun, a verão, porque permaneceram fiéis ao Senhor ’. E a ira do Senhor, inflamou-se contra Israel e fê-los andar errantes pelo deserto durante quarenta anos, até à extinção dessa geração inteira, que tinha feito o mal aos olhos do Senhor. Agora, apareceis vós a seguir os vossos pais, como uma raça de pecadores, aumentando ainda mais o ardor da ira do Senhor contra Israel. Sim, se vos desviais dele, deixar-vos-á ficar mais uma vez no deserto e sereis causa da ruína de todo este povo.» Então, eles aproximaram-se de Moisés e disseram: «Construiremos aqui currais para o nosso gado e cidades para os nossos filhos. Nós, armados, caminharemos à frente dos filhos de Israel até os termos levado ao seu lugar, enquanto os nossos filhos ficarão nas cidades fortificadas, a salvo dos habitantes da terra. Não regressaremos às nossas casas enquanto cada israelita não tomar posse da sua herança. Nada queremos possuir junto deles, do lado de lá do Jordão, pois, daqui em diante, a nossa herança já a temos do lado de cá do Jordão, a oriente.» Moisés retorquiu-lhes: «Se assim cumprirdes a palavra e vos armardes para combater diante do Senhor, se todos os vossos guerreiros passarem o Jordão à frente do Senhor até que Ele afaste os seus inimigos da sua presença, e a terra fique dominada diante do Senhor, então podereis regressar e estareis livres perante o Senhor e perante Israel, e esta terra será propriedade vossa diante do Senhor. Mas, se não fizerdes assim, sereis culpados diante do Senhor e ficai sabendo que o vosso pecado vos trará castigo. Construí, pois, cidades para os vossos filhos e currais para as vossas ovelhas e cumpri o que saiu da vossa boca.» Os filhos de Gad e de Rúben replicaram a Moisés: «Teus servos farão o que o meu senhor lhes manda. Os nossos filhos, as nossas mulheres, os nossos rebanhos e todo o nosso gado ficarão ali nas cidades de Guilead, enquanto teus servos, todos armados para a guerra, caminharão para o combate diante do Senhor, conforme disse o meu senhor.» Então Moisés ordenou ao sacerdote Eleázar, a Josué, filho de Nun, e aos chefes principais das tribos dos filhos de Israel, dizendo-lhes: «Se os filhos de Gad e de Rúben passarem convosco o Jordão, todos armados para a guerra, diante do Senhor, e a terra for dominada por vós, conceder-lhes-eis o território de Guilead como propriedade. Mas, se eles não marcharem convosco armados, deverão estabelecer-se no meio de vós, no país de Canaã.» Os filhos de Gad e de Rúben responderam: «O que o Senhor disse aos teus servos, eles assim o farão. Sim, iremos armados diante do Senhor para o país de Canaã, conservando a posse da nossa herança deste lado do Jordão.» Então Moisés concedeu aos filhos de Gad, aos de Rúben, assim como à meia tribo de Manassés, filho de José, o reino de Seon, rei dos amorreus, e o reino de Og, rei de Basan, todo esse país, segundo os limites das suas cidades e as cidades do país em toda a sua extensão. E os filhos de Gad reconstruíram Dibon, Atarot e Aroer, Atarot-Sofan, Jazer, Jogboa, Bet-Nimerá, Bet-Haran, como cidades fortificadas, e fizeram currais para os rebanhos. Os filhos de Rúben reconstruíram Hesbon, Elalé, Quiriataim, Nebo e Baal-Meon, à qual mudaram o nome, e ainda Sibma. E deram outros nomes às cidades que reconstruíram. Os filhos de Maquir, filho de Manassés, marcharam sobre Guilead e apoderaram-se dela expulsando os amorreus que a habitavam. Moisés deu Guilead a Maquir, filho de Manassés, o qual se estabeleceu ali. Jair, filho de Manassés, foi apoderar-se das suas aldeias, às quais chamou aldeias de Jair. Noba foi apoderar-se de Quenat e das povoações dependentes, chamando-lhe Noba, que era o seu nome. Estes são os itinerários dos filhos de Israel, desde que saíram do país do Egipto, segundo os seus destacamentos, sob a direcção de Moisés e de Aarão. Moisés registou as suas partidas e as suas paragens, de acordo com a ordem do Senhor. Essas etapas são as seguintes, conforme as suas partidas: partiram de Ramessés no décimo quinto dia do primeiro mês, no dia a seguir à Páscoa; os filhos de Israel saíram de mãos levantadas, à vista de todos os egípcios. Os egípcios estavam a enterrar os que o Senhor tinha matado de entre eles, todos os primogénitos, pois, contra os deuses deles o Senhor tinha exercido a sua justiça. Os filhos de Israel partiram de Ramessés e acamparam em Sucot. Partiram de Sucot e acamparam em Etam, que está nos confins do deserto. Partiram de Etam, rodeando Pi-Hairot, que fica em frente a Baal-Safon, e acamparam diante de Migdol. Partiram de Pi-Hairot, atravessaram o mar na direcção do deserto e, depois de três dias de marcha pelo deserto de Etam, acamparam em Mara. Partiram de Mara e chegaram a Elim, onde havia doze nascentes de água e setenta palmeiras, tendo acampado ali. Partiram de Elim e acamparam perto do Mar dos Juncos. Partiram, novamente do Mar dos Juncos e acamparam no deserto de Sin. Partiram do deserto de Sin e acamparam em Dofca. Partiram de Dofca e acamparam em Alus. Partiram de Alus e acamparam em Refidim, onde o povo não encontrou água para beber. Partiram de Refidim e acamparam no deserto do Sinai. Partiram do deserto de Sinai e acamparam em Quibrot-Hataavá. Partiram de Quibrot-Hataavá e acamparam em Hacerot. Partiram de Hacerot e acamparam em Ritma. Partiram de Ritma e acamparam em Rimon-Peres. Partiram de Rimon-Peres e acamparam em Libna. Partiram de Libna e acamparam em Rissa. Partiram de Rissa e acamparam em Queelata. Partiram de Queelata e acamparam no monte Chéfer. Partiram do monte Chéfer e acamparam em Harada. Partiram de Harada e acamparam em Maquelot. Partiram de Maquelot e acamparam em Taat. Partiram de Taat e acamparam em Taré. Partiram de Taré e acamparam em Mitca. Partiram de Mitca e acamparam em Hasmona. Partiram de Hasmona e acamparam em Mosserot. Partiram de Mosserot e acamparam em Bené-Jaacan. Partiram de Bené-Jaacan e acamparam em Hor-Guidgad. Partiram de Hor-Guidgad e acamparam em Jotbatá. Partiram de Jotbatá e acamparam em Abrona. Partiram de Abrona e acamparam em Ecion-Guéber. Partiram de Ecion-Guéber e acamparam no deserto de Cin, isto é, em Cadés. Partiram de Cadés e acamparam no monte Hor, na extremidade do país de Edom. O sacerdote Aarão subiu a esse monte, por ordem do Senhor, e ali morreu, no quadragésimo ano após a saída dos israelitas do país do Egipto, no primeiro dia do quinto mês. Aarão tinha cento e vinte três anos quando morreu no monte Hor. Foi então que o rei cananeu de Arad, que vivia ao sul do país de Canaã, soube da chegada dos filhos de Israel. Depois, partiram do monte Hor e acamparam em Salmona. Partiram de Salmona e acamparam em Punon. Partiram de Punon e acamparam em Obot. Partiram de Obot e acamparam em Ié-Abarim, na direcção das fronteiras de Moab. Partiram de Ié-Abarim e acamparam em Dibon-Gad. Partiram de Dibon-Gad e acamparam em Almon-Diblataim. Partiram de Almon-Diblataim e acamparam entre os montes Abarim, diante do Nebo. Partiram dos montes Abarim e acamparam nas planícies de Moab, junto do Jordão, em frente de Jericó. Acamparam junto do Jordão desde Bet-Haiechimot até Abel-Chitim, nas planícies de Moab. O Senhor disse a Moisés, nas planícies de Moab, junto do Jordão, em Jericó: «Fala aos filhos de Israel: ‘Como ides passar o Jordão para a terra de Canãa, quando tiverdes expulsado diante de vós todos os habitantes desse país, destruíreis todos os ídolos, todas as estátuas de metal, devastareis todos os seus lugares altos. Conquistareis o país e estabelecer-vos-eis ali, porque é a vós que Eu o dou para o possuirdes. Repartireis o país por sorteio, entre as vossas famílias, dando, contudo, um património maior às mais numerosas e um património menor às menos numerosas, recebendo cada um o que lhe couber em sorte; é segundo as vossas tribos patriarcais que fareis essa repartição. Mas, se não expulsardes da vossa frente todos os habitantes do país, aqueles que tiverdes poupado serão como espinhos nos vossos olhos e como aguilhões nos vossos flancos; atormentar-vos-ão no território que ocupardes e Eu tratar-vos-ei a vós como tinha resolvido tratá-los a eles.’» O Senhor falou a Moisés: «Ordena aos filhos de Israel: ‘Como ides entrar no país de Canaã, eis o território que vos caberá em herança – o país de Canaã, segundo os seus limites. Tereis, pelo lado do sul, o deserto de Cin, ao alcance de Edom; esta fronteira do sul começará para vós na extremidade oriental do Mar Salgado. Depois, a fronteira irá para o lado do sul pela subida de Acrabim, passará por Cin e chegará ao sul de Cadés-Barnea; depois passará por Haçar-Adar e atravessará Asmon. De Asmon, a fronteira desviar-se-á para a torrente do Egipto e terminará no mar. A vossa fronteira ocidental será o Grande Mar; este será para vós a fronteira ocidental. Esta será a vossa fronteira do norte: do Grande Mar a demarcareis até ao monte Hor; do monte Hor a demarcareis até à entrada de Hamat e o seu limite será o confim de Cedad. A fronteira atingirá Zifron e o seu limite será em Haçar-Enan. Esta será a vossa fronteira do norte. Demarcareis a vossa fronteira oriental desde Haçar-Enan até Chafam. Descerá de Chafam até Ribla, a oriente de Ain e, continuando a descer, seguirá a margem oriental do Mar de Quinéret. Descerá, enfim, ao longo do Jordão, terminando no Mar Salgado. Este será o vosso país com suas fronteiras.’» Moisés ordenou aos filhos de Israel: «Este é o país que dividireis por sorteio, e que o Senhor mandou dar às nove tribos e meia. É que a tribo dos filhos de Rúben segundo as suas famílias, a tribo dos filhos de Gad segundo suas famílias e a meia tribo de Manassés, já receberam a sua propriedade. Estas duas tribos e meia receberam a sua propriedade além do Jordão, em frente de Jericó, do lado do oriente.» O Senhor falou a Moisés: «Eis os nomes dos homens que repartirão a terra entre vós: o sacerdote Eleázar e Josué, filho de Nun. Tomareis, além disso, um chefe por cada tribo, para proceder à partilha da terra. Eis os nomes desses homens: da tribo de Judá, Caleb, filho de Jefuné; da tribo dos filhos de Simeão, Samuel, filho de Amiud; da tribo de Benjamim, Elidad, filho de Quislon; da tribo dos filhos de Dan, o chefe será Buqui, filho de Jogli; dos descendentes de José: da tribo dos filhos de Manassés, o chefe será Haniel, filho de Éfod, e, dos filhos de Efraim, o chefe será Quemuel, filho de Chiftan; da tribo dos filhos de Zabulão, o chefe será Elisafan, filho de Parnac; da tribo dos filhos de Issacar, o chefe será Paltiel, filho de Azan; da tribo dos filhos de Aser, o chefe será Aiud, filho de Chelomi; e da tribo dos filhos de Neftali, o chefe será Pedael, filho de Amiud.» Estes foram os que o Senhor designou para repartir o país de Canaã entre os filhos de Israel. O Senhor disse a Moisés, nas planícies de Moab, junto do Jordão, em frente de Jericó: «Avisa os filhos de Israel que, da sua herança, dêem aos levitas cidades para habitarem, além de arrabaldes à volta dessas mesmas cidades. As cidades servir-lhes-ão para habitação e os arrabaldes serão para o seu gado, para os seus bois e para todas as necessidades da sua vida. Os arrabaldes das cidades que dareis aos levitas deverão ter, a partir do muro de cada cidade, um raio de mil côvados. Medireis, pelo lado de fora da cidade, dois mil côvados para o oriente, dois mil côvados para o sul, dois mil côvados para o ocidente e dois mil para o norte, ficando a cidade no centro. Estes serão os arrabaldes das cidades. Quanto às cidades que deveis dar aos levitas, seis serão cidades de refúgio, que estabelecereis para refúgio do homicida; além disso, juntar-lhes-eis quarenta e duas cidades. Total das cidades que dareis aos levitas: quarenta e oito cidades junto com os seus arrabaldes. Para essas cidades, que haveis de separar das propriedades dos filhos de Israel, exigirás mais da tribo maior e pedirás menos à menor; cada uma cederá território das suas cidades aos levitas, em proporção à parte que tiver recebido.» O Senhor disse a Moisés: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Quando tiverdes passado o Jordão para alcançar o país de Canaã, escolhereis cidades próprias para vos servirem de cidades de refúgio. Ali se refugiará o homicida que tiver, involuntariamente, derramado sangue. Elas vos servirão de refúgio contra o vingador de sangue, a fim de que o homicida não morra antes de comparecer diante da comunidade para ser julgado. Quanto às cidades a dar, tereis seis cidades de refúgio. Cedereis três dessas cidades além do Jordão e as outras três cidades no país de Canaã; serão cidades de refúgio. Estas seis cidades servirão de refúgio aos filhos de Israel, aos peregrinos e a qualquer outro que habite no meio de vós, para aí se refugiar, quando, involuntariamente, houver matado alguém. Se o homicida ferir a pessoa com um instrumento de ferro e ela morrer, é um assassino; deve ser punido com a morte. Se, armando-se com uma pedra que pode matar, aplicou um golpe mortal, é um assassino, deve ser punido com a morte. Se, usando um objecto de madeira capaz de causar a morte, aplicou um golpe mortal, é um assassino; deve ser punido com a morte. O vingador de sangue é que matará o assassino; quando o encontrar, matá-lo-á. Se um homem, por ódio, empurrar outro, ou se lhe atirar com alguma coisa à traição e ele morrer, ou se lhe der um golpe com as mãos, por inimizade, e ele morrer, o homicida deve ser punido com a morte; é um assassino, e o vingador do sangue deverá matá-lo, logo que o encontre. Mas, se o empurrar por acaso, sem má vontade, ou lhe atirar qualquer objecto, sem intenção de o atingir; ou se deixar cair uma pedra, capaz de dar a morte a alguém que não tenha visto, não sendo seu inimigo nem lhe querendo mal algum, e lhe causar a morte, a assembleia servirá de juiz entre o homicida e o vingador do sangue, de acordo com estas leis. A assembleia livrará o homicida das mãos do vingador do sangue e o reconduzirá à cidade de refúgio onde se tinha acolhido; ali permanecerá até à morte do Sumo Sacerdote que foi ungido com o óleo santo. Mas, se o homicida vier a deixar o recinto da cidade de refúgio onde se acolheu e o vingador do sangue, encontrando-o fora dos limites do seu refúgio, o matar, não será culpado de homicídio, porque o homicida deve permanecer no seu refúgio até à morte do Sumo Sacerdote. Depois da morte desse sacerdote, poderá regressar à terra onde tiver sua propriedade. Estas prescrições terão força de lei para vós, em todas as vossas gerações e em todas as vossas moradas. Todo o homem que matar outro será morto, ouvidas as testemunhas; mas uma só testemunha não pode, com o seu depoimento, condenar ninguém à morte. Não aceitareis resgate em troca da vida de um homicida, se ele for culpado e digno de morte: é necessário que morra. Também não aceitareis resgate para o dispensar de permanecer na cidade de refúgio, de maneira que ele volte a habitar na sua terra, antes da morte do Sumo Sacerdote. Desta forma, não manchareis o país em que viveis. Porque o sangue mancha a terra e a terra só pode ser lavada dessa mancha com o sangue daquele que o tiver derramado. Não desonrareis o país em que habitais, no qual também habito, porque Eu mesmo, o Senhor, habito no meio dos filhos de Israel.’» Os chefes de família dos descendentes de Guilead, filho de Maquir, filho de Manassés, da linhagem dos filhos de José, apresentaram-se diante de Moisés e dos principais chefes dos filhos de Israel e disseram-lhes: «O Senhor ordenou ao meu senhor que desse, por sorteio, o país em herança aos filhos de Israel; e o Senhor ordenou ao meu senhor que desse a herança de Selofad, nosso irmão, às suas filhas. Mas, se elas contraírem casamento em qualquer uma das outras tribos dos filhos de Israel, a sua herança será retirada do património dos nossos pais e acrescentada ao da tribo em que elas se casarem; e, assim, será diminuída a nossa herança. Quando chegar o Jubileu dos filhos de Israel, a sua herança ficará unida à da tribo a que pertencerem e separada da de nossos pais.» Moisés, por ordem do Senhor, respondeu então aos filhos de Israel: «A tribo dos filhos de José tem razão. Eis o que o Senhor ordenou a respeito das filhas de Selofad: ‘Poderão casar com quem lhes aprouver; contudo, devem contrair matrimónio com alguém da família da sua tribo patriarcal. Deste modo, nenhuma herança dos filhos de Israel passará de uma tribo para outra; cada um dos filhos de Israel continuará ligado à herança da tribo dos seus pais. Toda e qualquer filha que possuir património entre as tribos dos filhos de Israel deverá casar-se com alguém que pertença à tribo do seu pai, a fim de que cada um dos filhos de Israel conserve o património de família. Que nenhuma herança passe de uma tribo para outra tribo diferente, pois cada uma das tribos dos filhos de Israel deve conservar a sua herança.’» As filhas de Selofad procederam como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Maalá, Tirça, Hogla, Milca e Noa, filhas de Selofad casaram-se com filhos de seus tios. Casaram-se, por conseguinte, nas famílias descendentes de Manassés, filho de José, e a sua herança ficou na tribo de seu pai. Estas são as leis e as ordenações que o Senhor impôs aos filhos de Israel, por intermédio de Moisés, nas planícies de Moab, junto do Jordão, em frente de Jericó. Estas são as palavras que Moisés dirigiu a todo o Israel, do outro lado do Jordão, no deserto, na planície em frente de Suf, entre Paran, Tofel, Laban, Hacerot e Di-Zaab. São onze dias de jornada desde o Horeb, passando pelo monte Seir, até Cadés-Barnea. No quadragésimo ano, no décimo primeiro mês, no primeiro dia, Moisés disse aos filhos de Israel tudo o que o Senhor lhe ordenara para eles. Depois de ter derrotado Seon, rei dos amorreus, que residia em Hesbon, e Og, rei de Basan, em Edrei, que residia em Astarot, do outro lado do Jordão, no país de Moab, Moisés começou a expor esta Lei: «O Senhor, nosso Deus, falou-nos no Horeb, dizendo: ‘Há muito que vos encontrais neste monte. Parti, então! Segui o vosso caminho e dirigi-vos para as montanhas dos amorreus e para todas as suas povoações, na Arabá, na montanha, na Chefela, no Négueb, no litoral marítimo, no país dos cananeus e no Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates. Vou entregar-vos este país. Ide e tomai posse do país que o Senhor prometeu por juramento dar a vossos pais, a Abraão, Isaac e Jacob, e aos seus descendentes, depois deles.’» «Nesse tempo, falei-vos assim: ‘Não posso, sozinho, tomar conta de vós. O Senhor, vosso Deus, multiplicou-vos, e hoje sois tão numerosos como as estrelas do céu. Que o Senhor, Deus dos vossos pais, vos multiplique mil vezes mais e vos abençoe, como prometeu! Como poderia, eu sozinho, suportar as vossas queixas e as vossas questões? Escolhei entre vós, nas vossas tribos, homens sábios, prudentes e experimentados, e eu os constituirei vossos chefes.’ Vós respondestes-me, dizendo: ‘O que te propões fazer é excelente.’ Então, eu escolhi, entre os principais das vossas tribos, homens sábios e experimentados e nomeei-os vossos chefes, como comandantes de milhares, de centenas, de cinquentenas e de dezenas, responsáveis pelas vossas tribos. Naquele tempo, ordenei também aos vossos juízes: ‘Dai audiência aos vossos irmãos e julgai com equidade as questões de cada um, sejam com um seu compatriota, sejam com um estrangeiro. Não façais distinção de pessoas no julgamento; ouvi tanto o pequeno como o grande. Não tenhais medo de ninguém, porque o julgamento pertence a Deus. Se uma questão for demasiado complicada para vós, apresentai-ma para eu a resolver.’ Naquele tempo, ordenei-vos tudo aquilo que devíeis fazer.» «Depois, partimos do Horeb, atravessámos todo aquele deserto grande e temível que vistes, a caminho das montanhas dos amorreus, como nos ordenara o Senhor, nosso Deus, e chegámos a Cadés-Barnea. Então eu disse-vos: ‘Acabais de chegar às montanhas dos amorreus, que o Senhor, nosso Deus, nos há-de dar. Vê: o Senhor, teu Deus, põe diante de ti esta terra! Vai, toma posse dela, como disse o Senhor, Deus dos teus pais. Não temas nem te acobardes!’ Então, vós todos aproximastes-vos de mim e dissestes: ‘Enviemos alguns homens à nossa frente para nos informarem acerca da terra e nos ensinarem o caminho que temos de seguir e para que cidades devemos ir.’ A proposta agradou-me; e eu escolhi de entre vós doze homens, um por cada tribo. Partiram, subiram o monte e atingiram o vale de Escol, explorando a terra. Colheram frutos da terra, trouxeram-nos até nós e fizeram-nos o seu relato, dizendo: ‘É óptima a terra que o Senhor, nosso Deus, nos vai dar.’ Todavia, vós recusastes-vos a subir, desobedecendo ao Senhor, vosso Deus. Nas vossas tendas murmurastes e dissestes: ‘Por nos odiar, é que o Senhor nos fez sair da terra do Egipto, a fim de nos entregar nas mãos dos amorreus e nos aniquilar. Para onde iremos? Nossos irmãos fizeram-nos perder a coragem, quando disseram que viram lá um povo maior e mais forte do que nós, cidades grandes cujas muralhas se erguem até ao céu e até viram lá filhos de Anac.’ Respondi-vos, então: ‘Não vos assusteis e nada temais diante deles. O Senhor, vosso Deus, que caminha à vossa frente, Ele próprio combaterá por vós como sempre fez convosco, no Egipto, à vossa vista, e também neste deserto. Aqui vistes o Senhor, vosso Deus, conduzir-vos, como um pai conduz o seu filho, durante toda a caminhada que fizestes até chegardes a este lugar. E, apesar disso, não confiastes no Senhor, vosso Deus, que caminhava à vossa frente para vos procurar lugares de descanso, mostrando-vos o caminho a seguir, durante a noite com o fogo e durante o dia com a nuvem. O Senhor ouviu o rumor das vossas palavras, encolerizou-se e jurou: ‘Nenhum dos homens desta geração perversa verá esta terra óptima, que tinha jurado dar a vossos pais. Só Caleb, filho de Jefuné, a há-de ver: dar-lhe-ei a terra que pisou, a ele e a seus filhos, porque permaneceu fiel ao Senhor.’ O Senhor irritou-se também comigo por vossa causa e disse-me: ‘Tu também não entrarás na terra. Josué, filho de Nun, que está ao teu serviço, esse é que entrará ali. Encoraja-o, porque é ele quem a dará em posse a Israel. E as vossas crianças, que vós dissestes que seriam tomadas como despojos, e os vossos filhos que ainda hoje não sabem distinguir o bem do mal, esses é que entrarão ali! A eles a darei e eles a possuirão.’ Quanto a vós, voltai para trás e encaminhai-vos para o deserto, na direcção do Mar dos Juncos. Mas vós respondestes-me: ‘Pecámos contra o Senhor; queremos subir nós mesmos e combater, conforme o Senhor, nosso Deus, nos ordenou.’ E cada um de vós, cingindo as suas armas de combate, mostrou-se disposto a subir para a montanha. Mas o Senhor falou-me: ‘Diz-lhes: Não subais nem combatais, porque não estarei ao vosso lado; não queirais ser vencidos pelos vossos inimigos.’ Assim vos falei, mas não me ouvistes; desobedecestes à palavra do Senhor, fostes arrogantes e subistes para a montanha. Os amorreus, porém, que ocupavam aquela montanha, saíram ao vosso encontro, perseguiram-vos como fazem as abelhas e desbarataram-vos, desde Seir até Horma. Então voltastes e chorastes diante do Senhor; mas o Senhor foi insensível aos vossos lamentos e não vos escutou. Por isso é que tivestes de ficar por tão longo tempo em Cadés.» «Partimos dali, dirigindo-nos para o deserto, a caminho do mar de Suf, como o Senhor me tinha ordenado, e contornámos, durante muito tempo, o monte Seir. Depois, o Senhor falou-me: “Há muito que andais à volta desta montanha; dirigi-vos para norte. Ordena ao povo: ‘Atravessai o território de vossos irmãos, os filhos de Esaú, que habitam em Seir. Eles têm medo de vós, mas vós tende muito cuidado: não os ataqueis, porque nada vos darei da terra deles, nem mesmo a medida de um pé, pois dei em propriedade a Esaú a montanha de Seir. Comprar-lhes-eis com dinheiro os alimentos para comer e pagar-lhes-eis com dinheiro até a própria água para beberdes. Em verdade, o Senhor, teu Deus, abençoou-te em todas as tuas empresas e conhece a tua marcha através deste deserto imenso. Há quarenta anos que o Senhor, teu Deus, está contigo, e nada te faltou.’” Afastámo-nos, assim, dos nossos irmãos, os filhos de Esaú, que habitam em Seir, pelo caminho da Arabá, desde Elat e Ecion-Guéber. Mudando de direcção, seguimos o caminho do deserto de Moab. Então, o Senhor disse-me: ‘Não importunes os moabitas e não entres em combate com eles, pois nada te darei do seu país. Aos filhos de Lot é que Eu dei a cidade de Ar em propriedade. Outrora viviam ali os emitas. Eram um povo grande, numeroso e de alta estatura, como os anaquitas. Também os refaítas eram considerados como anaquitas, mas os moabitas chamavam-lhes emitas. Em Seir tinham habitado outrora os horritas, mas foram desalojados pelos filhos de Esaú, que os exterminaram, ocupando o lugar deles, como fez Israel ao país que o Senhor lhe deu em propriedade. Em frente, pois; atravessai a torrente de Zéred!’ Passámos a torrente de Zéred. A duração da nossa viagem, desde que saímos de Cadés-Barnea até passarmos a torrente de Zéred, foi de trinta e oito anos, de modo que toda a geração dos homens de guerra desapareceu do acampamento, como o Senhor lhes tinha jurado. A própria mão do Senhor caíra sobre eles, eliminando-os do acampamento até à sua completa destruição. Depois de todos os homens de guerra terem morrido, desaparecendo do meio do seu povo, o Senhor disse-me: ‘Hoje vais atravessar os confins de Moab, em Ar. Irás encontrar-te em frente dos amonitas. Não os ataques nem os provoques, porque não te darei em propriedade nenhuma terra dos filhos de Amon. Foi aos filhos de Lot que a dei em propriedade.’ Esta terra era também considerada terra dos refaítas. Os refaítas tinham outrora vivido ali e os amonitas chamavam-lhes zamezumitas, povo grande, numeroso e de alta estatura como os anaquitas. Mas o Senhor exterminou-os diante dos amonitas, que os venceram e ocuparam o lugar deles. O mesmo fizera o Senhor pelos filhos de Esaú, que habitavam em Seir; Ele exterminara os horritas e eles os desalojaram, ocupando o lugar deles até ao dia de hoje. Também os heveus, que habitavam nas aldeias até Gaza, foram destruídos pelos caftoritas, descendentes de Caftor, que se estabeleceram no lugar que eles habitavam.» «Levantai-vos, ponde-vos em marcha e passai a torrente do Arnon. Repara que entrego nas tuas mãos, Seon, rei de Hesbon, o amorreu, e o seu país. Começa a conquista e trava combate com ele! De hoje em diante, começarei a fazer com que tenham terror e temor de ti todos os povos que há debaixo do céu, os quais, ao ouvirem o teu nome, tremerão e encher-se-ão de pânico diante de ti!» «Do deserto de Quedemot enviei emissários a Seon, rei de Hesbon, com palavras de paz: ‘Deixa-me passar pelo teu país. Seguirei sempre pelo caminho, sem me desviar para a direita nem para a esquerda. Vender-me-ás a dinheiro os víveres para eu comer e dar-me-ás por dinheiro a água para eu beber. Mas deixa-me passar a pé, como fizeram os filhos de Esaú, que habitam em Seir, e os moabitas, que habitam em Ar, para atravessarmos até ao Jordão em direcção à terra que o Senhor, nosso Deus, nos vai dar.’ Mas Seon, rei de Hesbon, não consentiu que passássemos, porque o Senhor, teu Deus, obcecou-lhe o espírito e endureceu-lhe o coração, a fim de o entregar nas tuas mãos, como sucede ainda hoje. O Senhor disse-me então: ‘Vê, estou disposto a entregar-te Seon e a sua terra. Inicia a conquista e apodera-te da sua terra.’ Seon saiu ao nosso encontro com todo o seu povo para nos dar combate em Jaça. Porém, o Senhor, nosso Deus, entregou-no-lo e nós derrotámo-lo, assim como aos seus filhos e a todo o seu povo. Tomámos, então, todas as suas cidades e votámos à destruição todas as cidades, homens, mulheres e crianças, sem deixar um sobrevivente. Só ficámos com o gado e com os despojos das cidades que conquistámos. Desde Aroer, que fica junto do rio Arnon, e a cidade situada nesse vale, até Guilead, não houve um único lugar que nos resistisse; tudo o Senhor, nosso Deus, nos entregou. Apenas deixaste intacta a terra dos amonitas: toda a bacia da torrente do Jaboc, as cidades da montanha e tudo o que o Senhor, nosso Deus, tinha mandado.» «Voltámo-nos, então, e subimos em direcção a Basan, mas Og, rei de Basan, saiu ao nosso encontro com todo o seu povo para nos dar batalha em Edrei. O Senhor disse-me: ‘Não tenhas receio dele, porque o entregarei nas tuas mãos com todo o seu povo e a sua terra; far-lhe-ás como fizeste a Seon, rei dos amorreus, que residia em Hesbon.’ O Senhor, nosso Deus, entregou-nos também Og, rei de Basan, com todo o seu povo; derrotámo-lo, de tal maneira que ninguém escapou. Tomámos, naquele tempo, todas as suas cidades e não houve uma só povoação que não lhe tomássemos: sessenta cidades, toda a região de Argob, o reino de Og, em Basan. Todas essas cidades estavam fortificadas com altas muralhas, portas e ferrolhos, sem contar numerosas cidades sem muros. Votámo-las à destruição, como fizemos a Seon, rei de Hesbon, destruindo todas as cidades com os homens, as mulheres e as crianças. Ficámos, porém, com todo o gado e os despojos dessas cidades. Tomámos, assim, naquele tempo, o país dos dois reis dos amorreus que reinavam além do Jordão, desde a torrente do Arnon até à montanha de Hermon. Os sidónios dão ao Hermon o nome de Sírion e os amorreus chamam-lhe Senir. Tomámos todas as cidades da planície, todo o Guilead e todo o Basan, até Salca e Edrei, cidades do reino de Og, em Basan. Og, rei de Basan, era o único que restava da raça dos refaítas. Na verdade, a sua cama de ferro está ainda em Rabat dos amonitas. Tem nove côvados de comprimento e quatro de largura, em côvados normais.» «Naquele tempo, tomámos posse daquela terra, desde Aroer, que está junto do rio Arnon. Dei metade do monte de Guilead e as suas cidades às tribos de Rúben e de Gad. O resto de Guilead e todo o Basan, que era o reino de Og, dei-o à metade da tribo de Manassés. Toda a região de Argob e todo o Basan se chamava terra dos refaítas. Jair, filho de Manassés, tomou toda a região de Argob até aos confins de Guechur e de Maacat e impôs-lhes o seu nome; o território de Basan ainda hoje se chama Aldeias de Jair. À tribo de Maquir dei Guilead. À tribo de Rúben e de Gad dei desde Guilead até ao rio Arnon que serve de fronteira, pelo meio da torrente, e depois até ao rio Jaboc, fronteira dos filhos de Amon; e, enfim, a Arabá e o Jordão como fronteira, desde Genesaré até ao mar da Arabá, o Mar do Sal, na encosta oriental do Pisga. Naquele tempo, dei-vos a seguinte ordem: ‘O Senhor, vosso Deus, deu-vos esta terra em propriedade. Vós todos, os guerreiros, caminhareis armados à frente de vossos irmãos, os filhos de Israel. Somente as vossas mulheres, as vossas crianças e o vosso gado – sei que tendes muitos animais – ficarão nas cidades que vos dei, até que o Senhor faça descansar os vossos irmãos, como a vós, e também eles tenham tomado posse da terra que o Senhor, vosso Deus, lhes dará do outro lado do Jordão. Então, cada um de vós regressará ao que Eu vos dei em propriedade.’ Naquele tempo, ordenei a Josué, dizendo-lhe: ‘Vistes com vossos próprios olhos tudo o que o Senhor, vosso Deus, fez a esses dois reis: assim fará o Senhor a todos os reinos onde ides entrar. Não os temais, porque o Senhor, vosso Deus, combaterá por vós!’» «Então, dirigi ao Senhor esta prece: ‘Senhor, meu Deus! Tu começaste a mostrar ao teu servo a tua grandeza e a força do teu braço! Que Deus, nos céus ou na terra, poderá realizar as tuas obras e as tuas maravilhas? Deixa-me passar e ver essa terra óptima, que está do outro lado do Jordão, essa bela montanha, e o Líbano!’ O Senhor, porém, irritou-se comigo por causa de vós e não me atendeu. O Senhor disse-me apenas: ‘Basta, não me fales mais a esse respeito. Sobe ao cume do Pisga, olha para o ocidente e para o norte, para o sul e para o oriente, e contempla tudo com os teus olhos, porque não passarás o Jordão. Dá as tuas instruções a Josué, anima-o e conforta-o, porque ele passará o Jordão à frente deste povo e lhe dará a posse da terra que vais contemplar.’ Assim, nos detivemos no vale, em frente de Bet-Peor.» «Agora, Israel, ouve as leis e os preceitos que eu hoje vos ensino. Ponde-os em prática para que vivais e chegueis a possuir a terra que o Senhor, Deus dos vossos pais, vos há-de dar. Nada acrescentareis ao que hoje vos prescrevo e nada eliminareis, guardando os mandamentos do Senhor, vosso Deus, tal como eu vos prescrevo. Os vossos próprios olhos viram o que o Senhor fez em Baal-Peor: o Senhor, vosso Deus, exterminou do meio de vós todos aqueles que seguiram Baal-Peor. Mas vós, que permanecestes fiéis ao Senhor, vosso Deus, estais hoje todos vivos! Vede: ensinei-vos leis e preceitos, como o Senhor, meu Deus, me ordenou; assim fareis na terra que ides possuir. Observai-os e ponde-os em prática, porque isso manifestará a vossa sabedoria e a vossa inteligência aos olhos dos povos que, ao terem conhecimento de todas estas leis, dirão: ‘Que povo sábio e inteligente é esta grande nação!’ Com efeito, que grande nação haverá que tenha um deus tão próximo de si como está próximo de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que o invocamos? E que grande nação haverá, que possua leis e preceitos tão justos como esta lei que eu hoje vos apresento? Toma, pois, cuidado contigo! Guarda-te bem de esquecer os factos que os teus olhos viram; que eles nunca se afastem do teu coração em todos os dias da tua vida. Ensina-os aos teus filhos e aos filhos dos teus filhos. No dia em que te apresentaste diante do Senhor, teu Deus, no Horeb, o Senhor disse-me: ‘Convoca o povo para junto de mim, a fim de ouvirem as minhas palavras, aprenderem a temer-me durante todo o tempo da sua vida na terra e assim ensinarem aos seus filhos.’ Aproximastes-vos, então, e ficastes junto do monte; o monte estava abrasado em fogo, que se erguia até ao mais alto dos céus, coberto de nuvens e de nevoeiro. O Senhor falou-vos do meio do fogo; ouvistes o som das palavras, mas não vistes figura alguma. Era uma voz apenas. Ele deu-vos a conhecer a sua aliança, ordenando-vos que cumprísseis os dez mandamentos que Ele escreveu em duas tábuas de pedra. O Senhor ordenou-me, então, que vos ensinasse as leis e os preceitos que deveis cumprir na terra para onde ides, para tomardes posse dela.» «Tomai muito cuidado convosco, pois não vistes imagem alguma no dia em que o Senhor vos falou no Horeb do meio do fogo. Portanto, não vos deixeis corromper, fabricando para vós imagem esculpida de qualquer ídolo, masculino ou feminino, representação de qualquer animal terrestre, representação de qualquer ave que voe nos céus, representação de qualquer réptil que rasteje pelo chão, ou de qualquer peixe que viva nas águas, debaixo da terra. Quando ergueres os olhos para o céu e vires o Sol, a Lua, as estrelas, todo o exército celeste, livra-te de te prostrares diante deles e de os adorar, porque foi o Senhor, teu Deus, que os deu em partilha a todos os povos que estão debaixo dos céus. Mas a vós, o Senhor tomou-vos e vos fez sair da fornalha de ferro, do Egipto, para serdes para Ele o povo da sua herança, como acontece hoje. O Senhor irritou-se comigo por causa das vossas palavras; jurou que eu não passaria o Jordão e que não entraria na terra óptima que o Senhor, teu Deus, te vai dar em herança. Eu morrerei, pois, nesta terra, sem atravessar o Jordão; mas vós passareis e tomareis posse dessa terra óptima. Tomai cuidado em não esquecer a aliança que o Senhor, vosso Deus, contraiu convosco e em não fazerdes para vós qualquer imagem esculpida, porque o Senhor, teu Deus, assim o ordenou. O Senhor, teu Deus, é um fogo devorador; Ele é um Deus ciumento.» «Quando tiverdes gerado filhos e netos e envelhecerdes nessa terra, se vos corromperdes, fabricando qualquer imagem esculpida, fazendo o mal aos olhos do Senhor, vosso Deus, provocando a sua ira, tomo hoje os céus e a terra como testemunhas contra vós de que não tardareis a desaparecer da terra, cuja posse ides tomar agora, ao passar o Jordão; os vossos dias não se prolongarão ali, mas sereis exterminados. O Senhor dispersar-vos-á entre os povos e ficareis reduzidos a poucos entre as nações, para onde o Senhor vos conduzirá, se lá adorardes deuses, obra das mãos dos homens, deuses de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, não comem, nem têm olfacto. Então recorrerás ao Senhor, teu Deus, e tornarás a encontrá-lo, se o procurares com todo o teu coração e com toda a tua alma. No meio da tua angústia, quando passares por todas essas coisas, com o correr do tempo, voltarás para o Senhor, teu Deus, e escutarás a sua voz. O Senhor, teu Deus, é um Deus misericordioso, não te abandonará, não te destruirá, e não se esquecerá da aliança que jurou aos teus pais.» «Na verdade, interroga os tempos antigos que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Pergunta se jamais houve, de uma extremidade à outra do céu, coisa tão extraordinária como esta, ou se jamais se ouviu coisa semelhante. Sabes, porventura, de algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando do meio do fogo, como tu ouviste, e tenha continuado a viver? Algum experimentou Deus a escolher para si um povo de entre outros povos, por meio de milagres, sinais e prodígios, combatendo com mão forte e braço estendido, com terríveis portentos, conforme tudo o que fez por vós o Senhor, vosso Deus, no Egipto, diante dos teus olhos? Tu viste e ficaste a conhecer que Ele, o Senhor, é Deus e que não há outro além dele. Do céu, fez-te ouvir a sua voz para te instruir; sobre a terra, mostrou-te a grandeza do seu fogo, e tu ouviste as palavras vindas do meio do fogo. E, porque amou os teus antepassados e escolheu a sua descendência depois deles, te fez sair do Egipto com a força do seu grande poder: desalojou, à tua frente, povos mais numerosos e mais fortes do que tu para te introduzir nas suas terras e dar-tas em herança, como acontece hoje. Reconhece, agora, e medita no teu coração, que só o Senhor é Deus, tanto no alto do céu como em baixo, sobre a terra, e que não há outro. Cumprirás, pois, as suas leis e os seus mandamentos, que eu hoje te prescrevo, para seres feliz, tu e os teus filhos depois de ti, e para que se prolongue a tua existência sobre a terra que o Senhor, teu Deus, te dará para sempre». Foi então que Moisés designou três cidades além do Jordão, a oriente, para servirem de refúgio ao homicida que tiver morto o seu próximo, sem premeditação e sem o ter odiado antes. Refugiando-se numa dessas cidades, poderia salvar a vida: Bécer, no deserto, que, por direito, pertencia à tribo de Rúben; Ramot, em Guilead, que pertencia à tribo de Gad, e Golan, em Basan, que pertencia à tribo de Manassés. Esta é a lei que Moisés expôs aos filhos de Israel. Estes são os mandamentos, as leis e os preceitos que propôs Moisés aos filhos de Israel, quando eles saíram do Egipto, além do Jordão, no vale em frente a Bet-Peor, na terra de Seon, rei dos amorreus, que residia em Hesbon. Este foi vencido por Moisés e pelos filhos de Israel quando saíram do Egipto, de forma que tomaram posse da terra dele e da de Og, rei de Basan, ambos reis dos amorreus, na região a oriente do Jordão, desde Aroer, que está na margem do rio Arnon, até ao monte Síon, que é o Hermon, e toda a Arabá além do Jordão, a oriente, até ao mar de Arabá, nas encostas do Pisga. Moisés convocou todo o Israel e disse: «Escuta, Israel, as leis e os preceitos que eu hoje proclamo aos vossos ouvidos; aprendei-os e ponde-os em prática. O Senhor, nosso Deus, concluiu uma aliança connosco no Horeb. Não foi com os nossos pais que o Senhor concluiu esta aliança, mas connosco que, estamos aqui todos vivos hoje. O Senhor falou-nos face a face sobre a montanha, do meio do fogo. Naquele tempo, eu estava entre o Senhor e vós, para vos transmitir as suas palavras, porque, com medo do fogo, não subistes à montanha. Ele disse: ‘Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa da escravidão. Não terás nenhum outro deus além de mim. Não farás para ti nenhuma imagem esculpida, seja do que está no alto do céu, ou em baixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não as adorarás, porque Eu, o Senhor, sou o teu Deus, um Deus ciumento, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração dos que me ofendem, mas uso de benevolência até à milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. Não invocarás em vão o nome do Senhor, teu Deus, porque o Senhor não deixará impune aquele que tiver invocado o seu nome em vão. Guarda o dia de sábado para o santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Trabalharás durante seis dias e neles farás todos os teus trabalhos; mas, o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus: não farás trabalho algum, nem tu, nem os teus filhos e filhas, nem o teu escravo ou escrava, nem o teu boi, o teu jumento ou qualquer outro animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu. Lembra-te que foste escravo na terra do Egipto, donde o Senhor, teu Deus, te fez sair com mão forte e braço estendido. Por isso te ordenou o Senhor, teu Deus, que guardasses o dia de sábado. Honra o teu pai e a tua mãe, como te ordenou o Senhor, teu Deus, a fim de prolongares os teus dias e viveres feliz na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar. Não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás. Não prestarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo e não desejarás a sua casa, nem o seu campo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem nada que lhe pertença.’ Estas palavras dirigiu o Senhor a toda a vossa assembleia sobre a montanha, do meio do fogo, da nuvem e das trevas, com voz forte, sem acrescentar mais nada; escreveu-as em duas tábuas de pedra e entregou-mas. Quando ouvistes a voz que saía do meio das trevas, enquanto a montanha se abrasava em fogo, aproximastes-vos todos de mim com os chefes das vossas tribos e os vossos anciãos e dissestes-me: ‘Na verdade, o Senhor, nosso Deus, revelou-nos a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo. Hoje mesmo damo-nos conta de que Deus pode falar ao homem e este continuar vivo! Mas agora não iremos morrer, consumidos por esse grande fogo? Se continuarmos a ouvir a voz do Senhor, nosso Deus, morreremos. Pois que criatura poderá ouvir a voz do Deus vivo, falando do meio do fogo, como nós ouvimos, e permanecer viva? Vai tu e escuta tudo o que disser o Senhor, nosso Deus; e, depois, tu nos dirás tudo o que o Senhor, nosso Deus, te tiver dito; então ouviremos e obedeceremos.’ O Senhor ouviu a súplica das vossas palavras quando me faláveis, e disse-me: ‘Ouvi a súplica das palavras que esse povo te dirigiu; tudo o que eles disseram está bem. Quem dera que tivessem sempre a peito temer-me e cumprir todos os meus mandamentos, para serem eternamente felizes, eles e os seus filhos. Vai, diz-lhes que voltem para as suas tendas. Tu, porém, fica aqui comigo, e Eu te exporei todos os mandamentos, leis e preceitos que lhes ensinarás e que eles cumprirão na terra que Eu lhes darei em propriedade.’ Tomai cuidado em cumprir o que vos ordenou o Senhor, vosso Deus; não vos afasteis para a direita nem para a esquerda. Segui o caminho que o Senhor, vosso Deus, vos ordenou, para viverdes e serdes felizes. Assim prolongareis a vida na terra de que ides tomar posse.» «Estes são os mandamentos, as leis e os preceitos que o Senhor, vosso Deus, ordenou que vos ensinasse para os cumprirdes na terra onde ides entrar, para dela tomar posse. Portanto, deves temer o Senhor, teu Deus, cumprindo todas as suas leis e mandamentos que te ordeno, tu, os teus filhos e os filhos dos teus filhos, por todos os dias da tua vida, a fim de que os teus dias se prolonguem. Portanto, Israel, escuta e tem cuidado em cumprir o que será bom para ti e vos fará multiplicar muito na terra onde corre leite e mel, como te prometeu o Senhor, Deus dos teus pais. Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estes mandamentos que hoje te imponho estarão no teu coração. Repeti-los-ás aos teus filhos e reflectirás sobre eles, tanto sentado em tua casa, como ao caminhar, ao deitar ou ao levantar. Atá-los-ás, como símbolo, no teu braço e usá-los-ás como filactérias entre os teus olhos. Escrevê-los-ás sobre as ombreiras da tua casa e nas tuas portas.» «Quando o Senhor, teu Deus, te introduzir na terra que vos há-de dar, como jurou a teus pais, Abraão, Isaac e Jacob, terra de grandes e belas cidades, que não edificaste, com casas repletas de bens que não juntaste, com cisternas abertas que não cavaste, com vinhas e oliveiras que não plantaste; então comerás e ficarás saciado. Guarda-te, porém, de esquecer o Senhor que te fez sair da terra do Egipto, da casa da servidão! Ao Senhor, teu Deus, adorarás, a Ele servirás, e pelo seu nome jurarás. Não ireis atrás de outras divindades, deuses dos povos que vos rodeiam, pois o Senhor, teu Deus, que está no meio de ti é um Deus ciumento. Que não se inflame a ira do Senhor contra ti e te extermine da face da terra. Não tenteis o Senhor vosso Deus, como o tentastes em Massá. Guardareis com cuidado os mandamentos do Senhor, vosso Deus, as instruções e leis que Ele vos ordenou. Fareis o que é recto e bom aos olhos do Senhor, para serdes felizes e tomardes posse da terra óptima, que o Senhor prometeu com juramento a vossos pais, ao perseguir todos os vossos inimigos à vossa frente, como o Senhor prometeu. Quando, amanhã, os teus filhos te perguntarem que regras, leis e preceitos são estes que o Senhor, nosso Deus, vos impôs, dirás, então, aos teus filhos: ‘Éramos escravos do faraó, no Egipto, e o Senhor nos fez sair do Egipto com mão forte. À nossa vista, o Senhor fez sinais, prodígios enormes e terríveis no Egipto contra o faraó e toda a sua casa. Quanto a nós, fez-nos sair de lá, para nos introduzir aqui e nos dar a terra que prometera em juramento a nossos pais. O Senhor ordenou-nos, então, que puséssemos em prática todas estas leis, que temêssemos o Senhor, nosso Deus, a fim de sermos eternamente felizes, para nos conservar a vida, como acontece hoje. Desse modo, seremos justos, porque tomámos cuidado em praticar todos estes mandamentos diante do Senhor, nosso Deus, como Ele nos ordenou.» «Quando o Senhor, teu Deus, te tiver introduzido na terra da qual vais tomar posse, e tiver desalojado diante de ti povos numerosos: o hitita, o guirgaseu, o amorreu, o cananeu, o perizeu, o heveu e o jebuseu, sete povos maiores e mais poderosos do que tu; quando o Senhor, teu Deus, tos tiver entregado e tu os tiveres vencido, então, votá-los-ás à destruição. Não farás nenhum pacto com eles nem terás pena deles. Não farás alianças de casamento com nenhum deles; não darás a tua filha ao seu filho, nem casarás a sua filha com o teu filho. Isso desviaria o teu filho de mim, eles adorariam deuses estranhos e a cólera do Senhor inflamar-se-ia contra vós e vos exterminaria rapidamente. Pelo contrário, procedereis assim com eles: destruireis os seus altares, quebrareis os seus monumentos, cortareis os seus postes sagrados e queimareis no fogo os seus ídolos. Tu és um povo consagrado ao Senhor, teu Deus. Na verdade, o Senhor, teu Deus, escolheu-te para seres para Ele um povo particular entre todos os povos que há sobre a face da terra.» «Não foi por serdes mais numerosos que outros povos que o Senhor se agradou de vós e vos escolheu; vós até éreis o mais pequeno de todos os povos. Porque o Senhor vos ama e é fiel ao juramento que fez a vossos pais, por isso, é que, com mão forte, vos fez sair e vos salvou da casa da servidão, da mão do faraó, rei do Egipto. Reconhece, pois, que o Senhor, teu Deus, é que é Deus, o Deus fiel, que mantém a aliança e a bondade para com os que o amam e observam os seus mandamentos até à milésima geração. Ele castiga, porém, a cada um dos seus inimigos, fazendo-os perecer; não tardará em dar castigo a cada um dos que o odeiam. Observarás, pois, os mandamentos, as leis e os preceitos, que Eu hoje te mando pôr em prática. Se observares estes preceitos, os guardares e cumprires, o Senhor, teu Deus, também será fiel à aliança e bondade que jurou aos teus pais. Ele te amará, abençoará e há-de multiplicar; abençoará o fruto das tuas entranhas e o fruto da tua terra: o teu trigo, o teu vinho novo, o teu azeite, as crias do teu gado miúdo e graúdo, na terra que jurou aos teus pais, que te havia de dar. Serás abençoado entre todos os povos; não haverá entre vós esterilidade, nem entre os humanos nem entre os animais. O Senhor afastará de ti qualquer doença e não te infligirá nenhuma dessas terríveis pragas do Egipto que conheceste, e com as quais castigará os teus adversários. Destruirás, pois, todos os povos que o Senhor, teu Deus, te entregar; não olharás para eles com piedade nem adorarás os seus deuses, porque isso seria para ti uma armadilha. Se disseres no teu coração: ‘Estas nações são mais numerosas do que eu; como poderemos desalojá-las?’ Não tenhas medo delas. Recorda-te do que fez o Senhor, teu Deus, ao faraó e a todo o Egipto: as grandes provas que os teus olhos viram, os sinais e prodígios daquela mão forte e daquele braço estendido com os quais o Senhor, teu Deus, te fez sair. Assim fará o Senhor a todos os povos diante dos quais tens medo. Além disso, o Senhor, teu Deus, mandará vespas contra eles, a fim de acabar com os sobreviventes que se esconderem de ti. Não tremas, pois, diante deles, porque o Senhor, teu Deus, está no meio de ti, um Deus grande e temível. Pouco a pouco, o Senhor, teu Deus, afastará esses povos da tua frente; não poderás destruí-los rapidamente, para não se multiplicarem os animais selvagens à volta de ti. Mas o Senhor, teu Deus, tos entregará e espalhará entre eles um grande pânico, até serem destruídos. Entregará os seus reis nas tuas mãos e fará desaparecer a memória deles debaixo dos céus. Ninguém te poderá resistir, até os teres exterminado. Queimarás no fogo as imagens dos seus deuses. Não cobiçarás a prata ou o ouro que as cobre, nem tomarás isso para ti, para não caíres em tal armadilha, pois são uma abominação para o Senhor, teu Deus. Não introduzas tal abominação em tua casa, porque serias votado à destruição como ela: considerá-la-ás como imunda e abominável, pois é coisa votada à destruição.» «Praticarás todos os mandamentos que eu hoje te imponho, para viveres, te tornares numeroso e entrares na posse da terra que o Senhor prometeu por juramento a teus pais. Recorda-te de todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer durante quarenta anos pelo deserto, a fim de te humilhar, para te experimentar, para conhecer o teu coração e ver se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou e fez passar fome; depois, alimentou-te com esse maná, que nem tu nem teus pais conhecíeis, para te ensinar que nem só de pão vive o homem; de tudo o que sai da boca do Senhor é que o homem viverá. A tua roupa não envelheceu sobre ti e os teus pés não incharam durante esses quarenta anos. Reconhecerás, então, no teu coração que, tal como um homem educa o seu filho, assim o Senhor, teu Deus, te educa. Observarás os mandamentos do Senhor, teu Deus, andando nos seus caminhos e temendo-o.» «O Senhor, teu Deus, vai introduzir-te numa terra óptima, terra de torrentes de água, de fontes e de nascentes profundas, que jorram por vales e montes; terra de trigo, cevada, uvas, figos, romãs; terra de azeite e mel; terra onde comerás pão com segurança, onde nada te faltará, onde as pedras são de ferro e de cujas montanhas extrairás cobre. Então comerás e ficarás saciado, agradecendo ao Senhor, teu Deus, pela terra óptima que te deu. Toma cuidado em não esquecer o Senhor, teu Deus, observando os seus mandamentos, preceitos e leis, que hoje te ordeno. Não suceda que, depois de teres comido e estares saciado, decidas construir boas casas para nelas habitar, aumentar o teu gado miúdo e graúdo, acumular a tua prata e o teu ouro e multiplicar tudo o que te pertence. Então, o teu coração se tornaria soberbo e tu esquecerias o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa de servidão. Foi Ele quem te conduziu através desse deserto grande e temível, de serpentes venenosas e escorpiões, lugar árido, onde não há água. Foi Ele quem fez jorrar, para ti, água do rochedo duro. Foi Ele quem te alimentou neste deserto com um maná desconhecido dos teus pais, para te humilhar, para te pôr à prova e, no futuro, te tornar feliz. Poderias dizer no teu coração: ‘Foi a minha força e o poder do meu braço que me proporcionaram esta riqueza’. Lembra-te, porém, do Senhor, teu Deus, porque Ele é que te dará força para fazeres riqueza, a fim de confirmar, como faz hoje, a sua aliança que jurou a teus pais. Mas, se esqueceres o Senhor, teu Deus, e fores atrás de deuses estranhos, adorando-os e prestando-lhes culto, desde já te declaro que serás destruído. Como os povos que o Senhor destruiu diante de ti, assim perecerás, por não teres ouvido a voz do Senhor, teu Deus!» «Escuta, Israel! Tu passarás hoje o Jordão, para entrares na posse de povos maiores e mais fortes do que tu e de cidades grandes com muralhas até ao céu, gente grande e alta, filhos de Anac, que conheces e de quem, muitas vezes, ouviste dizer: ‘Quem poderá enfrentar os filhos de Anac?’ Saberás, hoje, que o Senhor, teu Deus, caminha diante de ti como um fogo devorador; Ele os destruirá e os esmagará diante de ti, de tal forma que os desalojarás e destruirás rapidamente, como o Senhor te prometeu. Quando o Senhor, teu Deus, os tiver expulso da tua presença, não digas no teu coração: ‘Foi pelo meu mérito que o Senhor me introduziu na posse deste país’. De facto, foi pela maldade desses povos que o Senhor os desalojou diante de ti. Não é pelo teu mérito, nem pela rectidão do teu coração que entrarás na posse das suas terras, mas devido à maldade desses povos é que o Senhor, teu Deus, os desalojará diante de ti, para cumprir a palavra que jurou aos teus pais, Abraão, Isaac e Jacob. Fica, pois, a saber que não é pelo teu mérito que o Senhor, teu Deus, te dará a posse dessa terra óptima, porque sois um povo de dura cerviz. Lembra-te, não esqueças que desgostaste o Senhor, teu Deus, no deserto, desde o dia em que saíste da terra do Egipto até chegares a este lugar, revoltando-te contra o Senhor! Até no Horeb, desgostaste o Senhor, e o Senhor irritou-se contra ti, a ponto de te querer destruir.» «Quando subi à montanha para receber as tábuas de pedra, as tábuas da aliança que o Senhor fez convosco, permaneci na montanha quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água. O Senhor entregou-me as duas tábuas de pedra escritas com o seu dedo divino; sobre elas estavam todas as palavras que o Senhor vos dirigira sobre a montanha, do meio do fogo, no dia da Assembleia. Passados quarenta dias e quarenta noites, o Senhor entregou-me as duas tábuas de pedra, as tábuas da aliança. Disse-me, então, o Senhor, ‘Levanta-te, desce imediatamente daqui, porque o teu povo se corrompeu, o povo que tiraste do Egipto. Depressa se afastaram do caminho que lhes ordenei e fabricaram para si um ídolo de metal fundido.’ Depois, o Senhor falou-me assim: ‘Observei este povo e eis que é mesmo um povo de dura cerviz. Deixa-me destruí-lo, quero apagar o seu nome debaixo do céu. Depois, farei de ti um povo maior e mais numeroso do que ele’.» «Voltei-me e desci da montanha, que ardia em chamas, segurando nas minhas mãos as duas tábuas da aliança. Olhei e vi que tínheis pecado contra o Senhor, vosso Deus, fazendo para vós um bezerro de metal fundido, afastando-vos rapidamente do caminho que o Senhor vos ordenara. Agarrei então nas duas tábuas e, com as minhas mãos, atirei-as e parti-as diante de vós. Prostrei-me depois diante do Senhor durante quarenta dias e quarenta noites, como da primeira vez, sem comer pão nem beber água, por causa do grave pecado que cometestes, fazendo o que era mal aos olhos do Senhor e ofendendo-o. É que eu estava aterrado com a cólera e a indignação que o Senhor manifestava contra vós, a ponto de vos querer exterminar. Contudo, o Senhor ouviu-me, ainda desta vez. O Senhor irritara-se também muito contra Aarão, de tal modo que queria exterminá-lo; mas, nesse dia, eu intercedi igualmente por Aarão. Depois, peguei no bezerro, a pecaminosa obra que fizestes, e atirei-o ao fogo, tendo-o martelado e esmagado bem até o reduzir a pó; em seguida, espalhei o pó na torrente que desce da montanha. Em Tabera, em Massá, em Quibrot-Hataavá, vós irritastes o Senhor. E, quando o Senhor vos mandou partir de Cadés-Barnea, dizendo: ‘Ide, tomai posse da terra que vos dou’, desobedecestes à palavra do Senhor, vosso Deus, e não acreditastes nele nem ouvistes a sua voz! Sim, desde que vos conheço, fostes sempre rebeldes ao Senhor. Prostrei-me a interceder diante do Senhor durante quarenta dias e quarenta noites, e estive prostrado a interceder, porque o Senhor tinha dito que vos destruiria. Prostrei-me a interceder ao Senhor, dizendo: “Senhor Deus, não destruas o teu povo, a tua herança que salvaste com a tua grandeza e tiraste do Egipto com a tua mão poderosa. Recorda-te dos teus servos, Abraão, Isaac e Jacob! Não olhes para a dureza deste povo, para a sua maldade e para o seu pecado. Não suceda que se diga na terra donde nos tiraste: ‘O Senhor não foi capaz de os introduzir na terra que lhes tinha prometido; pelo mal que lhes queria é que Ele os tirou daqui, a fim de os matar no deserto’. No entanto, eles são o teu povo e a tua herança, que libertaste com o teu grande poder e com o teu braço estendido!”» «Naquele tempo, o Senhor disse-me: ‘Prepara duas tábuas de pedra semelhantes às primeiras, e vem ter comigo à montanha; faz também uma arca de madeira. Escreverei sobre as tábuas as palavras que estavam escritas nas primeiras, que quebraste, e depositá-las-ás na arca.’ Fiz, pois, uma arca de madeira de acácia e preparei duas tábuas de pedra, semelhantes às primeiras; depois, subi à montanha com as duas tábuas na mão. Ele gravou nas tábuas um texto semelhante ao primeiro, as dez palavras que o Senhor, vosso Deus, vos tinha dirigido sobre a montanha, do meio do fogo, no dia da Assembleia. Depois, o Senhor entregou-mas. Tornei a descer da montanha e depositei as tábuas na arca que tinha feito. Ficaram ali, como o Senhor me ordenara. Os filhos de Israel partiram de Beerot-Bené-Jaacan para Mosserá; aí morreu Aarão e aí foi enterrado. Eleázar, seu filho, sucedeu-lhe no sacerdócio. Dali, foram para Gudgodá e de Gudgodá para Jotbatá, terra cheia de torrentes de água. Foi por esta ocasião que o Senhor escolheu a tribo de Levi para transportar a Arca da aliança do Senhor, estar diante do Senhor para o servir e para abençoar em seu nome, como faz ainda hoje. Por isso, Levi não teve parte nem herança com os seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como lhe prometeu o Senhor, teu Deus. Fiquei, pois, na montanha quarenta dias e quarenta noites, como da primeira vez; ainda desta vez o Senhor me atendeu e não vos quis destruir. Disse-me mais o Senhor, ‘Levanta-te, caminha à frente deste povo, para que entrem e tomem posse da terra que jurei a seus pais que lhes havia de dar.’» «E agora, Israel, o que o Senhor, teu Deus, exige de ti é que temas o Senhor, teu Deus, para seguires todos os seus caminhos, para o amares, para servires o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, observando os mandamentos do Senhor e os preceitos que hoje te prescrevo, para teu bem. Ao Senhor, teu Deus, pertencem os céus e os céus dos céus, a terra e tudo o que nela existe. No entanto, foi só a teus pais que o Senhor se apegou com amor. Elegeu a sua descendência, que sois vós, de entre todos os povos, como ainda hoje. Circuncidai, portanto, a impureza do vosso coração e não endureçais mais a vossa cerviz, porque o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus supremo, poderoso e temível, que não faz distinção de pessoas nem aceita presentes. Ele faz justiça ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário. Amarás o estrangeiro, porque foste estrangeiro na terra do Egipto. Temerás o Senhor, teu Deus; a Ele só servirás! Apega-te a Ele e não jures senão pelo seu nome! Ele é a tua glória; Ele é o teu Deus, que fez por ti essas grandes e prodigiosas coisas, que teus olhos viram. Os teus antepassados eram em número de setenta, quando entraram no Egipto; mas agora o Senhor, teu Deus, tornou-vos tão numerosos como as estrelas do céu.» «Amareis o Senhor, vosso Deus, e observareis as suas ordens, preceitos, sentenças e leis, durante toda a vida. Reconhecereis hoje porque é que não falo aos vossos filhos, que não conheceram nem viram os ensinamentos do Senhor, vosso Deus, a sua grandeza, a sua mão forte e o seu braço estendido; os sinais e as obras que realizou no Egipto contra o faraó, rei do Egipto e contra todo o seu reino; o que Ele fez ao exército egípcio, aos carros e à sua cavalaria quando vos perseguiam; como os submergiu nas águas do Mar dos Juncos; o Senhor os fez desaparecer para sempre; o que Ele fez por vós no deserto, até chegardes a este lugar; o que fez a Datan e Abiram, filhos de Eliab, descendentes de Rúben, quando a terra, abrindo-se, os engoliu com as suas famílias, as suas tendas e todos os que se levantaram por eles no meio de todo o Israel. Os vossos olhos é que puderam ver todas as grandes obras que o Senhor realizou. Guardareis, pois, todos os mandamentos que hoje vos ordeno, para serdes fortes e entrardes e tomardes posse da terra para onde caminhais, a fim de a possuir. Assim, prolongareis os dias na terra que o Senhor jurou dar aos vossos pais e à sua descendência, terra onde corre leite e mel. Na verdade, a terra em que vais entrar para a possuir não é como a terra do Egipto, donde saíste; lá, tinhas de lançar a semente e de a regar pelo teu pé, como uma horta. A terra para onde caminhas, a fim de a possuir, é uma terra de montanhas e vales, que bebe água das chuvas do céu; é uma terra de que o Senhor, teu Deus, cuida e para a qual os olhos do Senhor, teu Deus, estão sempre voltados, desde o começo do ano até ao fim. Sucederá, pois, que, se escutardes os mandamentos que hoje vos ordeno, amando o Senhor, vosso Deus, e servindo-o com todo o vosso coração e com toda a vossa alma, darei chuva à vossa terra no devido tempo, chuva da Primavera e chuva do fim do Outono, e colherás o teu trigo, o teu vinho e o teu azeite. Farei crescer a erva no teu campo para o teu gado. Assim poderás comer e ficarás saciado. Acautelai-vos para que o vosso coração não se deixe seduzir e vos afasteis para servir outros deuses e lhes prestardes culto. A ira do Senhor inflamar-se-ia contra vós, e Ele fecharia os céus: não haveria chuva, a terra não daria o seu fruto e vós desapareceríeis rapidamente da boa terra que o Senhor vos destina.» «Gravai, pois, estas minhas palavras no vosso coração e no vosso espírito; atai-as aos braços como um símbolo, trazei-as como filactérias entre os olhos. Ensinai-as aos vossos filhos, repetindo-as, quando estiverdes a descansar em casa e quando fordes em viagem, ao deitar e ao levantar. Escrevei-as nas ombreiras da vossa casa e nas vossas portas. Então se multiplicarão os vossos dias e os dias dos vossos filhos na terra que o Senhor jurou dar a vossos pais. Serão como dias de céu sobre a terra! Se, de facto, cumprirdes todos estes preceitos que eu vos prescrevo, amando o Senhor, vosso Deus, andando sempre nos seus caminhos e permanecendo-lhe fiéis, o Senhor desalojará diante de vós todos esses povos e submetereis povos maiores e mais fortes do que vós. Toda a região que a planta dos vossos pés pisar será vossa. Desde o deserto até ao Líbano e desde o rio Eufrates até ao mar ocidental serão as vossas fronteiras. Ninguém vos poderá resistir; o Senhor, vosso Deus, espalhará o medo e o terror sobre todos os lugares onde puserdes o pé, como vos afirmou. Vede: proponho-vos hoje a bênção ou a maldição: a bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos prescrevo; a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, e vos afastardes do caminho que hoje vos indico, para seguirdes deuses estrangeiros que não conheceis.» «Quando o Senhor, teu Deus, te introduzir no país do qual vais tomar posse, proclamarás a bênção sobre o monte Garizim e a maldição sobre o monte Ebal. Estas montanhas estão além do Jordão, depois do caminho que desce para o ocidente, na terra dos cananeus que habitam na Arabá, em frente de Guilgal, junto dos Carvalhos de Moré. Passarás o Jordão para entrares na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar; toma posse dela e habita ali. Cuidarás, então, de pôr em prática todas estas leis e preceitos que hoje ponho na tua frente.» «Eis as leis e os preceitos que devereis pôr em prática na terra que o Senhor, Deus de vossos pais, vos deu em propriedade; guardai-os todos os dias da vossa vida. Destruí todos os santuários em que os povos, por vós desalojados, tiverem prestado culto aos seus deuses, nos altos montes, nas colinas e debaixo das árvores frondosas. Derrubai os altares, quebrai os monumentos, queimai os bosques sagrados e abatei as imagens dos seus deuses; fazei desaparecer daquela terra a sua lembrança. Não procedereis com o Senhor, vosso Deus, à maneira desses povos; só devereis ir invocar o Senhor, vosso Deus, no lugar que Ele escolher entre todas as vossas tribos para aí firmar o seu nome e a sua morada. Apresentareis ali os vossos holocaustos, os vossos sacrifícios, os vossos dízimos, os tributos das vossas mãos, os vossos votos e as primícias do vosso gado graúdo e miúdo. Ali é que os consumireis diante do Senhor, vosso Deus, e gozareis, vós e as vossas famílias, de todos os bens que as vossas mãos adquirirem com a bênção do Senhor, vosso Deus. Não procedereis como actualmente nós procedemos, agindo cada um conforme lhe convém, porque não entrastes ainda no vosso repouso e na posse da herança que o Senhor, vosso Deus, vos há-de dar. Passareis o Jordão e habitareis na terra que o Senhor, vosso Deus, vos há-de dar como herança. Ele vos dará repouso, livrando-vos de todos os inimigos que vos cercam, e fará com que vivais em segurança. Então, no lugar escolhido pelo Senhor, vosso Deus, para ali estabelecer a sua morada, é que apresentareis tudo quanto vos ordeno: os vossos holocaustos, os vossos sacrifícios, os vossos dízimos, os tributos das vossas mãos e todas as dádivas escolhidas, que tiverdes prometido ao Senhor. E alegrar-vos-eis na presença do Senhor, vosso Deus, vós, os vossos filhos, as vossas filhas, os vossos servos, as vossas servas e também o levita que estiver dentro das portas da vossa cidade, porque ele não terá parte na herança como vós. Guardai-vos de oferecer os vossos holocaustos em qualquer lugar que vos parecer melhor. Oferecereis os vossos holocaustos somente no lugar que o Senhor tiver escolhido numa das suas tribos; ali é que os oferecereis e ali cumprireis tudo quanto vos ordeno. Poderás, contudo, matar os animais à vontade e comer a sua carne em todas as tuas cidades que o Senhor, teu Deus, te tiver concedido como bênção. Cada um pode comê-la, quer esteja ou não em estado de pureza legal, como se come a carne do cabrito e do veado. Somente não comerás o sangue; derramá-lo-ás na terra, como se fosse água. Não poderás comer dentro das portas das cidades o dízimo do teu trigo, nem do teu vinho, nem do teu azeite, nem os primogénitos do teu gado graúdo ou miúdo, nem as ofertas que tiveres prometido, por voto ou espontaneamente, nem as tuas primícias. Mas comerás estas coisas diante do Senhor, teu Deus, no lugar que Ele tiver escolhido: tu, os teus filhos, as tuas filhas, os teus servos e servas e também o levita que estiver dentro das portas da tua cidade. Alegrar-te-ás na presença do Senhor, teu Deus, por tudo o que as tuas mãos adquiriram. Guarda-te de tratar com negligência o levita, enquanto viveres na tua terra. Quando o Senhor, teu Deus, alargar o teu território, como te prometeu, e disseres: ‘Quero comer carne’, porque tens vontade de a comer, poderás comer quanta carne te apetecer. Se estiveres muito afastado do santuário escolhido pelo Senhor, teu Deus, para invocar o seu nome, poderás matar do gado graúdo e miúdo, que o Senhor te tiver dado, da maneira que te ordenei, e poderás comê-lo na tua cidade como te agradar. Como se come o cabrito ou o veado, assim comerás dessas carnes. Qualquer um poderá comer, quer se encontre ou não em estado de pureza legal. Mas guarda-te de comer o sangue, porque o sangue é a vida, e não deves comer a vida com a carne. Portanto, não o comas; mas derrama-o na terra como se fosse água. Não o comas, a fim de seres feliz, tu e os teus filhos depois de ti, porque assim farás o que é recto aos olhos do Senhor. As ofertas sagradas que te são impostas ou as que fizeres em virtude de um voto, apresentá-las-ás no santuário que o Senhor tiver escolhido. Oferecerás holocaustos, carne e sangue, sobre o altar do Senhor, teu Deus. Quanto aos outros sacrifícios, o seu sangue será derramado sobre o altar do Senhor, teu Deus, e comerás as suas carnes. Procura observar todas estas ordens que te dou, a fim de seres eternamente feliz, tu e os teus descendentes, porque assim farás o que é bom e recto aos olhos do Senhor, teu Deus.» «Quando o Senhor, teu Deus, tiver exterminado diante de ti os povos, cujos territórios invadires para os possuir, quando tiveres ocupado o seu país, acautela-te para não te extraviares, seguindo os seus passos, depois da sua destruição. Guarda-te de seguir os seus deuses e dizer: ‘Como é que estes povos adoravam os seus deuses? Também queremos fazer como eles.’ Não procederás assim com o Senhor, teu Deus; porque tudo o que o Senhor abomina, tudo o que Ele reprova, eles o fizeram com os seus deuses, chegando até a queimar em sua honra os próprios filhos e filhas.» «Cumprireis todas as ordens que eu vos prescrevo, sem nada lhes acrescentar ou suprimir. Se no meio de vós aparecer um profeta ou um visionário, mostrando-te um sinal ou um prodígio; se se realizar o sinal ou prodígio que te anunciou e ele te disser: ‘Sigamos os deuses estrangeiros – que não conhecias – e adoremo-los’, não ouvirás as palavras desse profeta ou desse visionário, porque o Senhor, vosso Deus, vos põe à prova para verificar se realmente o amais com todo o vosso coração e com toda a vossa alma. Seguireis ao Senhor, vosso Deus, e a Ele haveis de temer; cumprireis os seus preceitos e não obedecereis senão à sua voz; a Ele prestareis culto e só a Ele servireis! Esse profeta ou esse visionário será condenado à morte, porque pregou a revolta contra o Senhor, vosso Deus, que vos fez sair da terra do Egipto, que te resgatou da casa da servidão. Esse procura, assim, desviar-te do caminho que o Senhor, teu Deus, te indicou para seguires por ele. Assim, extirparás o mal do meio de ti. Se o teu irmão, filho da tua mãe, o teu filho ou a tua filha, a tua companheira ou o amigo a quem estimas vier secretamente seduzir-te, dizendo: ‘Vamos servir os deuses estrangeiros’ – deuses que nem tu nem os teus pais conheceram, os deuses dos povos que estão à tua volta, na tua vizinhança ou ao longe, de um extremo ao outro da terra não o aceitarás nem ouvirás; não levantarás para ele olhos de compaixão, nem o ajudarás a esconder-se. Pelo contrário, tens o dever de o matar. A tua mão será a primeira a levantar-se contra ele para lhe dar a morte e, a seguir, a mão de todo o povo. Apedrejá-lo-ás até morrer, porque ele tentou desviar-te do Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egipto, da casa da servidão. Todo o Israel, ao sabê-lo, tremerá e ninguém repetirá mais tal delito no meio de vós. Quando ouvires dizer numa das tuas cidades que o Senhor, teu Deus, te deu para habitação, que homens perversos, nascidos no meio de vós, desencaminham os habitantes das suas cidades, dizendo: ‘Vamos servir os deuses estrangeiros’ – deuses que vós não conheceis farás um inquérito, averiguarás e informar-te-ás bem. Se for verdade que essa abominação foi cometida no meio de vós, passarás ao fio da espada os habitantes dessa cidade. Votarás à destruição essa cidade com tudo o que nela houver, incluindo o gado. Reunirás em seguida no centro da praça todas as riquezas e queimá-las-ás juntamente com a cidade e todos os seus bens, sem excluir nada, em honra do Senhor, teu Deus. Ficará para sempre em ruínas e não voltará a ser reconstruída. Que a tua mão não retenha coisa alguma da cidade amaldiçoada, para que o Senhor aplaque a sua ira e use de piedade e misericórdia para convosco, e te multiplique como jurou a teus pais, se obedeceres à voz do Senhor, teu Deus, cumprindo todos os seus mandamentos que hoje te prescrevo e fazendo o que é justo aos olhos do Senhor, teu Deus.» «Vós sois filhos do Senhor, vosso Deus. Não fareis, pois, incisão alguma no vosso corpo, nem rapareis o cabelo entre os olhos, por um morto. Na verdade, vós sois um povo consagrado ao Senhor, vosso Deus, que vos escolheu para si como um povo particular entre todos os povos da terra. Não comereis coisa alguma abominável. Estes são os animais que podereis comer: o boi, o cordeiro, a ovelha, a cabra, o veado, a corça, o gamo, o bode montês, o antílope e o búfalo. Podeis comer todos os quadrúpedes que tenham casco dividido em duas unhas distintas uma da outra e sejam ruminantes. Não comereis, porém, dos que ruminam mas não tenham a unha fendida, isto é, o camelo, a lebre, o coelho, porque ruminam, mas não têm a unha fendida. Estes serão impuros para vós. O porco, porque tem a unha fendida, mas não rumina, será impuro para vós. Não comereis da carne destes animais nem tocareis no seu cadáver. De todos os animais que vivem na água, podereis comer todos os que têm barbatanas e escamas; mas não comereis o que não tiver barbatanas nem escamas; esses serão impuros para vós. Comereis qualquer ave pura. Estas são as que não comereis: a águia, o xofrango, o esmerilhão, o falcão e o abutre de qualquer variedade, toda a espécie de corvos, a avestruz, a andorinha, a gaivota e o gavião, segundo as suas espécies, a coruja, o mocho, o íbis, o pelicano, o corvo marinho, a cegonha, toda a variedade de garças, o faisão e o morcego. Qualquer insecto alado será impuro para vós; não o comereis. Podereis comer todas as aves puras. Não comereis nenhum animal morto. Dá-lo-eis a comer ao estrangeiro que residir dentro das portas da vossa cidade, ou vendê-lo-eis aos de fora, porque vós sois um povo consagrado ao Senhor, vosso Deus. Não cozereis o cabrito no leite de sua mãe.» «Tirarás o dízimo de todo o fruto da sementeira que o teu campo produzir anualmente. Comê-lo-ás na presença do Senhor, teu Deus, no santuário que Ele tiver escolhido para morada do seu nome; comerás ali o dízimo do teu trigo, do teu vinho, do teu azeite e os primogénitos do teu gado graúdo e miúdo, para te acostumares a honrar continuamente o Senhor, teu Deus. Mas, se o caminho for demasiado longo para que possas transportar o teu dízimo – em virtude de estares muito distante do santuário escolhido pelo Senhor, teu Deus, para morada do seu nome e porque o Senhor, teu Deus, te cumulou de bens convertê-lo-ás em dinheiro, levarás contigo o seu total e irás ao santuário escolhido pelo Senhor, teu Deus. Comprarás com esse dinheiro tudo o que te agradar, gado graúdo ou miúdo, vinho, ou licores fortes, enfim, tudo o que te aprouver e comê-lo-ás na presença do Senhor, teu Deus, alegrando-te com a tua família. Não deves esquecer o levita que estiver dentro dos muros da tua cidade, porque ele não tem parte nem herança como tu. Ao fim de três anos, tirarás o dízimo completo da colheita desse ano e depositá-lo-ás na tua cidade, para que o levita, que não tem parte nem herança contigo, o estrangeiro, o órfão e a viúva, que estão dentro dos muros da tua cidade, possam comer e ficar saciados. Assim, o Senhor, teu Deus, abençoará todas as obras das tuas mãos.» «De sete em sete anos, cumprirás a lei do perdão das dívidas. Eis a explicação deste perdão: nenhum credor poderá exigir o empréstimo que tiver feito ao seu próximo. Não exercerá contra o seu próximo e contra o seu irmão violência alguma, quando for anunciada a remissão em honra do Senhor. Ao estrangeiro poderás exigir, mas quanto às dívidas do teu irmão farás a remissão. Em verdade, não deve haver pobres entre vós, porque o Senhor te abençoará na terra que Ele próprio te há-de dar em herança para a possuíres; mas só se ouvires a voz do Senhor, teu Deus, para guardares e cumprires todos estes preceitos que eu hoje te ordeno. Então o Senhor, teu Deus, te abençoará como prometeu: poderás emprestar a muitos povos, mas não terás necessidade de pedir emprestado; dominarás muitos povos, mas eles não te dominarão. Se houver junto de ti um indigente entre os teus irmãos, numa das tuas cidades, na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar, não endurecerás o teu coração e não fecharás a tua mão ao irmão necessitado. Abre-lhe a tua mão, empresta-lhe sob penhor, de acordo com a sua necessidade, aquilo que lhe faltar. Guarda-te de alimentar no teu coração um pensamento perverso, dizendo: ‘O sétimo ano, o ano do perdão das dívidas, está próximo’, recusando-te sem piedade a socorrer o teu irmão necessitado. Ele clamaria ao Senhor contra ti, e aquilo tornar-se-ia para ti um pecado. Deves dar-lhe, sem que o teu coração fique pesaroso; porque, em recompensa disso, o Senhor, teu Deus, te abençoará em todas as empresas das tuas mãos. Sem dúvida, nunca faltarão pobres na terra; por isso, eu te ordeno: Abre generosamente a mão ao teu irmão, ao pobre e ao necessitado que estiver na tua terra.» «Quando um dos teus irmãos hebreus, homem ou mulher, te for vendido, servir-te-á seis anos; mas no sétimo ano terás de o deixar sair da tua casa, restituindo-lhe a liberdade. E quando libertares do serviço esse escravo, não o despedirás de mãos vazias, mas dar-lhe-ás um presente do teu gado miúdo, do teu celeiro e do teu lagar; dar-lhe-ás uma parte dos bens com que o Senhor te houver favorecido. Recorda-te que foste escravo no país do Egipto e que o Senhor, teu Deus, te libertou. Por isso, eu hoje te prescrevo este mandamento. Pode, porém, acontecer que o escravo te diga: ‘Não te quero deixar’, porque, sentindo-se feliz em tua casa, ele se apegou a ti e à tua família. Então, tomarás um furador, furar-lhe-ás a orelha contra a porta, e será teu servo para sempre. E procederás da mesma forma para com a vossa serva. Não fiques contrariado ao dar-lhe a liberdade, pois ele ganhou duas vezes o salário de um mercenário, servindo-te durante seis anos. E o Senhor, teu Deus, te abençoará em todas as tuas empresas.» «Consagrarás ao Senhor, teu Deus, todo o primogénito macho do teu gado graúdo e miúdo, não obrigarás a trabalhar o primogénito do teu gado e não tosquiarás o primogénito das tuas ovelhas. É diante do Senhor, teu Deus, e no santuário que Ele tiver escolhido, que o comerás anualmente com a tua família. Se tiver qualquer defeito, se for coxo ou cego, ou se tiver qualquer outra enfermidade, não o oferecerás em sacrifício ao Senhor, teu Deus. Comê-lo-ás nas tuas cidades, quer em estado de pureza legal ou não; todos poderão comer dele como se come a gazela e o veado. Só não comerás o seu sangue, que derramarás na terra como se fosse água.» «Guarda o mês de Abib e celebra a Páscoa em honra do Senhor, teu Deus, porque foi no mês de Abib que o Senhor, teu Deus, te fez sair do Egipto, durante a noite. Imolarás ao Senhor, teu Deus, em sacrifício pascal, gado miúdo e graúdo, no santuário que o Senhor tiver escolhido para ali estabelecer o seu nome. Não comerás pão fermentado com essas vítimas. Durante sete dias, comerás com elas ázimos, o pão da aflição, porque foi à pressa que saíste do Egipto, para assim te recordares durante toda a tua vida do dia da tua partida. Que não se veja fermento algum em todo o teu território durante sete dias. Que não fique para o dia seguinte coisa alguma da carne imolada no sacrifício da tarde do primeiro dia. Não poderás imolar o cordeiro pascal em nenhuma das cidades que o Senhor, teu Deus, te há-de dar, mas somente no santuário que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido para ali estabelecer o seu nome. Ali imolarás o sacrifício pascal, ao cair da tarde, depois do pôr-do-sol, à hora em que saíste do Egipto. Cozê-lo-ás e comê-lo-ás no lugar que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido. No dia seguinte, poderás regressar à tua tenda. Durante seis dias, comerás ázimos e no sétimo dia haverá uma liturgia solene em honra do Senhor, teu Deus; nesse dia não farás trabalho algum.» «Depois, contarás sete semanas, a partir do momento em que começares a meter a foice nas searas. Celebrarás, então, a festa das Semanas em honra do Senhor, com as tuas ofertas voluntárias, segundo as bênçãos que o Senhor, teu Deus, te tiver concedido. Alegrar-te-ás na presença do Senhor, teu Deus, com os teus filhos, as tuas filhas, os teus servos e as tuas servas, o levita que viver dentro das portas da tua cidade, o estrangeiro, o órfão e a viúva que estiverem junto de ti, no santuário que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido para ali estabelecer o seu nome. Recorda-te que foste escravo no Egipto; guarda e cumpre fielmente estas leis.» «Celebrarás a festa das Tendas durante sete dias, quando recolheres os produtos da tua eira e do teu lagar. Alegrar-te-ás durante a festa, com os teus filhos, as tuas filhas, os teus servos, as tuas servas, com o levita, o estrangeiro, o órfão e a viúva que estiverem dentro das portas da tua cidade. Festejarás esses sete dias em honra do Senhor, teu Deus, no santuário por Ele escolhido, pois o Senhor, teu Deus, abençoará todos os teus bens e toda a obra das tuas mãos. Faz a festa com alegria. Três vezes por ano, todos os varões se apresentarão diante do Senhor, teu Deus, no santuário que Ele tiver escolhido: na festa dos Ázimos, na festa das Semanas e na festa das Tendas. Ninguém aparecerá com as mãos vazias diante do Senhor. Cada um dará segundo as suas posses, conforme as bênçãos que o Senhor, teu Deus, lhe tiver concedido.» «Estabelecerás juízes e magistrados em todas as cidades que o Senhor, teu Deus, te der em cada uma das tribos, para que julguem o povo com equidade. Não farás vergar a justiça, não farás acepção de pessoas e não aceitarás suborno, pois o suborno cega os olhos dos sábios e perverte a causa do inocente. Deves procurar a justiça e só a justiça, se queres conservar em teu poder a terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar. Não plantarás árvores sagradas, de qualquer espécie, ao lado do altar que levantares ao Senhor, teu Deus. Não levantarás estelas, porque o Senhor, teu Deus, as detesta.» «Não imolarás ao Senhor, teu Deus, touro e ovelha que tenham qualquer tara ou defeito, porque isso é uma abominação aos olhos do Senhor, teu Deus. Quando se encontrar no meio de vós, numa das cidades que te dará o Senhor, teu Deus, um homem ou uma mulher que faça o que é mal aos olhos do Senhor, teu Deus, violando a sua aliança, indo servir a outros deuses e prostrar-se diante deles ou diante do Sol ou da Lua, ou do que quer que seja do exército celeste – o que Eu não mandei logo que te for dado a conhecer e o ouvires, procederás a minucioso inquérito. Se for verdade provada que essa abominação foi cometida em Israel, farás conduzir às portas da cidade o homem ou a mulher culpados de um tal crime e apedrejá-los-ás até que morram. Sob o depoimento de duas ou três testemunhas será executado; mas não poderá ser executado com o depoimento de uma só testemunha. As mãos das testemunhas serão as primeiras a levantar-se contra ele para lhe dar a morte e, por último, as mãos do povo. Assim, extirparás o mal do meio de ti.» «Quando aparecer um caso difícil de julgar, de assassinato, litígio, ferimento, processos de disputa na tua cidade, deves dirigir-te ao lugar que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido para si. Irás ter com os sacerdotes levíticos e com o juiz em exercício nessa altura; consultá-los-ás e eles te esclarecerão sobre a sentença a dar. Agirás, então, de acordo com a decisão que eles te comunicarem, no lugar escolhido pelo Senhor, e terás o cuidado de te conformares com as suas instruções. Procederás segundo as instruções que te derem e segundo a sentença que te ditarem, sem te afastares do seu parecer nem para a direita nem para a esquerda. Aquele que agir com insolência, não escutando o sacerdote que ali estiver ao serviço do Senhor, teu Deus, ou o juiz, esse homem será punido de morte. Assim extirparás o mal do meio de Israel. Então, todo o povo o saberá e temerá, e não voltará a incorrer em tal insolência.» «Quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar e dela tomares posse e ali te instalares, se então disseres: ‘Queremos estabelecer sobre nós um rei como o têm todos os povos que nos rodeiam’, deves estabelecer acima de vós o rei que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido dentre os teus irmãos. Não poderás escolher para rei um estrangeiro, que não seja vosso irmão. Todavia, que esse rei não procure ter grande número de cavalos e não reconduza o povo ao Egipto para conseguir mais cavalos, porque o Senhor ordenou-vos que não voltásseis mais a seguir por esse caminho. O rei não multiplicará as suas mulheres, para que o seu coração não se perverta, e tão pouco acumulará ouro e prata em excesso. Quando se sentar no trono da sua realeza, escreverá para si uma cópia desta lei num livro, segundo o texto dos sacerdotes levíticos. Tê-lo-á consigo e o consultará durante toda a sua vida para aprender a temer o Senhor, seu Deus, a guardar todas as palavras desta lei e a cumprir estes preceitos. Assim, não se ensoberbecerá o seu coração em relação aos seus irmãos, não se desviará deste mandamento nem para a direita nem para a esquerda, e se multiplicarão os dias da sua realeza, para ele e para seus filhos no meio de Israel.» «Os sacerdotes levíticos – toda a tribo de Levi – não terão parte nem herança com Israel; os sacrifícios oferecidos ao Senhor são a sua herança, e deles comerão. Não terão herança entre os seus irmãos. O próprio Senhor é a sua herança, como Ele lhes declarou. Estes são os direitos que os sacerdotes hão-de receber do povo, dos que oferecerem em sacrifício touros e ovelhas. Darão ao sacerdote a espádua, as mandíbulas e o estômago. Dar-lhe-ás as primícias do teu trigo, do teu vinho e do teu azeite e as primícias da lã dos teus rebanhos, porque foi a eles e aos seus filhos que o Senhor, teu Deus, escolheu dentre todas as tribos para estar a servir eternamente o nome do Senhor. Quando um levita vier de uma das tuas cidades, em qualquer parte de Israel onde esteja, e chegar, por sua livre vontade, ao santuário escolhido pelo Senhor, poderá servir o nome do Senhor, seu Deus, como todos os seus irmãos levitas que estão ali diante do Senhor. Terá porção igual de alimentos, para além das vendas do seu património.» «Quando entrares na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar, não imites as abominações daquelas gentes. Ninguém no teu meio faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha; ou se dê a encantamentos, aos augúrios, à adivinhação, à magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios, à evocação dos mortos, porque o Senhor abomina todos os que fazem tais coisas. Por causa dessas abominações é que o Senhor, teu Deus, desaloja da tua frente essas gentes. Entrega-te inteiramente ao Senhor, teu Deus! De facto, essas gentes que tu vais desalojar acreditam em agoureiros e adivinhos, mas a ti o Senhor, teu Deus, não o permite. O Senhor, teu Deus, suscitará no meio de vós, de entre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deves escutar. Foi o que pediste ao Senhor, teu Deus, no monte Horeb, no dia da Assembleia, quando lhe disseste: ‘Não queremos mais ouvir a voz do Senhor, nosso Deus, nem tornar a ver mais este fogo enorme, para não morrer.’ O Senhor disse-me então: ‘Está certo o que eles dizem. Suscitar-lhes-ei um profeta como tu, de entre os seus irmãos; porei as minhas palavras na sua boca e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar. Mas aquele que não atender às palavras que ele disser em meu nome, Eu próprio lhe pedirei contas! O profeta, porém, que tiver a insolência de anunciar em meu nome palavras que não lhe mandei dizer, e aquele que falar em nome de deuses estrangeiros, esse profeta morrerá. Poderás perguntar-te a ti mesmo: Como distinguiremos a palavra que não proferiu o Senhor? Quando o profeta falar em nome do Senhor e essas palavras não se realizarem, então essa palavra não veio do Senhor, o Senhor não a disse. É insolência da palavra deste profeta. Não tenhais medo dele’.» «Quando o Senhor, teu Deus, eliminar os povos, cuja terra o Senhor te há-de dar, quando dela tomares posse e habitares nas suas cidades e nas suas casas, reservarás três cidades na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar para a possuíres. Facilitarás o acesso a essas cidades e dividirás em três partes a terra que o Senhor, teu Deus, te dará em herança, a fim de que todo o homicida possa refugiar-se aí. São estes os casos em que o homicida, ao refugiar-se ali, terá a vida salva: quando matar o seu próximo por inadvertência, sem antes lhe ter ódio. Por exemplo, quando for à floresta com outro para cortar lenha e, no momento de levantar o machado para derrubar a árvore, o ferro se separar do cabo e atingir o companheiro e ele morrer; então ele poderá fugir para uma dessas cidades e salvar a vida. De contrário, o vingador do sangue, enfurecido, poderia persegui-lo e alcançá-lo, matando-o, se o caminho fosse longo. No entanto, esse homem não era réu de sentença de morte, pois antes não sentia ódio. Por isso, eu te ordeno: reserva para isso três cidades. E quando o Senhor, teu Deus, alargar a tua fronteira, como jurou aos teus antepassados, e te der todo o país que prometeu aos teus pais, então, acrescentarás mais três cidades àquelas três. Mas guardarás todos estes mandamentos, fazendo aquilo que hoje te prescrevo, amando o Senhor, teu Deus, e andando sempre nos seus caminhos. Desse modo, não se derramará sangue inocente na terra que o Senhor, teu Deus, te der por herança, e não cairá sobre vós a responsabilidade do sangue. Mas, se alguém, por ódio ao seu próximo, o espreitar e se lançar sobre ele, ferindo-o mortalmente, e depois se for refugiar numa dessas cidades, os anciãos da sua cidade ordenarão que o tirem de lá e o entreguem ao vingador do sangue, para ser morto. Não terás piedade dele; farás desaparecer de Israel o derramamento de sangue inocente, e tudo te correrá bem.» «Não mudarás os limites do teu vizinho, que os antigos demarcaram na herança que te couber na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar para dela tomares posse.» «Um testemunho isolado não será suficiente contra uma pessoa, seja qual for o seu crime, a sua culpa ou o pecado de que for acusado; só com o depoimento de duas ou três testemunhas é que o caso será tomado em conta. Se uma falsa testemunha se apresentar contra alguém para o acusar de crime, as duas pessoas a quem compete a questão comparecerão diante do Senhor, na presença dos sacerdotes e dos juízes de serviço naqueles dias. Os juízes examinarão bem a questão. Se a testemunha é falsa e proferiu uma mentira contra o seu irmão, far-lhe-eis como ela tinha pensado fazer a seu irmão. Assim, extirparás o mal do meio de vós. E as outras pessoas aprenderão e hão-de temer, e ninguém mais se atreverá a fazer semelhante mal no meio de vós. Não terás piedade: é vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.» «Quando saíres para a guerra contra os teus inimigos e vires cavalos, carros de guerra e um exército mais numeroso que o teu, não tenhas medo deles, porque o Senhor, teu Deus, está contigo, Ele que te fez subir da terra do Egipto. Quando estiveres a começar a batalha, o sacerdote se adiantará para falar ao povo e lhe dirá: ‘Escuta, Israel! Ides hoje travar batalha com os vossos inimigos. Não vos assusteis em vossos corações, não temais, não vos aterrorizeis nem vos perturbeis diante deles, porque o Senhor, vosso Deus, vos acompanha para combater por vós contra os vossos inimigos e para vos dar a vitória!’ Também os oficiais falarão assim às tropas: ‘Quem construiu uma casa nova e ainda não a inaugurou, esse que parta e regresse a sua casa, pois poderia morrer na batalha e outro a inauguraria. Quem plantou uma vinha e ainda não a vindimou, esse que parta e regresse a sua casa, pois poderia morrer na batalha e outro a vindimaria. Quem desposou uma mulher e ainda a não tomou consigo, esse que parta e regresse a sua casa, pois poderia morrer na batalha e outro a tomaria.’ Os oficiais dirão ainda às tropas: ‘Quem for medroso e de coração tímido, esse que parta e regresse a sua casa, para que o coração de seus irmãos não desfaleça como o dele.’ Quando os oficiais tiverem acabado de falar às tropas, os chefes das divisões colocar-se-ão à frente do exército. Quando te aproximares de uma cidade para a atacar, propõe-lhe primeiro a paz. Se ela aceitar a paz e te abrir as portas, toda a população que nela se encontrar te pagará tributo e te servirá. Mas se não fizer a paz contigo e quiser entrar em guerra contra ti, pôr-lhe-ás cerco. E quando o Senhor, teu Deus, a entregar nas tuas mãos, passarás todos os seus varões ao fio de espada. Só poderás tomar para ti as mulheres, as crianças, o gado e o que se encontrar na cidade, todo o seu espólio; comerás dos despojos dos teus inimigos, que o Senhor, teu Deus, te deu. Procederás assim para com todas as cidades muito afastadas de ti, que não fazem parte das cidades destas nações. Só das cidades destes povos, que o Senhor, teu Deus, te há-de dar por herança, é que não deixarás nelas alma viva. Votarás à destruição, o hitita, o amorreu, o cananeu, o perizeu, o heveu, o jebuseu, como te ordenou o Senhor, teu Deus, para que eles vos não ensinem a fazer as abominações que praticam em honra dos seus deuses. Pecaríeis contra o Senhor, vosso Deus. Quando tiveres de pôr cerco a uma cidade durante muito tempo e tiveres de lutar contra ela, a fim de a conquistares, não destruirás as suas árvores derrubando-as à machadada; comerás delas e não as cortarás. Porventura a árvore do campo é um homem, para a atacares durante o assédio? Só as árvores que souberes que não servem para alimentação é que poderás destruir e cortar, a fim de as utilizares no cerco contra a cidade que está em guerra contigo, até a venceres.» «Quando, na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar para dela tomares posse, encontrares um cadáver caído no campo, sem que se saiba quem o matou, os teus anciãos e os teus juízes irão medir a distância que separa o cadáver das cidades dos arredores. Determinada a cidade mais próxima do cadáver, os anciãos dessa cidade tomarão uma novilha que ainda não tenha lavrado nem puxado ao jugo. Eles mesmos levarão a novilha para um vale de água perene, onde não se pode atravessar nem se faz sementeira, e nesse vale lhe quebrarão a nuca. Então, os sacerdotes levíticos se aproximarão, porque foram eles que o Senhor, teu Deus, escolheu para o servir e para abençoarem em nome do Senhor, e da sentença deles pende todo o litígio e todo o crime. Todos os anciãos da cidade mais próxima do cadáver lavarão as mãos por cima da novilha cuja nuca foi quebrada no vale e dirão, cada um por sua vez: ‘As nossas mãos não derramaram este sangue e os nossos olhos não o viram derramar. Perdoa, Senhor, ao teu povo de Israel, que resgataste! Não imputes o sangue inocente ao teu povo de Israel.’ E esse sangue ser-lhe-á perdoado. Desse modo, farás desaparecer o sangue inocente do teu meio, porque fizeste o que é recto aos olhos do Senhor.» «Quando fores à guerra contra os teus inimigos e o Senhor, teu Deus, os entregar nas tuas mãos e fizeres prisioneiros, se vires entre os prisioneiros uma mulher de bela aparência, que te agrade e com quem desejes casar, leva-a primeiro para tua casa. Ela rapará a cabeça, cortará as unhas, tirará a sua roupa de prisioneira, permanecerá em tua casa e chorará durante um mês inteiro o seu pai e a sua mãe. Depois disto, poderás unir-te a ela, serás seu marido e ela será a tua mulher. Se ela não te agradar, deixa-a partir à vontade, mas não poderás vendê-la por dinheiro nem maltratá-la, porque a oprimiste.» «Quando um homem tiver duas mulheres, uma que ele ama, outra que despreza, e lhe tiverem dado filhos, tanto a que é amada como a que é desprezada, se o filho desta for o primogénito, este homem, no dia em que repartir entre os filhos os bens que tiver, não poderá dar a primogenitura ao filho da que é amada, em prejuízo do primogénito da mulher desprezada. Reconhecerá como primogénito o filho da mulher desprezada, dando-lhe porção dupla de todos os seus bens; porque este filho representa as primícias do seu vigor, a ele pertence o direito de primogenitura.» «Quando um homem tiver um filho desobediente e rebelde, que não escuta a voz do seu pai, nem da sua mãe, e que, quando o corrigem, continua a não os escutar, o pai e a mãe o levarão à presença dos anciãos da cidade, às portas da sua localidade, e dirão aos anciãos da cidade: ‘Este nosso filho é desobediente e rebelde, não escuta a nossa voz; é incorrigível e dissoluto.’ Depois, todos os homens da cidade o apedrejarão e ele morrerá. Assim extirparás o vício do meio de vós. Todo o Israel o há-de saber e se encherá de temor.» «Quando um homem tiver cometido um crime de morte e for condenado, será enforcado. Não deixarás o seu cadáver permanecer de noite na forca; procurarás enterrá-lo no mesmo dia, pois o enforcado é uma maldição de Deus, e não deves manchar a tua terra, que o Senhor, teu Deus, te dará por herança.» «Se vires perdidos o boi ou a ovelha do teu irmão, não te desvies deles; mas leva-os ao teu irmão. Se o teu irmão não estiver próximo de ti e não o conheceres, recolhe o animal em tua casa, onde permanecerá até que o teu irmão o reclame e lho entregues. Procederás do mesmo modo com o seu jumento, com a sua capa ou com qualquer outra coisa perdida pelo teu irmão e encontrada por ti. Não te desviarás desse objecto. Se vires o jumento do teu irmão ou o seu boi caídos no caminho, não te desvies deles, mas ajuda-os a levantarem-se.» «Uma mulher não poderá usar coisas de homem e um homem não poderá vestir-se com roupas de mulher, porque o Senhor, teu Deus, abomina quem assim procede. Se encontrares no caminho, em cima de uma árvore ou no chão, um ninho de pássaros com filhotes, ou ovos cobertos pela mãe, não apanharás a mãe com a ninhada; deixarás fugir a mãe e só poderás ficar com os filhotes para ti, de modo que possas ser feliz e os teus dias se prolonguem. Quando edificares uma casa nova, faz uma balaustrada à volta do terraço; desta maneira não serás culpado de sangue em tua casa, se alguém cair dali abaixo. Não semearás na tua vinha sementes de duas qualidades, para não ser declarado sagrado o grão que semeaste e o produto dessa vinha. Não lavrarás com o boi e um burro juntos. Não vistas tecidos compostos de lã e linho. Porás borlas nas quatro pontas do manto com que te cobrires.» «Quando um homem que desposou uma mulher e coabitou com ela, vem depois a desprezá-la e, levantando-lhe acusações, a difame, dizendo: ‘Casei com esta mulher mas, ao aproximar-me dela, não a encontrei virgem’, então, o pai e a mãe da donzela tomarão as provas da sua virgindade e apresentá-las-ão diante dos sacerdotes às portas da cidade. O pai da donzela dirá aos anciãos: “Dei a minha filha em casamento a este homem, mas ele ganhou-lhe aversão e inventa acusações, dizendo: ‘Não encontrei virgem a tua filha.’ Ora aqui estão as provas da virgindade da minha filha!” Estenderão depois as roupas diante dos anciãos da cidade. Então, os anciãos da cidade prenderão esse homem e o castigarão, condenando-o a pagar cem siclos de prata, que entregarão ao pai da donzela em reparação da calúnia levantada contra uma virgem de Israel. Ela continuará a ser sua mulher e ele não poderá repudiá-la em toda a sua vida. Mas, se a acusação for verdadeira e não houver provas da virgindade da donzela, levarão a donzela até à entrada da casa de seu pai e os habitantes da sua cidade apedrejá-la-ão até que morra, porque cometeu uma infâmia em Israel, desonrando a casa de seu pai. Assim extirparás o mal do teu meio. Quando um homem for surpreendido a dormir com uma mulher casada, ambos deverão morrer; o homem que dormiu com a mulher e também a mulher. Assim extirparás o mal de Israel. Quando uma donzela, ainda virgem, mas já noiva, for encontrada na cidade com um homem que durma com ela, levareis os dois à porta dessa cidade e apedrejá-los-eis até que morram: a donzela, por não ter pedido socorro na cidade, e o homem, por ter abusado da noiva do seu próximo. Assim extirparás o mal do teu meio. Mas se foi no campo que o homem encontrou a donzela que estava noiva, e se ele usou de violência para dormir com ela, morrerá só o homem que a tiver violado. Nada fareis à donzela, pois nada fez que mereça a morte, porque o caso foi como se um homem se atirasse contra outro e lhe tirasse a vida; ele encontrou no campo a donzela que estava noiva; ela gritou, mas não havia ninguém para a socorrer. Quando um homem encontrar uma donzela virgem que não esteja noiva e, violentando-a, dormir com ela, se forem surpreendidos, o homem que dormiu com ela dará ao pai da donzela cinquenta siclos de prata, e ela tornar-se-á sua mulher, porque abusou dela. Não poderá repudiá-la em toda a sua vida.» «Homem algum poderá tomar a mulher de seu pai, para não descobrir o leito paterno.» «Nem o castrado nem o que for mutilado sexualmente serão admitidos na assembleia do Senhor. O filho ilegítimo não será admitido na assembleia do Senhor; nem mesmo a sua décima geração poderá ser ali admitida. Um amonita ou um moabita não serão admitidos na assembleia do Senhor; nem mesmo a sua décima geração poderá jamais ser ali admitida, porque não vos ofereceram pão e água no caminho, quando saístes do Egipto; além disso, porque aliciaram contra ti Balaão, filho de Beor, de Petor, em Aram-Naaraim, para que ele te amaldiçoasse. Mas o Senhor, teu Deus, não quis escutar Balaão e transformou a maldição em bênção, porque o Senhor, teu Deus, te ama. Não te interesses jamais pelo bem deles nem pela sua prosperidade, em toda a tua vida. Não abominarás o edomita, porque ele é teu irmão; não abominarás o egípcio, porque foste estrangeiro residente no seu país. Os filhos que lhes nascerem poderão ser admitidos na assembleia do Senhor, a partir da terceira geração.» «Quando saíres em campanha contra os teus inimigos, evitarás qualquer má acção. Quando estiver contigo um homem que não esteja puro devido à polução nocturna, sairá para fora do acampamento e não regressará ao acampamento. Ao cair da tarde, lavar-se-á com água e, ao sol posto, entrará de novo para o acampamento. Reservarás um sítio, fora do acampamento, e lá irás para as necessidades. Terás também, junto com o outro equipamento, uma pá; quando saíres para fazer as necessidades, farás com a pá um buraco, cobrindo, depois, os dejectos. Na verdade, o Senhor, teu Deus, anda pelo meio do teu acampamento para te proteger e para te entregar os teus inimigos. E assim o teu acampamento deve ser santo, para que Ele não veja aí nada de aviltante e se afaste de ti.» «Não entregarás um escravo ao seu senhor, se ele vier refugiar-se junto de ti, abandonando o seu senhor. Habitará contigo, no teu meio, no lugar que escolher, numa das tuas cidades, na que for melhor para ele; não o explorarás.» «Não deve existir entre os filhos de Israel nem mulheres nem homens dedicados à prostituição sagrada. Não apresentarás na casa do Senhor, teu Deus, quaisquer promessas, como salário de prostituta ou ganho de sodomita, porque uma e outra coisa são abominadas pelo Senhor, teu Deus.» «Não exigirás ao teu irmão juros de dinheiro, juros de comida, ou juros de qualquer espécie. Poderás emprestar com juros a um estrangeiro, mas não ao teu irmão. Não lhe exigirás juros para que o Senhor, teu Deus, abençoe todos os trabalhos das tuas mãos na terra em que vais entrar para dela tomar posse. Quando fizeres um voto ao Senhor, teu Deus, não tardes em cumpri-lo, porque o Senhor, teu Deus, te pedirá contas disso; seria um pecado da tua parte. Mas, se não fizeres voto, não haverá pecado da tua parte. Mas deves observar e cumprir o que prometeste ao Senhor, teu Deus, a promessa espontânea saída dos teus lábios, proferida pela tua própria boca. Quando entrares na vinha do teu próximo, poderás comer uvas até ficares saciado, mas não as levarás no cesto. Quando entrares na seara do teu próximo, poderás colher espigas com a mão, mas não colherás à foice na seara do teu próximo.» «Quando um homem tomar uma mulher e a desposar, se depois ela deixar de lhe agradar, por ter descoberto nela algo de vergonhoso, escrever-lhe-á um documento de divórcio, entregar-lho-á em mão e despedi-la-á de sua casa. Se ela, tendo saído da casa dele, for desposar outro homem e este último também a desprezar, escrever-lhe-á um documento de divórcio, entregar-lho-á na mão e despedi-la-á da sua casa; ou se o segundo marido vier a falecer, o primeiro que a tinha repudiado já não poderá desposá-la, voltando a recebê-la como mulher, porque é considerada impura. Isso seria uma abominação aos olhos do Senhor, e não deves fazer pecar a terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar em herança.» «Quando um homem tiver casado há pouco tempo, não irá ao serviço militar e não lhe será imposto nenhum trabalho penoso; ficará livre em sua casa durante um ano e fará feliz a mulher com quem casou. Não receberás em penhor o par de mós, nem sequer a mó de cima, pois seria receber em penhor a própria vida. Quando for encontrado um homem a raptar um dos seus irmãos israelitas para fazer dele seu escravo ou para o vender, será morto o raptor. Assim extirparás o mal do meio de vós. Acautela-te em caso de lepra, cumprindo bem e pondo em prática tudo o que vos ensinaram os sacerdotes levíticos. Tratareis de fazer como lhes ordenei. Lembra-te do que fez o Senhor, teu Deus, a Míriam, durante a viagem, quando saístes do Egipto. Quando emprestares alguma coisa ao teu próximo, não entrarás em sua casa para tomar penhor. Esperarás fora, e o homem a quem fizeste o empréstimo é que virá cá fora trazer-te o penhor. Se esse homem for pobre, não te deitarás com o seu penhor. Devolver-lhe-ás o penhor ao pôr-do-sol para que possa repousar sob o seu manto e te abençoe. Isto ser-te-á contado como justiça diante do Senhor, teu Deus. Não explorarás o trabalhador pobre e necessitado, seja um dos teus irmãos ou um dos estrangeiros que estão na tua terra, nas tuas cidades. Dá-lhe o seu salário no próprio dia, antes do pôr-do-sol, porque ele é pobre e espera-o com ansiedade. Assim, ele não clamará contra ti ao Senhor, e não serás acusado desse pecado. Os pais não morrerão por causa dos filhos, nem os filhos por causa dos pais. Cada um morrerá pelo seu pecado. Não violarás o direito do estrangeiro e do órfão, nem receberás como penhor o vestido de uma viúva. Lembra-te que foste escravo no Egipto e que o Senhor, teu Deus, dali te libertou. Por isso, te mando que cumpras esta ordem. Quando fizeres a ceifa do teu campo e te esqueceres de algum feixe, não voltes atrás para o levar. Deixa-o para o estrangeiro, o órfão e a viúva, a fim de que o Senhor, teu Deus, abençoe todas as obras das tuas mãos. Quando varejares as tuas oliveiras, não voltes a colher o resto que ficou nos ramos; deixa-o para o estrangeiro, o órfão e a viúva. Quando vindimares a tua vinha, não rebusques o que ficou; deixa-o para o estrangeiro, o órfão e a viúva. Lembra-te que foste escravo na terra do Egipto. Por isso, te mando que cumpras esta ordem.» «Quando houver uma questão entre dois homens, eles se apresentarão no tribunal e serão julgados; será absolvido o inocente e condenado o culpado. Se o culpado merecer a flagelação, o juiz o mandará deitar por terra e o fará açoitar na sua presença com um número de açoites proporcional ao seu delito. Não poderá infligir-lhe mais de quarenta açoites, para não atingir tal ferimento que o teu irmão fique abatido aos teus olhos. Não porás o cofinho ao boi que debulha.» «Quando dois irmãos residirem juntos e um deles morrer sem deixar filhos, a viúva não irá casar com um estranho; o seu cunhado é que se unirá a ela e a tomará como mulher, segundo o costume do levirato. Ao filho primogénito que ela tiver pôr-se-á o nome do irmão morto e não se extinguirá o seu nome em Israel. Mas, se o homem se recusar a casar com sua cunhada, esta irá ter com os anciãos ao tribunal e dirá: ‘O meu cunhado recusa-se a perpetuar o nome do seu irmão em Israel e não quer observar o levirato para comigo.’ Então os anciãos da sua cidade o chamarão e interrogarão. Se ele disser: ‘Não me agrada recebê-la por mulher’, a cunhada aproximar-se-á dele, na presença dos anciãos, tirar-lhe-á a sandália do pé e cuspir-lhe-á no rosto, dizendo: ‘É assim que se deve fazer ao homem que não quer edificar a casa do seu irmão!’ E chamar-se-á a esse homem em Israel “casa do descalçado”. Quando dois homens se puserem à bulha um com o outro, e a mulher de um deles intervier para libertar o marido do que está a agredi-lo, pegando pelas partes genitais do adversário, cortarás a mão dela, sem piedade alguma. Não deves trazer no teu saco dois pesos desiguais, um maior e outro mais pequeno. Não deves ter em tua casa duas medidas desiguais, uma maior e outra mais pequena. Terás pesos exactos e justos, medidas exactas e justas, para que os teus dias se prolonguem na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar, porque o Senhor, teu Deus, abomina todos os que procedem assim, todos os que praticam o mal. Lembra-te do que fez Amalec na viagem, quando saístes do Egipto, o qual te saiu ao caminho e atacou todos os que se arrastavam na retaguarda. Tu estavas extenuado, mas ele aproximou-se e não temeu a Deus. Quando, pois, o Senhor, teu Deus, te livrar de todos os inimigos que te rodeiam, na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar em herança para a possuíres, apagarás de debaixo dos céus a memória de Amalec. Não te esqueças disto.» «Quando entrares na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar em herança e dela tomares posse e ali habitares, tomarás as primícias de todos os frutos que colheres da terra que te há-de dar o Senhor, teu Deus; pô-los-ás num cesto e apresentá-los-ás no lugar que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido para aí habitar o seu nome. Apresenta-te ao sacerdote de serviço nessa altura e diz-lhe: ‘Declaro hoje, perante o Senhor, teu Deus, que entrei na terra que o Senhor tinha jurado a nossos pais que nos havia de dar.’ O sacerdote receberá o cesto da tua mão e o depositará diante do altar do Senhor, teu Deus. Proclamarás, então, em voz alta, diante do Senhor, teu Deus: ‘Meu pai era um arameu errante: desceu ao Egipto com um pequeno número e ali viveu como estrangeiro, mas depois tornou-se um povo forte e numeroso. Então os egípcios maltrataram-nos, oprimindo-nos e impondo-nos dura escravidão. Clamámos ao Senhor, Deus de nossos pais, e o Senhor ouviu o nosso clamor, viu a nossa humilhação, os nossos trabalhos e a nossa angústia, e fez-nos sair do Egipto, com sua mão forte e seu braço estendido, com grandes milagres, sinais e prodígios. Introduziu-nos nesta região e deu-nos esta terra, terra onde corre leite e mel. Por isso, aqui trago agora os primeiros frutos da terra que me deste, Senhor!’ Depois, colocarás isso diante do Senhor, teu Deus, e prostrar-te-ás diante do Senhor, teu Deus. Alegra-te por todos os bens que o Senhor, teu Deus, te der e à tua casa, tu, o levita e o estrangeiro que estiver no meio de ti! Quando acabares de separar o dízimo de todos os teus produtos, no terceiro ano, que é o ano do dízimo, e o tiveres dado ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, eles o comerão às portas da cidade e ficarão saciados. Dirás, então, na presença do Senhor, teu Deus: ‘Tirei da minha casa o que era consagrado para o dar ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, conforme os mandamentos que me ordenaste; não os esqueci nem os transgredi. Não comi nada disso durante o luto, nada separei em estado de impureza e nada disso dei a um morto. Obedeci à voz do Senhor, meu Deus, e fiz tudo o que Ele me mandou. Lança um olhar da tua morada santa, dos céus, e abençoa o teu povo de Israel e a terra que nos deste, como juraste aos nossos pais, terra onde corre leite e mel!’» «Hoje, o Senhor, teu Deus, ordena-te que cumpras estas leis e preceitos. Observa-os e cumpre-os com todo o teu coração e com toda a tua alma. Hoje, declaraste ao Senhor que Ele seria o teu Deus e que andarias nos seus caminhos, observando as suas leis, os seus preceitos e os seus mandamentos. Por sua vez, o Senhor declarou-te hoje que serias o seu povo particular, como te tinha dito, e que deverias observar todos os seus mandamentos; que te tornaria superior em honra, fama e esplendor a todos os povos que Ele tinha criado; que serias um povo consagrado ao Senhor, teu Deus, como Ele tinha dito.» Moisés e os anciãos de Israel exortaram então o povo: «Observa todos os preceitos que eu hoje te prescrevo. No dia em que atravessares o Jordão para entrares na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar, ergue umas pedras grandes e reveste-as de cal. Nelas escreverás todas as palavras desta Lei, depois de teres passado o Jordão, ao entrares na terra que te há-de dar o Senhor, teu Deus, terra onde corre leite e mel, como te tinha prometido o Senhor, Deus dos teus pais. E quando tiveres atravessado o Jordão, levantarás essas pedras no monte Ebal, tal como eu hoje te ordeno, e revesti-las-ás de cal. Construirás no mesmo local um altar ao Senhor, teu Deus, um altar feito de pedras, sem que o ferro lhes tenha tocado. Construirás o altar do Senhor, teu Deus, com pedras inteiras e ali oferecerás holocaustos ao Senhor, teu Deus. Oferecerás também sacrifícios de comunhão. Comê-los-ás e alegrar-te-ás diante do Senhor, teu Deus. Escreverás sobre as pedras todas as palavras desta Lei, de forma bem clara.» Moisés e os sacerdotes levíticos falaram assim a todo o Israel: «Guarda silêncio e ouve, ó Israel! Hoje tornaste-te o povo do Senhor, vosso Deus. Escuta a voz do Senhor, teu Deus, e cumpre os seus mandamentos e os seus preceitos, que hoje te prescrevo.» No mesmo dia, Moisés deu ao povo a seguinte ordem: «Estas são as tribos que estarão sobre o monte Garizim para abençoar o povo, quando tiverdes atravessado o Jordão: Simeão, Levi, Judá, Issacar, José e Benjamim. E estas estarão sobre o monte Ebal para amaldiçoar: Rúben, Gad, Aser, Zabulão, Dan e Neftali.» «Os levitas tomarão a palavra e dirão em voz alta a todos os homens de Israel: ‘Maldito o homem que fizer uma estátua esculpida ou fundida, objecto abominável ao Senhor, obra de um artífice, e a colocar num lugar escondido!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que desprezar seu pai e sua mãe!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que alterar os limites do seu vizinho!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que desviar o cego do seu caminho!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que defraudar o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que tiver relações com a mulher de seu pai, descobrindo assim o leito paterno!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que tiver relações com qualquer animal!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que tiver relações com sua irmã, filha de seu pai ou de sua mãe!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que tiver relações com a sua sogra!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que ferir às ocultas o seu próximo!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que aceitar suborno para derramar sangue inocente!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’ ‘Maldito o que não respeitar as palavras desta lei e não as puser em prática!’ E todo o povo responderá: ‘Ámen!’» «Se escutares a voz do Senhor, teu Deus, procurando observar todos os seus mandamentos, que hoje te prescrevo, o Senhor, teu Deus, te tornará superior a todos os povos da terra. Todas estas bênçãos virão sobre ti e ficarão contigo, se ouvires a voz do Senhor, teu Deus. Serás abençoado na cidade e abençoado nos campos. Bendito o fruto das tuas entranhas, o fruto da tua terra, o fruto do teu gado, as crias dos teus bois e os filhotes das tuas ovelhas. Bendito o teu cabaz e a tua arca. Bendito serás quando entrares, e bendito quando saíres. O Senhor te entregará os inimigos que se levantarem contra ti; se vierem contra ti por um caminho, por sete caminhos fugirão diante de ti. O Senhor fará que a bênção fique contigo nos teus celeiros e em todas as tuas obras, e te abençoará na terra que o Senhor, teu Deus, te há-de dar. O Senhor te constituirá para si em povo santo, como te jurou, enquanto guardares os mandamentos do Senhor, teu Deus, e andares nos seus caminhos. Todos os povos da terra verão que o nome do Senhor é invocado sobre ti e terão medo de ti. O Senhor te dará em abundância o fruto das tuas entranhas, o fruto dos teus gados e o fruto da tua terra, no país que o Senhor jurou a teus pais que te havia de dar. O Senhor abrir-te-á os seus preciosos tesouros: o céu, para dar chuva à tua terra no tempo oportuno e para abençoar todas as obras das tuas mãos. Muitos povos te pedirão emprestado, mas tu nunca pedirás emprestado. O Senhor te colocará no primeiro lugar e não no último; estarás sempre no alto, jamais em baixo, enquanto escutares os mandamentos do Senhor, teu Deus, que hoje te prescrevo, guardando-os e cumprindo-os, sem te desviares, nem para a direita nem para a esquerda, de nenhuma das palavras que eu hoje te prescrevo, seguindo outros deuses e adorando-os.» «Mas se não escutares a voz do Senhor, teu Deus, guardando e cumprindo todos os seus mandamentos e preceitos que hoje te prescrevo, cairão sobre ti todas estas maldições e ficarão contigo. Serás amaldiçoado na cidade e amaldiçoado nos campos. Maldito o teu cabaz e a tua arca. Maldito o fruto das tuas entranhas, o fruto da tua terra, a cria dos teus bois e os filhotes das tuas ovelhas. Maldito serás quando entrares e maldito quando saíres. O Senhor mandará a maldição, a desgraça e a ruína para tudo aquilo a que lançares mão, até que sejas aniquilado e destruído sem demora, por causa dos teus delitos, por o teres abandonado. O Senhor te enviará a peste até te fazer desaparecer da terra, onde vais entrar para dela tomar posse. O Senhor atingir-te-á com tísica, febre, inflamação, delírio, secura, ardência e palidez, que te perseguirão até sucumbires. O céu que está sobre a tua cabeça será de bronze, e a terra, debaixo dos teus pés, será de ferro. O Senhor transformará a chuva da tua terra em cinza e poeira, que descerão sobre ti do alto do céu até seres aniquilado. O Senhor deixar-te-á derrotado diante dos teus inimigos. Se saíres contra eles por um caminho, por sete caminhos fugirás diante deles, e serás escarnecido por todos os reinos da terra. O teu cadáver servirá de pasto a todas as aves do céu e aos animais da terra, e ninguém os afugentará. O Senhor te atingirá com os tumores do Egipto, com úlceras, sarna e comichão, de que não te poderás curar. O Senhor atingir-te-á com vertigens, cegueira e perturbações do espírito. Andarás às apalpadelas em pleno dia, como um cego na escuridão, sem encontrares o caminho, e serás oprimido e espoliado todos os dias sem haver quem te salve. Desposarás uma mulher e outro homem a possuirá; edificarás uma casa e não habitarás nela; plantarás uma vinha e não a vindimarás. O teu boi será abatido diante de ti e não comerás dele; o teu jumento será roubado à tua vista e não te será restituído; as tuas ovelhas serão entregues aos teus inimigos e não terás quem as salve. Os teus filhos e as tuas filhas serão entregues a um povo estrangeiro; os teus olhos verão e consumir-se-ão de dor, esperando-os todos os dias, sem que lhes possas dar a mão. O fruto da tua terra e todo o teu trabalho serão devorados por um povo que não conheces; serás oprimido e maltratado todos os dias. Acabarás por enlouquecer com o espectáculo que os teus olhos hão-de ver. O Senhor te atingirá nos joelhos e nas coxas com uma úlcera maligna, da planta dos pés ao cimo da cabeça. O Senhor te conduzirá, a ti e ao rei que escolheres para governar, para o meio de um povo que nem tu nem os teus pais conheceram; e ali servirás outros deuses, que não passam de madeira e de pedra! Serás motivo de espanto, de troça e de escárnio, entre todos os povos para o meio dos quais o Senhor te conduzir. Semearás grande quantidade de semente no teu campo, mas pouco colherás, porque os gafanhotos a devorarão. Plantarás e cultivarás vinhas, mas não beberás vinho nem o armazenarás, porque será devastado pela lagarta. Terás oliveiras por todo o país, mas não te ungirás com azeite, porque as azeitonas cairão. Criarás filhos e filhas, mas deixarás de os ter, porque irão para o cativeiro. Os insectos devastarão todas as árvores e o fruto da tua terra. O estrangeiro que está no meio de ti elevar-se-á acima de ti cada vez mais alto; tu, porém, descerás cada vez mais baixo. Ele emprestar-te-á a ti, mas tu não lhe poderás emprestar; ele estará no primeiro lugar e tu estarás no último. Todas estas maldições cairão sobre ti, perseguir-te-ão e ficarão contigo até seres exterminado, porque não escutaste a voz do Senhor, teu Deus, guardando os mandamentos e preceitos que o Senhor te ordenou. Estas coisas acontecerão contigo e com a tua descendência como um sinal e um aviso para sempre, por não teres servido o Senhor, teu Deus, com alegria e bom coração, quando tinhas abundância de tudo. Servirás, porém, os inimigos, que o Senhor enviar contra ti, na fome, na sede, na nudez e na mais completa miséria; eles porão um jugo de ferro sobre o teu pescoço até te aniquilarem. O Senhor fará erguer-se dos confins da terra, contra ti, um povo longínquo, veloz como a águia, cuja língua não compreendes, um povo de aspecto feroz que não terá respeito pelo velho, nem piedade pelo adolescente! Ele devorará o fruto do teu gado e o fruto da tua terra até seres aniquilado; não te deixará nem trigo, nem vinho, nem azeite, nem a cria dos teus bois, nem os filhotes das tuas ovelhas, até te fazer desaparecer. Ele te cercará em todas as tuas cidades, até que caiam em todo o país os teus altos muros e as fortalezas em que punhas a tua confiança; cercar-te-á em toda a terra que o Senhor, teu Deus, te tiver dado. Terás de comer até o fruto das tuas entranhas, a carne dos teus filhos e filhas, que o Senhor, teu Deus, te tiver dado, tal o aperto e a angústia quando o inimigo te cercar. O homem mais sensível e delicado, entre vós, olhará com maus olhos o seu irmão, a esposa que ele ama e os filhos que lhe restarem, para não ter de repartir com nenhum deles a carne dos filhos, que vai comer, por nada mais lhe restar, no aperto e na angústia em que o cerco do inimigo te deixou em todas as tuas cidades. A mulher mais sensível e delicada, entre vós – que nem sequer ousava pousar na terra a planta dos pés, de tão mimada e delicada que estava – olhará com maus olhos o marido que ama, o seu filho e a sua filha, a placenta que lhe sai do ventre, entre as pernas, e os filhos que gerou; porque, na sua miséria total, ela os comerá às escondidas, no meio do aperto e angústia a que te reduzirá o teu inimigo nas tuas cidades. Se não procurares cumprir todas as palavras desta Lei, escritas neste livro, em reverência ao nome venerável e temível do Senhor, teu Deus, o Senhor agravará os teus flagelos e os da tua descendência, flagelos grandes e persistentes, doenças malignas e persistentes. Fará recair sobre ti todas as pragas do Egipto diante das quais te aterrorizavas e que não mais te deixarão, bem como outras doenças e desgraças, que não estão escritas no livro desta Lei, até que sejas aniquilado. Poucos homens de entre vós hão-de escapar, depois de terdes sido tão numerosos como as estrelas do céu; tudo isto, porque não escutaste a voz do Senhor, teu Deus. E assim como o Senhor se deleitava em vos encher de benefícios e vos multiplicar, assim também se deleitará o Senhor em vos fazer perecer e vos aniquilar. E sereis arrancados da terra em que ides entrar para dela tomardes posse. O Senhor vos dispersará entre todos os povos de uma extremidade à outra da terra; ali servireis a deuses de madeira e de pedra, que nem vós nem os vossos pais conheceram. Mesmo no meio dessas nações, não tereis segurança, nem encontrareis repouso para a planta dos vossos pés. O Senhor te dará ali um coração inquieto, olhos enlanguescidos e alma angustiada. Sentireis a vossa vida suspensa e tremereis noite e dia, sem certeza de continuar a viver. De manhã direis: ‘Quem dera que fosse já noite!’; e de tarde direis: ‘Quem dera que já fosse manhã!’ Tudo, por causa da angústia que o vosso coração sofrerá e pelo espectáculo que terão de ver os vossos olhos. O Senhor vos fará regressar em navios ao Egipto, caminho do qual Eu vos tinha dito que não devíeis tornar a ver. Ali procurareis vender-vos aos vossos inimigos como escravos e escravas, e não haverá comprador.» São estas as palavras da Aliança que o Senhor ordenou a Moisés que estabelecesse com os filhos de Israel, na terra de Moab, para além da Aliança que firmara com eles no Horeb. Moisés convocou todo o Israel e disse-lhes: «Vistes tudo o que o Senhor fez diante dos vossos olhos na terra do Egipto, ao faraó, aos seus servos e a todo o país: as grandes provações que os vossos olhos viram, esses sinais e prodígios extraordinários. Até hoje, porém, o Senhor não vos tinha dado coração para entender, olhos para ver, nem ouvidos para ouvir. Eu vos conduzi durante quarenta anos pelo deserto, mas as roupas que vestíeis não se gastaram, e o calçado não se rompeu nos vossos pés. Não foi pão que comestes, não foi vinho nem bebida alcoólica que bebestes, para saberdes que Eu sou o Senhor, vosso Deus. Chegastes a esta região, e Seon, rei de Hesbon, e Og, rei de Basan, saíram ao nosso encontro para nos fazer guerra, mas nós derrotámo-los. Tomámos a terra deles e demo-la em herança a Rúben, a Gad e à metade da tribo de Manassés. Guardareis, pois, as palavras desta Aliança e as cumprireis, para serdes bem sucedidos em tudo o que fizerdes. Todos vós estais hoje na presença do Senhor, vosso Deus – os vossos chefes, as vossas tribos, os vossos anciãos, os vossos oficiais, todos os cidadãos de Israel, os vossos filhos, as vossas mulheres e o estrangeiro, que está no meio do vosso acampamento, desde o vosso rachador de lenha até ao vosso carregador de água a fim de entrardes na Aliança do Senhor, vosso Deus, feita com juramento, Aliança que o Senhor, vosso Deus, estabelece hoje convosco, para vos constituir hoje como seu povo e ser Ele próprio, o Senhor, o vosso Deus, como vos prometeu e como jurou a vossos pais, Abraão, Isaac e Jacob. E não é só convosco que eu firmo esta aliança e este juramento; é também com todos aqueles que hoje estão aqui junto de nós, na presença do Senhor, nosso Deus, e ainda com todos aqueles que hoje não estão aqui connosco. Vós sabeis bem como vivemos na terra do Egipto e o que passámos no meio dos povos por onde andámos. Vistes as suas abominações e os ídolos de madeira e de pedra, de prata e de ouro, que eles tinham consigo. Não haja entre vós homem ou mulher, família ou tribo, cujo coração se afaste hoje do Senhor, nosso Deus, para servir aos deuses desses povos; não haja entre vós raiz que produza frutos venenosos ou amargos. Quando ouvir as palavras deste juramento, ninguém se felicite em seu coração, dizendo: ‘Terei paz, mesmo que siga a obstinação do meu coração’, pois ‘terra regada já não tem sede.’ O Senhor jamais lhe perdoará, pois aumentará a ira do Senhor e a sua cólera contra esse homem; todas as maldições escritas neste livro cairão sobre ele, e o Senhor apagará o seu nome de debaixo do céu. O Senhor o separará, para sua desgraça, de todas as tribos de Israel, conforme todas as maldições da Aliança escritas no livro desta Lei.» «Então, a geração vindoura dos vossos filhos, os que vierem depois de vós, e o estrangeiro, que vier de uma terra longínqua, ao verem as pragas dessa terra e as calamidades que o Senhor fará cair sobre ela, interrogar-se-ão. Enxofre e sal queimarão toda a terra; não poderá ser semeada nem regada, e nem uma erva crescerá nela, destruída como Sodoma, Gomorra, Adma e Seboim, que o Senhor destruiu na sua ira e no seu furor. Então todos esses povos perguntarão: ‘Porque terá o Senhor tratado assim esta terra? Porque se inflamou com tão grande ira?’ Ser-lhes-á respondido: ‘Porque abandonaram a Aliança que o Senhor, Deus de seus pais, fizera com eles, quando os fez sair da terra do Egipto; serviram outros deuses e prestaram-lhes culto, deuses que não conheciam e não eram sua herança. A ira do Senhor inflamou-se contra essa terra, a ponto de descarregar sobre ela todas as maldições escritas neste livro. O Senhor, com ira, furor e grande indignação, arrancou-os da sua terra e exilou-os para uma terra estranha até este dia.’ As coisas ocultas pertencem ao Senhor, nosso Deus, mas aquilo que Ele revelou é para nós e para os nossos filhos eternamente, a fim de cumprirmos todas as palavras desta Lei.» «Quando, pois, te acontecerem todas estas coisas, a bênção ou a maldição que coloquei diante de ti, se as meditares no teu coração no meio de todos os povos para onde o Senhor, teu Deus, te tiver desterrado, e te voltares de novo para o Senhor, teu Deus, e obedeceres à sua voz com todo o teu coração e com toda a tua alma, segundo aquilo que eu hoje te prescrevo a ti e aos teus filhos, então, o Senhor, teu Deus, fará regressar os teus cativos e terá compaixão de ti; e de novo te reunirá de entre todos os povos, no meio dos quais te dispersou o Senhor, teu Deus. Ainda que os teus exilados se encontrassem na extremidade do céu, mesmo dali te reuniria o Senhor, teu Deus, e ali te iria buscar. O Senhor, teu Deus, te reconduzirá depois à terra que os teus pais possuíram e da qual tomarás posse; Ele te fará prosperar e multiplicar mais do que os teus pais. O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração dos teus descendentes para que ames o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, a fim de que possas viver. O Senhor, teu Deus, fará cair então todas as maldições sobre os teus inimigos e sobre aqueles que te odiaram e perseguiram. Mas tu, escuta de novo a voz do Senhor e cumpre todos os seus mandamentos que hoje te prescrevo. O Senhor, teu Deus, fará prosperar todo o trabalho das tuas mãos, o fruto das tuas entranhas, o fruto do teu gado e o fruto da tua terra. O Senhor se deleitará de novo com o teu bem, como acontecia com os teus pais, se escutares a voz do Senhor, teu Deus, e guardares os seus mandamentos e os seus preceitos, escritos neste livro da Lei, e se voltares de novo para o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma. Na verdade, esta Lei, que hoje te prescrevo, não é muito difícil para ti nem está fora do teu alcance. Não está no céu, para se dizer: ‘Quem subirá por nós até ao céu e no-la irá buscar para a escutarmos e praticarmos?’ Não está tão pouco do outro lado do mar, para se dizer: ‘Quem atravessará o mar e no-la irá buscar para a escutarmos e praticarmos?’ A Lei está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a praticares.» «Repara que coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal. Assim, ordeno-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus mandamentos, preceitos e sentenças. Assim viverás, multiplicar-te-ás e o Senhor, teu Deus, te abençoará na terra em que vais entrar para dela tomar posse. Mas se o teu coração se desviar e não escutares, se te deixares arrastar e adorares deuses estranhos e os servires, declaro-vos hoje que, sem dúvida, morrereis; os vossos dias não se prolongarão na terra na qual ides entrar, passando o Jordão, para dela tomar posse.» «Tomo hoje por testemunhas contra vós, o céu e a terra; ponho diante de vós a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele, porque Ele é a tua vida e prolongará os teus dias para habitares na terra, que o Senhor jurou que havia de dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacob.» Moisés dirigiu ainda estas palavras a todo o Israel: «Tenho cento e vinte anos; já não posso andar de um lado para o outro. Além disso, o Senhor disse-me: ‘Não atravessarás o Jordão.’ O Senhor, teu Deus, passará, Ele mesmo, à tua frente; exterminará esses povos diante de ti e desalojá-los-ás. Josué passará à tua frente, como o Senhor afirmou. O Senhor lhes fará, como fez a Seon e Og, reis dos amorreus, e à terra deles, que Ele destruiu. O Senhor te entregará esses povos e procederás com eles segundo os mandamentos que te ordenei. Sê forte e valente! Não temas, nem te aterrorizes à vista deles. Pois, o Senhor, teu Deus, vai contigo; não te deixará sucumbir nem te abandonará!» Depois, Moisés chamou Josué e disse-lhe na presença de todo o Israel: «Sê forte e valente! Porque tu é que vais entrar com este povo na terra que o Senhor jurou dar a seus pais. Tu é que a repartirás entre eles. O próprio Senhor irá à tua frente; Ele estará contigo; não deixará que o teu joelho se dobre e não te abandonará. Não temas, portanto, nem desanimes.» Moisés escreveu esta Lei e entregou-a aos sacerdotes levíticos, que transportavam a Arca da aliança do Senhor, e a todos os anciãos de Israel. Ordenou-lhes então Moisés: «Ao fim de sete anos, na Assembleia do Ano da remissão, pela festa das Tendas, quando todo o Israel comparecer diante do Senhor, teu Deus, no lugar que Ele tiver escolhido, farás a proclamação desta Lei a todo o Israel. Reunirás o povo, homens, mulheres e crianças, e o estrangeiro que estiver nas tuas cidades, a fim de que escutem, aprendam e reverenciem o Senhor, vosso Deus, e cumpram todas as palavras desta Lei. Os filhos deles, que ainda não conhecem, ouvirão e aprenderão a reverenciar o Senhor, vosso Deus, enquanto viverdes na terra de que ides tomar posse, depois de passardes o Jordão.» O Senhor disse a Moisés: «Aproximam-se os dias da tua morte. Chama Josué e apresentai-vos na tenda da reunião para que Eu lhe dê as minhas ordens.» Moisés e Josué foram, pois, apresentar-se na tenda da reunião. O Senhor apareceu na tenda, numa coluna de nuvem; a coluna de nuvem parou à entrada da tenda. Então o Senhor disse a Moisés: «Eis que vais repousar com teus pais, e este povo irá prostituir-se com os deuses da terra estrangeira em que está para entrar. Ele me abandonará e quebrará a Aliança que concluí com ele. Nesse dia, a minha ira inflamar-se-á contra eles e os abandonarei; esconderei deles a minha face, e serão devorados; muitos males e angústias os atingirão. Nesse dia, ele dirá: ‘Não será porque Deus já não está comigo, que me atingem todos estes males?’ Eu, porém, nesse dia continuarei a esconder a minha face, por causa de todo aquele mal que ele fez ao voltar-se para outros deuses. Agora, escrevei para vós este cântico; ensina-o aos filhos de Israel e coloca-o na boca deles, a fim de que este cântico me sirva de testemunho contra os filhos de Israel. Quando os fizer entrar na terra que jurei a seus pais, terra onde corre leite e mel, comerão, ficarão saciados e hão-de engordar. Voltar-se-ão, depois, para outros deuses, hão-de servi-los e me desprezarão, violando a minha Aliança. Sucederá, porém, que quando os atingirem muitos males e angústias, este cântico testemunhará contra eles, pois os seus descendentes não o esquecerão. Conheço as intenções que hoje este povo tem, antes mesmo de o fazer entrar na terra que lhes jurei.» Naquele dia, Moisés escreveu este cântico e ensinou-o aos filhos de Israel. Então, o Senhor ordenou a Josué, filho de Nun: «Sê forte e valente! Porque tu é que vais introduzir os filhos de Israel na terra que lhes prometi com juramento; Eu estarei contigo.» Quando Moisés acabou de escrever todas as palavras desta Lei num livro, ordenou aos levitas, que transportavam a Arca da aliança do Senhor, «Tomai este livro da Lei e depositai-o ao lado da Arca da aliança do Senhor, vosso Deus. Ficará ali como um testemunho contra ti, Israel. Pois eu conheço a tua rebeldia e a tua dura cerviz. Se hoje, quando estou ainda vivo no meio de vós, já sois rebeldes contra o Senhor, que será depois da minha morte? Mandai reunir junto de mim todos os anciãos das vossas tribos e os vossos magistrados. Quero proclamar diante deles estas palavras e tomar como testemunhas contra eles o céu e a terra. Sei que, depois da minha morte, vos corrompereis e desviareis do caminho que vos prescrevi. A desgraça vos atingirá nos tempos futuros por fazerdes o mal aos olhos do Senhor, por o ofenderdes com as obras das vossas mãos.» Moisés, depois, proclamou integralmente diante de toda a assembleia de Israel as palavras deste cântico: «Escutai, ó céus, que eu vou falar, ouça a terra as palavras da minha boca. Derrame-se como chuva o meu ensinamento, espalhe-se como orvalho a minha palavra, como aguaceiros sobre a erva, como chuvisco sobre a relva! Eu vou proclamar o nome do Senhor, enaltecerei a grandeza do nosso Deus! Ele é o rochedo, perfeitas são as suas obras. Todos os seus caminhos são justiça! Deus fiel, sem iniquidade, Ele é justo e recto. Pecaram contra Ele seus filhos degenerados, geração perversa e falsa. É assim que agradeceis ao Senhor, povo louco e insensato? Não é Ele o teu pai, o teu criador? Foi Ele que te formou e te constituiu! Recorda-te dos dias antigos, medita nos anos de outrora. Pergunta ao teu pai e ele te contará, aos teus anciãos e eles te dirão! Quando o Altíssimo distribuía os povos, quando agrupava os filhos de Adão, estabeleceu as fronteiras dos povos segundo o número dos filhos de Israel. A porção do Senhor é o seu povo, Jacob é a parte da sua herança. Encontrou-o numa terra deserta, numa desordem de gritos selvagens; protegeu-o e velou por ele, guardou-o como à menina dos seus olhos. Ele é como a águia a incentivar os seus filhos, esvoaçando sobre os seus filhotes: estendeu as suas asas, tomou-os, levantando-os sobre as suas penas. Só o Senhor o conduzia; nenhum outro deus estava com ele. Fê-lo cavalgar pelas montanhas do país, alimentou-o com frutos dos campos; deu-lhe a beber mel do rochedo, e azeite da pedra dura, manteiga das vacas e leite das ovelhas, com a gordura dos cordeiros, dos carneiros de Basan e dos cabritos, com a melhor farinha do trigo. Bebestes o sangue vermelho das uvas. Mas Jechurun engordou e revoltou-se, – tornaste-te gordo, anafado, bem nutrido – abandonou o Deus que o criou, e desprezou a Rocha da sua salvação. Fizeram-lhe ciúme com deuses estrangeiros; irritaram-no com essas abominações. Sacrificaram a demónios que não são Deus, a divindades que desconheciam, deuses novos, chegados de perto, que os vossos pais não reverenciavam. Desprezaste o Rochedo que te gerou, e esqueceste o Deus que te formou. O Senhor viu isso e irritou-se, provocado por seus filhos e filhas. E disse: ‘Vou esconder deles a minha face, verei qual será o seu futuro, porque eles são uma geração rebelde, filhos em quem não se pode confiar. Fazem-me ciúmes com o que não é Deus, irritam-me com seus ídolos vãos. Eu é que lhes farei ciúmes com um que não é povo, com uma nação insensata os irritarei.’ Inflamou-se o fogo da minha ira e arderá até às profundezas do abismo; devorará a terra e seus produtos, abrasará os fundamentos das montanhas. Acumularei sobre eles desgraças, contra eles esgotarei as minhas setas. Extenuados de fome, consumidos de febres e pestes malignas, mandarei contra eles o dente das feras e o veneno ardente dos répteis. Fora, perecerão à espada, e de pavor dentro de casa: tanto o adolescente como a donzela, o menino de peito e o ancião. Eu disse: ‘Vou destroçá-los; vou apagar do meio dos homens a sua memória.’ Se os hostilizasse como povo inimigo, não se ensoberbeceriam seus adversários? De certo diriam: ‘Foi o nosso poder que triunfou, não foi o Senhor que fez tudo isto!’ Eles são gente insensata, desprovida de inteligência. Se ganhassem sabedoria, entenderiam, compreenderiam o fim que os espera. Como poderia um só perseguir mil, e dois, pôr em fuga dez mil, se o seu Rochedo lhos não vendesse, se o Senhor lhos não entregasse? Que o nosso Rochedo não é como o deles, nossos inimigos o poderão avaliar. As vinhas deles são vinhas de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas e os seus cachos são amargos. Seu vinho é baba de serpentes, veneno mortal de víboras. Não está isto escondido comigo, selado nos meus arquivos? A mim pertencem a vingança e a retribuição, quando o pé deles resvalar, pois está próximo o dia da sua ruína; depressa virá o seu destino. O Senhor fará justiça ao seu povo e terá compaixão dos seus servos, ao ver que as suas mãos fraquejam, que já não há escravo nem homem livre.’ Dirá então: ‘Onde estão os seus deuses, o rochedo em que confiavam? Os que comiam a gordura das vossas ofertas e bebiam o vinho das vossas libações levantem-se agora para vos socorrer, e tereis refúgio para vós. Reparai bem: Eu é que sou Deus, e não há outro deus além de mim! Eu é que dou a vida e dou a morte, Eu firo e curo, e não há quem livre da minha mão. Levanto a minha mão para o céu, e afirmo: Eu vivo para sempre! Quando afiar a minha espada refulgente, quando impuser a minha mão para a sentença, tirarei vingança dos meus adversários, e darei a paga aos que me odeiam! Embeberei em sangue as minhas setas, e a minha espada fartar-se-á de carne, do sangue dos mortos e dos cativos, das cabeças dos capitães inimigos.’ Aclamai, ó nações, o seu povo, porque Ele vinga o sangue dos seus servos; tira vingança dos seus inimigos e perdoa à sua terra e ao seu povo!» Moisés, com Josué, filho de Nun, foi, pois, recitar todas as palavras deste cântico ao povo. Quando Moisés acabou de proferir estas palavras a todo o Israel, disse-lhes: «Tomai em consideração todas as palavras que eu testemunho hoje contra vós e que deveis ordenar aos vossos filhos a fim de que guardem e cumpram todas as palavras desta Lei. Ela não deve ser para vós uma coisa indiferente, porque ela é a vossa vida e por ela prolongareis os vossos dias sobre a terra, da qual ides tomar posse, passando o Jordão.» Naquele mesmo dia, o Senhor disse a Moisés: «Sobe ao monte Abarim, isto é, ao monte Nebo, situado na terra de Moab, em frente de Jericó, e contempla a terra de Canaã, que Eu hei-de dar aos filhos de Israel em propriedade. Morrerás no monte ao qual vais subir, juntando-te aos teus pais, tal como morreu teu irmão Aarão no monte Hor e se foi juntar aos seus pais. Porque pecaste contra mim no meio dos filhos de Israel, junto das Águas de Meribá, em Cadés, no deserto de Cin, não me santificando no meio dos filhos de Israel. Poderás vê-la de longe, mas não entrarás na terra que Eu hei-de dar aos filhos de Israel.» Esta foi a bênção com que Moisés, homem de Deus, abençoou os filhos de Israel, antes de morrer. Ele disse: «O Senhor veio do Sinai, amanheceu para eles no horizonte de Seir! Resplandeceu do monte Paran, chegou de Meribá de Cadés, com a sua direita deu-lhes uma lei ardente. Ele ama as suas tribos; todos os seus santos estão na sua mão; eles deitam-se a seus pés, levantam-se à sua palavra. Moisés deu-nos a Lei, património da assembleia de Jacob. E houve um rei em Jechurun, quando se reuniram os chefes do povo e se juntaram todas as tribos de Israel. Viva Rúben* e não morra. Que os seus homens sejam incontáveis!» E a Judá* disse: «Escuta, Senhor, a voz de Judá; faz que volte para o seu povo; seja forte a sua mão, se Tu o proteges contra os inimigos.» A Levi* disse: «Os teus dados sagrados são para o homem que te foi fiel, que provaste em Massá, com quem discutiste junto às águas de Meribá; que diz de seu pai e de sua mãe: ‘Não os vi, nem os conheço’; que não distingue seus irmãos nem reconhece os seus filhos. Eles respeitam a tua palavra e guardam a tua Aliança. Ensinam os teus preceitos a Jacob e a tua Lei a Israel; apresentam-te os odores do incenso e holocaustos no teu altar. Abençoa, Senhor, a sua força, e aceita a obra das suas mãos! Fere os rins dos seus agressores e que seus inimigos não possam levantar-se.» A Benjamim* disse: «O preferido do Senhor habitará em segurança junto dele; conceder-lhe-á abrigo permanente e descansará entre os seus ombros.» A José* disse: «A sua terra tem as bênçãos do Senhor, com os dons do céu, o orvalho e as águas que correm nas profundezas; os dons que o sol oferece e os frutos de cada mês; as primícias das antigas montanhas, e os dons das colinas eternas; os dons da terra e a sua abundância, a bondade daquele que apareceu na sarça desça sobre a cabeça de José, sobre a fronte do eleito entre seus irmãos! É belo como touro gordo! Seus chifres são chifres de búfalo; com eles derrubará os povos todos, até aos confins da terra: tais são as multidões de Efraim, os milhares de Manassés!» A Zabulão* disse: «Alegra-te, Zabulão, nas tuas viagens, e tu, Issacar*, nas tuas tendas! Eles convidarão os povos para a montanha; ali oferecerão sacrifícios de justiça; porque exploram as riquezas dos mares e os tesouros escondidos nas praias.» A Gad* disse: «Bendito aquele que engrandece Gad! Ele deita-se como um leopardo, destroça braços e cabeças. Escolhe para si as primícias, a parte reservada ao chefe. Avança à frente do povo, pratica a justiça do Senhor e os seus preceitos para com Israel!» A Dan* disse: «Dan é um leãozinho que salta de Basan.» A Neftali* disse: «Ó Neftali, saciado de favores, cumulado de bênçãos do Senhor, o mar e sua região serão tua posse!» A Aser* disse: «Aser seja o mais abençoado dos filhos, preferido entre seus irmãos e banhe em azeite o seu pé. Teus ferrolhos serão de ferro e bronze, e a tua tranquilidade durará tanto como os teus dias. Ninguém é como Deus, ó Jechurun; Ele cavalga nos céus em tua ajuda e está sobre a altura das nuvens! O Deus de outrora te dá refúgio sob os seus braços, desde sempre. Ele expulsa o inimigo da tua frente e diz: – Destrói! Israel habita em segurança; solitária corre a fonte de Jacob para uma terra de trigo e vinho, sob céus que destilam orvalho. Feliz de ti, Israel! Quem como tu, povo protegido pelo Senhor ? Ele é o Escudo do teu socorro, espada do teu triunfo? Teus inimigos te adularão, mas tu lhes calcarás o dorso!» Moisés subiu das planícies de Moab ao monte Nebo, ao cimo do Pisga, que está em frente de Jericó. O Senhor mostrou-lhe toda a terra, desde Guilead até Dan, todo o Neftali, o território de Efraim e de Manassés, todo o território de Judá até ao mar ocidental, o Négueb, o Quicar, no vale de Jericó, cidade das Palmeiras, até Soar. O Senhor disse-lhe: «Esta é a terra que jurei dar a Abraão, Isaac e Jacob. Dá-la-ei à vossa descendência. Viste-a com os teus olhos, mas não entrarás nela.» E Moisés, o servo de Deus, morreu ali, na terra de Moab, por determinação do Senhor. Foi sepultado num vale da terra de Moab, defronte de Bet-Peor, mas ninguém até hoje soube do lugar da sua sepultura. Moisés tinha cento e vinte anos quando morreu; a sua vista nunca enfraqueceu e o seu vigor nunca se esgotou. Os filhos de Israel choraram Moisés, nas planícies de Moab, durante trinta dias até se completarem os dias de pranto por Moisés. Josué, filho de Nun, ficou cheio do espírito de sabedoria, porque Moisés lhe tinha imposto as mãos; os filhos de Israel obedeceram-lhe e procederam como o Senhor tinha ordenado a Moisés. Nunca mais surgiu em Israel um profeta semelhante a Moisés, com quem o Senhor falava face a face. Ninguém se lhe assemelhou em todos os sinais e prodígios que o Senhor lhe mandou fazer na terra do Egipto contra o faraó, contra os seus servos e todo o país, nem em todas as acções da sua mão poderosa nem em todas as grandes maravilhas que Moisés realizou na presença de todo o Israel. Tendo morrido Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Nun e auxiliar de Moisés: «Moisés, meu servo, morreu. Levanta-te, pois, e atravessa o Jordão, tu e todo o povo, e entra na terra que Eu darei aos filhos de Israel. Todo o lugar que a planta dos vossos pés pisar, Eu vo-lo darei, como prometi a Moisés. Desde o deserto e desde o Líbano até ao grande rio Eufrates, toda a terra dos hititas até ao Mar Grande, a ocidente, tudo vos pertencerá. Enquanto viveres, ninguém te poderá resistir. Como estive com Moisés, assim estarei contigo; não te deixarei, nem te abandonarei. Sê firme e não desanimes, porque hás-de introduzir este povo na posse da terra que jurei dar a seus pais. Por isso, sê forte e corajoso, para fielmente observares toda a Lei que Moisés, meu servo, te prescreveu; não te afastes dela nem para a direita, nem para a esquerda, a fim de teres êxito em todas as tuas obras. Que as palavras do livro desta Lei jamais se afastem da tua boca; medita-o constantemente, e observa tudo quanto nele se contém. Assim terás prosperidade em teus caminhos e serás bem sucedido. Escuta, é uma ordem que te dou: tem coragem; não tremas, porque o Senhor, teu Deus, estará contigo para onde quer que fores.» Josué deu ordens aos chefes do povo, dizendo: «Percorrei o acampamento e proclamai ao povo o seguinte: ‘Preparai provisões, pois dentro de três dias atravessareis o Jordão e tomareis posse da terra que o Senhor, vosso Deus, vos concederá.’» Aos membros da tribo de Rúben, de Gad e à meia tribo de Manassés, disse: «Lembrai-vos do que Moisés, servo do Senhor, vos prescreveu, quando vos disse: ‘O Senhor, vosso Deus, deu-vos descanso em toda esta terra.’ As vossas mulheres, filhos e animais ficarão na terra que Moisés vos deu, além-Jordão; mas vós, todos os homens fortes e valentes, passareis armados à frente de vossos irmãos, e dar-lhes-eis auxílio, até que o Senhor tenha dado repouso a vossos irmãos, como a vós, e também eles entrem na posse da terra que o Senhor, vosso Deus, lhes dará. Depois, regressareis à terra que vos pertence, aquela que Moisés, servo do Senhor, vos deu além-Jordão, a oriente.» Eles responderam a Josué: «Faremos tudo como nos ordenaste, e iremos onde quer que nos envies. Havemos de obedecer-te em todas as coisas, tal como fizemos com Moisés. Unicamente desejamos que o Senhor esteja contigo, como sempre esteve com Moisés. Aquele que for rebelde e desobedecer às tuas ordens será morto. Sê forte e não desanimes.» Josué, filho de Nun, enviou secretamente de Chitim dois espiões e disse-lhes: «Ide, examinai a terra e a cidade de Jericó.» Foram e entraram em casa de uma prostituta, de nome Raab, onde se alojaram. Então, foi dito ao rei de Jericó: «Eis que de noite entraram aqui uns israelitas, que vêm explorar a terra.» O rei mandou dizer a Raab: «Expulsa esses homens que foram ter contigo e entraram em tua casa, pois vieram para espiar esta terra.» A mulher, porém, ocultou os dois homens e respondeu: «Vieram, na verdade, uns homens a minha casa; mas eu desconhecia de onde vinham. À tarde, quando se fechavam as portas da cidade, eles partiram. Persegui-os depressa e em breve os alcançareis!» Ora ela fizera-os subir para o terraço de sua casa, e ocultara-os sob uns feixes de linho que ali tinha amontoados. Os homens enviados perseguiram-nos pelo caminho que leva aos vaus do Jordão; e fecharam-se as portas da cidade após a partida da patrulha. Antes de adormecerem, Raab subiu ao terraço e disse aos espiões: «Sei que o Senhor vos entregou esta terra; o receio apoderou-se de nós, e todos os habitantes do país, por vossa causa, se sentem desfalecer. Ouvimos dizer como o Senhor secou as águas do Mar dos Juncos diante de vós, quando saístes do Egipto, e como tratastes, além-Jordão, os dois reis dos amorreus, Seon e Og, que votastes ao anátema. Ao sabermos isto, o nosso coração desfaleceu, e mais ninguém tem coragem de vos resistir, porque o Senhor, vosso Deus, é o Deus das alturas, nos céus e na terra. Agora, pois, jurai-me, em nome do Senhor, que assim como usei de bondade para convosco, assim vós poupareis a casa de meu pai. Dai-me um sinal certo de que salvareis meu pai, minha mãe, meus irmãos, minhas irmãs e todos os que lhes pertencem, e de que livrareis da morte as nossas vidas.» Responderam-lhe eles: «À custa da nossa vida salvaremos a vossa, contanto que não nos atraiçoeis. Quando o Senhor nos entregar esta terra, também te trataremos com bondade e fidelidade.» Ela desceu-os, então, pela janela, servindo-se de uma corda, pois a sua casa estava mesmo encostada ao muro da cidade. «Fugi para o monte – disse-lhes ela – para que não vos encontrem os vossos perseguidores. Escondei-vos lá durante três dias, até que eles voltem; depois, retomareis o vosso caminho.» Os homens disseram-lhe: «Eis como cumpriremos o juramento que te fizemos: quando tivermos entrado na vossa terra, colocarás este cordão vermelho na janela por onde nos desceste; reúne em tua casa o teu pai, a tua mãe, os teus irmãos e toda a família de teu pai. Se alguém transpuser a porta da tua casa e sair para a rua, será responsável pelo que acontecer; nós não teremos culpa. Mas se alguém prender quem quer que se encontre contigo em tua casa, é sobre nós que tal recairá. Se, porém, deres conhecimento do que combinámos contigo, estaremos desobrigados do juramento que te fizemos.» Ela respondeu: «Seja como dissestes!» Depois despediu-os, e eles partiram. Ela, então, tomou o cordão vermelho e colocou-o na janela. Eles foram para o monte e ali permaneceram durante três dias, até ao regresso dos perseguidores. Estes, tendo procurado os espiões por toda a parte, não os encontraram. Os dois homens desceram, então, do monte e, voltando, passaram o Jordão; foram para junto de Josué, filho de Nun, e narraram-lhe tudo quanto se havia passado. «O Senhor disseram eles – entregou nas nossas mãos toda esta terra; todos os seus habitantes tremem de medo diante de nós.» Logo pela manhã, Josué levantou o acampamento e partiu de Chitim com todos os filhos de Israel. Chegados ao Jordão, aí se detiveram antes de o atravessar. Três dias depois, os chefes atravessaram o acampamento e deram ao povo esta ordem: «Quando virdes a Arca da aliança do Senhor vosso Deus, conduzida pelos sacerdotes levitas, deixareis o vosso acampamento e pôr-vos-eis a caminho atrás dela. Entre vós e ela há-de haver uma distância de dois mil côvados, aproximadamente. Tende cuidado em não vos aproximardes dela, para poderdes conhecer o caminho que deveis seguir, pois ainda não o percorrestes antes.» Josué disse, então, ao povo: «Santificai-vos, porque amanhã o Senhor vai fazer coisas maravilhosas no meio de vós.» Depois disse aos sacerdotes: «Tomai a Arca da aliança e ide com ela à frente do povo.» Eles tomaram a Arca da aliança e caminharam à frente do povo. O Senhor disse a Josué: «Hoje começarei a exaltar-te na presença de todo o Israel, para que se saiba que, assim como estive com Moisés, assim estarei também contigo. Hás-de ordenar aos sacerdotes que levam a Arca da aliança: ‘Quando chegardes ao Jordão, deter-vos-eis junto das suas águas.’» Então, Josué disse aos israelitas: «Aproximai-vos para ouvir as palavras do Senhor, vosso Deus.» E prosseguiu: «Com isto, sabereis que o Deus vivo está no meio de vós e não deixará de expulsar diante de vós os cananeus, os hititas, os heveus, os perizeus, os guirgaseus, os amorreus e os jebuseus. Eis que a Arca da aliança do Senhor de toda a terra vai atravessar o Jordão diante de vós. Escolhei doze homens de Israel, um de cada tribo. Mal os sacerdotes que transportam a Arca do Senhor, o Senhor de toda a terra, tenham tocado com os pés as águas do Jordão, estas hão-de dividir-se, e as que correm de cima amontoar-se-ão, parando.» Então, o povo, dobrando as suas tendas, preparou-se para passar o Jordão com os sacerdotes que caminhavam diante dele, transportando a Arca. Quando chegaram ao Jordão, e os pés dos sacerdotes que transportavam a Arca entraram na água da margem do rio – de facto, o Jordão transborda e alaga as suas margens durante todo o tempo da ceifa – então, as águas que vinham de cima pararam e amontoaram-se numa grande extensão, até perto de Adam, localidade situada nas proximidades de Sartan; as águas que desciam para o mar da Arabá, o Mar Salgado, essas ficaram completamente separadas. E o povo atravessou o rio em frente de Jericó. Os sacerdotes que transportavam a Arca da aliança do Senhor conservaram-se de pé, sobre o leito seco do Jordão, e todo o Israel o atravessou sem se molhar. Permaneceram ali até todo o povo ter acabado de atravessar o Jordão. Quando todo o povo acabou de atravessar o Jordão, o Senhor disse a Josué: «Tomai doze homens de entre o povo, um por cada tribo, e ordenai-lhes: ‘Escolhei, no meio do Jordão, no lugar onde pararam os pés dos sacerdotes, doze pedras que levareis convosco, colocando-as, depois, no local onde devereis passar a noite.’» Josué chamou os doze homens escolhidos, um por cada tribo, entre os filhos de Israel, e disse-lhes: «Ide adiante da Arca do Senhor, vosso Deus, até ao meio do Jordão. Segundo o número das tribos de Israel, carregue cada um de vós uma pedra aos ombros. Isto ficará como um sinal memorável para vós. Quando os vossos filhos vos perguntarem, um dia, que significam estas pedras, haveis de responder-lhes: ‘As águas do Jordão separaram-se diante da Arca da aliança do Senhor; quando ela atravessou o Jordão, as águas separaram-se, e estas pedras serão um memorial eterno para os israelitas.’» Os israelitas fizeram como Josué lhes ordenara: foram ao meio do leito do Jordão, escolheram doze pedras, conforme o Senhor dissera a Josué, segundo o número das tribos de Israel. Levaram-nas consigo, até as colocarem no lugar onde iam acampar. Josué ergueu também outras doze pedras no leito do Jordão, no lugar onde tinham estado postos os pés dos sacerdotes que levavam a Arca da aliança. Ainda hoje elas lá estão. Os sacerdotes que levavam a Arca permaneceram de pé no meio do leito do Jordão até se ter cumprido tudo o que o Senhor havia mandado Josué dizer ao povo, segundo as ordens que lhe dera Moisés. E o povo apressou-se a atravessar o Jordão. Logo que todos passaram, a Arca do Senhor pôs-se de novo, bem como os sacerdotes, à frente do povo. Os homens das tribos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés haviam passado o rio armados, diante dos israelitas, segundo a ordem que lhes dera Moisés. O seu número era aproximadamente de quarenta mil homens equipados para o combate; todos desfilaram perante o Senhor, rumo à planície de Jericó. Naquele dia, o Senhor exaltou Josué na presença de todo o Israel, e todos o respeitaram como haviam respeitado Moisés durante toda a sua vida. Então, o Senhor disse a Josué: «Ordena aos sacerdotes portadores da Arca do testemunho que saiam do Jordão.» Ele ordenou-lhes: «Saí do Jordão!» E, quando os sacerdotes portadores da Arca da aliança do Senhor saíram do leito do Jordão, ao pisarem seus pés a terra firme, as águas do Jordão retomaram o seu lugar, deslizando impetuosas como antes. O povo saiu do Jordão no décimo dia do primeiro mês e acampou em Guilgal, na extremidade oriental de Jericó. Josué levantou as doze pedras tomadas do Jordão em Guilgal, e disse aos filhos de Israel: «Quando os vossos filhos perguntarem, um dia, a seus pais, que significam estas pedras, respondei-lhes assim: ‘Israel atravessou aqui o Jordão a pé enxuto, porque o Senhor vosso Deus secou diante de vós o leito do Jordão, como antes havia feito ao Mar dos Juncos, que secou até que passássemos, para que todos os povos da terra reconheçam que é poderosa a mão do Senhor, a fim de conservardes sempre o temor do Senhor, vosso Deus.’» Quando todos os reis dos amorreus, a ocidente do Jordão, e todos os reis dos cananeus, para os lados do mar, souberam que o Senhor havia secado as águas do Jordão até que os israelitas passassem, desfaleceram e perderam a coragem diante dos filhos de Israel. Então o Senhor disse a Josué: «Faz facas de pedra e renova a prática da circuncisão dos israelitas.» Josué fez facas de pedra e circuncidou os israelitas na colina de Aralot. Foi este o motivo pelo qual Josué os circuncidou: todos os varões que haviam saído do Egipto, todos os homens de guerra tinham morrido no deserto, pelo caminho, após a sua partida do Egipto. Todo o povo que saiu do Egipto estava circuncidado, mas os que nasceram no deserto durante a viagem, após o êxodo, não estavam. Os filhos de Israel haviam andado pelo deserto durante quarenta anos até ao desaparecimento completo de todos os homens de guerra saídos do Egipto: não tinham escutado a voz do Senhor, que lhes havia jurado que não veriam a terra que prometera a seus pais com juramento, terra onde corre leite e mel. Seus filhos sucederam-lhes; e foram esses que Josué circuncidou, pois estavam incircuncisos, não tendo sido circuncidados durante a viagem. Depois de circuncidados, ficaram no acampamento até recuperarem. Disse, então, o Senhor a Josué: «Hoje tirei de sobre vós o opróbrio do Egipto.» E deu-se àquele lugar o nome de Guilgal, até ao dia de hoje. Os israelitas acamparam em Guilgal, celebraram lá a Páscoa no décimo quarto dia do mês, à tarde, na planície de Jericó. Nesse mesmo dia, comeram dos frutos da região: pães ázimos e trigo tostado. O maná deixou de cair no dia seguinte àquele em que comeram dos frutos da terra, e nunca mais os israelitas tiveram o maná. Naquele ano, alimentaram-se dos produtos da terra de Canaã. Encontrando-se Josué nas proximidades de Jericó, levantou os olhos e viu diante de si um homem de pé, segurando na mão uma espada desembainhada. Josué foi ter com ele e perguntou: «És um dos nossos ou nosso inimigo?» Ele respondeu: «Não, sou um príncipe dos exércitos do Senhor, e aqui estou.» Josué prostrou-se com o rosto por terra e disse-lhe: «Que ordens tem o meu senhor para o seu servo?» E o príncipe dos exércitos do Senhor respondeu: «Descalça as sandálias dos teus pés, porque o lugar onde estás é santo.» Josué assim fez. Jericó tinha fechado e aferrolhado as suas portas por medo dos israelitas, e ninguém ousava sair nem entrar na cidade. O Senhor disse a Josué: «Vê! Entrego-te Jericó, o seu rei e os seus valorosos guerreiros. Dai uma volta em torno da cidade, vós e todos os homens de guerra. Fareis isso durante seis dias. Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão à frente da Arca; no sétimo dia, dareis sete vezes a volta à cidade, com os sacerdotes a tocar trombeta. À medida que o som do corno for crescendo e o toque das trombetas se tornar mais forte, todo o povo irromperá em grande clamor; a muralha da cidade há-de desabar e o povo subirá à cidade, cada um para o lugar que lhe fica em frente.» Josué, filho de Nun, reuniu os sacerdotes e disse-lhes: «Levai a Arca da aliança, e sete sacerdotes estejam diante dela com trombetas.» Depois, disse ao povo: «Em frente! Dai a volta à cidade com os guerreiros a marchar à frente da Arca do Senhor.» Mal Josué acabou de falar, os sete sacerdotes que levavam as sete trombetas puseram-se em marcha diante do Senhor, tocando os seus instrumentos. A Arca do Senhor seguiu-os. Os guerreiros marchavam à frente dos sacerdotes que tocavam a trombeta. A Arca seguia na retaguarda. Durante toda a marcha, ouvia-se o troar das trombetas. Josué tinha dado esta ordem ao povo: «Não griteis nem façais ouvir a vossa voz, nem saia da vossa boca palavra alguma até ao dia em que eu disser: ‘Gritai!’ Então gritareis com força.» A Arca do Senhor deu uma volta à cidade, e voltaram ao acampamento, a fim de ali passarem a noite. Josué levantou-se muito cedo, e os sacerdotes transportaram a Arca do Senhor. Os sete sacerdotes, com as sete trombetas, diante da Arca do Senhor, puseram-se em marcha, tocando as trombetas. Os guerreiros precediam-nos. Os restantes seguiam atrás da Arca do Senhor. Durante a marcha ouvia-se o ressoar das trombetas. No segundo dia, deram uma volta à cidade, e voltaram ao acampamento; o mesmo fizeram durante seis dias. No sétimo dia, levantando-se de madrugada, deram sete vezes a volta à cidade, como nos dias precedentes. Foi o único dia em que deram a volta à cidade por sete vezes. Quando os sacerdotes, à sétima volta, tocavam as trombetas, Josué disse ao povo: «Gritai, porque o Senhor vos entrega a cidade. A cidade será votada à destruição em honra do Senhor, com tudo o que nela se encontra. Só Raab, a prostituta, terá a vida salva, com todos os que se encontrarem em sua casa, porque ela escondeu os exploradores que havíamos enviado. Mas tende cautela com o que é votado ao anátema: se tomardes alguma coisa do que foi declarado anátema, atraireis o anátema sobre o acampamento de Israel, e será uma catástrofe. A prata, o ouro e todos os objectos de bronze e de ferro serão consagrados ao Senhor, e ficarão a pertencer ao seu tesouro.» O povo gritou e os sacerdotes tocaram as trombetas. Mal o povo escutou o som das trombetas, fez ouvir um grande clamor e as muralhas da cidade desabaram; os filhos de Israel subiram à cidade, cada um pela brecha que tinha na sua frente e tomaram a cidade. Votaram-na ao anátema, passando ao fio da espada quanto nela encontraram, homens e mulheres, crianças e velhos, e os bois, as ovelhas e os jumentos. Josué disse, então, aos dois homens que haviam explorado a terra: «Ide a casa de Raab, a prostituta, e fazei-a sair de lá com tudo o que lhe pertence, como lhe prometestes.» Os exploradores entraram na casa, e fizeram sair Raab, o seu pai, a sua mãe, os seus irmãos, e toda a sua parentela com tudo o que lhe pertencia, e puseram-nos em segurança, fora do acampamento de Israel. Incendiaram a cidade, queimando tudo o que nela havia, excepto o oiro, a prata e todos os objectos de bronze e ferro, que entregaram para os tesouros da casa do Senhor. Josué respeitou a vida de Raab, a prostituta, bem como a vida da família de seu pai e a de todos os seus; deste modo, ela ficou entre os filhos de Israel até hoje, por ter escondido os mensageiros enviados a explorar Jericó. Então, Josué proferiu o seguinte juramento: «Maldito seja diante do Senhor aquele que tentar reconstruir esta cidade de Jericó! Morra o seu primogénito, quando lhe lançar os primeiros fundamentos, e morra o último dos seus filhos, quando lhe puser as portas.» O Senhor estava com Josué, e a sua fama espalhou-se por toda a terra. Os israelitas incorreram numa prevaricação a respeito das coisas votadas ao anátema, pois Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá, apoderou-se de algumas coisas proibidas, e o Senhor encolerizou-se contra os filhos de Israel. Josué enviou de Jericó homens contra Ai, situada junto de Bet-Aven, a oriente de Betel, dizendo-lhes: «Ide explorar a terra.» Eles partiram e exploraram Ai. Ao voltarem para junto de Josué, disseram-lhe: «É inútil ir o povo todo: que avancem só dois ou três mil homens para apoderar-se da cidade, pois a sua população é muito reduzida.» Puseram-se, então, a caminho três mil homens, aproximadamente, mas foram derrotados pela gente de Ai, caindo mortos trinta e seis homens. Os inimigos perseguiram-nos desde a porta da cidade, até Chebarim, e derrotaram-nos quando ainda fugiam pela encosta. O povo ficou consternado e perdeu a coragem. Josué rasgou as vestes e prostrou-se com a face por terra até à tarde, diante da Arca do Senhor, ele e todos os anciãos de Israel, e cobriram de pó a cabeça. E implorou: «Ó Senhor Deus! Porque fizeste este povo passar o Jordão? Foi para nos entregar nas mãos dos amorreus, que nos destruirão? Tivéssemos nós ficado do outro lado do Jordão! Que direi, Senhor, vendo Israel voltar as costas aos seus inimigos? Os cananeus e todos os habitantes da terra vão sabê-lo, hão-de cercar-nos, e em breve farão desaparecer o nosso nome da face da terra. Que farás Tu pela glória do teu grande nome?» O Senhor disse a Josué: «Levanta-te; porque estás assim prostrado com a face por terra? Israel prevaricou, a ponto de violar a aliança que Eu lhes prescrevi e de tomar as coisas votadas ao anátema, roubá-las, ocultá-las, escondê-las entre as suas bagagens. Por isso é que os filhos de Israel não puderam resistir aos seus inimigos, mas voltaram-lhes as costas, pois caíram sob o anátema. Se não tirardes o anátema do meio de vós, não mais estarei convosco. Vai santificar o povo! Diz-lhe: ‘Purificai-vos para amanhã porque, diz o Senhor, Deus de Israel: O anátema está no meio de ti, Israel. Não poderás resistir aos teus inimigos enquanto não tiverdes tirado o anátema que está no meio de vós.’ Amanhã aproximar-vos-eis por tribos, e a tribo que o Senhor designar apresentar-se-á família por família; e a família designada pelo Senhor apresentar-se-á por suas casas; e a casa indicada pelo Senhor apresentar-se-á por pessoas. Aquele que for designado como tendo incorrido no anátema será queimado, ele e tudo quanto lhe pertence, porque transgrediu a aliança do Senhor e cometeu uma infâmia em Israel.» No dia seguinte, de manhã, Josué mandou vir o povo, tribo por tribo, e foi designada a tribo de Judá. Tendo-se aproximado a tribo de Judá, a sorte indicou a família de Zera. Mandou aproximar-se a família de Zera por casas, e a sorte designou a de Zabdi; Esta aproximou-se por pessoas; a sorte caiu sobre Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá. Josué disse a Acan: «Meu filho, dá glória ao Senhor, Deus de Israel, e rende-lhe homenagem. Confessa-me o que fizeste, sem calar nada.» Acan respondeu a Josué: «Sim, fui eu quem pecou contra o Senhor, Deus de Israel. Eis o que fiz: vi no meio dos despojos um formoso manto de Chinear, duzentos siclos de prata e uma barra de ouro de cinquenta siclos; levado pela cobiça, apanhei-os; escondi tudo na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo.» Josué mandou que alguns homens inspeccionassem a tenda, e encontraram os objectos que estavam lá escondidos, e a prata por baixo. Tiraram-nos dali e trouxeram-nos a Josué e a todos os filhos de Israel, colocando-os diante do Senhor. Então Josué, em presença de todo o Israel, agarrando Acan, filho de Zera, com a prata, o manto, a barra de ouro, os seus filhos e filhas, os seus bois, os seus jumentos, as suas ovelhas, a sua tenda e tudo o que lhe pertencia, levou-os ao vale de Acor. Chegado ali, Josué disse: «Já que foste a nossa perdição, que o Senhor faça com que te percas hoje.» E todos os filhos de Israel os apedrejaram; depois de os apedrejarem, foram queimados no fogo. E lançaram sobre Acan um grande monte de pedras que ainda hoje subsiste. Então, o Senhor aplacou a sua cólera. Por isso, este lugar se chama ainda hoje Vale de Acor. O Senhor disse a Josué: «Não temas nem te acobardes. Toma contigo todos os homens de guerra e sobe contra Ai. Eis que entrego nas tuas mãos o rei de Ai, o seu povo, a sua cidade e a sua terra. Hás-de tratar Ai e o seu rei como trataste Jericó e o seu rei; mas os despojos e os rebanhos haveis de reparti-los entre vós. Prepara uma emboscada por detrás da cidade.» Josué pôs-se a caminho, com todos os homens de guerra, contra Ai. Escolheu trinta mil homens valentes e fê-los partir durante a noite. Dera-lhes esta ordem: «Atenção! Ponde-vos de emboscada por trás da cidade, mas a pouca distância, e estai preparados. Eu e o povo que levo comigo vamos aproximar-nos de Ai; e quando saírem ao nosso encontro, como da primeira vez, fugiremos. Atraí-los-emos, e eles virão em nossa perseguição, pois hão-de dizer: ‘Ei-los que fogem diante de nós, como da primeira vez.’ Então, saireis das vossas emboscadas e tomareis a cidade. OSenhor vosso Deus vo-la há-de entregar. Depois de a haverdes conquistado, lançar-lhe-eis fogo, segundo a palavra do Senhor. Vede: estas são as minhas ordens.» Josué fê-los partir, e eles puseram-se de emboscada entre Betel e Ai, a ocidente. Josué passou a noite no meio do povo. Josué levantou-se logo ao amanhecer, passou revista ao povo e subiu contra Ai, ele e os anciãos de Israel, à frente do povo. Todos os homens de guerra que estavam com ele subiram e, chegados à frente da cidade, acamparam a norte, ficando o vale entre eles e Ai. Josué tomou cerca de cinco mil homens e pô-los de emboscada entre Betel e Ai, a ocidente. Logo que todo o povo tomou posições a norte da cidade, e a emboscada, a ocidente, Josué avançou durante a noite, pelo meio do vale. Vendo isto, o rei de Ai saiu apressadamente da cidade com a sua gente, ao amanhecer, e veio ao encontro de Israel, seguido pelo seu povo; e dirigiu-se para o lado da planície, sem saber que uma emboscada estava armada contra ele por trás da cidade. Josué e todo o Israel, fingindo-se derrotados, fugiram para os lados do deserto. Então, toda a população, com grandes gritos, saiu da cidade para os perseguir e, lançando-se atrás de Josué, afastaram-se da cidade. Não houve ninguém que ficasse em Ai ou Betel, pois todos tinham saído em perseguição de Israel, deixando a cidade aberta. O Senhor disse a Josué: «Levanta contra Ai o dardo que tens na mão, porque Eu ta entrego.» Josué levantou o dardo que tinha nas mãos contra a cidade. Os que estavam em emboscada levantaram-se subitamente, precipitando-se sobre ela, ocupando-a e incendiando-a. Quando os habitantes de Ai olharam para trás e viram o fumo que se elevava da cidade para o céu, já não tinham possibilidade de fugir para nenhum lado, pois o povo que simulava fugir para o deserto voltou-se contra o perseguidor. Josué e todo o Israel, vendo que os da emboscada tinham tomado a cidade e que dela subia fumo, voltaram-se e atacaram os homens de Ai. Tendo os outros saído da cidade ao seu encontro, os inimigos viram-se cercados de ambos os lados pelos israelitas, que os acometeram até lhes não deixar nem sobrevivente, nem fugitivo. Capturaram vivo o rei de Ai e levaram-no a Josué. Terminado o massacre dos habitantes de Ai tanto no campo como no deserto, para onde haviam saído em perseguição dos israelitas, depois de todos terem sido passados ao fio de espada, todo o Israel voltou à cidade, matando toda a população. O número dos que morreram naquele dia, entre homens e mulheres, foi de doze mil, todos da cidade de Ai. Josué não retirou a mão que tinha levantada com o seu dardo, até serem mortos todos os habitantes de Ai. Os israelitas tomaram para si os rebanhos e o espólio da cidade, conforme o Senhor tinha ordenado a Josué. Josué incendiou a cidade de Ai, reduzindo-a para sempre a um montão de ruínas, como ainda hoje está. Mandou enforcar o rei de Ai numa árvore, deixando-o ali até à tarde. Ao pôr-do-sol, ordenou que se retirasse o cadáver e fosse lançado junto à porta da cidade, colocando sobre ele um grande monte de pedras, que ali permanece ainda hoje. Então, Josué erigiu um altar ao Senhor, Deus de Israel, no monte Ebal, segundo a ordem que Moisés, servo do Senhor, havia dado aos filhos de Israel, conforme está escrito no livro da Lei de Moisés: construiu-o de pedras brutas, ainda não tocadas pelo ferro. Ofereceram sobre ele holocaustos ao Senhor e sacrifícios de comunhão. Ali, sobre as pedras, escreveu Josué uma cópia da Lei que Moisés tinha escrito diante dos filhos de Israel. Todo o Israel, os seus anciãos, os seus chefes e os seus juízes permaneceram de pé em redor da Arca, diante dos sacerdotes, dos levitas que transportavam a Arca da aliança do Senhor. Ali estavam os estrangeiros e os filhos de Israel, metade do lado do monte Garizim e a outra metade do lado do monte Ebal, segundo a ordem que Moisés, servo do Senhor, dera outrora de abençoar o povo de Israel. A seguir, Josué leu todas as palavras da Lei, a bênção e a maldição, conforme está escrito no livro da Lei. De tudo o que Moisés tinha prescrito, nem uma só palavra se omitiu na leitura feita por Josué diante de toda a assembleia de Israel: mulheres, crianças e estrangeiros que estavam no meio deles. Ao terem notícia destes acontecimentos, todos os reis do outro lado do Jordão, das montanhas e das planícies, do litoral do Mar Grande, frente ao Líbano, os hititas, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus aliaram-se para dar combate a Josué e a Israel. Os habitantes de Guibeon, sabendo o que Josué tinha feito a Jericó e a Ai, foram astutos e puseram-se a caminho, munidos de provisões para a viagem. Carregaram os seus jumentos de sacos velhos, odres de vinho remendados e velhos, calçado velho e remendado nos pés e roupas muito usadas para se cobrirem; o pão das suas provisões estava também duro e estragado. Foram ter com Josué ao acampamento de Guilgal e disseram-lhe, a ele e a todos os filhos de Israel: «Viemos de terras longínquas pedir-vos que façais aliança connosco.» Os israelitas responderam: «Se calhar habitais perto de nós. Como poderemos, pois, fazer aliança convosco?» Eles, porém, disseram a Josué: «Somos teus servos.» Josué, por sua vez, perguntou-lhes: «Quem sois vós e de onde vindes?» Eles responderam: «Os teus servos vêm de terras muito distantes, atraídos pela fama do Senhor teu Deus, pois ouvimos falar dele e de tudo quanto Ele fez no Egipto; do modo como tratou os dois reis dos amorreus, além-Jordão, Seon, rei de Hesbon, e Og, rei de Basan, que habitavam em Astarot. Por isso, os nossos anciãos e todos os habitantes da nossa terra nos disseram: ‘Tomai convosco provisões para a viagem; ide ao seu encontro e dizei-lhes: Somos vossos servos; fazei aliança connosco’. Aqui tendes o nosso pão; estava ainda quente quando partimos de nossas casas para vir ter convosco; ei-lo agora, seco e estragado. Estes odres de vinho eram novos quando os enchemos; agora estão rotos e descosidos. As nossas roupas e o nosso calçado estão gastos e velhos, por causa da longa caminhada.» Os israelitas aceitaram as provisões deles, sem consultar o Senhor. Josué concedeu-lhes a paz e fez uma aliança com eles, na qual lhes respeitava a vida; os príncipes da assembleia confirmaram-na com juramento. Três dias após esta aliança, souberam que esses povos eram seus vizinhos e habitavam no meio deles. Então, os filhos de Israel puseram-se a caminho, e em três dias chegaram às suas cidades. Essas cidades eram as seguintes: Guibeon, Cafira, Beerot e Quiriat-Iarim. Não os destruíram devido ao juramento que lhes tinham feito os príncipes da assembleia, em nome do Senhor, Deus de Israel; mas toda a assembleia começou a murmurar contra eles. Foi então que os príncipes da assembleia responderam: «Fizemos-lhes um juramento em nome do Senhor, Deus de Israel; não lhes podemos tocar. Eis, porém, como deveremos tratá-los: respeitaremos a sua vida, a fim de não excitar contra nós a ira de Deus, se lhes faltarmos ao juramento. Que vivam, pois – acrescentaram os chefes – mas que se empreguem a rachar lenha e a carregar água para toda a assembleia.» E fez-se como os chefes determinaram. Josué chamou-os e disse-lhes: «Porque nos enganastes, dizendo que éreis de terras longínquas, quando afinal habitáveis no meio de nós? Agora, pois, malditos sejais; a vossa servidão jamais há-de cessar, e continuareis a rachar lenha e a carregar água para a casa do meu Deus.» Eles responderam a Josué: «A nós, teus servos, chegou-nos a notícia de que o Senhor teu Deus prometera a Moisés, seu servo, dar-vos toda a terra, exterminando os seus habitantes diante de vós. Foi por isso que tememos profundamente a vossa aproximação e, por causa das nossas vidas, procedemos desta maneira. Estamos nas tuas mãos; trata-nos como te parecer justo e bom.» Josué fez como tinha dito e livrou-os das mãos dos filhos de Israel, a fim de que os não matassem. Porém, determinou que, desde então, se empregassem no serviço da comunidade e do altar, cortando a lenha e carregando a água no lugar que o Senhor escolhesse; e exercem ainda hoje tais funções. Adonisédec, rei de Jerusalém, ao saber que Josué se tinha apoderado de Ai e a tinha destruído – como fizera com Jericó e seu rei, assim fez também com Ai e seu rei – e ao saber que os guibeonitas tinham feito a paz com Israel e habitavam com ele, ficou com muito medo. Guibeon era, com efeito, uma grande cidade, uma cidade real, muito maior que Ai, e todos os seus homens eram valorosos. Adonisédec, rei de Jerusalém, mandou dizer a Hoam, rei de Hebron, a Piram, rei de Jarmut, a Jafia, rei de Láquis e a Debir, rei de Eglon: «Vinde comigo e ajudai-me a combater Guibeon, porque ele fez a paz com Josué e com os israelitas.» Unidos assim os cinco reis dos amorreus – o rei de Jerusalém, o de Hebron, o rei de Jarmut, o rei de Láquis e o rei de Eglon – saíram com todos os seus exércitos e acamparam perto de Guibeon, sitiando-a. Os habitantes de Guibeon mandaram dizer a Josué, que estava acampado em Guilgal: «Não abandones os teus servos; sobe e vem em nosso socorro sem demora; liberta-nos, porque todos os reis dos amorreus que habitam na montanha se coligaram contra nós.» Josué subiu de Guilgal, com todos os seus valentes guerreiros. O Senhor disse-lhe: «Não temas, porque Eu os entregarei nas tuas mãos; nenhum deles te poderá resistir.» Josué, que toda a noite subira desde Guilgal, caiu sobre eles de improviso. O Senhor espalhou entre eles o terror perante Israel, que lhes infligiu pesada derrota junto de Guibeon e os perseguiu pelo caminho que sobe para Bet-Horon, batendo-os até Azeca e Maqueda. Enquanto eles fugiam diante dos filhos de Israel, na descida de Bet-Horon, o Senhor fez desabar sobre eles uma tempestade de granizo, até Azeca; e foram mais numerosos os que morreram sob esta chuva de pedras do que os que pereceram às mãos dos filhos de Israel. No dia em que o Senhor entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, Josué falou ao Senhor e disse, na presença dos israelitas: «Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aialon.» E o Sol deteve-se, e a Lua parou até o povo se ter vingado dos seus inimigos. Isto está escrito no Livro do Justo*. O Sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro. Nem antes nem depois houve um dia tão longo como aquele em que o Senhor obedeceu à voz de um homem, pois o Senhor combatia ao lado de Israel. Depois disto, Josué voltou para o acampamento de Guilgal, com todo o Israel. Os cinco reis fugiram e esconderam-se na caverna de Maqueda. Então comunicaram a Josué: «Foram encontrados os cinco reis escondidos na caverna de Maqueda.» Josué respondeu: «Rolai grandes pedras sobre a entrada da caverna e ponde homens junto dela, para a guardarem. Vós, porém, não vos detenhais, mas continuai a perseguir os vossos inimigos; não os deixeis entrar nas suas cidades, porque o Senhor, vosso Deus, os entregou nas vossas mãos.» Quando Josué e os israelitas os derrotaram e massacraram até ao extermínio, refugiando-se nas cidades fortes os poucos que escaparam vivos, então, todo o povo voltou tranquilamente para o acampamento, junto de Josué, em Maqueda, e ninguém mais se atreveu a abrir a boca contra os filhos de Israel. Depois Josué disse: «Abri a entrada da caverna, e trazei-me os cinco reis que lá se encontram.» Assim o fizeram, levando os cinco reis que tiraram da caverna: o rei de Jerusalém, o rei de Hebron, o rei de Jarmut, o rei de Láquis e o rei de Eglon. Uma vez diante de Josué, este chamou todos os homens de Israel, e disse aos chefes dos homens de guerra que o tinham acompanhado: «Aproximai-vos e ponde o pé sobre o pescoço destes reis.» Eles aproximaram-se e puseram o pé sobre o pescoço deles. Disse-lhes de novo: «Não tenhais medo nem tremais; tende coragem e sede fortes. É assim que o Senhor vai fazer a todos os inimigos que haveis de combater.» Dito isto, Josué mandou matá-los e suspendê-los em cinco árvores, onde estiveram até à tarde. Ao pôr-do-sol, mandou descê-los das árvores e lançá-los na caverna onde se haviam refugiado. À entrada, colocaram grandes pedras, que ainda hoje ali se encontram. Naquele dia, Josué apoderou-se de Maqueda, destruiu-a com o seu rei e tudo o que nela vivia. Votou ao anátema a cidade com tudo o que nela vivia, sem poupar ninguém, e fez ao rei de Maqueda como tinha feito ao de Jericó. Depois passou Josué e todo o Israel de Maqueda a Libna, e atacaram-na. O Senhor entregou-a com o seu rei nas mãos de Israel, que a passou a fio de espada com tudo o que nela havia, sem deixar escapar ninguém. Fez ao seu rei como tinha feito ao de Jericó. De Libna passou Josué com todo o Israel a Láquis, onde montou cerco contra ela e atacou-a. O Senhor entregou-lha e Israel apoderou-se dela no segundo dia, passando-a a fio de espada, com tudo quanto nela vivia, como tinha feito a Libna. Então Horam, rei de Guézer, veio em socorro de Láquis; mas Josué derrotou-o, a ele e ao seu povo, sem escapar ninguém. Josué e todo o seu povo passaram de Láquis a Eglon, ergueram ali o seu acampamento e atacaram-na. Nesse mesmo dia, tomaram-na e passaram-na a fio de espada, votando ao anátema todo o ser vivo, como tinham feito a Láquis. Em seguida, subiu com todo o Israel de Eglon a Hebron, e atacaram a cidade. Tomaram Hebron e passaram a fio de espada a cidade com o seu rei, os seus arrabaldes e tudo o que nela vivia, sem escapar ninguém, como tinham feito a Eglon. A cidade foi votada ao anátema com todo o ser vivo. Dali, Josué voltou-se contra Debir, com todo o Israel, e atacou-a. Apoderou-se dela, juntamente com o seu rei, passou-os a fio de espada e votou ao anátema todo o ser vivo que nela havia, sem escapar ninguém. Fez a Debir e ao seu rei como tinha feito a Hebron e a Libna, com os seus reis. Josué feriu toda a terra: a montanha, o Négueb, a planície, as colinas com todos os seus reis, sem poupar ninguém, votando ao anátema tudo o que respirava, segundo a ordem do Senhor, Deus de Israel. Josué feriu-os desde Cadés-Barnea até Gaza, e toda a terra, de Góchen até Guibeon. De uma só vez, Josué apoderou-se desse país e dos seus reis, porque o Senhor, Deus de Israel, combatia por Israel. Depois Josué e todo o Israel regressaram ao acampamento, em Guilgal. Ao ter notícia deste acontecimento, Jabin, rei de Haçor, enviou mensageiros a Jobab, rei de Madon, ao rei de Chimeron, ao rei de Acsaf, aos reis do norte, na montanha e na planície ao sul de Quinerot, na planície de Dor ao ocidente, aos cananeus do oriente e do ocidente, aos amorreus, aos hititas, aos perizeus, aos jebuseus da montanha e aos heveus do sopé do Hermon, na terra de Mispá. Saíram, então, com todos os seus exércitos, povo numeroso como a areia das praias do mar, com grande número de cavalos e de carros. Reuniram-se todos e vieram acampar juntos, perto das águas de Merom, a fim de combater Israel. O Senhor disse a Josué: «Não os temas, pois amanhã, a esta mesma hora, Eu os lançarei, trespassados, diante de Israel. Hás-de cortar os jarretes dos seus cavalos e queimarás os seus carros.» Josué e todos os homens de guerra caíram sobre eles, repentinamente, junto às águas de Merom, precipitando-se contra eles. O Senhor entregou-os nas mãos de Israel, que os derrotou e perseguiu até à grande Sídon, até às águas de Misrefot e até ao vale de Mispá, ao oriente; feriu-os sem deixar escapar um só. Josué tratou-os conforme o Senhor lhe dissera: cortou os jarretes dos seus cavalos e incendiou os seus carros. Então, Josué, voltando, tomou Haçor e matou o seu rei. Haçor era, antigamente, a capital de todos esses reinos. Passaram a fio de espada todas as pessoas que viviam nesta cidade, votando-as, depois, ao anátema. Nada ficou de quanto nela vivia e Haçor foi incendiada. Josué tomou também todas as cidades desses reis aliados, passando-os a fio de espada, acabando por votá-los ao anátema, segundo a ordem de Moisés, servo do Senhor. Israel não incendiou nenhuma das cidades da montanha, excepto Haçor, queimada por Josué. Os filhos de Israel tomaram todos os despojos dessas cidades e os rebanhos. Aos homens, porém, passaram-nos todos a fio de espada, exterminando-os completamente, sem deixar ninguém com vida. Tudo quanto o Senhor ordenara a Moisés, seu servo, este ordenou-o a Josué, que o executou sem omitir uma só palavra de tudo o que oSenhor havia ordenado a Moisés. Josué conquistou, assim, toda a terra: a montanha, todo o Négueb, todo o território de Góchen, a planície, a Arabá, o planalto de Israel e suas planícies, desde a montanha nua que sobe para Seir até Baal-Gad, no vale do Líbano, junto do Hermon. Combateu todos esses reis, dando-lhes a morte. A guerra que Josué sustentou contra esses reis durou muito tempo. Não houve cidade que se rendesse pacificamente aos israelitas, à excepção dos heveus, em Guibeon. Foi necessário tomar tudo pela força das armas, pois era desígnio do Senhor que estes povos endurecessem o seu coração e combatessem Israel, para que pudesse votá-los ao anátema sem piedade, e exterminá-los, como o Senhor ordenara a Moisés. Foi nessa altura que Josué se pôs em marcha e exterminou os anaquitas da montanha, de Hebron, de Debir, de Anab e de todas as montanhas de Judá e de Israel, votando-os ao anátema com suas cidades. Não ficou nem um único anaquita na terra dos filhos de Israel; escaparam apenas alguns em Gaza, Gat e Asdod. Josué conquistou, pois, toda a terra, como o Senhor dissera a Moisés, e deu-a em herança a Israel, repartindo-a pelas suas tribos. E cessou a guerra no país. São estes os reis que Israel derrotou, ocupando os seus territórios do outro lado do Jordão, para nascente, desde a torrente do Arnon até ao monte Hermon, assim como toda a Arabá, a oriente. Seon, rei dos amorreus, que residia em Hesbon; o seu domínio estendia-se desde Aroer até à margem da torrente do Arnon, e desde o meio da torrente, sobre metade de Guilead, até à torrente do Jaboc, na fronteira dos filhos de Amon; e desde a planície até ao mar de Quinerot, a oriente, e até ao mar da planície, o Mar do Sal, para o lado oriental, pelo caminho que vai a Bet-Haiechimot, e pelo lado meridional até junto das encostas do monte Pisga. Depois, o território de Og, rei de Basan, sobrevivente dos refaítas, em Astarot e Edrei, que reinava sobre a montanha de Hermon, sobre Salca, sobre todo o Basan até à fronteira dos guechureus e dos maacateus e até ao meio de Guilead, limite de Seon, rei de Hesbon. Moisés, servo do Senhor, e os filhos de Israel derrotaram-nos; e Moisés, servo do Senhor, deu as suas terras aos rubenitas, aos gaditas e à meia tribo de Manassés. São estes os reis dos territórios que Josué e os israelitas derrotaram além-Jordão, a ocidente, desde Baal-Gad, no vale do Líbano, até à montanha nua que sobe para Seir. Josué deu estas terras em propriedade às tribos de Israel, distribuindo-as segundo as suas famílias, tanto na montanha como nas planícies e sobre as colinas, no deserto e no Négueb: toda a terra dos hititas, dos amorreus, dos cananeus, dos perizeus, dos heveus e dos jebuseus. São estes: o rei de Jericó, um, o rei de Ai, perto de Betel, um, o rei de Jerusalém, um, o rei de Hebron, um, o rei de Jarmut, um, o rei de Láquis, um, o rei de Eglon, um, o rei de Guézer, um, o rei de Debir, um, o rei de Guéder, um, o rei de Horma, um, o rei de Arad, um, o rei de Libna, um, o rei de Adulam, um, o rei de Maqueda, um, o rei de Betel, um, o rei de Tapua, um, o rei de Héfer, um, o rei de Afec, um, o rei de Saron, um, o rei de Madon, um, o rei de Haçor, um, o rei de Chimeron, um, o rei de Acsaf, um, o rei de Taanac, um, o rei de Meguido, um, o rei de Quedes, um, o rei de Joqueneam, em Carmel, um, o rei de Dor, sobre os altos de Dor, um, o rei de Goim, em Guilgal, um, o rei de Tirça, um. Ao todo, trinta e um reis. Josué estava velho, avançado em anos, e o Senhor disse-lhe: «Já estás velho, de muita idade, e há ainda muita terra por conquistar. Vê o que ainda falta: todas as províncias dos filisteus e todo o território de Guechur, desde o Chior, que corre a oriente do Egipto, até aos limites de Ecron, a norte, terra considerada dos cananeus; os cinco príncipes dos filisteus: o de Gaza, o de Asdod, o de Ascalon, o de Gat e o de Ecron; os heveus, a sul; toda a terra dos cananeus, e desde Ara dos sidónios até Afec e a fronteira dos amorreus; a terra dos guebalitas, e todo o Líbano, a oriente, desde Baal-Gad, junto ao monte Hermon, até à entrada de Hamat; todos os habitantes da montanha, desde o Líbano até às águas de Misrefot; todos os sidónios. Eu os expulsarei diante dos filhos de Israel. Distribui, pois, por sorteio, esta terra em herança aos filhos de Israel, como te ordenei. Divide, agora, esta terra entre as nove tribos e a meia tribo de Manassés.» Os rubenitas, os gaditas e a outra metade da tribo de Manassés tinham recebido de Moisés a sua parte além-Jordão, a oriente, como Moisés, servo do Senhor, lha tinha demarcado: desde Aroer, que está situada na margem da torrente do Arnon, e desde a cidade que está no fundo do vale, e toda a planície de Madabá até Dibon. Todas as cidades de Seon, rei dos amorreus, que reinava em Hesbon, até à fronteira dos amonitas; Guilead e o território dos guechureus e dos maacateus, bem como toda a montanha do Hermon e todo o Basan até Salca; todo o reino de Og de Basan, que reinava em Astarot e Edrei, últimos restos da raça dos refaítas; Moisés venceu estes reis e expulsou-os. Os filhos de Israel, porém, não expulsaram os guechureus nem os maacateus; e, assim, os povos de Guechur e de Maacat continuaram a habitar entre nós, até ao dia de hoje. A tribo de Levi foi a única que não recebeu herança de Moisés, pois os sacrifícios oferecidos em honra do Senhor, Deus de Israel, são a sua herança, como Ele tinha dito. Moisés tinha dado aos filhos da tribo de Rúben a sua parte, segundo as suas famílias. O seu território partia de Aroer, situada na margem da torrente do Arnon, e compreendia a cidade que está no fundo do vale, bem como toda a planície, junto de Madabá; Hesbon e todas as suas cidades da planície: Dibon, Bamot-Baal, Bet-Baal-Meon, Jaás, Quedemot, Mefaat, Quiriataim, Sibma, Séret-Hachaar, na montanha do vale, Bet-Peor, as encostas do Pisga, Bet-Haiechimot, todas as cidades da planície, todo o reino de Seon, rei dos amorreus de Hesbon, que Moisés derrotara com os chefes de Madian, Evi, Réquem, Sur, Hur e Reba, tributários de Seon naquela terra. O adivinho Balaão, filho de Beor, foi também do número daqueles que os filhos de Israel passaram a fio de espada. Deste modo, o território dos filhos de Rúben chegava até ao Jordão e seus afluentes. Tais são as cidades e aldeias que couberam aos rubenitas, segundo as suas famílias. Moisés deu também à tribo de Gad uma parte, segundo as suas famílias. O seu território foi o seguinte: Jazer, todas as cidades de Guilead, metade da terra dos amonitas até Aroer, em frente de Rabá, desde Hesbon até Ramat-Mispá e Betonim, e desde Maanaim até à fronteira de Debir; e, no vale, Bet-Haram, Bet-Nimerá, Sucot e Safon, restos do reino de Seon, rei de Hesbon; o Jordão e seu território até aos confins do mar de Quinéret, além-Jordão, a oriente. Esta foi a herança que, em cidades e aldeias, receberam os filhos de Gad, segundo as suas famílias. Moisés deu também uma parte à meia tribo de Manassés, segundo as suas famílias. O seu território compreendia Maanaim, todo o Basan, todo o reino de Og, rei de Basan, e todas as aldeias de Jair, em Basan: sessenta localidades. Metade de Guilead, Astarot e Edrei, cidades do reino de Og, em Basan, foram dadas aos filhos de Maquir, filho de Manassés, isto é, à metade dos filhos de Maquir, segundo as suas famílias. São estas as sortes que Moisés distribuiu, quando se encontrava nas planícies de Moab, do outro lado do Jordão, a oriente, frente a Jericó. À tribo de Levi, porém, não deu herança alguma; porque o Senhor, Deus de Israel, é a sua herança, como Ele lhes tinha dito. Eis o que os filhos de Israel receberam em herança na terra de Canaã, distribuída pelo sacerdote Eleázar, por Josué, filho de Nun, e pelos chefes de família das tribos de Israel. A distribuição fez-se por sorteio pelas nove tribos e meia, como o Senhor tinha determinado por meio de Moisés; às outras duas tribos e meia, com efeito, já Moisés tinha dado a sua parte do outro lado do Jordão; aos levitas não deu parte alguma. Os filhos de José formavam duas tribos: Manassés e Efraim. Os levitas não receberam na terra outra parte que não fossem as cidades para habitação, e os seus arredores para os gados e rebanhos. Os filhos de Israel cumpriram o que o Senhor ordenara a Moisés e dividiram a terra. Alguns filhos de Judá vieram ter com Josué, em Guilgal. Então, Caleb, filho de Jefuné, o quenizeu, disse-lhe: «Sabes o que o Senhor disse de mim e de ti a Moisés, homem de Deus, em Cadés-Barnea. Tinha eu quarenta anos quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cadés-Barnea a explorar a terra, fazendo-lhe eu um relatório, segundo a sinceridade do meu coração. Meus irmãos, porém, indo comigo, desanimaram o povo; não obstante, eu segui fielmente o Senhor, meu Deus. Nesse dia, Moisés jurou-me: ‘A terra que pisarem teus pés será a tua parte e a de teus filhos para sempre, porque seguiste fielmente o Senhor, meu Deus’. Eis que o Senhor me conservou a vida, como prometera, transcorridos já quarenta e cinco anos desde que Ele dirigiu a Moisés esta palavra, durante a marcha de Israel pelo deserto; hoje tenho já oitenta e cinco anos, e acho-me ainda tão robusto como no dia em que Moisés me mandou explorar a terra: a minha força de agora é a mesma de então, para lutar, para sair ou para entrar. Dá-me, pois, este monte de que falou o Senhor, naquele dia, pois ali habitam ainda os anaquitas, com as suas cidades grandes e fortes. Talvez o Senhor esteja comigo, e eu consiga expulsá-los, como Ele próprio disse.» Josué abençoou Caleb, filho de Jefuné, e deu-lhe Hebron como herança. É por isso que Hebron, até ao dia de hoje, pertence a Caleb, filho de Jefuné, o quenizeu, por ter seguido fielmente o Senhor, Deus de Israel. Hebron chamava-se antigamente Quiriat-Arbá; Arbá foi o maior homem dos anaquitas. A terra, desde então, descansou da guerra. A parte que tocou em sorte à tribo dos filhos de Judá, segundo as suas famílias, estendia-se até à fronteira de Edom, no deserto de Cin, na extremidade meridional do país. A sua fronteira, a sul, partia da extremidade do Mar do Sal, da parte que deste mar se estende para sul, e prolongava-se para o sul pela subida de Acrabim; passava em Cin, e subia para o sul de Cadés-Barnea; passava em Hesron, subindo para Adar e dando volta a Carcá; passando por Asmon continuava até à torrente do Egipto, e chegava até ao mar: «Esta será para vós a fronteira do sul.» A fronteira oriental foi o Mar do Sal, até à foz do Jordão. A fronteira setentrional partia da parte do Mar do Sal onde desemboca o Jordão, e subia a Bet-Hogla, passando a norte de Bet-Arabá e indo até à pedra de Boan, filho de Rúben; depois, subia para Debir pelo vale de Acor, olhando, a norte, para os lados de Guilgal que fica em frente ao monte de Adumim, a sul da torrente; passava à fonte de En-Chémes e terminava em En-Roguel. Daí subia para o vale de Ben-Hinom, até chegar aos limites de Jebús, que é Jerusalém. Subia, depois, por cima do monte fronteiriço ao vale de Hinom, a ocidente, na extremidade do vale dos refaítas, a norte. Do cimo do monte, estendia-se até aos mananciais de Neftoa; seguia para as cidades montanhosas de Efron, continuando, depois, para Baalá, que é Quiriat-Iarim. De Baalá, a fronteira virava para ocidente até ao monte Seir, e passava pela vertente setentrional do monte Jarim, que é Quessalon; descia a Bet-Chémes passando por Timna, e dirigia-se a norte pela vertente de Ecron, estendia-se para Chicron, passava pelo monte Baalá, chegava a Jabniel, e ia acabar no mar. A fronteira ocidental era o Mar Grande: o limite era esse. São estas as fronteiras dos filhos de Judá, segundo as suas famílias. A Caleb, filho de Jefuné, foi dada uma parte no meio dos filhos de Judá, como o Senhor ordenara a Josué: a cidade de Arbá, pai de Anac, que é Hebron. Caleb expulsou dela os três filhos de Anac: Chechai, Aiman e Talmai. Dali marchou contra os habitantes de Debir, outrora chamada Quiriat-Séfer. «Darei por mulher minha filha Acsa – disse Caleb – àquele que assaltar e tomar Quiriat-Séfer.» Oteniel, filho de Quenaz, irmão de Caleb, assaltou e tomou a cidade, e Caleb deu-lhe por mulher sua filha Acsa. Chegando Acsa junto de Oteniel, este incitou-a a pedir ao pai um campo. Descia ela do jumento, quando Caleb lhe perguntou: «Que tens?» Ela respondeu: «Faz-me um favor: tal como me deste terrenos de sequeiro, dá-me também terras de regadio.» Então Caleb deu-lhe fontes na encosta e fontes nos vales. Foi esta a herança da tribo de Judá, segundo as suas famílias. As cidades situadas na extremidade da tribo dos filhos de Judá, para os lados da fronteira de Edom, no Négueb, eram: Cabeciel, Éder, Jagur, Quina, Dimona, Adadá, Cadés, Haçor, Jitnan, Zif, Telem, Bealot, Haçor-Hadata, Queriot-Hesron, que é Haçor, Amam, Chemá, Molada, Haçar-Gadá, Hesmon, Bet-Pélet, Haçar-Chual, Bercheba, Beziotiá, Baalá, Jim, Écem, Eltolad, Quessil, Horma, Ciclag, Madmaná, Sansana, Lebaot, Chilim, En e Rimon: ao todo vinte e nove cidades com as suas aldeias. Na planície, Estaol, Sorá, Asená, Zanoa, En-Ganim, Tapua, Enam, Jarmut, Adulam, Socó, Azeca, Chaaraim, Aditaim, Guedera e Guederotaim: ao todo catorze cidades, com as suas aldeias. Senan, Hadacha, Migdal-Gad, Dilean, Mispá, Jocteel, Láquis, Boscat, Eglon, Cabon, Lamás, Quitlis, Guederot, Bet-Dagon, Naamá e Maqueda: ao todo dezasseis cidades, com as suas aldeias. Libna, Eter, Achan, Jiftá, Asená, Necib, Queila, Aczib e Marecha: ao todo nove cidades, com as suas aldeias. Ecron, com as suas cidades dependentes e as suas aldeias; a partir de Ecron, para o lado do ocidente, todas as cidades vizinhas de Asdod, e as suas aldeias; Asdod, com as suas cidades dependentes e as suas aldeias; Gaza, com as suas cidades dependentes e as suas aldeias, até à torrente do Egipto e ao Mar Grande, que é a sua fronteira. Na montanha: Chamir, Jatir, Soc, Daná, Quiriat-Saná, que é Debir, Anab, Estemó, Anim, Góchen, Holon e Guilo: ao todo doze cidades, com as suas aldeias. Arab, Dumá, Echean, Janum, Bet-Tapua, Afeca, Humetá, Quiriat-Arbá, que é Hebron, e Chior; ao todo nove cidades, com as suas aldeias. Maon, Carmel, Zif, Juta, Jezrael, Joquedam, Zanoa, Cain, Guibeá e Timna: ao todo dez cidades, com as suas aldeias. Halul, Bet-Sur, Guedor, Maarat, Bet-Anot e Eltecon: ao todo seis cidades, com as suas aldeias. Quiriat-Baal, que é Quiriat-Iarim, e Rabá, duas cidades com as suas aldeias. No deserto: Bet-Arabá, Midin, Sacacá, Nibsan, Ir-Hamela e En-Guédi: ao todo seis cidades, com as suas aldeias. Os filhos de Judá não chegaram a expulsar os jebuseus; por isso é que os jebuseus ainda continuam a habitar em Jerusalém, juntamente com filhos de Judá, até ao dia de hoje. A parte que coube em sorte aos filhos de José começava a oriente do Jordão, em frente de Jericó – a oriente das fontes de Jericó – e alongava-se pelo deserto que sobe de Jericó à montanha de Betel. Os limites dirigiam-se de Betel para Luz, passavam ao largo do território dos erequitas, por Atarot, desciam pelo ocidente ao longo da fronteira dos jafletitas, até à de Bet-Horon de Baixo e até Guézer, acabando no mar. Foi esta a herança dos filhos de José: Manassés e Efraim. Esta é a fronteira dos filhos de Efraim, segundo as suas famílias: o limite da herança, para oriente, foi Atarot-Adar até Bet-Horon de Cima. A ocidente, a fronteira tocava o norte de Macmetat e dava para Taanat-Silo, a oriente, ultrapassando-a, até Janoa. De Janoa descia para Atarot e Naarata, chegava a Jericó, terminando no Jordão. De Tapua, estendia-se para ocidente, até à torrente de Caná, indo até ao mar. Esta foi a herança dos filhos de Efraim segundo as suas famílias. Os filhos de Efraim tiveram também cidades no meio da herança dos filhos de Manassés, juntamente com as suas aldeias. Não expulsaram, porém, de Guézer os cananeus; por isso, estes têm continuado a viver até agora no meio de Efraim, embora sujeitos a tributo. A tribo de Manassés, primogénito de José, teve também a sua parte. Maquir, primogénito de Manassés e pai de Guilead, homem guerreiro, recebeu Guilead e Basan. Deu-se, também, uma parte aos outros filhos de Manassés, segundo as suas famílias: aos filhos de Abiézer, de Hélec, de Asseriel, de Sequém, de Héfer e de Chemidá. Eram estes os filhos varões de Manassés, filho de José, segundo as suas famílias. Ora Selofad, filho de Héfer, filho de Guilead, filho de Maquir, filho de Manassés, não teve filhos, mas somente filhas, cujos nomes são: Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirça. Apresentaram-se ao sacerdote Eleázar, a Josué, filho de Nun, e aos principais, dizendo: «O Senhor ordenou a Moisés que nos desse herança entre os nossos irmãos.» Foi-lhes dada, por isso, uma herança entre os irmãos do seu pai, segundo a ordem do Senhor. A Manassés tocaram dez partes, além da terra de Guilead e de Basan, situada além-Jordão, porque as filhas de Manassés receberam uma herança entre os filhos da mesma tribo. A terra de Guilead foi para os outros filhos de Manassés. A fronteira de Manassés partia de Aser até Macmetat, em frente de Siquém, seguindo depois, à direita, na direcção dos habitantes de En-Tapua. A terra de Tapua fora dada a Manassés, mas Tapua, junto à fronteira de Manassés, pertencia aos filhos de Efraim. A fronteira descia à torrente de Caná, para sul. As cidades desta região, pertença de Efraim, estavam no meio das cidades de Manassés. A fronteira de Manassés passava a norte da torrente e chegava até ao mar. A parte meridional pertencia a Efraim; a setentrional a Manassés, e o seu termo era o mar. Confinavam, a norte, com a tribo de Aser e, a oriente, com a de Issacar. Nos territórios de Issacar e de Aser obteve Manassés Bet-Chan e suas cidades dependentes, Jiblam e suas cidades dependentes, os habitantes de Dor e suas cidades dependentes, os habitantes de En-Dor e suas cidades dependentes, os habitantes de Taanac e suas cidades dependentes, os habitantes de Meguido e suas cidades dependentes. Os filhos de Manassés não conseguiram tomar posse destas cidades, porque os cananeus estavam resolvidos a permanecer nelas. Quando os filhos de Israel se tornaram fortes, submeteram os cananeus a tributo, mas não os expulsaram. Os filhos de José disseram a Josué: «Porque é que não nos deste uma só herança, uma só parte, sendo nós um povo tão numeroso, e tendo-nos o Senhor abençoado até aqui?» Josué respondeu-lhes: «Se sois tão numerosos, subi à floresta, desbravai parte da terra dos perizeus e dos refaítas e tomai-a, uma vez que a montanha de Efraim é demasiado exígua para vós.» Os filhos de José, porém, responderam: «Mesmo a montanha não nos basta; todos os cananeus que habitam a planície têm carros de ferro, tanto os de Bet-Chan e suas cidades dependentes como os que vivem no vale de Jezrael.» Então, Josué disse à casa de José, de Efraim e de Manassés: «Tu és um povo numeroso, e a tua força é muita: não vais ter só uma parte, mas toda a montanha, cuja floresta desbravares, e os seus limites serão para ti; hás-de expulsar os cananeus, apesar dos seus carros de ferro e de toda a sua força.» Toda a assembleia dos filhos de Israel se reuniu em Silo. Ali levantaram a tenda da reunião. A terra estava-lhes sujeita. Havia ainda sete tribos dos filhos de Israel que não tinham recebido a sua herança. Josué disse aos filhos de Israel: «Até quando negligenciareis tomar posse da terra que vos deu o Senhor, Deus de vossos pais? Escolhei três homens de cada tribo, para que eu os envie a percorrer a terra. Eles irão fazer uma descrição da terra e ma trarão com vista à distribuição que é preciso fazer. Dividi-la-eis em sete partes: Judá permanecerá dentro das suas fronteiras, a sul, e a casa de José dentro das suas, a norte. Traçareis, pois, a planta da terra, dividindo-a em sete partes; trazei-ma depois, para que eu, diante do Senhor, nosso Deus, vo-la divida em sortes. Não haverá parte alguma para os levitas, entre vós, porque a sua herança é o sacerdócio do Senhor. Gad, Rúben e a meia tribo de Manassés já receberam a sua parte, na Transjordânia, a oriente, que lhes deu Moisés, servo do Senhor.» Os homens levantaram-se e puseram-se a caminho. Josué deu estas ordens aos que partiram a fazer a descrição da terra: «Ide, percorrei o país, fazei a sua descrição e voltai para junto de mim, a fim de eu lançar as sortes, aqui em Silo, diante do Senhor.» Partiram, pois, percorreram a terra e fizeram a sua descrição num livro, repartindo-a em sete partes, segundo as suas cidades; e voltaram depois para junto de Josué, em Silo. Então, Josué lançou-lhes as sortes diante do Senhor, e repartiu a terra, em Silo, entre os filhos de Israel, segundo as suas famílias. A sorte coube primeiro à tribo de Benjamim, segundo as suas famílias. Coube-lhes o território situado entre os filhos de Judá e os de José. A norte, a fronteira deles partia do Jordão, subia pela vertente de Jericó e, através da montanha, a ocidente, terminava no deserto, em Bet-Aven. Dali passava, a sul, sobre a vertente de Luz, que é Betel; depois, descia a Atarot-Adar, junto à montanha que está a sul de Bet-Horon de Baixo. Depois, estendia-se para sul, pelo ocidente, desde a montanha situada perto de Bet-Horon, a sul, e terminando em Quiriat-Baal, que é Quiriat-Iarim, cidade dos filhos de Judá. Esta era a região ocidental. A região meridional partia do extremo de Quiriat-Iarim, prolongava-se para ocidente e terminava nos mananciais de Neftoa; descia até ao extremo da montanha situada em frente ao vale de Hinom, a norte do vale dos refaítas. Descia, depois, pelo vale de Hinom até ao limite meridional dos jebuseus, na direcção de En-Roguel, estendendo-se, a norte, até En-Chémes; subia por Guelilot, em frente à subida de Adumim, e descia até à pedra de Boan, filho de Rúben. Passava, depois, pela vertente setentrional, em frente da Arabá, descia a Arabá e passava sobre a vertente setentrional de Bet-Hogla, terminando no braço do Mar do Sal, a norte, na extremidade meridional do Jordão. Era esta a fronteira sul. E o Jordão era a fronteira do lado oriental. Esta foi a herança dos filhos de Benjamim, segundo as suas famílias, com todas as suas fronteiras. As cidades da tribo dos filhos de Benjamim, segundo as suas famílias, eram: Jericó, Bet-Hogla, Emec-Quecis, Bet-Arabá, Semaraim, Betel, Avim, Hapará, Ofra, Cafar-Amona, Ofni e Gueba; ao todo doze cidades, com as suas aldeias. Guibeon, Ramá, Beerot, Mispá, Cairá, Moçá, Réquem, Jirpeel, Tarala, Cela, Élef, Jebús, que é Jerusalém, Guibeat e Quiriat; ao todo catorze cidades, com as suas aldeias. Foi esta a herança dos filhos de Benjamim, segundo as suas famílias. A segunda sorte coube a Simeão, isto é, à tribo dos filhos de Simeão, segundo as suas famílias. A sua herança estava situada entre a dos filhos de Judá. Foi esta a sua herança: Bercheba, Cheba, Molada, Haçar-Chual, Balá, Écem, Eltolad, Betul, Horma, Ciclag, Bet-Marcabot, Haçar-Susa, Bet-Lebaot e Charuen; ao todo treze cidades, com as suas aldeias. Ain, Rimon, Eter e Achan; ao todo quatro cidades, com as suas aldeias; e todos os lugares dos arredores destas cidades até Baalat-Beer, que é a Ramat-Négueb. Foi esta a parte que coube aos filhos de Simeão, segundo as suas famílias. A herança dos filhos de Simeão foi tomada da dos filhos de Judá, grande demais para estes; por isso, os filhos de Simeão receberam a sua herança no meio do território deles. A terceira sorte coube aos filhos de Zabulão, segundo as suas famílias; a fronteira da sua herança estendia-se até Sarid. Subia para ocidente até Maralá, chegava a Dabéchet e, depois, à torrente que corre em frente de Joqueneam. De Sarid, virava a oriente, para nascente até aos confins de Quislot-Tabor, passava por Daberat e subia a Jafia. Dali, passava a oriente por Gat-Héfer e Et-Cacin e chegava a Rimon, virando para Nea. Dava a volta, a norte, por Hanaton, até acabar no vale de Jiftá-El, incluindo Catat, Naalal, Chimeron, Jidalá e Bet-Léhem: ao todo doze cidades, com as suas aldeias. Foi esta a parte de Zabulão, segundo as suas famílias, com as suas cidades e aldeias. A quarta sorte coube a Issacar, aos filhos de Issacar, segundo as suas famílias. O seu território era o seguinte: Jezrael, Casulot, Chuném, Hafaraim, Seon, Anaarat, Rabit, Quichion, Abés, Rémet, En-Ganim, En-Hadá e Bet-Passés. A fronteira chegava a Tabor, Chaacima e Bet-Chémes, e estendia-se até ao Jordão; ao todo dezasseis cidades, com as suas aldeias. Foi esta a herança dos filhos de Issacar, segundo as suas famílias, com estas cidades e suas aldeias. A quinta sorte coube à tribo dos filhos de Aser, segundo as suas famílias. O seu território foi o seguinte: Helcat, Hali, Béten, Acsaf, Alamélec, Amad e Michal; a fronteira limitava com Carmel, a ocidente, e Chior-Libnat; depois, voltava a oriente para Bet-Dagon, tocava em Zabulão e no vale de Jiftá-El, a norte de Bet-Émec e de Neiel, estendendo-se até Cabul, à esquerda, e, por Abdon, Reob, Hamon e Caná, até Sídon, a Grande. Virava, depois, para Ramá até à fortaleza de Tiro, e seguia para Hossa, terminando no mar, na região de Aczib. Além disso, Umá, Afec e Reob: ao todo vinte e duas cidades, com as suas aldeias. Foi esta a herança da tribo dos filhos de Aser, segundo as suas famílias, com estas cidades e suas aldeias. A sexta sorte coube aos filhos de Neftali, segundo as suas famílias. A sua fronteira ia de Hélef, desde o carvalhal de Saananim, passava por Adami-Négueb e Jabniel até Lacum, terminando no Jordão; virava para ocidente até Azenot-Tabor, e dali seguia para Hucoc. A sul tocava em Zabulão, a ocidente em Aser, a oriente em Judá, perto do Jordão. As suas cidades fortificadas eram Sidim, Ser, Hamat, Racat, Quinéret, Adamá, Haramá, Haçor, Cadés, Edrei, En-Haçor, Jiron, Migdal-El, Horem, Bet-Anat e Bet-Chémes: ao todo dezanove cidades, com as suas aldeias. Foi esta a herança da tribo dos filhos de Neftali, segundo as suas famílias, com estas cidades e suas aldeias. A sétima sorte coube à tribo dos nove filhos de Dan, segundo as suas famílias. O território da sua herança compreendia Sorá, Estaol, Ir-Chémes, Chaalabin, Aialon, Jítla, Elon, Timnata, Ecron, Eltequé, Guibeton, Baalat, Jeúd, Bené-Barac, Gat-Rimon, Mê-Jarcon e Haracon, com o território frente a Jafa. O território dos filhos de Dan estendia-se para além dos seus limites, pois, tendo eles combatido Léssem, tomaram-na e passaram-na a fio de espada. Apossando-se dela, habitaram-na e chamaram-lhe Dan, nome de seu pai. Foi esta a herança da tribo dos filhos de Dan, segundo as suas famílias, com estas cidades e suas aldeias. Terminada a distribuição da terra, segundo os seus limites, os filhos de Israel deram a Josué, filho de Nun, uma herança no meio deles. Por ordem do Senhor, deram-lhe a cidade que ele pedira: Timnat-Sera, na montanha de Efraim. Josué reedificou, então, a cidade, e foi habitar nela. Estas foram as heranças que o sacerdote Eleázar, Josué, filho de Nun, e os chefes de família das tribos de Israel repartiram, por sortes, em Silo, na presença do Senhor, à entrada da tenda da reunião. O Senhor disse a Josué: «Hás-de dizer aos filhos de Israel: ‘Determinai para vós cidades de refúgio, conforme vos mandei por meio de Moisés. Lá se poderá refugiar o homicida que tiver morto alguém involuntariamente; elas lhe servirão de refúgio contra a vingança de sangue. O homicida fugirá para uma dessas cidades e, parando à entrada da porta da cidade, exporá o seu caso aos anciãos da cidade; estes hão-de recebê-lo entre eles, dando-lhe lugar para habitar no meio deles. Se o vingador de sangue o perseguir, eles não lhe entregarão o homicida, pois foi sem premeditação nem ódio que matou o seu próximo. Habitará nessa cidade até comparecer perante a assembleia para ser julgado, até à morte do sumo sacerdote em exercício nessa altura. Depois, voltará para sua casa, na cidade de onde havia fugido.’» Designaram então Cadés na Galileia, na montanha de Neftali, Siquém na montanha de Efraim, e Quiriat-Arbá, ou seja, Hebron na montanha de Judá. Do outro lado do Jordão, a oriente de Jericó, designaram Bécer, da tribo de Rúben, na planície do deserto, Ramot em Guilead, da tribo de Gad, e Golan em Basan, da tribo de Manassés. Foram estas as cidades designadas para todos os filhos de Israel e para os estrangeiros que habitavam no meio deles, a fim de que nelas se refugiasse quem quer que houvesse matado involuntariamente alguém; assim não morreria às mãos do vingador de sangue antes de comparecer perante a assembleia. Os chefes de família dos levitas aproximaram-se do sacerdote Eleázar, de Josué, filho de Nun, e dos chefes de família das tribos dos filhos de Israel, e disseram-lhes em Silo, na terra da Canaã: «O Senhor ordenou, por meio de Moisés, que nos fossem dadas cidades para habitarmos, juntamente com os seus campos para os nossos gados.» Os filhos de Israel deram, pois, da sua herança, as seguintes cidades, com seus campos, aos levitas, conforme a ordem do Senhor. A sorte designou as famílias dos queatitas; assim, uma parte destes levitas, filhos do sacerdote Aarão, receberam em sorte treze cidades das tribos de Judá, da tribo de Simeão e da tribo de Benjamim. Os outros filhos de Queat obtiveram em sorte dez cidades das famílias das tribos de Efraim, de Dan e da meia tribo de Manassés. Aos filhos de Gérson, coube em sorte receber treze cidades das famílias das tribos de Issacar, de Aser, de Neftali e da meia tribo de Manassés, em Basan. Os filhos de Merari, segundo as suas famílias, obtiveram doze cidades das tribos de Rúben, de Gad e de Zabulão. Os filhos de Israel deram aos levitas estas cidades com os seus campos, repartindo-as por sortes, como o Senhor ordenara por meio de Moisés. Da tribo dos filhos de Judá e da tribo dos filhos de Simeão foram dadas as cidades a seguir indicadas. Foram dadas aos filhos de Aarão, de entre as famílias dos queatitas, filhos de Levi, a quem coube a primeira sorte. Deram-lhes, pois, na montanha de Judá, a cidade de Arbá, pai de Anac, que é Hebron, com os seus campos. Os campos, porém, e as aldeias desta cidade foram dados como propriedade a Caleb, filho de Jefuné. Aos filhos do sacerdote Aarão deram Hebron e seus arredores, cidade de refúgio para os homicidas, e Libna com seus arredores, Jatir com seus arredores, Estemó com seus arredores, Holon e seus arredores, Debir e seus arredores, Ain e seus arredores, Juta e seus arredores, Bet-Chémes e seus arredores; ao todo, nove cidades dessas tribos. Da tribo de Benjamim deram-lhe Guibeon e seus arredores; Gueba e seus arredores, Anatot e seus arredores, Almon e seus arredores; ao todo quatro cidades. O total das cidades dos sacerdotes, filhos de Aarão, era de treze cidades, com seus arredores. Mas às famílias dos outros levitas, filhos de Queat, couberam em sorte as cidades da tribo de Efraim. Deram-lhes Siquém, cidade de refúgio para os homicidas, e os seus arredores, na montanha de Efraim, Guézer e seus arredores, Quibeçaim e seus arredores; ao todo quatro cidades. Da tribo de Dan, foram-lhes dadas: Eltequé e seus arredores, Guibeton e seus arredores, Aialon e seus arredores, Gat-Rimon e seus arredores; ao todo quatro cidades. Da meia tribo de Manassés, Taanac e seus arredores, Gat-Rimon e seus arredores; ao todo duas cidades. Total: dez cidades, com os seus arredores, dadas às famílias dos outros filhos de Queat. Aos filhos de Gérson, da família de Levi, foram dadas, da meia tribo de Manassés, as cidades de Golan, cidade de refúgio para os homicidas, em Basan, com seus arredores, e Beesterá, com seus arredores; ao todo duas cidades. Da tribo de Issacar, Quichion e seus arredores, Daberat e seus arredores, Jarmut e seus arredores, En-Ganim e seus arredores; ao todo quatro cidades. Da tribo de Aser, Michal e seus arredores, Abdon e seus arredores, Helcat e seus arredores, Reob e seus arredores; ao todo quatro cidades. Da tribo de Neftali, a cidade de refúgio para os homicidas, Quedes, na Galileia, e seus arredores, Hamot-Dor e seus arredores, Cartan e seus arredores; ao todo três cidades. Total das cidades dos gersonitas, segundo as suas famílias: treze cidades com seus arredores. Às famílias dos filhos de Merari, ao resto dos filhos de Levi, deram, da tribo de Zabulão: Joqueneam e seus arredores, Cartá e seus arredores, Dimna e seus arredores, Naalal e seus arredores; ao todo quatro cidades; da tribo de Rúben: Bécer e seus arredores, Jaça e seus arredores, Quedemot e seus arredores, Mefaat e seus arredores; ao todo, quatro cidades. E da tribo de Gad: a cidade de refúgio para os homicidas, Ramot de Guilead e seus arredores, Maanaim e seus arredores, Hesbon e seus arredores, Jazer e seus arredores; ao todo quatro cidades. Total das cidades dadas, por sortes, aos filhos de Merari, segundo as suas famílias, ao resto das famílias da tribo de Levi: doze cidades. Total das cidades dos filhos de Levi, no meio das propriedades dos filhos de Israel: quarenta e oito cidades, com os seus arredores. Cada uma destas cidades tinha os seus campos em redor; assim aconteceu com todas as cidades. O Senhor deu a Israel toda a terra que havia jurado dar a seus pais; eles possuíram-na e estabeleceram-se nela. O Senhor deu-lhes repouso em todo o redor, como havia jurado a seus pais; nenhum dos seus inimigos pôde resistir-lhes, e o Senhor entregou-lhos todos nas mãos. Cumpriram-se todas as palavras que o Senhor tinha dito à casa de Israel. Josué convocou os rubenitas, os gaditas e a meia tribo de Manassés e disse-lhes: «Cumpristes tudo o que o Senhor ordenou a Moisés, servo do Senhor, e observastes todos os mandamentos que vos dei. Em todo este espaço de tempo, até ao dia de hoje, não abandonastes os vossos irmãos, observando fielmente os mandamentos do Senhor vosso Deus. Agora que o Senhor vosso Deus deu aos vossos irmãos o repouso por Ele prometido, voltai para as vossas tendas na terra que vos pertence e que Moisés, servo do Senhor, vos deu além-Jordão. Procurai, porém, praticar cuidadosamente os mandamentos e leis que vos prescreveu Moisés, servo do Senhor, amando o Senhor vosso Deus, andando em todos os seus caminhos, guardando os seus mandamentos, unindo-vos a Ele e servindo-o com todo o vosso coração e com toda a vossa alma.» Josué abençoou-os e despediu-os; e eles voltaram para as suas tendas. Moisés tinha dado à meia tribo de Manassés um território em Basan; por isso, Josué deu à outra meia tribo um território no meio dos seus irmãos, aquém-Jordão, a ocidente. Ao mandá-los para as suas tendas, Josué deu-lhes esta bênção: «Voltai para as vossas tendas, com grandes riquezas, numerosos rebanhos, com prata e ouro, bronze e ferro, e grande quantidade de vestuário; reparti, pois, com os vossos irmãos os despojos dos vossos inimigos.» Os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés separaram-se dos filhos de Israel, em Silo, na terra de Canaã, e retomaram o caminho da terra de Guilead, propriedade que tinham recebido por ordem do Senhor, através de Moisés. Tendo chegado às regiões do Jordão pertencentes à terra de Canaã, os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés levantaram um grande altar junto ao Jordão. Os filhos de Israel ouviram dizer: «Eis que os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés levantaram um altar em frente da terra de Canaã, na região do Jordão, do outro lado dos filhos de Israel.» Quando os filhos de Israel ouviram isto, reuniu-se toda a assembleia de Israel em Silo, para irem combater contra eles. Enviaram aos filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, na terra de Guilead, o sacerdote Fineias, filho de Eleázar, e com ele mais dez chefes de casas patriarcais, um por cada tribo, todos eles de casas patriarcais, entre os milhares de Israel. Estes, aproximando-se dos filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, na terra de Guilead, disseram-lhes: «Assim fala toda a assembleia do Senhor, Que infidelidade é esta que cometeis contra o Deus de Israel, afastando-vos hoje do Senhor e levantando um altar, revoltando-vos contra Ele? Porventura, não nos basta a maldade cometida em Peor, da qual ainda hoje não estamos purificados, apesar do castigo que afligiu a assembleia do Senhor ? E vós afastais-vos hoje do Senhor ! Se hoje vos revoltardes contra o Senhor, amanhã a sua cólera há-de inflamar-se contra toda a assembleia de Israel. Se olhais como impura a terra da vossa herança, passai para a terra que é propriedade do Senhor, onde Ele estabeleceu a sua morada e instalai-vos no meio de nós; mas não vos revolteis contra o Senhor nem contra nós, construindo um altar diferente do altar do Senhor, nosso Deus. Acaso Acan, filho de Zera, não pecou quanto àquilo que estava votado ao anátema, e a cólera do Senhor não explodiu contra toda a assembleia de Israel? E não foi só ele que pereceu, por causa do seu crime!» Os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés responderam aos chefes dos milhares de Israel: «Deus, o Senhor Deus, Deus, o Senhor o sabe; sabê-lo-á também Israel! E se foi por espírito de rebelião e por infidelidade para com o Senhor, que não nos salve hoje! Se foi para nos afastarmos do Senhor que levantámos um altar; e se foi com intenção de oferecermos sobre ele holocaustos, oblações e sacrifícios de comunhão, que o próprio Senhor nos peça contas! Mas o que fizemos foi por temor de, um dia, os vossos filhos dizerem aos nossos: ‘Que tendes vós em comum com o Senhor, Deus de Israel? O Senhor pôs o Jordão como fronteira entre nós e vós, ó filhos de Rúben e de Gad: não tendes parte alguma com o Senhor ’. E, desse modo, os vossos filhos poderiam vir a ser causa de os nossos não temerem oSenhor. E, então, dissemos: Construamos um altar, não para oferecer holocaustos nem sacrifícios, mas para que ele seja um testemunho entre nós e vós, e entre os nossos descendentes futuros, de que servimos o Senhor na sua presença, oferecendo-lhe os nossos holocaustos, os nossos sacrifícios e as nossas vítimas de comunhão; para que os vossos filhos não digam, um dia, aos nossos: ‘Vós não tendes parte com o Senhor !’ Por isso, dissemos: Se amanhã eles nos falassem assim, a nós ou aos nossos descendentes, poderíamos responder-lhes: ‘Vede a forma do altar do Senhor que nossos pais edificaram, não para oferecer holocaustos nem sacrifícios, mas para servir de testemunho entre nós e vós’. Longe de nós o pensamento de nos querermos revoltar contra o Senhor, afastando-nos hoje dele, por termos construído, para holocaustos, oblações e sacrifícios, um altar diferente do altar do Senhor nosso Deus, que está diante da sua morada!» Tendo ouvido as palavras dos filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, o sacerdote Fineias e os chefes da assembleia e representantes dos milhares de Israel que o acompanhavam, deram-se por satisfeitos. E Fineias, filho do sacerdote Eleázar, disse aos filhos de Rúben, de Gad e de Manassés: «Reconhecemos agora que o Senhor está no meio de nós, pois não cometestes essa infidelidade contra Ele; salvastes, assim, os filhos de Israel da mão do Senhor !» Fineias, filho do sacerdote Eleázar, deixando os filhos de Rúben e de Gad, voltou com os chefes, da terra de Guilead para a terra de Canaã, para junto dos filhos de Israel; e contaram-lhes o que tinha acontecido. Os filhos de Israel ficaram satisfeitos com a resposta e bendisseram a Deus; nunca mais falaram em combater contra eles, para devastar a terra habitada pelos filhos de Rúben e de Gad. Por isso, os filhos de Rúben e de Gad chamaram ‘testemunho’ ao altar, porque – disseram eles – «ele é para nós testemunho de que só o Senhor é Deus.» Havia muito tempo que o Senhor tinha dado tranquilidade a Israel, livrando-o de todos os seus inimigos vizinhos. Josué era já velho, avançado em anos. Convocou, então, todo o Israel, os seus anciãos, os seus chefes, os seus juízes e os seus oficiais, e disse-lhes: «Estou velho, de idade avançada. Vós presenciastes tudo o que o Senhor vosso Deus fez, tirando todos estes povos da vossa frente; é que foi oSenhor, vosso Deus, quem combateu por vós. Vede! Eu distribuí, por sortes, para as vossas tribos, todas essas nações que restam, e também aquelas que exterminei desde o Jordão até ao Mar Grande, a ocidente. O Senhor as expulsará e despojará diante de vós, e vos há-de dar em posse a sua terra, como Ele mesmo vos prometeu, o Senhor, vosso Deus. Esforçai-vos, pois, por cumprir fielmente tudo quanto está escrito no livro da Lei de Moisés, sem vos desviardes nem para a direita, nem para a esquerda.» «Não vos mistureis com esses povos que ficaram a habitar no meio de vós, não invoqueis o nome dos seus deuses, nem jureis pelo seu nome, nem lhes presteis culto. Pelo contrário, permanecei unidos ao Senhor vosso Deus, conforme tendes feito até agora. O Senhor despojou em vosso favor grandes e poderosas nações; ninguém até hoje vos pôde resistir. Um só de entre vós punha em fuga mil inimigos, porque o Senhor vosso Deus combatia por vós, como Ele vos havia prometido. Tende, pois, grande cuidado em amar o Senhor, vosso Deus. Pois se vos desviardes e vos unirdes ao que resta destas nações que habitam entre vós, misturando-vos com elas e contraindo com elas matrimónio, ficai a saber que o Senhor vosso Deus não as exterminará diante de vós. Pelo contrário, elas hão-de converter-se para vós em laços e ciladas, azorrague sobre as vossas costas e espinhos nos vossos olhos, até desaparecerdes desta terra fértil que vos deu o Senhor vosso Deus. Eis que me vou hoje pelo caminho de todos. Reconhecei, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, que, de quantas promessas vos fez o Senhor vosso Deus, nem uma só ficou sem efeito: todas se cumpriram, sem falhar nenhuma. Assim como, pois, se realizaram todas as promessas que vos fez o Senhor vosso Deus, assim também Ele há-de cumprir contra vós todas as palavras com que vos ameaçou, até fazer-vos desaparecer desta terra fértil, que vos deu o Senhor, vosso Deus. Se violardes a aliança que o Senhor, vosso Deus, fez convosco, servindo a outros deuses e prostrando-vos diante deles, a cólera do Senhor se há-de inflamar contra vós e, em breve, desaparecereis desta terra excelente que Ele vos deu.» Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém, e convocou os seus anciãos, chefes, juízes e oficiais; todos se apresentaram diante de Deus. Então, Josué disse a todo o povo: «Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitavam ao princípio do outro lado do rio e serviam outros deuses. Tomei o vosso pai Abraão do outro lado do Jordão, e conduzi-o à terra de Canaã. Multipliquei a sua posteridade, dando-lhe Isaac. A Isaac dei Jacob e Esaú e dei a Esaú a montanha de Seir; Jacob, porém, e os seus filhos foram para o Egipto. Depois, enviei Moisés e Aarão e feri o Egipto com tudo o que fiz no meio dele; por fim, tirei-vos de lá. Tirei os vossos pais do Egipto e chegastes ao mar. Os egípcios perseguiram os vossos pais com carros e cavaleiros até ao Mar dos Juncos. Eles, porém, clamaram ao Senhor, e o Senhor pôs trevas entre vós e os egípcios e fez avançar o mar sobre eles, cobrindo-os. Os vossos olhos viram o que fiz aos egípcios e, depois disto, passastes largo tempo no deserto. Levei-vos, em seguida, para a terra dos amorreus que habitavam do outro lado do Jordão. Eles combateram contra vós, mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. Tomastes posse da sua terra, e Eu exterminei-os na vossa frente. Balac, filho de Cipor, rei de Moab, levantou-se para lutar contra Israel e mandou chamar Balaão, filho de Beor, para vos amaldiçoar. Eu, porém, não quis ouvir Balaão, e ele teve de vos abençoar repetidas vezes, e assim vos tirei das mãos de Balac. Atravessastes o Jordão e chegastes a Jericó. Combateram contra vós os homens de Jericó, os amorreus, os perizeus, os cananeus, os hititas, os guirgaseus, os heveus e os jebuseus; mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. Mandei diante de vós insectos venenosos que expulsaram os dois reis dos amorreus. Não foi com a vossa espada, nem com o vosso arco. Dei-vos, pois, uma terra que não lavrastes, cidades que não edificastes e que agora habitais, vinhas e oliveiras que não plantastes e de cujos frutos vos alimentais’. Temei, portanto, o Senhor, e servi-o com toda a rectidão e verdade. Afastai esses deuses a quem os vossos pais serviram do outro lado do rio e no Egipto, e servi o Senhor. E se vos desagrada servi-lo, então escolhei hoje aquele a quem quereis servir: os deuses a quem vossos pais serviram, do outro lado do rio, ou os deuses dos amorreus cuja terra ocupastes, porque eu e a minha casa serviremos o Senhor.» O povo respondeu, dizendo: «Longe de nós abandonarmos o Senhor para servir outros deuses! Pois o Senhor nosso Deus é que nos fez subir, juntamente com nossos pais, da terra do Egipto, da casa da escravidão, e realizou aqueles maravilhosos prodígios aos nossos olhos; Ele guardou-nos ao longo de todo o caminho que tivemos de percorrer, e entre todos os povos pelos quais passámos. O Senhor expulsou diante de nós todas as nações e os amorreus que habitavam na terra: também nós serviremos o Senhor, porque Ele é o nosso Deus.» Josué disse, então, ao povo: «Vós não sereis capazes de servir o Senhor, porque Ele é um Deus santo, um Deus zeloso que não perdoará as vossas transgressões nem os vossos pecados. Quando abandonardes o Senhor para servir a deuses estranhos, Ele voltar-se-á contra vós e far-vos-á mal; há-de destruir-vos, após ter-vos feito bem.» O povo respondeu: «Não. É ao Senhor que queremos servir.» Josué disse-lhes então: «Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes o Senhor para o servir.» E eles responderam: «Somos testemunhas!» «Tirai, pois, os deuses estranhos que estão no meio de vós, e inclinai os vossos corações para o Senhor, Deus de Israel.» O povo respondeu a Josué: «Nós serviremos o Senhor nosso Deus, e obedeceremos à sua voz.» Naquele dia, Josué fez uma aliança com o povo e deu-lhe, em Siquém, leis e prescrições. Josué escreveu estas palavras no livro da Lei de Deus e, tomando uma grande pedra, erigiu-a ali como um monumento, sob o carvalho que se encontrava no santuário do Senhor. Disse a todo o povo: «Esta pedra servirá de testemunho entre nós, pois ela ouviu todas as palavras que oSenhor nos disse; ela servirá de testemunho contra vós, para que não renegueis o vosso Deus.» Então Josué despediu o povo, indo cada um para a sua herança. Depois disto, Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos. Sepultaram-no na terra que lhe tocou em herança, em Timnat-Sera, na montanha de Efraim, a norte do monte Gaás. Israel serviu ao Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobreviveram, e conheciam tudo quanto o Senhor fizera em favor de Israel. Sepultaram também em Siquém os ossos de José, que os filhos de Israel tinham trazido do Egipto, na porção de terra que Jacob comprara aos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de prata, e que se tornou propriedade dos filhos de José. Eleázar, filho de Aarão, morreu, também, e foi sepultado em Guibeá de Fineias, seu filho, a qual lhe tinha sido dada na montanha de Efraim. E aconteceu que, depois da morte de Josué, os filhos de Israel consultaram o Senhor, dizendo: «Quem de nós irá em primeiro lugar combater os cananeus?» O Senhor respondeu: «Subirá Judá, pois entreguei o território nas suas mãos.» Então, disse Judá a Simeão, seu irmão: «Sobe comigo à terra que me tocou em sorte para fazer guerra aos cananeus; e também eu subirei contigo à tua terra.» E Simeão foi com ele. Subiu, pois, Judá, e o Senhor entregou nas suas mãos os cananeus e os perizeus e derrotaram dez mil deles em Bézec. Tendo encontrado Adonibézec em Bézec, atacaram-no, e derrotaram os cananeus e os perizeus. Então, Adonibézec fugiu, mas eles perseguiram-no, apanharam-no e amputaram-lhe os polegares das mãos e dos pés. Adonibézec disse então: «Setenta reis, amputados os polegares das mãos e dos pés, apanhavam os restos de comida sob a minha mesa. Assim fiz eu, assim Deus me pagou.» Levaram-no para Jerusalém e lá morreu. Os filhos de Judá atacaram, então, Jerusalém, tomaram-na, passaram os seus habitantes a fio de espada e incendiaram a cidade. Depois desceram os homens de Judá a combater os cananeus que habitavam nas montanhas, no Négueb e na planície. Judá marchou, então, contra os cananeus que habitavam em Hebron, antes chamada Quiriat-Arbá, e derrotou Chechai, Aiman e Talmai. Em seguida, partiu contra os habitantes de Debir, cujo nome era antes Quiriat-Séfer. Então, disse Caleb: «Àquele que atacar Quiriat-Séfer e a conquistar, dar-lhe-ei por esposa minha filha Acsa.» Então, Oteniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb, conquistou-a e Caleb deu-lhe por esposa a sua filha Acsa. Quando ela chegou, ele incitou-a a pedir ao pai um campo. Ao descer do jumento, perguntou-lhe Caleb: «Que tens?» Então, ela disse: «Faz-me um favor: tal como me deste uma região árida, dá-me também uma que seja irrigada por fontes de água.» E Caleb deu-lhe fontes na encosta e fontes nos vales. Ora os filhos de Hobab, o quineu, sogro de Moisés, subiram, com os filhos de Judá, da Cidade das Palmeiras ao deserto de Judá, que fica a sul de Arad; foram viver com os povos de lá. Judá prosseguiu a sua marcha com seu irmão Simeão, e derrotaram os cananeus que habitavam em Sefat; destruíram-na completamente, votaram-na ao extermínio e puseram à cidade o nome de Horma. Entretanto, Judá apoderou-se de Gaza e seu território, de Ascalon, de Ecron e suas terras. Aconteceu que o Senhor estava com Judá, e este apoderou-se da montanha; mas não conseguiu expulsar os habitantes da planície, porque tinham carros de ferro. Deram Hebron a Caleb, como Moisés havia dito, e Caleb expulsou de lá os três filhos de Anac. Quanto aos jebuseus que habitavam em Jerusalém, os filhos de Benjamim não os expulsaram; e, assim, os jebuseus moram, com os filhos de Benjamim, em Jerusalém até aos dias de hoje. Os filhos de José marcharam também contra Betel, e o Senhor estava com eles. Mandaram fazer a exploração de Betel, cidade que antigamente se chamava Luz. Os exploradores viram, então, um homem que saía da cidade e disseram-lhe: «Ensina-nos como se entra na cidade e não te faremos mal.» Ele mostrou-lhes a entrada da cidade, e eles passaram-na a fio de espada; porém, àquele homem e a toda a sua família deixaram-nos em liberdade. O homem retirou-se para a região dos hititas, fundou aí uma cidade a que pôs o nome de Luz, nome que ela conserva até aos dias de hoje. A tribo de Manassés não conquistou Bet-Chan com as localidades vizinhas, nem Taanac com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Dor com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Jiblam com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Meguido com as localidades vizinhas; os cananeus continuaram a habitar nessa terra. Porém, quando Israel se tornou suficientemente forte, impôs-lhes tributo, mas não os expulsou. A tribo de Efraim não expulsou os cananeus que moravam em Guézer, e estes continuaram a viver ali, no meio de Efraim. A tribo de Zabulão não expulsou os habitantes de Quitron, nem os de Naalol, e os cananeus continuaram a habitar no meio dela, mas ficaram sujeitos a tributo. A tribo de Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem os de Sídon, nem os de Alab, de Aczib, de Helba, os de Afec nem os de Reob. Por isso, os filhos de Aser estabeleceram-se entre os cananeus, habitantes da região, visto não os terem expulsado. A tribo de Neftali não expulsou os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat, e estabeleceu-se entre os cananeus, habitantes da região; mas os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat ficaram a pagar tributo. Os amorreus repeliram a tribo de Dan para a montanha, não lhes permitindo descer à planície. Os amorreus conseguiram ficar em Har-Heres, em Aialon e em Chaalbim, mas, quando os descendentes de José ficaram mais fortes, obrigaram-nos a pagar tributo. O território dos amorreus estendia-se desde a subida de Acrabim e de Sela para cima. O anjo do Senhor subiu de Guilgal a Boquim e disse: «Fiz-vos subir do Egipto e trouxe-vos à terra que havia prometido sob juramento a vossos pais. Tinha-vos dito: ‘Jamais quebrarei a minha aliança estabelecida convosco para sempre, e vós, da vossa parte, não pactuareis com os habitantes desta terra; antes, haveis de destruir os seus altares.’ Vós, porém, não ouvistes a minha palavra. Que fizestes? Eis por que Eu disse: ‘Não os expulsarei diante de vós; servir-vos-ão de inimigos, e os seus deuses hão-de constituir para vós uma armadilha.’» Ora, desde que o anjo do Senhor proferiu estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo soltou gritos e chorou. Por isso chamaram a este lugar Boquim, e aí ofereceram sacrifícios ao Senhor. Josué despediu o povo, e os filhos de Israel foram cada um para a terra que lhe tocou em herança. O povo serviu o Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobreviveram e viram a grande obra que o Senhor tinha realizado em favor de Israel. Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos. Sepultaram-no no território que lhe coubera, em Timnat-Heres, no monte de Efraim, a norte do monte Gaás. Depois, toda esta geração se foi juntar a seus pais; surgiu então, depois dela, outra geração que não conhecia o Senhor, nem a obra que o Senhor havia feito em favor de Israel. Os filhos de Israel fizeram o mal perante o Senhor e prestaram culto aos ídolos de Baal. Abandonaram o Senhor, Deus de seus pais, que os tinha feito sair da terra do Egipto, e foram atrás dos deuses dos povos que os rodeavam; prostraram-se diante deles e ofenderam o Senhor. Abandonaram o Senhor e adoraram Baal e os ídolos de Astarté. Inflamou-se a ira do Senhor contra Israel e entregou-os nas mãos de salteadores que os espoliaram, e vendeu-os aos inimigos que os rodeavam. Eles já não foram capazes de lhes resistir. Para onde quer que saíssem, pesava sobre eles a mão do Senhor como um flagelo, conforme lhes havia dito e jurado; e foi muito grande a sua angústia. O Senhor suscitou, então, juízes que os libertaram dos seus espoliadores. Eles, porém, nem mesmo aos seus juízes deram ouvidos; prostituíram-se a deuses estranhos e prostraram-se diante deles. Depressa se desviaram dos caminhos que seus pais tinham trilhado, obedecendo aos preceitos do Senhor, não procederam como eles. Quando o Senhor lhes suscitava juízes, o Senhor estava com aquele juiz, libertando-os da mão dos seus inimigos durante toda a vida do juiz; é que o Senhor deixava-se comover pelos seus lamentos frente aos que os oprimiam e humilhavam. Mas, quando o juiz morria, eles voltavam a corromper-se, mais ainda que seus pais, seguindo deuses estranhos para os servir e adorar; não renunciavam aos seus crimes, nem à sua conduta pertinaz. Inflamou-se, então, a ira do Senhor contra Israel e disse: «Já que este povo violou a minha aliança que Eu estabeleci com seus pais e não ouviu a minha voz, também Eu não continuarei a expulsar diante dele nenhum dos povos que Josué deixou quando morreu. Por meio deles, vou pôr à prova Israel, para saber se seguirão ou não os caminhos do Senhor, como seguiram seus pais.» Foi por isso que o Senhor deixou esses povos nos seus territórios; não os expulsou logo nem os entregou nas mãos de Josué. Estes são os povos que o Senhor deixou subsistir para, por meio deles, pôr à prova os israelitas que não conheceram nenhuma das guerras de Canaã; foi precisamente para assim provar as gerações dos filhos de Israel, para os instruir na guerra, somente porque a não haviam experimentado antes: eram os cinco príncipes dos filisteus e todos os cananeus, os sidónios e os heveus que habitavam o monte do Líbano, desde a montanha de Baal-Hermon até à entrada de Hamat. Estes subsistiram, pois, para pôr à prova os israelitas, para ver se eles ouviriam os mandamentos do Senhor, que Ele havia prescrito a seus pais por meio de Moisés. Assim, os filhos de Israel habitaram no meio dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos perizeus, dos heveus e dos jebuseus. Tomaram por esposas as filhas deles e deram-lhes as suas em casamento; e prestaram culto aos seus deuses. Os filhos de Israel praticaram o mal aos olhos do Senhor; esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e serviram os ídolos do deus Baal e da deusa Achera. A ira do Senhor inflamou-se contra Israel e entregou-os nas mãos de Cuchan-Richataim, rei de Aram-Naaraim; e os filhos de Israel serviram a Cuchan-Richatain durante oito anos. Mas os filhos de Israel clamaram ao Senhor, e o Senhor mandou-lhes um salvador que os libertou: Oteniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb. O espírito do Senhor esteve com ele, e ele foi juiz em Israel e partiu para a guerra; o Senhor pôs nas suas mãos Cuchan-Richatain, rei de Aram, e a sua mão triunfou contra ele. O país viveu em paz durante quarenta anos; depois, Oteniel, filho de Quenaz, morreu. Os filhos de Israel voltaram a praticar o mal diante do Senhor; o Senhor mandou contra eles Eglon, rei de Moab, por terem praticado o mal diante do Senhor. Eglon aliou-se com os amonitas e com os amalecitas; depois pôs-se em marcha contra Israel e derrotou Israel, tomando a Cidade das Palmeiras. Então, os filhos de Israel ficaram submetidos a Eglon, rei de Moab, durante dezoito anos. Os filhos de Israel clamaram, então, ao Senhor, e o Senhor enviou-lhes um salvador: Eúde, filho de Guera, filho de Benjamim, que era esquerdino. Os filhos de Israel enviaram um tributo a Eglon, rei de Moab, por seu intermédio. Eúde fez para si um punhal de dois gumes, de meio côvado de comprimento, e colocou-o debaixo das vestes, junto à coxa direita. Entregou o tributo a Eglon, rei de Moab. Eglon era um homem muito gordo. Mal acabou de apresentar o tributo, Eúde foi-se embora com os que tinham trazido o tributo. Mas ao chegar perto dos ídolos que estão junto a Guilgal, voltou para trás e disse ao rei: «Ó rei, tenho um segredo a confidenciar-te.» E ele disse: «Silêncio!»; e todos os que estavam com ele se retiraram. Eúde foi ter com Eglon; este encontrava-se a descansar no quarto de cima, muito fresco, que lhe era reservado. E disse Eúde: «Tenho uma palavra de Deus para ti.» E o rei levantou-se do seu trono. Então, estendendo a mão esquerda, Eúde tomou o punhal de junto da coxa direita e cravou-lho no ventre. O próprio cabo penetrou após a lâmina, e a gordura voltou a fechar a ferida, pois Eúde não retirou o punhal do ventre do rei. Então, Eúde saiu pela janela, depois de ter deixado bem fechadas as portas do quarto de cima, trancando-as com ferrolhos. Tendo ele saído, chegaram os servos e, ao verem as portas aferrolhadas, disseram entre si: «Está, com certeza, a fazer as suas necessidades no quarto fresco de Verão.» Esperaram até ficarem preocupados: é que ele nunca mais abria as portas do quarto de cima. Foi então que pegaram na chave, abriram, e eis que o seu senhor jazia, morto, por terra. Eúde, esse, tinha fugido enquanto eles esperavam; já tinha ultrapassado os ídolos de Guilgal e escapara para Seíra. Chegado às terras de Efraim, tocou a trombeta nas montanhas: com ele à frente, desceram da montanha os filhos de Israel. Ele disse-lhes então: «Vinde comigo, pois o Senhor entregou nas vossas mãos os moabitas, vossos inimigos.» Eles seguiram-no, ocupando os vaus do Jordão, junto de Moab, e não deixaram passar ninguém. Foi então que derrotaram Moab, com os seus cerca de dez mil homens, todos robustos e valentes; nem um só escapou. Nesse dia, Moab foi humilhado às mãos de Israel; e o país viveu em paz durante oitenta anos. Depois dele, foi juiz Chamegar, filho de Anat; derrotou os filisteus, em número de seiscentos homens, com um aguilhão dos bois; e também ele libertou Israel. Depois da morte de Eúde, os filhos de Israel continuaram a praticar o mal diante do Senhor. O Senhor entregou-os, então, nas mãos de Jabin, rei de Canaã, que reinava em Haçor; o chefe do seu exército era Sísera, que habitava em Haróchet-Goim. Então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor, pois Sísera possuía novecentos carros de ferro, e os oprimira violentamente durante vinte anos. Ora Débora, profetisa, mulher de Lapidot, exercia por essa altura as funções de juiz em Israel. Sentava-se debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na montanha de Efraim, e os israelitas iam ter com ela para que lhes servisse de árbitro. Ela mandou chamar Barac, filho de Abinoam, de Quedes, em Neftali, e disse-lhe: «Assim ordenou o Senhor, Deus de Israel: ‘Vai, reúne no monte Tabor e toma contigo dez mil homens das tribos de Neftali e de Zabulão. Eu conduzirei para ti, junto da torrente de Quichon, Sísera, chefe do exército de Jabin, os seus carros e os seus exércitos, e entregá-los-ei nas tuas mãos.’» Barac disse-lhe: «Se fores comigo, eu irei; mas se não fores comigo, não irei.» Ela respondeu: «Irei, sem dúvida, contigo; mas fica a saber que a glória da expedição que tu fazes não será para ti, pois o Senhor vai entregar Sísera nas mãos de uma mulher.» Débora levantou-se, então, e foi com Barac em direcção a Quedes. Barac convocou Zabulão e Neftali em Quedes, e reuniu sob as suas ordens dez mil homens; Débora foi também com ele. Héber, o quenita, tinha-se separado dos quenitas, descendentes de Hobab, sogro de Moisés, e tinha montado as suas tendas até ao carvalhal de Saanaim, junto de Quedes. Anunciaram a Sísera que Barac, filho de Abinoam, subia para o monte Tabor. Então, Sísera reuniu todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todos os homens que estavam com ele, e saiu de Harochet-Goim, para a torrente de Quichon. Disse, então, Débora a Barac: «Levanta-te, pois é este o dia em que o Senhor avança, para entregar Sísera nas tuas mãos; eis que o Senhor vai, Ele próprio, à tua frente.» Barac desceu do monte Tabor com dez mil homens atrás de si. O Senhor desbaratou Sísera com todos os seus carros e todo o seu exército, a golpe de espada, na presença de Barac; então, Sísera, saltando do seu carro, fugiu mesmo a pé. Barac perseguiu os carros e o exército até Harochet-Goim, e todo o acampamento de Sísera foi passado a fio de espada, sem escapar nem um homem. Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Héber, o quenita, porque havia paz entre Jabin, rei de Haçor, e a família de Héber, o quenita. Então, Jael saiu ao encontro de Sísera e disse-lhe: «Entra, meu senhor, entra na minha casa, não temas.» Ele entrou com ela na tenda e ela encobriu-o sob o tapete. Disse-lhe ele: «Por favor, dá-me de beber um pouco de água, que tenho sede.» Ela abriu um odre de leite, deu-lhe de beber e tornou a cobri-lo. Disse-lhe Sísera: «Põe-te à entrada da tenda, e se alguém te perguntar: ‘Há aqui alguém?’, responderás: ‘Não.’» Então, Jael, mulher de Héber, pegou num prego da tenda, agarrou nas mãos o martelo e foi ter com ele, devagarinho; enterrou o prego na testa de Sísera, a ponto de penetrar na própria terra; Sísera estava em sono profundo e assim, desfaleceu e morreu. E eis que chega Barac, em perseguição de Sísera. Jael, saindo-lhe ao encontro, disse-lhe: «Vem; vou mostrar-te o homem que procuras.» Ele entrou com ela e encontrou Sísera que jazia morto por terra, com o prego na fronte. Naquele dia o Senhor humilhou Jabin, rei de Canaã, perante os israelitas. A mão dos filhos de Israel tornou-se cada vez mais pesada sobre Jabin, rei de Canaã, até que acabaram por matá-lo. Naquele dia Débora e Barac, filho de Abinoam, entoaram o seguinte cântico: «Louvai o Senhor ! Pois em Israel os chefes comandam, e o povo espontaneamente se ofereceu. Ouvi-me, ó reis; prestai-me ouvidos, ó príncipes, que eu vou cantar ao Senhor; o Senhor, Deus de Israel, celebrarei: Senhor, quando saíste de Seir, quando partiste das estepes de Edom, a terra tremeu, os céus agitaram-se e as nuvens desfizeram-se em água. Os montes derreteram-se diante do Senhor, o do Sinai; diante do Senhor, Deus de Israel. Nos dias de Chamegar, filho de Anat, nos dias de Jael, tinham cessado as caravanas, e os que viajavam, iam por atalhos tortuosos. Faltavam os chefes, faltavam as forças em Israel, até que eu, Débora, me levantei, levantei-me como mãe em Israel. Escolhiam novos deuses; e, então, em Israel, em cinco cidades, mal se viam um escudo e uma lança para quarenta mil homens! O meu coração segue os chefes de Israel, aqueles que de entre o povo se ofereceram espontaneamente ao perigo: bendigamos o Senhor. Vós, os que montais brancas jumentas, os que vos sentais sobre tapeçarias, os que andais pelo caminho, proclamai! Pela voz dos que repartem despojos junto às fontes, aí se cantam as vitórias do Senhor, as vitórias da sua força em Israel. Então, o povo do Senhor desceu às portas. Acorda, desperta, Débora! Desperta! Desperta! Entoa um cântico! Levanta-te, Barac! Prende os que te prenderam a ti, ó filho de Abinoam. Então, o sobrevivente desceu com os nobres, o povo do Senhor desceu para mim entre os heróis. De Efraim* subiram a Amalec; teu irmão, Benjamim*, está com as tuas tropas; de Maquir* descem os comandantes; e de Zabulão* os que detêm a vara do comando. Os chefes de Issacar* estão com Débora e Issacar, tal como Barac, lança-se na planície atrás das suas pegadas; junto aos regatos de Rúben*, grandes foram as ansiedades do coração! Por que razão te ficaste entre as pastagens escutando os assobios para os gados? Junto aos regatos de Rúben, grandes foram as ansiedades do coração! Guilead* habita para além do Jordão; e Dan*, por que razão ficou nos seus navios? Aser* sentou-se à beira do mar, descansando nos seus portos. Zabulão* é um povo que oferece a sua vida à morte e Neftali* está sobre as altas colinas. Vieram os reis e combateram; também combateram os reis de Canaã em Taanac, junto às águas de Meguido; mas não pegaram em despojos nem dinheiro. Dos céus combateram as estrelas, combateram das suas órbitas contra Sísera. A torrente de Quichon arrebatou-os; a torrente dos antigos, a torrente de Quichon espezinhou a vida dos valentes. Então ressoaram os cascos dos cavalos na corrida entusiástica dos seus valentes guerreiros. Amaldiçoai Meroz, diz o anjo do Senhor, amaldiçoai energicamente os seus habitantes, porque não correram em socorro do Senhor, como os valentes guerreiros! Bendita seja Jael entre as mulheres, a mulher de Héber, o quenita, bendita seja entre as mulheres na tenda! Pediu água; leite fresco ela lhe deu! Em nobre taça lhe serviu a nata! Estendeu a sua mão para o prego, a sua direita para o martelo de rudes trabalhadores, e martelou Sísera, esmagando-lhe a cabeça! Rachou-lhe e traspassou-lhe as têmporas! A seus pés ele caiu, prostrou-se, ficou estendido e já sem forças ali caiu, e ficou aniquilado! Assoma à janela a lamentar-se a mãe de Sísera, através das grades: ‘Porque tarda em vir o seu carro? Porque é tão lenta a marcha dos seus carros de guerra?!’ A mais sábia das suas princesas lhe responde, e ela mesma volta a repeti-lo para si própria: ‘Eis que eles encontram e repartem os despojos: uma jovem, duas jovens para cada homem; despojos coloridos para Sísera, despojos coloridos, um tecido, dois tecidos coloridos para os seus ombros como despojo.’ Assim pereçam, Senhor, todos os teus inimigos; e os seus amigos sejam como o nascer do Sol, em toda a sua pujança!» Então o país descansou em paz durante quarenta anos. Os filhos de Israel fizeram o mal diante do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos madianitas, durante sete anos. A mão dos madianitas caiu pesada sobre Israel. Por medo dos madianitas, os israelitas prepararam nas montanhas, para si, as cavernas, as grutas e os refúgios escarpados. Ora, sempre que Israel semeava, vinham os madianitas com os amalecitas, assim como outras tribos do Oriente, para os atacar. Acampavam entre eles e devastavam os produtos da terra até às proximidades de Gaza, não deixando subsistência alguma para Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. Com efeito, vinham eles e os seus rebanhos, com as suas tendas, chegavam numerosos como vasta nuvem de gafanhotos, eles e os seus camelos incontáveis; e entravam na terra para a devastar. Assim, por causa dos madianitas, Israel acabou por ficar muito pobre. Foi então que os filhos de Israel clamaram ao Senhor. Tendo os filhos de Israel clamado ao Senhor por causa dos madianitas, o Senhor enviou-lhes um profeta que lhes disse: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Fui Eu que vos fiz subir do Egipto e vos libertei da casa da escravidão. Eu vos libertei da mão dos egípcios e de todos os vossos opressores; Eu os expulsei da vossa presença e vos dei a sua terra. Então, disse-vos: Eu sou o Senhor, vosso Deus; não adorareis os deuses dos amorreus, em cuja terra ides habitar. Vós, porém, não ouvistes a minha voz.’» Veio, então, o anjo do Senhor e colocou-se debaixo do terebinto de Ofra, que era propriedade de Joás, da família de Abiézer; e Gedeão, seu filho, estava a limpar o trigo no lagar, para o esconder da vista dos madianitas. O anjo do Senhor viu-o e disse-lhe: «O Senhor está contigo, valente guerreiro!» Respondeu-lhe Gedeão: «Por favor, meu Senhor: se o Senhor está connosco, então porque é que nos aconteceu tudo isto? Onde estão todas as maravilhas que nos contavam os nossos pais, quando diziam: ‘Não é verdade que o Senhor nos fez subir do Egipto?’ Pois agora o Senhor abandonou-nos e entregou-nos nas mãos dos madianitas.» O Senhor voltou-se para ele e disse: «Vai com toda a tua força, e salva Israel do poder dos madianitas; sou Eu que te envio.» Disse-lhe ele: «Por favor, meu Senhor, como salvarei eu Israel? A minha família é a mais pobre de Manassés, e eu sou o mais jovem da casa de meu pai!» Disse-lhe o Senhor, «Eu estarei contigo e tu hás-de derrotar os madianitas, como se fossem um só homem.» Gedeão respondeu: «Se, porventura, mereci o teu favor, mostra-me por um sinal que és Tu quem fala comigo. Por favor te peço: Não te afastes deste lugar até que eu venha ter contigo; trarei a minha oferta e colocá-la-ei na tua presença.» Ele disse: «Eu ficarei aqui até que regresses.» Gedeão foi preparar um cabrito e, com uma medida de farinha, preparou pães ázimos; pôs a carne num cesto e o molho numa panela; depois, levou tudo para baixo do terebinto e ofereceu-lho. Disse-lhe o anjo de Deus: «Toma a carne e os pães ázimos, põe-nos sobre esta rocha e espalha o molho.» Gedeão assim fez. O anjo do Senhor estendeu a extremidade do bastão que tinha na mão e tocou na carne e nos pães ázimos; saiu fogo da rocha e devorou a carne e os pães ázimos. Então, o anjo do Senhor desapareceu da vista dele. Gedeão viu que era o anjo do Senhor e disse: «Ai, Senhor Deus, que eu vi face a face o anjo do Senhor !» O Senhor disse-lhe: «A paz seja contigo! Não temas: não morrerás!» Gedeão erigiu ali um altar ao Senhor e chamou-lhe: «O Senhor é paz.» Até ao dia de hoje, este altar ainda está em Ofra de Abiézer. Naquela mesma noite, o Senhor disse a Gedeão: «Toma um touro gordo e um segundo touro de sete anos; derruba o altar de Baal que é de teu pai, e corta a árvore sagrada que está junto dele. Construirás depois um altar bem preparado em honra do Senhor, teu Deus, no cimo desta rocha firme. Tomarás, então, o segundo touro e oferecê-lo-ás em holocausto sobre a madeira da árvore sagrada que cortaste.» Tomou, pois, Gedeão dez homens de entre os seus servos, e fez como lhe disse o Senhor. E, como receava a família de seu pai e os homens da cidade, se fizesse isso de dia, fê-lo durante a noite. Ao levantarem-se de manhã cedo, os homens da cidade viram que o altar de Baal estava demolido, cortada a árvore sagrada e o segundo touro imolado sobre o altar que fora construído. Disseram então uns para os outros: «Quem fez isto?» Tendo inquirido e procurado informações, disseram: «Foi Gedeão, o filho de Joás, que fez isto!» As pessoas da cidade disseram, pois, a Joás: «Manda sair o teu filho, para ser morto, pois derrubou o altar de Baal e cortou a árvore sagrada que estava junto dele.» Joás disse a todos os que estavam junto de si: «Sois vós, acaso, os defensores de Baal? É a vós que compete vir em seu socorro? Quem luta por ele deverá ser morto até ao amanhecer! Se Baal é um deus, que seja ele próprio a defender a sua causa, pois Gedeão destruiu o seu altar!» Nesse dia, chamaram a Gedeão Jerubaal, dizendo: «Que Baal defenda contra ele a sua causa, já que derrubou o seu altar!» Todos os madianitas e amalecitas, bem como outras tribos do Oriente se reuniram, de comum acordo, atravessaram o Jordão e acamparam na planície de Jezrael. Então o espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão; quando tocou a trombeta, toda a família de Abiézer se reuniu para o seguir. Enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, e também ela se reuniu para o seguir. Do mesmo modo enviou mensageiros a Aser, a Zabulão e a Neftali, e todos eles vieram juntar-se a ele. Disse então Gedeão a Deus: «Já que queres salvar Israel pela minha mão, como disseste, vou estender na eira um velo de lã. Se houver orvalho somente no velo, e toda a terra ficar seca, ficarei a saber que vais salvar Israel pela minha mão, como disseste.» E assim aconteceu: quando Gedeão se levantou, de manhã, espremeu o velo e este destilou orvalho: uma bacia cheia de água. Gedeão disse a Deus: «Não se inflame a tua cólera contra mim, se eu falo ainda uma vez mais! Deixa-me fazer só mais uma vez a prova do tosão: que fique seco apenas o velo, e haja orvalho sobre toda a terra.» E Deus assim fez, nessa noite: estava seco apenas sobre o velo, enquanto, sobre toda a terra, havia orvalho. Jerubaal, isto é, Gedeão, levantou-se de manhã cedo, ele e todos os homens que estavam com ele, e acamparam junto da fonte de Harod, enquanto o acampamento dos madianitas lhes ficava mais a norte, ao lado da colina de Moré, na planície. O Senhor disse a Gedeão: «São demasiado numerosos os homens que estão contigo, para que Eu entregue os madianitas em suas mãos. Israel poderia gloriar-se à minha custa e dizer: ‘Foi a minha mão que me salvou!’ Peço-te, pois, que proclames aos ouvidos do povo o seguinte: ‘Quem temer e tremer que volte para casa, e deixe a montanha de Guilead.’» Então, regressaram vinte e dois mil homens, ficando apenas dez mil. O Senhor disse a Gedeão: «Ainda são muitos homens; leva-os à fonte e lá os submeterei a uma prova. Assim, aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele vá contigo!’ esse irá contigo; mas aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele não vá contigo!’, esse não te seguirá.» Então, Gedeão levou os homens à fonte, e o Senhor disse-lhe: «Todo aquele que lamber a água com a língua, como o cão, põe-no de um lado; e porás do outro lado todo aquele que se puser de joelhos para beber.» Ora o número dos que beberam a água com a língua, levando-a com a mão à boca, foi de trezentos homens, e todos os restantes puseram-se de joelhos para beber a água. Disse o Senhor a Gedeão: «É com os trezentos homens que beberam a água com a língua que Eu vos salvarei e entregarei os madianitas nas tuas mãos; o resto do povo que volte para sua casa.» Tomaram as provisões em suas mãos bem como as suas trombetas, e depois Gedeão mandou a multidão do povo de Israel cada um para a sua casa; reteve consigo apenas os trezentos homens. O acampamento dos madianitas ficava abaixo do seu, na planície. Nessa noite, disse-lhe o Senhor, «Levanta-te e vai atacar o acampamento, pois entreguei-o nas tuas mãos. Mas, se tens medo de ir sozinho, vai com Purá, teu servo, ao acampamento. Escutarás o que eles dizem; a tua coragem será robustecida, e poderás atacar o acampamento.» Então, desceram, ele e Purá, seu servo, até aos postos avançados do acampamento que se encontrava na planície. Os madianitas, os amalecitas e todas as tribos do Oriente estendiam-se pela planície, numerosos como gafanhotos; os seus camelos nem se podiam contar, tão numerosos como grãos de areia na praia do mar. No momento em que Gedeão chegou, um homem estava a contar um sonho ao seu companheiro; dizia ele: «Acabo de ter um sonho: eis que um pão de cevada, rolando pelo acampamento dos madianitas, chegou junto da tenda, sacudiu-a violentamente provocando a sua queda.» O seu companheiro respondeu, dizendo: «Isso não pode significar senão a espada de Gedeão, filho de Joás, o israelita, a quem Deus entregou Madian e todo o seu acampamento!» Sucedeu então que, mal Gedeão ouviu contar o sonho e a sua interpretação, prostrou-se por terra e regressou ao acampamento de Israel e disse: «Levantai-vos, porque o Senhor entregou nas vossas mãos o acampamento de Madian.» Dividiu, então, os trezentos em três grupos; pôs uma trombeta na mão de todos eles, bem como cântaros vazios com tochas dentro deles. E disse-lhes: «Olhai para mim e fazei como eu fizer; quando eu tiver chegado junto do acampamento, fazei o que eu fizer. Eu e os que estão comigo tocaremos a trombeta; então, também vós tocareis as trombetas à volta de todo o acampamento e haveis de gritar: ‘Pelo Senhor e por Gedeão!’» Gedeão e os cem homens que estavam com ele chegaram junto do acampamento ao princípio da vigília da meia-noite, quando terminava a rendição das sentinelas. Então, puseram-se a tocar as trombetas, ao mesmo tempo que quebravam os cântaros que levavam nas mãos. Então, os três grupos tocaram as trombetas e quebraram os cântaros; com a mão esquerda pegaram nas tochas, e com a direita nas trombetas para tocar, e gritaram: «Espada pelo Senhor e por Gedeão!» Enquanto cada um se mantinha de pé no seu posto, à volta do acampamento, todo o acampamento se lançou a correr e a gritar, procurando, a todo o custo, por onde fugir. E enquanto soavam as trezentas trombetas, o Senhor fez com que, em todo o acampamento, cada um levantasse a espada contra o seu companheiro; o exército fugiu até Bet-Chitá, para os lados de Serera, até à margem de Abel-Meolá, junto de Tabat. Então, reuniram-se os homens de Israel: da tribo de Neftali, de Aser e de toda a tribo de Manassés, e foram em perseguição dos madianitas. Gedeão enviou mensageiros por toda a montanha de Efraim, dizendo: «Descei ao encontro de Madian e ocupai antes deles os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jordão.» Todos os homens de Efraim foram convocados e ocuparam os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jordão. Capturaram dois chefes de Madian: Oreb e Zeeb; mataram Oreb no rochedo de Oreb e Zeeb no lagar de Zeeb; depois, conduziram a perseguição até Madian, levando as cabeças de Oreb e Zeeb a Gedeão, do outro lado do Jordão. Então, os homens de Efraim disseram a Gedeão: «Que quer dizer isto que nos fizeste de não nos chamar quando partiste a combater Madian?» E insurgiram-se violentamente contra ele. Gedeão respondeu-lhes: «Que fiz eu de comparável a vós? Não vale porventura mais o rebusco de Efraim do que a vindima de Abiézer? Foi nas vossas mãos que Deus pôs os príncipes de Madian, Oreb e Zeeb; que fiz eu de mais em comparação convosco?» Mal pronunciou estas palavras a sua cólera contra ele amansou. Gedeão chegou ao Jordão e passou-o, ele e os trezentos homens que estavam com ele; embora esgotados, continuaram a perseguir os madianitas. Disse aos homens de Sucot: «Por favor, dai uns bolos de pão aos homens que me seguem, pois, vêm esgotados e eu vou em perseguição de Zeba e Salmuna, reis de Madian.» Os chefes de Sucot disseram: «Porventura os pulsos de Zeba e de Salmuna estão já em tuas mãos, para darmos pão ao teu exército?» Gedeão respondeu: «Quando o Senhor colocar nas minhas mãos Zeba e Salmuna, eu triturarei a vossa carne com espinhos do deserto e com abrolhos.» Dali subiu a Penuel e falou do mesmo modo. Os homens de Penuel responderam como lhe tinham respondido os de Sucot. Disse ele, também, aos homens de Penuel: «Quando eu voltar em paz, destruirei esta torre.» Zeba e Salmuna encontravam-se em Carcor com o seu exército, cerca de quinze mil homens, todos quantos restavam do exército das tribos do Oriente; de facto, tinham morrido cento e vinte mil homens que sabiam manejar a espada. Gedeão subiu pelo caminho dos que habitam as tendas, a oriente de Noba e de Jogboa e derrotou o exército, embora este se julgasse seguro. Zeba e Salmuna fugiram. Mas Gedeão perseguiu-os e prendeu os dois reis de Madian, Zeba e Salmuna, semeando o pânico em todo o exército. Gedeão, filho de Joás, regressou da batalha pela subida de Heres. Então, tomou um jovem de entre os habitantes de Sucot, interrogou-o, e este indicou-lhe por escrito o nome dos chefes de Sucot e seus anciãos: setenta e sete homens. Gedeão dirigiu-se aos habitantes de Sucot e disse-lhes: «Eis aqui Zeba e Salmuna, a respeito dos quais me desafiastes, dizendo: ‘Já estão, acaso, em tuas mãos os punhos de Zeba e Salmuna, para que devamos dar pão aos teus homens extenuados?’» Tomou, então, os anciãos da cidade, agarrou em espinhos e abrolhos do deserto e açoitou com eles os habitantes de Sucot. Arrasou também a torre de Penuel e matou os homens da cidade. Disse, depois, a Zeba e a Salmuna: «Como eram aqueles homens que matastes no Tabor?» Eles responderam: «Como tu és, assim eram eles; qualquer deles tinha ar de um filho de rei.» Ele disse: «Eram meus irmãos, filhos da minha mãe! Viva o Senhor, se os tivésseis deixado viver, eu não vos mataria!» E disse a Jéter, seu filho primogénito: «Levanta-te e mata-os!» O jovem, porém, não desembainhou a espada, pois tinha medo, por ser ainda muito jovem. Disseram, então, Zeba e Salmuna: «Levanta-te tu e fere-nos, pois tal o homem, tal valentia!» Levantou-se então Gedeão e matou Zeba e Salmuna; depois, retirou os ornamentos que estavam no pescoço dos seus camelos. Os homens de Israel disseram a Gedeão: «Reina sobre nós, tu e teu filho e o filho do teu filho, pois nos livraste das mãos de Madian.» Gedeão disse-lhes: «Não reinarei sobre vós, nem eu nem meu filho; o Senhor é que será vosso rei.» Disse-lhes ainda Gedeão: «Quereria fazer-vos um único pedido: dai-me, cada um de vós, um anel dos vossos despojos!» Pois eles, como ismaelitas que eram, usavam anéis de ouro.» Eles disseram: «Sem dúvida tos daremos.» Estenderam a capa, e cada um lançou nela um anel do seu espólio. Ora o peso dos anéis de ouro que ele pediu foi de mil e setecentos siclos de ouro, sem contar os crescentes, os brincos e as vestes de púrpura que os reis de Madian vestiam, e também sem contar os colares que andavam ao pescoço dos seus camelos. Com eles, Gedeão fez um ídolo e expô-lo na sua cidade de Ofra. Todo Israel ia ali prestar-lhe culto, o que veio a ser a ruína de Gedeão e da sua casa. Assim os madianitas foram humilhados perante os filhos de Israel, sem voltar a levantar a cabeça; deste modo, nos dias de Gedeão, o país esteve em paz durante quarenta anos. Então, Jerubaal, filho de Joás, partiu e foi morar em sua casa. Gedeão teve setenta filhos, nascidos do seu sangue, pois tinha muitas esposas. A sua concubina, que morava em Siquém, gerou-lhe também um filho, a quem chamou Abimélec. Gedeão, filho de Joás, morreu após uma velhice próspera e foi sepultado no túmulo de Joás, seu pai, em Ofra de Abiézer. Mas depois que Gedeão morreu, os filhos de Israel prostituíram-se de novo diante dos ídolos, adoptando por seu deus Baal-Berit. Os filhos de Israel não se recordaram mais do seu Deus, que os havia libertado das mãos dos inimigos que os rodeavam. Nem foram justos para com a casa de Jerubaal-Gedeão, após todo o bem que ele tinha feito a Israel. Abimélec, filho de Jerubaal, foi a Siquém ao encontro dos irmãos de sua mãe para lhes falar, bem como a toda a família da casa paterna de sua mãe, e disse-lhes: «Peço-vos que faleis a todos os senhores de Siquém. Que será melhor para vós: governarem sobre vós setenta homens, todos filhos de Jerubaal, ou governar sobre vós um único homem? Lembrai-vos de que eu mesmo sou dos vossos ossos e da vossa carne!» Os irmãos de sua mãe disseram todas estas palavras acerca dele a todos os grandes proprietários de Siquém, e o coração deles inclinou-se para Abimélec, pois diziam: «Ele é nosso irmão!» Então deram-lhe setenta siclos de prata, do templo de Baal-Berit, com os quais Abimélec assalariou homens sem eira nem beira, aventureiros que seguiram atrás dele. Depois, entrou em casa de seu pai, em Ofra, e matou violentamente os seus irmãos, filhos de Jerubaal, setenta homens, sobre a mesma pedra. Escapou apenas Jotam, filho mais novo de Jerubaal, porque se tinha escondido. Juntaram-se, então, todos os senhores de Siquém e toda a casa de Milo, e foram proclamar rei Abimélec, junto do terebinto do monumento que está em Siquém. Isto foi comunicado a Jotam. E ele foi colocar-se no cimo do monte Garizim; ergueu a voz e gritou; depois, disse-lhes: «Ouvi-me, senhores de Siquém, e que Deus vos oiça! As árvores puseram-se a caminho para ungirem um rei para si próprias. Disseram, então, à oliveira: ‘Reina sobre nós.’ Disse-lhes a oliveira: ‘Irei eu renunciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?’ As árvores disseram, depois, à figueira: ‘Vem tu, então, reinar sobre nós.’ Disse-lhes a figueira: ‘Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?’ Disseram, então, as árvores à videira: ‘Vem tu reinar sobre nós.’ Disse-lhes a videira: ‘Irei eu renunciar ao meu mosto, que alegra os deuses e os homens, para me agitar sobre as árvores?’ Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu, reina tu sobre nós.’ Disse o espinheiro às árvores: ‘Se é de boa mente que me ungis rei sobre vós, vinde, abrigai-vos à minha sombra; mas, se não é assim, sairá do espinheiro um fogo que há-de devorar os cedros do Líbano!’ Agora, pois, se agistes com boa intenção e com integridade em proclamar Abimélec como rei, se procedestes bem para com Jerubaal e para com a sua casa, se agistes para com ele segundo o mérito das suas acções, enquanto meu pai combateu por vós, expôs a sua vida, livrou-vos das mãos de Madian, vós, hoje, levantastes-vos contra a casa de meu pai; vós matastes seus filhos, setenta homens, sobre uma só pedra, e proclamastes vosso rei Abimélec, o filho da sua serva sobre os senhores de Siquém, por ele ser vosso irmão; se, pois, agistes de boa mente e com integridade para com Jerubaal e para com a sua casa neste dia, encontrai a vossa alegria em Abimélec, e que ele encontre a sua em vós. Se, porém, não é assim, um fogo sairá de Abimélec e há-de devorar os senhores de Siquém e de Bet-Milo e há-de devorar Abimélec.» Jotam fugiu e desapareceu, indo para Beer, e habitou lá, longe da vista de Abimélec, seu irmão. Reinou Abimélec sobre Israel durante três anos. Deus colocou um espírito mau entre Abimélec e os senhores de Siquém; os senhores de Siquém tornaram-se infiéis a Abimélec. De facto, urgia que a violência cometida contra os setenta filhos de Jerubaal fosse vingada e que seu sangue caísse sobre Abimélec, seu irmão, que os matara violentamente, e sobre os senhores de Siquém, que lhe fortaleceram os braços para assassinar seus irmãos. Os senhores de Siquém colocaram-lhe ciladas no alto dos montes e despojavam todo o que passava junto deles pelo caminho; tudo isto foi comunicado a Abimélec. Ora Gaal, filho de Ébed, passou por Siquém com seus irmãos; os senhores de Siquém puseram nele a sua confiança. Saíram para os campos a vindimar as suas vinhas, pisaram as uvas e organizaram festejos de regozijo. Entraram no templo do seu deus, comeram, beberam e amaldiçoaram Abimélec. Gaal, filho de Ébed, disse: «Quem é Abimélec em Siquém para lhe prestarmos obediência? O filho de Jerubaal e de Zebul, seu lugar-tenente, não prestavam vassalagem aos homens de Hamor, pai de Siquém? Por que razão, pois, havemos nós de servi-lo? Ai, se me confiassem esse povo em minhas mãos, como eu havia de escorraçar Abimélec! Eu diria, então, a Abimélec: ‘Junta o teu exército e sai!’» Zebul, governador da cidade, escutou as palavras de Gaal, filho de Ébed, e encheu-se de cólera. Enviou mensageiros a Abimélec, que estava em Aruma, para lhe dizer: «Eis que Gaal, filho de Ébed, e seus irmãos chegaram a Siquém; e estão a sublevar a cidade contra ti. Portanto, levanta-te de noite, tu e os homens que estão contigo, e montai uma emboscada no campo. Amanhã muito cedo, ao nascer do Sol, partirás e farás um ataque contra a cidade. Quando Gaal e todos os homens que estão com ele saírem ao teu encontro, faz-lhes quanto puderem as tuas mãos!» Abimélec levantou-se pela noite, com todos os homens que estavam com ele e puseram-se de emboscada junto de Siquém, em quatro pontos estratégicos. Gaal, filho de Ébed, saiu e foi colocar-se à entrada da porta da cidade. Foi então que Abimélec e os que estavam com ele surgiram da emboscada. Gaal viu a multidão e disse a Zebul: «Eis uma horda que desce do alto das montanhas.» Zebul, porém, disse-lhe: «É a sombra dos montes que tu estás a tomar por homens!» Gaal retomou a palavra e disse: «Eis uma multidão que desce do lado do centro da terra e outra que vem pelo caminho do Carvalho dos Adivinhos.» Zebul disse-lhe, então: «Onde está a tua língua, tu que dizias: ‘Quem é Abimélec, para lhe prestarmos obediência?’ Não está aí essa horda que tu desprezavas? Sai, então, agora e combate contra eles.» Gaal saiu à frente dos senhores de Siquém e travou combate contra Abimélec. Abimélec, porém, perseguiu Gaal, que fugira diante dele; muitas vítimas tombaram até à entrada da porta. Abimélec fixou-se em Aruma, e Zebul expulsou Gaal e seus irmãos para que não pudessem morar em Siquém. Ora, na manhã do dia seguinte, o povo saiu para o campo e comunicaram-no a Abimélec. Então, ele tomou os seus homens e dividiu-os em três grupos; depois, pôs-se de emboscada no campo. Mal viu o povo sair da cidade, correu para ele e derrotou-o. Abimélec e os chefes que estavam com ele irromperam e tomaram posições à entrada da porta da cidade, enquanto os outros dois grupos se lançavam sobre todos os que estavam no campo, ferindo-os. Abimélec lutou todo aquele dia contra a cidade; depois, apoderou-se dela e massacrou toda a população que lá se encontrava; destruiu a cidade e semeou-a com sal. Quando o souberam, todos os senhores de Migdal-Siquém se refugiaram na gruta do templo de El-Berit. Alguém comunicou a Abimélec que se tinham reunido em assembleia todos os senhores de Migdal-Siquém. Então, Abimélec subiu ao monte Salmon, ele e todos os homens que estavam com ele; tomou nas suas mãos um machado e cortou um ramo de árvore; ergueu-o ao alto, e pô-lo sobre os ombros, dizendo aos homens que estavam com ele: «O que me vistes fazer, apressai-vos a fazer como eu.» Todos os seus homens cortaram também um ramo cada um e seguiram atrás de Abimélec; depois, puseram-nos sobre a gruta e deitaram-lhes fogo. Morreram assim, por igual, todos os habitantes de Migdal-Siquém, cerca de mil homens e mulheres. Depois disto, Abimélec pôs-se a caminho em direcção a Tebes; montou-lhe cerco e conquistou-a. Havia aí uma torre fortificada, no meio da cidade, onde se tinham refugiado todos os homens e todas as mulheres, bem como todos os senhores da cidade; fecharam as portas e subiram para o terraço da torre. Abimélec chegou junto da torre, atacou-a e aproximou-se até à porta da torre, para lhe deitar fogo. Então, uma mulher agarrou numa mó e lançou-a sobre Abimélec e despedaçou-lhe a cabeça. Abimélec chamou logo o seu escudeiro e disse-lhe: «Tira a tua espada e mata-me, para que não digam de mim: ‘Foi uma mulher que o matou!’» Então, o escudeiro trespassou-o, e ele morreu. Quando os homens de Israel viram que Abimélec estava morto, foram cada um para sua casa. Deus fez cair sobre Abimélec o mal que ele tinha feito a seu pai, assassinando os seus setenta irmãos. Deus fez cair, também, sobre a cabeça dos senhores de Siquém toda a sua malvadez. Assim se cumpriu neles a maldição de Jotam, filho de Jerubaal. Depois de Abimélec surgiu, para salvar Israel, Tola, filho de Puá, filho de Dodo, homem da tribo de Issacar; morava em Chamir, na montanha de Efraim. Foi juiz em Israel durante vinte e três anos; morreu e foi sepultado em Chamir. Depois, surgiu Jair, de Guilead, e foi juiz em Israel durante vinte e dois anos. Tinha trinta filhos, que montavam trinta jumentinhos, e tinham também trinta cidades que se chamam, ainda hoje, Acampamentos de Jair, na terra de Guilead. Jair morreu e foi sepultado em Camon. Os filhos de Israel continuaram a fazer o mal diante do Senhor, adoraram os ídolos de Baal e de Astarté, os deuses da Síria, de Sídon, de Moab, assim como os deuses dos amonitas e dos filisteus; abandonaram o Senhor, negando-se a servi-lo. Inflamou-se, então, a ira do Senhor contra Israel, entregando-os nas mãos dos filisteus e nas mãos dos amonitas. Estes oprimiram e vexaram, naquele ano, os filhos de Israel; durante dezoito anos, esmagaram os filhos de Israel que moravam além-Jordão, na terra dos amonitas, em Guilead. Os amonitas atravessaram o Jordão para lutar contra Judá, Benjamim e a casa de Efraim; e foi extrema a aflição de Israel. Então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor, dizendo: «Pecámos contra ti, pois abandonámos o nosso Deus para servir os ídolos.» O Senhor disse, pois, aos filhos de Israel: «Acaso não vos libertei Eu dos egípcios, dos amorreus, dos amonitas, dos filisteus? E quando os sidónios, os amalecitas e os madianitas vos oprimiam e chamastes por mim, não vos libertei das suas mãos? Vós, porém, abandonastes-me, para adorar outros deuses; por isso, não voltarei a libertar-vos. Ide, invocai os deuses que escolhestes; eles que vos salvem na hora da vossa aflição.» Os filhos de Israel disseram, pois, ao Senhor, «Pecámos; faz-nos em tudo como te parecer melhor, mas livra-nos deste dia!» Então, deitaram fora do seu meio os deuses estranhos e serviram o Senhor; e a sua paciência já não suportava o sofrimento de Israel. Os amonitas juntaram-se e acamparam em Guilead; os israelitas, por sua vez, juntaram-se também e acamparam em Mispá. O povo e os chefes de Guilead disseram entre si: «Qual é o homem que primeiro resolve combater contra os amonitas? Esse será o chefe de todos os habitantes de Guilead.» Jefté de Guilead era um valente guerreiro, filho de uma prostituta; Guilead foi quem gerou Jefté. A mulher de Guilead gerou-lhe filhos; estes cresceram e expulsaram Jefté, dizendo-lhe: «Não herdarás nada na casa do nosso pai, pois és filho de uma mulher estrangeira.» Jefté afastou-se da presença de seus irmãos e foi morar para a terra de Tob; juntaram-se-lhe homens sem eira nem beira e partiram com ele. Ora, ao fim de um certo tempo, os amonitas fizeram guerra a Israel. E como os amonitas moveram guerra a Israel, os anciãos de Guilead foram buscar Jefté à terra de Tob. E disseram-lhe: «Vem! Sê o nosso chefe, e poderemos lutar contra os amonitas.» Jefté, porém, disse aos anciãos de Guilead: «Não fostes vós, por acaso, que me odiastes e me escorraçastes de casa de meu pai? Como é que me procurais agora que estais em aflição?» Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «Vimos agora ter contigo exactamente para que tu venhas connosco, lutes contra os amonitas e sejas o nosso chefe, o chefe de todos os habitantes de Guilead.» Jefté disse, então, aos anciãos de Guilead: «Se me fazeis voltar para lutar contra os amonitas, e se o Senhor os entregar ao meu poder, então eu serei o vosso chefe.» Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «O Senhor será testemunha entre nós, se nós não procedermos como acabas de dizer!» Então, Jefté partiu com os anciãos de Guilead, e o povo pô-lo como chefe e capitão, à sua frente; Jefté repetiu todas as suas condições na presença do Senhor, em Mispá. Jefté enviou mensageiros ao rei dos amonitas, a dizer-lhe: «Que há entre mim e ti, para vires contra mim fazer guerra ao meu país?» O rei dos amonitas disse aos mensageiros de Jefté: «É porque Israel conquistou o meu país no seu regresso do Egipto, desde o Arnon ao Jaboc e ao Jordão; agora, pois, restitui-mo pacificamente.» Então, Jefté tornou a enviar mensageiros ao rei dos amonitas, dizendo: «Assim fala Jefté: “Israel não tomou o país dos filhos de Moab nem de Amon. De facto, quando subia do Egipto, Israel dirigiu-se ao deserto, na direcção do Mar dos Juncos e chegou a Cadés. Israel enviou, então, mensageiros ao rei de Edom dizendo-lhe: ‘Deixa que eu atravesse o teu país.’ O rei de Edom, porém, não lhe deu ouvidos. Enviou-os, também, ao rei de Moab; mas ele não consentiu; por isso, Israel deteve-se em Cadés. Palmilhou de novo o deserto, contornou a terra de Edom e a de Moab, e chegou a oriente do país de Moab. Acamparam do outro lado do Arnon, mas não penetraram no território de Moab, porque o Arnon é a fronteira de Moab. Israel enviou mensageiros a Seon, rei amorreu de Hesbon, e disse-lhe: ‘Por favor, deixa-me atravessar o teu país até ao lugar do meu destino.’ Seon, porém, não confiou em Israel, recusando-lhe passagem através do seu território; Seon, então, reuniu todo o seu povo, que acampou em Jaás, e travou combate contra Israel. O Senhor, Deus de Israel, entregou Seon e todo o seu povo nas mãos de Israel, que os derrotou. Então, Israel apoderou-se de toda a terra dos amorreus que habitavam nesse país. Possuíram, pois, toda a terra dos amorreus, desde o Arnon até ao Jaboc, e desde o deserto até ao Jordão. Se, portanto, foi o Senhor, Deus de Israel, que expulsou os amorreus em favor do seu povo, quererás tu próprio desapossá-lo? Não possuis tu, acaso, tudo quanto o teu deus Camós te deu em posse? E não deveríamos nós, também, possuir tudo quanto o Senhor, nosso Deus, pôs diante de nós para o possuirmos? E agora, serás tu mais forte do que Balac, filho de Cipor, rei de Moab? Acaso pretendeu ele ser mais forte do que Israel e lutar contra ele? Há já trezentos anos que Israel habita em Hesbon e suas redondezas, em Aroer e suas redondezas, e em todas as cidades situadas nas margens do Arnon; porque é que os não despojaste durante esse tão longo período? Quanto a mim, não sou eu que te causo dano algum; és tu próprio que me prejudicas a mim, lutando contra mim. Que o Senhor, o Juiz, decida hoje entre os filhos de Israel e os de Amon”.» O rei dos filhos de Amon não deu ouvidos às palavras que Jefté lhe dirigiu. Então, o espírito do Senhor desceu sobre Jefté; Jefté atravessou Guilead e Manassés; depois, Mispá de Guilead; de Mispá de Guilead atravessou a fronteira dos amonitas. Jefté fez um voto ao Senhor,dizendo: «Se realmente entregas nas minhas mãos os amonitas, pertencerá ao Senhor quem quer que saia das portas da minha casa para me vitoriar pelo meu regresso a salvo da terra dos amonitas; eu oferecê-lo-ei em holocausto.» Então, Jefté marchou contra os amonitas e travou combate contra eles; o Senhor entregou-os nas suas mãos. Derrotou-os desde Aroer até às proximidades de Minit, tomando-lhes vinte cidades, e até Abel-Queramim; foi uma derrota muito grande; deste modo, os amonitas foram humilhados pelos filhos de Israel. Quando Jefté regressou a sua casa em Mispá, eis que sua filha saiu para o vitoriar, dançando e tocando tamborim; ela era filha única; não tinha mais filhos nem filhas. Ao vê-la, rasgou as suas vestes e disse: «Ai, minha filha! Tu fazes-me lançar no desespero! Tu és a minha desgraça! Eu falei demais na presença do Senhor; agora não posso tornar atrás.» Ela disse-lhe: «Meu pai, tu falaste demais na presença do Senhor; faz comigo segundo o que saiu da tua boca, pois o Senhor deu-te a vingança contra os teus inimigos, os amonitas.» Depois, disse a seu pai: «Concede-me o seguinte: deixa-me sozinha durante dois meses para que eu vá vaguear pelas montanhas, chorando a minha virgindade, eu e as minhas companheiras.» Ele disse: «Vai.» E deixou-a partir durante dois meses; ela foi com as suas companheiras e chorou sobre as montanhas a sua virgindade. Ao fim de dois meses, voltou para junto de seu pai; este cumpriu nela o voto que havia feito. Ora ela não conhecera homem e foi assim que nasceu em Israel o costume de, todos os anos, as filhas de Israel irem celebrar a filha de Jefté de Guilead, quatro dias por ano. Os homens de Efraim amotinaram-se; dirigiram-se para Safon e disseram a Jefté: «Porque é que marchaste em luta contra os amonitas, sem nos chamar para combatermos a teu lado? Vamos queimar-te vivo, assim como à tua família.» Jefté ripostou: «Eu e o meu povo tivemos uma grande contenda com os amonitas; chamei-vos, mas vós não me livrastes das suas mãos. Quando vi que vós não vínheis para me salvar, arrisquei a minha vida e transpus as fronteiras dos amonitas; o Senhor pô-los nas minhas mãos. Porque viestes, agora, lutar contra mim?» Foi então que Jefté reuniu todos os homens de Guilead e travou combate contra Efraim. Os homens de Guilead derrotaram os de Efraim, pois eles tinham dito: «Vós, povo de Guilead, sois fugitivos de Efraim, vivendo entre Efraim e Manassés.» Guilead apossou-se dos vaus do Jordão, do lado de Efraim; sempre que um fugitivo de Efraim dizia: «Deixai-me passar», respondiam-lhe os homens de Guilead: «Tu és de Efraim!» Ele retorquia: «Não sou, não!» Então, diziam-lhe: «Pois então diz, por favor, ‘chibólet’»; ele, porém, dizia: ‘Sibolet’, porque não era capaz de pronunciar correctamente. Então, prendiam-no e degolavam-no junto aos vaus do Jordão. Nesse dia, morreram quarenta e dois mil homens de Efraim. Jefté foi juiz em Israel durante seis anos; depois, Jefté de Guilead morreu e foi sepultado na sua cidade natal, em Guilead. Depois de Jefté, foi juiz em Israel Ibsan, de Belém; teve trinta filhos e trinta filhas; casou-as fora da sua família; fez vir de fora trinta noivas para os seus filhos. Foi juiz em Israel durante sete anos. Ibsan morreu e foi sepultado em Belém. Depois de Ibsan, foi juiz em Israel, Elon de Zabulão. Foi juiz durante dez anos. Elon de Zabulão, morreu e foi sepultado em Elon, na terra de Zabulão. Depois de Elon, foi Abdon, filho de Hilel, de Piraton, quem foi juiz em Israel; teve quarenta filhos e trinta netos, que montavam em setenta jumentinhos; foi juiz em Israel durante oito anos. Abdon, filho de Hilel de Piraton, morreu e foi sepultado em Piraton, na terra de Efraim, na montanha dos amalecitas. Os filhos de Israel recomeçaram a fazer o mal diante do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos filisteus, durante quarenta anos. Houve um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Manoé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. O anjo do Senhor apareceu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não deste à luz; mas vais conceber e dar à luz um filho. Doravante abstém-te, não bebas vinho nem qualquer bebida alcoólica; não comas nada impuro, porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai começar a salvar Israel das mãos dos filisteus.» A mulher voltou e disse ao marido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era semelhante ao de um anjo do Senhor e temível. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me revelou o seu nome. Disse-me ele: ‘Eis que vais conceber e dar à luz um filho; doravante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de impuro, pois esse jovem será consagrado ao Senhor desde o seio materno até ao dia da sua morte.’» Então, Manoé suplicou ao Senhor, dizendo: «Por favor, Senhor! Que o homem de Deus que mandaste, venha outra vez até nós e nos ensine como havemos de fazer com o menino, quando ele tiver nascido.» Deus ouviu a voz de Manoé; o anjo do Senhor veio ter novamente com a mulher; estava sentada no campo, e Manoé, seu marido, não estava com ela. A mulher correu a comunicar ao marido, dizendo: «Eis que o homem que veio ter comigo voltou a aparecer-me.» Manoé levantou-se, foi atrás da sua mulher, dirigiu-se ao homem e perguntou: «És tu o homem que falou a esta mulher?» E ele respondeu: «Sou eu mesmo.» Manoé disse-lhe: «Então, uma vez que a tua palavra se vai realizar, que regras se devem seguir com o menino? Que tem ele de fazer?» O anjo do Senhor disse a Manoé: «De tudo quanto Eu mencionei a esta mulher, ela há-de abster-se. Que não coma de nada do que provém do fruto da vinha; não beberá vinho nem bebida alcoólica; não comerá nada impuro e deverá observar tudo quanto lhe ordenei.» Então, Manoé disse ao anjo do Senhor, «Por favor! Fica um pouco connosco, para te oferecermos um cabrito!» O anjo do Senhor disse a Manoé: «Ainda que me retivesses aqui, Eu não iria comer do teu pão; mas, se quiseres oferecer um holocausto, oferece-o ao Senhor !» É que Manoé não sabia que ele era o anjo do Senhor. Então, Manoé disse ao anjo do Senhor, «Qual é o teu nome? Pois queremos prestar-te homenagem, quando se realizarem as tuas palavras.» E o anjo do Senhor disse-lhe: «Por que razão mo perguntas? O meu nome é misterioso!» Então, tomou Manoé o cabrito com a oferenda e ofereceu-o sobre a rocha ao Senhor, que faz coisas misteriosas. Manoé e sua mulher observavam. Ora enquanto a chama subia do altar para o céu, subia também na chama do altar o anjo do Senhor; ao verem isto, Manoé e sua mulher caíram com a face por terra. O anjo do Senhor não voltou a aparecer a Manoé nem à sua mulher; foi então que Manoé reconheceu que era o anjo do Senhor. Disse Manoé à esposa: «Vamos morrer, não há dúvida, porque vimos o Senhor !» Disse-lhe, então, sua mulher: «Se o Senhor nos quisesse matar não teria recebido das nossas mãos o holocausto nem a oferenda; nem nos teria feito ver tudo isto; nem tão-pouco nos teria comunicado, neste momento, estas instruções.» A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão; o menino cresceu e o Senhor abençoou-o. Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do Senhor começou a agitar Sansão. Sansão desceu a Timna e viu lá uma mulher das filhas dos filisteus; voltou e comunicou a seu pai e a sua mãe, dizendo: «Vi em Timna uma mulher das filhas dos filisteus. Portanto, ide pedi-la para minha esposa.» Então, seu pai e sua mãe disseram-lhe: «Não há, porventura, uma mulher entre as filhas de teus irmãos e em todo o meu povo, para ires escolher mulher entre os filisteus, esses incircuncisos?» Mas Sansão disse a seu pai: «Pede-a para mim, pois é ela a que me agrada.» Seu pai e sua mãe não sabiam que isto acontecia por disposição do Senhor, que procurava um pretexto para combater os filisteus. Nesse tempo, os filisteus dominavam sobre Israel. Então, Sansão desceu a Timna com seu pai e sua mãe; quando chegaram às vinhas de Timna, eis que um jovem leão arremeteu contra eles, rugindo ferozmente. Apoderou-se dele o espírito do Senhor e Sansão, sem ter à mão qualquer arma, despedaçou-o como se despedaça um cabrito; mas não contou nem ao pai nem à mãe o que fizera. Depois desceu e falou à mulher e ela agradou a Sansão. Alguns dias depois, regressou para desposá-la, mas afastou-se do caminho para ver o cadáver do leão; e eis que, na carcaça do leão, havia um enxame de abelhas e mel. Recolheu-o na palma das mãos e, enquanto caminhava, foi comendo dele. Chegado junto do pai e da mãe, deu-lhes do mel; eles comeram, mas não lhes disse que colhera o mel da carcaça do leão. Depois, seu pai desceu à casa da mulher, e Sansão fez lá um banquete, pois assim costumavam fazer os jovens. Quando o viram, foram buscar trinta companheiros para ficarem com ele. Sansão disse-lhes: «Quero propor-vos um enigma; se vós, tendo-o decifrado, me revelardes o seu significado durante os sete dias dos festejos, dar-vos-ei trinta túnicas e trinta mudas de roupa. Mas, se vós não fordes capazes de mo revelar, sois vós quem tem de me dar, a mim, trinta túnicas e trinta mudas de roupa.» Eles disseram: «Pois propõe lá o enigma, que nós somos todos ouvidos!» Então, disse-lhes ele: «Do que come saiu o que se come, e do que é forte saiu o que é doce!» E, passados três dias, ainda eles não haviam sido capazes de decifrar o enigma. No sétimo dia, disseram à esposa de Sansão: «Seduz o teu marido para que ele nos revele o sentido do enigma; de outro modo, queimar-te-emos a ti e à casa de teu pai. Foi, talvez, para nos espoliar que nos convidastes?» Então, a mulher de Sansão desfez-se em lágrimas diante dele, dizendo-lhe: «Tu só me tens ódio! E não me tens amor! Desse enigma que propuseste ao meu povo, não me confiaste o seu significado!» Ele disse-lhe então: «Não o revelei a meu pai nem a minha mãe, e ia revelar-to a ti!» Ela desfez-se em lágrimas diante dele durante os sete dias que duraram os festejos; mas eis que, no sétimo dia, Sansão lhe revelou o sentido, pois ela o importunara. Então, ela explicou-o claramente aos filhos do seu povo. No sétimo dia, antes do pôr-do-sol, o povo da cidade disse a Sansão: «Que coisa há que seja mais doce do que o mel, e mais forte do que o leão?» Ele respondeu-lhes: «Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha não teríeis descoberto o meu enigma.» Apoderou-se dele, então, o espírito do Senhor, e foi a Ascalon; matou ali trinta homens, tomou os seus despojos e deu-os aos que lhe tinham revelado o significado do enigma. Fervendo de cólera, voltou para casa de seu pai. Quanto à mulher de Sansão, foi dada ao jovem que lhe servira de companheiro de boda. Ora, pouco tempo depois, na época da ceifa do trigo, foi Sansão visitar sua esposa, levando-lhe um cabrito; e disse: «Quero entrar no quarto de minha mulher.» Mas o pai dela não o deixou entrar, e disse a Sansão: «Para dizer a verdade, pensei para comigo que já não gostavas dela, e dei-a a um dos teus companheiros de boda. Contudo, a sua irmã mais nova vale mais do que ela. Que esta seja, pois, tua esposa em lugar dela.» Respondeu-lhe Sansão: «Agora, estou livre para fazer mal aos filisteus e vou fazer-lho.» Saiu, pois, apanhou trezentas raposas, prendeu-as duas a duas pelas caudas e, tomando tochas, atou uma tocha no meio das duas caudas. Pegou fogo às tochas e, soltando as raposas por entre as searas dos filisteus, queimou tanto o trigo que já estava atado aos molhos ou ainda por ceifar, como, também, as vinhas e os olivais. Então, os filisteus perguntaram: «Quem fez isto?» «Foi Sansão, o genro do homem de Timna, por ele ter tomado a sua esposa e tê-la dado a um dos seus companheiros de boda.» Os filisteus subiram, então, e queimaram a mulher de Sansão juntamente com seu pai. Disse-lhes Sansão: «Porque procedestes assim, não descansarei enquanto me não vingar outra vez.» Atacou-os, pois, impiedosamente, destroçando-os. Depois desceu e foi morar na gruta de Etam. Os filisteus entraram na terra de Judá para aí acamparem, dispersando-se até Leí. Disseram-lhes, então, os homens de Judá: «Por que razão viestes atacar-nos?» Eles responderam: «Viemos prender Sansão, a fim de lhe fazermos a ele o que ele nos fez a nós.» Então, três mil homens de Judá desceram à gruta do rochedo de Etam, e disseram a Sansão: «Não sabes que os filisteus nos dominam? Que é que nos fizeste?» Sansão respondeu: «Como eles me fizeram a mim, assim lhes fiz eu também.» Eles replicaram: «Nós viemos para te prender e entregar-te nas mãos dos filisteus.» Disse-lhes Sansão: «Jurai-me e prometei que não me matareis vós mesmos.» Eles responderam: «Não, nós só te queremos prender e entregar-te nas mãos deles; nós não queremos matar-te.» Ataram-no, então, com duas cordas novas e fizeram-no sair da gruta. Tendo chegado junto de Leí, os filisteus saíram-lhes ao encontro, soltando gritos de alegria; mas o espírito do Senhor apoderou-se dele e as duas cordas que lhe ligavam os braços tornaram-se como fios de linho derretidos ao fogo, caindo-lhe das mãos as ligaduras. Depois, tendo encontrado uma queixada de jumento ainda fresca, estendeu a mão, apanhou-a e matou com ela mil homens. Sansão exclamou: «Com a queixada de um jumento os destrocei; com uma queixada de jumento matei mil homens!» Quando acabou de falar, lançou para longe de si a queixada; por isso chamou-se àquele lugar Ramat-Leí. Sentindo uma sede intensa, invocou o Senhor, dizendo: «Foste Tu quem colocou nas mãos do teu servo esta grande vitória. Irei eu agora morrer de sede e cair nas mãos dos incircuncisos?» Então, Deus fendeu a rocha que está em Leí, e saiu dela água. Sansão bebeu e recobrou o espírito, reanimando-se. Por isso, deu-se o nome de En-Hacoré a essa fonte que ainda hoje se encontra em Leí. Sansão foi juiz em Israel durante vinte anos, no tempo dos filisteus. Sansão foi depois a Gaza, onde viu uma prostituta e entrou em casa dela. Disseram aos habitantes de Gaza: «Sansão veio cá.» Armaram-lhe uma emboscada durante toda a noite, às portas da cidade, e assim se mantiveram toda a noite, dizendo, «Esperemos a luz da manhã, e então o mataremos.» Sansão, porém, não dormiu mais do que até à meia-noite; à meia-noite levantou-se, agarrou os batentes da porta da cidade com os dois postes, arrancou-os com os ferrolhos, pô-los às costas e levou-os até ao alto do monte que fica em frente a Hebron. Depois disso, Sansão apaixonou-se por uma mulher que habitava no vale de Sorec, chamada Dalila. Os príncipes dos filisteus foram ter com ela e disseram-lhe: «Tenta seduzi-lo e descobre porque razão é tão grande a sua força, e de que modo poderemos ser mais fortes e prendê-lo para o dominar. Se conseguires, nós te daremos, cada um, mil e cem siclos de prata.» Dalila disse a Sansão: «Por favor, revela-me por que razão é tão grande a tua força e como poderás ser atado e dominado.» Sansão disse-lhe: «Se me ligassem com sete cordas de arco ainda frescas e húmidas, tornar-me-ia fraco, semelhante a qualquer homem.» Os príncipes dos filisteus levaram-lhe sete cordas de arco frescas e ainda húmidas; ela atou-o com elas. Ora a emboscada estava ali em casa, no quarto, e ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele rebentou as cordas, como quem rebenta um cordão de estopa mal se lhe chega o fogo; e não se soube o segredo da sua força. Disse, pois, Dalila a Sansão: «Ora aí está! Escarneceste de mim e mentiste-me! Revela-me agora como poderás ser atado.» Ele disse-lhe: «Se me atassem fortemente com cordas novas, com as quais ainda não tivesse sido feito trabalho algum, eu ficaria sem força e semelhante a qualquer homem.» Tomou, então, Dalila cordas novas e atou-o com elas, dizendo-lhe, depois: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» A emboscada estava a postos no quarto, mas ele rebentou as cordas que estavam à volta dos braços, como se fossem fios de uma tela. Então, disse Dalila a Sansão: «Até agora, só tens zombado de mim, e só me tens dito mentiras; revela-me agora como poderás ser atado.» Sansão disse-lhe: «Basta teceres sete tranças da minha cabeleira com a urdidura do teu tear.» Ela adormeceu-o, fixou as sete tranças com o torno do tear e gritou: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e arrancou o torno do tear com os liços. Dalila disse-lhe: «Como podes dizer ‘Amo-te’, se o teu coração não está comigo? São já três vezes que brincas comigo, sem me revelares por que é tão grande a tua força!» Ora, como todos os dias ela o cansava e importunava com estas palavras, Sansão caiu num abatimento mortal. Acabou por lhe abrir todo o seu coração e dizer-lhe: «Sobre a minha cabeça jamais passou a navalha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!» Dalila viu que ele lhe abrira todo o coração; mandou chamar os príncipes dos filisteus e disse-lhes: «Vinde, que, desta vez, ele abriu-me todo o seu coração.» Os príncipes dos filisteus foram ter com ela, levando consigo o dinheiro. Ela adormeceu Sansão sobre os seus joelhos, chamou um homem que lhe rapou as sete tranças da sua cabeleira; foi então que ele começou a ficar debilitado, e a sua força o abandonou. Ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e disse consigo mesmo: «Sair-me-ei bem como das outras vezes!» Mas ignorava que o Senhor se havia retirado dele. Os filisteus amarraram-no, arrancaram-lhe os olhos e levaram-no a Gaza, ligado com uma dupla cadeia de bronze; meteram-no na prisão e puseram-no a girar a mó. Mas, depois de ter sido rapado, os cabelos começaram de novo a crescer-lhe. Ora os príncipes dos filisteus reuniram-se para oferecer um grande sacrifício a Dagon, seu deus, e celebrar um banquete. E diziam: «O nosso deus entregou em nossas mãos Sansão, nosso inimigo.» O povo viu-o e louvou o seu deus, dizendo: «O nosso deus entregou-nos o nosso inimigo, que devastava a nossa terra e matava muitos dos nossos habitantes.» Como o seu coração estava alegre, os filisteus disseram: «Mandai vir Sansão para nos divertir.» Mandaram buscar Sansão à prisão, e ele começou a dizer gracejos diante deles; depois, colocaram-no entre as colunas. Sansão disse ao jovem que o guiava pela mão: «Guia-me e faz-me tocar as colunas sobre as quais assenta este edifício, a fim de me apoiar nelas.» Ora o templo estava repleto de homens e mulheres; estavam lá todos os príncipes dos filisteus e, sobre o terraço, cerca de três mil homens e mulheres que tinham assistido aos gracejos de Sansão. Então, Sansão invocou o Senhor e disse: «Senhor, meu Deus, eu te peço, lembra-te de mim e torna-me forte outra vez, a fim de me vingar, ó Deus, de uma vez por todas, dos filisteus, pela perda dos meus dois olhos.» Tocando, então, as duas colunas centrais sobre as quais repousava todo o edifício, tomou uma com a mão direita e a outra com a esquerda, e gritou: «Morra eu com os filisteus!» Então sacudiu fortemente as colunas, e o templo ruiu sobre os príncipes dos filisteus e sobre todo o povo aí presente. Deste modo, Sansão na sua morte, matou muito mais gente do que matara em toda a sua vida. Seus irmãos e toda a sua família desceram, então, a Gaza, levaram o seu corpo e sepultaram-no no túmulo de Manoé, seu pai, entre Sorá e Estaol. Sansão tinha sido juiz em Israel durante vinte anos. Havia um homem da montanha de Efraim chamado Miqueias. Ele disse à sua mãe: «Os mil e cem siclos de prata que te foram roubados, e em relação aos quais tu própria pronunciaste uma maldição na minha presença ao dizer: ‘Este dinheiro é meu!’ Eis que eu mesmo o tomei para mim!» Sua mãe disse: «Sê abençoado, meu filho, pelo Senhor!» Então, ele devolveu à mãe os cento e dez siclos de prata, e esta disse-lhe: «De facto, eu própria consagrei ao Senhor este dinheiro em favor do meu filho, para se fazer com ele um ídolo e uma imagem de metal. Por isso, vou devolver-to.» Assim, quando ele entregou o dinheiro à mãe, ela pegou em duzentos siclos de prata que mandou entregar ao fundidor; este fez com a prata um ídolo e uma imagem de metal que foi colocada na casa de Miqueias. Então, a casa de Miqueias tornou-se para ele um santuário de Deus; mandou fazer uma insígnia votiva e ídolos domésticos e consagrou um dos seus filhos, que se tornou seu sacerdote. Naquele tempo, não havia rei em Israel; cada um fazia o que bem lhe parecia. Ora havia também um jovem de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita e morava ali como estrangeiro. Tinha partido da cidade de Belém à procura de um lugar onde pudesse morar como estrangeiro; chegou à montanha de Efraim, e foi andando sempre até à casa de Miqueias. Miqueias perguntou-lhe: «De onde vens tu?» E ele disse-lhe: «Eu sou um levita de Belém de Judá e ando à procura de um sítio onde possa residir como estrangeiro.» Então, Miqueias disse-lhe: «Fica, pois, comigo, e sê para mim um pai e um sacerdote. Pela minha parte, vou dar-te dez siclos de prata por ano, vestuário e alimento suficientes.» O jovem levita concordou em ficar na companhia deste homem, que passou a considerá-lo como um dos seus filhos. Miqueias investiu-o como sacerdote, e ele ficou na casa de Miqueias. Este disse, então: «Agora sei que o Senhor me vai tratar bem, porque este levita se tornou meu sacerdote.» Naquele tempo, não havia rei em Israel e, naqueles dias, a tribo de Dan andava à procura de uma terra onde habitar, pois até então não recebera ainda o que lhe tocava em herança entre as tribos de Israel. Então, os habitantes de Dan enviaram cinco homens da sua tribo de entre os seus mais valentes guerreiros de Sorá e Estaol para explorarem o país e fazerem o seu reconhecimento. Disseram-lhes: «Ide; fazei o reconhecimento do país.» Eles foram, chegaram à montanha de Efraim, à casa de Miqueias e lá pernoitaram. Mal chegaram à casa de Miqueias, logo reconheceram a voz do jovem levita; aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Quem te trouxe para aqui? Que fazes tu por estas paragens? Que é que te retém nesta terra?» Ele respondeu-lhes: «Miqueias fez-me assim e assim; contratou-me e eu tornei-me seu sacerdote.» Eles disseram-lhe: «Por favor, faz uma consulta a Deus, para sabermos se a viagem que empreendemos resultará.» O sacerdote disse-lhes: «Ide em paz; o Senhor vela pelo caminho em que andais.» Os cinco homens puseram-se a caminho e chegaram a Laís; viram que o povo ali residente vivia em segurança, tranquilo e confiante, à maneira dos habitantes de Sídon. Não havia naquela terra nenhum rei que dominasse sobre os habitantes ou os molestasse em qualquer coisa; viviam longe dos sidónios; em nada dependiam de ninguém. Os cinco homens regressaram para junto dos seus irmãos de Sorá e Estaol. Estes disseram-lhes: «Que vos parece?» E eles responderam: «Levantemo-nos e marchemos contra eles, pois nós vimos a terra e é um excelente país. Vós, porém, vós ficais sem dizer palavra? Que a vossa inércia vos não impeça de partir, de entrar nessa terra e de vos apossardes dela. Quando lá entrardes, tereis chegado junto de um povo confiante; a terra é muito espaçosa em todas as direcções, pois Deus pôs em vossas mãos um lugar onde nada falta de todos os bens da terra.» Partiram, então, de lá, da tribo de Dan, de Sorá e de Estaol, seiscentos homens, equipados com armas de guerra. Foram acampar em Quiriat-Iarim, em Judá. Por isso é que, até hoje, este lugar se chama Maané-Dan; fica a oeste de Quiriat-Iarim. Dali passaram à montanha de Efraim e chegaram à casa de Miqueias. Os cinco homens que tinham ido até Laís explorar o país, tomaram a palavra e disseram aos irmãos: «Sabeis que há nestas casas uma insígnia sacerdotal, instrumentos de oráculo, um ídolo e uma imagem em metal? Pois então vede bem o que se vos impõe fazer.» Afastaram-se dali e foram à casa do jovem levita, a casa de Miqueias, e saudaram-no desejando-lhe a paz. Entretanto, os seiscentos homens armados tomavam posição à entrada da porta dos habitantes de Dan. Os cinco homens que tinham ido explorar o país subiram ao patamar, penetraram na casa e tomaram o ídolo, a insígnia sacerdotal, os deuses familiares e a imagem em metal, enquanto o sacerdote se mantinha à porta, bem como os seiscentos homens equipados com armas de guerra. Com os que foram à casa de Miqueias tiraram a imagem, a insígnia sacerdotal e os deuses familiares. O sacerdote perguntou-lhes: «Que fazeis vós aí?» Eles disseram-lhe: «Cala-te; põe a mão sobre a boca e anda connosco! Serás para nós pai e sacerdote! Será mais útil seres o sacerdote da casa de um só homem ou de uma tribo e de um clã em Israel?» O coração do sacerdote alegrou-se ao ouvir isto; tomou a insígnia sacerdotal, os instrumentos de oráculo e o ídolo, e avançou para o meio do grupo. Retomando a caminhada foram-se embora de novo, colocando à frente as crianças, o gado e as bagagens. Estavam já longe da casa de Miqueias, quando os vizinhos dele se amotinaram em perseguição dos danitas. Estavam já perto e gritaram fortemente aos habitantes de Dan; mas estes, voltando-se, disseram a Miqueias: «Que tens tu? Porque te amotinas?» Ele respondeu: «Vós roubastes-me os deuses que fiz para mim, bem como o sacerdote e pusestes-vos em fuga. Que me resta agora? Como é que vos atreveis ainda a dizer-me: ‘Que tens tu?’» Os habitantes de Dan replicaram: «Que mais ninguém oiça o que nos estás a dizer! Senão, homens tresloucados de espírito poderiam cair sobre vós e, em tal caso, perderias a vida, tu e a tua casa!» Os danitas continuaram seu caminho; Miqueias, vendo que eles eram mais fortes do que ele, voltou para trás e foi para sua casa. Os habitantes de Dan tomaram tudo quanto Miqueias tinha fabricado, juntamente com o sacerdote que ele tinha ao seu serviço, e dirigiram-se para Laís. Atacaram aquele povo tranquilo e desprevenido, passando-o ao fio da espada; à cidade, deitaram-lhe fogo e incendiaram-na. Não houve quem acudisse, pois ela ficava longe de Sídon, e eles não tinham relações com ninguém; ela, de facto, fica situada na planície de Bet-Reob. Reconstruíram a cidade e habitaram nela. Puseram-lhe o nome de Dan, pois o seu antepassado era Dan, filho de Israel; o seu nome primitivo era Laís. Os filhos de Dan instalaram ali o ídolo. Jónatas, filho de Gérson, filho de Moisés, e seus descendentes foram os sacerdotes da tribo de Dan até à época do exílio no país. Instalaram o ídolo que Miqueias construíra, e ele aí ficou durante todo o tempo em que o santuário de Deus existiu em Silo. Ora, nesses dias, não havia rei em Israel. Aconteceu que um certo levita veio fixar-se junto da montanha de Efraim; tomou para si como mulher uma concubina de Belém de Judá. Essa concubina foi-lhe infiel e voltou para a casa de seu pai, em Belém de Judá, e ficou aí por um certo tempo, quatro meses inteiros. O marido foi ao seu encontro falando-lhe ao coração, a ver se conseguia reconduzi-la para junto de si. Levou consigo um criado e dois jumentos. A concubina fê-lo entrar em casa de seu pai. O pai da jovem, mal o viu, saiu feliz ao seu encontro. O sogro, pai da jovem, reteve-o em sua casa; ficou com ele durante três dias comendo, bebendo e dormindo ali. No quarto dia, levantaram-se de manhã cedo; estando ele decidido a partir, o sogro deteve-o e disse ao genro: «Restaura as tuas forças com um bocado de pão; depois partirás.» Sentaram-se, comeram e beberam juntos. O pai da jovem disse, então, a este homem: «Fica aqui esta noite, por favor, e que se alegre o teu coração.» Como o homem se levantasse disposto a partir, o seu sogro instou com ele; tornou a sentar-se e passou ali ainda aquela noite. Levantou-se de manhã cedo, no quinto dia, com intenção de partir; o pai da jovem disse outra vez: «Peço-te que restaures as tuas forças e adies a tua partida para o declinar deste dia.» E tornaram a comer juntos. Levantou-se, então, o homem resolvido a partir com a sua concubina e o criado. Disse-lhe, pois, o seu sogro, o pai da jovem: «Eis que o dia já desce; é quase noite; pernoita aqui, pois o dia declina; fica aqui; o teu coração rejubilará; partirás amanhã e chegarás à tua casa.» O homem, porém, não concordou em passar a noite; levantou-se e partiu. Chegou perto de Jebús, que é Jerusalém, e com ele os dois jumentos carregados e a sua concubina. Quando chegaram perto de Jebús, já o dia ia muito baixo. Disse então o jovem ao seu amo: «Vamos! Tomemos o caminho de Jebús. Ei-la aí; passemos lá a noite.» Respondeu-lhe o seu amo: «Não, não hei-de entrar numa cidade estrangeira; não é dos filhos de Israel! Nós iremos até Guibeá. Vamos, então – disse ele ao seu amo. Vamos atingir um desses lugares, e passemos a noite em Guibeá ou em Ramá.» Andando, pois, para diante, foram e aproximaram-se de Guibeá, na tribo de Benjamim. Afastaram-se dali a fim de passarem a noite em Guibeá. O levita entrou e sentou-se na praça da cidade; ninguém os acolheu em sua casa para passarem a noite. Eis que, ao anoitecer, um velho veio do seu trabalho no campo. O homem era da montanha de Efraim; era viajante em Guibeá; os habitantes do local eram filhos de Benjamim. Erguendo os olhos viu aquele forasteiro sentado na praça da cidade e disse o velho: «Para onde vais e de onde vens?» Ele respondeu-lhe: «Partindo de Belém de Judá, viajamos em direcção ao extremo da montanha de Efraim. Eu sou de lá. Fui a Belém de Judá e agora volto para a casa do Senhor; não há ninguém que me acolha em sua casa. Há palha e há feno para os nossos jumentos e há pão e vinho para mim, para a tua serva e para o jovem que acompanha o teu servo; não estamos a precisar de nada!» O velho respondeu: «A paz esteja contigo; tudo o que precisares é comigo! Não passes a noite na praça!» Fê-lo entrar em sua casa e deu forragem aos jumentos; lavaram os pés, comeram e beberam. Enquanto restauraram as forças, eis que os homens da cidade, homens perversos, cercaram a casa, bateram com violência e disseram ao velho, dono da casa: «Manda cá para fora o homem que entrou para a tua casa, a fim de o conhecermos.» O dono da casa saiu a ter com eles e disse-lhes: «Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço, por favor; não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou em minha casa, não pratiqueis tal desonra! Eis a minha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair; abusai delas; fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, porém, não lhe façais uma infâmia desta natureza!» Os homens, porém, não quiseram ouvi-lo; então o homem, o levita, tomou a sua mulher e levou-lha lá para fora; eles conheceram-na e satisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite, até ao amanhecer; deixaram-na livre só de manhãzinha. Ao raiar da aurora a mulher caiu por terra à porta da casa do homem onde estava o seu marido, até vir o dia. O seu marido levantou-se de manhã cedo; abriu as portas de casa e saiu para seguir o seu caminho. Eis que a mulher, sua concubina, jazia prostrada à porta de casa de mãos estendidas sobre a soleira. Disse-lhe então: «Levanta-te e vamos!» Mas ela não respondeu! O homem colocou-a então sobre a sua montada; e partiu em direcção a sua casa. Tendo chegado lá, pegou num cutelo e, agarrando na sua concubina, esquartejou-a membro a membro em doze pedaços, enviando-os depois a todas as tribos de Israel. Quem via isto exclamava: «Nunca aconteceu nem se viu tal coisa, desde o dia em que os filhos de Israel subiram da terra do Egipto até este dia. Pensai bem nisto! Consultai-vos sobre isto e pronunciai-vos!» Todos os filhos de Israel se movimentaram, pois, como um só homem; reuniram-se à volta do Senhor, em Mispá, desde Dan a Bercheba, e bem assim a terra de Guilead. Todos os chefes do povo de todas as tribos de Israel se apresentaram perante a assembleia do povo de Deus, em número de quatrocentos mil homens, soldados de infantaria, peritos em manejar a espada. Os filhos de Benjamim ouviram dizer que os filhos de Israel tinham subido a Mispá. Disseram, então, os filhos de Israel: «Contai-nos de que modo aconteceu este crime.» O levita, marido da mulher assassinada, respondendo, disse: «Eu tinha chegado com a minha concubina a Guibeá de Benjamim, para aí passarmos a noite. Amotinaram-se contra mim os senhores de Guibeá e, durante a noite, cercaram a casa em que eu estava e queriam matar-me; abusaram da minha concubina e ela morreu. Tomei-a e cortei-a em pedaços, enviando-a a toda a terra da herança de Israel, porque eles tinham perpetrado um crime vergonhoso, uma infâmia em Israel. Vós todos, filhos de Israel, dai um parecer e tomai uma decisão entre vós, aqui e agora!» Todo o povo, como um só homem, se levantou dizendo: «Nenhum de nós voltará à sua tenda, nenhum de nós regressará a sua casa. Eis o que agora vamos fazer a Guibeá: subiremos contra ela, por tiragem à sorte. Em todas as tribos de Israel tomaremos dez homens em cada cem, cem em cada mil e mil em cada dez mil, para irem procurar mantimentos para o povo, para aqueles que irão tratar Guibeá de Benjamim segundo a infâmia que cometeu contra Israel.» E todos os homens de Israel, como um só homem, se juntaram e foram unidos contra a cidade. As tribos de Israel enviaram mensageiros a toda a tribo de Benjamim a dizer: «Que crime é este que se cometeu no meio de vós? Agora entregai-nos esses homens malvados que estão em Guibeá e nós os mataremos e arrancaremos o mal de Israel.» Os filhos de Benjamim, porém, não quiseram dar ouvidos à voz de seus irmãos, os filhos de Israel. Juntaram-se os filhos de Benjamim, vindos das suas cidades, em Guibeá, para saírem a guerrear contra os filhos de Israel. Nesse dia, vindos das suas cidades, os filhos de Benjamim recensearam-se em cerca de vinte e seis mil, peritos em manejar a espada, sem contar os habitantes de Guibeá, cujo recenseamento contava uns setecentos homens escolhidos. Entre todo este povo havia setecentos homens de elite esquerdinos, todos hábeis em atirar pedras com a funda a um cabelo, sem falhar. Os homens de Israel recensearam-se, sem contar os de Benjamim, em número de quatrocentos mil, hábeis em manejar a espada e todos bons combatentes. Partiram, pois, e subiram a Betel para consultar a Deus; os filhos de Israel perguntaram: «Quem de nós subirá primeiro para lutar contra os filhos de Benjamim?» Então, o Senhor respondeu: «Judá será o primeiro.» Partiram os filhos de Judá, na manhã seguinte, e acamparam junto de Guibeá. Tendo saído para combater os de Benjamim, os homens de Israel organizaram-se em ordem de batalha contra eles junto de Guibeá. Os filhos de Benjamim saíram de Guibeá e nesse dia destroçaram vinte e dois mil homens de Israel. O povo dos homens de Israel refez-se, e de novo se organizaram para a batalha no mesmo lugar em que tinham estado no primeiro dia. Os filhos de Israel subiram para chorar diante do Senhor até à tarde; então consultaram o Senhor dizendo: «Deverei voltar a travar combate, contra os filhos de Benjamim, meu irmão?» O Senhor respondeu-lhes: «Subi contra eles.» No segundo dia, os filhos de Israel atacaram os filhos de Benjamim. Neste segundo dia, Benjamim saiu de Guibeá contra eles, e destruiu ainda dezoito mil homens de entre os filhos de Israel, todos peritos no manejo da espada. Todos os filhos de Israel e todo o povo subiram, então, e chegaram a Betel; ali choraram sentados no chão diante do Senhor, jejuaram nesse dia até à tarde; ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão, na presença do Senhor. Os filhos de Israel consultaram o Senhor. Ali se encontrava, naqueles dias, a Arca da aliança do Senhor. Fineias, filho de Eleázar, filho de Aarão, colocou-se diante dela, nessa altura, dizendo: «Deverei eu, ainda, sair para combater contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou, pelo contrário, devo renunciar a isso?» E o S disse: «Subi, que Eu amanhã pô-los-ei nas tuas mãos!» Israel pôs homens de emboscada a toda a volta de Guibeá. No terceiro dia, os filhos de Israel subiram contra os filhos de Benjamim e organizaram-se contra Guibeá, como das outras vezes. Então, os filhos de Benjamim saíram ao encontro do povo, distanciando-se muito da cidade e começaram a fazer vítimas entre o povo como antes; mataram cerca de trinta homens de Israel, em campo raso e pelas estradas que sobem uma para Betel e outra para Guibeá. Disseram os filhos de Benjamim: «Ei-los feridos diante de nós, como ao princípio.» Porém, os filhos de Israel tinham dito: «Vamos fugir; vamos atraí-los para longe da cidade, nas estradas.» Então, todos os homens de Israel se levantaram das suas posições e se organizaram em ordem de combate junto de Baal-Tamar, enquanto a emboscada de Israel irrompia da sua posição, na planície de Guibeá. Assim, dez mil homens, seleccionados de entre todo o povo de Israel, chegaram diante de Guibeá; a batalha foi dura; não sabiam os filhos de Benjamim que a desgraça lhes estava mesmo iminente. O Senhor feriu Benjamim na presença de Israel e, nesse dia, os filhos de Israel deram morte a vinte e cinco mil e cem homens, todos eles valentes guerreiros e hábeis no manejo da espada. Então, os filhos de Benjamim reconheceram que haviam sido derrotados. Os homens de Israel tinham cedido terreno a Benjamim para fugir, porque confiavam na emboscada que tinham preparado junto de Guibeá. A emboscada lançou-se contra Guibeá com toda a violência, expandiu-se e bateu toda a cidade a golpe de espada. Havia uma combinação dos homens de Israel com os da emboscada, de que estes fizessem subir da cidade uma fumarada como sinal. Os homens de Israel tiveram uma reviravolta na batalha; logo Benjamim começou a fazer mortandade entre os homens de Israel, matando cerca de trinta homens, e dizendo: «Eles estão completamente batidos na nossa frente, como no início da batalha.» O sinal, porém, uma nuvem de fumo, começava já a elevar-se da cidade; então, mal Benjamim retrocedeu, eis que toda a cidade se elevava em chamas para os céus. Os homens de Israel tinham feito, pois, uma reviravolta, e por isso os homens de Benjamim ficaram aterrorizados, pois viam que a desgraça tinha, de facto, caído sobre eles. Voltaram costas diante dos homens de Israel, fugindo em direcção ao deserto; a batalha, porém, apertava-os, e então os que vinham da cidade matavam-se ali mesmo uns aos outros. Cercaram Benjamim, perseguiram-no sem réplica, espezinhando-o até à frente de Guibeá, do lado do sol-nascente. Morreram dezoito mil homens de Benjamim, todos eles homens valentes. Voltaram as costas e fugiram para o deserto em direcção ao rochedo de Rimon; foram massacrados pelas estradas cinco mil homens; foram perseguidos outros até Guideom e mortos dois mil homens. O total de mortos de Benjamim naquele dia foi de vinte e cinco mil, todos peritos no manejo da espada e valentes guerreiros. Seiscentos homens voltaram as costas e refugiaram-se no deserto, para os lados do rochedo de Rimon, onde ficaram cerca de quatro meses. Os homens de Israel, porém, voltaram contra os filhos de Benjamim e passaram a fio de espada, de cidade em cidade, desde os homens aos animais, quantos encontravam; e entregaram às chamas todas as cidades que encontraram. Os homens de Israel tinham jurado em Mispá, dizendo: «Nenhum dos nossos homens dará uma filha sua a um habitante de Benjamim como esposa.» Então, o povo foi a Betel e ficou ali até à tarde, diante de Deus; levantavam a voz e choravam em altos gritos. Disseram, pois: «Senhor, Deus de Israel, como foi possível uma coisa destas? Falta hoje uma tribo em Israel!» E assim, no dia seguinte, o povo ergueu ali um altar e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão. Disseram os filhos de Israel: «Qual é, de todas as tribos de Israel, a que não subiu a tomar parte na assembleia em presença do Senhor ?» É que tinha havido um solene juramento contra quem não tivesse subido a Mispá, onde se dizia: «Morra sem remissão!» Os filhos de Israel tinham muita pena dos habitantes de Benjamim, seus irmãos, e disseram: «Hoje, uma tribo foi arrancada de Israel! Que poderemos nós fazer por eles, a fim de dar esposas aos que restam, uma vez que nós jurámos pelo Senhor não lhes dar as nossas filhas em casamento?» Então disseram: «Há alguma das tribos de Israel que não tenha subido à presença do Senhor, em Mispá?» Eis que de Jabés de Guilead ninguém tinha ido à assembleia, no acampamento. Realmente, quando o povo se apresentou para o recenseamento, não havia lá nenhum homem que fosse de Jabés de Guilead. Então, a comunidade mandou lá doze mil guerreiros fortes, dando-lhes a ordem seguinte: «Ide e passai a fio de espada os habitantes de Jabés de Guilead, incluindo mulheres e crianças. Eis o que deveis fazer: votai ao anátema todo o homem e também toda a mulher que tenha tido relações sexuais com um homem, deixando com vida as solteiras.» Encontraram entre os habitantes de Jabés de Guilead quatrocentas jovens virgens, que não tinham tido relações sexuais com nenhum homem; levaram-nas ao acampamento, em Silo, que fica na terra de Canaã. Toda a comunidade enviou mensageiros aos filhos de Benjamim, que vivem junto do rochedo de Rimon, anunciando-lhes paz. Então, os filhos de Benjamim voltaram a suas casas e deram-lhes as mulheres poupadas à chacina de entre as de Jabés de Guilead; nem todos, porém, tiveram mulher, pois não chegaram para todos. O povo teve pena de Benjamim, por o Senhor ter aberto uma brecha nas tribos de Israel. Então, os anciãos da assembleia disseram: «Que havemos de fazer para que os que ainda restam tenham mulher, uma vez que as mulheres de Benjamim foram exterminadas?» E diziam: «Poderá Benjamim possuir um resto, de modo que uma tribo não seja exterminada de Israel? Nós não podemos dar-lhes as nossas filhas em casamento.» Com efeito, os filhos de Israel tinham feito o seguinte juramento: «Maldito seja quem der mulher a Benjamim.» Apesar disso, disseram: «Todos os anos há em Silo a festa do Senhor. Silo fica a norte de Betel, a leste da estrada que sobe de Betel a Siquém, a sul de Lebona.» Ordenaram, pois, aos filhos de Benjamim, dizendo: «Ide, e ponde-vos de emboscada nas vinhas. Prestai atenção! Quando as filhas de Silo saírem para dançar em roda, saireis das vinhas e raptareis cada um a sua, de entre as filhas de Silo. Depois, ireis para a terra de Benjamim. Se, por acaso, seus pais ou seus irmãos vierem questionar connosco, dir-lhes-emos: ‘Tende pena deles, pois não puderam tomar mulher para si, durante a guerra. Por outro lado, nem vós poderíeis dar-lhas; seríeis culpados!’» Assim fizeram os filhos de Benjamim: entre as jovens dançarinas que raptaram, levaram mulheres em número igual ao deles. Partiram, depois, e regressaram à terra da sua herança; reconstruíram as cidades e estabeleceram-se lá! Nessa altura, os filhos de Israel dispersaram-se também cada um para a sua tribo e seu clã; dali partiram cada um para a terra da sua herança. Naquele tempo não havia rei em Israel; por isso, cada um fazia o que bem lhe parecia. No tempo em que os Juízes governavam, uma fome assolou o país. Certo homem de Belém de Judá emigrou para os campos de Moab com sua mulher e seus dois filhos. Esse homem chamava-se Elimélec; sua mulher, Noemi; e os dois filhos, Maalon e Quilion. Eram efrateus, de Belém de Judá. Ao chegarem aos campos de Moab, ali se estabeleceram. Entretanto, Elimélec, esposo de Noemi, morreu, deixando-a com os seus dois filhos. Eles tomaram para si mulheres moabitas, uma chamada Orpa e outra Rute. Viveram ali cerca de dez anos. Morrendo Maalon e Quilion, Noemi ficou só, sem os seus dois filhos e sem o marido. Então levantou-se, na companhia das duas noras, para regressar dos campos de Moab, pois ouvira dizer que o Senhor tinha visitado o seu povo e lhes tinha dado pão. Noemi deixara aquela terra onde vivera e, com as suas duas noras, pusera-se a caminho para regressar à terra de Judá. Mas Noemi disse às suas duas noras: «Ide, voltai cada uma para casa da vossa mãe. Que o Senhor use de misericórdia convosco, como vós usastes comigo e com os que morreram! O Senhor vos conceda encontrar a paz cada uma em casa do seu marido!» Então, ela beijou-as, em despedida. Mas elas, começando a soluçar, disseram: «Não! Nós queremos voltar contigo para o teu povo.» Noemi respondeu-lhes: «Parti, minhas filhas. Porque haveis de vir comigo? Porventura tenho eu ainda no meu seio filhos para que de mim possais esperar outros maridos? Voltai, minhas filhas, pois já estou demasiado velha para me casar de novo. E ainda que eu dissesse: ‘Tenho esperança. Sim, esta noite pertencerei a um homem e gerarei filhos.’ Acaso iríeis esperar que eles se tornassem grandes, sem casardes de novo? Não, minhas filhas! Pensando em vós, a minha amargura é sem medida, porque a mão do Senhor pesa sobre mim.» Elas choraram novamente em alto pranto. Entretanto, Orpa beijou a sua sogra e retirou-se, mas Rute permaneceu na sua companhia. Noemi disse-lhe: «Vês, a tua cunhada voltou para o seu povo e para os seus deuses. Vai tu também com a tua cunhada.» Mas Rute respondeu: «Não insistas para que te deixe, pois onde tu fores, eu irei contigo e onde pernoitares, aí ficarei; o teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus. Onde morreres, também eu quero morrer e ali serei sepultada. Que o Senhor me trate com rigor e ainda o acrescente, se até mesmo a morte me separar de ti.» Vendo que ela estava assim decidida, Noemi não insistiu mais com ela. Seguiram juntas e chegaram a Belém. Mal entraram na cidade, toda a Belém se alvoroçou por causa delas, e as mulheres diziam: «Esta é Noemi?» Ela replicava: «Não me chameis Noemi! Chamai-me Mara, porque o Todo-Poderoso encheu-me de amargura. Parti com as mãos cheias e o Senhor fez-me voltar de mãos vazias. Porque me chamais Noemi, se o Senhor me humilhou e o Todo-Poderoso me maltratou?» Foi assim que Noemi voltou, e com ela a sua nora, Rute, que era originária dos campos de Moab. E chegaram a Belém, no início da colheita da cevada. Noemi tinha um parente por parte do seu marido, Elimélec; era um homem poderoso e rico, chamado Booz. Rute, a moabita, disse a Noemi: «Por favor, deixa-me ir respigar nos campos de alguém que queira acolher-me com bondade.» E ela respondeu-lhe: «Vai, minha filha.» Ela foi e entrou num campo, respigando atrás dos ceifeiros. Aconteceu que aquele campo era propriedade de Booz, parente de Elimélec. Booz acabara de chegar de Belém e dirigiu-se aos ceifeiros: «O Senhor esteja convosco!» E eles responderam-lhe: «Que o Senhor te abençoe!» Booz perguntou ao seu servo que era supervisor dos ceifeiros: «De quem é aquela jovem?» O servo que era supervisor dos ceifeiros respondeu-lhe, «Esta é a jovem moabita que voltou com Noemi da terra de Moab. Pediu-nos, por favor, que a deixássemos respigar e recolher espigas atrás dos ceifeiros. Ela veio e aqui tem ficado desde manhã até agora, e nem por um pouco foi a casa descansar.» Booz disse a Rute: «Já ouviste, minha filha. Não vás respigar noutro campo; não te afastes deste e junta-te às minhas servas. Repara no campo por onde vão a ceifar e vai atrás delas. Pois ordenei aos meus servos que não te incomodem. E se tiveres sede, vai à bilha e bebe da água que eles tiverem trazido.» Rute, prostrando-se por terra, disse-lhe: «Porque encontrei tal bondade da tua parte, tratando-me como natural, a mim que sou uma estrangeira?» Replicando, Booz disse-lhe: «Já me contaram tudo o que fizeste pela tua sogra, depois da morte do teu marido: como deixaste o teu pai, a tua mãe e a terra onde nasceste e vieste para um povo que há bem pouco nem conhecias. O Senhor te pague por todo o bem que fizeste; que o Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas te acolheste, te dê a recompensa merecida.» Ela respondeu: «Que eu encontre sempre bondade da tua parte, meu senhor, pois me reconfortaste e falaste ao coração desta tua escrava, embora não seja digna de vir a ser sequer uma das tuas escravas.» À hora de comer, Booz disse-lhe: «Chega-te para aqui! Come do pão e molha o teu bocado no molho de vinagre.» Ela sentou-se ao lado dos ceifeiros, e Booz ofereceu-lhe grão torrado; ela comeu até se saciar e guardou o resto. Depois, levantou-se e foi respigar. Booz disse, então, aos criados: «Ela pode respigar mesmo entre as paveias. Não lho impeçam! Deixai mesmo cair algumas espigas dos feixes, abandonando-as, para que ela as apanhe, e não a censureis.» Rute esteve, pois, respigando no campo até à tarde. Depois, debulhou as espigas que tinha respigado e era quase um efá de cevada. Levando a cevada, Rute entrou na cidade e mostrou à sua sogra o que tinha respigado. Em seguida, tirou aquilo que lhe tinha sobrado da refeição e deu-lho. A sogra perguntou-lhe: «Onde respigaste hoje? Onde andaste a trabalhar? Bendito seja aquele que te acolheu!» Ela contou à sua sogra em que campo tinha andado a trabalhar e disse-lhe: «O nome do homem em cujo campo trabalhei hoje é Booz.» Noemi disse à sua nora: «Abençoado seja ele pelo Senhor, que não renegou a sua bondade para com os vivos e para com os mortos.» E acrescentou: «Esse homem é ainda nosso parente, um dos que têm direito de resgate sobre nós.» Rute, a moabita, respondeu: «Ele também me disse que ficasse com os seus servos até acabarem toda a ceifa.» Noemi replicou à sua nora: «É realmente melhor andares com as suas servas, para não te tratarem mal noutro campo qualquer.» Ela ficou, pois, junto das servas de Booz, a respigar até ao fim da ceifa da cevada e da ceifa do trigo. Depois, voltou para casa da sua sogra. A sua sogra, Noemi, disse-lhe: «Minha filha, tenho de te procurar um aconchego em que te sintas bem. Ora bem, este Booz, nosso parente, com cujas servas andaste, vai joeirar esta tarde a cevada da sua eira. Lava-te, perfuma-te, põe os teus melhores vestidos e desce à eira, mas não te dês a conhecer a esse homem, até que ele tenha acabado de comer e de beber. Quando se for deitar, observa o lugar em que ele dorme. Então, entra e levanta a parte da manta com que ele cobre os pés e deita-te; ele mesmo te dirá aquilo que deves fazer.» Rute respondeu-lhe: «Farei tudo o que me dizes.» Rute desceu, pois, à eira e fez tudo como a sogra lhe tinha recomendado. Booz comeu e bebeu, e o seu coração ficou bem disposto; depois, foi e deitou-se junto de um monte de feixes. Rute aproximou-se de mansinho, afastou a manta que lhe cobria os pés e deitou-se ali. Pelo meio da noite, o homem acordou espavorido e perturbado, ao ver uma mulher deitada a seus pés. E disse-lhe: «Quem és tu?» Ela respondeu: «Sou Rute, a tua serva. Estende o teu manto sobre a tua serva, porque tens o direito de resgate.» Ele disse: «O Senhor te abençoe, minha filha. Esta tua última bondade vale mais do que a primeira, porque não procuraste jovens, pobres ou ricos. Agora, minha filha, não temas: farei por ti tudo o que tu disseres, porque toda a gente da minha cidade sabe que és uma mulher de valor. Ora, é verdade que eu sou teu parente, mas há outro que é parente mais próximo do que eu. Fica aqui esta noite. Amanhã, se ele quiser usar do seu direito de resgate sobre ti, está bem. Se o não quiser fazer, eu o farei. Juro pelo Senhor, Deus vivo! Dorme, pois, até de manhã.» Ela ficou deitada aos seus pés até de madrugada e levantou-se antes de a luz deixar distinguir as pessoas umas das outras, pois Booz não queria que se soubesse que aquela mulher tinha estado na eira. E Booz acrescentou: «Estende o manto que tens sobre ti e segura-o.» Ela estendeu-o e Booz encheu-o com seis medidas de cevada, que lhe pôs às costas. Assim, Rute entrou na cidade. Voltou para junto da sua sogra que lhe perguntou: «Como vais, minha filha?» Rute contou-lhe, então, tudo o que aquele homem fizera por ela e acrescentou: «Ele deu-me estas seis medidas de cevada, dizendo-me: ‘Não voltarás de mãos vazias, para a tua sogra.’» Disse-lhe, então, Noemi: «Espera, minha filha, até sabermos como vai terminar tudo isto. Esse homem não descansará, enquanto não tiver concluído o assunto, hoje mesmo.» Então, Booz subiu até à porta da cidade e sentou-se ali. Vendo passar o parente de resgate de quem falara, chamou-o e disse-lhe: «Vem aqui um momento e senta-te.» O homem foi e sentou-se. Booz chamou dez homens dos anciãos da cidade e disse-lhes: «Sentai-vos aqui.» Logo que se sentaram, falou de resgate ao seu parente, nestes termos: «Noemi, que voltou da terra de Moab, está para vender a parte do campo que pertencia ao nosso parente Elimélec. Quis informar-te disto e propor-te que a compres, diante dos que estão aqui presentes e dos anciãos do meu povo. Se queres usar do teu direito de resgate, usa-o. Se não queres resgatar, diz-mo para que eu saiba, pois não há outro parente de resgate senão tu e, a seguir, eu.» O homem respondeu: «Eu farei o resgate.» Replicou-lhe Booz: «Comprando esta terra da mão de Noemi, terás de receber Rute, a moabita, mulher do defunto, para conservar o nome do defunto sobre a sua herança.» Ele respondeu: «Nesse caso, não a posso resgatar por minha própria conta, porque isto viria prejudicar o meu património. Usa do teu direito de resgate, já que o não posso fazer.» Era costume antigo em Israel, nos casos de resgate ou transmissão de propriedade, que um homem tirasse a sandália e a desse ao outro, para a validade da transacção; isto servia de ratificação para os israelitas. O parente de resgate disse, pois, a Booz: «Compra a parte do campo para ti.» E tirou a sandália. Booz disse aos anciãos e a todo o povo: «Sois hoje testemunhas de que comprei, da mão de Noemi, tudo o que pertencia a Elimélec, a Quilion e a Maalon. Com isto adquiro, igualmente, por mulher Rute, a moabita, viúva de Maalon, para conservar o nome do defunto, sobre a sua herança e para que este nome não seja eliminado de entre os seus irmãos e da porta da sua cidade. Vós sois, hoje, testemunhas disso.» Então, todo o povo que estava junto da porta respondeu com os anciãos: «Somos testemunhas! O Senhor torne essa mulher, que entra na tua casa, semelhante a Raquel e a Lia, que juntas fundaram a casa de Israel! Que sejas próspero em Efrata e o teu nome seja famoso em Belém! Seja a tua casa como a casa de Peres, filho que Tamar deu a Judá, pela posteridade que o Senhor te der por esta jovem.» Booz tomou, pois, Rute, que se tornou sua mulher. Juntou-se a ela e o Senhor concedeu-lhe a graça de conceber e dar à luz um filho. As mulheres diziam a Noemi: «Bendito seja o Senhor, que não te recusou um parente de resgate, neste dia. Que o seu nome seja proclamado em Israel. Ele te dará a vida e será o arrimo da tua velhice, porque nasceu um menino da tua nora, que te ama e é para ti mais preciosa do que sete filhos.» Noemi recebeu o menino e colocou-o no seu regaço, tornando-se a sua ama. As suas vizinhas, congratulando-se com ela, diziam: «Nasceu um filho a Noemi.» E deram-lhe o nome de Obed. Este foi pai de Jessé e avô de David. Esta é a posteridade de Peres: Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; Salmon gerou Booz; Booz gerou Obed. Obed gerou Jessé; Jessé gerou David. Havia em Ramataim um homem de Suf, nas montanhas de Efraim, chamado Elcana, filho de Jeroam e neto de Eliú, da família de Toú e do clã de Suf, de Efraim. Tinha duas mulheres, uma chamada Ana e outra Penina. Esta tinha filhos; Ana, porém, não tinha nenhum. Todos os anos, este homem subia da sua cidade a Silo, para adorar o Senhor do universo e oferecer-lhe um sacrifício. Aí se encontravam os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, sacerdotes do Senhor. Cada vez que Elcana oferecia um sacrifício, dava a porção correspondente à sua mulher Penina, bem como aos seus filhos e filhas. Mas dava uma porção dupla a Ana, porque a amava mais, embora o Senhor a tivesse tornado estéril. Além disso, a sua rival afligia-a duramente, humilhando-a, por o Senhor a ter feito estéril. Isto repetia-se todos os anos, quando Ana subia ao templo do Senhor; Penina zombava dela. Ana chorava e não comia. Seu marido dizia-lhe: «Ana, porque choras? Porque não comes? Porque estás triste? Não valho para ti tanto como dez filhos?» Ana levantou-se, depois de ter comido e bebido em Silo. O sacerdote Eli estava instalado no seu assento, à entrada do templo do Senhor. Ana, profundamente amargurada, orou ao Senhor e chorou copiosas lágrimas. E fez um voto, dizendo: «Senhor do universo, se te dignares olhar para a aflição da tua serva e te lembrares de mim, se não te esqueceres da tua serva e lhe deres um filho varão, eu o consagrarei ao Senhor, por todos os dias da sua vida, e a navalha não passará sobre a sua cabeça.» Ela repetiu muitas vezes a sua oração diante do Senhor; Eli observava o movimento dos seus lábios. Ana, porém, orava no seu coração e apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra alguma. Eli, julgando-a ébria, disse-lhe: «Até quando durará a tua embriaguez? Vai-te embora e deixa passar o efeito do vinho de que estás cheia.» Ana respondeu: «Não é assim, meu senhor; a verdade é que sou uma mulher de espírito atribulado; não bebi vinho nem álcool; apenas estava a desabafar as minhas mágoas na presença do Senhor. Não tomes a tua serva por alguma das filhas de Belial, porque só a grandeza da minha dor e da minha aflição é que me fez falar até agora.» Eli respondeu: «Vai em paz e o Deus de Israel te conceda o que lhe pedes.» Ana respondeu: «Que a tua serva mereça o teu favor.» A mulher foi-se embora, comeu e nunca mais houve tristeza em seu rosto. No dia seguinte pela manhã, prostraram-se diante do Senhor e voltaram para sua casa, em Ramá. Elcana conheceu Ana, sua mulher, e o Senhor lembrou-se dela. Ana concebeu e, passado o seu tempo, deu à luz um filho, ao qual pôs o nome de Samuel, porque dizia: «eu o pedi ao Senhor.» Elcana, seu marido, foi, com toda a sua casa, oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir o seu voto. Ana, porém, não foi e disse ao marido: «Só irei quando o menino estiver desmamado; então o levarei para o apresentar ao Senhor e lá ficará para sempre.» Disse-lhe Elcana, seu marido: «Faz como achares melhor; fica em casa até que o tenhas desmamado e que o Senhor se digne cumprir a sua palavra.» Ela ficou, pois, em casa e aleitou o filho até que o desmamou. Após tê-lo desmamado, tomou-o consigo e, levando também três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, conduziu-o ao templo do Senhor em Silo. O menino era ainda muito pequeno. Imolaram um novilho e apresentaram o menino a Eli. Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao Senhor, na tua presença. Eis o menino por quem orei. O Senhor ouviu a minha súplica. Por isso, o ofereço ao Senhor, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do Senhor. Ana orou, entoando este cântico: «O meu coração exulta de júbilo no Senhor. Nele se ergue a minha fronte, a minha boca desafia os meus adversários, porque me alegro na tua salvação. Ninguém é santo como o Senhor. Não há outro Deus fora de ti, ninguém é tão forte como o nosso Deus. Não multipliqueis as vossas palavras orgulhosas. Não saia da vossa boca a arrogância, porque o Senhor é um Deus de sabedoria. Só Ele sabe descobrir as vossas acções. O arco dos fortes foi quebrado e os fracos foram revestidos de vigor. Os saciados tiveram que ganhar o pão e os famintos foram saciados. Até a estéril foi mãe de sete filhos e a mulher que os tinha numerosos, ficou estéril. O Senhor é que dá a morte e a vida, leva à habitação dos mortos e tira de lá. O Senhor despoja e enriquece, humilha e exalta. Levanta do pó o mendigo e tira da imundície o pobre, para os sentar com os príncipes e ocupar um trono de glória; porque são do Senhor as colunas da terra e sobre elas assentou o mundo. Ele dirige os passos dos seus santos, mas os ímpios perecerão nas trevas; porque homem algum vencerá pela sua própria força. Tremerão diante do Senhor os seus inimigos, trovejará do céu sobre eles. O Senhor julga os confins da terra! Ele dará o império ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido.» Depois disto, Elcana voltou para a sua casa em Ramá; o menino servia na presença do Senhor, sob a direcção do sacerdote Eli. Os filhos de Eli eram filhos de Belial; não conheciam o Senhor, nem a obrigação dos sacerdotes para com o povo. Quando alguém oferecia um sacrifício, vinha o servo do sacerdote, no momento em que se cozia a carne, com um garfo de três dentes, e metia-o na caldeira, na marmita, na panela ou no tacho; e tudo o que agarrava com ele, tirava-o para o sacerdote. Assim faziam a todos os de Israel que vinham a Silo. Antes de queimarem a gordura, vinha o servo do sacerdote dizer ao que a sacrificava: «Dá-me para o sacerdote a carne para assar; ele não aceitará carne cozida, mas unicamente a carne crua.» O homem respondia-lhe: «É preciso que se queime primeiro a gordura; depois, tomarás o que quiseres.» O servo respondia: «Não, é agora que ma hás-de dar, senão tomá-la-ei à força.» Era muito grande o pecado destes jovens diante do Senhor, pois eles menosprezavam as ofertas feitas ao Senhor. Entretanto, o pequeno Samuel, cingido de uma faixa votiva de linho, exercia o seu ministério diante do Senhor. Sua mãe tecia-lhe uma túnica que lhe levava todos os anos, quando ia com seu marido oferecer o sacrifício anual. Eli abençoava Elcana e sua mulher, dizendo: «O Senhor te conceda filhos desta mulher, em recompensa do dom que ela lhe fez!» E voltavam para a sua casa. O Senhor visitou Ana, e ela concebeu, dando à luz três filhos e duas filhas. Entretanto, o menino Samuel crescia na presença do Senhor. Eli, sendo já velho, tomou conhecimento do modo como se comportavam os seus filhos com todos os de Israel e de que dormiam com as mulheres que prestavam serviço à entrada da tenda da reunião. E perguntou-lhes: «Porque procedeis dessa forma? Porque praticais esses crimes detestáveis de que fala o povo? Não façais assim, meus filhos; não são nada boas as informações que me chegam a vosso respeito. Estais a escandalizar o povo do Senhor. Se um homem pecar contra outro, Deus o defende; mas, se ele pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele?» Eles, porém, não ouviram a voz do pai, porque o Senhor determinara a sua morte. Entretanto, o menino Samuel desenvolvia-se em altura e beleza, diante do Senhor e dos homens. Certo dia, um homem de Deus veio ter com Eli e disse-lhe: «Isto diz o Senhor, ‘Não me revelei Eu claramente à família de teu pai, quando estavam no Egipto, sob o poder da casa de Faraó? Escolhi-os entre todas as tribos de Israel para serem meus sacerdotes, subirem ao meu altar, queimarem incenso e revestirem-se da insígnia votiva diante de mim. Dei à casa de teu pai uma parte em todos os sacrifícios oferecidos pelos filhos de Israel. Porque desprezas os meus sacrifícios e as minhas oblações, que ordenei se oferecessem na minha morada? Fazes mais caso dos teus filhos que de mim, engordando-os com o melhor de todas as ofertas do meu povo de Israel.’ Por isso, eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tinha dito que a tua família e a família de teu pai serviriam para sempre diante de mim.’ Mas agora o Senhor diz: ‘Não será mais assim: Eu honro aqueles que me honram e desprezo aqueles que me desprezam.’ Virão dias em que abaterei o teu braço e o braço da casa do teu pai, de modo a não ficar ancião algum em tua casa. Verás com inveja o bem que Eu farei a Israel, enquanto na tua casa jamais haverá um ancião. Entretanto, nem todos os teus descendentes afastarei do meu altar, para que os teus olhos chorem de inveja e a tua alma desfaleça; todos os outros morrerão na flor da idade. O que vai acontecer aos teus filhos Ofni e Fineias será para ti um sinal; ambos morrerão no mesmo dia. Suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o meu coração e a minha vontade. Hei-de edificar-lhe uma casa sólida e duradoira, e ele viverá sempre na presença do meu ungido. Os que sobreviverem da tua família irão prostrar-se diante dele, por uma moeda de prata ou um pedaço de pão, dizendo-lhe: ‘Peço-te que me admitas em algum ministério sacerdotal, a fim de que eu tenha um bocado de pão para comer.’» O jovem Samuel servia o Senhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus. O Senhor chamou Samuel. Ele respondeu: «Eis-me aqui.» Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois até então nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. Pela terceira vez, o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Compreendeu Eli que era o Senhor quem chamava o menino e disse a Samuel: «Vai e volta a deitar-te. Se fores chamado outra vez, responde: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» Voltou Samuel e deitou-se. Veio o Senhor, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Samuel! Samuel!» E Samuel respondeu: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» O Senhor disse a Samuel: «Eis que vou fazer uma coisa em Israel que fará retinir os ouvidos a todo aquele que a ouvir. Nesse dia cumprirei contra Eli todas as ameaças que anunciei contra a sua casa. Começarei e irei até ao fim. Anunciei-lhe que condenaria para sempre a sua família por causa da sua iniquidade, pois sabia que os seus filhos se portavam indignamente e não os corrigiu. Por isso, juro à casa de Eli que a sua culpa jamais será expiada, nem com sacrifícios nem com oblações.» Samuel ficou deitado até de manhã e abriu as portas da casa do Senhor, mas temia contar a visão a Eli. Eli, porém, chamou-o e disse: «Samuel, meu filho!» E ele respondeu: «Eis-me aqui.» Perguntou-lhe Eli: «Que te disse o Senhor? Não me ocultes nada. O Senhor te castigue severamente, se me encobrires alguma coisa de quanto Ele te disse.» Então Samuel contou-lhe tudo sem nada ocultar. Eli exclamou: «O Senhor fará o que bem lhe parecer.» Samuel ia crescendo, o Senhor estava com ele e cumpria à letra todas as suas predições. Todo o Israel, desde Dan até Bercheba, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor. O Senhor continuou a manifestar-se em Silo. Era ali que o Senhor aparecia a Samuel, revelando-lhe a sua palavra. A palavra de Samuel foi dirigida a todo o Israel. Israel saiu ao encontro dos filisteus para lhes dar combate. Acamparam junto de Ében-Ézer e os filisteus acamparam em Afec. Os filisteus puseram-se em linha de combate frente a Israel, e começou a batalha. Israel foi vencido pelos filisteus, que mataram em combate cerca de quatro mil homens. O povo voltou ao acampamento e os anciãos de Israel disseram: «Porque é que o Senhor nos derrotou hoje diante dos filisteus? Vamos a Silo e tomemos a Arca da aliança do Senhor, para que Ele esteja no meio de nós e nos livre da mão dos nossos inimigos.» O povo mandou, pois, buscar a Silo a Arca da aliança do Senhor do universo, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Eli, Ofni e Fineias, acompanhavam a arca. Quando a Arca da aliança do Senhor chegou ao acampamento, todo o Israel lançou um grande clamor, que fez a terra tremer. Os filisteus, ouvindo-o, disseram: «Que significa este grande clamor no acampamento dos hebreus?» Souberam que a Arca do Senhor tinha chegado ao acampamento. Tiveram medo e disseram: «O Deus deles chegou ao acampamento. Ai de nós! Até agora nunca se ouviu coisa semelhante. Ai de nós! Quem nos salvará da mão desse Deus excelso? É aquele Deus que feriu os egípcios com toda a espécie de pragas no deserto. Coragem, ó filisteus! Portai-vos varonilmente, não suceda que sejais escravos dos hebreus como eles o são de vós. Esforçai-vos e combatei.» Começaram a luta; Israel foi derrotado e todos fugiram para as suas casas. O massacre foi tão grande que ficaram mortos trinta mil homens de Israel. A Arca de Deus foi tomada, e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, pereceram. Um homem da tribo de Benjamim escapou da batalha e fugiu nesse mesmo dia para Silo, com a roupa rasgada e a cabeça coberta de pó. Chegou quando Eli estava instalado no seu assento, à beira do caminho, com o coração em contínuo sobressalto pela Arca de Deus. Entrando na cidade, o homem espalhou a notícia por toda a parte, e toda a gente se lançou em grandes lamentações. Eli, ouvindo-o, perguntou: «Que lamentos são esses?» Nesse momento, o homem chegou junto de Eli e deu-lhe a notícia. Eli tinha noventa e oito anos; os seus olhos estavam cegos, de modo que não podia ver. O homem disse-lhe: «Venho do campo de batalha, de onde escapei hoje mesmo.» Eli disse-lhe: «Que aconteceu, meu filho?» Respondeu o mensageiro: «Israel fugiu diante dos filisteus e o exército foi duramente dizimado. Teus dois filhos, Hofni e Fineias, morreram, e a Arca de Deus caiu nas mãos do inimigo.» Quando o homem mencionou a Arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, fracturou o crânio e morreu, pois era um homem velho e pesado. Tinha sido juiz em Israel durante quarenta anos. Sua nora, mulher de Fineias, estava grávida e prestes a dar à luz. Ao ouvir a notícia de que a Arca de Deus fora capturada e de que o sogro e o marido tinham morrido, foi subitamente acometida pelas dores de parto e deu à luz. E, estando a morrer, as mulheres que a cercavam disseram-lhe: «Anima-te, porque nasceu um menino.» Mas ela não respondeu nem prestou atenção. Chamou ao menino Icabod, dizendo: «Acabou-se a glória de Israel.» Aludia, com isto, à captura da Arca de Deus, ao seu sogro e ao seu marido. «Sim, disse ela, acabou-se a glória de Israel, pois foi capturada a Arca de Deus.» Os filisteus apoderaram-se, pois, da Arca de Deus e levaram-na de Ében-Ézer para Asdod. Tomaram a Arca de Deus, levaram-na para o templo de Dagon e colocaram-na junto do ídolo. No dia seguinte, levantando-se de manhã cedo, os habitantes de Asdod viram a estátua de Dagon caída por terra, diante da Arca do Senhor. Levantaram Dagon e repuseram-no no seu lugar. No outro dia, levantando-se também de manhã cedo, encontraram Dagon caído de rosto por terra, diante da Arca do Senhor. A cabeça do ídolo e as mãos estavam cortadas, sobre o limiar da porta. Só o tronco de Dagon tinha ficado no seu lugar. Por isso é que os sacerdotes de Dagon e todos os que entram no seu templo, em Asdod, evitam ainda hoje colocar o pé sobre o limiar da porta. Depois disto, a mão do Senhor pesou sobre os habitantes de Asdod, enchendo-os de terror, ferindo-os com tumores pestíferos em Asdod e seu território. Vendo isto, os habitantes de Asdod exclamaram: «A Arca do Deus de Israel não ficará connosco, porque a sua mão pesa sobre nós e sobre Dagon, nosso deus.» Convocaram, pois, todos os príncipes dos filisteus e perguntaram-lhes: «Que faremos nós da Arca do Deus de Israel?» Eles responderam: «Que a Arca do Deus de Israel seja transportada para Gat.» E a Arca do Deus de Israel foi levada para lá. Mas, uma vez transportada para lá, a mão do Senhor pesou sobre a cidade, produzindo grande terror e ferindo os habitantes da cidade, dos mais novos aos mais velhos, com o aparecimento de tumores. Mandaram então a Arca de Deus para Ecron mas, quando ela ali chegou, os ecronitas clamaram, dizendo: «Trouxeram-nos a Arca do Deus de Israel para nos matar, a nós e ao nosso povo!» Convocaram todos os príncipes dos filisteus e disseram-lhes: «Devolvei a Arca do Deus de Israel; que ela volte para o seu lugar, a fim de não perecermos, nós e todo o nosso povo.» Reinava na cidade o terror da morte, e a mão do Senhor fazia-se sentir rudemente, porque até os que não morriam eram feridos de tumores, e da cidade subia até ao céu um clamor de angústia. Esteve, pois, a Arca do Senhor sete meses na terra dos filisteus. Os filisteus convocaram os seus sacerdotes e adivinhos e perguntaram-lhes: «Que faremos da Arca do Senhor ? Dizei-nos como havemos de a devolver ao seu lugar.» Eles responderam: «Se devolveis a Arca do Deus de Israel, não a deveis mandar sem nada, mas juntai-lhe uma oferta de reparação. Então sereis curados; sabereis por que não se apartava de vós a sua mão.» Disseram eles: «Que oferta de reparação devemos juntar-lhe?» Responderam: «Cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, conforme o número dos príncipes dos filisteus, porque foi este o castigo que vos feriu a vós e aos vossos príncipes. Fazei, pois, imagens dos vossos tumores e imagens dos ratos que devastam o país e, assim, dareis glória ao Deus de Israel; talvez assim Ele retire a sua mão de cima de vós, do vosso deus e do vosso país. Porque endureceis os vossos corações como os egípcios e o Faraó? Não tiveram eles que deixá-los partir, quando o Senhor os flagelou com seus castigos? Fazei, pois, um carro novo, tomai duas vacas que estejam a aleitar e que ainda não tenham suportado o jugo, e atrelai-as ao carro, depois de terdes prendido os seus bezerros no curral. Tomareis em seguida a Arca do Senhor e colocá-la-eis, juntamente com um cofre no qual poreis as imagens de ouro que oferecereis como reparação; depois, deixai-a ir. Segui-a com os olhos; se virdes que ela segue pelo caminho que conduz ao país dela, para os lados de Bet-Chémes, então o Deus de Israel foi quem nos enviou esta praga; de contrário, conheceremos que não foi a sua mão que nos feriu, mas que foi um simples acaso.» Assim o fizeram. Tomaram duas vacas que estavam a aleitar e atrelaram-nas ao carro, pondo os bezerros no curral. Puseram sobre o carro a Arca do Senhor com o cofre que continha os ratos de ouro e as imagens dos tumores. Ora, as vacas tomaram directamente o caminho que vai para Bet-Chémes e seguiram, mugindo, sempre o mesmo caminho, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. Os príncipes dos filisteus seguiram-na até à entrada do território de Bet-Chémes. Os habitantes de Bet-Chémes ceifavam o trigo no vale. Levantando os olhos, viram a Arca e alegraram-se. O carro chegou ao campo de Josué, de Bet-Chémes, onde se deteve. Havia ali uma grande pedra. Cortaram em pedaços a madeira do carro, puseram em cima as vacas e ofereceram-nas em holocausto ao Senhor. Os levitas desceram a Arca do Senhor, juntamente com o cofre que estava ao seu lado, contendo os objectos de ouro, e colocaram-na sobre a grande pedra. Então, os habitantes de Bet-Chémes ofereceram, naquele dia, holocaustos e sacrifícios ao Senhor. E os cinco príncipes dos filisteus que tinham presenciado tudo, voltaram naquele mesmo dia para Ecron. As figuras dos tumores de ouro que os filisteus ofereceram ao Senhor, como oferta de reparação, eram: uma por Asdod, outra por Gaza, outra por Ascalon, outra por Gat e outra por Ecron. E os ratos de ouro que ofereceram foram tantos quantas as cidades dos filisteus nas cinco províncias, desde as cidades fortificadas até às aldeias sem muros. Disto é testemunha a grande pedra, sobre a qual colocaram a Arca do Senhor, no campo de Josué, de Bet-Chémes, onde pode ser vista ainda hoje. O Senhor castigou os habitantes de Bet-Chémes porque tinham olhado para a Arca; e feriu setenta homens. O povo chorou por causa de tão grande castigo com que o Senhor o tinha ferido. Os habitantes de Bet-Chémes disseram: «Quem poderá estar na presença do Senhor, deste Deus santo? E para quem poderá Ele ir, longe de nós?» Mandaram, pois, mensageiros aos habitantes de Quiriat-Iarim, dizendo: «Os filisteus devolveram a Arca do Senhor; vinde e levai-a outra vez para junto de vós.» Vieram, pois, os habitantes de Quiriat-Iarim, transportaram a Arca do Senhor e colocaram-na em casa de Abinadab, que vivia em Guibeá, e consagraram seu filho Eleázar para que a guardasse. E sucedeu que, desde o dia em que a Arca do Senhor chegou a Quiriat-Iarim, passou muito tempo, vinte anos, e toda a casa de Israel se voltou para o Senhor. E Samuel falou a toda a casa de Israel, dizendo: «Se de todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirando do meio de vós os deuses estrangeiros e as estátuas de Astarté, se vos apegardes de todo o vosso coração ao Senhor e só a Ele servirdes, Ele há-de livrar-vos das mãos dos filisteus.» Então os filhos de Israel afastaram os ídolos e as estátuas de Baal e de Astarté e serviram só ao Senhor. Disse também Samuel: «Convocai todo o Israel em Mispá, e eu rogarei por vós ao Senhor.» Reuniram-se, pois, em Mispá, tiraram água, derramaram-na diante do Senhor e jejuaram naquele dia, dizendo: «Pecámos contra o Senhor.» Samuel era juiz de Israel em Mispá. Os filisteus foram informados de que os israelitas se tinham reunido em Mispá, e os seus príncipes marcharam contra Israel. Os israelitas souberam-no e tiveram medo dos filisteus. Disseram a Samuel: «Não cesses de clamar por nós ao Senhor nosso Deus, para que nos livre das mãos dos filisteus.» Samuel tomou um cordeiro ainda de leite, ofereceu-o inteiro em holocausto ao Senhor, clamou ao Senhor por Israel, e o Senhor ouviu-o. De facto, enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus começaram o combate contra Israel. Mas o Senhor, naquele dia, trovejou com a sua voz estrondosa sobre os filisteus, encheu-os de terror, e foram derrotados pelos israelitas. Estes, saindo de Mispá, perseguiram os filisteus e derrotaram-nos no lugar que está abaixo de Bet-Car. Tomou Samuel uma pedra e pô-la entre Mispá e Chen; deu àquele lugar o nome de Ében-Ézer, dizendo: «Até aqui nos auxiliou o Senhor.» Humilhados dessa forma, os filisteus não voltaram mais às terras de Israel. A mão do Senhor fez-se sentir sobre os filisteus durante toda a vida de Samuel. E foram restituídas a Israel as cidades que os filisteus lhes tinham tomado, desde Ecron até Gat. Israel livrou a sua terra das mãos dos filisteus, e também houve paz entre Israel e os amorreus. Samuel foi juiz em Israel durante toda a sua vida. Todos os anos se dirigia a Betel, Guilgal e Mispá, onde fazia justiça a todo o Israel. Voltava depois para Ramá, onde tinha a sua casa. Também ali julgava Israel, e edificou naquele lugar um altar ao Senhor. Sendo já velho, Samuel estabeleceu os seus filhos como juízes de Israel. O seu filho primogénito chamava-se Joel, e o segundo, Abias, e eram juízes em Bercheba. Os filhos de Samuel, porém, não seguiram as pisadas de seu pai, antes se deixaram levar pela avareza, recebendo presentes e violando a justiça. Reuniram-se todos os anciãos de Israel e vieram ter com Samuel a Ramá. Disseram-lhe: «Estás velho e os teus filhos não seguem as tuas pisadas. Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações.» Esta linguagem – ‘dá-nos um rei que nos governe’ – desagradou a Samuel, que se pôs em oração diante do Senhor. O Senhor disse-lhe: «Ouve a voz do povo em tudo o que te disser, pois não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, para que Eu não reine mais sobre eles. Fazem o que sempre têm feito, desde o dia em que os fiz subir do Egipto até ao presente, abandonando-me para servir deuses estrangeiros. E também assim estão a fazer contigo. Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles.» Referiu Samuel todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedia um rei. E disse: «Eis como será o poder do rei que vos há-de governar: tomará os vossos filhos para guiar os seus carros e a sua cavalaria e para correr diante do seu carro. Fará deles chefes de mil e chefes de cinquenta, empregá-los-á nas suas lavouras e nas suas colheitas, na fabricação das suas armas e dos seus carros. Tomará as vossas filhas como suas perfumistas, cozinheiras e padeiras. Há-de tirar-vos também o melhor dos vossos campos, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e dá-los-á aos seus servidores. Cobrará ainda o dízimo das vossas searas e das vossas vinhas, para o dar aos seus cortesãos e ministros. Tomará também os vossos servos, as vossas servas, os melhores entre os vossos mancebos e os vossos jumentos, para os colocar ao seu serviço. Cobrará igualmente o dízimo dos vossos rebanhos. E vós próprios sereis seus servos. Então, clamareis por causa do rei que vós mesmos escolhestes, mas o Senhor não vos ouvirá.» Porém, o povo não quis ouvir a voz de Samuel. Disse: «Não! Precisamos de ter o nosso rei! Queremos ser como todas as outras nações; o nosso rei administrará a justiça, marchará à nossa frente e combaterá por nós em todas as guerras.» Samuel ouviu todas as palavras do povo e referiu-as ao Senhor. Então, o Senhor disse: «Faz o que te pedem e dá-lhes um rei.» Samuel disse aos israelitas: «Volte cada um para a sua cidade.» Havia um homem da tribo de Benjamim chamado Quis, filho de Abiel, filho de Seror, filho de Becorat, filho de Afia, filho de um benjaminita, que era um guerreiro forte e valente. Tinha um filho chamado Saul, mancebo de bela presença. Não havia em Israel outro mais belo do que ele; sobressaía entre todos dos ombros para cima. Tendo-se perdido as jumentas de Quis, pai de Saul, disse ele ao filho: «Toma um criado contigo e vai procurar as jumentas.» Atravessaram a montanha de Efraim e entraram na terra de Salisa, sem nada encontrar; percorreram a terra de Chaalim, mas em vão; na terra de Benjamim, tão-pouco as encontraram. Tendo chegado à terra de Suf, Saul disse ao criado: «Vem, regressemos. Meu pai pode não pensar mais nas jumentas e estar em cuidados por nossa causa.» Respondeu-lhe o criado: «Nesta cidade há um homem de Deus, homem de respeito: tudo o que ele prediz se cumpre. Vamos lá, pois talvez ele nos diga o caminho que devemos seguir.» Saul respondeu: «Está bem, vamos; mas que presente levaremos ao homem de Deus? Os nossos alforges estão vazios e não temos dinheiro para lhe dar. Que nos resta?» Respondeu novamente o criado: «Tenho aqui um quarto de siclo de prata; dá-lo-ei ao homem de Deus para que nos mostre o caminho.» Antigamente, em Israel, todo aquele que ia consultar a Deus, costumava dizer assim: «Vinde, vamos ao vidente.» Chamava-se, então, «vidente» ao que hoje se chama «profeta.» Saul disse ao criado: «Tens razão. Vamos até lá.» E foram à cidade onde estava o homem de Deus. Subindo a encosta da cidade, encontraram umas donzelas que iam buscar água. Perguntaram-lhes: «Há aqui um vidente?» Responderam elas: «Sim, há. Sempre em frente! Apressa-te, pois veio hoje à cidade por ser dia em que o povo vai oferecer um sacrifício no lugar alto. Ao entrar na cidade logo o encontrareis, antes que ele suba ao lugar alto para o banquete. O povo não comerá antes que ele chegue, pois ele deverá abençoar o sacrifício; só depois comerão os convidados. Subi depressa e logo o encontrareis.» Eles dirigiram-se à cidade. E eis que ao entrarem, Samuel vinha ao seu encontro, pois ia subir ao lugar alto. Ora no dia anterior à chegada de Saul, o Senhor tinha feito esta revelação a Samuel: «Amanhã, a esta mesma hora, enviar-te-ei um homem da terra de Benjamim, e tu o ungirás como chefe do meu povo de Israel. Ele salvará o povo das mãos dos filisteus. Porque voltei os meus olhos para o meu povo e o seu clamor chegou até mim.» Quando Samuel viu Saul, o Senhor disse-lhe: «Este é o homem de quem te falei. Ele reinará sobre o meu povo.» Saul aproximou-se de Samuel à porta da cidade e disse-lhe: «Rogo-te que me informes onde está a casa do vidente.» Respondeu Samuel: «Sou eu mesmo o vidente; sobe na minha frente ao lugar alto, porque hoje comerás comigo, e amanhã te deixarei partir, depois de responder às tuas preocupações. Quanto às jumentas perdidas há dois ou três dias, não te inquietes, pois já apareceram. E de quem será tudo quanto há de melhor em Israel? Não será porventura teu e de toda a casa de teu pai?» Saul replicou: «Não sou eu um filho de Benjamim, da tribo mais pequena de Israel, e não é a minha família a menor de todas as famílias de Benjamim? Porque me falas, pois, assim?» Samuel, tomando Saul e o seu criado, levou-os para a sala do banquete e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados, que eram aproximadamente trinta pessoas. E Samuel disse ao cozinheiro: «Serve a porção que te dei e te mandei guardar à parte.» Tomou, pois, o cozinheiro a perna com tudo o que nela havia e serviu-a a Saul. Samuel disse: «Eis diante de ti a porção que te ficou reservada. Come-a; reservei-a para este momento, quando convidei o povo.» Saul e Samuel comeram juntos naquele dia. Tendo descido do lugar alto para a cidade, tiveram os dois uma conversa no terraço. Ao romper da aurora levantaram-se e Samuel chamou Saul ao terraço; e disse-lhe: «Levanta-te e deixar-te-ei partir.» Saul levantou-se e saíram ele e Samuel para fora da cidade. Ao descerem para a parte mais baixa da cidade, Samuel disse a Saul: «Diz ao criado que vá adiante de nós.» Ele passou. «Mas tu, detém-te aqui, pois quero comunicar-te hoje o que disse o Senhor.» Samuel tomou então um frasco de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e beijou-o, dizendo: «O Senhor ungiu-te príncipe sobre a sua herança. Quando hoje te afastares de mim, encontrarás dois homens junto do túmulo de Raquel, na fronteira de Benjamim, em Selça, que te dirão: ‘As jumentas que foste procurar foram encontradas; o teu pai já se não inquieta por elas, mas está em cuidados por vossa causa e aflige-se, perguntando o que vos poderá ter acontecido.’ Seguirás o teu caminho até ao Carvalho do Tabor; aí encontrarás três homens que sobem para adorar a Deus em Betel, levando um, três cabritos, outro, três pães e o terceiro, um odre de vinho. Depois de te saudarem, dar-te-ão dois pães, que tu receberás das mãos deles. Chegarás depois a Guibeá-Eloim, onde se encontra a guarda dos filisteus; à entrada da cidade encontrarás um grupo de profetas que descem do lugar alto, precedidos de saltério, de tambor, de flauta e de cítara, em transe profético. O espírito do Senhor virá então sobre ti, profetizarás com eles e tornar-te-ás outro homem. Quando vires cumpridos todos estes sinais, faz o que te ocorrer, porque Deus está contigo. Descerás antes de mim a Guilgal, onde irei ter contigo para oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão. Esperarás sete dias até que eu chegue; então te direi o que deves fazer.» Logo que Saul voltou as costas e se separou de Samuel, Deus transformou-lhe o coração. Todos estes sinais se cumpriram no mesmo dia. Chegando a Guibeá, veio ao seu encontro um coro de profetas; o espírito do Senhor apoderou-se de Saul e ele pôs-se a profetizar no meio deles. Todos os que antes o tinham conhecido, vendo-o profetizar com os profetas, perguntavam uns aos outros: «Que aconteceu ao filho de Quis? Porventura também Saul está entre os profetas?» Entre a multidão, alguém perguntou: «E quem é o pai dos outros profetas?» Daí o provérbio: «Também Saul está entre os profetas?» Saul acabou de profetizar e foi para o lugar alto. Seu tio disse-lhe, a ele e ao criado: «Onde fostes?» Saul respondeu: «À procura das jumentas, mas não as encontrámos e, por isso, fomos ter com Samuel.» Disse-lhe o tio: «Conta-me o que te disse Samuel.» Saul respondeu-lhe: «Declarou-nos que as jumentas já tinham aparecido»; mas nada lhe revelou do que tinha dito Samuel acerca do reino. Samuel convocou o povo diante do Senhor, em Mispá. E disse aos filhos de Israel: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu vos fiz subir do Egipto, livrei-vos das mãos dos egípcios e das mãos de todos os reis que vos oprimiam. Vós, porém, rejeitastes o vosso Deus, que vos salvou de todos os males e tribulações, e dissestes: ‘Estabelecei sobre nós um rei.’ Pois bem, colocai-vos diante do Senhor, por ordem de tribos e de clãs.» Samuel mandou que se aproximassem todas as tribos de Israel e a sorte coube à tribo de Benjamim. Mandou vir a tribo de Benjamim por famílias e coube a sorte à família de Matri. E, finalmente, a escolha caiu sobre Saul, filho de Quis. Procuraram-no, mas não o encontraram. Consultaram, pois, o Senhor, «O homem veio para cá?» O Senhor respondeu: «Ele escondeu-se no meio das bagagens.» Foram buscá-lo e puseram-no no meio da multidão; dos ombros para cima, ele era mais alto que todos os outros. Samuel disse ao povo: «Vedes aquele a quem o Senhor escolheu? Não há em todo o povo quem se lhe assemelhe.» E todos o aclamaram, dizendo: «Viva o rei!» A seguir, Samuel expôs ao povo a lei da monarquia e escreveu-a num livro que depositou diante do Senhor; depois, despediu todo o povo, cada um para sua casa. Saul voltou também para sua casa, em Guibeá, acompanhado de homens do exército, cujos corações tinham sido tocados por Deus. Mas os filhos de Belial disseram: «Porventura poderá este salvar-nos?» Por isso desprezaram-no e não lhe levaram presentes. Mas ele ficou indiferente. Naás, o amonita, pôs-se em campanha e atacou Jabés, em Guilead. Todos os habitantes de Jabés lhe disseram: «Faz connosco uma aliança e seremos teus servos.» Naás, o amonita, respondeu-lhes: «Só farei aliança convosco com a condição de vos tirar a todos o olho direito. Infligirei esta vergonha a todo o Israel.» Disseram-lhe os anciãos de Jabés: «Concede-nos sete dias, a fim de enviarmos mensageiros por toda a terra de Israel; se não houver quem nos defenda, entregar-nos-emos a ti.» Chegaram, pois, mensageiros a Guibeá, cidade de Saul, e contaram isto ao povo, que se pôs a chorar em alta voz. Saul voltava do campo, atrás dos bois, e perguntou: «Que tem o povo para chorar desta forma?» E contaram-lhe o que tinham dito os habitantes de Jabés. Quando Saul ouviu isto, o espírito do Senhor apoderou-se dele. E Saul ficou enfurecido. Tomando uma junta de bois, fê-la em pedaços e mandou-os pelos mensageiros a todo o território de Israel, com este aviso: «Serão assim tratados os bois de todo aquele que não se puser em campanha, ao lado de Saul e Samuel.» O temor do Senhor apoderou-se do povo e este pôs-se em marcha como um só homem. Saul passou-lhes revista em Bezec, e havia trezentos mil homens de Israel, sendo trinta mil da tribo de Judá. E responderam aos mensageiros que tinham chegado: «Direis aos habitantes de Jabés, em Guilead: amanhã, quando o Sol estiver na força do calor, sereis socorridos.» Partiram os mensageiros e levaram esta notícia aos habitantes de Jabés, que se encheram de alegria. E disseram: «Amanhã sairemos até vós e fareis de nós o que vos aprouver.» No dia seguinte, Saul dividiu o seu exército em três corpos; penetraram ao raiar do dia no acampamento inimigo e feriram os amonitas até à hora da força do calor. Os que escaparam dispersaram-se, de tal modo que não ficaram dois deles juntos. O povo disse, então, a Samuel: «Onde estão os que diziam: ‘Saul não reinará sobre nós?’ Dai-nos esses homens para os matarmos.» Porém, Saul respondeu: «Ninguém morrerá hoje, porque é o dia em que o Senhor salvou Israel.» Samuel disse ao povo: «Vamos a Guilgal e renovaremos ali a realeza.» Partiu, pois, todo o povo para Guilgal e ali proclamaram rei a Saul, na presença do Senhor, e ofereceram naquele lugar sacrifícios de comunhão. E Saul, com todo o povo de Israel, alegrou-se grandemente. Samuel disse a todo o povo de Israel: «Como vistes, escutei-vos em tudo o que me pedistes e dei-vos um rei. Aí tendes o rei que vos há-de guiar. Eu estou velho e de cabelos brancos, e os meus filhos estão no meio de vós; guiei-vos desde a minha juventude até este dia. Agora, aqui me tendes! Podeis acusar-me na presença do Senhor e do seu ungido; acaso tomei o boi ou o jumento de alguém? Oprimi ou prejudiquei alguém? Recebi dádivas de alguém para fechar os olhos à sua conduta? Tudo vos restituirei.» Eles disseram: «Não nos prejudicaste, nem nos oprimiste, nem recebeste nada da mão de ninguém.» Samuel replicou: «O Senhor é hoje testemunha contra vós, e o seu ungido é também testemunha de que vós não encontrastes em mim nada de censurável.» Responderam eles: «Ele é testemunha.» E Samuel continuou: «É, pois, testemunha o Senhor, que escolheu Moisés e a Aarão e tirou os nossos pais do Egipto! Apresentai-vos. Vou chamar-vos a juízo diante do Senhor, a respeito de todos os benefícios que Ele concedeu a vós e a vossos pais. Quando Jacob entrou no Egipto e os vossos pais invocaram o Senhor, Ele enviou Moisés e Aarão para os fazer sair do Egipto e instalá-los nesta terra. Mas eles esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e Ele entregou-os ao poder de Sísera, chefe do exército de Haçor, ao poder dos filisteus e ao poder do rei de Moab, os quais combateram contra eles. Depois clamaram ao Senhor, dizendo: ‘Pecámos porque abandonámos o Senhor e servimos os ídolos de Baal e de Astarté; agora, livra-nos das mãos dos nossos inimigos e nós te serviremos.’ Com efeito, o Senhor enviou Jerubaal, Bedan, Jefté e Samuel para vos salvar do poder dos inimigos que vos cercavam, e vivestes em segurança. Mas quando vistes Naás, rei dos amonitas, marchar contra vós, dissestes-me: ‘Não! Um rei nos há-de governar!’ E, todavia, o Senhor, nosso Deus, é que é o vosso rei! Aqui tendes, pois, o rei que escolhestes e pedistes; o Senhor estabeleceu-o sobre vós. Se temerdes o Senhor, servindo-o, obedecendo à sua voz e não vos rebelando contra a sua vontade, tanto vós como o rei que vos governa vivereis na presença do Senhor, vosso Deus! Mas, se não ouvirdes a voz do Senhor e vos revoltardes contra as suas ordens, a mão do Senhor pesará sobre vós, como fez com os vossos pais. Agora ficai aqui um pouco e vereis o prodígio que o Senhor vai realizar diante dos vossos olhos. Não é agora o tempo da ceifa dos trigais? Vou invocar o Senhor e Ele enviará trovões e chuvas, a fim de que compreendais o mal que fizestes aos seus olhos, pedindo um rei.» Samuel clamou ao Senhor e o Senhor mandou, naquele mesmo dia, trovões e chuva. Todo o povo sentiu grande temor perante o Senhor e perante Samuel. Disseram todos a Samuel: «Roga pelos teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não morramos, porque a todos os nossos pecados acrescentámos a maldade de pedir um rei.» Samuel respondeu ao povo: «Não temais. É certo que procedestes mal; mas não vos afasteis do Senhor, servi antes o Senhor de todo o vosso coração; nem vos lanceis atrás de ídolos vãos, que não vos salvam nem socorrem, pois não são nada. O Senhor, por amor do seu grande nome, não vos abandonará, pois quis fazer de vós o seu povo. Por minha parte, longe de mim pecar contra o Senhor, deixando de interceder por vós. Eu vos mostrarei sempre o caminho bom e recto. Só ao Senhor temereis e servireis com fidelidade e com todo o vosso coração, pois vistes as maravilhas que Ele fez convosco. Se, porém, vos obstinardes no mal, perecereis, vós e o vosso rei.» Saul era de meia-idade quando começou a reinar; e reinou cerca de vinte anos em Israel. Saul escolheu para si três mil homens de Israel: dois mil para ficarem com ele em Micmás e no monte Betel, e mil, com Jónatas, em Guibeá, no território de Benjamim. E despediu o resto do povo, cada um para sua casa. Jónatas derrotou a guarnição dos filisteus de Gueba. Souberam-no os filisteus. E Saul mandou tocar a trombeta por toda a terra de Israel, dizendo: «Que o saibam os hebreus!» Todo o Israel ouviu esta notícia: «Saul destroçou toda a guarnição dos filisteus e Israel atraiu sobre si o ódio deles.» E o povo congregou-se à volta de Saul em Guilgal. Juntaram-se os filisteus para combater Israel, com trinta mil carros, seis mil cavaleiros e uma multidão tão numerosa como as areias da praia do mar. Partiram e acamparam em Micmás, a oriente de Bet-Aven. Ao sentirem-se cercados, os israelitas, vendo o perigo em que se achavam, ocultaram-se nas cavernas, nos buracos, nos rochedos, nas grutas e nas cisternas. Vários deles atravessaram o Jordão e foram para a terra de Gad em Guilead. Saul, entretanto, estava ainda em Guilgal com todo o seu povo, que tremia de medo. Esperou sete dias, segundo a ordem de Samuel. Mas este não chegava a Guilgal, e o povo, pouco a pouco, ia-se afastando. Disse, pois, Saul: «Trazei-me o holocausto e os sacrifícios de comunhão.» E ele mesmo ofereceu o holocausto. Tendo acabado de o oferecer, eis que chegou Samuel. Saul saiu-lhe ao encontro para o saudar. Disse-lhe Samuel: «Que fizeste?» Respondeu Saul: «Vendo que o povo se dispersava e que tu não chegavas no tempo fixado, e que os filisteus se tinham reunido em Micmás, disse para comigo: ‘Agora os filisteus vão cair sobre mim em Guilgal, antes de eu aplacar o Senhor. Por isso, eu próprio me decidi a oferecer o holocausto.’» Samuel replicou-lhe: «Procedeste insensatamente, não observando o mandamento que te deu o Senhor, teu Deus. Ele teria assegurado para sempre o teu reinado sobre Israel. Agora, o teu reinado não subsistirá. O Senhor escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.» E Samuel retirou-se, subindo de Guilgal a Guibeá de Benjamim. E Saul, passando revista aos homens que estavam com ele, achou que havia cerca de seiscentos homens. Saul, Jónatas, seu filho, e a tropa que tinha ficado com eles acamparam em Guibeá de Benjamim, enquanto os filisteus acamparam em Micmás. Três destacamentos saíram do acampamento dos filisteus para a pilhagem: um tomou o caminho de Ofra, no território de Chual; outro avançou pelo caminho de Bet-Horon, e o terceiro dirigiu-se para a fronteira que domina o vale de Seboim, do lado do deserto. Ora, em toda a terra de Israel não se encontrava um ferreiro, porque os filisteus tinham dito: «Os hebreus não hão-de fabricar espadas nem lanças.» Por isso, todos os israelitas tinham que acudir aos filisteus para afiar a relha do arado, o enxadão, o machado ou a foice. O preço por afiar as relhas do arado e as enxadas era de dois terços de siclo, e um terço de siclo para afiar os machados e os aguilhões. E, chegando o dia do combate, não se encontrou nem espada, nem lança nas mãos dos homens que acompanhavam Saul e Jónatas. Apenas Saul e seu filho Jónatas estavam munidos dessas armas. Um grupo de filisteus avançou para além do desfiladeiro de Micmás. Aconteceu que, um dia, Jónatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: «Vem, vamos até ao acampamento dos filisteus que está do outro lado.» Mas nada disse a seu pai. Saul estava acampado na extremidade de Guibeá, debaixo da romãzeira de Migron, com uma tropa de uns seiscentos homens. Aías estava revestido com a insígnia votiva. Era filho de Aitub, irmão de Icabod, filho de Fineias, filho de Eli, o sacerdote do Senhor em Silo. O povo ignorava a saída de Jónatas. No desfiladeiro que Jónatas tentava atravessar para atingir a guarnição dos filisteus, havia altos rochedos denteados, de um e de outro lado, um dos quais se chamava Bocés e o outro Sene. Um destes elevava-se em frente de Micmás, pela parte norte, e o outro, ao sul, do lado de Guibeá. Disse, pois, Jónatas ao escudeiro: «Ataquemos a guarnição desses incircuncisos; talvez o Senhor combata por nós. Na verdade, Ele tanto pode dar a vitória com poucos como com muitos.» O escudeiro respondeu: «Faz o que te aprouver, que eu te seguirei por toda a parte.» Disse-lhe Jónatas: «Marchemos então contra esses homens, deixando-nos ver. Se nos disserem: ‘Esperai até que nos aproximemos de vós’, ficaremos no nosso posto e não avançaremos. Se, porém, nos disserem: ‘Subi até nós’, avançaremos, porque este será o sinal de que o Senhor os entregou nas nossas mãos. Isto nos servirá de sinal.» Logo que foram descobertos pela guarnição dos filisteus, estes disseram: «Eis os hebreus que saem das cavernas onde se tinham escondido.» E os homens da guarda gritaram a Jónatas e ao escudeiro: «Vinde até nós, pois queremos mostrar-vos uma coisa.» Jónatas disse ao escudeiro: «Vem comigo, porque o Senhor os entregará nas mãos de Israel.» Subiu, pois, Jónatas, trepando com as mãos e os pés, seguido do escudeiro. Os filisteus caíam diante de Jónatas, e o escudeiro acabava de os matar atrás dele. Este primeiro massacre que fez Jónatas e o escudeiro foi de uns vinte homens, no espaço de meia jeira de terra. Espalhou-se o pânico no acampamento, no campo e entre todo o povo. A guarnição e o corpo de choque ficaram aterrorizados; a terra tremeu e originou-se um temor imenso. Entretanto, as sentinelas de Saul que estavam em Guibeá de Benjamim viram a multidão de fugitivos que se dispersavam por todos os lados. Saul disse aos que estavam com ele: «Fazei a chamada e vede quem saiu do nosso acampamento.» Fez-se a chamada e verificou-se a falta de Jónatas e do escudeiro. Saul disse a Aías: «Traz a insígnia votiva e a Arca de Deus.» Com efeito, nesse dia a Arca de Deus estava entre os israelitas. Enquanto Saul falava ao sacerdote, o tumulto no acampamento dos filisteus aumentava cada vez mais. Saul disse ao sacerdote: «Retira a tua mão.» Saul e todo o povo que estava com ele foram até ao lugar do combate. Os filisteus, numa extrema confusão, voltavam a espada uns contra os outros. Além disso, os hebreus que tinham servido os filisteus e tinham subido com eles ao acampamento, voltaram e puseram-se ao lado dos israelitas que estavam com Saul e Jónatas. Igualmente todos os israelitas que se tinham escondido na montanha de Efraim, sabendo que os filisteus tinham fugido, saíram a persegui-los. Naquele dia, o Senhor deu a vitória a Israel e o combate prosseguiu até Bet-Aven. Os israelitas estavam extenuados, porque Saul obrigara o povo com juramento, dizendo: «Maldito seja o homem que tomar alimento antes do anoitecer, antes que eu me tenha vingado dos meus inimigos.» Por isso, ninguém do povo comeu nada. Toda aquela multidão de gente tinha entrado na floresta; à superfície do solo, havia mel. O povo entrou, pois, na floresta e eis que o mel corria. Mas ninguém ousou levá-lo com a mão à boca, para não violar o juramento. Jónatas, porém, ignorava o juramento com que o pai obrigara o povo; estendeu a ponta do bastão que tinha na mão, molhou-a num favo de mel e levou-a à boca. Então recuperou o vigor dos olhos. Um homem do povo disse-lhe: «Teu pai fez jurar o povo, dizendo: ‘Maldito o homem que hoje provar alimento.’» Jónatas respondeu: «Meu pai fez mal à nossa terra. Vós mesmos vistes como se me iluminaram os olhos, porque comi um pouco deste mel. E se o povo tivesse hoje comido da presa tomada ao inimigo, não teria sido muito maior a derrota dos filisteus?» Naquele dia, foram derrotados os filisteus, desde Micmás até Aialon. O povo, exausto de fadiga, lançou-se ao saque e tomou as ovelhas, os bois e os bezerros, que degolaram sobre a terra, comendo a carne juntamente com o sangue. E avisaram Saul: «O povo está a pecar contra o Senhor, comendo carne com sangue.» Disse-lhes Saul: «Isso é uma impiedade; trazei-me depressa uma grande pedra.» E acrescentou: «Ide por todo o povo e dizei-lhe que me traga cada um a sua ovelha ou o seu boi. Serão degolados e comidos aqui; mas não pequem contra o Senhor, comendo carne com sangue.» Cada um deles trouxe, pela sua mão, naquela noite, o gado, e ali o sacrificaram. Saul edificou naquele sítio um altar ao Senhor. Este foi o primeiro altar que erigiu ao Senhor. Saul disse: «Lancemo-nos esta noite sobre os filisteus e destruamo-los até aos primeiros alvores do dia e não deixemos vivo nem um só homem.» O povo disse: «Faz tudo o que melhor te parecer.» Mas o sacerdote disse: «Aproximemo-nos, aqui, de Deus.» E Saul consultou o Senhor, dizendo: «Perseguirei os filisteus? Irás entregá-los nas mãos de Israel?» Mas Deus não lhe respondeu desta vez. Saul disse: «Fazei vir aqui todos os principais de entre o povo; investigai e dizei-me qual é o pecado que hoje se cometeu. Pela vida do Senhor, que é o libertador de Israel, nem que seja meu filho Jónatas, ele morrerá!» Ninguém na multidão lhe respondeu. E disse a todo o Israel: «Ponde-vos de um lado, eu e o meu filho Jónatas estaremos do outro.» A multidão respondeu-lhe: «Faz o que te parecer melhor.» Saul disse ao Senhor, Deus de Israel: «Dá-nos a conhecer a verdade!» Jónatas e Saul foram designados pelas sortes, e o povo ficou livre. Então, Saul disse: «Lançai as sortes sobre mim e sobre meu filho Jónatas.» E caiu a sorte sobre Jónatas. Disse, pois, Saul a Jónatas: «Confessa-me o que fizeste.» Jónatas contou-lhe: «Provei um pouco de mel com a ponta da vara que tinha na mão. E aqui me tens pronto a morrer!» Saul disse: «Castigue-me Deus com todo o rigor da sua justiça, se tu não morreres, Jónatas!» Mas o povo disse a Saul: «Como havia de perecer Jónatas, ele que acaba de dar a vitória a Israel? Isto não pode ser! Viva o Senhor ! Nem um só cabelo da sua cabeça cairá por terra, pois foi por beneplácito de Deus que ele agiu hoje desta forma.» Assim o povo salvou Jónatas da morte. Saul retirou-se, deixando de perseguir os filisteus, que voltaram para as suas terras. Saul assegurou a monarquia em Israel e combateu contra todos os inimigos: moabitas, amonitas, edomitas, os reis de Soba e os filisteus. E, para onde quer que levasse as suas armas, voltava vencedor. Portou-se valorosamente, feriu os amalecitas e libertou Israel das mãos dos que o assaltavam. Os filhos de Saul foram Jónatas, Jisvi e Malquichua; a primogénita das suas filhas chamava-se Merab e a mais nova, Mical. A mulher de Saul chamava-se Aínoam, filha de Aimaás. O chefe do seu exército chamava-se Abner, filho de Ner, tio de Saul, porque Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel. Durante todo o tempo da vida de Saul, a guerra foi encarniçada contra os filisteus. Sempre que Saul descobria um homem valente e aguerrido, levava-o consigo. Samuel disse a Saul: «O Senhor enviou-me para que te ungisse rei do seu povo de Israel. Ouve, pois, as palavras do Senhor. Isto diz o Senhor do universo: ‘Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando subia do Egipto. Vai, pois, agora, ferir Amalec. Votarás ao extermínio tudo o que lhe pertence, sem nada poupar. Matarás tudo, homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e asnos.’» Saul comunicou isto ao povo e passou-lhe revista em Telaim. Havia duzentos mil peões e dez mil homens de Judá. Saul avançou até à cidade de Amalec e pôs emboscadas na torrente. Disse aos quenitas: «Retirai-vos, separai-vos dos amalecitas, não suceda que eu vos destrua juntamente com eles, pois tratastes bem os filhos de Israel quando subiam do Egipto.» E os quenitas separaram-se dos amalecitas. E Saul foi destroçando os amalecitas desde Havilá até à entrada de Chur, que está na fronteira do Egipto. Tomou vivo Agag, rei dos amalecitas, e votou ao anátema todo o povo, passando-o ao fio da espada. Mas Saul e os seus homens pouparam Agag, assim como o melhor dos rebanhos de ovelhas e de vacas, os animais cevados, os cordeiros e tudo o que havia de melhor. Nada disto quiseram votar ao anátema. Só destruíram o que era de má qualidade e sem valor. O Senhor disse a Samuel: «Arrependo-me de ter feito rei a Saul, porque me voltou as costas e não executou as minhas ordens.» Samuel entristeceu-se e clamou ao Senhor durante toda a noite. Na manhã seguinte, indo ao encontro de Saul, foi avisado de que este tinha ido a Carmel e erigido ali um monumento, retomando em seguida o seu caminho para Guilgal. Samuel foi ter com ele e Saul disse-lhe: «O Senhor te abençoe! Cumpri a sua ordem.» Samuel replicou-lhe: «Mas que balidos de ovelhas são esses que ressoam aos meus ouvidos e esses mugidos de gado que ouço?» Respondeu Saul: «É a presa tomada aos amalecitas, pois o povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus; destruímos o resto.» Samuel disse-lhe: «Cala-te! Vou dizer-te o que o Senhor me disse esta noite.» Saul respondeu: «Fala.» Samuel disse: «Apesar de te considerares pequeno, acaso não te tornaste chefe das tribos de Israel, e não te ungiu o Senhor rei de Israel? O Senhor enviou-te a essa expedição, dizendo: ‘Passa ao fio de espada esses amalecitas pecadores e combate contra eles até ao completo extermínio.’ Porque não ouviste a sua voz e te lançaste sobre os despojos, fazendo o que desagrada ao Senhor ?» Respondeu Saul a Samuel: «Eu obedeci à voz do Senhor, fui pelo caminho que Ele me traçou, trouxe Agag, rei dos amalecitas, e exterminei esse povo. O povo somente tomou dos despojos algumas ovelhas e bois, como primícias do que devia destruir, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus, em Guilgal.» Samuel replicou-lhe, então: «Porventura, o Senhor se compraz tanto nos holocaustos e sacrifícios como na obediência à sua palavra? A obediência vale mais do que os sacrifícios, e a submissão, mais do que a gordura dos carneiros. A desobediência é tão culpável como a superstição, e a insubmissão é como o pecado da idolatria. Visto, pois, que rejeitaste a palavra do Senhor, também Ele te rejeita e te tira a realeza!» Saul disse: «Pequei; transgredi a ordem do Senhor e as tuas instruções, pois tive medo do povo e condescendi. Agora, peço-te, perdoa o meu pecado e vem comigo, para que eu adore o Senhor.» Respondeu Samuel: «Não irei contigo, porque rejeitaste a palavra do Senhor; por isso, o Senhor te rejeita e não quer mais que sejas rei em Israel.» Samuel virou as costas para se retirar, mas Saul agarrou-o pela ponta do manto, o qual se rasgou. Samuel disse-lhe: «Deste modo, o Senhor arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro melhor do que tu. O Esplendor de Israel não mente nem se arrepende, pois não é um homem para se arrepender.» Saul respondeu: «Pequei. Mas rogo-te que me honres agora na presença dos anciãos do meu povo e diante de Israel. Vem comigo adorar o Senhor, teu Deus!» Samuel foi, pois, com Saul, e este adorou o Senhor. Disse, então, Samuel: «Trazei-me Agag, rei dos amalecitas.» Agag aproximou-se acorrentado, pensando: «Já passou o perigo de morte!» Disse-lhe Samuel: «Assim como a tua espada privou tantas mães dos seus filhos, assim agora a tua mãe será uma mulher sem filhos.» E Samuel executou Agag diante do Senhor, em Guilgal. Depois disto, Samuel retirou-se para Ramá, e Saul foi para a sua casa, em Guibeá de Saul. O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte. Samuel afligia-se por causa de Saul, porque o Senhor se arrependera de o ter feito rei de Israel. O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.» O Senhor disse: «Levarás contigo um novilho e dirás que vais oferecer um sacrifício ao Senhor. Convidarás Jessé para o sacrifício e Eu te revelarei o que deverás fazer. Darás por mim a unção àquele que Eu te indicar.» Fez Samuel como o Senhor ordenara. Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade saíram-lhe ao encontro, inquietos, e disseram: «É de paz a tua vinda?» Ele respondeu: «Sim. Venho oferecer um sacrifício ao Senhor; purificai-vos e acompanhai-me para o sacrifício.» Ele mesmo purificou Jessé e os filhos e convidou-os para o sacrifício. Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor.» Mas o Senhor disse a Samuel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta estatura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração.» Jessé chamou Abinadab e apresentou-o a Samuel, que disse: «Não é este o que o Senhor escolheu.» Jessé trouxe-lhe, também, Chamá. E Samuel disse: «Ainda não é este o que o Senhor escolheu.» Jessé apresentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.» E acrescentou: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apascentar as ovelhas.» Samuel ordenou a Jessé: «Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa antes de ele ter chegado.» Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Senhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.» Samuel tomou o chifre de óleo e ungiu-o na presença dos seus irmãos. E, a partir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Samuel voltou para Ramá. O espírito do Senhor retirou-se de Saul, que era atormentado por um espírito maligno enviado pelo Senhor. Os criados de Saul disseram-lhe: «Eis que um espírito mau te atormenta. Se tu, nosso amo, deres ordens, os teus servos, aqui presentes, procurarão um homem que saiba tocar harpa, para que, quando o mau espírito dominar sobre ti, ele a toque, a fim de te acalmar.» Respondeu Saul: «Está bem, procurai-me um bom músico e trazei-mo.» Um dos servos disse-lhe: «Conheço um filho de Jessé de Belém que sabe tocar muito bem harpa; é valente e corajoso, fala bem, tem belo rosto e o Senhor está com ele.» Saul mandou mensageiros a Jessé, dizendo: «Manda-me o teu filho David, o pastor.» Jessé tomou um jumento carregado com pão, um odre de vinho e um cabrito e enviou esses presentes a Saul, por meio de seu filho. David chegou à casa do rei e fez a sua apresentação. Saul afeiçoou-se a ele e fê-lo seu escudeiro. E mandou dizer a Jessé: «Rogo-te que deixes David comigo, pois ganhou a minha estima.» E sempre que o mau espírito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau deixava-o. Os filisteus mobilizaram as suas tropas para a guerra. Juntaram-se em Socó de Judá e acamparam entre Socó e Azeca, em Efés-Damim. Saul e os filhos de Israel mobilizaram as suas tropas e acamparam no vale do Terebinto, colocando-se em linha de combate contra os filisteus. Estes estavam num lado da montanha, e Israel, na colina que lhe ficava em frente, separados pelo vale. Saiu do acampamento dos filisteus um guerreiro chamado Golias, de Gat, cuja estatura era de seis côvados e um palmo. Cobria-lhe a cabeça um capacete de bronze, e o corpo, uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. Tinha perneiras de bronze, e um escudo de bronze defendia os seus ombros. O cabo da lança era como um cilindro de tear, e a ponta pesava seiscentos siclos de ferro. Precedia-o um escudeiro. Apresentou-se diante dos filhos de Israel e gritou-lhes: «Porque é que vos colocastes em ordem de batalha? Não sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei entre vós um homem que combata comigo, em duelo. Se me vencer e me matar, seremos vossos escravos; mas se eu o vencer e o matar, então vós sereis nossos escravos e servir-nos-eis.» E acrescentou: «Lanço hoje este desafio ao exército de Israel: dai-me um homem para lutarmos juntos.» Saul e todo o Israel ouviram estas palavras do filisteu e ficaram assombrados e cheios de medo. David era um dos oito filhos de um homem de Efraim, de Belém de Judá, chamado Jessé. Tinha oito filhos e era já idoso nos tempos de Saul, a quem tinha fornecido homens. Os três filhos mais velhos tinham seguido Saul na guerra. O primogénito chamava-se Eliab, o segundo Abinadab e o terceiro Chamá. David era o mais novo. Tendo os três mais velhos seguido Saul, David ia e vinha da corte de Saul, e voltava para apascentar o rebanho de seu pai, em Belém. O filisteu apresentava-se pela manhã e pela tarde, e isto durante quarenta dias. Um dia, Jessé disse ao seu filho David: «Toma para os teus irmãos um efá de grão torrado e estes dez pães e leva-os sem demora ao acampamento. Entrega estes dez queijos ao comandante e pergunta se os teus irmãos vão bem ou se têm necessidade de alguma coisa.» Eles estavam com Saul, juntamente com todos os homens de Israel, no vale do Terebinto, em guerra com os filisteus. Na manhã do dia seguinte, David, confiando o rebanho a um pastor, pôs ao ombro os alforges e partiu, como lhe ordenara Jessé. Chegou ao acampamento no momento em que o exército, saindo para a batalha, levantava o grito de guerra. Israel e os filisteus puseram-se em linha de combate, esquadrão contra esquadrão. David entregou a sua carga ao guarda das bagagens e correu às fileiras, para se informar dos seus irmãos. Enquanto lhes falava, eis que o guerreiro filisteu Golias, de Gat, avançou das fileiras do seu exército, proferindo os mesmos insultos que nos dias precedentes. E David ouviu-os. Todo o Israel, à vista de Golias, fugiu, tremendo de medo. E diziam: «Vedes esse homem que avança? Ele vem insultar Israel. O rei cumulará de grandes riquezas aquele que o matar, dar-lhe-á a sua filha e há-de isentar de impostos, em Israel, a casa de seu pai.» David perguntou aos que estavam junto dele: «Que darão àquele que matar esse filisteu e defender a honra de Israel? E quem é este filisteu incircunciso para insultar deste modo o exército do Deus vivo?» E deram-lhe a mesma resposta: «Dar-se-á isto e aquilo a quem o matar.» Eliab, seu irmão mais velho, ouvindo-o falar com os homens, indignou-se contra David e disse: «Porque vieste aqui? A quem deixaste o rebanho no deserto? Conheço as tuas pretensões e a maldade do teu coração, pois vieste para ver a batalha!» Respondeu-lhe David: «Que fiz eu de mal? Apenas fiz uma simples pergunta.» E afastou-se do irmão, indo fazer a mesma pergunta a outros, dos quais obteve sempre a mesma resposta. As palavras de David foram ouvidas e comunicadas a Saul, que o mandou chamar à sua presença. David disse-lhe: «Ninguém desanime por causa desse filisteu! O teu servo irá combatê-lo.» Disse-lhe Saul: «Não poderás ir lutar contra esse filisteu. Não passas de uma criança, e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.» David respondeu: «Quando o teu servo apascentava as ovelhas do seu pai e vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, eu perseguia-o e matava-o, arrancando-lhe a ovelha da boca. E, se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. Assim como o teu servo matou o leão e o urso, assim fará também a este filisteu incircunciso, que insultou o exército do Deus vivo.» E acrescentou: «O Senhor, que me livrou das garras do leão e do urso, há-de salvar-me igualmente das mãos desse filisteu.» Disse-lhe o rei: «Vai, e que o Senhor esteja contigo.» O rei revestiu David com a sua armadura, pôs-lhe na cabeça um capacete de bronze e armou-o de uma couraça. Cingiu-o com a sua espada sobre a armadura. David tentou ver se podia andar com aquelas armas, às quais não estava habituado, e disse a Saul: «Não posso caminhar com esta armadura, pois não estou habituado!» E tirou a armadura. Tomou o seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no alforge de pastor que lhe servia de bolsa. Depois, com a funda na mão, avançou contra o filisteu. Este, precedido do escudeiro, aproximou-se de David, mediu-o com os olhos e, vendo que era jovem, louro e de aspecto delicado, desprezou-o. Disse-lhe: «Sou eu, porventura, um cão, para vires contra mim de pau na mão?» E amaldiçoou David em nome dos seus deuses. E acrescentou: «Vem, que eu darei a tua carne às aves do céu e aos animais da terra!» David respondeu: «Tu vens para mim de espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em nome do Senhor do universo, do Deus dos esquadrões de Israel, a quem tu desafiaste. O Senhor vai entregar-te hoje nas minhas mãos e eu vou matar-te, cortar-te a cabeça e dar os cadáveres do campo dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra, para que todo o mundo saiba que há um Deus em Israel. E toda essa multidão de gente saberá que não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, porque Ele é o árbitro da guerra e Ele vos entregará nas nossas mãos!» Levantou-se o filisteu e avançou contra David. Este também correu para as linhas inimigas ao encontro do filisteu. Meteu a mão no alforge, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na cabeça, e o gigante tombou com o rosto por terra. Assim venceu David o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não tinha espada na mão, David correu para o filisteu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cortando-lhe a cabeça. Vendo morto o seu guerreiro mais valente, os filisteus fugiram. Os homens de Israel e de Judá levantaram-se então, soltando gritos de guerra, e perseguiram os filisteus até à entrada do vale e às portas de Ecron. E caíram feridos muitos filisteus, cujos cadáveres juncavam o caminho desde Chaaraim até Gat e Ecron. Voltando da perseguição, os filhos de Israel saquearam o acampamento dos inimigos. David tomou a cabeça do filisteu e levou-a para Jerusalém. Mas as suas armas guardou-as na sua própria tenda. Quando Saul viu David partir ao encontro do filisteu, disse a Abner, seu general: «De quem é filho esse jovem, Abner?» Respondeu-lhe Abner: «Pela tua vida, ó rei, não sei.» O rei disse-lhe: «Informa-te, pois, de quem é filho.» E quando David voltou da vitória sobre o filisteu, tendo ainda na mão a cabeça de Golias, Abner levou-o à presença de Saul. Saul perguntou-lhe: «Quem é o teu pai?» Respondeu-lhe David: «Eu sou filho de Jessé de Belém, teu servo.» Quando David acabou de falar com Saul, o coração de Jónatas ficou estreitamente unido ao de David, e Jónatas começou a amá-lo como a si mesmo. Desde aquele dia, Saul recebeu-o em sua casa e não permitiu que voltasse para casa de seu pai. David e Jónatas estabeleceram um pacto, pois este amava David como a si mesmo. Por isso, Jónatas tirou o manto que levava vestido e deu-o a David, bem como a sua armadura, a sua espada, o seu arco e o seu cinturão. De todas as missões de que Saul o encarregava, David saía vitorioso. Colocou-o à frente dos seus guerreiros e ele ganhou a simpatia de todo o povo, particularmente dos servos de Saul. Ao regressar o exército, depois de David ter morto o filisteu, de todas as cidades de Israel as mulheres saíram ao encontro de Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tambores e címbalos. E, à medida que dançavam, cantavam em coro: «Saul matou mil, mas David matou dez mil.» Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos. No dia seguinte, apoderou-se de Saul um espírito maligno enviado por permissão de Deus, e teve um acesso de loucura em sua casa. Como noutras ocasiões, David pôs-se a tocar o seu instrumento. Saul, segurando uma lança na mão, arremessou-a contra David, pensando: «Vou cravar David à parede!» Mas David desviou-se por duas vezes. Saul temia David, porque o Senhor estava com David e se tinha afastado dele próprio. Saul afastou-o, então, de si, estabelecendo-o chefe de mil homens. À frente deles marchava David, sempre bem sucedido em tudo o que fazia, porque o Senhor estava com ele. Saul, vendo-o tão engenhoso, teve receio dele. Mas todos em Israel e Judá o amavam, porque David ia à frente deles em todas as expedições que se faziam. Saul disse a David: «Eis Merab, a minha filha mais velha, que eu te darei por mulher, contanto que sejas valoroso e combatas nas guerras do Senhor.» Saul pensava: «Não é bom que por minha mão o mate, seja antes a mão dos filisteus a fazê-lo.» David respondeu a Saul: «Quem sou eu? E que é a minha linhagem, a família de meu pai em Israel, para que me torne genro do rei?» E tendo chegado o tempo em que Merab, filha de Saul, devia ser dada a David, deram-na a Adriel, que era de Meolá. Mas Mical, outra filha de Saul, amava David. E contaram-no a Saul, que se alegrou com isso. «Vou dar-lhe Mical – pensava Saul – para que seja para ele uma armadilha e ele caia nas mãos dos filisteus.» Saul disse, pois, a David pela segunda vez: «Agora vais tornar-te meu genro.» E ordenou aos seus servos: «Dizei em segredo a David: Vê, o rei estima-te, e todos os seus servidores também.» Os servos de Saul repetiram essas palavras aos ouvidos de David, mas ele respondeu: «Parece-vos fácil ser genro do rei? Eu sou pobre e de condição humilde.» Os servos de Saul referiram-lhe as palavras de David. Respondeu Saul: «Assim direis a David: ‘O rei só pede como dote os prepúcios de cem filisteus incircuncisos, para se vingar dos seus inimigos.’» O seu desígnio era entregar David nas mãos dos filisteus. Os servos transmitiram a David esta mensagem. E esta pareceu a David uma exigência razoável para tornar-se genro do rei. Antes que expirasse o prazo fixado, David partiu com os seus homens e matou duzentos filisteus, entregando ao rei aquele número de prepúcios, a fim de se tornar seu genro. Saul deu-lhe por mulher sua filha Mical. Saul compreendeu, então, que o Senhor estava com David. A sua filha Mical amava-o. O temor de Saul perante David aumentou. E detestou David durante todo o resto da sua vida. Cada vez que os príncipes dos filisteus saíam para a guerra, David era melhor sucedido do que todos os homens de Saul, o que tornou cada vez mais célebre o seu nome. Saul falou ao seu filho Jónatas e a todos os seus servos da sua intenção de matar David. Mas Jónatas, filho de Saul, amava cordialmente David e preveniu-o, dizendo: «Saul, meu pai, quer matar-te. Procura fugir amanhã de manhã; foge para um lugar oculto e esconde-te. Sairei em companhia de meu pai, até ao lugar onde tu te encontrares; falarei com ele a teu respeito, para ver o que ele pensa, e depois avisar-te-ei.» Jónatas falou bem de David a seu pai e acrescentou: «Não faças mal algum ao teu servo David, pois ele nunca te fez mal; pelo contrário, prestou-te grandes serviços. Arriscou a vida, matando o filisteu, e o Senhor deu, assim, uma grande vitória a Israel. Foste testemunha e alegraste-te. Porque queres pecar contra o sangue inocente, matando David sem motivo?» Saul ouviu as palavras de Jónatas e fez este juramento: «Pela vida do Senhor, David não morrerá!» Então, Jónatas chamou David, contou-lhe tudo isto e apresentou-o novamente a Saul. David voltou a estar ao seu serviço como antes. Tendo recomeçado a guerra, David marchou contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes pesada derrota. E eles fugiram diante dele. Um espírito maligno, por permissão do Senhor, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava harpa. Saul intentou cravar David à parede com a lança, mas David desviou-se e a lança foi cravar-se na parede. David escapou e fugiu naquela mesma noite. Saul mandou os seus guardas a casa de David, a fim de o prenderem e assassinarem no outro dia pela manhã. Mas Mical, mulher de David, disse-lhe: «Se não fugires esta mesma noite, amanhã serás um homem morto.» Mical desceu-o pela janela e ele fugiu são e salvo. Mical tomou os ídolos familiares, meteu-os na cama, colocou-lhes ao redor da cabeça uma pele de cabra e cobriu-os com um manto. Saul enviou emissários a prender David, e ela disse-lhes: «Ele está doente.» Saul mandou novos emissários com esta ordem: «Trazei-mo na cama e eu mesmo o matarei.» Tendo chegado os emissários de Saul, só encontraram na cama os ídolos com uma cobertura de pele de cabra à cabeceira. Saul disse a Mical: «Porque me enganaste assim, deixando fugir o meu inimigo, que se pôs a salvo?» Mical respondeu: «Porque ele me disse: ‘Deixa-me partir, senão mato-te!’» David fugiu, pondo-se a salvo, e foi ocultar-se junto de Samuel em Ramá, contando-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E ele e Samuel foram viver para Naiot. Disseram a Saul: «David está em Naiot, perto de Ramá.» Saul mandou homens para prender David mas, quando viram o grupo dos profetas em êxtase com Samuel à frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul e começaram, também eles, a profetizar. Contaram isto a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a profetizar. Saul mandou um terceiro grupo, aos quais sucedeu o mesmo. Então, foi ele próprio a Ramá. Chegando à grande cisterna que está em Socó, perguntou: «Onde estão Samuel e David?» Responderam-lhe: «Estão em Naiot, perto de Ramá.» Mas, no caminho para Naiot, apoderou-se também dele o espírito de Deus, e foi cantando e profetizando pelo caminho, até chegar a Naiot. Despiu também as suas vestes e pôs-se a cantar com os outros diante de Samuel, ficando assim despido e prostrado por terra, durante todo o dia e toda a noite. Daí o ditado: «Também Saul está entre os profetas?» Entretanto, David fugiu de Naiot, perto de Ramá, e foi ter com Jónatas, dizendo-lhe: «Que fiz eu? Que crime cometi e que mal fiz a teu pai, para que ele queira matar-me?» Respondeu-lhe Jónatas: «Não temas, porque não morrerás! Meu pai não faz coisa alguma, grande ou pequena, sem me dizer. Porque me ocultaria isso? Não é possível!» Mas David fez novo juramento: «Teu pai bem sabe que tens simpatia por mim e, por isso, deve ter pensado: ‘Que Jónatas não o saiba, para que não se entristeça.’ Por Deus e pela tua vida, há apenas um passo entre mim e a morte!» Jónatas respondeu-lhe: «Que queres que eu faça? Farei por ti tudo o que me disseres.» Disse David: «Amanhã é a festa da Lua-nova e eu deveria jantar, conforme o costume, à mesa do rei. Deixa-me partir para me esconder no campo até à tarde do terceiro dia. Se o teu pai notar a minha ausência, dir-lhe-ás: ‘David pediu-me que o deixasse ir a Belém, sua cidade, pois se celebra ali o sacrifício anual da sua família.’ Se ele disser que está bem, nada terei a temer; mas, se ele, pelo contrário, se irritar, fica sabendo que está resolvido a ir até ao fim. Faz, pois, esta mercê ao teu servo, já que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. Se tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo e não me faças comparecer diante de teu pai.» Jónatas disse-lhe: «Longe de ti tal coisa! Se eu souber que, de facto, meu pai resolveu matar-te, juro que te avisarei.» Disse-lhe David: «Quem me informará se teu pai te der uma resposta áspera?» Respondeu Jónatas: «Vamos para o campo.» E foram ambos para o campo. Então, Jónatas disse: «Pelo Senhor, Deus de Israel! Amanhã, pela terceira vez, vou consultar meu pai. Se tudo for favorável a David e eu não to comunicar, então, que o Senhor me trate com todo o seu rigor! Mas se persistir a má vontade de meu pai contra ti, avisar-te-ei da mesma forma; poderás, então, partir, e ficarás tranquilo. Que o Senhor esteja contigo como esteve com o meu pai! Mais tarde, se eu for ainda vivo, manifestarás em mim a misericórdia do Senhor. Mas, se eu morrer, não recusarás jamais o favor à minha casa, quando o Senhor exterminar da face da terra todos os inimigos de David!» Foi assim que Jónatas estabeleceu aliança com a casa de David, dizendo: «O Senhor peça contas aos inimigos de David!» Jónatas repetiu, mais uma vez, o seu juramento a David em nome da amizade que lhe consagrava, pois o amava de todo o coração. E Jónatas acrescentou: «Amanhã é a festa da Lua-nova, e não serás encontrado, pois ficará vazio o teu assento. Descerás, então, depois de amanhã sem falta, ao lugar onde te escondeste no dia do sucedido, e sentar-te-ás junto da pedra de Ézel. Atirarei três flechas para o lado da pedra, como se atirasse a um alvo. Depois mandarei o meu servo buscar as flechas. Se eu lhe disser: ‘Olha! As flechas estão atrás de ti; apanha-as!’ Então poderás vir, porque tudo te é favorável, e nada há a temer, pelo Deus vivo! Se, porém, eu disser ao criado: ‘Olha! As flechas estão diante de ti, um pouco mais longe!’ Então foge, porque é o Senhor quem te manda fugir. Quanto ao que prometemos, o Senhor seja para sempre testemunha entre nós.» David escondeu-se no campo. No dia da Lua-nova, o rei pôs-se à mesa para comer, sentando-se, como de costume, numa cadeira, perto da parede. Jónatas levantou-se para que Abner pudesse sentar-se ao lado de Saul, ficando desocupado o lugar de David. Naquele dia, Saul não disse nada. Pensou que talvez David tivesse contraído alguma impureza e não tivesse podido ainda purificar-se. No dia seguinte ao da Lua-nova, o lugar de David continuava vazio. Saul disse ao seu filho Jónatas: «Porque não veio comer o filho de Jessé nem ontem nem hoje?» E respondeu Jónatas: «David pediu-me licença para ir a Belém. Disse-me: ‘Deixa-me ir, porque temos na cidade um sacrifício de família, para o qual meu irmão me convidou. Se mereci a tua estima, permite-me que vá visitar os meus irmãos.’ Eis por que não se apresentou à mesa do rei.» Saul encolerizou-se contra Jónatas e disse: «Filho de uma prostituta, pensas que não sei que és amigo do filho de Jessé, e que isso é uma vergonha para ti e para tua mãe? Enquanto viver sobre a terra o filho de Jessé, nem tu estarás seguro, nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo, traz-mo, porque ele merece a morte.» Jónatas respondeu ao pai, dizendo: «Porque há-de morrer? Que mal fez ele?» Saul brandiu a lança para o atravessar, e Jónatas viu que a morte de David era coisa resolvida pelo pai. Furioso, deixou a mesa sem comer, naquele segundo dia de Lua-nova. As injúrias que seu pai havia feito a David tinham-no afligido profundamente. No dia seguinte, ao raiar da aurora, Jónatas saiu para o campo e foi ao lugar combinado com David, acompanhado de um jovem servo. E disse-lhe: «Vai e traz-me as setas que vou atirar.» Mas enquanto o rapaz corria, Jónatas atirou outra seta mais longe. Quando chegou ao lugar da seta, Jónatas gritou-lhe: «Não está a flecha mais para além de ti?» E acrescentou: «Vamos, apressa-te, não te demores.» O servo apanhou as setas e voltou ao seu senhor. O servo não sabia de nada, porque só Jónatas e David conheciam o assunto. Depois disto, entregou Jónatas as armas ao servo, dizendo-lhe: «Vai e leva-as para a cidade.» Logo que ele partiu, deixou David o seu esconderijo e, fazendo uma reverência a Jónatas, prostrou-se três vezes por terra; beijaram-se mutuamente, chorando juntos, mas David estava ainda mais comovido que o amigo. Jónatas disse-lhe: «Vai em paz; e, quanto ao juramento que fizemos, que o Senhor esteja sempre como testemunha entre ti e mim, entre a tua posteridade e a minha!» David levantou-se e partiu, e Jónatas voltou para a cidade. David retirou-se, pois, para Nob, onde se encontra a casa do sacerdote Aimélec. Este ficou muito surpreendido com a visita de David e perguntou-lhe: «Por que vens só?» David respondeu-lhe: «O rei confiou-me uma missão, ordenando-me: ‘Que ninguém saiba do assunto que te encomendei.’ Os meus homens estão em determinado lugar. Agora, pois, se tens à mão, mesmo que sejam uns cinco pães, entrega-mos, ou qualquer coisa que tenhas disponível.» O sacerdote respondeu: «Não tenho à mão pão ordinário, mas só pão consagrado. Poderás tomá-lo, se é que os teus servos se abstiveram de relações com mulheres.» Respondeu-lhe David: «Não tive relações com mulher alguma desde que parti, há três dias. Os meus servos estão igualmente puros; e, se a missão é profana, pode ser santificada por aquele que a cumpre.» Então o sacerdote deu-lhe os pães santificados, porque não havia ali senão os pães da oferenda, que tinham sido tirados da presença do Senhor e imediatamente substituídos por pães quentes. Achava-se ali, naquele dia, retido na presença do Senhor, um dos servos de Saul, chamado Doeg, o edomita, chefe dos pastores de Saul. Disse ainda David a Aimélec: «Tens aqui à mão uma lança ou uma espada? Nem sequer tive tempo de tomar a minha lança e as minhas armas, porque era urgente a ordem do rei.» Disse-lhe o sacerdote: «Tenho a espada do filisteu Golias, que tu mesmo mataste no vale do Terebinto. Está embrulhada num pano por trás da insígnia votiva. Se quiseres, podes tomá-la, pois aqui não há outra.» Replicou David: «Não há outra igual; dá-ma.» Nesse dia, David partiu e fugiu com medo de Saul, refugiando-se junto de Aquis, rei de Gat. Os servos de Aquis disseram ao rei: «Não é este David, o rei da terra, acerca do qual se cantava em coro: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’» David, impressionado com estas palavras, teve medo de Aquis, rei de Gat. Simulou um ataque de loucura diante deles: fazia movimentos raros com as mãos, batia nas portas e deixava correr a saliva pela barba. Aquis disse aos servos: «Bem vedes que este homem está louco. Porque mo trouxestes? Porventura, não tenho aqui bastantes loucos, para me trazerdes ainda mais este, para me aborrecer com as suas excentricidades? Semelhante homem há-de ter entrada na minha casa?» David saiu dali e refugiou-se na caverna de Adulam. Os seus irmãos e todos os seus homens souberam-no e foram juntar-se a ele. Todos os que se viam angustiados, endividados e descontentes foram ter com David e ele tornou-se o seu chefe. E juntaram-se a ele cerca de quatrocentos homens. Daí, David partiu para Mispá, em Moab. E disse ao rei de Moab: «Permite que meu pai e minha mãe venham viver no meio de vós, até que eu saiba o que Deus quer de mim.» Apresentou-os, pois, ao rei de Moab, e ficaram com ele durante todo o tempo que David permaneceu naquele refúgio. Mas o profeta Gad disse a David: «Não fiques na fortaleza. Parte, e vai para a terra de Judá.» David partiu e veio para o bosque de Haret. Saul foi informado de que David e os seus homens tinham sido descobertos. Estava Saul em Guibeá, sentado debaixo de uma tamareira, na colina, com a sua lança na mão, rodeado por todos os seus criados. Saul disse-lhes: «Escutai, filhos de Benjamim: Será que o filho de Jessé dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas? Porque vos conjurastes contra mim? Nenhum de vós me veio dar conhecimento da aliança que meu filho fez com o filho de Jessé; ninguém se deu ao trabalho de me avisar de que meu filho instigava o meu servo contra mim, para me armar ciladas, como está a acontecer!» Doeg, o edomita, que era o primeiro entre os criados de Saul, respondeu: «Eu vi o filho de Jessé; foi a Nob, a casa de Aimélec, filho de Aitub. Este consultou o Senhor para ele, deu-lhe víveres e entregou-lhe a espada do filisteu Golias.» O rei mandou chamar o sacerdote Aimélec, filho de Aitub, com toda a casa de seu pai, e os sacerdotes que estavam em Nob. E estes vieram todos apresentar-se ao rei. Saul disse-lhes: «Escuta, filho de Aitub!» Ele respondeu: «Que me queres, senhor?» Disse-lhe Saul: «Porque conspiraste contra mim, tu e o filho de Jessé? Deste-lhe pão e uma espada e consultaste Deus por ele, a fim de que ele continue a sublevar-se contra mim e me arme ciladas, como está a acontecer!» Aimélec respondeu ao rei: «Haverá entre todos os teus servos alguém mais fiel do que David, genro do rei, fiel às tuas ordens e homem estimado por toda a tua casa? Foi porventura apenas hoje que consultei Deus por ele? Longe de mim outra ideia! Não atribua o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! O teu servo nada sabe desse assunto.» O rei disse: «Tu morrerás, Aimélec, tu e toda a casa de teu pai.» E dirigindo-se aos guardas que o rodeavam, disse-lhes: «Ide e matai os sacerdotes do Senhor, pois fizeram-se cúmplices de David; sabiam da sua fuga e não mo denunciaram.» Mas os guardas do rei recusaram-se a levantar a mão contra os sacerdotes do Senhor. Então, o rei ordenou a Doeg: «Investe tu contra os sacerdotes.» E Doeg, o edomita, aproximou-se e matou os sacerdotes. Matou, naquele dia, oitenta e cinco homens que vestiam a insígnia votiva de linho. Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nob, matando homens e mulheres, meninos, crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas. Contudo, escapou um filho de Aimélec, filho de Aitub, chamado Abiatar, que se refugiou junto de David. Abiatar contou-lhe que Saul tinha mandado matar os sacerdotes do Senhor. David disse-lhe: «Eu bem suspeitava, naquele dia, que estando ali Doeg, o edomita, iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai. Fica comigo, e não temas. Aquele que odiar a minha vida, odiará igualmente a tua. Junto de mim estarás salvo.» Avisaram David, dizendo: «Os filisteus estão a atacar Queila e a pilhar as eiras.» David consultou o Senhor, «Poderei vencer os filisteus?» O Senhor respondeu: «Vai, pois tu derrotarás os filisteus e libertarás Queila.» Os homens de David, porém, disseram-lhe: «Mesmo aqui em Judá estamos cheios de medo; quanto mais se formos a Queila contra as tropas dos filisteus!» David consultou novamente o Senhor, que lhe respondeu: «Vai, desce a Queila, porque entregarei os filisteus nas tuas mãos.» David foi para Queila com os seus homens; atacou os filisteus, tomou-lhes o gado e infligiu-lhes pesada derrota; assim libertou os habitantes de Queila. Ora quando Abiatar, filho de Aimélec, se refugiou junto de David em Queila, levava consigo a insígnia votiva. Comunicaram a Saul: «David refugiou-se em Queila.» Saul pensou: «Deus entregou-o nas minhas mãos, pois foi esconder-se numa cidade com portas e ferrolhos.» O rei convocou todo o povo às armas para descer a Queila e sitiar David com a sua tropa. Mas David, sabendo que era má a intenção de Saul, disse ao sacerdote Abiatar: «Traz a insígnia votiva.» E acrescentou: «Senhor, Deus de Israel, teu servo David soube que Saul quer entrar em Queila, para destruir a cidade por minha causa. Será que os habitantes de Queila, me entregarão nas suas mãos? Saul virá, de facto, como o teu servo ouviu dizer? Senhor, Deus de Israel, revela-o ao teu servo.» O Senhor respondeu: «Saul virá.» David acrescentou: «Os habitantes de Queila vão entregar-me, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul?» O Senhor respondeu: «Sim, vão entregar-te.» Então David partiu dali com a sua tropa, em número de uns seiscentos homens, e saíram de Queila, marchando ao acaso. Saul, informado de que David abandonara Queila, suspendeu a expedição. David permaneceu no deserto, em lugares bem protegidos, e habitou no monte do deserto de Zif. Saul, entretanto, procurava-o sem cessar, mas Deus não o entregou nas suas mãos. David, sabendo que Saul tinha saído para lhe tirar a vida, ficou em Horcha, no deserto de Zif. Então, Jónatas, filho de Saul, levantou-se e foi ter com David a Horcha. E confortou-o em nome de Deus, dizendo-lhe: «Não temas, porque Saul, meu pai, não te poderá prender. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o segundo no teu reino; meu pai, Saul, bem o sabe.» Fizeram ambos uma aliança diante do Senhor. David ficou em Horcha e Jónatas voltou para sua casa. Alguns de Zif foram ter com Saul a Guibeá e disseram-lhe: «Não está David escondido entre nós, na fortaleza de Horcha, sobre a colina de Haquilá, ao sul do deserto? Visto que o teu desejo é vir ao seu encontro, ó rei, vem e nós o entregaremos nas tuas mãos.» Respondeu Saul: «Que o Senhor vos abençoe, porque vos compadecestes de mim. Ide, pois, informai-vos e vede por onde anda e quem o viu ali, pois disseram-me que é muito astuto. Explorai e descobri todos os seus esconderijos e trazei-me notícias seguras, a fim de eu ir convosco e, se ele está na região, buscá-lo-ei por todas as famílias de Judá.» Eles despediram-se e partiram antes de Saul, para Zif. Mas David e os seus homens estavam já no deserto de Maon, na planície ao sul do deserto. Saul saiu com os seus homens à procura dele. David, informado disso, deixou o rochedo e permaneceu no deserto de Maon. Saul soube-o e perseguiu-o. Saul marchava por um flanco da montanha, e David, com os seus homens, fugia a toda a pressa de Saul, pelo outro lado. No momento, porém, em que Saul e os seus homens iam lançar mão de David e dos seus, chegou um mensageiro e disse ao rei: «Vem depressa, porque os filisteus invadiram o país.» Ao ouvir isto, Saul deixou de perseguir David e foi combater os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rochedo da Separação. David fugiu dali e foi viver para as cavernas de En-Guédi. Quando Saul voltou da guerra contra os filisteus, avisaram-no, dizendo: «David está no deserto de En-Guédi.» Tomando, pois, Saul três mil homens escolhidos em todo o Israel, foi em busca de David e dos seus homens pelos rochedos de Jelim, só acessíveis às cabras monteses. Chegando perto dos apriscos de ovelhas que encontrou ao longo do caminho, Saul entrou numa gruta para satisfazer as suas necessidades. No fundo desta gruta, encontrava-se David com os seus homens, os quais lhe disseram: «Eis o dia do qual o Senhor te disse: ‘Eu entregarei o teu inimigo nas tuas mãos, para que faças dele o que quiseres.’» David levantou-se e cortou sigilosamente a ponta do manto de Saul. E logo o seu coração se encheu de remorsos por ter cortado a ponta do manto de Saul. E disse aos seus homens: «Deus me guarde de fazer tal coisa ao meu senhor, o ungido do Senhor, estender a minha mão contra ele, pois ele é o ungido do Senhor !» David conteve os seus homens com estas palavras e impediu que agredissem Saul. O rei levantou-se, afastou-se da gruta e prosseguiu o seu caminho. Depois, levantou-se David e saiu da caverna atrás de Saul, clamando: «Ó rei, meu senhor!» Saul voltou-se, e David, inclinando-se, fez-lhe uma profunda reverência. E disse David a Saul: «Porque dás ouvidos ao que te dizem: ‘David procura fazer-te mal’? Viste hoje com os teus olhos que o Senhor te entregou nas minhas mãos, na gruta. O pensamento de te matar assaltou-me, incitou-me contra ti, mas eu disse: ‘Não levantarei a mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.’ Olha, meu pai, e vê se é a ponta do teu manto que tenho na minha mão. Se eu cortei a ponta do teu manto e não te matei, reconhece que não há maldade nem revolta contra ti. Não pequei contra ti e tu, ao contrário, procuras matar-me. Que o Senhor julgue entre mim e ti! Que o Senhor me vingue de ti, mas eu não levantarei a minha mão contra ti. O mal vem dos perversos, como diz um provérbio antigo; por isso, não te tocará a minha mão. Mas a quem persegues, ó rei de Israel? A quem persegues? Um cão morto? Uma pulga? Pois bem! O Senhor julgará e sentenciará entre mim e ti. Que Ele julgue e defenda a minha causa, e me livre das tuas mãos.» Logo que David acabou de falar, Saul disse-lhe: «É esta a tua voz, ó meu filho David?» E Saul elevou a voz, soluçando. E disse a David: «Tu portas-te bem comigo, e eu comporto-me mal contigo. Provaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor tinha-me entregue nas tuas mãos e não me mataste. Qual é o homem que, encontrando o seu inimigo, o deixa ir embora tranquilamente? Que o Senhor te recompense pelo que fizeste comigo! Agora eu sei que serás rei e que nas tuas mãos estará firme o reino de Israel. Jura-me, pelo Senhor, que não eliminarás a minha posteridade, nem apagarás o meu nome da casa do meu pai.» E David jurou-lho. Depois disto, Saul voltou para a sua casa, e David e os seus homens subiram para o refúgio. Tendo morrido Samuel, todo o Israel se juntou para o chorar; sepultaram-no na sua propriedade em Ramá. E David pôs-se a caminho até ao deserto de Paran. Havia em Maon um homem cujas propriedades estavam em Carmel. Era muito rico: tinha três mil ovelhas e mil cabras. Encontrava-se, então, em Carmel, para a tosquia das suas ovelhas. Chamava-se Nabal, e sua mulher, Abigaíl, mulher de grande prudência e formosura. Ele, porém, era grosseiro e mau; descendia da linhagem de Caleb. David, ouvindo dizer, no deserto, que Nabal tosquiava o seu rebanho, enviou-lhe dez homens com esta ordem: «Subi a Carmel e dirigi-vos a Nabal; saudai-o em meu nome e dizei-lhe: ‘Meu irmão, a paz esteja contigo! Paz à tua casa e paz a todos os teus bens! Ouvi dizer que há uma tosquia em tua casa. Ora os teus pastores moraram connosco no deserto e nunca lhes fizemos mal algum. Nada lhes faltou durante todo o tempo em que ficaram em Carmel. Pergunta-o aos teus servos e eles to dirão. Que os meus servos encontrem agora a tua benevolência, porque chegámos num dia de festa. Rogo-te que dês aos teus servos e ao teu filho David o que comodamente puderes.’» Os homens de David foram, repetiram a Nabal todas estas palavras, em nome de David, e ficaram à espera. Nabal respondeu-lhes: «Quem é David? E quem é o filho de Jessé? Há hoje em dia muitos escravos que fogem da casa dos seus amos! Irei eu tomar o meu pão, a minha água, a minha carne, que preparei para os meus tosquiadores, para os dar a homens que vêm não se sabe de onde?» Os servos de David retomaram o caminho e regressaram. Ao chegarem, contaram-lhe tudo o que Nabal tinha dito. Então David disse aos seus homens: «Tome cada um a sua espada!» E cada um cingiu a sua espada à cintura. David cingiu também a sua. Cerca de quatrocentos homens seguiram David, ficando duzentos com as bagagens. Mas Abigaíl, mulher de Nabal, fora avisada por um dos seus servos, que lhe disse: «David mandou do deserto mensageiros para saudar o nosso amo, mas ele recebeu-os mal. No entanto, esses homens trataram-nos sempre muito bem, e jamais nos fizeram mal algum, nem nos causaram prejuízo, durante todo o tempo em que vivemos juntos no deserto. Pelo contrário, serviram-nos de defesa, dia e noite, enquanto estivemos com eles apascentando os rebanhos. Vê, pois, o que deves fazer, porque o nosso amo e toda a sua casa está ameaçada de ruína, porque ele é um filho de Belial, com quem não se pode falar.» Apressou-se, então, Abigaíl e tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco cordeiros cozidos, cinco medidas de grão torrado, cem tortas de passas de uvas, duzentos bolos de figos secos, e carregou tudo sobre os jumentos. E disse aos seus servos: «Ide diante de mim, e eu seguirei atrás de vós.» Mas nada disse a Nabal, seu marido. Quando descia por um caminho secreto da montanha, sentada num jumento, encontrou David com os seus homens, que vinham em sentido inverso. David dissera: «Na verdade, foi em vão que guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe fosse tirada coisa alguma! E ele paga-me o bem com o mal. Deus trate com todo o seu rigor a David – ou melhor, aos seus inimigos – se, de hoje até amanhã, eu deixar com vida um só homem dos que lhe pertencem.» Quando Abigaíl avistou David, desceu prontamente do jumento e, prostrando-se, fez-lhe uma profunda reverência. Assim prostrada a seus pés, disse-lhe: «Recaia sobre mim, meu senhor, esta culpa! Deixa falar a tua serva e ouve as suas palavras. Que o meu senhor não faça caso desse mau homem, Nabal, porque é um néscio e um insensato, como o seu nome indica. Mas eu, tua serva, não vi os homens que o meu senhor enviou. Agora, meu senhor, por Deus e pela tua alma, foi o Senhor que te impediu de derramar sangue e fazer justiça pelas tuas mãos! Sejam como Nabal os teus inimigos e os que maquinam o mal contra o meu senhor. Aceita este presente que tua serva trouxe ao meu senhor e reparte-o entre os homens que te seguem. Perdoa a culpa da tua serva, porque o Senhor edificará para ti uma casa estável, pois tu, meu senhor, combates nas guerras do Senhor. Não aconteça nenhum mal em toda a tua vida. Se alguém te perseguir ou conspirar contra a tua vida, a vida do meu senhor será guardada entre os vivos, junto do Senhor, teu Deus, enquanto a vida dos teus inimigos será lançada como pedra de uma funda. E, quando o Senhor tiver feito ao meu senhor todo o bem que te prometeu e te tiver estabelecido chefe sobre Israel, não terás no coração este pesar, nem este remorso de teres derramado sangue sem motivo, nem de te teres vingado por ti mesmo! Quando o Senhor te tiver feito bem, ó meu senhor, lembra-te da tua serva!» David respondeu-lhe: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou hoje ao meu encontro! Bendita seja a tua prudência! E bendita sejas tu própria, porque me impediste hoje de derramar sangue e de exercer vingança por minhas mãos! Mas, pelo Senhor Deus de Israel, que me impediu de te fazer mal, se não tivesses vindo tão depressa ao meu encontro, não restaria, ao amanhecer, nem um só homem de Nabal.» David aceitou o que lhe trazia Abigaíl e acrescentou: «Vai em paz para tua casa. Como vês, escutei-te e acedi ao teu pedido.» Quando Abigaíl chegou à casa de Nabal, havia em casa um grande banquete, como um festim real. Nabal tinha o coração alegre e estava completamente ébrio. Por isso, nada lhe disse, nem pouco nem muito, até ao dia seguinte. Pela manhã, tendo Nabal digerido o vinho, sua mulher contou-lhe tudo. Desfaleceu-lhe o coração dentro do peito e ficou como pedra. Dez dias depois, ferido pelo Senhor, Nabal morreu. Tendo David recebido a notícia da morte de Nabal, exclamou: «Bendito seja o Senhor, que vingou o ultraje que me fez Nabal, e impediu o seu servo de fazer o mal! O Senhor fez cair sobre a sua cabeça a sua própria maldade!» Depois disto, David mandou propor a Abigaíl que se tornasse sua mulher. Os seus mensageiros chegaram a Carmel e disseram-lhe: «David mandou-nos até junto de ti, pois deseja tomar-te por esposa.» Levantou-se, então, Abigaíl e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: «A tua serva já se daria por feliz em lavar os pés dos servos do meu senhor.» Levantou-se, montou no seu jumento e, seguida de cinco servas, partiu com os enviados de David, que a desposou. David desposara também Aínoam de Jezrael, e ambas foram suas mulheres. Quanto a sua mulher Mical, filha de Saul, este havia-a dado como mulher a Palti, filho de Laís, que era de Galim. Vieram novamente os de Zif a Guibeá ter com Saul e disseram-lhe: «David está escondido na colina de Haquilá, frente ao deserto.» Saul desceu ao deserto de Zif com três mil homens, escolhidos entre todo o Israel, para ir em busca de David, pelo deserto de Zif. Saul acampou na colina de Haquilá, a oriente do deserto, à beira do caminho. David estava no deserto. E, sabendo que Saul o havia seguido até ali, enviou espiões e teve a certeza de que ele tinha chegado. Levantou-se então e foi ao lugar onde Saul estava acampado. David fixou o lugar onde estavam deitados Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. Saul encontrava-se no centro do seu acampamento, rodeado por todos os homens. David disse a Aimélec, o hitita, e a Abisai, filho de Seruia e irmão de Joab: «Quem quer vir comigo ao acampamento de Saul?» Respondeu Abisai: «Eu vou contigo.» David e Abisai penetraram, pois, durante a noite, no meio das tropas. Saul dormia no acampamento, tendo a lança cravada no chão, à cabeceira. Abner e seus homens dormiam à volta dele. Abisai disse a David: «Deus entregou hoje nas tuas mãos o teu inimigo; agora, pois, deixa-me que o crave na terra com a lança, de um só golpe. Não falharei à primeira.» Respondeu David: «Não o mates. Quem poderia, sem pecado, estender a mão contra o ungido do Senhor ?» E acrescentou: «Pelo Deus vivo! Há-de ser Ele quem o há-de matar, ou quando chegar o seu dia, ou quando morrer em combate. Deus me livre de levantar a minha mão contra o ungido do Senhor ! Agora, toma a lança que ele tem à cabeceira e a bilha de água, e vamo-nos.» David apanhou a lança e a bilha de água que estavam à cabeceira de Saul, e retiraram-se. Ninguém viu ou sentiu nem se moveu, pois todos dormiam um sono profundo, que o Senhor lhes tinha enviado. David passou para o outro lado e parou ao longe, no cimo da colina, a grande distância. Então, bradou aos soldados de Saul e a Abner, filho de Ner: «Não respondes, Abner?» Respondendo, este disse: «Quem és tu que gritas assim ao rei?» David disse a Abner: «Afinal, não és tu um homem importante? Quem é igual a ti em Israel? Então, porque não guardaste o rei, teu senhor? Pois entrou um indivíduo para matar o rei, teu senhor! Não está bem o que tu fizeste. Por Deus! Mereces a morte, porque não velaste pelo teu amo, o ungido do Senhor ! Vê onde estão a lança do rei e a bilha de água que ele tinha à cabeceira!» Saul conheceu a voz de David e disse: «É a tua voz, ó meu filho David?» David respondeu: «Sim, ó rei, meu senhor.» E acrescentou: «Porque persegue o meu senhor o seu servo? Que fiz eu? Que delito cometi? Que o rei, meu senhor, se digne ouvir as palavras do seu servo: ‘Se é o Senhor que te incita contra mim, receba Ele o perfume da minha oferenda! Mas se são homens, malditos sejam diante do Senhor, pois me desterram para eu não poder habitar na herança do Senhor !’ E dizem-me: ‘Vai servir os deuses estrangeiros!’ Agora, pois, não se derrame o meu sangue sobre a terra, longe da face do Senhor ! O rei de Israel saiu como se fosse em busca de uma pulga, persegue-me como se persegue a perdiz pelos montes!» Saul disse: «Fiz mal! Vai, meu filho David, não voltarei a fazer-te mal, pois neste dia consideraste preciosa a minha vida. Procedi insensatamente, cometi um grandíssimo pecado.» David respondeu: «Aqui está a lança do rei: manda um dos teus homens buscá-la! O Senhor recompensará cada um, segundo a sua fidelidade e justiça. Ele entregou-te hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o seu ungido. E assim como a tua vida foi preciosa diante de mim, assim seja a minha aos olhos do Senhor. Ele me salvará de qualquer tribulação.» Saul disse a David: «Abençoado sejas tu, meu filho David, porque triunfarás, sem dúvida, em todas as tuas empresas.» David retomou o seu caminho e Saul voltou para a sua casa. Mas David pensou: «Virá um dia em que cairei nas mãos de Saul! Não será melhor refugiar-me na terra dos filisteus, para que Saul renuncie a buscar-me por toda a terra de Israel? Vou fugir das mãos dele.» Partiu, pois, David com os seus seiscentos homens e foi para junto de Aquis, filho de Maoc, rei de Gat. Permaneceu com Aquis em Gat, ele e os seus, cada um com a sua família, e David com duas mulheres, Aínoam de Jezrael, e Abigaíl, de Carmel, viúva de Nabal. Saul, sabendo que David se refugiara em Gat, não o perseguiu mais. David disse a Aquis: «Se mereci a tua benevolência, dá-me um lugar nas cidades da província, onde eu possa viver. Porque haveria o teu servo de viver contigo na cidade real?» Aquis deu-lhe Ciclag. Por isso, Ciclag ficou a pertencer até hoje aos reis de Judá. O tempo que David passou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses. David e os seus homens saíam e atacavam os guechureus, os guirezeus e os amalecitas, pois eram eles os que desde sempre habitavam aquela região, entre Sur e o Egipto. David assolava a região, sem deixar com vida homem ou mulher; tomava as ovelhas, os bois, os jumentos, os camelos, as vestes, e regressava junto de Aquis. Aquis perguntava-lhe: «Não fizeste hoje nenhum ataque?» David respondia: «Ataquei a parte meridional de Judá», ou então: «O sul de Jeramiel», ou ainda: «O sul dos quenitas.» E não deixava com vida homem ou mulher, com medo que fosse alguém a Gat contar o que ele fazia. Foi esta a conduta de David, durante o tempo que passou entre os filisteus. Aquis confiava em David, pensando: «Ganhou ódio ao povo de Israel e, por isso, ficará para sempre meu servo.» Aconteceu, naqueles dias, que os filisteus mobilizaram as suas tropas para combater contra Israel. Aquis disse a David: «Já sabes, tu e os teus homens, que tereis que acompanhar-me na batalha.» David respondeu: «Agora irás ver do que é capaz o teu servo.» E disse-lhe Aquis: «Confiar-te-ei para sempre a guarda da minha pessoa!» Samuel falecera e todo o Israel chorava a sua morte. Sepultaram-no em Ramá, sua cidade. Saul havia expulsado do país os que praticavam a adivinhação e a invocação dos mortos. Os filisteus mobilizados foram acampar em Chuném. Saul, reunindo as tropas de Israel, foi acampar em Guilboa. Ao ver o exército dos filisteus, Saul afligiu-se e teve um medo enorme. E consultou o Senhor, que não lhe respondeu, nem pelos sonhos, nem pelas sortes, nem pelos profetas. Saul disse, então, aos seus servos: «Buscai-me uma mulher que invoque os espíritos dos mortos, e eu irei consultá-la.» Responderam-lhe eles: «Há uma em En-Dor.» Saul disfarçou-se, mudou de roupa, e pôs-se a caminho com dois homens. Chegaram de noite à casa da mulher. Saul disse-lhe: «Prediz-me o futuro, invocando um morto, e faz-me aparecer quem eu te designar.» Respondeu-lhe a mulher: «Bem sabes o que fez Saul, ao eliminar os que invocavam os espíritos dos mortos e os adivinhos. Porque me armas ciladas para me matar?» Mas Saul jurou-lhe pelo Senhor, dizendo: «Por Deus, não te acontecerá mal algum.» Disse-lhe, então, a mulher: «A quem invocarei para esse assunto?» Respondeu-lhe Saul: «Faz com que me apareça Samuel.» E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito, e disse a Saul: «Porque me enganaste? Tu és Saul!» Disse-lhe o rei: «Não temas! Que viste?» Respondeu a mulher: «Vi um espírito que subia da terra.» Saul replicou: «Qual é o seu aspecto?» Replicou: «O de um ancião envolto num manto.» Saul compreendeu que era Samuel e prostrou-se com o rosto em terra. Samuel disse a Saul: «Porque perturbaste o meu repouso, fazendo-me vir aqui?» Respondeu Saul: «Estou numa grande angústia, porque os filisteus me atacam e Deus retirou-se de mim, não me respondendo, nem pelos profetas, nem pelos sonhos. Chamei-te para que me digas o que devo fazer.» Samuel disse-lhe: «Porque me consultas, uma vez que o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário? O Senhor fez como tinha anunciado pela minha boca. Ele tirará a realeza da tua mão para a dar a outro, a David. Não obedeceste à voz do Senhor e não fizeste sentir aos amalecitas a indignação da sua cólera; eis por que o Senhor te tratou como fez hoje. Além disso, o Senhor entregará Israel, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e os teus filhos estareis comigo, pois o Senhor entregará aos filisteus o exército de Israel.» Saul, atemorizado com as palavras de Samuel, imediatamente caiu estendido por terra; além disso, estava sem forças, porque nada tinha comido em todo o dia. A mulher aproximou-se de Saul, e, vendo-o tão transtornado, disse-lhe: «A tua serva obedeceu-te. Expus a minha vida para obedecer à ordem que me deste. Ouve também tu a voz da tua serva. Vou dar-te um pouco de alimento, para que comas e recobres forças, a fim de retomares o teu caminho.» Saul, porém, recusou, dizendo: «Não comerei.» No entanto, acedeu aos rogos dos seus servos e da mulher. Levantou-se do chão e sentou-se na cama. A mulher tinha em casa um bezerro cevado. Apressou-se em matá-lo; e, tomando farinha, amassou-a, fez com ela pães sem fermento e cozeu-os. Serviu-os a Saul e aos seus homens e eles comeram; depois, levantaram-se e partiram nessa mesma noite. Entretanto, os filisteus reuniram todas as tropas em Afec, e os israelitas acamparam, por sua vez, junto de Ain que está em Jezrael. Os príncipes dos filisteus marchavam à frente das suas tropas, divididas em companhias de cem e de mil homens. Mas David e seus homens marchavam na retaguarda com Aquis. Os príncipes dos filisteus disseram: «Quem são esses hebreus?» Respondeu-lhes Aquis: «É David, o servo de Saul, rei de Israel, que está na minha companhia há muitos dias, e mesmo há anos. Nada tenho a censurar-lhe, desde o dia em que se refugiou junto de mim.» Irritados contra ele, os chefes dos filisteus disseram-lhe: «Retire-se esse homem; que ele volte ao lugar que lhe marcaste, e não venha connosco à batalha, pois pode acontecer que ele se converta em nosso adversário no meio do combate. Pois, de que modo poderá ele aplacar melhor as iras do seu amo, senão à custa das nossas cabeças? Não é ele, porventura, aquele David, do qual, dançando, se cantava: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’» Aquis chamou David e disse-lhe: «Viva o Senhor! Tu és um homem recto e o teu proceder para comigo, no acampamento, muito me agrada. Até hoje, nada tive a censurar-te desde que chegaste à minha casa. Mas não és bem visto pelos príncipes. Retira-te, pois, e vai em paz para não descontentar os príncipes dos filisteus.» David disse a Aquis: «Que mal fiz eu? Que achaste de censurável no teu servo, desde o dia em que cheguei à tua casa até hoje, para que não possa ir combater contra os inimigos do rei, meu senhor?» Respondeu Aquis: «Eu sei. Tu foste para mim como um anjo do Senhor. Mas os chefes dos filisteus é que não querem que vás com eles ao combate. Assim, pois, amanhã de manhã cedo, levantai-vos, tu e os servos do teu senhor que te seguiram, e partireis ao clarear do dia.» David e os seus homens levantaram-se de madrugada e regressaram à terra dos filisteus. Estes, porém, subiram a Jezrael. David e os seus homens chegaram a Ciclag ao terceiro dia, quando já os amalecitas tinham feito uma incursão no Négueb e em Ciclag, atacando e incendiando a cidade. Levavam prisioneiras as mulheres e todos os que ali se encontravam, desde o menor até ao maior; não mataram ninguém, mas levaram-nos todos, cativos, para a sua terra. David e seus homens encontraram, pois, a cidade incendiada, e as suas mulheres, filhos e filhas levados cativos. Por isso, David e os seus companheiros choraram até não poderem mais. As duas mulheres de David, Ainoam de Jezrael e Abigaíl de Carmel, viúva de Nabal, estavam também cativas. David afligiu-se em extremo, pois o seu povo queria apedrejá-lo, pela amargura de terem perdido os seus filhos e filhas. Mas David achou força no Senhor, seu Deus, e disse ao sacerdote Abiatar, filho de Aimélec: «Traz-me a insígnia de oráculo.» Abiatar trouxe-lhe a insígnia de oráculo. David consultou o Senhor, dizendo: «Devo perseguir essa gente? Alcançá-los-ei?» O Senhor respondeu-lhe: «Persegue-os, porque os alcançarás e libertarás os cativos.» David pôs-se em marcha com os seiscentos homens da sua tropa e chegaram à torrente de Besor. Ali ficaram os que já estavam esgotados. David continuou a perseguição com quatrocentos homens, pois duzentos tinham ficado para trás, demasiado extenuados para poderem atravessar a torrente de Besor. Encontraram nos campos um egípcio e levaram-no a David. Deram-lhe pão para comer e água para beber e ainda um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de passas de uvas. Ele comeu e recobrou as forças, pois passara três dias e três noites sem nada comer ou beber. David perguntou-lhe: «Quem és e de onde vens?» Ele respondeu: «Sou um egípcio, escravo de um amalecita. O meu senhor abandonou-me há três dias, porque caí doente. Fizemos uma incursão no Négueb dos cretenses, no território de Judá, no Négueb de Caleb e incendiámos Ciclag.» David disse-lhe: «Queres conduzir-me a essa gente?» Respondeu-lhe o homem: «Jura-me, pelo nome de Deus, que não me matarás, nem me entregarás ao meu senhor, e eu te levarei ao lugar onde se encontra aquele bando.» Guiados pelo egípcio, encontraram os amalecitas espalhados por todo o campo, comendo, bebendo e festejando a enorme presa que tinham trazido da terra dos filisteus e de Judá. David atacou-os, desde o romper do dia até à tarde do dia seguinte. Só escaparam quatrocentos jovens, que fugiram montados em camelos. David recuperou tudo o que os amalecitas tinham tomado, libertando também as suas duas mulheres. E não faltou ninguém, nem pequeno nem grande, nem filho, nem filha, nem nada do espólio que os amalecitas tinham levado. David trouxe tudo de volta. E tomou todos os rebanhos e manadas, à frente dos quais os homens iam gritando: «Eis a presa de David!» David foi, depois, juntar-se aos duzentos homens deixados na torrente de Besor e que, por cansaço, não o tinham podido seguir. Eles foram ao encontro de David e da sua tropa, e David saudou-os ao chegar junto deles. Mas todos os malvados e perversos que se encontravam na tropa de David começaram a dizer: «Visto que eles não nos acompanharam, nada lhes daremos do espólio recuperado, salvo a mulher de cada um e os seus filhos. Que os recebam e se retirem!» David disse-lhes: «Não façais assim, meus irmãos, com o que o Senhor nos deu, depois de nos ter protegido e ter entregue nas nossas mãos a tropa que se tinha levantado contra nós. Quem poderia aceitar a proposta que fazeis? A parte dos que ficaram junto às bagagens será igual à daqueles que foram ao combate. Faça-se a divisão com equidade.» A partir daquele dia, David estabeleceu em Israel este costume e este direito, que tem vigorado até hoje. Voltando a Ciclag, David enviou uma parte do espólio aos anciãos de Judá, seus parentes, com esta mensagem: «Recebei este presente, proveniente do espólio tomado aos inimigos do Senhor.» Enviou também presentes aos de Betel, de Ramot-Négueb, de Jatir, de Aroer, de Chifamot, de Estemoa, de Racal, aos das cidades de Jeramiel, aos das cidades dos quenitas, aos de Horma, de Bor-Achan, de Atac, de Hebron e de todas as cidades por onde David tinha passado com os seus homens. Entretanto, deu-se a batalha entre os filisteus e Israel, e os israelitas fugiram diante deles, caindo feridos de morte no monte Guilboa. Os filisteus atiraram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abinadab e Malquichua, filhos de Saul. Toda a violência do combate desabou sobre Saul. Os arqueiros descobriram-no e feriram-no gravemente. Saul disse ao seu escudeiro: «Tira a tua espada e trespassa-me, para que não venham esses incircuncisos, me trespassem e escarneçam de mim.» Mas o escudeiro não o quis fazer, pois se apoderou dele um grande terror. Então, Saul tomou a sua espada e atirou-se sobre ela. O escudeiro, vendo que Saul estava morto, arremessou-se ele próprio sobre a sua espada e morreu junto dele. Assim, morreram naquele dia Saul e os seus três filhos, o seu escudeiro e todos os seus homens. Os israelitas que moravam do outro lado do vale e além-Jordão, vendo a derrota dos homens de Israel e a morte de Saul e seus filhos, abandonaram as suas cidades e fugiram. Os filisteus vieram e estabeleceram-se nelas. No dia seguinte, os filisteus foram recolher os despojos dos cadáveres e encontraram Saul e os seus três filhos caídos sobre o monte Guilboa. Cortaram-lhe a cabeça, despojaram-no das suas armas e espalharam a notícia por toda a terra dos filisteus, para que se publicasse esta vitória nos templos dos seus ídolos e entre o povo. Puseram as armas de Saul no templo de Astarté e suspenderam o seu cadáver nos muros de Bet-Chan. Quando os habitantes de Jabés de Guilead souberam o que os filisteus tinham feito a Saul, os mais valentes puseram-se a caminho e marcharam toda a noite. Tiraram das muralhas de Bet-Chan os cadáveres de Saul e dos seus filhos e trouxeram-nos para Jabés, onde os queimaram. Recolheram os ossos e enterraram-nos debaixo da tamareira de Jabés. E jejuaram durante sete dias. Morto Saul, David regressou da derrota que infligiu aos amalecitas e esteve dois dias em Ciclag. Ao terceiro dia, apareceu um homem que vinha do acampamento de Saul, com as vestes rasgadas e a cabeça coberta de pó. Chegando perto de David, prostrou-se por terra e fez-lhe uma profunda reverência. David perguntou: «De onde vens?» Respondeu ele: «Escapei do acampamento de Israel.» Disse-lhe David: «Que aconteceu? Conta-me tudo.» Ele respondeu: «As tropas fugiram do campo de batalha, muitos tombaram, e Saul assim como seu filho Jónatas pereceram.» David perguntou ao mensageiro: «Como sabes que Saul e seu filho Jónatas morreram?» Ele respondeu: «Eu estava por acaso no monte Guilboa quando vi Saul atirar-se sobre a própria lança, enquanto os carros e os cavaleiros o perseguiam. Ele, voltando-se, viu-me e chamou-me. Eu disse-lhe: ‘Eis-me aqui.’ Ele perguntou: ‘Quem és tu?’ Respondi: ‘Eu sou um amalecita.’ Continuou ele: ‘Aproxima-te e mata-me, porque estou já em agonia e ainda me encontro com vida.’ Aproximei-me, pois, e acabei de o matar, pois via que ele não podia sobreviver depois da derrota. Tomei o diadema que tinha na cabeça e a bracelete do seu braço e trouxe-os ao meu senhor. Ei-los aqui.» Então, David rasgou as suas vestes, e todos os que estavam com ele o imitaram. E prantearam, choraram e jejuaram até à tarde, por amor de Saul, de seu filho Jónatas, do povo do Senhor e do povo de Israel, porque tinham sido passados ao fio da espada. David perguntou ao mensageiro: «De onde és tu?» Ele respondeu: «Eu sou filho de um estrangeiro, de um amalecita.» David perguntou-lhe: «Como? Não receaste levantar a mão para matar o ungido do Senhor?» E David chamou um dos seus homens e disse: «Vem cá e mata-o!» Este feriu-o, e ele morreu. David disse então: «Só tu és o culpado da tua morte. A tua própria boca deu testemunho contra ti, quando disseste: ‘Matei o ungido do Senhor.’» Então, David compôs a seguinte lamentação sobre a morte de Saul e de seu filho Jónatas. Está escrita no Livro do Justo, e David ordenou que fosse ensinada aos filhos de Judá. «A Honra de Israel pereceu sobre as colinas! Tombaram os heróis! Não o conteis em Gat, nem o descrevais nas ruas de Ascalon, para que se não regozijem as filhas dos filisteus, nem saltem de alegria as filhas dos incircuncisos! Montes de Guilboa, não caia sobre vós orvalho nem chuva, campos traiçoeiros, pois aí foi desonrado o escudo dos heróis. O escudo de Saul não foi ungido com óleo, mas com o sangue dos feridos e a gordura dos guerreiros. O arco de Jónatas não recuou jamais, e a espada de Saul jamais deu golpe em vão. Saul e Jónatas, amados e gloriosos, jamais se separaram, nem na vida nem na morte, mais velozes do que as águias, mais fortes do que os leões. Filhas de Israel, chorai sobre Saul! Ele vestia-vos de púrpura sumptuosa e ornava de ouro as vossas vestes. Tombaram os heróis no campo de batalha! Jónatas, morto sobre as tuas colinas! Jónatas, meu irmão, que angústia sofro por ti! Como eu te amava! O teu amor era uma maravilha para mim mais excelente que o das mulheres. Como tombaram os heróis e se destruíram as armas de guerra!» Depois disto, David consultou o Senhor, dizendo: «Posso ir a alguma das cidades de Judá?» Respondeu o Senhor, «Podes.» David perguntou: «A qual irei?» A resposta foi: «A Hebron.» David pôs-se a caminho de Hebron com suas duas mulheres, Aínoam, de Jezrael, e Abigaíl, viúva de Nabal, de Carmel. David levou também os seus companheiros juntamente com as suas famílias, que se fixaram nas cidades de Hebron. Os homens de Judá foram lá e ungiram David como rei de Judá. David soube, então, que os homens de Jabés em Guilead tinham sepultado Saul. David mandou-lhes mensageiros, dizendo: «Abençoados sejais pelo Senhor, por terdes feito esta obra de misericórdia para com o vosso senhor Saul, sepultando-o. Que o Senhor, por sua vez, se mostre bom e fiel para convosco; eu também vos farei bem por esta acção que realizastes. Tende coragem e sede valorosos! Vosso senhor Saul morreu, mas a casa de Judá ungiu-me como seu rei.» Entretanto, Abner, filho de Ner, chefe do exército de Saul, tomou Isboset, filho de Saul, e levou-o a Maanaim, onde o declarou rei de Guilead, de Aser, de Jezrael, de Efraim, de Benjamim e de todo o Israel. Isboset, filho de Saul, tinha quarenta anos quando se tornou rei de Israel e reinou durante dois anos. Porém, a casa de Judá seguiu David. Sete anos e seis meses reinou David sobre a casa de Judá, em Hebron. Abner, filho de Ner, e os homens de Isboset, filho de Saul, saíram de Maanaim para Guibeon. Joab, filho de Seruia, e os homens de David puseram-se também em marcha. E encontraram-se perto do lago de Guibeon e acamparam, uns de um lado e outros do outro lado do lago. Abner disse a Joab: «Aproximem-se os mancebos para lutar na nossa presença.» Joab chamou: «Venham!» Apresentaram-se, pois, doze da tribo de Benjamim, da parte de Isboset, filho de Saul, e doze dos homens de David. Agarrando cada um a cabeça do seu adversário, atravessaram-se mutuamente com a espada, de modo que caíram todos ao mesmo tempo. Deu-se a este lugar o nome de Helcat-Hassurim, em Guibeon. Travou-se rude batalha naquele dia, tendo Abner e os homens de Israel fugido diante dos homens de David. Estavam ali os três filhos de Seruia, Joab, Abisai e Asael. Asael tinha os pés ligeiros como uma gazela selvagem. Pôs-se a perseguir Abner, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. Abner, voltando-se, disse-lhe: «És tu, Asael?» Respondeu-lhe: «Sim, sou eu.» Então disse-lhe Abner: «Desvia-te para a direita ou para a esquerda e ataca um desses homens e leva-lhe os despojos.» Mas Asael não quis deixar de o perseguir. Abner disse outra vez a Asael: «Afasta-te e deixa de perseguir-me; ou queres que eu te fira e te lance por terra? Como poderia eu depois aparecer diante do teu irmão Joab?» Mas como ele continuasse a persegui-lo, Abner feriu-o no ventre com a ponta da lança. A lança saiu-lhe pelas costas e Asael caiu morto ali mesmo. Todos os que passavam pelo lugar, onde Asael jazia morto, se detinham. Joab e Abisai lançaram-se em perseguição de Abner. Era sol-posto, quando chegaram à colina de Ama, ao oriente de Guia, no caminho que vai para o deserto de Guibeon. Então, os filhos de Benjamim uniram-se a Abner, formando um só batalhão, e pararam no cimo da colina. Abner chamou Joab e disse-lhe: «Até quando irá a espada ceifar vidas? Não sabes que isto só nos pode acarretar tristeza? Não será já tempo de dizeres ao povo que deixe de perseguir os seus irmãos?» Joab respondeu: «Pelo Deus vivo! Se não tivesses dito nada, estes homens não deixariam de perseguir os seus irmãos antes de amanhã.» Joab tocou a trombeta, o povo deixou de perseguir os israelitas, e o combate terminou. Abner e seus homens caminharam toda a noite pela Arabá, passaram o Jordão, atravessaram todo o Bitron e atingiram Maanaim. Joab, terminada a perseguição, juntou todo o povo. Faltavam dezanove homens de David, sem contar Asael. Mas os homens de David tinham morto trezentos e sessenta homens entre os benjaminitas e os de Abner. Levaram Asael e sepultaram-no em Belém, no túmulo de seu pai. Joab e os seus homens marcharam durante toda a noite, chegando a Hebron ao raiar da aurora. Durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a de David. Mas à medida que o poder de David se ia fortificando, a casa de Saul enfraquecia cada vez mais. Nasceram a David vários filhos em Hebron. O seu primogénito foi Amnon, de Aínoam de Jezrael; o segundo, Quileab, de Abigaíl, esposa de Nabal, de Carmel; o terceiro, Absalão, filho de Maaca, filha de Talmai, rei de Guechur; o quarto foi Adonias, filho de Haguite; o quinto, Chefatias, filho de Abital; e o sexto, Jitram, filho de Egla, mulher de David. Estes são os filhos que nasceram a David em Hebron. Enquanto durou a guerra entre a casa de Saul e a de David, Abner governou a casa de Saul. Saul tinha tido uma concubina chamada Rispa, filha de Aiá. Isboset disse a Abner: «Porque te aproximaste da concubina de meu pai?» Mas Abner, sumamente indignado com estas palavras, disse: «Sou, porventura, algum cão de Judá? Até hoje, tenho agido com lealdade para com a casa de Saul, para com o teu pai, os seus irmãos e amigos, livrando-vos de cair nas mãos de David; e vens tu agora acusar-me de crime com esta mulher? Pois que Deus me trate com todo o seu rigor, se não procurar para David o que o Senhor lhe prometeu: tirar a realeza à casa de Saul e estabelecer o trono de David sobre Israel e sobre Judá, de Dan a Bercheba.» Isboset não se atreveu a responder-lhe, porque o temia. Abner enviou, então, mensageiros a David, em seu próprio nome, dizendo: «De quem é a terra? Faz aliança comigo e eu te apoiarei para reunir em torno de ti todo o Israel.» David respondeu: «Está bem; farei aliança contigo, mas com esta condição: não surjas diante de mim sem trazer contigo Mical, a filha de Saul, quando vieres apresentar-te.» A seguir, David enviou mensageiros a Isboset, filho de Saul, dizendo: «Restitui-me a minha mulher, Mical, com a qual casei em virtude de ter circuncidado cem filisteus.» Isboset ordenou que a tirassem a seu marido, Paltiel, filho de Laís, que, com lágrimas, a acompanhou até Baurim. Ao chegar ali, disse-lhe Abner: «Volta para tua casa.» E ele voltou. Abner contactou então com os anciãos de Israel e disse-lhes: «Há muito tempo que desejais ter David como rei. Fazei-o, pois, agora, porque o Senhor disse a David: ‘Por meio de David, meu servo, livrarei o meu povo de Israel da mão dos filisteus e de todos os seus inimigos.’» Abner falou também com os benjaminitas e foi a Hebron comunicar a David tudo o que os de Israel e os da casa de Benjamim tinham resolvido. Abner chegou a Hebron, onde estava David acompanhado de vinte homens. David ofereceu um banquete em honra de Abner e seus companheiros. Abner disse a David: «Vou tratar de reunir em redor do meu senhor e rei todos os israelitas; eles farão aliança contigo, e tu reinarás sobre todos como quiseres.» David despediu Abner, que partiu satisfeito. Entretanto, os homens de David chegaram com Joab de uma expedição, trazendo uma grande presa. Abner já não estava com David em Hebron, pois David o tinha despedido, e ele partira em paz. E, regressando Joab com toda a sua tropa, disseram-lhe que Abner, filho de Ner, fora ao encontro do rei, e este o deixara partir em paz. Joab foi ter com o rei e perguntou-lhe: «Que fizeste? Abner, filho de Ner, veio ter contigo. Porque o deixaste partir? Sabes que Abner, filho de Ner, veio a ti para te enganar, espiar todos os teus movimentos e sondar tudo o que fazes.» E logo que Joab saiu da presença de David, enviou emissários no encalço de Abner, que o fizeram voltar do poço de Sirá, sem que David o soubesse. Quando Abner chegou a Hebron, Joab chamou-o à parte, para lhe falar em privado, pacificamente, e ali o feriu mortalmente no ventre, vingando, desta forma, o sangue de seu irmão Asael. Ao saber o que tinha acontecido, David exclamou: «Estou inocente, eu e o meu reino, diante do Senhor, do sangue de Abner, filho de Ner. Que esse sangue caia sobre a cabeça de Joab e de toda a sua família! Não faltem nunca na casa de Joab os que sofram de corrimento ou de lepra, os que se apoiam num pau, os que morrem à espada e os que não têm pão!» Joab e Abisai, seu irmão, assassinaram Abner por este ter morto seu irmão Asael, após a batalha de Guibeon. David disse a Joab e a todos os que estavam com ele: «Rasgai as vossas vestes, cobri-vos de saco e chorai Abner.» O rei David seguiu atrás do féretro. Abner foi sepultado em Hebron, e o rei chorou em alta voz sobre o seu túmulo e todo o povo o acompanhou no pranto. David cantou a seguinte lamentação por Abner: «Será que Abner tinha de morrer como morrem os insensatos? As tuas mãos não estavam algemadas, nem os teus pés presos a correntes. Caíste como se cai nas mãos de criminosos.» E o povo pôs-se a chorar por ele. Os que estavam com David pediam-lhe que tomasse algum alimento antes de terminar o dia. Mas David fez este juramento: «Que Deus me trate com todo o rigor, se eu comer pão ou qualquer outra coisa antes do pôr-do-sol.» Todo o povo ouviu e aprovou, pois sempre lhe parecia bem tudo o que o rei fazia. Naquele dia, todo o exército e todo o Israel reconheceram que o rei não tivera parte alguma no assassinato de Abner, filho de Ner. O rei disse aos seus servos: «Não sabeis que um chefe e um grande homem caiu hoje em Israel? Quanto a mim, sou ainda fraco, embora tenha recebido a unção real; e estes homens, filhos de Seruia, são mais fortes do que eu. Mas que o Senhor trate o malfeitor segundo a sua maldade!» Quando Isboset, filho de Saul, soube da morte de Abner, em Hebron, desmaiou e todo o povo de Israel ficou consternado. Ele tinha ao seu serviço dois chefes de bando, um chamado Baana e o outro Recab, filhos de Rimon de Beerot, da tribo de Benjamim; pois Beerot pertencia também a Benjamim, embora os seus habitantes se tivessem refugiado em Guitaim e residido ali até hoje como forasteiros. Jónatas, filho de Saul, tinha um filho paralítico dos dois pés. Quando tinha cinco anos, chegou de Jezrael a notícia da morte de Saul e de Jónatas. Então, a sua ama fugiu com ele e, na precipitação da fuga, o menino caiu e ficou coxo. Chamava-se Mefibóset. Os filhos de Rimon de Beerot, Recab e Baana, partiram, no maior calor do dia, e foram à casa de Isboset que estava a dormir a sesta. Entraram na casa, como comerciantes carregados de trigo, e feriram-no no ventre; seguidamente, Recab e seu irmão escaparam. Isboset repousava no seu leito; feriram-no de morte e cortaram-lhe a cabeça. Tomaram-na depois consigo e caminharam toda a noite pelo caminho da Arabá. E levaram a cabeça de Isboset a David, em Hebron, dizendo ao rei: «Eis a cabeça de Isboset, filho de Saul, teu inimigo, que te queria matar. O Senhor concedeu hoje ao meu senhor e rei a vingança sobre Saul e sobre a sua raça.» Mas David respondeu a Recab e ao seu irmão Baana, filhos de Beerot: «Pelo Deus vivo, que me salvou de todos os perigos! Ao homem que me veio anunciar a morte de Saul, pensando dar-me uma boa notícia, prendi-o e matei-o em Ciclag, como retribuição da sua boa notícia. Muito mais ainda agora a homens malvados, que mataram um inocente no seu leito, dentro da sua casa! Não lhes pedirei contas do sangue dele, exterminando-os da superfície da terra?» David ordenou aos seus homens que os matassem. Cortaram-lhes as mãos e os pés e penduraram-nos junto do tanque de Hebron. A cabeça de Isboset foi colocada no túmulo de Abner, em Hebron. Todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Aqui nos tens: não somos nós da tua carne e do teu sangue? Tempos atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu quem dirigia as campanhas de Israel e o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás o seu chefe.’» Vieram, pois, todos os anciãos de Israel ter com o rei a Hebron. David fez com eles uma aliança diante do Senhor, e eles sagraram-no rei de Israel. David tinha trinta anos quando começou a reinar e reinou quarenta anos: sete anos e seis meses sobre Judá, em Hebron, e trinta e três anos em Jerusalém, sobre todo o Israel e Judá. O rei marchou com os seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus, que habitavam aquela terra. Estes disseram a David: «Não entrarás aqui; serás repelido até por cegos e coxos.» Isto queria dizer: «Nunca entrarás aqui.» Contudo, David apoderou-se da fortaleza de Sião, que é a Cidade de David. David disse naquele dia: «Quem quiser atacar os jebuseus suba pelo canal e mate esses cegos e coxos, que David despreza. Daí, o ditado: ‘Nem cego nem coxo entrarão no templo.’» David estabeleceu-se na fortaleza e deu-lhe o nome de Cidade de David. Cercou a cidade de muralhas, de Milo para dentro. Deste modo, David ia-se fortificando e o Senhor, Deus do universo, estava com ele. Hiram, rei de Tiro, enviou-lhe mensageiros, com madeira de cedro, carpinteiros e pedreiros, para lhe construírem um palácio. Então, David reconheceu que o Senhor o confirmava como rei de Israel e exaltava a sua realeza por causa de Israel, seu povo. Depois que chegou de Hebron, David tomou outras concubinas e mulheres de Jerusalém e teve delas filhos e filhas. Eis os nomes dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Chamua, Chobab, Natan, Salomão, Jibear, Elichua, Néfeg, Jafia, Elichamá, Eliadá e Elifélet. Os filisteus, ao saberem que David fora ungido rei de Israel, puseram-se todos em campanha para ir em busca dele. Informado disto, David desceu à fortaleza. Os filisteus, tendo chegado, espalharam-se pelo Vale dos Gigantes. David consultou o Senhor, dizendo: «Devo atacar os filisteus? Irás entregá-los nas minhas mãos?» O Senhor respondeu: «Vai, Eu os entregarei nas tuas mãos.» Desceu David a Baal-Perasim e derrotou-os. E disse David: «O Senhor dispersou os meus inimigos diante de mim como as águas de um dique.» E chamou àquele lugar Baal-Perasim. Os filisteus deixaram ali os seus ídolos, que caíram nas mãos de David e dos seus homens. Os filisteus voltaram ao ataque, espalhando-se pelo Vale dos Gigantes. David consultou o Senhor, que lhe disse: «Não vás ao encontro deles, mas dá volta por detrás e ataca-os pelo lado das amoreiras. Quando ouvires um rumor de passos, então começarás o combate, porque o Senhor marchará diante de ti para esmagar o exército dos filisteus.» David fez como lhe ordenara o Senhor e derrotou os filisteus desde Gueba até Guézer. David reuniu depois toda a elite de Israel, em número de trinta mil homens, e pôs-se a caminho com todos os seus homens, desde Baalat de Judá, para de lá trazer a Arca de Deus, sobre a qual é invocado o nome do Senhor do universo, que está sentado sobre os querubins. Colocaram a Arca de Deus num carro novo, tirando-a da casa de Abinadab, situada na colina. Uzá e Aío, filhos de Abinadab, conduziam o carro novo. Conduziram-no da casa de Abinadab, que está sobre a colina, e Aío ia adiante da Arca. David e toda a casa de Israel dançavam diante do Senhor, ao som de toda a espécie de instrumentos: harpas, cítaras, tamborins, sistros e címbalos. Mas, ao chegar à eira de Nacon, Uzá estendeu a mão para a Arca de Deus e amparou-a, porque os bois tinham escorregado. Então, o Senhor, sumamente indignado contra Uzá, feriu-o por causa da sua ousadia, morrendo ali mesmo, junto da Arca de Deus. David ficou triste por o Senhor ter castigado Uzá e, por isso, chamou àquele lugar Castigo de Uzá*, nome que se conserva ainda hoje. Naquele dia, David teve grande temor do Senhor, e disse: «Como entrará a Arca do Senhor em minha casa?» E não permitiu que a levassem para sua casa, na Cidade de David, mas ordenou que a trasladassem para casa de Obededom, de Gat. Ficou a Arca do Senhor três meses na casa de Obededom, de Gat, e o Senhor abençoou-o e a toda a sua família. Disseram ao rei que o Senhor abençoara a casa de Obededom e todos os seus bens por causa da Arca de Deus. Foi, pois, David e transportou-a da casa de Obededom para a Cidade de David, com grande regozijo. E a cada seis passos que davam os que transportavam a Arca do Senhor, sacrificavam um boi e um carneiro. David, cingindo a insígnia votiva de linho, dançava com todas as suas forças diante do Senhor. O rei e todos os israelitas conduziram a Arca do Senhor, soltando gritos de alegria e tocando trombetas. Ao entrar a Arca do Senhor na Cidade de David, Mical, filha de Saul, olhou pela janela e viu o rei a saltar e a dançar diante do Senhor; e sentiu por ele desprezo em seu coração. Introduziram a Arca do Senhor e colocaram-na no seu lugar, no centro do tabernáculo que David construíra para ela; e David ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão diante do Senhor. Quando David acabou de oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão, abençoou o povo em nome do Senhor do universo e distribuiu alimentos a toda a multidão dos israelitas, homens e mulheres, dando a cada pessoa, um bolo, um pedaço de carne assada e uma filhó. Depois, toda a multidão se retirou, indo cada um para a sua casa. Voltando David para abençoar a sua família, Mical, filha de Saul, saiu ao seu encontro e disse-lhe: «Que bela figura fez hoje o rei de Israel, dando-se em espectáculo às servas de seus vassalos, e descobrindo-se sem pudor, como qualquer homem do povo!» Mas David respondeu: «Foi diante do Senhor que dancei, do Senhor que me escolheu e me preferiu a teu pai e a toda a tua família, para me fazer chefe do seu povo de Israel. E bailarei ainda mais, e me desonrarei aos meus próprios olhos, mas serei honrado pelas servas de que falaste.» E Mical, filha de Saul, não teve mais filhos em todo o tempo que ainda viveu. Quando o rei se instalou em sua casa, e o Senhor lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos, disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a Arca de Deus está abrigada numa tenda?» Natan respondeu-lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o Senhor está contigo!» Mas, naquela mesma noite, o Senhor falou a Natan, dizendo-lhe: «Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor, “És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar? Desde que fiz subir da terra do Egipto os filhos de Israel até ao dia de hoje, não habitei em casa alguma; mas peregrinava alojado numa tenda que me servia de morada. E, durante todo o tempo em que andei no meio dos israelitas, disse, porventura, a algum dos chefes de Israel que encarreguei de apascentar o meu povo: ‘Porque não me edificais uma casa de cedro?’ Dirás, pois, agora, ao meu servo David: Diz o Senhor do universo: Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. Além disso, o Senhor faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino. Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele cometer alguma falta, hei-de corrigi-lo com varas e com açoites, como fazem os homens, mas não lhe tirarei a minha graça, como fiz a Saul, a quem afastei diante de ti. A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre”.» Foi segundo estas palavras e esta visão que Natan falou a David. Então, David foi apresentar-se diante do Senhor e disse-lhe: «Quem sou eu, Senhor Deus, e quem é a minha família, para que me tenhas conduzido até aqui? E, como se isto fosse pouco para ti, Senhor Deus, fizeste também promessas à família do teu servo para os tempos futuros! Porque esta é a lei do homem, ó Senhor DEUS ! Que mais poderá David acrescentar agora? Tu conheces o teu servo, Senhor Deus! Conforme a tua palavra e segundo o teu coração, fizeste todas essas grandes coisas para as manifestar ao teu servo. Por isso, és grande, ó Senhor Deus. Não há ninguém semelhante a ti e não há outro Deus além de ti, segundo o que ouvimos dizer. E que nação há na terra, semelhante ao povo de Israel, a quem o seu Deus veio resgatar para que se tornasse o seu povo, engrandecendo o seu nome, operando em seu favor grandes e terríveis prodígios, e expulsando diante do seu povo, resgatado do Egipto, as nações e os seus deuses? Estabeleceste solidamente o teu povo, Israel, para ser eternamente o teu povo, e Tu, Senhor, seres o seu Deus. Agora, pois, Senhor Deus, cumpre para sempre a promessa que fizeste ao teu servo e à sua casa e faz como disseste. O teu nome será exaltado para sempre e dir-se-á: ‘O Senhor do universo é o Deus de Israel.’ E permanecerá estável diante de ti a casa do teu servo David. Porque Tu próprio, ó Senhor do universo, Deus de Israel, fizeste ao teu servo esta revelação: ‘Eu te construirei uma casa.’ Por isso, o teu servo se animou a dirigir-te esta prece. Agora, ó Senhor Deus, só Tu és Deus, e as tuas palavras são a própria verdade. Já que prometeste ao teu servo estes bens, abençoa, desde agora, a sua casa, para que ela subsista para sempre diante de ti: porque Tu, Senhor Deus, falaste e, graças à tua bênção, a casa do teu servo será abençoada eternamente.» Depois disto, David derrotou e humilhou os filisteus, tirando-lhes a hegemonia. Também derrotou os moabitas; mandou deitá-los por terra e mediu-os com uma corda: dois terços foram para a morte e uma terça parte, para a vida. Os moabitas tornaram-se súbditos de David e ficaram seus tributários. David derrotou igualmente Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba, quando este marchou com o seu exército para estender os seus domínios até ao rio Eufrates. David tomou-lhe mil e setecentos cavaleiros e vinte mil soldados de infantaria e cortou os jarretes de todos os cavalos dos seus carros, sem deixar mais do que cem. Os arameus de Damasco correram em socorro de Hadad-Ézer, rei de Soba, mas foram derrotados por David, que abateu vinte e dois mil deles. Depois disto, estabeleceu guarnições sobre os sírios de Damasco, e os arameus tornaram-se súbditos de David, ficando seus tributários. Deste modo, o Senhor fazia com que David triunfasse em todas as expedições. David tomou os escudos de ouro dos soldados de Hadad-Ézer e levou-os para Jerusalém. De Beta e de Berotai, cidades de Hadad-Ézer, levou ainda bronze em grande quantidade. Então, Toú, rei de Hamat, ouvindo dizer que David tinha desbaratado o exército de Hadad-Ézer, enviou o seu filho Haduram ao rei David, a fim de o saudar e felicitar pela vitória sobre Hadad-Ézer, pois Hadad-Ézer era inimigo de Toú. Haduram levou a David muitos presentes de prata, ouro e bronze, que o rei consagrou ao Senhor, juntamente com a prata e o ouro procedentes de todos os povos que subjugara: arameus, moabitas, amonitas, filisteus e amalecitas; e ainda o espólio de Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba. Ao regressar da sua vitória sobre os arameus, David aumentou ainda o seu renome, vencendo dezoito mil edomitas no Vale do Sal. Estabeleceu, então, governadores em todo o país de Edom, e todos os edomitas ficaram a ser seus súbditos. Assim, o Senhor fazia com que David triunfasse em todas as expedições que empreendia. Reinou David sobre todo o Israel, administrando a justiça e o direito a todo o seu povo. Joab, filho de Seruia, comandava o exército, e Josafat, filho de Ailud, era seu cronista; Sadoc, filho de Aitub, e Aimélec, filho de Abiatar, eram sacerdotes, e Seraías era secretário. Benaías, filho de Joiadá, capitaneava os cretenses e os peleteus. Os filhos de David eram sacerdotes. Disse David: «Terá ficado alguém da casa de Saul, a quem eu possa fazer bem por amor de Jónatas?» Ora havia na família de Saul um servo chamado Ciba. David mandou-o chamar e disse-lhe: «És tu Ciba?» Ele respondeu: «Sim, para te servir.» Perguntou-lhe o rei: «Vive porventura alguém da família de Saul, a quem eu possa fazer grandes mercês, da parte de Deus?» Ciba respondeu: «Vive ainda um filho de Jónatas, paralítico de ambos os pés.» O rei perguntou: «Onde está ele?» Ciba respondeu: «Está na casa de Maquir, filho de Amiel, em Lodebar.» E o rei mandou buscá-lo à casa de Maquir, filho de Amiel, em Lodebar. Quando Mefiboset, filho de Jónatas, filho de Saul, chegou à presença de David, prostrou-se com o rosto por terra. David disse-lhe: «Mefiboset!» Ele respondeu: «Aqui me tens, senhor, para te servir.» David disse-lhe: «Não tenhas receio. Quero fazer-te bem, por amor de Jónatas, teu pai. Restituir-te-ei todos os bens de Saul, teu avô, e comerás sempre à minha mesa.» Mefiboset prostrou-se, dizendo: «Quem é o teu servo, para que dês atenção a um cão morto como eu?» O rei, depois, chamou Ciba, servo de Saul, e declarou-lhe: «Tudo o que pertenceu a Saul, à sua família e à sua casa, eu o dou ao filho do teu senhor. Lavrarás a terra para ele, tu, os teus filhos e a tua gente, e cuidarás de prover de alimentos o filho do teu senhor. Quanto a Mefiboset, filho do teu senhor, ele comerá sempre à minha mesa.» Ciba tinha quinze filhos e vinte escravos. Ciba disse ao rei: «Teu servo fará tudo o que o rei, meu senhor, lhe ordenou.» Mefiboset comia, pois, à mesa de David, como um dos filhos do rei. Tinha um filho menor chamado Mica; todos os que pertenciam à casa de Ciba estavam ao serviço de Mefiboset. Este vivia em Jerusalém, porque comia todos os dias à mesa do rei; era paralítico de ambos os pés. Depois disto, morreu o rei dos amonitas, e seu filho Hanun sucedeu-lhe no trono. Disse então David: «Quero pôr-me de boas relações com Hanun, filho de Naás, tal como fez seu pai para comigo.» Enviou-lhe, pois, mensageiros para o consolar pela morte de seu pai. Quando os servos de David chegaram à terra dos chefes dos amonitas, estes disseram a Hanun, seu senhor: «Julgas que David pretende honrar teu pai, mandando-te consoladores? Não será antes para examinar, espiar e destruir a cidade que David enviou os seus servos?» Então, Hanun prendeu os servos de David, rapou-lhes metade da barba, cortou-lhes as vestes quase até à cintura e mandou-os embora. David, ao ter conhecimento disto, enviou mensageiros ao encontro deles, pois estavam profundamente humilhados, para lhes dizer: «Ficai em Jericó até que vos cresça de novo a barba. Só então voltareis.» Mas os amonitas, ao verem que se tinham tornado odiosos a David, contrataram os arameus de Bet-Reob e de Soba, ou seja, vinte mil soldados de infantaria, o rei de Maacá, com mil homens, e o de Tob, com doze mil. Sabedor disso, David enviou contra eles Joab com todo o exército e os mais valentes guerreiros. Os amonitas saíram e puseram-se em linha de combate à entrada da porta da cidade, ao passo que os arameus de Soba e de Reob ficaram no campo, com os homens de Tob e de Maacá. Joab, vendo que iam arremeter contra ele de frente e pela retaguarda, escolheu os melhores de Israel e colocou-os em linha de batalha contra os arameus. Confiou o resto do exército a seu irmão Abisai, que dirigiu o ataque contra os amonitas. Disse-lhe: «Se os arameus prevalecerem contra mim, tu virás em meu socorro; e se os amonitas prevalecerem contra ti, irei eu em teu auxílio. Porta-te como homem de valor, lutemos pelo nosso povo e pelas cidades do nosso Deus. O Senhor faça o que melhor lhe parecer.» Joab avançou com a sua tropa contra os arameus, que fugiram diante deles. Vendo os arameus em fuga, os amonitas recuaram também diante de Abisai e voltaram para a cidade. E Joab regressou da campanha contra os amonitas e foi para Jerusalém. Os arameus, vendo-se batidos pelos israelitas, reuniram-se em massa. Hadad-Ézer enviou então um delegado para mobilizar os arameus do outro lado do rio, e estes vieram a Helam, chefiados por Chobac, general de Hadad-Ézer. David, informado disto, reuniu todo o Israel, passou o Jordão e chegou a Helam. Os arameus colocaram-se em linha de batalha contra David. Mas os arameus fugiram diante de Israel; David destroçou-lhes seiscentos carros e matou quarenta mil cavaleiros. Feriu também o general Chobac, que morreu naquele mesmo lugar. Todos os reis que eram vassalos de Hadad-Ézer, vendo-se vencidos pelos israelitas, fizeram a paz com estes e tornaram-se seus tributários. Daí por diante os arameus não se atreveram mais a prestar socorro aos amonitas. No ano seguinte, na época em que os reis saem para a guerra, David enviou Joab com os seus oficiais e todo o Israel; eles devastaram a terra dos amonitas e sitiaram Rabá. David ficou em Jerusalém. E aconteceu que uma tarde David levantou-se da cama, pôs-se a passear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa. David procurou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsabé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita. Então, David enviou emissários para que lha trouxessem. Ela veio e David dormiu com ela, depois de purificar-se do seu período menstrual. Depois, voltou para sua casa. E, vendo que concebera, mandou dizer a David: «Estou grávida.» Então, David mandou esta mensagem a Joab: «Manda-me Urias, o hitita.» E Joab enviou Urias, o hitita, a David. Quando Urias chegou, David pediu-lhe notícias de Joab, do exército e da guerra. E depois disse-lhe: «Desce à tua casa e lava os teus pés.» Urias saiu do palácio do rei, e este, em seguida, enviou-lhe comida da sua mesa real. Mas Urias não foi a sua casa e dormiu à porta do palácio com os outros servos do seu senhor. E contaram-no a David, dizendo-lhe: «Urias não foi a sua casa.» David perguntou a Urias: «Não voltaste, porventura, de uma viagem? Porque não foste a tua casa?» Urias respondeu: «A Arca de Deus habita numa tenda, assim como Israel e Judá. Joab, meu chefe, e seus servos dormem ao relento, e eu teria coragem de entrar na minha casa para comer e beber e dormir com a minha mulher? Pela tua vida, pela tua própria vida, não farei tal coisa!» David disse-lhe: «Fica aqui também hoje, e amanhã te enviarei.» E Urias ficou em Jerusalém naquele dia. No dia seguinte, David convidou-o a comer e beber com ele, e embriagou-o. Mas à noite, Urias não foi a sua casa; saiu e deitou-se com os outros servos do seu senhor. No dia seguinte de manhã, David escreveu uma carta a Joab e enviou-lha por Urias. Dizia nela: «Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e morra.» Joab, que sitiava a cidade, pôs Urias no lugar onde sabia que estavam os mais valentes guerreiros do inimigo. Os assediados fizeram uma incursão contra Joab, e morreram alguns homens de David, entre os quais Urias, o hitita. Joab mandou imediatamente informar David de todas as peripécias do combate, ordenando ao mensageiro: «Quando tiveres contado ao rei todos os pormenores do combate, se ele, indignado, te disser: ‘Porque vos aproximastes da cidade para lutar? Não sabíeis que iam disparar do alto da muralha? Quem matou Abimélec, filho de Jerubaal? Não foi uma mulher que lhe atirou uma pedra de moinho de cima do muro, matando-o em Tebes? Porque vos aproximastes dos muros?’ – dirás, então: ‘Morreu também o teu servo Urias, o hitita.’» Partiu, pois, o mensageiro e foi contar a David tudo o que Joab lhe tinha mandado. Disse-lhe: «Esses homens são mais fortes que nós. Saíram ao nosso encontro em campo aberto, mas nós perseguimo-los até às portas da cidade. Então, do alto da muralha, os arqueiros dispararam sobre os teus servos, e morreram alguns servos do rei, entre eles o teu servo Urias, o hitita.» Então o rei respondeu ao mensageiro: «Diz a Joab que não se aflija por causa deste fracasso, pois a espada fere ora aqui, ora ali. Que intensifique o ataque à cidade até a destruir. Encoraja-o.» Ao saber da morte de seu marido, a mulher de Urias chorou-o. Terminados os dias de luto, David mandou-a buscar e recolheu-a em sua casa. Tomou-a por esposa e ela deu-lhe um filho. Mas o procedimento de David desagradou ao Senhor. O Senhor enviou então Natan a David. Logo que entrou no palácio, Natan disse-lhe: «Dois homens viviam na mesma cidade, um rico e outro pobre. O rico tinha ovelhas e bois em grande quantidade; o pobre, porém, tinha apenas uma ovelha pequenina, que comprara. Criara-a, e ela crescera junto dele e dos seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; era para ele como uma filha. Certo dia, chegou um hóspede a casa do homem rico, o qual não quis tocar nas suas ovelhas nem nos seus bois para preparar o banquete e dar de comer ao hóspede que chegara; mas foi apoderar-se da ovelhinha do pobre e preparou-a para o seu hóspede.» David, indignado contra tal homem, disse a Natan: «Pelo Deus vivo! O homem que fez isso merece a morte. Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito essa maldade e não ter tido compaixão.» Natan disse a David: «Esse homem és tu! Isto diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Ungi-te rei de Israel, salvei-te das mãos de Saul, dei-te a casa do teu senhor e pus as suas mulheres nos teus braços. Confiei-te os reinos de Israel e de Judá e, se isto te parecer pouco, acrescentarei outros favores. Porque desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o que lhe desagrada? Feriste com a espada Urias, o hitita, para fazer da sua mulher tua esposa. Foste tu quem o matou por meio da espada dos amonitas! Por isso, jamais se afastará a espada da tua casa, porque me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o hitita, para fazer dela tua esposa’. Eis, pois, o que diz o Senhor, ‘Vou fazer sair da tua própria casa males contra ti. Tomarei as tuas mulheres diante dos teus olhos e hei-de dá-las a outro, que dormirá com elas à luz do Sol! Pois tu pecaste ocultamente; mas Eu farei o que digo diante de todo o Israel e à luz do dia!’» David disse a Natan: «Pequei contra o Senhor.» Natan respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu pecado. Não morrerás. Todavia, como ofendeste gravemente o Senhor com a acção que fizeste, morrerá certamente o filho que te nasceu.» E Natan voltou para sua casa. O Senhor feriu o menino que a mulher de Urias tinha dado a David com uma doença grave. David orou a Deus pelo menino; jejuou e passou a noite prostrado por terra. Os anciãos da sua casa, de pé junto dele, pediam-lhe que se levantasse do chão, mas ele não o quis fazer nem tomar com eles alimento algum. Ao sétimo dia, morreu o menino, e os servos do rei temiam dar-lhe a notícia da morte do menino, pois diziam: «Quando o menino ainda vivia, falávamos-lhe, e ele não nos queria ouvir; como vamos dizer-lhe agora que o menino morreu? Pode cometer uma loucura!» David notou que os servos segredavam entre si e compreendeu que o menino morrera. Perguntou-lhes: «O menino já morreu?» Responderam-lhe: «Morreu.» Então, David levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se, mudou de roupa e entrou na casa do Senhor para o adorar. De volta à sua casa, mandou que lhe servissem a refeição e comeu. Os seus servos disseram-lhe: «Que fazes? Quando o menino ainda vivia, jejuavas e choravas; agora que morreu, levantas-te e comes!» David respondeu: «Quando o menino ainda vivia, eu jejuava e orava, pensando: ‘Quem sabe se o Senhor terá pena de mim e me curará o menino?’ Mas agora que morreu, para que hei-de jejuar mais? Posso, porventura, fazê-lo voltar à vida? Eu irei para junto dele; ele, porém, não voltará mais para junto de mim.» David consolou Betsabé, sua mulher. Procurou-a e dormiu com ela. Ela ficou grávida e deu à luz um filho, ao qual David pôs o nome de Salomão. O Senhor amou-o e ordenou ao profeta Natan que lhe desse o sobrenome de Jedidias que significa «amado do Senhor.» Joab, que sitiava Rabá dos amonitas, apoderou-se da cidade real. E enviou mensageiros a David com esta notícia: «Assaltei Rabá e ocupei a cidade das Águas. Reúne o resto do exército, vem cercar a cidade e tomá-la, não aconteça que, conquistando-a eu, me seja atribuída a vitória.» Reuniu David todo o exército, e marchou contra Rabá, assaltou-a e tomou-a. Tirou a coroa da cabeça de Milcom. Esta pesava um talento de ouro, estava ornada de pedras preciosas, e foi colocada sobre a cabeça de David. O rei levou da cidade grande quantidade de despojos. Quanto aos habitantes, deportou-os e empregou-os no manejo da serra, da picareta, do machado e no fabrico de tijolos. Assim fez com todas as cidades dos amonitas. Em seguida, David voltou com todas as suas tropas para Jerusalém. Depois disto, aconteceu que Absalão, filho de David, tinha uma irmã muito formosa chamada Tamar. Amnon, outro filho de David, tinha-se enamorado dela. Cresceu tanto esta paixão por sua irmã Tamar que ficou doente, pois Tamar era virgem e parecia-lhe impossível fazer com ela alguma coisa. Ora Amnon tinha um amigo chamado Jonadab, filho de Chamá, irmão de David, que era muito sagaz. Aquele disse a Amnon: «Ó príncipe, porque andas cada dia mais abatido? Porque não te abres comigo?» Respondeu-lhe Amnon: «É que eu amo Tamar, irmã de meu irmão Absalão.» Jonadab disse-lhe: «Deita-te na cama e finge-te doente. Quando teu pai te vier ver, dir-lhe-ás: ‘Permite que minha irmã Tamar me traga de comer e prepare a comida diante de mim, a fim de que eu a veja e coma da sua mão.’» Amnon deitou-se e fingiu-se doente. O rei foi visitá-lo, e ele disse-lhe: «Rogo-te que minha irmã Tamar venha preparar na minha presença dois bolos, para que eu coma da sua mão.» David mandou dizer a Tamar, no palácio: «Vai a casa de teu irmão Amnon e prepara-lhe alguma coisa de comer.» Tamar foi a casa de seu irmão Amnon, que estava deitado. Tomou farinha, amassou-a, preparou os bolos à vista dele e fritou-os. Depois, tomou a sertã, despejou-a num prato e pô-lo diante dele; mas Amnon não quis comer e disse: «Manda sair toda a gente daqui.» E retiraram-se todos. Amnon disse então a Tamar: «Traz a comida ao meu quarto, para que eu a coma da tua mão.» Tamar tomou os bolos que fizera e levou-os a seu irmão Amnon, que estava no quarto. Mas quando lhe apresentou o prato, este segurou-a, dizendo: «Vem, deita-te comigo, minha irmã!» Ela respondeu: «Não, meu irmão, não me violentes, pois isso não é permitido em Israel. Não cometas semelhante infâmia! Onde poderia ir eu com a minha vergonha? E tu serás um dos homens mais infames em Israel! Melhor será que fales ao rei; ele não recusará entregar-me a ti.» Mas ele não lhe quis dar ouvidos e, como era mais forte que ela, violentou-a, dormindo com ela. Logo a seguir, Amnon sentiu por ela uma aversão mais violenta do que o amor que antes lhe tivera. Disse-lhe Amnon: «Levanta-te e vai-te daqui.» Ela respondeu: «Não, pois o ultraje que me farias, expulsando-me, seria ainda mais grave do que aquilo que acabas de me fazer!» Ele, porém, não lhe deu ouvidos; chamou o seu servo e disse-lhe: «Põe-na fora daqui e fecha a porta.» Tamar trazia uma túnica comprida, que era o vestido com que se vestiam outrora as filhas do rei ainda virgens. O servo expulsou-a e fechou a porta. Tamar cobriu a cabeça de cinza, rasgou a túnica e deitando as mãos à cabeça, afastou-se aos gritos. Seu irmão Absalão disse-lhe: «Acaso esteve contigo Amnon, teu irmão? Por agora cala-te, minha irmã, porque, enfim, ele é teu irmão; não desesperes por causa desta desgraça.» E Tamar ficou desamparada na casa de seu irmão Absalão. O rei David soube do que tinha acontecido e ficou furioso contra Amnon. Absalão não disse a Amnon uma única palavra, nem boa nem má, porque o odiava por ter violado sua irmã Tamar. Passados dois anos, Absalão tosquiava as suas ovelhas em Baal-Haçor, perto de Efraim, e convidou todos os filhos do rei. Foi também ter com o rei e disse-lhe: «Faço-te saber que se tosquiam as ovelhas do teu servo; peço, portanto, que o rei venha com os seus familiares à casa do seu servo.» O rei disse-lhe: «Não, meu filho, não iremos todos, para não te sermos pesados.» Apesar das instâncias de Absalão, o rei não quis ir e deu-lhe a bênção. Absalão replicou: «Ao menos que venha connosco o meu irmão Amnon.» Disse-lhe David: «Porque haveria ele de ir contigo?» Mas Absalão tanto insistiu que David deixou partir com ele Amnon e todos os outros filhos do rei. E Absalão deu aos seus criados a seguinte ordem: «Ficai alerta e, quando Amnon estiver alegre por causa do vinho e eu vos disser que ataquem Amnon, atacai-o e matai-o sem medo, pois sou eu quem vo-lo ordena. Ânimo, e sede homens corajosos!» Os servos de Absalão fizeram a Amnon conforme o seu senhor lhes ordenara. Então, todos os filhos do rei se levantaram, montaram nas suas mulas e fugiram. Estavam ainda a caminho, quando chegou aos ouvidos de David o boato que dizia: «Absalão matou todos os príncipes, nenhum se salvou!» O rei levantou-se, rasgou as vestes e prostrou-se por terra; e todos os servos que o rodeavam rasgaram também as suas vestes. Mas Jonadab, filho de Chamá, irmão de David, disse ao rei: «Não pense o rei, meu senhor, que foram assassinados todos os filhos do rei. Só Amnon morreu, porque Absalão jurara matá-lo, desde o dia em que ele violou sua irmã Tamar. Não julgue nem acredite o rei, meu senhor, que foram assassinados todos os filhos do rei. Só Amnon é que morreu.» Entretanto, Absalão fugira. O jovem que fazia de sentinela, levantando os olhos, viu muita gente a descer pelo caminho de Horonaim, pela encosta da montanha, e foi dizer ao rei: «Vi homens que desciam pelo caminho de Horonaim, no flanco da montanha.» Jonadab disse ao rei: «São os príncipes que chegam, conforme tinha dito o teu servo.» Mal acabou de falar, entraram os filhos do rei e puseram-se a chorar. Também o rei e todos os seus servos derramaram abundantes lágrimas. Absalão fugiu e foi refugiar-se na casa de Talmai, filho de Amiud, rei de Guechur. E David chorava continuamente pelo filho. Absalão permaneceu três anos em Guechur, para onde fugira. Entretanto, o rei David deixou de perseguir Absalão, por se sentir mais consolado na sua dor pela morte de Amnon. Joab, filho de Seruia, vendo que o coração do rei se inclinava de novo para Absalão, mandou vir de Técua uma mulher sagaz e disse-lhe: «Finge-te muito triste, veste-te de luto e não te unjas de perfumes, a fim de pareceres uma mulher que chora um morto há muito tempo. Vai, então, ter com o rei e repete-lhe o que te vou dizer.» E Joab instruiu-a sobre tudo o que devia dizer. A mulher veio, pois, de Técua, e apresentou-se ao rei; lançou-se por terra, fez-lhe uma profunda reverência e disse: «Ó rei, salva-me!» O rei disse-lhe: «Que tens?» Ela respondeu: «Ai de mim! Sou uma mulher viúva. Meu marido morreu. Tua serva tinha dois filhos. Eles discutiram no campo e, não havendo quem os separasse, um deles feriu o outro e matou-o. E eis que agora toda a família se levanta contra a tua serva, dizendo-lhe: ‘Entrega-nos o fratricida para o matarmos e vingarmos o sangue de seu irmão a quem ele tirou a vida, e exterminarmos assim esse herdeiro.’ Querem, deste modo, apagar a última centelha que me resta, a fim de que não se conserve de meu marido nem nome, nem posteridade, sobre a terra.» O rei disse à mulher: «Volta para a tua casa, que eu tomarei providências a teu respeito.» Replicou-lhe a mulher de Técua: «Caia toda a culpa sobre mim e sobre a casa de meu pai; o rei e o seu trono estão inocentes.» O rei disse-lhe: «Se alguém te ameaçar, trá-lo à minha presença e não te incomodará mais.» Ela acrescentou: «Que o rei se digne pronunciar o nome do Senhor, seu Deus, para que o vingador do sangue não agrave a desgraça, matando o meu filho!» Disse ele: «Por Deus, não cairá na terra nem um só cabelo da cabeça de teu filho!» A mulher disse ainda: «Permites que a tua serva diga mais uma palavra ao rei, meu senhor?» «Fala», respondeu o rei. E ela acrescentou: «Porque pensas, então, fazer o mesmo contra o povo de Deus? Ao pronunciar esta sentença, o rei confessa-se culpado pelo facto de não permitir o regresso do desterrado. Quando morremos, somos como a água que, uma vez derramada na terra, não mais se pode recolher. Deus não quer que pereça uma vida, e fez os seus planos para que o exilado não fique longe dele. Se vim referir este assunto ao rei, foi porque o povo me aterrou. A tua serva disse: ‘Irei falar ao rei, pois talvez ele faça o que lhe pedir; sim, o rei há-de ouvir-me e me livrará da mão do homem que procura subtrair de mim e do meu filho a herança de Deus’. Tua serva disse: ‘Que o rei se digne pronunciar uma palavra de paz, porque o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus para discernir o bem do mal. Que o Senhor, teu Deus, esteja contigo!’» O rei disse à mulher: «Não me ocultes nada do que vou perguntar-te.» A mulher respondeu: «Falai, meu rei e senhor!» Disse o rei: «Não anda em tudo isto a mão de Joab?» A mulher respondeu: «Isso é tão certo como o meu senhor e rei estar vivo. Na verdade, foi o teu servo Joab que me deu instruções e pôs na boca da tua serva todas as palavras que te disse. Foi para dar um novo rumo a esse assunto que Joab, teu servo, fez isto. Mas tu, meu senhor, és tão sábio como um anjo de Deus, para saber todas as coisas que se passam sobre a terra!» O rei disse, então, a Joab: «Está decidido. Vai e traz o jovem Absalão!» Joab prostrou-se com o rosto por terra e bendisse o rei, dizendo: «Agora o teu servo reconhece que me queres bem, ó meu rei e senhor, pois cumpriste o meu desejo!» Joab levantou-se, foi a Guechur e trouxe Absalão para Jerusalém. Mas o rei dissera: «Volte para a sua casa, pois não será admitido à minha presença!» Absalão retirou-se para a sua casa e não se apresentou diante do rei. Não havia em todo o Israel homem tão formoso pela sua beleza como Absalão. Dos pés à cabeça, não havia nele um só defeito. Quando cortava o cabelo – o que fazia cada ano, porque a cabeleira o incomodava – o peso desta era de duzentos siclos, pelo peso do rei. Nasceram-lhe três filhos e uma filha, chamada Tamar, que era de grande beleza. Absalão viveu em Jerusalém dois anos sem ser admitido à presença do rei. Mandou chamar Joab para o enviar ao rei, mas ele não quis ir. Chamou-o segunda vez, mas ele recusou de novo. Disse então Absalão aos seus servos: «Vedes o campo de Joab ao lado do meu, semeado de cevada? Ide e lançai-lhe fogo.» Os servos de Absalão incendiaram o campo. Os servos de Joab rasgaram as vestes, vieram ter com ele e disseram-lhe: «Os homens de Absalão incendiaram o teu campo.» Joab foi então à casa de Absalão, e disse: «Por que motivo incendiaram os teus homens o meu campo?» Absalão respondeu: «Mandei-te chamar, com estas palavras: ‘Vem, pois quero enviar-te ao rei para lhe dizer: Porque vim eu de Guechur? Seria melhor ter lá ficado. Peço para ser admitido à presença do rei; se sou culpado que me mande matar.’» Então, Joab apresentou-se ao rei e contou-lhe tudo. Absalão foi chamado, entrou nos aposentos do rei e prostrou-se diante dele com o rosto por terra. E o rei abraçou-o. Depois disto, Absalão adquiriu para si um carro, cavalos e cinquenta homens para o escoltarem. Levantava-se cedo e colocava-se à beira do caminho que leva à porta da cidade, e a todos os que vinham procurar o rei para lhes fazer justiça, Absalão interpelava-os e dizia-lhes: «De que cidade és tu?» O homem respondia: «Eu, teu servo, sou de tal tribo de Israel.» Dizia-lhe Absalão: «A tua pretensão é boa e justa; mas não há ninguém para te ouvir da parte do rei.» E acrescentava: «Oh, quem me dera ser juiz desta terra! Todo aquele que tivesse uma demanda ou uma questão e viesse ter comigo, eu lhe faria justiça.» Se alguém se aproximava para se prostrar diante dele, Absalão estendia-lhe a mão, amparava-o e beijava-o. Absalão fazia isto com todos os israelitas que vinham procurar o rei para qualquer julgamento e, desse modo, conquistou os seus corações. Ao fim de quatro anos, Absalão disse ao rei: «Deixa-me ir a Hebron cumprir um voto que fiz ao Senhor, pois, quando o teu servo estava em Guechur, fez este voto: ‘Se o Senhor me reconduzir a Jerusalém, irei oferecer um sacrifício ao Senhor.’» Disse-lhe o rei: «Vai em paz.» E ele partiu para Hebron. Absalão enviou emissários a todas as tribos de Israel, dizendo: «Logo que ouvirdes o som da trombeta, dizei: ‘Absalão é rei em Hebron!’» Foram também com Absalão duzentos homens de Jerusalém, convidados por ele, que o seguiam com simplicidade de coração, sem nada suspeitar. Enquanto oferecia os sacrifícios, Absalão mandou chamar Aitofel de Guilo, conselheiro de David, à sua cidade de Guilo. A conjura era forte e o número de partidários de Absalão ia aumentando. Foram, então, dizer a David: «O coração dos israelitas inclinou-se para Absalão!» David disse aos servos que estavam com ele em Jerusalém: «Fujamos depressa porque, de outro modo, não podemos escapar a Absalão! Apressemo-nos a sair, não suceda que ele se apresse, nos surpreenda e se lance sobre nós, passando a cidade ao fio da espada.» Os servos responderam ao rei: «Faça-se como o rei, meu senhor, ordenar. Somos teus servos.» O rei partiu a pé com toda a sua família, mas deixou as dez concubinas para guardarem o palácio. O rei saiu, pois, a pé com todos os seus servos e parou junto da última casa. Todos os seus servos passavam a seu lado. À frente do rei iam os esquadrões dos cretenses, dos peleteus e todos os gatitas, em número de seiscentos homens, que o tinham acompanhado desde Gat. O rei disse a Itai, de Gat: «Porque vens também connosco? Volta e fica com o rei, pois és estrangeiro e estás fora da tua pátria. Chegaste ontem e já hoje vou obrigar-te a andar errante connosco, não sabendo eu mesmo para onde vou? Regressa e leva contigo os teus irmãos. O Senhor seja misericordioso e fiel para contigo.» Mas Itai respondeu ao rei: «Pela vida do Senhor e pela vida do rei, meu senhor! Onde estiver o meu senhor e rei, aí estará também o teu servo, tanto para morrer como para viver.» Disse-lhe David: «Está bem, passa e vem connosco.» E Itai, de Gat, desfilou com todos os seus homens e toda a sua família. Estando o rei na torrente do Cédron, enquanto o povo seguia diante dele a caminho do deserto, toda a gente chorava em voz alta. Chegou também Sadoc com os levitas, que conduziam a Arca da aliança de Deus. Colocaram-na junto de Abiatar, enquanto passava todo o povo que tinha saído da cidade. Disse, então, o rei a Sadoc: «Reconduz a Arca de Deus à cidade. Se eu agradar ao Senhor, Ele me reconduzirá e me deixará ver de novo a sua Arca e o lugar da sua habitação. Mas, se Ele disser que não quer mais saber de mim, estou à sua disposição e faça de mim o que lhe aprouver.» O rei disse a Sadoc: «Olha! Volta de novo para a cidade com Abiatar e com Aimaás, teu filho, e Jónatas, filho de Abiatar. Eu vou esconder-me no deserto, à espera de que me envieis notícias.» Sadoc e Abiatar reconduziram, pois, a Arca de Deus para Jerusalém e ficaram lá. David, chorando, subia o monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e descalço. Todo o povo que o acompanhava subia também, chorando, com a cabeça coberta. Disseram a David que Aitofel também estava entre os conjurados de Absalão. David exclamou: «Fazei, Senhor, que saiam errados os conselhos de Aitofel!» Ao chegar David ao cimo do monte, no lugar onde se adora a Deus, Huchai, o erequita, veio ao seu encontro com a túnica rasgada e a cabeça coberta de pó. David disse-lhe: «Se vieres comigo, serás para mim um peso; mas se voltares à cidade e disseres a Absalão: ‘Quero ser, ó rei, teu servo; como servi a teu pai, assim te servirei a ti’, então anularás, a meu favor, os conselhos de Aitofel. Ali terás contigo os sacerdotes Sadoc e Abiatar, a quem comunicarás tudo o que souberes do palácio real. Com eles estão os seus dois filhos, Aimaás, filho de Sadoc, e Jónatas, filho de Abiatar; por eles me transmitirás tudo o que ouvires.» E Huchai, amigo de David, voltou para a cidade no momento em que Absalão fazia a sua entrada em Jerusalém. Tendo David descido um pouco a outra encosta do monte, viu Ciba, servo de Mefibóset, que vinha ao seu encontro com dois jumentos carregados de duzentos pães, cem cachos de uvas secas, cem peças de fruta da estação e um odre de vinho. O rei disse-lhe: «Para que é isso?» Ciba respondeu: «Os jumentos são para a família do rei montar; os pães e os frutos são para os teus servos comerem; o vinho, para beberem aqueles que desfalecerem no deserto.» O rei perguntou: «Mas onde está o filho do teu senhor?» Ciba respondeu ao rei: «Ficou em Jerusalém, pensando: ‘Hoje a casa de Israel me restituirá o reino de meu pai.’» O rei disse a Ciba: «Doravante, tudo o que possuía Mefibóset te pertencerá.» E Ciba respondeu: «Inclino-me diante de ti e agradeço-te o favor que me fazes, ó meu rei e senhor.» Chegou, pois, o rei a Baurim, e saía de lá um homem da parentela de Saul, chamado Chimei, filho de Guera, que, enquanto caminhava, ia proferindo maldições. Lançava pedras contra David e contra os servos do rei, apesar de todo o povo e todos os guerreiros seguirem o rei, agrupados à direita e à esquerda. E Chimei amaldiçoava-o, dizendo: «Vai, vai embora, homem sanguinário e criminoso. O Senhor fez cair sobre ti todo o sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste, e entregou o reino a teu filho Absalão. Vês-te, agora, oprimido de males, por teres sido um homem sanguinário.» Então, Abisai, filho de Seruia, disse ao rei: «Porque há-de continuar este cão morto a insultar o rei, meu senhor? Deixa-me passar, para lhe cortar a cabeça.» Mas o rei respondeu-lhe: «Que te importa, filho de Seruia? Deixa-o amaldiçoar-me. Se o Senhor lhe ordenou que amaldiçoasse David, quem poderá dizer-lhe: ‘Porque fazes isto?’» David disse também a Abisai e aos seus homens: «Vede! Se o meu próprio filho, fruto das minhas entranhas, conspira contra a minha vida, quanto mais agora este filho de Benjamim? Deixai-o amaldiçoar-me, conforme a permissão do Senhor. Talvez o Senhor tenha em conta a minha miséria e me venha a dar bens em troca destes ultrajes.» David e os seus homens prosseguiram o seu caminho, mas Chimei seguia a par dele pelo flanco da montanha, amaldiçoando-o, atirando-lhe pedras e espalhando poeira no ar. O rei e toda a sua tropa chegaram extenuados. E descansaram ali. Entretanto, Absalão, com todos os seus partidários de Israel, entrou em Jerusalém, acompanhado de Aitofel. Huchai, o erequita, amigo de David, foi apresentar-se a Absalão e disse-lhe: «Viva o rei! Viva o rei!» Absalão disse-lhe: «É essa a tua gratidão para com o teu amigo? Porque não partiste com ele?» Huchai respondeu-lhe: «De modo nenhum! Eu sou por aquele que o Senhor escolheu com todo este povo e é com este que ficarei. Além disso, a quem devo servir senão ao seu filho? Como servi a teu pai, assim também te servirei a ti.» Absalão disse a Aitofel: «Deliberai entre vós o que devemos fazer.» Aitofel respondeu-lhe: «Aproxima-te das concubinas de teu pai, que ficaram aqui para guardar o palácio. Deste modo, todo o Israel saberá que te tornaste odioso a teu pai, e os teus partidários sentirão maior coragem.» Armaram, pois, uma tenda para Absalão no terraço e, à vista de todo o Israel, ele foi abusar das concubinas de seu pai. Naquele tempo, os conselhos de Aitofel eram considerados como oráculos de Deus; assim eram considerados todos os seus conselhos, tanto por parte de David como de Absalão. Aitofel disse a Absalão: «Deixa-me escolher doze mil homens, e partirei ainda esta noite a perseguir David. Cairei sobre ele no momento em que estiver extenuado de fadiga; espalharei o pânico e todos os que estão com ele fugirão. O rei ficará sozinho, e então matá-lo-ei. Assim farei voltar todo o povo para ti. Atingir o homem que tu persegues acarretará a vinda de todos. E todo o povo ficará em paz.» Este conselho agradou a Absalão e a todos os anciãos de Israel. Mas Absalão disse: «Chamem Huchai, o erequita, e ouçamos também o que ele diz.» Quando Huchai chegou à presença de Absalão, este disse-lhe: «É este o parecer de Aitofel. Devemos segui-lo? Que nos aconselhas tu?» Huchai respondeu a Absalão: «Desta vez, o conselho de Aitofel não é bom.» E acrescentou: «Sabes que teu pai e seus homens são valentes e estão furiosos como a ursa num bosque sem as suas crias. Teu pai é um guerreiro e não irá descansar com a tropa. Ele, agora, deve estar escondido em alguma gruta ou em lugar semelhante. E se, ao primeiro choque, caírem alguns do nosso exército, isto será publicado e dir-se-á: ‘O exército que segue o partido de Absalão foi derrotado’. Então, até os mais valentes desanimarão, mesmo que tenham um coração de leão, pois todo o Israel sabe que teu pai é um grande chefe e está acompanhado de homens valentes. É este o meu conselho: mobilize-se todo o Israel de Dan a Bercheba, e reúnam-se junto de ti tão numerosos como os grãos de areia na praia do mar, e tu te colocarás pessoalmente no meio deles. Atirar-nos-emos sobre David em qualquer lugar onde se encontre e havemos de cair sobre ele como o orvalho cobre a terra, e não deixaremos vivos nem um só homem dos que o seguem. Se se refugiar em alguma cidade, todo o Israel a cercará de cordas e arrastá-la-emos até à torrente, de modo que não fique dela uma só pedra!» Disse Absalão e todos os que estavam com ele: «É melhor o conselho de Huchai, o erequita, que o de Aitofel.» O Senhor decidira frustrar o hábil plano de Aitofel, a fim de lançar a desgraça sobre Absalão. Então, Huchai disse aos sacerdotes Sadoc e Abiatar: «Aitofel aconselhou Absalão e os anciãos de Israel deste modo; eu, porém, aconselhei-o desta maneira. Enviai imediatamente a David esta mensagem: ‘Não fiques esta noite nas planícies do deserto, mas atravessa-o sem demora, não suceda que sejam exterminados o rei e os homens que estão com ele.’» Jónatas e Aimaás estavam à espera junto à fonte de Roguel; uma criada foi dar-lhes a notícia, para eles a levarem ao rei David, mas não deviam ser vistos ao entrar na cidade. Um jovem, porém, viu-os e avisou Absalão. Mas eles entraram a toda a pressa na casa de um homem em Baurim. Havia uma cisterna no pátio e nela se esconderam. A mulher colocou uma manta sobre a cisterna e espalhou por cima grãos molhados, de modo que nada se notava. Os enviados de Absalão entraram na casa da mulher e disseram: «Onde estão Aimaás e Jónatas?» Ela respondeu: «Atravessaram o regato.» Puseram-se a procurá-los mas, não encontrando ninguém, voltaram a Jerusalém. Depois de eles partirem, os jovens saíram da cisterna e foram levar esta notícia ao rei David: «Ide! Passai depressa o rio, porque Aitofel deu este conselho contra vós.» David partiu com todos os seus homens e passou o Jordão. Ao amanhecer, não havia um só homem que não tivesse atravessado o Jordão. Aitofel, vendo que o seu conselho não fora cumprido, selou o seu jumento e partiu para a sua casa, na sua cidade. Pôs em ordem os seus negócios e enforcou-se. E foi sepultado no túmulo de seu pai. David chegou a Maanaim quando Absalão passava o Jordão com os israelitas. Absalão pôs Amassá à frente do exército, em lugar de Joab. Amassá era filho de um homem natural de Jezrael, chamado Jitra, que se unira a Abigaíl, filha de Naás, irmã de Seruia, mãe de Joab. Os israelitas e Absalão acamparam na terra de Guilead. Logo que David chegou a Maanaim, Chobi, filho de Naás, de Rabá dos amonitas, Maquir, filho de Amiel de Lodebar, e Barzilai, o guileadita, de Roguelim, ofereceram-lhe camas, tapetes, copos e vasilhas, bem como trigo, cevada, farinha, grão torrado, favas, lentilhas, mel, manteiga, queijos e ovelhas. Apresentaram tudo isto a David e à sua gente, para que se alimentassem, pois diziam: «Estes homens sofreram certamente fome e sede no deserto.» David passou revista às suas tropas e pôs à frente delas chefes de milhares e de centenas. Depois, David deu ao exército o sinal de partida; confiou um terço a Joab, um terço a Abisai, irmão de Joab e filho de Seruia, e um terço a Itai, de Gat. E disse o rei às suas tropas: «Eu também vou convosco.» Mas eles responderam-lhe: «Não, tu não irás! Pois, se fugíssemos, os inimigos não se interessariam e, mesmo que metade de nós morresse, nada disso importaria. Tu vales tanto como dez mil de nós. É melhor que fiques na cidade, para nos socorreres.» Disse-lhes o rei: «Farei o que melhor vos parecer.» Colocou-se então à porta da cidade, enquanto todo o exército saía, formado em esquadrões de cem e de mil. O rei deu esta ordem a Joab, a Abisai e a Itai: «Poupai o meu filho Absalão!» E todos ouviram a ordem que o rei dera aos chefes a respeito de Absalão. Partiu, enfim, o exército para pelejar contra Israel e travou-se o combate na floresta de Efraim. Os israelitas foram derrotados pela gente de David. A mortandade foi grande. Morreram ali vinte mil homens. O combate estendeu-se por toda a região, e foram mais os que naquele dia pereceram na floresta do que os que morreram à espada. Absalão, montado numa mula, encontrou-se, de repente, em frente dos homens de David. A mula passou sob a ramagem espessa de um grande carvalho, e a cabeça de Absalão ficou presa nos ramos da árvore, de modo que ficou suspenso entre o céu e a terra enquanto a mula, em que ia montado, seguia em frente. Alguém viu isto e informou Joab: «Vi Absalão suspenso num carvalho.» Joab respondeu ao homem que lhe deu a notícia: «Se o viste, porque não o abateste logo ali e eu dar-te-ia dez siclos de prata e um cinto?» O homem respondeu a Joab: «Mesmo que me pusessem nas mãos mil siclos de prata, eu não levantaria a mão contra o filho do rei, porque ele ordenou a ti, a Abisai e a Itai, na nossa presença: ‘Poupai-me o jovem Absalão’. Se eu tivesse cometido esta infâmia contra a sua vida, nada se ocultaria ao rei e nem tu me defenderias.» Joab respondeu: «Não tenho tempo a perder contigo.» Tomou, pois, três dardos e cravou-os no coração de Absalão. E como ainda palpitasse com vida, suspenso do carvalho, dez jovens escudeiros de Joab aproximaram-se, feriram Absalão e acabaram de o matar. Joab tocou, então, a trombeta e o exército deixou de perseguir Israel, pois Joab conteve o povo. Tomaram Absalão e atiraram-no para uma grande vala no interior da floresta, erguendo em seguida sobre ele um enorme monte de pedras. Entretanto, todo o Israel fugira, cada um para sua casa. Absalão, quando ainda vivia, mandara erigir para si o monumento que se encontra no Vale do Rei, pois dizia: «Não tenho filhos para perpetuar a memória do meu nome.» E deu o seu próprio nome a este monumento, que se chama, ainda hoje, «Monumento de Absalão.» Aimaás, filho de Sadoc, disse: «Irei a correr dar ao rei a boa nova de que o Senhor fez justiça, livrando-o dos seus inimigos.» Mas Joab respondeu-lhe: «Não lhe levarás hoje boas notícias. Outro dia as darás, porque hoje não darias uma boa notícia, pois trata-se da morte do filho do rei.» E Joab disse a um etíope: «Vai ter com o rei e anuncia-lhe o que viste.» O etíope prostrou-se diante de Joab e saiu a correr. Aimaás, filho de Sadoc, insistiu com Joab: «Seja como for, mas deixa-me correr também atrás do etíope.» E Joab respondeu: «Porque queres correr, meu filho? Esta mensagem de nada te aproveitaria.» «Não importa, aconteça o que acontecer, eu correrei.» Então, respondeu-lhe: «Corre!» Aimaás pôs-se a correr pelo caminho da planície e passou à frente do etíope. David estava sentado entre duas portas. A sentinela que tinha subido ao terraço da muralha por cima da porta, levantou os olhos e viu um homem que corria sozinho. Gritou para dar a notícia ao rei, que disse: «Se vem só, traz boas notícias.» À medida que o homem se aproximava, a sentinela viu então outro homem que corria e gritou ao porteiro: «Vejo também outro homem que vem a correr sozinho.» Disse-lhe o rei: «Também esse traz boas notícias.» A sentinela acrescentou: «Pela maneira de correr, o primeiro só pode ser Aimaás, filho de Sadoc.» Disse o rei: «É um homem de bem. Traz boas notícias.» Aimaás chegou e disse ao rei: «Vitória!» Prostrou-se logo com a face por terra e disse: «Bendito seja o Senhor, teu Deus, que entregou nas tuas mãos os homens que se sublevaram contra o rei, meu senhor.» O rei perguntou: «O jovem Absalão está bem?» Aimaás respondeu: «Vi um grande tumulto no momento em que Joab enviou ao rei o teu servo, mas ignoro o que se passou.» O rei disse-lhe: «Vem e espera aqui.» Ele afastou-se e esperou ali. Chegou, a seguir, o etíope e disse: «Saiba o rei, meu senhor, a boa notícia: o Senhor fez hoje justiça a teu favor contra todos os que se revoltaram contra ti.» O rei perguntou ao etíope: «Está bem o jovem Absalão?» E o etíope respondeu: «Tenham a sorte deste jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazer mal!» Então, o rei, muito triste, subiu ao quarto que estava por cima da porta e pôs-se a chorar. E dizia, caminhando de um lado para o outro: «Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!» Disseram a Joab: «O rei chora e lamenta-se por causa de Absalão.» E naquele dia a vitória converteu-se em luto para todo o exército, porque o povo soube que o rei estava acabrunhado de dor por causa do filho. Por isso, o exército entrou na cidade em silêncio, como entra, coberto de vergonha, um exército derrotado. E o rei cobriu a cabeça e dizia em alta voz: «Meu filho Absalão! Absalão, meu filho, meu filho!» Chegou então Joab à casa do rei e disse-lhe: «Tu hoje enches de confusão a face de todos os teus servos que salvaram a tua vida, a vida de teus filhos e filhas, de tuas mulheres e concubinas. Amas os que te odeiam e odeias os que te amam, e mostras que todos os teus servos e chefes do exército nada valem para ti. Ficarias satisfeito se Absalão vivesse, e nós fôssemos todos mortos! Vamos, sai e anima o coração dos teus servos, pois juro pelo Senhor que, se não sais, nem um só homem ficará contigo esta noite. E isto seria para ti uma desgraça maior do que todas as que te aconteceram desde a tua mocidade até agora.» O rei levantou-se e sentou-se à porta. E avisou-se todo o povo: «O rei está sentado à porta.» E todo o povo se apresentou diante do rei. Os israelitas tinham fugido cada um para a sua casa. E em todas as tribos de Israel todos discutiam e diziam: «O rei salvou-nos das mãos dos nossos inimigos e do poder dos filisteus, mas teve agora de sair da terra para fugir de Absalão. E Absalão, a quem tínhamos ungido rei, morreu no combate. Porque tardais em fazer o rei regressar?» O rei David mandou dizer aos sacerdotes Sadoc e Abiatar: «Falai aos anciãos de Judá e dizei-lhes: ‘Sereis vós os últimos a reconduzir o rei a casa? Pois o que diz todo o Israel chega aos ouvidos do rei, à sua casa. Vós sois meus irmãos, da minha carne e do meu sangue. Porque, havereis de ser os últimos a fazer o rei regressar?’ Dizei também a Amassá: ‘Porventura não és tu da minha carne e do meu sangue? Trate-me Deus com todo o seu rigor, se não te tornar para sempre chefe do meu exército em lugar de Joab.’» Deste modo, o coração de todos os homens de Judá inclinou-se para David, como se fossem um só homem, e mandaram-lhe dizer: «Volta com todos os teus!» Voltou, pois, o rei e, chegando ao Jordão, todos os de Judá acorreram a Guilgal para o receber e acompanhar na passagem do Jordão. Chimei, filho de Guera, da tribo de Benjamim, natural de Baurim, apressou-se a ir ao encontro do rei David. Levava consigo mil homens de Benjamim e também Ciba, servo da família de Saul, com os seus vinte servos e os seus quinze filhos. Atravessaram o Jordão antes do rei, a fim de fazer passar a família real e colocar-se às suas ordens. Chimei, filho de Guera, no momento em que o rei ia a passar o Jordão, prostrou-se a seus pés e disse-lhe: «Não castigues, meu senhor, a minha maldade, nem guardes no teu coração a lembrança das injúrias que recebeste do teu servo, no dia em que saíste, meu rei e senhor, de Jerusalém. Este teu servo sabe que pecou. Por isso, vim hoje, o primeiro de toda a casa de José, ao encontro do rei, meu senhor!» Abisai, filho de Seruia, tomou a palavra, e disse: «Não se deverá antes matar Chimei, por ter amaldiçoado o ungido do Senhor ?» Respondeu David: «Que tenho a ver convosco, filhos de Seruia, para que vos torneis meus tentadores no dia de hoje? Porventura é hoje dia para fazer morrer um só filho de Israel? Não sei, acaso, que hoje sou de novo rei de Israel?» E disse a Chimei: «Não morrerás.» E prometeu-lho com juramento. Mefibóset, filho de Saul, saiu também ao encontro do rei. Já não lavava os pés nem fazia a barba, nem lavava as suas vestes desde o dia em que o rei partiu até ao dia em que voltou em paz. Apresentou-se, pois, ao rei, em Jerusalém, e este disse-lhe: «Porque não partiste comigo, Mefibóset?» Ele respondeu: «Meu senhor e rei, o meu criado enganou-me. Pois, sendo paralítico teu servo, dissera-lhe que me selasse a jumenta para montar e partir com o rei. Ele, porém, caluniou-me junto do rei meu senhor. Mas o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus; faça o que for do seu agrado. Toda a família de meu pai merecia a morte diante do meu senhor e rei, e, no entanto, admitiste o teu servo entre os que comem à tua mesa. Com que direito ainda posso reclamar alguma coisa do rei?» O rei respondeu: «Para quê tantas palavras? Declaro que tu e Ciba repartireis os bens.» E Mefibóset disse: «Ele pode até ficar com tudo, uma vez que o rei, meu senhor, voltou em paz para sua casa.» Barzilai, o guileadita, desceu de Roguelim, passou o Jordão com o rei, despedindo-se dele junto do Jordão. Era já muito velho, pois tinha oitenta anos. Sendo muito rico, abastecera o rei durante todo o tempo em que ele esteve em Maanaim. O rei disse-lhe: «Vem comigo, e eu te sustentarei em Jerusalém!» Mas Barzilai respondeu: «Quantos anos viverei ainda, para subir com o rei a Jerusalém? Tenho agora oitenta anos e já não sei discernir entre o que é bom e o que é mau. Já não posso saborear a comida e a bebida, nem ouvir a voz dos cantores e cantoras. E para que se há-de tornar pesado o teu servo ao meu senhor e rei? O teu servo acompanhar-te-á um pouco mais além do Jordão. Porque há-de o rei conceder-me tal recompensa? Deixa que o teu servo regresse. Deixa-me morrer na minha cidade, junto ao túmulo de meu pai e de minha mãe. Mas aqui tens o teu servo Quimeam; este pode ir contigo, meu rei e senhor; faz dele o que melhor te parecer.» Respondeu o rei: «Que ele venha, pois, comigo. Far-lhe-ei tudo o que te agradar; e a ti, também te concederei tudo quanto me pedires.» Finalmente, o rei passou o Jordão com toda a gente, beijou Barzilai, abençoou-o, e Barzilai voltou para sua casa. O rei dirigiu-se a Guilgal, acompanhado de Quimeam. Todo o povo de Judá e metade do povo de Israel ajudaram o rei a passar. Mas todos os homens de Israel foram ter com o rei e disseram-lhe: «Por que razão os nossos irmãos, os filhos de Judá, te sequestraram e obrigaram o rei com toda a sua família e todos os seus homens a passar o Jordão?» E os filhos de Judá responderam aos israelitas: «É que o rei é nosso parente. Porque vos irritais com isso? Acaso temos comido a expensas do rei ou recebido dele alguma coisa?» Mas os homens de Israel replicaram aos de Judá: «Temos dez vezes mais direitos que vós sobre o rei, e mesmo sobre David. Porque nos desprezastes? Não fomos nós os primeiros a propor o regresso do rei?» Mas as palavras dos homens de Judá foram mais duras que as dos homens de Israel. Encontrava-se ali um homem perverso, chamado Cheba, filho de Bicri, da tribo de Benjamim, o qual tocou a trombeta e proclamou: «Nada temos a ver com David; nada temos de comum com o filho de Jessé! Cada um para as suas tendas, ó Israel!» Todos os homens de Israel abandonaram David e seguiram Cheba, filho de Bicri. Mas os homens de Judá acompanharam o seu rei, desde o Jordão até Jerusalém. David voltou ao seu palácio em Jerusalém; o rei tomou as dez concubinas que tinha deixado a guardar o palácio e colocou-as numa casa bem guardada, cuidando do seu sustento, mas não foi mais ter com elas; e ali ficaram enclausuradas até ao dia da sua morte, como se fossem viúvas. O rei disse a Amassá: «Reúne-me, em três dias, os homens de Judá e apresenta-te também com eles.» Amassá partiu para convocar Judá mas demorou-se mais do que o prazo que o rei lhe tinha fixado. Então, David disse a Abisai: «Cheba, filho de Bicri, vai tornar-se agora mais perigoso que Absalão. Toma contigo os servos do teu senhor e persegue-o, não aconteça que ele encontre cidades fortificadas e nos escape.» Partiram, pois, com Abisai os homens de Joab, os cretenses e os peleteus, e todos os valentes saíram de Jerusalém em perseguição de Cheba, filho de Bicri. Quando chegaram junto da grande pedra que se encontra em Guibeon, Amassá foi ter com eles. Joab endossava a sua veste militar; sobre ela levava, cingida à cintura, uma espada embainhada. Ao adiantar-se, esta caiu. Joab perguntou a Amassá: «Como vais, meu irmão?» E agarrou-lhe a barba com a mão direita, para o beijar. Amassá, porém, não reparou na espada que segurava Joab. Este feriu-o no ventre e derramou por terra as entranhas dele. Não houve necessidade de um segundo golpe, pois caiu logo morto. Depois, Joab e seu irmão Abisai lançaram-se em perseguição de Cheba, filho de Bicri. Um dos soldados de Joab parou junto de Amassá e disse: «Todos os que amam Joab e estão com David sigam Joab!» Amassá continuava estendido no meio do caminho, coberto de sangue. Reparando que todos se detinham para o ver, o soldado arrastou Amassá para um campo e cobriu-o com um manto, pois viu que paravam todos os que chegavam diante dele. Retirado do caminho, todos os homens de Israel seguiram atrás de Joab para perseguir Cheba, filho de Bicri. Cheba atravessou todas as tribos de Israel em direcção a Abel-Bet-Maacá e todos os habitantes de Bicri o seguiram. Foram então sitiá-lo em Abel-Bet-Maacá e levantaram contra a cidade um baluarte que chegava à altura da muralha. Todos os que estavam com Joab tentavam destruir a muralha. Então, uma mulher sensata da cidade pôs-se a gritar, dizendo: «Ouvi, ouvi! Dizei a Joab que se aproxime para que eu lhe possa falar.» Aproximou-se Joab e a mulher disse-lhe: «És tu Joab?» Respondeu ele: «Sim, sou eu.» Ela continuou: «Escuta as palavras da tua serva.» Respondeu: «Estou a ouvir-te.» Ela continuou: «Outrora costumava dizer-se: ‘Quem procura conselho que o busque em Abel. E tudo se resolverá’. Eu sou a mais pacífica e fiel de Israel, e tu procuras a destruição de uma cidade, uma metrópole em Israel. Porque queres destruir o que é propriedade do Senhor ?» Joab respondeu-lhe: «Longe de mim tal coisa; não venho arruinar nem destruir coisa alguma. Não se trata disso. A minha intenção é outra; apenas busco um homem da montanha de Efraim, chamado Cheba, filho de Bicri, que se atreveu a levantar a mão contra o rei David. Entregai-nos esse homem e retirar-me-ei da cidade.» A mulher disse a Joab: «A sua cabeça será lançada por cima do muro.» A mulher voltou à cidade e comunicou a todo o povo a sua sábia decisão. Cortaram a cabeça a Cheba, filho de Bicri, e atiraram-na a Joab. Este tocou a trombeta e todos se retiraram da cidade, cada um para sua casa. Joab voltou para junto do rei, em Jerusalém. Joab comandava todo o exército de Israel. Benaías, filho de Joiadá, capitaneava os cretenses e peleteus. Adoram presidia aos trabalhos. Josafat, filho de Ailud, era o cronista. Cheva era o escriba. Sadoc e Abiatar eram sacerdotes. Ira, o jairita, era também sacerdote de David. No tempo de David, houve uma fome que durou três anos consecutivos. David consultou o Senhor e Ele respondeu-lhe: «É por causa de Saul e da sua casa sanguinária, pois matou os guibeonitas.» O rei chamou então os guibeonitas e falou com eles. Estes não eram filhos de Israel, mas um resto dos amorreus, aos quais os israelitas se tinham ligado com juramento. Entretanto, Saul procurou eliminá-los por zelo para com os filhos de Israel e de Judá. David disse, pois, aos guibeonitas: «Que quereis que vos faça e que satisfação vos poderei dar, para que abençoeis o povo do Senhor ?» Os guibeonitas responderam: «Não é uma questão de prata nem de ouro com Saul e a sua família; nem se trata de matar ninguém em Israel.» David disse-lhes: «Então, que quereis que vos faça?» Eles responderam ao rei: «Aquele homem que nos quis dizimar e projectou aniquilar-nos, fazendo-nos desaparecer de Israel, entregue-nos sete dos seus descendentes, a fim de os enforcarmos diante do Senhor, em Guibeá de Saul, o eleito do Senhor.» Disse David: «Pois bem, eu vo-los entregarei.» O rei poupou Mefibóset, filho de Jónatas, filho de Saul, por causa do juramento feito entre ele e Jónatas, filho de Saul. Tomou, pois, os dois filhos que Rispa, filha de Aiá, dera a Saul, Armoni e Mefibóset, e os cinco filhos que Mical, filha de Saul, dera a Adriel, filho de Barzilai de Meola. Entregou-os aos habitantes de Guibeon, que os enforcaram no monte, diante do Senhor. Todos os sete pereceram juntos nos primeiros dias da colheita, ao começar a ceifa das cevadas. Rispa, porém, filha de Aiá, tomou um saco e estendeu-o sobre a rocha, desde o princípio da colheita da cevada até ao dia em que caiu sobre os cadáveres a primeira chuva do céu, não deixando que os pássaros do céu pousassem sobre eles durante o dia, nem que as feras selvagens lhes tocassem durante a noite. David, avisado do que tinha feito Rispa, filha de Aiá, concubina de Saul, foi recolher os ossos de Saul e de Jónatas, seu filho, à cidade dos habitantes de Jabés de Guilead. Estes tinham-nos tirado furtivamente da praça de Bet-Chan, onde os filisteus os tinham pendurado, no dia em que mataram Saul em Guilboa. Retirou, pois, de lá os ossos de Saul e de seu filho Jónatas, e mandou também recolher os ossos dos que tinham sido enforcados. Os ossos de Saul e de seu filho Jónatas foram sepultados em Cela, na terra de Benjamim, no sepulcro de Quis, pai de Saul. Fizeram tudo o que o rei lhes tinha ordenado; e Deus compadeceu-se da terra. Houve novamente guerra entre os filisteus e Israel. David saiu com os seus homens para combater os filisteus. David sentiu-se fatigado. Acamparam em Nob. Então, apresentou-se um dos filhos de Harafá, que trazia uma lança que pesava trezentos siclos de bronze e uma espada nova no cinto, e declarou que ia matar David. Mas Abisai, filho de Seruia, foi em socorro de David, feriu o filisteu e matou-o. Então, os homens de David fizeram este juramento: «Não virás mais combater connosco, para que não se apague a lâmpada de Israel.» Depois disso houve outra guerra contra os filisteus, em Gob, onde Sibecai, de Hucha, matou Saf, descendente de Harafá. Houve, também uma terceira guerra contra os filisteus, em Gob, onde El-Hanan, filho de Jaaré-Oreguim, de Belém, matou Golias, de Gat, que levava uma lança cujo cabo era como um cilindro de tear. Houve ainda mais uma outra guerra em Gat. Encontrava-se ali um homem de enorme estatura, que tinha seis dedos em cada mão e em cada pé, isto é, vinte e quatro dedos, também descendente de Harafá. Este insultou Israel, mas Jónatas, filho de Chamá, irmão de David, matou-o. Esses quatro homens eram naturais de Gat, da estirpe de Harafá, e pereceram às mãos de David e dos seus homens. David dirigiu ao Senhor as palavras deste cântico, quando o Senhor o libertou da mão de todos os seus inimigos e de Saul. E disse David: «O Senhor é minha rocha, meu baluarte e meu libertador, Deus, meu rochedo, em quem confio; meu escudo, minha força salvadora, que me livra da violência. Eu invoquei o Senhor, digno de louvor, e fui salvo dos meus inimigos. Pois cercavam-me as ondas da morte, assustavam-me as torrentes destruidoras, os laços do abismo me comprimiam e diante de mim apareciam as armadilhas da morte. Na minha angústia clamei ao Senhor, invoquei o meu Deus e do seu santuário escutou a minha voz; o meu clamor chegou aos seus ouvidos. A terra, sacudida, tremeu; estremeceram os fundamentos dos céus e vacilaram por causa do seu furor. Das suas narinas saía fumo, da sua boca um fogo devorador, dela saíam carvões acesos. Inclinou os céus e desceu, com espessas nuvens debaixo dos pés. Cavalgou sobre um querubim e voou, e apareceu sobre as asas do vento. Das trevas fez uma tenda, à sua volta; águas fundas e nuvens tenebrosas o rodeavam. Do fulgor da sua presença saltavam centelhas de fogo. Dos céus trovejou o Senhor, o Altíssimo fez ouvir a sua voz. Lançou setas e os dispersou, um raio, e os derrotou. Apareceram as profundezas do mar, descobriram-se os fundamentos da terra, perante a ameaça do Senhor, perante o sopro impetuoso da sua ira. Estendeu do alto a sua mão para me segurar, e livrar-me das águas profundas. Libertou-me do meu poderoso inimigo, dos que me odiavam, pois eram mais fortes do que eu. Atacaram-me no dia da minha desgraça, porém, o Senhor foi o meu amparo. Levou-me a um espaço aberto, libertou-me porque me quer bem. O Senhor me recompensou pela minha rectidão, retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos. Pois segui os caminhos do Senhor e não pequei contra o meu Deus. Tenho presentes todos os seus mandamentos e não me afasto dos seus preceitos. Tenho sido sincero para com Ele e guardei-me do meu pecado. O Senhor retribuiu-me pela minha rectidão, conforme a minha pureza, diante dos seus olhos. Para quem é fiel, Tu és fiel, com o homem íntegro, Tu és íntegro. Com o que é leal, Tu és leal; e, com o astuto, és sagaz. Salvas o povo humilde e voltas o teu olhar contra os soberbos. Tu és a minha lâmpada, Senhor; o Senhor ilumina as minhas trevas. Contigo posso enfrentar um exército, com o meu Deus saltarei muralhas. Perfeito é Deus nos seus caminhos, a palavra do Senhor provada ao fogo, é refúgio para todo o que a Ele se acolhe. Pois, quem é Deus senão o Senhor ? Quem é um rochedo, senão o nosso Deus? Deus é a minha praça forte e torna recto o meu caminho. Faz os meus pés ágeis como os da gazela e nas minhas alturas me segura. Adestra as minhas mãos para o combate e os meus braços para retesar o arco de bronze. Tu dás-me o teu escudo de salvação e a tua bondade faz-me prosperar. Deste largueza aos meus passos e não vacilaram os meus pés. Persegui os meus inimigos e exterminei-os, não regressei sem os ter derrotado. Derrotei-os e destruí-os, e não se levantaram, sucumbiram debaixo dos meus pés. Tu deste-me forças para o combate e abateste os meus agressores diante de mim. Fizeste-me voltar as costas aos meus inimigos e os que me odiavam eu exterminei. Clamaram e ninguém os socorreu; clamaram ao Senhor, mas não lhes respondeu. E eu dispersei-os como pó da terra, como barro do caminho os esmaguei e pisei. Livraste-me das conjuras do meu povo, guardaste-me para estar à cabeça de nações; povos que não conhecia me serviram. Os estrangeiros prestavam-me homenagem, obedeciam-me ao primeiro sinal. Os estrangeiros sucumbiram e abandonaram seus refúgios a tremer. Viva o Senhor ! Bendito seja o meu rochedo! Exaltado seja Deus, meu rochedo de salvação. Ele é o Deus que me assegurou a vingança e submete os povos diante de mim. Tu salvas-me dos meus inimigos, fazes-me triunfar dos que se levantam contra mim, e livras-me do homem violento. Por isso te louvarei, Senhor, entre os povos e cantarei hinos em honra do teu nome. Deus concede grandes vitórias ao seu rei, usa de bondade para com o seu ungido, para com David e seus descendentes para sempre.» Estas são as últimas palavras de David: «Oráculo de David, filho de Jessé, oráculo do homem que foi exaltado, do ungido do Deus de Jacob, do egrégio cantor de Israel: O espírito do Senhor falou por mim, sua palavra está na minha língua; o Deus de Israel falou, disse-me o Rochedo de Israel: ‘O justo, dominador dos homens, que domina pelo temor de Deus, é como a luz da manhã quando se levanta o Sol numa manhã sem nuvens, que faz germinar a erva que brota da terra, depois da chuva. Não é estável a minha casa aos olhos de Deus? Porque Ele fez comigo uma aliança perpétua, aliança firme e imutável. Ele faz germinar a minha salvação e a minha alegria. Todos os malvados são como os espinhos do deserto que ninguém recolhe com as mãos. Aquele que os toca arma-se de um ferro ou de um pau aguçado; e são, por fim, queimados no fogo’.» Estes são os nomes dos heróis de David: Jocheb-Bachébet, filho de Hacmoni, chefe dos três. Foi ele quem brandiu o seu machado contra oitocentos homens, matando-os de um só golpe. Depois deste, Eleázar, filho de Dodo, filho de Aoí. Era um dos três valentes que estavam com David quando desafiaram os filisteus, que se tinham reunido ali para o combate; os israelitas retiraram-se, mas ele manteve-se firme e feriu os filisteus, até que a sua mão se cansou e ficou colada à espada. O Senhor operou naquele dia uma grande vitória. Os soldados voltaram depois, mas só para recolher os despojos. Depois dele, veio Chamá, filho de Agué, o hararita. Juntaram-se os filisteus em Leí, onde havia um campo semeado de lentilhas. E, fugindo o exército diante dos filisteus, Chamá colocou-se no meio do campo, defendeu-o e derrotou os filisteus. O Senhor realizou uma grande vitória. Três dos trinta desceram e foram ter com David, no tempo da colheita, à gruta de Adulam, estando a tropa dos filisteus acampada no vale de Refaim. David estava, então, na fortaleza, e havia uma guarnição de filisteus em Belém. David manifestou este desejo: «Quem me dera beber da água do poço que está à porta de Belém!» No mesmo instante, os três valentes entraram no acampamento dos filisteus e tiraram água do poço situado à porta de Belém. Trouxeram-na a David, mas ele não a quis beber e derramou-a como oferta ao Senhor, dizendo: «Longe de mim, ó Senhor, fazer tal coisa! É o sangue dos homens que foram lá, arriscando a sua vida!» Não a quis, pois, beber. Foi isto o que fizeram os três heróis. Abisai, irmão de Joab, filho de Seruia, era chefe dos trinta. Brandiu a lança contra trezentos homens e matou-os, conquistando assim grande renome entre os três. Ele era o mais ilustre dos trinta, chegando a ser seu chefe, mas não chegou a igualar-se aos três. Benaías, filho de Joiadá, homem de valor e de grandes façanhas, natural de Cabeciel, feriu os dois filhos de Ariel de Moab. Foi também ele quem desceu, num dia de neve, e matou um leão na cisterna. Matou ainda um egípcio agigantado, que tinha uma lança na mão. Aproximou-se dele com um simples bastão, arrancou-lhe a lança das mãos e matou-o com a sua própria arma. Isto fez Benaías, filho de Joiadá, famoso entre os trinta valentes. Foi o mais ilustre dos trinta, mas não se igualou aos três. David fê-lo chefe da sua guarda. Entre os trinta, contavam-se:* Asael, irmão de Joab; El-Hanan, filho de Dodo, de Belém; Chamá de Harod; Elica de Harod; Heles de Pélet; Ira, filho de Iqués, de Técua; Abiézer de Anatot; Mebunai o huchaíta; Salmon o aoíta; Marai de Netofa; Héled, filho de Baana, de Netofa; Itai, filho de Ribai, de Gueba de Benjamim; Benaías de Piraton; Hidai do vale de Gaás; Abi-Albon de Arabá; Azemávet de Baurim, Eliaba, o chaalbonita; Jassen, filho de Jónatas; Chamá, o hararita; Aiam, filho de Sarar, o hararita; Elifélet, filho de Aasbai, o maacateu; Eliam, filho de Aitofel de Guilo; Hesrai de Carmel; Paarai de Arab; Jigal, filho de Natan, de Soba; Bani de Gad; Sélec o amonita; Naarai de Beerot, escudeiro de Joab, filho de Seruia; Ira de Jatir; Gareb, também de Jatir; Urias o hitita. Ao todo, trinta e sete. A cólera do Senhor inflamou-se de novo contra Israel e excitou David contra eles, dizendo: «Vai, faz o recenseamento de Israel e Judá.» Disse, pois, o rei a Joab, chefe do exército: «Percorre todas as tribos de Israel, de Dan a Bercheba, e faz o recenseamento do povo, de maneira que eu saiba o seu número.» Joab disse ao rei: «Que o Senhor, teu Deus, multiplique o povo cem vezes mais do que agora, e que o rei, meu senhor, o veja. Mas que pretende o rei, meu senhor, com isto?» Contudo, a ordem do rei prevaleceu sobre a opinião de Joab e dos chefes do exército. Saíram Joab e os chefes do exército da presença do rei e foram fazer o recenseamento do povo de Israel. Passaram o Jordão e começaram por Aroer e a cidade situada no meio do vale, e por Gad até Jazer. Foram, depois, a Guilead e à terra dos hititas, em Cadés, e chegaram até Dan. Dali, dirigiram-se para Sídon. Atingiram a fortaleza de Tiro e passaram em todas as cidades dos heveus e dos cananeus, chegando até Négueb de Judá, em Bercheba. Percorreram, assim, todo o país e voltaram a Jerusalém, ao fim de nove meses e vinte dias. Joab apresentou ao rei a soma do recenseamento do povo. Havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que manejavam a espada e, em Judá, quinhentos mil homens. Feito o recenseamento do povo, David sentiu remorsos e disse ao Senhor, «Cometi um grande pecado, ao fazer isto. Mas perdoa, Senhor, a culpa do teu servo, porque procedi como um insensato.» Pela manhã, quando David se levantou, o Senhor tinha falado ao profeta Gad, vidente de David, nestes termos: «Vai dizer a David: ‘Eis o que diz o Senhor. Dou-te a escolher entre três coisas; escolhe uma das três e a executarei.’» Gad foi ter com David e referiu-lhe estas palavras, dizendo: «Que preferes: sete anos de fome sobre a terra, três meses a fugir diante dos inimigos que te perseguem, ou três dias de peste no teu país? Reflecte, pois, e vê o que devo responder a quem me enviou.» David respondeu a Gad: «Vejo-me em grande angústia. É melhor cair nas mãos do Senhor, cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens!» O Senhor enviou a peste a Israel, desde a manhã daquele dia até ao prazo marcado. Morreram setenta mil homens do povo, de Dan a Bercheba. O anjo estendeu a mão contra Jerusalém para a destruir. Mas o Senhor arrependeu-se desse mal e disse ao anjo que exterminava o povo: «Basta, retira a tua mão.» O anjo do Senhor estava junto à eira de Arauna, o jebuseu. Vendo o anjo que feria o povo, David disse ao Senhor, «Fui eu que pequei, eu é que tenho culpa! Mas estes, que são inocentes, que fizeram? Peço que descarregues a tua mão sobre mim e sobre a minha família!» Gad foi ter com David naquele dia, e disse-lhe: «Sobe e levanta um altar ao Senhor na eira de jebuseu Arauna.» David subiu, então, cumprindo a palavra de Gad, como o Senhor tinha ordenado. Arauna olhou e viu aproximar-se o rei com a sua comitiva. Adiantou-se e prostrou-se diante do rei, dizendo: «Porque vem o rei, meu senhor, à casa do seu servo?» David respondeu: «Para comprar a tua eira e construir aqui um altar ao Senhor, a fim de que o flagelo cesse de afligir o povo.» Arauna disse a David: «Tome-a, pois, o meu senhor e rei, e ofereça o que melhor lhe parecer! Ali estão os bois para o holocausto, o carro e o jugo para a lenha. Ó rei, Arauna tudo oferece ao rei.» E Arauna acrescentou: «Que o Senhor, teu Deus, te seja propício!» O rei disse-lhe: «Não será assim, mas pagar-te-ei o seu justo valor. Não oferecerei holocaustos ao Senhor, meu Deus, que não me tenham custado nada.» E David comprou a eira e os bois por cinquenta siclos de prata. Levantou ali um altar ao Senhor e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão. O Senhor compadeceu-se da terra e cessou o flagelo que assolava Israel. O rei David estava velho e avançado em idade; por mais que o cobrissem de roupas não se aquecia. Então os seus criados disseram-lhe: «Procure-se para o senhor meu rei uma jovem virgem; ela ficará ao serviço do rei e será para ele uma companheira; dormirá no seu seio e o senhor meu rei aquecerá!» Procuraram, então, uma jovem bela por toda a terra de Israel e encontraram Abisag, a chunamita; e levaram-na à presença do rei. Era uma jovem muito bela; foi para o rei uma companheira e ficou ao seu serviço. O rei, porém, não a conheceu. Adonias, filho de Haguite, ambicionando o trono, dizia: «Eu é que vou ser o rei.» Procurou um carro e cavalos, bem como cinquenta homens para correrem à frente dele. Nunca o seu pai durante a vida o tinha repreendido dizendo: «Por que motivo procedeste assim?» Ele era, de facto, muito belo, e sua mãe deu-o à luz a seguir a Absalão. Conspirou com Joab, filho de Seruia, e com o sacerdote Abiatar e eles fizeram-se adeptos de Adonias. Mas nem o sacerdote Sadoc nem Benaías, o filho de Joiadá, nem o profeta Natan nem Chimei nem Reí nem os homens da escolta de David estavam com Adonias. Adonias ofereceu em sacrifício ovelhas, bois e bezerros dos mais gordos, junto à pedra de Zoélet, que fica em En-Roguel, e convidou todos os seus irmãos, os filhos do rei e todos os homens de Judá, que eram servos do rei. Não convidou, porém, o profeta Natan nem Benaías nem os homens da escolta nem mesmo Salomão seu irmão. Disse, então, Natan a Betsabé, mãe de Salomão: «Não ouviste dizer que Adonias, filho de Haguite, se tornou rei sem que o soubesse o nosso senhor David? Agora vai; vou dar-te um conselho: salva a tua vida e a vida do teu filho Salomão. Vai, entra em casa do rei David e diz-lhe: “Foste tu, ó rei, meu senhor, quem fez o seguinte juramento à tua escrava: ‘Teu filho Salomão é que reinará depois de mim e é ele que há-de sentar-se no meu trono.’ Como é então que Adonias já é rei?” E então, estando tu ainda aí a falar com o rei, virei eu atrás de ti e confirmarei as tuas palavras.» Veio, então, Betsabé e entrou no quarto privado do rei; este era velho, e Abisag, a chunamita, servia-o. Betsabé inclinou-se, prostrando-se diante do rei. Disse-lhe então o rei: «Que queres tu?» Ela respondeu: «Meu senhor, tu juraste pelo Senhor teu Deus, à tua serva: ‘Salomão, teu filho, reinará depois de mim; é ele quem se há-de sentar no meu trono.’ Agora, porém, eis que Adonias já se proclamou rei; apesar de tudo, ó meu senhor, tu nem te apercebes de nada! Ele ofereceu em sacrifício bois, bezerros gordos e muitas ovelhas; convidou todos os filhos do rei, o sacerdote Abiatar e o general do exército, Joab; mas a Salomão, teu servo, não o convidou. Quanto a ti, ó rei, meu senhor, os olhares de todo o Israel estão postos em ti, à espera que lhes anuncies quem é que se sentará no trono do rei, meu senhor, como seu sucessor. De contrário, quando o rei, meu senhor, adormecer com seus pais, eu e o meu filho Salomão seremos tratados como malvados.» E eis que, estando ela ainda a falar com o rei, chegou o profeta Natan. Anunciaram ao rei, dizendo: «Eis aí o profeta Natan.» Ele foi à presença do rei e prostrou-se diante dele de rosto por terra. Disse Natan: «Ó rei, meu senhor, acaso tu disseste: ‘Adonias reinará depois de mim e será ele a sentar-se no meu trono?’ É que ele hoje desceu e ofereceu em sacrifício bois, bezerros gordos e grande quantidade de ovelhas; convidou todos os filhos do rei, o chefe do exército e o sacerdote Abiatar; ei-los a comer e a beber com ele, dizendo: ‘Viva o rei Adonias!’ Mas não me convidou a mim, que sou teu servo, nem ao sacerdote Sadoc nem a Benaías, filho de Joiadá, nem mesmo ao teu servo Salomão. Será que estas coisas aconteceram à margem do rei, meu senhor?! Tu ainda não comunicaste ao teu servo quem é que irá sentar-se no trono do rei, meu senhor, depois dele!» Então o rei David respondeu: «Chamem-me Betsabé!» Ela veio à presença do rei e ficou diante dele. O rei fez-lhe o seguinte juramento: «Pela vida do Senhor, que livrou a minha alma de todas as angústias! Conforme te jurei pelo Senhor, Deus de Israel quando disse: ‘O teu filho Salomão reinará depois de mim, ele se sentará no meu trono como meu sucessor’, assim se fará hoje mesmo.» Então Betsabé inclinou-se por terra, prostrou-se diante do rei e disse: «Viva para sempre o rei David, meu senhor!» O rei David disse: «Chamem-me o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá»; eles vieram, então, à presença do rei. Disse-lhes o rei: «Tomai convosco os servos do vosso senhor; fazei montar o meu filho Salomão na minha própria mula e fazei-o descer em Guion. Ali será ungido pelo sacerdote Sadoc e pelo profeta Natan como rei de Israel; vós tocareis a trombeta e exclamareis: ‘Viva o rei Salomão.’ Vós subireis após ele; ele virá sentar-se no meu trono e reinará depois de mim; é a ele que eu estabeleço para ser chefe sobre Israel e Judá.» Benaías, filho de Joiadá, respondeu ao rei, dizendo: «Ámen, assim falou o Senhor, Deus do rei, meu senhor. Como o Senhor esteve com o rei meu senhor, assim esteja com Salomão; Ele tornará o seu trono ainda mais grandioso do que o do rei David, meu senhor.» Saíram, pois, o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá, os cretenses e os peleteus; montaram Salomão na mula do rei David e conduziram-no a Guion. O sacerdote Sadoc levou do santuário o chifre do óleo e ungiu Salomão; tocaram a trombeta; todo o povo exclamou: «Viva o rei Salomão!» Todo o povo subia após ele; o povo tocava flauta e exultava de efusiva alegria; a terra vibrava com as suas aclamações. Adonias e todos os convidados que estavam com ele ouviram estes clamores, quando estavam a acabar de comer. Joab ouviu também o som da trombeta e disse: «Por que motivo todo este alarido na cidade?» Ainda ele falava quando apareceu Jónatas, filho do sacerdote Abiatar. Adonias disse-lhe então: «Entra, pois tu és um homem forte, e trazes certamente uma boa mensagem!» Jónatas, respondendo, disse a Adonias: «Pelo contrário! O rei David, nosso senhor, fez rei Salomão! O rei enviou com ele o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá, os cretenses e os peleteus. Eles montaram-no na mula do rei. O sacerdote Sadoc e o profeta Natan ungiram-no rei em Guion e regressaram dali radiantes de alegria; a cidade está em alvoroço. É esta a gritaria que ouvistes. Salomão já está sentado no trono real! E mais ainda: os servos do rei já vieram felicitar o rei David, nosso senhor, dizendo: ‘Que o teu Deus torne o nome de Salomão ainda mais célebre do que o teu e engrandeça o seu reinado mais do que o teu.’ Então o rei prostrou-se no leito. Ele até disse assim: ‘Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que hoje pôs um sucessor no meu trono; eu o vi com os meus próprios olhos!’» Todos os convidados de Adonias ficaram a tremer, levantaram-se e foram cada um para seu lado. Adonias, esse, temia a presença de Salomão; ergueu-se e foi agarrar-se às hastes do altar! Comunicaram, então, a Salomão, dizendo: «Eis que Adonias, temendo o rei Salomão, está agarrado às hastes do altar, dizendo: ‘Que hoje mesmo o rei Salomão me jure que não vai matar à espada o seu servo!’» Salomão, então, disse: «Se ele se comportar como um valente, nem um só dos seus cabelos cairá por terra; mas se nele se encontrar algum mal, então morrerá mesmo!» Então o rei Salomão mandou que o desamarrassem do altar; ele veio, prostrou-se perante o rei Salomão; o rei disse-lhe: «Volta para tua casa!» Os anos de David aproximavam-se da morte; então deu a seu filho Salomão as ordens seguintes: «Eu avanço pelo caminho por onde vai toda a gente; tem coragem e sê um homem! Observa os mandamentos do Senhor, teu Deus, andando nos seus caminhos, guardando as suas leis, seus preceitos, seus costumes e exigências, conforme está escrito na Lei de Moisés; assim terás êxito em todos os teus planos e acções. Assim o Senhor fará cumprir a sua palavra que me dirigiu quando disse: ‘Se os teus filhos velarem pela sua conduta e andarem na minha presença com lealdade, com todo o seu coração e toda a sua alma, então sim, jamais algum dos teus filhos deixará de se sentar sobre o trono de Israel.’ De resto, tu bem sabes o que me fez Joab, o filho de Seruia; o que ele fez a ambos os chefes dos exércitos de Israel, a Abner, filho de Ner, e a Amassá, filho de Jéter: matou-os e verteu, em tempo de paz, o sangue da guerra; pôs o sangue da guerra na cintura dos seus rins e nas sandálias dos seus pés. Farás segundo a tua sabedoria: não deixes a sua velhice descer à paz do túmulo. Para com os filhos de Barzilai de Guilead, porém, terás misericórdia: sejam eles como quem come à tua mesa, pois eles acorreram em meu auxílio, quando eu fugia da face de Absalão, teu irmão. Contigo está também Chimei, filho de Guera, benjaminita de Baurim; é certo que ele me amaldiçoou com veemência no dia da minha partida para Maanaim; mas, como desceu ao meu encontro junto ao Jordão, jurei-lhe pelo Senhor, dizendo: ‘Não te farei morrer à espada!’ Agora, porém, não o deverás deixar impune; tu és um homem sábio; sabes muito bem o que lhe hás-de fazer; farás descer ao túmulo a sua velhice tingida de sangue.» David morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado na cidade de David. A duração do reinado de David sobre Israel foi de quarenta anos. Em Hebron reinou sete anos e em Jerusalém trinta e três. Salomão sentou-se no trono de David, seu pai, e o seu reinado consolidou-se enormemente. Adonias, filho de Haguite, foi ter com Betsabé, mãe de Salomão, que lhe disse: «É de paz a tua vinda?» Respondeu: «Sim, de paz.» Disse ele: «Tenho uma palavra a dizer-te.» «Fala» – disse ela. E disse: «Tu sabes que a realeza me pertencia, e que todo o Israel pôs os olhos em mim para eu reinar. Ora acontece que a realeza se afastou de mim para meu irmão; e foi para ele por vontade do Senhor. Por agora, tenho só um pedido a fazer-te; não mo rejeites.» Ela disse-lhe: «Fala.» Então ele disse: «Peço-te que fales ao rei Salomão, que não há-de repelir a tua face: que ele me dê por esposa Abisag, a chunamita.» Betsabé disse então: «Está bem; eu mesmo vou falar ao rei a teu respeito.» Betsabé foi, pois, ter com o rei Salomão para lhe falar sobre Adonias, e o rei levantou-se e veio ao seu encontro, prostrando-se diante dela; sentou-se no seu trono e mandou trazer um trono para a mãe do rei; ela sentou-se à sua direita. Disse-lhe ela: «Tenho uma pequena pergunta a fazer-te; não me rejeites.» Então disse ela: «Poder-se-ia dar Abisag, a chunamita, a teu irmão como esposa?» O rei Salomão respondeu a sua mãe, dizendo: «Por que razão me pedis Abisag, a chunamita, para Adonias? Pede também para ele a realeza, pois que é irmão mais velho do que eu! Para ele e também para o sacerdote Abiatar, para Joab, o filho de Seruia!» O rei Salomão jurou então pelo Senhor dizendo: «Que Deus me castigue severamente, se não foi para sua morte que Adonias disse estas palavras! E agora, pela vida do Senhor, que me robusteceu e me fez sentar no trono de David, meu pai, e me estabeleceu uma casa, como prometera: hoje mesmo, Adonias será morto!» Então o rei Salomão enviou Benaías, filho de Joiadá; ele lançou-se violentamente sobre Adonias, que morreu. Ao sacerdote Abiatar, o rei disse: «Vai para Anatot, para a tua propriedade, pois tu és um homem digno de morte! Hoje não te mando matar, porque tu transportaste a Arca do Senhor Deus diante de meu pai David e porque suportaste tudo o que meu pai suportou.» Salomão destituiu Abiatar da sua função de sacerdote do Senhor para cumprir a palavra do Senhor, que Ele tinha pronunciado contra a casa de Eli, em Silo. A notícia chegou a Joab, pois Joab era partidário de Adonias, mas não de Absalão. Então Joab refugiou-se no santuário do Senhor e agarrou-se às hastes do altar. Disseram, pois, ao rei Salomão: «Joab refugiou-se no santuário do Senhor e está ao lado do altar!» Foi então que Salomão enviou Benaías, filho de Joiadá, dizendo-lhe: «Vai, lança-te sobre ele!» Benaías foi ao santuário do Senhor e disse a Joab: «Assim falou o rei: Sai daí!» E ele respondeu: «Não! Prefiro morrer aqui!» Então Benaías foi ter com o rei para lhe contar o caso, informando-o sobre o modo como Joab tinha falado e respondido. O rei disse-lhe: «Faz como ele te disse. Lança-te sobre ele e depois enterra-o; afastarás de mim e da casa de meu pai o sangue derramado sem motivo por Joab! O Senhor fez cair o seu sangue sobre a sua cabeça, pois ele lançou-se contra dois homens mais justos e mais honestos do que ele; matou-os cruelmente à espada, sem meu pai ser sabedor: Abner, filho de Ner, chefe do exército de Israel, e Amassá, filho de Jéter, chefe do exército de Judá. Que o sangue deles caia para sempre sobre a sua cabeça e sobre a dos seus descendentes. Para David, porém, para a sua descendência, para a sua casa e seu trono, haverá eternamente a paz da parte do Senhor.» Então Benaías, filho de Joiadá, partiu, lançou-se sobre Joab e matou-o; foi sepultado em sua casa, no deserto. O rei colocou à frente do exército, no lugar dele, Benaías, filho de Joiadá; e, no lugar de Abiatar, colocou o sacerdote Sadoc. O rei mandou um emissário convocar Chimei e disse-lhe: «Constrói para ti uma casa em Jerusalém e fica lá; não saias de lá, seja para onde for! No dia em que tu saíres e transpuseres a torrente do Cédron saberás, sem sombra de dúvida, que vais morrer impreterivelmente! O teu sangue cairá sobre a tua cabeça.» Chimei disse então ao rei: «Boas palavras! Conforme as proferiu o rei, meu senhor, assim fará o teu servo!» E Chimei ficou a residir em Jerusalém por muitos anos. Ao fim de três anos, dois servos fugiram de junto de Chimei para Aquis, filho de Maacá, rei de Gat; comunicaram isto a Chimei, dizendo: «Eis que os teus servos estão em Gat.» Chimei levantou-se, montou no seu burro e subiu a Gat; foi ter com Aquis, em busca dos seus servos. Contaram a Salomão que Chimei tinha subido de Jerusalém a Gat e que regressara de lá. O rei mandou, pois, vir Chimei à sua presença e disse-lhe: «Não te fiz eu jurar pelo Senhor, e não te adverti, dizendo: ‘No dia em que tu saíres e partires para onde quer que seja, fica sabendo que terás de morrer’? E não me respondeste tu: ‘Boas palavras as que te ouvi’? Então, porque é que não guardaste o juramento feito ao Senhor, nem a ordem que eu te dei?» Então, o rei disse a Chimei: «Tu conheces muito bem, e o teu coração intui, todo o mal que fizeste a David, meu pai; e o Senhor fez cair a tua maldade sobre a tua cabeça. O rei Salomão, porém, será abençoado, e o trono de David será consolidado para sempre aos olhos do Senhor.» O rei deu ordem a Benaías, filho de Joiadá, que saiu, lançou-se sobre Chimei e matou-o. Deste modo, a realeza ficou consolidada nas mãos de Salomão. Salomão tornou-se genro do faraó, rei do Egipto, desposando a sua filha, que instalou na cidade de David até que acabasse de construir a sua própria casa e a casa do Senhor, assim como a muralha à volta de Jerusalém. O povo, esse, continuava a oferecer sacrifícios nos lugares altos, pois até à data não se tinha levantado ainda uma casa ao nome do Senhor. Salomão amava o Senhor, seguindo os preceitos de seu pai David; mas era ainda nos lugares altos que ele oferecia os sacrifícios e queimava o incenso. Foi por isso que o rei se dirigiu a Guibeon, para aí oferecer um sacrifício, uma vez que esse era o principal lugar alto; e ali Salomão ofereceu em holocausto mil vítimas. Em Guibeon o Senhor apareceu a Salomão em sonhos, durante a noite, e disse-lhe: «Pede! Que posso Eu dar-te?» Salomão respondeu: «Tu trataste o teu servo David, meu pai, com grande misericórdia, porque ele andou sempre na tua presença com lealdade, justiça e rectidão de coração para contigo; conservaste para com ele essa grande misericórdia, concedendo-lhe um filho que hoje está sentado no seu trono. Agora, Senhor, meu Deus, és Tu também que fazes reinar o teu servo em lugar de David, meu pai; mas eu não passo de um jovem inexperiente que não sabe ainda como governar. O teu servo encontra-se agora no meio do teu povo escolhido, um povo tão numeroso que ninguém o pode contar nem enumerar, por causa da sua multidão. Terás, pois, de conceder ao teu servo um coração cheio de entendimento para governar o teu povo, para discernir entre o bem e o mal. De outro modo, quem seria capaz de julgar o teu povo, um povo tão importante?» Esta oração de Salomão agradou ao Senhor, que lhe disse: «Já que me pediste isso e não uma longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sim o discernimento para governar com rectidão, vou proceder conforme as tuas palavras: dou-te um coração sábio e perspicaz, tão hábil que nunca existiu nem existirá jamais alguém como tu. Dou-te também o que nem sequer pediste: riquezas e glória, de tal modo que, durante a tua vida, não existirá rei que te seja igual. Se andares nos meus caminhos e observares as minhas ordens como fez David, teu pai, dar-te-ei uma longa vida.» Mal despertou daquele sonho, Salomão voltou para Jerusalém, colocou-se diante da Arca da aliança do Senhor, ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão e preparou um grande banquete para todos os seus servos. Então duas prostitutas apresentaram-se diante do rei. Uma delas disse-lhe: «Por favor, meu senhor, eu e esta mulher moramos na mesma casa, e eu dei à luz um filho, estando ela em casa. Três dias após o meu parto, ela também deu à luz. Vivíamos juntas, sem que mais ninguém morasse ali; só lá estávamos nós as duas. Numa noite o filho desta mulher morreu, abafado por ela, que dormia sobre ele. Em plena noite ela levantou-se, enquanto a tua serva dormia, tomou de junto de mim o meu filho e deitou-o a seu lado; o seu filho, o morto, passou-o para junto de mim. Ao levantar-me de manhã para dar de mamar ao meu filho dei com ele morto. Quando se fez dia, examinando bem, vi que aquele não era o meu filho.» A outra disse-lhe: «Não é assim; o meu filho é o que está vivo; o morto é que é o teu.» Aquela, por sua vez, dizia: «Não! O teu filho é o morto; o vivo é que é meu.» Assim falavam elas diante do rei. O rei disse então: «Esta diz: ‘O meu filho é o vivo; o morto é teu.’ Aquela, por sua vez, diz: ‘Não! O teu filho é o morto; o vivo é que é o meu.’» Salomão ordenou: «Trazei-me uma espada.» E trouxeram uma espada ao rei. Disse: «Cortai o menino vivo em dois e dai a cada uma a sua metade.» Então a mãe, a quem pertencia o filho vivo, e cujas entranhas, por causa do filho, estavam comovidas, disse ao rei: «Por favor, meu senhor, dai-lhe a ela o menino vivo! Não o mateis!» A outra, pelo contrário, dizia: «Cortai-o em dois! Assim, nem será para mim nem para ti!» Foi então que o rei tomou a palavra e disse: «Dai o menino vivo à primeira; não o mateis; ela é que é a sua mãe.» Em todo o Israel se ouviu a sentença proferida pelo rei e todos o temiam, pois viram que havia nele uma sabedoria divina para fazer justiça. O rei Salomão reinava sobre todo o Israel. Eis os ministros que estavam ao seu serviço: o sacerdote Azarias, filho de Sadoc; os escribas Elioref e Aías, filhos de Chichá; o cronista Josafat, filho de Ailud; o chefe do exército, Benaías, filho de Joiadá; os sacerdotes Sadoc e Abiatar; o chefe dos intendentes, Azarias, filho de Natan; o conselheiro privado do rei, Zabud, filho de Natan, o prefeito do palácio, Aichaar, e o dirigente dos trabalhos, Adoniram, filho de Abda. Salomão tinha doze intendentes estabelecidos em todo o Israel, que proviam às necessidades do rei e da sua casa, cada um durante um mês no ano. Eis os seus nomes: Ben-Hur, na montanha de Efraim; Ben-Déquer, em Macás, em Chaalbim, em Bet-Chémes e em Elon Bet-Hanan; Ben-Héssed, em Arubot, de quem dependia Socó e toda a terra de Héfer; Ben-Abinadab, que tinha os altos de Dor; sua esposa foi Tafat, filha de Salomão. Baana, filho de Ailud, que tinha Taanac, Meguido e todo o Bet-Chan, junto de Sartan, abaixo de Jezrael, desde Bet-Chan até Abel-Meolá, e até para além de Joquemoam; Ben-Guéber, em Ramot de Guilead, que tinha os acampamentos de Jair, filho de Manassés, em Guilead, toda a terra de Argob, em Basan, sessenta cidades grandes e fortificadas, com fechaduras de bronze; Ainadab, filho de Ido, em Maanaim; Aimaás, em Neftali, também ele casado com uma filha de Salomão, de nome Basemat. Baana, filho de Huchai, em Aser e em Bealot; Josafat, filho de Parua, em Issacar; Chimei, filho de Ela, em Benjamim; Guéber, filho de Uri, no país de Guilead, pátria de Seon, rei dos amorreus e de Og, rei de Basan; aí havia apenas um intendente em toda a região. A população de Judá e Israel era tão numerosa como as areias das praias do mar. Todos comiam, bebiam e viviam contentes. Salomão dominava sobre todos os reinos, desde o Rio até ao país dos filisteus e à fronteira do Egipto; eles pagaram tributo e serviram Salomão durante toda a sua vida. As provisões diárias para a mesa de Salomão eram trinta coros de flor de farinha e sessenta de farinha; dez bois gordos e vinte de pastagem, cem cordeiros, além de veados, gazelas, gamos e aves gordas. É que ele dominava em toda a região de além do rio, desde Tifsa até Gaza, e em todos os reis de além do rio; e vivia em paz com todos os povos em redor. Judá e Israel, desde Dan a Bercheba, viviam em segurança cada um debaixo da sua vinha e da sua figueira, durante toda a vida de Salomão. Salomão tinha quarenta mil manjedouras para os cavalos dos seus carros e doze mil cavalos de sela. Os intendentes proviam, cada um em seu mês, à mesa do rei Salomão e de todos os seus comensais, providenciando para que nada lhes faltasse. Quanto à cevada e palha para os cavalos de carga e de montaria, tudo isto levavam, cada um na sua vez, para onde o rei se encontrasse. Deus concedeu a Salomão sabedoria e inteligência extraordinárias, bem como uma visão de espírito tão vasta como as areias que há nas praias do mar. A sabedoria de Salomão excedia a de todos os filhos do Oriente e toda a sabedoria do Egipto. Foi o mais sábio de todos os homens; mais sábio do que Etan, o ezraíta, e do que Heman; do que Calcol e Darda, filhos de Maol; o seu nome era conhecido por todos os povos em redor. Proferiu três mil provérbios, e seus hinos são em número de mil e cinco. Dissertou sobre as árvores: sobre o cedro do Líbano, bem como sobre o hissopo que brota dos muros; sobre os animais, as aves, os répteis e os peixes. Para ouvir a sua sabedoria vieram pessoas de todos os povos, da parte de todos os reis da terra, que alguma vez tinham ouvido falar dela. Hiram, rei de Tiro, que sempre fora amigo de David, soube que Salomão tinha sido ungido rei no lugar de seu pai; por isso enviou-lhe embaixadores seus. Salomão, por sua vez, enviou também uma embaixada a Hiram, dizendo: «Tu sabes que David, meu pai, por causa das guerras que teve de sustentar até o Senhor colocar os seus inimigos debaixo dos seus pés, não pôde levantar um templo ao nome do Senhor seu Deus. Mas agora o Senhor meu Deus deu-me paz por todo o lado; não tenho inimigos nem ameaça de desgraça. Por isso, é minha intenção edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus, conforme o Senhor falara já a David, meu pai, dizendo: ‘O teu filho, que Eu porei no trono em teu lugar, construirá uma casa ao meu nome.’ Manda, pois, cortar-me cedros do Líbano; os meus operários trabalharão com os teus; eu pagarei aos teus o salário que tu entenderes; é que, como sabes, entre nós não há quem saiba cortar cedros como os homens de Sídon.» Apenas Hiram ouviu as palavras de Salomão, logo se encheu de alegria, e disse: «Bendito seja hoje o Senhor que deu a David um filho sábio para governar este povo tão numeroso!» E Hiram mandou dizer a Salomão: «Ouvi a mensagem que me enviaste; dar-te-ei toda a madeira de cedro e cipreste que quiseres. Os meus servos farão descer a madeira do Líbano até ao mar; vou mandar levá-la em jangadas pelo mar até ao sítio que tu me indicares e lá, então, as desembarcarei e tu as mandarás receber. Por tua parte, é meu desejo que forneças de víveres a minha casa.» Hiram deu, pois, a Salomão toda a madeira de cedro e de cipreste que ele pretendia. Salomão deu a Hiram vinte mil coros de trigo para sustento da sua casa e dez mil coros de óleo bruto; isto era o que Salomão fornecia todos os anos a Hiram. O Senhor concedeu sabedoria a Salomão conforme lhe tinha prometido. Houve paz entre Hiram e Salomão e estabeleceram entre si uma aliança. O rei Salomão estabeleceu em todo o Israel uma corveia que constava de trinta mil operários. Enviava-os ao Líbano em turnos de dez mil por mês; passavam um mês no Líbano e dois em suas casas. O chefe da corveia era Adoniram. Salomão tinha ainda ao seu serviço setenta mil carregadores e oitenta mil cortadores de pedra na montanha. Isto, sem contar três mil e trezentos contramestres, que presidiam aos vários trabalhos. O rei ordenou que extraíssem grandes pedras escolhidas, destinadas aos alicerces do templo, pedras de talha. Os canteiros de Salomão e os de Hiram, juntamente com os de Guebal, lançaram-se ao corte e à preparação das madeiras e pedras para a construção do templo. No ano quatrocentos e oitenta após a saída dos filhos de Israel do Egipto, no quarto ano do reinado de Salomão sobre Israel, no mês de Ziv, que é o segundo mês do ano, começou a edificar-se o templo do Senhor. O templo que o rei Salomão construiu ao Senhor media sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta de altura. O pórtico à entrada do templo media vinte côvados de comprimento no sentido da largura do templo e dez côvados de largura, no sentido do prolongamento do templo. Colocou no templo janelas com grades de madeira. Encostados aos muros do templo, mesmo à volta, construiu andares que rodeavam os muros do templo, o pórtico e o santuário; deste modo cercou toda a casa de andares laterais. O andar inferior media cinco côvados de largura, o segundo, seis e o terceiro, sete; estas reduções na parte exterior eram para evitar que as vigas penetrassem mesmo nos muros do edifício. Na construção do templo só se empregaram pedras lavradas na pedreira; deste modo, durante os trabalhos de construção, nenhum ruído se ouvia, nem de martelo, nem de cinzel, nem de qualquer outra ferramenta. A porta do andar inferior ficava do lado direito do edifício; subia-se por uma escada em espiral ao andar do meio e, deste, ao terceiro. Tendo acabado de construir o templo, Salomão adornou-o com tábuas e forro de cedro. Levantou andares à volta de todo o edifício, com cinco côvados de altura cada um, e ligou-os ao templo por traves de cedro. Então a palavra do Senhor foi dirigida assim a Salomão: «Por estares a construir este templo, se guardares as minhas leis, cumprires os meus mandamentos e observares todos os meus preceitos, guiando-te por eles, cumprirei em ti todas as promessas que fiz a teu pai David. Habitarei no meio dos filhos de Israel, sem nunca abandonar Israel, meu povo.» Salomão acabou de edificar o templo. Depois revestiu o interior das paredes do edifício com placas de cedro, do pavimento ao tecto. Revestiu assim todo o interior com madeiras de cedro e recobriu o pavimento com placas de cipreste. Em seguida revestiu com placas de cedro, desde o solo aos tectos, o espaço de vinte côvados que forma o fundo do templo. Ele transformou o interior do edifício em lugar santíssimo, o Santo dos Santos. Os restantes quarenta côvados, esses constituíam a parte interior do templo. Todo o interior do edifício era revestido de cedro em tábuas entalhadas com flores e frutos; tudo era de cedro, não se via pedra alguma. Construiu o santuário ao fundo, no interior do templo, para colocar lá a Arca da aliança do Senhor. O santuário media vinte côvados de comprimento, vinte de largura e vinte de altura. Salomão fez um altar de madeira de cedro para a frente do santuário e revestiu de ouro todo o interior do templo; diante do santuário, que também estava revestido de ouro puro, havia umas correntes de ouro. Revestiu de ouro fino todo o edifício de alto a baixo e recobriu também de ouro o altar que estava diante do santuário. No santuário colocou dois querubins de pau de oliveira, que mediam dez côvados de altura. Uma asa de um querubim media cinco côvados; a outra asa, cinco côvados; deste modo, da extremidade de uma asa à extremidade da outra iam dez côvados. O segundo querubim media também, no total, dez côvados; a dimensão e a forma dos dois querubins eram iguais. A altura do primeiro querubim era de dez côvados; a do segundo era igual. Colocou os querubins no meio do templo, no seu interior. Os querubins tinham as asas estendidas. A asa do primeiro querubim tocava na parede, a do segundo tocava na outra parede. As duas asas dos querubins que ficavam para dentro tocavam-se uma à outra. Revestiu também com placas de ouro os querubins. Em todos os muros do templo mandou esculpir por dentro e por fora querubins, palmas e flores. Revestiu de ouro por dentro e por fora o pavimento do templo. À entrada do santuário colocou batentes de madeira de oliveira, cujo enquadramento com as ombreiras formava a quinta parte do muro. Nos dois batentes de madeira de oliveira fez esculpir querubins, palmas e flores, revestindo-as de ouro; também cobriu de ouro tanto os querubins como as palmas. Para as portas do templo fez também batentes de madeira de oliveira, que ocupavam a quarta parte do muro, assim como dois batentes em madeira de cipreste; dois painéis móveis para o primeiro e outros dois para o segundo. Mandou esculpir nelas, igualmente, querubins, palmas e botões de flor, revestindo tudo a ouro. Construiu depois o átrio interior: três ordens de pedra lavrada, e uma ala de traves de cedro. No quarto ano do seu reinado, no mês de Ziv, foram lançadas as bases do templo do Senhor. No décimo primeiro ano, no mês de Bul, que é o oitavo mês, acabou de se construir o templo em todo o seu conjunto e pormenores. Salomão construiu-o em sete anos. Salomão edificou também o seu palácio; foram precisos treze anos para terminar a construção. Levantou a “Casa da Floresta do Líbano”: cem côvados de comprimento, cinquenta de largura e trinta de altura. Estava construída sobre quatro ordens de colunas de cedro, com traves de cedro sobre as colunas. Forrou de cedro o tecto dos quartos que assentavam nas colunas, em número de quarenta e cinco, ou seja, quinze colunas em cada ordem. É que havia três naves com janelas em correspondência umas com as outras. Todas estas portas com as suas vigas eram de forma quadrada, e as janelas correspondiam umas às outras. Levantou um pórtico de colunas com cinquenta côvados de comprimento e trinta de largura, à frente do qual construiu um vestíbulo de colunas com degraus. Fez a sala do trono onde administrava a justiça: era a Sala do Juízo, que revestiu de cedro desde o pavimento ao tecto. A casa onde ele morava, construída no segundo átrio atrás do pórtico, era de construção semelhante. Para a filha do faraó do Egipto com quem casara, mandou também construir uma casa semelhante ao pórtico. Todas estas construções eram em pedra lavrada, cortada sob justa medida, e trabalhada à serra na face anterior e posterior; era assim a pedra desde os alicerces às cornijas, e no exterior, até ao grande átrio. Quanto aos alicerces, eram também de pedras escolhidas: pedras grandes, de dez e de oito côvados. Por cima dos alicerces havia igualmente pedras escolhidas de grande dimensão, cortadas sob justa medida, e traves de cedro. No muro em volta do grande pátio havia três ordens de pedra lavrada e uma fileira de vigas de cedro; o mesmo se diga do pátio interior do templo do Senhor e seu vestíbulo. Salomão enviou arautos a Tiro para trazerem Hiram. Este era filho de uma mulher viúva, da tribo de Neftali, e seu pai era de Tiro. Hiram era dotado de grande sabedoria, inteligência e habilidade para fabricar toda a espécie de trabalhos em bronze; ele apresentou-se ao rei Salomão e executou-lhe todos os trabalhos. Fundiu duas colunas de bronze; a primeira media dezoito côvados de altura; para rodear a segunda, era preciso um fio de doze côvados. Fundiu dois capitéis de bronze para pôr no cimo das colunas; um media cinco côvados de altura e o outro, igualmente cinco côvados. Estavam ornados com redes de malha de grinaldas em forma de cadeia; sete para o primeiro capitel e sete para o segundo. Fez igualmente duas fileiras de romãs em volta das redes para cobrir os capitéis que cobriam as colunas. Os capitéis que estavam no cimo das colunas do átrio, esses tinham a forma de lírio, com quatro côvados. Os capitéis postos no cimo das duas colunas erguiam-se sobre a parte mais espessa da coluna, além da rede; em redor dos dois capitéis havia duzentas romãs dispostas em círculo. Colocou estas duas colunas junto do pórtico do templo; à da direita chamou-lhe Jaquin, e à da esquerda, Booz. Sobre as colunas colocou remates em forma de lírio; assim terminou em beleza o trabalho das colunas. Hiram fundiu também um mar de bronze, que media dez côvados de diâmetro e tinha forma circular; a sua altura era de cinco côvados; a sua circunferência media-se com fio de trinta côvados. Por baixo da borda havia saliências de talha, em número de dez por cada côvado; cercavam o mar em toda a volta; ficavam dispostas em duas ordens; tinham sido fundidas no mesmo metal que o mar, formando uma só peça. O mar assentava em doze bois de bronze, voltados para fora; três deles olhavam para o norte, três, para o ocidente; três, para o sul e três, para o oriente. O mar apoiava-se sobre eles, e a parte posterior dos seus corpos ocultava-se para o lado de dentro. A sua espessura media uma mão, e a sua borda assemelhava-se à de uma taça em forma de lírio; podia levar dois mil batos. Hiram fez também dez suportes de bronze. Cada suporte media quatro côvados de comprimento, quatro de largura e três de altura. Eis como eram feitos os suportes: eram trabalhados a cinzel, com molduras entre as junturas. Sobre as placas, entre as molduras, havia leões, bois e querubins; por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas à maneira de festões. Cada suporte tinha quatro rodas de bronze, com eixos também de bronze, e nos quatro cantos havia suportes fundidos, por baixo das grinaldas, segurando a bacia. No interior do remate dos pilares havia uma bacia, de um côvado de altura; era cilíndrica e media um côvado e meio de diâmetro; era ornada de várias esculturas e os seus suportes não eram redondos, mas quadrados. Debaixo destes estavam as quatro rodas, cujos eixos se fixavam à base; cada roda media côvado e meio de altura. As rodas eram feitas como as rodas de um carro; os eixos, as jantes, os raios e os cubos, tudo era fundido. Nos quatro ângulos de cada pedestal, e unidos a ele, havia quatro suportes. A parte superior do pedestal era de forma circular, medindo meio côvado de altura; os seus suportes formavam uma só peça com as pedras lavradas. Nas placas dos seus suportes e das pedras lavradas, bem como nos espaços vazios, mandou esculpir querubins, leões, palmas e grinaldas circulares. Fez assim os dez pedestais, todos fundidos da mesma maneira, com as mesmas dimensões e de igual decoração. Fundiu também dez bacias de bronze, cada uma das quais levava quarenta batos. Cada uma media quatro côvados e assentava sobre um dos dez pedestais. Colocou cinco pedestais do lado direito do templo, e os outros cinco, do lado esquerdo. O mar colocou-o no lado direito do edifício, no canto sudeste. Hiram fez também bacias, pás e bacias de aspersão. Concluiu, pois, toda a obra que o rei Salomão lhe mandou fazer para o templo doSenhor, a saber: duas colunas e dois capitéis esféricos para pôr no cimo das colunas; duas redes para cobrir os capitéis esféricos na parte superior das colunas; quatrocentas romãs para as redes, sendo duas fileiras de romãs para cada rede que cobria os capitéis; dez suportes de bacias; dez bacias por cima dos carros; o mar e os doze bois para ficarem como suporte do mar; caldeirões, pás e bacias de aspersão. Todos estes objectos eram feitos de bronze polido, seguindo a ordem dada por Salomão para o templo do Senhor. O rei mandou-os fundir em moldes de terra argilosa, no vale do Jordão, entre Sucot e Sartan. Então Salomão fez colocar no seu lugar todos estes objectos; eram em tão grande número que o seu peso em bronze nem sequer pôde ser calculado. Salomão mandou fabricar ainda todos os utensílios para o templo do Senhor, o altar de ouro, a mesa de ouro sobre a qual se punham os pães da oferenda; os candelabros de ouro fino, cinco à direita e cinco à esquerda, diante do santuário, e as lâmpadas e os espevitadores de ouro; os copos, as facas, as bacias, as colheres, os cinzeiros de ouro fino e os gonzos de ouro para os batentes da porta do Santo dos Santos e para as portas do santuário. Assim concluiu Salomão todos os trabalhos empreendidos para a construção do templo do Senhor. Mandou trazer, ainda, as coisas que David, seu pai, tinha consagrado: a prata, o ouro e os utensílios; e colocou tudo no templo do Senhor. Então Salomão reuniu junto de si em Jerusalém os anciãos de Israel. Todos os chefes das tribos, os chefes das famílias dos filhos de Israel, para transladarem da cidade de David, em Sião, a Arca da aliança do Senhor. Todos os homens de Israel se reuniram na presença do rei Salomão no mês de Etanim, que é o sétimo mês, durante a festa solene. Quando todos os anciãos de Israel acabaram de chegar, os sacerdotes transportaram a Arca. Fizeram subir a Arca do Senhor, a tenda da reunião, com todos os utensílios sagrados que estavam na tenda; foram os sacerdotes e os levitas quem a transportou. O rei Salomão e toda a assembleia de Israel reunida junto dele caminhavam à frente da Arca e iam sacrificando tão grande quantidade de ovelhas e bois que não se podiam contar nem enumerar. Os sacerdotes levaram a Arca da aliança do Senhor para o seu lugar no santuário do templo, o Santo dos Santos, sob as asas dos querubins. Com efeito, os querubins estendiam as suas asas sobre o lugar da Arca, cobrindo-a e aos seus varais com suas asas. Os varais eram tão longos que, mesmo assim, as suas extremidades se podiam ver do lugar santo, que precede o Santo dos Santos; de fora, porém, ninguém as conseguia ver. E ainda hoje ali se encontram. Na Arca não havia senão as duas tábuas de pedra que Moisés lá colocara no monte Horeb, quando o Senhor concluiu a Aliança com os filhos de Israel, ao saírem da terra do Egipto. Quando os sacerdotes saíram do santuário, a nuvem encheu o templo do Senhor. Deste modo, os sacerdotes não puderam ficar ali para exercerem o seu ministério, por causa da nuvem, já que a glória do Senhor enchia o templo do Senhor. Disse então Salomão: «O Senhor escolheu habitar em nuvem escura! Por isso é que eu te edifiquei um palácio, um lugar onde habitarás para sempre.» Depois, o rei voltou-se para a assembleia de Israel e abençoou toda a assembleia de Israel, que se mantinha de pé. E disse: «Bendito seja o Senhor Deus de Israel que por sua boca falou a meu pai David, e por sua mão acaba de cumprir a promessa que lhe fez quando disse: ‘Desde o dia em que fiz sair Israel, meu povo, do Egipto, não escolhi cidade alguma de entre as tribos de Israel, onde fosse edificada uma casa para que ali estivesse o meu nome; mas escolhi David para reinar sobre o meu povo de Israel.’ David, meu pai, teve o desejo de edificar um templo ao nome do Senhor, Deus de Israel. O Senhor, porém, disse a David, meu pai: ‘Tu tiveste o desejo de construir um templo ao meu nome; e fizeste bem. Porém, não serás tu a edificar esse templo, mas um teu filho, nascido de ti, é que há-de construir um templo ao meu nome!’ O Senhor cumpriu a palavra que dissera: eu sucedi a David, meu pai, e sentei-me no trono de Israel, como o Senhor tinha dito; edifiquei este templo ao nome do Senhor, Deus de Israel. Nele destinei um lugar para a Arca, onde se encontra a Aliança do Senhor, Aliança que Ele concluiu com nossos pais quando os fez sair da terra do Egipto.» Depois, Salomão colocou-se diante do altar do Senhor, perante toda a assembleia de Israel; levantou as mãos para o céu e disse: «Senhor, Deus de Israel, não há Deus semelhante a ti, nem no mais alto dos céus nem cá em baixo, na terra, para guardar a misericordiosa Aliança para com os servos, que andam na tua presença, de todo o coração. Tu cumpriste sempre as tuas promessas para com o teu servo David, meu pai. Tudo o que disseste com a tua boca, tudo isso cumpriste com a tua mão, como hoje se vê. Agora, Senhor, Deus de Israel, realiza as promessas que fizeste ao teu servo David, meu pai, quando lhe disseste: ‘Nunca mais deixará de sentar-se diante de mim, no trono de Israel, alguém da tua estirpe, desde que os teus filhos tenham o cuidado de velar pela sua conduta, caminhando na minha presença, como tu mesmo o fizeste sempre.’ Que agora se cumpra, ó Deus de Israel, a promessa que fizeste ao teu servo David, meu pai. Será que Deus poderia mesmo habitar sobre a terra? Pois se nem os céus nem os céus dos céus te conseguem conter! Quanto menos este templo que eu edifiquei? Mesmo assim, atende, Senhor, meu Deus, a oração e as súplicas do teu servo. Escuta o grito e a prece que o teu servo hoje te dirige. Estejam os teus olhos abertos dia e noite sobre este templo, sobre este lugar do qual disseste: ‘Aqui estará o meu nome.’ Ouve a oração que o teu servo te faz neste lugar. Escuta a súplica do teu servo e a do teu povo, Israel, quando aqui orarem. Ouve-os do alto da tua mansão, no céu; ouve-os e perdoa! Se alguém pecar contra o seu próximo e, ao ser-lhe imposto um juramento de maldição, vier fazê-lo diante do teu altar, neste templo, Tu o ouvirás lá do alto dos céus, exercerás a justiça entre os teus servos, condenando o culpado, fazendo cair a sua culpa sobre a sua cabeça, absolvendo o justo e compensando-o segundo a justiça. Quando Israel, teu povo, for derrotado pelos seus inimigos, por ter pecado contra ti, se ele voltar para ti glorificando o teu nome, se rezar e suplicar neste templo, escuta-o lá do céu, perdoa o pecado de Israel, teu povo, e recondu-lo à terra que deste a seus pais. Quando o céu se fechar e não houver mais chuva porque o povo pecou contra ti, se ele se voltar para este lugar em oração, der glória ao teu nome e se arrepender do seu pecado por causa da aflição que lhe decretaste, ouve-o lá do céu, perdoa o pecado dos teus servos e de Israel, teu povo; ensina-lhes o bom caminho que devem seguir, e manda chuva sobre a terra que deste em herança ao teu povo. Quando cair sobre a terra a fome, a peste, a ferrugem, o tumor maligno e os gafanhotos; quando o inimigo sitiar o povo nas cidades, quando houver seja que flagelo for ou epidemia, se um homem ou o teu povo, seja qual for o motivo da sua oração ou da sua súplica, tomar consciência do flagelo que atinge a sua vida e estender as mãos para este templo, Tu escuta-os lá do céu, o lugar onde habitas, perdoa-lhes e trata-os segundo a sua atitude. Tu conheces o seu íntimo; só Tu, de facto, conheces o coração de todos os homens. Assim, os filhos de Israel te hão-de temer enquanto viverem sobre a terra que deste a nossos pais. Até o estrangeiro, que não pertence ao teu povo de Israel, se ele vier de um país longínquo, por causa do teu nome, se ouvir falar por toda a parte da grandeza do teu nome, da força da tua mão e do poder do teu braço, se esse homem vier rezar a este templo, Tu ouve-o lá do céu, a casa onde habitas, atende a tudo quanto te pedir esse estrangeiro. Assim, todos os povos da terra hão-de conhecer o teu nome, como Israel, o teu povo; hão-de temer-te e ficarão a saber que o teu nome é invocado neste templo que eu edifiquei. Quando o teu povo partir para a guerra contra os seus inimigos pelo caminho que lhe tiveres indicado, se te rezarem voltados para a cidade que escolheste, para o templo que ergui ao teu nome, ouve do alto dos céus as suas orações e súplicas e faz-lhes justiça. Quando os filhos de Israel tiverem pecado contra ti – porque não há ninguém sem pecado – e estiveres irritado contra eles até os entregares nas mãos dos seus inimigos a ponto de serem levados prisioneiros pelos seus vencedores para um país inimigo, próximo ou longínquo; se na terra do seu exílio, entrando em si, se arrependerem dos seus pecados e, cativos, te suplicarem desta maneira: ‘Pecámos, cometemos a iniquidade, procedemos mal’, se eles se voltarem para ti de todo o coração e de toda a sua alma, na terra dos seus inimigos para onde foram levados prisioneiros, e orarem a ti de rosto voltado para a terra que deste a seus pais, para esta cidade que escolheste, para este templo que eu ergui ao teu nome, ouve do alto dos céus, do alto da tua mansão, as suas orações e súplicas; faz-lhes justiça! Perdoa ao teu povo todos os pecados e as ofensas que cometeram contra ti. Infunde misericórdia nos que os retêm cativos a fim de que tenham compaixão deles. É que Israel é o teu povo e a tua herança que fizeste sair do Egipto, de uma fornalha de fundir ferro! Que os teus olhos se abram às súplicas dos teus servos e do povo de Israel, para os ouvires quando te invocarem! Foste Tu, ó Senhor Deus, que os escolheste de entre todos os povos da terra como tua herança, como declaraste pela boca do teu servo Moisés quando fizeste sair os nossos pais do Egipto!» Logo que Salomão acabou de dirigir ao Senhor esta oração de súplica, levantou-se diante do altar do Senhor, onde estivera prostrado de joelhos e de mãos erguidas ao céu. De pé, abençoou toda a assembleia de Israel, dizendo em voz alta: «Bendito seja o Senhor que deu um lugar de repouso a Israel, seu povo, tal como tinha dito; nenhuma de todas as boas palavras que tinha dito pela boca de Moisés, seu servo, ficou sem efeito. Que o Senhor, nosso Deus, esteja connosco como esteve com os nossos pais, que Ele não nos deixe nem nos abandone; que incline para Ele os nossos corações, a fim de que andemos sempre pelos seus caminhos, observando os seus mandamentos, as leis e os costumes que prescrevera a nossos pais. Que estas súplicas, que eu acabo de dirigir ao Senhor, estejam dia e noite em sua presença, de modo que dia a dia Ele faça justiça ao seu servo e ao seu povo de Israel. Assim, todos os povos da terra hão-de reconhecer que o Senhor é que é Deus, e que não há outro Deus além dele. Que o vosso coração esteja integralmente com o Senhor, nosso Deus, a fim de viverdes segundo as suas leis e guardardes os seus mandamentos, como o fazeis hoje.» O rei e todo o Israel com ele imolaram vítimas diante do Senhor. Salomão ofereceu ao Senhor em sacrifício de comunhão vinte e duas mil cabeças de gado graúdo e cento e vinte mil cabeças de gado miúdo. Foi assim que o rei e todos os filhos de Israel realizaram a dedicação do templo do Senhor. Nesse dia, o rei consagrou o interior do átrio que fica em frente do templo do Senhor; foi lá, de facto, que ele ofereceu os holocaustos, as oferendas, assim como a gordura dos sacrifícios de comunhão; pois o altar de bronze que fica diante do Senhor era pequeno de mais para comportar os holocaustos, as oferendas e a gordura dos sacrifícios de comunhão. Foi nesse tempo que Salomão celebrou a festa e, com ele, todo o Israel; era uma grande assembleia vinda de Lebó-Hamat até à torrente do Egipto. Permaneceram perante o Senhor, nosso Deus, durante sete dias mais sete dias, ou seja, catorze dias. No oitavo dia, Salomão despediu o povo; então saudaram o rei e retiraram-se para as suas tendas, exultando de alegria em seus corações por todo o bem que o Senhor fizera a David, seu servo, e a Israel, seu povo. Quando Salomão acabou de construir o templo do Senhor, o palácio real e tudo quanto lhe aprouve, o Senhor apareceu-lhe uma segunda vez, como lhe tinha aparecido em Guibeon. O Senhor disse-lhe: «Ouvi a tua oração e a súplica que me dirigiste; esta casa que tu me construíste, Eu a consagrei a fim de nela colocar o meu nome para sempre; os meus olhos e o meu coração aí ficarão eternamente. Quanto a ti, se andares na minha presença, como David, teu pai, de coração íntegro e sincero, praticando tudo quanto te ordenei, observando os meus mandamentos e as minhas leis, manterei para sempre o teu trono real sobre Israel, como prometi a David, teu pai, dizendo: ‘Haverá sempre um descendente teu no trono de Israel.’ Se, porém, vós e os vossos filhos acabardes por vos afastar de mim, se não guardardes os meus mandamentos e as minhas leis, que Eu estabeleci diante de vós, se fordes servir outros deuses, dobrando o joelho diante deles, então Eu exterminarei Israel da face da terra que lhe dei, lançarei para longe de mim o templo que consagrei ao meu nome, e Israel se transformará em sarcasmo e zombaria para todos os povos. Este templo que é tão grandioso, quem passar perto dele há-de ficar estupefacto, exclamando: ‘Por que razão terá o Senhor tratado assim esta terra e este templo?’ E lhes hão-de responder: ‘Foi porque abandonaram o Senhor, seu Deus, que fez sair seus pais do Egipto; porque seguiram outros deuses, dobrando o joelho diante deles e os adoraram. Por isso é que o Senhor lhes mandou toda essa desgraça.’» Passados, pois, os vinte anos durante os quais Salomão construiu as duas casas, o templo do Senhor e o palácio do rei – Hiram, rei de Tiro, fornecera-lhe as madeiras de cedro e de cipreste, e ouro quanto ele quis – então o rei Salomão deu a Hiram vinte cidades na terra da Galileia. Hiram saiu de Tiro para ver as cidades que Salomão lhe tinha dado; mas não lhe agradaram. E disse: «Que cidades me tinhas tu de dar, meu irmão!» E chamou-lhes terra de Cabul, nome que lhes ficou até ao dia de hoje. Hiram enviou ao rei cento e vinte talentos de ouro. É esta a relação dos trabalhos que o rei Salomão levou a efeito para a construção do templo do Senhor, do seu palácio, de Milo, da muralha de Jerusalém, de Haçor, de Meguido e de Guézer. O faraó, rei do Egipto, pusera-se em marcha e conquistou Guézer, que incendiou; depois de ter morto os cananeus que nela viviam, deu-a em dote à filha, esposa de Salomão; Salomão reconstruiu Guézer, Bet-Horon de Baixo, Baalat, Tamar, na região do deserto, bem como todas as cidades da circunscrição, que lhe pertenciam, cidades para os carros, para a cavalaria, numa palavra, tudo o que lhe aprouve edificar em Jerusalém, no Líbano e em todas as terras do seu domínio. Restava apenas um conjunto de povos amorreus, heteus, perizeus, heveus e jebuseus, que não faziam parte dos filhos de Israel. Os seus filhos, que ficaram no país depois deles e que os filhos de Israel não tinham conseguido votar à destruição, a esses recrutou-os Salomão para trabalhos pesados, como estão ainda hoje. Dos filhos de Israel, Salomão não destinou nenhum à escravatura, pois eram homens de guerra, seus chefes, seus escudeiros, comandantes dos seus carros e da sua cavalaria. Havia quinhentos e cinquenta inspectores dos trabalhos de Salomão, cujo encargo era vigiar os operários. A filha do Faraó saiu da cidade de David e veio para a casa que lhe tinha construído Salomão; foi só então que ele edificou Milo. Três vezes por ano, Salomão oferecia holocaustos e sacrifícios de comunhão sobre o altar que tinha construído ao Senhor, e queimava incenso sobre o altar que estava diante do Senhor. Concluiu deste modo o templo. Salomão construiu uma frota em Ecion-Guéber, que fica junto de Elat, na margem do Mar dos Juncos, no país de Edom. Hiram mandou os seus servos nesta frota, marinheiros peritos em náutica, com os homens de Salomão. Chegaram a Ofir, donde trouxeram quatrocentos e vinte talentos de ouro, que levaram ao rei Salomão. A rainha de Sabá, tendo ouvido falar da fama que Salomão alcançara para glória ao Senhor, veio pô-lo à prova por meio de enigmas. Chegou a Jerusalém com um séquito muito importante, com camelos carregados de aromas, enorme quantidade de ouro e pedras preciosas. Tendo-se apresentado a Salomão, falou-lhe de tudo quanto trazia na ideia. Salomão respondeu-lhe a tudo; nenhuma questão foi tão enredada que o rei lhe não desse solução. A rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão bem como a casa que ele tinha construído; viu as provisões da sua mesa e o alojamento dos seus criados, as habitações e os uniformes dos seus oficiais, os copeiros do rei e os holocaustos que imolava no templo do Senhor, e ficou deslumbrada. Disse então ao rei: «É realmente verdade o que tenho ouvido na minha terra acerca das tuas palavras e da tua sabedoria. Não quis acreditar nisso antes de vir aqui e ver com meus próprios olhos; ora o que me diziam não era sequer metade; tu ultrapassas em sabedoria e dignidade tudo quanto até mim tinha chegado. Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, a quem aprouve colocar-te sobre o trono de Israel. É porque o Senhor ama Israel com amor eterno que Ele te constituiu rei para exercer o direito e a justiça.» Depois ela deu ao rei cento e vinte talentos de ouro e grande quantidade de perfumes e pedras preciosas. Jamais se tinha acumulado tão grande quantidade de perfumes como os que a rainha de Sabá ofereceu ao rei Salomão. A frota de Hiram que trazia o ouro de Ofir trouxe também grande quantidade de madeira de sândalo e pedras preciosas. Com esta madeira de sândalo, o rei fez corrimões para o templo do Senhor e para o palácio real, assim como cítaras e harpas para os cantores; jamais para ali tinha vindo tanta madeira de sândalo, nem tanta se viu ali até ao dia de hoje. Por sua parte, o rei deu à rainha de Sabá tudo quanto ela quis e lhe pediu, sem contar já os presentes que Salomão lhe ofereceu, com a magnificência de um rei como ele. O peso de ouro que anualmente chegava às mãos de Salomão atingia os seiscentos e sessenta e seis talentos, sem contar o tributo que recebia dos grandes e pequenos comerciantes, dos reis da Arábia e de todos os governadores do país. O rei Salomão mandou fazer duzentos escudos de ouro fino, para cada um dos quais era preciso empregar seiscentos siclos de ouro; e trezentos escudos mais pequenos, igualmente em ouro fino, para cada um dos quais eram precisas três minas de ouro; colocou-os depois na casa da Floresta do Líbano. O rei mandou fazer também um trono de marfim, revestido de ouro fino. Esse trono tinha seis degraus; a parte superior, o dossel, era redondo; de cada lado do assento havia dois braços; ao lado dos braços, dois leões. De cada lado dos seis degraus, outros doze leões. Nada de semelhante jamais fora feito em nenhum outro reino. Todas as taças do rei Salomão eram de ouro, e de ouro fino eram igualmente todas as taças da Floresta do Líbano; nenhuma era de prata; esta não tinha qualquer valor nos tempos de Salomão. O rei tinha no mar uma frota de naus de Társis a navegar com a frota de Hiram; de três em três anos chegavam de Társis os navios carregados de ouro e prata, de dentes de elefante, macacos e pavões. Assim, o rei Salomão tornou-se o maior de todos os reis da terra, em riqueza e sabedoria. Toda a terra ansiava por ver a face de Salomão, para poder ouvir a sabedoria que Deus tinha derramado no seu coração. Todos lhe traziam as suas ofertas: objectos de prata e de ouro, vestuário, armas, aromas, cavalos e burros; e isto, todos os anos. Salomão reuniu carros e cavaleiros: tinha mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros que levou para as cidades onde tinha cavalaria, e para junto de si, em Jerusalém. Fez com que em Jerusalém a prata fosse tão abundante como as pedras, e os cedros tão numerosos como os sicómoros da planície. Os cavalos de Salomão eram provenientes do Egipto e de Qué; os mercadores do rei compravam-nos em Qué. Um carro trazido do Egipto ficava-lhe por seiscentos siclos de prata, e um cavalo, por cento e cinquenta siclos; e assim era também para todos os reis hititas e dos arameus, que os adquiriam por intermédio dos seus mercadores. O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras: a filha do Faraó e além disso moabitas, amonitas, edomitas, sidónias e hititas. Eram oriundas de povos de quem o Senhor dissera aos filhos de Israel: «Não tomareis deles mulheres para vós nem eles se casarão com as vossas, porque certamente haviam de perverter os vossos corações, arrastando-os para os seus deuses.» Foi precisamente a estes povos que Salomão se ligou, por causa dos seus amores. Teve setecentas esposas de sangue nobre e trezentas concubinas. Foram as suas mulheres que lhe perverteram o coração. Na idade senil de Salomão, as suas mulheres desviaram-lhe o coração para outros deuses; e assim o seu coração já não era inteiramente do Senhor, seu Deus, contrariamente ao que sucedeu com David, seu pai. Foi atrás de Astarté, deusa dos sidónios, e de Milcom, abominação dos amonitas. Salomão fez o mal aos olhos do Senhor e não seguiu inteiramente o Senhor, como David, seu pai. Por essa altura, ergueu Salomão um lugar alto a Camós, deus de Moab e a Moloc, ídolo dos amonitas, sobre o monte que fica mesmo em frente de Jerusalém. E fez o mesmo por todas as suas mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e sacrificavam aos seus deuses. O Senhor irritou-se contra Salomão, pois o seu coração se afastara do Senhor, Deus de Israel, que se lhe tinha revelado por duas vezes, e lhe ordenou sobre estas coisas para não seguir os deuses estrangeiros. Ele, porém, não cumpriu o que o Senhor lhe prescrevera. Então o Senhor disse-lhe: «Já que procedeste assim e não guardaste a minha aliança nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e vou dá-lo a um dos teus servos. Entretanto, não o farei durante a tua vida, por causa de David teu pai; é das mãos de teu filho que Eu o arrancarei. Mas não hei-de tirar-lhe toda a realeza: deixarei uma tribo ao teu filho, por causa de David, meu servo, e por causa de Jerusalém que Eu escolhi.» O Senhor suscitou um inimigo a Salomão: Hadad, o edomita, da estirpe real de Edom. Isto aconteceu no tempo em que David combatia contra Edom, quando Joab, chefe do exército, foi sepultar os mortos e matou todos os homens de Edom. De facto, Joab demorou-se por ali seis meses com todo o Israel, até ter exterminado todos os varões de Edom. Então Hadad fugiu com os edomitas, servos de seu pai, em direcção ao Egipto. Hadad, por essa altura, era uma criança de poucos anos. Partiram de Madian e caminharam até Paran; dali entraram no Egipto, levando consigo homens de Paran; entraram no Egipto e apresentaram-se ao faraó, rei do Egipto, que lhes deu casa e alimento e lhes doou algumas terras. Hadad conquistou a simpatia do Faraó, e este deu-lhe por mulher a sua cunhada, irmã da rainha Tafnes. A irmã de Tafnes gerou-lhe Guenubat, seu filho, que ela criou na casa do Faraó, onde viveu entre os filhos do próprio Faraó. Hadad ouviu dizer no Egipto que David adormecera com seus pais, e que também morrera Joab, chefe do exército. Por isso, disse ao Faraó: «Deixa-me partir e irei para a minha terra.» O Faraó respondeu-lhe: «Mas que é que te falta em minha casa, para assim desejares regressar tão depressa à tua terra?» E Hadad respondeu: «Não me falta nada; mas, mesmo assim, deixa-me partir.» Deus suscitou-lhe outro inimigo: Rezon, filho de Eliadá, que tinha fugido a seu senhor, Hadad-Ézer, rei de Soba. Reuniu homens à sua volta e tornou-se chefe de quadrilha. Uma vez que David os dizimava, fugiram para Damasco, onde se estabeleceram, e elegeram-no rei de Damasco. Foi inimigo de Israel durante toda a vida de Salomão. Mal que fez Hadad: detestou Israel e reinou em Aram. Também Jeroboão, filho de Nabat, efrateu de Sereda, cuja mãe, viúva, se chamava Serua, apesar de ser servo de Salomão, revoltou-se contra o rei. A razão de ele se ter revoltado contra o rei foi o facto de Salomão ter edificado Milo para tapar as brechas da cidade de David, seu pai. Ora este homem, Jeroboão, era forte e enérgico, e Salomão tinha reparado no jovem quando este andava a trabalhar; encarregou-o, por isso, de exercer vigilância sobre toda a corveia da casa de José. Sucedeu, porém, que, por essa altura, saindo Jeroboão de Jerusalém, o profeta Aías de Silo encontrou-o no caminho. Aías estava coberto com um manto novo, e estavam só os dois no campo. Então, Aías tomou o manto novo com que se cobria e rasgou-o em doze pedaços. E disse a Jeroboão: «Toma dez pedaços para ti, pois assim diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eis que Eu vou tirar o reino das mãos de Salomão e dar-te-ei as dez tribos. Ficar-lhe-á, porém, uma tribo por causa do meu servo David e da cidade de Jerusalém, que Eu escolhi de entre todas as tribos de Israel. É que eles abandonaram-me e prostraram-se diante de Astarté, deusa dos sidónios, de Camós, deus de Moab e de Milcom, deus dos filhos de Amon; não andaram nos meus caminhos nem fizeram o que é recto a meus olhos, segundo as minhas leis e os meus costumes, como fez David, seu pai. Mesmo assim, não tirarei todo o reino das suas mãos, porque o estabeleci firmemente como chefe por todos os dias da sua vida, por causa de David, meu servo, que Eu escolhi e que guardou os meus mandamentos e as minhas leis. Mas vou tirar o reino das mãos de seu filho e dar-to-ei a ti: dez tribos. Darei a seu filho uma tribo, a fim de que o meu servo David tenha sempre uma lâmpada diante de mim na cidade de Jerusalém que escolhi para mim, a fim de estabelecer lá o meu nome. A ti tomar-te-ei para reinares em tudo o que o teu coração desejar; tu serás rei de Israel! Se ouvires tudo o que te mando, andares nos meus caminhos e fizeres o que é recto a meus olhos, guardando as minhas leis e os meus mandamentos, como fez David, meu servo, também Eu estarei contigo e hei-de construir-te uma casa firme, como edifiquei para David: entregarei Israel nas tuas mãos. Humilharei com isso a estirpe de David, mas não será para sempre!’» Salomão procurou matar Jeroboão; mas ele levantou-se e fugiu para o Egipto, para junto de Chichac, rei do Egipto, onde permaneceu até à morte de Salomão. O resto das palavras de Salomão, tudo o que ele fez, a sua ciência, está escrito no Livro dos Anais de Salomão.* A duração do reinado de Salomão em Jerusalém, sobre todo o Israel, foi de quarenta anos. Depois, Salomão morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado na cidade de David, seu pai; seu filho Roboão subiu ao trono no seu lugar. Roboão foi a Siquém, porque todo o Israel se reunira em Siquém para o proclamar rei. Ora, quando Jeroboão, filho de Nabat, teve conhecimento disso encontrava-se ainda no Egipto, pois tinha fugido da presença do rei Salomão e residia no Egipto. Mandaram, pois, chamá-lo; Jeroboão veio com toda a assembleia de Israel para falarem com Roboão, dizendo: «Teu pai tornou pesado o nosso jugo; tu, agora, alivia-nos da pesada escravidão de teu pai, do pesado jugo que ele nos impôs, e nós te serviremos!» Ele respondeu-lhes: «Ide-vos embora; dentro de três dias voltareis à minha presença.» E o povo foi-se embora. Então o rei consultou os anciãos que sempre tinham sido os conselheiros de Salomão, seu pai, enquanto viveu, dizendo: «Que me aconselhais que responda a este povo?» Eles responderam: «Se hoje te fizeres servo deles, se fores condescendente, se lhes falares com palavras agradáveis, eles serão teus servidores por todo o sempre.» O rei, porém, rejeitando o conselho que lhe tinham dado os anciãos, foi aconselhar-se junto dos jovens, seus companheiros de infância, e que estavam então ao seu serviço. E disse-lhes: «A este povo que me disse: ‘Alivia o jugo que teu pai nos impôs’, que me aconselhais vós que responda?» Os jovens, seus companheiros de infância, responderam-lhe, dizendo: «A esse povo que te falou, dizendo: ‘O teu pai tornou pesado o nosso jugo; alivia-nos dele’, responderás assim: ‘O meu dedo mindinho é mais grosso do que os rins do meu pai. Doravante, já que meu pai vos carregou com um jugo pesado, eu vou torná-lo ainda mais pesado; meu pai castigou-vos com açoites; pois eu vos castigarei com azorragues!’» Jeroboão e todo o povo vieram ter com Roboão ao terceiro dia, conforme o rei tinha dito: «Vinde ter comigo ao terceiro dia.» O rei respondeu asperamente ao povo, desprezando o conselho que os anciãos lhe tinham dado, e falou-lhes conforme o aconselharam os jovens dizendo: «Meu pai impôs-vos um jugo muito pesado? Pois eu vos aumentarei ainda o peso! Meu pai castigou-vos com açoites? Pois eu vos castigarei com azorragues!» O rei não ouviu o povo, pois foi este o meio usado indirectamente pelo Senhor para cumprir a sua palavra, que Ele dissera a Jeroboão, filho de Nabat, por meio de Aías de Silo. Todo o Israel viu então que o rei não queria ouvi-los, e replicaram assim ao rei: «Que temos nós a ver com David? Nós não temos herança com o filho de Jessé! Vai para as tuas tendas, Israel! A partir de agora, cuida da tua casa, David!» E Israel foi para as suas tendas. Mas Roboão continuou a reinar sobre os filhos de Israel que ficaram nas cidades de Judá. O rei Roboão delegou Adoram como superintendente dos tributos, mas todo o Israel o apedrejou e ele morreu. Então o rei Roboão saiu precipitadamente no seu carro e fugiu para Jerusalém. Israel esteve em revolta contra a casa de David até ao dia de hoje. Quando todo o Israel teve conhecimento de que Jeroboão tinha regressado, mandaram-no chamar à assembleia e nomearam-no rei sobre todo o Israel. Não houve quem seguisse a casa de David a não ser unicamente a tribo de Judá. Roboão chegou a Jerusalém, reuniu toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, ou seja, cento e oitenta mil guerreiros de elite, para lutar contra a casa de Israel, a fim de restituir o reino a Roboão, filho de Salomão. Foi então que a palavra de Deus foi dirigida ao homem de Deus Chemaías, dizendo: «Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá e Benjamim e ao restante povo e diz-lhes: Assim fala o Senhor, ‘Não façais guerra contra os vossos irmãos, os filhos de Israel! Volte cada qual para a sua casa, pois fui Eu mesmo quem provocou este acontecimento.’» Eles ouviram as palavras do Senhor e voltaram para procederem segundo a palavra do Senhor. Jeroboão edificou Siquém na montanha de Efraim e viveu ali. Depois saiu de lá e edificou Penuel. E disse Jeroboão para consigo: «Como as coisas estão, pode muito bem o reino voltar para a casa de David. Se este povo continua a subir à casa do Senhor que está em Jerusalém para aí oferecer sacrifícios, o coração deste povo é capaz de regressar a Roboão, seu senhor, rei de Judá! Hão-de esmagar-me e regressarão a Roboão, rei de Judá.» Então, o rei deliberou para consigo e mandou fazer dois bezerros de ouro e disse-lhes: «Vós tendes subido a Jerusalém com demasiada frequência. Aqui estão os vossos deuses, ó Israel, aqueles que vos fizeram sair da terra do Egipto.» E colocou um em Betel e o outro em Dan. Nisto consistiu o pecado: o povo pôs-se em marcha à frente de um dos bezerros até Dan. Jeroboão construiu templos nos lugares altos, nomeou sacerdotes de entre a massa do povo, que não eram filhos de Levi. Jeroboão instituiu ainda uma festa no oitavo mês, no décimo quinto dia do mês, como a festa que se celebrava em Judá; ele mesmo subiu ao altar. Assim fez também em Betel, para sacrificar aos bezerros que tinha mandado fazer. Estabeleceu em Betel sacerdotes dos lugares altos que tinha instituído. No décimo quinto dia do oitavo mês, data que por seu arbítrio instituira, subiu ao altar que levantara em Betel; celebrou uma festa para os filhos de Israel e ele mesmo subiu ao altar para queimar o incenso. Estando Jeroboão de pé diante do altar para apresentar um sacrifício, eis que vem de Judá a Betel, por ordem do Senhor, um homem de Deus. Pôs-se a clamar contra o altar, segundo a palavra do Senhor, dizendo: «Altar! Altar! Assim fala o Senhor. Um filho vai nascer à casa de David que se há-de chamar Josias; e ele degolará sobre ti os sacerdotes dos lugares altos que agora queimam sobre ti o incenso; sobre ti serão queimados ossos humanos.» Nesse mesmo dia deu um sinal, dizendo: «Este é o sinal que o Senhor pronunciou: Eis que o altar vai abrir fendas; e vai espalhar-se a cinza que está sobre ele!» Quando ouviu as palavras que o homem de Deus gritou contra o altar em Betel, Jeroboão estendeu o braço contra o altar e disse: «Prendei-o!» Mas a mão que estendera contra o homem de Deus secou-se-lhe, de modo que não a podia mexer. O altar abriu fendas e a cinza que estava sobre ele espalhou-se, conforme o sinal que o homem de Deus tinha dado, por ordem do Senhor. Então o rei disse ao homem de Deus: «Aplaca o Senhor, teu Deus; roga por mim para que eu volte a ter sã a minha mão!» O homem de Deus rogou ao Senhor e a mão do rei voltou para ele, e estava tal como era antes. Então o rei falou ao homem de Deus: «Vem comigo a minha casa para te restabeleceres e dar-te-ei um presente.» O homem de Deus disse ao rei: «Nem que me desses metade da tua casa, eu não iria contigo! E não comerei o pão nem beberei água neste lugar. Pois tal é a ordem que recebi do Senhor, que me disse: ‘Não comerás pão, não beberás água nem regressarás pelo caminho por onde foste.’» E foi-se embora por outro caminho, sem regressar pelo caminho por onde fora para Betel. Morava em Betel um profeta idoso; seus filhos vieram ter com ele e contaram-lhe tudo quanto fizera nesse dia o homem de Deus, em Betel. Todas as palavras que ele dissera ao rei, contaram-nas igualmente ao seu pai. O pai perguntou-lhes: «Por qual caminho foi ele?» Os filhos informaram-no acerca do caminho por onde se fora o homem de Deus vindo de Judá. Disse ele então aos seus filhos: «Selai-me o jumento!» Eles selaram-lho e ele montou. Partiu logo no encalço do homem de Deus e alcançou-o quando ele estava sentado debaixo de um terebinto; e disse-lhe: «És tu o homem de Deus que veio de Judá?» Ele respondeu: «Sou eu mesmo.» Então disse-lhe: «Vem comigo à minha casa, comer um pouco de pão.» Ele respondeu: «Não posso voltar atrás nem ir contigo; não comerei pão, nem beberei água contigo neste lugar. É que o Senhor dirigiu-me a palavra para que não comesse pão aqui nem bebesse água, nem voltasse pelo mesmo caminho por onde vim para aqui.» Disse-lhe então: «Também eu sou profeta como tu, e um anjo disse-me: Palavra do Senhor, ‘Fá-lo voltar contigo para tua casa e fá-lo comer pão e beber água.’» Ele mentia-lhe! O homem de Deus voltou com ele, comeu pão em sua casa e bebeu água. Ora quando eles estavam sentados à mesa, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta que o tinha feito voltar. E o velho profeta clamou ao homem de Deus que tinha vindo de Judá, dizendo: «Assim fala o Senhor, Já que desobedeceste ao Senhor e não guardaste a ordem que o Senhor Deus te deu; já que voltaste atrás, comeste pão e bebeste água no lugar acerca do qual te dissera: ‘Não comerás aí pão, nem beberás água’, o teu cadáver não regressará ao túmulo dos teus pais.» Depois de o homem de Deus ter comido pão e ter bebido, o profeta selou-lhe o jumento e ele partiu. Pelo caminho encontrou um leão, que o matou; o seu cadáver ficou estendido no caminho e, junto dele, o jumento de um lado, e do outro o leão. Eis que então os transeuntes viram o cadáver estendido no caminho e o leão postado junto do cadáver; vieram então contar isso na cidade em que habitara o velho profeta. Ouviu isto o profeta que o tinha feito voltar, e disse assim o homem de Deus: «Este é o homem de Deus que desobedeceu ao Senhor; o Senhor entregou-o ao leão que o dilacerou e matou, segundo a palavra que o Senhor lhe dissera.» E falou com os seus filhos, dizendo: «Selai-me o jumento.» Eles selaram-no. Partiu então e encontrou o cadáver estendido no caminho, tendo a seu lado o jumento e o leão. O leão não devorara o cadáver nem tinha quebrado um osso ao jumento. O profeta tomou o cadáver do homem de Deus, pô-lo sobre o jumento e levou-o. O velho profeta voltou para a cidade para cumprir o luto e sepultá-lo. Depositou o cadáver no seu túmulo e chorou sobre ele, dizendo: «Ai, meu irmão!» Depois de tê-lo sepultado falou aos seus filhos, dizendo: «Quando eu morrer, haveis de me sepultar no túmulo em que está sepultado o homem de Deus; poreis os meus ossos ao lado dos ossos dele. Mas tem de se cumprir inexoravelmente a ameaça que ele gritou como palavra do Senhor contra o altar que está em Betel e contra todos os templos dos lugares altos que há nas cidades da Samaria.» Não obstante estas palavras, Jeroboão não se converteu da sua conduta perversa. Mas continuou a fazer sacerdotes dos lugares altos a homens oriundos da massa do povo; a quem ele queria, consagrava-os e ficavam sacerdotes dos lugares altos. Nisto é que consistiu o pecado da casa de Jeroboão; por isso é que ela foi destruída e desapareceu da face da terra. Por essa altura, Abias, filho de Jeroboão, caiu doente. Jeroboão disse pois à sua esposa: «Levanta-te, por favor, disfarça-te, para que não reconheçam que és a mulher de Jeroboão, e vai a Silo; lá se encontra Aías, o profeta; ele disse de mim que eu hei-de reinar sobre este povo. Leva contigo dez pães, bolos e um pote de mel e vai ao seu encontro. Ele te contará o que está para acontecer ao rapaz.» A esposa de Jeroboão assim fez. Levantou-se e foi a Silo, à casa de Aías. Ele já não conseguia ver; por causa da velhice, os seus olhos tinham paralisado. O Senhor, porém, falou assim a Aías: «Eis que a esposa de Jeroboão vem à procura de uma palavra tua sobre o seu filho que está doente; dir-lhe-ás assim e assim.» Ao chegar, ela fez-se passar por outra pessoa. Aías, ao ouvir o ruído dos seus pés, quando ela chegava à sua porta, disse-lhe: «Entra, ó mulher de Jeroboão; porque é que te queres fazer passar por outra? Eu fui enviado para te falar com dureza. Vai e diz a Jeroboão: Assim falou o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tirei-te do meio do povo, e estabeleci-te chefe do meu povo de Israel. Eu arrebatei a realeza da casa de David para ta dar a ti; mas tu não foste como o meu servo David, que cumpriu os meus preceitos e os seguiu de todo o coração, fazendo sempre o que era justo aos meus olhos. Mas tu procedeste pior do que todos quantos vieram antes de ti; tu fizeste para ti outros deuses e estátuas, a ponto de me desagradares; a mim, deixaste-me atrás das costas. Por isso, eis que Eu vou lançar uma desgraça sobre a casa de Jeroboão; arrancarei de Jeroboão todos os homens, sejam eles escravos ou sejam homens livres em Israel; vou varrer os descendentes da casa de Jeroboão como se varre o esterco até desaparecer. Quando alguém de Jeroboão morrer na cidade, hão-de comê-lo os cães; e quando alguém morrer no campo, comê-lo-ão as aves do céu, pois que o Senhor falou.’ E tu levanta-te, vai para tua casa; mal teus pés entrem na cidade, morrerá o menino. Todo o Israel o há-de chorar, e lhe darão sepultura; ele será o único da casa de Jeroboão a entrar num túmulo; pois, da casa de Jeroboão, só nele se encontrou algo de bom para o Senhor Deus de Israel. O Senhor suscitará um rei sobre Israel, o qual destruirá a casa de Jeroboão. E isto é para hoje. Melhor, é para já! O Senhor ferirá Israel; tal como se agita nas águas o caniço, Ele arrancará Israel desta boa terra, que dera a seus pais, e o dispersará para além do rio Eufrates, porque ergueram monumentos a Achera, irritando o Senhor. Ele entregará Israel, por causa dos crimes de Jeroboão, os que ele cometeu e os que fez cometer a Israel’.» A esposa de Jeroboão levantou-se, partiu e foi para Tirça; quando chegou ao limiar da porta de casa, o menino morreu. Sepultaram-no e todo o Israel celebrou luto por ele, conforme a palavra do Senhor, transmitida por meio do seu servo, o profeta Aías. O resto dos feitos de Jeroboão, as guerras que fez e o seu reinado, tudo isso está narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. O reinado de Jeroboão durou vinte e dois anos. Depois morreu, juntando-se a seus pais. Sucedeu-lhe no reinado seu filho Nadab. Roboão, filho de Salomão, tornou-se rei em Judá; tinha quarenta e um anos, quando se tornou rei. Reinou dezassete anos em Jerusalém, a cidade que o Senhor escolhera de entre todas as tribos de Israel, para ali colocar o seu nome. O nome de sua mãe era Naamá, a amonita. Ora Judá fez o mal diante dos olhos do Senhor e, com os pecados que cometeu, provocou mais o seu ciúme do que o tinham feito os seus pais com os pecados que cometeram. Edificaram para si lugares altos, altares e monumentos de Achera sobre todas as altas colinas e debaixo de todas as árvores frondosas. Houve mesmo prostituição sagrada no país; procederam segundo todas as abominações dos povos que o Senhor tinha expulsado para longe da face de Israel. No quinto ano do reinado de Roboão, Chichac, rei do Egipto, subiu contra Jerusalém. Apossou-se dos tesouros da casa do Senhor e do palácio real; levou tudo. Levou mesmo os escudos de ouro que Salomão tinha mandado fazer. O rei Roboão mandou então fazer escudos de bronze para os substituir, e entregou-os aos chefes dos corredores que vigiavam a entrada do palácio real. Sempre que o rei ia ao templo do Senhor, os corredores levavam os escudos; depois tornavam a levá-los à sala dos corredores. O resto dos feitos de Roboão, tudo o que ele fez, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Houve sempre guerra entre Roboão e Jeroboão. Roboão morreu, juntando-se a seus pais, e com eles foi sepultado na cidade de David; o nome de sua mãe era Naamá, a amonita; seu filho Abiam tornou-se rei em seu lugar. No décimo oitavo ano do reinado de Jeroboão, filho de Nabat, Abiam tornou-se rei de Judá. Reinou durante três anos sobre Jerusalém. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão. Cometeu todos os pecados que seu pai tinha cometido antes dele; o seu coração não foi integralmente fiel ao Senhor, seu Deus, como fora o de seu pai David. Foi por causa de seu pai David que o Senhor Deus lhe concedeu uma lâmpada em Jerusalém, suscitando-lhe um filho para conservar Jerusalém. Isso foi porque David sempre tinha feito o que é recto aos olhos do Senhor, sem nunca se afastar em nada daquilo que Ele lhe tinha ordenado todos os dias da sua vida, salvo no caso de Urias, o hitita. Houve guerra contínua entre Roboão e Jeroboão, todos os dias da sua vida. O resto da história de Abiam e tudo o que ele fez, tudo isso está escrito nos livros dos Anais dos Reis de Judá*. Houve guerra continuamente entre Abiam e Jeroboão. Depois, Abiam morreu, juntando-se a seu pai, e foi sepultado na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Asa. No vigésimo ano do reinado de Jeroboão, rei de Israel, Asa tornou-se rei de Judá; reinou quarenta e um anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão. Asa fez o que é recto aos olhos do Senhor, como seu pai David. Expulsou do país a prostituição sagrada e suprimiu todos os ídolos que seus pais tinham feito. Chegou mesmo a privar sua mãe Maaca da função de rainha-mãe, por ter levantado um ídolo de Achera; Asa arrancou esse ídolo infame e queimou-o no vale de Cédron. Mas os lugares altos não desapareceram. Mesmo assim, o coração de Asa manteve-se íntegro diante do Senhor durante toda a sua vida. Levou para o templo do Senhor todos os objectos sagrados oferecidos por seu pai e por ele mesmo, a prata, o ouro e os utensílios. Entre Asa e Basa, rei de Israel, houve guerra durante toda a sua vida. Basa, rei de Israel, subiu contra Judá e fortificou Ramá, para impedir todas as suas comunicações com Asa, rei de Judá. Asa tomou toda a prata e ouro que restavam nas reservas do templo do Senhor e do palácio real e depositou-os nas mãos dos seus servos e enviou-os a Ben-Hadad, filho de Tabrimon, filho de Hezion, rei da Síria, que morava em Damasco, para lhe dizer: «Há uma aliança entre mim e ti; entre o meu pai e o teu pai. Envio-te estes presentes de prata e de ouro; peço-te que rompas a tua aliança com Basa, rei de Israel, para que ele se afaste de mim.» Ben-Hadad ouviu o pedido do rei Asa; mandou os seus generais contra as cidades de Israel e devastou Ion, Dan, Abel-Bet-Maacá, toda a região de Quinerot e ainda a terra de Neftali. Ao saber disso, Basa abandonou a fortificação de Ramá e ficou em Tirça. Então o rei Asa convocou toda a tribo de Judá, sem excepção, para recolher as pedras e as madeiras de Ramá que Basa fortificara e com elas fortificou Gueba de Benjamim e Mispá. O resto da história de Asa e tudo o que fez, as suas proezas e as cidades que construiu, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Com a velhice adoeceu dos pés. Depois, Asa morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado com eles na cidade de seu pai David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Josafat. Nadab, filho de Jeroboão tornou-se rei de Israel, no segundo ano de Asa, rei de Judá; reinou durante dois anos em Israel. Fez o mal aos olhos do Senhor; andou pelo caminho de seu pai, imitando os pecados com que ele fizera pecar Israel. Basa, filho de Aías, da casa de Issacar, conspirou contra ele e assassinou-o em frente a Guibeton dos filisteus, na altura em que Nadab e todo o Israel cercava essa cidade. Basa matou Nadab, no terceiro ano de Asa, rei de Judá, e sucedeu-lhe no trono. Logo que subiu ao trono, matou toda a família de Jeroboão, sem lhe deixar viva pessoa alguma; exterminou-os totalmente, conforme a palavra que o Senhor tinha proferido por intermédio do seu servo Aías de Silo, por causa dos pecados que Jeroboão cometera e fizera cometer a Israel, provocando assim a cólera do Senhor, Deus de Israel. O resto da história de Nadab bem como as suas acções, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Houve guerra entre Asa e Basa, rei de Israel, durante toda a sua vida. No terceiro ano de Asa, rei de Judá, Basa, filho de Aías, tornou-se rei em Israel. Reinou em Tirça durante vinte e quatro anos. Fez o mal diante do Senhor, seguindo as pegadas de Jeroboão e imitando os seus pecados, com os quais fizera pecar Israel. A palavra do Senhor foi dirigida a Jeú, filho de Hanani, a propósito de Basa, dizendo: «Uma vez que te levantei do pó e te constituí chefe do meu povo de Israel, mas tu seguiste as pegadas de Jeroboão e fizeste pecar o meu povo de Israel a ponto de me ofender com seus pecados, Eu vou varrer Basa e a sua família, e vou tornar a tua casa como a casa de Jeroboão, filho de Nabat. Qualquer membro da família de Basa que morra na cidade será comido pelos cães, e o que morrer no campo será pasto das aves do céu.» O resto dos actos de Basa, as suas acções e os seus feitos grandiosos, está tudo escrito no Livro das Actas dos Reis de Israel*. Basa morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado em Tirça. Seu filho Elá sucedeu-lhe no trono. A palavra do Senhor transmitida por intermédio do profeta Jeú, filho de Hanani, fora pronunciada contra Basa e sua família, não só por todo o mal que tinha praticado aos olhos do Senhor, irritando-o com seu proceder e seguindo as pegadas de Jeroboão, como também por ter destruído a família de Jeroboão. No vigésimo sexto ano do reinado de Asa, rei de Judá, Elá, filho de Basa tornou-se rei de Israel; residia em Tirça e reinou por dois anos. O seu servo Zimeri, chefe de metade da sua cavalaria, conspirou contra ele. O rei encontrava-se então em Tirça, em casa de Arça, intendente do seu palácio nessa cidade, bebendo e embriagando-se. Zimeri entrou, feriu Elá e assassinou-o, sucedendo-lhe no trono; estava-se no vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá. Logo que se fez rei e se sentou no trono, mandou exterminar toda a família de Basa, sem deixar escapar ninguém do sexo masculino, parente ou amigo. Assim exterminou toda a família de Basa, segundo a palavra que o Senhor tinha dito pelo profeta Jeú contra Basa. Este foi o castigo de todos os pecados que Basa e seu filho Elá tinham cometido e feito cometer a Israel, provocando a ira do Senhor, Deus de Israel, com os seus ídolos vãos. O resto da história de Elá e as suas acções, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. No vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá, Zimeri tornou-se rei em Tirça, durante sete dias. Por essa altura, o povo estava em guerra contra Guibeton, que pertencia aos filisteus. O povo soube então da seguinte novidade: «Zimeri fez uma conspiração contra o rei e acabou mesmo por assassiná-lo.» Imediatamente todo o Israel constituiu seu rei o general Omeri, que estava no acampamento a comandar o exército de Israel. Este partiu de Guibeton com todo o exército de Israel a pôr assédio a Tirça. Então Zimeri, vendo que a cidade corria perigo de ser tomada, retirou-se para o palácio, incendiou-o e morreu ali. Morreu por causa dos pecados que tinha cometido, fazendo o mal aos olhos do Senhor, seguindo as pegadas de Jeroboão e o pecado com que este fizera pecar Israel. O resto da história de Zimeri e sua conspiração, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Então o povo de Israel dividiu-se em duas facções: metade seguiu Tibni, filho de Guinat, para o aclamar rei; a outra metade seguiu Omeri. O povo que seguiu Omeri suplantou os que seguiam Tibni, filho de Guinat. Tibni morreu e Omeri tornou-se rei. No trigésimo primeiro ano do reinado de Asa, rei de Judá, começou Omeri a reinar em Israel e reinou durante doze anos. Depois de ter reinado seis anos em Tirça, comprou a Chémer, por dois talentos de prata, o monte de Samaria. Construiu uma cidade sobre esse monte, a que deu o nome de Samaria, do nome de Chémer, a quem pertencera o monte. Omeri fez o mal aos olhos do Senhor, perpetrando mais crimes do que todos os seus predecessores. Seguiu as pegadas de Jeroboão, filho de Nabat, e imitou os pecados que ele levara Israel a cometer, a ponto de provocar a ira do Senhor, Deus de Israel, por causa dos seus ídolos vãos. O resto da história de Omeri, os seus actos e os seus grandes feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Omeri morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado na Samaria. Seu filho Acab tornou-se rei em seu lugar. No trigésimo oitavo ano de Asa, rei de Judá, Acab, filho de Omeri, tornou-se rei de Israel. Acab, filho de Omeri, reinou em Israel, na Samaria, durante vinte e dois anos. Acab, filho de Omeri, fez o mal aos olhos do Senhor, mais do que todos os seus predecessores. E, como se não lhe bastasse imitar os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, ainda tomou por esposa Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sídon; e foi prestar culto a Baal, prostrando-se diante dele. Ergueu um altar a Baal no templo de Baal, que construiu na Samaria. Acab fez também uma Achera, aumentando a ira do Senhor, Deus de Israel, mais do que todos os reis de Israel, seus predecessores. No seu tempo, Hiel de Betel reconstruiu Jericó. Quando lançava os seus alicerces morreu-lhe Abiram, seu primogénito; e, ao pôr-lhe as portas, morreu-lhe Segub, seu último filho, conforme o Senhor anunciara por meio de Josué, filho de Nun. Elias, o tisbita, habitante de Guilead, disse a Acab: «Pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem eu sirvo, não cairá orvalho nem chuva nestes anos senão à minha ordem.» A palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: «Vai-te daqui, dirige-te para Oriente e esconde-te na torrente de Querit, que fica em frente do Jordão. Beberás da torrente, e Eu já ordenei aos corvos que te levem lá de comer.» Então ele partiu segundo a palavra do Senhor e foi morar junto à margem do Querit, em frente do Jordão. Os corvos traziam-lhe pão e carne, de manhã e de tarde, e ele bebia água da torrente. Ao fim de algum tempo, a torrente secou, pois não chovia sobre a terra. Então o Senhor disse-lhe: «Levanta-te, vai para Sarepta de Sídon e fica lá, pois ordenei a uma mulher viúva de lá que te alimente.» Ele levantou-se e foi para Sarepta; ao chegar à entrada da cidade, eis que havia lá uma mulher viúva que andava a apanhar lenha; chamou-a e disse-lhe: «Vai-me arranjar, te peço, um pouco de água numa vasilha, para eu beber.» Ela foi buscar a água e Elias chamou-a e disse-lhe: «Traz-me também um pedaço de pão nas tuas mãos.» Então ela respondeu: «Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão cozido; tenho apenas um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na ânfora; mal tenha reunido um pouco de lenha entrarei em casa para preparar esse resto para mim e para meu filho; vamos comê-lo e depois morreremos.» Elias disse-lhe: «Não tenhas medo; vai a casa e faz como disseste. Disso que tens faz-me um pãozinho e traz-mo; depois é que prepararás o resto para ti e para o teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A panela da farinha não se esgotará, nem faltará o azeite na almotolia até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra.’» Ela foi e fez como lhe dissera Elias: comeu ele, ela e a sua família, durante alguns dias. Nem a farinha se acabou na panela, nem o azeite faltou na almotolia, conforme dissera o Senhor pela boca de Elias. Depois destas palavras, adoeceu o filho desta mulher, a dona da casa; a sua doença era tão grave que já nem conseguia respirar. Disse então a mulher a Elias: «Que há entre mim e ti, homem de Deus? Vieste a minha casa para me lembrar o meu pecado e matar o meu filho?» Elias respondeu-lhe: «Dá-me o teu filho.» Tomou-o dos braços da mulher, levou-o para a sala de cima onde ele morava e deitou-o no seu leito. Depois clamou ao Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, até a esta viúva junto de quem me acolhi como emigrante, lhe quereis fazer mal a ponto de lhe matares o filho?!» Elias estendeu-se três vezes sobre o menino e invocou o Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, que a alma deste menino volte a entrar nele.» O Senhor ouviu o clamor de Elias, e a alma do menino voltou a ele e ele recuperou a vida. Elias tomou o menino, desceu do quarto de cima ao interior da casa e entregou-o a sua mãe. Disse então Elias: «Olha! O teu filho está vivo!» A mulher disse a Elias: «Agora reconheço que és um homem de Deus e que é verdadeira a palavra que o Senhor põe na tua boca.» Passados que foram muitos dias, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, no terceiro ano, dizendo: «Vai apresentar-te a Acab, pois quero mandar chuva sobre a terra.» Elias partiu e foi apresentar-se a Acab. Era então muito grande a fome na Samaria. Acab mandou chamar Abdias, intendente do seu palácio; Abdias era muito temente ao Senhor. Assim, quando Jezabel matou os profetas do Senhor, Abdias acolheu cem profetas e escondeu-os em duas cavernas, cinquenta numa e cinquenta noutra, e alimentou-os com pão e água. Disse-lhe Acab: «Percorre todo o país, vai a todas as fontes e torrentes; talvez possamos encontrar erva para conservar a vida dos cavalos e dos burros a fim de que não morram todos os nossos animais.» Dividiram entre si o país para o percorrer; Acab foi por um caminho e Abdias por outro. Ora, durante a caminhada de Abdias, Elias saiu-lhe ao encontro; Abdias reconheceu-o e prostrou-se de rosto por terra, dizendo: «Meu senhor, és tu Elias?» «Sou eu! Vai dizer ao teu amo que cheguei.» Abdias replicou: «Que pecado fiz eu para que entregues assim o teu servo nas mãos de Acab, para ele me matar? Pela vida do Senhor, teu Deus, não há nação nem reino onde meu amo te não tenha mandado procurar. Todos lhe respondiam: ‘Elias não está aqui.’ Então ele obrigava a jurar cada reino e povo que tu não estavas lá. E agora dizes-me: ‘Vai dizer ao teu amo que cheguei!’ É que, quando eu me afastar de ti, o espírito do Senhor te conduzirá não sei para onde; e Acab, informado por mim, não te encontrando a ti, matar-me-á. Ora o teu servo teme o Senhor desde a sua juventude. Acaso não foi dito ao meu senhor o que eu fiz quando Jezabel andava a matar os profetas do Senhor ? Que escondi cem de entre eles, cinquenta numa caverna e cinquenta noutra, e que os alimentei com pão e água? E dizes-me agora: ‘Vai dizer ao teu amo que Elias está aqui.’ Ele matar-me-á!» Elias respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor do universo, a quem eu sirvo, hoje mesmo me vou apresentar diante de Acab.» Partiu, pois, Abdias para junto de Acab e avisou-o. Acab saiu ao encontro de Elias. Quando Acab viu Elias, disse-lhe: «És tu, a ruína de Israel?» Respondeu-lhe Elias: «Não, eu não sou a ruína de Israel. Pelo contrário, tu e a casa de teu pai é que o sois, por terdes abandonado os preceitos do Senhor para seguirdes os ídolos de Baal. Convoca, pois, junto de mim, no monte Carmelo, todo o Israel com os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal mais os quatrocentos profetas de Achera, que comeram à mesa de Jezabel.» Então Acab mandou chamar todos os filhos de Israel e reuniu os profetas no monte Carmelo. Elias aproximou-se de todo o povo e disse: «Até quando andareis a coxear dos dois pés? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal é que é Deus, então segui a Baal!» O povo não respondeu. Elias continuou: «Só eu fiquei, como único profeta do Senhor, enquanto que os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta. Dêem-nos, então, dois novilhos; eles escolherão um, hão-de esquartejá-lo e o colocarão sobre a lenha, sem lhe chegar fogo. Eu tomarei o outro novilho, colocá-lo-ei sobre a lenha, sem, igualmente, lhe chegar fogo. Em seguida invocareis o nome do vosso deus; eu invocarei o nome do Senhor. Aquele que responder, enviando o fogo, será reconhecido como verdadeiro Deus.» Todo o povo respondeu: «Estas palavras são correctas.» Então Elias disse para os profetas de Baal: «Escolhei vós primeiro um novilho e preparai-o, porque vós sois mais numerosos; invocai o vosso Deus, mas não chegueis fogo ao novilho.» Eles tomaram o novilho que lhes fora dado e esquartejaram-no. Depois puseram-se a invocar o nome de Baal, desde manhã até ao meio-dia, gritando: «Baal, escuta-nos!» Mas nenhuma voz se ouviu, nem houve quem respondesse. E dançavam à volta do altar que tinham levantado. Quando era já meio-dia, Elias começou a escarnecer deles, dizendo: «Gritai com mais força! Talvez esse deus esteja entretido com alguma conversa! Ou então estará ocupado, ou anda de viagem. Talvez esteja a dormir! É preciso acordá-lo!» Então eles gritavam em voz alta, feriam-se, segundo o seu costume, com espadas e lanças, até ficarem cobertos de sangue. Passado o meio-dia, continuaram enfurecidos, até à hora em que era habitual fazer-se a oblação. Mas não se ouviu resposta nem qualquer sinal de atenção. Foi então que Elias disse a todo o povo: «Aproximai-vos de mim.» E todo o povo se aproximou dele. Elias reconstruiu logo o altar do Senhor, que tinha sido demolido. Tomou doze pedras, segundo o número das tribos de Jacob, a quem o Senhor dissera: «Chamar-te-ás Israel.» Com essas pedras erigiu um altar ao nome do Senhor; em volta do altar cavou um sulco, com a capacidade de duas medidas de semente. Dispôs a lenha sobre a qual colocou o boi esquartejado e disse: «Enchei quatro talhas de água e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha.» Depois acrescentou: «Tornai a fazer o mesmo.» Tendo eles repetido o gesto, acrescentou: «Fazei-o pela terceira vez.» Eles obedeceram. A água correu à volta do altar até o sulco ficar completamente cheio. À hora do sacrifício, o profeta Elias aproximou-se, dizendo: «Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. Responde-me, Senhor, responde-me! Que este povo reconheça que Tu, Senhor, é que és Deus, aquele que lhes converte os corações.» De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco. Ao ver isto, o povo prostrou-se de rosto por terra, exclamando: «O Senhor é que é Deus! O Senhor é que é Deus!» Disse-lhes então Elias: «Prendei agora os profetas de Baal; não deixeis fugir um só deles!» Prenderam-nos, e Elias levou-os ao vale de Quichon, onde os matou. Depois Elias disse a Acab: «Vai, come e bebe, pois já oiço o rumor de uma forte chuvada!» Acab foi comer e beber; Elias subiu ao cimo do monte Carmelo, prostrou-se por terra, colocando a cabeça entre os joelhos; e disse ao seu servo: «Sobe e observa para os lados do mar.» Ele subiu e observou, dizendo: «Não vejo nada!» Por sete vezes Elias lhe repetiu: «Volta e torna a observar.» À sétima vez, o servo respondeu: «Eis que sobe do mar uma pequena nuvem como a palma da mão!» Disse-lhe então Elias: «Vai dizer a Acab que prepare o seu carro e desça quanto antes, para que a chuva não o detenha aqui.» Nesse momento, o céu cobriu-se de nuvens negras, o vento soprou e a chuva começou a cair torrencialmente. Acab subiu para o seu carro e partiu para Jezrael. A mão do Senhor esteve sobre Elias que, de rins cingidos, ultrapassou Acab e chegou a Jezrael. Acab contou a Jezabel quanto Elias tinha feito, e como ele passara a fio de espada todos os profetas de Baal. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, para lhe dizer: «Que os deuses me tratem com o maior rigor, se amanhã, a esta mesma hora, não fizer da tua vida o mesmo que tu fizeste da vida deles.» Elias teve medo e saiu dali para salvar a sua vida. De Judá chegou a Bercheba, onde deixou o seu servo. Andou pelo deserto um dia de caminho; sentou-se à sombra de um junípero e pediu a morte para si: «Basta, Senhor, disse ele; tira-me a vida, pois não sou melhor do que meus pais.» Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Eis, porém, que um anjo o tocou, dizendo: «Levanta-te e come.» Olhou e viu à sua cabeceira um pão cozido sob a cinza e um copo de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. Mais uma vez o tocou o anjo do Senhor, dizendo-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer.» Elias levantou-se, comeu e bebeu; reconfortado com aquela comida, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus. Tendo chegado ao Horeb, Elias passou a noite numa caverna, onde lhe foi dirigida a palavra do Senhor, «Que fazes aí, Elias?» Ele respondeu: «Estou a arder de zelo pelo Senhor, o Deus do universo, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e assassinaram os teus profetas. Só eu escapei; mas também a mim me querem matar!» O Senhor disse-lhe então: «Sai e mantém-te neste monte, na presença do Senhor; eis que o Senhor vai passar.» Nesse momento, passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Disse-lhe, então, uma voz: «Que fazes aqui, Elias?» Ele respondeu: «Ardo em zelo pelo Senhor, Deus do universo, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e mataram os teus profetas. Só eu escapei; mas agora também me querem matar a mim.» O Senhor disse-lhe: «Vai e volta pelo caminho do deserto, em direcção a Damasco e, chegando lá, hás-de ungir Hazael como rei da Síria. Jeú, filho de Nimechi, como rei de Israel, e Eliseu, filho de Chafat, de Abel-Meolá, como profeta em teu lugar. Quem escapar à espada de Hazael será morto por Jeú, e quem escapar a Jeú será morto por Eliseu. Mesmo assim, deixarei com vida em Israel sete mil homens que não ajoelharam perante Baal, e cujos lábios o não beijaram.» Elias partiu dali e encontrou Eliseu, filho de Chafat, que andava a lavrar com doze juntas de bois diante dele; ele próprio conduzia a duodécima junta. Elias aproximou-se e lançou o seu manto sobre ele. Eliseu deixou logo os seus bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir beijar meu pai e minha mãe, que depois te seguirei.» Elias disse: «Vai, mas volta, pois sabes o que te fiz.» Eliseu, deixando Elias, tomou uma junta de bois e imolou-os. Com a lenha do arado cozeu as carnes, dando-as depois a comer à sua gente. Em seguida, pôs-se a caminho e seguiu Elias para o servir. Ben-Hadad, rei de Aram, reuniu todo o seu exército: tinha consigo trinta e dois reis, cavalos e carros. Subiu e sitiou a Samaria, atacando-a. Enviou mensageiros à cidade a dizerem a Acab, rei de Israel: «Eis o que diz Ben-Hadad: A tua prata e o teu ouro são meus; as tuas mulheres, bem como os mais belos filhos de teus filhos, são meus também.» O rei de Israel respondeu: «Sou teu servo, como dizes, com tudo o que me pertence.» Os mensageiros, porém, voltando de novo, disseram: «Isto diz Ben-Hadad: ‘Mando-te dizer: Dá-me a tua prata e o teu ouro, as tuas mulheres e os teus filhos. Amanhã, a esta mesma hora, mandarei os meus criados a revistarem a tua casa, e as casas dos teus servos; eles apanharão com suas mãos tudo quanto lhes agradar.’» Ora o rei de Israel convocou todos os anciãos do país e disse-lhes assim: «Considerai e vede como esse homem quer a nossa desgraça. Quando ele me mandou pedir as nossas mulheres, os meus filhos, a minha prata e o meu ouro, nada lhes recusei.» Responderam-lhes os anciãos e todo o povo: «Não lhes dês ouvidos nem condescendas em nada.» Então Acab disse aos mensageiros de Ben-Hadad: «Dizei ao rei, meu senhor: Estou disposto a fazer o que da primeira vez pediste ao teu servo; mas o que agora lhe pedes não to posso fazer.» Os mensageiros voltaram e deram a resposta ao rei. Ben-Hadad mandou, pois, dizer a Acab: «Assim os deuses me tratem com o mais severo rigor, se o pó da Samaria for suficiente para encher o punhado das mãos dos guerreiros que me acompanham!» O rei de Israel disse-lhe como resposta: «Dizei-lhe que aquele que põe o cinturão não deve gloriar-se como aquele que o tira.» Ao ouvir semelhante resposta, Ben-Hadad, que estava a beber com os reis nas suas tendas, disse aos seus criados: «Ponham-se nos seus postos.» E eles puseram-se a atacar a cidade. Nesse momento, um profeta aproximou-se de Acab, rei de Israel, e disse-lhe: «Assim fala o Senhor, Vês esta imensa multidão? Pois hoje a porei nas tuas mãos e conhecerás então que Eu sou o Senhor.» Então Acab perguntou: «Por meio de quem ma entregarás?» E ele respondeu: «Assim fala o Senhor, Pela elite dos chefes das províncias!» Então perguntou Acab: «E quem começará o combate?» E ele respondeu: «Tu!» Então Acab passou revista aos servos dos chefes das províncias que eram duzentos e trinta e dois. Depois destes, passou em revista todo o povo, todos os filhos de Israel, ou seja, sete mil homens. Saíram por volta do meio-dia, quando Ben-Hadad bebia e se estava embriagando nas tendas com os trinta e dois reis, seus auxiliares. Os primeiros a saírem foram os servos dos chefes das províncias. Ben-Hadad mandou então observar o que se passava. Disseram-lhe: «Alguns homens saíram da Samaria.» O rei disse: «Quer eles venham para tratar de paz ou para combater, prendei-os vivos.» Os servos dos chefes das províncias saíram então da cidade, seguidos do exército; cada um matou o seu homem. Os sírios fugiram acossados pelos filhos de Israel. Ben-Hadad, rei da Síria, fugiu a cavalo com alguns cavaleiros. Por sua vez, o rei de Israel saiu também, destroçou carros e cavalos, causando aos sírios grandes perdas. Nessa altura, o profeta foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «Vai, recobra ânimo e vê o que deves fazer; é que no próximo ano o rei da Síria vai atacar-te novamente.» Os servos do rei da Síria disseram-lhe: «O Deus deles é um Deus das montanhas; por isso é que eles nos venceram; mas, atacando-os na planície, nós é que os venceremos a eles. Tu, porém, deverás tomar as seguintes precauções: destitui todos os reis e substitui-os por governadores. Trata de recrutar um exército semelhante ao que agora perdeste, com o mesmo número de cavalos e outros tantos carros. Combatê-los-emos na planície e venceremos com certeza.» O rei ouviu este conselho e seguiu-o. No ano seguinte, Ben-Hadad, após ter passado em revista os sírios, avançou até Afec para combater Israel. Foram igualmente passados em revista os filhos de Israel; receberam as suas munições e partiram ao encontro de Aram. Os filhos de Israel acamparam em frente deles, semelhantes a dois pequenos rebanhos de cabras, enquanto Aram enchia totalmente a região. Então o homem de Deus foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «Assim fala o Senhor, Já que os arameus dizem: ‘O Senhor é um Deus da montanha e não um Deus da planície’, Eu vou entregar nas tuas mãos toda esta enorme multidão, e conhecereis então que Eu sou o Senhor.» Eles acamparam frente-a-frente, durante sete dias; ao sétimo dia travaram batalha; os filhos de Israel abateram cem mil soldados de infantaria sírios, num só dia. O resto refugiou-se na cidade de Afec, mas as muralhas caíram sobre os vinte e sete mil sobreviventes; o próprio Ben-Hadad pôs-se em fuga, entrando na cidade onde se ia escondendo de quarto em quarto. Disseram-lhe então os seus servos: «Nós ouvimos dizer que os reis da casa de Israel são misericordiosos. Cubramos, pois, de saco os nossos rins e ponhamos cordas ao pescoço, e vamos ter com o rei de Israel, a ver se ele te poupa a vida.» Cingiram, pois, os rins com saco, puseram cordas em volta do pescoço e apresentaram-se ao rei de Israel, dizendo: «Teu servo Ben-Hadad vem pedir-te: ‘Concede-me a vida!’» O rei de Israel replicou: «Ele ainda vive? É meu irmão!» Os sírios interpretaram estas palavras como um feliz presságio; aproveitaram logo a palavra da sua boca e disseram-lhe: «Ben-Hadad é teu irmão!» Disse o rei: «Ide procurá-lo.» Então Ben-Hadad apresentou-se imediatamente e Acab mandou-o subir para o seu carro. Disse-lhe Ben-Hadad: «Vou restituir-te as cidades que meu pai conquistou ao teu. Terás bazares em Damasco como meu pai os tinha na Samaria.» Replicou-lhe Acab: «Por esta aliança deixar-te-ei partir.» Então Acab fez uma aliança com Ben-Hadad e deixou-o partir livremente. Um dos filhos dos profetas disse, por ordem do Senhor, a um seu companheiro: «Fere-me, por favor.» Ele, porém, recusou-se a feri-lo. Disse-lhe então o profeta: «Já que não ouviste a palavra do Senhor, quando te afastares de mim, um leão te há-de devorar!» Afastou-se, e um leão devorou-o. O profeta encontrou outro homem e disse-lhe: «Fere-me, por favor.» Este lançou-se sobre ele e feriu-o. Então o profeta prostrou-se no caminho por onde o rei devia passar, vendando os olhos para não ser reconhecido. Quando o rei passou, ele pôs-se a gritar: «Teu servo saíra para participar numa batalha, quando alguém que se afastara do combate me confiou um homem dizendo: ‘Toma conta deste homem. Se ele desaparecer, a tua vida responderá pela sua, ou pagarás um talento de prata.’ Ora, enquanto o teu servo estava ocupado com isto ou com aquilo, o prisioneiro escapou-se-lhe.» Então o rei de Israel disse-lhe: «Que esse seja o teu castigo! Tu próprio proferiste a sentença.» O profeta tirou a venda que lhe tapava os olhos, e o rei de Israel logo reconheceu que ele era um dos profetas. Disse-lhe este, então: «Assim fala o Senhor, ‘Já que deixaste escapar-te da mão o homem que Eu tinha amaldiçoado, a tua vida responderá pela sua e o teu povo, pelo seu povo.’» O rei de Israel recolheu-se a sua casa na Samaria, triste e contrariado. Eis o que aconteceu depois de todos estes factos. Nabot de Jezrael tinha uma vinha junto ao palácio de Acab, rei da Samaria. Disse então Acab a Nabot: «Cede-me a tua vinha para que eu a transforme em horta, pois fica junto da minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor; ou, se te convier, pagar-te-ei o seu valor em dinheiro.» Nabot disse a Acab: «Pelo Senhor! Seria um sacrilégio ceder-te a herança de meus pais!» Acab voltou para casa triste e irritado, pelo facto de Nabot lhe ter dito: «Não te darei a herança de meus pais.» Deitou-se na cama, voltou o rosto para a parede e não quis mais comer. Sua esposa veio ter com ele e perguntou-lhe: «Por que razão estás assim irritado e não queres comer?» Ele respondeu-lhe: «Porque falei a Nabot de Jezrael, dizendo-lhe: ‘Cede-me a tua vinha por dinheiro ou, se mais te convier, dar-te-ei por ela outra vinha’, e ele respondeu-me: ‘Não te darei a minha vinha.’ Então Jezabel, sua esposa, disse-lhe: «Não és tu o rei de Israel? Levanta-te, come, não te aflijas! Eu mesma te darei a vinha de Nabot de Jezrael.» Escreveu cartas em nome de Acab, selando-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e aos magistrados da cidade, concidadãos de Nabot. Nelas lhes dizia: «Proclamai um jejum e fazei sentar Nabot na primeira fila da assembleia. Fazei vir à sua presença dois homens malvados que o acusem dizendo: ‘Tu blasfemaste contra Deus e contra o rei!’ Levai-o, depois, para fora da cidade e apedrejai-o até ele morrer.» Os homens da cidade, os anciãos e os magistrados, concidadãos de Nabot, fizeram o que lhes mandara Jezabel, conforme o conteúdo da carta que ela lhes enviara. Proclamaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se em lugar de honra. Vieram então os dois malvados, puseram-se na presença de Nabot e depuseram contra ele perante o povo, dizendo: «Nabot blasfemou contra Deus e contra o rei!» Fizeram-no sair da cidade, apedrejaram-no e ele morreu. Mandaram então dizer a Jezabel: «Nabot foi apedrejado e morreu.» Quando Jezabel teve conhecimento que Nabot fora apedrejado e já estava morto, disse a Acab: «Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael recusara ceder-te por dinheiro; Nabot já não é vivo! Morreu!» Mal Acab ouviu dizer que Nabot tinha morrido, levantou-se logo para descer até à vinha de Nabot de Jezrael, a fim de tomar posse dela. Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: «Desce e vai ter com Acab, rei de Israel, que vive na Samaria; ele está agora a descer para se apossar da vinha de Nabot. Diz-lhe: Assim fala o Senhor, ‘Cometeste um homicídio e agora vais ainda apoderar-te do alheio?’ Acrescentarás ainda: ‘Isto diz o Senhor, No mesmo lugar onde os cães lamberam o sangue de Nabot, hão-de lamber também o teu!’» Então Acab respondeu a Elias: «Tornaste a apanhar-me, meu inimigo!» Elias replicou: «Sim, tornei a apanhar-te porque te prestaste a uma perfídia, fazendo o que é mal aos olhos do Senhor. Farei cair uma desgraça sobre ti, varrer-te-ei e hei-de exterminar todos os homens da casa de Acab, sejam escravos ou homens livres em Israel. Tornarei a tua casa semelhante à casa de Jeroboão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías, porque provocaste a minha ira e fizeste pecar Israel.» O Senhor falou também para Jezabel: «Os cães hão-de devorar Jezabel na propriedade de Jezrael. Todos os membros da casa de Acab que morrerem na cidade, os cães os hão-de devorar; e todos os membros que morrerem no campo, comê-los-ão as aves do céu. Não houve nunca ninguém como Acab que se prestasse à perfídia para fazer o mal aos olhos do Senhor. E a sua esposa Jezabel incitava-o ainda mais. Ele cometeu graves abominações, seguindo os ídolos exactamente como os amorreus, a quem o Senhor despojara diante dos filhos de Israel.» Ao ouvir estas palavras, Acab rasgou as vestes, cobriu-se de saco e jejuou; dormia sobre um saco e caminhava pensativo. Então a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: «Viste como Acab se humilhou na minha presença? Já que ele procedeu assim, não o castigarei durante a sua vida, mas nos dias de seu filho mandarei o castigo sobre a sua casa.» Passaram-se três anos sem haver guerras entre a Síria e Israel. No terceiro ano, Josafat, rei de Judá, foi visitar o rei de Israel. Este dissera aos seus servos: «Sabeis que Ramot de Guilead é nossa. Porque hesitamos, pois, em retomá-la das mãos do rei de Aram?» E disse a Josafat: «Queres tu vir comigo fazer guerra a Ramot de Guilead?» Josafat respondeu ao rei de Israel: «Eu farei o que tu fizeres. O meu povo fará como o teu; a minha cavalaria, como a tua!» Depois, Josafat disse ao rei de Israel: «Consulta primeiro o oráculo do Senhor.» Então o rei de Israel convocou os profetas, cerca de quatrocentos homens, e perguntou-lhes: «Posso ir fazer guerra a Ramot de Guilead, ou devo renunciar a isso?» Eles responderam-lhe: «Vai! O Senhor a entregará nas mãos do rei.» E Josafat disse: «Não há por aí qualquer outro profeta do Senhor, a quem pudéssemos consultar?» O rei de Israel disse a Josafat: «Há realmente um homem por meio de quem se poderá consultar o Senhor; mas eu detesto-o, pois ele nunca me profetiza o bem, senão somente desgraças. É Miqueias, filho de Jímela.» Josafat disse: «Não fales dessa maneira.» Então o rei de Israel chamou um eunuco e disse-lhe: «Traz-me depressa Miqueias, o filho de Jímela.» Josafat, rei de Judá, e o rei de Israel estavam sentados, cada qual em seu trono, revestidos das suas insígnias reais, na praça que fica à entrada da porta da Samaria; e todos os profetas se puseram a profetizar diante deles. Ora Sedecias, filho de Canaana, fez para si uns chifres de ferro e disse: «Assim diz o Senhor, ‘Com estes chifres ferirás os sírios até ficarem exterminados.’» Todos os profetas profetizavam do mesmo modo, dizendo: «Sobe a Ramot de Guilead, pois sairás vencedor, visto que o Senhor vai entregar a cidade nas mãos do rei.» Entretanto, o mensageiro que tinha ido chamar Miqueias dizia-lhe: «Os profetas são unânimes em profetizar a vitória do rei. Que o teu oráculo seja, como o deles, anunciador de boas novas.» Mas Miqueias respondeu: «Pelo Deus vivo! Eu direi apenas aquilo que o Senhor me disser.» Apresentou-se, então, ao rei, que lhe disse: «Miqueias, devemos ir atacar Ramot de Guilead ou não?» «Vai – respondeu Miqueias; serás vencedor, porque o Senhor a vai entregar nas mãos do rei.» O rei disse-lhe: «Quantas vezes é preciso conjurar-te a que não me digas senão a verdade, em nome do Senhor ?» Miqueias respondeu-lhe: «Eu vejo todo o Israel espalhado pelas montanhas, qual rebanho sem pastor. E o Senhor disse-me: ‘São povos que não têm pastores; volte cada um em paz para sua casa!’» O rei de Israel disse a Josafat: «Eu não te disse que ele nunca profetiza para mim o bem, mas sempre o mal?» Por sua vez, Miqueias replicou: «Ouve a palavra do Senhor. Eu vi o Senhor sentado no seu trono, rodeado de todo o exército celeste à sua direita e à sua esquerda. O Senhor disse: ‘Quem seduzirá Acab, a fim de que ele suba e morra em Ramot de Guilead?’ Mas cada um respondia a seu modo. Então, surgiu um espírito, apresentou-se diante do Senhor e disse: ‘Eu irei seduzi-lo.’ O Senhor perguntou-lhe: ‘De que modo?’ Ele respondeu: ‘Irei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas.’ Disse-lhe pois o Senhor, ‘Enganá-lo-ás e conseguirás seduzi-lo; vai e faz como disseste.’ E o Senhor pôs um espírito de mentira na boca de todos os teus profetas, pois o Senhor decretou a tua perda.» Nesse momento Sedecias, filho de Canaana, aproximou-se de Miqueias e deu-lhe uma bofetada, dizendo: «Acaso saiu de mim o espírito do Senhor para te falar a ti?» Miqueias respondeu: «Tu mesmo o verás no dia em que fugires de esconderijo em esconderijo, a fim de te esconderes.» Então o rei de Israel ordenou: «Prendei Miqueias; que ele fique sob a guarda de Amon, governador da cidade e de Joás, filho do rei. Que as ordens do rei sejam transmitidas! Metei-o na prisão e alimentai-o a pão escasso, até que eu volte são e salvo.» Miqueias, porém, respondeu: «Se voltares são e salvo, isso será sinal de que o Senhor não falou pela minha boca.» E acrescentou: «Que todos os povos ouçam isto!» Então o rei de Israel subiu com Josafat, rei de Judá, a Ramot de Guilead. E o rei de Israel disse a Josafat: «Vou disfarçar-me para entrar em combate; tu, porém, conserva as tuas vestes.» E o rei de Israel disfarçou-se antes de entrar em combate. Ora o rei da Síria tinha dado esta ordem aos seus trinta e dois chefes de carros: «Não luteis contra ninguém, pequeno ou grande, senão somente contra o rei de Israel.» Os chefes dos carros, ao verem Josafat, disseram entre si: «É ele, com certeza, o rei de Israel»; e lançaram-se sobre ele. Então Josafat soltou o seu grito de guerra. Vendo que não era ele o rei de Israel, os chefes dos carros afastaram-se. Um soldado, porém, disparou com o seu arco à sorte e feriu o rei de Israel, entre as juntas da sua armadura. E logo o rei disse ao condutor do seu carro: «Volta a rédea e leva-me para fora do campo de batalha, porque estou ferido.» Mas o combate, naquele dia, foi tão violento que o rei teve de ficar de pé no seu carro diante dos sírios; morreu ao cair da tarde; o sangue saía da sua ferida e inundava todo o carro. Ao pôr-do-sol ouviu-se um clamor que perpassou por todo o exército: «Volte cada um para a sua cidade e para a sua terra! O rei morreu!» Levaram-no para a Samaria e sepultaram-no ali. Ao lavarem o seu carro na piscina da Samaria, onde as prostitutas se banhavam, os cães lambiam o sangue do rei, conforme o oráculo do Senhor. O resto da história de Acab, os seus feitos, o palácio de marfim que mandou construir, as cidades que edificou, está tudo narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel . Acab morreu, juntando-se a seus pais. Sucedendo-lhe no trono seu filho Acazias. No quarto ano de Acab, rei de Israel, Josafat, filho de Asa, tornou-se rei de Judá. Tinha trinta e cinco anos quando começou a reinar. Reinou durante vinte e cinco anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Azuba, filha de Chili. Seguiu inteiramente as pegadas de Asa, seu pai, sem se desviar dos seus caminhos: fez o que é recto aos olhos do Senhor. Não destruiu, porém, os lugares altos, onde o povo continuava a sacrificar e a queimar incenso. Josafat viveu em paz com o rei de Israel. O resto da história de Josafat, os seus feitos e as suas batalhas, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Expulsou do país o resto dos que se tinham dedicado à prostituição idolátrica, no tempo de seu pai, Asa. Por essa altura, não havia rei em Edom; era um governador que exercia as funções de rei. Josafat tinha dez naus de Társis para ir buscar ouro a Ofir; mas não foi, porque os navios naufragaram em Ecion-Guéber. Então Acazias, filho de Acab, disse a Josafat: «Que os meus servos vão navegar com os teus.» Josafat, porém, não quis. Josafat morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado com eles na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jorão. No décimo sétimo ano de Josafat, rei de Judá, Acazias, filho de Acab começou a reinar sobre Israel na Samaria. Reinou dois anos sobre Israel. Fez o mal aos olhos do Senhor, seguindo os caminhos de seu pai e de sua mãe, e de Jeroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel. Prestou culto a Baal, prostrando-se diante dele e provocando assim a ira do Senhor, Deus de Israel, como já tinha feito seu pai. Depois da morte de Acab, Moab revoltou-se contra Israel. Acazias que se encontrava no andar superior da sua casa, na Samaria, caiu da janela e feriu-se gravemente. Enviou então mensageiros, dizendo-lhes: «Ide consultar Baal-Zebub, o deus de Ecron, para saber se vou sobreviver a este meu mal.» Mas o anjo do Senhor falou a Elias, o tisbita, nestes termos: «Vai! Sai ao encontro dos mensageiros do rei da Samaria e diz-lhes: ‘Não há, porventura, um Deus em Israel, para irdes consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Por isso, eis o que diz o Senhor, Não te levantarás do leito em que te deitaste, pois vais morrer.’» E Elias partiu. Os mensageiros voltaram para junto de Acazias, que lhes perguntou: «Porque voltais?» Eles responderam: «Um homem saiu-nos ao encontro e disse-nos: ‘Ide, voltai para junto do rei que vos enviou e dizei-lhe: Isto diz o Senhor, Não há, porventura, um Deus em Israel, para que mandes consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Por isso, não te levantarás do leito onde te deitaste, pois vais morrer.’» Acazias disse-lhes: «Qual era o aspecto desse homem que se encontrou convosco e vos falou desse modo?» Responderam-lhe: «Era um homem vestido de peles, que trazia um cinto de couro em volta dos rins.» O rei disse: «É Elias, o tisbita.» Imediatamente enviou-lhe um chefe com os seus cinquenta homens. Foi ter com Elias, que estava sentado no cimo do monte, e disse-lhe: «Ó homem de Deus, o rei ordena que desças depressa!» Elias respondeu-lhe: «Se sou um homem de Deus, que desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cinquenta homens.» Desceu, pois, fogo do céu e devorou o chefe e os seus cinquenta homens. O rei mandou outro chefe com os seus cinquenta homens, o qual falou a Elias e lhe disse: «Ó homem de Deus, o rei ordena que desças imediatamente.» «Se sou um homem de Deus – respondeu-lhes Elias – desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cinquenta homens.» E o fogo descido do céu devorou o chefe e os seus cinquenta homens. Pela terceira vez, mandou o rei um chefe com os seus cinquenta homens, o qual se prostrou de joelhos diante de Elias e lhe suplicou: «Homem de Deus, seja preciosa aos teus olhos a minha vida e a destes teus cinquenta servos. Eis que veio fogo do céu e devorou os dois primeiros chefes e os seus cinquenta homens, mas, agora, que a minha vida seja preciosa aos teus olhos!» O anjo do Senhor disse a Elias: «Desce com este homem. Não tenhas medo dele!» Elias levantou-se e desceu com ele até junto do rei. Elias disse ao rei: «Isto diz o Senhor, Porque enviaste mensageiros a consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Não há porventura um Deus em Israel para o ires consultar? Não te levantarás mais do leito em que te deitaste, pois vais morrer.» Acazias morreu, segundo a palavra que o Senhor pronunciara pelo profeta Elias, e o seu irmão Jorão sucedeu-lhe no trono, no segundo ano de Jorão, filho de Josafat, rei de Judá, porque Acazias não tinha filhos. O resto da história de Acazias e os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Aconteceu que, quando o Senhor quis arrebatar Elias ao céu, num redemoinho, Elias e Eliseu partiram de Guilgal. Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Betel.» Mas Eliseu respondeu-lhe: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E desceram ambos a Betel. Os filhos dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por cima da tua cabeça?» Ele respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Jericó.» Ele respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E, assim, chegaram a Jericó. Os filhos dos profetas que estavam em Jericó saíram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por cima da tua cabeça?» Respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me ao Jordão.» Mas Eliseu respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E partiram juntos. Seguiram-nos cinquenta filhos dos profetas, que pararam ao longe, voltados para eles, enquanto Elias e Eliseu se detinham na margem do Jordão. Elias tomou o seu manto, dobrou-o e bateu com ele nas águas, que se separaram de um e de outro lado, de modo que passaram os dois a pé enxuto. Tendo passado, Elias disse a Eliseu: «Pede o que quiseres, antes que eu seja separado de ti. Que posso fazer por ti?» Eliseu respondeu: «Seja-me concedida uma porção dupla do teu espírito.» Elias replicou: «Pedes uma coisa difícil. No entanto, se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo que pedes; mas, se não me vires, não o terás.» Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis que, de repente, um carro de fogo e uns cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho. Eliseu viu tudo isto e exclamou: «Meu pai, meu pai! Carro e condutor de Israel!» E não o voltou a ver mais. Tomando, então, as suas vestes, rasgou-as em duas partes. Eliseu apanhou o manto que Elias deixara cair e, voltando, parou na margem do Jordão. Pegou no manto que Elias deixara cair, bateu com ele nas águas e disse: «Onde está agora o Senhor, o Deus de Elias? Onde está Ele?» Ao bater nas águas, estas separaram-se para um e outro lado, e Eliseu passou. Os filhos dos profetas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera diante deles, exclamaram: «O espírito de Elias repousa sobre Eliseu.» E indo ao seu encontro, prostraram-se por terra diante dele, e disseram: «Há aqui, entre os teus servos, cinquenta homens valentes, que podem ir à procura do teu amo. Talvez o Espírito do Senhor o tenha arrebatado e atirado sobre algum monte ou algum vale.» Eliseu respondeu-lhes: «Não os envieis.» Eles, porém, tanto insistiram, que Eliseu condescendeu e disse: «Enviai-os.» Mandaram, pois, cinquenta homens, que procuraram Elias durante três dias, mas não o encontraram. Quando voltaram para junto de Eliseu, que estava em Jericó, este disse-lhes: «Não vos disse eu que não fôsseis?» Os habitantes da cidade disseram a Eliseu: «A cidade está muito bem situada, como o pode ver o meu senhor; mas as águas são más e tornam a terra estéril.» Eliseu disse-lhes: «Trazei-me um prato novo e ponde nele sal.» Eles trouxeram-lho. Eliseu foi à fonte das águas e deitou-lhes sal, dizendo: «Isto diz o Senhor, ‘Tornei saudáveis estas águas, e elas não mais causarão nem morte nem esterilidade.’» As águas ficaram boas até ao dia de hoje, segundo a palavra pronunciada por Eliseu. Dali subiu para Betel. Enquanto caminhava, saíram da cidade alguns rapazitos, que se puseram a zombar dele, dizendo: «Sobe, careca! Sobe, careca!» Eliseu virou-se para trás, viu-os e amaldiçoou-os em nome do Senhor. Imediatamente saíram da floresta dois ursos e despedaçaram quarenta e dois daqueles rapazes. Dali, partiu para o monte Carmelo, donde voltou para a Samaria. No décimo oitavo ano de Josafat, rei de Judá, Jorão, filho de Acab, começou a reinar em Israel, na Samaria, e reinou durante doze anos. Fez o mal aos olhos do Senhor, mas não tanto como seu pai e sua mãe, pois tirou as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal. Mas imitou os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel, e não se apartou deles. O rei Mecha, de Moab, possuidor de muitos rebanhos, pagava ao rei de Israel cem mil cordeiros e cem mil carneiros de lã. Porém, com a morte de Acab, quebrou a aliança que tinha com o rei de Israel. O rei Jorão saiu da Samaria e fez o recenseamento de todo o Israel. Depois mandou dizer a Josafat, rei de Judá: «O rei de Moab rebelou-se contra mim. Queres vir comigo combater contra ele?» Josafat respondeu: «Sim, vou! Eu sou como tu, o meu povo é como o teu e a minha cavalaria é como a tua.» E acrescentou: «Por onde subiremos?» Respondeu Jorão: «Pelo caminho do deserto de Edom.» O rei de Israel, o rei de Judá e o rei de Edom puseram-se em marcha, mas, depois de sete dias de caminho, veio a faltar a água, tanto para o exército como para os animais que o seguiam. O rei de Israel exclamou: «Ai! O Senhor juntou aqui os três reis para os entregar nas mãos do rei de Moab!» Josafat disse: «Não há por aqui um profeta do Senhor, para consultarmos o Senhor por meio dele?» Respondeu um dos servos do rei de Israel: «Sim, está aqui Eliseu, filho de Chafat, aquele que derramava água sobre as mãos de Elias.» Josafat disse: «Está nele a palavra do Senhor.» Então, o rei de Israel, Josafat e o rei de Edom foram ter com ele. Eliseu perguntou ao rei de Israel: «O que tenho eu a ver contigo, ó rei? Vai procurar os profetas do teu pai e da tua mãe.» Disse-lhe o rei de Israel: «Não, porque o Senhor reuniu aqui estes três reis para os entregar nas mãos do rei de Moab.» Eliseu exclamou: «Pelo Senhor do universo, o Deus vivo a quem sirvo, juro que, se não fosse em atenção a Josafat, rei de Judá, não faria caso de ti, nem sequer poria em ti os meus olhos. Mas, agora, trazei-me um tocador de harpa.» E enquanto o tocador tocava harpa, a mão do Senhor veio sobre Eliseu, que disse: «Isto diz o Senhor, Cavai no leito da torrente muitas valas! Pois isto diz o Senhor, Não sentireis vento, nem vereis chuva e, contudo, o leito encher-se-á de água, e podereis beber vós, o vosso exército e os vossos animais de carga. Porém, isto é pouco aos olhos do Senhor, Ele vai entregar também Moab nas vossas mãos. Destruireis todas as cidades fortes, as cidades mais importantes, derrubareis todas as árvores de fruto, tapareis todas as fontes e cobrireis de pedras todos os campos férteis.» No dia seguinte pela manhã, à hora em que se costuma oferecer a oblação, desceram as águas pelo caminho de Edom e a terra cobriu-se de água. Os moabitas, ao saberem que aqueles reis os vinham atacar, mobilizaram todos os homens que tinham atingido a idade de ir para a guerra, e foram postar-se na fronteira. Na manhã seguinte, quando o sol incidia sobre as águas, os moabitas viram as águas vermelhas como sangue. Eles exclamaram: «É sangue! Os reis pelejaram entre si e destruíram-se mutuamente. Corre, agora, ó Moab, a recolher a presa!» Mas, ao aproximarem-se do acampamento dos israelitas, estes levantaram-se e atacaram os moabitas, que fugiram diante deles. E os vencedores perseguiram os de Moab, destruíram as cidades, encheram toda a terra fértil de pedras que cada um lançava, entupiram todas as fontes, derrubaram todas as árvores de fruto, de modo que só ficaram as pedras da cidade de Quir-Haréchet, que foi cercada e atacada pelos atiradores de funda. Vendo o rei de Moab que não podia resistir àquele ataque, tomou consigo setecentos homens armados de espada para abrir caminho até ao rei de Edom, mas não conseguiu. Tomando, então, o seu filho primogénito, que deveria suceder-lhe no trono, ofereceu-o em holocausto sobre a muralha. Isto provocou grande indignação em Israel, que se retirou dali e voltou para a sua terra. Uma mulher, das dos filhos dos profetas, suplicou a Eliseu, dizendo: «Meu marido, teu servo, morreu, e bem sabes que ele temia o Senhor. Mas eis que agora vem o credor tomar os meus dois filhos para os fazer seus escravos.» Eliseu disse-lhe: «Que posso fazer por ti? Diz-me o que tens em tua casa.» Ela respondeu: «A tua serva só tem em sua casa uma ânfora de azeite.» Ele disse-lhe: «Vai pedir emprestadas às tuas vizinhas ânforas vazias em grande quantidade. Depois entra, fecha a porta atrás de ti e dos teus filhos, enche com o azeite todas essas ânforas e põe-nas de lado, à medida que estiverem cheias!» A mulher partiu dali e fechou-se em casa com os seus filhos. Estes traziam-lhe as ânforas e ela enchia-as. Cheias as ânforas, disse ao filho: «Dá-me mais uma ânfora.» Ele respondeu: «Não há mais ânforas.» E o azeite deixou de crescer. A mulher foi e contou tudo ao homem de Deus, que lhe disse: «Vai e vende esse azeite para pagar a tua dívida; tu e os teus filhos vivereis do que restar.» Certo dia, ao atravessar Chuném, veio ao encontro de Eliseu uma mulher rica e convidou-o a comer em sua casa. E sempre que por ali passava, ia lá tomar a sua refeição. A mulher disse ao marido: «Escuta: eu sei que este homem, que passa com frequência por nossa casa, é um santo homem de Deus. Preparemos-lhe um pequeno quarto sobre o terraço, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada, para que ele ali se possa recolher, quando vier a nossa casa.» Ora, um dia, passando Eliseu por Chuném, recolheu ao quarto para dormir. E disse a Guiezi, seu servo: «Chama essa chunamita.» Guiezi chamou-a e ela apresentou-se a Eliseu. E ele disse ao seu servo: «Pergunta-lhe: ‘Que posso fazer por ti, em reconhecimento do desvelo com que nos tens tratado? Queres que fale por ti ao rei ou ao general do exército?’» Ela respondeu: «Eu vivo em paz no meio do meu povo.» Eliseu então disse: «Que se pode fazer por ela?» Respondeu Guiezi: «Ela não tem filhos e o seu marido é idoso.» Disse Eliseu: «Chama-a.» Guiezi chamou-a e ela apareceu à porta. Eliseu disse-lhe: «Por este tempo, no próximo ano, acariciarás um filho.» Mas ela respondeu: «Não, meu senhor, não zombes da tua escrava, ó homem de Deus!» Com efeito, a mulher concebeu. No ano seguinte, na mesma época, ela deu à luz um filho, como tinha anunciado Eliseu. O menino cresceu. Um dia, indo ter com seu pai, que andava com os ceifeiros, disse-lhe: «Ai a minha cabeça! Ai a minha cabeça!» E o pai disse para o criado: «Leva-o à sua mãe.» Este levou-o e entregou-o à mãe. Ela teve-o no regaço até ao meio-dia, hora em que o menino morreu. Subiu, então, deitou o menino na cama do homem de Deus, fechou a porta e saiu. Chamou então o marido e disse-lhe: «Envia-me um criado e uma jumenta, para eu ir depressa a casa do homem de Deus e voltar.» Ele respondeu-lhe: «Porque vais ter com ele hoje? Não é a Lua-nova, nem Sábado.» Ela disse-lhe: «Tem calma!» Mandou selar a jumenta e disse ao criado: «Conduz a burra depressa e não me detenhas no caminho, sem que eu te avise.» Ela partiu e chegou ao lugar onde se encontrava o homem de Deus, no monte Carmelo, o qual, vendo-a de longe, disse ao seu servo Guiezi: «Aí vem a chunamita. Corre ao encontro dela e pergunta-lhe se está bem, e se o seu marido e o seu filho estão igualmente bem.» Ela respondeu: «Tudo vai bem.» Mas, ao chegar junto do homem de Deus, na montanha, agarrou-se aos seus pés. Guiezi aproximou-se para a afastar, mas o homem de Deus disse-lhe: «Deixa-a, pois a sua alma está amargurada e o Senhor ocultou-me tudo, nada me revelou.» A mulher disse: «Pedi eu, porventura, algum filho ao meu senhor? Não te disse que não zombasses de mim?» Eliseu disse a Guiezi: «Aperta o teu cinto, toma na mão o meu bastão e parte. Se encontrares alguém não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas. Porás o meu bastão sobre o rosto do menino.» A mãe do menino exclamou: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei!» Então, Eliseu levantou-se e seguiu-a. Entretanto, Guiezi, que ia à frente deles, pôs o bastão sobre o rosto do menino, mas ele não falava nem sentia. Voltou à procura de Eliseu e disse-lhe: «O menino não ressuscitou.» Eliseu entrou na casa, onde se encontrava o menino morto em cima da sua cama. Entrou, fechou a porta, ficando sozinho com o morto, e orou ao Senhor. Depois, subiu para a cama, deitou-se sobre o menino, colocando a sua boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele, as suas mãos sobre as mãos dele. E encostado, assim, sobre o menino, o corpo do menino foi aquecendo. Eliseu levantou-se, deu algumas voltas pelo quarto, tornou a subir e a estender-se sobre o menino, que espirrou sete vezes e abriu os olhos. Eliseu chamou Guiezi e disse-lhe: «Chama a chunamita.» Ele chamou-a. A chunamita entrou e Eliseu disse-lhe: «Toma o teu filho.» Então, ela lançou-se aos pés de Eliseu, prostrando-se por terra. Depois, tomou o seu filho e saiu. Quando Eliseu voltou a Guilgal, a fome devastava o país. Estando os filhos dos profetas sentados diante dele, disse ao seu servo: «Toma numa panela grande e prepara uma sopa para os filhos dos profetas.» Um deles foi ao campo colher legumes e encontrou uma planta silvestre: colheu dela pepinos bravos, encheu o manto, regressou a casa, cortou-os em pedaços e deitou-os na panela, sem saber o que era. Serviram aos companheiros para que comessem. Porém, logo que provaram a comida, eles puseram-se a gritar: «Ó homem de Deus, é a morte que está nesta panela!» E não conseguiram comer mais. Eliseu disse-lhes: «Trazei-me farinha.» Deitou então a farinha na panela e disse: «Serve, agora, para que todos comam.» E já não havia na panela nada de amargo. Veio um homem de Baal-Salisa, que trazia ao homem de Deus, como oferta de primícias, vinte pães de cevada e trigo novo, no seu saco. Disse Eliseu: «Dá-os a esses homens para que comam.» O seu servo respondeu: «Como poderei dar de comer a cem pessoas com isto?» Insistiu Eliseu: «Dá-os a esses homens para que comam. Pois isto diz o Senhor, ‘Comerão e ainda sobrará.’» Ele colocou os pães diante deles. Todos comeram e ainda sobejou, como o Senhor tinha dito. Naaman, general dos exércitos do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante do seu amo e era muito estimado, porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem robusto e valente, mas leproso. Ora tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem donzela, que ficou ao serviço da mulher de Naaman. Ela disse à sua senhora: «Ah, se o meu amo fosse ter com o profeta que vive na Samaria, certamente ficava curado da lepra!» Naaman foi contar ao seu soberano aquilo que dissera a jovem israelita. O rei da Síria respondeu-lhe: «Vai, que eu vou escrever uma carta ao rei de Israel.» Naaman partiu levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa. Levou ao rei de Israel uma carta escrita nestes termos: «Juntamente com esta carta, aí te mando o meu servo Naaman, para que o cures da sua lepra.» Ao terminar de ler a carta, o rei de Israel rasgou as suas vestes e exclamou: «Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vida, de modo que me enviem alguém para eu o curar da lepra? Reparai e vede como ele busca pretextos contra mim.» Mas Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei rasgara as suas vestes e mandou-lhe dizer: «Porque rasgaste as tuas vestes? Que ele venha ter comigo e saberá que há um profeta em Israel.» Chegou, pois, Naaman com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu. Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: «Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.» Naaman, irritado, retirou-se, dizendo: «Pensava que ele sairia a receber-me e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, colocaria a sua mão no lugar infectado e me curaria da lepra. Porventura, os rios de Damasco, o Abaná e o Parpar, não são acaso melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia lavar neles e ficar limpo?» E, virando costas, retirou-se indignado. Mas os seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difícil, não a deverias fazer? Quanto mais agora, ao dizer-te: ‘Lava-te e ficarás curado.’» Naaman desceu ao Jordão e lavou-se sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e a sua carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo. Voltou, então, ao homem de Deus com toda a sua comitiva; entrou, apresentou-se diante dele e disse: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo.» Eliseu respondeu: «Pelo Senhor, o Deus vivo a quem sirvo, juro que nada aceitarei.» E, apesar das instâncias de Naaman, ele continuou a recusar. Então, Naaman disse: «Já que não aceitas, permite ao menos que se dê ao teu servo uma quantidade de terra deste país, tanta quanta possam carregar duas mulas. Pois doravante o teu servo não oferecerá mais holocaustos nem sacrifícios a outros deuses, mas somente ao Senhor. Entretanto, roga ao Senhor que perdoe ao teu servo o seguinte: Quando o meu soberano entrar no templo de Rimon para adorar, apoiando-se no meu braço e eu também me prostrar no templo de Rimon, que o Senhor perdoe esse gesto ao teu servo.» Eliseu respondeu: «Vai em paz!» Já Naaman ia a uma certa distância, quando Guiezi, servo de Eliseu, disse consigo: «Meu amo tratou demasiadamente bem a Naaman, esse sírio, recusando aceitar da sua mão o que ele tinha trazido. Pelo Senhor, o Deus vivo! Vou correr atrás dele, a ver se me dá alguma coisa.» E Guiezi correu atrás de Naaman, o qual, vendo-o a correr, desceu do seu carro, veio ao seu encontro e disse-lhe: «Está tudo bem?» Guiezi respondeu: «Sim. O meu senhor envia-me para te dizer o seguinte: ‘Acabaram de chegar a minha casa dois jovens da montanha de Efraim, que são dos filhos dos profetas. Peço-te que me dês para eles um talento de prata e duas mudas de roupa.’» Naaman respondeu: «É melhor que leves dois talentos.» Naaman insistiu e, metendo dois talentos e duas mudas de roupa em dois sacos, entregou-os a dois dos seus servos para que os levassem junto de Guiezi. Quando atingiram a colina, Guiezi tomou os sacos das mãos deles e guardou-os em sua casa. Depois, despediu os dois homens que se retiraram. A seguir, entrou e foi apresentar-se ao seu amo. Eliseu perguntou-lhe: «De onde vens, Guiezi?» Ele respondeu: «O teu servo não foi a parte alguma.» Mas Eliseu replicou: «Acaso não estava presente o meu espírito, quando um homem saltou do seu carro ao teu encontro? Será agora tempo para receber prata ou roupa, oliveiras ou vinhas, ovelhas ou bois, criados ou criadas? A lepra de Naaman pegar-se-á a ti e a toda a tua descendência para sempre.» E Guiezi saiu da presença de Eliseu coberto de uma lepra branca como a neve. Os filhos dos profetas disseram a Eliseu: «O lugar onde vivemos contigo tornou-se demasiado estreito para nós. Vamos até ao Jordão, cortemos, cada um de nós, um tronco do bosque e construamos ali uma casa, para habitarmos.» Respondeu-lhes ele: «Ide.» Mas um deles disse: «Vem também tu com os teus servos.» Respondeu Eliseu «Irei.» Partiu com eles. Chegados ao Jordão, puseram-se a cortar madeira. Ora, estando um deles a cortar um tronco, o machado caiu à água. Exclamou ele: «Ah, meu senhor! Este machado era emprestado.» Perguntou o homem de Deus: «Onde caiu?» Ele apontou-lhe o lugar; Eliseu cortou um pau, atirou-o à água, e o machado veio à superfície. Disse ele: «Retira-o de lá.» Então o homem estendeu a mão e apanhou-o. O rei da Síria, que estava em guerra contra Israel, aconselhou-se com os seus servos e disse-lhes: «Acamparemos em tal e tal lugar.» O homem de Deus mandou, então, dizer ao rei de Israel: «Evita passar por tal lugar, porque os sírios estão ali acampados.» O rei de Israel enviou homens ao lugar sobre o qual o homem de Deus o tinha informado e avisado. E isto aconteceu não apenas uma ou duas vezes. O rei da Síria, alvoroçado por causa disso, chamou os seus servos e disse-lhes: «Não me descobrireis quem dos nossos nos tem atraiçoado junto do rei de Israel?» Um dos seus servos respondeu: «Não foi ninguém, ó rei, meu senhor; é o profeta Eliseu que conta ao rei de Israel os planos que fazes na tua própria alcova.» E o rei disse: «Ide e vede onde ele se encontra, para eu o mandar prender.» Disseram ao rei: «Ele está em Dotan.» O rei enviou para lá cavalos, carros e as melhores tropas, que chegaram de noite e cercaram a cidade. Na manhã seguinte, o criado do homem de Deus, saindo cedo, viu o exército que cercava a cidade com cavalos e carros. E aquele servo disse a Eliseu: «Ah!, meu senhor, que vamos fazer agora?» Eliseu respondeu-lhe: «Não temas! Aqueles que estão connosco são mais numerosos do que os que estão com eles.» Eliseu, depois de fazer uma oração, disse: «Senhor, abre-lhe os olhos para que veja.» O Senhor abriu os olhos do servo e ele viu o monte repleto de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. Entretanto, os inimigos aproximavam-se dele e Eliseu orou ao Senhor, dizendo: «Atinge estes homens com a cegueira.» E o Senhor, ouvindo a prece de Eliseu, cegou-os. Eliseu disse-lhes: «Não é este o caminho, nem é esta a cidade. Segui-me, pois, vou conduzir-vos ao homem que buscais.» E então conduziu-os para a Samaria. Tendo entrado na Samaria, Eliseu disse: «Senhor, abre os olhos a estes homens, para que vejam.» O Senhor abriu-lhes os olhos e eles viram que estavam na cidade da Samaria. Ao vê-los, o rei de Israel disse a Eliseu: «Devo matá-los, meu pai?» Mas ele respondeu: «Não. Acaso costumas matar aqueles que, com a tua espada e o teu arco, fazes prisioneiros? Dá-lhes antes pão e água, para que possam comer e beber e voltem para junto do seu amo.» O rei mandou servir-lhes um grande banquete. Eles comeram e beberam. Depois, deixou-os em liberdade e eles voltaram para junto do seu soberano. E, a partir de então, os guerreiros sírios não voltaram mais às terras de Israel. Depois destes acontecimentos, Ben-Hadad, rei da Síria, mobilizou todo o seu exército e subiu para sitiar a cidade da Samaria. Uma grande fome alastrou pela cidade e o cerco foi tão apertado que uma cabeça de jumento valia oitenta siclos de prata, e um quarto de cab* de excrementos de pomba, cinco siclos de prata. Um dia em que o rei passeava pela muralha, uma mulher gritou-lhe: «Socorre-me, ó rei, meu senhor!» O rei respondeu-lhe: «Se o Senhor não te salva, com que te poderei eu socorrer? Com o trigo da eira ou o vinho do lagar?» E acrescentou: «Que te aconteceu?» Ela respondeu ao rei: «Esta mulher que aqui vês, disse-me: ‘Dá-me o teu filho para o comermos hoje; amanhã comeremos o meu.’ Cozemos, então, o meu filho e comemo-lo. No dia seguinte, quando eu lhe disse: ‘Dá-me o teu filho, para comermos’, ela escondeu-o.» Ao ouvir o que dizia a mulher, o rei rasgou as suas vestes; e, como continuou a passear pela muralha, o povo viu que, por baixo, junto ao corpo, ele usava um tecido de saco. E o rei disse: «Que Deus me trate com rigor e me castigue, se a cabeça de Eliseu, filho de Chafat, lhe ficar hoje sobre os ombros!» Eliseu estava em sua casa e os anciãos estavam sentados com ele. O rei fizera-se preceder de um mensageiro; mas, antes que este chegasse, Eliseu disse aos anciãos: «Não sabeis que este filho de assassino deu ordens a alguém para me cortar a cabeça? Atenção! Quando chegar o mensageiro, fechai-lhe a porta e afastai-o. Não se ouve já o ruído dos passos do seu amo, que vem atrás dele?» Estava Eliseu ainda a falar com eles e eis que o mensageiro se apresentou diante dele e lhe disse: «Este tão grande mal veio-nos do Senhor. Como é que eu poderei ainda confiar no Senhor ?» Eliseu disse ao enviado do rei: «Ouve a palavra do Senhor, Amanhã, a esta mesma hora, uma medida de flor de farinha ou duas medidas de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria.» O oficial, em cujo braço se apoiava o rei, respondeu ao homem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse janelas no céu, seria porventura possível semelhante coisa?» Eliseu respondeu-lhe: «Tu o verás com os teus próprios olhos, mas não comerás.» Ora, estavam quatro leprosos à porta da cidade, os quais disseram entre si: «Porque ficamos aqui até morrer? Se decidirmos ir para a cidade, morreremos, porque ali reina a fome; se ficarmos aqui, morreremos da mesma maneira. Vinde, portanto; passemos ao acampamento dos sírios! Se eles nos pouparem a vida, viveremos! Se eles nos matarem, de qualquer modo, tínhamos de morrer.» Ao anoitecer, partiram para o acampamento dos sírios, mas ao chegarem ao extremo do acampamento, viram que não havia ali ninguém. O Senhor fizera ressoar no acampamento dos sírios um estrondo de carros, de cavalaria e de um grande exército, e eles disseram uns para os outros: «É certamente o rei de Israel que assalariou os reis dos hititas e os reis dos egípcios para virem combater contra nós.» Levantaram-se, pois, e fugiram, ainda de noite, deixando ali as suas tendas, os cavalos e os jumentos; abandonaram o acampamento tal como estava e só cuidaram de salvar a própria vida. Os leprosos, então, chegando à extremidade do acampamento, entraram numa tenda, comeram e beberam, tomaram consigo ouro, prata, vestes e foram escondê-los. Voltaram em seguida, entraram noutra tenda, pegaram em mais coisas e foram igualmente escondê-las. Então, os leprosos disseram uns para os outros: «Não está bem o que estamos a fazer. Hoje é um dia de boas novas. Se nos calarmos e esperarmos até ao romper da aurora, seremos castigados. Vamos antes levar a informação à casa do rei.» Foram e contaram o sucedido aos guardas da porta da cidade, dizendo-lhes: «Entrámos no acampamento dos sírios. Não há ali ninguém, nem uma voz humana sequer; só há cavalos e jumentos amarrados e as tendas estão ainda armadas.» Os guardas da porta levaram a boa-nova ao interior do palácio real. Era de noite, mas o rei levantou-se e disse aos seus servos: «Vou dizer-vos o que os sírios tramam contra nós: sabem que estamos famintos e, por isso, deixaram o acampamento e foram armar emboscadas no campo, dizendo: ‘Quando saírem da cidade, apanhamo-los vivos e entramos nela.’» Mas um dos servos do rei falou e disse: «Tomemos cinco dos cavalos que nos restam ainda na cidade e mandemos fazer um reconhecimento, pois a sorte desses será igual à de toda a gente que ficou em Israel, pois todos estão a acabar. Enviemo-los e veremos.» Escolheram dois carros com os cavalos e o rei enviou homens para seguirem os passos do exército sírio, dizendo-lhes: «Ide ver.» Eles seguiram o rasto dos sírios até ao Jordão. Todo o caminho estava semeado de vestes e de outros objectos que os sírios, precipitadamente, tinham abandonado. Os mensageiros voltaram e contaram tudo ao rei. Saiu, então, o povo e saqueou o acampamento dos sírios. E vendeu-se uma medida de flor de farinha por um siclo, e, igualmente por um siclo, duas medidas de cevada, tal como o Senhor dissera. O rei confiara a guarda da porta ao oficial em cujo braço se apoiava. Mas, com os empurrões do povo, foi esmagado e caiu morto à entrada da porta, conforme predissera o homem de Deus, quando o rei descera à sua casa. O homem de Deus dissera ao rei: «Amanhã, a esta mesma hora, duas medidas de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria, e uma medida de flor de farinha valerá igualmente um siclo.» E o oficial tinha respondido ao homem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse janelas no céu, porventura seria possível tal coisa?» A isto Eliseu tinha respondido: «Tu o verás com os teus olhos, mas não comerás.» Foi o que lhe aconteceu: o povo atropelou-o à entrada da porta e ele morreu. Eliseu disse à mulher cujo filho ressuscitara: «Parte com todos os teus e vai habitar noutro lugar qualquer, porque o Senhor mandou a fome e ela alastrará sobre esta terra, durante sete anos.» Fez, pois, a mulher o que lhe dissera o homem de Deus: emigrou com a sua família e foi viver durante sete anos para a terra dos filisteus. Passados os sete anos, regressou da terra dos filisteus e foi reclamar ao rei, por causa da sua casa e da sua terra. O rei estava a conversar com Guiezi, servo do homem de Deus, pedindo que lhe contasse os prodígios que Eliseu tinha realizado. Guiezi referia justamente como Eliseu tinha ressuscitado um morto, quando a mulher, cujo filho ressuscitara, chegou a fim de reclamar do rei a sua casa e a sua terra. Guiezi exclamou: «Eis, ó rei, meu senhor! Esta é a mulher e este é o seu filho que Eliseu ressuscitou.» O rei interrogou a mulher e ela narrou-lhe o acontecido. Então o rei mandou com ela um eunuco, ao qual disse: «Faz com que lhe seja restituído tudo o que lhe pertence, bem como todos os rendimentos da sua propriedade, desde que a deixou até ao dia de hoje.» Eliseu foi a Damasco. Ben-Hadad, rei da Síria, encontrava-se doente. Foram avisá-lo, dizendo: «O homem de Deus veio até aqui.» O rei disse a Hazael: «Toma contigo um presente e vai ao encontro do homem de Deus. Consultarás o Senhor, por seu intermédio, a fim de saber se sairei vivo desta minha doença.» Hazael foi ao encontro do homem de Deus, levando consigo presentes, do que havia de melhor em Damasco, transportados em quarenta camelos. Ao chegar à sua presença disse: «O teu filho Ben-Hadad, rei da Síria, enviou-me para te perguntar se sairá vivo da sua doença.» Eliseu respondeu-lhe: «Vai e diz-lhe que ele sobreviverá a esta doença. Mas o Senhor revelou-me que, de qualquer modo, ele vai morrer.» Depois, o homem de Deus ficou parado e sentiu-se perturbado, pondo-se em seguida a chorar. Perguntou Hazael: «Porque chora o meu senhor?» Ele respondeu: «Porque sei o mal que farás aos israelitas: incendiarás as suas cidades fortes, matarás ao fio da espada os seus jovens, esmagarás as suas crianças e rasgarás o ventre das suas mulheres grávidas.» Disse-lhe Hazael: «Será o teu servo um cão, para fazer tão grandes crimes?» Eliseu respondeu: «O Senhor mostrou-me numa visão que serás rei da Síria.» Deixando Eliseu, voltou Hazael para junto do seu amo, que lhe perguntou: «Que te disse Eliseu?» Respondeu ele: «Disse-me que vais sobreviver.» No dia seguinte, Hazael pegou num cobertor, molhou-o em água, estendeu-o sobre o rosto do rei e este morreu. E Hazael sucedeu-lhe no trono. No quinto ano de Jorão, filho de Acab, rei de Israel, Jorão, filho de Josafat, começou a reinar em Judá. Tinha trinta e dois anos quando começou a reinar, e reinou oito anos em Jerusalém. Seguiu o caminho dos reis de Israel, como fizera a casa de Acab. Desposou uma filha de Acab e fez o mal aos olhos do Senhor. Apesar disso, o Senhor não quis destruir a casa de Judá, por causa de David, seu servo, a quem prometera conservar sempre uma lâmpada na sua descendência. No tempo de Jorão, os edomitas sacudiram o jugo de Judá e elegeram um rei próprio. Jorão foi a Seir com todos os seus carros, e, durante a noite, atacou os edomitas que o tinham cercado a ele e aos chefes dos seus carros; as tropas, porém, fugiram para as suas tendas. E assim Edom sacudiu o jugo de Judá até ao dia de hoje. Naquele mesmo tempo, Libna revoltou-se de igual modo. O resto da história de Jorão e os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Jorão adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado junto deles, na cidade de David. O seu filho Acazias sucedeu-lhe no trono. No décimo segundo ano de Jorão, filho de Acab, rei de Israel, Acazias filho de Jorão, rei de Judá, começou a reinar em Judá. Acazias tinha vinte e dois anos, quando começou a reinar, e reinou um ano em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Atália, e era filha de Omeri, rei de Israel. Ele seguiu o caminho da casa de Acab e fez o mal aos olhos do Senhor, como a casa de Acab, de quem era genro. Saiu com Jorão, filho de Acab, a combater Hazael, rei da Síria, em Ramot de Guilead, e Jorão foi ferido pelos sírios. Regressou, então, a Jezrael para se curar dos ferimentos recebidos da parte dos sírios, no combate contra Hazael, rei da Síria. E Acazias, filho de Jorão, rei de Judá, desceu a Jezrael, para visitar Jorão, filho de Acab, que estava doente. O profeta Eliseu chamou um dos filhos dos profetas e disse-lhe: «Aperta o teu cinto e parte para Ramot de Guilead com este frasco de óleo. Quando lá chegares, procurarás Jeú, filho de Josafat, filho de Nimechi. Aproximar-te-ás dele e farás com que se levante do meio dos seus irmãos. Conduzi-lo-ás a um aposento retirado e, tomando o frasco de óleo, derramá-lo-ás sobre a sua cabeça, dizendo: ‘Isto diz o Senhor, Eu te consagro rei de Israel.’ Depois abrirás a porta e fugirás dali sem demora.» O jovem servo do profeta partiu para Ramot de Guilead. Quando lá chegou, os chefes do exército estavam sentados em reunião. E disse: «Chefe, tenho uma palavra a dizer-te.» Jeú perguntou: «A qual de nós?» Ele respondeu: «A ti, chefe.» E Jeú levantou-se, entrou em casa, e o jovem derramou-lhe, então, o óleo na cabeça, dizendo: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu te consagro rei de Israel, do povo do Senhor. Atacarás a casa de Acab, teu soberano, e vingarás o sangue dos meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do Senhor, que foi derramado por Jezabel. Toda a casa de Acab perecerá; exterminarei da casa de Acab, em Israel, todos os descendentes masculinos, sejam escravos ou livres. Farei à casa de Acab o que fiz à de Jeroboão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías. E Jezabel será devorada pelos cães no campo de Jezrael, e ninguém lhe dará sepultura.’» Dizendo isto, o jovem abriu a porta e fugiu. Quando Jeú voltou para junto dos oficiais do seu soberano, estes perguntaram-lhe: «Está tudo bem? Porque veio esse louco ter contigo?» Ele respondeu-lhes: «Vós conheceis esse homem e a sua conversa.» Eles exclamaram: «Isso é mentira! Mas conta-nos a verdade.» Respondeu então: «Pois bem, ele disse-me isto e mais isto. E acrescentou: Isto diz o Senhor, ‘Eu te consagro rei de Israel.’» Levantaram-se, então, imediatamente, tomaram cada um o seu manto, estenderam-no aos seus pés em forma de estrado, e tocaram a trombeta, gritando: «Jeú é rei!» Portanto, Jeú, filho de Josafat, filho de Nimechi, conspirou contra Jorão, no tempo em que Jorão, com todo o Israel, defendia Ramot de Guilead contra Hazael, rei da Síria. O rei Jorão tinha vindo a Jezrael para se curar dos ferimentos recebidos dos sírios, quando combatia contra Hazael, rei da Síria. Disse, então, Jeú: «Se esta é a vossa vontade, ninguém se escape da cidade para ir dar a notícia a Jezrael.» E Jeú subiu para o seu carro e partiu, sem demora, para Jezrael, onde Jorão, no seu leito de enfermo, recebia a visita de Acazias, rei de Judá. A sentinela, que estava no alto da torre de Jezrael, vendo aproximar-se a tropa de Jeú, anunciou: «Vejo aproximar-se uma tropa.» Jorão disse: «Toma um carro e manda alguém ao seu encontro perguntar se tudo está bem.» Ao chegar junto de Jeú, o mensageiro disse: «O rei manda perguntar se tudo está bem.» Jeú respondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» A sentinela avisou: «O mensageiro chegou junto dele, mas já não volta.» O rei enviou um segundo mensageiro, que se apresentou diante de Jeú, dizendo: «O rei manda saber se tudo está bem.» Jeú respondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» Imediatamente a sentinela deu o aviso: «Também este chegou junto deles, mas já não volta. Pelo modo de conduzir o carro, parece ser Jeú, filho de Nimechi, pois corre como um louco.» Jorão disse: «Preparai o meu carro.» Atrelaram os cavalos ao carro de Jorão, rei de Israel, o qual partiu com Acazias, rei de Judá, cada um no seu carro, ao encontro de Jeú. Encontraram-se no campo de Nabot de Jezrael. Ao vê-lo, Jorão perguntou-lhe: «Está tudo bem, Jeú?» Ele respondeu: «Como poderá estar tudo bem, enquanto durar a prostituição de Jezabel, tua mãe, e as suas muitas magias?» Então, Jorão voltou as rédeas e fugiu, dizendo a Acazias: «Traição, Acazias!» Mas Jeú, disparando com força o arco, atingiu Jorão entre as espáduas, de modo que a flecha lhe atravessou o coração e o rei caiu morto no seu carro. Jeú disse ao seu oficial Bidcar: «Agarra-o e atira-o ao campo de Nabot de Jezrael, pois deves recordar o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele, quando tu e eu, montados, seguíamos Acab, seu pai. Tão certo como vi ontem correr o sangue de Nabot – oráculo do Senhor pagar-te-ei na mesma moeda, neste mesmo campo – oráculo do Senhor. Portanto, agarra-o e atira-o ao campo, conforme a palavra do Senhor.» Vendo isto, Acazias, rei de Judá, fugiu pelo caminho de Bet-Hagan. Mas Jeú perseguiu-o, gritando: «Também a ele!» Feriram-no no seu carro, na subida de Gur, perto de Jiblam. Ele, porém, fugiu para Meguido e ali morreu. Os seus servos levaram-no no seu carro para Jerusalém e sepultaram-no no seu túmulo junto dos seus pais, na cidade de David. Acazias começou a reinar em Judá no décimo primeiro ano de Jorão, filho de Acab. Jeú entrou em Jezrael. Jezabel, informada da sua chegada, pintou os olhos, adornou a cabeça e olhou pela janela. Quando Jeú entrou pela porta da cidade, ela disse-lhe: «Como vais, Zimeri, assassino do teu amo?» Jeú levantou os olhos para a janela e disse: «Quem está do meu lado?» Dois ou três eunucos fizeram a Jeú uma profunda reverência. «Atirai-a daí abaixo», disse ele. Eles atiraram-na e o sangue dela salpicou as paredes e os cavalos e estes esmagaram-na com as patas. Jeú entrou, comeu, bebeu e disse: «Ide ver essa mulher maldita e sepultai-a, porque é filha de rei.» Foram para lhe dar sepultura, mas só encontraram o crânio, os pés e as palmas das mãos. Vieram dar a notícia a Jeú, que disse: «Foi este o oráculo que o Senhor pronunciou pela boca do seu servo Elias, o tisbita: ‘No campo de Jezrael, os cães devorarão a carne de Jezabel, e o seu cadáver será como esterco espalhado sobre um campo, de de modo que ninguém poderá sequer dizer: Esta é Jezabel.’» Havia na Samaria setenta filhos de Acab. Jeú escreveu uma carta e enviou-a à Samaria aos magistrados da cidade, aos anciãos e aos preceptores dos filhos de Acab. E nela dizia: «Logo que receberdes esta, já que tendes convosco os filhos do vosso soberano, assim como carros, cavalos, uma cidade fortificada e armas, escolhei o melhor e o mais qualificado dos filhos do vosso amo, ponde-o no trono de seu pai e combatei pela casa do vosso soberano.» Eles, porém, muito atemorizados, disseram: «Se dois reis não conseguiram resistir diante dele, como poderemos nós resistir-lhe?» O prefeito do palácio, o comandante da cidade, os anciãos e os preceptores dos filhos de Acab responderam a Jeú nestes termos: «Somos teus servos, faremos tudo o que nos disseres; não elegeremos um rei. Faz como te parecer melhor.» Escreveu-lhe Jeú uma segunda carta, na qual dizia: «Se estais do meu lado e quereis obedecer às minhas ordens, cortai as cabeças dos filhos do vosso soberano e trazei-mas a Jezrael, amanhã, a esta mesma hora.» Os filhos do rei, em número de setenta, encontravam-se nas casas dos grandes da cidade, que os educavam. Logo que receberam a carta de Jeú, apanharam os setenta príncipes e mataram-nos. Meteram as cabeças em cestos e mandaram-nas a Jeú, em Jezrael. Chegou, pois, um mensageiro e avisou Jeú, dizendo: «Trouxeram as cabeças dos filhos do rei.» Jeú ordenou: «Ponde-as em dois montes, à porta da cidade, até amanhã de manhã.» Logo que amanheceu, ele saiu e, pondo-se diante de todo o povo, disse: «Vós sois justos. Eu é que conspirei contra o meu soberano e o matei. Mas quem degolou todos estes? Ficai sabendo que não cairá por terra nenhuma das palavras pronunciadas pelo Senhor contra a casa de Acab. O Senhor realizou aquilo que anunciara pelo seu servo Elias.» Jeú matou também todos os que restavam da casa de Acab em Jezrael, os seus principais oficiais, os seus amigos e sacerdotes, sem deixar sobreviver nenhum deles. Depois dirigiu-se à Samaria e, ao chegar a Bet-Équed-Haroim, que está junto do caminho, Jeú encontrou os irmãos de Acazias, rei de Judá, e perguntou-lhes: «Quem sois vós?» Eles responderam-lhe: «Somos irmãos de Acazias, e vamos visitar os filhos do rei e os filhos da rainha.» Jeú ordenou: «Apanhai-os vivos!» Apanharam-nos então vivos e massacraram-nos junto da cisterna de Bet-Équed. De quarenta e dois que eram, nem um só escapou. Deixando aquele lugar, Jeú encontrou Jonadab, filho de Recab, que vinha ao seu encontro. Saudou-o, dizendo: «O teu coração é leal para comigo, como é leal o meu para contigo?» Jonadab respondeu: «É certamente.» Disse Jeú: «Então, dá-me a tua mão.» Ele deu-lhe a mão e Jeú fê-lo subir para o seu carro. Disse-lhe: «Vem comigo e verás o zelo que eu tenho pelo Senhor.» E fê-lo subir para o seu carro. Entrando na Samaria, exterminou todos os que ali restavam da casa de Acab e destruiu-a completamente, como o Senhor dissera a Elias. Jeú convocou todo o povo e dirigiu-lhe a palavra nestes termos: «Acab tributou algum culto a Baal; mas Jeú vai, agora, servi-lo muito mais. Convocai, portanto, para junto de mim, todos os profetas de Baal, os seus fiéis e os seus sacerdotes. Que não falte ninguém, pois tenho que oferecer a Baal um grande sacrifício. Aquele que faltar, não ficará vivo.» Isto era apenas uma armadilha para exterminar todos os adoradores de Baal. A seguir, Jeú deu esta ordem: «Promulgai uma assembleia solene em honra de Baal.» Depois, enviou mensageiros por todo o Israel a chamar os adoradores de Baal; estes compareceram todos, sem excepção de nenhum, e reuniram-se no templo de Baal, que se encheu de uma ponta à outra. Jeú disse ao guarda do vestiário: «Entrega vestes a todos os adoradores de Baal.» O guarda distribuiu vestes a todos eles. Jeú entrou no templo de Baal, acompanhado de Jonadab, filho de Recab, e disse aos adoradores de Baal: «Reparai e verificai bem, para que não esteja convosco nenhum dos que servem o Senhor, mas somente os servidores de Baal.» Entraram, pois, para oferecer sacrifícios e holocaustos, mas Jeú colocara oitenta homens do lado de fora, dizendo-lhes: «Aquele de vós que deixar fugir um só destes homens, que entrego nas vossas mãos, pagará com a própria vida a vida do fugitivo.» Terminados os holocaustos, Jeú ordenou aos guardas e aos oficiais: «Entrai e matai-os! Não deixeis escapar nenhum!» E, assim, foram todos passados ao fio da espada. Os guardas e oficiais lançaram fora os cadáveres, penetraram no santuário do templo de Baal, retiraram o ídolo e queimaram-no. Derrubaram a estela de Baal e destruíram o templo, transformando-o em cloacas, que ainda hoje existem. Desta forma, Jeú exterminou de Israel o culto de Baal. Todavia, não se desviou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel; não se afastou deles, pois não derrubou os bezerros de ouro de Betel e de Dan. O Senhor disse-lhe: «Já que fizeste o que é agradável aos meus olhos, tratando a casa de Acab como Eu queria, os teus filhos ocuparão o trono de Israel até à quarta geração.» Entretanto, Jeú não seguiu de todo o seu coração pelos caminhos da lei do Senhor, Deus de Israel, nem se desviou dos pecados que Jeroboão fizera cometer a Israel. Por aquele tempo, o Senhor começou a retalhar em bocados o território de Israel. Hazael derrotou-o em todas as fronteiras, desde o Jordão para oriente, arrebatando-lhe toda a terra de Guilead, a região dos descendentes de Gad, de Rúben e de Manassés, desde Aroer, situada junto à torrente do Arnon, até Guilead e Basan. O resto da história de Jeú, tudo o que ele fez e a sua valentia, estão escritos no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Jeú adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria. Seu filho Joacaz sucedeu-lhe no trono. O tempo que Jeú foi rei de Israel na Samaria foram vinte e oito anos. Atália, mãe de Acazias, ao ver seu filho morto, decidiu exterminar toda a descendência real. Joseba, porém, filha do rei Jorão e irmã de Acazias, tomou Joás, filho de Acazias, e livrou-o do massacre dos filhos do rei, escondendo-o, com a sua ama de leite, no quarto de dormir. Ocultaram-no, assim, de Atália, de modo que pôde escapar à morte. Esteve seis anos escondido com Joseba no templo do Senhor, no tempo em que Atália reinava no país. No sétimo ano, Joiadá convocou os centuriões dos cários e os guardas e introduziu-os no templo do Senhor. Fez com eles um pacto, e, depois de os fazer jurar no templo do Senhor, mostrou-lhes o filho do rei e disse: «Eis o que haveis de fazer: daqueles que entram ao serviço no sábado, um terço de vós montará guarda no palácio real, um terço guardará a porta de Sur, e um terço, a porta que está por detrás da casa dos guardas. Vigiai o palácio, de modo que ninguém possa entrar. As duas companhias que terminarem a sua semana farão guarda ao templo do Senhor, junto do rei. Estareis de armas nas mãos em volta do rei, de maneira que, se alguém quiser forçar as vossas fileiras, será morto. Estareis ao lado do rei, para onde quer que ele for.» Os centuriões executaram fielmente as ordens do sacerdote Joiadá. Tomaram cada um os seus homens, tanto os que começavam o serviço ao sábado, como os que terminavam, e foram ter com o sacerdote Joiadá. Este deu-lhes a lança e os escudos do rei David, que se encontravam no templo do Senhor. Os guardas postaram-se à volta do rei, todos de armas na mão, ao longo do altar e do templo, desde o lado sul até ao lado norte do templo. Então, Joiadá trouxe para fora o filho do rei, pôs-lhe o diadema na cabeça e entregou-lhe o documento da aliança. Proclamaram-no rei, ungiram-no e todos o aplaudiram, gritando: «Viva o rei!» Atalias, ao ouvir a gritaria que faziam os guardas e o povo, entrou no templo do Senhor pelo meio da multidão. E viu, surpreendida, que o rei estava de pé sobre o estrado, segundo o costume, tendo ao seu lado os cantores e as trombetas, enquanto o povo se alegrava, tocando trombetas. Então, ela rasgou as vestes, gritando: «Conspiração! Conspiração!» Mas o sacerdote Joiadá ordenou aos centuriões que comandavam as tropas: «Levai-a para fora do recinto do templo e, se alguém a seguir, matai-o com a espada.» Pois o pontífice proibira que a matassem no templo do Senhor. Agarraram-na, por conseguinte, e ao chegarem ao palácio real, pelo caminho da entrada dos cavalos, ali a mataram. Joiadá fez uma aliança com o Senhor, o rei e o povo, segundo a qual o povo devia ser o povo do Senhor. Fez também uma aliança entre o rei e o povo. Todo o povo da terra entrou então no templo de Baal e destruiu-o; derrubaram os altares, partiram em bocados as imagens e assassinaram Matan, sacerdote de Baal, diante do altar. O sacerdote Joiadá colocou guardas no templo do Senhor. Tomou, a seguir, os centuriões, os cários e os guardas e todo o povo da terra, e levaram o rei desde o templo do Senhor até ao palácio real, onde entrou pela porta dos guardas. E Joás sentou-se no trono dos reis. Todo o povo da terra se alegrou e a cidade ficou em paz. Atália tinha sido morta à espada no palácio real. Joás tinha sete anos quando subiu ao trono. Começou a reinar no sétimo ano de Jeú e reinou quarenta anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Síbia, natural de Bercheba. Joás fez o que era recto aos olhos do Senhor, durante o tempo em que esteve sob a direcção do sacerdote Joiadá. Mas não destruiu os lugares altos, onde todo o povo continuava a sacrificar e a queimar incenso. Joás disse aos sacerdotes: «Todo o dinheiro das coisas consagradas trazido ao templo do Senhor, o dinheiro entregue por todo o israelita recenseado, o dinheiro proveniente do resgate das pessoas, após avaliação, e os dons espontâneos oferecidos ao templo do Senhor, recebê-lo-ão os sacerdotes e empregá-lo-ão na reparação do templo do Senhor, onde quer que precise de ser reparado.» Contudo, no vigésimo terceiro ano do reinado de Joás, os sacerdotes ainda não tinham feito qualquer restauração no templo do Senhor. O rei chamou o sacerdote Joiadá e os outros sacerdotes, e disse-lhes: «Porque não fazeis a reparação do templo? Doravante não recebereis mais dinheiro do povo, mas entregá-lo-eis, para se proceder às reparações do templo.» Proibiu os sacerdotes de receber o dinheiro do povo e de fazer as reparações do edifício. O sacerdote Joiadá tomou um cofre, fez-lhe um buraco na tampa e colocou-o junto do altar, à direita da entrada do templo do Senhor. Os sacerdotes que guardavam a entrada do templo depositavam ali todo o dinheiro que era levado ao templo do Senhor. Quando viam que havia muito dinheiro no cofre, um escriba do rei, com o Sumo Sacerdote, vinha, recolhia e contava o dinheiro, que se encontrava no templo do Senhor. Uma vez pesado o dinheiro, entregavam-no aos encarregados das obras do templo do Senhor, os quais pagavam aos carpinteiros e operários que trabalhavam na casa do Senhor, bem como aos pedreiros e aos canteiros; compravam ainda a madeira e as pedras de cantaria necessárias às reparações, e cobriam todas as despesas decorrentes dos trabalhos. Porém, não se faziam taças, nem facas, nem bacias, nem trombetas, nem utensílio algum de ouro ou de prata, com o dinheiro trazido do templo do Senhor. Antes, era integralmente dado aos empreiteiros que o empregavam nas reparações do templo do Senhor. Não se pediam contas àqueles que recebiam o dinheiro, destinado à paga dos operários, porque eram homens que trabalhavam honestamente. O dinheiro dos sacrifícios pelo delito ou pelo pecado não era levado à casa do Senhor, porque era dos sacerdotes. Naquele tempo, Hazael, rei da Síria, sitiou e apoderou-se de Gat. Dispunha-se a marchar sobre Jerusalém, mas Joás, rei de Judá, tomando os objectos sagrados oferecidos pelos seus antepassados, Josafat, Jorão e Acazias, reis de Judá, e os que ele mesmo tinha oferecido, assim como todo o ouro que se achava nas reservas do templo do Senhor e do palácio real, enviou tudo a Hazael, rei da Síria, o qual desistiu da sua campanha contra Jerusalém. O resto da história de Joás e tudo o que ele fez está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Os seus servos sublevaram-se, conspiraram e assassinaram o rei Joás em Bet-Milo, na descida de Sila. Jozabad, filho de Chimeat, e Jozabad, filho de Chomer, seus servidores, feriram-no e ele morreu. Joás foi sepultado junto dos seus pais na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Amacias. No vigésimo terceiro ano do reinado de Joás, filho de Acazias, rei de Judá, Joacaz, filho de Jeú, tornou-se rei de Israel, na Samaria, e reinou dezassete anos. Fez o mal aos olhos do Senhor, imitando os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel, e não se desviou desses pecados. Por isso, a cólera do Senhor inflamou-se contra Israel, e entregou-o nas mãos de Hazael, rei da Síria, e de Ben-Hadad, filho de Hazael, durante muito tempo. Mas Joacaz rogou ao Senhor, e o Senhor, vendo como os filhos de Israel se encontravam oprimidos por Hazael, rei da Síria, ouviu-o, dando aos israelitas um libertador. Libertados das mãos do rei da Síria, voltaram de novo a habitar nas suas tendas. Entretanto, não se afastaram dos pecados da casa de Jeroboão, que fizera pecar Israel, mas continuaram a cometê-los; até o ídolo de Achera ficou de pé na Samaria. Com efeito, não restaram a Joacaz mais de cinquenta cavaleiros, dez carros e dez mil soldados de infantaria. Os outros, o rei da Síria tinha-os aniquilado e reduzido a pó do chão. O resto da história de Joacaz, os seus actos e a sua valentia, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Joacaz adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria. Joás, seu filho, sucedeu-lhe no trono. No trigésimo sétimo ano do reinado de Joás, rei de Judá, Joás, filho de Joacaz, começou a reinar sobre Israel, na Samaria, e reinou dezasseis anos. Fez o mal aos olhos do Senhor e não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel; antes imitou-os. O resto da história de Joás, os seus actos e a sua valentia, a guerra que moveu contra Amacias, rei de Judá, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Joás adormeceu juntando-se aos seus pais e Jeroboão sucedeu-lhe no trono. Joás foi sepultado na Samaria com os reis de Israel. Eliseu fora atingido pela doença que o deveria vitimar. Joás, rei de Israel, foi visitá-lo. Inclinando-se a chorar sobre o rosto do profeta, disse-lhe: «Meu pai! Meu pai! Carro e condutor de Israel!» Eliseu disse-lhe: «Traz-me um arco e flechas.» Joás levou-lhe um arco e flechas, e Eliseu disse ao rei de Israel: «Põe a tua mão no arco.» Ele obedeceu; Eliseu colocou as suas mãos sobre as do rei, dizendo: «Abre a janela do lado do oriente.» Joás abriu-a. «Atira uma flecha», ordenou Eliseu. Ele atirou-a. Disse o profeta: «Flecha de vitória, pelo Senhor ! Flecha de vitória contra os sírios. Derrotarás os sírios em Afec, até ao extermínio.» E acrescentou: «Toma as flechas.» Joás segurou-as. «Atira um dardo contra a terra!» O rei desfechou três golpes e parou. O homem de Deus irritou-se contra ele, e disse: «Seria necessário desfechar cinco ou seis golpes. Terias então derrotado os sírios até ao extermínio. Assim, porém, só os derrotarás três vezes!» Eliseu morreu e sepultaram-no. Guerrilheiros moabitas fizeram, nesse ano, uma incursão no país. Mas aconteceu que um grupo de pessoas, que ia enterrar um homem, viu esses guerrilheiros e atirou o cadáver ao túmulo de Eliseu. O morto, porém, ao tocar nos ossos de Eliseu, voltou à vida e pôs-se de pé. Hazael, rei da Síria, oprimira os filhos de Israel durante toda a vida de Joacaz. Mas o Senhor compadeceu-se e usou de misericórdia para com eles. Concedeu-lhes de novo a sua benevolência, por causa da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. O Senhor não os quis aniquilar, nem afastar mais da sua presença. Hazael, rei da Síria, morreu e o seu filho Ben-Hadad sucedeu-lhe no trono. Joás, filho de Joacaz, retomou das mãos de Ben-Hadad, filho de Hazael, as cidades que este tinha arrebatado a seu pai na guerra. Joás derrotou-o três vezes e reconquistou as cidades de Israel. No segundo ano do reinado de Joás, filho de Joacaz, rei de Israel, começou a reinar Amacias, filho de Joás, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos, quando começou a reinar, e reinou vinte e nove anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Joadan, natural de Jerusalém. Fez o que é recto aos olhos do Senhor; mas não como David, seu pai. Seguiu os passos de seu pai Joás. Os lugares altos, porém, não desapareceram e o povo continuou a sacrificar e a oferecer incenso sobre eles. Logo que se consolidou o seu reinado, mandou matar todos os servos que tinham assassinado o rei, seu pai. Mas não matou os filhos dos assassinos, conforme o que está escrito no livro da Lei de Moisés, segundo o preceito do Senhor, «Não morrerão os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais: cada um morrerá pelo seu próprio pecado.» Amacias derrotou dez mil edomitas no vale do Sal. Conquistou a cidade de Sela e deu-lhe o nome de Jocteel, nome que conserva ainda hoje. Amacias enviou mensageiros a Joás, filho de Joacaz, filho de Jeú, rei de Israel, a fim de lhe dizer: «Vem, para que nos vejamos face a face.» Joás, rei de Israel, respondeu a Amacias, rei de Judá: «O cardo do Líbano mandou dizer ao cedro do Líbano: ‘Dá a tua filha por esposa ao meu filho.’ Mas os animais selvagens do Líbano passaram e pisaram o cardo. Porque derrotaste os edomitas, o teu coração inchou-se de orgulho. Contenta-te com essa glória e deixa-te ficar em casa. Queres, porventura, meter-te numa desafortunada empresa, que será a tua ruína e a ruína de Judá?» Mas Amacias de nada quis saber. Então o rei de Israel pôs-se a caminho e encontrou-se com Amacias, rei de Judá, em Bet-Chémes, cidade de Judá. Judá foi derrotado por Israel e cada qual fugiu para a sua tenda. Joás, rei de Israel, capturou Amacias, rei de Judá, filho de Joás, filho de Acazias, em Bet-Chémes. Quando chegou a Jerusalém, abriu uma brecha de quatrocentos côvados na muralha da cidade, desde a porta de Efraim até à porta da esquina. Tomou todo o ouro, toda a prata e todos os vasos que se encontravam no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real, e voltou para a Samaria com os reféns. O resto da história de Joás, os seus actos e a sua valentia, a guerra que fez contra Amacias, rei de Judá, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Joás adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria com os reis de Israel. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jeroboão. Amacias, filho de Joás, rei de Judá, viveu ainda quinze anos depois da morte de Joás, filho de Joacaz, rei de Israel. O resto da história de Amacias está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Em Jerusalém, fizeram uma conspiração, mas Amacias fugiu para Láquis. Mas mandaram-no perseguir e ali o mataram. Carregaram, depois, o seu corpo em cima de cavalos, e sepultaram-no em Jerusalém junto dos seus pais, na cidade de David. Todo o povo de Judá tomou Azarias, que tinha dezasseis anos, e proclamou-o rei, no lugar de seu pai Amacias. Depois de o rei ter adormecido, juntando-se aos seus pais, Azarias reconstruiu Elat e restituiu-a ao domínio de Judá. No décimo quinto ano do reinado de Amacias, filho de Joás, rei de Judá, Jeroboão, filho de Joás, começou a reinar sobre Israel, na Samaria. Reinou quarenta e um anos. Fez o mal aos olhos do Senhor, e não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. Restabeleceu as fronteiras de Israel, desde a entrada para Hamat até ao mar da planície, conforme o Senhor anunciara pela boca do seu servo Jonas, filho de Amitai, natural de Gat-Héfer. O Senhor vira a aflição tão amargurada de Israel, pois já não restavam nem escravos nem homens livres nem havia ninguém para socorrer Israel. O Senhor não decretara ainda apagar o nome de Israel de debaixo do céu e, por isso, libertou-o pelas mãos de Jeroboão, filho de Joás. O resto da história de Jeroboão, os seus actos e a sua valentia, o modo como combateu e reconquistou Damasco e Hamat de Judá para Israel, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Jeroboão adormeceu juntando-se aos seus pais, os reis de Israel. E sucedeu-lhe no trono o seu filho Zacarias. No vigésimo sétimo ano do reinado de Jeroboão, rei de Israel, começou a reinar Azarias, filho de Amacias, rei de Judá. Tinha dezasseis anos quando começou a reinar e reinou cinquenta e dois anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Jecolias, natural de Jerusalém. Ele fez o que era recto aos olhos do Senhor, seguindo fielmente os passos de seu pai Amacias. Contudo, os lugares altos não desapareceram. O povo continuou a sacrificar e a oferecer incenso sobre eles. O Senhor feriu de lepra o rei, que ficou leproso até ao dia da sua morte, vivendo isolado numa casa. Jotam, filho do rei, administrava o palácio e governava o povo do país. O resto da história de Azarias e todos os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Azarias adormeceu, juntando-se aos seus pais, e sepultaram-no com eles na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jotam. No trigésimo oitavo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Zacarias, filho de Jeroboão, começou a reinar sobre Israel, na Samaria. O seu reinado durou seis meses. Fez o mal aos olhos do Senhor, como o tinham feito os seus pais. Não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. Chalum, filho de Jabés, conspirou contra ele e assassinou-o diante do povo. Depois, sucedeu-lhe no trono. O resto da história de Zacarias está escrita no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Assim se cumpriu o que o Senhor dissera a Jeú: «Os teus descendentes ocuparão o trono de Israel durante quatro gerações.» E assim sucedeu. No trigésimo nono ano do reinado de Uzias, rei de Judá, Chalum, filho de Jabés, começou a reinar na Samaria. O seu reinado durou um mês. Menaém, filho de Gadi, partiu de Tirça, foi à Samaria e assassinou Chalum, filho de Jabés, sucedendo-lhe no trono. O resto da história de Chalum e a conspiração que ele maquinou, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Menaém atacou Tifsa, tudo o que nela havia e todo o seu território, partindo de Tirça, por não lhe abrirem as portas; derrotou-a e rasgou o ventre de todas as mulheres grávidas. No trigésimo nono ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Menaém, filho de Gadi, começou a reinar em Israel. E reinou dez anos na Samaria. Fez o mal aos olhos do Senhor, e, durante toda a vida, não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. Menaém deu a Pul, rei da Assíria, que invadira o país, mil talentos de prata, a fim de que ele o ajudasse a consolidar o seu poder. Menaém, para juntar esta quantia para o rei da Assíria, exigiu uma contribuição dos grandes proprietários de Israel, à razão de cinquenta siclos de prata por pessoa. Então, o rei da Assíria retirou-se sem demora, e deixou de ocupar o país. O resto da história de Menaém, e todos os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. Menaém adormeceu juntando-se aos seus pais; sucedendo-lhe no trono seu filho Pecaías. No quinquagésimo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Pecaías, filho de Menaém, começou a reinar em Israel. E reinou dois anos na Samaria. Fez o mal aos olhos do Senhor e não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. Pecá, filho de Remalias, um dos generais de Pecaías, conspirou contra ele com cinquenta homens de Guilead, e assassinou-o na Samaria na torre do palácio real, junto de Argob e de Arié. Matou-o e tornou-se rei no seu lugar. O resto da história de Pecaías e todos os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. No quinquagésimo segundo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Pecá, filho de Remalias, começou a reinar em Israel, na Samaria, e reinou vinte anos. Fez o mal aos olhos do Senhor, pois não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. No tempo de Pecá, rei de Israel, Tiglat-Falasar, rei da Assíria, veio e apoderou-se de Ion. Tomou também Abel-Bet-Maacá, Janoa, Quedes, Haçor, Guilead, a Galileia e toda a terra de Neftali, e levou todos os seus habitantes cativos para a Assíria. Oseias, filho de Elá, conspirou contra Pecá, filho de Remalias, atacou-o e assassinou-o. Sucedeu-lhe no trono, no vigésimo ano do reinado de Jotam, filho de Uzias. O resto da história de Pecá e todos os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel*. No segundo ano do reinado de Pecá, filho de Remalias, rei de Israel, começou a reinar Jotam, filho de Uzias, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar e reinou dezasseis anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Jerusa, filha de Sadoc. Fez o que era recto aos olhos do Senhor e seguiu fielmente os passos do seu pai Uzias. Todavia, os lugares altos não foram retirados. O povo continuou a sacrificar e a queimar incenso nesses lugares. Jotam edificou a porta superior do templo do Senhor. O resto da história de Jotam e todos os seus feitos, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Nesse tempo, o S começou a enviar Recin, rei da Síria, e Pecá, filho de Remalias, contra Judá. Jotam adormeceu juntando-se aos seus pais e sepultaram-no com eles na cidade de David, seu pai. Sucedeu-lhe no trono seu filho Acaz. No décimo sétimo ano do reinado de Pecá, filho de Remalias, começou a reinar Acaz, filho de Jotam, rei de Judá. Tinha vinte anos quando começou a reinar, e reinou dezasseis anos em Jerusalém. Não fez o que era recto aos olhos do Senhor, seu Deus, como David, seu pai; antes seguiu os passos dos reis de Israel. Chegou até a passar pelo fogo o seu próprio filho, como faziam os reis de Israel, segundo o abominável costume dos povos que o Senhor tinha expulsado diante dos filhos de Israel. Oferecia também sacrifícios e incenso nos lugares altos, nas colinas e debaixo de qualquer árvore frondosa. Então, Recin, rei da Síria, e Pecá, filho de Remalias, rei de Israel, subiram para atacar Jerusalém; montaram um cerco contra Acaz, mas não o venceram. Por aquele tempo, Recin, rei da Síria, restituiu Elat aos edomitas, depois de ter expulsado dela os filhos de Judá. Os edomitas regressaram a Elat, onde permaneceram até ao dia de hoje. Acaz enviou mensageiros a Tiglat-Falasar, rei da Assíria, a dizer-lhe: «Eu sou o teu servo e o teu filho. Vem e salva-me das mãos do rei da Síria e do rei de Israel, que se levantaram contra mim.» Acaz tomou a prata e o ouro que se encontravam no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real e enviou-os como presente ao rei da Assíria. Este cedeu ao seu desejo: atacou Damasco e apoderou-se dela. Deportou a sua população para Quir e matou Recin. Então o rei Acaz foi a Damasco para receber Tiglat-Falasar, rei da Assíria. Vendo o altar que se encontrava em Damasco, o rei Acaz enviou ao sacerdote Urias um modelo exacto, com a planta em todos os pormenores. Urias construiu um altar conforme o modelo que o rei Acaz lhe enviara de Damasco, e já o tinha terminado antes que Acaz regressasse. Quando Acaz chegou de Damasco, viu o altar, aproximou-se dele e subiu os degraus. Queimou o holocausto e a sua oblação, fez as suas libações e derramou o sangue dos sacrifícios de comunhão. Tirou o altar de bronze, que estava diante do Senhor, entre o altar novo e o templo, e colocou-o junto ao novo altar, do lado norte. Depois, o rei Acaz ordenou ao sacerdote Urias: «Queimarás no altar grande o holocausto da manhã e a oblação da tarde, o holocausto do rei e a sua oblação, o holocausto do povo e a sua oblação e derramarás sobre ele todo o sangue dos holocaustos e dos sacrifícios. Quanto ao altar de bronze, deixa-o aos meus cuidados.» O sacerdote Urias fez tudo como lhe ordenara o rei Acaz. O rei Acaz tirou também os pedestais e as bacias neles metidas; desceu o mar de bronze de cima dos bois de bronze que o suportavam, e colocou-o sobre um suporte de pedra. Tirou, igualmente, do templo do Senhor, para agradar ao rei da Assíria, o pórtico do sábado, que fora ali construído, e mudou a entrada exterior reservada ao rei. O resto da história de Acaz e os seus feitos, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Acaz adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado com eles na cidade de David. O seu filho Ezequias sucedeu-lhe no trono. No décimo segundo ano do reinado de Acaz, rei de Judá, Oseias, filho de Elá, começou a reinar em Israel, na Samaria. E reinou nove anos. Fez o mal aos olhos do Senhor, mas não tanto como fizeram os seus antecessores no trono de Israel. Salmanasar, rei da Assíria, veio contra ele, e Oseias submeteu-se, pagando-lhe tributo. Mas, descobrindo o rei da Assíria uma conspiração tramada por Oseias, que enviara mensageiros a Só, rei do Egipto, e deixara de lhe pagar anualmente o tributo, o rei da Assíria prendeu-o e meteu-o na prisão. Depois, marchou contra Samaria e sitiou-a, durante três anos. No ano nono do reinado de Oseias, o rei da Assíria conquistou a Samaria e deportou os israelitas para a Assíria. Estabeleceu-os em Hala, nas margens do Habor, rio de Gozan, e nas cidades da Média. Isto aconteceu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os fizera subir do Egipto e libertara da opressão do Faraó, rei dos egípcios. Adoraram outros deuses e seguiram os costumes das nações que o Senhor expulsara da frente dos filhos de Israel, e os que foram introduzidos pelos reis de Israel. Os filhos de Israel ofenderam o Senhor seu Deus com más acções, e construíram lugares altos em todas as suas cidades, desde a simples torre de vigia até à cidade fortificada. Erigiram estelas e símbolos de Achera em todos os outeiros e debaixo de qualquer árvore frondosa. Queimaram incenso nesses lugares altos, imitaram as nações que o Senhor expulsara diante deles e irritaram o Senhor com as suas práticas abomináveis. Adoraram os ídolos, dos quais o Senhor dissera: «Não fareis tal coisa.» O Senhor admoestara Israel e Judá pela boca dos seus profetas e videntes: «Desviai-vos dos vossos maus caminhos, guardai os meus mandamentos e preceitos, observai fielmente a lei que prescrevi a vossos pais e que vos transmiti pelos meus servos, os profetas.» Mas eles não o quiseram ouvir, e endureceram o seu coração, imitando seus pais, que se tornaram infiéis ao Senhor, seu Deus. Desprezaram os seus preceitos e a aliança que Ele estabeleceu com os seus pais, e as advertências que lhes tinha feito. Foram atrás das coisas vazias e eles próprios se tornaram vazios, como os povos que os rodeavam, apesar de o Senhor lhes ter proibido imitá-los. Abandonaram todos os mandamentos do Senhor, seu Deus, fabricaram dois bezerros de metal fundido e símbolos de Achera, e prostraram-se diante de todo o exército dos céus e prestaram culto a Baal; fizeram passar pelo fogo os seus filhos e filhas e entregaram-se à adivinhação, à magia, enfim, a tudo o que era mau aos olhos do Senhor, provocando a sua ira. Então, o Senhor indignou-se profundamente contra os filhos de Israel e lançou-os para longe da sua face. Só ficou a tribo de Judá. Mas nem mesmo Judá guardou os mandamentos do Senhor, seu Deus, e seguiu os costumes e práticas de Israel. O Senhor rejeitou, pois, toda a linhagem de Israel, humilhou-a e entregou-a nas mãos dos opressores, até ser completamente banida da sua presença. Israel tinha-se separado da casa de David e proclamara seu rei a Jeroboão, filho de Nabat, que desviou o seu povo do seguimento do Senhor e fê-lo cometer um grande pecado. Os filhos de Israel imitaram todos os pecados cometidos por Jeroboão e não se afastaram deles, até ao dia em que o Senhor os baniu da sua presença, como anunciara pela boca dos profetas, seus servos. Os filhos de Israel foram, pois, levados cativos para longe da sua terra, para a Assíria, onde ainda estão. O rei da Assíria mandou vir gente da Babilónia, de Cuta, de Ava, de Hamat, de Sefarvaim, e estabeleceu-os nas cidades da Samaria, em lugar dos filhos de Israel. Esses apoderaram-se da Samaria e instalaram-se nas suas cidades. Mas como não prestavam culto ao Senhor, quando começaram a habitar nelas, o Senhor mandou leões contra eles, que os devoravam. Avisaram o rei da Assíria dizendo-lhe: «Os povos que transferiste e estabeleceste nas cidades da Samaria, não sabem como honrar o Deus daquela terra. Por isso, esse Deus mandou contra eles leões que os devoram, por ignorarem o culto do Deus daquela terra.» O rei da Assíria ordenou o seguinte: «Mandai para lá um dos sacerdotes que dali trouxestes cativos, a fim de que ali se estabeleça e ensine ao povo a maneira de prestar culto ao Deus daquela terra.» Chegou, pois, um dos sacerdotes levados cativos da Samaria e instalou-se em Betel, onde ensinava ao povo como deviam adorar o Senhor. Apesar disso, cada povo fabricou o seu próprio deus e puseram-nos nos santuários dos lugares altos, anteriormente construídos pelos samaritanos; cada povo colocou os seus deuses no lugar em que habitava. Os babilónios fizeram uma imagem de Sucot-Benot; os de Cuta, uma de Nergal; os de Hamat, uma de Achimá; os de Ava, uma de Nibeaz e de Tartac; os de Sefarvaim queimaram os seus filhos em honra de Adramélec e de Anamélec, seus deuses. Adoravam também o Senhor, mas fizeram sacerdotes, tirados de entre o povo, os quais ofereciam sacrifícios por eles, nos santuários dos lugares altos. Desse modo, adoravam o Senhor e, ao mesmo tempo, prestavam culto aos seus próprios deuses, segundo o costume das nações de onde tinham vindo. Ainda hoje seguem os seus antigos costumes; não temem o Senhor, não observam os seus preceitos, nem os seus decretos, nem a lei e os mandamentos que o Senhor deu aos filhos de Jacob, a quem deu o nome de Israel. O Senhor fizera uma aliança com eles e ordenara-lhes: «Não adorareis outros deuses nem vos prostrareis diante deles; não lhes prestareis culto e não lhes oferecereis sacrifícios; mas temei ao Senhor que vos fez subir do Egipto com o grande poder do seu braço estendido. A Ele temereis, diante dele vos prostrareis e só a Ele oferecereis sacrifícios. Guardareis sempre os preceitos, os decretos, a lei e os mandamentos que Ele vos deu por escrito, para os cumprirdes continuamente. Não adorareis outros deuses. Não esquecereis a aliança que fiz convosco, não adorareis outros deuses. Temereis ao Senhor, vosso Deus, e Ele livrar-vos-á das mãos de todos os vossos inimigos.» Eles, porém, não fizeram caso e procederam segundo os seus antigos costumes. Aqueles povos adoraram o Senhor, mas honraram ao mesmo tempo os seus ídolos. Ainda hoje, os seus filhos e os seus netos procedem como fizeram os seus pais. No terceiro ano do reinado de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, começou a reinar Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos quando subiu ao trono; reinou vinte e nove anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Abi, filha de Zacarias. Fez o que é recto aos olhos do Senhor, conforme o exemplo de David, seu pai. Destruiu os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os símbolos de Achera. Despedaçou a serpente de bronze que Moisés tinha feito, porque, até então, os israelitas queimavam incenso diante dela. Chamavam-na Neustan. Ezequias pôs a sua esperança no Senhor, Deus de Israel; não houve outro como ele, entre todos os reis de Judá que o precederam ou lhe sucederam. Conservou-se unido ao Senhor, nunca se afastou do seu seguimento e observou todos os mandamentos que o Senhor prescreveu a Moisés. Por isso, o Senhor esteve com ele e Ezequias era bem sucedido em todas as suas empresas. Sacudiu o jugo do rei da Assíria e livrou-se do seu domínio. Derrotou os filisteus até Gaza e devastou o seu território, desde as simples torres de vigia, até às cidades fortificadas. No quarto ano do reinado de Ezequias, correspondente ao sétimo do reinado de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, Salmanasar, rei da Assíria, veio sitiar a Samaria. Ao fim de três anos apoderou-se dela. A Samaria foi tomada no sexto ano de Ezequias, correspondente ao nono do reinado de Oseias, rei de Israel. O rei da Assíria levou os filhos de Israel cativos para a Assíria, instalou-os em Hala, nas margens do Habor, rio de Gozan, e nas cidades da Média. Isto aconteceu, porque não deram ouvidos à voz do Senhor, seu Deus; pelo contrário, quebraram a sua aliança, recusando-se a ouvir e a praticar o que ordenara Moisés, servo do Senhor. No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaquerib, rei da Assíria, atacou todas as cidades fortes de Judá e tomou-as de assalto. Então Ezequias, rei de Judá, mandou dizer ao rei da Assíria, em Láquis: «Cometi uma falta. Não me ataques mais. Submeter-me-ei a tudo o que me impuseres.» O rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, um tributo de trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro. Ezequias entregou toda a prata que se encontrava no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real. Tirou também o revestimento de ouro que ele mesmo, Ezequias, rei de Judá, mandara aplicar nas portas do templo do Senhor, e entregou tudo ao rei da Assíria. Mas o rei da Assíria enviou, de Láquis, contra o rei Ezequias, em Jerusalém, o general do exército, o chefe dos eunucos e o seu copeiro-mor com um poderoso corpo de tropas. Puseram-se em marcha e, quando chegaram a Jerusalém, fizeram alta, acamparam junto ao aqueduto do reservatório superior, que se encontrava no caminho do campo do pisoeiro, e mandaram chamar o rei. Mas foi Eliaquim, filho de Hilquias, preferido do palácio, que foi ter com eles, levando consigo Chebna e o cronista Joá, filho de Asaf. O copeiro-mor disse-lhes: «Direis a Ezequias: Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa que manifestas? Julgas que as simples palavras representam alguma experiência e valentia para a guerra? Em que confias, para ousares resistir-me? Pões a tua confiança no Egipto, esse caniço rachado que fere e trespassa a mão de quem nele se apoia? Assim é o faraó, rei do Egipto, para todos os que nele esperam. Dir-me-eis, sem dúvida: ‘A nossa esperança está no Senhor, nosso Deus.’ Mas não é Ele aquele Deus, cujos altares e lugares altos Ezequias destruiu, dizendo aos homens de Judá e de Jerusalém que somente diante deste altar em Jerusalém vos devereis prostrar? Faz, por conseguinte, um tratado com o meu soberano, o rei da Assíria, e eu te darei dois mil cavalos, se tiveres cavaleiros para os montar. Como poderás resistir diante de um só dos mais modestos oficiais do meu senhor? Esperas ainda que o Egipto te forneça carros e cavaleiros? Terá sido, porventura, sem o consentimento do Senhor que eu ataquei esta cidade para a destruir? O Senhor disseme: ‘Sobe a essa terra e destrói-a.’» Eliaquim, filho de Hilquias, o escriba Chebna e Joá disseram ao copeiro-mor: «Fala aos teus servos em aramaico, dialecto que compreendemos. Não nos fales em hebraico diante da multidão que está sobre a muralha.» Mas o copeiro-mor replicou-lhe: «Por acaso o meu senhor mandou-me dizer estas coisas só a ti e ao teu senhor? Não foi, antes, a toda essa multidão que está sobre a muralha, obrigada a comer os seus excrementos e a beber a sua urina?» Então o copeiro-mor aproximou-se e gritou bem alto, em hebraico: «Ouvi o que diz o grande rei, o rei da Assíria! Isto diz o rei: Não vos deixeis enganar por Ezequias; ele não vos poderá livrar das minhas mãos. Não vos inspire Ezequias confiança no Senhor, dizendo: ‘O Senhor livrar-vos-á e esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria!’ Não deis ouvidos ao rei Ezequias! Isto vos diz o rei da Assíria: Fazei a paz comigo. Rendei-vos, e cada um de vós poderá comer os frutos da sua vinha e da sua figueira e beber a água do seu poço, até que eu venha e vos traslade para uma terra semelhante à vossa, terra fértil em trigo e vinho, terra de pão e de vinhas, terra de olivais, de azeite e de mel. Deste modo, salvareis a vossa vida e não morrereis. Não ouçais Ezequias, porque vos engana, ao dizer: ‘O Senhor nos salvará!’ Porventura os deuses das outras nações salvaram a sua própria terra das mãos do rei da Assíria? Onde estão os deuses de Hamat e de Arpad? Onde estão os deuses de Sefarvaim, de Hena e de Ava? Livraram a Samaria de cair nas minhas mãos? Quais são, entre todos os deuses dessas terras, os que salvaram o seu próprio país das minhas mãos, para que o Senhor possa salvar Jerusalém?» O povo ouviu em silêncio e não lhe respondeu uma só palavra, porque o rei ordenara que não respondessem. Eliaquim, filho de Hilquias, prefeito do palácio, o escriba Chebna, e o cronista Joá, filho de Asaf, voltaram a Ezequias com as vestes rasgadas, e referiram-lhe as palavras do copeiro-mor. Ao ouvir tudo isto, o rei Ezequias rasgou as suas vestes, cobriu-se com um saco e entrou no templo do Senhor. Mandou o prefeito do palácio, Eliaquim, o escriba Chebna e os anciãos dos sacerdotes, revestidos de sacos, ao profeta Isaías, filho de Amós, para lhe dizer: «Isto diz Ezequias: Hoje é um dia de angústia, de castigo e de opróbrio. Os filhos estão para nascer, e não há força para os dar à luz. O Senhor, teu Deus, talvez tenha ouvido as palavras do copeiro-mor enviado pelo rei da Assíria, seu amo, para insultar o Deus vivo, e talvez o vá punir pelas palavras que ouviu. Roga, pois, por esse resto que ainda subsiste!» Os servos do rei Ezequias foram ter com Isaías, que lhes respondeu: «Isto é o que deveis dizer ao vosso senhor: Assim diz o Senhor, Não te intimides com as palavras que ouviste e com os ultrajes proferidos contra mim pelos servos do rei da Assíria. Vou enviar-lhe um espírito e há-de receber uma notícia que o fará voltar à sua terra, onde o farei perecer ao fio da espada.» O copeiro-mor, sabendo que o rei da Assíria deixara Láquis, voltou para junto do seu soberano, que estava a atacar Libna. O rei ouviu dizer de Tiraca, rei dos cuchitas: «Ele acaba de se pôr em marcha para te combater.» Senaquerib enviou de novo mensageiros a Ezequias para lhe dizer: «Isto direis a Ezequias, rei de Judá: não te deixes enganar pelo teu Deus, no qual puseste a tua confiança, pensando que Jerusalém não será entregue nas mãos do rei da Assíria. Ouviste dizer como os reis da Assíria trataram todos os países e os devastaram. Só tu é que irias escapar? As nações que os meus antepassados aniquilaram, Gozan, Haran, Récef, e os filhos de Éden que estavam em Telassar, foram, porventura, libertados pelos seus deuses? Onde está o rei Hamat, o rei de Arpad, o rei de Lair, de Sefarvaim, de Hena e de Ava?» Ezequias recebeu a carta das mãos dos mensageiros, leu-a, depois foi ao templo, e abriu-a diante do Senhor. E orou diante dele, dizendo: «Senhor, Deus de Israel, que estás sentado sobre os querubins, só Tu és o Deus de todos os reinos da terra. Tu fizeste os céus e a terra. Inclina, Senhor, os teus ouvidos e ouve! Abre, Senhor, os teus olhos e vê! Ouve, Senhor, a mensagem que Senaquerib mandou, para blasfemar contra o Deus vivo! É verdade, Senhor, que os reis da Assíria destruíram as nações, devastaram os seus territórios, e atiraram ao fogo os seus deuses, pois eles não eram deuses, eram apenas objectos feitos pelas mãos do homem, objectos de madeira e de pedra. Por isso, foram destruídos. Mas Tu, Senhor, nosso Deus, salva-nos agora das mãos de Senaquerib, a fim de que todos os povos da Terra saibam que Tu, o Senhor, és o único Deus.» Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Eu ouvi a oração que me fizeste a respeito de Senaquerib, rei da Assíria. Eis o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele: “A virgem, filha de Sião, despreza-te e escarnece de ti; atrás de ti meneia a cabeça a filha de Jerusalém. A quem insultaste e ultrajaste? Contra quem levantaste a voz? Contra quem ergueste os olhos? Foi contra o Santo de Israel! Pelos teus mensageiros ultrajaste o Senhor e disseste: ‘Com a multidão dos meus carros subirei ao cimo dos montes, às alturas do Líbano; derrubarei os seus cedros mais altos, os seus ciprestes mais belos; penetrarei até aos últimos limites dos seus bosques mais espessos. Escavei poços e bebi águas de outrem; e com a planta de meus pés sequei todos os rios do Egipto.’ Ignoras, acaso, que, do princípio, fiz todas estas coisas? Desde há muito planeei e agora realizo. Eis porque reduziste a ruínas as cidades fortificadas; e os seus habitantes ficaram sem forças, encheram-se de temor e confusão, como o feno dos campos, como a relva verdejante, como a erva dos telhados e o trigo queimado, antes de chegar o tempo da colheita. Sei quando te sentas, quando sais e quando entras. Conheço os teus furores contra mim. Pois te enfureceste contra mim e chegaram aos meus ouvidos as tuas insolências. Por isso, porei o meu arganel no teu nariz, e um açaimo na tua boca e far-te-ei voltar pelo caminho por onde vieste.”» Isto te servirá de sinal: comerás, este ano, o que a terra produzir espontaneamente; no ano seguinte, o que nascer sem ser semeado; mas, no terceiro ano, hão-de semear e colher, hão-de plantar vinhas e comerão os seus frutos. O que ficar da casa de Judá lançará novas raízes na terra e produzirá frutos nos ramos. De Jerusalém surgirá um resto, e do monte de Sião sobreviventes. Fará tudo isto o zelo do Senhor. Portanto, eis o que diz o Senhor sobre o rei da Assíria: Ele não entrará nesta cidade, nem atirará flechas contra ela, não a rodeará de escudos, nem a cercará de trincheiras. Mas voltará pelo caminho por onde veio, sem entrar na cidade – oráculo do Senhor ! Pois defenderei esta cidade e salvá-la-ei por amor de mim e de David, meu servo.» Nessa mesma noite, o anjo do Senhor apareceu no acampamento dos assírios e feriu cento e oitenta e cinco mil homens. No dia seguinte de manhã, só lá havia cadáveres. Senaquerib, rei da Assíria retirou-se, retomou o caminho de sua terra e ficou em Nínive. Estando ele prostrado no templo de Nisseroc, seu deus, os seus filhos Adramélec e Sarécer mataram-no a golpes de espada e fugiram para a terra de Ararat. Seu filho Assaradon sucedeu-lhe no trono. Naquele tempo, Ezequias adoeceu com uma enfermidade mortal, e o profeta Isaías, filho de Amós, veio ter com ele e disse-lhe: «Isto diz o Senhor, Põe em ordem a tua casa, porque vais morrer, não viverás.» Então Ezequias voltou o rosto para a parede e orou ao Senhor, dizendo: «Senhor, lembra-te que andei fielmente diante de ti, e com simplicidade de coração fiz o que é recto aos teus olhos.» E Ezequias chorava, derramando copiosas lágrimas. Isaías não tinha ainda saído do átrio central, e a palavra do Senhor foi-lhe dirigida, nestes termos: «Volta e diz a Ezequias, chefe do meu povo: Isto diz o Senhor, Deus de David, teu pai: ‘Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas. Por isso vou curar-te. Dentro de três dias, subirás ao templo do Senhor. Vou acrescentar quinze anos aos dias da tua vida; além disso, salvar-te-ei a ti e a esta cidade das mãos do rei da Assíria, e protegerei esta cidade por amor de mim e de David, meu servo.’» E Isaías disse: «Trazei uma pasta de figos.» Trouxeram-lha, ele aplicou-a sobre a úlcera e o rei recobrou vida. Ezequias dissera a Isaías: «Qual será o sinal de que o Senhor me curará e de que poderei subir ao templo, dentro de três dias?» Isaías respondeu-lhe: «Eis o sinal que o Senhor te dará, para saberes que se cumprirá a sua promessa: ou a sombra adianta dez graus ou recua dez graus.» Replicou Ezequias: «É fácil que a sombra se adiante dez graus. Mas não! Eu quero que ela recue dez graus.» Então o profeta Isaías invocou o Senhor, que fez a sombra recuar dez graus no relógio solar de Acaz. Naquele tempo, o rei da Babilónia, Merodac-Baladan, ao ouvir dizer que Ezequias estava doente, enviou-lhe uma carta com presentes. Ao saber disso, Ezequias mostrou aos emissários o palácio onde se encontravam os seus tesouros, a prata, o ouro, os aromas, o óleo refinado, a sua baixela e tudo o que de precioso havia no seu tesouro. Nada houve, no seu palácio e em todos os seus domínios, que Ezequias não lhes mostrasse. O profeta Isaías foi ter com o rei e perguntou-lhe: «Que te disse aquela gente? Donde vieram esses homens para te visitar?» Ezequias respondeu-lhe: «Vieram dum país longínquo, da Babilónia.» Isaías disse-lhe: «Que viram eles no teu palácio?» «Viram tudo o que nele existe –respondeu Ezequias; nada houve no meu palácio que não lhes mostrasse.» Então Isaías disse ao rei: «Ouve a palavra do Senhor, ‘Dias virão em que tudo o que se encontra no teu palácio e tudo o que juntaram teus pais, até ao dia de hoje, será levado para a Babilónia. Nada ficará, diz o Senhor. E os filhos que de ti sairão, gerados por ti, serão levados como eunucos para o palácio do rei da Babilónia.’» Ezequias respondeu: «O Senhor tem razão! É justo tudo o que me acabas de anunciar.» E acrescentou: «Ao menos, enquanto eu viver, haverá paz e segurança.» O resto da história de Ezequias, e todos os feitos que realizou, a construção do reservatório e do aqueduto, com o qual levou água a toda a cidade, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Ezequias adormeceu, juntando-se aos seus pais, e seu filho Manassés sucedeu-lhe no trono. Manassés tinha doze anos quando começou a reinar, e reinou durante cinquenta e cinco anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hefecibá. Fez o mal aos olhos do Senhor, imitando as abominações dos povos que o Senhor expulsara diante dos filhos de Israel. Reconstruiu os lugares altos que seu pai Ezequias destruíra, levantou os altares de Baal, plantou um símbolo de Achera semelhante ao que fizera Acab, rei de Israel e, diante de todo o exército dos céus, prostrou-se em adoração; erigiu altares no templo do Senhor, do qual o Senhor dissera: «O meu nome residirá em Jerusalém.» Levantou altares a todo o exército dos céus, nos dois átrios do templo do Senhor. Fez passar pelo fogo o seu próprio filho; entregou-se à magia, à astrologia, à necromancia e à adivinhação. Fez muito mal diante do Senhor, provocando assim a sua ira. Colocou também a estátua de Achera no templo do Senhor, templo do qual o Senhor dissera a David e a seu filho Salomão: «Neste templo e na cidade de Jerusalém, que escolhi entre todas as tribos de Israel, estabelecerei o meu nome perpetuamente. Jamais permitirei que os filhos de Israel andem errantes, fora da terra que dei a seus pais, desde que eles observem os meus mandamentos e a lei que lhes prescreveu Moisés, meu servo.» Eles, porém, não obedeceram, mas foram enganados por Manassés e fizeram ainda pior do que os povos, que o Senhor aniquilara diante dos filhos de Israel. O Senhor falou, pois, pela boca dos seus servos, os profetas, dizendo: «Manassés, rei de Judá, cometeu estas abominações, procedendo ainda pior do que outrora os amorreus, e levou também Judá ao pecado da idolatria. Por isso, diz o Senhor, Deus de Israel: vou fazer cair sobre Jerusalém e Judá calamidades tais que farão retinir os ouvidos daqueles que as ouvirem. Medirei Jerusalém com a corda com que medi a Samaria, e com o nível da casa de Acab; limparei Jerusalém como se limpa um prato, revirando-o de um lado e do outro. Abandonarei os restos da minha herança e entregá-los-ei nas mãos dos seus inimigos, aos quais servirão de espólio e de presa. Pois fizeram o mal diante de mim, e não cessaram de me irritar, desde que seus pais saíram do Egipto até ao dia de hoje.» Além disso, Manassés derramou tanto sangue inocente que inundou Jerusalém de uma extremidade à outra, sem falar dos pecados com que fez pecar Judá, levando-a a praticar o mal aos olhos do Senhor. O resto da história de Manassés, e tudo o que ele fez, o pecado que cometeu, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Manassés adormeceu, juntando-se aos seus pais, e sepultaram-no no jardim do seu palácio, no jardim de Uzá. O seu filho Amon sucedeu-lhe no trono. Amon tinha vinte e dois anos quando começou a reinar, e reinou dois anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Mechulémet, filha de Harus, natural de Jotba. Ele fez o mal aos olhos do Senhor, como seu pai Manassés. Seguiu todas os passos de seu pai e, como ele, adorou os ídolos e prostrou-se diante deles. Abandonou o Senhor, Deus de seus pais, e não andou nos caminhos do Senhor. Os servos de Amon conspiraram contra ele e mataram-no no seu palácio. O povo, porém, matou todos os conjurados e, em seu lugar, proclamou rei Josias, filho de Amon. O resto da história de Amon e os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Sepultaram-no no seu túmulo, no jardim de Uzá, e seu filho Josias sucedeu-lhe no trono. Josias tinha oito anos quando começou a reinar, e reinou trinta e um anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Jedida, filha de Adaías, natural de Boscat. Fez o que é recto aos olhos do Senhor e seguiu fielmente o exemplo de David, seu pai, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. No décimo oitavo ano do reinado de Josias, o rei enviou ao templo do Senhor o escriba Chafan, filho de Açalias, filho de Mechulam, dizendo-lhe: «Vai ter com o Sumo Sacerdote Hilquias e diz-lhe que mande recolher o dinheiro levado ao templo do Senhor, e entregue pelo povo nas mãos dos porteiros do templo. Dê-se esse dinheiro aos encarregados dos trabalhos do templo, a fim de pagarem aos que trabalham na reparação do edifício, carpinteiros, construtores e pedreiros, e comprarem a madeira e as pedras de cantaria necessárias às reparações do templo. Mas não se lhes exigirão contas do dinheiro que lhes é confiado, porque são pessoas íntegras.» O Sumo Sacerdote Hilquias disse ao escriba Chafan: «Encontrei no templo do Senhor o Livro da Lei*.» Hilquias entregou este livro ao escriba Chafan, o qual, depois de o ler, foi ter com o rei e prestou-lhe contas da missão que lhe fora confiada: «Teus servos juntaram o dinheiro que se encontrava na casa do Senhor e entregaram-no aos encarregados do templo do Senhor.» E acrescentou: «O Sumo Sacerdote Hilquias entregou-me um livro.» E leu-o na presença do rei. Ao ouvir as palavras do Livro da Lei* do Senhor, o rei rasgou as suas vestes e ordenou ao sacerdote Hilquias, a Aicam, filho de Chafan, a Acbor, filho de Miqueias, ao escriba Chafan e ao seu oficial Asaías: «Ide e consultai o Senhor acerca de mim, do povo e de todo o Judá, sobre o conteúdo deste livro, que acaba de ser descoberto. A cólera do Senhor deve ser grande contra nós, porque nossos pais não obedeceram às palavras deste livro, nem puseram em prática o que nele se nos prescreve.» O sacerdote Hilquias, Aicam, Acbor, Chafan e Asaías foram ter com a profetisa Hulda, mulher de Chalum, filho de Ticvá, filho de Haras, encarregado do vestuário. Ela vivia em Jerusalém, no segundo quarteirão. Falaram com Hulda e ela respondeu: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Dizei àquele que vos mandou vir a mim: Assim fala o Senhor, Vou enviar calamidades sobre este lugar e sobre os seus habitantes, conforme as ameaças que o rei de Judá leu no livro. Pois eles abandonaram-me e queimaram incenso a deuses estrangeiros, irritando-me com as suas obras; a minha indignação inflamou-se contra esta terra e não se apagará mais. Ao rei de Judá, que vos mandou consultar o Senhor, direis: Isto diz o Senhor, Porque ouviste as palavras do livro, e o teu coração se atemorizou, e te humilhaste diante do Senhor, ao ouvir a minha sentença contra esse lugar e contra os seus habitantes, condenados a serem objecto de espanto e de maldição, e rasgaste as tuas vestes e choraste diante de mim, Eu também te ouvi – oráculo do Senhor. Por isso, vou reunir-te a teus pais e serás sepultado em paz no teu sepulcro, para que os teus olhos não vejam as calamidades que vos vou enviar sobre esta terra.» Voltaram, pois, e referiram ao rei o que a profetisa lhes dissera. O rei mandou vir à sua presença todos os anciãos de Judá e de Jerusalém, e subiu ao templo do Senhor com todos os homens de Judá e todos os habitantes de Jerusalém, sacerdotes, profetas e todo o povo, pequenos e grandes. Leu, então, diante de todos, as palavras do Livro da Aliança*, descoberto no templo do Senhor. Pondo-se de pé sobre o estrado, o rei renovou a aliança na presença do Senhor, comprometendo-se a seguir o Senhor, a observar os seus mandamentos, as suas instruções e os seus preceitos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, e a cumprir todas as palavras da aliança contidas neste livro. Todo o povo concordou com esta aliança. O rei ordenou, depois, ao Sumo Sacerdote Hilquias, aos sacerdotes de segunda ordem e aos porteiros, que tirassem do templo do Senhor todos os objectos fabricados para o culto de Baal, de Achera e de todo o exército dos céus; mandou-os queimar fora de Jerusalém, no vale de Cédron e levar as cinzas para Betel. Destituiu os falsos sacerdotes, postos pelos reis de Judá a fim de oferecerem o incenso nos lugares altos, nas cidades de Judá e nos arredores de Jerusalém, e também os sacerdotes que ofereciam o incenso a Baal, ao Sol, à Lua, aos signos do zodíaco e a todo o exército dos céus. Mandou tirar do templo do Senhor o tronco de Achera e levá-lo para fora de Jerusalém, para o vale de Cédron, onde o queimaram. Depois, mandou lançar a sua cinza no sepulcro comum do povo. Destruiu os lugares de prostituição idolátrica do templo do Senhor, onde as mulheres teciam véus para Achera. Convocou todos os sacerdotes das cidades de Judá, profanou os lugares altos onde os sacerdotes queimavam o incenso, desde Gueba até Bercheba, e destruiu o lugar alto das portas, à entrada da casa de Josué, prefeito da cidade, que ficava à esquerda da porta da cidade. Contudo, os sacerdotes dos lugares altos não subiam ao altar do Senhor em Jerusalém, mas comiam os pães ázimos junto com os seus irmãos. Profanou também o crematório, no vale do filho de Hinom, a fim de que ninguém fizesse passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha em honra de Moloc. Fez desaparecer também os cavalos que os reis de Judá tinham dedicado ao Sol, à entrada do templo do Senhor, junto da casa do eunuco Natan-Mélec, nas dependências, e queimou o carro do sol. O rei derrubou os altares construídos pelos reis de Judá no terraço da residência de Acaz, e os que Manassés erigira nos dois átrios do templo do Senhor; quebrou-os e lançou o entulho na torrente do Cédron. O rei profanou igualmente os lugares altos situados em frente de Jerusalém, à direita do monte da Perdição; Salomão, rei de Israel, erguera-os em honra de Astarté, ídolo abominável dos sidónios, e de Camós, ídolo abominável dos amonitas. Quebrou as estátuas, cortou os troncos sagrados e encheu o lugar de ossos humanos. Destruiu, igualmente, o altar de Betel e o lugar alto que edificara Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. Destruiu-os, queimou e reduziu a cinzas o lugar alto, incendiando igualmente o tronco de Achera. Josias, viu em torno de si os sepulcros que havia na colina; mandou tirar os ossos dos sepulcros e queimou-os no altar, profanando-o, segundo a palavra que o Senhor pronunciara pelo homem de Deus que anunciou estas coisas. E o rei perguntou: «Que monumento é esse que vejo?» Os habitantes da cidade responderam-lhe: «É o sepulcro do homem de Deus, que veio de Judá, e anunciou tudo o que fizeste ao altar de Betel.» Então, o rei disse: «Deixai em paz os seus ossos.» E os seus ossos ficaram intactos, juntamente com os ossos do profeta que viera da Samaria. Josias destruiu, assim, todos os santuários dos lugares altos, que se encontravam nas cidades da Samaria, e que os reis de Israel erigiram para irritar o Senhor. Fez deles o que tinha feito do altar de Betel. Todos os sacerdotes dos lugares altos que ali havia, sacrificou-os sobre os altares, e queimou ossos humanos sobre eles. Depois voltou para Jerusalém. O rei ordenou a todo o povo: «Celebrareis a Páscoa em honra do Senhor, vosso Deus, segundo as prescrições deste Livro da Aliança*.» Jamais se celebrou Páscoa como aquela, desde a época dos juízes que governaram Israel, nem no tempo dos reis de Israel e de Judá. Uma tal Páscoa em honra do Senhor, em Jerusalém, apenas foi celebrada no décimo oitavo ano do reinado de Josias. Josias acabou também com os necromantes, os adivinhos, os terafins, os ídolos e as abominações, que se viam na terra de Judá e em Jerusalém, pois queria obedecer às prescrições da lei, escritas no livro que o sacerdote Hilquias descobriu no templo do Senhor. Antes de Josias, nunca houve um rei que se convertesse como ele ao Senhor, com todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças, seguindo em tudo a lei de Moisés; e, depois dele, não houve outro semelhante. Contudo, por causa dos crimes com que Manassés o irritara, o Senhor não abrandou a violência do seu furor contra Judá. O Senhor dissera: «Expulsarei também Judá da minha presença, como rejeitei Israel; rejeitei esta cidade de Jerusalém que escolhi e o templo do qual Eu disse: ‘Aqui residirá o meu nome.’» O resto da história de Josias e tudo o que ele fez está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Durante o seu reinado, o faraó Necao, rei do Egipto, pôs-se em marcha contra o rei da Assíria, na direcção do Eufrates. O rei Josias saiu-lhe ao encontro, mas foi morto pelo Faraó em Meguido, logo no primeiro combate. Os seus servos levaram o seu cadáver num carro, de Meguido para Jerusalém, e sepultaram-no no seu túmulo. O povo elegeu então Joacaz, filho de Josias, que foi ungido e aclamado rei, em lugar de seu pai. Joacaz tinha trinta e três anos, quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hamital, filha de Jeremias, natural de Libna. Ele fez o mal diante do Senhor, como seus pais. O faraó Necao prendeu-o em Ribla, na terra de Hamat, de modo que não reinou mais em Jerusalém, e impôs ao país uma contribuição de cem talentos de prata e um talento de ouro. O faraó Necao colocou Eliaquim, filho de Josias, no trono, em lugar de seu pai Josias, e mudou-lhe o nome para Joaquim. Joacaz foi levado para o Egipto, onde morreu. Joaquim deu ao Faraó a prata e o ouro exigidos mas, para fornecer o peso estipulado, impôs ao povo um tributo, fixando a quantia que cada um devia pagar, a fim de dar essa contribuição de ouro e prata ao faraó Necao. Joaquim tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Zebida, filha de Pedaías, natural de Rumá. Fez o mal aos olhos do Senhor, como fizeram seus pais. No reinado de Joaquim, Nabucodonosor, rei da Babilónia, pôs-se em marcha contra Joaquim, que se tornou seu vassalo durante três anos. Depois, rebelou-se contra ele. O Senhor mandou contra Joaquim as tropas dos caldeus, dos sírios, dos moabitas e dos amonitas; enviou-os contra Judá para o destruir, conforme Ele anunciara pela boca dos profetas, seus servos. Isto aconteceu a Judá por ordem do Senhor, para afastá-lo da sua presença, por causa dos pecados cometidos por Manassés, e por causa do sangue inocente que derramara, inundando Jerusalém de sangue inocente. E o Senhor não quis perdoar tal maldade. O resto da história de Joaquim, e tudo o que ele fez, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá*. Joaquim adormeceu juntando-se aos seus pais, e seu filho Joiaquin sucedeu-lhe no trono. O rei do Egipto nunca mais saiu fora do seu país, porque o rei da Babilónia se apoderara de todas as possessões do rei do Egipto, desde a torrente do Egipto até ao Eufrates. Joiaquin tinha dezoito anos quando começou a reinar e reinou três meses em Jerusalém; o nome de sua mãe era Neústa, filha de Elnatan de Jerusalém. Fez o mal aos olhos do Senhor, tal como o seu pai. Foi nesse tempo que os homens de Nabucodonosor, rei da Babilónia, vieram sobre Jerusalém e a sitiaram. Nabucodonosor chegou à cidade, quando as suas tropas a sitiavam. Joiaquin, rei de Judá, saiu ao encontro do rei da Babilónia, com sua mãe, com os altos funcionários, com os oficiais e com os eunucos; e o rei da Babilónia prendeu-o. Isto aconteceu no oitavo ano do reinado de Nabucodonosor. E como o Senhor tinha anunciado, Nabucodonosor levou dali todos os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, e quebrou todos os objectos de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera para o santuário do Senhor. Levou cativa toda a corte de Jerusalém, todos os chefes e todos os notáveis, ao todo dez mil, com todos os ferreiros e artífices; deixou apenas os pobres do país. Deportou Joiaquin de Jerusalém para a Babilónia, com a sua mãe, as suas mulheres, os eunucos do rei e os grandes do país. Todos os homens de valor, aptos para a guerra, em número de sete mil, os ferreiros e os artífices, em número de mil, o rei da Babilónia levou-os cativos para a Babilónia. Em lugar de Joiaquin, o rei da Babilónia nomeou rei seu tio Matanias, cujo nome mudou para Sedecias. Sedecias tinha vinte e um anos quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hamital, filha de Jeremias, natural de Libna. Ele fez o mal aos olhos do Senhor, tal como tinha feito Joaquim. Assim aconteceu a Jerusalém e a Judá, porque o Senhor, irritado, queria rejeitá-los da sua presença. Sedecias revoltou-se contra o rei da Babilónia. No nono ano do seu reinado, no dia dez do décimo mês, Nabucodonosor marchou com todo o seu exército contra Jerusalém. Acampou diante da cidade e levantou trincheiras em redor dela. O cerco da cidade durou até ao décimo primeiro ano do reinado de Sedecias. No nono dia do quarto mês, como a cidade se visse apertada pela fome e a população não tivesse mantimentos, abriu-se uma brecha na muralha da cidade. Então o rei e todos os homens de guerra fugiram de noite pela porta que está entre os dois muros, junto do jardim do rei. Entretanto, os caldeus cercavam a cidade. Os fugitivos tomaram o caminho da planície do Jordão, mas o exército dos caldeus perseguiu o rei e alcançou-o na planície de Jericó. Então as tropas, que o acompanhavam, abandonaram-no e dispersaram-se. O rei Sedecias foi preso e conduzido a Ribla, diante do rei da Babilónia, que pronunciou a sentença contra ele. Degolou os filhos na presença de Sedecias, furou-lhe os olhos e levou-o para a Babilónia, ligado com duas cadeias de bronze. No sétimo dia do quinto mês, no décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilónia, Nebuzaradan, chefe da guarda e servo do rei da Babilónia entrou em Jerusalém. Incendiou o templo do Senhor, o palácio real e todas as casas da cidade, começando pelas casas dos mais importantes de Jerusalém. E as tropas que acompanhavam o chefe da guarda, destruíram o muro que cercava Jerusalém. Nebuzaradan, chefe da guarda, levou cativos para Babilónia, os que restavam da população da cidade, os que já se tinham rendido ao rei da Babilónia e o resto da população. O chefe da guarda só deixou ali alguns pobres para cultivarem as vinhas e os campos. Os caldeus quebraram as colunas de bronze do templo do Senhor, os pedestais, e o mar de bronze que estava no templo, e levaram todo o bronze para a Babilónia. Tomaram também os cinzeiros, as pás, as facas, os vasos e todos os objectos de bronze ao serviço do culto. O chefe da guarda levou também os turíbulos e os vasos, tudo o que era de ouro e tudo o que era de prata. As duas colunas, o mar e os pedestais, que Salomão mandara fazer para o templo do Senhor, e todos os objectos de bronze tinham um peso incalculável. Uma das colunas tinha dezoito côvados de altura e, sobre ela, assentava um capitel de bronze de três côvados; em volta do capitel da coluna havia uma rede e romãs, tudo de bronze. A segunda coluna era semelhante e tinha os mesmos ornamentos. O chefe da guarda levou também o Sumo Sacerdote Seraías, o segundo sacerdote, Sofonias, e os três porteiros. Apanhou na cidade um eunuco encarregado de comandar os homens de guerra, cinco homens dos conselheiros do rei que encontrara na cidade, e o escriba, capitão do exército, encarregado do recrutamento no país, assim como sessenta homens do povo, que foram encontrados na cidade. Nebuzaradan, chefe da guarda, prendeu-os e levou-os ao rei da Babilónia, em Ribla. Este matou-os em Ribla, na região de Hamat. Assim, Judá foi levado cativo para longe da sua terra. O resto da população deixada na terra de Judá, Nabucodonosor entregou-o ao governo de Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan. Quando os chefes das tropas e os seus homens souberam que o rei da Babilónia nomeara Godolias governador, foram ter com ele em Mispá. Eram eles: Ismael, filho de Natanias, Joanan, filho de Caré, Seraías, filho de Tanumet, de Netofa, e Jazanias, filho de Maacá e os seus homens. Godolias declarou, sob juramento, a eles e aos seus homens: «Nada tendes a temer dos caldeus. Ficai no país, submetei-vos ao rei da Babilónia e tudo vos correrá bem.» Mas no sétimo mês, Ismael, filho de Natanias, filho de Elichamá, de sangue real, veio com dez homens e matou Godolias, assim como os judeus e os caldeus que estavam com ele em Mispá. Então, todo o povo, pequenos e grandes, e os chefes das tropas fugiram para o Egipto com medo dos caldeus. No trigésimo sétimo ano do cativeiro de Joiaquin, rei de Judá, no vigésimo sétimo dia do décimo segundo mês, Evil-Merodac, rei da Babilónia, no primeiro ano do seu reinado, fez mercê a Joiaquin, rei de Judá e libertou-o. Falou-lhe benevolamente, e deu-lhe um trono mais elevado que os dos reis que estavam com ele na Babilónia. Tirou-lhe as vestes de prisioneiro e, até ao fim da sua vida, Joiaquin comeu à mesa do rei. O seu sustento foi-lhe assegurado pelo rei, durante toda a sua vida, dia após dia. Adão, Set, Enós, Quenan, Maalaleel, Jared, Henoc, Matusalém, Lamec, Noé, Sem, Cam e Jafet. Filhos de Jafet*, Gómer, Magog, Madai, Javan, Tubal, Méchec e Tirás. Filhos de Gomer: Asquenaz, Rifat e Togarma. Filhos de Javan: Elicha, Társis, Kitim e Rodanim. Filhos de Cam*, Cuche, Misraim, Put e Canaã. Filhos de Cuche*, Seba, Havilá, Sabta, Rama e Sabteca. Filhos de Rama: Sabá e Dedan. Cuche gerou Nimerod, que foi o primeiro herói sobre a terra. Misraim foi o antepassado dos povos de Lud, de Aném, de Leab, de Naftú, de Patros, de Caslú, dos quais saíram os filisteus e os povos de Caftor. Canaã gerou Sídon, seu primogénito, e Het, assim como os jebuseus, os amorreus, os guirgaseus, os heveus, os araqueus, os sineus, os arvadeus, os cemareus e os hamateus. Filhos de Sem*, Elam, Assur, Arfaxad, Lud, Aram, Uce, Hul, Guéter e Méchec. Arfaxad gerou Chela, o qual gerou Éber. Dois filhos nasceram a Éber: um chamou-se Péleg, porque se fez no seu tempo a divisão da terra, e o seu irmão chamou-se Joctan. Joctan gerou Almodad, Chélef, Haçarmávet, Jara, Hadoram, Uzal, Dicla, Obal, Abimael, Sabá, Ofir, Havilá e Jobab. Todos estes são filhos de Joctan. Descendentes de Sem*, Arfaxad, Chela, Éber, Péleg, Reú, Serug, Naor, Tera, Abrão, o mesmo que Abraão. Filhos de Abraão*, Isaac e Ismael. Estes são os seus descendentes de Ismael*, Nebaiot seu primogénito, a seguir Quedar, Adbiel, Mibsam, Michemá, Dumá, Massá, Hadad, Tema, Jetur, Nafis, Quedma. São estes os filhos de Ismael. Filhos de Quetura*, concubina de Abraão: ela deu à luz Zimeran, Jocsan, Medan, Madian, Jisbac e Chua. Filhos de Jocsan: Sabá e Dedan. Filhos de Madian: Efá, Éfer, Henoc, Abidá e Eldaá. Todos estes são filhos de Quetura. Abraão gerou Isaac. Filhos de Isaac*, Esaú e Jacob. Filhos de Esaú*, Elifaz, Reuel, Jeús, Jalam e Corá. Filhos de Elifaz: Teman, Omar, Cefo, Gatam, Quenaz, Timna, Amalec. Filhos de Reuel: Naat, Zera, Chamá e Miza. Filhos de Seir: Lotan, Chobal, Cibeon, Aná, Dichon, Écer e Dichan. Filhos de Lotan: Hori e Heman. Irmã de Lotan: Timna. Filhos de Chobal: Alvan, Manaat, Ebal, Chefi e Onam. Filhos de Cibeon: Aiá e Aná. Filho de Aná: Dichon. Filhos de Dichon: Hemedan, Echeban, Jitran e Caran. Filhos de Écer: Bilan, Zaavan e Jacan. Filhos de Dichan: Uce e Aran. Estes são os reis que reinaram no país de Edom antes de os filhos de Israel terem rei: Bela, filho de Beor, cuja cidade se chamava Dinaba. Depois da morte de Bela, Jobab, filho de Zera, de Bosra, reinou em seu lugar. Jobab morreu e sucedeu-lhe Hucham, do país de Teman. Morto Hucham, subiu ao trono Hadad, filho de Bedad, que derrotou os madianitas no país de Moab. A sua cidade chamava-se Avit. Hadad morreu e Sámela, de Massereca, sucedeu-lhe. Sámela morreu e sucedeu-lhe Saul, de Reobot, que está junto do rio. Saul morreu e sucedeu-lhe Baal-Hanan, filho de Acbor. Baal-Hanan morreu e sucedeu-lhe Hadad. A sua cidade chamava-se Paí e sua mulher Meetabiel, filha de Matred, filha de Mê-Zaab. Hadad morreu. Os governadores de Edom foram: o governador Timna, o governador Alva, o governador Jétet, o governador Oolibama, o governador Elá, o governador Pinon, o governador Quenaz, o governador Teman, o governador Mibçar, o governador Magdiel, o governador Iram. Estes foram os governadores de Edom. Estes foram os filhos de Israel: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zabulão, Dan, José, Benjamim, Neftali, Gad e Aser. Filhos de Judá: Er, Onan e Chelá, três filhos que lhe nasceram da filha de Chua, a cananeia. Er, primogénito de Judá, que foi mau aos olhos do Senhor, e o Senhor tirou-lhe a vida. Tamar, sua nora, deu-lhe Peres e Zera. Ao todo, Judá teve cinco filhos. Filhos de Peres: Hesron e Hamul. Filhos de Zera: Zimeri, Etan, Heman, Calcol e Darda, ao todo cinco. Filho de Carmi: Acar, que perturbou Israel por ter violado o anátema. Filho de Etan: Azarias. Filhos que nasceram de Hesron: Jeramiel, Rame e Caleb. Rame gerou Aminadab, Aminadab gerou Nachon, príncipe dos filhos de Judá. Nachon gerou Salma, Salma gerou Booz. Booz gerou Obed, Obed gerou Jessé. Jessé gerou Eliab, seu primogénito, Abinadab o segundo, Chimeá o terceiro, Natanael o quarto, Radai o quinto, Ócem o sexto, e David o sétimo. As suas irmãs foram: Seruia e Abigaíl. Os filhos de Seruia foram três: Abisai, Joab e Asael. Abigaíl deu à luz Amassá, cujo pai foi Jéter, o ismaelita. Caleb, filho de Hesron, teve filhos de Azuba, sua mulher, como também de Jeriot. Os filhos de Azuba foram: Jésser, Chobab e Ardon. Pela morte de Azuba, Caleb desposou Efrata, que lhe deu à luz Hur. Hur gerou Uri, Uri gerou Beçalel. Depois, Hesron uniu-se à filha de Maquir, pai de Guilead, e desposou-a quando tinha sessenta anos; ela deu-lhe à luz Segub. Segub gerou Jair, que teve vinte e três cidades no país de Guilead. Os guechureus e os arameus apossaram-se das cidades de Jair, Quenat e suas aldeias, ou seja, sessenta localidades. Todos estes eram filhos de Maquir, pai de Guilead. Depois da morte de Hesron, em Caleb-Efrata, sua mulher Abias deu-lhe à luz Achiur, pai de Técua. Os filhos de Jeramiel, primogénito de Hesron, foram: Rame, o primogénito, Buná, Óren, Ócem e Aías. Jeramiel teve outra mulher chamada Atara, que foi mãe de Onam. Os filhos de Rame, primogénito de Jeramiel, foram: Maás, Jamin e Équer. Os filhos de Onam foram: Chamai e Jada. Filhos de Chamai: Nadab e Abisur. O nome da mulher de Abisur era Abiaíl, que lhe deu à luz Aban e Molid. Os filhos de Nadab: Séled e Apaim; Séled morreu sem filhos. Filho de Apaim: Jisi. Filho de Jisi: Chechan. Filho de Chechan: Alai. Filhos de Jada, irmão de Chamai: Jéter e Jónatas; Jéter morreu sem filhos. Filhos de Jónatas: Pélet e Zaza. Estes foram os filhos de Jeramiel. Chechan não teve filhos, mas muitas filhas. Ele tinha um escravo egípcio de nome Jará. Chechan deu-lhe sua filha por mulher, e ela deu à luz Atai. Atai gerou Natan, Natan gerou Zabad, Zabad gerou Eflal, Eflal gerou Obed, Obed gerou Jeú, Jeú gerou Azarias, Azarias gerou Heles, Heles gerou Elassá, Elassá gerou Sismai, Sismai gerou Chalum, Chalum gerou Jecamias, Jecamias gerou Elichamá. Filhos de Caleb, irmão de Jeramiel: Mecha, o primogénito, que foi o pai de Zif, e Marecha, que foi pai de Hebron. Filhos de Hebron: Corá, Tapua, Réquem e Chema. Chema gerou Raam, pai de Jorcoam, e Réquem gerou Chamai. Filho de Chamai: Maon. E Maon foi pai de Bet-Sur. Efá, concubina de Caleb, deu à luz Haran, Moçá e Gazez. Haran gerou Gazez. Filhos de Jadai: Reguem, Jotam, Guechan, Pélet, Efá e Chaaf. Maaca, concubina de Caleb, deu à luz Chéber e Tireana. Deu também à luz Chaaf, pai de Madmaná e Cheva, pai de Macbena e pai de Guibeá. A filha de Caleb era Acsa. Estes foram também os filhos de Caleb: Hur, filho mais velho de sua esposa Efrata, Chobal, pai de Quiriat-Iarim, Salma, pai de Belém, Haref, pai de Bet-Guéder. Chobal, pai de Quiriat-Iarim, teve por filhos Haroé e metade dos habitantes de Menuot. As famílias de Quiriat-Iarim foram: os jetereus, os futeus, os chumateus e os micheraítas, dos quais procederam os soraítas e os estaolitas. Filhos de Salma: os habitantes de Belém, de Netofa, de Atarot-Bet-Joab, metade dos habitantes de Manaat, os de Sorá e as famílias dos escribas que viviam em Jabés: os tiriateus, os chimeatitas e os sucateus. Estes são os quenitas, descendentes de Hamat, antepassado da família de Recab. Estes são os filhos que nasceram a David no tempo em que estava em Hebron: o primogénito Amnon, filho de Aínoam de Jezrael; o segundo Daniel, de Abigaíl, de Carmel; o terceiro Absalão, filho de Maaca, filha de Talmai, rei de Guechur; o quarto Adonias, filho de Haguite; o quinto Chefatias, de Abital; o sexto Jitram, de Egla, mulher de David. São estes os seis filhos que lhe nasceram em Hebron, onde reinou sete anos e seis meses. David reinou trinta e três anos em Jerusalém. Em Jerusalém, nasceram-lhe: Chimeá, Chobab, Natan, Salomão; estes quatro são filhos de Betsabé, filha de Amiel; a seguir, Jibear, Elichamá, Elifélet, Noga, Néfeg, Jafia, Elichamá, Eliadá, Elifélet, ou seja, nove filhos. Estes são todos os filhos de David, sem contar os filhos das suas concubinas. Tamar era irmã deles. Descendentes de Salomão: Roboão, pai de Abias, pai de Asa, pai de Josafat, pai de Jorão, pai de Acazias, pai de Joás, pai de Amacias, pai de Azarias, pai de Jotam, pai de Acaz, pai de Ezequias, pai de Manassés, pai de Amon, pai de Josias. Filhos de Josias: o mais velho Joanan, o segundo Joaquim, o terceiro Sedecias, o quarto Chalum. Filhos de Joaquim: Jeconias, pai de Sedecias. Filhos de Jeconias, o cativo: Salatiel seu filho, Malquiram, Pedaías, Chenaçar, Jecamias, Hochamá e Nedabias. Filhos de Pedaías: Zorobabel e Chimei. Filhos de Zorobabel: Mechulam, Hananías e Chelomite sua irmã. Filhos de Mechulam: Hachuba, Oel, Baraquias, Hasadias, Juchab-Héssed, cinco filhos. Os descendentes de Hananías foram: Pelatias e Jesaías, os filhos de Refaías, os filhos de Arnan, os filhos de Abdias, os filhos de Checanias. Filho de Checanias: Chemaías. Filhos de Chemaías: Hatus, Jigal, Baria, Nearias, Chafat, seis filhos. Filhos de Nearias: Elioenai, Ezequias e Azericam, três filhos. Filhos de Elioenai: Hodavias, Eliachib, Pelaías, Acub, Joanan, Delaías e Anani; são sete filhos. Filhos de Judá*, Peres, Hesron, Carmi, Hur e Chobal. Reaías, filho de Chobal, gerou Jaat, Jaat gerou Aumai e Laad. Estas são as famílias dos soraítas. Eis os filhos de Hur: o pai de Etam, Jezrael, Jisma e Jidbás; sua irmã chamava-se Hacelelponi. Penuel era pai de Guedor, e Ézer pai de Hucha. Estes são os filhos de Hur, primogénito de Efrata, pai de Belém. Achiur, pai de Técua, teve duas mulheres: Helá e Naará. Naará deu-lhe à luz Auzam, Héfer, Temeni e Aastari; estes são os filhos de Naará. Filhos de Helá: Séret, Soar e Etnan. Cós gerou Anub e Sobeba e a família de Aarel, filho de Harum. Jabés foi mais ilustre que seus irmãos; sua mãe deu-lhe o nome de Jabés, porque dizia: «Dei-o à luz com dor.» Jabés invocou o Deus de Israel, dizendo: «Oh, se Tu me abençoares, alargarás o meu território, a tua mão estará comigo para me preservar da desgraça e me poupar da aflição!» E Deus concedeu-lhe o que pedira. Calub, irmão de Chuá, gerou Meír, pai de Eston. Eston gerou Bet-Rafa, Passea e Teiná, pai da cidade de Naás. Foram estes os habitantes de Reca. Filhos de Quenaz: Oteniel e Seraías. Filhos de Oteniel: Hatat e Meonotai, que gerou Ofra. Seraías gerou Joab, pai dos habitantes do vale dos Carpinteiros; pois eram carpinteiros. Filhos de Caleb, filho de Jefuné: Irú, Elá e Naam. Filho de Elá: Quenaz. Filhos de Jalelel: Zif, Zifa, Tíria e Assarel. Filhos de Ezra: Jéter, Méred, Éfer. Jéter gerou Míriam, Chamai e Jisba, que foi pai de Estemoa. A sua mulher judia deu à luz Jared, pai de Guedor; Héber, pai de Socó, e Jecutiel, pai de Zanoa, são os filhos de Bítia, filha de Faraó, que Méred desposara. Filhos da mulher de Hodaías, irmão de Naam: o pai de Queila, o gueremita, e Estemoa, que era maacateu. Os filhos de Chimon: Amnon, Rina, Ben-Hanan e Tilon. Filhos de Jisi: Zoet e Ben-Zoet. Filhos de Chelá, filho de Judá: Er, pai de Lecá, Lada, pai de Marecha, e as famílias da casa onde se fabricava linho fino, em Bet-Achebea; Joquim e os homens de Cozeba, Joás e Saraf, que dominaram sobre Moab e voltaram a Belém. Estas são memórias antigas. Estes eram oleiros e habitavam Netaim e Guedera; habitavam perto do rei para trabalhar ao seu serviço. Filhos de Simeão*, Nemuel, Jamin, Jarib, Zera, Saul, Chalum seu filho, Mibsam seu filho, Michemá seu filho. Filhos de Michemá: Hamuel seu filho, Zacur seu filho, Chimei seu filho. Chimei teve dezasseis filhos e seis filhas; seus irmãos não tiveram muitos filhos e suas famílias não foram tão numerosas como as dos filhos de Judá. Habitavam em Bercheba, em Molada, em Haçar-Saul, em Balá, em Écem, em Tolad, em Betuel, em Horma, em Ciclag, em Bet-Marcabot, em Haçar-Sussim, em Bet-Biri e em Chaaraim. Foram estas as suas cidades até ao reinado de David. Possuíam ainda Etam, Ain, Rimon, Toquen e Asan, cinco cidades, e todas as aldeias das suas redondezas até Baalat. Foram estas as suas residências e seus registos genealógicos. Mechobab, Jamelec, Josa, filho de Amacias, Joel, Jeú, filho de Josibias, filho de Seraías, filho de Assiel, Elioenai, Jacoba, Jessoaías, Asaías, Adiel, Jessimiel, Benaías, Ziza, filho de Chifeí, filho de Alon, filho de Jedaías, filho de Chimeri, filho de Chemaías. Estes homens indicados por seus nomes eram príncipes nas suas famílias. As suas casas patriarcais cresceram muito. Foram da costa de Guedor, até ao oriente do vale, à procura de pastagens para os seus rebanhos. Encontraram pastos abundantes e bons num território amplo, tranquilo e cheio de paz, outrora habitado pelos descendentes de Cam. Estes homens indicados por seus nomes, no tempo de Ezequias, rei de Judá, vieram e destruíram as tendas dos habitantes deste país, assim como os moabitas que lá se encontravam, exterminando-os até ao dia de hoje. Estabeleceram-se em seu lugar, porque havia ali pastagens para os rebanhos. Quinhentos homens da família de Simeão dirigiram-se também para as montanhas de Seir, chefiados pelos filhos de Jisi: Pelatias, Naarias, Refaías e Uziel. Destroçaram os amalecitas sobreviventes e lá se estabeleceram até ao dia de hoje. Filhos de Rúben*, primogénito de Israel. Ele era o mais velho mas, como manchara o leito de seu pai, o seu direito de primogenitura foi dado aos filhos de José, filho de Israel. Mas José não foi inscrito como primogénito no livro das genealogias. Judá foi, na verdade, o mais poderoso entre seus irmãos, e dele nasceu aquele que se tornou príncipe. Mas o direito de primogenitura pertenceu a José. Filhos de Rúben, primogénito de Israel: Henoc, Palú, Hesron e Carmi. Filhos de Joel: Chemaías seu filho, Gog seu filho, Chimei seu filho, Miqueias seu filho, Reaías seu filho, Baal seu filho, Beerá seu filho, que Tiglat-Falasar, rei da Assíria, levou cativo. Ele era príncipe dos filhos de Rúben. Irmãos de Beerá, segundo suas famílias, conforme estão escritas nas suas genealogias: o primeiro, Jeiel; Zacarias, Bela, filho de Azaz, filho de Chema, filho de Joel. Bela habitava em Aroer e ia até Nebo e Baal-Meon. Ao oriente, ocupava o país até à entrada do deserto que vai até ao Eufrates, porque os seus rebanhos eram numerosos no país de Guilead. No tempo de Saul, fizeram guerra aos agarenos, que caíram nas suas mãos. Habitaram nas suas tendas em toda a costa oriental de Guilead. Os filhos de Gad* habitavam em frente deles, no país de Basan, até Salca. Joel o primeiro, Chafam o segundo, Janai e Chafat, em Basan. Os seus irmãos, segundo as suas casas patriarcais, eram sete: Micael, Mechulam, Cheba, Jorai, Jacan, Zia e Éber. Estes são os filhos de Abiaíl, filho de Huri, filho de Jaroa, filho de Guilead, filho de Micael, filho de Jechichai, filho de Jado, filho de Buz. Aí, filho de Abdiel, filho de Guni, era o chefe da sua casa patriarcal. Habitavam em Guilead, em Basan e nas suas aldeias, até às proximidades das pastagens de Saron. Todos foram recenseados no tempo de Jotam, rei de Judá, e no tempo de Jeroboão, rei de Israel. Os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés eram homens valorosos, que traziam escudo e espada, manejavam o arco e eram aguerridos, em número de quarenta e quatro mil setecentos e sessenta homens aptos para a guerra. Fizeram guerra aos agarenos em Jetur, em Nafis e em Nodab. Foram ajudados contra os agarenos que lhes foram entregues com todos os seus aliados. Durante o combate eles invocaram Deus, que os ouviu porque puseram nele a sua confiança. Apoderaram-se dos rebanhos deles: cinquenta mil camelos, duzentas e cinquenta mil ovelhas, dois mil jumentos e cem mil pessoas. Muitos caíram mortos, porque Deus tomara esta guerra por sua conta. Estabeleceram-se no lugar dos vencidos, até ao cativeiro. Os filhos da meia tribo de Manassés moravam no país, desde Basan até Baal-Hermon e Senir e a montanha do Hermon. Eram numerosos. Eis os chefes das suas famílias patriarcais: Éfer, Jisi, Eliel, Azeriel, Jeremias, Hodavias e Jadiel, homens valentes, poderosos, célebres, chefes das suas casas patriarcais. Mas foram infiéis ao Deus de seus pais e prostituíram-se, adorando os deuses dos povos que Deus tinha destruído diante deles. O Deus de Israel suscitou o espírito de Pul, rei da Assíria, e o espírito de Tiglat-Falasar, rei da Assíria, que levou cativos os filhos de Rúben, os filhos de Gad e a meia tribo de Manassés; deportou-os para Hala, Habor, Hara e rio de Gozan onde permaneceram até ao dia de hoje. Filhos de Levi*, Gérson, Queat e Merari. Filhos de Queat: Ameram, Jiçar, Hebron e Uziel. Filhos de Ameram: Aarão, Moisés e Míriam. Filhos de Aarão*, Nadab, Abiú, Eleázar e Itamar. Eleázar gerou Fineias e Fineias gerou Abisua, Abisua gerou Buqui, Buqui gerou Uzi, Uzi gerou Zeraías, Zeraías gerou Meraiot, Meraiot gerou Amarias, Amarias gerou Aitub, Aitub gerou Sadoc, Sadoc gerou Aimaás, Aimaás gerou Azarias, Azarias gerou Joanan, Joanan gerou Azarias, que exerceu o sacerdócio no templo que Salomão construiu em Jerusalém. Azarias gerou Amarias, Amarias gerou Aitub, Aitub gerou Sadoc, Sadoc gerou Chalum, Chalum gerou Hilquias, Hilquias gerou Azarias, Azarias gerou Seraías, Seraías gerou Jocédec. Jocédec partiu quando o Senhor, pelas mãos de Nabucodonosor, levou Judá e Jerusalém para o cativeiro. Filhos de Levi*, Gérson, Queat e Merari. Eis os nomes dos filhos de Gérson: Libni e Chimei. Filhos de Queat: Ameram, Jiçar, Hebron e Uziel. Filhos de Merari: Maali e Muchi. Estas são as famílias de Levi, segundo as suas casas patriarcais. De Gérson*, Libni seu filho, Jaat seu filho, Zima seu filho, Joá seu filho, Ido seu filho, Zera seu filho, Jatrai seu filho. Filhos de Queat*, Aminadab seu filho, Coré seu filho, Assir seu filho, Elcana seu filho, Abiasaf seu filho, Assir seu filho, Taat seu filho, Uriel seu filho, Uzias seu filho, Saul seu filho. Filhos de Elcana: Amassai e Aimot. Filhos de Aimot: Elcana seu filho, Sofai seu filho, Naat seu filho, Eliab seu filho, Jeroam seu filho, Elcana seu filho. Filhos de Samuel: o primogénito, Joel, e o segundo, Abias. Filhos de Merari*, Maali, Libni seu filho, Chimei seu filho, Uzá seu filho, Chimeá seu filho, Haguias seu filho, Asaías seu filho. Eis os que David escolheu para dirigir o canto na casa do Senhor, depois que a Arca da aliança foi colocada no seu lugar. Cumpriram as suas funções de cantores diante da morada, a tenda da reunião, até que Salomão construiu o templo do Senhor, em Jerusalém. Serviam conforme as regras prescritas. Eis os que cumpriram este ofício juntamente com os seus filhos; de entre os filhos de Queat*, Heman, cantor, filho de Joel, filho de Samuel, filho de Elcana, filho de Jeroam, filho de Eliel, filho de Toa, filho de Suf, filho de Elcana, filho de Maat, filho de Amassai, filho de Elcana, filho de Joel, filho de Azarias, filho de Sofonias, filho de Taat, filho de Assir, filho de Abiasaf, filho de Coré, filho de Jiçar, filho de Queat, filho de Levi, filho de Israel. Seu irmão Asaf*, que estava à sua direita: Asaf, filho de Baraquias, filho de Chimeá, filho de Micael, filho de Basseias, filho de Malquias, filho de Etni, filho de Zera, filho de Adaías, filho de Etan, filho de Zima, filho de Chimei, filho de Jaat, filho de Gérson, filho de Levi. Além disso, os filhos de Merari* que estavam à sua esquerda: Etan, filho de Cuchi, filho de Abdi, filho de Maluc, filho de Hasabias, filho de Amacias, filho de Hilquias, filho de Ameci, filho de Bani, filho de Chémer, filho de Maali, filho de Muchi, filho de Merari, filho de Levi. Seus irmãos, os levitas, estavam encarregados de todo o serviço do tabernáculo da casa do Senhor. Aarão e seus filhos queimavam as oferendas sobre o altar dos holocaustos e o altar dos perfumes. Eles tomavam sobre si todos os serviços do Santo dos Santos e faziam a expiação por Israel, conforme mandara Moisés, servo de Deus. Eis os filhos de Aarão*, Eleázar seu filho, Fineias seu filho, Abisua seu filho, Buqui seu filho, Uzi seu filho, Zeraías seu filho, Meraiot seu filho, Amarias seu filho, Aitub seu filho, Sadoc seu filho, Aimaás seu filho. Estabeleceram-se nos territórios das seguintes cidades: aos filhos de Aarão, da família dos queatitas, que primeiro foram designados pela sorte, foi dado Hebron e suas redondezas, no país de Judá. Mas o território da cidade e suas aldeias foi dado a Caleb, filho de Jefuné. Foi, portanto, dada aos filhos de Aarão a cidade de refúgio, Hebron, Libna e seus arredores, Jatir, Estemoa e seus arredores, Hilen e seus arredores, Debir e seus arredores, Asan e seus arredores, Bet-Chémes e seus arredores. Da tribo de Benjamim, Gueba e seus arredores, Alémet e seus arredores, Anatot e seus arredores. O número total de cidades foi de treze, conforme as suas famílias. Os outros filhos de Queat receberam em sorte dez cidades das famílias da tribo de Efraim, da tribo de Dan e da meia tribo de Manassés. Os filhos de Gérson, segundo as suas famílias, tiveram treze cidades da tribo de Issacar, da tribo de Aser, da tribo de Neftali e da meia tribo de Manassés, em Basan. Os filhos de Merari, segundo as suas famílias, receberam em sorte doze cidades das tribos de Rúben, de Gad e de Zabulão. Os israelitas deram aos levitas estas cidades e as suas pastagens. Da tribo de Judá, de Simeão e de Benjamim deram-lhes, por sorteio, as cidades designadas pelos seus nomes. Quanto às famílias dos filhos de Queat, as cidades em que dominaram eram da tribo de Efraim. Deram-lhes as cidades de refúgio, Siquém e seus arredores, na montanha de Efraim, Guézer e seus arredores, Joquemoam e seus arredores, Bet-Horon e seus arredores, Aialon e seus arredores, Gat-Rimon e seus arredores. Da meia tribo de Manassés deram-lhes Aner e seus arredores, Bileam e seus arredores. Isto foi dado às famílias dos restantes filhos de Queat. Aos filhos de Gérson deram, da meia tribo de Manassés, Golan, em Basan, e seus arredores, Astarot e seus arredores. Da tribo de Issacar, Quedes e seus arredores, Daberat e seus arredores, Ramot e seus arredores, Aném e seus arredores; da tribo de Aser, Machal e seus arredores, Abdon e seus arredores, Hucoc e seus arredores, Reob e seus arredores; da tribo de Neftali, Quedes, na Galileia, e seus arredores, Hamon e seus arredores e Quiriataim e seus arredores. Aos outros filhos de Merari foram dadas, da tribo de Zabulão, Rimon e seus arredores, Tabor e seus arredores; e, do outro lado do Jordão, frente a Jericó, ao oriente do Jordão: da tribo de Rúben, Bécer, no deserto, e seus arredores, Jaça e seus arredores, Quedemot e seus arredores, Mefaat e seus arredores; da tribo de Gad, Ramot, em Guilead, e seus arredores, Maanaim e seus arredores, Hesbon e seus arredores, Jazer e seus arredores. Filhos de Issacar*, Tola, Puá, Jassub e Chimeron, quatro. Filhos de Tola: Uzi, Refaías, Jeriel, Jamai, Jibsam e Samuel, chefes das casas patriarcais provindas de Tola, todos homens valentes, recenseados segundo as suas genealogias, cujo número era, no tempo de David, de vinte e dois mil e seiscentos homens. Filho de Uzi: Jizraías. Filhos de Jizraías: Micael, Abdias, Joel e Jisias, ao todo cinco chefes. Tinham, segundo as suas genealogias e as suas casas patriarcais, trinta e seis mil homens armados para a guerra, pois possuíam muitas mulheres e filhos. Os seus irmãos, de entre todas as famílias de Issacar, formavam um total de oitenta e sete mil homens valorosos, registados nas suas genealogias. Filhos de Benjamim*, Bela e Bécer e Jediael, três. Filhos de Bela: Ecebon, Uzi, Uziel, Jerimot e Iri, cinco chefes de famílias patriarcais. Registados nas suas genealogias, contavam vinte e dois mil e quatrocentos homens aptos para a guerra. Filhos de Bécer: Zemira, Joás, Eliézer, Elioenai, Omeri, Jerimot, Abias, Anatot e Alémet, todos filhos de Bécer, registados segundo as suas genealogias, como chefes das casas patriarcais, em número de vinte mil e duzentos guerreiros. Filho de Jediael: Bilan. Filhos de Bilan: Jeús, Benjamim, Eúde, Canaana, Zetan, Társis e Aichaar, todos filhos de Jediael, chefes das casas patriarcais, em número de dezassete mil e duzentos guerreiros capazes de pegar em armas e ir para a guerra. Chupim e Hupim, filhos de Ir; Huchim, filho de Aer. Filhos de Neftali*, Jaciel, Guni, Jécer e Chalum; estes eram filhos de Bila. Filhos de Manassés*, Asseriel, que foi dado à luz pela sua concubina arameia, a qual também deu à luz Maquir, pai de Guilead. Maquir casou com uma mulher de Hupim e Chupim. O nome de sua irmã era Maaca. O nome do segundo filho era Selofad, o qual só teve filhas. Maaca, mulher de Maquir, deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Peres; o nome de seu irmão era Cheres, e seus filhos eram Ulam e Réquem. Filho de Ulam: Bedan. São estes os filhos de Guilead, filho de Maquir, filho de Manassés. A sua irmã Hamoléquet deu à luz Ichod, Abiézer e Maalá. Os filhos de Chemidá foram Aian, Sequém, Liqui e Aniam. Filhos de Efraim*, Chutela, Bered seu filho, Taat seu filho, Eladá seu filho, Zabad seu filho, Chutela seu filho, Ézer e Elad, mortos pelos homens de Gat, originários do país, por terem vindo roubar os seus rebanhos. Efraim, pai deles, pôs luto durante muito tempo, e seus irmãos vieram consolá-lo. Depois, uniu-se à sua mulher, que concebeu e deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Beria, porque a sua casa estava na desgraça. A sua filha era Cheerá, que construiu Bet-Horon de Cima e Bet-Horon de Baixo, e Uzen-Cheerá. Teve ainda Rafa, seu filho de Réchef, Tela seu filho, Taan seu filho, Ladan seu filho, Amiud seu filho, Elichamá seu filho, Nun seu filho, Josué seu filho. As suas possessões e moradias eram: Betel e seus arredores, ao oriente Naaran, a oeste Guézer e seus arredores, Siquém e seus arredores até Aia e seus arredores. Os filhos de Manassés possuíam ainda Bet-Chan e seus arredores, Taanac e seus arredores, Meguido e seus arredores, Dor e seus arredores. Foram estas as cidades que habitaram os filhos de José, filhos de Israel. Filhos de Aser*, Jimna, Jisva, Jisvi, Beria e sua irmã Sera. Filhos de Beria: Héber e Malquiel, pai de Birzait. Héber gerou Jaflet, Chomer, Hotam e a irmã dele, Chuá. Filhos de Jaflet: Passac, Bimeal e Achevat. Estes são os filhos de Jaflet. Filhos de Chamer: Aí, Roga, Jeúba e Aram. Filhos de Helem, seu irmão: Sofa, Jimna, Cheles e Amal. Filhos de Sofa: Sua, Harnéfer, Chual, Beri, Jímera, Bécer, Hod, Chama, Chilcha, Jitran e Bera. Filhos de Jéter: Jefuné, Pispá e Ara. Filhos de Ulá: Ara, Haniel e Rícias. Todos estes eram filhos de Aser, chefes das casas patriarcais, homens valorosos e selectos, chefes de príncipes. Estavam registados vinte e seis mil homens capazes de pegar em armas para a guerra. Benjamim gerou Bela seu primogénito, Asbel o segundo, Ara o terceiro, Noa o quarto, e Rafa o quinto. Filhos de Bela: Adar, Guera, Abiud, Abisua, Naaman, Aoa, Guera, Chefufan e Huram. Eis os filhos de Eúde, que eram chefes das famílias que habitavam Gueba e foram obrigados a emigrar para Manaat: Naaman, Aías e Guera, que os obrigou a emigrar e gerou Uzá e Aiud. Chaaraim teve filhos nos campos de Moab, depois de ter repudiado suas mulheres Huchim e Baara. Nasceram de Hodes, sua mulher: Jobab, Síbias, Mecha, Malcam, Jeús, Saquias e Mirma, que foram seus filhos, chefes de famílias. De Huchim teve Abitub e Elpaal. Filhos de Elpaal: Éber, Micham e Chémed, que construiu Ono e Lod e as cidades que dela dependem. Beria e Chema, chefes das famílias que habitavam Aialon, puseram em fuga os habitantes de Gat. Seus irmãos eram: Aío, Chachac, Jerimot. Zebadias, Arad, Éder, Micael, Jispa e Joa eram filhos de Beria. Zebadias, Mechulam, Hizequi, Héber, Jismerai, Jizelias e Jobab, filhos de Elpaal. Jaquim, Zicri, Zabdi, Elienai, Siltai, Eliel, Adaías, Beraías e Chimerat, filhos de Chimei. Jispan, Éber, Eliel, Abdon, Zicri, Hanan, Hananías, Elam, Anatotias, Jifdaías e Penuel, filhos de Chachac. Chamecharai, Chearias, Atália, Jaressias, Elias e Zicri, filhos de Jeroam. Estes são os chefes de famílias segundo as suas genealogias. Habitavam em Jerusalém. O pai de Guibeon morava em Guibeon; sua mulher chamava-se Maaca, seu filho primogénito Abdon, e depois Sur, Quis, Baal, Nadab, Guedor, Aío e Zéquer. Miquelot gerou Chimeá. Habitaram também em Jerusalém com seus irmãos. Ner gerou Quis, Quis gerou Saul, Saul gerou Jónatas, Malquichua, Abinadab e Isbaal. Filho de Jónatas: Meribaal. Meribaal gerou Mica. Filhos de Mica: Piton, Mélec, Taré e Acaz. Acaz gerou Joadá; Joadá gerou Alémet, Azemávet e Zimeri; Zimeri gerou Moçá. Moçá gerou Bineá, Rafa seu filho, Elassá seu filho, Acel seu filho. Acel teve seis filhos, cujos nomes são: Azericam, Bocru, Ismael, Chearias, Abdias e Hanan. Estes foram os filhos de Acel. Filhos de Échec, seu irmão: Ulam, seu primogénito, Jeús o segundo, e Elifélet o terceiro. Os filhos de Ulam eram homens valentes, bons arqueiros. Tiveram numerosos filhos e netos: cento e cinquenta. Todos estes foram descendentes de Benjamim. Todo o Israel está registado nas genealogias e inscrito no livro dos reis de Israel. Judá foi deportado para a Babilónia por causa das suas infidelidades. Os primeiros habitantes que entraram nas suas possessões e nas suas cidades foram os israelitas, os sacerdotes, os levitas e os natineus. Em Jerusalém habitaram alguns dos filhos de Judá, de Benjamim, de Efraim, de Manassés. Dos filhos de Peres, filho de Judá: Utai, filho de Amiud, filho de Omeri, filho de Imeri, filho de Bani. Dos silonitas: Asaías, o primogénito, e seus filhos. Dos filhos de Zera: Jeuel e seus irmãos. Ao todo, seiscentos e noventa. Dos filhos de Benjamim: Salú, filho de Mechulam, filho de Hodavias, filho de Hassenua; Jibnias, filho de Jeroam; Elá, filho de Uzi, filho de Micri, e Mechulam, filho de Chefatias, filho de Reuel, filho de Jibnias, e seus irmãos, segundo as suas gerações, em número de novecentos e cinquenta e seis. Todos eram chefes de famílias nas casas patriarcais. Sacerdotes:* Jedaías, Joiarib, Joaquim, Azarias, filho de Hilquias, filho de Mechulam, filho de Sadoc, filho de Meraiot, filho de Aitub, chefe da casa de Deus; Adaías, filho de Jeroam, filho de Pachiur, filho de Malquias; Maassai, filho de Adiel, filho de Jazera, filho de Mechulam, filho de Mechilemit, filho de Imer, e seus chefes das suas casas patriarcais, num total de mil setecentos e sessenta homens valorosos, ocupados no serviço da casa de Deus. Levitas:* Chemaías, filho de Hachub, filho de Azericam, filho de Hasabias, descendentes de Merari; Bacbacar, Heres, Galal, e Matanias, filho de Mica, filho de Zicri, filho de Asaf; Abdias, filho de Chemaías, filho de Galal, filho de Jedutun; Baraquias, filho de Asa, filho de Elcana, que morava nas cidades dos netofateus. Porteiros:* Chalum, Acub, Talmon, Aiman e seus irmãos. Chalum era o chefe dos porteiros e ainda agora é o guarda da porta do rei, ao oriente. De entre os levitas, estes são os porteiros: Chalum, filho de Coré, filho de Abiasaf, filho de Coré, e seus irmãos, os coreítas, da casa de seu pai, desempenhavam as funções de guardas das portas do tabernáculo. Seus pais fizeram a guarda da entrada do acampamento do Senhor. Fineias, filho de Eleázar, tinha sido antes chefe deles. E o Senhor estava com ele. Zacarias, filho de Mechalemias, era porteiro da entrada da tenda da reunião. Estes guardas das portas foram escolhidos em número de duzentos e doze, e registados nas genealogias segundo as suas cidades. David e o profeta Samuel investiram-nos em suas funções. Eles e seus filhos guardavam as portas da casa do Senhor e da casa do tabernáculo. Havia porteiros nos quatro pontos cardeais, a leste, a oeste, ao norte e ao sul. Os seus irmãos, que moravam nas aldeias, vinham para junto deles todas as semanas, cada um segundo o seu turno. Mas os quatro chefes dos porteiros, que eram levitas, estavam constantemente em funções, devendo ainda vigiar os depósitos e os tesouros da casa de Deus. Moravam ao redor da casa de Deus, de cuja guarda estavam encarregados, devendo abri-la todas as manhãs. Alguns porteiros encarregavam-se da vigilância dos objectos de culto que inventariavam, à entrada e à saída; outros, ainda, cuidavam dos utensílios do santuário, da flor de farinha, do vinho, do azeite, do incenso e dos aromas. Os filhos dos sacerdotes compunham as essências aromáticas. Matatias, levita, primogénito de Chalum, o coreíta, tinha a seu cuidado as tortas que se coziam na sertã. Alguns dos seus irmãos, filhos dos queatitas, estavam encarregados de preparar, para cada sábado, os pães da oferenda. Eram estes os principais cantores, chefes das famílias levíticas, e moravam nos apartamentos do templo, isentos de outras funções para exercerem a sua, dia e noite. Estes são os chefes das famílias dos levitas, segundo as suas genealogias. Habitavam em Jerusalém. O pai dos guibeonitas, Jeiel, habitava em Guibeon; sua mulher chamava-se Maaca. Seu filho primogénito, Abdon, depois Sur e Quis, Baal, Ner, Nadab, Guedor, Aío, Zacarias e Miquelot. Miquelot gerou Chimeam. Habitavam também com seus irmãos em Jerusalém. Ner gerou Quis, Quis gerou Saul, Saul gerou Jónatas, Malquichua, Abinadab e Isbaal. Filho de Jónatas: Meribaal. Meribaal gerou Mica. Filhos de Mica: Piton, Mélec, Taré e Acaz, pai de Jara. Jara gerou Alémet, Azemávet e Zimeri. Zimeri gerou Moçá. Moçá gerou Bineá, cujo filho Refaías gerou Elassá, do qual nasceu Acel. Acel teve seis filhos, cujos nomes são: Azericam, Bocru, Ismael, Chearias, Abdias e Hanan. São estes os filhos de Acel. Os filisteus atacaram Israel e os israelitas fugiram diante deles. Muitos caíram feridos de morte, na montanha de Guilboa. Os filisteus perseguiram Saul e seus filhos e mataram Jónatas, Abinadab e Malquichua, filhos de Saul. O peso da luta incidiu sobre Saul; os arqueiros alcançaram-no e feriram-no no ventre. Saul disse, então, ao seu escudeiro: «Desembainha a tua espada e trespassa-me, para que os incircuncisos não venham ultrajar-me.» Mas o escudeiro não quis, pelo medo que se apossara dele. Então Saul tirou a sua espada e atirou-se sobre ela. Vendo-o morto, o escudeiro atirou-se também sobre a sua espada e morreu. Assim morreram Saul e os seus três filhos, perecendo com eles toda a sua casa. Todos os israelitas que estavam na planície, vendo que os filhos de Israel recuavam e que Saul e os seus filhos estavam mortos, abandonaram as suas cidades e fugiram; os filisteus apoderaram-se delas. No dia seguinte, os filisteus vieram para despojar os mortos e encontraram Saul e os seus filhos estendidos na montanha de Guilboa. Despojaram Saul, levaram-lhe a cabeça e as armas e apregoaram a boa nova por todo o país dos filisteus, diante dos seus ídolos e do povo. Puseram as armas de Saul no templo dos seus deuses e suspenderam a sua cabeça no templo de Dagon. Os habitantes de Jabés, de Guilead, souberam tudo o que os filisteus tinham feito a Saul. Então, levantaram-se todos os homens fortes, tomaram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos e transportaram-nos para Jabés. Enterraram-nos sob o terebinto de Jabés e jejuaram durante sete dias. Saul morreu por causa da sua infidelidade, da qual se tornara culpado diante do Senhor, cujas palavras não observou, e por ter consultado o espírito de um morto. Não obedeceu ao Senhor, e o Senhor deu-lhe a morte, transferindo assim a realeza para David, filho de Jessé. Reuniu-se todo o Israel ao redor de David, em Hebron, dizendo-lhe: «Somos teus ossos e tua carne. Já antes, quando Saul era rei, eras tu que conduzias os destinos de Israel. O Senhor, teu Deus, disse-te: ‘Tu apascentarás Israel, meu povo, e serás o chefe de Israel.’» Todos os anciãos de Israel vieram, pois, ter com o rei em Hebron, e David concluiu um pacto com eles, diante do Senhor; ungiram-no rei de Israel, segundo a palavra do Senhor, pronunciada por Samuel. David marchou com todo o Israel sobre Jerusalém, quer dizer Jebús, onde estavam os jebuseus, habitantes do país. Os jebuseus disseram a David: «Não entrarás aqui.» Mas David apoderou-se da fortaleza de Sião, que é a cidade de David. David dissera: «O primeiro, seja quem for, que vencer os jebuseus, tornar-se-á chefe e príncipe.» O primeiro que subiu foi Joab, filho de Seruia, e tornou-se chefe. David instalou-se na fortaleza que, por isso, foi chamada cidade de David. Fortificou a cidade ao redor, desde Milo até aos arredores, e Joab restaurou o resto da cidade. David tornou-se cada vez maior, e o Deus do universo estava com ele. Eis os heróis principais que estavam ao serviço de David e o ajudaram, com todo o Israel, a assegurar o seu domínio, a fim de o proclamar rei de Israel, segundo a palavra do Senhor. Eis o número dos heróis que estavam ao serviço de David: Jachobam, chefe dos três, filho de Hacmoni, brandiu a sua lança contra trezentos homens e abateu-os de uma só vez. Depois deste, Eleázar, filho de Dodo, o aoíta, um dos três heróis. Estava com David, em Pas-Damim, onde os filisteus se reuniram para o combate. Havia ali um campo de cevada e, quando o povo fugia diante dos filisteus, ele e os seus colocaram-se no meio do campo, defenderam-no e destroçaram os filisteus. E o Senhor operou uma grande vitória. Três dos trinta capitães desceram à rocha da caverna de Adulam, onde estava David; os filisteus acamparam no vale dos refaítas. Ora David estava na caverna, e os filisteus tinham uma guarnição em Belém. David exprimiu este desejo: «Quem me dará de beber da água da cisterna que está às portas de Belém?» Os três homens atravessaram o acampamento dos filisteus e tiraram a água da cisterna que está à porta de Belém. Levaram-na a David, mas David não a quis beber e fez dela uma oferta ao Senhor, dizendo: «Deus me livre de fazer tal coisa! Beberia eu o sangue desses homens? Pois trouxeram-ma com risco das suas vidas.» E não a quis beber. Eis o que fizeram esses três valentes. Abisai, irmão de Joab, era o chefe dos trinta; brandiu a sua lança contra trezentos homens, matou-os, mas não teve o nome entre os três. Era duplamente considerado entre os trinta e foi seu chefe, mas não se igualou aos três primeiros. Benaías, filho de Joiadá, homem valente e rico em façanhas, natural de Cabeciel, derrotou os dois heróis de Moab e desceu a matar um leão dentro da cisterna, num dia de neve. Venceu também um egípcio de cinco côvados de altura, que tinha na mão uma lança semelhante a um rolo de tear. Atirou-se a ele com o cajado, arrancou-lhe a lança das mãos e matou-o com a sua própria lança. Tudo isto fez Benaías, filho de Joiadá, e celebrizou-se entre os trinta valentes. Era dos mais considerados entre eles, mas não se igualou aos três. David colocou-o à frente da sua guarda. No exército, os mais valentes eram*, Asael, irmão de Joab; El-Hanan, filho de Dodo, de Belém; Chamot de Harod; Heles de Pélet; Ira, filho de Iqués, de Técua; Abiézer de Anatot; Sibecai o huchaíta; Ilai o aoíta; Marai de Netofa; Héled, filho de Baana, de Netofa; Itai, filho de Ribai de Guibeá, dos filhos de Benjamim; Benaías o piratonita; Hurai dos vales de Gaás; Abiel de Arabá; Azemávet de Baurim; Eliaba o chaalbonita; Jassen o gunita; Jónatas, filho de Chagué, o hararita; Aiam, filho de Sacar, o hararita; Elifal, filho de Ur; Héfer de Mequera; Aías o pelonita; Hesron de Carmel; Naarai, filho de Ezbai; Joel, irmão de Natan; Mibear, filho de Hagri; Sélec o amonita; Naarai de Beerot, escudeiro de Joab, filho de Seruia; Ira, de Jéter; Gareb, de Jéter; Urias o hitita; Zabad, filho de Alai; Adina, filho de Chiza, filho de Rúben, chefe dos rubenitas e, com ele, outros trinta; Hanan, filho de Maacá; Josafat, de Matan; Uzias, de Astarot; Chama e Jeiel, filhos de Hotam, de Aroer; Jediael, filho de Chimeri; Joa seu irmão, o ticita; Eliel, o maavita; Jeribai e Josavias, filhos de Elnaam; Jitma o moabita; Eliel, Obed e Jaassiel, de Soba. Estes são os que se juntaram a David, em Ciclag, quando ainda estava afastado de Saul, filho de Quis; estão contados entre os valentes que lhe prestaram ajuda durante a guerra. Eram arqueiros exercitados em lançar pedras, tanto com a mão esquerda como com a mão direita, e disparavam flechas com o arco. Eram irmãos de Saul, de Benjamim*, o chefe Aiézer e Joás, filhos de Chemaá, de Guibeá; Jeziel e Pélet, filhos de Azemávet; Beracá e Jeú de Anatot; Jismaías de Guibeon, o mais valente dos trinta e chefe dos trinta; Jeremias, Jaziel, Joanan e Jozabad de Guedera; Eluzai, Jerimot, Baalias, Chemarias, Chefatias de Haruf; Elcana, Jisias, Azarel, Joézer e Jachobam, filhos de Coré; Joela e Zebadias, filhos de Jeroam de Guedor. Os homens valentes dos gaditas* uniram-se a David nas cavernas do deserto, guerreiros exercitados no combate, que conheciam o manejo do escudo e da lança: tinham o aspecto de leões e a agilidade das gazelas das montanhas. Ézer era o seu chefe; Abdias o segundo; Eliab o terceiro; Mismana o quarto; Jeremias o quinto; Atai o sexto; Eliel o sétimo; Joanan o oitavo; Elzabad o nono; Jeremias o décimo; Macbanai o décimo primeiro. Eram estes os filhos de Gad, chefes do exército; o menor de todos eles podia vencer cem, e o mais forte, mil. Foram eles que atravessaram o Jordão, no primeiro mês, quando o rio costumava transbordar em todo o seu curso, e puseram em fuga todos os habitantes do vale, a leste e a oeste. Também alguns filhos de Benjamim e de Judá vieram aliar-se a David nas cavernas. David saiu ao encontro deles e disse-lhes: «Se é como amigos que vindes, para me prestar auxílio, o meu coração está unido ao vosso; mas se é para me atraiçoar e entregar aos inimigos – pois as minhas mãos estão limpas de toda a violência – que o Deus de nossos pais seja testemunha e juiz.» Então o espírito entrou em Amassai, chefe dos trinta, que disse: «A ti e ao teu povo, filho de Jessé, paz! Paz a ti e paz a quantos te protegem, pois o teu Deus presta-te auxílio.» David recebeu-os e deu-lhes um lugar entre os chefes do exército. Também os filhos de Manassés se juntaram a David quando ele, com os filisteus, foi fazer guerra a Saul. Contudo, não socorreram os filisteus porque, depois de se reunirem em conselho, os príncipes dos filisteus despediram David, dizendo: «Ele passará para o lado de Saul, com perigo das nossas cabeças.» Quando voltou a Ciclag, foram estes os homens de Manassés que se lhe juntaram: Adna, Jozabad, Jediael, Micael, Jozabad, Eliú e Siltai, comandantes de milhares de Manassés. Uniram-se a David contra os bandos de salteadores, porque todos eles eram homens valentes e foram chefes do exército. Todos os dias chegavam homens a David para o auxiliar e, assim, veio a ter um grande exército, como um exército de Deus. Este é o número dos homens armados para a guerra, que foram ter com David, em Hebron, para transferir para ele o reino de Saul, segundo a ordem do Senhor. Filhos de Judá*, portadores de escudo e lança: seis mil e oitocentos, armados para a guerra. Dos filhos de Simeão*, sete mil e cem valentes guerreiros. Dos filhos de Levi*, quatro mil e seiscentos. Joiadá, chefe da casa de Aarão, com três mil e setecentos homens. Sadoc, jovem e valente guerreiro, com vinte e dois chefes da casa de seu pai. Dos filhos de Benjamim*, irmãos de Saul, três mil, pois até então a maior parte deles guardava fidelidade à casa de Saul. Dos filhos de Efraim*, vinte mil e oitocentos guerreiros, conhecidos nas suas famílias pela sua valentia. Da meia tribo de Manassés*, dezoito mil, que foram nominativamente designados para ir proclamar David como rei. Dos filhos de Issacar*, que tinham o sentido da oportunidade e sabiam o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos sob as suas ordens. De Zabulão*, cinquenta mil em estado de pegar em armas, preparados para o combate, equipados com toda a classe de armas, prontos a socorrer David de coração resoluto. De Neftali*, mil chefes, e com eles trinta e sete mil homens que levavam escudo e lança. Dos danitas*, vinte e oito mil e seiscentos homens prontos para se pôr em ordem de batalha. De Aser*, homens preparados para o combate: quarenta mil. E, do outro lado do Jordão, dos rubenitas, dos gaditas e da meia tribo de Manassés*, cento e vinte mil, equipados com todas as armas. Todos estes homens de guerra prontos para o combate, de coração sincero, vieram a Hebron, para proclamar David rei de todo o Israel. E o resto de Israel estava igualmente unânime em proclamar rei a David. Permaneceram ali com David três dias, comendo e bebendo, porque seus irmãos lhes prepararam a comida. Além disso, os que moravam perto deles, até Issacar, Zabulão e Neftali, traziam-lhes víveres transportados em jumentos, camelos, mulas e bois; provisões de farinha, figos, passas de uva, vinho, azeite, vacas e ovelhas em abundância, porque havia alegria em Israel. David aconselhou-se com os chefes de milhares e de centenas, com todos os príncipes, e disse a toda a assembleia de Israel: «Se achais bem, e isto parece inspirado pelo Senhor nosso Deus, enviemos sem demora mensageiros aos nossos irmãos de todas as regiões de Israel, aos sacerdotes e levitas que vivem nas suas cidades, para que venham juntar-se a nós. Translademos para a nossa morada a Arca do nosso Deus, pois não cuidámos dela no tempo de Saul.» Toda a assembleia resolveu proceder deste modo, pois assim pareceu conveniente a todo o povo. David convocou todo o Israel, desde a torrente do Egipto até à entrada de Hamat, a fim de trazer de Quiriat-Iarim a Arca de Deus. David, com todo o Israel, subiu a Baalá, em Quiriat-Iarim de Judá, para trazer de lá a Arca de Deus, do Senhor que tem o seu trono sobre os querubins, diante da qual é invocado o seu nome. A Arca de Deus foi colocada sobre um carro novo e levaram-na da casa de Abinadab; Uzá e Aío conduziam o carro. David e todo o Israel dançavam diante de Deus com todas as suas forças, cantavam e tocavam cítaras, harpas, tamborins, címbalos e trombetas. Ao chegar à eira de Quidon, Uzá estendeu a mão para segurar a Arca de Deus, pois os bois, tropeçando, inclinaram-na. A ira do Senhor inflamou-se contra Uzá e Ele feriu-o por estender a mão para a Arca. Uzá morreu ali, diante de Deus. David contristou-se porque o Senhor aniquilara Uzá. E deu a este lugar o nome de Peres-Uzá, que conserva ainda hoje. Nesse dia David temeu a Deus e disse: «Como posso eu introduzir a Arca de Deus na minha casa?» E David não levou a Arca para a sua casa, na cidade de David. Mandou-a levar para casa de Obededom, de Gat. A Arca de Deus ficou na casa dele durante três meses; e o Senhor abençoou a família de Obededom, com tudo o que lhe pertencia. Hiram, rei de Tiro, enviou mensageiros a David com madeiras de cedro, pedreiros e carpinteiros, para lhe construírem um palácio. Então, David reconheceu que o Senhor o confirmara rei de Israel e que o seu reino era exaltado por causa de Israel, seu povo. David teve também mulheres em Jerusalém e gerou filhos e filhas. Estes são os nomes dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Chamua, Chobab, Natan, Salomão, Jibear, Elichua, Elifélet, Noga, Néfeg, Jafia, Elichamá, Baaliadá e Elifélet. Quando os filisteus souberam que David tinha sido ungido rei de todo o Israel, partiram todos para o prender. Mas David soube-o e saiu ao seu encontro. Os filisteus em marcha espalharam-se pelo vale de Refaim. David consultou Deus, perguntando: «Avançarei contra os filisteus? Entregá-los-ás nas minhas mãos?» E o Senhor respondeu-lhe: «Sobe e entregá-los-ei nas tuas mãos.» Avançou portanto até Baal-Perasim, e David derrotou-os. Disse então: «Deus dispersou os meus inimigos por minha mão, como se dispersam as águas.» Por isso este lugar recebeu o nome de Baal-Perasim. E os filisteus abandonaram ali os seus deuses, que David mandou queimar. Os filisteus espalharam-se novamente pelo vale. David consultou outra vez Deus, que lhe respondeu: «Não os persigas, rodeia-os e atira-te sobre eles diante das amoreiras. Quando ouvires um rumor de passos nas copas das amoreiras, então começarás o combate, pois Deus irá diante de ti para derrotar o exército dos filisteus.» David fez como Deus lhe ordenara e derrotou o exército dos filisteus, de Guibeon até Guézer. A fama de David espalhou-se por todas aquelas terras, e o Senhor tornou-o temível perante todas as nações. David construiu casas para si na cidade de David, preparou um lugar para a Arca de Deus e levantou-lhe uma tenda. Disse então David: «A Arca de Deus não pode ser levada senão pelos levitas, pois foi a eles que o Senhor escolheu para a conduzirem e para o servirem perpetuamente.» David convocou todo o Israel em Jerusalém, para trasladar a Arca do Senhor para o lugar que lhe tinha preparado. Reuniu também os filhos de Aarão e os levitas. Dos filhos de Queat: o chefe Uriel e seus irmãos, cento e vinte; dos filhos de Merari: o chefe Asaías e seus irmãos, duzentos e vinte; dos filhos de Gérson: o chefe Joel e seus irmãos, cento e trinta; dos filhos de Elisafan: o chefe Chemaías e seus irmãos, duzentos; dos filhos de Hebron: o chefe Eliel e seus irmãos, oitenta; dos filhos de Uziel: o chefe Aminadab e seus irmãos, cento e doze. David chamou Sadoc e Abiatar e os levitas Uriel, Asaías, Joel, Chemaías, Eliel e Aminadab, e disse-lhes: «Vós sois os chefes das famílias levíticas; santificai-vos, juntamente com os vossos irmãos, e levai a Arca do Senhor, Deus de Israel, ao lugar que lhe preparei. Por não estardes presentes da primeira vez, o Senhor nosso Deus feriu-nos, pois não a fomos buscar consoante manda a Lei.» Os sacerdotes e os levitas santificaram-se, portanto, para transportar a Arca do Senhor, Deus de Israel. E os filhos de Levi, como Moisés ordenara, segundo a palavra do Senhor, conduziram a Arca de Deus aos ombros, por meio de varais. David disse aos chefes dos levitas que escolhessem, entre os seus irmãos, cantores com instrumentos de música – cítaras, harpas e címbalos – em sinal de regozijo. Os levitas escolheram Heman, filho de Joel, e entre os seus irmãos Asaf, filho de Baraquias, e entre os filhos de Merari, seus irmãos, Etan, filho de Cuchaías, e, com eles, os seus irmãos da segunda ordem, Zacarias, Aziel, Chemiramot, Jaiel, Uno, Eliab, Benaías, Massaías, Matatias, Elifeleu, Miqueneias, Obededom e Jeiel, porteiros. Os cantores Heman, Asaf e Etan tocavam címbalos de bronze. Zacarias, Aziel, Chemiramot, Jaiel, Uni, Eliab, Massaías e Benaías tocavam cítaras para vozes altas. Matatias, Elifeleu, Miqueneias, Obededom, Jeiel e Azazias tocavam harpas na oitava inferior, para conduzir o canto. Cananias, chefe dos levitas, dirigia o canto, pois em tal era entendido. Baraquias e Elcana faziam de porteiros junto da Arca. Os sacerdotes Chebanias, Josafat, Natanael, Amassai, Zacarias, Benaías e Eliézer tocavam trombetas diante da Arca de Deus. Obededom e Jeías eram porteiros junto da Arca. David, os anciãos de Israel e os chefes de milhares foram buscar a Arca da aliança do Senhor a casa de Obededom, com grande júbilo. E, como Deus assistia os levitas que transportavam a Arca da aliança do Senhor, foram sacrificados sete touros e sete carneiros. David estava revestido de uma túnica de linho fino, assim como todos os levitas que transportavam a Arca, os cantores e Cananias, que dirigia a música entre os cantores. David estava também revestido de uma faixa votiva de linho. Todo o Israel, ao transportar a Arca da aliança do Senhor, soltava brados de júbilo ao som das trombetas, trompas, címbalos, cítaras e harpas. Quando a Arca da aliança do Senhor entrou na cidade de David, Mical, filha de Saul, que olhava pela janela, viu o rei que dançava e ria, e desprezou-o no seu coração. Conduziram, pois, a Arca de Deus e colocaram-na no meio da tenda que David tinha levantado, e ofereceram na presença de Deus holocaustos e sacrifícios de comunhão. Depois da oferta dos holocaustos e sacrifícios de comunhão, David abençoou o povo em nome do Senhor. Depois distribuiu a todos os israelitas, homens e mulheres, um pão, um pedaço de carne e um bolo de passas de uvas a cada um. David colocou diante da Arca do Senhor levitas encarregados do serviço, a fim de invocarem, celebrarem e louvarem o Senhor, Deus de Israel. Eram eles: Asaf, o chefe; Zacarias, o segundo depois dele; logo a seguir, Aziel, Chemiramot, Jeiel, Matatias, Eliab, Benaías, Obededom; Jaiel estava encarregado das harpas e das cítaras, enquanto Asaf fazia vibrar os címbalos. Os sacerdotes Benaías e Jaziel tocavam continuamente a trombeta diante da Arca da aliança de Deus. Naquele dia, David encarregou Asaf e os seus irmãos de cantarem este cântico em louvor do Senhor: «Louvai o Senhor, aclamai o seu nome, anunciai entre os povos as suas obras. Cantai-lhe hinos e salmos, proclamai todas as suas maravilhas. Gloriai-vos no seu nome santo, alegre-se o coração dos que procuram o Senhor ! Recorrei ao Senhor e ao seu poder, buscai sempre a sua face. Recordai as maravilhas que Ele fez, os seus prodígios e as sentenças da sua boca, ó descendentes de Israel, seu servo, filhos de Jacob, seu escolhido! É Ele o Senhor nosso Deus, e governa sobre toda a terra. Recordai sempre a sua aliança, e a promessa que jurou manter por mil gerações, o pacto que estabeleceu com Abraão, o juramento que fez a Isaac. Confirmou-o como um preceito para Jacob, como aliança eterna para Israel, dizendo: ‘Eu te darei a terra de Canaã, como a parte que vos cabe em herança.’ Vós éreis, então, um pequeno número, uma minoria de estrangeiros no país, emigrando de nação em nação, e passando de um reino a outro. Ele não permitiu que ninguém os oprimisse e castigou reis por causa deles: ‘Não toqueis nos meus ungidos, não maltrateis os meus profetas!’ Cantai ao Senhor, terra inteira, proclamai, dia após dia, a sua salvação. Anunciai aos pagãos a sua glória e as suas maravilhas a todos os povos. Pois o Senhor é grande, digno de todo o louvor, e mais temível que todos os deuses. Todos os deuses dos pagãos são apenas ídolos, mas o Senhor criou os céus. Na sua presença há majestade e esplendor, poder e magnificência no seu santuário. Ó famílias dos povos, dai ao Senhor, dai ao Senhor glória e honra, dai ao Senhor a glória do seu nome. Trazei oferendas, vinde à sua presença, prostrai-vos perante o Senhor com vestes sagradas. Trema diante dele a terra inteira! Pois a terra está firme, não vacila. Alegrem-se os céus e rejubile a terra; proclamai entre as nações: ‘O Senhor é rei!’ Ressoe o mar e tudo o que ele contém, alegrem-se os campos e tudo o que neles existe. Exultem as árvores da floresta diante do Senhor que vem, que vem para governar a terra. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, pois é eterno o seu amor! Dizei: ‘Salva-nos, ó Deus nosso salvador! Reúne-nos e liberta-nos de entre os pagãos, para darmos graças ao teu santo nome, e celebrarmos os teus louvores.’ Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, pelos séculos dos séculos.» E todo o povo disse: «Ámen!» E louvou o Senhor. David deixou ali, diante da Arca da aliança do Senhor, Asaf e os seus irmãos para continuamente servirem diante da Arca, segundo o seu dever de cada dia, e também Obededom, filho de Jedutun, Hossa e seus irmãos, em número de sessenta e oito, como porteiros. David deixou igualmente o sacerdote Sadoc e os sacerdotes seus irmãos diante do tabernáculo do Senhor, no lugar alto de Guibeon, para oferecerem holocaustos ao Senhor no altar dos holocaustos, continuamente, de manhã e à tarde, e cumprir tudo o que está escrito na Lei que o Senhor deu a Israel. Com eles estavam Heman, Jedutun e os outros que foram escolhidos e designados pelos seus nomes para louvar o Senhor, pois o seu amor é eterno. Tinham consigo trombetas e címbalos para tocar, e instrumentos para entoar os cânticos de Deus. Os filhos de Jedutun estavam encarregados da guarda da porta. Depois, todo o povo regressou às suas casas e David voltou para abençoar a sua casa. Quando David se instalou no seu palácio disse ao profeta Natan: «Eis que habito num palácio de cedro, e a Arca da aliança do Senhor está debaixo de uma tenda.» Natan respondeu: «Faz o que o teu coração te inspirar, porque Deus está contigo.» Mas na noite seguinte a palavra de Deus foi dirigida a Natan nestes termos: Vai e diz a David, meu servo: Isto diz o Senhor: ‘Não és tu que me construirás a casa em que habitarei. Nunca habitei em casa fixa, desde o dia em que tirei Israel do Egipto até hoje, mas tenho andado de tenda em tenda, de morada em morada. Durante todo o tempo em que viajei com todo o Israel, jamais pus esta questão a qualquer dos juízes de Israel, aos quais encarregara de apascentar o meu povo, dizendo: Porque não me edificais uma casa de cedro?’ Agora dirás ao meu servo David: Isto diz o Senhor do universo: ‘Tirei-te dos campos de pastagens e do pastoreio das ovelhas para seres o chefe do meu povo de Israel; andei contigo em todos os teus caminhos, exterminei diante de ti os teus inimigos e dei-te um nome igual ao dos grandes da terra. Dei um lugar de habitação ao meu povo de Israel; fixei-o. Ele está estabelecido, jamais será removido e os iníquos jamais o oprimirão como outrora, como no dia em que estabeleci juízes sobre Israel, meu povo. Humilhei todos os teus inimigos, e anuncio-te que o Senhor edificará para ti uma casa. Quando se acabarem os teus dias e te tiveres juntado aos teus pais, elevarei um teu descendente, depois de ti, de entre os teus filhos, e tornarei firme a sua realeza. Será ele quem me construirá uma casa e firmarei o seu trono para sempre. Serei para ele um pai e ele será para mim um filho, e jamais retirarei o meu favor como o retirei àquele que te precedeu. Eu o estabelecerei na minha casa e no meu reino para sempre, e o seu trono será firme por todos os séculos.’» Natan transmitiu a David todas estas palavras e toda esta visão. Então David apresentou-se diante do Senhor e disse: «Quem sou eu, Senhor Deus, e que é a minha casa, para que me faças chegar aonde estou? E todavia, ó Deus, isto é pouco aos teus olhos! Falaste da casa do teu servo para os tempos longínquos, e olhaste para mim, ó Senhor Deus, como para um homem de alta dignidade! Que mais te poderia dizer David sobre a honra que fazes ao teu servo? Tu conheces o teu servo. Senhor, é por causa do teu servo e segundo o impulso do teu coração que executaste todas estas grandes coisas para lhas revelar. Senhor, ninguém é semelhante a ti, não há outro deus como Tu, conforme ouvimos dizer com os nossos ouvidos. Haverá sobre a terra uma só nação comparável ao teu povo de Israel, cujo deus a tenha resgatado para fazer dela o seu povo, como o fizeste, ao impores a glória do teu nome à força de prodígios espantosos, e ao expulsares as nações diante do teu povo, que libertaste do Egipto? Fizeste de Israel o teu povo para sempre e Tu, Senhor, tornaste-te o seu Deus. E agora, Senhor, possa subsistir eternamente a palavra que pronunciaste acerca do teu servo e da sua casa! Faz como disseste. Que ela se realize para sempre, e então o teu nome será eternamente exaltado, e dir-se-á: ‘O Senhor do universo, Deus de Israel, é na verdade um Deus para Israel.’ E que seja firme, diante de ti, a casa do teu servo David, porque Tu mesmo, ó meu Deus, revelaste ao teu servo que lhe construirás uma casa. Por isso o teu servo ousou dirigir-te esta prece. Agora, Senhor, Tu és Deus e prometeste esta graça ao teu servo. Digna-te, portanto, abençoar a casa do teu servo para que subsista para sempre diante de ti; porque Tu, Senhor, a abençoaste e bendita será para sempre.» Depois disto, David derrotou os filisteus e submeteu-os, arrebatando das suas mãos Gat e as cidades anexas. Derrotou também os moabitas, que se tornaram seus vassalos e lhe pagaram tributo. David derrotou também a Hadad-Ézer, rei de Soba, em Hamat, quando ele se encaminhava para estabelecer o seu domínio sobre as margens do Eufrates. David apreendeu-lhe mil carros, sete mil cavaleiros e vinte mil soldados de infantaria. Cortou os jarretes de todos os cavalos de tiro, e conservando apenas cem. Os arameus de Damasco vieram em auxílio de Hadad-Ézer, rei de Soba, mas David matou-lhes vinte e dois mil homens. E pôs guarnições em Aram de Damasco, e os arameus tornaram-se seus vassalos e pagaram-lhe tributo. O Senhor protegia-o em todas as suas empresas. David apoderou-se dos escudos de ouro pertencentes aos servos de Hadad-Ézer e transportou-os para Jerusalém. Também se apoderou de grande quantidade de bronze, em Tibeat e em Cun, cidades de Hadad-Ézer. Com ele fez Salomão o mar de bronze, as colunas e os utensílios de bronze. Toú, rei de Hamat, soube que David desbaratara todo o exército de Hadad-Ézer, rei de Soba, e enviou-lhe Hadoram, seu filho, para o saudar e felicitar por ter atacado e vencido Hadad-Ézer, pois Toú estava em contínua guerra com Hadad-Ézer. Enviou-lhe também toda a espécie de objectos de ouro, de prata e de bronze. O rei David consagrou-os ao Senhor com o ouro e a prata que tomara a todos os povos, a Edom, a Moab, aos amonitas, aos filisteus e a Amalec. Abisai, filho de Seruia, derrotou dezoito mil idumeus no vale do Sal. Pôs guarnições em Edom, e todo o Edom ficou sujeito a David. O Senhor protegia David em todas as suas empresas. David reinou sobre todo o Israel, julgando e fazendo justiça a todo o povo. Joab, filho de Seruia, comandava o exército; Josafat, filho de Ailud, era arquivista; Sadoc, filho de Aitub, e Abimélec, filho de Abiatar, eram sacerdotes; Chávecha era escriba; Benaías, filho de Joiadá, era chefe dos cretenses e dos peleteus, e os filhos de David eram os primeiros ao lado do rei. Depois disto, Naás, rei dos amonitas, morreu e sucedeu-lhe seu filho. David disse: «Vou mostrar a minha benevolência a Hanun, filho de Naás, porque o seu pai foi benévolo comigo.» David enviou-lhe mensageiros para o consolarem pela morte de seu pai. Mas quando os servos de David chegaram à terra dos amonitas para consolarem Hanun, os chefes dos amonitas disseram: «Pensas que é para honrar a morte de teu pai que David te enviou consoladores? Não será antes para reconhecer o teu país, explorá-lo e destruí-lo que os seus servos vieram à tua casa?» Hanun, então, prendeu os servos de David, rapou-lhes a barba, e cortou-lhes as vestes até à altura das coxas; depois, despediu-os. David, informado do que acontecera a estes homens, enviou gente ao seu encontro, pois estavam sumamente envergonhados, e ordenou-lhes: «Ficai em Jericó até que a vossa barba cresça; depois voltai.» Os amonitas notaram que se tinham tornado odiosos a David. Então Hanun e os filhos de Amon enviaram mil talentos de prata para contratar carros e cavaleiros arameus da Mesopotâmia, de Maacá e de Soba. Contrataram trinta e dois mil carros, assim como o rei de Maacá com o seu exército, que acampou perto de Madabá. Os amonitas reuniram-se nas suas cidades e saíram para combater. David soube-o e mandou sair Joab com todo o exército de homens valentes. Os amonitas saíram em ordem de batalha, à porta da cidade. Os reis que tinham chegado tomaram posição à parte, no campo. Vendo Joab que o ataque contra ele havia sido disposto pela frente e pela retaguarda, escolheu os mais valentes de Israel e marchou contra os arameus. Colocou o resto do povo sob o comando do seu irmão Abisai, para fazer frente aos amonitas. E disse: «Se os arameus prevalecerem contra mim, tu virás em meu socorro; se os amonitas te levarem de vencida, eu irei socorrer-te. Sê forte e combate valorosamente pelo nosso povo e pelas cidades do nosso Deus, e que o Senhor faça o que lhe parecer bem.» Joab avançou, pois, com o exército que o acompanhava, ao encontro dos arameus para travar combate, e estes fugiram diante deles. Os amonitas, vendo os arameus fugir, fugiram também diante de Abisai, irmão de Joab, e entraram na sua cidade. Então, Joab voltou para Jerusalém. Vendo-se derrotados por Israel, os arameus enviaram mensageiros para fazer vir os arameus que estavam do outro lado do rio; Chofac, comandante do exército de Hadad-Ézer, estava à frente deles. Logo que David o soube, reuniu todo o Israel, atravessou o Jordão, marchou contra eles e preparou-se para os atacar. Colocou o seu exército em ordem de batalha contra os arameus. Estes começaram o combate contra ele, mas fugiram diante de Israel, e David matou-lhes sete mil homens dos carros e quarenta mil soldados de infantaria. Matou também Chofac, comandante do exército. Os homens de Hadad-Ézer, vendo-se vencidos por Israel, fizeram a paz com David e submeteram-se. E os arameus não voltaram mais a prestar auxílio aos amonitas. No ano seguinte, no tempo em que os reis costumavam sair para a guerra, Joab, à frente de um poderoso exército, devastou o país dos amonitas e sitiou Rabá. Mas David permaneceu em Jerusalém. Joab conquistou Rabá e destruiu-a. David retirou a coroa da cabeça de Milcom; ela pesava um talento de ouro e tinha uma pedra preciosa. David colocou-a na sua cabeça. Levou também muitos despojos da cidade. Quanto ao povo que lá se encontrava, deportou-o e pô-lo a trabalhar com serras, picaretas de ferro e machados. Fez o mesmo com todas as cidades dos amonitas e regressou a Jerusalém com todo o seu exército. Depois disto, houve uma guerra em Guézer contra os filisteus. Então Sibecai, o huchaíta, matou Sipai, descendente de Rafa, e os filisteus foram submetidos. Houve também outra guerra com os filisteus e El-Hanan, filho de Jair, matou Lami, irmão de Golias, de Gat, o qual tinha uma lança cujo cabo parecia um rolo de tear. Houve, além disso, outra guerra em Gat, na qual se encontrou um homem de grande estatura, que tinha seis dedos em cada mão e em cada pé, ao todo vinte e quatro, também descendente de Rafa. Provocou Israel; e Jónatas, filho de Chimeá, irmão de David, matou-o. Estes homens eram filhos de Rafa, em Gat, e pereceram pelas mãos de David e dos seus servos. Satan levantou-se contra Israel e incitou David a fazer o recenseamento de Israel. David disse a Joab e aos chefes do povo: «Ide fazer o recenseamento de Israel desde Bercheba até Dan, e trazei-mo para que eu saiba o seu número.» Joab respondeu: «O Senhor multiplique o seu povo cem vezes mais! Não são todos eles, ó rei meu senhor, os servos do meu senhor? Para que exige agora isto o meu senhor? Porque pretende uma coisa que será imputada como pecado a Israel?» Mas o rei persistiu na ordem que dera a Joab. Joab partiu e, depois de percorrer todo o Israel, regressou a Jerusalém. E entregou a David a lista do recenseamento do povo. Havia em todo o Israel um milhão e cem mil homens aptos para a guerra e, em Judá, quatrocentos e setenta mil. Não fez o recenseamento da tribo de Levi nem da de Benjamim, porque Joab abominava a ordem do rei. Deus não viu isto com bons olhos e feriu Israel. David disse a Deus: «Pequei gravemente, ao agir desta maneira. Agora digna-te perdoar a iniquidade do teu servo, pois agi como um insensato.» Então o Senhor dirigiu-se a Gad, vidente de David, nestes termos: «Vai dizer a David: Isto diz o Senhor, ‘Proponho-te três coisas; escolhe uma delas, aquela que quiseres que Eu te faça’.» Gad foi ao encontro de David e disse-lhe: «Isto diz o Senhor, ‘Escolhe ou três anos de fome, ou três meses durante os quais fugirás dos teus inimigos e serás atingido pela sua espada, ou, durante três dias, a espada do Senhor e a peste, e o anjo do Senhor devastando todo o território de Israel.’ Vê, pois, que resposta devo dar àquele que me enviou.» David respondeu: «Estou numa cruel angústia; mas é melhor cair nas mãos do Senhor, pois é imensa a sua misericórdia, do que cair nas mãos dos homens!» E o Senhor mandou a peste a Israel, e morreram setenta mil homens. Deus enviou um anjo a Jerusalém para a destruir. Quando ele a destruía, o Senhor olhou e compadeceu-se deste mal e disse ao anjo destruidor: «Basta! Retira a tua mão.» Ora o anjo do Senhor achava-se perto da eira de Ornan, o jebuseu. David levantou os olhos e viu o anjo do Senhor que estava entre o céu e a terra, com uma espada desembainhada na mão, dirigida contra Jerusalém. Então, David e os anciãos, vestidos de saco, prostraram-se com o rosto por terra. E David disse a Deus: «Não fui eu que mandei fazer o recenseamento do povo? Fui eu que pequei e fiz esse mal. Mas essas ovelhas, que fizeram elas? Senhor, meu Deus, que a tua mão caia, pois, sobre mim e a casa do meu pai, mas não sobre o teu povo.» O anjo do Senhor mandou Gad dizer a David que subisse para levantar um altar ao Senhor na eira de Ornan, o jebuseu. David subiu, de acordo com a ordem dada por Gad em nome do Senhor. Ornan voltou-se e viu o anjo, e escondeu-se com os seus quatro filhos. Estava nesse momento a debulhar o trigo. Quando David chegou perto de Ornan, este olhou e viu David e, saindo da eira, prostrou-se diante de David com o rosto por terra. David disse-lhe: «Cede-me o terreno da tua eira para eu erigir nela um altar ao Senhor; cede-mo pelo seu valor em dinheiro, para que o flagelo se retire de cima do povo.» Ornan respondeu: «Toma-o, e que o meu senhor, o rei, faça o que lhe parecer melhor. Vê: dou-te os bois para o holocausto, as grades para a lenha e o trigo para a oblação; dou-te tudo!» Mas David respondeu-lhe: «Quero comprá-lo a dinheiro pelo seu justo valor; não tomarei o que te pertence para dar ao Senhor e não oferecerei um holocausto que nada me custe.» David deu a Ornan seiscentos ciclos de ouro pelo terreno. E edificou ali um altar ao Senhor. Ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão. Invocou o Senhor e o Senhor respondeu-lhe por meio do fogo que desceu do céu sobre o altar do holocausto. Então, o Senhor ordenou ao anjo que metesse a espada na bainha. Imediatamente, David, vendo que o Senhor ouvira a sua oração na eira de Ornan, o jebuseu, ofereceu ali sacrifícios. O tabernáculo do Senhor, que Moisés construíra no deserto, e o altar dos holocaustos encontravam-se nesse tempo no lugar alto de Guibeon. Mas David não pôde dirigir-se a esse altar para rogar a Deus, porque ficara aterrado ao ver a espada do anjo do Senhor. E David disse: «Esta será a casa do Senhor Deus e aqui estará o altar dos holocaustos para Israel.» David mandou juntar os estrangeiros que viviam no país de Israel, e encarregou os canteiros de trabalharem as pedras que deviam servir para a construção da casa de Deus. Preparou também ferro em abundância, tanto para os pregos dos batentes das portas como para travar as juntas, uma enorme quantidade de bronze e de madeira de cedro sem conta, que os habitantes de Sídon e de Tiro tinham trazido a David. David dizia: «Meu filho Salomão é ainda jovem e fraco, e a casa que há-de construir ao Senhor deve ser, pela grandeza, pela magnificência e pela beleza, célebre em todas as nações. Eu próprio vou fazer os preparativos.» Por isso, antes de morrer, fez grandes preparativos. Depois, chamou Salomão, seu filho, e ordenou-lhe que construísse um templo ao Senhor, Deus de Israel. Disse-lhe: «Meu filho, eu estava decidido a construir uma casa ao nome do Senhor, meu Deus. Mas a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: ‘Tu derramaste muito sangue e fizeste grandes guerras. Não construirás uma casa ao meu nome, pois derramaste, diante de mim, muito sangue sobre a terra. Nascer-te-á um filho que será um homem pacífico; dar-lhe-ei paz com todos os seus inimigos ao redor. O seu nome será Salomão e, nos seus dias, darei paz e calma a Israel. Ele edificará uma casa ao meu nome, será para mim um filho e Eu serei para ele um pai. Firmarei para sempre o trono da sua realeza sobre Israel.’ Portanto, que o Senhor esteja contigo, meu filho, para que prosperes e construas o templo do Senhor, teu Deus, segundo o que Ele disse de ti. Que o Senhor se digne conceder-te sabedoria e inteligência, quando te fizer reinar sobre Israel, para que observes a Lei do Senhor, teu Deus. Então, prosperarás, se te aplicares à observância das leis e dos mandamentos que o Senhor prescreveu a Moisés, para Israel. Sê forte e corajoso, não temas nem te amedrontes. Eu, com os meus esforços, preparei para a casa do Senhor cem mil talentos de ouro, um milhão de talentos de prata, e bronze e ferro em tal quantidade que não se poderia pesar; preparei também madeira e pedra; e tu ainda acrescentarás mais. Tens ao teu dispor uma multidão de operários: pedreiros, carpinteiros e artífices hábeis em toda a espécie de ofícios. O ouro, a prata, o bronze e o ferro existem em número incalculável. Vamos ao trabalho, e que o Senhor esteja contigo!» Ao mesmo tempo, David ordenou a todos os chefes de Israel que ajudassem seu filho Salomão. Disse-lhes ele: «Não está convosco o Senhor, vosso Deus, e não vos assegurou Ele a paz em todas as vossas fronteiras? Com efeito, Ele entregou nas minhas mãos os habitantes do país, actualmente sujeitos ao Senhor e ao seu povo. Aplicai-vos, pois, com todo o vosso coração e toda a vossa alma a buscar o Senhor vosso Deus. Construí o santuário do Senhor Deus, para trazer a Arca da aliança do Senhor e os utensílios consagrados a Deus para o templo que será edificado ao nome do Senhor.» David, já velho e de idade muito avançada, constituiu Salomão, seu filho, rei de Israel. Reuniu todos os chefes de Israel, os sacerdotes e os levitas. Foram contados os levitas de trinta anos para cima, e o seu número, por cabeça, era de trinta e oito mil homens. Destes, vinte e quatro mil foram colocados à frente dos trabalhos do templo do Senhor, seis mil como escribas e juízes, quatro mil como porteiros e quatro mil dedicados a louvar o Senhor com os seus instrumentos musicais, que David tinha mandado fazer para esse fim. David distribuiu-os por classes, segundo as linhagens de Levi: Gérson, Queat e Merari. Dos gersonitas*, Ladan e Chimei. Filhos de Ladan, três: o chefe Jaiel, Zetam e Joel. Filhos de Chimei, três: Chelomite, Haziel e Haran; estes foram os chefes das famílias de Ladan. Filhos de Chimei: Jaat, Zina, Jeús e Beria. Estes quatro são os filhos de Chimei: Jaat era o chefe, e Ziza o segundo; mas Jeús e Beria, por não terem muitos filhos, foram contados numa só classe paterna. Filhos de Queat*, quatro: Ameram, Jiçar, Hebron e Uziel. Filhos de Ameram*, Aarão e Moisés. Aarão foi destinado para o serviço do Santo dos Santos, com os seus filhos, perpetuamente, para queimar perfumes diante do Senhor, para o servir e para dar a benção, perpetuamente, em seu nome. Os filhos de Moisés*, homem de Deus, foram contados na tribo de Levi. Filhos de Moisés: Gérson e Eliézer. Filho de Gérson: o chefe Chebuel. Os filhos de Eliézer foram: o chefe Reabias; Eliézer não teve outro filho, mas os filhos de Reabias foram muito numerosos. Filho de Jiçar: o chefe Chelomite. Filhos de Hebron: o chefe Jerias o primeiro, Amarias o segundo, Jaziel o terceiro, e Jecameam o quarto. Filhos de Uziel: o chefe Mica e Jisias o segundo. Filhos de Merari*, Maali e Muchi. Filhos de Maali: Eleázar e Quis. Eleázar morreu sem filhos; teve somente filhas, que desposaram os filhos de Quis, seus irmãos. Filhos de Muchi, três: Maali, Éder e Jerimot. Estes são os filhos de Levi, classificados por famílias, cabeças das casas paternas, segundo o censo feito por cabeças. Estavam encarregados do serviço do templo do Senhor, da idade de vinte anos para cima. Pois David dizia: «O Senhor, Deus de Israel, deu a paz ao seu povo; Ele habitará para sempre em Jerusalém. Os levitas não terão mais de transportar o tabernáculo e os utensílios do seu serviço.» Fez-se o recenseamento dos filhos de Levi da idade de vinte anos para cima, segundo as últimas ordens de David. Colocados junto dos filhos de Aarão para o serviço da casa do Senhor, tinham ao seu cuidado os átrios, as salas e a purificação de todas as coisas santas e todo o serviço do templo de Deus: os pães da oferenda, a flor de farinha para as oblações, os pães finos sem levedura, as tortas cozidas sobre a chapa e as tortas fritas, e todas as medidas de capacidade e de comprimento. Deviam apresentar-se, cada manhã e cada tarde, para louvar e celebrar o Senhor, e oferecer todos os holocaustos ao Senhor, nos sábados, nas festas da Lua-nova e nas solenidades, segundo o número e os ritos prescritos, diante do Senhor. Tinham a seu cargo a guarda da tenda da reunião, o ritual das coisas santas e o ritual dos filhos de Aarão, seus irmãos, no serviço da casa do Senhor. Eis as classes dos filhos de Aarão: Nadab, Abiú, Eleázar e Itamar. Nadab e Abiú morreram antes de seu pai, sem filhos; e Eleázar e Itamar exerceram as funções do sacerdócio. David, bem como Sadoc, da linhagem de Eleázar, e Aimélec, da linhagem de Itamar, dividiram os filhos de Aarão por classes, segundo os turnos de serviço. Entre os filhos de Eleázar havia mais chefes do que entre os filhos de Itamar. Foram assim distribuídos: para os filhos de Eleázar, dezasseis chefes de família, e para os filhos de Itamar oito chefes de família. Uns e outros foram divididos, por sortes, porque havia príncipes do santuário e príncipes de Deus, tanto entre os filhos de Eleázar como entre os filhos de Itamar. O escriba Chemaías, filho de Natanael, da tribo de Levi, inscreveu-os na presença do rei, dos chefes, do sacerdote Sadoc e de Aimélec, filho de Abiatar, e dos chefes de famílias sacerdotais e levíticas: sendo duas famílias sorteadas para Eleázar e, depois, uma família para Itamar. A primeira sorte* caiu a Joiarib, a segunda* a Jedaías, a terceira* a Harim, a quarta* a Seorim, a quinta* a Malquias, a sexta* a Miamin, a sétima* a Hacós, a oitava* a Abias, a nona* a Jesua, a décima* a Checanias, a décima primeira* a Eliachib, a décima segunda* a Jaquim, a décima terceira* a Hupa, a décima quarta* a Jesbab, a décima quinta* a Bilga, a décima sexta* a Imer, a décima sétima* a Hezir, a décima oitava* a Hapicés, a décima nona* a Petaías, a vigésima* a Ezequiel, a vigésima primeira* a Jaquin, a vigésima segunda* a Gamul, a vigésima terceira* a Delaías, a vigésima quarta* a Maazias. Assim foram classificados para os seus serviços no templo do Senhor, segundo as regras estabelecidas por Aarão, seu pai, consoante as ordens do Senhor, Deus de Israel. Os chefes dos restantes levitas foram: para os filhos de Ameram, Chubael; dos filhos de Chubael, Jedias; dos filhos de Reabias, o chefe Jisias; para os descendentes de Jiçar, Chelomot; para os filhos de Chelomot, Jaat; para os filhos de Hebron, Jerias o primogénito, Amarias o segundo, Jaziel o terceiro, Jecameam o quarto; filhos de Uziel, Mica; filhos de Mica, Chamir; irmão de Mica, Jisias; filhos de Jisias, Zacarias; filhos de Merari, Maali e Muchi, filhos de Jaazias, seu filho; filhos de Merari, por Jaazias, Choame, Zacur e Ibri; filho de Maali, Eleázar, que não teve filhos; filho de Quis, Jeramiel; filhos de Muchi, Maali, Éder e Jerimot. Estes são os filhos dos levitas, segundo as suas casas patriarcais. Também eles, como os seus irmãos, os filhos de Aarão, foram tirados por sorteio, na presença do rei David, de Sadoc e Aimélec, e dos chefes da família dos sacerdotes e dos levitas, estando os mais velhos em igualdade com os mais novos. David e os chefes do exército separaram, para o serviço litúrgico, os filhos de Asaf, de Heman e de Jedutun, que profetizavam ao som da harpa, da cítara e dos címbalos. Eis a lista dos homens encarregados deste serviço: Dos filhos de Asaf*, Zacur, José, Natanias e Assarela, filhos de Asaf, sob a direcção de Asaf, que profetizava sob a orientação do rei. De Jedutun*, os seis filhos de Jedutun: Godolias, Seri, Jesaías, Hasabias, Matatias, e Chimei, sob as ordens de seu pai Jedutun, que profetizava ao som da cítara para cantar e louvar o Senhor. De Heman*, os filhos de Heman: Buquias, Matanias, Uziel, Chebuel, Jerimot, Hananías, Hanani, Eliatá, Guidalti, Romameti-Ézer, Josbecassá, Malóti, Hotir e Maaziot. Eram todos filhos de Heman, vidente do rei, para cantar os louvores de Deus e exaltar o seu poder, pois Deus tinha dado a Heman catorze filhos e três filhas. Todos estes estavam, sob a direcção de seu pai, encarregados do canto no templo do Senhor. Tinham címbalos, cítaras e harpas para o serviço da casa de Deus, sob as ordens do rei, de Asaf, de Jedutun e de Heman. O seu número, juntamente com os seus irmãos, hábeis na arte de cantar ao Senhor, foi de duzentos e oitenta e oito. Tiraram, por sorteio, a ordem de serviço, sem acepção de pessoas, pequenos e grandes, mestres e discípulos. E a primeira* sorte saiu a José, que era da casa de Asaf. A segunda* a Godolias, a ele, aos seus filhos e irmãos, ao todo doze. A terceira* a Zacur, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A quarta* a Jiceri, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A quinta* a Natanias, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A sexta* a Buquias, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A sétima* a Jessarela, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A oitava* a Jesaías, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A nona* a Matanias, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima* a Chemaías, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima primeira* a Azarel, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima segunda* a Hasabias, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima terceira* a Chubael, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima quarta* a Matatias, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima quinta* a Jerimot, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima sexta* a Hananias, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima sétima* a Josbecassá, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima oitava* a Hanani, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A décima nona* a Malóti, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A vigésima* a Eliatá, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A vigésima primeira* a Hotir, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A vigésima segunda* a Guidalti, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A vigésima terceira* a Maaziot, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. A vigésima quarta* a Romameti-Ézer, a seus filhos e irmãos, ao todo doze. Eis as classes de porteiros: dos coreítas: Meselemias, filho de Coré, dos filhos de Asaf. Filhos de Meselemias: Zacarias o primogénito, Jediael o segundo, Zebadias o terceiro, Jatniel o quarto, Elam o quinto, Joanan o sexto, Elioenai o sétimo. Filhos de Obededom: Chemaías o primogénito, Jozabad o segundo, Joá o terceiro, Sacar o quarto, Natanael o quinto, Amiel o sexto, Issacar o sétimo, Peuletai o oitavo, pois Deus tinha-o abençoado. Chemaías, seu filho, teve filhos que se tornaram chefes de família, pois eram homens valorosos. Os filhos de Chemaías foram: Oteni, Rafael, Obed, Elzabad e seus irmãos, homens valentes, Eliú e Semaquias. Todos eram descendentes de Obededom; os seus filhos e os seus irmãos foram homens vigorosos e qualificados para o serviço; eram ao todo sessenta e dois. Os filhos e irmãos de Meselemias, homens valentes, eram em número de dezoito. Hossa, dos filhos de Merari, tinha por filhos Chimeri, o chefe; não era o mais velho, mas seu pai fizera dele o chefe; Hilquias o segundo, Tebalias o terceiro, Zacarias o quarto. Os filhos e irmãos de Hossa eram treze ao todo. A estas classes de porteiros, aos chefes destes homens e a seus irmãos foi-lhes confiada a guarda para o serviço do templo do Senhor. Deitaram sortes para todas as portas, pequenas e grandes, segundo as suas famílias. Do lado do oriente, a sorte tocou a Chelemias. Deitaram sorte a Zacarias, seu filho, sábio conselheiro, e a sorte atribuiu-lhe o lado norte. A Obededom e a seus filhos tocou o lado sul, onde estavam também os armazéns. A Chupim e Hossa coube o lado oeste com a porta Chaléquet, sobre o caminho que sobe. Estes corpos de guarda correspondiam-se uns aos outros: a porta do oriente estava guardada por seis levitas; a do norte por quatro, que se revezavam todos os dias; a do sul por quatro, igualmente revezados todos os dias; e quatro serviam, de dois em dois, nos armazéns. No Parbar, a oeste, quatro no caminho e dois nas dependências. Deste modo foram distribuídos os porteiros, que eram todos filhos de Coré e de Merari. Os levitas, seus irmãos, guardavam os tesouros do templo e os tesouros das coisas sagradas. Os filhos de Ladan, filhos de Gérson, descendentes de Ladan, tinham os jaielitas por chefes das famílias de Ladan, o gersonita. E os filhos de Jaiel, Zetam e Joel, seu irmão, guardavam os tesouros da casa do Senhor. De entre os ameramitas, jiçaritas, hebronitas e uzielitas, Chebuel, filho de Gérson, filho de Moisés, era o intendente-mor dos tesouros. De entre os seus irmãos, descendentes de Eliézer, cujo filho foi Reabias, seu filho Jesaías, Jorão filho deste, Zicri, filho de Jorão, e Chelomite, filho de Zicri. Chelomite, pois, e seus irmãos eram os administradores de todos os tesouros consagrados pelo rei David, pelos chefes das famílias, pelos chefes de milhares e de centenas e pelos chefes do exército. Eram despojos de guerra consagrados aos gastos do templo do Senhor. Ali estavam também todos os objectos consagrados por Samuel, o vidente, por Saul, filho de Quis, por Abner, filho de Ner e por Joab, filho de Seruia. Todas estas coisas estavam sob a guarda de Chelomite e seus irmãos. De entre os jiçaritas, estavam à frente dos serviços exteriores de Israel, como escribas e magistrados, Cananias e os seus filhos. Hasabias, da família de Hebron, e os seus irmãos, homens valorosos, em número de mil e setecentos, governavam o território de Israel, a oeste do Jordão, em todos os negócios religiosos e civis. Quanto aos hebronitas, cujo chefe era Jerias, no quadragésimo ano do reinado de David, fizeram-se pesquisas sobre as suas genealogias e as suas famílias e encontraram-se, entre eles, homens de valor, em Jazer de Guilead. Jerias e os seus irmãos, homens valorosos, eram em número de dois mil e setecentos chefes de família. O rei David deu-lhes autoridade sobre os rubenitas, os gaditas e a meia tribo de Manassés em todos os negócios religiosos e civis. Os filhos de Israel que, sob as ordens dos seus chefes de famílias, chefes de milhares e de centenas e seus oficiais, serviam o rei, chegando e partindo mensalmente, formavam divisões de vinte e quatro mil homens cada uma. À frente da primeira divisão*, durante o primeiro mês, achava-se Jachobam, filho de Zabdiel, e a sua divisão tinha vinte e quatro mil homens. Era da linhagem de Peres e comandava todos os chefes de tropa durante o primeiro mês. À frente da divisão do segundo mês* estava Dodai, o aoíta; Miquelot era um dos chefes desta divisão que contava vinte e quatro mil homens. O chefe da terceira divisão*, durante o terceiro mês, era Benaías, filho do sacerdote Joiadá, e tinha a seu mando vinte e quatro mil homens. Este Benaías era o mais valoroso dos trinta e superava-os a todos. Amizabad, seu filho, era um dos chefes desta divisão. Para o quarto mês*, o chefe era Asael, irmão de Joab, ao qual sucedeu seu filho Zebadias. A divisão contava vinte e quatro mil homens. O quinto chefe*, durante o quinto mês, era Chamut, o zeraíta; a sua divisão contava vinte e quatro mil homens. O sexto*, para o sexto mês, era Ira, filho de Iqués de Técua; tinha uma divisão de vinte e quatro mil homens. O sétimo*, para o sétimo mês, era Heles, o pelonita, dos filhos de Efraim; a sua divisão contava vinte e quatro mil homens. O oitavo*, para o oitavo mês, era Sibecai, o huchaíta, da família dos zeraítas; a sua divisão contava vinte e quatro mil homens. O nono*, para o nono mês, era Abiézer de Anatot, dos filhos de Benjamim; a sua divisão contava vinte e quatro mil homens. O décimo*, para o décimo mês, era Marai de Netofa, da família dos zeraítas; a sua divisão contava vinte e quatro mil homens. O décimo primeiro,* para o décimo primeiro mês, era Benaías de Piraton, dos filhos de Efraim; a sua divisão contava vinte e quatro mil homens. O décimo segundo*, para o décimo segundo mês, era Heldai de Netofa, da família de Oteniel; a sua divisão contava vinte e quatro mil homens. Para as tribos de Israel, o chefe dos rubenitas* era Eliézer, filho de Zicri; dos simeonitas*, Chefatias, filho de Maacá; dos levitas*, Hasabias, filho de Quemuel; da família de Aarão, Sadoc; da família de Judá*, Eliú, irmão de David; da família de Issacar*, Omeri, filho de Micael; da família de Zabulão*, Jismaías, filho de Abdias; da família de Neftali*, Jerimot, filho de Azeriel; dos filhos de Efraim*, Hosaías, filho de Azazias; da meia tribo de Manassés*, Joel, filho de Pedaías; da meia tribo de Manassés em Guilead*, Jido, filho de Zacarias; de Benjamim*, Jaassiel, filho de Abner; de Dan*, Azarel, filho de Jeroam. Estes eram os chefes das tribos de Israel. David não fez a relação daqueles que tinham menos de vinte anos, porque o Senhor prometera multiplicar Israel como as estrelas do céu. Joab, filho de Seruia, começara a fazer este recenseamento, mas não o terminara porque isso atraiu a ira de Deus sobre Israel e, portanto, o número dos que foram contados não foi escrito nas Crónicas do rei David. Azemávet, filho de Adiel, estava encarregado dos tesouros do rei; Jónatas, filho de Uzias, dos tesouros que havia nos campos, nas cidades, nas vilas e nas torres. Ezri, filho de Calub, era superintendente dos camponeses que cultivavam a terra; Chimei de Ramá, das vinhas; Zebadias, o chefamita, das adegas; Baal-Hanan de Guéder, das oliveiras e sicómoros de Chefela; Joás, das provisões de azeite; Chirtai de Saron, dos bois que pastavam em Saron; Chafat, filho de Adlai, dos bois dos vales; Obil, o ismaelita, dos camelos; Jedias de Meronot, das jumentas; Jaziz, o agareno, das ovelhas. Eram estes os intendentes dos bens do rei David. Jónatas, tio de David, homem prudente e instruído, exercia a função de escriba. Jaiel, filho de Hacmoni, era educador dos filhos do rei. Aitofel era também conselheiro do rei, e Huchai, o erequita, era amigo do rei; vieram depois de Aitofel: Joiadá, filho de Benaías, e Abiatar. Joab era general do exército real. David reuniu em Jerusalém todos os chefes de Israel: os chefes de tribos, os chefes de divisões ao serviço do rei, os chefes de milhares e os chefes de centenas, os intendentes de todos os bens e dos rebanhos do rei e dos seus filhos, assim como os cortesãos, os heróis e todos os soldados valentes. O rei David, de pé, disse-lhes: «Escutai-me, meus irmãos e meu povo: Eu tinha intenção de construir uma casa para a Arca da aliança do Senhor e para estrado dos pés do nosso Deus, e fiz os preparativos para esta construção. Mas Deus disse-me: ‘Não edificarás uma casa ao meu nome, porque és guerreiro e derramaste sangue.’ O Senhor, Deus de Israel, escolheu-me do meio de toda a minha família para ser rei de Israel para sempre. Pois Ele escolheu Judá como chefe e, na casa de Judá, a família de meu pai e, entre os filhos de meu pai, escolheu-me a mim para reinar sobre todo o Israel. De entre todos os meus filhos – pois o Senhor deu-me muitos – escolheu o meu filho Salomão, para se sentar sobre o trono da realeza do Senhor e reinar sobre Israel. Ele disse-me: ‘É teu filho Salomão quem construirá a minha casa e os meus átrios, porque Eu escolhi-o por filho e serei para ele um pai. Firmarei para sempre o seu reino, se ele continuar como hoje a cumprir os meus mandamentos e as minhas ordens.’ Agora, diante de todo o Israel, assembleia do Senhor, e na presença do nosso Deus, guardai e observai comigo todos os mandamentos do Senhor, nosso Deus, a fim de possuirdes este excelente país, deixando-o aos vossos filhos, que vos seguirão para sempre. E tu, Salomão, meu filho, conhece o Deus de teu pai e serve-o com um coração leal e alma generosa, pois Ele perscruta todos os corações e penetra todos os desígnios e todos os pensamentos. Se tu o procuras, Ele deixar-se-á encontrar por ti, mas se o abandonas, Ele rejeitar-te-á para sempre. Considera, portanto, que o Senhor te escolheu para construíres uma casa que será o seu santuário. Esforça-te e leva-a a bom termo.» David deu a Salomão, seu filho, os planos do pórtico e das construções, das salas do tesouro, dos aposentos superiores e interiores e da sala do propiciatório; o plano de tudo quanto queria fazer referente aos átrios do templo do Senhor e a todas as salas ao redor; o plano para os tesouros da casa de Deus e das coisas sagradas, para as classes de sacerdotes e levitas, assim como para toda a organização da casa do Senhor e todos os objectos do serviço do templo do Senhor; o modelo dos utensílios de ouro, com o peso que cada um devia ter, e dos utensílios de prata, com o peso que cada um devia ter para cada serviço; os candelabros de ouro e suas lâmpadas, com a indicação do peso de cada candeeiro e de cada lâmpada; do mesmo modo para os candelabros e lâmpadas de prata, com a indicação do peso de cada candeeiro; o peso de ouro para as mesas dos pães da oferenda, para cada mesa, e o peso de prata para as mesas de prata; o modelo dos garfos, das bacias e copos de ouro puro; dos vasos de prata com o peso de cada vaso; o modelo do altar dos perfumes, de ouro fino, com o seu peso, e o modelo do carro dos querubins de ouro que estendem as asas para cobrir a Arca da aliança do Senhor. «Tudo isto – disse David – foi o Senhor que mo mostrou pela sua mão, dando-me o modelo de todas as suas obras.» David disse a Salomão seu filho: «Sê forte e corajoso, mete mãos à obra! Não temas nem te amedrontes, pois o Senhor Deus, meu Deus, está contigo, e não te há-de desamparar, nem te abandonará, até que acabes toda a obra para o serviço do templo do Senhor. Aqui tens as classes dos sacerdotes e levitas para todo o serviço do templo de Deus, e todos os homens devotados e hábeis para toda a espécie de trabalho; e os chefes e todo o povo estarão contigo para executarem as tuas ordens.» O rei David disse a toda a assembleia: «Meu filho Salomão, o único que Deus escolheu, é ainda jovem e fraco e a obra é considerável, pois este palácio não se destina a um homem, mas ao Senhor Deus. Empenhei todos os meus esforços para a casa do meu Deus: ouro para os objectos de ouro, prata para os objectos de prata, bronze para os objectos de bronze, ferro para os objectos de ferro, madeira para os objectos de madeira, pedra e ónix e pedras polidas, pedras preciosas de diversas cores, e mármores em grande quantidade. Além disso, o ouro e a prata que possuo como minha propriedade, dou-os por amor à casa do meu Deus, além de tudo o que preparei para o santuário: três mil talentos de ouro, ouro de Ofir e sete mil talentos de prata fina para revestir as paredes das salas; ouro para os objectos de ouro, prata para os objectos de prata e para todo o trabalho dos artífices. Quem quer hoje oferecer espontaneamente donativos ao Senhor ?» Os chefes das famílias, os chefes das tribos de Israel, os chefes de milhares e de centenas e os intendentes do rei fizeram donativos voluntários. Deram para o serviço do templo de Deus: cinco mil talentos de ouro, dez mil dáricos, dez mil talentos de prata, dezoito mil talentos de bronze e cem mil talentos de ferro. Aqueles que possuíam pedras preciosas deram-nas para o tesouro da casa de Deus, depositando-as nas mãos de Jaiel, o gersonita. O povo alegrava-se com as suas oferendas voluntárias, pois era de coração generoso que as faziam ao Senhor. O próprio rei David sentiu alegria. David bendisse o Senhor na presença de toda a assembleia, dizendo: «Sê bendito para todo o sempre, Senhor, Deus do nosso pai Israel! A ti, Senhor, a grandeza, o poder, a honra, a majestade e a glória, porque tudo te pertence no céu e na terra. A ti, Senhor, a realeza, pois estás soberanamente elevado acima de todos os seres. É de ti que vêm a riqueza e a glória, és Tu o Senhor de todas as coisas, na tua mão residem a força e o poder. Ela tem o poder de dar grandeza e solidez a todas as coisas. Por isso, ó nosso Deus, nós louvamos e celebramos o teu nome glorioso. Quem sou eu e quem é o meu povo para que possamos fazer-te voluntariamente estas oferendas? Tudo vem de ti e não oferecemos senão o que temos recebido da tua mão. Diante de ti, não passamos de estrangeiros e peregrinos como todos os nossos pais; os nossos dias sobre a terra são como a sombra, sem esperança. Ó Senhor, nosso Deus, todas estas riquezas que preparámos para construir uma casa ao teu santo nome, recebemo-las da tua mão, a ti pertencem. Eu sei, meu Deus, que perscrutas os corações e amas a rectidão; por isso, é na rectidão e na espontaneidade do meu coração que te ofereço tudo isto, e é com alegria que vejo agora o teu povo aqui presente trazer-te, voluntariamente, as suas oferendas. Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, nossos pais, guarda para sempre no coração do teu povo estas disposições e estes sentimentos, e dirige para ti o seu coração. A meu filho Salomão dá um coração íntegro, para que observe os teus mandamentos, os teus preceitos e as tuas leis, e os ponha em prática e te construa esta casa da qual fiz os preparativos.» David disse a toda a assembleia: «Bendizei o Senhor, nosso Deus!» E toda a assembleia bendisse o Senhor, Deus de seus pais, inclinando-se e prostrando-se diante do Senhor e diante do rei. No dia seguinte, imolaram vítimas ao Senhor e ofereceram em holocausto mil touros, mil carneiros e mil cordeiros, com libações e sacrifícios em grande quantidade, por todo o Israel. Nesse dia, comeram e beberam diante do Senhor com grande alegria. Pela segunda vez proclamaram rei a Salomão, filho de David, e ungiram-no rei diante do Senhor. Ungiram também Sadoc como Sumo Sacerdote. Salomão tomou posse do trono do Senhor como rei, no lugar de David seu pai; prosperou e todo o Israel lhe obedeceu. Todos os chefes e heróis e todos os filhos do rei David prestaram homenagem ao rei Salomão. O Senhor elevou Salomão ao mais alto grau de grandeza, à vista de todo o Israel, dando-lhe um reinado glorioso como nenhum rei de Israel teve antes dele. Assim reinou David, filho de Jessé, sobre todo o Israel. A duração do seu reinado sobre Israel foi de quarenta anos: sete anos em Hebron e trinta e três anos em Jerusalém. Morreu após uma velhice feliz, em idade muito avançada, cheio de riquezas e de glória. O seu filho Salomão sucedeu-lhe no trono. Os feitos do rei David, dos primeiros aos últimos, estão relatados nos Actos de Samuel*, o vidente, nos Actos do profeta Natan* e nos Actos do vidente Gad*. Aí se conta o que foi o seu reinado, as suas proezas, os sucessos de que foram protagonistas ele, Israel e todos os outros reinos daquelas terras. Salomão, filho de David, consolidou o seu reinado. O Senhor, seu Deus, estava com ele e engrandeceu-o cada vez mais. Salomão convocou todo o Israel, os chefes de milhares e de centenas, os juízes e todos os príncipes de todo o Israel, que eram os principais chefes de família. E foi com toda a assembleia ao lugar alto que havia em Guibeon, onde se encontrava a tenda da reunião com Deus, que Moisés, servo do Senhor, construíra no deserto. A Arca de Deus tinha já sido transportada por David de Quiriat-Iarim para o lugar que lhe tinha sido fixado, uma tenda que lhe erigira em Jerusalém. Aí se encontrava também, diante da morada do Senhor, o altar de bronze feito por Beçalel, filho de Uri, filho de Hur, e Salomão e a comunidade procuravam honrá-lo. Salomão, na presença do Senhor, subiu ao altar de bronze que está junto da tenda da reunião e ofereceu mil holocaustos. Nessa mesma noite, Deus apareceu a Salomão e disse-lhe: «Pede! Que posso Eu dar-te?» Salomão respondeu a Deus: «Tu procedeste com grande benevolência para com meu pai David e fizeste-me rei em lugar dele. Senhor Deus, ratifica, portanto, a promessa que fizeste a meu pai David, porque me fizeste rei de um povo numeroso como o pó da terra. Concede-me, pois, a sabedoria e o conhecimento, a fim de que eu saiba conduzir este povo; quem, na verdade, poderá governar um povo tão grande como o teu?» Deus disse a Salomão: «Já que é esse o desejo do teu coração e não pediste riquezas, nem tesouros, nem glória, nem a morte dos teus inimigos, nem uma vida longa, antes pediste sabedoria e conhecimento, a fim de governar o meu povo, do qual te fiz rei, concedo-te sabedoria e conhecimento; além disso, dar-te-ei também riquezas, tesouros e glórias tais como jamais tiveram os reis antes ou depois de ti.» Então, descendo do lugar alto de Guibeon, da presença da tenda da reunião, Salomão regressou a Jerusalém. E reinou sobre Israel. Salomão acumulou carros e cavaleiros: tinha mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros, que aquartelou nas cidades onde estavam os carros e em Jerusalém, junto de si. O rei fez com que, em Jerusalém, a prata e o ouro fossem tão comuns como as pedras, e os cedros, tão numerosos como os sicómoros da planície da Chefela. Salomão importava os seus próprios cavalos do Egipto e de Qué. Uma caravana de fornecedores reais ia buscá-los a Qué, pelo preço ajustado; traziam do Egipto um carro por seiscentos siclos de prata, e um cavalo, por cento e cinquenta. Salomão, por sua vez, vendia-os aos reis dos hititas e dos arameus, por intermédio daqueles. Salomão decidiu edificar um templo ao nome do Senhor e construir um palácio para a sua realeza. Destinou, para isso, setenta mil carregadores, oitenta mil cortadores de pedra, na montanha, e três mil e seiscentos capatazes. Mandou, também, dizer a Hiram, rei de Tiro: «Faz comigo o mesmo que fizeste com meu pai David, a quem enviaste cedros para ele construir um palácio para sua habitação. Eis que quero edificar um templo ao nome do Senhor, meu Deus, e consagrar-lho, para queimar incenso e aromas diante dele, apresentar-lhe continuamente os pães da oferenda e oferecer-lhe holocaustos de manhã e à tarde, aos sábados, nas luas-novas e nas festas do Senhor, nosso Deus; isto será uma lei para sempre em Israel. O templo que vou construir deve ser grande, pois o nosso Deus é maior que todos os deuses. Mas quem será capaz de lhe construir uma casa digna dele, se o céu e os céus dos céus não o podem conter? E quem sou eu para lhe construir uma casa, se não posso fazer outra coisa senão queimar incenso diante dele? Envia-me, pois, um homem experiente no trabalho do ouro, da prata, do bronze, do ferro, da púrpura, do carmim e do violeta; um homem que entenda suficientemente de escultura para dirigir os artífices de Judá e de Jerusalém que estão junto de mim e que meu pai David reuniu. Manda-me, também, do Líbano madeira de cedro, cipreste e sândalo, pois sei que os teus servos são peritos no corte da madeira do Líbano. Os meus servos trabalharão com os teus, a fim de me preparar madeira em grande quantidade, pois o templo que vou construir será grande e magnífico. E eis que darei aos teus servos que vão cortar as madeiras, vinte mil coros de trigo, vinte mil coros de cevada, vinte mil batos de vinho e vinte mil batos de azeite.» Hiram, rei de Tiro, respondeu a Salomão por escrito: «É porque ama o seu povo que o Senhor te constituiu rei sobre ele.» Hiram disse ainda: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que fez os céus e a terra, pois deu ao rei David um filho sábio, inteligente e prudente, que vai construir um templo ao Senhor e um palácio para a sua realeza. Envio-te, portanto, um homem hábil e entendido, Huram-Abi, filho de uma mulher da tribo de Dan e de um pai de Tiro. Sabe trabalhar o ouro, a prata, o bronze, o ferro, a pedra, a madeira, a púrpura escarlate e violeta, o linho fino e o carmim; sabe fazer toda a espécie de esculturas e elaborar qualquer plano que se lhe confie. Trabalhará com os teus artífices e com os do meu senhor David, teu pai. O trigo, a cevada, o azeite e o vinho de que falou o meu senhor, mande-os aos seus servos. Nós cortaremos a madeira do Líbano, tanta quanta precisares, e enviar-ta-emos por mar, em jangadas até Jafa; tu a levarás para Jerusalém.» Salomão fez o recenseamento de todos os estrangeiros que habitavam no território de Israel, depois da contagem feita antes por seu pai David; e contaram-se cento e cinquenta e três mil e seiscentos. De entre eles, designou setenta mil carregadores, oitenta mil cortadores de pedra na montanha e três mil e seiscentos capatazes para vigiarem os trabalhadores. Salomão começou, pois, a construção do templo do Senhor, em Jerusalém, no monte Moriá, onde oSenhor tinha aparecido a David, seu pai, no lugar por este preparado na eira de Ornan, o jebuseu. Começou a edificá-lo no segundo mês, no quarto ano do seu reinado. Os alicerces feitos por Salomão para a construção do templo de Deus tinham sessenta côvados de comprimento, segundo a antiga medida, e vinte côvados de largura. O comprimento do pórtico, que se achava no frontispício, e que correspondia à largura do templo, tinha vinte côvados e uma altura de cento e vinte côvados. Salomão revestiu-o por dentro de ouro puro. A sala grande foi forrada com madeira de cipreste, guarnecida de ouro puro, e com palmeiras e pequenas correntes esculpidas. Adornou esta sala com pedras preciosas. O ouro era ouro de Parvaim. O rei revestiu a sala de ouro: as traves, os umbrais, as paredes e as portas. Mandou também esculpir querubins nas paredes. Construiu, igualmente, a sala do Santo dos Santos cujo comprimento, no sentido da largura do templo, era de vinte côvados e a largura de vinte côvados. O valor do ouro fino de que o revestiu era de seiscentos talentos. Até os pregos eram de ouro e pesavam cinquenta siclos cada um. Revestiu igualmente os tectos de ouro. Mandou esculpir dois querubins, revestidos de ouro, para o interior do Santo dos Santos. O comprimento das suas asas era de vinte côvados: uma asa, com cinco côvados, tocava a parede do templo; a outra asa, com cinco côvados, tocava a asa do outro querubim. Da mesma forma, a asa do segundo querubim, com cinco côvados, tocava na parede, e a outra asa, com cinco côvados, tocava na asa do primeiro. Assim, as asas dos querubins estendiam-se por vinte côvados: estavam de pé, com o rosto voltado para o interior do templo. O rei mandou fazer um véu de púrpura, violeta, carmim e linho fino, bordado com querubins. Diante do templo, levantou duas colunas: tinham trinta e cinco côvados de altura, cada uma com um capitel de cinco côvados no alto. Fez pequenas correntes, como as do santuário, colocadas nos capitéis das colunas, nas quais estavam entrelaçadas cem romãs. Levantou as colunas, uma à direita e outra à esquerda da fachada do templo: chamou Jaquin à da direita e Booz à da esquerda. Construiu, também, um altar de bronze com vinte côvados de comprimento, vinte de largura e dez de altura. Também fez um mar de bronze, completamente redondo, com dez côvados de diâmetro; tinha cinco côvados de altura; e um cordão de trinta côvados em toda a volta. Havia figuras de bois, a toda a volta, abaixo do bordo, dez por côvado; elas rodeavam completamente o mar. Estes bois, em duas fileiras, tinham sido fundidos numa só peça com o mar. O mar assentava sobre doze bois: três olhavam para norte, três para ocidente, três para sul, três para oriente. O mar assentava sobre eles, e as suas partes traseiras ficavam voltadas para dentro. A espessura do mar era de uma mão e o seu rebordo era trabalhado como o de uma taça em forma de flor de lis; a sua capacidade era de três mil batos. Salomão fez também dez bacias, cinco das quais foram colocadas à direita e cinco à esquerda, para as abluções. Nelas se lavava tudo o que se utilizava para os holocaustos; e o mar de bronze servia para as abluções dos sacerdotes. Fez igualmente dez candelabros de ouro, de acordo com o modelo prescrito, e colocou-os no templo, cinco à direita e cinco à esquerda. Além disso, fez dez mesas que foram colocadas no templo, cinco à direita e cinco à esquerda; fez também cem vasos de ouro. Fez o átrio dos sacerdotes e a grande esplanada com portas recobertas de bronze. Colocou o mar de bronze do lado direito, a sudeste. Huram fabricou as caldeiras, as pás e as bacias da aspersão, terminando desta maneira todos os trabalhos que o rei Salomão lhe mandara fazer no templo de Deus, a saber: duas colunas, as correntes, os dois capitéis no alto das colunas, os dois frisos que cobriam os capitéis, com as correntes sobrepostas às colunas, as quatrocentas romãs para os dois frisos, duas fileiras para cada friso, para cobrirem as correntes dos capitéis no alto das colunas. Fez também pedestais e as bacias assentes sobre eles; o mar de bronze com os doze bois que o sustentavam; as caldeiras, as pás e as forquilhas e todos os seus acessórios. Huram-Abi fez isto em bronze polido, para o templo do Senhor, por ordem do rei Salomão. O rei mandou-os fundir na planície do Jordão, numa terra argilosa, entre Sucot e Sereda. Todos os objectos foram fabricados em tal quantidade que o peso do bronze não se podia avaliar. Salomão fez ainda todos estes utensílios para a casa de Deus: o altar de ouro, as mesas sobre as quais se poisavam os pães da oferenda, os candelabros, em ouro fino, com as suas lâmpadas, que deviam estar acesas diante do lugar santíssimo, como estava determinado; as flores, as lâmpadas, as tenazes, em ouro fino; as facas, as bacias de aspersão, as colheres e os cinzeiros, em ouro fino. A entrada do templo, as portas interiores que dão para o Santo dos Santos e as portas que abrem para a sala grande eram também em ouro fino. Desta forma, Salomão terminou as obras que mandara realizar no templo do Senhor. Fez, então, transportar para o templo tudo o que seu pai David tinha consagrado: a prata, o ouro e todos os utensílios, guardando tudo nos tesouros da casa de Deus. Salomão convocou para Jerusalém os anciãos de Israel, os chefes das tribos e os chefes das famílias israelitas para se trasladar da cidade de David, que é Sião, a Arca da aliança do Senhor. Todos os israelitas se reuniram junto do rei, no dia da festa. Era o sétimo mês. Chegados todos os anciãos de Israel, os levitas levaram a Arca, juntamente com a tenda da reunião e todos os utensílios sagrados que nela se encontravam. Os sacerdotes e os levitas é que os transportaram. O rei Salomão, todo o Israel e quantos se tinham reunido diante da Arca imolaram ovelhas e bois em número que não se podia avaliar. Os sacerdotes colocaram a Arca da aliança do Senhor no seu lugar, isto é, no santuário do templo, no Santo dos Santos, sob as asas dos querubins. Os querubins estendiam as asas sobre o lugar da Arca e cobriam-na, assim como aos seus varais. Estes eram muito compridos, de tal modo que as suas extremidades se viam diante do santuário; mas não se podiam ver de fora. A Arca permaneceu ali até ao dia de hoje. Não havia nada na Arca senão as duas tábuas dadas por Moisés no monte Horeb, quando o Senhor concluiu a aliança com os filhos de Israel, depois da saída do Egipto. Quando os sacerdotes saíram do santuário – porque os sacerdotes ali presentes se tinham santificado sem observar a ordem das classes – todos os levitas cantores, isto é, Asaf, Heman, Jedutun, os seus filhos e irmãos, vestidos de linho fino, colocados a oriente do altar, tocavam címbalos, harpas e cítaras, acompanhados por cento e vinte sacerdotes, que tocavam trombetas; os tocadores de trombeta e os cantores, unidos, entoavam em coro o louvor do Senhor. Quando as trombetas, os címbalos e os outros instrumentos de música tocavam, eles cantavam: «Louvai ao Senhor porque Ele é bom, e é eterno o seu amor!» Então, o templo do Senhor encheu-se de uma espessa nuvem, de tal modo que os sacerdotes não podiam permanecer dentro dele para exercer as suas funções, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchia a casa de Deus. Então, Salomão disse: «O Senhor desejou habitar na obscuridade. Por isso, eu construí-te uma casa principesca e uma morada onde habitarás eternamente.» O rei voltou-se, depois, para toda a assembleia de Israel, que estava de pé, e abençoou-a. E disse: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que falou em pessoa a David, meu pai, e cumpriu, com o seu poder, a promessa que lhe fizera, dizendo: ‘Desde o dia em que fiz sair o meu povo da terra do Egipto, não escolhi outra cidade entre todas as tribos de Israel para nela construir um templo onde o meu nome fosse invocado nem escolhi outro homem para que fosse chefe do meu povo de Israel. Mas escolhi Jerusalém para aí residir o meu nome, e elegi David para governar o meu povo de Israel.’ Ora meu pai David projectou edificar um templo em honra do Senhor, Deus de Israel, mas o Senhor disse-lhe: ‘Tiveste feliz inspiração em edificar um templo em honra do meu nome. Porém, não serás tu quem há-de construir o templo, será o teu filho, nascido de ti, quem o há-de edificar em honra do meu nome.’ OSenhor realizou o que predissera. Sucedi a meu pai David e ocupo o trono de Israel, como disse o Senhor, e construí este templo ao nome do Senhor, Deus de Israel. Coloquei nele a Arca, na qual está o documento da aliança que o Senhor fez com os filhos de Israel.» Depois disto, Salomão pôs-se de pé diante do altar do Senhor, na presença de toda a assembleia de Israel, e estendeu as mãos. Com efeito, Salomão mandara construir uma tribuna de bronze, erguida no meio do átrio. Tinha cinco côvados de comprimento, cinco de largura e três de altura; subiu para ela, ajoelhou-se diante da multidão dos filhos de Israel, com os braços levantados ao céu, e disse: «Senhor, Deus de Israel, não há no céu nem na terra um Deus comparável a ti, que seja fiel à aliança e à benevolência para com os teus servos, se eles caminham na tua presença de todo o coração. Cumpriste as promessas que fizeste a meu pai David, teu servo: neste dia, realizaste pela tua mão o que anunciaste com a tua boca. Agora, Senhor, Deus de Israel, digna-te cumprir também a promessa que fizeste a meu pai David, dizendo: ‘Jamais faltará diante de mim um dos teus descendentes que ocupe o trono de Israel, desde que os teus filhos se comportem rectamente e observem a minha Lei, como tu próprio a tens observado.’ Agora, pois, Senhor, Deus de Israel, digna-te ratificar a promessa feita ao teu servo David! Mas será verdade que Deus habita com os homens sobre a terra? Se o céu, em toda a sua imensidade, não te pode conter, muito menos este templo que eu construí! Contudo, Senhor, meu Deus, atende a súplica do teu servo, acolhe o clamor e a oração que ele te dirige. Que os teus olhos estejam abertos, dia e noite, sobre esta casa, sobre o lugar do qual declaraste que aí residiria o teu nome. Escuta a súplica que o teu servo te faz. Escuta as súplicas do teu servo e de Israel, teu povo, quando aqui vier orar neste lugar. Escuta-as desde a tua morada celeste, escuta e perdoa! Se alguém pecar contra o seu próximo e, obrigado a pronunciar um juramento imprecatório, vier jurar diante do teu altar, neste templo, Tu, escuta-o desde o céu, actua e faz justiça aos teus servos, fazendo recair sobre o malvado o peso da sua maldade, e faz justiça ao inocente, retribuindo-lhe de acordo com a sua inocência. Se o teu povo Israel for subjugado pelos inimigos por ter pecado contra ti, e, arrependido, confessar o teu nome e te pedir perdão neste templo, Tu, escuta-o desde o céu, perdoa o pecado do teu povo Israel, reconduzindo-o ao país que lhe deste, a ele e a seus pais. Se o céu se fechar e não chover mais, por eles terem pecado contra ti, se orarem neste lugar, prestando glória ao teu nome, e arrependendo-se do seu pecado por causa do teu castigo, escuta-os, desde o céu, perdoa o pecado dos teus servos e do teu povo Israel. Mostra-lhes o caminho recto que devem seguir, envia chuva à terra que deste como herança ao teu povo. Se vier a fome sobre o país, a peste, a ferrugem, a mangra, o gafanhoto e o pulgão, ou se os inimigos cercarem as cidades do país, ou se houver uma calamidade, ou qualquer epidemia, se um homem, ou todo o teu povo Israel te dirigir uma súplica e, reconhecendo a sua chaga dolorosa, estender as mãos para este templo, escuta-o desde o céu, da tua morada, perdoa e concede a cada um o que ele merecer, segundo o seu coração, pois só Tu conheces o coração dos homens. Assim te hão-de temer e andarão nos teus caminhos durante toda a vida, no país que deste a nossos pais. Se o estrangeiro, que não é do teu povo Israel, vindo de um país longínquo, atraído pela fama do teu nome e pelo grande poder do teu braço, vier rezar neste templo, escuta-o também desde o céu onde habitas, e concede-lhe tudo o que te pedir. Todos os povos da terra, conhecerão, então, o teu nome e te temerão, como o teu povo Israel, cientes de que o teu nome é invocado no templo que construí. Quando o teu povo fizer guerra contra os seus inimigos, nos caminhos por onde o enviares, e te invocar, voltado para a cidade que escolheste e para o templo que construí em honra do teu nome, escuta, desde o céu, as suas orações e súplicas e faz-lhe justiça. Poderá acontecer que pequem contra ti – pois não há homens sem pecado – e, irado contra eles, os entregues aos inimigos para os levarem cativos para uma terra estrangeira, próxima ou longínqua; se, na terra do seu exílio, arrependidos, se voltarem para ti e suplicarem, dizendo: ‘Pecámos, cometemos a iniquidade, fizemos o mal’, se se converterem a ti, de todo o seu coração e de toda a sua alma, na terra do exílio ou no lugar do seu cativeiro, e te dirigirem a sua oração voltados para a terra que deste a seus pais, para a cidade da tua predilecção e para este templo, que construí em honra do teu nome, escuta, desde o céu, onde habitas, as suas preces suplicantes; faz-lhes justiça e perdoa ao teu povo os pecados cometidos contra ti. Agora, pois, ó meu Deus, que os teus olhos estejam abertos e os teus ouvidos atentos às preces feitas neste lugar! Senhor Deus, vem, pois, habitar nesta morada, Tu e a Arca onde reside o teu poder. Senhor Deus, que os teus sacerdotes se revistam de força salutar e os teus santos gozem dos teus benefícios! Senhor Deus, não afastes o rosto do teu ungido; lembra-te da fidelidade do teu servo David.» Logo que Salomão terminou esta prece, o fogo desceu do céu e consumiu o holocausto e as vítimas, e a glória do Senhor encheu o templo. Por isso, os sacerdotes não podiam entrar no templo do Senhor, porque a sua glória o enchia completamente. À vista do fogo que descia e da glória do Senhor que enchia o templo, todos os filhos de Israel se inclinaram até ao chão e, prostrados, adoraram e cantaram: «Louvai o Senhor porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.» Então, o rei e todo o povo ofereceram sacrifícios na presença do Senhor. O rei Salomão imolou vinte e dois mil touros e cento e vinte mil ovelhas. Foi assim que o rei e todo o povo fizeram a consagração do templo de Deus. Ao mesmo tempo que os sacerdotes exerciam o seu ministério, os levitas tocavam os instrumentos de música sagrados, mandados fazer por David para louvar o Senhor, «porque é eterna a sua misericórdia.» Enquanto David louvava a Deus por intermédio deles, os sacerdotes tocavam as trombetas, e todo o Israel se mantinha de pé. Salomão consagrou o átrio interior, que está à entrada do templo do Senhor; ali ofereceu holocaustos e a gordura dos sacrifícios de comunhão, porque o altar de bronze por ele construído não era suficiente para os holocaustos, para as oblações e a gordura das vítimas. A celebração desta festa, presidida por Salomão, com todo o povo de Israel, durou sete dias, reunindo-se grande multidão, vinda desde a entrada de Hamat até à torrente do Egipto. No oitavo dia, realizou-se a assembleia solene, pois fizeram a consagração do altar e a celebração da festa durante sete dias. No vigésimo terceiro dia do sétimo mês, Salomão mandou o povo regressar às suas tendas, alegre e cheio de júbilo pelos benefícios que o Senhor outorgara a David, a Salomão e a Israel, seu povo. Salomão acabou, pois, o templo do Senhor e o palácio real. Levara a bom termo tudo o que se propusera fazer no templo do Senhor e na sua própria casa. Durante a noite, o Senhor apareceu a Salomão e disse: «Ouvi a tua oração e escolhi este lugar para ser o templo em que se oferecerão sacrifícios. Se Eu fechar os céus e não chover mais; se enviar gafanhotos a devorar o país ou se mandar a peste contra o meu povo, e o meu povo, sobre o qual foi invocado o meu nome, se humilhar e procurar a minha face para orar e renunciar à sua má conduta, hei-de escutá-lo desde o céu, perdoarei os seus pecados e curarei dos males o seu país. Doravante os meus olhos estarão abertos e os meus ouvidos estarão atentos às preces feitas neste lugar, pois escolhi e consagrei este templo para que o meu nome resida nele para sempre. Nele estarão sempre os meus olhos e o meu coração. E tu, se andares na minha presença, como fez o teu pai David, e puseres em prática tudo o que Eu prescrevi, e observares as minhas leis e os meus preceitos, consolidarei o trono da tua realeza, como prometi a teu pai David, dizendo-lhe: ‘Jamais faltará um descendente teu para governar Israel.’ Mas se vos desviardes de mim e negligenciardes os preceitos e os mandamentos que vos dei, adorando outros deuses e prestando-lhes culto, então, tirar-vos-ei do país que vos dei e desprezarei este templo que consagrei ao meu nome, o qual será objecto de riso e escárnio para todas as nações. Este templo, que era tão glorioso, será, para quantos passarem por ele, ocasião de espanto, pois dirão: ‘Por que razão o Senhor tratou desta maneira este país e este templo?’ E ouvirão como resposta: ‘Porque abandonaram o Senhor, o Deus de seus pais, que os fizera sair do Egipto, e se apegaram a outros deuses, prostrando-se em adoração diante deles. Foi por isso que Ele fez cair sobre eles todas estas calamidades.’» Em vinte anos, Salomão concluiu a construção do templo do Senhor e do seu próprio palácio; reconstruiu, também, as cidades que Huram lhe tinha dado e estabeleceu nelas os filhos de Israel. Em seguida, marchou contra Hamat de Soba e apoderou-se dela. Construiu Tadmor, no deserto, e todas as cidades que lhe serviam de entreposto, na região de Hamat. Edificou Bet-Horon de Cima e Bet-Horon de Baixo, cidades fortificadas com muralhas, portas e ferrolhos. Construiu igualmente Baalat e todas as cidades que serviam de entreposto a Salomão, as cidades onde guardava os carros de combate e a cavalaria. Tudo isto, Salomão construiu em Jerusalém, no Líbano e em todo o território do seu domínio. Havia no país uma população que não pertencia a Israel: hititas, amorreus, perizeus, heveus e jebuseus. Eram descendentes dos povos que tinham ficado no país e que Israel não exterminou. Salomão recrutou-os para trabalhos forçados, o que acontece ainda hoje. Nenhum filho de Israel foi reduzido ao trabalho de escravo ou a trabalhos servis em favor de Salomão, porque eles eram guerreiros, chefes das suas tropas, comandantes dos carros e da cavalaria. O número dos capatazes, colocados pelo rei à frente dos operários, era de duzentos e cinquenta. Salomão mandou vir a filha do Faraó da cidade de David para a casa que lhe construiu; pois disse: «A minha mulher não deve habitar na casa de David, rei de Israel. Esta habitação, na qual entrou a Arca do Senhor, é um lugar sagrado.» Então, Salomão ofereceu ao Senhor holocaustos sobre o altar que construíra diante do pórtico. Todos os dias oferecia os sacrifícios prescritos por Moisés: nos sábados, nas festas da Lua-nova e nas três festas do ano, isto é, na festa dos Ázimos, na festa das Semanas e na festa das Tendas. Conforme as disposições tomadas por seu pai David, distribuiu as diversas classes de sacerdotes segundo as suas funções, e os levitas segundo o seu encargo de cantores e o seu ministério quotidiano, como ajudantes dos sacerdotes; e, da mesma forma, distribuiu os porteiros para cada porta, de acordo com a sua categoria. Assim David, o homem de Deus, havia ordenado. Tanto os sacerdotes como os levitas cumpriram pontualmente todas as ordens do rei e todas as suas disposições, relacionadas com a guarda dos tesouros. Desta forma foi terminada toda a obra de Salomão, desde as fundações do templo do Senhor até ao seu pleno acabamento. Então Salomão partiu para Ecion-Guéber e Elat, nas praias do mar, no país de Edom. Huram enviou-lhe, por meio dos seus servos, navios e marinheiros experimentados. Foram a Ofir, com os servos de Salomão, e de lá trouxeram quatrocentos e cinquenta talentos de ouro para o rei Salomão. A rainha de Sabá ouviu falar da fama de Salomão. A fim de o provar por meio de enigmas, veio a Jerusalém, acompanhada de numeroso séquito, de camelos carregados com aromas e grande quantidade de ouro e pedras preciosas. Quando chegou à presença de Salomão, expôs tudo o que tencionava dizer-lhe. Mas Salomão respondeu a todas as perguntas, sem haver nenhuma questão difícil que ele não lhe soubesse explicar. A rainha de Sabá encheu-se de admiração ao ver a sabedoria do rei, a casa real que ele construíra para si, os manjares da sua mesa, os aposentos dos seus servos, a habitação e vestes dos seus lacaios, os seus copeiros e os seus trajes, e os holocaustos que oferecia no templo do Senhor. Impressionada com tudo isto, disse ao rei: «É verdade tudo quanto eu ouvi dizer no meu país a respeito das tuas obras e da tua sabedoria. Não queria acreditar antes de ter chegado e de ver com os meus próprios olhos. Pois bem, o que me tinham dito era apenas metade da tua imensa sabedoria; tu superas a fama que de ti chegou aos meus ouvidos. Felizes os teus homens! Felizes os teus servos! Felizes quantos estão ao teu serviço, sempre diante de ti, e ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, que te escolheu e colocou no seu trono, como rei ao serviço do Senhor, teu Deus! Foi por causa do seu amor a Israel, que Ele quer conservar para sempre, que te fez rei, para que cumpras a justiça e o direito.» Depois, presenteou o rei com cento e vinte talentos de ouro, grande quantidade de aromas e pedras preciosas. Jamais se viram tantos aromas como os que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão. Os servos de Huram e os de Salomão que tinham trazido o ouro de Ofir, trouxeram também madeira de sândalo e pedras preciosas. Com a madeira de sândalo, o rei fez o soalho do templo do Senhor e do palácio real, bem como as harpas e as liras dos cantores. Jamais se vira semelhante madeira no país de Judá. O rei Salomão presenteou a rainha de Sabá com tudo o que ela pediu e desejou, mais do que ela tinha trazido ao rei. Depois, ela regressou à sua terra, com os seus servos. O peso do ouro que era trazido a Salomão, cada ano, era de seiscentos e sessenta e seis talentos, além do que recebia dos impostos cobrados aos viajantes e comerciantes. Todos os reis da Arábia e os governadores das províncias traziam ouro e prata a Salomão. O rei Salomão mandou fazer duzentos escudos de ouro batido, cada um dos quais tinha seiscentos siclos de ouro; e mandou fazer igualmente trezentos pequenos escudos de ouro batido, cada um dos quais tinha trezentos siclos de ouro. O rei colocou-os no palácio do Bosque do Líbano. Mandou também construir um grande trono de marfim, revestido de ouro puro. Este trono tinha seis degraus, com um estrado de ouro, fixado no trono. Dos dois lados do assento havia apoios, flanqueados por leões. Outros doze leões estavam colocados, de um lado e de outro, sobre os seis degraus. Para nenhum rei se fez coisa semelhante. Todas as taças do rei Salomão eram feitas de ouro, e todo o vasilhame do palácio do Bosque do Líbano era de ouro fino. A prata, nem se fazia caso dela, no tempo de Salomão. Com efeito, o rei tinha navios que iam a Társis com os servos de Huram e, uma vez cada três anos, a frota regressava de Társis carregada de ouro, prata, marfim, macacos e pavões. Desta forma, pela sua riqueza e sabedoria, o rei Salomão avantajava-se a todos os reis da terra. Todos eles procuravam vir à presença de Salomão, a fim de escutar a sabedoria que Deus infundira em seu coração. Cada um lhe trazia, todos os anos, a sua oferenda: objectos de prata e ouro, vestes, armas, perfumes, cavalos e mulas. Salomão possuía quatro mil cavalariças para cavalos e carros, e doze mil cavaleiros, que destacou para as cidades onde estavam os seus carros, e em Jerusalém, junto de si. Dominava sobre todos os reis, desde o rio Eufrates até ao país dos filisteus e à fronteira do Egipto. Graças a ele, a prata tornou-se, em Jerusalém, tão comum como as pedras, e os cedros tão numerosos como os sicómoros da região da Chefela. Traziam a Salomão cavalos do Egipto e de todos os países. O resto dos feitos de Salomão, dos primeiros aos últimos, está escrito nas Palavras do profeta Natan*, na Profecia de Aías de Silo* e na Visão do vidente Jedo* acerca de Jeroboão, filho de Nabat. Salomão reinou em Jerusalém, sobre todo o Israel, durante quarenta anos. Depois disto, Salomão adormeceu com os seus pais e foi sepultado na cidade de David, seu pai. Seu filho Roboão sucedeu-lhe no trono. Roboão partiu para Siquém, onde todo o Israel se reunira para o proclamar rei. Mas Jeroboão, filho de Nabat – que estava nesse momento no Egipto, para onde fugira por causa do rei Salomão – quando soube disto, regressou do Egipto. Mandaram chamar Jeroboão e ele veio com todo o Israel. Falaram assim a Roboão: «O teu pai impôs-nos um jugo pesado. Alivia, pois, esta dura servidão do teu pai e o pesado jugo que ele nos impôs, e seremos teus servos.» Ele respondeu-lhes: «Voltai à minha presença dentro de três dias.» E a multidão retirou-se. Então, o rei Roboão aconselhou-se com os anciãos que haviam estado ao serviço de seu pai Salomão enquanto viveu: «Que me aconselhais que responda a este povo?» Disseram-lhe: «Se te mostrares bom para com este povo e lhe deres ouvidos e lhe falares com benevolência, ele será teu servo para sempre.» Mas Roboão negligenciou o conselho dos anciãos e foi consultar os jovens, seus companheiros de infância, que tinham crescido com ele e estavam ao seu serviço. E disse-lhes: «E vós, que me aconselhais? Que devemos responder ao pedido deste povo, que me pede para aliviar o jugo imposto por meu pai?» Os jovens, seus companheiros de infância, responderam-lhe: «Eis as palavras que dirás ao povo, que te disse: ‘Teu pai colocou sobre nós um jugo pesado, alivia-nos dele.’ Dir-lhe-ás: ‘O meu dedo mínimo é maior do que o tronco do meu pai. Meu pai impôs-vos um jugo pesado? Eu vo-lo tornarei ainda mais pesado. Ele castigou-vos com açoites? Eu vos castigarei com azorragues.’» Três dias depois, Jeroboão, com toda a multidão, apresentou-se diante de Roboão, pois o rei dissera: «Voltai à minha presença dentro de três dias.» O rei respondeu-lhes com dureza. Desprezou o conselho dos anciãos e seguiu o conselho dos jovens, dizendo: «Meu pai impôs-vos um jugo pesado? Eu hei-de torná-lo ainda mais pesado. Meu pai castigou-vos com açoites? Eu hei-de castigar-vos com azorragues.» Assim, pois, o rei não escutou o povo, porque isso era uma disposição divina para a realização da promessa que Deus fizera a Jeroboão, filho de Nabat, por meio de Aías de Silo. Ao ver que o rei não o escutava, o povo de Israel declarou-lhe: «Que temos a ver com David? Nada temos de comum com o filho de Jessé. Todos para as suas tendas, ó Israel! E tu, David, cuida da tua casa!» E todo o Israel voltou para as suas casas. Roboão reinou somente sobre os filhos de Israel que habitavam nas cidades de Judá. O rei Roboão enviou depois, como mediador, Hadoram, encarregado dos trabalhos forçados, mas os filhos de Israel apedrejaram-no e ele morreu. Então, o rei conseguiu subir para o seu carro e fugir para Jerusalém. Assim se separou Israel da casa de David, até ao dia de hoje. Roboão regressou a Jerusalém e mobilizou as tribos de Judá e Benjamim, em número de cento e oitenta mil guerreiros escolhidos, para atacar Israel e reduzi-lo ao seu domínio. Mas a palavra do Senhor foi dirigida ao homem de Deus Chemaías, dizendo-lhe: «Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a todos os de Israel que habitam em Judá e Benjamim: Isto diz o Senhor, Não entreis em combate contra os vossos irmãos; regresse cada um a sua casa, pois tudo isto acontece por minha vontade.» Dóceis à palavra do Senhor, não foram combater Jeroboão e regressaram. Roboão permaneceu, portanto, em Jerusalém. Construiu cidades fortificadas no território de Judá. Fortificou Belém, Etam, Técua, Bet-Sur, Socó, Adulam, Gat, Marecha, Zif, Adoraim, Láquis, Azeca, Sorá, Aialon e Hebron; eram todas as cidades fortificadas, situadas em Judá e Benjamim. E tendo-as fortificado com muralhas, nomeou-lhes governadores e dotou-as de depósitos de víveres, azeite e vinho. Fez, em cada uma delas, um arsenal de escudos e lanças, convertendo-as em praças fortes. As tribos de Judá e Benjamim ficaram, portanto, sujeitas ao seu domínio. Os sacerdotes e levitas que habitavam no território de Israel vieram de todas as partes e juntaram-se a Roboão. Os levitas abandonaram as suas terras e propriedades para virem habitar em Judá e em Jerusalém, pois Jeroboão e seus filhos tinham-nos excluído do sacerdócio do Senhor. Jeroboão, com efeito, nomeara sacerdotes para os lugares altos, para o culto dos bodes e dos touros que tinha fabricado. E, de todas as tribos de Israel, os homens que procuravam de coração o Senhor, Deus de Israel, vieram a Jerusalém oferecer sacrifícios ao Senhor, Deus de seus pais. Vieram assim reforçar o reino de Judá e reafirmar o poder de Roboão, filho de Salomão, por três anos, pois somente durante três anos ele seguiu os caminhos traçados por David e Salomão. Roboão tomou por esposa Maalat, filha de Jerimot, filho de David e, também, Abiaíl, filha de Eliab, filho de Jessé. Dela teve três filhos: Jeús, Chemarias e Zaam. Depois dela, tomou por esposa Maaca, filha de Absalão, que lhe deu Abias, Atai, Ziza e Chelomite. De todas as suas mulheres e concubinas, Roboão amou com predilecção Maaca, filha de Absalão; teve dezoito mulheres e sessenta concubinas e gerou vinte e oito filhos e sessenta filhas. Deu o primeiro lugar a Abias, filho de Maaca, na qualidade de chefe de seus irmãos, pois queria fazê-lo rei. Com muita prudência, espalhou os outros filhos pelas diversas regiões de Judá e de Benjamim e por todas as cidades fortes; assegurou-lhes uma pensão copiosa e deu-lhes muitas mulheres. Consolidado e assegurado o seu reino, Roboão abandonou a Lei do Senhor, e todo o Israel seguiu o seu exemplo. No quinto ano do seu reinado, por causa dos pecados de Jerusalém contra o Senhor, Chichac, rei do Egipto, veio atacar a cidade com mil e duzentos carros e sessenta mil cavaleiros. Um inumerável exército de líbios, suquitas e etíopes acompanhavam-no desde o Egipto. Apoderou-se das cidades fortificadas de Judá e chegou a Jerusalém. O profeta Chemaías dirigiu-se a Roboão e aos chefes de Judá que, com a aproximação de Chichac, se tinham reunido em Jerusalém. E disse-lhes: «Assim fala o Senhor, Vós abandonastes-me; Eu vos abandono nas mãos de Chichac.» Então, os chefes israelitas e o rei humilharam-se e disseram: «Justo é o Senhor.» O Senhor, vendo que se tinham humilhado, dirigiu a palavra a Chemaías nestes termos: «Eles humilharam-se; não os exterminarei. Dar-lhes-ei em breve a libertação. A minha ira não se desencadeará sobre Jerusalém pela mão de Chichac. Contudo, ficar-lhe-ão sujeitos, para que saibam distinguir entre servir-me a mim e servir os reis de outras nações.» Chichac, rei do Egipto, atacou, pois, Jerusalém. Levou os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, sem nada deixar. Levou, especialmente, os escudos de ouro que Salomão tinha fabricado. Para os substituir, Roboão mandou fazer escudos de bronze, entregando-os aos chefes da escolta que guardava a porta do palácio real. De cada vez que o rei ia ao templo do Senhor, os guardas levavam-nos e traziam-nos, depois, para a sala da guarda. Portanto, em virtude da sua humildade, a ira do Senhor afastou-se dele, e a sua ruína não foi total, pois ainda havia coisas boas em Judá. Consolidou-se, pois, Roboão como rei e reinou em Jerusalém. Contava quarenta e um anos quando começou a reinar. Reinou dezassete anos em Jerusalém, a cidade escolhida pelo Senhor, de entre todas as tribos de Israel, para nela estabelecer o seu nome. Sua mãe chamava-se Naamá, a amonita. Ele fez o mal, pois não aplicou o seu coração a buscar o Senhor. Os feitos de Roboão, dos primeiros aos últimos, estão escritos nas Palavras do profeta Chemaías e do vidente Ido*, com os registos das famílias. A guerra entre Roboão e Jeroboão foi contínua. Por fim, Roboão adormeceu com seus pais e foi sepultado na cidade de David, e seu filho Abias sucedeu-lhe no trono. No décimo oitavo ano do reinado de Jeroboão, Abias começou a reinar em Judá. Reinou três anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Uriel de Guibeá. Abias e Jeroboão fizeram guerra entre si. Foi Abias quem iniciou a guerra, com um exército de quatrocentos mil homens valentes e guerreiros escolhidos. Jeroboão alinhou contra ele oitocentos mil homens, também eles valentes e guerreiros de escolhidos. De pé, no alto de Semaraim, que está na montanha de Efraim, Abias gritou: «Escutai-me, Jeroboão e todo o Israel! Porventura não sabeis que o Senhor, Deus de Israel, deu para sempre o reino de Israel a David e seus filhos, em virtude de uma aliança perpétua? Mas Jeroboão, filho de Nabat, servo de Salomão, filho de David, insurgiu-se e revoltou-se contra o seu senhor. Homens vadios e perversos juntaram-se a ele e opuseram-se a Roboão, filho de Salomão. Roboão, que era jovem e tímido, não pôde resistir-lhes. E agora pensais em oferecer resistência ao reino do Senhor, que está nas mãos do filho de David! Vós sois uma grande multidão e tendes convosco os bezerros de ouro que Jeroboão vos fez, à maneira de deuses. Afastastes os sacerdotes do Senhor, os filhos de Aarão e os levitas, e instituístes, para vós, sacerdotes à maneira dos povos estrangeiros. Todo aquele que veio com um novilho e sete carneiros para se fazer consagrar, tornou-se sacerdote dos falsos deuses. Mas, quanto a nós, o Senhor é o nosso Deus e não o abandonámos; os sacerdotes que servem o Senhor são os filhos de Aarão, e os levitas desempenham as suas próprias funções. Cada manhã e cada tarde, queimam os holocaustos e o incenso aromático em honra do Senhor. Os pães da oferenda são dispostos sobre a mesa pura, e cada tarde são acendidas as lâmpadas do candelabro de ouro. Porque nós observamos a Lei do Senhor, nosso Deus, enquanto vós o abandonastes. Deus está à nossa frente como comandante, bem como os seus sacerdotes, com as trombetas de guerra para as fazer ressoar contra vós. Filhos de Israel, não luteis contra o Senhor, Deus dos vossos pais, pois não sereis bem sucedidos.» Então, Jeroboão executou uma manobra com as tropas, colocadas em emboscada, para surpreender o inimigo pelas costas, de modo que o seu exército atacava Judá de frente, e a emboscada encontrava-se à retaguarda. As tropas de Judá, voltando-se, viram-se atacadas pela frente e pela retaguarda. Invocaram o Senhor, enquanto os sacerdotes tocavam as trombetas. Judá soltou o grito de guerra, e Deus derrotou Jeroboão e todo o Israel diante de Abias e Judá. Os filhos de Israel fugiram diante dos homens de Judá, e Deus entregou-os nas suas mãos. Abias e o seu exército fizeram grande morticínio, caindo feridos quinhentos mil guerreiros escolhidos do campo de Israel. Assim foram humilhados, naquele tempo, os filhos de Israel, enquanto os filhos de Judá se consolidaram porque se apoiaram no Senhor, Deus de seus pais. Abias perseguiu Jeroboão e arrebatou-lhe várias cidades: Betel, Jessana e Efron, assim como os lugares delas dependentes. No tempo de Abias, Jeroboão não se restabeleceu. O Senhor feriu-o, e ele morreu. Abias, pelo contrário, tornou-se poderoso. Teve catorze mulheres e gerou vinte e dois filhos e dezasseis filhas. O resto dos actos de Abias, os seus feitos e palavras estão escritos no Comentário do profeta Ido*. Abias adormeceu com os seus pais e foi sepultado na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Asa. Durante a sua vida, o país teve dez anos de paz. Asa fez o que era recto e justo aos olhos do Senhor, seu Deus. Destruiu os altares dos deuses estrangeiros e os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os troncos sagrados. Ordenou aos filhos de Judá que seguissem o Senhor, Deus de seus pais, e pusessem em prática a Lei e os mandamentos. Suprimiu os lugares altos e os altares portáteis em todas as cidades de Judá. Sob o seu reinado, o reino viveu em paz. Durante este tempo de paz, construiu cidades fortificadas em Judá, pois não houve guerra durante esses anos porque o Senhor lhe concedeu a tranquilidade. Disse, então, a Judá: «Construamos essas cidades, cerquemo-las de muralhas com torres, portas e ferrolhos, enquanto o país está em nosso poder; porque seguimos o Senhor, nosso Deus, o qual nos concedeu a paz com todos os nossos vizinhos.» Empreenderam a construção e levaram-na a bom termo. Asa possuía um exército de trezentos mil homens de Judá, que levavam escudo e lança, e outro de duzentos e oitenta mil de Benjamim, que levavam escudo e arco, todos eles homens valorosos. Zera, o etíope, marchou contra eles com um exército de um milhão de homens e trezentos carros e avançou até Marecha. Asa saiu-lhe ao encontro e deu-lhe batalha no Vale de Cefat, perto de Marecha. Asa invocou o Senhor, seu Deus, nestes termos: «Senhor, para ti não há diferença entre ajudar o fraco e o forte. Vem, pois, em meu socorro, Senhor, nosso Deus! Pois em ti nos apoiamos e em teu nome viemos combater contra esta multidão. Senhor, Tu és o nosso Deus; que não haja um só homem que possa resistir-te.» O Senhor feriu os etíopes diante de Asa e dos homens de Judá, e os etíopes fugiram. Asa e o seu exército perseguiram-nos até Guerar, e os etíopes foram dizimados de tal forma que não ficou ninguém com vida, exterminados pelo Senhor e pelo seu exército. Judá trouxe um grande espólio. E derrotaram todas as cidades dos arredores de Guerar, pois o terror do Senhor apoderou-se deles. Saquearam todas as cidades, porque havia nelas importantes despojos. Destruíram também os redis dos rebanhos e capturaram grande número de ovelhas e camelos. Depois, regressaram a Jerusalém. Azarias, filho de Oded, movido pelo espírito de Deus, saiu ao encontro de Asa e disse-lhe: «Escutai-me, Asa e todo o Judá e Benjamim! O Senhor está convosco, se vós estiverdes com Ele. Se vós o procurardes, haveis de encontrá-lo; mas se vós o abandonardes, Ele vos abandonará a vós. Durante muito tempo, Israel viveu sem o verdadeiro Deus, sem sacerdotes para o ensinar, sem a Lei; mas quando, na sua angústia, se voltaram para o Senhor, Deus de Israel, e o procuraram, encontraram-no sempre. Naqueles tempos, não havia segurança para os que viajavam; pelo contrário, graves perturbações aterravam a população das diferentes regiões. Uma nação destruía outra nação, e uma cidade destruía outra cidade porque Deus as perturbava com toda a espécie de tribulações. Quanto a vós, sede fortes, não desfaleçais, pois o vosso esforço será recompensado.» Ao ouvir o oráculo do profeta Oded, Asa cobrou ânimo e fez desaparecer os ídolos de todo o território de Judá e de Benjamim, e de todas as cidades que conquistara na montanha de Efraim. Restaurou o altar do Senhor que se encontrava diante do pórtico do santuário do Senhor. Convocou toda a população de Judá, de Benjamim, bem como os refugiados de Efraim, Manassés e Simeão que habitavam entre eles, pois grande número de israelitas se aliara a Asa, vendo que o Senhor, seu Deus, estava com ele. Reuniram-se em Jerusalém, no terceiro mês do ano quinze do reinado de Asa. Nesse dia, sacrificaram ao Senhor, do espólio que tinham trazido, setecentos bois e sete mil ovelhas. Obrigaram-se, por uma aliança, a seguir o Senhor, Deus dos seus antepassados, com todo o seu coração e com toda a sua alma. E todos aqueles que faltassem a este compromisso com o Senhor, Deus de Israel, pequeno ou grande, homem ou mulher, seria morto. Ao som de trombetas e clarins, em grande júbilo e aclamação, fizeram esse juramento ao Senhor. Todos os de Judá se alegraram por causa do juramento, pois fizeram-no com o seu coração e com toda a sua boa vontade. Procuraram o Senhor e Ele se lhes manifestou e lhes assegurou a paz com todos os seus vizinhos. O rei Asa também destituiu Maaca, sua mãe, da dignidade de rainha, por ela ter feito um ídolo infame em honra de Achera. Asa destruiu aquela imagem, despedaçou-a e queimou-a na torrente do Cédron. Os lugares altos não desapareceram de Israel, mas o coração de Asa permaneceu íntegro durante toda a sua vida. Transportou para o templo de Deus todos os objectos consagrados por ele e pelo seu pai: a prata, o ouro e os utensílios. Não houve guerra até ao trigésimo quinto ano do reinado de Asa. Mas, no trigésimo sexto ano do reinado de Asa, Basa, rei de Israel, fez guerra a Judá e fortificou Ramá, a fim de bloquear todas as comunicações com Asa, rei de Judá. Mas Asa mandou tirar a prata e o ouro dos tesouros do templo do Senhor e do palácio real, e enviou-os, com uma delegação, a Ben-Hadad, rei dos arameus, que residia em Damasco, para lhe dizer: «Aliemo-nos, como se aliaram o teu pai e o meu. Envio-te prata e ouro. Rompe a tua aliança com Basa, rei de Israel, para ele deixar de me atacar.» Ben-Hadad escutou o rei Asa e enviou os seus generais contra as cidades de Israel. Eles apoderaram-se de Ion, Dan, Abel-Maim e de todos os entrepostos das cidades de Neftali. Ao ter notícia disto, Basa interrompeu os trabalhos de fortificação de Ramá. Então, o rei Asa levou consigo o povo de Judá e ordenou-lhe que trouxesse todas as pedras e madeiras de que Basa se servira para fortificar Ramá; com elas fortificou Guibeá e Mispá. Por esse tempo, o vidente Hanani apresentou-se a Asa, rei de Judá, e disse-lhe: «Já que te apoiaste no rei dos arameus e não te apoiaste no Senhor, o exército do rei dos arameus escapou das tuas mãos. Não formavam os etíopes e os líbios um exército inumerável, com uma multidão de carros e de cavaleiros? E, contudo, o Senhor entregou-os nas tuas mãos porque te apoiaste nele. Os olhos do Senhor percorrem toda a terra para fortalecer aqueles cujo coração lhe é totalmente fiel. Procedeste como um insensato e, por isso, doravante terás guerras.» Asa irritou-se contra o vidente e, encolerizado por causa das suas palavras, mandou-o fechar na prisão. E, nesse tempo, oprimiu também alguns dos seus súbditos. Os feitos de Asa, dos primeiros aos últimos, estão escritos no Livro dos Reis de Judá e de Israel*. No trigésimo nono ano do seu reinado, Asa adoeceu gravemente dos pés. Durante a sua doença, não procurou o Senhor, mas os médicos. Asa adormeceu com os seus pais e morreu no quadragésimo primeiro ano de reinado. Foi sepultado no túmulo que mandara fazer na cidade de David. Estenderam-no num leito cheio de perfumes aromáticos, preparados segundo a arte do perfumista. E queimaram na sua casa grande quantidade de aromas, em sua honra. Josafat, filho de Asa, sucedeu-lhe no trono e fortificou-se contra Israel. Colocou tropas em todas as cidades fortificadas de Judá, guarnições em todo o país e nas cidades de Efraim conquistadas por seu pai Asa. O Senhor estava com Josafat porque seguiu o exemplo que, a princípio, dera David, seu pai, e não procurou os ídolos de Baal. Procurou o Deus de seus pais, observando os seus mandamentos, sem seguir o exemplo de Israel. Por isso, o Senhor consolidou o poder real em suas mãos. Todos os de Judá lhe traziam presentes; teve muitas riquezas e glória. Cheio de confiança nos caminhos do Senhor, fez também desaparecer de Judá os lugares altos e os troncos sagrados. No terceiro ano do seu reinado, enviou os seus altos funcionários Ben-Hail, Abdias, Zacarias, Natanael e Miqueias, para ensinarem nas cidades de Judá. Enviou com eles os levitas Chemaías, Natanias, Zebadias, Asael, Chemiramot, Jónatas, Adonias, Tobias e Tob-Adonias, assim como os sacerdotes Elichamá e Jorão. Ensinaram em Judá, levando consigo o livro da Lei do Senhor e percorreram todas as cidades de Judá, instruindo o povo. O terror inspirado pelo Senhor difundiu-se por todos os reinos circunvizinhos de Judá, os quais não se atreveram a fazer guerra a Josafat. Também os filisteus trouxeram a Josafat presentes e um tributo de prata, e os árabes trouxeram-lhe gado miúdo: sete mil e setecentos carneiros e sete mil e setecentos bodes. Josafat aumentava cada vez mais o seu poder. Construiu em Judá fortalezas e cidades-armazém. Possuía grandes empreendimentos nas cidades de Judá e tinha, também, em Jerusalém guerreiros cheios de valentia. Eis a sua enumeração, segundo as suas famílias. Chefes de milhares: em Judá, o chefe Adná, com trezentos mil guerreiros; depois, o chefe Joanan, com duzentos e oitenta mil homens; seguia-se-lhe Amassias, filho de Zicri, voluntariamente consagrado ao Senhor, com duzentos mil valentes guerreiros. De Benjamim: o valoroso Eliadá, com duzentos mil homens armados de arcos e escudos; depois dele, Jozabad, com cento e oitenta mil homens equipados para a guerra. Estes eram os soldados que estavam ao serviço do rei, além das guarnições por ele colocadas nas fortalezas do território de Judá. Quando Josafat atingiu o cume da riqueza e da glória, tornou-se parente de Acab. Ao fim de alguns anos, dirigiu-se à Samaria, à casa de Acab. Acab matou, para ele e para o seu séquito, numerosos carneiros e bois. E persuadiu-o a fazer guerra contra Ramot, de Guilead. Acab, rei de Israel, disse a Josafat, rei de Judá: «Queres vir comigo atacar Ramot de Guilead?» Josafat respondeu: «Farei o que fizeres, assim como o meu exército. Iremos à guerra contigo.» E Josafat disse ao rei de Israel: «Peço-te que consultes primeiro o oráculo do Senhor.» O rei de Israel reuniu os profetas, em número de quatrocentos, e perguntou-lhes: «Devemos atacar Ramot de Guilead ou não?» Eles responderam: «Vai, porque Deus a entregará nas mãos do rei.» Mas Josafat replicou: «Não há aqui nenhum outro profeta do Senhor, mediante o qual o possamos consultar?» O rei de Israel respondeu a Josafat: «Sim, há mais um, por meio do qual podemos consultar o Senhor; mas eu detesto-o porque nunca me anuncia coisa boa, mas sempre a desgraça. É Miqueias, filho de Jímela.» Josafat disse: «Não fales, ó rei, dessa maneira.» Então, o rei de Israel chamou um funcionário e deu-lhe esta ordem: «Faz vir aqui depressa Miqueias, filho de Jímela.» O rei de Israel e Josafat, rei de Judá, sentaram-se cada um em seu trono, revestidos das suas insígnias reais, na praça que está à entrada da porta da Samaria, e todos os profetas profetizavam na sua presença. Sedecias, filho de Canaana, fizera para si uns chifres de ferro e disse: «Isto diz o Senhor, Com estes chifres ferirás os arameus até os exterminar.» E todos os profetas profetizavam da mesma maneira dizendo: «Sobe a Ramot de Guilead e vencerás, porque o Senhor entregará a cidade nas mãos do rei.» Entretanto, o mensageiro que fora procurar Miqueias dizia-lhe: «Os profetas são unânimes em predizer a vitória do rei. Que o teu oráculo seja conforme com o deles: anuncia coisas boas.» Miqueias respondeu: «Juro pelo Deus vivo que não anunciarei senão o que o meu Senhor me disser.» Quando chegou perto do rei, este disse-lhe: «Miqueias, devemos atacar Ramot de Guilead ou não?» Miqueias respondeu: «Ide e vencereis, porque a cidade será entregue nas vossas mãos.» Então, o rei disse-lhe: «Quantas vezes terei de conjurar-te a que não digas senão a verdade em nome do Senhor ?» Respondeu: «Vejo todo o Israel disperso pela montanha como rebanho sem pastor. O Senhor disse: ‘Estes não têm chefes; volte tranquilamente cada um para a sua casa’.» O rei de Israel disse a Josafat: «Não te dizia eu que, a meu respeito, ele jamais havia de anunciar coisa boa? Pelo contrário, prediz sempre a desgraça.» Miqueias replicou: «Escutai o oráculo do Senhor, Eu vi o Senhor sentado no seu trono e todo o exército celeste de pé, à sua direita e à sua esquerda. Disse o Senhor, ‘Quem seduzirá Acab, rei de Israel, para que suba a Ramot de Guilead e lá encontre a sua ruína?’ Um respondia de um modo e outro de outro. Então, um espírito avançou, colocou-se na presença do Senhor e disse: ‘Eu irei seduzi-lo.’ O Senhor perguntou: ‘De que maneira?’ Ele respondeu: ‘Vou ser como um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas.’ Replicou o Senhor, ‘Conseguirás seduzi-lo. Tens esse poder. Vai e faz como disseste.’ Portanto, se o Senhor, infundiu um espírito de mentira na boca de todos os teus profetas, é porque o Senhor decretou a ruína contra ti.» Nesse momento, Sedecias, filho de Canaana, aproximou-se de Miqueias e deu-lhe uma bofetada, dizendo: «Por que caminho saiu de mim o espírito do Senhor para te falar?» Miqueias respondeu: «Vê-lo-ás, no dia em que fugires de aposento em aposento, a fim de te esconderes.» Então, o rei de Israel ordenou: «Prendei Miqueias e conduzi-o a Amon, governador da cidade, e a Joás, filho do rei. Dizei-lhe: ‘Esta é a ordem do rei: Metei este homem na prisão; dai-lhe alimentação reduzida, a pão e água, até que eu regresse são e salvo’.» Ao que Miqueias respondeu: «Se voltares são e salvo é sinal de que o Senhor não falou por mim.» E acrescentou: «Escutai, povos todos...!» O rei de Israel subiu, pois, a Ramot de Guilead com Josafat, rei de Judá. E disse a Josafat: «Vou disfarçar-me para entrar no combate; tu, porém, veste as tuas próprias vestes.» O rei de Israel disfarçou-se, por conseguinte, antes de entrar no combate. Ora o rei dos arameus dera aos chefes dos seus carros esta ordem: «Pequeno ou grande, a ninguém atacareis, a não ser somente o rei de Israel.» Quando viram Josafat, os chefes dos carros disseram entre si: «É certamente o rei de Israel.» E avançaram sobre ele. Mas Josafat soltou o seu grito de guerra, e o Senhor socorreu-o e afastou dele os arameus. Então, os chefes dos carros, percebendo que não era o rei de Israel, deixaram de o perseguir. Nesse momento, um homem, que lançara o arco ao acaso, feriu o rei de Israel através das junturas da couraça. O rei disse ao condutor do seu carro: «Volta as rédeas e conduz-me para fora do campo de batalha, pois estou ferido.» Mas nesse dia o combate foi tão violento que o rei de Israel teve de ficar no seu carro, diante dos arameus, até à tarde. E morreu ao pôr-do-sol. Josafat, rei de Judá, regressou são e salvo ao seu palácio em Jerusalém. Jeú, filho do vidente Hanani, saiu ao seu encontro e disse-lhe: «Auxilias o ímpio e amas os que odeiam o Senhor? Por isso, o Senhor está irritado contra ti. Mas tens obras boas, pois suprimiste no país os troncos sagrados e aplicaste o teu coração na busca de Deus.» Depois do seu regresso a Jerusalém, Josafat foi de novo visitar o seu povo, desde Bercheba até à montanha de Efraim, para o conduzir ao Senhor, Deus de seus pais. Estabeleceu juízes no seu país, em cada uma das cidades fortificadas de Judá. E disse-lhes: «Vede o que fazeis. Não é em nome de um homem que administrais a justiça, mas em nome do Senhor, que vos assistirá nos vossos julgamentos. Que o temor do Senhor esteja convosco. Vigiai a vossa conduta, pois junto do Senhor, nosso Deus, não há injustiça, nem acepção de pessoas, nem corrupção com presentes.» Josafat estabeleceu, também, em Jerusalém, levitas, sacerdotes e chefes de família de Israel para administrarem a justiça em nome do Senhor e serem árbitros nos litígios; residiam em Jerusalém. Deu-lhes as seguintes instruções: «Procedei em tudo com temor do Senhor, lealdade e integridade de coração. Em qualquer litígio trazido à vossa presença pelos vossos irmãos residentes nas suas cidades, quer se trate de crimes de sangue, da Lei, dos mandamentos, dos preceitos ou de cerimónias, esclarecei-os, para que não se tornem culpados diante do Senhor, a fim de que a sua ira não se inflame contra vós e os vossos irmãos. Agi desta maneira para não vos tornardes culpados. Tendes à vossa frente o Sumo Sacerdote Amarias para todas as coisas do Senhor, Zebadias, filho de Ismael, chefe da casa de Judá, para todos os negócios do rei. Tendes também à vossa disposição os levitas, na qualidade de escribas. Tende coragem, portanto! Mãos à obra e que o Senhor esteja com o homem de bem!» Depois disto, os moabitas e os amonitas e alguns meonitas declararam guerra a Josafat. Alguém informou Josafat, dizendo: «Uma enorme multidão vem de Edom, do outro lado do Mar Morto, e avança contra ti! Já estão acampados em Haceçon-Tamar, isto é, En-Guédi.» Perturbado, Josafat decidiu consultar o Senhor e promulgou um jejum para todo o território de Judá. O povo de Judá reuniu-se para invocar oSenhor, e todos acorriam das cidades de Judá para invocar o Senhor. No átrio novo do templo do Senhor, Josafat ergueu-se, na presença da grande assembleia dos homens de Judá e de Jerusalém, e disse: «Senhor, Deus de nossos pais, não és Tu o Deus do céu e o soberano de todos os reinos das nações? Tens na tua mão a força e o poder e ninguém pode resistir-te. Não foste Tu, nosso Deus, que expulsaste, diante do teu povo Israel, os habitantes deste país e o deste, para sempre, à descendência de Abraão, teu amigo? Nele habitaram e construíram um santuário para a glória do teu nome e disseram: ‘Se nos sobrevier alguma desgraça – espada, castigo, peste ou fome – apresentar-nos-emos diante de ti neste templo, pois o teu nome é nele invocado, e clamaremos a ti do fundo da nossa angústia. Tu nos ouvirás e nos salvarás.’ Pois bem, os amonitas e os moabitas e os povos da montanha de Seir, por cujas terras não permitiste que passassem os israelitas ao saírem do Egipto, antes se desviaram sem as destruir, eis como eles nos recompensam agora ao quererem expulsar-nos desta herança que nos deste. Ó nosso Deus! Não exercerás sobre eles a tua justiça? Pois não temos força contra esta multidão que avança sobre nós; não sabemos o que fazer e os nossos olhos voltam-se para ti.» Toda a população de Judá estava de pé, diante do Senhor, com as suas famílias, mulheres e filhos. Então, no meio desta multidão, o espírito do Senhor apoderou-se de Jaziel, filho de Zacarias, filho de Benaías, filho de Jeiel, filho de Matanias, levita da linhagem de Asaf. E disse: «Prestai atenção, homens de Judá e habitantes de Jerusalém, e tu, rei Josafat! Assim vos fala o Senhor, Não temais nem vos atemorizeis diante desta imensa multidão, pois a guerra não é vossa, mas de Deus. Amanhã marchareis contra eles, quando subirem pela encosta de Hacis, e haveis de encontrá-los na extremidade do desfiladeiro frente ao deserto de Jeruel. Não tereis necessidade de combater, nessa altura. Mas não arredeis pé, a fim de contemplardes a vitória que o Senhor vos concederá. Não temais, ó habitantes de Judá e Jerusalém, nem vos apavoreis. Amanhã saireis ao seu encontro e o Senhor estará convosco.» Josafat prostrou-se com o rosto por terra, e o povo de Judá e os habitantes de Jerusalém prostraram-se diante do Senhor e adoraram-no. Os levitas da linhagem de Queat e de Coré levantaram-se para louvar, com voz potente, o Senhor, Deus de Israel. No dia seguinte de manhã, puseram-se a caminho do deserto de Técua. À medida que iam saindo, Josafat, no meio deles, dizia-lhes: «Escutai-me, homens de Judá e de Jerusalém. Ponde a vossa confiança no Senhor, vosso Deus, e estareis em segurança. Confiai nos seus profetas, e tudo vos correrá bem.» E, depois de se haver aconselhado com o povo, designou os cantores que, revestidos de ornamentos sagrados, deviam marchar à frente do exército, cantando: «Louvai o Senhor porque é eterna a sua misericórdia!» Logo que começaram a entoar este cântico de louvor, o Senhor semeou a discórdia entre os filhos de Amon, de Moab e os que tinham vindo da montanha de Seir atacar Judá, e arremeteram uns contra os outros. Os filhos de Amon e os filhos de Moab atiraram-se sobre os povos das montanhas de Seir para os destruir e exterminar; e, depois de os exterminarem, mataram-se uns aos outros. Quando os homens de Judá chegaram ao lugar mais alto que domina o deserto, dirigiram o olhar sobre a multidão, e não viram senão cadáveres estendidos por terra; ninguém escapara. Então, Josafat avançou com o seu exército para os despojar, achando gado em abundância, riquezas, vestes e muitos objectos preciosos; apanharam tantas coisas que não puderam levá-las todas. A pilhagem durou três dias, pois eram abundantes os despojos. No quarto dia, reuniram-se no vale de Beracá, onde louvaram o Senhor. Por isso, deram a este lugar o nome de «Vale de Louvor», nome que conserva ainda hoje. Os homens de Judá e de Jerusalém, tendo à frente deles Josafat, retomaram alegres o caminho da cidade, pois o Senhor os tinha cumulado de alegria à custa dos seus inimigos. Entraram em Jerusalém, no templo do Senhor, ao som das harpas, das cítaras e das trombetas. O terror do Senhor apoderou-se de todos os reinos estrangeiros, ao saberem que o Senhor combatia os inimigos de Israel. Assim o reino de Josafat gozou de tranquilidade, e Deus deu-lhe a paz com todas as nações vizinhas. Josafat reinou, pois, sobre Judá. Tinha trinta e cinco anos quando começou a reinar, e reinou vinte e cinco anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Azuba, filha de Chili. Tomou como norma o procedimento de seu pai Asa, sem dele se afastar. Fez o que é recto aos olhos do Senhor. Todavia, os lugares altos não desapareceram, e o povo ainda não tinha o coração firmemente inclinado para o Deus de seus pais. O resto das acções de Josafat, do princípio ao fim, estão escritas nas Palavras de Jeú*, filho de Hanani, as quais foram inseridas no Livro dos Reis de Israel*. Depois disto, Josafat, rei de Judá, fez aliança com Acazias, rei de Israel, cujas obras eram ímpias. Aliou-se com ele para construir navios destinados a irem a Társis, construindo os navios em Ecion-Guéber. Então, Eliézer, filho de Dodavau, de Marecha, profetizou contra Josafat, nestes termos: «Porque fizeste aliança com Acazias, o Senhor destruiu o teu empreendimento!» Com efeito, os navios despedaçaram-se e não puderam ir a Társis. Josafat adormeceu e foi sepultado com seus pais na cidade de David. Seu filho Jorão sucedeu-lhe no trono. Jorão tinha seis irmãos, filhos de Josafat: Azarias, Jaiel, Zacarias, Azariau, Micael e Chefatias, todos eles filhos de Josafat, rei de Judá. Seu pai dera-lhes avultada soma de prata, ouro, objectos preciosos, assim como cidades fortificadas em Judá; mas entregou o reino a Jorão, porque era o primogénito. Uma vez consolidada a posse do reino de seu pai, Jorão passou a fio de espada todos os seus irmãos, assim como alguns chefes de Israel. Tinha trinta e dois anos quando começou a reinar e reinou oito anos em Jerusalém. Seguiu as pegadas dos reis de Israel, como fizera a casa de Acab, pois tinha uma filha de Acab por esposa. Praticou o mal aos olhos do Senhor. Contudo, o Senhor não quis destruir a casa de David, por causa da aliança feita com ele e da promessa que lhe fizera de manter perpetuamente no trono um dos seus descendentes. No tempo de Jorão, o povo de Edom revoltou-se contra o domínio de Judá e proclamou um rei para si próprio. Jorão pôs-se a caminho, com os seus oficiais e os seus carros, e derrotou, a meio da noite, os edomitas que o tinham cercado, a ele e aos chefes dos seus carros. Contudo, os edomitas revoltaram-se contra o domínio de Judá até ao dia de hoje. Pela mesma época, Libna libertou-se, também, do seu domínio, porque Jorão abandonara o Senhor, Deus dos seus pais. Jorão erigiu igualmente lugares altos nas montanhas de Judá; induziu os habitantes de Jerusalém à idolatria e arrastou Judá ao mal. Então recebeu do profeta Elias uma mensagem escrita nos seguintes termos: «Assim fala o Senhor, Deus de David, teu pai: ‘Não andaste pelos caminhos de teu pai Josafat, nem pelos de Asa, rei de Judá; imitaste os reis de Israel e induziste à idolatria os habitantes de Judá e de Jerusalém, como fez a casa de Acab; assassinaste os teus irmãos, a família de teu pai, que eram melhores do que tu.’ Por isso o Senhor ferirá com grande flagelo o teu povo e, da mesma forma, os teus filhos, as tuas mulheres e todos os teus bens; e tu serás castigado com uma grave doença, uma enfermidade nas entranhas que, dia após dia, fará sair do corpo as tuas próprias entranhas.» O Senhor excitou contra Jorão o espírito dos filisteus e dos árabes, vizinhos dos etíopes. Atacaram Judá, devastaram-na, pilharam todas as riquezas que estavam no palácio real e levaram os seus filhos com as suas mulheres, de modo que só lhe ficou Joacaz, o filho mais novo. Depois de tudo isto, o Senhor feriu-o com uma doença incurável no ventre. Passado certo tempo, no fim do segundo ano, a violência do mal fez com que lhe saíssem as entranhas. Morreu no meio de dores violentas. O povo não queimou perfumes em sua honra, como fizera a seu pai. Tinha trinta e dois anos quando começou a reinar e reinou oito anos em Jerusalém. Morreu sem deixar saudade. Sepultaram-no na cidade de David, mas não no sepulcro dos reis. Para suceder a Jorão, os habitantes de Jerusalém proclamaram rei a Acazias, seu filho mais novo, porque bandos de salteadores, que vieram com os árabes, tinham invadido o acampamento e assassinado os mais velhos. Assim, Acazias, filho de Jorão, tornou-se rei de Judá. Tinha quarenta e dois anos quando começou a reinar e reinou um ano em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Atália, filha de Omeri. Trilhou, também, os caminhos da família de Acab, pois era aconselhado ao mal por sua mãe. Praticou o mal diante do Senhor, como a família de Acab, porque ela, após a morte de seu pai, lhe serviu de conselheira, para perdição dele. Seguindo os seus conselhos, dirigiu-se a Ramot de Guilead com Jorão, filho de Acab, rei de Israel, para atacar Hazael, rei dos arameus, que estava em Ramot de Guilead. Mas os arameus feriram Jorão. Jorão regressou a Jezrael para cuidar das feridas recebidas em Ramá, na batalha contra Hazael, rei dos arameus. Acazias, filho de Jorão, rei de Judá, desceu a Jezrael para visitar Jorão, filho de Acab, que estava doente. Ora a perda de Acazias, por disposição divina, foi ter ido visitar Jorão. Com efeito, à sua chegada, saiu com Jorão ao encontro de Jeú, filho de Nimechi, a quem o Senhor tinha dado a unção real para exterminar a casa de Acab; e, enquanto Jeú destruía a família de Acab, encontrou-se com os chefes de Judá e os sobrinhos de Acazias, que estavam ao serviço do seu tio, e matou-os. Depois, procurou Acazias, que foi encontrado na Samaria, onde se escondera. Levaram-no a Jeú, que o mandou matar. Deram-lhe sepultura, porque se dizia: «É o filho de Josafat, que seguiu o Senhor de todo o seu coração.» Não ficou ninguém da família de Acazias que tivesse idade para reinar. Quando Atália, mãe de Acazias, viu que o filho morrera, mandou exterminar toda a estirpe real da casa de Judá. Josabat, porém, filha do rei, raptou Joás, filho de Acazias, tirando-o de entre os jovens príncipes que estavam a ser massacrados, e escondeu-o, com a sua ama, no dormitório. Josabat, filha de Jorão, irmã de Acazias e mulher do sacerdote Joiadá, escondeu-o, assim, do furor de Atália, evitando a sua morte. Seis anos esteve escondido com elas no templo de Deus, enquanto Atália reinava no país. No sétimo ano, Joiadá encheu-se de coragem e convocou os seguintes chefes de centenas: Azarias, filho de Jeroam, Ismael, filho de Joanan, Azarias, filho de Obed, Massaías, filho de Adaías, e Elisafat, filho de Zicri. E fez com eles um pacto. Percorreram Judá e reuniram os levitas de todas as cidades de Judá e os chefes de família de Israel, e regressaram a Jerusalém. Todo este grupo fez uma aliança com o rei, no templo de Deus. Joiadá disse-lhes: «Eis o filho do rei, que deve reinar segundo a declaração do Senhor a respeito dos filhos de David. Eis o que deveis fazer: uma terça parte de vós, dos sacerdotes e dos levitas que fazem o serviço do sábado, estará de guarda às portas do templo; outra terça parte vigiará o palácio real; e uma outra guardará a porta do Fundamento. E o resto do povo ocupará o átrio do templo do Senhor. Ninguém entrará no templo do Senhor, a não ser os sacerdotes e os levitas de serviço: só podem entrar estes, por estarem consagrados. E todo o povo observará o que foi ordenado pelo Senhor. Os levitas, cada um com as suas armas na mão, rodearão o rei. E todo aquele que tentar entrar no templo será morto. Seguireis o rei para onde quer que ele vá.» Os levitas e todo Judá seguiram à risca as ordens do sacerdote Joiadá. Cada um deles reuniu os seus homens, tanto os que começavam o seu serviço do sábado como os que o terminavam, pois o sacerdote Joiadá não dispensara nenhum grupo. Ele próprio entregou aos chefes de centenas lanças e escudos de diversas espécies, conservados no templo de Deus, e que haviam pertencido ao rei David. Seguidamente, colocou toda a tropa, com as armas na mão, ao longo do altar e do edifício, desde o ângulo sul até ao ângulo norte do templo, à volta do rei. Depois, mandaram avançar o filho do rei, colocaram-lhe o diadema e entregaram-lhe as insígnias reais. E proclamaram-no rei. Joiadá e seus filhos ungiram-no, clamando: «Viva o rei.» Mas Atália, ao ouvir os gritos do povo que acorria a aclamar o rei, dirigiu-se à multidão que estava no templo do Senhor. Olhou e viu o rei de pé, sobre um estrado, à entrada do templo; os chefes e os tocadores de trombeta estavam ao lado do rei; e todo o povo festejava e tocava trombetas, enquanto os cantores, ao som de vários instrumentos, lhe dirigiam aclamações. Então, Atália rasgou as vestes e gritou: «Traição, traição!» Mas o sacerdote Joiadá mandou sair os chefes de centenas que comandavam as tropas e ordenou-lhes: «Arrastai-a para fora do templo, por entre as vossas fileiras. Se alguém a quiser seguir, passai-o ao fio de espada.» O sacerdote impediu que a matassem dentro do templo do Senhor. Agarraram-na e, quando chegaram ao palácio real pelo portão dos cavalos, aí a mataram. Joiadá fez uma aliança entre ele, o rei e o povo, segundo a qual o povo se obrigava a ser o povo do Senhor. Então, todo o povo entrou no templo de Baal e destruiu-o. Despedaçaram os seus altares e as suas imagens e mataram Matan, sacerdote de Baal, diante dos altares. Joiadá colocou sentinelas no templo do Senhor, a cargo dos sacerdotes e levitas. David dividira-os em categorias no templo, para oferecerem holocaustos ao Senhor, conforme está escrito na Lei de Moisés, com cânticos de alegria, segundo as ordens de David. Colocou, também, porteiros às portas do templo para não deixarem entrar ninguém que tivesse qualquer impureza. E levando consigo os chefes de centenas, os notáveis, aqueles que exerciam alguma função entre o povo e toda a população do país, fez sair o rei do templo do Senhor, entraram no palácio do rei pela porta superior e instalaram-no no trono real. Toda a população do país estava jubilosa, e a cidade tranquila. Quanto a Atália, foi morta à espada. Joás tinha sete anos quando começou a reinar, e reinou quarenta anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Síbia, natural de Bercheba. Joás fez o que é recto diante do Senhor durante toda a vida do sacerdote Joiadá, que lhe deu duas mulheres por esposas, das quais teve filhos e filhas. Depois disto, Joás resolveu restaurar o templo do Senhor. Convocou os sacerdotes e levitas e disse-lhes: «Ide e percorrei as cidades de Judá, recolhei nelas o dinheiro dos israelitas para se fazerem todos os anos as reparações do templo do vosso Deus. Executai isto com presteza.» Mas os levitas não se apressaram. Então, o rei chamou o Sumo Sacerdote Joiadá e disse-lhe: «Porque não cuidaste de obrigar os levitas a trazerem, de Judá e de Jerusalém, a contribuição imposta ao povo de Israel por Moisés, servo do Senhor, e pela assembleia de Israel, para a tenda do testemunho? Pois a ímpia Atália e seus filhos arruinaram a casa de Deus, e até se serviram de todos os objectos sagrados do templo do Senhor para o culto de Baal.» Então o rei ordenou que se fizesse um cofre e fosse colocado na parte exterior da porta do templo. Por Judá e por Jerusalém foi apregoado que se trouxesse ao Senhor a contribuição imposta, no deserto, a Israel por Moisés, servo de Deus. Todos os chefes e todo o povo, cheios de alegria, vieram colocar dinheiro no cofre até o encherem. Sempre que, por meio dos levitas, o cofre era levado para a inspecção do rei –o que acontecia quando o dinheiro se acumulava – o secretário real e um comissário do Sumo Sacerdote esvaziavam-no, e os levitas iam colocá-lo no seu lugar. Assim faziam todos os dias, recolhendo dinheiro em abundância. O rei e Joiadá entregavam-no aos encarregados das obras do templo. Estes contratavam os carpinteiros e os canteiros, os trabalhadores que modelavam o ferro e o bronze, a fim de se restaurar e reparar o templo do Senhor. Os trabalhadores fizeram com que as reparações fossem acabadas com esmero, restituindo o templo de Deus ao seu primitivo estado, e acabando-o com perfeição. Terminado o trabalho, entregaram ao rei e a Joiadá o resto do dinheiro, com o qual se fabricaram os utensílios para o serviço do templo: objectos para os holocaustos, vasos e outros objectos de ouro e prata. Enquanto Joiadá viveu, ofereceram-se regularmente holocaustos no templo do Senhor. Joiadá, saciado de dias, envelheceu e depois morreu, aos cento e trinta anos. Sepultaram-no na cidade de David, com os reis, pelo bem que fizera a Israel, por Deus e pelo seu templo. Mas, depois da morte de Joiadá, os chefes de Judá vieram e prostraram-se diante do rei, que os ouviu. Abandonaram o templo do Senhor, Deus de seus pais, e prestaram culto aos troncos sagrados e aos ídolos. E essas faltas atraíram a ira divina sobre Judá e Jerusalém. O Senhor enviou-lhes profetas para que eles se convertessem ao Senhor com as suas exortações. Mas eles não lhes deram ouvidos. Então, o espírito de Deus desceu sobre Zacarias, filho do sacerdote Joiadá, que se apresentou diante do povo e disse: «Assim fala Deus: ‘Porque transgredis os mandamentos do Senhor ? Nada conseguireis. Já que abandonastes o Senhor, o Senhor há-de abandonar-vos’.» Mas eles revoltaram-se contra ele e apedrejaram-no, por ordem do rei, no átrio do templo do Senhor. O rei Joás esquecera a lealdade de Joiadá, pai de Zacarias, e mandou matar o filho. Zacarias, ao morrer, disse: «Que o Senhor veja e faça justiça.» No fim do ano, o exército dos arameus marchou contra Joás; invadiu Judá e Jerusalém, massacrou os chefes do povo e enviou todos os seus despojos ao rei de Damasco. Embora os arameus fossem em pequeno número, o Senhor entregou-lhes um enorme exército, porque Judá abandonara o Senhor, Deus de seus pais. Assim, os arameus fizeram justiça a Joás. Mal os arameus se afastaram, deixando-o em grandes sofrimentos, os seus homens revoltaram-se contra ele, por causa da morte do filho do sacerdote Joiadá, e mataram-no na sua cama. Morreu e foi sepultado na cidade de David, mas não no sepulcro dos reis. Eis os que conspiraram contra ele: Zabad, filho de Chimeat, a amonita, e Jozabad, filho de Chimerit, a moabita. Tudo o que se refere aos seus filhos, aos seus cargos e à restauração do templo de Deus, tudo isso está escrito no Comentário do Livro dos Reis*. Sucedeu-lhe no trono seu filho Amacias. Amacias tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e reinou durante vinte e nove anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Joadan, e era natural de Jerusalém. Ele praticou o que é recto aos olhos do Senhor, mas não com um coração íntegro. Desde que se sentiu seguro no poder real, mandou matar os servos que tinham assassinado o rei, seu pai. Mas não mandou matar os filhos deles, conformando-se com o que está escrito no livro da Lei de Moisés, como o Senhor ordena: «Os pais não serão mortos em lugar dos seus filhos, nem os filhos morrerão em lugar dos seus pais; cada um morrerá pelo seu próprio pecado.» Amacias reuniu os homens de Judá e dividiu-os por famílias, e pôs chefes de milhares e de centenas em todo o território de Judá e de Benjamim. Recenseou-os, a partir da idade de vinte anos para cima, e encontrou trezentos mil homens aptos para a guerra e capazes de carregar lança e escudo. Depois, assalariou, por cem talentos de prata, cem mil valentes guerreiros de Israel. Mas um homem de Deus veio ao seu encontro e disse-lhe: «Ó rei, não é preciso que o exército de Israel te acompanhe, porque o Senhor não está com Israel, nem com todos estes filhos de Efraim. Se fores com eles, mesmo que dês mostras de valor no combate, Deus deixar-te-á cair diante do inimigo, pois Deus tem poder de socorrer ou de abater.» Amacias disse ao homem de Deus: «Que farei, então, a respeito dos cem talentos que dei às tropas israelitas?» O homem de Deus respondeu-lhe: «O Senhor tem mais do que isso para te dar.» Amacias licenciou, pois, a tropa de Efraim que se lhe tinha juntado, e mandou-a regressar à sua terra. Mas eles irritaram-se contra Judá e regressaram furiosos à sua terra. Amacias, cheio de confiança, pôs-se em marcha para conduzir o seu exército ao Vale do Sal, onde matou dez mil habitantes de Seir. Os filhos de Judá prenderam dez mil homens vivos e conduziram-nos ao alto de um rochedo, de onde os precipitaram, ficando despedaçados. Entretanto, os homens da tropa que Amacias licenciara e não levara consigo à guerra, saquearam as cidades de Judá, desde a Samaria até Bet-Horon. Mataram três mil homens e levaram consideráveis despojos. Ao regressar a casa, depois da derrota dos edomitas, Amacias, que trouxera os deuses dos habitantes de Seir, fez deles os seus próprios deuses: prostrou-se diante deles e queimou-lhes incenso. Então, a ira do Senhor inflamou-se contra ele. Enviou-lhe um profeta, que lhe disse: «Porque adoraste esses deuses estrangeiros, que não foram capazes de salvar o seu povo da tua mão?» Amacias respondeu ao profeta: «Foste, acaso, nomeado conselheiro do rei? Vai-te embora, se não queres que te mate!» O profeta retirou-se, dizendo: «Sei que Deus decidiu a tua perda porque fizeste isto e não quiseste ouvir o meu conselho.» Amacias, rei de Judá, depois de ter tomado conselho, mandou dizer a Joás, filho de Joacaz, filho de Jeú, rei de Israel: «Vem, para que nos vejamos de frente.» Joás, rei de Israel, mandou responder a Amacias, rei de Judá: «O cardo do Líbano mandou dizer ao cedro do Líbano: ‘Dá a tua filha, por esposa, ao meu filho.’ Mas vieram as feras do Líbano, passaram e pisaram o cardo. Dizes que derrotaste os edomitas, e o teu coração encheu-se de orgulho. Fica em tua casa. Porque corres ao encontro do perigo, arriscando-te a uma empresa que te há-de arruinar, assim como a Judá?» Mas Amacias não o quis ouvir, pois era disposição divina que ele fosse entregue nas mãos dos seus inimigos, por ter venerado os deuses de Edom. Joás, rei de Israel, marchou contra Amacias, rei de Judá, e encontraram-se os dois em Bet-Chémes, que está em Judá. Judá foi vencido por Israel, e cada um fugiu para sua casa. Joás, rei de Israel, prendeu Amacias, rei de Judá, filho de Joás, filho de Joacaz em Bet-Chémes. Mandou-o para Jerusalém e abriu na muralha uma brecha de quatrocentos côvados, desde a porta de Efraim até à porta do Ângulo. Apoderou-se de todo o ouro e prata, assim como dos utensílios que se encontravam no templo de Deus, à guarda de Obededom, e dos tesouros do palácio real; depois, regressou à Samaria, levando reféns. Amacias, filho de Joás, rei de Judá, viveu ainda quinze anos depois da morte de Joás, filho de Joacaz, rei de Israel. O resto dos actos de Amacias, dos primeiros aos últimos, está escrito no Livro dos Reis de Judá e de Israel*. Depois que Amacias se desviou do Senhor, armou-se em Jerusalém uma conspiração contra ele. Fugiu para Láquis, mas perseguiram-no e ali o mataram. Transportaram o seu corpo sobre cavalos, e sepultaram-no com seus pais na cidade de David. Todo o povo de Judá proclamou rei a Uzias, que tinha então dezasseis anos, e colocou-o no trono, em lugar de seu pai Amacias. Foi ele quem reedificou Elat e fez voltar esta cidade ao domínio de Judá, depois de o rei adormecer com seus pais. Uzias tinha dezasseis anos quando começou a reinar e reinou cinquenta e dois anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Jecolias e era natural de Jerusalém. Praticou o que é recto aos olhos do Senhor, como seu pai Amacias. Aplicou-se a honrar a Deus durante a vida de Zacarias, que o instruiu no temor de Deus. Enquanto honrou o Senhor, Deus deu-lhe prosperidade. Fez uma expedição contra os filisteus, derrubou as muralhas de Gat, de Jabne e de Asdod; construiu cidades no território de Asdod e na terra dos filisteus. Deus ajudou-o contra os filisteus, contra os árabes que habitavam em Gur-Baal e contra os meonitas. Os meonitas pagaram tributo a Uzias, e a sua fama estendeu-se até aos confins do Egipto, porque se tornara muito poderoso. Levantou torres fortificadas em Jerusalém, sobre a porta do Ângulo, sobre a porta do Vale e sobre a esquina da muralha. Também construiu torres no deserto, onde cavou numerosos poços, pois aí possuía numerosos rebanhos, tanto na planície como no planalto. Tinha lavradores e vinhateiros nas montanhas e nas vinhas, pois era apaixonado pela terra. Uzias tinha um exército de guerreiros que partiam para a guerra organizados em esquadrões, segundo o alistamento feito pelo escriba Jeiel e pelo administrador Massaías, sob a direcção de Hananías, um dos oficiais do rei. O número total dos chefes de família, guerreiros valentes, era de dois mil e seiscentos. O exército que comandavam era de trezentos e sete mil e quinhentos homens aptos para a guerra, que combatiam fortemente contra os inimigos do rei. A todo este exército, Uzias fornecia, para cada campanha militar, escudos, lanças, capacetes, couraças, arcos e fundas para atirar pedras. Mandou construir em Jerusalém máquinas destinadas a serem colocadas sobre as torres e sobre os ângulos das muralhas, para atirar flechas e grandes pedras. A sua fama estendeu-se até muito longe, pois Deus fez maravilhas para o ajudar a adquirir grande poder. Mas, ao ver-se tão poderoso, o seu coração encheu-se de orgulho, para sua desgraça. Cometeu uma falta contra o Senhor, seu Deus: entrou no templo do Senhor a fim de queimar incenso no altar dos perfumes. O sacerdote Azarias, com oitenta corajosos sacerdotes do Senhor, entraram atrás dele. Fizeram frente ao rei Uzias e disseram-lhe: «Não te compete a ti, Uzias, queimar incenso ao Senhor, mas aos sacerdotes da estirpe de Aarão, que foram consagrados para este fim. Sai do santuário, porque prevaricaste e não tens direito à glória que vem do Senhor Deus.» Então, Uzias, tendo na mão um turíbulo, enfureceu-se; mas, durante este acesso de furor contra os sacerdotes, apareceu-lhe lepra na fronte, ali, no templo do Senhor, na presença dos sacerdotes, diante do altar dos perfumes. O Sumo Sacerdote Azarias e todos os outros sacerdotes olharam-no e viram a lepra que tinha na fronte. Precipitadamente, fizeram-no sair; aliás, ele próprio se apressou a sair, sentindo-se ferido pelo Senhor. O rei Uzias ficou leproso até à sua morte e viveu numa casa isolada, coberto de lepra. Por este motivo, foi excluído do templo do Senhor. Seu filho Jotam administrava o palácio real e governava o povo do país. Os restantes actos de Uzias, desde os primeiros aos últimos, foram descritos por Isaías, filho do profeta Amós. Uzias adormeceu com seus pais e foi sepultado perto deles no campo das sepulturas reais, pois era leproso. Seu filho Jotam sucedeu-lhe no trono. Jotam tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e reinou dezasseis anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Jerusa, filha de Sadoc. Praticou o que é recto aos olhos do Senhor, exactamente como havia procedido seu pai Uzias, mas não se intrometeu, como ele, no templo do Senhor. No entanto, o povo continuava a corromper-se. Foi Jotam que construiu a porta Superior do templo do Senhor, e fez muitas obras nas muralhas de Ofel. Construiu igualmente cidades fortificadas na montanha de Judá, fortalezas e torres nas regiões cultivadas. Fez guerra ao rei dos amonitas e venceu-o. Este pagou naquele ano um tributo de cem talentos de prata, dez mil coros de trigo e dez mil de cevada; isto mesmo lhe trouxeram os amonitas no segundo e terceiro ano. Jotam tornou-se assim muito poderoso, porque andava firmemente nos caminhos do Senhor, seu Deus. Os outros actos de Jotam, as suas acções, os seus feitos e as suas guerras, tudo isso está escrito no Livro dos Reis de Israel e de Judá*. Tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar e reinou dezasseis anos em Jerusalém. Jotam adormeceu com os seus pais e foi sepultado na cidade de David. Seu filho Acaz sucedeu-lhe no trono. Acaz tinha vinte anos quando começou a reinar. Reinou dezasseis anos em Jerusalém. Não praticou o que é recto aos olhos do Senhor, como David, seu pai, mas seguiu as pegadas dos reis de Israel. Fez mesmo imagens de metal em honra de Baal. Queimou perfumes no vale de Ben-Hinom e fez passar os seus filhos pelo fogo, segundo o abominável costume das nações que o Senhor havia expulsado diante dos israelitas. Oferecia sacrifícios e perfumes sobre os lugares altos, sobre as colinas e debaixo de toda a árvore verdejante. O Senhor, seu Deus, entregou-o nas mãos do rei dos arameus. Estes derrotaram-no, fizeram grande número de prisioneiros e deportaram-nos para Damasco. Também ele caiu nas mãos do rei de Israel, que lhe infligiu uma grande derrota. Pecá, filho de Remalias, matou, num só dia, cento e vinte mil homens de Judá, todos guerreiros valorosos, porque tinham abandonado o Senhor, Deus de seus pais. Zicri, um guerreiro de Efraim, matou Massaías, filho do rei, Azericam, chefe do palácio, e Elcana, o segundo depois do rei. Os filhos de Israel fizeram, entre os seus irmãos, duzentos mil prisioneiros, incluindo mulheres, jovens e donzelas. Recolheram também grandes despojos, que levaram para a Samaria. Havia ali um profeta do Senhor, chamado Oded, que saiu ao encontro do exército que entrava na Samaria, e disse-lhes: «Vede: na sua ira contra os filhos de Judá, o Senhor, Deus dos vossos pais, entregou-os nas vossas mãos, mas vós tirastes-lhes a vida com tal fúria que a vossa crueldade subiu até ao céu. E agora pretendeis oprimir os homens de Judá e Jerusalém até fazer deles vossos escravos e escravas. Porventura, entre vós não há também prevaricações contra o Senhor, vosso Deus? Escutai-me: Mandai regressar os cativos que fizestes entre os vossos irmãos, pois ameaça-vos o ardor da ira do Senhor.» Levantaram-se, então, contra os que voltavam da guerra, alguns dos chefes dos efraimitas. Eram eles Azarias, filho de Joanan, Baraquias, filho de Mechilemot, Ezequias, filho de Chalum, e Amassá, filho de Hadlai. E diziam-lhes: «Não introduzireis aqui esses cativos. Quereis que nos tornemos culpados diante do Senhor, e que aumentemos, assim, as nossas faltas, já suficientemente numerosas? O ardor da ira do Senhor já ameaça Israel.» Então, na presença dos chefes e da assembleia do povo, os soldados soltaram os presos e abandonaram os despojos. A seguir, os homens, cujos nomes acabaram de ser citados, levantaram-se para reconfortar os cativos: revestiram com as vestes tiradas dos despojos aqueles que estavam nus, calçaram-nos, deram-lhes de comer e beber, trataram-lhes as feridas e conduziram-nos a Jericó, cidade das palmeiras, para junto dos seus irmãos, montando nos jumentos aqueles que se encontravam extenuados. Depois, regressaram à Samaria. Naquele tempo, o rei Acaz mandou pedir socorro aos reis da Assíria, pois os edomitas voltaram a combater Judá e a fazer prisioneiros. Os filisteus invadiram também as cidades da planície e do Négueb que pertenciam a Judá; tomaram Bet-Chémes, Aialon, Guederot, Socó e os seus arrabaldes, Timna e os seus arrabaldes, Guimezô e os seus arrabaldes. E nelas se estabeleceram. Com efeito, o Senhor humilhava Judá por causa do rei Acaz, que levara a dissolução a Judá e cometera graves delitos contra o Senhor. Tiglat-Falasar, rei da Assíria, em vez de lhe dar o seu apoio, marchou contra ele e cercou-o. Em vão Acaz despojara o templo do Senhor, o palácio real e os dignitários para enviar presentes ao rei da Assíria. De nada lhe valeu. Embora estivesse em aflições, o rei Acaz continuou a cometer os seus crimes contra o Senhor. Ofereceu mesmo sacrifícios aos deuses de Damasco, que o haviam derrotado. Dizia ele: «São os deuses dos reis dos arameus que os protegem; oferecer-lhes-ei, portanto, sacrifícios para que igualmente me ajudem.» Eles, porém, foram a causa da sua queda e da ruína de todo o Israel. Acaz juntou todos os utensílios do templo de Deus e despedaçou-os. Fechou as portas do templo do Senhor, fabricou altares em todos os cruzamentos de Jerusalém. Construiu lugares altos em todas as cidades de Judá, para neles oferecer incenso aos deuses estrangeiros, provocando, assim, a ira do Senhor, Deus de seus pais. O resto dos seus actos, todos os seus feitos, dos primeiros aos últimos, tudo isso está escrito no Livro dos Reis de Judá e de Israel*. Acaz adormeceu com seus pais e foi sepultado na cidade de Jerusalém, pois não o quiseram enterrar nos sepulcros dos reis de Israel. Seu filho Ezequias sucedeu-lhe no trono. Ezequias tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar e reinou vinte e nove anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Abias, filha de Zacarias. Praticou o bem aos olhos do Senhor, como David, seu pai. No primeiro mês do primeiro ano do seu reinado, reabriu as portas do templo do Senhor, depois de as ter reparado. Convocou os sacerdotes e os levitas e reuniu-os na praça oriental. Disse-lhes: «Escutai-me, levitas. Santificai-vos, agora, e purificai o templo do Senhor, Deus de vossos pais, de toda a imundície, porque os nossos pais prevaricaram, fizeram o mal diante do Senhor, nosso Deus; abandonaram-no, desviaram os olhos da sua morada, voltaram-lhe as costas. Trancaram mesmo as portas do vestíbulo, extinguiram as lâmpadas, não mais queimaram incenso e suprimiram os holocaustos no santuário do Deus de Israel. Por isso, a ira do Senhor inflamou-se contra Judá e Jerusalém, entregou-os à desolação e fez deles objecto de espanto e zombaria, como estais a ver com os vossos próprios olhos. Eis que os nossos pais pereceram ao fio da espada, e as nossas filhas, os nossos filhos e as nossas mulheres estão no cativeiro por causa disso. Agora, resolvi fazer uma aliança com o Senhor, Deus de Israel, para que nos poupe do ardor da sua ira. Ora, meus filhos, não sejais negligentes, porque foi a vós que o Senhor escolheu para que estivésseis diante dele, o servísseis e lhe oferecêsseis incenso.» Levantaram-se, então, os seguintes levitas: da linhagem de Queat, Maat, filho de Amassai, Joel, filho de Azarias; da linhagem de Merari, Quis, filho de Abdi, Azarias, filho de Jalelel; da linhagem dos gersonitas, Joá, filho de Zima, Éden, filho de Joá; da linhagem de Elisafan, Chimeri e Jeiel; da linhagem de Asaf, Zacarias e Matanias; da linhagem de Heman, Jaiel e Chimei; da linhagem de Jedutun, Chemaías e Uziel. Reuniram os seus irmãos e, depois de se terem santificado, vieram, por ordem do rei e conforme as palavras do Senhor, purificar o templo. Os sacerdotes entraram no interior do templo do Senhor para o purificar, e varreram, do átrio do templo, toda a imundície que encontraram; depois, os levitas juntaram-na e levaram-na para fora, para a torrente do Cédron. Foi no primeiro dia do primeiro mês que começaram esta purificação; no oitavo dia desse mês chegaram ao pórtico. Em oito dias, o templo foi purificado. No décimo sexto dia do mês, acabaram a obra começada. Dirigiram-se, então, à presença do rei Ezequias e disseram-lhe: «Purificámos todo o templo do Senhor, o altar dos holocaustos com todos os seus utensílios, a mesa dos pães da oferenda com todos os seus utensílios. Todos os objectos que Acaz, tinha profanado, durante o seu reinado, purificámo-los e pusemo-los diante do altar do Senhor.» No dia seguinte, de manhã, o rei Ezequias reuniu os dignitários da cidade e subiu ao templo. Levaram sete touros, sete carneiros, sete cordeiros e sete bodes para um sacrifício expiatório pelo reino, pelo santuário e por Judá. O rei disse aos sacerdotes da linhagem de Aarão que os oferecessem sobre o altar do Senhor. Os sacerdotes imolaram os touros, cujo sangue recolheram e derramaram sobre o altar. Depois, imolaram os carneiros e espalharam o seu sangue sobre o altar; e fizeram o mesmo com os cordeiros. Trouxeram então os bodes, para um sacrifício expiatório, à presença do rei e da multidão, e todos estenderam as mãos sobre eles. Os sacerdotes imolaram-nos e ofereceram o seu sangue sobre o altar, em expiação pelos pecados de todo o Israel, pois o rei ordenara que se oferecesse o holocausto e o sacrifício expiatório por todo o Israel. Colocou, depois, os levitas no templo do Senhor, com címbalos, harpas e cítaras, segundo a ordem de David, de Gad, o vidente do rei, e do profeta Natan, porque era uma ordem do Senhor, dada pelos seus profetas. Os levitas ocuparam o seu lugar com os instrumentos de David, e os sacerdotes, com as trombetas. Ezequias mandou oferecer o holocausto sobre o altar; e, no momento em que começava o holocausto, o canto do Senhor fez-se ouvir, ao som das trombetas e dos instrumentos musicais de David, rei de Israel. Toda a assembleia estava prostrada, enquanto os cantores entoavam o cântico e faziam ressoar as trombetas até ao fim do holocausto. Terminado o holocausto, o rei e todos os que o cercavam dobraram os joelhos e prostraram-se. A seguir, o rei Ezequias e os chefes ordenaram aos levitas que cantassem um cântico ao Senhor, com as palavras de David e do vidente Asaf. Cantaram esse hino cheios de alegria, e depois prostraram-se em adoração. Então, Ezequias tomou a palavra e disse: «Agora que tendes as vossas mãos cheias de ofertas para o Senhor, aproximai-vos e oferecei os sacrifícios de acção de graças no templo do Senhor.» E toda a multidão ofereceu os seus sacrifícios de acção de graças, e os de coração generoso ofereciam holocaustos voluntários. Este foi o número dos holocaustos oferecidos pela multidão: setenta touros, cem carneiros, duzentos cordeiros; tudo isto oferecido em holocausto ao Senhor. Consagraram, além disso, seiscentos bois e três mil ovelhas. Mas, como os sacerdotes eram poucos e não bastavam para preparar as vítimas destinadas ao holocausto, os seus irmãos levitas ajudaram-nos até ao fim, até que os outros sacerdotes se purificassem; porque os levitas tinham mostrado mais solicitude que os sacerdotes em se purificar. Ofereceram, além disso, holocaustos em abundância, com a gordura dos sacrifícios de comunhão e as libações para os holocaustos. Foi assim restabelecido o culto no templo do Senhor. Ezequias e o povo regozijaram-se por o Senhor ter disposto todo o povo a fazer tudo isto tão rapidamente. Ezequias enviou mensageiros por todo o Israel e Judá e escreveu cartas a Efraim e a Manassés, para os convidar a virem ao templo do Senhor, que está em Jerusalém, celebrar a Páscoa em honra do Senhor, Deus de Israel. O rei, os seus chefes e toda a assembleia do povo em Jerusalém resolveram celebrar a Páscoa no segundo mês, pois não puderam fazê-lo no devido tempo porque os sacerdotes não se tinham santificado em número suficiente, e o povo ainda não se tinha reunido em Jerusalém. Esta resolução agradou ao rei e a toda a assembleia. Decidiram, por isso, apregoar por todo o Israel, desde Bercheba até Dan, o convite para virem a Jerusalém celebrar a Páscoa em honra do Senhor, Deus de Israel. Porque muitos não a celebravam como estava prescrito. Partiram, então, os pregoeiros, com as cartas do rei e dos chefes, por todo o Israel e Judá. Por ordem do rei, diziam: «Israelitas, voltai ao Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, e Ele há-de voltar-se para aqueles que, de entre vós, escaparam das mãos dos reis da Assíria. Não sejais como os vossos pais e os vossos irmãos, que prevaricaram diante do Senhor, Deus de seus pais, que os entregou à desolação, como estais a ver. Não endureçais a vossa cerviz, como fizeram os vossos pais. Estendei as mãos para o Senhor, vinde ao santuário que Ele consagrou para sempre, e servi o Senhor, vosso Deus, a fim de que Ele afaste de vós o ardor da sua cólera. Se vos converterdes ao Senhor, os vossos irmãos e os vossos filhos acharão misericórdia diante daqueles que os levaram cativos e voltarão a este país; pois o Senhor, vosso Deus, é misericordioso e compassivo e não mais desviará os olhos de vós, se a Ele vos converterdes.» Deste modo, os pregoeiros passaram de cidade em cidade no território de Efraim e de Manassés, até Zabulão. Mas riam-se deles e escarneceram-nos. Contudo, alguns homens de Aser, de Manassés e de Zabulão mostraram-se humildes e dirigiram-se a Jerusalém. Também em Judá, a mão de Deus tocou os habitantes para lhes dar o desejo unânime de escutar as ordens do rei e dos chefes, conforme a palavra do Senhor. Grandes multidões acorreram a Jerusalém para celebrar a festa dos Ázimos, no segundo mês. Era uma enorme assembleia. Começaram por destruir os altares pagãos que se encontravam em Jerusalém, assim como todos os altares dos perfumes, e lançaram-nos à torrente do Cédron. Imolaram o cordeiro pascal no décimo quarto dia do segundo mês. Os sacerdotes e os levitas, arrependidos, tinham-se santificado e ofereceram holocaustos no templo do Senhor. Ocupavam o seu lugar, como prescreve a Lei de Moisés, homem de Deus. Os sacerdotes derramavam o sangue recebido das mãos dos levitas. Como houvesse na assistência muitos que não se tinham purificado, os levitas encarregaram-se de imolar o cordeiro pascal por todos os que não estavam puros, a fim de os consagrar ao Senhor. Uma grande parte do povo de Efraim, de Manassés, de Issacar e de Zabulão comeu o cordeiro pascal sem se ter purificado, contrariamente ao que estava prescrito. Mas Ezequias intercedeu por eles, dizendo: «O Senhor, que é bom, usará de misericórdia com os que buscam de todo o coração o Senhor, Deus de seus pais, e não lhes imputará a falta de purificação exigida para o santuário!» O Senhor escutou Ezequias e perdoou ao povo. Os filhos de Israel que se encontravam em Jerusalém celebraram com muita alegria a festa dos Ázimos durante sete dias. Cada dia, os levitas e os sacerdotes louvavam o Senhor com potentes instrumentos musicais. Ezequias dirigiu palavras cordiais a todos os levitas que se tinham distinguido no culto do Senhor. Passaram os sete dias da festa oferecendo sacrifícios de comunhão e de acção de graças ao Senhor, Deus de seus pais. E toda a assembleia concordou em prolongar a festa por mais sete dias, celebrando-a com grande alegria. Ezequias, rei de Judá, dera à assembleia mil touros e sete mil ovelhas; também os altos funcionários a presentearam com mil touros e dez mil ovelhas; os sacerdotes tinham-se purificado em grande número. A alegria reinava em toda a assembleia de Judá, nos sacerdotes e levitas, na assembleia vinda de Israel e nos estrangeiros vindos da terra de Israel ou estabelecidos em Judá. Em Jerusalém houve grande júbilo, pois nunca se vira coisa semelhante na cidade, desde o tempo de Salomão, filho de David, rei de Israel. Finalmente, os sacerdotes e os levitas levantaram-se para abençoar a multidão. A sua voz foi ouvida e a sua prece chegou ao céu, até à santa morada de Deus. Quando tudo isto terminou, os israelitas presentes saíram para as cidades de Judá e despedaçaram as estelas, derrubaram os troncos sagrados, destruíram os lugares altos e os altares em toda a região de Judá, Benjamim, Efraim e Manassés. Foi uma destruição total. Depois, os israelitas regressaram cada qual à sua cidade e à sua casa. Ezequias restabeleceu as classes dos sacerdotes e dos levitas, segundo os seus turnos, cada um com a sua função própria, tanto para os holocaustos e sacrifícios de comunhão como para o serviço do culto, da acção de graças e dos louvores e na guarda das portas da morada do Senhor. O rei também reservou uma parte dos seus bens para os holocaustos da manhã e da tarde, dos sábados, da festa da Lua-nova e das solenidades, conforme a prescrição da Lei do Senhor. Ordenou ao povo que habitava em Jerusalém que entregasse aos sacerdotes e levitas o que lhes era devido, a fim de se consagrarem totalmente à Lei do Senhor. Logo que esta ordem foi promulgada, os israelitas multiplicaram as oferendas das primícias do trigo, do vinho, do azeite, do mel e de todos os produtos do campo, e ofereceram generosamente o dízimo de tudo o que produz a terra. Os israelitas e os que habitavam nas cidades de Judá também trouxeram o dízimo dos bois e das ovelhas, assim como o dízimo das coisas santas consagradas ao Senhor, seu Deus. De tudo isso deram grandes quantidades. Esta acumulação começou no terceiro mês e só acabou no sétimo. Então, Ezequias e os seus funcionários, vendo essas quantidades, louvaram o Senhor e o seu povo de Israel. Ezequias fez perguntas aos sacerdotes e levitas acerca dessas quantidades. O Sumo Sacerdote Azarias, da linhagem de Sadoc, respondeu-lhe: «Desde que começaram a trazer estas oferendas ao templo do Senhor, temos matado a nossa fome e ainda sobra muito. O Senhor abençoou o seu povo. Esta grande quantidade é o que sobra.» Ezequias deu ordem de se prepararem celeiros no templo do Senhor, e a ordem foi cumprida. Neles foram fielmente guardadas as oferendas, os dízimos e as coisas consagradas. Para esta tarefa, foi nomeado intendente o levita Cananias, auxiliado por seu irmão Chimei. Sob a sua direcção, Jaiel, Azarias, Naat, Asael, Jerimot, Jozabad, Eliel, Jismaquias, Maat e Benaías exerciam o ofício de vigilantes, por mandato do rei Ezequias e de Azarias, intendente do templo de Deus. O levita Coré, filho do levita Jimna, guarda da porta oriental, estava encarregado dos dons voluntários feitos a Deus, da distribuição da parte reservada do Senhor, e das coisas mais sagradas. Estavam às suas ordens nas cidades sacerdotais: Éden, Miniamin, Jesua, Chemaías, Amarias e Checanias que tinham a missão de distribuir a cada um, equitativamente, a sua parte, segundo as suas classes, sem diferença entre grandes e pequenos. Faziam a distribuição a todos os que vinham ao templo do Senhor para o serviço quotidiano, conforme as suas funções e classes, desde que estivessem inscritos nos registos, da idade de três anos para cima. A inscrição dos sacerdotes era feita segundo as suas famílias, e a dos levitas desde a idade de vinte anos para cima, segundo as suas funções e classes. A inscrição valia para toda a família: mulheres, filhos e filhas, e para toda a assembleia, desde que estivessem fielmente santificados. Quanto aos sacerdotes da linhagem de Aarão que moravam no campo, nos arredores das cidades sacerdotais, havia em cada localidade homens nomeados para distribuir as porções a todo o varão da estirpe sacerdotal e dos levitas devidamente inscritos. Foram estas as medidas tomadas por Ezequias em todo o território de Judá. Praticou o que era bom, recto e fiel diante do Senhor, seu Deus. Em tudo o que empreendeu para o serviço do templo de Deus, da Lei e das prescrições, não procurou senão a vontade de Deus, pondo na sua acção todo o seu coração. E foi bem sucedido. Depois destas coisas, que eram prova de fidelidade, Senaquerib, rei da Assíria, invadiu Judá e sitiou as cidades fortificadas para se apoderar delas. Ezequias, ao ver que Senaquerib vinha atacar Jerusalém, resolveu, com o conselho dos seus funcionários e oficiais, obstruir as águas das nascentes que se encontravam fora das cidades. Eles ajudaram-no. Reuniram grande número de gente e obstruíram todas as fontes e a torrente que corria no meio do território, dizendo: «Porque hão-de os reis da Assíria, ao chegar aqui, encontrar água em abundância?» Para se fortificar, Ezequias reparou a muralha em ruínas, levantou as torres, construiu um segundo muro exterior, restaurou Milo, na cidade de David, e mandou fabricar lanças e escudos em grande quantidade. Colocou à frente do exército chefes militares, reuniu-os junto de si na praça da porta da cidade e exortou-os com estas palavras: «Sede valentes e corajosos. Não temais nem tenhais medo do rei da Assíria e de toda essa multidão que o segue, porque há mais força do nosso lado do que do lado dele. Com ele, está apenas a força humana; connosco, está o Senhor, nosso Deus, para nos auxiliar e combater ao nosso lado.» A estas palavras de Ezequias, rei de Judá, o povo encheu-se de confiança. Depois disto, Senaquerib, rei da Assíria, que se encontrava em Láquis com todo o seu exército, enviou alguns oficiais a Jerusalém para dizer ao rei Ezequias e a todo o povo de Judá que se encontrava em Jerusalém: «Assim fala Senaquerib, rei da Assíria: “Em que confiais vós, para vos encerrardes dessa maneira em Jerusalém? Não vedes que Ezequias vos engana para vos fazer perecer de fome e de sede, ao dizer-vos: ‘O Senhor, nosso Deus, há-de salvar-nos das mãos do rei da Assíria’? Não foi ele, Ezequias, quem suprimiu os lugares altos e os seus altares, ordenando aos habitantes de Judá e Jerusalém que não adorassem nem oferecessem incenso senão diante de um só altar? Não sabeis o que fizemos, eu e meus pais, a todos os povos dos outros países? Porventura os deuses dessas nações puderam salvar os seus países da minha mão? Entre todos os deuses dessas nações que os meus pais exterminaram, qual deles pôde salvar o seu povo do meu poder, para que o vosso Deus vos possa livrar do meu braço? Não vos deixeis, portanto, enganar nem seduzir dessa maneira por Ezequias. Não confieis nele. Se nenhum deus de qualquer nação ou reino pôde livrar o seu povo da minha mão nem da mão dos meus pais, também o vosso Deus não vos poderá livrar de cair na minha mão”.» Os mensageiros de Senaquerib disseram ainda outras palavras contra o Senhor Deus e contra Ezequias, seu servo. Senaquerib escreveu uma carta cheia de ultrajes contra o Senhor, Deus de Israel, na qual dizia: «Assim como os deuses das nações não os puderam livrar das minhas mãos, assim também o Deus de Ezequias não poderá livrar o seu povo do meu poder.» Tudo isto foi proclamado em voz alta, na língua da Judeia, a fim de intimidar e assustar o povo de Jerusalém que se encontrava sobre a muralha, e de se apoderar da cidade. Falavam do Deus de Jerusalém como dos deuses das nações pagãs, que não passam de obras feitas pela mão do homem. Mas o rei Ezequias e o profeta Isaías, filho de Amós, puseram-se em oração para implorar o auxílio do céu a este respeito. O Senhor enviou então um anjo que exterminou todos os guerreiros valentes, comandantes e oficiais do exército no próprio acampamento do rei da Assíria. Este voltou para o seu país coberto de ignomínia. E, ao entrar no templo do seu deus, alguns dos seus filhos assassinaram-no ali mesmo, à espada. Deste modo, o Senhor livrou Ezequias e os habitantes de Jerusalém da mão de Senaquerib, rei dos Assírios, e de todos os seus inimigos, e concedeu-lhes a paz em todas as fronteiras. Muitos levaram a Jerusalém oferendas para o Senhor e ricos presentes para Ezequias, rei de Judá, que, desde então, conquistou grande prestígio aos olhos de todos os povos estrangeiros. Por aqueles dias, Ezequias contraiu uma doença mortal. Orou ao Senhor, que lhe respondeu e o curou milagrosamente. Mas Ezequias não correspondeu ao benefício recebido do Senhor, porque se orgulhou em seu coração; por isso, a ira do Senhor inflamou-se contra ele e contra Judá e Jerusalém. Contudo, apesar deste orgulho do seu coração, humilhou-se, depois, com os habitantes de Jerusalém, e o Senhor não descarregou sobre eles a sua ira enquanto Ezequias viveu. Ezequias teve muitas riquezas e glória, e juntou tesouros de prata, ouro, pedras preciosas, aromas, escudos e objectos de valor. Mandou fazer depósitos para armazenar o trigo, o vinho e o azeite, estábulos para toda a espécie de gado e apriscos para os rebanhos. Construiu cidades para si, porque tinha ovelhas e bois em grande abundância, pois Deus dera-lhe imensas riquezas. Foi Ezequias quem fechou a saída superior das águas da fonte de Guion, e as dirigiu, por um canal subterrâneo para a parte ocidental da cidade de David. Ezequias teve êxito em todos os seus empreendimentos. Todavia, quando os chefes da Babilónia lhe enviaram mensagens para se informar do prodígio que acontecera no país, Deus abandonou-o para provar e conhecer o interior do seu coração. Os outros actos de Ezequias, as suas obras de misericórdia, tudo isso está escrito na visão do profeta Isaías, filho de Amós, e no Livro dos Reis de Judá e de Israel*. Ezequias adormeceu com os seus pais e foi sepultado na subida que conduz aos sepulcros dos descendentes de David. Todo o Judá e os habitantes de Jerusalém celebraram com grande pompa as suas exéquias. Seu filho Manassés sucedeu-lhe no trono. Manassés tinha doze anos quando começou a reinar. Reinou cinquenta e cinco anos em Jerusalém. Praticou o mal aos olhos do Senhor, imitando as abomináveis práticas das nações que o Senhor expulsava diante dos israelitas. Reconstruiu os lugares altos, que seu pai Ezequias destruíra, erigiu altares ao deus Baal, mandou fazer troncos sagrados e prostrou-se em adoração diante dos astros do céu, prestando-lhes culto. Edificou mesmo altares no templo do Senhor, do qual Ele próprio dissera: «O meu nome residirá para sempre em Jerusalém.» Erigiu altares para todo o exército celeste nos dois átrios do templo. Fez passar pelo fogo os seus próprios filhos no vale de Ben-Hinom. Entregou-se à astrologia, à adivinhação e à magia, praticou a invocação dos mortos e a bruxaria e cometeu acções que desagradavam ao Senhor, provocando a sua indignação. Colocou também um ídolo esculpido no templo de Deus, do qual Ele dissera a David e ao seu filho Salomão: «Neste templo e em Jerusalém, que escolhi entre todas as tribos de Israel, farei residir o meu nome para sempre. E não mais conduzirei os passos de Israel para longe da terra que dei a seus pais, desde que guardem e cumpram tudo quanto lhes ordenei por intermédio do meu servo Moisés: a Lei, os preceitos e os decretos que lhes prescrevi.» Mas Manassés desencaminhou Judá e os habitantes de Jerusalém a ponto de fazerem maiores males que todas as nações que o Senhor aniquilara diante dos israelitas. O Senhor falou a Manassés e ao seu povo, mas eles não lhe prestaram atenção. O Senhor mandou então vir contra ele os generais do exército do rei da Assíria. Prenderam Manassés com arpões, ataram-no com grilhões e conduziram-no para a Babilónia. Na sua angústia, orou ao Senhor, seu Deus, e humilhou-se profundamente diante do Deus de seus pais. O rei dirigiu-lhe uma prece e Ele ouviu a sua oração, reconduzindo-o a Jerusalém e ao seu trono. Manassés reconheceu, desse modo, que só o Senhor é o verdadeiro Deus. Depois disto, construiu um muro exterior à cidade de David, a oeste de Guion, no vale que ia até à entrada da porta dos Peixes e rodeava Ofel. Era muito alto. Colocou, também, chefes militares em todas as cidades fortificadas de Judá. Fez desaparecer do templo do Senhor os deuses estrangeiros, o ídolo e todos os altares que construíra sobre a montanha do templo e em Jerusalém. Lançou-os para fora da cidade. Reconstruiu o altar do Senhor e ofereceu sobre ele vítimas e sacrifícios de comunhão e de louvor. Ordenou a Judá que servisse ao Senhor, Deus de Israel. No entanto, o povo continuava ainda a sacrificar nos lugares altos, mas somente em honra do Senhor, seu Deus. O resto dos actos de Manassés, a oração que dirigiu ao seu Deus e as palavras dos videntes que lhe falaram em nome do Senhor, Deus de Israel, tudo isto está escrito nas Crónicas dos Reis de Israel*. A sua oração, a maneira como foi atendido, as suas faltas, a sua infidelidade, os sítios onde edificou os lugares altos e onde erigiu os troncos sagrados assim como os ídolos, antes de se ter arrependido, tudo isto está escrito nas Actas dos Videntes*. Manassés adormeceu com os seus pais e foi sepultado na sua casa. Seu filho Amon sucedeu-lhe no trono. Amon tinha a idade de vinte e dois anos quando começou a reinar. Reinou dois anos em Jerusalém. Praticou o mal aos olhos do Senhor, como seu pai Manassés. Amon ofereceu sacrifícios e prestou culto a todos os ídolos que seu pai Manassés tinha feito. Mas não se humilhou diante do Senhor como seu pai Manassés; pelo contrário, cometeu delitos muito maiores. Os seus servos conjuraram-se contra ele e mataram-no na sua própria casa. Mas o povo castigou, com a morte, todos os que tinham conspirado contra o rei Amon e, em lugar dele, proclamou rei seu filho Josias. Josias tinha oito anos quando começou a reinar e reinou trinta e um anos em Jerusalém. Praticou o que é recto aos olhos do Senhor, seguiu as pegadas de David, seu pai, sem se afastar nem para a direita nem para a esquerda. No oitavo ano do seu reinado, sendo ainda muito jovem, começou a seguir o Deus de David, seu pai, e, no décimo segundo ano, começou a purificar Judá e Jerusalém dos lugares altos, dos troncos sagrados e dos ídolos de madeira ou de metal. Demoliram, na sua presença, os altares portáteis de Baal; ele próprio despedaçou os altares de incenso que estavam sobre os altares. Destruiu os troncos sagrados, os ídolos de madeira ou de metal, reduzindo-os a pó, que espalhou sobre os túmulos dos que lhes tinham oferecido sacrifícios; queimou os ossos dos sacerdotes sobre os seus altares. Assim, purificou Judá e Jerusalém. Fez o mesmo nas cidades de Manassés, de Efraim e Simeão e até mesmo de Neftali e nos territórios vizinhos; demoliu os altares, os troncos sagrados e os ídolos, reduzindo-os a pó, e destruiu todos os altares portáteis de incenso por todo o país de Israel. Depois regressou a Jerusalém. No décimo oitavo ano do seu reinado, após ter purificado o país e o templo, o rei enviou Chafan, filho de Asalias, Massaías, governador da cidade, e o arquivista Joá, filho de Joacaz, para cuidarem da restauração do templo do Senhor, seu Deus. Apresentaram-se ao Sumo Sacerdote Hilquias e entregaram o dinheiro trazido ao templo de Deus, que os levitas porteiros haviam recolhido de Manassés, de Efraim e de todo o resto de Israel, assim como de Judá, de Benjamim e dos habitantes de Jerusalém. Entregaram este dinheiro aos empreiteiros e encarregados dos trabalhos do templo do Senhor. Entregaram-no para todas as obras de reparação e de restauração do templo. Estes entregaram-no aos carpinteiros e aos pedreiros para a compra de pedras de cantaria, madeiras de carpintaria e traves destinadas às construções que os reis de Judá deixaram cair em ruínas. Esses homens cumpriram fielmente a sua tarefa. Como inspectores, e para os dirigir, tinham Jaat e Abdias, levitas da linhagem de Merari, Zacarias e Mechulam, da linhagem de Queat, todos eles levitas hábeis em tocar instrumentos de música. Vigiavam os carregadores e dirigiam todos os trabalhadores, segundo a sua profissão. Havia ainda levitas que eram secretários, comissários e porteiros. No momento em que se retirava o dinheiro que tinha sido levado ao templo do Senhor, o sacerdote Hilquias descobriu o livro da Lei do Senhor, dada por Moisés. Disse então Hilquias ao escriba Chafan: «Encontrei o livro da Lei no templo do Senhor.» E entregou-o a Chafan. O escriba Chafan levou-o ao rei e fez-lhe o seguinte relato: «Os teus servos fizeram tudo o que lhes confiaste: fundiram a prata encontrada no templo do Senhor e entregaram-na aos encarregados e aos empreiteiros dos trabalhos.» O escriba Chafan disse ainda ao rei: «O sacerdote Hilquias entregou-me este livro.» E começou a ler o livro na presença do rei. Ao escutar as palavras da Lei, o rei rasgou as suas vestes. Em seguida, deu esta ordem a Hilquias, a Aicam, filho de Chafan, a Abdon, filho de Mica, ao escriba Chafan e ao funcionário real Asaías: «Ide e consultai o Senhor em meu nome e em nome do resto de Israel e de Judá, a respeito das palavras deste livro acabado de encontrar, porque grande é a ira do Senhor que se irá desencadear sobre nós, pois os nossos pais não observaram a palavra do Senhor nem cumpriram tudo o que está escrito neste livro.» Hilquias e aqueles que o rei designara foram ter com a profetisa Hulda, mulher de Chalum, filho de Toqueat, filho de Hasra, guarda do vestiário, a qual habitava em Jerusalém, na cidade nova. Disseram-lhe o que tinha acontecido. Ela respondeu-lhes: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Dizei àquele que vos enviou a mim: ‘Isto diz o Senhor, Vou enviar sobre este lugar e sobre os seus habitantes todas as calamidades, todas as maldições escritas neste livro, que foi lido na presença do rei de Judá. Já que eles me abandonaram e ofereceram incenso a outros deuses, irritando-me com todas as obras das suas mãos, o meu furor vai inflamar-se contra este lugar e jamais cessará. Mas ao rei de Judá que vos enviou a consultar o Senhor, direis: Isto diz o Senhor, Deus de Israel, a respeito das palavras que ouviste: Porque o teu coração se comoveu e te humilhaste diante de Deus ao ouvires o que está escrito contra este lugar e os seus habitantes e, tremendo diante de mim, rasgaste as tuas vestes e choraste na minha presença, também Eu te ouvirei, diz o Senhor. Vou reunir-te aos teus pais: serás depositado em paz no teu sepulcro; os teus olhos nada verão da catástrofe que vou enviar sobre este lugar e sobre os seus habitantes.’» E vieram referir ao rei tudo quanto ouviram. Então o rei Josias convocou todos os anciãos de Judá e de Jerusalém. Depois, ele próprio subiu ao templo do Senhor seguido pelos homens de Judá e habitantes de Jerusalém, pelos sacerdotes, pelos levitas e por todo o povo, desde o maior ao menor. Proclamou-lhes integralmente as palavras do livro da aliança, encontrado no templo do Senhor. Pondo-se de pé sobre um estrado, o rei fez uma aliança na presença do Senhor, segundo a qual se comprometia a seguir o Senhor, a guardar os seus mandamentos, as suas ordens e os seus preceitos, de todo o seu coração e com toda a sua alma, cumprindo todas as palavras da aliança escritas nesse livro. Fez com que entrassem nessa aliança todos os que se encontravam em Jerusalém e Benjamim; e os habitantes de Jerusalém agiram segundo a aliança de Deus, Deus de seus pais. Deste modo, Josias fez desaparecer as abominações de todos os países dos filhos de Israel e obrigou todos os que se encontravam em Israel a servirem o Senhor, seu Deus. Enquanto viveu, não se afastaram do Senhor, Deus dos seus pais. Josias celebrou em Jerusalém a Páscoa do Senhor. Imolaram esta Páscoa no décimo quarto dia do primeiro mês. Restabeleceu os sacerdotes nas suas funções e animou-os a cumprirem o seu ministério no templo do Senhor. Disse aos levitas que instruíam todo o Israel e que estavam consagrados ao Senhor: «Depositai a Arca santa no templo construído por Salomão, filho de David, rei de Israel. Não mais tereis de a transportar sobre os vossos ombros. Agora permanecereis ao serviço do Senhor, vosso Deus, e do seu povo de Israel. Organizai-vos segundo a ordem das vossas famílias e das vossas classes, conforme as prescrições de David, rei de Israel, e de Salomão, seu filho. Ocupai os vossos lugares no santuário, por turnos, ao serviço das famílias patriarcais e de vossos irmãos: um turno de levitas para cada família patriarcal. Imolareis a Páscoa e santificar-vos-eis, a fim de a preparar para os vossos irmãos, conforme a palavra do Senhor transmitida por Moisés.» Josias deu ao povo, a todos quantos ali se encontravam, gado miúdo, cordeiros e cabritos em número de trinta mil, tudo para a Páscoa, e acrescentou três mil bois, tudo tirado do património real. Os funcionários do rei deram também, espontaneamente, presentes ao povo, aos sacerdotes e aos levitas. Hilquias, Zacarias e Jaiel, prefeitos do templo de Deus, deram aos sacerdotes, para a Páscoa, dois mil e seiscentos cordeiros e trezentos bois. Cananias, Chemaías e Natanael, seus irmãos, Hasabias, Jeiel e Jozabad, chefes dos levitas, deram aos levitas, para a Páscoa, cinco mil cordeiros e quinhentos bois. O serviço foi preparado do seguinte modo: os sacerdotes tomaram o seu lugar e os levitas as suas funções, segundo a ordem que o rei determinara. Imolaram o cordeiro pascal: os sacerdotes derramavam o sangue que recebiam das mãos dos levitas, enquanto estes esfolavam as vítimas. Puseram à parte os holocaustos para os dar aos grupos das famílias do povo, para que os oferecessem ao Senhor, como está prescrito no livro de Moisés. Fizeram o mesmo com os bois. De acordo com o rito prescrito, assaram o cordeiro pascal no fogo. Cozeram as oferendas consagradas em panelas, caldeirões e sertãs e depois distribuíram-nas a todo o povo. Em seguida prepararam tudo para si e para os sacerdotes, pois os sacerdotes, filhos de Aarão, estiveram ocupados até à noite em oferecer os holocaustos e as gorduras; por isso, os levitas prepararam as carnes para si mesmos e para os sacerdotes, filhos de Aarão. Os cantores, filhos de Asaf, estavam no seu posto, segundo as disposições de David, de Asaf, de Heman e de Jedutun, vidente do rei. Os porteiros estavam cada um na sua porta; não precisaram de abandonar o seu posto, porque os seus irmãos, os levitas, prepararam tudo para eles. Assim se organizou naquele dia todo o serviço do Senhor segundo a ordem do rei Josias, para celebrar a Páscoa e oferecer os holocaustos no altar do Senhor. Os filhos de Israel ali presentes celebraram naquela data a Páscoa e a festa dos Ázimos, durante sete dias. Nenhuma Páscoa semelhante a esta fora celebrada em Israel, desde o tempo do profeta Samuel; nenhum rei de Israel celebrara uma Páscoa semelhante àquela que celebraram Josias, os sacerdotes e os levitas, com todos os de Judá e Israel ali presentes e os habitantes de Jerusalém. Foi no décimo oitavo ano do reinado de Josias que se celebrou esta Páscoa. Depois de tudo isto e da reparação do templo feita por Josias, Necao, rei do Egipto, marchou sobre Carquémis, pelo Eufrates, com uma expedição militar. Josias saiu-lhe ao encontro. Necao enviou-lhe mensageiros para lhe dizer: «Não tenho nada a ver contigo, rei de Judá! Hoje não venho contra ti, mas contra uma dinastia com a qual estou em guerra. E Deus disse-me que me apressasse. Não te oponhas a Deus, que está comigo, pois Ele deitar-te-á a perder.» Mas Josias não quis voltar atrás, porque procurava uma ocasião para o atacar. Longe de escutar as palavras de Necao, vindas da boca de Deus, atacou-o na passagem de Meguido. Os arqueiros dispararam sobre o rei Josias, e o rei disse aos seus soldados: «Levai-me, porque estou gravemente ferido.» Eles tiraram-no do seu carro, colocaram-no num outro que ali havia e levaram-no para Jerusalém. Morreu e foi sepultado no sepulcro de seus pais. Josias foi chorado por todos os habitantes de Judá e Jerusalém. Jeremias compôs uma lamentação fúnebre sobre Josias. Todos os cantores e cantoras repetem ainda hoje as suas lamentações; isto tornou-se lei para Israel. Estes cantos fúnebres estão escritos nas Lamentações*. Os outros actos de Josias, as suas boas obras, segundo o que está escrito na Lei do Senhor, os seus feitos e façanhas, dos primeiros aos últimos, tudo isso está escrito no Livro dos Reis de Israel e de Judá*. Então o povo do país elegeu Joacaz, filho de Josias, e proclamou-o rei em Jerusalém, em lugar de seu pai. Joacaz tinha a idade de vinte e três anos quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. O rei do Egipto destronou-o em Jerusalém e impôs ao país um tributo de cem talentos de prata e um talento de ouro. Em seu lugar, Necao pôs no trono de Judá e Jerusalém Eliaquim, seu irmão, a quem mudou o nome para Joaquim. E levou consigo para o Egipto o seu irmão Joacaz. Joaquim tinha vinte e cinco anos quando foi elevado ao trono; reinou onze anos em Jerusalém. Praticou o mal aos olhos do Senhor, seu Deus. Nabucodonosor, rei da Babilónia, atacou-o, prendeu-o com cadeias de bronze e levou-o para a Babilónia. Nabucodonosor levou, juntamente com ele, os objectos do templo do Senhor para o seu palácio da Babilónia. O resto da história de Joaquim, as suas abominações, tudo o que o tornou culpado, está escrito no Livro dos Reis de Judá e Israel*. Seu filho Joiaquin sucedeu-lhe no trono. Joiaquin tinha oito anos quando começou a reinar e reinou três meses e dez dias em Jerusalém. Praticou o mal aos olhos do Senhor. No fim do ano, o rei Nabucodonosor enviou uma expedição a fim de o levar para a Babilónia com os objectos preciosos do templo do Senhor. E proclamou rei de Judá e de Jerusalém Sedecias, seu parente. Sedecias tinha vinte e um anos quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém. Praticou o mal aos olhos do Senhor, seu Deus, e não se humilhou diante do profeta Jeremias que lhe viera falar da parte do Senhor. Revoltou-se mesmo contra o rei Nabucodonosor, ao qual jurara fidelidade em nome de Deus. Endureceu a sua cerviz, tornou inflexível o seu coração e não se converteu ao Senhor, Deus de Israel. Todos os chefes dos sacerdotes e o povo continuaram a multiplicar as suas prevaricações, imitando as práticas abomináveis das nações, e profanaram o templo que o Senhor consagrara em Jerusalém. O Senhor, Deus de seus pais, enviou-lhes constantemente advertências por meio de mensageiros, para os admoestar, pois queria perdoar ao seu povo e à sua própria casa. Eles, porém, escarneceram dos seus conselhos e riram-se dos seus profetas, até que a ira do Senhor caiu sem remédio sobre o seu povo. Então, Deus enviou contra eles o rei dos caldeus, que mandou matar os jovens no próprio santuário, não poupando adolescentes, nem donzelas nem anciãos. O Senhor entregou tudo nas suas mãos. Nabucodonosor tirou todo o mobiliário do templo de Deus, os objectos grandes e pequenos, os tesouros do templo do Senhor, do palácio real e dos chefes, e levou-os para a Babilónia. Incendiaram o templo de Deus, destruíram as muralhas de Jerusalém, queimaram os seus palácios e todos os tesouros foram destruídos. Nabucodonosor levou cativos para a Babilónia todos os que escaparam à espada, e teve-os ali como escravos, dele e de seus filhos, até ao começo da dominação persa. Assim se cumpriu a profecia que o Senhor pronunciara pela boca de Jeremias: «Até que o país desfrute dos seus anos sabáticos – pois o país ficou inculto durante todo este período de desolação – até se completarem os setenta anos.» No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a promessa do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor agiu sobre o espírito de Ciro, rei da Pérsia, que mandou publicar em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação: «Assim fala Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus do céu, deu-me todos os reinos da terra e encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, cidade de Judá. Quem de vós pertence ao seu povo? Que o Senhor, seu Deus, esteja com ele e se ponha a caminho.» No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor pronunciada por Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da Pérsia, o qual mandou publicar em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, o seguinte decreto: «Assim fala Ciro, rei da Pérsia: ‘O Senhor, Deus do Céu, deu-me todos os reinos da terra e encarregou-me de lhe construir um templo em Jerusalém, cidade de Judá. Quem de vós pertence ao seu povo? Que o seu Deus esteja com ele. Suba a Jerusalém, que fica na terra de Judá, e construa o templo do Senhor, Deus de Israel, o Deus que reside em Jerusalém. Todos os sobreviventes, onde quer que habitem, sejam providos – pelos habitantes das localidades onde se encontram – de prata, ouro, cereais, gado e ofertas voluntárias para o templo do Deus que reside em Jerusalém.’» Assim, os chefes das famílias de Judá e de Benjamim, os sacerdotes e levitas e todos aqueles a quem Deus movera os corações, prepararam-se para ir reedificar o templo do Senhor que está em Jerusalém. Todos os que viviam nas redondezas ajudaram-nos, dando-lhes prata, ouro, bens diversos, gado, cereais e coisas preciosas, além de outras ofertas voluntárias. O rei Ciro entregou, também, os utensílios que Nabucodonosor tinha retirado do templo do Senhor em Jerusalém e colocado no templo do seu deus. Ciro, rei da Pérsia, entregou-lhos por meio de Mitrídates, o tesoureiro, que os deu a Sesbaçar, príncipe de Judá. Eis o seu número: trinta bacias de ouro, mil bacias de prata, vinte e nove facas, trinta taças de ouro, quatrocentas e dez taças de prata e mil outros utensílios. Os utensílios de ouro e prata eram ao todo em número de cinco mil e quatrocentos. Sesbaçar levou tudo isso quando os exilados regressaram da Babilónia a Jerusalém. De entre os cativos que Nabucodonosor, rei da Babilónia, deportara para a Babilónia, são os seguintes os cidadãos da província que se puseram a caminho, para regressar a Jerusalém e à Judeia, cada um à sua cidade. Voltaram com Zorobabel, Jesua, Neemias, Seraías, Raelaías, Mardoqueu, Bilchan, Mispar, Bigvai, Reum e Baana. Número dos homens do povo de Israel: filhos de Parós: dois mil cento e setenta e dois; filhos de Chefatias: trezentos e setenta e dois; filhos de Ara: setecentos e setenta e cinco; filhos de Paat-Moab, da descendência de Jesua e Joab: dois mil oitocentos e doze; filhos de Elam: mil duzentos e cinquenta e quatro; filhos de Zatú: novecentos e quarenta e cinco; filhos de Zacai: setecentos e sessenta; filhos de Bani: seiscentos e quarenta e dois; filhos de Bebai: seiscentos e vinte e três; filhos de Azegad: mil duzentos e vinte e dois; filhos de Adonicam: seiscentos e sessenta e seis; filhos de Bigvai: dois mil e cinquenta e seis; filhos de Adin: quatrocentos e cinquenta e quatro; filhos de Ater, da família de Ezequias: noventa e oito; filhos de Beçai: trezentos e vinte e três; filhos de Jora: cento e doze; filhos de Hachum: duzentos e vinte e três; filhos de Guibar: noventa e cinco; filhos de Belém: cento e vinte e três; homens de Netofa: cinquenta e seis; homens de Anatot: cento e vinte e oito; filhos de Azemávet: quarenta e dois; filhos de Quiriat-Iarim, de Cafira e de Beerot: setecentos e quarenta e três; filhos de Ramá e de Gaba: seiscentos e vinte e um; homens de Micmás: cento e vinte e dois; homens de Betel e de Ai: duzentos e vinte e três; filhos de Nebo: cinquenta e dois; filhos de Magbis: cento e cinquenta e seis; filhos do outro Elam: mil duzentos e cinquenta e quatro; filhos de Harim: trezentos e vinte; filhos de Lod, de Hadid e de Ono: setecentos e vinte e cinco; filhos de Jericó: trezentos e quarenta e cinco; filhos de Senaá: três mil seiscentos e trinta. Sacerdotes*, filhos de Jedaías, da casa de Jesua: novecentos e setenta e três; filhos de Imer: mil e cinquenta e dois; filhos de Pachiur: mil duzentos e quarenta e sete; filhos de Harim: mil e dezassete. Levitas*, filhos de Jesua e de Cadmiel, descendentes de Hodavias: setenta e quatro. Cantores*, filhos de Asaf: cento e vinte e oito. Porteiros*, filhos de Chalum, filhos de Ater, filhos de Talmon, filhos de Acub, filhos de Hatita, filhos de Chobai: ao todo, cento e trinta e nove. Natineus*, filhos de Sia, filhos de Hassufa, filhos de Tabaot; filhos de Querós, filhos de Siá, filhos de Padon; filhos de Lebana, filhos de Hagaba, filhos de Acub; filhos de Hagab, filhos de Salmai, filhos de Hanan; filhos de Guidel, filhos de Gaar, filhos de Reaías; filhos de Recin, filhos de Necoda, filhos de Gazam; filhos de Uzá, filhos de Passea, filhos de Besai, filhos de Asená, filhos de Meunim, filhos de Nefussim; filhos de Bacbuc, filhos de Hacufa, filhos de Harur, filhos de Bacelut, filhos de Maída, filhos de Harsa, filhos de Barcos, filhos de Sísera, filhos de Temá; filhos de Necia, filhos de Hatifa. Os filhos dos escravos de Salomão: filhos de Sotai, filhos de Soféret, filhos de Perudá; filhos de Jaala, filhos de Darcon, filhos de Guidel, filhos de Chefatias, filhos de Hatil, filhos de Poquéret-Hacebaim, filhos de Ami. Total dos natineus e dos filhos dos escravos de Salomão: trezentos e noventa e dois. Estes são os que partiram de Tel-Mela, de Tel-Harcha, de Querub-Adon e de Imer, dos quais não se pode saber se pertenciam ao povo de Israel pela família ou raça de que descendiam: filhos de Delaías, filhos de Tobias, filhos de Necoda: seiscentos e cinquenta e dois. E entre os sacerdotes: filhos de Habaías, filhos de Hacós, filhos de Barzilai, assim chamado por ter tomado por esposa uma das filhas de Barzilai de Guilead. Eles procuraram esclarecer a sua genealogia, mas não a puderam encontrar, pelo que foram excluídos do sacerdócio. O governador proibiu-os de comer coisas sagradas, até encontrarem um sacerdote que consultasse a Deus, mediante os dados sagrados. O total do povo reunido era de quarenta e duas mil trezentas e sessenta pessoas, sem contar os escravos e as escravas, em número de sete mil trezentos e trinta e sete. Tinham consigo, também, duzentos cantores e cantoras. Levavam setecentos e trinta e seis cavalos, duzentos e quarenta e cinco mulas, quatrocentos e trinta e cinco camelos e seis mil setecentos e vinte jumentos. Vários chefes de família, ao chegarem ao templo do Senhor, fizeram ofertas voluntárias para a restauração do templo de Deus. Contribuíram para os tesouros da construção, cada um segundo as suas posses, com sessenta e um mil dáricos de ouro, cinco mil minas de prata e cem vestes sacerdotais. Os sacerdotes, os levitas, as pessoas do povo, os cantores, os porteiros e os natineus estabeleceram-se nas suas respectivas cidades. E todos os israelitas habitaram cada um na sua cidade. Quando chegou o sétimo mês, todos os filhos de Israel, que estavam nas suas cidades, reuniram-se em Jerusalém, como se fossem um só homem. Então, Jesua, filho de Jocédec, e os seus irmãos sacerdotes, bem como Zorobabel, filho de Salatiel, e os seus irmãos principiaram a reconstrução do altar do Deus de Israel e ofereceram holocaustos, como prescrevia a lei de Moisés, homem de Deus. Reconstruíram o altar sobre as antigas bases, apesar do medo que tinham dos povos circunvizinhos, e ofereceram holocaustos ao Senhor de manhã e de tarde. Celebraram a festa das Tendas, como está prescrito, e ofereceram holocaustos quotidianamente, conforme o número prescrito para cada dia. Depois, ofereceram o holocausto perpétuo, o da Lua-nova e de todas as solenidades consagradas ao Senhor, assim como os daqueles que faziam ofertas voluntárias ao Senhor. No primeiro dia do sétimo mês, começaram a oferecer holocaustos ao Senhor, mas os fundamentos do templo do Senhor não estavam ainda lançados. Foram, então, contratados canteiros e carpinteiros, aos quais deram dinheiro; e aos habitantes de Sídon e de Tiro deram víveres, azeite e vinho, para que trouxessem por mar a madeira dos cedros, desde o Líbano até Jope, segundo a autorização que lhes dera Ciro, rei da Pérsia. No segundo ano da sua chegada ao templo de Deus em Jerusalém, no segundo mês, Zorobabel, filho de Salatiel, e Jesua, filho de Jocédec, com os seus irmãos, os sacerdotes, os levitas e todos os que tinham regressado do cativeiro a Jerusalém, puseram-se a trabalhar e estabeleceram os levitas, de vinte anos para cima, como encarregados da direcção dos trabalhos do templo do Senhor. Jesua, com os seus irmãos e filhos, Cadmiel, Binui e Hodavias, como se fossem um só homem, dirigiam os que trabalhavam na construção do templo de Deus; o mesmo fizeram os filhos de Henadad, com seus filhos e irmãos, que eram levitas. Logo que os pedreiros lançaram os fundamentos do templo do Senhor, apresentaram-se os sacerdotes ornamentados, para assistir à cerimónia, com as trombetas, e os levitas, filhos de Asaf, com os címbalos, para louvar o Senhor, segundo as ordens de David, rei de Israel. Entoaram ao Senhor este cântico de louvor: « Porque Ele é bom e o seu amor para com Israel é eterno!* » E todo o povo soltou exclamações de alegria para celebrar o Senhor, por ocasião do lançamento dos alicerces do seu templo. E, enquanto muitos gritavam jubilosos de alegria, alguns sacerdotes, levitas e chefes de família já idosos, que tinham visto o primeiro templo, choravam em voz alta, ao presenciar o lançamento dos alicerces do novo edifício. Era impossível distinguir os gritos de alegria dos clamores daqueles que choravam, pois todo o povo gritava em altos brados, e o eco das suas vozes podia ouvir-se de muito longe. Os inimigos de Judá e de Benjamim, ao saber que os repatriados estavam a construir um templo ao Senhor, Deus de Israel, foram procurar Zorobabel e os chefes de família e disseram-lhes: «Deixai-nos construir convosco, porque, como vós, honramos também o vosso Deus e oferecemos-lhe sacrifícios, desde que Assaradon, rei de Assíria, nos trouxe para aqui.» Mas Zorobabel, Jesua e os outros chefes das famílias de Israel responderam-lhes: «Não é conveniente que nós e vós construamos em conjunto a morada do nosso Deus: somente nós havemos de construí-la ao Senhor, Deus de Israel, como nos ordenou Ciro, rei da Pérsia.» Disto resultou que os homens daquela terra intimidavam e inquietavam o povo de Judá para que não trabalhasse. Subornaram contra eles alguns conselheiros para que frustrassem a sua obra. Isto durou desde o reinado de Ciro até ao de Dario, reis da Pérsia. No reinado de Assuero, logo no início do seu governo, escreveram uma carta de acusação contra os habitantes de Judá e de Jerusalém. Depois, no tempo de Artaxerxes, Bislam, Mitrídates, Tabiel e os seus colegas escreveram ao mesmo Artaxerxes, rei da Pérsia. A carta foi escrita em caracteres aramaicos e traduzida em aramaico. Reum, governador, e o secretário Chimechai escreveram a Artaxerxes, a respeito de Jerusalém, uma carta que continha o seguinte: «Reum, governador, Chimechai, secretário, e os seus colegas de Din, de Afarsatac, de Terfal, de Afarsa, de Ercua, de Babilónia, de Susa, de Dea, do Elam e os outros povos que o grande e ilustre Asnapar trouxe consigo e instalou em paz na localidade de Samaria e nas outras regiões da outra margem do rio.» Eis a cópia da carta que enviaram a Artaxerxes: «Os teus servos, os povos da outra margem do rio, saúdam-te. Saiba o rei que os judeus que partiram do teu país para vir para o meio de nós, para Jerusalém, reconstroem esta cidade má e rebelde, levantando os muros e restaurando-lhe os fundamentos. Saiba também o rei que, se esta cidade for reconstruída e os seus muros levantados, os seus habitantes não pagarão mais impostos nem tributos nem rendas, o que será causa de prejuízo para os reis. Nós, porém, tendo em vista o sal que comemos no teu palácio e não achando conveniente ver menosprezado o rei, transmitimos-te estas informações, para que mandes consultar os livros de registo dos teus pais. Aí verás como esta cidade é uma cidade rebelde, funesta aos reis e às suas províncias, e como já nos antigos tempos se deram nela rebeliões. Por isso foi destruída. Nós fazemos saber ao rei que, se esta cidade for reconstruída e levantados os seus muros, não poderás mais conservar as tuas possessões do outro lado do rio.» Eis a resposta que o rei mandou: «Ao governador Reum e ao secretário Chimechai e aos seus outros colegas, habitantes da Samaria e das outras regiões, na outra margem do rio: Saúde e paz. A carta que nos enviastes foi lida com exactidão na minha presença. Por minha ordem, fizeram-se investigações e constatou-se que, desde os tempos mais antigos, aquela cidade se sublevou contra os reis e que nela se deram sedições e revoltas. Houve em Jerusalém reis poderosos, senhores de todo o país da outra margem do rio, aos quais se pagavam impostos, tributos e rendas. Consequentemente, ordeno que cessem os trabalhos dessa gente, a fim de que não se reconstrua essa cidade, até que eu dê ordens em contrário. Não negligencieis o cumprimento desta ordem, para que o mal não aumente, em prejuízo dos reis.» Quando leram a carta do rei Artaxerxes na presença de Reum, governador, de Chimechai, secretário, e dos seus colegas, eles foram a toda a pressa a Jerusalém, junto dos judeus, e obrigaram-nos, pela força e pela violência, a cessarem os trabalhos. A restauração do templo de Deus em Jerusalém foi interrompida até ao segundo ano do reinado de Dario, rei da Pérsia. O profeta Ageu e o profeta Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém, em nome do Deus de Israel. Então, Zorobabel, filho de Salatiel, e Jesua, filho de Jocédec, retomaram a reconstrução do templo de Deus em Jerusalém, com a ajuda e assistência dos profetas de Deus. Naquele tempo, Tatenai, governador da outra margem do rio, Chetar-Bozenai e os seus colegas vieram procurá-los e falaram-lhes assim: «Quem vos autorizou a reconstruir o templo e a levantar as suas paredes?» E acrescentaram: «Quais são os nomes dos homens que trabalham neste edifício?» Mas Deus tinha os olhos sobre os anciãos dos judeus, e ninguém lhes impediu a continuação dos trabalhos, esperando que chegasse a resposta escrita de Dario sobre este assunto. Cópia da carta que enviaram ao rei Dario o governador Tatenai, da outra margem do rio, Chetar-Bozenai e os seus colegas de Afarsac, que também viviam na outra margem do rio. Enviaram-lhe um relatório nestes termos: «Ao rei Dario, saúde e prosperidade perfeita! Saiba o rei que fomos à província de Judá, ao templo do grande Deus. Ele está a ser reconstruído com pedras enormes, e o madeiramento está colocado sobre as paredes. Este trabalho está a ser executado com cuidado e cresce graças às suas mãos. Por isso, interrogámos os anciãos: ‘Quem vos autorizou a reconstruir este templo e a levantar-lhe os muros?’ Perguntámos-lhes, também, os seus nomes para os escrever aqui, a fim de te dar conhecimento, pelo menos dos que estão à frente deles. Responderam-nos: “Nós somos servos do Deus do céu e da terra; estamos a reconstruir o templo que há muitos anos fora construído e concluído por um grande rei de Israel. Mas os nossos pais atraíram a ira do Deus do céu, que os entregou nas mãos do caldeu Nabucodonosor, rei da Babilónia, que destruiu o templo e levou o povo cativo para Babilónia. Entretanto, no primeiro ano de Ciro, rei da Babilónia, o rei Ciro ordenou a reconstrução deste templo de Deus. E o próprio rei Ciro retirou do templo da Babilónia os utensílios de ouro e prata pertencentes ao templo de Deus, que Nabucodonosor roubara no santuário de Jerusalém e transferira para o templo da Babilónia, e entregou-os a Sesbaçar, que ele nomeou governador. E disse-lhe: ‘Toma estes utensílios, leva-os para o templo de Jerusalém, e que o templo de Deus seja reconstruído sobre os seus alicerces.’ Então, Sesbaçar veio para aqui e lançou os fundamentos do templo de Deus em Jerusalém; desde esse tempo até agora, nós temos continuado a construção, que ainda não está terminada.” Portanto, se o rei acha conveniente que se façam investigações nos arquivos do rei, na Babilónia, para ver se é verdade que a ordem de reconstrução do templo de Deus, em Jerusalém, foi dada pelo rei Ciro, que o faça e, depois, comunique-nos a sua real decisão a tal respeito.» Então, o rei Dario emitiu um decreto com ordens para que se fizessem investigações na Babilónia, na casa dos arquivos onde estavam depositados os tesouros. E encontrou-se em Ecbátana, fortaleza situada na província da Média, um volume, no qual se lia a seguinte memória: «No primeiro ano do reinado de Ciro, o rei Ciro deu esta ordem relativa ao templo de Deus, que está situado em Jerusalém: Este templo deve ser reconstruído, a fim de que ali se ofereçam sacrifícios; os seus fundamentos devem ser restaurados. A sua altura será de sessenta côvados. Terá três ordens de pedra talhada e uma de madeira. A despesa será paga pela casa do rei. Além disso, devolveremos os utensílios de ouro e prata do templo de Deus, que Nabucodonosor trouxe do templo de Jerusalém para a Babilónia; serão repostos no templo de Jerusalém, no mesmo lugar em que estavam, e depositados no templo de Deus. Agora, pois, Tatenai, governador do território da outra margem do rio, Chetar-Bozenai e os vossos colegas de Afarsac, que estais na outra margem do rio, afastai-vos. Deixai continuar os trabalhos do templo de Deus e que o governador dos judeus e seus anciãos o reconstruam no seu lugar. Também ordeno como se deve proceder para com esses anciãos dos judeus a fim de que seja reconstruído o templo de Deus: das receitas reais, provenientes dos impostos, pagos na outra margem do rio, pague-se integralmente a esses homens, para que a obra não sofra interrupção; tudo aquilo que for necessário para os holocaustos do Deus do céu, novilhos, carneiros e cordeiros, trigo, sal, azeite e vinho, ser-lhes-á dado cada dia, sem falta, segundo a ordem dos sacerdotes que estão em Jerusalém, a fim de poderem oferecer sacrifícios de odor agradável ao Deus do céu e de rezarem pela vida do rei e dos seus filhos. Eu, pois, ordeno que, se alguém modificar, seja no que for, este decreto, seja arrancada uma viga da sua casa e seja erguida ao alto e ele seja pregado nela, reduzindo-se a sua casa a um montão de ruínas. E Deus, que ali faz habitar o seu nome, destrua todo o rei e todo o povo que levantar a mão para mudar este decreto e destruir a morada de Deus que está em Jerusalém! Eu, Dario, dei esta ordem. Que ela seja pontualmente executada.» Assim, Tatenai, governador da outra margem do rio, Chetar-Bozenai e os seus colegas executaram fielmente a ordem do rei Dario. Os anciãos dos judeus prosseguiram com êxito a reconstrução do templo, segundo as profecias de Ageu, o profeta, e de Zacarias, filho de Ido. Terminaram a construção, segundo a ordem do Deus de Israel e segundo a ordem de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, reis da Pérsia. Concluiu-se o edifício no terceiro dia do mês de Adar, no sexto ano do reinado de Dario. Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e os demais repatriados celebraram com júbilo a dedicação do templo de Deus. Ofereceram, para esta dedicação, cem touros, duzentos carneiros, quatrocentos cordeiros e doze bodes, como vítimas expiatórias pelos pecados de todo o Israel. Distribuíram os sacerdotes segundo as suas classes e os levitas segundo as suas divisões, para celebrarem o culto de Deus em Jerusalém, conforme as prescrições do livro de Moisés. Os repatriados celebraram a Páscoa no dia catorze do primeiro mês. Os sacerdotes e os levitas, sem excepção, purificaram-se e, assim, todos estavam puros. Imolaram a Páscoa por todos os repatriados, pelos seus irmãos sacerdotes e por eles mesmos. Os filhos de Israel, regressados do cativeiro, comeram a sua Páscoa com todos aqueles que, afastando-se das práticas impuras dos povos da região, se uniram a eles para seguirem o Senhor, Deus de Israel. Celebraram com júbilo a festa dos Ázimos durante sete dias, porque o Senhor os consolara, ao fazer com que o coração do rei da Assíria se inclinasse para eles e os favorecesse nos trabalhos da reconstrução do templo de Deus, do Deus de Israel. Após estes acontecimentos, no reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, chegou Esdras, filho de Seraías, filho de Azarias, filho de Hilquias, filho de Chalum, filho de Sadoc, filho de Aitub, filho de Amarias, filho de Azarias, filho de Meraiot, filho de Zeraías, filho de Uzi, filho de Buqui, filho de Abisua, filho de Fineias, filho de Eleázar, filho de Aarão, o Sumo Sacerdote. Este Esdras chegava da Babilónia e era um escriba versado na lei de Moisés, dada pelo Senhor, Deus de Israel. Como a mão do Senhor, seu Deus, o protegia, o rei tinha-lhe concedido tudo o que ele pedira. Com ele voltaram para Jerusalém, no sétimo ano do rei Artaxerxes, vários filhos de Israel, sacerdotes e levitas, cantores, porteiros e natineus. Esdras chegou a Jerusalém no quinto mês do sétimo ano do rei. Partiu da Babilónia no primeiro dia do primeiro mês e chegou a Jerusalém no primeiro dia do quinto mês, porque a mão benevolente do seu Deus estava com ele. Esdras, com efeito, aplicara o seu coração ao estudo da Lei do Senhor, praticando e ensinando em Israel as leis e as prescrições. Esta é a cópia da carta que o rei Artaxerxes enviou a Esdras, sacerdote e escriba, versado no conhecimento do texto da Lei do Senhor e das suas prescrições, a respeito de Israel: «Artaxerxes, rei dos reis, a Esdras, sacerdote e escriba, versado na Lei do Deus do céu, saúde! Ordenei que deixassem partir contigo todos os do povo de Israel, os seus sacerdotes e os seus levitas, residentes no meu reino, que desejem ir a Jerusalém, porque foste enviado pelo rei e os seus sete conselheiros para fazer uma inspecção em Judá e em Jerusalém e ver como está a ser observada a Lei do teu Deus, que tens nas tuas mãos. Levarás a prata e o ouro que o rei e os seus conselheiros ofereceram espontaneamente ao Deus de Israel, cuja morada está em Jerusalém. Além disso, levarás todo o ouro e prata que encontrares na província da Babilónia, com as ofertas voluntárias feitas generosamente pelo povo e pelos sacerdotes, para o templo de Deus em Jerusalém. Por conseguinte, cuidarás de comprar, com esse dinheiro, novilhos, carneiros, cordeiros, as ofertas e as libações: oferecê-las-ás em Jerusalém sobre o altar do templo do vosso Deus. Com o resto do dinheiro e do ouro, farás o que te parecer melhor, a ti e aos teus irmãos, conforme a vontade do vosso Deus. Os utensílios que te forem entregues para o serviço do templo do teu Deus depositá-los-ás diante do Deus de Jerusalém. Quanto às outras despesas necessárias para o templo do teu Deus, hás-de providenciar a elas por meio dos recursos que o tesouro real te fornecer. Eu mesmo, o rei Artaxerxes, ordeno a todos os tesoureiros da outra margem do rio, que entreguem pontualmente a Esdras, sacerdote, escriba versado na Lei do Deus do céu, tudo o que ele solicitar, até à soma de cem talentos de prata, cem coros de trigo, cem batos de vinho, cem batos de azeite, além de sal à discrição. Tudo o que prescreveu o Deus do céu para o seu templo seja observado a fim de que a cólera divina não se desencadeie sobre o nosso reino, sobre o rei e sobre os seus filhos.» «Por fim, notificamo-vos de que não é permitido impor tributo nem imposto nem encargos sobre nenhum dos sacerdotes, levitas, cantores, porteiros, natineus e servos deste templo de Deus. E tu, Esdras, segundo a sabedoria do teu Deus na qual és versado, estabelecerás juízes e magistrados para fazerem justiça a todo o povo da outra margem do rio e a todos aqueles que conhecem as leis do teu Deus; e hás-de ensiná-las aos que as ignoram. Todo aquele que não observar a Lei do teu Deus e a lei do rei será castigado rigorosamente, ou com a morte, ou com o desterro, ou com uma multa ou, ao menos, com a prisão.» Bendito seja o Senhor, Deus dos nossos pais, que pôs no coração do rei o desejo de honrar o templo do Senhor, que está em Jerusalém, e que me fez obter o favor do rei, dos seus conselheiros e de todos os outros poderosos oficiais do reino! Fortalecido pela mão do Senhor, meu Deus, que me assistia, reuni os chefes de Israel para que partissem comigo. Eis, pois, com as suas genealogias, os chefes de família que partiram comigo da Babilónia, no reinado de Artaxerxes: dos filhos de Fineias: Gérson; dos filhos de Itamar: Daniel; dos filhos de David: Hatus que descendia de Checanias; dos filhos de Parós: Zacarias e, com ele, cento e cinquenta homens; dos filhos de Paat-Moab: Elioenai, filho de Zeraías e, com ele, duzentos homens; dos filhos de Zatú: Checanias, o filho de Jaziel, e, com ele, trezentos homens; dos filhos de Adin: Ébed, filho de Jonatan, e, com ele, cinquenta homens; filhos de Elam: Jesaías, filho de Atalias, e, com ele, setenta homens; dos filhos de Chefatias: Zebadias, filho de Miguel, e, com ele, oitenta homens; filhos de Joab: Abdias, filho de Jaiel, e, com ele, duzentos e dezoito homens; dos filhos de Chelomite: o filho de Josifias e, com ele, cento e sessenta homens; dos filhos de Bebai: Zacarias, filho de Bebai, e, com ele, vinte e oito homens; dos filhos de Azegad: Joanan, filho de Hacatan, e, com ele, cento e dez homens; dos filhos de Adonicam, que foram os últimos, são estes os seus nomes: Elifélet, Jeiel e Semeias, e, com eles, sessenta homens; dos filhos de Begvai: Utai e Zabud e, com eles, setenta homens. Eu reuni-os junto do rio que corre para Aavá e ali acampámos três dias. Tendo observado o povo e os sacerdotes, não encontrei entre eles nenhum dos filhos de Levi. Então, mandei procurar os chefes Eliézer, Ariel, Semeias, Elnatan, Jarib, um outro Elnatan, Natan, Zacarias e Mechulam, bem como Joiarib e Elnatan, doutores da Lei. Enviei-os ao chefe Ido, que residia em Cassífia. Ditei-lhes as palavras que deviam dizer a Ido e aos seus irmãos, os natineus, residentes em Cassífia, a fim de que nos trouxessem ministros para o templo do nosso Deus. E, como estava connosco a mão bendita do nosso Deus, eles trouxeram Cherebias, homem inteligente de entre os filhos de Maali, filho de Levi, filho de Israel, e com ele os seus filhos e irmãos, em número de dezoito; Hasabias e com ele Jesaías, dos filhos de Merari, seus irmãos e seus filhos, em número de vinte; dos natineus, entregues por David e pelos chefes para o serviço dos levitas, duzentos e vinte natineus, todos designados pelo seu nome. Ali, junto do rio Aavá, proclamei um jejum a fim de nos humilharmos diante do nosso Deus e de lhe implorarmos uma feliz viagem para nós e para os nossos filhos, com todos os nossos haveres. Envergonhei-me, com efeito, de pedir ao rei uma escolta de cavaleiros para nos proteger contra os inimigos, durante o trajecto, porque tínhamos dito ao rei: «A mão do nosso Deus protege, com a sua bondade, todos aqueles que o procuram; mas a sua força e a sua cólera fazem-se sentir sobre todos aqueles que o abandonam.» Por isso, jejuámos e fizemos oração ao nosso Deus, e Ele ouviu-nos. Escolhi doze chefes dos sacerdotes, Cherebias, Hasabias e dez dos seus irmãos. Diante deles pesei a prata, o ouro e os utensílios oferecidos para o templo do nosso Deus pelo rei, pelos seus conselheiros, pelos seus príncipes e por todos os israelitas que ali se encontravam. Entreguei-lhes o peso de seiscentos e cinquenta talentos de prata, utensílios de prata com o peso de cem talentos, cem talentos de ouro, vinte taças de ouro no valor de mil dáricos e dois vasos de bronze muito claro e brilhante, tão precioso como o ouro. E disse-lhes: «Vós sois consagrados ao Senhor; estes utensílios são consagrados; esta prata e este ouro são uma oferta espontânea feita ao Senhor, Deus dos vossos pais. Guardai-os com cuidado, até que vós os peseis diante dos chefes dos sacerdotes e dos levitas e diante dos chefes de família de Israel, em Jerusalém, nas salas do templo do Senhor.» Os sacerdotes e os levitas receberam, pois, o ouro, a prata e os utensílios assim pesados, a fim de os levar para Jerusalém, para o templo do nosso Deus. Partimos do rio de Aavá, no décimo segundo dia do primeiro mês, em direcção a Jerusalém. A mão do nosso Deus protegeu-nos e defendeu-nos durante o trajecto, das mãos dos inimigos e das suas emboscadas. Chegados a Jerusalém, repousámos durante três dias. No quarto dia, a prata, o ouro e os utensílios foram pesados no templo do nosso Deus e entregues a Meremot, filho de Urias, sacerdote. Tinha consigo Eleázar, filho de Fineias, e com ele os levitas Jozabad, filho de Jesua, e Noadias, filho de Binui. Tudo foi contado e pesado. Ao mesmo tempo, o peso total foi consignado por escrito. Os que vinham do exílio, homens nascidos no cativeiro, ofereceram em holocausto, ao Deus de Israel, doze touros por todo o Israel, noventa e seis carneiros, setenta e sete cordeiros e doze bodes como vítimas expiatórias, tudo em holocausto ao Senhor. Transmitiram o decreto do rei aos sátrapas do rei e aos governadores da outra margem do rio, os quais apoiaram o povo e o templo de Deus. Depois destes acontecimentos, os chefes vieram ter comigo e disseram-me: «O povo de Israel, os sacerdotes e os levitas não se afastaram dos habitantes deste país. Imitaram as abominações dos cananeus, dos hititas, dos perizeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos amorreus. Tomaram, entre as filhas deles, mulheres para si e para os seus filhos. Assim, a raça santificada misturou-se com a dos habitantes do país. Os chefes e magistrados foram os primeiros a cometer este pecado.» Ao ouvir estas palavras, rasguei a minha túnica e a capa, arranquei cabelos da cabeça e da barba e sentei-me desolado. Ao redor de mim reuniram-se todos aqueles que temiam a palavra do Deus de Israel, por causa das prevaricações dos sobreviventes do cativeiro. Quanto a mim, estive desolado até ao sacrifício da tarde. Na hora da oblação da tarde, levantei-me da minha aflição, com as minhas vestes e o meu manto rasgados; e, então, caindo de joelhos, estendi as mãos para o Senhor, meu Deus, e disse: «Meu Deus, estou envergonhado e confuso, ao levantar a minha face para ti, meu Deus; porque as nossas iniquidades acumulam-se sobre as nossas cabeças, e os nossos pecados chegam até ao céu. Desde o tempo dos nossos pais até ao dia de hoje, temos sido gravemente culpados; e, por causa das nossas iniquidades, fomos escravizados, nós, os nossos reis e os nossos sacerdotes, entregues à mercê dos reis dos outros países, à espada, ao cativeiro, à pilhagem e à vergonha que nos cobre ainda o rosto nos dias de hoje. Entretanto, o Senhor, nosso Deus, testemunhou-nos a sua misericórdia, deixando subsistir um resto do nosso povo e concedeu-nos refúgio no seu lugar santo. O nosso Deus quis, assim, fazer brilhar aos nossos olhos a sua luz e dar-nos um pouco de vida no meio da nossa servidão. Porque nós somos escravos, mas o nosso Deus não nos abandonou no nosso cativeiro. Ele concedeu-nos a benevolência dos reis da Pérsia, conservando-nos a vida para reconstruirmos a morada do nosso Deus e reerguermos as suas ruínas, e prometeu-nos um refúgio seguro em Judá e em Jerusalém. Agora, ó nosso Deus, que mais poderemos dizer, depois disto? Nós abandonámos os mandamentos que Tu nos deste por meio dos teus servos, os profetas, que diziam: ‘O país que ides possuir é um país de impureza, contaminado pelas imundícies dos povos dessa região, pelas abominações e impurezas com que o encheram, de uma extremidade à outra. Não lhes deis, pois, as vossas filhas, e os vossos filhos não tomem as filhas deles; não vos preocupeis mais com a sua prosperidade e o seu bem-estar, para que vos torneis fortes e comais os bons produtos deste país, o qual transmitireis, para sempre, como herança, aos vossos descendentes.’ Ora, depois de tudo o que nos aconteceu, por causa das nossas más acções e dos nossos pecados, Tu nos conservaste, ó nosso Deus, mais do que mereciam as nossas iniquidades, e deixaste subsistir um resto do nosso povo. Poderíamos recomeçar a violar os teus mandamentos, aliando-nos por casamento a estes povos abomináveis? Não te irritarias contra nós até nos exterminar, sem deixar escapar um só sobrevivente? Senhor, Deus de Israel, Tu és justo, porque presentemente nada mais somos do que um resto de sobreviventes. Eis-nos aqui, diante de ti, como culpados, sem podermos, por isso, subsistir na tua presença.» Enquanto Esdras chorava prostrado diante do templo de Deus e fazia esta prece e esta confissão, foi-se reunindo ao redor dele uma multidão numerosa de israelitas, homens, mulheres e crianças, e todos derramavam abundantes lágrimas. Então, Checanias, filho de Jaiel, dos filhos de Elam, tomou a palavra e disse a Esdras: «Pecámos contra o nosso Deus, tomando por esposas mulheres estrangeiras, pertencentes ao povo deste país. Entretanto, resta ainda uma esperança para Israel. Façamos, agora, uma aliança com o nosso Deus e mandemos embora todas essas mulheres e seus filhos, conforme o conselho do meu senhor e daqueles que temem os mandamentos do nosso Deus. E que se cumpra o que manda a Lei. Levanta-te, pois é tua a responsabilidade deste trabalho; nós estamos contigo. Coragem, e mãos à obra!» Então, Esdras levantou-se e fez com que os chefes dos sacerdotes, dos levitas e de todos os de Israel jurassem que agiriam como acabava de ser dito. E eles juraram. Depois, Esdras retirou-se do templo de Deus e foi ao quarto de Joanan, filho de Eliachib, permanecendo ali, sem comer nem beber, porque chorava os pecados dos sobreviventes do cativeiro. Fez-se, então, uma proclamação em Judá e em Jerusalém, para todos os sobreviventes do cativeiro, a fim de que se reunissem em Jerusalém. Quem não comparecesse dentro de três dias, conforme as ordens dos anciãos e dos chefes, veria confiscados os seus bens e seria excluído da assembleia dos repatriados. Todos os homens de Judá e de Benjamim se reuniram, pois, em Jerusalém, no prazo dos três dias. Era o vigésimo dia do nono mês. Todo o povo que se encontrava na presença do templo de Deus, tremia, não só pela gravidade da circunstância mas também porque estava a chover. Esdras, o sacerdote, levantou-se e disse-lhes: «Vós pecastes, tomando por esposas mulheres estrangeiras, agravando assim a iniquidade de Israel. Agora, dai glória ao Senhor, Deus dos nossos pais, e fazei a sua vontade. Separai-vos do povo deste país e das mulheres estrangeiras.» Toda a assembleia respondeu em alta voz: «Sim, faremos como disseste. Mas o povo é numeroso, e é a estação das chuvas; não se pode, pois, permanecer cá fora; além disso, isto não é assunto para um dia ou dois, pois são muitos os que, entre nós, pecaram a este respeito. Que os nossos chefes fiquem aqui a fim de representar toda a assembleia, e que todos aqueles que, nas nossas cidades, receberam em suas casas uma ou mais mulheres estrangeiras, se apresentem nas datas que serão fixadas, com os anciãos de cada cidade e os seus juízes, até que consigamos afastar de nós o fogo da cólera do nosso Deus, por causa desta questão.» Jonatan, filho de Asael, e Jazias, filho de Ticvá, foram os únicos que se opuseram a essa ordem, apoiados por Mechulam e Chabetai, o levita. Os repatriados, porém, conformaram-se. Esdras, o sacerdote, e alguns homens, chefes das famílias, segundo as suas casas, todos designados pelos seus nomes, sentaram-se a examinar este assunto, no primeiro dia do décimo mês. No primeiro dia do primeiro mês, a questão dos homens que tinham desposado mulheres estrangeiras já estava resolvida. Entre os filhos dos sacerdotes encontraram-se alguns que tinham desposado mulheres estrangeiras, a saber: entre os filhos de Jesua, filho de Jocédec, e seus irmãos, havia Maazias, Eliézer, Jarib e Godolias; estes juraram repudiar as suas mulheres e ofereceram um carneiro pela expiação da sua falta; entre os filhos de Imer: Hanani e Zebadias; entre os filhos de Harim: Massaías, Elias, Semeias, Jaiel e Uzias; entre os filhos de Pachiur: Elioenai, Massaías, Ismael, Natanael, Jozabad e Elassá; entre os levitas: Jozabad, Chimei, Quelaías também chamado Quelitá, Petaías, Judá e Eliézer; entre os cantores: Eliachib; entre os porteiros: Chalum, Telem e Uri. Quanto aos filhos de Israel: entre os filhos de Parós: Ramias, Jizias, Malquias, Miamin, Eleázar, Malquias e Benaías; entre os filhos de Elam: Matanias, Zacarias, Jaiel, Abdi, Jerimot e Elias; entre os filhos de Zatú: Elioenai, Eliachib, Matanias, Jerimot, Zabad e Aziza; entre os filhos de Bebai: Joanan, Hananías, Zabai, Atlai; entre os filhos de Bani: Mechulam, Maluc, Adaías, Jassub, Cheal e Ramot; entre os filhos de Paat-Moab: Adná, Calal, Benaías, Massaías, Matanias, Beçalel, Binui e Manassés; entre os filhos de Harim: Eliézer, Jisias, Malquias, Chemaías, Simeão, Benjamim, Maluc, Chemarias; entre os filhos de Hachum: Matenai, Matatá, Zabad, Elifélet, Jeremai, Manassés, Chimei; entre os filhos de Bani: Maadai, Ameram, Uel, Benaías, Bedias e Quelú, Vanias, Meremot, Eliachib, Matanias, Matenai, Jaasai; dos filhos de Binui, Chimei, Chelemias, Natan, Adaías, Macnadebai, Chachai, Charai, Azarel, Chelemias, Chemarias, Chalum, Amarias, José; entre os filhos de Nebo: Jeiel, Matatias, Zabad, Zebina, Jadai, Joel e Benaías. Todos estes homens casaram com mulheres estrangeiras, e muitas delas tiveram filhos. Palavras de Neemias, filho de Hacalias: «No mês de Quisleu do vigésimo ano, encontrando-me em Susa, no palácio, eis que Hanani, um dos meus irmãos, chegou de Judá com alguns companheiros. Perguntei-lhes pelos judeus libertados que sobreviveram do cativeiro e por Jerusalém. Responderam-me: «Os sobreviventes do cativeiro estão lá na Província, vivem em grande miséria e numa situação humilhante. As muralhas de Jerusalém estão ainda em ruínas, e as suas portas foram incendiadas.» Ao ouvir tais palavras, sentei-me e chorei; e fiquei vários dias consternado. Jejuei e orei na presença do Deus do céu, dizendo: «Peço-te, Senhor, Deus do céu, Deus grande e terrível, que permaneces fiel à tua aliança e exerces a misericórdia para com aqueles que te amam e observam os teus mandamentos! Que os teus ouvidos estejam atentos e os teus olhos se abram, para ouvires a prece que eu, teu servo, estou a fazer na tua presença, noite e dia, pelos filhos de Israel, teus servos, confessando os pecados com que os filhos de Israel te ofenderam. Pois eu e a casa do meu pai pecámos; ofendemos-te gravemente e não observámos as leis, os mandamentos e os preceitos que deste a Moisés, teu servo. Lembra-te da palavra que disseste a teu servo Moisés: ‘Se transgredirdes os meus preceitos, Eu dispersar-vos-ei entre as nações. Mas, se vos converterdes a mim, se observardes os meus mandamentos e os praticardes, mesmo que os vossos exilados estejam nos confins da terra, dali os reunirei e os farei regressar ao lugar que escolhi, para aí fazer habitar o meu nome.’ Eles são teus servos, o teu povo, que libertaste com o teu grande poder e a força da tua mão. Ó Senhor, presta ouvidos à oração do teu servo e à oração dos teus servos que temem o teu nome. Digna-te, hoje, dar um bom êxito ao teu servo, e faz que mereça a estima deste homem.» Eu era, então, copeiro do rei. No mês de Nisan, no vigésimo ano do rei Artaxerxes, como o vinho estivesse diante do rei, tomei-o e ofereci-lho. Ora, jamais eu estivera triste na sua presença. O rei disse-me: «Porque tens o semblante tão sombrio? Não estás doente. Portanto, isso só pode ser tristeza do coração.» Eu fiquei muito conturbado, e respondi ao rei: «Viva o rei para sempre! Como não hei-de estar triste quando a cidade onde se encontram os túmulos dos meus pais está em ruínas, e as suas portas consumidas pelo fogo?» E o rei disse-me: «Que queres?» Então, fiz uma oração ao Deus do céu e disse ao rei: «Se aprouver ao rei, e se o teu servo achar graça diante de ti, deixa-me ir ao país de Judá, à cidade onde se encontram os túmulos dos meus pais, a fim de a reconstruir.» O rei, junto de quem a rainha se sentara, perguntou-me: «Quanto tempo durará essa viagem? Quando será o regresso?» Aprouve ao rei deixar-me partir, e eu indiquei-lhe a data do regresso. Prossegui: «Se o rei achar bem, dêem-me cartas para os governadores da outra margem do rio, de modo que me deixem passar para Judá; e também outra carta para Asaf, o intendente da floresta real, a fim de que me forneça madeira para construir as portas da cidadela do templo, para as muralhas da cidade e para a casa que eu habitar.» O rei concordou com o meu pedido porque me favorecia a bondosa mão de Deus. Fui ter com os governadores da outra margem do rio e entreguei-lhes as cartas do rei. O rei fizera-me escoltar por alguns chefes militares e cavaleiros. Mas quando Sanebalat, o horonita, e Tobias, o servo amonita, foram informados disto, ficaram pesarosos por ter chegado alguém que procurava a prosperidade dos filhos de Israel. Cheguei, finalmente, a Jerusalém e descansei ali três dias. Levantei-me durante a noite com um pequeno grupo de homens, sem dizer a ninguém o que o meu Deus me inspirava fazer em favor de Jerusalém. Não tinha comigo outro animal senão aquele em que montava. Saí à noite pela porta do Vale e dirigi-me à fonte do Dragão e à porta da Estrumeira; e contemplei as muralhas de Jerusalém arruinadas e as portas consumidas pelo fogo. Passei, depois, pela porta da Fonte e pela piscina do rei, mas não havia ali caminho para passar com a minha montada. Subi então, à noite, pela torrente e examinei a muralha. Dei a volta, voltei a entrar pela porta do Vale e regressei. Os magistrados ignoravam aonde tinha ido e o que queria fazer. Até àquele momento nada deixara transparecer aos judeus, nem aos sacerdotes, nem aos magistrados, nem aos chefes, nem às outras pessoas do povo que se ocupavam dos trabalhos. Disse-lhes então: «Vede a miséria em que nos encontramos: Jerusalém destruída, as suas portas consumidas pelo fogo! Vinde, e reconstruamos as muralhas da cidade, e ponhamos termo a tanta ignomínia.» Ao mesmo tempo, contei-lhes como a bondosa mão de Deus me favorecera e narrei-lhes todas as palavras que me dissera o rei. Gritaram todos: «Ergamo-nos e reconstruamo-la!» Com isto, cobraram ânimo e puseram-se a executar esta obra. Sanebalat, o horonita, Tobias, o servo amonita, e Guéchem, o árabe, souberam isto e zombaram de nós, dizendo em tom escarninho: «Que estais a fazer? Quereis revoltar-vos contra o rei?» Mas eu respondi-lhes nestes termos: «O próprio Deus do céu é quem nos fará triunfar. Nós somos os seus servos e vamos continuar a obra, pois vós não tendes parte, nem direito, nem lembrança em Jerusalém.» O Sumo Sacerdote Eliachib e os sacerdotes, seus irmãos, puseram-se a trabalhar e reconstruíram a porta das Ovelhas; consagraram-na e assentaram-lhe os batentes. Construíram e consagraram a muralha, desde a torre dos Cem até à torre de Hananiel. Ao lado de Eliachib, trabalhavam os homens de Jericó e, mais longe, Zacur, filho de Imeri. Os filhos de Senaá construíram a porta dos Peixes, cobriram-na e assentaram os batentes, as fechaduras e as trancas. A seu lado, trabalhava nas reparações Meremot, filho de Urias, filho de Hacós, e, ao lado deste, Mechulam, filho de Baraquias, filho de Mechezabel, e depois Sadoc, filho de Baana. Ao lado destes, trabalharam os tecuítas, mas os seus notáveis recusaram-se a servir os seus senhores. Joiadá, filho de Passea, e Mechulam, filho de Besodias, repararam a porta Antiga, cobriram-na e colocaram os batentes, as fechaduras e as trancas. Ao lado destes, trabalharam Melatias, o guibeonita, Jadon, o meronotita, e os homens de Guibeon e de Mispá, que eram súbditos do governador. Ao lado, trabalharam Uziel, filho de Haraías, que era ourives; depois, Hananias, perfumista. Reconstruíram Jerusalém até à grande muralha. A seu lado, trabalhou Refaías, filho de Hur, chefe de metade do distrito de Jerusalém. Depois, em frente da sua casa, Idaia, filho de Harumaf; logo a seguir, Hatus, filho de Hasabenias. Malquias, filho de Harim, e Hachub, filho de Paat-Moab, repararam a outra parte da muralha e a torre dos Fornos. A seu lado, trabalhou, com suas filhas, Chalum, filho de Loés, chefe da outra metade do distrito de Jerusalém. Hanun e os habitantes de Zanoa repararam a porta do Vale; reconstruíram-na e colocaram os batentes, as fechaduras e as trancas; e reedificaram mil côvados da muralha até à porta da Estrumeira. Malquias, filho de Recab, chefe do distrito de Bet-Cárem, reconstruiu a porta da Estrumeira, concluiu-a e colocou também os batentes, as fechaduras e as trancas. Chalum, filho de Col-Hozé, chefe do distrito de Mispá, reparou a porta da Fonte, concluiu-a, cobriu-a e assentou-lhe os batentes, as fechaduras e as trancas; reedificou, além disso, as muralhas, desde a piscina de Siloé, ao lado do jardim do rei, até à escada pela qual se desce da cidade de David. Ao lado dele, Neemias, filho de Azebuc, chefe de metade do distrito de Bet-Sur, reconstruiu a muralha até à frente dos túmulos de David, e desde a piscina magnificamente construída até à Casa dos Heróis. Depois dele, trabalharam nas reparações os levitas: Reum, filho de Bani; ao lado, trabalhou Hasabias, chefe de metade do distrito de Queila. Ao lado deste, trabalharam os seus irmãos sob a direcção de Bavai, filho de Henadad, chefe da outra metade de Queila. Ézer, filho de Jesua, chefe de Mispá, reparou o outro sector da muralha, em frente do arsenal, até à esquina. A seguir a ele, Baruc, filho de Zabai, reparou o outro sector, desde o ângulo até à entrada da casa do Sumo Sacerdote Eliachib. A seguir a ele, Meremot, filho de Urias, filho de Hacós, reparou o sector seguinte, desde a porta da casa de Eliachib até à extremidade desta casa. A seguir a este, trabalharam os sacerdotes, homens das redondezas. A seguir a eles, Benjamim e Hachub trabalharam em frente das suas casas e, junto destes, Azarias, filho de Massaías, filho de Ananias, diante da sua casa. Depois, Binui, filho de Henadad, reparou outro sector, desde a casa de Azarias até ao ângulo. Palal, filho de Uzai, trabalhou em frente do ângulo e da torre alta que se eleva por cima do palácio real, perto do átrio da prisão. A seguir a ele, trabalhou Pedaías, filho de Parós. Os natineus, que habitavam em Ofel, trabalharam até à frente da porta das Águas, a oriente, e da torre saliente das muralhas. A seguir a eles, os tecuítas repararam o sector seguinte, em frente da torre saliente, até ao muro de Ofel. A partir da porta dos Cavalos, trabalharam os sacerdotes, cada um diante da sua casa. A seguir a eles, Sadoc, filho de Imer, em frente da sua casa; depois, Chemaías, filho de Checanias, guarda da porta oriental do templo. A seguir a ele, Hananias, filho de Chelemias, e Hanun, o sexto filho de Salaf, repararam um outro sector. A seguir a ele, Mechulam, filho de Baraquias, trabalhou diante da sua residência. A seguir a ele, trabalhou Malquias, filho de um ourives, até à casa dos natineus e dos negociantes, diante da porta de Mifcad até à sala do ângulo. Enfim, entre a sala alta do ângulo e a porta das Ovelhas, trabalharam os ourives e os negociantes. Sanebalat, quando soube que nós reconstruíamos a muralha, encolerizou-se sobremaneira. Enfurecido, escarneceu dos judeus e disse, diante dos seus irmãos e do exército da Samaria: «Que pretendem fazer estes miseráveis judeus? Porventura vão permitir-lhes que o façam? Querem oferecer sacrifícios? Levarão a cabo a sua empresa? Desenterrarão as pedras destes montes de areia calcinada?» E Tobias, o amonita, que estava a seu lado, acrescentou: «Deixai-os reconstruir! Se vier uma raposa, saltará por cima dessa muralha de pedras e há-de derrubá-la.» «Ouve, ó nosso Deus, como nos desprezam. Faz recair sobre as suas cabeças todos os seus insultos. Faz que sejam presa dos outros, numa terra de exílio. Não perdoes a sua iniquidade, e que o seu pecado jamais se apague diante da tua face, pois é grande a injúria que fizeram aos construtores!» Reconstruímos, pois, a muralha e reparámo-la inteiramente, até metade da sua altura. O povo cobrou ânimo para prosseguir o trabalho. Mas Sanebalat, Tobias, os árabes, os amonitas e as gentes de Asdod souberam que prosseguíamos na reparação da muralha de Jerusalém e que as fendas começavam a desaparecer; e enfureceram-se. Coligaram-se todos para vir atacar Jerusalém e fazer o maior dano possível. Fizemos oração ao nosso Deus e montámos uma guarda, dia e noite, para nos proteger contra eles. Mas os judeus começavam a dizer: «Os carregadores estão quase sem forças, e há ainda uma grande quantidade de escombros. Não conseguiremos reconstruir a muralha.» E os nossos inimigos diziam: «Nada saberão e nada verão, até que cheguemos ao meio deles e os matemos. Deste modo, poremos fim a estes trabalhos.» Os judeus que habitavam entre eles vieram dez vezes advertir-nos sobre os lugares por onde, possivelmente, os nossos inimigos nos atacariam. Coloquei, pois, por detrás das muralhas, nos pontos vulneráveis, o povo dividido por famílias, com espadas, lanças e arcos. Depois de tudo inspeccionar, achei que era meu dever exortar os chefes, os magistrados e o restante povo: «Não os temais! Lembrai-vos de que o Senhor é grande e temível. Combatei pelos vossos irmãos, pelos vossos filhos e filhas, pelas vossas mulheres e pelas vossas casas!» Quando os nossos inimigos souberam que estávamos alertados, Deus frustrou os seus projectos; e regressámos todos à muralha, cada um ao seu trabalho. Desde então, a metade que estava comigo trabalhava, e a outra metade estava armada de lanças, escudos, arcos e couraças. Os chefes estavam atrás deles, velando sobre toda a gente de Judá. Entre os que estavam ocupados na muralha, os carregadores trabalhavam com uma das mãos e, com a outra, seguravam a arma; os pedreiros traziam à cinta cada um a sua espada. E assim construíam. Um homem, tocador de trombeta, estava junto de mim. Então, eu disse aos chefes, aos magistrados e ao resto do povo: «O trabalho é grande e muito extenso, e nós encontramo-nos dispersos pelas muralhas, a grande distância uns dos outros. Quando ouvirdes a trombeta, onde quer que seja, reuni-vos a nós. O nosso Deus combaterá por nós.» Continuámos, assim, a trabalhar na obra, ficando metade dos nossos de lança na mão, desde o raiar da aurora até aparecerem as estrelas. Ao mesmo tempo, disse também ao povo: «Cada um de vós, com o seu servo, passe a noite em Jerusalém, para fazer de sentinela durante a noite e trabalhar durante o dia.» Nem eu, nem os meus irmãos, nem a minha gente, nem os guardas da minha escolta nos despíamos, a não ser para as abluções. Aconteceu que os homens do povo e as mulheres fizeram ouvir um grande clamor contra os seus irmãos judeus. Alguns diziam: «Os nossos filhos, as nossas filhas e nós somos numerosos; precisamos de trigo, para que possamos comer e viver.» Outros diziam: «Somos obrigados a empenhar as nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas para termos trigo para matar a fome.» Outros diziam: «Tivemos que pedir dinheiro emprestado para pagar o tributo ao rei e empenhámos as nossas vinhas e os nossos campos. E, no entanto, somos da mesma raça que os nossos irmãos, os nossos filhos não são diferentes dos deles; mas temos que vender os nossos filhos e as nossas filhas, e algumas delas já são escravas. E nada temos para as resgatar, pois os nossos campos e as nossas vinhas passaram já para as mãos de outros.» Estes lamentos e estas queixas irritaram-me profundamente. Após ter reflectido, censurei os chefes e os magistrados e disse-lhes: «Porque cobrais juros dos nossos irmãos?» Convoquei, então, por causa deles, uma grande assembleia. E disse-lhes: «Os nossos irmãos judeus, vendidos às nações, foram resgatados por nós, segundo as nossas posses. E vós vendeis os vossos irmãos, para que nós os resgatemos?» Calaram-se e nada responderam. Eu continuei: «O que vós estais a fazer não está certo! Não deveis caminhar no temor do nosso Deus, para evitar os insultos das nações nossas inimigas? Eu mesmo, com os meus irmãos e os meus servos, emprestámos prata e trigo. Pois bem, perdoemos o que nos devem. Devolvei-lhes, desde já, os seus campos, as suas vinhas, as suas oliveiras e as suas casas; e restituí-lhes a percentagem da prata, do trigo, do vinho novo e do azeite que lhes exigistes como juros.» Eles responderam: «Devolveremos tudo e nada mais lhes pediremos; faremos como dizes.» Chamei, então, os sacerdotes e obriguei-os a jurar que agiriam assim. E sacudi o pó do meu manto, dizendo: «Que Deus sacuda assim, da sua casa e dos seus bens, todo aquele que não cumprir com a sua palavra. Que seja expulso e espoliado!» E toda a assembleia respondeu: «Ámen»; e louvaram o Senhor. E o povo cumpriu a promessa. Desde o dia em que o rei me estabeleceu como governador da região de Judá, do vigésimo até ao trigésimo segundo ano do reinado do rei Artaxerxes, durante doze anos, nem eu nem os meus irmãos comemos o pão do governador. Antes de mim, os governadores, meus predecessores, cobravam o pão e o vinho, à razão de quarenta siclos por dia, oprimindo o povo que também sofria os vexames dos servos deles. Mas eu, pelo temor de Deus, não agi assim. Antes trabalhei na reparação das muralhas; não comprámos nenhum campo, e os meus servos trabalharam todos. Tinha a meu cargo a alimentação de cento e cinquenta homens, judeus e magistrados, além dos que nos vinham procurar das regiões vizinhas. Preparávamos cada dia um boi, seis carneiros escolhidos e aves, tudo à minha custa, e cada dez dias servia-se vinho em abundância. Apesar disso, não reclamei os direitos de governador, porque o trabalho servil já oprimia muito este povo. «Lembra-te, ó meu Deus, de tudo o que fiz por este povo e recompensa-me.» Sanebalat, Tobias, Guéchem, o árabe, e outros inimigos nossos souberam que eu reconstruíra a muralha e tapara as brechas, embora até àquele momento não houvesse ainda colocado os batentes nas portas. Então, Sanebalat e Guéchem mandaram-me dizer: «Vem, para termos uma entrevista em Cafirim, no Vale de Ono.» Projectavam fazer-me mal. Enviei mensageiros a dizer-lhes: «Estou ocupado num trabalho importante; não posso descer, porque teria de interromper o meu trabalho, e não posso deixar a obra para ir ter convosco.» Por quatro vezes, me endereçaram a mesma mensagem, mas eu dava-lhes sempre a mesma resposta. À quinta vez, Sanebalat enviou-me a mesma mensagem por um seu servo que agora trazia na mão uma carta aberta. Nela se dizia o seguinte: «Foi divulgado entre as gentes – e Guéchem afirma – que tu e os judeus reconstruís a muralha porque estais a projectar uma revolta. E, ao que se diz, tu serias o seu rei, tendo até enviado profetas para te proclamarem rei de Judá em Jerusalém. Todos estes boatos chegarão aos ouvidos do rei. Vem, pois, e entendamo-nos.» Eu respondi-lhe: «Nada do que dizes é verdade; foste tu que inventaste tudo isso.» Todos nos procuravam intimidar, dizendo: «Fatigar-se-ão de tal modo que abandonarão o trabalho e jamais o acabarão.» Mas eu entreguei-me ao trabalho ainda com mais ardor. Fui depois à casa de Chemaías, filho de Delaías, filho de Meetabiel, que se fechara na sua residência. Disse-me ele: «Vamos juntos ao templo de Deus, ao interior do templo, e fechemos as portas do santuário pois devem vir matar-te; virão tirar-te a vida esta noite.» Respondi-lhe: «Como? Então um homem como eu há-de fugir? Por outro lado, como pode um homem como eu entrar no santuário sem perder a vida? Não entrarei.» Então, compreendi que não fora Deus quem o enviara, mas que predizia, sim, estas coisas porque Tobias e Sanebalat o tinham subornado. Julgavam que, deste modo, me atemorizavam e me fariam pecar, segundo o seu desejo. Aproveitariam isto para me cobrir de opróbrios e difamar-me. «Lembra-te, ó meu Deus, das maldades de Tobias e de Sanebalat. Lembra-te, também, da profetisa Noadias e dos outros profetas que procuravam atemorizar-me.» A muralha foi terminada no vigésimo quinto dia do mês de Elul, em cinquenta e dois dias. Quando os nossos inimigos o souberam, encheram-se de temor todas as nações vizinhas e ficaram humilhadas, porque reconheceram que aquela empresa fora levada a bom termo pela vontade do nosso Deus. Naquele tempo, Tobias correspondia-se frequentemente com determinados chefes de Judá. Muitos, com efeito, conjuraram-se com ele, por ser genro de Checanias, filho de Ara, e por Joanan, seu filho, ter casado com a filha de Mechulam, filho de Baraquias. Falaram bem dele na minha presença e referiram-lhe as minhas palavras. Tobias escrevia as suas cartas para me atemorizar. Logo que foi concluída a restauração da muralha e se colocaram os batentes das portas e ficaram estabelecidos nas suas funções os porteiros, os cantores e os levitas, confiei a defesa da cidade a Hanani, meu irmão, e a Hananias, o comandante da cidadela, porque era um homem sério e cheio de temor de Deus. Ordenei-lhes que não abrissem as portas de Jerusalém enquanto não se sentisse o calor do sol. À tarde, com os guardas ainda nos seus postos, fechavam as portas e punham as trancas. Durante a noite, os habitantes de Jerusalém, cada um no seu posto, montariam a guarda diante do seu templo. A cidade era grande e espaçosa mas estava pouco povoada, e as moradias não estavam todas reconstruídas. O meu Deus inspirou-me, então, que reunisse os notáveis, os magistrados e o povo para fazer o recenseamento. Encontrei um registo genealógico dos primeiros que tinham voltado do exílio, no qual estava escrito o seguinte: Entre os exilados que Nabucodonosor, rei da Babilónia, levara cativos, estes são os cidadãos da província que se puseram a caminho para regressar a Jerusalém e à Judeia, cada um à sua cidade. Regressaram com Zorobabel, Jesua, Neemias, Azarias, Raamias, Naamani, Mardoqueu, Bilchan, Mispéret, Bigvai, Naum, Baana. Este é o número de homens de Israel: filhos de Parós, dois mil cento e setenta e dois; filhos de Chefatias, trezentos e setenta e dois; filhos de Ara, seiscentos e cinquenta e dois; filhos de Paat-Moab, descendentes de Jesua e de Joab, dois mil oitocentos e dezoito; filhos de Elam, mil duzentos e cinquenta e quatro; filhos de Zatú, oitocentos e quarenta e cinco; filhos de Zacai, setecentos e sessenta; filhos de Binui, seiscentos e quarenta e oito; filhos de Bebai, seiscentos e vinte e oito; filhos de Azegad, dois mil trezentos e vinte e dois; filhos de Adonicam, seiscentos e sessenta e sete; filhos de Bigvai, dois mil e sessenta e sete; filhos de Adin, seiscentos e cinquenta e cinco; filhos de Ater, filho de Ezequias, noventa e oito; filhos de Hachum, trezentos e vinte e oito; filhos de Beçai, trezentos e vinte e quatro; filhos de Harif, cento e doze; filhos de Guibeon, noventa e cinco; habitantes de Belém e de Netofa, cento e oitenta e oito; habitantes de Anatot, cento e vinte e oito; habitantes de Bet-Azemávet, quarenta e dois; habitantes de Quiriat-Iarim, de Cafira e de Beerot, setecentos e quarenta e três; habitantes de Ramá e de Gueba, seiscentos e vinte e um; habitantes de Micmás, cento e vinte e dois; habitantes de Betel e de Ai, cento e vinte e três; homens de Nebo, cinquenta e dois; filhos de outro Elam, mil duzentos e cinquenta e quatro; filhos de Harim, trezentos e vinte; habitantes de Jericó, trezentos e quarenta e cinco; filhos de Lod, de Hadid e de Ono, setecentos e vinte e um; filhos de Senaá, três mil novecentos e trinta. Sacerdotes*, filhos de Jedaías, da casa de Jesua, novecentos e setenta e três; filhos de Imer, mil e cinquenta e dois; filhos de Pachiur, mil duzentos e quarenta e sete; filhos de Harim, mil e dezassete. Levitas*, filhos de Jesua, de Cadmiel, de Hodavias, setenta e quatro. Cantores*, filhos de Asaf, cento e quarenta e oito. Porteiros*, filhos de Chalum, filhos de Ater, filhos de Talmon, filhos de Acub, filhos de Hatita, filhos de Sobai, cento e trinta e oito. Natineus*, filhos de Sia, filhos de Hassufa, filhos de Tabaot, filhos de Querós, filhos de Siá, filhos de Padon, filhos de Lebana, filhos de Hagaba, filhos de Salmai, filhos de Hanan, filhos de Gadiel, filhos de Gaar, filhos de Reaías, filhos de Recin, filhos de Necoda, filhos de Gazam, filhos de Uzá, filhos de Passea, filhos de Besai, filhos de Meunim, filhos de Nefichessim, filhos de Bacbuc, filhos de Hacufa, filhos de Harur, filhos de Bacelut, filhos de Maída, filhos de Harsa, filhos de Barcos, filhos de Sísera, filhos de Temá, filhos de Necia, filhos de Hatifa. Filhos dos servos de Salomão*, filhos de Sotai, filhos de Soferet, filhos de Perudá, filhos de Jaala, filhos de Darcon, filhos de Gadiel, filhos de Chefatias, filhos de Hatil, filhos de Poquéret-Hacebaim, filhos de Amon. Total dos natineus e dos filhos dos servos de Salomão: trezentos e noventa e dois. Estes são os que partiram de Tel-Mela, Tel-Harcha, Querub-Adon e Imer, e não conseguiram provar a sua ascendência, a família dos seus pais e a sua origem israelita: filhos de Delaías, filhos de Tobias, filhos de Necoda, seiscentos e quarenta e dois; entre os sacerdotes: filhos de Habaías, filhos de Hacós, filhos de Barzilai, que se casou com uma das filhas de Barzilai, o guileadita, e tomou o seu nome. Estes procuraram a sua genealogia, mas não a conseguiram descobrir. Por isso foram excluídos do sacerdócio. O governador proibiu-os de comer das oferendas sagradas, até que se pudesse encontrar um sacerdote qualificado, para consultar Deus por meio dos dados sagrados. Toda a assembleia perfazia um total de quarenta e duas mil trezentas e sessenta pessoas, sem contar os seus servos e as suas servas, que eram em número de sete mil trezentos e trinta e sete. Havia, entre eles, duzentos e quarenta e cinco cantores e cantoras. Tinham quatrocentos e trinta e cinco camelos e seis mil setecentos e vinte jumentos. Alguns chefes de família fizeram donativos para os trabalhos. O governador doou ao tesouro mil dracmas de ouro, cinquenta taças e quinhentas e trinta túnicas sacerdotais. E vários chefes de família doaram ao tesouro para os trabalhos vinte mil dracmas de ouro e duas mil e duzentas minas de prata. O resto do povo doou vinte mil dáricos de ouro, duas mil minas de prata e sessenta e sete túnicas sacerdotais. Os sacerdotes, os levitas, os cantores, os porteiros, as pessoas do povo, os natineus e todos os filhos de Israel estabeleceram-se nas suas respectivas cidades. Ao chegar o sétimo mês, os filhos de Israel já estavam instalados nas suas cidades. Então todo o povo se reuniu, como um só homem, na praça que fica diante da porta das Águas e pediu a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da Lei de Moisés, que o Senhor prescrevera a Israel. O sacerdote Esdras apresentou, pois, a Lei diante da assembleia de homens e mulheres e de todos quantos eram capazes de a compreender. Foi no primeiro dia do sétimo mês. Esdras leu o livro, desde a manhã até à tarde, na praça que fica diante da porta das Águas, e todo o povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei. O escriba Esdras subiu para um estrado de madeira, mandado levantar para a ocasião. A seu lado encontravam-se à direita, Matatias, Chema, Anaías, Urias, Hilquias e Massaías; à esquerda, Pedaías, Michael, Malquias, Hachum, Hasbadana, Zacarias e Mechulam. Esdras abriu o livro à vista de todo o povo, pois achava-se num lugar elevado acima da multidão. Quando o escriba abriu o livro, todo o povo se levantou. Então, Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todo o povo respondeu, levantando as mãos: «Ámen! Ámen!» Depois, inclinaram-se e prostraram-se diante do Senhor, com a face por terra. Jesua, Bani, Cherebias, Jamin, Acub, Chabetai, Hodaías, Massaías, Quelitá, Azarias, Jozabad, Hanan, Pelaías e os outros levitas explicavam a Lei ao povo, e cada um ficou no seu lugar. E liam, clara e distintamente, o livro da Lei de Deus e explicavam o seu sentido, de modo que se pudesse compreender a leitura. O governador Neemias, Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que instruíam o povo disseram a toda a multidão: «Este é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus; não vos entristeçais nem choreis.» Pois todo o povo chorava ao ouvir as palavras da Lei. Então, Neemias disse-lhes: «Ide para as vossas casas, fazei um bom jantar, bebei vinho doce e reparti com aqueles que nada têm preparado; este é um dia grande, consagrado a Deus; não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é que é a vossa força.» Os levitas exortaram o povo ao silêncio: «Calai-vos! – diziam eles. Este é um dia santo; não vos lamenteis.» E todo o povo se retirou para comer e beber, repartir porções pelos pobres e entregar-se a grandes alegrias, porque tinham entendido o sentido das palavras que lhes tinham sido explicadas. No segundo dia, os chefes das famílias de todo o povo, os sacerdotes e os levitas reuniram-se na presença do escriba Esdras, para ouvir a explicação da Lei. Encontraram escrito no livro da Lei, que o Senhor ordenara, por intermédio de Moisés, que os filhos de Israel habitassem em tendas, na festa do sétimo mês. Fizeram, então, proclamar e publicar em todas as cidades, e também em Jerusalém, o seguinte aviso: «Ide à montanha e trazei ramos de oliveira e de zambujeiro, ramos de murta, ramos de palmeira e de árvores frondosas, para fazer cabanas, como está prescrito.» Foi, pois, o povo e trouxe ramos. E construíram as cabanas nos terraços das suas casas, nos átrios do templo, nos pátios, na praça da porta das Águas e na praça da porta de Efraim. Deste modo, toda a assembleia daqueles que regressaram do cativeiro fizeram as cabanas e habitaram nelas. Desde o tempo de Josué, filho de Nun, até àquele dia, nunca os filhos de Israel fizeram coisa semelhante. E a alegria foi grande. Esdras fez, cada dia, uma leitura da Lei de Deus, desde o primeiro dia da festa até ao último. Celebraram a festa durante sete dias e, no oitavo dia, houve uma assembleia solene, segundo o costume. No vigésimo quarto dia do mesmo mês, os filhos de Israel, vestidos de saco e com a cabeça coberta de pó, reuniram-se para o jejum. Os que eram da linhagem de Israel estavam separados de todos os estrangeiros, e apresentaram-se para confessar os seus pecados e as iniquidades dos seus pais. De pé, cada um no seu lugar, todos escutavam a leitura da Lei do Senhor, seu Deus, durante um quarto do dia; e, durante outro quarto do dia, confessavam os seus pecados e adoravam o Senhor, seu Deus. Jesua, Benui, Cadmiel, Chebanias, Buni, Cherebias, Bani e Canani, que tomaram lugar no estrado dos levitas, invocaram em alta voz o Senhor, seu Deus. E os levitas Jesua, Cadmiel, Bani, Hasabenias, Cherebias, Hodaías, Chebanias e Petaías disseram: «Levantai-vos, bendizei o Senhor, vosso Deus, desde sempre e para sempre!» Bendito seja o teu nome glorioso, que está acima de toda a bênção e louvor. «Tu, Senhor, és o único, Tu fizeste os altos céus e todo o exército dos seus astros, a terra e tudo o que ela contém, o mar e tudo o que nele se encontra; Tu dás a vida a todos os seres, e o exército dos céus te adora. Foste Tu, Senhor Deus, quem escolheu Abrão, quem o tirou da terra de Ur, na Caldeia, e quem lhe deu o nome de Abraão. Encontraste nele um coração fiel e fizeste com ele uma aliança, prometendo dar à sua posteridade a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos perizeus, dos jebuseus e dos guirgaseus e cumpriste a tua palavra, porque Tu és justo. Viste a aflição dos nossos pais no Egipto, e ouviste o seu clamor no Mar dos Juncos. Realizaste sinais e prodígios contra o faraó, contra todos os seus servos e todo o povo do seu país, porque sabias que trataram com crueldade os nossos pais, e alcançaste um nome grande como nestes nossos dias. Dividiste o mar diante deles, e passaram pelo meio a pé enxuto; mas precipitaste no abismo todos os que os perseguiam, como uma pedra é atirada às profundezas das águas. Tu os guiaste, durante o dia, por uma coluna de nuvens e, de noite, por uma coluna de fogo para iluminar o caminho que deviam seguir. Desceste sobre o monte Sinai, falaste-lhes do alto do céu e deste-lhes ordens justas, leis de verdade, preceitos e mandamentos excelentes. Deste-lhes a conhecer o teu santo sábado e, por meio de Moisés, teu servo, prescreveste-lhes os mandamentos, os preceitos e a Lei. Deste-lhes o pão do céu, para saciar a sua fome, fizeste brotar água do rochedo para lhes matar a sede. Deste-lhes a posse da terra que a tua mão jurou dar-lhes. Mas eles e os nossos pais encheram-se de orgulho, endureceram a cerviz e não observaram os teus mandamentos. Recusaram ouvir e não se recordaram mais das maravilhas que operaste em seu favor. Endureceram a cerviz e, na sua rebelião, puseram os pés a caminho para voltar à sua escravidão no Egipto. Mas Tu és um Deus de perdão, clemente e compassivo, lento na ira e rico em misericórdia e, por isso, não os abandonaste, mesmo quando fabricaram para si um bezerro de metal fundido e disseram: ‘Eis o teu Deus que te fez subir do Egipto’, e cometeram grandes abominações. Tu usaste de muita misericórdia e não os abandonaste no deserto; e não se afastou deles a coluna de nuvem que os guiava durante o dia, no seu caminho, e a coluna de fogo que, durante a noite, lhes iluminava o caminho que deviam seguir. Deste-lhes o teu bom espírito para os instruir, não recusaste o teu maná para os alimentar e deste-lhes água para matar a sua sede. Tu os alimentaste no deserto durante quarenta anos, sem que nada lhes faltasse. As suas vestes não envelheceram e os seus pés não incharam. Tu lhes entregaste os reinos e os povos, cujas terras sorteaste entre eles. Possuíram a terra de Seon, a terra do rei de Hesbon e a terra de Og, rei de Basan. Multiplicaste os seus filhos como as estrelas do céu, e introduziste-os na terra cuja posse prometeste dar a seus pais. Vieram os seus filhos e ocuparam-na. Diante deles, humilhaste os cananeus que a habitavam, e entregaste-a nas suas mãos, com os seus reis e as populações que ficaram à sua mercê. E tomaram as suas cidades fortificadas e as terras férteis; herdaram casas repletas de toda a espécie de bens, cisternas já feitas, vinhas e olivais e muitas árvores frutíferas. E comeram até se saciarem, engordaram e deleitaram-se com a tua grande bondade. Mas foram rebeldes e revoltaram-se contra ti. Rejeitaram a tua Lei, mataram os teus profetas, que os repreendiam para se converterem a ti. Cometeram grandes abominações. E Tu os entregaste nas mãos dos seus inimigos, que os oprimiram. Mas quando, no tempo da sua aflição, clamaram a ti, Tu os ouviste do alto do céu e, segundo a tua grande misericórdia, enviaste-lhes salvadores que os livraram das mãos dos seus inimigos. Mas assim que voltou a paz, voltaram a fazer o mal diante de ti, e Tu os abandonaste nas mãos dos seus inimigos, que os dominaram. Mas converteram-se de novo e clamaram a ti, e Tu, do alto do céu, os atendeste, segundo a tua grande misericórdia, libertando-os muitas vezes. Tu os exortaste a voltar à tua Lei, mas eles, na sua arrogância, não escutaram os teus mandamentos, transgrediram as tuas ordens, que dão a vida ao homem que as observa, e só mostraram ombros rebeldes, cerviz altiva e ouvidos surdos. A tua paciência suportou-os durante muitos anos; fazias-lhes admoestações pela inspiração do teu espírito, que animava os teus profetas, mas não te deram ouvidos. Então, entregaste-os nas mãos dos povos estrangeiros. Mas, na tua grande misericórdia, não os aniquilaste nem os abandonaste, porque Tu és um Deus clemente e compassivo. Agora, pois, ó nosso Deus, Deus grande, poderoso e temível, que guardas fielmente a tua aliança misericordiosa, não sejas indiferente a todos os sofrimentos que nos têm afligido, a nós, aos nossos reis, aos nossos chefes, aos nossos sacerdotes, aos nossos profetas, aos nossos pais e a todo o povo, desde o tempo dos reis da Assíria até ao dia de hoje. Em tudo aquilo que nos aconteceu, Tu foste justo porque agiste com fidelidade, enquanto nós praticámos o mal. Os nossos reis, os nossos chefes, os nossos sacerdotes e os nossos pais negligenciaram a prática da tua Lei e não obedeceram aos teus mandamentos nem às admoestações que lhes fizeste. No seu reino, apesar dos muitos bens que lhes concedeste nesta terra espaçosa e fértil que lhes entregaste, eles não te serviram nem renunciaram às suas más obras. Por isso, hoje somos escravos nesta mesma terra que deste aos nossos pais para que comessem dos seus frutos e dos seus produtos. Esta terra multiplica os seus produtos para os reis estrangeiros, que puseste a mandar em nós, por causa dos nossos pecados, e que dispõem das nossas pessoas e dos nossos animais, conforme a sua vontade. Estamos, de facto, numa grande aflição.» Por tudo isto, fazemos hoje um pacto consignado por escrito e assinado pelos nossos chefes, pelos nossos levitas e pelos nossos sacerdotes. Foram estes os que assinaram: Neemias, o governador,* filho de Hacalias, e Sedecias; Seraías, Azarias, Jeremias, Pachiur, Amarias, Malquias, Hatus, Chebanias, Maluc, Harim, Meremot, Abdias, Daniel, Guineton, Baruc, Mechulam, Abias, Miamin, Maazias, Bilgai, Chemaías. Estes são os sacerdotes.* E os levitas:* Jesua, filho de Azanias, Binui, dos filhos de Henadad, Cadmiel e os seus irmãos, Chebanias, Hodaías, Quelitá, Pelaías, Hanan, Mica, Reob, Hasabias, Zacur, Cherebias, Chebanias, Hodaías, Bani, Beninu. Chefes do povo*, Parós, Paat-Moab, Elam, Zatú, Bani, Buni, Azegad, Bebai, Adonias, Bigvai, Adin, Ater, Ezequias, Azur, Hodaías, Hachum, Beçai, Harif, Anatot, Nebai, Magpias, Mechulam, Hezir, Mechezabel, Sadoc, Jadua, Pelatias, Hanan, Anaías, Oseias, Hananias, Hachub, Loés, Pileá, Chobec, Reum, Hasabna, Massaías, Aías, Hanan, Anan, Maluc, Harim e Baana. O resto do povo, os sacerdotes, os levitas, os porteiros, os cantores, os natineus e todos os que estavam separados dos povos estrangeiros e abraçaram a Lei de Deus, as suas mulheres, os seus filhos e as suas filhas, todos os que estavam em idade de conhecer e compreender, juntaram-se aos irmãos, aos seus chefes, e juraram caminhar segundo a Lei de Deus, dada por intermédio de Moisés, seu servo, e observar e praticar todos os mandamentos do Senhor, nosso Deus, os seus juízos e os seus preceitos. Prometemos não dar as nossas filhas aos povos desta terra e, também, não tomar as suas filhas para os nossos filhos; nada comprar em dia de sábado ou em dia de festa, mercadorias ou quaisquer géneros alimentícios trazidos para vender, naqueles dias, pelos povos da terra; deixar repousar a terra no sétimo ano e remir toda a dívida. Impusemo-nos como obrigação pagar, cada ano, o terço de um siclo, para o serviço do templo, para os pães da oferenda, a oblação perpétua e o holocausto perpétuo, para os sacrifícios dos sábados, das festas da Lua-nova e das festas consagradas, para os sacrifícios expiatórios em favor de Israel e para todo o serviço do templo do nosso Deus. Deitámos sortes, entre os sacerdotes, os levitas e o povo, quanto à oferta da lenha que cada família, por sua vez, em cada ano, nas épocas determinadas, deve trazer ao templo, para manter aceso o fogo do altar do Senhor, nosso Deus, conforme está escrito na Lei. Comprometemo-nos a trazer ao templo, cada ano, as primícias da nossa terra e de todas as nossas árvores, a apresentar, igualmente, aos sacerdotes que fazem o serviço do templo de Deus, como está prescrito na Lei, os primogénitos dos nossos filhos e dos nossos animais, assim como os primogénitos das nossas vacas e ovelhas. Do mesmo modo, comprometemo-nos a trazer aos sacerdotes, nas dependências do templo do nosso Deus, as primícias dos nossos alimentos, das nossas ofertas e dos frutos de todas as árvores, do vinho e do azeite, e a entregar o dízimo da nossa terra aos levitas, encarregados de receberem o dízimo dos nossos trabalhos em todas as cidades. Um sacerdote da linhagem de Aarão acompanhará os levitas quando receberem o dízimo; e os levitas trarão o dízimo ao templo do nosso Deus, para as salas que servem de depósito. Porque os filhos de Israel e os filhos de Levi devem trazer, para estas salas, as primícias do trigo, do vinho e do azeite; nelas se encontram os utensílios do santuário e é ali que se encontram os sacerdotes em serviço, bem como os porteiros e os cantores. Assim, não mais negligenciaremos o templo do nosso Deus.» Os chefes do povo residiam em Jerusalém. Mas o resto dos filhos de Israel tirou sortes, a fim de que um, entre dez, fosse habitar em Jerusalém, na cidade santa, ficando os outros nove nas cidades. O povo abençoou todos aqueles que decidiram voluntariamente habitar em Jerusalém. Estes são os chefes da província que se estabeleceram em Jerusalém e nas cidades de Judá. Cada um habitava na sua propriedade e na sua cidade, tanto os israelitas como os sacerdotes, os levitas, os natineus e os filhos dos escravos de Salomão. Fixaram-se em Jerusalém tanto filhos de Judá como filhos de Benjamim. Entre os filhos de Judá*, Ataías, filho de Uzias, filho de Zacarias, filho de Amarias, filho de Chefatias, filho de Maalaleel, dos filhos de Peres; Massaías, filho de Baruc, filho de Col-Hozé, filho de Hazaías, filho de Adaías, filho de Joiarib, filho de Zacarias, filho de Chelá. Total dos filhos de Peres que residiam em Jerusalém: quatrocentos e sessenta e oito homens valentes. Filhos de Benjamim*, Salú, filho de Mechulam, filho de Joed, filho de Pedaías, filho de Colaías, filho de Massaías, filho de Itiel, filho de Jesaías, e, depois dele, Gabai-Salai; ao todo, novecentos e vinte e oito. Joel, filho de Zicri, era o seu chefe, e Judá, filho de Hassenua, ocupava o segundo posto na cidade. Entre os sacerdotes*, Jedaías, filho de Joiarib, Jaquin, Seraías, filho de Hilquias, filho de Mechulam, filho de Sadoc, filho de Meraiot, filho de Aitub, intendente do templo de Deus, com os seus irmãos que trabalhavam também no serviço do templo; ao todo, oitocentos e vinte e dois. Adaías, filho de Jeroam, filho de Pelalias, filho de Amci, filho de Zacarias, filho de Pachiur, filho de Malquias, com os seus irmãos, chefes de famílias, em número de duzentos e quarenta e dois. Amachessai, filho de Azarel, filho de Azai, filho de Mechilemot, filho de Imer, com os seus irmãos, fortes e valentes, em número de cento e vinte e oito. Zabdiel, filho de Haguedolim, era o seu chefe. Entre os levitas*, Chemaías, filho de Hachub, filho de Azericam, filho de Hasabias, filho de Buni, Chabetai e Jozabad, superintendentes dos trabalhos exteriores do templo de Deus, entre os chefes dos levitas; Matanias, filho de Mica, filho de Zabdi, filho de Asaf, primeiro cantor dos salmos e hinos, no tempo da oração; Bacbuquias, o segundo entre os seus irmãos, e Abda, filho de Chamua, filho de Galal, filho de Jedutun. Total dos levitas residentes em Jerusalém, na cidade santa: duzentos e oitenta e quatro. Os porteiros* Acub, Talmon e os seus irmãos, guardas das portas, eram cento e setenta e dois. O resto dos filhos de Israel, sacerdotes e levitas, estabeleceram-se em todas as cidades de Judá, cada um na sua propriedade. Os natineus residiam no quarteirão de Ofel, tendo à sua frente Sia e Guispa. O chefe dos levitas de Jerusalém era Uzi, filho de Bani, filho de Hasabias, filho de Matanias, filho de Mica, dos cantores, filhos de Asaf, encarregados do serviço do templo de Deus. A respeito deles havia uma ordem especial do rei, e um regulamento determinava aos cantores o seu turno, dia a dia. Petaías, filho de Mechezabel, da linhagem de Zera, filho de Judá, era comissário do rei para todos os assuntos referentes ao povo. Quanto às cidades e seus arredores, os filhos de Judá estabeleceram-se em Quiriat-Arbá e nas suas aldeias, em Dibon e nas suas aldeias, em Cabeciel e nas suas aldeias, em Jesua, Molada, Bet-Pélet, Haçar-Chual, Bercheba e nas suas aldeias; em Ciclag e Meconá e nas suas aldeias; em En-Rimon, Sorá, Jarmut, Zanoa, Adulam e nas suas aldeias, em Láquis e nos seus territórios, em Azeca e nas suas aldeias. Estabeleceram-se desde Bercheba até ao vale de Hinom. Os filhos de Benjamim estabeleceram-se desde Gueba até Micmás, Ai, Betel, e nas suas aldeias, em Anatot, em Nob, em Ananias, em Haçor, Ramá, Guitaim, Hadid, Seboim, Nebalat, Lod e Ono, no vale dos Operários. Houve alguns levitas oriundos de Judá que se uniram à tribo de Benjamim. Estes são os sacerdotes* e levitas que voltaram com Zorobabel, filho de Salatiel, e com Jesua: Seraías, Jeremias, Ezra, Amarias, Maluc, Hatus, Checanias, Reum, Meremot, Ido, Guineton, Abias, Miamin, Moadias, Bilga, Chemaías, Joiarib, Jedaías, Salú, Amoc, Hilquias, Jedaías. Estes eram os chefes dos sacerdotes e dos seus irmãos no tempo de Jesua. Os levitas*, Jesua, Binui, Cadmiel, Cherebias, Judá e Matanias que, com os seus irmãos, dirigia o canto dos louvores; Bacbuquias e Uni, seus irmãos, alternavam com eles. Jesua gerou Joaquim, Joaquim gerou Eliachib, Eliachib gerou Joiadá, Joiadá gerou Jonatan, Jonatan gerou Jadua. No tempo de Joaquim os chefes das famílias sacerdotais* eram: para a de Seraías, Meraías; para a de Jeremias, Hananias; para Esdras, Mechulam; para Amarias, Joanan; para Maluc, Jonatan; para Chebanias, José; para Harim, Adná; para Meraiot, Helcai; para Ido, Zacarias; para Guineton, Mechulam; para Abias, Zicri; para Miniamin e Moadias, Piltai; para Bilga, Chamua; para Chemaías, Jonatan; para Joiarib, Matenai; para Jedaías, Uzi; para Salú, Calai; para Amoc, Éber; para Hilquias, Hasabias; para Jedaías, Natanael. Sob o reinado de Dario, rei da Pérsia, fez-se uma lista de todos os chefes das famílias dos filhos de Levi e dos sacerdotes no tempo de Eliachib, de Joiadá, de Joanan e de Jadua. Os chefes de família dos filhos de Levi inscreveram-se no Livro das Crónicas* até ao tempo de Joanan, filho de Eliachib. Os chefes dos levitas foram*, Hasabias, Cherebias e Jesua, filho de Cadmiel, encarregados, alternadamente com os seus irmãos, de cantar os louvores a Deus, segundo o rito instituído por David, homem de Deus, um coro respondendo ao outro. Matanias, Bacbuquias, Abdias, Mechulam, Talmon e Acub eram os porteiros e guardas das portas. Estes eram os que estavam em funções no tempo de Joaquim, filho de Jesua, filho de Jocédec, e no tempo do governador Neemias e de Esdras, sacerdote e escriba. Para a dedicação das muralhas de Jerusalém, convocaram-se os levitas de todos os lugares onde residiam, a fim de virem a Jerusalém celebrar alegremente essa dedicação com hinos e cânticos, ao som de címbalos, de cítaras e de harpas. Os filhos dos cantores reuniram-se dos campos vizinhos de Jerusalém e das cidades da região de Netofa, de Bet-Guilgal e dos campos de Gueba e de Azemávet, pois os cantores tinham construído aldeias nos arredores de Jerusalém. Os sacerdotes e os levitas purificaram-se e, depois, purificaram o povo, as portas e a muralha. Fiz então subir à muralha os chefes de Judá e dividi-os em dois grandes coros para o cortejo. Um ia pela mão direita sobre a muralha em direcção à porta da Estrumeira. Atrás deste, caminhavam Hosaías e metade dos chefes de Judá: Azarias, Ezra, Mechulam, Judá, Benjamim, Chemaías e Jeremias. Depois, os filhos dos sacerdotes com trombetas, Zacarias, filho de Jonatan, filho de Chemaías, filho de Matanias, filho de Miqueias, filho de Zacur, filho de Asaf, com os seus irmãos, Chemaías, Azarel, Milalai, Guilalai, Maai, Natanael, Judá e Hanani, com os instrumentos musicais de David, homem de Deus. O escriba Esdras ia à frente deles. Chegando à porta da Fonte, subiram, de frente, as escadas da cidade de David, pela subida da muralha que protege o palácio de David, até atingir a porta das Águas, a oriente. O segundo coro ia pela esquerda, e eu seguia-o com a outra metade da multidão, sobre a muralha, por cima da torre dos Fornos, até à muralha larga; depois, pela porta de Efraim, pela porta Nova, pela porta dos Peixes; pela torre de Hananiel, pela torre dos Cem, até à porta das Ovelhas, interrompendo a marcha na porta da Prisão. Os dois coros detiveram-se no templo de Deus, bem como eu com a metade dos magistrados que me acompanhavam, e os sacerdotes Eliaquim, Massaías, Miniamin, Miqueias, Elioenai, Zacarias, Hananias, com trombetas, e Massaías, Chemaías, Eleázar, Uzi, Joanan, Malquias, Elam e Ézer. Os cantores fizeram-se ouvir, dirigidos por Jizraías. Ofereceram-se, naquele dia, grandes sacrifícios e houve regozijo, porque Deus dera ao povo motivo de grande alegria. As mulheres e as crianças tomaram também parte nas festividades e, de muito longe, ouviam-se os gritos de alegria que ecoavam em Jerusalém. Naquele tempo, estabeleceram-se homens para guardar as salas que serviam de depósito para as oferendas, as ofertas reservadas, as primícias e os dízimos, onde foram recolhidas, dos campos e das cidades, nas suas diversas divisões, as partes prescritas pela Lei para os sacerdotes e levitas. O povo de Judá alegrou-se, ao ver nos seus postos os sacerdotes e levitas que, do mesmo modo que os cantores e porteiros, asseguravam o serviço do seu Deus e os ritos das purificações, segundo as ordens de David e de Salomão, seu filho. Com efeito, já no tempo de David e Asaf, havia chefes de cantores, que cantavam cânticos de louvor e de acções de graças a Deus. Todo o Israel, no tempo de Zorobabel e de Neemias, dava quotidianamente as porções destinadas aos cantores e aos porteiros; e dava as ofertas sagradas aos levitas, os quais entregavam aos filhos de Aarão a parte das coisas consagradas. Ao ler-se, certo dia, ao povo, o livro de Moisés, descobriu-se um texto que ordenava que o amonita e o moabita jamais deviam ingressar na assembleia de Deus, por não terem ido receber os filhos de Israel com pão e água; antes, contrataram Balaão para os amaldiçoar, maldição que o nosso Deus mudou em bênção. Logo que ouviram a leitura desta Lei afastaram de Israel todos os estrangeiros. Antes disso, o sacerdote Eliachib, superintendente dos depósitos do templo do nosso Deus e parente de Tobias, colocara à disposição deste último uma grande sala, onde se depositavam, até então, as oferendas, os perfumes, os utensílios, o dízimo do trigo, do vinho e do azeite, para os levitas, os porteiros e os cantores, e as ofertas devidas aos sacerdotes. Enquanto se fazia tudo isto, eu não estava em Jerusalém, pois no trigésimo segundo ano do reinado de Artaxerxes, rei da Babilónia, fui ter com o rei. Passado algum tempo, obtive permissão do rei e regressei a Jerusalém. Tive conhecimento do mal que praticara Eliachib em favor de Tobias, colocando à sua disposição uma sala nos átrios do templo de Deus. Fiquei grandemente indignado. Mandei tirar para fora da sala tudo quanto pertencia a Tobias, ordenei que a purificassem e voltassem a colocar nela os utensílios do templo de Deus, as oferendas e os perfumes. Soube também que não se deram aos levitas as dádivas que lhes eram devidas e que os levitas e os cantores se retiraram cada um para a sua região. Censurei os magistrados e disse-lhes: «Porque se abandonou o templo de Deus?» Reuni os levitas e cantores e reconduzi-os, cada um, ao seu posto. Então, todo o Judá trouxe os dízimos do trigo, do vinho e do azeite para os depósitos. Confiei a intendência dos armazéns ao sacerdote Chelemias, ao escriba Sadoc e a Pedaías, um dos levitas, e, como adjunto, a Hanan, filho de Zacur, filho de Matanias, porque tinham fama de íntegros. Foram eles os encarregados de fazer a distribuição aos seus irmãos. «Recorda-te de mim, ó Deus, por tudo isto, e não esqueças os actos de piedade que fiz pelo templo do meu Deus e pelo seu culto.» Naquela época, encontrei em Judá homens que pisavam uvas ao sábado, carregavam molhos e transportavam em jumentos vinho, uvas, figos e toda a espécie de fardos, que levavam para Jerusalém em dia de sábado. Admoestei-os a respeito do dia em que vendiam os seus produtos. Havia também alguns habitantes de Tiro estabelecidos na cidade, que traziam peixe e toda a espécie de mercadorias, que vendiam em dia de sábado aos judeus, em Jerusalém. Repreendi os notáveis de Judá e disse-lhes: «Procedeis muito mal, profanando o dia de sábado. Os vossos pais faziam o mesmo e, por isso, Deus fez cair todas essas desgraças sobre vós e esta cidade. E vós ireis inflamar a sua cólera contra Israel, profanando o sábado?» Por isso, logo que as portas de Jerusalém ficaram cobertas pela sombra, antes do sábado, ordenei que fechassem as portas e não as abrissem senão depois do sábado. Coloquei às portas alguns dos meus homens a fim de impedirem que qualquer mercadoria ali entrasse em dia de sábado. Então, os negociantes que vendiam toda a espécie de produtos passaram uma ou duas vezes a noite fora de Jerusalém. Ameacei-os, dizendo: «Porque passais a noite diante das muralhas? Se o voltardes a fazer, mando prender-vos.» Desde então, não tornaram a vir em dia de sábado. E ordenei aos levitas que se purificassem e viessem guardar as portas, para santificar o dia de sábado. «Recorda-te, pois, de mim, ó meu Deus, por causa disto também, e perdoa-me, pela tua grande misericórdia.» Naqueles dias encontrei mais alguns judeus que tinham desposado mulheres de Asdod, de Amon e de Moab. Metade dos seus filhos falavam a língua de Asdod e a língua de outros povos e já não sabiam falar o hebraico. Admoestei-os e amaldiçoei-os, até bati em alguns, arranquei-lhes os cabelos e ordenei-lhes, em nome de Deus: «Não dareis as vossas filhas aos filhos dos estrangeiros e não tomareis filhas estrangeiras para os vossos filhos nem para vós mesmos. Não foi este o pecado de Salomão, rei de Israel? Não existia rei semelhante a ele entre a multidão das nações. Era amado do seu Deus e foi posto por Ele como rei de todo o Israel; entretanto, foram as mulheres estrangeiras que o induziram a pecar. Podemos, pois, ouvir dizer que vós estais a cometer este grande mal e que sois infiéis ao nosso Deus, desposando mulheres estrangeiras?» Um dos filhos de Joiadá, filho do Sumo Sacerdote Eliachib, era genro de Sanebalat e, por isso, lancei-o para longe de mim. «Recorda-te, meu Deus, daqueles que profanam, assim, o sacerdócio e a aliança dos sacerdotes e dos levitas.» Purifiquei, pois, o povo de todo o elemento estrangeiro e estabeleci as classes dos sacerdotes e levitas, cada um na sua função, para que cuidassem da oferenda da lenha e das primícias, nas épocas determinadas. «Lembra-te de mim, ó meu Deus, para o meu bem!» Foi no tempo de Assuero, aquele que reinou desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias. Ao sentar-se no trono real de Susa, sua capital, no terceiro ano do seu reinado, Assuero deu um banquete a todos os cortesãos e aos seus servos. Reuniu na sua presença os chefes dos exércitos dos persas e dos medos, os príncipes e os governadores das províncias, para ostentar as riquezas e a magnificência do seu reino, a pompa da sua grandeza, durante muito tempo, a saber, cento e oitenta dias. Passado esse tempo, o rei convidou toda a população de Susa, a capital, desde o maior ao mais pequeno, para um banquete de sete dias, na cerca do jardim do palácio. Eram rendas e cortinas de púrpura, pendentes das colunas de alabastro por cordões de cor branca e violeta e anéis de prata, canapés de ouro e prata sobre um pavimento de jade, de alabastro, de nácar e azeviche. Os convidados bebiam por taças de ouro de várias formas; o vinho do rei servia-se em abundância, oferecido pela liberalidade régia. Bebia-se sem constrangimento, pois cada um bebia o que queria, conforme ordenara o rei aos seus mestres-sala. Ao mesmo tempo, a rainha Vásti ofereceu um banquete às mulheres, no palácio do rei Assuero. No sétimo dia, o rei, cujo coração estava alegre por causa do vinho, ordenou a Meuman, Bizetá, Harbona, Bigtá, Abagtá, Zetar e Carcas – os sete eunucos ao serviço de Assuero – que trouxessem à sua presença a rainha Vásti com o diadema real, para mostrar ao povo e aos grandes a sua beleza, porque era formosa de aspecto. Mas a rainha Vásti recusou-se a cumprir a ordem do rei transmitida pelos eunucos. O rei irritou-se grandemente e, enfurecido, consultou os sábios versados na ciência dos tempos, pois os assuntos do rei eram tratados desse modo com homens conhecedores das leis e do direito. Os mais considerados eram Carsena, Chetar, Admata, Társis, Meres, Marsena e Memucan, sete príncipes da Pérsia e da Média que viviam na presença do rei e ocupavam os primeiros lugares no reino. O rei perguntou-lhes: «Que lei se deve aplicar à rainha Vásti, por não ter obedecido à ordem que o rei Assuero lhe transmitiu através dos eunucos?» E respondeu Memucan, diante do rei e dos notáveis: «A rainha Vásti não só ofendeu o rei, mas também todos os príncipes e povos de todas as províncias do rei Assuero. De facto, o procedimento da rainha será conhecido por todas as mulheres e incitá-las-á a enfrentar os seus maridos com desprezo, dizendo-lhes: ‘O rei Assuero mandou chamar à sua presença a rainha Vásti, mas ela não quis ir’. Daqui em diante, com o exemplo da rainha, as mulheres dos príncipes da Pérsia e da Média, responderão do mesmo modo a todos os grandes do rei, e disso resultará enorme desprezo e irritação por toda a parte. Se o rei achar bem, publique-se em seu nome um decreto real, que ficará escrito nas leis da Pérsia e da Média como irrevogável, por força do qual Vásti não apareça mais diante do rei Assuero; e que o rei confira o título de rainha a outra mais digna do que ela. Quando o édito real for conhecido nas províncias do seu vastíssimo reino, todas as mulheres respeitarão os seus maridos, desde o maior ao mais humilde.» Este parecer agradou ao rei e aos príncipes, de modo que o rei seguiu o conselho de Memucan. O rei expediu, então, cartas para todas as províncias do seu reino, segundo a escrita e a língua de cada país e povo. Nelas dizia que os maridos deviam ser senhores nas suas casas e mandasse cada um como era costume do seu povo. Passadas estas coisas, logo que a cólera do rei acalmou, Assuero pensou em Vásti, no que esta fizera e na decisão que tomara a respeito dela. Então, os servidores do rei disseram-lhe: «Procurem-se para o rei donzelas virgens, de bela figura; que o rei nomeie comissários, em todas as províncias do seu reino, a fim de reunirem todas as jovens virgens e de belo aspecto no harém, em Susa, a capital, sob a vigilância de Hegai, o eunuco do rei, guarda das mulheres, que providenciará às necessidades de toucador das mesmas. A jovem que mais agradar ao rei tornar-se-á rainha em lugar de Vásti.» O rei aprovou este parecer e assim mandou fazer. Havia em Susa, a capital, um judeu chamado Mardoqueu, filho de Jair, filho de Chimei, filho de Quis, da tribo de Benjamim, que tinha sido deportado de Jerusalém entre os cativos levados com Jeconias, rei de Judá, por Nabucodonosor, rei da Babilónia. Mardoqueu tinha criado Hadassa, isto é, Ester, filha do seu tio, órfã de pai e mãe. A jovem era bela de porte e de formoso aspecto; na morte de seus pais, Mardoqueu adoptara-a como filha. Logo que foi publicado o édito do rei, numerosas jovens foram reunidas em Susa, a capital, sob a guarda de Hegai. Ester também foi levada ao palácio real e posta sob a vigilância de Hegai, guarda das mulheres. A jovem agradou-lhe e caiu nas suas boas graças, e ele apressou-se a provê-la do necessário para o seu adorno e sua subsistência. Deu-lhe sete companheiras, escolhidas na casa do rei, e fê-la habitar com elas no melhor apartamento do harém. Ester não revelara a sua raça nem a sua família, porque Mardoqueu lhe proibira que falasse nisso. Todos os dias, Mardoqueu passeava diante do pátio do harém, para saber como passava Ester e como a tratavam. Toda a jovem tinha de sujeitar-se, durante doze meses, à lei das mulheres, antes de se apresentar ao rei Assuero. Nesse período, ungia-se seis meses com óleo de mirra, e outros seis meses com aromas e perfumes em uso entre as mulheres. Depois, quando chegava a vez de cada uma se apresentar diante do rei, podia, ao passar do harém ao palácio real, levar consigo tudo o que quisesse. Admitida à tarde, retirava-se pela manhã e passava à segunda casa das mulheres, sob a vigilância de Chaasgaz, eunuco do rei e guarda das concubinas. E não voltava mais à presença do rei, a não ser que este a desejasse e a chamasse pelo nome. Chegou a vez de Ester ser levada à presença do rei. A filha de Abiaíl, tio de Mardoqueu, que a adoptara por filha, não pediu nada além do que lhe fora dado por Hegai, eunuco do rei, encarregado das mulheres. Mas ela ganhava as boas graças de todos os que a viam. Ester foi, pois, conduzida à presença do rei Assuero, no seu palácio real, no décimo mês, que é o mês de Tébet, no sétimo ano do seu reinado. O rei amou-a mais que a todas as outras mulheres, e Ester conquistou as graças e favores do rei, mais do que nenhuma outra donzela. O rei colocou sobre a sua cabeça o diadema real e proclamou-a rainha, em lugar de Vásti. O rei ofereceu um grande banquete a todos os seus príncipes e aos seus servos, em honra de Ester, concedeu descanso às suas províncias e fez-lhes mercês com liberalidade régia. Quando se reuniram virgens pela segunda vez, Mardoqueu estava sentado à porta do rei. Ester não revelara ainda nem a sua família, nem a sua nação, como Mardoqueu lhe tinha recomendado: obedecia às ordens de Mardoqueu tão fielmente como quando estava sob a sua tutela. Naquele tempo, Mardoqueu encontrava-se, pois, sentado à porta do palácio. Ora dois eunucos do rei, Bigtan e Teres, guardas da entrada, revoltaram-se e quiseram levantar a mão contra o rei. Mardoqueu soube-o e informou a rainha Ester, que o referiu ao rei da parte de Mardoqueu. Averiguado o assunto e tido como certo, os dois eunucos foram suspensos numa forca. Este caso foi escrito no livro das crónicas, na presença do rei. Depois destes acontecimentos, o rei Assuero elevou em dignidade Haman, filho de Hamedata, o agagita, e deu-lhe um lugar superior ao de todos os príncipes que o rodeavam. Todos os servos do rei que estavam à porta, dobravam o joelho e prostravam-se diante de Haman, por ordem expressa do rei; só Mardoqueu não dobrava o joelho nem se prostrava. Disseram-lhe os servos do rei que estavam à porta do palácio: «Porque desobedeces assim à ordem do rei?» E, como lhe repetissem isto todos os dias e ele não fizesse caso, denunciaram-no a Haman, para ver se Mardoqueu persistia na sua obstinação, pois este dissera-lhes que era judeu. Haman, vendo que Mardoqueu não queria dobrar o joelho nem prostrar-se diante dele, ficou furioso. Mas pareceu-lhe pouco vingar-se só de Mardoqueu, pois fora informado sobre o povo a que pertencia; procurou, então, maneira de exterminar o povo de Mardoqueu, todos os judeus que habitavam no reino de Assuero. No primeiro mês, que é o mês de Nisan, no décimo segundo ano do reinado de Assuero, foi lançado o “ pur*”, isto é, a sorte, diante de Haman, para cada dia e cada mês. Saiu o décimo segundo mês, que é o mês de Adar. Então, Haman disse ao rei Assuero: «Em todas as províncias do teu reino existe um povo, disperso e separado dos outros; as suas leis são diferentes das dos outros povos, e este povo não observa as leis do rei. Não convém aos interesses do rei deixar esse povo em paz. Se ao rei lhe parecer bem, dê-se ordem para os exterminar, e eu pesarei dez mil talentos de prata que passarei para as mãos dos funcionários, para que os recolham no tesouro real.» Então, o rei tirou o anel do seu dedo e entregou-o a Haman, filho de Hamedata, o agagita, inimigo dos judeus, e disse-lhe: «Entrego-te esse dinheiro e também esse povo; faz dele o que quiseres.» No dia treze do primeiro mês foram convocados os secretários do rei e escreveu-se, pontualmente, tudo o que Haman ordenava aos sátrapas do rei, aos governadores de cada província e aos príncipes de cada nação; a cada província, segundo a sua escrita, e a cada nação, segundo a sua língua. O édito estava assinado com o nome de Assuero e levava o selo real. Expediram-se cartas, por correios, para todas as províncias reais, no sentido de destruir, matar e exterminar todos os judeus, jovens, velhos, crianças e mulheres, num só dia, no dia treze do décimo segundo mês, que é o mês de Adar, e para entregar à pilhagem os seus despojos. Uma cópia do édito, que devia ser promulgado em cada província, foi enviada a todos os povos, convidando-os a estarem preparados para o dia marcado. À ordem do rei, os correios partiram a toda a pressa. O édito publicou-se em Susa, a capital, e enquanto o rei bebia na companhia de Haman, a cidade de Susa estava consternada. Quando Mardoqueu soube o que se tinha passado rasgou as vestes, vestiu-se de saco e cinza e percorreu a cidade dando fortes gemidos de dor. Deste modo chegou até à porta do rei. Ora ninguém podia transpor aquela porta vestido de saco. Em todas as províncias, em toda a parte onde chegou a ordem do rei e o seu édito, houve grande desolação entre os judeus. Jejuaram, choraram e fizeram lamentações, e muitos deitavam-se sobre a cinza vestidos de saco. As criadas de Ester e os seus eunucos foram-lhe contar o que se passava. E a rainha encheu-se de temor. Mandou roupas para que Mardoqueu se vestisse e tirasse o saco com que estava coberto; mas ele não as aceitou. Então, Ester chamou Hatac, um dos eunucos que o rei pusera ao seu serviço, e encarregou-o de perguntar a Mardoqueu que significavam e qual o motivo daqueles sinais de dor. Hatac foi ter com Mardoqueu, que estava na praça da cidade, diante da porta do rei. E Mardoqueu contou-lhe tudo o que acontecera, e a quantia de dinheiro que Haman prometera entregar ao tesouro real, em troca do extermínio dos judeus. E entregou-lhe também uma cópia do édito publicado em Susa para os exterminar, de modo que a mostrasse a Ester, pondo-a ao corrente de tudo. E mandou a Ester que se apresentasse ao rei, a fim de implorar a sua graça e interceder junto dele pelo seu povo. Hatac foi referir a Ester as palavras de Mardoqueu. Mas a rainha encarregou Hatac de lhe responder: «Todos os servos do rei e o povo das suas províncias sabem que há uma lei que castiga com a pena de morte quem quer que seja, homem ou mulher, que penetrar sem ser chamado no átrio interior do palácio do rei, excepção feita somente àquele para o qual o rei estender o seu ceptro de ouro, a fim de lhe conservar a vida. E eu não fui chamada pelo rei desde há trinta dias.» Estas palavras de Ester foram referidas a Mardoqueu, e este mandou responder-lhe: «Não penses que, por estares no palácio, poderás escapar mais facilmente que todos os judeus. Se agora te calares, e o socorro e a libertação dos judeus vier de outra parte, tu e a casa dos teus pais perecereis. E quem sabe se não foi para estas circunstâncias que chegaste à realeza?!» Ester mandou responder a Mardoqueu: «Vai reunir todos os judeus de Susa e jejuai por mim, sem comer nem beber, durante três dias e três noites. Eu farei a mesma coisa com as minhas servas. Depois disso, e apesar da proibição, irei ter com o rei. Se tiver de morrer, morrerei.» Mardoqueu retirou-se e fez tudo o que Ester pedira. No terceiro dia, Ester vestiu os trajes reais e foi colocar-se no átrio interior do palácio real, diante da residência do rei; este estava sentado no trono real, na sala do trono, diante da porta do palácio. Quando o rei viu a rainha Ester de pé no átrio, olhou-a com agrado e estendeu para ela o ceptro de ouro que tinha na mão. Ester aproximou-se e tocou na ponta do ceptro. O rei disse-lhe: «Que tens, rainha Ester, e que queres? Mesmo que pedisses metade do meu reino, isso te daria.» Ester respondeu-lhe: «Se ao rei parecer bem, venha hoje com Haman ao banquete que lhe preparei.» O rei disse: «Apressai-vos a chamar Haman para atender ao desejo de Ester.» O rei foi com Haman ao banquete que Ester tinha preparado. Enquanto se bebia o vinho, o rei disse à rainha: «Qual é o teu pedido? Tudo te será concedido. Qual o teu desejo? Mesmo que seja metade do meu reino, será satisfeito.» Ester respondeu-lhe: «Eis o que desejo e o meu pedido: Se encontrei favor aos olhos do rei, e se lhe agrada aceder ao meu pedido e satisfazer o meu desejo, que o rei e Haman tornem a vir ao banquete que lhes vou preparar. Amanhã darei resposta à pergunta do rei.» Haman saiu, naquele dia, cheio de gozo e alegre de coração. Mas, à vista de Mardoqueu que, diante da porta do rei, não se levantou nem se moveu à sua passagem, encheu-se de furor contra ele. Soube, entretanto, conter-se e retirou-se para sua casa. Então, chamou os seus amigos e Zeres, sua mulher, e falou-lhes do esplendor das suas riquezas, do número dos seus filhos, de tudo o que o rei fizera para o exaltar e do lugar que lhe conferira sobre todos os príncipes e todos os servidores reais. E acrescentou: «Fui o único a quem a rainha Ester admitiu com o rei ao banquete que ela lhe ofereceu, e convidou-me ainda para amanhã, juntamente com o rei. Mas tudo isto não é nada para mim, enquanto vir esse judeu Mardoqueu sentado à porta do rei.» Zeres, sua mulher, e todos os seus amigos disseram-lhe: «Prepara uma forca com cinquenta côvados de altura e, amanhã cedo, pede ao rei que nela seja suspenso Mardoqueu. Depois, irás satisfeito ao banquete com o rei.» Este conselho agradou a Haman, que mandou levantar a forca. Naquela noite, o rei não pôde conciliar o sono. Mandou que lhe trouxessem o livro das memórias, as Crónicas, que na sua presença foram lidas. Nelas estava escrita a relação da denúncia que lhe fizera Mardoqueu da conspiração de Bigtan e Teres, os dois eunucos do rei, guardas do átrio, que quiseram levantar a mão contra o rei Assuero. O rei perguntou: «Que honras e distinções recebeu Mardoqueu por isto?» Responderam os servos do rei: «Não recebeu nenhuma.» Então o rei disse: «Quem está no átrio?» Ora Haman viera ao átrio exterior do palácio, para pedir ao rei que mandasse suspender Mardoqueu na forca que mandara levantar. Os servos do rei responderam: «É Haman que está no átrio.» O rei ordenou: «Que entre!» Entrou, pois, Haman e o rei perguntou-lhe: «Que se deve fazer a um homem a quem o rei quer honrar?» Pensou Haman: «A quem senão a mim quererá o rei honrar?» E logo respondeu: «Para honrar um homem a quem o rei quer honrar, é necessário mandar trazer as vestes com que se vestiu o rei e o cavalo que ele montou e colocar a coroa real na cabeça dele. As vestes, o cavalo e a coroa entregar-se-ão a um dos príncipes da corte, para que vista o homem a quem o rei quer honrar, passeando-o a cavalo pela praça da cidade e dizendo em altos brados diante dele: ‘É assim que é tratado o homem a quem o rei quer honrar’.» O rei disse a Haman: «Toma, pois, depressa as vestes e o cavalo, como disseste, e faz tudo isso a Mardoqueu, o judeu que está sentado à porta do rei. Não omitas nada de tudo o que disseste.» Haman tomou as vestes e o cavalo, vestiu Mardoqueu e conduziu-o, a cavalo, pela praça da cidade, clamando diante dele: «É assim que é tratado o homem a quem o rei quer honrar.» Depois, Mardoqueu voltou para a porta do palácio, enquanto Haman se retirava precipitadamente para casa, desolado e de cabeça coberta. E contou a Zeres, sua mulher, e a todos os seus amigos o que lhe acontecera. Os seus conselheiros e a sua mulher Zeres responderam-lhe: «Se Mardoqueu, diante do qual começaste a cair, pertence ao povo judeu, não o conseguirás vencer, mas sucumbirás diante dele.» Falavam ainda, quando os eunucos do rei chegaram para o levar imediatamente ao banquete que Ester tinha preparado. O rei e Haman foram, pois, ao banquete da rainha Ester. No segundo dia, disse outra vez o rei a Ester, durante o festim: «Qual é o teu pedido, rainha Ester? Pois ele te será concedido. Que é que desejas? Mesmo que fosse metade do meu reino, seria satisfeito.» A rainha respondeu: «Se encontrei favor aos teus olhos, ó rei, e se ao rei parecer bem, conceda-me a vida, eis o meu pedido; e salve o meu povo, eis o meu desejo. É que eu e o meu povo fomos votados ao extermínio, à morte, ao aniquilamento. Se tivéssemos sido vendidos como escravos ou como servos, eu calar-me-ia, embora o inimigo não compensasse o prejuízo que o rei sofreria.» O rei Assuero perguntou à rainha Ester: «Quem é e onde está aquele que projecta tais coisas?» – «O opressor, o inimigo – disse a rainha – é Haman, esse malvado.» Haman ficou tolhido de terror diante do rei e da rainha. O rei, na sua cólera, levantou-se, deixou o banquete e dirigiu-se ao jardim do palácio. Haman, porém, permaneceu ali para implorar a Ester que lhe salvasse a vida, porque via bem que no espírito do rei estava decretada a sua completa ruína. Quando o rei voltou do jardim do palácio para a sala do banquete, viu Haman que se deixara cair no divã em que repousava Ester e exclamou: «Como?! Será que quer fazer também violência à rainha na minha casa, no meu palácio?» Mal acabara o rei de pronunciar essas palavras, cobriram o rosto de Haman. Harbona, um dos eunucos, disse ao rei: «Na casa de Haman há uma forca, com a altura de cinquenta côvados, que o próprio Haman preparou para Mardoqueu, aquele que descobriu a conspiração contra o rei.» Exclamou o rei: «Que o suspendam nela!» Suspenderam Haman na forca que tinha erguido para Mardoqueu e a cólera do rei aplacou-se. Naquele mesmo dia, o rei Assuero deu à rainha Ester a casa de Haman, o opressor dos judeus; e Mardoqueu apresentou-se diante do rei, porque Ester lhe manifestara o parentesco que a unia a ele. O rei tirou o seu anel, que retirara de Haman, e deu-o a Mardoqueu; e Ester colocou Mardoqueu à frente da casa de Haman. Ester voltou de novo à presença do rei e falou-lhe. Prostrada a seus pés a chorar, suplicava-lhe que impedisse o efeito das maldades de Haman, o agagita, e a realização dos seus planos contra os judeus. O rei estendeu o ceptro de ouro a Ester, que se pôs de pé diante dele e lhe disse: «Se ao rei parecer bom e justo, e se encontrei favor, e for agradável aos seus olhos, que se revoguem por escrito as cartas que Haman, filho de Hamedata, o agagita, propôs e redigiu para exterminar os judeus de todas as províncias do rei. Como poderia eu ver a desgraça que espera o meu povo, e como poderia assistir ao extermínio da minha gente?» O rei Assuero respondeu à rainha Ester e ao judeu Mardoqueu: «Eu dei a Ester a casa de Haman, e esse homem foi enforcado por levantar a mão contra os judeus. Escrevei, portanto, vós mesmos, em favor dos judeus, como bem vos parecer, em nome do rei, e selai as cartas com o selo real, porque toda a ordem escrita em nome do rei e selada com o seu selo é irrevogável.» Foram, então, chamados os secretários do rei, no dia vinte e três do terceiro mês, que é o mês de Sivan. E eles, conforme as instruções de Mardoqueu, escreveram aos judeus, aos sátrapas, aos governadores e aos chefes das cento e vinte e sete províncias situadas entre a Índia e a Etiópia, a cada província na sua escrita, a cada nação na sua própria língua, e aos judeus na sua própria escrita e língua. Redigiram-se, em nome do rei Assuero, e marcaram-se com o selo real as cartas que foram expedidas por correios, montados em cavalos procedentes das cavalariças reais. Nelas, o rei outorgava aos judeus, em qualquer cidade em que residissem, o direito de se reunirem para defender a sua vida, destruir, matar e fazer perecer, em cada província do reino, todos os que estivessem armados para os atacar, assim como as suas mulheres e filhos, e também o direito de se apoderarem dos bens deles. E fixou-se num só dia, em todas as províncias do rei Assuero, a saber, no dia treze do décimo segundo mês, chamado Adar. Uma cópia do édito, que devia ser promulgado como lei em cada província, foi enviada a todos os povos, a fim de que os judeus estivessem preparados, naquele dia, para se vingarem dos seus inimigos. Os correios, montados em cavalos das cavalariças reais, partiram a toda a pressa, por ordem do rei. O édito foi imediatamente publicado em Susa, a capital. Mardoqueu saiu do palácio do rei, com uma veste real, azul e branca, com uma grande coroa de ouro e um manto de linho e púrpura. A cidade de Susa alegrou-se com grandes manifestações de júbilo. Houve para os judeus felicidade, alegria, luz e cantos de triunfo. Em cada província, em cada cidade, onde quer que chegasse o édito real, houve entre os judeus gozo, banquetes e regozijo. E muitos de entre os povos do país fizeram-se judeus, tal era o temor que estes lhes inspiravam. No décimo segundo mês, chamado Adar, no dia treze do mês, data em que se cumpria o édito do rei e em que os inimigos dos judeus pensavam exterminá-los, aconteceu tudo ao contrário, e os judeus dominaram os seus inimigos. Os judeus reuniram-se nas suas cidades, em todas as províncias do rei Assuero, para levantar a mão contra aqueles que desejavam a sua perda. Ninguém lhes pôde resistir, porque o terror se apoderara de todos os povos. E todos os chefes das províncias, os sátrapas, os governadores e os funcionários do rei apoiaram os judeus, pelo temor que lhes inspirava Mardoqueu. Porque este ocupava um alto lugar no palácio real, e a sua fama espalhava-se por todas as províncias, onde a sua influência crescia dia a dia. Os judeus feriram todos os seus inimigos a golpes de espada, mataram e exterminaram os seus opressores e trataram-nos como os seus inimigos tinham querido proceder com eles. Em Susa, a capital, mataram quinhentos homens. Fizeram igualmente perecer Parchandata, Dalfon, Aspata, Porata, Adalias, Aridata, Parmasta, Arisai, Aridai e Vaizata, os dez filhos de Haman, filho de Hamedata, o opressor dos judeus. Mas abstiveram-se de toda a pilhagem. Nesse dia, chegou ao conhecimento do rei o número das vítimas em Susa, a capital, e o rei disse a Ester: «Na cidade de Susa, os judeus mataram quinhentos homens e os dez filhos de Haman. Que terão feito nas outras províncias do rei? Se algo mais quiseres, ser-te-á concedido. Se tens mais algum desejo, ser-te-á satisfeito.» Ester respondeu: «Se ao rei parecer bem, seja permitido aos judeus de Susa agir também amanhã conforme o decreto de hoje, e que se suspendam numa forca os dez filhos de Haman.» O rei deu ordem para que assim se fizesse. O édito foi publicado em Susa, e suspenderam na forca os dez filhos de Haman. Os judeus de Susa reuniram-se de novo no dia catorze do mês de Adar e mataram na cidade trezentos homens. Mas também não se deram à pilhagem. Os outros judeus, espalhados pelas províncias do reino, juntaram-se para defender as suas vidas e livrar-se dos ataques dos seus inimigos. Mataram setenta e cinco mil pessoas sem, contudo, se entregarem à pilhagem. Isto sucedeu no dia treze do mês de Adar. No dia catorze repousaram e fizeram dele um dia de banquetes e alegria. Os judeus de Susa, que se juntaram no dia treze e catorze, repousaram no dia quinze, fazendo dele um dia de banquetes e alegria. Mas os judeus do campo, que habitavam nas cidades não fortificadas, faziam do dia catorze do mês de Adar um dia de alegria, de banquetes e de festa, dia em que enviavam ofertas uns aos outros. Mardoqueu escreveu todos estes acontecimentos. Enviou cartas a todos os judeus das províncias do rei Assuero, próximas ou longínquas, para lhes ordenar que celebrassem, cada ano, o dia catorze e o dia quinze do mês de Adar como dias em que foram postos a salvo dos ataques dos seus inimigos, e celebrar o mês em que a sua tristeza se transformou em alegria e o luto em festa. Deviam, pois, nesses dias, fazer alegres banquetes, enviar ofertas uns aos outros e distribuir donativos aos pobres. Os judeus comprometeram-se a fazer aquilo que já tinham começado e que Mardoqueu lhes escrevera: que Haman, filho de Hamedata, o agagita, opressor dos judeus, resolvera exterminá-los e lançar-lhes o “ pur* ”, isto é, a sorte, para os exterminar e destruir; mas, quando Ester se apresentou diante do rei, este ordenou, por escrito, que o maligno projecto tramado contra os judeus recaísse sobre a cabeça do seu autor e que este e seus filhos fossem suspensos na forca. É por isso que eles chamam a esses dias Purim, da palavra “pur”. Conforme o conteúdo dessa carta, segundo o que eles mesmos viram e lhes acontecera, os judeus instituíram e estabeleceram para eles, para os seus descendentes e para todos os que a eles se unissem, o costume irrevogável de celebrar anualmente esses dois dias, na forma prescrita e no tempo marcado. Esses dias eram recordados e celebrados de geração em geração, em cada família, em cada província e em cada cidade. Jamais poderiam ser abolidos esses dias de Purim entre os judeus, nem se devia apagar a sua recordação entre os seus descendentes. A rainha Ester, filha de Abiaíl, e o judeu Mardoqueu escreveram uma segunda vez com insistência, para confirmar a carta acerca da festa de Purim, e enviaram as cartas a todos os judeus das cento e vinte e sete províncias do rei Assuero, com palavras de paz e de fidelidade; recomendavam a celebração desses dias de Purim no tempo fixado, como o judeu Mardoqueu e a rainha Ester os instituíram, para eles e para os seus descendentes, com os jejuns e as lamentações. Assim, a ordem de Ester confirmou a instituição da festa de Purim, e tudo isso foi escrito no livro. O rei Assuero impôs tributo à terra e às ilhas do mar. Todos os factos concernentes ao seu poderio e às suas façanhas e os pormenores da grandeza a que elevou Mardoqueu, tudo isso está escrito no livro das crónicas dos reis dos medos e dos persas. Porque o judeu Mardoqueu era o primeiro, depois do rei Assuero; era considerado grande entre os judeus e amado pela multidão dos seus irmãos. Procurou o bem do seu povo e preocupou-se com a felicidade de toda a sua raça. Havia, na terra de Uce, um homem chamado Job. Era um homem íntegro e recto, que temia a Deus e se afastava do mal. Tinha sete filhos e três filhas. Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas jumentas e uma grande quantidade de escravos. Este homem era o mais importante de todos os homens do Oriente. Os seus filhos costumavam ir, cada dia, à casa uns dos outros, para fazerem banquetes, e mandavam convidar as suas três irmãs para comerem e beberem com eles. Quando acabava a série dos dias de festim, Job mandava chamar os filhos para os purificar e, levantando-se na manhã seguinte, oferecia um holocausto por cada um deles, porque, dizia ele: «Talvez os meus filhos tenham pecado, ofendendo a Deus no seu coração.» Assim fazia Job todas as vezes. Um dia em que os filhos de Deus se apresentavam diante do Senhor, o acusador, Satan, foi também junto com eles. O Senhor disse-lhe: «Donde vens tu?» Satan respondeu: «Venho de dar uma volta ao mundo e percorrê-lo todo.» O Senhor disse-lhe: «Reparaste no meu servo Job? Não há ninguém como ele na terra: homem íntegro, recto, que teme a Deus e se afasta do mal.» Satan respondeu ao Senhor, «Porventura Job teme a Deus desinteressadamente? Não rodeaste Tu com uma cerca protectora a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? Abençoaste o trabalho das suas mãos, e os seus rebanhos cobrem toda a região. Mas se estenderes a tua mão e tocares nos seus bens, verás que te amaldiçoará, mesmo na tua frente.» Então, o Senhor disse a Satan: «Pois bem, tudo o que ele possui deixo-o em teu poder, mas não estendas a tua mão contra a sua pessoa.» E Satan saiu da presença do Senhor. Ora, um dia em que os filhos e filhas de Job estavam à mesa e bebiam vinho na casa do irmão mais velho, um mensageiro foi dizer a Job: «Os bois lavravam e as jumentas pastavam perto deles. De repente, apareceram os sabeus, roubaram tudo e passaram os servos a fio de espada. Só escapei eu para te trazer a notícia.» Estava ainda este a falar, quando chegou outro e disse: «Um fogo terrível caiu do céu; queimou e reduziu a cinzas ovelhas e pastores. Só escapei eu para te trazer a notícia.» Falava ainda este, e eis que chegou outro e disse: «Os caldeus, divididos em três grupos, lançaram-se sobre os camelos e levaram-nos, depois de terem passado os servos a fio de espada. Só eu consegui escapar, para te trazer a notícia.» Ainda este não acabara de falar, e eis que entrou outro e disse: «Os teus filhos e as tuas filhas estavam a comer e a beber vinho na casa do irmão mais velho quando, de repente, um furacão se levantou do outro lado do deserto e abalou os quatro cantos da casa, que desabou sobre os jovens. Morreram todos. Só eu consegui escapar, para te trazer a notícia.» Então, Job levantou-se, rasgou as vestes e rapou a cabeça. Depois, prostrado por terra em adoração, disse: «Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor!» Em tudo isto, Job não cometeu pecado, nem proferiu contra Deus nenhuma insensatez. E aconteceu que um dia em que os filhos de Deus se foram apresentar diante do Senhor, Satan apareceu também junto com eles na presença do Senhor. O Senhor perguntou-lhe: «Donde vens tu?» Satan respondeu: «Venho de dar a volta ao mundo e percorrê-lo todo.» O Senhor disse-lhe: «Reparaste no meu servo Job? Não há ninguém como ele na terra: homem íntegro, recto, que teme a Deus e se afasta do mal; ele persevera na sua integridade, apesar de me teres incitado contra ele, para o aniquilar sem motivo.» Satan respondeu: «Pele por pele! O homem dará tudo o que tem para salvar a própria vida. Mas experimenta estender a tua mão, toca nos seus ossos e na sua carne e verás como ele te amaldiçoará, mesmo na tua frente.» O Senhor disse a Satan: «Pois bem, aí tens Job ao alcance da tua mão; mas poupa-lhe a vida.» Satan retirou-se da presença do Senhor e atingiu Job com uma lepra maligna, desde a planta dos pés até ao alto da cabeça. E Job pegou num caco de telha para se raspar com ele e ficava sentado sobre a cinza. A sua mulher disse-lhe: «Persistes ainda na tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre de uma vez!» Respondeu-lhe Job: «Falas como uma insensata. Se recebemos os bens da mão de Deus, não aceitaremos também os males?» Com tudo isto, Job não pecou pelas suas palavras. Três amigos de Job – Elifaz de Teman, Bildad de Chua e Sofar de Naamá – ao saberem das desgraças que lhe tinham sucedido, partiram cada um da sua terra e combinaram juntar-se, a fim de compartilharem a sua dor e o consolarem. E quando de longe levantaram os olhos, não o reconheceram; puseram-se então a chorar, rasgaram as suas vestes e espalharam pó sobre as suas cabeças. Ficaram sentados no chão, ao lado dele, sete dias e sete noites, sem lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande. Por fim, Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento. Tomou a palavra e disse: «Desapareça o dia em que nasci e a noite em que foi dito: ‘Foi concebido um varão!’ Converta-se esse dia em trevas! Deus, lá do alto, não se preocupe com ele nem a luz o venha iluminar. Apoderem-se dele as trevas e a escuridão. Que as nuvens o envolvam e os eclipses o apavorem! Que a sombra domine essa noite; não se mencione entre os dias do ano nem se conte entre os meses! Seja estéril essa noite e não se ouçam nela brados de alegria. Amaldiçoem-na os que abominam o dia e estão prontos a despertar Leviatan! Escureçam as estrelas da sua madrugada; que em vão espere a luz do dia, nem possa ver abrirem-se as pálpebras da aurora, já que não me fechou a saída do ventre nem afastou a miséria dos meus olhos! Porque não morri no seio da minha mãe ou não pereci ao sair das suas entranhas? Porque encontrei joelhos que me acolheram e seios que me amamentaram? Estaria agora deitado em paz, dormiria e teria repouso com os reis e os grandes da terra, que constroem mausoléus para si; com os príncipes que amontoam ouro e enchem de dinheiro as suas casas. Ou como um aborto escondido, eu não teria existido, como um feto que não viu a luz do dia. Ali, os maus cessam as suas perversidades, ali, repousam os que esgotaram as suas forças. Ali, estão tranquilos os cativos, que já não ouvem a voz do guarda. Ali, estão juntos os pequenos e os grandes, e o escravo fica livre do seu senhor. Por que razão foi dada luz ao infeliz, e vida àqueles para quem só há amargura? Esses esperam a morte que não vem e a procuram mais do que um tesouro; esses saltariam de júbilo e se alegrariam por chegar ao sepulcro. Porque vive um homem cujo caminho foi barrado e a quem Deus cerca por todos os lados? Em lugar de pão, engulo os meus soluços, e os meus gemidos derramam-se como a água. Todos os meus temores caíram sobre mim e aquilo que eu temia veio atingir-me. Não tenho paz nem descanso, os tormentos impedem-me o repouso.» Elifaz de Teman tomou a palavra e disse: «Se alguém te falasse, irias suportar? Mas quem poderá conter as palavras? Tu, antes, exortaste a muita gente, fortaleceste muitas mãos débeis. As tuas palavras eram o apoio dos vacilantes e fortalecias os joelhos trémulos. Mas, agora que te toca a ti, desfaleces? Agora que és atingido, perturbas-te? Não é a tua piedade a tua confiança, e a integridade da tua vida, a tua segurança? Lembra-te disto: qual o inocente que já pereceu? Ou quando foram exterminados os justos? Sempre vi que os que praticam a iniquidade e semeiam a maldade colhem os seus frutos. A um sopro de Deus, perecem, destruídos pelo furor da sua indignação. Ruge o leão e o seu rugido é abafado; os dentes dos leõezinhos são quebrados. O leão morreu porque não tinha presa, e os filhotes da leoa dispersaram-se. Escutei em segredo uma palavra, e o meu ouvido percebeu o seu murmúrio. Na confusão das visões da noite, quando os homens dormem num sono profundo, o medo e o terror apoderaram-se de mim e sacudiram todos os meus ossos; um sopro perpassou pelo meu rosto e arrepiaram-se-me todos os pêlos do corpo! Estava alguém diante de mim, uma figura silenciosa cujo rosto não reconheci; mas ouvi uma voz que dizia: ‘Pode um homem ser justo na presença de Deus, ou um mortal ser puro diante do seu Criador?’ Ele não confia nem nos seus próprios servos, e até mesmo nos seus anjos encontra defeitos; quanto mais nos que habitam moradas de barro e cujo suporte é o pó da terra! São esmagados como um verme, e aniquilados da noite para a manhã. Desaparecem para sempre sem deixar memória. Eis que já foi arrancada a corda da sua tenda; morrem sem terem conhecido a sabedoria.» «Chama para ver se te respondem; a qual dos santos te dirigirás? A ira mata o insensato, e a inveja mata o imbecil. Vi o insensato lançar raízes, mas a sua morada foi logo amaldiçoada. Os seus filhos são privados de qualquer socorro, são pisados à porta sem que ninguém os defenda. Os famintos devoram as suas colheitas e até entre os espinhos as recolhem; os ambiciosos absorvem-lhe as riquezas. Pois a maldade não nasce do chão, a iniquidade não brota da terra. É do homem que vem a iniquidade como do fogo saem as chispas a voar. Por isso, voltar-me-ei para Deus e nas suas mãos porei a minha causa. Ele fez grandes e insondáveis coisas, maravilhas incalculáveis; Ele derrama a chuva sobre a terra e envia as águas sobre os campos; ajuda a levantar os humilhados e dá segurança aos que estão aflitos; desfaz os projectos dos maus, e as mãos deles não executam os seus planos; apanha os sábios nas suas próprias redes e frustra os desígnios dos astutos; em pleno dia encontram as trevas e, como se fosse de noite, andam às apalpadelas ao meio-dia. Protege o fraco da espada afiada da língua deles e o pobre da mão do poderoso. O infeliz recobra a sua esperança, e é fechada a boca dos malvados. Feliz o homem a quem Deus corrige! Não desprezes a lição do Todo-Poderoso. Ele é quem faz a ferida e quem a cura; Ele fere e cura com as suas mãos. Seis vezes te salvará da angústia, e, na sétima, o mal não te atingirá. Em tempo de fome, preservar-te-á da morte e, em tempo de guerra, dos golpes da espada. Preservar-te-á do açoite da língua, e não temerás quando vier a ruína. Rir-te-ás da devastação e da fome, e não temerás os animais ferozes. Farás aliança com as pedras do campo, e os animais selvagens viverão em paz contigo. Dentro da tua tenda conhecerás a paz, e visitarás os teus apriscos, onde nada falta. Verás multiplicar-se a tua descendência e os teus rebentos crescer como a erva dos campos. Descerás, amadurecido, ao sepulcro, como um feixe de trigo maduro, a seu tempo. Foi isto o que observámos e confirmámos. Presta atenção e tira proveito.» Então Job tomou a palavra e disse: «Ah! Se eu pudesse pesar a minha aflição e pôr na balança o meu infortúnio! Este pesaria mais do que a areia dos mares! Por isso, as minhas palavras se descontrolam; pois as setas do Todo-Poderoso vêm contra mim e o meu espírito absorve o veneno delas. O terror do Senhor assedia-me. Porventura zurra o asno montês diante da erva? Ou muge o touro junto da sua forragem? Come-se um manjar insípido, sem sal? Ou que gosto pode haver numa clara de ovo? Por isso a minha alma recusa estar tranquila; está perturbada pela enfermidade do meu corpo. Quem me dera se realizasse a minha petição e que Deus me concedesse o que espero! Prouvera que Deus me esmagasse, deixasse cair a sua mão e me destruísse. Isso seria uma consolação para mim e exultaria no meio dos meus tormentos, porque não reneguei as palavras do Santo. Quais são as minhas forças para resistir? Que objectivo me prolongaria o desejo de viver? Será que eu tenho a fortaleza das pedras, e será de bronze a minha carne? Não encontro nenhum socorro, e o sucesso está fora do meu alcance. O desalentado precisa da compreensão de um amigo, se não, abandona o temor do Poderoso. Os meus irmãos atraiçoaram-me como uma torrente, como as águas das torrentes desapareceram, tornando-se turvas pelo degelo e arrastando consigo a neve. No tempo da seca, elas desaparecem, ao vir o calor, extinguem-se no seu leito. As caravanas desviam-se da sua rota, avançam no deserto e desaparecem; as caravanas de Teman espreitavam e os mercadores de Sabá esperavam por elas; confundidos na sua esperança, chegaram ao lugar e ficaram desiludidos. Assim fostes vós, nesta hora, para mim. À vista do meu infortúnio atemorizais-vos. Porventura eu vos disse: ‘Trazei-me e dai-me dos vossos bens, livrai-me do poder do inimigo, e resgatai-me da mão dos opressores? Ensinai-me e eu escutarei em silêncio, mostrai-me em que é que eu errei.’ Como são eficazes as palavras verdadeiras! Mas em que podereis vós censurar-me? Pretendeis censurar-me por palavras ditas? Palavras desesperadas leva-as o vento. Seríeis capazes de leiloar um órfão, de vender o vosso amigo! Agora, peço-vos, olhai para mim; face a face, assim, não poderei mentir. Vinde, pois, não sejais injustos. Vinde, estou inocente em tudo isto! Haverá porventura falsidade na minha língua? O meu paladar não saberá discernir o que não presta?» «A vida do homem sobre a terra, não é ela uma luta? Não são os seus dias como os de um assalariado? Como um escravo suspira pela sombra, e o jornaleiro espera o seu salário, assim eu tive por quinhão meses de sofrimento, e couberam-me em sorte noites cheias de dor. Se me deito, digo: ‘Quando chegará o dia?’ Se me levanto: ‘Quando virá a tarde?’ E encho-me de angústia até chegar a noite. A minha carne cobre-se de podridão e imundície, a minha pele está gretada e supura. Os meus dias passam mais rápido que a lançadeira e desaparecem sem deixar esperança. Lembra-te de que a minha vida é um sopro, e os meus olhos não voltarão a ver a felicidade. Os olhos de quem me via não mais me verão, os teus olhos procurar-me-ão e eu já não existirei. Como a nuvem que passa e desaparece, assim o que desce ao sepulcro não se erguerá. Não voltará outra vez à sua casa; o seu lar não mais o reconhecerá. Por isso, não reprimirei a minha língua, falarei da angústia do meu espírito, queixar-me-ei da amargura da minha alma: acaso sou eu o mar ou um monstro marinho, para que te ponhas de guarda contra mim? Se eu disser: ‘Estarei confortado no meu leito, e a minha cama aliviará o meu sofrimento’, então, Tu enches-me de sonhos aterradores, e de visões horrorosas. Preferia morrer estrangulado; antes a morte que os meus tormentos! Sucumbo, não viverei mais; deixai-me, que os meus dias são apenas um sopro. Que é o homem, para lhe dares importância e fixares nele a tua atenção, para que o observes todas as manhãs e o proves a cada instante? Quando afastarás de mim o teu olhar, e deixarás que eu engula a minha saliva? Que pecado cometi contra ti, ó juiz dos homens? Porque me tomas por teu alvo, quando nem a mim mesmo me posso suportar? Porque não retiras o meu pecado e não apagas a minha culpa? Eis que vou dormir no pó; procurar-me-ás e já não existirei.» Bildad de Chua tomou a palavra e disse: «Até quando dirás semelhantes coisas? As palavras da tua boca são como um furacão. Acaso tornará Deus torto o que é direito, e o Todo-Poderoso subverterá a justiça? Se os teus filhos pecaram contra Ele, Ele entregou-os ao poder da sua iniquidade. Mas, se recorreres a Deus e implorares ao Todo-Poderoso, se fores puro e recto, desde agora Ele velará sobre ti, e restabelecerá a tua morada com justiça. A tua condição anterior parecerá modesta diante da grandeza da tua condição futura. Interroga as gerações passadas e considera a experiência dos antepassados. Pois somos de ontem e nada sabemos; a nossa vida sobre a terra passa como uma sombra; eles instruir-te-ão e falarão contigo, e tirarão sentenças do seu coração. Acaso pode brotar o papiro fora do pântano, e o junco crescer sem água? Ainda verde, sem que a mão o toque, ele seca antes das outras ervas. Esta é a sorte dos que esquecem a Deus. A esperança do ímpio desvanecer-se-á. A sua esperança ser-lhe-á arrancada; a sua segurança é uma teia de aranha. Ele apoia-se numa casa que se desmorona, numa morada que não tem consistência. Parece uma planta viçosa, ao sol, que estende os seus ramos no jardim. As suas raízes multiplicam-se por entre as pedras, e vive no meio de penhascos. Mas, se é arrancado do seu lugar, este renegá-lo-á dizendo: ‘Nunca te vi.’ Esta é a sorte que o espera, e outros rebentos germinarão do solo. Porém, Deus não abandona o homem íntegro, nem dá a mão aos malvados. Ele encherá a tua boca de sorrisos, e de júbilo os teus lábios. Os teus inimigos ficarão cobertos de vergonha, e a tenda dos maus não subsistirá.» Job respondeu, dizendo: «Na verdade, eu sei que é assim: Como poderia o homem justificar-se diante de Deus? Se quisesse discutir com Ele, não lhe responderia uma vez entre mil. Quem é sábio de coração, forte e poderoso para lhe poder resistir impunemente? Ele desloca os montes, sem se dar por isso, e desmorona-os na sua cólera. Ele sacode a terra do seu lugar, e abala-lhe as colunas. Ordena ao Sol, e o Sol não nasce, e guarda as estrelas fechadas com o selo. Ele sozinho formou a extensão dos céus e caminha sobre as ondas do mar. Ele criou a Ursa Maior, o Orion, as Plêiades e os segredos do céu austral. Ele fez grandes e insondáveis maravilhas, prodígios incalculáveis. Passa diante de mim e eu não o vejo, afasta-se de mim e não me apercebo. Se apanha uma presa, quem lha arrebatará? Quem lhe poderá dizer: ‘Porque fazes isso?’ Deus não reprime a sua cólera; diante dele curvam-se as legiões de Raab. Quem sou eu para lhe replicar e rebuscar argumentos contra Ele? Ainda que tivesse razão não lhe responderia; imploraria misericórdia para a minha causa. Se o chamasse e Ele me respondesse, não acreditaria que tivesse ouvido a minha voz. Ele pode esmagar-me facilmente e multiplicar as minhas feridas sem motivo. Não me deixaria tomar alento, mas encher-me-ia de amargura. Se é pela força, Ele é mais forte; se é pelo direito, quem o poderá determinar? Mesmo que eu tivesse razão, a sua boca condenar-me-ia; se fosse inocente, Ele me incriminaria. Sou inocente! Mas não me preocupo comigo mesmo. Eu desprezo a minha vida! Uma só coisa quero afirmar: Ele extermina tanto o inocente como o malvado. Se, de repente, um flagelo causa a morte, Ele ri-se do desespero dos inocentes. Deixa a terra entregue às mãos do ímpio, e cobre o rosto dos seus juízes; se não é Ele, quem é, pois? Os meus dias passaram mais rápidos que um corcel, fugiram sem terem visto a felicidade. Passaram velozes como barcas de junco, como a águia que se precipita sobre a presa. Se digo: ‘Vou esquecer os meus gemidos, abandonar o meu ar triste e voltar a ser alegre’, temo todos os meus tormentos, sabendo que Tu não me perdoas. Se me consideram culpado, que adianta cansar-me em vão? Por mais que me lavasse com águas de neve, e purificasse as minhas mãos com lixívia, Tu me submergirias na imundície, e as minhas vestes teriam nojo de mim. Ele não é um homem como eu, para eu lhe responder, e comparecermos os dois em juízo. Entre nós não há um árbitro que se possa interpor entre ambos; que Deus retire a sua vara de cima de mim, para que não me assombre com o seu terror. Então, falar-lhe-ia sem temor, pois, por mim, não tenho motivos para temer.» «A minha alma tem aversão à vida! Darei livre curso ao meu lamento, falarei da amargura do meu coração. Direi a Deus: ‘Não me condenes! Mostra por que me afliges assim. Acaso encontras prazer em oprimir-me, em desdenhar a obra das tuas mãos e em favorecer os desígnios dos malvados? Terás olhos de homem, e verás as coisas como as vêem os humanos? Acaso os teus dias são como os de um mortal, e os teus anos, como os dos humanos, para que investigues a minha culpa e indagues sobre o meu pecado, quando sabes que não sou culpado e que ninguém me pode livrar das tuas mãos? Foram as tuas mãos que me formaram e modelaram e, de repente, vais aniquilar-me? Lembra-te de que me formaste com o barro; vais fazer-me agora voltar ao pó? Não me espremeste como o leite, coagulando-me como quem faz queijo? De pele e de carne me revestiste, de ossos e de nervos me consolidaste. Deste-me a vida e favoreceste-me; a tua providência conservou-me o alento. Ainda que escondas estas coisas no teu coração, sei que tinhas presente tudo isto: se peco, Tu vês tudo, e não perdoarás o meu pecado; se prevarico, ai de mim! Se sou inocente, não ousarei levantar a cabeça, cheio de vergonha e de miséria. Se me levanto, dás-me caça como um leão, e voltas a mostrar contra mim o teu poder. Renovas contra mim os teus assaltos, e redobras contra mim o teu furor; vigorosas tropas me combatem. Porque me tiraste do ventre de minha mãe? Teria morrido, sem que ninguém me visse. Seria como se nunca tivesse existido, levado do ventre para o sepulcro. Não são breves os dias da minha vida? Que Deus se afaste e me deixe, para que eu tenha um pouco de conforto, antes de partir, para não mais voltar, para a região das trevas e da escuridão, terra tenebrosa e sombria, de escuridão e confusão, onde a própria luz é sombra.’» Então, Sofar de Naamá tomou a palavra e disse: «Ficará sem resposta o charlatão, dar-se-á razão ao grande falador? O teu palavreado fará calar os homens? Zombarás sem que ninguém te repreenda? Disseste: ‘A minha doutrina é verdadeira; sou puro aos teus olhos.’ Mas prouvera que Deus falasse e abrisse os seus lábios para te responder. Revelar-te-ia segredos de sabedoria que são ambíguos para o entendimento! Reconhecerias que Deus te pede contas da tua iniquidade. Poderás tu compreender os caminhos de Deus, ou chegar ao fundo da sua omnipotência? Ela é mais alta do que o céu; que farás? É mais profunda que o abismo; como a conhecerás? É mais extensa que a terra, mais larga do que o mar. Se Ele surge para mandar prender, se Ele chama a juízo, quem o impedirá? Conhece a vaidade dos homens, vê iniquidade onde ninguém suspeitaria. Assim, o néscio adquire sensatez, e o estúpido burro selvagem se humaniza. Se voltares o teu coração para Deus e para Ele levantares as mãos, se afastares a iniquidade das tuas mãos e não deres guarida à injustiça na tua tenda, então, poderás levantar o teu rosto sem mácula, sentir-te-ás seguro e nada temerás; porque esquecerás as tuas penas, ou as recordarás como águas passadas. A tua vida será mais brilhante que o meio-dia, e as tuas trevas, como a manhã; viverás seguro, pois terás esperança, olhando em volta, dormirás tranquilo. Repousarás sem que ninguém te perturbe, e muitos acariciarão o teu rosto. Mas os olhos dos maus esgotar-se-ão de procurar: faltar-lhes-á todo o refúgio, e a sua esperança será exalar o último suspiro.» Job respondeu e disse: «Na verdade, só vós sois sábios, e convosco morrerá a sabedoria. Mas, também eu tenho, como vós, inteligência, não vos sou inferior. Pois quem é que ignorou o que vós sabeis? É um escárnio para os seus amigos aquele que invoca Deus em busca de resposta. Eles zombam da integridade do justo. Para o infortúnio, o desprezo – pensam os que são felizes. É mais um desprezo para aqueles cujo pé tropeça. As tendas dos ladrões gozam de paz, e estão seguros aqueles que provocam a Deus e se julgam omnipotentes. Pergunta, pois, aos animais e eles ensinar-te-ão, às aves do céu e elas te hão-de instruir; conversa com a terra e ela te responderá, e com os peixes do mar e eles te darão lições. Quem não vê em tudo isto a mão de Deus, que fez todas estas coisas? Deus tem nas suas mãos a vida de todo o ser vivo e o sopro de vida de todos os homens. Não se fez o ouvido para ouvir, e o paladar para saborear as iguarias? A sabedoria está nos cabelos brancos, e a inteligência, na longevidade. Mas nele residem a sabedoria e o poder. Ele possui o conselho e a inteligência. O que Ele destruir não se poderá reconstruir; se aprisionar um homem, ninguém o poderá libertar; se retiver as águas, tudo secará; se as soltar, elas submergirão a terra. Nele estão a força e a sabedoria, dele dependem o que engana e o enganado; leva os conselheiros à loucura e entontece os juízes; desata o cinto dos reis e cinge-lhes os rins com uma corda; priva os sacerdotes de toda a sua glória e deita por terra os poderosos; tira a palavra aos eloquentes e arrebata a sabedoria aos anciãos. Lança o desprezo sobre os nobres e desata o cinto dos fortes; descobre os segredos das trevas e traz à luz o que é mais recôndito. Engrandece as nações e as destrói, multiplica os povos e, depois, suprime-os. Tira a razão aos governantes e deixa-os perdidos num deserto sem caminho; andam às apalpadelas na escuridão e, sem luz, cambaleiam como bêbados.» «Os meus olhos viram todas essas coisas, e os meus ouvidos ouviram-nas e entenderam-nas. Aquilo que vós sabeis, eu também sei, não vos sou inferior. Mas eu vou falar com o Todo-Poderoso, e desejo discutir com Deus. Vós não passais de charlatães, não sois senão mentirosos. Se ao menos vos calásseis, tomar-vos-iam por sábios. Escutai, pois, a minha defesa, atendei às razões que vou apresentar. Para defender a Deus, ireis usar da falsidade e, em seu favor, ireis dizer mentiras? Acaso quereis fazer favor a Deus e vos esforçais por patrocinar a sua causa? Seria bom que Ele vos examinasse! Ireis enganá-lo, como se engana um homem? Ele, com certeza, castigar-vos-á, se às escondidas fordes parciais. A sua majestade não vos atemorizará, nem vos encherá de assombro? Os vossos argumentos são razões de cinza, e as vossas defesas são de barro. Calai-vos! Deixai-me falar a mim, aconteça o que acontecer! Colocarei a minha vida nas palavras da minha boca e exporei a minha alma entre as palmas da mão. Mesmo que me tire a vida, não tenho outra esperança, e defenderei a minha causa diante de Deus. Esta minha audácia será a minha salvação, pois nenhum ímpio é admitido à sua presença. Escutai atentamente as minhas palavras e prestai atenção às minhas razões; estou pronto a defender a minha causa e sei que sou eu quem será justificado. Quem deseja litigar comigo? Se agora me calo, morrerei. Poupa-me apenas a duas coisas, e não me esconderei da tua face: afasta de mim a tua mão e não me amedrontes com o teu terror. Depois, chama por mim e eu te responderei; ou então, falo eu e Tu me replicarás. Quantas são as minhas faltas e pecados? Mostra-me a minha iniquidade e os meus crimes. Porque ocultas a tua face e me consideras teu inimigo? Queres assustar uma folha levada pelo vento e perseguir uma palha ressequida? Pois escreves contra mim acusações amargas e atribuis-me faltas da minha mocidade; pões os meus pés no cepo, espias todos os meus passos e examinas as pegadas dos meus pés! Vou desfazer-me como um lenho carcomido, como um vestido comido pela traça.» «O homem nascido da mulher tem vida curta mas cheia de misérias. É como uma flor que desabrocha e murcha, uma sombra que foge sem parar. E é sobre um tal ser que abres os teus olhos, e assim me chamas ao teu tribunal? Quem fará sair o puro do impuro? Ninguém, evidentemente! Se os seus dias estão contados, e definiste o número dos seus meses, se fixaste um limite que ele não pode ultrapassar, afasta dele os teus olhos e deixa-o até que, como um trabalhador, acabe a sua jornada. Porque para a árvore há uma esperança: cortada, pode ainda reverdecer e deitar novos rebentos. Se a sua raiz tiver envelhecido na terra, e o seu tronco estiver morto no solo, ao contacto com a água, reverdecerá e deitará ramos como uma planta nova. Mas o homem, ao morrer, acaba. O mortal expira e onde está ele? As águas poderão desaparecer do mar e um rio, esgotar-se e secar. Mas o homem que morre nunca mais se levanta; enquanto durarem os céus não despertará, nem sairá do sono. Oh! Se me escondesses na mansão dos mortos e me ocultasses, até se aplacar a tua cólera! Se me fixasses um limite para te lembrares de mim! Acaso voltará a viver um homem morto? Esperaria todo o tempo do meu combate até que me viessem render. Tu me chamarias e eu responderia, se quisesses rever a obra das tuas mãos. Tu conheces todos os meus passos; mas perdoa os meus pecados. Encerra-os num saco e apaga as minhas iniquidades. Assim como a montanha se desmorona, e o rochedo muda de lugar, e as águas desgastam as pedras, e o aluvião arrasta a terra móvel, assim Tu aniquilas a esperança do homem. Tu o destróis, e ele desaparece para sempre; desfigura-lo e afasta-lo. Serão homenageados os seus filhos, e ele há-de ignorá-lo; serão humilhados, e ele não o saberá. Só ele sofrerá as dores do seu corpo; e só ele lamentará as penas da sua alma.» Então, Elifaz de Teman tomou a palavra e disse: «Acaso responde o sábio com palavras ocas, enchendo o seu ventre com o vento leste, e defendendo-se com palavras vãs e razões que não convencem? Destruíste, até, a piedade, e acabaste com a oração diante de Deus. A tua iniquidade inspira as tuas palavras, e imitas a linguagem dos impostores. É a tua boca que te condena e não eu; os teus lábios testemunham contra ti. Foste, acaso, o primeiro homem que nasceu e vieste ao mundo antes das colinas? Acaso foste admitido ao conselho de Deus, e te apropriaste da sabedoria? Que sabes tu que nós ignoremos, que entendes tu que não entendamos? Também temos velhos de cabelos brancos, muito mais avançados em dias que teus pais. Menosprezas as consolações de Deus, e as doces palavras que te são dirigidas? Aonde te arrasta o coração, e porque cintilam os teus olhos? É contra Deus que te encolerizas, proferindo tais discursos! Quem é o homem para se julgar puro, e o filho da mulher para se considerar justo? Se nem nos seus santos Deus tem inteira confiança, e os próprios céus não são puros aos seus olhos, quanto mais abominável e corrompido não será o homem que bebe iniquidade como água! Ouve-me, pois quero instruir-te: vou contar-te o que vi, aquilo que os sábios ensinaram, que os seus pais não lhes ocultaram, aos quais, somente, foi dada a terra; e nenhum estranho se intrometeu no meio deles. A vida do ímpio é um tormento contínuo, e poucos são os anos concedidos ao opressor. Ressoam aos seus ouvidos ruídos aterradores; em tempo de paz, o bandido assalta-o. Não espera subtrair-se às trevas, e sente-se destinado ao fio da espada. É deitado, como pasto, aos abutres, e sabe que está fixado o dia da escuridão. A tribulação e a angústia acometem-no como a um rei que vai para o combate. Porque levantou a mão contra Deus e desafiou o Todo-Poderoso, correndo contra Ele, de cabeça erguida, protegido com elmo e escudo. Porque cobriu o seu rosto de gordura, e amontoou banhas sobre os rins. Ocupara cidades destruídas casas que estavam abandonadas, prestes a transformarem-se em ruínas. Não enriquecerá; os seus bens não durarão, e não lançará raízes na terra. Não escapará às trevas; o fogo queimará os seus ramos, e será arrastado pelo sopro da sua boca. Não confiasse na ilusão que o desencaminha! Pois a desilusão será a sua paga. Os seus ramos secarão antes do tempo, e os seus sarmentos não reverdecerão. Como a vinha perde os seus frutos, ainda verdes, e, como a oliveira, deixará cair a sua flor. O conluio dos ímpios é estéril, e o fogo devora a casa do homem corrupto. Quem concebe o mal gera a iniquidade e nutre, no seu seio, o desengano.» Então, Job respondeu e disse: «Já ouvi, muitas vezes, discursos semelhantes! Vós sois todos consoladores importunos. Quando terão fim essas palavras de vento? Que é que te incita a responder assim? Eu também podia falar como vós, se estivésseis no meu lugar. Arranjaria palavras que vos deslumbrassem e levantaria a cabeça sobre vós. Encorajar-vos-ia com palavras, meus lábios exprimiriam a minha compaixão. Mas se falo, não se mitigará a minha dor; se me calo, nem por isso me deixará. Mas a dor extenuou-me; ela espalhou a perturbação ao meu redor. Levantou-se como testemunha contra mim, atirando-me acusações à cara. A sua cólera fere-me e, ameaçando, range os dentes contra mim. Os meus inimigos olham-me com olhos terríveis, abrem a boca para me insultar, batem-me na face para me ultrajar, todos à uma se congregam contra mim. Deus entregou-me aos ímpios e deixou-me à disposição dos malvados. Eu era feliz e Ele arruinou-me, agarrou-me pela nuca e fez-me em pedaços, tomou-me como seu alvo. Disparou as suas setas contra mim, atravessou os meus rins sem piedade e espalhou o meu fel sobre a terra. Despedaça-me com feridas sobre feridas, atira-se sobre mim como um guerreiro. Cosi um saco sobre a minha pele, mergulhei a minha fronte no pó. O meu rosto está inchado de tanto chorar, e a escuridão cobriu as minhas pálpebras, embora não haja violência nas minhas mãos, e a minha oração seja pura. Ó terra, não ocultes o meu sangue, nem sufoques os meus clamores. Tenho, desde agora, uma testemunha no céu, um defensor nas alturas, que interprete o meu pensar diante de Deus; para Deus correm as lágrimas dos meus olhos. Oxalá ele julgue a causa do homem com Deus, como se julga a do homem com o seu semelhante! Mas são poucos os anos que me restam, e para a senda sem retorno me encaminho.» «O meu espírito está perturbado, os meus dias extinguem-se; só me resta o sepulcro. Sou objecto de escárnio, e os meus olhos só vêem amarguras! Dá-me um fiador junto de ti, alguém que me segure pela mão. Porque privaste o coração deles de raciocínio, por isso, não os deixarás triunfar. Há quem convide os seus amigos à partilha, quando os olhos dos seus filhos desfalecem. Transformou-se na fábula dos povos, alguém a quem se cospe no rosto. Os meus olhos são consumidos pela tristeza, e os meus membros definham como sombras. As pessoas rectas ficam estupefactas com isto e o inocente indigna-se contra o ímpio. Mas o justo não se desvia do seu caminho, o homem de mãos puras redobra de coragem. Enfim, voltai todos e vinde, peço-vos; não acharei um só sábio entre vós! Meus dias passaram e desvaneceram-se os meus sonhos, os desígnios secretos do meu coração. Querem chamar à noite dia; mas a luz próxima, para mim, são as trevas. Que hei-de esperar? O sepulcro será a minha morada, nas trevas preparei o meu leito. Digo ao sepulcro: ‘Tu és meu pai.’ E aos vermes: ‘Sois a minha mãe e a minha irmã.’ Onde está a minha esperança? A minha esperança, quem a viu? Ela cairá nas garras da morte, quando juntos descermos ao pó.» Bildad de Chua replicou, dizendo: «Quando acabarás de falar sem nexo? Reflecte e depois falaremos. Porque nos consideras como animais e passamos por estúpidos aos teus olhos? Tu que te desfazes na tua cólera julgas que, sem ti, a terra ficará deserta, e os rochedos serão mudados do seu lugar? Sim, a luz do perverso apagar-se-á, e a chama do seu fogo deixará de alumiar. Apagar-se-á a luz na sua tenda, e extinguir-se-á a sua lâmpada. O seu passo firme será encurtado, os seus desígnios levam-no ao precipício. Os seus pés prender-se-ão na rede e caminhará sobre armadilhas. O laço prendê-lo-á pelo calcanhar e enredá-lo-á fortemente. O laço estará escondido para ele na terra, e a armadilha no caminho por onde passa. De todas as partes o amedrontarão terrores, e hão-de persegui-lo passo a passo. A sua opulência converter-se-á em fome, e a desgraça há-de acompanhá-lo. A enfermidade devora-lhe a pele, o primogénito da morte comerá os seus membros. Será arrancado da tenda onde estava seguro, será conduzido ao rei dos terrores. Outros, que não ele, habitarão na sua tenda, choverá enxofre sobre a sua morada. Secar-se-ão por baixo as suas raízes e, por cima, os seus ramos murcharão. A sua memória desaparecerá da terra, e não haverá menção do seu nome nas praças. Lançá-lo-ão da luz às trevas, e desterrá-lo-ão do mundo. Não terá descendente nem posteridade na sua tribo, nem sobreviventes na sua terra. O ocidente espantar-se-á com a sua sorte e diante dela se horrorizará o oriente. Será esta a morada do ímpio e o destino daquele que não conhece a Deus.» Job respondeu, dizendo: «Até quando afligireis a minha alma e me atormentareis com vãs palavras? Já por dez vezes me humilhastes e não vos envergonhais de me insultar. Mesmo que de facto tivesse errado, o meu erro só a mim diria respeito. Mas vós levantais-vos contra mim e me repreendeis pelas humilhações que padeço. Reparai que foi Deus quem me desorientou e me envolveu nas suas redes. Grito contra essa violência e ninguém responde, levanto a voz e não há quem me faça justiça. Deus fechou-me o caminho, para eu não passar, e encheu de trevas as minhas veredas. Despojou-me da minha glória e tirou-me a coroa da cabeça. Arruinou-me inteiramente, e estou desfeito; desenraizou, como uma árvore, a minha esperança. Acendeu a sua cólera contra mim e contou-me entre os seus inimigos. As suas milícias concentraram-se, entrincheiraram-se no meio do caminho e acamparam em volta da minha tenda. Ele afastou de mim os meus irmãos, e os meus amigos retiraram-se como estranhos. Os meus parentes abandonaram-me, e os que me conheciam esqueceram-se de mim. Os meus criados olham-me como um estranho, e sou um desconhecido aos seus olhos. Chamo o meu servo e ele não responde, tenho de lhe pedir por favor que me atenda. A minha mulher sente repugnância do meu hálito, e tornei-me fétido para os meus próprios filhos. Até os garotos me desprezam; e insultam-me, quando me levanto. Todos os meus íntimos me têm horror; aqueles que eu amava voltam-se contra mim. A minha pele cola-se-me aos ossos descarnados; sobrevivi apenas com a pele dos dentes. Compadecei-vos! Compadecei-vos de mim, vós, meus amigos, porque a mão de Deus me feriu. Porque me perseguis como Deus, e vos mostrais insaciáveis da minha carne? Quem me dera que as minhas palavras se escrevessem e se consignassem num livro, ou fossem gravadas em chumbo com estilete de ferro, ou se esculpissem na pedra para sempre! Eu sei que o meu redentor vive e prevalecerá, por fim, sobre o pó da terra; e depois de a minha pele se desprender da carne, na minha própria carne verei a Deus. Eu mesmo o verei, os meus olhos e não outros o hão-de contemplar! As minhas entranhas consomem-se dentro de mim .* Porque dizeis agora: ‘Vamos persegui-lo e busquemos pretexto para o condenar?’ Temei o fio da espada, porque há uma espada vingadora da iniquidade; ficai a saber que há um juízo!» Sofar de Naamá tomou a palavra e disse: «Os meus pensamentos levam-me a replicar, pois fervilham dentro de mim. Ouvi a tua injuriosa repreensão, e a minha inteligência impele-me a responder. Não sabes bem que em todos os tempos, desde que o homem foi posto sobre a terra, a glória dos maus é breve e o júbilo do ímpio só dura um instante? Mesmo que a sua arrogância chegue até ao céu e a sua cabeça toque nas nuvens, qual fantasma, ele desaparece para sempre, e os que o viram perguntarão: ‘Onde está?’ Desaparece como um sonho, ninguém o encontrará, fugirá como uma visão nocturna. Os olhos que o viram não mais o verão, e a sua morada não mais o reconhecerá. Os seus filhos indemnizarão os pobres, com as suas próprias mãos restituirão a sua riqueza. Os seus ossos, cheios de vigor juvenil, descerão com ele ao pó do sepulcro. Se o mel foi doce à sua boca, e se o ocultou sob a língua; se o reteve, sem o abandonar, e o saboreou com o seu paladar, esse alimento transformar-se-á, nas suas entranhas, em veneno mortal. Vomitará as riquezas que devorou, Deus as fará sair do seu ventre. Sugava o veneno das serpentes, e a língua da víbora o matará. Não verá correr os mananciais de azeite, nem as torrentes de mel e de azeite coalhado. Vomitará o seu ganho, sem o poder engolir; e não gozará do fruto do seu comércio. Porque oprimiu e desamparou os pobres, e roubou casas que não tinha construído. Porque a sua fome era insaciável, não o salvará o que tanto cobiçou. Nada escapou à sua voracidade; por isso, nada ficará dos seus bens. Em plena abundância, a necessidade o assaltará, e todos os golpes da infelicidade cairão sobre ele. Deus desencadeará sobre ele o fogo da sua cólera, até o fazer encher a barriga, e fará chover sobre ele os seus dardos. Se fugir diante da arma de ferro, trespassá-lo-á o arco de bronze. Uma seta lhe sairá pelas costas, e um dardo flamejante, pelo fígado: são os terrores a passar sobre ele. E ser-lhe-á reservada toda a espécie de trevas. Devorá-lo-á um fogo que o homem não acendeu, e será consumido tudo o que restar da sua tenda. Os céus revelarão a sua impiedade, e a terra levantar-se-á contra ele. Desaparecerá toda a riqueza da sua casa, que será arrasada no dia da cólera divina. Esta é a sorte que Deus reserva ao ímpio e a herança que o Omnipotente lhe destina.» Job respondeu, dizendo: «Escutai atentamente as minhas palavras! Seja ao menos este o conforto que me dais. Permiti que eu fale e quando terminar podeis zombar de mim à vontade. É de um homem que me queixo? Então como não me hei-de angustiar? Olhai para mim e ficareis estupefactos, colocai a mão sobre a vossa boca. Quando penso nisto fico horrorizado, e todo o meu corpo treme. Porque é que os maus continuam a viver e ao envelhecer se tornam ainda mais ricos? A sua descendência prospera à vista deles, e os seus filhos crescem sob os seus olhos. As suas casas estão tranquilas e seguras, e a vara de Deus não os atinge. Os seus touros são cada vez mais fecundos e as suas vacas criam e não abortam. Deixam os filhos correr, como os cordeiros do rebanho, e os seus pequenos brincam cheios de alegria. Cantam ao som do pandeiro e da cítara, e divertem-se ao som da flauta. Acabam os seus dias na ventura, e descem tranquilamente ao sepulcro. Eles diziam a Deus: ‘Afasta-te de nós. Não queremos conhecer os teus caminhos. Quem é o Omnipotente para o servirmos? Que proveito tiramos em dirigir-lhe orações?’ Acaso não têm eles a felicidade nas suas mãos, e Deus não está longe do seu modo de pensar? Quantas vezes se apaga a lâmpada dos ímpios e cai sobre eles a desgraça? Que sofrimentos lhes infligiu a ira de Deus? Serão como a palha arrastada pelo vento, como cinza tragada pelo turbilhão? Será que Deus deixa para os filhos o seu castigo? Que Ele lhes pague, para aprenderem. Que os seus próprios olhos vejam a sua ruína, e eles mesmos bebam o furor do Omnipotente. Que lhes importa a sua casa depois de mortos, quando for contado o número dos seus dias? Acaso pode-se ensinar a Deus a sabedoria, a Ele que julga os seres superiores? Este morre cheio de saúde, completamente feliz e tranquilo, com os flancos cobertos de gordura, e a medula dos seus ossos cheia de seiva. Aquele morre com a amargura na alma, sem ter gozado a felicidade. E, contudo, juntos se deitarão no sepulcro, e ficarão cobertos de vermes. Ah! Eu conheço os vossos pensamentos e as palavras injustas que proferis contra mim. Dizeis: ‘Onde está a casa do tirano? Onde está a tenda em que habitam os ímpios?’ Não interrogastes os viajantes? Contestareis os seus testemunhos? No dia da desgraça o ímpio é poupado e escapa ao perigo no dia da cólera. Quem lhe reprova o seu proceder e lhe pede contas dos seus actos? Antes, é conduzido ao sepulcro e honrado no seu túmulo. Os torrões do vale são-lhe leves; arrasta atrás de si todos os homens e vai diante dele uma enorme multidão. De que valem, pois, essas vãs consolações, se nas vossas respostas não há mais que engano?» Elifaz de Teman voltou a tomar a palavra e disse: «Poderá o homem ser útil a Deus, pode o sábio ter utilidade para Ele? O Omnipotente tem algum interesse em que sejas justo, algum lucro em que o teu proceder seja íntegro? Será pela tua piedade que Ele te corrige e te chama a juízo? Não é antes pela tua grande malícia e pelas tuas inumeráveis iniquidades? Exigiste, injustamente, penhores aos teus irmãos e despojaste os miseráveis das suas vestes; não deste de beber ao sedento, e recusaste o pão ao esfomeado. A terra era do mais forte; aquele que se fazia temer estabelecia-se nela. Despediste as viúvas com as mãos vazias, e quebraste os braços dos órfãos. Por isso, estás cercado de laços, e terrores súbitos te amedrontam. É uma escuridão que te não deixa ver nada, é uma inundação que te afoga. Não está Deus no alto dos céus? Vê as estrelas: que altas! Tu dizes: ‘Que sabe Deus? Pode Ele julgar-nos através das nuvens? As nuvens formam um véu que o impede de ver; Ele passeia pela abóbada do céu.’ Queres seguir os antigos caminhos, por onde andaram os ímpios, que foram arrebatados antes do tempo, e cujos fundamentos foram arrastados pela torrente? Eles diziam a Deus: ‘Afasta-te de nós. Que pode fazer por nós o Omnipotente?’ Ele enchia as suas casas de riqueza. Mas longe de mim as palavras deles! Viram isto os justos e alegraram-se e os inocentes riram-se deles: ‘Os nossos inimigos estão aniquilados, e o fogo devorou as suas riquezas!’ Reconcilia-te com Ele e viverás em paz; e assim terás de novo a felicidade. Recebe as instruções da sua boca, e põe as suas palavras no teu coração. Se te converteres ao Omnipotente, serás restabelecido; se afastares a iniquidade da tua tenda, se atirares as barras de ouro ao pó, e o ouro de Ofir às pedras da torrente, o Omnipotente é que será o teu ouro, e a prata, amontoada para ti. Então, terás no Omnipotente as tuas delícias e levantarás o teu rosto para Deus. Ele escutará os teus pedidos e cumprirás os teus votos. Farás os teus projectos e realizá-los-ás, e a luz brilhará no teu caminho. Quando eles humilham, tu pedes louvores e Ele salva os que foram humilhados; Ele libertará o inocente e tu serás salvo pela pureza das tuas mãos.» Job respondeu, dizendo: «Também hoje a minha queixa é amarga; e a minha mão abafa o meu gemido. Oh! Se pudesse encontrá-lo e chegar até ao seu próprio trono! Exporia diante dele a minha causa, encheria a minha boca de argumentos. Saberia o que Ele iria responder-me, e compreenderia o que teria para me dizer. Iria Ele opor contra mim o seu grande poder? Com certeza que não! Ele próprio me atenderia! Ali, como homem recto poderia discutir com Ele e seria absolvido para sempre pelo meu juiz. Mas, se eu for ao oriente, Ele não está lá, e, se for ao ocidente, não o encontrarei; se o procuro no norte, não o vejo; se me volto para o meio-dia, não o descubro. Mas já que Ele conhece o meu caminho, ponha-me à prova, que eu sairei dela como o ouro no crisol. Os meus pés seguiram sempre as suas pegadas; segui os seus caminhos sem me desviar. Não me desviei dos preceitos dos seus lábios, e guardei no meu íntimo as palavras da sua boca. Mas quando Ele toma uma decisão, quem o dissuadirá? Ele faz o que bem lhe agrada. Assim, cumprirá os seus desígnios a meu respeito, como muitos outros dos seus decretos. Por isso, a sua presença me atemoriza; contemplo-o e tremo diante dele. Deus perturbou o meu coração, o Omnipotente encheu-me de medo. Não pereci, certamente, diante das trevas, nem a escuridão envolveu o meu rosto.» «Por que razão o Omnipotente não fixa prazos e porque ignoram os seus dias aqueles que o conhecem? Os maus mudam os marcos das terras, roubam os rebanhos e apascentam-nos. Apoderam-se do jumento dos órfãos e tomam como penhor o boi da viúva. Afastam os pobres do caminho, e os miseráveis são forçados a esconder-se. Como asnos selvagens no deserto, saem de manhã para o trabalho; vão à procura de uma presa até à tarde, para encontrar alimento para os filhos. Ceifam o campo alheio e retalham a vinha do ímpio. Passam a noite nus, sem roupa nenhuma, e sem agasalho contra o frio. Ficam todos molhados com as chuvas da montanha, sem outro refúgio além dos rochedos. Arrancam o órfão do seio materno, tomam como penhor as crianças do pobre. Andam nus, sem nenhuma roupa, e passam fome a carregar os feixes. Espremem o azeite nos lagares dos outros, e passam sede enquanto pisam as uvas. Erguem-se da cidade gritos de moribundos, a alma dos feridos grita por socorro, e Deus não ouve as suas súplicas. Alguns aborrecem a luz, não conhecem os seus caminhos, nem seguem pelas suas veredas. O homicida levanta-se quando sai o dia, para matar o pobre e o indigente, e o ladrão vagueia durante a noite. O olho do adúltero espia na obscuridade, dizendo: ‘Ninguém me verá’; e cobre o rosto com uma máscara. Pela escuridão da noite, assaltam as casas; de dia, ficam encerrados em casa. Não conhecem a luz. Para todos eles a manhã é sombra espessa, pois estão acostumados aos terrores da escuridão. Fogem velozes como a água corrente; a sua herança é maldita sobre a terra; já não se pisa mais o fruto das suas vinhas. Como a seca e o calor absorvem a água das neves, assim o sepulcro engole os pecadores. Até o ventre que o gerou o há-de esquecer; os vermes deleitam-se com ele. Ninguém mais o recorda. Será arrancado como a árvore daninha, porque maltratava a mulher estéril, e fazia mal à viúva. Mas aquele que, com a sua força, derruba os poderosos, levanta-se, e eles deixam de estar seguros. Ele dá-lhes segurança e apoio, mas os seus olhos vigiam os seus caminhos. Ainda há pouco eram grandes e já não existem; pereceram e, como todos, foram arrebatados e ceifados como cabeças de espigas. Se não é assim, quem me desmentirá e reduzirá a nada as minhas palavras?» Bildad de Chua tomou, então, a palavra e disse: «Ele possui o poder e a majestade, e da sua alta morada faz reinar a paz. Alguém pode contar o número das suas legiões? Sobre quem não incide a sua luz? Como pode justificar-se o homem diante de Deus? Como será puro o homem nascido da mulher? Se até a própria Lua deixa de brilhar e as estrelas não são puras aos seus olhos! Quanto mais o homem, simples verme, e o filho do homem, esse vermezinho!» Job, então, respondeu e disse: «Como sabes sustentar o débil e socorrer um braço sem vigor! Como sabes aconselhar o ignorante e dar mostras de profunda sabedoria! A quem dirigiste as tuas palavras? De quem é a inspiração que saiu da tua boca? Até os mortos tremem debaixo da terra, os mares e tudo o que neles vive! O abismo está patente aos seus olhos, e o inferno está aberto diante dele. Ele estende o setentrião sobre o vácuo e suspende a terra sobre o nada. Prende as águas nas suas nuvens, e as nuvens não se rasgam sob o seu peso. Encobre a face da Lua-cheia, estendendo sobre ela a sua nuvem. Traçou um círculo à superfície das águas, onde a luz confina com as trevas. As colunas do céu estremecem, assustadas com a sua ameaça. Com o seu poder acalmou os mares, e com a sua sabedoria destruiu Raab. Com o seu sopro varreu os céus, e com a sua mão feriu a serpente fugitiva. E tudo isto é apenas uma parte das suas obras; é somente um murmúrio da sua palavra. Quem poderá ouvir o trovão do seu poder?» Job continuou a falar, e disse: «Pelo Deus vivo que me recusa a justiça, pelo Omnipotente que enche a minha alma de amargura! Enquanto em mim houver um sopro de vida e Deus me conservar a respiração, os meus lábios não pronunciarão uma maldade, e a minha língua jamais dirá uma mentira. Longe de mim dar-vos razão! Defenderei a minha inocência até à morte; afirmarei a minha justiça e não me calarei; a consciência não me acusa por um só dos meus dias! O meu inimigo seja tratado como culpado, e o meu adversário, como um malvado.» «Em que poderá confiar o ímpio ao morrer, quando Deus lhe arrebatar a vida? Acaso Deus escutará o seu clamor quando cair sobre ele a infelicidade? Ou poderá achar consolação no Omnipotente e invocar a Deus em todo o tempo? Eu vos instruirei sobre o proceder de Deus, e não vos ocultarei os desígnios do Omnipotente. Mas se vós sois testemunhas disso, porque gastais o tempo em vãs palavras? Eis a sorte que Deus reserva ao homem mau, e a herança que os malvados receberão do Omnipotente: se os seus filhos se multiplicam, cairão à espada e os seus descendentes não terão que comer. Os seus sobreviventes serão sepultados na morte, e as suas viúvas não o chorarão. Mesmo que tenha amontoado prata como terra, e juntado vestes como barro, ele junta-as, mas o justo é que as vestirá, e a sua prata será herdada pelo inocente. Construiu uma casa como teia de aranha, como uma cabana de guarda. Deita-se rico, mas será pela última vez; ao abrir os olhos, já não há mais nada. O terror invade-o como uma inundação, um redemoinho arrebata-o durante a noite. O vento leste levanta-o e fá-lo desaparecer; como um furacão, leva-o para longe do seu lugar. Precipita-se sobre ele sem compaixão, e em vão se esforça por escapar da sua mão. Todos aplaudirão a sua ruína; hão-de assobiá-lo na sua própria casa.» «Há lugares de onde se extrai a prata e lugares onde se funde o ouro. O ferro é extraído do solo e a pedra derretida converte-se em cobre. O homem põe um fim às trevas, e esquadrinha, com exactidão, as rochas que estão escondidas na escuridão. Abre galerias longe dos lugares habitados, que são ignoradas pelos pés dos caminhantes, porque estão em sítios inacessíveis. A terra que produz o pão é dilacerada por baixo como por um fogo. As rochas encerram a safira e contêm o pó do ouro. A sua senda não a conheceu a águia, nem a viu o olho do abutre; os animais ferozes não a pisaram, nem o leão passou por ela. O homem põe a mão na rocha viva e derruba as montanhas pela base. Abre galerias nos rochedos, e os seus olhos descobrem todas as preciosidades. Explora o leito dos rios e põe a descoberto os tesouros escondidos. Mas onde se encontra a sabedoria? Onde está o lugar da inteligência? O homem ignora-lhe o preço, não se encontra na terra dos mortais. O abismo diz: ‘Ela não está aqui.’ E o mar afirma: ‘Não está dentro de mim.’ Não se compra com o ouro mais fino, nem se troca a peso de prata. Não se põe na balança com o ouro de Ofir, com o ónix precioso ou com a safira. Não se pode comparar ao ouro ou ao cristal, nem se troca por vasos de ouro fino. Quanto ao coral e ao cristal, nem falar! A sabedoria vale mais do que as pérolas. Não se pode comparar com o topázio da Etiópia, nem cotejar com o ouro mais puro. Donde vem, pois, a sabedoria? Onde está o lugar da inteligência? Está oculta aos olhos de todos os viventes, e até às aves do céu está escondida. O abismo e a morte dizem: ‘Apenas ouvimos falar dela.’ Deus é quem conhece os seus caminhos e sabe onde é a sua morada. Pois Ele vê até aos confins da terra, e observa todas as coisas debaixo do céu. Quando se ocupou em pesar os ventos e em regular a medida das águas, quando fixou as leis da chuva e traçou um caminho aos trovões, então, Ele viu-a e descreveu-a, examinou-a e conheceu-a a fundo. Depois, disse ao homem: ‘O temor do Senhor é a sabedoria, e fugir do mal é a inteligência.’» Job continuou a sua exposição e disse: «Quem me dera voltar a ser como dantes, nos dias em que Deus me protegia! Quando a sua luz brilhava sobre a minha cabeça, e o seu resplendor me guiava nas trevas! Tal como era nos dias da minha mocidade, quando Deus protegia a minha tenda! Quando o Omnipotente estava ainda comigo, e os meus filhos me rodeavam. Quando lavava os meus pés com a nata do leite, e o rochedo derramava para mim ondas de azeite. Quando saía às portas da cidade e na praça instalava o meu assento. Os jovens, vendo-me, escondiam-se, e os velhos levantavam-se e ficavam de pé; os grandes interrompiam as suas conversas, e punham a mão sobre os seus lábios. Calava-se a voz dos chefes, a língua colava-se-lhes ao céu da boca. Quem me ouvia falar felicitava-me, e os que me viam davam testemunho de mim, porque livrava o pobre que pedia socorro, e o órfão que não tinha tutor. A bênção do desgraçado vinha sobre mim, e eu alegrava o coração da viúva. Revestia-me de justiça; e a equidade era para mim um manto e um diadema. Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo, era o pai dos pobres, e examinava a causa dos desconhecidos. Quebrava os queixos dos malvados e arrancava-lhes a presa dos seus dentes. Eu dizia: Morrerei no meu ninho, somarei dias como a fénix. A minha raiz atinge as águas; o orvalho depositar-se-á sobre os meus ramos. A minha glória será sempre jovem, e o meu arco fortalecer-se-á nas minhas mãos. Esperavam para escutar a minha decisão e guardavam silêncio até ouvir o meu conselho. Ninguém replicava às minhas palavras; o meu discurso penetrava neles suavemente. Esperavam-me como se espera a chuva e abriam a boca como à água tardia. Sorria para os que perdiam a coragem; ficavam presos do meu rosto alegre. Sentava-me à sua frente e escolhia-lhes o caminho, tal como um rei no meio das suas tropas; se estavam tristes, confortava-os.» «Agora, riem-se de mim os mais jovens do que eu, aqueles cujos pais eu desdenharia contar entre os cães do meu rebanho. Que me interessa a força dos seus braços? Desapareceu completamente o seu vigor. Esgotados pela miséria e pela fome, roem as raízes do deserto, à noite, na terra árida e desolada. Colhem malvas entre os arbustos, e a raiz das giestas é o seu alimento. Expulsos da sociedade dos homens, gritavam atrás deles como se fossem ladrões. Moravam em barrancos escarpados, em cavernas de terras e rochedos, rosnando entre os matagais e amontoando-se sob os espinheiros. Filhos de gente infame, de gente sem nome, foram expulsos do país! Agora sou o tema das suas canções, o objecto dos seus escárnios; afastam-se de mim com horror, e até se atrevem a cuspir-me no rosto, porque Deus abriu a sua aljava e alvejou-me e todos perderam o respeito diante de mim. À minha direita levanta-se o populacho, que desorienta os meus passos e prepara o caminho para me perder. Destroem os meus caminhos, para me arruinar, armam-me ciladas, e ninguém me presta ajuda contra eles. Penetram por uma grande brecha e irrompem por entre os escombros. O terror invade-me. A minha prosperidade foi varrida como o vento e, qual nuvem, passou a minha felicidade. Agora, a minha alma perde a força, os dias da aflição apoderam-se de mim. De noite, a dor trespassa-me os ossos, e os males que me roem não têm descanso. Com violência agarra a minha roupa, aperta-me como a gola da minha túnica. Atirou comigo para a lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza. Chamo por ti, e Tu não me respondes; insisto e não fazes caso. Tornas-te cruel comigo, persegues-me com toda a força da tua mão. Levantas-me ao alto e fazes-me cavalgar com o vento e, depois, arrastas-me na tempestade. Bem sei que me levas à morte, ao lugar onde se reúnem todos os mortais. Mas poderá quem vai cair não estender a mão, e aquele que perece, não pedir socorro? Não chorei com os oprimidos? Não teve a minha alma compaixão dos pobres? Quando esperava felicidade, veio a desgraça, esperava a luz e vieram as trevas. As minhas entranhas fervilham, sem descanso, assaltaram-me dias de aflição. Caminho na tristeza, sem consolação; levanto-me e dou gritos no meio da turba. Tornei-me irmão dos chacais e companheiro das avestruzes. A minha pele enegreceu e cai, e os meus ossos são consumidos pela febre. A minha cítara converteu-se em pranto, e a minha flauta em lamentações.» Eu fiz um pacto com os meus olhos: de nem sequer olhar para uma donzela. Que recompensa me daria Deus lá do alto, que herança me reservaria dos céus o Omnipotente? Acaso a infelicidade não é para o ímpio, e o infortúnio, para os que praticam a iniquidade? Não conhece Deus os meus caminhos e não conta todos os meus passos? Porventura caminhei com a mentira e os meus pés correram atrás da fraude? Que Deus me pese na balança justa e reconhecerá a minha inocência! Se os meus passos se desviaram do caminho, e o meu coração foi atrás dos meus olhos, se se apegou alguma mancha às minhas mãos, então, que eu semeie e outro coma, e os meus rebentos sejam arrancados! Se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher, ou me pus à espreita, à porta do meu próximo, que a minha mulher faça girar a mó para outro, e que os estranhos a possuam! Porque isso é um grande crime e a maior das iniquidades; é fogo que devora até à destruição e que arruinaria todos os meus bens. Se violei o direito do meu servo e da minha serva nas suas discussões comigo, que vou fazer, quando Deus se levantar para me julgar? Que lhe responderei, quando me interrogar? Pois aquele que me criou no ventre, também o criou a ele, um só nos formou a ambos no seio materno. Se recusei aos pobres aquilo que pediam ou defraudei a esperança da viúva; se comi sozinho o meu pedaço de pão sem dar ao órfão a sua parte pois desde a juventude cuidei dele como pai, desde o ventre materno o protegi – se não fiz caso do miserável sem roupas, e do pobre que não tinha com que se cobrir; se não me ficaram agradecidos os seus membros, aquecidos com a lã das minhas ovelhas; se levantei a mão contra o órfão, por me ver apoiado pelo tribunal; que o meu ombro caia das minhas costas, e o meu braço seja separado do cotovelo! Porque eu sempre temi a Deus e nunca resisti ao peso da sua majestade. Se pus no ouro a minha segurança, ou fiz do ouro mais puro a minha esperança; se rejubilei com a grandeza da minha fortuna, ou com o muito que a minha mão juntou; se, quando via o Sol brilhar e a Lua erguer-se no seu esplendor, o meu coração se deixou seduzir em segredo e lhes mandei um beijo com a mão; isto seria um crime digno de castigo pois teria renegado o Deus dos céus; acaso me alegrei com a ruína do meu inimigo e exultei com a infelicidade que lhe sobreveio? Pois nem permiti que a minha língua pecasse, reclamando a sua morte com uma imprecação! Não afirmaram os hóspedes da minha tenda: ‘Quem não saiu saciado da sua mesa?’ Não deixei o estrangeiro de noite à intempérie e abri sempre a minha porta ao viandante. Acaso encobri a minha culpa como homem, e escondi no meu peito a minha iniquidade, por temor da multidão, e receio do desprezo dos parentes, e fiquei calado, sem pôr os pés fora da porta? Oxalá eu tivesse quem me ouvisse! Eis a minha assinatura! Que o Omnipotente me responda! O libelo de acusação escrito pelo meu adversário, não o levaria eu sobre os meus ombros e não cingiria com ele a minha fronte como se fosse um diadema? Dar-lhe-ia conta de todos os meus passos e aproximar-me-ia dele como um príncipe. Se a terra clamou contra mim, e os seus sulcos derramaram lágrimas, se comi os seus frutos sem pagar e afligi a alma dos que os cultivaram, nasçam-me cardos em vez de trigo e joio em vez de cevada!» Aqui terminam as palavras de Job. Aqueles três homens deixaram de replicar a Job, porque se tinha por justo. Então inflamou-se a cólera de Eliú, filho de Baraquel, de Buz, da família de Rame; irritou-se contra Job, porque pretendia ter razão diante de Deus. Indignou-se, também, contra os três amigos por não terem achado resposta conveniente, contentando-se somente em condenar a Job. Como eram mais velhos do que ele, Eliú abstivera-se de responder a Job; mas, ao ver que não tinham mais nada a responder, encheu-se de indignação. Então Eliú, filho de Baraquel, de Buz, tomou a palavra e disse: «Sou ainda jovem em idade e vós sois mais velhos; por isso, a minha timidez impediu-me de vos manifestar o meu pensamento. Dizia comigo: ‘A idade é que fala; e os muitos anos dão a conhecer a sabedoria!’ Mas é o espírito de Deus no homem, o espírito do Todo-Poderoso, quem dá o entendimento. Não são os velhos os mais sábios, nem sempre os anciãos discernem o que é justo. Por isso, atrevo-me a dizer: ‘Escutai-me! Também eu mostrarei o meu saber! Eis que esperei as vossas palavras; prestei atenção aos vossos raciocínios, enquanto prosseguiam as vossas discussões. Estive atento ao que dizíeis. Mas ninguém refutou Job, ninguém respondeu aos seus argumentos.’ Talvez digais: ‘Encontrámos a sabedoria; é Deus e não um homem que o vai refutar.’ A mim nada me disse, e não vou responder-lhe com os vossos argumentos. Ficaram pasmados, nada disseram; faltaram-lhes as palavras. Começarei eu, pois, já que eles não falam e ficaram sem nada responder. Pelo que me toca, eu, sim, responderei e mostrarei o que sei, pois tenho muito que dizer e o espírito pressiona-me por dentro. O meu peito é como vinho arrolhado, pronto a rebentar em odres novos. Falarei para ficar aliviado, abrirei os meus lábios para responder. Não farei acepção de pessoas; nem procurarei agradar a ninguém, porque não sei lisonjear, e de outro modo seria castigado pelo meu Criador.» «E agora, Job, escuta as minhas palavras e presta atenção ao meu discurso. Eis que abro a minha boca, e é a minha língua que agora vai falar. As minhas palavras brotam de um coração recto, e os meus lábios falarão a verdade. O espírito de Deus me criou, e o sopro do Todo-Poderoso me deu a vida. Responde-me, se puderes! Prepara a tua defesa e põe-te diante de mim. Também eu sou igual a ti diante de Deus, como tu, fui formado de barro. Portanto, nada tens a temer de mim, e o peso das minhas palavras não te acabrunhará. Disseste e eu ouvi, eu mesmo percebi estas palavras: ‘Sou puro, sem pecado, estou limpo e em mim não há culpa. E, contudo, Ele encontra pretextos contra mim e considera-me como seu inimigo. Prendeu os meus pés no laço e espiou todos os meus passos’. Responderei que nisto não tens razão, pois Deus é maior do que o homem. Porque te queixas contra Ele? Por não dar resposta aos teus discursos? Deus fala, ora de uma maneira, ora de outra, mas o homem não o entende. Em sonhos ou em visões nocturnas, quando o sono profundo cai sobre os homens adormecidos no seu leito, então, abre-lhes os ouvidos e assusta-os com as suas aparições, a fim de os desviar do pecado e de os preservar do orgulho, para salvar a sua alma do sepulcro e livrar a sua vida do abismo. Corrige o homem com dores no leito, com a dor contínua dos seus ossos. Faz-lhe sentir náuseas do pão, dos manjares que antes apreciava. A sua carne vai-se consumindo, e os ossos que não se viam aparecem descarnados. A sua vida aproxima-se da sepultura, e a sua alma, daqueles que estão mortos. Mas, se para ele houver um anjo, um intercessor entre mil, para lhe ensinar o que deve fazer, que tenha piedade dele e diga: ‘Livra-o de descer ao sepulcro, eu encontrei o resgate da sua vida’; então, o seu corpo recupera a juventude e retornará aos dias da adolescência. Ele implorará a Deus e este acolhê-lo-á, deixá-lo-á contemplar a sua face com alegria, e Deus restituirá ao homem a sua justiça. Aquele cantará diante dos homens e dirá: ‘Pequei, violei a justiça, e Deus não me tratou como merecia. Salvou a minha alma de cair na sepultura, e a minha vida inunda-se de luz.’ Tudo isto é o que faz Deus, duas e três vezes ao homem, a fim de lhe tirar a alma da sepultura e iluminá-la com a luz dos vivos. Presta atenção, Job, escuta-me: cala-te enquanto eu falo. Mas, se tens algo para me dizer, responde-me; fala, que eu desejo dar-te razão. Mas, se nada tens a dizer, escuta-me, cala-te e eu ensinar-te-ei a sabedoria.» Eliú retomou a palavra e disse: «Sábios, ouvi as minhas palavras, prestai atenção, ó homens doutos, pois o ouvido discerne o valor das palavras, como o paladar aprecia as iguarias. Procuremos discernir o que é justo e indaguemos nós mesmos o que é melhor. Job disse: ‘Sou inocente, mas Deus recusa-se a fazer-me justiça. Apesar do meu direito, passo por mentiroso e a minha ferida é incurável, sem eu ter culpa.’ Onde existe um homem igual a Job que bebe a blasfémia como quem bebe água, anda com os que praticam a iniquidade e caminha com os ímpios? Pois ele disse: ‘De que vale ao homem estar de bem com Deus?’ Ouvi-me, homens sensatos: Longe de Deus a injustiça! Longe do Todo-Poderoso a iniquidade! Ele trata os homens conforme as suas obras, e dá a cada um o que merece. Na verdade, Deus não castiga sem motivo, o Todo-Poderoso não falseia a justiça! A quem confiou Ele o governo da terra? A quem entregou o universo? Se Ele retirasse o seu sopro e fizesse voltar a si o espírito do homem, a humanidade inteira pereceria num instante, e o homem voltaria ao pó. Se tens inteligência, escuta isto, ouve as minhas palavras. Poderá governar quem é inimigo do direito? E condenarás tu o Justo. Aquele que pode chamar a um rei: ‘Malvado’ e aos príncipes: ‘Criminosos’, esse não dá preferências aos príncipes nem distingue o rico do pobre, porque todos são obra das suas mãos. Num instante perecem no meio da noite; os poderosos são sacudidos e desaparecem; o tirano é removido por um poder invisível. Porque Deus vê o proceder dos homens e conta todos os seus passos. Não há escuridão nem trevas para esconder os que praticam a iniquidade. Deus não necessita de fixar um prazo ao homem para que ele se apresente no divino tribunal. Abate os poderosos sem inquérito e põe outros em lugar deles. Com efeito, conhece as suas acções; derruba-os de noite e são aniquilados. Fere-os como ímpios à vista de todos, porque se afastaram dele e não quiseram conhecer os seus caminhos, fazendo chegar até Ele o clamor do oprimido e o grito do infeliz que Ele acolheu. Se Ele fica quieto, quem o condenará? Se oculta a sua face, quem o poderá ver? Ele cuida das nações e dos indivíduos, evitando que o ímpio venha a reinar, e se torne uma armadilha para o povo. Se alguém disse a Deus: ‘Estou arrependido; não voltarei a pecar; ensina-me, para que eu possa ver; se fiz o mal, não o voltarei a fazer.’ Castigará Ele segundo o teu critério, por discordares? Já que és tu quem decides e não eu, diz, pois, o que sabes. As pessoas sensatas responder-me-ão, com todo o homem sábio que me ouve: ‘Job não falou sensatamente e as suas palavras são destituídas de razão.’ Pois bem! Job seja provado até ao fim, já que as suas respostas são de um homem ímpio. Porque juntou a rebelião ao seu pecado, e lança a dúvida no meio de nós, multiplicando as suas palavras contra Deus.» Depois, Eliú retomou a palavra e disse: «Porventura consideras justo dizer que tens razão contra Deus já que dizes: ‘De que me serve e que vantagens tenho em não ter pecado?’ Pois eu vou dar-te a resposta, a ti e aos teus amigos. Contempla o céu e vê; considera as nuvens: são mais altas do que tu! Se pecas, que mal lhe causas? Se multiplicas os teus pecados, que mal lhe fazes? Se és justo, que lhe ofereces ou que recebe Ele da tua mão? Só a um homem como tu afecta a tua maldade, e só a um mortal, a tua justiça. Geme-se sob o peso da opressão, e clama-se sob a mão dos poderosos. Mas ninguém diz: ‘Onde está Deus que me criou, e que inspira cânticos de louvor, na noite, e nos instrui mais que os animais selvagens, e nos faz mais sábios que as aves do céu?’ Clama-se, mas Ele não responde, por causa do orgulho dos maus. Deus não ouve os discursos frívolos, o Todo-Poderoso não os atende. Muito menos, quando dizes que Ele não olha por ti. A tua causa está diante dele. Espera nele. Ao dizer que a sua cólera não castiga, e que Ele ignora o pecado, Job abriu a boca em palavras ociosas, e alarga-se em divagações de ignorante.» Eliú prosseguiu dizendo: «Espera um pouco e eu te instruirei, tenho ainda mais razões a favor de Deus. Trarei de longe o meu saber e declararei a razão do meu Criador. Na verdade, as minhas palavras não são mentirosas, e aquele que te fala é um homem de ciência sólida. Sim, Deus é poderoso e não despreza o puro de coração. Não deixa viver o mau e faz justiça aos infelizes. Não afasta os seus olhos dos justos; senta-os no trono com os reis, e dá-lhes grandeza e glória eterna. E se eles se encontram acorrentados, oprimidos nos laços da miséria, Ele lhes fará reconhecer as suas obras e os seus pecados cometidos por orgulho. Abre-lhes os ouvidos para os corrigir, e exorta-os a que se afastem da iniquidade. Se o escutam e lhe são dóceis, terminam os seus dias na felicidade, e os seus anos em bem-estar. Mas, se o não ouvem, acabarão no abismo e, quando menos esperam, morrerão. Os de coração perverso ficam enfurecidos e não pedem auxílio quando Ele os aprisiona; por isso, morrem em plena mocidade, perdem a vida na adolescência. Mas Deus salvará o pobre da sua miséria e abrir-lhe-á os ouvidos com a tribulação. Assim, também te salvará a ti da angústia, colocar-te-á em lugar espaçoso, e a tua mesa transbordará de abundância. Mas se te comportas como um ímpio, a culpa e a pena serão equivalentes. Toma cuidado! Que a fartura não te seduza e que o tamanho do resgate não te perca. Pode, acaso, o teu grito livrar-te da aflição, e todos os teus vigorosos esforços? Não suspires para que a noite arrebate os povos uns atrás dos outros. Não te deixes escorregar para a iniquidade, pois foi por isso que foste apanhado pelo sofrimento. Vê: Deus é sublime no seu poder. Que mestre lhe é comparável? Quem lhe fixou os seus caminhos? Quem pode dizer-lhe: ‘Fizeste mal?’ Pensa, antes, em glorificar as suas obras, que tantos homens celebram nos seus cantos. Todos os homens as contemplam e todos as admiram desde longe. Deus é grande demais para o podermos conhecer; e o número dos seus anos é incalculável. Ele faz subir gotinhas de água para transformar em chuva os seus vapores. As nuvens destilam e derramam chuva em abundância sobre os homens. Quem compreenderá a extensão das nuvens e os trovões que ecoam pela abóbada celeste? Espalha à sua volta a neblina e encobre o cimo das montanhas, pois por esse meio alimenta os povos e fornece-lhes alimentos em abundância. Nas suas mãos esconde o raio e fixa-lhe um alvo a atingir; o seu estrondo anuncia a sua chegada e o rebanho sente a ameaça da tormenta.» «Isto faz o meu coração palpitar e saltar de espanto no meu peito. Escutai o troar da sua voz e o estrondo que sai da sua boca! Estende-se por toda a vastidão dos céus, e o seu fulgor chega aos confins da terra. E, depois dele, ressoa o trovão. Troveja com a sua voz majestosa e ninguém pode deter os seus raios, quando se faz ouvir a majestade da sua voz. Deus troveja com uma voz grandiosa. Faz prodígios que não compreendemos. Diz à neve: ‘Cai sobre a terra’, e às chuvas copiosas que caiam com força. Ele põe o selo na mão de todo o homem, para que todos reconheçam que são obra sua. As feras também entram no seu covil e permanecem nas suas tocas. A tempestade levanta-se do esconderijo, e o frio vem dos seus reservatórios. Ao sopro de Deus forma-se o gelo, e a superfície das águas endurece. Carrega as nuvens de raios e as nuvens espalham os seus relâmpagos que vão em todas as direcções, sob as suas ordens, para fazer tudo o que Ele lhes ordena, sobre a face da terra. Seja o castigo, seja o benefício, ou o perdão, eles atingem seguramente o homem. Escuta isto, Job, pára e considera as maravilhas de Deus. Sabes como Deus comanda tudo isto e faz brilhar os relâmpagos no meio das suas nuvens? Conheces, acaso, a lei do equilíbrio das nuvens, prodígio de ciência infinita? Sabes porque aquecem as tuas vestes, quando a terra é percorrida pelo vento do meio-dia? Saberás tu, como Ele, estender as nuvens e torná-las sólidas como espelho de metal fundido? Ensina-nos o que lhe devemos dizer, para não nos apresentarmos às escuras. Quem lhe repetirá o que digo? Quando um homem fala, ficará Ele mais informado? De súbito, não se pode ver a luz, apesar de brilhar sobre as nuvens; mas passa um golpe de vento e varre-as. Do norte vem uma luz dourada: Deus está envolto em terrível esplendor; não somos dignos de atingir o Todo-Poderoso, pois Ele é grande no seu poder, nos seus juízos e na sua justiça inefável. Por isso, os homens hão-de temê-lo. Mas Ele não olha para aqueles que se julgam sábios.» Então, do seio da tempestade, o Senhor respondeu a Job e disse: «Quem é esse que obscurece os meus desígnios com palavras insensatas? Cinge os rins como um homem; vou interrogar-te e tu responder-me-ás. Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra? Diz-mo, se a tua inteligência dá para tanto. Sabes quem determinou as suas dimensões? Quem estendeu a régua sobre ela? Sabes em que repousam as suas bases, ou quem colocou nela a pedra angular, entre as aclamações dos astros da manhã e o aplauso de todos os filhos de Deus? Quem pôs diques ao mar, quando, impetuoso, saía do seio materno, quando Eu lhe dava por manto as nuvens, e o enfaixava com névoas tenebrosas? Encerrei-o dentro dos limites que tracei, e pus-lhe portas e ferrolhos, dizendo: ‘Chegarás até aqui; não mais além; aqui se quebrará o orgulho das tuas ondas.’ Alguma vez na tua vida deste ordens à manhã e indicaste o seu lugar à aurora, para que ela alcançasse as extremidades da terra e expulsasse dela os malfeitores? Modela-se a terra como o barro sob o sinete e tinge-se como um vestido. Então, aos maus é recusada a sua luz, e o braço dos soberbos é quebrado. Desceste até às fontes do mar e passeaste pelas profundidades do abismo? Abriram-se-te, porventura, as portas da morte? Viste as portas da morada tenebrosa? Consideraste a extensão da terra? Fala, se sabes tudo isso! De que lado habita a luz? Qual é o lugar das trevas, para que as conduzas ao seu domínio e lhes mostres as veredas da sua morada? Deverias sabê-lo, pois já tinhas nascido e era já grande o número dos teus dias! Penetraste nos depósitos da neve e visitaste os armazéns do granizo, que Eu reservo para o tempo de angústia, para os dias de luta e de batalha? Qual é a maneira como se divide o relâmpago, e por onde se expande o vento leste pela terra? Quem abre o caminho aos aguaceiros e as rotas ao trovão, para que chova sobre a terra e sobre o deserto desabitado, para fecundar regiões vastas e desoladas, a fim de nelas fazer germinar a erva verdejante? Terá a chuva um pai? Quem gera as gotas de orvalho? De que seio sai o gelo? E quem produz a geada do ar, quando as águas endurecem como pedra, e se congela a superfície do abismo? És tu que atas os laços das Plêiades, ou que desatas as correntes de Orion? És tu quem manda sair, a seu tempo, as constelações e conduz a Ursa Maior com os seus filhinhos? Conheces as leis do céu? Acaso regulas as suas influências sobre a terra? Levantas a tua voz até às nuvens, para que te cubram de águas abundantes? A tua ordem faz surgir os relâmpagos, dizendo-te eles: ‘Eis-nos aqui’? Quem deu sabedoria ao íbis, ou quem deu inteligência ao galo? Quem pode contar as nuvens com exactidão e inclinar os odres do céu, quando a terra se torna dura e compacta, e os torrões se aglomeram? És tu quem caça a presa para a leoa e sacias a fome dos leõezinhos, quando estão deitados nos seus covis, ou se escondem nas suas cavernas? Quem prepara ao corvo o seu alimento, quando os seus filhinhos gritam a Deus e vagueiam em busca de comida?» «Sabes quando nascem as crias das corças? Assististe ao parto das gazelas? Contaste os meses da sua gravidez e conheces o tempo do seu parto? Elas abaixam-se, dão à luz as suas crias, e assim nascem os seus filhotes. Os seus filhos tornam-se fortes e crescem, afastam-se delas e não voltam mais. Quem pôs o asno selvagem em liberdade e lhe soltou as peias? Dei-lhe a estepe como morada e a terra salitrosa para lugar de habitação. Ele ri-se do tumulto das cidades e não tem que ouvir os gritos do cocheiro; vagueia pelos montes, onde pasta, e vai atrás de toda a erva verde. Consentirá o boi selvagem em servir-te, ou em passar a noite no teu estábulo? Poderás atar-lhe um jugo ao pescoço para gradar atrás de ti os torrões dos teus campos? Fiar-te-ás nele por ser grande a sua força e deixarás ao seu cuidado a lavoura das tuas terras? Contarás com ele para ceifar o teu trigo e para encher de grão a tua eira? A avestruz bate as asas, orgulhosa, como se tivesse asas e plumagem de cegonha. Abandona os seus ovos na terra e deixa-os a aquecer na areia, sem pensar que um pé pode pisá-los, e que os animais selvagens podem quebrá-los. É cruel com os filhos, como se não fossem seus, e não se incomoda de ter sofrido em vão, porque Deus a privou da sabedoria e não lhe concedeu a inteligência. Mas, quando levanta voo, ri-se do cavalo e do cavaleiro. És tu que dás a força ao cavalo e lhe revestes o pescoço com as crinas? És tu que o ensinas a saltar como um gafanhoto e a relinchar terrivelmente? Arrogante de força, escava a terra com a pata e corre ao encontro das armas. Ri-se do medo, nada o assusta, e não recua diante da espada. Sobre ele ressoa a aljava, vibra a lança e o escudo. Fremente de impaciência, devora a terra e não se detém ao som do clarim. Ao sinal da trombeta, diz: ‘Vamos!’ De longe, fareja a batalha, a voz atroadora dos chefes e o alarido dos guerreiros. É pela tua sabedoria que o falcão levanta voo e estende as suas asas em direcção ao meio-dia? Acaso é à tua ordem que a águia levanta voo e faz o seu ninho nas alturas? Ela habita nos rochedos e neles passa a noite, sobre a crista das rochas e cumes escarpados. Dali espia a sua presa, que os seus olhos descobrem à distância. Os seus filhinhos chupam o sangue, e onde houver cadáveres, ela aí está.» O Senhor dirigiu-se a Job e disse-lhe: «Aquele que criticava o Todo-Poderoso quererá discutir? O que fazia correcções a Deus que responda a isto!» E Job respondeu ao Senhor, dizendo: «Falei levianamente. Que poderei responder-te? Ponho a minha mão sobre a boca; falei uma vez, oxalá não tivesse falado; não vou falar duas vezes, nem acrescentarei mais nada.» Então, o Senhor respondeu a Job, do seio da tempestade, e disse: «Cinge os teus rins como um homem; vou interrogar-te e tu me responderás. Queres reduzir a nada a minha justiça? Queres condenar-me para te justificares? Tens um braço forte como o braço de Deus e uma voz atroadora como a dele? Reveste-te, pois, de glória e majestade; cobre-te de esplendor e magnificência; espalha as ondas da tua cólera e humilha o arrogante com um só olhar. Crava os teus olhos no orgulhoso e confunde-o, esmaga os ímpios onde quer que se encontrem. Sepulta-os todos debaixo da terra, e cobre as suas faces de trevas eternas. E, então, também Eu te louvarei, se triunfares pela força da tua mão. Vê o hipopótamo que criei como a ti, que se nutre de erva como o boi. A sua força reside no seu lombo, e o seu vigor nos músculos do seu ventre. Levanta a sua cauda como um cedro; os tendões das suas coxas estão entrelaçados. Os seus ossos são como tubos de bronze, a sua estrutura é semelhante a barras de ferro. É a obra-prima de Deus; e só o seu Criador aproxima dele a espada. As montanhas fornecem-lhe pastagem, os animais do campo divertem-se à sua volta. Deita-se no meio dos canaviais e em lugares escondidos e pantanosos. Cobrem-no as árvores com a sua sombra e rodeiam-no os salgueiros da torrente. Quando o rio transborda, ele não se assusta; fica tranquilo, mesmo que um Jordão lhe entre pela boca. Quem o seguraria pela frente e lhe furaria as narinas para nelas passar argolas? Poderás apanhar o crocodilo com um anzol, e atar-lhe a língua com uma corda? Serás capaz de lhe passar um junco pelas narinas, ou de furar-lhe as mandíbulas com um gancho? Acaso te fará muitas súplicas e te dirigirá palavras ternas? Fará aliança contigo para fazeres dele teu escravo perpétuo? Brincarás com ele como um pássaro, ou atá-lo-ás para divertir as tuas filhas? Será que os pescadores o vão vender e o dividem entre vários negociantes? Crivarás a sua pele de dardos e enterrarás o arpão na sua cabeça? Põe-lhe a mão em cima; vais-te lembrar da luta e não repetirás.» «Esperar vencer o crocodilo é um engano; mal ele aparece, cai-se por terra. Ninguém se atreve a provocá-lo; quem lhe resistirá de frente? Quem o pode acometer e sair com vida? Ninguém, debaixo do céu! Não deixarei de falar da forma dos seus membros; direi que o seu vigor é incomparável. Quem jamais o despojou da sua couraça? Quem penetrou na dupla fila dos seus dentes? Quem abriu as portas da sua boca? Os seus dentes infundem terror! O seu dorso está revestido de escudos, cujas juntas estão estreitamente ligadas; uma encaixa na outra; nem o ar passa entre elas; estão tão unidas entre si e tão bem travejadas, que não podem separar-se. Os seus espirros relampejam fogo, os seus olhos são como clarões da aurora. Da boca saem-lhe chamas como archotes ardentes. As narinas deitam fumo, como uma panela que ferve ao fogo. O seu hálito queima como brasa e a sua boca lança chamas. No seu pescoço reside a força e, diante dele, tremem de espanto! Os seus músculos estão bem ligados e bem constituídos; nada os demove. O seu coração é duro como pedra, e sólido como a mó fixa dum moinho. Quando se levanta, tremem os heróis, e cheios de medo, afastam-se. A espada que investe contra ele não resiste, nem a lança, nem os dardos, nem as flechas. O ferro para ele é como palha, o bronze, como madeira carcomida. A flecha não o obriga a fugir, as pedras da funda são como palhinhas para ele. O martelo, para ele, é como palha; ri-se do sibilar dos dardos. O seu ventre é coberto de escamas pontiagudas que deixam um rasto marcado sobre a lama. Faz ferver o abismo como uma marmita e transforma o mar num caldeirão. Deixa atrás de si um caminho luminoso, como se o abismo tivesse uma cabeleira branca. Não há na terra quem lhe seja semelhante, pois foi feito para não ter medo. Olha de frente tudo o que é grande, é o rei de todos os animais ferozes.» Job respondeu ao Senhor e disse: «Sei que podes tudo e que nada te é impossível. Quem é que obscurece assim o desígnio divino, com palavras sem sentido? De facto, eu falei de coisas que não entendia, de maravilhas que superavam o meu saber. Eu dizia: ‘Escuta-me, deixa-me falar! Vou interrogar-te e Tu me responderás.’ Os meus ouvidos tinham ouvido falar de ti, mas agora vêem-te os meus próprios olhos. Por isso, retracto-me e faço penitência, cobrindo-me de pó e de cinza.» Depois que acabou de dirigir estas palavras a Job, o Senhor disse a Elifaz de Teman: «Estou indignado contra ti e contra os teus amigos, porque não falaste com rectidão na minha presença, como Job, meu servo. Tomai, pois, sete toiros e sete carneiros e ide procurar o meu servo Job. Oferecei por vós estes holocaustos, e o meu servo Job intercederá por vós. Em atenção a ele, não vos castigo, por não terdes falado rectamente de mim, como o meu servo Job.» Elifaz de Teman, Bildad de Chua e Sofar de Naamá foram e fizeram como o Senhor lhes ordenara, e o Senhor atendeu às orações de Job. Enquanto Job rezava pelos seus amigos, o Senhor restituiu-o ao seu primeiro estado e aumentou, no dobro, tudo o que antes possuía. Todos os seus irmãos, todas as suas irmãs e todos os seus conhecidos de outrora vieram visitá-lo e comeram com ele à mesa, em sua casa. Congratularam-se com ele e consolaram-no de todas as desgraças que o Senhor tinha feito cair sobre ele; e cada um deles ofereceu-lhe uma moeda de prata e um anel de ouro. O Senhor abençoou a nova condição de Job, mais do que a antiga, e Job chegou a possuir catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. Teve também sete filhos e três filhas; à primeira pôs-lhe o nome de Jemima, à segunda, Quecia e à terceira, Quéren-Hapuc. Em toda a terra não havia mulheres mais formosas que as filhas de Job. E o pai deu-lhes uma parte da herança entre os seus irmãos. Depois disto, Job viveu ainda cento e quarenta anos e viu os seus filhos e os filhos dos seus filhos, até à quarta geração. Depois Job morreu velho e satisfeito com os dias vividos. Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem toma parte na reunião dos libertinos; antes põe o seu enlevo na lei do Senhor e nela medita dia e noite. É como a árvore plantada à beira da água corrente: dá fruto na estação própria e a sua folhagem não murcha; em tudo o que faz é bem sucedido. Mas os ímpios não são assim! São como a palha que o vento leva. Por isso, os ímpios não resistirão no julgamento, nem os pecadores, na assembleia dos justos. O Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à perdição. Porque se amotinam as nações e os povos fazem planos insensatos? Revoltam-se os reis da terra e os príncipes conspiram juntos contra o Senhor e contra o seu ungido: «Quebremos as algemas e atiremos para longe de nós o seu jugo!» Aquele que habita nos céus sorri; o Senhor escarnece deles. Depois, atemoriza-os com a sua ira e com a sua cólera confunde-os: «Fui Eu que consagrei o meu rei sobre o meu monte santo de Sião!» Vou anunciar o decreto do Senhor. Ele disse-me: «Tu és meu filho, Eu hoje te gerei. Pede-me e Eu te darei povos como herança e os confins da terra por domínio. Hás-de governá-los com ceptro de ferro e destruí-los como um vaso de barro.» E agora, prestai atenção, ó reis! Deixai-vos instruir, juízes da terra! Servi o Senhor com temor, prestai-lhe homenagem com tremor, para que não se irrite e não pereçais no caminho, pois a sua ira irrompe num instante. Felizes os que nele confiam! Salmo de David. Quando fugiu de seu filho Absalão. Senhor, são tantos os meus adversários! São tantos os que se levantam contra mim! Muitos dizem a meu respeito: «Nem Deus o poderá salvar!» Mas Tu, Senhor, és o meu escudo protector, és a minha glória e quem me faz levantar a cabeça. Em alta voz invoco o Senhor e Ele responde-me da sua montanha santa. Deito-me, adormeço e acordo, porque o Senhor é o meu sustentáculo. Não temo as grandes multidões que de todos os lados me cercam. Levanta-te, Senhor ! Salva-me, ó meu Deus! Bate na face dos meus inimigos e quebra os dentes dos ímpios. De ti, Senhor, vem a salvação. Desça a tua bênção sobre o teu povo. Ao director do coro. Salmo de David. Com instrumentos de corda. Quando te invocar, escuta-me, ó Deus, minha justiça! Já que na angústia me libertaste, tem compaixão de mim e ouve a minha oração. Homens, até quando desprezareis a minha glória? Porque amais a ilusão e buscais a mentira? Sabei que o Senhor faz maravilhas pelo seu amigo e há-de escutar-me quando o invocar. Tremei de medo e não pequeis mais; meditai nos vossos leitos, em silêncio. Oferecei sacrifícios de justiça e confiai no Senhor. Muitos dizem: «Quem nos dará a felicidade?» Resplandeça sobre nós, Senhor, a luz da tua face! Pois Tu dás uma alegria maior ao meu coração do que a daqueles que têm trigo e vinho em abundância. Deito-me em paz e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, me fazes viver em segurança. Ao Director do coro. Para instrumentos de corda. Salmo de David. Ouve, Senhor, as minhas palavras e atende a minha súplica. Escuta a voz do meu clamor, ó meu Rei e meu Deus, pois eu elevo a ti a minha oração. Pela manhã, Senhor, escuta a minha voz. Mal o Sol nasce, exponho diante de ti o meu pedido e fico à espera, confiante. Tu não és um Deus que se agrade do mal; os maus não podem viver a teu lado. Os arrogantes não poderão subsistir na tua presença, pois detestas os que praticam a iniquidade. Exterminas os mentirosos. O homem sanguinário e fraudulento é detestado pelo Senhor. Mas eu, pela grandeza do teu amor, entrarei na tua casa para te adorar, com reverência, no teu santo templo. Guia-me, Senhor, pelos caminhos da tua justiça; defende-me contra os que me perseguem; aplana diante de mim o teu caminho. Na boca deles não há sinceridade; no seu coração só há malícia. A sua garganta é um sepulcro aberto e com a língua tentam seduzir os outros. Castiga-os, ó Deus, frustra os seus desígnios; expulsa-os pelos seus numerosos crimes, porque se revoltaram contra ti. Mas alegrem-se e rejubilem para sempre todos os que em ti confiam. Tu proteges e alegras os que amam o teu nome. Porque Tu, Senhor, abençoas o justo e o envolves num escudo de graça. Ao director do coro. Para instrumentos de oito cordas. Salmo de David. Senhor, não me repreendas na tua ira nem me castigues com o teu furor. Tem compaixão de mim, Senhor, porque desfaleço; cura-me, Senhor, porque me sinto abalado. A minha alma está muito perturbada, mas Tu, Senhor, até quando...? Vem, Senhor, salva a minha vida; livra-me, pela tua misericórdia. No sepulcro, ninguém se lembrará de ti; na mansão dos mortos, quem te louvará? Estou cansado de tanto gemer. Todas as noites choro na minha cama e encho de lágrimas o meu leito. Os meus olhos vão-se consumindo de tristeza; envelheci por causa dos meus adversários. Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal, porque o Senhor ouviu a voz dos meus soluços. O Senhor escutou a minha súplica e atendeu a minha oração. Os meus inimigos hão-de ser envergonhados e retroceder, confusos, num instante. Lamentação que David dirigiu ao Senhor, a propósito de Cuche, o benjaminita. Senhor, meu Deus, a ti me confio; livra-me de todos os que me perseguem e salva-me. Que não me arrebatem como o leão e me dilacerem, sem que ninguém me valha. Senhor, meu Deus, se fiz algum mal, se há injustiça nas minhas mãos, se atraiçoei o meu amigo, se poupei o agressor injusto – então, que o inimigo me persiga e me apanhe; que ele pise no chão a minha vida e a minha glória tenha de morar no pó. Levanta-te, Senhor, na tua ira, e faz frente à fúria dos meus inimigos. Desperta, ó meu Deus, e decreta a sentença. Junta em redor de ti a assembleia dos povos, vem presidir a ela do alto do teu trono. O Senhor julga os povos; julga-me, então, Senhor, segundo o meu direito e segundo a minha inocência. Peço-te: acaba com a malícia dos ímpios; fortalece os que são justos, Tu, que perscrutas o íntimo dos corações, ó Deus de justiça! A minha protecção está em Deus, que salva os de coração sincero. Deus é um justo juiz, que, a todo o momento, pode castigar. Se o ímpio não se converter, pode afiar de novo a sua espada, retesar o arco e apontar a seta: contra si prepara armas de morte, das suas flechas faz tições ardentes. Pode conceber a maldade, gerar a iniquidade e dar à luz a mentira. Abre um fosso profundo para os outros, mas cai na cova que ele mesmo fez. A sua malícia recairá sobre a sua cabeça, e a sua violência, sobre a sua fronte. Louvarei o Senhor pela sua justiça e cantarei o nome do Deus Altíssimo. Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. Salmo de David. Ó Senhor, nosso Deus, como é admirável o teu nome em toda a terra!* Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus. Da boca das crianças e dos pequeninos fizeste uma fortaleza contra os teus inimigos, para fazer calar os adversários rebeldes. Quando contemplo os céus, obra das tuas mãos, a Lua e as estrelas que Tu criaste: que é o homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te preocupares? Quase fizeste dele um ser divino; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos, tudo submeteste a seus pés: rebanhos e gado, sem excepção, e até mesmo os animais bravios; as aves do céu e os peixes do mar, tudo o que percorre os caminhos do oceano. Ó Senhor, nosso Deus, como é admirável o teu nome em toda a terra! Ao director do coro. Com voz de soprano. Salmo de David. Quero louvar-te, Senhor, com todo o coração, e narrar todas as tuas maravilhas. Em ti exultarei de alegria e cantarei salmos ao teu nome, ó Altíssimo. Os meus inimigos batem em retirada, tropeçam e caem mortos diante de ti. Tu defendes o meu direito e a minha justiça, sentando-te no tribunal como justo juiz. Ameaçaste os pagãos, exterminaste os ímpios, apagaste o seu nome para sempre. A ruína dos inimigos é completa e definitiva; destruíste as suas cidades, a memória deles desapareceu. Mas o Senhor é rei pelos séculos. Ele preparou o seu trono para o julgamento. E assim julgará o mundo com justiça, governará as nações com equidade. O Senhor é o refúgio do oprimido; a sua defesa, no tempo de angústia. Os que conhecem o teu nome, Senhor, confiam em ti, pois nunca abandonaste quem te procura. Cantai ao Senhor, que habita em Sião; anunciai as suas obras entre as nações. Ele persegue os assassinos, lembra-se deles, não esquece o clamor dos infelizes. Tem piedade de mim, Senhor, vê a minha aflição diante dos inimigos; livra-me das portas da morte. Assim, poderei cantar-te louvores às portas de Sião e celebrar a tua protecção com alegria. Os pagãos caíram no fosso que fizeram; os seus pés ficaram presos na rede que esconderam. O Senhor manifestou-se e fez justiça e o ímpio caiu nas próprias malhas. Retirem-se os ímpios para a mansão dos mortos, e todos os pagãos que rejeitam a Deus. Mas o pobre não será esquecido eternamente, nem para sempre se há-de perder a esperança dos infelizes. Levanta-te, Senhor ! Que o homem não prevaleça! Julga as nações na tua presença. Faz com que os povos temam, ó Deus; faz-lhes saber que são simples mortais. Senhor, porque te conservas à distância e te escondes nos tempos de angústia? No seu orgulho, o ímpio persegue o infeliz; que ele seja apanhado na cilada que armou. O pecador vangloria-se da sua ambição; o ganancioso blasfema e despreza o Senhor. O ímpio diz, na sua arrogância: «Ele não me castigará! Deus não existe!» É só nisto que ele pensa. Julga que os seus caminhos hão-de prosperar sempre, mas os teus juízos estão muito acima dele; ele despreza todos os seus adversários. Diz em seu coração: «Jamais serei abalado; não hei-de cair na desgraça.» A sua boca está cheia de maldição e mentira; na sua língua só há malícia e maldade. Põe-se de emboscada junto aos povoados e esconde-se para matar o inocente; os seus olhos espiam o infeliz. Escondido como o leão no seu covil, arma ciladas para assaltar o indefeso e, quando o apanha, arrasta-o na sua rede. Abaixa-se, deita-se por terra e as suas garras caem em cima dos infelizes. Depois, diz em seu coração: «Deus esquece-se e desvia o rosto para não ter de ver mais.» Levanta-te, Senhor ! Ó Deus, ergue a tua mão e não te esqueças dos miseráveis. Porque há-de o ímpio desprezar a Deus e dizer no seu coração que Tu não castigas? Mas Tu vês a angústia e o pesar, observas tudo e tomas essa causa nas tuas mãos. A ti se abandona confiadamente o pobre; Tu és o amparo do órfão. Quebra o braço dos ímpios e dos pecadores; castiga a sua maldade, para que ela desapareça. O Senhor é rei para sempre; desapareçam os pagãos, da terra que lhe pertence. Ouve, Senhor, o grito dos humildes; atende-os e conforta-os no seu coração. Faz justiça aos órfãos e oprimidos; e que ninguém, neste país, volte a espalhar o terror. Ao director do coro. De David. No Senhor me refugio; como ousais dizer-me: «Foge para o monte como as aves?» Os ímpios retesam o arco e ajustam as flechas à corda, para disparar às escondidas contra os de coração recto. Quando até os fundamentos são abalados, que poderá fazer o justo? O Senhor habita no seu santuário; o SENHOR tem nos céus o seu trono; os seus olhos contemplam o mundo e as suas pupilas observam os filhos dos homens. O Senhor perscruta o justo e o ímpio, mas odeia os que amam a violência. Fará chover sobre os ímpios carvões acesos e enxofre, e um vento tempestuoso será a taça que lhes cabe. Na verdade, o Senhor é justo e ama a justiça; os homens honestos contemplarão a sua face. Ao director do coro. Para oito cordas. Salmo de David. Salva-nos, Senhor, pois cada vez há menos justos! A lealdade desapareceu de entre os filhos dos homens. Mentem uns aos outros; na sua língua só há engano, só há duplicidade no seu coração. Que o Senhor acabe com esses lábios de mentira, com toda a língua que profere arrogâncias, como aqueles que dizem: «Confiamos na força da nossa língua; os nossos lábios nos defenderão; quem nos poderá dominar?» O Senhor diz: «Por causa da aflição dos humildes e dos gemidos dos pobres, me levantarei e porei a salvo aquele que é desprezado.» As palavras do Senhor são verdadeiras; são como a prata limpa no crisol, sete vezes refinada. Tu, Senhor, cuidarás de nós e nos defenderás para sempre dessa gente. Os ímpios vagueiam por toda a parte; são uma vergonha para os filhos dos homens. Ao director do coro. Salmo de David. Até quando, Senhor ? Esqueceste-me para sempre? Até quando me esconderás a tua face? Até quando terei a minha alma em cuidados, e o meu coração em angústia, todo o dia? Até quando triunfará o meu inimigo sobre mim? Olha para mim e responde-me, Senhor, meu Deus. Ilumina os meus olhos para não adormecer na morte. Que o meu inimigo não diga: «Venci-o!», nem os meus adversários se alegrem com a minha queda. Eu, porém, confiei na tua misericórdia; o meu coração alegra-se com a tua salvação. Cantarei ao Senhor pelo bem que Ele me fez. Ao director do coro. De David.* O insensato diz em seu coração: «Não há Deus!» Corruptas e abomináveis são as suas acções; não há quem faça o bem. Do céu, o Senhor olhou para os seres humanos, a ver se havia alguém sensato, alguém que ainda procure a Deus. Mas todos se extraviaram e corromperam; não há quem faça o bem, nem um sequer! Acaso não compreenderão os que praticam a iniquidade, que devoram o meu povo, como quem come pão, e não invocam o Senhor ? Eis como eles ficaram aterrorizados, porque Deus está com os justos. Pretendíeis confundir o plano do pobre, mas o Senhor é o seu refúgio. Quem dera que viesse de Sião a salvação de Israel! Quando o Senhor reconduzir os cativos do seu povo, Jacob vai rejubilar e Israel exultará de alegria. Salmo de David.* Quem poderá, Senhor, habitar no teu santuário? Quem poderá residir na tua montanha santa? Aquele que leva uma vida sem mancha, pratica a justiça e diz a verdade com todo o coração; aquele cuja língua não levanta calúnias e não faz mal ao seu próximo, nem causa prejuízo a ninguém; aquele que despreza o que é desprezível, mas estima os que temem o Senhor; aquele que não falta ao juramento, mesmo em seu prejuízo; aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, nem se deixa subornar contra o inocente. Quem assim proceder não há-de sucumbir para sempre. Elegia de David.* Defende-me, ó Deus, porque em ti me refugio. Digo ao Senhor, «Tu és o meu Deus, és o meu bem e nada existe acima de ti.» Quanto aos deuses que existem no país, os poderosos, nos quais se compraziam aqueles que multiplicam os seus ídolos e correm atrás deles, não tomarei parte nas suas libações de sangue, nem sequer pronunciarei os seus nomes. Senhor, minha herança e meu cálice, a minha sorte está nas tuas mãos. Na partilha foram-me destinados lugares aprazíveis e é preciosa a herança que me coube. Bendirei o Senhor porque Ele me aconselha; até durante a noite a minha consciência me adverte. Tenho sempre o Senhor diante dos meus olhos; com Ele a meu lado, jamais vacilarei. Por isso, o meu coração se alegra e a minha alma exulta e o meu corpo repousará em segurança. Pois Tu não me entregarás à morada dos mortos, nem deixarás o teu fiel conhecer a sepultura. Hás-de ensinar-me o caminho da vida, saciar-me de alegria na tua presença, e de delícias eternas, à tua direita. Oração de David.* Ouve, Senhor, a minha causa justa, atende ao meu clamor. Escuta a minha oração, que não sai de lábios mentirosos. Venha de ti a minha sentença, pois os teus olhos descobrem o que é justo. Perscruta o meu coração, mesmo durante a noite, submete-me à prova de fogo e não encontrarás em mim iniquidade; a minha boca não transgrediu. Contrariamente às acções dos homens, conservei-me fiel às tuas palavras. Dirigi os meus passos por duras veredas; os meus pés não vacilaram nos teus caminhos. Eu te invoco, ó Deus; responde-me! Inclina para mim o ouvido, escuta as minhas palavras. Mostra-nos a tua misericórdia, Tu, que salvas dos agressores os que buscam refúgio na tua direita. Guarda-me como à pupila dos teus olhos; esconde-me à sombra das tuas asas, longe dos ímpios que me fazem violência, dos inimigos mortais que me rodeiam. Eles endureceram o coração e a sua boca fala com altivez. Seguem os meus passos e cercam-me; fixam os olhos em mim para me deitarem por terra. Assemelham-se ao leão, à espera da presa, ao jovem leão a espreitar do seu esconderijo. Levanta-te, Senhor; enfrenta-os e derruba-os. Com a tua espada, livra-me dos ímpios. Com a tua mão, Senhor, guarda-me dos mortais, dos homens que põem a sua felicidade nesta vida. Os seus ventres estão cheios dos teus dons; os seus filhos vivem saciados e deixam aos descendentes o que lhes sobra. Eu, porém, pela justiça, contemplarei a tua face e, ao despertar, serei saciado com a tua presença. Ao director do coro. Do servo do Senhor, David, que dirigiu ao SENHOR as palavras deste cântico, no dia em que o Senhor o livrou do poder de todos os seus inimigos e das mãos de Saul. Disse então: Eu te amo, ó Senhor, minha força. O Senhor é a minha rocha, fortaleza e protecção; o meu Deus é o abrigo em que me refugio, o meu escudo, o meu baluarte de defesa. Invoquei o Senhor, que é digno de louvor, e fui salvo dos meus inimigos. Cercaram-me as ondas da morte e as vagas destruidoras encheram-me de terror; envolveram-me os laços do Abismo e lançaram-me as suas redes fatais. Na minha angústia invoquei o Senhor e gritei pelo meu Deus. Do seu santuário, Ele ouviu a minha voz; o meu clamor chegou aos seus ouvidos. A terra tremeu e foi sacudida; as bases das montanhas estremeceram, por causa do ardor da sua ira. Subia fumo das suas narinas e, da sua boca, um fogo devorador; dele saíam carvões acesos. Inclinou os céus e desceu, com densas nuvens debaixo dos seus pés. Cavalgou sobre um querubim e voou, transportado nas asas do vento. Fez das trevas o seu véu, das águas fundas e das nuvens densas, a sua tenda. Ao fulgor da sua presença, as nuvens transformaram-se em granizo e carvões acesos. O Senhor trovejou dos céus e o Altíssimo fez ouvir a sua voz. Ele desferiu as suas flechas e dispersou os inimigos, lançou os seus relâmpagos e pô-los em fuga. Então, apareceram as profundezas do mar, ficaram à vista os alicerces da terra. Tudo, ó Senhor, por causa das tuas ameaças e pelo sopro impetuoso da tua ira! Do alto, Deus interveio e recolheu-me; tirou-me das águas caudalosas. Livrou-me de inimigos poderosos, de adversários mais fortes do que eu. Atacaram-me no dia da adversidade, mas o Senhor foi o meu amparo. Retirou-me para um lugar seguro; libertou-me, porque me quer bem. O Senhor recompensou a minha rectidão; retribuiu-me pela pureza das minhas acções, porque segui os seus caminhos e não me afastei do meu Deus, pelo pecado. Todos os seus mandamentos estão diante de mim e nunca rejeitei os seus preceitos. Tenho sido sincero para com Ele e guardei-me do pecado. O Senhor retribuiu-me pela minha rectidão, pela honestidade das minhas acções diante dele. Ó Deus, Tu és fiel a quem te é fiel; és sincero com quem é sincero para contigo. És leal com os que te são leais e astuto com os que são astutos. Na verdade, Tu salvas o povo humilde, mas humilhas os de olhar altaneiro. Senhor, Tu manténs acesa a minha lâmpada; Tu, ó meu Deus, iluminas as minhas trevas. Contigo poderei investir contra um exército; com o meu Deus saltarei muralhas. Os caminhos de Deus são perfeitos; a palavra do Senhor é provada no fogo. Ele protege os que nele confiam. Quem é Deus, senão o Senhor ? Quem é um rochedo, senão o nosso Deus? Ele é o Deus que me rodeia de fortaleza e torna plano o meu caminho. Ele dá aos meus pés a agilidade do veado e faz-me andar seguro nas montanhas. Ele adestra as minhas mãos para o combate e os meus braços para retesar o arco de bronze. Tu deste-me o teu escudo protector; a tua direita amparou-me e a tua bondade fez-me prosperar. Deste largueza aos meus passos, para que os meus pés não vacilassem. Persegui os meus inimigos e alcancei-os; não retrocedi sem os ter derrotado. Bati-lhes e não puderam levantar-se; caíram debaixo de meus pés. Tu deste-me forças para o combate; abateste diante de mim os meus adversários. Apresentaste-me de costas os inimigos para que eu pudesse exterminar os que me odiavam. Pediram auxílio, mas ninguém os socorreu; invocaram o Senhor, mas Ele não os ouviu. E eu dispersei-os como o pó levado pelo vento; calquei-os como à lama dos caminhos. Livraste-me das contendas de um povo e puseste-me à frente das nações; povos desconhecidos prestaram-me vassalagem. Mal ouviram falar de mim, logo me obedeceram e os estrangeiros me cortejaram. Porém, os estrangeiros fraquejaram e saíram, a tremer, dos seus abrigos. Viva o Senhor ! Bendito seja o meu protector! Glorificado seja o Deus que é a minha salvação! Ele é o Deus que assegurou a minha vingança e submeteu os povos ao meu poder; livrou-me dos meus inimigos, ergueu-me acima dos meus adversários e libertou-me das mãos do homem violento. Por isso, eu te louvarei, Senhor, entre os povos e cantarei hinos ao teu nome. Deus dá grandes vitórias ao seu rei e usa de bondade com o seu ungido, com David e seus descendentes para sempre. Ao director do coro. Salmo de David. Os céus proclamam a glória de Deus; o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia passa ao outro esta mensagem e uma noite dá conhecimento à outra noite. Não são palavras nem discursos cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra, e a sua palavra, até aos confins do mundo. Deus fez, lá no alto, uma tenda para o Sol, donde ele sai, como um esposo do seu leito, a percorrer alegremente o seu caminho, como um herói. Sai de uma extremidade do céu e, no seu percurso, alcança a outra extremidade. Nada escapa ao seu calor. A lei do Senhor é perfeita, reconforta o espírito; as ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria ao homem simples. Os mandamentos do Senhor são rectos, alegram o coração; os preceitos do Senhor são claros, iluminam os olhos. O temor do Senhor é puro, permanece para sempre. As sentenças do Senhor são verdadeiras, todas elas são justas. São mais desejáveis que o ouro, o ouro mais fino; são mais doces que o mel, o puro mel dos favos. Também o teu servo foi instruído por elas e há grande proveito em cumpri-las. Mas, quem poderá discernir os próprios erros? Perdoa-me os que me são desconhecidos. Preserva-me também da soberba, para que ela não me domine. Então, serei perfeito e imune de falta grave. Aceita, com bondade, as palavras da minha boca e estejam na tua presença os murmúrios do meu coração, ó Senhor, meu refúgio e meu libertador. Ao director do coro. Salmo de David. Que o Senhor te responda no dia da angústia e o nome do Deus de Jacob te proteja. Do santuário, Ele te envie o socorro e te assista de Sião; recorde todas as tuas ofertas e aceite os teus sacrifícios; conceda o que o teu coração deseja e realize todos os teus projectos. Cantaremos, então, o teu triunfo, e em nome do nosso Deus ergueremos bandeiras. Que o Senhor satisfaça todos os teus pedidos. Agora tenho a certeza de que o Senhor dá a vitória ao seu ungido. Ele responde-lhe do alto do seu santuário e salva-o com a força do seu braço. Uns confiam nos seus carros, outros nos cavalos; nós, porém, confiamos no Senhor, nosso Deus. Eles fraquejam e são vencidos; nós, porém, levantamo-nos e ficamos de pé. Senhor, dá o triunfo ao rei e atende-nos quando te invocarmos. Ao director do coro. Salmo de David. Senhor, o rei alegra-se com o teu poder e regozija-se com o teu auxílio. Satisfizeste os desejos do seu coração; não recusaste os pedidos da sua boca. Foste ao seu encontro com bênçãos preciosas; puseste-lhe na cabeça uma coroa de ouro fino. Pediu-te a vida e Tu lha concedeste, vida longa, pelos séculos além. Devido à tua ajuda, é grande a sua glória; cumulaste-o de esplendor e majestade, abençoaste-o para sempre e encheste-o de alegria na tua presença. Sim, o rei confia no Senhor; com o amor do Altíssimo será inabalável. Levantarás a tua mão contra todos os teus inimigos; a tua direita atingirá os que te odeiam. Hás-de reduzi-los a uma fornalha ardente, quando apareceres para julgar. O Senhor há-de engoli-los na sua ira e serão devorados pelo fogo. Farás desaparecer da terra a sua posteridade, e a sua descendência, de entre os filhos dos homens. Se intentarem algum mal contra ti e pensarem em traição, nada vão conseguir. Porque os porás em fuga e apontarás contra eles o teu arco. Levanta-te, Senhor, com o teu poder e nós cantaremos e celebraremos a tua força! Ao Director do coro. Pela melodia «A corça da aurora». Salmo de David. Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste, rejeitando o meu lamento, o meu grito de socorro? Meu Deus, clamo por ti durante o dia e não me respondes; durante a noite, e não tenho sossego. Tu, porém, és o Santo e habitas na glória de Israel. Em ti confiaram os nossos pais; confiaram e Tu os libertaste. A ti clamaram e foram salvos; confiaram em ti e não foram confundidos. Eu, porém, sou um verme e não um homem, o opróbrio dos homens e o desprezo da plebe. Todos os que me vêem escarnecem de mim; estendem os lábios e abanam a cabeça. «Confiou no Senhor, Ele que o livre; Ele que o salve, já que é seu amigo.» Na verdade, Tu me tiraste do seio materno; puseste-me em segurança ao peito de minha mãe. Pertenço-te desde o ventre materno; desde o seio de minha mãe, Tu és o meu Deus. Não te afastes de mim, porque estou atribulado e não há quem me ajude. Rodeiam-me touros em manada; cercam-me touros ferozes de Basan. Abrem contra mim as suas fauces, como leão que despedaça e ruge. Fui derramado como água; e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração tornou-se como cera e derreteu-se dentro do meu peito. A minha garganta secou-se como barro cozido e a minha língua pegou-se-me ao céu da boca; reduziste-me ao pó da sepultura. Estou rodeado por matilhas de cães, envolvido por um bando de malfeitores; trespassaram as minhas mãos e os meus pés: posso contar todos os meus ossos. Eles olham para mim cheios de espanto! Repartem entre si as minhas vestes e sorteiam a minha túnica. Mas Tu, Senhor, não te afastes de mim! És o meu auxílio: vem socorrer-me depressa! Livra a minha alma da espada, e, das garras dos cães, a minha vida. Salva-me da boca dos leões; livra-me dos chifres dos búfalos. Então anunciarei o teu nome aos meus irmãos e te louvarei no meio da assembleia. Vós, que temeis o Senhor, louvai-o! Glorificai-o, descendentes de Jacob! Reverenciai-o, descendentes de Israel! Pois Ele não desprezou nem desdenhou a aflição do pobre, nem desviou dele a sua face; mas ouviu-o, quando lhe pediu socorro. De ti vem o meu louvor na grande assembleia; cumprirei os meus votos na presença dos teus fiéis. Os pobres comerão e serão saciados; louvarão o Senhor, os que o procuram. «Vivam para sempre os vossos corações.» Hão-de lembrar-se do Senhor e voltar-se para Ele todos os confins da terra; hão-de prostrar-se diante dele todos os povos e nações, porque ao Senhor pertence a realeza. Ele domina sobre todas as nações. Diante dele hão-de prostrar-se todos os grandes da terra; diante dele hão-de inclinar-se todos os que descem ao pó e assim deixam de viver. Uma nova geração o servirá e narrará aos vindouros as maravilhas do Senhor; ao povo que vai nascer dará a conhecer a sua justiça, contará o que Ele fez. Salmo de David.* O Senhor é meu pastor: nada me falta. Em verdes prados me faz descansar e conduz-me às águas refrescantes. Reconforta a minha alma e guia-me por caminhos rectos, por amor do seu nome. Ainda que atravesse vales tenebrosos, de nenhum mal terei medo porque Tu estás comigo. A tua vara e o teu cajado dão-me confiança. Preparas a mesa para mim à vista dos meus inimigos; ungiste com óleo a minha cabeça; a minha taça transbordou. Na verdade, a tua bondade e o teu amor hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre. Salmo de David.* Ao Senhor pertence a terra e o que nela existe, o mundo inteiro e os que nele habitam; pois Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre os abismos. Quem poderá subir à montanha do Senhor e apresentar-se no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração limpo, o que não ergue o espírito para as coisas vãs, nem jura pelo que é falso. Este há-de receber a bênção do Senhor e a recompensa de Deus, seu salvador. Esta é a geração dos que o procuram, dos que buscam a face do Deus de Jacob. Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso. Quem é esse rei glorioso? É o Senhor, poderoso herói, o Senhor, herói na batalha. Ó portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos, que vai entrar o rei glorioso. Quem é Ele, esse rei glorioso? É o Senhor do universo! É Ele o rei glorioso. De David.* Para ti, Senhor, elevo o meu espírito. Meu Deus, em ti confio: não seja confundido, nem escarneçam de mim os inimigos. Pois os que esperam em ti não serão confundidos; mas sejam confundidos os que atraiçoam sem motivo. Mostra-me, Senhor, os teus caminhos e ensina-me as tuas veredas. Dirige-me na tua verdade e ensina-me, porque Tu és o Deus meu salvador. Em ti confio sempre. Lembra-te, Senhor, da tua compaixão e do teu amor, pois eles existem desde sempre. Não recordes os meus pecados de juventude e os meus delitos. Lembra-te de mim, Senhor, pelo teu amor e pela tua bondade. O Senhor é bom e justo; por isso ensina o caminho aos pecadores, guia os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer o seu caminho. Todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade, para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos. Por amor do teu nome, Senhor, perdoa o meu pecado, pois é muito grande. Quem é o homem que teme ao Senhor ? Ele lhe ensinará o caminho a seguir. A sua vida decorrerá feliz, e os seus descendentes possuirão a terra. O Senhor comunica os seus segredos aos que o temem e dá-lhes a conhecer a sua aliança. Os meus olhos estão sempre postos no Senhor, porque Ele tira os meus pés da armadilha. Volta-te para mim, Senhor, e tem compaixão, porque me encontro só e abandonado. Afasta as angústias do meu coração e livra-me das minhas angústias. Vê a minha miséria e o meu sofrimento e perdoa todos os meus pecados. Vê como são numerosos os meus inimigos e como sentem por mim um ódio implacável. Guarda a minha vida e salva-me. Eu confio em ti, não me deixes ficar envergonhado. Que a honestidade e a rectidão me protejam, pois em ti confiei. Ó Deus, livra Israel de todas as suas angústias! De David.*Senhor, faz-me justiça, pois tenho vivido com rectidão; em ti, Senhor, confio sem vacilar. Examina-me, Senhor, e põe-me à prova; purifica-me os rins e o coração. Eu tenho a tua bondade diante dos meus olhos e caminho na tua verdade. Não convivo com homens que adoram ídolos, nem me associo com os traidores. Detesto a reunião dos malfeitores, e não tomo assento com os ímpios. Lavo as minhas mãos em sinal de inocência e ando à volta do teu altar, Senhor, para entoar um cântico de acção de graças e narrar todas as tuas maravilhas. Amo, Senhor, a beleza da tua casa e o lugar onde reside a tua glória. Não me juntes com os pecadores, nem a minha vida com os homens sanguinários. As suas mãos estão cheias de infâmia e a sua direita está cheia de suborno. Eu, porém, caminho na minha rectidão; salva-me e tem compaixão de mim! Os meus pés seguem por caminho recto; nas assembleias, bendirei o Senhor. De David.* O Senhor é minha luz e salvação: de quem terei medo? O Senhor é o baluarte da minha vida: quem me assustará? Quando os malvados avançam contra mim, para me devorar, são eles, meus opressores e inimigos, que resvalam e caem. Ainda que um exército me cerque, o meu coração não temerá. Mesmo que me declarem guerra, ainda assim terei confiança. Uma só coisa peço ao Senhor e ardentemente a desejo: é habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para saborear o seu encanto e ficar em vigília no seu templo. No dia da adversidade, Ele me abrigará na sua cabana; há-de esconder-me no interior da sua tenda e colocar-me no alto de um rochedo. Agora, Ele ergue a minha cabeça acima dos inimigos que me rodeiam. Oferecerei sacrifícios de louvor no seu santuário, cantarei e entoarei hinos ao Senhor. Ouve, Senhor, a voz da minha súplica, tem compaixão de mim e responde-me. O meu coração murmura por ti, os meus olhos te procuram; é a tua face que eu procuro, Senhor. Não desvies de mim o teu rosto, nem afastes, com ira, o teu servo. Tu és o meu amparo: não me rejeites nem abandones, ó Deus, meu salvador! Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, o Senhor há-de acolher-me. Ensina-me, Senhor, o teu caminho, guia-me por sendas direitas, por causa dos que me perseguem. Não me entregues à mercê dos meus inimigos, pois contra mim se levantaram testemunhas falsas, que sussurram violência. Creio, firmemente, vir a contemplar a bondade do Senhor, na terra dos vivos. Confia no Senhor ! Sê forte e corajoso, e confia no Senhor ! De David.* Clamo por ti, Senhor, meu rochedo; não fiques surdo à minha voz. Não suceda que, pelo teu silêncio, eu seja como os que descem à sepultura. Ouve o grito das minhas súplicas quando te invoco, quando ergo as minhas mãos para o teu santuário. Não me arrastes com os pecadores, com os que praticam a iniquidade; eles falam de paz com os seus semelhantes, mas no seu coração existe maldade. Retribui-lhes segundo os seus actos, segundo a malícia dos seus crimes; retribui-lhes segundo a obra das suas mãos; dá-lhes a paga que merecem. Eles não compreendem as acções do Senhor, nem reparam na obra que Ele fez; por isso, Ele os destruirá e não os deixará restaurar-se. Bendito seja o Senhor, pois ouviu o grito das minhas súplicas. O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração e Ele socorreu-me; por isso, hei-de louvá-lo de todo o coração. O Senhor é a força do seu povo, a fortaleza que salva o seu ungido. Salva o teu povo, Senhor, abençoa a tua herança, apascenta-o e guia-o para sempre. Salmo de David.* Filhos de Deus, prestai ao Senhor, prestai ao Senhor glória e honra. Prestai ao Senhor a glória do seu nome, adorai o Senhor no seu átrio sagrado. A voz do Senhor ressoa sobre as águas, o Deus glorioso faz ecoar o seu trovão, o Senhor está sobre a vastidão das águas. A voz do Senhor é poderosa, a voz do Senhor é cheia de majestade. A voz do Senhor quebra os cedros, o Senhor derruba os cedros do Líbano! Ele faz saltar o Líbano como um novilho, e o Sirion, como um bezerro. A voz do Senhor lança chispas de fogo, a voz do Senhor abala o deserto, o Senhor faz tremer o deserto de Cadés. A voz do Senhor retorce os carvalhos, despoja as árvores dos bosques. No seu santuário todos exclamam: «Glória!» Para além do dilúvio, está sentado o Senhor; o Senhor está sentado como rei eterno. O Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoa o seu povo com a paz. Salmo. Cântico da dedicação do templo. De David. Senhor, eu te enalteço, porque me salvaste e não permitiste que os inimigos se rissem de mim. Apelei a ti, Senhor, meu Deus, e Tu me curaste. Senhor, livraste a minha alma da mansão dos mortos, poupaste-me a vida, para eu não descer ao túmulo. Cantai salmos ao Senhor, vós que o amais, e dai-lhe graças, lembrando a sua santidade. A sua indignação dura apenas um instante, mas a sua benevolência é para toda a vida. Ao cair da noite, vem o pranto; e, ao amanhecer, volta a alegria. Eu dizia na minha felicidade: «Jamais serei abalado.» Senhor, foste bom para mim e deste-me segurança; mas, se escondes a tua face, logo fico perturbado. Clamo a ti, Senhor, e imploro a piedade do meu Deus. Que vantagem tiras da minha morte, e da minha descida à sepultura? Porventura, poderá o pó louvar-te ou anunciar a tua fidelidade? Ouve-me, Senhor, tem compaixão de mim; Senhor, vem em meu auxílio. Tu converteste o meu pranto em festa, tiraste-me o luto e vestiste-me de júbilo. Por isso o meu coração te cantará sem cessar. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. Ao director do coro. Salmo de David. Em ti, Senhor, me refugio; que eu nunca seja confundido. Salva-me pela tua justiça. Inclina para mim os teus ouvidos; apressa-te a libertar-me. Sê para mim uma rocha de refúgio, uma fortaleza que me salve. Tu és o meu rochedo e a minha fortaleza; por amor do teu nome, guia-me e conduz-me. Livra-me da cilada que me armaram, porque Tu és o meu refúgio. Nas tuas mãos entrego o meu espírito; Senhor, Deus fiel, salva-me. Detesto os que adoram ídolos falsos; eu, por mim, confio no Senhor. Hei-de alegrar-me e regozijar-me com a tua misericórdia, pois viste a minha miséria e conheceste a angústia da minha alma. Não me entregaste nas mãos do inimigo, mas deste aos meus pés um caminho espaçoso. Tem compaixão de mim, Senhor, que vivo atribulado; os meus olhos consomem-se de tristeza, a minha alma e o meu corpo definham. A minha vida mirrou-se na amargura, e os meus anos, em gemidos. A aflição acabou com as minhas forças; os meus ossos consumiram-se. Tornei-me objecto de escárnio para os meus inimigos, de desprezo para os meus vizinhos e de terror para os meus conhecidos. Os que me vêem na rua fogem de mim. Votaram-me ao esquecimento como se tivesse morrido; sou como um vaso desfeito. Na verdade, ouvi os gritos da multidão; o terror envolveu-me, porque conspiraram contra mim e decidiram tirar-me a vida. Mas eu confio em ti, Senhor; e digo: «Tu és o meu Deus. O meu destino está nas tuas mãos; livra-me dos meus inimigos e perseguidores. Brilhe sobre o teu servo a luz da tua face; salva-me pela tua misericórdia.» Senhor, que eu não seja confundido, pois te invoquei; sejam, antes, confundidos os pecadores e reduzidos ao silêncio no sepulcro. Calem-se os lábios mentirosos, que proferem insolências contra o justo com orgulho e desprezo. Como é grande, Senhor, a bondade que reservas para os que te são fiéis! Tu a concedes, à vista de todos, àqueles que em ti confiam. Ao abrigo da tua face, Tu os guardas das intrigas dos homens; na tua tenda os defendes contra as línguas maldizentes. Bendito seja o Senhor, que, pelo seu amor, fez maravilhas por mim na cidade fortificada. Na minha ansiedade, eu dizia: «Fui banido da tua presença.» Tu, porém, ouviste o brado da minha súplica, quando eu te invoquei. Amai o Senhor, todos vós, que sois seus amigos! O Senhor protege os seus fiéis, mas castiga com rigor os orgulhosos. Tende coragem e fortalecei o vosso coração, todos vós, que esperais no Senhor ! De David. Poema.* Feliz aquele a quem é perdoada a culpa e absolvido o pecado. Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano. Enquanto me calei, os meus ossos definhavam no meu gemido de todos os dias, pois a tua mão pesava sobre mim dia e noite; o meu vigor consumia-se com o calor do Verão. Confessei-te o meu pecado e não escondi a minha culpa; disse: «Confessarei ao Senhor a minha falta;» e Tu me perdoaste a culpa do pecado. Por isso, todo o fiel te invoca no tempo da angústia. E, mesmo que transbordem águas caudalosas, jamais o hão-de atingir. Tu és o meu refúgio: livras-me da angústia e me envolves em cânticos de libertação. «Vou ensinar-te e mostrar-te o caminho que deves seguir; de olhos postos em ti, serei o teu conselheiro. Não sejas irracional como um cavalo ou um jumento, cujo ímpeto só é dominado com freio e cabresto, para os aproximares de ti.» Muitos são os sofrimentos do ímpio; mas, a quem confia no Senhor, o seu amor o envolve. Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no Senhor; exultai todos vós, que sois rectos de coração! Exultai, ó justos, no Senhor; louvai-o, rectos de coração. Louvai o Senhor com a cítara; cantai-lhe salmos com a harpa de dez cordas. Cantai-lhe um cântico novo, tocai com arte por entre aclamações. As palavras do Senhor são verdadeiras, as suas obras nascem da fidelidade. Ele ama a rectidão e a justiça; a terra está cheia da sua bondade. A palavra do Senhor criou os céus, e o sopro da sua boca, todos os astros. Ele juntou as águas do mar como numa represa e guardou as torrentes do Abismo nos seus depósitos. A terra inteira tema o Senhor, tremam diante dele os habitantes do mundo. Porque Ele disse e tudo foi feito, Ele ordenou e tudo foi criado. O Senhor desfez os planos das nações, frustrou os projectos dos povos. Só o plano do Senhor permanece para sempre, e os desígnios do seu coração, por todas as idades. Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, o povo que Ele escolheu para sua herança. Do céu, o Senhor contempla e vê toda a humanidade; do trono em que está sentado, observa todos os habitantes da terra. Ele formou o coração de cada homem e discerne todas as suas obras. A vitória do rei não está num grande exército, nem o guerreiro se salva pela sua força. A garantia da vitória não está no cavalo; não é ele que salva pela sua grande força. Os olhos do Senhor velam pelos seus fiéis, por aqueles que esperam na sua bondade, para os libertar da morte e os manter vivos no tempo da fome. A nossa alma espera no Senhor; Ele é o nosso amparo e o nosso escudo. Nele se alegra o nosso coração e em seu nome santo confiamos. Venha sobre nós, Senhor, o teu amor, pois depositamos em ti a nossa confiança. De David, quando se fingiu louco na presença de Abimélec; expulso por ele, partiu. Em todo o tempo, bendirei o Senhor; o seu louvor estará sempre nos meus lábios. A minha alma gloria-se no Senhor ! Que os humildes saibam e se alegrem. Enaltecei comigo o Senhor; exaltemos juntos o seu nome. Procurei o Senhor e Ele respondeu-me, livrou-me de todos os meus temores. Aqueles que o contemplam ficam radiantes, não ficarão de semblante abatido. Quando um pobre invoca o Senhor, Ele atende-o e liberta-o das suas angústias. O anjo do Senhor protege os que o temem e livra-os do perigo. Saboreai e vede como o Senhor é bom; feliz o homem que nele confia! Temei o Senhor, vós que lhe estais consagrados, pois nada falta aos que o temem. Os ricos empobrecem e passam fome, mas aos que procuram o Senhor nenhum bem há-de faltar. Vinde, meus filhos, escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor. Qual é o homem que não ama a vida e não deseja longos dias de prosperidade? Nesse caso, guarda a tua língua do mal e os teus lábios das palavras mentirosas. Desvia-te do mal e faz o bem, procura a paz e segue-a. Os olhos do Senhor estão voltados para os justos e os seus ouvidos estão atentos ao seu clamor. A ira do Senhor volta-se contra os malfeitores, para apagar da terra a sua memória. Os justos clamaram e o Senhor atendeu-os e livrou-os das suas angústias. O Senhor está perto dos corações contritos e salva os espíritos abatidos. Muitas são as tribulações do justo, mas o Senhor o livra de todas elas. Ele guarda todos os seus ossos, nem um só será quebrado. O ímpio há-de perecer na sua maldade; os que odeiam o justo serão castigados. O Senhor resgata a vida dos seus servos; os que nele confiam não serão condenados. De David.* Julga, Senhor, aqueles que me acusam, combate os que me combatem. Toma a armadura e o escudo e vem em meu auxílio. Empunha a lança e a espada contra os que me perseguem. Diz à minha alma: «Eu sou a tua salvação.» Sejam confundidos e envergonhados os que procuram tirar-me a vida; fujam, humilhados, os que premeditam a minha desgraça. Sejam como a palha levada pelo vento, quando o anjo do Senhor os expulsar. Seja tenebroso e escorregadio o seu caminho, quando o anjo do Senhor os perseguir. Porque, sem motivo, puseram armadilhas contra mim; sem razão, cavaram um fosso para eu nele cair. Venha sobre eles uma ruína imprevista! Sejam apanhados na rede que me prepararam e caiam no fosso que me abriram! Então, a minha alma exultará no Senhor e se alegrará com a sua salvação. Com todo o meu ser, eu direi: «Quem pode como Tu, Senhor, livrar o desvalido do prepotente, o miserável e o pobre, de quem os explora?» Levantaram-se contra mim falsas testemunhas e pediram-me contas de coisas que eu ignorava. Pagaram-me o bem com o mal. Fiquei desamparado! Eu, porém, quando eles adoeciam, vestia-me como um penitente, humilhava a minha alma com jejuns e a minha oração era contínua. Comportava-me como se fosse um amigo ou um irmão, andava triste e deprimido como quem chora a morte da mãe. Mas eles alegravam-se da minha desgraça; reuniam-se em conluios contra mim; agredindo-me à traição, dilaceravam-me sem parar. Rodeavam-me e escarneciam; rangiam os dentes contra mim. Senhor, até quando contemplarás tudo isto? Livra-me das feras; resgata a minha vida das garras desses leões. Eu te darei graças na solene assembleia, e te louvarei no meio da multidão. Não se riam da minha desgraça os meus inimigos mentirosos, nem troquem olhares de escárnio os que me odeiam sem motivo. Eles não falam de paz; até contra gente pacífica maquinam calúnias e dizem à boca cheia contra mim: «Ah! Nós bem vimos o que fizeste!» Tu, Senhor, também viste. Não fiques calado! Senhor, não te afastes de mim! Desperta e levanta-te para me defenderes, meu Deus e meu Senhor! Defende a minha causa. Senhor, meu Deus, julga-me segundo a tua justiça. Não deixes que se riam à minha custa. Que não digam para si mesmos: «Estamos satisfeitos.» Nem possam dizer: «Afinal, devorámo-lo.» Sejam confundidos e envergonhados todos os que se alegram com o meu mal; cubram-se de confusão e de ignomínia os que são arrogantes para comigo. Mas alegrem-se e exultem os que desejam que se me faça justiça, e digam sem cessar: «O Senhor é grande. Ele quer o bem-estar do seu servo.» Então, a minha língua proclamará a tua justiça; todos os dias cantará os teus louvores. Ao director do coro. Do servo do Senhor . De David. O ímpio tem a lei do pecado no coração. Para ele não há temor de Deus. Ilude-se a si próprio, para não descobrir nem odiar o seu pecado. As palavras da sua boca são falsas e mentirosas, deixou de ser honesto e de fazer o bem. No seu leito maquina a iniquidade; anda pelo mau caminho e não quer renunciar ao mal. Mas a tua bondade, Senhor, chega até aos céus, e a tua fidelidade, até às nuvens. A tua justiça é como os montes altíssimos, os teus juízos são como o abismo profundo. Tu, Senhor, salvas os homens e os animais. Ó Deus, que maravilhosa é a tua bondade! Os humanos refugiam-se debaixo das tuas asas. Podem saciar-se da abundância da tua casa; Tu os inebrias no rio das tuas delícias. Em ti está a fonte da vida e é na tua luz que vemos a luz. Concede os teus favores aos que te amam e a tua justiça aos que são rectos de coração. Não permitas que me pisem os pés dos orgulhosos nem me afugente a mão do ímpio. Eis como caem por terra os malfeitores, abatidos, para não mais se levantarem. De David.* Não te irrites por causa dos malfeitores nem invejes os que praticam a injustiça. Eles vão secar depressa como o feno e murchar como a erva verde. Confia no Senhor e faz o bem; habitarás a terra e viverás tranquilo. Procura no Senhor a tua felicidade, e Ele satisfará os desejos do teu coração. Confia ao Senhor o teu destino, confia nele e Ele há-de ajudar-te. Fará brilhar, como luz, a tua justiça, e, como sol do meio-dia, os teus direitos. Confia no Senhor, põe nele a tua esperança; não invejes os que prosperam nem os que vivem de intrigas. Foge da ira e deixa a indignação; não te impacientes, pois isso conduz ao mal. Pois os maus serão exterminados, mas, os que esperam no Senhor, possuirão a terra. Ainda um pouco, e já não verás o ímpio; mesmo que o procures, não vais encontrá-lo. Porém, os pobres possuirão a terra e terão felicidade e grande paz. Os ímpios conspiram contra o justo e rangem os dentes contra ele. Mas o Senhor ri-se deles, pois sabe que os seus dias estão contados. Os maus desembainham a espada e retesam o arco, para abaterem o pobre e o desvalido, para matar os que seguem o bom caminho. Mas a sua espada vai trespassar-lhes o coração e o seu arco será quebrado. Vale mais o pouco para o homem justo, do que toda a fortuna do ímpio. Porque os braços do ímpio serão quebrados, mas o Senhor sustenta os que praticam o bem. O Senhor conhece os dias do homem honesto e a herança dele será para sempre. Não se envergonhará no tempo da adversidade e nos dias da fome será saciado. Os ímpios, porém, hão-de perecer, e os inimigos do Senhor irão definhar como a erva dos campos e dissipar-se como fumo. O ímpio pede emprestado e não paga, enquanto o justo se compadece e empresta. Os que o Senhor abençoar possuirão a terra, mas os que Ele amaldiçoar serão exterminados. O Senhor assegura os passos do homem e compraz-se nos seus caminhos. Se cair, não ficará por terra, porque o Senhor há-de estender-lhe a mão. Fui jovem e agora sou velho; mas nunca vi o justo abandonado nem os seus filhos a mendigar pão. Sempre o vi compassivo e generoso; por isso, a sua descendência será abençoada. Afasta-te do mal e pratica o bem, e então viverás para sempre, porque o Senhor ama a rectidão e não abandona os seus fiéis. Os ímpios serão dizimados e a sua descendência será destruída. Os justos possuirão a terra, e nela viverão para sempre. A boca do justo profere a sabedoria e a sua língua fala sempre com rectidão. Ele traz no coração a lei do seu Deus; por isso os seus passos não vacilam. O ímpio espia o homem justo e procura a maneira de o matar. Mas o Senhor não há-de abandoná-lo nas mãos dos maus, nem deixará que o condenem em tribunal. Confia no Senhor e segue os seus caminhos; Ele te honrará com a posse da terra e então verás o extermínio do ímpio. Vi um ímpio encher-se de soberba, expandir-se como uma árvore frondosa. Tornei a passar e já não existia; procurei e não consegui encontrá-lo. Observa o homem honrado, repara no homem justo, porque o homem de paz terá descendência. Mas os pecadores serão todos exterminados; a descendência dos maus será destruída. A salvação dos justos vem do Senhor; Ele é o seu refúgio na hora da angústia. O Senhor os ajuda e liberta, defende-os dos ímpios e salva-os, porque nele se refugiam. Salmo de David. Em memorial. Senhor, não me repreendas com a tua ira, nem me castigues com a tua indignação. Em mim penetraram as tuas setas, caiu sobre mim a tua mão. No meu corpo nada ficou são, por causa da tua ira; nada há de são nos meus ossos, por causa do meu pecado. Os meus pecados pesam sobre a minha cabeça e como um fardo excessivo me oprimem. As minhas chagas são fétidas e purulentas, por causa da minha loucura. Ando cabisbaixo e profundamente abatido, caminho todo o dia na tristeza. As minhas entranhas ardem de febre; nada de são há no meu corpo. Estou fraco e muito alquebrado; elevam-se bem alto os gemidos do meu coração. Senhor, diante de ti estão os meus desejos, e não desconheces o meu lamento. O meu coração palpita, faltam-me as forças, e até já me falta a luz dos olhos. Os meus amigos e companheiros afastam-se da minha desgraça; os meus parentes ficam ao longe. Preparam ciladas os que atentam contra a minha vida; insultam-me os que me querem mal e passam o dia a maquinar traições. Eu, porém, sou como um surdo, que não dá ouvidos; ou como um mudo, que não abre a boca. Tornei-me como um homem que não ouve e não tem réplica na sua boca. Pois confio em ti, Senhor, e Tu me respondes, Senhor, meu Deus. Eu disse: «Não se riam à minha custa, nem se alegrem, se o meu pé resvalar.» Sim, estou prestes a cair, a minha dor está sempre presente. Por isso, confesso a minha culpa, estou inquieto por causa do meu pecado. Os meus inimigos são poderosos; multiplicam-se os que me odeiam sem razão. Os que me pagam o bem com o mal perseguem-me, porque procuro fazer o bem. Senhor, não me desampares! Meu Deus, não te afastes de mim! Vem depressa socorrer-me, Senhor, minha salvação! Ao director do coro. Para Jedutun. Salmo de David. Eu disse a mim próprio: «Vigiarei sobre a minha conduta, para não pecar com a língua; refrearei a minha boca, enquanto o ímpio estiver diante de mim.» Fiquei calado e em silêncio, mas sem proveito, porque se agravou a minha dor. O coração ardia-me no peito; de tanto pensar nisto, esse fogo avivava-se e deixei a minha língua dizer: «Senhor, dá-me a conhecer o meu fim e o número dos meus dias, para que veja como sou efémero. De poucos palmos fizeste os meus dias; diante de ti a minha existência é como nada; o homem não é mais do que um sopro! Ele passa como simples sombra! É em vão que se agita: amontoa riquezas e não sabe para quem ficam. Agora, Senhor, que posso eu esperar? A minha esperança está em ti. Livra-me de todas as minhas faltas; não deixes que o insensato se ria de mim. Fiquei calado, sem abrir a boca, porque és Tu quem intervém. Afasta de mim os teus castigos; desfaleço ao peso da tua mão. Tu corriges o homem, castigando a sua culpa, e, como a traça, destróis o que ele mais estima. Na verdade, o homem é apenas um sopro. Senhor, ouve a minha oração, escuta o meu lamento; não fiques insensível às minhas lágrimas. Diante de ti sou como um estrangeiro, um hóspede, como os meus antepassados. Desvia de mim os olhos, para que eu possa respirar, antes que tenha de partir, e acabe a minha existência.» Ao director do coro. Salmo de David. Invoquei o Senhor com toda a confiança; Ele inclinou-se para mim e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum poço fatal, dum charco de lodo; assentou os meus pés sobre a rocha e deu firmeza aos meus passos. Ele pôs nos meus lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus. Muitos, ao verem isto, hão-de comover-se, hão-de pôr a sua confiança no Senhor. Feliz o homem que confia no Senhor e não se volta para os idólatras, para os que seguem a mentira. Grandes coisas fizeste por nós, Senhor, meu Deus; não há ninguém igual a ti! Quantas maravilhas e desígnios em nosso favor! Quisera anunciá-los e proclamá-los, mas são tantos que não se podem contar. Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas abriste-me os ouvidos para escutar; não pediste holocaustos nem vítimas. Então eu disse: «Aqui estou! No livro da Lei está escrito aquilo que devo fazer.» Esse é o meu desejo, ó meu Deus; a tua lei está dentro do meu coração. Anunciei a tua justiça na grande assembleia; Tu bem sabes, Senhor, que não fechei os meus lábios. Não escondi a tua justiça no fundo do coração; proclamei a tua fidelidade e a tua salvação. Não ocultei à grande assembleia a tua bondade e a tua verdade. Senhor, não me recuses a tua ternura; que a tua graça e a tua verdade me protejam sempre! Males sem conta me cercam; as minhas iniquidades caem sobre mim, sem que as possa ver! São mais numerosas que os cabelos da minha cabeça; por isso, o meu ânimo desfalece. Senhor, vem em meu auxílio, vem depressa socorrer-me! Fiquem confundidos e cobertos de vergonha os que procuram tirar-me a vida. Retrocedam e corem de vergonha os que desejam a minha desgraça. Fiquem atónitos e cheios de vergonha os que troçam de mim. Mas alegrem-se e exultem em ti todos os que te procuram. Digam sem cessar os que desejam a tua salvação: «O Senhor é grande!» Eu, porém, sou pobre e miserável: ó Deus, cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador: ó meu Deus, não tardes! Ao director do coro. Salmo de David. Feliz daquele que cuida do pobre; no dia da desgraça, o Senhor o salvará. O Senhor o guardará e lhe dará vida e felicidade na terra; não o abandonará à mercê dos seus inimigos. O Senhor o assistirá no leito do sofrimento; quando estiver de cama, o restabelecerá da doença. Eu disse: «Senhor, tem compaixão de mim; cura-me, embora tenha pecado contra ti!» Os meus inimigos falam mal de mim e dizem: «Quando morrerá e será esquecido o seu nome?» Os que me visitam dizem palavras triviais, o seu coração está cheio de malícia. Mal saem à rua, dão-na logo a conhecer. Todos os que me odeiam murmuram contra mim e planeiam contra mim toda a espécie de mal: «Uma doença maligna o atingiu, donde está deitado não voltará a erguer-se.» Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava e que comia do meu pão, até ele se levantou contra mim. Mas, Tu, Senhor, tem compaixão de mim; levanta-me, para que me possa vingar deles. Nisto reconhecerei que me queres bem: se o meu inimigo não triunfar de mim. Tu me ajudarás, porque vivo com sinceridade, e me farás viver sempre na tua presença. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, desde agora e para sempre. Ámen! Ámen! Ao director do coro. Poema dos filhos de Coré. Como suspira a corça pelas águas correntes, assim a minha alma suspira por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo! Quando poderei contemplar a face de Deus? Dia e noite as lágrimas são o meu alimento, porque a toda a hora me perguntam: «Onde está o teu Deus?»* A minha alma estremece ao recordar quando passava em cortejo para a Casa do Senhor, entre vozes de alegria e de louvor da multidão em festa. Porque estás triste, minha alma, e te perturbas? Confia em Deus: ainda o hei-de louvar. Ele é o meu Deus e o meu salvador.* A minha alma está abatida: por isso, penso muito em ti, desde as terras do Jordão e dos montes Hermon e Miçar. De abismo em abismo ressoa o fragor das águas revoltas; as tuas vagas e torrentes passaram sobre mim. Durante o dia, o Senhor há-de enviar-me os seus favores, para que eu reze e cante, à noite, ao Deus que me dá vida. Quero dizer a Deus: «Tu és o meu protector, porque te esqueces de mim? Porque hei-de andar triste sob a opressão do inimigo?» Quebram-se os meus ossos, quando os inimigos me insultam e repetem a toda a hora: «Onde está o teu Deus?»* Porque estás triste, minha alma, e te perturbas? Confia em Deus: ainda o hei-de louvar*. Ele é o meu Deus e o meu salvador.* Faz-me justiça, ó Deus, e defende a minha causa contra a gente sem piedade! Livra-me do homem mentiroso e perverso. Tu, ó Deus, és o meu refúgio. Porque me rejeitaste? Porque hei-de andar triste sob a opressão do inimigo? Envia a tua luz e a tua verdade, para que elas me guiem e conduzam à tua montanha santa, à tua morada. Eu irei ao altar de Deus, ao Deus que é a alegria da minha vida. Ao som da harpa te louvarei, ó Deus, meu Deus. Porque estás triste, minha alma, e te perturbas? Confia em Deus: ainda o hei-de louvar. Ele é o meu Deus e o meu salvador.* Ao director do coro. Poema dos filhos de Coré. Ó Deus, com os nossos ouvidos ouvimos, os nossos pais nos contaram os prodígios que fizeste nos seus dias, em tempos passados. Com a tua mão expulsaste povos e estabeleceste o teu povo na terra que fora de outros; castigaste as outras nações e fizeste-os prosperar a eles. Não foi com a espada que conquistaram a terra, não foi o seu braço que lhes trouxe a vitória; mas foi a tua direita, a força do teu braço, foi a luz da tua presença, porque lhes tinhas amor. Ó Deus, Tu és o meu rei! Tu deste a vitória a Jacob. Contigo vencemos os nossos inimigos, no teu nome esmagámos os nossos opressores. Não confio no meu arco e a minha espada não me salvará. Tu nos livraste dos nossos inimigos e confundiste os que nos odiavam. A toda a hora te louvaremos, ó Deus, e celebraremos o teu nome para sempre. Contudo, rejeitaste-nos e cobriste-nos de vergonha; já não acompanhas os nossos exércitos. Fizeste-nos recuar diante dos inimigos e os que nos odeiam saquearam-nos à vontade. Entregaste-nos como ovelhas para o matadouro, dispersaste-nos entre os pagãos. Vendeste o teu povo por um preço irrisório e pouco lucraste com essa venda. Fizeste de nós o opróbrio dos nossos vizinhos, a irrisão e o desprezo dos que nos rodeiam. Fizeste de nós objecto de escárnio para os pagãos, os povos abanam a cabeça, troçando de nós. A minha ignomínia está sempre diante de mim e a vergonha cobre-me o rosto, ao ouvir os insultos e as afrontas, à vista dos inimigos e opressores. Tudo isto nos aconteceu, sem nos termos esquecido de ti, sem termos traído a tua aliança, sem o nosso coração te abandonar, nem os nossos pés se afastarem do teu caminho. Contudo, Tu nos esmagaste na região das feras e nos envolveste em profundas trevas. Se tivéssemos esquecido o nome do nosso Deus e estendido as mãos para um deus estranho, porventura não teria Deus dado por isso? Pois Ele conhece os segredos do nosso coração. Por causa de ti, estamos todos os dias expostos à morte; tratam-nos como ovelhas para o matadouro. Desperta, Senhor, porque dormes? Desperta e não nos rejeites para sempre! Porque escondes a tua face e te esqueces da nossa miséria e tribulação? A nossa alma está prostrada no pó, e o nosso corpo, colado à terra. Levanta-te! Vem em nosso auxílio; salva-nos, pela tua bondade! Ao director do coro. Segundo a melodia «Os lírios». Poema dos filhos de Coré. Cântico de amor. O meu coração vibra com belas palavras; vou recitar ao rei o meu poema! A minha língua é como pena de hábil escriba. Tu és o mais belo dos filhos dos homens! O encanto se derramou em teus lábios! Por isso, Deus te abençoou para sempre. Ó herói, coloca a tua espada à cintura; ela é o teu adorno e a tua glória. Avança e cavalga triunfante em defesa da verdade, da misericórdia e da justiça; a tua direita realizará prodígios. As tuas flechas são penetrantes, a ti se submetem os povos, perdem a coragem os inimigos do rei. O teu trono, como o de um deus, é eterno e duradouro, um ceptro de justiça é o teu ceptro real. Amas a justiça e odeias a injustiça; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo da alegria, preferindo-te aos teus companheiros. As tuas vestes exalam mirra, aloés e cássia. Nos palácios de marfim alegram-te os sons da lira. Entre as damas da tua corte há filhas de reis, à tua direita está a rainha ornada com ouro de Ofir. Filha, escuta, vê e presta atenção; esquece o teu povo e a casa do teu pai. Porque o rei deixou-se prender pela tua beleza; ele é agora o teu senhor: presta-lhe homenagem! As filhas de Tiro vêm com presentes, os mais ricos do povo imploram o teu favor. A filha do rei é toda formosura, os seus vestidos são de brocados de ouro. Em vestes de muitas cores é apresentada ao rei; as donzelas, suas amigas, seguem-na em cortejo. Avançam com alegria e júbilo e entram felizes no palácio real. No lugar de teus pais, estarão os teus filhos; farás deles príncipes sobre toda a terra. Celebrarei o teu nome por todas as gerações, e os povos hão-de louvar-te para sempre. Ao director do coro. Dos filhos de Coré, com voz de soprano. Cântico. Deus é o nosso refúgio e a nossa força, ajuda permanente nos momentos de angústia .* Por isso, não temos medo, mesmo que a terra trema, mesmo que as montanhas se afundem no mar; mesmo que as águas rujam furiosas e os montes tremam com o seu embate. Um rio, com os seus canais, alegra a cidade de Deus, a mais santa entre as moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela, não pode vacilar; Deus irá em seu auxílio, ao romper do dia. As nações murmuram, os reinos agitam-se. Ele faz ouvir a sua voz e a terra estremece. O Senhor do universo está connosco! O Deus de Jacob é a nossa fortaleza!* Vinde e contemplai as obras do Senhor, as maravilhas que Ele realizou na terra. Ele acaba com as guerras no mundo inteiro, quebra os arcos e despedaça as lanças, queima no fogo os escudos! Parai! Reconhecei que Eu sou Deus: dominarei sobre os povos e sobre toda a terra. O Senhor do universo está connosco! O Deus de Jacob é a nossa fortaleza!* Ao director do coro. Salmo dos filhos de Coré. Povos todos, batei palmas, aclamai a Deus com brados de alegria, porque o Senhor, o Altíssimo, é temível; Ele é o grande rei de toda a terra. Ele submeteu os povos ao nosso poder, pôs as nações a nossos pés. Para nós escolheu a nossa herança, a glória de Jacob, seu predilecto. Deus subiu por entre aclamações, o Senhor subiu ao som da trombeta. Cantai a Deus, cantai! Cantai ao nosso rei, cantai! Pois Deus é o rei de toda a terra, cantai-lhe um poema de louvor! Deus reina sobre as nações, Deus está sentado no seu trono santo. Reuniram-se os príncipes dos povos ao povo do Deus de Abraão. Pois dependem de Deus os potentados da terra; Ele está acima de todas as coisas! Cântico. Salmo dos filhos de Coré. Grande é o Senhor e digno de louvor, na cidade do nosso Deus, no seu monte santo. Belo em altura, alegria de toda a terra, o monte Sião, nas alturas do Norte, é a cidade do grande rei. No meio das suas fortalezas, Deus mostrou-se um refúgio seguro. Eis que os reis se coligaram e juntos atacaram a cidade. Mal a viram, ficaram aterrados, perturbaram-se e puseram-se em fuga. Ali mesmo apoderou-se deles o medo, uma angústia como a da mulher que dá à luz; era como o vento leste, que destroça as naus de Társis. Como nos contaram, assim o vimos, na cidade do Senhor do universo, na cidade do nosso Deus. Deus consolidou-a para sempre! Meditamos, ó Deus, sobre o teu amor, no interior do teu templo. Como o teu nome, ó Deus, assim o teu louvor chega aos confins da terra; a tua direita está cheia de justiça. O monte Sião alegra-se, as cidades de Judá exultam, porque as tuas decisões são justas. Percorrei Sião, caminhai em seu redor e contai as suas torres; fixai a vossa atenção nas suas muralhas, contemplai os seus palácios, para poderdes narrar às gerações futuras que este Deus é o nosso Deus, pelos séculos sem fim. É Ele o nosso guia! Ao director do coro. Salmo dos filhos de Coré. Ouvi bem isto, povos de toda a terra; escutai, habitantes do mundo inteiro, humildes ou poderosos, ricos ou pobres, todos juntos. A minha boca falará com sabedoria e do meu coração brotam pensamentos profundos. Prestarei atenção ao provérbio dos sábios, interpretarei o seu sentido ao som da lira. Porque hei-de temer os dias maus, quando me cercar a maldade dos meus inimigos? Eles confiam na sua opulência e vangloriam-se nas suas riquezas. Infelizmente, o homem não consegue escapar nem pagar a Deus o seu resgate. O resgate da sua vida é muito caro e nunca se pagaria o suficiente; nunca chegaria para poder viver para sempre, sem chegar a ver a sepultura. Repara que até os sábios morrem, como morrem os loucos e os insensatos, deixando aos outros os seus bens. O sepulcro será a sua morada para sempre, a sua habitação por séculos sem fim, mesmo para os que deram o seu nome a grandes terras! O homem que vive na opulência não permanecerá: é semelhante aos animais que são abatidos.* Esta é a sorte dos que confiam em si mesmos, o fim dos que se comprazem nas suas palavras: como um rebanho, caminham para o sepulcro, e a morte será o seu pastor; no dia seguinte, os justos passam-lhes por cima e a sua imagem vai-se desvanecendo; o sepulcro será a sua morada permanente. Mas Deus há-de resgatar a minha vida, há-de arrancar-me ao poder da morte. Não te preocupes, se alguém enriquece, se aumenta a fortuna da sua casa. Quando morrer, nada levará consigo; a sua fortuna não há-de acompanhá-lo. Ainda que em vida o tenham lisonjeado: «Serás famoso, porque és um homem rico», há-de juntar-se na morte aos antepassados, que jamais verão a luz. O homem que vive na opulência e não reflecte é semelhante aos animais que são abatidos.* Salmo de Asaf.* O Senhor, Deus dos deuses, falou e convocou os habitantes da terra, desde o nascente até ao poente. De Sião, cheia de beleza, Deus mostra o seu esplendor. O nosso Deus virá e não ficará calado. À sua frente vem um fogo abrasador, ao seu redor, a tempestade em fúria. Lá do alto, Deus convoca o céu e a terra, para fazer o julgamento do seu povo: «Reuni junto a mim os que me são fiéis, os que selaram a minha aliança com um sacrifício.» Até os céus proclamarão a sua justiça, porque Deus é quem julga. «Escuta, meu povo, sou Eu quem vai falar; Israel, vou testemunhar contra ti: Eu sou o Senhor, teu Deus. Não te repreendo por causa dos teus sacrifícios; os teus holocaustos estão sempre na minha presença. Não reivindico os novilhos da tua casa, nem os cabritos dos teus currais; pois são meus todos os animais dos bosques, e os que se encontram nos altos montes. Conheço todas as aves do céu e pertencem-me os répteis do campo. Se Eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e tudo o que ele contém. Porventura Eu como a carne dos touros, ou bebo o sangue dos cabritos? Oferece a Deus um sacrifício de louvor e cumpre as promessas feitas ao Altíssimo. Invoca-me no dia da tribulação; Eu te livrarei e tu me glorificarás.» Ao pecador, Deus declara: «Porque andas sempre a falar da minha lei e trazes na boca a minha aliança, tu que detestas os meus ensinamentos e rejeitas as minhas palavras? Se vês um ladrão, tornas-te amigo dele e fazes sociedade com os adúlteros. Dás largas à tua boca para o mal e a tua língua tece enganos. Sentas-te a falar contra o teu irmão e difamas o filho da tua própria mãe. Tens feito tudo isto. Poderei Eu calar-me? Pensavas que Eu era igual a ti? Vou chamar-te a julgamento e lançar-te tudo isto em rosto!» Meditai nisto, vós que esqueceis a Deus, não aconteça que vos extermine, sem que ninguém vos possa salvar. Honra-me quem oferece o sacrifício de louvor; a quem anda por este caminho farei participar da salvação de Deus. Ao director do coro. Salmo de David. Quando o profeta Natan foi ao seu encontro, depois do adultério com Betsabé.* Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade; pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado. Lava-me de toda a iniquidade; purifica-me dos meus delitos. Reconheço as minhas culpas e tenho sempre diante de mim os meus pecados. Contra ti pequei, só contra ti, fiz o mal diante dos teus olhos; por isso é justa a tua sentença e recto o teu julgamento. Eis que nasci na culpa e a minha mãe concebeu-me em pecado. Tu aprecias a verdade no íntimo do ser e ensinas-me a sabedoria no íntimo da alma. Purifica-me com o hissope e ficarei puro, lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Faz-me ouvir palavras de gozo e alegria e exultem estes ossos que trituraste. Desvia o teu rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas culpas. Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova e dá firmeza ao meu espírito. Não me afastes da tua presença, nem me prives do teu santo espírito! Dá-me de novo a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito generoso. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos e os pecadores hão-de voltar para ti. Ó Deus, meu salvador, livra-me do crime de sangue, e a minha língua anunciará a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, para que a minha boca possa anunciar o teu louvor. Não te comprazes nos sacrifícios nem te agrada qualquer holocausto que eu te ofereça. O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito; ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido. Pela tua bondade, trata bem a Sião; reconstrói os muros de Jerusalém. Então aceitarás com agrado os sacrifícios devidos, os holocaustos e as ofertas; então serão oferecidos novilhos no teu altar. Ao director do coro. Poema de David. Quando Doeg, o edomita, foi levar a Saul a mensagem de que David estava na casa de Aimélec.* Porque te glorias, ó prepotente, em maltratar continuamente os fiéis a Deus? A tua língua é como navalha afiada, ó fabricador de enganos. Preferes o mal ao bem e a mentira à verdade. Só te comprazes com palavras enganosas, ó língua traiçoeira. Por isso Deus vai destruir-te para sempre. Ele pegará em ti e te arrancará da tua tenda; Ele há-de retirar-te da terra dos vivos. Ao verem isto, os justos ficarão impressionados e farão troça desse homem, dizendo: «Eis o homem que não pôs em Deus a sua força, mas confiou nas suas riquezas e nas suas maldades.» Eu, porém, como oliveira verdejante na casa de Deus, confio para sempre na sua misericórdia. Hei-de louvar-te eternamente por tudo o que fizeste. Na presença dos teus fiéis, anunciarei o teu nome, porque és bom. Ao director do coro. Em coro. Poema de David. O insensato diz em seu coração: «Não há Deus!» Corruptas e abomináveis são as suas acções; não há quem faça o bem. Do céu, Deus olhou para os seres humanos, a ver se havia alguém sensato, alguém que ainda procure a Deus. Mas todos se extraviaram e corromperam; não há quem faça o bem, nem um sequer! Acaso não compreenderão os que praticam a iniquidade, que devoram o meu povo, como quem come pão, e não invocam a Deus? Mas depois tremem de medo, quando não há razão para tremer, porque Deus dispersou os ossos dos que te cercam. Foram confundidos, porque Deus os rejeitou. Quem dera que viesse de Sião a salvação de Israel! Quando Deus reconduzir os cativos do seu povo, Jacob rejubilará e Israel exultará de alegria. Ao director do coro. Com instrumentos de cordas. Poema de David. Quando alguns habitantes de Zif foram anunciar a Saul: «David encontra-se escondido entre nós.»* Ó meu Deus, salva-me, pelo teu nome; pelo teu poder, faz-me justiça! Ouve, ó Deus, a minha oração, presta atenção às palavras da minha boca! Os soberbos levantam-se contra mim e os tiranos procuram tirar-me a vida, sem fazerem nenhum caso de Deus. Mas Deus é o meu auxílio, o Senhor é quem conserva a minha vida. Faz com que o mal recaia sobre os meus perseguidores; extermina-os, pela tua fidelidade. De bom grado, eu te oferecerei sacrifícios e louvarei o teu nome, Senhor, porque és bom. Ele livrou-me de todas as tribulações e eu vi a derrota dos meus inimigos. Ao director do coro. Com instrumentos de corda. Poema de David. Ouve, ó Deus, a minha oração, não rejeites a minha súplica. Presta-me ouvidos e responde-me; estou atormentado pela angústia, perturbado com a ameaça do inimigo e com a opressão dos pecadores. Eles fazem cair a desgraça sobre mim e perseguem-me com furor. O coração aperta-se no meu peito e os terrores da morte caem sobre mim. Apodera-se de mim o terror e o tremor, e o medo envolve-me. E exclamo: «Quem me dera ter asas como a pomba, para poder voar e encontrar abrigo!» Sim, fugiria para bem longe, e viveria no deserto. Iria apressar-me em busca de refúgio contra o furacão e a tempestade. Confunde-os, Senhor, e divide as suas línguas, pois na cidade só vejo violência e discórdia. Dia e noite rondam à volta das muralhas e dentro delas reina o crime e a intriga. Há ruína dentro da cidade, a opressão e a fraude não desaparecem das suas praças. Se me tivesse ultrajado um inimigo, eu poderia suportá-lo; se contra mim se levantasse quem me odeia, desse, eu poderia esconder-me. Mas tu, um homem como eu, meu amigo e confidente, com quem eu partilhava conselhos agradáveis, com quem ia feliz para a casa de Deus! Que a morte os surpreenda e desçam vivos ao mundo dos mortos, porque a malvadez habita neles, no fundo do seu coração. Quanto a mim, invoco a Deus, e o Senhor me salvará. À tarde, de manhã e ao meio-dia, eu me lamento e suspiro, e Ele há-de ouvir a minha voz. Ele resgatou-me dos que me atacavam, apesar de serem muitos contra mim. Deus há-de ouvir-me e humilhá-los, Ele que reina eternamente, visto neles não haver emenda, nem sentirem temor de Deus. Levantam a mão contra os próprios amigos e transgridem a aliança que celebraram. A sua boca é mais macia que a manteiga, mas a guerra está no seu coração; as suas palavras são mais suaves que o azeite, quando, afinal, são espadas afiadas. «Confia ao Senhor os teus cuidados e Ele será o teu sustentáculo; não permitirá que o justo sucumba para sempre.» Tu, ó Deus, hás-de precipitá-los no abismo da morte. Os homens sanguinários e mentirosos não viverão metade dos seus dias. Eu, porém, confio em ti, ó Deus. Ao director do coro. Pela melodia «a pomba dos terebintos longínquos». Elegia. De David, quando os filisteus se apoderaram dele, em Gat. Tem compaixão de mim, ó Deus, pois há quem me queira destruir, oprimindo-me e fazendo-me guerra todo o dia. Os meus adversários perseguem-me continuamente; são numerosos, ó Altíssimo, os que lutam contra mim! Quando tiver medo, confiarei em ti. Celebro a palavra de Deus, em Deus confio, nada temo: que mal me poderão fazer os homens?* Passam todo o dia a difamar-me, os seus pensamentos são sempre contra mim. Para me fazerem mal, amotinam-se e escondem-se, espiando os meus passos, em busca da minha vida. Rejeita-os, ó Deus, por causa da sua maldade; derruba os povos na tua ira. Tu contaste os passos do meu peregrinar, recolheste e guardaste as minhas lágrimas. Não está tudo isso anotado no teu livro? No dia em que eu te invocar, os meus inimigos hão-de retroceder; então ficarei a saber que Deus está por mim. Celebro a palavra de Deus, celebro a palavra do Senhor .* Em Deus confio, nada temo: que mal me poderão fazer os homens?* Mantenho as promessas que te fiz, ó Deus, quero cumpri-las com sacrifícios em teu louvor, porque salvaste da morte a minha vida, e os meus pés, da queda, para andar na presença de Deus, na terra dos vivos. Ao director do coro. Segundo «Não destruas». Elegia. De David, quando se escondeu de Saul na caverna. Tem compaixão de mim, ó Deus, tem compaixão, porque em ti me refugio e me abrigo à sombra das tuas asas, até que passe o perigo. Clamo ao Deus Altíssimo, ao Deus que faz tudo por mim. Que Ele me envie do céu a sua ajuda e me salve dos que procuram destruir-me; que Ele envie do céu o seu amor e fidelidade. Encontro-me rodeado de leões, dispostos a devorar os seres humanos; os seus dentes são como lanças e flechas, e a sua língua, como uma espada afiada. Ó Deus, revela nas alturas a tua grandeza, e, sobre toda a terra, a tua glória.* Armaram um laço para os meus pés para me fazerem cair; cavaram um fosso diante de mim, mas foram eles que lá caíram. O meu coração está firme, ó Deus, o meu coração está firme; quero cantar e salmodiar. Ó minha alma, desperta! Despertai, harpa e cítara! Quero despertar a aurora! Hei-de louvar-te, Senhor, entre os povos, hei-de cantar-te salmos entre as nações; pois o teu amor é tão grande que chega ao céu e a tua fidelidade chega até às nuvens. Ó Deus, revela nas alturas a tua grandeza, e, sobre toda a terra, a tua glória.* Ao director do coro. Segundo «Não destruas». De David. Elegia. Será que decidis com justiça, ó altos poderes? Será que julgais os humanos com rectidão? Em vez disso, em vossos corações forjais a falsidade, e com as vossas mãos sustentais a violência no país. Os ímpios extraviaram-se desde o seio materno; os que dizem mentiras erraram desde o seu nascimento. O seu veneno é como o das víboras; fazem-se surdos como as serpentes, para não ouvirem a voz dos encantadores, dos magos peritos em sortilégios. Ó Deus, quebra-lhes os dentes! Arranca, Senhor, os queixais a esses leões! Desapareçam como as águas que correm; quando atirarem flechas, que as encontrem quebradas. Que eles passem, como o caracol a desfazer-se em baba e como um aborto, que não viu a luz do sol. Antes que as suas marmitas sintam o calor da lenha verde ou seca, que um furacão os lance para longe. O justo há-de alegrar-se ao ver-se vingado, e, no sangue do ímpio, lavará os pés. E os homens dirão: «Sim, existe recompensa para o justo; de facto, há um Deus que faz justiça sobre a terra.» Ao director do coro. Segundo «Não destruas». Elegia. De David, quando Saul mandou cercar a sua casa para o matar. Meu Deus, livra-me dos meus inimigos; protege-me dos que se levantam contra mim. Livra-me dos que praticam o mal e salva-me dos homens sanguinários. Vê como armam ciladas à minha vida; ó Senhor, conspiram contra mim os poderosos, sem que eu tenha cometido nenhuma transgressão. Sem que eu tenha culpa, agitam-se e preparam-se. Desperta, Senhor, e vem Tu em meu auxílio! Ó Senhor, Deus do universo, Deus de Israel, levanta-te para castigar esses pagãos; não tenhas compaixão desses traidores. Regressam pela tarde, ladrando como cães, e dão voltas pela cidade.* As suas palavras ferem como espadas, e dizem a gritar, em tom feroz: «Quem é que nos vai ouvir?» Mas Tu, Senhor, escarneces deles, fazes troça de toda essa gente. Ó minha força, é para ti que eu me volto, pois Tu, ó Deus, és a minha fortaleza.* O amor do meu Deus virá ao meu encontro, Deus me fará ver o castigo dos meus opressores. Extermina-os, para que o meu povo não se esqueça; desbarata-os e abate-os com o teu poder, ó Deus, nosso protector. Cada palavra que sai dos seus lábios é um pecado; que eles sejam vítimas do seu próprio orgulho, das mentiras e maldições que proferem. Extermina-os com a tua ira, destrói-os para que desapareçam, para que se saiba que Deus reina em Jacob, e até aos confins da terra. Regressam pela tarde, ladrando como cães, e dão voltas pela cidade.* Vagueiam à procura de comida e, se não se fartam, rondam toda a noite. Eu, porém, cantarei o teu poder, pela manhã celebrarei a tua bondade, porque foste o meu amparo e o meu refúgio no dia da tribulação. Ó minha força, a ti eu cantarei hinos, pois Tu, ó Deus, és a minha fortaleza,* o Deus que me tem amor. Ao director do coro. Segundo «Um lírio é testemunho». Elegia. De David. Para ensinar. Quando lutou contra Aram Naaraim e contra Aram de Soba, e Joab, ao regressar, combateu contra Edom, derrotando doze mil, no Vale do Sal.* Tu nos rejeitaste, ó Deus, e nos destroçaste; estás irado, mas restabelece-nos de novo. Abalaste a terra e a fendeste. Repara as suas brechas, porque se desmorona! Fizeste que o teu povo passasse duras provas; deste-nos a beber um vinho inebriante. Dá aos teus fiéis um sinal, para que possam fugir às flechas. Para que os teus amigos sejam libertados, salva-nos com a tua mão direita e responde-nos. Deus falou no seu santuário: «Com alegria dividirei Siquém e medirei o Vale de Sucot. É minha a terra de Guilead e a terra de Manassés, Efraim é o elmo da minha cabeça e Judá, o meu ceptro real. Moab, a bacia em que Eu me lavo; sobre Edom porei as minhas sandálias e cantarei vitória sobre a Filisteia!» Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me guiará até Edom? Quem senão Tu, ó Deus, que nos rejeitaste e já não vais à frente dos nossos exércitos? Concede-nos ajuda na tribulação, porque é vão qualquer socorro humano. Com a ajuda de Deus faremos proezas. Ele calcará aos pés os nossos inimigos. Ao mestre do coro. Com instrumentos de corda. De David. Ó Deus, ouve o meu clamor, atende a minha oração. Dos confins da terra grito por ti, com o meu coração desfalecido. Coloca-me sobre o rochedo que me é inacessível. Tu tens sido o meu refúgio e uma torre sólida contra o inimigo! Possa eu viver sempre na tua tenda e abrigar-me à sombra das tuas asas. Porque Tu, ó Deus, atendeste as minhas promessas, e deste-me a herança dos que temem o teu nome. Acrescenta muitos dias aos dias de vida do rei, os seus anos sejam longos como as gerações. Que ele reine para sempre na presença de Deus; que o teu amor e fidelidade o guardem. Assim louvarei eternamente o teu nome e cumprirei dia após dia as minhas promessas. Ao director do coro. Para Jedutun. Salmo de David. Só em Deus descansa a minha alma; dele vem a minha salvação.* Só Ele é o meu refúgio e a minha salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalado.* Até quando atacareis um homem, todos vós, com o intuito de o matar, como se fosse uma parede a desmoronar-se, ou um muro em ruínas? Planeiam derrubá-lo do seu posto, comprazem-se na mentira. Abençoam com a boca, mas amaldiçoam com o coração. Só em Deus descansa a minha alma, dele vem a minha esperança.* Só Ele é o meu refúgio e salvação, a minha fortaleza; jamais serei abalado.* Em Deus está a minha salvação e a minha glória, Ele é o meu rochedo seguro e o meu refúgio. Confiai nele, ó povos, em todo o tempo, desafogai nele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio. Na verdade, os homens são como um sopro de vento, e uma mentira, os seres humanos; postos na balança, logo vêm acima; todos juntos são mais leves do que um sopro. Não confieis na violência, nem confieis no que roubais; se as vossas riquezas crescerem, não lhes entregueis o coração. Mais que uma vez eu ouvi a palavra que Deus disse: «A Deus pertence o poder.» A ti, Senhor, pertence a bondade, pois Tu recompensas cada um segundo as suas obras. Salmo de David, quando se encontrava no deserto de Judá. Ó Deus, Tu és o meu Deus! Anseio por ti! A minha alma tem sede de ti; todo o meu ser anela por ti, como terra árida, exausta e sem água. Quero contemplar-te no santuário, para ver o teu poder e a tua glória. O teu amor vale mais do que a vida; por isso, os meus lábios te hão-de louvar. Quero bendizer-te toda a minha vida e em teu louvor levantar as minhas mãos. A minha alma será saciada com deliciosos manjares, com vozes de júbilo te louvarei. Lembro-me de ti no meu leito, penso em ti, se fico acordado, porque Tu és o meu auxílio, e à sombra das tuas asas eu exulto. A minha alma está unida a ti, a tua mão direita me sustenta. Os que procuram a minha ruína, cairão nas profundezas do abismo. Eles morrerão à espada e serão transformados em pasto de chacais. Mas o rei há-de alegrar-se em Deus, cantarão louvores os que juram por Ele, enquanto a boca dos mentirosos será fechada. Ao director do coro. Salmo de David. Ouve, ó Deus, a voz do meu lamento, defende-me do terror dos meus inimigos. Livra-me da conspiração dos malvados, do tumulto dos que praticam a iniquidade. Aguçam a sua má língua como espadas e lançam, como setas, palavras venenosas, para disparar à traição sobre o inocente, ferindo de surpresa, sem nada recear. Decidem-se pelas más obras e conspiram às ocultas, para armar ciladas, dizendo: «Quem é que vai reparar?» Projectam o crime e levam até ao fim os seus planos ocultos; o íntimo do coração do homem é insondável. Mas Deus disparará sobre eles as suas flechas e de surpresa os ferirá. A sua língua foi a causa da sua ruína. Quem os vê abana a cabeça. Os homens vão encher-se de temor e hão-de narrar as obras de Deus, reconhecendo o que Ele fez. O justo alegra-se no Senhor e nele se refugia; hão-de gloriar-se todos os rectos de coração. Ao director do coro. Salmo de David. Cântico. A ti, ó Deus, é devido o louvor em Sião, e em tua honra se cumprem as promessas. Tu escutas a nossa oração, e todo o mortal se pode aproximar de ti, com as suas obras e pecados. São muitas as nossas faltas, mas Tu as perdoas. Feliz daquele que Tu escolhes e atrais para viver nos teus átrios. Seremos saciados com os bens da tua casa, no teu santo templo. Tu nos respondes com prodígios de justiça, ó Deus, nosso salvador, esperança dos confins da terra e dos mares mais distantes. Tu dás firmeza às montanhas com a tua força, revestido de poder. Tu acalmas o bramido dos mares, a fúria das ondas e o tumulto dos povos. Até os que habitam nos confins da terra tremem perante os teus prodígios; de oriente a ocidente aclamam, em gritos de alegria. Cuidaste da terra e tornaste-a fértil, cumulando-a de riquezas. Enches, a transbordar, os rios caudalosos e fazes brotar o trigo; assim preparas a terra. Regas os seus sulcos e aplanas as leivas; amoleces a terra com chuvas abundantes e abençoas as suas sementeiras. Coroas o ano com os teus benefícios; por onde passas, brota a abundância. Vicejam as pastagens do deserto, as colinas vestem-se de festa. Os campos cobrem-se de rebanhos e os vales enchem-se de trigais. Tudo aclama e grita de alegria. Ao director do coro. Cântico. Salmo.* Aclamai a Deus, terra inteira, cantai a glória do seu nome, proclamai os seus louvores. Dizei a Deus: «São admiráveis as tuas obras! O teu poder é tão grande, que os teus inimigos se curvam diante de ti. Toda a terra te adora e canta louvores; entoa hinos ao teu nome.» Vinde e admirai as obras de Deus, as obras admiráveis que Ele fez diante dos homens. Converteu o mar em terra firme, e puderam atravessar a pé enxuto. Por isso nos alegramos nele! Com o seu poder governa para sempre; com os seus olhos vigia as nações, para que os rebeldes não se ensoberbeçam. Bendizei, ó povos, o nosso Deus, fazei ressoar a voz do seu louvor. Foi Ele quem salvou a nossa vida e não permitiu que os nossos pés resvalassem. Ó Deus, Tu nos puseste à prova e nos purificaste como se faz com a prata. Fizeste-nos cair na armadilha, puseste um fardo pesado às nossas costas. Deixaste passar os cavaleiros sobre as nossas cabeças, passámos pela água e pelo fogo, mas, por fim, deste-nos largueza e liberdade. Por isso, entrarei com holocaustos na tua casa e cumprirei as promessas que te fiz, promessas que meus lábios proferiram, quando eu me encontrava em aflição. Hei-de oferecer-te animais gordos em holocausto, farei sacrifícios de carneiros, novilhos e cabritos. Vinde e ouvi, todos os que temeis a Deus; vou narrar-vos o que Ele fez por mim. Por Ele gritou a minha boca e o seu louvor andava já na minha língua. Se a maldade estivesse no meu coração, o Senhor não me teria escutado. Mas Deus ouviu-me e atendeu o clamor da minha súplica. Bendito seja Deus, que não rejeitou a minha oração, nem me retirou a sua misericórdia. Ao director do coro. Com instrumentos de corda. Salmo. Cântico. Deus se compadeça de nós e nos abençoe, faça brilhar sobre nós a luz do seu rosto. Sejam conhecidos na terra os teus caminhos e entre as nações, a tua salvação! Que os povos te louvem, ó Deus! Todos os povos te louvem!* Alegrem-se e exultem as nações, porque julgas os povos com justiça e governas as nações sobre a terra. Que os povos te louvem, ó Deus! Todos os povos te louvem!* O campo dá os seus frutos. Deus, o nosso Deus, nos abençoa. Que Deus nos abençoe; e o seu temor chegue aos confins da terra! Ao director do coro. De David. Salmo. Cântico. Levanta-se Deus: os seus inimigos dispersam-se e fogem diante dele os que o odeiam. Como se dissipa o fumo, assim eles se dissipam; como a cera se derrete ao fogo, assim desfalecem os ímpios diante de Deus. Mas os justos alegram-se e rejubilam; diante de Deus exultam de alegria. Louvai a Deus, cantai salmos ao seu nome, abri caminho àquele que cavalga sobre as nuvens; o seu nome é Senhor ! Exultai na sua presença! Ele é pai dos órfãos e defensor das viúvas, o Deus que habita no seu santo templo. Deus prepara uma casa para os desamparados e liberta aqueles que estão prisioneiros; mas os rebeldes viverão em terra estéril. Ó Deus, quando saíste à frente do teu povo, avançando pelo deserto, a terra tremeu e a chuva caiu do céu, na presença do Deus do Sinai, na presença de Deus, o Deus de Israel. Fizeste cair, ó Deus, a chuva com abundância; restauraste as forças à tua herança extenuada. O teu povo ficou restabelecido, e Tu, ó Deus, reconfortaste o pobre com a tua bondade. O Senhor dizia uma palavra e multiplicavam-se os mensageiros da boa nova: «Fogem os reis! Fogem os exércitos! E a dona de casa reparte os despojos.» Que eles se esvaziem entre os rebanhos. Até as asas das pombas ficam cobertas de prata e as suas penas, de ouro fino. Quando o Deus supremo dispersa os reis, então a neve cai no monte Salmon. Ó montanha de Deus, montanha de Basan! Montanha elevada, montanha de Basan! Ó montes escarpados, porque invejais a montanha que Deus escolheu para sua morada? O Senhor há-de habitar nela eternamente. Os carros de Deus são milhares de milhares; o Senhor vai neles do Sinai para o santuário. Tu subiste às alturas e levaste contigo prisioneiros, recebeste homens como tributo; até os rebeldes ali poderão habitar, ó Senhor Deus. Bendito seja o Senhor, dia após dia; Ele cuida de nós; Ele é o Deus da nossa salvação. Ele é o nosso Deus, é um Deus que salva. Na verdade, o Senhor Deus é aquele que nos livra da morte! Deus esmaga a cabeça dos inimigos, o crânio dos que se obstinam na maldade. O Senhor disse: «De Basan os farei voltar, hei-de trazê-los do fundo do abismo, para que possas molhar os pés no seu sangue e a língua dos teus cães tome a ração de teus inimigos.» Viram, ó Deus, a tua marcha triunfal, a entrada do meu Deus e rei no santuário. Os cantores caminham à frente e os músicos atrás; no meio vão as donzelas tocando pandeiretas. Bendizei a Deus nas assembleias, bendizei ao Senhor nas solenidades de Israel. Lá vai Benjamim, o mais novo, que abre o cortejo; depois, os chefes de Judá, com os seus grupos, os chefes de Zabulão e de Neftali. Ó Deus, mostra o teu poder, aquele poder com que intervieste em nosso favor. No teu santuário, em Jerusalém, os reis virão oferecer-te presentes. Domina a fera dos canaviais, a manada de touros com os novilhos dos povos, para que ela seja submetida, trazendo barras de prata. Dispersa as nações que desejam a guerra! Do Egipto chegarão ricos presentes e a Etiópia estenderá, veloz, as mãos para Deus. Louvai a Deus, reinos da terra, cantai hinos ao Senhor! Ele avança pelos céus eternos e faz ouvir a sua voz, que é poderosa. Reconhecei o poder de Deus! A sua majestade resplandece sobre Israel; o seu poder alcança a vastidão das nuvens. Deus é temível no seu santuário, o Deus de Israel dá força e poder ao seu povo. Bendito seja Deus! Ao director do coro. Segundo «Os lírios». De David. Salva-me, ó Deus, porque as águas quase me submergem; estou a afundar-me num lamaçal profundo, não tenho ponto de apoio; entrei no abismo de águas sem fundo e a corrente está a arrastar-me. Estou rouco de tanto gritar, dói-me a garganta; cansam-se os meus olhos à espera do meu Deus. São mais que os cabelos da minha cabeça aqueles que injustamente me odeiam; são mais fortes que os meus ossos os inimigos que mentem contra mim. Terei então de restituir aquilo que não roubei? Ó Deus, Tu conheces a minha insensatez, e as minhas faltas não te são ocultas. Não sejam confundidos por minha causa os que esperam em ti, Senhor, Deus do universo. Não fiquem desiludidos por minha causa os que te procuram, ó Deus de Israel. Por causa de ti, tenho sofrido insultos, o meu rosto cobriu-se de vergonha. Tornei-me um estranho para os meus irmãos, um desconhecido para os filhos de minha mãe. O zelo da tua casa me consome; os insultos dos que te ultrajam caíram sobre mim. Mortifico-me com jejuns e mesmo assim me insultam. Visto-me de luto e sou para eles objecto de escárnio. Murmuram de mim os que se sentam à porta da cidade, e os bêbedos divertem-se à minha custa. Mas eu dirijo a ti a minha oração, ó Senhor, no tempo favorável; ó Deus, responde-me, pelo teu grande amor, como prova de que és meu salvador. Tira-me do lodo, para que não me afunde! Salva-me dos que me odeiam e das águas profundas! Não me cubram as ondas nem me engula o abismo; que a boca do poço não se feche sobre mim. Responde-me, Senhor, porque o teu amor é bondade; olha para mim, pela tua grande compaixão. Não escondas a tua face deste teu servo; responde-me depressa, porque estou angustiado. Aproxima-te de mim e salva-me, liberta-me dos meus inimigos. Tu conheces o meu opróbrio, a minha vergonha e confusão; tens bem presentes os que me perseguem. O insulto despedaçou-me o coração, até desfalecer; esperei compaixão, mas foi em vão; alguém que me consolasse, mas não encontrei. Deram-me fel, em vez de comida, e vinagre, quando tive sede. Que os seus banquetes se transformem numa armadilha e numa cilada para os seus amigos. Escurece-lhes a vista, para que não vejam, tremam-lhes os rins a cada instante. Descarrega sobre eles a tua indignação; sejam atingidos pelo furor da tua ira. Tornem-se desertas as suas moradas e não haja quem habite nas suas tendas, pois perseguem os que Tu castigaste e acrescentam sofrimentos aos que puseste à prova. Deixa-os acumular falta sobre falta, e não permitas que tenham acesso ao teu perdão. Sejam riscados do livro dos vivos e não constem na lista dos justos. Mas a mim, triste e aflito, que a tua salvação, ó Deus, me restabeleça. Louvarei, com cânticos, o nome de Deus; hei-de glorificá-lo com acções de graças. Isto agradará mais a Deus do que o sacrifício de um touro, do que uma vítima perfeita e sem mancha. Que os humildes vejam isto e se alegrem, e os que buscam a Deus se encham de coragem, porque o Senhor escuta os necessitados e não despreza o seu povo cativo. Louvem-no o céu e a terra, os mares e quanto neles se move. Sim, Deus há-de salvar Sião, reconstruir as cidades de Judá; eles ali habitarão e tomarão posse dela. Os descendentes dos seus servos hão-de recebê-la em herança, e os que amam o seu nome serão os seus moradores. Ao director do coro. De David. Em memorial. Ó Deus, vem em meu auxílio, Senhor, vem depressa socorrer-me! Fiquem confundidos e cobertos de vergonha os que procuram tirar-me a vida; retrocedam e corem de vergonha os que desejam a minha desgraça. Fiquem atónitos e cheios de vergonha os que troçam de mim! Mas alegrem-se e exultem em ti todos os que te procuram; digam sem cessar os que desejam a tua salvação: «Deus é grande!» Eu sou pobre e miserável; ó Deus, cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador: ó Senhor, não tardes! Em ti, Senhor, me refugio, jamais serei confundido. Pela tua justiça, livra-me e protege-me; inclina para mim os teus ouvidos e salva-me. Sê a minha protecção e o refúgio onde me acolho. Tu prometeste salvar-me, pois és o meu rochedo e a minha fortaleza. Meu Deus, livra-me das mãos do ímpio, das mãos do opressor e do violento. Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus, e a minha confiança desde a juventude. Em ti me apoio desde o seio materno, desde o ventre materno és o meu protector; és o objecto contínuo do meu louvor. Sou motivo de admiração para muitos, mas Tu és o meu refúgio. A minha boca está cheia do teu louvor; todo o dia proclamo a tua glória. Não me rejeites no tempo da velhice, não me abandones, quando já não tiver forças. Os meus inimigos falam contra mim, e os que espiam os meus passos conspiram. E dizem: «Deus abandonou-o; persigam-no, prendam-no, pois não há quem o salve!» Ó Deus, não te afastes de mim! Meu Deus, vem depressa socorrer-me! Sejam confundidos e destruídos os que atentam contra a minha vida; cubram-se de opróbrio e vergonha os que procuram a minha desgraça. Eu, porém, esperarei continuamente e, dia após dia, mais te louvarei. A minha boca proclamará a tua justiça, e todo o dia anunciarei a tua salvação, sabendo bem que ela é inenarrável. Narrarei esses prodígios, Senhor, Deus, recordarei a tua justiça sem igual. Instruíste-me, ó Deus, desde a minha juventude e até hoje anunciei sempre as tuas maravilhas. Agora, na velhice e de cabelos brancos, não me abandones, ó Deus, para que anuncie a esta geração o teu poder e às gerações futuras, a tua força. Ó Deus, a tua generosidade chega até aos céus, pois fizeste grandes coisas: quem como Tu, ó Deus? Fizeste-me sofrer grandes males e aflições mortais; mas de novo me darás a vida; das profundezas da terra me levantarás outra vez. Aumentarás a minha dignidade, aproximando-te para me confortar. Por isso, quero louvar-te ao som da harpa, louvar a tua fidelidade, ó meu Deus; quero cantar-te ao som da cítara, ó Santo de Israel. Ao cantar-te salmos, os meus lábios vibrarão de alegria, e também todo o meu ser, que Tu salvaste. A minha língua cantará, dia a dia, a tua justiça, pois ficaram confundidos e cheios de vergonha os que procuravam a minha desgraça. De Salomão.* Ó Deus, concede ao rei a tua rectidão e a tua justiça ao filho do rei, para que julgue o teu povo com justiça e os teus pobres com equidade. Que os montes tragam a paz ao povo, e as colinas, a justiça. Que o rei proteja os humildes do povo, ajude os necessitados e esmague os opressores! Que ele possa contemplar-te como o Sol e como a Lua, de geração em geração. Que o rei seja como a chuva sobre os campos, como os aguaceiros que regam a terra. Em seus dias florescerá a justiça e uma grande paz até ao fim dos tempos. Dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra. Diante dele se curvarão os inimigos e os seus adversários hão-de prostrar-se por terra. Os reis de Társis e das ilhas oferecerão tributos; os reis de Sabá e de Seba trarão suas ofertas. Todos os reis se prostrarão diante dele; todas as nações o servirão. Ele socorrerá o pobre que o invoca e o indigente que não tem quem o ajude. Terá compaixão do humilde e do pobre e salvará a vida dos oprimidos. Há-de livrá-los da opressão e da violência, porque o seu sangue é precioso a seus olhos. Enquanto viver, ser-lhe-á dado ouro de Sabá! Por ele hão-de rezar sempre e todos os dias será abençoado. Haverá nos campos fartura de trigo, ondulando pelo cimo dos montes; tudo se cobrirá de frutos, como o Líbano; as cidades florescerão como a erva dos prados. O seu nome permanecerá pelos séculos e durará enquanto o Sol brilhar; todos nele se sentirão abençoados; todos os povos o hão-de bendizer! Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, o único que realiza maravilhas. Bendito seja para sempre o seu nome glorioso e a terra inteira se encha da sua glória! Ámen! Ámen! Terminaram as orações de David, filho de Jessé.* Salmo. De Asaf.* Como Deus é bom para Israel, para os que têm coração puro! Ai de mim! Os meus pés estavam quase a resvalar, por um triz não escorreguei, ao sentir inveja dos ímpios, ao ver a prosperidade dos maus. Para eles não há aflições mortais, os seus corpos são robustos e sadios. Não sofrem as contrariedades da vida, nem são atormentados como os outros homens. Por isso, enchem-se de orgulho e ataviam-se com o manto da violência. A maldade brota-lhes do coração; do seu coração transbordam más intenções. Zombam e falam com malícia; falam com altivez e oprimem. Com a boca protestam contra o céu e a sua língua percorre a terra. Por isso, os seus seguidores se voltam para eles e bebem tudo como se fosse água. Eles dizem: «Deus não sabe disto; o Altíssimo não é conhecedor de nada.» São assim os pecadores: sempre tranquilos e a amontoar riquezas! De nada me serve ter um coração puro e conservar inocentes as minhas mãos! Sou posto à prova a toda a hora; todas as manhãs sou castigado. Se eu pensasse: «Vou falar como eles», atraiçoaria a geração dos teus filhos. Reflecti sobre estas coisas para as entender, mas foi muito penoso para mim. Só quando entrei no santuário de Deus, compreendi o fim que os espera. Na verdade, Tu os colocas em plano escorregadio e os empurras para a desgraça. Num momento, ficarão destruídos! Acabarão transidos de pavor! Como quando alguém desperta de um sonho, quando te levantares, Senhor, desprezarás a sua imagem. Outrora, o meu coração exasperava-se e consumiam-se as minhas entranhas. Eu era um louco, sem entendimento, como um animal na tua presença. No entanto, estive sempre contigo, e Tu me conduziste pela mão; guiaste-me com o teu conselho e, por fim, me receberás na tua glória. Quem mais tenho eu no céu? Na terra só desejo estar contigo. Ainda que o meu corpo e o meu coração desfaleçam, Deus será sempre o meu refúgio e a minha herança. Hão-de perder-se os que se afastam de ti; Tu exterminas os que te renegam. Para mim, a felicidade é estar perto de Deus. Em ti, Senhor D, pus a minha confiança, para proclamar todas as tuas obras. Poema. De Asaf*. Ó Deus, porque nos rejeitas para sempre? Porque se inflama a tua ira contra o rebanho do qual és pastor? Lembra-te do teu povo, que adquiriste noutros tempos, como tribo que te pertence e resgataste do monte Sião, onde tens a tua morada. Dirige os teus passos para estas ruínas sem fim; o inimigo tudo destruiu no santuário! Os teus adversários rugiram no lugar das tuas assembleias, hastearam nelas, como troféus, as suas bandeiras. Pareciam lenhadores a brandir o machado numa floresta espessa. Destruíram os seus madeiramentos a golpes de malhos e martelos. Deitaram fogo ao teu santuário, profanaram e arrasaram a morada do teu nome. Disseram no seu coração: «Destruamos tudo!»; e incendiaram neste país todos os lugares de culto. Já não vemos os nossos sinais, já não existem mais profetas, e ninguém sabe até quando isto durará! Até quando, ó Deus, irá ultrajar-nos o opressor? Até quando irá o inimigo desprezar o teu nome? Porque retiras a tua mão e escondes a tua direita? Pois Tu, ó Deus, desde sempre foste o meu rei, aquele que realiza libertações pela terra. Dividiste o mar com o teu poder, esmagaste as cabeças aos monstros marinhos. Quebraste as cabeças do Leviatan e deste-o a comer aos monstros do mar. Fizeste brotar fontes e torrentes e secaste rios caudalosos. Teu é o dia, tua é a noite; Tu criaste a Lua e o Sol. Fixaste os limites à terra inteira, fizeste o Verão e o Inverno. Lembra-te, Senhor, de que o inimigo te insultou e um povo insensato desprezou o teu nome. Não entregues às feras a vida dos teus fiéis; não esqueças para sempre a vida dos teus pobres. Olha para a tua aliança, pois os recantos do país estão cheios de violência. Que os humildes não voltem confundidos; que o pobre e o indigente possam louvar o teu nome. Ergue-te, ó Deus, defende a tua causa; lembra-te das ofensas contínuas dos insensatos. Não te esqueças dos gritos dos teus inimigos, da vozearia sempre crescente dos teus adversários. Ao director do coro. Segundo «Não destruas». Salmo. De Asaf. Cântico Nós te louvamos, ó Deus; nós te louvamos! Tu estás perto; proclamamos as tuas maravilhas. «No momento em que Eu decidir, Eu vou julgar com rectidão. Mesmo que tremam a terra e os seus habitantes, sou Eu quem sustenta os seus pilares. Digo aos arrogantes: ‘Não sejais insensatos!’ E aos ímpios: ‘Não sejais altivos! Não levanteis tão alto a cabeça; não pronuncieis palavras insolentes’.» Não é do Oriente nem do Ocidente, nem do deserto que vem o julgamento. Deus é que é o juiz: a uns condena, a outros absolve. Na mão do Senhor há uma taça cheia de vinho forte a espumar. Dela dá a beber aos malvados da terra; e eles sorvem-na até ao fim. Eu, porém, louvarei o Deus eterno, entoarei salmos ao Deus de Jacob. Ele destrói a altivez dos ímpios, mas o poder dos justos será exaltado. Ao director do coro. Com instrumentos de corda. Salmo. De Asaf. Deus deu-se a conhecer em Judá, grande é o seu nome em Israel. Em Jerusalém fixou o seu santuário e a sua morada em Sião. Ali quebrou as flechas do arco, os escudos, as espadas e as armas de guerra. Tu resplandeces glorioso sobre as montanhas dos despojos. Os mais valentes foram espoliados, quando dormiam o seu sono; os guerreiros não puderam valer-se do vigor dos seus braços. Diante das tuas ameaças, ó Deus de Jacob, os carros e os cavalos ficaram imóveis. Tu, sim! Tu és temível! Quem poderá resistir na tua presença, quando se inflama a tua ira? Do alto do céu proclamas a sentença, e a terra treme e fica silenciosa, quando Deus se levanta para o julgamento, para salvar os humildes da terra. Até o homem irado te há-de louvar, e os sobreviventes hão-de fazer festa em teu nome. Fazei promessas ao Senhor, vosso Deus, e cumpri-as; ofereçam presentes ao Deus temível quantos o rodeiam! Ele corta o alento aos governantes e é temido pelos reis da terra. Ao director do coro. Para Jedutun. Salmo de Asaf. Suba até Deus a minha voz e clame; suba até Deus a minha voz: Ele há-de ouvir-me. No dia da angústia, procuro o Senhor; à noite, sem descanso, ergo as mãos em oração, mas a minha alma não encontra conforto. Quando penso em Deus, suspiro; quando medito, sinto o meu espírito desfalecer. Não deixei que as minhas pálpebras se fechassem; fiquei perturbado, sem nada dizer! Recordo-me dos dias passados, lembro-me dos tempos antigos. Passo a noite a reflectir em meu coração, e o meu espírito medita e procura: «Porventura, irá o Senhor abandonar-nos para sempre? Não voltará mais a ser-nos favorável? Acaso se esgotou por completo o seu amor e revogou a sua promessa às gerações? Ter-se-á Deus esquecido da sua compaixão, ou terá fechado com ira o seu coração?» E eu respondo: «O que mais me faz sofrer é que a mão do Altíssimo nos trate de modo diferente.» Tenho na memória os teus feitos, Senhor, lembro-me das tuas maravilhas de outrora. Penso em todas as tuas obras, medito nos teus prodígios. Ó Deus, os teus caminhos são santos. Que Deus haverá tão grande como Tu? Tu és o Deus que realiza maravilhas, manifestaste entre as nações o teu poder. Com a força do teu braço resgataste o teu povo, os descendentes de Jacob e de José. Viram-te as águas, ó Deus, viram-te as águas e tremeram, e até os abismos se agitaram. As nuvens transformaram-se em chuva; os trovões fizeram ouvir a sua voz, e as tuas setas surgiam de todos os lados. O ruído do teu trovão ecoou nos ares e os relâmpagos iluminaram o mundo; a terra agitou-se e tremeu. O mar foi para ti um caminho; caminhaste por entre águas caudalosas e ninguém descobriu as tuas pegadas. Conduziste o teu povo como um rebanho, pela mão de Moisés e de Aarão. Poema. De Asaf.* Escuta, meu povo, os meus ensinamentos; presta atenção às minhas palavras. Vou abrir a minha boca em parábolas e revelar os enigmas de outros tempos. O que ouvimos e aprendemos e os nossos antepassados nos transmitiram, não o ocultaremos aos seus descendentes; tudo contaremos às gerações vindouras: as glórias do Senhor e o seu poder, e as maravilhas que Ele fez. Ele estabeleceu um preceito em Jacob, instituiu uma lei em Israel. E ordenou aos nossos pais que a ensinassem aos seus filhos, para que as gerações futuras a conhecessem e os filhos que haviam de nascer a contassem aos seus próprios filhos; para que pusessem em Deus a sua confiança e não esquecessem as suas obras, mas obedecessem aos seus mandamentos. Para que não fossem como os seus pais, uma geração rebelde e desobediente, uma raça de coração inconstante e de espírito infiel ao seu Deus. Os filhos de Efraim, archeiros equipados, puseram-se em fuga no dia do combate. Não guardaram a aliança de Deus, recusaram-se a cumprir a sua lei; esqueceram-se das suas obras, das maravilhas que Ele lhes mostrou. Diante de seus pais, Deus fez maravilhas, na terra do Egipto, nos campos de Soan. Abriu o mar para os fazer passar, conteve as águas como um dique. Conduziu-os, de dia, com uma nuvem, e, de noite, com o seu clarão de fogo. Fendeu os rochedos no deserto e deu-lhes a beber águas abundantes. Deus fez brotar rios das pedras, fez correr águas caudalosas. Mas eles continuaram a pecar, revoltando-se contra o Altíssimo no deserto. Provocaram a Deus em seus corações, reclamando manjares, segundo os seus apetites. Murmuraram contra Ele, dizendo: «Será Deus capaz de nos preparar a mesa no deserto? Ele feriu a rocha e logo brotaram as águas e correram torrentes abundantes; mas, poderá também dar pão e preparar carne para o seu povo?» O Senhor ouviu e indignou-se, ateou-se nele um fogo contra Jacob e a sua ira cresceu contra Israel, porque não tiveram fé em Deus, nem confiaram no seu auxílio. Deus ordenou às nuvens e abriu as portas do céu. Fez chover o maná para eles comerem e deu-lhes o pão do céu. Comeram todos o pão dos fortes; enviou-lhes comida em abundância. Fez soprar dos céus o vento leste e, com o seu poder, fez vir o vento sul. Fez chover do céu carne como grãos de poeira, e aves tão numerosas como as areias do mar. Fê-las cair no meio do acampamento, ao redor das suas tendas. Comeram até se saciarem: e assim Deus satisfez os seus desejos. Ainda não tinham o seu apetite saciado, ainda a comida estava na sua boca, quando a ira de Deus caiu sobre eles: semeou a morte entre os mais fortes e abateu os jovens de Israel. Apesar de tudo isto, persistiram no pecado, não acreditaram nas suas maravilhas. Por isso, Deus extinguiu os seus dias como um sopro, e os seus anos, como uma ilusão. Quando os castigava, eles procuravam-no, convertiam-se e voltavam-se para Deus. Recordavam-se então que Deus era o seu protector, que o Altíssimo era o seu libertador. Mas logo o enganavam com a boca e lhe mentiam com a língua. Os seus corações não eram leais com Ele, nem fiéis à sua aliança. Mas Deus, que é misericordioso, perdoava-lhes os pecados e não os destruía. Muitas vezes conteve a sua ira, e não deixou que o seu furor se avivasse. Lembrou-se de que eles eram humanos, um sopro que passa e não volta mais! Quantas vezes o provocaram no deserto e o contristaram na estepe! Voltaram constantemente a pôr Deus à prova, a ofender o Santo de Israel. Esqueceram a obra das suas mãos, no dia em que os libertou da opressão, quando no Egipto realizou os seus prodígios e as suas maravilhas nas planícies de Soan; quando converteu em sangue os seus rios e canais, para que os egípcios não pudessem beber. Mandou-lhes moscas venenosas, que os devoravam, e rãs que os destruíam. Entregou as suas colheitas aos insectos e o fruto do seu esforço aos gafanhotos. Destruiu as suas vinhas com a saraiva e os seus sicómoros com a geada. Feriu os seus gados com granizo e os seus rebanhos com os raios. Descarregou contra eles a sua ira, a indignação, o furor e a aflição, como uma legião de mensageiros da desgraça. Deu livre curso à sua ira; não os livrou da morte! Entregou as suas vidas à peste! Feriu os primogénitos do Egipto, as primícias da sua raça, nas tendas de Cam. Fez sair o seu povo como um rebanho, como manada os conduziu pelo deserto. Guiou-os com segurança e não tiveram medo, enquanto afundava no mar os seus inimigos. Introduziu-os na sua terra santa, na montanha que a sua direita conquistou. Diante deles expulsou as nações, distribuiu entre eles aquela terra como herança e instalou nas suas tendas as tribos de Israel. Mas eles puseram à prova e ofenderam o Altíssimo e não observaram os seus preceitos. Transviaram-se e apostataram como seus pais, desviaram-se como a seta de um arco frouxo. Irritaram-no nos lugares altos, provocaram os seus ciúmes com o culto dos ídolos. Deus ouviu isto e indignou-se, e repudiou Israel com veemência. Abandonou o santuário de Silo, a tenda onde morava entre os homens. Entregou ao cativeiro a sua fortaleza e o seu esplendor na mão dos inimigos. Entregou o seu povo à espada, irritou-se contra a sua herança. Os seus jovens foram devorados pelo fogo, e as suas virgens ficaram por casar. Os seus sacerdotes foram passados à espada, e as suas viúvas não choraram os maridos. Mas o Senhor despertou, como que estremunhado, qual guerreiro vencido pelo vinho. E feriu os seus inimigos pelas costas; infligiu-lhes eterna humilhação. Assim rejeitou as tendas de José e não escolheu a tribo de Efraim; escolheu antes a tribo de Judá e o monte de Sião, seu preferido. Construiu o seu santuário, alto como o céu e firme para sempre, como a terra. Escolheu o seu servo David, tomando-o do aprisco das ovelhas. Retirou-o de andar atrás dos rebanhos, para que apascentasse a Jacob, seu povo, e a Israel, sua herança. David apascentou-os com um coração recto e conduziu-os com mão prudente. Salmo. De Asaf.* Ó Deus, os pagãos invadiram a tua herança, profanaram o teu santo templo e reduziram Jerusalém a um montão de ruínas. Deram os cadáveres dos teus servos em alimento às aves do céu e os corpos dos teus fiéis, às feras selvagens. Derramaram o seu sangue como água, em torno de Jerusalém, e ninguém lhes deu sepultura. Tornámo-nos motivo de escárnio para os vizinhos, de irrisão e opróbrio para os que nos rodeiam. Até quando, Senhor, estarás ainda irritado? Será a tua indignação como um fogo abrasador? Descarrega a tua ira sobre os pagãos, que não te conhecem nem invocam o teu nome. Porque eles devoraram o povo de Jacob e destruíram a sua morada. Não recordes contra nós as faltas dos nossos antepassados; venha depressa ao nosso encontro a tua misericórdia, porque chegámos ao fim das nossas forças. Socorre-nos, ó Deus, nosso salvador, para glória do teu nome; livra-nos e perdoa-nos pelo amor do teu nome. Porque hão-de perguntar os pagãos: «Onde está o seu Deus?» Mostra a essa gente, diante dos nossos olhos, a vingança do sangue derramado dos teus servos. Chegue junto de ti o gemido dos cativos e, pela grande força do teu braço, salva da morte os que estão condenados. Retribui aos nossos vizinhos sete vezes mais as ofensas com que eles te ultrajaram, Senhor. Nós, que somos o teu povo e ovelhas do teu rebanho, glorificar-te-emos para sempre; de geração em geração cantaremos os teus louvores. Ao director do coro. Segundo a melodia «Os lírios são testemunho». De Asaf. Salmo. Ó pastor de Israel, escuta, Tu que conduzes José como um rebanho, Tu que tens o teu trono sobre os querubins! Mostra a tua grandeza às tribos de Efraim, Benjamim e Manassés! Desperta o teu poder e vem salvar-nos! Ó Deus, volta-te para nós! Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!* Senhor, Deus do universo, até quando te mostrarás indignado, apesar das súplicas do teu povo? Deste-nos a comer o pão das lágrimas e a beber copioso pranto. Tornaste-nos presa disputada pelas nações vizinhas, e os nossos inimigos escarnecem de nós. Ó Deus do universo, volta-te para nós! Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!* Arrancaste uma videira do Egipto, expulsaste outros povos para a plantar. Preparaste-lhe o terreno; ela foi deitando raízes e acabou por encher toda a terra. As montanhas cobriram-se com a sua sombra, e os seus ramos ultrapassaram os altos cedros. As suas ramagens estenderam-se até ao mar e os seus rebentos, até ao rio. Porque derrubaste os seus muros, deixando que a vindimem quantos passam no caminho? É devastada pelo javali da selva, serve de pasto aos animais dos campos. Ó Deus do universo, volta, por favor,* olha lá do céu e vê: cuida desta vinha! Trata da cepa que a tua mão direita plantou, dos rebentos que fizeste crescer para nós. Aqueles que a queimaram e devastaram pereçam diante do furor do teu rosto. Mas estende a tua mão sobre o teu escolhido, sobre o homem que para ti fortaleceste. E nunca mais nos afastaremos de ti; conserva-nos a vida e invocaremos o teu nome. Senhor do universo, volta-te para nós! Mostra-nos o teu rosto e seremos salvos!* Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. De Asaf. Alegrai-vos em Deus, nossa força, aclamai o Deus de Jacob. Cantai ao som do tamborim, da cítara harmoniosa e da lira. Tocai a trombeta na festa da Lua-nova e na Lua-cheia, dia da nossa festa. Isto é um preceito para Israel, uma ordem do Deus de Jacob. Lei que Ele deu a José, quando saiu da terra do Egipto. Ouço uma língua desconhecida, que diz: «Aliviei os seus ombros do fardo, as suas mãos livraram-se de carregar o cesto. Na angústia chamaste por mim e Eu salvei-te, respondi-te escondido no trovão, pus-te à prova junto das águas de Meribá. Ouve, meu povo, a minha advertência; oxalá, Israel, me prestes ouvidos: ‘Não terás contigo um deus estrangeiro, nem te prostrarás diante de um deus estranho. Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez subir da terra do Egipto. Abre a tua boca e Eu enchê-la-ei.’ Mas o meu povo não quis ouvir-me; Israel não quis obedecer. Por isso, entreguei-os à sua obstinação; deixei-os seguir os seus caprichos. Se o meu povo me tivesse escutado! Se Israel tivesse seguido os meus caminhos! Num instante, Eu humilharia os seus inimigos e castigaria os seus adversários. Os inimigos do Senhor arrastar-se-iam diante dele; mas a sua sorte está traçada para sempre. Alimentaria o meu povo com a flor do trigo e saciá-lo-ia com o mel silvestre.» Salmo. De Asaf.* Deus preside à assembleia divina, profere as suas sentenças no meio dos deuses: «Até quando julgareis injustamente e favorecereis a causa dos ímpios? Defendei o oprimido e o órfão; fazei justiça ao humilde e ao pobre. Libertai o oprimido e o necessitado, e defendei-os das mãos dos pecadores.» Não, eles não percebem nem compreendem; caminham nas trevas; abalam-se os fundamentos da terra. Eu disse: «Vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo. Mas morrereis como qualquer mortal; caireis como qualquer príncipe.» Levanta-te, ó Deus, para julgar a terra, porque todas as nações te pertencem. Cântico. Salmo. De Asaf. Ó Deus, não fiques em silêncio; não fiques mudo nem impassível! Vê como se agitam os teus inimigos e como levantam a cabeça os que te odeiam. Formam planos astutos contra o teu povo, conspiram contra os teus protegidos. Dizem: «Vamos exterminá-los de entre os povos, para não voltar a mencionar-se o nome de Israel.» Assim decidiram de comum acordo e estabeleceram uma aliança contra ti: as tendas de Edom e os ismaelitas, Moab e os agarenos, Guebal, Amon e Amalec, os filisteus com os habitantes de Tiro. Até os assírios se uniram a eles, e juntaram a sua força à dos filhos de Lot. Trata-os como trataste Madian e Sísera, ou como Jabin na ribeira de Quichon. Foram destruídos em En-Dor e serviram de adubo para as terras. Trata os seus príncipes como fizeste com Oreb e Zeeb; trata todos os seus chefes como trataste Zeba e Salmuna, porque eles tinham declarado: «Tomemos para nós os campos de Deus.» Ó meu Deus, dispersa-os como folhas em redemoinho, como palha levada pelo vento, como o fogo que devora a floresta, como a chama que incendeia os montes. Persegue-os com a tua tempestade; aterra-os com o teu turbilhão! Cobre-lhes a face de ignomínia, de modo a implorarem o teu nome, Senhor. Caia sobre eles a vergonha e a humilhação para sempre; sejam confundidos e pereçam. Saibam que o teu nome é Senhor. Tu és o único Altíssimo sobre toda a terra! Ao director do coro. Sobre a lira de Gat. Dos filhos de Coré. Salmo. Como são amáveis as tuas moradas, ó Senhor do universo! A minha alma suspira e tem saudades dos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne cantam de alegria ao Deus vivo! Até os pássaros encontram abrigo, e as andorinhas um ninho, para os seus filhos, junto dos teus altares, Senhor do universo, meu rei e meu Deus. Felizes os que habitam na tua casa e te louvam sem cessar. Felizes os que em ti encontram a sua força e os que desejam peregrinar até ao monte Sião. Ao atravessarem o Vale do Pranto farão dele um oásis, que as primeiras chuvas cobrirão de dádivas. Eles avançam com entusiasmo crescente, até se apresentarem em Sião diante de Deus. Senhor, Deus do universo, escuta a minha oração, presta-me ouvidos, ó Deus de Jacob. Ó Deus, olha para o nosso escudo, põe os olhos no rosto do teu ungido. Um dia em teus átrios vale por mil; antes quero ficar no limiar da casa do meu Deus, do que habitar nas tendas dos maus. Porque o Senhor é sol e é escudo; Ele concede a graça e a glória; o Senhor não recusa os seus favores aos que vivem com rectidão. Ó Senhor do universo, feliz o homem que em ti confia! Ao director do coro. Dos filhos de Coré. Salmo. Senhor, Tu abençoaste a tua terra; restauraste a prosperidade de Jacob. Perdoaste as culpas do teu povo, esqueceste todas as suas faltas; acalmaste a tua indignação, dominaste o furor da tua ira. Volta-te para nós, ó Deus, nosso salvador, afasta de nós a tua indignação! Estarás para sempre indignado contra nós, ou irás prolongar pelos séculos o teu furor? Não tornarás a dar-nos a vida, para que o teu povo se alegre em ti? Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia, concede-nos a tua salvação. Prestarei atenção ao que diz o Senhor Deus; Ele promete paz para o seu povo e para os seus amigos e para todos os que se voltam para Ele de coração. A salvação está perto dos que o temem e a sua glória habitará na nossa terra. O amor e a fidelidade vão encontrar-se. Vão beijar-se a justiça e a paz. Da terra vai brotar a verdade e a justiça descerá do céu. O próprio Senhor nos dará os seus bens e a nossa terra produzirá os seus frutos. A justiça caminhará diante dele e a paz, no rasto dos seus passos. Oração de David.* Inclina, Senhor, os teus ouvidos e responde-me, porque estou triste e necessitado. Protege a minha vida, porque te sou fiel; salva o teu servo, que em ti confia. Senhor, tem compaixão de mim, que a ti clamo todo o dia. Alegra o espírito do teu servo, pois para ti, Senhor, elevo a minha alma. Porque Tu, Senhor, és bom e indulgente, cheio de misericórdia para quantos te invocam. Senhor, ouve a minha oração, atende os gritos da minha súplica. Por ti clamo, no dia da minha angústia, na certeza de que me responderás. Não há entre os deuses quem se compare a ti, Senhor; nada há que se compare às tuas obras. Todas as nações, que criaste, virão adorar-te, Senhor, e darão glória ao teu nome. Porque só Tu és grande e realizas maravilhas. Ensina-me, Senhor, o teu caminho e caminharei na verdade. Dirige o meu coração, para que honre o teu nome. Senhor, meu Deus, de todo o coração hei-de louvar-te e glorificar o teu nome para sempre. Pois a tua misericórdia foi grande para comigo; livraste a minha vida das profundezas da morte. Ó Deus, os soberbos levantam-se contra mim, a turba dos prepotentes atenta contra a minha vida, sem fazer nenhum caso de ti. Mas Tu, Senhor, és um Deus misericordioso e compassivo, paciente e grande em bondade e fidelidade. Volta-te para mim e tem compaixão; dá a tua força ao teu servo e salva o filho da tua serva. Dá-me uma prova da tua bondade, para que os meus inimigos sejam confundidos ao verem que Tu, Senhor, me ajudas e confortas. Dos filhos de Coré. Salmo. Cântico.* Fundada por Ele sobre o monte santo, o Senhor ama a cidade de Sião mais que todas as moradas de Jacob. Gloriosas coisas se dizem de ti, ó cidade de Deus. Incluirei Raab e Babilónia na lista dos que me conhecem; a Filisteia, Tiro e a Etiópia, uns e outros ali nasceram. Mas de Sião há-de dizer-se: «Todos lá nasceram; o próprio Altíssimo a fortaleceu.» O Senhor escreverá no registo dos povos, anotando: «Este nasceu em Sião.» E eles dirão, cantando e dançando: «A minha única fonte está em ti.» Cântico. Salmo dos filhos de Coré. Ao director do coro. Em coro. Poema. De Heman, o ezraíta. Senhor, meu Deus e salvador, eu clamo em tua presença, dia e noite. Chegue junto de ti a minha oração, inclina o teu ouvido à minha súplica. A minha alma está saturada de males e a minha vida chegou às portas da morte. Estou no rol dos que descem à sepultura, sou um homem já sem forças. Estou abandonado entre os mortos, como os defuntos que jazem no sepulcro, de quem Tu já não te lembras, uma vez sacudidos da tua mão. Lançaste-me na cova mais profunda, na escuridão do abismo. Pesa sobre mim a tua indignação, humilhas-me com tantas aflições. Afastaste de mim os meus amigos, fizeste-me insuportável para eles; estou como um preso sem poder sair. Os meus olhos apagaram-se de tanto sofrer: todos os dias te invoco, Senhor, estendo para ti as minhas mãos. Acaso farás prodígios para os mortos? Irão os defuntos levantar-se para te louvar? Poderá a tua bondade ser exaltada no sepulcro ou a tua fidelidade, na mansão dos mortos? As tuas maravilhas serão conhecidas nas trevas e a tua justiça, na terra do esquecimento? Eu, porém, Senhor, clamo por ti; de manhã, a ti apresento a minha oração. Porque me rejeitas, Senhor, e escondes de mim o teu rosto? Infeliz de mim, que agonizo desde a juventude; já não posso mais suportar os teus castigos. Sobre mim passou a tua indignação e os teus terrores aniquilaram-me. Como vagas, rodeiam-me todo o dia, e todos juntos caem sobre mim. Afastaste de mim amigos e companheiros, e a minha companhia são as trevas. Poema de Etan, o ezraíta. Hei-de cantar para sempre o amor do Senhor; a todas as gerações anunciarei a sua fidelidade. Proclamarei que o teu amor é para sempre, e que a tua fidelidade é eterna como o céu. «Fiz uma aliança com o meu eleito, jurei a David, meu servo: ‘Estabelecerei a tua descendência para sempre e o teu trono há-de manter-se eternamente’.» Os céus celebram as tuas maravilhas, Senhor, e a assembleia dos santos, a tua fidelidade. Quem, nos céus, poderá comparar-se ao Senhor ? Quem, entre os deuses, se lhe poderá igualar? Deus é temível na assembleia dos santos, maior e mais temível que todos os que o rodeiam. Ó Senhor, Deus do universo, quem é como Tu? Estás rodeado de firmeza e fidelidade. Tu dominas a fúria dos mares e amainas as suas ondas embravecidas. Esmagaste Raab como um cadáver, dispersaste os inimigos com o teu braço poderoso. O céu é teu, e tua é a terra; formaste o mundo e tudo o que ele contém. Tu criaste o Norte e o Sul; o Tabor e o Hermon cantam o teu nome. O teu braço é poderoso; a tua mão, robusta; excelsa é a tua mão direita. A rectidão e a justiça são a base do teu trono; o amor e a fidelidade caminham à tua frente. Feliz da nação que sabe louvar-te, Senhor, que sabe caminhar na luz do teu rosto. Em teu nome rejubila a toda a hora e se gloria com a tua justiça. Na verdade, Tu és a nossa honra e a nossa força; com o teu favor alcançaremos a vitória. O nosso escudo é o Senhor; o nosso rei é o Santo de Israel! Outrora declaraste, em visão, aos teus fiéis: «Impus o meu diadema a um herói; escolhi um eleito de entre o povo. Encontrei David, meu servo, e ungi-o com óleo santo. A minha mão estará sempre com ele e o meu braço há-de torná-lo forte. O inimigo não o há-de surpreender, nem o homem perverso há-de humilhá-lo. Derrubarei diante dele os seus opressores e destruirei os que o odeiam. A minha fidelidade e o meu amor estarão com ele; pelo meu nome crescerá o seu poder. Estenderei o seu poder sobre os mares, e sobre os rios, o seu domínio. Ele me invocará, dizendo: ‘Tu és meu pai, és o meu Deus e o rochedo da minha salvação!’ E Eu farei dele o primogénito, o maior entre os reis da terra. Hei-de assegurar-lhe para sempre o meu favor e a minha aliança com ele há-de manter-se firme. Estabelecerei para sempre a sua descendência e o seu trono terá a duração dos céus. Se os seus filhos abandonarem a minha lei e não seguirem os meus preceitos; se violarem as minhas ordens e não guardarem os meus mandamentos, então hei-de castigar severamente as suas rebeldias e fazê-los sofrer pelas suas maldades. Mas não lhes retirarei o meu favor nem faltarei à minha promessa. Não quebrarei a minha aliança nem mudarei a palavra dos meus lábios. Jurei uma vez pela minha santidade; de forma alguma enganarei David! A sua descendência permanecerá para sempre e o seu trono será como o Sol, na minha presença; estará firme para sempre como a Lua, testemunha fiel no firmamento.» No entanto, ó Deus, Tu rejeitaste e abandonaste o teu ungido e te aborreceste com ele. Renegaste a aliança com o teu servo, deitaste por terra a sua coroa. Derrubaste todos os seus muros, reduziste a escombros as suas fortalezas. Todos os transeuntes o saquearam; escarneceram dele os seus vizinhos. Ergueste a mão dos seus inimigos, encheste de alegria todos os seus adversários. Mas a ele embotaste-lhe o fio da espada e não o auxiliaste na batalha. Fizeste cessar o seu esplendor, deitaste por terra o seu trono. Abreviaste os dias da sua juventude e cobriste-o de vergonha. Até quando, Senhor, continuarás escondido? Até quando arderá a tua ira como fogo? Lembra-te que é breve a minha existência! Foi para isto que criaste os seres humanos? Quem poderá viver sem ver a morte? Quem se poderá livrar das garras do abismo? Onde estão, Senhor, os teus favores de outrora, que juraste a David pela tua fidelidade? Lembra-te, Senhor, das ofensas contra o teu servo; levo no peito os ultrajes de todas as nações, com que os teus inimigos nos ofendem, Senhor, e insultam a cada passo o teu ungido! Bendito seja o Senhor para sempre! Ámen! Ámen! Oração de Moisés, o homem de Deus.* Senhor, Tu foste o nosso refúgio de geração em geração. Antes de surgirem as montanhas, antes de nascerem a terra e o mundo, desde sempre e para sempre Tu és Deus. Tu podes reduzir o homem ao pó, dizendo apenas: «Voltai ao pó, seres humanos!» Mil anos, diante de ti, são como o dia de ontem, que passou, ou como uma vigília da noite. Tu os arrebatas como um sonho, ou como a erva que de manhã verdeja, como a erva que de manhã brota vicejante, mas à tarde está murcha e seca. Na verdade, somos consumidos pela tua ira, ficamos angustiados pelo teu furor! Colocaste as nossas culpas diante de ti, os nossos pecados ocultos, à luz da tua face. Todos os nossos dias se esvanecem pela tua indignação; os nossos anos dissipam-se como um suspiro. A duração da nossa vida poderá ser de setenta anos e, para os mais fortes, de oitenta; mas a maior parte deles é trabalho e miséria, passam depressa e nós desaparecemos. Mesmo temendo-te e respeitando-te, quem poderá compreender a tua ira e indignação? Ensina-nos a contar assim os nossos dias, para podermos chegar ao coração da sabedoria. Volta, Senhor ! Até quando...? Tem compaixão dos teus servos. Sacia-nos pela manhã com os teus favores, para podermos cantar e exultar todos os dias. Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste e pelos anos em que sofremos a desgraça. Manifesta aos teus servos a tua obra, e aos filhos deles, o teu esplendor. Venham sobre nós as graças do Senhor, nosso Deus! Confirma em nosso favor a obra das nossas mãos; faz prosperar a obra das nossas mãos. Aquele que habita sob a protecção do Altíssimo e mora à sombra do Omnipotente, pode exclamar: «Senhor, Tu és o meu refúgio, a minha cidadela, o meu Deus, em quem confio!» Ele há-de livrar-te da armadilha do caçador e do flagelo maligno. Ele te cobrirá com as suas penas; debaixo das suas asas encontrarás refúgio; a sua fidelidade é escudo e couraça. Não temerás o terror da noite, nem da seta que voa de dia, nem da peste que alastra nas trevas, nem do flagelo que mata em pleno dia. Podem cair mil à tua esquerda e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido. Basta abrires os olhos, para veres a recompensa dos ímpios. Pois disseste: «O Senhor é o meu único refúgio!» Fizeste do Altíssimo o teu auxílio. Por isso, nenhum mal te acontecerá, nenhuma epidemia chegará à tua tenda. É que Ele deu ordens aos seus anjos, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles hão-de elevar-te na palma das mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra. Poderás caminhar sobre serpentes e víboras, calcar aos pés leões e dragões. «Porque acreditou em mim, hei-de salvá-lo; hei-de defendê-lo, porque conheceu o meu nome. Quando me invocar, hei-de responder-lhe; estarei a seu lado na tribulação, para o salvar e encher de honras. Hei-de recompensá-lo com longos dias e mostrar-lhe a minha salvação.» Salmo. Cântico. Para o dia de sábado. É bom louvar-te, Senhor, e cantar salmos ao teu nome, ó Altíssimo! É bom anunciar pela manhã os teus louvores, e pela noite, a tua fidelidade, ao som da lira e da cítara e com as melodias da harpa. Tu me alegraste, Senhor, com as tuas grandes obras; exulto com a obra das tuas mãos. Senhor, como são magníficas as tuas obras e profundos os teus desígnios! O homem insensato não entende estas coisas e o ignorante não as compreende. Ainda que os ímpios cresçam como a erva e floresçam os que praticam a maldade, serão exterminados para sempre. Tu, porém, Senhor, és eternamente excelso. Os teus inimigos, Senhor, serão destruídos, serão dispersos todos os que praticam o mal. Aumentaste a minha força, como a de um búfalo e ungiste-me com um óleo novo. Com os meus olhos, verei a sorte dos que me espiam, e com os meus ouvidos, ouvirei os gritos dos que se levantavam contra mim. Os justos florescerão como a palmeira e crescerão como os cedros do Líbano. Plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Até na velhice continuarão a dar frutos e hão-de manter sempre a seiva e o frescor, para proclamar que o Senhor é justo: Ele é o meu rochedo e nele não há falsidade. O Senhor é rei, vestido de majestade; revestido e cingido de poder está o Senhor. Firmou o universo, que não vacilará. O teu trono, Senhor, está firme desde sempre; e Tu existes desde a eternidade. Os mares fazem ouvir, ó Senhor, os mares fazem ouvir o seu bramido, os mares fazem ouvir o seu fragor. Mas, mais forte que o bramido das ondas caudalosas, mais poderoso que o rebentar das vagas, é o Senhor lá nas alturas. São dignos de fé os teus testemunhos, a tua casa está adornada de santidade por todo o sempre, ó Senhor ! Ó Senhor, Deus vingador, ó Deus vingador, manifesta-te! Levanta-te, ó juiz da Terra, dá aos soberbos o castigo que merecem. Até quando é que os ímpios, Senhor, até quando é que os ímpios triunfarão? Estão cheios de palavras insolentes, todos os malfeitores se vangloriam da iniquidade! Esmagam o teu povo, Senhor, e espezinham a tua herança. Matam a viúva e o estrangeiro e assassinam os órfãos. Eles dizem: «O Senhor não vê, o Deus de Jacob não dá por isso!» Reflecti, ó gente imbecil! E vós, insensatos, quando ganhareis juízo? Porventura, quem fez o ouvido não ouvirá? Aquele que fez os olhos não há-de ver? Aquele que corrige as nações, não castigará? Se é Ele quem ensina aos homens a ciência!... O Senhor conhece bem os pensamentos dos homens e sabe que são completamente vazios. Ó Senhor, feliz o homem a quem tu corriges e instruis na tua lei! Esse terá descanso nos dias maus, enquanto se abre a cova para o ímpio. O Senhor não abandona o seu povo nem despreza a sua herança. De novo há-de voltar a haver justiça, e hão-de segui-la todos os de coração recto. Quem se levantará por mim contra os malfeitores? Quem será meu defensor contra os que praticam o mal? Se o Senhor não fosse o meu auxílio, em breve eu estaria a morar com os mortos. Quando digo: «Os meus pés vacilam», logo a tua bondade, Senhor, me ampara. Quando se avolumam as angústias dentro em mim, as tuas consolações confortam a minha alma. Poderão aliar-se a ti os juízes injustos, que forjam a intriga contra o direito? Atentam contra a vida do justo e condenam o sangue inocente. Mas o Senhor é o meu refúgio, o meu Deus é o rochedo que me protege. Fará recair sobre eles os seus crimes e os destruirá com a sua própria maldade. O Senhor, nosso Deus, os destruirá! Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o rochedo da nossa salvação. Vamos à sua presença com hinos de louvor, saudemo-lo com cânticos jubilosos. Pois grande Deus é o Senhor, é um rei poderoso, mais que todos os deuses. Na sua mão estão as profundezas da terra e pertencem-lhe os cimos das montanhas. Dele é o mar, pois foi Ele quem o formou; a terra firme é obra das suas mãos. Vinde, prostremo-nos por terra, ajoelhemos diante do Senhor, que nos criou. Ele é o nosso Deus e nós somos o seu povo, as ovelhas por Ele conduzidas. Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: «Não endureçais os vossos corações, como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto, quando os vossos pais me provocaram e me puseram à prova, apesar de terem visto as minhas obras. Durante quarenta anos essa geração desgostou-me, e Eu disse: ‘É um povo de coração transviado, que não compreendeu os meus caminhos!’ Então jurei na minha ira: ‘Não entrarão no lugar do meu repouso’.» Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira! Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, proclamai, dia após dia, a sua salvação. Anunciai aos pagãos a sua glória e a todos os povos, as suas maravilhas. Porque o Senhor é grande e digno de louvor, mais temível que todos os deuses. Os deuses dos pagãos não valem nada; foi o Senhor quem criou os céus. Na sua presença há majestade e esplendor, no seu santuário há poder e beleza. Dai ao Senhor, famílias das nações, dai ao Senhor glória e poder. Dai ao Senhor a glória do seu nome, entrai nos seus átrios e fazei-lhe ofertas. Adorai o Senhor com vestes sagradas. Trema diante dele a terra inteira! Proclamai entre os povos: «O Senhor é rei!» Por isso, a terra está firme, não vacila; Deus governa os povos com equidade. Alegrem-se os céus, exulte a terra! Ressoe o mar e tudo o que nele existe! Alegrem-se os campos e todos os seus frutos, exultem de alegria todas as árvores dos bosques na presença do Senhor, que se aproxima e vem para governar a terra! Ele governará o mundo com justiça e os povos, com a sua fidelidade. O Senhor é rei: alegre-se a terra e rejubile a multidão das ilhas! Ele está rodeado de nuvens e escuridão; a justiça e o direito são a base do seu trono. Um fogo vai à sua frente e devora os inimigos que o cercam. Os seus relâmpagos iluminam o mundo; a terra vê-os e estremece. As montanhas derretem-se, como cera, diante do Senhor de toda a terra. Os céus proclamam a justiça de Deus e todos os povos contemplam a sua grandeza. Fiquem confundidos os que adoram ídolos, os que se gloriam em deuses inúteis; todos os deuses se prostram diante do Senhor. Sião ouve e alegra-se; as cidades de Judá rejubilam. Porque Tu, Senhor, és soberano em toda a terra, estás muito acima de todos os deuses. O Senhor ama os que odeiam o mal, protege a vida dos seus fiéis e livra-os das mãos dos inimigos. A luz desponta para os justos, e a alegria, para os rectos de coração. Alegrai-vos, justos, no Senhor, proclamai que o seu nome é santo! Salmo* Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas! A sua mão direita e o seu santo braço lhe deram a vitória. O Senhor anunciou a sua vitória, revelou aos povos a sua justiça. Lembrou-se do seu amor e da sua fidelidade em favor da casa de Israel. Todos os confins da terra presenciaram o triunfo libertador do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai. Cantai hinos ao Senhor, ao som da harpa, ao som da harpa e da lira; ao som de cornetins e trombetas, aclamai o nosso rei e Senhor. Ressoe o mar e tudo o que ele contém, o mundo inteiro e os que nele habitam. Batam palmas os rios, e as montanhas, em coro, gritem de alegria diante do Senhor, que vem julgar a terra. Ele governará o mundo com justiça e os povos com rectidão. O Senhor é rei: tremam os povos! Ele tem o seu trono sobre os querubins: trema a terra inteira! O Senhor é grande em Sião; o Senhor está acima de todos os povos. Louvem o teu nome, grande e terrível, pois é santo e poderoso. Tu és um rei que ama a justiça: Tu estabeleceste o direito e realizas em Jacob o que é justo e recto. Louvai o Senhor, nosso Deus, com alegria; prostrai-vos a seus pés, pois Ele é santo!* Moisés e Aarão estão entre os seus sacerdotes, e Samuel, entre os que invocam o seu nome. Invocavam o Senhor e Ele atendia-os. Deus falava-lhes da coluna de nuvens; eles guardavam os seus preceitos e a lei que lhes tinha dado. Senhor, nosso Deus, Tu respondeste-lhes! Foste indulgente para com eles, embora castigasses os seus pecados. Louvai o Senhor, nosso Deus, com alegria; prostrai-vos diante do seu monte santo, pois o Senhor, nosso Deus, é santo!* Salmo. Para acção de graças.* Aclamai o Senhor, terra inteira, servi ao Senhor com alegria, vinde à sua presença com cânticos de júbilo! Sabei que o Senhor é Deus; foi Ele quem nos criou e nós pertencemos-lhe, somos o seu povo e as ovelhas do seu rebanho. Entrai pelas suas portas em acção de graças; entrai nos seus átrios com hinos de louvor; glorificai-o e bendizei o seu nome. O Senhor é bom! O seu amor é eterno! É eterna a sua fidelidade! De David. Salmo.* Quero cantar o amor e a justiça; para ti, Senhor, hei-de cantar. Quero seguir pelos caminhos da honestidade: quando virás ao meu encontro? Procederei honestamente com os da minha casa. Não porei diante dos meus olhos acções iníquas; odeio os caminhos dos que praticam o mal; não me deixarei contagiar por eles. Longe de mim, o coração perverso; não quero saber do homem mau. Hei-de reduzir ao silêncio o que, às ocultas, calunia o seu semelhante; não hei-de tolerar o arrogante e orgulhoso de coração. O meus olhos procurarão gente fiel do meu país, para viver junto de mim; só aquele que segue pelo caminho honrado poderá estar ao meu serviço. O homem fraudulento não habitará em minha casa; o mentiroso não terá assento junto de mim. Cada manhã hei-de julgar severamente todos os ímpios deste país, para exterminar da cidade do Senhor todos os malfeitores! Oração de um aflito que na sua miséria expõe a sua angústia diante do Senhor. Senhor, escuta a minha oração e chegue junto de ti o meu clamor! Não me ocultes o teu rosto no dia da aflição. Inclina para mim o teu ouvido; no dia em que te invocar, responde-me sem demora! Porque os meus dias se desvanecem como fumo e os meus ossos ardem como um braseiro. Como a erva cortada, o meu coração está ressequido; até me esqueço de comer o meu pão. À força de tanto gemer, os ossos colaram-se à minha pele. Tornei-me semelhante ao pelicano no deserto; sou como a coruja nas ruínas abandonadas. Não consigo dormir e suspiro; sou como um pássaro solitário sobre um telhado. Os meus inimigos insultam-me todo o dia, e com furor proferem imprecações contra mim. Em vez de pão, como cinza e misturo a minha bebida com lágrimas, por causa da tua indignação e do teu furor; fizeste-me subir, para depois me rejeitares. Os meus dias são como a sombra que declina e eu vou secando como a erva. Tu, porém, Senhor, permaneces para sempre e o teu nome será lembrado por todas as gerações. Levanta-te, tem piedade de Sião; já é tempo de lhe perdoares. Os teus servos amam as suas pedras, sentem pena das suas ruínas. Os povos honrarão, Senhor, o teu nome, e todos os reis da terra, a tua majestade. Quando o Senhor reconstruir Sião e manifestar a sua glória, há-de voltar-se para a oração do indigente e não desprezará as suas súplicas. Escrevam-se estas coisas para as gerações futuras, e os que hão-de nascer louvarão o Senhor. O Senhor observa do alto do seu santuário; lá do céu, Ele olha para a terra, para escutar os gemidos dos cativos e livrar os condenados à morte. Em Sião será anunciado o nome do Senhor, e em Jerusalém, a sua glória, quando os povos de todas as nações se reunirem para servirem o Senhor. Ele deixou-me sem forças no caminho e abreviou os meus dias. «Meu Deus, eu te peço: não me leves a meio dos meus dias!» Os teus anos duram por todas as gerações. Tu fundaste a terra desde o princípio e os céus são obra das tuas mãos. Eles deixarão de existir, mas Tu permanecerás; tal como um vestido, eles vão-se gastando; como um vestido que se muda, assim eles desaparecem. Mas Tu permaneces sempre o mesmo, os teus anos não têm fim. Os filhos dos teus servos hão-de viver tranquilos e a sua descendência perdurará na tua presença. De David.* Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e todo o meu ser louve o seu nome santo. Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios. É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades. É Ele quem resgata a tua vida do túmulo e te enche de graça e de ternura. É Ele quem cumula de bens a tua existência e te rejuvenesce como a águia. O Senhor defende, com justiça, o direito de todos os oprimidos. Revelou os seus caminhos a Moisés e as suas maravilhas aos filhos de Israel. O Senhor é misericordioso e compassivo, é paciente e cheio de amor. Não está sempre a repreender-nos, nem a sua ira dura para sempre. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas. Como é grande a distância dos céus à terra, assim são grandes os seus favores para os que o temem. Como o Oriente está afastado do Ocidente, assim Ele afasta de nós os nossos pecados. Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem. Na verdade, Ele sabe de que somos formados; não se esquece de que somos pó da terra. Os dias dos seres humanos são como a erva: brota como a flor do campo, mas, quando sopra o vento sobre ela, deixa de existir e não se conhece mais o seu lugar. Mas o amor do Senhor é eterno para os que o temem e a sua justiça chega até aos filhos dos seus filhos, para os que guardam a sua aliança e se lembram de cumprir os seus preceitos. O Senhor estabeleceu nos céus o seu trono e o seu reino estende-se a tudo o que existe. Bendizei o Senhor, todos os seus anjos, poderosos mensageiros, que cumpris as suas ordens, sempre dóceis à sua palavra. Bendizei o Senhor, todo o seu exército de astros, que sois seus servos e executores da sua vontade. Bendizei o Senhor, todas as suas obras, em todos os lugares do seu domínio. Bendiz, ó minha alma, o Senhor ! Bendiz, ó minha alma, o Senhor ! Senhor, meu Deus, como Tu és grande! Estás revestido de esplendor e majestade! Estás envolto num manto de luz e estendeste os céus como um véu. Fixaste sobre as águas a tua morada, fazes das nuvens o teu carro, caminhas sobre as asas do vento. Fazes dos ventos teus mensageiros, e dos relâmpagos, teus ministros. Fundaste a terra sobre bases sólidas, ela mantém-se inabalável para sempre. Tu a cobriste com o manto do abismo e as águas cobriram as montanhas; mas, à tua ameaça, elas fugiram, ao fragor do teu trovão, estremeceram. Ergueram-se as montanhas, cavaram-se os vales nos lugares que lhes determinaste. Puseste limites às águas, para não os ultrapassarem, e nunca mais voltarem a cobrir a terra. Transformas as fontes em rios, que serpenteiam entre as montanhas. Eles dão de beber a todos os animais selvagens, neles matam a sede os veados dos montes. Os pássaros do céu vêm morar nas suas margens; ali chilreiam entre a folhagem. Das tuas altas moradas regas as montanhas; com a bênção da chuva sacias a terra. Fazes germinar a erva para o gado e as plantas úteis para o homem, para que da terra possa tirar o seu alimento: o vinho, que alegra o coração do homem, o azeite, que lhe faz brilhar o rosto, e o pão, que lhe robustece as forças. Matam a sua sede as árvores do Senhor, os cedros do Líbano que Ele plantou. Nelas fazem ninho as aves do céu; a cegonha constrói a sua casa nos ciprestes. Os altos montes são abrigo para as cabras, e os rochedos, para os animais roedores. A Lua cumpre as várias estações e o Sol conhece o seu ocaso. Tu estendes as trevas e faz-se noite, nela vagueiam todos os animais da selva. Rugem os leões em busca da presa, pedindo a Deus o seu alimento. Mas, ao nascer do Sol, logo se retiram, para se recolherem nos seus covis. Então o homem sai para o trabalho e moureja até anoitecer. Senhor, como são grandes as tuas obras! Todas elas são fruto da tua sabedoria! A terra está cheia das tuas criaturas! Lá está o mar, grande e vasto, onde se agitam inúmeros seres, animais grandes e pequenos. Nele passam os navios e ainda o Leviatan, monstro que Tu criaste, para ali brincar. Todos esperam de ti que lhes dês comida a seu tempo. Dás-lhes o alimento, que eles recolhem, abres a tua mão e saciam-se do que é bom. Se deles escondes o rosto, ficam perturbados; se lhes tiras o alento, morrem e voltam ao pó donde saíram. Se lhes envias o teu espírito, voltam à vida. E assim renovas a face da terra. Glória ao Senhor por toda a eternidade! Que o Senhor se alegre em suas obras! Ele olha para a terra e ela estremece, toca nos montes e eles fumegam. Cantarei ao Senhor, enquanto viver; louvarei o meu Deus, enquanto existir. Que o meu cântico lhe seja agradável, pois no Senhor encontro a minha alegria. Desapareçam da terra os pecadores! Os ímpios deixem de existir! Bendiz, ó minha alma, o Senhor ! Aleluia!* Louvai o Senhor, aclamai o seu nome, anunciai entre os povos as suas obras. Cantai-lhe hinos e salmos, proclamai as suas maravilhas. Orgulhai-vos do seu nome santo; alegre-se o coração dos que procuram o Senhor. Recorrei ao Senhor e ao seu poder e buscai sempre a sua face. Recordai as maravilhas que Ele fez, os seus prodígios e as sentenças da sua boca, vós, descendentes de Abraão, seu servo, filhos de Jacob, seu escolhido. Ele é o Senhor, nosso Deus, e governa sobre a terra! Ele recordará sempre a sua aliança, a promessa que jurou manter por mil gerações, o pacto que fez com Abraão e aquele juramento que fez a Isaac. Confirmou-o como um preceito para Jacob, como aliança eterna para Israel, quando disse: «Dar-te-ei a terra de Canaã, como a parte que vos cabe em herança.» Quando ainda eram muito poucos e estrangeiros, na terra de Canaã, quando emigravam de nação em nação e passavam de um reino para outro, Ele não permitiu que alguém os oprimisse e castigou reis por causa deles: «Não toqueis nos meus ungidos, não maltrateis os meus profetas.» Fez, depois, cair a fome sobre a terra e privou-os do pão, que dá o sustento. Enviou diante deles um homem, José, que foi vendido como escravo. Apertaram-lhe os pés com grilhões e puseram-lhe uma argola de ferro ao pescoço, até que se cumpriu a profecia, e a palavra do Senhor lhe deu razão. Então o rei deu ordens para que o soltassem, o soberano dos povos pô-lo em liberdade. Nomeou-o mordomo da sua casa e administrador de todos os seus bens, com poderes para instruir os seus príncipes e para ensinar a sabedoria aos anciãos. Foi então que Israel entrou no Egipto e Jacob foi viver no país de Cam. Deus multiplicou grandemente o seu povo e tornou-o mais forte que os seus inimigos. Mudou-lhes o coração e eles odiaram o povo de Deus e trataram com perfídia os seus servos. Deus enviou então o seu servo Moisés e Aarão, seu escolhido, que realizaram maravilhas no meio deles e milagres no país de Cam. Mandou as trevas e tudo escureceu, mas eles não fizeram caso das suas palavras. Converteu em sangue as águas dos rios e matou todos os peixes. Encheu-lhes a terra de rãs, mesmo no interior dos palácios do rei. Deus ordenou e apareceram nuvens de insectos e mosquitos por todo o território. Em vez de chuva, enviou-lhes granizo e chamas de fogo sobre todo o país. Destruiu as suas vinhas e figueiras, destroçou as árvores dos campos. Deus ordenou e apareceram os gafanhotos, com larvas em número incontável, que devoraram toda a verdura dos campos e comeram os frutos das suas terras. Feriu de morte os primogénitos do país, as primícias da sua juventude. Fê-los sair com prata e ouro, e não houve um único doente nas suas tribos. Alegrou-se o Egipto com a sua saída, pois andavam aterrados com eles. Deus estendeu uma nuvem para os proteger e com um fogo iluminava-os de noite. A seu pedido, deu-lhes codornizes e saciou-os com o pão do céu. Fendeu o rochedo e brotou água, que pelos areais correu como um rio. Deus lembrou-se da sua palavra sagrada, que tinha dado a Abraão, seu servo, e fez sair o seu povo com alegria e os seus eleitos com gritos de júbilo. Deu-lhes as terras dos pagãos e eles herdaram as riquezas desses povos, na condição de guardarem os seus preceitos e observarem as suas leis. Aleluia!* Aleluia!* Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque o seu amor é eterno. Quem poderá contar as obras do Senhor e apregoar todos os seus louvores? Felizes os que observam os seus preceitos e fazem sempre o que é justo. Lembra-te de mim, Senhor, por amor do teu povo. Vem trazer-me a tua salvação, para eu ver a felicidade dos teus escolhidos, rejubilar com a alegria do teu povo e orgulhar-me com a tua herança. Pecámos, como os nossos pais, fomos ímpios e pecadores. Os nossos pais, quando estavam no Egipto, não entenderam as tuas maravilhas nem tiveram presente a imensidade do teu amor; revoltaram-se junto ao Mar dos Juncos. Mas Ele salvou-os, por amor do seu nome, e para mostrar o seu poder. Ameaçou o Mar dos Juncos e ele secou, e conduziu-os pelas profundezas como por um deserto. Salvou-os das mãos dos que os odiavam e resgatou-os do poder dos inimigos. As águas cobriram os seus perseguidores; nem um só deles escapou com vida. Então acreditaram na sua palavra e cantaram os seus louvores. Mas depressa esqueceram as suas obras e não confiaram nos seus planos. Cederam aos seus instintos, no deserto, e provocaram a Deus, no descampado. Deus concedeu-lhes o que pediam e enviou-lhes o alimento até se saciarem. No acampamento, tiveram inveja de Moisés e de Aarão, o ungido do Senhor. Abriu-se então a terra, que engoliu Datan e sepultou os sequazes de Abiram; o fogo consumiu os seus partidários e as chamas devoraram os malvados. Fizeram um bezerro de ouro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido. Trocaram assim o seu Deus glorioso pela figura de um animal que come feno. Esqueceram a Deus, que os salvara, que realizara prodígios no Egipto, maravilhas no país de Cam, feitos gloriosos no Mar dos Juncos. Deus decidiu aniquilá-los. Moisés, porém, seu escolhido, intercedeu junto dele, para acalmar a sua ira destruidora. Eles desprezaram a terra de delícias; não acreditaram na sua palavra. Murmuraram nas suas tendas e desobedeceram às ordens do Senhor. Por isso, jurou-lhes, de mão erguida, que os deixaria morrer no deserto e que dispersaria os seus descendentes, espalhando-os entre os pagãos, por toda a terra. Entregaram-se depois a Baal-Peor e comeram dos sacrifícios oferecidos aos mortos. Provocaram-no com os seus crimes; por isso, a peste irrompeu entre eles. Surgiu então Fineias, que fez justiça e a peste acabou. Esse gesto foi-lhe reconhecido como mérito, por todas as gerações e para sempre. Irritaram-no junto das águas de Meribá e, por culpa deles, Moisés foi castigado, porque lhe amarguraram o espírito e ele proferiu palavras insensatas. Não exterminaram os povos pagãos, como o Senhor lhes tinha ordenado; em vez disso, misturaram-se com esses povos e aprenderam os seus costumes. Prestaram culto aos seus ídolos, que foram para eles uma armadilha. Imolaram os seus filhos e as suas filhas em sacrifício aos demónios. Derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e filhas sacrificados aos ídolos de Canaã, e a terra ficou manchada de sangue. Contaminaram-se com os seus actos, prostituíram-se com os seus crimes. Por isso, o Senhor se indignou com o seu povo e ficou desgostoso com a sua herança. Entregou-os ao poder dos pagãos e foram dominados pelos que os odiavam. Os seus inimigos oprimiram-nos e foram vergados ao seu poder. Muitas vezes Deus os libertou, mas eles mostraram-se rebeldes nos seus caprichos e mergulharam sempre mais na sua maldade. Contudo, Ele reparou na sua aflição e ouviu os seus lamentos. Recordou-se deles por causa da sua aliança e teve pena deles, pelo seu grande amor. Por isso, fê-los encontrar clemência junto dos seus conquistadores. Salva-nos, Senhor, nosso Deus, e volta a reunir-nos de entre os pagãos, para darmos graças ao teu santo nome e celebrarmos os teus louvores. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, pelos séculos dos séculos. E todo o povo diga: «Ámen! Aleluia!» Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque o seu amor é eterno. Digam-no aqueles que o Senhor resgatou, os que Ele libertou do poder do inimigo e fez regressar de todas as terras, do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul. Andaram errantes pelo deserto e pela solidão, sem encontrar caminho para uma cidade onde habitar. Tinham fome e sede e já se sentiam desfalecer. Mas, na sua angústia, clamaram ao Senhor e Ele livrou-os das suas aflições.* Conduziu-os depois por um caminho seguro, que levava a uma cidade onde podiam habitar. Dêem graças ao Senhor, pelo seu amor e pelas suas maravilhas em favor dos homens.* Pois Ele deu de beber aos que tinham sede, e matou a fome aos famintos. Alguns viviam nas trevas e na escuridão, prisioneiros da tristeza e de cadeias, por se terem revoltado contra as ordens de Deus e desprezado os decretos do Altíssimo. Abateu-lhes o coração com desventuras; tropeçavam e ninguém os socorria. Mas, na sua angústia, clamaram ao Senhor, e Ele livrou-os das suas aflições.* Tirou-os das trevas e da escuridão e despedaçou as suas cadeias. Dêem graças ao Senhor, pelo seu amor e pelas suas maravilhas em favor dos homens.* Ele fez em pedaços as portas de bronze e quebrou as barras de ferro! Enfraquecidos por causa dos seus pecados, aflitos por causa das suas culpas, qualquer alimento lhes causava náuseas e já estavam às portas da morte! Mas, na sua angústia, clamaram ao Senhor, e Ele livrou-os das suas aflições. Deus enviou a sua palavra para os curar, e livrou-os da morte! Dêem graças ao Senhor, pelo seu amor e pelas suas maravilhas em favor dos homens. Ofereçam sacrifícios de acção de graças e anunciem as suas obras com alegria. Os que se fizeram ao mar nos seus navios, para fazer comércio na imensidão das águas, esses viram as obras do Senhor e as suas maravilhas no alto mar. À sua palavra, soprou um vento de tempestade e as ondas levantaram-se; elevavam-se até aos céus e desciam às profundezas; a sua vida desfalecia pelo enjoo. Andavam e cambaleavam como ébrios e toda a sua perícia se tornava inútil. Mas, na sua angústia, clamaram ao Senhor, e Ele livrou-os das suas aflições. Transformou a tempestade em bonança, e as ondas do mar amainaram. Alegraram-se, ao verem as ondas acalmadas, e Deus conduziu-os ao porto desejado. Dêem graças ao Senhor, pelo seu amor e pelas suas maravilhas em favor dos homens.* Aclamem-no na assembleia do povo e louvem-no no conselho dos anciãos. O Senhor converteu os rios em deserto, e as fontes de água em terra árida; converteu a terra fértil em salinas, por causa da maldade dos seus habitantes; mudou os desertos em lagos e a terra árida em mananciais, para ali estabelecer os famintos e eles construírem cidades de habitação. Semearam campos e plantaram vinhas, que produziram abundantes frutos. Abençoou-os e eles multiplicaram-se em grande número, e não deixou que os seus rebanhos diminuíssem. Depois, foram reduzidos e dizimados, por causa da opressão, do mal e do sofrimento. Mas Deus, que mostra desprezo pelos poderosos, fê-los vaguear por desertos sem caminhos. Levantou o pobre da miséria e multiplicou a sua família como um rebanho. Os justos, ao verem isto, alegram-se; mas os que são maus ficam em silêncio. Aquele que for sábio reflectirá em tudo isto e compreenderá o amor do Senhor. Cântico. Salmo de David. Ó Deus, o meu coração está firme; quero cantar e salmodiar, ó minha glória! Despertai, harpa e cítara! Quero despertar a aurora! Hei-de louvar-te, Senhor, entre os povos, hei-de cantar-te salmos entre as nações; pois o teu amor é mais alto que o céu e a tua fidelidade chega até às nuvens. Ó Deus, revela nas alturas a tua grandeza, e sobre a terra, a tua glória! Para que os teus amigos sejam libertados, salva-nos com a tua mão direita e responde-nos! Deus falou no seu santuário: «Com alegria dividirei Siquém e medirei o Vale de Sucot! É minha a terra de Guilead e a terra de Manassés. Efraim é o elmo da minha cabeça e Judá, o meu ceptro real. Moab é a bacia em que Eu me lavo, sobre Edom porei as minhas sandálias e cantarei vitória sobre a Filisteia.» Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me guiará até Edom? Quem senão Tu, ó Deus, que nos rejeitaste e já não vais à frente dos nossos exércitos? Concede-nos ajuda na tribulação, porque é vão qualquer socorro humano. Com a ajuda de Deus, faremos proezas; Ele calcará aos pés os nossos inimigos. Ao director do coro. De David. Salmo.* Ó Deus, a quem eu louvo, não fiques em silêncio. Pois abriram a boca contra mim, com fraudes e traições, e falaram de mim com linguagem mentirosa. Cercam-me com palavras de ódio, atacam-me sem razão. Em paga do meu amor, acusam-me; mas eu entrego-me à oração. Pagam-me o bem com o mal, o amor com o ódio. Eles dizem: «Suscita contra ele um homem mau e à sua direita esteja um acusador. Quando for julgado, saia condenado, e, na sua apelação, resulte incriminado. Sejam abreviados os seus dias e outro ocupe o seu lugar. Que os seus filhos fiquem órfãos e a sua mulher fique viúva! Que os seus filhos andem errantes a mendigar e sejam expulsos das suas casas em ruína. Que o credor lhe tire todos os seus haveres e os estranhos lhe arrebatem o fruto do seu trabalho. Que ninguém tenha compaixão dele, nem dos seus filhos órfãos. Que seja exterminada a sua descendência e seja apagado o seu nome numa geração. Que o Senhor conserve na sua lembrança a culpa de seus pais e jamais se apague o pecado de sua mãe. Que tais pecados estejam sempre presentes ao Senhor e que Ele faça desaparecer da terra a sua memória. Pois esse homem nunca pensou em usar de misericórdia, mas perseguiu o pobre e o desvalido e empurrou para a morte o aflito de coração. Amou a maldição: que ela caia sobre ele! Desprezou a bênção: que ela o abandone! Revestiu-se da maldição como de um manto: que ela penetre nas suas entranhas como água e, como azeite, nos seus ossos; seja para ele como um vestido a envolvê-lo e a apertá-lo como uma cinta.» Que o Senhor castigue assim os meus caluniadores e os que falam mal de mim. Mas Tu, Senhor, meu Deus, por amor do teu nome, ajuda-me. Salva-me, pela tua bondade e misericórdia! Porque estou pobre e aflito, e tenho o coração angustiado dentro de mim. Desfaleço como a sombra que declina; vejo-me enxotado como um gafanhoto. Os meus joelhos vacilam de tanto jejuar e o meu corpo definha de magreza. Tornei-me para eles objecto de desprezo; ao verem-me, abanam a cabeça. Socorre-me, Senhor, meu Deus; salva-me, pela tua bondade. Para que saibam que és Tu o meu salvador, que foste Tu, Senhor, que assim fizeste. Eles poderão amaldiçoar-me, mas Tu abençoas-me. Que os meus inimigos se cubram de confusão e que o teu servo se regozije. Que os meus inimigos se encham de vergonha; que a sua confusão os cubra como um manto. Agradecerei bem alto ao Senhor e louvá-lo-ei no meio da multidão. Porque Ele é o defensor do pobre; salva-o dos que o querem condenar. De David. Salmo.* Disse o Senhor ao meu senhor: «Senta-te à minha direita, e Eu farei dos teus inimigos um estrado para os teus pés.» De Sião, o Senhor estenderá o ceptro do teu poder. Dominarás os teus inimigos na batalha! A tua família é de nobres, desde o dia em que nasceste; no esplendor do santuário, das entranhas da madrugada, como orvalho, Eu te gerei. O Senhor jurou e não voltará atrás: «Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.» O Senhor está à tua direita; Ele esmagará os reis, no dia da sua ira; julgará as nações: amontoará cadáveres e esmagará cabeças pela vastidão da terra. No caminho, beberá da torrente; e, logo a seguir, erguerá a cabeça. Aleluia!* Louvarei o Senhor de todo o coração, no conselho dos justos e na assembleia. Grandes são as obras do Senhor, dignas de meditação para quem as ama. As suas obras têm majestade e esplendor; a sua justiça permanece para sempre. Deixou-nos um memorial das suas maravilhas. O Senhor é bondoso e compassivo; dá sustento aos que o temem e jamais se esquece da sua aliança. Revelou ao seu povo o poder das suas obras, dando-lhe a herança das nações. As obras das suas mãos são rectas e justas, são imutáveis todos os seus preceitos. Foram estabelecidos pelos séculos dos séculos e baseiam-se na verdade e na rectidão. Enviou a redenção ao seu povo, firmou com ele uma aliança para sempre; santo e venerável é o seu nome. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; são prudentes todos os que o praticam. O seu louvor permanece eternamente. Aleluia!* Feliz o homem que teme o Senhor e se compraz nos seus mandamentos. A sua descendência será poderosa sobre a terra, e bendita, a geração dos justos. Haverá na sua casa abundância e riqueza e a sua prosperidade durará para sempre. Brilha para os homens rectos como luz nas trevas: ele é piedoso, clemente e compassivo. Feliz o homem que se compadece e empresta e administra os seus bens com justiça. Este jamais sucumbirá. O justo deixará memória eterna. Não tem receio das más notícias; o seu coração está firme e confiante no Senhor. O seu coração está firme; por isso nada teme e verá os seus opressores confundidos. Reparte do que é seu com os pobres; a sua generosidade subsistirá para sempre e o seu poder crescerá em glória. Ao ver isto, o ímpio enfurece-se, range os dentes e desfalece; os desejos dos ímpios fracassam. Aleluia!* Louvai, servos do Senhor, louvai o nome do Senhor. Bendito seja o nome do Senhor, agora e para sempre. Desde o nascer ao pôr-do-sol, seja louvado o nome do Senhor. O Senhor reina sobre todas as nações, a sua majestade está acima dos céus. Quem é como o Senhor, nosso Deus, que tem o seu trono nas alturas? Ele se inclina, lá do alto, para observar o céu e a terra. Ele levanta do pó o indigente e tira o pobre da miséria, para o fazer sentar entre os grandes, entre os grandes do seu povo. Ele dá família à mulher estéril e faz dela a mãe feliz de muitos filhos. Aleluia!* Quando Israel saiu do Egipto, e a casa de Jacob, do meio de um povo estranho, Judá tornou-se o santuário do Senhor e Israel o seu domínio. À vista disso, o mar afastou-se e o Jordão voltou atrás. Os montes saltaram como carneiros, e as colinas, como cordeiros. Que tens, ó mar, para assim fugires, e tu, Jordão, para retrocederes? Montes, porque saltais como carneiros, e vós, colinas, como cordeiros? Treme, ó terra, com a chegada do Senhor, com a presença do Deus de Jacob, que transforma as rochas em lagoas, e as pedras, em fontes de água. Não a nós, ó Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, pelo teu amor e fidelidade. Se não, os pagãos vão continuar a dizer: «Onde está o vosso Deus?» O nosso Deus, lá do céu, faz tudo o que lhe apraz. Os ídolos dos pagãos são ouro e prata, obra das mãos dos homens: têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem, e nariz, mas não cheiram; têm mãos, mas não apalpam, e pés, mas não andam, nem da sua garganta emitem qualquer som. Sejam como eles os que os fabricam e todos os que neles confiam. Casa de Israel, confia no Senhor, porque Ele a todos ajuda e protege. Casa de Aarão, confia no Senhor, porque Ele a todos ajuda e protege. Crentes, confiai no Senhor, porque Ele a todos ajuda e protege. O Senhor lembrou-se de nós e nos abençoará! Abençoará a casa de Israel, abençoará a casa de Aarão, abençoará os crentes do Senhor, tanto pequenos como grandes. Que o Senhor vos multiplique, a vós e aos vossos filhos. Sede abençoados pelo Senhor, que fez o céu e a terra. O céu é pertença do Senhor; mas a terra, Ele a deu aos seres humanos. Não são os mortos que louvam o Senhor, nem os que descem ao mundo do silêncio. Mas nós, os vivos, louvaremos o Senhor agora e para sempre. Aleluia!* Amo o Senhor, porque ouviu a voz do meu lamento. Ele inclinou para mim os seus ouvidos, no dia em que o invoquei. Cercaram-me os laços da morte, caíram sobre mim as angústias do sepulcro; estava aflito e cheio de ansiedade, mas invoquei o nome do Senhor, «Ó Senhor, salva-me a vida!» O Senhor é bondoso e compassivo, o nosso Deus é misericordioso. O Senhor guarda os simples; eu estava sem forças e Ele salvou-me. Volta, minha alma, ao teu repouso, porque o Senhor foi bom para contigo. Ele livrou da morte a minha vida, das lágrimas, os meus olhos, da queda, os meus pés. Andarei na presença do Senhor, no mundo dos vivos. Eu tinha confiança, mesmo quando disse: «A minha aflição é muito grande!» Na minha perturbação, eu dizia: «Todo o homem é mentiroso!» Como retribuirei ao Senhor todos os seus benefícios para comigo? Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor. Cumprirei as minhas promessas feitas ao Senhor na presença de todo o seu povo. É preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus fiéis. Senhor, sou teu servo, filho da tua serva; quebraste as minhas cadeias. Hei-de oferecer-te sacrifícios de louvor, invocando, Senhor, o teu nome. Cumprirei as minhas promessas feitas ao Senhor na presença de todo o seu povo, nos átrios da casa do Senhor, no meio de ti, Jerusalém! Aleluia!* Louvai o Senhor, todas as nações! Exaltai-o, todos os povos! Porque o seu amor para connosco não tem limites e a fidelidade do Senhor é eterna! Aleluia!* Louvai o Senhor, porque Ele é bom, porque o seu amor é eterno. Diga a casa de Israel: «O seu amor é eterno.» Diga a casa de Aarão: «O seu amor é eterno.» Digam os que crêem no Senhor, «O seu amor é eterno.» Na minha angústia clamei ao Senhor, o Senhor escutou-me e pôs-me a salvo. O Senhor está comigo, nada tenho a temer; que mal me poderão fazer os homens? O Senhor está comigo e protege-me; hei-de ver humilhados os meus inimigos. É melhor confiar no Senhor do que fiar-se nos homens; é melhor confiar no Senhor do que fiar-se nos poderosos. Cercaram-me todos os povos, mas eu aniquilei-os em nome do Senhor. Rodearam-me e cercaram-me, mas eu aniquilei-os em nome do Senhor. Cercaram-me como um enxame de vespas, a sua fúria crepitava como fogo entre espinhos, mas eu aniquilei-os em nome do Senhor. Empurraram-me com violência para eu cair, mas o Senhor veio em meu auxílio. O Senhor é o meu refúgio e a minha força; Ele é a minha salvação. Ouvem-se vozes de alegria e de vitória nas tendas dos justos: «A mão do Senhor fez maravilhas, a mão do Senhor foi magnífica; a mão do Senhor fez maravilhas.» Não morrerei, antes viverei, para narrar as obras do Senhor. O Senhor castigou-me com dureza, mas não me deixou morrer. Abri-me as portas da justiça: quero entrar para dar graças ao Senhor. Esta é a porta do Senhor, os justos entrarão por ela. Eu te darei graças, porque me respondeste, porque foste o meu salvador. A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se pedra angular. Isto foi obra do Senhor e é um prodígio aos nossos olhos. Este é o dia da vitória do Senhor, cantemos e alegremo-nos nele! Senhor, salva-nos! Senhor, dá-nos a vitória! Bendito o que vem em nome do Senhor ! Da casa do Senhor nós vos abençoamos. O Senhor é Deus; Ele tem-nos iluminado! Entrançai as ramagens de festa até às hastes do altar. Tu és o meu Deus e eu te dou graças. Sim, Tu és o meu Deus e eu te exaltarei. Louvai o Senhor, porque Ele é bom, porque o seu amor é eterno.* Alef* Felizes os que seguem o caminho da rectidão e vivem segundo a lei do Senhor. Felizes os que cumprem os seus preceitos e o procuram com todo o coração, que não praticam o mal, mas andam nos caminhos do Senhor. Promulgaste os teus preceitos para se cumprirem fielmente. Oxalá os meus passos sejam firmes no cumprimento dos teus decretos. Então não terei de que me envergonhar, se observar os teus mandamentos. Poderei louvar-te de coração sincero, instruído pelos teus justos juízos. Hei-de cumprir as tuas leis; não me abandones mais! Bet* Como poderá um jovem manter puro o seu caminho? Só guardando as tuas palavras. Eu procuro-te com todo o coração; não deixes que me afaste dos teus mandamentos. Guardo no meu coração as tuas promessas, para não pecar contra ti. Bendito sejas, Senhor ! Ensina-me as tuas leis. Anuncio com os meus lábios todos os decretos da tua boca. Alegro-me mais em seguir as tuas ordens, do que em possuir qualquer riqueza. Meditarei nos teus preceitos e prestarei atenção aos teus caminhos. Hei-de alegrar-me com as tuas leis; não esquecerei as tuas palavras. Guimel* Concede ao teu servo uma longa vida e eu cumprirei as tuas palavras. Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei. Sou um peregrino nesta terra; não me escondas os teus mandamentos. A minha alma suspira sem cessar, desejando conhecer os teus juízos. Tu repreendes os soberbos; amaldiçoas os que se afastam dos teus mandamentos. Livra-me dos seus insultos e desprezos, porque tenho cumprido os teus preceitos. Ainda que os grandes conspirem contra mim, o teu servo meditará nas tuas leis. Os teus preceitos são as minhas delícias; são eles os meus conselheiros. Dalet A minha alma está prostrada por terra; dá-me vida segundo a tua palavra. Expus-te os meus caminhos e Tu me respondeste; ensina-me as tuas leis. Faz-me compreender o caminho dos teus preceitos para meditar nas tuas maravilhas. A minha alma chora de tristeza; reconforta-me, segundo a tua palavra. Afasta-me dos caminhos da mentira; concede-me a graça da tua lei. Escolhi o caminho da verdade e preferi as tuas sentenças. Abraço as tuas ordens; não permitas, Senhor, que seja confundido. Correrei pelo caminho dos teus mandamentos, porque deste largas ao meu coração. He* Ensina-me, Senhor, o caminho das tuas leis e eu hei-de cumpri-las com fidelidade. Dá-me entendimento para cumprir a tua lei; hei-de obedecer-lhe de todo o coração. Conduz-me pela senda dos teus mandamentos, porque neles estão as minhas delícias. Inclina o meu coração para as tuas ordens, e não para a cobiça. Desvia os meus olhos dos deuses vãos; faz-me viver nos teus caminhos. Confirma ao teu servo a tua promessa destinada aos que te obedecem. Afasta de mim a afronta, que eu temo, pois são agradáveis os teus decretos. Vê como tenho desejado os teus preceitos; faz-me viver segundo a tua justiça. Vau* Desça sobre mim, Senhor, a tua bondade; salva-me, segundo a tua promessa! Darei, então, resposta aos que me insultam, porque confio na tua palavra. Não me tires da boca a palavra da verdade, porque pus a minha esperança nas tuas sentenças. Assim, cumprirei continuamente a tua lei, para todo o sempre. Andarei seguro no meu caminho, porque busquei as tuas instruções. Diante dos reis falarei dos teus preceitos e ninguém me há-de envergonhar. Deleito-me nos teus mandamentos, que muito amo. Levanto as mãos para os teus mandamentos e meditarei nas tuas leis. Zain* Lembra-te da palavra que deste ao teu servo, pois nela me fizeste colocar a minha esperança. É esta a consolação na minha angústia: que a tua palavra me dê vida! Os soberbos zombaram de mim, mas não me afastei da tua lei. Recordo-me dos teus decretos de outrora; neles encontro consolação, ó Senhor. Fico indignado à vista dos ímpios, que rejeitam a tua lei. Os teus preceitos são o motivo dos meus cânticos na terra do meu peregrinar. Durante a noite lembro-me do teu nome, Senhor, e penso muito na tua lei. Só isto conta para mim: obedecer às tuas instruções! Het* Senhor, eu disse: «A herança que me toca é pôr em prática as tuas ordens.» De todo o coração imploro: tem piedade de mim, segundo a tua promessa! Reflecti sobre os meus caminhos e voltei a obedecer aos teus preceitos. Apressei-me e não demorei em cumprir os teus mandamentos. Cercaram-me os laços dos ímpios, mas não me esqueci da tua lei. A meio da noite levanto-me para te louvar, por causa das tuas justas sentenças. Sou amigo de todos os que te obedecem e cumprem as tuas ordens. Senhor, a terra está cheia da tua bondade; ensina-me as tuas leis. Tet* Trataste com bondade o teu servo, segundo a tua palavra, Senhor. Dá-me sabedoria e conhecimento, pois confio nos teus mandamentos. Antes de me teres humilhado, eu pecava; mas, agora, cumpro a tua palavra. Tu és bom e generoso; ensina-me as tuas leis. Os soberbos forjam mentiras contra mim, mas eu cumpro as tuas instruções de todo o coração. O seu coração tornou-se insensível, mas eu deleito-me na tua lei. Foi bom para mim ter sido castigado, pois assim aprendi os teus decretos. Prezo mais a lei da tua boca do que milhões em ouro e prata. Yod* As tuas mãos me criaram e formaram; dá-me inteligência para aprender os teus mandamentos. Ao verem-me, os teus fiéis hão-de alegrar-se, porque assentei a minha esperança na tua palavra. Senhor, eu sei que as tuas sentenças são justas e que me castigaste para meu proveito. Que a tua bondade me sirva de conforto, conforme o que prometeste ao teu servo. Mostra-me a tua misericórdia e viverei, porque a tua lei faz as minhas delícias. Sejam confundidos os insolentes, que injustamente me torturam, a mim que medito nos teus preceitos. Unam-se a mim os que te obedecem e conheçam os teus preceitos. Que o meu coração obedeça às tuas leis, para não ter de que me envergonhar. Caf* A minha alma espera na tua salvação: confio na tua palavra. Os meus olhos suspiram pelo cumprimento da tua promessa: «Quando virás consolar-me?» Estou como um odre exposto ao fumo, mas não me esqueci dos teus preceitos. Quantos dias restarão ao teu servo? Quando condenarás os que me perseguem? Os orgulhosos, que não obedecem à tua lei, abriram covas para mim. Todos os teus mandamentos são verdadeiros; ajuda-me contra os que me perseguem à traição. Por pouco não me eliminaram desta terra, mas nunca reneguei os teus preceitos. Dá-me a vida, segundo a tua bondade, e cumprirei as ordens da tua boca. Lamed* Senhor, a tua palavra permanece para sempre, mais estável do que os céus. A tua fidelidade atravessa as gerações; formaste a terra e ela continua firme. Pelos teus decretos, tudo se mantém até hoje, porque tudo está ao teu serviço. Se a tua lei não fizesse as minhas delícias, já teria sucumbido na minha aflição. Jamais esquecerei os teus preceitos, pois é por eles que me dás a vida. Eu sou teu: salva-me, pois sempre tenho seguido os teus preceitos! Os ímpios procuram a minha perdição, mas eu estou atento às tuas ordens. Descubro limites em tudo o que parece perfeito, mas os teus mandamentos são infinitos. Mem* Quanto amo, Senhor, a tua lei! Nela medito todos os dias. Fizeste-me mais sábio do que os meus inimigos, porque os teus mandamentos estão sempre comigo. Tornei-me mais sábio do que todos os mestres, porque medito sempre nos teus preceitos. Entendo mais do que os anciãos, porque cumpro as tuas instruções. Desviei os meus pés de todo o mau caminho para obedecer às tuas palavras. Não me tenho desviado das tuas sentenças, pois és Tu quem me ensina. Como são doces, ao meu paladar, as tuas palavras! Mais doces do que o mel para a minha boca. Dos teus preceitos recebi entendimento; por isso detesto os caminhos da mentira. Nun* A tua palavra é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos. Jurei e vou cumprir: hei-de guardar os teus justos decretos. Senhor, sinto-me angustiado; dá-me a vida, segundo a tua promessa. Senhor, aceita os louvores da minha boca e dá-me a conhecer os teus decretos. A minha vida está continuamente em perigo, mas não me esqueço da tua lei. Os pecadores armaram-me ciladas, mas nunca me afastei dos teus preceitos. As tuas ordens são a minha herança para sempre, porque elas alegram o meu coração. O meu coração decidiu cumprir as tuas leis; seja essa para sempre a minha recompensa. Samec* Odeio a hipocrisia, mas tenho afeição à tua lei. Tu és o meu amparo e a minha protecção; na tua palavra pus a minha esperança. Afastai-vos de mim, pecadores, pois quero cumprir os mandamentos do meu Deus. Ampara-me, segundo a tua promessa, e viverei; não desiludas a minha esperança. Ajuda-me e estarei salvo; assim observarei sempre os teus decretos. Repudias todos os que se afastam das tuas leis, porque os seus pensamentos são enganadores. Consideras como escória os malvados da terra; por isso, amo os teus preceitos. O meu corpo estremece de temor na tua presença, e os teus decretos inspiram-me respeito. Ain* Tenho praticado o que é recto e justo; não me abandones ao poder dos meus inimigos. Defende o bem do teu servo, para que não me oprimam os arrogantes. Os meus olhos consomem-se à espera da tua ajuda e do prometido pela tua justiça. Trata o teu servo segundo o teu amor, e ensina-lhe as tuas leis. Sou teu servo: dá-me entendimento para eu conhecer os teus preceitos. É tempo de agires, Senhor; eles desprezaram a tua lei. Por isso amo os teus mandamentos, muito mais que o ouro fino. Por isso sigo os teus preceitos e tenho horror aos caminhos da mentira. Phe* Os teus preceitos são admiráveis; por isso a minha alma os observa. O conhecimento dos teus ensinamentos ilumina e dá inteligência aos simples. Abro, com avidez, a minha boca, porque tenho fome dos teus mandamentos. Olha para mim, tem piedade de mim, como costumas fazer com os que amam o teu nome. Dá firmeza aos meus passos, segundo a tua promessa; não permitas que me domine qualquer maldade. Livra-me da opressão dos homens, para eu cumprir os teus preceitos. Que a tua presença ilumine o teu servo; ensina-me as tuas leis. Dos meus olhos correm rios de água, porque a tua lei já não é cumprida. Sadé* Senhor, Tu és justo e as tuas sentenças são rectas. Deste-nos os teus preceitos com justiça e exigiste de nós total fidelidade. O meu zelo me consome, ao ver que os meus inimigos desprezam as tuas palavras. As tuas promessas já foram provadas; por isso o teu servo as prefere. Sou humilde e desprezível, mas não me esqueço dos teus preceitos. A tua justiça é eterna, e a tua lei, verdadeira. Estou cheio de angústia e tribulação, mas encontro alívio nos teus mandamentos. As tuas prescrições são sempre justas; ajuda-me a conhecê-las, e viverei. Qof* Senhor, eu te invoco de todo o coração; ouve-me, pois quero cumprir os teus decretos. Por ti clamo; salva-me e cumprirei os teus preceitos. De manhã cedo imploro o teu auxílio e espero na tua palavra. Meus olhos antecipam-se às vigílias da noite para meditar na tua promessa. Ouve, Senhor, a minha voz, pelo teu amor; dá-me vida, conforme prometeste. Aproximam-se os que correm atrás da iniquidade e se afastam da tua lei. Mas também Tu, Senhor, estás perto; todos os teus mandamentos são verdadeiros. Desde muito novo conheço os teus preceitos; Tu os estabeleceste para sempre. Resh* Vê as minhas aflições e livra-me, pois não me esqueci da tua lei. Defende a minha causa e salva-me; dá-me vida, segundo a tua promessa. A salvação está longe dos ímpios, porque não observam os teus decretos. Grande é a tua bondade, Senhor; dá-me vida, segundo as tuas promessas. Muitos são os meus inimigos e opressores, mas eu não me afasto dos teus preceitos. Ao ver os transgressores, fico desgostoso porque não guardam a tua palavra. Vê como amo os teus decretos; dá-me vida, pela tua bondade, Senhor. A essência da tua palavra é a verdade; os teus decretos são justos e eternos. Shin* Os poderosos perseguem-me sem razão, mas o meu coração só teme a tua palavra. Sinto-me feliz com a tua promessa, como quem encontra um grande tesouro. Odeio e detesto a mentira, mas amo a tua lei. Sete vezes por dia te louvo, por causa dos teus justos decretos. Os que amam a tua lei gozam de grande paz; não há nada que os perturbe. Senhor, espero na tua ajuda e cumpro os teus mandamentos. A minha alma observa os teus preceitos e ama-os profundamente. Observo os teus preceitos e as tuas leis, pois Tu conheces todos os meus caminhos. Tau* Senhor, chegue à tua presença o meu clamor; ensina-me, segundo a tua palavra. Suba à tua presença a minha súplica; livra-me, conforme a tua promessa. Os meus lábios anunciam os teus louvores, porque me ensinas os teus preceitos. A minha língua proclame a tua palavra, porque todos os teus mandamentos são justos. Que a tua mão venha em meu auxílio, porque escolhi os teus preceitos. Eu suspiro, Senhor, pela tua ajuda; a tua lei faz as minhas delícias. Viva eu sempre para te louvar; que os teus decretos me ajudem. Ando errante, como ovelha perdida; vem à procura do teu servo, pois não me esqueci dos teus mandamentos. Cântico das peregrinações.* Na minha angústia, clamei ao Senhor e Ele ouviu-me. Livra-me, Senhor, dos lábios mentirosos e da língua traiçoeira. Que poderás ganhar e lucrar, ó língua traiçoeira? São setas agudas de guerreiro e carvões acesos de giesta! Ai de mim, que vivo entre bárbaros e tenho de habitar com gente estranha! Já vivi tempo demais entre aqueles que odeiam a paz. Quando lhes falo de paz, logo eles falam de guerra! Cântico das peregrinações.* Levanto os olhos para os montes: de onde me virá o auxílio? O meu auxílio vem do Senhor que fez o céu e a terra. Ele não deixará que vacilem os teus pés; aquele que te guarda, não dormirá. Pois não há-de dormir nem dormitar, aquele que guarda Israel. O Senhor é quem te guarda e está a teu lado. Ele é a tua protecção. O Sol não te fará mal durante o dia, nem a Lua, durante a noite. O Senhor protege-te de todo o mal e vela pela tua vida. O Senhor protege-te nas tuas idas e vindas, agora e para sempre. Cântico das peregrinações. De David.* Que alegria, quando me disseram: «Vamos para a casa do Senhor !» Os nossos pés detêm-se às tuas portas, ó Jerusalém! Jerusalém, cidade bem construída, harmoniosamente edificada. Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor, segundo o costume de Israel, para louvar o nome do Senhor. Nela estão os tribunais da justiça, os tribunais da casa de David. Fazei votos em favor de Jerusalém: «Prosperem aqueles que te amam; haja paz dentro das tuas muralhas, tranquilidade nos teus palácios.» Por amor dos meus irmãos e amigos, proclamarei: «A paz esteja contigo!» Por amor da casa do Senhor, nosso Deus, pedirei o bem-estar para ti. Cântico das peregrinações.* Levanto os meus olhos para ti, Senhor, para ti que habitas nos céus. Como os olhos do servo se fixam nas mãos do seu amo, e como os da serva, nas mãos da sua ama, assim os nossos olhos estão postos no Senhor, nosso Deus, até que tenha piedade de nós. Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade de nós, porque estamos saturados de desprezo. A nossa alma está saturada da troça dos arrogantes e do desprezo dos orgulhosos! Cântico das peregrinações. De David.* Se o Senhor não estivesse do nosso lado que o diga Israel – se o Senhor não estivesse do nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, ter-nos-iam engolido vivos quando a sua fúria ardia contra nós. As águas ter-nos-iam submergido, a torrente teria passado sobre nós. Então, sim, teriam passado sobre nós as águas turbulentas! Bendito seja o Senhor, que não nos entregou como presa nos seus dentes! A nossa vida escapou como um pássaro do laço de caçadores; rompeu-se o laço e nós libertámo-nos. O nosso auxílio está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra. Cântico das peregrinações.* Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não vacila e permanece para sempre. Como Jerusalém rodeada de montanhas, assim o Senhor protege o seu povo agora e para sempre. Não durará muito o domínio dos maus sobre a terra dos justos, para que estes não estendam a sua mão à maldade. Senhor, sê bom para os que são bons e para os homens de coração recto. Mas, àqueles que se desviam por caminhos tortuosos, o Senhor dará a sorte dos malfeitores. Paz a Israel! Cântico das peregrinações.* Quando o Senhor mudou o destino de Sião, parecia-nos viver um sonho. A nossa boca encheu-se de sorrisos e a nossa língua de canções. Dizia-se, então, entre os pagãos: «O Senhor fez por eles grandes coisas!» Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas; por isso, exultamos de alegria. Transforma, Senhor, o nosso destino, como as chuvas transformam o deserto do Négueb. Aqueles que semeiam com lágrimas, vão recolher com alegria. À ida vão a chorar, carregando e lançando as sementes; no regresso cantam de alegria, transportando os feixes de espigas. Cântico das peregrinações. De Salomão.* Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores. Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigiam as sentinelas. De nada vos serve levantar muito cedo e trabalhar pela noite dentro, para comer o pão de tanta fadiga, pois, até durante o sono, Ele o dá aos seus amigos. Olhai: os filhos são uma bênção do Senhor; o fruto das entranhas, uma verdadeira dádiva. Como flechas nas mãos de um guerreiro, assim são os filhos nascidos na juventude. Feliz o homem que deles encheu a sua aljava! Não será envergonhado pelos seus inimigos, quando com eles discutir às portas da cidade. Cântico das peregrinações.* Felizes os que obedecem ao Senhor e andam nos seus caminhos. Comerás do fruto do teu próprio trabalho: assim serás feliz e viverás contente. A tua esposa será como videira fecunda na intimidade do teu lar; os teus filhos serão como rebentos de oliveira ao redor da tua mesa. Assim vai ser abençoado o homem que obedece ao Senhor. O Senhor te abençoe do monte Sião! Possas contemplar a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida, e chegues a ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel! Cântico das peregrinações.* Muita guerra me fizeram desde a minha juventude! – que o diga Israel. Muita guerra me fizeram desde a minha juventude, mas não conseguiram vencer-me. Como agricultores, lavraram sobre as minhas costas, abrindo em mim compridos sulcos. Mas o Senhor, que é justo, libertou-me das cadeias dos malfeitores. Sejam envergonhados e retrocedam todos os inimigos de Sião. Sejam como a erva dos telhados, que, antes de ser arrancada, já está murcha. Com ela não enche a mão o ceifeiro, nem os braços, o que ata os feixes; nem dirão os que passam pelo caminho: «Desça sobre vós a bênção do Senhor; nós vos abençoamos em nome do Senhor.» Cântico das peregrinações.* Do fundo do abismo clamo a ti, Senhor ! Senhor, ouve a minha prece! Estejam teus ouvidos atentos à voz da minha súplica! Se tiveres em conta os nossos pecados, Senhor, quem poderá resistir? Mas em ti encontramos o perdão; por isso te fazes respeitar. Eu espero no Senhor ! Sim, espero! A minha alma confia na sua palavra. A minha alma volta-se para o Senhor, mais do que a sentinela para a aurora. Mais do que a sentinela espera pela aurora, Israel espera pelo Senhor; porque nele há misericórdia e com Ele é abundante a redenção. Ele há-de livrar Israel de todos os seus pecados. Cântico das peregrinações. De David.*Senhor, o meu coração não é orgulhoso, nem os meus olhos são altivos; não corro atrás de grandezas ou de coisas superiores a mim. Pelo contrário, estou sossegado e tranquilo, como criança saciada ao colo da mãe; a minha alma é como uma criança saciada! Israel, espera no Senhor, desde agora e para sempre! Cântico das peregrinações.*Senhor, lembra-te de David e dos seus múltiplos trabalhos; do juramento que fez ao Senhor e do voto que fez ao Deus de Jacob: «Não entrarei na minha tenda nem me deitarei no meu leito de descanso, não deixarei dormir os meus olhos nem descansar as minhas pálpebras, enquanto não encontrar um lugar para o Senhor, uma morada para o Deus poderoso de Jacob.» Ouvimos dizer que a Arca estava em Efrata; fomos encontrá-la nos campos de Jaar. Entremos na morada do Senhor ! Prostremo-nos diante do estrado de seus pés! Levanta-te, Senhor, e entra no teu repouso, Tu e a Arca do teu poder! Revistam-se de justiça os teus sacerdotes e os teus fiéis exultem de alegria. Por amor de David, teu servo, não desvies o teu rosto do teu ungido. O Senhor fez um juramento a David, uma promessa a que não faltará: «Hei-de colocar no teu trono um descendente da tua família. Se os teus filhos guardarem a minha aliança e os preceitos que lhes hei-de ensinar, também os filhos deles se hão-de sentar para sempre no teu trono.» O Senhor escolheu Sião, preferiu-a para sua morada: «Este será para sempre o meu lugar de repouso, aqui habitarei, porque o escolhi. Abençoarei com abundância os seus celeiros, saciarei de pão os seus pobres; revestirei de esplendor os seus sacerdotes e os seus fiéis hão-de gritar de alegria. Ali farei surgir descendência para David e farei brilhar a luz do meu ungido. Cobrirei de vergonha os seus inimigos, mas sobre ele farei brilhar o seu diadema.» Cântico das peregrinações. De David.* Vede como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos! É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça, a escorrer pela barba, a barba de Aarão, a escorrer até à orla das suas vestes. É como o orvalho do monte Hermon, que escorre sobre as montanhas de Sião. É ali que o Senhor dá a sua bênção, a vida para sempre. Cântico das peregrinações.* Bendizei o Senhor, todos os servos do Senhor, que estais no seu santuário todas as noites! Elevai as vossas mãos em oração e bendizei o Senhor ! De Sião te abençoe o Senhor, que fez o céu e a terra. Aleluia!* Louvai o nome do Senhor; servos do Senhor, louvai-o, vós que estais no templo do Senhor, nos átrios da casa do nosso Deus. Louvai o Senhor, porque Ele é bom; cantai ao seu nome, porque é amável. O Senhor escolheu para si Jacob, e Israel, para seu domínio preferido. Eu sei que o Senhor é grande; o nosso Deus é maior que todos os deuses. Pois tudo o que o Senhor quer, Ele o faz: no céu e na terra, nos mares e nos abismos. Faz subir as nuvens das extremidades da terra, com os relâmpagos faz cair a chuva e retira os ventos dos seus reservatórios. Foi Ele que feriu os primogénitos do Egipto, tanto dos homens como dos animais. Fez maravilhas e prodígios no meio de ti, ó Egipto, para castigar o Faraó e todos os seus servos. Foi Ele que derrotou as grandes nações e matou reis poderosos: Seon, rei dos amorreus, e Og, rei de Basan, e todos os reis de Canaã. E entregou a terra deles como herança, como herança a Israel, seu povo. O teu nome, Senhor, permanece para sempre; a tua lembrança, por todas as gerações. O Senhor defende a causa do seu povo e terá compaixão dos seus servos. Os ídolos dos gentios não passam de ouro e prata; são obra das mãos do homem. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem; nem sequer há respiração na sua boca. Sejam iguais a eles, os que os fazem e todos os que neles confiam. Casa de Israel, bendizei o Senhor ! Casa de Aarão, bendizei o Senhor ! Casa de Levi, bendizei o Senhor ! Vós, que temeis o Senhor, bendizei o Senhor ! Bendito seja o Senhor, Deus de Sião, Ele que habita em Jerusalém! Aleluia!* Louvai o Senhor, porque Ele é bom, porque o seu amor é eterno! Louvai o Deus dos deuses, porque o seu amor é eterno! Louvai o Senhor dos senhores, porque o seu amor é eterno! Só Ele faz grandes maravilhas, porque o seu amor é eterno! Fez os céus com sabedoria, porque o seu amor é eterno! Estendeu a terra sobre as águas, porque o seu amor é eterno! Criou os grandes luzeiros, porque o seu amor é eterno! O Sol para presidir ao dia, porque o seu amor é eterno! A Lua e as estrelas para presidirem à noite, porque o seu amor é eterno! Feriu os primogénitos dos egípcios, porque o seu amor é eterno! Fez sair Israel do meio deles, porque o seu amor é eterno! Com a sua mão forte e o seu braço estendido, porque o seu amor é eterno! Dividiu ao meio o Mar dos Juncos, porque o seu amor é eterno! Fez passar Israel através dele, porque o seu amor é eterno! Afundou o Faraó e o seu exército, porque o seu amor é eterno! Conduziu o seu povo pelo deserto, porque o seu amor é eterno! Feriu grandes reis, porque o seu amor é eterno! Matou reis poderosos, porque o seu amor é eterno! Seon, rei dos amorreus, porque o seu amor é eterno! E Og, rei de Basan, porque o seu amor é eterno! Deu a terra deles como herança, porque o seu amor é eterno! Como herança a Israel, seu servo, porque o seu amor é eterno! Não se esqueceu de nós, na nossa humilhação, porque o seu amor é eterno! E livrou-nos dos nossos opressores, porque o seu amor é eterno! Ele dá alimento a todo o ser vivo, porque o seu amor é eterno! Louvai o Deus do céu, porque o seu amor é eterno! Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar, recordando-nos de Sião. Nos salgueiros das suas margens pendurámos as nossas harpas. Os que nos levaram para ali cativos pediam-nos um cântico; e os nossos opressores, uma canção de alegria: «Cantai-nos um cântico de Sião.» Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor, estando numa terra estranha? Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique ressequida a minha mão direita! Pegue-se-me a língua ao paladar, se eu não me lembrar de ti, se não fizer de Jerusalém a minha suprema alegria! Lembra-te, Senhor, do que fizeram os filhos de Edom, no dia de Jerusalém, quando gritavam: «Arrasai-a! Arrasai-a até aos alicerces!» Cidade da Babilónia devastadora, feliz de quem te retribuir com o mesmo mal que nos fizeste! Feliz de quem agarrar nas tuas crianças e as esmagar contra as rochas! De David.* Dou-te graças, Senhor, de todo o coração, na presença dos poderosos te hei-de louvar. Inclino-me voltado para o teu santo templo e louvarei o teu nome, pela tua bondade e pela tua fidelidade, porque foste mais além das tuas promessas. Quando te invoquei, atendeste-me e aumentaste as forças da minha alma. Todos os reis da terra te louvarão, Senhor, ao ouvirem as palavras da tua boca. Celebrarão os caminhos do Senhor, pois grande é a sua glória. O Senhor é excelso, mas repara no humilde e reconhece de longe o soberbo. Quando estou em angústia, conservas-me a vida; estendes a mão contra a ira dos meus inimigos, e a tua mão direita me salva. O Senhor tudo fará por mim! Ó Senhor, o teu amor é eterno! Não abandones a obra das tuas mãos! Ao director do coro. Salmo de David.*Senhor, Tu examinaste-me e conheces-me, sabes quando me sento e quando me levanto; à distância conheces os meus pensamentos. Vês-me quando caminho e quando descanso; estás atento a todos os meus passos. Ainda a palavra me não chegou à boca, já Tu, Senhor, a conheces perfeitamente. Tu me envolves por todo o lado e sobre mim colocas a tua mão. É uma sabedoria profunda, que não posso compreender; tão sublime, que a não posso atingir! Onde é que eu poderia ocultar-me do teu espírito? Para onde poderia fugir da tua presença? Se subir aos céus, Tu lá estás; se descer ao mundo dos mortos, ali te encontras. Se voar nas asas da aurora ou for morar nos confins do mar mesmo aí a tua mão há-de guiar-me e a tua direita me sustentará. Se disser: «Talvez as trevas me possam esconder, ou a luz se transforme em noite à minha volta», nem as trevas me ocultariam de ti e a noite seria, para ti, brilhante como o dia. A luz e as trevas seriam a mesma coisa! Tu modelaste as entranhas do meu ser e formaste-me no seio de minha mãe. Dou-te graças por tão espantosas maravilhas; admiráveis são as tuas obras. Quando os meus ossos estavam a ser formados, e eu, em segredo, me desenvolvia, tecido nas profundezas da terra, nada disso te era oculto. Os teus olhos viram-me em embrião. Tudo isso estava escrito no teu livro. Todos os meus dias estavam modelados, ainda antes que um só deles existisse. Como são insondáveis, ó Deus, os teus pensamentos! Como é incalculável o seu número! Se os quisesse contar, seriam mais do que a areia; e, se pudesse chegar ao fim, estaria ainda contigo. Ó Deus, faz com que os ímpios desapareçam; afasta de mim os homens sanguinários. Aqueles que maldosamente se revoltam, em vão se levantam contra ti. Não hei-de eu, Senhor, odiar os que te odeiam? Não hei-de aborrecer os que se voltam contra ti? Odeio-os com toda a minha alma. Considero-os como meus inimigos. Examina-me, Senhor, e vê o meu coração; põe-me à prova para saber os meus pensamentos. Vê se é errado o meu caminho e guia-me pelo caminho eterno. Ao director do coro. Salmo de David. Livra-me, Senhor, do homem mau; defende-me do homem violento: dos que planeiam o mal em seu coração e todos os dias promovem discórdias. Afiam a sua língua como serpentes e escondem nos lábios veneno de víboras. Protege-me, Senhor, das mãos do ímpio; defende-me dos homens violentos, que preparam tropeços para os meus pés. Os insolentes escondem armadilhas contra mim; estenderam uma rede à beira do caminho; armaram laços para eu cair. Disse ao Senhor, «Tu és o meu Deus!» Escuta, Senhor, a voz da minha súplica. Senhor, meu Deus, meu poderoso defensor, protege a minha cabeça no dia do combate. Não escutes, Senhor, os desejos do ímpio; não permitas que se realizem os seus planos. Não mais levantem a cabeça os que me cercam; caia sobre eles a malícia dos seus lábios. Chovam sobre eles carvões acesos; sejam atirados para covas donde não mais se levantem. Que os caluniadores não estejam firmes na terra; que a desgraça persiga os homens violentos. Senhor, eu sei que defendes a causa do indigente e fazes justiça ao pobre. Por isso, os justos louvarão o teu nome e os homens rectos viverão na tua presença. Salmo de David.* Por ti eu clamo, Senhor, vem depressa socorrer-me! Escuta a minha voz, quando te invoco. Suba junto de ti a minha oração como incenso, e as minhas mãos erguidas como oferenda da tarde. Senhor, põe uma sentinela de guarda à minha boca, defende a porta dos meus lábios. Não me deixes escorregar para a maldade nem praticar a iniquidade com os ímpios, nem tomar parte em seus lautos banquetes. Castigue-me o justo e repreenda-me com misericórdia; mas que o óleo do pecador nunca me perfume a cabeça. Não cessarei de orar contra os seus malefícios. Os seus chefes foram lançados contra o rochedo, mesmo ouvindo as minhas palavras verdadeiras. Como em terra que é cavada e lavrada, os seus ossos dispersos foram engolidos pelo Abismo. Para ti, Senhor, se voltam os meus olhos; em ti me refugio, não me abandones. Protege-me do laço que me estenderam; livra-me das intrigas dos que praticam o mal. Que os ímpios caiam nas suas próprias armadilhas e que eu possa passar ileso. Poema. De David, quando estava na caverna. Oração. Em alta voz eu clamo ao Senhor, em alta voz suplico ao Senhor. Exponho diante dele as minhas queixas, dou-lhe a conhecer a minha angústia. Quando me falta o ânimo, Tu conheces o meu caminho. Mas, no caminho que eu trilhava, esconderam uma armadilha contra mim. Olha à minha volta e vê: não há quem se interesse por mim. Não tenho onde me refugiar, não há quem cuide de mim! Clamo por ti, Senhor, e digo: «Tu és o meu refúgio, a minha herança na terra dos vivos!» Presta atenção aos meus lamentos, porque estou sem forças; livra-me dos meus perseguidores, que são mais fortes do que eu. Tira-me desta prisão e darei graças ao teu nome. Os justos hão-de rodear-me, porque foste bondoso para comigo. Salmo de David.* Escuta, Senhor, a minha oração; pela tua fidelidade, atende as minhas súplicas; responde-me, pela tua justiça. Não chames a contas o teu servo, pois ninguém é justo na tua presença. Os meus inimigos perseguiram-me e deitaram-me por terra; obrigaram-me a viver nas trevas, como os que já morreram há muito tempo. O meu espírito desfalece dentro de mim, gelou-se-me o coração dentro do peito. Recordo os dias de outrora, medito em todas as tuas obras e penso nas maravilhas que realizaste. Ergo para ti as minhas mãos; como terra seca, a minha alma está sedenta de ti. Senhor, responde-me depressa; estou prestes a desfalecer! Não escondas de mim a tua face, pois seria como os que descem à sepultura. Faz que eu sinta, desde a manhã, a tua bondade, porque é em ti que eu confio. Mostra-me o caminho a seguir, porque para ti elevo a minha alma. Livra-me, Senhor, dos meus inimigos, porque em ti me refugio. Ensina-me a cumprir a tua vontade, pois Tu és o meu Deus. Que o teu espírito bondoso me conduza pelo caminho recto. Senhor, por amor do teu nome, conserva-me a vida! Pela tua bondade, tira a minha alma da angústia! Pela tua fidelidade, esmaga os meus inimigos; destrói todos os que atormentam a minha alma, porque eu sou teu servo. De David* Bendito seja o Senhor, meu rochedo, que adestra as minhas mãos para a luta e os meus dedos para o combate! Ele é o meu auxílio e fortaleza, o meu baluarte e o meu refúgio; Ele é o meu escudo e o meu abrigo, que subjuga os povos aos meus pés. Senhor, que é o homem, para cuidares dele, e o filho do homem, para nele pensares? O homem é semelhante ao sopro da brisa; os seus dias passam como uma sombra. Senhor, abaixa os céus e desce; toca nos montes para que eles fumeguem;lança os teus raios e dispersa os inimigos; atira as tuas setas e afugenta-os. Estende lá do alto a tua mão, arranca-me das águas caudalosas e liberta-me do poder dos inimigos. A sua boca só diz mentiras e com a sua mão direita juram falso. Quero cantar-te, ó Deus, um cântico novo; cantar-te-ei salmos com a harpa de dez cordas. Tu, que concedes aos reis a vitória, e livras o teu servo David da espada mortal, livra-me da espada traiçoeira, do poder dos inimigos. A sua boca só diz mentiras e com a sua mão direita juram falso. Sejam os nossos filhos, desde tenra idade, como plantas novas em crescimento; e as nossas filhas, como colunas angulares esculpidas para ornamentar palácios. Que os nossos celeiros estejam repletos de abundantes e variados frutos; multipliquem-se por milhares os nossos rebanhos, por dezenas de milhar nos nossos campos. Venham bem carregados os nossos animais. Não haja brechas nem fugas, nem gritos de alarme nas nossas ruas. Feliz o povo a quem isto acontece! Feliz o povo, cujo Deus é o Senhor ! Hino de David.* Exaltarei a tua grandeza, ó meu rei e meu Deus; hei-de bendizer o teu nome para sempre. Todos os dias te bendirei; louvarei o teu nome para sempre. O Senhor é grande e digno de todo o louvor; a sua grandeza é insondável. Cada geração contará à seguinte o louvor das tuas obras e todos proclamarão as tuas proezas. Anunciarão o esplendor da tua majestade e eu meditarei sobre as tuas maravilhas. Eles contarão o poder das tuas obras e eu proclamarei a tua grandeza. Assim celebrarão a memória da tua imensa bondade e glorificarão a tua justiça. O Senhor é clemente e compassivo, é paciente e misericordioso. O Senhor é bom para com todos; a sua ternura repassa todas as suas obras. Louvem-te, Senhor, todas as tuas criaturas; todos os teus fiéis te bendigam. Dêem a conhecer a glória do teu reino e anunciem os teus feitos poderosos, para mostrar aos homens as tuas proezas e o esplendor glorioso do teu reino. O teu reino é um reino para toda a eternidade e o teu domínio estende-se por todas as gerações. O Senhor ergue todos os que caem e reanima todos os abatidos. Todos têm os olhos postos em ti, e, a seu tempo, Tu lhes dás o alimento. Abres com largueza a tua mão e sacias os desejos de todos os viventes. O Senhor é justo em todos os seus caminhos e misericordioso em todas as suas obras. O Senhor está perto de todos os que o invocam, dos que o invocam sinceramente. Ele realiza os desejos dos que o temem, escuta os seus gemidos e salva-os. O Senhor protege todos os que o amam, mas extermina todos os ímpios. Cante a minha boca os louvores do Senhor, e todo o ser vivo bendiga o seu santo nome para sempre! Aleluia!* Louva, ó minha alma, o Senhor ! Hei-de louvar o Senhor, enquanto viver; enquanto existir, hei-de cantar hinos ao meu Deus. Não ponhais a vossa confiança nos poderosos, nem nos homens, pois eles não podem salvar. Mal deixam de respirar, regressam ao pó da terra; nesse mesmo dia acabam os seus projectos. Feliz de quem tem por auxílio o Deus de Jacob, de quem põe a sua esperança no Senhor, seu Deus. Ele criou os céus, a terra e o mar e tudo o que neles existe. Ele é eternamente fiel à sua palavra; salva os oprimidos, dá pão aos que têm fome; o Senhor liberta os prisioneiros. O Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos; o Senhor ama o homem justo. O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores. O Senhor reinará eternamente! O teu Deus, ó Sião, reinará por todas as gerações! Aleluia!* Aleluia!* Louvai o Senhor, porque é bom cantar! É agradável e é justo louvar o nosso Deus. O Senhor restaura Jerusalém e reúne os dispersos de Israel. Ele cura os de coração atribulado e trata-lhes as feridas! Ele fixa o número das estrelas e chama a cada uma pelo seu nome. Grande e poderoso é o nosso Deus; a sua sabedoria não tem limites. O Senhor ampara os humildes, mas abate os malfeitores até ao chão. Cantai ao Senhor com gratidão; cantai ao nosso Deus ao som da harpa. Ele cobre de nuvens o céu e para a terra prepara as chuvas, que fazem crescer as ervas nos montes. Ele dá de comer aos animais e aos filhotes dos corvos, quando gritam. Não é o vigor do cavalo que lhe agrada, nem é a força do guerreiro que Ele prefere. Ao Senhor agradam os que o temem, aqueles que confiam no seu amor. Glorifica, Jerusalém, o Senhor; louva, Sião, o teu Deus. Ele reforçou os ferrolhos das tuas portas e abençoou os teus filhos dentro de ti; Ele estabeleceu a paz nas tuas fronteiras e saciou-te com a flor do trigo. Ele manda as suas ordens à terra, e a sua palavra corre velozmente; faz cair a neve, branca como a lã, espalha a geada como se fosse cinza; faz cair o granizo como migalhas de pão; com o seu frio, quem pode resistir? Envia a sua palavra e o gelo derrete-se; faz soprar o vento e correm as águas. Ele revela os seus planos a Jacob, os seus preceitos e as suas sentenças a Israel. Não fez assim com nenhum outro povo, não lhes deu a conhecer os seus mandamentos. Aleluia!* Aleluia!* Louvai ao Senhor do alto dos céus; louvai-o nas alturas! Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos celestes! Louvai-o, Sol e Lua; louvai-o, estrelas luminosas! Louvai-o, alturas dos céus e águas que estais acima dos céus! Louvem todos o nome do Senhor, porque Ele deu uma ordem e tudo foi criado; Ele fixou tudo pelos séculos sem fim e estabeleceu leis a que não se pode fugir! Da terra, louvai o Senhor; monstros do mar e todos os abismos; fogo e granizo, neve e neblina; vento tempestuoso, que obedece à sua palavra; montanhas e todas as colinas; árvores de fruto e todos os cedros; feras e todos os rebanhos; répteis e aves que voam! Louvai-o, reis do mundo e todos os povos; todos os chefes e governantes do mundo; os jovens e as donzelas, os velhos e as crianças! Louvem todos o nome do Senhor, pois só o seu nome é sublime e a sua glória está acima do céu e da terra! Ele engrandeceu a força do seu povo, Ele é a honra de todos os seus fiéis, dos filhos de Israel, seu povo amigo. Aleluia!* Aleluia!* Cantai ao Senhor um cântico novo; louvai-o na assembleia dos fiéis! Alegre-se Israel no seu criador; regozije-se o povo de Sião no seu rei! Louvem o seu nome com danças; cantem-lhe ao som de harpas e tambores! O Senhor ama o seu povo e honra os humildes com a vitória! Exultem de alegria os fiéis pelo triunfo de Deus e cantem jubilosos em seus leitos! Entoem bem alto os louvores de Deus, com a espada de dois gumes na mão, para exercerem a vingança entre as nações e darem o castigo aos povos; para prenderem os seus reis com correntes, e os seus nobres, com algemas de ferro; para lhes aplicarem a sentença que estava determinada. Esta é a glória de todos os seus fiéis. Aleluia!* Aleluia!* Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no seu majestoso firmamento! Louvai-o pelos seus feitos valorosos; louvai-o por todas as suas grandes proezas! Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o com a harpa e a cítara! Louvai-o com tambores e danças; louvai-o com instrumentos de corda e flautas! Louvai-o com címbalos sonoros; louvai-o com címbalos vibrantes! Tudo o que respira louve o Senhor ! Aleluia!* Provérbios de Salomão, filho de David, rei de Israel, para aprender a sabedoria e a instrução; para compreender as palavras sensatas, para adquirir as lições do bom senso: justiça, equidade e rectidão; para dar aos simples o discernimento e ao jovem, conhecimento e reflexão. Que o sábio escute e aumentará o seu saber; e o homem prudente adquirirá perspicácia, para compreender provérbios e alegorias, máximas dos sábios e seus enigmas. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Os insensatos desprezam o saber e a instrução. Ouve, meu filho, as instruções de teu pai e não desprezes os ensinamentos de tua mãe, pois serão uma coroa de adorno para a tua cabeça e um colar para o teu pescoço. Meu filho, se os malfeitores te quiserem seduzir, não condescendas com eles! Se te disserem: «Vem connosco, façamos emboscadas, para derramar sangue, armemos ciladas ao inocente, mesmo sem motivo, devoremo-lo vivo, como a morada dos mortos, e inteiro, como aquele que desce à cova. Juntaremos toda a espécie de coisas preciosas e encheremos as nossas casas de despojos; tu terás a tua parte como nós, e teremos uma bolsa comum para todos!» Não andes com eles, meu filho, afasta os teus pés das suas veredas, porque os seus passos correm para o mal, e apressam-se a derramar sangue. Debalde se lança a rede diante dos olhos das aves. Eles armam emboscadas, que são contra si mesmos, e atentam contra as suas próprias vidas. Tal é a sorte do homem, dominado pela ganância, pois ela tira a vida àquele que se lhe entrega. A sabedoria clama nas ruas, eleva a sua voz nas praças, grita sobre os muros, faz ouvir sua voz à entrada das portas da cidade: «Até quando, ó simples, amareis a ingenuidade? Até quando os néscios se deleitarão em zombar e os insensatos odiarão o saber? Convertei-vos às minhas admoestações; espalharei sobre vós o meu espírito, ensinar-vos-ei as minhas palavras. Mas já que vos chamei e vós não respondestes, estendi a mão e ninguém prestou atenção; já que desprezastes todos os meus conselhos e não destes ouvidos às minhas repreensões, também eu me rirei da vossa ruína, e zombarei, quando vos sobrevier o que temíeis, quando cair sobre vós o terror, como um temporal, quando vos surpreender a desgraça, como um furacão e quando vierem sobre vós a tribulação e a angústia. Então chamar-me-ão, mas não responderei, procurar-me-ão, mas não me encontrarão. Porque aborreceram o saber e não escolheram o temor do Senhor; repeliram os meus conselhos e desprezaram todas as minhas repreensões; comerão, pois, do fruto das suas obras, e ficarão fartos dos seus conselhos. A negligência dos ingénuos causar-lhes-á a morte e o descuido dos insensatos perdê-los-á. Mas aquele que me ouvir, viverá tranquilo, seguro, sem receio de mal algum.» Meu filho, se receberes as minhas palavras e guardares cuidadosamente os meus mandamentos, prestando o teu ouvido à sabedoria, e inclinando o teu coração ao entendimento; se invocares a inteligência e fizeres apelo ao entendimento, se a buscares como se procura a prata e a pesquisares como um tesouro escondido, então, compreenderás o temor do Senhor e chegarás ao conhecimento de Deus. Porque o Senhor é quem dá a sabedoria e da sua boca procedem o saber e o entendimento. Ele reserva a salvação para os rectos e é um escudo para os que procedem honestamente. Protege os caminhos dos justos e dirige os passos dos seus fiéis. Então, compreenderás a justiça e a equidade, a rectidão e todos os caminhos que conduzem ao bem; pois a sabedoria entrará no teu coração e o conhecimento será para ti uma delícia. A reflexão te guardará e o entendimento amparar-te-á, para te livrar do mau caminho e do homem que diz coisas perversas, dos que abandonam o caminho recto e andam por caminhos tenebrosos, dos que se alegram em fazer o mal e se regozijam em perversidades, daqueles cujos caminhos são tortuosos e se extraviam por veredas sinuosas; para te preservar da mulher alheia, da estranha que usa palavras sedutoras, que abandona o companheiro da sua juventude e esqueceu a aliança do seu Deus. A sua casa resvala para a morte, e os seus caminhos, para a região das sombras. Todos os que têm trato com ela não voltarão atrás nem encontrarão as veredas da vida. Portanto, tu caminharás pela senda dos bons e seguirás o caminho dos justos, porque os homens rectos habitarão a terra e os homens íntegros nela permanecerão. Os ímpios, porém, serão arrancados da terra e dela os traidores serão exterminados. Meu filho, não te esqueças dos meus ensinamentos e guarda no teu coração os meus preceitos, porque eles te acrescentarão longos dias, anos de vida e prosperidade; não se afastem de ti o amor e a fidelidade! Prende-os como adorno ao teu peito, regista-os no livro do teu coração. Assim, obterás graça e consideração diante de Deus e dos homens. Confia no Senhor, de todo o teu coração, e não te fies na tua própria inteligência! Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos, teme o Senhor e evita o mal. Isto será saúde para o teu corpo e refrigério para os teus ossos. Honra o Senhor com os teus haveres e com as primícias de todos os teus rendimentos. Então, os teus celeiros encher-se-ão de trigo, e os teus lagares transbordarão de vinho. Meu filho, não rejeites a correcção do Senhor, nem te irrites quando Ele te repreender, pois o Senhor castiga aquele a quem ama, como um pai a um filho querido. Feliz o homem que encontrou a sabedoria e adquiriu a inteligência, porque a sua conquista vale mais que a prata, e o seu lucro é melhor que o ouro fino. Ela é mais preciosa do que as pérolas e nada do que possas desejar lhe será igual. Na mão direita sustenta uma longa vida, e na esquerda, riquezas e glória. Os seus caminhos são deliciosos e são tranquilas todas as suas veredas. É árvore da Vida para aqueles que a alcançam; felizes daqueles que a possuírem. O Senhor fundou a terra com sabedoria e ordenou os céus com inteligência. Pelo seu saber foram abertos os abismos, e as nuvens destilam o orvalho. Meu filho, guarda a ponderação e a prudência, não as percas de vista. Elas serão a vida da tua alma e um adorno para o teu peito. Então, percorrerás com segurança o teu caminho, e os teus pés não tropeçarão. Quando te deitares, não terás medo; repousarás e o teu sono será agradável. Não recearás o terror imprevisto, nem a ruína reservada aos ímpios. Pois o Senhor estará ao teu lado e defenderá o teu pé da armadilha. Não negues um benefício a quem dele precisa, se estiver nas tuas mãos poder concedê-lo. Não digas ao teu próximo: «Vai, e volta depois, amanhã te darei», quando o puderes logo atender. Não maquines o mal contra teu próximo, quando ele deposita confiança em ti. Não litigues contra ninguém, sem motivo, quando não te fez mal algum. Não invejes o homem violento, nem adoptes o seu procedimento, porque o Senhor abomina o homem perverso, mas reserva para os rectos a sua intimidade. A maldição do Senhor cai sobre a casa do ímpio, mas Ele abençoa a morada dos justos. Ele escarnece dos escarnecedores, mas concede a sua graça aos humildes. A glória será a herança dos sábios, mas os insensatos suportarão a ignomínia. Escutai, meus filhos, a instrução paterna, estai atentos para adquirirdes a inteligência. Porque é boa a doutrina que vos ensino, não abandoneis os meus ensinamentos. Também eu fui um filho querido de meu pai, amado e estremecido por minha mãe. Ele deu-me este conselho: «Que o teu coração conserve as minhas palavras; guarda os meus preceitos e viverás. Adquire sabedoria, adquire inteligência, não te esqueças nem te desvies dos meus conselhos. Não abandones a sabedoria e ela te guardará; ama-a e ela te protegerá. Eis o princípio da sabedoria: adquire a sabedoria! Mesmo à custa dos teus bens, adquire a inteligência! Tem-na em grande estima, e ela te exaltará, glorificar-te-á, se a abraçares. Colocará sobre a tua cabeça uma coroa formosa, e cingir-te-á com um magnífico diadema.» Escuta, meu filho, recebe as minhas palavras e multiplicar-se-ão os anos da tua vida. Eu te instruo no caminho da sabedoria e te encaminho pelas sendas da justiça. Ao caminhares, não serão inseguros os teus passos; se correres, não tropeçarás. Agarra-te bem à disciplina, não a deixes; guarda-a, porque ela é a tua vida. Não te metas pelas veredas dos ímpios, não vás pelo caminho dos maus. Evita-o, não passes por ele, desvia-te e abandona-o. Eles não dormem, sem terem praticado o mal; não podem conciliar o sono, sem fazerem cair alguém. Comem o pão da maldade e bebem o vinho da violência. Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia. O caminho dos ímpios é tenebroso, eles não vêem onde vão tropeçar. Meu filho, escuta as minhas palavras, inclina o teu ouvido aos meus conselhos. Que eles não se afastem dos teus olhos; conserva-os no íntimo do teu coração, porque são vida para aqueles que os encontram, saúde para todo o corpo. Vela com todo o cuidado sobre o teu coração, porque dele jorram as fontes da vida. Preserva-te da linguagem enganosa, afasta de ti a maledicência. Os teus olhos olhem sempre em frente e a tua vista preceda os teus passos. Aplana o trilho onde pões os pés, e sejam firmes todos os teus caminhos! Não te desvies nem para a direita, nem para a esquerda e afasta os teus pés do mal. Meu filho, atende à minha sabedoria, presta atenção aos meus ensinamentos, a fim de guardares a prudência, e conservares a ciência nos teus lábios. Os lábios da mulher estranha destilam mel e a sua boca é mais suave que o azeite. Mas o seu fim é mais amargo que o absinto, cortante como a espada de dois gumes. Os seus pés escorregam para a morte, e os seus passos levam à região dos mortos. Ela não presta atenção ao caminho da vida, os seus passos extraviam-se, sem saber para onde. E agora escuta-me, pois, meu filho, e não te afastes das palavras da minha boca. Desvia dela o teu caminho e não te aproximes da porta da sua casa, para não entregares a estranhos a tua honra, e os teus anos a gente implacável; para que os estranhos não enriqueçam com os teus haveres e o fruto dos teus trabalhos não vá para casa alheia. Por fim, uma vez consumida a tua carne e o teu corpo ficarias a gemer. Então, dirias: «Porque odiei a disciplina e o meu coração desdenhou a admoestação? Porque não dei atenção aos que me ensinavam, nem dei ouvidos aos meus educadores? Quase cheguei ao cúmulo da desgraça no meio da assembleia da comunidade.» Bebe da água da tua cisterna e da água que jorra do teu poço. Deverão derramar-se por fora as tuas fontes e perder-se pelas praças as águas dos teus arroios? Sejam somente para ti e não tenham parte nelas os estranhos. Bendita seja a tua fonte! Regozija-te com a companheira da tua juventude, corça amorosa, gazela encantadora. Inebriem-te sempre os seus encantos e as suas carícias sejam sempre o teu enlevo. Meu filho, porque te deixas enganar pela mulher estranha e repousas no seio de uma desconhecida? O Senhor olha atentamente para os caminhos do homem e observa todos os seus passos. O ímpio é presa das suas próprias iniquidades, é ligado com as cadeias dos seus pecados. Morrerá por falta de disciplina e perder-se-á pelo excesso da sua loucura. Meu filho, se ficaste fiador do teu próximo, se estendeste a mão a um estranho, se te ligaste com as palavras dos teus lábios e ficaste preso pelo teu próprio compromisso, procede assim, meu filho, para te livrares, pois caíste nas mãos do teu próximo: vai, insiste e incomoda o teu próximo. Não concedas sono aos teus olhos, nem repouso às tuas pálpebras. Salva-te como a gazela das mãos do caçador e como o pássaro do laço que o prende. Vai, ó preguiçoso, ter com a formiga, observa o seu proceder e torna-te sábio. Ela não tem guia, nem capataz, nem mestre; no Verão, faz as suas provisões; no tempo da ceifa, junta o seu alimento. Até quando dormirás tu, ó preguiçoso? Quando te levantarás do teu sono? Dormes um pouco, outro pouco dormitas, outro pouco cruzas as mãos para dormires; a indigência cai sobre ti como um salteador, e a pobreza, como um homem armado. É um homem depravado e um iníquo aquele que caminha com a perversidade na boca. Pisca os olhos, bate com os pés, faz sinais com os dedos; tem o coração cheio de maldade, está sempre a maquinar o mal e não cessa de semear a discórdia. Por isso, a ruína virá sobre ele, de improviso e, num momento, ficará arruinado, sem remédio. Seis são as coisas que o Senhor aborrece, e sete as que a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina projectos iníquos, pés apressados para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia discórdias entre irmãos. Meu filho, guarda os preceitos do teu pai e não desprezes os ensinamentos da tua mãe. Trá-los constantemente sobre o coração e ligados em volta do pescoço. Servir-te-ão de guia no teu caminho, velarão por ti, quando dormires, e falar-te-ão, quando despertares. Na verdade, o preceito é uma lâmpada, o ensinamento é uma luz e a correcção é o caminho da vida. Eles te preservarão da mulher perversa e da língua aliciante da mulher estranha. Não cobices em teu coração a sua formosura nem te deixes prender dos seus olhares. Porque à meretriz basta um pedaço de pão, mas a mulher adúltera quer uma vida preciosa. Porventura pode um homem esconder fogo no seu seio, sem que as suas vestes se inflamem? Ou pode alguém caminhar sobre brasas, sem que os seus pés se queimem? Assim é quem se aproxima da mulher do seu próximo; se lhe tocar, não ficará impune. Não é grande a culpa do ladrão, se rouba quando tem fome; mas, se for apanhado, restituirá sete vezes mais e entregará todos os bens da sua casa. Quem comete adultério é um insensato; causa a sua ruína quem assim procede. Só encontrará infâmia e ignomínia e o seu opróbrio jamais se apagará. Porque o marido, furioso e ultrajado, não lhe perdoará no dia da vingança; não aceitará compensação alguma, nem receberá presentes, como reparação, por grandes que eles sejam. Meu filho, guarda as minhas palavras, conserva dentro de ti os meus preceitos. Observa os meus mandamentos e viverás; guarda-os como a menina dos teus olhos. Prende-os aos teus dedos, regista-os no livro do teu coração. Diz à sabedoria: «Tu és minha irmã», e chama à inteligência tua parente, para que te guardem da mulher estranha, da desconhecida que tem palavras sedutoras. Estava, um dia, à janela da minha casa a olhar por entre as frestas. Vi alguns rapazes ingénuos e, no meio deles, um jovem insensato. Passando pela rua, junto da esquina onde ela se encontrava, dirigiu-se para casa dela. Era ao anoitecer, quando já escurecia e se adensavam as trevas da noite. Eis que essa mulher lhe sai ao encontro, vestida como uma prostituta, com a maldade no coração, provocadora e insolente; seus pés não podem parar dentro de casa. Umas vezes na rua, outras na praça, ou nas esquinas, está sempre à espreita. Apanha o jovem e beija-o e, sem vergonha, diz-lhe: «Prometi sacrifícios de comunhão, e hoje cumpri o meu voto. Por isso saí ao teu encontro, à tua procura e eis que te achei. Adornei a minha cama de colchas, de tecidos bordados, e estendi lençóis de linho do Egipto. Perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo. Vem! Embriaguemo-nos de amor até ao amanhecer, gozemos as delícias do prazer, porque o meu marido não está em casa; partiu para uma longa viagem, levou consigo a bolsa cheia de dinheiro e só voltará, lá para a Lua-cheia.» À força de palavras foi-o seduzindo e arrastou-o com as lisonjas dos seus lábios. Ele seguiu-a imediatamente, como um boi que é levado para o matadouro, como um veado apanhado na armadilha, até que uma flecha lhe trespassa o fígado; é como a ave que se precipita para o laço, sem saber que se trata dum perigo para a sua vida. E agora, meus filhos, escutai-me, prestai atenção às minhas palavras. Que o teu coração não se desvie para os caminhos dela; não te extravies nas suas veredas, porque a muitos fez cair trespassados, muitas foram as suas vítimas. A sua casa é caminho para a sepultura, que conduz à mansão da morte. Eis que a sabedoria clama repetidas vezes e a inteligência faz ouvir a sua voz. De pé, sobre as colinas que dominam o caminho, e nas encruzilhadas das veredas; junto às portas da cidade e nas vias de acesso, ela levanta a sua voz, dizendo: «A vós, homens, eu apelo, a minha voz dirige-se aos filhos dos homens. Ó ingénuos, aprendei a prudência, e vós, ó insensatos, adquiri a inteligência. Prestai atenção! Vou anunciar-vos coisas importantes e os meus lábios abrir-se-ão para proclamar o que é recto. Sim, a minha boca proclama a verdade e os meus lábios aborrecem a iniquidade. Todas as palavras da minha boca são justas, nelas não há falsidade nem perversidade. São claras para os que têm inteligência e rectas para quem adquiriu o saber. Acolhei a minha instrução e não o dinheiro; o conhecimento é mais precioso do que o ouro fino; porque a sabedoria vale mais que as pérolas, e tudo quanto há de apetecível não se lhe pode comparar. Eu, a sabedoria, habito com a prudência, possuo o conhecimento e a reflexão. O temor do Senhor detesta o mal. E eu detesto o orgulho, a arrogância, a má conduta e a boca mentirosa. A mim pertencem o conselho e a equidade, a inteligência e a fortaleza. Por mim reinam os reis, e os legisladores decretam a justiça; por mim governam os príncipes e os nobres dão sentenças justas. Amo aqueles que me amam; quem me procura, encontrar-me-á. Estão comigo a riqueza e a glória, os bens duradouros e a justiça. O meu fruto é mais precioso que o ouro mais fino; o meu lucro vale mais que a prata mais pura. Eu caminho pelas sendas da justiça e ando pelas vias do direito, para enriquecer os que me amam e encher de riqueza os seus tesouros. O Senhor criou-me, como primícias das suas obras, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui formada, desde as origens, antes dos primórdios da terra. Ainda não havia os abismos e eu já tinha sido concebida; ainda as fontes das águas não tinham brotado; antes que as montanhas fossem implantadas, antes de haver outeiros, eu já tinha nascido. Ainda Ele não tinha criado a terra nem os campos, nem os primeiros elementos do mundo. Quando Ele formava os céus, ali estava eu; quando colocava a abóbada por cima do abismo, quando condensava as nuvens, nas alturas, quando continha as fontes do abismo, quando fixava ao mar os seus limites, para que as águas não ultrapassassem a sua orla; quando assentou os fundamentos da terra, eu estava com Ele como arquitecto, e era o seu encanto, todos os dias, brincando continuamente em sua presença; brincava sobre a superfície da Terra, e as minhas delícias é estar junto dos seres humanos. Agora, meus filhos, ouvi-me: Felizes os que seguem os meus caminhos. Ouvi as minhas instruções para serdes sábios; não queirais rejeitá-las. Feliz o homem que me ouve e que vela todos os dias à minha porta e é assíduo no limiar da minha casa! Aquele que me encontrar, encontrará a vida e alcançará o favor do Senhor. Mas quem me ofender, prejudica-se a si mesmo e os que me odeiam amam a morte. A sabedoria edificou a sua casa, e levantou as suas sete colunas. Abateu os seus animais, misturou o seu vinho e dispôs a sua mesa. Enviou as suas servas para que anunciassem nos pontos mais elevados da cidade: «Quem for simples venha a mim!» Aos insensatos mandou dizer: «Vinde, comei do meu pão e bebei do vinho que preparei; deixai a insensatez e vivereis; andai pelos caminhos da inteligência.» Aquele que corrige o zombador, atrai sobre si o escárnio; aquele que repreende o ímpio, atrai sobre si a desonra. Não repreendas o zombador, porque ele te odiará. Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber. O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e a inteligência é a ciência dos santos. Por mim se multiplicarão os teus dias e ser-te-ão acrescentados anos de vida. Se fores sábio, para teu proveito o serás, mas, se fores cínico, só tu sofrerás as consequências. A Senhora Insensatez é irrequieta, uma estulta que não sabe nada. Ela senta-se à porta da sua casa, sobre uma cadeira, no lugar mais alto da cidade, para convidar os viandantes que seguem rectamente o seu caminho: «Quem é simples venha cá!» E aos insensatos diz: «As águas roubadas são mais doces e o pão, comido às escondidas, é mais saboroso.» Esses ignoram que ali está a morte e que os seus convidados jazem nas profundezas da mansão dos mortos. O filho sábio é a alegria do pai, e o insensato é a tristeza da mãe. Os tesouros mal adquiridos de nada servem, mas a justiça livra da morte. O Senhor não deixa o justo passar fome, mas repele a cobiça do ímpio. A mão preguiçosa empobrece, a mão diligente enriquece. Aquele que recolhe no Verão é um homem prudente; o que dorme no tempo da ceifa cobre-se de vergonha. A bênção desce sobre a cabeça do justo, mas a boca dos maus encobre a violência. A memória do justo será abençoada, o nome dos ímpios, porém, desaparecerá. O sábio de coração acata os preceitos, mas o insensato de língua cai em ruína. Aquele que anda na integridade, caminha com segurança, mas aquele que segue caminhos tortuosos cai em ruína. Aquele que pisca os olhos, provoca a dor; mas o que olha com franqueza, cura. A boca do justo é uma fonte de vida, porém, a do ímpio esconde a violência. O ódio provoca rixas, mas o amor encobre todas as faltas. A sabedoria encontra-se nos lábios do sábio; mas a vara é para as costas do insensato. Os sábios escondem o seu saber, mas a boca do insensato é um perigo iminente. A fortuna do rico é o seu baluarte, a miséria dos pobres é a sua ruína. O salário do justo conduz à vida e o ganho do ímpio conduz ao pecado. O que guarda a disciplina está no caminho da vida, mas o que despreza a repreensão, anda errado. Os lábios mentirosos escondem o ódio; aquele que espalha a calúnia é um insensato. O falador não evita o pecado; o que modera os seus lábios é um homem prudente. A língua do justo é prata finíssima, porém, nada vale o coração dos maus. Os lábios do justo alimentam a muitos, mas os néscios perecem por falta de entendimento. A bênção do Senhor é que enriquece, o nosso esforço nada lhe acrescenta. É um divertimento para o ímpio praticar o mal e, para o inteligente, cultivar a sabedoria. O que o ímpio teme, cairá sobre ele. Ao justo ser-lhe-á concedido o que deseja. Assim como passa a tormenta, assim desaparecerá o ímpio; mas o justo está firme para sempre. Como o vinagre nos dentes e o fumo nos olhos, assim é o preguiçoso para quem nele manda. O temor do Senhor prolonga os dias, mas os anos dos ímpios serão abreviados. A expectativa dos justos dá alegria, porém, a esperança dos ímpios desaparecerá. O caminho do Senhor é refúgio para o homem íntegro, mas é ruína para os que praticam a iniquidade. O justo jamais será abalado, mas os ímpios não habitarão a terra. A boca do justo exprime a sabedoria, mas a língua perversa será cortada. Os lábios do justo destilam benevolência, mas a boca dos ímpios, perversidade. A balança fraudulenta é abominável aos olhos do Senhor, mas o peso justo é-lhe agradável. Onde há soberba, há ignomínia, mas onde há humildade há também sabedoria. A integridade dos justos servir-lhes-á de guia, mas a perversidade dos maus arrastá-los-á à ruína. No dia da ira, a riqueza de nada serve, mas a justiça livra da morte. A justiça do homem íntegro aplana-lhe o caminho, mas o ímpio cai no abismo da sua impiedade. A justiça dos rectos salvá-los-á, mas os traidores serão presa da sua cobiça. Morto o ímpio, desaparece a sua esperança, e a expectativa dos iníquos perecerá. O justo liberta-se da angústia; e, em vez dele, cairá nela o malvado. Com a sua língua o ímpio arruína o seu próximo, mas os justos serão salvos pelo seu conhecimento. A cidade exulta com a felicidade dos justos e alegra-se com a perdição dos ímpios. A cidade prosperará com a bênção dos justos e será destruída pelas palavras dos ímpios. Quem despreza o seu próximo é um insensato; o homem prudente sabe calar-se. O perverso revela os segredos, mas encobre-os quem tem um coração leal. Por falta de governo, arruína-se o povo; onde há muitos conselheiros, aí haverá salvação. Quem fica por fiador de um estranho cairá na desventura, mas o que evita compromissos viverá tranquilo. A mulher formosa alcançará glória, e os homens diligentes alcançarão fortuna. O homem misericordioso faz bem a si mesmo, mas o cruel tortura o seu próprio corpo. O ímpio alcança um ganho fictício, mas o que semeia justiça tem certa a recompensa. O que observa a justiça caminha para a vida e o que pratica o mal vai para a morte. O Senhor abomina os de coração perverso, mas são-lhe agradáveis os que vivem na integridade. Na verdade, o iníquo não ficará impune, mas a descendência dos justos será salva. Anel de ouro em focinho de porco, tal é a mulher formosa, mas insensata. O desejo dos justos é unicamente o bem, mas o ímpio apenas pode esperar a ira. Uns dão generosamente e ficam mais ricos; outros poupam demais e vivem na pobreza. A alma generosa será cumulada de bens e aquele que dá com largueza, assim também receberá. O que esconde o trigo será amaldiçoado pelo povo, mas a bênção descerá sobre a cabeça dos que o vendem. O que procura o bem, obterá o favor; o que busca o mal será por ele oprimido. O que confia na sua riqueza cairá, mas os justos reverdecerão como a folhagem. O que perturba a sua casa, só herdará ventos; o insensato será escravo do sábio. O fruto do justo é uma árvore de Vida, e quem sabe cativar as pessoas é sábio. Se o justo, aqui na terra, recebe a sua paga, quanto mais o ímpio e o pecador! Aquele que ama a disciplina, ama o conhecimento, mas o que detesta a repreensão é um insensato. O homem de bem alcançará a benevolência do Senhor, mas Ele condenará o homem que maquina o mal. O homem não se pode firmar na impiedade, mas a raiz dos justos não será abalada. A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a indigna é uma doença para os seus ossos. Os pensamentos dos justos são rectos, mas os planos dos ímpios são fraudulentos. As palavras dos ímpios são ciladas mortais, mas a boca dos justos é a sua salvação. Os ímpios serão derrubados e não subsistirão, mas a casa dos justos permanecerá sempre firme. O homem é estimado pela sua prudência, mas o perverso de coração será desprezado. Mais vale o homem humilde, que sabe ganhar a vida, do que o arrogante, que não tem que comer. O justo cuida das necessidades do seu gado, mas as entranhas dos ímpios são cruéis. Aquele que cultiva a sua terra será saciado de pão, mas o que procura futilidades é um insensato. A cobiça do ímpio é uma rede de males, mas a raiz do justo é que dá fruto. O ímpio enreda-se nos pecados da língua, mas o justo liberta-se da angústia. O homem sacia-se com o fruto da sua boca: cada um recebe a recompensa, segundo a obra das suas mãos. Ao insensato parece recto o seu proceder, porém, o que é sábio escuta os conselhos. O louco mostra logo a sua ira, o homem circunspecto dissimula o ultraje. O que fala verdade, proclama a justiça; a testemunha falsa proclama a mentira. Há palradores que ferem como uma espada; porém, a língua dos sábios cura as feridas. A palavra verdadeira permanece firme para sempre; a língua mentirosa dura apenas um instante. No coração dos que maquinam o mal, há falsidade, mas aqueles que têm conselhos de paz, viverão na alegria. Nenhum mal atingirá o justo, mas os ímpios serão amaldiçoados. O Senhor abomina os lábios mentirosos, agradam-lhe, porém, os que dizem a verdade. O homem prudente encobre o seu saber, mas o coração dos insensatos proclama a sua loucura. A mão diligente dominará, mas a mão preguiçosa será escrava. A preocupação deprime o coração do homem, mas uma boa palavra restitui-lhe a alegria. O justo guia o seu próximo, mas o caminho dos ímpios faz com que eles se percam. O indolente não assará a presa que caçou; mas a diligência é uma riqueza preciosa para o homem. A vida está nas sendas da justiça, porém, o caminho tortuoso conduz à morte. O filho sábio é fruto da correcção paterna, mas o insolente não aceita a repreensão. O homem de bem comerá do fruto da sua boca, mas o apetite dos pérfidos alimenta-se de violência. Aquele que vigia a sua boca, guarda a sua vida; o que é imponderado no falar, busca a sua ruína. O preguiçoso cobiça, mas nada obtém; o desejo dos diligentes será satisfeito. O justo detesta a mentira, o ímpio espalha a calúnia e a desonra. A justiça protege o homem de vida íntegra, mas a maldade arruína o pecador. Há quem pareça rico, não tendo nada, e quem pareça pobre e possua grandes riquezas. A riqueza de um homem é resgate para a sua vida, mas o pobre não ouve ameaças. A luz do justo brilha alegremente; mas a lâmpada dos ímpios extinguir-se-á. O orgulho origina contendas; mas a sabedoria está com os que aceitam conselho. Os bens adquiridos à pressa, depressa desaparecem, mas quem acumula pouco a pouco enriquece. A esperança retardada aflige o coração, mas o desejo satisfeito é uma árvore de Vida. Aquele que menospreza a palavra, perder-se-á; mas o que respeita o mandamento, será recompensado. O ensinamento do sábio é uma fonte de vida para evitar os laços da morte. Uma inteligência sã alcança favor, mas é áspero o caminho dos traidores. O homem prudente age com discernimento, mas o insensato põe a descoberto a sua loucura. Um mensageiro malvado cai na desgraça, mas o enviado fiel traz a salvação. O que despreza uma advertência terá miséria e vergonha, mas o que aceita correcção será coroado de glória. O desejo satisfeito deleita a alma; fugir do mal é uma abominação para os insensatos. Aquele que anda com os sábios será sábio; o que acompanha os insensatos tornar-se-á mau como eles. A desgraça persegue os pecadores; a felicidade é a recompensa dos justos. O homem virtuoso deixa herança aos descendentes, mas a riqueza do pecador está reservada aos justos. O campo do pobre dá comida abundante, mas pode perder-se por falta de justiça. Aquele que poupa o chicote, odeia o seu filho; aquele que o ama, corrige-o sem demora. O justo come até se saciar, mas o ventre dos maus passa fome. A mulher sábia edifica a sua casa, a insensata derruba-a com as suas próprias mãos. Aquele que anda pelo caminho direito, teme o Senhor; o que anda pelo caminho tortuoso, despreza-o. Da boca do insensato brota a soberba, mas os lábios dos sábios são a sua protecção. Onde não há bois, a manjedoura está vazia; da força dos bois provém a abundância da colheita. A testemunha fiel não mente, a testemunha falsa profere mentiras. O insolente busca a sabedoria, mas em vão; para o prudente é fácil encontrar o conhecimento. Afasta-te do homem insensato: em seus lábios não encontrarás palavras sábias. A sabedoria do prudente está em conhecer o seu caminho; a loucura dos insensatos é um engano. O insensato ri-se do pecado; a benevolência mora entre os homens rectos. O coração conhece as suas próprias amarguras, e o estranho não partilha da sua alegria. A habitação dos ímpios será destruída, mas a tenda dos justos florescerá. Há caminhos que ao homem parecem rectos, e, no fim, conduzem à morte. Mesmo a sorrir, o coração pode estar triste; a alegria pode terminar em aflição. O insensato será saciado com os seus próprios erros, e o homem de bem, com os seus actos. O ingénuo dá crédito a tudo o que se diz, mas o prudente reflecte sobre os seus passos. O sábio teme o mal e desvia-se dele; o insensato avança com arrogância e julga-se seguro. O homem impaciente comete loucuras; o mal intencionado torna-se odioso. Os ingénuos têm por herança a insensatez, e os prudentes, a coroa do saber. Os maus prostram-se diante dos bons, e os ímpios, às portas dos justos. O pobre é odiado até pelo seu companheiro; o rico, porém, tem muitos amigos. Aquele que despreza o seu próximo, comete um pecado; mas feliz daquele que tem compaixão dos pobres. Acaso não erram os que maquinam o mal? Mas os que praticam o bem terão misericórdia e fidelidade. Todo o trabalho traz proveito, mas as muitas palavras só produzem miséria. A coroa dos sábios é a sua riqueza; a loucura dos insensatos é a sua imprudência. A testemunha fiel põe as vidas a salvo, mas o que profere mentiras é um impostor. O temor do Senhor é a confiança do forte; os seus filhos nele encontrarão refúgio. O temor do Senhor é fonte de vida; Ele afasta dos laços da morte. O povo numeroso é a glória do rei, a falta de gente é a ruína do príncipe. O que é lento na ira, é rico de inteligência; o que é irascível, manifesta a sua insensatez. Um coração tranquilo é a vida do corpo, mas a inveja é doença para os ossos. O que oprime o pobre, injuria o seu criador; honra-o aquele que se compadece do indigente. O ímpio será derrubado, por causa da sua malícia; o justo, porém, mesmo na morte, conserva a confiança. A sabedoria repousa no coração ponderado, mas não se faz sentir no meio dos insensatos. A justiça engrandece as nações; o pecado é a ruína dos povos. O servo prudente goza do favor do rei; o insolente sentirá a sua cólera. A resposta branda aplaca o furor, a palavra dura provoca a ira. A língua dos sábios irradia conhecimento; a boca dos insensatos espalha loucuras. Em todo o lugar estão os olhos do Senhor, observando os maus e os bons. A língua branda é uma árvore de Vida, a língua perversa despedaça o espírito. O insensato despreza a advertência do seu pai, mas o que aceita a repreensão mostra-se prudente. Na casa do justo há riqueza abundante; mas o rendimento dos maus é fonte de perturbação. Os lábios dos sábios derramam sabedoria; mas não assim o coração dos insensatos. Os sacrifícios dos ímpios são abomináveis ao Senhor; mas é-lhe agradável a oração dos homens rectos. O Senhor abomina a conduta do ímpio, mas ama o que procura a justiça. Severa é a correcção para o transviado; aquele que aborrece a repreensão, perecerá. A habitação dos mortos e o abismo estão diante do Senhor, quanto mais os corações dos homens! O insolente não gosta de quem o repreende, nem vai para junto dos sábios. O coração alegre torna feliz o semblante; a tristeza do coração abate o espírito. O coração do sábio procura o conhecimento; a boca dos insensatos apascenta-se de loucura. Para o pobre, todos os dias são maus, mas a alegria do coração é um perene festim. Mais vale o pouco com o temor do Senhor, do que um grande tesouro com a inquietação. Mais vale um prato de legumes com amizade, do que um vitelo gordo com ódio. O homem irascível provoca questões, mas o paciente acalma as contendas. O caminho do preguiçoso é como uma sebe de espinhos; mas o dos justos é estrada plana. O filho sábio alegra o seu pai; o insensato envergonha a sua mãe. A loucura diverte o insensato, mas o homem inteligente segue o caminho recto. Os projectos desfazem-se à falta de conselho, mas com muitos conselheiros realizam-se com êxito. Saber dar uma resposta é causa de alegria; como é agradável uma palavra no tempo certo! O sábio sobe pelo caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos. O Senhor destrói a casa dos soberbos, mas assegura a propriedade da viúva. Os desígnios perversos são abomináveis ao Senhor, mas são boas as palavras benfazejas. O homem ganancioso perturba a sua casa, porém, o que detesta os presentes, viverá. O coração do justo medita a sua resposta, mas a boca dos maus vomita maldades. O Senhor está longe dos maus, mas atende a oração dos justos. Um olhar sereno alegra o coração; uma boa notícia tonifica os ossos. Aquele que presta atenção às repreensões salutares, habita entre os sábios. O que rejeita uma advertência despreza-se a si próprio; mas quem escuta a repreensão adquire sabedoria. O temor do Senhor é uma escola de sabedoria; e antes da glória está a humildade. São do homem os projectos do coração, mas a resposta vem do Senhor. Todos os caminhos parecem puros ao homem, mas o Senhor é quem pesa os corações. Confia ao Senhor todos os teus empreendimentos, e os teus projectos terão bom êxito. O Senhor fez tudo, tendo em vista um fim; até mesmo o ímpio, para o dia do castigo. O Senhor aborrece o altivo de coração; cedo ou tarde, não ficará sem castigo. O pecado expia-se pela bondade e pela fidelidade; o mal evita-se pelo temor do Senhor. Quando a conduta do homem agrada ao Senhor, reconciliará com ele os seus próprios inimigos. Vale mais o pouco com justiça, do que muitos bens sem equidade. O coração do homem dispõe o seu caminho, mas é o Senhor quem dirige os seus passos. As palavras do rei são como oráculos; a sua boca não errará ao pronunciar a sentença. Balança e pesos justos são do Senhor; são obra sua todos os pesos do saco. Os reis praticarem o mal é coisa abominável, porque o trono firma-se pela justiça. Os lábios justos agradam ao rei; ele ama o que fala com rectidão. A indignação do rei é prenúncio de morte, porém, o sábio saberá aplacá-la. Na serenidade do semblante do rei está a vida; a sua clemência é como nuvem de chuva primaveril. Adquirir a sabedoria vale mais do que o ouro; adquirir a inteligência vale mais do que a prata. O caminho dos justos consiste em evitar o mal; o que vela sobre o seu caminho, guarda a sua vida. A soberba precede a ruína, e a presunção precede a queda. Mais vale ser humilde com os fracos, do que repartir os despojos com os soberbos. O que ouve a palavra com atenção encontra a felicidade; ditoso quem confia no Senhor. O sábio de coração será tido por inteligente; as palavras doces são mais convincentes. O bom senso é a fonte da vida para quem o possui; o castigo dos insensatos é a sua insensatez. O coração dos sábios instruirá a sua boca, e aos seus lábios aumentará o saber. As palavras amáveis são como um favo de mel; doçura para o paladar e força para os ossos! Há caminhos que ao homem parecem rectos e, afinal, conduzem à morte. É a fome que faz trabalhar o operário, porque a sua boca a isso o obriga. O perverso produz a desgraça: há em seus lábios um fogo devorador. O homem desordeiro semeia discórdias, o caluniador divide os amigos. O homem violento seduz o seu próximo e arrasta-o para mau caminho. O que fecha os olhos, maquina intrigas; o que morde os lábios já praticou o mal. Os cabelos brancos são uma coroa de glória, a qual se encontra no caminho da justiça. Vale mais um homem paciente do que um herói; vale mais dominar-se a si mesmo do que conquistar uma cidade. As sortes lançam-se no regaço, mas o que elas decidem é do Senhor. Vale mais um bocado de pão seco, com paz, do que uma casa cheia com banquetes e discórdia. O servo prudente prevalece sobre um filho indigno e tomará parte na herança com os irmãos. O fogo prova a prata, e o crisol, o ouro, mas é o Senhor quem examina os corações. O mau dá ouvidos aos lábios malignos; o mentiroso presta atenção à língua maliciosa. Aquele que despreza o pobre insulta o seu criador; o que ri de um infeliz, não ficará impune. Os netos são a coroa dos mais velhos, e a glória dos filhos são os seus pais. Uma linguagem elevada não convém ao insensato; nem a um nobre palavras mentirosas. O suborno é uma pedra mágica aos olhos de quem o pratica; para onde quer que se vire, é bem sucedido. Quem busca a amizade encobre as faltas; quem as conta e repete, afasta os amigos. Uma repreensão faz mais efeito ao homem inteligente do que cem açoites num insensato. O perverso só busca rixas, mas será enviado contra ele um mensageiro cruel. É melhor encontrar uma ursa, privada dos seus filhinhos do que um insensato, no excesso da sua loucura. Quem retribui o bem com o mal, jamais verá a desgraça sair da sua casa. Começar uma questão é como soltar as torrentes; desiste, antes que se inflame a contenda. Aquele que absolve o culpado e o que condena o inocente, ambos são abomináveis diante do Senhor. Para que serve o dinheiro na mão do insensato? Para comprar sabedoria? Mas ele não tem inteligência! Aquele que é amigo, é-o em todo o tempo; e torna-se um irmão no tempo da desgraça. É insensato o que com um aperto de mão fica de fiador do seu próximo. Aquele que ama as discórdias ama o pecado; e o que ergue demais a sua porta, busca a ruína. O homem de coração falso não encontra a felicidade; o de língua perversa cai na desgraça. O que gera um insensato, gera-o para sua desgraça; o pai do louco não poderá ter alegria. O coração alegre é, para o corpo, remédio salutar; o espírito triste seca os ossos. O ímpio recebe suborno às ocultas, para desviar o caminho da justiça. A sabedoria está no rosto do inteligente; os olhos do insensato vagueiam pelos confins da terra. Um filho insensato é o tormento de seu pai e a amargura daquela que o deu à luz. Não é bom punir o justo, nem é recto castigar o homem honesto. Aquele que modera as palavras possui conhecimento; e o homem reflectido tem espírito calmo. Um insensato silencioso passa por sábio; se fecha a boca parece inteligente. O homem egoísta segue os seus caprichos e irrita-se perante todo e qualquer êxito. O insensato não se interessa por compreender, mas somente por manifestar os seus sentimentos. Com a impiedade vem a desonra; com o desprezo, a vergonha. Águas profundas são as palavras de um homem, são torrente transbordante, fonte de sabedoria. Não é bom favorecer o ímpio, para prejudicar o justo no julgamento. Os lábios do insensato levam a contendas, e a sua boca atrai o castigo. A boca do insensato é a sua ruína; os seus lábios são uma armadilha para a sua vida. As palavras do intriguista são como guloseimas; penetram até às entranhas. O que é preguiçoso no seu trabalho é irmão do dissipador. O nome do Senhor é uma torre fortificada; nela se acolhe o justo e encontra segurança. A fortuna do rico é a sua praça forte; no seu entender, ela é uma muralha sólida. O coração do homem exalta-se antes da sua queda, mas a humildade precede a glória. Aquele que responde antes de ouvir, passa por insensato e fica envergonhado. O espírito do homem sustenta-o na sua aflição, mas quem levantará um espírito abatido? O coração do sensato adquire o conhecimento; e o ouvido dos sábios procura-o. Os presentes que um homem dá abrem-lhe caminho e dão-lhe acesso junto dos grandes. O primeiro que advoga a sua causa, parece ter razão, mas sobrevém a parte adversa e refuta-o. A sorte apazigua as contendas e decide entre os poderosos. Um irmão ofendido é mais inacessível que uma praça forte; as contendas são como os ferrolhos de uma fortaleza. Um homem nutre-se do fruto da sua boca e sacia-se com o produto dos seus lábios. A morte e a vida estão à mercê da língua; os que a amam comerão dos seus frutos. Aquele que acha uma esposa acha a felicidade, e recebe um dom do Senhor. O pobre fala, suplicando, e o rico responde com aspereza. Há amigos que levam à ruína, mas também os há mais dedicados que um irmão. Mais vale um pobre que vive honestamente, do que um insensato de lábios mentirosos. Sem o conhecimento, nem o zelo é bom; quem anda precipitado, desencaminha-se. A loucura do homem leva-o a mau caminho, e, logo, o seu coração se irrita contra o Senhor. As riquezas aumentam o número dos amigos, mas o pobre é abandonado até pelos amigos. A testemunha falsa não ficará sem castigo, e o que diz mentiras não escapará. O homem generoso tem muitos aduladores; todos são amigos de quem dá. Ao pobre até os seus irmãos o aborrecem; quanto mais os seus amigos não se hão-de afastar dele! Ele bem tenta falar, mas eles já lá não estão. Aquele que adquire bom senso, ama-se a si próprio; e o que guarda o entendimento, encontra a felicidade. A testemunha falsa não ficará impune, e o que diz mentiras perecerá. Não convém que o insensato viva entre delícias, e muito menos um escravo, dominar os chefes. O homem sábio sabe dominar a sua ira, e a sua honra é passar por cima de uma ofensa. A ira do rei é rugido de leão, e o seu favor é como orvalho sobre a erva. O filho insensato é o tormento do seu pai; e as intrigas de mulher são uma goteira contínua. Casas e bens são herança dos pais, mas uma mulher sensata é dom do Senhor. A preguiça dá sono, e a pessoa indolente passará fome. O que observa os mandamentos conserva a sua vida; mas o que descuida o seu proceder, morrerá. Quem dá ao pobre empresta ao Senhor, e Ele lhe retribuirá o benefício. Corrige o teu filho, enquanto há esperança, mas não te arrebates, a ponto de lhe dares a morte. O homem irascível sofrerá o castigo; se o poupares, ainda o farás mais violento. Ouve os conselhos e aceita a instrução, e acabarás por te tornares sábio. Há muitos projectos no coração do homem, mas é a vontade do Senhor que prevalece. O encanto de um homem é a bondade; mais vale o pobre que o mentiroso. O temor do Senhor conduz à vida; quem o tem em abundância passa a noite sem desgraça. O preguiçoso mete a mão no prato e não quer ter o trabalho de a levar à boca. Castiga o insolente, e o ingénuo tornar-se-á sábio; repreende o homem sensato, e ele compreenderá. Aquele que maltrata o seu pai e expulsa a sua mãe é um filho infame e desgraçado. Se te cansares, meu filho, de ouvir as advertências, também te afastarás das lições da sabedoria. A testemunha falsa ri-se da justiça, e a boca dos ímpios devora a iniquidade. Os castigos estão preparados para os insolentes, e os açoites para o dorso dos insensatos. Escarnecedor é o vinho, desordeiro o licor! Quem a eles se entrega não será sábio. A ira do rei é como um rugido de leão; aquele que o provoca, prejudica a sua vida. É uma glória para o homem afastar-se das contendas, porém, os insensatos envolvem-se nelas. O preguiçoso não lavra no Inverno; procura no tempo da colheita, mas nada encontra. Água profunda é a reflexão no coração do homem, mas o homem inteligente chega até ela. Muitos homens apregoam a sua bondade, mas quem achará um homem verdadeiramente fiel? O justo caminha na integridade; ditosos os filhos que vierem depois dele. O rei, que está sentado no trono da justiça, só com seu olhar dissipa todo o mal. Quem poderá dizer: «O meu coração está puro, estou limpo de pecado?» Ter um peso e outro peso, uma medida e outra medida: eis duas coisas que o Senhor abomina. É pelos seus actos que um jovem dá a conhecer se o seu proceder é puro e recto. O ouvido que ouve e o olho que vê, ambas as coisas fê-las o Senhor. Não sejas amigo do sono, para que não empobreças; abre os olhos e terás pão à vontade. «É mau, é mau!», diz o comprador; mas, ao afastar-se, gaba-se da compra. Há ouro e pérolas em abundância; mas a jóia mais preciosa é a boca do sábio. Tira a veste àquele que ficou por fiador de outrem, toma o penhor que ele deve aos estranhos. O pão mal adquirido é saboroso para o homem, mas depois de encher a boca, é só areia. Consolida os projectos mediante a reflexão, conduz a guerra, fazendo bem os cálculos. O intriguista revela os segredos; não te familiarizes com o falador. Àquele que amaldiçoa o seu pai ou a sua mãe apagar-se-á a sua lâmpada no meio das trevas. O património adquirido, a princípio, com avareza, não será abençoado no fim. Não digas: «Hei-de vingar-me!» Põe a tua esperança no Senhor e Ele te salvará. Ter um peso e outro é abominação para o Senhor; a balança falsa não é coisa boa. O Senhor é quem dirige os passos do homem; como poderá o ser humano compreender o seu destino? É um laço para o homem declarar: «Consagrado», e só reflectir depois de fazer os seus votos. O rei sábio joeira os ímpios e faz passar sobre eles a roda. O espírito do homem é lâmpada do Senhor, que penetra todos os recônditos do ser. A bondade e a fidelidade guardam o rei; o seu trono está assente na bondade. A força é a glória dos jovens, e a glória dos velhos são os cabelos brancos. As cicatrizes são remédio contra o mal, e as pancadas curam o mais recôndito do ser. O coração do rei é como água corrente nas mãos do Senhor, Ele o dirigirá para onde quiser. Os caminhos do homem parecem-lhe sempre rectos, mas é o Senhor quem pesa os corações. A prática da justiça e da equidade é mais agradável ao Senhor que os sacrifícios. Olhares altivos, coração soberbo: a lâmpada dos ímpios é o pecado. Os projectos do homem diligente têm êxito, mas quem se precipita cai certamente na ruína. Os tesouros adquiridos pela mentira são vaidade passageira e laço de morte. A violência arrasta os ímpios para a ruína, porque recusam praticar a justiça. O caminho do perverso é tortuoso e desviado, mas é recta a conduta do justo. É melhor habitar num canto do terraço do que em casa ampla com mulher intriguista. A alma do ímpio deseja o mal; não terá compaixão do seu próximo. Com o castigo do insolente, o ingénuo ficará mais sábio; quando se adverte o sábio, ele adquire mais saber. O justo está atento à família do ímpio, e precipita os maus na desventura. Aquele que se faz surdo ao clamor do pobre, também um dia clamará e não será ouvido. A dádiva feita em segredo extingue a ira, e um presente oferecido às ocultas acalma o furor violento. O justo encontra a sua alegria na prática da justiça, mas aqueles que praticam a iniquidade viverão assustados. O homem que se extravia do caminho da prudência irá repousar na companhia dos mortos. Aquele que gosta de banquetes ficará na miséria; o que gosta de vinho e de perfumes, não enriquecerá. O ímpio serve de resgate para o justo, e o iníquo, para os homens rectos. É melhor habitar num deserto do que com uma mulher intriguista e colérica. Na casa do sábio há tesouros preciosos e óleo perfumado, mas o insensato esbanja tudo. Aquele que procura a justiça e a misericórdia conquistará a vida, a justiça e a glória. O sábio apodera-se da cidade dos heróis e destrói a fortaleza em que ela confiava. Aquele que vigia a sua boca e a sua língua preserva a sua alma das angústias. Soberbo e presunçoso, é isso um insolente; ele age no ardor da sua arrogância. A cobiça mata o preguiçoso, porque as suas mãos não querem trabalhar. Passa todo o dia a arder em desejos, mas o justo dá tudo sem nada reservar. O sacrifício dos ímpios é abominável, sobretudo se o oferecem com má intenção. A testemunha mentirosa perecerá, mas o homem que escuta, poderá sempre falar. O ímpio descarado jamais desiste do seu intento, porém o homem recto vigia o seu caminho. Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho que prevaleçam contra o Senhor. Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, mas o Senhor é quem dá a vitória. Vale mais o bom nome que grandes riquezas; a estima é melhor do que a prata e o oiro. O rico e o pobre encontram-se; quem os fez a ambos foi o Senhor. O homem prudente vê o perigo e furta-se a ele, mas os ingénuos passam e sofrem o prejuízo. O prémio da humildade é o temor do Senhor, a riqueza, a glória e a vida. Espinhos e laços estão no caminho do perverso, mas aquele que acautela a sua vida afasta-se deles. Ensina ao jovem o caminho que deve seguir; mesmo quando envelhecer, não se desviará dele. O rico domina os pobres e o devedor torna-se escravo do seu credor. Aquele que semeia o mal, recolhe a desgraça; a vara da sua ira o há-de ferir. O homem de olhar generoso será abençoado, porque dá do seu pão ao pobre. Expulsa o insolente e acabará a discórdia, cessarão os litígios e os ultrajes. Aquele que ama a pureza de coração, pelo encanto das suas palavras se tornará amigo do rei. Os olhos do Senhor protegem o sábio, mas Ele confunde os planos do perverso. O preguiçoso diz: «Anda leão à solta; vou ser morto no meio da rua.» As palavras da desavergonhada são fosso profundo; nele cairá aquele a quem o Senhor reprovar. A insensatez apega-se ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afugentará. Quem oprime o pobre, enriquece-o, quem dá ao rico, empobrece-o. Inclina o teu ouvido e ouve as palavras dos sábios, aplica o teu coração à minha doutrina, porque te será agradável guardá-la no teu íntimo e tê-la sempre presente nos teus lábios. Para que ponhas no Senhor a tua confiança, quero hoje instruir-te. Não te escrevi eu já trinta capítulos de conselhos e instruções, para te ensinar a verdade das coisas certas, para que possas trazer resposta àquele que te enviar? Não roubes o pobre, porque é pobre, nem oprimas o fraco no julgamento, porque o Senhor defenderá a sua causa e tirará a vida aos que o despojarem. Não faças amizade com um homem colérico, nem vás a casa do violento, para não te habituares aos seus costumes e armares um laço contra a tua vida. Não sejas dos que apertam a mão e se fazem fiadores das dívidas de outrem. Se não tiveres com que pagar, até te hão-de tirar a cama em que dormes. Não mudes os marcos antigos postos pelos teus pais. Viste o homem hábil nos seus trabalhos: este terá lugar junto dos reis, e não ficará entre gente obscura. Quando te sentares à mesa com uma autoridade, considera com atenção quem está diante de ti; põe uma faca na tua garganta, se sentires muito apetite. Não cobices os seus manjares, porque são alimentos enganadores. Não te afadigues para enriquecer, tira daí os teus pensamentos. Se pões os teus olhos nas riquezas, elas desaparecem; tomam asas como as da águia e voam pelos céus. Não comas o pão do homem invejoso, nem cobices os seus manjares, pois é como alguém que tem uma decisão oculta: Dir-te-á: «Come e bebe», mas o seu coração não está contigo. Vomitarás o bocado que comeste e desperdiçarás as tuas palavras amáveis. Não fales aos ouvidos do insensato, porque ele desprezará a sabedoria das tuas palavras. Não mudes os marcos antigos, nem entres na terra dos órfãos, porque o seu vingador é poderoso e defenderá a causa deles contra ti. Aplica o teu coração à instrução, e os teus ouvidos, às palavras de conhecimento. Não poupes a correcção ao teu filho; se o castigares com a vara, não morrerá. Castigando-o com a vara, livrarás a sua alma da morada dos mortos. Meu filho, se o teu coração for sábio, alegrar-se-á também o meu coração. As minhas entranhas exultarão quando os teus lábios proferirem palavras rectas. O teu coração não inveje os pecadores, mas permaneça sempre no temor do Senhor, porque haverá certamente um futuro e a tua esperança não será frustrada. Ouve, meu filho, e sê sábio, dirige o teu coração pelo bom caminho. Não te juntes com bebedores de vinho, ou com aqueles que devoram carne, porque o ébrio e o glutão se empobrecem e a indolência os vestirá de andrajos. Ouve o pai, que te gerou, e não desprezes a tua mãe, quando for velha. Adquire a verdade e não a vendas, adquire sabedoria, instrução e inteligência. O pai do justo exultará de alegria, e quem gerou um sábio, nele se há-de alegrar. Alegrem-se o teu pai e a tua mãe, exulte aquela que te deu à luz. Meu filho, dá-me o teu coração, e os teus olhos se comprazam nos meus caminhos; olha que a meretriz é um fosso profundo e a mulher estranha, um poço estreito. Ela põe-se de emboscada como um salteador e, entre os homens, multiplica os prevaricadores. Para quem os «ais»? Para quem os «uis»? Para quem as contendas? Para quem as queixas? Para quem as feridas, sem motivo? Para quem os olhos avermelhados? É para os que se deixam arrastar pelo vinho, e para os que vão saborear bebidas misturadas. Não repares muito no vinho, como é vermelho, como brilha no copo e escorre suavemente! No fim, morde como uma serpente e pica como uma víbora. Os teus olhos verão coisas estranhas, e o teu coração dirá palavras incoerentes. E tu serás como um homem a dormir no alto mar, ou adormecido no cimo dum mastro. «Espancaram-me e não me doeu; bateram-me, mas não senti nada. Quando é que vou acordar? Vou procurar mais vinho.» Não invejes os homens maus nem desejes estar junto deles, porque o seu coração só pensa em violência e os seus lábios só falam em crimes. É com a sabedoria que se edifica a casa e consolida-se com a inteligência. Pela ciência, enchem-se os celeiros de tudo o que é bom e agradável. Um sábio é forte, e o homem experiente está cheio de coragem. É com prudência que se empreende a guerra, e a vitória está no grande número de conselheiros. A sabedoria é demasiado sublime para o insensato; ele não abrirá a boca no julgamento. Aquele que só pensa no mal será chamado homem de intrigas. O projecto do insensato é o pecado, e o insolente é a abominação dos homens. Se te deixas abater no dia da adversidade, muito débil será a tua força. Livra os que são condenados à morte, e salva os que são arrastados ao suplício. Se disseres: «Eu não sabia”, não o saberá aquele que sonda os corações? Aquele que vela pela tua vida, bem o sabe; Ele retribuirá a cada um segundo as suas obras. Meu filho, come mel, porque é bom; o favo de mel é doce ao teu paladar. Assim adquires a sabedoria que te dá a vida. Se a adquirires, terás um bom futuro e a tua esperança não será frustrada. Não conspires, ó ímpio, contra a casa do justo, não destruas a sua habitação! Pois sete vezes cai o justo e se levanta, mas os ímpios desfalecerão na desgraça. Não te alegres com a ruína do teu inimigo nem rejubile o teu coração com a sua queda, não suceda que o Senhor, ao ver isso, se desagrade e retire de cima dele a sua ira. Não te irrites com os perversos nem invejes os ímpios. Porque para os maus não há futuro e a lâmpada dos ímpios se apagará. Meu filho, teme o Senhor e o rei, não te mistures com os agitadores, porque, de repente, surgirá a sua desgraça. Quem conhece os suplícios que vão sofrer? Também estas são sentenças dos sábios: Não é bom fazer acepção de pessoas nos julgamentos. Aquele que diz ao ímpio: «Tu és inocente», será amaldiçoado pelos povos e abominado pelas nações. Aqueles que o repreendem serão louvados, e sobre eles virá uma bênção de felicidade. Dá um beijo nos lábios aquele que responde com sinceridade. Arruma as tuas tarefas no exterior, trata cuidadosamente do teu campo; depois poderás edificar a tua habitação. Não sejas testemunha falsa contra o teu próximo. Acaso, quererás enganar com as tuas palavras? Não digas: «Far-lhe-ei como ele me fez a mim; pagar-lhe-ei segundo as suas obras!» Passei pelo campo do preguiçoso e pela vinha do insensato, e vi que tudo estava cheio de urtigas, que as silvas cobriam o chão, e que o muro de pedra estava por terra. Ao ver isto, comecei a reflectir; vi e tirei uma lição. Um pouco dormirás, outro pouco dormitarás, outro pouco cruzarás as mãos para descansar, e a indigência virá sobre ti como um salteador, e a miséria, como um homem armado. Também estas são sentenças de Salomão, recolhidas pelos homens de Ezequias, rei de Judá: A glória de Deus é deixar as coisas encobertas, e a glória dos reis é investigar tudo. Assim como a altura dos céus e a profundidade da terra são impenetráveis, assim também o coração dos reis. Tira as escórias à prata, e terás um vaso puríssimo. Tira o iníquo da presença do rei, e o seu trono se firmará na justiça. Não te louves na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes. É melhor que te digam: «Sobe para aqui» do que seres humilhado diante de um príncipe. O que os teus olhos viram, não o descubras com precipitação numa contenda, pois que farás, no fim, quando o teu próximo te tiver ofendido? Defende a tua causa contra o teu próximo, mas não reveles o segredo de outrem, não suceda que te envergonhe quem te ouvir, e não se apague a tua ignomínia. Maçãs douradas em bandeja de prata, assim são as palavras oportunas. Anel de ouro e uma jóia de ouro fino, assim é a repreensão de um sábio a um ouvido atento. Como frescura de neve em tempo de colheita, assim é o mensageiro fiel para quem o envia: ele reconforta a alma do seu senhor. Tal como as nuvens e o vento que não dão chuva, é o homem que se gaba da sua falsa liberalidade. O juiz deixa-se aplacar pela paciência, a língua branda pode até quebrar ossos. Achaste mel? Come só o que te for suficiente, não suceda que, comendo demais, o vomites. Põe raramente o pé na casa do vizinho, para que ele, enfastiado de ti, não venha a detestar-te. Como um dardo, uma espada ou uma flecha penetrante, tal é o homem que diz um falso testemunho contra o seu próximo. Como um dente estragado e um pé que resvala, tal é a confiança do ímpio no dia da desventura. Cantar canções a um coração atribulado é como tirar-lhe a capa num dia de frio e derramar-lhe vinagre sobre uma ferida. Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber, porque assim o farás corar de vergonha e o Senhor te recompensará. O vento norte traz a chuva e um rosto enfurecido traz palavras enganadoras. É melhor habitar num canto do terraço do que viver em casa ampla com mulher intriguista. Água fresca para boca sedenta, assim é uma boa nova vinda de terra longínqua. Fonte turvada e manancial contaminado, assim é o justo que vacila diante do ímpio. Não faz bem comer mel em demasia, nem procurar glória após glória. Cidade desmantelada, sem muralhas, assim é o homem que não é senhor de si. Como a neve no Estio e a chuva no tempo da ceifa, assim é imprópria a glória para um insensato. Como pássaro que foge, como andorinha que voa, assim a maldição injustificada fica sem efeito. O chicote é para o cavalo, o freio é para o jumento; e a vara, para as costas do insensato. Não respondas ao insensato segundo a sua loucura, para não seres semelhante a ele. Responde ao insensato segundo a sua loucura, para que ele não se julgue sábio. Corta os pés e bebe aflições aquele que confia mensagens a um insensato. As pernas dum coxo não têm força, assim também as sentenças na boca do insensato. É como atar uma pedra na funda, o prestar homenagem a um insensato. Como um ramo de espinheiro na mão de um bêbado, assim é uma sentença na boca dos insensatos. Como seta que fere a quem quer que passa, assim é o que emprega um insensato ou um bêbado. Como o cão que volta ao seu vómito, assim é o insensato que repete as suas loucuras. Viste alguém que se julgue sábio? Há mais a esperar do insensato do que daquele. O preguiçoso diz: «Anda uma fera no caminho, um leão na estrada!» Como a porta gira sobre os seus gonzos, assim o preguiçoso no seu leito. O preguiçoso mete a mão no prato, mas cansa-se de a levar à boca. O preguiçoso julga-se mais sábio do que sete homens que respondem com bom senso. É apanhar um cão pelas orelhas o intrometer-se em questões alheias. Como um louco furioso que lança setas e dardos mortíferos, assim é o homem que engana o seu próximo e, depois, diz: «Eu fazia isto por brincadeira.» Sem lenha, o fogo apaga-se; assim, faltando o delator, acaba-se a questão. Como o carvão para as brasas e a lenha para o fogo, assim é o intriguista para atear uma contenda. As palavras do delator são como guloseimas: penetram até ao fundo das entranhas. Prata não purificada, aplicada sobre barro, assim são os lábios ardentes e um coração perverso. O homem que odeia, fala com dissimulação, mas, no coração, está maquinando enganos. Quando ele te falar com amabilidade, não te fies nele, porque tem sete abominações no seu coração. Aquele que dissimula o seu ódio, sob aparências fingidas, verá a sua malícia descoberta na assembleia. Quem abre uma cova, há-de cair nela; e a pedra cairá sobre aquele que a rolou. A língua mentirosa causa muitos males, e a boca aduladora conduz à ruína. Não te vanglories do dia de amanhã, porque não sabes o que te vai trazer o de hoje. Seja outro a louvar-te e não a tua própria boca; seja um estranho, não os teus próprios lábios. Pesada é a pedra e pesada é a areia, mas ainda mais pesada é a ira do insensato. Cruel é a ira, furiosa é a cólera, mas quem poderá suportar o ciúme? Melhor é a correcção franca do que uma amizade não declarada. Os golpes do amigo são leais, mas os beijos de um inimigo são enganadores. O apetite saciado calcará aos pés o favo de mel, mas, para o faminto, até o amargo lhe sabe a doce. Como a ave que anda longe do seu ninho, assim é o homem que vive longe da sua terra. O perfume e o incenso alegram o coração, e os conselhos de um amigo deleitam a alma. Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai, e não vás a casa de teu irmão no dia da tua desgraça. Vale mais o vizinho que está perto, do que o irmão que está longe. Sê sábio, meu filho, alegra o meu coração e, assim, poderei responder a quem me ultrajar. O homem prudente vê o perigo e desvia-se; os ingénuos passam e sofrem os danos. Tira a veste àquele que ficou por fiador de outrem, toma o penhor que ele deve aos estranhos. Saudar um vizinho aos gritos, de manhã cedo, pode ser considerado por ele como uma maldição. Goteira a pingar em dia de chuva, e mulher intriguista, tudo é a mesma coisa. Aquele que a pretende conter, é como se quisesse parar o vento ou reter o azeite na mão. O ferro com o ferro se aguça, e o homem afina-se no contacto com os outros. Aquele que cuida da figueira, comerá do seu fruto, e o que vela pelo seu senhor será honrado. Assim como o rosto se reflecte na água, assim o coração do homem se reflecte noutro homem. A morada dos mortos e o abismo nunca se enchem; assim os olhos do homem são insaciáveis. O crisol é para a prata e o forno para o ouro, assim é para o homem a boca de quem o louva. Ainda que pisasses o insensato no almofariz, como se pisam os grãos com o pilão, não separarias dele a sua loucura. Certifica-te bem do estado das tuas ovelhas, presta atenção aos teus rebanhos, porque a riqueza não dura sempre, nem a coroa passa de geração em geração. Corta-se o feno, brotam os prados, recolhem-se as ervas dos montes, e ainda tens os cordeiros para te vestir e os bodes para comprares um campo, leite de cabra suficiente para o teu sustento, para o sustento da tua casa e subsistência das tuas servas. O ímpio foge sem que ninguém o persiga, mas o justo sente-se seguro como um leão. Pelos pecados de um país, multiplicam-se os chefes, mas com um homem sensato e sábio perdura a ordem. O homem perverso a oprimir os pobres é semelhante a uma chuva torrencial, que causa a fome. Aqueles que abandonam a lei, louvam o ímpio, e os que a observam, fazem-lhe guerra. Os homens maus não compreendem o que é justo, mas entendem tudo aqueles que buscam o Senhor. Mais vale um pobre que caminha na integridade, do que um rico de conduta perversa. Aquele que guarda a lei é um filho inteligente, mas o que convive com libertinos é a vergonha do seu pai. Aquele que aumenta a fortuna pela usura e juros injustos, junta-a para aquele que tem piedade dos pobres. Aquele que tapa os ouvidos, para não ouvir a lei, até a sua oração será abominável. Aquele que seduz os justos para o mau caminho, cairá no fosso que ele mesmo cavou; os íntegros, porém, herdarão a felicidade. O rico julga-se muito sábio, mas o pobre inteligente conhece-o bem. Quando os justos triunfam, há muita alegria, mas, quando se levantam os ímpios, todos se escondem. Aquele que dissimula as suas faltas, não prosperará; mas quem as confessa e se emenda terá misericórdia. Feliz daquele que vive sempre com temor; mas o que endurece o seu coração cairá na desventura. Leão a rugir e urso esfaimado, assim é o ímpio que reina sobre um povo pobre. Um príncipe sem inteligência multiplica as opressões, mas o que odeia a avareza viverá longos dias. O homem que derramou sangue inocente correrá para o sepulcro: ninguém o detenha! Aquele que caminha na integridade será salvo; mas o que se mete em dois caminhos, acabará por cair num deles. Aquele que cultiva a sua terra, terá fartura de pão, mas o que vai atrás de quimeras, fartar-se-á de miséria. O homem fiel será cumulado de bênçãos, mas o que depressa se enriquece, não ficará impune. Não é bom fazer acepção de pessoas; mas peca-se até por um pedaço de pão. O homem avarento precipita-se atrás das riquezas, mas não sabe que vai cair sobre ele a indigência. Quem corrige alguém encontra, depois, mais gratidão do que aquele que lisonjeia com palavras. Quem furta a seu pai ou à sua mãe, dizendo: «Isto não é pecado», associa-se ao salteador. O homem ganancioso provoca contendas, mas quem confia no Senhor prosperará. O que confia no seu bom senso é um insensato; porém, o que caminha na sabedoria sobreviverá. Aquele que dá ao pobre não padecerá necessidade, mas aquele que o despreza, ficará cheio de maldições. Quando os ímpios são exaltados, todos se escondem; quando eles desaparecem, crescem os justos. O homem que, ao ser admoestado, endurece a cerviz, será logo irremediavelmente arruinado. Sob o governo dos justos, alegra-se o povo; quando governam os ímpios, o povo geme. Aquele que ama a sabedoria alegra o seu pai, mas o que alimenta meretrizes, dissipa a sua fortuna. O rei faz prosperar o país pela justiça, mas aquele que é ávido de impostos arruína-o. O homem que lisonjeia o seu próximo, arma uma rede aos seus pés. O crime do ímpio é uma armadilha, mas o justo canta alegremente. O justo conhece a causa dos pobres, porém, o ímpio não o compreende. Os corrompidos sublevam a cidade, mas os sábios acalmam a sua ira. Se um sábio discute com um insensato, quer ele se agaste, quer se ria, não terá paz. Os homens sanguinários odeiam o íntegro, mas os homens rectos procuram conservar-lhe a vida. O insensato desafoga toda a sua ira, mas o sábio acaba por dominá-la. O príncipe que presta atenção às mentiras, só os ímpios terá por ministros. Encontram-se o pobre e o opressor; o Senhor é quem ilumina os olhos de ambos. O rei que faz justiça aos humildes, terá o seu trono firmado para sempre. A vara e a correcção dão sabedoria; mas o jovem abandonado à sua vontade, é a vergonha de sua mãe. Quando se multiplicam os ímpios, aumenta o crime, mas os justos verão a sua ruína. Corrige o teu filho e ele te dará descanso, e fará as delícias da tua vida. Sem profecia, o povo vive na corrupção; bem-aventurado o que observa a lei. Não é com palavras que se corrige um escravo, porque, embora compreenda, não obedece. Viste um homem precipitado no falar? Há mais a esperar dum insensato do que dele. Se alguém amimalha o seu criado desde a infância, este acabará por se tornar insolente. O homem irascível arma contendas, e o colérico acumula os crimes. O orgulho de um homem leva-o à humilhação, mas o humilde de espírito será glorificado. Aquele que encobre o ladrão, a si mesmo se odeia; ele ouve a maldição e não o denuncia. O medo do homem é uma cilada, mas quem confia no Senhor está em segurança. Muitos buscam o favor de quem manda, mas é do Senhor que depende a justiça. O homem iníquo é abominado pelo justo; o ímpio abomina aquele que anda no caminho recto. Palavras de Agur, filho de Jaqué, de Massá. Disse aquele varão a Itiel e a Ucal: «Sou o mais insensato dos homens e não tenho a inteligência de homem. Não aprendi a sabedoria e não tenho o conhecimento do Santo. Quem subiu ao céu e dele desceu? Quem reteve o vento nas suas mãos? Quem recolheu as águas no seu manto? Quem fixou as extremidades da terra? Qual é o seu nome, e qual é o nome do seu filho, se é que o sabes? Toda a palavra de Deus é provada ao fogo, é um escudo para aqueles que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso. Peço-te duas coisas, não mas negues antes da minha morte: afasta de mim a falsidade e a mentira, não me dês pobreza nem riqueza, concede-me o pão que me é necessário, para que, saciado, não te renegue, e não diga: «Quem é o Senhor ?» Ou, empobrecido, não roube e não profane o nome do meu Deus. Não calunies o escravo diante do seu senhor, para que não te amaldiçoe e sofras o castigo. Ai da geração que amaldiçoa o seu pai e não abençoa a sua mãe! Ai da geração que se julga pura e não se lava da sua imundície! Ai da geração cujos olhos são altivos, e cujas pálpebras são levantadas! Ai da geração cujos dentes são espadas e os maxilares são facas, para devorar os fracos da terra, e os pobres de entre os homens! A sanguessuga tem duas filhas, que se chamam: «Dá-me, dá-me!» Há três coisas que são insaciáveis, e quatro que nunca dizem: «Basta»: a habitação dos mortos, o seio estéril, a terra que nunca se sacia de água e o fogo que nunca diz: «Basta!» O olho que escarnece do pai e recusa obedecer à sua mãe, será arrancado pelos corvos, e as águias o devorarão. Há três coisas que são um mistério para mim, e uma quarta que não compreendo: o voo da águia nos céus, o rasto da cobra sobre a rocha, o rumo de um navio em pleno mar, e a atitude do homem para com a donzela. Assim procede a mulher adúltera, a qual, depois de comer, limpa a boca, e diz: «Eu não fiz mal nenhum.» Três coisas fazem tremer a terra, e uma quarta que ela não pode suportar: um escravo que se torna rei, um insensato que se farta de pão, uma mulher de má índole que se casa e uma criada que se torna herdeira da sua senhora. Quatro são os seres mais pequenos da terra, que, entretanto, são sábios entre os sábios: as formigas, seres sem força, que, durante o Verão, preparam as suas provisões; os gerbos, animais sem poder, que fazem a sua habitação nos rochedos; os gafanhotos, que não têm rei, e que saem todos ordenados em esquadrões; o lagarto, que se pode apanhar à mão, mas que entra no palácio dos reis. Há três coisas que têm bela aparência e mesmo quatro, que andam garbosamente: o leão, o mais forte dos animais, que não recua diante de nada; o galo muito senhor de si, e o bode, e o rei, à frente do seu exército. Se te louvaste nesciamente, reflecte, e, depois, tapa a tua boca com a mão, porque quem bate o leite, tira dele a manteiga, quem aperta o nariz, faz jorrar sangue, quem provoca a ira, causa discórdias. Palavras de Lemuel, rei de Massá, que lhe ensinou sua mãe: «Que te direi eu, meu filho? Que te direi, filho das minhas entranhas! Que te direi, filho das minhas promessas! Não dês às mulheres a tua força nem o teu vigor àquelas que perdem os reis.» Não convém aos reis, Lemuel, não convém aos reis beber vinho, nem a quem governa sorver bebidas fortes, para que não suceda, que se esqueçam da lei e atraiçoem a causa de todos os infelizes. Dai bebida forte àqueles que desfalecem, e vinho aos que têm o coração amargurado, para que eles bebam e se esqueçam da sua miséria e não se lembrem mais das suas mágoas. Abre a tua boca a favor do mudo e em prol dos desventurados. Abre a boca para pronunciar sentenças justas e faz justiça ao pobre e ao miserável. Uma mulher de valor, quem a poderá encontrar? O seu preço é muito superior ao das pérolas. O coração do marido nela confia e jamais lhe falta coisa alguma. Ela proporciona-lhe o bem e nunca o mal, em todos os dias da sua vida. Ela procura lã e linho e trabalha de boa vontade com as suas mãos. É semelhante ao navio do mercador, que traz os seus víveres de longe. Levanta-se, ainda de noite, distribui o alimento pelos da sua casa e as tarefas pelas suas servas. Ela pensa num campo e adquire-o, planta uma vinha com o ganho das suas mãos. Cinge fortemente os seus rins, e os seus braços têm sempre força. Ela sente que o seu negócio prospera, a sua lâmpada não se apaga durante a noite. A sua mão pega na roca, e os seus dedos fazem girar o fuso. Estende os braços ao infeliz, e abre a mão ao indigente. Não teme a neve para os seus familiares, porque todos eles têm roupa a dobrar. Faz para si belas cobertas, e os seus vestidos são de linho e púrpura. Seu marido é considerado nas portas da cidade, quando toma assento com os anciãos da terra. Fabrica roupa de linho e vende-a, e fornece cintos ao mercador. Fortaleza e graça são os seus adornos; sorri perante o dia de amanhã. Abre a boca com sabedoria, tem na língua instruções de bondade. Vigia o andamento da casa e não come o pão da ociosidade. Os filhos levantam-se a felicitá-la, e o marido ergue-se para a elogiar. Muitas mulheres tiveram valor, mas tu excede-las a todas. A graça é enganadora e a beleza é vã: a mulher que teme o Senhor, essa será louvada. Dai-lhe do fruto das suas mãos, e que as suas obras a louvem às portas da cidade. Palavras de Qohélet, filho de David, rei em Jerusalém. Ilusão das ilusões – disse Qohélet – ilusão das ilusões: tudo é ilusão. Que proveito pode tirar o homem de todo o esforço que faz debaixo do Sol? Uma geração passa, outra vem; e a terra permanece sempre. O Sol nasce e o Sol põe-se e visa o ponto donde volta a despontar. O vento vai em direcção ao sul, depois ruma ao norte; e gira, torna a girar e passa, e recomeça as suas idas e vindas. Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche. Para onde sempre correram, continuam os rios a correr. Todas as palavras estão gastas, o homem não consegue já dizê-las. A vista não se sacia com o que vê, nem o ouvido se contenta com o que ouve. Aquilo que foi é aquilo que será; aquilo que foi feito, há-de voltar a fazer-se: e nada há de novo debaixo do Sol! Se de alguma coisa alguém diz: «Eis aí algo de novo!», ela já existia nas eras que nos precederam. Não há memória das coisas antigas; e também não haverá memória do que há-de suceder depois; nem ficará disso memória entre aqueles que hão-de vir mais tarde. Eu, Qohélet, fui rei de Israel, em Jerusalém, apliquei o meu espírito a estudar e a explorar, pela sabedoria, todas as coisas que sucedem debaixo do céu. É uma tarefa ingrata que Deus deu aos homens e os oprime. Vi tudo o que se faz debaixo do Sol e achei que tudo é ilusão e correr atrás do vento. O que é torto não se pode endireitar e o que é falho não se pode completar. Disse no meu coração: «Eu reuni e acumulei em sabedoria mais do que todos os que, antes de mim, governaram Jerusalém, e o meu coração penetrou muito profundamente na sabedoria e no conhecimento.» Apliquei, igualmente, o meu coração a conhecer a sabedoria, a loucura e a insensatez; e reconheci que também isto é correr atrás do vento. Porque na muita sabedoria há muita arrelia, e o que aumenta o conhecimento, aumenta o sofrimento. Eu disse em meu coração: «Vem! Quero fazer-te experimentar a alegria; saboreia a felicidade.» E eis que também isto é ilusão. Do riso eu disse: «Loucura!» e da alegria: «Para que serve?» Resolvi, em meu coração, entregar-me ao vinho; embora o meu coração se norteasse ainda pela sabedoria; aferrei-me à loucura até ver o que convém aos filhos dos homens, ou que devem eles fazer debaixo do céu nos limitados dias da sua vida. Multipliquei os meus empreendimentos, para mim construí casas e plantei vinhas; para mim fiz hortas e pomares, plantei neles árvores de todas as espécies de fruto; para mim construí depósitos de água para regar o bosque onde crescem as árvores. Comprei servos e servas; outros nasceram-me em casa. Possuí muito gado, bois e ovelhas, mais do que todos os que me precederam em Jerusalém. Para mim amontoei prata e ouro, riquezas de reis e de províncias; escolhi para mim cantores e cantoras. Enfim, as delícias dos filhos dos homens, uma mulher e mais mulheres. Tornei-me maior e mais rico do que todos quantos me precederam em Jerusalém; mas a minha sabedoria permanecia comigo e de tudo quanto os meus olhos desejaram, nada lhes recusei: não privei o meu coração de nenhuma alegria, pois o meu coração sentiu alegria em todas as minhas canseiras e este foi o quinhão que me ficou de todo o meu esforço. E voltei-me para todas as obras que as minhas mãos tinham feito e para o esforço que me custou fazê-las: e eis que tudo era ilusão e correr atrás do vento e que nada havia de proveitoso debaixo do Sol. E voltei-me para a consideração da sabedoria, da loucura e dos desvarios. Que fará o homem que sucede ao rei? O que já foi feito! E reconheci que a sabedoria leva vantagem sobre a loucura, como a luz leva vantagem sobre as trevas. O sábio tem os olhos na testa, mas o insensato anda nas trevas. E reconheci também que a todos eles espera a mesma sorte. E eu disse em meu coração: «A sorte do insensato tocar-me-á a mim também. Para que serve a minha sabedoria?» Então, decretei em meu coração que também isto é ilusão. Pois não há memória que dure sempre nem para o sábio nem para o insensato; antes, passado algum tempo, tudo igualmente se esquece. Mas então? Tanto morre o sábio como o insensato! Odiei a vida, pois é mau para mim quanto se faz debaixo do Sol. Tudo é ilusão e correr atrás do vento. E odiei todos os esforços que suportei debaixo do Sol, porque tudo hei-de deixar àquele que virá depois de mim. E quem sabe se esse será sábio ou insensato? Mas é ele quem será senhor de todo o fruto dos meus esforços que debaixo do Sol me custaram trabalho e sabedoria. Também isto é ilusão. Desesperei em meu coração de todo o trabalho que suportei debaixo do Sol. Porque há quem se esforce com sabedoria, conhecimento e bom êxito, para deixar o fruto do seu labor a outro que não se esforçou. Também isto é ilusão e grande mal. Pois que resta ao homem de todo o seu esforço, de toda a azáfama com que se afadigou debaixo do Sol? Todos os seus dias são apenas dor e todo o seu trabalho, apenas arrelia; mesmo durante a noite o seu coração não se aquieta. E também isto é ilusão. Nada há de melhor para o homem do que comer e beber e gozar o bem-estar, fruto do seu trabalho. Mas notei também que isto vem da mão de Deus. Quem, com efeito, come e bebe senão graças a Ele? Àquele que lhe é agradável, Deus dá sabedoria, conhecimento e alegria; mas, ao pecador, dá o cuidado de recolher e acumular bens, para depois os deixar a quem Deus quiser. E também isto é ilusão e correr atrás do vento. Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou, tempo para matar e tempo para curar, tempo para destruir e tempo para edificar, tempo para chorar e tempo para rir, tempo para se lamentar e tempo para dançar, tempo para atirar pedras e tempo para as juntar, tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço, tempo para procurar e tempo para perder, tempo para guardar e tempo para atirar fora, tempo para rasgar e tempo para coser, tempo para calar e tempo para falar, tempo para amar e tempo para odiar, tempo para guerra e tempo para paz. Que proveito tira das suas fadigas aquele que trabalha? Eu vi a tarefa que Deus impôs aos filhos dos homens para que dela se ocupem. Todas as coisas que Deus fez, são boas a seu tempo. Até a eternidade colocou no coração deles, sem que nenhum ser humano possa compreender a obra divina do princípio ao fim. Eu concluí que nada é melhor para o homem do que folgar e procurar a felicidade durante a sua vida. Todo o homem que come e bebe e encontra felicidade no seu trabalho, tem aí um dom de Deus. Reconheci que tudo o que Deus faz é para sempre, sem que se possa acrescentar ou tirar nada. Deus procede de maneira a ser temido. Aquilo que é já existiu, e aquilo que há-de ser já antes foi; Deus vai à procura daquilo que não se encontrou. E eu vi ainda, debaixo do Sol, a injustiça ocupar o lugar do direito e a iniquidade ocupar o lugar da justiça. Então eu disse em meu coração: «Deus julgará o justo e o ímpio, pois há tempo para todas as coisas e tempo para todas as obras.» E disse em meu coração acerca dos filhos dos homens: «Deus põe-nos à prova, para lhes mostrar que, só por si, são semelhantes aos animais. Porque é o mesmo o destino dos filhos dos homens e o destino dos animais; um mesmo fim os espera. Como a morte de um assim é a morte do outro. A ambos foi dado o mesmo sopro, e o homem não tem qualquer vantagem sobre o animal, pois tudo é ilusão. Todos vão para um mesmo lugar. Todos saíram do pó e ao pó hão-de voltar todos. Quem sabe se o sopro de vida dos filhos dos homens subirá às alturas, e o sopro de vida dos animais descerá ao fundo da terra? E reconheci que não há felicidade maior para o homem do que alegrar-se com as suas obras. Este é o quinhão que lhe toca. Pois quem o trará de volta para ver o que acontecerá depois dele?» E, de novo, considerei todas as opressões que se cometem debaixo do Sol. Vede as lágrimas dos oprimidos: eles não têm consolador. Os seus opressores fazem-lhes violência: eles não têm consolador. E eu, então, felicitei aqueles que já morreram, de preferência aos vivos que ainda estão vivos. E mais felizes que uns e outros são os que nunca chegaram à existência e não viram o mal que se comete debaixo do Sol. Vi também que todo o esforço e todo o êxito de uma obra não passam de inveja de uns para com os outros. Também isto é ilusão e correr atrás do vento. O insensato cruza os braços e devora-se a si mesmo: «Mais vale um punhado de lazer, do que duas mãos cheias de esforço e correr atrás do vento.» Vi ainda outra ilusão debaixo do Sol: eis um homem só, sem ninguém junto de si, não tem filho, nem irmão; mas não cessa de se esforçar, nem os seus olhos se fartam de riquezas: «Para quem me esforço eu, privando-me de coisas boas?» Também isto é ilusão e tarefa ingrata. É melhor dois do que um só: tirarão melhor proveito do seu esforço. Se caírem, um ergue o seu companheiro. Mas ai do solitário que cai: não tem outro para o levantar! E se dormirem dois juntos, dormem quentes; mas se alguém está só, como se há-de aquecer? Se um só é oprimido, dois já conseguem resistir a isso; o cordel dobrado em três não se parte facilmente. Vale mais um jovem pobre, mas sábio, do que um rei velho, mas insensato, que já não sabe aceitar conselhos. Mesmo que tenha saído da prisão para reinar, mesmo que tenha nascido pobre no seu reino, vi todos os seres vivos que andam debaixo do Sol acompanhar o jovem que ia suceder ao rei. Era interminável a multidão que o acompanhava, da qual ele se tornara chefe. Mas a geração seguinte não se regozijará nele. Tudo isto é ilusão e correr atrás do vento. Vê onde pões os pés, quando entras na casa de Deus. Aproxima-te para escutar; isto vale mais do que o sacrifício dos insensatos, pois eles não sabem que fazem o mal. Não digas nada inconsideradamente nem o teu coração se apresse a proferir palavras diante de Deus, pois Deus está no céu, e tu, na terra; sejam, portanto, poucas as tuas palavras. Os sonhos vêm das muitas ocupações, os despropósitos, do muito falar. Se fizeste um voto a Deus, trata de o cumprir sem demora, porque aos insensatos Deus não é favorável. Cumpre, pois, tudo o que tiveres prometido. É melhor não prometeres do que prometeres e não cumprires. Não permitas à tua língua que te torne culpado, nem digas ao mensageiro de Deus que foi apenas uma inadvertência, para que não suceda que Deus se irrite com as tuas palavras e reduza a nada as obras das tuas mãos. Muitos sonhos geram muitas ilusões e muitas palavras. Tu, porém, teme a Deus. Se vires na tua terra a opressão do pobre, ou a violação do direito e da justiça, não te admires, porque o que está alto tem acima de si outro mais alto, e sobre ambos há ainda outro mais elevado. O proveito da terra é para todos; o rei é servido dos campos cultivados. Aquele que ama o dinheiro nunca se saciará do dinheiro, e aquele que ama a riqueza, a riqueza não virá ao seu encontro. Também isto é ilusão. Onde abundam os bens, abundam os que os devoram. E que vantagem tem o dono dos bens além de vê-los com os seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer tenha comido pouco ou muito; mas a abundância do rico não o deixa dormir descansado. Vi outra dolorosa miséria debaixo do Sol: a riqueza entesourada para desgraça do seu dono. Perdem-se essas riquezas num mau negócio, e se tiver um filho, este fica sem nada nas mãos. Assim como saiu nu do ventre de sua mãe, de novo nu partirá como veio, e nada levará do seu esforço, nada nas mãos quando se for. Sim, é uma dolorosa miséria que tal como veio, assim irá. De que lhe serve ter-se esforçado para o vento? Não consumirá todos os seus dias nas trevas, na aflição, no sofrimento e no azedume? Compreendi que é belo e bom comer e beber, e sentir-se feliz em todo o esforço que se tem de fazer debaixo do Sol, nos breves dias de vida que Deus concede ao homem. Esta é a sua sorte. Se Deus dá ao homem bens e riquezas e a possibilidade de usufruir deles, de desfrutar da sua parte e viver alegre no seu esforço, isso é um dom de Deus. Não pensará muito nos dias da sua vida, porque Deus lhe concede a alegria de coração. Vi ainda outro mal debaixo do Sol e que pesa grandemente sobre o homem: um homem, a quem Deus deu bens, riquezas e honras, a quem nada falta de quantas coisas deseja, mas a quem Deus não permite gozar delas; antes, virá um estranho que há-de devorar tudo. Isto é ilusão e grande dor. Um homem, embora crie uma centena de filhos e viva muitos anos e numerosos dias, se a sua alma não se saciou de felicidade e se foi privado de sepultura, não duvido afirmar que mais feliz do que ele é um aborto. Porque este veio ao mundo em vão e vai para as trevas, e o seu nome permanecerá nas trevas; não viu o Sol nem o conhece; cai daqui para ali. E mesmo que alguém vivesse dois mil anos, não veria a felicidade. Acaso não vão todos para o mesmo lugar? Todo o esforço do homem é para a sua boca, mas o seu apetite nunca se satisfaz. Qual é a superioridade do sábio sobre o insensato? Qual a vantagem do pobre que sabe conduzir-se na vida? Melhor é o que vêem os olhos do que a agitação dos desejos. Mas também isto é ilusão e correr atrás do vento. Tudo o que existiu já teve um nome e sabe-se o que é um homem. Mas ele não pode disputar contra quem é mais forte do que ele. Onde há muitas palavras, há muita ilusão. Que aproveita o homem com isso? E quem pode saber o que é melhor para o homem na vida, durante os limitados dias da sua vã existência que passa como a sombra? Ou quem poderá dizer ao homem o que acontecerá depois dele debaixo do Sol? Mais vale um bom nome do que um bom perfume, mais vale o dia da morte que o dia do nascimento. Mais vale ir a uma casa em luto do que a uma casa em festa, pois esse é o fim de todo o homem: que os vivos meditem nele no seu coração. Mais vale a tristeza do que o riso, porque a tristeza do rosto é boa para o coração. O coração dos sábios está na casa do luto; o coração dos insensatos, na casa da alegria. Mais vale ouvir a reprimenda de um sábio do que a cantilena dos insensatos. Tal como o crepitar dos gravetos sob a caldeira, assim é o riso do insensato. Também isto é ilusão. Pois a opressão torna o sábio insensato e o suborno corrompe o coração. É melhor o fim de uma coisa do que o seu princípio; mais vale a paciência do que a arrogância. Não sejas fácil em irar-te, porque a ira se aninha nas entranhas dos insensatos. Não digas: «Porque foram os dias antigos melhores que os de agora»? Pois não é a sabedoria que te inspira essa pergunta. Bom é ter sabedoria e, também, ter uma herança. Isso é vantajoso para os que vêem o Sol. A sabedoria protege-nos e o dinheiro também nos protege, mas a sabedoria tem a vantagem de dar vida aos que a possuem. Considera as obras de Deus: quem poderá endireitar o que Ele deixou ficar torto? No dia da felicidade, sê alegre; no dia da desgraça, reflecte, pois Deus fez uma a par da outra, a fim de que o homem não descubra o que depois lhe irá acontecer. Vi tudo isto no decurso da minha vã existência: há um justo que morre apesar da sua justiça, e há um mau que continua a viver, apesar da sua malícia. Não queiras ser excessivamente justo nem demasiado sábio: para quê arruinares-te? Não faças demasiado mal e não sejas insensato. Porque hás-de querer morrer, antes da tua hora? Bom é que guardes isto e não negligencies aquilo, pois aquele que teme a Deus ultrapassa tudo isso. A sabedoria dá ao sábio uma força superior à de dez chefes de guerra reunidos numa cidade. Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e não peque. Não prestes atenção a todas as palavras que se dizem, para que não ouças o teu servo falar mal de ti. A tua consciência sabe que também tu, muitas vezes, tens falado mal dos outros. Tudo isto eu quis experimentar a respeito da sabedoria. Disse: Alcancei a sabedoria; mas ela está longe de mim. Continua distante o que estava distante, e profundo, o que estava profundo: quem o poderá sondar? Apliquei todo o meu coração a explorar e a buscar sabedoria e inteligência, a reconhecer que o malvado é um louco e a insensatez, uma demência. Eu considero que mais amargo do que a morte é encontrar uma mulher que é uma armadilha, cujo coração é uma rede, e cujas mãos são cadeias. Aquele que é agradável a Deus fugirá dela, mas o pecador será apanhado por ela. Eis o que eu concluí – disse Qohélet – após ter examinado uma coisa depois da outra, para lhes encontrar o sentido. Eis o que a minha alma ainda busca e não descobre: entre mil homens achei um, e entre todas as mulheres nem uma só achei. Somente descobri isto: Deus criou os homens rectos, eles, porém, procuraram maquinações sem fim. Quem se pode comparar ao sábio? Quem conhece a razão das coisas? A sabedoria do homem alegra o seu rosto e abranda a dureza da sua face. Cumpre a ordem do rei, por causa do juramento feito a Deus. Não te apresses a fugir da sua presença, não teimes em praticar o que lhe desagrada, porque o rei pode fazer tudo o que lhe apraz. Pois a palavra do rei é soberana; quem lhe pode dizer: «Que fazes tu?» Aquele que observa o preceito não experimentará mal algum; o coração do sábio conhece o tempo e o julgamento. Todas as coisas têm o seu tempo e o seu julgamento, mas é grande a aflição que pesa sobre o homem. Ele não conhece o futuro; quem lhe poderá dizer como as coisas se passarão? Ninguém é senhor do seu sopro de vida, nem é capaz de o conservar. Ninguém tem poder sobre o dia da sua morte, nem faculdade de afastar esse combate; nem ao ímpio o poderá salvar a sua impiedade. Vi tudo isto e apliquei o meu espírito a considerar tudo o que se faz debaixo do Sol, num tempo em que um homem domina outro homem para lhe fazer mal. E, então, vi ímpios a receberem sepultura, e vinham do templo glorificá-los na cidade: mas também isto é ilusão. Porque a sentença contra o que pratica o mal não é executada imediatamente, então, o coração dos homens enche-se de desejos de fazer mal. Ainda que o pecador cometa cem vezes o mal, ele vê a sua vida prolongada. Sei, no entanto, que a felicidade é para os que temem a Deus e se enchem de respeito na sua presença. Não haverá felicidade para o mau; tal como a sombra que passa, não poderá prolongar a sua vida, pois, na presença de Deus, não mostra temor. Há ainda outra ilusão sobre a terra: há justos que são tratados como se tivessem sido ímpios; e há ímpios que são tratados como se tivessem sido justos. Declaro que também isto é ilusão. Por isso, louvei a alegria, visto não haver nada de melhor para o homem, debaixo do Sol, do que comer, beber e divertir-se; é isto que o acompanha no seu trabalho, durante os dias que Deus lhe conceder debaixo do Sol. Quando apliquei o meu espírito ao estudo da sabedoria e à observação das coisas que se passam sobre a terra, vi que há homens que nem de dia nem de noite deixam adormecer os seus olhos, e contemplei toda a obra de Deus, e vi que o homem não pode descobrir tudo o que se faz debaixo do Sol. Ele afadiga-se a investigar, mas não encontra nada; e mesmo o sábio, se pretender conhecer, não conseguirá descobrir. Apliquei, então, o meu espírito ao esclarecimento de tudo isto, e vi que os justos, os sábios e as suas obras estão na mão de Deus. Nem o amor nem o ódio o homem consegue discernir: no entanto, ambos estão diante dele. Tudo acontece igualmente a todos: a mesma sorte para o justo e para o ímpio, para o bom e puro e para o impuro, para o que oferece sacrifícios e para o que não oferece. O homem bom é tratado como o pecador; o perjuro como aquele que cumpre o juramento. Eis o pior mal, no meio de tudo o que se realiza debaixo do Sol: que haja para todos um mesmo destino. Por isso, o espírito dos homens transborda de malícia, e a loucura habita no seu coração durante a vida; e depois, todos eles vão para junto dos mortos. E o que será melhor? Para todos os vivos há uma coisa certa: mais vale um cão vivo que um leão morto. Os que estão vivos sabem que hão-de morrer, mas os mortos não sabem nada, nem para eles há ainda retribuição, pois a sua lembrança foi esquecida. O seu amor, ódio e inveja pereceram juntamente com eles; e nunca mais terão parte em tudo quanto se faz debaixo do céu. Vai, come o teu pão com alegria e bebe com prazer o teu vinho, porque a Deus agradam as tuas obras. Veste-te sempre com vestidos brancos, e haja sempre óleo perfumado na tua cabeça. Goza a vida com a mulher que amas, durante todos os dias da tua fugaz existência que Deus te concede debaixo do Sol. Esta é a tua parte na vida, entre os trabalhos que suportas debaixo do Sol. Tudo o que a tua mão possa fazer, fá-lo com todas as tuas faculdades, pois na região dos mortos para onde irás, não há trabalho nem inteligência, não há ciência nem sabedoria. Descobri ainda, debaixo do Sol, que a corrida não é para os ágeis, nem a batalha para os bravos, nem o pão para os prudentes, nem a riqueza para os doutos, nem o favor para os sábios: todos estão à mercê das circunstâncias e da sorte. O homem não conhece a sua própria hora: como os peixes apanhados na rede fatal, como os passarinhos que caem no laço, assim os homens são surpreendidos na hora da adversidade, quando ela cair sobre eles de improviso. Vi também, debaixo do Sol, este facto, que foi para mim uma grande lição: havia uma cidade pequena, pouco populosa, contra a qual veio um grande rei, que a sitiou e levantou contra ela grandes fortificações. Ora encontrava-se nela um homem pobre e sábio, cuja sabedoria salvou a cidade. Mas ninguém mais se lembrou deste homem pobre. Por isso, eu disse: A sabedoria vale mais que a força, mas a sabedoria do pobre é desprezada, e não são ouvidas as suas palavras. As palavras calmas dos sábios são mais ouvidas do que os gritos de um chefe entre os insensatos. Vale mais a sabedoria do que as máquinas de guerra. Mas um só pecador pode destruir muita coisa boa. Uma mosca morta infecta e estraga o azeite perfumado. Um pouco de loucura é suficiente para corromper a sabedoria. O coração do sábio vai para a sua direita; o coração do insensato, para a sua esquerda. Enquanto percorre o seu caminho, ao insensato, falta-lhe o entendimento e diz de cada um: «É louco!» Se a ira do príncipe se inflamar contra ti, não abandones o teu posto, porque a calma evita grandes males. Há um mal que eu vi debaixo do Sol, derivado de um desacerto da parte do soberano: o insensato ocupa os mais altos cargos e os homens de valor estão colocados nos postos inferiores. Vi escravos montar a cavalo e príncipes andar a pé, como escravos. Aquele que abre uma cova, poderá cair nela; quem derruba um muro, poderá ser mordido por uma serpente. O que transporta pedras poderá ser magoado por elas; aquele que racha lenha corre o risco de se ferir. Se o ferro estiver embotado e não for a amolar, é preciso redobrar esforços. O êxito será recompensa da sabedoria. Se a serpente não ficar encantada e morder, não há proveito para o encantador. As palavras dos sábios são apreciadas, mas os lábios dos insensatos serão a sua perdição. As suas primeiras palavras são uma estupidez e o fim do seu discurso é um desvario. O insensato multiplica as palavras; o homem ignora o seu futuro, e quem lhe poderá dizer o que há-de acontecer depois dele? O trabalho do insensato cansa-o, pois não sabe ir até à cidade. Ai de ti, país, que tens como rei um menino e cujos príncipes se banqueteiam desde a manhã. Feliz de ti, país, que tens um rei de família nobre e cujos príncipes comem no tempo devido, para se alimentarem e não para se embriagarem. Pelo desleixo cede a trave do tecto, e, pela negligência, chove em casa. Fazem-se festins para haver alegria; o vinho alegra a vida, e o dinheiro serve para tudo. Não digas mal do rei, nem mesmo em pensamento; não digas mal do rico, nem mesmo a sós, no teu quarto; porque as aves do céu transportam a voz e os pássaros repetem as palavras. Espalha o teu pão sobre a superfície das águas; passado muito tempo, achá-lo-ás de novo. Reparte do que tens com sete ou com oito pessoas; não sabes que calamidade pode sobrevir à terra. Quando as nuvens estiverem carregadas, derramarão chuva sobre a terra. Quer a árvore caia para o sul ou para o norte, onde cair, aí ficará. Quem observa o vento, não semeia; e o que examina as nuvens, não ceifa. Tal como desconheces o evoluir do espírito e dos ossos no ventre da mulher grávida, assim também não conheces as obras de Deus, que faz todas as coisas. Semeia de manhã a tua semente, e de tarde não deixes as tuas mãos ociosas, porque não sabes qual das coisas resultará melhor, se esta ou se aquela, ou se ambas são igualmente úteis. A luz é agradável e é um deleite para os olhos ver o Sol. Se um homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, deve pensar nos dias escuros que são numerosos: tudo o que acontece é ilusão. Jovem, regozija-te na tua mocidade e alegra o teu coração na flor dos teus anos. Segue os impulsos do teu coração e o que agradar aos teus olhos, mas sabe que, de tudo isso, Deus te pedirá contas. Lança fora do teu coração a tristeza, poupa o sofrimento ao teu corpo: também a meninice e a juventude são ilusão. Lembra-te do teu Criador nos dias da tua juventude, antes que venham os dias maus e cheguem os anos, dos quais dirás: «Não sinto neles prazer algum.» Antes que escureçam o Sol e a luz, a Lua e as estrelas, e voltem as nuvens depois da chuva; quando os guardas da tua casa começarem a tremer, e os homens robustos, a vergar; quando as mós deixarem de moer por serem poucas, e se escurecer a vista dos que olham pela janela; quando se fecham as portas da rua, quando enfraquece a voz do moinho, quando se acorda com o piar de um pássaro e emudecem as canções. Então, também haverá o medo das subidas, e haverá sobressaltos no caminho, enquanto a amendoeira abre em flor, o gafanhoto engorda, e a alcaparra perde as suas propriedades. Então, o homem encaminha-se para a sua casa da eternidade, e as carpideiras percorrem as ruas; antes que se rompa o cordão de prata e se quebre a bacia de oiro; antes que se parta a bilha na fonte, e se desenrole a roldana sobre a cisterna. Então o pó voltará à terra de onde saiu e o espírito voltará para Deus que o concedeu. Ilusão das ilusões – disse Qohélet – tudo é ilusão. Além de ser sábio, Qohélet ensinou a ciência ao povo. Estudou, investigou e compôs numerosas sentenças. Qohélet aplicou-se a encontrar sentenças agradáveis e a escrever com exactidão palavras de verdade. As palavras dos sábios são como aguilhões e as colectâneas dos autores, como estacas bem cravadas que foram postas por um só pastor. De resto, meu filho, fica prevenido: podem-se multiplicar os livros indefinidamente, mas o muito estudo é uma fadiga para o homem. O resumo do discurso, de tudo o que se ouviu, é este: teme a Deus e guarda os seus preceitos, porque este é o dever de todo o homem. Deus pedirá contas, no dia do juízo, de tudo o que está oculto, quer seja bom, quer seja mau. Cântico dos cânticos, que é de Salomão. Que ele me beije com beijos da sua boca! Melhores são as tuas carícias que o vinho, ao olfacto são agradáveis os teus perfumes; a tua fama é odor que se difunde. Por isso te amam as donzelas. Arrasta-me atrás de ti. Corramos! Faça-me entrar o rei em seus aposentos. Folgaremos e alegrar-nos-emos contigo; mais do que o vinho celebraremos teus amores. Com razão elas te amam. Sou morena, mas formosa, mulheres de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como os tecidos de Salomão. Não estranheis eu ser morena: foi o sol que me queimou. Comigo se indignaram os filhos de minha mãe, puseram-me de guarda às vinhas; e a minha própria vinha não guardei. Avisa-me tu, amado do meu coração: para onde levas o rebanho a apascentar? Onde o recolhes ao meio-dia? Que eu não tenha de vaguear oculta, atrás dos rebanhos dos teus companheiros. Se não tens disso conhecimento, ó mais bela das mulheres, sai no encalço do rebanho e apascenta as tuas cabrinhas junto às cabanas dos pastores. A uma égua entre os carros do Faraó eu te comparo, ó minha amiga. Formosas são as tuas faces entre os brincos, e o teu pescoço com os colares! Para ti faremos arrecadas de ouro com incrustações de prata. Enquanto o rei está em seu divã, o meu nardo dá o seu perfume. Uma bolsinha de mirra é o meu amado para mim, que repousa entre os meus seios; um cacho de alfena é o meu amado para mim, das vinhas de En-Guédi. Ah! Como és bela, minha amiga! Como são lindos os teus olhos de pomba! . Ah! Como é belo o meu amado! E como é doce, como é verdejante o nosso leito! Cedros são as vigas da nossa casa, e os ciprestes, o nosso tecto. Eu sou o narciso de Saron, eu sou o lírio dos vales. Tal como um lírio entre os cardos é a minha amada entre as jovens. Tal como a macieira entre as árvores da floresta é o meu amado entre os jovens. Anseio sentar-me à sua sombra, que o seu fruto é doce na minha boca. Leve-me para a sala do banquete, e se erga diante de mim a sua bandeira de amor. Sustentem-me com bolos de passas, fortaleçam-me com maçãs, porque eu desfaleço de amor. Por baixo da minha cabeça Ele põe a mão esquerda e abraça-me a sua mão direita. Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, pelas gazelas ou pelas corças do monte: não desperteis nem perturbeis o meu amor, até que ele queira. A voz de meu amado! Ei-lo que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas. O meu amado é semelhante a um gamo ou a um filhote de gazela. Ei-lo que espera, por detrás do nosso muro, olhando pelas janelas, espreitando pelas frinchas. Fala o meu amado e diz-me: Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha bela amada! Eis que o Inverno já passou, a chuva parou e foi-se embora; despontam as flores na terra, chegou o tempo das canções, e a voz da rola já se ouve na nossa terra; a figueira faz brotar os seus figos e as vinhas floridas exalam perfume. Levanta-te! Anda, vem daí, ó minha bela amada! Minha pomba, nas fendas do rochedo, no escondido dos penhascos, deixa-me ver o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz. Pois a tua voz é doce e o teu rosto, encantador. Agarrai-nos as raposas, essas raposas pequenas que devastam as vinhas, as nossas vinhas já floridas. O meu amado é para mim e eu para ele, ele é o pastor entre os lírios, até que rebente o dia e as sombras desapareçam. Volta, meu amado, e sê como um gamo ou um filhote de gazela pelas quebradas dos montes. No meu leito, toda a noite, procurei aquele que o meu coração ama; procurei-o e não o encontrei. Vou levantar-me e dar voltas pela cidade: pelas praças e pelas ruas, procurarei aquele que o meu coração ama. Procurei-o e não o encontrei. Encontraram-me os guardas que fazem ronda pela cidade: «Vistes aquele que o meu coração ama?» Mal me apartei deles, logo encontrei aquele que o meu coração ama. Abracei-o e não o largarei até fazê-lo entrar na casa de minha mãe, no quarto daquela que me gerou. Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, pelas gazelas ou pelas corças do campo: não desperteis nem perturbeis o meu amor, até que ele queira. Que é isto que sobe do deserto como colunas de fumo, exalando aroma de mirra e incenso e todos os perfumes dos mercadores? Eis a sua liteira, a de Salomão! Sessenta soldados a escoltam, dos mais briosos de Israel, todos cingidos de espada, experimentados no combate. Cada um tem à cintura a sua espada, sem temor dos perigos da noite. Um dossel fez para si o rei, Salomão, com madeiras do Líbano: fez de prata os seus pilares e o encosto, de ouro; o seu assento é de púrpura, o seu interior, incrustado com amor pelas mulheres de Jerusalém. Saí, mulheres de Sião, e admirai o rei Salomão com o diadema com que o coroou sua mãe no dia do seu casamento, no dia de festa do seu coração. Ah! Como és bela, minha amiga! Como estás linda! Teus olhos são pombas, por detrás do teu véu. O teu cabelo é como um rebanho de cabras que descem do monte Guilead; os teus dentes são um rebanho de ovelhas, a subir do banho, tosquiadas: todas elas deram gémeos e nenhuma ficou sem filhos. Como fita escarlate são teus lábios e o teu falar é encantador; as tuas faces são metades de romã, por detrás do teu véu. O teu pescoço é como a torre de David erguida para troféus: dela pendem mil escudos, tudo broquéis dos heróis. Os teus dois seios são dois filhotes gémeos de uma gazela que se apascentam entre os lírios, antes que rebente o dia e as sombras desapareçam. Quero ir ao monte da mirra e à colina do incenso. Toda bela és tu, ó minha amada, e em ti defeito não há. Vem do Líbano, esposa, vem do Líbano, aproxima-te. Desce do cimo de Amaná, do cume de Senir e do Hermon, dos esconderijos dos leões, das tocas dos leopardos. Roubaste-me o coração, minha irmã e minha noiva, roubaste-me o coração com um dos teus olhares, com uma só conta do teu colar. Como são doces as tuas carícias, minha irmã e noiva! Muito melhores que vinho são as tuas carícias; mais forte que todos os odores é a fragrância dos teus perfumes. Os teus lábios destilam doçura, ó minha noiva; há mel e leite sob a tua língua, e o aroma dos teus vestidos é como o aroma do Líbano. És um jardim fechado, minha irmã e minha esposa, um jardim fechado, uma fonte selada. Os teus rebentos são um pomar de romãzeiras com frutos deliciosos, com alfenas e nardos, nardo e açafrão, cálamo e canela, com toda a espécie de árvores de incenso, mirra e aloés, com todos os bálsamos escolhidos. És fonte de jardim, nascente de água viva que jorra desde o Líbano. Levanta-te, vento norte; vem, vento do sul; vem soprar no meu jardim. Que se espalhem os seus perfumes. O meu amado entrará no seu jardim e comerá os seus frutos deliciosos. Entrei no meu jardim, minha irmã e minha esposa, colhi a minha mirra e o meu bálsamo, do meu favo de mel, bebi o meu vinho e o meu leite. Comei, ó companheiros, bebei e embriagai-vos, ó bem amados! . Eu dormia, mas de coração desperto. Chamam! É a voz do meu amado, batendo à porta: Abre, minha irmã e amiga, pomba incomparável! Tenho a cabeça coberta de orvalho, e os meus cabelos, das gotas da noite. Já despi a minha túnica. Vou tornar-me a vestir? Já lavei os meus pés. Vou sujá-los de novo? Meu amado passou a sua mão pela fresta e as minhas entranhas estremeceram por ele. Levantei-me para abrir ao meu amado; as minhas mãos gotejavam mirra, os meus dedos eram mirra escorrendo nos trincos da fechadura. Fui abrir ao meu amado e o meu amado já tinha desaparecido. Fora de mim, corro atrás das suas palavras; procuro e não o encontro, chamo e não me responde. Encontram-me os guardas que fazem a ronda na cidade, espancam-me, ferem-me: arrancam-me o véu que me cobre os guardas das muralhas. Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém: se encontrardes o meu amado, sabeis o que dizer-lhe? Que eu desfaleço de amor. Elas* Que é o teu amado mais do que um amado, ó mais bela das mulheres? Que é o teu amado mais do que um amado, para assim nos conjurares? . O meu amado é alvo e rosado, distingue-se entre dez mil; a sua cabeça é de ouro maciço; são cachos de palmeira os seus cabelos, negros como o corvo; os seus olhos são como pombas, nos baixios das águas, banhadas em leite, pousadas no ribeiro. As suas faces são canteiros de bálsamo, onde crescem plantas perfumadas; os seus lábios são lírios, gotejam mirra que se expande; os seus braços são ceptros de ouro, engastados com pedras de Társis; o seu ventre é marfim polido, cravejado de safiras; as suas pernas são pilares de alabastro, assentes em bases de ouro fino; o seu aspecto é como o do Líbano, um jovem esbelto como os cedros; a sua boca é só doçura e todo ele é delicioso. Este é o meu amado; este, o meu amigo, mulheres de Jerusalém. Elas* Aonde foi o teu amado, ó mais bela das mulheres? Aonde foi o teu amado? E nós o buscaremos contigo. O meu amado desceu ao seu jardim, ao canteiro dos aromas, para apascentar nos jardins e para colher lírios. Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim, ele é o pastor entre os lírios . Tu és bela, minha amada, como Tirça, esplêndida como Jerusalém; és terrível como as coisas grandiosas. Afasta de mim os teus olhos, os olhos que me enlouquecem. A tua cabeleira é um rebanho de cabras que descem de Guilead; os teus dentes são um rebanho de ovelhas a subir do banho, tosquiadas: todas elas deram gémeos e nenhuma ficou sem filhos; as tuas faces são metades de romã, por detrás do teu véu. Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas e as donzelas, sem conta. Mas ela é única, minha pomba, minha perfeita; ela é a única para a sua mãe, a preferida daquela que a deu à luz. Louvam-na as donzelas quando a vêem, celebram-na rainhas e concubinas. Elas* Quem é essa que desponta como a aurora, bela como a Lua, fulgurante como o Sol, terrível como as coisas grandiosas? . Desci ao jardim das nogueiras, para admirar o vigor do vale, para ver se as vides rebentavam, se os cachos já se abriam. Nem conheço o desejo que me arrasta no carro com o meu príncipe. Amigos* Volta-te, volta-te, Sulamita! Volta-te, volta-te, para te vermos! Que vedes na Sulamita, quando baila entre dois coros? . Quão formosos são teus pés nas sandálias, ó princesa! As curvas dos teus quadris parecem colares, obra de mãos de artista. O teu umbigo é uma taça redonda. Que não falte o vinho doce! O teu ventre é monte de trigo, todo cercado de lírios. Os teus seios são dois filhotes gémeos de uma gazela; o teu pescoço, uma torre de marfim; os teus olhos, as piscinas de Hesbon, junto às portas de Bat-Rabim; o teu nariz é como a torre do Líbano, de vigia, voltada para Damasco. A tua cabeça ergue-se como o Carmelo e os teus cabelos são como púrpura; trazem um rei cativo dos seus laços. Como és bela, como és desejável, meu amor, com tais delícias! Esse teu porte é semelhante à palmeira, os teus seios são os seus cachos. Pensei: «Vou subir à palmeira, vou colher dos seus frutos.» Sejam os teus seios como cachos de uvas, e o hálito da tua boca, perfume de maçãs. A tua boca bebe o melhor vinho! Que ele escorra por sobre o meu amado, molhando-lhe os lábios adormecidos. Eu pertenço ao meu amado, e o seu desejo impele-o para mim. Anda, meu amado, corramos ao campo, passemos a noite sob os cedros; madruguemos pelos vinhedos, vejamos se as vides rebentam e se abrem os seus botões, e se brotam as romãzeiras. Ali te darei as minhas carícias. As mandrágoras exalam o seu perfume, à nossa porta há toda a espécie de frutos, frutos novos, frutos secos, que eu guardei, meu amado, para ti. Quem dera fosses meu irmão, amamentado aos seios da minha mãe! Ao encontrar-te na rua beijar-te-ia, sem censura de ninguém. Eu te levaria para casa de minha mãe e tu me ensinarias; dar-te-ia a beber do vinho perfumado, do mosto das minhas romãs. Com a sua mão esquerda debaixo da minha cabeça, a sua direita me abraça. Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém; não desperteis nem perturbeis o meu amor, até que ele queira. Elas* Quem é essa que sobe do deserto, encostada ao seu amado? Sob a macieira te despertei, lá onde a tua mãe sentiu as dores, onde sentiu as dores a que te deu à luz. Grava-me como selo em teu coração, como selo no teu braço, porque forte como a morte é o amor, implacável como o abismo é a paixão; os seus ardores são chamas de fogo, são labaredas divinas. Nem as águas caudalosas conseguirão apagar o fogo do amor, nem as torrentes o podem submergir. Se alguém desse toda a riqueza de sua casa para comprar o amor, seria ainda tratado com desprezo. Irmãos* Temos uma irmã pequenina; ela ainda não tem seios. Que faremos da nossa irmã, quando vierem falar nela? Se ela é uma muralha, nela faremos ameias de prata; se é uma porta, reforçá-la-emos com traves de cedro. Sim, eu sou uma muralha e os meus seios são torres. Por isso, a seus olhos me transformei naquela que traz a paz. Salomão tinha uma vinha em Baal-Hamon. Confiou a vinha a uns guardas: cada um lhe dava pelo fruto mil siclos de prata. A minha vinha é minha, fica comigo; para ti, Salomão, fiquem os mil siclos, e mais duzentos para os que lhe guardam o fruto. Estás sentada no meio dos jardins e os companheiros escutam a tua voz. Deixa-me também ouvir-te. Corre, meu amado! Sê como um gamo ou um filhote de gazela, pelos montes perfumados. Visão de Isaías, filho de Amós, acerca dos habitantes de Judá e Jerusalém no tempo de Uzias, de Jotam, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá. Ouvi, ó céus, e escuta, ó terra, porque é o Senhor quem te fala: «Criei filhos e fi-los crescer, mas eles revoltaram-se contra mim. O boi conhece o seu dono, e o jumento, o estábulo do seu senhor; mas Israel, meu povo, nada entende.» Ai de vós, nação pecadora, povo carregado de iniquidades, raça de malfeitores, filhos malvados! Abandonaram o Senhor, renegaram o Santo de Israel, voltaram-lhe as costas. Onde podereis ser castigados de novo, já que persistis na rebeldia? A vossa cabeça é uma chaga, o vosso coração está totalmente abatido. Desde a planta dos pés até ao alto da cabeça, não há nada de são em vós. Tudo são feridas, contusões, chagas vivas, que não foram curadas nem ligadas, nem suavizadas com azeite. A vossa terra está deserta, as vossas cidades incendiadas. Os estrangeiros devastam diante de vós os vossos campos. É a desolação e a destruição provocada pelos inimigos. Ficou apenas Sião, como cabana numa vinha, como choça num pepinal, como cidade sitiada. Se o Senhor do universo não nos tivesse conservado um pequeno resto, teríamos sido como Sodoma, seríamos agora como Gomorra. Ouvi a palavra do Senhor, ó príncipes de Sodoma; escutai a lição do nosso Deus, povo de Gomorra: «De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros, de gordura de bezerros. Não me agrada o sangue de vitelos, de cordeiros nem de bodes. Quando me viestes prestar culto, quem reclamou de vós semelhantes dons, ao pisardes o meu santuário? Não me ofereçais mais dons inúteis: o incenso é-me abominável; as celebrações lunares, os sábados, as reuniões de culto, as festas e as solenidades são-me insuportáveis. Abomino as vossas celebrações lunares e as vossas festas; estou cansado delas, não as suporto mais. Quando levantais as vossas mãos, afasto de vós os meus olhos; podeis multiplicar as vossas preces, que Eu não as atendo. É que as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos a malícia das vossas acções. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas. Vinde agora, entendamo-nos – diz o Senhor. Mesmo que os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve. Mesmo que sejam vermelhos como a púrpura, ficarão brancos como a lã. Se fordes dóceis e obedientes, comereis os bens da terra; se recusardes, se vos revoltardes, sereis devorados pela espada. É o Senhor quem o declara.» Como se tornou numa prostituta a cidade fiel! Outrora, cheia de direito, nela morava a justiça, mas agora são assassinos. Eras como a prata, que agora se converteu em escória; eras como bom vinho, que agora se misturou com água. Os teus governantes são rebeldes, companheiros de ladrões; andam todos à procura de regalias e de recompensas. Não defendem o direito dos órfãos nem se interessam pela questão das viúvas. Por este motivo, ó Israel, – oráculo do Senhor Deus do universo: «Pedirei satisfações aos meus adversários, hei-de vingar-me dos meus inimigos. Voltarei a minha mão contra ti, purificar-te-ei no crisol, eliminarei de ti todas as escórias. Restabelecerei os teus juízes como eram outrora, e os teus conselheiros como eram antigamente. Então serás chamada ‘Cidade justa’, ‘Cidade fiel.’» Sião será redimida pela rectidão, e os seus exilados, resgatados pela justiça. Mas os malvados e os pecadores serão destruídos, todos juntos, e os que abandonam o Senhor, perecerão. Então, tereis vergonha dos terebintos que tanto apreciastes e dos jardins sagrados que escolhestes. Sereis como um terebinto, com folhagem seca, como um jardim que não tem água. O homem forte será como estopa, e as suas más obras como faúlha; ambas arderão ao mesmo tempo, sem que ninguém as possa apagar. Visão profética de Isaías, filho de Amós, sobre Judá e Jerusalém: No fim dos tempos o monte do templo do Senhor estará firme, será o mais alto de todos, e dominará sobre as colinas. Acorrerão a ele todas as gentes, virão muitos povos e dirão: «Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém, a palavra do Senhor. Ele julgará as nações e dará as suas leis a muitos povos, os quais transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra. Vinde, Casa de Jacob! Caminhemos à luz do Senhor.» Tu, ó Deus, rejeitaste o teu povo, a casa de Jacob, porque está cheia de magos, de agoureiros como os filisteus, e pactuam com os estrangeiros. A sua terra está cheia de prata e de ouro, e os seus tesouros não têm fim. A sua terra está cheia de cavalos, e são inumeráveis os seus carros. É uma terra cheia de ídolos; prostram-se diante da obra de suas mãos, que os seus dedos fabricaram. Todos estes homens serão abatidos e humilhados; não lhes perdoarás de maneira nenhuma. Israelitas, refugiai-vos entre as rochas, escondei-vos, debaixo da terra, da presença aterradora do Senhor, e do esplendor da sua majestade. Então, a soberba dos homens será abatida, e a arrogância humana será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele dia. Porque será o Dia do Senhor do universo, contra todos os arrogantes, contra todos os soberbos e presunçosos, contra todos os cedros do Líbano, contra todos os carvalhos de Basan, contra todas as altas montanhas, contra todos os outeiros elevados, contra todas as torres altas, contra todas as muralhas fortificadas, contra todas as naus de Társis, contra todos os navios opulentos. A soberba dos mortais será abatida, a arrogância dos homens será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele dia. Todos os ídolos serão derrubados. Refugiai-vos na caverna dos rochedos e nos antros da terra, para escapardes à vista terrível do Senhor, ao esplendor da sua majestade, quando Ele se levantar para abalar a terra. Naquele dia o homem lançará aos ratos e aos morcegos os ídolos de prata e de ouro, que para si tinha feito, a fim de os adorar; refugiar-se-á nas cavernas dos rochedos, e nas aberturas das pedreiras, para escapar à vista terrível do Senhor, ao esplendor da sua majestade, quando Ele se levantar para abalar a terra. Cessai, pois, de confiar no homem, cuja vida é um sopro. Que estima podeis ter dele? Eis que o Senhor Deus do universo tirará de Jerusalém e de Judá todo o sustento: todo o sustento de pão, todo o sustento de água; o capitão e o soldado, o juiz e o profeta, o adivinho e o ancião, o oficial e o nobre, o conselheiro e o artesão, e o entendido em feitiçaria; em vez de príncipes dar-lhes-ei meninos, e serão governados por crianças. Os homens hão-de maltratar-se uns aos outros, cada um contra o seu próximo; o jovem insultará o idoso, e o plebeu, o nobre. Assim falará um irmão a outro irmão na casa paterna: «Já que tens pelo menos um manto, serás tu o nosso chefe, para governares esta ruína.» Quando chegar aquele dia, o outro lhe protestará: «Eu não sou médico, e na minha casa não há pão nem tenho manto; não me façais chefe do povo.» Jerusalém, com efeito, ameaça ruína, e Judá vai caindo, porque as suas palavras e as suas acções são contra o Senhor. Insultam a glória de Deus. O seu ar insolente depõe contra eles; ostentam publicamente, como Sodoma, os seus pecados. Ai deles, porque são causa da sua própria ruína. Feliz o justo, porque terá o bem, comerá o fruto das suas obras. Ai do ímpio, porque terá o mal, será tratado segundo as suas obras. Povo meu, és oprimido por crianças, dominado por mulheres; povo meu, os que te guiam desencaminham-te, destroem o caminho que deves seguir. O Senhor levanta-se para acusar, e ergue-se para julgar o seu povo. O Senhor entrará em juízo contra os anciãos e os chefes do seu povo: «Vós devorastes a minha vinha, e os despojos dos pobres enchem as vossas casas. Por que razão calcais aos pés o meu povo, e macerais o rosto dos pobres?» – Oráculo do Senhor Deus do universo. O Senhor disse: «Já que são tão orgulhosas as mulheres de Sião: andam com a cabeça emproada, lançam olhares desavergonhados, caminham com passo afectado, fazem soar as argolas dos seus pés», o Senhor tornará calvas as suas cabeças, o Senhor desnudá-las-á. Naquele dia, o Senhor lhes tirará todos os seus adornos: os anéis, os colares, as lúnulas, os brincos, as braceletes e os véus, os lenços da cabeça, as argolas dos pés e os cintos, os frascos de perfumes e os amuletos, os anéis dos dedos e argolas do nariz, os vestidos de festa, os mantos, os xailes e as bolsas, os espelhos e as musselinas, os turbantes e as mantilhas. Então, em lugar de perfume haverá mau cheiro; em vez de cinto, uma corda; em vez de cabelos entrançados, a calvície; em vez de vestidos sumptuosos, um saco; em vez da beleza, a vergonha. Os teus homens cairão mortos à espada, e os teus soldados tombarão no combate, hão-de entristecer-se e gemer as tuas portas; e, desolada, sentar-te-ás por terra. Naquele dia, sete mulheres lançarão mão de um só homem, dizendo-lhe: «Comeremos do nosso pão e vestir-nos-emos com a nossa roupa; deixa-nos apenas usar o teu nome e retira de nós a desonra.» Naquele dia, o rebento do Senhor tornar-se-á ornamento e glória, e o fruto da terra será grandeza e honra para os sobreviventes de Israel. Os que restarem em Sião, os sobreviventes de Jerusalém, serão chamados santos: todos serão inscritos em Jerusalém, entre os vivos. Quando o Senhor tiver purificado a imundície das filhas de Sião, e lavado em Jerusalém as manchas de sangue pelo vento da justiça e pelo vento da devastação, o Senhor criará, sobre todo o monte de Sião e na sua assembleia, uma nuvem de dia e um fumo como fogo ardente de noite. Por cima de tudo, a glória do Senhor, como um baldaquino, será uma tenda que dá sombra contra o calor do dia, e um abrigo e refúgio contra a chuva e a tempestade. Vou cantar em nome do meu amigo o cântico do seu amor pela sua vinha: Sobre uma fértil colina, o meu amigo possuía uma vinha. Cavou-a, tirou-lhe as pedras e plantou-a de bacelo escolhido. Edificou-lhe uma torre de vigia e nela construiu um lagar. Depois esperou que lhe desse boas uvas, mas ela só produziu agraços. «Agora, pois, habitantes de Jerusalém, e vós, homens de Judá, sede juízes, por favor, entre mim e a minha vinha. Que mais poderia Eu fazer pela minha vinha, que não tenha feito? Porque é que, esperando Eu que desse boas uvas, apenas produziu agraços? Agora, pois, mostrar-vos-ei o que hei-de fazer à minha vinha: destruirei a vedação para que sirva de pasto, e derrubar-lhe-ei a sebe para que seja pisada. Deixá-la-ei deserta, não será podada nem cavada; crescerão nela os espinhos e os abrolhos; mandarei às nuvens que não derramem chuva sobre ela.» A vinha do Senhor do universo é a casa de Israel; os homens de Judá são a sua cepa predilecta. Esperou deles a justiça, e eis que só há injustiça; esperou a rectidão, e eis que só há lamentações. Ai de vós os que juntais casas e mais casas e que acrescentais campos e mais campos, até que não haja mais terreno, e até que fiqueis os únicos proprietários em todo o país! Aos meus ouvidos chegou este juramento do Senhor do universo: «As suas muitas casas serão arrasadas, os seus palácios magníficos ficarão desabitados; três hectares de vinha produzirão apenas um cântaro, e dez medidas de semente não darão mais que um alqueire.» Ai dos que madrugam para procurarem a embriaguez e se retardam pela noite embriagados pelo vinho! Tudo são cítaras e harpas, pandeiretas e flautas e muito vinho nos seus banquetes; e não reparam nas obras do Senhor, nem consideram a obra das suas mãos. Por isso, o meu povo será desterrado sem de nada se dar conta. Os seus grandes serão consumidos pela fome, e a plebe mirrará de sede. Por isso, a habitação dos mortos alargará o seu seio e abrirá a sua boca, sem medida; a ela descerão os nobres e a plebe, com o barulho dos seus festejos. Todo o ser mortal se terá de curvar, todo o homem será humilhado, e os olhos altivos serão abatidos. E o Senhor do universo será exaltado na sua sentença, o Deus santo mostrará a sua santidade pelo julgamento. Os cordeiros pastarão nas ruínas, como em suas pastagens e aí se alimentarão os cabritos. Ai dos que arrastam culpas como bois atrelados, e pecados atados com cordas de carro! Vós dizeis: «Que Ele se apresse, que faça sem demora a sua obra, para que a gente a veja; que o plano do Santo de Israel se execute, para que o conheçamos!» Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que têm as trevas por luz e a luz por trevas, que têm o amargo por doce e o doce por amargo! Ai dos que se têm por sábios e que se julgam espertos! Ai dos que são valentes para beber vinho e fortes para misturar licores! Ai dos que, por suborno, absolvem o culpado e negam justiça ao inocente! Por isso, assim como a língua do fogo devora a palha, e a erva seca se consome na chama, a raiz deles há-de desfazer-se em podridão e a sua flor dissipar-se-á como o pó, porque rejeitaram a lei do Senhor do universo e desprezaram a palavra do Santo de Israel. Por isso, o furor do Senhor se inflamou contra o seu povo e estende a sua mão para o castigar. Tremem os montes, e os seus cadáveres jazem no meio das ruas como esterco. Mas com tudo isto, não se aplacou a sua cólera, e a sua mão está ainda levantada. Ele levantará um estandarte para chamar as nações longínquas, e dará assobios para as atrair dos confins da terra; ei-las que chegam depressa e velozes. Ninguém de entre eles se sente cansado ou vacilante, ninguém repousa nem dormita; ninguém desata o cinto dos seus rins, nem desaperta a correia das sandálias. As suas flechas estão aguçadas, os seus arcos estão retesados. Os cascos dos seus cavalos são como pederneira, e as rodas dos seus carros assemelham-se ao furacão. O seu rugido é de leão, rosna como um leãozinho. Ele brame, agarra a sua presa, leva-a, sem haver quem lha arrebate. Naquele dia, tal exército bramirá contra Israel como o bramido do mar. Olhai a terra envolta em trevas espessas e em nuvens que cobrem a luz. No ano em que morreu o rei Uzias, vi o Senhor sentado num trono alto e elevado; as franjas do seu manto enchiam o templo. Os serafins estavam diante dele e cada um tinha seis asas: com duas asas cobriam o rosto, com duas asas cobriam o corpo, com duas asas voavam. E clamavam uns para os outros: «Santo, santo, santo, o Senhor do universo! Toda a terra está cheia da sua glória!» E tremiam os gonzos das portas ao clamor da sua voz, e o templo encheu-se de fumo. Então disse: «Ai de mim, estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, que habita no meio de um povo de lábios impuros, e vi com os meus olhos o Rei, Senhor do universo!» Um dos serafins voou na minha direcção; trazia na mão uma brasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz. Tocou na minha boca e disse: «Repara bem, isto tocou os teus lábios; foi afastada a tua culpa e apagado o teu pecado!» Então, ouvi a voz do Senhor que dizia: «Quem enviarei? Quem será o nosso mensageiro?» Então eu disse: «Eis-me aqui, envia-me.» O Senhor replicou: «Vai, pois, e diz a esse povo: ouvi, tornai a ouvir, mas não compreendereis. Vede, tornai a ver, mas não percebereis. Endurece o coração deste povo, ensurdece-lhe os ouvidos, fecha-lhe os olhos. Que os seus olhos não vejam, que os seus ouvidos não ouçam, que o seu coração não entenda, que não se converta e Eu o cure.» Perguntei: «Até quando, Senhor?» Ele respondeu: «Até que as cidades fiquem devastadas e sem habitantes, as casas sem gente e os campos desertos. Expulsarei os homens para longe, haverá grande desolação no país. Se restar um décimo da população, esse será também cortado. Mas acontecerá como ao terebinto e ao carvalho, que uma vez cortados, deixam um rebento. Esse rebento será uma semente santa.» Em Judá, reinava Acaz, filho de Jotam e neto de Uzias. Aconteceu que Recin, rei de Damasco e Pecá, filho de Remalias, rei de Israel, marcharam contra Jerusalém para a combater, mas não puderam apoderar-se dela. Chegou a notícia ao herdeiro de David: «Os sírios acampam em Efraim.» Ao ouvir isto, agitou-se o coração do rei e do seu povo, como se agitam as árvores das florestas impelidas pelo vento. Então o Senhor disse a Isaías: «Sai ao encontro de Acaz com o teu filho Chear-Yachub, na extremidade do aqueduto da piscina superior, junto à Calçada do Bataneiro, e diz-lhe: ‘Tranquiliza-te, tem calma, não temas nem te acobardes diante do furor de Recin, rei da Síria, e de Pecá, filho de Remalias: não passam de dois tições fumegantes. De facto, a Síria, Efraim e o filho de Remalias decidiram a tua ruína dizendo: Vamos contra Judá e sitiemo-la, e proclamaremos rei o filho de Tabiel.’» Assim diz o Senhor Deus, «Tal não acontecerá nem se realizará. Assim como é verdade que a capital da Síria é Damasco, e que o chefe de Damasco é Recin; que a capital de Efraim é Samaria, e que o chefe da Samaria é o filho de Remalias; também é verdade que daqui a cinco ou seis anos Efraim será destruída, deixará de ser povo. Se não o acreditardes, não subsistireis.» O Senhor mandou dizer de novo a Acaz: «Pede ao Senhor teu Deus um sinal, quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.» Acaz respondeu: «Não pedirei tal coisa, não tentarei o Senhor.» Isaías respondeu: «Escuta, pois, casa de David: Não vos basta já ser molestos para os homens, senão que também ousais sê-lo para o meu Deus? Por isso, o Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel. Ele será alimentado com requeijão e mel até que saiba rejeitar o mal e escolher o bem. Porque antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, cujos dois reis tu temes, será devastada.» O Senhor fará vir sobre ti, sobre o teu povo e a tua dinastia, dias tais como ainda não foram vistos, desde que Efraim se separou de Judá. Ele mandará o rei da Assíria. Naquele dia o Senhor assobiará aos moscardos, que vivem nos mais afastados canais do Egipto, e às abelhas que vivem no país da Assíria. Virão todos e pousarão nos vales e nas torrentes, nas cavernas dos rochedos, em todos os matos e em todas as pastagens. Naquele dia, o Senhor mandará vir o rei da Assíria, do outro lado do rio Eufrates, rapar-vos a cabeça, o pêlo do corpo e a barba. Naquele dia cada um criará uma vaca e duas ovelhas; e, pela grande abundância do leite, comerão requeijão e mel todos os que ficarem na terra. Naquele dia, um terreno de mil cepas no valor de mil peças de prata, produzirá apenas abrolhos e espinhos. Ali não se entrará senão com arco e setas, porque toda a terra estará coberta de abrolhos e espinhos. Não entrarás agora, em todas as colinas cultivadas à enxada, pelo temor dos abrolhos e dos espinhos; apenas servirão para pasto dos bois e para serem pisadas pelas ovelhas.» O Senhor disse-me: «Pega numa tábua grande e escreve nela em caracteres legíveis: Maher-Chalal-Hach-Baz.» Tomei depois duas testemunhas fidedignas: o sacerdote Urias e Zacarias, filho de Baraquias. Juntei-me à minha mulher, a profetisa, que ficou grávida e deu à luz um filho. E o Senhor disse-me: «Chama-lhe: Pronto-para-o-saque-veloz-para-a-presa, porque antes que o menino saiba dizer ‘papá’, ‘mamã’, as riquezas de Damasco e os despojos da Samaria serão levados à presença do rei da Assíria.» O Senhor disse-me de novo: «Este meu povo rejeitou as minhas águas de Siloé, que correm tranquilas, mas tremeu diante de Recin e do filho de Remalias. Por isso farei cair sobre eles as águas abundantes e impetuosas do Eufrates, isto é, o rei da Assíria com todo o seu exército; sobem acima das margens, transbordam das ribeiras, invadem Judá, inundam e submergem, chegam até ao pescoço. As suas margens estender-se-ão até cobrirem a vastidão da tua terra, ó Emanuel!» Sabei, ó povos, que sereis esmagados! Ouvi com atenção, vós, nações longínquas! Tomai as vossas armas e sereis destruídas! Repito: pegai nas vossas armas, que sereis destruídas. Traçai planos, que serão frustrados; ordenai ameaças, que não serão executadas, pois temos o Emanuel: «Deus-connosco.» Assim me falou o Senhor, quando me agarrou com a sua mão para me afastar do caminho deste povo: «Não chameis conspiração ao que este povo chama conspiração; não temais o que ele teme, nem vos assusteis. Só ao Senhor do universo é que deveis chamar santo. Ele é o único que deveis temer e respeitar. Ele será um santuário, mas também a pedra de tropeço, a rocha de precipício para as duas casas de Israel: será laço e cilada para os habitantes de Jerusalém. Muitos tropeçarão nela, cairão e serão despedaçados, serão enredados no laço e ficarão presos.» Guardo o testemunho, selo esta instrução, que só revelo aos meus discípulos. Terei confiança no Senhor, que esconde a sua face à casa de Jacob, mas eu ponho nele a minha esperança. Eis que eu e os filhos que o Senhor me deu somos em Israel sinal e presságio da parte do Senhor do universo, que habita no monte Sião. Hão-de dizer-vos: «Consultai os espíritos dos mortos e os adivinhos que murmuram e predizem o futuro. Porventura não deve o povo consultar os seus deuses e consultar os mortos em benefício dos vivos?» Quando vos falarem assim, respondei: «Só devemos dar ouvidos às instruções do Senhor.» Quem não actuar assim não verá a aurora. O povo andará errante pela terra, oprimido e esfomeado. Agastado pela fome, amaldiçoará o seu rei e o seu Deus. Levantará os seus olhos para o alto, depois olhará para a terra e não verá senão angústia, trevas, aflição e espessa escuridão. Não haverá senão obscuridade e angústia nesta terra. No tempo passado, o Senhor humilhou a terra de Zabulão e o país de Neftali; no futuro cobrirá de glória o caminho do mar, do outro lado do Jordão, a Galileia dos gentios. O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles. Multiplicaste a alegria, aumentaste o júbilo; alegram-se diante de ti como os que se alegram no tempo da colheita, como se regozijam os que repartem os despojos. Pois Tu quebraste o seu jugo pesado, a vara que lhe feria o ombro e o bastão do seu capataz, como na jornada de Madian. Porque a bota que pisa o solo com arrogância e a capa empapada em sangue serão queimadas e serão pasto das chamas. Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da paz. Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites, sobre o trono de David e sobre o seu reino. Ele o estabelecerá e o consolidará com o direito e com a justiça, desde agora e para sempre. Assim fará o amor ardente do Senhor do universo. O Senhor proferiu uma ameaça contra Jacob, e ela caiu sobre Israel. Chegará ao conhecimento de todo o povo, de Efraim e dos habitantes da Samaria, os quais, na sua soberba e dureza de coração, exclamam: «Os tijolos caíram, mas nós edificaremos com pedras lavradas; as traves de madeira dos sicómoros foram abatidas, mas nós as substituiremos por madeira de cedros.» O Senhor lançará contra eles os inimigos e estimulará os seus adversários: a oriente, Damasco; a ocidente, os filisteus; estes devorarão Israel à boca cheia. Apesar de tudo isto, não se aplaca a sua ira; antes, a sua mão continuará a castigar. Porém, o povo não se voltou para quem o feria, não procurou o Senhor do universo. O Senhor cortará a cabeça e a cauda de Israel, a palma e o junco num só dia. O ancião e o nobre são a cabeça, o profeta que ensina a mentira é a cauda. Os que dirigem este povo desencaminham-no, e os dirigidos perdem-se. Por isso, o Senhor não se compadece dos jovens e não tem piedade dos orfãos e das viúvas. Todos eles são ímpios e maus, toda a gente só profere loucuras. Apesar de tudo isto não se aplaca a sua ira; antes, a sua mão continuará a castigar. A iniquidade está ardendo como um fogo que devora os abrolhos e os espinhos e ateia um incêndio na floresta, levantando para o alto turbilhões de fumo. A cólera do Senhor do universo faz arder o país e o povo é pasto das chamas: ninguém poupa a ninguém, nem aos irmãos. Corta-se à direita e fica-se com fome, devora-se à esquerda e ninguém se sacia. Manassés contra Efraim, Efraim contra Manassés, e os dois juntos contra Judá. Apesar de tudo isto, não se aplaca a sua ira; antes, a sua mão continuará a castigar. Ai dos que decretam leis injustas, e dos que redigem prescrições opressoras, dos que afastam os pobres do tribunal e zombam dos direitos dos fracos do meu povo, fazendo das viúvas a sua presa e roubando os bens dos órfãos! Que fareis vós no dia do ajuste de contas, quando o furacão vier de longe? A quem acudireis em busca de auxílio e onde escondereis as vossas riquezas? Só vos resta dobrar a cerviz entre os cativos e cair entre os mortos. Apesar de tudo isto, não se aplaca a sua ira; antes, a sua mão continuará a castigar. Ai da Assíria, vara da minha cólera, o bastão das suas mãos é o bastão do meu furor! Eu o atirei contra uma nação ímpia e o lancei contra o povo, objecto do meu furor, para o saquear e despojar e para o calcar aos pés como lama das ruas. Mas ele não entendeu assim, nem eram estes os planos do seu coração. O seu propósito era destruir e exterminar muitas nações. Dizia, com efeito: «Porventura não são todos reis os meus oficiais? Não aconteceu à cidade de Calnó como à de Carquémis, à cidade de Hamat como à de Arpad, à cidade de Samaria como à de Damasco? Como a minha mão se apoderou daqueles reinos de ídolos, com imagens mais ricas que os de Jerusalém e Samaria, como tratei Samaria e os seus ídolos, não hei-de fazer o mesmo a Jerusalém e aos seus ídolos?» Mas quando o Senhor tiver terminado toda a sua obra no Monte Sião e em Jerusalém, irá castigar também o rei da Assíria pelo orgulho do seu coração e pela sua arrogância insolente. Realmente ele afirma: «Foi pela força da minha mão que fiz isto, com a minha sabedoria, porque sou inteligente. Mudei as fronteiras dos povos, saqueei os seus tesouros, como um herói derrubei toda aquela gente. Apanhei com a minha mão a riqueza dos povos, como quem recolhe os ovos deixados num ninho. Juntei a terra inteira e ninguém bateu as asas, nem abriu a boca para piar.» Acaso gloriar-se-á o machado contra quem o maneja? Ou levantar-se-á a serra contra o serrador? Um bastão não pode comandar um homem, é o homem que faz mover o bastão. Por isso, o Senhor Deus do universo enfraquecerá com a doença aqueles guerreiros; debaixo do fígado acender-lhes-á uma febre como um fogo de incêndio. A luz de Israel será como um fogo, e o Deus santo, como uma chama que abrasará e devorará os seus abrolhos e os seus espinhos, num só dia. O esplendor do seu bosque e do seu jardim será aniquilado no corpo e na alma, como um doente que definha e morre. As árvores que ficarem nos seus bosques serão tão poucas que até um menino as poderá contar. Naquele dia, o resto de Israel e os sobreviventes de Jacob já não voltarão a apoiar-se no seu agressor, mas apoiar-se-ão com confiança no Senhor, o Santo de Israel. Um resto voltará, um resto de Jacob, para o Deus forte. Ainda que o teu povo, ó Israel, fosse tão numeroso como a areia do mar, só um resto dele voltará. A destruição decretada é mais do que justa. O Senhor Deus do universo vai cumprir em toda a terra este decreto de destruição. Por isso, o Senhor Deus do universo diz: «Povo meu, que habitas em Sião, não temas a Assíria que te fere com a vara, que levanta o seu bastão contra ti, como outrora os egípcios. Porque, dentro de muito pouco tempo, a minha indignação irá destruí-los, a minha cólera, aniquilá-los. Eu, o Senhor do universo, levantarei o açoite contra eles, como quando feri Madian no penhasco de Oreb, como quando levantei o meu bastão contra o mar, no caminho do Egipto.» Naquele dia, será retirada a carga que ele impôs sobre os teus ombros e desaparecerá o jugo que ele colocou no teu pescoço. É o jugo confrontado com a abundância. O inimigo chegou à cidade de Aiat; passou por Migron e revistou as tropas em Micmás. Passaram o desfiladeiro. Durante a noite acamparam em Gueba. O povo de Ramá está aterrorizado, e o de Guibeá de Saul está em fuga. Grita forte, povo de Bat-Galim, escuta, gente de Laícha, responde povo de Anatot. Os de Madmena e os de Guebim põem-se em fuga. Mais um dia, para descansar em Nob, e já levanta a sua mão contra o monte Sião, contra a colina de Jerusalém. Olhai, o Senhor Deus do universo quebrará o inimigo como se quebram os ramos com um só golpe, como se cortam as grandes árvores e se abatem os ramos altos; abaterá o inimigo como se abate a madeira do bosque com a machada, como se deita por terra o Líbano com o seu esplendor. Brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o espírito do Senhor, espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor. Não julgará pelas aparências nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer; mas julgará os pobres com justiça e com equidade os humildes da terra; ferirá os tiranos com os decretos da sua boca e os maus com o sopro dos seus lábios. A justiça será o cinto dos seus rins, e a lealdade circundará os seus flancos. Então o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos, e um menino os conduzirá. A vaca pastará com o urso, e as suas crias repousarão juntas; o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará na toca da víbora, e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente. Não haverá dano nem destruição em todo o meu santo monte, porque a terra está cheia de conhecimento do Senhor, tal como as águas que cobrem a vastidão do mar. Naquele dia, a raiz de Jessé, estandarte dos povos, será procurada pelas nações e será gloriosa a sua morada. Naquele dia, o Senhor levantará de novo a sua mão para resgatar o resto do seu povo, os sobreviventes da Assíria e do Egipto, dos territórios de Patros, de Cuche, de Elam, de Chinear, de Hamat e das ilhas do mar. Levantará o seu estandarte diante das nações, para juntar os exilados de Israel e reunir os dispersos de Judá dos quatro cantos da terra. Cessará a inveja de Efraim e terminarão os rancores de Judá: Efraim não mais invejará Judá, nem Judá terá rancor contra Efraim. Atacarão, pelo ocidente, os filisteus, e, juntos, saquearão os povos a oriente. Conquistarão os povos da Idumeia e Moab, e os de Amon prestar-lhes-ão obediência. O Senhor secará o braço de mar do Egipto, e levantará a mão contra o Eufrates; com o seu sopro ardente ferirá os seus sete canais, que se passarão a pé enxuto. E haverá uma estrada para o resto do seu povo que escapar da Assíria, tal como existiu para Israel, no dia em que subiu da terra do Egipto. Cantarás naquele dia: «Dou-te graças, Senhor, porque estando irritado contra mim, a tua ira se aplacou e me consolaste. Este é o Deus da minha salvação; estou confiante e nada temo, porque a minha força e o meu canto de vitória é o Senhor; Ele foi a minha salvação.» Tirareis água com alegria das fontes da salvação. Naquele dia cantareis: «Louvai o Senhor, invocai o seu nome, anunciai as suas obras entre os povos; proclamai que o seu nome é excelso. Cantai ao Senhor porque Ele fez maravilhas; anunciai-as em toda a terra. Exultai de alegria, habitantes de Sião, e proclamai como é grande no meio de ti o Santo de Israel.» Oráculo contra a Babilónia revelado por Deus a Isaías, filho de Amós: Levantai o estandarte de guerra sobre um monte escalvado, gritai-lhes com força e fazei sinais às tropas para que ataquem a cidade pelas portas dos príncipes. Eu mesmo dei ordens aos meus guerreiros consagrados: são instrumentos da minha ira, os entusiastas da minha honra. Escutai esta vozearia sobre os montes, como de imensa multidão; escutai este tumulto de reinos e de nações reunidas. O Senhor do universo passa revista às suas tropas para a batalha. Vão chegando de um país longínquo, dos confins do mundo. São os instrumentos do furor do Senhor para devastar a terra. Estremecei porque o Dia do Senhor está perto, virá como açoite do Todo-poderoso. Por causa disto, desfalecerão todos os braços, os corações dos homens desanimarão. Hão-de encher-se de terror e de angústia, hão-de contorcer-se como as parturientes. Olharão com espanto uns para os outros; os seus rostos estão inflamados. Olhai: vem o Dia do Senhor, dia de furor implacável, de ira ardente, para reduzir a terra a um deserto e exterminar dela os pecadores. As estrelas do céu e as suas constelações deixarão de brilhar; o Sol há-de obscurecer-se desde o seu nascer, e a Lua não irradiará a sua luz. Castigarei o mundo pelos seus crimes, e os pecadores, pelas suas iniquidades; porei fim à insolência dos soberbos e humilharei a arrogância dos opressores. Farei com que os sobreviventes sejam mais raros do que o ouro, mais raros que o ouro de Ofir. Por isso é que sacudirei os céus, e moverei a terra do seu lugar. É o furor do Senhor do universo, o dia da sua ira ardente. Na Babilónia serão como gazelas assustadas, como rebanho sem pastor: cada qual, porém, voltará para o seu povo ou fugirá para a sua terra. Os que forem encontrados serão mortos, os que forem presos cairão passados à espada. Os seus filhinhos serão massacrados diante dos seus olhos, as suas casas serão saqueadas, e as suas mulheres serão violadas. Olhai: suscitarei contra eles os habitantes da Média, que não se deixam corromper, nem por prata nem por ouro. Os seus arcos abatem os jovens; não se compadecem dos recém-nascidos, nem os seus olhos têm piedade das crianças. Então Babilónia, a flor dos reinos, jóia e orgulho dos caldeus, será destruída por Deus, como o foi Sodoma e Gomorra. Nunca mais será habitada, nem povoada até ao fim dos tempos. Jamais o beduíno ali acampará, e os pastores não apascentarão ali os seus rebanhos. As feras farão ali o seu covil, os mochos encherão as suas casas, morarão ali as avestruzes, e os sátiros ali dançarão. As hienas uivarão nas suas mansões, e os chacais nos seus palácios luxuosos. A sua hora está prestes a chegar, e os seus dias não serão prolongados. O Senhor terá compaixão de Jacob, voltará a escolher Israel e os estabelecerá na sua terra. Os estrangeiros agregar-se-ão a eles, incorporar-se-ão ao povo de Jacob. As nações os irão recolhendo e os conduzirão à sua morada. Mas Israel os possuirá como servos e servas na terra do Senhor. Farão prisioneiros aqueles que os tinham prendido e subjugarão os seus opressores. Então, no dia em que o Senhor te tiver dado repouso dos teus trabalhos e tormentos e da dura servidão a que estiveste sujeito, entoarás este cântico contra o rei da Babilónia: «Como acabou o opressor e cessou a tirania! O Senhor despedaçou o bastão dos ímpios e o ceptro dos tiranos, daquele que feria os povos com furor, com golpes sem fim, e sujeitava as nações com brutalidades, sob um jugo cruel. Finalmente a terra está em descanso e em paz, e todos cantam de alegria. Até os ciprestes e os cedros do Líbano se regozijam da tua queda: ‘Desde que tu caíste, já não subirá o lenhador para nos cortar’. A morada dos mortos, lá em baixo, agita-se para vir ao teu encontro. Despertam, em tua honra, os fantasmas dos grandes, de todos os senhores da terra, e levantam-se dos seus tronos todos os reis das nações. Todos tomarão a palavra para te dizer: ‘Também tu foste reduzido a nada como nós e tornado igual a nós! A tua glória e o som das tuas harpas desceram à morada dos mortos. Jazes sobre um leito de larvas, e a tua coberta são os vermes’. Como caíste dos céus, estrela da manhã, filho da aurora? Como foste abatido por terra, ó dominador das nações? Tu que dizias no teu coração: ‘Subirei aos céus, estabelecerei o meu trono acima das estrelas de Deus, sentar-me-ei na montanha da Assembleia, na extremidade do céu; subirei acima das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo’. Infeliz! Foste precipitado no abismo, no mais profundo do mundo dos mortos! Os que te vêem ficarão a olhar para ti e meditam na tua sorte: ‘É este aquele que fazia tremer a terra e abalar os impérios, que fazia do mundo um deserto, destruía as cidades e não abria a prisão aos seus cativos?’ Todos os reis das nações repousam honrados, cada um no seu túmulo. Mas tu foste atirado para longe do teu túmulo como raiz apodrecida; foste coberto de cadáveres trespassados à espada, projectado nas pedras da vala, como uma carcaça pisada aos pés. Não te reunirás a eles no sepulcro, porque arruinaste o teu país e assassinaste o teu povo. Jamais se falará da tua descendência maldita. Preparai para os seus filhos um massacre por causa dos crimes dos pais, não aconteça que se levantem, reconquistem e encham a terra de cidades. Levantar-me-ei contra os babilónios – oráculo do Senhor do universo – e suprimirei o nome da Babilónia, a sua posteridade e a sua descendência –oráculo do Senhor. Reduzi-la-ei a um ninho de ouriços e a um pântano, e varrê-la-ei com a vassoura da destruição» – oráculo do Senhor do universo. Jurou o Senhor do universo: «Como planeei, assim acontecerá, como resolvi, assim se cumprirá. Esmagarei a Assíria na minha terra de Israel e calcá-la-ei aos pés sobre os meus montes; o meu povo será livre do seu jugo, e o seu peso será afastado dos seus ombros. Eis a decisão tomada sobre toda a terra, eis que a minha mão se levanta sobre todas as nações.» O Senhor do universo o decretou; quem poderá opor-se? Se a sua mão está levantada, quem a desviará? No ano da morte do rei Acaz foi pronunciado este oráculo: «Não te alegres tu, ó terra da Filisteia, por se ter despedaçado a vara que te feria; porque da estirpe da serpente nascerá uma víbora, e desta nascerá um dragão. Os abandonados do meu povo serão apascentados como ovelhas, e os pobres sentir-se-ão seguros. Mas farei morrer de fome a tua raça e destruirei a tua posteridade. Geme, ó porta! Grita, ó cidade! Estremece toda, ó terra da Filisteia, porque do Norte vem uma nuvem de pó, vêm batalhões em colunas cerradas. Que se há-de responder aos mensageiros desta nação? Que o Senhor fundou Sião, e que nela encontrarão refúgio os humilhados do seu povo.» Oráculo contra Moab: «Na noite em que atacaram Ar, Moab foi destruída; na noite em que atacaram Quir, Moab foi destruída. O povo de Dibon subiu ao templo e aos lugares sagrados para chorar; Moab está gemendo por Nebo e por Madabá, com as cabeças rapadas e as barbas cortadas. Andam pelas ruas vestidos de luto, pelos terraços e pelas praças, todos se lamentam desfeitos em pranto. Hesbon e Elalé soltam gritos, e a sua voz foi ouvida até em Jaás; razão por que os soldados de Moab estremecem e os seus ânimos desfalecem. O meu coração solta gemidos por Moab: os seus fugitivos chegam a Soar e a Eglat-Chelichia. Sobem chorando a encosta de Luit, pelo caminho de Horonaim soltam gemidos de aflição. As águas de Nimerim extinguiram-se, secou-se a erva, murchou a vegetação, não há mais verdura. Por isso, carregam com haveres e provisões, para o lado da torrente dos Salgueiros. O seu pranto rodeia todas as fronteiras de Moab, as suas lamentações ouvem-se em Eglaim, até Beer-Elim, chega o seu alarido. As águas de Dimon estão cheias de sangue. Enviarei sobre Dimon novas desgraças: um leão contra os que escaparem de Moab, contra os poucos sobreviventes do país.» Enviai cordeiros ao soberano do país, desde Sela, no deserto, ao monte de Sião. Como aves espantadas, como uma ninhada dispersa, assim vão as filhas de Moab pelos vaus do Arnon, pedindo: «Aconselha-nos, toma uma decisão; cobre-nos com a tua sombra em pleno meio-dia, como se fosse meia-noite, esconde os exilados, não entregues os fugitivos. Esconde na tua casa os exilados de Moab, sê para eles um refúgio perante o devastador. Quando a opressão desaparecer, a devastação chegar ao fim, e o invasor deixar a terra, o trono será fundado na clemência, e sobre ele sentar-se-á com lealdade o descendente de David. Será um juiz zeloso do direito e preocupado com a justiça.» Temos ouvido falar da soberba de Moab, uma soberba desmedida; da sua arrogância, altivez e insolência; não são correctas as suas pretensões. Por isso, os moabitas gemerão por Moab, todos se hão-de lamentar. Pelas tortas de uvas de Quir-Haréchet, suspiram, agora, aflitos. Os campos de trigo de Hesbon estão devastados, assim como as vinhas de Sibma. Os senhores das nações arrasaram os seus sarmentos. Elas chegavam até Jazer e iam perder-se no deserto. Os seus rebentos multiplicavam-se e atravessavam o Mar Morto. Por isso, choro como o povo de Jazer sobre as vinhas de Sibma; banho-vos com as minhas lágrimas, Hesbon e Elalé. É que da tua vindima e das tuas colheitas desapareceram as canções de alegria. A alegria e o regozijo desapareceram das hortas, nas vinhas não há cânticos alegres, não se pisa mais vinho nos lagares e cessaram as canções. Por isso, as minhas entranhas vibram como uma harpa por Moab, e o meu coração por Quir-Heres. Havemos de ver Moab afadigar-se por subir aos lugares altos e entrar no seu santuário para orar, mas de nada lhes valerá. Este é o oráculo que o Senhor pronunciou outrora contra Moab. Mas agora o Senhor volta a dizer: «Daqui a três anos, sem um dia a mais, será humilhada a nobreza de Moab, com toda a sua numerosa gente; os que ficarem serão poucos, fracos e impotentes.» Oráculo contra Damasco: Eis que Damasco vai deixar de ser cidade: será reduzida a um montão de ruínas. As suas cidades, abandonadas para sempre, ficarão para os rebanhos, que repousarão ali sem que ninguém os espante. Efraim perderá as suas fortalezas e Damasco a sua realeza; e ao resto dos arameus acontecerá como à nobreza de Israel oráculo do Senhor do universo. Naquele dia, a riqueza de Jacob ficará pobre e macilenta a gordura do seu corpo: será como o ceifeiro a apanhar o trigo; com o seu braço ceifa as espigas; será como quando se apanham as espigas no vale de Refaim, e fica só um rebusco; como quando se vareja uma oliveira e ficam só duas ou três azeitonas, no alto da copa, e quatro ou cinco nos ramos frutíferos oráculo do Senhor, Deus de Israel. Naquele dia, o homem olhará para o seu criador, e seus olhos contemplarão o Santo de Israel; não mais olhará para os altares portáteis que fabricou, nem contemplará os ídolos da deusa Achera e as estelas solares que os seus dedos modelaram. Naquele dia, as tuas cidades fortes serão abandonadas como as cidades dos amorreus e dos heveus diante dos israelitas, e ficarão desabitadas. Porque esqueceste a Deus, teu salvador, e não te lembras da rocha do teu refúgio. Por isso, plantavas jardins de Adónis e fazias sementeiras em honra dos deuses estrangeiros. No mesmo dia em que as plantas germinavam, logo de manhã as sementes floresciam; mas a colheita será nula no dia da desgraça, e o mal será irremediável. Ah! O ruído de povos numerosos, como o ruído dos mares embravecidos! O bramir de nações, como o bramir de águas caudalosas! O Senhor ameaça-as e elas fogem para longe; como o feno dos montes, são levados pelo vento, e como a flor seca dos cardos, pelo vendaval. Pela tarde, vem a consternação; antes da manhã, já nada existe. Este será o destino dos que nos saqueiam, a sorte dos que nos despojam. Ai da terra onde se ouve o zumbido das asas, que fica para além dos rios de Cuche, que envia mensageiros pelo Nilo, em barcos de junco sobre as águas! Correi, mensageiros velozes, para um povo esbelto e bronzeado, para um povo sempre temido, para uma nação sempre poderosa e longínqua, que espezinha os inimigos cuja terra é sulcada por canais. Vós que habitais o mundo e povoais a terra, quando for levantado o estandarte nos montes, olhai; quando soar a trombeta, escutai. Assim me disse o Senhor, «Desde a minha morada, contemplo sereno, como o calor ardente do meio-dia, como a nuvem do orvalho no tempo quente da colheita.» Acontecerá como antes da vindima, quando a vinha já tem flor, quando a flor se tornou cacho e uva amadurecida. É então que são cortadas as gavinhas com a podadeira e os sarmentos são arrancados e lançados fora. Serão abandonados aos abutres dos montes e aos animais selvagens da terra. Os abutres dominam no Verão, e os animais selvagens no Inverno. Naquele tempo, esse povo esbelto de pele bronzeada, esse povo poderoso e longínquo, essa nação temida que espezinha os inimigos, cuja terra é sulcada pelos canais, há-de trazer os seus dons ao Senhor do universo, ao lugar onde está o seu nome, no monte de Sião. Oráculo contra o Egipto. Olhai! O Senhor, montado sobre uma nuvem veloz, entra no Egipto: os ídolos do Egipto tremem diante dele, e o coração dos egípcios aperta-se no seu peito. Farei com que os egípcios se levantem contra os egípcios, lutarão irmãos contra irmãos, amigos contra amigos, cidade contra cidade, reino contra reino. O Egipto perderá o seu valor, porque anularei os seus planos. Consultarão os ídolos e os feiticeiros, os evocadores dos mortos e os adivinhos. Entregarei o Egipto nas mãos de um soberano cruel, e um rei implacável o dominará – oráculo do Senhor Deus do universo. As águas do rio secarão, o Nilo tornar-se-á seco e árido. Os canais correrão empestados, e as ribeiras do Egipto minguarão e secarão, os papiros e os juncos murcharão. A erva das margens do Nilo e as sementeiras junto do Nilo secarão; desaparecem varridas pelo vento. Os pescadores ficarão desolados, chorarão todos os que lançam o anzol ao rio; e os que estendem as suas redes sobre as águas ficarão consternados. Os que trabalham em linho, ficarão confundidos; as mulheres que o cardam e os que tecem ficarão desalentados; os fabricantes de tecidos estão aflitos, e todos os trabalhadores, desolados. Como estão loucos os príncipes de Tânis; os sábios dão ao Faraó conselhos insensatos. Como ousais dizer ao Faraó: «Sou filho de sábios, descendente dos antigos reis?» Onde estão agora os teus sábios? Que eles te anunciem, se é que podem, os desígnios do Senhor do universo contra o Egipto. Os príncipes de Tânis estão loucos, e os da cidade de Mênfis andam iludidos; os chefes das suas tribos desencaminham o Egipto. O Senhor difundiu no meio deles a confusão: estragam tudo quanto se faz no Egipto. Parecem um embriagado a cambalear em cima do seu vómito. O Egipto nunca mais terá sucesso, desde o rei ao escravo, desde a palmeira ao junco. Virá um dia em que os egípcios serão como mulheres, tremerão de medo sob a ameaça da mão do Senhor do universo, levantada contra eles. Então, a terra de Judá tornar-se-á o terror do Egipto; só de ouvir falar dela, encher-se-á de pavor, à vista dos desígnios do Senhor do universo contra ele. Naquele dia, haverá no Egipto cinco cidades que falarão a língua de Canaã e que jurarão pelo Senhor do universo. Uma delas será chamada Cidade-do-Sol. Naquele dia haverá no centro do Egipto um altar erguido ao Senhor, e um monumento dedicado ao Senhor, junto à fronteira. Servirão de sinal e testemunho de como o Senhor do universo está presente no Egipto. Se os egípcios forem maltratados pelos opressores e invocarem o Senhor, Ele lhes enviará um salvador que os defenderá e libertará. O Senhor manifestar-se-á ao Egipto e o Egipto reconhecerá o Senhor naquele dia; oferecer-lhe-ão sacrifícios e ofertas, farão votos ao Senhor e hão-de cumpri-los. O Senhor ferirá os egípcios, mas curá-los-á; eles voltar-se-ão para o Senhor, que os escutará e os há-de sarar. Naquele dia, uma estrada ligará o Egipto à Assíria; os assírios irão ao Egipto e os egípcios à Assíria, e os egípcios com os assírios prestarão culto ao Senhor. Naquele dia, Israel será mediador entre o Egipto e a Assíria, e será uma bênção do Senhor no meio da terra. O Senhor do universo abençoá-los-á nestes termos: «Bendito seja o Egipto, meu povo, a Assíria, obra das minhas mãos, e Israel, minha herança.» Aconteceu no ano em que o comandante-em-chefe, enviado por Sargão, rei da Assíria, chegou à cidade de Asdod, a assediou e se apoderou dela. Nesse tempo, o Senhor falou por Isaías, filho de Amós, nestes termos: «Vai, desata a faixa que trazes à cintura, e tira as sandálias de teus pés.» Assim fez Isaías, de modo que andava nu e descalço. O Senhor disse: «Assim como o meu servo Isaías andou nu e descalço três anos, como sinal de presságio contra o Egipto e a Etiópia, assim o rei da Assíria levará os prisioneiros do Egipto e os deportados da Etiópia, novos e velhos, nus e descalços, com as nádegas descobertas – vergonha para o Egipto. Ficarão decepcionados e envergonhados os que confiavam na Etiópia e se gabavam da ajuda do Egipto.» Os habitantes deste litoral dirão naquele dia: «Eis aqueles em quem pusemos a nossa esperança, nos quais pensávamos encontrar protecção, auxílio e socorro contra o rei da Assíria. E agora, como poderemos escapar?» Oráculo contra a região marítima. Como os temporais que atravessam o Négueb, assim o inimigo virá do deserto, de um país de terror. É uma visão terrível que me foi revelada: «O traidor a cometer traições, o destruidor a devastar tudo. Avante, habitantes de Elam! Ao assalto, habitantes da Média! Vou pôr fim aos vossos gemidos.» Perante isto, fiquei cheio de angústia e sou possuído de dores como as de uma parturiente. Estou aturdido por tais coisas ouvir e aterrorizado de as ver. O meu coração perturba-se, e o terror me invade. Desejava a frescura da tarde, mas ela encheu-me de pavor. Preparai a mesa, estendei a toalha; comei e bebei! De pé, capitães! Preparai as armas! Porque assim me disse o Senhor: «Vai e põe uma sentinela que anuncie tudo o que vir! Se ela vir a cavalaria, com cavaleiros dois a dois, montados em jumentos ou montados em camelos, que preste atenção, muita atenção, e grite: ‘Já a vejo!’» Na torre de vigia, Senhor, mantenho-me de pé todo o dia e permaneço como sentinela durante todas as noites. Olhai: chega a cavalaria, os cavaleiros vêm dois a dois e anunciam: «Caiu, caiu a Babilónia! As estátuas dos seus deuses encontram-se em pedaços, por terra.» O meu povo é pisado como trigo na eira. O que eu ouvi do Senhor do universo, Deus de Israel, isso vo-lo anuncio. Oráculo contra Dumá. Chamam por mim desde Seir: «Sentinela, que vês na noite? Sentinela, que vês na noite?» E a sentinela responde: «Chega a manhã e a noite também. Se quereis uma resposta, voltai a perguntar.» Oráculo contra a Arábia: «Vós passais a noite em terras desertas, caravanas de Dedan. Habitantes de Tema, levai a água àqueles que têm sede e dai pão aos fugitivos, porque fogem diante da espada, da espada desembainhada, diante dos arcos retesados, diante do rude combate.» Eis o que me disse o Senhor: «Dentro de um ano, exactamente um ano, desaparecerá toda a nobreza de Quedar. Ficarão muito poucos dos valentes archeiros de Quedar. O Senhor, Deus de Israel, assim o declarou.» Oráculo sobre o Vale da Visão: «Que se passa contigo para que toda a tua gente suba aos terraços? Porque és uma cidade ruidosa, cheia de tumulto e de alegria? Os teus mortos não morreram à espada, nem morreram em combate. Os teus oficiais fugiram todos, mas foram aprisionados pelo arco; os teus guerreiros foram presos em massa, quando tentavam fugir. Por isso vos suplico: afastai-vos de mim, deixai-me derramar lágrimas amargas; não procureis consolar-me pela ruína do meu povo. Porque foi um dia de derrota, de angústia e de confusão, enviado pelo Senhor Deus do universo. No Vale da Visão derrubaram a muralha e os gritos ecoaram pela montanha. Elam pôs ao ombro a aljava, os homens aparelharam os cavalos, Quir apresentou os escudos. Os teus vales mais belos encheram-se de carros, os cavaleiros colocaram-se junto às portas. Ficou exposta a cidade de Judá. Naquele dia, inspeccionastes o arsenal no palácio da floresta, examinastes as inúmeras brechas da muralha da cidade de David, recolhestes as águas na piscina inferior, contastes as casas de Jerusalém, demolistes algumas delas para reforçar a muralha. Fizestes um reservatório entre os dois muros para armazenar as águas da piscina velha. Contudo não olhastes para aquele que dispôs estas coisas, não reparastes naquele que as preparou de longe. O Senhor Deus do universo tinha-vos convidado, naquele dia, ao pranto e à penitência, a raparem a cabeça e a vestirem-se de luto. Mas, em vez disso, há festa e alegria, matança de bois e ovelhas, come-se carne e bebe-se vinho: ‘Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos.’ Porém, o Senhor do universo revelou-me ao ouvido: «Este pecado jamais será perdoado até que sejais mortos.» O Senhor Deus do universo assim o proclamou. Isto diz o Senhor Deus do universo: «Vai ter com Chebna, esse tal administrador do palácio real, que lavra para si próprio, lá em cima, um sepulcro e escava na pedra uma morada, e diz-lhe: ‘Que estás aqui a fazer, que parentes tens tu, para estares a lavrar um sepulcro? Vê bem, homem forte! O Senhor vai arremessar-te de uma só vez, e arrojar-te com violência, far-te-á girar e dar voltas como um arco numa planície imensa. Ali morrerás, ali ficarão os teus coches de gala, ó vergonha da corte do teu senhor! Vou depor-te do teu cargo, destituir-te do teu posto. Naquele dia, chamarei o meu servo Eliaquim, filho de Hilquias. Vesti-lo-ei com a tua túnica, cingi-lo-ei com a tua faixa, porei nas suas mãos o teu poder; será como pai para os habitantes de Jerusalém, para o povo de Judá. Porei sobre os seus ombros a chave do palácio de David: o que ele abrir ninguém fechará, o que ele fechar ninguém abrirá. Fixá-lo-ei como prego em lugar firme, será como um trono de glória para a casa de seu pai.’» Mas penduram-se nele todos os nobres da casa de seu pai, filhos e netos, tal como se penduram num prego os utensílios de cozinha, desde os copos aos jarros. Naquele dia – oráculo do Senhor do universo – o prego fixado em lugar firme cederá, a carga que dele pendia soltar-se-á, cairá e será feita em pedaços. O Senhor assim o declarou. Oráculo contra Tiro: «Gemei, naus de Társis, porque o vosso porto foi destruído.» Foi no regresso de Chipre que lhes deram a notícia. «Ficai estupefactos, habitantes da costa do mar, que negociais com Sídon, que atravessais os mares e enviais mensageiros pelo oceano.» O grão de Chior, as colheitas do Nilo e o comércio estrangeiro eram as riquezas de Sídon. Ela era o mercado dos povos. Envergonha-te, Sídon, fortaleza do mar! É o mar quem assim te fala: «Eu não dei à luz entre dores, não eduquei rapazes nem raparigas.» Quando o Egipto receber esta notícia sobre Tiro, ficará aterrado. Regressai a Társis, bradai, habitantes do litoral. Porventura não é esta a vossa animada cidade de origem tão antiga, que criou colónias em terras longínquas? Quem tomou esta decisão contra Tiro, cidade que distribuía coroas, cujos negociantes eram como príncipes, e cujos comerciantes eram como nobres da terra? Foi o Senhor do universo quem o decretou, para derrubar o orgulho da nobreza, e humilhar os grandes da terra. Regressa à tua terra, povo de Társis, pois o teu porto já não existe mais. O Senhor estendeu a sua mão sobre o mar, abalou os reinos e ordenou a destruição das fortalezas de Canaã. Disse: «Não continues a alegrar-te, povo de Sídon, pois és como uma donzela violada. Levanta-te e navega para Chipre. Mesmo ali não terás descanso. Considera a terra dos caldeus: é um povo que já não existe. A Assíria transformou-a em lugar ermo. Levantaram torres de vigia, demoliram as suas fortalezas e reduziram-na a ruínas. Bradai, naus de Társis, porque o vosso porto foi destruído.» Naquele tempo, Tiro ficará esquecida durante setenta anos, os anos da vida de um rei. No fim destes setenta anos, Tiro será como diz a cantiga da prostituta: «Pega na cítara e percorre a cidade, ó prostituta esquecida; toca com perfeição e canta sem parar, para que se lembrem de ti.» Depois de setenta anos, o Senhor ocupar-se-á de Tiro. Ela recomeçará o seu tráfego, prostituindo-se com todos os reinos da terra. Mas os seus ganhos e lucros serão consagrados ao Senhor, em vez de serem guardados e entesourados. O lucro do seu comércio será para aqueles que habitam na presença do Senhor, para que comam e se saciem e se vistam com magnificência. Vede como o Senhor devasta a terra e a torna deserta, transtorna a sua face e dispersa os seus habitantes. A mesma sorte terá o leigo e o sacerdote, o escravo e o seu senhor, a serva e a sua senhora, o que compra como o que vende, o prestamista e o que pede emprestado, o credor como o devedor. A terra será totalmente devastada, despojada, porque o Senhor assim o decretou. A terra está triste e murcha, o mundo está de luto e desfalece. Desfalecem o céu e a terra. A terra está profanada pelos seus habitantes, porque transgrediram as leis, violaram os mandamentos, romperam a aliança eterna. Por isso, a maldição devora a terra e os seus habitantes expiam a pena. Por isso, os habitantes da terra serão consumidos e poucos ficam para serem contados. O vinho novo está triste, a vinha murcha, suspiram os que andavam alegres. Cessou a alegria dos tambores, acabou o ruído dos foliões e calou-se o som alegre da cítara. Já não bebem vinho a cantar, e as bebidas fortes sabem a amargo. A cidade, desolada, cai aos pedaços, as entradas das casas estão fechadas. Gritam nas ruas: já não há vinho! Acabou-se a alegria, esvaneceu-se o regozijo do país. Na cidade só há escombros, e a porta está podre e em ruínas. Isto acontecerá na terra, no meio dos povos, como no varejo da azeitona ou como no rebusco, depois da vindima. Eles levantarão a voz do lado do mar e vitoriarão a grandeza do Senhor, «Aclamai desde o Ocidente, respondei desde o Oriente; glorificai o Senhor desde as ilhas do mar! Ele é o Senhor, o Deus de Israel! Desde os confins da terra ouvimos o cântico: ‘Glória ao justo!’» Porém eu digo: «Infeliz de mim! Ai de mim!» Os traidores atraiçoam, os traidores agem com perfídia. O terror, a cova e o laço é o que vos espera, habitantes da terra! O que fugir aos gritos de terror cairá na cova, e o que escapar da cova será preso no laço. Abrem-se as cataratas lá do alto e tremem os fundamentos da terra. A terra cambaleia e bamboleia. A terra treme e espanta-se. A terra move-se e contorce-se. Ela agita-se e cambaleia como um ébrio, e oscila como uma cabana. Pesam sobre ela os seus pecados; cairá para não mais se levantar. Naquele dia, o Senhor julgará: lá no alto, julgará os exércitos do céu, e cá em baixo, os reis da terra. Serão amontoados, encarcerados na prisão, e aí ficarão fechados. Depois de muitos dias comparecerão no tribunal. A Lua corará de vergonha, o Sol empalidecerá, quando o Senhor do universo reinar glorioso no monte Sião, em Jerusalém, diante dos seus anciãos. Senhor, Tu és o meu Deus. Exaltar-te-ei e celebrarei o teu nome, porque realizaste maravilhas, projectos antigos, firmes e seguros. Reduziste a cidade a um montão de pedras. A cidade fortificada está aniquilada, derrubaste a fortaleza dos inimigos, que jamais será reedificada. Por isso, um povo forte te glorifica, a capital dos povos tiranos te respeita, porque foste o refúgio do fraco, o refúgio do pobre na sua tribulação, amparo contra a tempestade e sombra contra o calor. Com efeito, o sopro dos poderosos é como uma tempestade de Inverno, ou como o sol ardente em terra seca. Tu farás cessar o clamor dos orgulhosos. Como cessa o calor à sombra de uma nuvem, assim também humilhas o canto dos tiranos. No monte Sião, o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados. Neste monte, Ele arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as nações. Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e eliminará a desonra que pesa sobre o seu povo, sobre toda a nação. Foi o Senhor quem o proclamou. Dir-se-á naquele dia: «Este é o nosso Deus, nele confiámos e Ele nos salva. Este é o Senhor em quem confiámos. Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua salvação. A mão do Senhor repousará sobre este monte.» Moab, porém, a rebelde, será pisada no seu próprio terreno, como se pisa a palha na lixeira. Aí estenderá as suas mãos como as estende o nadador para nadar. Mas o seu orgulho será abatido, apesar dos esforços das suas mãos. O Senhor derrubará e abaterá os altos baluartes das tuas muralhas, deixando-os por terra, reduzidos a pó. Naquele dia será cantado este cântico na terra de Judá: «Temos uma cidade forte. Para a defender, o Senhor ergueu muralhas e baluartes. Abri as portas, para que entre um povo justo, que cumpre com os seus compromissos, que tem carácter firme e conserva a paz, porque põe a sua confiança em Deus. Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha perene: abateu os habitantes das alturas e a cidade soberba; humilhou-a, derrubou-a por terra, reduziu-a a pó. Ela é calcada pelos pés dos humildes, pelos pés dos pobres.» O caminho do justo é recto; é o Senhor quem prepara o caminho do justo. Seguindo os caminhos dos teus desejos, Senhor, esperamos em ti. E com que ansiedade pronunciamos o teu nome e nos lembramos de ti! A minha alma suspira por ti de noite, e do mais profundo do meu espírito, eu te procuro pela manhã, porque quando exerces sobre a terra os teus julgamentos, os habitantes do mundo aprendem a justiça. Se tratarmos com clemência o malvado, ele não aprende o que é justo. Na terra da rectidão pratica o mal, sem ver a majestade do Senhor. Senhor, a tua mão está levantada, mas eles não se apercebem. Que eles vejam o teu zelo pelo povo e sejam confundidos! Que um fogo devore os teus inimigos! Senhor, dá-nos a paz, porque és Tu que realizas todos os nossos empreendimentos. Senhor, nosso Deus, outros senhores, que não Tu, nos dominaram, mas só a ti queremos reconhecer e invocar o teu nome. Os outros são mortos que não vivem, sombras que não voltam a levantar-se; Tu é que os julgaste e destruíste, e apagaste toda a sua memória. Senhor, Tu multiplicaste o povo e assim lhe manifestaste a tua glória, e dilataste as fronteiras da nação. Senhor, na tribulação, nós recorríamos a ti, quando a força do teu castigo nos abatia. Como a mulher grávida, prestes a dar à luz, se contorce e grita nas suas dores, assim éramos nós na tua presença, Senhor. Nós concebemos, sofremos dores de parto, e o que demos à luz foi vento. Não demos a salvação ao nosso país, nem nasceram novos habitantes na terra. Os teus mortos reviverão, os seus cadáveres ressuscitarão. Despertai e rejubilai vós que jazeis no sepulcro! Pois o teu orvalho é um orvalho de luz, que fará renascer os que não passavam de sombras. Vamos, povo meu, entra nos teus aposentos e fecha as portas por dentro. Esconde-te por um momento, até que passe o castigo. Porque o Senhor vai sair da sua morada para castigar os crimes dos habitantes da terra. A terra descobrirá o sangue derramado e não ocultará mais as vítimas que nela se encontram. Naquele dia, o Senhor ferirá com a sua espada grande, temperada e forte, o monstro Leviatan, serpente sinuosa, o monstro Leviatan, serpente fugidia, e matará esse dragão do mar. Naquele dia, cantareis a vinha mais apreciada: «Eu, o Senhor, sou o seu guarda; Eu a rego a cada momento e a guardo dia e noite, para impedir qualquer assalto. Não me aborreço mais com ela. Mas se nela crescem as silvas e os espinhos, abro guerra contra ela para queimar tudo de uma vez; ou, então, que se coloquem sob a minha protecção, façam as pazes comigo e estejam de bem comigo.» Dias virão em que Jacob lançará novas raízes, Israel produzirá botões e flores, e encherá o mundo de seus frutos. Porventura o Senhor feriu-o como fez com os que o feriram? Matou-o como fez com os que o mataram? Apenas os castigou com o exílio e os expulsou, com o seu sopro impetuoso, como o vento do oriente. Assim se expiará a falta de Jacob, e este será o resultado do perdão do seu pecado: pulverizará todas as pedras dos altares pagãos, como se trituram pedras de cal, e não se levantarão mais os símbolos da deusa Achera nem as suas estelas. A cidade fortificada ficou sem ninguém, é como mansão abandonada, despovoada como um deserto. Nela pastam os vitelos, nela se deitam e comem os seus ramos. Quando os ramos estão secos, partem-se, vêm as mulheres e queimam-nos. Porque é um povo insensato; por isso, o seu criador não tem piedade dele, aquele que os criou não se compadece deles. Naquele dia, o Senhor debulhará as espigas, desde o Eufrates à torrente do Egipto, e vós, filhos de Israel, sereis recolhidos um a um. Naquele dia, tocará a grande trombeta, e virão os dispersos da terra da Assíria e os fugitivos na terra do Egipto; adorarão o Senhor no monte santo de Jerusalém. Ai da Samaria, coroa soberba dos ébrios de Efraim! Ai da flor caduca, jóia do seu atavio, que está na cabeça de um fértil vale! Eis que vai chegar, por ordem do Senhor, um guerreiro forte e robusto, como uma saraivada de granizo e um torvelinho destruidor; como trombas de águas caudalosas, transbordantes. Atira ao chão com as mãos e pisa com os pés a coroa soberba dos ébrios de Efraim, a flor caduca, jóia do seu atavio, que está na cabeça do fértil vale. Será como o figo temporão: mal alguém o vê, colhe-o e come-o. Virá o dia em que o Senhor do universo será a coroa de glória e o diadema cintilante dos sobreviventes do seu povo: espírito de justiça para os que julgam no tribunal, e espírito de valentia para os que repelem o inimigo, diante das portas da cidade. Também os sacerdotes e os profetas cambaleiam por causa do vinho e andam estonteados com as bebidas alcoólicas. Cambaleiam por causa do álcool, andam atordoados por causa do vinho e estonteados com o licor. Vêem as coisas de modo confuso e não cuidam da sentença a pronunciar. As suas mesas estão todas cheias de vómitos, e não há sequer um lugar sem porcaria. Perguntam: «Quem julga ele que está a ensinar? A quem julga ele que dá a lição? A crianças recém-desmamadas? A bebés que acabaram de deixar o peito? Ele diz: « Tsav latsav, tsav latsav, kav lakav, kav lakav, menino aqui, menino ali!» Pois bem, é com uma linguagem balbuciante, com uma linguagem estranha que o Senhor falará a esse povo. Antes já lhes tinha dito: «Nisto consiste o repouso: deixem descansar os fatigados; nisto consiste o descanso.» Mas eles não quiseram obedecer. Então o Senhor vai falar-lhes: « Tsav latsav, tsav latsav, kav lakav, kav lakav, menino aqui, menino ali!» E assim, ao andarem, caem de costas, quebram os ossos e são apanhados na rede. Escutai, pois, a palavra do Senhor, ó gente insolente, vós que dominais o povo de Jerusalém. Vós dizeis: «Fizemos um pacto com a Morte, uma aliança com o Abismo e, por isso, o flagelo passará sem nos atingir, porque fizemos da mentira um abrigo e da fraude um refúgio.» Por isso, assim fala o Senhor Deus, Vou colocar em Sião uma pedra que vos ponha à prova. Será uma pedra preciosa, angular, bem firme. Aquele que confiar nela não tropeçará. Usarei o direito como cordel de medir e a justiça como nível. Mas a saraiva arrasará o vosso abrigo de mentira e as águas torrenciais levarão o vosso refúgio. O vosso pacto com a Morte será quebrado, a vossa convenção com o Abismo não subsistirá. Quando a catástrofe passar sereis esmagados por ela. Ela passará cada manhã, de dia e de noite, e sempre que ela passar vos enrolará. O terror que ela espalha bastará para que aprendais a lição. Como diz o provérbio: «O leito é muito pequeno para alguém se deitar e o cobertor muito estreito para alguém se cobrir.» Pois o Senhor se levantará como no monte Perasim e despertará como no vale de Guibeon, para realizar a sua obra e para executar o seu trabalho; uma obra extraordinária e um trabalho inaudito. Portanto, cessai de zombar, para que não se apertem ainda mais as vossas cadeias; porque eu ouvi a sentença de destruição, determinada por ordem do Senhor Deus do universo, contra a vossa terra. Escutai-me e prestai-me atenção! Ouvi atentamente o meu discurso: Porventura o lavrador nada mais faz do que arar e abrir regos na terra? Depois de ter aplanado a terra, não semeia a nigela e o cominho? Não semeia o trigo, o milho miúdo e a cevada e ainda o trigo duro nas bordas? É o seu Deus quem o instrui e o ensina como deve fazer. A nigela não se debulha com o trilho de ferro, nem as rodas do carro devem passar sobre o cominho. A nigela deve ser sacudida com uma vara e o cominho com um pau. Quanto ao trigo, tem que ser debulhado, mas sem ser triturado em demasia. As rodas do carro passam por cima dele, mas sem o esmagar. Também este proceder vem do Senhor do universo, cujo conselho é admirável e grande a sua eficiência. Ai de Ariel, ai de Ariel, a cidade que David sitiou! Juntai um ano a outro ano, gire o ciclo das festas. Virá o tempo em que cercarei Ariel, e então haverá prantos e gemidos, e tu serás para mim como Ariel. Sitiar-te-ei como te sitiou David, cercar-te-ei de trincheiras e levantarei baluartes contra ti. Humilhada, falarás das profundezas da terra; as tuas palavras mal se ouvirão porque virão do pó, serão como voz de fantasma proveniente do solo; a tua palavra sussurrará do pó. A multidão dos teus inimigos será como uma nuvem de poeira; e como uma nuvem de flocos de palha a multidão dos teus opressores. Mas, de repente, de improviso, será auxiliada pelo Senhor do universo, por meio de fortes trovões, tremores de terra e estrondos, com furacões, vendavais e chamas devoradoras. Como se dissipa um pesadelo e uma visão nocturna, assim desaparecerá a multidão das nações que atacam Ariel: as suas trincheiras, os seus baluartes, os seus sitiadores. Como o esfomeado sonha que come e desperta com o estômago vazio; como o ressequido sonha que bebe e acorda de garganta seca, isso mesmo sucederá à multidão das nações que atacam o monte Sião. Pasmai, ficai espantados, ficai cegos, deixai de ver. Embriagai-vos, mas não de vinho, cambaleai, mas não de álcool. É o Senhor que vos mergulha num estado de sonolência: fechará os vossos olhos, ó profetas! E cobrirá as vossas cabeças, ó videntes! Qualquer visão será para vós como um livro selado. Quando o dão a um que sabe ler, pedindo-lhe: «Por favor, lê isto», ele responde: «Não posso. O livro está selado.» Se o dão a um que não sabe ler, pedindo-lhe: «Por favor, lê isto»; ele responde: «Não sei ler.» O Senhor disse: «Este povo aproxima-se de mim só com palavras e honra-me só com os lábios, pois o seu coração está longe de mim e o culto que me presta é apenas preceito humano e rotineiro. Por isso, continuarei a usar com este povo de prodígios grandiosos. Fracassará a sabedoria dos seus sábios, e será confundida a prudência dos seus prudentes.» Ai dos que se ocultam do Senhor para esconderem os seus planos. Fazem as suas obras no meio das trevas e dizem: «Quem nos vê? Quem vai saber disto?» Que perversidade a vossa! Como se o barro fosse igual ao oleiro! Como se o objecto dissesse ao que o fabricou: «Não foste tu que me fizeste!»; ou o vaso ao oleiro: «Não entendes nada disto!» Dentro de muito pouco tempo, o Líbano converter-se-á em pomar, e o pomar será como uma floresta. Nesse dia, os surdos ouvirão as palavras do livro, e, livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão. Os oprimidos voltarão a alegrar-se no Senhor, e os pobres exultarão no Santo de Israel. Foi eliminado o tirano e desapareceu o cínico, e todos os que buscam a iniquidade serão exterminados: os que acusam de crime os inocentes, os que procuram enganar o juiz, os que por uma coisa de nada condenam os outros. Por isso, o Senhor fala aos descendentes de Jacob, Ele que resgatou Abraão: «Daqui em diante, Jacob não será mais envergonhado, o seu rosto não mais ficará corado. Quando os seus filhos virem o que Eu fiz por eles, bendirão o meu nome, bendirão o Santo de Jacob e temerão o Deus de Israel. Os espíritos desencaminhados compreenderão, e os que protestavam, aprenderão a lição.» O Senhor declara: «Ai de vós, filhos rebeldes, que fazeis projectos sem contar comigo, que estabeleceis alianças contrárias ao meu espírito, acumulando, assim, pecados sobre pecados! Tomais o caminho do Egipto sem me consultar; ides pedir protecção ao Faraó e abrigo à sombra do Egipto. Mas a protecção do Faraó será a vossa vergonha, e o abrigo do Egipto será a vossa humilhação. Quando os vossos chefes estiverem em Soan, e os vossos embaixadores chegarem a Hanés, todos se envergonharão deste povo inútil, que não vos pode auxiliar nem socorrer; nada mais será do que motivo de vergonha e de afronta!» Oráculo contra a Besta do Sul: «Por terra deserta e temível, de leões e leoas a rugir, de víboras e áspides voadoras, conduzem as suas riquezas sobre o dorso dos jumentos, e seus tesouros sobre o dorso dos camelos, para um povo que de nada lhes serve. Irão para o Egipto cujo socorro é vão e nulo. Por isso, Eu chamo-lhe: ‘Monstro que nada pode.’» Agora, pois, vai e escreve isto sobre uma tabuazinha, grava-o num documento, que sirva para o futuro como testemunho perpétuo: «É um povo rebelde, são filhos mentirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor.» Dizem aos videntes: «Deixem-se de visões!» E aos profetas: «Deixem-se de anunciar verdades! Dizei-nos, antes, coisas agradáveis, profetizai-nos ilusões! Afastai-vos do caminho recto, retirai-vos da boa direcção, deixai de colocar diante dos nossos olhos o Santo de Israel!» Por isso, diz o Santo de Israel: «Visto que rejeitais esta palavra, confiais na opressão e na perversidade e nelas vos apoiais, este pecado será para vós como uma fenda numa alta muralha. Aparece a saliência e, de repente, num instante, tudo se desmorona. A muralha quebra-se como a vasilha de barro, é feita em cacos, sem piedade, de modo que dos destroços não fica sequer um caco para apanhar uma brasa do braseiro, ou para tirar uma gota de água da cisterna.» Vede o que diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: «A vossa salvação está na conversão e em terdes calma; a vossa força está em terdes confiança e em permanecerdes tranquilos.» Mas não quisestes. Dissestes: «Não; fugiremos a cavalo!» – Pois bem, fugireis. «Correremos a galope!» – Pois bem, serão mais velozes os vossos perseguidores. Fugirão mil perante a ameaça de um, fugireis todos perante a ameaça de cinco, até que fiqueis como um mastro abandonado no cimo de um monte, ou como um estandarte numa colina. Mas o Senhor espera para se apiedar de vós, aguenta para se compadecer de vós; porque o Senhor é um Deus justo, e ditosos os que nele esperam. Povo de Sião, que habitas em Jerusalém, já não chorarás mais, porque o Senhor terá piedade de ti quando ouvir a tua súplica, e, mal te ouça, logo te responderá. Embora o Senhor te dê o pão da angústia e a água da tribulação, já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olhos. Ouvirás atrás de ti esta palavra, quando tiveres de caminhar para a direita ou para a esquerda: «Este é o caminho a seguir.» Terás como impuros os teus ídolos prateados e as tuas estátuas cobertas de ouro. Lançá-los-ás fora como coisa imunda, dizendo: «Fora daqui!» Então o Senhor te enviará as chuvas para a sementeira que semeares na terra, e o pão que a terra produzir será nutritivo e saboroso. Naquele dia, o teu gado pastará em amplas pastagens. Os bois e os jumentos que lavrarem a terra comerão uma forragem salgada, remexida com a pá e a forquilha. No dia da grande mortandade, em que desabarão as fortalezas, haverá torrentes de água abundante em todas as montanhas e colinas. No dia em que o Senhor curar a ferida do seu povo, e tratar da chaga que lhe foi infligida, a Lua refulgirá como um Sol, e o Sol brilhará sete vezes mais. Vede! É o Senhor em pessoa que vem de longe, a sua cólera é ardente como fogo espesso, os seus lábios estão cheios de furor, e a sua língua é um fogo abrasador. O seu sopro é uma torrente transbordante que sobe até ao pescoço. Vai crivar as nações com o crivo do extermínio e pôr um freio de engano nas mandíbulas dos povos. Vós, porém, entoareis um cântico como na noite sagrada de festa. Haverá alegria no vosso coração, semelhante à do que caminha ao som da flauta, enquanto ides ao monte do Senhor, à Rocha de Israel. O Senhor fará ouvir a majestade da sua voz, mostrará o seu braço ameaçador, no ardor da sua cólera e no fogo devorador, na tempestade e nas tormentas de granizo. À voz do Senhor, a Assíria tremerá, castigada pelos seus golpes. Cada golpe da vara de castigo, que o Senhor lhe infligir, será ao som de tambores, cítaras e danças. Também em Tofet está preparada, desde há muito, uma cova profunda e espaçosa, com pira de lenha abundante, e o sopro do Senhor, como torrente de enxofre, acendê-la-á. Ai dos que descem ao Egipto a pedir socorro e põem a sua confiança na cavalaria! Confiam nos carros, porque são muitos, e nos cavaleiros porque são fortes. Não olham para o Santo de Israel, nem consultam o Senhor. Mas Ele é sábio para provocar a desgraça e não deixa de cumprir a sua palavra. Levantar-se-á contra o bando dos maus e contra o auxílio dos que cometem iniquidade. Os egípcios são homens e não deuses, os seus cavalos têm a fraqueza da carne e não a força do espírito. O Senhor estenderá a sua mão; o protector tropeçará e o protegido cairá; e ambos perecerão igualmente. O Senhor disse-me isto: «Assim como o leão e as suas crias rugem sobre a presa, e, ainda que venha contra eles um tropel de pastores, não se deixam intimidar pelos gritos, nem alarmar diante do tumulto, assim o Senhor do universo descerá para pelejar sobre o monte Sião, sobre a sua colina. Como aves que estendem as asas, assim o Senhor do universo defenderá Jerusalém: será a sua protecção libertadora e o seu resgate salvador.» Convertei-vos, filhos de Israel, àquele de quem tão profundamente vos separastes. Naquele dia, cada um lançará fora os seus ídolos de prata e os ídolos de ouro, obras das vossas mãos pecadoras. A Assíria cairá ao fio de uma espada não humana, a espada de alguém imortal a devorará. Os seus jovens guerreiros fugirão desta espada, mas serão submetidos à servidão. A sua valentia desfalecerá de terror, e os seus chefes, espavoridos, abandonarão o estandarte. Este é o oráculo do Senhor, que tem um fogo em Sião e uma fornalha em Jerusalém. Olhai: virá um rei que reinará segundo a justiça, e os príncipes governarão com equidade. Serão como um refúgio contra o vento, como um abrigo contra a tempestade, como regos de água em terra ressequida e como a sombra de um grande penhasco, em terra árida. Os olhos dos que vêem não estarão fechados, e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos. Os espíritos insensatos aprenderão a compreender, os gagos exprimir-se-ão com prontidão e clareza. Já não se chamará nobre ao insensato, nem gente boa ao fraudulento. Com efeito, o insensato só diz loucuras, e o seu coração só pensa fazer o mal: cometer a impiedade e escarnecer do Senhor, deixar o faminto sem nada para comer e tirar a água ao que tem sede. As armas do fraudulento são desleais, planeia desígnios criminosos para prejudicar os pobres com mentiras, e o desvalido, que reclama pelos seus direitos. O nobre, porém, só tem pensamentos nobres, e é nobre o seu proceder. Mulheres despreocupadas, levantai-vos e escutai a minha voz; damas altivas, ouvi as minhas palavras: Dentro de um ano e alguns dias, ó altivas, haveis de tremer, porque a vindima está perdida e a colheita frustrada. Tremei, ó despreocupadas, estremecei, ó altivas. Despi-vos, até ficardes nuas, deixando apenas a cintura sobre os rins. Batei no peito em sinal de luto, pelos campos férteis e pelas vinhas abundantes, pela terra do meu povo, onde só crescem silvas, pela alegria das casas e pela cidade divertida. O palácio está abandonado, a cidade tumultuosa está deserta, a fortaleza de Ofel e a torre de vigia estão transformadas para sempre em cavernas, para delícia dos asnos selvagens e pastagem dos rebanhos. Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tranquilidade e a segurança para sempre. O povo de Deus repousará numa mansão serena, em moradas seguras e em lugares tranquilos. A floresta será abatida e a cidade humilhada. Bem-aventurados vós, que semeais à beira da água, e deixais o boi e o asno em liberdade. Ai de ti, devastador, que ainda não foste devastado, traidor, que ainda não foste traído! Quando acabares de devastar, serás devastado; quando acabares de trair, serás atraiçoado. Senhor, tem piedade de nós, porque confiamos em ti. Sê o nosso auxílio todas as manhãs e o nosso socorro no tempo da tribulação. À tua voz poderosa fogem os povos; quando te levantas, as nações dispersam-se. Recolhem os despojos como se apanham os gafanhotos e lançam-se sobre eles como os saltões. O Senhor é grande, porque habita no alto; encherá Sião de rectidão e de justiça. A fidelidade será o adorno de Sião, a sabedoria e o conhecimento serão o seu refúgio salvador, e o temor do Senhor será o seu tesouro. Vede! Os arautos gemem nas ruas, os mensageiros de paz choram amargamente. Os caminhos estão desertos, ninguém passa pelas estradas; violou a aliança, desprezou as testemunhas e não respeitou os homens. A terra está de luto, entristecida. O Líbano perdeu as cores, está mirrado. Saron tornou-se um deserto. Basan e o Carmelo estão escalvados. O Senhor diz: «Agora vou intervir. Agora vou erguer-me e levantar-me. Concebereis palha e dareis à luz restolho. O meu sopro será fogo que vos consumirá. Os povos serão reduzidos a cinzas, como cardos cortados, lançados ao fogo. Vós, os que estais longe, ouvi o que Eu fiz! Vós, os que estais perto, reconhecei o meu poder!» Em Sião, os pecadores estão cheios de medo e os ímpios tremem: «Qual de nós poderá permanecer neste fogo devorador? Qual de nós poderá habitar nesta fogueira sem fim?» Aquele que anda na justiça e fala a verdade, que recusa benefícios extorquidos pela violência, cuja mão rejeita o suborno, que fecha os ouvidos a propostas assassinas e fecha os olhos para não ver o mal. Esse habitará nas alturas, terá o seu refúgio em rochas elevadas, terá pão e água em abundância. Os teus olhos contemplarão um rei no seu esplendor e contemplarão um país imenso. Recordarás os terrores passados: «Onde está o cobrador? Onde está o fiscal? Onde está o que inspeccionava as fortificações?» Já não verás mais este povo insolente, povo de fala ininteligível, de língua estranha que ninguém compreende. Contempla Sião, cidade das nossas festas: os teus olhos verão Jerusalém, habitação tranquila, tenda bem segura, cujas estacas não serão arrancadas, nem as cordas partidas. Ali o Senhor é magnífico para nós, num lugar de rios e canais larguíssimos, por onde não passará embarcação a remo, nem atravessará nenhum grande navio. Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso rei, Ele é a nossa salvação. Os teus cordames cederam: nem seguram o mastro nem permitem içar o estandarte. Então a presa a repartir será enorme, e até os coxos tomarão parte na pilhagem. Nenhum habitante de Jerusalém dirá: «Estou doente»; porque o povo que lá habitar terá o perdão das suas culpas. Aproximai-vos, nações, e ouvi; povos, estai atentos; ouça a terra e tudo o que ela contém, o mundo inteiro e tudo o que ele produz! Porque o Senhor está irado contra todas as nações, enfurecido contra todos os seus exércitos. Destina-os ao anátema, entrega-os ao extermínio. Os seus mortos ficam sem sepultura, e os seus cadáveres exalam mau cheiro, os montes são banhados no sangue deles. O exército das estrelas desfalece, os céus enrolam-se como um pergaminho, os seus exércitos extinguem-se e caem como folhas mortas de vinha ou de figueira. Porque a espada do Senhor aparece nos céus cheia de sangue: vede como se precipita sobre Edom, sobre o povo que Ele destinou ao extermínio. A espada do Senhor está cheia de sangue, impregnada de gordura, como do sangue dos cordeiros e dos bodes, como a gordura das entranhas dos carneiros. É que o Senhor faz carnificina em Bosra, grande matança na terra de Edom. Caem juntos os búfalos com os touros e novilhos. A sua terra embriaga-se de sangue, e o chão está coberto de gordura, porque é o dia da vingança do Senhor, ano de desforra para a causa de Sião. As torrentes de Edom converter-se-ão em pez, e o seu chão em enxofre. A sua terra tornar-se-á pez ardente, que não se apaga nem de dia nem de noite, como fumo a subir continuamente. Edom ficará desolada para sempre, de geração em geração ninguém passará por ela. Apoderam-se dela as gralhas e os ouriços, e habitam-na a coruja e o corvo. O Senhor estende sobre ela a corda da destruição, e o fio-de-prumo da desolação. Não fica lá ninguém para se poder considerar um reino, e todos os seus príncipes desaparecerão. Os espinhos crescem nos seus palácios, as urtigas e os cardos nas suas fortalezas. Converte-se em covil de chacais e em morada para as crias das avestruzes. Nela se reúnem hienas e gatos bravos, e os bodes chamarão uns pelos outros. Até o fantasma Lilit ali habita e encontra o seu repouso. A serpente faz ali o ninho e põe os ovos, choca-os e saem os filhos. É lá também que se reúnem os abutres e se acasalam. Investigai no livro do Senhor e vereis que nenhuma destas coisas lá faltará, porque foi o Senhor quem as mandou, o seu espírito quem as juntou. Foi Ele quem lhes designou a sua porção, foi a sua mão que lhes mediu a terra com um cordel. Eles a possuirão para sempre, e de geração em geração habitarão nela. O deserto e a terra árida vão alegrar-se, a estepe exultará e dará flores belas como narcisos. Vai cobrir-se de flores e transbordar de júbilo e de alegria. Tem a glória do Líbano, a formosura do monte Carmelo e da planície de Saron. Verão a glória do Senhor e o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos que têm o coração indeciso: «Tomai ânimo, não temais!» Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar. Deus vem em pessoa retribuir-vos e salvar-vos. Então se abrirão os olhos do cego, os ouvidos do surdo ficarão a ouvir, o coxo saltará como um veado, e a língua do mudo dará gritos de alegria; porque as águas jorraram no deserto e as torrentes na estepe. A terra queimada mudar-se-á em lago, e as fontes brotarão da terra seca. No covil onde repousavam os chacais, crescerão canas e juncos. Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada. Nenhum impuro passará por ele; é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se perderão. Ali não haverá leões, e nenhum animal feroz por ali passará. Apenas passarão os remidos. Os que o Senhor libertar é que passarão por ela. Chegarão a Sião entre cânticos de júbilo com a alegria estampada nos seus rostos, transbordando de gozo e de alegria; nos seus corações, não haverá mais tristeza nem aflição. No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaquerib, rei da Assíria, atacou as cidades fortificadas de Judá, e apoderou-se delas. Desde Láquis, o rei dos assírios enviou o copeiro-mor a Jerusalém, contra o rei Ezequias, com um poderoso contingente de tropas. O copeiro-mor tomou posição ao pé do canal da piscina superior, na calçada que leva ao campo do Lavadouro. Eliaquim, filho de Hilquias, chefe do palácio real, foi ter com ele, acompanhado do secretário Chebna e do chanceler Joá, filho de Asaf. O copeiro-mor disse-lhes: «Dizei a Ezequias: “Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: Donde te vem essa tua confiança? Tu pensas que a estratégia e a valentia militares são palavras vãs? Em quem confias para te revoltares contra mim? Confias no Egipto, que não passa de uma cana rachada? Se alguém confiar nela, espeta-se-lhe na mão e dá cabo dela. Assim é o faraó para os que confiam nele. Se me respondes: ‘É no Senhor, nosso Deus, que nós confiamos’, porventura não é esse aquele mesmo Deus de quem Ezequias mandou destruir os lugares sagrados e os altares, ordenando a Judá e a Jerusalém: ‘Somente diante do altar de Jerusalém vos prostrareis?’ Portanto, faz um acordo com o meu soberano, o rei da Assíria, e dar-te-ei dois mil cavalos, se é que tens cavaleiros para tantos cavalos. Como te atreves a repelir um oficial do meu soberano, mesmo que seja um dos menores, confiando no Egipto para te arranjar carros e cavaleiros? Além disso, pensas que foi sem o consentimento do Senhor, que invadi esta terra para a destruir? O próprio Senhor é que me disse: Entra nessa terra e devasta-a.”» Então Eliaquim, Chebna e Joá disseram ao copeiro-mor: «Por favor, fala-nos em aramaico, porque nós entendemo-lo. Mas não nos fales em hebraico, porque os que estão sobre a muralha podem ouvir-nos.» Mas o copeiro-mor respondeu-lhes: «Porventura é ao teu senhor e a ti que o meu soberano me encarregou de transmitir esta mensagem? Não é antes aos homens que estão sobre a muralha e que vão ser condenados, como vós, a comer os seus excrementos e a beber a sua urina?» Então o copeiro-mor levantou-se e gritou na língua judaica: «Ouvi o que diz o grande rei, o rei da Assíria: “Não vos deixeis enganar por Ezequias, porque ele não vos poderá livrar! E não vos leve Ezequias a confiar no Senhor, dizendo: ‘O Senhor certamente nos livrará e esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria!’ Não escuteis o rei Ezequias, porque eis o que diz o rei da Assíria: ‘Fazei a paz comigo, rendei-vos, e cada um de vós poderá comer o fruto da sua vinha e da sua figueira e beber a água do seu poço, até que eu venha e vos leve para uma terra, semelhante à vossa, terra de trigo e de vinho, terra de cereais e de vinhas’. Não vos iluda Ezequias, dizendo: ‘O Senhor nos livrará’. Porventura, os deuses das outras nações livraram os seus países da mão do rei da Assíria? Onde estão os deuses de Hamat e de Arpad? Onde estão os deuses de Sefarvaim? Quem livrou a Samaria do meu poder? Entre todos estes deuses, algum pode livrar o seu país da minha mão? Como é que o Senhor pode salvar Jerusalém da minha mão?”» Eles calaram-se e não lhe responderam nada, porque o rei lhes proibira que respondessem. Então Eliaquim, filho de Hilquias, prefeito do palácio, Chebna, o secretário, e o chanceler Joá, filho de Asaf, foram ter com Ezequias, com as vestes rasgadas, e referiram-lhe tudo o que o copeiro-mor lhes tinha dito. Tendo ouvido isto, Ezequias rasgou as vestes, vestiu-se de roupas grosseiras e dirigiu-se ao templo do Senhor. E enviou Eliaquim, chefe do palácio real, Chebna, o secretário e os sacerdotes mais idosos, também vestidos de roupas grosseiras, para irem ter com o profeta Isaías, filho de Amós, os quais lhe disseram: «Eis o que diz Ezequias: ‘Este é um dia de aflição, castigo e humilhação. Como se costuma dizer: os filhos estão prestes a nascer, mas a mãe não tem força para os dar à luz. O rei da Assíria mandou o seu copeiro-mor para insultar o Deus vivo. Oxalá o Senhor, teu Deus, tenha ouvido semelhantes insultos e o castigue pelas palavras que pronunciou. Intercede, pois, junto do Senhor, em favor do que resta do seu povo.’» Os servos do rei Ezequias apresentaram-se a Isaías. Este respondeu-lhes: «Direis ao vosso soberano o seguinte: Eis o que diz o Senhor, ‘Não te assustes com as palavras que ouviste, com os ultrajes que proferiram contra mim os oficiais do rei da Assíria. Vou insuflar-lhe um tal espírito que, ao receber uma certa notícia, voltará para a sua terra, onde morrerá assassinado.’» O copeiro-mor do rei da Assíria soube, entretanto, que o rei tinha deixado Láquis, para ir combater contra Libna e foi lá ter com ele. É que o rei da Assíria tinha sabido que Tiraca, o rei da Etiópia, o vinha atacar. Senaquerib enviou, então, mensageiros a Israel com esta mensagem: «Isto direis a Ezequias, rei de Judá: ‘Não te deixes enganar pelo Deus em quem confias, pensando que Jerusalém não será entregue nas minhas mãos. Não ouviste contar como é que os reis da Assíria trataram todos os países que devastaram? E poderás tu salvar-te? Porventura foram salvos pelos seus deuses as nações que os meus antepassados aniquilaram: Gozan, Haran, Récef e os habitantes de Éden que estavam em Telassar? Onde está o rei de Hamat, de Arpad, de Lair, de Sefarvaim, de Hena e de Ava?’» Ezequias tomou a carta da mão dos mensageiros e leu-a. Depois subiu ao templo, abriu-a diante do Senhor, e suplicou-lhe, dizendo: «Senhor do universo, Deus de Israel, sentado sobre os querubins: Tu és o único Deus de todos os reinos da terra, Tu que fizeste os céus e a terra. Presta atenção, Senhor, e escuta! Abre os olhos e vê! Repara na mensagem que me dirige Senaquerib, para ultrajar o Deus vivo. É verdade, Senhor ! Os reis da Assíria destruiram todas as nações. Queimaram todos os seus deuses, porque não são Deus, mas apenas estátuas de madeira e de pedra feitas pelos homens. Agora, Senhor, nosso Deus, livra-nos das mãos de Senaquerib, e todos os povos da terra conhecerão que só Tu, Senhor, és Deus.» Então, Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: «Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Ouvi a tua súplica por causa de Senaquerib, rei da Assíria’. É esta a sentença que o Senhor pronuncia contra ele: A donzela de Sião escarnece de ti. A donzela de Jerusalém meneia a cabeça nas tuas costas. A quem é que insultaste e ultrajaste? Contra quem levantaste a tua voz, e o teu olhar soberbo? Foi contra o Santo de Israel! Por meio dos teus embaixadores ultrajaste o Senhor, dizendo: ‘Com a multidão dos meus carros, subi ao cimo dos montes, aos cumes do Líbano. Cortei os seus cedros mais altos e os seus ciprestes mais belos. Cheguei até ao cimo mais alto e entrei nos lugares mais densos do seu bosque. Eu cavei poços e bebi a água dos outros povos. Com a planta dos meus pés, sequei todos os canais do Egipto.’ Porventura não percebeste que, desde há muito, fui Eu quem preparei este plano, e que, desde tempos remotos, fiz este projecto que agora estou a realizar? Por isso, reduziste a ruínas as cidades fortificadas. Os seus habitantes, sem força nos braços, estão cheios de vergonha e humilhados. São como a vegetação dos campos e o verde dos prados; como as ervas dos telhados, que murcham antes de crescer. Eu sei quando te levantas e quando te sentas, quando sais e quando entras e quando te enfureces contra mim. Os meus ouvidos percebem quando te enfureces contra mim e quando te acalmas. Colocarei a minha argola no teu nariz e o meu freio nos teus lábios, e far-te-ei voltar pelo caminho por onde vieste. Isto te servirá de sinal: este ano comereis o trigo do restolho; no próximo ano, o que crescer sem sementeira; no terceiro ano, porém, já semeareis e ceifareis, plantareis vinhas e comereis os seus frutos. Os sobreviventes do reino de Judá serão como a árvore que lança as raízes para baixo, e se cobre de frutos por cima. É que de Jerusalém sairá um resto, os sobreviventes do monte de Sião.» O zelo do Senhor do universo isto mesmo realizará. Eis o que diz o Senhor a respeito do rei da Assíria: «Ele não entrará nesta cidade, não lançará setas contra ela, nem virá para ela empunhando o seu escudo, nem a rodeará de trincheiras. Regressará pelo caminho por onde veio, mas não entrará nesta cidade – oráculo do Senhor. Protegerei esta cidade para a salvar, por minha honra e pela de David, meu servo.» Naquela mesma noite, veio o anjo do Senhor e matou no campo dos assírios cento e oitenta mil homens. No dia seguinte, de manhã, ao despertar, não se via senão cadáveres. Senaquerib, rei da Assíria, levantou o acampamento, regressou a Nínive e ali ficou. Certo dia, enquanto ele orava no templo de Nisseroc, seu deus, os seus filhos Adramélec e Sarécer, assassinaram-no à espada e fugiram para a terra de Ararat. Sucedeu-lhe no trono seu filho Assaradon. Por este tempo, o rei Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal. O profeta Isaías, filho de Amós, veio visitá-lo e disse-lhe: «Eis o que diz o Senhor, Faz o testamento, porque vais morrer muito brevemente.» Ezequias voltou o rosto para a parede e fez ao Senhor esta oração: «Senhor, lembra-te que tenho andado fielmente diante de ti, com um coração sincero e íntegro, pois fiz sempre a tua vontade.» E começou a chorar, derramando lágrimas abundantes. Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Isaías nestes termos: «Vai e diz a Ezequias: ‘Eis o que diz o Senhor, o Deus de teu pai David: Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; vou acrescentar à tua vida mais quinze anos. Hei-de livrar-te, a ti e a esta cidade, das mãos do rei da Assíria e protegê-la-ei.’» Isaías disse-lhe: «É este o sinal, da parte do Senhor, para que saibas que Ele cumprirá a promessa: No relógio de sol de Acaz farei retroceder a sombra dez graus, tantos quantos tinha avançado.» E o sol retrocedeu os dez graus que já tinha avançado. Poema que Ezequias, rei de Judá, compôs por ter sido curado da sua doença: «Eu pensei: ‘A meio dos meus dias vou ter de descer às portas do Abismo, privado do resto dos meus anos’. Eu pensei: ‘Não mais verei o Senhor na terra dos vivos. Não mais verei os homens entre os habitantes do mundo. A minha morada é levada para longe de mim, como uma tenda de pastor; enrolei a minha vida como um tecelão, mas acabou-se-me por falta de fio. Dia e noite, Senhor, me estais consumindo, e soluço até ao amanhecer. Como um leão, Ele me quebrou todos os ossos, dia e noite me estais consumindo. Pio como a andorinha, arrulho como a pomba. Os meus olhos cansam-se de olhar para o alto. Senhor, estou em agonia, confortai-me!’ Mas que poderei dizer-lhe para que me responda, se é Ele quem faz isto? Hei-de aguentar todos os meus anos, com esta amargura na alma? Aqueles que o Senhor protege vivem, e entre eles viverei também eu. Tu me curaste, ó Deus, e me conservaste a vida. A minha amargura converteu-se em paz, quando preservaste a minha vida do túmulo vazio; lançaste para trás de ti todos os meus pecados. O abismo dos mortos não te louvará, nem a morte te celebrará, nem esperam na tua fidelidade os que descem à sepultura. Apenas os vivos te podem louvar como eu te louvo agora. O pai dará a conhecer aos seus filhos a tua fidelidade. Senhor, salva-me e tocaremos as nossas harpas todos os dias da nossa vida, na casa do Senhor.» Depois, Isaías deu esta ordem: «Tragam um emplastro de figos e apliquem-no na parte doente e ficará curado.» E Ezequias perguntou: «Qual é o sinal que me garanta que ainda poderei ir ao templo do Senhor ?» Por este tempo, o rei da Babilónia Merodac-Baladan, filho de Baladan, rei da Babilónia, enviou a Ezequias embaixadores com uma carta e presentes, porque tivera notícia da sua doença e do restabelecimento. Ezequias sentiu-se lisonjeado e mostrou aos embaixadores os tesouros do seu palácio: a porta, o ouro, os perfumes, os unguentos preciosos, o seu arsenal de guerra e tudo o que se encontrava nos seus depósitos. Não houve nada, nem no seu palácio nem em todas as suas dependências, que Ezequias não mostrasse. Então o profeta Isaías foi ter com o rei Ezequias e disse-lhe: «Que é que te disseram estes homens, e de onde vieram eles para te visitar?» Ezequias respondeu: «Vieram ver-me, de longe, da terra da Babilónia.» Replicou Isaías: «E que viram eles no teu palácio?». Ezequias respondeu: «Eles viram tudo o que se encontra no meu palácio. Mostrei-lhes tudo o que se encontrava nos meus tesouros.» Então Isaías disse a Ezequias: «Ouve com atenção a palavra do Senhor do universo: «Eis que virá tempo em que tudo aquilo que há no teu palácio e tudo o que os teus pais acumularam será levado para a Babilónia. Não ficará nada, diz o Senhor. Tomarão até alguns dos teus próprios filhos, para fazerem deles eunucos no palácio do rei da Babilónia.» Ezequias respondeu a Isaías: «A palavra do Senhor, que acabas de proferir, é favorável.» E dizia para consigo: «Ao menos assim haverá paz e segurança durante a minha vida.» Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz. Falai ao coração de Jerusalém e gritai-lhe: «Terminou a vossa servidão, estão perdoados os vossos crimes, pois já recebeu da mão do Senhor o dobro do castigo por todos os seus pecados.» Uma voz grita: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus. Todo o vale seja levantado, e todas as colinas e montanhas sejam abaixadas, todos os cumes sejam aplanados, e todos os terrenos escarpados sejam nivelados!» Então a glória do Senhor manifestar-se-á, e toda a gente a há-de ver ao mesmo tempo. É o Senhor quem o declara. Diz uma voz: «Proclama!» Respondo: «Que hei-de proclamar?» «Proclama que toda a gente é como a erva e toda a sua beleza como a flor dos campos! A erva seca e a flor murcha, quando o sopro do Senhor passa sobre elas. Verdadeiramente o povo é semelhante à erva. A erva seca e a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente.» Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém; levanta a voz, sem receio, e diz às cidades de Judá: «Aí está o vosso Deus! Olhai, o Senhor Deus vem com a força do seu braço dominador; olhai, vem com o preço da sua vitória, e com a recompensa antecipada. É como um pastor que apascenta o rebanho, reúne-o com o cajado na mão, leva os cordeiros ao colo e faz repousar as ovelhas que têm crias.» Quem mediu as águas do mar com a sua mão, e quem mediu o céu a palmo, ou o pó da terra com o alqueire? Quem pesou as montanhas na báscula e as colinas na balança? Quem mediu o espírito do Senhor ? Quem lhe mostrou o seu projecto? De quem recebeu Ele conselho para julgar, para lhe indicar o caminho certo? Quem lhe ensinou a ciência e lhe sugeriu o caminho da prudência? As nações são como uma gota de água num balde, como um grão de poeira no prato de uma balança; e as ilhas não pesam mais do que o pó mais fino. As florestas do Líbano não chegam para a lenha, nem os seus animais para os holocaustos. Diante dele, todos os povos são como se não existissem; para Ele contam menos que nada. A quem, pois, ireis comparar Deus? Com que imagem o podeis confrontar? Um ídolo, é um artista que o modela, o ourives reveste-o de ouro e junta-lhe alguns retoques de prata. Quem tem pouco para oferecer escolhe uma madeira que não apodreça, procura um artista hábil, para lhe fazer um ídolo duradouro. Porventura não o sabíeis nem aprendestes? Não vo-lo disseram de antemão? Não chegou ao vosso conhecimento como se fundou a terra? Ele está sentado sobre a cúpula da terra; os seus habitantes são como gafanhotos. Foi Ele quem estendeu os céus como um toldo e os desdobrou como uma tenda para habitar. Ele reduz a nada os poderosos, e converte em nada os governantes. Logo que estejam plantados ou semeados, mal tenham criado raízes na terra, sopra sobre eles e secam imediatamente; e depois são levados como palha por um vendaval. «A quem, pois, me comparareis, que seja igual a mim?» pergunta o Deus Santo. Levantai os olhos ao céu e vede! Quem criou todos estes astros? Aquele que os conta e os faz marchar como um exército. A todos Ele chama pelos seus nomes. É tão grande o seu poder e tão robusta a sua força, que nem um só falta à chamada. Porque andas falando, Jacob, e murmurando, Israel: «O Senhor não compreende o meu destino, o meu Deus ignora a minha causa!» Porventura não sabes? Será que não ouviste? O Senhor é um Deus eterno, que criou os confins da terra. Não se cansa nem perde as forças. É insondável a sua sabedoria. Ele dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. Até os adolescentes se cansam e se fatigam, e os jovens tropeçam e vacilam. Mas aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer. Povos das ilhas, guardai silêncio perante mim; povos das nações, enchei-vos de coragem! Aproximai-vos e falai, vamos comparecer juntos em tribunal. Quem é que o suscitou do Oriente e lhe concede a vitória, a cada passo? Quem lhe entrega as nações e lhe submete os reis? A sua espada redu-los a pó, e o seu arco dispersa-os como palha. Persegue-os e avança seguro, sem pisar os caminhos com os seus pés. Quem, portanto, realizou tudo isto? É aquele que anuncia o futuro de antemão. Sou Eu mesmo, o Senhor, que sou o primeiro, e estou também com os últimos. Povos das ilhas, vede-o e tremei; povos dos confins da terra, estremecei! Um ajuda o outro e cada qual diz ao seu companheiro: «Coragem!» O cinzelador estimula o ourives, o que trabalha com o martelo encoraja o que está à bigorna. Dizem da soldadura: «Bom trabalho!» Depois seguram o ídolo com rebites para que não se mova. Quanto a ti, Israel, meu servo, Jacob, meu eleito, linhagem de Abraão, meu amigo, fui buscar-te aos confins da terra, chamei-te das regiões remotas. Eu disse-te: Tu é que és o meu servo. Foi a ti que Eu escolhi e não te rejeitarei. Nada temas, porque Eu estou contigo; não te angusties, porque Eu sou o teu Deus. Eu fortaleço-te e auxilio-te; e amparo-te com a minha mão direita e vitoriosa. Olha: serão confundidos e derrotados os que se enfurecem contra ti; serão aniquilados e destruídos os que lutam contra ti. Buscarás, mas não encontrarás os que lutam contra ti. Serão destruídos e reduzidos a nada os que te combatem. Porque Eu, o Senhor, teu Deus, tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei!’ Não tenhas medo, pobre vermezinho de Jacob, mísero insecto de Israel. Eu próprio te ajudarei – oráculo do Senhor. O teu redentor é o Santo de Israel. Farei de ti uma grade aguçada, nova e armada de dentes; trilharás as montanhas e as triturarás. Reduzirás a palha as colinas. Tu as joeirarás e levá-las-á o vento, e o vendaval as espalhará. Exultarás, então, no Senhor, gloriar-te-ás no Santo de Israel. Os pobres e os necessitados buscam água e não a encontram. Têm a língua ressequida pela sede. Mas Eu, o Senhor, os atenderei; Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei. Farei brotar rios nos morros escalvados e fontes do fundo dos vales. Transformarei o deserto num reservatório e a terra árida em arroios de água. Plantarei no deserto cedros e acácias, murtas e oliveiras. Farei crescer na terra seca o cipreste, ao lado do ulmeiro e do buxo, para que vejam e saibam, considerem e compreendam, de uma vez por todas, que é a mão do Senhor que faz estas coisas, que o Santo de Israel as realizou. Vinde e preparai a vossa defesa, diz o Senhor; alegai os vossos argumentos, diz o rei de Jacob. Aproximai-vos e anunciai-nos o que vai acontecer. Narrai-nos as vossas predições do passado para que prestemos atenção; anunciai-nos o futuro, dizei-nos o que vai acontecer. Anunciai os acontecimentos futuros, e saberemos que sois deuses. Fazei qualquer coisa de bom ou de mau, para que possamos ajuizar e ver. Olhai, nada sois; as vossas obras nada são; é abominável escolher-vos. Eu fi-lo surgir do Norte, e ele já vem. Chamei-o pelo seu nome, no Oriente; ele calcará aos pés os governantes, como se calca o barro, como o oleiro, quando amassa a argila. Quem, antes, o predisse para que se soubesse? Quem o preanunciou, para que se diga: «É exacto?» Ninguém o anuncia, ninguém o comenta, ninguém ouve os vossos discursos. Eu fui o primeiro a anunciá-lo em Sião e enviei a Jerusalém um arauto com a boa-nova. Procurei, mas não encontrei ninguém entre eles, nenhum conselheiro a quem perguntar para me informar. Todos juntos nada são, as suas obras são uma nulidade, e os seus ídolos são ar e vento. «Eis o meu servo, que Eu amparo, o meu eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o meu espírito, para que leve às nações a verdadeira justiça.* Ele não gritará, não levantará a voz, não clamará nas ruas.* Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça.* Não desanimará, nem desfalecerá, até estabelecer na terra o direito, as leis que os povos das ilhas esperam dele.* Eis o que diz o Senhor Deus, que criou os céus e os estendeu, que consolidou a terra com a sua vegetação, que deu vida aos seus habitantes, e o alento aos que andam por ela. Eu, o Senhor, chamei-te por causa da justiça, segurei-te pela mão; formei-te e designei-te como aliança de um povo e luz das nações; para abrires os olhos aos cegos, para tirares do cárcere os prisioneiros, e da prisão, os que vivem nas trevas. Eu sou o Senhor, este é o meu nome, a ninguém cedo a minha glória, nem aos ídolos a honra que me é devida. Os primeiros acontecimentos já se cumpriram. Agora anuncio algo de novo e comunico-o a vós antes que aconteça.» Cantai ao Senhor um cântico novo, louvai-o desde os confins da terra. Que o mar o cante e tudo o que ele contém, as ilhas com os seus habitantes! Alegre-se o deserto com as suas tendas, os acampamentos dos que habitam em Quedar! Clamem com alegria os povos de Petra; soltem gritos de alegria do alto das montanhas. Dêem glória ao Senhor, anunciem nas ilhas distantes o seu louvor. O Senhor avança como um herói, como um guerreiro acende o seu ardor; lança o grito de guerra, caminha com valentia contra os seus inimigos. Desde há muito tempo que guardo silêncio, que permaneço calado e me contenho. Agora grito como a parturiente, estou ofegante e oprimido. Vou devastar montanhas e colinas, secar toda a sua verdura, transformar os rios em terras áridas e secar os lagos. Vou levar os cegos por um caminho que não conhecem, e guiá-los por carreiros que ignoram. Mudarei diante deles as trevas em luz, e os caminhos pedregosos, em planos. É isto o que penso fazer e não deixarei de o fazer. Retrocederão, depois, cheios de vergonha, os que põem a confiança nos ídolos e que dizem às estátuas: «Vós sois os nossos deuses!» Surdos, ouvi! Cegos, olhai e vede! Quem é cego, senão o meu servo? E quem é surdo, senão o meu mensageiro? Quem é cego como o meu enviado? Quem é surdo como o servo do Senhor ? Tu vias muitas coisas, mas sem as entenderes, tinhas os ouvidos abertos, mas não as compreendias. O Senhor, por amor ao seu plano, queria glorificar e engrandecer a sua lei. Mas são um povo saqueado e despojado. Todos os seus valentes foram acorrentados e encerrados nos cárceres. Eram saqueados e ninguém os libertava, eram despojados e ninguém dizia: «Restitui!» Quem de vós prestará atenção a estas coisas? Quem está atento para perscrutar o futuro? Quem entregou Jacob aos saqueadores, e Israel aos devastadores? Não foi o Senhor contra quem pecámos? Pois não quiseram seguir os seus caminhos, nem respeitar as suas leis. Por isso, descarregou sobre eles a sua cólera e a violência da guerra; rodeou-o de chamas, mas ele não compreendeu, incendiou-o, mas ele não fez caso. E agora, eis o que diz o Senhor, o que te criou, ó Jacob, o que te formou, ó Israel: «Nada temas, porque Eu te resgatei, e te chamei pelo teu nome; tu és meu. Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo, e os rios não te submergirão. Se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e as chamas não te consumirão. Porque Eu, o Senhor, sou o teu Deus; Eu, o Santo de Israel, sou o teu salvador. Entrego o Egipto por teu resgate, a Etiópia e Seba em troca de ti. Visto que és precioso aos meus olhos, que te estimo e te amo, entrego reinos em teu lugar, e nações, em vez da tua pessoa. Não tenhas medo, que Eu estou contigo. Trarei do Oriente os teus filhos e congregarei do Ocidente os que te pertencem. Direi ao Norte: ‘Devolve-os!’ E ao Sul: ‘Não os retenhas!’ Tragam-me os meus filhos lá de longe e as minhas filhas dos confins da terra. São todos aqueles que têm o meu nome, que Eu criei para a minha glória, que Eu fiz e formei.» «Fazei comparecer este povo cego, apesar de ter olhos, e surdo, apesar de ter ouvidos. Juntem-se todas as nações e reúnam-se os povos. Quem, de entre eles, anunciou estas coisas, e quem predisse o que ia acontecer? Apresentem testemunhas para se justificarem, e, ouvindo-as, se possa dizer: ‘É verdade!’ Vós é que sois as minhas testemunhas – oráculo do Senhor. Vós é que sois os meus servos, os que Eu escolhi, para reconhecerem, acreditarem e compreenderem que Eu é que sou Deus. Antes de mim, não havia deus nenhum, e depois de mim também não haverá. Eu e só Eu é que sou o Senhor. Não há outro salvador além de mim. Eu é que predisse e salvei. Eu é que anunciei, e não há nenhum outro no meio de vós. Vós sois as minhas testemunhas – oráculo do Senhor. Eu é que sou Deus. Eu sou esse Deus desde sempre, e não há nada que possa subtrair ninguém da minha mão; o que faço, quem o poderá desfazer?» Eis o que diz o Senhor, aquele que vos liberta, o Santo de Israel: «Por vossa causa, mandei uma expedição à Babilónia, fiz cair os ferrolhos dos cárceres, e os caldeus lamentam-se em altos brados. Eu sou o Senhor, o vosso Deus Santo, o criador de Israel, o vosso rei.» Assim fala o Senhor, que outrora abriu um caminho através do mar, uma estrada nas torrentes das águas; que pôs em campanha carros e cavalos, tropa de soldados e chefes; caíram para nunca mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga: «Não vos lembreis dos acontecimentos de outrora, não penseis mais no passado, pois vou realizar algo de novo, que já está a aparecer: não o notais? Vou abrir um caminho no deserto e fazer correr rios na estepe. Glorificar-me-ão os animais selvagens, os chacais e as avestruzes, porque hei-de fazer brotar água no deserto e rios na terra árida, para dar de beber ao meu povo, o meu eleito, o povo que Eu formei para mim, e assim hão-de proclamar os meus louvores.» «Mas tu, Jacob, não era a mim que invocavas, não era por mim que te esforçavas, Israel. Não me oferecias ovelhas em holocausto, nem me honravas com os teus sacrifícios. Também não exigi de ti ofertas nem te importunei, pedindo-te incenso. Não me compravas canela com dinheiro nem me satisfazias com a gordura das tuas vítimas, antes, me atormentavas com os teus pecados e me cansavas com as tuas iniquidades. Eu, porém, é que apagava as tuas faltas, por mim, não me lembrava dos teus pecados. Recorda-me o que tens contra mim e discutiremos, conta-mo para ver se tens razão. Já o teu primeiro pai pecou, e os teus chefes ofenderam-me. Por isso, tornei profanos príncipes consagrados, entreguei Jacob ao extermínio e Israel aos insultos.» «Mas agora ouve-me, Jacob, meu servo, Israel a quem escolhi: Eis o que diz o Senhor que te criou, que te formou desde o seio materno e te socorre: «Nada temas, Jacob, meu servo, e Jechurun, que Eu escolhi. Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes. Crescerão como erva junto das fontes, como salgueiros junto das águas correntes. Um dirá: ‘Eu sou do Senhor ’; outro reclamará para si o nome de Jacob; outro se tatuará no braço: ‘Pertenço ao Senhor ’, e receberá o sobrenome de Israel.» Eis o que diz o Senhor, rei de Israel, o seu redentor, o Senhor do universo: «Eu sou o primeiro e o último. Não há outro Deus além de mim. Quem há semelhante a mim? Que se apresente e fale! Que explique e me exponha quem é que desde sempre anunciou o futuro e predisse o que deve ainda acontecer. Não temais, não vos perturbeis! Não vo-lo anunciei e predisse há muito tempo? Vós sois testemunhas: acaso há outro Deus além de mim? Não há outro Rochedo, que Eu saiba.» Os fabricantes de ídolos nada são, as suas imagens preciosas nada valem. Os seus devotos nada vêem e nada compreendem; por isso ficam confundidos. Porquê modelar um deus ou fazer uma imagem, se não serve para nada? Olhai! Todos os seus fiéis serão confundidos, pois os artistas que os fabricam são apenas homens. Que se congreguem e compareçam todos! Ficarão assustados e confundidos. O ferreiro trabalha-o na bigorna, vai-o modelando com o martelo e trabalha-o com braços robustos. Passa fome, cansa-se, não bebe e fica esgotado. Quanto ao que trabalha com a madeira, toma as medidas, faz o esboço a lápis, desbasta a madeira com o formão, modela-a com a lima e dá-lhe figura de homem e beleza humana, para a pôr a habitar num templo. Escolhe-se um cedro para cortar, ou uma azinheira ou um carvalho, que se deixam crescer entre as árvores da floresta; ou planta-se um cipreste que cresce com a chuva. As pessoas usam essa madeira para o lume, para se aquecerem ou cozerem o pão para matar a fome. Porém ele faz um deus e adora-o, fabrica uma imagem e prostra-se diante dela. Queima no fogo metade desta madeira, assa a carne sobre as brasas e come-a até se saciar. Depois, aquece-se e diz: «Bom! Estou quente e tenho luz!» Do resto faz a imagem de um ídolo, adora-o e dirige-lhe esta oração: «Salva-me, porque tu és o meu deus!» Eles não compreendem, nem percebem; têm olhos para ver e não vêem; têm mente, mas não entendem; não reflectem, não têm bom senso nem inteligência para dizer: «Queimei metade no fogo, cozi pão sobre as brasas, assei carne e comi-a. Vou agora fazer do resto uma coisa abominável e prostrar-me diante de um pedaço de madeira?» Esta gente alimenta-se de cinzas, e o seu coração, extraviado, desencaminha-os. Não consegue salvar-se, dizendo: «Não será um puro engano o que tenho na minha mão direita?» Lembra-te destas coisas, Jacob, porque tu és o meu servo, ó Israel. Formei-te, como meu servo, ó Israel; não serás esquecido por mim. Dissipei as tuas revoltas como uma névoa e os teus pecados como uma nuvem. Volta para mim, porque Eu te resgatei. Cantai, ó céus, a obra do Senhor ! Exultai de alegria, ó profundezas da terra! Saltai de júbilo, vós, montanhas, e tu, bosque, com todas as tuas árvores, porque o Senhor resgatou Jacob, manifestou a sua glória em Israel. Eis o que diz o Senhor, o teu redentor, que te formou no ventre materno: «Eu sou o Senhor que fiz todas as coisas, sozinho estendi os céus e firmei a terra. Quem me ajudava? Eu anulo os presságios dos magos, ponho a ridículo os adivinhos, faço retratar os sábios, demonstro que a sua sabedoria é ignorância. Mas realizo a palavra dos meus servos, faço cumprir o que predizem os meus enviados. Digo a Jerusalém: ‘Serás habitada!’ E às cidades de Judá: ‘Sereis reedificadas!’ Hei-de levantar as suas ruínas. Digo ao abismo do mar: ‘Seca-te! Vou secar as tuas torrentes!’ Digo a Ciro: ‘És o meu pastor’; e ele cumprirá em tudo a minha vontade. Digo a Jerusalém: ‘Serás reedificada!’ E ao templo: ‘Serás reconstruído!’» Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomei pela mão direita: «Vou derrubar as nações diante de ti, desatar o cinturão dos reis, abrir-te as portas da cidade, sem que nenhuma te seja fechada. Irei diante de ti para te aplanar os caminhos pedregosos, despedaçarei as portas de bronze, quebrarei as portas de ferro. Dar-te-ei tesouros enterrados e riquezas escondidas; para que saibas que Eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo nome. Por amor do meu servo Jacob e de Israel que escolhi, chamei-te pelo teu nome e dei-te um título, embora não me conhecesses. Eu sou o Senhor e não há outro, não existe outro Deus além de mim. Concedo-te a insígnia do poder, embora não me conheças. Assim saberão, do Oriente ao Ocidente, que não há outro fora de mim. Eu é que sou o Senhor. Não há outro. Formo a luz e crio as trevas, dou a felicidade e mando a infelicidade. Eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas. Destilai, ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça. Abra-se a terra para que floresça a salvação e germine igualmente a justiça. Eu sou o Senhor, que criou tudo isto.» Ai do simples vaso de argila que discute com o seu artífice! Acaso o barro diz para o oleiro: «Que estás tu a fazer?» Ou: «A tua vasilha não tem asas?» Ai do que diz a um pai: «Porque geraste?» E a uma mãe: «Porque deste à luz?» Eis o que diz o Senhor, que é o Santo de Israel e aquele que formou o seu povo: «Pretendeis pedir-me contas acerca dos meus filhos e dar-me ordens acerca da obra das minhas mãos? Eu é que fiz a terra e criei nela os homens. Foram as minhas mãos que estenderam os céus, e sou Eu que comando todo o seu exército. Eu é que o suscitei para a justiça e aplanarei todos os seus caminhos. Ele reconstruirá a minha cidade e libertará os meus desterrados, sem nada exigir como recompensa ou suborno.» É o Senhor do universo que o declara. Eis o que diz o Senhor, «Os trabalhadores do Egipto, os comerciantes da Etiópia, e os sabeus de grande estatura, passarão para a tua terra e serão teus. Desfilarão atrás de ti acorrentados, prostrar-se-ão diante de ti e te suplicarão: ‘Não há outro Deus senão o teu; os outros não são nada.’» Na verdade vós sois um Deus escondido, o Deus de Israel, o salvador. Os fabricantes de ídolos retiram-se cheios de vergonha, confundidos e cobertos de ignomínia. Mas Israel será salvo pelo Senhor com uma salvação eterna, para que não se envergonhe, nem seja confundido até ao fim dos tempos. Eis o que diz o Senhor, criador dos céus, o Deus que formou a terra e a consolidou, que não a criou em caos, mas pronta para ser habitada: «Eu é que sou o Senhor e não há outro.» Não te falei às ocultas num país tenebroso. Não disse à linhagem de Jacob: «Procurai-me no vazio.» Eu sou o Senhor, que pronuncio a sentença justa, e anuncio o que é recto. Congregai-vos, vinde, aproximai-vos todos juntos, sobreviventes no meio das nações! Nada disto compreendem os que trazem o seu ídolo de madeira, e oram a um Deus incapaz de os salvar. Declarai, apresentai provas, consultai-vos uns aos outros. Quem anunciou estas coisas há muito tempo? Quem o revelou desde então? Não fui Eu, o Senhor ? Não há outro Deus além de mim. Eu sou um Deus justo e salvador, e não há nenhum outro. Voltai-vos para mim e sereis salvos, vós que habitais nos confins da terra, porque Eu sou Deus e não há nenhum outro. Juro por mim mesmo, e o que digo é verdadeiro, é uma palavra irrevogável: «Todo o joelho se dobrará diante de mim, toda a língua jurará por mim.» Dirão: «Só no Senhor residem a justiça e a força.» Até Ele hão-de acorrer envergonhados todos os que contra Ele se tinham levantado. No Senhor triunfará e se gloriará toda a descendência de Israel. O deus Bel curva-se e Nebo é abatido. As suas imagens são postas sobre animais e bestas de carga, e as estátuas que levais deixam os animais esgotados. Os deuses curvam-se e abatem-se, incapazes de salvar os que os carregam. Até eles próprios vão para o cativeiro. Ouvi-me, casa de Jacob, e vós todos, sobreviventes da casa de Israel, vós a quem Eu trouxe ao colo desde o vosso nascimento, desde que a vossa mãe vos deu à luz. Até à vossa velhice Eu serei o mesmo, sustentar-vos-ei até virem as cãs. Como já fiz, continuarei a fazê-lo. Cuidarei de vós e hei-de livrar-vos. A quem podereis comparar-me ou igualar-me? Quem poderá assemelhar-se a mim ou comparar-se comigo? Há os que tiram o ouro das suas bolsas e pesam a prata na balança, depois ajustam com o ourives para que lhes façam um deus, diante do qual se prostram e até o adoram. Levam-no às costas e transportam-no. Onde o colocam, ali fica sem se mexer do lugar. Por mais que lhe gritem, não responde, não os salva do perigo. Lembrai-vos disto e meditai, reflecti, ó prevaricadores. Recordai os tempos passados que Eu predisse. Eu sou Deus e não há outro. Não há nenhum deus semelhante a mim. Eu anuncio o futuro de antemão. Muito antes que suceda, já o prevejo. Digo: «O meu plano realizar-se-á; executarei a minha vontade.» Chamo o abutre do Oriente, e do país longínquo o homem dos meus desígnios. Disse-o e cumpri-lo-ei. O que planeei será executado. Escutai-me vós os desanimados, que julgais estar longe da justiça. Não demorará a justiça que prometi. A libertação que predisse não tardará. Porei em Sião a salvação. A minha glória será para Israel. Desce do teu trono, senta-te no pó, jovem cidade da Babilónia. Senta-te na terra, sem trono, capital dos caldeus! Nunca mais serás chamada delicada e refinada. Pega nas duas pedras do moinho e faz a farinha, tira o véu e arregaça o vestido, descobre as tuas pernas para passares os rios. Apareça a tua nudez, veja-se o que cobres com vergonha. Vou exercer implacável vingança. Eis o que diz o nosso redentor, que tem por nome Senhor do universo, o Santo de Israel: Senta-te em silêncio, mergulha na escuridão, capital dos caldeus, porque já não te chamarão mais: «Senhora dos impérios.» Irritado contra o meu povo, profanei a minha herança, entregando-a nas tuas mãos. Mas não usaste de piedade para com eles, pois esmagaste os anciãos com o peso do teu jugo. Tu dizias: «Serei a dominadora do mundo para sempre.» E não reflectiste, não pensaste no que te poderia vir a acontecer. Agora, portanto, ouve isto, ó voluptuosa, que reinavas, confiante, e dizias a ti mesma: «Eu e mais ninguém! Nunca ficarei viúva, nunca perderei os meus filhos.» Ambas as desgraças caíram de repente sobre ti num só dia: vais ficar, ao mesmo tempo, sem filhos e viúva, apesar de todas as tuas bruxarias e dos teus poderosos sortilégios. Punhas a tua confiança nas tuas maldades e dizias: «Ninguém me vê!» A tua sabedoria e a tua ciência transtornaram-te, e por isso dizias: «Eu e mais ninguém!» Mas virá sobre ti uma desgraça que não saberás conjurar, desabará sobre ti uma catástrofe que não poderás evitar; cairá sobre ti de repente um desastre que nunca imaginaste. Corre, portanto, aos teus encantamentos e à multidão das tuas bruxarias, a que te entregaste desde a juventude! Vê lá se podem servir para esconjurares a desgraça. Cansaste-te com os teus numerosos conselheiros. Apresentem-se agora e salvem-te os que conjuram o céu, os que observam os astros e os que prognosticam cada mês o que vai acontecer. Tornaram-se como a palha: o fogo os consome; não poderão escapar às investidas das chamas. Não são como brasas na lareira, onde nos sentamos para aquecer. Deste modo, terminaram os teus adivinhos, com quem traficavas desde a juventude. Cada qual foge para onde pode, e nenhum deles te salva. Ouvi, gente de Jacob, vós que vos orgulhais do nome de Israel, de serdes descendentes de Judá, que jurais pelo nome do Senhor, e invocais o Deus de Israel, mas sem verdade nem rectidão. Tendes orgulho em pertencer à cidade santa, e vos apoiardes no Deus de Israel, cujo nome é «Senhor do universo.» O passado já o predisse de antemão, saiu da minha boca e anunciei-o: de repente actuei e as coisas aconteceram. Como sei que sois um povo obstinado, que a vossa cerviz é como um tendão de ferro e a vossa cabeça dura como bronze, predisse-vos os acontecimentos com muita antecedência. Informei-vos antes que acontecesse, para que não dissésseis: «Foi o meu ídolo que fez isso, foi o meu deus de madeira ou de bronze que o ordenou.» Do que Eu predisse vedes a realização. Não o quereis atestar? A partir de agora, revelo-vos coisas novas, que estavam ocultas e que desconhecíeis; vão ser criadas agora e não o foram antes. Nem ouvistes falar delas antes de hoje mesmo, para que não pudésseis dizer: «Já o sabia.» Não, tu nada sabias, de nada suspeitavas, nem os vossos ouvidos estavam abertos para tal, porque Eu sabia como sois infiéis, e que desde o ventre materno vos chamam rebeldes. Por amor ao meu nome, contenho a minha cólera, domino-a, pela minha honra, para não vos aniquilar. Passei-vos pelo cadinho da prova como a prata, provei-vos no crisol da tribulação. E é só por mim que o faço, porque não quero que meu nome seja escarnecido, e não cedo a minha glória a ninguém. Ouve-me, Jacob e Israel, a quem te chamei: Eu é que sou o primeiro e também o último. Foi a minha mão que fundou a terra e a minha direita estendeu os céus; quando os chamo comparecem juntos. Reuni-vos todos e ouvi: Quem de entre eles predisse estes acontecimentos? O meu predilecto cumprirá a minha vontade contra a Babilónia e contra a raça dos caldeus. Eu próprio é que lhe falei e o chamei; fiz que ele viesse e tivesse êxito no seu empreendimento. Aproximai-vos de mim e ouvi isto: não faço previsões em segredo; quando se realiza estou presente. E agora, o Senhor Deus enviou-me com o seu espírito. Eis o que diz o Senhor, teu redentor, o Santo de Israel: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te dou lições para teu bem, que te guio pelo caminho que deves seguir. Ah! Se tivesses atendido ao que Eu mandava! O teu bem-estar seria como um rio, a tua felicidade como as ondas do mar. A tua posteridade seria como a areia, como os seus grãos, os frutos do teu ventre. O teu nome não seria aniquilado, nem destruído diante de mim.» Saí da Babilónia, fugi da Caldeia! Anunciai esta nova com gritos de alegria, publicai-a até às extremidades da terra. Dizei: «O Senhor resgatou o seu servo Jacob.» Não passaram sede quando os guiou pelo deserto porque lhe fez brotar água de um rochedo, fendeu a rocha para que a água jorrasse. Mas não há paz para os maus, diz o Senhor. « Ouvi-me, habitantes das ilhas, prestai atenção, povos de longe.* Quando ainda estava no ventre materno, o SENHOR chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome.* Fez da minha palavra uma espada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua aljava.* Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado.»* Eu dizia a mim mesmo: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as minhas forças.» Porém, o meu direito está nas mãos do SENHOR, e no meu Deus a minha recompensa.* E agora o SENHOR declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o Senhor . O meu Deus tornou-se a minha força.* Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra.»* Eis o que diz o Senhor, o redentor e Deus santo de Israel, ao desprezado e abandonado pelas gentes, ao escravo dos tiranos: «Os reis hão-de levantar-se ao ver-te, os príncipes se prostrarão, porque o Senhor é fiel, porque o Santo de Israel te escolheu.» Eis o que diz o Senhor, «Eu respondi-te no tempo da graça e socorri-te no dia da salvação. Defendi-te e designei-te como aliança do povo, para restaurares o país e repartires as heranças devastadas, para dizeres aos prisioneiros: ‘Saí da prisão!’ E aos que estão nas trevas: ‘Vinde à luz!’ Ao longo dos caminhos encontrarão que comer, e em todas as dunas arranjarão alimento. Não padecerão fome nem sede, e não os molestará o vento quente nem o sol, porque o que tem compaixão deles os guiará, e os conduzirá em direcção às fontes. Transformarei os meus montes em caminhos planos, e as minhas estradas serão alteadas. Vede como eles chegam de longe! Uns vêm do Norte e do Poente, e outros, da terra de Siene.» Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo e se compadece dos desamparados. Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o meu dono esqueceu-se de mim.» Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. Eis que Eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos. As tuas muralhas estão sempre diante dos meus olhos. Os que te vão reconstruir andam mais rápidos que os que destroem. Os que te devastam fogem de ti. Levanta os olhos à tua volta e vê como todos se reuniram para vir a ti. Juro pela minha vida – diz o Senhor todos serão para ti como um vestido precioso, ou como o teu adorno de noiva. As tuas ruínas e devastações e o teu território saqueado serão estreitos para os teus habitantes, e serão afugentados para longe os que te devoravam. Hás-de ouvir dizer aos filhos que julgavas perdidos: «Este lugar é demasiado estreito; chega-te para aí, para eu poder habitar.» E tu perguntarás: «Quem me deu à luz estes filhos? Eu não tinha filhos, era estéril, quem os criou? Estava desamparada e só; donde vieram estes?» Isto diz o Senhor Deus, «Olha como Eu com a minha mão faço um sinal às nações, levanto o meu estandarte para os povos: trarão os teus filhos nos braços e as tuas filhas aos ombros. Os seus reis serão os teus protectores, as suas princesas as tuas amas; prostrando-se diante de ti, com o rosto por terra, lamberão o pó dos teus pés. Então reconhecerás que Eu sou o Senhor, e que não serão confundidos os que confiam em mim. Acaso pode tirar-se ao guerreiro o despojo conquistado ou arrancar o prisioneiro ao vencedor?» Porém, o Senhor diz: «Mesmo que se possa tirar ao guerreiro o despojo conquistado e ao vencedor o prisioneiro, Eu sempre defenderei a tua causa e salvarei os teus filhos. Farei comer aos teus opressores as suas próprias carnes. Que se embriaguem com o seu próprio sangue, como se fosse vinho. Então toda a gente saberá que Eu, o Senhor, teu salvador e teu redentor sou o herói de Jacob.» Eis o que diz o Senhor, «Onde está o documento de repúdio com que despedi a vossa mãe, ou a qual dos meus credores Eu vos vendi como escravos? Por causa das vossas culpas é que fostes vendidos, e por causa dos vossos crimes é que a vossa mãe foi repudiada. Porque é que não encontro ninguém quando venho? Porque é que ninguém responde quando chamo? Porventura encurtou-se a minha mão para vos resgatar? Não tenho Eu poder bastante para vos salvar? Olhai: com uma simples ameaça seco o mar, transformo os rios em deserto, por falta de água apodrecem os seus peixes, mortos de sede. Visto o céu de negro e cubro-o com uma veste de luto.» «O Senhor DEUS ensinou-me o que devo dizer, para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos, para que eu aprenda como os discípulos.* O Senhor DEUS abriu-me os ouvidos, e eu não resisti, nem recusei.* Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam.* Mas o Senhor DEUS veio em meu auxílio; por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria envergonhado.* O meu defensor está junto de mim. Quem ousará levantar-me um processo? Compareçamos juntos diante do juiz! Apresente-se quem tiver qualquer coisa contra mim.* O Senhor DEUS vem em meu auxílio; quem ousará condenar-me? Cairão todos esfrangalhados, como roupa velha, roída pela traça.»* Quem de entre vós teme o* Senhor e escuta a voz do seu servo? Mesmo que caminhe nas trevas, privado de luz, confie no nome do* Senhor e firme-se sobre o seu Deus.* Mas quanto a vós, que ateais o fogo, que preparais setas incendiárias, caireis nas chamas do vosso próprio fogo, por entre as setas que inflamastes. Assim vos tratará a minha mão, e haveis de jazer nos vossos tormentos.* Ouvi-me, vós que seguis a justiça, os que buscais o Senhor ! Considerai a rocha de que fostes talhados, a pedreira de onde fostes tirados. Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz. Ele era um só, quando o chamei, mas abençoei-o e multipliquei-o. O Senhor consolará Sião e reparará todas as suas ruínas. Transformará o seu deserto num lugar de delícias, a sua solidão num paraíso do Senhor, onde haverá gozo e alegria, cânticos de louvor e melodias de música. Prestai-me atenção, ó meu povo, dai-me ouvidos, minha nação. É de mim que vem a lei, os meus mandamentos são a luz dos povos. A minha vitória está perto, a minha salvação está mesmo a chegar. O meu braço governará os povos. As ilhas estão à minha espera, e põem a sua esperança no meu braço. Levantai os olhos ao céu, e observai, lá em baixo, a terra: o céu passa como o fumo, e a terra gasta-se como um vestido. Os seus habitantes morrem como moscas, mas a minha salvação subsistirá sempre, e a minha justiça não terá fim. Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, o povo que leva a minha lei no coração: não temais os insultos dos homens, nem vos deixeis abater pelos seus ultrajes, porque a traça os comerá como a um vestido, e os vermes da traça os roerão como a lã. Mas a minha justiça subsistirá sempre, e a minha salvação nunca mais terá fim. Desperta! Desperta! Reveste-te de fortaleza, braço do Senhor. Desperta como nos dias antigos, como nos tempos de outrora. Não foste Tu que esmagaste o monstro Raab, que trespassaste o dragão dos mares? Não foste Tu que secaste o mar, as águas do grande abismo? Não transformaste as profundezas do mar em caminho, para que passassem os resgatados? Os que o Senhor libertou voltarão e virão para Sião com cânticos de triunfo. Uma alegria eterna iluminará o seu rosto, um regozijo transbordante os seguirá, e as aflições desaparecerão. Sou Eu, sou Eu o vosso consolador. Quem és tu para teres medo de um simples mortal, de um homem que acabará como a erva? Esqueceste o Senhor, teu criador, que estendeu os céus e fundou a terra. Todos os dias tremias diante da cólera do opressor, quando te procurava destruir. Onde está agora a fúria do opressor? Em breve o prisioneiro será libertado, não morrerá no cárcere, nem lhe faltará pão. Eu, o Senhor, é que sou o teu Deus, que envolvo o mar e faço rugir as suas ondas; o meu nome é: Senhor do universo. Pus as minhas palavras na tua boca, escondi-te na palma da minha mão. Estendo os céus e assento a terra, e digo a Sião: «Tu és o meu povo.» Desperta! Desperta! Levanta-te, Jerusalém! Já bebeste da mão do Senhor a taça da sua ira. Já esgotaste até ao fundo o cálice que atordoa. De todos os filhos que ela gerou, nenhum deles a orientou; de todos os filhos que ela criou, nenhum a segurou pela mão. Esses dois males te aconteceram. Quem se compadece de ti? Só há desolação e ruína, fome e espada. Quem é que te consola? Os teus filhos jazem desfalecidos nas encruzilhadas dos caminhos, como antílopes aprisionados na rede, apanhados pela ira do Senhor, pela ameaça do teu Deus. Portanto, ouve com atenção, Jerusalém infeliz, que estás embriagada, mas não de vinho. Isto diz o Senhor, teu Senhor e teu Deus, defensor do seu povo: «Vou retirar da tua mão a taça que atordoa; nunca mais beberás do cálice da minha ira. Vou pô-la na mão dos teus tiranos, daqueles que te diziam: ‘Curva-te para passarmos por cima de ti’. E apresentaste as costas como terra que se calca, como calçada para os transeuntes.» Desperta! Desperta! Reveste-te da tua força, Jerusalém, cidade santa, Sião! Veste os teus trajes de gala, porque já não entrarão mais dentro de ti nem pagãos nem impuros. Sacode o pó e põe-te de pé, Jerusalém cativa! Desata as cadeias do teu pescoço, Sião prisioneira! Eis o que diz o Senhor, «Fostes vendidos por nada, sereis resgatados sem pagar.» Eis o que diz ainda o Senhor Deus, «O meu povo refugiou-se outrora no Egipto, para ali habitar como estrangeiro; no fim, Assur oprimiu-o. Diante desta situação, que devo Eu fazer? – Oráculo do Senhor. Levam o meu povo gratuitamente, os seus opressores soltam brados de triunfo e todos os dias ultrajam o meu nome. Oráculo do Senhor. Por isso, o meu povo conhecerá o meu nome; nesse dia compreenderá que era Eu que dizia: ‘Aqui estou!’» Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que apregoa a boa-nova e que proclama a salvação! Que diz a Sião: «O rei é o teu Deus!» Ouve: as tuas sentinelas gritam, cantam em coro, porque vêem olhos nos olhos o regresso do Senhor a Sião. Ruínas de Jerusalém, irrompei em cânticos de alegria, porque o Senhor consola o seu povo, com a libertação de Jerusalém. O Senhor mostra a força do seu braço poderoso aos olhos das nações, e todos os confins da terra verão o triunfo do nosso Deus. Saí da Babilónia! Fugi para longe dela! Não toqueis no que é impuro! Conservai-vos puros, vós que levais os objectos de culto do Senhor. Porque não partireis com precipitação, não vos retirareis como fugitivos. Porque o Senhor irá diante de vós, e o Deus de Israel seguirá na retaguarda. Olhai, o meu servo terá êxito, será muito engrandecido e exaltado.* Assim como muitos ficaram espantados diante dele,* ao verem o seu rosto desfigurado e o seu aspecto disforme,* agora fará com que muitos povos fiquem bem impressionados. Os reis ficarão boquiabertos, ao verem coisas inenarráveis, e ao contemplarem coisas inauditas.* Quem acreditou no nosso anúncio? A quem foi revelado o braço do Senhor?* O servo cresceu diante do Senhor como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente,* desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado.* Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado.* Mas foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas.* Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes.* Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador.* Sem defesa, nem justiça, levaram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino? Foi suprimido da terra dos vivos, mas por causa dos pecados do meu povo é que foi ferido.* Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios, e uma tumba entre os malfeitores, embora não tenha cometido crime algum, nem praticado qualquer fraude.* Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimento, para que a sua vida fosse um sacrifício de reparação. Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias, e o desígnio do Senhor realizar-se-á por meio dele.* Por causa dos trabalhos da sua vida verá a luz. O meu servo ficará satisfeito com a experiência que teve. Ele, o justo, justificará a muitos, porque carregou com o crime deles.* Por isso, ser-lhe-á dada uma multidão como herança, há-de receber muita gente como despojos, porque ele próprio entregou a sua vida à morte e foi contado entre os pecadores, tomando sobre si os pecados de muitos, e sofreu pelos culpados.* Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o diz. Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas, porque vais aumentar por todos os lados. Os teus descendentes possuirão as nações, e povoarão cidades desertas. Não tenhas medo, porque não voltarás a ser humilhada. Não te envergonhes, porque não voltarás a ser desonrada. Esquecer-te-ás da vergonha do teu estado de solteira, e não te lembrarás da desonra da tua viuvez. Com efeito, o teu criador é que é o teu esposo, o seu nome é Senhor do universo. O teu redentor é o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a terra. O Senhor chamou-te novamente como a uma mulher abandonada e angustiada. Na verdade, como se pode repudiar a esposa da juventude? É o teu Deus quem o diz. Por um curto momento Eu te abandonei, mas, com grande amor, volto a unir-me a ti. Num acesso de ira, e por um instante, escondi de ti a minha face, mas Eu tenho por ti um amor eterno. É o Senhor teu redentor quem o diz. Vou agir como no tempo de Noé: jurei que nunca mais o dilúvio se abateria sobre a terra. Do mesmo modo, juro nunca mais me irritar contra ti, nem te ameaçar. Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará. Quem o diz é o Senhor, que tanto te ama. Infeliz Jerusalém, sacudida pela tempestade, cidade desconsolada! Eu mesmo te vou reconstruir com pedras assentes em jaspe, com alicerces assentes em safira. Farei as tuas ameias de rubis e as tuas portas de esmeraldas. As tuas muralhas serão de pedras preciosas. Todos os teus habitantes serão discípulos do Senhor e gozarão de uma grande paz os teus filhos. Serás fundada sobre a justiça. Viverás longe de qualquer opressão, sem temer nenhum mal; livre de qualquer terror, pois nada te poderá atingir. Se te atacarem, não será da minha parte; mas quem te atacar cairá diante de ti. Sou Eu quem cria o ferreiro que sopra nas brasas de fogo e que produz os instrumentos adequados. Mas também criei quem os há-de destruir. Nenhuma arma fabricada contra ti terá sucesso, nenhuma língua que te acusar em tribunal poderá condenar-te. Esta é a herança dos servos do Senhor, esta é a vitória que Eu lhes garanto. – Oráculo do Senhor. Atenção! Todos vós que tendes sede, vinde beber desta água. Mesmo os que não tendes dinheiro, vinde, comprai trigo para comer sem pagar nada. Levai vinho e leite, que é de graça. Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta? E o vosso salário naquilo que não pode saciar-vos? Se me escutardes, havereis de comer do melhor, e saborear pratos deliciosos. Prestai-me atenção e vinde a mim. Escutai-me e vivereis. Farei convosco uma aliança eterna, e a promessa a David será mantida. Fiz dele o meu testemunho para os povos, um chefe e um soberano das nações. Chamarás um povo que nunca conheceste; um povo que não te conhecia acorrerá a ti, por causa do Senhor, teu Deus, e do Santo de Israel, que te glorifica. Buscai o Senhor, enquanto se pode encontrar; invocai-o, enquanto está perto. Deixe o ímpio os seus caminhos, e o criminoso os seus projectos. Volte-se para o Senhor, que terá piedade dele, para o nosso Deus, que é generoso em perdoar. Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não são os meus caminhos. – Oráculo do Senhor. Tanto quanto os céus estão acima da terra, assim os meus caminhos são mais altos que os vossos, e os meus planos, mais altos que os vossos planos. Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semeador e pão para comer, o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca: não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão. Sim, saireis radiantes de alegria, e sereis reconduzidos em paz à vossa casa. Montanhas e colinas irromperão a cantar diante de vós, e todas as árvores do campo vos aplaudirão. Em vez das silvas, crescerão os ciprestes, em vez das urtigas, crescerá a murta. Isto será um título de glória para o Senhor, e um sinal eterno que jamais perecerá! Eis o que diz o Senhor, «Respeitai o direito, praticai a justiça, porque a minha salvação está mesmo a chegar, e a minha vitória prestes a aparecer. Feliz o homem que assim procede, e o mortal que assim actua com firmeza, que guarda o sábado sem o profanar, e conserva as suas mãos limpas de toda a obra má. Não diga o estrangeiro que se converteu ao Senhor, ‘O Senhor me excluirá do seu povo.’ E não diga o eunuco: ‘Eu sou apenas um lenho seco.’» Eis, com efeito, o que diz o Senhor, «Aos eunucos que guardaram os meus sábados, que escolheram o que me é agradável e se afeiçoaram à minha aliança, dar-lhes-ei, no meu templo e dentro das minhas muralhas, um monumento e um nome mais valioso que os filhos e as filhas; dar-lhes-ei um nome eterno que não perecerá. Quanto aos estrangeiros que se converterem ao Senhor, para o servirem e amarem e serem seus servos, se guardarem o sábado sem o profanar e forem fiéis à minha aliança, hei-de conduzi-los ao meu santo monte, hei-de cumulá-los de alegria na minha casa de oração; os seus holocaustos e sacrifícios ser-me-ão agradáveis sobre o meu altar, porque a minha casa é casa de oração, e assim será para todos os povos oráculo do Senhor Deus, que reúne os exilados de Israel: ‘Hei-de reunir ainda outros aos que já foram reunidos.’» Feras dos campos, vinde comer; e vós, todas as feras da selva. Os guardas estão todos cegos, nada vêem; são cães mudos, incapazes de ladrar; deitam-se a ressonar e só gostam de dormir. São cães vorazes, insaciáveis. E são estes os pastores! Eles nada compreendem. Cada qual segue o seu caminho e busca o seu interesse, do primeiro ao último. «Vinde, vou buscar vinho, embebedemo-nos com licor! Amanhã será como hoje, pois haverá sempre em abundância.» O inocente perece e ninguém se importa, os homens bons são levados, e não há quem compreenda que o inocente é uma vítima dos maus. Mas há-de vir a paz, e descansarão nos seus leitos os que seguem por caminhos rectos. Vós, porém, aproximai-vos, filhos da feitiçaria, descendência adúltera e prostituída. De quem escarneceis? A quem fazeis caretas e mostrais a língua? Porventura não sois filhos rebeldes, uma geração falsa? Ardeis de concupiscência debaixo dos terebintos, debaixo de toda a árvore frondosa. Sacrificais crianças no leito das torrentes e nas cavernas dos rochedos. As pedras polidas da torrente serão a tua herança, elas é que serão o teu quinhão. Foi a elas que ofereceste as tuas libações e elevaste as tuas oferendas. Poderás, deste modo, aplacar-me? Sobre um monte alto e elevado colocavas o teu leito, e subias até lá para oferecer sacrifícios. Detrás das ombreiras da porta punhas os teus feitiços. Sem fazer caso de mim, despias-te e subias para um leito confortável. Fazias pacto com eles, apreciando o seu leito e admirando o ídolo obsceno. Corrias para o deus Moloc com unguentos, derramando os teus perfumes. Enviavas os teus mensageiros a terras longínquas. Desceste até ao abismo dos mortos. Cansavas-te de tanto caminhar, e nunca dizias: «Já basta!» Recobravas novas forças e seguias sem parar. Quem te metia tanto medo para me renegares, para não te lembrares de mim, nem me prestares atenção? Não é verdade que estive calado por muito tempo e que por isso tu não me temias? Pois bem, vou denunciar a tua justiça e as tuas obras. Os teus ídolos de nada te servirão. Quando pedires socorro, que a colecção dos teus ídolos te valha. Serão todos levados pelo vento, e um sopro os arrebatará. Mas o que tem confiança em mim herdará o país e possuirá o meu monte santo. Então há-de dizer-se: «Abri, abri caminho; aplanai-o. Tirai todos os tropeços do caminho do meu povo!» Porque isto diz o Alto e o Excelso, cujo assento é eterno e cujo nome é santo: «Eu habito num lugar alto e santo, mas estou com as pessoas acabrunhadas e humilhadas, para reanimar os humildes, para reanimar o coração dos deprimidos. Não quero contender eternamente, nem me irritar para sempre; de contrário, destruiria o sopro de vida de todos quantos criei. Irritei-me um momento por culpa sua, castiguei-o e, na minha irritação, não o queria mais ver. Ele afastou-se e tomou o seu caminho preferido. Eu vi os seus caminhos, mas hei-de curá-lo e guiá-lo, prodigando-lhe reconforto. Aos que estão em luto, porei nos seus lábios este cântico: ‘Paz para os de longe e os de perto!’ O Senhor afirma-o: «Eu o hei-de curar!» Mas os maus são como o mar encapelado, que não se pode acalmar, cujas ondas revolvem lodo e lama. Não há paz para os maus. É o meu Deus quem o afirma. Grita em voz alta, sem te cansares. Levanta a tua voz como uma trombeta. Denuncia ao meu povo as suas faltas, aos descendentes de Jacob, os seus pecados. Consultam-me dia após dia, mostram desejos de conhecer o meu caminho, como se fosse um povo que praticasse a justiça e não abandonasse a lei de Deus. Pedem-me sentenças justas querem aproximar-se de Deus. Dizem-me: «Para quê jejuar, se vós não fazeis caso? Para quê humilhar-nos, se não prestais atenção?» É porque no dia do vosso jejum só cuidais dos vossos negócios e oprimis todos os vossos empregados. Jejuais entre rixas e disputas, dando bofetadas sem dó nem piedade. Não jejueis como tendes feito até hoje, se quereis que a vossa voz seja ouvida no alto. Acaso é esse o jejum que me agrada, no dia em que o homem se mortifica? Curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza? Podeis chamar a isto jejum e dia agradável ao Senhor ? O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente, e a glória do Senhor atrás de ti. Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: «Aqui estou!» Se retirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo, se repartires o teu pão com o faminto e matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na tua escuridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. O Senhor te guiará constantemente, saciará a tua alma no árido deserto, dará vigor aos teus ossos. Serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis. Reconstruirás ruínas antigas, levantarás sobre antigas fundações. Serás chamado: «Reparador de brechas, restaurador de casas em ruínas.» Se te abstiveres de trabalhar ao sábado, de te ocupares dos teus negócios no meu dia santo, se chamares ao sábado a tua delícia, consagrando-o à glória do Senhor; se o solenizares, abstendo-te de viagens, de procurares os teus interesses e de tratares os teus negócios, então, encontrarás a tua felicidade no Senhor. Far-te-ei desfilar sobre as alturas da terra, alimentar-te-ei com a herança do teu pai Jacob. É o próprio Senhor quem o diz! Não, a mão do Senhor não é curta para salvar, nem o seu ouvido demasiado surdo para ouvir. Foram as vossas faltas que cavaram o abismo entre vós e o vosso Deus. Foram os vossos pecados que o levaram a esconder a sua face, para não vos ouvir. Com efeito, as vossas mãos estão manchadas de sangue, e os vossos dedos, de iniquidade; os vossos lábios dizem mentiras, e a vossa língua profere calúnias. Não há quem clame pela justiça, quem julgue no tribunal conforme a verdade. As suas provas apoiam-se na confusão e os seus argumentos na falsidade. Concebem o crime e dão à luz a maldade. Chocam ovos de serpente e tecem teias de aranha. O que comer desses ovos, morre; se os descascam, saem víboras. As suas teias não servem para fazer roupa, ninguém se pode cobrir com o que eles tecem. Fazem obras infamantes, as suas mãos produzem a violência. Os seus pés correm para fazer o mal, apressam-se a derramar o sangue inocente. Os seus projectos são projectos criminosos; à sua passagem deixam estrago e ruína. Não conhecem o caminho da paz. Por onde andam, não existe o direito, abriram para si mesmos caminhos tortuosos; quem os segue, não conhece a paz. Por causa disto, anda afastado de nós o direito, e não se aproxima de nós a justiça; esperávamos a luz e vemos apenas trevas, a claridade do dia, e andamos às escuras. Vamos como cegos apalpando as paredes, andamos às apalpadelas como os que não vêem; em pleno dia tropeçando, como no crepúsculo, estamos cheios de saúde e somos como mortos. Todos grunhimos como ursos e gememos como pombas. Esperamos a justiça, mas não aparece; a salvação, e ela está longe de nós. Porque os nossos crimes multiplicaram-se contra ti. Os nossos pecados são os nossos acusadores; de facto, os nossos crimes acompanham-nos, e reconhecemos as nossas culpas. Revoltámo-nos e esquecemo-nos do Senhor, voltámos as costa ao nosso Deus. Não temos falado senão de opressão e de revolta, urdimos dentro de nós palavras mentirosas. Assim se engana o direito e se afasta de nós a justiça, porque a lealdade tropeça na praça pública e a rectidão não encontra acesso. A boa fé está ausente, e quem se afasta do mal é espoliado. O Senhor vê com indignação que já não há justiça. Vê que não há nem sequer um homem a reagir, admira-se de que ninguém intervenha. Então interveio com o seu poder, e a sua justiça o susteve. Revestiu-se da justiça como de uma couraça, e da vitória como de um capacete. A vingança é a sua veste de guerreiro e a indignação, o manto que leva para o combate. Retribuirá a cada um conforme o que merece: a fúria é para os seus inimigos, e a represália é para os seus adversários; também as ilhas terão represália. Os do Ocidente temerão o Senhor, e os do Oriente respeitarão a sua glória. A sua vinda será como rio impetuoso, impelido pelo sopro do Senhor. Mas virá a Sião como redentor, para os que renegam o crime, em Jacob. – Oráculo do Senhor. Pela minha parte, diz o Senhor, esta é a minha aliança com eles; o meu espírito repousa sobre ti, as palavras que pus na tua boca não se afastarão da tua boca, nem da boca de teus filhos, nem da dos teus outros descendentes, desde agora e para sempre – diz o Senhor. Levanta-te e resplandece, Jerusalém, que está a chegar a tua luz! A glória do Senhor amanhece sobre ti! Olha: as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos, mas sobre ti amanhecerá o Senhor. A sua glória vai aparecer sobre ti. As nações caminharão à tua luz, e os reis ao esplendor da tua aurora. Levanta os olhos e vê à tua volta: todos esses se reuniram para vir ao teu encontro. Os teus filhos chegam de longe, e as tuas filhas são transportadas nos braços. Quando vires isto, ficarás radiante de alegria; o teu coração palpitará e se dilatará, porque para ti afluirão as riquezas do mar, e a ti virão os tesouros das nações. Serás invadida por uma multidão de camelos, pelos dromedários de Madian e de Efá. De Sabá virão todos trazendo ouro e incenso, e proclamando os louvores do Senhor. Os rebanhos de Quedar se reunirão à tua volta, e os carneiros de Nebaiot estarão ao teu dispor; serão apresentados no meu altar, como vítimas agradáveis, e glorificarei o templo com o esplendor da minha glória. Quem são estes que voam como nuvens e como pombas para o pombal? São as frotas que convergem para mim: os navios de Társis abrem a marcha, para trazer de longe os teus filhos, com a sua prata e o seu ouro. Vêm honrar o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, que assim te enche de honra. Os estrangeiros reconstruirão as tuas muralhas, e os seus reis te servirão. Se te feri na minha indignação, agora quero mostrar-te o meu amor e benevolência. As tuas portas estarão sempre abertas, não se fecharão nem de dia nem de noite, para te trazerem as riquezas das nações, acompanhadas dos seus reis. As nações ou o reino que recusarem servir-te serão destruídos; essas nações serão arrasadas. A glória do Líbano virá sobre ti, com o cipreste, o abeto e o pinheiro, para adornar o lugar do meu santuário, e mostrar a glória do trono em que me sento. Os filhos dos teus opressores virão a ti humilhados, todos os que te desprezaram prostrar-se-ão a teus pés. Chamar-te-ão: «Cidade do Senhor », «Sião do Santo de Israel.» Eras uma cidade abandonada, aborrecida e desabitada, mas agora farei de ti o orgulho dos séculos, a delícia de todas as idades. Beberás do leite das nações e serás amamentada com a riqueza dos reis; saberás que Eu, o Senhor, serei o teu salvador. O teu redentor sou Eu, o herói de Jacob. Em lugar de bronze irei trazer-te ouro, em vez de ferro irei trazer-te prata; em vez de madeira, bronze, e em vez de pedra, ferro. Por inspectores, dar-te-ei a paz e por capatazes, a justiça. Não mais se ouvirá falar de violência na tua terra, nem de devastações ou de ruínas dentro do teu território. Darás às tuas muralhas o nome de «Salvação», e às tuas portas, o nome de «Louvor.» Já não será o Sol que te iluminará durante o dia, nem a Lua, durante a noite. O Senhor será a tua luz eterna, o teu Deus será o teu esplendor. Não se porá mais o teu Sol, e a tua Lua não mais se esconderá, porque o Senhor será a tua luz eterna e terão fim os dias do teu luto. No teu povo todos serão justos e possuirão a terra para sempre. Serão como vergônteas que Eu plantei, obras das minhas mãos, para manifestarem a minha glória. A família mais pequena chegará a mil pessoas, a mais modesta será como uma nação poderosa. Eu sou o Senhor, e tudo isto em breve o realizarei. O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros; para proclamar um ano da graça do Senhor, o dia da vingança da parte do nosso Deus; para consolar os tristes, para coroar os aflitos de Sião; para mudar a sua cinza em coroa, o seu semblante triste em perfume de festa e o seu abatimento em cânticos de alegria. Então serão chamados «Terebintos de justiça», «Plantação do Senhor para sua glória.» As velhas ruínas serão restauradas, levantarão os antigos escombros, restaurarão as cidades destruídas e os escombros de muitas gerações. Os estrangeiros ficarão a apascentar os vossos gados; virá gente de fora cultivar os vossos campos e as vossas vinhas. E vós sereis chamados «Sacerdotes do Senhor », e nomeados «Ministros do nosso Deus.» Alimentar-vos-eis com as riquezas das nações e tomareis posse da sua opulência. Em vez da vergonha redobrada que suportáveis e dos ultrajes recebidos, recebereis também a dobrar a riqueza das suas terras e gozareis da eterna alegria. Na verdade, Eu, o Senhor, amo a justiça, detesto o roubo disfarçado em virtude; por isso dar-lhes-ei fielmente a sua recompensa e farei com eles uma aliança eterna. A sua descendência será célebre entre as nações, e a sua posteridade entre os povos. Todos os que os virem hão-de reconhecê-los como a linhagem abençoada pelo Senhor. Rejubilo de alegria no Senhor, e o meu espírito exulta no meu Deus, porque me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de triunfo. Como um noivo que cinge a fronte com o diadema, e como uma noiva que se adorna com as suas jóias. Porque, assim como a terra faz nascer as plantas, e o jardim faz brotar as sementes, assim o Senhor Deus faz germinar a justiça e o louvor diante de todas as nações. Por amor de Sião, não me calarei, por amor de Jerusalém, não descansarei, até que apareça a aurora da sua justiça, e a sua salvação brilhe como uma chama. As nações verão a tua justiça, e todos os reis, a tua glória. Dar-te-ão um nome novo, designado pela boca do Senhor. Serás como uma coroa brilhante nas mãos do Senhor, e um diadema real nas mãos do teu Deus. Não serás mais chamada a «Desamparada», nem a tua terra será chamada a «Deserta»; antes, serás chamada: «Minha Dilecta», e a tua terra a «Desposada», porque o Senhor elegeu-te como preferida, e a tua terra receberá um esposo. Assim como um jovem se casa com uma jovem, também te desposa aquele que te reconstrói. Assim como a esposa é a alegria do seu marido, assim tu serás a alegria do teu Deus. Sobre as tuas muralhas, ó Jerusalém, Eu pus sentinelas, que nem de dia nem de noite deixarão de repetir: «Vós, os que tudo recordais ao Senhor, não repouseis! Não o deixeis descansar, até que dê a Jerusalém a estabilidade, e faça dela a glória da terra.» O Senhor fez este juramento pelo poder da sua mão direita e pelo seu braço forte: «Nunca mais deixarei que o teu trigo seja comido pelos teus inimigos, e o teu vinho novo, que tanto trabalho te deu, seja bebida dos estrangeiros. Os que ceifarem é que comerão e louvarão o Senhor, e os que vindimarem é que hão-de beber o vinho nos átrios do meu santuário.» Passai! Passai através das portas! Abram caminho para o povo! Depressa, aplanem a estrada, retirem dela todas as pedras! Arvorai o estandarte para que os povos vejam. Eis o que o Senhor proclamou até aos confins da terra: «Dizei a Sião: Olha, aí vem o teu salvador; o prémio da sua vitória o acompanha, e a sua recompensa vem à sua frente. Serão chamados ‘Povo Santo’, ‘Redimidos do Senhor ’, e tu serás chamada ‘Desejada’, ‘Cidade não abandonada.’» Quem é esse que vem de Edom, de Bosra, com as vestes tingidas de vermelho? Quem é esse magnificamente vestido e que avança cheio de força? – Sou Eu, o que pronuncio a verdadeira justiça, e sou poderoso para salvar. Porque é que as tuas vestes estão vermelhas, e a tua túnica como quem pisa no lagar? Trabalhei sozinho no lagar, e ninguém entre os povos me auxiliou. Pisei os povos com a minha ira, esmaguei-os com o meu furor. O seu sangue salpicou as minhas vestes, com ele manchei todas as minhas roupas. É que este é o dia em que decidi vingar-me; chegou o ano do meu resgate. Procurei, mas não havia ninguém para me auxiliar. Fiquei espantado por não haver ninguém para me ajudar. O meu braço, porém, me deu a vitória, e o meu furor foi o meu apoio. Esmaguei os povos na minha ira, embriaguei-os no meu furor e fiz correr o seu sangue pela terra. Vou recordar as misericórdias do Senhor, os seus feitos gloriosos, tudo quanto fez por nós o Senhor, toda a sua bondade para com o povo de Israel, tudo o que fez por eles na sua benignidade, e com a sua imensa bondade. Ele disse: «Verdadeiramente este é o meu povo, filhos que não me renegarão.» E foi para eles um salvador. Em todas as suas aflições, não foi um mensageiro nem um enviado que os redimiu, mas foi Ele em pessoa. Com o seu amor e ternura livrou-os do perigo, sustentou-os e amparou-os constantemente nos tempos antigos. Mas eles revoltaram-se e ofenderam o seu santo espírito; então tornou-se seu inimigo e fez-lhes guerra. E o povo lembrou-se dos dias de outrora, nos tempos de Moisés: «Onde está aquele que tirou das ondas o pastor do seu rebanho? Onde está aquele que pôs no meio deles o seu santo espírito? Era Ele que avançava à direita de Moisés, guiando-o com o seu braço glorioso. Aquele que, diante deles, dividiu as águas, adquirindo para si um nome eterno. Aquele que os conduziu pelo meio do oceano, como a um cavalo pelo deserto, sem nunca os deixar tropeçar. Eram como o gado que desce pelo vale, e que o espírito do Senhor conduzia ao lugar de repouso.» Foi assim que Tu conduziste o teu povo, conquistando para ti um nome glorioso. Lá do alto dos céus, repara, e contempla da tua santa e gloriosa morada. Onde estão o teu zelo e a tua valentia? Onde está a emoção das tuas entranhas? Já se esgotaram as tuas ternuras para comigo? Mas Tu és o nosso pai! Pois Abraão não nos conhece e Israel também nos ignora. Só Tu, Senhor, és o nosso pai, e o teu nome, desde sempre, é « Redentor-nosso*.» Porquê, Senhor, nos deixas extraviar dos teus caminhos? Porque permites que o nosso coração se endureça para não te respeitar? Volta-te para nós, por amor dos teus servos, e das tribos da tua herança! Por que razão o tirano se apodera do teu povo santo, e os nossos inimigos pisam o teu santuário? Somos, desde há muito, um povo que Tu não governas, que não é designado pelo teu nome. Quem dera que rasgasses os céus e descesses, derretendo os montes com a tua presença, como fogo que queima a lenha seca, como fogo que faz ferver a água! Assim mostrarias aos teus adversários quem és, e as nações estremeceriam diante de ti, vendo os prodígios impressionantes que operavas. Nunca nenhum ouvido ouviu, nem nenhum olho viu que algum deus, excepto Tu, fizesse tanto por quem nele confia. Vais ao encontro daquele que pratica o bem com alegria, e se recorda de ti seguindo os teus caminhos. Mas eis que te irritaste por causa dos nossos pecados. Afasta as nossas faltas e seremos salvos. Todos nós éramos pessoas impuras; as nossas melhores acções eram como panos ensanguentados. Murchávamos como folhas secas, e as nossas maldades arrastavam-nos como o vento. Ninguém invocava o teu nome, nem se esforçava por se apoiar em ti; porque escondias de nós a tua face e nos entregavas às nossas iniquidades. Mas Tu, Senhor, é que és o nosso pai. Nós somos a argila e Tu és o oleiro. Todos nós fomos modelados pelas tuas mãos. Ó Senhor, não te irrites em demasia, nem te lembres para sempre da nossa iniquidade: olha que todos nós somos o teu povo. As tuas cidades santas tornaram-se num deserto: Sião tornou-se num ermo e Jerusalém numa desolação. O nosso templo santo, o nosso orgulho, onde os nossos antepassados celebravam os teus louvores, tornou-se presa das chamas; aquilo que mais queríamos converteu-se em ruínas. Diante de tudo isto, Senhor, podes ficar insensível? Vais permanecer calado para nos humilhar ainda mais? Eu estava à disposição dos que não me consultavam, saía ao encontro dos que não me procuravam. A uma nação que não me invocava, Eu dizia: «Eis-me aqui, eis-me aqui!» Estendia as mãos todos os dias a um povo rebelde, que seguia por mau caminho, segundo as suas inclinações. É um povo que me provocava descarada e continuamente. Ofereciam sacrifícios nos seus jardins, queimavam incenso aos ídolos em altares de tijolo, sentavam-se nos sepulcros e passavam as noites em grutas; comiam carne de porco e punham alimentos impuros nos seus pratos. Diziam a quem se aproximava: «Cuidado! Não te aproximes de mim, porque sou coisa santa para ti.» Tudo isto faz fumegar a minha ira, como um fogo que arde continuamente. Tomei nota de tudo isto e não me calarei até lhes dar a paga completa. Vou ter em conta as vossas faltas e as dos vossos pais, as duas conjuntamente – diz o Senhor. Porque queimavam incenso sobre os montes e me ultrajavam sobre as colinas, medirei tudo o que fizerem de mal e atirar-lhes-ei tudo à cara. Eis o que diz o Senhor, «Quando se vê que um cacho de uvas tem sumo, diz-se: ‘Não o cortes porque há nele uma bênção.’ Assim farei Eu por amor aos meus servos: não destruirei tudo; darei descendentes a Jacob, e de Judá sairá o herdeiro das minhas montanhas. Os meus eleitos hão-de possuí-las, e os meus servos habitarão nelas. Para os que me procurarem de entre o meu povo, a planície de Saron servirá de pastagem para as ovelhas, e o vale de Acor, de logradouro para os bois. Quanto a vós, que me abandonastes, vos esquecestes do meu monte santo, que preparastes as mesas e enchestes as taças a Gad e a Meni, deuses do destino, vou destinar-vos à espada, sereis degolados com os joelhos em terra. Porque Eu vos chamei e não respondestes, falei-vos e não me ouvistes, fizestes o mal que não me agrada, escolhestes o que Eu não gosto.» Portanto, eis o que diz o Senhor Deus, «Os meus servos comerão e vós tereis fome, os meus servos beberão e vós tereis sede, os meus servos rejubilarão e vós sereis confundidos. Os meus servos cantarão cheios de felicidade, e vós haveis de gritar cheios de dor, haveis de lamentar-vos com o coração partido. Os vossos nomes servirão aos meus eleitos de maldição: ‘Que o Senhor Deus te faça morrer como fulano!’ Mas aos meus servos darei outro nome. Aquele que desejar ser abençoado neste país, será abençoado em nome do ‘Deus fiel.’ Aquele que quiser jurar neste país, jurará pelo nome do ‘Deus fiel.’ É que as angústias do passado serão esquecidas, e estarão longe dos meus olhos.» Olhai, Eu vou criar um novo céu e uma nova terra; o passado não será mais lembrado e não voltará mais à memória. Alegrem-se e rejubilem para sempre por aquilo que vou criar. Olhai, vou criar uma Jerusalém cheia de alegria e um povo cheio de entusiasmo. Eu mesmo me alegrarei com esta Jerusalém e me entusiasmarei com o meu povo. Doravante não se ouvirão nela choros nem lamentos. Não haverá ali criança que morra de tenra idade, nem adulto que não chegue à velhice, pois será ainda novo aquele que morrer aos cem anos, e quem não chegar aos cem anos será como um amaldiçoado. Construirão casas e habitarão nelas, plantarão vinhas e comerão o seu fruto. Não edificarão casas para os outros habitarem, nem plantarão vinhas para os outros vindimarem. Os anos do meu povo serão como os de uma árvore, e os meus eleitos usufruirão do trabalho das suas mãos. Não trabalharão mais em vão, nem hão-de gerar filhos para uma morte repentina, porque serão a descendência abençoada do Senhor, eles e os seus descendentes. Antes que eles me chamem, Eu lhes responderei; estando eles ainda a falar, Eu os atenderei. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, o leão e o boi comerão palha, e a serpente comerá terra. Não haverá mais o mal nem a destruição em todo o meu santo monte. – Oráculo do Senhor. Eis o que diz o Senhor, «O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés. Que templo podereis construir-me, ou que lugar para Eu repousar? Tudo quanto existe é obra das minhas mãos, e tudo me pertence. – Oráculo do Senhor. É nos humildes de coração contrito que os meus olhos se fixam, pois escutam a minha palavra com respeito. Há quem imole um touro, mas é também capaz de matar um homem; há quem sacrifique um cordeiro, mas é capaz de degolar um cão; há quem apresente uma oferta de farinha, mas é capaz de apresentar também sangue de porco; há quem ofereça incenso a Deus, mas honra também os ídolos. Para os que escolhem seguir tais caminhos e se deleitam em abominações, também Eu escolherei os castigos que hão-de sofrer e farei cair sobre eles o que mais temem. Porque Eu chamei e ninguém me respondeu, falei e ninguém me escutou. Fizeram o mal que me desagrada e escolheram o que Eu não gosto.» Ouvi a palavra do Senhor, vós que aceitais a sua palavra com respeito: há irmãos vossos que vos detestam e vos renegam por causa do meu nome. Eles dizem: «Que o Senhor mostre a sua glória para podermos comprovar a vossa alegria!» Mas eles é que serão confundidos. Escutai este barulho que vem da cidade, este ruído que vem do templo: é a voz do Senhor que retribui aos seus inimigos como eles merecem. Antes das contracções do parto, ela deu à luz, antes de sentir dores, teve um filho. Quem jamais tal coisa ouviu? Quem jamais viu coisa semelhante? Porventura gera-se um povo num só dia? Ou uma nação nasce de uma só vez? Mas Sião, mal sentiu as contracções, deu à luz os seus filhos. Sou Eu quem abre a matriz e não iria deixar que ela dê à luz? – diz o Senhor. Se sou Eu quem faz nascer, iria impedi-la de dar à luz? – diz o teu Deus. Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante e saboreareis as delícias do seu peito abundante. Porque, assim diz o Senhor, «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações, como uma torrente transbordante. Os seus filhinhos serão levados ao colo e acariciados sobre os seus regaços. Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei; em Jerusalém sereis consolados. Ao verdes isto, os vossos corações pulsarão de alegria, e os vossos ossos retomarão vigor, como a erva fresca. A mão do Senhor há-de manifestar-se aos seus servos, e a sua ira aos seus inimigos.» «Porque o Senhor vai chegar no meio de um fogo, e os seus carros serão como um furacão. Vem desafogar a sua cólera num incêndio e a sua ameaça em chama ardente. Com efeito, o Senhor julgará com o seu fogo, e com a sua espada, todo o mortal. Serão muitas as vítimas do Senhor. São aqueles que se consagram e se purificam para os ritos nos jardins, e se colocam atrás daquele que fica no meio; os que comem carne de porco, de répteis e ratos. Hão-de morrer de uma vez por todas. – Oráculo do Senhor. Eu conheço as suas obras e os seus planos.» «Eu virei para reunir os povos de todas as línguas; todos virão e contemplarão a minha glória. Colocarei no meio deles um sinal; enviarei alguns dos seus sobreviventes às nações: a Társis, a Pul e a Lud, especialistas do arco, a Tubal, à Grécia e às ilhas longínquas, que nunca ouviram falar de mim, nem viram a minha glória. Eles revelarão a minha glória a estas nações. E de todos estes países trarão os vossos irmãos, como se se tratasse de uma oferenda ao Senhor. Virão a cavalo, em carros, em liteiras, em mulos e em camelos, até ao meu monte santo de Jerusalém – diz o Senhor tal como os filhos de Israel trazem as suas oferendas em vasos puros à casa do Senhor. Escolherei de entre eles sacerdotes e levitas – diz o Senhor. Porque, assim como os novos céus e a nova terra, que vou criar, subsistirão diante de mim, assim também subsistirá a vossa posteridade e o vosso nome. – Oráculo do Senhor. Desta maneira, em cada festa da Lua-nova e em cada sábado, todo o mortal virá prostrar-se diante de mim – diz o Senhor. E, quando saírem, verão os cadáveres dos que se revoltaram contra mim. Os seus vermes não morrem e o fogo que os devora não se apaga. Serão um objecto de horror para todos.» Palavras de Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes que viviam em Anatot, terra de Benjamim, a quem foi dirigida a palavra do Senhor no tempo de Josias, filho de Amon, rei de Judá, no décimo terceiro ano do seu reinado; e também no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, até ao fim do décimo primeiro ano do reinado de Sedecias, filho de Josias, rei de Judá, aquando da deportação dos habitantes de Jerusalém, no quinto mês. A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.» E eu respondi: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem.» Mas o Senhor replicou-me: «Não digas: ‘Sou um jovem’. Pois irás aonde Eu te enviar e dirás tudo o que Eu te mandar. Não terás medo diante deles, pois Eu estou contigo para te livrar» – oráculo do Senhor. Em seguida, o Senhor estendeu a sua mão, tocou-me nos lábios e disse-me: «Eis que ponho as minhas palavras na tua boca; a partir de hoje, dou-te poder sobre os povos e sobre os reinos, para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e plantares.» Depois foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Que vês, Jeremias?» E eu respondi: «Vejo um ramo de amendoeira.» «Viste bem – disse-me o Senhor porque Eu vigiarei sobre a minha palavra para a fazer cumprir.» Foi-me dirigida, de novo, a palavra do Senhor, «Que estás a ver?» Respondi: «Vejo uma panela a ferver, cuja fervura se volta para o lado Norte.» E o Senhor retorquiu-me: «Do Norte virá a desgraça sobre todos os habitantes do país. Eis que vou convocar todas as famílias dos reinos do Norte – oráculo do Senhor. Eles virão colocar cada um o seu trono junto das portas de Jerusalém, em torno das suas muralhas e contra todas as povoações de Judá. Então julgá-las-ei em razão das suas maldades: por me terem abandonado para oferecer incenso a outros deuses, adorando a obra das suas próprias mãos. Tu, porém, cinge os teus rins, levanta-te e diz-lhes tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles; se não, serei Eu a fazer-te temer na sua presença. E eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer, porque Eu estou contigo para te salvar» – oráculo do Senhor. A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Vai e grita aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim fala o Senhor, ‘Recordo-me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado, quando me seguias no deserto, na terra em que não se semeia. Israel era, então, propriedade sagrada do Senhor, primícias da sua colheita. Todos os que ousavam comer dela, pagavam, e sobrevinha-lhes a desgraça’ oráculo do Senhor. Escutai a palavra do Senhor, casa de Jacob e todas as famílias da casa de Israel. Assim fala o Senhor, ‘Que injustiça encontraram em mim os vossos pais para me abandonarem, indo atrás da nulidade dos ídolos? Eles próprios se tornaram nulidade.’ Não se interrogaram: ‘Onde está o Senhor, que nos fez subir do Egipto, que nos conduziu através do deserto, terra de desolação e abismos, terra de aridez e de escuridão, terra por onde ninguém passa e onde ninguém habita?’ Introduziu-vos numa terra fértil, para comerdes os seus saborosos frutos. Mas, tendo entrado, profanastes a minha terra e fizestes abominável a minha herança. Os sacerdotes não se interrogaram: «Onde está o Senhor ?» Os doutores da Lei não me reconheceram, os pastores revoltaram-se contra mim, e os profetas profetizaram em nome de Baal e seguiram deuses inúteis. Por isso, entro hoje em juízo contra vós e contra os filhos dos vossos filhos – oráculo do Senhor. Passai, portanto, às ilhas dos Kitim e vede; enviai gente a Quedar e informai-vos bem e vede se lá aconteceu algo de semelhante. Acaso troca uma nação os seus deuses? E, no entanto, aqueles não são deuses. Mas o meu povo trocou a sua glória por aquilo que não vale. Pasmai, ó céus, acerca disto! Tremei de espanto e de horror! – Oráculo do Senhor. Porque o meu povo cometeu um duplo crime: abandonou-me, a mim, nascente de águas vivas, e construiu cisternas para si, cisternas rotas, que não podem reter as águas.» «Acaso Israel é um escravo nascido na própria casa? Por que razão se tornou uma presa? Contra ele rugiram os leões enfurecidos e reduziram a sua terra a um deserto; deixaram as suas cidades incendiadas e sem habitantes. Até os habitantes de Mênfis e de Taapanés te raparam a cabeça. Não te aconteceu tudo isto porque abandonaste o Senhor, teu Deus, quando te guiava pelo caminho? E agora, de que te vale correres para o Egipto, para beber água do Nilo? E de que te vale correres para a Assíria, para beber água do Eufrates? Sirvam-te de castigo as tuas perversidades, e de punição as tuas infidelidades. Portanto, aprende e vê quão funesto e amargo é o resultado de teres abandonado o Senhor, teu Deus, e teres perdido o meu temor» – oráculo do Senhor Deus do universo. Desde há muito, quebraste o teu jugo, rompeste as tuas cadeias e disseste: «Não servirei.» E sobre todas as colinas elevadas, e sob todas as árvores verdejantes te reclinaste e te prostituíste. E Eu te plantei como vinha escolhida, planta de boa qualidade. Como degeneraste em sarmento bastardo, ó videira estranha? Ainda que te laves com lixívia e empregues muito sabão, as tuas culpas estarão sempre diante de mim – oráculo do Senhor Deus. Como podes dizer: «Não me profanei, não andei atrás de Baal!» Vê teu rasto no vale, reconhece o que fizeste. És como dromedária leviana que corre sem rumo; jumenta selvagem acostumada ao deserto, que aspira o vento no calor da paixão. Quem a deterá nos seus ardores? Os que a buscam não se afadigarão; facilmente a encontrarão no tempo do cio. Cuidado para que o teu pé não se descalce e a tua garganta se não resseque. Mas tu respondeste-me: «Não vale a pena! Pois estou enamorado dos estrangeiros e quero segui-los.» Tal como o ladrão fica surpreendido, assim fica confundida a casa de Israel com seus reis, príncipes, sacerdotes e profetas. Eles dizem a um lenho: «Meu pai és tu», e a uma pedra: «Tu me geraste.» Voltaram-me as costas e não a face. Mas, no tempo da angústia, dizem: «Levanta-te e salva-nos.» E onde estão os deuses que fabricaste para ti próprio? Levantem-se, se te podem salvar no tempo da tua desgraça; pois os teus deuses, ó Judá, são tantos como as tuas cidades. Porque quereis entrar em contenda contra mim? Todos vós me fostes infiéis oráculo do Senhor. Em vão castiguei os vossos filhos. Não prestaram atenção à reprimenda. A vossa própria espada dizimou os vossos profetas, qual leão devastador. Assim é a vossa geração! Considerai a palavra do Senhor, «Acaso tenho sido Eu um deserto para Israel, ou terra de trevas?» Por que razão diz o meu povo: «Fugimos, não mais voltaremos para ti?» Acaso esquece a jovem as suas jóias, e a noiva a sua cinta? Mas o meu povo esqueceu-se de mim, durante dias sem fim. Com que habilidade preparas o teu caminho à procura do amor! De facto, também com maldades aprendeste os teus caminhos. Até na orla das tuas vestes se encontrou sangue de pobres e inocentes, que, entretanto, não tinhas surpreendido em falta. Tal atitude tornar-se-á para ti em maldição. E ainda dizes: «Estou inocente; a sua cólera não me atingirá.» Pois bem, Eu te julgarei, por teres dito:«Não pequei!» Com que ligeireza mudas o teu procedimento! Envergonhar-te-ás por causa do Egipto, tal como foste envergonhada por causa da Assíria. Também daí sairás com as tuas mãos sobre a cabeça, já que o Senhor rejeita aqueles em quem confias e neles não terás êxito. Diz-se: «Se um homem repudiar a sua esposa e ela, separando-se dele, tomar um outro, será que ele voltará a recebê-la? Não ficará essa terra impura e contaminada?» E tu, que te tens prostituído a inúmeros amantes, poderás voltar para mim? Oráculo do Senhor. Levanta os teus olhos para os lugares altos e vê. Em qual deles te não prostituíste? Nas bermas dos caminhos te sentavas à espera deles, tal como um nómada no deserto. E profanaste a terra com os teus vícios e devassidão. Por causa disso, faltaram as águas e não houve as chuvas da Primavera, mas tu, prostituta descarada, nem vergonha tiveste. E agora mesmo clamas: ‘Meu pai, tu és o amigo da minha juventude! Porventura, vais conservar a tua ira para sempre?’ Tu disseste isso, mas continuaste tranquilamente, a fazer o mal. No tempo do rei Josias, o Senhor disse-me: «Viste o que fez a rebelde Israel? Andou pelos altos montes para ali se prostituir sob as árvores verdejantes. E, depois de ter praticado tudo isto, Eu disse para comigo: ‘Há-de voltar para mim’. Mas não voltou. Judá, sua pérfida irmã, viu isto. E viu também que, por causa das suas infidelidades, Eu repudiei a rebelde Israel, dando-lhe o documento de repúdio. Contudo, a pérfida Judá, sua irmã, não teve temor e também ela se entregou à prostituição. E, com a sua luxúria, contaminou a terra e cometeu adultério, entregando-se a divindades de pedra e de madeira. E, não obstante tudo isto, a sua pérfida irmã, Judá, não voltou para mim com sinceridade de coração, mas apenas com perfídia» – oráculo do Senhor. Disse-me o Senhor, «A rebelde Israel parece uma inocente, em comparação com a pérfida Judá.» «Vai e proclama, na direcção do Norte, estas palavras e diz: ‘Volta, rebelde Israel, não mais te mostrarei um semblante enfurecido oráculo do Senhor; porque sou misericordioso, a minha ira não é eterna – oráculo do Senhor. Reconhece somente a tua falta, pois foste infiel ao Senhor, teu Deus, e te prostituíste com deuses estrangeiros, debaixo de toda a árvore verdejante, e não escutaste a minha voz’ – oráculo do Senhor. Voltai, filhos rebeldes, porque Eu sou vosso dono – oráculo do Senhor. Tomar-vos-ei um de uma cidade, e dois de uma família e hei-de reconduzir-vos a Sião. Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos conduzirão com inteligência e sabedoria. E, quando vos multiplicardes e vos tornardes numerosos na terra, então – oráculo do Senhor não se falará mais na Arca da aliança do Senhor; não lhes virá ao pensamento, não se lembrarão nem sentirão necessidade dela e não se fará outra. Naquele tempo, chamarão a Jerusalém ‘Trono do Senhor ’ e hão-de juntar-se a ela, a Jerusalém, em nome do Senhor, todas as nações, e não voltarão a ir atrás da maldade dos seus corações perversos. Naqueles dias, a casa de Judá reunir-se-á à casa de Israel e virão juntamente das regiões do Norte para a terra que dei em herança aos vossos pais. E Eu tinha dito: ‘Como poderei contar-te entre os meus filhos e dar-te uma terra esplêndida, uma magnífica herança, a jóia de todas as nações?’ E acrescentei: ‘Chamar-me-ás ‘Meu Pai’, e não te afastarás de mim. Mas, tal como a mulher infiel ao seu marido, assim tu me foste infiel, casa de Israel oráculo do Senhor. Um clamor ressoa sobre as colinas: Suspiros de súplica dos filhos de Israel, porque seguiram caminhos tortuosos, esquecendo-se do Senhor, seu Deus. Convertei-vos, filhos rebeldes, e Eu vos curarei da vossa rebeldia.’» «Eis-nos: voltamos para ti, pois Tu és o Senhor, nosso Deus. Na verdade, são mentira os lugares altos, o clamor dos montes. Só no Senhor, nosso Deus, está a salvação de Israel. A ignomínia devora, desde a nossa juventude, o fruto do trabalho dos nossos pais: os seus gados e rebanhos, os seus filhos e as suas filhas. Dormiremos na nossa vergonha e a nossa ignomínia nos cobrirá, porque pecámos contra o Senhor, nosso Deus, nós e os nossos pais, desde a nossa juventude até hoje e não demos ouvidos à voz do Senhor, nosso Deus.» «Se te queres converter, Israel, volta para mim; – oráculo do Senhor. Se afastares da minha face as tuas abominações, não andarás errante. Então, jurarás ‘pela vida do Senhor ’, se andares na verdade, no direito e na justiça; em ti serão abençoadas as nações e em ti se gloriarão. Pois, assim fala o Senhor aos habitantes de Judá e Jerusalém: Cultivai o vosso campo e não semeeis entre espinhos. Circuncidai-vos para o Senhor, cortai a maldade dos vossos corações, homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que não se converta em fogo a minha cólera e arda e não haja quem o apague, por causa da perversidade das vossas obras.» «Anunciai em Judá, proclamai em Jerusalém, mandai tocar a trombeta pelo país; gritai em alta voz e dizei: ‘Reuni-vos e retirai-vos para as cidades fortificadas!’ Levantai o estandarte em direcção a Sião! Fugi apressadamente, porque vou fazer que venha do Norte uma desgraça, uma grande calamidade. O leão levantou-se do seu covil, o destruidor das nações pôs-se em marcha; saiu do seu refúgio, para transformar a tua terra num deserto; as tuas cidades serão destruídas e ficarão sem habitantes. Por isso, vesti-vos de luto, chorai e lamentai-vos, porque o ardente furor do Senhor não se afastou de nós. Pois, naquele dia, o coração do rei e o vigor dos chefes desfalecerá oráculo do Senhor. Os sacerdotes serão possuídos de terror e os profetas de espanto.» Eu disse: «Na verdade, ó Senhor Deus, Tu enganaste este povo e Jerusalém, prometendo-lhes a paz, quando a espada nos penetrou até ao mais íntimo.» «Naquele tempo, um vento abrasador soprará dos lados do deserto em direcção à filha do meu povo, vento que não joeira nem limpa. Será como um furacão enviado por mim; agora vou também Eu pronunciar a minha sentença contra eles. Eis que se levantará como nuvem tempestuosa; os carros são como um furacão, e os seus cavalos, mais rápidos que as águias. ‘Ai de nós! Estamos perdidos!’ Jerusalém, purifica o teu coração da maldade, para alcançares a salvação. Por quanto tempo te manterás apegada aos teus planos de maldade? Eis que já se ouve uma voz vinda de Dan, a notícia da calamidade vem da montanha de Efraim. Proclamai-a às nações. Ei-la! Anunciai-a a Jerusalém. Os inimigos vêm de terras longínquas e lançam seus gritos de guerra contra as cidades de Judá. Cercam-na como guardas de campo, porque se revoltou contra mim – oráculo do Senhor. O teu proceder e as tuas obras te trouxeram estas desgraças. Este é o resultado da tua maldade: a amargura fere o teu coração.» «Ai, as minhas entranhas e o meu peito! O meu coração está em sobressalto! Não consigo estar tranquilo. Pois já ouço o som da trombeta e o alarido da guerra. Anunciam-se desastres sobre desastres, pois toda a terra foi devastada. De improviso, foram destruídas as minhas tendas, num instante, caíram os meus pavilhões. Até quando verei o estandarte e ouvirei a voz da trombeta? O meu povo está louco, não me conhece. São filhos insensatos, desprovidos de inteligência; são hábeis para o mal, mas incapazes de fazer o bem!» Olhei para a terra, e eis que tudo é um caos; e para os céus, e falta a sua luz. Olhei para os montes, e eis que vacilavam, todas as colinas estremeciam. Olhei: não havia nenhum ser humano e todas as aves do céu tinham fugido. Olhei de novo: a terra fértil tornara-se um deserto, todas as suas cidades tinham sido destruídas. Foi o Senhor, ao sopro da sua cólera! Eis, pois, o que diz o Senhor, «Toda a terra será devastada, mas não a exterminarei completamente. Por isso, a terra cobrir-se-á de luto e os céus serão trevas, porque assim o decretei e não me arrependerei, resolvi e não voltarei atrás.» Ao grito dos cavaleiros e dos arqueiros a cidade ficou desabitada; embrenharam-se nas selvas e sobem os rochedos; toda a cidade ficou abandonada, sem qualquer habitante. E tu, desolada, que farás agora? Ainda que te vistas de púrpura, te adornes com ornamentos de ouro e alargues os olhos com pinturas, em vão te embelezarás: os teus amantes desprezam-te, só querem tirar-te a vida. Ouço gritos como os da mulher, ao dar à luz, soluços como os do primeiro parto. São os clamores da filha de Sião, que geme e ergue as mãos: «Ai, ai de mim! A minha alma desfalece às mãos dos assassinos!» Percorrei as ruas de Jerusalém, olhai e informai-vos; procurai nas praças, vede se nelas encontrais alguém que pratique a justiça, que busque a verdade; e Eu perdoarei à cidade. Mesmo quando exclamam: «Pela vida do Senhor !», juram falso. Será que os teus olhos, Senhor, não exigem a fidelidade? Tu os feriste e eles não sentiram a dor; Tu os abalaste, mas eles recusaram aceitar a correcção! A sua cabeça é mais dura do que a pedra; e recusam converter-se. E eu dizia para comigo: «Talvez seja somente a gente baixa e ignorante, porque não conhecem o caminho do Senhor, a lei do seu Deus!» Irei procurar os grandes para lhes falar, porque estes conhecem o caminho do Senhor, a lei do seu Deus. Mas também todos estes quebraram o jugo, e romperam os laços. Por isso, o leão da floresta os ferirá, o lobo do deserto os dizimará, e o leopardo os espreitará nas suas cidades; todo aquele que sair será despedaçado, porque numerosos são os seus delitos, e grande a sua rebeldia.» «Como poderei perdoar-te? Os teus filhos abandonaram-me; juraram por aquele que não é de Deus. Cumulei-os de dons e eles cometeram adultério, indo, em tropel, às casas da prostituição. Eram garanhões bem nutridos e lascivos; cada um arde em cobiça diante da mulher do seu próximo. E não os punirei por estes crimes? – Oráculo do Senhor. Não hei-de querer vingança de uma tal gente? Escalai os seus muros e arrasai-os, sem os destruir completamente; arrancai os seus sarmentos porque já não são do Senhor. Como traidores, rebelaram-se contra mim, a casa de Israel e a casa de Judá» – oráculo do Senhor. «Renegaram o Senhor, disseram bem alto: «Ele não vale nada; nenhum mal nos advirá, não cairão sobre nós nem a espada nem a fome. Os profetas são apenas vento, e a Palavra de Deus não está com eles.» Por isso, assim fala o Senhor, Deus do universo: «Por terdes dito tudo isto, Eu farei com que a minha Palavra seja fogo, na tua boca, que consumirá este povo como lenha. Ó casa de Israel, farei vir contra ti uma nação de longe, uma nação antiga e duradoira, uma nação cuja língua desconheces, cujas palavras não entendes oráculo do Senhor. A sua boca é como um sepulcro aberto e todos são valentes. Devorará as tuas searas e o teu pão, os teus filhos e as tuas filhas, os teus rebanhos e o teu gado, as tuas vinhas e as tuas figueiras; destruirá à espada as tuas cidades fortes, nas quais depositas a tua confiança. Contudo, mesmo nesses dias, não vos exterminarei totalmente – oráculo do Senhor. Quando vos perguntardes: ‘Porque nos tratou deste modo o Senhor, nosso Deus?’, já podereis responder: ‘Assim como me abandonastes e servistes os deuses estrangeiros, na vossa própria terra, assim também servireis os estrangeiros numa terra que não é vossa.’ Anunciai isso à casa de Jacob, fazei-o ouvir em Judá! Ouve, povo ignorante e insensato! Vós que tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis, não temeis a minha face? Oráculo do Senhor. Não estremecereis diante de mim, que fixei a areia por limite do mar, fronteira eterna que não poderá ultrapassar? Por mais que se agitem as ondas, não a poderão transpor; rugirão mas não a ultrapassarão. Porém, este povo tem um coração indócil e rebelde; afastou-se de mim e desertou. Não disseram no seu coração: ‘Respeitemos o Senhor, nosso Deus, que no tempo devido nos dá a chuva do Outono e da Primavera, e nos assegura semanas de boas colheitas.’ As vossas iniquidades alteram esta ordem, e os vossos pecados privaram-vos destes bens. Porque há perversos no meio do meu povo, que lançam armadilhas como caçadores de aves, e estendem as suas redes para apanhar os homens. Como gaiola cheia de aves, assim as suas casas estão cheias de rapina. Por isso, tornam-se ricos e poderosos; apresentam-se nédios e bem nutridos. Ultrapassam mesmo os limites do mal. Não procedem de acordo com o direito, não defendem a causa do órfão e não fazem justiça em favor dos pobres! Como não hei-de punir tais crimes e não me hei-de vingar de um povo como este? Oráculo do Senhor. Uma coisa horrível e espantosa ocorreu nesta terra: Os profetas profetizaram com mentira, os sacerdotes aplaudiam, batendo as palmas, e o meu povo mostrava-se feliz! Que acontecerá, pois, quando chegar o fim?» Fugi, filhos de Benjamim, para longe de Jerusalém! Fazei soar as trombetas em Técua, levantai o estandarte no alto de Bet-Hacárem, porque dos lados do Norte surgiu uma desgraça, uma grande ruína. A filha de Sião bela e agradável, ficou reduzida ao silêncio. Para ela caminham pastores e seus rebanhos, e ao redor levantam as suas tendas; cada um apascenta ali a sua manada. Declarai-lhe a guerra santa! De pé! Vamos assaltá-la ao meio-dia! Ai de nós, porque o dia declina; porque se alargam as sombras da tarde. Levantemo-nos! Vamos de noite ao assalto, destruamos os seus palácios! Porque, assim fala o Senhor do universo: «Cortai as suas árvores, fazei delas plataformas contra Jerusalém! Esta cidade foi exterminada. Tudo nela é opressão. Como brota a água da nascente, assim dela brota a maldade. Violência e ruína se ouvem ali; diante de mim só há chagas e feridas. Emenda-te, Jerusalém, para que o meu espírito não se aparte de ti e te reduza a ruínas, a uma terra desabidade.» Eis o que diz o Senhor do universo: «Busca, rebusca como nas vinhas, resto de Israel. Torna a passar a tua mão, como vindimador entre os sarmentos.» A quem falarei? A quem conjurarei para que me escute? Eles têm ouvidos incapazes de ouvir! A palavra do Senhor é-lhes maçadora, não sentem gosto por ela. Por isso, estou possuído da ira do Senhor, já não a posso conter. Ela derrama-se sobre o menino que vagueia pela rua, e também sobre todos os jovens. Todos serão presos: o homem e a mulher, o ancião e o idoso. Passarão para a posse de estranhos as suas casas, os campos e as mulheres. Pois Eu estenderei a minha mão sobre os habitantes deste país oráculo do Senhor. Na verdade, desde o maior ao mais pequeno, todos se entregam à ganância desonesta; desde o profeta ao sacerdote, todos praticam a fraude. Tratam com negligência as feridas do meu povo, exclamando: ‘Paz! Paz!’ Mas não há paz. Deveriam envergonhar-se pelo seu proceder abominável, mas eles não se envergonham, nem sabem corar. Por isso, cairão, entre as vítimas; perecerão quando Eu os castigar diz o Senhor. Isto diz o Senhor, «Parai no vosso caminho e vede; informai-vos sobre os caminhos de outrora e sobre o caminho da felicidade; segui por ele e encontrareis repouso. Mas eles responderam: ‘Não o seguiremos!’ Coloquei sentinelas junto de vós; prestai atenção ao som da trombeta. Mas eles responderam: ‘Não queremos ouvir.’ Portanto, ouvi, ó nações! E escuta, ó assembleia, o que lhes vai acontecer. Ouve, ó terra: eis que mandarei sobre este povo uma desgraça, fruto das suas más obras, porque não ouviu as minhas palavras e desprezou a minha lei. Que me interessa o incenso de Sabá e a canela aromática de longínquas terras? Não me agradam os vossos holocaustos, nem me comprazem os vossos sacrifícios. Por isso, assim diz o Senhor, Porei obstáculos a este povo, nos quais hão-de tropeçar pais e filhos; vizinhos e amigos perecerão neles. Assim fala o Senhor, Eis que vem do Norte um povo, uma grande nação levanta-se dos confins da terra. Manejam o arco e o dardo, são cruéis e sem piedade. O seu ruído assemelha-se ao bramido das ondas; montam em cavalos, estão bem organizados para combater contra ti, ó filha de Sião. Ao ouvir a sua fama, os nossos braços desfalecem, oprime-nos a angústia, e sentimos dores como as da mulher que está de parto. Não saiais para o campo, nem andeis pelos caminhos, porquanto o inimigo empunha a espada, e por toda a parte reina o pavor. Ó filha do meu povo, veste-te de luto, revolve-te nas cinzas. Cobre-te de luto como por um filho único; faz ouvir os teus amargos gemidos, pois de repente virá sobre nós o devastador. Nomeio-te como examinador sagaz do meu povo para que conheças e examines o seu proceder. Todos são rebeldes e caluniadores, depravados e duros, como o cobre e o ferro. O fole sopra, e o chumbo consumiu-se pelo fogo. Em vão fundiram e refundiram; as escórias, porém, não se desprenderam. Este povo será chamado ‘ Prata de refugo* ’, porque o Senhor o rejeitou.» A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: «Coloca-te à porta do templo do Senhor e proclama aí este discurso: “Escutai a palavra do Senhor, habitantes de Judá, que entrais por estas portas para adorar o Senhor. Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Endireitai os vossos caminhos e emendai as vossas obras e Eu habitarei convosco neste lugar. Não vos fieis em palavras de mentira, dizendo: ‘Templo do Senhor, templo do Senhor ! Este é o templo do Senhor ’. Mas, se endireitardes os vossos caminhos e emendardes as vossas obras, se verdadeiramente praticardes a justiça uns com os outros, se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, nem derramardes neste lugar o sangue inocente, se não seguirdes, para vossa desgraça, deuses estrangeiros, então, Eu permanecerei convosco neste lugar, nesta terra que dei desde sempre e para sempre a vossos pais. Contudo, eis que vos enganais a vós mesmos, confiando em palavras vãs, que de nada vos servirão. Roubais, matais, cometeis adultérios, jurais falso, ofereceis incenso a Baal e procurais deuses que vos são desconhecidos; e depois, vindes apresentar-vos diante de mim, neste templo, onde o meu nome é invocado, e exclamais: ‘Estamos salvos!’ Mas seguidamente voltais a cometer todas essas abominações. Porventura, este templo, onde o meu nome é invocado, é a vossos olhos, um covil de ladrões? Ficai sabendo que Eu vi todas estas coisas – oráculo do Senhor. Ide, portanto, ao meu templo que está em Silo onde fiz, ao princípio, morar o meu nome e vede o que lhe fiz, por causa da maldade do meu povo de Israel. E agora, por terdes praticado tais acções – oráculo do Senhor porque vos falei repetidas vezes e não me escutastes, porque vos chamei e não me respondestes, Eu farei da casa em que é invocado o meu nome e na qual depositais a vossa confiança, deste lugar que vos dei, a vós e aos vossos pais, o mesmo que fiz de Silo: lançar-vos-ei para longe da minha presença, como lancei todos os vossos irmãos, toda a linhagem de Efraim.» «Tu, porém, não intercedas por este povo, não faças súplicas nem orações em favor deles, não insistas comigo, porque não te escutarei. Não vês o que eles fazem nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém? Os filhos recolhem a lenha, os pais acendem o fogo e as mulheres preparam a massa, a fim de fazerem tortas em honra da ‘Rainha do céu’; e, para irritar-me, fazem libações a deuses estrangeiros. Acaso é a mim que eles irritam? – Oráculo do Senhor. Não é antes a si mesmos, para sua maior vergonha?» Portanto, assim fala o Senhor Deus, «Eis que o furor da minha ira vai derramar-se sobre este lugar, sobre os homens e os animais, sobre as árvores dos campos e os frutos da terra. Inflamar-se-á e não se extinguirá.» Eis o que diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: «Acrescentai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios. E comei a carne das vítimas; pois não falei aos vossos pais e nada lhes prescrevi no dia em que os fiz sair da terra do Egipto, a respeito de holocaustos e sacrifícios. A única ordem que lhes dei foi esta: ‘Ouvi a minha voz e Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar, a fim de que sejais felizes.’ Eles, porém, não me ouviram, não prestaram atenção, seguiram os maus conselhos dos seus corações empedernidos; viraram-me as costas em vez de se voltarem para mim. Desde o dia em que os vossos pais saíram do Egipto até hoje, Eu vos enviei todos os meus servos, os profetas, dia após dia. Eles, porém, não me ouviram, não me prestaram atenção; endureceram a sua cerviz e agiram pior que os seus pais. Tudo isto lhes transmitirás, mas não te escutarão. Chamá-los-ás e não te responderão. Então dir-lhes-ás: ‘Esta é a nação que não ouviu a voz do Senhor, seu Deus, não aceitou as suas advertências. A sua lealdade desapareceu, foi banida da sua boca.’ Corta os teus cabelos de nazireu e lança-os fora. Entoa, sobre as colinas, as tuas lamentações, porque o Senhor rejeitou e abandonou esta geração, merecedora da sua ira. Porque os filhos de Judá praticaram o mal diante de mim – oráculo do Senhor. Colocaram ídolos abomináveis no templo em que é invocado o meu nome, profanando-o. Levantaram o lugar alto de Tofet, no vale de Ben-Hinom, para lá oferecerem em sacrifício os seus filhos e as suas filhas, coisa que não mandei nem me passou pela mente. Por isso, dias virão em que não se chamará mais Tofet, nem vale de Ben-Hinom, mas ‘Vale do Massacre’. Por falta de lugar, serão enterrados os mortos, em Tofet – oráculo do Senhor. Os cadáveres deste povo servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra, sem aparecer quem os enxote. Farei que não se ouça nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém a voz dos cânticos de alegria e de júbilo, o cantar do noivo e o cantar da noiva, porque a terra será um deserto.» Naquele tempo, serão retirados dos seus sepulcros os ossos dos reis de Judá, os ossos dos seus príncipes e os ossos dos sacerdotes, os ossos dos profetas e os ossos dos habitantes de Jerusalém – oráculo do Senhor. Serão expostos ao Sol, à Lua e a todos os astros celestes, que eles tanto amaram e serviram, atrás de quem andaram, a quem consultaram e adoraram. Estes ossos não serão recolhidos, nem enterrados; permanecerão como esterco à superfície da terra. Os sobreviventes desta raça perversa hão-de preferir a morte à vida, em todos os lugares para onde os dispersei – oráculo do Senhor do universo. Diz-lhes: «Assim fala o Senhor, Se alguém cai, não se poderá levantar? Não poderá voltar aquele que se desviou? Então porque se revolta este povo, e Jerusalém persiste na rebeldia? Obstinam-se na má fé e recusam converter-se. Atentamente os ouvi: Não falam, porém, com sinceridade. Nenhum deles se arrepende da sua maldade, dizendo: ‘Que fiz eu?’ Retomam todos a sua corrida à semelhança do cavalo que se lança em combate. Até a cegonha nos ares conhece os seus tempos; a rola, a andorinha e o grou pressentem o tempo da sua migração. O meu povo, porém, não conhece a Lei do Senhor.» «Como podeis dizer: ‘Somos sábios, a Lei do Senhor está connosco’, se a pena mentirosa dos doutores da Lei transformou a Lei em mentira? Os sábios serão confundidos, ficarão consternados e cobertos de vergonha, por terem rejeitado a palavra do Senhor. Afinal, que sabedoria é a deles? Eis porque as suas mulheres serão dadas a outros, e os seus campos, aos conquistadores: porque desde o mais pequeno ao maior, todos se entregam a lucros desonestos; desde o profeta ao sacerdote, todos praticam a mentira. Tratam, à toa, as feridas do meu povo, dizendo: ‘Paz! Paz!’ Mas não há paz. Deveriam envergonhar-se pelo seu proceder abominável, mas eles não se envergonham, nem sequer sabem corar. Por isso, cairão entre as vítimas, perecerão, quando Eu os castigar – diz o Senhor. Vou reuni-los todos e arrebatá-los – oráculo do Senhor. Não ficará uma só uva na vinha, nem um só figo na figueira. Todas as folhas murcharão. Entregá-los-ei a quem os despoje. Porque estamos aqui parados? Reuni-vos, vamos para as praças fortes, para aí perecermos. Porque o Senhor, nosso Deus, decidiu que pereçamos. Faz-nos beber água envenenada, porque pecámos contra o Senhor. Esperávamos a paz, e nenhum bem encontrámos; um tempo de exaltação, e eis que só há terror. Desde Dan, ouve-se já o relinchar dos seus cavalos; toda a terra estremece com o estrépito dos seus corcéis. Chegam, destroem o país e as suas riquezas, a cidade e os seus habitantes. Enviarei serpentes contra vós, víboras insensíveis aos encantamentos, que vos morderão» – oráculo do Senhor. A minha dor é sem remédio, e o meu coração desfalece. Eis os gritos de angústia do meu povo, vindos de uma terra longínqua: «Porventura não está o Senhor em Sião? Não habita nela o seu rei? Por que razão me irritaram com os seus ídolos, com divindades de outros países? Passou a ceifa, terminou a colheita, e nós não fomos salvos.» Sofro com as feridas do meu povo; tudo me parece tenebroso; apoderou-se de mim a desolação. Porventura não haverá bálsamo em Guilead? Não se poderá encontrar lá nenhum médico? Porque não cicatriza a ferida do meu povo? Oh! Tivesse eu na minha cabeça um manancial, e nos meus olhos uma fonte de lágrimas! Dia e noite choraria as chagas do meu povo. Quem me dera ter no deserto um albergue de viajantes! Abandonaria o meu povo e afastar-me-ia para longe dele, pois são todos uma legião de adúlteros, um bando de traidores. Retesam a língua como um arco, dominam o país com a mentira e não com a verdade. Vão de mal a pior; e a mim já não me conhecem oráculo do Senhor. Cada um de vós guarde-se do seu amigo. Nem mesmo no irmão vos deveis fiar, porque todo o irmão procura suplantar o irmão, e todo o amigo calunia o seu amigo. Enganam-se uns aos outros; não há verdade nas suas palavras; habituaram a língua à mentira. É gente corrompida, incapaz de converter-se. Fraude e mais fraude, falsidade e mais falsidade! Recusam conhecer-me oráculo do Senhor. Por isso, eis o que diz o Senhor do universo: «Vou fundi-los no crisol para os provar. Que outra coisa poderei fazer com o meu povo? As suas línguas são setas mortíferas, só há maldade nas palavras da sua boca. Todos falam de paz ao seu próximo, mas no íntimo armam-lhe ciladas. Não deverei castigá-los por causa disto? Não me hei-de vingar de semelhante nação?» – Oráculo do Senhor. «Chorareis e gemereis sobre os montes, entoareis cânticos fúnebres sobre as pastagens do deserto; porque o fogo devorou estes lugares e já ninguém passa por eles; não se ouve mais o balir dos rebanhos; desde as aves do céu e até aos animais tudo fugiu e desapareceu. Reduzirei Jerusalém a um montão de pedras, a um covil de chacais; as cidades de Judá, a um deserto, onde mais ninguém habitará. Quem é o homem sábio que entende estas coisas, a quem se dirige a palavra do Senhor, que pode explicar porque é que foi destruído este país, queimado como um deserto, por onde ninguém passa?» O Senhor disse: «Porque abandonaram a lei que lhes dei, não ouviram a minha voz, nem a seguiram; foram atrás da obstinação do seu coração, atrás dos ídolos de Baal, que os seus pais lhes deram a conhecer.» Por isso, diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: «Hei-de alimentá-los com absinto e dar-lhes-ei a beber água envenenada. Dispersá-los-ei entre as nações, que nem eles nem os seus pais conheceram, e enviarei contra eles uma espada que os abaterá até ao extermínio.» Assim fala o Senhor do universo: «Procurai chamar carpideiras. Que venham! Mandai buscar as mais hábeis! Que compareçam! Não tardem e entoem sobre nós as suas lamentações. Derramem lágrimas os nossos olhos, vertam pranto as nossas pálpebras. Porque de Sião ouve-se um grito de dor. Que desolação! Que vergonha! Expulsam-nos das nossas terras, lançam-nos fora das nossas casas! Ouvi, pois, mulheres, a palavra do Senhor; compreendam os vossos ouvidos a palavra da sua boca! Ensinai às vossas filhas esta lamentação; cada uma ensine à sua companheira este canto fúnebre: ‘A morte subiu pelas nossas janelas, introduziu-se nos nossos palácios. Exterminou as crianças nas ruas e os jovens, nas praças públicas!’» Proclama assim o oráculo do Senhor, «Os cadáveres dos homens caíram como esterco sobre os campos, como feixes atrás do ceifeiro, e ninguém os recolhe.» Assim fala o Senhor, «Não se envaideça o sábio do seu saber, nem o forte da sua força, nem se glorie o rico da sua riqueza! Aquele, porém, que se quiser gloriar, glorie-se nisto: em ter entendimento e conhecer-me a mim, que Eu sou o Senhor, que exerço a misericórdia, o direito e a justiça sobre a terra. Nisto me comprazo – oráculo do Senhor. Dias virão em que Eu pedirei contas a todos os circuncidados – oráculo do Senhor. Ao Egipto, a Judá, a Edom, aos filhos de Amon, a Moab e a todos os que habitam no deserto e rapam os cabelos. Todos estes povos são incircuncisos, mas os israelitas são incircuncisos de coração.» Ouvi, ó casa de Israel, a palavra que o Senhor vos dirige. Assim fala o Senhor, «Não imiteis o procedimento dos pagãos, nem temais os sinais celestes, como temem os pagãos. De facto, a religião desses povos não é nada. É apenas madeira cortada na floresta, obra trabalhada pelo cinzel do artista, adornada com prata e com ouro; fixam-nos com pregos e a golpes de martelo para que não se movam. Estes deuses assemelham-se a espantalhos num campo de pepinos. Devem ser conduzidos, pois não caminham. Não os temais, pois não podem fazer mal, nem podem fazer bem.» Ninguém há semelhante a ti, Senhor ! Tu és grande! Grande é o teu nome e o teu poder. Quem não te temerá, rei dos povos? A ti é devido todo o respeito, porque entre os sábios dos povos pagãos e nos seus reinos, ninguém se assemelha a ti. Eles são néscios e insensatos e os seus ensinamentos não passam de um pedaço de madeira; prata batida, importada de Társis, ouro de Ufaz, trabalho de escultor e de ourives, revestido de púrpura e de jacinto: tudo isto é obra de artistas. O Senhor, porém, é verdadeiramente Deus, Deus vivo, rei eterno. A terra treme diante da sua cólera, e os povos pagãos não podem suportar a sua ira. Dizei-lhes, portanto: «Os deuses que não fizeram o céu e a terra desaparecerão da terra e de debaixo dos céus. Só Ele criou a terra pelo seu poder, consolidou o mundo pela sua sabedoria e estendeu os céus pela sua inteligência. Ao som da sua voz, reúnem-se as águas nos céus e as nuvens elevam-se dos confins da terra; faz que apareçam relâmpagos no meio das chuvas, solta os ventos dos seus reservatórios. Então, todo o homem se tem por néscio e imbecil, todo o artista tem vergonha do ídolo que concebeu, porque fundiu apenas falsidade, desprovida de vida. São apenas nada, obras ridículas, que perecerão no dia do castigo. Quão diferente deles é o Deus de Jacob, pois foi Ele quem tudo criou; Israel é a tribo de sua propriedade. O seu nome é ‘Senhor do universo.’» Apanha da terra o teu fardo, tu que habitas na cidade sitiada! Porque assim falou o Senhor, «Desta vez, atirarei para longe os habitantes desta terra e os atribularei para que me encontrem.» Ai de mim, por causa da minha ferida! É incurável a minha chaga! Mas eu disse: «Este é o meu castigo, devo suportá-lo. A minha tenda foi devastada, todas as suas cordas se quebraram. Os meus filhos abandonaram-me, já não existem; não tenho ninguém para me levantar a tenda, nem para estender os meus panos. Na verdade, os pastores foram insensatos, não buscaram o Senhor. Por isso, não prosperaram e os seus rebanhos dispersaram-se. Eis que já se ouve um grande rumor, e se avizinha o eco de um imenso tumulto que vem da direcção do Norte, para reduzir as cidades de Judá a um deserto e a um covil de chacais. Bem sei, Senhor, que o homem não é dono do seu destino, e o caminhante não pode dirigir os seus passos. Castiga-me, Senhor, mas com equidade, não na tua ira, para que não seja reduzido a nada. Derrama o teu furor sobre as nações que te desconhecem, sobre as tribos que não invocam o teu nome, porque devoraram Jacob, consumiram-no e devastaram os seus campos.» Palavra que o Senhor dirigiu a Jeremias, dizendo: «Escuta as palavras desta aliança e transmite-as aos homens de Judá e aos habitantes de Jerusalém. Diz-lhes: Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Maldito o homem que não obedecer às prescrições desta aliança, a qual dei a vossos pais, no dia em que os fiz sair do Egipto, daquele crisol de ferro, dizendo: ‘Escutai a minha voz e fazei todas as coisas que vos mando. Então sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus. Então, ratificarei o juramento que fiz a vossos pais, de lhes entregar uma terra onde corre leite e mel, como hoje se vê.’» E eu respondi: ‘Assim seja, Senhor.’ O Senhor disse-me: «Anuncia todas estas palavras nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém, dizendo-lhes: “Escutai as palavras desta aliança e ponde-as em prática. Desde o dia em que os fiz subir do Egipto até hoje, avisei com insistência os vossos pais, falando-lhes assim: ‘Escutai a minha voz!’ Eles, porém, não a escutaram, não atenderam, seguindo obstinadamente as más inclinações dos seus corações. Então executei contra eles todas as ameaças contidas nesta aliança, que lhes tinha mandado observar e que não observaram.”» O Senhor disse-me: «Descobriu-se uma conjuração entre os habitantes de Judá e de Jerusalém. Eles tornaram às iniquidades dos seus antepassados, que se recusaram a escutar as minhas palavras; estes também servem e seguem deuses estrangeiros. A casa de Israel e a casa de Judá violaram a aliança que Eu firmara com os seus pais.» Por isso, assim fala o Senhor, «Descarregarei sobre eles calamidades, às quais não poderão escapar. E, quando gritarem por mim, Eu não os atenderei. Então, as cidades de Judá e os habitantes de Jerusalém irão clamar aos deuses a quem ofereceram incenso. Esses deuses, porém, não os salvarão no momento da catástrofe. Os teus deuses, ó Judá, são tantos quantas as tuas cidades! Tantos como as ruas que tens em Jerusalém são os altares levantados à ignomínia para neles oferecerem incenso a Baal. Tu, pois, não intercedas por este povo, não rogues, não supliques por ele, porque no tempo da sua desgraça, quando clamarem por mim, Eu não os ouvirei.» «O que faz a minha amada na minha casa? Ela está a tecer intrigas. Acaso os teus sacrifícios e as carnes imoladas afastarão de ti as tuas desgraças, para que te glories? Verdejante oliveira de belos frutos, eis o nome que te dera o Senhor. Porém, ao tumulto de um grande ruído, ateou-se-lhe fogo e queimaram-se os seus ramos. O Senhor do universo, que te plantara, decretou calamidades contra ti por causa dos crimes cometidos pela casa de Israel e pela casa de Judá; irritando-me, queimaram incenso em honra de Baal.» O Senhor instruiu-me e eu entendi. E então vi com clareza o seu proceder para comigo. E eu, como manso cordeiro conduzido ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: «Destruamos a árvore no seu vigor; arranquemo-la da terra dos vivos, que o seu nome caia no esquecimento.» Mas o Senhor do universo, justo juiz, sonda os rins e o coração. Que eu seja testemunha da tua vingança sobre eles, pois a ti confio a minha causa. Por isso, assim fala o Senhor contra os homens de Anatot, que conspiram contra a minha vida, dizendo: «Cessa de proclamar oráculos em nome do Senhor, se não queres morrer às nossas mãos.» Por tal motivo, isto diz o Senhor do universo: «Vou castigá-los. Os jovens morrerão à espada, os seus filhos e filhas perecerão de fome. Ninguém escapará, porque, quando chegar o tempo do castigo, mandarei a desgraça sobre os habitantes de Anatot.» Senhor, Tu és demasiado justo para eu me queixar de ti. Mas, desejaria debater contigo sobre a justiça: Porque alcançam os maus tanto sucesso, e os pérfidos vivem tranquilos na sua malvadez? Tu os plantaste, e eles lançam raízes, crescem e frutificam. Estás próximo dos seus lábios, mas longe dos seus corações. Mas Tu, Senhor, vês-me e me conheces, examinaste os meus sentimentos a teu respeito. Arrasta esses homens como gado para o matadouro e destina-os para o dia da matança. Até quando permanecerá a terra de luto, e secará a erva dos campos? Por causa da maldade dos seus habitantes, perecem animais e aves. Pois eles dizem: «Não verá o que nos espera. Se te cansas, correndo com os que andam a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Tu sentes-te em segurança numa terra tranquila, mas que farás na floresta do Jordão? Os teus próprios irmãos e a tua família até esses são desleais para contigo; também eles te caluniam pelas costas. Não te fies neles, mesmo que te dirijam palavras amigas.» «Deixei a minha casa, abandonei a minha herança, entreguei o que me era mais querido a mãos inimigas. A minha herança tornou-se para mim como um leão na floresta; ela levanta contra mim a sua voz. Por isso, Eu a detestei. Será a minha herança como um pássaro multicolor cercado de aves de rapina? Vinde, congregai-vos, animais selvagens; vinde e devorai-a. Numerosos pastores destruíram a minha vinha, pisaram a minha propriedade e transformaram a minha porção mais querida num horrível deserto. Tornaram-na uma desolação e apresentaram-na diante de mim, enlutada e devastada. Desolada ficou toda a terra, por não haver ninguém que reconsidere no seu coração. De todos os cantos do deserto chegam os devastadores. A espada do Senhor dizima a terra, desde um extremo ao outro, e não há paz para nenhum vivente. Semearam trigo e só recolheram espinhos; fatigaram-se, mas em vão. A colheita foi decepcionante, por causa da grande cólera do Senhor.» Isto diz o Senhor contra todos os seus maus vizinhos: «Eles usurpam a herança que reparti pelo meu povo Israel. Vou arrancá-los das suas terras, e arrancar a casa de Judá do meio deles. Quando, porém, os tiver arrancado, terei piedade deles e devolverei a cada um a sua herança e a sua terra. Se aprenderem a seguir a religião do meu povo e se jurarem ‘ Pela vida do S* ENHOR !’, tal como ensinaram o meu povo a jurar ‘ Por Baal*!’, então, habitarão prosperamente no meio do meu povo. Porém, se não me ouvirem, arrancá-los-ei pela raiz e exterminá-los-ei» – oráculo do Senhor. O Senhor ordenou-me: «Vai comprar uma faixa de linho e cinge com ela a tua cintura, mas não a metas na água.» E eu comprei a faixa, de acordo com a palavra do Senhor, e com ela me cingi. Foi-me dirigida, pela segunda vez, a palavra do Senhor, «Toma a faixa que compraste e que trazes contigo; encaminha-te para as margens do Eufrates e esconde-a ali na fenda de uma rocha.» Fui e escondi-a, junto do Eufrates, como o Senhor me tinha ordenado. Passados muitos dias, disse-me o Senhor, «Põe-te a caminho, em demanda das margens do Eufrates, a fim de buscar a faixa que, conforme as minhas ordens, ali escondeste.» Dirigi-me, então, ao rio e, tendo cavado, retirei a faixa do lugar onde a escondera. Vi, porém, que a faixa apodrecera e para nada mais servia. Então, o Senhor falou-me nestes termos: «Isto diz o Senhor, ‘Da mesma forma, farei apodrecer a soberba de Judá e o grande orgulho de Jerusalém. Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, que segue a obstinação do seu coração e vai atrás de deuses estranhos para os servir e adorar, tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve. Assim como uma faixa se liga à cintura de um homem, assim Eu uni a mim toda a casa de Israel e a casa de Judá para que fossem o meu povo, a minha honra, a minha glória e o meu orgulho. Eles, porém, não me escutaram’» – oráculo do Senhor. «Vai, pois, e diz-lhes: Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha deve encher-se de vinho!’ Se eles te responderem: ‘Bem sabemos que toda a vasilha se deve encher de vinho!’, tu lhes dirás: Isto diz o Senhor, ‘Vou encher de embriaguez todos os habitantes desta terra, os reis que se sentam no trono de David, os sacerdotes, os profetas e todos os habitantes de Jerusalém. Despedaçá-los-ei uns contra os outros, os pais contra os filhos. Não terei compaixão, nem piedade, nem clemência para deixar de os destruir’» – oráculo do Senhor. Escutai, ouvi, não vos enchais de orgulho, porque o Senhor falou. Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que surjam as trevas, e tropecem os vossos pés, nos montes cobertos de sombras. Vós esperais a luz, mas Ele transforma-a em trevas e converte-a em noite profunda. Se não ouvirdes isto, eu chorarei em segredo por causa do vosso orgulho, e os meus olhos chorarão amargamente por causa do rebanho do Senhor. Dizei ao rei e à rainha-mãe: «Humilhai-vos, sentai-vos no chão, porque caiu da vossa cabeça a coroa da vossa glória.» As cidades do Négueb estão fechadas, ninguém as pode abrir. Judá inteira foi deportada, e a deportação é completa. Levantai os olhos e vede os que chegam do Norte! Onde está o rebanho que te fora confiado, e as ovelhas de que te gloriavas? Que dirás, quando puserem à tua frente, para te governar, aqueles que consideravas amigos? Acaso não sentirás dores como as da mulher que vai dar à luz? Se disseres no teu coração: «Porque me aconteceram estas coisas?» Por causa das tuas faltas, foram levantadas as tuas vestes e maltratados os teus calcanhares. Pode um etíope mudar a sua própria cor, ou um leopardo as pintas da sua pele? E vós, como podereis praticar o bem, se fostes instruídos na maldade? Por isso, vos espalharei como a palha que o vento do deserto arrebata. Tal é a tua sorte, a parte que Eu te reservo porque te esqueceste de mim, e confiaste apenas na mentira – oráculo do Senhor. Por isso, também Eu levantarei as tuas vestes até à altura da face, e ver-se-á a tua vergonha! Os teus adultérios, os teus gritos de prazer, a tua luxúria infame! Nas colinas e nos campos, vi as tuas abominações. Ai de ti, Jerusalém, que não te purificas! Até quando vai isto continuar assim? A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias acerca da seca: «Judá chora e as suas portas estão desoladas, inclinadas para a terra. E Jerusalém clama angustiada. Os seus chefes enviaram os servos à procura de água. Estes foram às cisternas, porém, não encontraram água e voltaram com os recipientes vazios; cheios de vergonha, cobrem a cabeça. Como o solo está ressequido e não cai chuva sobre a terra, os agricultores desesperam e cobrem o rosto de tristeza. Até a gazela, depois de dar à luz no campo, abandona a sua cria, porque não há verdura. Os asnos selvagens param nos montes e aspiram o ar, como chacais. Os seus olhos perderam o brilho, por falta de erva.» Ó Senhor, se as nossas iniquidades dão testemunho contra nós, age de acordo com a honra do teu nome. Na verdade, são numerosas as nossas infidelidades; pecámos contra ti. Esperança de Israel, seu salvador no tempo da desgraça! Porque hás-de comportar-te nesta terra como um estrangeiro, como hóspede que fica só uma noite? Por que razão procedeis como um homem desamparado, como um guerreiro que não pode salvar? Mas, Tu, Senhor, permaneces entre nós, e sobre nós foi invocado o teu Nome; não nos abandones! Isto diz o Senhor acerca deste povo: «Gostam de vaguear de um lado para o outro, não dão repouso aos seus pés.» Por isso, o Senhor não lhes tem nenhum amor. Lembrando-se das suas iniquidades, vai castigá-los por causa dos seus pecados. E o Senhor disse-me: «Não intercedas em favor desse povo. Se jejuarem, não ouvirei os seus gemidos; se oferecerem holocaustos e oblações, não os aceitarei! Quero destruí-los pela espada, pela fome e pela peste.» Eu, porém, respondi: «Ah! Senhor meu Deus ! Os profetas dizem-lhes: ‘A espada não vos atingirá, não passareis fome; antes, dar-vos-ei paz e segurança neste lugar.’» Mas o Senhor replicou: «Esses profetas falsamente vaticinam em meu nome: não os enviei, não lhes dei ordens, não lhes falei. Visões mentirosas, oráculos vãos, fantasias e enganos do seu coração, eis o que profetizam!» Portanto, assim fala o Senhor, «Os profetas que profetizam em meu nome, sem que Eu os tenha enviado, e que proclamam: ‘Não haverá espada nem fome nesta terra’, tais profetas perecerão pela espada e pela fome! E as pessoas a quem profetizaram serão lançadas nas ruas de Jerusalém, vítimas da espada e da fome. Não haverá quem os sepulte, a eles, às suas mulheres e aos seus filhos e filhas; farei recair sobre eles as suas próprias maldades.» Tu lhes dirás a seguinte mensagem: «Derramem os meus olhos lágrimas noite e dia, sem descanso, porque a jovem, filha do meu povo, foi ferida com um golpe terrível, e sua chaga não tem cura!» Se saio aos campos, eis os mortos à espada; se regresso à cidade, eis os dizimados pela fome. Até profetas e sacerdotes vagueiam pelo país, sem nada compreenderem. Acaso, rejeitaste inteiramente Judá? Porventura, sentes nojo de Sião? Porque nos feriste sem esperança de cura? Esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia! Senhor ! Conhecemos a nossa culpa e a iniquidade dos nossos pais. Pecámos realmente contra ti. Mas, por amor do teu nome, não nos abandones nem desonres o trono da tua glória. Lembra-te de nós, não anules a tua aliança connosco. Será que algum dos ídolos dos pagãos, traz a chuva? Ou é o céu que proporciona as chuvas? Não és Tu, Senhor, o nosso Deus? Nós esperamos em ti, pois és Tu quem faz todas estas coisas. O Senhor disse-me: «Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, o meu coração não se comoveria por este povo. Afasta-o para longe da minha presença! Que se retire. Se te perguntarem: ‘Para onde iremos?’ Responder-lhes-ás: ‘Isto diz o Senhor: Para a morte, os que estão destinados à morte! Para a espada, os que estão destinados à espada! Para a fome, os que estão destinados à fome! Para o cativeiro, os que devem ir para o cativeiro!’ Enviarei sobre eles quatro flagelos: a espada para os degolar, os cães para os despedaçarem, as aves do céu e as feras da terra para os devorarem e consumirem – oráculo do Senhor. Farei deles um objecto de horror para todos os reinos da terra, por culpa de Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por tudo o que ele fez em Jerusalém. Quem se compadecerá de ti, ó Jerusalém? Quem te consolará? Quem se desviará do seu caminho para perguntar por ti? Abandonaste-me, voltaste-me as costas. Por isso, estendi a mão sobre ti para te perder, porque estou cansado de te perdoar – oráculo do Senhor. Eu hei-de joeirá-los com o crivo às portas do país; hei-de privá-los de filhos e destruirei o meu povo, por causa da sua impenitência. Serão mais numerosas as suas viúvas do que as areias do mar. Enviarei contra a mãe dos guerreiros um exterminador em pleno meio-dia. Farei cair sobre eles, de súbito, a angústia e o terror. A mãe que tinha sete filhos encheu-se de tristeza e desfaleceu; antes que findasse o dia, o Sol pôs-se para ela; ficou coberta de vergonha e consternação. Os sobreviventes, entregá-los-ei à espada, diante dos seus inimigos» – oráculo do Senhor. Ai de mim, ó mãe, porque me deste à luz! Sou um homem de discórdia e de polémica para toda a terra! Nunca emprestei e ninguém me emprestou; no entanto, todos me maldizem. Na verdade, Senhor, não te servi com fidelidade? Não intercedi em favor do inimigo junto de ti, no dia da desgraça e da aflição? Será possível quebrar o ferro, o ferro do Norte e o bronze? As tuas riquezas e os teus tesouros entregá-los-ei à pilhagem, não por interesse de uma venda, mas por causa de todos os teus pecados, em todo o país. Far-te-ei escravo dos teus inimigos numa terra desconhecida, porque o fogo da minha ira se acendeu e será ateado contra vós. Tu, Senhor, que sabes tudo, lembra-te de mim, ampara-me, e vinga-me dos que me perseguem; que eu não seja apanhado por eles, por causa da tua paciência. Lembra-te como suporto os insultos por tua causa. Eu devoro as tuas palavras onde as encontro; a tua palavra é a minha alegria e as delícias do meu coração, porque o teu Nome, foi invocado sobre mim, ó Senhor, Deus do universo! Nunca me sentei entre os escarnecedores, para com eles me divertir. Forçado pela tua mão, sentei-me solitário, porque me possuía a tua indignação. Porque se tornou perpétua a minha dor, e não cicatriza a minha chaga, rebelde ao tratamento? Ai! Serás para mim como um riacho enganador de água inconstante? Por esta razão, o Senhor diz-me: «Se te reconciliares comigo, receber-te-ei novamente e poderás estar na minha presença. Se conseguires retirar o precioso do vil, serás como a minha boca. Serão eles, então, que virão a ti e não tu que irás a eles. Tornar-te-ei, para este povo, como sólida muralha de bronze. Combaterão contra ti, mas não conseguirão vencer-te, porque Eu estarei a teu lado para te proteger e salvar oráculo do Senhor. Livrar-te-ei das garras dos maus, resgatar-te-ei do poder dos opressores.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Não tomarás mulher, nem terás filhos nem filhas nesta terra; porque isto diz o Senhor, a respeito dos filhos e das filhas que nasceram neste lugar, das mães que os conceberam e dos pais que os geraram, nesta terra: ‘Hão-de morrer de morte cruel, não serão lamentados nem sepultados, permanecendo como esterco sobre a face da terra; serão confundidos pela espada e pela fome, e os seus cadáveres servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra.’» Disse, ainda, o Senhor, «Não entres na casa onde haja luto, para chorar com os seus moradores, porque Eu retirei deste povo a minha paz, a minha protecção e a minha misericórdia – oráculo do Senhor. Morrerão nesta terra os grandes e os pequenos; não serão sepultados nem chorados; não se farão por eles incisões nem se raparão os cabelos. Não participarão no banquete para consolar o que chora por um defunto, nem lhes será dada a beber a taça da consolação pela morte dos seus pais. Não entrarás, igualmente, na casa em que houver uma festa para te sentares à mesa com os convivas, porque assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Eis que abafarei neste lugar, à vossa vista e em vossos dias, os gritos de alegria, os cânticos de júbilo, o canto do noivo e da noiva.’ Se, quando anunciares ao meu povo esta mensagem, te perguntarem: ‘Porque decretou o Senhor contra nós todos estes flagelos? Que pecado ou que crime cometemos contra o Senhor, nosso Deus?’ – responder-lhes-ás: ‘É porque os vossos pais me abandonaram e foram atrás de deuses estranhos, para os servir e adorar, abandonando-me, e não guardaram a minha lei – oráculo do Senhor. Mas vós ainda fizestes pior que os vossos pais; cada um, sem me escutar, segue os maus desejos do seu coração. Expulsar-vos-ei deste país para uma terra que não conheceis, nem vós nem vossos pais. Ali, dia e noite, servireis aos deuses estrangeiros, porque Eu não terei compaixão de vós.’» «Dias virão – oráculo do Senhor em que não mais se dirá: ‘Pela vida do Senhor, que fez sair do Egipto os filhos de Israel!’, mas sim: ‘Pela vida do Senhor, que fez regressar os filhos de Israel do Norte e de todos os países por onde os tinha dispersado.’ Vou fazê-los regressar à terra que dei a seus pais. Vou mandar pescadores em grande número que os hão-de pescar – oráculo do Senhor. Depois disto, enviarei numerosos caçadores, que os hão-de caçar pelas montanhas e colinas e nas cavidades dos rochedos. Com efeito, os meus olhos estão postos sobre os seus caminhos, que não me são ocultos, nem as suas iniquidades escapam à minha vista. Primeiramente, pagarei a dobrar o salário das suas iniquidades e dos seus pecados, porque profanaram a minha terra e com os restos imundos dos seus ídolos encheram a minha herança de abominações.» Senhor, minha força, meu amparo, e meu refúgio no dia da desgraça, a ti virão nações dos confins do mundo, e exclamarão: «Realmente, os nossos pais herdaram uma mentira, uma inutilidade sem proveito.» Poderá o homem fabricar deuses para si? Mas, então, não são deuses! «Por isso, desta vez, Eu lhes mostrarei, lhes farei ver a força do meu braço, e eles saberão que o meu nome é ‘Senhor.’» «O pecado de Judá está escrito com um estilete de ferro, gravado com uma ponta de diamante sobre a tábua do seu coração, e nas hastes dos seus altares. A lembrá-lo aos seus filhos estão os seus altares e os símbolos da deusa Achera junto das árvores verdejantes, sobre as colinas elevadas, e no alto dos montes; entregarei à pilhagem os teus bens, os teus tesouros e os lugares altos, por causa dos pecados que cometeste em todo o país. Terás que renunciar à herança que Eu te havia dado, e far-te-ei escravo dos teus inimigos numa terra que desconheces, porquanto ateaste o fogo da minha cólera, que arderá para sempre. Isto diz o Senhor, Maldito aquele que confia no homem e conta somente com a força humana, afastando o seu coração do Senhor. Assemelha-se ao cardo do deserto; mesmo que lhe venha algum bem, não o sente, pois habita na secura do deserto, numa terra salobra, onde ninguém mora. Bendito o homem que confia no Senhor, que tem no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano e não deixará de dar fruto. Nada mais enganador que o coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer? Eu, o Senhor, penetro os corações e sondo as entranhas, a fim de recompensar cada um pela sua conduta e pelos frutos das suas acções. Como a perdiz que choca os ovos que não pôs, assim é o que junta riquezas fraudulentas. No meio dos seus dias terá de as deixar, e o seu fim será o de um insensato.» Trono sublime de glória desde princípio é o nosso santuário. Tu, Senhor, és a esperança de Israel, todos os que te abandonam serão confundidos. Os que de ti se afastam serão escritos na terra dos mortos, porque deixaram o Senhor, fonte das águas vivas. Cura-me, Senhor, e ficarei curado; salva-me e serei salvo, porque Tu és a minha glória. Ei-los que me interpelam: «Onde está a palavra do Senhor ? Que ela se realize agora!» Eu, porém, jamais te incitei a enviar-lhes a desgraça e não desejei o dia da catástrofe. Bem conheces as palavras que me saíram da boca, porque elas estão na tua presença. Não sejas para mim objecto de espanto, Tu que és o meu refúgio, no dia da desgraça. Sejam confundidos os meus inimigos mas não eu! Temam eles, e não eu! Faz recair sobre eles o dia da amargura, e esmaga-os com dupla desgraça. Isto me disse o Senhor, «Vai e põe-te à porta principal, por onde entram e saem os reis de Judá, e a todas as portas de Jerusalém. Dir-lhes-ás: ‘Escutai a palavra do Senhor, reis de Judá, povo de Judá, e vós todos, habitantes de Jerusalém que entrais por estas portas. Assim fala o Senhor, Evitai, pela vossa vida, transportar cargas no dia de sábado e introduzi-las pelas portas de Jerusalém. Abstende-vos de tirar cargas para fora das vossas casas no dia de sábado, nem façais trabalho servil. Mas santificai o dia de sábado, como ordenei a vossos pais. Eles, porém, não prestaram ouvidos, mas endureceram a sua cerviz para não me escutarem nem receberem a instrução. Se verdadeiramente me ouvirdes – oráculo do Senhor de modo que não deixeis passar nenhuma carga pelas portas da cidade, no dia de sábado, santificando este dia, sem fazer nele qualquer trabalho servil, então, pelas portas da cidade, continuarão a entrar, montados em carros e cavalos, reis e príncipes para ocupar o trono de David, e seus oficiais, a gente de Judá e os habitantes de Jerusalém; e esta cidade será povoada para sempre. Outros virão das cidades de Judá, dos arredores de Jerusalém, das terras de Benjamim, da planície, das montanhas e do Négueb para oferecer holocaustos, sacrifícios, oblações e incenso de acção de graças no templo do Senhor. Mas, se não observardes os meus preceitos sobre a santificação do sábado, de não transportar cargas, de não as introduzir pelas portas da cidade no dia de sábado, porei fogo a essas portas, e ele consumirá os palácios de Jerusalém e nunca mais se apagará.’» Palavra que o Senhor dirigiu a Jeremias, nestes termos: «Vai, desce à casa do oleiro, e ali escutarás a minha palavra.» Fui, então, à casa do oleiro, e encontrei-o a trabalhar ao torno. Quando o vaso que estava a modelar não lhe saía bem, retomava o barro com as mãos e fazia outro, como bem lhe parecia. Então, foi-me dirigida a palavra do Senhor, dizendo: «Casa de Israel, não poderei fazer de vós o que faz este oleiro? Como o barro nas suas mãos, assim sois vós nas minhas, casa de Israel – oráculo do Senhor. Em dado momento, anuncio a uma nação ou a um reino que o vou arrancar e destruir. Mas, se esta nação, contra a qual me pronunciei, se afastar do mal que cometeu, também Eu me arrependerei do mal com que resolvi castigá-la. Igualmente decido, de repente, edificar e plantar um povo ou um reino. Porém, se esse povo proceder mal diante de mim e não escutar a minha palavra, hei-de arrepender-me também do bem que decidira fazer-lhe. Agora, pois, dirige-te à gente de Judá e aos habitantes de Jerusalém e diz-lhes: ‘Isto diz o Senhor, Eu, o oleiro, estou a preparar uma desgraça contra vós, meditando projectos contra vós. Voltai, portanto, dos vossos maus caminhos, emendai o vosso proceder e as vossas obras.’ Mas eles responderão: ‘É inútil! Seguiremos os nossos pensamentos, cada um de nós agirá segundo as más inclinações do seu coração obstinado’. Portanto, assim fala o Senhor, Interrogai as nações pagãs: Quem jamais ouviu semelhante coisa? Foi horrível o crime que cometeu a jovem de Israel! Acaso desaparecerá dos rochedos a neve do Líbano? Ou hão-de esgotar-se as águas das correntes, que deslizam frescas? Ora, o meu povo esqueceu-se de mim e ofereceu incenso aos ídolos que o fazem tropeçar nos seus caminhos, nos caminhos de sempre; preferem andar por atalhos, que não são estrada firme. Tornam a sua terra num deserto, objecto de perpétuo escárnio; quem por ela passar, estupefacto, abanará a cabeça. Como o vento do Oriente, Eu o dispersarei diante do inimigo; voltar-lhe-ei as costas, e não a face, no dia da desgraça.» Eles disseram: «Vinde e tramemos uma conspiração contra Jeremias, porque não nos faltará a lei se faltar um sacerdote, nem o conselho se faltar um sábio, nem a palavra divina por falta de um profeta! Vinde, vamos difamá-lo e não prestemos atenção às suas palavras!» Senhor, ouve-me! Escuta o que dizem os meus adversários. É assim que se paga o bem com o mal? Abriram uma cova para me tirarem a vida. Lembra-te de que me apresentei diante de ti, a fim de interceder por eles e afastar deles a tua cólera. Por isso, entrega os seus filhos à fome, e a eles próprios, ao fio da espada. Fiquem as suas mulheres viúvas e sem filhos; que os seus maridos sejam mortos pela peste, e os seus jovens feridos à espada no combate. Que todos ouçam os clamores, vindos das suas casas, quando, de repente, lançares sobre eles os salteadores! Porque abriram uma cova para me prender, e armaram laços ocultos para os meus pés. Mas Tu, Senhor, que conheces todos os seus planos de morte contra mim, não lhes perdoes esta iniquidade. Que o seu pecado permaneça indelével a teus olhos; caiam eles de repente na tua presença. Castiga-os no dia da tua ira. Assim fala o Senhor, «Vai e compra uma bilha de barro, leva contigo alguns anciãos do povo e anciãos dos sacerdotes, e dirige-te ao vale de Ben-Hinom, diante da porta da olaria, e pronuncia ali o oráculo que te vou dizer. Dirás então: ‘Escutai a palavra do Senhor, reis de Judá e habitantes de Jerusalém. Isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: Vou mandar sobre este lugar uma grande catástrofe que fará retinir os ouvidos a quem dela ouvir falar. Com efeito, abandonaram-me, profanaram este lugar e ofereceram incenso a outros deuses que não conheceram, nem eles, nem seus pais, nem os reis de Judá. Encheram este lugar com sangue de inocentes, e levantaram o lugar alto a Baal, para, em honra dele, queimarem os seus filhos em holocaustos, coisa que jamais prescrevi, nem falei, nem me veio ao pensamento. Por tudo isto, dias virão em que este lugar não mais se chamará Tofet, nem vale de Ben-Hinom mas sim vale de Massacre – oráculo do Senhor. Farei fracassar neste lugar os desígnios de Judá e de Jerusalém, exterminarei os seus habitantes com a espada dos inimigos e pela mão dos que procuram tirar-lhes a vida. Entregarei os seus cadáveres, como pasto, às aves do céu e aos animais da terra. Farei desta cidade objecto de pasmo e de ludíbrio, de modo que todo o que passar por ela ficará pasmado e se rirá da sua destruição. Dar-lhes-ei a comer a carne dos seus filhos e das suas filhas; devorar-se-ão uns aos outros nas angústias do cerco e da fome a que serão reduzidos pelos seus inimigos, pelos que buscam tirar-lhes a vida.’ Então, na presença dos que forem contigo, quebrarás a bilha, exclamando: Assim fala o Senhor do universo: ‘Quebrarei este povo e a cidade como se parte um vaso de barro, que não pode mais refazer-se. E, por falta de outro lugar, serão sepultados em Tofet. Isto farei a este lugar e aos seus habitantes, tornando esta cidade semelhante a Tofet – oráculo do Senhor. As casas de Jerusalém e os palácios dos reis de Judá ficarão imundos como a terra de Tofet. Todas essas casas, em cujos terraços ofereceram incenso aos astros do céu e libações a deuses estranhos.’» Jeremias regressou, então, de Tofet, onde o Senhor o enviara a profetizar. De pé, no átrio do templo do Senhor, exclamou à multidão: «Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Vou fazer descer sobre esta cidade e sobre todas as cidades dela dependentes, os flagelos com que as ameacei, porque endureceram a cerviz, para não escutar as minhas palavras.» Ora, o sacerdote Pachiur, filho de Émer, superintendente do templo do Senhor, ouviu o profeta Jeremias pronunciar este oráculo. Pachiur mandou espancar o profeta e pô-lo no cepo da prisão, que estava na porta superior de Benjamim, junto do templo do Senhor. No dia seguinte, quando Pachiur o mandou libertar, Jeremias disse-lhe: «O Senhor não mais te chama Pachiur, mas sim ‘Terror’ em toda a parte. Porque isto diz o Senhor, ‘Vou converter-te em terror para ti mesmo e para todos os teus amigos que, diante dos teus próprios olhos, perecerão à espada dos seus inimigos. E entregarei todos os de Judá nas mãos do rei da Babilónia, que os deportará para a Babilónia e os ferirá à espada. E entregarei todas as riquezas desta cidade, todo o fruto do seu trabalho, as suas reservas preciosas e todos os tesouros dos reis de Judá nas mãos dos seus inimigos, os quais os saquearão, tomarão e levarão para a Babilónia. E tu, Pachiur, serás levado com a tua família para o cativeiro. Irás à Babilónia, ali morrerás e serás enterrado, tu e todos os teus amigos, aos quais profetizaste mentiras!’» Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir! Tu me dominaste e venceste. Sou objecto de contínua irrisão, e todos escarnecem de mim. Todas as vezes que falo é para proclamar: «Violência! Opressão!» A palavra do Senhor tornou-se para mim motivo de insultos e escárnios, dia após dia. A mim mesmo dizia: «Não pensarei mais nele! Não falarei mais em seu nome!» Mas, no meu coração, a sua palavra era um fogo devorador, encerrado nos meus ossos. Esforçava-me por contê-lo, mas não podia. Ouvia invectivas da multidão: «Cerco de terror! Denunciai-o! Vamos denunciá-lo!» Os que eram meus amigos espiam agora os meus passos: «Se o enganarmos, triunfaremos dele, e dele nos vingaremos.» O Senhor, porém, está comigo, como poderoso guerreiro. Por isso, os meus perseguidores serão esmagados e cobertos de confusão, porque não hão-de prevalecer. A sua ignomínia nunca se apagará da memória. Mas Tu, Senhor do universo, examinas o justo, sondas os rins e os corações. Que eu possa contemplar a tua vingança contra eles, pois a ti confiei a minha causa! Cantai ao Senhor, glorificai o Senhor, porque salvou a vida do pobre da mão dos malvados. Maldito seja o dia em que eu nasci! Não seja abençoado o dia em que minha mãe me deu à luz! Maldito seja o homem que anunciou a meu pai: «Nasceu-te um menino; alegra-te por ele!» Seja este homem como as cidades que o Senhor aniquilou sem piedade. Ouça gritos de manhã e o fragor da batalha ao meio-dia. Porque não me deu Ele a morte no ventre materno? Então, minha mãe teria sido o meu túmulo e o seu ventre permaneceria grávido para sempre! Porque saí do seu seio? Somente para contemplar tormentos e misérias, e consumir os meus dias na confusão? Palavra que o Senhor dirigiu a Jeremias, quando o rei Sedecias lhe enviou Pachiur, filho de Malquias, e o sacerdote Sofonias, filho de Masseias, a dizer-lhe: «Consulta o Senhor em nosso nome porque Nabucodonosor, rei da Babilónia, está-nos a fazer guerra. Talvez o Senhor renove connosco os seus milagres, fazendo com que o inimigo se afaste de nós.» Jeremias respondeu-lhes: «Assim direis a Sedecias: ‘Oráculo do Senhor, Deus de Israel: As armas que empunhais para o combate Eu as farei passar para o rei da Babilónia e para os caldeus que vos sitiam fora dos muros, e vou juntá-las no meio desta cidade. E então combaterei contra vós com todas as forças do meu braço vigoroso, com furor, indignação e cólera. Ferirei os habitantes desta cidade, homens e animais, que morrerão de uma grande peste. Além disto – oráculo do Senhor – entregarei Sedecias, rei de Judá, os seus dignitários, o povo e quantos escaparem da peste, da espada e da fome, na mão de Nabucodonosor, rei da Babilónia, na mão dos seus inimigos e na mão dos que procuram tirar-lhes a vida. Eles hão-de passá-los ao fio da espada, sem perdão, nem piedade, nem misericórdia. E dirás a este povo: Assim fala o Senhor, Eis que coloco diante de vós o caminho da vida e o caminho da morte. Os que ficarem na cidade morrerão pela espada, pela fome ou pela peste; o que sair para se entregar aos caldeus, que vos sitiam, viverá, e a sua vida ser-lhe-á deixada como despojo. Pois voltei o meu rosto contra esta cidade para seu mal e não para seu bem. Será entregue nas mãos do rei da Babilónia, e este incendiá-la-á’» – oráculo do Senhor. E dirás à casa do rei de Judá: «Ouvi a palavra do Senhor, casa de David, assim fala o Senhor, Administrai a justiça desde o amanhecer, livrai o oprimido das mãos do opressor, para que o meu furor não se inflame como o fogo e queime sem haver quem o apague, por causa da malícia do vosso procedimento. Eis-me contra ti, habitante do vale, rochedo da planície oráculo do Senhor. Vós dizeis: ‘Quem nos virá atacar? E quem entrará nos nossos refúgios?’ Castigar-vos-ei segundo o fruto das vossas obras, lançarei fogo à floresta e tudo em redor será devorado» – oráculo do Senhor. Assim fala o Senhor, «Desce ao palácio do rei de Judá e pronuncia ali este oráculo. E dirás: ‘Escuta a palavra do Senhor, rei de Judá, que te sentas no trono de David, tu e os teus servos e o teu povo, que entrais por estas portas. Assim diz o Senhor: Praticai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor. Não deixeis o estrangeiro sofrer vexames e violências, nem o órfão nem a viúva, e não derrameis neste lugar sangue inocente. Se observardes fielmente estas ordens, continuareis a entrar pelas portas deste palácio, reis da linhagem de David, montados em carros e cavalos, com os seus servos e o seu povo. Se, porém, não escutardes estas palavras – juro-o por mim próprio – este palácio será reduzido a escombros’» – oráculo do Senhor. Este é o oráculo do Senhor acerca do palácio do rei de Judá: «Eras para mim como os montes de Guilead e como o cimo do Líbano. Juro, porém, que farei de ti um deserto, e uma cidade desabitada. Preparei contra ti destruidores, munidos das suas armas, que cortarão os teus melhores cedros e os lançarão ao fogo.» Muitos povos passarão por esta cidade e dirão uns aos outros: «Porque tratou o Senhor assim esta grande cidade?» Ser-lhes-á respondido: «Porque eles abandonaram a aliança do Senhor, seu Deus, e adoraram e serviram outros deuses.» «Não choreis pelo morto, nem por ele vos lamenteis. Chorai antes por aquele que parte, porque não mais voltará, para ver a sua terra natal.» Assim fala o Senhor, a respeito de Chalum, filho de Josias, rei de Judá, que sucedeu a seu pai Josias: «Quem partiu deste lugar não mais voltará. Morrerá no lugar do seu exílio; não verá jamais esta terra.» Ai daquele que edifica a sua casa com a injustiça e os seus aposentos com a iniquidade. Ai daquele que obriga o seu próximo a trabalhar sem paga e lhe recusa o salário! E também o que diz: «Vou mandar construir um grande palácio, salões espaçosos. Abrirei largas janelas e tectos de cedro pintados de vermelho!» Porventura pensas que és rei por dispores de mais cedro? Acaso o teu pai não comia e bebia, praticando justiça e equidade, e tudo lhe corria bem? Julgava a causa do pobre e do humilde, e tudo lhe era favorável! Não é isto conhecer-me? Oráculo do Senhor. Porém, os teus olhos e o teu coração apenas procuram satisfazer a tua cobiça, derramar sangue inocente e exercer a opressão e a violência. Por isso, assim fala o Senhor, a respeito de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: «Não o lamentarão, dizendo: ‘Ai, meu irmão! Ai, minha irmã!’ Não o chorarão, dizendo: ‘Ai, senhor! Ai, majestade!’ A sua sepultura será como a do asno; será arrastado e lançado para fora das portas de Jerusalém.» «Sobe ao Líbano e grita, clama em voz alta em Basan, grita do monte de Abarim, porque todos os teus amantes foram esmagados. Falei-te no tempo da tua prosperidade, mas disseste: ‘Não ouvirei!’ Tem sido este o teu proceder desde a juventude; não escutaste a minha voz. Os teus pastores serão arrastados pelos ventos, e os teus amantes serão levados para o cativeiro. Então, sentirás vergonha e confusão por toda a tua maldade. Tu que tens o teu assento no Líbano e fazes o teu ninho nos seus cedros, como gemerás quando te vierem dores e convulsões semelhantes às da parturiente!» «Juro pela minha vida: Ainda que Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, fosse um anel na minha mão direita, Eu te arrancaria! – Oráculo do Senhor. Entregar-te-ei nas mãos dos que procuram tirar-te a vida, nas mãos daqueles que temes, nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilónia, e nas mãos dos caldeus. Enviar-te-ei, assim como à mãe que te deu à luz, para uma terra estranha, onde não nascestes, e lá morrereis. E à terra onde aspiram voltar, não tornarão. Acaso será Jeconias, um vaso desprezível, para quebrar, ou um vaso que ninguém aprecia? Porque foram rejeitados, ele e a sua linhagem, e arrojados para uma terra que não conheciam?» Minha terra, ó minha terra! Ouve a palavra do Senhor. Eis o que diz o Senhor, «Inscrevei este homem como varão sem filhos, que não há-de ter prosperidade nos dias da sua vida!» Porque ninguém da sua linhagem conseguirá sentar-se no trono de David e reinar de novo em Judá. Ai dos pastores que dispersam e extraviam o rebanho das minhas pastagens! – Oráculo do Senhor. Pois assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas, afugentaste-las e não vos ocupastes delas. Por isso, Eu vou ocupar-me de vós, pedir-vos contas do vosso mau procedimento – oráculo do Senhor. Reunirei o que restar das minhas ovelhas espalhadas pelas terras em que as exilei, e fá-las-ei voltar às suas pastagens, onde crescerão e se multiplicarão. Dar-lhes-ei pastores que as apascentarão, de modo que não terão medo nem sobressalto e nenhuma delas se perderá – oráculo do Senhor. Dias virão em que farei brotar de David um rebento justo que será rei, governará com sabedoria e exercerá no país o direito e a justiça – oráculo do Senhor. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Então será este o seu nome: ‘O Senhor -é-nossa-Justiça!’ Por isso, eis que chegarão dias – oráculo do Senhor em que já não dirão: ‘Viva o Senhor que fez subir do Egipto os filhos de Israel’; mas sim: ‘Viva o Senhor que fez subir e reconduziu a linhagem de Israel do país do Norte e de todos os países, para onde os dispersara, e os habitar na sua própria terra’.» Sobre os profetas: Parte-se-me o coração dentro do peito e estremecem todos os meus ossos. Assemelho-me a um ébrio, sou como homem prostrado pelo vinho, por causa do Senhor e da sua palavra santa. A terra está cheia de adúlteros. Por causa da maldição, a terra está de luto e as pastagens da estepe ressequidas. Os seus planos são perversos e a sua força é a injustiça. Até o profeta e o sacerdote se tornaram ímpios, e até no meu templo encontrei as suas perversidades – oráculo do Senhor. Por isso, o seu caminho se tornará escorregadio. Serão impelidos para as trevas e nelas cairão. Farei vir sobre eles a desgraça, o ano do seu castigo oráculo do Senhor. Vi a impiedade entre os profetas da Samaria; profetizaram em nome de Baal e desencaminharam o meu povo, Israel. Nos profetas de Jerusalém vi coisas horríveis: adultério e hipocrisia; fortalecem o braço dos maus, para que nenhum se converta da sua maldade. A meus olhos, todos eles são semelhantes a Sodoma, e os habitantes de Jerusalém, a Gomorra. Portanto, isto diz o Senhor do universo acerca dos profetas: «Vou alimentá-los com absinto e dar-lhes a beber águas contaminadas, porque pela atitude dos profetas de Jerusalém é que a impiedade se estendeu por todo o país.» Assim fala o Senhor do universo: «Não queirais ouvir as palavras dos profetas, que vos transmitem vãs esperanças. Proclamam as suas próprias visões, que não procedem da boca do Senhor. Eles dizem repetidamente aos que desprezam a palavra do Senhor, ‘Tereis paz!’ E, aos que seguem obstinadamente as tendências do seu coração: ‘Nenhum mal virá sobre vós!’ Mas, quem assistiu ao conselho do Senhor e viu e ouviu a sua palavra? Quem ouviu e prestou atenção à sua palavra? Eis que se levantará a tempestade da ira do Senhor, uma furiosa tempestade que avança em turbilhão sobre a cabeça dos maus. A cólera do Senhor não se acalmará até que Ele execute e cumpra os seus desígnios. Compreendê-los-eis plenamente no futuro. Não enviei estes profetas, e eles vieram a correr; não lhes falei, e eles profetizaram. Se assistissem ao meu conselho, teriam transmitido as minhas palavras ao meu povo, tê-lo-iam convertido do seu mau caminho e das suas perversas acções.» «Será que Eu sou Deus só ao perto e não sou Deus ao longe? Oráculo do Senhor. Poderá alguém ocultar-se em lugares escondidos sem que Eu o veja? Oráculo do Senhor. Porventura não sou Eu que encho o céu e a terra? – Oráculo do Senhor. Escutai o que disseram os profetas, que em meu nome profetizavam mentiras e diziam: ‘Tive um sonho! Tive um sonho!’ Até quando há-de haver profetas que vaticinam a mentira, que profetizam os desvarios do seu coração? Fazem com que o meu povo se esqueça de mim pelos sonhos que contam uns aos outros, como se esqueceram os seus pais do meu nome, por causa de Baal. O profeta que tem um sonho conte-o como um sonho! Mas, a quem for dirigida a minha palavra, reproduza-a fielmente! Que comparação pode haver entre a palha e o grão? – Oráculo do Senhor. Não se assemelham ao fogo as minhas palavras como um martelo que tritura a rocha? – Oráculo do Senhor. Eis que vou lançar-me contra os profetas que roubam as minhas palavras uns aos outros – oráculo do Senhor. Vou pedir contas aos profetas – oráculo do Senhor cujas línguas ousam proclamar os oráculos. Irei contra os profetas que sonham mentiras – oráculo do Senhor – que as contam e desorientam o meu povo com essas mentiras e enganos. Não os enviei, não lhes dei missão alguma. Eles nenhum bem fazem a este povo» – oráculo do Senhor. «Se este povo ou algum profeta ou sacerdote te vier perguntar: ‘Qual é o oráculo de ameaça do Senhor ?’, responderás: ‘Vós é que sois uma pesada ameaça. Eu vos lançarei para longe de mim’ – oráculo do Senhor. Mas se o profeta, o sacerdote ou o povo disser: ‘Oráculo de ameaça do Senhor ’, Eu castigá-lo-ei a ele e à sua família. Assim é que deveis dizer uns aos outros, irmão a irmão: ‘Que respondeu o Senhor ?’ e ‘Que disse o Senhor ?’ Não repitais mais ‘Oráculo de ameaça do Senhor ’, pois essa mesma palavra tornar-se-á uma ameaça para cada um, já que deturpais o sentido das palavras do Deus vivo, do Senhor do universo, do nosso Deus. Ao profeta perguntarás assim: ‘Que respondeu o Senhor ?’ ou ‘Que disse o Senhor ?’ Vós, porém, dizeis: ‘Oráculo de ameaça do Senhor.’» Eis o que diz o Senhor, «Já vos adverti para não repetirdes estas palavras, isto é, ‘Ameaça do Senhor ’, pois vos tinha recomendado: Não direis ‘Ameaça do Senhor ’. Por causa disso, vou tratar-vos como uma coisa pesada e lançar-vos-ei para longe de mim, bem como à cidade que vos dei a vós e a vossos pais. Espalharei sobre vós um opróbrio eterno, uma eterna vergonha, que jamais será esquecida.» O Senhor mostrou-me dois cestos de figos, postos diante do templo do Senhor. Já então Nabucodonosor, rei da Babilónia, tinha levado cativos, de Jerusalém para a Babilónia, Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, juntamente com os chefes de Judá, os carpinteiros e serralheiros. Um dos cestos continha óptimos figos, como são os da primeira colheita; o outro, porém, tinha figos maus, que não se podiam comer, de tão maus que eram. O Senhor disse-me: «Que vês, Jeremias?» Respondi: «Figos. Uns muito bons, e outros muito maus, que não servem para comer.» Foi-me, então, dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Assim como olhei para estes figos bons, assim também olharei favoravelmente para os desterrados de Judá, que exilei destes lugares para a terra dos caldeus. Volverei para eles os meus olhos propícios e reconduzi-los-ei a este país; restabelecê-los-ei e não mais os destruirei, plantá-los-ei e não mais os arrancarei. Dar-lhes-ei um coração para que me conheçam e saibam que Eu sou o Senhor. Eles serão o meu povo, e Eu serei o seu Deus, pois se converterão a mim de todo o coração. E, à semelhança do que acontece aos figos maus, que não podem ser comidos, assim Eu – diz o Senhor desprezarei Sedecias, rei de Judá, os seus chefes e o resto de Jerusalém, que ficaram nesta terra e os refugiados na terra do Egipto. Farei deles objecto de vexame e desgraça em todos os reinos da terra, de vergonha, de exemplo, de escárnio e de maldição, por toda a parte para onde Eu os tiver dispersado. Enviarei contra eles a espada, a fome e a peste, até que sejam exterminados da terra que lhes dei a eles e a seus pais.» Palavra que foi dirigida a Jeremias acerca de todo o povo de Judá, no quarto ano de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, que corresponde ao primeiro ano de Nabucodonosor, rei da Babilónia, quando o profeta Jeremias anunciou a todo o povo de Judá e a todos os habitantes de Jerusalém, dizendo: «Desde o décimo terceiro ano de Josias, filho de Amon, rei de Judá, até ao presente, num total de vinte e três anos, foi-me dirigida a palavra do Senhor e eu vo-la anunciei com assiduidade, mas vós não a escutastes. O Senhor enviou-vos continuamente os profetas, seus servos, mas vós não lhes prestastes atenção nem destes ouvidos. Ele dizia-vos: ‘Deixai os vossos maus caminhos e as vossas más obras, e habitareis na terra que o Senhor vos deu a vós e a vossos pais, desde tempos antigos e para sempre. Não queirais ir atrás de outros deuses, para os servirdes e adorardes. Não provoqueis a minha ira para vossa própria desgraça, com a obra das vossas mãos. Mas vós não me ouvistes – oráculo do Senhor de modo que provocastes a minha ira, com a obra das vossas mãos, para vossa própria desgraça.’» Pelo que, assim fala o Senhor do universo: ‘Porque não ouvistes as minhas palavras, eis que vou convocar todas as tribos do Norte, assim como o meu servo Nabucodonosor, rei da Babilónia; fá-los-ei vir contra esta terra e seus habitantes, e contra todas as nações que a cercam – oráculo do Senhor. Destruí-los-ei e farei deles objecto de horror, de espanto e de vergonha eterna. Farei cessar, entre eles, os seus gritos de alegria e de júbilo, a voz do noivo e a voz da noiva, amortecerei o ruído da mó e a luz da lâmpada. Esta terra converter-se-á em deserto e desolação e, durante setenta anos, estas gentes servirão o rei da Babilónia. Decorridos esses setenta anos, castigarei o rei da Babilónia e os seus habitantes pelas suas culpas, assim como o país dos caldeus, que transformarei numa eterna solidão – oráculo do Senhor. Executarei sobre esta terra todas as ameaças que proferi contra ela e que estão escritas neste livro, tudo o que Jeremias profetizou contra as nações pagãs. Com efeito, estas serão, por sua vez, subjugadas por numerosas nações e poderosos reis: Eu lhes retribuirei conforme o seu merecimento e segundo as acções das suas mãos!’» Assim me falou o Senhor, Deus de Israel: «Toma das minhas mãos esta taça cheia do vinho da minha ira, e dá a beber dela a todos os povos, aos quais Eu te enviar. Que bebam e fiquem aturdidos e enlouqueçam à vista da espada que enviarei para o meio deles.» Tomei, então, a taça das mãos do Senhor e dei a beber dela a todos os povos, aos quais o Senhor me enviou: dei a Jerusalém e às cidades de Judá, aos seus reis e chefes, para fazer deles um deserto, um pavor, um objecto de desprezo e maldição, como hoje se vê; dei ao faraó, rei do Egipto, aos seus servos, aos seus príncipes e a todo o povo; dei a toda a população mista e a todos os reis da terra de Uce e a todos os reis da terra dos filisteus, a Ascalon, a Gaza, a Ecron, e aos sobreviventes de Asdod; dei a Edom, a Moab e aos filhos de Amon; dei a todos os reis de Tiro, de Sídon e das ilhas que estão além do mar; dei a Dedan, a Tema e a Buz e a todos os que rapam a cabeça; dei aos reis da Arábia e aos das populações mistas que habitam o deserto; dei a todos os reis de Zimeri, a todos os reis de Elam e a todos os reis da Média; dei a todos os reis do Norte, próximos ou longínquos, um após outro, e a todos os reinos da terra que existem sobre ela. E, depois deles, beberá o rei de Chechac. «Dir-lhes-ás: Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Bebei, embriagai-vos, vomitai e caí para não mais vos levantardes, diante da espada que enviarei contra vós.’ Se recusarem tomar a taça das tuas mãos para beberem dela, dir-lhes-ás: “Isto diz o Senhor do universo: ‘Tereis de o beber! Se vou começar a castigar pela cidade, onde o meu nome é invocado, ireis vós ficar sem castigo? Não, não sereis poupados, porque farei descer a espada sobre todos os habitantes da terra’ –oráculo do Senhor do universo.” Tu lhes profetizarás todas estas coisas, e dirás: ‘O Senhor ruge lá do alto do céu, da sua santa morada levanta a sua voz; clama contra o seu rebanho, e lança gritos, como os dos lagareiros, contra todos os habitantes da terra. O seu eco chegará até aos confins da terra, porque o Senhor está em litígio contra as nações e entrará em juízo contra toda a humanidade, entregando os ímpios à espada’» – oráculo do Senhor. Isto diz o Senhor do universo: «Eis que o flagelo estender-se-á de nação em nação! Dos confins da terra se desencadeará violenta tempestade.» Aqueles que o Senhor entregar à morte neste dia, de uma à outra extremidade da terra, não serão chorados nem recolhidos nem sepultados; jazerão como esterco sobre a face da terra. Chorai, pastores, gritai! Cobri-vos de cinza, guardas do rebanho! Chegou o dia da vossa destruição, e caireis como ovelhas escolhidas. Não haverá mais refúgio para os pastores, nem salvação para os guardas do rebanho! Ouvi os gritos dos pastores, e o alarido dos guardas do rebanho, porque o Senhor devastou os seus pastos. As suas amenas campinas são devastadas pelo furor da ira do Senhor. O leão sai do seu covil, a terra transforma-se em deserto, diante da espada destruidora e diante do fogo da sua cólera! No começo do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: «Isto diz o Senhor: ‘Põe-te no átrio do templo e fala ali a todos os habitantes de Judá que vêm prostrar-se no templo do Senhor, e anuncia-lhes todas as palavras que te mandei anunciar, sem omitir nenhuma. Talvez te ouçam e se convertam cada um do seu mau caminho. Arrepender-me-ei então do castigo que, por causa das suas más obras, tinha determinado dar-lhes.’ Dir-lhes-ás: ‘Isto diz o Senhor, Se não me ouvirdes, se não obedecerdes à lei que vos impus, ouvindo as palavras dos profetas, meus servos, que continuamente vos enviei, e a quem não tendes ouvido, farei a esta casa o que fiz a Silo e farei desta cidade um objecto de maldição para todos os povos da terra.’» Os sacerdotes, os profetas e todo o povo ouviram Jeremias pronunciar estas palavras no templo. Porém, mal Jeremias acabara de repetir o que o Senhor lhe ordenara dizer ao povo, os sacerdotes, os profetas e a multidão lançaram-se sobre ele, exclamando: «À morte! Porque profetizas, em nome do Senhor, este oráculo: ‘Acontecerá a este templo o mesmo que sucedeu a Silo e esta cidade será transformada em deserto, sem habitantes?’» Juntou-se toda a multidão contra Jeremias no templo do Senhor. Os príncipes de Judá, ao saberem do que se passara, subiram do palácio real ao templo do Senhor e sentaram-se à entrada da Porta Nova do templo do Senhor. Então, os sacerdotes e os profetas falaram aos príncipes e à multidão: «Este homem merece a morte porque profetizou contra esta cidade, como todos vós ouvistes.» Jeremias, porém, respondeu aos príncipes e ao povo: «Foi o Senhor que me enviou a profetizar contra este templo e contra esta cidade os oráculos que ouvistes. Reformai, portanto, a vossa vida e as vossas obras, ouvi a palavra do Senhor, vosso Deus, e o Senhor afastará de vós o mal com que vos ameaça. Quanto a mim, entrego-me nas vossas mãos. Fazei de mim o que quiserdes e o que melhor vos parecer. Sabei, porém, que, se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue inocente, assim como esta cidade e os seus habitantes porque, na verdade, foi o Senhor que me enviou para vos transmitir estes oráculos.» Então, os príncipes e a multidão disseram aos sacerdotes e aos profetas: «Este homem não merece a morte! Foi em nome do Senhor, nosso Deus, que nos falou.» E, levantando-se alguns dos anciãos do país, disseram à assembleia do povo: «Miqueias de Moréchet, que profetizava no tempo de Ezequias, rei de Judá, assim falou ao povo: ‘Isto diz o Senhor do universo: Sião será lavrada como terra de lavoura, Jerusalém será reduzida a um montão de ruínas, e o monte do templo será um bosque.’ Porventura, Ezequias, rei de Judá, e o povo de Judá, condenaram-no à morte? Não temeram eles o Senhor ? Não imploraram o seu favor, a ponto de o Senhor se ter arrependido do mal com que os ameaçava? Mas nós tornámo-nos responsáveis por uma grande desgraça.» Houve também um profeta, chamado Urias, filho de Chemaías, de Quiriat-Iarim, que proferia oráculos em nome do Senhor contra a cidade e o país. Anunciava os mesmos flagelos que Jeremias. As suas palavras chegaram aos ouvidos do rei Joaquim, dos seus oficiais e príncipes, e o rei procurou meios de o condenar à morte. Urias, informado do que se passava, teve medo e fugiu, refugiando-se no Egipto. Mas Joaquim enviou ao Egipto Elnatan, filho de Acbor, acompanhado de uma escolta. Urias, foi então trazido do Egipto e entregue ao rei, que o mandou degolar, lançando o seu cadáver na vala comum. Quanto a Jeremias, ele gozava da protecção de Aicam, filho de Chafan, para que não fosse entregue nas mãos do povo a fim de ser condenado à morte. No princípio do reinado de Sedecias, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: «Isto me disse o Senhor, Faz um laço e um jugo e coloca-os ao pescoço. Depois, manda-os aos reis de Edom, de Moab, de Amon, de Tiro e de Sídon, por meio dos embaixadores que vêm a Jerusalém apresentar-se a Sedecias, rei de Judá. Encarregá-los-ás de levar aos seus senhores esta mensagem: “Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel. Direis isto a vossos senhores: ‘Eu sou aquele que, pelo meu grande poder e força do meu braço, criei a terra, os homens e os animais que nela se encontram, e dou o seu domínio a quem me aprouver. Agora entreguei todas estas terras ao meu servo Nabucodonosor, rei da Babilónia, a quem confiei também os animais dos campos para que o sirvam. Todas estas nações o servirão, assim como ao seu filho, e ao seu neto, até que chegue também a vez da sua terra ser dominada por numerosas nações e reis poderosos. A nação e o reino que se recusar a servir Nabucodonosor, rei da Babilónia, e a inclinar-se diante do seu jugo, serão castigados pela espada, pela fome e pela peste, até que sejam aniquilados pelas suas mãos – oráculo do Senhor.’ Portanto, não deis ouvidos aos vossos profetas, adivinhos, sonhadores, astrólogos e feiticeiros, os quais vos disseram: ‘Não sereis vassalos do rei da Babilónia!’ Porque são mentiras que vos profetizam, a fim de que sejais banidos por mim da vossa terra, dispersos, e venhais a perecer. Ao contrário, o povo que se submeter ao rei da Babilónia e o servir, deixá-lo-ei tranquilo na sua terra a fim de a cultivar e nela habitar”» – oráculo do Senhor. A Sedecias, rei de Judá, anunciei-lhe as mesmas coisas, dizendo: «Submetei as vossas cabeças ao jugo do rei da Babilónia e servi-o a ele e ao seu povo, e tereis vida. Por que motivo, tu e o teu povo vos sujeitais a morrer de fome e de peste, como o Senhor predisse a qualquer povo que recusasse servir o rei da Babilónia? Não presteis atenção às palavras dos profetas que vos anunciam: ‘Não sereis submetidos ao rei da Babilónia’, pois é mentira o que vos anunciam. Eu não os enviei e eles mentem, proferindo oráculos em meu nome. De modo que serei obrigado a repelir-vos, e perecereis, vós e os profetas que vos profetizam» – oráculo do Senhor. Falei também aos sacerdotes e ao povo, nestes termos: «Eis o que diz o Senhor, Não escuteis a voz dos profetas, que vos anunciam: ‘Eis que os objectos do templo em breve voltarão da Babilónia!’ É falso o que profetizam. Não os escuteis. Submetei-vos ao rei da Babilónia, para poderdes viver. Porque há-de ficar esta cidade reduzida a um deserto? Na verdade, se eles são profetas e a palavra do Senhor está com eles, que intercedam junto do Senhor do universo, de modo que não se leve para a Babilónia o que resta dos objectos preciosos no templo do Senhor, no palácio do rei de Judá e em Jerusalém. Pois assim diz o Senhor do universo, acerca das colunas, da grande bacia de bronze, dos pedestais e dos outros objectos que ficaram na cidade, e que Nabucodonosor, rei da Babilónia, não levou de Jerusalém para a Babilónia, quando exilou Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, juntamente com todos os notáveis de Judá e de Jerusalém. Eis o que diz o Senhor do universo, Deus de Israel, acerca dos objectos que ficaram no templo, no palácio do rei e em Jerusalém: ‘Serão transportados para a Babilónia e ali permanecerão até ao dia em que Eu os mandar trazer e os restituir a este lugar’» – oráculo do Senhor. Naquele mesmo ano, no início do reinado de Sedecias, rei de Judá, ou seja, no quinto mês do quarto ano, Hananias, filho de Azur, profeta de Guibeon, no templo do Senhor e na presença dos sacerdotes e de todo o povo, falou-me nos seguintes termos: «Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Vou quebrar o jugo do rei da Babilónia! Dentro de dois anos, farei voltar a este lugar todos os objectos do templo do Senhor, que Nabucodonosor, rei da Babilónia, levou daqui e transportou para a Babilónia. Para este lugar farei voltar Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá e todos os exilados de Judá que foram para a Babilónia, porque vou quebrar o jugo do rei da Babilónia’» – oráculo do Senhor. O profeta Jeremias respondeu ao profeta Hananias, na presença dos sacerdotes e do povo que se aglomerava no templo do Senhor, «Assim seja! Que o Senhor o permita! Realize o Senhor a tua profecia e traga de volta para este lugar o tesouro do templo, e todos os exilados cativos da Babilónia. Contudo, ouve o que te vou dizer, a ti e a todo o povo: Os profetas que nos precederam a mim e a ti, anunciaram a numerosos países e a poderosos reinos, guerra, fome e peste. Quanto ao profeta que profetiza a paz, somente quando se realizar o seu oráculo é que se poderá saber se ele é realmente um enviado do Senhor.» Então, o profeta Hananias retirou o jugo do pescoço do profeta Jeremias e, partindo-o, exclamou na presença de todo o povo: «Oráculo do Senhor, ‘Assim, decorridos dois anos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilónia e retirá-lo-ei do pescoço de todas as nações!’» Então, o profeta Jeremias retirou-se. Depois que o profeta Hananias quebrou e retirou o jugo do pescoço de Jeremias, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: «Vai dizer a Hananias: Isto diz o Senhor, ‘Quebraste jugos de madeira, mas, em vez deles, farei jugos de ferro.’ Porque isto diz o Senhor do universo: ‘Eu ponho um jugo de ferro ao pescoço de todas estas nações, a fim de que se submetam a Nabucodonosor, rei da Babilónia. Ficar-lhe-ão submetidas, e até lhe darei poder sobre os animais selvagens.’» E Jeremias acrescentou, dirigindo-se ao profeta Hananias: «Escuta a minha voz, Hananias! O Senhor não te enviou. És tu que levas o povo a crer na mentira! Por isso, eis o que diz o Senhor, ‘Vou retirar-te da face da terra. Morrerás ainda este ano, porque pregaste a revolta contra o Senhor !’» E o profeta Hananias morreu naquele ano, no sétimo mês. Eis o texto da carta que o profeta Jeremias enviou de Jerusalém aos anciãos exilados, aos sacerdotes e profetas, e a todo o povo deportado por Nabucodonosor, de Jerusalém para a Babilónia, depois que o rei Jeconias, a rainha, os eunucos, os príncipes de Judá e de Jerusalém, os carpinteiros e serralheiros deixaram Jerusalém. Esta carta foi levada por Elassá, filho de Chafan, e Guemarias, filho de Hilquias, que Sedecias, rei de Judá, enviara à Babilónia, ao seu rei Nabucodonosor. A carta dizia: «Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel, a todos os exilados que fiz deportar de Jerusalém para a Babilónia: ‘Edificai casas e habitai-as; plantai pomares e comei os seus frutos. Casai, gerai filhos e filhas, casai os vossos filhos e filhas, para que tenham filhos e filhas. Multiplicai-vos em vez de diminuir. Procurai o bem do país para onde vos exilei e rogai por ele ao Senhor, porque só tereis a lucrar com a sua prosperidade.’ Porque isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Não vos deixeis seduzir pelos profetas que se acham entre vós, nem pelos adivinhos, e não façais caso dos sonhos que tendes. Porque estes homens mentem, ao pretender pronunciar oráculos em meu nome. Eu não os enviei’ – oráculo do Senhor. Isto diz o Senhor, ‘Quando se cumprirem os setenta anos na Babilónia, Eu vos visitarei, a fim de realizar a promessa que fiz de vos trazer de novo a este lugar. Eu conheço bem os desígnios que tenho acerca de vós, desígnios de prosperidade e não de calamidade, de vos garantir um futuro de esperança – oráculo do Senhor. Invocar-me-eis e vireis suplicar-me, e Eu vos atenderei. Buscar-me-eis e me encontrareis, se me procurardes de todo o coração. Deixar-me-ei encontrar por vós – oráculo do Senhor farei regressar os cativos e irei buscar-vos a todas as nações e a todos os lugares por onde vos dispersei, a fim de vos fazer voltar ao lugar donde vos desterrei’ – oráculo do Senhor. Porém, replicareis: ‘O Senhor suscitou-nos profetas na Babilónia’. Pois bem! Eis o que diz o Senhor, a respeito do rei que se senta no trono de David, do povo que permaneceu nesta cidade, e de todos os vossos irmãos que não partiram convosco para o exílio: Assim fala o Senhor do universo: ‘Vou enviar contra eles a espada, a fome e a peste, e tratá-los-ei como figos estragados que, de tão maus que são, não se podem comer. Persegui-los-ei com a espada, a fome e a peste, e farei deles objecto de horror para todos os reinos da terra, um objecto de maldição, de espanto, de escárnio e de vergonha entre todos os povos para onde foram dispersos, porque não escutaram as minhas palavras – oráculo do Senhor quando, sem cessar, lhes enviava os profetas, meus servos, a quem também não escutaram’ – oráculo do Senhor. Escutai, pois, a palavra do Senhor, vós todos os exilados, que deportarei de Jerusalém para a Babilónia: Isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel, acerca de Acab, filho de Colaías, e de Sedecias, filho de Masseias, que vos anunciam, em meu nome, falsos oráculos: ‘Vou entregá-los nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilónia, que os mandará matar diante dos vossos olhos.’ Servirão de maldição para os judeus cativos que se acham na Babilónia, e dir-se-á: ‘Que o Senhor te trate como tratou Sedecias e Acab, que o rei da Babilónia mandou assar no fogo!’ Isto, porque cometeram uma infâmia em Israel, cometendo adultério com as mulheres dos seus vizinhos, e porque proferiram falsos oráculos em meu nome, contra a minha vontade. Eu bem o sei e sou testemunha» –oráculo do Senhor. E a Chemaías, de Neelam, dirás: «Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: Enviaste cartas em teu nome a todo o povo de Jerusalém, a todos os sacerdotes, ao sacerdote Sofonias, filho de Masseias, dizendo-lhe: O Senhor fez-te sacerdote em lugar do sacerdote Joiadá, a fim de que vigies no templo todo o homem fanático que se intitular profeta e o metas no cepo ou no cárcere. Qual a razão por que não repreendeste Jeremias de Anatot que profetizava entre vós? Chegou até a escrever-nos para a Babilónia, dizendo: ‘O cativeiro será longo. Construí casas e habitai-as; plantai pomares e comei os seus frutos’.» O sacerdote Sofonias leu esta carta ao profeta Jeremias. Então a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias nestes termos: «Manda dizer a todos os exilados: Oráculo do Senhor a respeito de Chemaías, de Neelam: ‘Porque Chemaías vos profetizou, sem que Eu o tenha enviado, e vos levou a crer em mentiras, por isso, eis o que diz o Senhor, Vou castigar Chemaías, de Neelam, e a sua descendência. Nenhum dos seus descendentes subsistirá entre vós, nem verá o bem que farei ao meu povo, porque pregou a revolta contra o Senhor ’» – oráculo do Senhor. A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias nestes termos: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Escreve num livro todas as palavras que Eu te disser. Porque dias virão em que mudarei a sorte do meu povo de Israel e de Judá, diz o Senhor, a fim de o fazer voltar à terra que dei, como propriedade, a seus pais’» – oráculo do Senhor. Eis as palavras que o Senhor pronunciou acerca de Israel e de Judá: «Isto diz o Senhor, Ouvimos um grito de terror, de espanto: ‘Não há paz!’ Perguntai e vede se um homem pode dar à luz. Porque razão vejo todos os homens com as mãos nos rins, como uma mulher a dar à luz? Porque ficaram pálidos os seus semblantes? Ai! Aquele dia será grande e sem igual! Será um tempo de angústia para Jacob, mas do qual será salvo. Naquele dia quebrarei o jugo que pesa sobre o seu pescoço e romperei os seus laços – oráculo do Senhor do universo. Não mais terão de servir os estrangeiros, mas servirão o Senhor, seu Deus, e David, seu rei, que Eu lhes suscitarei. E tu Jacob, meu servo, não temas não te assustes, Israel, porque hei-de salvar-te da terra longínqua, e à tua descendência, da terra do exílio – oráculo do Senhor. Jacob voltará e repousará seguro, sem que ninguém o perturbe. Pois Eu estarei contigo para te salvar. Aniquilarei todos os povos, entre os quais te dispersei. A ti, porém, não te destruirei; castigar-te-ei com equidade, não te deixando impune» – oráculo do Senhor. Assim fala o Senhor, «A tua ferida é incurável, maligna é a tua chaga. Ninguém quer tomar a tua defesa para curar o teu mal, para o qual não há remédio. Todos os teus amantes te esqueceram, não se preocupam contigo, porque te feri, como se fere um inimigo, com cruel castigo, por causa da gravidade da tua falta e do número dos teus pecados. Porque choras sobre a tua ferida? A tua chaga é incurável. Por causa da gravidade da tua falta e do número dos teus pecados é que Eu assim procedi. Mas todos os que te devoram, serão devorados; os teus opressores, todos eles, irão para o exílio; os teus destruidores serão despojados, e entregarei ao saque os que te saqueiam. Vou curar as tuas chagas e sarar as tuas feridas – oráculo do Senhor. Chamam-te ‘Repudiada’, ó Sião, ‘Aquela por quem ninguém se interessa’.» Mas, eis o que diz o Senhor, «Restaurarei as tendas de Jacob e terei compaixão das suas moradas. A cidade será reconstruída das suas ruínas, e os palácios reedificados no seu lugar. Deles sairão cânticos de louvor e gritos de alegria. Multiplicá-los-ei, e não mais diminuirão. Exaltá-los-ei, e não mais serão humilhados. Os seus filhos serão como eram outrora, a sua assembleia será restabelecida diante mim, mas castigarei todos os seus opressores. Dela surgirá o seu chefe, dela sairá o seu soberano. Mandarei buscá-lo e ele se aproximará de mim. Pois quem arriscaria a sua vida, aproximando-se de mim? – Oráculo do Senhor. Vós sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus.» Eis que a tempestade do Senhor, o seu furor impetuoso, qual tormenta se desencadeia e está prestes a cair sobre a cabeça dos ímpios. Não se acalmará o ardor da ira do Senhor, sem que se cumpram e realizem os seus desígnios. Porém, só nos tempos futuros, compreendereis estas coisas. «Naquele tempo, Eu serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo» – oráculo do Senhor. Assim fala o Senhor, «Encontrou graça no deserto o povo que tinha escapado à espada. Israel caminha para o seu repouso. De longe, o Senhor se lhe manifestou: Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo. Hei-de reconstruir-te, e serás restaurada, ó donzela de Israel! Ainda te hás-de adornar dos teus tamborins e participar em alegres danças. De novo plantarás vinhas nas colinas da Samaria, e os cultivadores recolherão os frutos, porque há-de chegar o dia em que as sentinelas gritarão sobre os montes de Efraim: ‘Levantai-vos! Subamos a Sião, ao Senhor, nosso Deus.’» Porque isto diz o Senhor, «Soltai gritos de júbilo por Jacob. Aclamai a primeira das nações! Fazei ressoar louvores, exclamando: ‘Ó Senhor salva o teu povo, o resto de Israel’. Eis que os trarei do país do Norte e os congregarei dos confins da terra. O cego e o coxo, a mulher grávida e a que deu à luz, virão entre eles. Hão-de voltar em grande multidão. Entre lágrimas partiram, mas fá-los-ei voltar em grande consolação; conduzi-los-ei às torrentes de água, por caminhos direitos em que não tropeçarão; porque sou para Israel como um pai, e Efraim é o meu primogénito. Povos, escutai a palavra do Senhor ! Levai a notícia às ilhas longínquas e dizei: ‘Aquele que dispersou Israel vai reuni-lo e guardá-lo como o pastor ao seu rebanho.’ Porque o Senhor resgatou Jacob e libertou-o das mãos de um mais forte. Regressarão jubilosos às alturas de Sião e afluirão aos bens do Senhor, ao trigo, ao vinho e ao azeite, às crias de ovelhas e de vacas. A sua alma será como um jardim bem regado, e não voltarão a desfalecer. Então, a jovem alegrar-se-á, bailando; jovens e velhos partilharão do seu júbilo. Converterei o seu pranto em exultação, hei-de consolá-los, e aliviá-los das suas penas. Alimentarei os sacerdotes com saborosos manjares, e o meu povo há-de saciar-se dos meus bens» – oráculo do Senhor. Assim fala o Senhor, «Ouvem-se, em Ramá, lamentações e amargos gemidos. É Raquel que chora, inconsolável, os seus filhos que já não existem.» Isto diz o Senhor, «Cessa de gemer, enxuga as tuas lágrimas! Pois haverá recompensa para as tuas penas – oráculo do Senhor. Eles voltarão do país inimigo. Tens ainda uma esperança de futuro oráculo do Senhor. Os teus filhos voltarão à pátria. Sim, ouço os gemidos de Efraim: ‘Tu corrigiste-me e eu aceitei a correcção, como um novilho indomável. Converte-me e eu deixar-me-ei converter, porque Tu és o Senhor, meu Deus. Porque me afastei, depois arrependi-me, e ao compreender, castiguei o meu corpo. Sinto-me envergonhado e confundido, pois carrego a desonra da minha juventude.’ Sim, Efraim é o meu filho querido, o meu menino muito amado. Quanto mais o repreendo, mais me recordo dele. Por isso, as minhas entranhas se comovem e Eu terei compaixão dele» – oráculo do Senhor. «Levanta sinais, põe postes indicadores, presta atenção ao caminho, à senda que percorres. Volta, donzela de Israel, volta às tuas cidades. Até quando andarás vagabunda, ó filha rebelde? Eis que o Senhor criou algo de novo sobre a terra: é a esposa que seduzirá o esposo.» Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: «Quando Eu tiver mudado a vossa sorte, voltarão a dizer na terra de Judá e nas suas cidades: ‘Que o Senhor te abençoe, mansão de justiça, montanha santa!’ Em Judá e nas suas cidades habitarão juntamente os lavradores e os que se deslocam com o rebanho, pois saciarei os fatigados e matarei a fome aos desfalecidos. Então, despertei e reparei quão doce tinha sido o meu sono! Dias virão em que semearei em Israel e em Judá semente de homens e semente de animais – oráculo do Senhor. E, assim como vigiei sobre eles para arrancar e demolir, para destruir, arruinar e afligir, do mesmo modo vigiarei sobre eles para construir e plantar – oráculo do Senhor. Nesses dias, não mais se dirá: ‘Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que ficaram embotados.’ Pois, cada um morrerá por causa do seu próprio pecado e, se alguém comer uvas verdes, esse terá a dor de dentes. Dias virão em que firmarei uma nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá – oráculo do Senhor. Não será como a Aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto, aliança que eles não cumpriram, embora Eu fosse o seu Deus – oráculo do Senhor. Esta será a aliança que estabelecerei, depois desses dias, com a casa de Israel – oráculo do Senhor, imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Ninguém ensinará mais o seu próximo ou o seu irmão, dizendo: ‘Aprende a conhecer o Senhor !’ Pois todos me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, porque a todos perdoarei as suas faltas, e não mais lembrarei os seus pecados» – oráculo do Senhor. Assim fala o Senhor, que estabelece o Sol para iluminar o dia; que manda à Lua e às estrelas que iluminem a noite; que agita o mar e as suas ondas rugem. O seu nome é Senhor do universo: «Se algum dia deixarem de subsistir estas leis diante de mim, então também a linhagem de Israel deixará de ser diante de mim um povo» – oráculo do Senhor. Isto diz o Senhor, «Se se podem medir os céus nas alturas e perscrutar os fundamentos da terra em profundidade, então também Eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por causa de tudo o que fizeram» – oráculo do Senhor. Dias virão em que será reedificada a cidade do Senhor, desde a torre de Hananiel até à porta do Ângulo – oráculo do Senhor. O cordel de medir será estendido até à colina de Gareb e dará volta a Goá. Todo o vale dos cadáveres e das cinzas, e todos os campos até à torrente do Cédron e até ao ângulo da porta dos Cavalos, a oriente, tudo isto será consagrado ao Senhor; não será devastado, nem jamais destruído. Palavra que foi dirigida a Jeremias, pelo Senhor, no décimo ano do reinado de Sedecias, rei de Judá, que corresponde ao décimo oitavo ano de Nabucodonosor. Nessa altura, o exército do rei da Babilónia sitiava Jerusalém, e o profeta Jeremias estava detido no átrio da prisão que existia no palácio real. Sedecias, rei de Judá, mandara-o prender, dizendo-lhe: «Porque profetizas desta forma: Assim fala o Senhor, ‘Vou entregar esta cidade ao rei da Babilónia, que se apoderará dela’? Porque afirmas que Sedecias, rei de Judá, não se livrará das mãos dos caldeus, mas cairá sob o poder do rei da Babilónia e falará com ele cara a cara, e os seus olhos verão os dele? Dizes ainda, da parte de Deus: ‘Sedecias será levado para a Babilónia e ali permanecerá até que Eu me ocupe dele. Se entrardes em guerra com os caldeus, nada conseguireis.’» Jeremias respondeu: «Eu recebi a palavra do Senhor, ‘Eis que virá Hanamiel, filho do teu tio Chalum, a fim de te propor a compra do campo em Anatot, porque a ti pertence o direito de resgate para o comprar.’ E Hanamiel, meu primo, veio visitar-me no cárcere, tal como tinha anunciado o Senhor. E disse-me: ‘Compra o meu campo de Anatot, na terra de Benjamim, porque compete-te a ti, por direito, resgatá-lo e adquiri-lo. Compra-o’. Compreendi que isto era vontade do Senhor. Comprei, então, o campo de Anatot a meu primo, Hanamiel, pagando-lhe dezassete siclos de prata. Escrevi, então, o contrato, selei-o, chamei testemunhas e pesei o dinheiro na balança. A seguir, tomei a escritura de venda selada, de acordo com as normas legais, e sua cópia aberta. Entreguei o contrato de venda a Baruc, filho de Néria, filho de Masseias, em presença de Hanamiel, meu primo, das testemunhas signatárias do contrato de venda e de todos os judeus que estavam no átrio da prisão. E dei esta ordem a Baruc, diante deles, dizendo: ‘Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Toma estes documentos, esta escritura de venda selada e esta cópia aberta, e mete-os numa vasilha de barro, a fim de que se conservem por muito tempo. Porque, eis o que diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: Ainda se hão-de comprar casas, campos e vinhas nesta terra.’» Depois de entregar a Baruc, filho de Néria, o contrato de venda, dirigi ao Senhor esta oração: «Ah! Senhor Deus, foste Tu que fizeste o céu e a terra com o teu grande poder e o teu braço estendido! Para ti nada é impossível! Praticas a misericórdia por mil gerações, mas castigas o pecado dos pais nos filhos que lhes sucedem, Deus grande e poderoso, cujo nome é Senhor do universo! Grande nos desígnios e poderoso nas realizações, os teus olhos estão atentos à conduta dos homens, para retribuíres a cada um segundo os seus actos e os frutos do seu proceder. Tu realizaste sinais e prodígios na terra do Egipto, e depois, até ao dia de hoje, em Israel e em todos os homens; e conquistaste para ti um nome glorioso que permanece ainda hoje. Tu fizeste sair do Egipto o teu povo, Israel, com prodígios e milagres, com mão forte e braço estendido e com grande terror! Tu deste-lhes esta terra, tal como tinhas prometido aos seus antepassados, terra que mana leite e mel! Eles entraram e tomaram posse dela; mas não escutaram a tua voz, nem observaram a tua lei; não cumpriram nada do que lhes impuseste. Por isso, caíram sobre eles todas estas calamidades! Eis que as máquinas de guerra se aproximam da cidade para a assaltarem. E a cidade vai ser entregue nas mãos dos caldeus, que a atacam com a espada, a fome e a peste. O que predisseste está a acontecer. E eis que Tu o vês! Não obstante, Tu, Senhor Deus, dizes-me: ‘Compra o campo a peso de dinheiro, perante testemunhas, enquanto a cidade está prestes a cair nas mãos dos caldeus!’» A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: «Eu sou, na verdade, o Senhor, o Deus de todas as criaturas. Haverá, pois, algo impossível para mim? Por isso, isto diz o Senhor, Vou entregar esta cidade nas mãos dos caldeus e na mão de Nabucodonosor, rei da Babilónia que a tomará. Os caldeus, que estão a combater contra a cidade, entrarão nela, pôr-lhe-ão fogo e incendiarão as casas em cujos terraços foram feitos sacrifícios a Baal e libações a deuses estranhos, para me provocarem. Porque os filhos de Israel e os de Judá só praticaram, desde a sua juventude, o mal diante dos meus olhos; pois os israelitas irritaram-me com as obras das suas mãos – oráculo do Senhor. Esta cidade, desde o dia em que foi construída até hoje, tem provocado a minha ira e a minha indignação, de modo que a afasto da minha presença, por causa de todo o mal cometido pelos filhos de Israel e de Judá, para me irritarem, eles, os seus reis, os seus príncipes, os seus sacerdotes, e os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém. Eles voltaram-me as costas e não o rosto. Repreendi-os constantemente, mas eles não escutaram os meus avisos. E colocaram os seus ídolos no templo onde é invocado o meu nome, profanando-o. E construíram altares a Baal no vale de Ben-Hinom, para aí imolarem os filhos e as filhas em honra de Moloc, coisa que nunca lhes mandei nem me passou pela mente cometer semelhantes abominações, levando Judá a pecar. Agora, por causa disto, assim diz o Senhor, Deus de Israel, a esta cidade, da qual vós dizeis que será entregue nas mãos do rei da Babilónia, pela espada, pela fome e pela peste: ‘Eis que vou reuni-los de todas as terras, para onde os exilei no meu furor, na minha ira, na minha grande indignação; hei-de conduzi-los a este lugar para que nele habitem em segurança. Eles serão o meu povo, e Eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e um comportamento íntegro, para que sempre me reverenciem, para felicidade deles e dos seus descendentes. Farei com eles uma aliança eterna, e não deixarei de lhes fazer bem; infundirei no seu coração o meu temor para que não se afastem de mim. A minha alegria será fazer-lhes bem; estabelecê-los-ei solidamente nesta terra, com todo o meu coração e com toda a minha alma.’» Porque isto diz o Senhor, «Assim como fiz descer sobre este povo esta grande calamidade, também farei vir sobre ele todo o bem que lhe prometo. Serão comprados campos nesta terra, da qual dizeis ser um deserto sem homens, nem animais, entregue nas mãos dos caldeus. Serão comprados por dinheiro e registados em contratos, selados perante testemunhas, no território de Benjamim, nos arredores de Jerusalém, nas cidades de Judá, nas cidades da montanha e nas cidades da planície e nas do Négueb, porque Eu mudarei a sua sorte» – oráculo do Senhor. A palavra do Senhor foi dirigida, pela segunda vez, a Jeremias, quando ainda estava detido no átrio da prisão: «Assim fala o Senhor que criou a terra, que a modelou e consolidou, cujo nome é o Senhor, ‘Invoca-me, e Eu te responderei e te revelarei coisas grandes e misteriosas, que não conheces.’» Porque isto diz o Senhor, Deus de Israel, acerca das casas desta cidade e dos palácios dos reis de Judá, que foram demolidos pelas fortificações e pelas armas: «Agora vêm os caldeus lutar contra ela, enchendo-a com os cadáveres dos homens que feri na minha ira e na minha cólera, e por cuja maldade desviei a minha face desta cidade. Eu mesmo vou restabelecê-la e curá-la, e proporcionar-lhe abundância de paz e fidelidade. Mudarei a sorte de Judá e de Israel, e restabelecê-los-ei como no princípio. Purificá-los-ei de todos os pecados que cometeram contra mim e vou perdoar-lhes todas as suas faltas que cometeram contra mim e com as quais me ofenderam. E isto será para mim motivo de alegria, de louvor e de glória para todas as nações da terra, que ouvirão contar todos os bens que Eu lhes fiz. Ficarão possuídas de temor e de admiração, ao verem o bem e a prosperidade de que os vou cumular.» Assim fala o Senhor, «Neste lugar – que vós dizeis ser um deserto sem homens nem animais – nas cidades de Judá e nas ruas desoladas de Jerusalém, sem homens e sem animais, ouvir-se-ão novamente gritos de alegria, cânticos de júbilo, a voz do esposo e da esposa, aclamações dos que dirão, ao entrar no templo do Senhor, em acção de graças: ‘Louvai o Senhor do universo, porque Ele é bom, e o seu amor é eterno’, pois Eu restituirei esta terra ao seu anterior estado» – oráculo do Senhor. Eis o que diz o Senhor do universo: «Neste lugar, que é deserto, sem homens e sem animais, e em todas as suas cidades, haverá de novo pastagens para os pastores apascentarem os seus rebanhos. Nas cidades da montanha, da planície e do Négueb, no território de Benjamim, nos arredores de Jerusalém e nas cidades de Judá, ainda hão-de passar rebanhos ao alcance da mão de quem os conta» – oráculo do Senhor. «Eis que virão dias em que cumprirei a promessa favorável que fiz à casa de Israel e à casa de Judá oráculo do Senhor. Nesses dias e nesse tempo, suscitarei de David um rebento de justiça, que praticará o direito e a equidade no país. Nesses dias, Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome com o qual será chamada: ‘Senhor nossa justiça.’» Porque isto diz o Senhor, «Não faltará a David um sucessor que se sente no trono da casa de Israel. E dos descendentes dos sacerdotes e dos levitas, não faltará jamais um homem que me ofereça holocaustos, incense as oferendas e celebre o sacrifício quotidiano.» Depois, foi dirigida a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: «Assim fala o Senhor, Se puderdes quebrar a minha aliança com o dia e com a noite, de modo que não surja o dia e a noite no seu devido tempo, também poderá ser quebrada a aliança que fiz com David, meu servo, de modo que não terá um filho que se sente no seu trono, e a que fiz com os sacerdotes e levitas, meus ministros. Tal como as estrelas do céu não se podem enumerar, nem a areia do mar se pode calcular, assim multiplicarei a descendência de David, meu servo, e os levitas que me servem.» A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: «Não reparaste no que diz este povo? Dizem que as duas famílias que o Senhor tinha escolhido, foram por Ele rejeitadas! É assim que eles desprezam o meu povo, de forma que já não o consideram como nação.» Isto diz o Senhor, «Só se Eu não mantivesse aliança com o dia e com a noite e não regulasse as leis do céu e da terra, é que Eu poderia rejeitar a descendência de Jacob e de David, meu servo, e não escolher da sua descendência chefes da estirpe de Abraão, de Isaac e de Jacob! Com efeito, farei voltar os seus exilados e terei compaixão deles.» Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, enquanto Nabucodonosor, rei da Babilónia, com todo o seu exército e todos os reinos da terra, que lhe estavam submetidos, e com todos os povos, combatiam contra Jerusalém e todas as suas cidades: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Vai procurar Sedecias, rei de Judá, e diz-lhe: Assim fala o Senhor: ‘Eis que vou entregar esta cidade nas mãos do rei da Babilónia, que a incendiará. Nem tu lhe poderás escapar; serás preso e entregue nas suas mãos. Verás o rei da Babilónia, face a face, que de viva voz te falará, e serás levado para a Babilónia.’ Apesar de tudo, escuta, Sedecias, rei de Judá, a palavra do Senhor ! Assim fala o Senhor a teu respeito: Não morrerás à espada. Morrerás em paz e, assim como foram queimados perfumes em honra dos teus pais, os reis que te precederam, assim também queimarão perfumes em tua honra e te chorarão, dizendo: ‘Ai, senhor!’ Sou Eu que o declaro» – oráculo do Senhor. Tudo isto transmitiu Jeremias a Sedecias, rei de Judá, em Jerusalém, enquanto o exército do rei da Babilónia sitiava Jerusalém e todas as restantes cidades de Judá, assim como Láquis e Azeca, últimas fortalezas de Judá que ainda resistiam. Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, depois que o rei Sedecias fez um pacto com o povo de Jerusalém, para proclamar a liberdade, a fim de cada um libertar o seu escravo ou escrava hebreus, para que nenhum judeu fosse escravo do seu irmão. Todos os chefes e todo o povo aceitaram este acordo para conceder a liberdade aos seus escravos e escravas e a não mais exercer domínio sobre eles. Obedeceram e puseram-nos em liberdade. Mais tarde, porém, arrependeram-se e retomaram os seus escravos e escravas, que tinham libertado, reduzindo-os de novo ao estado de escravidão. Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nos seguintes termos: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: No dia em que fiz sair os vossos pais da terra do Egipto, da casa da escravidão, estabeleci com eles uma aliança, dizendo-lhes: ‘Ao fim de sete anos, cada um emancipará o seu irmão hebreu que lhe tiver sido vendido. Servir-te-á durante seis anos, e depois conceder-lhe-ás a liberdade.’ Porém, os vossos pais não me ouviram nem prestaram atenção. Agora, fizestes o que é agradável aos meus olhos, proclamando a liberdade cada um para o seu próximo, como conclusão da aliança que fizestes na minha presença, no templo, em que é invocado o meu nome. Mas depois voltastes atrás, profanastes o meu nome, tornando a tomar cada um o seu escravo e a sua escrava que tínheis deixado ir livres, para de novo os reduzirdes à escravidão.» Por isso, assim fala o Senhor, «Vós não me obedecestes no que respeita à proclamação da liberdade dos vossos irmãos. Eis que Eu vou proclamar a libertação pela espada, pela peste e pela fome, transformando-vos em objecto de horror para todos os reinos da terra – oráculo do Senhor. Os homens que violaram a minha aliança, e não observaram as cláusulas do pacto celebrado na minha presença, tratá-los-ei como o novilho que é cortado em duas partes, para passar pelo meio das suas metades. Os chefes de Judá e de Jerusalém, os eunucos e os sacerdotes, e todo o povo da terra, que passaram pelo meio das duas metades do novilho, entregá-los-ei nas mãos dos seus inimigos e nas dos que procuram tirar-lhes a vida. E entregarei os seus cadáveres como pasto às aves do céu e aos animais da terra. Quanto a Sedecias, rei de Judá, entregá-lo-ei, juntamente com os seus príncipes, nas mãos dos seus inimigos e nas mãos dos que procuram tirar-lhes a vida, nas mãos do exército do rei da Babilónia, que acaba de se retirar. Vou dar ordens para que voltem a esta cidade – oráculo do Senhor. Hão-de sitiá-la e incendiá-la, tomando-a de assalto. E transformarei as cidades de Judá em lugar deserto, sem habitantes!» Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: «Vai procurar a família dos recabitas. Fala-lhes e leva-os a uma das salas do templo do Senhor e dá-lhes vinho a beber.» Então, tomei Jazanias, filho de Jeremias, filho de Habacenias, seus irmãos e todos os seus filhos e toda a família dos recabitas. Levei-os ao templo, à sala dos filhos de Hanan, filho de Jigdalias, homem de Deus, junto da sala dos chefes, por cima da de Masseias, filho de Chalum, o porteiro. Pus diante dos filhos da família dos recabitas canecas cheias de vinho e copos, e disse-lhes: «Bebei vinho!» Eles, porém, responderam: «Não bebemos vinho, porque Jonadab, filho de Recab, nosso pai, assim nos ordenou: ‘Jamais bebereis vinho, vós e os vossos filhos. Não construireis casa, não semeareis, não plantareis nem possuireis vinhas, mas habitareis sempre em tendas, a fim de que, por muito tempo, possais viver numa terra, na qual permaneceis como estrangeiros.’ Temos, pois, obedecido à voz de Jonadab, filho de Recab, nosso pai, em todas as coisas que nos mandou. Não bebemos vinho em toda a nossa vida, nós, as nossas esposas, os nossos filhos e filhas; não construímos casas para habitar nelas, não temos vinhas, nem campos de sementeiras; mas moramos em tendas e temos obedecido em tudo o que o nosso pai Jonadab nos mandou. Porém, quando Nabucodonosor, rei da Babilónia, invadiu o país, dissemos: ‘Entremos em Jerusalém para fugir dos exércitos dos caldeus e dos arameus.’ É por isso que habitamos em Jerusalém.» Então, foi dirigida a palavra do Senhor a Jeremias: «Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Vai e diz ao povo de Judá e aos habitantes de Jerusalém: ‘Não recebereis vós a minha repreensão e não obedecereis à minha palavra?’ – Oráculo do Senhor. Cumpram-se as determinações de Jonadab, filho de Recab, que proibiu os seus filhos de beberem vinho. E eles não bebem até hoje, porque obedecem às ordens do seu pai. Quanto a mim, que não cesso de vos falar, não me obedeceis. Enviei-vos, desde o princípio, os profetas, meus servos, para insistentemente vos dizer: ‘Desviai-vos do mau caminho, reformai a vossa vida. Não sigais atrás de deuses estrangeiros para os adorar. Assim, habitareis na terra que vos dei, a vós e a vossos pais. Porém, vós não me destes ouvidos, nem me quisestes escutar. Realmente, os filhos de Jonadab, filho de Recab, respeitaram as ordens de seu pai, mas este povo não me obedeceu!’ Por isso, assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Eis que farei vir sobre Judá e sobre os habitantes de Jerusalém os flagelos com que os ameacei, porquanto lhes falei e não me ouviram e, quando os chamei, não me responderam.’» Então, Jeremias disse à família dos recabitas: «Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Já que obedecestes à ordem de Jonadab, vosso pai, e observastes tudo o que ele vos prescreveu e fazeis tudo de acordo com as suas ordens, por isso, assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Não faltarão descendentes de Jonadab, filho de Recab, que estejam sempre na minha presença.’» No quarto ano de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: «Toma um rolo do livro e escreve nele todos os oráculos que Eu te disse acerca de Israel e de Judá, e de todas as nações, desde o dia em que te falei, no tempo de Josias, até ao dia de hoje. Quando o povo de Judá compreender todo o mal que lhe pretendo fazer, talvez cada um se afaste do seu perverso caminho, de modo que Eu lhes possa perdoar as suas iniquidades e os seus pecados.» Então, Jeremias chamou Baruc, filho de Néria, e Baruc escreveu, da parte de Jeremias, no rolo do livro, todas as palavras que o Senhor lhe tinha dito. Em seguida, Jeremias deu esta ordem a Baruc: «Estou impossibilitado de me dirigir ao templo do Senhor. Vai, pois, tu, num dia de jejum, e lê o rolo em que escreveste as palavras do Senhor, que te ditei, diante do povo e da gente de Judá, vinda das suas cidades ao templo do Senhor. Talvez eles dirijam súplicas ao Senhor e se convertam dos seus maus caminhos, porque grande é a indignação e grande o furor com que o Senhor ameaça este povo.» Baruc, filho de Néria, executou pontualmente a ordem do profeta Jeremias, lendo no templo os oráculos do Senhor escritos no rolo. No quinto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, no nono mês, foi decretado um jejum em honra do Senhor para toda a população de Jerusalém e para todos os que se dirigiam das cidades de Judá a Jerusalém. Então, Baruc leu no livro as palavras de Jeremias, no templo do Senhor, na sala do escriba Guemarias, filho de Chafan, sala situada no vestíbulo superior, à entrada da Porta Nova do templo, na presença de todo o povo. Quando Miqueias, filho de Guemarias, filho de Chafan, ouviu a leitura do livro de todos os oráculos do Senhor, foi ao palácio real, à câmara do secretário, onde estavam reunidos todos os dignitários: o secretário Elichamá, Delaías, filho de Chemaías, Elnatan, filho de Acbor, Guemarias, filho de Chafan, Sedecias, filho de Hananias, e todos os notáveis. Miqueias referiu-lhes tudo o que ouvira ler a Baruc do livro, diante do povo. Os chefes enviaram, então, Judi, filho de Natanias, filho de Chelemias, filho de Cuchi, para dizer a Baruc: «Toma o livro, pelo qual leste diante do povo, e vem ter connosco.» Baruc, filho de Néria, tomou o livro na mão e foi ter com eles. Disseram-lhe: «Senta-te e lê esse livro para nós.» E Baruc leu na presença deles. Ao ouvirem estes oráculos, entreolharam-se, atónitos, e disseram a Baruc: «Devemos comunicar todas estas coisas ao rei.» Depois interrogaram Baruc: «Declara-nos como escreveste todos estes oráculos.» Baruc respondeu-lhes: «Ele ditava-me todas estas palavras, e eu escrevia-as com tinta neste rolo.» Então, os dignitários disseram a Baruc: «Vai e esconde-te com Jeremias, e que ninguém saiba onde estais.» Em seguida, deixando guardado o rolo no gabinete do secretário Elichamá, foram ter com o rei, ao átrio do palácio, e transmitiram-lhe todos os oráculos. O rei mandou Judi buscar o livro; levando-o da sala do secretário Elichamá, Judi leu-o na presença do rei e de todos os dignitários que estavam ao serviço do rei. O rei estava sentado no palácio de Inverno – era o nono mês – e tinha um braseiro aceso na sua frente. À medida que Judi lia três ou quatro colunas, o rei cortava-as com o canivete do escriba e atirava-as às chamas do braseiro, até que todo o rolo se queimou no fogo do braseiro. Nem o rei nem os seus dignitários, ao ouvirem todas estas palavras, temeram ou rasgaram as suas vestes. E, embora Elnatan, Delaías e Guemarias suplicassem ao rei para não queimar o livro, ele não os quis ouvir. Depois, o rei ordenou ao príncipe real Jeramiel, a Seraías, filho de Azeriel, e a Chelemias, filho de Abdiel, que prendessem o escriba Baruc e o profeta Jeremias. Mas o Senhor escondeu-os. Depois que o rei queimou o rolo com os oráculos escritos por Baruc e ditados por Jeremias, o Senhor dirigiu a palavra a Jeremias, nestes termos: «Toma outro rolo e escreve nele todos os oráculos contidos no primeiro, que foi queimado por Joaquim, rei de Judá. E dirás a Joaquim, rei de Judá: Eis o que diz o Senhor, Queimaste aquele rolo, dizendo: ‘Porque escreveste nele a ameaça de que o rei da Babilónia virá arruinar este país, exterminar os seus homens e os animais?’ Pois bem, isto diz o Senhor contra Joaquim, rei de Judá: ‘Ele não terá descendente que se sente no trono de David, e o seu cadáver ficará exposto ao calor do dia e ao frio da noite. Castigá-lo-ei pelas suas iniquidades, a ele, à sua descendência e aos seus servos. Farei cair sobre eles, sobre os habitantes de Jerusalém e sobre o povo de Judá, todos os flagelos com que os ameacei, sem que me tenham ouvido.’» Jeremias tomou outro rolo e entregou-o a Baruc, filho de Néria, o escriba, para que escrevesse nele, a ditado de Jeremias, todos os oráculos contidos no rolo lançado ao fogo por Joaquim, rei de Judá. Além disso, foram acrescentados muitos oráculos semelhantes. O rei Sedecias, filho de Josias, sucedeu a Jeconias, filho de Joaquim, tendo sido proclamado rei do país de Judá por Nabucodonosor, rei da Babilónia. Mas nem ele, nem os seus ministros, nem a população do país escutaram os oráculos que lhe transmitira o Senhor, por intermédio do profeta Jeremias. O rei Sedecias enviou Jucal, filho de Chelemias, e o sacerdote Sofonias, filho de Masseias, ao profeta Jeremias para lhe dizer: «Intercedei por nós junto do Senhor, nosso Deus.» Jeremias andava livremente no meio do povo, pois ainda não o tinham metido na prisão. Entretanto, o exército do faraó saiu do Egipto e quando os caldeus – que sitiavam Jerusalém – ouviram a notícia levantaram o cerco à cidade. Então, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Jeremias nos seguintes termos: «Isto diz o Senhor Deus de Israel: Assim responderás ao rei de Judá que te enviou a consultar-me: ‘Olha que o exército do Faraó, que saiu para vos socorrer, vai regressar à sua terra, o Egipto. Os caldeus voltarão a atacar esta cidade, tomá-la-ão e irão lançar-lhe fogo.’ Oráculo do Senhor, Não queirais enganar-vos, julgando que os caldeus levantarão o cerco; eles não se irão embora. Mas ainda que derrotásseis todo o exército dos caldeus que combate contra vós, e ficassem deles somente alguns feridos, levantar-se-iam, cada um da sua tenda, e lançariam fogo a esta cidade.» Quando o exército dos caldeus levantou o cerco a Jerusalém, por causa da aproximação do exército egípcio, Jeremias tentou sair de Jerusalém para ir ao território de Benjamim, a fim de escapar dali no meio do povo. Ao chegar à porta de Benjamim, encontrava-se lá o chefe da guarda, chamado Jerias, filho de Chelemias, filho de Hananias, e prendeu o profeta Jeremias, dizendo: «Então, tu passas para o lado dos caldeus!» Jeremias respondeu: «É mentira! Eu não me passo para os caldeus.» Jerias, porém, não o quis ouvir e, prendendo o profeta, levou-o à presença dos chefes. As autoridades irritaram-se contra Jeremias e, depois de o açoitarem, prenderam-no na casa do escriba Jónatas, transformada em prisão. E assim entrou Jeremias num calaboiço subterrâneo, onde esteve durante muitos dias. O rei Sedecias mandou-o buscar, a fim de o interrogar secretamente no seu palácio. Perguntou-lhe: «Tens, porventura, algum oráculo do Senhor ?» Jeremias respondeu-lhe: «Sim, tenho. Serás entregue nas mãos do rei da Babilónia.» Jeremias disse ainda ao rei Sedecias: «Que delito cometi contra ti, contra os teus ministros e contra este povo, para me meterdes na prisão? Onde estão os vossos profetas que vos profetizam, dizendo: ‘O rei da Babilónia não virá contra vós e contra esta terra’? Agora, escute-me, majestade; que o rei acolha favoravelmente a minha súplica e não me faça voltar para a casa do escriba Jónatas, para que não morra lá.» Então, o rei Sedecias ordenou que Jeremias fosse retido no pátio da guarda e que lhe dessem todos os dias uma torta de pão, trazido da rua dos padeiros, enquanto houvesse pão na cidade. Assim, Jeremias ficou no pátio da guarda. Chefatias, filho de Matan, e Godolias, filho de Pachiur, e Jucal, filho de Chelemias, e Pachiur, filho de Malquias, ouviram as palavras que Jeremias dirigira a todo o povo: «Assim fala o Senhor, ‘Aquele que ficar nesta cidade morrerá pela espada, pela fome e pela peste; e aquele que sair para se entregar aos caldeus será tomado como despojo, mas terá a vida salva.’ Oráculo do Senhor, ‘A cidade será entregue nas mãos do exército do rei da Babilónia, para que a conquiste.’» Então, os dignitários disseram ao rei: «Este homem deve ser morto, porque desanima os homens de guerra que ficaram na cidade e todo o povo, proferindo semelhantes palavras. Este homem não busca o bem-estar do povo, mas a sua desgraça.» O rei Sedecias respondeu-lhes: «Aí o tendes nas vossas mãos, pois o rei nada vos pode recusar.» Tomaram, então, Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à cisterna do príncipe Malquias, que fica no pátio da guarda. Não havia água na cisterna, mas apenas lodo; e Jeremias ficou atolado no lodo. Entretanto, um dos criados do rei, um eunuco etíope que vivia no palácio real, soube que tinham lançado Jeremias na cisterna. O rei estava sentado à porta de Benjamim; o criado do rei saiu do palácio real e falou ao rei, dizendo: «Ó rei, meu senhor, estes homens procederam mal contra o profeta Jeremias, metendo-o na cisterna. Ele vai certamente morrer de fome, porque já não há mais pão na cidade.» Então o rei respondeu-lhe: «Leva daqui contigo trinta homens e faz com que retirem o profeta Jeremias da cisterna, antes que morra.» O criado do rei tomou consigo os homens, entrou no vestiário do palácio real e dali tirou pedaços de pano e trapos. E, tomando uma corda, deitou-os abaixo, à cisterna, onde estava Jeremias. O criado do rei, o etíope, disse a Jeremias: «Mete estes pedaços de pano e os trapos debaixo dos teus braços, por baixo das cordas.» E assim fez Jeremias. Então, puxaram Jeremias por meio das cordas e tiraram-no para fora da cisterna. E Jeremias ficou no pátio da guarda. O rei Sedecias ordenou que lhe trouxessem o profeta Jeremias e o conduzissem à terceira entrada do templo. Ali, o rei disse a Jeremias: «Tenho uma coisa a perguntar-te; não me ocultes nada!» Jeremias disse a Sedecias: «Se eu te responder, certamente me matarás; e se te der um conselho, certamente não me ouvirás.» Então, o rei Sedecias fez, em segredo, a Jeremias este juramento: «Pelo Deus vivo, Senhor que nos deu a vida, não te matarei nem te entregarei nas mãos dos que desejam a tua morte!» Então, Jeremias disse a Sedecias: «Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Se te entregares aos oficiais do rei da Babilónia, terás a vida salva e a cidade não será queimada; viverás tu e a tua família. Mas, se não te entregares aos oficiais do rei da Babilónia, esta cidade cairá nas mãos dos caldeus, que a incendiarão, e tu não escaparás das suas mãos.’» O rei Sedecias disse a Jeremias: «Tenho medo dos judeus que se passaram para o lado dos caldeus; temo que me entreguem nas mãos deles e me maltratem.» Respondeu-lhe Jeremias: «Não te entregarão. Ouve, portanto, a voz do Senhor, que eu te anuncio: Nada te acontecerá e terás a vida salva. Mas, se recusares entregar-te, eis o que o Senhor me revelou: Todas as mulheres que ficarem no palácio do rei de Judá serão entregues aos oficiais do rei da Babilónia. E elas dirão: ‘Enganaram-te, iludiram-te os teus bons amigos; os teus pés atolaram-se na lama e eles foram-se embora!’ Todas as tuas mulheres e os teus filhos serão entregues nas mãos dos caldeus, e tu não escaparás das suas mãos, mas serás preso pelo rei da Babilónia e a cidade será incendiada!» Então, Sedecias disse a Jeremias: «Que ninguém saiba do que falámos e não morrerás. Se os dignitários souberem que falei contigo e te vierem procurar, dizendo-te: ‘Conta-nos o que disseste ao rei e o que o rei te disse; nada nos ocultes, pois não te mataremos’, dir-lhes-ás: ‘Fui pedir ao rei para que não me fizesse voltar para a casa de Jonatan, para lá morrer.’» De facto, todos os dignitários foram ter com Jeremias e interrogaram-no, mas ele respondeu-lhes exactamente como lhe ordenara o rei. Deixaram-no, então, tranquilo, porque nada se tinha divulgado. Jeremias permaneceu no pátio da guarda, até ao dia em que Jerusalém foi tomada. No nono ano do reinado de Sedecias, rei de Judá, no décimo mês, Nabucodonosor, rei da Babilónia, chegou a Jerusalém, à frente de todo o seu exército, para a cercar. No décimo primeiro ano do reinado de Sedecias, no nono dia do quarto mês, foi aberta uma brecha na cidade. Então, entraram todos os oficiais do rei da Babilónia e tomaram posição junto à porta central. Eram eles Nergal-Sarécer, Samegar-Nebo, Sarsequim, chefe oficial, e Nergal-Sarécer, chefe dos eunucos, e todos os outros oficiais do rei da Babilónia. Quando Sedecias, rei de Judá, e todos os seus guerreiros os viram, puseram-se em fuga, saindo da cidade, durante a noite, pelo caminho do jardim real e pela porta que estava entre os dois muros, e seguiram o caminho do deserto. Porém o exército dos caldeus perseguiu-os e alcançou Sedecias nas planícies de Jericó. Prenderam-no e conduziram-no à presença de Nabucodonosor, rei da Babilónia, em Ribla, na terra de Hamat e ali decretou contra ele a sua sentença. O rei da Babilónia mandou, ali mesmo em Ribla, decapitar os filhos de Sedecias, à sua vista, e mandou também matar todos os nobres de Judá. Em seguida, mandou arrancar os olhos de Sedecias e algemou-o para o levar a Babilónia. Então, os caldeus incendiaram o palácio real e as casas particulares, e derrubaram as muralhas de Jerusalém. Nebuzaradan, chefe dos guardas, deportou para a Babilónia o que restava da população da cidade, os que se tinham rendido e o resto do povo. À gente pobre que nada possuía, Nebuzaradan, chefe dos guardas, deixou-os na terra de Judá e distribuiu-lhes, nesse dia, vinhas e campos. Nabucodonosor, rei da Babilónia, tinha dado esta ordem a Nebuzaradan, chefe dos guardas, a respeito de Jeremias: «Toma-o e põe sobre ele os teus olhos. Não lhe faças mal nenhum, mas concede-lhe tudo o que ele desejar.» Por este motivo, Nebuzaradan, chefe dos guardas, Nebuchazeban, chefe dos eunucos e Nergal-Sarécer, chefe oficial, e todos os oficiais do rei da Babilónia mandaram retirar Jeremias do pátio da guarda e entregaram-no a Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan, para que o levasse para a sua casa e pudesse habitar no meio do povo. Estando ainda Jeremias detido no pátio da guarda, foi-lhe dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Vai e diz a Ébed-Mélec, o etíope: Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Eis que vou executar contra esta cidade as predições que fiz para seu mal e não para seu bem. E cumprir-se-ão nesse dia, à tua vista. Porém, nesse dia Eu te salvarei e não serás entregue nas mãos dos homens que temes – oráculo do Senhor. Com certeza te livrarei, e não cairás morto à espada. Salvarás a tua vida, porque confiaste em mim» – oráculo do Senhor. Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, depois que Nebuzaradan, chefe dos guardas, o libertou em Ramá, onde ele estava acorrentado entre os exilados de Jerusalém e de Judá que iam desterrados para a Babilónia. O chefe dos guardas mandou que lhe levassem Jeremias e disse-lhe: «O Senhor, teu Deus, anunciou esta calamidade que caiu sobre este lugar. O Senhor cumpriu e executou, como tinha anunciado, pois vós pecastes contra o Senhor e não ouvistes a sua voz. Por isso, vos aconteceu tudo isto. Mas agora vou tirar as cadeias que tens nas tuas mãos. Se te agradar, vem comigo para a Babilónia, e eu cuidarei de ti. Mas, se preferes ficar, toda a terra fica à tua disposição, podes ir para onde melhor te parecer. Se preferes, regressa para a companhia de Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan, a quem o rei da Babilónia constituiu governador das cidades de Judá; habita, pois, com ele no meio do povo, ou onde melhor te aprouver.» O chefe dos guardas deu-lhe víveres e presentes e deixou-o livre. Partiu, pois, Jeremias para casa de Godolias, filho de Aicam, em Mispá, e habitou com ele no meio do povo que tinha ficado no país. Todos os chefes das guarnições que estavam fora da cidade e os seus homens souberam que o rei da Babilónia tinha nomeado Godolias, filho de Aicam, governador do país e lhe confiara os homens, as mulheres, as crianças e a gente humilde da terra que não tinham sido deportados para a Babilónia. Foram ter com Godolias, em Mispá: Ismael, filho de Natanias, Joanan e Jónatas, filhos de Caré, Seraías, filho de Tanumet, os filhos de Efai, de Netofa, e Jazanias, filho de Maacat, eles e os seus homens. Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan, jurou-lhes a eles e aos seus homens, dizendo: «Não tenhais receio em servir os caldeus. Ficai no país e servi o rei da Babilónia, e tudo vos correrá bem. Eu ficarei em Mispá para executar as ordens dos caldeus que nos forem enviadas. Mas vós, fazei a colheita do vinho, das frutas e do azeite e armazenai-os e permanecei nas cidades que ocupais.» Todos os judeus que habitavam em Moab, entre os filhos de Amon, na Idumeia e em todas as demais regiões, souberam também que o rei da Babilónia deixara um resto em Judá e que tinha nomeado para seu governador a Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan. Voltaram, então, todos os judeus desses lugares por onde andavam dispersos e chegaram à terra de Judá, junto de Godolias, em Mispá. E tiveram uma grande colheita de vinho e frutos. Joanan, filho de Caré, e todos os chefes do exército que estavam fora da cidade foram procurar Godolias a Mispá. Disseram-lhe: «Sabes que Baalis, rei dos filhos de Amon, encarregou Ismael, filho de Natanias, de te tirar a vida?» Porém, Godolias, filho de Aicam, não lhes deu crédito. Então, Joanan, filho de Caré, tomou à parte Godolias, em Mispá, e disse-lhe: «Irei e matarei Ismael, filho de Natanias, sem que ninguém o saiba, para evitar que ele te tire a vida, que sejam dispersos todos os judeus que se juntaram a ti e pereça o resto de Judá.» Mas Godolias, filho de Aicam, disse a Joanan, filho de Caré: «Não faças tal coisa. É mentira o que dizes de Ismael.» No sétimo mês, Ismael, filho de Natanias, filho de Elichamá, de ascendência real e um dos notáveis do rei, com dez homens, foi ter com Godolias, filho de Aicam, a Mispá e, enquanto ali comiam juntos, levantou-se Ismael, filho de Natanias, e os dez homens que estavam com ele e atacaram Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan. Assim morreu aquele que o rei da Babilónia nomeara governador do país. E Ismael matou também todos os judeus que estavam com Godolias, em Mispá, e igualmente todos os guerreiros caldeus que ali se encontravam. Dois dias depois da morte de Godolias, sem que ninguém ainda o soubesse, chegaram de Siquém, vindos de Silo e da Samaria, uns oitenta homens, de barba rapada, vestes rasgadas e o rosto desfigurado. Traziam ofertas e incenso para o templo do Senhor. Ismael, filho de Natanias, saiu de Mispá ao encontro deles, banhado em lágrimas. Quando chegou junto deles, disse-lhes: «Vinde a Godolias, filho de Aicam.» Porém, quando chegaram ao meio da cidade, Ismael, filho de Natanias, com os homens que estavam com ele, mandou-os matar e lançar para dentro de uma cisterna. Mas, entre eles, encontravam-se dez homens que disseram a Ismael: «Não nos mates porque temos escondidas no campo provisões de trigo, cevada, azeite e mel.» Então deixou-os e não os matou com os seus irmãos. A cisterna, em que Ismael lançara os cadáveres dos homens que matara, era muito grande e fora construída pelo rei Asa, quando se defendia contra Basa, rei de Israel. Foi esta cisterna que Ismael, filho de Natanias, encheu de cadáveres. Ismael aprisionou todos os que ainda restavam em Mispá: as filhas do rei e toda a população que lá ficara, entregue por Nebuzaradan, chefe dos guardas, aos cuidados de Godolias, filho de Aicam. Ismael, filho de Natanias, levou os cativos e pôs-se a caminho do território dos amonitas. Joanan, filho de Caré, e todos os comandantes das guarnições que estavam com ele souberam dos crimes que cometera Ismael, filho de Natanias. Reuniram, então, todos os seus homens a fim de perseguir Ismael, filho de Natanias, e alcançaram-no perto do grande lago de Guibeon. Quando o povo que Ismael levava cativo avistou Joanan, filho de Caré, e os oficiais que estavam com ele, encheu-se de alegria. E todo o povo que Ismael trouxera de Mispá abandonou-o e juntou-se a Joanan, filho de Caré. Entretanto, Ismael, filho de Natanias, conseguiu escapar a Joanan, com mais oito homens, fugindo para a terra dos filhos de Amon. Joanan, filho de Caré, e os oficiais de guerra que o acompanhavam, tomaram todos os sobreviventes de que Ismael, filho de Natanias, se apoderara em Mispá, depois de ter morto Godolias, filho de Aicam: guerreiros, mulheres, crianças e eunucos, que mandara regressar de Guibeon. Foram-se dali e detiveram-se no refúgio de Quimeam, nas proximidades de Belém, com a intenção de se dirigirem ao Egipto. Queriam evitar os caldeus, pois tinham medo deles, por causa de Ismael, filho de Natanias, ter assassinado Godolias, filho de Aicam, que o rei da Babilónia tinha nomeado governador do país. Então, todos os oficiais e Joanan, filho de Caré, e Jazanias, filho de Hosaías, e o resto do povo, desde o maior ao mais pequeno, foram dizer ao profeta Jeremias: «Ouve a nossa súplica e intercede por nós junto do Senhor, teu Deus, por todo este resto, porque de muitos que éramos ficámos poucos, como tu mesmo podes ver. Que o Senhor, teu Deus, nos mostre o caminho que devemos seguir e o que devemos fazer.» O profeta Jeremias respondeu-lhes: «De acordo; eu rogarei por vós ao Senhor, vosso Deus, segundo os vossos desejos. O que o Senhor me disser, eu vo-lo transmitirei fielmente; nada vos ocultarei.» Eles disseram a Jeremias: «Que o Senhor seja testemunha fiel e verdadeira contra nós, se não fizermos tudo o que o Senhor, teu Deus, te mandar dizer-nos! Seja coisa favorável ou adversa, obedeceremos à voz do Senhor, nosso Deus; pedimos-te que intercedas junto dele, para que sejamos bem sucedidos, obedecendo à voz do Senhor, nosso Deus.» Passados dez dias, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias. Ele chamou Joanan, filho de Caré, e todos os oficiais que estavam com ele e todo o povo, do maior ao mais pequeno, e disse-lhes: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel, a quem me enviastes a fim de lhe apresentar as vossas súplicas: Se permanecerdes neste país, Eu vos restaurarei e não vos destruirei. Plantar-vos-ei e não vos arrancarei, porque sinto pesar pelo mal que vos infligi. Não vos apavoreis por causa do rei da Babilónia, de quem tendes medo! Não o temais – oráculo do Senhor porque estou convosco para vos salvar e vos livrar das suas mãos. Obterei para vós a sua benevolência, e ele terá piedade de vós, deixando-vos habitar na vossa terra. Se, porém, desobedecendo à voz do Senhor, vosso Deus, disserdes: ‘Não habitaremos nesta terra!’ Se disserdes: ‘Iremos para o Egipto, onde não veremos as guerras, nem ouviremos o som da trombeta e onde o pão não mais nos faltará, e lá nos instalaremos!’; neste caso, escutai agora a palavra do Senhor, resto de Judá: Isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Se vos obstinais em partir para o Egipto a fim de lá habitar, a espada que vós aqui temeis atingir-vos-á na terra do Egipto; a fome que aqui vos aterroriza perseguir-vos-á no Egipto, e lá morrereis. Todos os que se obstinarem em ir para o Egipto, com o fim de ali habitar, morrerão pela espada, pela fome e pela peste; nenhum deles escapará ao castigo que farei cair sobre eles.’ Porque isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Assim como a minha ira e a minha cólera se lançou sobre os habitantes de Jerusalém, também se lançará sobre vós, se fordes para o Egipto. Vireis a ser objecto de imprecação e horror, de maldição e vergonha, e não tornareis a ver este lugar.’ Eis o que diz o Senhor, sobreviventes de Judá: Não entreis no Egipto! Sabei que hoje vos advirto solenemente. Enganastes-vos a vós mesmos quando me enviastes ao Senhor, vosso Deus, dizendo: ‘Intercede por nós ao Senhor, nosso Deus. Tudo o que o Senhor, nosso Deus, te disser, anuncia-no-lo e nós o faremos.’ Hoje eu vo-lo anunciei, mas não escutastes a voz do Senhor, vosso Deus, em nada daquilo que Ele me encarregou de vos transmitir. E agora ficai sabendo: morrereis pela espada, pela fome e pela peste nessa terra que escolhestes para nela habitar.» Quando Jeremias acabou de comunicar ao povo todas as palavras que o Senhor, seu Deus, lhe encarregara de transmitir, Azarias, filho de Hosaías, Joanan, filho de Caré, e todos os homens insolentes disseram a Jeremias: «É mentira o que dizes! O Senhor, nosso Deus, não te enviou a dizer-nos: ‘Não entreis no Egipto para habitardes lá.’ Mas é Baruc, filho de Néria, que te incita contra nós para nos entregar aos caldeus, para nos matar ou nos deportar para a Babilónia.» Joanan, filho de Caré, os chefes e todo o povo não escutaram a voz do Senhor para permanecerem na terra de Judá. Pelo contrário, Joanan, filho de Caré e os chefes do exército reuniram todos os sobreviventes de Judá, que tinham regressado de todas as nações para onde tinham sido dispersos, a fim de habitar novamente na terra de Judá: homens, mulheres e crianças, as filhas do rei e todos os que Nebuzaradan, chefe dos guardas, tinha deixado com Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan e com o profeta Jeremias, e Baruc, filho de Néria. Desobedecendo, assim, à voz do Senhor, partiram para o Egipto e chegaram a Taapanés. A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias em Taapanés, dizendo: «Toma nas tuas mãos pedras grandes e, na presença dos judeus, enterra-as debaixo do pavimento de tijolo, junto à entrada do palácio do faraó, em Taapanés, e diz-lhes: Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Vou mandar buscar o meu servo Nabucodonosor, rei da Babilónia, e porei o seu trono sobre as pedras que enterrei neste lugar, e ele estenderá sobre elas o seu tapete real. Ele virá e ferirá a terra do Egipto: O que é para a morte, à morte! O que é para o cativeiro, ao cativeiro! O que é para a espada, à espada! Lançará fogo aos templos dos deuses do Egipto e queimá-los-á; ele passará o Egipto a pente fino, tal como o pastor cata as pulgas do seu manto. E dali sairá em paz. Destruirá os obeliscos do templo do Sol, no Egipto, e incendiará os templos dos deuses do Egipto.’» Palavra que Jeremias recebeu para todos os judeus residentes no Egipto, em Migdol, em Taapanés, em Mênfis e na região de Patros: «Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: Vistes todos os males que fiz cair sobre Jerusalém e sobre todas as cidades de Judá. Hoje, elas estão arruinadas e sem habitantes, por causa das iniquidades que cometeram, irritando-me, incensando e prestando culto a deuses estranhos, que não conheciam, nem vós, nem vossos pais. Desde o início, e sem cessar, enviei-vos os profetas, meus servos, para vos dizer: ‘Não cometais esta abominação, que Eu detesto!’ Porém, não ouviram, nem prestaram atenção para se converterem das suas maldades, deixando de oferecer incenso a deuses estranhos. Então, a minha cólera e a minha ira atingiram as cidades de Judá e as ruas de Jerusalém que se transformaram em ruína e desolação até ao dia de hoje. E agora, isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Porque cometeis tão grande mal contra vós mesmos, de forma que no meio de Judá pereçam homens, mulheres, crianças e meninos de peito, a tal ponto que de vós não restarão sobreviventes? Pois me irritastes com as obras das vossas mãos, oferecendo incenso a deuses estranhos, na terra do Egipto, aonde viestes estabelecer-vos e assim provocais o vosso extermínio e vos tornais, entre todas as nações da terra, objecto de maldição e de vergonha. Esquecestes os crimes dos vossos pais, os crimes dos reis de Judá e das suas esposas, os vossos próprios crimes e os das vossas mulheres, cometidos na terra de Judá e nas ruas de Jerusalém? Até hoje, ainda não se arrependeram, não tiveram temor, nem cumpriram a minha lei, nem os mandamentos que vos dei, a vós e a vossos pais.’ Portanto, assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Eis que volto a minha face contra vós para vossa ruína e vou destruir Judá. Tomarei o resto de Judá que se obstinou em ir habitar no Egipto e todos perecerão na terra do Egipto, vítimas da espada e da fome. Destruí-los-ei desde o mais pequeno ao maior, pela espada e pela fome. Serão objecto de imprecação, de horror, de maldição e de vergonha. Castigarei os que habitam no Egipto, como castiguei os de Jerusalém, com a espada, a fome e a peste. E, dos sobreviventes de Judá que vieram estabelecer-se no Egipto, nenhum escapará nem sobreviverá para regressar à terra de Judá, à qual tanto aspiram voltar para lá morarem. Não voltarão, a não ser alguns fugitivos.’» Então, todos os homens que sabiam que as suas mulheres ofereciam incenso a deuses estrangeiros, e todas as mulheres presentes em grande número e todo o povo residente em Patros, no Egipto, responderam a Jeremias: «Nós não escutamos o que nos dizes em nome do Senhor, mas cumpriremos todas as promessas que fizemos de queimar incenso à rainha do céu e de lhe oferecer libações, tal como procedemos nós e os nossos antepassados, nossos reis e nossos chefes, nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. Então, tínhamos fartura de pão, vivíamos na abundância e não conhecíamos a desgraça. Porém, desde que deixámos de queimar incenso à rainha do céu, e de lhe oferecer libações, tudo nos falta e somos dizimados pela espada e pela fome. Quando queimávamos incenso à rainha do céu e lhe oferecíamos libações, foi, porventura, sem consentimento dos nossos maridos que fizemos as tortas com a sua imagem, e lhe fizemos libações?» Então, Jeremias falou a todo o povo, aos homens e às mulheres e a todos aqueles que lhe tinham dado esta resposta, dizendo: «Quanto ao incenso que queimastes nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém, vós e vossos pais, vossos reis e chefes e todo o povo, pensais que o Senhor não se recordava e não o tinha presente? O Senhor já não podia suportar por mais tempo a maldade dos vossos actos e das vossas abominações; por isso, a vossa terra foi convertida em ruína, espanto e maldição, sem habitantes até ao dia de hoje. E se vos adveio a calamidade presente, foi porque oferecestes incenso, pecastes contra o Senhor, não ouvistes a sua voz, não observastes as suas leis nem os seus preceitos.» Depois, Jeremias disse a todo o povo e a todas as mulheres: «Ouvi a palavra do Senhor, vós todos de Judá que residis no Egipto. Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: Vós e as vossas mulheres não só o dizeis com a boca, mas executai-lo com as mãos, dizendo: ‘Temos de cumprir as promessas que fizemos de oferecer incenso e libações em honra da rainha do céu’. Pois bem! Cumpri os vossos votos, mantendo as vossas promessas. Por isso, ouvi a palavra do Senhor, judeus que habitais no Egipto: Eis que juro pelo meu grande nome, diz o Senhor, que de nenhum modo será mais invocado o meu nome, em todo o Egipto, por nenhum homem de Judá, dizendo: ‘Pelo Senhor, Deus vivo’. Eis que vigiarei sobre eles para seu mal e não para seu bem. Todos os judeus que residem no Egipto morrerão pela espada e à fome, até ao seu total aniquilamento. Só um pequeno número escapará da espada, voltando do Egipto à terra de Judá. Então, os sobreviventes de Judá que vierem estabelecer-se no Egipto saberão qual é a palavra que se cumpre, se é a minha ou se é a deles. Eis o sinal pelo qual reconhecereis que vos pedirei contas neste lugar, para que saibais que verdadeiramente se cumprirão contra vós as minhas palavras de desgraça – oráculo do Senhor. Assim fala o Senhor, ‘Vou entregar o faraó Hofra, rei do Egipto, nas mãos dos seus inimigos, nas mãos dos que lhe querem tirar a vida, assim como entreguei Sedecias, rei de Judá, nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilónia, seu inimigo, que procurava tirar-lhe a vida.’» Palavra que o profeta Jeremias dirigiu a Baruc, filho de Néria, quando escreveu estes oráculos, ditados pelo profeta, no quarto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: «Isto te diz o Senhor, Deus de Israel, para ti, Baruc: Tu exclamas: ‘Desgraçado de mim! Pois o Senhor não faz mais que acrescentar dor à minha dor. Estou cansado de gemer e não encontro repouso!’ Eis o que lhe dirás: ‘Assim fala o Senhor, O que Eu tinha construído, Eu o destruo e o que tinha plantado, Eu o arranco; e isto em toda a terra’. E tu, pedes para ti grandes favores! Não os peças, porque vou enviar desgraças sobre todas as criaturas – oráculo do Senhor. Mas dar-te-ei a vida, como um despojo, em qualquer lugar para onde fores.» Palavras dirigidas pelo Senhor a Jeremias sobre as nações. Contra o Egipto, contra o exército do faraó Necao, rei do Egipto, que esteve nas margens do rio Eufrates, em Carquémis, e que foi derrotado por Nabucodonosor, rei da Babilónia, no quarto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: Preparai os escudos e broquéis, avançai para o combate. Atrelai os cavalos, montai, cavaleiros, ponde os capacetes, empunhai as lanças. Revesti as vossas couraças! Mas, que vejo eu? Estão aterrados, põem-se em fuga os seus guerreiros, foram batidos e fogem à pressa, sem olhar para trás! De todas as partes, o terror oráculo do Senhor. O mais ágil não pode fugir, o mais forte não escapará! Ao norte, nas margens do Eufrates, tropeçaram e caíram. Quem é este que sobe como o Nilo? As suas águas agitam-se como os rios! É o Egipto que sobe como o Nilo, e cujas águas se agitam como os rios, e diz: «Subirei e inundarei a terra, destruirei cidades e os seus habitantes.» Avante, cavalos! Avançai, carros! Em marcha, guerreiros de Cuche e de Put, que empunham o escudo, e gente de Lud, que retesa o arco. Esse dia é para o Senhor, Deus do universo, dia de vingança contra os seus inimigos. A espada devorará até se fartar, embriagar-se-á com o seu sangue. Pois é um sacrifício para o Senhor, Deus do universo, nas terras do norte, nas margens do Eufrates. Sobe a Guilead, em busca de bálsamo, jovem filha do Egipto. Em vão multiplicas os remédios, o teu mal não tem cura. As nações conhecem a tua vergonha, e os teus gritos enchem a terra. Soldado tropeçou com o soldado, e ambos caíram juntamente. Palavra que o Senhor dirigiu ao profeta Jeremias quando Nabucodonosor, rei da Babilónia, foi atacar o Egipto: «Anunciai no Egipto, publicai em Migdol, em Mênfis e em Taapanés. Dizei: ‘Levanta-te, prepara-te, que a espada vai devorar tudo à tua volta.’ Porque caiu o poderoso deus Ápis e não se mantém de pé? Porque o Senhor o derrubou. Aumentou a confusão e a desordem; dizem uns para os outros: ‘Levantemo-nos e voltemos para junto do nosso povo, para a terra onde nascemos, para fugirmos à espada destruidora.’ Ao faraó, rei do Egipto, ponde este nome: ‘Barulho, fora de tempo.’ Pela minha vida – oráculo do Rei, cujo nome é Senhor do universo: Como o Tabor se ergue sobre as montanhas e como o Carmelo junto ao mar, assim ele chegará. Preparai a bagagem para o exílio, habitantes da terra do Egipto, porque Mênfis vai transformar-se em deserto, lugar devastado e sem habitantes. O Egipto é como uma novilha formosa; um moscardo do Norte vem atacá-la. Também seus mercenários, como bezerros cevados, voltam as costas e fogem sem resistir, porque caiu sobre eles o dia da desgraça, a hora do seu castigo. A sua voz sibila como a serpente, pois avançam em tropel e, como lenhadores dos bosques, avançam com machados contra ela. Arrasam a sua floresta oráculo do Senhor. Eles são incontáveis e mais numerosos que os gafanhotos; ninguém os pode contar. Foi derrotada a capital do Egipto, entregue nas mãos de um povo do Norte.» O Senhor do universo, Deus de Israel, disse: «Vou castigar o deus Amon de Nó, o faraó, o Egipto, os seus deuses e os seus reis; o faraó e os que confiam nele. Entregá-los-ei nas mãos dos que procuram tirar-lhes a vida, nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilónia e dos seus generais. Depois disto, como nos dias antigos, o Egipto será habitado» – oráculo do Senhor. «Mas tu, Jacob, meu servo, não temas, não te assustes, Israel, porque vou trazer-te da terra longínqua, e os teus descendentes, do país onde estão cativos. Jacob tornará a viver em segurança, tranquilo e sem temor. Tu não temas, meu servo Jacob, porque Eu estou contigo oráculo do Senhor. Aniquilarei todas as nações para onde te desterrei. A ti, porém, não te aniquilarei, mas castigar-te-ei com justiça, sem, contudo, te deixar impune.» Palavra do Senhor, dirigida ao profeta Jeremias, acerca dos filisteus, antes de o Faraó ter atacado Gaza. Assim fala o Senhor, «Eis que sobem as águas vindas do Norte, semelhantes a uma torrente que transborda, inundam o país e o que nele existe, a cidade e os seus habitantes. Soltam gritos os homens e gemem todos os habitantes do país. Ouvindo o estrondo do galopar do seus cavalos, o ruído dos seus carros e o ranger das suas rodas, os pais já não cuidam dos seus filhos, cansados, deixam cair os braços. É que surgiu o dia da ruína de todos os filisteus; o dia de cortar a Tiro e a Sídon os aliados que lhe restam, pois o Senhor vai arruinar os filisteus e o resto da ilha de Creta. Gaza rapou a cabeça, Ascalon está aniquilada. Ai do resto dos anaquitas! Até quando farás incisões em ti? Ó espada do Senhor, quando repousarás? Entra na tua bainha; descansa, pára um pouco! Mas como poderá ela repousar, se é o Senhor quem a comanda contra Ascalon e contra a região litoral? É lá que Ele a espera!» Contra Moab, assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: «Ai de Nebo! Porque foi arrasada! Quiriataim foi derrotada e conquistada! A que era considerada uma fortaleza foi derrotada e abatida! Acabou-se a glória de Moab! Em Hesbon conspiravam contra ela: ‘Vamos riscá-la do número das nações!’ E tu, Madmen, serás silenciada; a espada corre atrás de ti. Ouvem-se gritos de Horonaim: Devastação, grande ruína! Moab foi esmagada; os seus gritos fazem-se ouvir até Seir. Pela encosta de Luit sobe-se chorando; pela descida de Horonaim ouvem-se clamores de angústia. Fugi, salvai as vossas vidas, sede como o asno selvagem no deserto! Porque puseste a confiança nas tuas obras e nos teus tesouros, também tu serás tomada. Camós irá para o exílio com os seus sacerdotes e dignitários. O devastador entrará em todas as cidades; nenhuma será poupada. O vale será destruído e o planalto devastado, conforme disse o Senhor. Dai asas a Moab para levantar voo, porque as suas cidades transformar-se-ão em deserto. E ninguém habitará nelas. Maldito o que executa com negligência o mandato do Senhor ! Maldito o que recusa o sangue à sua espada! Moab está tranquilo desde a sua juventude, repousando como o vinho sobre as borras; não foi trasfegado duma vasilha para outra, não teve de ir para o cativeiro; permaneceu com o seu sabor e não alterou o seu aroma. Por isso, dias virão – oráculo do Senhor em que lhe enviarei trasfegadores que hão-de trasfegar, esvaziar e quebrar os seus tonéis. E Moab envergonhar-se-á de Camós, assim como a casa de Israel se envergonhou de Betel, em quem confiava. Como podeis dizer: ‘Somos bravos, somos guerreiros valentes’? Moab está destruída e as suas cidades invadidas; os melhores dos seus soldados baixaram ao matadouro – oráculo do Rei, cujo nome é Senhor do universo. A ruína de Moab está iminente, a sua desgraça aproxima-se rapidamente. Chorai por ela, vós todos os seus vizinhos e todos os que conheceis o seu nome; dizei: ‘Como se partiu o bastão poderoso, o ceptro de glória!’ Desce da tua glória e senta-te no chão, população da capital de Dibon, pois o devastador de Moab subiu contra ti, destruindo as tuas muralhas. Pára no caminho e vigia, ó gente de Aroer; interroga o fugitivo que escapou; pergunta: ‘Que aconteceu?’ Moab, em ruínas, cobre-se de vergonha; gritai, gemei! Anunciem em Arnon que Moab foi destruída. Chegou o julgamento contra as terras do planalto: contra Holon, Jaça e Mefaat; contra Dibon, Nebo e Bet-Diblataim; contra Quiriataim, Bet-Gamul e Bet-Meon; contra Queriot e Bosra, e contra todas as cidades da terra de Moab, as mais próximas e as distantes. Foi abatido o poder de Moab e o seu braço foi quebrado oráculo do Senhor. Embriagai-a, pois se levantou contra o Senhor; Moab revolver-se-á no próprio vómito e tornar-se-á também objecto de escárnio. Não escarneceste tu, de Israel, como de um apanhado entre ladrões, e não abanavas a cabeça quando falavas dele? Abandonai as cidades e habitai nos rochedos, habitantes de Moab, tal como a pomba que faz o ninho na borda dos precipícios. Conhecemos o orgulho de Moab, a soberba desmedida, a sua altivez, o orgulho, a presunção e a arrogância do seu coração. Conheço muito bem – oráculo do Senhor a sua presunção e o vazio das suas obras. Por isso, gemerei por Moab, gritarei de dor por Moab inteiro; chorarei pelos homens de Quir-Heres. Choro por ti mais do que chorei por Jazer, ó vinha de Sibma! Os teus sarmentos atravessavam o mar, chegavam até ao mar de Jazer. Mas lançou-se o devastador sobre as tuas searas e vindimas. A alegria e o regozijo desapareceram dos pomares do país de Moab; fiz com que secasse o vinho nos lagares: já não se pisam mais as uvas entre gritos de alegria. Os clamores de Hesbon chegam até Elalé e até Jaás; o seu grito faz-se ouvir de Soar até Horonaim e Eglat-Chelichia, pois até as águas de Nimerim secaram. Farei desaparecer de Moab – oráculo do Senhor os que sobem aos lugares altos, para oferecer incenso aos seus deuses. Por isso, o meu coração chora como voz de flauta por Moab; o meu coração chora pelos habitantes de Quir-Heres, pois foi destruído tudo aquilo que tinham acumulado. Todas as cabeças foram rapadas, todas as barbas cortadas. Foram golpeadas as mãos e os rins cobertos de saco. Sobre os terraços de Moab e em todas as suas praças ouvem-se lamentos, porque despedacei Moab como vaso inútil oráculo do Senhor. Como foi destroçada! Chorai! Como Moab voltou as costas de vergonha! Como se tornou objecto de zombaria e de espanto para todos os seus vizinhos!» Pois, assim fala o Senhor, «Eis que ele vem voando, como a águia, estendendo as asas sobre Moab. As cidades foram tomadas e arrebatadas as suas fortificações. Naquele dia, o coração dos guerreiros de Moab será como o coração da mulher em parto. Moab deixará de ser uma nação, porque se levantou contra o Senhor. Pânico, armadilhas e cerco é tudo contra ti, povo de Moab – oráculo do Senhor. Quem fugir ao pânico cairá na armadilha; e aquele que escapar da armadilha, será apanhado no cerco! Com efeito, farei vir sobre Moab o ano do seu castigo – oráculo do Senhor. No refúgio de Hesbon detiveram-se, extenuados, os fugitivos; mas um fogo sairá de Hesbon e uma chama do palácio de Seon que devorará os cumes de Moab e o crânio dos seonitas. Ai de ti, Moab! Está perdido, o povo de Camós! Os teus filhos serão levados em cativeiro e as tuas filhas, desterradas. Mas, nos tempos futuros, mudarei a sorte de Moab» – oráculo do Senhor. Fim do julgamento contra Moab. Assim fala o Senhor contra os amonitas: «Porventura, Israel não tem filhos? Porventura, não tem herdeiro? Por que razão Milcom tomou conta de Gad, e instalou o seu povo nas suas cidades? Por isso, dias virão – oráculo do Senhor em que farei ouvir gritos de guerra em Rabat, capital de Amon. Será reduzida a um montão de ruínas, as suas cidades serão entregues às chamas. Então, Israel herdará daqueles que foram seus herdeiros – diz o Senhor. Lamenta-te Hesbon, pela destruição e ruína; gritai, filhas de Rabat, vesti-vos de luto e chorai; vagueai sobre as ruínas, porque Milcom é levado ao exílio juntamente com os seus sacerdotes e dignitários. Porque te glorias da fertilidade dos teus vales, cidade rebelde? Confiada nos teus tesouros, dizias: ‘Quem virá contra mim?’ Farei que venha contra ti o terror por todos os lados oráculo do Senhor Deus do universo. Cada um fugirá para seu lado e ninguém recolherá os fugitivos. Mas, depois disto, farei voltar os cativos dos filhos de Amon» – oráculo do Senhor. Contra Edom, assim fala o Senhor do universo: «Já não há sabedoria em Teman? Será que se perdeu o conselho dos mestres? Desvaneceu-se a sua sabedoria? Fugi, voltai as costas, ocultai-vos, habitantes de Dedan, porque vou trazer a ruína sobre Esaú, o tempo do seu castigo. Se te invadirem vindimadores, não te deixarão um cacho. Se forem ladrões nocturnos, pilharão até se saciarem. Mas, sou Eu quem põe a descoberto Esaú, revelo os seus esconderijos e não poderá ocultar-se. A sua raça está destruída; os seus irmãos e vizinhos já não existem. Abandona os teus órfãos, que Eu cuidarei deles; as tuas viúvas podem confiar em mim!» Porque isto diz o Senhor, «Aqueles que não mereciam beber deste cálice, tiveram de beber dele; e tu, ficarás impune? Não! Também beberás. Juro-o pelo meu nome oráculo do Senhor. Bosra será objecto de espanto, vergonha, ruína e maldição. E todas as suas cidades serão ruínas para sempre. Recebi uma notícia do Senhor, um arauto foi enviado às nações: ‘Juntai-vos e marchai contra ela! Preparai-vos para a guerra!’ Vê: Eu te fiz pequena entre as nações, desprezada pelos homens. Enganou-te o terror que semeavas e a arrogância do teu coração; habitas nas rochas escarpadas, agarrada aos cimos das colinas. Ainda que pusesses o teu ninho tão alto como o da águia, de lá te precipitaria – oráculo do Senhor. Edom será objecto de espanto, e os que passem junto dela, assobiando, escarnecerão da sua ruína. É como a catástrofe de Sodoma e Gomorra, e das cidades vizinhas – diz o Senhor. Ninguém ali habitará, nenhum homem ali morará. Como um leão, vem dos matagais do Jordão às pastagens perenes; assim, num instante, hei-de expulsá-los de lá e ali estabelecerei quem Eu escolher. Quem se pode igualar a mim? Quem me poderá pedir contas? Quem é o pastor que me poderá fazer frente? Portanto, escutai o desígnio do Senhor sobre Edom, e os planos que tem em mente contra os habitantes de Teman. Até as ovelhas mais pequenas serão arrebatadas e as pastagens desaparecerão diante delas. Ao estrondo da sua ruína estremece a terra e os seus clamores ouvir-se-ão no Mar dos Juncos. Eis que subirá como a águia, voará e estenderá as suas asas sobre Bosra. Naquele dia, o coração dos guerreiros de Edom será como o de uma mulher com dores de parto.» Contra Damasco: «Hamat e Arpad estão apavoradas, porque tiveram uma notícia funesta. Ansiosas, agitam-se como o mar; não podem acalmar-se. Damasco perdeu a coragem, lançou-se a fugir. O terror paralisa-a, a angústia e as dores apoderam-se dela, como a mulher que dá à luz. Como é que ficou deserta a cidade formosa, a colina das delícias? Por isso, os seus jovens cairão nas ruas, e os seus guerreiros perecerão naquele dia oráculo do Senhor do universo. Vou lançar o fogo às muralhas de Damasco, que devorará os palácios de Ben-Hadad.» Contra Quedar e os reinos de Haçor, que destruiu Nabucodonosor, rei da Babilónia, assim fala o Senhor, «Levantai-vos! Marchai contra Quedar! Aniquilai as tribos do Oriente! Apoderem-se das suas tendas e rebanhos! Apropriem-se dos seus tapetes, das suas bagagens, sejam-lhe retirados os seus camelos! Gritai contra eles: ‘Terror por todo o lado!’ Fugi a toda a pressa, escondei-vos nos esconderijos, habitantes de Haçor, – oráculo do Senhor; pois, Nabucodonosor, rei da Babilónia, forjou um plano contra vós e tem projectos para vos arruinar. Levantai-vos! Marchai contra um povo pacífico que vive em sossego oráculo do Senhor. Não têm portas, nem ferrolhos e vivem isoladamente. Os seus camelos serão uma presa e os seus muitos rebanhos estão a saque! Espalharei a todos os ventos estes homens de cabelos rapados, e de toda a parte lançarei sobre eles a desgraça oráculo do Senhor. Haçor tornar-se-á guarida de chacais, uma solidão para sempre, onde ninguém mais habitará e nenhum ser humano ali terá morada.» Palavra do Senhor, dirigida ao profeta Jeremias contra Elam, no princípio do reinado de Sedecias, rei de Judá: Isto diz o Senhor do universo: «Vou destruir o arco de Elam e o melhor dos seus soldados. Mandarei vir sobre Elam os quatro ventos, dos quatro cantos do céu. Dispersá-los-ei por todos estes ventos, e não haverá nação onde não cheguem os fugitivos de Elam. Farei que Elam trema diante dos seus inimigos e daqueles que procuram tirar-lhes a vida. Farei vir sobre eles a desgraça, e o furor da minha cólera oráculo do Senhor; enviarei contra eles a espada, até que sejam exterminados. Estabelecerei o meu trono em Elam, e dela exterminarei o rei e os chefes – oráculo do Senhor. Porém, nos últimos dias, mudarei a sorte de Elam» – oráculo do Senhor. Palavra que o Senhor dirigiu ao profeta Jeremias acerca da Babilónia, a terra dos caldeus: «Anunciai e publicai entre as nações! Levantai a bandeira, anunciai! Nada oculteis, exclamai: A Babilónia foi tomada! Bel cobriu-se de confusão, o deus Marduc foi destroçado; os seus ídolos foram confundidos, as suas imagens destruídas. Pois um povo vindo do norte avança contra ela; ele fará do seu território um deserto. E não haverá quem nela habite. Homens e animais fogem em debandada. Naqueles dias e naquele tempo – oráculo do Senhor voltarão juntos, os filhos de Israel e os filhos de Judá; irão caminhando a chorar, à procura do Senhor, seu Deus. Perguntarão por Sião, para onde estão voltados os seus rostos. Vamos e unamo-nos ao Senhor, em aliança eterna que não será esquecida. O meu povo tornou-se um rebanho de ovelhas perdidas que os seus pastores deixaram desgarradas pelos montes. Caminhavam por montanhas e colinas, esquecidas do seu aprisco. Todos os que as encontravam, devoravam-nas; os seus inimigos diziam: ‘Não somos culpados, porque eles pecaram contra o Senhor, que é a herança legítima, a esperança de seus antepassados’. Fugi da Babilónia e da terra dos caldeus. Saí como os cabritos à frente do rebanho. Pois Eu suscitarei e enviarei contra a Babilónia uma coligação de grandes nações. Virão do norte em linha de batalha, avançando contra ela, de modo a capturá-la. As suas setas, como as de um hábil guerreiro, não erram o alvo. Os caldeus serão objecto de pilhagem; todos os seus saqueadores ficarão saciados – oráculo do Senhor. Alegrai-vos, pois, e exultai, saqueadores da minha herança! Saltai como a novilha sobre a erva e relinchai como garanhões! A vossa mãe ficará coberta de vergonha. Aquela que vos gerou ficará humilhada. Ei-la como a última das nações, um deserto, desolado e árido. Pela ira do Senhor, ficará desabitada, reduzida a um montão de ruínas. Todos os que passarem pela Babilónia pasmarão e ficarão admirados com todas as suas desgraças. Archeiros todos, preparai-vos para atacar a Babilónia por todos os lados. Combatei-a, não poupeis as flechas, porque pecou contra o Senhor. Gritai a toda a volta contra ela! Ela já levanta as mãos! Caem as suas torres, as suas muralhas são derrubadas! Pois esta é a vingança do Senhor ! Vingai-vos dela, fazei-lhe o mesmo que ela fez. Exterminai da Babilónia o que semeia, e o que maneja a foice no tempo da colheita. Diante da espada devastadora, volte cada um para o seu povo, fuja cada um para a sua terra. Israel era como uma ovelha desgarrada, perseguida por leões. Primeiro, devorou-a o rei da Assíria. Depois, Nabucodonosor, rei da Babilónia, quebrou-lhe os ossos. Por isso, assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: Vou castigar o rei da Babilónia e o seu país, assim como castiguei o rei da Assíria. Farei voltar Israel para os seus campos, a fim de que paste no Carmelo e em Basan; saciar-se-á nos montes de Efraim e de Guilead. Naqueles dias e naquele tempo – oráculo do Senhor buscar-se-á a culpabilidade de Israel e não será encontrada; também não acharão o pecado de Judá, porque perdoarei aos que tiver poupado.» «Sobe contra o país de Merataim, contra ele e contra os habitantes de Pecod. Avança e extermina-os até ao último oráculo do Senhor – e executa tudo quanto te ordenei. Há gritos de guerra no país, é imensa a ruína! Como se quebrou e desfez em pedaços o martelo de toda a terra? Como a Babilónia se transformou em espanto entre as nações! Lancei-te uma armadilha, ó Babilónia, e foste apanhada, sem te dares conta. Foste surpreendida e aprisionada, porque provocaste o Senhor. O Senhor abriu o seu arsenal e dele tirou as armas da sua indignação, pois o Senhor Deus do universo tem uma missão a cumprir no país dos caldeus. Vinde contra ela desde os confins e abri os seus celeiros. Amontoai os seus despojos como feixes e exterminai tudo sem deixar resto. Matai todos os seus touros; sejam conduzidos ao matadouro! Ai deles, porque chegou o seu dia, o tempo do seu castigo! Escutai os fugitivos e os evadidos da terra da Babilónia, para anunciar em Sião a vingança do Senhor, nosso Deus, a vingança do seu templo. Convocai contra a Babilónia os arqueiros, todos os que manejam o arco; sitiai-a, para que ninguém escape. Dai-lhes a paga das suas obras; fazei com ela o mesmo que ela fez, porque se revoltou contra o Senhor, contra o Santo de Israel. Por isso, os seus jovens cairão nas ruas e todos os seus guerreiros perecerão nesse dia oráculo do Senhor. Aqui estou contra ti, ó insolente, chegou o teu dia, o tempo do teu castigo – oráculo do Senhor Deus do universo. Tropeçará a insolente e cairá sem que ninguém a levante. Lançarei fogo às suas cidades, que devorará tudo em volta.» Isto diz o Senhor do universo: «Os filhos de Israel e os filhos de Judá sofrem juntos a opressão. Aqueles que os levaram ao cativeiro detêm-nos, recusando libertá-los. Porém, o seu redentor é poderoso: o seu nome é Senhor do universo. Defenderá com ardor a sua causa, para dar repouso à terra e fazer tremer os habitantes da Babilónia. Espada contra os caldeus, contra a população da Babilónia, contra os seus chefes e os seus sábios! Oráculo do Senhor. Espada contra os seus adivinhos, para que enlouqueçam! Espada contra os seus guerreiros, para que se amedrontem! Espada contra os seus cavalos e os seus carros e contra todo o povo que nela se encontra, para que se tornem frágeis como mulheres! Espada contra os seus tesouros, para que sejam saqueados! Espada contra os seus canais, para que sequem, porque é um país de ídolos, que se gloria dos seus espantalhos! Por isso, habitarão ali chacais, feras e avestruzes. Jamais voltará a ser habitada e, de geração em geração, ficará deserta. É como quando Deus destruiu Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas oráculo do Senhor. Da mesma maneira ninguém habitará ali, e nenhum ser humano a povoará. Eis que vem um povo do Norte, uma grande nação e numerosos reis se levantam dos confins da terra, armados de arcos e de setas; são cruéis e sem piedade. Os seus gritos ressoam como o mar. Montados em cavalos, alinhados como um só homem, avançam contra ti, ó Babilónia. Ao saber disto, o rei da Babilónia deixou cair os braços, possuído de angústia e dor, como uma mulher com dores de parto. Como um leão que sobe das estepes do Jordão em direcção às pastagens verdes, assim, de repente, Eu os expulsarei e estabelecerei ali quem Eu escolher. Pois, quem há semelhante a mim? Quem me poderá pedir contas? Qual o pastor que poderá enfrentar-me? Por isso, ouvi a decisão do Senhor que Ele decretou contra a Babilónia, e os projectos que Ele traçou contra a terra dos caldeus. Juro que as ovelhas mais fracas serão arrebatadas do rebanho; e até as pastagens ficarão espantadas com isso. Com o estrondo da tomada da Babilónia tremerá a terra e os seus gritos serão ouvidos pelas nações.» Assim fala o Senhor, «Vou enviar contra a Babilónia e contra a população da Caldeia um vento destruidor. Vou enviar estrangeiros contra a Babilónia, que a destruirão e esvaziarão a sua terra, pois, virão contra ela de todos os lados, no dia da desgraça. Que o arqueiro não deponha o seu arco nem retire a sua couraça; não poupeis a sua juventude, exterminai todo o seu exército. Caiam feridos na terra dos caldeus, trespassados nas suas praças. Porque Israel e Judá não são viúvas do seu Deus, o Senhor do universo, e o país dos caldeus está cheio de crimes contra o Santo de Israel. Fugi do meio da Babilónia; salve cada um a sua vida; não pereçais pelas suas culpas, pois chegou o tempo da vingança do Senhor, que lhe dará o pagamento que merece. A Babilónia era uma taça de ouro na mão do Senhor com a qual Ele embriagava toda a terra; as nações beberam do seu vinho e por isso ficaram transtornadas. De repente, caiu a Babilónia e ficou arruinada. Chorai por ela! Procurai o bálsamo para a sua ferida, a ver se ainda pode sarar.» Tentámos curar a Babilónia, mas em vão. Deixai-a! Vamos cada um para a sua terra, a sua sentença chegou aos céus e alcançou as nuvens. O Senhor fez-nos justiça. Vamos e narremos em Sião a obra do Senhor, nosso Deus! Aguçai as setas, preparai os escudos! O Senhor instigou os reis da Média, porque Ele quer destruir a Babilónia. É a vingança do Senhor, a vingança do seu templo. Levantai o estandarte contra as muralhas da Babilónia! Reforçai a guarda, colocai sentinelas. Preparai emboscadas. Porque o Senhor idealizou um plano e vai cumprir tudo quanto dissera contra os habitantes da Babilónia. Tu que moras junto aos grandes canais, que possuis imensos tesouros, chegou o teu fim; o limite da tua existência. O Senhor do universo jura por si mesmo: «Encher-te-ei de homens, tão numerosos como gafanhotos, e eles cantarão vitória sobre ti.» Ele criou a terra com o seu poder, estabeleceu o mundo com a sua sabedoria, e com a sua inteligência estendeu os céus. À sua voz agitam-se as águas no céu; faz subir as nuvens dos confins da terra; produz relâmpagos para a chuva e solta o vento das suas prisões. Perante o seu saber, os homens emudecem! O artista envergonha-se da sua estátua; esses ídolos não são nada e não possuem vida. São apenas desilusão, vãos simulacros, que se desvanecerão no dia do seu castigo. Não é assim a herança de Jacob, porque Ele criou todas as coisas; é a tribo da sua propriedade. O seu nome é Senhor do universo. «Tu servias-me de martelo e de instrumento de guerra; por meio de ti, destruía as nações e aniquilava os reinos; esmagava o cavalo e o seu cavaleiro; o carro e o seu cocheiro; esmagava, por meio de ti, o homem e a mulher, o velho e a criança; esmagava, por meio de ti, o jovem e a donzela. Esmagava, por meio de ti, o pastor e o seu rebanho, o lavrador e as suas juntas, os governadores e os magistrados. Mas Eu retribuirei à Babilónia e a todos os habitantes caldeus todo o mal que fizeram a Sião na vossa presença – oráculo do Senhor. Eis-me aqui contra ti, ó monte destruidor oráculo do Senhor. Tu que destróis toda a terra, vou estender contra ti o meu braço para te precipitar do alto dos rochedos, e farei de ti montanha queimada. E de ti não se poderá arrancar nem pedra angular, nem pedra de alicerce; serás transformada em ruína eterna – oráculo do Senhor. Levantai o estandarte na terra, tocai a trombeta entre as nações. Convocai os povos em guerra santa contra ela, mobilizai contra ela os reinos de Ararat, de Mini e de Asquenaz! Nomeai contra ela um general, avancem cavalos como gafanhotos eriçados. Convocai contra ela os povos em guerra santa, os reis da Média, os seus governadores e oficiais, e todas as terras do seu domínio. A terra tremerá e contorcer-se-á pois se cumpre o plano do Senhor contra a Babilónia. O território da Babilónia vai converter-se num deserto inabitável. Os guerreiros da Babilónia deixaram de lutar, refugiaram-se nas fortalezas. Acabou-se a sua valentia, tornaram-se como mulheres. Incendiaram as suas casas; quebraram os seus ferrolhos. Os correios seguem uns atrás dos outros, avançam mensageiros uns após outros, para anunciar ao rei da Babilónia que a sua cidade está inteiramente tomada. As passagens estão fechadas, os baluartes a arder, e os guerreiros estão em pânico. Pois assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘A capital da Babilónia é uma eira no tempo em que é calcada; mais um pouco e virá para ela o tempo da colheita.’» «Nabucodonosor, rei da Babilónia, tragou-me e devorou-me; deixou-me como um prato limpo; como um dragão, engoliu-me, encheu o ventre e vomitou-me. Recaia sobre a Babilónia a minha carne dilacerada exclama o povo de Sião – e sobre os caldeus o meu sangue – diz Jerusalém.» Portanto, isto diz o Senhor, «Aqui estou Eu para defender a tua causa e executar a tua vingança: secarei o seu mar e estancarei as suas nascentes. A Babilónia ficará um montão de ruínas, um covil de chacais; será objecto de espanto e de escárnio e ficará sem habitantes. Como leões rugirão em coro, rosnarão como crias da leoa. Quando estiverem sequiosos, dar-lhes-ei de beber e embriagá-los-ei, a fim de que se deleitem e durmam um sono eterno e não mais despertem – oráculo do Senhor. Levá-los-ei como cordeiros ao matadouro, como carneiros e cabritos.» «Como foi tomada e vencida Chechac, glória de toda a terra? Como se tornou a Babilónia objecto de espanto para as nações? O mar invadiu a Babilónia, que foi coberta pela fúria das suas ondas. As suas cidades foram devastadas, são terra árida e desolada, onde ninguém habitará, por onde ninguém passará. Castigarei Bel na Babilónia, tirar-lhe-ei da boca o que tinha engolido. Não mais concorrerão a ele as nações. Até a muralha da Babilónia caiu! Saí do meio dela, ó povo meu! Salve cada um a própria vida da ira ardente do Senhor ! Não desfaleça o vosso coração! Não tenhais medo das notícias que se fazem ouvir no país. Em cada ano há sempre um novo rumor: ‘Violências no país, tirano contra tirano.’ Por isso, eis que dias virão em que castigarei os ídolos da Babilónia; todo o seu país será coberto de vergonha e todos os seus mortos ficarão no meio dela. O céu, a terra e tudo o que neles existe clamarão contra a Babilónia, porque, do norte, se lançarão contra ela os devastadores – oráculo do Senhor. A Babilónia cairá pelos mortos de Israel, como caíram por causa da Babilónia os mortos de toda a terra. Vós, que conseguistes fugir à espada, parti, sem demora. Mesmo de longe, recordai-vos do Senhor, tendo Jerusalém, nos vossos corações. ‘Estamos confundidos por ouvirmos a injúria; a vergonha cobre os nossos rostos, porque os estrangeiros entraram no santuário do templo do Senhor.’» «Por isso, dias virão – oráculo do Senhor em que castigarei os seus ídolos e por todo o país gemerão os feridos. Mesmo que a Babilónia suba até aos céus e consolide a sua cidadela nas alturas, Eu enviarei destruidores contra ela – oráculo do Senhor. Da Babilónia se ouvem gritos, e uma grande destruição na terra dos caldeus, porque é o Senhor que devasta a Babilónia e põe fim à sua grande arrogância, por mais que as suas ondas se agitem como o oceano e ressoe o estrondo das suas vozes. Pois o devastador veio sobre a Babilónia: foram presos os seus guerreiros e quebrados os seus arcos; pois o Senhor é um Deus que recompensa e lhes dará a sua paga. ‘Embriagarei os seus chefes e os seus sábios, os seus governantes, oficiais e guerreiros, e eles dormirão um sono eterno e não mais despertarão’ oráculo do Rei, cujo nome é SENHOR do universo*. Assim fala o Senhor do universo: ‘As sólidas muralhas da Babilónia serão inteiramente arrasadas e as suas portas altas serão incendiadas. Os povos trabalharam em vão, e as nações fatigaram-se para o fogo.’» Ordem dada pelo profeta Jeremias a Seraías, filho de Néria, filho de Masseias, quando foi para a Babilónia com Sedecias, rei de Judá, no quarto ano do seu reinado. Seraías era responsável da hospedagem real. Jeremias escreveu num livro todas as calamidades que haveriam de atingir a Babilónia e todas as coisas que tinham sido escritas sobre a Babilónia. Jeremias disse a Seraías: «Quando chegares à Babilónia, cuidarás de proclamar todas estas palavras, e dirás: ‘Senhor, Tu declaraste que este lugar seria destruído, ficando sem habitantes, fossem homens, fossem animais, pois o transformarias em desolação eterna.’ Quando terminares a leitura do rolo, atar-lhe-ás uma pedra, lançá-lo-ás ao rio Eufrates, e dirás: ‘Assim se afundará a Babilónia; não mais se levantará, por causa das calamidades que Eu envio contra ela.’» Aqui terminam as palavras de Jeremias. Quando subiu ao trono, Sedecias tinha vinte e um anos e reinou onze anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hamital, filha de Jeremias de Libna. Ele praticou o mal aos olhos do Senhor, tal como tinha feito Joaquim. Por isso, o Senhor irritou-se contra Jerusalém e Judá, banindo-os para longe da sua presença. Sedecias revoltou-se contra o rei da Babilónia. No nono ano do seu reinado, no dia dez do décimo mês, Nabucodonosor, rei da Babilónia, marchou com todo o seu exército contra Jerusalém. Acampou junto da cidade e construiu torres de assalto ao seu redor. A cidade esteve sitiada até ao décimo primeiro ano do reinado de Sedecias. No nono dia do quarto mês, a fome grassava na cidade e não havia pão para a população. Abriu-se, então, uma brecha na cidade e todos os guerreiros fugiram, de noite, pelo caminho da porta entre os dois muros, que está junto dos jardins do rei, enquanto os caldeus cercavam a cidade; e tomaram o caminho do deserto. Mas, o exército dos caldeus perseguiu o rei e alcançou Sedecias nas planícies de Jericó, enquanto todas as suas tropas se dispersavam, abandonando-o. Prenderam, então, o rei e conduziram-no ao rei da Babilónia, a Ribla, na terra de Hamat, o qual decretou a sentença contra ele. O rei da Babilónia mandou executar os filhos de Sedecias na sua presença, e matou também todos os chefes de Judá, em Ribla. Depois, mandou arrancar os olhos a Sedecias, carregou-o de cadeias e levou-o para a Babilónia, onde o teve encarcerado até ao dia da sua morte. No décimo dia do quinto mês, que corresponde ao décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilónia, Nebuzaradan, chefe da guarda e delegado do rei da Babilónia chegou a Jerusalém. Incendiou o templo do Senhor, o palácio real e todas as casas de Jerusalém, e lançou fogo a todos os palácios. Em seguida, as tropas dos caldeus, que estavam às ordens do chefe da guarda, demoliram as muralhas que rodeavam Jerusalém. E Nebuzaradan, chefe da guarda, deportou para a Babilónia uma parte do povo e o resto da população da cidade, bem como os que já se tinham rendido ao rei da Babilónia e o resto da multidão. Porém, Nebuzaradan, chefe da guarda, deixou uma parte dos mais pobres como vinhateiros e lavradores. Os caldeus quebraram as colunas de bronze do templo do Senhor, juntamente com os pedestais e a bacia de bronze que estava no templo, e levaram todo o seu bronze para a Babilónia. Levaram também as caldeiras, as pás, as facas, os aspersórios, as bandejas e todos os objectos de bronze que estavam ao serviço do culto. O chefe da guarda levou ainda as taças, os incensários, os vasos, os cântaros, os candelabros, as bandejas, os copos e as colheres, e tudo o que havia em ouro e prata. Quanto às duas colunas, ao depósito e aos doze touros de bronze que serviam de pedestal, que o rei Salomão mandou fazer para o templo do Senhor, não era possível calcular o peso do bronze de todos estes instrumentos. As colunas mediam, cada uma, cerca de nove metros de altura, e era preciso uma corda de cerca de seis metros para a circundar, sendo a sua espessura de oito centímetros e oco o seu interior. Cada coluna era encimada por um capitel de bronze, com a altura de dois metros e meio; a grinalda e as romãs, que cercavam o cimo do capitel, eram também de bronze. A segunda coluna era semelhante a esta com romãs. As romãs eram noventa e seis horizontalmente. Ao todo, havia cem romãs a envolver as colunas. O chefe da guarda prendeu Seraías, Sumo Sacerdote, e Sofonias, o seu substituto, e os três porteiros. Levou também da cidade um eunuco, que era o comandante do exército, e sete homens do séquito do rei que foram encontrados na cidade e o secretário do chefe do exército, encarregado do recrutamento no país, e mais sessenta homens da população rural que se encontravam na cidade. Nebuzaradan, chefe da guarda, aprisionou-os e mandou-os conduzir a Ribla, ao rei da Babilónia. O rei da Babilónia mandou-os executar em Ribla, na região de Hamat. Assim Judá foi deportado para longe do seu país. Este é o número das pessoas que Nabucodonosor levou para o cativeiro: no sétimo ano do seu reinado, três mil e vinte e três judeus; no décimo oitavo ano do seu reinado, deportou de Jerusalém oitocentas e trinta e duas pessoas; no vigésimo terceiro ano de Nabucodonosor, Nebuzaradan, chefe dos guardas, deportou de Judá setecentos e quarenta e cinco judeus. Ao todo, quatro mil e seiscentas pessoas. No trigésimo sétimo ano da deportação de Joiaquin, rei de Judá, no dia vinte e cinco do décimo segundo mês, Evil-Merodac, rei da Babilónia, no ano em que começava a reinar, concedeu amnistia a Joiaquin, rei de Judá, e libertou-o da prisão. Falou-lhe com benevolência e mandou pôr o seu trono acima dos outros reis, que estavam com ele na Babilónia. Fez-lhe também mudar as vestes de prisioneiro e convidou-o para comer à sua mesa até ao fim da sua vida. E assim durante toda a sua vida, até ao dia da sua morte, o sustento foi-lhe sempre garantido pelo rei da Babilónia. Como se encontra solitária a cidade capital do povo! Tornou-se como uma viúva a que era grande entre os povos. Primeira entre as nações, tornou-se sujeita ao tributo. Chora sem cessar pela noite dentro; as lágrimas correm-lhe pelas faces. Entre todos os seus amantes não há um que a console. Todos os seus aliados a traíram, tornaram-se seus inimigos. Judá foi exilada e oprimida por dura servidão; foi deportada entre as nações, sem achar repouso. Todos os seus perseguidores a agarraram entre assédios. Estão de luto os caminhos de Sião; não há quem venha às suas festas. Todas as suas portas estão desertas; gemem os seus sacerdotes, vivem desoladas as suas jovens e ela está cheia de amargura. Apoderaram-se dela os seus opressores, os seus inimigos estão felizes; foi o Senhor quem a castigou pelos seus inúmeros pecados. Até os seus meninos foram para o exílio, à frente do opressor. Desapareceu da filha de Sião todo o seu esplendor. Os seus príncipes ficaram como veados que não encontram pastagens e fogem esgotados diante dos perseguidores. Nestes dias de aflição e de angústia, lembrou-se Jerusalém de todas as delícias que teve nos tempos passados; agora o seu povo caiu nas mãos do inimigo e ninguém vem em seu auxílio. Olham-na os seus inimigos e fazem troça da sua miséria. Muito pecou Jerusalém; por isso tornou-se impura. Quantos a honravam, desprezam-na agora, porque viram a sua nudez. Entretanto, ela geme e esconde o rosto. As suas vestes estão conspurcadas. Ela não previra este fim. A que estado ela desceu, e ninguém a vem consolar. «Olha, Senhor, para a minha miséria, porque o inimigo triunfa». O adversário lançou mão a todos os seus tesouros. Ela viu os pagãos penetrarem no seu santuário, aqueles a quem tinhas ordenado: «Não entrarão contigo na assembleia». Geme todo o seu povo à procura de pão. Troca as suas jóias por víveres, a fim de conservar a vida. «Vê, Senhor, e considera a escória em que me tornei!» Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se existe dor igual à dor que me atormenta, pois o Senhor feriu-me no dia da sua ardente cólera. Do alto lançou um fogo que penetrou nos meus ossos. Estendeu a meus pés uma rede que me fez cair para trás; lançou-me na desolação, numa aflição contínua. O jugo dos meus crimes é pesado. Com sua mão os enfeixou e colocou sobre o meu pescoço, abatendo as minhas forças. O Senhor pôs-me nas mãos deles; não posso levantar-me. O Senhor dispersou todos os meus guerreiros que viviam aqui comigo. Convocou contra mim um exército, a fim de abater os meus soldados. O Senhor pisou, como num lagar, a virgem filha de Judá. É por isso que eu choro; desfazem-se em lágrimas meus olhos, porque não há quem me console e reanime a minha alma. Vivem consternados os meus filhos, porque triunfa o inimigo. Sião estende as suas mãos, não há quem tenha piedade dela. O Senhor mandou contra Jacob inimigos vindos de todos os lados. Jerusalém tornou-se objecto de abominação aos olhos deles. Porém, o Senhor é justo, porque fui rebelde às suas ordens. Escutai povos todos e vede a minha dor. As minhas donzelas e os meus jovens foram levados para o exílio. Clamei pelos meus amantes, eles traíram-me. Os meus sacerdotes e os meus anciãos pereceram na cidade, quando buscavam alimento para conservar a vida. Vê, Senhor, a minha angústia! Fervem as minhas entranhas. O meu coração contorce-se dentro de mim, pois fui rebelde, obstinado. Lá fora, a espada priva-me dos filhos; em casa é como a morte. Escutai como estou gemendo, não há ninguém que me console. Todos os inimigos, sabendo da minha ruína, alegram-se do que Tu fazes. Faz chegar o dia que anunciaste, e que eles sejam como eu. Chegue toda a sua maldade à tua presença. E trata-os também a eles, como me trataste a mim, por causa das minhas iniquidades. Pois não cessam os meus gemidos, e o meu coração desfalece. Na sua ira, o Senhor escurecerá a cidade de Sião! Precipitou do céu à terra o esplendor de Israel. Esqueceu o estrado dos seus pés, no dia da sua ira. O Senhor arrasou, sem piedade, todas as moradas de Jacob. E, em seu furor, arruinou as fortificações da capital de Judá. Lançou por terra e amaldiçoou o reino e os seus príncipes. No ardor da sua cólera, quebrou todo o poderio de Israel. Em face do inimigo, retirou o apoio da sua mão direita. Provocou um incêndio em Jacob, queimando tudo à sua volta. Como um inimigo, retesou o seu arco, firmou bem a sua direita. Como adversário, destruiu tudo o que era agradável à vista. Nas tendas da cidade de Sião lançou como fogo o seu furor. O Senhor comportou-se como inimigo, destruiu Israel; demoliu os seus palácios, arrasou as suas fortificações; sobre a cidade de Judá acumulou dores e mais dores. Devastou como um ladrão a sua morada, demoliu o seu recinto sagrado. O Senhor aboliu em Sião festas e sábados. E no ardor da sua cólera repeliu rei e sacerdote. O Senhor rejeitou o seu altar, desprezou o seu santuário e entregou nas mãos do inimigo os muros dos seus palácios. Elevaram-se gritos na casa do Senhor como em dia de festa. Resolveu o Senhor demolir os muros de Sião; mediu-a com um cordel e não retirou a sua mão destruidora. Derrubou os muros e a fortaleza: em conjunto se desmoronaram. Jazem por terra as suas portas; quebrou-as, partindo as trancas. Estão entre os pagãos o seu rei e os seus príncipes. Já não há lei. Até aos seus profetas são recusadas as visões da parte do Senhor. Os anciãos da cidade de Sião sentam-se por terra, emudecidos. Lançam cinza sobre as suas cabeças, vestem-se de saco. As virgens de Jerusalém inclinam a cabeça para a terra. Os meus olhos derretem-se em lágrimas; estremecem as minhas entranhas. Por terra derrama-se o meu fígado, por causa da ruína do meu povo, enquanto vão desfalecendo os meninos e as crianças de peito nas ruas da cidade. Onde haverá pão e vinho? – perguntam eles às mães, enquanto, como feridos de morte, iam desfalecendo nas praças da cidade, exalando o seu último suspiro no regaço materno. A que coisa te hei-de assemelhar? A que te comparar ó Jerusalém? A que te igualarei, para te consolar, ó jovem capital de Sião? É imensa como o mar a tua ruína; quem poderá curar-te? Os teus profetas vaticinaram-te apenas coisas falsas e loucas. Não te revelaram as tuas iniquidades, a fim de mudar o teu destino. Anunciaram-te apenas oráculos falsos e enganadores. Todos os transeuntes batem palmas ao ver-te; assobiam e meneiam a cabeça, escarnecendo de Jerusalém: «Eis a cidade que dizem ser a beleza perfeita, a alegria de todo o universo». Todos os teus inimigos abrem a sua boca contra ti; escarnecem e rangem os dentes. E dizem: «Demos cabo dela; este é o dia que esperávamos, conseguimos e já o vemos!» O Senhor realizou em ti o que tinha determinado, executou a sua palavra outrora proferida. Destruiu sem piedade. Alegrou o inimigo a teu respeito, e exaltou o poder dos teus adversários. Clama com o coração ao Senhor, ó muralha da cidade de Sião! Faz correr em torrente as tuas lágrimas noite e dia! Não te dês descanso, não cessem os teus olhos de chorar! Levanta-te, grita durante a noite, no começo das vigílias; derrama o teu coração como a água perante a face do Senhor. Ergue para Ele as mãos, pela vida dos teus filhos que desfalecem de fome por todos os recantos das ruas. Olha, Senhor, e considera! A quem jamais trataste assim? Hão-de as mulheres comer os seus filhos, as crianças que descansam nos seus braços? Hão-de ser massacrados os sacerdotes e os profetas no santuário do Senhor? Jazem por terra, nas ruas, as crianças e os velhos. As minhas donzelas e os meus jovens tombaram ao fio da espada. Mataste no dia da tua cólera, imolaste e não te compadeceste. Convocaste, como para uma festa, os terrores de todas as partes. Não houve quem escapasse ou fugisse no dia da ira do Senhor. Aqueles que criei e eduquei, o meu inimigo os exterminou. Eu sou o homem que conheceu a miséria, sob a vara da sua ira. Conduziu-me e fez-me caminhar nas trevas e não na luz. Dirige contra mim a sua mão todos os dias, sem cessar. Consumiu a minha carne e a minha pele, partiu os meus ossos. Edificou e levantou um cerco de dores e amargura em meu redor. Fez-me morar nas trevas como os mortos para sempre. Cercou-me com um muro, e não tenho saída, carregou-me de pesados grilhões. Mesmo quando grito e imploro socorro, Ele rejeita a minha prece. Bloqueou-me o caminho com pedras, fez-me seguir por estrada errada. Ele foi para mim qual urso de emboscada, como um leão no esconderijo. Desviou-me do caminho para me destruir, deixou-me destroçado. Retesou o seu arco e tomou-me para alvo das suas setas. Fez cravar nos meus rins as setas da sua aljava. Tornei-me o escárnio de todo o meu povo, o seu gozo de todos os dias. Fartou-me de amargura, embriagou-me de fel. Quebrou-me os dentes com uma pedra e mergulhou-me na cinza. A paz foi desterrada da minha alma, já nem sei o que é a felicidade. E exclamei: «Falta-me a força e a esperança que tinha no Senhor.» Lembra-te dos meus tormentos e misérias, que são fel e amargura. Ao pensar nisto, sem cessar, a minha alma desfalece. Isto, porém, guardo no meu coração; por isso, mantenho a esperança: É que a misericórdia do Senhor não acaba, não se esgota a sua compaixão. Cada manhã ela se renova; é grande a tua fidelidade. «O Senhor é a minha herança», disse a minha alma. Por isso espero nele. OSenhor é bom para os que nele confiam, para a alma que o procura. Bom é esperar em silêncio a salvação do Senhor. É bom para o homem carregar o jugo, desde a sua juventude. Que se recolha em silêncio, quando o Senhor o põe à prova; que ponha a sua boca na cinza, talvez encontre esperança; que apresente a face a quem o fere e suporte as afrontas. Porque o Senhor não rejeita ninguém para sempre. Embora castigue, tem compaixão, porque é grande o seu amor. Pois não é por gosto que Ele humilha e aflige os filhos dos homens. Calcar sob os seus pés todos os cativos do país; violar os direitos de um homem ante a face do Altíssimo, lesar alguém na justiça de sua causa, não verá tudo isto o Senhor? Quem é que fala e cria as coisas? Não é o Senhor quem decide? Não é da boca do Altíssimo que procedem os males e o bem? De que se lamentará um ser vivente, um homem, acerca do seu pecado? Examinemos atentamente os nossos caminhos e convertamo-nos ao Senhor. Elevemos o nosso coração e as mãos para Deus que está no céu. Pecámos e revoltámo-nos. Tu não nos perdoaste! Cobriste-te de cólera e perseguiste-nos; mataste sem piedade. Te envolveste numa nuvem para impedir que as súplicas chegassem. Fizeste-nos objecto de opróbrio, de escárnio entre as nações. Abrem a boca contra nós, todos os nossos inimigos. Houve terror e armadilhas contra nós, ruínas e desolação. Rios de lágrimas correm-me dos olhos, pela ruína da capital do meu povo. Os meus olhos choram lágrimas contínuas, sem descanso, até que do alto dos céus o Senhor se incline e veja. Estão pisados os meus olhos de chorar pelas jovens da minha cidade. Perseguiram-me como a um pássaro aqueles que me odeiam sem razão. Quiseram exterminar-me no fosso, lançando pedras sobre mim. Acima da minha cabeça subiam as águas: «Estou perdido», exclamei. Invoquei, Senhor, o teu nome, do mais profundo do fosso. Ouviste a minha voz! Não feches os ouvidos ao meu pedido de socorro! No dia em que te invoquei, aproximaste-te e disseste: «Não temas». Defendeste, Senhor, a minha causa e me salvaste a vida. Viste, Senhor, o mal que me fazem; julga a minha causa. Viste todos os seus planos de vingança e as suas intrigas contra mim. Senhor, ouviste os seus insultos, todas as suas intrigas contra mim;os ditos dos meus agressores e os seus planos contra mim, todos os dias. Olha bem, sentados ou de pé, fazem de mim objecto de escárnio. Dá-lhes, Senhor, a paga, segundo as obras das suas mãos. Dá-lhes um coração endurecido; caia sobre eles a tua maldição. Persegue-os com a tua cólera, elimina-os de debaixo dos teus céus. Como o ouro perdeu o brilho e se alterou o ouro fino! Como foram espalhadas as pedras sagradas pelos recantos de todas as ruas! Os nobres filhos de Sião, valiosos como o ouro fino, ei-los contados como vasos de barro, obra de um oleiro! Os próprios chacais dão o seio a fim de aleitar as suas crias; a capital do meu povo é como mãe desnaturada, qual avestruz do deserto. Pela sede, a língua do menino do peito colou-se ao seu paladar. As crianças reclamam pão, e não há quem lho reparta. Os que comiam delicados manjares perecem pelos caminhos. E os que foram educados no fausto vivem agora entre o lixo. A punição do pecado desta cidade ultrapassa o castigo de Sodoma, num momento destruída, sem que ninguém lhe lançasse a mão. Os seus príncipes brilhavam mais que a neve, eram mais brancos que o leite. Os seus corpos eram mais vermelhos que o coral, como safira as suas figuras. Agora a sua face está mais negra do que o carvão. Pelas ruas ninguém os reconhece. A sua pele está colada aos ossos e seca como madeira. As vítimas da espada foram mais felizes que as vítimas da fome; pois estes sucumbiram extenuados por falta dos produtos dos campos. Mãos de mulheres, cheias de ternura, cozinharam seus próprios filhos, que lhes serviram de alimento, aquando da ruína do meu povo. O Senhor saciou o seu furor, derramou o ardor da sua indignação, acendeu em Sião um fogo que a devorou até aos seus alicerces. Nunca acreditaram os reis da terra nem nenhum dos habitantes do mundo, que o inimigo e opressor transporia as portas de Jerusalém. Foi pelos pecados dos seus profetas e pelas iniquidades dos seus sacerdotes que fizeram derramar no meio dela o sangue dos justos. Como cegos vagueavam pelas ruas, manchados de sangue, a tal ponto que ninguém ousava tocar nas suas vestes. «Para trás! Impuro! – gritavam – Para trás, para trás, não toqueis!» Quando andavam errantes entre as nações, estas exclamavam: «Aqui não voltarão a habitar». A face do Senhor os dispersou e não voltará a olhar para eles. Não respeitavam os sacerdotes, nem se compadeciam dos anciãos. Consumiam-se os nossos olhos, na esperança de um vão socorro. Espreitávamos do alto das torres a vinda de uma nação incapaz de nos livrar. Mas espiavam os nossos passos, impedindo-nos de andar pelas ruas. Aproximava-se o nosso fim, estavam cumpridos os nossos dias, porque o nosso fim estava a chegar. Os nossos perseguidores eram mais velozes que as águias do céu. Perseguiam-nos pelos montes e armaram-nos ciladas no deserto. O nosso alento de vida, o ungido do Senhor, caiu nas suas ciladas; aquele de quem dizíamos: «À sua sombra viveremos entre as nações.» Exulta e alegra-te capital de Edom, que habitas na terra de Uce! A ti também chegará o cálice, e embriagada, destaparás a tua nudez. Findou o teu castigo, capital de Sião. Não voltarás a ser exilada. Ele castiga a tua culpa, capital de Edom, desmascarou os teus pecados. Recorda-te, Senhor, do que nos aconteceu. Olha e vê a nossa humilhação. A nossa herança passou para os estrangeiros, as nossas casas, para desconhecidos. Estamos órfãos, sem pai, as nossas mães são como viúvas. A preço de dinheiro bebemos a nossa água; a nossa lenha, temos de pagá-la. Carregamos o jugo ao pescoço, estamos esgotados, não temos repouso. Estendemos a mão ao Egipto, à Assíria, para nos saciarmos de pão. Pecaram os nossos pais, mas já morreram; nós carregamos com as suas culpas. Um povo de escravos domina sobre nós e ninguém nos livra das suas mãos. Damos a nossa vida em troco do nosso pão, enfrentamos a espada do deserto. Como um forno, queima-nos a pele por causa dos ardores da fome. Violaram as mulheres em Sião, e as jovens nas cidades de Judá. Com as suas mãos dependuraram os chefes, diante dos anciãos não tiveram respeito. Os jovens fazem girar o moinho e os adolescentes vergam sob o peso da lenha. Os anciãos já não se reúnem em conselho; os jovens deixaram de tocar suas músicas. Fugiu-nos a alegria dos corações; nossas danças converteram-se em luto. Caiu a coroa da nossa cabeça; desgraçados de nós, porque pecámos! Por isso, o nosso coração está amargurado e os nossos olhos banhados em lágrimas, porque o monte Sião foi assolado, e nele andam à solta as raposas. Tu, porém, Senhor, permaneces para sempre e o teu trono subsistirá de geração em geração. Porque hás-de esquecer-nos para sempre e abandonar-nos por longos dias? Reconduz-nos a ti, Senhor, nós voltaremos. Faz-nos reviver os dias de outrora. Ter-nos-ás rejeitado inteiramente? Estarás assim tão irritado contra nós? No quinto dia do quarto mês do trigésimo ano, quando me encontrava entre os exilados, nas margens do rio Cabar, o céu abriu-se e, então, contemplei visões divinas. No quinto dia do mês – era o quinto ano do cativeiro do rei Joiaquin – a palavra de Deus foi dirigida a Ezequiel, filho do sacerdote Buzi, na Caldeia, nas margens do rio Cabar, e a mão do Senhor estava sobre ele. Olhando vi que do norte soprava um vento fortíssimo: uma nuvem espessa acompanhada de um clarão e uma massa de fogo resplandecente à volta; no meio dela, via-se algo semelhante ao aspecto de um metal resplandecente. E ao centro, distinguia-se a imagem de quatro seres viventes, todos com aspecto humano. Mas cada um tinha quatro faces e quatro asas. As suas pernas eram direitas e as plantas dos pés assemelhavam-se às do boi e cintilavam como bronze polido. Debaixo das asas, nos quatro lados, apareciam mãos humanas; as faces e as asas dirigiam-se para os quatro pontos cardeais. As asas estavam ligadas umas às outras; quando avançavam, não se viravam para os lados; cada um dos seres viventes caminhava sempre em frente. No que toca ao seu aspecto, tinham face de homem, à frente; mas os quatro tinham uma face de leão, à direita, uma face de touro, à esquerda, e uma face de águia, à retaguarda. E as faces e as asas estendiam-se para o alto; cada um tinha duas asas que se tocavam, e duas asas que lhe cobriam o corpo. Eles caminhavam em frente e seguiam para onde o espírito os levava; e não se voltavam, quando caminhavam. Entre os seres viventes, aparecia uma coisa semelhante a carvões ardentes, parecidos a tochas, que iam e vinham entre os seres viventes; e do fogo irradiava um clarão brilhante e saíam relâmpagos. E os seres viventes iam e voltavam semelhantes a raios. Eu via os seres viventes e notava que havia uma roda na terra, ao lado de cada um dos quatro seres viventes. As rodas davam a impressão de ter o brilho de crisólitos; todas tinham o mesmo aspecto e pareciam trabalhadas, como se estivessem uma no meio da outra. Podiam dirigir-se para as quatro direcções sem precisar de virar, ao avançarem. A circunferência delas tinha uma altura assombrosa, e eu contemplava-as; e nelas havia olhos em toda a volta. E quando os seres viventes caminhavam, as rodas seguiam ao seu lado; quando os seres viventes se erguiam da terra, também as rodas se erguiam. Elas dirigiam-se para onde o espírito as impelia; e erguiam-se igualmente da terra, porque o espírito dos seres viventes se encontrava nas rodas. Avançavam ao mesmo tempo, as rodas e os seres viventes; igualmente paravam simultaneamente; e quando se erguiam da terra os seres viventes, também se erguiam as rodas, porque o espírito dos seres viventes se encontrava nas rodas. Havia algo semelhante a uma abóbada brilhante como o cristal, sobre a cabeça dos seres viventes; e a abóbada estendia-se sobre as cabeças. As asas, voltadas umas para as outras, estendiam-se sob a abóbada; cada um tinha duas que lhe cobriam o corpo. Eu escutava o ruído das asas como o barulho das grandes torrentes, como a voz do Omnipotente, quando eles avançavam, ou como o ruído do campo de batalha; quando paravam, as asas baixavam. E, por cima da abóbada, que ficava sobre as suas cabeças, fazia-se um grande ruído; quando paravam, as asas baixavam. Pela parte de cima da abóbada, que ficava sobre as suas cabeças, estava uma coisa semelhante a pedra de safira, em forma de trono, e sobre esta espécie de trono, no alto, pela parte de cima, um ser com aspecto humano. E verifiquei que, do que parecia ser da cintura para cima, tinha como que um brilho vermelho, algo como fogo, à sua volta; e da cintura para baixo, vi como que fogo, espalhando um clarão à sua volta. O esplendor à sua volta parecia o arco-íris que aparece nas nuvens nos dias de chuva. Era algo que tinha o aspecto da glória do Senhor. Contemplei e prostrei-me com o rosto por terra. E ouvi uma voz que falava. Disse-me: «Filho de homem, põe-te de pé que vou falar-te.» O Espírito penetrou em mim, enquanto me falava, e mandou-me pôr de pé; e ouvia alguém que me chamava. Disse-me: «Filho de homem, vou enviar-te aos filhos de Israel, aos rebeldes, que se insurgiram contra mim. Eles e seus antepassados têm-se revoltado contra mim, até ao presente dia. Eles têm a cabeça dura e o coração obstinado; envio-te a eles, e deves dizer-lhes: ‘Assim fala o Senhor Deus.’ E quer te escutem quer não, porque são uma raça de gente rebelde, saberão que há um profeta entre eles. Tu, porém, filho de homem, não tenhas medo deles, não receies as suas palavras, ainda que espinhos e abrolhos te rodeiem e te venhas a sentar sobre escorpiões. Não temas as suas palavras e não tenhas medo das suas faces; porque são gente rebelde. Tu lhes dirigirás as minhas palavras, quer as atendam quer não; porque são uma raça de gente rebelde.» «Tu, porém, filho de homem, escuta o que te digo. Não sejas rebelde como aquela gente rebelde. Abre a boca e come o que te vou dar.» Olhei e vi uma espécie de mão que se dirigia para mim, segurando um manuscrito enrolado. Abriu-o diante de mim: estava escrito nas duas faces; e lia-se: «Lamentações, gemidos e choros.» Disse-me: «Filho de homem, come aquilo que te é apresentado, come este manuscrito e vai falar à casa de Israel.» Abri então a boca e Ele deu-me o manuscrito a comer. E disse-me: «Filho de homem, alimenta-te e sacia-te com este manuscrito que agora te dou.» Comi-o e ele foi, na minha boca, doce como o mel. Então, disse-me: «Filho de homem, dirige-te à casa de Israel, e leva-lhes as minhas palavras. És enviado não a um povo de linguagem incompreensível e de língua bárbara, mas sim à casa de Israel. Não é a povos numerosos e de linguagem incompreensível e língua bárbara, que tu não entenderias; esses ouvir-te-iam, se a eles te enviasse. Mas a casa de Israel não te quer escutar, porque não me quer ouvir a mim; pois os da casa de Israel são de cabeça dura e coração obstinado. Eis que Eu tornei a tua face dura como a deles e a tua cabeça dura como a deles. Vou tornar a tua testa rija como o diamante, que é mais duro que a rocha. Não tenhas medo deles, não receies diante deles, porque são gente rebelde.» Depois, disse-me: «Filho de homem, todas as palavras que Eu te disser, guarda-as no teu coração, escuta-as com toda a atenção. Levanta-te e vai ter com os exilados, os teus compatriotas. Fala com eles e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, quer eles ouçam, quer não ouçam.» Então, o espírito apoderou-se de mim e ouvi atrás de mim o barulho de um violento rumor: «Bendita seja a glória do Senhor, no lugar onde ela repousa!» Era o ruído das asas dos seres viventes, que batiam umas nas outras, o ruído das rodas e o ruído de um grande tumulto. E o espírito arrebatava-me e transportava-me. E eu seguia com o coração amargurado, enquanto a mão do Senhor pesava sobre mim. E assim, cheguei a Tel-Aviv, junto dos exilados que se tinham instalado nas margens do rio Cabar – era lá que eles habitavam – e ali fiquei sete dias, no meio deles, como que entorpecido. Ao fim de sete dias, a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Filho de homem, nomeei-te sentinela da casa de Israel; se ouvires uma palavra saída da minha boca, tu lha dirigirás da minha parte. Se Eu digo ao pecador: ‘Vais morrer’, e tu não o exortas e não falas para o afastar do mau caminho, para que ele possa viver, é ele, o pecador, que perecerá por causa do seu pecado; mas, é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. Mas, se tu avisares o pecador e ele não se emendar da sua perversidade e má conduta, então ele morrerá por causa do seu pecado; mas tu terás salvo a tua vida. Quando o justo se desvia da sua justiça para fazer o mal, Eu lhe preparo uma armadilha, de modo que ele morra; porque tu não o avisaste, ele perecerá por causa do seu pecado e ninguém recordará a justiça que ele praticou; mas é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. Se, pelo contrário, tu preveniste um justo para que não pecasse e ele, de facto, não peca, ele viverá, porque foi advertido, e tu salvarás a tua vida.» A mão do Senhor esteve sobre mim e disse-me: «Ergue-te, dirige-te ao vale; aí te falarei.» Levantei-me, dirigi-me para o vale, e vi que a glória do Senhor era como a glória que eu tinha contemplado nas margens do rio Cabar, e eu caí com a face por terra. Nessa altura, o espírito entrou em mim, fez-me levantar e falou-me. Disse-me: «Vai e encerra-te na tua casa. Filho de homem, eis que te vão fechar em cadeias e ficarás ligado e não poderás sair do meio delas. Farei aderir a tua língua ao teu palato, de tal maneira que emudecerás e não poderás falar-lhes, pois são uma raça de gente rebelde. Mas, quando Eu te falar, abrirei a tua boca e tu lhes dirás: ‘Assim fala o Senhor Deus, Quem quiser ouvir, ouça, e quem não quiser, não ouça’; pois são uma raça de gente rebelde.» «Filho de homem, toma um tijolo, põe-no diante de ti e desenha nele uma cidade, Jerusalém. Depois, empreenderás contra ela um cerco, construirás contra ela trincheiras, erguerás contra ela um terraço, estabelecerás contra ela acampamentos e instalarás à sua volta, contra ela, aríetes. Em seguida, pega numa chapa de ferro que porás como uma muralha entre ti e a cidade; depois, voltarás contra ela a tua face, como se ela fosse cercada e tu fosses o inimigo. É um sinal para a casa de Israel.» «Depois, deita-te sobre o lado esquerdo, e toma sobre ti o pecado de Israel; levarás a sua iniquidade, enquanto estiveres assim deitado, durante todo esse tempo. E Eu determino os anos do seu pecado em número de dias; levarás o pecado de Israel durante cento e noventa dias. E quando tiveres acabado esses dias, recosta-te sobre o lado direito; e carregarás o pecado da casa de Judá, durante quarenta dias; estabeleço um dia para cada ano. Voltarás a tua face e erguerás o teu braço nu para Jerusalém cercada e profetizarás contra ela. Eis que te prenderei com cordas e tu não te voltarás de um lado para o outro, enquanto não se tiverem concluído os dias do teu cerco.» «Recolhe, por conseguinte, trigo, cevada, favas, lentilhas, milho miúdo e aveia; guarda-os no mesmo recipiente; faz deles o teu alimento durante todo o tempo em que estiveres deitado sobre o teu lado, trezentos e noventa dias. E este alimento que vais recolher e que vai ser o teu alimento, será pesado à razão de vinte siclos por dia, e só o comerás nos tempos marcados. De igual modo, a água que beberás será medida: um litro de água por dia. Comerás este alimento sob a forma de torta de cevada, a qual será cozida sobre excrementos humanos, à vista deles.» E o Senhor disse: «Assim comerão os filhos de Israel os seus alimentos impuros no meio das nações para onde os dispersarei.» Então eu disse: «Ah! Senhor Deus, a minha vida não foi manchada; nunca comi carne de animais sufocados ou despedaçados, desde a minha infância até ao presente, e nenhuma carne impura entrou na minha boca.» Então, ele disse-me: «Pois bem, permito-te que troques os excrementos humanos por excrementos de boi; cozerás o teu pão sobre eles.» Em seguida, disse-me: «Filho de homem, eis que vou destruir a reserva de pão em Jerusalém: na angústia, comerão pão rigorosamente pesado e beberão com pavor água racionada, porque o pão e a água faltarão; desfalecerão uns sobre os outros e definharão, por causa do seu pecado.» «E tu, filho de homem, toma uma lâmina afiada, como a navalha de barbeiro; toma-a e passa com ela sobre a tua cabeça e a tua barba. Em seguida, servir-te-ás de uma balança e dividirás os cabelos cortados. Lançarás o fogo a um terço deles, no meio da cidade, enquanto durar o tempo do cerco. Tomarás um outro terço que cortarás com a espada, em redor da cidade. O último terço atirá-lo-ás ao vento e Eu lançarei a espada atrás deles. Guardarás, contudo, uma pequena quantidade, que meterás no bolso do teu manto. Destes tomarás ainda uns poucos, que lançarás ao fogo e queimarás; é deles que sairá o fogo que há-de queimar Israel.» Assim fala o Senhor Deus, «Isto é Jerusalém! Coloquei-a entre os povos; e as nações estrangeiras ficaram à sua volta. Ela revoltou-se contra as minhas leis com mais perversidade do que as outras nações; e contra as minhas ordens, mais do que os países que a rodeiam. Porque os israelitas desprezaram as minhas leis e não praticam as minhas ordens.» É por isso que assim fala o Senhor Deus, «Porque fostes mais rebeldes do que as nações que se encontram à volta, porque não obedecestes às minhas ordens e não praticastes as minhas leis, e porque nem sequer seguistes as leis dos povos vizinhos, por isso – assim fala o Senhor Deus, Eis que também Eu me ponho contra ti e vou agir com justiça para contigo, à vista dos povos. Agirei para contigo como nunca agi nem nunca agirei, por causa das tuas faltas abomináveis. Por isso, os filhos serão devorados pelos pais, no meio de ti, e os filhos devorarão os pais. Agirei rigorosamente para contigo e dispersarei por todos os ventos tudo o que resta de ti. Por isso, pela minha vida – diz o Senhor Deus porque profanaste o meu santuário com toda a espécie de infâmias e abominações, Eu também te abandonarei sem um olhar de misericórdia e também não te pouparei. A terça parte dos teus habitantes morrerá de peste e fome, dentro dos teus muros; outra terça parte perecerá à espada, à tua volta; a última terça parte dispersá-los-ei pelos quatro ventos e desembainharei a espada atrás deles. Desse modo ficará saciada a minha cólera; satisfarei o meu furor contra eles e vingar-me-ei; então, saberão que Eu, o Senhor, falei com zelo, quando tiver saciado o meu furor contra eles. De ti farei objecto de desolação e de humilhação, no meio dos povos que te rodeiam, aos olhos de todos os que passam. Tornar-te-ás objecto de humilhação e de escárnio, um exemplo e assunto de horror para as nações que te cercam, quando executar sobre ti as minhas sentenças com ira e furor, e com severos castigos. Eu, o Senhor, falei. Quando mandar contra vós flechas de fome que serão a vossa destruição, porque as enviarei para vos perder, então destruirei a vossa reserva de pão. Enviarei contra vós a fome e animais ferozes, que te privarão dos teus filhos; sobre ti passarão a peste e o sangue e farei vir contra ti a espada. Eu, o Senhor, falei.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, volta-te para as montanhas de Israel, profetiza contra elas e diz: ‘Montanhas de Israel, ouvi a palavra do Senhor Deus. Assim fala o Senhor DEUS às montanhas e colinas, às ravinas e aos vales: Eis que vou fazer vir contra vós a espada e arrasarei os vossos lugares altos. Os vossos altares serão demolidos e os vossos incensários serão destruídos; farei com que os vossos habitantes caiam trespassados de golpes, diante dos vossos ídolos. E diante dos seus ídolos estenderei os cadáveres dos filhos de Israel e, à volta dos vossos altares, espalharei os vossos ossos. Em todo o vosso território serão destruídas as cidades e devastados os lugares altos a fim de que os vossos altares sejam demolidos e arrasados, para que os vossos ídolos sejam despedaçados e suprimidos, os vossos incensários destruídos e as vossas obras desfeitas. E no meio de vós cairão os feridos de morte, para que saibais que Eu sou o Senhor.’» «Quando houver entre as nações alguns de entre vós que tiverem escapado à espada, quando tiverdes sido dispersos entre os povos, então os sobreviventes se lembrarão de mim entre as nações para onde forem dispersos, e Eu partirei o vosso coração prostituído, que se afastou de mim, e os olhos adúlteros, que se voltaram para os seus ídolos. Nessa altura, sentirão a dor, devido ao pecado que fizeram com as suas práticas abomináveis. Então, reconhecerão que Eu, o Senhor, não falei em vão, quando disse que lhes infligiria todos estes males.» Assim fala o Senhor Deus, «Aplaude, bate o pé e diz ‘Ah!’ sobre todas as iniquidades da casa de Israel, que vai perecer à espada, pela fome e com a peste. Os que estão longe, morrerão com a peste; os que estão perto, perecerão à espada; morrerão de fome os que restarem – os sitiados – porque Eu saciarei o meu furor contra eles. Sabereis que Eu sou o Senhor, quando os seus cadáveres jazerem no meio dos ídolos, em redor dos altares, em todas as colinas elevadas, no cimo de todas as montanhas, debaixo das árvores verdejantes e dos carvalhos frondosos, onde oferecem odor de incenso agradável a todos os seus ídolos. Estenderei contra eles a minha mão; tornarei o país desolado e devastado, desde o deserto até Ribla em todas as localidades onde habitam. Nessa altura, reconhecerão que Eu sou o Senhor.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, diz: ‘Assim fala o Senhor Deus à terra de Israel: Aproxima-se o fim; sobre os quatro cantos da terra é chegado o fim. Agora vem o fim para ti. Envio a minha ira contra ti; julgo-te segundo a tua maneira de proceder e faço com que caiam sobre ti todas as tuas iniquidades. Não terei para ti um olhar de compaixão, nem te pouparei; da tua conduta te pedirei contas e as tuas iniquidades estarão no meio de ti. Então sabereis que Eu sou o Senhor.’ Assim fala o Senhor Deus, ‘Desgraça sobre desgraça, eis que o fim se aproxima. O termo vai chegar, o fim aproxima-se de ti, eis que ele chega. Chegou a tua hora, habitante do país. O tempo chega, o dia do terror está próximo; sobre as montanhas já não há alegria. E agora eis que vou derramar sobre ti a minha cólera e saciar o meu furor contra ti; vou julgar-te segundo a tua conduta e farei vir sobre ti todas as tuas abominações. Para ti não terei um olhar de misericórdia, nem te pouparei; pedir-te-ei contas da tua maneira de proceder e as tuas abominações estarão no meio de ti. E sabereis que sou Eu o Senhor que castiga.’ Eis o dia! Eis que se aproxima! Chegou a tua vez. A vara floriu, o orgulho germinou. Levanta-se a violência como vara de impiedade. Nada deles resta, nem do seu tumulto, nem da sua agitação; neles não há esplendor. Aproxima-se o tempo: o dia está perto. Que o comprador não se alegre, que o vendedor não se preocupe, porque a cólera vem sobre toda a gente. O vendedor não encontrará o que havia vendido, embora se encontre ainda vivo; porque a ira vem sobre todos; e ninguém poderá subsistir, por causa do seu pecado. Tocai a trombeta! Está tudo preparado e ninguém vai para o combate, porque a minha cólera chega sobre todos. Do lado de fora, está a espada; a peste e a fome, do lado de dentro. Quem está no campo, morrerá à espada; quem está na cidade, será devorado pela peste e pela fome. Os fugitivos procurarão abrigo nas montanhas como pombas nos vales; morrerão todos, cada um no seu pecado. Todas as mãos hão-de desfalecer; hão-de fraquejar todos os joelhos. Hão-de revestir-se de saco e o pavor há-de apoderar-se deles. Todas as faces ficarão cobertas de vergonha; serão rapadas todas as cabeças. Lançarão a prata para as ruas e o ouro será para eles como lixo. Nem o ouro nem a prata os poderão salvar, no dia da ira do Senhor. Não hão-de saciar-se nem encher a barriga com eles; pois isso foi a ocasião do seu pecado. Sentiam orgulho na beleza das suas jóias; com elas fizeram as suas imagens abomináveis, os seus ídolos; por isso, farei dessas jóias objecto de vergonha para eles. Eis que os entrego à pilhagem dos estrangeiros e, para profanação, ao saque da ralé da terra. Desviarei deles o meu olhar; profanarão o meu tesouro; os bárbaros penetrarão nele para o violar. Prepara cadeias, porque o país está cheio de crime, e a minha cidade repleta de violência. Farei vir as piores nações, para se apoderarem das suas casas. Porei termo ao orgulho dos poderosos e os seus santuários serão profanados. Eis que vai chegar a angústia; depois procurarão a salvação, mas não a encontrarão. Hão-de desencadear-se tragédias sobre tragédias, más notícias sobre más notícias. Ao profeta pedirão uma visão; o conhecimento da lei faltará ao sacerdote, e o conselho aos anciãos. O rei irá pôr luto; o príncipe ficará mergulhado na consternação. Tremerão as mãos do povo. Vou tratá-los segundo a sua conduta. Depois, reconhecerão que Eu sou o Senhor.» No sexto ano, no dia cinco do sexto mês, quando me encontrava em minha casa e os anciãos de Judá se sentavam diante de mim, sucedeu que a mão do Senhor Deus baixou sobre mim. Olhei e vi uma figura que se assemelhava a um homem que, dos rins para baixo, tinha a aparência de fogo e dos rins para cima, era como um clarão vermelho. Estendeu-me uma espécie de mão e agarrou-me pelos cabelos. Em seguida, nesta visão divina, o espírito arrebatou-me entre o céu e a terra e conduziu-me a Jerusalém, até à entrada da porta interior que dá para norte, onde era o lugar do ídolo rival, que provoca ciúmes. E eis que lá se encontrava a glória do Deus de Israel, semelhante à da visão que tivera no vale. Ele disse-me: «Filho de homem, ergue os olhos para o norte.» Levantei os olhos para norte e eis que a norte da porta do altar estava o ídolo rival, à entrada. Ele disse-me: «Filho de homem, vês o que eles fazem? Grandes abominações são as que a casa de Israel aqui pratica, de modo que Eu me afasto do meu santuário. Mas verás abominações ainda maiores.» Depois, conduziu-me à entrada do átrio; e eu reparei que havia um buraco na parede. Ele disse-me: «Filho de homem, fura a parede!» Furei a parede e eis que havia uma entrada. Ele disse-me: «Entra e vê as práticas abomináveis a que eles aqui se entregam.» Entrei e vi: havia uma figura de todas as espécies de répteis e de animais repugnantes, todos os ídolos da casa de Israel gravados na parede à volta. E eis que estavam de pé, diante dos ídolos, setenta homens de entre os anciãos da casa de Israel; também Jazanias, filho de Chafan, estava de pé diante deles. Cada um tinha o seu turíbulo na mão, e o odor do incenso subia para o ar. Ele disse-me: «Vês, filho de homem, o que os anciãos da casa de Israel fazem às escondidas, cada um no seu quarto ornamentado de pinturas? Eles dizem: ‘O Senhor não nos vê, o Senhor abandonou o país.’» Ele dizia-me: «Verás ainda abominações muito maiores do que estas que eles praticam.» Conduziu-me, depois, à entrada do pórtico do templo do Senhor, que dá para norte, e eis que se sentavam aí mulheres que choravam Tamuz. Ele disse-me: «Viste, filho de homem? Verás outras abominações ainda maiores do que estas.» Depois, conduziu-me ao átrio interior da casa do Senhor e eis que, à entrada do santuário do Senhor, entre o vestíbulo e o altar, estavam cerca de vinte e cinco homens com as costas voltadas para o santuário do Senhor,e o rosto para o oriente. Prostravam-se para oriente diante do Sol. Ele disse-me: «Viste, filho de homem? Não basta à casa de Judá entregar-se às práticas abomináveis que eles aqui cometem? Haverá ainda de encher o país de violências e de provocar sempre mais a minha cólera? Eis que aproximam um ramo do nariz. Por isso, agirei com ira; não terei um olhar de misericórdia e não os pouparei. Ainda que gritem com voz alta aos meus ouvidos, Eu não os atenderei.» Depois, gritou com voz forte aos meus ouvidos, nestes termos: «Aproximai-vos, vós que guardais a cidade, cada um com o seu instrumento de destruição na mão.» Eis que seis homens avançaram da porta superior que dá para norte; cada um tinha na mão o seu instrumento de destruição. No meio deles havia um homem vestido de branco que tinha à cintura os apetrechos de escriba. Entraram e colocaram-se junto ao altar de bronze. A glória do Deus de Israel tinha-se levantado dos querubins, sobre os quais se encontrava, e dirigiu-se para a entrada do templo. Então, chamou o homem que estava vestido de branco e tinha à cintura os apetrechos de escriba. O Senhor disse-lhe: «Vai pela cidade, atravessa Jerusalém e marca uma cruz na fronte dos homens que gemem e se lamentam por causa das abominações que nela se praticam.» E aos outros ouvi-o dizer: «Ide pela cidade atrás dele e feri os seus habitantes. Que o vosso olhar não poupe ninguém nem tenha piedade. Velhos, jovens, virgens, meninos e mulheres, matai-os a todos e exterminai toda a gente; mas não toqueis naqueles que foram marcados na fronte. Começai pelo meu santuário.» E começaram, então, pelos velhos que estavam diante do templo. Depois disse-lhes: «Profanai o templo, enchei de mortos o vestíbulo e saí.» Depois, eles saíram e feriram os que estavam na cidade. E sucedeu que, enquanto eles feriam, eu fiquei no meu lugar, caí de rosto por terra e gritei: «Ah! Senhor Deus, vais exterminar tudo o que resta de Israel, desencadeando o teu furor sobre Jerusalém?» Ele disse-me: «O pecado da casa de Israel e de Judá é enorme; a terra está cheia de sangue e a cidade, de violência; porque eles dizem: ‘O Senhor abandonou a terra e o Senhor não vê.’ Pois bem, Eu não terei um olhar de misericórdia, Eu não os pouparei; farei recair as suas obras sobre as suas cabeças.» E então, o homem que vestia de branco e que tinha na cintura os apetrechos de escriba veio prestar contas, nestes termos: «Fiz o que me mandaste.» Olhei e vi por cima da abóbada, que estava sobre as cabeças dos querubins, algo semelhante a uma pedra de safira e sobre eles via-se uma coisa parecida a um trono. Ele disse ao homem que vestia de branco: «Vai ao meio das rodas que estão sob os querubins, enche as tuas mãos de carvões do meio dos querubins e espalha-os pela cidade.» E ele foi, à minha vista. Os querubins encontravam-se à direita do templo, quando o homem entrou e a nuvem encheu o vestíbulo interior. Então a glória do Senhor elevou-se sobre os querubins, em direcção à soleira do templo; o templo ficou cheio com a nuvem e o átrio repleto do esplendor da glória do Senhor. E o ruído das asas dos querubins chegava até ao átrio exterior, à semelhança da voz do Deus supremo, quando fala. E sucedeu que, quando Ele deu esta ordem ao homem vestido de branco, dizendo: «Toma fogo do meio do carro, do meio dos querubins», o homem entrou e colocou-se perto da roda. O querubim estendeu a mão para o fogo que estava no meio dos querubins, tomou-o e colocou-o nas mãos do homem vestido de branco; este recebeu-o e saiu. E podia ver-se nos querubins algo como mãos humanas, sob as suas asas. Olhei e eis que havia quatro rodas ao lado dos querubins, uma roda ao lado de cada querubim; o aspecto das rodas era como o esplendor de crisólito. E todas tinham o mesmo aspecto, como se as rodas estivessem encaixadas umas nas outras. Quando avançavam, faziam-no nas quatro direcções e não se desviavam, ao andarem. Dirigiam-se para onde seguia o primeiro, iam atrás dele e não se desviavam, ao avançarem. Todo o seu corpo, as costas, as mãos, as asas e as rodas estavam cheios de olhos, em toda a volta. Ouvi que às rodas se dava o nome de ‘carro.’ E cada um tinha quatro faces: a face do primeiro era a face de querubim; a face do segundo, uma face humana; o terceiro tinha face de leão; e o quarto, face de águia. E os querubins levantaram-se. Eram os seres viventes que eu tinha visto junto do rio Cabar. Quando os querubins avançavam, as rodas seguiam também ao lado deles; e quando estendiam as asas para se levantarem da terra, as rodas não se desviavam do lado deles. Quando eles paravam, também elas paravam; quando eles se elevavam, também elas se elevavam, porque o espírito dos seres viventes estava nelas. Saiu, então, da soleira do templo a glória do Senhor e colocou-se sobre os querubins. Os querubins estenderam as asas e elevaram-se da terra, à minha vista, quando saíram, e as rodas juntamente com eles. Pararam à entrada da porta oriental do templo do Senhor, e a glória do Deus de Israel estava sobre eles, pelo lado de cima. Eram os seres viventes que eu tinha visto sob o Deus de Israel, junto ao rio Cabar, e reconheci que eram querubins. Cada um tinha quatro faces e cada um tinha quatro asas; e havia sob as suas asas algo como mãos humanas. Quanto ao aspecto das suas faces, eram semelhantes às que eu tinha visto junto do rio Cabar. Cada um seguia direito diante de si. Em seguida, o Espírito arrebatou-me e conduziu-me à porta oriental do templo do Senhor, que dá para oriente. E eis que, à entrada da porta, estavam vinte e cinco homens, entre os quais Jazanias, filho de Azur, e Pelatias, filho de Benaías, chefes do povo. O Espírito disse-me: «Filho de homem, estes são os homens que projectam o mal e dão conselhos perversos nesta cidade. Eles dizem: ‘A desgraça não está próxima! Construamos casas! Esta cidade é a marmita e nós a carne!’ Por isso, profetiza contra eles; profetiza, filho de homem.» Então, desceu sobre mim o espírito do Senhor e disse-me: «Vós falais assim, casa de Israel, Eu conheço o que vai no vosso pensamento. Assassinastes muitos na cidade e enchestes as ruas de cadáveres. Por isso, assim fala o Senhor Deus, ‘Os cadáveres, que espalhastes pelo meio dela, são a carne, e ela é a marmita. Mas a vós, Eu far-vos-ei sair de lá.’ Tendes medo da espada, mas Eu farei descer a espada sobre vós – oráculo do Senhor Deus. Vou fazer-vos sair da cidade e entregar-vos nas mãos dos estrangeiros e executarei sobre vós os meus juízos. Morrereis ao fio da espada; hei-de julgar-vos na fronteira de Israel e, então, sabereis que Eu sou o Senhor. Esta cidade não será para vós uma marmita e vós não sereis a carne dentro dela; hei-de julgar-vos no território de Israel. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor, cujos mandamentos vós não guardastes, e cujas leis vós não seguistes; mas agistes segundo os costumes dos povos vizinhos.» E eis que, enquanto eu profetizava, Pelatias, filho de Benaías, morreu. Então, caí com o meu rosto por terra e gritei em alta voz: «Ah! Senhor Deus, queres aniquilar o resto de Israel?» Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, é a teus irmãos, a teus familiares e a toda a casa de Israel que os habitantes de Jerusalém dizem: ‘Eles estão longe de Deus; a nós é que o país foi dado em herança.’ Por isso, diz: Assim fala o Senhor Deus, ‘Sim, afastei-os entre as nações e dispersei-os para os países estrangeiros; e a custo fui para eles um santuário, nos países para onde eles foram.’ Por isso, diz: Assim fala o Senhor Deus, ‘Eu vos reunirei de entre os povos e vos reconduzirei de todos os países, para onde fostes dispersos, e vos darei a terra de Israel.’ E nela entrarão e destruirão todos os seus horrores e abominações. Dar-lhes-ei um coração novo e infundirei no seu íntimo um espírito novo. Arrancarei do seu corpo o coração de pedra e dar-lhes-ei um coração de carne, para que caminhem segundo os meus preceitos e observem as minhas leis e as cumpram. Eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus. Mas pedirei contas da sua conduta, àqueles que correm com o coração atrás dos ídolos e abominações» – oráculo do Senhor Deus. Então, os querubins elevaram as asas e as rodas começaram a avançar juntamente com eles; e a glória do Deus de Israel estava sobre eles, no alto. A glória do Senhor elevou-se do meio da cidade e fixou-se sobre a montanha que se encontra a oriente da cidade. Então, o espírito arrebatou-me e conduziu-me à Caldeia, entre os exilados, por meio de uma visão da parte do espírito de Deus; e a visão, que eu tivera em espírito, desapareceu à minha frente. E eu contei aos exilados todas as coisas que o Senhor me tinha feito ver. Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, tu moras no meio desta raça de gente rebelde que tem olhos para ver e não vê, ouvidos para ouvir e não ouve; porque são gente rebelde. Tu, filho de homem, prepara a tua bagagem de emigrante e sai de dia, à vista deles. Sai do lugar onde te encontras, para outro lugar à vista deles. Talvez eles vejam; porque são gente rebelde. Prepararás as tuas coisas como bagagem de exilado, de dia, à vista deles; e sairás à tarde, à vista deles, como saem os exilados. Faz um buraco na parede, à vista deles, e sai através dele. À vista deles, põe a bagagem aos ombros e sai na obscuridade. Cobre o rosto para não poderes ver o país, porque Eu faço de ti um símbolo para a casa de Israel.» Procedi conforme me foi ordenado; preparei as minhas coisas como bagagem de exilado e, à tarde, fiz um buraco na parede com a mão. Saí na obscuridade e carreguei a bagagem, à vista deles. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, de manhã, nestes termos: «Filho de homem, não te perguntou a casa de Israel, a gente rebelde: ‘Que fazes?’ Responde-lhes: Assim fala o Senhor Deus, ‘Este oráculo de ameaça é dirigido ao chefe de Jerusalém e a toda a casa de Israel que nela habita.’ Diz: ‘Eu sou para vós um sinal. Como eu fiz, assim vos será feito.’ Eles irão para o exílio, para o cativeiro. O príncipe que se encontra no meio deles carregará a bagagem ao ombro, na obscuridade, e sairá pelo muro, no qual será feito um buraco. Ele cobrirá o rosto para não ser visto por ninguém nem poder contemplar o país. Eu, porém, lançarei a minha rede e ele será apanhado nela; levá-lo-ei para a Babilónia, para o país dos caldeus; mas ele não verá o país e ali morrerá. E tudo à sua volta, os seus colaboradores e as suas tropas, será disperso aos quatro ventos, e desembainharei a espada contra eles. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor, quando os espalhar entre as nações e os dispersar pelos países estrangeiros. Mas pouparei um resto de homens da espada, da fome e da peste, para que eles contem as suas abominações entre as nações, para onde seguirão. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor.» Foi-me dirigida a palavra de Deus nestes termos: «Filho de homem, comerás o teu pão a tremer e beberás a tua água na inquietação e na angústia.» E dirás ao povo do país: «Assim fala o Senhor Deus aos habitantes de Jerusalém, que estão na terra de Israel: comerão o pão na aflição e beberão a água no meio de tormentos, porque o país e tudo o que existe será devastado por causa da violência de todos os seus habitantes. As cidades, que estão habitadas, ficarão desertas e o país será devastado. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, que significa este provérbio que repetis no país de Israel: ‘Os dias sucedem-se e toda a visão fica sem efeito’? Por isso, diz-lhes: ‘Assim fala o Senhor Deus, Porei fim a este provérbio; não será mais usado em Israel.’ Diz-lhes, pelo contrário: ‘Os dias aproximam-se e igualmente todas as visões se cumprem.’ Porque não haverá mais visões enganadoras nem oráculos falsos, em Israel. Porque Eu, o Senhor, falarei. O que Eu digo, cumprir-se-á sem demora. Sim, é em vossos dias, casa rebelde, que Eu direi a palavra e a realizarei» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, eis que a casa de Israel diz: ‘A visão que este tem é para dias longínquos; ele profetiza para tempos distantes.’ Por isso, diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, ‘Todas as minhas palavras se cumprirão. A palavra que Eu digo vai realizar-se’» – oráculo do Senhor DEUS. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, profetiza contra os profetas de Israel; profetiza e diz: Escutai a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus, Ai dos profetas insensatos que seguem o seu próprio espírito, sem nada verem! Como raposas entre ruínas, são os teus profetas, ó Israel. Vós não subistes às brechas e não levantastes muralhas à volta da casa de Israel para que se mantenha firme no combate, no Dia do Senhor. Têm visões vãs e oráculos enganadores aqueles que dizem: ‘Oráculo do Senhor ’, sem que o Senhor os tivesse enviado; e, contudo, esperam que Ele realize a sua palavra. Não são, porventura, visões vãs as que vós tendes, e oráculos falsos os que pronunciais, quando dizeis: ‘Oráculo do Senhor ’, sem que Eu tenha falado? Por isso, assim fala o Senhor Deus, Porque proferis palavras vãs e tendes visões enganadoras, eis que Eu me declaro contra vós – oráculo do Senhor Deus. A minha mão estará sobre os profetas que têm visões vãs e proferem oráculos falsos. Nunca mais tomarão parte no conselho do meu povo, nem serão inscritos no livro da casa de Israel, nem entrarão na terra de Israel. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor Deus. Eles enganaram o meu povo, ao anunciarem a salvação, quando realmente não há nenhuma salvação; e, se o meu povo construía um muro, eis que eles o cobriam de reboco. Diz aos que o cobrem de reboco: ‘Virá uma chuva torrencial, cairão pedras de granizo e uma tempestade se desencadeará.’ E eis que o muro ruiu. Não vos perguntarão: ‘Onde está o reboco com que o recobristes?’ Por isso, assim fala o Senhor Deus, Na minha cólera, farei surgir uma tempestade; virá uma chuva torrencial, por causa da minha ira; pelo meu furor, cairão pedras de granizo. Farei desabar o muro que recobristes de reboco e lançá-lo-ei por terra: ficarão a descoberto os seus fundamentos. Quando ele cair, perecereis. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor. Saciarei a minha cólera contra o muro e contra aqueles que o rebocaram, de tal modo que vos dirão: ‘Já não existe o muro nem aqueles que o rebocaram, nem os profetas de Israel que profetizavam sobre Jerusalém e tinham visões de paz a seu respeito, quando realmente não havia paz’» – oráculo do Senhor Deus. «E tu, filho de homem, volta-te para as filhas do teu povo, que profetizam por sua iniciativa, e profetiza contra elas. Dirás: Assim fala o Senhor Deus, Ai daquelas que cosem faixas para os pulsos e fabricam véus para as cabeças de todas as medidas, para apanhar os outros. Será que apanhando a vida do meu povo poupareis a vossa? Vós profanais-me entre o meu povo, por um punhado de cevada e uns bocados de pão, fazendo morrer pessoas que não deviam morrer e poupando as que não devem viver, enganando, assim, o meu povo que ouve mentiras. Por isso, assim fala o Senhor Deus, Eis que me oponho às faixas com que apanhais as vidas como aves; arranco-as dos vossos braços e liberto as vidas que vós apanhais, para que levantem voo. Rasgarei os vossos véus e arrancarei o meu povo das vossas mãos; e ele não será mais uma presa nas vossas mãos. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor. Porque afligis o coração do justo com mentiras, quando Eu não o queria afligir? E porque fortaleceis as mãos do pecador para que ele não se converta do seu mau caminho, a fim de encontrar a vida? Por isso, não tereis mais visões vãs, nem proferireis oráculos falsos; arrancarei o meu povo das vossas mãos e, então, sabereis que Eu sou o Senhor.» Alguns anciãos de Israel aproximaram-se de mim e sentaram-se à minha frente. E a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Filho de homem, estas gentes puseram os seus ídolos no seu coração e colocam diante da sua face o escândalo que os faz pecar. Devo Eu deixar-me consultar por eles? Por isso, fala com eles e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, Todo o homem da casa de Israel que pôs em seu coração ídolos e ergueu diante de si o escândalo que o faz pecar, quando vier ter com o profeta, a esse darei Eu, o Senhor, uma resposta, de acordo com a multidão dos seus ídolos, para chamar à responsabilidade a casa de Israel, que se afastou de mim, por causa dos seus ídolos. Por isso, diz à casa de Israel: Assim fala o Senhor Deus, Voltai, afastai-vos dos vossos ídolos e afastai-vos de todas as vossas abominações. Porque todo o que é da casa de Israel – ou dos estrangeiros que habitam em Israel – que se afasta de mim ergue no seu coração os seus ídolos e coloca diante de si o escândalo que o faz pecar; se se dirige ao profeta para que ele me interrogue por si, Eu, o Senhor, lhe responderei. Dirigirei a minha face contra este homem e farei dele um sinal e um exemplo; e exterminá-lo-ei do meio do meu povo. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor. E se o profeta se deixa seduzir e profere alguma palavra, isso quererá dizer que fui Eu quem o seduziu; estenderei a minha mão sobre ele e exterminá-lo-ei do meu povo de Israel. Carregarão, assim, o peso da sua culpa: o pecado do consulente e o do profeta serão iguais, para que a casa de Israel não volte a afastar-se de mim nem volte a manchar-se com os seus pecados. Eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus» –oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, se um país pecasse contra mim por revolta e Eu estendesse a minha mão contra ele, destruindo-lhe a sua reserva de pão; e se lhe enviasse a fome e exterminasse homens e animais, e se estivessem neste país estes três homens – Noé, Daniel e Job – estes homens salvariam a sua vida graças à sua justiça – oráculo do Senhor Deus. Se Eu deixasse que os animais ferozes percorressem o país, de maneira que o despovoassem e dele fizessem um deserto, pelo qual ninguém pudesse passar, por causa dos seus animais, porém, estivessem nele aqueles três homens, pela minha vida, diz o Senhor Deus, eles não poderiam salvar nem filhos nem filhas; apenas eles se salvariam, mas a terra tornar-se-ia um deserto. Ou, se Eu fizesse vir a espada sobre o país e dissesse: ‘Que a espada atravesse o país, exterminando homens e animais’, porém, se aqueles três homens estivessem lá, pela minha vida, não conseguiriam salvar nem filhos nem filhas e só eles se salvariam – oráculo do Senhor Deus. Ou ainda, se Eu enviasse a peste sobre o país e espalhasse sobre ele a minha cólera com sangue, exterminando pessoas e animais, porém, se estivessem lá Noé, Daniel e Job, pela minha vida – oráculo do Senhor Deus eles não salvariam seus filhos e filhas, e apenas salvariam as suas vidas pela sua justiça. Porque, assim fala o Senhor Deus, Quando enviar as minhas quatro pragas mais terríveis contra Jerusalém – a espada, a fome, animais selvagens e peste – exterminando pessoas e animais, eis que haverá, apesar de tudo, um resto que escapará, que sairá da cidade, filhos e filhas. Eis que virão ter convosco: vereis, então, a sua conduta e as suas obras e haveis de vos consolar do mal que Eu fiz cair sobre Jerusalém e de tudo o que Eu lhe fiz. Eles vos consolarão, quando virdes a sua conduta e as suas obras. Então, reconhecereis que não fiz tudo isto em vão contra ela» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, que vale a lenha da videira mais do que qualquer outra cortada nas árvores da floresta? Porventura tira-se dela madeira para fazer algum objecto? Tira-se dela um cabide para pendurar alguma coisa? Eis que se lança no fogo, a fim de ser consumida. O fogo consome as duas extremidades; e a parte central arde; servirá para qualquer obra? Eis que, quando estava intacta, não servia para nada; depois de o fogo a ter consumido e queimado, poder-se-á fazer dela qualquer coisa? É por isso que assim fala o Senhor Deus, Como lenha da videira entre as árvores da floresta, lançada ao fogo para ser consumida, assim lançarei os habitantes de Jerusalém. Dirigirei o meu rosto contra eles; fugiram ao fogo, mas o fogo os devorará. Então sabereis que Eu sou o Senhor, ao voltar a minha face contra eles. Do país de Israel farei um deserto; porque eles foram infiéis» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, dá a conhecer a Jerusalém as suas abominações e diz: Assim fala o Senhor Deus a Jerusalém: Pelas tuas origens e pelo teu nascimento, és da terra do cananeu. O teu pai era amorreu e a tua mãe hitita. No dia em que nasceste, não te cortaram o cordão umbilical, não foste lavada em água para seres purificada, não te friccionaram com sal nem te envolveram em faixas. Nenhum olhar teve piedade de ti, para te fazer uma só destas coisas, por compaixão de ti; mas deitaram-te em campo aberto, por repugnância de ti, no dia em que nasceste.» «Passei, então, junto de ti e vi que te agitavas em teu sangue. E disse-te: ‘Vive em teu sangue.’ Fiz-te crescer como a erva dos campos; e ficaste grande; e cresceste, adquiriste uma beleza perfeita; os teus seios formaram-se e chegaste à puberdade; mas tu estavas nua, completamente nua. Então, passei de novo perto de ti e vi-te; e eis que o teu tempo era o tempo dos amores. Estendi sobre ti a ponta do meu manto e cobri a tua nudez. Fiz, então, um juramento e estabeleci contigo uma aliança – oráculo do Senhor Deus. E ficaste a ser minha. Banhei-te em água, lavei o sangue que te cobria e ungi-te com azeite. Vesti-te com vestes bordadas, calcei-te sandálias de cabedal fino, cingi-te a cabeça com um véu de linho e cobri-te de seda. Ornei-te de jóias, pus-te braceletes nos pulsos e um colar ao pescoço. Coloquei-te um anel no nariz, brincos nas orelhas e uma coroa de ouro na cabeça. Ficaste, assim, ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda e recamado de bordados. Como alimento, tinhas a flor de farinha, o mel e o azeite. Tornaste-te extraordinariamente bela e chegaste à dignidade real. O teu nome espalhou-se entre as nações, graças à tua beleza; porque ela era perfeita, por causa do esplendor de que Eu te havia adornado» – oráculo do Senhor Deus. «Mas tu confiaste na tua beleza; serviste-te da tua fama para te prostituíres com os que passavam. Tomaste as tuas vestes e com elas fizeste ‘lugares altos’ de ricas cores, e lá em cima te prostituíste, como nunca se fez nem se fará. Tomaste as tuas jóias, feitas com o meu ouro e com a minha prata, e com elas fizeste imagens de homens, para te prostituíres com eles. Tomaste as tuas vestes bordadas e cobriste-as, e diante delas colocaste o meu azeite e o meu incenso. E o pão que Eu te dei, a flor de farinha, o azeite e o mel com que te alimentavas, ofereceste-os como odor agradável a elas – oráculo do Senhor Deus. Tomaste os teus filhos e as tuas filhas que me tinhas gerado, e sacrificaste-lhas como alimento. Não era, porventura, tudo isto prostituição? Imolaste os meus filhos e entregaste-os, fazendo-os passar pelo fogo, em honra delas. E não te lembraste do dia da tua juventude, em todas as tuas prostituições e práticas abomináveis, do tempo em que estavas nua, agitando-te no teu sangue. Depois de todas as tuas iniquidades – ‘ai de ti!’ ‘ai de ti!’, oráculo do Senhor Deus sucedeu que construíste um ‘sítio elevado’ e edificaste ‘lugares altos’ em todas as praças. Fizeste um ‘lugar alto’ à entrada de cada caminho e aí profanaste a tua beleza, entregando o teu corpo a todos os que passavam, multiplicando as tuas prostituições. Prostituíste-te com os egípcios, teus vizinhos, de corpo vigoroso; para me irritar, multiplicaste as tuas prostituições. E então Eu estendi a minha mão contra ti e racionei a tua alimentação. Entreguei-te à mercê das tuas inimigas, as filhas dos filisteus, que se envergonhavam da tua má conduta. Prostituíste-te com os assírios e não te satisfizeste; prostituíste-te com eles, mas não te saciaste. Multiplicaste as tuas prostituições no país dos comerciantes, a Caldeia, e apesar de tudo, não te saciaste. Como poderei purificar o teu fraco coração? – Oráculo do Senhor Deus. Pois praticavas tudo isto, próprio de uma prostituta sem vergonha alguma. Quando construías um sítio à entrada de cada caminho e um ‘lugar alto’ em todas as praças, não eras como as prostitutas que andam à procura de salário? Eras a mulher adúltera que recebe os estrangeiros em lugar do seu marido. A todas as prostitutas se dá um presente; tu, porém, é que deste a todos os teus amantes um presente, pagaste-lhes para que viessem ter contigo de todas as partes, para se prostituírem contigo. Procedeste ao contrário das outras mulheres, nas tuas prostituições: tu é que procuravas quem se prostituísse contigo e ninguém corria atrás de ti; eras tu que pagavas e ninguém te recompensava. Agias ao contrário das outras mulheres.» «Por conseguinte, tu, prostituta, ouve a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus, Porque descobriste a tua vergonha e revelaste a tua nudez nas tuas prostituições, diante dos teus amantes e de todos os teus ídolos abomináveis; e por causa do sangue dos teus filhos, que lhes deste, por tudo isto, quero juntar todos os teus amantes aos quais agradaste, e todos os que amaste e odiaste; quero juntá-los de todos os lados, contra ti; vou descobrir a tua nudez diante deles, para que vejam a tua vergonha. Aplicar-te-ei o castigo das mulheres adúlteras e das sanguinárias; no meu furor e ciúme, entregar-te-ei à morte. Entregar-te-ei nas suas mãos, para que eles arrasem as tuas elevações e destruam os teus ‘lugares altos’; despir-te-ão das tuas vestes, retirarão as tuas jóias e deixar-te-ão completamente nua. Incitarão contra ti a multidão; hão-de lapidar-te e perfurar-te com as suas espadas. Queimarão as tuas casas e farão justiça contra ti, à vista de uma multidão de mulheres. Desse modo, porei termo às tuas prostituições, e já não darás mais presentes a ninguém. Saciarei, assim, a minha ira contra ti; retirar-se-á de ti o meu ciúme; e depois, sossegarei e a minha cólera cessará. Porque não te lembraste dos dias da tua juventude e porque não fizeste senão irritar-me em excesso, eis que Eu, pela minha parte, farei cair a tua conduta sobre a tua cabeça – oráculo do Senhor Deus. E tu não cometerás mais infâmias com todas as tuas prostituições.» «Eis que todos os que citam provérbios, dirão de ti: ‘Tal mãe, tal filha’. Tu és bem a filha da tua mãe, que detestava o seu marido e os seus filhos; tu és bem a irmã das tuas irmãs, que detestavam os seus maridos e os seus filhos. A vossa mãe era hitita e o vosso pai amorreu. A tua irmã mais velha é a Samaria, que fica ao norte, com as suas filhas; a tua irmã mais nova, que fica ao sul, é Sodoma, com as suas filhas. Mas tu não seguiste apenas os seus caminhos e não agiste apenas conforme as suas abominações; no teu modo de proceder, comportaste-te pior do que elas. Pela minha vida – diz o Senhor Deus Sodoma, tua irmã, e suas filhas não agiram como vós, tu e as tuas filhas. Eis em que consistiu o crime de Sodoma, tua irmã: orgulho, abundância de alimentos e insolência; estas foram as faltas que cometeu e as de suas filhas: não socorreram o pobre e o indigente. Pelo contrário, encheram-se de orgulho e praticaram coisas horríveis diante de mim; e por isso, Eu as fiz desaparecer, como viste. A Samaria não cometeu metade dos teus pecados; tu cometeste muito mais práticas abomináveis do que ela; assim, justificaste as tuas irmãs, por todas as abominações que cometeste. Portanto, carrega, tu também, a tua desonra, tu que intercedeste pelas tuas irmãs; por causa dos pecados, pelos quais te tornaste mais abominável do que elas, elas são mais justas do que tu. Tu, portanto, cobre-te de confusão e carrega a tua desonra, uma vez que justificaste as tuas irmãs.» «Eu restabelecerei a sua situação, a situação de Sodoma e das suas filhas, a situação da Samaria e das suas filhas, e restabelecerei a tua situação no meio delas, para que carregues a tua desonra e te envergonhes, por causa do que fizeste, para consolação delas. A tua irmã Sodoma e as cidades suas filhas voltarão ao seu primeiro estado; também a Samaria com suas filhas voltará ao seu primeiro estado; e tu e tuas filhas voltareis igualmente ao vosso primeiro estado. A tua irmã Sodoma não era objecto de comentários na tua boca, nos teus dias de orgulho, antes de a tua nudez ser posta a descoberto? Agora também tu és objecto de escárnio para as filhas de Edom e para todos os que estão à tua volta, e para as filhas dos filisteus, que te insultam de perto. O teu opróbrio e as tuas abominações, deverás carregá-las – oráculo do Senhor. Porque assim fala o Senhor Deus, Procedi para contigo como tu procedeste para comigo, pois foste infiel ao juramento, quebrando a aliança. Eu, pelo contrário, lembrar-me-ei da aliança que fiz contigo, no tempo da tua juventude e estabelecerei contigo uma aliança eterna. Ao recordares a tua conduta, sentirás vergonha, quando receberes as tuas irmãs, as que são mais velhas e as que são mais novas do que tu, pois Eu dou-tas como filhas, mas não em virtude da tua aliança. Porque Eu estabelecerei contigo a minha aliança e, então, saberás que Eu sou o Senhor, a fim de que te lembres de mim e sintas vergonha, e não abras mais a boca no meio da tua confusão, quando Eu te perdoar tudo o que fizeste» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, propõe um enigma e conta uma parábola à casa de Israel. Dirás: Assim fala o Senhor Deus: A grande águia de asas enormes, compridas, cobertas de plumas multicolores, veio do Líbano comer a ponta do cedro. Apanhou o ramo mais elevado e levou-o para o país dos comerciantes, para uma cidade de negociantes. Depois, tomou uma semente do país e colocou-a em terreno de sementeira; e plantou-o como um salgueiro, perto de um curso de água. Cresceu e tornou-se uma videira opulenta, pouco elevada, com as gavinhas voltadas para a água, e as suas raízes estavam debaixo dela. Tornou-se uma videira, deu rebentos e estendeu os seus ramos. Havia outra águia grande, com asas enormes e plumas abundantes. E então a videira estendeu as suas raízes e dirigiu para ela os seus sarmentos, para que a refrescasse melhor do que a terra em que estava plantada. Estava plantada num campo fértil, junto de um curso de águas abundantes, para dar sarmentos e produzir fruto e tornar-se uma videira magnífica. Diz: ‘Assim fala o Senhor Deus. Irá ela prosperar? Não lhe irão arrancar as raízes e colher os seus frutos, secando todas as folhas novas? Não é preciso muita força nem muita gente para a arrancar das suas raízes. Ei-la plantada; irá crescer? Ao sopro do vento leste não virá a secar? Na terra em que crescer, secará.’» A palavra do Senhor foi-me, então, dirigida nestes termos: «Fala à casa de gente rebelde: Não sabeis o que isto significa? Diz: Eis que o rei da Babilónia veio a Jerusalém, tomou o rei e os príncipes e conduziu-os para junto de si, para a Babilónia. Depois tomou um membro da família real e fez uma aliança com ele, obrigou-o a prestar juramento, depois de ter levado os grandes do país, para que o reino ficasse modesto e sem ambições, para observar a sua aliança e permanecer-lhe fiel. Mas este príncipe revoltou-se contra ele, enviando mensageiros ao Egipto, para que lhe fossem fornecidos cavalos e tropas em grande número. Será bem sucedido? Tirará algum proveito de tudo isto? Tirará proveito aquele que violou a aliança? Pela minha vida – diz o Senhor Deus Eu juro: É no país do rei que o colocou no trono, a cujo juramento ele faltou e cuja aliança ele violou, é em plena Babilónia que ele morrerá. O Faraó não o salvará na guerra com o seu grande exército e com as suas tropas numerosas, quando se construírem plataformas e trincheiras para destruir tantas vidas humanas. Ele faltou ao juramento, violou a aliança e tinha dado a sua palavra. Fez tudo isto, não escapará. Por isso, assim fala o Senhor Deus, Pela minha vida, Eu juro: o meu juramento, a que ele faltou, e a minha aliança que ele violou, hei-de fazê-los cair sobre a sua cabeça. Estenderei a minha rede sobre ele, e ele será apanhado nela; depois, irei conduzi-lo para a Babilónia e ali o castigarei pela traição cometida contra mim. Toda a elite do seu exército cairá ao fio da espada, e os que ficarem serão dispersos pelos quatro ventos. E sabereis que Eu, o Senhor, falei.» «Assim fala o Senhor Deus, Depois, Eu próprio tomarei do cimo do cedro, do alto dos seus ramos colherei uma haste, e plantá-la-ei num monte bastante alto. Plantá-la-ei na montanha elevada de Israel: deitará ramos, produzirá frutos e tornar-se-á um cedro magnífico. Nele habitarão todas as espécies de aves; à sombra dos seus ramos repousarão todas as espécies de voláteis. E todas as árvores dos campos saberão que sou Eu, o Senhor, quem humilha a árvore elevada e eleva a árvore humilhada, quem faz secar a árvore verdejante e florescer a que está seca. Eu, o Senhor, o disse e o cumpro.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Porque proferis este provérbio à casa de Israel: ‘Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos é que ficaram embotados’? Pela minha vida, diz o Senhor Deus, não deveis repetir este provérbio em Israel. Todas as vidas me pertencem; tanto a vida do pai como a do filho, todas me pertencem. O que pecou é que morrerá.» «Se alguém é justo, observa o direito e a justiça, não come nos lugares altos, não levanta os olhos para os ídolos da casa de Israel, não desonra a mulher do seu próximo, não se aproxima de uma mulher durante o tempo da sua impureza; não oprime ninguém, restitui o que recebeu em fiança, não comete furtos, distribui pão aos famintos, cobre o nu; não empresta com usura e não recebe juros, afasta a mão do mal e julga entre os homens segundo a verdade; se segue as minhas leis e observa os meus preceitos, tal homem é verdadeiramente justo e viverá» – oráculo do Senhor Deus. «Mas, se ele gera um filho violento e sanguinário e que faz alguma destas coisas que o pai não fazia; se come nos lugares altos, desonra a mulher do próximo, oprime o indigente e o pobre, comete furtos, não restitui a fiança, ergue os olhos para os ídolos, pratica coisas abomináveis, empresta com usura e recebe juros, este, seguramente, não viverá. Depois de ter cometido todos estes crimes abomináveis, deverá morrer e o seu sangue cairá sobre ele.» «Mas se ele gera um filho que vê todos os pecados que cometeu seu pai, que os vê sem os imitar, que não come nos lugares altos, não ergue os olhos para os ídolos da casa de Israel, não desonra a mulher do próximo; não oprime ninguém, restitui o penhor, não comete furtos, dá o pão ao faminto e cobre o nu, afasta a mão da injustiça, não empresta com usura e não recebe juros, observa as minhas leis e segue os meus preceitos, este não deverá morrer por causa do pecado de seu pai, ele viverá certamente. Mas, se o seu pai cometeu actos de violência, praticou furtos e não fez o bem no meio do seu povo – pela minha vida: este deverá morrer por causa dos seus pecados. E vós dizeis: ‘Porque não carrega o filho com as faltas de seu pai?’ Mas o filho praticou o direito e a justiça, observou todas as minhas leis e seguiu-as; ele deve viver. Aquele que pecou é que morrerá; o filho não carregará com a falta de seu pai, nem o pai com a falta de seu filho: ao justo será imputada a justiça e ao pecador a sua maldade.» «Mas se o pecador renuncia a todos os pecados que cometeu, se observa todas as minhas leis e pratica o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá. Não serão lembradas as faltas que cometeu, viverá por causa da justiça que praticou. Porventura me hei-de comprazer com a morte do pecador – oráculo do Senhor Deus e não com o facto de ele se converter e viver? Mas se o justo se desvia da sua justiça e pratica o mal, imitando os crimes abomináveis a que se entrega o pecador, porventura viverá? A justiça que praticou não será recordada; por causa da infidelidade a que se entregou e do pecado que cometeu, morrerá. Porém, vós dizeis: ‘O modo de proceder do Senhor não é justo.’ Escutai, pois, casa de Israel: Então é o meu modo de agir que não é justo? Ou é o vosso que o não é? Se o justo se afasta da sua justiça para praticar o mal e morre por causa disto, é por causa do mal que praticou que ele morrerá. Se o pecador se afasta do pecado que cometeu para praticar o direito e a justiça, ele merece viver. Se ele se afasta dos pecados que cometeu, viverá certamente, não morrerá. Mas a casa de Israel diz: ‘O modo de agir do Senhor não é justo.’ Então é o meu modo de agir que não é justo, casa de Israel? Não será antes o vosso modo de agir que não é justo?» «Por isso, Eu vos julgarei a cada um segundo a sua maneira de agir, casa de Israel – oráculo do Senhor Deus. Convertei-vos e afastai-vos dos vossos pecados; que não haja mais entre vós ocasião de pecado. Rejeitai todos os pecados que cometestes contra mim e criai um coração novo e um espírito novo. Porque quereis morrer, casa de Israel? Pois Eu não me comprazo com a morte de quem quer que seja – oráculo do Senhor Deus. Convertei-vos e vivei.» «Tu, porém, faz ouvir uma lamentação sobre os príncipes de Israel. Diz-lhes: ‘Quem era a tua mãe? Uma leoa no meio dos leões; deitada entre os leõezinhos, ela alimentava os seus filhos. Criou um dos seus filhos que se tornou um leão, aprendeu a dilacerar a presa e a devorar pessoas. As nações uniram-se contra ele, e ele foi preso no covil; foi conduzido com cadeias para a terra do Egipto. A leoa viu que fora iludida, a sua esperança fora desfeita. Tomou outro de seus filhos que se tornou um leão. Ele vagueou entre os leões e tornou-se um leão. Aprendeu a dilacerar a presa e a devorar pessoas. Invadiu os seus palácios, devastou as suas cidades; o país e seus habitantes estremeceram, com o estrondo do seu rugido. Uniram-se contra ele as nações e as províncias em redor. Atiraram-lhe redes e ele foi preso no seu covil. Foi metido numa jaula com cadeias, conduziram-no ao rei da Babilónia, meteram-no numa fortaleza para que não se ouvisse mais o seu rugido nas montanhas de Israel.’» «‘A tua mãe era como videira no pomar, plantada junto à água, era fecunda e rica em sarmentos, graças às águas abundantes. Brotaram ramos fortes, que se tornaram ceptros de comando; cresceu e elevou-se até tocar nas nuvens; era admirada pela sua altura e pela abundância dos seus ramos. Mas ela foi arrancada com violência e lançada por terra, o vento leste secou-lhe os frutos, ela foi partida, os seus ramos poderosos secaram, e o fogo tudo devorou. Ei-la transportada para o deserto, para o país seco e árido. Saiu fogo do seu tronco e devorou-lhe os ramos e os frutos. Ela já não terá o seu tronco vigoroso, nem o seu ceptro de comando.’» Isto é uma lamentação; e serviu de lamentação. No quinto mês do sétimo ano, no dia dez, alguns anciãos de Israel vieram consultar o Senhor e sentaram-se à minha frente. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, fala aos anciãos de Israel e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, Viestes para me consultar? Pela minha vida, não deixarei que me consulteis – oráculo do Senhor DEUS. Queres julgá-los, queres julgá-los, filho de homem? Dá-lhes a conhecer os crimes abomináveis de seus pais. Dir-lhes-ás: ‘Assim fala o Senhor Deus, No dia em que escolhi Israel, em que levantei a minha mão para a raça da casa de Jacob, dei-me a conhecer a eles em terras do Egipto e ergui a minha mão sobre eles, dizendo: Eu sou o Senhor vosso Deus. Naquele dia, levantei a minha mão sobre eles, para os fazer sair da terra do Egipto e os conduzir ao país que tinha escolhido para eles, ao país onde corre o leite e o mel, o mais belo dos países.’ E disse-lhes, então: ‘Rejeitai cada um as coisas horrorosas que atraem os vossos olhos e não vos deixeis contaminar pelos ídolos do Egipto. Eu sou o Senhor vosso Deus.’ Mas eles revoltaram-se contra mim e não quiseram escutar-me. Nenhum deles rejeitou as coisas horrorosas que atraíam os seus olhos e não abandonaram os ídolos do Egipto. Eu disse, então: ‘Derramarei a minha cólera sobre eles, irei até ao extremo da minha ira contra eles em pleno país do Egipto.’ Mas Eu tive consideração pelo meu nome, a fim de que ele não fosse profanado, à vista das nações em que se encontravam, e aos olhos das quais Eu me revelei a eles, fazendo-os sair da terra do Egipto. Fi-los sair do Egipto e conduzi-os ao deserto. Dei-lhes as minhas leis e fiz-lhes conhecer os meus preceitos, que o homem deve observar para poder viver. Dei-lhes também os meus sábados, como um sinal entre mim e eles, para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica. Mas a casa de Israel revoltou-se contra mim no deserto. Não procederam segundo as minhas leis, rejeitaram os meus preceitos, que o homem deve observar para poder viver; também profanaram os meus sábados. Então, pensei lançar sobre eles o meu furor, no deserto, a fim de os exterminar. Mas tive em atenção o meu nome, para que ele não fosse profanado à vista das nações, aos olhos das quais Eu os tinha feito sair. Também ergui a minha mão no deserto e jurei que não os conduziria ao país que lhes fora destinado, ao país onde corre leite e mel, o mais belo dos países, porque rejeitaram as minhas leis, não observaram os meus preceitos e profanaram os meus sábados, porque o seu coração ia atrás dos seus ídolos. Mas o meu olhar compadeceu-se deles e, assim, renunciei a exterminá-los e não os destruí no deserto. E disse aos seus filhos no deserto: ‘Não sigais o exemplo de vossos pais, não procedais segundo as suas leis e não vos deixeis contaminar com os seus ídolos! Eu sou o Senhor vosso Deus. Segui as minhas leis, observai os meus preceitos e cumpri-os. Santificai os meus sábados, para que eles sejam um sinal entre mim e vós, a fim de que todos reconheçam que Eu sou o Senhor vosso Deus.’ Mas, de igual modo, os filhos revoltaram-se contra mim; não seguiram as minhas leis e não cumpriram nem observaram os meus preceitos, que o homem deve pôr em prática para poder viver; e profanaram os meus sábados. Então, pensei lançar sobre eles a minha cólera e saciar neles a minha ira, no deserto. Mas retirei a minha mão e tive consideração pelo meu nome, a fim de que ele não fosse profanado à vista dos povos, aos olhos dos quais Eu os tinha feito sair. Entretanto, ergui a minha mão sobre eles no deserto e jurei que os dispersaria entre as nações e que os espalharia pelos países estrangeiros, porque não tinham observado as minhas leis, nem seguido os meus preceitos, nem santificado os meus sábados; mas tinham, sim, dirigido os seus olhos para os ídolos de seus pais. Por isso, entreguei-lhes leis que não eram boas e preceitos pelos quais não podiam encontrar a vida. E tornava-os impuros pelas ofertas que faziam, levando-os a passar pelo fogo os seus primogénitos, a fim de os castigar, para que soubessem que Eu sou o Senhor. Por isso, fala à casa de Israel, ó filho de homem, e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, Também lá os vossos pais me ultrajaram, agindo para comigo com infidelidade. E, apesar de tudo, conduzi-os ao país que lhes tinha prometido solenemente; mas, onde quer que vissem um monte elevado ou uma árvore frondosa, aí ofereciam sacrifícios e apresentavam suas ofertas provocantes; traziam perfumes agradáveis e derramavam libações. Então, disse-lhes: O que é esse lugar alto* para onde ides? E, assim, aquele lugar ficou a ser chamado Bamá*, até ao presente dia. Por isso, diz à casa de Israel: Assim fala o Senhor Deus, Não é verdade que vos contaminais da mesma maneira que vossos pais e vos prostituís com as vossas abominações? Quando apresentais os vossos dons e fazeis passar os vossos filhos pelo fogo, contaminais-vos com todos os vossos ídolos até ao presente dia; e Eu devia deixar-me consultar por vós, casa de Israel? Pela minha vida – oráculo do Senhor Deus » – não me deixarei consultar por vós. «Aquilo que vos vem à mente nunca se realizará. Dizeis: ‘Queremos ser como os povos, como as tribos dos países estrangeiros, adorando a madeira e a pedra.’ Pela minha vida – oráculo do Senhor Deus Eu juro que reinarei sobre vós com mão forte, de braço estendido e com o ímpeto do meu furor. Deixar-vos-ei sair de entre os povos e congregar-vos-ei de todos os países por onde fostes dispersos, com mão forte, braço estendido e com o ímpeto do meu furor. Conduzir-vos-ei para o deserto das nações e julgar-vos-ei ali face a face. Assim como julguei os vossos pais no deserto das terras do Egipto, assim também vos julgarei – oráculo do Senhor Deus. Hei-de fazer-vos passar sob o cajado e fazer-vos entrar na aliança. Separarei de vós os rebeldes, os que se revoltaram contra mim e se afastaram de mim. Conduzi-los-ei para fora do país em que se encontram, mas não entrarão na terra de Israel. Então reconhecereis que Eu sou o Senhor.» «Quanto a vós, porém, casa de Israel, assim diz o Senhor Deus, Ide servir os vossos ídolos. Mas depois, certamente, ouvir-me-eis e não mais profanareis o meu santo nome com as vossas ofertas e ídolos. Porque sobre o meu monte santo, sobre o monte elevado de Israel – oráculo do Senhor Deus toda a casa de Israel me servirá. Lá, Eu os receberei favoravelmente e lá vos pedirei os vossos sacrifícios e as vossas primícias com todas as vossas ofertas santas. Receber-vos-ei como um perfume de agradável odor, quando vos fizer sair de entre os povos e vos reunir de todas as nações, para onde fostes dispersos; e serei santificado por vós aos olhos dos povos. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor, quando vos conduzir ao país de Israel, à terra que jurei solenemente dar a vossos pais. Lá recordareis a vossa conduta e todos os vossos actos com os quais vos contaminastes; então, sentireis vós mesmos a amargura, por causa de todas as más acções que cometestes. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor, quando proceder para convosco em atenção ao meu nome e não ao vosso mau comportamento e às vossas más acções, ó casa de Israel – oráculo do Senhor Deus.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, volta a tua face para sul; dirige a tua palavra à região meridional e profetiza contra a floresta, que se encontra na região do Négueb. Assim falarás à floresta do Négueb: Ouve a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus, ‘Eis que Eu acendo o fogo em ti, para devorar todas as árvores verdes e todas as árvores secas; as chamas violentas não se apagarão e tudo será devorado, desde o Négueb até ao Norte.’ E todos verão que Eu, o Senhor, é que provoquei o incêndio e ele não se extinguirá.» Então, eu disse: «Ah! Senhor Deus, eles dizem de mim: ‘Não fala ele sempre em parábolas?’» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, volta a tua face para Jerusalém e prega contra o seu santuário! Profetiza contra a terra de Israel, e diz à terra de Israel: Assim fala o Senhor, ‘Eis-me contra ti. Vou arrancar a minha espada da bainha e exterminarei do teu seio o justo e o pecador. Porque Eu quero exterminar do meio de ti o justo e o pecador; por isso vai sair da bainha a minha espada contra todos, desde o Négueb até ao Norte.’ Então, todos reconhecerão que Eu, o Senhor, tirei a espada da bainha e não volto a embainhá-la.» Tu, porém, filho de homem, solta gemidos. Geme com os rins despedaçados e com tristeza. Então, se eles te perguntarem: ‘Porque gemes?’, dirás: ‘Por causa da notícia que acaba de chegar, com a qual todos os corações ficarão desfeitos e todas as mãos paralisadas, os espíritos enfraquecidos e os joelhos dobrados. Eis que ela já chegou e vai cumprir-se’» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, profetiza, dizendo: Assim fala o Senhor: ‘Uma espada, uma espada! Está afiada e também polida. Foi afiada para massacrar, foi polida para lançar cintilações. Foi polida para se poder empunhar. É uma espada afiada e polida para pôr na mão do carrasco. Grita, berra, filho de homem; pois ela dirige-se contra o meu povo. Dirige-se contra os chefes de Israel. Foram entregues à espada com o meu povo. Por isso, bate na tua coxa. A prova está feita e que será, quando já não houver ceptro rejeitado? Oráculo do Senhor Deus. Tu, porém, filho de homem, profetiza e bate palmas. Que a espada duplique e triplique! É a espada do extermínio. A grande espada do massacre, que os cerca, para que desfaleçam os corações e sejam numerosas as vítimas. A todas as portas coloquei uma espada, feita para fulminar, afiada para o massacre. Para trás! Para a direita! Para a esquerda! Para a frente! Para onde estiveres voltado! Também Eu quero bater palmas e saciar o meu furor. Eu, o Senhor, falei.’» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «E tu, filho de homem, traça dois caminhos, pelos quais virá a espada do rei da Babilónia. Partirão ambos do mesmo país. Traça também um sinal, indicando onde começa o caminho, o caminho por onde passa a espada para Rabat-Amon e para Judá e Jerusalém, a cidade fortificada. É que o rei da Babilónia parou no cruzamento, no começo dos dois caminhos, para consultar os oráculos. Ele sacode as flechas, interroga os instrumentos de oráculo, observa o fígado. Na sua mão direita está o oráculo ‘Jerusalém’: ‘para preparar os aríetes, para dar ordem de extermínio, para lançar gritos de guerra, para colocar os aríetes contra as portas, para elevar uma plataforma e levantar trincheiras.’ Mas, aos olhos dos israelitas, isto é um oráculo falso, porque fizeram os juramentos mais santos; todavia ele recorda-lhes a sua traição e ameaça castigá-los. Por isso, diz o Senhor Deus, Porque evocastes a vossa iniquidade, de maneira que as vossas perversidades se manifestaram e os vossos pecados se tornaram visíveis em todos os vossos actos, porque vos recordastes, sereis castigados. E tu, príncipe de Israel, falso e pecador, cujo dia chegou no instante em que a iniquidade está no seu termo, assim fala o Senhor Deus, ‘Depõe a tiara, retira a coroa; as coisas vão mudar. O que se encontra em baixo será elevado, e o que está no alto será rebaixado. Ruína, ruína, ruína, eis o que Eu farei à cidade. Ai dela! Ficará assim até chegar aquele a quem ela pertence por direito, e a quem Eu a confiar.’» «E tu, filho de homem, profetiza e diz: Assim fala o Senhor Deus contra os amonitas e contra os seus insultos. Proclama: ‘Espada! Uma espada sai da bainha para o massacre, polida para destruir, para brilhar.’ Enquanto cultivas visões falsas e oráculos enganadores, ela prepara-se para degolar os pecadores e os malvados, cujo dia chegou no instante em que a iniquidade está no seu termo. Espada, regressa à bainha! É no país onde foste criada, na terra da tua origem que Eu te julgarei. Derramarei sobre ti o meu furor, soprarei contra ti o fogo da minha cólera. Entregar-te-ei nas mãos dos homens bárbaros, daqueles que maquinam a destruição. Serás o pasto das chamas, o teu sangue correrá pelo país fora. Nunca mais se lembrarão de ti, porque Eu, o Senhor, falei.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «E tu, filho de homem, julga. Julga a cidade sanguinária! Dá-lhe a conhecer as suas abominações e diz: Assim fala o Senhor Deus, Ai da cidade que derramou o sangue no seu seio, para que o seu tempo chegasse, e que fez ídolos para com eles se contaminar! Tornaste-te culpada pelo sangue que derramaste e te contaminaste pelos ídolos que fizeste. Apressaste, assim, o teu dia e chegaste ao termo dos teus anos. Por isso, fiz de ti objecto de vergonha dos povos e de zombaria para todas as nações. Zombarão de ti os que estão perto e os que estão longe de ti; o teu nome está manchado e abunda a desordem. Eis que os príncipes de Israel, cada um segundo as suas forças, se encontram no teu seio para derramar sangue. Dentro de ti, despreza-se o pai e a mãe; dentro de ti, maltrata-se o estrangeiro e oprime-se o órfão e a viúva. Desprezas o meu santuário e profanas os meus sábados. Há dentro de ti pessoas que caluniam, para derramar sangue; dentro de ti, come-se nos lugares altos e cometem-se infâmias. Descobre-se a nudez do pai e faz-se violência à mulher, durante a sua impureza. Um comete acções abomináveis com a mulher do próximo; outro mancha a sua nora pelo incesto; outro, ainda, faz violência à sua irmã, à filha do seu pai. Recebem-se presentes para derramar sangue; recebes juros exorbitantes; despojas o teu próximo pela violência, e a mim, esqueces-me – oráculo do Senhor Deus. Mas eis que Eu bato as palmas sobre o lucro que tiveste e sobre o sangue que foi derramado no teu seio. Porventura, poderá o teu coração resistir, poderão as tuas mãos continuar fortes no dia em que Eu agir contra ti? Eu, o Senhor, disse e faço. Dispersar-te-ei entre as nações, disseminar-te-ei pelos países estrangeiros, apagarei a impureza que em ti existe. Serás humilhada por mim, à vista das nações. Então reconhecerão que Eu sou o Senhor.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, a casa de Israel tornou-se para mim escória; todos eles são como prata, cobre, estanho, ferro e chumbo no forno da fundição. São escória. Por isso, diz: Assim fala o Senhor Deus, Porque sois todos escória, por causa disso, vou reunir-vos no meio de Jerusalém. Assim como se mete a prata, o cobre, o ferro, o chumbo e o estanho num forno de fundição, e, a fim de os fundir, se acende o fogo, assim Eu vos reunirei no meu furor e na minha cólera; colocar-vos-ei lá e fundir-vos-ei. Congrego-vos e acendo o fogo do meu furor contra vós, para vos fundir em Jerusalém. Sereis fundidos do mesmo modo que é fundida a prata no forno da fundição. Então, reconhecereis que Eu, o Senhor, lancei o meu furor contra vós.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, diz a Jerusalém: “Tu és uma terra que não foi refrescada nem humedecida pela chuva, no dia da ira. Os seus príncipes parecem leões rugindo e dilacerando a presa. Devoram as pessoas, apoderam-se das riquezas e das jóias e multiplicam as viúvas no teu seio. Os seus sacerdotes violaram a minha lei e profanaram o meu santuário; não distinguem entre o que é santo e o que é profano, e não ensinam a diferença entre o puro e o impuro; fecham os olhos aos meus sábados e, assim, Eu fui desonrado entre eles. Os seus chefes são como lobos que dilaceram a presa, que derramam sangue, fazendo morrer pessoas, para lhes ficar com os bens. Os seus profetas encobrem os seus ciúmes com visões vãs e revelações falsas. Dizem: ‘Assim fala o Senhor Deus ’; quando, de facto, o Senhor não falou.” O povo pratica actos de violência e comete furtos. Oprime o indigente e o pobre, e maltrata o estrangeiro, contra todo o direito. Procurei entre eles alguém que levantasse um muro e se colocasse diante de mim, para defender o país e impedir que fosse destruído; mas não encontrei ninguém. Então, lancei contra eles o meu furor; exterminei-os no fogo da minha cólera e fiz cair as suas más acções sobre as suas cabeças» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, havia duas mulheres, filhas da mesma mãe. Elas prostituíram-se durante o tempo da sua juventude, no Egipto. Lá foram tocados os seus peitos e acariciado o seu seio virginal. Eis os seus nomes: Oola, a mais velha, e Ooliba, sua irmã. Elas eram minhas e deram à luz filhos e filhas. Eis os seus nomes: Samaria é Oola, Jerusalém é Ooliba. Oola foi-me infiel, e ardeu de amor para com os seus amantes, os assírios, seus vizinhos, vestidos de púrpura, governadores e chefes, todos jovens e atraentes, cavaleiros montados em seus cavalos. Foi para eles que ela dirigiu as suas prostituições, para toda a elite dos filhos da Assíria; e com todos aqueles de quem se enamorou, veio a manchar-se, em contacto com os seus ídolos. Mas ela não cessou de se prostituir com o Egipto; porque eles tinham-na desonrado na sua juventude, tinham tocado o seu seio virginal e fornicado com ela. Eis por que a entreguei nas mãos de seus amantes, nas mãos dos assírios, pelos quais se tinha apaixonado. Eles descobriram a sua nudez, levaram os seus filhos e filhas e passaram-nos ao fio de espada. Tornou-se, desse modo, objecto de escárnio entre as mulheres e contra ela foi feita justiça.» «A sua irmã Ooliba viu tudo isto; mas, apesar disso, tornou-se ainda mais corrompida do que ela na sua paixão; as suas prostituições foram mais escandalosas do que as de sua irmã. Prostituiu-se com os assírios, governadores e chefes, seus vizinhos, esplendidamente vestidos, cavaleiros garbosos, jovens sedutores. Vi que ela era impura, que ambas seguiam o mesmo caminho. Multiplicou as suas prostituições. Tendo visto homens desenhados no muro, figuras dos caldeus pintados a vermelho, com cintos sobre os rins e largos turbantes na cabeça, todos como grandes senhores, semelhantes aos filhos da Babilónia e da terra dos caldeus, ela apaixonou-se por eles, logo ao primeiro olhar, e enviou mensageiros à Caldeia. E os babilónios vieram com ela para o leito dos seus amores e mancharam-na com as suas impurezas. Depois de se ter manchado com eles, o seu coração desgostou-se deles. Também manifestou as suas acções desavergonhadas e descobriu a sua nudez; então, desgostei-me dela, como já me havia desgostado de sua irmã. Ela multiplicou as suas prostituições, em recordação da sua juventude, quando se prostituía no país do Egipto, quando ali ardia de paixão pelos egípcios, cujo órgão é como o do burro e cuja lubricidade é como a dos garanhões. Procuravas o mau comportamento da tua juventude, do tempo em que no Egipto te apertavam os peitos, fazendo carícias aos teus seios virginais. Pois bem, Ooliba, assim fala o Senhor Deus, Eis que vou incitar contra ti os amantes de quem deixaste de gostar, vou trazê-los contra ti de todos os lados. Os babilónios e todos os caldeus, de Pecod, Choa e Coa, e com eles todos os filhos da Assíria, jovens atraentes, todos governadores e magistrados, dignitários e personagens ilustres, todos montados nos seus cavalos. Avançarão do Norte contra ti, com seus carros e galeras e uma multidão de gente, armados contra ti de escudos, capacetes e couraças. Encarreguei-os do teu julgamento e eles te julgarão segundo o seu direito. Dirigirei contra ti o meu ciúme de modo que te tratarão com furor; cortar-te-ão o nariz e as orelhas e o que ainda restar será cortado ao fio da espada. Tomarão os teus filhos e filhas e o que restar será devorado pelo fogo. Arrancar-te-ão as tuas vestes e apoderar-se-ão das tuas jóias. Porei fim ao teu mau comportamento e às tuas prostituições iniciadas no Egipto; nunca mais erguerás os olhos para eles e nunca mais te recordarás do Egipto. Pois assim fala o Senhor Deus, Eis que te entregarei nas mãos dos que tu odeias e daqueles de quem te separaste. Eles te tratarão com ódio, apoderar-se-ão de todos os teus ganhos e deixar-te-ão nua, a fim de que a vergonha das tuas prostituições seja descoberta. A tua impureza e as tuas prostituições causar-te-ão isto, porque tu te prostituíste com os outros povos e te manchaste com os seus ídolos. Trilhaste o caminho da tua irmã; porei, pois, a sua taça na tua mão. Assim fala o Senhor Deus: ‘Beberás a taça da tua irmã, taça grande e funda; será objecto de escárnio e de vergonha; é abundante o seu conteúdo. Ficarás repleta de embriaguez e dor. É uma taça de horror e destruição, a taça da tua irmã Samaria. Tu a beberás e a esvaziarás; depois será desfeita em pedaços e ela te dilacerará o peito. Porque Eu falei’» – oráculo do Senhor Deus. Por isso, diz o Senhor Deus, «Porque tu me esqueceste e me lançaste para trás de ti, agora carrega a tua infâmia e as tuas prostituições.» E o Senhor disse-me: «Filho de homem, porventura queres julgar Oola e Ooliba e dar-lhes a conhecer os seus crimes abomináveis? Porque elas foram adúlteras e ensanguentaram as suas mãos, foram adúlteras com os ídolos; até os seus filhos, que elas me tinham dado à luz, fizeram-nos passar pelo fogo para os consumir. Mas fizeram-me ainda mais: nesse dia, mancharam o meu santuário e profanaram os meus sábados. E, depois de imolarem os seus filhos aos ídolos, vinham no mesmo dia, ao meu santuário para o profanarem. Eis o que fizeram dentro da minha casa. Mais ainda, mandaram vir homens de longe, convidados por um mensageiro, que partiram imediatamente. E eis que para eles te lavaste, pintaste os olhos e adornaste-te com jóias. Sentaste-te num leito de luxo, atrás de uma mesa; sobre ela puseste o meu incenso e o meu óleo. Junto dela ouvia-se um ruído tumultuoso por causa da multidão de pessoas vindas do deserto; colocavam-lhes braceletes nos pulsos e uma coroa magnífica na cabeça. Então, Eu dizia: Assim cometeram adultérios; portaram-se como prostitutas. Vinham ter com ela como vão ter com uma prostituta; e era assim que se dirigiam a Oola e Ooliba para cometer impurezas.» «Mas homens justos as julgarão como se julgam as adúlteras, como se julgam aquelas que derramam sangue; pois elas são adúlteras e as suas mãos estão ensanguentadas. Por isso, diz o Senhor Deus, Convocai contra elas uma assembleia e sejam entregues aos maus tratos e à pilhagem. Que a assembleia as apedreje e as faça em pedaços ao fio da espada; serão exterminados os seus filhos e filhas, e suas casas serão devoradas pelo fogo. E assim farei cessar a impureza sobre a terra; todas as mulheres aprenderão esta lição e não imitarão a vossa má conduta. Acusar-vos-ão dos vossos crimes e vós carregareis o peso da vossa idolatria. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus.» No décimo mês do nono ano, no dia dez, foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, escreve a data deste dia; o rei da Babilónia lançou-se contra Jerusalém, hoje mesmo. Apresenta uma parábola à casa da gente rebelde e diz-lhe: Assim fala o Senhor Deus: ‘Põe ao lume a marmita e mete água dentro dela. Acrescenta-lhe pedaços de carne, toda a espécie de bons pedaços, coxa e espádua; enche-a com os melhores ossos. Toma as melhores cabeças do rebanho; amontoa lenha debaixo da marmita; faz ferver os pedaços de carne e também os ossos que ela contém.’ Porque assim fala o Senhor Deus, Ai da cidade sanguinária, ai da marmita enferrujada, cuja ferrugem não pode ser tirada! Tira os pedaços um a um, sem tirar à sorte. Porque o seu sangue está dentro dela; e espalhou-o sobre a rocha nua; não o espalhou no solo, de modo que a terra o cobrisse. Para aumentar a minha ira, a fim de me vingar, Eu lancei o seu sangue sobre o rochedo nu, sem o cobrir. Por isso, diz o Senhor Deus, Ai da cidade sanguinária! Também Eu vou fazer uma grande fogueira. Junta lenha, atiça o fogo, coze a carne, prepara o molho e que os ossos sejam queimados. Põe-na então vazia, a aquecer, em cima das brasas, para que o bronze seja queimado, a imundície fundida e a ferrugem consumida. Mas os esforços são em vão, a ferrugem não desaparece com o fogo. Porque tu estavas impura, por causa da tua imundície, Eu queria purificar-te; mas, apesar disso, tu não ficaste purificada da tua impureza. Eis porque não serás purificada até que tenha saciado o meu furor contra ti. Eu, o Senhor, falei. Vai cumprir-se a minha palavra. Agirei sem hesitação, sem piedade nem remorso. Julgar-te-ão segundo o teu comportamento e segundo as tuas acções» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, vou tirar-te de repente aquela que é a alegria dos teus olhos; mas tu não deverás lamentar-te, nem chorar, nem derramar lágrimas. Suspira em silêncio, não guardes o luto habitual pelos defuntos; conserva o turbante na cabeça, calça as sandálias, não cubras o rosto e não comas pão ordinário.» Falei ao povo na parte da manhã. À tarde, minha mulher morria; e eu, na manhã do dia seguinte, fiz como me tinha sido ordenado. E o povo disse-me: «Não queres dizer-nos o que significa para nós aquilo que fizeste?» E eu respondi-lhes: «A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: Diz à casa de Israel: ‘Assim fala o Senhor Deus, Eis que vou profanar o meu santuário, o orgulho da vossa força, as delícias dos vossos olhos e a paixão das vossas vidas. Os vossos filhos e filhas que deixastes cairão ao fio da espada. Então, fareis o que Eu fiz. Não cobrireis o vosso rosto e não comereis pão ordinário. Com o turbante na cabeça e as sandálias calçadas, não vos lamentareis e não chorareis; mas consumir-vos-eis nas vossas iniquidades e gemereis uns para os outros. Ezequiel será para vós um sinal: fareis como ele fez, quando isto acontecer. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus. Tu, porém, filho de homem, no dia em que Eu tirar o que faz a sua força, a sua glória e a sua alegria, as delícias dos seus olhos e o desejo das suas vidas, os seus filhos e filhas, nesse dia, um fugitivo virá ter contigo para o anunciar aos teus ouvidos. Naquele dia, abrir-se-á a tua boca para o fugitivo; falarás e nunca mais ficarás mudo. Serás para eles um sinal e, então, reconhecerão que Eu sou o Senhor.’» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, volta o rosto contra os amonitas, profetiza contra eles, e diz-lhes: Ouvi a palavra do Senhor Deus, Assim fala o Senhor Deus, Tu exultaste de alegria, quando o meu santuário foi profanado e quando a terra de Israel foi devastada e quando a casa de Judá foi destruída e quando foi levada para o cativeiro. Por isso, eis que Eu te entrego aos filhos do Oriente; eles erguerão no teu seio os seus acampamentos e aí estabelecerão a sua morada; comerão dos teus frutos e beberão do teu leite. De Rabá farei um parque de camelos, e das cidades de Amon, um rebanho de ovelhas. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor. Porque assim fala o Senhor, Já que aplaudiste e bateste os pés, e te regozijaste com o que aconteceu ao país de Israel, por isso, eis que levanto a mão contra ti. Vou entregar-te à pilhagem, arrancar-te de entre os povos e exterminar-te de entre as nações. Aniquilar-te-ei e, então, reconhecereis que sou o Senhor.» Assim fala o Senhor Deus, «Porque Moab e Seir disseram: ‘A casa de Judá é como os outros povos’; por isso, eis que Eu vou descobrir os flancos de Moab e aniquilar as cidades em todo o seu território, as belezas deste país, Bet-Haiechimot, Baal-Meon, Quiriataim. Entrego-as aos filhos do Oriente, além dos amonitas; entregarei o país, a ponto de não mais serem recordados os amonitas entre as nações. É assim que Eu castigarei Moab; e, então, reconhecerão que Eu sou o Senhor.» Assim fala o Senhor Deus, «Porque Edom exerceu vingança contra a casa de Judá e se tornou culpado, vingando-se deles, por isso, diz o Senhor Deus, Eis que Eu estendo a minha mão contra Edom e vou exterminar pessoas e animais. Dele farei um deserto; cairão todos ao fio da espada, desde Teman até Dedan. Exercerei a minha vingança contra Edom por meio do meu povo de Israel. Ele agirá para com Edom, segundo a minha ira e o meu furor, a fim de conhecerem que é a minha vingança» – oráculo do Senhor Deus. Assim fala o Senhor Deus, «Porque os filisteus exercem vingança e se vingam cruelmente com um desprezo enorme, preparados para exterminar Israel, no seu ódio eterno, por isso, assim diz o Senhor Deus, Eis que levanto a minha mão contra os filisteus; vou exterminar os cretenses e destruir o que resta aos habitantes da costa. Exercerei contra eles uma vingança terrível, castigando-os com furor. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor, quando fizer descer sobre eles a minha vingança.» No décimo primeiro ano, no primeiro dia do mês, foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, Tiro disse contra Jerusalém: ‘Ah! Ah! ela está arrombada, a porta dos povos! Ela volta-se agora para mim, a sua riqueza está destruída.’ Por isso, diz o Senhor Deus, Tiro, eis que Eu venho contra ti! Vou suscitar contra ti muitos povos, como o mar faz encrespar as suas vagas. Eles destruirão os muros de Tiro e demolirão as suas torres; varrerei dela o pó e dela farei um rochedo nu. Tiro será, no meio do mar, um lugar onde se estendem as redes, porque Eu falei – oráculo do Senhor Deus. Ela será a presa das nações. Cairão ao fio da espada as cidades, suas filhas, que estão na terra firme. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor.» Porque assim fala o Senhor Deus, «Eis que Eu envio contra Tiro, vindo do Norte, Nabucodonosor, rei da Babilónia, rei dos reis, com cavalos, carros, cavaleiros e uma multidão de tropas. Ele matará ao fio da espada as tuas filhas que estão em terra firme. Contra ti levantará trincheiras, elevará plataformas e construirá bastiões. Dirigirá contra os teus muros o ímpeto dos seus aríetes; com os seus engenhos demolirá as tuas torres. Será tão grande o número dos seus cavalos que a sua poeira te cobrirá. Ao ruído dos seus cavaleiros e dos seus carros de guerra, tremerão as tuas muralhas; quando ele atravessar as tuas portas, como se penetra numa cidade conquistada. Com as patas dos cavalos calcará todas as tuas ruas; matará o teu povo ao fio da espada; deitará por terra as tuas estelas colossais. As tuas riquezas e mercadorias serão pilhadas; as tuas muralhas demolidas, as tuas casas luxuosas arrasadas; lançarão ao mar as tuas pedras, a tua madeira e o teu pó. Farei cessar o som dos teus cânticos; não se escutarão mais as tuas cítaras. De ti farei um rochedo nu, um lugar onde se estendem as redes. Não serás reedificada, porque Eu, o Senhor, falei» – oráculo do Senhor Deus. Assim fala o Senhor Deus a Tiro: «Ao estrondo da tua queda, quando estiverem gemendo os teus feridos, quando a mortandade grassar no meio de ti, não estremecerão as ilhas? E todos os príncipes do mar descerão dos tronos; deporão os mantos e despirão as vestes bordadas. Revestir-se-ão de espanto, sentar-se-ão por terra, tremerão sem cessar e ficarão consternados. Então, recitarão sobre ti uma lamentação e dirão: ‘Como desapareceste dos mares, tu, cidade famosa, tu que eras poderosa sobre o mar, tu e os teus habitantes, que espalhavam terror por todo o continente.’ Agora, as ilhas estremecerão, no dia da tua queda, e as ilhas do mar serão aterrorizadas com o teu destino.» Porque assim fala o Senhor Deus, «Quando fizer de ti uma cidade deserta como as cidades que não são habitadas; quando fizer subir sobre ti o Abismo, para que as suas águas profundas te cubram, então, precipitar-te-ei com os que descem à cova, para junto dos povos do passado. Far-te-ei habitar nas profundezas da terra, como uma ruína do passado, ao lado dos que desceram à cova, para que não sejas mais habitada e não voltes a reinar em glória na terra dos vivos. De ti farei objecto de terror; e não existirás mais. Hão-de procurar-te, mas não te encontrarão» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «E tu, filho de homem, profere sobre Tiro uma lamentação. Dirás a Tiro, a cidade que fica junto ao mar, que tem comércio com os povos de inúmeras ilhas: Assim fala o Senhor Deus: Tiro, tu dizias: ‘Eu sou um navio de uma beleza perfeita.’ O teu domínio está no coração do mar, os teus construtores fizeram de ti uma perfeição. Com ciprestes de Senir fizeram todas as tuas pranchas; para te fazerem um mastro, cortaram um cedro do Líbano. Com os carvalhos mais altos de Basan fizeram os teus remos; e com marfim incrustado em cedro das ilhas de Kitim, o teu convés. De linho fino do Egipto, bordado, eram as tuas velas que te serviam de estandarte. De púrpura e escarlate das ilhas de Elicha fizeram-te um toldo. Os habitantes de Sídon e de Arvad foram os teus remadores. E os sábios de Cémer estavam a bordo como pilotos. Os anciãos de Guebal e seus artistas lá estavam para reparar-te as avarias. Todos os navios do mar e seus marinheiros estavam perto de ti, para fazerem comércio contigo. Gente da Pérsia, de Lud e de Put servia na tua armada como gente de guerra. Penduravam em ti o escudo e o capacete, para te enfeitar. Sobre os teus muros, estavam os filhos de Arvad, e os teus soldados, vigiando nas tuas torres. Nas tuas muralhas penduravam os seus escudos, dando-te rara beleza. Társis era tua cliente, aproveitando-se da abundância das tuas riquezas. Com prata, ferro, estanho e chumbo pagava as tuas mercadorias. Javan, Tubal e Méchec comerciavam contigo. Trocavam as tuas mercadorias por homens e utensílios de bronze. Os de Bet-Togarma forneciam-te em troca cavalos de raça, cavalos de sela e mulas. Os filhos de Dedan faziam comércio contigo. Muitas ilhas eram tuas clientes; pagavam-te com marfim e ébano. A Síria negociava contigo, por causa da grande abundância dos teus produtos; pagavam-te com pedras preciosas, púrpura, tecidos tingidos, linho fino, corais e rubis. Judá e o país de Israel também comerciavam contigo, fornecendo-te em troca o trigo de Minit, cera, mel, azeite e bálsamo. Damasco era teu cliente graças à abundância dos teus produtos e à multidão das tuas riquezas, que ela trocava pelo vinho de Helbon e lã de Sacar. Dan e Javan, depois de Uzal, abasteciam-te de ferro forjado, de cássia e cana aromática, como matéria de permuta. Dedan fazia comércio contigo de artigos de montaria. A Arábia e os príncipes de Quedar também eram teus clientes, em cordeiros, carneiros e bodes. Os mercadores de Sabá e de Rama comerciavam contigo; trocavam as tuas mercadorias por aromas de primeira qualidade, pedras preciosas e ouro. Haran, Cané e Éden, os comerciantes de Sabá, de Assur e de Quilmad traficavam contigo. Vendiam nos teus mercados ricas vestes, mantos de púrpura, bordados, tecidos de variadas cores, fortes cordas entrançadas. Os navios de Társis vogavam ao serviço dos teus negócios. Eras poderosa e gloriosa no coração dos mares. Era pelo alto mar que te conduziam os teus remadores. O vento do oriente destroçou-te em pleno mar. As tuas mercadorias, as tuas riquezas, os teus produtos, os teus navios, os teus marinheiros e os teus pilotos, os teus calafates e os teus estivadores, todos os homens de guerra que tu transportavas e toda a multidão de pessoas que vai a bordo, serão engolidos pelo mar no dia do teu naufrágio. Aos gritos dos teus marinheiros, as praias estremecerão. Então, descerão dos seus navios todos os remadores. Os marinheiros, todos eles gente do mar, desembarcarão em terra. Farão ouvir o seu queixume contra ti e gritarão amarguradamente. Deitarão poeira na cabeça e rolarão na cinza. Por causa de ti, raparão a cabeça e se cingirão de saco. Chorarão sobre ti na tristeza da sua alma, em luto amargo. Juntos entoarão sobre ti um cântico fúnebre, lamentando-te assim: ‘Quem era como Tiro, gloriosa no coração do mar?’ Quando as tuas mercadorias desembarcavam, abastecias muitos povos; com a abundância de tuas riquezas e comércio, enriquecias os reis da terra. Mas agora, eis-te quebrada pelas vagas, no coração dos mares. As tuas mercadorias e toda a tua tripulação foi a pique contigo. Todos os habitantes das ilhas estão feridos de pavor por causa de ti; os seus reis estão tomados de terror, o rosto deles está perturbado. Os mercadores dos povos, ao verem-te, assobiam. Tornaste-te objecto de terror, aniquilada para sempre.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, diz ao príncipe de Tiro: Eis o que diz o Senhor Deus, Tu te encheste de orgulho, dizendo: ‘Eu sou um deus, estou sentado no trono de Deus, no coração do mar’, não sendo tu um deus mas apenas um homem; e, contudo, julgas-te igual a Deus. Consideras-te mais sábio do que Daniel: nenhum mistério te é obscuro. Foi pela tua sabedoria e inteligência que adquiriste riqueza e amontoaste ouro e prata em teus tesouros. Pela tua perícia para o comércio, acrescentaste as riquezas, e o teu coração ensoberbeceu-se. Por causa disto, assim fala o Senhor Deus, Já que te julgas deus, por isso, eis que farei vir contra ti estrangeiros, os mais bárbaros dos povos. Eles desembainharão a espada contra a tua sabedoria e macularão o teu esplendor. Far-te-ão descer à cova; morrerás de morte violenta no coração dos mares. Dirás ainda, à vista dos teus carrascos: ‘Eu sou um deus’, quando é evidente que não és senão um homem e não um deus, na mão do teu assassino. Morrerás da morte dos incircuncisos, aos golpes dos estrangeiros. Sou Eu quem o afirma» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, profere uma lamentação sobre o rei de Tiro. Tu lhe dirás: ‘Assim fala o Senhor Deus, Tu eras um modelo de perfeição, cheio de sabedoria, de uma beleza admirável. Estavas no Éden, jardim de Deus; cobrias-te de toda a espécie de pedras preciosas: sardónica, topázio, diamante, crisólito, ónix, jaspe, safira, carbúnculo e esmeralda, cravejadas de ouro. Tamborins e flautas estavam ao teu serviço desde o dia em que foste criado. Eras um querubim protector, colocado sobre a montanha santa de Deus, caminhavas por entre pedras de fogo. Eras irrepreensível na tua conduta, desde o dia em que nasceste, até àquele em que a iniquidade apareceu em ti. Com o aumento do teu comércio, o teu íntimo encheu-se de violências e pecados. Por isso, Eu precipitei-te da montanha de Deus e fiz-te perecer, ó querubim protector, no meio das pedras de fogo. O teu coração encheu-se de orgulho, por causa da tua beleza. Arruinaste a tua sabedoria, por causa do teu esplendor. Lancei-te por terra e entreguei-te em espectáculo aos reis. Pelas muitas faltas e desonestidades no teu comércio, profanaste o teu santuário. Por isso, fiz sair de ti o fogo para te devorar. Reduzi-te a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplavam. Todos os que entre os povos te conheciam, ficaram estupefactos. Tornaste-te objecto de horror e não sobreviverás mais.’» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, volta-te para Sídon e profetiza contra ela. Dirás: Assim fala o Senhor Deus, Eis que me declaro contra ti, Sídon; no meio de ti, farei brilhar a minha glória. Então, saberão que Eu sou o Senhor, quando executar contra ela os meus juízos e nela manifestar a minha santidade. Mandar-lhe-ei a peste, e o sangue inundará as suas ruas; sucumbirão feridos, derrubados por uma espada, que surgirá de toda a parte. Então reconhecerão que Eu sou o Senhor.» «Depois disso, não haverá para a casa de Israel nem espinho que fira nem silva que dilacere, da parte de algum dos seus vizinhos que a atacam. Assim, saberão que Eu sou o Senhor Deus. Assim fala o Senhor Deus, Quando congregar os israelitas de entre os povos, por onde foram dispersos, então, manifestarei a minha santidade aos olhos das nações e habitarão a terra que Eu dei ao meu servo Jacob. Habitarão em segurança, edificarão casas e plantarão vinhas; viverão com segurança, quando Eu executar os meus juízos contra todos os vizinhos que os atacavam. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor, seu Deus.» No décimo ano, no dia doze do décimo mês, foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, volta a face para o faraó, rei do Egipto e profetiza contra ele e contra todo o Egipto. Dirige-lhe estas palavras: Assim fala o Senhor Deus: “Eis-me contra ti, faraó, rei do Egipto, crocodilo monstruoso, estendido no meio dos teus Nilos; tu dizes: ‘Os meus Nilos são meus, fui eu quem os fez.’ Vou meter ganchos nas tuas mandíbulas, em tuas escamas prenderei os peixes dos teus Nilos, e Eu te tirarei para fora dos teus Nilos, com todos os peixes dos teus Nilos atados às tuas escamas. Lançar-te-ei para o deserto com todos os peixes dos teus Nilos; ficarás estendido no chão, não serás recolhido nem enterrado. Aos animais da terra e às aves do céu Eu te darei como pasto. E reconhecerão todos os egípcios que Eu sou o Senhor, porque tu eras apenas um apoio de cana para a casa de Israel. Quando te tomarem na mão, partir-te-ás e lhes rasgarás as mãos. Quando se apoiarem em ti, despedaçar-te-ás e farás vacilar os seus rins. Por isso, diz o Senhor Deus, Eis que Eu mando contra ti a espada, para eliminar de ti homens e animais. O país do Egipto tornar-se-á num deserto desolado. Então, saberão que sou o Senhor. Isto acontecerá porque disseste: ‘O Nilo é meu; é meu, porque fui eu quem o fez.’ Por isso, eis que Eu me declaro contra ti e contra todos os teus Nilos. Farei do Egipto deserto e desolação, desde Migdol e Siene, até à fronteira da Etiópia. Não passará por ele pé de homem, nenhum pé de animal tão-pouco; durante quarenta anos ficará desabitado. Mudarei o Egipto em deserto entre os países desertos; as suas cidades serão devastadas entre as cidades destruídas, durante quarenta anos. Dispersarei os egípcios entre os povos e os espalharei pelas nações. Porque, assim diz o Senhor Deus, Ao fim de quarenta anos, Eu juntarei os egípcios de entre as nações por onde se tiverem espalhado. Depois, reconduzirei os cativos do Egipto e os estabelecerei de novo no país de Patros, no seu país de origem; aí formarão um pequeno reino. Em comparação com os outros reinos, será um reino modesto e nunca mais dominará as nações; Eu o farei pequeno, para que não domine mais as nações. Para Israel não será mais objecto de confiança, mas recordará as faltas de Israel por se ter voltado para ele. Então, saberão que Eu sou o Senhor Deus.”» No vigésimo sétimo ano, no primeiro dia do primeiro mês, foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, Nabucodonosor, rei da Babilónia, empenhou o seu exército numa grande empresa contra Tiro. Toda a cabeça se tornou calva, todos os ombros esfolados. Mas, nem ele, nem o seu exército tiraram de Tiro alguma vantagem da operação realizada contra a cidade. Por isso, diz o Senhor Deus, Eis que Eu dou a Nabucodonosor, rei da Babilónia, a terra do Egipto. Ele pilhará as suas riquezas, apoderar-se-á dos seus despojos e levará a sua presa. Esse será o soldo do seu exército. Como recompensa da tarefa executada contra Tiro, dou-lhe o Egipto, porque foi para mim que ele trabalhou –oráculo do Senhor Deus. Nesse dia, farei brotar o poder na casa de Israel e abrirei a tua boca no meio deles. Então, saberão que Eu sou o Senhor.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, profetiza e diz: Assim fala o Senhor Deus, Gritai: ‘Ah! Que dia!’ É que se aproxima o dia, o Dia do Senhor. Será um dia carregado de nuvens, dia marcado para as nações. Uma espada atingirá o Egipto; haverá angústia na Etiópia, quando os mortos tombarem no Egipto, quando levarem as suas riquezas e derrubarem os seus fundamentos. Gente da Etiópia, de Put e Lud, populações mistas, gente de Cub, bem como os filhos dos países aliados, cairão com eles à espada. Eis o que diz o Senhor, Eles tombarão, os sustentáculos do Egipto, e o orgulho que lhe inspirava a força será abatido: desde Migdol a Siene sucumbirão à espada – oráculo do Senhor Deus. Será devastada entre os países devastados, e as suas cidades ficarão desertas entre as demais. Então, saberão que Eu sou o Senhor, quando tiver deitado fogo ao Egipto e os seus aliados tiverem ficado esmagados. Nesse dia, irão da minha parte, de barco, mensageiros a toda a pressa, a fim de perturbarem a segurança da Etiópia. O terror espalhar-se-á entre os seus habitantes, como no dia do Egipto; pois ei-lo que chega! Assim fala o Senhor Deus, Eu vou aniquilar as multidões que povoam o Egipto, pela mão de Nabucodonosor, rei da Babilónia. Ele e o seu povo, os mais ferozes entre os povos, vão ser enviados para arrasar o país. Desembainharão as espadas contra o Egipto e cobrirão o país de cadáveres. Tornarei secos os Nilos e entregarei o país a salteadores; saquearei o país e tudo o que ele contém, pela mão de estrangeiros. Fui Eu, o Senhor, que falei. Assim fala o Senhor Deus, Destruirei os ídolos e farei desaparecer os grandes de Nof. Deixará de haver príncipe no Egipto. Espalharei o terror pelo Egipto. Assolarei Patros, lançarei fogo a Soan, executarei os meus juízos sobre Nó. Desencadearei o meu furor contra Sin, a fortaleza do Egipto; exterminarei a numerosa população de Nó. Porei fogo ao Egipto: Sin se contorcerá de dores; Nó será invadida e Nof assaltada em pleno dia. Os jovens de On e de Pi-Bésset tombarão ao fio da espada e os seus habitantes serão deportados. Em Taapanés, o dia se transformará em trevas, quando Eu quebrar o ceptro do Egipto e puser termo ao orgulho da sua força. Uma nuvem cobrirá a cidade, e as suas filhas serão levadas para o cativeiro. É assim que Eu exercerei o meu julgamento contra o Egipto. Então, saberão que Eu sou o Senhor.» No primeiro mês do décimo primeiro ano, no dia sete, foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, parti o braço do faraó, rei do Egipto, e eis que ninguém o procura para o curar, ninguém lhe pôs uma ligadura, a fim de lhe dar força para manejar a espada. Por isso, diz o Senhor Deus, Eis-me contra o faraó, rei do Egipto: Vou despedaçar-lhe o braço válido, como fiz ao outro, e farei cair a espada da sua mão. Dispersarei os egípcios entre as nações, espalhá-los-ei por diversos países. Darei força ao braço do rei da Babilónia, e meterei na sua mão a minha espada; partirei os braços do Faraó, e ele soltará o gemido da morte, diante do inimigo. Tornarei vigorosos os braços do rei da Babilónia, enquanto os braços do Faraó tombarão. Saberão que Eu sou o Senhor, quando puser a minha espada na mão do rei da Babilónia e quando ele a brandir contra o Egipto. Dispersarei os egípcios por entre as nações, e os espalharei por diversos países. Assim, saberão que Eu sou o Senhor.» No terceiro mês do décimo primeiro ano, no primeiro dia do mês, foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, diz ao faraó, rei do Egipto, e ao seu numeroso povo: ‘A que te hei-de comparar na tua grandeza? És como um cedro do Líbano, de belas ramagens, de folhagem espessa, de tronco alto, cuja copa se eleva até às nuvens. As águas fizeram-no crescer; o abismo fê-lo subir, fazendo correr as suas ondas em volta do lugar onde estava plantado e dirigindo os seus regatos a todas as árvores do campo. Por isso, o seu tronco se elevava mais do que todas as árvores do campo; os ramos multiplicavam-se, a ramagem desenvolvia-se, graças à abundância das águas que o tinham feito crescer. Nos seus ramos faziam ninho todas as aves do céu; sob as suas ramagens se abrigavam todos os animais do campo; à sua sombra se sentavam povos de todas as raças. Era belo na sua grandeza, na extensão dos seus ramos; porque as raízes mergulhavam em águas abundantes. Nenhum cedro do jardim de Deus rivalizava com ele, os ciprestes não se assemelhavam aos seus ramos, e os plátanos não igualavam as suas ramagens. Nenhuma árvore no jardim de Deus se lhe comparava em beleza. Porque o fiz belo, com uma copa frondosa, invejavam-no todas as árvores do Éden, que estavam no jardim de Deus.’ Por isso, eis o que diz o Senhor Deus, Porque foi tão orgulhoso da sua altura e fez tocar o cimo nas nuvens do céu, e porque o coração se ensoberbeceu por causa da sua altura, por isso, Eu entreguei-o nas mãos do príncipe das nações, para que ele o trate segundo a sua malícia; Eu o destruirei. Os estrangeiros, as nações mais bárbaras cortaram-no e lançaram-no por terra. Os seus ramos caíram pelas montanhas e pelos vales; os seus rebentos partidos juncaram todas as ravinas do país; todos os povos da terra deixaram a sua sombra e abandonaram-no. Sobre os seus destroços pousaram as aves do céu; entre os seus ramos meteram-se todos os animais selvagens. Tudo isto para que nenhuma árvore que cresce à beira das águas se eleve no seu orgulho; para que nenhuma faça tocar a copa nas nuvens; e para que nenhuma bem irrigada pelas águas se fie na sua altura. Pois que todas estão votadas à morte, descerão às profundezas da terra, em companhia do comum dos mortais, que descem à cova. Por isso, diz o Senhor Deus, No dia em que o cedro desceu ao mundo dos mortos, ordenei o luto, fechei sobre ele o Abismo, fiz parar os rios, e as suas águas abundantes estacaram. Por causa dele, o Líbano encheu-se de tristeza, e todas as árvores do campo definharam por causa dele. Ao ruído da sua queda, fiz estremecer as nações, quando o precipitei no mundo dos mortos, juntamente com os que descem à sepultura. Nas regiões subterrâneas foram consoladas todas as árvores do Éden, as mais belas e magníficas árvores do Líbano, todas aquelas que são irrigadas pelas águas. E com ele também desceram à morada dos mortos, para junto daqueles que tombaram ao fio da espada, os que eram o seu braço e se mantinham à sua sombra, entre as nações. Quem te igualava em glória e em grandeza entre as árvores do Éden? E, apesar disso, foste precipitado nas regiões subterrâneas, juntamente com as árvores do Éden. Eis que jazes no meio dos incircuncisos com os que tombaram ao fio da espada. Esse é o destino do Faraó e do seu numeroso povo» – oráculo do Senhor Deus. No décimo segundo ano, no primeiro dia do décimo segundo mês, foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, pronuncia sobre o faraó, rei do Egipto, uma lamentação. Dir-lhe-ás: ‘Parecias um leãozinho entre as nações. Eras como o crocodilo dos mares. Lançavas-te nos rios, com as tuas patas agitavas as águas e turvavas a corrente. Assim fala o Senhor Deus, Lançarei sobre ti a minha rede, perante grande multidão de povos; eles te recolherão na minha rede. Arremessar-te-ei à terra; lançar-te-ei sobre a superfície dos campos, farei pousar sobre ti todas as aves do céu e saciarei com a tua carne todos os animais da terra. Abandonarei o teu cadáver nos montes, encherei os vales com os teus restos mortais. Derramarei o teu sangue até que ele corra pelas montanhas e encha as ravinas. Quando te apagares, encobrirei os céus e obscurecerei as estrelas, cobrirei de nuvens o céu, e a Lua deixará de brilhar. Por causa de ti, obscurecerei todos os astros dos céus e sobre a terra espalharei as trevas’ – oráculo do Senhor Deus. Mergulharei na dor o coração de muitos povos, espalhando os teus cativos por entre as nações, por países que tu desconheces. Com o teu exemplo, encherei de espanto muitos povos, cujos reis estremecerão de terror, quando diante deles brandir a minha espada; tremerão incessantemente cada um por sua vida, no dia da tua ruína. Eis o que diz o Senhor Deus, ‘A espada do rei da Babilónia há-de atingir-te. Pela espada de homens poderosos farei tombar todo o teu povo; os mais bárbaros entre os homens esmagarão o orgulho do Egipto; toda a sua população será aniquilada. Exterminarei todos os teus rebanhos, à beira dos grandes rios, cujas águas jamais serão turvadas por qualquer pé de homem ou animal. Então, acalmarei as suas águas, farei correr os seus rios como azeite’ – oráculo do Senhor Deus. Quando tiver feito do Egipto um deserto, quando for despojado de tudo o que contém, quando tiver castigado os seus habitantes, saberão que Eu sou o Senhor. Tal é a lamentação que cantarão as filhas das nações. Elas a recitarão sobre o Egipto e sobre a sua população» – oráculo do Senhor Deus. No décimo segundo ano, no décimo quinto dia do mês, foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, lamenta a multidão dos habitantes do Egipto e precipita-os a eles e às filhas das nações poderosas nas profundezas da terra, juntamente com os que descem à sepultura: ‘Desce e deita-te com os incircuncisos, trespassados pela espada.’ Eles tombarão no meio dos que morrem ao fio da espada, e toda a sua força desaparecerá. Os heróis famosos, com os seus aliados, dirigir-lhe-ão a palavra, do fundo do abismo da terra: ‘Quem te ultrapassa em beleza?’ É lá que se encontra a Assíria com toda a sua gente de guerra à volta do seu túmulo, todos degolados, tombados ao fio da espada. As suas sepulturas estão no mais profundo da cova; o seu exército está à volta da sua sepultura, todos mortos, caídos ao fio da espada, eles que espalhavam o terror na terra dos vivos. Eis Elam e suas tropas à volta do seu túmulo; todos mortos, caídos ao fio da espada, desceram incircuncisos aos reinos subterrâneos, eles que espalhavam o terror entre os vivos; levaram a sua ignomínia com os que descem à cova. No meio destes mortos foi-lhe preparado um leito, com todas as tropas à volta do seu túmulo, todos incircuncisos, tombados ao fio da espada, eles que espalhavam o terror na terra dos vivos; levaram a sua ignomínia com os que descem à cova. Foram abandonados entre os mortos. Eis Méchec, Tubal e todas as suas tropas à volta do seu túmulo, todos incircuncisos, mortos ao fio da espada por terem espalhado o terror na terra dos vivos. Não dormirão com os heróis aqueles que tombaram entre os incircuncisos e desceram ao abismo dos mortos com as suas armas de guerra; as suas espadas caíram sobre as suas próprias cabeças e as suas culpas voltaram-se contra os seus ossos, porque eles eram o terror dos heróis na terra dos vivos. Mas tu dormirás entre os incircuncisos, entre aqueles que tombaram ao fio da espada. Eis Edom, os seus reis e príncipes que, apesar da sua valentia, foram colocados entre aqueles que tombaram ao fio da espada; eles repousam entre os incircuncisos, entre aqueles que desceram à cova. Eis todos os príncipes do Norte e todos os de Sídon que desceram para junto dos mortos, apesar do terror que inspirava a sua valentia; eles repousam, incircuncisos, ao lado dos que tombaram ao fio da espada e levaram a sua ignomínia para junto dos que desceram à cova. O Faraó consolar-se-á, ao vê-los a todos, os seus mortos, tombados ao fio da espada e seu exército – oráculo do Senhor Deus. Apesar de ter espalhado o terror na terra dos vivos, ei-lo que jaz entre os incircuncisos, entre os que tombaram ao fio da espada: o Faraó e toda a sua gente» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, fala aos filhos do teu povo e diz-lhes: Quando Eu faço vir a espada sobre um país, as gentes deste país escolhem de entre eles um homem e põem-no de sentinela. Se este homem vê chegar a espada sobre o país, toca a trombeta e adverte o povo; e se aquele que ouve a trombeta não presta atenção e a espada o surpreende, é responsável pela sua própria morte. Ele ouviu o som da trombeta, mas não prestou atenção, é responsável pela sua própria morte, pois se tivesse prestado atenção, salvaria a sua vida. Se a sentinela, pelo contrário, vir chegar a espada e não tocar a trombeta; se o povo não foi advertido e a espada vem tirar a vida a alguém, este morrerá por causa da sua iniquidade; e Eu pedirei contas do seu sangue à sentinela. A ti, filho de homem, Eu constituí-te sentinela da casa de Israel. Deves ouvir a palavra que sai da minha boca e adverti-los, da minha parte. Se Eu digo ao ímpio que vai morrer e tu não lhe falas para o pôr de sobreaviso contra a sua má conduta, ele perecerá em razão do próprio pecado; mas é a ti que Eu pedirei contas do seu sangue. Mas, se advertes o pecador para o afastar do mau caminho e ele não se converte, ele morrerá na sua iniquidade; mas tu salvarás a tua vida.» «Filho de homem, diz aos israelitas: Vós dizeis: ‘Os nossos pecados e as nossas faltas pesam sobre nós e é por causa deles que morremos. Como poderemos nós viver?’ Diz-lhes isto: ‘Por minha vida – oráculo do Senhor Deus não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, a fim de que tenha a vida. Convertei-vos! Afastai-vos desse mau caminho que seguis; porque persistis em querer morrer, casa de Israel?’ Filho de homem, diz aos filhos do teu povo: No dia em que o justo se tornar infiel, a justiça dele não o salvará; do mesmo modo que a malícia do pecador não o fará sucumbir, se um dia renunciar à sua perversidade. O justo, desde que tenha pecado, não poderá viver pela sua justiça. Quando digo ao justo: ‘Tu viverás’, mas ele, confiando na sua justiça, pratica o mal, não será recordada a sua justiça, mas morrerá por causa da iniquidade que fez. Quando digo ao pecador: ‘Tu morrerás’, e ele se afasta dos seus pecados e pratica o direito e a justiça; se ele restitui o penhor que lhe foi confiado, se devolve o que roubou, se observa as leis que dão a vida, e se se abstém de todo o mal, viverá e será preservado da morte. Serão esquecidos todos os pecados que cometeu: se observar o direito e a justiça, viverá. Os filhos do teu povo dizem: ‘O modo de proceder do Senhor não é justo.’ Mas o vosso modo de agir é que não é justo. Quando o justo se afasta da justiça, para praticar o mal, ele morre por causa disso. Mas se o pecador se converte dos seus pecados e pratica o direito e a justiça, ele viverá por esse motivo. E vós dizeis ainda: ‘O modo de proceder do Senhor não é justo!’ Pois Eu vos julgarei, a cada um segundo a sua conduta, casa de Israel.» No décimo segundo ano do nosso cativeiro, no dia cinco do décimo mês, um homem que tinha escapado de Jerusalém veio até junto de mim e anunciou: «A cidade foi conquistada!» Ora, a mão do Senhor estivera sobre mim, na tarde que antecedeu a vinda do fugitivo; Ele abriu-me a boca, antes que o fugitivo chegasse junto de mim, de manhã; a minha boca abriu-se e, desde então, deixei de estar mudo. Então foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, os que habitam no meio destas ruínas, no país de Israel dizem: ‘Abraão estava só e recebeu o país em herança. Com maior razão, a nós que somos numerosos, nos será dada a terra como património.’ Por isso, diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, Vós comeis os vossos alimentos com sangue, levantais os vossos olhos para os ídolos e espalhais o sangue. Como é que tereis a posse do país? Vós apoiais-vos na vossa espada, cometeis acções abomináveis, cada um desonra a mulher do seu próximo. Como é que tereis a posse do país? Dir-lhes-ás isto: Assim fala o Senhor Deus, ‘Pela minha vida, os que se encontram no meio das ruínas, tombarão ao fio da espada; os que se encontram nos campos, entregá-los-ei aos animais, para que os devorem; e os que se encontram nas fortalezas e nas cavernas perecerão de peste. Reduzirei o país à solidão e farei dele um deserto; o orgulho da sua força chegará ao seu termo. As montanhas de Israel serão arrasadas e ninguém por elas passará.’ Então, saberão que Eu sou o Senhor, quando reduzir o país à solidão e fizer dele um deserto, por causa de todos os seus pecados abomináveis.» «E tu, filho de homem, fica sabendo que os filhos do teu povo te criticam, ao longo das paredes e às portas das casas. Dizem uns aos outros: ‘Vinde ouvir a palavra que vem da parte do Senhor.’ Depois, acorrem em multidão a tua casa, sentam-se diante de ti, escutam o que dizes, mas não o põem em prática. Não fazem senão o que lhes agrada e não procuram senão o seu proveito. És para eles como um trovador dotado de bela voz e que toca bem a sua cítara. Ouvem as tuas palavras, mas não as põem em prática. Porém, quando tudo isto se realizar – e eis que já está a acontecer – reconhecerão que havia um profeta entre eles.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, profetiza contra os pastores de Israel, profetiza e diz a esses pastores: Assim fala o Senhor Deus: ‘Ai dos pastores de Israel, que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar o rebanho? Vós, porém, bebestes o leite, vestistes-vos com a sua lã, matastes as rezes mais gordas e não apascentastes as ovelhas. Não tratastes das que eram fracas, não cuidastes da que estava doente, não curastes a que estava ferida; não reconduzistes a transviada; não procurastes a que se tinha perdido; mas a todas tratastes com violência e dureza. Por isso, à falta de pastor, elas dispersaram-se e, na sua debandada, tornaram-se a presa de todos os animais dos campos. As minhas ovelhas vagueiam por toda a parte, pelas montanhas e pelas colinas elevadas; o meu rebanho anda disperso por toda a superfície do país; ninguém se preocupa nem as vai procurar.’ Por isso, pastores, ouvi a palavra do Senhor, ‘Pela minha vida – oráculo do Senhor Deus porque as minhas ovelhas ficaram entregues à pilhagem e se tornaram a presa de todos os animais dos campos, por falta de pastor; porque os meus pastores não se preocupam com o meu rebanho; porque eles se apascentam a si mesmos e não apascentam o meu rebanho’. Por isso, pastores, ouvi a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus, ‘Aqui estou Eu contra os pastores! Vou tirar as minhas ovelhas das suas mãos e não permitirei que apascentem mais as minhas ovelhas; e eles não se apascentarão mais a si mesmos. Da sua boca arrancarei as minhas ovelhas, e elas nunca mais serão uma presa para eles.’» Porque assim fala o Senhor Deus, «Eis que Eu mesmo cuidarei das minhas ovelhas e me interessarei por elas. Como o pastor se preocupa com o seu rebanho, quando se encontra entre as ovelhas dispersas, assim me preocuparei Eu com o meu. Reconduzi-lo-ei de todas as partes por onde tenha sido disperso, num dia de nuvens e de trevas. Arrancá-los-ei de entre os povos e os reunirei dos vários países, a fim de os reconduzir à sua própria terra e os apascentar nos montes de Israel, nos vales e em todos os lugares habitados da região. Eu os apascentarei em boas pastagens; o seu pasto será nas montanhas elevadas de Israel; estarão tranquilas em bons pastos; comerão em férteis prados, nos montes de Israel. Sou Eu que apascentarei as minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar – oráculo do Senhor Deus. Procurarei aquela que se tinha perdido, reconduzirei a que se tinha tresmalhado; cuidarei a que está ferida e tratarei da que está doente. Vigiarei sobre a que está gorda e forte. A todas apascentarei com justiça.» «Quanto a vós, minhas ovelhas, assim fala o Senhor Deus, Eis que vou julgar entre ovelhas e ovelhas – entre carneiros e bodes. Não era bastante alimentar-vos numa boa pastagem, para que calqueis ainda aos pés o resto do prado? Parece-vos pouco beber água límpida, para irdes turvar ainda o resto com os vossos pés? E as minhas ovelhas devem pastar o que pisastes com os pés e beber o que os vossos pés turvaram?» Por isso, assim fala o Senhor Deus, «Eis que julgarei entre a ovelha gorda e a ovelha magra. Porque feriste com o flanco e com as espáduas, e investistes com os chifres contra todas as ovelhas fracas até as atirar para fora, Eu virei em socorro das minhas ovelhas, para que elas sejam poupadas à pilhagem; vou julgar entre ovelhas e ovelhas.» «Estabelecerei sobre elas um único pastor, que as apascentará, o meu servo David; será ele que as levará a pastar e lhes servirá de pastor. Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo David será um príncipe no meio delas. Fui Eu, o Senhor, que o disse. Com ele farei uma aliança de paz; eliminarei de Israel as feras; habitarão com segurança no deserto e dormirão no meio das florestas. Conduzi-los-ei para as imediações da minha colina e farei cair a chuva no devido tempo: será uma chuva de bênção. As árvores dos campos darão o seu fruto, e a terra os seus produtos. Eles habitarão com segurança no seu país. E saberão que Eu sou o Senhor, quando tiver quebrado as cadeias do seu jugo e os tiver libertado da mão dos que os oprimiam. Nunca mais serão expostos à pilhagem das nações, nem as feras da terra os devorarão: habitarão com segurança e ninguém os perturbará mais. Farei crescer para eles uma vegetação viçosa; não serão consumidos pela fome e nunca mais terão de suportar os insultos das nações. Então, reconhecerão que Eu, o Senhor, o seu Deus, estou com eles, e que eles, a casa de Israel, são o meu povo – diz o Senhor Deus. E vós, minhas ovelhas, sois o rebanho que Eu apascento. Eu sou o vosso Deus» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, volta o rosto contra a montanha de Seir e profetiza contra ela. Dir-lhe-ás: Assim fala o Senhor Deus: ‘Eis que Eu me declaro contra ti, montanha de Seir. Estendo a minha mão contra ti e reduzo-te a solidão e deserto. Reduzirei a ruínas as tuas cidades e tu tornar-te-ás solidão. Então, reconhecerás que Eu sou o Senhor.’ Tu alimentaste um ódio eterno contra os israelitas e os entregaste ao fio da espada, no dia da sua calamidade e no auge da sua aflição. Por isso, pela minha vida – oráculo do Senhor Deus Eu entregar-te-ei ao sangue, e o sangue te há-de perseguir. Visto que não tens horror de derramares o sangue, o sangue te perseguirá. Transformarei a montanha de Seir em solidão e deserto e exterminarei todos os que percorrem o país. Cobrirei de cadáveres os teus montes; sobre as tuas colinas, nos teus vales e em todas as tuas ravinas cairão os que tombarem ao fio da espada. Reduzir-te-ei a uma solidão eterna e as tuas cidades serão despovoadas. Assim, saberás que Eu sou o Senhor. Porque disseste: ‘Os dois povos e os dois países serão meus; tomarei posse deles, ainda que o Senhor aí resida’; por isso, pela minha vida – oráculo do Senhor Deus Eu agirei; tratar-te-ei com o mesmo furor e com a mesma cólera com que tu te manifestaste no teu ódio contra eles, e Eu me farei conhecer, quando te julgar. Saberás que Eu, o Senhor, ouvi todas as blasfémias que proferiste contra as montanhas de Israel, quando dizias: ‘Elas estão devastadas, elas foram-nos entregues, para serem arrasadas.’ Injuriaste-me com uma série de ditos insolentes contra mim; Eu ouvi tudo isso. Pois, isto diz o Senhor Deus, Quando todo o país estiver em alegria, Eu te mudarei em solidão. Porque te alegraste com a devastação da casa de Israel, por isso Eu te tratarei do mesmo modo. Tornar-te-ás um deserto, montanha de Seir, tu e todo o Edom. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor.» E tu, filho de homem, profetiza sobre os montes de Israel e diz: «Montes de Israel, ouvi a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus, Porque o inimigo gritou contra vós: ‘Ah! Ah! Estas colinas antigas tornaram-se propriedade nossa!’ Por isso, profetiza e diz: Assim fala o Senhor Deus, Porque fostes devastadas e tomadas pelas outras nações, e porque fostes objecto de maledicência e calúnias dos povos, por isso, montes de Israel, escutai o que diz o Senhor Deus, Eis o que diz o Senhor DEUS às montanhas, às colinas, às ravinas, aos vales, às ruínas desoladas, às cidades abandonadas, que foram entregues à pilhagem e ao escárnio das nações vizinhas. Por causa de tudo isto, assim fala o Senhor Deus, Eu juro no ardor da minha cólera; dirijo-me ao resto das nações e a todo o Edom, porque, na alegria do coração e com o maior desprezo, se apoderaram da minha terra, para a entregar à pilhagem. Por isso, profetiza sobre o país de Israel, diz aos montes, às colinas e às ravinas e aos vales: Assim fala o Senhor Deus, Eis que é no ímpeto do meu furor que falo, porque vós carregastes a injúria das nações. Por isso, assim fala o Senhor Deus, Levanto a minha mão e juro que são as nações que vos cercam que hão-de carregar os seus próprios insultos. E vós, montes de Israel, fareis crescer os vossos ramos e dareis os vossos frutos para o meu povo de Israel, pois está próximo o seu regresso. Porque eis que venho até vós e me volto para vós, para que sejais cultivados e semeados. Multiplicarei no vosso solo os habitantes em toda a casa de Israel, as cidades serão habitadas e as ruínas reconstruídas. Multiplicarei sobre o vosso solo os habitantes e os animais: serão numerosos e se propagarão; quero que sejais habitados como outrora, e Eu vos tornarei mais prósperos do que nunca. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor. Farei que os homens caminhem sobre o vosso solo, ó meu povo de Israel. Serás a sua herança e a sua propriedade e não mais os privarás dos seus filhos. Assim fala o Senhor Deus, Porque vos disseram: ‘Tu és uma devoradora de homens, tu privaste a tua nação dos teus filhos’, por isso, não devorarás mais homens e não privarás a tua nação dos seus filhos – oráculo do Senhor Deus. Farei com que nunca mais ouças as injúrias das nações e não sofras mais a injúria dos povos; tu não privarás mais a tua nação dos seus filhos» – oráculo do Senhor Deus. Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, quando os israelitas habitavam no seu território, mancharam-se com a sua conduta e com os próprios actos; o seu comportamento era, a meus olhos, como a menstruação da mulher. Então, desencadeei o meu furor contra eles, por causa do sangue que haviam derramado no país e dos ídolos com que o profanaram. Dispersei-os entre as nações e distribuí-os pelos países estrangeiros; julguei-os segundo o seu comportamento e os seus actos. Entre os povos por onde se dispersaram, profanaram o meu santo nome, pelo que se dizia deles: ‘É o povo do Senhor; saíram do seu país.’ Então Eu quis salvar a honra do meu santo nome, que os israelitas tinham profanado entre as nações, para onde haviam ido. Por isso, fala à casa de Israel: Assim fala o Senhor Deus, Não é por causa de vós que faço isto, ó casa de Israel, mas por causa do meu santo nome, que vós profanastes entre as nações para onde fostes. Quero santificar o meu santo nome, que vós aviltastes, profanastes entre as nações, para que eles saibam que Eu sou o Senhor oráculo do Senhor Deus – quando a seus olhos for santificado por vós. Eu vos retirarei de entre as nações, recolher-vos-ei de todos os países e vos reconduzirei à vossa terra. Derramarei sobre vós uma água pura e sereis purificados; Eu vos purificarei de todas as manchas e de todos os pecados. Dar-vos-ei um coração novo e introduzirei em vós um espírito novo: arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Dentro de vós porei o meu espírito, fazendo com que sigais as minhas leis e obedeçais e pratiqueis os meus preceitos. Habitareis no país que dei a vossos pais; sereis o meu povo e Eu serei o vosso Deus. Libertar-vos-ei de todas as manchas; farei crescer o trigo e o multiplicarei, e nunca mais vos enviarei a fome. Multiplicarei os frutos das árvores e os produtos dos campos, a fim de que nunca mais tenhais que suportar a vergonha da fome, entre as nações. Então, vos lembrareis da vossa má conduta e das vossas obras, que não eram boas; sentireis repugnância por causa das vossas iniquidades e dos vossos pecados. Ficai a saber que não é por causa de vós que Eu faço isto – oráculo do Senhor Deus. Tende vergonha e corai da vossa conduta, ó israelitas. Assim fala o Senhor Deus, No dia em que vos purificar de todas as vossas iniquidades, repovoarei as cidades, e as ruínas serão reedificadas. A terra inculta será cultivada, quando antes era espectáculo de desolação aos olhos dos que passavam. Estes dirão: ‘Esta terra que se encontrava devastada tornou-se um jardim do Éden; e estas cidades em ruínas, desertas e assoladas, estão agora restauradas e repovoadas.’ Então, os povos que estão à vossa volta reconhecerão, que Eu, o Senhor, reconstruí o que estava em ruína e plantei o que estava devastado. Eu, o Senhor, o disse e o farei. Assim fala o Senhor Deus, Ainda nisto me deixarei enternecer e realizarei um pedido da casa de Israel: multiplicarei os seus habitantes como um rebanho. Como um rebanho de animais consagrados, como o rebanho reunido em Jerusalém, durante as solenidades. É assim que as vossas cidades em ruínas se encherão de um rebanho humano. E saberão que Eu sou o Senhor.» A mão do Senhor desceu sobre mim; então, conduziu-me em espírito e colocou-me no meio de um vale que estava cheio de ossos. Fez-me passar junto deles, à sua volta, e eis que eles eram muitos sobre o solo do vale; e estavam completamente ressequidos. O Senhor disse-me: «Filho de homem, estes ossos poderão voltar à vida?» Eu respondi: «Senhor Deus, só Tu o sabes.» Ele disse-me: «Profetiza sobre estes ossos e diz-lhes: Ossos ressequidos, ouvi a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus a estes ossos: Eis que vou introduzir em vós o sopro da vida para que revivais. Dar-vos-ei nervos, farei crescer a carne, que revestirei de pele e depois dar-vos-ei o sopro da vida, para que revivais. Assim, sabereis que Eu sou o Senhor.» Profetizei, segundo a ordem recebida. E aconteceu que, enquanto eu profetizava, ouviu-se um ruído, depois um tumulto ensurdecedor; entretanto, os ossos iam-se juntando uns aos outros. Olhei, e eis que se formavam nervos, a carne crescia, e a pele cobria-os por cima; mas neles não havia espírito. Então, Ele disse-me: «Profetiza! Profetiza, filho de homem, e diz ao espírito: Assim fala o Senhor Deus, ‘Espírito, vem dos quatro ventos, sopra sobre estes mortos, para que eles recuperem a vida’.» Profetizei como me era ordenado e, imediatamente, o espírito penetrou neles. Retomando a vida, endireitaram-se sobre os pés; era um exército muito numeroso. Ele disse-me: «Filho de homem, esses ossos são toda a casa de Israel. Eles dizem: ‘Os nossos ossos estão completamente ressequidos, a nossa esperança desvaneceu-se; ficámos reduzidos a isto.’ Por conseguinte, profetiza e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus, Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, meu povo, e vos reconduzirei à terra de Israel. Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus, quando abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, ó meu povo. Introduzirei em vós o meu espírito e vivereis; estabelecer-vos-ei na vossa terra. Então, reconhecereis que Eu, o Senhor, falei e agi» – oráculo do Senhor. Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Filho de homem, toma uma vara e na parte superior escreve: ‘A Judá e aos israelitas que estão com ele.’ Depois tomarás uma outra, sobre a qual escreverás: ‘A José, vara de Efraim, e a todos os israelitas que estão com ele.’ Juntá-las-ás, depois uma à outra, para que formem na tua mão apenas uma vara. E quando os filhos do teu povo te disserem: ‘Não queres explicar-nos o que isso significa?’, tu lhes responderás: Assim fala o Senhor Deus, Eis que Eu tomarei a vara de José, que está na mão de Efraim, e as tribos de Israel, que lhe estão associadas, e as juntarei à vara de Judá; e deles formarei uma só vara, para que sejam uma só, na minha mão. As varas sobre as quais escreverás estarão na tua mão, à vista deles. E então lhes dirás: Assim fala o Senhor Deus, Eis que Eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações, por onde se dispersaram; vou reuni-los de toda a parte e reconduzi-los ao seu país. Farei deles uma só nação na minha terra, nas montanhas de Israel, e apenas um rei reinará sobre todos eles; nunca mais serão duas nações, nem serão divididos em dois reinos. Não se mancharão mais com os seus ídolos e nunca mais cometerão infames abominações. Eu os salvarei das suas rebeldias, pelas quais pecaram, e os purificarei; eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus. O meu servo David será o seu rei e eles terão um só pastor; caminharão segundo os meus preceitos, observarão os meus mandamentos e os porão em prática. Habitarão o país que Eu dei ao meu servo Jacob e no qual habitaram seus pais; aí ficarão eles, os seus filhos e os filhos de seus filhos para sempre. David, meu servo, será para sempre o seu chefe. Farei com eles uma aliança de paz; será uma aliança eterna; Eu os estabelecerei e os multiplicarei; e colocarei o meu santuário no meio deles estará sempre. A minha morada será no meio deles. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Então, reconhecerão as nações que Eu sou o Senhor que santifica Israel, quando tiver colocado o meu santuário no meio deles para sempre.» Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: «Filho de homem, volta-te para Gog, no país de Magog, o príncipe soberano de Méchec e Tubal; profere contra ele o seguinte oráculo e diz: Assim fala o Senhor Deus, Eis que Eu venho a ti, Gog, príncipe soberano de Méchec e de Tubal. Eu te arrastarei e porei ganchos à tua volta; Eu te farei sair, a ti e a todo o teu exército, teus cavalos e cavaleiros, todos perfeitamente equipados, tropa numerosa, munida de escudos e de broquéis, todos armados de espadas. A Pérsia, a Etiópia e o país de Put são seus aliados, todos munidos de escudos e capacetes. Gómer e as suas tropas, Bet-Togarma, no extremo norte, com as suas tropas, povos numerosos, estão a teu lado. Prepara-te, está atento, tu e toda a multidão reunida à tua volta; e fica à minha disposição. Ao fim de um período de tempo considerável, receberás ordens. Passados anos, avançarás contra o país cujos habitantes escaparam à espada, contra um povo que foi reunido de entre muitos povos, sobre as montanhas de Israel, as quais durante muito tempo foram um deserto: eles foram separados de entre os outros povos e habitam todos com segurança em suas moradas. Tu te levantarás e avançarás como uma tempestade; serás como uma nuvem que cobrirá o país, tu e todo o teu exército, e os numerosos povos que estão contigo. Assim fala o Senhor Deus, Naquele dia, em teu coração surgirão projectos, conceberás desígnios perversos e dirás: ‘Subirei contra um país deserto, lançar-me-ei contra gentes pacíficas, que habitam em segurança; habitam cidades sem muralhas, sem portas nem ferrolhos. Irei aí para pilhar, para fazer despojos; levantarei a mão contra ruínas habitadas e contra um povo reunido de entre as nações, que se entrega à criação de gado e ao comércio, que habita no centro da terra.’ Sabá, Dedan, os mercadores de Társis e todos os seus jovens leões te dirão: ‘Foi para pilhar que vieste? Foi para fazer despojos que reuniste as tuas tropas? ‘Foi para levar ouro e prata, para te apoderares de rebanhos e mercadorias, para fazer um enorme espólio?’» «Por isso, profetiza, filho de homem, e diz a Gog: Assim fala o Senhor Deus: ‘Sim, naquele dia, quando o meu povo habitar em segurança, porventura não te porás a caminho? Deixarás a tua residência no extremo Norte, tu e os povos numerosos que estão contigo, todos montados a cavalo, imensa multidão, exército poderoso. Ó Gog, subirás contra Israel, meu povo, como uma nuvem, para cobrir o país. Será no fim dos dias que Eu te conduzirei contra o meu povo, para que as nações me conheçam, quando tiver revelado, por teu intermédio, a minha santidade a seus olhos.’ Assim fala o Senhor Deus, ‘Tu és aquele de quem Eu falei outrora por meio dos meus servos, os profetas de Israel, que então profetizaram, anunciando a tua vinda contra eles.’» «Naquele dia, quando Gog chegar à terra de Israel, aconteceráque o furor me subirá às narinas – oráculo do Senhor Deus. E na explosão da minha cólera e no fogo da minha ira que Eu o afirmo: naquele dia haverá certamente grande tumulto no país de Israel. Ao verem-me, tremerão de pavor os peixes do mar e as aves do céu, os animais dos campos e todos os répteis que rastejam sobre a terra, assim como todos os homens que vivem sobre a face da terra. As montanhas desmoronar-se-ão, os rochedos despedaçar-se-ão e todas as muralhas serão arrasadas. Chamarei contra Gog toda a espécie de flagelos – oráculo do Senhor Deus e a espada de cada um voltar-se-á contra seu irmão. E o castigarei com a peste e o sangue, farei cair uma chuva torrencial, saraiva, fogo e enxofre, sobre ele e as suas tropas, e sobre os numerosos povos que estão com ele. Desta maneira, manifestarei a minha grandeza e a minha santidade, e far-me-ei conhecer aos olhos de muitas nações. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor.» «E tu, filho de homem, profetiza contra Gog e diz: Assim fala o Senhor Deus, Eis que Eu venho a ti, Gog, príncipe soberano de Méchec e de Tubal. Eu te arrastarei e te conduzirei; Eu te farei subir do extremo Norte e te levarei às montanhas de Israel. Mas lá, esmagarei o teu arco na tua mão esquerda e farei cair as tuas flechas da tua mão direita. Tombarás sobre os montes de Israel, tu, as tropas e os povos que estão contigo; dar-te-ei por pasto às aves de rapina, a toda a espécie de aves e aos animais selvagens. Tombarás sobre a face dos campos; porque Eu falei, diz o Senhor Deus. Mandarei o fogo a Magog e àqueles que habitam as ilhas em segurança. Então, reconhecerão que Eu sou o Senhor. Assim, tornarei conhecido o meu santo nome entre o meu povo de Israel, e nunca mais deixarei profanar o meu santo nome, para que os povos saibam que Eu sou o Senhor, o Santo de Israel. Eis que isso se vai cumprir – oráculo do Senhor eis o dia que anunciei. Então, os habitantes das cidades de Israel sairão a queimar e a entregar às chamas as armas, os broquéis e os escudos, os arcos e as flechas, as lanças e os dardos; com tudo isso farão lume durante sete anos. Não irão mais aos campos apanhar lenha e não cortarão mais árvores na floresta, porque é com armas que farão fogueira. Assaltarão aqueles que os haviam assaltado, apoderar-se-ão dos despojos daqueles que os haviam pilhado» – oráculo do Senhor Deus. «Naquele dia, darei a Gog, para sua sepultura em Israel, um sítio célebre, o Vale de Abarim, a leste do mar, aquele que barra o caminho aos que passam; é aí que será enterrado Gog e toda a sua gente. E será chamado Vale de Hamon-Gog. A casa de Israel fará esse enterro durante sete meses, a fim de purificar o país. Toda a gente da nação trabalhará a enterrá-los; será para eles um título de glória o dia em que Eu manifestar a minha glória – oráculo do Senhor Deus. Serão escolhidos homens para percorrer o país, a fim de sepultar os que ficam sobre a face da terra, a fim de a purificar. Durante sete meses, eles os procurarão. Ao percorrerem o país, se um deles vir ossos humanos, assinalará o local com uma marca, até que os coveiros os enterrem no Vale de Hamon-Gog. E o nome da cidade será Hamona; e, assim, o país ficará purificado.» «E tu, filho de homem – assim fala o Senhor Deus diz às aves de todas as espécies e a todos os animais selvagens: Reuni-vos, vinde, juntai-vos de todas as partes, para tomardes parte no sacrifício que Eu vos preparo, um grande sacrifício sobre a montanha de Israel; e vós comereis carne e bebereis sangue. Ides comer a carne de heróis e beber sangue de príncipes da terra: carneiros, cordeiros, cabritos, touros robustos de Basan. Comereis gordura até vos fartardes e bebereis sangue até vos embriagardes, no sacrifício que Eu vos preparo. Assim vos saciareis à minha mesa com a carne de cavalos e de cavaleiros, de heróis e de toda a espécie de guerreiros» – oráculo do Senhor Deus. «Assim, manifestarei a minha glória entre as nações, e todas me verão executar a minha justiça e aplicar a minha mão sobre eles. E a casa de Israel saberá que Eu sou o Senhor seu Deus, a partir daquele dia e para sempre. E as nações saberão que foi por causa das suas iniquidades que a casa de Israel foi exilada; foi porque se revoltara contra mim que Eu lhe escondi a minha face e os entreguei nas mãos de seus inimigos, a fim de que tombassem ao fio da espada. Fiz-lhes o que mereciam as suas iniquidades e os seus pecados, e escondi deles a minha face.» «Por isso, assim diz o Senhor Deus, Agora vou reconduzir os cativos de Jacob; usarei de misericórdia para com toda a casa de Israel e mostrar-me-ei zeloso do meu santo nome. Esquecerão a sua ignomínia e todas as infidelidades cometidas contra mim, quando de novo habitarem no país, em segurança, sem que ninguém os inquiete. Quando os reconduzir de entre as nações e os reunir de entre os povos inimigos e manifestar neles a minha santidade à vista de numerosas nações, então reconhecerão que Eu, o Senhor, sou o seu Deus, que os leva cativos entre as nações e os congrega novamente para o seu país, sem deixar nenhum deles por lá. E Eu jamais voltarei a esconder-lhes a minha face, porque derramarei o meu espírito sobre a casa de Israel» – oráculo do Senhor Deus. No início do vigésimo quinto ano, no décimo dia do mês, catorze anos depois da ruína da cidade, nesse mesmo dia, a mão do Senhor esteve sobre mim e levou-me em visões divinas ao país de Israel. Conduziu-me a uma montanha muito elevada. Nessa montanha, parecia elevarem-se, do lado sul, as construções de uma cidade. Conduzido a este lugar, vi um homem com o aspecto de bronze: tinha na mão um cordel de linho e uma cana de agrimensor. E estava de pé, à porta. Disse-me aquele homem: «Filho de homem, contempla com os teus olhos e escuta com os teus ouvidos! Presta atenção a tudo o que eu te mostrar, porque foi para isso que foste conduzido até aqui. Dá a conhecer à casa de Israel tudo o que eu te mostrar.» E eis que um muro exterior formava a cerca do templo. O homem tinha na mão uma cana de medir de seis côvados; cada côvado tinha uma mão a mais que o côvado corrente. Mediu a espessura desta construção e a altura da mesma: cada uma media uma cana. Depois, dirigiu-se à porta oriental, subiu os degraus e mediu a soleira da porta, a qual tinha uma cana de largura. Cada aposento tinha uma cana de comprimento e uma cana de largura. Entre os aposentos havia um espaço de cinco côvados. A soleira da porta, do lado do Vestíbulo, para o interior, media uma cana. Mediu o Vestíbulo da porta, na direcção do interior: media uma cana. Mediu o Vestíbulo da porta: tinha oito côvados e o seu pilar dois côvados; o Vestíbulo dava para o interior. Os aposentos da porta oriental eram três de um lado e três do outro: todos tinham as mesmas dimensões e os pilares dos dois lados tinham também as mesmas dimensões. Mediu a largura do vão da porta, que era de dez côvados e a altura da porta, que era de treze côvados. Havia, em frente dos aposentos, um espaço de um côvado de cada lado; cada aposento tinha seis côvados de um lado e seis côvados do outro. Mediu o pórtico, desde o tecto de um aposento até ao tecto do outro, e a largura era de vinte e cinco côvados entre as duas entradas opostas. Depois, contou sessenta côvados para os pilares; perto deles ficava o átrio que cercava o pórtico. O espaço entre a porta de entrada e o Vestíbulo da porta interior era de cinquenta côvados. Havia nos aposentos janelas gradeadas, nas paredes interiores do pórtico; também havia janelas no Vestíbulo em toda a volta, que davam para o interior. Os pilares estavam ornados com palmeiras. Em seguida, fez-me entrar no átrio exterior, onde se encontravam aposentos e um pavimento, dispostos a toda a volta do átrio: havia trinta aposentos neste pavimento. O pavimento estendia-se de cada lado dos pórticos, numa extensão igual à dos pórticos; era o pavimento inferior. Mediu a largura do átrio, desde o pórtico inferior até ao átrio interior, de fora-a-fora: media cem côvados, para leste e para norte. Mediu o comprimento e a largura do pórtico setentrional do átrio exterior. Os compartimentos, aí, eram três de cada lado; os seus pilares e os vestíbulos tinham as mesmas dimensões que os do pórtico oriental: cinquenta côvados de comprimento por vinte e cinco de largura. As janelas, o Vestíbulo e as palmeiras tinham as mesmas dimensões que o pórtico oriental. Subia-se para lá por sete degraus, em frente dos quais ficava o Vestíbulo. Em frente do pórtico setentrional, como do oriental, havia uma porta que dava para o átrio interior; ele mediu a distância de um pórtico ao outro: cem côvados. Conduziu-me, depois, ao lado sul: mediu os pilares e o Vestíbulo: tinham as mesmas dimensões. Este pórtico tinha, em toda a volta, assim como o seu Vestíbulo, janelas semelhantes às outras; media cinquenta côvados de comprimento e vinte e cinco de largura. A ele se subia por sete degraus, em frente dos quais ficava o quarto Vestíbulo; de cada lado havia palmeiras nos pilares. E o átrio interior tinha um pórtico para sul; ele mediu a distância de um pórtico ao outro, na direcção sul: cem côvados. Conduziu-me ao átrio interior, pela porta meridional: mediu o pórtico meridional, o qual tinha as mesmas dimensões que os outros. Os compartimentos, os pilares e os vestíbulos tinham as mesmas medidas. Esse pórtico, assim como o Vestíbulo, tinha janelas à volta; media cinquenta côvados de comprimento por vinte e cinco de largura. E o Vestíbulo em toda a volta: vinte e cinco côvados de comprimento por cinco de largura. O Vestíbulo dava para o átrio exterior. Tinha palmeiras nos seus pilares, e a escada tinha oito degraus. Depois, conduziu-me ao pórtico que dá para oriente e mediu-o. Tinha as mesmas dimensões. Os compartimentos, os pilares e o Vestíbulo tinham as mesmas dimensões. Este pórtico tinha, assim como o Vestíbulo, janelas em toda a volta. Media cinquenta côvados de comprimento por vinte e cinco de largura. O Vestíbulo dava para o átrio exterior. Havia palmeiras nos pilares, de cada lado, e uma escada de oito degraus. Conduziu-me, depois, ao pórtico setentrional e mediu-o: tinha as mesmas dimensões; Os compartimentos, os pilares e o Vestíbulo também tinham as mesmas dimensões. Tinha janelas em toda a volta. Media cinquenta côvados de comprimento por vinte e cinco de largura. O Vestíbulo dava para o átrio exterior; havia palmeiras nos pilares, de cada lado, e a sua escada tinha oito degraus. Depois, conduziu-me ao pórtico oriental. Havia um aposento que se abria para os pilares dos pórticos; era lá que se lavavam os holocaustos. E no Vestíbulo do pórtico havia, de cada lado, duas mesas, sobre as quais se degolavam as vítimas destinadas aos holocaustos, aos sacrifícios pelo pecado e aos sacrifícios de reparação. Do lado exterior, por onde se subia, à entrada do pórtico setentrional, havia duas mesas, e do outro lado, para o Vestíbulo do pórtico, duas mesas. Havia também, junto ao pórtico, quatro mesas de cada lado, ao todo oito mesas, sobre as quais se imolavam as vítimas. Para os holocaustos, havia ainda quatro mesas talhadas em pedra, com um côvado e meio de comprimento e um de altura; sobre elas colocavam-se os instrumentos com que se imolavam as vítimas para os holocaustos e para os outros sacrifícios. Tinham em todo o circuito interior rebordos da largura de uma mão; era sobre estas mesas que se colocava a carne para os sacrifícios. No pátio interior, fora do pórtico interior, estavam os lugares dos cantores: um ao lado do pórtico setentrional, voltado para sul, e o outro, ao lado do pórtico oriental, voltado para norte. Ele disse-me: «Este aposento voltado para sul é destinado aos sacerdotes que guardam o templo. E o aposento que dá para norte é para os sacerdotes que guardam o altar. São os filhos de Sadoc que, entre os filhos de Levi, se aproximam do Senhor, para o servir.» Mediu o átrio: era um quadrado que tinha cem côvados de comprimento por cem de largura. O altar encontrava-se em frente do edifício do templo. Depois conduziu-me ao Vestíbulo do templo, cujas pilastras mediu: cinco côvados de cada lado; enquanto a largura do pórtico era de três côvados de cada lado. O comprimento do Vestíbulo era de vinte côvados, e a sua largura de doze. Havia dez degraus para se subir para lá e havia colunas junto dos pilares, uma de cada lado. Conduziu-me depois ao Santuário e aí mediu os pilares: tinham seis côvados de largura de um lado e seis do outro lado. A largura da porta era de dez côvados. Os lados da porta: cinco côvados de um lado e cinco do outro. Mediu o comprimento: quarenta côvados; e a sua largura: vinte côvados. Entrou no interior e mediu o pilar da entrada: dois côvados; depois, a porta: seis côvados; e a largura da porta: sete côvados. Mediu o seu comprimento: vinte côvados; e a sua largura: vinte côvados em frente do Santuário. E disse-me: «Aqui é o Santo dos Santos.» Mediu o muro do templo: seis côvados. Mediu a largura dos aposentos laterais: quatro côvados, em toda a volta do templo. Os aposentos laterais ficavam sobrepostos, em três andares, em número de trinta; encostavam-se ao muro construído à volta de todo o templo, mantendo a sua segurança, mas sem se apoiarem no muro do templo. A largura dos aposentos aumentava de um piso para o outro, porque o templo tinha uma galeria a toda a volta, de modo que, em cima, deixava mais largura para os aposentos; subia-se do andar inferior para o superior, pelo do meio. E vi que o templo tinha em toda a volta uma rampa. O fundamento dos aposentos laterais media uma cana inteira de seis côvados. O muro exterior dos aposentos tinha uma largura de cinco côvados. Havia um espaço livre entre os compartimentos laterais do edifício. Entre os aposentos havia uma largura de vinte côvados, à volta do templo. Como entradas dos aposentos laterais para o espaço livre, havia uma entrada para norte e uma para sul. A largura do espaço livre era de cinco côvados em toda a volta. E o edifício que se levantava diante do espaço livre, a ocidente, tinha uma largura de setenta côvados, o seu muro uma largura de cinco côvados em toda a volta, e o seu comprimento era de noventa côvados. Mediu o templo: tinha cem côvados de comprimento. O pátio, com o edifício e seus muros, tinha cem côvados. A largura da fachada oriental, incluindo o pátio, era de cem côvados. Mediu depois o comprimento do edifício ao longo do pátio, pela parte traseira, e o seu pórtico de cada lado: cem côvados. O interior do templo e os vestíbulos do átrio, os limiares, as janelas gradeadas e as galerias em toda a volta, nos três pisos, diante dos limiares, eram forrados de madeira em toda a volta, desde o solo até às janelas; e as janelas estavam revestidas de grades. Desde a entrada até ao interior do templo, e do lado de fora, e em todo o muro à volta, por dentro e por fora, estavam esculpidos querubins e palmeiras. Havia uma palmeira entre cada dois querubins; cada querubim tinha duas faces: uma face de homem voltada para a palmeira de um lado, e uma face de leão para a palmeira do outro lado; era assim em toda a volta do templo. Desde o pavimento até à verga da porta, havia querubins e palmeiras, esculpidos na parede do Santuário. As ombreiras da entrada do Santuário eram quadradas. Em frente do Santo dos Santos, havia uma espécie de altar de madeira com três côvados de altura, dois de comprimento e dois de largura. Os ângulos, base e cantos eram de madeira. O homem disse-me: «Esta é a mesa que está diante do Senhor.» O lugar Santo tinha uma porta dupla, e o Santo dos Santos também tinha uma porta dupla. As portas eram de dois batentes móveis, com duas bandeiras para uma porta e duas para a outra. Havia querubins e palmeiras esculpidos nas portas do Santuário e nos muros. Sobre a fachada do Vestíbulo havia, pela parte de fora, um anteparo de madeira. Havia janelas gradeadas e palmeiras de uma e de outra parte sobre os lados do Vestíbulo, nos aposentos laterais do templo e nos guarda-ventos. O homem fez-me sair para o átrio exterior do lado setentrional e conduziu-me aos aposentos que ficavam em frente do pátio, ou seja, em frente do edifício, para norte. Na fachada, onde ficava a porta setentrional, o comprimento era de cem côvados e a largura de cinquenta côvados. Em frente dos pórticos do átrio interior e do pavimento do átrio exterior, ficava uma galeria diante da galeria tripla. Em frente dos aposentos, havia um claustro de dez côvados de largura e um corredor para o interior, de um côvado de largura; as suas portas davam para norte. Os compartimentos superiores eram mais estreitos do que os inferiores e do que os do meio do edifício, porque as galerias alargavam-se sobre eles. De facto, elas estavam divididas em três pisos e não tinham colunas como o átrio. Por isso, elas eram mais estreitas que as de baixo e do que as do meio, a partir do solo. O muro exterior, paralelo aos aposentos, do lado do átrio exterior, tinha cinquenta côvados de comprimento, porque o comprimento dos aposentos do átrio exterior era de cinquenta côvados, enquanto os lados do Santuário tinham cem côvados. Por baixo destes aposentos ficava a entrada oriental, que dava acesso a quem vinha do átrio exterior. Havia ainda aposentos sobre a largura do muro do átrio do lado meridional, em frente do pátio e do edifício. Diante deles, corria uma ala, como diante dos aposentos situados a norte, com o mesmo comprimento e a mesma largura; com idênticas saídas, disposição e portas. O mesmo sucedia com as portas dos aposentos do lado sul. Havia uma porta à entrada da ala, que ficava diante do muro do lado oriental, pela qual se chegava lá. E ele disse-me: «Os aposentos do lado setentrional e os do lado meridional, que dão para o pátio, são os aposentos sagrados, onde os sacerdotes que se aproximam do Senhor comerão coisas muito santas; aí deporão coisas muito santas: a oblação, o sacrifício pelo pecado e o sacrifício de reparação, porque é um lugar santo. Quando os sacerdotes aí tiverem entrado, não sairão do Santuário para irem para o átrio exterior, mas deporão lá as suas vestes com as quais exercem o seu múnus; porque estas vestes são santas; revestir-se-ão de outras para se aproximarem dos lugares destinados ao povo.» Tendo concluído a medição do interior do templo, fez-me sair pela porta que ficava a oriente e mediu o muro em toda a volta. Mediu o lado oriental com a cana que servia para medir: quinhentas canas em toda a volta. Mediu o lado setentrional com a cana que servia para medir: quinhentas canas em toda a volta. Depois mediu o lado meridional: quinhentas canas, segundo a cana de medir. À volta, do lado ocidental, mediu quinhentas canas com a cana de medir. Nos quatro lados mediu o muro da cerca, em toda a volta: quinhentos côvados de comprimento e quinhentos de largura, para separar o sagrado do profano. Conduziu-me ao pórtico, ao pórtico que dá para oriente. E eis que a glória do Deus de Israel chegava do lado do oriente. Um ruído a acompanhava, semelhante ao ruído de grandes águas, e a terra resplandecia com a sua glória. Esta visão recordava-me a que eu tinha tido, quando Ele viera para destruir a cidade, e também o que eu tinha visto junto ao rio Cabar. Então, caí com o rosto por terra. A glória do Senhor entrou no templo pelo pórtico que dá para Oriente. O espírito conduziu-me e levou-me para o átrio interior. E eis que a glória do Senhor enchia o templo. Eu ouvi que alguém me falava, no templo; e o homem estava de pé junto a mim. E disse-me: «Filho de homem, aqui é o lugar do meu trono, o lugar onde coloco a planta dos meus pés, a minha residência definitiva entre os filhos de Israel, para sempre. A casa de Israel e os seus reis não profanarão mais o meu santo nome com as suas prostituições e com os cadáveres dos seus reis, colocando a sua soleira junto da minha soleira e a sua porta junto da minha porta, estabelecendo um muro comum entre mim e eles. Eles profanavam o meu santo nome pelas práticas abomináveis a que se entregavam. Por isso, na minha ira os aniquilei. A partir de agora, eles afastarão de mim as suas prostituições e os cadáveres dos seus reis, e Eu habitarei no meio deles para sempre.» «Tu, filho de homem, mostra o plano deste templo à casa de Israel, para que eles se envergonhem das suas iniquidades. Que eles meçam o plano, e se eles tiverem vergonha da sua conduta, ensina-lhes a forma do templo e o seu plano, as suas saídas e entradas, a sua forma e todas as suas disposições, toda a sua forma e todas as suas leis. Põe tudo isto por escrito diante dos seus olhos, para que eles observem a sua forma e todas as suas disposições e se conformem com elas. Eis a lei do templo: no cimo da montanha, todo o espaço que o cerca é um espaço muito santo. Tal é a lei do templo.» «Eis as medidas do altar, em côvados, tendo cada côvado uma mão a mais do que o côvado normal: a base tinha um côvado de altura e um de largura; o rebordo que o contorna em toda a volta tem um palmo. Tal é o suporte do altar. Desde a base que está ao nível do solo até ao entablamento inferior havia dois côvados de altura e um côvado de largura; do pequeno entablamento ao grande são quatro côvados de altura por um de largura. O altar do fogo tinha quatro côvados de altura e nos cantos do altar havia quatro hastes. O altar tinha doze côvados de comprimento, por doze de largura, formando assim um quadrado. E a base: catorze côvados de comprimento por catorze de largura, formando um quadrado. O rebordo que faz o contorno: meio côvado; e a base: um côvado em toda a volta. Os degraus estavam voltados para o oriente.» E ele disse-me: «Filho de homem, assim fala o Senhor Deus, Eis as leis acerca do altar, para o dia em que será construído, para nele se sacrificarem holocaustos e se derramar o sangue. Darás aos sacerdotes levitas, os que descendem de Sadoc e que se aproximam de mim para me servir – oráculo do Senhor Deus um bezerro para o sacrifício pelo pecado. Tomarás do seu sangue para o espalhar pelos quatro chifres do altar, pelos quatro ângulos da base e pelo rebordo que o rodeia; purificarás assim o altar e isso será a sua expiação. Tomarás, depois, o bezerro do sacrifício pelo pecado para o consumir pelo fogo no lugar destinado fora do Santuário. No segundo dia, oferecerás em expiação um bode sem defeito; assim se purificará o altar, como se fez com o bezerro. Quando tiveres concluído a purificação, oferecerás um bezerro sem defeito, e um carneiro do rebanho, também sem defeito. Tu os apresentarás diante do Senhor e os sacerdotes lançarão sobre eles sal e os oferecerão em holocausto ao Senhor. Durante sete dias oferecerás em sacrifício um bode, em sacrifício pelo pecado, diariamente; e sacrificar-se-á também um bezerro e um carneiro do rebanho, ambos sem defeito, durante sete dias. É assim que se fará a expiação do altar; hão-de purificá-lo e inaugurá-lo. Passado este tempo, a partir do oitavo dia em diante, os sacerdotes oferecerão sobre o altar os vossos holocaustos e os vossos sacrifícios de comunhão. E Eu vos serei favorável» – oráculo do Senhor Deus. Ele conduziu-me ao pórtico exterior do Santuário, do lado oriental. Mas estava fechado. E o Senhor disse-me: «Este pórtico será fechado. Não será aberto, e ninguém passará por ele, porque o Senhor, o Deus de Israel, entrou por ele. Ficará, pois, fechado. Mas o príncipe, ele, poderá sentar-se aí para tomar a sua refeição diante do Senhor. É pelo Vestíbulo do pórtico que entrará e por ele sairá.» Conduziu-me, depois, ao pórtico setentrional, diante do templo; olhei e eis que a glória do Senhor enchia o templo do Senhor e eu caí com a face por terra. O Senhor disse-me: «Filho de homem, presta atenção e olha bem; escuta com todo o cuidado o que te vou explicar: estas são todas as disposições do templo do Senhor e todas as suas leis. Considera atentamente quem entra no templo e quem dele sai. Dirás aos rebeldes da casa de Israel: Assim fala o Senhor Deus, Israelitas, basta! Chega de abominações! Introduzistes no meu Santuário estrangeiros incircuncisos de coração e incircuncisos de corpo, para profanar o meu templo; oferecestes o meu pão, a gordura e o sangue aos vossos ídolos e violastes a minha Aliança. Em vez de vos ocupardes, vós mesmos, do serviço do meu Santuário, encarregastes esses estrangeiros de o fazer. Assim fala o Senhor Deus, Nenhum estrangeiro, nenhum incircunciso de coração e de corpo entrará no meu Santuário; nenhum estrangeiro que se encontre entre os filhos de Israel. Além disso, os levitas que se afastaram de mim, quando Israel se desviou para longe de mim, para seguir os seus ídolos, carregarão o peso das suas iniquidades. Serão, no meu Santuário, servidores encarregados da guarda das portas do templo e farão o serviço do templo. São eles que degolarão as vítimas do holocausto e o sacrifício pelo povo. E ficarão à disposição do povo para todo o serviço. Porque eles se colocaram ao seu serviço diante dos seus ídolos, e porque eles fizeram cair no pecado a casa de Israel, Eu levanto a minha mão contra eles – diz o Senhor Deus para que carreguem o peso da sua iniquidade. Eles não se aproximarão mais de mim para me servir no sacerdócio, nem para tocar nas minhas coisas santas e nas coisas muito santas; carregarão o peso da sua ignomínia e das suas práticas abomináveis. Eu os encarregarei da guarda do templo; Eu lhes confiarei todo o seu serviço e tudo o que deve ser feito.» «Mas os sacerdotes levitas, filhos de Sadoc, que exerceram o serviço do meu Santuário, quando os filhos de Israel se afastaram de mim, esses aproximar-se-ão de mim para me servir. Estarão na minha presença para me oferecer a gordura e o sangue – oráculo do Senhor Deus. São eles que entrarão no meu Santuário e se aproximarão da minha mesa para me servir; eles estarão ao meu serviço. Ao transporem as portas do Vestíbulo interior, revestir-se-ão de vestes de linho; nada terão sobre si que seja de lã, quando servirem nos pórticos do Vestíbulo interior e no templo. Usarão tiaras de linho na cabeça, cingirão os rins com calções de linho; não trarão cintos que possam causar a transpiração. Quando saírem para o Vestíbulo exterior, para junto do povo, tirarão as vestes do serviço litúrgico e depô-las-ão nos aposentos do Santuário; revestir-se-ão de outras vestes, a fim de não mancharem o povo, pelo contacto com as vestes sagradas. Não raparão a cabeça, nem jamais deixarão crescer o cabelo; mas deverão cortá-lo devidamente. Nenhum sacerdote beberá vinho, quando entrar no Vestíbulo interior. Não desposará nenhuma viúva, nenhuma mulher repudiada, mas sim virgens da estirpe da casa de Israel. Poderão também desposar a viúva de um sacerdote. Ensinarão o meu povo a distinguir o que é santo do que é profano. Darão a conhecer a diferença entre o que é impuro e o que é puro. Nas contendas, terão de julgar e fá-lo-ão segundo o direito que Eu estabeleci. Observarão as minhas leis e regras em todas as festas e santificarão os meus sábados. Não terão contactos com cadáveres humanos para não ficarem impuros; contudo, tratando-se do pai, da mãe, do filho ou da filha, de um irmão ou de uma irmã solteira, não ficarão impuros. Após a sua purificação, serão contados sete dias. Depois, no dia em que entrar no Santuário, no átrio interior, para exercer a sua função, oferecerá o seu sacrifício pelo pecado –oráculo do Senhor Deus. Eles não terão herança; Eu é que serei a sua herança. Eles comerão as oblações e as vítimas dos sacrifícios pelo pecado e dos sacrifícios de reparação. Tudo o que for consagrado a Deus em exclusivo, em Israel, será para eles. O melhor de todas as suas primícias e de todas as espécies de oferendas, de tudo o que oferecerdes, será para os sacerdotes; e o melhor dos vossos alimentos dá-lo-eis aos sacerdotes, para fazer atrair bênçãos sobre as vossas moradas. Os sacerdotes não devem comer de animais mortos naturalmente ou despedaçados por qualquer ave ou fera.» «Quando repartirdes por sortes o país, reservareis para o Senhor a parte santa do território, com vinte e cinco mil côvados de comprimento e vinte mil de largura. Este espaço será santo em toda a extensão. Desta porção, haverá para o Santuário uma parte quadrada de quinhentos côvados de comprimento por quinhentos de largura, com uma margem de espaço livre de cinquenta côvados, à volta. Nesta superfície medirás vinte e cinco mil côvados de comprimento e dez mil de largura para o Santuário, para o Santo dos Santos. É a porção santa do país; pertencerá aos sacerdotes que servem no Santuário e que se aproximam do Senhor para o servir. É aí que terão as suas casas e um território consagrado ao Santuário. Um território de vinte e cinco mil côvados de comprimento por dez mil de largura será reservado aos levitas servidores do templo em propriedade, como cidades para nelas habitarem. Dareis em propriedade à cidade um território de cinco mil côvados de largura por vinte e cinco mil de comprimento, junto à parte do Santuário, a qual pertencerá a toda a casa de Israel.» «Para o príncipe será reservado um espaço de um e outro lado, ao longo da propriedade sagrada e o património da cidade, na direcção do ocidente, voltado para ocidente, e na direcção do oriente, voltado para oriente, numa extensão igual à de cada parte desde a fronteira ocidental até à fronteira oriental. Isto será o seu domínio em Israel; e assim os meus príncipes não oprimirão mais o meu povo; deixarão o país à casa de Israel, às suas tribos.» «Assim fala o Senhor Deus, Príncipes de Israel, basta de violências e rapinas. Ponde em prática o direito e a justiça, acabai com vossas extorsões contra o meu povo – oráculo do Senhor Deus. Tende balanças justas, um efá justo, um bat justo. O efá e o bat terão a mesma capacidade: o bat terá a décima parte de um hómer; e o efá igualmente a décima parte de um hómer; a capacidade deles terá como base o hómer. O siclo valerá vinte gueras. Vinte siclos, mais vinte e cinco siclos e mais quinze siclos farão uma mina.» «Eis a oferta que separareis: a sexta parte de um efá em cada hómer de trigo; e a sexta parte de um efá em cada hómer de cevada. Para o azeite, a oferta será a décima parte de um bat por cada coro; um coro equivale a um hómer e, por isso, dez bats correspondem a um hómer. Reservar-se-á uma ovelha em cada rebanho de duzentas cabeças para as oblações, holocaustos e sacrifícios de comunhão, e para servir de vítima expiatória sobre eles – oráculo do Senhor Deus. Todo o povo do país deverá fazer esta oferenda para o príncipe de Israel. Mas o príncipe ficará encarregado dos holocaustos, das oblações, das libações, das festas da Lua-nova, dos sábados e de todas as solenidades da casa de Israel. Ele oferecerá o sacrifício pelo pecado, a oblação, o holocausto e o sacrifício de comunhão pela expiação da casa de Israel.» «Assim fala o Senhor Deus, No primeiro mês, no primeiro dia do mês, tomarão um bezerro sem defeito, para fazer a expiação do Santuário. O sacerdote tomará o sangue da vítima pelo pecado e aspergi-lo-á sobre a porta do templo e sobre os ângulos da base do altar e sobre as portas do Vestíbulo interior. Assim farás também, no sétimo dia do mês, por aquele que pecar involuntariamente ou por imprudência. Desse modo, purificareis o templo. No primeiro mês, no décimo quarto dia, celebrareis a Páscoa. A festa durará sete dias, e durante eles comereis pão ázimo. O príncipe oferecerá nesse dia, por ele e por todo o povo do país, um touro em sacrifício pelo pecado. Durante os sete dias da festa, oferecerá em holocausto ao Senhor sete touros e sete carneiros sem defeito, em cada um dos sete dias, e do mesmo modo, um bode por dia, em sacrifício pelo pecado. E em oblação, oferecerá um efá por cada touro e um efá por cada carneiro, com um hin de azeite por efá.» «No sétimo mês, no décimo quinto dia, por ocasião da festa, ele fará o mesmo durante sete dias, oferecendo o sacrifício pelo pecado, o holocausto, a oblação e o azeite.» «Assim fala o Senhor Deus, O pórtico do Vestíbulo interior do lado do oriente ficará fechado durante os seis dias de trabalho; mas, ao sábado, será aberto e também no dia da Lua-nova. O príncipe, vindo do exterior, entrará pelo Vestíbulo do pórtico, colocar-se-á ao lado da porta, enquanto os sacerdotes oferecerão o seu holocausto e os sacrifícios de comunhão. Ele prostrar-se-á à entrada do pórtico e depois retirar-se-á; mas o pórtico não será fechado até à tarde. O povo do país prostrar-se-á diante do Senhor, à entrada deste pórtico, nos sábados e nos dias de Lua-nova. O holocausto que o príncipe oferecerá ao Senhor, no sábado, será de seis cordeiros sem defeito e de um carneiro também sem defeito. A oferenda será de um efá de farinha para o carneiro, e do que ele quiser para os cordeiros, com um hin de azeite por cada efá. No dia da Lua-nova, oferecerá um bezerro sem defeito, seis cordeiros e um carneiro também sem defeito. E a sua oferenda será um efá pelo touro, um efá pelo carneiro e o que ele quiser pelos cordeiros, com um hin de azeite por cada efá.» «Quando o príncipe entrar, será pelo Vestíbulo do pórtico que entrará, e é por ele que também sairá. E quando o povo de Israel vier diante do Senhor por ocasião das solenidades, os que entrarem pelo pórtico setentrional sairão pelo pórtico meridional; e os que entrarem pelo pórtico meridional sairão pelo pórtico setentrional. Não saem por onde entraram, mas pelo pórtico que fica em frente. O príncipe ficará entre eles, entrando e saindo com eles. Por ocasião das festas e solenidades, a oferta será de um efá por touro, de um efá pelo carneiro, e do que se quiser pelos cordeiros, com um hin de azeite por cada efá. Quando o príncipe quiser oferecer ao Senhor um holocausto voluntário ou um sacrifício de comunhão, abrir-se-lhe-á a porta que dá para o oriente; e oferecerá o seu holocausto e o seu sacrifício de comunhão, como faz em dia de sábado. Logo que tiver saído, fechar-se-á o pórtico imediatamente atrás dele. E ele oferecerá todos os dias em holocausto ao Senhor um cordeiro de um ano, sem defeito: todas as manhãs o oferecerá. Com o cordeiro, todas as manhãs oferecerá ao Senhor, como oblação, a sexta parte de um efá e um terço de um hin de azeite, para humedecer a farinha. É a oferenda ao Senhor, uma lei perpétua para sempre. Será oferecido o cordeiro, a oferenda e o azeite, todas as manhãs, como holocausto perpétuo. Assim fala o Senhor Deus, Se o príncipe faz a um dos seus filhos uma doação do que possui, essa oblação pertencerá aos filhos, a título de propriedade patrimonial. Mas se ele faz a um dos seus servos uma doação semelhante, ela pertencer-lhe-á até ao ano da libertação; depois voltará para o príncipe. É só para os filhos que ficará a sua herança. O príncipe não usurpará nada da herança do povo, despojando alguém do que é seu. É unicamente do que possui que dará em herança a seus filhos, para que ninguém do meu povo seja privado de seus bens.» Conduziu-me pela entrada que fica ao lado do pórtico aos aposentos do Santo reservados aos sacerdotes, na direcção norte. E eis que ao fundo ficava um espaço, na direcção ocidental. Ele disse-me: «É o lugar onde os sacerdotes cozem as vítimas dos sacrifícios pelo pecado e dos sacrifícios de reparação, onde cozerão a oferenda, a fim de evitar de as levar para o Vestíbulo exterior, para não manchar o povo pelo contacto com o sagrado.» Conduziu-me, depois, ao Vestíbulo exterior e fez-me passar junto dos quatro ângulos do Vestíbulo; em cada ângulo do Vestíbulo havia um pátio. Ou seja, nos quatro ângulos do Vestíbulo havia quatro pequenos pátios com quarenta côvados de comprimento e trinta de largura: tinham todos as mesmas dimensões. Contornava-os um muro a todos os quatro; junto à base do muro, em toda a volta, estavam colocadas lareiras. E ele disse-me: «São as lareiras onde os servidores do templo cozerão as vítimas dos sacrifícios do povo.» Conduziu-me para a entrada do templo, e eis que saía água da sua parte subterrânea, em direcção ao oriente, porque o templo estava voltado para oriente. A água brotava da parte de baixo do lado direito do templo, a sul do altar. Fez-me sair pelo pórtico setentrional e contornar o templo por fora, até ao pórtico exterior oriental; vi rebentar a água do lado direito. O homem avançou para oriente com o cordel que tinha na mão, e mediu mil côvados; depois fez-me atravessar a água; ela chegava-me até aos tornozelos. Mediu ainda mil côvados e fez-me atravessar a água; ela chegava-me aos joelhos. Mediu ainda mil côvados e fez-me atravessar a água; chegava-me aos quadris. Mediu ainda mil côvados; era uma torrente que eu não conseguia atravessar, porque a água era tão profunda que era necessário nadar. Efectivamente, era uma torrente que não se podia atravessar. E Ele disse-me: «Viste, filho de homem?» E levou-me até à beira da torrente. Quando aí cheguei, eis que à beira da torrente havia grande quantidade de árvores, em cada uma das margens. Ele disse-me: «Esta água corre para o território oriental, desce para a Arabá e dirige-se para o mar; quando chegar ao mar, as suas águas tornar-se-ão salubres. Por onde quer que a torrente passar, todo o ser vivo que se move viverá. O peixe será muito abundante, porque aonde quer que esta água chegar, tornar-se-á salubre; e a vida desenvolver-se-á por toda a parte onde ela chegar. Haverá pescadores nas suas margens; desde En-Guédi até En-Eglaim serão lançadas redes; haverá peixes da mesma espécie que os peixes do mar Grande, e em grande número. Mas os seus pântanos e charcos não serão saneados; serão abandonados ao sal. Ao longo da torrente, nas suas margens, crescerá toda a espécie de árvores frutíferas, cuja folhagem não murchará e cujos frutos nunca cessam: produzirão todos os meses frutos novos, porque esta água vem do Santuário. Os frutos servirão de alimento, e as folhas, de remédio.» «Assim fala o Senhor Deus, Eis os limites do país que distribuireis pelas doze tribos de Israel, ficando José com duas partes. Tereis todos igualmente a vossa parte, porque Eu jurei solenemente a vossos pais que lha daria; por isso, este país deve tocar-vos em herança. Eis os limites do país: do lado norte, desde o mar Grande, caminho de Hetelon, até à entrada de Cedad, Hamat, Berota, Sibraim, entre a fronteira de Damasco e a de Hamat, Haçar-Ticon, que está na fronteira de Hauran. E a fronteira estender-se-á desde o mar até Haçar-Enon, fronteira de Damasco, ao norte, e a de Hamat. Isto do lado norte. A oriente, entre o Hauran e Damasco, entre Guilead e o país de Israel. O Jordão servirá de fronteira até ao mar oriental, na direcção de Tamar; é a fronteira oriental. E a do lado meridional: para sul, de Tamar até às águas de Meribá, de Cadés até à torrente, na direcção do mar Grande. É a fronteira meridional. A oeste: o mar Grande servirá de limite até à entrada de Hamat. É a fronteira ocidental.» «Dividireis entre vós este país, entre as doze tribos de Israel. Vós o dividireis em herança para vós e para os estrangeiros que habitam no meio de vós e que geraram filhos no meio de vós, porque os deveis tratar como cidadãos israelitas. Convosco, eles tirarão à sorte a herança no meio das tribos de Israel. Na tribo onde ele habita, é lá que dareis ao estrangeiro a sua herança» –oráculo do Senhor Deus. «Eis os nomes das tribos. Da extremidade norte do país, em direcção a Hetelon até Hamat, Haçar-Enon, fronteira de Damasco, ao norte, ao longo de Hamat; e desde a fronteira oriental até ao mar pertence a Dan; é uma parte. No limite de Dan, desde a fronteira oriental até à fronteira ocidental, a parte de Aser*. No limite de Aser, da fronteira oriental até à fronteira ocidental, a parte de Neftali*. No limite de Neftali, desde a fronteira oriental até à fronteira ocidental, a parte de Manassés*. No limite de Manassés, da fronteira oriental até à fronteira ocidental, a parte de Efraim*. No limite de Efraim, desde a fronteira oriental até à fronteira ocidental, a parte de Rúben*. No limite de Rúben, da fronteira oriental até à fronteira ocidental, a parte de Judá*. No limite de Judá, desde a fronteira oriental até à fronteira ocidental, ficará a parte que reservareis antecipadamente, com uma largura de vinte e cinco mil côvados e um comprimento igual à das outras partes de leste a oeste. O Santuário ficará no meio. A parte que antecipadamente reservareis para o Senhor terá vinte e cinco mil côvados de comprimento por dez mil de largura. Esta parte santa pertencerá aos sacerdotes: vinte e cinco mil côvados a norte, dez mil de largura a ocidente, dez mil de largura a oriente, e vinte e cinco mil de comprimento a sul. E o Santuário do Senhor ficará ao centro. Pertencerá aos sacerdotes consagrados, os filhos de Sadoc, que asseguraram o meu serviço, que não se afastaram quando os filhos de Israel se afastaram, como fizeram os levitas. Ela lhes pertencerá como porção sagrada, reservada na parte santa do país, junto ao território dos levitas. Os levitas ocuparão igualmente ao longo do limite dos sacerdotes, um espaço de vinte e cinco mil côvados de comprimento e dez mil de largura; comprimento total: vinte e cinco mil côvados; largura: dez mil côvados. Não poderão vender ou trocar nada do território; e as primícias do país não poderão ser alienadas, porque são propriedade consagrada ao Senhor. Os cinco mil côvados de largura que ficarem, por vinte e cinco mil de comprimento, formarão um espaço profano destinado à cidade, aos seus habitantes e para terreno deles. Ao centro ficará à cidade. E eis as suas dimensões: do lado setentrional, quatro mil e quinhentos côvados; do lado meridional, quatro mil e quinhentos côvados; do lado oriental, quatro mil e quinhentos côvados; e do lado ocidental, quatro mil e quinhentos côvados. Os arrabaldes da cidade terão duzentos e cinquenta côvados para norte; duzentos e cinquenta para sul; duzentos e cinquenta para oriente; e duzentos e cinquenta para ocidente. Ficará, ao lado da parte consagrada, uma extensão de dez mil côvados para oriente e dez mil para ocidente, paralela à parte consagrada, cujos produtos servirão para sustento dos trabalhadores da cidade. Ora, os que trabalharão na cidade serão recrutados de todas as tribos de Israel. Toda a parte reservada terá uma extensão de vinte e cinco mil côvados de comprimento por vinte e cinco mil de largura; dela reservareis um quarto da porção sagrada para propriedade da cidade. O que restar será para o príncipe, de cada lado da parte sagrada e da propriedade da cidade, ao longo dos vinte e cinco mil côvados da porção sagrada até ao limite oriental, e a ocidente ao longo dos vinte e cinco mil côvados da direcção do ocidente, paralelamente às duas partes. E ao centro ficará a parte consagrada e o Santuário do templo. Assim, a parte do príncipe será o espaço compreendido entre os limites de Judá e os limites de Benjamim, excepto a propriedade dos levitas e a da cidade, que ficam no meio da porção do príncipe. Eis as outras tribos: da fronteira oriental à ocidental, a parte de Benjamim*. No limite de Benjamim, do lado oriental ao lado ocidental, a parte de Simeão*. No limite de Simeão, do lado oriental ao lado ocidental, a parte de Issacar*. No limite de Issacar, do lado oriental ao lado ocidental, a parte de Zabulão*. No limite de Zabulão, do lado oriental ao lado ocidental, a parte de Gad*. No limite de Gad, do lado meridional, a sul, a fronteira irá de Tamar às águas de Meribá de Cadés e até ao Mar Grande. Este é o país que dividireis em herança, tirando à sorte, entre as tribos de Israel; e estas são as suas divisões» – oráculo do Senhor Deus. «Eis as saídas da cidade: do lado norte, quatro mil e quinhentos côvados. As portas da cidade receberão os nomes das tribos de Israel. Três portas ao norte: a de Rúben*, a de Judá* e a de Levi*. Do lado oriental, quatro mil e quinhentos côvados e três portas: a de José*, a de Benjamim* e a de Dan*. Do lado sul, quatro mil e quinhentos côvados e três portas: a de Simeão*, a de Issacar* e a Zabulão*. Do lado ocidental, quatro mil e quinhentos côvados e três portas: a de Gad*, a de Aser* e a de Neftali*. Perímetro total: dezoito mil côvados. E, desde esse dia, o nome da cidade será: O-SENHOR-está-lá*.» No terceiro ano do reinado de Joaquim, rei de Judá, Nabucodonosor, rei da Babilónia, veio cercar Jerusalém. O Senhor entregou-lhe Joaquim, rei de Judá, e uma parte dos objectos do templo; Nabucodonosor transportou-os ao país de Chinear e colocou-os na sala do tesouro dos seus deuses. O rei deu ordem a Aspenaz, chefe dos criados, que lhe trouxesse jovens israelitas, de ascendência real ou de família nobre, sem qualquer defeito, formosos, dotados de toda a espécie de qualidades, instruídos, inteligentes e fortes. Seriam colocados no palácio real e Aspenaz devia ensinar-lhes as letras e a língua dos caldeus. O rei destinou-lhes uma provisão diária de alimentos, reservada à ementa da mesa real, e do vinho que ele bebia. A formação deles havia de durar três anos, após o que entrariam ao serviço na presença do rei. Entre estes, contavam-se Daniel, Hananias, Michael e Azarias, que pertenciam aos filhos de Judá. O chefe dos criados pôs-lhe novos nomes: a Daniel, o de Beltechaçar, a Hananias, o de Chadrac, a Michael, o de Mechac e a Azarias, o de Abed-Nego. Daniel tomou a resolução de não se manchar com o alimento do rei e com o vinho que ele bebia. Por isso, pediu ao chefe dos criados para se abster deles. Deus fez com que o chefe dos criados acolhesse Daniel com benevolência e amabilidade. Mas depois disse-lhe: «Temo que o rei, meu senhor, que determinou o que vós haveis de comer e beber, venha a encontrar o vosso rosto mais magro que o dos outros jovens da mesma idade e assim me exponhais a uma repreensão da parte do rei.» Então, Daniel disse ao oficial, a quem o chefe dos criados tinha confiado o cuidado de Daniel, Hananias, Michael e Azarias: «Por favor, faz uma experiência de dez dias com os teus servos: que se nos dê apenas legumes a comer, e água a beber. Depois disto, compararás o nosso aspecto com o dos jovens que se alimentam das iguarias da mesa real e, conforme o que tiveres constatado, assim agirás com os teus servos.» Concordou com esta proposta e submeteu-os à prova, durante dez dias. Ao fim deste prazo, verificou-se que tinham melhor aspecto e estavam mais robustos que todos os jovens que comiam os acepipes da mesa real. Como consequência, o oficial retirava as iguarias e o vinho que lhes estavam destinados e mandava que lhes servissem legumes. A estes quatro jovens, Deus deu sabedoria e inteligência no domínio das letras e ciências. Daniel compreendia toda a espécie de visões e sonhos. Decorrido o tempo fixado pelo rei para a apresentação dos jovens, o chefe dos criados levou-os à presença de Nabucodonosor, que conversou com eles. De entre todos os jovens, não houve nenhum que pudesse comparar-se a Daniel, Hananias, Michael e Azarias. Por isso, entraram ao serviço na presença do rei. Em qualquer assunto de sabedoria e inteligência que os consultasse, o rei achava-os dez vezes superiores a todos os escribas e magos do seu reino. Assim viveu Daniel, até ao primeiro ano do reinado de Ciro. No segundo ano do seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos, que lhe agitaram tanto o espírito que perdeu o sono. O rei mandou chamar os escribas, os magos, os feiticeiros e os caldeus para lhos interpretarem. Eles vieram e apresentaram-se diante do rei. Disse-lhes o rei: «Tive um sonho e o meu espírito atormentou-se, procurando o sentido deste sonho.» Os caldeus responderam ao rei em aramaico: «Viva o rei para sempre! Conta o sonho aos teus servos e dar-te-emos a interpretação.» O rei disse aos caldeus: «É para mim coisa certa que, se não me apresentais o conteúdo do sonho, bem como a sua interpretação, sereis cortados em pedaços e vossas casas reduzidas a um montão de imundícies. Porém, se me revelardes não só o sonho mas também a sua interpretação, recebereis de mim dádivas, presentes e grandes provas de consideração. Dizei-me, pois, o sonho e o que significa.» Responderam novamente: «Que o rei conte o sonho aos seus servos e revelaremos a sua interpretação.» «Sei agora perfeitamente – replicou o rei – que procurais ganhar tempo, pois vedes que estou completamente decidido a aplicar-vos essa sentença, se não me revelais o conteúdo do sonho. Combinastes para me mentir e me enganar, esperando que as circunstâncias mudem. Vamos, dizei-me o que eu sonhei e saberei se sois capazes de lhe dar a interpretação.» Os caldeus responderam ao rei desta maneira: «Não há homem sobre a terra capaz de descobrir o segredo do rei. E, de facto, nenhum rei, governador ou homem poderoso exigiu semelhante coisa de um escriba, mago ou caldeu. A questão posta pelo rei é difícil e ninguém poderá dar ao rei a solução, excepto os deuses, que não têm morada entre os mortais.» Ao ouvir isto, o rei enfureceu-se e em sua cólera mandou exterminar todos os sábios da Babilónia. A decisão foi publicada e o massacre dos sábios começou. Procuraram Daniel e os companheiros para os matar também. Daniel, porém, dirigiu a Arioc – chefe dos guardas do rei – que se dispunha a matar todos os sábios babilónios, propostas cheias de prudência e sensatez. Perguntou-lhe: «Qual a razão para uma sentença tão severa da parte do rei?» Arioc expôs-lhe o assunto. Imediatamente Daniel foi ter com o rei para pedir que lhe concedesse o tempo necessário para dar ao rei a interpretação pedida. Daniel entrou em sua casa e informou do facto os companheiros Hananias, Michael e Azarias. Pediu-lhes que implorassem a misericórdia do Deus dos céus, a propósito deste enigma, a fim de que não fossem exterminados Daniel e os seus companheiros com os restantes sábios da Babilónia. O mistério foi, então, revelado a Daniel numa visão nocturna. Daniel bendisse o Deus dos céus e exprimiu-se deste modo: «Louvado seja o nome de Deus, bendito seja de eternidade em eternidade, porque a Ele pertencem a sabedoria e o poder. É Ele quem modifica os tempos e as circunstâncias; é Ele quem depõe os reis e os eleva; é Ele quem dá a sabedoria aos sábios e a ciência aos que têm inteligência; é Ele quem revela o que é profundo e escondido, quem conhece o que se esconde nas trevas, e a luz mora junto dele. Ó Deus de meus pais, eu te celebro e te louvo, porque me deste a sabedoria e a coragem, porque me manifestaste o que te pedimos, ao resolver a dificuldade do rei.» Depois, Daniel foi ter com Arioc, a quem o rei tinha encarregado de exterminar os sábios da Babilónia. Falou-lhe assim: «Não mandes matar os sábios da Babilónia. Leva-me até junto do rei, para que lhe dê a explicação.» Apressou-se então Arioc a conduzir Daniel junto do rei, falando-lhe deste modo: «Encontrei, entre os deportados da Judeia, um homem que dará a conhecer ao rei a explicação que deseja.» O rei tomou a palavra e disse a Daniel, que tinha o sobrenome de Beltechaçar: «Na verdade, tu és capaz de me dar a conhecer o sonho que tive e a sua interpretação?» Daniel respondeu-lhe: «O mistério de que o rei pede esclarecimento, nem os sábios, nem os magos, nem os feiticeiros, nem os astrólogos são capazes de o revelar ao rei. Porém, nos céus há um Deus que desvenda os mistérios e Ele quis revelar ao rei Nabucodonosor o que vai acontecer na continuação dos tempos. Eis, pois, o teu sonho e as visões que se apresentaram ao teu espírito, no teu leito: Ó rei, os pensamentos que te vieram ao espírito, enquanto estavas no teu leito, referiam-se ao que sucederá no futuro, e aquele que desvenda o que é secreto dá-te a conhecer o que deve advir. Quanto a mim, se este mistério me foi revelado, não é por em mim haver mais sabedoria que nos outros homens, antes foi para dar ao rei a interpretação, a fim de que vejas claro os pensamentos do teu coração. Ó rei, tu tiveste uma visão. Eis que uma grande, uma enorme estátua se levantava diante de ti; era de um brilho extraordinário, mas de um aspecto terrível. Esta estátua tinha a cabeça de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, as pernas de ferro, os pés metade de ferro e metade de barro. Contemplavas tu esta estátua, quando uma pedra se desprendeu da montanha, sem intervenção de mão alguma, e veio bater nos seus pés, que eram de ferro e argila, e lhos esmigalhou. Então, com a mesma pancada foram feitos em pedaços o ferro, o barro, o bronze, a prata, o ouro, e, semelhantes ao pó que no Verão voa da eira, foram levados pelo vento sem que deixassem qualquer vestígio. A pedra que tinha embatido contra a estátua transformou-se numa alta montanha, que encheu toda a terra. Este era o sonho. Vamos agora dar ao rei a sua interpretação. Tu, ó rei, és o rei dos reis, a quem o Deus dos céus deu a realeza, o poder, a força e a glória; a quem entregou o domínio sobre os homens, onde quer que eles habitem, sobre os animais terrestres e sobre as aves do céu. Tu é que és a cabeça de ouro. Depois de ti surgirá um outro reino menor que o teu; depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará sobre toda a terra. Um quarto reino será forte como o ferro; assim como o ferro quebra e esmaga tudo, assim este esmagará e aniquilará todos os outros. Os pés e os dedos que viste, em parte de argila de oleiro, em parte de ferro, indicam que este reino será dividido; haverá nele alguma coisa da resistência do ferro, conforme tu viste ferro misturado com argila. Os dedos dos pés, em parte de ferro e em parte de barro, significam que o reino será ao mesmo tempo forte e frágil. Se tu viste o ferro junto com o barro, foi porque as duas partes se uniram por descendência humana, mas não se aguentarão juntas, do mesmo modo que o ferro não se funde com a argila. No tempo destes reis, o Deus dos céus fará aparecer um reino que jamais será destruído e cuja soberania nunca passará para outro povo. Esmagará e aniquilará todos os outros, enquanto ele subsistirá para sempre. Foi o que pudeste ver na pedra que se desprendia da montanha, sem intervenção de mão alguma, e que reduzia a migalhas o ferro, o bronze, a argila, a prata e o ouro. O grande Deus deu a conhecer ao rei o que acontecerá no futuro. O sonho é verdadeiro e a interpretação dele é digna de crédito.» Então, o rei Nabucodonosor atirou-se de face por terra, prostrado diante de Daniel; em seguida, ordenou que lhe oferecessem oblações e incenso. Dirigindo-se a Daniel, o rei disse: «O vosso Deus é verdadeiramente o Deus dos deuses, o Senhor dos reis; é também Ele quem manifesta os mistérios, visto que só tu os pudeste revelar.» O rei elevou Daniel em dignidade e deu-lhe numerosos e ricos presentes; constituiu-o governador de toda a província da Babilónia e nomeou-o chefe supremo de todos os sábios da Babilónia. A pedido de Daniel, entregou a Chadrac, Mechac e Abed-Nego a administração da província da Babilónia, enquanto Daniel ficava na corte real. O rei Nabucodonosor fez uma estátua de ouro, com a altura de sessenta côvados e com seis de largura, que levantou na planície de Dura, na província da Babilónia. E depois mandou convidar os sátrapas, os prefeitos, os governadores, os conselheiros, os tesoureiros, os legistas, os juízes e todas as autoridades das províncias, para vir à inauguração da estátua, que o rei Nabucodonosor tinha erigido. Assim, pois, juntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores, conselheiros, tesoureiros, legistas, juízes e todas as autoridades das províncias, para a inauguração da estátua levantada pelo rei e, diante dela, todos permaneceram de pé. Por meio de um arauto foi feita, então, a proclamação seguinte: «Povos, nações, gente de todas as línguas, eis o que se traz ao vosso conhecimento: No momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de toda a qualidade de instrumentos de música, prostrar-vos-eis em adoração diante da estátua de ouro, que o rei Nabucodonosor levantou. Todo aquele que não se prostrar e não adorar será imediatamente lançado na fornalha incandescente.» Logo que ouviram o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, e de toda a espécie de instrumentos de música, todos os povos, nações e populações de todas as línguas prostraram-se em adoração diante da estátua de ouro, erigida pelo rei Nabucodonosor. Neste mesmo instante, certos caldeus aproximaram-se e denunciaram os judeus. Dirigindo-se ao rei Nabucodonosor disseram: «Tu mesmo, ó rei, publicaste o decreto de que todo o homem que ouvisse o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de toda a espécie de instrumento musical teria de se prostrar em adoração diante da estátua de ouro, e que qualquer um que a isso se negasse seria lançado na fornalha incandescente. Pois bem, há aí alguns judeus a quem confiaste a administração da província da Babilónia, Chadrac, Mechac e Abed-Nego que não respeitaram o teu decreto. Não prestam culto aos teus deuses e não adoram a estátua que tu levantaste.» Nabucodonosor, irritado e furioso, mandou comparecer Chadrac, Mechac e Abed-Nego, os quais foram imediatamente levados à presença do rei. Disse-lhes Nabucodonosor: «Chadrac, Mechac e Abed-Nego, é verdade que rejeitais o culto aos meus deuses e a adoração à estátua de ouro erigida por mim? Pois bem! Estais dispostos, no momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, do saltério e de qualquer outro instrumento musical, a prostrar-vos em adoração diante da estátua que eu fiz? Se não o fizerdes, sereis logo lançados dentro da fornalha ardente. E qual o deus que poderá libertar-vos da minha mão?» Chadrac, Mechac e Abed-Nego responderam ao rei Nabucodonosor: «Não vale a pena responder-te a propósito disto. Se isso assim é, o Deus que nós servimos pode livrar-nos da fornalha incandescente, e até mesmo, ó rei, da tua mão. E ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não prestamos culto aos teus deuses e que não adoramos a estátua de ouro que tu levantaste.» Então explodiu a fúria de Nabucodonosor contra Chadrac, Mechac e Abed-Nego; a expressão do seu rosto mudou e levantou a voz para mandar que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume. Em seguida, ordenou aos soldados mais vigorosos do seu exército que amarrassem Chadrac, Mechac e Abed-Nego, a fim de os lançar na fornalha incandescente. Então, estes homens com as suas túnicas, com as suas roupas, mantos e demais vestuário, foram ligados e atirados à fornalha ardente. Mas os homens que, por ordem premente do rei, tinham aquecido extraordinariamente a fornalha e para ali tinham atirado Chadrac, Mechac e Abed-Nego foram mortos pelas chamas, ao mesmo tempo que eram precipitados na fornalha os três jovens ligados. Então, passeavam no meio das chamas, louvando a Deus e bendizendo o Senhor.* Azarias, de pé no meio das chamas, fez esta prece:* «Bendito e louvado sejas, Senhor, Deus dos nossos pais! Que o teu nome seja glorificado pelos séculos!* És justo em toda a tua conduta para connosco; as tuas obras são rectas, os teus caminhos rectos e os teus juízos equitativos.* Fizeste um juízo equitativo em tudo o que nos infligiste e em tudo o que infligiste à cidade santa de nossos pais, Jerusalém; é por efeito dum juízo equitativo que nos infligiste tudo isto, por causa dos nossos pecados.* Pecámos, prevaricámos, afastámo-nos de ti; em tudo temos procedido mal; e não observámos os teus mandamentos.* Não os temos posto em prática, não temos observado as leis que nos deste e que eram para nossa felicidade.* Em todos os males que mandaste sobre nós, em tudo o que nos infligiste, foi uma sentença justa que aplicaste.* Entregaste-nos nas mãos de injustos inimigos, de ímpios encarniçados, sem lei, e a um rei, o mais iníquo e perverso de toda a terra.* Agora não ousamos mais abrir a boca. Vergonha e infâmia acabrunham os teus servos e todos os que te adoram.* Pelo teu nome, não nos abandones para sempre, não anules a aliança.* Não nos retires a tua misericórdia, em atenção a Abraão, teu amigo, a Isaac, teu servo,* aos quais prometeste multiplicar a sua descendência como as estrelas do céu, e como a areia das praias do mar.* Senhor, estamos reduzidos a nada diante das nações, estamos hoje humilhados em face de toda a terra, por causa dos nossos pecados.* Agora não há nem príncipe, nem profeta, nem chefe, nem holocausto, nem sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem um local para te oferecer as primícias e encontrar misericórdia.* Que pela contrição de coração e humilhação de espírito, sejamos acolhidos, como se trouxéssemos* holocaustos de carneiros e de touros e de milhares de cordeiros gordos.* Que este seja hoje diante de ti o nosso sacrifício; possa ele reconciliar-nos contigo, pois não têm que envergonhar-se aqueles que em ti confiam.* É de todo o coração que agora te seguimos, te veneramos e procuramos a tua face; não nos confundas.* Trata-nos com a tua doçura habitual e com todas as riquezas da tua misericórdia.* Livra-nos pelos teus prodígios e cobre de glória o teu nome, Senhor.* Que sejam confundidos os que maltratam os teus servos, que sintam vergonha, ao verem-se sem poder e aniquilados na sua força.* Assim, saberão que Tu és o Senhor Deus único, glorioso em toda a superfície da terra!* Entretanto, os servos do rei, que os tinham lançado na fornalha, não cessavam de a aquecer com nafta, estopa, pez e lenha seca.* As chamas, que então subiam a quarenta e nove côvados acima da fornalha,* desviando-se, queimaram os caldeus que se encontravam junto dela.* O anjo do Senhor, porém, tinha descido até Azarias e seus companheiros e afastava o fogo da fornalha.* Transformou o centro da fornalha num lugar onde soprava como que uma brisa matinal: o fogo nem sequer os tocou e não lhes causou qualquer mal nem a menor dor.* Os três jovens, então, não tiveram senão uma só voz para louvar, glorificar e bendizer a Deus, na fornalha, com este cântico:* «Bendito sejas, Senhor, Deus de nossos pais:* – digno de louvor e glória eternamente! Bendito seja o teu nome santo e glorioso:* – digno de supremo louvor e exaltação eternamente!* Bendito sejas no templo da tua santa glória:* – digno de supremo louvor e glória eternamente!* Bendito sejas por penetrares os abismos, sentado sobre os querubins:* – digno de supremo louvor e exaltação eternamente!* Bendito sejas no teu trono real:* – digno de supremo louvor e exaltação eternamente!* Bendito sejas no firmamento dos céus:* – digno de supremo louvor e glória eternamente!* Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor: a Ele a glória e o louvor eternamente!* Céus, bendizei o Senhor: a Ele a glória e o louvor eternamente!* Anjos do Senhor, bendizei o Senhor: a Ele a glória e o louvor eternamente!* Águas que estais acima dos céus, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Todos os poderes do universo, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Sol e Lua, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Estrelas dos céus, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Chuva e orvalho, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Todos os ventos, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Fogo e chama, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Frio e calor, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Orvalho e geada, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Frio e gelo, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Gelos e neves, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Noites e dias, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Luz e trevas, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Relâmpagos e nuvens, bendizei o Senhor: a Ele a glória e o louvor eternamente!* Que a terra bendiga o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Montes e colinas, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Tudo o que germina na terra, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Mares e rios, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Fontes, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Monstros marinhos e tudo o que se move nas águas, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Todas as aves do céu, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Todos os animais, selvagens e domésticos, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Vós, seres humanos, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Que Israel bendiga o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Sacerdotes, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Servos do Senhor, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Espíritos e almas dos justos, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente!* Santos e humildes de coração, bendizei o Senhor: a Ele a glória e o louvor eternamente!* Hananias, Azarias, Michael, bendizei o Senhor:* – a Ele a glória e o louvor eternamente! Porque nos libertou da morada das sombras, nos salvou do poder da morte; tirou-nos da fornalha incandescente e arrancou-nos do meio das chamas.* Glorificai o Senhor, porque é bom, porque a sua misericórdia é eterna.* Vós, os piedosos, bendizei o Senhor, Deus dos deuses, louvai-o, glorificai-o, porque a sua misericórdia é eterna!»* (24) Então o rei Nabucodonosor, estupefacto, levantou-se repentinamente, dizendo para os seus conselheiros: «Não foram três homens, atados de pés e mãos, que lançámos ao fogo?» Responderam eles ao rei: «Com certeza.» (25) «Pois bem – replicou o rei – vejo quatro homens soltos, que passeiam no meio do fogo, sem este lhes causar mal; o quarto tem o aspecto de um filho de Deus.» (26) Por isso, Nabucodonosor aproximou-se da abertura da fornalha e gritou: «Chadrac, Mechac, Abed-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde!» Logo Chadrac, Mechac e Abed-Nego saíram do meio do fogo. (27) Os sátrapas, os prefeitos, os governadores e os conselheiros do rei, reunidos em volta, verificaram que o fogo não tinha tido qualquer efeito sobre o corpo daqueles homens, que nem um cabelo das suas cabeças tinha sido chamuscado, que as vestes deles estavam intactas e que nem mesmo traziam indício de cheiro a fogo. (28) Nabucodonosor, tomando a palavra, disse: «Bendito seja o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego! Ele enviou o seu anjo para libertar os seus servos que, confiando nele, expuseram a vida, transgredindo as ordens do rei, antes que prostrarem-se em adoração diante de um outro deus que não fosse o Deus deles. (29) Estabeleço, pois, esta ordem: ‘Em qualquer povo, nação ou língua, todo aquele que disser alguma coisa de mal contra o Deus de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego, será feito em pedaços e a sua casa reduzida a um montão de imundícies, porque não há outro Deus capaz de realizar uma tal libertação’.» (30) Depois, o rei melhorou ainda a situação de Chadrac, de Mechac e de Abed-Nego, na província da Babilónia. (31) «O rei Nabucodonosor a todos os povos, nações e gentes de todas as línguas que habitam a terra: paz e prosperidade! (32) Pareceu-me bom dar-vos a conhecer os milagres e prodígios que o Deus Altíssimo operou em meu favor. (33) Oh! Como os seus milagres são grandes e os seus prodígios formidáveis! O reino dele é um reino eterno! O seu império vai de geração em geração.» «Eu, Nabucodonosor, vivia tranquilo em minha casa e cheio de êxito no meu palácio. Tive um sonho que me apavorou; na cama sofri horrores e as visões perturbaram-me. Dei ordem para que fizessem vir à minha presença todos os sábios da Babilónia, a fim de me darem a interpretação do sonho. Vieram, então, os escribas, os magos, os caldeus e os feiticeiros, a quem narrei este sonho, mas não me souberam indicar o seu sentido. Por último, apresentou-se diante de mim Daniel, apelidado Beltechaçar – conforme o nome do meu deus – e nele reside o espírito do Deus santo. Contei-lhe o sonho e disse-lhe: “Beltechaçar, chefe dos magos, sei que reside em ti o espírito do Deus santo e que nenhum mistério te embaraça. Dá-me a interpretação do sonho que tive.” Foram assim, no meu leito, as visões do meu espírito: vi, no meio da terra, uma árvore muito alta. Esta árvore cresceu e tornou-se vigorosa. O cimo tocava no céu; avistava-se desde os confins de toda a terra. A sua folhagem era bela e os frutos abundantes; a todos forneciam alimentos. À sombra dela, abrigavam-se os animais do campo; nos ramos moravam as aves do céu, e toda a criatura tirava dela a sua subsistência. Nas visões do meu espírito, contemplei um Vigilante. Era como um santo que descia do céu e se pôs a gritar com uma voz forte: “Derrubai a árvore, cortai-lhe os ramos; fazei-lhe cair as folhas e atirai para longe os seus frutos. Que os animais fujam de debaixo dela e que as aves deixem a sua ramagem. Contudo, deixai ficar na terra o tronco e suas raízes, mas ligados com cadeias de ferro e de bronze. Que o tronco seja molhado pelo orvalho do céu e que tenha o seu quinhão de erva com os animais da terra. Que se lhe mude o coração; que, em vez de um coração humano, lhe seja dado um coração de animal e que sete tempos passem por ele. Esta sentença é um decreto dos Vigilantes, esta resolução é uma ordem dos santos, a fim de que os vivos saibam que o Altíssimo domina sobre a realeza dos homens, e que Ele a dá a quem lhe apraz e a ela pode elevar o mais humilde dos mortais.” Tal foi o sonho que eu, rei Nabucodonosor, tive. Tu, Beltechaçar, dá-me a interpretação dele, porque nenhum dos sábios do meu reino é capaz de o fazer. Mas, quanto a ti, tu podes, porque em ti reside o espírito do Deus santo.» Então Daniel, chamado Beltechaçar, ficou aterrorizado, por instantes, e perturbado com os seus pensamentos. O rei recomeçou: «Beltechaçar, que este sonho e o significado dele não te perturbem!» Beltechaçar respondeu: «Meu senhor, que o sonho seja para os teus inimigos e a sua interpretação para os teus adversários! A árvore que viste crescer e adornar-se, cujo cimo tocava o céu e que se avistava do extremo da terra, essa árvore de bela folhagem, de frutos abundantes, que a todos dava de comer, debaixo da qual se acolhiam os animais do campo e em cuja folhagem se abrigavam as aves do céu, essa árvore és tu, ó rei, que te tornaste grande e poderoso, crescendo sempre até atingires os astros e exercendo o teu império até aos extremos da terra. E o rei viu descer do céu o santo Vigilante que gritava: ‘Abatei a árvore, cortai-lhe os ramos, mas deixai na terra o tronco das suas raízes, ainda que ligado com cadeias de ferro e de bronze, no meio da erva dos campos; que seja molhado pelo orvalho do céu e que viva com os animais do campo até que sobre ele tenham passado sete tempos’. Eis o que significa: trata-se, ó rei, de um decreto do Altíssimo que vai atingir o rei, meu senhor: Expulsar-te-ão de entre os homens e far-te-ão habitar com os animais dos campos; pastarás erva como os bois e serás molhado pelo orvalho do céu. Sete tempos passarão sobre ti, até que reconheças que o Altíssimo domina sobre a realeza dos homens e que Ele a dá a quem lhe apraz. Se se ordenou deixar intacto o tronco das raízes da árvore, é que a realeza te será confirmada, desde que tenhas reconhecido a soberania do Céu. Cuida, pois, ó rei, de aceitar o meu conselho: redime o teu pecado pela justiça, e as tuas iniquidades, pela piedade para com os infelizes; talvez isto consiga prolongar a tua prosperidade.» Tudo isto aconteceu ao rei Nabucodonosor. Doze meses mais tarde, o rei, quando passeava no palácio real da Babilónia, fazia esta reflexão: «Eis Babilónia-a-Grande, que eu edifiquei para residência real, pelo poder da minha força e para glória da minha majestade!» Falava ainda, quando uma voz veio do Céu: «É-te anunciado, ó rei Nabucodonosor, que o reino te vai ser tirado. Vão expulsar-te do meio dos homens, para te levarem a viver entre os animais dos campos; comerás erva como os bois. Sete tempos passarão sobre ti, até que reconheças que o Altíssimo domina sobre a realeza dos homens e que a dá a quem bem lhe apraz.» No mesmo instante se cumpria o oráculo pronunciado sobre Nabucodonosor: foi afastado de entre os homens e pastava erva como os bois; o seu corpo foi ensopado pelo orvalho do céu, os cabelos cresceram-lhe como as plumas à águia, e as unhas como as unhas das aves. «Ao fim dos dias marcados, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu. A faculdade da razão voltou-me e bendisse o Altíssimo; louvava e glorificava aquele que vive eternamente, cujo domínio é eterno e cujo reino perdura, de geração em geração. Diante dele nenhum habitante da terra conta; age conforme lhe apraz, tanto para a milícia celeste como para os habitantes da terra. Ninguém pode agarrar-lhe a mão e dizer-lhe: ‘Que fazes?’ Naquela mesma altura, a razão foi-me restituída e, com a glória da minha realeza, também a minha majestade e esplendor. Os meus conselheiros e os meus grandes vieram procurar-me; fui estabelecido na chefia do reino e o meu poder cresceu extraordinariamente. Eu, Nabucodonosor, agora louvo, exalto e glorifico o rei dos céus, cujas obras são todas justas e cujos caminhos são rectos e que tem poder para humilhar os orgulhosos.» O rei Baltasar deu um banquete a mil dos seus conselheiros; e, na presença de todos eles, foi bebendo vinho. Excitado pela bebida, mandou trazer os vasos de ouro e prata que o pai Nabucodonosor tinha tirado do templo de Jerusalém, a fim de que o rei, os seus grandes, as concubinas e as bailarinas, se servissem deles para beber. Trouxeram, pois, os vasos de ouro que tinham sido roubados ao templo de Deus em Jerusalém. O rei, os seus conselheiros, as concubinas e as bailarinas beberam por eles. Depois de terem bebido o vinho, iniciaram o louvor aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra. Neste momento, apareceram dedos de mão humana que escreviam defronte do candelabro, sobre o reboco da parede do palácio real. O rei, à vista da mão que escrevia, mudou de cor, pensamentos terríveis o assaltaram, os músculos dos rins perderam o vigor e os joelhos entrechocavam-se. O rei gritou que mandassem vir os feiticeiros, os caldeus e os astrólogos. E disse aos sábios da Babilónia: «Aquele que decifrar esta inscrição e me der o sentido da mesma será revestido de púrpura, levará ao pescoço um colar de ouro e tomará o terceiro lugar no governo do reino.» Entraram na sala todos os sábios do rei mas foram incapazes de ler aquela inscrição e de dar ao rei o sentido dela. Baltasar ficou muito aterrado, a sua face mudou de cor e os seus conselheiros estavam consternados. A rainha, porém, tendo conhecimento das palavras do rei e dos conselheiros, entrou na sala do banquete, tomou a palavra e disse: «Ó rei, viva o rei para sempre! Que os teus pensamentos não te aterrem e não mudes assim de cor. Há no teu reino um homem em quem reside o espírito do Deus santo. Em vida de teu pai, havia nele uma luz, uma inteligência e uma sabedoria semelhantes à sabedoria dos deuses. Por isso, o rei Nabucodonosor, teu pai, o constituíra chefe dos escribas, dos magos, dos caldeus e dos astrólogos. Já que um espírito superior, uma ciência e uma inteligência para interpretar os sonhos, para explicar os enigmas e resolver as dificuldades, se encontram em Daniel – a quem o rei deu o nome de Beltechaçar – manda-o chamar, pois Daniel decifrará o sentido dessa inscrição.» Daniel foi, então, levado à presença do rei, que lhe disse: «És tu, de facto, Daniel, deportado de Judá, a quem meu pai trouxe da Judeia para aqui? Ouvi dizer a teu respeito que o espírito de Deus está em ti e que em ti se encontram uma luz, uma inteligência e uma sabedoria superiores. Acabam de se apresentar diante de mim os sábios e os feiticeiros para lerem esta inscrição e dar-me a conhecer o seu sentido. Mas não puderam dar-me o significado destas palavras. Ora, asseguraram-me que tu és mestre na arte das interpretações e das resoluções de enigmas. Se tu, pois, conseguires ler o que está escrito e me deres a conhecer a sua interpretação, serás revestido de púrpura, trarás ao pescoço um colar de ouro e receberás o terceiro lugar no governo do reino.» Daniel respondeu deste modo ao rei: «Guardai as vossas dádivas; as vossas honrarias, dai-as a outro! Contudo, eu lerei ao rei o texto e dar-lhe-ei o significado dele. Ó rei, o Deus Altíssimo tinha dado a Nabucodonosor, teu pai, a realeza e a grandeza, a glória e a majestade. Em razão desta grandeza que lhe tinha conferido, todos os povos, todas as nações e gentes de todas as línguas tremiam de medo diante dele. Matava a quem queria, como deixava com vida aquele que queria; exaltava ou humilhava quem ele desejava. Mas, tendo-se envaidecido o seu coração e tendo-se endurecido o seu espírito até à presunção, foi deposto do trono real e despojado da glória. Foi expulso de entre os seres humanos e, tornando-se o coração dele semelhante ao das bestas, ficou na companhia dos burros selvagens, apascentando-se de erva como os bois; e o seu corpo foi ensopado pelo orvalho do céu, até que reconheceu que o Deus Altíssimo domina sobre a realeza dos homens e a ela eleva quem bem lhe apraz. Tu, Baltasar, filho dele, embora conhecendo tudo isto, não humilhaste o teu coração. Mas levantaste-te contra o Senhor do Céu; trouxeram-te os vasos do seu templo, pelos quais bebeste vinho, tu, os teus grandes, as tuas mulheres e concubinas. Tributaste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que são cegos, surdos e nada conhecem, em vez de glorificares o Deus que tem na mão o teu sopro de vida e que conhece todos os teus passos. Por isso, foi enviada de sua parte esta mão, que traçou na parede estas palavras. Eis o texto aqui escrito: ‘ Mené*, Tequel* e Parsin*.’ Eis o sentido destas palavras: Mené*, Deus mediu o teu reino e pôs-lhe um termo; Tequel*, foste pesado na balança e encontrado muito leve; Parsin*, o teu reino foi dividido e entregue aos medos* e aos persas*.» Então, por ordem de Baltasar, Daniel foi revestido de púrpura, puseram-lhe ao pescoço um colar de ouro e publicou-se que teria o terceiro lugar na governação do reino. Na mesma noite, foi morto Baltasar, rei dos caldeus. Dario, rei dos Medos, recebeu o reino com a idade de cerca de sessenta e dois anos. Dario, o Medo, houve por bem nomear e distribuir por todo o reino cento e vinte sátrapas, submetidos a três ministros, um dos quais era Daniel; a estes tinham eles de prestar contas, a fim de que os interesses do rei não fossem lesados. Ora Daniel, em virtude da superioridade do seu espírito, distinguia-se dos ministros e sátrapas e o rei pensava colocá-lo à frente de todo o reino. Por isso, os ministros e os sátrapas procuraram o meio de acusar Daniel, em questões de interesse real. Mas não puderam descobrir qualquer pretexto ou falta, porque era íntegro e nada se encontrava contra ele de errado ou repreensível. Disseram, pois, esses homens: «Não encontraremos motivo algum de acusação contra este Daniel, a não ser no que diz respeito à lei do seu Deus.» Então ministros e sátrapas, em tumulto, foram ter com o rei e disseram-lhe: «Rei Dario, viva o rei para sempre! Os ministros do reino, os prefeitos, os sátrapas, os conselheiros e os governadores estão todos de acordo que seja publicado um edito real para ordenar esta proibição: ‘Todo aquele que, no prazo de trinta dias, dirigir súplicas a qualquer deus ou homem que não sejas tu, ó rei, será lançado na cova dos leões.’ Promulga, pois, ó rei, esta proibição e manda fazer dela um documento, a fim de que não possa ser anulada, conforme a lei dos Medos e dos Persas, que é irrevogável.» Então, o rei Dario fez redigir o documento com a proibição. Ao saber deste documento, Daniel entrou em sua casa, a qual tinha, no primeiro andar, janelas que abriam para o lado de Jerusalém. Como até aí, continuou a rezar e a louvar a Deus, de joelhos, três vezes ao dia. Nessa altura, aqueles homens acorreram, alvoroçados, e encontraram Daniel em oração, invocando o seu Deus. Dirigiram-se imediatamente a casa do rei e disseram-lhe, a propósito do decreto real de proibição: «Não promulgaste tu, ó rei, uma proibição, declarando que quem, no período de trinta dias, invocasse algum deus ou homem que não fosses tu, seria lançado na cova dos leões?» Respondeu o rei: «Com certeza, conforme a lei dos Medos e dos Persas, que não pode ser modificada.» «Pois bem – prosseguiram eles – Daniel, o exilado de Judá, não teve consideração nem pela tua pessoa, nem pelo decreto que promulgaste. Três vezes ao dia, faz a sua oração.» Ao ouvir estas palavras, o rei, muito pesaroso, tomou a peito, apesar de tudo, a salvação de Daniel e nisso se aplicou até ao pôr-do-sol. Porém, os mesmos homens, em tumulto, vieram novamente procurar o rei. «Sabei, ó rei – disseram-lhe – que a lei dos Medos e dos Persas não permite qualquer revogação de uma proibição ou de um decreto publicado pelo rei.» O rei, então, mandou levar Daniel e lançá-lo na cova dos leões. Disse-lhe o rei: «O Deus que tu adoras com tamanha fidelidade, Ele próprio te libertará!» Trouxeram uma pedra, que rolaram sobre a abertura da cova: o rei selou-a com o seu sinete e com o sinete dos grandes, para que nada fosse modificado em atenção a Daniel. Entrando no palácio, o rei passou a noite sem comer nada e sem mandar ir para junto dele concubina alguma; não conseguiu fechar os olhos. De madrugada, levantou-se e partiu a toda a pressa para a cova dos leões. Quando estava próximo, com uma voz muito magoada, chamou Daniel: «Daniel, servo do Deus vivo, o teu Deus, que adoras com tanta fidelidade, teria podido libertar-te dos leões?» Daniel dirigiu-se ao rei nestes termos: «Ó rei, viva o rei para sempre! O meu Deus enviou o seu anjo e fechou as fauces dos leões, que não me fizeram qualquer mal, porque, aos olhos dele, estava inocente. Para contigo, ó rei, tão-pouco cometi qualquer falta.» O rei, então, cheio de alegria, ordenou que tirassem Daniel da cova. Daniel foi, pois, tirado sem qualquer vestígio de ferimento, porque tinha fé no seu Deus. Por ordem do rei, trouxeram os acusadores de Daniel e atiraram-nos à cova dos leões, a eles, às mulheres e aos filhos. Ainda não tinham tocado o fundo da cova e já os leões os tinham agarrado e lhes tinham triturado os ossos. Então, o rei Dario escreveu: «A todos os povos, a todas as nações e à gente de todas as línguas que habitam a face da terra, paz e prosperidade! Promulgo este decreto: ‘Que em toda a extensão do meu reino se tema e trema diante do Deus de Daniel, porque Ele é o Deus vivo, que subsiste eternamente; o seu reino jamais será destruído e o seu domínio é perpétuo. Ele salva e Ele liberta, faz milagres e prodígios no céu e na terra: foi Ele quem livrou Daniel das garras dos leões.’» Foi assim que Daniel prosperou durante o reinado de Dario e durante o reinado de Ciro, o Persa. No primeiro ano do reinado de Baltasar, rei da Babilónia, estando Daniel na cama, teve um sonho e visões. Consignou por escrito este sonho e o essencial dos factos. Assim se exprimiu Daniel: «Na minha visão nocturna, eu via os quatro ventos do céu precipitarem-se sobre o grande mar. Surgiram do mar quatro grandes animais, diferentes uns dos outros. O primeiro era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia. Enquanto o contemplava, foram-lhe arrancadas as asas. Levantavam-no da terra e endireitavam-no sobre os pés como um homem. Depois, deram-lhe um coração de homem. Em seguida, apareceu um segundo animal semelhante a um urso; erguia-se sobre um dos lados e segurava na goela, entre os dentes, três costelas. Diziam-lhe: ‘Vamos! Devora muita carne!’ Depois disto, vi um terceiro animal parecido com uma pantera, que tinha sobre o dorso quatro asas de ave e também quatro cabeças. Foi-lhe entregue a soberania. Enfim, quando contemplava estas visões nocturnas, divisei um quarto animal, horroroso, aterrador e de uma força excepcional. Tinha enormes dentes de ferro; devorava, depois fazia em pedaços e o resto calcava-o aos pés. Era diferente dos animais anteriores, pois tinha dez chifres. Quando eu contemplava os chifres, eis que surgiu do meio deles um outro chifre mais pequeno. Para dar lugar a este chifre, três dos primeiros foram arrancados. Este chifre tinha olhos como um homem e uma boca que proferia palavras arrogantes.» «Continuava eu a olhar, até que foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam. O tribunal reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. Eu olhava. Por causa do ruído das palavras arrogantes que o chifre proferia, esse animal foi morto e o seu corpo desfeito e atirado às chamas do fogo. Quanto aos outros animais, também lhes foi tirado o poderio; no entanto, a duração da sua vida foi-lhes fixada a um tempo e uma data. Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao Ancião, diante do qual o conduziram. Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será destruído.» Perante semelhantes visões, eu, Daniel, senti-me esmagado, com o espírito perturbado. Aproximei-me de um dos assistentes e interroguei-o sobre a realidade de tudo aquilo. Respondeu-me e deu-me a explicação: «Estes portentosos animais, que são em número de quatro, são quatro reis que se levantarão da terra. Os santos do Altíssimo são os que hão-de receber a realeza e guardá-la por toda a eternidade.» Quis, então, conhecer exactamente o que se referia ao quarto animal, diferente dos outros, excessivamente aterrador, cujos dentes eram de ferro e as garras de bronze, que devorava, depois desfazia em pedaços e o que restava calcava-o aos pés. Desejei ser esclarecido acerca dos dez chifres que tinha na cabeça, bem como daquele outro chifre que tinha despontado e diante do qual três chifres tinham caído. É que esse chifre tinha olhos e uma boca que proferia palavras arrogantes e parecia maior que os seus companheiros. Tinha visto este chifre fazer guerra aos santos e levar vantagem sobre eles. Mas o Ancião, quando veio, fez justiça aos santos do Altíssimo. A hora deles era aquela e obtiveram a posse do reino. Respondeu-me assim: «O quarto animal será um quarto reino terrestre, que será diferente de todos os reinos, devorará o mundo, o calcará e o reduzirá a pó. Os dez chifres designam dez reis, que surgirão neste reino, mas após estes surgirá um outro, diferente dos anteriores, o qual vencerá três reis. Proferirá insultos contra o Altíssimo, perseguirá os santos do Altíssimo. Pensará em mudar os tempos sagrados e a religião. Os santos viverão sob a sua alçada, apenas durante um determinado espaço de tempo. Mas o julgamento continuará e tirar-lhe-ão o domínio, para o suprimir e aniquilar definitivamente. A realeza, o império e a grandeza de todos os reinos, situados sob os céus, serão então devolvidos ao povo dos santos do Altíssimo. O seu reino é eterno e todas as soberanias o temerão e lhe prestarão obediência.» Aqui findou o relato. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos perturbaram-me a tal ponto que mudei de cor. Todavia, conservava tudo isto no meu coração. No terceiro ano do reinado de Baltasar, eu, Daniel, tive uma visão, depois daquela que tinha tido anteriormente. Nesta visão, encontrava-me na fortaleza de Susa, que defende a província de Elam. Sempre em estado de visão, encontrei-me junto do rio Ulai. Levantando os olhos, eis que vi um carneiro que estava em frente do rio. Tinha dois chifres, dois altos chifres, mas um deles era mais alto que o outro. Este chifre mais alto surgiu depois. Vi o carneiro acometer com os chifres na direcção do ocidente, do norte e do sul. Nenhum animal se mantinha diante dele e ninguém era capaz de se libertar do seu poder. Fazia o que queria e aumentava o seu poder. Enquanto eu pensava atentamente, eis que um bode novo veio do ocidente e percorreu a terra toda sem tocar no chão; tinha entre os dois olhos um chifre muito saliente. Chegou até junto do carneiro de duas hastes, que eu tinha visto deter-se em frente do rio, e correu contra ele num acesso de furor. Vi-o aproximar-se do carneiro. Cheio de fúria e raiva contra ele, agrediu-o, partiu-lhe os dois chifres, sem que o carneiro tivesse tido a força de lhe resistir. O bode lançou por terra o carneiro e calcou-o com as patas e ninguém interveio para livrar o carneiro do ataque do seu adversário. Então, o bode cresceu extraordinariamente. Mas quando se tornou forte, o chifre grande partiu-se e foi substituído por quatro outros chifres, alongados na direcção dos quatro ventos do céu. De um destes chifres, aliás o mais pequeno, saiu um outro chifre, que se desenvolveu consideravelmente na direcção do sul, na direcção do oriente e na direcção da nação gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus, do qual fez cair para a terra muitas estrelas e calcou-as com as patas. Levantou-se mesmo contra o chefe deste exército, cujo sacrifício perpétuo aboliu e arrasou o santuário e o exército de Deus. Em vez do altar dos sacrifícios, introduziu a iniquidade e atirou por terra a verdade. O chifre pequeno teve bom êxito na sua empresa. Vi um santo que falava, a quem um outro santo perguntou: «Quanto tempo durará o que anuncia a visão, a propósito do holocausto perpétuo, da abominação devastadora, do abandono do santuário e do exército dos fiéis calcado aos pés?» Aquele respondeu: «Duas mil e trezentas tardes e manhãs. Depois disso, o santuário será restaurado.» Ora, enquanto eu contemplava esta visão e procurava compreendê-la, notei que estava de pé, diante de mim, um ser de forma humana. Ouvi uma voz de homem que vinha do meio do rio Ulai: «Gabriel – gritava ela – explica-lhe a visão.» Dirigiu-se, nesse momento, para o lugar onde eu me encontrava. Ao aproximar-se, fui acometido de terror e caí de face por terra. Gabriel disse-me: «Filho de homem, fica sabendo que esta visão se refere ao tempo final.» Enquanto me falava, desfalecia eu, de rosto por terra. Mas ele tocou-me e pôs-me de pé, aí onde me encontrava. E disse-me: «Eis que vou manifestar-te o que advirá nos últimos tempos da ira, porque o fim tem a sua hora. O carneiro de dois chifres que viste representa os reis da Média e da Pérsia. O bode peludo é o rei de Javan; o chifre grande que ele tem entre os olhos é o primeiro rei. A sua fractura e o nascimento dos quatro chifres em lugar dele significam quatro reinos que saem desta nação, mas que não têm a sua força. No fim do seu império, quando os infiéis tiverem enchido a medida, surgirá um rei de modos duros e jeito astucioso. O seu poder crescerá, mas não por ele mesmo. Causará extraordinárias devastações, será bem sucedido em suas empresas, exterminará os poderosos e o povo dos santos. Graças à sua habilidade, fará triunfar a perfídia. O seu coração inchará de orgulho e levará à morte muita gente à traição. Levantar-se-á contra o príncipe dos príncipes, mas será esmagado sem intervenção de mão humana. A visão que te foi mostrada, a respeito das tardes e das manhãs, é perfeitamente verdadeira. Porém, tu guarda em segredo esta visão, porque se refere a dias longínquos.» Então, eu, Daniel, desfaleci. Fiquei doente durante muitos dias. Depois disto, tornei a entregar-me ao trabalho do serviço do rei. Fiquei estupefacto com a visão que tive e que ninguém conseguia compreender. No primeiro ano de Dario, filho de Artaxerxes, da descendência dos Medos, que tinha sido instalado no trono do império dos caldeus, no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, perscrutava as Escrituras sobre o número de anos que, segundo a palavra do Senhor dirigida ao profeta Jeremias, deviam medir o tempo em que Jerusalém estaria em ruínas. Era de setenta anos. Voltei-me para o Senhor Deus, a fim de lhe dirigir uma súplica, jejuando e cobrindo-me de saco e cinza. Supliquei ao Senhor, meu Deus, e fiz-lhe a minha confissão nestes termos: «Ah! Senhor, Deus grande e temível, que és fiel à Aliança e que manténs o teu favor para com os que te amam e guardam os teus mandamentos. Todos nós pecámos, prevaricámos, praticámos a iniquidade, fomos revoltosos, afastámo-nos dos teus mandamentos e das tuas leis. Não escutámos os teus servos, os profetas, que falaram em teu nome aos nossos reis, aos nossos chefes, aos nossos pais e a todo o povo da nação. Para ti, Senhor, a justiça; para nós, a infâmia, como é hoje para as gentes de Judá, para os habitantes de Jerusalém e para todo o Israel, para aqueles que estão perto e aqueles que estão longe, em todos os países por onde os espalhaste, em consequência das iniquidades que cometeram contra ti. Sim, ó Senhor, para nós a vergonha, para os nossos reis, para os nossos chefes, para os nossos pais, porque pecámos contra ti. No Senhor, nosso Deus, há misericórdia e perdão, pois nos revoltámos contra Ele. Recusámos escutar a voz do Senhor, nosso Deus; não seguimos as leis que nos propunha pela boca dos seus servos, os profetas. Todo o Israel transgrediu a tua Lei e voltou-se para o outro lado, a fim de não ouvir a tua voz. Por isso, a maldição e a imprecação que constam da Lei de Moisés, servo de Deus, foram espalhadas sobre nós, visto que pecámos contra Ele. Executou as ameaças proferidas contra nós e contra os nossos governantes: atirou sobre nós calamidades tais, que nunca sob o céu houve uma, comparada àquela que fulminou Jerusalém. Foi de harmonia com o que está escrito na Lei de Moisés que nos advieram estas calamidades. E não procurámos apaziguar o Senhor, nosso Deus, renunciando às iniquidades e dirigindo a atenção para a sua verdade. Por isso, o Senhor cuidou da desventura para a fazer cair sobre nós, pois que o Senhor, nosso Deus, é justo em tudo o que faz. Porém, não escutámos a sua voz. Agora, Senhor, nosso Deus, que fizeste sair o teu povo do Egipto, por tua mão poderosa, e criaste uma glória que persiste ainda hoje, pecámos e praticámos o mal. Senhor, pela tua misericórdia, digna-te afastar a tua cólera e o teu furor da tua montanha santa, Jerusalém, pois é por causa dos nossos crimes e dos pecados de nossos pais que Jerusalém e o teu povo estão expostos aos insultos de todos os que nos cercam. Escuta, pois, ó nosso Deus, a súplica insistente do teu servo. Pelo teu amor, Senhor, faz brilhar a tua face sobre o teu santuário devastado. Ó meu Deus, presta atenção e ouve-nos; abre os olhos para ver as nossas ruínas e a cidade que tem um nome que vem de ti. Não é por causa dos nossos actos de justiça que depomos a teus pés as nossas súplicas, mas em nome da tua grande misericórdia. Senhor, ouve! Senhor, perdoa! Senhor, presta atenção! Actua! Pelo teu bom nome, ó meu Deus, não tardes, porque foi o teu nome que foi dado à tua cidade e ao teu povo.» Falava eu ainda, a pedir, a confessar o meu pecado e o do meu povo Israel, a depor aos pés do Senhor, meu Deus, a minha súplica em favor da sua montanha santa; não tinha terminado esta oração, quando se aproximou de mim, em voo rápido, Gabriel, o ser que tinha presenciado anteriormente em visão; era a hora da oblação da tarde. Para me informar, deu-me as seguintes explicações: «Daniel, vim neste momento aqui, para te esclarecer. Logo que tinhas começado a tua oração, uma palavra foi pronunciada e eu vim dar-ta a conhecer, porque és um homem de predilecção. Presta, pois, atenção a este oráculo e procura compreender bem a visão: Setenta semanas foram fixadas ao teu povo e à tua cidade santa para conclusão da infidelidade, para cancelar os pecados e expiar a iniquidade, para instaurar uma justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos. Sabe pois e compreende isto: após a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém até a um chefe ungido, haverá sete semanas. Depois, durante sessenta e duas semanas, Jerusalém reaparecerá e será reedificada a praça e o muro. Mas tudo isto será feito entre angústias e dificuldades. Após estas sessenta e duas semanas, um ungido será exterminado e ninguém lhe sucederá. A cidade e o santuário serão destruídos por um chefe invasor; ela acabará devastada e até ao fim haverá guerra e devastação decretada. Ele concluirá uma sólida aliança com um grande número, por uma semana; ao meio da semana fará cessar o sacrifício e a oblação e, sobre o pináculo do templo, estará a abominação devastadora, e isto até que a destruição decretada se estenda sobre o devastador.» No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, um oráculo foi revelado a Daniel, cognominado Beltechaçar. Este oráculo era verídico e anunciava grandes lutas. Daniel entendeu o oráculo e teve a compreensão da visão. Naqueles dias, eu, Daniel, fazia penitência durante três semanas. Não tomei qualquer alimento delicado, não entrou em minha boca nem carne nem vinho; não me ungi com azeite, enquanto decorreram estas três semanas. No vigésimo quarto dia do primeiro mês, encontrava-me eu na margem do grande rio Tigre. Levantando os olhos, vi um homem vestido de linho. Tinha sobre os rins uma cinta de ouro de Ufaz. O corpo era como que de crisólito; a face brilhava como o relâmpago, os olhos como fachos ardentes, os braços e os pés tinham o aspecto do bronze polido e a sua voz ressoava como o rumor de uma multidão. Só eu, Daniel, é que pude contemplar esta aparição; aqueles que estavam comigo não a viram, mas apoderou-se deles um tão grande pavor que correram a esconder-se. Então, fiquei sozinho, continuando a presenciar esta portentosa aparição. Faltaram-me as forças; tornou-se lívida a cor do meu rosto e desfaleci. Ouvi falar este homem e, ao som das suas palavras, caí desmaiado, com a face por terra. Mas eis que uma mão me tocou e me sacudiu, colocando-me sobre os joelhos e as palmas das mãos. Disse-me ele: «Daniel, homem de predilecção, atende às palavras que te vou dirigir. Levanta-te, pois tenho uma mensagem a comunicar-te.» Quando me falou assim, pus-me de pé, todo a tremer. Disse-me: «Não tenhas medo, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que te aplicaste a compreender e te humilhaste diante do teu Deus, a tua oração foi atendida e é por causa de ti que eu aqui venho. O príncipe do reino da Pérsia resistiu-me durante vinte e um dias; mas Miguel, um dos primeiros príncipes, veio em meu socorro. Deixei-o a bater-se com os reis da Pérsia, e aqui estou para te fazer compreender o que deve acontecer ao teu povo nos últimos dias. Esta visão diz respeito ainda aos tempos longínquos.» Enquanto ele me dirigia estas palavras, eu tinha o meu olhar fixo na terra e continuava mudo. De repente, alguém com forma de homem tocou-me nos lábios. Abri a boca para falar e disse àquele que se encontrava junto de mim: «Meu senhor, esta visão abalou-me e não tenho forças nenhumas. Como é que o servo do meu senhor poderá conversar com o seu mestre, se estou no fim das forças e sem fôlego?» Então, o ser com forma de homem tocou-me novamente e deu-me vigor. Disse-me: «Não receies, homem de predilecção! Que a paz seja contigo! Coragem! Coragem!» Enquanto me falava, senti-me reanimado. «Que fale o meu senhor – disse eu – já que tu me deste forças.» Replicou-me: «Sabes porque te vim procurar? Eu devo regressar à luta contra o príncipe da Pérsia. Quando acabar esta luta, surgirá o príncipe da Grécia. Mas vou dar-te a conhecer o que está escrito no livro da verdade. Ninguém me ajuda nestes trabalhos, a não ser Miguel, o vosso príncipe.» «Desde o primeiro ano de Dario, rei dos Medos, eu estive presente para lhe dar força e apoio. Neste momento, vou dar-te a conhecer a verdade: haverá na Pérsia ainda três reis. O quarto ultrapassará em riqueza todos os outros. Quando as riquezas dele o tiverem tornado poderoso, porá tudo em movimento contra o reino da Grécia.» «Levantar-se-á, porém, um rei poderoso que dominará sobre um vasto império, fazendo tudo o que lhe aprouver. Logo que se tornar poderoso, o seu reino será desmembrado e repartido pelos quatro ventos do céu. Não passará aos descendentes dele e jamais terá o mesmo poderio; porque o reino será dividido e dado a outros e não aos seus descendentes. O rei do Sul tornar-se-á forte, mas um dos generais do seu exército há-de tornar-se mais forte e o seu império será grande. Após alguns anos, aliar-se-ão, e a filha do rei do Sul irá ter com o rei do Norte, a fim de estabelecer um acordo. Esta, porém, não se manterá no trono nem a sua descendência. Será entregue à morte com os que a tiverem acompanhado, o seu filho e aquele que a engrandeceu a seu tempo. Um dos rebentos da mesma raiz se levantará em sua substituição; marchará com o seu exército, entrará nas fortalezas do reino do Norte, atacá-lo-á e o dominará. Levará mesmo, como cativos, para o Egipto, os seus deuses, bem como as imagens de fundição e os objectos preciosos de ouro e de prata. Depois, evitará atacar o rei do Norte, durante alguns anos. Este marchará contra o reino do Sul, mas regressará ao seu país. Entretanto, os filhos do rei do Norte prepararão a guerra, reunindo uma grande multidão de tropas que, espalhando-se qual torrente, invadirão, reaparecerão e levarão as hostilidades até à fortaleza dele. Irritado, o rei do Sul sairá para atacar o rei do Norte. Como ele, porá em pé de guerra um numeroso exército, e as tropas inimigas lhe serão entregues. Após o aniquilamento destas tropas, inchará de orgulho. Matará dezenas de milhares de homens, sem que com isso se torne mais forte. O rei do Norte convocará novamente um exército, mais numeroso ainda que o primeiro e, alguns anos depois, avançará no meio de extensas tropas e de uma grande comitiva. Por esta ocasião, muitos povos se levantarão contra o rei do Sul e homens impetuosos hão-de surgir do meio do teu povo, para cumprir a visão, mas serão mal sucedidos. Virá então o rei do Norte, levantará trincheiras e apoderar-se-á de cidades bem fortificadas. Nem os exércitos do rei do Sul, nem mesmo as suas hostes escolhidas, o deterão; não haverá força que lhe resista. O invasor procederá conforme quiser, sem que alguém lhe possa fazer frente. Instalar-se-á no país que é a nação gloriosa e a destruirá com o seu poder. Empreenderá a conquista do reino do Sul; estabelecerá um acordo com o rei e dar-lhe-á por esposa a própria filha, a fim de introduzir a ruína neste país; isto, porém, não resultará e este reino não lhe há-de pertencer. Depois, voltar-se-á para as ilhas, muitas das quais tomará. Mas um magistrado porá termo à sua soberba e lhe fará pagar a injúria. Então, dirigir-se-á às fortalezas da própria nação; mas vacilará, cairá e acabará por desaparecer. Será estabelecido, no lugar deste último, um príncipe que mandará um emissário ao país que é a nação gloriosa. Em alguns dias será abatido. E isto não será por efeito nem da cólera, nem da batalha.» «Em lugar dele, levantar-se-á um homem desprezível, nunca chamado à dignidade real, mas que virá inesperadamente e se há-de apoderar da realeza por intrigas. Serão dominados e desmantelados por ele os exércitos que deviam vencer, bem como um príncipe da aliança. Desprezando o acordo feito com ele, actuará pela traição. Pôr-se-á em marcha e vencerá com poucos homens. Subitamente, invadirá as mais ricas regiões do país; fará o que não terão feito os seus pais nem os pais dos pais: distribuirá pela sua gente o que saquear – despojos e riquezas – e fará projectos de ofensivas contra as fortalezas, mas só até um certo tempo. À frente de um grande exército, incitará a sua força e coragem contra o rei do Sul. Por sua vez, o rei do Sul envolver-se-á na luta com um exército numeroso e muito forte, mas não poderá resistir, em virtude das conjuras maquinadas contra ele. Os que com ele comem finas iguarias hão-de arruiná-lo, debandará o exército e muitos homens cairão feridos de morte. Os dois reis, de coração cheio de desejos malévolos, procurarão enganar-se um ao outro em torno da mesma mesa. Os seus projectos, porém, serão mal sucedidos, visto que o fim tem a sua hora determinada. Regressará com grandes riquezas ao seu país. O seu coração decidiu-se pelo mal contra o povo santo; fá-lo-á e, depois, regressará ao seu país. No tempo marcado, de novo atacará o Sul, mas esta outra expedição não será como a primeira. Navios de Kitim virão contra ele e perderá a coragem. Voltará novamente o seu furor contra a aliança santa, contra a qual tomará medidas, realizando um acordo com os que a tiverem abandonado. Exércitos, sob a chefia do próprio rei, virão profanar o santuário e a fortaleza; acabarão com o sacrifício perpétuo e estabelecerão a abominação devastadora. Pela lisonja levará a apostatar os que violaram a aliança, mas a multidão dos que conhecem o seu Deus permanecerá firme e há-de resistir. Os homens sensatos deste povo hão-de instruir um grande número; porém, sucumbirão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pilhagem, durante um certo tempo. Quando sucumbirem, serão poucos os que os hão-de socorrer e muitos se juntarão a eles por hipocrisia. Muitos destes sensatos perecerão, a fim de que sejam provados, purificados e tornados brancos até ao termo final, porquanto este fim não chegará senão em tempo marcado. O rei agirá em tudo conforme lhe aprouver. Encher-se-á de orgulho, considerar-se-á acima de todos os deuses; proferirá mesmo coisas inauditas contra o Deus dos deuses; prosperará até que a cólera divina tenha chegado ao termo, porque o que está decretado há-de cumprir-se. Não terá consideração pelos deuses de seus pais, nem pelo deus querido das mulheres, nem por qualquer divindade; julgar-se-á superior a todos. Em lugar deles, honrará o deus das fortalezas e, com ouro, prata, pedras preciosas e jóias, honrará um deus desconhecido do país dele. Com a ajuda de um deus estranho, atacará as muralhas das fortalezas; àqueles que o reconheceram cumulará de honras, dar-lhes-á autoridade sobre um grande número de súbditos e lhes distribuirá terras como recompensa.» «Por ocasião do fim, o rei do Sul se levantará contra ele. O rei do Norte desabará sobre o mesmo como um furacão, com carros, cavaleiros e considerável frota. Entrará nos territórios como torrente que transborda. Invadirá a nação gloriosa, na qual muitos homens tombarão. Todavia, os edomitas, os moabitas e a maior parte dos amonitas escapar-lhe-ão. Meterá a mão em diferentes países e o Egipto não lhe fugirá. Apoderar-se-á dos tesouros de ouro e de prata e de tudo o que há de precioso no Egipto. Os líbios e os etíopes hão-de juntar-se a ele. Contudo, alarmado pelas notícias chegadas do Oriente e do Norte, retirar-se-á furiosíssimo, com o intuito de destruir e exterminar uma grande multidão de gente. Levantará as tendas do seu quartel real, entre o mar e os montes da nação santa. Então, chegará o termo da sua vida e ninguém lhe prestará auxílio.» «Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande príncipe, que protege os filhos do teu povo. Será este um período de angústia tal, que não terá havido outro semelhante desde que existem nações até àquele tempo. Ora, entre a população do teu povo, serão salvos todos os que se encontraram inscritos no livro. Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a ignomínia, para a reprovação eterna. Os que tiverem sido sensatos resplandecerão como a luminosidade do firmamento, e os que tiverem levado muitos aos caminhos da justiça brilharão como estrelas com um esplendor eterno. E tu, Daniel, guarda isto em segredo e conserva selado este livro até ao tempo final. Deixa que muitos errem por aqui e por ali, mas o conhecimento crescerá.» Eu, Daniel, continuava a olhar. Avistei duas outras personagens que se mantinham de pé, cada qual em sua margem do rio. Um deles disse ao homem vestido de linho que estava por cima das águas do rio: «Para quando será o fim destas coisas prodigiosas?» E ouvi jurar o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, levantando ao céu a mão esquerda, assim como a mão direita: «Por aquele que vive eternamente, isto será num tempo, tempos e metade de um tempo. Primeiro, a força do povo santo há-de quebrar-se inteiramente. Então, todas estas coisas se cumprirão.» Ouvi estas palavras, mas sem as compreender, e disse-lhe: «Meu senhor, qual o fim de tudo isto?» Respondeu: «Vai, Daniel, porque estes vaticínios devem permanecer fechados e selados até ao tempo final. Muitos serão purificados, aperfeiçoados e postos à prova. Os ímpios actuarão com perversidade, porém nenhum deles compreenderá, ao passo que os sensatos compreenderão. Desde o tempo em que for abolido o holocausto perpétuo e estabelecida a abominação devastadora, haverá mil duzentos e noventa dias. Feliz o que permanecer na expectativa e chegar a mil trezentos e trinta e cinco dias! Tu, vai até ao fim e repousarás; levantar-te-ás para receber a tua parte da herança, no fim dos tempos.» Havia um homem chamado Joaquim, que habitava na Babilónia.* Tinha desposado uma mulher de nome Susana, filha de Hilquias, muito bela e piedosa para com o Senhor,* pois tinha sido educada pelos pais, que eram justos, de harmonia com a Lei de Moisés.* Joaquim era muito rico. Contíguo à sua casa, tinha um pomar; e com frequência se reuniam em casa dele os judeus, pois que entre todos os seus compatriotas gozava de particular consideração.* Tinham sido nomeados juízes, naquele ano, dois anciãos do povo. A eles justamente se aplicava a palavra do Senhor: «A iniquidade veio da Babilónia, de anciãos e juízes, que passavam por dirigir o povo.»* Estas duas personagens frequentavam a casa de Joaquim, onde vinham procurá-los todos os que tinham qualquer contenda.* À hora do meio-dia, quando toda esta gente se tinha retirado, Susana ia passear para o jardim do marido.* Os dois anciãos viam-na todos os dias, por ocasião do passeio, de maneira que a sua* paixão se acendeu por ela.* Perderam a justa noção das coisas, afastaram os olhos para não olharem para o céu e não se lembrarem da verdadeira regra de conduta.* Os dois consumiam-se de paixão por Susana, mas sem contarem um ao outro a sua própria emoção.* Tinham vergonha de, reciprocamente, comunicarem o desejo que os dominava de a possuírem.* Todos os dias, inquietos, procuravam ocasião para a observar.* Uma vez, disseram um ao outro: «Vamos para casa, pois é a hora de almoçar.» Saíram cada um por seu lado.* Mas voltaram os dois atrás e encontraram-se num mesmo lugar. Ao interrogarem-se mutuamente sobre o motivo do regresso, confessaram um ao outro o seu desejo. Combinaram, então, um momento em que pudessem encontrar Susana só. Eles estudavam a ocasião propícia.* Um dia, como de costume, chegou Susana, acompanhada apenas por duas criadas, e preparava-se para tomar banho no jardim, pois fazia calor.* Não havia aí ninguém senão os dois anciãos que, escondidos, a espiavam.* Disse às jovens: «Trazei-me óleo e unguentos e fechai as portas do jardim, para eu tomar banho.»* Fizeram o que ela tinha mandado e, tendo fechado as portas do jardim, saíram pela porta traseira, para irem procurar o que lhes tinha sido pedido; não sabiam que os anciãos estavam lá escondidos.* Logo que elas saíram, os dois homens precipitaram-se para junto de Susana* e disseram-lhe: «As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê. Nós ardemos de desejo por ti. Aceita e entrega-te a nós.* Se não quiseres, vamos denunciar-te. Diremos que um rapaz estava contigo e que foi por isso mesmo que tu mandaste embora as criadas.»* Susana bradou angustiada: «Estou sujeita a aflições de todos os lados! Se faço isso, é para mim a morte. Se não o faço, nem mesmo assim vos escaparei.* Mas é preferível para mim cair em vossas mãos sem ter feito nada, do que pecar aos olhos do Senhor.»* Susana, então, soltou altos gritos e os dois anciãos gritaram também com ela.* E um deles, correndo para as portas do jardim, abriu-as.* As pessoas da casa, ao ouvirem esta gritaria, precipitaram-se pela porta traseira para ver o que tinha acontecido.* Logo que os anciãos falaram, os criados coraram de vergonha, pois jamais se tinha dito coisa semelhante de Susana.* No dia seguinte, os dois anciãos, dominados pelo desejo criminoso contra a vida de Susana, vieram à reunião que tinha lugar em casa de Joaquim, seu marido.* Disseram diante de toda a gente: «Que se vá procurar Susana, filha de Hilquias, a mulher de Joaquim!» Foram procurá-la.* E veio com os seus pais, os filhos e os membros da sua família.* Susana era de figura delicada e bela de rosto.* Porque estava velada, estes homens perversos, para ao menos se saciarem com a sua beleza, exigiram que levantasse o véu.* Choravam todos os seus, assim como todos os que a conheciam.* Os dois anciãos levantaram-se diante de todo o povo e puseram a mão sobre a cabeça de Susana,* enquanto ela, desfeita em lágrimas, mas de coração cheio de confiança no Senhor, olhava para o céu.* Disseram então os anciãos: «Quando passeávamos a sós pelo jardim, entrou ela com duas criadas; e depois de ter fechado as portas, mandou embora as criadas.* Então, um jovem, que estava lá escondido, aproximou-se e pecou com ela.* Encontrávamo-nos a um canto do jardim. Perante semelhante atrevimento, corremos para eles e surpreendemo-los em flagrante delito.* Não pudemos ter mão no rapaz, porque era mais forte do que* nós, abriu a porta e escapou-se.* A ela apanhámo-la; mas, quando a interrogámos para saber quem era esse rapaz,* recusou responder-nos. Somos testemunhas disto.» Dando crédito a estes homens, que eram anciãos e juízes do povo, a assembleia condenou Susana à morte.* Esta, então, em altos brados disse: «Deus eterno, que sondas os segredos, que conheces os acontecimentos antes que se dêem,* Tu sabes que proferiram um falso testemunho contra mim. Vou morrer sem ter feito nada daquilo que maldosamente inventaram contra mim.»* Deus ouviu a sua oração.* Quando a conduziam para a morte, o Senhor despertou a alma límpida de um rapazinho, chamado Daniel,* que gritou com voz forte: «Estou inocente da morte dessa mulher!»* Toda a gente se voltou para ele e disse: «Que é que isso quer dizer?»* E, dirigindo-se para o meio deles, afirmou: «Israelitas! Estais loucos, para condenardes uma filha de Israel, sem examinardes nem reconhecerdes a verdade?* Recomeçai o julgamento, porque é um falso testemunho o que estes dois homens declararam contra ela.»* O povo apressou-se a voltar. Os anciãos disseram a Daniel: «Vem, senta-te no meio de nós e esclarece-nos, porque Deus te deu maturidade!»* Bradou Daniel: «Separai-os para longe um do outro e eu os julgarei.»* Separaram-nos. Daniel, então, chamou o primeiro e disse-lhe: «Velho perverso! Eis que se manifestam agora os pecados que cometeste outrora em julgamentos injustos,* ao condenares os inocentes, absolvendo os culpados, quando o Senhor disse: ‘Não farás com que morra o inocente ou o justo.’* Vamos! Se realmente os viste, diz-nos debaixo de que árvore os viste entreterem-se um com o outro.» «Sob um lentisco.» – respondeu.* Retorquiu Daniel: «Pois bem! Aí está a mentira, que pagarás com a tua cabeça. Eis que o anjo do Senhor, conforme a sentença divina, te vai rachar a meio!»* Afastaram o homem, e Daniel mandou vir o outro e disse-lhe: «Tu és um filho de Canaã e não um judeu. Foi a beleza que te seduziu e a paixão que te perverteu.* É assim que sempre tendes procedido com as filhas de Israel, que, por medo, entravam em relação convosco. Uma filha de Judá, porém, não consentiu na vossa perversidade.* Vamos, diz-me: sob que árvore os surpreendeste em atitude de se unirem?» «Sob um carvalho.»* Respondeu Daniel: «Pois bem! Também tu forjaste uma mentira que te vai custar a vida. Eis que o anjo do Senhor, de espada em punho, se dispõe a cortar-te ao meio, para vos aniquilar.»* Logo a multidão deu grandes brados, e bendizia a Deus que salva os que põem nele a sua esperança.* Toda a gente, então, se insurgiu contra os dois anciãos que Daniel tinha convencido de falso testemunho, pelas suas próprias declarações e deu-se-lhes o mesmo tratamento que eles tinham infligido ao seu próximo.* De harmonia com a Lei de Moisés, mataram-nos. Deste modo, foi* poupada naquele dia uma vida inocente.* Hilquias e sua esposa louvaram a Deus por sua filha, Susana, com Joaquim, esposo dela, e todos os parentes, pois não tinham encontrado qualquer desonestidade na sua conduta.* Daniel, daí em diante, gozou de elevada consideração entre os compatriotas.* Pela morte do rei Astiages, Ciro, o Persa, subiu ao trono.* Daniel vivia com o rei e era honrado mais que todos os outros amigos do rei.* Havia entre os babilónios um ídolo chamado Bel, para o qual diariamente se despendiam doze artabas de farinha, quarenta carneiros e seis medidas de vinho.* O rei prestava culto ao ídolo e todos os dias o ia adorar. Daniel, porém adorava o seu Deus.* O rei disse-lhe: «Porque não adoras Bel?» Respondeu Daniel: «Porque não venero um ídolo feito pela mão do homem, mas sim o Deus vivo, que criou o céu e a terra e que exerce o seu domínio sobre todos os seres humanos.»* Retorquiu o rei: «Por isso, então, Bel não te parece que seja um deus vivo! Não vês quanto ele come e bebe todos os dias?»* Daniel pôs-se a rir e respondeu: «Desengana-te, ó rei; este deus, por dentro, é de barro, por fora, de bronze e nunca comeu nem bebeu.»* O rei, irritado, chamou os sacerdotes de Bel e disse-lhes: «Se não me indicais quem come estas oferendas, morrereis. Ao contrário, se me provardes que é Bel quem as come, morrerá Daniel, porque blasfemou contra ele!»* «Seja como tu dizes!» – respondeu Daniel ao rei. Eram setenta os sacerdotes de Bel, sem contar as mulheres e os filhos.* O rei foi ao templo de Bel na companhia de Daniel.* Os sacerdotes disseram: «Nós vamos sair. Manda trazer, ó rei, os alimentos e o vinho misturado; depois, fecha a porta e sela-a com o teu anel. Se, amanhã de manhã, quando entrares no templo, verificares que não foi tudo comido por Bel, morreremos; de outro modo, isso acontecerá a Daniel, que nos caluniou.»* Estavam perfeitamente seguros, porque debaixo da mesa tinham feito uma abertura oculta, pela qual entravam todos os dias e levavam as oferendas.* Depois que saíram, logo que o rei depôs os alimentos diante de Bel,* Daniel mandou aos servos trazer cinza, que espalhou por todo o templo, em presença apenas do rei. Em seguida, saíram, fecharam a porta e, depois de lhe ter aposto o selo real, afastaram-se.* Durante a noite, como de costume, entraram os sacerdotes com as mulheres e os filhos e comeram e beberam tudo.* Ao romper do dia, veio o rei e Daniel com ele.* «Estão intactos os selos, Daniel?»* – perguntou o rei. Respondeu Daniel: «Estão intactos, ó rei.»* Logo que abriu a porta e olhou para a mesa, o rei exclamou em voz alta: «Tu és grande, Bel. Não nos enganaste.»* Daniel, porém, pôs-se a rir e, impedindo que o rei fosse mais para a frente, disse-lhe: «Observa o pavimento. De quem são estas pegadas?»* «Vejo, na verdade – respondeu o rei – pegadas de homens, de mulheres e de crianças.»* Irritado, o rei mandou prender os sacerdotes, com suas mulheres e filhos e os mesmos lhes mostraram a entrada secreta por onde se introduziam, a fim de consumirem o que estava sobre a mesa.* Mandou-os matar e entregou Bel à vontade de Daniel que o destruiu, a ele e ao seu templo.* * Havia também um grande dragão, que os babilónios veneravam.* Disse o rei a Daniel: «Pretenderás tu, também, que aquele seja de bronze? Vive, come e bebe. Não podes negar que este seja um deus vivo. Portanto, adora-o.» Retorquiu Daniel:* «Eu não adoro senão o Senhor, meu Deus, porque Ele é um Deus vivo. Dá-me licença, ó rei, e sem espada nem pau eu matarei o dragão.»* Respondeu o rei: «Eu ta concedo.»* Daniel, então, pegou em pez, sebo e pêlos; mandou cozer tudo junto e, com isto, preparou bolos que atirou para a goela do dragão, o qual rebentou. E Daniel exclamou: «Aí está o que vós venerais!»* Ao sabê-lo, os babilónios irritaram-se muito; revoltaram-se contra o rei ao grito de: «O rei fez-se judeu! Destruiu Bel, matou o dragão e massacrou os sacerdotes.»* Vieram ter com o rei para lhe dizerem: «Entrega-nos Daniel ou matar-te-emos, a ti e à tua família.»* Perante a violência com que o ameaçavam, o rei viu-se forçado a entregar-lhes Daniel,* a quem lançaram na cova dos leões, onde ficou seis dias.* Havia na cova sete leões aos quais diariamente davam dois cadáveres e dois carneiros. Mas daquela vez não lhes deram nada, para que devorassem Daniel.* Ora, por aquela ocasião, vivia na Judeia o profeta Habacuc. Acabava de cozer uma papa e migava pão numa caçarola e ia ao campo levá-la aos ceifeiros.* Porém, um anjo do Senhor disse-lhe: «Leva esta refeição à Babilónia, a Daniel que se encontra na cova dos leões.»* Respondeu Habacuc: «Senhor, eu nunca vi Babilónia e não conheço essa cova.»* Então o anjo agarrou-o pelo alto da cabeça e levou-o pelos cabelos, num sopro, até à Babilónia, por cima da cova.* Bradou Habacuc: «Daniel, Daniel, aceita a refeição que Deus te envia.»* E Daniel respondeu: «Oh! Deus, que pensaste em mim! Não abandonaste os que te amam!»* Daniel levantou-se e comeu, enquanto o anjo do Senhor reconduzia Habacuc a sua casa.* Ao sétimo dia, o rei veio para chorar Daniel. Ao chegar junto da cova, olhou para dentro e ali viu Daniel sentado.* E gritou: «Tu és grande, Senhor, Deus de Daniel! Não há qualquer outro Deus senão Tu!»* Mandou tirá-lo da cova dos leões e lançar nela todos os que tinham pretendido eliminá-lo. À sua vista, foram imediatamente devorados.* O rei disse então: «Que todos os habitantes da terra temam o Deus de Daniel, pois é Ele o Salvador que opera maravilhas e prodígios sobre a terra; foi Ele quem libertou Daniel da cova dos leões!»* Palavra do Senhor que foi dirigida a Oseias, filho de Beeri, no tempo de Uzias, de Jotam, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel. O Senhor começou a falar a Oseias, dizendo-lhe: «Vai, toma por mulher uma prostituta, e gera filhos de prostituição, porque a nação não cessa de se prostituir, afastando-se do Senhor.» Então, ele foi e desposou Gómer, filha de Diblaim. Esta concebeu e deu-lhe um filho. O Senhor disse a Oseias: «Põe-lhe o nome de Jezrael, porque dentro em breve punirei a casa de Jeú, pelos massacres de Jezrael, e porei fim ao reino da casa de Israel. Naquele dia, quebrarei o arco de Israel no vale de Jezrael.» Concebeu ela de novo e deu à luz uma filha. O Senhor disse a Oseias: «Põe-lhe o nome de Lô-Ruhamá, porque não mais me compadecerei da casa de Israel, para continuar a perdoar-lhe! Compadecer-me-ei, porém, da casa de Judá, e os salvarei pelo Senhor, seu Deus. Não os salvarei pelo arco e pela espada, nem pela guerra, nem pelos cavalos, nem pelos cavaleiros.» Tendo desmamado Lô-Ruhamá, Gomer concebeu de novo e deu à luz um filho. O Senhor disse: «Põe-lhe o nome de Lô-Ami, porque já não sois o meu povo e Eu não estou convosco.» Numerosos como a areia do mar, que não se pode medir nem contar, serão os filhos de Israel. Em vez de se lhes dizer: «Vós não sois meu povo», serão chamados: «Filhos do Deus vivo.» Reunir-se-ão os filhos de Judá e de Israel e constituirão sobre si um único chefe. Ressurgirão da terra porque será grande o dia de Jezrael. Dizei aos vossos irmãos: «Meu povo» – Ami – e à vossa irmã: «Bem-amada» – Ruhamá. Protestai contra a vossa mãe, protestai. Ela não é mais a minha mulher, nem Eu sou mais o seu marido. Afaste da sua face as prostituições e os adultérios de entre os seus seios, senão, deixá-la-ei toda nua, como no dia do seu nascimento; torná-la-ei um deserto, como terra árida, e farei que pereça de sede. Não terei compaixão dos seus filhos, pois são filhos de prostituição. A sua mãe prostituiu-se, desonrou-se aquela que os concebeu. Ela disse: «Correrei atrás dos meus amantes, que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu azeite e a minha bebida.» Por isso, Eu fecharei o seu caminho com espinhos; erguerei uma sebe em seu redor, para que ela não encontre atalhos. Ela perseguirá os seus amantes, mas não os alcançará; procurá-los-á mas não os encontrará. Então, ela dirá: «Voltarei ao meu primeiro marido, porque eu era outrora mais feliz do que agora.» Mas não reconheceu que era Eu quem lhe dava o trigo, o vinho e o azeite, e lhe prodigalizava a prata e o ouro que iam gastar com Baal. Por isso, retomarei o meu trigo a seu tempo, e o meu vinho na estação adequada; retirarei a minha lã e o meu linho, com que cobria a sua nudez. Vou descobrir a sua vergonha diante dos seus amantes; ninguém a livrará da minha mão. Porei fim aos seus divertimentos, às suas festas, às suas festas da Lua-nova, aos seus sábados e a todas as suas solenidades. Devastarei as suas vinhas e as suas figueiras, das quais ela dizia: «Esta é a minha paga, que me deram os meus amantes.» Mas hei-de transformá-las num matagal, e serão devoradas pelos animais selvagens. Hei-de pedir-lhe contas pelos dias de Baal, quando queimava incenso a esses ídolos, de colares e anéis ataviada, a cortejar os seus amantes, enquanto de mim se esquecia oráculo do Senhor. É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração. Dar-lhe-ei então as suas vinhas e o Vale de Acor será como porta de esperança. Aí, ela responderá como no tempo da sua juventude, como nos dias em que subiu da terra do Egipto. Naquele dia – oráculo do Senhor – ela me chamará: «Meu marido» e nunca mais: «Meu Baal.» Tirarei da sua boca os nomes de Baal, de modo que tais nomes não voltem a ser recordados. Farei em favor dela, naquele dia, uma aliança com os animais selvagens, com as aves do céu e com os répteis da terra; farei desaparecer da terra o arco, a espada e a guerra, e farei com que eles repousem em segurança. Então, te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com amor e misericórdia. Desposar-te-ei com fidelidade, e tu conhecerás o Senhor. Naquele dia – oráculo do Senhor Eu responderei aos céus, e os céus responderão à terra; a terra responderá com o trigo, o vinho e o azeite, e estes responderão a Jezrael. Eu a farei, para mim, uma terra bem semeada, terei compaixão de Lô-Ruhamá e direi a Lô-Ami, «Tu és o meu povo»; e ele me responderá: «Tu és o meu Deus.» Disse-me ainda o Senhor, «Vai, de novo, e ama uma mulher, que é amada por outro, e que comete adultério, pois é assim que o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles se voltem para outros deuses e gostem das tortas de uvas.» Adquiri-a, pois, por quinze siclos de prata e um hómer e meio de cevada, e disse-lhe: «Por muitos dias, ficarás comigo sem te prostituíres nem te entregares a homem algum, e eu farei o mesmo para contigo.» Porque, por muito tempo, os filhos de Israel ficarão sem rei e sem chefe, sem sacrifício e sem estela, sem insígnia, nem instrumento de oráculo. Depois disto, os filhos de Israel voltarão e buscarão o Senhor, seu Deus, e David, seu rei: recorrerão, temerosos, ao Senhor e à sua bondade, no final dos tempos. Ouvi a palavra do Senhor, filhos de Israel, porque o Senhor vai entrar em litígio com os habitantes do país, porque não há verdade nem misericórdia nem conhecimento de Deus, na terra. Juram falso, mentem, assassinam, roubam, cometem adultério, usam de violência e derramam sangue sobre sangue. Por isso, a terra está cheia de luto e todos os seus habitantes desfalecem; os animais selvagens, as aves do céu, e até os peixes do mar perecem. Entretanto, que ninguém acuse, que ninguém repreenda. Mas é a ti que Eu censuro, ó sacerdote. Tu hás-de tropeçar em pleno dia, contigo tropeçará também o profeta, e de noite farei perecer a tua mãe. O meu povo perde-se por falta de conhecimento; porque rejeitaste a instrução, excluir-te-ei do meu sacerdócio. Já que esqueceste a Lei do teu Deus, também Eu me esquecerei dos teus filhos. Quanto mais se multiplicaram, mais pecaram contra mim. Eu transformarei em infâmia a sua glória. Eles nutrem-se dos pecados do meu povo, e são ávidos das suas iniquidades. O sacerdote será tratado como o povo; castigá-lo-ei pelos seus maus caminhos, tratá-lo-ei segundo as suas obras. Comerão, mas não ficarão saciados. Prostituir-se-ão, mas não se multiplicarão, porque, obstinadamente, abandonaram o Senhor. A prostituição, o vinho e o sumo das uvas tiram a razão. O meu povo consulta o seu pedaço de pau, e o seu cajado faz-lhe revelações, porque o espírito de prostituição o perde: eles prostituíram-se, afastando-se do seu Deus. Oferecem sacrifícios nos cimos das montanhas. Queimam ofertas sobre as colinas, debaixo do carvalho, do choupo e do terebinto, porque se sentem bem à sua sombra. Por isso, as vossas filhas se prostituem e as vossas noras cometem adultério. Eu não castigarei as vossas filhas, porque se prostituem, nem as vossas noras, porque cometem adultérios, pois são eles que coabitam com prostitutas e oferecem sacrifícios com as prostitutas. E o povo, que não entende, prepara a sua ruína. Se te prostituis, ó Israel, que ao menos Judá não se torne culpado! Não vades a Guilgal. Não subais a Bet-Aven. E não jureis, dizendo: ‘Pelo Deus vivo!’ Se Israel é rebelde como uma novilha indomável, vai o Senhor conduzi-lo, agora, a pastar como um cordeiro, em campo aberto? Efraim apegou-se aos ídolos. Deixa-o! Logo que cessam de beber entregam-se à prostituição; os seus chefes preferem a ignomínia. O vento os envolverá nas suas asas, e eles serão confundidos, por causa dos seus sacrifícios.» Ouvi isto, ó sacerdotes; escuta, casa de Israel, atende, gente da casa do rei! É contra vós o julgamento, porque vos tornastes um laço para Mispá, uma rede estendida no Tabor. Levaram ao extremo as imolações em Chitim, mas Eu os castigarei a todos. Conheço Efraim, e Israel não me é desconhecido. Agora, Efraim prostituiu-se e Israel maculou-se. As suas acções não lhes permitem voltar ao seu Deus, porque um espírito de prostituição os anima e eles não reconhecem o Senhor. A arrogância de Israel dá testemunho contra ele, Israel e Efraim tropeçam na sua iniquidade; também Judá tropeça com eles. Irão em busca do Senhor com as suas ovelhas e os seus bois, mas não o encontrarão, porque o Senhor se afastou deles. Eles atraiçoaram-no, porque geraram filhos bastardos. Agora, a Lua-nova os devorará, a eles e a tudo quanto possuem. Tocai a trombeta em Guibeá, clarins em Ramá, dai o alarme em Bet-Aven; acautela-te, Benjamim! Efraim será devastado no dia do castigo; o que anuncio às tribos de Israel é coisa certa. Os chefes de Judá procederam como aqueles que mudam os marcos; derramarei sobre eles, como uma torrente, o meu furor. Efraim vê-se esmagado, oprimido pela sentença, porque se compraz em seguir os ídolos. Serei para Efraim como a tinha e para a casa de Judá como a cárie. Efraim viu o seu mal, e Judá a sua chaga; então Efraim recorreu a Assur e enviou mensageiros ao grande rei. Mas este não poderá curar-vos nem sarar a vossa chaga. Porque serei como um leão para Efraim, como um leãozinho para a casa de Judá; Eu, Eu próprio tomarei a presa e partirei, levá-la-ei comigo e ninguém ma arrancará. Irei e regressarei à minha morada até que tenham expiado os seus pecados e procurem a minha face. Na sua angústia, procurar-me-ão. «Vinde, voltemos para o Senhor; Ele feriu-nos, Ele nos curará; Ele fez a ferida, Ele fará o penso. Dar-nos-á de novo a vida em dois dias, ao terceiro dia nos levantará, e viveremos na sua presença. Conheçamos, esforcemo-nos por conhecer o Senhor; iminente, como a aurora, está a sua vinda; Ele virá para nós como a chuva, como a chuva da Primavera que irriga a terra.» Que posso fazer por ti, ó Efraim? Que posso fazer por ti, ó Judá? O vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho matutino que logo se dissipa. Por isso os castiguei duramente pelos profetas e os matei pelas palavras da minha boca, e o meu julgamento resplandece como a luz. Porque Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais que os holocaustos. Mas eles, como homens, violaram a Aliança e rebelaram-se contra mim. Guilead é uma cidade de malfeitores, cheia de rastos de sangue. Como malfeitores em emboscada, é o bando dos sacerdotes; assassinam no caminho de Siquém. Sim, o seu proceder é criminoso. Vi coisas horríveis na casa de Israel: ali se prostitui Efraim, ali se torna impuro Israel. Também para ti, Judá, se prepara uma colheita, quando Eu restabelecer o meu povo. Quando Eu queria curar Israel, a iniquidade de Efraim foi posta a descoberto, bem como a malícia da Samaria. Porque eles cometem fraudes, o ladrão entra nas casas, e por fora andam os salteadores. Eles não dizem em seus corações que me lembro de todas as suas maldades. Agora, as suas más obras cercam-nos; tenho-as diante dos meus olhos. Alegram o rei com as suas maldades, e os príncipes com as suas mentiras. Todos cometem adultérios, são semelhantes a um forno aceso que o padeiro deixa de atiçar, desde que trabalhou a massa até que esta se levede. No dia do nosso rei, os príncipes adoeceram com o ardor do vinho que beberam na companhia de bandidos. Nas suas intrigas, o seu coração arde como um forno. Toda a noite dormem ao calor do seu ressentimento, mas pela manhã ele queima como uma chama viva. Todos eles ardem como um forno e consomem os seus juízes. Todos os seus reis caíram, sem que nenhum deles me tenha invocado. Efraim mistura-se com os outros povos, Efraim é como uma torta que não foi virada. Os estrangeiros devoram a sua força, sem que ele o sinta; já tem cabelos brancos e ainda não se deu conta. A arrogância de Israel testemunha contra ele: não se voltam para o Senhor, seu Deus, nem o procuram, apesar de tudo isso. Efraim é como uma pomba ingénua, sem inteligência; apelam para o Egipto, vão à Assíria. Uma vez que partam, estenderei sobre eles a minha rede, e cairão nela como aves do céu; castigo-os quando vejo que estão reunidos. Ai deles, porque fugiram de mim! Serão arruinados, porque se rebelaram contra mim. Enquanto Eu os queria salvar, eles proferiram mentiras contra mim. Não me invocam do fundo do seu coração; gritam sobre os seus leitos e laceram-se, mas é pelo trigo e pelo vinho; e revoltam-se contra mim. Eu instruí-os e fortaleci-lhes os braços, mas eles maquinaram o mal contra mim. Não é para o alto que eles se voltam. São como um arco mal apontado. Os seus chefes cairão à espada por causa da insolência da sua língua e rir-se-ão deles, na terra do Egipto. Leva à boca a trombeta! Pois a desgraça precipita-se como uma águia sobre a casa do Senhor, porque violaram a minha aliança e transgrediram a minha lei. Clamam por mim: «Meu Deus! Nós, Israel, conhecemos-te.» Israel rejeitou o bem, o inimigo o perseguirá. Elegeram reis sem minha aprovação, estabeleceram chefes sem o meu conhecimento. Da sua prata e do seu ouro fizeram ídolos para sua própria perdição. Rejeito o teu bezerro, ó Samaria! A minha cólera inflamou-se contra eles. Até quando serão incapazes de purificar-se? Porque ele é de Israel; foi um artista quem o fez, não é Deus. Será, pois, despedaçado o bezerro da Samaria. Semearam ventos, colherão tempestades. Não terão espigas, e o grão não dará farinha; e mesmo que a desse, seria comida pelos estrangeiros. Israel foi devorado. Agora, entre as nações, é como um objecto sem valor. Quando eles subiram à Assíria, como asno selvagem solitário, Efraim contratou amantes. Ainda que os contratem entre os povos, então Eu os juntarei; em pouco tempo terão de sujeitar-se ao rei dos príncipes. Efraim multiplicou os altares, e os seus altares só lhe serviram para pecar. Tinha-lhes escrito todos os preceitos da minha lei, mas ela foi tida por eles como uma lei estrangeira. Imolam e oferecem vítimas e comem-lhes as carnes, mas o Senhor não as aceita. Antes se lembrará da sua iniquidade e castigará os seus pecados. Voltarão para o Egipto. Israel esqueceu o seu Criador e construiu palácios; Judá multiplicou as suas praças fortes, mas Eu lançarei fogo às suas cidades e ele consumirá as suas fortalezas. Não te alegres, Israel! Não exultes como os pagãos! Porque te prostituíste, afastando-te do teu Deus, e procuraste o salário impuro em todas as eiras de trigo. Mas a eira e o lagar não os alimentarão, e o vinho os enganará. Não ficarão na terra do Senhor; Efraim voltará para o Egipto, e na Assíria, comerão alimentos impuros. Já não farão ao Senhor libações de vinho, nem os seus sacrifícios lhe serão agradáveis. Serão para eles como um pão de luto, todos os que o comerem tornar-se-ão impuros; pois esse pão será só para eles e não entrará na casa do Senhor. Que fareis no dia da solenidade, no dia da festa do Senhor ? Ei-los que partem por causa da devastação. O Egipto os reunirá, Mênfis os sepultará; as suas jóias de prata herdá-las-ão as urtigas, os abrolhos invadirão as suas tendas. Chegaram os dias do castigo, chegaram os dias da retribuição: que Israel o saiba. O profeta está louco, o homem inspirado delira, por causa da enormidade dos teus pecados e da tua grande rebelião. A sentinela de Efraim – o profeta – em união com o seu Deus encontra ciladas em todos os seus caminhos e perseguição na casa do seu Deus. Estão profundamente corrompidos, como no tempo de Guibeá. Ele se lembrará das suas iniquidades e punirá os seus pecados. Encontrei Israel como cachos de uvas no deserto, vi os vossos pais como os primeiros frutos da figueira. Eles, porém, chegados a Baal-Peor consagraram-se à infâmia, e tornaram-se tão abomináveis como as coisas que amavam. A glória de Efraim voará como uma ave. Não haverá nascimento, nem gravidez, nem concepção. E ainda que consigam criar alguns filhos, Eu os privarei deles, antes da maturidade. E ai deles, quando Eu os abandonar! Efraim, pelo que vi, era outra Tiro, situada em lugar de pastos; mas Efraim levará seus filhos ao que lhes há-de tirar a vida. Dai-lhes, Senhor ! Que lhes dareis? Dai-lhes entranhas estéreis e seios secos! Toda a sua maldade aparece em Guilgal; foi ali que lhes ganhei aversão. Por causa da maldade das suas acções, expulsá-los-ei da minha casa, não voltarei a ter-lhes amor; todos os seus chefes são rebeldes. Efraim está ferido, a sua raiz secou, não voltará a dar fruto. E, se tiverem filhos, Eu exterminarei o fruto querido das suas entranhas. O meu Deus os rejeitará, porque não o escutaram; andarão errantes entre as nações. Israel era uma vinha frondosa, que dava muitos frutos. Quanto mais abundavam os seus frutos, tanto mais multiplicou os seus altares. Quanto mais prosperou a sua terra, mais ricas estelas construiu. O coração deles é falso: vão sofrer o devido castigo; Ele mesmo derrubará os seus altares e deitará abaixo as suas estelas. E dizem: «Não temos um rei, porque não tememos o Senhor; e que poderá fazer por nós o nosso Rei?» Proferem vãs palavras, juram falso, fazem alianças; e o direito prospera como a erva venenosa nos sulcos do campo. Os habitantes da Samaria tremem por causa do bezerro de Bet-Aven. O seu povo põe luto por ele, e o bando dos seus sacerdotes agita-se pela sua glória, agora que ele foi deportado para longe de vós. Também ele será levado para a Assíria como um presente ao grande rei. A confusão apoderar-se-á de Efraim e Israel ficará envergonhado dos seus projectos. Samaria está aniquilada, o seu rei é como uma palha à deriva sobre a superfície da água. Os lugares altos de Bet-Aven, o pecado de Israel, serão destruídos. Os espinhos e os abrolhos crescerão sobre os seus altares. Dirão então às montanhas: «Cobri-nos!» E às colinas: «Caí sobre nós!» Desde os dias de Guibeá, tens pecado, ó Israel. E ali ficaram. Não os apanhará em Guibeá a guerra contra os filhos da iniquidade? Virei castigá-los. Os povos se reunirão contra eles, porque devem ser punidos, por causa do seu duplo crime. Efraim é uma novilha bem ensinada, que gosta de pisar a eira. Mas Eu domarei com o jugo o vigor da sua cerviz; atrelarei Efraim, Judá lavrará, Jacob puxará a grade. Lançai sementes de justiça, colhei segundo a misericórdia, lavrai terras incultas. É tempo de buscar o Senhor, até que venha e faça chover a justiça para vós. Cultivastes a perversidade, colhestes o pecado e comestes o fruto da mentira. Confiaste nos teus planos e no grande número dos teus guerreiros. O tumulto da guerra levantar-se-á no teu povo, e todas as tuas fortalezas serão destruídas. E assim como Chalman destruiu Bet-Arbel, no dia do combate, em que a mãe foi esmagada com os seus filhos, assim vos fez Betel, por causa das vossas maldades; ao amanhecer será totalmente destruído o rei de Israel. Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Mas, quanto mais os chamei, mais eles se afastaram; ofereceram sacrifícios aos ídolos de Baal e queimaram oferendas a estátuas. Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer. Ele voltará para o Egipto, e a Assíria será o seu rei, porque recusaram converter-se. A espada devastará as suas cidades, destruirá as suas defesas e os devorará, por causa dos seus planos. O meu povo é inclinado a afastar-se de mim; quando se convida a subir ao que está no alto, ninguém procura elevar-se. Como poderia abandonar-te, ó Efraim? Entregar-te, ó Israel? Como poderia Eu abandonar-te, como a Adma, ou tratar-te como Seboim? O meu coração dá voltas dentro de mim, comovem-se as minhas entranhas. Não desafogarei o furor da minha cólera, não voltarei a destruir Efraim; porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no meio de ti e não me deixo levar pela ira. Eles seguirão o Senhor, que rugirá como um leão; quando Ele rugir, virão, pressurosos, os filhos do ocidente. Virão do Egipto como aves, e da Assíria como uma pomba; Eu os farei habitar nas suas casas – oráculo do Senhor. Efraim cerca-me de mentira, e a casa de Israel de engano; também Judá está contra Deus, só é fiel aos ídolos. Efraim alimenta-se de vento, corre o dia inteiro atrás do vento do oriente, multiplica a mentira e a violência. Fazem aliança com a Assíria, e levam o seu azeite, como homenagem, ao Egipto. O Senhor virá a julgar o procedimento de Judá, castigará Jacob pelos seus actos e tratá-lo-á segundo as suas obras. Jacob suplantou seu irmão no seio materno e, quando se tornou adulto, lutou com Deus. Lutou com o anjo e venceu-o, chorou e implorou misericórdia. Encontrou-o em Betel, onde Deus nos falou. OSenhor é o Deus do universo, o seu nome é Senhor. Converte-te, pois, ao teu Deus, guarda a misericórdia e a justiça e espera sempre no teu Deus. Canaã é mercador de pesos falsos e amigo da fraude! Efraim disse: «Em verdade, tornei-me rico, adquiri fortuna. Em todo o meu esforço não me encontrarão culpa ou pecado.» Eu sou o Senhor, teu Deus, desde a terra do Egipto, far-te-ei habitar de novo nas tuas tendas, como nos dias de festa. Falarei aos profetas e multiplicarei as visões; pela boca dos profetas falarei em parábolas. Se Guilead não passa de um simples ídolo, em vão imolaram touros em Guilgal; por isso, os seus altares serão transformados em montões de pedras nos sulcos dos campos. Jacob fugiu para a terra de Aram, Israel serviu para adquirir uma esposa, e por uma mulher apascentou os rebanhos. O Senhor fez subir Israel do Egipto por meio de um profeta, por meio de um profeta, o povo foi guardado. Efraim provocou a ira, mas o sangue que derramou cairá sobre ele, e o seu Senhor lhe dará a paga dos seus ultrajes. Quando Efraim falava, era o terror, pois ele era grande em Israel; mas por Baal tornou-se culpado e morreu. E ainda agora continuam a pecar, fazem para si estátuas fundidas com a sua prata, ídolos da sua invenção, obra da mão de artistas. A eles oferecem cordeiros em sacrifício e dão-lhes a beber sangue de novilhos. Por isso, serão como a nuvem da manhã, como o orvalho matinal, que logo passa, como a palha que o vento leva da eira, como o fumo que sai pela janela. Todavia, Eu sou o Senhor teu Deus, desde a terra do Egipto. Não reconhecerás outro Deus fora de mim, não há outro salvador senão Eu. Conheci-te no deserto, numa terra árida, chegados às pastagens, e, uma vez fartos, encheram de orgulho o coração e esqueceram-se de mim. Tornei-me para eles como um leão, espreito-os, como uma pantera ao longo do caminho. Como ursa a quem roubaram as crias, investirei contra eles, como um leão despedaçarei os seus corações, devorá-los-ei como uma leoa, e como animal selvagem os farei em pedaços. É a tua ruína, ó Israel! Só em mim está o teu auxílio! Onde está o teu rei para te salvar em todas as tuas cidades? Onde estão os teus magistrados, dos quais disseste: «Dá-me um rei e príncipes.» Dou-te um rei, no meu furor, e retiro-to, na minha indignação! A iniquidade de Efraim está guardada, o seu pecado está posto em reserva. Sobre ele virão as dores de parto, mas será o parto de um filho insensato que não se apresenta no devido tempo, para sair do seio materno. Livrá-lo-ei do poder do sepulcro, resgatá-los-ei da morte? Onde estão, ó morte, os teus flagelos? Onde está, ó sepulcro, a tua destruição? Não vejo arrependimento. Em vão crescerá Efraim no meio dos canaviais; virá o vento do oriente, o vento do Senhor que sopra do deserto, o qual secará a sua nascente e estancará a sua fonte e roubará tudo quanto ele tem de mais precioso. A Samaria terá de expiar a culpa, porque se revoltou contra o seu Deus. Vão cair ao fio da espada, as suas crianças serão esmagadas, e abertos os ventres das mulheres grávidas. Volta, Israel, ao Senhor teu Deus, porque caíste por causa dos teus pecados. Tomai convosco palavras de arrependimento. Convertei-vos ao Senhor, dizendo-lhe: «Perdoa toda a iniquidade, aceita o que é bom e te oferecemos, o fruto dos nossos lábios.» A Assíria não nos salvará; não montaremos a cavalo, e nunca mais chamaremos nosso Deus a uma obra das nossas mãos, pois só junto de ti o órfão encontra compaixão.» Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração, porque a minha cólera se afastou deles. Serei para Israel como o orvalho: florescerá como um lírio e deitará raízes como um cedro do Líbano. Os seus ramos estender-se-ão ao longe, a sua opulência será como a da oliveira, o seu perfume como o odor do Líbano. Regressarão os que habitavam à sua sombra; renascerão como o trigo, darão rebentos como a videira, e a sua fama será como a do vinho do Líbano. Efraim, que tenho Eu ainda a ver com os ídolos? Sou Eu quem responde e olha por ele. Eu sou como um cipreste sempre verdejante; é de mim que procede o teu fruto. Quem é sábio para compreender estas coisas, inteligente para as conhecer? Porque os caminhos do Senhor são rectos, os justos andarão por eles, mas os pecadores tropeçarão neles. Palavra do Senhor dirigida a Joel, filho de Petuel. Ouvi isto, anciãos! Prestai ouvidos, vós todos os habitantes do país! Aconteceu tal coisa em vossos dias ou nos dias dos vossos pais? Contai-o a vossos filhos, e vossos filhos contem-no a seus filhos, e os seus filhos, à geração vindoura. O que o gafanhoto deixou, o saltão devorou; o que o saltão deixou, a larva devorou; o que a larva deixou, a crisálida devorou! Despertai, ó ébrios, e chorai! Vós, bebedores de vinho, lamentai-vos porque o mosto vos foi tirado da boca. O meu país foi invadido por uma multidão forte e inumerável, os seus dentes são como dentes de leão, e as mandíbulas, como de leoa. Devastou a minha vinha, destruiu a minha figueira, tirou-lhe a casca e deitou-a fora. Os seus ramos tornaram-se brancos. Chorai como chora uma donzela, vestida de saco, o marido da sua juventude. Deixou de haver oferendas e libações no templo do Senhor. Estão de luto os sacerdotes, os ministros do Senhor. Os campos estão devastados, a terra enlutada porque o trigo foi destruído, o vinho, perdido e o azeite, estragado. Os lavradores estão desiludidos, os vinhateiros lamentam-se, por causa do trigo e da cevada, pois a colheita perdeu-se. A vinha secou, a figueira murchou, a romãzeira, a palmeira, a macieira, todas as árvores do campo estão secas. E secou, até, a alegria dos filhos dos homens. Cingi-vos, sacerdotes, e chorai. Lamentai-vos, ministros do altar. Vinde, passai a noite vestidos de saco, ministros do meu Deus. Porque, da casa do vosso Deus, desapareceram as ofertas e libações. Ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada. Reuni, anciãos, todos os habitantes do país na casa do Senhor, vosso Deus, e clamai ao Senhor. Ai que Dia! Pois o Dia do Senhor está próximo. E virá como a devastação da parte do devastador. Acaso não desapareceu o alimento sob os nossos olhos como da casa do nosso Deus, a alegria e o regozijo? As sementes apodreceram debaixo das leivas, os celeiros estão vazios, os armazéns arruinados, pois o trigo secou. Como gemem os animais! As manadas de bois andam errantes porque não há pasto para elas. Até os rebanhos de ovelhas perecem! Clamo por ti, Senhor ! Pois o fogo devora toda a verdura da estepe. A chama queimou todas as árvores do campo. Os próprios animais selvagens suspiram por ti, pois secaram as correntes de água, e o fogo devorou toda a verdura da estepe. Tocai a trombeta em Sião, elevai um clamor sobre o meu monte santo! Estremeçam todos os habitantes da terra porque se aproxima o Dia do Senhor ! Ele está próximo! Dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e sombras. Como a luz da aurora sobre os montes, assim se difunde um povo numeroso e forte, como nunca houve semelhante desde o princípio nem depois haverá outro, no decorrer dos séculos! Diante dele, um fogo devorador, atrás dele, uma chama abrasadora. Diante dele, a terra é um paraíso do Éden, atrás dele, a desolação do deserto. Nada lhe consegue sobreviver. O seu aspecto é como o aspecto de cavalos; correm como corcéis. Dir-se-ia semelhante ao estrondo de carros saltando sobre o cume dos montes, ao crepitar da chama de fogo que devora a palha seca, a um poderoso exército, disposto em ordem de batalha. Diante dele tremem os povos, todos os rostos empalidecem. Correm como valentes e escalam as muralhas como guerreiros; cada um segue o seu caminho sem confundir as suas sendas. Não se embaraçam uns aos outros; cada um marcha pela sua estrada. Abrem caminho por entre as setas, sem romper as suas fileiras. Assaltam a cidade, correm por cima dos muros, invadem as casas, pelas janelas, entram como ladrões. A terra treme diante deles, os céus ficam abalados, o Sol e a Lua obscurecem-se, as estrelas perdem o seu brilho. À frente do seu exército, o Senhor faz ouvir a sua voz. São inúmeros os seus batalhões, poderoso, o executor da sua palavra. O Dia do Senhor é grandioso e terrível. Quem o poderá suportar?! Mas agora, diz o Senhor, convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos. Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia. Quem sabe? Talvez Ele mude de ideia e volte atrás, deixando, ao passar, alguma bênção, para oferenda e libação ao Senhor vosso Deus! Tocai a trombeta em Sião, ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada. Reuni o povo, purificai a assembleia, juntai os anciãos, congregai os pequeninos e os meninos de peito. Saia o esposo dos seus aposentos e a esposa do seu leito nupcial. Entre o pórtico e o altar chorem os sacerdotes, e digam os ministros do Senhor, «Tem piedade do teu povo, Senhor, não transformes em ignomínia a tua herança, para que ela não se torne o escárnio dos povos! Porque diriam: ‘Onde está o seu Deus?’» O Senhor encheu-se de zelo pelo seu país e teve compaixão do seu povo. O Senhor respondeu ao seu povo, dizendo: «Vou enviar-vos trigo, vinho e azeite, e deles sereis saciados. E nunca mais farei de vós uma ignomínia entre os povos. Afastarei de vós aquele que vem do Norte e dispersá-lo-ei por uma terra árida e desolada; a sua vanguarda, para o mar oriental, e a sua retaguarda, para o mar ocidental. Há-de exalar-se dali um cheiro infecto, um cheiro de podridão porque tentou fazer grandes coisas. Não temas, ó terra! Exulta e alegra-te porque o Senhor faz grandes coisas! Não temais, animais dos campos, porque as pastagens do deserto reverdecerão, as árvores darão o seu fruto, a figueira e a vinha produzirão abundantemente. Exultai, filhos de Sião, alegrai-vos no Senhor, vosso Deus, porque Ele há-de mandar-vos as chuvas do Outono no devido tempo e fará cair sobre vós chuvas copiosas, as chuvas do Outono e da Primavera, como no princípio. As eiras se encherão de trigo, e os lagares transbordarão de vinho e azeite. Eu restituí-vos as colheitas devoradas pelo saltão e pela larva, pela crisálida e pelos gafanhotos, meu poderoso exército, que mandei contra vós. Comereis com abundância e louvareis o nome do Senhor, vosso Deus, que fez maravilhas em vosso favor. E o meu povo jamais será confundido. Sabereis, então, que estou no meio de Israel, Eu que sou o Senhor, vosso Deus, e que não há outro. E o meu povo jamais será confundido.» «Depois disto, derramarei o meu espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões. Também sobre servos e servas, naqueles dias, derramarei o meu espírito. Farei aparecer prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e nuvens de fumo. O Sol converter-se-á em trevas, e a Lua, em sangue, ao aproximar-se o Dia do Senhor, grandioso e terrível. Então, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo pois sobre o monte de Sião e em Jerusalém ficará um resto salvo, como disse o Senhor. E entre os sobreviventes estarão os que o Senhor tiver chamado.» «Eis, pois, que naqueles dias e no momento em que mudar completamente o destino de Judá e Jerusalém, reunirei todas as nações e as farei descer ao Vale de Josafat. Aí entrarei em juízo com elas, por causa de Israel, meu povo e minha herança, pois dispersaram-no entre as nações e repartiram o meu país entre si. Deitaram sortes sobre o meu povo: deram um menino por uma prostituta, venderam uma donzela por vinho para beber. E vós, também, Tiro e Sídon e todas as províncias da Filisteia, que quereis de mim? Quereis vingar-vos? Se quereis vingar-vos, farei cair sobre vós mesmos a vossa própria vingança. Pois roubastes a minha prata e o meu ouro, levastes para os vossos templos as minhas jóias mais preciosas; vendestes os filhos de Judá e os filhos de Jerusalém aos filhos de Javan, para que os levassem para longe da sua pátria. Eis que os tirarei do lugar para onde os vendestes e farei recair sobre vós a maldade cometida: venderei os vossos filhos e as vossas filhas aos habitantes de Judá e estes os venderão aos sabeus, um povo longínquo, pois assim falou o Senhor. Publicai-o entre as nações! Declarai a guerra! Incentivai os heróis! Aproximem-se e subam todos os homens de guerra. Forjai espadas das relhas dos vossos arados, e lanças, das vossas foices. Diga o fraco: ‘Eu sou um herói’. Depressa! Nações, vinde todas, de toda a parte, reuni-vos aqui. Senhor, faz descer ali os teus heróis. Nações, levantai-vos e vinde ao Vale de Josafat; aí me sentarei para julgar as nações vindas de toda a parte. Metei a foice porque a messe está madura, vinde pisar porque o lagar está cheio, as cubas transbordam porque a malícia deles é muito grande. Multidões e multidões, no Vale do Julgamento, porque o Dia do Senhor está perto, no Vale do Julgamento. O Sol e a Lua obscurecem-se, as estrelas perdem o seu brilho.» «O Senhor rugirá de Sião! Trovejará de Jerusalém! Então os céus e a terra serão abalados. Mas para o seu povo, o Senhor será um refúgio, uma fortaleza para os filhos de Israel! Sabereis então que Eu sou o Senhor, vosso Deus, que habito em Sião, minha montanha santa. Jerusalém será um lugar sagrado, onde os estrangeiros não tornarão mais a passar. Acontecerá naquele dia que os montes destilarão vinho novo, o leite manará das colinas, as águas jorrarão em todas as ribeiras de Judá. Uma fonte sairá do templo do Senhor para irrigar o Vale das Acácias. O Egipto será a desolação e Edom será um deserto desolado pois trataram com crueldade os filhos de Judá e derramaram, no seu país, o sangue inocente. Mas Judá será habitada para sempre e Jerusalém, de geração em geração. Eu vingarei o seu sangue, não os deixarei impunes. E o Senhor habitará em Sião.» Palavras de Amós, que foi um dos pastores de Técua. Visão que teve acerca de Israel, no tempo de Uzias, rei de Judá, e de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel, dois anos antes do tremor de terra. Disse: «O Senhor rugirá de Sião, de Jerusalém levantará a sua voz. Os prados dos pastores murcharão, o cume do Carmelo secará.» Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime de Damasco, não revogarei o meu decreto. Porque eles despedaçaram Guilead com grades de ferro, lançarei fogo à casa de Hazael, e esse fogo devorará os palácios de Ben-Hadad. Quebrarei os ferrolhos de Damasco, exterminarei os habitantes de Bicat-Aven, e o que tem na mão o ceptro em Bet-Éden. E o povo de Aram será deportado para Quir» – diz o Senhor. Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime de Gaza, não revogarei o meu decreto. Porque deportaram uma multidão de cativos para os entregar a Edom, lançarei fogo aos muros de Gaza, o qual devorará os seus palácios. Exterminarei os habitantes de Asdod e o que tem na mão o ceptro de Ascalon. Voltarei a minha mão contra Ecron e perecerá o resto dos filisteus» – diz o Senhor Deus. Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime de Tiro, não revogarei o meu decreto. Porque entregaram uma multidão de cativos a Edom e não se lembraram da aliança fraterna, lançarei fogo aos muros de Tiro, e ele devorará os seus palácios.» Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime de Edom, não revogarei o meu decreto. Porque perseguiu o seu irmão à espada, abafando toda a compaixão, porque a sua cólera não cessa de despedaçar, e persiste até ao fim no seu rancor, lançarei fogo a Teman, o qual devorará os palácios de Bosra.» Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime dos filhos de Amon, não revogarei o meu decreto. Porque esventraram as mulheres grávidas de Guilead, a fim de dilatar as suas fronteiras, porei fogo aos muros de Rabá e ele devorará os seus palácios, no meio dos gritos de guerra, no dia da batalha, no meio do turbilhão, no dia da tempestade; o seu rei irá para o exílio, juntamente com os seus chefes» – diz o Senhor. Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime de Moab, não revogarei o meu decreto. Porque queimou os ossos do rei de Edom até os reduzir a cinza, lançarei fogo a Moab, e ele consumirá os palácios de Queriot. Moab perecerá no meio do tumulto, entre gritos de guerra e sons de trombeta. Exterminarei o chefe do meio dela e farei morrer com ele todos os príncipes» – diz o Senhor. Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime de Judá, não revogarei o meu decreto. Porque desprezaram a lei do Senhor e não observaram os seus preceitos, porque se deixaram transviar pelos seus falsos deuses, atrás dos quais os seus pais tinham andado; lançarei fogo a Judá, e ele devorará os palácios de Jerusalém.» Assim fala o Senhor, «Por causa do triplo e do quádruplo crime de Israel, não revogarei o meu decreto. Porque vendem o justo por dinheiro e o pobre, por um par de sandálias; esmagam sobre o pó da terra a cabeça do pobre, desviam os pequenos do caminho certo. Porque o filho e o pai dormem com a mesma jovem, profanando o meu santo nome. Porque se estendem ao pé de cada altar, sobre as roupas recebidas em penhor, e bebem no templo do seu Deus o vinho dos que foram confiscados. Fui Eu que, diante deles, exterminei os amorreus, que eram altos como cedros e fortes como os carvalhos. Destruí-lhes por cima os frutos e por baixo as raízes. Eu é que vos tirei da terra do Egipto, e vos conduzi, através do deserto, durante quarenta anos, a fim de vos dar a posse da terra dos amorreus. Suscitei profetas entre os vossos filhos, e nazireus entre os vossos jovens. Não é assim, filhos de Israel? – Oráculo do Senhor. Mas vós obrigastes os nazireus a beber vinho e proibistes os profetas de profetizarem. Pois bem! Eis que vos vou esmagar contra o solo como esmaga um carro bem carregado de feno. O homem ágil não poderá fugir, o forte em vão recorrerá à sua força, o valente não salvará a sua vida. O que maneja o arco não resistirá, nem o homem de pés ligeiros escapará, nem o cavaleiro salvará a sua vida. E o mais corajoso entre os valentes fugirá nu, naquele dia – oráculo do Senhor.» Ouvi esta palavra que o Senhor pronuncia contra vós, filhos de Israel, contra toda a família que fez subir do Egipto: «De todas as nações da terra, só a vós conheci. Por isso vos castigarei, por todas as vossas iniquidades.» Porventura andarão dois homens juntos, sem se terem posto de acordo? Porventura rugirá o leão na floresta, sem ter achado uma presa? Gritará o leãozinho no covil, sem ter lançado a garra a alguma coisa? Cairá uma ave no laço posto na terra, se o laço não estiver armado? Irá levantar-se a armadilha da terra, antes de ter apanhado alguma coisa? Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se assuste? Acontecerá alguma calamidade numa cidade, sem ser por disposição do Senhor? Porque o Senhor Deus nada faz sem revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas. O leão ruge: quem não temerá? O Senhor Deus fala: quem não profetizará? Apregoai isto nos palácios de Asdod e nos palácios da terra do Egipto. Dizei: «Juntai-vos sobre os montes da Samaria e vede quantas desordens há nesta cidade, que violências se praticam no seu interior! Eles não sabem agir rectamente, amontoam nos seus palácios o fruto de violências e de roubos» – oráculo do Senhor. Por isso, isto diz o Senhor Deus, «Eis o inimigo a cercar o país! Vai destruir a tua força, e os teus palácios serão saqueados. Isto diz o Senhor, «Como o pastor arranca da boca do leão duas pernas ou a ponta de uma orelha, assim serão salvos os filhos de Israel que habitam em Samaria, sentados no fundo de um divã, sobre almofadas de Damasco.» Ouvi isto e declarai-o à casa de Jacob – oráculo do Senhor Deus, Deus do universo: «No dia em que Eu punir Israel, por causa das suas transgressões, punirei também os altares de Betel: as hastes do altar serão partidas e cairão por terra. Derrubarei a residência de Inverno e a residência de Verão. Os palácios de marfim serão destruídos, as grandes casas serão arruinadas» – oráculo do Senhor. Ouvi esta palavra, vacas de Basan, que viveis na montanha da Samaria, vós, que oprimis os fracos e maltratais os pobres, vós, que dizeis a vossos maridos: «Traz e bebamos!» O Senhor Deus jurou pela sua santidade: «Eis que virão dias, para vós, em que vos arrastarão com ganchos, e à vossa posteridade, com arpões. Saireis pelas brechas, que cada uma tem diante de si, e sereis rejeitadas para o Hermon» – oráculo do Senhor. «Ide a Betel e prevaricai, em Guilgal multiplicai as transgressões! Oferecei cada manhã os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos todos os três dias. Queimai ofertas sem fermento em acção de graças, proclamai em público oblações voluntárias! Porque disso é que vós gostais, filhos de Israel – oráculo do Senhor Deus. Fui Eu que vos deixei ficar sem nada para comer, em todas as vossas cidades, e ficastes sem pão em todas as vossas localidades. Mas não voltastes para mim – oráculo do Senhor. Fui Eu também que vos suspendi a chuva, três meses antes da colheita: fiz que chovesse sobre uma cidade e sobre a outra não. Choveu num campo e no outro não choveu, e secou. Duas e três cidades foram a uma outra, vacilantes, para beber água, e não mataram a sede. Mas não voltastes para mim – oráculo do Senhor. Eu vos feri com o míldio e a ferrugem. Os vossos numerosos jardins, as vossas vinhas, as vossas figueiras e os vossos olivais foram devorados pelos gafanhotos. Mas não voltastes para mim – oráculo do Senhor. Enviei-vos uma peste semelhante à do Egipto, matei à espada os vossos jovens, deixei tomar os vossos cavalos como espólio. Fiz chegar ao vosso nariz o cheiro infecto do vosso acampamento. Mas não voltastes para mim – oráculo do Senhor. Causei no meio de vós uma confusão enorme semelhante à de Sodoma e Gomorra. Ficastes como um tição que se tira do fogo. Mas não voltastes para mim – oráculo do Senhor. Portanto, eis como te vou tratar, ó Israel! E como é assim que te vou tratar, prepara-te para comparecer diante do teu Deus, ó Israel! Aquele que formou os montes e criou os ventos, que revela aos homens os seus próprios pensamentos, que faz a aurora e as trevas, e caminha sobre as alturas da terra! O seu nome é o Senhor, Deus do universo!» Escutai estas palavras! É a lamentação que pronuncio sobre vós, casa de Israel! Caiu, e não tornará mais a levantar-se a virgem de Israel; jaz por terra, abandonada, e ninguém a levanta. Porque isto diz o Senhor Deus, «A cidade que mandava mil guerreiros, ficará reduzida a cem; aquela que mandava cem, ficará reduzida a dez, na casa de Israel.» Assim, pois, diz o Senhor à casa de Israel: «Buscai-me e vivereis! Não busqueis em Betel, nem entreis em Guilgal, nem vos dirijais a Bercheba. Porque Guilgal será levada cativa e Betel será aniquilada. Buscai o Senhor e vivereis. De contrário, enviará sobre a casa de José um fogo que a devorará, sem haver em Betel quem o apague. Convertem o direito em absinto e deitam por terra a justiça. Aquele que criou as Plêiades e o Orion, que muda as trevas na aurora e reduz o dia a noite escura, que convoca as águas do mar e as derrama sobre a face da terra: o seu nome é Senhor ! Ele lança a ruína sobre a fortaleza e a ruína atinge a praça fortificada.» «Eles detestam o que repreende no tribunal e odeiam o que fala com rectidão. Portanto, já que oprimis o pobre e lhe exigis o seu quinhão de trigo, não habitareis nestes palácios de pedra que construístes; não bebereis o vinho das vinhas excelentes que plantastes. Pois Eu conheço o grande número das vossas maldades e a enormidade dos vossos pecados. Sois opressores do justo, aceitais subornos e violais o direito dos pobres no tribunal. Por isso, o prudente cala-se neste tempo, porque este tempo é mau. Buscai o bem e não o mal, para que vivais, e o Senhor, Deus do universo, estará convosco, como vós dizeis. Detestai o mal, amai o bem, fazei reinar a justiça no tribunal. Talvez, então, o Senhor, Deus do universo, tenha compaixão do resto de José.» Isto diz o Senhor Deus do universo, o meu Senhor: «Por todas as praças soarão gritos de luto; em todas as ruas se ouvirá dizer: ‘Ai, ai!’ Os lavradores são convidados para este luto público, e para este pranto os que sabem cantos fúnebres. Haverá pranto em todas as vinhas, porque Eu passarei pelo meio de vós – diz o Senhor. Ai dos que desejam ver o Dia do Senhor ! Que será para vós o Dia do Senhor ? É um dia de trevas e não de luz. É como um homem que foge diante de um leão e encontra um urso; como o que, regressando a casa, apoia a mão na parede e é mordido por uma serpente. Não será, pois, o Dia do Senhor de trevas e não de luz, de escuridão e não de claridade?» «Eu detesto e rejeito as vossas festas; e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias. Se me ofereceis holocaustos e oblações, não as aceito, nem ponho os meus olhos nos sacrifícios das vossas vítimas gordas. Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, não quero ouvir mais a música das vossas harpas. Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca. Porventura, ó casa de Israel, ofereceste-me sacrifícios e oblações no deserto, durante quarenta anos? Mas levareis Sicut, vosso rei, e Quiun, vossos ídolos, estrela dos vossos deuses, que fabricastes para vós. Eu vos deportarei para além de Damasco» – diz o Senhor. Deus do universo é o seu nome. Ai dos que vivem comodamente em Sião e dos que vivem tranquilos no monte da Samaria, que se crêem chefes do povo mais importante e aos quais acorre a casa de Israel! Dirigi-vos a Calné e contemplai; e ide dali a Hamat, a grande; descei até Gat dos filisteus; sereis vós de melhor condição que esses reinos, ou o seu território será mais extenso que o vosso? Querendo afastar o dia mau, estais a aproximar-vos do reino da violência. Deitados em leitos de marfim, estendidos indolentemente nos seus divãs, comem os melhores cordeiros do rebanho e os novilhos mais gordos do estábulo. Folgam ao som da harpa, e, como David, inventam instrumentos de música. Bebem vinho por grandes copos, perfumam-se com óleos preciosos, sem se compadecerem da ruína de José. Por isso, irão deportados à frente dos cativos, e terá fim esse bando de voluptuosos. O Senhor Deus jurou por sua vida: «Oráculo do Senhor, Deus do universo! Detesto a soberba de Jacob, aborreço os seus palácios, e entregarei a cidade com tudo o que ela encerra. Se numa casa ficarem dez homens, também eles morrerão. Um parente e o encarregado do enterro irão retirar de casa os ossos, e um deles dirá ao que está no interior da casa: ‘Há aí mais alguém ainda?’ Aquele responderá: ‘Não!’ Então o outro dirá: ‘Silêncio! Não é ocasião de pronunciar o nome do Senhor.’» Eis que o Senhor dá ordens: «Fará cair em ruínas a casa grande, e em destroços a pequena. Porventura correm os cavalos por entre os rochedos? Ou pode lavrar-se o mar com bois? Entretanto, converteis o direito em veneno, e o fruto da justiça em absinto. Vós alegrais-vos por causa de Lodebar, e dizeis: ‘Não foi pela nossa força que conquistámos Carnaim?’ Mas, ó casa de Israel, oráculo do Senhor, Deus do universo – vou suscitar contra vós uma nação que há-de oprimir-vos desde a entrada de Hamat até à torrente da Arabá.» Isto me mostrou o Senhor Deus, apareceu uma nuvem de gafanhotos, no tempo em que a forragem começava a crescer. Era a forragem depois da ceifa, reservada ao rei. Quando os gafanhotos acabaram de comer a erva da terra, eu disse: «Senhor meu Deus, tem misericórdia! Como poderá resistir Jacob, sendo ele tão fraco?» OSenhor arrependeu-se. «Isto não acontecerá», disse o Senhor. O Senhor meu Deus mostrou-me ainda isto: o Senhor DEUS chamou o fogo para exercer a sua justiça. O fogo, tendo devorado o grande abismo, consumiu também os campos. Então, eu disse: «Senhor Deus, aplaca-te! Como poderá resistir Jacob, sendo ele tão fraco?» O Senhor arrependeu-se. «Pois também isto não há-de acontecer» – disse o Senhor Deus. O Senhor também me mostrou isto: Ele estava de pé sobre um muro e tinha na mão um fio-de-prumo. O Senhor disse-me: «Que vês tu, Amós?» Respondi: «Um fio-de-prumo.» Então, disse o meu Senhor: «Eis que vou verificar o meu povo, Israel, a fio-de-prumo, e não lhe perdoarei mais. Os lugares altos de Isaac serão derrubados, os santuários de Israel serão destruídos; hei-de levantar-me com a espada contra a casa de Jeroboão.» Amacias, sacerdote de Betel, mandou dizer a Jeroboão, rei de Israel: «Amós conspira contra ti, no meio da casa de Israel. A terra não pode suportar mais os seus oráculos. Pois Amós disse o seguinte: ‘Jeroboão morrerá pela espada e Israel será deportado para longe da sua terra.’» Amacias disse, então, a Amós: «Sai daqui, vidente, foge para a terra de Judá e come lá o teu pão, profetizando. Mas não continues a profetizar em Betel, porque aqui é o santuário do rei e o templo do reino.» Amós respondeu a Amacias: «Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor e cultivava frutos de sicómoros. O Senhor pegou em mim, quando eu andava atrás do meu rebanho, e disse-me: ‘Vai, e profetiza ao meu povo de Israel’. Ouve, pois, agora, a palavra do Senhor, Tu dizes-me: ‘Não profetizes contra Israel, nem profiras oráculos contra a casa de Isaac.’ Por isso, diz o Senhor, ‘A tua mulher será desonrada na cidade, os teus filhos e as tuas filhas cairão à espada, e a tua terra será repartida a cordel; tu morrerás numa terra impura, e Israel será levado cativo para longe da sua terra!’» Eis o que me mostrou o Senhor Deus, vi uma cesta de frutos maduros. O Senhor perguntou-me: «Que vês tu, Amós?» Respondi: «Uma cesta de frutos maduros.» Ele replicou: «Chegou o fim de Israel, meu povo. Não lhe perdoarei por mais tempo. Naquele dia, os cânticos do palácio serão gritos de aflição – oráculo do Senhor Deus. Serão muitos os cadáveres lançados em qualquer parte. Silêncio!» Ouvi isto, vós que esmagais o pobre e fazeis perecer os desfavorecidos da terra, dizendo: «Quando passará a Lua-nova, para vendermos o nosso trigo, e o sábado, para abrirmos os nossos celeiros, diminuindo o efá, aumentando o siclo e falseando a balança para defraudar? Compraremos os necessitados por dinheiro e o pobre por um par de sandálias, e venderemos até as alimpas do nosso trigo.» O Senhor jurou contra a soberba de Jacob: «Não esquecerei jamais nenhuma das suas obras.» «Não tremerá a terra por causa disto? E não chorará toda a sua população? Todo o solo crescerá como o Nilo, subirá e baixará como o rio do Egipto. Naquele dia – oráculo do Senhor meu Deus farei com que o Sol se ponha ao meio-dia, e em pleno dia cobrirei a terra de trevas. Converterei as vossas festas em luto e os vossos cânticos em lamentações. Porei o cilício sobre todos os rins, e a navalha sobre todas as cabeças. O luto será como o que se faz por um filho único, e o seu fim, um dia de amargura. Eis que vêm dias – oráculo do Senhor Deus em que lançarei fome sobre o país. Não será fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor. Vaguearão de um mar a outro mar, indo à toa desde o Norte até ao Oriente, à procura da palavra do Senhor, e não a encontrarão. Naquele dia, desfalecerão à sede as donzelas formosas e os jovens. Os que juram pelo pecado da Samaria e dizem: ‘Viva o teu deus, Dan!’, ‘Viva o teu protector, Bercheba!’ Esses cairão e nunca mais hão-de levantar-se.» Vi o Senhor de pé, sobre o altar. Ele disse-me: «Bate no capitel e tremerão os umbrais. Fá-los cair sobre a cabeça de todos; os que restarem hei-de matá-los à espada. Ninguém poderá fugir, nem um só deles escapará. Ainda que desçam à morada dos mortos, a minha mão os tirará de lá; ainda que subam aos céus, de lá os farei descer; se se esconderem no cimo do Carmelo, Eu os irei buscar e de lá os tirarei; se se esconderem dos meus olhos no fundo do mar, ordenarei à Serpente que os morda. Se se entregarem como cativos pelos inimigos, ordenarei à espada que os mate. Terei os meus olhos fixos neles para seu mal, e não para seu bem.» O Senhor Deus do universo toca a terra e ela treme, e todos os seus habitantes ficam de luto. O chão aumenta de volume como o Nilo, e decresce como o rio do Egipto. Ele construiu nos céus a sua morada e fundou a sua abóbada sobre a terra. Ele convoca as águas do mar e derrama-as sobre a face da terra. Senhor é o seu nome.» «Porventura não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos dos cuchitas? oráculo do Senhor. Acaso, não fiz subir Israel da terra do Egipto, os filisteus de Caftor, e os arameus de Quir? Eis que os olhos do Senhor Deus estão abertos sobre o reino que peca; hei-de exterminá-lo da face da terra. Mas não destruirei completamente a casa de Jacob oráculo do Senhor, porque vou dar ordem, vou sacudir a casa de Israel entre todas as nações, como se sacode o grão no crivo, sem que um só grão caia por terra. Todos os pecadores do meu povo morrerão à espada, eles que dizem: ‘Não seremos atingidos, o mal não virá sobre nós.’» «Naquele dia, levantarei a cabana arruinada de David, repararei as suas brechas, restaurarei as suas ruínas; hei-de reconstruí-la como nos dias antigos, para que conquistem o resto de Edom e de todas as nações sobre as quais o meu nome foi invocado – oráculo do Senhor, que cumprirá todas estas coisas. Eis que vêm dias –oráculo do Senhor em que o lavrador seguirá de perto o ceifeiro e o que pisa os cachos seguirá o semeador. Os montes destilarão mosto; todas as colinas se derreterão. Restaurarei o meu povo de Israel. Hão-de reconstruir e habitar as cidades devastadas. Plantarão vinhas e beberão do seu vinho, cultivarão pomares e comerão dos seus frutos. Hei-de plantá-los na sua terra, e nunca mais serão arrancados da terra que lhes dei!» – diz o Senhor, teu Deus. Visão de Abdias. Eis o que diz o Senhor Deus a respeito de Edom: Recebemos do Senhor uma mensagem, um arauto foi enviado às nações: «Levantai-vos, marchemos contra essa gente! Ao ataque!» Eis que vou tornar-te pequena e profundamente desprezível entre as nações. A soberba do teu coração transviou-te, a ti que moras nas fendas dos rochedos, numa morada inacessível, e dizes no teu coração: «Quem me fará cair por terra?» Ainda que te eleves tão alto como a águia e ponhas o ninho entre os astros, hei-de precipitar-te. oráculo do Senhor. Se os ladrões entrassem em tua casa ou salteadores da noite, não levariam só o necessário? Se vindimadores entrassem na tua vinha, não deixariam rebusco? Como foste saqueado, Esaú! Como foram revistados os teus esconderijos! Foste expulso até à fronteira por todos os teus aliados. Enganaram-te e derrotaram-te os teus amigos, os teus comensais armadilharam os teus passos, e não o percebeste! Eis que naquele dia – oráculo do Senhor farei perecer os sábios de Edom, os inteligentes da montanha de Esaú! Também os teus soldados se acobardarão, ó Teman, pois todo o homem será exterminado da montanha de Esaú. Por causa do morticínio, da violência contra teu irmão Jacob, cobrir-te-á a vergonha e serás exterminado para sempre. No dia em que estavas presente, no dia em que estrangeiros capturavam o seu exército, quando estranhos invadiam a cidade e lançavam sorte sobre Jerusalém, tu eras como um deles. «Não desfrutes do dia do teu irmão, do dia do seu infortúnio. Não te alegres à custa dos filhos de Judá, no dia da sua perdição. Não fales com arrogância, no dia da tribulação. Não entres pelas portas do meu povo, no dia da sua ruína. Não desfrutes tu também da sua desgraça, no dia da sua ruína. Não deites a mão às suas riquezas, no dia da sua ruína. Não te ponhas nas encruzilhadas para matares os que escaparem; não entregues os sobreviventes, no dia da tribulação.» Porque o Dia do Senhor está perto, ameaçador para todas as nações. Como tiveres feito assim se fará contigo; o que praticares recairá sobre a tua cabeça. Assim como bebestes sobre o meu monte santo assim beberão todas as nações, sem cessar; beberão, sorverão e serão como se nunca tivessem sido. Mas sobre o monte Sião haverá um resto de sobreviventes que será santo, e os da casa de Jacob despojarão aqueles que os despojarem. A casa de Jacob será um fogo e a casa de José, uma chama. Esaú será palha seca consumida e devorada por aquelas. Não haverá sobrevivente da casa de Esaú porque o Senhor assim o disse. Os do Négueb ocuparão as montanhas de Esaú, os da planície tomarão a terra dos filisteus. Ocuparão o território de Efraim e o território da Samaria, e Benjamim possuirá Guilead. Os deportados deste exército, os filhos de Israel ocuparão as terras dos cananeus até Sarepta. Os deportados de Jerusalém que estão em Sefarad possuirão as cidades do Négueb. Subirão vitoriosos a montanha de Sião para julgar a montanha de Esaú; e o reino pertencerá ao Senhor. A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, nestes termos: «Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade, e anuncia-lhe que a sua maldade subiu até à minha presença.» Jonas pôs-se a caminho, mas na direcção de Társis, fugindo da presença do Senhor. Desceu a Jafa, onde encontrou um navio que partia para Társis; pagou a sua passagem e embarcou nele para ir com os outros passageiros a Társis, longe da presença do Senhor. Porém, o Senhor fez vir sobre o mar um vento impetuoso, e levantou no mar uma tão grande tempestade que a embarcação ameaçava despedaçar-se. Cheios de medo, os marinheiros puseram-se a invocar cada um o seu deus e alijaram ao mar toda a carga do navio para, assim, o aliviar. Entretanto Jonas tinha descido ao porão do navio e, deitando-se ali, dormia profundamente. O capitão do navio foi ter com ele e disse-lhe: «Dormes? Que fazes aqui? Levanta-te, invoca o teu Deus, a ver se porventura se lembra de nós e nos livra da morte.» Em seguida disseram uns para os outros: «Vinde e deitemos sortes, para sabermos quem é a causa deste mal.» Lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Disseram-lhe então: «Diz-nos porque nos aconteceu este mal. Qual é a tua profissão? Donde vens? Qual a tua terra e a que povo pertences?» Ele respondeu-lhes: «Sou hebreu e adoro o Senhor, Deus do céu, que fez os mares e a terra.» Então, aqueles homens ficaram possuídos de grande medo, e disseram-lhe: «Porque fizeste isto?» Com efeito, compreenderam, ao ouvir a confissão de Jonas, que ele fugia do Senhor. Disseram-lhe: «Que te havemos de fazer para que o mar se nos acalme?» De facto, o mar estava cada vez mais embravecido. Ele respondeu-lhes: «Pegai em mim e lançai-me ao mar, e o mar se acalmará, porque por minha causa é que vos sobreveio esta grande tempestade.» Os homens remavam para ver se conseguiam chegar a terra, mas em vão, porque o mar cada vez se embravecia mais contra eles. Então clamaram ao Senhor, dizendo: «Senhor, não nos faças perecer por causa da vida deste homem, nem nos tornes responsáveis do sangue inocente, porque Tu, ó Senhor, fizeste como foi do teu agrado.» Depois pegaram em Jonas e lançaram-no ao mar; e a fúria do mar acalmou-se. Então, estes homens temeram o Senhor; ofereceram um sacrifício ao Senhor e fizeram-lhe votos. O Senhor fez com que ali aparecesse um grande peixe para engolir Jonas; e Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe. Jonas fez esta oração ao Senhor, seu Deus, do ventre do peixe, dizendo: «Na minha aflição invoquei o Senhor, e Ele ouviu-me. Clamei a ti do meio da morada dos mortos, e Tu ouviste a minha voz. Lançaste-me ao abismo, ao seio dos mares, e as correntes das águas envolveram-me. Todas as tuas vagas e todas as tuas ondas passaram por cima de mim. E eu já dizia: ‘Fui rejeitado diante dos teus olhos. Acaso me será dado ver ainda o teu santo templo?’ As águas me cercaram até ao pescoço, o abismo envolveu-me, as algas pegavam-se à minha cabeça; desci até às raízes das montanhas, até à terra cujos ferrolhos me prendem para sempre. Mas Tu, Senhor, meu Deus, salvaste a minha alma do sepulcro. Quando desfalecia a minha alma, lembrei-me do Senhor; a minha oração chegou junto de ti, até ao teu santo templo. Os que se entregam a ídolos vãos abandonam a sua fidelidade. Eu, porém, oferecer-te-ei sacrifícios, com cânticos de louvor e cumprirei os votos que tiver feito, pois do Senhor vem a salvação.» Então, o Senhor ordenou ao peixe e este vomitou Jonas em terra firme. A palavra do Senhor foi dirigida pela segunda vez a Jonas, nestes termos: «Levanta-te e vai a Nínive, à grande cidade e apregoa nela o que Eu te ordenar.» Jonas levantou-se e foi a Nínive, segundo a ordem do Senhor. Nínive era uma cidade imensamente grande, e eram precisos três dias para a percorrer. Jonas entrou na cidade e andou um dia inteiro a apregoar: «Dentro de quarenta dias Nínive será destruída.» Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, ordenaram um jejum e vestiram-se de saco, do maior ao menor. A notícia chegou ao conhecimento do rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou o seu manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a cinza. Em seguida, foi publicado na cidade, por ordem do rei e dos príncipes, este decreto: «Os homens e os animais, os bois e as ovelhas não comam nada, não sejam levados a pastar nem bebam água. Os homens e animais cubram-se de roupas grosseiras, e clamem a Deus com força; converta-se cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se Deus não se arrependerá e acalmará o ardor da sua ira, de modo que não pereçamos?» Deus viu as suas obras, como se convertiam do seu mau caminho, e, arrependendo-se do mal que tinha resolvido fazer-lhes, não lho fez. Jonas ficou profundamente aborrecido com isto e, muito irritado, dirigiu ao Senhor esta oração: «Ah! Senhor! Porventura não era isto que eu dizia quando ainda estava na minha terra? Por isso é que, precavendo-me, quis fugir para Társis, porque sabia que és um Deus misericordioso e clemente, paciente, cheio de bondade e pronto a renunciar aos castigos. Agora, Senhor, peço-te que me mates, porque é melhor para mim a morte que a vida.» O Senhor respondeu-lhe: «Julgas que tens razão para te afligires assim?» Jonas saiu da cidade e sentou-se a oriente da mesma. Ali fez para si uma cabana e sentou-se à sua sombra, para ver o que ia acontecer na cidade. O Senhor Deus fez crescer um rícino, que se levantou acima de Jonas, para fazer sombra à sua cabeça e o proteger do Sol. Jonas alegrou-se grandemente por aquele rícino. Ao outro dia, porém, ao romper da manhã, enviou Deus um verme que roeu as raízes do rícino, e este secou. Quando o Sol se levantou, Deus fez soprar um vento quente do oriente, e o Sol enviou os seus raios sobre a cabeça de Jonas, de forma que ele, desfalecido, desejou a morte e disse: «Melhor é para mim morrer do que viver.» Então Deus disse a Jonas: «Julgas tu que tens razão para te indignares por causa deste rícino?» Jonas respondeu: «Sim, tenho razão para me indignar até desejar a morte.» Disse-lhe Deus: «Sentes pena de um rícino que não te custou trabalho algum para o fazeres crescer, que nasceu numa noite, e numa noite pereceu! E não hei-de Eu compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e um grande número de animais?» Palavra do Senhor, dirigida a Miqueias de Moréchet, nos dias de Jotam, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá. Visões que teve relativas à Samaria e a Jerusalém. Povos, ouvi todos! Esteja atenta a Terra e tudo o que ela contém! O Senhor Deus vai testemunhar contra vós, Ele próprio, desde o seu santo templo. O Senhor vai sair da sua morada, vai descer e pisar as alturas da terra. À sua passagem, fundem-se os montes, e os vales derretem-se como a cera diante do fogo, como as águas que escorrem por uma encosta. E tudo isto por causa da infidelidade de Jacob, e dos pecados da casa de Israel. Qual é a infidelidade de Jacob? Não é a Samaria? E quais os lugares altos de Judá? Não é Jerusalém? Farei da Samaria como um montão de pedras no campo, um terreno para plantar vinhas. Farei rolar as suas pedras no fundo do vale e descobrirei os seus fundamentos. Todas as suas estátuas serão quebradas, todos os seus ganhos de prostituição serão queimados pelo fogo; destruirei todos os seus ídolos, pois ela juntou tudo isso como preço de prostituição, e em preço de prostituição será convertido. Por causa disto, chorarei e soltarei gritos, andarei descalço e nu; soltarei gemidos como os chacais, e lamentos como as avestruzes. Com efeito, a chaga da Samaria é incurável, pois chegou até Judá; entrou até à porta do meu povo, até Jerusalém. Não o anuncieis em Gat, não choreis em Boco! Revolvei-vos no pó em Bet-Leafra! Fazei ressoar a trombeta, habitantes de Chafir! Nus e envergonhados, não saem os habitantes de Saanan! Há luto em Bet-Écel, privada do seu fausto. Como pode o habitante de Marot esperar a salvação, se a desgraça é enviada pelo Senhor e atinge as portas de Jerusalém? Atrela o cavalo ao carro, habitante de Láquis! Ali começou o pecado para a filha de Sião, porque em ti se acharam as maldades de Israel. Dai oferta de repúdio a Moréchet-Gat. As casas de Aczib serão apoio enganador para os reis de Israel. De novo mandarei contra ti o conquistador, ó habitante de Marecha; a glória de Israel fugirá até Adulam. Corta os cabelos, rapa a cabeça, por causa dos teus filhos queridos; torna-te calva como o abutre, pois foram exilados para longe de ti. Ai dos que planeiam a iniquidade, dos que maquinam o mal em seus leitos e o executam logo ao amanhecer do dia, porque têm o poder na sua mão! Cobiçam as terras e apoderam-se delas, cobiçam as casas e roubam-nas; fazem violência ao homem e à sua família, ao dono e à sua herança. Por isso, assim fala o Senhor, «Tenho planeado um mal contra esta raça, do qual não livrareis o pescoço. Não andareis mais com a cabeça erguida, porque será tempo calamitoso. Naquele dia será composta sobre vós uma sátira, e cantar-se-á uma elegia: ‘Estamos perdidos completamente, a parte do meu povo passa a outros. Ninguém a restituirá. Roubam e distribuem os nossos campos.’ Por isso, não terás ninguém que meça com cordel as porções, na assembleia do Senhor.» «Não profetizeis – dizem eles – não se profetize mais assim, dizendo: ‘A desonra não se afastará.’ A casa de Jacob está amaldiçoada? O Senhor perdeu a paciência? É esta a sua forma de agir? Não são as suas palavras cheias de bondade para com quem procede rectamente? Outrora, o meu povo levantava-se contra o inimigo. Agora, retirais a capa e a túnica aos que passam em segurança, ao regressarem da guerra. Expulsais as mulheres do meu povo dos seus lares queridos, e dos seus filhos retirais o meu esplendor para sempre. Levantai-vos e parti! Pois não é lugar de repouso. Por causa da impureza será destruído e a destruição será terrível. Se alguém lançasse palavras ao vento e dissesse mentindo: ‘Vou profetizar-te vinho e outras bebidas’, esse seria um profeta para este povo. Eu te reunirei, ó Jacob, todo inteiro; congregarei o resto de Israel. Porei tudo junto, como ovelhas no aprisco, como um rebanho no meio da pastagem, ruidosa multidão de homens. Aquele que lhes abre o caminho subiu diante deles; eles abriram uma saída, passaram uma porta e saíram por ela; o seu rei passou diante deles, o Senhor, à sua frente.» Então, eu disse: «Ouvi, dirigentes de Jacob, e vós, chefes da casa de Israel: porventura, não devíeis saber o que é justo?» Aborrecem o bem e amam o mal, arrancam-lhes a pele e a carne dos ossos. Devoraram a carne do meu povo, arrancaram-lhe a pele e roeram-lhe os ossos, fizeram-no em pedaços como na marmita, como carne dentro da caçarola. Então clamarão ao Senhor, mas Ele não lhes responderá. Esconder-lhes-á a sua face nesse dia, por causa da malícia que puseram nas suas obras. Assim fala o Senhor contra os profetas que desencaminham o seu povo: ‘Quando têm alguma coisa para mastigar, anunciam a paz. Mas declaram guerra santa àquele que não lhes põe nada na boca.’ Por isso, em lugar de visões, tereis a noite, e trevas, em vez de adivinhações. Pôr-se-á o Sol sobre os profetas, para eles se obscurecerá o dia. Serão confundidos os videntes, envergonhados os adivinhos. Todos esconderão a boca, porque Deus deixará de lhes falar. Eu, porém, estou cheio de força, do espírito do Senhor, da justiça e da fortaleza, para anunciar a Jacob a sua maldade, e a Israel o seu pecado. Ouvi isto, dirigentes da casa de Jacob, e chefes da casa de Israel, que aborreceis a justiça, e entortais tudo o que é recto, que edificais Sião com o sangue, e Jerusalém com o crime. Os seus chefes dão sentenças por suborno, os seus sacerdotes só ensinam mediante salário, os seus profetas vaticinam por dinheiro. Apoiam-se no Senhor, dizendo: «Não está o Senhor no meio de nós? A desgraça não nos atingirá!» Por isso, por vossa causa, Sião será lavrada como um campo, Jerusalém será reduzida a um monte de pedras, e o monte do templo será um outeiro na floresta. Acontecerá no fim dos tempos: o monte da casa do Senhor será estabelecido no cimo dos montes, e se elevará sobre as colinas. Os povos acorrerão a ele. E numerosas nações ali afluirão, dizendo: «Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacob. Ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos pelas suas veredas.» Pois de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor. Ele será juiz de numerosas nações e árbitro de povos longínquos e poderosos. Eles converterão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças em foices; um povo não levantará mais a espada contra outro, e não aprenderão mais a fazer guerra. Cada um repousará debaixo da sua parreira e da sua figueira, sem que ninguém o amedronte. Pois foi o Senhor do universo que falou. Com efeito, todos os povos caminham em nome do seu deus; nós, porém, caminharemos, em nome do Senhor, nosso Deus, para sempre. Naquele dia, recolherei os coxos, reunirei os dispersos, e os que Eu tinha afligido oráculo do Senhor. Dos estropiados farei um resto, e dos fatigados, um povo poderoso. O Senhor reinará sobre eles no monte Sião, desde agora e para sempre. Mas tu, Torre do Rebanho, Fortaleza da filha de Sião, para ti há-de voltar a soberania de outrora, a realeza da filha de Jerusalém. E agora, porque gritas? Porventura não tens rei, ou pereceu o teu conselheiro, para que se tenham apoderado de ti dores como as de uma parturiente? Contorce-te de dores e geme, filha de Sião, como uma mulher que dá à luz, porque agora sairás da cidade e habitarás nos campos; irás até Babilónia, lá encontrarás a salvação. Lá te resgatará o Senhor da mão dos teus inimigos. Agora, juntaram-se contra ti numerosas nações. Elas dizem: «Seja profanada, e os nossos olhos vejam a ruína de Sião!» Mas elas não conhecem os desígnios do Senhor, não entendem o seu plano de os juntar como feixes na eira. Levanta-te, filha de Sião, e trilha o grão, porque Eu farei de ferro os teus chifres, e de bronze os teus cascos, para esmagares numerosos povos, e consagrares ao Senhor os seus despojos e as suas riquezas, ao Senhor de toda a terra. E agora faz em ti própria incisões, filha da incisão. Fizeram um cerco contra nós; com a vara bateram na face do juiz de Israel. Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que me há-de sair aquele que governará em Israel. As suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias de um passado longínquo. Por isso, Deus abandonará o seu povo até ao tempo em que der à luz aquela que há-de dar à luz, e em que o resto dos seus irmãos há-de voltar para junto dos filhos de Israel. Ele permanecerá firme e apascentará o seu rebanho com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor, seu Deus. Estarão tranquilos, porque ele será grande até aos confins da terra. Ele próprio será a paz. Se a Assíria vier ao nosso país e calcar aos pés os nossos palácios, opor-lhe-emos sete pastores e oito governadores de homens. Apascentarão com a espada a Assíria, e com as suas lanças a terra de Nimerod. Ele nos livrará da Assíria, quando esta invadir o nosso país e calcar aos pés o nosso território. Então o resto de Jacob, no meio de muitos povos, será como um orvalho que vem do Senhor, como a água da chuva que cai sobre a erva. Nada tem a esperar do homem, nem conta para nada com os filhos dos homens. O resto de Jacob entre as nações, no meio de numerosos povos, será como um leão entre os animais da floresta, como um leãozinho entre os rebanhos de ovelhas, o qual, quando passa, esmaga e despedaça a presa, sem ter quem lha retire. Que a tua mão se levante contra os teus adversários e que todos os teus inimigos sejam eliminados. «Naquele dia, eliminarei os teus cavalos do meio de ti, destroçarei os teus carros de combate – oráculo do Senhor; eliminarei as cidades do teu país e destruirei todas as tuas fortalezas. Eliminarei das tuas mãos os sortilégios, não haverá mais adivinhos em ti. Eliminarei do meio de ti os teus ídolos e estelas, e deixarás de adorar a obra das tuas mãos. Arrancarei da tua terra os troncos sagrados e destruirei as tuas cidades. Com furor e indignação me vingarei das nações que não obedeceram». Ouvi o que diz o Senhor, «Levanta-te! Advoga a tua causa diante das montanhas, e ouçam as colinas a tua voz! Ouvi, ó montanhas, o processo do Senhor, prestai atenção, fundamentos da terra! Porque o Senhor entrou em litígio com o seu povo, e vai litigar com Israel: ‘Povo meu, que te fiz Eu, em que te contristei? Responde-me. Fiz-te subir da terra do Egipto, livrei-te da casa da escravidão e enviei, diante de ti, Moisés, Aarão e Míriam. Povo meu, lembra-te dos planos de Balac, rei de Moab, e a resposta que lhe deu Balaão, filho de Beor, aquando da expedição desde Chitim a Guilgal, para que reconheças os prodígios do Senhor.’» Com que me apresentarei ao Senhor, e me prostrarei diante do Deus excelso? Irei à sua presença com holocaustos, com novilhos de um ano? Porventura o Senhor receberá com agrado milhares de carneiros ou miríades de torrentes de azeite? Hei-de sacrificar-lhe o meu primogénito pelo meu crime, o fruto das minhas entranhas pelo meu próprio pecado? Já te foi revelado, ó homem, o que é bom, o que o Senhor requer de ti: nada mais do que praticares a justiça, amares a lealdade e andares humildemente diante do teu Deus. A voz do Senhor interpela a cidade: «É sabedoria reconhecer o seu nome. Ouve, tribo, ouve, assembleia da cidade. Acaso vou Eu suportar a casa do ímpio, os tesouros da iniquidade e o maldito efá diminuído? Pode ser-se inocente com balanças falsas e com um saco de pesos enganosos? Os seus ricos são homens violentos, e os habitantes proferem mentiras. A sua língua é impostura na sua boca. Por isso, vou começar a ferir-te e a devastar-te por causa dos teus pecados. Comerás e não te saciarás; a fome reinará na tua casa; porás os teus bens em lugar seguro, mas não os salvarás, e os que salvares, Eu os entregarei à espada. Semearás e não colherás, pisarás a azeitona, mas não terás azeite com que te ungir; pisarás os cachos, mas não beberás o vinho. Observaste os preceitos de Omeri e todas as práticas da casa de Acab; seguiste os seus conselhos, de modo que Eu farei de ti uma devastação, e dos teus moradores, objecto de escárnio, e suportareis a desonra do meu povo.» Ai de mim! Porque me tornei como resto dos frutos da colheita do Outono, como o que resta depois de feita a vindima! Não há mais uvas para comer, nenhum desses figos temporãos de que tanto gosto. Desapareceram da terra os justos, não há ninguém íntegro. Todos andam à espreita, para derramarem sangue, cada um arma laços ao seu irmão. O mal é o que as suas mãos fazem bem: o príncipe exige, o juiz julga por interesse, o grande manifesta abertamente a sua cobiça, e tecem intrigas. O melhor de entre eles é como um tojo, o mais justo, como uma sebe de espinhos. Chega o dia do teu castigo anunciado pelos teus vigias; agora será a sua confusão. Não confieis no próximo, não ponhais a vossa confiança num amigo; mesmo àquela que dorme nos teus braços não abras a tua boca, porque o filho trata o seu pai como louco, a filha levanta-se contra sua mãe, a nora contra a sogra, e os inimigos são os da própria casa. Eu, porém, tenho confiança no Senhor, ponho a minha esperança no Deus da minha salvação. O meu Deus me ouvirá. Não te alegres, inimiga minha, a meu respeito: se caí, levanto-me; se estou sentado nas trevas, o Senhor é minha luz. Suportarei a ira do Senhor, porque tenho pecado contra Ele, até que Ele tome nas suas mãos a minha causa e me faça justiça; Ele me conduz para a luz e eu contemplarei a sua justiça. A minha inimiga verá isto e ficará coberta de confusão, ela que me dizia: «Onde está o Senhor teu Deus?» Os meus olhos hão-de contemplá-la quando ela for pisada aos pés, como a lama das ruas. Aproxima-se o dia em que os teus muros serão reconstruídos; nesse dia, as tuas fronteiras serão alargadas. Nesse dia, virão a ti desde a Assíria até ao Egipto, desde o Egipto até ao rio, de um mar ao outro, de uma montanha à outra. A terra será devastada, por causa dos seus habitantes e do fruto das suas obras. Apascenta com o cajado o teu povo, o rebanho da tua herança, os que habitam isolados nas florestas no meio dos prados. Sejam eles apascentados em Basan e Guilead, como nos dias antigos. Mostra-nos os teus prodígios, como nos dias em que nos fizeste sair do Egipto. As nações os verão e serão confundidas, apesar de todo o seu poder. Hão-de pôr a mão na sua boca, e seus ouvidos ficarão surdos. Hão-de lamber o pó, como as serpentes, como os vermes da terra; sairão das suas cidadelas a tremer, amedrontadas e temerosas, diante de ti, Senhor, nosso Deus. Qual é o Deus que, como Tu, apaga a iniquidade e perdoa o pecado do resto da sua herança? Não se obstina na sua cólera, porque prefere a bondade. Uma vez mais, terá compaixão de nós, apagará as nossas iniquidades e lançará os nossos pecados ao fundo do mar. Mostrarás a tua fidelidade a Jacob, e a tua bondade a Abraão, como juraste a nossos pais, desde os tempos antigos. Oráculo sobre Nínive. Livro da visão de Naum, de Elcós. O Senhor é um Deus zeloso e vingador. O Senhor é um vingador irascível. O Senhor vinga-se dos seus adversários e trata com rigor os seus inimigos. O Senhor é paciente e grande em poder, mas a ninguém deixa impune. Move-se na tempestade e no vento impetuoso, as nuvens são a poeira dos seus pés. Ele ameaça o mar e seca-o, extingue todos os rios. Fenecem Basan e o Carmelo, murcham as flores do Líbano. Os montes tremem diante dele e as colinas desaparecem. A terra agita-se na sua presença, o mundo e todos os seus habitantes. Quem resistirá à sua indignação? E quem aguentará o ardor da sua ira? O seu furor espalha-se como fogo, e as rochas fendem-se diante dele. O Senhor é bom, é um refúgio no dia da tribulação e conhece os que se refugiam nele. Como uma inundação impetuosa Ele destruirá este lugar e lançará os seus inimigos nas trevas. Que planeais contra o Senhor? Ele vai consumar a ruína, o desastre não acontecerá duas vezes. Entrelaçados como espinhos, ébrios do seu vinho, serão consumidos como palha bem seca. De ti saiu quem pensa mal contra o Senhor, quem trama desígnios perversos. Assim fala o Senhor, «Por mais fortes e numerosos que sejam, ainda assim serão aniquilados e desaparecerão. Eu afligi-te, mas não te afligirei mais. Agora vou quebrar o jugo que pesa sobre ti, vou desfazer as tuas cadeias.» O Senhor decretou contra ti: «Descendência alguma levará mais o teu nome, farei desaparecer do templo dos teus deuses as imagens de madeira e de metal. Vou preparar-te um sepulcro, porque és desprezível.» Eis sobre os montes os pés do mensageiro que traz notícias de paz. Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre os teus votos, porque o ímpio não passará mais pela tua terra; está completamente destruído. Um destruidor avança contra ti. Guarda a fortaleza, vigia o caminho, fortifica os teus rins, reúne todo o teu vigor. Porque o Senhor restabelece o esplendor de Jacob, assim como o esplendor de Israel; pois os saqueadores despojaram e destruíram os seus sarmentos. O escudo dos seus combatentes é vermelho. Os guerreiros estão vestidos de púrpura. Os carros de guerra avançam cintilantes no dia em que são postos em linha. Há brandir de lanças. Os carros avançam furiosamente pelas ruas, precipitam-se sobre as praças. O seu aspecto é como de fachos ardentes, lançam-se como relâmpagos. Ele lembra-se dos seus valentes guerreiros, mas estes tropeçam na sua marcha. Precipitam-se sobre os muros, e o abrigo é preparado. As portas dos rios são abertas, e o palácio cai arruinado. A rainha é desnudada e deportada, as suas servas gemem como pombas e batem no peito. Nínive é como um tanque de águas, mas de águas que fogem. «Parai! Parai aí!» Mas ninguém volta para trás. Saqueai a prata, saqueai o ouro; são inumeráveis os seus tesouros, está cheia de objectos preciosos. Roubo, pilhagem, devastação! O coração desfalece, os joelhos vacilam, a dor oprime todos os rins; todos os rostos estão pálidos. Onde está agora o covil de leões, o pasto de leõezinhos, onde se recolhiam o leão, a leoa e as suas crias, sem que ninguém os incomodasse? O leão arrebatava para os seus filhos e estrangulava para as suas leoas; enchia de presas as suas covas e de despojos as suas cavernas. Eis-me contra ti, diz o Senhor do universo. «Reduzirei os teus carros a fumo, a espada devorará os teus leõezinhos; porei fim às tuas rapinas na terra e não se ouvirá mais a voz dos teus mensageiros.» Ai da cidade sanguinária, cheia de fraude, de violência e de contínuas rapinas! Ruído de chicotes, barulho de rodas, cavalos a galope, movimento de carros! Ginetes ao assalto, espadas que reluzem, lanças que cintilam, multidão de feridos! Mortos em massa, cadáveres sem fim! Tropeça-se nos seus cadáveres. Por causa das prostituições sem conta, da hábil feiticeira, cheia de encantos, que enganava os povos com as suas prostituições, e as nações com os seus sortilégios. Aqui estou contra ti, diz o Senhor do universo. Eu te deixarei nua, levantando até ao rosto os teus vestidos, para mostrar a tua nudez às nações, e aos reinos a tua vergonha. Cobrir-te-ei de imundície e de infâmia, hei-de expor-te como espectáculo. Todos os que te virem, fugirão de ti, dizendo: «Nínive está devastada! Quem se compadecerá dela? Onde irei buscar quem te reconforte?» És, porventura, melhor do que Nó-Amon, instalada entre os canais do Nilo, rodeada de águas, tendo o mar por defesa e as águas por muralhas? A Etiópia era a sua força, e o Egipto, de população inumerável; Put e os líbios eram os seus aliados. Pois também ela foi deportada, foi para o exílio; os seus filhos foram esmagados nas esquinas de todas as ruas; deitaram sortes sobre os seus nobres, e todos os seus chefes foram acorrentados. Também tu te embriagarás, serás aquela que se esconde, também tu procurarás um refúgio contra o inimigo. Todas as tuas fortalezas são como figueiras com figos temporãos; quando são sacudidos, caem para a boca de quem os quiser comer. Vê: os teus guerreiros são como mulheres, no meio de ti, contra o inimigo. As portas do teu território estão abertas de par em par; o fogo consome os teus ferrolhos. Abastece-te de água para o cerco, fortifica as tuas defesas, pisa o barro, amassa a argila, pega no molde dos tijolos. Ali te devorará o fogo, a espada te exterminará. Devorar-te-á como o gafanhoto. Ainda que fosses tão numeroso como o gafanhoto e te multiplicasses como o saltão; ainda que os teus negociantes fossem mais numerosos do que as estrelas do céu, o gafanhoto abre as asas e voa. Os teus guardas são como gafanhotos, os teus chefes, como insectos pousados sobre as sebes, no tempo do frio; logo que o Sol nasce, voam, e não se reconhece mais o seu lugar. Os teus pastores, ó rei da Assíria, adormeceram; os teus heróis tombaram; o teu povo dispersou-se pelos montes, e não há quem o junte. Não há remédio para a tua ruína, a tua ferida é incurável. Todos os que ouvirem notícias tuas baterão as palmas contra ti; pois, sobre quem é que não passou a tua contínua maldade? Oráculo revelado ao profeta Habacuc. Até quando, Senhor, pedirei socorro, sem que me escutes? Até quando clamarei: «Violência!», sem que me salves? Porque me fazes ver a iniquidade e contemplar a desgraça? Diante de mim só vejo opressão e violência, nada mais do que discórdias e contendas. Por isso a lei perde a sua força e o direito desaparece definitivamente; porque o ímpio cerca o justo e, por isso, o direito sai falseado. «Vede as nações e contemplai, admirai-vos, ficai pasmados! Pois vou realizar uma obra em vossos dias, que não acreditaríeis, se vos fosse contada. Eis que vou suscitar os caldeus, aquele povo feroz e impetuoso, que se espalha pela superfície da terra, para se apoderar de habitações que não são suas. Ele é terrível e temível, dele mesmo procedem o seu direito e a sua grandeza. Os seus cavalos são mais velozes do que os leopardos, mais atilados do que os lobos durante a noite. Os seus cavaleiros precipitam-se, vêm de longe e voam como a águia que se lança sobre a presa. Todos se entregam à violência com a face ardente, como o vento de leste, juntam prisioneiros como areia. Este povo zomba dos reis, faz troça dos príncipes; ri-se de todas as fortalezas, pois levanta plataformas e toma-as. Então eles mudam de rumo como o vento e apenas reconhecem como deus a sua própria força.» Não és Tu, Senhor, desde o princípio, o meu Deus e o meu santo? Nós não morreremos. Tu estabeleceste, Senhor, os caldeus para exercerem a justiça, como uma rocha, Tu os constituíste para castigar. Os teus olhos são demasiado puros para ver o mal, não podes contemplar a opressão. Porque contemplas, em silêncio, os traidores, quando devoram os que são mais justos do que eles? Tratas os homens como peixes do mar, como répteis que não têm dono. Eles pescam-nos a todos no anzol, arrastam-nos com a sua rede, recolhem-nos em seu cesto e depois alegram-se e exultam. Por isso, oferecem sacrifícios às suas artes de pesca, e incenso à sua rede, porque, graças a elas, recolhem gordas porções e suculentos manjares. Continuarão eles a esvaziar a sua rede, massacrando povos sem piedade? Vou ficar de pé no meu posto de guarda, vou colocar-me sobre a muralha, vou ficar à espreita para ver o que Ele me diz, que resposta dá à minha queixa. Então o Senhor respondeu-me: «Escreve a visão, grava-a em tabuínhas, para que possa ser lida facilmente. Porque é uma visão para um tempo fixado: ela aspira pelo seu termo e não falhará. Se tardar, espera por ela igualmente; que ela cumprir-se-á, com toda a certeza não falhará. Eis que sucumbe o que não tem a alma recta, mas o justo viverá pela sua fidelidade.» Verdadeiramente a riqueza engana! O homem arrogante não permanecerá, ainda que alargue as suas fauces como a morte e seja insaciável como o túmulo; ainda que junte para si todas as nações e reúna à sua volta todos os povos. Porventura não comporão todos sátiras contra ele? Não zombarão dele com enigmas? «Ai daquele que acumula o bem alheio! Até quando? Do que carrega sobre si um fardo de penhores!» Porventura não se levantarão de repente os teus credores, não surgirão os teus opressores? Então, tu serás a sua presa. Porque despojaste numerosas nações, os povos que restarem hão-de saquear-te; por causa do sangue humano e da violência exercida sobre o país, sobre a cidade e todos os seus habitantes. Ai daquele que só procura lucros criminosos para a sua casa, para colocar bem alto o seu ninho, para se livrar da desgraça! Planeaste a vergonha da tua casa: dizimando tantos povos, fizeste o mal para ti mesmo. A pedra da parede gritará, alternando com as vigas de madeira. Ai daquele que constrói uma cidade com sangue e assenta a cidadela sobre o crime. O Senhor do universo disse: Que os povos trabalhem para o fogo, e as nações se fatiguem para nada. Pois a terra está repleta do conhecimento da glória do Senhor, tal como as águas cobrem o mar. Ai daquele que faz beber ao seu vizinho, um vinho misturado com veneno que o embriague, para ver a sua nudez! Saciaste-te de ignomínia e não de glória. Bebe também tu e mostra o teu prepúcio. Volta-se sobre ti a taça da direita do Senhor e a infâmia cai sobre a tua glória. Porque a violência contra o Líbano te submergirá e o massacre de animais te esmagará, por causa do sangue humano e da violência no país, na cidade e em todos os seus habitantes. Ai daquele que diz à madeira: «Desperta!» E à pedra silenciosa: «Acorda! Ensina!» Ei-la coberta de ouro e de prata, mas sem qualquer sopro de vida. De que serve uma escultura para que o seu escultor a faça? Uma imagem de metal, um mestre de mentiras, para que confie nele o seu artista, fabricando ídolos mudos? Mas o Senhor está no seu templo santo, diante dele, cale-se toda a terra. Oração do profeta Habacuc sobre o tom das lamentações: «Senhor, eu ouvi a tua mensagem; vi, Senhor, a tua obra. Fá-la reviver no nosso tempo, no nosso tempo manifesta-a; na ira, lembra-te da misericórdia. Deus vem de Teman, e o Santo, do monte Paran. Pausa*. A sua majestade cobre os céus e a sua glória enche a terra. O seu esplendor é como a luz, das suas mãos saem raios, está aí o segredo da sua força. Avança diante dele a calamidade, a febre caminha sobre os seus passos. Ele pára e faz tremer a terra, olha e faz trepidar as nações. Então desmoronam-se as montanhas eternas, desfazem-se as colinas antigas, os seus caminhos, desde sempre. Vi as tendas de Cuchan aflitas, estão perturbados os abrigos da terra de Madian. Será contra os rios, Senhor, que se inflama a tua ira, ou contra o mar, o teu furor, quando montas nos teus cavalos, nos teus carros triunfantes? Pões a descoberto o teu arco, carregas de flechas a sua corda. Pausa.* Fendes a terra com as torrentes. Ao ver-te, estremecem as montanhas, passa uma tromba de água, o Abismo faz ouvir a sua voz e levanta as mãos para o alto. O Sol e a Lua permanecem na sua morada perante a luz das tuas flechas que partem, ante o fulgor dos raios da tua lança. Percorres a terra com furor, com cólera esmagas as nações. Saíste para salvar o teu povo, para salvar o teu ungido. Lançaste por terra a casa do ímpio, puseste a nu os seus fundamentos até à base. Pausa.* Atravessaste com os teus dardos o chefe dos seus guerreiros, que se precipitavam para nos dispersar, soltando gritos de alegria, como se fossem devorar o infeliz às escondidas. Abriste o caminho pelo mar aos teus cavalos, no turbilhão das grandes águas. Eu ouvi! E as minhas entranhas estremeceram. A esse ruído, os meus lábios tremeram, a cárie penetrou nos meus ossos, e os meus passos vacilaram. Espero em paz que o dia de angústia se erga contra o povo que nos oprime. Porque a figueira não brotará e as vinhas não darão fruto; faltará o produto da oliveira e os campos não darão de comer. Não haverá ovelhas no aprisco, nem bois nos estábulos. Eu, porém, exultarei no Senhor, alegrar-me-ei em Deus, meu salvador. O Senhor Deus é a minha força, torna os meus pés ágeis como os da corça e faz-me caminhar nas alturas.» Ao mestre de canto. Para instrumentos de corda.* Palavra do Senhor dirigida a Sofonias, filho de Cuchi, filho de Godolias, filho de Amarias, filho de Ezequias, no tempo de Josias, filho de Amon, rei de Judá. Vou destruir tudo sobre a face da terra – diz o Senhor. Destruirei homens e animais, aves do céu e peixes do mar; farei desaparecer os ímpios, exterminarei os homens da face da terra – diz o Senhor. Estenderei a minha mão contra Judá e contra todos os habitantes de Jerusalém; exterminarei deste lugar o que resta de Baal, o nome dos sacerdotes dos ídolos, os que se prostram sobre os terraços diante da milícia dos céus, os que se prostram e juram pelo Senhor, mas juram igualmente por Milcom, os que se afastam do caminho do Senhor, que não procuram o Senhor nem o consultam. Silêncio diante do Senhor Deus, porque o Dia do Senhor está próximo! O Senhor preparou um sacrifício, santificou os seus convidados. No dia do sacrifício do Senhor, castigarei os ministros, os príncipes reais e todos os que se vestem com trajes estrangeiros. Castigarei, nesse dia, todos os que sobem para cima do limiar, os que enchem o palácio do seu senhor com violências e fraudes. Naquele dia, diz o Senhor, um clamor se ouvirá à porta dos Peixes, gemidos dos lados da Cidade Nova, grande tumulto das bandas das colinas. Lamentai-vos, habitantes do Morteiro, porque todo o povo dos mercadores foi aniquilado, todos os traficantes de prata foram exterminados. Naquele tempo, examinarei Jerusalém com lanternas, castigarei os homens adormecidos pelo seu vinho, os que dizem consigo mesmos: «O Senhor não nos faz nem bem nem mal.» Então, os seus bens serão saqueados e as suas casas arruinadas; edificarão casas, mas não as habitarão, plantarão vinhas, mas não beberão do seu vinho. Está perto o grande Dia do Senhor; aproxima-se rapidamente. É terrível o clamor do Dia do Senhor, até o mais forte gritará. Um dia de ira, aquele dia, dia de angústia e tribulação, dia de destruição e devastação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de névoas espessas. Dia de trombeta e de alarme contra as cidades fortes e as altas torres angulares. Afligirei os homens e eles caminharão como cegos, porque pecaram contra o Senhor. O seu sangue será derramado como pó e as suas entranhas como esterco. Nem a sua prata nem o seu ouro poderão salvá-los. No dia da ira do Senhor, toda a terra será devorada pelo fogo do seu zelo; pois ele vai destruir, sim, vai exterminar todos os habitantes da terra. Vinde todos, juntai-vos, ó povo sem pudor, antes que sejais expulsos como a moinha que desaparece num dia, antes que venha sobre vós a cólera ardente do Senhor, antes que venha sobre vós o dia da ira do Senhor. Procurai o Senhor, vós todos, os humildes da terra que cumpris a sua lei. Procurai a justiça, buscai a humildade: talvez assim acheis abrigo no dia da cólera do Senhor. Com efeito, Gaza será abandonada, Ascalon será devastada. Asdod será saqueada em pleno meio-dia; Ecron será exterminada. Ai dos habitantes da costa marítima! Ai do povo de Creta! Eis a palavra do Senhor contra vós: «Canaã, terra dos filisteus, vou destruir-te, privar-te de todos os habitantes. A costa marítima será reduzida a pastagens, a prados para os pastores e a cercas para os rebanhos. A região pertencerá ao resto da casa de Judá. Apascentarão ali os seus rebanhos; à tarde repousarão nas casas de Ascalon, porque o Senhor, seu Deus, os visitará e mudará a sua sorte.» Eu ouvi os insultos de Moab e os sarcasmos dos filhos de Amon, quando insultaram o meu povo, gloriando-se do seu território. Por isso, pela minha vida – diz o Senhor do universo, Deus de Israel – Moab tornar-se-á como Sodoma e os filhos de Amon como Gomorra: um campo de urtigas, uma região de sal, um deserto para sempre. O resto do meu povo os saqueará, os que subsistirem da minha nação serão os seus herdeiros. Tal será o preço do seu orgulho, pois eles proferiram insultos e palavras arrogantes contra o povo do Senhor do universo. O Senhor será terrível contra eles! Quando Ele tiver suprimido todos os deuses da terra, prostrar-se-ão diante dele, cada uma no seu próprio território, todas as ilhas das nações. Também vós, ó etíopes, sereis trespassados pela minha espada. Estenderá também a sua mão contra o Norte e destruirá a Assíria; reduzirá Nínive a uma terra devastada, árida como o deserto. No meio dela repousarão os rebanhos, animais de toda a espécie; até o pelicano e o ouriço passarão a noite entre os seus capitéis; o barulho das aves ouve-se na janela, o umbral está destroçado, a madeira de cedro desnudada. Ei-la, a cidade alegre, que vivia confiante, aquela que dizia em seu coração: «Eu e mais ninguém!» Como se converteu em ruínas, um covil de feras! Todos os que passam por ela assobiam e agitam a mão. Ai da cidade rebelde, manchada e opressora! Ela não ouviu o apelo, nem aceitou o aviso; não confiou no Senhor, nem se aproximou do seu Deus. Os seus chefes são, no meio dela, como leões que rugem; os seus juízes são como lobos da noite que não tiveram que comer desde a manhã; os seus profetas são gabarolas e impostores; os seus sacerdotes profanaram as coisas santas e violaram a Lei. No meio dela, o Senhor é justo; nada faz de iníquo; todas as manhãs promulga a sua justiça, ao alvorecer Ele não falta; mas o ímpio não tem vergonha. Exterminei as nações, as suas torres foram destruídas; tornei desertos os seus caminhos: ninguém passa por eles. As suas cidades foram saqueadas: ficaram sem nenhum habitante. Eu dizia: «Ao menos agora temer-me-ás e aproveitarás a lição; a sua morada não será destruída, conforme o que Eu tinha decidido contra ela.» Mas não! Eles apressaram-se a perverter todas as suas acções. Por isso, ouvi-me – diz o Senhor esperai o dia em que me levantarei como testemunha; porque decidi reunir as nações e juntar os reinos à minha volta, para descarregar sobre eles o meu furor, todo o ardor da minha cólera. Porque pelo fogo do meu zelo será consumida toda a terra. Então, darei aos povos lábios puros, para que todos possam invocar o nome do Senhor e servi-lo de comum acordo. Do outro lado dos rios da Etiópia, os meus adoradores dispersos virão trazer-me ofertas. Naquele dia, não te envergonharás dos pecados que cometeste contra mim, porque exterminarei do meio de ti os orgulhosos e os arrogantes; e cessarás de te orgulhar na minha montanha santa. Deixarei subsistir no meio de ti um povo pobre e humilde; eles procurarão refúgio no nome do Senhor. O resto de Israel não cometerá mais a iniquidade nem proferirá mentiras; não se achará mais na sua boca uma língua enganadora. Eles apascentarão e repousarão sem que ninguém os inquiete. Rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, povo de Israel! Alegra-te e exulta com todo o coração, filha de Jerusalém! O Senhor revogou as sentenças contra ti, e afastou o teu inimigo. O Senhor, rei de Israel, está no meio de ti. Não temerás mais a desgraça. Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: «Não temas, Sião! Não se enfraqueçam as tuas mãos! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por tua causa, como nos dias de festa.» Afastarei de ti a desgraça para que não pese sobre ti a desonra. Eis que extermino todos os teus opressores. Naquele tempo, salvarei os coxos, reunirei os dispersos; e a vergonha que os cobria em toda a terra, vou transformá-la em glória e renome. Naquele tempo, eu vos conduzirei; no tempo em que vos tiver reunido, dar-vos-ei renome e glória entre todos os povos da terra; quando operar a vossa salvação diante de vós – diz o Senhor. No segundo ano do reinado de Dario, no primeiro dia do sexto mês, a palavra do Senhor foi dirigida, por intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Joçadac, Sumo Sacerdote, nestes termos: «Eis o que diz o Senhor do universo: Este povo diz: ‘Não chegou ainda o momento de reedificar o templo do Senhor.’» E a palavra do Senhor foi dirigida por meio do profeta Ageu, nestes termos: «É então tempo para vós habitardes em casas confortáveis, enquanto esta casa está em ruínas?» Eis, pois, o que declara o Senhor do universo: «Reflecti, no vosso coração, sobre o caminho que tomastes. Semeastes muito mas recolhestes pouco; comestes mas não vos saciastes; bebestes mas não apagastes a vossa sede; vestistes-vos mas não vos aquecestes. O operário ganhou o seu salário mas meteu-o em saco roto.» Assim fala o Senhor do universo: «Reflecti no vosso coração, sobre o caminho que tomastes. Subi à montanha, trazei madeira e reedificai a casa; ela me será agradável e nela serei glorificado – diz o Senhor. Vós esperáveis a abundância e tivestes pouco. Dissipei com um sopro o que queríeis armazenar. E porquê? – oráculo do Senhor do universo. Por causa da minha casa que está em ruínas, enquanto cada um de vós só pensa na sua. Por isso os céus recusaram a chuva e a terra, os seus frutos. Chamei a seca sobre a terra, sobre as montanhas e sobre o trigo, sobre o mosto e sobre o azeite e sobre tudo o que produz o solo; sobre os homens e os animais e sobre todo o trabalho das vossas mãos.» Ora Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Joçadac, Sumo Sacerdote, e todo o resto do povo escutaram a voz do Senhor, seu Deus, e as palavras do profeta Ageu, da parte do Senhor. E o povo temeu diante do Senhor. E Ageu, o mensageiro do Senhor, falou nestes termos ao povo, segundo o mandato que tinha recebido do Senhor, «Eu estou convosco» – oráculo do Senhor. E o Senhor despertou o espírito de Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, o espírito de Josué, filho de Joçadac, Sumo Sacerdote, e o espírito de todo o resto do povo; eles vieram e puseram-se a trabalhar na construção do templo do Senhor do universo, seu Deus. Era o vigésimo quarto dia do sexto mês. No segundo ano do rei Dario, no vigésimo primeiro dia do sétimo mês, a palavra do Senhor fez-se ouvir por meio do profeta Ageu, nestes termos: «Fala ao governador de Judá, Zorobabel, filho de Salatiel, ao Sumo Sacerdote Josué, filho de Joçadac, e ao resto do povo: Quem é que resta entre vós que tenha visto este templo na sua glória passada? E como o vedes agora? Não vos parece que não é nada? Mas agora coragem, Zorobabel! Coragem, Josué, Sumo Sacerdote, filho de Joçadac! Coragem, povo todo do país! Mãos à obra! Pois Eu estou convosco oráculo do Senhor do universo. Segundo a aliança que fiz convosco quando saístes do Egipto, o meu espírito permanece no meio de vós. Não temais. Porque assim fala o Senhor do universo: Ainda um pouco de tempo e Eu abalarei o céu e a terra, os mares e os continentes. Sacudirei todas as nações para que afluam os tesouros de todos os povos e encherei de glória este templo – diz o Senhor do universo. A prata e o ouro pertencem-me – diz o Senhor do universo. O esplendor futuro deste templo será maior que o primeiro oráculo do Senhor do universo – e neste lugar Eu darei a paz» – diz o Senhor do universo. No vigésimo quarto dia do nono mês, no segundo ano do reinado de Dario, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Ageu nestes termos: «Assim fala o Senhor do universo: Propõe aos sacerdotes esta questão: ‘Se alguém traz carne santificada numa dobra da sua veste e essa dobra tocar em pão, numa iguaria qualquer, em vinho, em azeite ou em qualquer comestível, porventura tal objecto tornar-se-á santo?’» Os sacerdotes deram uma resposta negativa. Ageu continuou: «Se alguém, manchado pelo contacto de um cadáver, tocar em qualquer daquelas coisas, ela ficaria impura?» Os sacerdotes responderam que ficaria impura. Então Ageu tomou a palavra e disse: «Assim é este povo, assim é esta nação diante de mim – oráculo do Senhor. Assim é o trabalho de suas mãos, e o que eles oferecem aqui; tudo isso é impuro.» «E agora reflecti bem, em vossos corações, a partir de hoje e para o futuro. Antes que se começasse a colocar pedra sobre pedra no santuário do Senhor, qual era a vossa condição? Um feixe de trigo do qual esperáveis vinte medidas não dava mais do que dez; uma cuba de vinho de cinquenta medidas não continha mais do que vinte. Eu feri-vos com ferrugem, alforra e granizo, em todo o trabalho das vossas mãos, e não vos voltastes para mim – oráculo do Senhor. E agora reflecti bem em vossos corações a partir de hoje e para o futuro, a partir do vigésimo quarto dia do nono mês, desde o dia em que se pôs o fundamento do santuário do Senhor, prestai bem atenção. Há ainda grão nos celeiros? E até mesmo a vinha, a figueira, a romãzeira e a oliveira não produziam. Pois a partir de hoje Eu vos darei a minha bênção.» A palavra do Senhor foi dirigida a Ageu pela segunda vez, no vigésimo quarto dia do mês, nestes termos: «Fala a Zorobabel, governador de Judá, e diz-lhe: ‘Sacudirei os céus e a terra, farei cair os tronos dos reinos e aniquilarei o poder dos reis das nações, arruinarei os carros e as suas equipagens; cavalos e cavaleiros cairão, mortos à espada uns pelos outros. Naquele dia – diz o Senhor do universo – Eu te tomarei, ó Zorobabel, filho de Salatiel, meu servo, oráculo do Senhor – e farei de ti o meu anel de selar, porque foi a ti que Eu escolhi’» – oráculo do Senhor do universo. No oitavo mês do segundo ano do reinado de Dario, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Zacarias, filho de Baraquias, filho de Ido, nestes termos: «O Senhor ficou muito irado contra os vossos pais. Tu lhes dirás: Assim fala o Senhor do universo: voltai-vos para mim – oráculo do Senhor do universo – e Eu voltarei para vós, diz o Senhor do universo. Não sejais como os vossos pais, contra quem os profetas do passado clamaram dizendo: ‘Assim fala o Senhor do universo: Deixai os vossos maus caminhos e as vossas más acções.’ Mas eles não escutaram e não me prestaram atenção – oráculo do Senhor. Vossos pais, onde estão eles? E os vossos profetas, acaso vivem para sempre? Ao contrário, as minhas palavras e os meus decretos, que proclamei por intermédio de meus servos, os profetas, não atingiram porventura os vossos pais? Então eles converteram-se e disseram: ‘O Senhor do universo tratou-nos como tinha resolvido proceder connosco, segundo o nosso comportamento e as nossas obras.’» No vigésimo quarto dia do décimo primeiro mês – o mês de Chebat – do segundo ano do reinado de Dario, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Zacarias, filho de Baraquias, filho de Ido, nestes termos: «Tive uma visão durante a noite. Era um homem montado num cavalo vermelho entre as murtas de um fundo vale; por trás dele havia cavalos ruços, cor de canela e brancos. Eu disse: ‘Quem são estes, meu Senhor?’ E o anjo que me falava disse-me: ‘Vou explicar-te quem são eles.’ O homem que estava entre as murtas deu esta resposta: ‘São aqueles que o Senhor enviou a percorrer a Terra.’ Então eles dirigiram-se ao anjo do Senhor, que estava entre as murtas, e disseram: ‘Acabámos de percorrer toda a Terra e eis que toda a Terra está tranquila e em repouso.’ Então o anjo do Senhor disse em resposta: ‘Senhor do universo, até quando tardarás a compadecer-te de Jerusalém e das cidades de Judá, às quais fazes sentir a tua cólera, desde há setenta anos?’ Ao anjo que falava comigo, o Senhor respondeu com palavras boas, palavras de consolação. Então o anjo que me falava disse-me: ‘Proclama isto: Assim fala o Senhor do universo: Estou animado de amor ardente por Jerusalém e por Sião; e estou sumamente irritado com as nações orgulhosas, porque enquanto Eu estava só levemente irritado, elas colaboraram com o mal. Por isso, assim fala o Senhor, Eu volto-me de novo para Jerusalém com compaixão: o meu templo será aí reconstruído – oráculo do Senhor do universo – e a corda será estendida sobre Jerusalém. Proclama ainda: Assim fala o Senhor do universo: As minhas cidades abundarão ainda de bens; o Senhor terá outra vez piedade de Sião e a sua escolha cairá ainda sobre Jerusalém.’» Depois ergui os olhos e tive uma visão: eram quatro chifres. Perguntei, então, ao anjo que falava comigo: «Que significam eles?» E ele disse-me: «São os chifres que dispersaram Judá, Israel e Jerusalém.» Depois o Senhor mostrou-me quatro ferreiros. E eu perguntei: «Que vêm eles fazer?» Ele respondeu-me: «Aqueles são os chifres que dispersaram Judá, de tal maneira que ninguém mais levantou a cabeça, e estes vieram agora para os destruir e para abater os chifres das nações que levantaram o chifre contra o país de Judá, a fim de o dispersar.» Então levantei os olhos e tive uma visão: Era um homem que tinha na mão um cordel de medir. Eu disse-lhe: «Para onde vais?» Ele respondeu-me: «Vou medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e qual é o seu comprimento.» Então o anjo que falava comigo mantinha-se imóvel, quando veio ao seu encontro outro anjo que lhe disse: «Corre, fala àquele jovem e diz-lhe: ‘Jerusalém ficará sem muros, por causa da multidão de homens e de animais que haverá no meio dela. Mas eu serei para ela – oráculo do Senhor como um muro de fogo à sua volta e serei no meio dela a sua glória.’» Olá! Olá! Fugi da terra do Norte – oráculo do Senhor porque Eu vos dispersei pelos quatro ventos do céu – oráculo do Senhor. Olá! Filhos de Sião, fugi, vós que habitais na Babilónia. Porque assim diz o Senhor do universo – Ele que me enviou com autoridade – acerca das nações que vos despojaram: «Quem vos toca, toca a menina dos meus olhos.» Eis que Eu levanto a minha mão contra elas para que sejam a presa de seus escravos. E então vós sabereis que o Senhor do universo me enviou. Rejubila e alegra-te, filha de Sião, porque eis que Eu venho para morar no meio de ti – oráculo do Senhor. Naqueles dias, muitas nações se unirão ao Senhor e serão meu povo; habitarei no meio de ti, e saberás que o Senhor do universo me enviou a ti. O Senhor possuirá Judá como sua porção na Terra Santa e escolherá ainda Jerusalém. Cale-se toda a criatura diante do Senhor, porque Ele se eleva da sua morada santa. O Senhor mostrou-me depois Josué, o Sumo Sacerdote, que estava de pé diante do anjo do Senhor, enquanto Satanás estava à direita para o acusar. E o anjo do Senhor disse a Satanás: «Que o Senhor te confunda, Satanás, que o Senhor te confunda, Ele que escolheu Jerusalém. Não é este, porventura, um tição tirado do fogo?» Ora Josué vestia roupa suja, quando estava de pé diante do anjo do Senhor. Tomando a palavra, o anjo disse aos que estavam à volta dele: «Tirai-lhe as suas vestes sujas e vesti-lhe roupa sumptuosa; e – disse ainda – colocai sobre a sua cabeça uma tiara limpa.» Vestiram-no com roupa sumptuosa e puseram-lhe sobre a cabeça uma tiara limpa. O anjo do Senhor estava de pé e disse-lhe: «Vê que Eu tirei de cima de ti a tua iniquidade.» Depois o anjo do Senhor disse a Josué: «Assim fala o Senhor do universo: Se seguires pelos meus caminhos e observares os meus preceitos, governarás a minha casa, guardarás os meus átrios e Eu te darei lugar entre os que se encontram aqui diante de mim. Porque eis a pedra que Eu coloco diante de Josué; sobre esta pedra única há sete olhos; eis que Eu mesmo vou gravar a sua inscrição – oráculo do Senhor do universo. Ouve, pois, Josué, Sumo Sacerdote, tu e os teus companheiros que se sentam diante de ti – porque vós sois homens de presságios – eis que Eu vou suscitar o meu servo ‘Gérmen’ e afastarei a iniquidade deste país num único dia. Naquele dia – oráculo do Senhor do universo – cada um de vós convidará o seu vizinho sob a videira e a figueira.» O anjo que falava comigo voltou a despertar-me como a um homem que é tirado do seu sono. E disse-me: «Que vês tu?» Eu respondi: «Vejo um candelabro de ouro. No alto tem um reservatório e sete lâmpadas em cima com sete bicos para as lâmpadas. Junto dele há duas oliveiras, uma à sua direita e outra à sua esquerda.» Então eu perguntei ao anjo que falava comigo: «Que significam estas coisas, meu senhor?» O anjo que me falava respondeu: «Não sabes o que significam estas coisas?» E eu respondi: «Não, meu Senhor.» Então ele respondeu-me nestes termos: «Estas sete lâmpadas são os olhos do Senhor que percorrem toda a Terra.» Perguntei-lhe ainda: «Que significam estas duas oliveiras, à direita e à esquerda do candelabro?» E perguntei de novo: «Que significam estes dois ramos de oliveira que deixam correr o azeite por dois tubos de ouro?» Ele respondeu-me: «Não sabes o que significam estas coisas?» Eu disse: «Não, meu senhor.» Ele disse: «São os dois ungidos que assistem o Senhor de toda a terra.» Eis a palavra do Senhor a respeito de Zorobabel: «Não é nem pelo poder nem pela força, mas pelo meu espírito – diz o Senhor do universo. Quem és tu, ó montanha elevada? Diante de Zorobabel, não passas de uma planície! Ele porá a pedra de remate enquanto se aclamará diante dela: «É magnífica! É magnífica!» A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «As mãos de Zorobabel fundaram este templo: as suas mãos o concluirão. E vós sabereis que o Senhor do universo me enviou a vós. Pois, quem despreza estes dias insignificantes? Todos hão-de rejubilar, ao verem a pedra escolhida na mão de Zorobabel.» Erguendo ainda os olhos, tive uma visão: era um livro em forma de rolo, a voar. O anjo que me falava disse-me: «O que é que tu vês?» Eu respondi: «Vejo um livro que voa; tem vinte côvados de comprimento e dez de largura.» Então ele disse-me: «Esta é a maldição que se espalha sobre a face de todo o país. Porque todo o ladrão será expulso daqui por ela e todo o homem que jura falso pelo meu nome será, do mesmo modo, lançado fora por ela. Eu a desencadearei – oráculo do Senhor do universo – para que ela entre em casa do ladrão e do que jura falso pelo meu nome; que ela permaneça no meio da sua casa e a consuma com suas madeiras e pedras.» O anjo que me falava avançou e disse-me: «Ergue os olhos e vê o que é esta coisa que se aproxima.» E eu disse: «O que é?» Ele respondeu: «É um alqueire que avança.» E acrescentou: «É a iniquidade deles em toda a terra.» Depois vi que se levantava um disco de chumbo; e vi uma mulher que estava dentro do alqueire. Ele disse: «É a iniquidade.» E ele deitou-a dentro do alqueire e colocou sobre a boca do alqueire o disco de chumbo. Levantando os olhos, tive uma visão. Eis que apareceram duas mulheres. O vento soprava nas suas asas; tinham asas como as da cegonha e ergueram o alqueire entre a terra e o céu. Eu disse então ao anjo que falava comigo: «Para onde levam elas o alqueire?» Ele respondeu-me: «Elas vão-lhe construir um templo na terra de Chinear e preparar-lhe um pedestal, onde o colocarão.» De novo levantei os olhos e tive uma visão: eis que quatro carros saíam de entre as duas montanhas; e as duas montanhas eram de bronze. No primeiro carro havia cavalos vermelhos; no segundo carro, cavalos negros; no terceiro carro, cavalos brancos e no quarto carro, cavalos malhados. Tomei então a palavra e perguntei ao anjo que falava comigo: «Que significam estes, meu senhor?» O anjo respondeu: «Eles avançam em direcção aos quatro ventos do céu, depois de terem estado na presença do Senhor de toda a terra. Os cavalos vermelhos vão em direcção ao país do Oriente; os negros vão em direcção ao país do Norte; os brancos vão em direcção ao país do Ocidente; e os malhados, em direcção ao país do Sul.» Eles avançaram vigorosos, impacientes por percorrer a terra. Ele disse-lhes: «Ide percorrer a terra.» E eles percorreram a terra. Ele chamou-me e disse-me: «Os que avançam para o país do Norte vão fazer descer o meu espírito no país do Norte.» E a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Tu recolherás as ofertas dos cativos Heldai, Tobias e Jedaías e irás também a casa de Josias, filho de Sofonias, que chegaram da Babilónia. Tomarás a prata e o ouro, farás uma coroa e colocá-la-ás sobre a cabeça de Josué, filho de Joçadac, o Sumo Sacerdote. Dir-lhe-ás: «Assim fala o Senhor do universo: Eis o homem, cujo nome é ‘Gérmen’ e do qual se produzirá germinação; e ele reconstruirá o templo do Senhor. É ele que edificará o templo do Senhor. É ele que usará as insígnias reais. Sentar-se-á como soberano no seu trono. Haverá um sacerdote no seu trono. Entre ambos existirá uma paz perfeita. A coroa será conservada no templo do Senhor, como memorial de Heldai, Tobias e Jedaías, e também de Josias, filho de Sofonias. E os que estão longe virão e reconstruirão o templo do Senhor. E vós sabereis que o Senhor do universo me enviou a vós. Isto acontecerá, se obedecerdes perfeitamente à voz do Senhor, vosso Deus.» No quarto ano do rei Dario, a palavra do Senhor foi dirigida a Zacarias, no quarto dia do nono mês, o mês de Quisleu. Betel enviou Sarécer e Reguem-Mélec com as suas gentes para aplacar a face do Senhor e dizer aos sacerdotes do templo do Senhor do universo e aos profetas: «Devo eu chorar no quinto mês, fazendo abstinências, como já fiz durante tantos anos?» Então a palavra do Senhor do universo foi-me dirigida nestes termos: «Diz a todo o povo do país e aos sacerdotes: ‘Quando jejuastes e chorastes no quinto e no sétimo mês, durante estes setenta anos, foi realmente em minha honra que multiplicastes os vossos jejuns? E quando comíeis e bebíeis, não éreis vós os comedores e os bebedores? Não conheceis as palavras que o Senhor proclamava por meio dos profetas, quando Jerusalém era habitada e estava tranquila, com as suas cidades à volta, e quando as regiões do Négueb e da Chefela eram povoadas?’» A palavra do Senhor foi dirigida a Zacarias nestes termos: «Assim fala o Senhor do universo: ‘Praticai uma verdadeira justiça e excedei-vos em bondade e compaixão, cada um para com seu irmão. Não oprimais a viúva e o órfão, o estrangeiro e o pobre, e não formeis nos vossos corações maus desígnios uns para com os outros. Mas eles não quiseram ouvir, antes, voltaram-me as costas, revoltados, e taparam os seus ouvidos para não ouvirem; endureceram o seu coração como um diamante, para não escutarem as palavras e os ensinamentos que o Senhor do universo lhes dirigia pelo seu espírito, por meio dos profetas do passado. Por isso, o Senhor do universo indignou-se vivamente contra eles. E sucedeu isto: como Eu lançava apelos e não me escutaram, do mesmo modo eles lançarão apelos e Eu não os escutarei – declara o Senhor do universo. Ele os dispersou por todas as nações que lhes eram desconhecidas; e, depois deles, o país ficou devastado; após a sua saída, ninguém mais transitou por ele. Transformaram num deserto uma terra de delícias.’» A palavra do Senhor do universo foi-me dirigida de novo nestes termos: «Assim fala o Senhor do universo: ‘Sinto por Sião um amor ardente, que me provoca ciúme e grande cólera.’» Assim fala o Senhor do universo: «Volto a Sião e vou habitar no meio de Jerusalém. Jerusalém será chamada ‘Cidade Fiel’, e a montanha do Senhor do universo, ‘Montanha Santa’.» Assim fala o Senhor do universo: «Velhos e velhas sentar-se-ão ainda nas praças de Jerusalém; cada um terá na mão o seu bastão, por causa da sua muita idade. As praças da cidade ficarão cheias de meninos e meninas que brincarão nelas.» Assim fala o Senhor do universo: «Se isto parece um milagre aos olhos do resto deste povo, acaso será impossível aos meus olhos, naqueles dias?» –Oráculo do Senhor do universo. Assim fala o Senhor do universo: «Eis que Eu salvo o meu povo dos países do Oriente e dos países do Ocidente. Eu os levarei a habitar em Jerusalém. Eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus em fidelidade e em justiça.» Assim fala o Senhor do universo: «Que as vossas mãos se revigorem, vós que nestes dias ouvis estas palavras da boca dos profetas, que profetizam desde o dia em que foram lançadas as bases da morada do Senhor do universo para a reconstrução do templo. Porque antes destes dias, não era pago o salário dos homens, e o dos animais era nulo; e não havia paz para quem se entregava às suas ocupações, por causa do inimigo; Eu tinha lançado todos os homens uns contra os outros. Mas agora não tratarei o meu povo como nos dias de outrora – oráculo do Senhor do universo. Semearei a paz: a vinha dará o seu fruto, a terra os seus produtos e o céu o seu orvalho. Concederei tudo isto ao resto deste povo. Assim como éreis uma maldição entre as nações, ó casas de Judá e de Israel, assim vos salvarei para que vos torneis uma bênção. Não temais! Que as vossas mãos se robusteçam.» Assim fala o Senhor do universo: «Assim como Eu tinha resolvido fazer-vos mal, quando os vossos pais provocaram a minha ira – diz o Senhor do universo – e não voltei atrás, assim me proponho, nestes dias, fazer bem a Jerusalém e à casa de Judá. Não temais. Eis as coisas que deveis praticar: falai verdade uns aos outros; às vossas portas exercei uma justiça que tenha verdade e gere a paz; não maquineis o mal em vossos corações uns contra os outros; não jureis falso. Porque Eu aborreço tudo isso» – oráculo do Senhor. A palavra do Senhor do universo foi-me dirigida nestes termos: «Assim fala o Senhor do universo: o jejum do quarto mês, o jejum do quinto, o jejum do sétimo e o jejum do décimo mês converter-se-ão, para a casa de Judá, em dias de gozo e alegria e em festivas solenidades. Mas amai a verdade e a paz!» Assim fala o Senhor do universo: «Virão povos e habitantes de grandes cidades. E os habitantes de uma cidade irão para outra, dizendo: ‘Vamos implorar a face do Senhor ! – Eu também irei procurar o Senhor do universo!’ E numerosos povos e poderosas nações virão procurar o Senhor do universo em Jerusalém e implorar a face do Senhor.» Assim fala o Senhor do universo: «Naqueles dias, dez homens de todas as línguas das nações tomarão um judeu pela dobra do seu manto e dirão: ‘Nós queremos ir convosco, porque soubemos que Deus está convosco’.» Oráculo. A palavra do Senhor está em terra de Hadrac e Damasco é a sua morada; porque ao Senhor pertencem as cidades de Aram, assim como todas as tribos de Israel. Também Hamat, que confina com ela, Tiro e Sídon, apesar da sua vasta sabedoria. Tiro construiu para si uma fortaleza, amontoou prata, como se fosse pó, e ouro, como lama dos caminhos. Mas eis que o Senhor se apoderará dela: e precipitará no mar o seu poder, ela própria será consumida pelo fogo. Ascalon verá isto e terá medo, Gaza ficará possuída de temor, e Ecron também, pois o seu apoio esgotou-se; o rei desaparecerá de Gaza e Ascalon ficará despovoada. Mas o estrangeiro habitará em Asdod! Eu destruirei a soberba dos filisteus. Tirar-lhes-ei da boca o seu sangue, e as carnes abomináveis de entre os seus dentes. Também eles serão um resto para o nosso Deus, e serão como uma família em Judá; e Ecron será tratada como os jebuseus. Colocar-me-ei junto da minha casa, como uma sentinela contra os vadios; o tirano não passará mais por lá, porque doravante vigio com os meus próprios olhos. Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti; Ele é justo e vitorioso; vem, humilde, montado num jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta. Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro e do rio às extremidades da terra. Quanto a ti, pelo sangue do teu pacto, tirarei os teus cativos da fossa sem água. Voltai para a fortaleza, vós os cativos, cheios de esperança. Hoje mesmo Eu o anuncio: Eu te restituirei o dobro. Pois Eu estico Judá como um arco e armo-o com Efraim. Incitarei os teus filhos, ó Sião, contra os teus filhos, Javan, e farei de ti uma espada de herói. O Senhor aparecerá sobre eles e a sua flecha cintilará como um relâmpago. O Senhor Deus tocará a trombeta e avançará entre as tempestades do sul. O Senhor do universo os protegerá eles devorarão e calcarão aos pés as pedras de funda, beberão o sangue como vinho; ficarão ensopados como um hissope, como as hastes do altar. O Senhor seu Deus os salvará naquele dia a eles, seu povo e seu rebanho, pois são como pedras incrustadas num diadema, a brilhar na sua terra. Ah! Que felicidade! Que beleza será a sua! O trigo dará vigor aos jovens, e o vinho doce às donzelas! Pedi ao Senhor chuva no tempo da Primavera. É o Senhor quem forma os relâmpagos e a chuva torrencial e dá pão ao homem e a erva ao campo. Porque os ídolos domésticos dão falsos oráculos, os adivinhos têm visões enganadoras, anunciam sonhos mentirosos, pronunciam coisas fraudulentas; por isso, eles se afastam como um rebanho, andam errantes, porque não têm pastor. A minha cólera acende-se contra os pastores e vou intervir contra os bodes. Sim, o Senhor do universo intervirá pelo seu rebanho, a casa de Judá, e fará dela o seu glorioso cavalo de combate. Dele sairá a pedra angular, dele sairá o arco de combate, dele sairão todos os chefes. Todos juntos serão como soldados que pisam a lama dos caminhos, em combate. Lutarão porque o Senhor está com eles e os que montam cavalos serão confundidos. Fortalecerei a casa de Judá, e salvarei a casa de José. Restabelecê-los-ei, porque tenho compaixão deles, serão como se Eu os não tivesse rejeitado, porque Eu sou o Senhor, seu Deus, e ouvi-los-ei. Efraim será como um herói, o seu coração se alegrará como se bebesse vinho. Alegres, os seus filhos verão tudo isto, o seu coração rejubilará no Senhor. Eu vou assobiar para os reunir, porque os resgatei; e serão numerosos como dantes. Semeei-os entre os povos, mas ao longe se recordarão de mim; viverão com os seus filhos e regressarão. Reconduzi-los-ei da terra do Egipto, reuni-los-ei da Assíria. Introduzi-los-ei na terra de Guilead e do Líbano e isto não lhes bastará. Atravessarão o mar do Egipto, e Ele ferirá as águas do mar, e as profundidades do Nilo secarão. O orgulho da Assíria será abatido, e o Egipto perderá o seu ceptro. A sua força estará no Senhor e, pelo seu nome, se gloriarão» – oráculo do Senhor. Abre as tuas portas, ó Líbano! E que o fogo devore os teus cedros. Geme, ó cipreste, porque caiu o cedro, porque os poderosos foram derrubados. Gemei, carvalhos de Basan, porque foi abatida a floresta impenetrável. Ouve-se o lamento dos pastores, porque a sua riqueza foi destruída; ouve-se o rugido dos leões, porque foi destruída a magnificência do Jordão! Assim me falou o Senhor, meu Deus: «Apascenta o rebanho destinado ao matadouro; aqueles que o compram matam-no e ficam impunes, enquanto os seus vendedores dizem: ‘Bendito seja o Senhor ! Estou rico!’; e os seus pastores não têm compaixão alguma dele. Eu, porém, não perdoarei mais aos habitantes da terra – oráculo do Senhor. Eis que Eu entregarei os homens, cada um nas mãos do seu vizinho e do seu rei; esses devastarão a terra e Eu não os livrarei das suas mãos. Então pus-me a apascentar as ovelhas que os negociantes destinavam ao matadouro. Tomei depois dois cajados: a um chamei ‘Benevolência’, e ao outro ‘União’ e, assim, apascentei as ovelhas. Num mês mandei embora três pastores; mas desgostei-me com as ovelhas e também elas me detestaram. Então Eu disse: ‘Não vos apascentarei mais! Aquela que quiser morrer, morra! A que quiser desaparecer, desapareça! E as que sobreviverem, que se devorem mutuamente.’ Depois tomei o meu cajado ‘Benevolência’ e parti-o, para indicar que anulava a aliança que tinha feito com todos os povos. Ela foi, pois, anulada, naquele dia, e os negociantes de ovelhas que me observavam compreenderam que aquela era a palavra do Senhor. Disse-lhes então: «Se isto vos parece justo, dai-me o salário que me cabe, se não, deixai-o.» E pagaram-me o salário de trinta siclos de prata. Mas o Senhor disse-me: «Lança no tesouro esse preço magnífico, do qual Eu fui considerado digno por eles.» Tomei os trinta siclos de prata e atirei-os para o templo do Senhor, para o tesouro. Depois, parti o segundo cajado, ‘União’, para indicar que quebrava a fraternidade entre Judá e Israel. E o Senhor disse-me: «Toma também o equipamento de um pastor insensato. Pois, eis que Eu vou suscitar um tal pastor neste país. Ele não cuidará das ovelhas desaparecidas; não procurará as desgarradas; não tratará das que estiverem feridas; não dará alimento às famintas; mas comerá a carne dos animais gordos e até lhes arrancará as unhas. Ai do mau pastor, que não cuidou do rebanho! Que a espada caia sobre o seu braço e sobre o seu olho direito! Que o seu braço seque completamente e que o seu olho direito fique totalmente cego!» Oráculo. Palavra do Senhor sobre Israel; oráculo do Senhor que estendeu os céus, fundou a terra e criou o espírito humano nos homens: «Eis que vou fazer de Jerusalém uma taça embriagadora para todos os povos à volta. Naquele dia, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos; todos os que pretenderem levantá-la, hão-de ferir-se gravemente. E todas as nações da terra se coligarão contra ela. Naquele dia – oráculo do Senhor ferirei de confusão todos os cavalos, e de delírio, os seus cavaleiros. Mas abrirei os meus olhos para a casa de Judá e ferirei de cegueira todos os povos. Então os chefes de Judá dirão em seus corações: ‘A força dos habitantes de Jerusalém reside no Senhor do universo, seu Deus.’ Naquele dia, farei os chefes de Judá semelhantes a um braseiro ardente sobre um monte de lenha, como que uma tocha acesa no meio dos feixes; e eles devorarão, à direita e à esquerda, todos os povos à volta. Jerusalém habitará novamente no seu lugar. O Senhor salvará, em primeiro lugar, as tendas de Judá, como outrora, para que a casa de David e os habitantes de Jerusalém não se ensoberbeçam em detrimento de Judá. Naquele dia, o Senhor protegerá os habitantes de Jerusalém: o mais fraco de entre eles será como David, e a casa de David surgirá como um deus, como o anjo do Senhor diante deles. Naquele dia, procurarei e exterminarei todas as nações que vierem contra Jerusalém. Mas derramarei sobre a casa de David e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de benevolência e de súplica. Eles contemplarão aquele a quem traspassaram; chorarão por ele como se chora um filho único e lamentá-lo-ão como se lamenta um primogénito. Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadad-Rimon na planície de Meguido. E o país chorará, cada tribo em separado: a tribo da casa de David à parte, com as mulheres separadamente; a tribo da casa de Natan à parte, com as mulheres separadamente; a tribo da casa de Levi à parte, com as mulheres separadamente; a tribo de Simeão à parte, com as mulheres separadamente. Todas as outras tribos, tribo por tribo, separadamente, e as mulheres à parte. Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de David e para os habitantes de Jerusalém, para a purificação do pecado e da impureza. Naquele dia – oráculo do Senhor do universo – exterminarei do país o nome dos ídolos, que não serão mais mencionados; expulsarei também os profetas e o espírito de impureza. Se algum tentar ainda profetizar, seu pai e sua mãe, que o geraram, lhe dirão: «Tu não viverás, porque são mentiras o que proferes em nome do Senhor !» E enquanto profetizar, seu pai e sua mãe, que o geraram, o traspassarão. Naquele dia, os profetas envergonhar-se-ão das suas próprias visões proféticas; não mais se cobrirão com o manto de pêlos, para enganarem. Cada um dirá: «Eu não sou um profeta! Sou um agricultor: sou proprietário de terra, desde a minha juventude.» E se alguém lhe diz: «Que significam essas cicatrizes nas tuas mãos?», ele responderá: «São ferimentos que recebi na casa de meus amigos.» Levanta-te, espada, contra o meu pastor, e contra o homem que está unido a mim – oráculo do Senhor do universo. Fere o pastor, para que se dispersem as ovelhas, e Eu estenderei a minha mão para os fracos. E acontecerá em todo este território oráculo do Senhor – que duas partes deles serão exterminadas e perecerão, e somente um terço será poupado! Farei passar esta terça parte pelo fogo; purificá-los-ei, como se purifica a prata, e os provarei, como se prova o ouro. Invocarão o meu nome e os atenderei; e direi: «Este é o meu povo» e ele dirá: «O Senhor é o meu Deus.» Eis que vem um dia para o Senhor em que os teus despojos serão divididos no meio de ti. Reunirei todas as nações contra Jerusalém, para lhe darem batalha. A cidade será tomada, as casas serão destruídas, as mulheres violadas; metade dos cidadãos irá para o exílio, mas o resto do povo não será expulso da cidade. Então o Senhor sairá a combater contra estas nações, como combatia no tempo de guerra. Naquele dia, os seus pés pousarão sobre o monte das Oliveiras, que está em frente de Jerusalém, ao oriente. O monte das Oliveiras dividir-se-á em dois pelo meio, de oriente para ocidente, formando um imenso vale: uma parte do monte recuará para o norte e a outra para o sul. E vós fugireis pelo vale das minhas montanhas, pelo vale das montanhas que chega até Açal; fugireis como fugistes quando foi do terramoto, no tempo de Uzias, rei de Judá. E o Senhor, teu Deus, virá acompanhado de todos os santos. Naquele dia, não haverá nem luz, nem frio, nem gelo. Será um dia único, conhecido somente do Senhor, sem alternativa de dia e de noite, porque ao anoitecer brilhará a luz. Naquele dia, de Jerusalém jorrarão águas vivas, metade das quais correrá para o Mar Oriental e metade para o Mar Ocidental: correrão durante o Verão e durante o Inverno. E o Senhor reinará sobre toda a terra. Naquele dia, o Senhor será único e o seu nome será único. Todo o país será transformado em planície desde Gueba até Rimon, ao sul de Jerusalém. Jerusalém será elevada, embora ocupando o mesmo lugar; desde a porta de Benjamim até ao lugar da primeira porta, isto é, até à porta do Ângulo, e desde a torre de Hananiel, até aos lagares do rei; habitarão nela e não mais haverá anátema, mas Jerusalém será habitada em segurança. E eis a praga com que o Senhor ferirá todos os povos que lutarem contra Jerusalém; a sua carne se decomporá, enquanto estão ainda de pé; os seus olhos apodrecerão dentro das suas órbitas; a sua língua apodrecerá dentro da boca. Naquele dia, haverá entre eles um pânico terrível provocado pelo Senhor, cada um agarrará a mão do seu companheiro e eles levantarão a mão um contra o outro. Também Judá lutará em Jerusalém; juntar-se-ão as riquezas de todas as nações circunvizinhas: ouro, prata e roupas em grande quantidade. Igual será a praga que atingirá os cavalos, machos, camelos e burros, e todos os animais que se encontrarem neste campo. Os que restarem de todas as nações, que tiverem marchado contra Jerusalém, irão todos os anos adorar o Rei, o Senhor do universo, e celebrar a festa das Tendas. Qualquer das famílias da terra que não subir a Jerusalém para adorar o Rei, o Senhor do universo, não receberá chuva! Se a família do Egipto não subir nem vier, então cairá sobre ela a praga com a qual o Senhor ferirá as nações que não subirem para celebrar a festa das Tendas. Tal será a punição do Egipto e a de todas as nações que não subirem para celebrar a festa das Tendas. Naquele dia, até nas campainhas dos cavalos estará escrito: «Consagrado ao Senhor », e no templo do Senhor as marmitas serão como vasos de aspersão diante do altar. Todas as caldeiras que houver em Jerusalém e em Judá serão coisas consagradas ao Senhor do universo; e todos os que forem oferecer sacrifícios se servirão delas para cozer a oferta e, naquele dia, já não haverá mais comerciantes no templo do Senhor do universo. Oráculo. Palavra do Senhor a Israel, por intermédio de Malaquias. Diz o Senhor, «Eu amei-vos e, contudo, vós dizeis: ‘Em que é que nos amaste?’ Esaú não era, porventura, irmão de Jacob? – diz o Senhor; mas, Eu amei Jacob; quanto a Esaú, não gostei dele e, por isso, fiz das suas cidades lugares desertos, e da sua herança, um esconderijo de feras. Se Edom diz: ‘Nós fomos destruídos, mas reconstruiremos sobre ruínas’, assim fala o Senhor do universo: Eles que construam, que Eu demolirei. Serão chamados ‘território de iniquidade’ e ‘povo contra o qual o Senhor se irritou para sempre’. Os vossos olhos o hão-de ver e havereis de dizer: ‘O Senhor é grande, mesmo para além do território de Israel!’» «Um filho honra o pai; um servo teme o seu senhor. E se Eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se Eu sou Senhor, onde está o respeito por mim? Isto diz o Senhor do universo a vós, sacerdotes, que desprezais o meu nome. Mas vós perguntais: ‘Em que é que desprezámos o teu nome?’ É que vós ofereceis alimentos impuros sobre o meu altar e ainda perguntais: ‘Em que é que o profanámos?’ Pensais que a mesa do Senhor é coisa desprezível! Quando trazeis animais cegos para o sacrifício, não será isto mau? E quando trazeis animais coxos ou doentes, não será isto mau? Leva-os ao teu governador. Será que isso lhe será agradável? Será que ele te irá receber bem? – diz o Senhor do universo. E agora rogais a Deus que vos perdoe. Tendo feito tudo isto com as vossas próprias mãos, há-de Ele ouvir-vos favoravelmente? Quem o diz é o Senhor do universo. Quem há entre vós que feche as portas, para não acenderdes em vão o fogo no meu altar? Não tenho em vós nenhuma satisfação – diz o Senhor do universo – e nenhuma oferta das vossas mãos me é agradável. Porém, do nascente ao poente, o meu nome é grande entre as nações, e em todos os lugares é oferecido ao meu nome um sacrifício de incenso e uma oferenda pura. Na verdade o meu nome, é grande entre as nações – diz o Senhor do universo. Vós é que o profanais, dizendo que a mesa do Senhor está manchada; o que nela se oferece são alimentos desprezíveis. Vós dizeis: ‘É uma pena!’, mas continuais a desprezar-me – diz o Senhor do universo. Trazeis o animal roubado, o coxo, o doente e oferecei-lo em sacrifício. Posso Eu, porventura, aceitá-lo com agrado, das vossas mãos? – diz o Senhor. Maldito seja o homem fraudulento, que tem no seu rebanho um macho prometido por voto e me sacrifica um animal defeituoso. Pois Eu sou um grande rei – diz o Senhor e o meu nome é temível entre as nações.» «Pois bem, ó sacerdotes, é para vós esta ordem: Se não me ouvirdes, se não tomardes a peito dar glória ao meu nome – diz o Senhor do universo – lançarei contra vós a maldição e amaldiçoarei as vossas bênçãos. E essa maldição já está cumprida, porque vós não tomais isto a peito. Eis que vou despedaçar o vosso braço e lançar-vos esterco ao rosto – o esterco das vossas solenidades – e sereis atirados fora juntamente com ele. E então sabereis que fui Eu que vos dei esta ordem, para que não se mantenha mais a minha aliança com Levi – diz o Senhor do universo. A minha aliança estava com ele: era um pacto de vida e de paz, e Eu concedia-lha; era um pacto de respeito, e ele tinha-me respeito e mostrava reverência diante do meu nome. A lei da verdade estava na sua boca e não se encontrava iniquidade nos seus lábios; ele caminhava comigo na paz e na rectidão e afastava a muitos do mal. Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca espera-se a Lei, pois ele é mensageiro do Senhor do universo. Mas vós desviastes-vos do caminho; fizestes tropeçar um grande número de pessoas com o ensino da Lei; destruístes a aliança de Levi – diz o Senhor do universo. Por isso, Eu tornei-vos desprezíveis e vis aos olhos de todo o povo, porque não guardastes os meus mandamentos e fizestes acepção de pessoas perante a lei.» «Porventura, não temos todos nós um único pai? Não foi o mesmo Deus que nos criou? Por que razão, pois, somos nós pérfidos uns para com os outros, profanando a aliança de nossos pais? Judá prevaricou: foi cometida uma abominação em Israel e em Jerusalém. É que Judá profanou o santuário, caro ao Senhor, e desposou a filha de um deus estrangeiro. Todo aquele que assim procede, quem o apoia ou defende, que o Senhor o extermine das tendas de Jacob e do grupo dos que vão apresentar ofertas ao Senhor do universo! Eis ainda outra maldade que cometeis: inundais de lágrimas o altar do Senhor, com lamentos e gemidos, quando Ele se recusa a aceitar a vossa oferta e não se compraz com o que lhe apresentais com as vossas mãos. E vós perguntais: ‘Porquê?’ É porque o Senhor se constituiu testemunha entre ti e a esposa da tua juventude, aquela que tu atraiçoaste, embora ela fosse a tua companheira e aquela com quem fizeste aliança. Porventura não fez Ele um só ser que é carne com um sopro de vida? E este ser único que procura, afinal? Uma posteridade dada por Deus. Por conseguinte, tende cuidado convosco, e que ninguém atraiçoe a mulher da sua juventude. Porque Eu odeio o divórcio – diz o Senhor, o Deus de Israel – e que alguém cubra de injustiças as suas vestes – diz o Senhor do universo. Portanto, tende cuidado convosco e não cometais essa traição.» «Cansastes o Senhor com as vossas palavras e ainda perguntais: ‘Porque é que o cansámos?’ É quando dizeis que todo aquele que faz o mal é bem visto aos olhos do Senhor e que Ele se compraz com essa gente; ou ainda, quando perguntais onde está o Deus da justiça.» «Eis que Eu vou enviar o meu mensageiro, a fim de que ele prepare o caminho à minha frente. E imediatamente entrará no seu santuário o Senhor, que vós procurais, e o mensageiro da aliança, que vós desejais. Ei-lo que chega! – diz o Senhor do universo. Quem suportará o dia da sua chegada? Quem poderá resistir, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor e como a barrela das lavadeiras. Ele sentar-se-á como fundidor e purificador. Purificará os filhos de Levi e os refinará, como se refinam o ouro e a prata. E assim eles serão para o Senhor os que apresentam a oferta legítima. Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias antigos, como nos anos de outrora. Apresentar-me-ei diante de vós para julgar e serei uma testemunha atenta contra os adivinhos, os adúlteros e os que juram pela mentira; contra os que oprimem o operário, a viúva e o órfão, e contra aqueles que violam o direito do estrangeiro, sem terem respeito por mim – diz o Senhor do universo. É que Eu sou o Senhor e não mudo de opinião; por isso, vós, filhos de Jacob, não fostes destruídos. Desde os dias dos vossos pais, afastastes-vos dos meus preceitos e não os observastes. Voltai para mim e Eu me voltarei para vós – diz o Senhor do universo. Vós dizeis: ‘Como voltaremos nós?’ Porventura, pode algum humano enganar a Deus? Mas vós enganais-me! E ainda perguntais: ‘Em que é que te enganámos?’ Foi no pagamento dos dízimos e nas ofertas! A maldição espera-vos, mas vós, a nação inteira, continuais a enganar-me. Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Ponde-me à prova – diz o Senhor do universo – e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e não espalho em vosso favor a bênção em abundância. Em vosso favor afugentarei o gafanhoto para que ele não destrua os frutos da terra, e a vinha não seja estéril nos campos – diz o Senhor do universo. Todas as nações vos chamarão ditosos, porque vós sereis uma terra de delícias – diz o Senhor do universo. Tendes pronunciado palavras ofensivas contra mim – diz o Senhor. E, contudo, perguntais: ‘Que temos nós dito contra ti?’ E ainda vos interrogais: ‘De que vale servir a Deus? Que lucrámos em ter observado os seus preceitos e em ter andado de luto diante do Senhor do universo? E agora temos de chamar ditosos aos arrogantes, pois eles fazem o mal e prosperam; põem Deus à prova e ficam impunes’. Assim falavam uns com os outros, aqueles que temem o Senhor. Mas o Senhor ouviu atento. Na sua presença foi escrito um livro de memórias: ‘Dos que temem o Senhor e prezam o seu nome.’ Eles serão meus, no dia em que Eu agir – diz o Senhor do universo. Terei compaixão deles, como um pai se compadece do filho que o serve. Então vereis de novo a diferença entre o justo e o ímpio, entre quem serve a Deus e quem não o serve. Pois, eis que vem um dia abrasador como uma fornalha. Todos os soberbos e todos os que cometem a iniquidade serão como a palha; este dia que vai chegar queimá-los-á – diz o Senhor do universo – e nada ficará deles: nem raiz, nem ramos. Mas, para vós que respeitais o meu nome, brilhará o sol de justiça, trazendo a cura nos seus raios; saireis e saltareis como bezerros para fora do estábulo. Calcareis os pecadores, que serão como cinza debaixo da planta de vossos pés, no dia que Eu preparo – diz o Senhor do universo.» «Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, ao qual Eu prescrevi, no monte Horeb, preceitos e mandamentos para todo o Israel. Eis que vou enviar-vos o profeta Elias, antes que chegue o Dia do Senhor, dia grande e terrível. Ele fará com que o coração dos pais se aproxime dos filhos, e o coração dos filhos se aproxime dos seus pais, para que Eu não tenha de vir castigar a terra com o anátema.» Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão: Abraão gerou Isaac; Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé; Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia. Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo. Assim, o número total das gerações é, desde Abraão até David, catorze; de David até ao exílio da Babilónia, catorze; e, desde o exílio da Babilónia até Cristo, catorze. Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente. Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. E, sem que antes a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus. Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente. E perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.» Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele. E, reunindo todos os sumos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há-de apascentar o meu povo de Israel.» Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e pediu-lhes informações exactas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: «Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino; e, depois de o encontrardes, vinde comunicar-mo para eu ir também prestar-lhe homenagem.» Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho. Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho. Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem. Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.» Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel. Porém, tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Advertido em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré; assim se cumpriu o que foi anunciado pelos profetas: Ele será chamado Nazareno. Naqueles dias, apareceu João, o Baptista, a pregar no deserto da Judeia. Dizia: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu.» Foi deste que falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. João trazia um traje de pêlos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Iam ter com ele os de Jerusalém, os de toda a Judeia e os da região do Jordão, e eram por ele baptizados no Jordão, confessando os seus pecados. Vendo, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de conversão e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: ‘Temos por pai a Abraão!’ Pois, digo-vos: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo. Eu baptizo-vos com água, para vos mover à conversão; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu e não sou digno de lhe descalçar as sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. Tem na sua mão a pá de joeirar; limpará a sua eira e recolherá o trigo no celeiro, mas queimará a palha num fogo inextinguível.» Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser baptizado por ele. João opunha-se, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti, e Tu vens a mim?» Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.» João, então, concordou. Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado.» Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães.» Respondeu-lhe Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.» Então, o diabo conduziu-o à cidade santa e, colocando-o sobre o pináculo do templo, disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!» Em seguida, o diabo conduziu-o a um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua glória, disse-lhe: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.» Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no. Tendo ouvido dizer que João fora preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Depois, abandonando Nazaré, foi habitar em Cafarnaúm, cidade situada à beira-mar, na região de Zabulão e Neftali, para que se cumprisse o que o profeta Isaías anunciara: Terra de Zabulão e Neftali, caminho do mar, região de além do Jordão, Galileia dos gentios. O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz; e aos que jaziam na sombria região da morte surgiu uma luz. A partir desse momento, Jesus começou a pregar, dizendo: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu.» Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens.» E eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-no. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu, consertavam as redes, dentro do barco. Chamou-os, e eles, deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-no. Depois, começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades. A sua fama estendeu-se por toda a Síria e trouxeram-lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam doenças e tormentos, os possessos, os epilépticos e os paralíticos; e Ele curou-os. E seguiram-no grandes multidões, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de além do Jordão. Ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. Depois de se ter sentado, os discípulos aproximaram-se dele. Então tomou a palavra e começou a ensiná-los, dizendo: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque possuirão a terra. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam.» «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.» «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.» «Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar ‘imbecil’ será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar ‘louco’ será réu da Geena do fogo. Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta. Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes juntos, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para a prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá até que pagues o último centavo.» «Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração. Portanto, se a tua vista direita for para ti origem de pecado, arranca-a e lança-a fora, pois é melhor perder-se um dos teus órgãos do que todo o teu corpo ser lançado à Geena. E se a tua mão direita for para ti origem de pecado, corta-a e lança-a fora, porque é melhor perder-se um só dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado à Geena.» «Também foi dito: Aquele que se divorciar da sua mulher, dê-lhe documento de divórcio. Eu, porém, digo-vos: Aquele que se divorciar da sua mulher – excepto em caso de união ilegal – expõe-na a adultério, e quem casar com a divorciada comete adultério.» «Do mesmo modo, ouvistes o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás diante do Senhor os teus juramentos. Eu, porém, digo-vos: Não jureis de maneira nenhuma: nem pelo Céu, que é o trono de Deus, nem pela Terra, que é o estrado dos seus pés, nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Não jures pela tua cabeça, porque não tens poder de tornar um só dos teus cabelos branco ou preto. Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal.» «Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém quiser litigar contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado.» «Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois Ele faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os cobradores de impostos? E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.» «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu. Quando, pois, deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, há-de premiar-te.» «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de recompensar-te. Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.» «Rezai, pois, assim: 'Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, como no Céu, assim também na terra. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia; perdoa as nossas ofensas, como nós perdoámos a quem nos tem ofendido; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do Mal.' Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas.» «E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.» «Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. A lâmpada do corpo são os olhos; se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo andará iluminado. Se, porém, os teus olhos estiverem doentes, todo o teu corpo andará em trevas. Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas! Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» «Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas? Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé? Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.» «Não julgueis, para não serdes julgados; pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não vês a trave que está na tua vista? Como ousas dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o argueiro da tua vista’, tendo tu uma trave na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás melhor para tirar o argueiro da vista do teu irmão.» «Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés e, acometendo-vos, vos despedacem.» «Pedi, e ser-vos-á dado; procurai, e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois, quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate, hão-de abrir. Qual de vós, se o seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Ora bem, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.» «Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.» «Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!» «Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos, os conhecereis. Porventura podem colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Pelos frutos, pois, os conhecereis.» «Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ E, então, dir-lhes-ei: ‘Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.’» «Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as põe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruína.» Quando Jesus acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os doutores da Lei. Ao descer do monte, seguia-o uma enorme multidão. Foi, então, abordado por um leproso que se prostrou diante dele, dizendo-lhe: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: «Quero, fica purificado!» No mesmo instante, ficou purificado da lepra. Jesus, porém, disse-lhe: «Vê, não o digas a ninguém; mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés preceituou, para que lhes sirva de testemunho.» Entrando em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos: «Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.» Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» Respondeu-lhe o centurião: «Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu, ao passo que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.» Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado. Entrando em casa de Pedro, Jesus viu que a sogra dele jazia no leito com febre. Tocou-lhe na mão, e a febre deixou-a. E ela, levantando-se, pôs-se a servi-lo. Ao entardecer, apresentaram-lhe muitos possessos; e Ele, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam doentes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores. Vendo Jesus em torno de si uma grande multidão, decidiu passar à outra margem. Saiu-lhe ao encontro um doutor da Lei, que lhe disse: «Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores.» Respondeu-lhe Jesus: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» Um dos discípulos disse-lhe: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» Jesus, porém, respondeu-lhe: «Segue-me e deixa os mortos sepultar os seus mortos.» Depois subiu para o barco e os discípulos seguiram-no. Levantou-se, então, no mar, uma tempestade tão violenta, que as ondas cobriam o barco; entretanto, Jesus dormia. Aproximando-se dele, os discípulos despertaram-no, dizendo-lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos!» Disse-lhes Ele: «Porque temeis, homens de pouca fé?» Então, levantando-se, falou imperiosamente aos ventos e ao mar, e sobreveio uma grande calma. Os homens, admirados, diziam: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» Chegado à outra margem, à região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?» Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» Disse-lhes Jesus: «Ide!» Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas. Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região. Depois disto, subiu para o barco, atravessou o mar e foi para a sua cidade. Apresentaram-lhe um paralítico, deitado num catre. Vendo Jesus a fé deles, disse ao paralítico: «Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados.» Alguns doutores da Lei disseram consigo: «Este homem blasfema.» Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: «Porque alimentais esses maus pensamentos nos vossos corações? Que é mais fácil dizer: ‘Os teus pecados te são perdoados’, ou: ‘Levanta-te e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder para perdoar pecados – disse Ele ao paralítico: ‘Levanta-te, toma o teu catre e vai para tua casa.» E ele, levantando-se, foi para sua casa. Ao ver isto, a multidão ficou dominada pelo temor e glorificou a Deus, por ter dado tal poder aos homens. Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o. Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos. Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?» Jesus ouviu-os e respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.» Depois, foram ter com Ele os discípulos de João, dizendo: «Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu-lhes: «Porventura podem estar tristes os convidados para as núpcias, enquanto o esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão-de jejuar.» «Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo puxa parte do tecido e o rasgão torna-se maior. Nem se deita vinho novo em odres velhos; de contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho e estragam-se os odres. Mas deita-se o vinho novo em odres novos; e, desta maneira, ambas as coisas se conservam.» Enquanto Jesus lhes dizia estas coisas, aproximou-se um chefe que se prostrou diante dele e disse: «Minha filha acaba de morrer, mas vem impor-lhe a tua mão e viverá.» Jesus, levantando-se, seguiu-o com os discípulos. Então, uma mulher, que padecia de uma hemorragia há doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe na orla do manto, pois pensava consigo: ‘Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada.’ Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse-lhe: «Filha, tem confiança, a tua fé te salvou.» E, naquele mesmo instante, a mulher ficou curada. Quando chegou a casa do chefe, vendo os flautistas e a multidão em grande alarido, disse: «Retirai-vos, porque a menina não está morta: dorme.» Mas riam-se dele. Retirada a multidão, Jesus entrou, tomou a mão da menina e ela ergueu-se. A notícia espalhou-se logo por toda aquela terra. Ao sair dali, seguiram-no dois cegos, gritando: «Filho de David, tem misericórdia de nós!» Ao chegar a casa, os cegos aproximaram-se dele, e Jesus disse-lhes: «Credes que tenho poder para fazer isso?» Responderam-lhe: «Cremos, Senhor!» Então, tocou-lhes nos olhos, dizendo: «Seja-vos feito segundo a vossa fé.» E os olhos abriram-se-lhes. Jesus advertiu-os em tom severo: «Vede lá, que ninguém o saiba.» Mas eles, saindo, divulgaram a sua fama por toda aquela terra. Mal eles se tinham retirado, apresentaram-lhe um mudo, possesso do demónio. Depois que o demónio foi expulso, o mudo falou; e a multidão, admirada, dizia: «Nunca se viu tal coisa em Israel.» Os fariseus, porém, diziam: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios.» Jesus percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas suas sinagogas, proclamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe.» Jesus chamou doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar todas as enfermidades e doenças. São estes os nomes dos doze Apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que o traiu. Jesus enviou estes doze, depois de lhes ter dado as seguintes instruções: «Não sigais pelo caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel. Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça. Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento. Em qualquer cidade ou aldeia onde entrardes, procurai saber se há nela alguém que seja digno, e permanecei em sua casa até partirdes. Ao entrardes numa casa, saudai-a. Se essa casa for digna, a vossa paz desça sobre ela; se não for digna, volte para vós. Se alguém não vos receber nem escutar as vossas palavras, ao sair dessa casa ou dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo: No dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e de Gomorra do que para aquela cidade.» «Envio-vos como ovelhas para o meio dos lobos; sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tende cuidado com os homens: hão-de entregar-vos aos tribunais e açoitar-vos nas suas sinagogas; sereis levados perante governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e dos pagãos. Mas, quando vos entregarem, não vos preocupeis nem como haveis de falar nem com o que haveis de dizer; nessa altura, vos será inspirado o que tiverdes de dizer. Não sereis vós a falar, mas o Espírito do vosso Pai é que falará por vós. O irmão entregará o seu irmão à morte, e o pai, o seu filho; os filhos hão-de erguer-se contra os pais e hão-de causar-lhes a morte. E vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo: Não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes de vir o Filho do Homem.» «O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do senhor. Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo ser como o senhor. Se ao dono da casa chamaram Belzebu, o que não chamarão eles aos familiares! Não os temais, portanto, pois não há nada encoberto que não venha a ser conhecido. O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; e o que escutais ao ouvido, proclamai-o sobre os terraços. Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma. Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? E nem um deles cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai! Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados! Não temais, pois valeis mais do que muitos pássaros.» «Todo aquele que se declarar por mim, diante dos homens, também me declararei por ele diante do meu Pai que está no Céu. Mas aquele que me negar diante dos homens, também o hei-de negar diante do meu Pai que está no Céu. Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho do seu pai, a filha da sua mãe e a nora da sua sogra; de tal modo que os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem amar o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem amar o filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não tomar a sua cruz para me seguir, não é digno de mim. Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de mim, há-de salvá-la.» «Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá recompensa de profeta; e quem recebe um justo, por ele ser justo, receberá recompensa de justo. E quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa.» Quando Jesus acabou de dar estas instruções aos doze discípulos, partiu dali, a fim de ir ensinar e pregar nas suas cidades. Ora João, que estava no cárcere, tendo ouvido falar das obras de Cristo, enviou-lhe os seus discípulos com esta pergunta: «És Tu aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?» Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vedes e ouvis: Os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa-Nova é anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontra em mim ocasião de escândalo.» Depois de eles terem partido, Jesus começou a falar às multidões a respeito de João: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então que fostes ver? Um homem vestido de roupas luxuosas? Mas aqueles que usam roupas luxuosas encontram-se nos palácios dos reis. Então, que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais que um profeta. É aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu mensageiro diante de ti, para te preparar o caminho. Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista; e, no entanto, o mais pequeno no Reino do Céu é maior do que ele. Desde o tempo de João Baptista até agora, o Reino do Céu tem sido objecto de violência e os violentos apoderam-se dele à força. Porque todos os Profetas e a Lei anunciaram isto até João. E, quer acrediteis ou não, ele é o Elias que estava para vir. Quem tem ouvidos, oiça!» «Com quem poderei comparar esta geração? É semelhante a crianças sentadas na praça, que se interpelam umas às outras, dizendo: ‘Tocámos flauta para vós e não dançastes; entoámos lamentações e não batestes no peito!’ Na verdade, veio João, que não come nem bebe, e dizem dele: ‘Está possesso!’ Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores!’ Mas a sabedoria foi justificada pelas suas próprias obras.» Jesus começou então a censurar as cidades onde tinha realizado a maior parte dos seus milagres, por não se terem convertido: «Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres realizados entre vós, tivessem sido feitos em Tiro e em Sídon, de há muito se teriam convertido, vestindo-se de saco e com cinza. Aliás, digo-vos Eu: No dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. E tu, Cafarnaúm, julgas que serás exaltada até ao céu? Serás precipitada no abismo. Porque, se os milagres que em ti se realizaram tivessem sido feitos em Sodoma, ela ainda hoje existiria. Aliás, digo-vos Eu: No dia do juízo, haverá mais tolerância para os de Sodoma do que para ti.» Naquela ocasião, Jesus tomou a palavra e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.» «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» Em certa ocasião, Jesus passava, num dia de sábado, através das searas. Os seus discípulos, que tinham fome, começaram a arrancar espigas e a comê-las. Ao verem isso, os fariseus disseram-lhe: «Aí estão os teus discípulos a fazer o que não é permitido ao sábado!» Mas Ele respondeu-lhes: «Não lestes o que fez David, quando sentiu fome, ele e os que estavam com ele? Como entrou na casa de Deus e comeu os pães da oferenda, que não lhe era permitido comer, nem aos que estavam com ele, mas unicamente aos sacerdotes? E nunca lestes na Lei que, ao sábado, no templo, os sacerdotes violam o sábado e ficam sem culpa? Ora, Eu digo-vos que aqui está quem é maior que o templo. E, se compreendêsseis o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício, não teríeis condenado estes que não têm culpa. O Filho do Homem até do sábado é Senhor.» Dali, dirigiu-se à sinagoga e entrou. Encontrava-se lá um homem que tinha uma das mãos paralisada, e eles fizeram-lhe esta pergunta, a fim de o poderem acusar: «Será permitido curar, ao sábado?» Mas Ele perguntou-lhes: «Qual de vós, se tiver uma ovelha e ela cair ao sábado num fosso, não a vai agarrar e tirar de lá? Ora, um homem não vale muito mais que uma ovelha? Por isso, é permitido praticar o bem, ao sábado.» Então, disse ao homem: «Estende a tua mão.» Ele estendeu-a, e a mão tornou-se sã como a outra. Os fariseus, saindo dali, reuniram-se em conselho contra Jesus, a fim de o matarem. Quando soube disso, Jesus afastou-se dali. Muitos seguiram-no e Ele curou-os a todos, ordenando-lhes que o não dessem a conhecer. Assim se cumpriu o que fora anunciado pelo profeta Isaías: Aqui está o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se deleita. Derramarei sobre Ele o meu espírito, e Ele anunciará a minha vontade aos povos. Não discutirá nem bradará, e ninguém ouvirá nas praças a sua voz. Não há-de quebrar a cana fendida, nem apagar a mecha que fumega, até conduzir a minha vontade à vitória. E, no seu nome, hão-de esperar os povos! Trouxeram-lhe, então, um possesso cego e mudo; Jesus curou-o, de modo que o cego começou a falar e a ver. E a multidão admirava-se e dizia: «Não será este o Filho de David?» Mas, ao ouvir isto, os fariseus disseram: «Ele não expulsa os demónios senão por Belzebu, chefe dos demónios.» Conhecendo os seus pensamentos, Jesus respondeu-lhes: «Todo o reino, dividido contra si mesmo, fica devastado; e toda a cidade ou casa, dividida contra si mesma, não poderá subsistir. Ora, se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo: como há-de subsistir o seu reino? E, se Eu expulso os demónios por Belzebu, por quem os expulsam, então, os vossos discípulos? Por isso, eles próprios serão os vossos juízes. Mas, se é pelo Espírito de Deus que Eu expulso os demónios, então chegou até vós o Reino de Deus. Ou como pode alguém entrar em casa de um homem forte e apoderar-se dos seus haveres, sem primeiro o amarrar? Só então poderá saquear-lhe a casa. Quem não está comigo, é contra mim; e quem não junta comigo, desperdiça. Por isso vos digo: Todo o pecado ou blasfémia será perdoado aos homens, mas a blasfémia contra o Espírito não lhes será perdoada. E, se alguém disser alguma palavra contra o Filho do Homem, há-de ser-lhe perdoado; mas, se falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo nem no futuro.» «Ou admitis que a árvore é boa e o seu fruto será bom, ou admitis que a árvore é má e o seu fruto será mau. Porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras! Como podeis falar de coisas boas, se sois maus? Porque a boca fala da abundância do coração. O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas; e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más. Ora, Eu digo-vos: de toda a palavra ociosa que os homens disserem, prestarão contas no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado.» Intervieram, então, alguns doutores da Lei e fariseus, que lhe disseram: «Mestre, queremos ver um sinal feito por ti.» Ele respondeu-lhes: «Geração má e adúltera! Reclama um sinal, mas não lhe será dado outro sinal, a não ser o do profeta Jonas. Assim como Jonas esteve no ventre do monstro marinho, três dias e três noites, assim o Filho do Homem estará no seio da terra, três dias e três noites. No dia do juízo, os habitantes de Nínive hão-de levantar-se contra esta geração para a condenar, porque fizeram penitência quando ouviram a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é maior do que Jonas! No dia do juízo, a rainha do Sul há-de levantar-se contra esta geração para a condenar, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Ora, aqui está alguém que é maior do que Salomão!» «Quando o espírito maligno sai de um homem, vagueia por sítios áridos, em busca de repouso, e não o encontra. Diz então: ‘Voltarei para a minha casa, donde saí.’ E, ao chegar, encontra-a livre, varrida e arrumada. Vai, toma outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, instalam-se nela. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim acontecerá também a esta geração má.» Estava Ele ainda a falar à multidão, quando apareceram sua mãe e seus irmãos, que, do lado de fora, procuravam falar-lhe. Disse-lhe alguém: «A tua mãe e os teus irmãos estão lá fora e querem falar-te.» Jesus respondeu ao que lhe falara: «Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?» E, indicando com a mão os discípulos, acrescentou: «Aí estão minha mãe e meus irmãos; pois, todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.» Naquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se à beira-mar. Reuniu-se a Ele uma tão grande multidão, que teve de subir para um barco, onde se sentou, enquanto toda a multidão se conservava na praia. Jesus falou-lhes de muitas coisas em parábolas: «O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho: e vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra: e logo brotaram, porque a terra era pouco profunda; mas, logo que o sol se ergueu, foram queimadas e, como não tinham raízes, secaram. Outras caíram entre espinhos: e os espinhos cresceram e sufocaram-nas. Outras caíram em terra boa e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; e outras, trinta. Aquele que tiver ouvidos, oiça!» Aproximando-se de Jesus, os discípulos disseram-lhe: «Porque lhes falas em parábolas?» Respondendo, disse-lhes: «A vós é dado conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não lhes é dado. Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado e terá em abundância; mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas: pois vêem, sem ver, e ouvem, sem ouvir nem compreender. Cumpre-se neles a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis; e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo tornou-se duro, e duros também os seus ouvidos; fecharam os olhos, não fossem ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, compreender com o coração, e converter-se, para Eu os curar. Quanto a vós, ditosos os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo: Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver, e não viram, e ouvir o que estais a ouvir, e não ouviram.» «Escutai, pois, a parábola do semeador. Quando um homem ouve a palavra do Reino e não compreende, chega o maligno e apodera-se do que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente à beira do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe, de momento, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, é inconstante: se vier a tribulação ou a perseguição, por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra que, por isso, não produz fruto. E aquele que recebeu a semente em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende: esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta.» Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é comparável a um homem que semeou boa semente no seu campo. Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?’ ‘Foi algum inimigo meu que fez isto’ – respondeu ele. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancá-lo?’ Ele respondeu: ‘Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro.’» Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.» Jesus disse-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado.» Tudo isto disse Jesus, em parábolas, à multidão, e nada lhes dizia sem ser em parábolas. Deste modo cumpria-se o que fora anunciado pelo profeta: Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo. Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!» «O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo. O Reino do Céu é também semelhante a um negociante que busca boas pérolas. Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola.» «O Reino do Céu é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que ela se enche, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e escolhem os bons para as canastras, e os ruins, deitam-nos fora. Assim será no fim do mundo: sairão os anjos e separarão os maus do meio dos justos, para os lançarem na fornalha ardente: ali haverá choro e ranger de dentes.» «Compreendestes tudo isto?» «Sim» – responderam eles. Jesus disse-lhes, então: «Por isso, todo o doutor da Lei instruído acerca do Reino do Céu é semelhante a um pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro.» Depois de terminar estas parábolas, Jesus partiu dali. Tendo chegado à sua terra, ensinava os habitantes na sinagoga deles, de modo que todos se enchiam de assombro e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e o poder de fazer milagres? Não é Ele o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem, pois, tudo isto?» E estavam escandalizados por causa dele. Mas Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria e em sua casa.» E não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente. Por aquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos de Herodes, o tetrarca, e ele disse aos seus cortesãos: «Esse homem é João Baptista! Ressuscitou dos mortos e, por isso, se manifestam nele tais poderes miraculosos.» De facto, Herodes tinha prendido João, algemara-o e metera-o na prisão, por causa de Herodíade, mulher de seu irmão Filipe. Porque João dizia-lhe: «Não te é lícito possuí-la.» Quisera mesmo dar-lhe a morte, mas teve medo do povo, que o considerava um profeta. Ora, quando Herodes festejou o seu aniversário, a filha de Herodíade dançou perante os convidados e agradou a Herodes, pelo que ele se comprometeu, sob juramento, a dar-lhe o que ela lhe pedisse. Induzida pela mãe, respondeu: «Dá-me, aqui num prato, a cabeça de João Baptista.» O rei ficou triste, mas, devido ao juramento e aos convidados, ordenou que lha trouxessem e mandou decapitar João Baptista na prisão. Trouxeram, num prato, a cabeça de João e deram-na à jovem, que a levou à sua mãe. Os discípulos de João vieram buscar o corpo e sepultaram-no; depois, foram dar a notícia a Jesus. Tendo ouvido isto, Jesus retirou-se dali sozinho num barco, para um lugar deserto; mas o povo, quando soube, seguiu-o a pé, desde as cidades. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de misericórdia para com ela, curou os seus enfermos. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Este sítio é deserto e a hora já vai avançada. Manda embora a multidão, para que possa ir às aldeias comprar alimento.» Mas Jesus disse-lhes: «Não é preciso que eles vão; dai-lhes vós mesmos de comer.» Responderam: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.» «Trazei-mos cá» – disse Ele. E, depois de ordenar à multidão que se sentasse na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu e pronunciou a bênção; partiu, depois, os pães e deu-os aos discípulos, e estes distribuíram-nos pela multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, com o que sobejou, encheram doze cestos. Ora, os que comeram eram uns cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Depois, Jesus obrigou os discípulos a embarcar e a ir adiante para a outra margem, enquanto Ele despedia as multidões. Logo que as despediu, subiu a um monte para orar na solidão. E, chegada a noite, estava ali só. O barco encontrava-se já a várias centenas de metros da terra, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário. De madrugada, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Ao verem-no caminhar sobre o mar, os discípulos assustaram-se e disseram: «É um fantasma!» E gritaram com medo. No mesmo instante, Jesus falou-lhes, dizendo: «Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais!» Pedro respondeu-lhe: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas.» «Vem» – disse-lhe Jesus. E Pedro, descendo do barco, caminhou sobre as águas para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento, teve medo e, começando a ir ao fundo, gritou: «Salva-me, Senhor!» Imediatamente Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?» E, quando entraram no barco, o vento amainou. Os que se encontravam no barco prostraram-se diante de Jesus, dizendo: «Tu és, realmente, o Filho de Deus!» Após a travessia, pisaram terra em Genesaré. Ao reconhecerem-no, os habitantes daquele lugar espalharam a notícia por toda a região. Trouxeram-lhe todos os doentes, suplicando-lhe que, ao menos, os deixasse tocar na orla do seu manto. E todos aqueles que a tocaram, ficaram curados. Aproximaram-se, então, de Jesus alguns fariseus e doutores da Lei, vindos de Jerusalém e disseram-lhe: «Porque transgridem os teus discípulos a tradição dos antigos? Pois não lavam as mãos antes das refeições.» Replicou-lhes: «E vós, porque transgredis o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Deus, com efeito, disse: Honra teu pai e tua mãe. E ainda: Quem amaldiçoar o pai ou a mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: ‘Seja quem for que diga a seu pai ou a sua mãe: Os meus bens, de que poderias beneficiar, são oferta sagrada’, esse já não está obrigado a socorrer o pai ou a mãe. E assim, em nome da vossa tradição, anulastes a palavra de Deus. Hipócritas! Muito bem profetizou Isaías a vosso respeito, ao dizer: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É vão o culto que me presta, ensinando doutrinas que são preceitos humanos.» Jesus chamou, depois, a multidão para junto de si e disse-lhes: «Escutai e tratai de compreender! Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro; o que sai da boca é que torna o homem impuro.» Os discípulos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Sabes que os fariseus ficaram escandalizados, por te ouvirem falar assim?» Ele respondeu: «Toda a planta que não tenha sido plantada por meu Pai celeste será arrancada. Deixai-os: são cegos a conduzir outros cegos! Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova.» Tomando a palavra, Pedro disse-lhe: «Explica-nos esta parábola.» Jesus respondeu-lhes: «Também vós não sois ainda capazes de compreender? Não sabeis que tudo aquilo que entra pela boca passa para o ventre e é expelido em lugar próprio? Mas o que sai da boca provém do coração; e é isso que torna o homem impuro. Do coração procedem as más intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias. É isto que torna o homem impuro. Mas comer com as mãos por lavar não torna o homem impuro.» Jesus partiu dali e retirou-se para os lados de Tiro e de Sídon. Então, uma cananeia, que viera daquela região, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio.» Mas Ele não lhe respondeu nem uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-lhe com insistência: «Despacha-a, porque ela persegue-nos com os seus gritos.» Jesus replicou: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.» Mas a mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: «Socorre-me, Senhor.» Ele respondeu-lhe: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.» Retorquiu ela: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.» Então, Jesus respondeu-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.» E, a partir desse instante, a filha dela achou-se curada. Partindo dali, Jesus foi para junto do mar da Galileia. Subiu ao monte e sentou-se. Vieram ter com Ele numerosas multidões, que transportavam coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, e lançavam-nos a seus pés. Ele curou-os, de modo que as multidões ficaram maravilhadas ao ver os mudos a falar, os aleijados escorreitos, os coxos a andar e os cegos com vista. E davam glória ao Deus de Israel. Jesus, chamando os discípulos, disse-lhes: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer. Não quero despedi-los em jejum, pois receio que desfaleçam pelo caminho.» Os discípulos disseram-lhe: «Onde iremos buscar, num deserto, pães suficientes para saciar tão grande multidão?» Jesus perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?» Responderam: «Sete, e alguns peixinhos.» Ordenou à multidão que se sentasse. Tomou os sete pães e os peixes, deu graças, partiu-os e dava-os aos discípulos, e estes, à multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, com os bocados que sobejaram, encheram sete cestos. Ora, os que comeram eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças. Depois de ter despedido a multidão, Jesus subiu para o barco e veio para a região de Magadan. Então, os fariseus e os saduceus aproximaram-se dele; e, para o tentarem, pediram-lhe que lhes fizesse ver um sinal do Céu. Ele respondeu-lhes: «Ao entardecer, vós dizeis: ‘Vamos ter bom tempo, pois o céu está avermelhado’; e, de manhã cedo, dizeis: ‘Hoje temos tempestade, pois o céu está de um vermelho sombrio.’ Como se vê, sabeis interpretar o aspecto do céu; mas, quanto aos sinais dos tempos, não sois capazes de os interpretar! Esta geração má e adúltera exige um sinal! Mas sinal algum lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas.» E, deixando-os lá, afastou-se. Ora, os discípulos, ao atravessarem para a outra margem do lago, esqueceram-se de levar pão. Jesus disse-lhes: «Estai atentos e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus!» E eles começaram a discorrer entre si, dizendo: «Foi por não termos trazido pão.» Mas Jesus, que tudo compreendeu, observou-lhes: «Homens de pouca fé, porque estais a discorrer entre vós por não terdes trazido pão? Ainda não compreendeis? Não vos recordais dos cinco pães para os cinco mil homens e de quantos cestos recolhestes? Nem dos sete pães para os quatro mil homens e de quantos cestos recolhestes? Como é que não compreendeis que não era de pão que falava, quando vos disse: ‘Acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus’?» Então, compreenderam que Jesus não lhes tinha dito que se defendessem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. Ao chegar à região de Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.» Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.» Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu.» Depois, ordenou aos discípulos que a ninguém dissessem que Ele era o Messias. A partir desse momento, Jesus Cristo começou a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar. Tomando-o de parte, Pedro começou a repreendê-lo, dizendo: «Deus te livre, Senhor! Isso nunca te há-de acontecer!» Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!» Jesus disse, então, aos discípulos: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que poderá dar o homem em troca da sua vida? Porque o Filho do Homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme o seu procedimento. Em verdade vos digo: alguns dos que estão aqui presentes não hão-de experimentar a morte, antes de terem visto chegar o Filho do Homem com o seu Reino.» Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e levou-os, só a eles, a um alto monte. Transfigurou-se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. Nisto, apareceram Moisés e Elias a conversar com Ele. Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Senhor, é bom estarmos aqui; se quiseres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Ainda ele estava a falar, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra, e uma voz dizia da nuvem: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-o.» Ao ouvirem isto, os discípulos caíram com a face por terra, muito assustados. Aproximando-se deles, Jesus tocou-lhes, dizendo: «Levantai-vos e não tenhais medo.» Erguendo os olhos, os discípulos apenas viram Jesus e mais ninguém. Enquanto desciam do monte, Jesus ordenou-lhes: «Não conteis a ninguém o que acabastes de ver, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.» Os discípulos fizeram a Jesus esta pergunta: «Então, porque é que os doutores da Lei dizem que Elias há-de vir primeiro?» Ele respondeu: «Sim, Elias há-de vir e restabelecerá todas as coisas. Eu, porém, digo-vos: Elias já veio, e não o reconheceram; trataram-no como quiseram. Também assim hão-de fazer sofrer o Filho do Homem.» Então, os discípulos compreenderam que se referia a João Baptista. Quando eles chegaram perto da multidão, um homem aproximou-se de Jesus, ajoelhou-se a seus pés e disse-lhe: «Senhor, tem piedade do meu filho. Ele tem ataques e está muito mal. Cai frequentemente no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo.» Disse Jesus: «Geração descrente e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» Jesus falou severamente ao demónio, e este saiu do jovem que, a partir desse momento, ficou curado. Então, os discípulos aproximaramse de Jesus e perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não fomos capazes de expulsá-lo?» Disse-lhes Ele: «Pela vossa pouca fé. Em verdade vos digo: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: ‘Muda-te daqui para acolá’, e ele há-de mudar-se; e nada vos será impossível. Esta espécie de demónios não se expulsa senão à força de oração e de jejum.» Estando reunidos na Galileia, Jesus disse-lhes: «O Filho do Homem tem de ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão; mas, ao terceiro dia, ressuscitará.» E eles ficaram profundamente consternados. Entrando em Cafarnaúm, aproximaram-se de Pedro os cobradores do imposto do templo e disseram-lhe: «O vosso Mestre não paga o imposto?» Ele respondeu: «Paga, sim.» Quando chegou a casa, Jesus antecipou-se, dizendo: «Simão, que te parece? De quem recebem os reis da terra impostos e contribuições? Dos seus filhos, ou dos estranhos?» E como ele respondesse: «Dos estranhos», Jesus disse-lhe: «Então, os filhos estão isentos. No entanto, para não os escandalizarmos, vai ao mar, deita o anzol, apanha o primeiro peixe que nele cair, abre-lhe a boca e encontrarás lá um estáter. Toma-o e dá-lho por mim e por ti.» Naquele momento, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.» «Mas, se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos! São inevitáveis, decerto, os escândalos; mas ai do homem por quem vem o escândalo! Se a tua mão ou o teu pé são para ti ocasião de queda, corta-os e lança-os para longe de ti: é melhor para ti entrares na Vida mutilado ou coxo, do que, tendo as duas mãos ou os dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se a tua vista é para ti ocasião de queda, arranca-a e lança-a para longe de ti: é melhor para ti entrares com uma só vista na Vida, do que, tendo os dois olhos, seres lançado na Geena do fogo.» «Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, vêem constantemente a face de meu Pai que está no Céu. Porque o Filho do Homem veio salvar o que se tinha perdido. Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove no monte, para ir à procura da tresmalhada? E, se chegar a encontrá-la, em verdade vos digo: alegra-se mais com ela do que com as noventa e nove que não se tresmalharam. Assim também é da vontade de vosso Pai que está no Céu que não se perca um só destes pequeninos.» «Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão. Se não te der ouvidos, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Se ele se recusar a ouvi-las, comunica-o à Igreja; e, se ele se recusar a atender à própria Igreja, seja para ti como um pagão ou um cobrador de impostos. Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu.» «Digo-vos ainda: Se dois de entre vós se unirem, na Terra, para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que está no Céu. Pois, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.» Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo ao princípio, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, a fim de pagar a dívida. O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: ‘Concede-me um prazo e tudo te pagarei.’ Levado pela compaixão, o senhor daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: ‘Paga o que me deves!’ O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: ‘Concede-me um prazo que eu te pagarei.’ Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto lhe devia. Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor. Então o senhor mandou-o chamar e disse-lhe: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.» Quando acabou de dizer estas palavras, Jesus partiu da Galileia e veio para a região da Judeia, na outra margem do Jordão. Era seguido por grandes multidões e curou ali os seus doentes. Alguns fariseus, para o experimentarem, aproximaram-se dele e disseram-lhe: «É permitido a um homem divorciar-se da sua mulher por qualquer motivo?» Ele respondeu: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, fê-los homem e mulher, e disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois um só? Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» Eles, porém, objectaram: «Então, porque é que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio, ao repudiá-la?» Respondeu Jesus: «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas, ao princípio, não foi assim. Ora Eu digo-vos: Se alguém se divorciar da sua mulher – excepto em caso de união ilegal – e casar com outra, comete adultério.» Os discípulos disseram-lhe: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se!» Respondeu-lhes Jesus: «Nem todos compreendem esta linguagem, mas apenas aqueles a quem isso é dado. Há eunucos que nasceram assim do seio materno, há os que se tornaram eunucos pela interferência dos homens e há aqueles que se fizeram eunucos a si mesmos, por amor do Reino do Céu. Quem puder compreender, compreenda.» Apresentaram-lhe, então, umas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas, mas os discípulos repreenderam-nos. Jesus disse-lhes: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.» E, depois de lhes ter imposto as mãos, prosseguiu o seu caminho. Aproximou-se dele um jovem e disse-lhe: «Mestre, que hei-de fazer de bom, para alcançar a vida eterna?» Jesus respondeu-lhe: «Porque me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só. Mas, se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos.» «Quais?» – perguntou ele. Retorquiu Jesus: Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe; e ainda: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: «Tenho cumprido tudo isto; que me falta ainda?» Jesus respondeu: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» Ao ouvir isto, o jovem retirou-se contristado, porque possuía muitos bens. Jesus disse, então, aos discípulos: «Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no Reino do Céu. Repito-vos: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu.» Ao ouvir isto, os discípulos ficaram estupefactos e disseram: «Então, quem pode salvar-se?» Fixando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é impossível, mas a Deus tudo é possível.» Tomando a palavra, Pedro disse-lhe: «Nós deixámos tudo e seguimos-te. Qual será a nossa recompensa?» Jesus respondeu-lhes: «Em verdade vos digo: No dia da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do Homem se sentar no seu trono de glória, vós, que me seguistes, haveis de sentar-vos em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna. Muitos dos primeiros serão os últimos, e muitos dos últimos serão os primeiros.» «Com efeito, o Reino do Céu é semelhante a um proprietário que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para a sua vinha. Saiu depois pelas nove horas, viu outros na praça, que estavam sem trabalho, e disse-lhes: ‘Ide também para a minha vinha e tereis o salário que for justo.’ E eles foram. Saiu de novo por volta do meio-dia e das três da tarde, e fez o mesmo. Saindo pelas cinco da tarde, encontrou ainda outros que ali estavam e disse-lhes: ‘Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?’ Responderam-lhe: ‘É que ninguém nos contratou.’ Ele disse-lhes: ‘Ide também para a minha vinha.’ Ao entardecer, o dono da vinha disse ao capataz: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros.’ Vieram os das cinco da tarde e receberam um denário cada um. Vieram, por seu turno, os primeiros e julgaram que iam receber mais, mas receberam, também eles, um denário cada um. Depois de o terem recebido, começaram a murmurar contra o proprietário, dizendo: ‘Estes últimos só trabalharam uma hora e deste-lhes a mesma paga que a nós, que suportámos o cansaço do dia e o seu calor.’ O proprietário respondeu a um deles: ‘Em nada te prejudico, meu amigo. Não foi um denário que nós ajustámos? Leva, então, o que te é devido e segue o teu caminho, pois eu quero dar a este último tanto como a ti. Ou não me será permitido dispor dos meus bens como eu entender? Será que tens inveja por eu ser bom?’ Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.» Ao subir a Jerusalém, pelo caminho, chamou à parte os Doze e disse-lhes: «Vamos subir a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, que o vão condenar à morte. Hão-de entregá-lo aos pagãos, que o vão escarnecer, açoitar e crucificar. Mas Ele ressuscitará ao terceiro dia.» Aproximou-se então de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos, e prostrou-se diante dele para lhe fazer um pedido. «Que queres?» – perguntou-lhe Ele. Ela respondeu: «Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino.» Jesus retorquiu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?» Eles responderam: «Podemos.» Jesus replicou-lhes: «Na verdade, bebereis o meu cálice; mas, o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado.» Ouvindo isto, os outros dez ficaram indignados com os dois irmãos. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas o seu poder. Não seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande, seja o vosso servo; e quem no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão.» Quando iam a sair de Jericó, uma grande multidão seguiu Jesus. Nisto, dois cegos que estavam sentados à beira da estrada, ao ouvirem dizer que Jesus ia a passar, começaram a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!» A multidão repreendia-os para os fazer calar, mas eles gritavam cada vez mais: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!» Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: «Que quereis que vos faça?» Responderam-lhe: «Senhor, que os nossos olhos se abram!» Dominado pela compaixão, Jesus tocou-lhes nos olhos. Imediatamente recuperaram a vista e seguiram-no. Quando já se aproximavam de Jerusalém, chegaram a Betfagé, junto ao monte das Oliveiras. Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: «Ide à aldeia que está em frente de vós e logo encontrareis uma jumenta presa e com ela um jumentinho. Soltai-os e trazei-mos. E, se alguém vos disser alguma coisa, respondereis: ‘O Senhor precisa deles, mas logo os devolverá.’» Isto sucedeu para se cumprir o que fora anunciado pelo profeta: Dizei à filha de Sião: Aí vem o teu Rei, ao teu encontro, manso e montado num jumentinho, filho de uma jumenta. Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram as suas capas sobre eles e Jesus sentou-se em cima. Uma grande multidão estendia as suas capas no caminho; outros cortavam ramos das árvores e espalhavam-nos pelo chão. E todos, quer os que iam à sua frente, quer aqueles que o seguiam, diziam em altos brados: Hossana ao Filho de David! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas! Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço. «Quem é este?» – perguntavam. E a multidão respondia: «É Jesus, o profeta de Nazaré, da Galileia.» Jesus entrou no templo e expulsou dali todos os que nele vendiam e compravam. Derrubou as mesas dos cambistas e as bancas dos vendedores de pombas, dizendo-lhes: «Está escrito: A minha casa há-de chamar-se casa de oração, mas vós fazeis dela um covil de ladrões.» Aproximaram-se dele, no templo, cegos e coxos, e Ele curou-os. Perante os prodígios que realizava e as crianças que gritavam no templo: «Hossana ao Filho de David», os sumos sacerdotes e os doutores da Lei ficaram indignados e disseram-lhe: «Ouves o que eles dizem?» Respondeu Jesus: «Sim. Nunca lestes: Da boca dos pequeninos e das crianças de peito fizeste sair o louvor perfeito?» Depois afastou-se deles, saiu da cidade e foi para Betânia, onde pernoitou. Logo de manhã cedo, ao voltar para a cidade, teve fome. Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas não encontrou senão folhas. Disse então: «Nunca mais nascerá fruto de ti!» E, naquele mesmo instante, a figueira secou. Vendo isto, os discípulos disseram admirados: «Como é que a figueira secou subitamente?» Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que Eu fiz a esta figueira, mas, se disserdes a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, assim acontecerá. Tudo quanto pedirdes com fé, na oração, haveis de recebê-lo.» Em seguida, entrou no templo. Quando estava a ensinar, foram ter com Ele os sumos sacerdotes e os anciãos do povo e disseram-lhe: «Com que autoridade fazes isto? E quem te deu tal poder?» Jesus respondeu-lhes: «Também Eu vou fazer-vos uma pergunta. Se me responderdes, digo-vos com que autoridade faço isto. De onde provinha o baptismo de João: do Céu ou dos homens?» Mas eles começaram a pensar entre si: «Se respondermos: ‘Do Céu’, vai dizer-nos: ‘Porque não lhe destes crédito?’ E, se respondermos: ‘Dos homens’, ficamos com receio da multidão, pois todos têm João por um profeta.» E responderam a Jesus: «Não sabemos.» Disse-lhes Ele, por seu turno: «Também Eu vos não digo com que autoridade faço isto.» «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha.’ Mas ele respondeu: ‘Não quero.’ Mais tarde, porém, arrependeu-se e foi. Dirigindo-se ao segundo, falou-lhe do mesmo modo e ele respondeu: ‘Vou sim, senhor.’ Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Responderam eles: «O primeiro.» Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo: Os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus. João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os cobradores de impostos e as meretrizes acreditaram nele. E vós, nem depois de verdes isto, vos arrependestes para acreditar nele.» «Escutai outra parábola: Um chefe de família plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, construiu uma torre, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se para longe. Quando chegou a época das vindimas, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os frutos que lhe pertenciam. Os vinhateiros, porém, apoderaram-se dos servos, bateram num, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Tornou a mandar outros servos, mais numerosos do que os primeiros, e trataram-nos da mesma forma. Finalmente, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Hão-de respeitar o meu filho.’ Mas os vinhateiros, vendo o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Matemo-lo e ficaremos com a sua herança.’ E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Ora bem, quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?» Eles responderam-lhe: «Dará morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos na altura devida.» Jesus disse-lhes: «Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos? Por isso vos digo: O Reino de Deus ser-vos-á tirado e será confiado a um povo que produzirá os seus frutos. Quem cair sobre esta pedra, ficará despedaçado; aquele sobre quem ela cair, ficará esmagado.» Os sumos sacerdotes e os fariseus, ao ouvirem as suas parábolas, compreenderam que eram eles os visados. Embora procurassem meio de o prender, temeram o povo, que o considerava profeta. Tendo Jesus recomeçado a falar em parábolas, disse-lhes: «O Reino do Céu é comparável a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram comparecer. De novo mandou outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: O meu banquete está pronto; abateram-se os meus bois e as minhas reses gordas; tudo está preparado. Vinde às bodas.’ Mas eles, sem se importarem, foram um para o seu campo, outro para o seu negócio. Os restantes, apoderando-se dos servos, maltrataram-nos e mataram-nos. O rei ficou irado e enviou as suas tropas, que exterminaram aqueles assassinos e incendiaram a sua cidade. Disse, depois, aos servos: ‘O banquete das núpcias está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes.’ Os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos aqueles que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados. Quando o rei entrou para ver os convidados, viu um homem que não trazia o traje nupcial. E disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’ Mas ele emudeceu. O rei disse, então, aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’ Porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos.» Então, os fariseus reuniram-se para combinar como o haviam de surpreender nas suas próprias palavras. Enviaram-lhe os seus discípulos, acompanhados dos partidários de Herodes, a dizer-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, sem te deixares influenciar por ninguém, pois não olhas à condição das pessoas. Diz-nos, portanto, o teu parecer: É lícito ou não pagar o imposto a César?» Mas Jesus, conhecendo-lhes a malícia, retorquiu: «Porque me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do imposto.» Eles apresentaram-lhe um denário. Perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?» «De César» – responderam. Disse-lhes então: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» Quando isto ouviram, ficaram maravilhados e, deixando-o, retiraram-se. Nesse mesmo dia, os saduceus, que não acreditam na ressurreição, foram ter com Ele e interrogaram-no. «Mestre, Moisés disse: Se algum homem morrer sem filhos, o seu irmão casará com a viúva, para suscitar descendência ao irmão. Ora, entre nós havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu sem descendência, deixando a mulher a seu irmão; sucedeu o mesmo ao segundo, depois ao terceiro, e assim até ao sétimo. Depois de todos eles, morreu a mulher. Então, na ressurreição, de qual dos sete será ela mulher, visto que o foi de todos?» Jesus respondeu-lhes: «Estais enganados, porque desconheceis as Escrituras e o poder de Deus. Na ressurreição, nem os homens terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como anjos no Céu. E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob? Não dos mortos, mas dos vivos é que Ele é Deus!» E a multidão, ouvindo-o, maravilhava-se com a sua doutrina. Constando-lhes que Jesus reduzira os saduceus ao silêncio, os fariseus reuniram-se em grupo. E um deles, que era legista, perguntou-lhe para o embaraçar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» Jesus disse-lhe: Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.» Estando os fariseus reunidos, Jesus interrogou-os: «Que pensais vós do Messias? De quem é filho?» Responderam-lhe: «De David.» Disse-lhes Ele: «Como é, então, que David, sob a influência do Espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que Eu ponha os teus inimigos por estrado de teus pés’? Ora, se David lhe chama Senhor, como é seu filho?» E ninguém soube responder-lhe palavra. A partir de então, ninguém mais se atreveu a interrogá-lo. Então, Jesus falou assim à multidão e aos seus discípulos: «Os doutores da Lei e os fariseus instalaram-se na cátedra de Moisés. Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e insuportáveis e colocam-nos aos ombros dos outros, mas eles não põem nem um dedo para os deslocar. Tudo o que fazem é com o fim de se tornarem notados pelos homens. Por isso, alargam as filactérias e alongam as orlas dos seus mantos. Gostam de ocupar o primeiro lugar nos banquetes e os primeiros assentos nas sinagogas. Gostam das saudações nas praças públicas e de serem chamados 'mestres' pelos homens. Quanto a vós, não vos deixeis tratar por 'mestres', pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. E, na terra, a ninguém chameis ‘Pai’, porque um só é o vosso ‘Pai’: aquele que está no Céu. Nem permitais que vos tratem por ‘doutores’, porque um só é o vosso ‘Doutor’: Cristo. O maior de entre vós será o vosso servo. Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas orações! Por isso, sereis mais rigorosamente julgados. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito e, depois de o terdes seguro, fazeis dele um filho do inferno, duas vezes pior do que vós! Ai de vós, guias cegos, que dizeis: ‘Se alguém jura pelo santuário, isso não tem importância; mas, se jura pelo ouro do santuário, fica sujeito ao juramento.’ Insensatos e cegos! Que é o que vale mais? O ouro ou o santuário, que tornou o ouro sagrado? Dizeis ainda: ‘Se alguém jura pelo altar, isso não tem importância; mas, se jura pela oferta que está sobre o altar, fica sujeito ao juramento.’ Cegos! Qual é o que vale mais? A oferta ou o altar, que torna sagrada a oferta? Portanto, jurar pelo altar é o mesmo que jurar por ele e por tudo o que está sobre ele; jurar pelo santuário é jurar por ele e por aquele que nele habita; jurar pelo Céu é jurar pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade! Fariseu cego! Limpa antes o interior do copo, para que o exterior também fique limpo. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície! Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos profetas e adornais os túmulos dos justos, dizendo: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!’ Deste modo, confessais que sois filhos dos que assassinaram os profetas. Acabai, então, de encher a medida dos vossos pais! Serpentes! Raça de víboras! Como podereis fugir à condenação da Geena? Por causa disto, envio-vos profetas, sábios e doutores da Lei. Matareis e crucificareis alguns deles, açoitareis outros nas vossas sinagogas e haveis de persegui-los, de cidade em cidade. Assim cairá sobre vós todo o sangue inocente que tem sido derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo: Tudo isto cairá sobre esta geração!» «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus pintainhos sob as asas, e tu não quiseste! Pois bem, a vossa casa ficará deserta. Eu vos digo que não voltareis a ver-me até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.» Tendo saído do templo, Jesus ia-se embora, quando os seus discípulos se aproximaram dele para lhe mostrar as construções do templo. Mas Ele disse-lhes: «Vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra: tudo será destruído.» Estando Jesus sentado no Monte das Oliveiras, os discípulos aproximaram-se e perguntaram-lhe em particular: «Diz-nos quando acontecerá tudo isto e qual o sinal da tua vinda e do fim do mundo.» Jesus respondeu-lhes: «Tomai cuidado para que ninguém vos desencaminhe. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: ‘Sou eu o Messias.’ E hão-de enganar muita gente. Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras, mas não vos assusteis. Isso tem de acontecer, mas ainda não será o fim. Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino, e haverá fomes, pestes e terramotos em vários sítios. Tudo isto será apenas o princípio das dores.» «Então, irão entregar-vos à tortura e à morte e, por causa do meu nome, todos os povos irão odiar-vos. Nessa altura, muitos sucumbirão e hão-de trair-se e odiar-se uns aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, que hão-de enganar a muitos. E, porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos; mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. Este Evangelho do Reino será proclamado em todo o mundo, para se dar testemunho diante de todos os povos. E então virá o fim.» «Por isso, quando virdes a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo, – o que lê, entenda – então, os que se encontrarem na Judeia fujam para os montes; aquele que estiver no terraço não desça para tirar as coisas de sua casa; e o que se encontrar no campo não volte atrás para buscar a capa. Ai das que estiverem grávidas e das que andarem amamentando nesses dias! Rezai para que a vossa fuga não se verifique no Inverno ou em dia de sábado, pois nessa altura a aflição será tão grande como nunca se viu desde o princípio do mundo até ao presente, nem jamais se verá. E, se não fossem abreviados esses dias, criatura alguma se poderia salvar; mas, por causa dos eleitos, esses dias serão reduzidos.» «Então, se vierem dizer-vos: ‘Aqui está o Messias’, ou ‘Ali está Ele’, não acrediteis; porque hão-de surgir falsos messias e falsos profetas, que farão grandes milagres e prodígios, a ponto de desencaminharem, se possível, até os eleitos. Olhai que já vos preveni. Por isso, se vos disserem: ‘Ele está no deserto’, não saiais; ‘Ei-lo no interior da casa’, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e brilha até ao Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem. Onde houver um cadáver, aí se juntarão os abutres.» «Logo após a aflição daqueles dias, o Sol irá escurecer-se, a Lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória. Ele enviará os seus anjos, com uma trombeta altissonante, para reunir os seus eleitos desde os quatro ventos, de um extremo ao outro do céu.» «Aprendei da comparação tirada da figueira: quando os seus ramos se tornam tenros e as folhas começam a despontar, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes tudo isto, ficai sabendo que Ele está próximo, à porta. Em verdade vos digo: Esta geração não passará sem que tudo isto aconteça. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.» «Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe: nem os anjos do Céu nem o Filho; só o Pai. Como foi nos dias de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem. Nos dias que precederam o dilúvio, comia-se, bebia-se, os homens casavam e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou na Arca; e não deram por nada até chegar o dilúvio, que a todos arrastou. Assim será também a vinda do Filho do Homem. Então, estarão dois homens no campo: um será levado e outro deixado; duas mulheres estarão a moer no mesmo moinho: uma será levada e outra deixada. Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais.» «Quem julgais que é o servo fiel e prudente, que o senhor pôs à frente da sua família para os alimentar a seu tempo? Feliz esse servo a quem o senhor, ao voltar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo: Há-de confiar-lhe todos os seus bens. Mas, se um mau servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor está a demorar’, e começar a bater nos seus companheiros, a comer e a beber com os ébrios, o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e à hora que ele desconhece; vai afastá-lo e dar-lhe um lugar com os hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes.» «O Reino do Céu será semelhante a dez virgens que, tomando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. Ora, cinco delas eram insensatas e cinco prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; enquanto as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias. Como o noivo demorava, começaram a dormitar e adormeceram. A meio da noite, ouviu-se um brado: ‘Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!’ Todas aquelas virgens despertaram, então, e aprontaram as candeias. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias estão a apagar-se.’ Mas as prudentes responderam: ‘Não, talvez não chegue para nós e para vós. Ide, antes, aos vendedores e comprai-o.’ Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o noivo; as que estavam prontas entraram com ele para a sala das núpcias, e fechou-se a porta. Mais tarde, chegaram as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta!’ Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço.’ Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.» «Será também como um homem que, ao partir para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu. Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco. Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois. Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e pediu-lhes contas. Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui estão outros cinco que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos: ‘Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu ganhei.’ O senhor disse-lhe: ‘Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.’ Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: ‘Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence.’ O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. Pois bem, devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria levantado o meu dinheiro com juros.’ ‘Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. A esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.’» «Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’ Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’ Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’ Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’ Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.» Tendo acabado todos estes discursos, Jesus disse aos discípulos: «Como sabeis, a Páscoa é daqui a dois dias, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado.» Então, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no palácio do Sumo Sacerdote, que se chamava Caifás, e deliberaram prender Jesus, à traição, e matá-lo. Diziam, porém: «Que não seja durante a festa, para não haver alvoroço entre o povo.» Jesus encontrava-se em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Enquanto estava à mesa, aproximou-se dele uma mulher, que trazia um frasco de alabastro com um perfume de alto preço e derramou-lho sobre a cabeça. Ao verem isto, os discípulos ficaram indignados e disseram: «Para quê este desperdício? Podia vender-se por bom preço e dar-se o dinheiro aos pobres.» Jesus apercebeu-se de tudo e disse: «Porque afligis esta mulher? Ela praticou uma boa acção para comigo. Pobres, sempre os tereis convosco; mas a mim nem sempre me tereis. Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela preparou a minha sepultura. Em verdade vos digo: Em qualquer parte do mundo onde este Evangelho for anunciado, há-de também narrar-se, em sua memória, o que ela acaba de fazer.» Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse-lhes: «Quanto me dareis, se eu vo-lo entregar?» Eles garantiram-lhe trinta moedas de prata. E, a partir de então, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo; é em tua casa que quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos.’» Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, sentou-se à mesa com os Doze. Enquanto comiam, disse: «Em verdade vos digo: Um de vós me há-de entregar.» Profundamente entristecidos, começaram a perguntar-lhe, cada um por sua vez: «Porventura serei eu, Senhor?» Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse me entregará. O Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito acerca dele; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue. Seria melhor para esse homem não ter nascido!» Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» – respondeu Jesus. Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: «Tomai, comei: isto é o meu corpo.» Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos. Porque este é o meu sangue, sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para perdão dos pecados. Eu vos digo: Não beberei mais deste produto da videira, até ao dia em que beber o vinho novo convosco no Reino de meu Pai.» Depois de cantarem os salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. Jesus disse-lhes, então: «Nesta mesma noite, todos ficareis perturbados por minha causa, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho serão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, hei-de preceder-vos na Galileia.» Tomando a palavra, Pedro respondeu-lhe: «Ainda que todos fiquem perturbados por tua causa, eu nunca me perturbarei!» Jesus retorquiu-lhe: «Em verdade te digo: Esta mesma noite, antes de o galo cantar, vais negar-me três vezes.» Pedro disse-lhe: «Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei!» E todos os discípulos afirmaram o mesmo. Entretanto, Jesus com os seus discípulos chegou a um lugar chamado Getsémani e disse-lhes: «Sentai-vos aqui, enquanto Eu vou além orar.» E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo.» E, adiantando-se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. No entanto, não seja como Eu quero, mas como Tu queres.» Voltando para junto dos discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem sequer pudeste vigiar uma hora comigo! Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é débil.» Afastou-se, pela segunda vez, e foi orar, dizendo: «Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade!» Depois voltou e encontrou-os novamente a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os e foi orar de novo pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Reunindo-se finalmente aos discípulos, disse-lhes: «Continuai a dormir e a descansar! Já se aproxima a hora, e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Já se aproxima aquele que me vai entregar.» Ainda Ele falava, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele muita gente, com espadas e varapaus, enviada pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos do povo. O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo: prendei-o.» Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: «Salve, Mestre!» E beijou-o. Jesus respondeu-lhe: «Amigo, a que vieste?» Então, avançaram, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-lhe: «Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada morrerão à espada. Julgas que não posso recorrer a meu Pai? Ele imediatamente me enviaria mais de doze legiões de anjos! Mas como se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve acontecer?» Voltando-se, depois, para a multidão, disse: «Viestes prender-me com espadas e varapaus, como se eu fosse um ladrão! Todos os dias estava sentado no templo a ensinar, e não me prendestes. Mas tudo isto aconteceu, para que se cumprissem as Escrituras dos profetas.» Então, todos os discípulos o abandonaram e fugiram. Os que tinham prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde os doutores da Lei e os anciãos do povo se tinham reunido. Pedro seguiu-o de longe até ao palácio do Sumo Sacerdote. Aproximando-se, entrou e sentou-se entre os servos, para ver o desfecho de tudo aquilo. Os sumos sacerdotes e todo o Conselho procuravam um depoimento falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. Mas não o encontraram, embora se tivessem apresentado muitas testemunhas falsas. Apresentaram-se finalmente duas, que declararam: «Este homem disse: ‘Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.’» O Sumo Sacerdote ergueu-se, então, e disse-lhe: «Não respondes nada? Que dizes aos que depõem contra ti?» Mas Jesus continuava calado. O Sumo Sacerdote disse-lhe: «Intimo-te, pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.» Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste. E Eu digo-vos: Vereis um dia o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.» Então, o Sumo Sacerdote rasgou as vestes, dizendo: «Blasfemou! Que necessidade temos, ainda, de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. Que vos parece?» Eles responderam: «É réu de morte.» Depois cuspiam-lhe no rosto e batiam-lhe. Outros esbofeteavam-no, dizendo: «Profetiza, Messias: quem foi que te bateu?» Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Galileu.» Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.» Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.» Ele negou de novo com juramento: «Não conheço esse homem.» Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.» Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!» No mesmo instante, o galo cantou. E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente. De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o matarem. E, manietando-o, levaram-no ao governador Pilatos. Então Judas, que o entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi tocado pelo remorso e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente.» Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá contigo.» Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se. Os sumos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois são preço de sangue.» Depois de terem deliberado, compraram com elas o «Campo do Oleiro», para servir de cemitério aos estrangeiros. Por tal razão, aquele campo é chamado, até ao dia de hoje, «Campo de Sangue.» Deste modo, cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi avaliado aquele que os filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor havia ordenado.» Jesus foi conduzido à presença do governador, que lhe perguntou: «Tu és o Rei dos Judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» Mas, ao ser acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. Pilatos disse-lhe, então: «Não ouves tudo o que dizem contra ti?» Mas Ele não respondeu coisa alguma, de modo que o governador estava muito admirado. Ora, por ocasião da festa, o governador costumava conceder a liberdade a um prisioneiro, à escolha do povo. Nessa altura havia um preso afamado, chamado Barrabás. Pilatos perguntou ao povo, que se encontrava reunido: «Qual quereis que vos solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?» Ele sabia que o tinham entregado por inveja. Enquanto estava sentado no tribunal, a mulher mandou-lhe dizer: «Não te intrometas no caso desse justo, porque hoje muito sofri em sonhos por causa dele.» Mas os sumos sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e exigir a morte de Jesus. Tomando a palavra, o governador inquiriu: «Qual dos dois quereis que vos solte?» Eles responderam: «Barrabás!» Pilatos disse-lhes: «Que hei-de fazer, então, de Jesus chamado Cristo?» Todos responderam: «Seja crucificado!» Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?» Mas eles cada vez gritavam mais: «Seja crucificado!» Pilatos, vendo que nada conseguia e que o tumulto aumentava cada vez mais, mandou vir água e lavou as mãos na presença da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.» E todo o povo respondeu: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!» Então, soltou-lhes Barrabás. Quanto a Jesus, depois de o mandar flagelar, entregou-o para ser crucificado. Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e reuniram toda a coorte à volta dele. Despiram-no e envolveram-no com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele, escarneciam-no, dizendo: «Salve! Rei dos Judeus!» E, cuspindo-lhe no rosto, agarravam na cana e batiam-lhe na cabeça. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. À saída, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e obrigaram-no a levar a cruz de Jesus. Quando chegaram a um lugar chamado Gólgota, isto é, «Lugar do Crânio», deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas Ele, provando-o, não quis beber. Depois de o terem crucificado, repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte. Ficaram ali sentados a guardá-lo. Por cima da sua cabeça, colocaram um escrito, indicando a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos judeus.» Com Ele, foram crucificados dois salteadores: um à direita e outro à esquerda. Os que passavam injuriavam-no, meneando a cabeça e dizendo: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz!» Os sumos sacerdotes com os doutores da Lei e os anciãos também zombavam dele, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é o rei de Israel, desça da cruz, e acreditaremos nele. Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: ‘Eu sou Filho de Deus!’» Até os salteadores, que estavam crucificados com Ele, o insultavam. Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabactháni?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Alguns dos que ali se encontravam, ao ouvi-lo, disseram: «Está a chamar por Elias.» Um deles correu imediatamente, pegou numa esponja, embebeu-a em vinagre e, fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: «Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo.» E Jesus, clamando outra vez com voz forte, expirou. Então, o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. A terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos, que estavam mortos, ressuscitaram; e, saindo dos túmulos depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram apavorados e disseram: «Este era verdadeiramente o Filho de Deus!» Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia e o serviram. Entre elas, estavam Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ordenou que lho entregassem. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois, rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se. Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro. No dia seguinte, que era o dia a seguir ao da Preparação, os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram-se com Pilatos e disseram-lhe: «Senhor, lembrámo-nos de que aquele impostor disse, ainda em vida: ‘Três dias depois hei-de ressuscitar.’ Por isso, ordena que o sepulcro seja guardado até ao terceiro dia, não venham os discípulos roubá-lo e dizer ao povo: ‘Ressuscitou dos mortos.’ E seria a última impostura pior do que a primeira.» Pilatos respondeu-lhes: «Tendes guardas. Ide e guardai-o como entenderdes.» E eles foram pôr o sepulcro em segurança, selando a pedra e confiando-o à vigilância dos guardas. Terminado o sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Magdala e a outra Maria foram visitar o sepulcro. Nisto, houve um grande terramoto: o anjo do Senhor, descendo do Céu, aproximou-se e removeu a pedra, sentando-se sobre ela. O seu aspecto era como o de um relâmpago; e a sua túnica, branca como a neve. Os guardas, com medo dele, puseram-se a tremer e ficaram como mortos. Mas o anjo tomou a palavra e disse às mulheres: «Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia e ide depressa dizer aos seus discípulos: ‘Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis.’ Eis o que tinha para vos dizer.» Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos. Jesus saiu ao seu encontro e disse-lhes: «Salve!» Elas aproximaram-se, estreitaram-lhe os pés e prostraram-se diante dele. Jesus disse-lhes: «Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão.» Enquanto elas iam a caminho, alguns dos guardas foram à cidade participar aos sumos sacerdotes tudo o que tinha acontecido! Eles reuniram-se com os anciãos; e, depois de terem deliberado, deram muito dinheiro aos soldados, recomendando-lhes: «Dizei isto: ‘De noite, enquanto dormíamos, os seus discípulos vieram e roubaram-no.’ E, se o caso chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que vos deixe tranquilos.» Recebendo o dinheiro, eles fizeram como lhes tinham ensinado. E esta mentira divulgou-se entre os judeus até ao dia de hoje. Os onze discípulos partiram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam. Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos.» Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito no profeta Isaías: Eis que envio à tua frente o meu mensageiro, a fim de preparar o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.’ João Baptista apareceu no deserto, a pregar um baptismo de arrependimento para remissão dos pecados. Saíam ao seu encontro todos os da província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pêlos de camelo e trazia uma correia de couro à cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E pregava assim: «Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. Eu baptizei-vos em água, mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo.» Por aqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão. Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.» Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto. E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no. Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» Deixando logo as redes, seguiram-no. Um pouco adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes, e logo os chamou. E eles deixaram no barco seu pai Zebedeu com os assalariados e partiram com Ele. Entraram em Cafarnaúm. Chegado o sábado, veio à sinagoga e começou a ensinar. E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espírito maligno, que começou a gritar: «Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» Então, o espírito maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e eles obedecem-lhe!» E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia. Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os enfermos e possessos, e a cidade inteira estava reunida junto à porta. Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era. De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração. Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. E, tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» Mas Ele respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios. Um leproso veio ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.» Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. E logo o despediu, dizendo-lhe em tom severo: «Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes, mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» Ele, porém, assim que se retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de todas as partes iam ter com Ele. Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa. Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra. Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.» Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: «Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega no teu catre e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno – disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!» Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele ensinava-os. Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E, levantando-se, ele seguiu Jesus. Depois, quando se encontrava à mesa em casa dele, muitos cobradores de impostos e pecadores também se puseram à mesma mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram muitos os que o seguiam. Mas os doutores da Lei do partido dos fariseus, vendo-o comer com pecadores e cobradores de impostos, disseram aos discípulos: «Porque é que Ele come com cobradores de impostos e pecadores?» Jesus ouviu isto e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.» Estando os discípulos de João e os fariseus a jejuar, vieram dizer-lhe: «Porque é que os discípulos de João e os dos fariseus guardam jejum, e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu: «Poderão os convidados para a boda jejuar enquanto o esposo está com eles? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar. Dias virão em que o esposo lhes será tirado; e então, nesses dias, hão-de jejuar.» «Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, pois o pano novo puxa o tecido velho e o rasgão fica maior. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho romperá os odres e perde-se o vinho, tal como os odres. Mas vinho novo, em odres novos.» Ora num dia de sábado, indo Jesus através das searas, os discípulos puseram-se a colher espigas pelo caminho. Os fariseus diziam-lhe: «Repara! Porque fazem eles ao sábado o que não é permitido?» Ele disse: «Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele? Como entrou na casa de Deus, ao tempo do Sumo Sacerdote Abiatar, e comeu os pães da oferenda, que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e também os deu aos que estavam com ele?» E disse-lhes: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. O Filho do Homem até do sábado é Senhor.» Novamente entrou na sinagoga. E estava lá um homem que tinha uma das mãos paralisada. Ora eles observavam-no, para ver se iria curá-lo ao sábado, a fim de o poderem acusar. Jesus disse ao homem da mão paralisada: «Levanta-te e vem para o meio.» E a eles perguntou: «É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou matá-la?» Eles ficaram calados. Então, olhando-os com indignação e magoado com a dureza dos seus corações, disse ao homem: «Estende a mão.» Estendeu-a, e a mão ficou curada. Assim que saíram, os fariseus reuniram-se com os partidários de Herodes para deliberar como haviam de matar Jesus. Jesus retirou-se para o mar com os discípulos. Seguiu-o uma imensa multidão vinda da Galileia. E da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, de além-Jordão e das cercanias de Tiro e de Sídon, uma grande multidão veio ter com Ele, ao ouvir dizer o que Ele fazia. E disse aos discípulos que lhe aprontassem um barco, a fim de não ser molestado pela multidão, pois tinha curado muita gente e, por isso, os que sofriam de enfermidades caíam sobre Ele para lhe tocarem. Os espíritos malignos, ao vê-lo, prostravam-se diante dele e gritavam: «Tu és o Filho de Deus!» Ele, porém, proibia-lhes severamente que o dessem a conhecer. Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demónios. Estabeleceu estes doze: Simão, ao qual pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, e Judas Iscariote, que o entregou. Tendo Jesus chegado a casa, de novo a multidão acorreu, de tal maneira que nem podiam comer. E quando os seus familiares ouviram isto, saíram a ter mão nele, pois diziam: «Está fora de si!» E os doutores da Lei, que tinham descido de Jerusalém, afirmavam: «Ele tem Belzebu!» E ainda: «É pelo chefe dos demónios que expulsa os demónios.» Então, Jesus chamou-os e disse-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode perdurar; e se uma família se dividir contra si mesma, essa família não pode subsistir. Se, portanto, Satanás se levanta contra si próprio, está dividido e não poderá subsistir; é o seu fim. Ninguém consegue entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens sem primeiro o amarrar; só depois poderá saquear-lhe a casa. Em verdade vos digo: todos os pecados e todas as blasfémias que proferirem os filhos dos homens, tudo lhes será perdoado; mas, quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca mais terá perdão: é réu de pecado eterno.» Disse-lhes isto porque eles afirmavam: «Tem um espírito maligno.» Nisto chegam sua mãe e seus irmãos que, ficando do lado de fora, o mandam chamar. A multidão estava sentada em volta dele, quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram.» Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?» E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: «Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.» De novo começou a ensinar à beira-mar. Uma enorme multidão vem agrupar-se junto dele e, por isso, sobe para um barco e senta-se nele, no mar, ficando a multidão em terra, junto ao mar. Ensinava-lhes muitas coisas em parábolas e dizia nos seus ensinamentos: «Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas, quando o Sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raiz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça.» Ao ficar só, os que o rodeavam, juntamente com os Doze, perguntaram-lhe o sentido da parábola. Respondeu: «A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus; mas, aos que estão de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, para que ao olhar, olhem e não vejam, ao ouvir, oiçam e não compreendam, não vão eles converter-se e ser perdoados.» E acrescentou: «Não compreendeis esta parábola? Como compreendereis então todas as outras parábolas? O semeador semeia a palavra. Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles. Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria, mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. Outros há que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica infrutífera. Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um.» Disse-lhes ainda: «Põe-se, porventura, a candeia debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser colocada no candelabro? Porque não há nada escondido que não venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha à luz. Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça.» E prosseguiu: «Tomai sentido no que ouvis. Com a medida que empregardes para medir é que sereis medidos, e ainda vos será acrescentado. Pois àquele que tem, será dado; e ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado.» Dizia ainda: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. E, quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa.» Dizia também: «Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com qual parábola o representaremos? É como um grão de mostarda que, ao ser deitado à terra, é a mais pequena de todas as sementes que existem; mas, uma vez semeado, cresce, transforma-se na maior de todas as plantas do horto e estende tanto os ramos, que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra.» Com muitas parábolas como estas, pregava-lhes a Palavra, conforme eram capazes de compreender. Não lhes falava senão em parábolas; mas explicava tudo aos discípulos, em particular. Naquele dia, ao entardecer, disse: «Passemos para a outra margem.» Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele. Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada. Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» Chegaram à outra margem do mar, à região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, veio ao seu encontro, saído dos túmulos, um homem possesso de um espírito maligno. Tinha nos túmulos a sua morada, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com uma corrente, pois já fora preso muitas vezes com grilhões e correntes, e despedaçara os grilhões e quebrara as correntes; ninguém era capaz de o dominar. Andava sempre, dia e noite, entre os túmulos e pelos montes, a gritar e a ferir-se com pedras. Avistando Jesus ao longe, correu, prostrou-se diante dele e disse em alta voz: «Que tens a ver comigo, ó Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te, por Deus, que não me atormentes!» Efectivamente, Jesus dizia: «Sai desse homem, espírito maligno.» Em seguida, perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» Respondeu: «O meu nome é Legião, porque somos muitos.» E suplicava-lhe insistentemente que não o expulsasse daquela região. Ora, ali próximo do monte, andava a pastar uma grande vara de porcos. E os espíritos malignos suplicaram a Jesus: «Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.» Jesus consentiu. Então, os espíritos malignos saíram do homem e entraram nos porcos, e a vara, cerca de uns dois mil, precipitou-se do alto no mar e ali se afogou. Os guardas dos porcos fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos. As pessoas foram ver o que se passara. Ao chegarem junto de Jesus, viram o possesso sentado, vestido e em perfeito juízo, ele que estivera possuído de uma legião; e ficaram cheias de temor. As testemunhas do acontecimento narraram-lhes o que tinha sucedido ao possesso e o que se passara com os porcos. Então, pediram a Jesus que se retirasse do seu território. Jesus voltou para o barco e o homem que fora possesso suplicou-lhe que o deixasse andar com Ele. Não lho permitiu. Disse-lhe antes: «Vai para tua casa, para junto dos teus, e conta-lhes tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti.» Ele retirou-se, começou a apregoar na Decápole o que Jesus fizera por ele, e todos se maravilhavam. Depois de Jesus ter atravessado, no barco, para a outra margem, reuniu-se uma grande multidão junto dele, que continuava à beira-mar. Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.» Jesus partiu com ele, seguido por numerosa multidão, que o apertava. Certa mulher, vítima de um fluxo de sangue havia doze anos, que sofrera muito nas mãos de muitos médicos e gastara todos os seus bens sem encontrar nenhum alívio, antes piorava cada vez mais, tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-lhe, por detrás, nas vestes, pois dizia: «Se ao menos tocar nem que seja as suas vestes, ficarei curada.» De facto, no mesmo instante se estancou o fluxo de sangue, e sentiu no corpo que estava curada do seu mal. Imediatamente Jesus, sentindo que saíra dele uma força, voltou-se para a multidão e perguntou: «Quem tocou as minhas vestes?» Os discípulos responderam: «Vês que a multidão te comprime de todos os lados, e ainda perguntas: ‘Quem me tocou?’» Mas Ele continuava a olhar em volta, para ver aquela que tinha feito isso. Então, a mulher, cheia de medo e a tremer, sabendo o que lhe tinha acontecido, foi prostrar-se diante dele e disse toda a verdade. Disse-lhe Ele: «Filha, a tua fé salvou-te; vai em paz e sê curada do teu mal.» Ainda Ele estava a falar, quando, da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?» Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.» E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Ao chegar a casa do chefe da sinagoga, encontrou grande alvoroço e gente a chorar e a gritar. Entrando, disse-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir.» Mas faziam troça dele. Jesus pôs fora aquela gente e, levando consigo apenas o pai, a mãe da menina e os que vinham com Ele, entrou onde ela jazia. Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!» E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos. Todos ficaram assombrados. Recomendou-lhes vivamente que ninguém soubesse do sucedido e mandou dar de comer à menina. E partiu dali. Foi para a sua terra, e os discípulos seguiam-no. Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Como se operam tão grandes milagres por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?» E isto parecia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. Jesus percorria as aldeias vizinhas a ensinar. Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles.» Eles partiram e pregavam o arrependimento, expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos. O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres»; outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um dos outros profetas.» Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu degolei, que ressuscitou.» Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro. Os Apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Disse-lhes, então: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco.» Porque eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. Foram, pois, no barco, para um lugar isolado, sem mais ninguém. Ao vê-los afastar, muitos perceberam para onde iam; e de todas as cidades acorreram, a pé, àquele lugar, e chegaram primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. A hora já ia muito adiantada, quando os discípulos se aproximaram e disseram: «O lugar é deserto e a hora vai adiantada. Manda-os embora, para irem aos campos e aldeias comprar de comer.» Jesus respondeu: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Eles disseram-lhe: «Vamos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?» Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver.» Depois de se informarem, responderam: «Cinco pães e dois peixes.» Ordenou-lhes que os mandassem sentar por grupos na erva verde. E sentaram-se, por grupos de cem e cinquenta. Jesus tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e dava-os aos seus discípulos, para que eles os repartissem. Dividiu também os dois peixes por todos. Comeram até ficarem saciados. E havia ainda doze cestos com os bocados de pão e os restos de peixe. Ora os que tinham comido daqueles pães eram cinco mil homens. Jesus obrigou logo os seus discípulos a subirem para o barco e a irem à frente, para o outro lado, rumo a Betsaida, enquanto Ele próprio despedia a multidão. Depois de os ter despedido, foi orar para o monte. Era já noite, o barco estava no meio do mar e Ele sozinho em terra. Vendo-os cansados de remar, porque o vento lhes era contrário, foi ter com eles de madrugada, andando sobre o mar; e fez menção de passar adiante. Mas, vendo-o andar sobre o mar, julgaram que fosse um fantasma e começaram a gritar, pois todos o viram e se assustaram. Mas Ele logo lhes falou: «Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» A seguir, subiu para o barco, para junto deles, e o vento amainou. E sentiram um enorme espanto, pois ainda não tinham entendido o que se dera com os pães: tinham o coração endurecido. Finda a travessia, aproximaram-se de Genesaré e aportaram. Assim que saíram do barco, reconheceram-no. Acorreram de toda aquela região e começaram a levar os doentes nos catres para o lugar onde sabiam que Ele se encontrava. Nas aldeias, cidades ou campos, onde quer que entrasse, colocavam os doentes nas praças e rogavam-lhe que os deixasse tocar pelo menos as franjas das suas vestes. E quantos o tocavam ficavam curados. Os fariseus e alguns doutores da Lei vindos de Jerusalém reuniram-se à volta de Jesus, e viram que vários dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. É que os fariseus e todos os judeus em geral não comem sem ter lavado e esfregado bem as mãos, conforme a tradição dos antigos; ao voltar da praça pública, não comem sem se lavar; e há muitos outros costumes que seguem, por tradição: lavagem das taças, dos jarros e das vasilhas de cobre. Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e doutores da Lei: «Porque é que os teus discípulos não obedecem à tradição dos antigos e tomam alimento com as mãos impuras?» Respondeu: «Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Vazio é o culto que me prestam e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos. Descurais o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens.» E acrescentou: «Anulais a vosso bel-prazer o mandamento de Deus, para observardes a vossa tradição. Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e ainda: Quem amaldiçoar o pai ou a mãe seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: “Se alguém afirmar ao pai ou à mãe: ‘Declaro Qorban' – isto é, oferta ao Senhor – aquilo que poderias receber de mim...”, nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, anulando a palavra de Deus com a tradição que tendes transmitido. E fazeis muitas outras coisas do mesmo género.» Chamando de novo a multidão, dizia: «Ouvi-me todos e procurai entender. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça.» Quando, ao deixar a multidão, regressou a casa, os discípulos interrogaram-no acerca da parábola. Ele respondeu: «Também vós não compreendeis? Não percebeis que nada do que, de fora, entra no homem o pode tornar impuro, porque não penetra no coração mas sim no ventre, e depois é expelido em lugar próprio?» Assim, declarava puros todos os alimentos. E disse: «O que sai do homem, isso é que torna o homem impuro. Porque é do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições, perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios. Todas estas maldades saem de dentro e tornam o homem impuro.» Partindo dali, Jesus foi para a região de Tiro e de Sídon. Entrou numa casa e não queria que ninguém o soubesse, mas não pôde passar despercebido, porque logo uma mulher que tinha uma filha possessa de um espírito maligno, ouvindo falar dele, veio lançar-se a seus pés. Era gentia, siro-fenícia de origem, e pedia-lhe que expulsasse da filha o demónio. Ele respondeu: «Deixa que os filhos comam primeiro, pois não está bem tomar o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos.» Mas ela replicou: «Dizes bem, Senhor; mas até os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas dos filhos.» Jesus disse: «Em atenção a essa palavra, vai; o demónio saiu de tua filha.» Ela voltou para casa e encontrou a menina recostada na cama. O demónio tinha-a deixado. Tornando a sair da região de Tiro, veio por Sídon para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-lhe um surdo tartamudo e rogaram-lhe que impusesse as mãos sobre ele. Afastando-se com ele da multidão, Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos e fez saliva com que lhe tocou a língua. Erguendo depois os olhos ao céu, suspirou dizendo: «Effathá», que quer dizer «abre-te.» Logo os ouvidos se lhe abriram, soltou-se a prisão da língua e falava correctamente. Jesus mandou-lhes que a ninguém revelassem o sucedido; mas quanto mais lho recomendava, mais eles o apregoavam. No auge do assombro, diziam: «Faz tudo bem feito: faz ouvir os surdos e falar os mudos.» Naqueles dias, havia outra vez uma grande multidão e não tinham que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: «Tenho compaixão desta multidão. Há já três dias que permanecem junto de mim e não têm que comer. Se os mandar embora em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho, e alguns vieram de longe.» Os discípulos responderam-lhe: «Como poderá alguém saciá-los de pão, aqui no deserto?» Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes?» Disseram: «Sete.» Ordenou que a multidão se sentasse no chão e, tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e dava-os aos seus discípulos para eles os distribuírem à multidão. Havia também alguns peixinhos. Jesus abençoou-os e mandou que os distribuíssem igualmente. Comeram até ficarem satisfeitos, e houve sete cestos de sobras. Ora, eram cerca de quatro mil. Despediu-os e, subindo logo para o barco com os discípulos, foi para os lados de Dalmanuta. Apareceram os fariseus e começaram a discutir com Ele, pedindo-lhe um sinal do céu para o pôr à prova. Jesus, suspirando profundamente, disse: «Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: sinal algum será concedido a esta geração.» E, deixando-os, embarcou de novo e foi para a outra margem. Os discípulos tinham-se esquecido de levar pães e só traziam um pão no barco. Jesus começou a avisá-los, dizendo: «Olhai: tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes.» E eles discorriam entre si: «Não temos pão.» Mas Ele, percebendo-o, disse: «Porque estais a discorrer que não tendes pão? Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos lembrais de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco mil?» Responderam: «Doze.» «E quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes?» Responderam: «Sete.» Disse-lhes então: «Ainda não compreendeis?» Chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse. Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?» Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.» Em seguida, Jesus impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez. Jesus mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.» Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» Disseram-lhe: «João Baptista; outros, Elias; e outros, que és um dos profetas.» «E vós, quem dizeis que Eu sou?» – perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: «Tu és o Messias.» Ordenou-lhes, então, que não dissessem isto a ninguém. Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias. E dizia claramente estas coisas. Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-lo. Mas Jesus, voltando-se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo-lhe: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.» Chamando a si a multidão, juntamente com os discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que pode o homem dar em troca da sua vida? Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras entre esta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos.» Disse-lhes também: «Em verdade vos digo que alguns dos aqui presentes não experimentarão a morte sem terem visto o Reino de Deus chegar em todo o seu poder.» Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma da terra as poderia branquear assim. Apareceu-lhes Elias, juntamente com Moisés, e ambos falavam com Ele. Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus: «Mestre, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.» Não sabia que dizer, pois estavam assombrados. Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.» De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser só Jesus, com eles. Ao descerem do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, senão depois de o Filho do Homem ter ressuscitado dos mortos. Eles guardaram a recomendação, discutindo uns com os outros o que seria ressuscitar de entre os mortos. E fizeram-lhe esta pergunta: «Porque afirmam os doutores da Lei que primeiro há-de vir Elias?» Jesus respondeu-lhes: «Sim; Elias, vindo primeiro, restabelecerá todas as coisas; porém, não dizem as Escrituras que o Filho do Homem tem de padecer muito e ser desprezado? Pois bem, digo-vos que Elias já veio e fizeram dele tudo o que quiseram, conforme está escrito.» Ia ter com os seus discípulos, quando viu em torno deles uma grande multidão e uns doutores da Lei a discutirem com eles. Assim que viu Jesus, toda a multidão ficou surpreendida e acorreu a saudá-lo. Ele perguntou: «Que estais a discutir uns com os outros?» Alguém de entre a multidão disse-lhe: «Mestre, trouxe-te o meu filho que tem um espírito mudo. Quando se apodera dele, atira-o ao chão, e ele põe-se a espumar, a ranger os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram.» Disse Jesus: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» E levaram-lho. Ao ver Jesus, logo o espírito sacudiu violentamente o jovem, e este, caindo por terra, começou a estrebuchar, deitando espuma pela boca. Jesus perguntou ao pai: «Há quanto tempo lhe sucede isto?» Respondeu: «Desde a infância; e muitas vezes o tem lançado ao fogo e à água, para o matar. Mas, se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós.» «Se podes...! Tudo é possível a quem crê» – disse-lhe Jesus. Imediatamente o pai do jovem disse em altos brados: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» Vendo, Jesus, que acorria muita gente, ameaçou o espírito maligno, dizendo: «Espírito mudo e surdo, ordeno-te: sai do jovem e não voltes a entrar nele.» Dando um grande grito e sacudindo-o violentamente, saiu. O jovem ficou como morto, a ponto de a maioria dizer que tinha morrido. Mas, tomando-o pela mão, Jesus levantou-o, e ele pôs-se de pé. Quando Jesus entrou em casa, os discípulos perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não pudemos expulsá-lo?» Respondeu: «Esta casta de espíritos só pode ser expulsa à força de oração.» Partindo dali, atravessaram a Galileia, e Jesus não queria que ninguém o soubesse, porque ia instruindo os seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão-de matar; mas, três dias depois de ser morto, ressuscitará.» Mas eles não entendiam esta linguagem e tinham receio de o interrogar. Chegaram a Cafarnaúm e, quando estavam em casa, Jesus perguntou: «Que discutíeis pelo caminho?» Ficaram em silêncio porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos.» E, tomando um menino, colocou-o no meio deles, abraçou-o e disse-lhes: «Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele que me enviou.» Disse-lhe João: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome, alguém que não nos segue, e quisemos impedi-lo porque não nos segue.» Jesus disse-lhes: «Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim. Quem não é contra nós é por nós. Sim, seja quem for que vos der a beber um copo de água por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.» «E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são movidas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de queda, corta-a; mais vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena, para o fogo que não se apaga, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. Se o teu pé é para ti ocasião de queda, corta-o; mais vale entrares coxo na vida, do que, com os dois pés, seres lançado à Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de queda, arranca-o; mais vale entrares com um só no Reino de Deus, do que, com os dois olhos, seres lançado à Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga. Todos serão salgados com fogo. O sal é coisa boa; mas, se o sal ficar insosso, com que haveis de o temperar? Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.» Saindo dali, foi para a região da Judeia, para além do Jordão. As multidões agruparam-se outra vez à volta dele, e outra vez as ensinava, como era seu costume. Aproximaram-se uns fariseus e perguntaram-lhe, para o experimentar, se era lícito ao marido divorciar-se da mulher. Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» Disseram: «Moisés mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.» Jesus retorquiu: «Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse preceito. Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» De regresso a casa, de novo os discípulos o interrogaram acerca disto. Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.» Apresentaram-lhe uns pequeninos para que Ele os tocasse; mas os discípulos repreenderam os que os tinham trazido. Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.» Depois, tomou-os nos braços e abençoou-os, impondo-lhes as mãos. Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se, perguntando: «Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» Jesus disse: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe.» Ele respondeu: «Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude.» Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me.» Mas, ao ouvir tais palavras, ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso, pois tinha muitos bens. Olhando em volta, Jesus disse aos discípulos: «Quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» Os discípulos ficaram espantados com as suas palavras. Mas Jesus prosseguiu: «Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.» Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode, então, salvar-se?» Fitando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível.» Pedro começou a dizer-lhe: «Aqui estamos nós que deixámos tudo e te seguimos.» Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: quem deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, no tempo presente, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, juntamente com perseguições, e, no tempo futuro, a vida eterna. Muitos dos que são primeiros serão últimos, e muitos dos que são últimos serão primeiros.» Iam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus seguia à frente deles. Estavam espantados, e os que seguiam estavam cheios de medo. Tomando de novo os Doze consigo, começou a dizer-lhes o que lhe ia acontecer: «Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei, e eles vão condená-lo à morte e entregá-lo aos gentios. E hão-de escarnecê-lo, cuspir sobre Ele, açoitá-lo e matá-lo. Mas, três dias depois, ressuscitará.» Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e disseram: «Mestre, queremos que nos faças o que te pedimos.» Disse-lhes: «Que quereis que vos faça?» Eles disseram: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.» Jesus respondeu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?» Eles disseram: «Podemos, sim.» Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis baptizados com o baptismo com que Eu sou baptizado; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado.» Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.» Chegaram a Jericó. Quando ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» Jesus parou e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.» E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» – respondeu o cego. Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho. Estando próximos de Jerusalém, perto de Betfagé e de Betânia, junto ao Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois dos seus discípulos e disse-lhes: «Ide à povoação que está em frente de vós e, logo que nela entrardes, encontrareis um jumentinho preso, que ainda ninguém montou. Soltai-o e trazei-o. E se alguém vos perguntar: ‘Porque fazeis isso?’ respondei: ‘O Senhor precisa dele;’ e logo o mandará de volta.» Partiram e encontraram um jumentinho preso junto de uma porta, do lado de fora, na rua, e soltaram-no. Alguns que ali se encontravam disseram-lhes: «Que é isso de soltar o jumentinho?» Responderam como Jesus tinha dito e eles deixaram-nos ir. Levaram o jumentinho a Jesus, lançaram-lhe por cima as capas e Jesus montou nele. Muitos estenderam as capas pelo caminho; outros, ramos de verdura que tinham cortado nos campos. E tanto os que iam à frente como os que vinham atrás gritavam: Hossana! Bendito seja o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino do nosso pai David que está a chegar. Hossana nas alturas! Chegou a Jerusalém e entrou no templo. Depois de ter examinado tudo em seu redor, como a hora já ia adiantada, saiu para Betânia com os Doze. Na manhã seguinte, ao deixarem Betânia, Jesus sentiu fome. Vendo ao longe uma figueira com folhas, foi ver se nela encontraria alguma coisa; mas, ao chegar junto dela, não encontrou senão folhas, pois não era tempo de figos. Disse então: «Nunca mais ninguém coma fruto de ti.» E os discípulos ouviram isto. Chegaram a Jerusalém; e, entrando no templo, Jesus começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; deitou por terra as mesas dos cambistas e os bancos dos vendedores de pombas, e não permitia que se transportasse qualquer objecto através do templo. E ensinava-os, dizendo: «Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» Os sacerdotes e os doutores da Lei ouviram isto e procuravam maneira de o matar, mas temiam-no, pois toda a multidão estava maravilhada com o seu ensinamento. Quando se fez tarde, saíram para fora da cidade. Ao passarem na manhã seguinte, viram a figueira seca até às raízes. Pedro, recordando-se, disse a Jesus: «Olha, Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou!» Jesus disse-lhes: «Tende fé em Deus. Em verdade vos digo, se alguém disser a este monte: ‘Tira-te daí e lança-te ao mar’, e não vacilar em seu coração, mas acreditar que o que diz se vai realizar, assim acontecerá. Por isso, vos digo: tudo quanto pedirdes na oração crede que já o recebestes e haveis de obtê-lo. Quando vos levantais para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai que está no céu vos perdoe também as vossas ofensas. Porque, se não perdoardes, também o vosso Pai que está no Céu não perdoará as vossas ofensas.» Regressaram a Jerusalém e, andando Jesus pelo templo, os sumos sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos aproximaram-se dele e perguntaram-lhe: «Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres?» Jesus respondeu: «Também Eu vos farei uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então, com que autoridade faço estas coisas: O baptismo de João era do Céu, ou dos homens? Respondei-me.» Começaram a discorrer entre si, dizendo: «Se dissermos ‘do Céu’, dirá: ‘Então porque não acreditastes nele?’ Se, porém, dissermos ‘dos homens’, tememos a multidão.» Porque todos consideravam João um verdadeiro profeta. Por fim, responderam a Jesus: «Não sabemos.» E Jesus disse-lhes: «Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.» Jesus começou a falar-lhes em parábolas: «Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e construiu uma torre. Depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. A seu tempo enviou aos vinhateiros um servo, para receber deles parte do fruto da vinha. Eles, porém, prenderam-no, bateram-lhe e mandaram-no embora de mãos vazias. Enviou-lhes, novamente, outro servo. Também a este partiram a cabeça e cobriram de vexames. Enviou outro, e a este mataram-no; mandou ainda muitos outros, e bateram nuns e mataram outros. Já só lhe restava um filho muito amado. Enviou-o por último, pensando: ‘Hão-de respeitar o meu filho’. Mas aqueles vinhateiros disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e a herança será nossa’. Apoderaram-se dele, mataram-no e lançaram-no fora da vinha. Que fará o dono da vinha? Regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros. Não lestes esta passagem da Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto é obra do Senhor e é admirável aos nossos olhos?» Eles procuravam prendê-lo, mas temiam a multidão; tinham percebido bem que a parábola era para eles. E deixando-o, retiraram-se. Em seguida, enviaram-lhe alguns fariseus e partidários de Herodes, a fim de o apanharem em alguma palavra. Aproximando-se, disseram-lhe: «Mestre, sabemos que és sincero, que não te deixas influenciar por ninguém, porque não olhas à condição das pessoas mas ensinas o caminho de Deus, segundo a verdade. Diz-nos, pois: é lícito ou não pagar tributo a César? Devemos pagar ou não?» Jesus, conhecendo-lhes a hipocrisia, respondeu: «Porque me tentais? Trazei-me um denário para Eu ver.» Trouxeram-lho e Ele perguntou: «De quem é esta imagem e a inscrição?» Responderam: «De César.» Jesus disse: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.» E ficaram admirados com Ele. Vieram ter com Ele os saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no: «Mestre, Moisés prescreveu-nos que se morrer o irmão de alguém, deixando a mulher e não deixando filhos, seu irmão terá de casar com a viúva para dar descendência ao irmão. Ora havia sete irmãos, e o primeiro casou e morreu sem deixar filhos. O segundo casou com a viúva e morreu também sem deixar descendência, e o mesmo aconteceu ao terceiro; e todos os sete morreram sem deixar descendência. Finalmente, morreu a mulher. Na ressurreição, de qual deles será ela mulher? Porque os sete a tiveram por mulher.» Disse Jesus: «Não andareis enganados por desconhecer as Escrituras e o poder de Deus? Quando ressuscitarem de entre os mortos, nem eles se casarão, nem elas serão dadas em casamento, mas serão como anjos no Céu. E acerca de os mortos ressuscitarem, não lestes no livro de Moisés, no episódio da sarça, como Deus lhe falou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob ? Não é um Deus de mortos, mas de vivos. Andais muito enganados.» Aproximou-se dele um escriba que os tinha ouvido discutir e, vendo que Jesus lhes tinha respondido bem, perguntou-lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Jesus respondeu: «O primeiro é: Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor; amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes.» O escriba disse-lhe: «Muito bem, Mestre, com razão disseste que Ele é o único e não existe outro além dele; e amá-lo com todo o coração, com todo o entendimento, com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo vale mais do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios.» Vendo que ele respondera com sabedoria, Jesus disse: «Não estás longe do Reino de Deus.» E ninguém mais ousava interrogá-lo. Ensinando no templo, Jesus tomou a palavra e perguntou: «Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de David? O próprio David afirmou, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés’. O próprio David chama-lhe Senhor; como é Ele seu filho?» E a numerosa multidão ouvia-o com agrado. Continuando o seu ensinamento, Jesus dizia: «Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes; eles devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa.» Estando sentado em frente do tesouro, observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos deitavam muitas. Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões. Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.» Ao sair do templo, um dos discípulos disse-lhe: «Repara, Mestre, que pedras e que construções!» Jesus respondeu: «Vês estas grandiosas construções? Não ficará delas pedra sobre pedra; tudo será destruído.» E, estando sentado no Monte das Oliveiras frente ao templo, Pedro, Tiago, João e André perguntaram-lhe em particular: «Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar.» Jesus começou a dizer-lhes: «Acautelai-vos para que ninguém vos iluda. Surgirão muitos com o meu nome, dizendo: ‘Sou eu’. E seduzirão a muitos. Quando ouvirdes falar de guerras e de rumores de guerras, não vos alarmeis; é preciso que isso aconteça, mas ainda não será o fim. Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino; haverá terramotos em vários lugares, haverá fome. Isto apenas será o princípio das dores.» «Tomai cuidado convosco! Hão-de entregar-vos aos tribunais, sereis açoitados nas sinagogas e comparecereis diante dos governadores e dos reis por minha causa, para dar testemunho diante deles. Mas, antes disso, deve proclamar-se o Evangelho a todas as nações. Quando vos levarem para serdes entregues, não vos inquieteis com o que haveis de dizer; dizei o que vos for dado nessa hora, pois não sereis vós a falar, mas sim o Espírito Santo. O irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai, o seu filho; os filhos hão-de erguer-se contra os pais e causar-lhes a morte. E sereis odiados por todos, por causa do meu nome; mas quem perseverar até ao fim será salvo.» «Quando virdes a abominação da desolação instalada onde não deve estar – entenda quem lê! – então os que estiverem na Judeia fujam para os montes; quem estiver no terraço não desça nem entre a tomar coisa alguma da sua casa. E quem estiver no campo não volte atrás para apanhar a capa. Ai das que estiverem grávidas e das que andarem a amamentar nesses dias! Orai para que isto não suceda no Inverno, pois nesses dias a angústia será tal, como nunca houve desde que Deus criou o mundo até agora, nem voltará a haver. E se o Senhor não abreviasse esses dias, nenhuma criatura se salvaria; mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou esses dias.» «Então, se alguém vos disser: ‘Aqui está o Messias’ ou: ‘Ei-lo ali’, não acrediteis; pois surgirão falsos messias e falsos profetas que farão sinais e prodígios para enganar, se possível, até os eleitos. Portanto, ficai atentos; de tudo vos preveni.» «Mas nesses dias, depois daquela aflição, o Sol vai escurecer-se e a Lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do céu e as forças que estão no céu serão abaladas. Então, verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os seus anjos e reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, da extremidade da terra à extremidade do céu.» «Aprendei, pois, a parábola da figueira. Quando já os seus ramos estão tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim, também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que Ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia ou a essa hora, ninguém os conhece: nem os anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai.» «Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento. É como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade nos seus servos, atribuiu a cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar o galo, se de manhãzinha; não seja que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo a todos: vigiai!» Faltavam só dois dias para a Páscoa e os Ázimos; os sumos sacerdotes e os doutores da Lei procuravam maneira de capturar Jesus à traição e de o matar. É que diziam: «Durante a festa não, para que o povo não se revolte.» Jesus encontrava-se em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Estando à mesa, chegou uma certa mulher que trazia um frasco de alabastro, com perfume de nardo puro de alto preço; partindo o frasco, derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus. Alguns, indignados, disseram entre si: «Para quê este desperdício de perfume? Podia vender-se por mais de trezentos denários e dar-se o dinheiro aos pobres.» E censuravam-na. Mas Jesus disse: «Deixai-a. Porque estais a atormentá-la? Praticou em mim uma boa acção! Sempre tereis pobres entre vós e podereis fazer-lhes bem quando quiserdes; mas a mim, nem sempre me tereis. Ela fez o que estava ao seu alcance: ungiu antecipadamente o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: em qualquer parte do mundo onde for proclamado o Evangelho, há-de contar-se também, em sua memória, o que ela fez.» Então, Judas Iscariote, um dos Doze, foi ter com os sumos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Eles ouviram-no com satisfação e prometeram dar-lhe dinheiro. E Judas espreitava ocasião favorável para o entregar. No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, os discípulos perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?» Jesus enviou, então, dois dos seus discípulos e disse: «Ide à cidade e virá ao vosso encontro um homem trazendo um cântaro de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: O Mestre manda dizer: ‘Onde está a sala em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?’ Há-de mostrar-vos uma grande sala no andar de cima, mobilada e toda pronta. Fazei aí os preparativos.» Os discípulos partiram e foram à cidade; encontraram tudo como Ele lhes dissera e prepararam a Páscoa. Chegada a tarde, Jesus foi com os Doze. Estavam à mesa a comer, quando disse: «Em verdade vos digo: um de vós há-de entregar-me, um que come comigo.» Começaram a entristecer-se e a dizer-lhe um após outro: «Porventura sou eu?» Jesus respondeu-lhes: «É um dos Doze, aquele que mete comigo a mão no prato. Na verdade, o Filho do Homem segue o seu caminho, como está escrito a seu respeito; mas ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue! Melhor fora a esse homem não ter nascido!» Enquanto comiam, tomou um pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e entregou-o aos discípulos, dizendo: «Tomai: isto é o meu corpo.» Depois, tomou o cálice, deu graças e entregou-lho. Todos beberam dele. E Ele disse-lhes: «Isto é o meu sangue da aliança, que vai ser derramado por todos. Em verdade vos digo: não voltarei a beber do fruto da videira até ao dia em que o beba, novo, no Reino de Deus.» Após o canto dos salmos, saíram para o Monte das Oliveiras. Jesus disse-lhes: «Todos ides abandonar-me, pois está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas hão-de dispersar-se. Mas, depois de Eu ressuscitar, hei-de preceder-vos a caminho da Galileia.» Pedro disse: «Mesmo que todos venham a abandonar-te, eu não.» E Jesus disse: «Em verdade te digo, que hoje, esta noite, antes de o galo cantar duas vezes, tu me terás negado três vezes.» Mas ele insistia com mais ardor: «Mesmo que tenha de morrer contigo, não te negarei.» E todos afirmaram o mesmo. Chegaram a uma propriedade chamada Getsémani, e Jesus disse aos discípulos: «Ficai aqui enquanto Eu vou orar.» Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-se. E disse-lhes: «A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai.» Adiantando-se um pouco, caiu por terra e orou para que, se possível, passasse dele aquela hora. E dizia: «Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres.» Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Simão, dormes? Nem uma hora pudeste vigiar! Vigiai e orai, para não cederdes à tentação; o espírito está cheio de ardor, mas a carne é débil.» Retirou-se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras. E, voltando de novo, encontrou-os a dormir, pois os seus olhos estavam pesados; e não sabiam que responder-lhe. Voltou pela terceira vez e disse-lhes: «Dormi agora e descansai! Pois bem, chegou a hora. Eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que chega o que me vai entregar.» E logo, ainda Ele estava a falar, chegou Judas, um dos Doze, e, com ele, muito povo com espadas e varapaus, da parte dos sumos sacerdotes, dos doutores da Lei e dos anciãos. Ora, o que o ia entregar tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar é esse mesmo; prendei-o e levai-o bem guardado.» Mal chegou, aproximou-se de Jesus, dizendo: «Mestre!»; e beijou-o. Os outros deitaram-lhe as mãos e prenderam-no. Então, um dos que estavam presentes, puxando da espada, feriu o criado do Sumo Sacerdote e cortou-lhe uma orelha. E tomando a palavra, Jesus disse-lhes: «Como se eu fosse um salteador, viestes com espadas e varapaus para me prender! Estava todos os dias junto de vós, no templo, a ensinar, e não me prendestes; mas é para se cumprirem as Escrituras.» Então, os discípulos, deixando-o, fugiram todos. Um certo jovem, que o seguia envolto apenas num lençol, foi preso; mas ele, deixando o lençol, fugiu nu. Conduziram Jesus a casa do Sumo Sacerdote, onde se juntaram todos os sumos sacerdotes, os anciãos e os doutores da Lei. E Pedro tinha-o seguido de longe até dentro do palácio do Sumo Sacerdote, onde se sentou com os guardas a aquecer-se ao lume. Ora os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus a fim de lhe dar a morte, mas não o encontravam; de facto, muitos testemunharam falsamente contra Ele, mas os testemunhos não eram coincidentes. E alguns ergueram-se e proferiram contra Ele este falso testemunho: «Ouvimo-lo dizer: ‘Demolirei este templo construído pela mão dos homens e, em três dias, edificarei outro que não será feito pela mão dos homens.’» Mas nem assim o depoimento deles concordava. Então, o Sumo Sacerdote ergueu-se no meio da assembleia e interrogou Jesus: «Não respondes nada ao que estes testemunham contra ti?» Mas Ele continuava em silêncio e nada respondia. O Sumo Sacerdote voltou a interrogá-lo: «És Tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?» Jesus respondeu: «Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder e vir sobre as nuvens do céu.» O Sumo Sacerdote rasgou, então, as suas vestes e disse: «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia! Que vos parece?» E todos sentenciavam que Ele era réu de morte. Depois, alguns começaram a cuspir-lhe, a cobrir-lhe o rosto com um véu e, batendo-lhe, a dizer: «Profetiza!» E os guardas davam-lhe bofetadas. Estando Pedro em baixo, no pátio, chegou uma das criadas do Sumo Sacerdote e, vendo Pedro a aquecer-se, fixou nele o olhar e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno.» Mas ele negou, dizendo: «Não sei nem entendo o que dizes.» Depois, saiu para o átrio e um galo cantou. A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos que ali estavam: «Este é um deles.» Mas ele negou outra vez. Pouco depois, os presentes disseram de novo a Pedro: «Com certeza que és um deles, pois também és galileu.» Ele começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem de quem falais!» E logo cantou o galo pela segunda vez. Pedro recordou-se, então, das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar duas vezes, tu me terás negado três vezes.» E desatou a chorar. Logo de manhã, os sumos sacerdotes reuniram-se em conselho com os anciãos e os doutores da Lei e todo o Sinédrio; e, tendo manietado Jesus, levaram-no e entregaram-no a Pilatos. Perguntou-lhe Pilatos: «És Tu o rei dos Judeus?» Jesus respondeu-lhe: «Tu o dizes.» Os sumos sacerdotes acusavam-no de muitas coisas. Pilatos interrogou-o de novo, dizendo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas és acusado!» Mas Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos estava estupefacto. Ora, em cada festa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso que eles pedissem. Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos que tinham cometido um assassínio durante a revolta. A multidão chegou e começou a pedir-lhe o que ele costumava conceder. Pilatos, respondendo, disse: «Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Porque sabia que era por inveja que os sumos sacerdotes o tinham entregado. Os sumos sacerdotes, porém, instigaram a multidão a pedir que lhes soltasse, de preferência, Barrabás. Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: «Então que quereis que faça daquele a quem chamais rei dos judeus?» Eles gritaram novamente: «Crucifica-o!» Pilatos insistiu: «Que fez Ele de mal?» Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-o!» Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado. Os soldados levaram-no para dentro do pátio, isto é, para o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-no de um manto de púrpura e puseram-lhe uma coroa de espinhos, que tinham entretecido. Depois, começaram a saudá-lo: «Salve! Ó rei dos judeus!» Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam sobre Ele e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante dele. Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de púrpura e revestiram-no das suas vestes. Levaram-no, então, para o crucificar. Para lhe levar a cruz, requisitaram um homem que passava por ali ao regressar dos campos, um tal Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo. E conduziram-no ao lugar do Gólgota, que quer dizer ‘lugar do Crânio’. Queriam dar-lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não quis beber. Depois, crucificaram-no e repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para ver o que cabia a cada um. Eram umas nove horas da manhã, quando o crucificaram. Na inscrição com a condenação, lia-se: «O rei dos judeus.» Com Ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda. Deste modo, cumpriu-se a passagem da Escritura que diz: Foi contado entre os malfeitores. Os que passavam injuriavam-no e, abanando a cabeça, diziam: «Olha o que destrói o templo e o reconstrói em três dias! Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!» Da mesma forma, os sumos sacerdotes e os doutores da Lei troçavam dele entre si: «Salvou os outros mas não pode salvar-se a si mesmo! O Messias, o Rei de Israel! Desça agora da cruz para nós vermos e acreditarmos!» Até os que estavam crucificados com Ele o injuriavam. Ao chegar o meio-dia, fez-se trevas por toda a terra, até às três da tarde. E às três da tarde, Jesus exclamou em alta voz: «Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?», que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Ao ouvi-lo, alguns que estavam ali disseram: «Está a chamar por Elias!» Um deles correu a embeber uma esponja em vinagre, pô-la numa cana e deu-lhe de beber, dizendo: «Esperemos, a ver se Elias vem tirá-lo dali.» Mas Jesus, com um grito forte, expirou. E o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. O centurião que estava em frente dele, ao vê-lo expirar daquela maneira, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!» Também ali estavam algumas mulheres a contemplar de longe; entre elas, Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago Menor e de José, e Salomé, que o seguiam e serviam quando Ele estava na Galileia; e muitas outras que tinham subido com Ele a Jerusalém. Ao cair da tarde, visto ser a Preparação, isto é, véspera do sábado, José de Arimateia, respeitável membro do Conselho que também esperava o Reino de Deus, foi corajosamente procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos espantou-se por Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se já tinha morrido há muito. Informado pelo centurião, Pilatos ordenou que o corpo fosse entregue a José. Este, depois de comprar um lençol, desceu o corpo da cruz e envolveu-o nele. Em seguida, depositou-o num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra sobre a entrada do sepulcro. Maria de Magdala e Maria, mãe de José, observavam onde o depositaram. Passado o sábado, Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para ir embalsamá-lo. De manhã, ao nascer do sol, muito cedo, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro. Diziam entre si: «Quem nos irá tirar a pedra da entrada do sepulcro?» Mas olharam e viram que a pedra tinha sido rolada para o lado; e era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas. Ele disse-lhes: «Não vos assusteis! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou; não está aqui. Vede o lugar onde o tinham depositado. Ide, pois, e dizei aos seus discípulos e a Pedro: ‘Ele precede-vos a caminho da Galileia; lá o vereis, como vos tinha dito’.» Saíram, fugindo do sepulcro, pois estavam a tremer e fora de si. E não disseram nada a ninguém, porque tinham medo. Tendo ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana, Jesus apareceu primeiramente a Maria de Magdala, da qual expulsara sete demónios. Ela foi anunciá-lo aos que tinham sido seus companheiros, que viviam em luto e em pranto. Mas eles, ouvindo dizer que Jesus estava vivo e fora visto por ela, não acreditaram. Depois disto, Jesus apareceu com um aspecto diferente a dois deles que iam a caminho do campo. Eles voltaram para trás a fim de o anunciar aos restantes. E também não acreditaram neles. Apareceu, finalmente, aos próprios Onze quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração em não acreditarem naqueles que o tinham visto ressuscitado. E disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão-de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam. Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram “Servidores da Palavra”, resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído. No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. Ora, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Irá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.» Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» O anjo respondeu: «Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.» O povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que tinha tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo. Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.» Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa. Entretanto, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. Então, seu pai, Zacarias, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras: «Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo, conforme prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos; para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos daqueles que nos odeiam, para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança; e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: de o servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados, graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.» Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel. Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida. E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.» De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.» Quando os anjos se afastaram deles em direcção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: «Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.» Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Depois de terem visto, começaram a divulgar o que lhes tinham dito a respeito daquele menino. Todos os que ouviram se admiravam do que lhes diziam os pastores. Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado. Quando se completaram os oito dias, para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus indicado pelo anjo antes de ter sido concebido no seio materno. Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, porque meus olhos viram a Salvação que ofereceste a todos os povos, Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.» Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele. Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele chegou aos doze anos, subiram até lá, segundo o costume da festa. Terminados esses dias, regressaram a casa e o menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. Pensando que Ele se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Três dias depois, encontraram-no no templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. Ao vê-lo, ficaram assombrados e sua mãe disse-lhe: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura!» Ele respondeu-lhes: «Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse. Depois desceu com eles, voltou para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens. No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um baptismo de penitência para remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos. E toda a criatura verá a salvação de Deus.'» João dizia, então, às multidões que acorriam para serem baptizadas por ele: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar? Produzi frutos de sincero arrependimento e não comeceis a dizer para convosco: ‘Nós temos Abraão como pai’; pois eu vos digo que Deus pode, destas pedras, suscitar filhos a Abraão. O machado já se encontra à raiz das árvores; por isso, toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.» E as multidões perguntavam-lhe: «Que devemos, então, fazer?» Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» Vieram também alguns cobradores de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» Respondeu-lhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.» Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe: «E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.» Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, João disse a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. Tem na mão a pá de joeirar, para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; mas queimará a palha num fogo inextinguível.» E, com estas e muitas outras exortações, anunciava a Boa-Nova ao povo. Mas Herodes, o tetrarca, a quem João censurava por causa de Herodíade, mulher de seu irmão, e por todas as más acções que tinha praticado, acrescentou a todas as más acções, mais esta: encerrou João na prisão. Todo o povo tinha sido baptizado; tendo Jesus sido baptizado também, e estando em oração, o Céu rasgou-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.» Ao iniciar o seu ministério, Jesus tinha cerca de trinta anos. Supunha-se que era filho de José; e este de Eli, e assim sucessivamente: de Matat, de Levi, de Melqui, de Janai, de José, de Matatias, de Amós, de Naum, de Esli, de Nagaí, de Maat, de Matatias, de Semein, de Josec, de Jodá, de Joanan, de Ressa, de Zorobabel, de Salatiel, de Neri, de Melqui, de Adi, de Cosam, de Elmadam, de Er, de Jesua, de Eliézer, de Jorim, de Matat, de Levi, de Simeão, de Judá, de José, de Jonam, de Eliaquim, de Meleá, de Mená, de Matatá, de Natan, de David, de Jessé, de Obed, de Booz, de Salá, de Nachon, de Aminadab, de Admin, de Arni, de Hesron, de Peres, de Judá, de Jacob, de Isaac, de Abraão, de Tera, de Naor, de Serug, de Ragau, de Péleg, de Éber, de Chela, de Quenan, de Arfaxad, de Sem, de Noé, de Lamec, de Matusalém, de Henoc, de Jared, de Maleleel, de Quenan, de Enós, de Set, de Adão, de Deus. Cheio do Espírito Santo, Jesus retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, quando eles terminaram, sentiu fome. Disse-lhe o diabo: «Se és Filho de Deus, diz a esta pedra que se transforme em pão.» Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem.» Levando-o a um lugar alto, o diabo mostrou-lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-lhe: «Dar-te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se te prostrares diante de mim, tudo será teu.» Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.» Em seguida, conduziu-o a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, a fim de que eles te guardem; e também: Hão-de levar-te nas suas mãos, com receio de que firas o teu pé nalguma pedra.» Disse-lhe Jesus: «Não tentarás ao Senhor, teu Deus.» Tendo esgotado toda a espécie de tentação, o diabo retirou-se de junto dele, até um certo tempo. Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam. Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?» Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.’ Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.» Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.» Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho. Desceu, depois, a Cafarnaúm, cidade da Galileia, e a todos ensinava ao sábado. E estavam maravilhados com o seu ensino, porque falava com autoridade. Encontrava-se na sinagoga um homem que tinha um espírito demoníaco, o qual se pôs a bradar em alta voz: «Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus!» Jesus ordenou-lhe: «Cala-te e sai desse homem!» O demónio, arremessando o homem para o meio da assistência, saiu dele sem lhe fazer mal algum. Dominados pelo espanto, diziam uns aos outros: «Que palavra é esta? Ordena com autoridade e poder aos espíritos malignos, e eles saem!» A sua fama espalhou-se por todos os lugares daquela região. Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão. A sogra de Simão estava com muita febre, e intercederam junto dele em seu favor. Inclinando-se sobre ela, ordenou à febre e esta deixou-a; ela erguendo-se, começou imediatamente a servi-los. Ao pôr-do-sol, todos quantos tinham doentes, com diversas enfermidades, levavam-lhos; e Ele, impondo as mãos a cada um deles, curava-os. Também de muitos saíam demónios, que gritavam e diziam: «Tu és o Filho de Deus!» Mas Ele repreendia-os e não os deixava falar, porque sabiam que Ele era o Messias. Ao romper do dia, saiu e retirou-se para um lugar solitário. As multidões procuravam-no e, ao chegarem junto dele, tentavam retê-lo, para que não se afastasse delas. Mas Ele disse-lhes: «Tenho de anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado.» E pregava nas sinagogas da Judeia. Encontrando-se junto do lago de Genesaré, e comprimindo-se à volta dele a multidão para escutar a palavra de Deus, Jesus viu dois barcos que se encontravam junto do lago. Os pescadores tinham descido deles e lavavam as redes. Entrou num dos barcos, que era de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, sentando-se, dali se pôs a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca.» Simão respondeu: «Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos; mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes.» Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe. As redes estavam a romper-se, e eles fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para que os viessem ajudar. Vieram e encheram os dois barcos, a ponto de se irem afundando. Ao ver isto, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.» Ele e todos os que com ele estavam encheram-se de espanto por causa da pesca que tinham feito; o mesmo acontecera a Tiago e a João, filhos de Zebedeu e companheiros de Simão. Jesus disse a Simão Pedro: «Não tenhas receio; de futuro, serás pescador de homens.» E, depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram Jesus. Encontrando-se Jesus numa das cidades, apareceu um homem coberto de lepra. Ao ver Jesus, caiu com a face por terra e dirigiu-lhe esta súplica: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me.» Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: «Quero, fica purificado.» E imediatamente a lepra o deixou. Ordenou-lhe, então, que a ninguém o dissesse; no entanto, acrescentou: «Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés ordenou, para lhe servir de prova.» A sua fama espalhava-se cada vez mais, juntando-se grandes multidões para o ouvirem e para que os curasse dos seus males. Mas Ele retirava-se para lugares solitários e aí se entregava à oração. Um dia, quando Jesus ensinava, estavam ali sentados alguns fariseus e doutores da Lei, que tinham vindo de todas as localidades da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e o poder do Senhor levava-o a realizar curas. Apareceram uns homens que traziam um paralítico num catre e procuravam fazê-lo entrar e colocá-lo diante dele. Não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao tecto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga, para o meio, em frente de Jesus. Vendo a fé daqueles homens, disse: «Homem, os teus pecados estão perdoados.» Os doutores da Lei e os fariseus começaram a murmurar, dizendo: «Quem é este que profere blasfémias? Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?» Mas Jesus, penetrando nos seus pensamentos, tomou a palavra e disse-lhes: «Que estais a pensar em vossos corações? Que é mais fácil dizer: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar pecados, ordeno-te – disse ao paralítico: Levanta-te, pega na enxerga e vai para tua casa.» No mesmo instante, ergueu-se à vista deles, pegou na enxerga em que jazia e foi para a sua casa, glorificando a Deus. Todos ficaram estupefactos e glorificaram a Deus, dizendo cheios de temor: «Hoje vimos maravilhas!» Depois disto, Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no posto de cobrança. Disse-lhe: «Segue-me.» E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o. Levi ofereceu-lhe, em sua casa, um grande banquete; e encontravam-se com eles, à mesa, grande número de cobradores de impostos e de outras pessoas. Os fariseus e os doutores da Lei murmuravam, dizendo aos discípulos: «Porque comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?» Jesus tomou a palavra e disse-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.» Disseram-lhe eles: «Os discípulos de João jejuam frequentemente e recitam orações; o mesmo fazem também os dos fariseus. Os teus, porém, comem e bebem!» Jesus respondeu-lhes: «Podeis vós fazer jejuar os companheiros do esposo, enquanto o esposo está com eles? Virão dias em que o Esposo lhes será tirado; então, nesses dias, hão-de jejuar.» Disse-lhes também esta parábola: «Ninguém recorta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha; aliás, irá estragar-se a roupa nova, e também à roupa velha não se ajustará bem o remendo que vem da nova. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho novo rompe os odres e derrama-se, e os odres ficarão perdidos. Mas deve deitar-se vinho novo em odres novos. E ninguém, depois de ter bebido o velho, quer do novo, pois diz: ‘O velho é que é bom!’» Num dia de sábado, passando Jesus através das searas, os seus discípulos puseram-se a arrancar e a comer espigas, desfazendo-as com as mãos. Alguns fariseus disseram: «Porque fazeis o que não é permitido fazer ao sábado?» Jesus respondeu: «Não lestes o que fez David, quando teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na casa de Deus e, tomando os pães da oferenda, comeu e deu aos seus companheiros esses pães que só aos sacerdotes era permitido comer?» E acrescentou: «O Filho do Homem é Senhor do sábado.» Num outro sábado, entrou na sinagoga e começou a ensinar. Encontrava-se ali um homem cuja mão direita estava paralisada. Os doutores da Lei e os fariseus observavam-no, a ver se iria curá-lo ao sábado, para terem um motivo de acusação contra Ele. Conhecendo os seus pensamentos, Jesus disse ao homem da mão paralisada: «Levanta-te e põe-te de pé, aí no meio.» Ele levantou-se e ficou de pé. Disse-lhes Jesus: «Vou fazer-vos uma pergunta: O que é preferível, ao sábado: fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou perdê-la?» Então, olhando-os a todos em volta, disse ao homem: «Estende a tua mão.» Ele estendeu-a, e a mão ficou sã. Os outros encheram-se de furor e falavam entre si do que poderiam fazer contra Jesus. Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariote, que veio a ser o traidor. Descendo com eles, deteve-se num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos malignos ficavam curados; e toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos curava. Erguendo os olhos para os discípulos, pôs-se a dizer: «Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Felizes vós, os que agora tendes fome, porque sereis saciados. Felizes vós, os que agora chorais, porque haveis de rir. Felizes sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos expulsarem, vos insultarem e rejeitarem o vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, pois a vossa recompensa será grande no Céu. Era precisamente assim que os pais deles tratavam os profetas». «Mas ai de vós, os ricos, porque recebestes a vossa consolação! Ai de vós, os que estais agora fartos, porque haveis de ter fome! Ai de vós, os que agora rides, porque gemereis e chorareis! Ai de vós, quando todos disserem bem de vós! Era precisamente assim que os pais deles tratavam os falsos profetas». «Digo-vos, porém, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames. O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também. Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.» «Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco.» Jesus disse-lhes ainda esta parábola: «Um cego pode guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? Não está o discípulo acima do mestre, mas o discípulo bem formado será como o mestre. Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não reparas na trave que está na tua própria vista? Como podes dizer ao teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro da tua vista’, tu que não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás para tirar o argueiro da vista do teu irmão.» «Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore se conhece pelo seu fruto; não se colhem figos dos espinhos, nem uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o que é bom; e o mau, do mau tesouro tira o que é mau; pois a boca fala da abundância do coração.» «Porque me chamais ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que Eu digo? Vou mostrar-vos a quem é semelhante todo aquele que vem ter comigo, escuta as minhas palavras e as põe em prática. É semelhante a um homem que edificou uma casa: cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio uma inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa mas não a abalou, por ter sido bem edificada. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra, sem alicerces. A torrente arremessou-se contra ela, e a casa imediatamente se desmoronou. E foi grande a sua ruína!» Quando acabou de dizer todas as suas palavras ao povo, Jesus entrou em Cafarnaúm. Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer. Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o servo. Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.» Jesus acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.» E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde. Em seguida, dirigiu-se a uma cidade chamada Naim, indo com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe. O temor apoderou-se de todos, e davam glória a Deus, dizendo: «Surgiu entre nós um grande profeta e Deus visitou o seu povo!» E a fama deste milagre espalhou-se pela Judeia e por toda a região. Os discípulos de João informaram-no de todos estes factos. Chamando dois deles, João mandou-os ao Senhor com esta mensagem: «És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?» Ao chegarem junto dele, os homens disseram: «João Baptista mandou-nos ter contigo para te perguntar: ‘És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?’» Nessa altura, Jesus curava a muitos das suas doenças, padecimentos e espíritos malignos e concedia vista a muitos cegos. Tomando a palavra, disse aos enviados: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, a Boa-Nova é anunciada aos pobres; e feliz de quem não tiver em mim ocasião de queda.» Depois de os mensageiros de João se terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e estão nos palácios dos reis. Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais do que um profeta. É aquele de quem está escrito: 'Vou mandar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de ti.’ Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.» E todo o povo que o escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o baptismo de João. Mas, não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito. «A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes? Assemelham-se a crianças que, sentadas na praça, se interpelam umas às outras, dizendo: ‘Tocámos flauta para vós, e não dançastes! Entoámos lamentações, e não chorastes!’ Veio João Baptista, que não come pão nem bebe vinho, e dizeis: ‘Está possesso do demónio!’ Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores!’ Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.» Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» – respondeu ele. «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Não me deste um beijo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.» Em seguida, Jesus ia de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, proclamando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens. Como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: «Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na. Outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade. Outra caiu no meio de espinhos, e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na. Uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu fruto centuplicado.» Dizendo isto, clamava: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!» Os discípulos perguntaram-lhe o significado desta parábola. Disse-lhes: «A vós foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam.» «O significado da parábola é este: a semente é a Palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.» «Ninguém acende uma candeia para a cobrir com um vaso ou para a esconder debaixo da cama; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. Porque não há coisa oculta que não venha a manifestar-se, nem escondida que não se saiba e venha à luz. Vede, pois, como ouvis, porque àquele que tiver, ser-lhe-á dado; mas àquele que não tiver, ser-lhe-á tirado mesmo o que julga possuir.» Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não podiam aproximar-se por causa da multidão. Anunciaram-lhe: «Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te.» Mas Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.» Certo dia, Jesus subiu com os seus discípulos para um barco e disse-lhes: «Passemos à outra margem do lago.» E fizeram-se ao largo. Enquanto navegavam, adormeceu. Um turbilhão de vento caiu sobre o lago, e eles ficaram inundados e em perigo. Aproximaram-se dele e, despertando-o, disseram: «Mestre, Mestre, estamos perdidos!» E Ele, levantando-se, ameaçou o vento e as águas, que se acalmaram; e veio a bonança. Disse-lhes depois: «Onde está a vossa fé?» Cheios de medo e admirados, diziam entre eles: «Quem é este homem, que até manda nos ventos e nas águas, e eles obedecem-lhe?» Abordaram à região dos gerasenos, situada defronte da Galileia. Quando desceu para terra, veio-lhes ao encontro um homem da cidade, possesso de vários demónios que, desde há muito, não se vestia nem vivia em casa, mas nos túmulos. Ao ver Jesus, prostrou-se diante dele, gritando em alta voz: «Que tens que ver comigo, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes!» Jesus, efectivamente, ordenava ao espírito maligno que saísse do homem, pois apoderava-se dele com frequência. Prendiam-no com correntes e grilhões para o manterem em segurança, mas ele partia as cadeias e o demónio impelia-o para os desertos. Jesus perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» «Legião» – respondeu. Porque muitos demónios tinham entrado nele e suplicavam-lhe que não os mandasse ir para o abismo. Ora, andava ali uma grande vara de porcos a pastar no monte. Os demónios suplicaram a Jesus que os deixasse entrar neles. Ele permitiu. Saíram, pois, do homem, entraram nos porcos e a vara lançou-se do alto do precipício ao lago, e afogou-se. Ao verem o que se tinha passado, os guardas fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos. As pessoas saíram para ver o que tinha acontecido. Vieram ter com Jesus e encontraram o homem, de quem tinham saído os demónios, sentado a seus pés, vestido e em perfeito juízo. Os que tinham visto contaram-lhes como o possesso tinha sido salvo; e toda a população da região dos gerasenos pediu a Jesus que se afastasse deles, pois estavam possuídos de grande temor. Jesus subiu para o barco e afastou-se dali. O homem, de quem os demónios tinham saído, pediu-lhe para ficar com Ele. Mas Jesus despediu-o, dizendo: «Volta para a tua casa e conta o que Deus fez por ti.» E ele foi anunciando por toda a cidade tudo o que Jesus lhe fizera. Quando regressou, Jesus foi recebido pela multidão, pois todos estavam à sua espera. Veio ao seu encontro um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga. Caindo aos pés de Jesus, suplicava-lhe que entrasse em sua casa, porque tinha uma filha única, de uns doze anos, que estava a morrer. E, quando Ele se dirigia para lá, a multidão apertava-o, a ponto de o sufocar. Ora, certa mulher, que sofria de um fluxo de sangue havia doze anos, e que, tendo gasto com os médicos todos os seus haveres, não pudera ser curada por nenhum, aproximou-se por detrás e tocou-lhe na orla do seu manto; e, naquele mesmo instante, o fluxo de sangue parou. Jesus perguntou: «Quem me tocou?» Como todos o negassem, Pedro e os que estavam com Ele disseram: «Mestre, é a multidão que te aperta e empurra.» Jesus insistiu: «Alguém me tocou, pois senti que saiu de mim uma força.» Vendo que não tinha passado despercebida, a mulher aproximou-se, a tremer; e, lançando-se aos pés de Jesus, contou diante de todo o povo por que motivo lhe tinha tocado e como ficara imediatamente curada. Disse-lhe Jesus: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz.» Ainda Ele estava a falar, quando alguém da casa do chefe da sinagoga veio dizer: «A tua filha morreu; não continues a incomodar o Mestre.» Mas Jesus, que tinha ouvido tudo, respondeu: «Não tenhas receio; crê somente e ela será salva.» Ao chegar a casa, não deixou entrar ninguém com Ele, a não ser Pedro, João e Tiago, assim como o pai e a mãe da menina. Todos a choravam e pranteavam. Jesus disse: «Não choreis, porque ela não está morta, mas dorme.» E, por saberem que ela tinha morrido, troçavam de Jesus. Mas Ele, tomando-a pela mão, chamou-a, dizendo em voz alta: «Menina, levanta-te!» O espírito voltou-lhe, e imediatamente se levantou. Jesus mandou que lhe dessem de comer. Os pais ficaram estupefactos, e Ele ordenou-lhes que não dissessem a ninguém o que tinha acontecido. Tendo convocado os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curarem doenças. Depois, enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os doentes, e disse-lhes: «Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. Em qualquer casa em que entrardes, ficai lá até ao vosso regresso. Quanto aos que vos não receberem, saí dessa cidade e sacudi o pó dos vossos pés, para servir de testemunho contra eles.» Eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia, anunciando a Boa-Nova e realizando curas por toda a parte. O tetrarca Herodes ouviu dizer tudo o que se passava; e andava perplexo, pois alguns diziam que João ressuscitara dos mortos; outros, que Elias aparecera, e outros, que um dos antigos profetas ressuscitara. Herodes disse: «A João mandei-o eu decapitar, mas quem é este de quem oiço dizer semelhantes coisas?» E procurava vê-lo. Ao regressarem, os Apóstolos contaram-lhe tudo o que tinham feito. Tomando-os consigo, Jesus retirou-se para um lugar afastado, na direcção de uma cidade chamada Betsaida. Mas as multidões, que tal souberam, seguiram-no. Jesus acolheu-as e pôs-se a falar-lhes do Reino de Deus, curando os que necessitavam. Ora, o dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontre alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.» Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» Eram cerca de cinco mil homens. Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta.» Assim procederam e mandaram-nos sentar a todos. Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que os distribuíssem à multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios. Um dia, quando orava em particular, estando com Ele apenas os discípulos, perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» Responderam-lhe: «João Baptista; outros, Elias; outros, um dos antigos profetas ressuscitado.» Disse-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» Pedro tomou a palavra e respondeu: «O Messias de Deus.» Ele proibiu-lhes formalmente de o dizerem fosse a quem fosse; e acrescentou: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.» Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa há-de salvá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo? Porque, se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos. E Eu vos asseguro: Alguns dos que estão aqui presentes não experimentarão a morte, enquanto não virem o Reino de Deus.» Uns oito dias depois destas palavras, levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predilecto. Escutai-o.» Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto. No dia seguinte, ao descerem do monte, veio ao encontro de Jesus uma grande multidão. E, de entre a multidão, um homem gritou: «Mestre, peço-te que olhes para o meu filho, porque é o meu filho único. Um espírito apodera-se dele e, subitamente, começa a gritar e a sacudi-lo com violência, fazendo-o espumar. Só a custo se retira dele, deixando-o num estado miserável. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam.» Jesus respondeu: «Ó geração incrédula e pervertida! Até quando estarei convosco e terei de vos suportar? Traz cá o teu filho.» E, quando ele se aproximava, o demónio atirou-o ao chão e sacudiu-o violentamente. Jesus, porém, ameaçou o espírito maligno, curou o menino e entregou-o ao pai. E todos estavam maravilhados com a grandeza de Deus. Estando todos admirados com tudo o que Ele fazia, Jesus disse aos seus discípulos: «Prestai bem atenção ao que vou dizer-vos: O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.» Eles, porém, não entendiam aquela linguagem, porque lhes estava velada, de modo que não compreendiam e tinham receio de o interrogar a esse respeito. Veio-lhes então ao pensamento qual deles seria o maior. Conhecendo Jesus os seus pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si e disse-lhes: «Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande.» João tomou a palavra e disse: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele não te segue juntamente connosco.» Jesus disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por vós.» Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. E foram para outra povoação. Enquanto iam a caminho, disse-lhe alguém: «Hei-de seguir-te para onde quer que fores.» Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.» E disse a outro: «Segue-me.» Mas ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai.» Jesus disse-lhe: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos. Quanto a ti, vai anunciar o Reino de Deus.» Disse-lhe ainda outro: «Eu vou seguir-te, Senhor, mas primeiro permite que me despeça da minha família.» Jesus respondeu-lhe: «Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não está apto para o Reino de Deus.» Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. Disse-lhes: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: ‘O Reino de Deus já está próximo de vós.’ Mas, em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: ‘Até o pó da vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos, para vo-lo deixar. No entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já chegou.’» «Digo-vos: Naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os milagres que entre vós se realizaram, de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na cinza. Por isso, no dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. E tu, Cafarnaúm, porventura serás exaltada até ao céu? É até ao inferno que serás precipitada. Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.» Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» Disse-lhes Ele: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.» Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. Porque – digo-vos – muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!» Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’ Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.» Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: «Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar.» O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.» Sucedeu que Jesus estava algures a orar. Quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João também ensinou os seus discípulos.» Disse-lhes Ele: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; dá-nos o nosso pão de cada dia; perdoa os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixes cair em tentação.» Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo e for ter com ele a meio da noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou agora de viagem e não tenho nada para lhe oferecer’, e se ele lhe responder lá de dentro: ‘Não me incomodes, a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados; não posso levantar-me para tos dar’. Eu vos digo: embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos, levantar-se-á, devido à impertinência dele, e dar-lhe-á tudo quanto precisar.» «Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á. Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!» Jesus estava a expulsar um demónio mudo. Quando o demónio saiu, o mudo falou e a multidão ficou admirada. Mas alguns dentre eles disseram: «É por Belzebu, chefe dos demónios, que Ele expulsa os demónios.» Outros, para o experimentarem, reclamavam um sinal do Céu. Mas Jesus, que conhecia os seus pensamentos, disse-lhes: «Todo o reino, dividido contra si mesmo, será devastado e cairá casa sobre casa. Se Satanás também está dividido contra si mesmo, como há-de manter-se o seu reino? Pois vós dizeis que é por Belzebu que Eu expulso os demónios. Se é por Belzebu que Eu expulso os demónios, por quem os expulsam os vossos discípulos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes. Mas se Eu expulso os demónios pela mão de Deus, então o Reino de Deus já chegou até vós. Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os seus bens estão em segurança; mas se aparece um mais forte e o vence, tira-lhe as armas em que confiava e distribui os seus despojos. Quem não está comigo está contra mim, e quem não junta comigo, dispersa.» «Quando um espírito maligno sai de um homem, vagueia por lugares áridos em busca de repouso; e, não o encontrando, diz: ‘Vou voltar para minha casa, de onde saí.’ Ao chegar, encontra-a varrida e arrumada. Vai, então, e toma consigo outros sete espíritos piores do que ele; e, entrando, instalam-se ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro.» Enquanto Ele falava, uma mulher, levantando a voz do meio da multidão, disse: «Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!» Ele, porém, retorquiu: «Felizes, antes, os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática.» Como as multidões afluíssem em massa, começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado sinal algum, a não ser o de Jonas. Pois, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o será também o Filho do Homem para esta geração. A rainha do Sul há-de levantar-se, na altura do juízo, contra os homens desta geração e há-de condená-los, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; ora, aqui está quem é maior do que Salomão! Os ninivitas hão-de levantar-se, na altura do juízo, contra esta geração e hão-de condená-la, porque fizeram penitência ao ouvir a pregação de Jonas; ora, aqui está quem é maior do que Jonas.» «Ninguém acende uma candeia, para a colocar num lugar escondido ou debaixo do alqueire; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram. A candeia do teu corpo são os teus olhos. Se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo estará iluminado; mas se estiverem em mau estado, o teu corpo estará em trevas. Examina, pois, se a luz que há em ti não é escuridão. Se todo o teu corpo está iluminado, não tendo parte alguma tenebrosa, todo ele será luminoso, como quando a candeia te ilumina com o seu fulgor.» Mal Jesus tinha acabado de falar, um fariseu convidou-o para almoçar na sua casa; Ele entrou e pôs-se à mesa. O fariseu admirou-se de que Ele não se tivesse lavado antes da refeição. O Senhor disse-lhe: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai esmola do que possuís, e para vós tudo ficará limpo. Mas ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o amor de Deus! Estas eram as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas. Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e de ser cumprimentados nas praças! Ai de vós, porque sois como os túmulos, que não se vêem e sobre os quais as pessoas passam sem se aperceberem!» Um doutor da Lei tomou a palavra e disse-lhe: «Mestre, falando assim, também nos insultas a nós.» Mas Ele respondeu: «Ai de vós, também, doutores da Lei, porque carregais os homens com fardos insuportáveis e nem sequer com um dedo tocais nesses fardos! Ai de vós, que edificais os túmulos dos profetas, quando os vossos pais é que os mataram! Assim, dais testemunho e aprovação aos actos dos vossos pais, porque eles mataram-nos e vós edificais-lhes sepulcros. Por isso mesmo é que a Sabedoria de Deus disse: ‘Hei-de enviar-lhes profetas e apóstolos, a alguns dos quais darão a morte e a outros perseguirão, a fim de que se peça contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o santuário.’ Sim, Eu vo-lo digo, serão pedidas contas a esta geração. Ai de vós, doutores da Lei, porque vos apoderastes da chave da ciência: vós próprios não entrastes e impedistes a entrada àqueles que queriam entrar!» Quando saiu dali, os doutores da Lei e os fariseus começaram a pressioná-lo fortemente com perguntas e a fazê-lo falar sobre muitos assuntos, armando-lhe ciladas e procurando apanhar-lhe alguma palavra para o acusarem. Entretanto, a multidão tinha-se reunido; eram milhares, a ponto de se pisarem uns aos outros. Jesus começou a dizer primeiramente aos seus discípulos: «Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se. Porque tudo quanto tiverdes dito nas trevas há-de ouvir-se em plena luz, e o que tiverdes dito ao ouvido, em lugares retirados, será proclamado sobre os terraços. Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer. Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus. Mais ainda, até os cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais: valeis mais do que muitos pássaros. Digo-vos ainda: Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também o Filho do Homem se declarará por ele diante dos anjos de Deus. Aquele, porém, que me tiver negado diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus. E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, há-de perdoar-se; mas, a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais se perdoará. Quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em vossa defesa, pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que deveis dizer.» Dentre a multidão, alguém lhe disse: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.» Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: ‘Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?’ Depois continuou: ‘Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.’ Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?’ Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.» Em seguida, disse aos discípulos: «É por isso que vos digo: Não vos preocupeis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir; pois a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que o vestuário. Reparai nos corvos: não semeiam nem colhem, não têm despensa nem celeiro, e Deus alimenta-os. Quanto mais não valeis vós do que as aves! E quem de vós, pelo facto de se inquietar, pode acrescentar um côvado à extensão da sua vida? Se nem as mínimas coisas podeis fazer, porque vos preocupais com as restantes? Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois Eu digo-vos: Nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Se Deus veste assim a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé! Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos, pois as pessoas do mundo é que andam à procura de todas estas coisas; mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Procurai, antes, o seu Reino, e o resto vos será dado por acréscimo. Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.» «Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.» «Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles. Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.» Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’ e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo-o partilhar da sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.» «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize! Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.» Dizia também às multidões: «Quando vedes uma nuvem levantar-se do poente, dizeis logo: ‘Vem lá a chuva’; e assim sucede. E quando sopra o vento sul, dizeis: ‘Vai haver muito calor’; e assim acontece. Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu; como é que não sabeis reconhecer o tempo presente?» «Porque não julgais por vós mesmos, o que é justo? Por isso, quando fores com o teu adversário ao magistrado, procura resolver o assunto no caminho, não vá ele entregar-te ao juiz, o juiz entregar-te ao oficial de justiça e o oficial de justiça meter-te na prisão. Digo-te que não sairás de lá, antes de pagares até ao último centavo.» Nessa ocasião, apareceram alguns a falar-lhe dos galileus, cujo sangue Pilatos tinha misturado com o dos sacrifícios que eles ofereciam. Respondeu-lhes: «Julgais que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros galileus, por terem assim sofrido? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos igualmente. E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé, matando-os, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não, Eu vo-lo digo; mas, se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma.» Disse-lhes, também, a seguinte parábola: «Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e foi lá procurar frutos, mas não os encontrou. Disse ao encarregado da vinha: ‘Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o encontro. Corta-a; para que está ela a ocupar a terra?’ Mas ele respondeu: ‘Senhor, deixa-a mais este ano, para que eu possa escavar a terra em volta e deitar-lhe estrume. Se der frutos na próxima estação, ficará; senão, poderás cortá-la.’» Um dia de sábado, Jesus ensinava numa sinagoga. Estava lá certa mulher doente por causa de um espírito, há dezoito anos: andava curvada e não podia endireitar-se completamente. Ao vê-la, Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, estás livre da tua enfermidade.» E impôs-lhe as mãos. No mesmo instante, ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus. Mas o chefe da sinagoga, indignado por ver que Jesus fazia uma cura ao sábado, disse à multidão: «Seis dias há, durante os quais se deve trabalhar. Vinde, pois, nesses dias, para serdes curados e não em dia de sábado.» Replicou-lhe o Senhor: «Hipócritas, não solta cada um de vós, ao sábado, o seu boi ou o seu jumento da manjedoura e o leva a beber? E esta mulher, que é filha de Abraão, presa por Satanás há dezoito anos, não devia libertar-se desse laço, a um sábado?» Dizendo isto, todos os seus adversários ficaram envergonhados, e a multidão alegrava-se com todas as maravilhas que Ele realizava. Disse, então: «A que é semelhante o Reino de Deus e a que posso compará-lo? É semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e deitou no seu quintal. Cresceu, tornou-se uma árvore e as aves do céu vieram abrigar-se nos seus ramos.» Disse ainda: «A que posso comparar o Reino de Deus? É semelhante ao fermento que certa mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedada toda a massa.» Jesus percorria cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém. Disse-lhe alguém: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu-lhes: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, ficareis fora e batereis, dizendo: ‘Abre-nos, Senhor!’ Mas ele há-de responder-vos: ‘Não sei de onde sois.’ Começareis, então, a dizer: ‘Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças.’ Responder-vos-á: ‘Repito-vos que não sei de onde sois. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade.’ Lá haverá pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no Reino de Deus, e vós a serdes postos fora. Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus. E há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos.» Naquela altura aproximaram-se dele alguns fariseus, que lhe disseram: «Vai-te embora, sai daqui, porque Herodes quer matar-te.» Respondeu-lhes: «Ide dizer a essa raposa: Agora estou a expulsar demónios e a realizar curas, hoje e amanhã; ao terceiro dia, atinjo o meu termo. Mas hoje, amanhã e depois devo seguir o meu caminho, porque não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém.» «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes Eu quis juntar os teus filhos, como a galinha junta a sua ninhada debaixo das asas, e não quiseste! Agora, ficará deserta a vossa casa. Eu vo-lo digo: Não me vereis até chegar o dia em que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!» Tendo entrado, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para comer uma refeição, todos o observavam. Achava-se ali, diante dele, um hidrópico. Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da Lei e fariseus, disse-lhes: «É permitido ou não curar ao sábado?» Mas eles ficaram calados. Tomando-o, então, pela mão, curou-o e mandou-o embora. Depois, disse-lhes: «Qual de vós, se o seu filho ou o seu boi cair a um poço, não o irá logo retirar em dia de sábado?» E a isto não puderam replicar. Observando como os convidados escolhiam os primeiros lugares, disse-lhes esta parábola: «Quando fores convidado para um banquete, não ocupes o primeiro lugar; não suceda que tenha sido convidado alguém mais digno do que tu, venha o que vos convidou, a ti e ao outro, e te diga: ‘Cede o teu lugar a este.’ Ficarias envergonhado e passarias a ocupar o último lugar. Mas, quando fores convidado, senta-te no último lugar; e assim, quando vier o que te convidou, há-de dizer-te: ‘Amigo, vem mais para cima.’ Então, isto será uma honra para ti, aos olhos de todos os que estiverem contigo à mesa. Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado.» Disse, depois, a quem o tinha convidado: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos.» Ouvindo isto, um dos convidados disse-lhe: «Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» Ele respondeu-lhe: «Certo homem ia dar um grande banquete e fez muitos convites. À hora do banquete, mandou o seu servo dizer aos convidados: ‘Vinde, já está tudo pronto.’ Mas todos, unanimemente, começaram a esquivar-se. O primeiro disse: ‘Comprei um terreno e preciso de ir vê-lo; peço-te que me dispenses.’ Outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois e tenho de ir experimentá-las; peço-te que me dispenses.’ E outro disse: ‘Casei-me e, por isso, não posso ir.’ O servo regressou e comunicou isto ao seu senhor. Então, o dono da casa, irritado, disse ao servo: ‘Sai imediatamente às praças e às ruas da cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos.’ O servo voltou e disse-lhe: ‘Senhor, está feito o que determinaste, e ainda há lugar.’ E o senhor disse ao servo: ‘Sai pelos caminhos e azinhagas e obriga-os a entrar, para que a minha casa fique cheia.’ Pois digo-vos que nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete.» Seguiam com ele grandes multidões; e Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes: «Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe, à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. Quem dentre vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir? Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos os que virem comecem a troçar dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não pôde acabar.’ Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se àquele que vem contra ele com vinte mil? Se não pode, estando o outro ainda longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz. Assim, qualquer de vós, que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.» «Coisa boa é o sal; mas, se perder o seu sabor, com que há-de ele temperar-se? Não serve nem para a terra, nem para a estrumeira: deita-se fora. Quem tem ouvidos para ouvir, oiça!» Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores para o ouvirem. Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: «Qual é o homem de entre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha perdido, até a encontrar? Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida.’ Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.» «Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’ Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.» Disse ainda: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me corresponde.’ E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou tudo quanto possuía, numa vida desregrada. Depois de gastar tudo, houve grande fome nesse país e ele começou a passar privações. Então, foi colocar-se ao serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E, caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ E a festa principiou. Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: ‘O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.’ Encolerizado, não queria entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. Respondendo ao pai, disse-lhe: ‘Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; e agora, ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o vitelo gordo.’ O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.’» Disse ainda Jesus aos discípulos: «Havia um homem rico, que tinha um administrador; e este foi acusado perante ele de lhe dissipar os bens. Mandou-o chamar e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar.’ O administrador disse, então, para consigo: ‘Que farei, pois o meu senhor vai tirar-me a administração? Cavar não posso; de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei-de fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido da minha administração.’ E, chamando cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’ Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite.’ Retorquiu-lhe: ‘Toma o teu recibo, senta-te depressa e escreve cinquenta.’ Perguntou, depois, ao outro: ‘E tu quanto deves?’ Este respondeu: ‘Cem medidas de trigo.’ Retorquiu-lhe também: ‘Toma o teu recibo e escreve oitenta.’ O senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. É que os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes.» «E Eu digo-vos: Arranjai amigos com o dinheiro desonesto, para que, quando este faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é infiel no pouco também é infiel no muito. Se, pois, não fostes fiéis no que toca ao dinheiro desonesto, quem vos há-de confiar o verdadeiro bem? E, se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores; ou há-de aborrecer a um e amar o outro, ou dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.» Os fariseus, como eram avarentos, ouviam as suas palavras e troçavam dele. Jesus disse-lhes: «Vós pretendeis passar por justos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os vossos corações. Porque o que os homens têm por muito elevado é abominável aos olhos de Deus. A Lei e os Profetas subsistiram até João; a partir de então, é anunciada a Boa-Nova do Reino de Deus, e cada qual se esforça por entrar nele. Ora, é mais fácil que o céu e a terra passem do que cair um só acento da Lei. Todo aquele que se divorcia da sua mulher e casa com outra comete adultério; e quem casa com uma mulher divorciada comete adultério.» «Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas. Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. Então, ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós.’ O rico insistiu: ‘Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.’ Disse-lhe Abraão: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ Replicou-lhe ele: ‘Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.’ Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.’» Disse, depois, aos discípulos: «É inevitável que haja escândalos; mas ai daquele que os causa! Melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar, do que escandalizar um só destes pequeninos. Tende cuidado convosco! Se o teu irmão te ofender, repreende-o; e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se te ofender sete vezes ao dia e sete vezes te vier dizer: ‘Arrependo-me’, perdoa-lhe.» Os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé.» O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: ‘Arranca-te daí e planta-te no mar’, e ela havia de obedecer-vos.» «Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá, quando ele regressar do campo: ‘Vem cá depressa e senta-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, enquanto eu como e bebo; depois, comerás e beberás tu’? Deve estar grato ao servo por ter feito o que lhe mandou? Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer.’» Quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galileia. Ao entrar numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância, gritaram, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» Ao vê-los, disse-lhes: «Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.» Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados. Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em voz alta; caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-lhe. Era um samaritano. Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou.» Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, Jesus respondeu-lhes: «O Reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: ‘Ei-lo aqui’ ou ‘Ei-lo ali’, pois o Reino de Deus está entre vós.» Depois, disse aos discípulos: «Tempo virá em que desejareis ver um dos dias do Filho do Homem e não o vereis. Vão dizer-vos: ‘Ei-lo ali’, ou então: ‘Ei-lo aqui.’ Não queirais ir lá nem os sigais. Porque, como o relâmpago, ao faiscar, brilha de um extremo ao outro do céu, assim será o Filho do Homem no seu dia. Mas, primeiramente, Ele tem de sofrer muito e ser rejeitado por esta geração. Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, os homens casavam-se e as mulheres eram dadas em casamento, até ao dia em que Noé entrou na Arca e veio o dilúvio, que os fez perecer a todos. O mesmo sucedeu nos dias de Lot: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam, construíam; mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, Deus fez cair do céu uma chuva de fogo e enxofre, que os matou a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se revelar. Nesse dia, quem estiver no terraço e tiver as suas coisas em casa não desça para as tirar; e, do mesmo modo, quem estiver no campo não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Lot. Quem procurar salvar a vida, há-de perdê-la; e quem a perder, há-de conservá-la. Digo-vos que, nessa noite, estarão dois numa cama: um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão juntas a moer: uma será tomada e a outra será deixada. Dois homens estarão no campo: um será tomado e o outro será deixado.» Tomando a palavra, os discípulos disseram-lhe: «Senhor, onde sucederá isso?» Respondeu-lhes: «Onde estiver o corpo, lá se juntarão também os abutres.» Depois, disse-lhes uma parábola sobre a obrigação de orar sempre, sem desfalecer: «Em certa cidade, havia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Naquela cidade vivia também uma viúva que ia ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário.’ Durante muito tempo, o juiz recusou-se a atendê-la; mas, um dia, disse consigo: ‘Embora eu não tema a Deus nem respeite os homens, contudo, já que esta viúva me incomoda, vou fazer-lhe justiça, para que me deixe de vez e não volte a importunar-me.’» E o Senhor continuou: «Reparai no que diz este juiz iníquo. E Deus não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite, e há-de fazê-los esperar? Eu vos digo que lhes vai fazer justiça prontamente. Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?» Disse também a seguinte parábola, a respeito de alguns que confiavam muito em si mesmos, tendo-se por justos e desprezando os demais: «Dois homens subiram ao templo para orar: um era fariseu e o outro, cobrador de impostos. O fariseu, de pé, fazia interiormente esta oração: ‘Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo.’ O cobrador de impostos, mantendo-se à distância, nem sequer ousava levantar os olhos ao céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.’ Digo-vos: Este voltou justificado para sua casa, e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.» Apresentavam-lhe também as criancinhas, para que Ele lhes tocasse. Vendo isso, os discípulos repreenderam-nos. Mas Jesus chamou-os a si, dizendo: «Deixai vir a mim os pequeninos; não os impeçais, pois deles é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.» Certo chefe perguntou-lhe, então: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?» Respondeu-lhe Jesus: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: Não cometerás adultério, não matarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe.» Ele retorquiu: «Tudo isso tenho cumprido desde a minha juventude.» Ouvindo isto, Jesus disse-lhe: «Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, distribui o dinheiro pelos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-me.» Quando isto ouviu, ele entristeceu-se, pois era muito rico. Vendo-o assim, Jesus exclamou: «Como é difícil para os que têm riquezas entrar no Reino de Deus! Sim, é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!» Os que o ouviram disseram: «Então, quem pode salvar-se?» Jesus respondeu: «O que é impossível aos homens é possível a Deus.» Disse-lhe Pedro: «Nós deixámos os próprios bens e seguimos-te.» Ele disse-lhes: «Em verdade vos digo: Não há ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou filhos, por causa do Reino de Deus, que não receba muito mais no tempo presente e, no tempo que há-de vir, a vida eterna.» Tomando os Doze consigo, Jesus disse-lhes: «Olhai, subimos agora a Jerusalém e vai cumprir-se tudo o que foi escrito pelos profetas acerca do Filho do Homem: vai ser entregue aos gentios, vai ser escarnecido, maltratado e coberto de escarros; e, depois de o açoitarem, vão dar-lhe a morte. Mas, ao terceiro dia, ressuscitará.» Eles, porém, nada disto entenderam. Aquela linguagem era incompreensível para eles, e não entendiam o que lhes dizia. Quando se aproximavam de Jericó, estava um cego sentado a pedir esmola à beira do caminho. Ouvindo a multidão que passava, perguntou o que era aquilo. Disseram-lhe que era Jesus de Nazaré que ia a passar. Então, bradou: «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!» Os que iam à frente repreendiam-no, para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» Jesus parou e mandou que lho trouxessem. Quando o cego se aproximou, perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» Respondeu: «Senhor, que eu veja!» Jesus disse-lhe: «Vê. A tua fé te salvou.» Naquele mesmo instante, recobrou a vista e seguia-o, glorificando a Deus. E todo o povo, ao ver isto, deu louvores a Deus. Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um pecador. Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais.» Jesus disse-lhe: «Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.» Estando eles a ouvir estas coisas, Jesus acrescentou uma parábola, por estar perto de Jerusalém e por eles pensarem que o Reino de Deus ia manifestar-se imediatamente. Disse, pois: «Um homem nobre partiu para uma região longínqua, a fim de tomar posse de um reino e em seguida voltar. Chamando dez dos seus servos, entregou-lhes dez minas e disse-lhes: ‘Fazei render a mina até que eu volte.’ Mas os seus concidadãos odiavam-no e enviaram uma embaixada atrás dele, para dizer: ‘Não queremos que ele seja nosso rei.’ Quando voltou, depois de tomar posse do reino, mandou chamar os servos a quem entregara o dinheiro, para saber o que tinha ganho cada um deles. O primeiro apresentou-se e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu dez minas.’ Respondeu-lhe: ‘Muito bem, bom servo; já que foste fiel no pouco, receberás o governo de dez cidades.’ O segundo veio e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.’ Respondeu igualmente a este: ‘Recebe, também tu, o governo de cinco cidades.’ Veio outro e disse: ‘Senhor, aqui tens a tua mina que eu tinha guardado num lenço, pois tinha medo de ti, que és homem severo, levantas o que não depositaste e colhes o que não semeaste.’ Disse-lhe ele: ‘Pela tua própria boca te condeno, mau servo! Sabias que sou um homem severo, que levanto o que não depositei e colho o que não semeei; então, porque não entregaste o meu dinheiro ao banco? Ao regressar, tê-lo-ia recuperado com juros.’ E disse aos presentes: ‘Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem dez minas.’ Responderam-lhe: ‘Senhor, ele já tem dez minas!’ Digo-vos Eu: A todo aquele que tem, há-de ser dado, mas àquele que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado. Quanto a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os cá e degolai-os na minha presença.» Dito isto, Jesus seguiu para diante, em direcção a Jerusalém. Ao aproximar-se de Betfagé e de Betânia, junto do chamado Monte das Oliveiras, Jesus enviou dois dos seus discípulos, dizendo: «Ide à aldeia em frente e, ao entrardes nela, encontrareis um jumentinho preso, que ninguém montou ainda; soltai-o e trazei-mo. E se alguém vos perguntar: ‘Porque o soltais?’, respondereis assim: ‘O Senhor precisa dele.’» Os enviados partiram, e tudo se lhes deparou como Ele tinha dito. Quando estavam a soltar o jumentinho, os donos disseram-lhes: «Porque soltais o jumentinho?» Responderam-lhes: «Porque o Senhor precisa dele.» Levaram-no a Jesus e, deitando as capas sobre o jumentinho, ajudaram Jesus a montar. Enquanto caminhava, estendiam as capas no caminho. Estando já próximo da descida do Monte das Oliveiras, o grupo dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus, em alta voz, por todos os milagres que tinham visto. E diziam: «Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no Céu e glória nas Alturas!» Alguns fariseus disseram-lhe, do meio da multidão: «Mestre, repreende os teus discípulos.» Jesus retorquiu: «Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras.» Quando se aproximou, ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela e disse: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada.» Depois, entrando no templo, começou a expulsar os vendedores. E dizia-lhes: «Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós fizestes dela um covil de ladrões.» Ensinava todos os dias no templo, e os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, assim como os chefes do povo, procuravam matá-lo. Não sabiam, porém, como proceder, pois todo o povo, ao ouvi-lo, ficava suspenso dos seus lábios. Num daqueles dias, estando Ele no templo a ensinar o povo e a anunciar a Boa-Nova, apresentaram-se os sumos sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos e dirigiram-lhe a palavra, dizendo: «Diz-nos com que autoridade fazes estas coisas, ou quem te deu tal autoridade.» Respondeu-lhes: «Também Eu vou fazer-vos uma pergunta. Dizei-me: o baptismo de João era do Céu, ou dos homens?» Eles começaram a discorrer entre si, dizendo: «Se respondermos que era do Céu, Ele dirá: ‘Porque não acreditastes nele?’ Se respondermos que era dos homens, todo o povo nos apedrejará, porque consideram João como profeta.» Responderam, então, que não sabiam de onde era. Jesus disse-lhes: «Também Eu não vos digo com que autoridade faço isto.» Começou, depois, a expor ao povo a seguinte parábola: «Um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns vinhateiros e ausentou-se por muito tempo. No devido tempo, mandou um servo aos vinhateiros, para estes lhe entregarem parte dos frutos da vinha. Mas os vinhateiros despediram-no de mãos vazias, depois de o terem açoitado. Enviou outro servo, mas também o açoitaram, ultrajaram e despediram-no sem nada. Enviou ainda um terceiro; e eles, depois de o ferirem, lançaram-no fora. O dono da vinha disse, então: ‘Que hei-de fazer? Vou mandar-lhes o meu filho bem amado; talvez o respeitem.’ Mas, quando o viram, os vinhateiros disseram uns aos outros: ‘Este é que é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança seja nossa.’ E, lançando-o fora da vinha, mataram-no. A esses, que lhes fará o dono da vinha? Virá, exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros.» Ouvindo isto, eles disseram: «Que Deus não o permita!» Fitando-os, Jesus disse-lhes: «Que significa, então, o que está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se pedra angular? Todo aquele que cair sobre esta pedra ficará despedaçado, e aquele sobre quem ela cair ficará esmagado.» Naquela altura, os doutores da Lei e os sumos sacerdotes procuravam deitar-lhe a mão, pois tinham compreendido que esta parábola lhes era dirigida; mas tiveram receio do povo. Então, puseram-se à espreita e mandaram-lhe espiões, que se fingiam justos com o fim de o surpreender em alguma palavra, para o entregarem ao poder e à jurisdição do governador. Fizeram-lhe a seguinte pergunta: «Mestre, sabemos que falas e ensinas com rectidão e não fazes acepção de pessoas, mas ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. Devemos pagar tributo a César, ou não?» Conhecendo a sua astúcia, Ele respondeu-lhes: «Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e a inscrição?» Eles disseram: «De César.» Disse-lhes, então: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.» Não conseguiram apanhar-lhe uma palavra em falso diante do povo; ao contrário, admirados com a sua resposta, ficaram calados. Aproximaram-se alguns saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no: «Mestre, Moisés prescreveu-nos que, se morrer um homem deixando a mulher, mas não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva, para dar descendência ao irmão. Ora, havia sete irmãos: o primeiro casou-se e morreu sem filhos; o segundo, depois o terceiro, casaram com a viúva; e o mesmo sucedeu aos sete, que morreram sem deixar filhos. Finalmente, morreu também a mulher. Ora bem, na ressurreição, a qual deles pertencerá a mulher, uma vez que os sete a tiveram por esposa?» Jesus respondeu-lhes: «Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se; mas aqueles que forem julgados dignos da vida futura e da ressurreição dos mortos não se casam, sejam homens ou mulheres, porque já não podem morrer: são semelhantes aos anjos e, sendo filhos da ressurreição, são filhos de Deus. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça, quando chama ao Senhor o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; pois, para Ele, todos estão vivos.» Tomando, então, a palavra, alguns doutores da Lei disseram: «Mestre, falaste bem.» E já não se atreviam a interrogá-lo sobre mais nada. Jesus perguntou-lhes: «Como é que dizem que o Messias é filho de David, se o próprio David diz no Livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que Eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Se David lhe chama ‘Senhor’, como pode Ele ser seu Filho?» Quando todo o povo o escutava, Jesus disse aos discípulos: «Tomai cuidado com os doutores da Lei, que sentem prazer em passear de túnicas compridas, e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas, dos primeiros lugares nas sinagogas e dos primeiros assentos nos banquetes; eles, que devoram as casas das viúvas, simulando longas orações, terão um castigo mais severo.» Levantando os olhos, Jesus viu os ricos deitarem no cofre do tesouro as suas ofertas. Viu também uma viúva pobre deitar lá duas moedinhas e disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou mais do que todos os outros; pois eles deitaram no tesouro do que lhes sobejava, enquanto ela, da sua indigência, deitou tudo o que tinha para viver.» Como alguns falassem do templo, dizendo que estava adornado de belas pedras e de ofertas votivas, respondeu: «Virá o dia em que, de tudo isto que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.» Perguntaram-lhe, então: «Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?» Ele respondeu: «Tende cuidado em não vos deixardes enganar, pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu’; e ainda: ‘O tempo está próximo.’ Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis; é necessário que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim.» Disse-lhes depois: «Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em vários lugares, fomes e epidemias; haverá fenómenos apavorantes e grandes sinais no céu.» «Mas, antes de tudo, vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão-de conduzir-vos perante reis e governadores, por causa do meu nome. Assim, tereis ocasião de dar testemunho. Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa defesa, porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão resistir ou contradizer os vossos adversários. Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos. Hão-de causar a morte a alguns de vós e sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. Pela vossa constância é que sereis salvos.» «Mas, quando virdes Jerusalém sitiada por exércitos, ficai sabendo que a sua ruína está próxima. Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade retirem-se; e os que estiverem no campo não voltem para a cidade, pois esses dias serão de punição, a fim de se cumprir tudo quanto está escrito. Ai das que estiverem grávidas e das que estiverem a amamentar naqueles dias, porque haverá uma terrível angústia no país e um castigo contra este povo. Serão passados a fio de espada, serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será calcada pelos gentios, até se completar o tempo dos pagãos.» «Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre os povos, aterrados com o bramido e a agitação do mar; os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai acontecer ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai ânimo e levantai a cabeça, porque a vossa redenção está próxima.» E disse-lhes uma comparação: «Reparai na figueira e nas restantes árvores. Quando começam a deitar rebentos, ao vê-los, ficais a saber que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes essas coisas, conhecereis que o Reino de Deus está próximo. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo se cumpra. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão-de passar.» «Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados com a devassidão, a embriaguez e as preocupações da vida, e que esse dia não caia sobre vós subitamente, como um laço; pois atingirá todos os que habitam a terra inteira. Velai, pois, orando continuamente, a fim de terdes força para escapar a tudo o que vai acontecer e aparecerdes firmes diante do Filho do Homem.» Durante o dia, Jesus estava no templo a ensinar; mas saía para passar a noite no Monte das Oliveiras. E todo o povo, de madrugada, ia ter com Ele ao templo, para o escutar. Entretanto, aproximava-se a festa dos Ázimos, chamada Páscoa. E os sumos sacerdotes e doutores da Lei procuravam maneira de fazerem desaparecer Jesus, mas temiam o povo. Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos Doze. Judas foi falar com os sumos sacerdotes e os oficiais do templo sobre o modo de lhes entregar Jesus. Eles regozijaram-se e combinaram dar-lhe dinheiro. Judas concordou e procurava ocasião de o entregar, sem a multidão saber. Chegou o dia dos Ázimos, em que devia sacrificar-se o cordeiro, e Jesus enviou Pedro e João, dizendo: «Ide preparar-nos o necessário para comermos a ceia pascal.» Perguntaram-lhe: «Onde queres que a preparemos?» Respondeu: «Ao entrardes na cidade, virá ao vosso encontro um homem transportando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que entrar e dizei ao dono da casa: ‘O Mestre manda dizer-te: Onde é a sala, em que hei-de comer a ceia pascal com os meus discípulos?’ Mostrar-vos-á uma grande sala mobilada, no andar de cima. Fazei aí os preparativos.» Partiram, encontraram tudo como lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. Quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes: «Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.» Tomando uma taça, deu graças e disse: «Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até chegar o Reino de Deus.» Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em minha memória.» Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós.» «No entanto, vede: a mão daquele que me vai entregar está comigo à mesa! O Filho do Homem segue o seu caminho, como está determinado; mas ai daquele por meio de quem vai ser entregue!» Começaram a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa. Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. Convosco, não deve ser assim; o que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações, e Eu disponho do Reino a vosso favor, como meu Pai dispõe dele a meu favor, a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E haveis de sentar-vos, em tronos, para julgar as doze tribos de Israel.» E o Senhor disse: «Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.» Ele respondeu-lhe: «Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte.» Jesus disse-lhe: «Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me.» Depois, acrescentou: «Quando vos enviei sem bolsa, nem alforge, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?» Eles responderam: «Nada.» E Ele acrescentou: «Mas agora, quem tem uma bolsa que a tome, assim como o alforge, e quem não tem espada venda a capa e compre uma. Porque, digo-vo-lo Eu, deve cumprir-se em mim esta palavra da Escritura: Foi contado entre os malfeitores. Efectivamente, o que me diz respeito chega ao seu termo.» Disseram-lhe eles: «Senhor, aqui estão duas espadas.» Mas Ele respondeu-lhes: «Basta!» Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.» Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.» Ainda Ele estava a falar quando surgiu uma multidão de gente. Um dos Doze, o chamado Judas, caminhava à frente e aproximou-se de Jesus para o beijar. Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?» Vendo o que ia suceder, aqueles que o cercavam perguntaram-lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?» E um deles feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo: «Basta, deixai-os.» E, tocando na orelha do servo, curou-o. Depois, disse aos que tinham vindo contra Ele, aos sumos sacerdotes, aos oficiais do templo e aos anciãos: «Vós saístes com espadas e varapaus, como se fôsseis ao encontro de um salteador! Estando Eu todos os dias convosco no templo, não me deitastes as mãos; mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas.» Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele.» Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não o conheço, mulher.» Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais.» Mas Pedro disse: «Homem, não sou.» Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu.» Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.» E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» E, vindo para fora, chorou amargamente. Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam dele e maltratavam-no. Cobriam-lhe o rosto e perguntavam-lhe: «Adivinha! Quem te bateu?» E proferiam muitos outros insultos contra Ele. Quando amanheceu, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e doutores da Lei, que o levaram ao seu tribunal. Disseram-lhe: «Declara-nos se Tu és o Messias.» Ele respondeu-lhes: «Se vo-lo disser, não me acreditareis e, se vos perguntar, não respondereis. Mas doravante, o Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus todo-poderoso.» Disseram todos: «Tu és, então, o Filho de Deus?» Ele respondeu-lhes: «Vós o dizeis; Eu sou.» Então, exclamaram: «Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca.» Levantando-se todos, levaram-no a Pilatos e começaram a acusá-lo, nestes termos: «Encontrámos este homem a sublevar o povo, a impedir que se pagasse tributo a César e a dizer-se Ele próprio o Messias-Rei.» Pilatos interrogou-o: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» Pilatos disse, então, aos sumos sacerdotes e à multidão: «Nada encontro de culpável neste homem.» Mas eles insistiram, dizendo: «Ele amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia até aqui.» Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também se encontrava em Jerusalém nesses dias. Ao ver Jesus, Herodes ficou extremamente satisfeito, pois havia bastante tempo que o queria ver, devido ao que ouvia dizer dele, esperando que fizesse algum milagre na sua presença. Fez-lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. Os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, que lá estavam, acusavam-no com veemência. Herodes, com os seus oficiais, tratou-o com desprezo e, por troça, mandou-o cobrir com uma capa vistosa, enviando-o de novo a Pilatos. Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois eram inimigos um do outro. Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, e disse-lhes: «Trouxestes este homem à minha presença como se andasse a revoltar o povo. Interroguei-o diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais. Herodes tão-pouco, visto que no-lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. Vou, portanto, libertá-lo, depois de o castigar.» Ora, em cada festa, Pilatos era obrigado a soltar-lhes um preso. E todos se puseram a gritar: «A esse mata-o e solta-nos Barrabás!» Este último fora metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade, e por homicídio. De novo, Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: «Crucifica-o! Crucifica-o!» Pilatos disse-lhes pela terceira vez: «Que mal fez Ele, então? Nada encontrei nele que mereça a morte. Por isso, vou libertá-lo, depois de o castigar.» Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicídio, que eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus. Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; pois virão dias em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram.’ Hão-de, então, dizer aos montes: ‘Caí sobre nós!’ E às colinas: ‘Cobri-nos!’ Porque, se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?» E levavam também dois malfeitores, para serem executados com Ele. Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.» Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes. O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.» Os soldados também troçavam dele. Aproximando-se para lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!» E por cima dele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus.» Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.» Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.» E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.» Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.» Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. O Sol tinha-se eclipsado e o véu do templo rasgou-se ao meio. Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.» Dito isto, expirou. Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente, este homem era justo!» E toda a multidão que se tinha aglomerado para este espectáculo, vendo o que acontecera, regressava batendo no peito. Todos os seus conhecidos e as mulheres que o tinham acompanhado desde a Galileia mantinham-se à distância, observando estas coisas. Um membro do Conselho, chamado José, homem recto e justo, não tinha concordado com a decisão nem com o procedimento dos outros. Era natural de Arimateia, cidade da Judeia, e esperava o Reino de Deus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Descendo-o da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e já começava o sábado. Entretanto, as mulheres que tinham vindo com Ele da Galileia acompanharam José, observaram o túmulo e viram como o corpo de Jesus fora depositado. Ao regressar, prepararam aromas e perfumes; e, durante o sábado, observaram o descanso, conforme o preceito. No primeiro dia da semana, ao romper da alva, as mulheres foram ao sepulcro, levando os perfumes que tinham preparado. Encontraram removida a pedra da porta do sepulcro e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Estando elas perplexas com o caso, apareceram-lhes dois homens em trajes resplandecentes. Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, eles disseram-lhes: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou! Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia, dizendo que o Filho do Homem tinha de ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia.» Recordaram-se, então, das suas palavras. Voltando do sepulcro, foram contar tudo isto aos Onze e a todos os restantes. Eram elas Maria de Magdala, Joana e Maria, mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas diziam isto aos Apóstolos; mas as suas palavras pareceram-lhes um desvario, e eles não acreditaram nelas. Pedro, no entanto, pôs-se a caminho e correu ao sepulcro. Debruçando-se, apenas viu as ligaduras e voltou para casa, admirado com o sucedido. Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer. Disse-lhes Ele: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?» Pararam entristecidos. E um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias!» Perguntou-lhes Ele: «Que foi?» Responderam-lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; como os sumos sacerdotes e os nossos chefes o entregaram, para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel, mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia desde que se deram estas coisas. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram perturbados, porque foram ao sepulcro de madrugada e, não achando o seu corpo, vieram dizer que lhes apareceram uns anjos, que afirmavam que Ele vivia. Então, alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas, a Ele, não o viram.» Jesus disse-lhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.» Entrou para ficar com eles. E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram, então, um ao outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» Levantando-se, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os seus companheiros, que lhes disseram: «Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão. Enquanto isto diziam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito. Disse-lhes, então: «Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.» Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como, na sua alegria, não queriam acreditar de assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa que se coma?» Deram-lhe um bocado de peixe assado; e, tomando-o, comeu diante deles. Depois, disse-lhes: «Estas foram as palavras que vos disse, quando ainda estava convosco: que era necessário que se cumprisse tudo quanto a meu respeito está escrito em Moisés, nos Profetas e nos Salmos.» Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos, ao terceiro dia; que havia de ser anunciada, em seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas destas coisas. E Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade até serdes revestidos com a força do Alto.» Depois, levou-os até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, separou-se deles e elevava-se ao Céu. E eles, depois de se terem prostrado diante dele, voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo a bendizer a Deus. No princípio havia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. No princípio Ele estava em Deus. Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência. Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir. E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam. Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz. O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas sim de Deus. E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: ‘O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.’» Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo. A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer. Este foi o testemunho de João, quando as autoridades judaicas lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: «Tu quem és?» Então ele confessou a verdade e não a negou, afirmando: «Eu não sou o Messias.» E perguntaram-lhe: «Quem és, então? És tu Elias?» Ele disse: «Não sou.» «És tu o Profeta?» Respondeu: «Não.» Disseram-lhe, por fim: «Quem és tu, para podermos dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?» Ele declarou: «Eu sou a voz de quem grita no deserto: ‘Rectificai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías.» Ora, havia enviados dos fariseus que lhe perguntaram: «Então porque baptizas, se tu não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?» João respondeu-lhes: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. É aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.» Isto passou-se em Betânia, na margem além do Jordão, onde João estava a baptizar. No dia seguinte, ao ver Jesus, que se dirigia para ele, exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! É aquele de quem eu disse: ‘Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim.’ Eu não o conhecia bem; mas foi para Ele se manifestar a Israel que eu vim baptizar com água.» E João testemunhou: «Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: ‘Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo’. Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.» No dia seguinte, João encontrava-se de novo ali com dois dos seus discípulos. Então, pondo o olhar em Jesus, que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus!» Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: «Que pretendeis?» Eles disseram-lhe: «Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?» Ele respondeu-lhes: «Vinde e vereis.» Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Eram as quatro da tarde. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus. Fixando nele o olhar, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, o filho de João. Hás-de chamar-te Cefas» – que significa Pedra. No dia seguinte, Jesus resolveu sair para a Galileia. Encontrou Filipe, e disse-lhe: «Segue-me!» Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro. Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» Filipe respondeu-lhe: «Vem e verás!» Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» Disse-lhe Natanael: «Donde me conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando estavas debaixo da figueira!» Respondeu Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» Retorquiu-lhe Jesus: «Tu crês por Eu te ter dito: ‘Vi-te debaixo da figueira’? Hás-de ver coisas maiores do que estas!» E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.» Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda. Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: «Não têm vinho!» Jesus respondeu-lhe: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!» Ora, havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos de purificação dos judeus, com capacidade de duas ou três medidas cada uma. Disse-lhes Jesus: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até acima. Então ordenou-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa.» E eles assim fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era – se bem que o soubessem os serventes que tinham tirado a água; chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!» Assim, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos, com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele. Depois disto, desceu a Cafarnaúm com sua mãe, os irmãos e os seus discípulos, e ficaram ali apenas alguns dias. Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disse-lhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.» Os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora. Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer isto?» Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?» Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido. Enquanto Ele estava em Jerusalém, durante as festas da Páscoa, muitos creram nele, ao verem os sinais miraculosos que realizava. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que ninguém o elucidasse acerca das pessoas, pois sabia o que havia dentro delas. Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos, um chefe dos judeus. Veio ter com Jesus de noite e disse-lhe: «Rabi, nós sabemos que Tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que Tu fazes, se Deus não estiver com ele.» Em resposta, Jesus declarou-lhe: «Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não pode ver o Reino de Deus.» Perguntou-lhe Nicodemos: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura poderá entrar no ventre de sua mãe outra vez, e nascer?» Jesus respondeu-lhe: «Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. Aquilo que nasce da carne é carne, e aquilo que nasce do Espírito é espírito. Não te admires por Eu te ter dito: ‘Vós tendes de nascer do Alto.’ O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito.» Nicodemos interveio e disse-lhe: «Como pode ser isso?» Jesus respondeu-lhe: «Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo: nós falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas vós não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei das coisas da terra e não credes, como é que haveis de crer quando vos falar das coisas do Céu? Pois ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o Filho do Homem. Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.» Depois disto, Jesus foi com os seus discípulos para a região da Judeia e ali convivia com eles e baptizava. Também João estava a baptizar em Enon, perto de Salim, porque havia ali águas abundantes e vinha gente para ser baptizada. João, de facto, ainda não tinha sido lançado na prisão. Então levantou-se uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, acerca dos ritos de purificação. Foram ter com João e disseram-lhe: «Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a baptizar, e toda a gente vai ter com Ele.» João declarou: «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: ‘Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente.’ O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir.» Aquele que vem do Alto está acima de tudo. Quem é da terra à terra pertence e fala da terra. Aquele que vem do Céu está acima de tudo e dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. Quem aceita o seu testemunho reconhece que Deus é verdadeiro; pois aquele que Deus enviou transmite as palavras de Deus, porque dá o Espírito sem medida. O Pai ama o Filho e tudo põe na sua mão. Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se nega a crer no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus. Quando Jesus soube que chegara aos ouvidos dos fariseus que Ele conseguia mais discípulos e baptizava mais do que João – embora não fosse o próprio Jesus a baptizar, mas sim os seus discípulos – deixou a Judeia e voltou para a Galileia. Tinha de atravessar a Samaria. Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacob tinha dado ao seu filho José. Ficava ali o poço de Jacob. Então Jesus, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia. Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber.» Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. Disse-lhe então a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» É que os judeus não se dão bem com os samaritanos. Respondeu-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!» Disse-lhe a mulher: «Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo... Onde consegues, então, a água viva? Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob, que nos deu este poço donde beberam ele, os seus filhos e os seus rebanhos?» Replicou-lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede; mas, quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna.» Disse-lhe a mulher: «Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter sede, nem ter de vir cá tirá-la.» Respondeu-lhe Jesus: «Vai, chama o teu marido e volta cá.» A mulher retorquiu-lhe: «Eu não tenho marido.» Declarou-lhe Jesus: «Disseste bem: ‘não tenho marido’, pois tiveste cinco e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste verdade.» Disse-lhe a mulher: «Senhor, vejo que és um profeta! Os nossos antepassados adoraram a Deus neste monte, e vós dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém.» Jesus declarou-lhe: «Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas chega a hora – e é já – em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende. Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.» Disse-lhe a mulher: «Eu sei que o Messias, que é chamado Cristo, está para vir. Quando vier, há-de fazer-nos saber todas as coisas.» Jesus respondeu-lhe: «Sou Eu, que estou a falar contigo.» Nisto chegaram os seus discípulos e ficaram admirados de Ele estar a falar com uma mulher. Mas nenhum perguntou: ‘Que procuras?’, ou: ‘De que estás a falar com ela?’ Então a mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente: «Eia! Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será Ele o Messias?» Eles saíram da cidade e foram ter com Jesus. Entretanto, os discípulos insistiam com Ele, dizendo: «Rabi, come.» Mas Ele disse-lhes: «Eu tenho um alimento para comer, que vós não conheceis.» Então os discípulos começaram a dizer entre si: «Será que alguém lhe trouxe de comer?» Declarou-lhes Jesus: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra. Não dizeis vós: ‘Mais quatro meses e vem a ceifa’? Pois Eu digo-vos: Levantai os olhos e vede os campos que estão doirados para a ceifa. Já o ceifeiro recebe o seu salário e recolhe o fruto em ordem à vida eterna, de modo que se alegram ao mesmo tempo aquele que semeia e o que ceifa. Nisto, porém, é verdadeiro o ditado: ‘um é o que semeia e outro o que ceifa’. Porque Eu enviei-vos a ceifar o que não trabalhastes; outros se cansaram a trabalhar, e vós ficastes com o proveito da sua fadiga.» Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram nele devido às palavras da mulher, que testemunhava: «Ele disse-me tudo o que eu fiz.» Por isso, quando os samaritanos foram ter com Jesus, começaram a pedir-lhe que ficasse com eles. E ficou lá dois dias. Então muitos mais acreditaram nele por causa da sua pregação, e diziam à mulher: «Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.» Passados aqueles dois dias, Jesus partiu dali para a Galileia. Ele mesmo tinha declarado que um profeta não é estimado na sua própria terra. No entanto, quando chegou à Galileia, os galileus receberam-no bem, por terem visto o que fizera em Jerusalém durante a festa; pois eles também tinham ido à festa. Veio, pois, novamente a Caná da Galileia, onde tinha convertido a água em vinho. Ora havia em Cafarnaúm um funcionário real que tinha o filho doente. Quando ouviu dizer que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-lhe que descesse até lá para lhe curar o filho, que estava a morrer. Então Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais extraordinários e prodígios, não acreditais.» Respondeu-lhe o funcionário real: «Senhor, desce até lá, antes que o meu filho morra.» Disse-lhe Jesus: «Vai, que o teu filho está salvo.» O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe disse e pôs-se a caminho. Enquanto ia descendo, os criados vieram ao seu encontro, dizendo: «O teu filho está salvo.» Perguntou-lhes, então, a que horas ele se tinha sentido melhor. Responderam: «A febre deixou-o há pouco, depois do meio-dia.» O pai viu, então, que tinha sido exactamente àquela hora que Jesus lhe dissera: «O teu filho está salvo». E acreditou ele e todos os da sua casa. Jesus realizou este segundo sinal miraculoso ao ir da Judeia para a Galileia. Depois disto, havia uma festa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, há uma piscina, em hebraico chamada Betzatá. Tem cinco pórticos, e neles jaziam numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos. Estava ali um homem que padecia da sua doença há trinta e oito anos. Jesus, ao vê-lo prostrado e sabendo que já levava muito tempo assim, disse-lhe: «Queres ficar são?» Respondeu-lhe o doente: «Senhor, não tenho ninguém que me meta na piscina quando se agita a água, pois, enquanto eu vou, algum outro desce antes de mim». Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda.» E, no mesmo instante, aquele homem ficou são, agarrou na enxerga e começou a andar. Ora, aquele dia era de sábado. Por isso os judeus diziam ao que tinha sido curado: «É sábado e não te é permitido transportar a enxerga.» Ele respondeu-lhes: «Quem me curou é que me disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’.» Perguntaram-lhe, então: «Quem é esse homem que te disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’?» Mas o que tinha sido curado não sabia quem era, porque Jesus se tinha afastado da multidão ali reunida. Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: «Vê lá: ficaste curado. Não peques mais, para que não te aconteça coisa ainda pior.» O homem foi-se embora e comunicou aos judeus que fora Jesus quem o tinha curado. E foi por isto, por Jesus realizar tais coisas em dia de sábado, que os judeus começaram a persegui-lo. Naquela altura Jesus replicou-lhes: «O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo!» Perante isto, mais vontade tinham os judeus de o matar, pois não só anulava o Sábado, mas até chamava a Deus seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus. Jesus tomou, pois, a palavra e começou a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: o Filho, por si mesmo, não pode fazer nada, senão o que vir fazer ao Pai, pois aquilo que este faz também o faz igualmente o Filho. De facto, o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que Ele mesmo faz; e há-de mostrar-lhe obras maiores do que estas, de modo que ficareis assombrados. Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho faz viver aqueles que quer. O Pai, aliás, não julga ninguém, mas entregou ao Filho todo o julgamento, para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é sujeito a julgamento, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo: chega a hora – e é já – em que os mortos hão-de ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão, pois, assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho o poder de ter a vida em si mesmo; e deu-lhe o poder de fazer o julgamento, porque Ele é Filho do Homem. Não vos assombreis com isto: é chegada a hora em que todos os que estão nos túmulos hão-de ouvir a sua voz, e sairão: os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida; e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação. Por mim mesmo, Eu não posso fazer nada: conforme ouço, assim é que julgo; e o meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a daquele que me enviou.» «Se Eu testemunhasse a favor de mim próprio, o meu testemunho não teria valor; há outro que testemunha em favor de mim, e Eu sei que o seu testemunho, favorável a mim, é verdadeiro. Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. Não é, porém, de um homem que Eu recebo testemunho, mas digo-vos isto para vos salvardes. João era uma lâmpada ardente e luminosa, e vós, por um instante, quisestes alegrar-vos com a sua luz. Mas tenho a meu favor um testemunho maior que o de João, pois as obras que o Pai me confiou para levar a cabo, essas mesmas obras que Eu faço, dão testemunho de que o Pai me enviou. E o Pai que me enviou mantém o seu testemunho a meu favor. Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu rosto, nem a sua palavra permanece em vós, visto não crerdes neste que Ele enviou. Investigai as Escrituras, dado que julgais ter nelas a vida eterna: são elas que dão testemunho a meu favor. Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vida! Eu não ando à procura de receber glória dos homens; a vós já vos conheço, e sei que não há em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis. Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único? Não penseis que Eu vos vou acusar diante do Pai; há quem vos acuse: é Moisés, em quem continuais a pôr a vossa esperança. De facto, se acreditásseis em Moisés, talvez acreditásseis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. Mas, se vós não acreditais nos seus escritos, como haveis de acreditar nas minhas palavras?» Depois disto, Jesus foi para a outra margem do lago da Galileia, ou de Tiberíades. Seguia-o uma grande multidão, porque presenciavam os sinais miraculosos que realizava em favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se ali com os seus discípulos. Estava a aproximar-se a Páscoa, a festa dos judeus. Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus disse então a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?» Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele bem sabia o que ia fazer. Filipe respondeu-lhe: «Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho.» Disse-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: «Há aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?» Jesus disse: «Mandai sentar as pessoas.» Ora, havia muita erva no local. Os homens sentaram-se, pois, em número de uns cinco mil. Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados, tal como os peixes, e eles comeram quanto quiseram. Quando se saciaram, disse aos seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». Recolheram-nos, então, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada que sobejaram aos que tinham estado a comer. Aquela gente, ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: «Este é realmente o Profeta que devia vir ao mundo!» Por isso, Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte. Ao cair da tarde, os seus discípulos desceram até ao lago e, subindo para um barco, foram atravessando o lago em direcção a Cafarnaúm. Já tinha escurecido e Jesus ainda não fora ter com eles. Soprando uma forte ventania, o lago começou a agitar-se. Depois de terem remado mais ou menos uma légua, avistaram Jesus que se aproximava do barco, caminhando sobre o lago, e tiveram medo. Mas Ele disse-lhes: «Sou Eu, não tenhais medo!» Quiseram recebê-lo logo no barco, e o barco chegou imediatamente à terra para onde iam. No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do lago reparou que ali não estivera mais do que um barco, e que Jesus não tinha entrado no barco com os seus discípulos, mas que estes tinham partido sozinhos. Entretanto, chegaram outros barcos de Tiberíades até ao lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. Quando viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, a multidão subiu para os barcos e foi para Cafarnaúm à procura de Jesus. Ao encontrá-lo no outro lado do lago, perguntaram-lhe: «Rabi, quando chegaste cá?» Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-me, não por terdes visto sinais miraculosos, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo.» Disseram-lhe, então: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» Jesus respondeu-lhes: «A obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou.» Eles replicaram: «Que sinal realizas Tu, então, para nós vermos e crermos em ti? Que obra realizas Tu? Os nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele deu-lhes a comer o pão vindo do Céu.» E Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu, mas é o meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do Céu, pois o pão de Deus é aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo.» Disseram-lhe então: «Senhor, dá-nos sempre desse pão!» Respondeu-lhes Jesus: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não mais terá fome e quem crê em mim jamais terá sede. Mas já vo-lo disse: vós vistes-me e não credes. Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu não o rejeitarei, porque desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia. Esta é, pois, a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.» Os judeus puseram-se, então, a murmurar contra Ele por ter dito: ‘Eu sou o pão que desceu do Céu’; e diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José, de quem nós conhecemos o pai e a mãe? Como se atreve a dizer agora: ‘Eu desci do Céu’?» Jesus disse-lhes, em resposta: «Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair; e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. Está escrito nos profetas: E todos serão ensinados por Deus. Todo aquele que escutou o ensinamento que vem do Pai e o entendeu vem a mim. Não é que alguém tenha visto o Pai, a não ser aquele que tem a sua origem em Deus: esse é que viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. Os vossos pais comeram o maná no deserto, mas morreram. Este é o pão que desce do Céu; se alguém comer dele, não morrerá. Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar pela vida do mundo é a minha carne.» Então, os judeus, exaltados, puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?!» Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu; não é como aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste pão viverá eternamente.» Isto foi o que Ele disse em Cafarnaúm, ao ensinar na sinagoga. Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?» Mas Jesus, sabendo no seu íntimo que os seus discípulos murmuravam a respeito disto, disse-lhes: «Isto escandaliza-vos? E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos disse são espírito e são vida. Mas há alguns de vós que não crêem.» De facto, Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam e também quem era aquele que o havia de entregar. E dizia: «Por isso é que Eu vos declarei que ninguém pode vir a mim, se isso não lhe for concedido pelo Pai.» A partir daí, muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não andavam com Ele. Então, Jesus disse aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» Respondeu-lhe Simão Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! Por isso nós cremos e sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.» Disse-lhes Jesus: «Não vos escolhi Eu a vós, os Doze? Contudo, um de vós é um diabo.» Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes, pois esse é que viria a entregá-lo, sendo embora um dos Doze. Depois disto, Jesus continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo. Estava próxima a festa judaica das Tendas. Disseram-lhe então os seus irmãos: «Vai para a Judeia, a fim de os teus discípulos verem as obras que fazes. Pois ninguém faz nada às escondidas, se pretende tornar-se conhecido. Se fazes coisas destas, mostra-te ao mundo.» Com efeito, nem sequer os seus irmãos criam nele. E Jesus disse-lhes: «Para mim ainda não chegou o momento oportuno; mas, para vós, qualquer oportunidade é boa. O mundo não pode odiar-vos; a mim, porém, odeia-me, porque sou testemunha de que as suas obras são más. Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa, porque o tempo que me está marcado ainda não se completou.» Depois de dizer isto, continuou na Galileia. Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo. Por isso, durante a festa, os judeus procuravam-no e perguntavam: «Onde é que Ele está?» E havia entre o povo grande murmuração a seu respeito. Uns diziam: «É um homem de bem». Outros, porém, afirmavam: «Não; o que Ele anda é a desencaminhar o povo!» No entanto, ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus. Já a festa ia a meio, quando Jesus subiu ao templo e se pôs a ensinar. Os judeus assombravam-se e diziam: «Como é que este é letrado, se não estudou?» Então, Jesus respondeu-lhes, dizendo: «A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém está disposto a fazer a vontade dele, é capaz de ajuizar se a doutrina procede de Deus, ou se Eu falo por minha conta. Quem fala por sua conta procura a sua glória pessoal; mas, quem procura a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro e nele não há impostura. Porventura Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós cumpre a Lei. Porque me quereis matar?» Respondeu aquela gente: «Tu tens o demónio. Quem é que te quer matar?» Jesus replicou-lhes: «Eu realizei uma única obra e todos estão assombrados. Porque Moisés vos deu a lei da circuncisão – não é que ela venha de Moisés, mas dos Patriarcas – circuncidais um homem mesmo ao sábado. Se um homem recebe a circuncisão ao sábado, para não ser violada a Lei de Moisés, podereis indignar-vos comigo por ter curado completamente um homem ao sábado? Não julgueis pelas aparências; julgai com um juízo recto.» Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam, para o matar? Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias? Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.» Entretanto, Jesus, ensinando no templo, bradava: «Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou.» Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado. Porém, de entre o povo, muitos creram nele e comentavam: «Quando vier o Messias, será que há-de realizar mais sinais miraculosos do que este?» Tal comentário do povo a respeito dele chegou aos ouvidos dos fariseus. Então, os sumos sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para prenderem Jesus. Entretanto, Jesus começou a dizer: «Já pouco tempo vou ficar convosco, pois irei para aquele que me enviou. Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver.» Os judeus, por isso, disseram entre si: «Para onde tenciona Ele ir, que não o possamos encontrar? Tenciona ir até aos que estão dispersos entre os gregos para pregar aos gregos? Que significam estas palavras que Ele disse: ‘Haveis de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver’?» No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: «Se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva.» Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado. Então, entre a multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: «Ele é realmente o Profeta.» Diziam outros: «É o Messias.» Outros, porém, replicavam: «Mas pode lá ser que o Messias venha da Galileia?! Não diz a Escritura que o Messias vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David?» Deste modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa. Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. Depois os guardas voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: «Porque é que não o trouxestes?» Os guardas responderam: «Nunca nenhum homem falou assim!» Replicaram-lhes os fariseus: «Será que também vós ficastes seduzidos? Porventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus? Mas essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!» Nicodemos, aquele que antes fora ter com Jesus e que era um deles, disse-lhes: «Porventura permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que ele anda a fazer?» Responderam-lhe eles: «Também tu és galileu? Investiga e verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.» E cada um foi para sua casa. Jesus foi para o Monte das Oliveiras. De madrugada, voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Jesus sentou-se e pôs-se a ensinar. Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadilha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» E, inclinando-se novamente para o chão, continuou a escrever na terra. Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles. Então, Jesus ergueu-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jesus falou-lhes novamente: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.» Disseram-lhe, então, os fariseus: «Tu dás testemunho a favor de ti mesmo: o teu testemunho não é válido.» Jesus respondeu-lhes: «Ainda que Eu dê testemunho a favor de mim próprio, o meu testemunho é válido, porque sei donde vim e para onde vou. Vós é que não sabeis donde venho nem para onde vou. Vós julgais segundo critérios humanos; Eu não julgo ninguém. Mas, mesmo que Eu julgue, o meu julgamento é verdadeiro, porque não estou só, mas Eu e o Pai que me enviou. Na vossa Lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é válido; sou Eu a dar testemunho a favor de mim, e também dá testemunho a meu favor o Pai que me enviou.» Perguntaram-lhe, então: «Onde está o teu Pai?» Jesus respondeu: «Não me conheceis a mim, nem ao meu Pai. Se me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai.» Jesus pronunciou estas palavras junto das caixas das ofertas, quando estava a ensinar no templo. E ninguém o prendeu, porque ainda não tinha chegado a sua hora. Uma outra vez, Jesus disse-lhes: «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me, mas morrereis no vosso pecado. Vós não podereis ir para onde Eu vou.» Então, os judeus comentavam: «Será que Ele se vai suicidar, dado que está a dizer: ‘Vós não podeis ir para onde Eu vou’?» Mas Ele acrescentou: «Vós sois cá de baixo; Eu sou lá de cima! Vós sois deste mundo; Eu não sou deste mundo. Já vos disse que morrereis nos vossos pecados. De facto, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados.» Perguntaram-lhe, então: «Quem és Tu, afinal?» Disse-lhes Jesus: «Absolutamente aquilo que já vos estou a dizer! Tenho muitas coisas que dizer e que julgar a vosso respeito; mas do que falo ao mundo é do que ouvi àquele que me enviou, e que é verdadeiro.» Eles não perceberam que lhes falava do Pai. Disse-lhes, pois, Jesus: «Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu sou o que sou e que nada faço por mim mesmo, mas falo destas coisas tal como o Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou só, porque faço sempre aquilo que lhe agrada.» Quando expunha estas coisas, muitos creram nele. Então, Jesus pôs-se a dizer aos judeus que nele tinham acreditado: «Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres.» Replicaram-lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém! Como é que Tu dizes: ‘Sereis livres’?» Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: todo aquele que comete o pecado é servo do pecado, e o servo não fica na família para sempre; o filho é que fica para sempre. Pois bem, se o Filho vos libertar, sereis realmente livres. Eu sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque não aderis à minha palavra. Eu comunico o que vi junto do Pai, e vós fazeis o que ouvistes ao vosso pai.» Eles replicaram-lhe: «O nosso pai é Abraão!» Jesus disse-lhes: «Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão! Agora, porém, vós pretendeis matar-me, a mim, um homem que vos comunicou a verdade que recebi de Deus. Isso não o fez Abraão! Vós fazeis as obras do vosso pai.» Eles disseram-lhe, então: «Nós não nascemos da prostituição. Temos um só Pai, que é Deus.» Disse-lhes Jesus: «Se Deus fosse vosso Pai, ter-me-íeis amor, pois é de Deus que Eu saí e vim. Não vim de mim próprio, mas foi Ele que me enviou. Porque não entendeis a minha linguagem? Porque não podeis ouvir a minha palavra? Vós tendes por pai o diabo, e quereis realizar os desejos do vosso pai. Ele foi assassino desde o princípio, e não esteve pela verdade, porque nele não há verdade. Quando fala mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Por isso, não acreditais em mim, porque vos digo a verdade. Quem de vós pode acusar-me de pecado? Se digo a verdade, porque não me acreditais? Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; vós não as escutais, porque não sois de Deus.» Os judeus replicaram-lhe: «Não temos nós razão ao dizer que és um samaritano e que tens demónio?» Respondeu Jesus: «Eu não tenho demónio. Eu honro o meu Pai, ao passo que vós me injuriais. Eu não procuro a minha glória; há alguém que a procura e faz justiça. Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá.» Disseram-lhe, então, os judeus: «Agora é que estamos certos de que tens demónio! Abraão morreu, os profetas também, e Tu dizes: ‘Se alguém observar a minha palavra, nunca experimentará a morte’? Porventura és Tu maior que o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas morreram também! Afinal, quem é que Tu pretendes ser?» Jesus respondeu: «Se Eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória nada valerá. Quem me glorifica é o meu Pai, de quem dizeis: ‘É o nosso Deus’; e, no entanto, não o conheceis. Eu é que o conheço; se dissesse que não o conhecia, seria como vós: um mentiroso. Mas Eu conheço-o e observo a sua palavra. Abraão, vosso pai, exultou pensando em ver o meu dia; viu-o e ficou feliz.» Disseram-lhe, então, os judeus: «Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?» Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: antes de Abraão existir, Eu sou!» Então, agarraram em pedras para lhe atirarem. Mas Jesus escondeu-se e saiu do templo. Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: «Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?» Jesus respondeu: «Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus. Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia. Vem aí a noite, em que ninguém pode actuar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.» Dito isto, cuspiu no chão, fez lama com a saliva, ungiu-lhe os olhos com a lama e disse-lhe: «Vai, lava-te na piscina de Siloé» – que quer dizer Enviado. Ele foi, lavou-se e regressou a ver. Então, os vizinhos e os que costumavam vê-lo antes a mendigar perguntavam: «Não é este o que estava por aí sentado a pedir esmola?» Uns diziam: «É ele mesmo!» Outros afirmavam: «De modo nenhum. É outro parecido com ele.» Ele, porém, respondia: «Sou eu mesmo!» Então, perguntaram-lhe: «Como foi que os teus olhos se abriram?» Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez lama, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai à piscina de Siloé e lava-te.’ Então eu fui, lavei-me e comecei a ver!» Perguntaram-lhe: «Onde está Ele?» Respondeu: «Não sei.» Levaram aos fariseus o que fora cego. O dia em que Jesus tinha feito lama e lhe abrira os olhos era sábado. Os fariseus perguntaram-lhe, de novo, como tinha começado a ver. Ele respondeu-lhes: «Pôs-me lama nos olhos, lavei-me e fiquei a ver.» Diziam então alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, pois não guarda o sábado.» Outros, porém, replicavam: «Como pode um homem pecador realizar semelhantes sinais miraculosos?» Havia, pois, divisão entre eles. Perguntaram, então, novamente ao cego: «E tu que dizes dele, por te ter aberto os olhos?» Ele respondeu: «É um profeta!» Ora os judeus não acreditaram que aquele homem tivesse sido cego e agora visse, até que chamaram os pais dele. E perguntaram-lhes: «É este o vosso filho, que vós dizeis ter nascido cego? Então como é que agora vê?» Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como é que agora vê, nem quem foi que o pôs a ver. Perguntai-lhe a ele. Já tem idade para falar de si.» Os pais responderam assim por terem receio dos judeus, pois estes já tinham combinado expulsar da sinagoga quem confessasse que Jesus era o Messias. Por isso é que os pais disseram: ‘Já tem idade, perguntai-lhe a ele’. Chamaram, então, novamente o que fora cego, e disseram-lhe: «Dá glória a Deus! Quanto a nós, o que sabemos é que esse homem é um pecador!» Ele, porém, respondeu: «Se é um pecador, não sei. Só sei uma coisa: que eu era cego e agora vejo.» Eles insistiram: «O que é que Ele te fez? Como é que te pôs a ver?» Respondeu-lhes: «Eu já vo-lo disse, e não me destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo outra vez? Será que também quereis fazer-vos seus discípulos?» Então, injuriaram-no, dizendo-lhe: «Discípulo dele és tu! Nós somos discípulos de Moisés! Sabemos que Deus falou a Moisés; mas, quanto a esse, não sabemos donde é!» Replicou-lhes o homem: «Ora isso é que é de espantar: que vós não saibais donde Ele é, e me tenha dado a vista! Sabemos que Deus não atende os pecadores, mas se alguém honrar a Deus e cumprir a sua vontade, Ele o atende. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha dado a vista a um cego de nascença. Se este não viesse de Deus, não teria podido fazer nada.» Responderam-lhe: «Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições?» E puseram-no fora. Jesus ouviu dizer que o tinham expulsado e, quando o encontrou, disse-lhe: «Tu crês no Filho do Homem?» Ele respondeu: «E quem é, Senhor, para eu crer nele?» Disse-lhe Jesus: «Já o viste. É aquele que está a falar contigo.» Então, exclamou: «Eu creio, Senhor!» E prostrou-se diante dele. Jesus declarou: «Eu vim a este mundo para proceder a um juízo: de modo que os que não vêem vejam, e os que vêem fiquem cegos.» Alguns fariseus que estavam com Ele ouviram isto e perguntaram-lhe: «Porventura nós também somos cegos?» Jesus respondeu-lhes: «Se fôsseis cegos, não estaríeis em pecado; mas, como dizeis que vedes, o vosso pecado permanece.» «Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador. Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre-a e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz. Mas, a um estranho, jamais o seguiriam; pelo contrário, fugiriam dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos.» Jesus propôs-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que lhes dizia. Então, Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes prestaram atenção. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, e o que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo e abandona as ovelhas e foge e o lobo arrebata-as e espanta-as, porque é mercenário e não lhe importam as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor. É por isto que meu Pai me tem amor: por Eu oferecer a minha vida, para a retomar depois. Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar. Tal é o encargo que recebi de meu Pai.» Estas palavras tornaram a provocar desentendimento entre os judeus. Muitos deles comentavam: «Ele tem demónio e está louco. Porque lhe dais ouvidos?» Outros diziam: «Estas palavras não são dum possesso. Como é que um demónio pode dar vista aos cegos?» Em Jerusalém celebrava-se, então, a festa da Dedicação do templo. Era Inverno. Jesus passeava pelo templo, debaixo do pórtico de Salomão. Rodearam-no, então, os judeus e começaram a perguntar-lhe: «Até quando nos deixarás na incerteza? Se és o Messias, di-lo claramente.» Jesus respondeu-lhes: «Já vo-lo disse, mas não credes. As obras que Eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho a meu favor; mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a minha voz: Eu conheço-as e elas seguem-me. Dou-lhes a vida eterna, e nem elas hão-de perecer jamais, nem ninguém as arrancará da minha mão. O que o meu Pai me deu vale mais que tudo e ninguém o pode arrancar da mão do Pai. Eu e o Pai somos Um.» Então, os judeus voltaram a pegar em pedras para o apedrejarem. Jesus replicou-lhes: «Mostrei-vos muitas obras boas da parte do Pai; por qual dessas obras me quereis apedrejar?» Responderam-lhe os judeus: «Não te queremos apedrejar por qualquer obra boa, mas por uma blasfémia: é que Tu, sendo um homem, a ti próprio te fazes Deus.» Jesus respondeu-lhes: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’? Se ela chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a palavra de Deus – e a Escritura não se pode pôr em dúvida – a mim, a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: ‘Tu blasfemas’, por Eu ter dito: ‘Sou Filho de Deus’? Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim; mas se as faço, embora não queirais acreditar em mim, acreditai nas obras, e assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai está em mim e Eu no Pai.» Por isso procuravam de novo prendê-lo, mas Ele escapou-se-lhes das mãos. Depois, Jesus voltou a retirar-se para a margem de além-Jordão, para o lugar onde ao princípio João tinha estado a baptizar, e ali se demorou. Muitos vieram ter com Ele e comentavam: «Realmente João não realizou nenhum sinal milagroso, mas tudo quanto disse deste homem era verdade.» E muitos ali creram nele. Estava doente um homem chamado Lázaro, de Betânia, terra de Maria e de Marta, sua irmã. Maria, cujo irmão, Lázaro, tinha caído doente, era aquela que ungiu os pés do Senhor com perfume e lhos enxugou com os seus cabelos. Então, as irmãs enviaram a Jesus este recado: «Senhor, aquele que amas está doente.» Ouvindo isto, Jesus disse: «Esta doença não é de morte, mas sim para a glória de Deus, manifestando-se por ela a glória do Filho de Deus.» Jesus era muito amigo de Marta, da sua irmã e de Lázaro. Mas, quando recebeu a notícia de que este estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde se encontrava. Só depois é que disse aos discípulos: «Vamos outra vez para a Judeia.» Disseram-lhe os discípulos: «Rabi, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te, e Tu queres ir outra vez para lá?» Jesus respondeu: «Não tem doze horas o dia? Se alguém anda de dia, não tropeça, porque tem a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem a luz com ele.» Depois de ter pronunciado estas palavras, acrescentou: «O nosso amigo Lázaro está a dormir, mas Eu vou lá acordá-lo.» Os discípulos disseram então: «Senhor, se ele dorme, vai curar-se!» Mas Jesus tinha falado da sua morte, ao passo que eles julgavam que falava do sono natural. Então, Jesus disse-lhes claramente: «Lázaro morreu; e Eu, por amor de vós, estou contente por não ter estado lá, para assim poderdes crer. Mas vamos ter com ele.» Tomé, chamado Gémeo, disse aos companheiros: «Vamos nós também, para morrermos com Ele.» Ao chegar, Jesus encontrou-o sepultado havia quatro dias. Betânia ficava perto de Jerusalém, a quase uma légua, e muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria para lhes darem os pêsames pelo seu irmão. Logo que Marta ouviu dizer que Jesus estava a chegar, saiu a recebê-lo, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse, então, a Jesus: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido. Mas, ainda agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Ele to concederá.» Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará.» Marta respondeu-lhe: «Eu sei que ele há-de ressuscitar na ressurreição do último dia.» Disse-lhe Jesus: «Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre. Crês nisto?» Ela respondeu-lhe: «Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo.» Dito isto, voltou a casa e foi chamar sua irmã, Maria, dizendo-lhe em voz baixa: «Está cá o Mestre e chama por ti.» Assim que ela ouviu isto, levantou-se rapidamente e foi ter com Ele. Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas permanecia no lugar onde Marta lhe viera ao encontro. Então, os judeus que estavam com Maria, em casa, para lhe darem os pêsames, ao verem-na levantar-se e sair à pressa, seguiram-na, pensando que se dirigia ao túmulo para aí chorar. Quando Maria chegou ao sítio onde estava Jesus, mal o viu caiu-lhe aos pés e disse-lhe: «Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido.» Ao vê-la a chorar e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se. Depois, perguntou: «Onde o pusestes?» Responderam-lhe: «Senhor, vem e verás.» Então Jesus começou a chorar. Diziam os judeus: «Vede como era seu amigo!» Mas alguns deles murmuravam: «Então, este que deu a vista ao cego não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?» Jesus, suspirando de novo intimamente, foi até ao túmulo. Era uma gruta fechada com uma pedra. Disse Jesus: «Tirai a pedra.» Marta, a irmã do defunto, disse-lhe: «Senhor, já cheira mal, pois já é o quarto dia.» Jesus replicou-lhe: «Eu não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?» Quando tiraram a pedra, Jesus, erguendo os olhos ao céu, disse: «Pai, dou-te graças por me teres atendido. Eu já sabia que sempre me atendes, mas Eu disse isto por causa da gente que me rodeia, para que venham a crer que Tu me enviaste.» Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, vem cá para fora!» O que estava morto saiu de mãos e pés atados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Jesus disse-lhes: «Desligai-o e deixai-o andar.» Então, muitos dos judeus que tinham vindo a casa de Maria, ao verem o que Jesus fez, creram nele. Alguns deles, porém, foram ter com os fariseus e contaram-lhes o que Jesus tinha feito. Os sumos sacerdotes e os fariseus convocaram então o Conselho e diziam: «Que havemos nós de fazer, dado que este homem realiza muitos sinais miraculosos? Se o deixarmos assim, todos irão crer nele e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar santo e a nossa nação.» Mas um deles, Caifás, que era Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não entendeis nada, nem vos dais conta de que vos convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira.» Ora ele não disse isto por si mesmo; mas, como era Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para congregar na unidade os filhos de Deus que estavam dispersos. Assim, a partir desse dia, resolveram dar-lhe a morte. Por isso, Jesus já não andava em público, mas retirou-se dali para uma região vizinha do deserto, para uma cidade chamada Efraim e lá ficou com os discípulos. Estava próxima a Páscoa dos judeus e muita gente do país subiu a Jerusalém antes da Páscoa para se purificar. Procuravam então Jesus e perguntavam uns aos outros no templo: «Que vos parece? Ele virá à Festa?» Entretanto, os sumos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem de que, se alguém soubesse onde Ele estava, o indicasse para o prenderem. Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde vivia Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Ofereceram-lhe lá um jantar. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa. Então, Maria ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume. Nessa altura disse um dos discípulos, Judas Iscariotes, aquele que havia de o entregar: «Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?» Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava. Então, Jesus disse: «Deixa que ela o tenha guardado para o dia da minha sepultura! De facto, os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim não me tendes sempre.» Um grande número de judeus, ao saber que Ele estava ali, vieram, não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Ele tinha ressuscitado dos mortos. Os sumos sacerdotes decidiram dar a morte também a Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, os abandonavam e passavam a crer em Jesus. No dia seguinte, as multidões que tinham chegado para a Festa, ao ouvirem que Jesus vinha a Jerusalém, pegaram em ramos de palmeiras e saíram-lhe ao encontro, clamando: «Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!» E Jesus encontrou um jumentinho e montou nele, conforme está escrito: Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei que chega sentado na cria de uma jumenta. Ao princípio, os seus discípulos não compreenderam isto; quando se manifestou a glória de Jesus, é que se lembraram que estas coisas estavam escritas acerca dele; e foi isso precisamente o que lhe fizeram. Entretanto, as pessoas que tinham estado com Ele quando chamou Lázaro do túmulo e o ressuscitou dos mortos testemunhavam o que viram. E a gente, ao ouvir dizer que tinha realizado aquele sinal milagroso, veio ao seu encontro. Então, os fariseus disseram uns para os outros: «Não vedes que não estais a conseguir nada? Olhai como toda a gente se foi com Ele!» Entre os que tinham subido a Jerusalém à Festa para a adoração, havia alguns gregos. Estes foram ter com Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e pediam-lhe: «Senhor, nós queremos ver Jesus!» Filipe foi dizer isto a André; André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida eterna. Se alguém me serve, que me siga, e onde Eu estiver, aí estará também o meu servo. Se alguém me servir, o Pai há-de honrá-lo. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de Eu dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente para esta hora é que Eu vim! Pai, manifesta a tua glória!» Veio, então, uma voz do Céu: «Já a manifestei e voltarei a manifestá-la!» Entre as pessoas presentes, que escutaram, uns diziam que tinha sido um trovão; outros diziam: «Foi um Anjo que lhe falou!» Jesus respondeu: «Esta voz não veio por causa de mim, mas por amor de vós. Agora é o julgamento deste mundo; agora é que o dominador deste mundo vai ser lançado fora. E Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a mim.» Dizia isto dando a entender de que espécie de morte havia de morrer. Aquela gente replicou-lhe: «Nós aprendemos na nossa Lei que o Messias permanece vivo para sempre. Como afirmas Tu que o Filho do Homem tem de ser erguido? Mas quem é, afinal, esse tal Filho do Homem?» Jesus respondeu-lhes: «Por um pouco de tempo ainda, a Luz está no meio de vós. Caminhai enquanto tendes a Luz, de modo que as trevas não vos apanhem, pois quem caminha nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes a Luz, crede na Luz, para vos tornardes filhos da Luz.» Jesus disse estas coisas, foi-se embora e ocultou-se deles. Embora Jesus tivesse realizado diante deles tantos sinais portentosos, não criam nele, de modo a cumprirem-se as palavras do profeta Isaías, que dissera: Senhor, quem acreditou no que ouviu de nós? E a quem foi revelado o poder do Senhor? Realmente não eram capazes de crer; por isso Isaías também dissera: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para não verem com os olhos e não entenderem com o coração e não se converterem e Eu ter de os curar. Isto disse Isaías falando dele, porque tinha visto a sua glória. Apesar disso, até entre os chefes, muitos creram nele, mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da Sinagoga, pois amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus. Jesus levantou a voz e disse: «Quem crê em mim não é em mim que crê, mas sim naquele que me enviou; e quem me vê a mim vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas. Se alguém ouve as minhas palavras e não as cumpre, não sou Eu que o julgo, pois não vim para condenar o mundo, mas sim para o salvar. Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que Eu anunciei, essa é que o há-de julgar no último dia; porque Eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, é que me encarregou do que devo dizer e anunciar. E Eu bem sei que este seu mandato traz consigo a vida eterna; por isso, as coisas que Eu anuncio, anuncio-as tal como o Pai as disse a mim.» Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo. O diabo já tinha metido no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar. Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura. Chegou, pois, a Simão Pedro. Este disse-lhe: «Senhor, Tu é que me lavas os pés?» Jesus respondeu-lhe: «O que Eu estou a fazer tu não o entendes por agora, mas hás-de compreendê-lo depois.» Disse-lhe Pedro: «Não! Tu nunca me hás-de lavar os pés!» Replicou-lhe Jesus: «Se Eu não te lavar, nada terás a haver comigo.» Disse-lhe, então, Simão Pedro: «Ó Senhor! Não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!» Respondeu-lhe Jesus: «Quem tomou banho não precisa de lavar senão os pés, pois está todo limpo. E vós estais limpos, mas não todos.» Ele bem sabia quem o ia entregar; por isso é que lhe disse: ‘Nem todos estais limpos’. Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também. Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia. Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática. Não me refiro a todos vós. Eu bem sei quem escolhi, e há-de cumprir-se a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim o calcanhar. Desde já vo-lo digo, antes que isso aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu sou. Em verdade, em verdade vos digo: quem receber aquele que Eu enviar é a mim que recebe, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.» Tendo dito isto, Jesus perturbou-se interiormente e declarou: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há-de entregar!» Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saberem a quem se referia. Um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa reclinado no seu peito. Simão Pedro fez-lhe sinal para que lhe perguntasse a quem se referia. Então ele, apoiando-se naturalmente sobre o peito de Jesus, perguntou: «Senhor, quem é?» Jesus respondeu: «É aquele a quem Eu der o bocado de pão ensopado.» E molhando o bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe, então: «O que tens a fazer fá-lo depressa.» Nenhum dos que estavam com Ele à mesa entendeu, porém, com que fim lho dissera. Alguns pensavam que, como Judas tinha a bolsa, Jesus lhe tinha dito: ‘Compra o que precisamos para a Festa’, ou que desse alguma coisa aos pobres. Tendo tomado o bocado de pão, saiu logo. Fazia-se noite. Depois de Judas ter saído, Jesus disse: «Agora é que se revela a glória do Filho do Homem e assim se revela nele a glória de Deus. E, se Deus revela nele a sua glória, também o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem, e há-de revelá-la muito em breve.» «Filhinhos, já pouco tempo vou estar convosco. Haveis de me procurar, e, assim como Eu disse aos judeus: ‘Para onde Eu for vós não podereis ir’, também agora o digo a vós. Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.» Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?» Jesus respondeu-lhe: «Para onde Eu vou, tu não me podes seguir por agora; hás-de seguir-me mais tarde.» Disse-lhe Pedro: «Senhor, porque não posso seguir-te agora? Eu daria a vida por ti!» Replicou Jesus: «Darias a vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo, antes de me teres negado três vezes!» Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também. E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho.» Disse-lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, ‘mostra-nos o Pai’? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim? As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras. Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei.» «Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos, e Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; vós é que o conheceis, porque permanece junto de vós, e está em vós.» «Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós! Ainda um pouco e o mundo já não me verá; vós é que me vereis, pois Eu vivo e vós também haveis de viver. Nesse dia, compreendereis que Eu estou no meu Pai, e vós em mim, e Eu em vós. Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor; e quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele.» Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: «Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?» Respondeu-lhe Jesus: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou.» «Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.» «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. Ouvistes o que Eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós.’ Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer. Já não falarei muito convosco, pois está a chegar o dominador deste mundo; ele nada pode contra mim, mas o mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui!» «Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que não dá fruto em mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais purificados pela palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer. Se alguém não permanece em mim, é lançado fora, como um ramo, e seca. Esses são apanhados e lançados ao fogo, e ardem. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e assim vos acontecerá. Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto e vos comporteis como meus discípulos.» «Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá. É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.» «Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa de mim, porque não reconhecem aquele que me enviou. Se Eu não tivesse vindo e não lhes tivesse dirigido a palavra, não teriam culpa, mas, agora, não têm escusa do seu pecado. Quem me odeia a mim odeia também o meu Pai. Se, diante deles, Eu não tivesse realizado obras que ninguém mais realizou, não teriam culpa; mas agora, apesar de as verem, continuam a odiar-me a mim e ao meu Pai. Tinha, porém, de se cumprir a palavra que ficou escrita na sua Lei: Odiaram-me sem razão.» «Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. E vós também haveis de dar testemunho, porque estais comigo desde o princípio.» «Dei-vos a conhecer estas coisas para não vos perturbardes. Sereis expulsos das sinagogas; há-de chegar mesmo a hora em que quem vos matar julgará que presta um serviço a Deus! E farão isto por não terem conhecido o Pai nem a mim. Deixo-vos ditas estas coisas, para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que Eu vo-las tinha dito. Não vo-las disse, porém, desde o princípio, porque Eu estava convosco.» «Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: ‘Para onde vais?’ Mas, por vos ter anunciado estas coisas, o vosso coração ficou cheio de tristeza. Contudo, digo-vos a verdade: é melhor para vós que Eu vá, pois, se Eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas, se Eu for, Eu vo-lo enviarei. E, quando Ele vier, dará ao mundo provas irrefutáveis de uma culpa, de uma inocência e de um julgamento: de uma culpa, pois não creram em mim; de uma inocência, pois Eu vou para o Pai, e já não me vereis; de um julgamento, pois o dominador deste mundo ficou condenado.» «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir. Ele há-de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: ‘Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer’.» «Ainda um pouco, e deixareis de me ver; e um pouco mais, e por fim me vereis.» Disseram entre si alguns dos discípulos: «Que é isso que Ele nos diz: ‘Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis’? E também: ‘Eu vou para o Pai’?» Diziam, pois: «Que quer Ele dizer com isto: ‘Ainda um pouco’? Não sabemos o que Ele está a anunciar!» Jesus, percebendo que o queriam interrogar, disse-lhes: «Estais entre vós a inquirir acerca disto que Eu disse: ‘Ainda um pouco, e deixareis de me ver, e um pouco mais, e por fim me vereis’? Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria! A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque chegou a sua hora; mas, quando deu à luz o menino, já não se lembra da sua aflição, com a alegria de ter vindo um homem ao mundo. Também vós vos sentis agora tristes, mas Eu hei-de ver-vos de novo! Então, o vosso coração há-de alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. Nesse dia, já não me perguntareis nada. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la dará. Até agora não pedistes nada em meu nome; pedi e recebereis. Assim, a vossa alegria será completa.» «Até aqui falei-vos por meio de comparações. Está a chegar a hora em que já não vos falarei por comparações, mas claramente vos darei a conhecer o que se refere ao Pai. Nesse dia, apresentareis em meu nome os vossos pedidos ao Pai, e não vos digo que rogarei por vós ao Pai, pois é o próprio Pai que vos ama, porque vós já me tendes amor e já credes que Eu saí de Deus. Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e vou para o Pai.» Disseram-lhe os seus discípulos: «Agora, sim, falas claramente e não usas nenhuma comparação. Agora vemos que sabes tudo e não precisas de que ninguém te faça perguntas. Por isso, cremos que saíste de Deus!» Disse-lhes Jesus: «Agora credes? Eis que vem a hora – e já chegou – em que sereis dispersos cada um por seu lado, e me deixareis só, se bem que Eu não esteja só, porque o Pai está comigo. Anunciei-vos estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» Assim falou Jesus. Depois, levantando os olhos ao céu, exclamou: «Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe entregaste. Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste. Eu manifestei a tua glória na Terra, levando a cabo a obra que me deste a realizar. E agora Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir. Dei-te a conhecer aos homens que, do meio do mundo, me deste. Eles eram teus e Tu mos entregaste e têm guardado a tua palavra. Agora ficaram a saber que tudo quanto me deste vem de ti, pois as palavras que me transmitiste Eu lhas tenho transmitido. Eles receberam-nas e reconheceram verdadeiramente que Eu vim de ti, e creram que Tu me enviaste. É por eles que Eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me confiaste, porque são teus. Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu; e neles se manifesta a minha glória. Doravante já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para ti. Pai santo, Tu que a mim te deste, guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos! Enquanto estava com eles, Eu guardava-os em ti, em ti que a mim te deste. Guardei-os e nenhum deles se perdeu, a não ser o homem da perdição, cumprindo-se desse modo a Escritura. Mas agora vou para ti e, ainda no mundo, digo isto para que eles tenham em si a plenitude da minha alegria. Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Consagra-os na Verdade; a Verdade é a tua palavra. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, e por eles totalmente me consagro, para que também eles sejam consagrados, por meio da Verdade. Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim. Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que me deste, por me teres amado antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas Eu conheci-te e estes reconheceram que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles também.» Tendo dito estas coisas, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os seus discípulos. Judas, aquele que o ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus se reunia ali frequentemente com os discípulos. Judas, então, guiando o destacamento romano e os guardas ao serviço dos sumos sacerdotes e dos fariseus, munidos de lanternas, archotes e armas, entrou lá. Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes: «Quem buscais?» Responderam-lhe: «Jesus, o Nazareno.» Disse-lhes Ele: «Sou Eu!» E Judas, aquele que o ia entregar, também estava junto deles. Logo que Jesus lhes disse: ‘Sou Eu!’, recuaram e caíram por terra. E perguntou-lhes segunda vez: «Quem buscais?» Disseram-lhe: «Jesus, o Nazareno!» Jesus replicou-lhes: «Já vos disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora.» Assim se cumpria o que dissera antes: ‘Dos que me deste, não perdi nenhum.’ Nessa altura, Simão Pedro, que trazia uma espada, desembainhou-a e arremeteu contra um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: «Mete a espada na bainha. Não hei-de beber o cálice de amargura que o Pai me ofereceu?» Então, o destacamento, o comandante e os guardas das autoridades judaicas prenderam Jesus e manietaram-no. E levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho: ‘Convém que morra um só homem pelo povo’. Entretanto, Simão Pedro e outro discípulo foram seguindo Jesus. Esse outro discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e pôde entrar no seu palácio ao mesmo tempo que Jesus. Mas Pedro ficou à porta, de fora. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou com a porteira e levou Pedro para dentro. Disse-lhe a porteira: «Tu não és um dos discípulos desse homem?» Ele respondeu: «Não sou.» Lá dentro estavam os servos e os guardas, de pé, aquecendo-se à volta de um braseiro que tinham acendido, porque fazia frio. Pedro ficou no meio deles, aquecendo-se também. Então, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Jesus respondeu-lhe: «Eu tenho falado abertamente ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque me interrogas? Interroga os que ouviram o que Eu lhes disse. Eles bem sabem do que Eu lhes falei.» Quando Jesus disse isto, um dos guardas ali presente deu-lhe uma bofetada, dizendo: «É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?» Jesus replicou: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, porque me bates?» Então, Anás mandou-o manietado ao Sumo Sacerdote Caifás. Entretanto, Simão Pedro estava de pé a aquecer-se. Disseram-lhe, então: «Não és tu também um dos seus discípulos?» Ele negou, dizendo: «Não sou.» Mas um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse-lhe: «Não te vi eu no horto com Ele?» Pedro negou Jesus de novo; e nesse instante cantou um galo. De Caifás, levaram Jesus à sede do governador romano. Era de manhã cedo e eles não entraram no edifício para não se contaminarem e poderem celebrar a Páscoa. Pilatos veio ter com eles cá fora e perguntou-lhes: «Que acusações apresentais contra este homem?» Responderam-lhe: «Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos.» Retorquiu-lhes Pilatos: «Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei.» «Não nos é permitido dar a morte a ninguém», disseram-lhe os judeus, em cumprimento do que Jesus tinha dito, quando explicou de que espécie de morte havia de morrer. Pilatos entrou de novo no edifício da sede, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?» Jesus respondeu: «A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá.» Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Pilatos replicou-lhe: «Que é a verdade?» Dito isto, foi ter de novo com os judeus e disse-lhes: «Não vejo nele nenhum crime. Mas é costume eu libertar-vos um preso na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Eles puseram-se de novo a gritar, dizendo: «Esse não, mas sim Barrabás!» Ora Barrabás era um salteador. Então, Pilatos mandou levar Jesus e flagelá-lo. Depois, os soldados entrelaçaram uma coroa de espinhos, cravaram-lha na cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura; e, aproximando-se dele, diziam-lhe: «Salve! Ó Rei dos judeus!» E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu de novo e disse-lhes: «Vou trazê-lo cá fora para saberdes que eu não vejo nele nenhuma causa de condenação.» Então, saiu Jesus com a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: «Eis o Homem!» Assim que viram Jesus, os sumos sacerdotes e os seus servidores gritaram: «Crucifica-o! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Levai-o vós e crucificai-o. Eu não descubro nele nenhum crime.» Os judeus replicaram-lhe: «Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque disse ser Filho de Deus.» Quando Pilatos ouviu estas palavras, mais assustado ficou. Voltou a entrar no edifício da sede e perguntou a Jesus: «Donde és Tu?» Mas Jesus não lhe deu resposta. Pilatos disse-lhe, então: «Não me dizes nada? Não sabes que tenho o poder de te libertar e o poder de te crucificar?» Respondeu-lhe Jesus: «Não terias nenhum poder sobre mim, se não te fosse dado do Alto. Por isso, quem me entregou a ti tem maior pecado.» A partir daí, Pilatos procurava libertá-lo, mas os judeus clamavam: «Se libertas este homem, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei declara-se contra César.» Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e fê-lo sentar numa tribuna, no lugar chamado Lajedo, ou Gabatá em hebraico. Era o dia da Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Disse, então, aos judeus: «Aqui está o vosso Rei!» E eles bradaram: «Fora! Fora! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Então, hei-de crucificar o vosso Rei?» Replicaram os sumos sacerdotes: «Não temos outro rei, senão César.» Então, entregou-o para ser crucificado. E eles tomaram conta de Jesus. Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota, onde o crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio. Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.» Este letreiro foi lido por muitos judeus, porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado era perto da cidade e o letreiro estava escrito em hebraico, em latim e em grego. Então, os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: «Não escrevas ‘Rei dos Judeus’, mas sim: ‘Este homem afirmou: Eu sou Rei dos Judeus.’» Pilatos respondeu: «O que escrevi, escrevi.» Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa dele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então, os soldados disseram uns aos outros: «Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará.» Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes. E foi isto o que fizeram os soldados. Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua. Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: «Tenho sede!» Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: «Tudo está consumado.» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente. Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados traspassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água. Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também. É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: Não se lhe quebrará nenhum osso. E também outro passo da Escritura diz: Hão-de olhar para aquele que trespassaram. Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo. Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus. No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um horto e, no horto, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. Como para os judeus era o dia da Preparação da Páscoa e o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus. No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. Correndo, foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que Jesus amava, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Inclinou-se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos. A seguir, os discípulos regressaram a casa. Maria estava junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo, e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. Perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?» E ela respondeu: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram.» Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta de que era Ele. E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o encarregado do horto, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que o tiraste, diz-me onde o puseste, que eu vou buscá-lo.» Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus.’» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito. Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o Senhor. E Ele voltou a dizer-lhes: «A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» Em seguida, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos.» Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.» Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!» Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele. Algum tempo depois, Jesus apareceu outra vez aos discípulos, junto ao lago de Tiberíades, e manifestou-se deste modo: estavam juntos Simão Pedro, Tomé, a quem chamavam o Gémeo, Natanael, de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar.» Eles responderam-lhe: «Nós também vamos contigo.» Saíram e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper do dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Jesus disse-lhes, então: «Rapazes, tendes alguma coisa para comer?» Eles responderam-lhe: «Não.» Disse-lhes Ele: «Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar.» Lançaram-na e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar. Então, o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: «É o Senhor!» Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, apertou a capa, porque estava sem mais roupa, e lançou-se à água. Os outros discípulos vieram no barco, puxando a rede com os peixes; com efeito, não estavam longe da terra, mas apenas a uns noventa metros. Ao saltarem para terra, viram umas brasas preparadas com peixe em cima e pão. Jesus disse-lhes: «Trazei dos peixes que apanhastes agora.» Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra, cheia de peixes grandes: cento e cinquenta e três. E, apesar de serem tantos, a rede não se rompeu. Disse-lhes Jesus: «Vinde almoçar.» E nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe. Esta já foi a terceira vez que Jesus apareceu aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» Voltou a perguntar-lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu és deveras meu amigo?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: ‘Tu és deveras meu amigo?’ Mas respondeu-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.» E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a Deus. Depois destas palavras, acrescentou: «Segue-me!» Pedro voltou-se e viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, o mesmo que na ceia se tinha apoiado sobre o seu peito e lhe tinha perguntado: ‘Senhor, quem é que te vai entregar?’ Ao vê-lo, Pedro perguntou a Jesus: «Senhor, e que vai ser deste?» Jesus respondeu-lhe: «E se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!» Foi assim que, entre os irmãos, correu este rumor de que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse que ele não havia de morrer, mas sim: «Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso?» Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu. E nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro. Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os livros que se deveriam escrever. No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de Jesus, desde o princípio até ao dia em que, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. A eles também apareceu vivo depois da sua paixão e deu-lhes disso numerosas provas com as suas aparições, durante quarenta dias, e falando-lhes também a respeito do Reino de Deus. No decurso de uma refeição que partilhava com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o Prometido do Pai, «do qual – disse Ele – me ouvistes falar. João baptizava em água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo.» Estavam todos reunidos, quando lhe perguntaram: «Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?» Respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.» Dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos. E como estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: «Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu.» Desceram, então, do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado, e foram para Jerusalém. Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente. Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus. Por aqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos – encontravam-se reunidas cerca de cento e vinte pessoas – e disse: «Irmãos, era necessário que se cumprisse o que o Espírito Santo anunciou na Escritura pela boca de David a respeito de Judas, que foi o guia dos que prenderam Jesus. Ele, efectivamente, era um dos nossos e tinha recebido uma parte do nosso ministério. Esse homem, depois de ter adquirido um terreno com o salário do seu crime, precipitou-se de cabeça para baixo, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se espalharam. O facto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, a tal ponto que esse terreno foi chamado na língua deles 'Haqueldamá', que quer dizer Campo de Sangue. Está realmente escrito no Livro dos Salmos: ‘Fique deserta a sua habitação e não haja quem nela resida’. E ainda: ‘Receba outro o seu encargo.’ Portanto, de entre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, a partir do baptismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, é indispensável que um deles se torne, connosco, testemunha da sua ressurreição.» Designaram dois: José, de apelido Barsabas, chamado Justo, e Matias. Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste para ocupar, no ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que merecia.» Depois, tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze Apóstolos. Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Mas esses que estão a falar não são todos galileus? Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!» Estavam todos assombrados e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros: «Que significa isto?» Outros, por sua vez, diziam, troçando: «Estão cheios de vinho doce.» De pé, com os Onze, Pedro ergueu a voz e dirigiu-lhes então estas palavras: «Homens da Judeia e todos vós que residis em Jerusalém, ficai sabendo isto e prestai atenção às minhas palavras. Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia. Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel: ‘Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar; os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos. Certamente, sobre os meus servos e as minhas servas derramarei o meu Espírito, nesses dias, e eles hão-de profetizar. Farei ver prodígios, em cima, no céu, e sinais, em baixo na terra: sangue, fogo e uma coluna de fumo. O Sol será transformado em trevas e a Lua em sangue, antes de vir o Dia do Senhor grande e glorioso. E então, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.’ Homens de Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós, com milagres, prodígios e sinais que Deus realizou no meio de vós por seu intermédio, como vós próprios sabeis, este, depois de entregue, conforme o desígnio imutável e a previsão de Deus, vós o matastes, cravando-o na cruz pela mão de gente perversa. Mas Deus ressuscitou-o, libertando-o dos grilhões da morte, pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte. David diz a seu respeito: ‘Eu via constantemente o Senhor diante de mim, porque Ele está à minha direita, a fim de eu não vacilar. Por isso o meu coração se alegrou e a minha língua exultou; e até a minha carne repousará na esperança, porque Tu não abandonarás a minha vida na habitação dos mortos, nem permitirás que o teu Santo conheça a decomposição. Deste-me a conhecer os caminhos da Vida, hás-de encher-me de alegria com a tua presença.’ Irmãos, seja-me permitido falar-vos sem rodeios: o patriarca David morreu e foi sepultado, e o seu túmulo encontra-se, ainda hoje, entre nós. Mas, como era profeta e sabia que Deus lhe prometera, sob juramento, que um dos descendentes do seu sangue havia de sentar-se no seu trono, viu e proclamou antecipadamente a ressurreição de Cristo por estas palavras: ‘Não foi abandonado na habitação dos mortos e a sua carne não conheceu a decomposição.’ Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas. Tendo sido elevado pelo poder de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou-o como vedes e ouvis. David não subiu ao Céu, mas ele próprio diz: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até Eu pôr os teus inimigos por estrado dos teus pés.’ Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado.» Ouvindo estas palavras, ficaram emocionados até ao fundo do coração e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: «Que havemos de fazer, irmãos?» Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um o baptismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo. Na verdade, a promessa de Deus é para vós, para os vossos filhos, assim como para todos os que estão longe: para todos os que o Senhor nosso Deus quiser chamar.» Com estas e muitas outras palavras, Pedro exortava-os e dizia-lhes: «Afastai-vos desta geração perversa.» Os que aceitaram a sua palavra receberam o baptismo e, naquele dia, juntaram-se a eles cerca de três mil pessoas. Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação. Pedro e João subiam ao templo, para a oração das três horas da tarde. Era para ali levado um homem, coxo desde o ventre materno, que todos os dias colocavam à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola àqueles que entravam. Ao ver Pedro e João entrarem no templo, pediu-lhes esmola. Pedro, juntamente com João, olhando-o fixamente, disse-lhe: «Olha para nós.» O coxo tinha os olhos nos dois, esperando receber alguma coisa deles. Mas Pedro disse-lhe: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!» E, segurando-o pela mão direita, ergueu-o. No mesmo instante, os pés e os artelhos se lhe tornaram firmes. De um salto, pôs-se de pé, começou a andar e entrou com eles no templo, caminhando, saltando e louvando a Deus. Todo o povo o viu caminhar e louvar a Deus. Bem o conheciam, como sendo aquele que costumava sentar-se à Porta Formosa do templo a mendigar; ficaram cheios de assombro e estupefactos com o que lhe acabava de suceder. E, como ele não deixasse Pedro e João, todo o povo, cheio de assombro, se juntou a eles sob o chamado pórtico de Salomão. Ao ver isto, Pedro dirigiu a palavra ao povo: «Homens de Israel, porque vos admirais com isto? Porque nos olhais, como se tivéssemos feito andar este homem por nosso próprio poder ou piedade,? O Deus de Abraão, de Isaac e Jacob, o Deus dos nossos pais, glorificou o seu servo Jesus, que vós entregastes e negastes na presença de Pilatos, estando ele resolvido a libertá-lo. Negastes o Santo e o Justo e pedistes a libertação de um assassino. Destes a morte ao Príncipe da Vida, mas Deus ressuscitou-o dos mortos, e disso nós somos testemunhas. Pela fé no seu nome, este homem, que vedes e conheceis, recobrou as forças. Foi a fé que dele nos vem que curou completamente este homem na vossa presença. Agora, irmãos, sei que agistes por ignorância, como também os vossos chefes. Dessa forma, Deus cumpriu o que antecipadamente anunciara pela boca de todos os profetas: que o seu Messias iria padecer. Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam apagados; e, assim, o Senhor vos conceda os tempos de conforto, quando Ele enviar aquele que vos foi destinado, o Messias Jesus, que deve permanecer no Céu até ao momento da restauração de todas as coisas, de que Deus falou outrora pela boca dos seus santos profetas. Moisés disse: ‘O Senhor Deus suscitar-vos-á um Profeta como eu, de entre os vossos irmãos. Escutá-lo-eis em tudo quanto vos disser. Quem não escutar esse Profeta, será exterminado do meio do povo.’ E, por outro lado, todos os profetas que falaram desde Samuel anunciaram igualmente estes dias. Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus concluiu com os vossos pais, quando disse a Abraão: ‘Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da Terra.’ Foi primeiramente para vós que Deus suscitou o seu Servo e o enviou para vos abençoar e para se afastar cada um de vós das suas más acções.» Estando eles a falar ao povo, surgiram os sacerdotes, o comandante do templo e os saduceus, irritados por vê-los a ensinar o povo e a anunciar, na pessoa de Jesus, a ressurreição dos mortos. Deitaram-lhes as mãos e prenderam-nos até ao dia seguinte, pois já era tarde. No entanto, muitos dos que tinham ouvido a Palavra abraçaram a fé, e o número dos crentes elevou-se a cerca de cinco mil. No dia seguinte, os chefes dos judeus, os anciãos e os escribas reuniram-se em Jerusalém com o Sumo Sacerdote Anás, e ainda Caifás, João, Alexandre e todos os membros das famílias dos sumos sacerdotes. Mandaram comparecer os Apóstolos diante deles e perguntaram-lhes: «Com que poder ou em nome de quem fizestes isso?» Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: «Chefes do povo e anciãos, já que hoje somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e sobre o modo como ele foi curado, ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: É em nome de Jesus Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se apresenta curado diante de vós. Ele é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que se transformou em pedra angular. E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar.» Ao verem o desassombro de Pedro e de João e percebendo que eram homens iletrados e plebeus, ficaram espantados. Reconheciam-nos por terem andado com Jesus, mas, ao mesmo tempo, vendo de pé, junto deles, o homem que fora curado, nada encontraram para replicar. Mandaram-nos, então, sair do Sinédrio e começaram sozinhos a deliberar: «Que havemos de fazer a estes homens? Que um milagre notável foi realizado por eles é demasiado claro para todos os habitantes de Jerusalém e não podemos negá-lo. No entanto, para evitar que a notícia deste caso se espalhe ainda mais por entre o povo, proibamo-los, com ameaças, de falar, doravante, a quem quer que seja, nesse nome.» Chamaram-nos, então, e impuseram-lhes a proibição formal de falar ou ensinar em nome de Jesus. Mas Pedro e João retorquiram: «Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, obedecer a vós primeiro do que a Deus. Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos.» Eles, então, com novas ameaças, mandaram-nos em liberdade, não encontrando maneira de os castigar, por causa do povo; pois todos glorificavam a Deus pelo que tinha acontecido. O homem curado miraculosamente tinha mais de quarenta anos. Logo que foram postos em liberdade, foram ter com os seus e contaram-lhes tudo quanto os sumos sacerdotes e os anciãos lhes tinham dito. Depois de tudo terem ouvido, ergueram a voz a Deus, numa só alma, e disseram: «Senhor, Tu é que fizeste o Céu, a Terra, o mar e tudo o que neles se encontra. Tu disseste pelo Espírito Santo e pela boca do nosso pai David, teu servo: ‘Porque bramiram as nações e os povos formaram vãos projectos? Levantaram-se os reis da Terra e os chefes coligaram-se contra o Senhor e contra o seu Ungido.’ Sim, realmente, Herodes e Pôncio Pilatos coligaram-se nesta cidade com as nações e os povos de Israel, contra o teu Santo Servo Jesus, a quem ungiste, para levarem a cabo tudo quanto determinaste antecipadamente, pelo teu poder e sabedoria. Agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com todo o desassombro, estendendo a tua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do teu Santo Servo Jesus.» Tinham acabado de orar, quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, começando a anunciar a palavra de Deus com desassombro. A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles. Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um conforme a necessidade que tivesse. Assim, um levita cipriota, de nome José, a quem os Apóstolos chamaram Barnabé, isto é, «filho da consolação», possuía uma terra; vendeu-a e trouxe a importância, que depositou aos pés dos Apóstolos. Um certo homem, chamado Ananias, com sua mulher, Safira, vendeu uma propriedade; mas desviou parte do preço, de acordo com a mulher e, trazendo o restante, depositou-o aos pés dos Apóstolos. Então Pedro perguntou-lhe: «Ananias, porque é que Satanás invadiu o teu coração, a ponto de te levar a mentir ao Espírito Santo e subtraíres uma parte do preço do terreno? Não podias tu conservá-lo sem o vender? E, depois de o teres vendido, não podias dispor livremente do valor em teu poder? Como pudeste conceber semelhante plano no teu coração? Não foi aos homens que tu mentiste, mas a Deus.» Ao ouvir tais palavras, Ananias caiu e expirou, e um grande terror se apoderou de todos os assistentes. Os mais novos aproximaram-se para amortalhar o corpo e levaram-no a enterrar. Cerca de três horas depois, entrou sua mulher, ignorando o que se passara. Pedro perguntou-lhe: «Foi por tanto que vendestes o terreno?» Ela respondeu: «Sim, foi por esse preço.» Pedro insistiu: «Porque combinaste pôr à prova o Espírito do Senhor? Aí estão à porta os pés daqueles que sepultaram o teu marido, e te hão-de levar a ti.» No mesmo instante, caiu aos pés do Apóstolo e expirou. Os jovens, entrando, encontraram-na morta e, levando-a, sepultaram-na ao lado do marido. Então, um grande temor se apoderou de toda a Igreja e de todos quantos ouviram contar estes acontecimentos. Entretanto, pela intervenção dos Apóstolos, faziam-se muitos milagres e prodígios no meio do povo. Reuniam-se todos no Pórtico de Salomão e, dos restantes, ninguém se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo não cessava de os enaltecer. Sempre em maior número, juntavam-se, em massa, homens e mulheres, acreditando no Senhor, a tal ponto que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e catres, a fim de que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. A multidão vinha também das cidades próximas de Jerusalém, transportando enfermos e atormentados por espíritos malignos, e todos eram curados. Surgiu, então, o Sumo Sacerdote com todos os seus sequazes, isto é, o partido dos saduceus; encheram-se de inveja e deitaram as mãos aos Apóstolos, metendo-os na prisão pública. Mas, durante a noite, o Anjo do Senhor abriu as portas da prisão e, depois de os ter conduzido para fora, disse-lhes: «Ide para o templo e anunciai ao povo a Palavra da Vida.» Obedientes a essas ordens, entraram no templo de manhã cedo e começaram a ensinar. Entretanto, chegou o Sumo Sacerdote com os seus sequazes; convocaram o Sinédrio e todo o Senado dos filhos de Israel e mandaram buscar os Apóstolos à cadeia. Os guardas foram lá, mas não os encontraram na prisão e voltaram, declarando: «Encontrámos a cadeia fechada com toda a segurança e os guardas de sentinela à porta, mas, depois de a abrirmos, não encontrámos ninguém no interior.» Esta notícia pôs os sumos sacerdotes e o comandante do templo numa grande perplexidade acerca dos Apóstolos, e perguntavam a si próprios o que poderia significar tudo aquilo. Veio, então, alguém comunicar-lhes: «Os homens que metestes na prisão estão agora no templo a ensinar o povo.» O comandante do templo dirigiu-se imediatamente para lá com os guardas e trouxe os Apóstolos, mas não à força, pois receavam ser apedrejados pelo povo. Trouxeram-nos, pois, e levaram-nos à presença do Sinédrio. O Sumo Sacerdote, interrogando-os, disse: «Proibimo-vos formalmente de ensinardes nesse nome, mas vós enchestes Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem.» Mas Pedro e os Apóstolos responderam: «Importa mais obedecer a Deus do que aos homens. O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem matastes, suspendendo-o num madeiro. Foi a Ele que Deus elevou, com a sua direita, como Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. E nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo, que Deus tem concedido àqueles que lhe obedecem.» Enraivecidos com tal linguagem, pensaram a sério em matá-los. Ergueu-se, então, um homem no Sinédrio, um fariseu chamado Gamaliel, doutor da Lei, respeitado por todo o povo. Mandou sair os acusados por alguns momentos e, tomando a palavra, disse: «Homens de Israel, tende cuidado com o que ides fazer a esses homens! Nos últimos tempos, apareceu Teudas, que se dizia alguém e ao qual seguiram cerca de quatrocentos homens. Ele foi liquidado e todos os seus partidários foram destroçados e reduzidos a nada. Depois dele, apareceu também Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e arrastou o povo atrás dele. Morreu, igualmente, e todos os seus adeptos foram dispersos. E, agora, digo-vos: não vos metais com esses homens, deixai-os. Se o seu empreendimento é dos homens, esta obra acabará por si própria; mas, se vem de Deus, não conseguireis destruí-los, sem correrdes o risco de entrardes em guerra contra Deus.» Concordaram, então, com as suas palavras. Trouxeram novamente os Apóstolos e, depois de os mandarem açoitar, proibiram-lhes de falar no nome de Jesus e libertaram-nos. Quanto a eles, saíram da sala do Sinédrio cheios de alegria, por terem sido considerados dignos de sofrer vexames por causa do Nome de Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Boa-Nova de Jesus, o Messias. Por esses dias, como o número de discípulos ia aumentando, houve queixas dos helenistas contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário. Os Doze convocaram, então, a assembleia dos discípulos e disseram: «Não convém deixarmos a palavra de Deus, para servirmos às mesas. Irmãos, é melhor procurardes entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria; confiar-lhes-emos essa tarefa. Quanto a nós, entregar-nos-emos assiduamente à oração e ao serviço da Palavra.» A proposta agradou a toda a assembleia e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócuro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Foram apresentados aos Apóstolos que, depois de orarem, lhes impuseram as mãos. A palavra de Deus ia-se espalhando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém, e grande número de sacerdotes obedeciam à Fé. Cheio de graça e força, Estêvão fazia extraordinários milagres e prodígios entre o povo. Ora, alguns membros da sinagoga, chamada dos libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e da Ásia, vieram para discutir com Estêvão; mas era-lhes impossível resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. Subornaram, então, uns homens para dizerem: «Ouvimo-lo proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.» Provocaram, assim, a ira do povo, dos anciãos e dos escribas; depois, surgindo-lhe na frente, arrebataram-no e levaram-no ao Sinédrio. Aí, apresentaram falsas testemunhas que declararam: «Este homem não cessa de falar contra este Lugar Santo e contra a Lei, pois ouvimo-lo afirmar que Jesus, o Nazareno, destruiria este lugar e mudaria as regras que Moisés nos legou.» Todos os membros do Sinédrio tinham os olhos fixos nele e viram que o seu rosto era como o rosto de um Anjo. Depois, o Sumo Sacerdote perguntou-lhe: «Isso é verdade?» Ele respondeu: «Irmãos e pais, escutai! O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando ele estava na Mesopotâmia, antes de se ter estabelecido em Haran, e disse-lhe: ‘Deixa a tua terra e a tua parentela e vai para a terra que te hei-de mostrar.’ Abandonou, então, o país dos caldeus, e foi estabelecer-se em Haran. Daí, após a morte do pai, Deus fê-lo emigrar para esta terra que habitais agora. Não lhe deu aí propriedade alguma, nem mesmo um palmo de terra, mas prometeu-lhe a posse dela, a ele e, depois, à sua descendência, embora não tivesse sequer um filho. E Deus afirmou-lhe que a sua descendência habitaria em terra estranha, que a reduziriam à escravidão e que seria maltratada, durante quatrocentos anos. ‘Mas o povo de quem forem escravos, hei-de Eu julgá-lo, disse Deus. Depois disso, hão-de sair e prestar-me culto neste lugar.’ Em seguida, deu-lhe a aliança da circuncisão. Foi assim que Abraão gerou Isaac e o circuncidou, ao oitavo dia. E Isaac fez o mesmo a Jacob, e Jacob aos doze patriarcas. Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no, a fim de ser levado para o Egipto. Mas Deus estava com ele: livrou-o de todas as provas e deu-lhe graça e sabedoria diante do faraó, rei do Egipto, que o nomeou governador desse país e de toda a sua casa. Veio depois a fome sobre todo o Egipto e sobre Canaã. A angústia era grande e os nossos pais não encontravam nada para comer. Ouvindo dizer que no Egipto havia trigo, Jacob mandou lá os nossos pais, uma primeira vez. À segunda vez, José deu-se a conhecer a seus irmãos e sua origem foi revelada ao Faraó. José mandou então buscar seu pai Jacob e toda a sua parentela, composta de setenta e cinco pessoas. Jacob desceu ao Egipto e lá morreu, assim como os nossos pais. Os seus corpos foram trasladados para Siquém e depositados no sepulcro que Abraão adquirira, por uma importância em prata, aos filhos de Emor, em Siquém. Enquanto se aproximava o tempo em que deveria realizar-se a promessa feita por Deus a Abraão, o povo cresceu e multiplicou-se no Egipto, até que subiu ao trono do Egipto um novo rei, que não tinha conhecimento de José. Usando de astúcia para com a nossa raça, esse rei perseguiu os nossos pais, até ao ponto de os fazer expor os recém-nascidos, para os privar da vida. Nessa altura nasceu Moisés, que era agradável aos olhos de Deus. Foi criado durante três meses em casa de seu pai. Depois, tendo sido exposto, a filha do Faraó recolheu-o e criou-o como seu próprio filho. Moisés foi iniciado em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras. Quando completou os quarenta anos, veio-lhe ao espírito a ideia de visitar seus irmãos, os filhos de Israel. Ao ver um deles maltratado, tomou a sua defesa e vingou o oprimido, matando o egípcio. Pensava que os seus irmãos compreenderiam ser Deus quem, por sua mão, lhes trazia a liberdade, mas não o compreenderam. No dia seguinte, apareceu a dois deles que lutavam, e pretendeu reconciliá-los, dizendo: ‘Sendo irmãos, porque vos agredis um ao outro?’ Então, aquele que agredia o companheiro repeliu-o, dizendo: ‘Quem te nomeou nosso chefe e nosso juiz. Queres matar-me como ontem mataste o egípcio?’ A essas palavras, Moisés fugiu e foi residir, como estrangeiro, para a terra de Madian, onde teve dois filhos. Ao fim de quarenta anos, apareceu-lhe um Anjo no deserto do monte Sinai, na chama de uma sarça ardente. Perante essa aparição, Moisés ficou estupefacto e, aproximando-se para observar melhor, fez-se ouvir a voz do Senhor: ‘ Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob.’ A tremer, Moisés não ousava erguer os olhos. Então, o Senhor disse-lhe: 'Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa. Eu vi a angústia do meu povo no Egipto, ouvi os seus gemidos e desci para o libertar. E, agora, vem cá, pois vou mandar-te ao Egipto.’ Este Moisés, que eles renegaram, dizendo: ‘Quem te nomeou chefe e juiz’, é este que foi enviado por Deus como chefe e libertador pela mão do anjo que lhe apareceu na sarça. Foi ele que os fez sair do Egipto, realizando prodígios e milagres na terra do Egipto, no Mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos. Foi ele, Moisés, quem disse aos filhos de Israel: ‘Deus fará surgir um profeta como eu, entre os vossos irmãos.’ Foi ele que, durante a assembleia no deserto, esteve entre o Anjo, que lhe falava no monte Sinai, e os nossos pais; foi ele que recebeu as palavras de vida, para no-las transmitir. Foi a ele que os nossos pais se recusaram a obedecer, antes o repeliram, voltando em seus corações ao Egipto e dizendo a Aarão: ‘Faz-nos deuses que marchem à nossa frente, pois desse Moisés que nos fez sair do Egipto, não sabemos o que foi feito dele.' E, nesses dias, construíram um bezerro, ofereceram um sacrifício ao ídolo e festejaram alegremente a obra das suas próprias mãos. Deus, então, afastou-se deles e entregou-os ao culto do exército celeste, como está escrito no Livro dos Profetas: ‘Oferecestes-me, porventura, vítimas e sacrifícios durante quarenta anos, no deserto, ó Casa de Israel? Vós transportastes a tenda de Moloc e a estrela do deus Refan, imagens que fizestes para as adorar! Por isso, exilar-vos-ei para além da Babilónia.’ Os nossos pais tinham no deserto a tenda do testemunho, como ordenara aquele que disse a Moisés que a construísse de harmonia com o modelo por ele visto. Foi precisamente essa tenda que os nossos pais receberam e introduziram, sob o comando de Josué, no território conquistado aos povos que Deus expulsou na sua frente, e assim se manteve até aos dias de David. Este achou graça diante de Deus e pediu para edificar uma habitação ao Deus de Jacob. Foi, porém, Salomão quem lhe construiu uma casa. Mas o Altíssimo não habita em casas erguidas pela mão do homem, como diz o profeta: 'O Céu é o meu trono e a Terra, estrado dos meus pés. Que casa me haveis de construir, diz o Senhor, e qual será o lugar do meu repouso? Não foi a minha mão que fez todas as coisas?' Homens de cerviz dura, incircuncisos de coração e de ouvidos, sempre vos opondes ao Espírito Santo; como foram os vossos pais, assim sois vós também. Qual foi o profeta que os vossos pais não tenham perseguido? Mataram os que predisseram a vinda do Justo, a quem traístes e assassinastes, vós, que recebestes a Lei pelo ministério dos anjos, mas não a guardastes!» Ao ouvirem tais palavras, encheram-se intimamente de raiva e rangeram os dentes contra Estêvão. Mas este, cheio do Espírito Santo e de olhos fixos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé, à direita de Deus. «Olhai, disse ele, eu vejo o Céu aberto e o Filho do Homem de pé, à direita de Deus.» Eles, então, soltaram um grande grito e taparam os ouvidos; depois, à uma, atiraram-se a ele e, arrastando-o para fora da cidade, começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram as capas aos pés de um jovem chamado Saulo. E, enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito.» Depois, posto de joelhos, bradou com voz forte: «Senhor, não lhes atribuas este pecado.» Dito isto, adormeceu. Saulo aprovava também essa morte. No mesmo dia, uma terrível perseguição caiu sobre a igreja de Jerusalém. À excepção dos Apóstolos, todos se dispersaram pelas terras da Judeia e da Samaria. Entretanto, homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por ele grandes lamentações. Quanto a Saulo, devastava a Igreja: ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e entregava-os à prisão. Os que tinham sido dispersos foram de aldeia em aldeia, anunciando a palavra da Boa-Nova. Foi assim que Filipe desceu a uma cidade da Samaria e aí começou a pregar Cristo. Ao ouvi-lo falar e ao vê-lo realizar milagres, as multidões aderiam unanimemente à pregação de Filipe. De facto, de muitos possessos saíam espíritos malignos, soltando grandes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade. Encontrava-se na cidade um homem chamado Simão, que praticava a magia e assombrava o povo de Samaria, dizendo ser ele próprio algo de grande. Do mais pequeno ao maior, todos acreditavam nele. «Este homem, diziam, é a Força de Deus, chamada a grande.» Acreditavam nele porque, havia bastante tempo, tinham-se deixado entusiasmar pelas suas habilidades mágicas. Mas, quando acreditaram em Filipe, que lhes anunciava a Boa-Nova do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, homens e mulheres começaram a receber o baptismo. O próprio Simão também acreditou e, depois de baptizado, andava sempre com Filipe; e, ao ver os grandes milagres e portentos que ele fazia, ficava assombrado. Quando os Apóstolos, que estavam em Jerusalém, tiveram conhecimento de que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes desceram até lá e oraram pelos samaritanos para eles receberem o Espírito Santo. Na verdade, não descera ainda sobre nenhum deles, pois tinham apenas recebido o baptismo em nome do Senhor Jesus. Pedro e João iam, então, impondo as mãos sobre eles, e recebiam o Espírito Santo. Ao ver que o Espírito Santo era dado pela imposição das mãos dos Apóstolos, Simão ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: «Dai-me também a mim esse poder, para que aquele a quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo.» Mas Pedro replicou: «Vá contigo o teu dinheiro para a perdição, pois julgaste comprar o Dom de Deus com dinheiro. Neste assunto, não tens parte, nem herança, pois o teu coração não é recto diante de Deus. Arrepende-te, portanto, da tua má intenção e roga ao Senhor que te perdoe – se for possível – o projecto do teu coração. Vejo-te, efectivamente, a transbordar de fel e nos laços da iniquidade.» Simão respondeu: «Intercedei vós mesmos por mim junto do Senhor, para que não me aconteça nada do que acabais de dizer.» Quanto aos Apóstolos, depois de terem dado o seu testemunho e anunciado a palavra do Senhor, regressaram a Jerusalém, proclamando a Boa-Nova a muitas aldeias da Samaria. O Anjo do Senhor falou a Filipe e disse-lhe: «Põe-te a caminho e dirige-te para o Sul, pela estrada que desce de Jerusalém para Gaza, a qual se encontra deserta.» Ele pôs-se a caminho e foi para lá. Ora, um etíope, eunuco e alto funcionário da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros, que tinha ido em peregrinação a Jerusalém, regressava, na mesma altura, sentado no seu carro, a ler o profeta Isaías. O Espírito disse a Filipe: «Vai e acompanha aquele carro.» Filipe, acorrendo, ouviu o etíope a ler o profeta Isaías e perguntou-lhe: «Compreendes, verdadeiramente, o que estás a ler?» Respondeu ele: «E como poderei compreender, sem alguém que me oriente?» E convidou Filipe a subir e a sentar-se junto dele. A passagem da Escritura que ele estava a ler era a seguinte: Como ovelha levada ao matadouro, e como cordeiro sem voz diante daquele que o tosquia, assim Ele não abre a sua boca. Na humilhação se consumou o seu julgamento, e quem poderá contar a sua geração? Da face da terra foi tirada a sua vida! Dirigindo-se a Filipe, o eunuco disse-lhe: «Peço-te que me digas: De quem fala o profeta? De si mesmo ou de outra pessoa?» Então, Filipe tomou a palavra e, partindo desta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Boa-Nova de Jesus. Pelo caminho fora, encontraram uma nascente de água, e o eunuco disse: «Está ali água! Que me impede de ser baptizado?» Filipe respondeu: «Se acreditas com todo o coração, isso é possível.» O eunuco respondeu: «Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.» E mandou parar o carro. Ambos desceram à água, Filipe e o eunuco, e Filipe baptizou-o. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe e o eunuco não o viu mais, seguindo o seu caminho cheio de alegria. Filipe encontrou-se em Azoto e, partindo dali, foi anunciando a Boa-Nova a todas as cidades, até que chegou a Cesareia. Saulo, entretanto, respirando sempre ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, foi ter com o Sumo Sacerdote e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, se encontrasse homens e mulheres que fossem desta Via, os trouxesse algemados para Jerusalém. Estava a caminho e já próximo de Damasco, quando se viu subitamente envolvido por uma intensa luz vinda do Céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» Respondeu: «Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer.» Os seus companheiros de viagem tinham-se detido, emudecidos, ouvindo a voz, mas sem verem ninguém. Saulo ergueu-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Foi necessário levá-lo pela mão e, assim, entrou em Damasco, onde passou três dias sem ver, sem comer nem beber. Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor disse-lhe numa visão: «Ananias!» Respondeu: «Aqui estou, Senhor.» O Senhor prosseguiu: «Levanta-te, vai à casa de Judas, na rua Direita, e pergunta por um homem chamado Saulo de Tarso, que está a orar neste momento.» Saulo, entretanto, viu numa visão um homem, de nome Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista. Ananias respondeu: «Senhor, tenho ouvido muita gente falar desse homem e a contar todo o mal que ele tem feito aos teus santos, em Jerusalém. E agora está aqui com plenos poderes dos sumos sacerdotes, para prender todos quantos invocam o teu nome.» Mas o Senhor disse-lhe: «Vai, pois esse homem é instrumento da minha escolha, para levar o meu nome perante os pagãos, os reis e os filhos de Israel. Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo meu nome.» Então, Ananias partiu, entrou na dita casa, impôs as mãos sobre ele e disse: «Saulo, meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho em que vinhas, para recobrares a vista e ficares cheio do Espírito Santo.» Nesse instante, caíram-lhe dos olhos uma espécie de escamas e recuperou a vista. Depois, levantou-se e recebeu o baptismo. Depois de se ter alimentado, voltaram-lhe as forças e passou alguns dias com os discípulos, em Damasco. Começou, então, imediatamente, a proclamar nas sinagogas que Jesus era o Filho de Deus. Os que o ouviam ficavam estupefactos e diziam: «Não era ele que, em Jerusalém, perseguia aqueles que invocam o nome de Jesus? Não tinha ele vindo aqui expressamente para os levar, presos, aos sumos sacerdotes?» Mas Saulo fortalecia-se cada vez mais e confundia os judeus de Damasco, demonstrando-lhes que Jesus era o Messias. Passado muito tempo, os judeus combinaram matá-lo, mas Saulo foi avisado das suas intenções. Até as portas da cidade eram guardadas, noite e dia, com o fim de o matarem. Então os discípulos, tomando-o de noite, fizeram-no descer pela muralha abaixo, dentro de um cesto. Chegado a Jerusalém, Saulo procurava reunir-se aos discípulos, mas todos tinham medo dele, não querendo acreditar que fosse um discípulo. Barnabé tomou-o, então, consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como ele, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe falara, e com que coragem ele anunciara o nome de Jesus em Damasco. A partir desse dia, ficou com eles, indo e vindo por Jerusalém e confessando corajosamente o nome do Senhor. Dirigia-se também aos helenistas e discutia com eles, mas estes planeavam a sua morte. Os irmãos, porém, ao saberem disto, levaram-no para Cesareia e fizeram-no seguir para Tarso. Entretanto, a Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, crescia como um edifício e caminhava no temor do Senhor e, com a assistência do Espírito Santo, ia aumentando. Pedro, que andava por toda a parte, desceu também até junto dos santos que habitavam em Lida. Encontrou lá, estendido num catre, havia oito anos, um homem chamado Eneias, que era paralítico. Pedro disse-lhe: «Eneias, Jesus Cristo vai curar-te! Levanta-te e arranja a enxerga.» E ele ergueu-se imediatamente. Todos os habitantes de Lida e da planície de Saron viram isso e converteram-se ao Senhor. Havia em Jope, entre os discípulos, uma mulher chamada Tabitá, que significa «Gazela.» Era rica em boas obras e nas esmolas que distribuía. Ora, nesses dias, caiu doente e morreu. Depois de a terem lavado, depositaram-na na sala de cima. Como Lida era perto de Jope e ouvindo os discípulos dizer que Pedro estava lá, mandaram-lhe dois homens com o seguinte pedido: «Vem depressa ter connosco!» Pedro partiu imediatamente com eles. Logo que chegou, levaram-no à sala de cima e encontrou lá todas as viúvas, que choravam e lhe mostravam as túnicas e mantos feitos por Dórcada, enquanto ela estava na sua companhia. Pedro mandou sair toda a gente, pôs-se de joelhos e orou. Voltando-se depois para o corpo, disse: «Tabitá, levanta-te!» Ela abriu os olhos e, ao ver Pedro, sentou-se. Tomando-a pela mão, Pedro ajudou-a a erguer-se. Chamando então os santos e as viúvas, apresentou-lha viva. Toda a cidade de Jope soube deste acontecimento e muitos acreditaram no Senhor. Pedro ficou em Jope bastante tempo ainda, em casa de um curtidor chamado Simão. Havia em Cesareia um homem de nome Cornélio, centurião da coorte itálica. Piedoso e temente a Deus, como aliás toda a sua casa, dava largas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus. Teve uma visão, cerca das três horas da tarde, e viu distintamente o Anjo de Deus entrar, aproximar-se dele e dizer-lhe: «Cornélio!» Fixando nele os olhos, cheio de medo, respondeu: «Que é, Senhor?» Respondeu o Anjo: «As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus, e Ele recordou-se de ti. E agora, envia homens a Jope e manda chamar um certo Simão, conhecido por Pedro. Está hospedado em casa de um curtidor chamado Simão, cuja casa fica à beira-mar.» Quando o Anjo se retirou, depois de lhe falar, Cornélio chamou dois dos seus servos e um soldado piedoso, dos que lhe eram pessoalmente dedicados, explicou-lhes tudo e mandou-os a Jope. No dia seguinte, enquanto eles iam a caminho e se aproximavam da cidade, Pedro subiu ao terraço para a oração do meio-dia. Então, sentiu fome e quis comer alguma coisa. Enquanto lhe preparavam de comer, foi arrebatado em êxtase. Viu o Céu aberto e um objecto, como uma grande toalha atada pelas quatro pontas, a descer para a terra. Estava cheia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e de todas as aves do céu. E uma voz dizia-lhe: «Vamos, Pedro, mata e come.» Mas Pedro retorquiu: «De modo algum, Senhor! Nunca comi nada de profano nem de impuro.» E a voz falou-lhe novamente, pela segunda vez: «O que foi purificado por Deus não o consideres tu impuro.» Isto repetiu-se por três vezes e, imediatamente, o objecto foi levado para o Céu. Atónito, Pedro perguntava a si próprio o que poderia significar a visão que acabara de ter, quando os homens enviados por Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, se apresentaram à porta. Chamaram e indagaram se era ali que se encontrava hospedado Simão, cujo sobrenome era Pedro. E, como Pedro estava ainda a reflectir sobre a visão, o Espírito disse-lhe: «Estão aí três homens a procurar-te. Ergue-te, desce e parte com eles sem qualquer hesitação, porque fui Eu que os mandei cá.» Pedro desceu, foi ter com os homens e disse: «Sou eu quem procurais. Qual o motivo da vossa vinda?» Responderam: «O centurião Cornélio, homem justo e temente a Deus, do qual todo o povo judeu dá bom testemunho, foi avisado por um anjo para te mandar chamar a sua casa e para ouvir as palavras que tens a dizer-lhe.» Então Pedro mandou-os entrar e deu-lhes hospedagem. No dia seguinte, levantando-se, partiu com eles, e alguns irmãos de Jope acompanharam-no. Chegou a Cesareia, um dia depois. Cornélio estava à espera deles com os seus parentes e amigos íntimos, que tinha reunido. Na altura em que Pedro entrava, Cornélio foi ao seu encontro e, caindo-lhe aos pés, prostrou-se. Mas Pedro levantou-o, dizendo: «Levanta-te, que eu também sou apenas um homem.» E, a conversar com ele, foi para dentro, encontrando muitas pessoas reunidas. Pedro disse-lhes: «Vós sabeis que não é permitido a um judeu ter contacto com um estrangeiro, ou entrar em sua casa. Mas Deus mostrou-me que não se deve chamar profano ou impuro a homem algum. Por isso, não opus qualquer dificuldade ao vosso convite. Peço-vos apenas que me digais o motivo por que me mandastes chamar.» Cornélio respondeu: «Faz hoje três dias, a esta mesma hora, estava eu em minha casa a fazer a oração das três horas da tarde, quando surgiu de repente um homem com uns trajes resplandecentes, diante de mim, e me disse: ‘Cornélio, a tua oração foi atendida e as tuas esmolas foram recordadas diante de Deus. Envia, pois, emissários a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro. Está hospedado em casa de Simão, curtidor, junto ao mar.’ Mandei-te imediatamente chamar e agradeço-te teres vindo. E, agora, estamos todos na tua presença para ouvirmos o que Deus te ordenou.» Então, Pedro tomou a palavra e disse: «Reconheço, na verdade, que Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer povo, quem o teme e põe em prática a justiça, lhe é agradável. Enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a Boa-Nova da paz, por Jesus Cristo, Ele que é o Senhor de todos. Sabeis o que ocorreu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele. E nós somos testemunhas do que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém. A Ele, que mataram, suspendendo-o de um madeiro, Deus ressuscitou-o, ao terceiro dia, e permitiu-lhe manifestar-se, não a todo o povo, mas às testemunhas anteriormente designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois da sua ressurreição dos mortos. E mandou-nos pregar ao povo e confirmar que Ele é que foi constituído, por Deus, juiz dos vivos e dos mortos. É dele que todos os profetas dão testemunho: quem acredita nele recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados.» Pedro estava ainda a falar, quando o Espírito Santo desceu sobre quantos ouviam a palavra. E todos os fiéis circuncisos que tinham vindo com Pedro ficaram estupefactos, ao verem que o dom do Espírito Santo fora derramado também sobre os pagãos, pois ouviam-nos falar línguas e glorificar a Deus. Pedro, então, declarou: «Poderá alguém recusar a água do baptismo aos que receberam o Espírito Santo, como nós?» E ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo. Então eles pediram-lhe que ficasse alguns dias com eles. Os Apóstolos e os irmãos da Judeia ouviram, entretanto, dizer que também os pagãos tinham recebido a palavra de Deus. E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os circuncisos começaram a censurá-lo, dizendo-lhe: «Tu entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles.» Pedro expôs-lhes, então, o caso, do princípio ao fim, dizendo: «Estava eu em oração na cidade de Jope quando, em êxtase, tive uma visão: um objecto semelhante a uma grande toalha, descia do céu, preso pelas quatro pontas, e chegou até junto de mim. Fitando os olhos nele, pus-me a observar e vi os quadrúpedes da terra, os animais ferozes, os répteis e as aves do céu. Ouvi também uma voz que me dizia: ‘Vamos, Pedro, mata e come.’ Mas eu respondi: ‘De modo algum, Senhor! Nunca entrou na minha boca nada de profano ou impuro!’ A voz fez-se ouvir do Céu, pela segunda vez: ‘O que Deus purificou não o consideres tu impuro.’ Isto repetiu-se três vezes; depois, tudo foi novamente elevado ao Céu. Nesse instante, apresentaram-se três homens na casa em que estávamos, enviados de Cesareia à minha presença. O Espírito disse-me que os acompanhasse, sem hesitar. Vieram também comigo os seis irmãos, aqui presentes, e entrámos em casa do homem. Ele contou-nos que tinha visto um anjo apresentar-se em sua casa, dizendo-lhe: ‘Envia alguém a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro; ele dir-te-á palavras que te hão-de trazer a salvação, a ti e a toda a tua casa.’ Ora, quando principiei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio. Recordei-me, então, da palavra do Senhor, quando Ele dizia: ‘João baptizou em água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo.’ Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para me opor a Deus?» Estas palavras apaziguaram-nos, e eles deram glória a Deus, dizendo: «Deus também concedeu aos pagãos o arrependimento que conduz à Vida!» Entretanto, os que se tinham dispersado, devido à perseguição desencadeada por causa de Estêvão, adiantaram-se até à Fenícia, Chipre e Antioquia, mas não anunciavam a palavra senão aos judeus. Houve, porém, alguns deles, homens de Chipre e Cirene que, chegando a Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando-lhes a Boa-Nova do Senhor Jesus. A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. A notícia chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém, e mandaram Barnabé a Antioquia. Assim que ele chegou e viu a graça concedida por Deus, regozijou-se com isso e exortou-os a todos a que se conservassem unidos ao Senhor, de coração firme; ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Assim, uma grande multidão aderiu ao Senhor. Então, Barnabé foi a Tarso procurar Saulo. Encontrou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, mantiveram-se juntos nesta igreja e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de «cristãos.» Nesses dias, uns profetas desceram de Jerusalém a Antioquia. Um deles, chamado Agabo, ergueu-se e, sob a inspiração do Espírito, predisse que haveria uma grande fome por toda a terra. Foi a que sobreveio no reinado de Cláudio. Os discípulos, cada qual segundo as suas posses, resolveram então enviar socorros aos irmãos da Judeia, o que fizeram, mandando-os aos anciãos, por intermédio de Barnabé e de Saulo. Por esse tempo, o rei Herodes maltratou alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, e, vendo que tal procedimento agradara aos judeus, mandou também prender Pedro. Decorriam os dias dos Ázimos. Depois de o mandar prender, meteu-o na prisão, entregando-o à guarda de quatro piquetes, de quatro soldados cada um, na intenção de o fazer comparecer perante o povo, a seguir à Páscoa. Enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele. Na noite anterior ao dia em que Herodes contava fazê-lo comparecer, Pedro estava a dormir entre dois soldados, bem preso por duas correntes, e diante da porta estavam sentinelas de guarda à prisão. De repente, apareceu o Anjo do Senhor e a masmorra foi inundada de luz. O anjo despertou Pedro, tocando-lhe no lado e disse-lhe: «Ergue-te depressa!» E as correntes caíram-lhe das mãos. O anjo prosseguiu: «Põe o cinto e calça as sandálias.» Pedro assim fez. Depois, disse-lhe: «Cobre-te com a capa e segue-me.» Pedro saiu e seguiu-o. Não se dava conta da realidade da intervenção do anjo, pois julgava que era uma visão. Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro que dá para a cidade, a qual se abriu por si mesma. Saíram, avançando por uma rua, e logo o anjo se retirou de junto dele. Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo e me arrancou das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava.» E, depois de reflectir, dirigiu-se a casa de Maria, mãe de João, de sobrenome Marcos, onde numerosos fiéis estavam reunidos a orar. Bateu à porta da entrada, e uma serva chamada Rode veio atender. Reconheceu a voz de Pedro e, com alegria, em vez de abrir, correu a anunciar que Pedro se encontrava em frente da porta. «Estás louca!» disseram eles. Como ela afirmava, sem hesitar, que era verdade, disseram: «É o seu anjo.» Pedro, entretanto, continuava a bater à porta. Eles abriram e, ao vê-lo, ficaram estupefactos. Fazendo-lhes sinal com a mão para se calarem, contou-lhes como o Senhor o tinha tirado da prisão e acrescentou: «Mandai dizer tudo isto a Tiago e aos irmãos.» Depois, retirou-se dali e foi para outro lugar. Ao romper do dia, grande foi o alvoroço entre os soldados. Que seria feito de Pedro? Como Herodes o tivesse mandado buscar e não o encontrassem, submeteu os guardas a um interrogatório e mandou-os matar. Herodes deixou, em seguida, a Judeia, desceu para Cesareia e por ali se demorou. Herodes estava furioso com os habitantes de Tiro e de Sídon. Estes, de comum acordo, apresentaram-se diante dele e, depois de terem ganhado Blasto, camareiro do rei, à sua causa, pediram a paz, porque o seu país era abastecido pelo rei. No dia aprazado, Herodes, revestido com um traje real e sentado na tribuna, dirigiu-lhes um grande discurso. E o povo gritava: «É um deus que fala, não é um homem!» Mas, no mesmo instante, o Anjo do Senhor feriu Herodes, por não ter dado glória a Deus. E, roído pelos vermes, expirou. Entretanto, a palavra de Deus crescia e multiplicava-se. Barnabé e Saulo, depois de terem cumprido a sua missão, regressaram de Jerusalém, levando consigo João, de sobrenome Marcos. Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado ‘Níger’, Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir. Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar. Percorreram toda a ilha até Pafos e encontraram lá um mago, falso profeta, judeu, chamado Barjesus, que estava ao serviço do procônsul Sérgio Paulo, homem ponderado. Este mandou chamar Barnabé e Saulo, desejoso de ouvir a palavra de Deus. Mas o mago Elimas – assim se traduz o seu nome – opôs-se-lhe, procurando desviar da fé o procônsul. Então Saulo – também chamado Paulo – cheio do Espírito Santo, fitou nele os olhos e disse-lhe: «Ó criatura, cheia de todas as astúcias e de toda a iniquidade, filho do diabo, inimigo de toda a justiça, quando é que cessarás de perverter os rectos caminhos do Senhor? Mas agora a mão do Senhor está sobre ti: vais ficar cego e, durante algum tempo, não hás-de ver o sol.» No mesmo instante, caíram sobre ele o nevoeiro e as trevas e, voltando-se para todos os lados, procurava alguém que o guiasse pela mão. Vendo, então, o que se tinha passado, o procônsul abraçou a fé, vivamente impressionado com a doutrina do Senhor. De Pafos, onde embarcaram Paulo e os companheiros, dirigiram-se a Perga da Panfília. João, porém, separando-se deles, voltou para Jerusalém. Quanto àqueles, deixaram Perga e, caminhando sempre, chegaram a Antioquia da Pisídia. A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tiverdes alguma exortação a dirigir ao povo, falai.» Então Paulo, levantando-se, fez sinal com a mão e disse: «Homens de Israel e vós os tementes a Deus, escutai: O Deus deste povo, o Deus de Israel, escolheu os nossos pais e engrandeceu este povo durante a sua permanência no Egipto. Depois, com a força do seu braço, retirou-o de lá e, durante uns quarenta anos, sustentou-o no deserto. A seguir, exterminando sete nações na terra de Canaã, conferiu-lhes a posse do seu território, por cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Depois disso, deu-lhes juízes até ao profeta Samuel. Em seguida, pediram um rei, e Deus concedeu-lhes, durante quarenta anos, Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. Pondo este de parte, Deus elevou David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.’ Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. Quase a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.’ Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação. Sem dúvida, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-o, cumpriram, sem disso se aperceberem, as profecias que são lidas todos os sábados. Embora não tivessem encontrado nele motivo algum de morte, exigiram a Pilatos que o mandasse matar. Quando cumpriram tudo o que acerca dele estava escrito, desceram-no do madeiro e sepultaram-no. Mas Deus ressuscitou-o dos mortos e, durante muitos dias, apareceu aos que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo. E nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais, Deus a cumpriu em nosso benefício, para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo: Tu és meu filho, Eu hoje te gerei! Que Deus o ressuscitou dos mortos para não mais voltar à corrupção, disse-o Ele deste modo: Dar-vos-ei as coisas santas de David, que são verdadeiras. Por isso, diz noutra passagem: Não deixarás o teu Santo ver a corrupção. Ora David, depois de servir em sua vida os desígnios de Deus, morreu; foi reunir-se a seus pais e viu a corrupção. Mas aquele que Deus ressuscitou não viu a corrupção. Ficai sabendo, irmãos, que por seu intermédio é que vos é anunciada a remissão dos pecados. A justificação completa que não pudestes obter pela Lei de Moisés, obtê-la-á por meio dele todo aquele que crê. Tende, pois, cautela, para que vos não aconteça o que se diz nos profetas: Olhai, vós, os desdenhosos, admirai-vos e desaparecei! Porque Eu vou fazer uma obra em vossos dias, obra em que não acreditaríeis, se alguém vo-la contasse.» À saída, pediram-lhe que falasse do mesmo assunto no sábado seguinte. Depois da reunião, muitos judeus e prosélitos piedosos seguiam Paulo e Barnabé, os quais, nas suas conversas com eles, os exortavam a perseverar na graça de Deus. No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra do Senhor. A presença da multidão encheu os judeus de inveja, e responderam com blasfémias ao que Paulo dizia. Então, desassombradamente, Paulo e Barnabé afirmaram: «Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos, pois assim nos ordenou o Senhor: Estabeleci-te como luz dos povos, para levares a salvação até aos confins da Terra.» Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região. Mas os judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade, desencadeando uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e expulsaram-nos do seu território. Estes, sacudindo contra eles o pó dos pés, foram para Icónio. Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo. Em Icónio, Paulo e Barnabé entraram igualmente na sinagoga dos judeus e falaram de tal maneira que uma grande multidão de judeus e de gregos abraçou a fé. Mas os judeus que não acreditaram instigaram e indispuseram os pagãos contra os irmãos. Apesar disso, Paulo e Barnabé demoraram-se por lá bastante tempo, absolutamente confiados no Senhor, que dava testemunho à palavra da sua graça, concedendo que se fizessem milagres e prodígios pelas mãos deles. A população da cidade dividiu-se: uns eram pelos judeus e outros pelos Apóstolos. Entre os pagãos e os judeus, conduzidos pelos respectivos chefes, levantou-se um movimento para os maltratar e apedrejar. Logo que tiveram conhecimento disso, refugiaram-se nas cidades da Licaónia, Listra e Derbe, e arredores, onde começaram a anunciar a Boa-Nova. Havia em Listra um homem aleijado dos pés, coxo de nascença e que nunca tinha andado. Um dia, ouviu Paulo falar. Este, fitando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado, disse-lhe em voz alta: «Ergue-te, direito sobre os teus pés!» Ele deu um salto e começou a andar. Ao ver o que Paulo acabava de fazer, a multidão gritou em licaónio: «Os deuses tomaram forma humana e desceram até nós!» E chamavam Zeus a Barnabé, e Hermes a Paulo, pois este é que lhes dirigia a palavra. Então, o sacerdote do templo de Zeus, venerado junto da cidade, trazendo touros e grinaldas para as portas da cidade, pretendia, juntamente com a multidão, oferecer-lhes um sacrifício. Ao terem conhecimento disso, os Apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as vestes e precipitaram-se para a multidão, gritando: «Amigos, que fazeis? Também nós somos homens da mesma condição que vós, homens que vos anunciam a Boa-Nova de que deveis abandonar os ídolos vãos e voltar-vos para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles se encontra. Nas gerações passadas, permitiu que todos os povos seguissem os seus próprios caminhos, mas nem por isso deixou de dar testemunho da sua generosidade, dispensando-vos do céu chuvas e estações de fertilidade, enchendo os vossos corações de alimento e de felicidade.» Mesmo depois de terem assim falado, foi a custo que impediram a multidão de lhes oferecer um sacrifício. Apareceram, então, vindos de Antioquia e de Icónio, alguns judeus que aliciaram o povo, apedrejaram Paulo e, julgando-o morto, arrastaram-no para fora da cidade. Mas, como os discípulos o tivessem rodeado, ele ergueu-se e voltou para a cidade. No dia seguinte, partiu para Derbe com Barnabé. Depois de terem anunciado a Boa-Nova àquela cidade e de terem feito numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, Icónio e Antioquia. Fortaleciam a alma dos discípulos, encorajavam-nos a manterem-se firmes na fé, porque, diziam eles: «Temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus.» Depois de lhes terem constituído anciãos em cada igreja, pela imposição das mãos, e de terem feito orações acompanhadas de jejum, recomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. A seguir, atravessaram a Pisídia, chegaram à Panfília e, depois de anunciarem a palavra em Perga, desceram a Atália. De lá, foram de barco para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para o trabalho que agora acabavam de realizar. Assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé. E demoraram-se bastante tempo com os discípulos. Alguns que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se não vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, não podereis ser salvos.» Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos. Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão. Depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes: «Irmãos, sabeis que Deus me escolheu, desde os primeiros dias, para que os pagãos ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho e abraçassem a fé. E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, concedendo-lhes o Espírito Santo como a nós. Não fez qualquer distinção entre eles e nós, visto ter purificado os seus corações pela fé. Porque tentais agora a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem os nossos pais nem nós tivemos força para levar? Além disso, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos que seremos salvos, exactamente como eles.» Toda a assembleia ficou em silêncio e se pôs a ouvir Barnabé e Paulo a descrever os milagres e prodígios que Deus realizara entre os pagãos, por intermédio deles. Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: «Irmãos, escutai-me. Simão contou como Deus, desde o princípio, se dignou intervir para tirar de entre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome. E com isto concordaram as palavras dos profetas, conforme está escrito: Depois disto, hei-de voltar a reconstruir a tenda de David, que estava caída; reconstruirei as suas ruínas e erguê-la-ei de novo, a fim de que o resto dos homens procure o Senhor, bem como todos os povos que foram consagrados ao meu nome – diz o Senhor, que dá a conhecer estas coisas desde a eternidade. Por isso, sou de opinião que não se devem importunar os pagãos convertidos a Deus. Que se lhes diga apenas para se absterem de tudo quanto foi conspurcado pelos ídolos, da imoralidade, das carnes sufocadas e do sangue. Desde os tempos antigos, Moisés tem em cada cidade os seus pregadores e é lido todos os sábados nas sinagogas.» Então, os Apóstolos e os Anciãos, de acordo com toda a Igreja, resolveram escolher alguns de entre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Foram Judas, chamado Barsabas, e Silas, homens respeitados entre os irmãos. E mandaram a seguinte carta por intermédio deles: «Os Apóstolos e os Anciãos, vossos irmãos, aos irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações! Tendo conhecimento de que, sem autorização da nossa parte, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, resolvemos, de comum acordo, escolher delegados e enviá-los a vós com os nossos queridos Barnabé e Paulo, homens estes que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, pois, Judas e Silas, que vos transmitirão verbalmente as mesmas coisas. O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas e da imoralidade. Procedereis bem, abstendo-vos destas coisas. Adeus.» Eles, então, depois de se despedirem, desceram a Antioquia e, reunindo a assembleia, entregaram a carta. Depois de a lerem, todos ficaram satisfeitos com o encorajamento que lhes trazia. Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e fortaleceram os irmãos com um longo discurso. Ao fim de algum tempo, receberam dos irmãos a paz da despedida, regressando para junto dos que os tinham enviado. Silas, porém, resolveu ficar ali, e Judas partiu sozinho para Jerusalém. Paulo e Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e anunciando, com muitos outros, a Boa-Nova da palavra do Senhor. Passados alguns dias, Paulo disse a Barnabé: «Voltemos a visitar os irmãos por todas as cidades em que anunciámos a palavra do Senhor, para ver como estão.» Barnabé queria também levar João, chamado Marcos. Mas Paulo não era de parecer que se levasse por companheiro quem deles se tinha afastado na Panfília e não os tinha acompanhado no trabalho. Seguiu-se uma discussão tão violenta que se separaram um do outro e Barnabé tomou Marcos consigo, embarcando para Chipre. Por seu turno, Paulo escolheu Silas por companheiro e partiu, recomendado pelos irmãos à graça do Senhor. Atravessou a Síria e a Cilícia, fortalecendo as igrejas. Paulo chegou em seguida a Derbe e, depois, a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego, que era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icónio. Paulo resolveu levá-lo consigo e, tomando-o, circuncidou-o, por causa dos judeus existentes naquelas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego. Nas cidades por onde passavam, transmitiam e recomendavam aos irmãos que cumprissem as decisões tomadas pelos Apóstolos e pelos Anciãos de Jerusalém. Dessa forma, as igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. Paulo e Silas atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. Chegando à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. Atravessaram, então, a Mísia e desceram para Tróade. Ora, durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!» Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa-Nova. Embarcámos em Tróade e fomos directamente a Samotrácia; no dia seguinte, fomos a Neápoles e de lá, a Filipos, cidade de primeira categoria deste distrito da Macedónia, e colónia. Estivemos aí durante alguns dias. No dia de sábado, saímos fora de portas, em direcção à margem do rio, onde era costume haver oração. Depois de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam reunidas. Uma das mulheres chamada Lídia, negociante de púrpura, da cidade de Tiatira e temente a Deus, pôs-se a escutar. O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia. Depois de ter sido baptizada, bem como os de sua casa, fez este pedido: «Se me considerais fiel ao Senhor, vinde ficar a minha casa.» E obrigou-nos a isso. Um dia, quando íamos à oração, encontrámos uma serva que tinha um espírito pitónico e dava muito lucro aos seus senhores, exercendo a adivinhação. Começou a seguir Paulo e a nós, bradando: «Estes homens são servos do Deus Altíssimo e anunciam-vos o caminho da salvação.» Isto repetiu-se durante vários dias seguidos. Por fim, já agastado, Paulo voltou-se e disse ao espírito: «Ordeno-te, em nome de Jesus Cristo, que saias desta mulher.» E o espírito saiu imediatamente. Mas os senhores da escrava, vendo desaparecer a esperança do lucro, apoderaram-se de Paulo e de Silas e arrastaram-nos até à praça pública, à presença dos magistrados. Apresentando-os aos estrategos, disseram: «Estes homens espalham a desordem na nossa cidade; são judeus, e apregoam usos que não nos é permitido a nós, romanos, nem admitir nem praticar.» A multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo. Cerca da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos escutavam-nos. De repente, sentiu-se um violento tremor de terra que abalou os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam. Acordando em sobressalto, o carcereiro viu as portas da prisão abertas e puxou da espada para se matar, pensando que os presos se tinham evadido. Paulo, então, bradou com voz forte: «Não faças nenhum mal a ti mesmo, porque nós estamos todos aqui.» O carcereiro pediu luz, correu para dentro da masmorra e lançou-se a tremer, aos pés de Paulo e de Silas. Depois, trouxe-os para fora e perguntou: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» Eles responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.» E anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa. O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e imediatamente se baptizou, ele e todos os seus. Depois, levando-os para cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus. Assim que amanheceu, os estrategos mandaram os lictores dizer ao carcereiro: «Põe esses homens em liberdade.» O carcereiro transmitiu a Paulo aquelas palavras: «Os estrategos mandaram dizer que vos pusesse em liberdade. Saí, pois, e ide em paz.» Mas Paulo disse aos lictores: «Açoitaram-nos em público, sem julgamento, a nós que somos cidadãos romanos; meteram-nos na prisão, e agora mandam-nos sair às escondidas! Não está bem! Venham eles próprios levar-nos lá para fora.» Os lictores foram comunicar estas palavras aos estrategos. Ao ouvirem dizer que eram cidadãos romanos, ficaram muito assustados. Foram pedir-lhes desculpa, puseram-nos em liberdade e rogaram-lhes que se retirassem da cidade. Ao saírem do cárcere, Paulo e Silas foram a casa de Lídia e, vendo os irmãos, fizeram-lhes as suas recomendações e partiram. Passando por Anfípole e Apolónia, chegaram a Tessalónica, onde os judeus tinham uma sinagoga. Segundo o seu costume, Paulo foi lá procurá-los e, durante três sábados, discutiu com eles acerca das Escrituras, explicando-as e provando que o Messias tinha de sofrer e de ressuscitar dos mortos. «E o Messias – dizia ele – é este Jesus que vos anuncio.» Alguns deles ficaram convencidos e reuniram-se a Paulo e Silas, bem como grande número de crentes gregos e muitas mulheres de categoria social. Mas os judeus, cheios de inveja, aliciaram alguns indivíduos da escória do povo, provocaram ajuntamentos e espalharam a agitação pela cidade. Assaltaram a casa de Jasão, à procura de Paulo e Silas, para os levarem à assembleia do povo. Não os tendo encontrado, arrastaram Jasão e alguns dos irmãos à presença dos politarcas, gritando: «Aqui estão os homens que alvoroçaram o mundo inteiro, e Jasão recebeu-os em sua casa. Todos eles estão em oposição aos éditos de César, pois afirmam que há outro rei, Jesus.» Impressionaram de tal maneira o povo e os politarcas com os seus clamores, que estes só depois de exigirem uma caução de Jasão e dos outros, os libertaram. Os irmãos fizeram com que Paulo e Silas partissem imediatamente, de noite, para Bereia. Ao chegarem, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. Estes tinham sentimentos mais nobres do que os de Tessalónica, e acolheram a palavra com maior interesse. Examinavam diariamente as Escrituras para verificarem se tudo era, de facto, assim. Muitos deles abraçaram a fé, bem como, de entre os gregos, senhoras das mais distintas e não poucos homens. Mas, quando os judeus de Tessalónica souberam que Paulo também anunciava a palavra de Deus em Bereia, foram lá provocar a agitação e a discórdia entre o povo. Os irmãos convenceram Paulo a partir em direcção ao mar. Quanto a Silas e a Timóteo, ficaram lá. Os que acompanhavam Paulo levaram-no a Atenas e regressaram, incumbidos de transmitir a Silas e a Timóteo a ordem de irem reunir-se a Paulo o mais rapidamente possível. Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o espírito fremia-lhe de indignação, ao ver a cidade repleta de ídolos. Discutia na sinagoga com os judeus e prosélitos e, na praça pública, todos os dias, com os que lá apareciam. Até alguns filósofos epicuristas e estóicos trocavam impressões com ele. Uns diziam: «Que quererá dizer este papagaio?» Outros: «Parece que é um pregoeiro de deuses estrangeiros.» Isto, porque Paulo anunciava a Boa-Nova de Jesus e a ressurreição. Levaram-no com eles ao Areópago e disseram-lhe: «Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? O que nos dizes é muito estranho e gostaríamos de saber o que isso quer dizer.» Na verdade, tanto os atenienses como os estrangeiros residentes em Atenas não passavam o tempo noutra coisa, senão a dizer ou a escutar as últimas novidades. De pé, no meio do Areópago, Paulo disse, então: «Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: 'Ao Deus desconhecido.' Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tacteando, embora não se encontre longe de cada um de nós. É nele, realmente, que vivemos, nos movemos e existimos, como também o disseram alguns dos vossos poetas: ‘Pois nós somos também da sua estirpe.’ Se nós somos da raça de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem. Sem ter em conta estes tempos de ignorância, Deus faz saber, agora, a todos os homens e em toda a parte, que todos têm de se arrepender, pois fixou um dia em que julgará o universo com justiça, por intermédio de um Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.» Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez.» Foi assim que Paulo saiu do meio deles. Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé, entre os quais Dionísio, o areopagita, e também uma mulher de nome Dâmaris e outros com eles. Depois disso, Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto. Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália com Priscila, sua mulher, porque um édito de Cláudio ordenara que todos os judeus se afastassem de Roma. Paulo foi procurá-los e, como eram da mesma profissão – isto é, fabricantes de tendas – ficou em casa deles e começou a trabalhar. Todos os sábados dissertava na sinagoga e esforçava-se por convencer, tanto a judeus como a gregos. Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedónia, Paulo entregou-se à pregação, afirmando e provando aos judeus que Jesus era o Messias. Mas, perante a oposição e as blasfémias deles, sacudiu as suas vestes e disse-lhes: «Que o vosso sangue recaia sobre as vossas cabeças. Eu não sou responsável por isso. De futuro, dirigir-me-ei aos pagãos.» Retirou-se dali e foi para casa de um certo Tício Justo, homem temente a Deus, cuja casa era contígua à sinagoga. No entanto, Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor, ele e todos os da sua casa; e muitos dos coríntios que ouviam Paulo pregar abraçavam também a fé e recebiam o Baptismo. Certa noite, o Senhor disse a Paulo, numa visão: «Nada temas, continua a falar e não te cales, porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade.» Então, ele ficou lá durante um ano e seis meses, a ensinar-lhes a palavra de Deus. Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus, de comum acordo, contra Paulo e levaram-no ao tribunal. «Este homem – disseram eles – induz as pessoas a prestar culto a Deus de uma forma contrária à Lei.» Paulo ia abrir a boca, quando Galião disse aos judeus: «Se se tratasse de uma injustiça ou grave delito, escutaria as vossas queixas, ó judeus, como é meu dever. Mas como se trata de um conflito doutrinal sobre palavras e nomes e acerca de vossa própria Lei, o assunto é convosco. Recuso-me a ser juiz em semelhante questão.» E mandou-os sair do tribunal. Então todos se apoderaram de Sóstenes, o chefe da sinagoga, e puseram-se a bater-lhe diante do tribunal. E Galião não se importou nada com isso. Depois de se ter demorado ainda algum tempo em Corinto, Paulo despediu-se dos irmãos e embarcou para a Síria, com Priscila e Áquila, rapando a cabeça em Cêncreas, por causa de um voto que tinha feito. Chegaram a Éfeso, onde os deixou, e foi à sinagoga falar com os judeus. Estes pediram que prolongasse a sua estadia, mas não acedeu. Porém, despedindo-se, disse-lhes: «Voltarei novamente ter convosco, se Deus quiser.» E partiu de Éfeso. Desembarcou em Cesareia, subiu para saudar a igreja e desceu a Antioquia. Depois de aí ter passado algum tempo, voltou a partir e percorreu sucessivamente a Galácia e a Frígia, fortalecendo todos os discípulos. Entretanto, chegara a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e muito versado nas Escrituras. Fora instruído na «Via» do Senhor e, com o espírito cheio de fervor, pregava e ensinava com precisão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de João. Começou a falar desassombradamente na sinagoga. Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram-no consigo e expuseram-lhe, com mais precisão, a «Via» do Senhor. Como ele queria partir para a Acaia, os irmãos encorajaram-no e escreveram aos discípulos, para que o recebessem amigavelmente. Quando lá chegou, pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis; pois refutava energicamente os judeus, em público, demonstrando pelas Escrituras que Jesus era o Messias. Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, depois de atravessar as regiões do interior, chegou a Éfeso. Encontrou alguns discípulos e perguntou-lhes: «Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?» Responderam: «Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo.» E indagou: «Então, que baptismo recebestes?» Responderam eles: «O baptismo de João.» «João – disse Paulo – ministrou apenas um baptismo de penitência e dizia ao povo que acreditasse naquele que ia chegar depois dele, isto é, Jesus.» Quando isto ouviram, baptizaram-se em nome do Senhor Jesus. E, tendo-lhes Paulo imposto as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles e começaram a falar línguas e a profetizar. Eram, ao todo, uns doze homens. Paulo foi, em seguida, à sinagoga, onde, durante três meses, falou desassombradamente e argumentava de forma a persuadir os seus ouvintes sobre o que dizia respeito ao Reino de Deus. Como alguns se mostrassem renitentes e não acreditassem, dizendo mal da «Via» perante a multidão, rompeu com eles, afastou-se com os seus discípulos e começou a ensinar diariamente na escola de Tirano. Isto prolongou-se por dois anos, de modo que todos os habitantes da Ásia, tanto judeus como gregos, puderam ouvir a palavra do Senhor. Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, a tal ponto que bastava aplicar aos doentes os lenços e as roupas que tinham estado em contacto com o seu corpo, para que as doenças e os espíritos malignos os deixassem. Entretanto, alguns dos exorcistas judeus, ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que estavam possuídos de espíritos malignos, dizendo: «Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo anuncia.» E havia sete filhos de um certo Escevas, Sumo Sacerdote judeu, que se entregavam a estas práticas. Mas o espírito maligno replicou-lhes: «Eu conheço Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?» E atirando-se a eles o homem que estava possuído do espírito maligno, apoderou-se de uns e de outros e tratou-os tão violentamente, que tiveram de fugir daquela casa, nus e cobertos de contusões. Todos os habitantes de Éfeso, judeus e gregos, souberam da ocorrência, e todos se encheram de temor, sendo enaltecido o nome do Senhor Jesus. Muitos dos que tinham abraçado a fé vieram confessar e declarar as suas práticas. E muitos dos que se tinham dedicado à magia trouxeram os seus livros e queimaram-nos diante de todos. O valor dos livros foi calculado em cinquenta mil moedas de prata. Era assim que a palavra do Senhor se desenvolvia e fortalecia vigorosamente. Depois destes acontecimentos, Paulo resolveu ir a Jerusalém, passando pela Macedónia e Acaia. «Depois de eu lá ter estado – disse ele – tenho de ver Roma também.» Enviou, então, à Macedónia dois auxiliares seus, Timóteo e Erasto. Quanto a ele, ficou ainda mais algum tempo na Ásia. Por esse tempo, levantou-se não pequeno tumulto a respeito da «Via.» Um certo Demétrio, ourives que fazia santuários de Ártemis, de prata, e proporcionava aos artífices um negócio lucrativo, convocou-os, assim como a outros que trabalhavam em obras semelhantes e, disse: «Sabeis, amigos, que a esta indústria devemos a nossa prosperidade. Ora, como vedes e ouvis dizer, não só em Éfeso, mas também em toda a Ásia, esse Paulo convenceu e desviou imensa gente, afirmando que não são deuses os que são feitos pelas mãos do homem. Isto não só faz correr o risco de cair em descrédito a nossa indústria, mas também de se reputar como nada o templo da grande deusa Ártemis, e de vir a perder o prestígio aquela que a Ásia inteira e todo o mundo veneram.» Quando isto ouviram, enfureceram-se e começaram a dizer em altos brados: «Grande é a Ártemis dos efésios!» A desordem espalhou-se pela cidade inteira e todos, em massa, se precipitaram para o teatro, arrastando com eles os macedónios Gaio e Aristarco, companheiros de viagem de Paulo. Paulo queria apresentar-se diante da assembleia do povo, mas os discípulos opuseram-se a isso e até alguns dos asiarcas, seus amigos, lhe mandaram pedir que não se apresentasse no teatro. Cada qual gritava por seu lado, pois a assembleia estava em confusão, e a maior parte não sabia por que motivo se tinha reunido. Então, do meio da multidão, saiu Alexandre, previamente informado, que os judeus empurravam para a frente. Alexandre, com um sinal da mão, deu a entender que desejava dar explicações ao povo. Mas, quando se aperceberam de que ele era judeu, todos começaram a gritar, numa só voz, durante cerca de duas horas: «Grande é a Ártemis dos efésios!» Por fim, o secretário acalmou a multidão e disse: «Efésios! Quem é o homem que ignora ser a cidade de Éfeso a guarda do templo da grande Ártemis e da sua estátua caída do céu? Portanto, sendo isto incontestável, deveis permanecer tranquilos e nada fazer com precipitação. Estes homens que trouxestes aqui não são culpados nem de sacrilégio, nem de blasfémias, em relação à nossa deusa. Consequentemente, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma queixa contra alguém, há audiências públicas e há procônsules; venham debater-se em juízo. Mas, se tiverdes qualquer outra questão a debater, ela será resolvida na assembleia legal. É possível que sejamos acusados de insurreição a propósito do que hoje sucedeu, pois não existe motivo algum com que possamos vir a justificar este ajuntamento.» E, com estas palavras, dissolveu a assembleia. Logo que cessou o tumulto, Paulo reuniu os discípulos, fez-lhes as suas recomendações, despediu-se deles e partiu para a Macedónia. Percorreu toda aquela região, exortou demoradamente os fiéis e, depois, chegou à Grécia, onde esteve três meses. Uma conspiração, fomentada contra ele pelos judeus, quando ia embarcar para a Síria, levou-o a tomar a decisão de regressar pela Macedónia. Acompanharam-no Sópatro, filho de Pirro, de Bereia; Aristarco e Secundo, de Tessalónica; Gaio, de Derbe, e Timóteo, Tíquico e Trófimo, da província da Ásia. Estes partiram à frente e esperaram-nos em Tróade. Quanto a nós, embarcámos em Filipos, depois dos dias dos Ázimos e encontrámo-nos, cinco dias depois, em Tróade, onde passámos uma semana. No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que devia partir no dia seguinte, começou a falar com eles e prolongou a sua pregação até à meia-noite. Havia bastantes lâmpadas na sala de cima, onde estávamos reunidos. Ora um jovem, de nome Eutico, que estava sentado numa janela, adormeceu profundamente, enquanto Paulo se alongava no seu sermão. Dominado pelo sono, caiu do terceiro andar e levantaram-no já morto. Paulo desceu e, lançando-se sobre ele, apertou-o nos braços e disse: «Não façais barulho, pois a alma ainda está nele.» Depois, voltou para cima, partiu o pão, comeu e falou demoradamente até de madrugada. Só então se retirou. Quanto ao jovem, levaram-no vivo, o que foi motivo de grande consolação. Quanto a nós, partindo à frente por mar, largámos para Asso, onde deveríamos encontrar Paulo; assim tinha determinado, devendo ele ir por terra. Quando nos reunimos em Asso, levámo-lo para bordo e seguimos para Mitilene. Partimos de lá e, no dia seguinte, estávamos em frente de Quio. No outro dia, navegávamos para Samos e, no dia imediato, depois de uma escala em Trógilo, chegámos a Mileto. Paulo tinha decidido passar ao largo de Éfeso, a fim de não perder tempo na Ásia. Ia com pressa, pois diligenciava estar em Jerusalém, se possível, no dia de Pentecostes. De Mileto, Paulo mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso. Quando chegaram junto dele, disse-lhes: «Sabeis como, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia, procedi sempre convosco. Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio das provações, que as ciladas dos judeus me acarretaram. Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas, afirmando a judeus e gregos a necessidade de se converterem a Deus e de acreditarem em Nosso Senhor Jesus. E agora, obedecendo ao Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que lá me espera; só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa de que me aguardam cadeias e tribulações. Mas, a meus olhos, a vida não tem valor algum; basta-me poder concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho do Evangelho da graça de Deus. Agora sei que não vereis mais o meu rosto, todos vós, no meio de quem passei, proclamando o Reino. Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que estou limpo do sangue de todos, pois jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus. Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue. Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si. Estai, pois, vigilantes e recordai-vos de que, durante três anos, de noite e de dia, não cessei de exortar, com lágrimas, cada um de vós. E agora, confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados. Jamais cobicei prata, nem ouro, nem o vestuário de alguém. E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros. Em tudo vos demonstrei que deveis trabalhar assim, para socorrerdes os fracos, recordando-vos das palavras que o próprio Senhor Jesus disse: ‘A felicidade está mais em dar do que em receber.’» Depois destas palavras, ajoelhou-se com todos eles e orou. Todos romperam em pranto e, lançando-se ao pescoço de Paulo, começaram a abraçá-lo, consternados, sobretudo, com as palavras que lhes dissera: que não veriam mais o seu rosto. Em seguida, acompanharam-no ao barco. Depois de nos separarmos deles, embarcámos e, navegando directamente, chegámos a Cós; no dia seguinte, a Rodes, e de lá, a Pátara. Encontrámos um barco que ia partir para a Fenícia e fizemo-nos ao mar. Chegando à vista de Chipre, que deixámos à esquerda, seguimos em direcção da Síria e aportámos a Tiro, pois era ali que o barco ia descarregar. Tendo encontrado os discípulos, passámos sete dias com eles. Inspirados pelo Espírito, diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém. Mas, no fim da nossa estadia, partimos. Acompanharam-nos todos, com as mulheres e os filhos, até fora da cidade. Ajoelhámo-nos na praia para orar, despedimo-nos e subimos para o barco, enquanto eles regressavam às suas casas. E nós, terminada a travessia, fomos de Tiro para Ptolemaida. Depois de termos saudado os irmãos e de termos ficado um dia com eles, partimos no dia seguinte para Cesareia. Fomos a casa do evangelista Filipe, um dos sete, e ficámos em sua companhia. Ele tinha quatro filhas virgens, que eram profetisas. Como lá passámos bastantes dias, desceu da Judeia um profeta de nome Agabo, o qual foi ter connosco, pegou no cinto de Paulo e, ligando-se de pés e mãos, disse: «Isto diz o Espírito Santo: ‘O homem, a quem pertence este cinto, será ligado assim, em Jerusalém pelos judeus, e eles entregá-lo-ão às mãos dos pagãos.’» Quando ouvimos isto, nós e os naturais da terra suplicámos a Paulo que não subisse a Jerusalém. Paulo, então, respondeu: «Porque estais a chorar e a despedaçar-me o coração? Quanto a mim, estou pronto, não só a ser amarrado, mas também a morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus.» Como não havia meio de o dissuadir, cessámos os nossos pedidos, dizendo: «Seja feita a vontade do Senhor!» Decorridos esses dias, fizemos os nossos preparativos e subimos a Jerusalém. Acompanharam-nos alguns discípulos de Cesareia, que nos levaram a casa de Menasão, discípulo da primeira hora, que era natural de Chipre. Quando chegámos a Jerusalém, os irmãos receberam-nos com alegria. No dia seguinte, Paulo foi connosco a casa de Tiago, e todos os anciãos aí se reuniram. Depois de os saudar, começou a expor, minuciosamente, tudo quanto Deus tinha feito entre os pagãos, pelo seu ministério. Quando acabaram de o ouvir, deram glória a Deus e disseram-lhe: «Vês, irmão, quantos milhares de judeus abraçaram a fé, sem deixarem de ser ardentes defensores da Lei? Ora, a teu respeito, disseram que ensinas a todos os judeus espalhados entre os pagãos a apostasia em relação a Moisés, aconselhando-os a não circuncidarem os filhos e a não seguirem a Lei. Que fazer então? Decerto, hão-de ouvir dizer que tu chegaste. Faz, pois, o que te vamos sugerir: temos aqui quatro homens que têm um voto a cumprir. Leva-os contigo, submete-te, com eles, aos ritos da purificação e paga-lhes as despesas para raparem a cabeça. Toda a gente ficará, assim, a saber que nada há de verdadeiro nos rumores postos a circular a teu respeito, mas que, pelo contrário, te mantens fiel cumpridor da Lei. Quanto aos pagãos que abraçaram a fé, já lhes demos a conhecer por escrito a nossa decisão: que se abstenham de carnes imoladas a ídolos, do sangue das carnes sufocadas e da imoralidade.» No dia seguinte, Paulo levou consigo esses homens, purificou-se com eles e entrou no templo, onde anunciou a data em que terminavam os dias da purificação, ao fim dos quais devia ser oferecido o sacrifício por cada um deles. Quando os sete dias estavam já a terminar, os judeus da Ásia viram-no no templo e, amotinando o povo, gritaram: «Homens de Israel, acudi! Este é o homem que a todos prega, e em toda a parte, contra o nosso povo, contra a Lei e contra este lugar! Além disso, até gregos introduziu no templo e profanou este lugar santo.» De facto, tinham visto antes, na cidade, o efésio Trófimo com ele, e pensaram que Paulo o introduziu no templo. A cidade inteira ficou alvoroçada e o povo corria de todos os lados. Apoderaram-se de Paulo e arrastaram-no para fora do templo, cujas portas imediatamente fecharam. Preparavam-se para o matar, quando chegou ao tribuno da coorte a denúncia de que Jerusalém se encontrava toda em alvoroço. Reunindo, sem perda de tempo, soldados e centuriões, precipitou-se com eles sobre os manifestantes que, ao verem o tribuno e os soldados, cessaram de bater em Paulo. Então, o tribuno aproximando-se, mandou-o prender e ordenou que o algemassem com duas cadeias. Depois perguntou-lhe quem era e o que tinha feito. Mas cada qual, no meio da multidão, gritava o que lhe apetecia. Não podendo, devido ao tumulto, obter nenhuma informação precisa, mandou conduzir Paulo para a fortaleza. Quando chegou aos degraus, os soldados tiveram de o levar, por causa da violência da multidão, pois o povo seguia em massa, a gritar: «À morte!» Já quase dentro da fortaleza, Paulo disse ao tribuno: «Ser-me-á permitido dizer-te uma palavra?» Disse ele: «Tu sabes grego? Não és, então, o egípcio que, há tempos, provocou uma rebelião e arrastou para o deserto os quatro mil sicários?» Paulo respondeu: «Eu sou judeu, de Tarso, cidadão de uma notável cidade de Cilícia. Peço-te que me autorizes a falar ao povo.» Concedida a autorização, Paulo, de pé nos degraus, acenou com a mão ao povo. Fez-se profundo silêncio, e ele dirigiu-lhes a palavra em língua hebraica, dizendo: «Irmãos e pais, ouvi agora o que tenho a dizer-vos em minha defesa.» Como o ouvissem dirigir-lhes a palavra em língua hebraica, maior silêncio fizeram. Ele prosseguiu: «Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui educado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei dos nossos pais e cheio de zelo pelas coisas de Deus, como todos vós sois agora. Persegui de morte esta «Via», algemando e entregando à prisão homens e mulheres, como o podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todos os anciãos. Recebi até, da parte deles, cartas para os irmãos de Damasco, onde ia para prender os que lá se encontrassem e trazê-los agrilhoados a Jerusalém, a fim de serem castigados. Ia a caminho, e já próximo de Damasco, quando, por volta do meio dia, uma intensa luz, vinda do Céu, me rodeou com a sua claridade. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues?’ Respondi: ‘Quem és Tu, Senhor?’ Ele disse-me, então: ‘Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.’ Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me falava. E prossegui: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’ O Senhor respondeu-me: ‘Ergue-te, vai a Damasco, e lá te dirão o que se determinou que fizesses.’ Mas, como eu não via, devido ao brilho daquela luz, fui levado pela mão dos meus companheiros e cheguei a Damasco. Ora um certo Ananias, homem piedoso e cumpridor da Lei, muito respeitado por todos os judeus da cidade, foi procurar-me e disse: ‘Saulo, meu irmão, recupera a vista.’ E, no mesmo instante, comecei a vê-lo. Ele prosseguiu: ‘O Deus dos nossos pais predestinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e para ouvires as palavras da sua boca, porque serás testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e ouviste. E agora, porque esperas? Levanta-te, recebe o baptismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome.’ De regresso a Jerusalém, enquanto orava no templo, caí em êxtase. Vi o Senhor e Ele disse-me: ‘Apressa-te e sai rapidamente de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito.’ Eu respondi: ‘Senhor, eles bem sabem que eu andava pelas sinagogas a meter na prisão e a açoitar os que acreditavam em ti. E, quando foi derramado o sangue de Estêvão, tua testemunha, também eu estava presente, de acordo com eles, e tinha à minha guarda as capas dos que lhe davam a morte.’ Ele, então, disse-me: ‘Vai, que te vou enviar lá ao longe, aos pagãos.’» Foram-no ouvindo até esta frase, mas, depois, ergueram a voz, dizendo: «Elimina da terra semelhante homem! Ele não pode continuar a viver!» Como não deixassem de gritar, de arremessar as capas e de atirar terra para o ar, o tribuno ordenou que ele fosse conduzido para a fortaleza e o obrigassem a falar, à força de vergastadas, a fim de saber por que motivo assim gritavam contra ele. Mas, quando iam amarrá-lo para ser açoitado, Paulo disse ao centurião de serviço: «Tendes autoridade para açoitar um cidadão romano, que nem sequer foi julgado?» Ouvindo isto, o centurião correu a avisar o tribuno: «Que vais fazer? – disse. Esse homem é cidadão romano!» O tribuno foi ter com Paulo e perguntou-lhe: «Diz-me, tu és cidadão romano?» Ele respondeu: «Sou.» O tribuno continuou: «Eu adquiri por muito dinheiro esse direito de cidadania.» Paulo retorquiu: «Pois eu já nasci com esse direito.» Os que o iam interrogar retiraram-se imediatamente e o tribuno ficou cheio de medo, ao saber que tinha mandado algemar um cidadão romano. No dia seguinte, querendo averiguar com imparcialidade do que era acusado pelos judeus, fê-lo desalgemar, convocou os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio e mandou buscar Paulo, fazendo-o comparecer diante deles. Paulo fitou os membros do Sinédrio e disse: «Irmãos, tenho procedido para com Deus, até hoje, com absoluta rectidão de consciência.» Mas o Sumo Sacerdote Ananias ordenou aos seus assistentes que lhe batessem na boca. Então, Paulo disse-lhe: «Deus te baterá, a ti, parede branqueada! Tu sentas-te para me julgares de acordo com a lei, e mandas bater-me, violando a lei?» Os assistentes disseram-lhe: «Tu insultas o Sumo Sacerdote de Deus?» Paulo respondeu: «Não sabia, irmãos, que era o Sumo Sacerdote. Realmente está escrito: ‘Não dirás mal do chefe do teu povo.’» Sabendo que havia dois partidos no Sinédrio, o dos saduceus e o dos fariseus, Paulo bradou diante deles: «Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus, e é pela nossa esperança, a ressurreição dos mortos, que estou a ser julgado.» Estas palavras desencadearam um conflito entre fariseus e saduceus e a assembleia dividiu-se, porque os saduceus negam a ressurreição, assim como a existência dos anjos e dos espíritos, enquanto os fariseus ensinam publicamente o contrário. Estabeleceu-se enorme gritaria, e alguns escribas do partido dos fariseus ergueram-se e começaram a protestar com energia, dizendo: «Não encontramos nada de mau neste homem. E se um espírito lhe tivesse falado ou mesmo um anjo?» A discussão redobrou de violência, a tal ponto que o tribuno, receando que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a tropa para o arrancar das mãos deles e reconduzi-lo à fortaleza. Na noite seguinte, o Senhor apresentou-se diante dele e disse-lhe: «Coragem! Assim como deste testemunho de mim em Jerusalém, assim é necessário que o dês também em Roma.» Logo que amanheceu, os judeus reuniram-se e juraram, sob pena de anátema, não comer nem beber enquanto não matassem Paulo. Eram mais de quarenta os que tinham feito essa conjura. Foram ter com os sumos sacerdotes e com os Anciãos e disseram-lhes: «Jurámos, sob pena de anátema, não comer nada enquanto não matarmos Paulo. Agora, de acordo com o Sinédrio, ide solicitar ao tribuno que o mande comparecer diante de vós, sob pretexto de examinardes o seu caso mais profundamente. E nós estamos prontos a suprimi-lo durante o trajecto.» Mas o filho da irmã de Paulo teve conhecimento da cilada. Correu à fortaleza, entrou e preveniu Paulo. Paulo chamou um dos centuriões e disse-lhe: «Leva este rapaz ao tribuno, porque tem uma coisa a comunicar-lhe.» O centurião tomou-o, pois, consigo, levou-o ao tribuno e disse: «O preso Paulo chamou-me e pediu-me que te trouxesse este rapaz, pois tem uma coisa a dizer-te.» O tribuno tomou o rapaz pela mão e, retirando-se à parte, perguntou-lhe: «Que tens a comunicar-me?» Ele respondeu: «Os judeus combinaram pedir-te que mandes comparecer Paulo, amanhã, diante do Sinédrio, sob pretexto de uma averiguação mais completa do seu caso. Não acredites em nada disso, pois mais de quarenta deles preparam-lhe uma cilada e juraram, sob pena de anátema, não comer nem beber, enquanto o não matarem. Agora, estão preparados e aguardam apenas a tua autorização.» Então, o tribuno despediu o rapaz, recomendando-lhe: «Não digas a ninguém que me revelaste estas coisas.» Depois, mandou chamar dois centuriões e disse-lhes: «Tende preparados, desde as nove horas da noite, duzentos soldados, setenta cavaleiros e duzentos lanceiros, para irem a Cesareia. Preparai, igualmente, montadas para Paulo, a fim de ser conduzido são e salvo ao governador Félix.» E escreveu uma carta nestes termos: «Cláudio Lísias, ao Excelentíssimo Governador Félix, saudações! Este homem foi preso pelos judeus, e pretendiam matá-lo, quando apareci com a tropa e o libertei, por saber que era cidadão romano. Querendo inteirar-me do que o acusavam, mandei-o comparecer diante do Sinédrio. Verifiquei que o incriminavam a propósito de questões relativas à lei deles, mas não havia qualquer delito que merecesse a morte ou os grilhões. Tendo sido avisado de que planeavam uma conspiração, cujo fim seria assassiná-lo, enviei-to imediatamente e notifiquei aos seus acusadores que deviam ir declarar, na tua presença, as queixas contra ele. Adeus.» De acordo com as ordens recebidas, os soldados tomaram Paulo consigo, conduziram-no, de noite, a Antipátrides. No dia seguinte, deixaram os cavaleiros seguir com ele e regressaram à fortaleza. Ao chegarem a Cesareia, os cavaleiros entregaram a carta ao governador e apresentaram-lhe também Paulo. O governador leu a carta e informou-se de que província era ele. Ouvindo que era da Cilícia, declarou: «Ouvir-te-ei, quando chegarem os teus acusadores.» E ordenou que o guardassem no pretório de Herodes. Cinco dias depois, o Sumo Sacerdote Ananias desceu com alguns anciãos e um advogado, um certo Tértulo, e apresentaram ao governador queixa contra Paulo. Este foi chamado e Tértulo iniciou a acusação nestes termos: «A grande paz de que beneficiamos pela tua acção e as reformas que este povo deve à tua providência são recebidas por nós, excelentíssimo Félix, em tudo e por toda a parte com profunda gratidão. Mas, para não te importunar, além do necessário, rogo-te que nos escutes por uns instantes, com a benevolência que te é peculiar. Nós verificámos que este homem é uma peste: fomenta discórdias entre todos os judeus do mundo inteiro e é cabecilha da seita dos Nazarenos. Até tentou profanar o templo, e então, prendêmo-lo. Mas o tribuno Lísias interveio com muita violência e arrancou-o das nossas mãos, ordenando aos seus acusadores que se apresentassem diante de ti. Interrogando-o pessoalmente, poderás verificar a autenticidade das nossas acusações contra ele.» E os judeus apoiaram o advogado, afirmando que tudo era assim. Como o governador lhe acenasse para falar, Paulo respondeu: «Eu sei que, desde há muitos anos, este povo se encontra sob a tua jurisdição; por isso, confiadamente tomo a palavra para defender a minha causa. Podes verificar que não há mais de doze dias que subi a Jerusalém, para fazer a minha adoração. Nunca me viram a discutir no templo com qualquer pessoa, nem a incitar o povo à revolta, quer nas sinagogas, quer pela cidade. São incapazes de provar as acusações que agora fazem contra mim. No entanto, confesso-te: sirvo o Deus dos nossos pais como ensina a «Via», a que eles chamam seita. Acredito em tudo quanto há na Lei e em tudo o que está escrito nos Profetas, e tenho a esperança em Deus, que eles também aceitam, de que há-de haver a ressurreição dos justos e dos pecadores. Por isso, eu me esforço por manter sempre uma consciência irrepreensível, diante de Deus e dos homens. Ora, decorridos vários anos, vim trazer esmolas ao meu povo e fazer oblações. Foi nessa altura que me encontraram no templo, já purificado, sem ajuntamento nem tumulto. Certos judeus da Ásia é que deviam estar aqui para me acusarem, se tivessem alguma coisa contra mim. Que estes, aqui presentes, digam ao menos de que delito me reconheceram culpado, quando me apresentei diante do Sinédrio. A não ser que se trate desta frase que proferi em voz alta, quando estava no meio deles: ‘É por causa da ressurreição dos mortos que estou hoje a ser julgado na vossa presença.’» Félix, acertadamente informado sobre tudo quanto se relacionava com a «Via», adiou a audiência, dizendo: «Quando o tribuno Lísias vier cá abaixo, examinarei o vosso caso.» E ordenou ao centurião que retivesse Paulo preso, mas que lhe concedesse alguma liberdade e não impedisse nenhum dos seus de lhe prestar assistência. Uns dias depois, Félix apareceu acompanhado de Drusila, sua mulher, que era judia. Mandou chamar Paulo e ouviu-o falar acerca da fé em Cristo Jesus. E como estava a discorrer sobre a justiça, a continência e o julgamento futuro, Félix, dominado pela inquietação, respondeu: «Por agora, podes ir. Chamar-te-ei na primeira oportunidade.» Ao mesmo tempo, também esperava que Paulo lhe desse dinheiro. Por isso, mandava-o chamar frequentemente, para conversar com ele. Entretanto, decorreram dois anos e Félix teve como sucessor Pórcio Festo. Desejando cair nas boas graças dos judeus, Félix deixou Paulo na prisão. Festo, três dias depois de ter tomado conta do governo da província, subiu de Cesareia a Jerusalém. Os sumos sacerdotes e os judeus mais categorizados expuseram-lhe as suas queixas contra Paulo e pediram-lhe insistentemente, como um favor, a transferência de Paulo para Jerusalém, enquanto preparavam uma emboscada para o matarem no caminho. Festo, porém, respondeu que Paulo devia continuar preso em Cesareia, e que ele próprio ia partir brevemente. «Portanto – acrescentou – os mais qualificados de entre vós, venham comigo a Cesareia e, se algum delito existe nesse homem, que apresentem acusações contra ele.» Depois de se demorar entre eles, não mais de oito a dez dias, desceu a Cesareia. No dia seguinte, sentou-se no tribunal e mandou trazer Paulo. Quando este chegou, viu-se rodeado pelos judeus descidos de Jerusalém, que logo apresentaram contra ele muitas acusações graves, cuja autenticidade não eram capazes de provar. Por seu lado, Paulo defendia-se: «Não cometi delito algum nem contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César.» Mas, como desejava captar as boas graças dos judeus, Festo respondeu: «Queres subir a Jerusalém para lá seres julgado sobre este assunto, na minha presença?» Paulo replicou: «Estou perante o tribunal de César. Devo ser julgado aqui. Não fiz mal nenhum aos judeus, como sabes perfeitamente. Mas se, de facto, sou culpado, se cometi algum crime que mereça a morte, não recuso morrer. Se, porém, não há fundamento nas acusações dessa gente contra mim, ninguém tem o direito de me entregar a eles. Apelo para César!» Então, depois de conferenciar com o seu conselho, Festo respondeu: «Apelaste para César, irás a César.» Alguns dias mais tarde, o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesareia e foram apresentar cumprimentos a Festo. Como se demorassem vários dias, Festo expôs ao rei o caso de Paulo, dizendo: «Está aqui um homem que Félix deixou preso, e contra o qual, estando eu em Jerusalém, os sumos sacerdotes e os anciãos dos judeus apresentaram queixa, pedindo a sua condenação. Respondi-lhes que não era costume dos romanos conceder a entrega de homem algum, antes de o acusado ter os acusadores na sua frente e dispor da possibilidade de se defender da acusação. Vieram, pois, comigo e, sem mais demoras, sentei-me, no dia seguinte, no tribunal e mandei comparecer o homem. Postos em frente dele, os acusadores não alegaram nenhum dos crimes que eu pudesse suspeitar; só tinham com ele discussões acerca da sua religião e de um certo Jesus, que morreu e Paulo afirma estar vivo. Quanto a mim, embaraçado perante um debate deste género, perguntei-lhe se queria ir a Jerusalém, a fim de lá ser julgado sobre o assunto. Mas Paulo apelou para que a sua causa fosse reservada à decisão de Augusto e eu ordenei que o mantivessem preso até o enviar a César.» Agripa, então, disse a Festo: «Eu também gostaria de ouvir este homem.» Respondeu ele: «Ouvi-lo-ás, amanhã». No dia seguinte, Agripa e Berenice chegaram com grande pompa e entraram na sala da audiência, rodeados pelos tribunos e homens mais notáveis da cidade. A uma ordem de Festo, Paulo foi levado para dentro. Festo disse então: «Rei Agripa e vós todos os que estais presentes: aqui está este homem, contra o qual os judeus, em massa, me vieram falar, tanto em Jerusalém como aqui, gritando que ele não devia continuar a viver. Quanto a mim, reconheci que não tinha praticado coisa alguma digna de morte. Contudo, visto ter apelado para o Imperador, resolvi enviar-lho. Nada tenho de positivo a escrever ao Imperador a seu respeito. Por isso, mandei-o trazer à vossa presença, sobretudo à tua presença, rei Agripa, a fim de que, feito o interrogatório, eu tenha alguma coisa que escrever. De facto, parece-me absurdo mandar um prisioneiro sem mencionar as acusações que pesam sobre ele.» Agripa disse a Paulo: «Estás autorizado a falar em tua defesa.» Então, estendendo a mão, Paulo começou a sua defesa: «Sinto-me feliz, ó rei Agripa, por ter de me defender hoje diante de ti, das acusações apresentadas pelos judeus contra mim, tanto mais que estás ao corrente de todos os costumes e controvérsias dos judeus. Rogo-te, por isso, que me oiças com paciência. A minha vida, a partir da mocidade, tal como decorreu desde os primeiros tempos, no meu povo e em Jerusalém, conhecem-na todos os judeus. Eles conhecem-me de longa data e, se quiserem, podem atestar que eu vivi, como fariseu, segundo o partido mais severo da nossa religião. E, agora, encontro-me aqui a ser julgado por causa da minha esperança na promessa feita por Deus a nossos pais, promessa que as nossas doze tribos esperam ver realizada, servindo a Deus, noite e dia, continuamente. É a respeito dessa esperança, ó rei, que os judeus me acusam. Porque é que, entre vós, se afigura incrível que Deus ressuscite os mortos? Quanto a mim, julguei dever levantar grande oposição ao nome de Jesus de Nazaré. E foi precisamente o que fiz em Jerusalém: com o pleno assentimento dos sumos sacerdotes, meti na prisão grande número de santos e, quando eram mortos, eu dava o meu assentimento. Muitas vezes ia de sinagoga em sinagoga e obrigava-os a blasfemar, à força de torturas. Num excesso de fúria contra eles, perseguia-os até nas cidades estrangeiras. Foi assim que, indo para Damasco com poder e delegação dos sumos sacerdotes, vi no caminho, ó rei, uma luz vinda do céu, mais brilhante do que o Sol, que refulgia em volta de mim e dos que me acompanhavam. Caímos todos por terra e eu ouvi uma voz dizer-me em língua hebraica: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’ Perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou Jesus a quem tu persegues. Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de mostrar. Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te, para lhes abrires os olhos e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de Satanás para Deus. Alcançarão, assim, o perdão dos seus pecados e a parte que lhes cabe na herança, juntamente com os santificados pela fé em mim.’ Desde então, ó rei Agripa, não resisti à visão celeste. Pelo contrário, aos habitantes de Damasco, em primeiro lugar, depois aos de Jerusalém e de toda a província da Judeia, em seguida, aos pagãos, preguei que se arrependessem e voltassem para Deus, fazendo obras dignas de tal arrependimento. Eis o motivo por que os judeus se apoderaram de mim no templo e tentaram matar-me. Amparado pela protecção de Deus, continuei a dar o meu testemunho, diante de pequenos e grandes, sem nada dizer além do que os Profetas e Moisés predisseram que havia de acontecer: que o Messias tinha de sofrer e que, sendo o primeiro a ressuscitar de entre os mortos, anunciaria a luz ao povo e aos pagãos.» Neste ponto da sua defesa, Festo exclamou em voz alta: «Estás doido, Paulo! A tua grande sabedoria faz-te perder o juízo.» Disse Paulo: «Eu não estou doido, excelentíssimo Festo! Pelo contrário, estou a falar a linguagem da verdade e do bom senso. O rei está inteirado destas coisas e, por isso, lhe falo francamente, pois não creio que ele ignore nada disto, tanto mais que não foi a um canto que tudo se passou! Acreditas nos Profetas, rei Agripa? Eu sei que acreditas.» Agripa respondeu a Paulo: «Por pouco não me persuades a fazer-me cristão!» Disse Paulo: «Prouvera a Deus que, por pouco ou por muito, não só tu, mas todos quantos hoje estão a ouvir-me se fizessem tais como eu sou, à excepção destas cadeias!» O rei levantou-se, assim como o governador, Berenice e os que estavam sentados com eles. Ao retirarem-se, diziam entre eles: «Este homem nada fez que mereça a morte ou os grilhões.» Agripa disse a Festo: «Este homem poderia ser posto em liberdade, se não tivesse apelado para César.» Quando o nosso embarque para Itália foi decidido, entregaram Paulo e mais alguns presos a um centurião da coorte Augusta, chamado Júlio. Embarcámos num navio de Adramítio que ia para as costas da Ásia, e fizemo-nos ao mar. Aristarco, macedónio de Tessalónica, ia connosco. No dia seguinte, fizemos escala em Sídon, e Júlio, que tratava Paulo com humanidade, permitiu-lhe que fosse ter com os amigos e deles recebesse os seus cuidados. Levantámos ferro e passámos a sotavento de Chipre, porque os ventos eram contrários. Atravessámos, depois, os mares da Cilícia e da Panfília e chegámos, ao fim de quinze dias, a Mira, na Lícia. O centurião encontrou lá um barco de Alexandria que ia de viagem para a Itália, e mandou-nos subir para bordo. Durante vários dias navegámos lentamente, até que chegámos, a custo, às imediações de Cnido, onde o vento não nos permitiu arribar. Contornámos, então, a sotavento de Creta, por alturas de Salmona; e, depois de a termos penosamente costeado, chegámos a um lugar denominado Bons Portos, a curta distância da cidade de Laseia. O tempo ia passando e a navegação tornou-se perigosa, por já ter mesmo passado o jejum. Paulo fez-lhes a seguinte advertência: «Meus amigos, eu vejo que a travessia não pode ser levada a cabo sem risco e graves prejuízos, tanto para a carga e para o barco, como também para as nossas vidas.» Mas o centurião deu mais crédito ao que o piloto e o capitão diziam do que à observação de Paulo. Como o porto não era adequado para passar o Inverno, a maior parte foi de parecer que largassem dali, para ver se podiam alcançar Fenice e lá passar o Inverno, por ser um porto de Creta voltado para sudoeste e noroeste. Começou então a soprar um ligeiro vento sul e julgaram-se capazes de levar avante o seu projecto, pelo que levantaram ferro e começaram a seguir de perto a costa de Creta. Em breve, porém, vindo da ilha, desencadeou-se, um vento ciclónico, chamado Euro-aquilão. Sem poder resistir ao vento, o barco foi arrastado e deixámo-nos ir à deriva. Passando velozmente ao abrigo de uma ilhota chamada Cauda, conseguimos, com grande dificuldade, lançar a mão à canoa. Depois de içada, empregaram-se os recursos de emergência: amarraram o barco com cabos e, com receio de encalharem no golfo de Sirte, soltaram a âncora flutuante e, assim, se deixaram ir. No dia seguinte, como éramos violentamente açoitados pela tempestade, começaram a alijar a carga e, ao terceiro dia, lançaram, com as próprias mãos, os aparelhos do barco. Durante vários dias, nem o Sol nem as estrelas foram visíveis, e a tempestade continuava a açoitar-nos furiosamente. Desde então, foi-se desvanecendo toda a esperança de salvação. Havia já muito tempo que ninguém comia. Então Paulo colocou-se no meio deles e disse: «Meus amigos, devíeis ter-me escutado e não largar de Creta. Isso ter-nos-ia poupado estes riscos e estes prejuízos. Seja como for, convido-vos a ter coragem, pois ninguém perderá a vida aqui, apenas o barco se vai perder. Esta noite, apareceu-me um Anjo de Deus, a quem pertenço e a quem sirvo, e disse-me: ‘Nada receies, Paulo. É necessário que compareças diante de César e, por isso, Deus concedeu-te a vida de todos quantos navegam contigo.’ Portanto, coragem, meus amigos, pois tenho confiança em Deus que tudo sucederá como me foi dito. Contudo, temos de encalhar numa ilha.» Quando chegou a décima quarta noite, andando nós à deriva no Adriático, os marinheiros suspeitaram, pelo meio da noite, que estava próxima uma terra. Lançaram a sonda e encontraram vinte braças; um pouco mais adiante, lançaram-na outra vez e encontraram quinze. Receando que fôssemos bater em qualquer ponto contra os recifes, lançaram da popa quatro âncoras e ficaram, impacientemente, à espera, do dia. Os marinheiros, todavia, procuravam fugir do barco e, sob pretexto de irem largar as âncoras da proa, deitaram o escaler ao mar. Paulo, apercebendo-se de tudo, disse ao centurião e aos soldados: «Se esses homens não ficarem no barco, não podereis salvar-vos.» Então, os soldados cortaram as amarras do escaler e deixaram-no cair. Enquanto esperavam pelo dia, Paulo foi aconselhando a todos que tomassem alimento. «Hoje –dizia ele – é o décimo quarto dia que vos conservais na expectativa, em jejum, sem tomar nada. Aconselho-vos, portanto, a tomar algum alimento, pois é a vossa própria salvação que está em jogo. Nenhum de vós perderá um só cabelo da cabeça.» Dito isto, tomou um pão, deu graças a Deus diante de todos, partiu-o e começou a comer. Então, cobraram ânimo e também eles se alimentaram. Éramos ao todo duzentas e setenta e seis pessoas no barco. Uma vez saciados, aliviaram o barco, lançando o trigo ao mar. Quando o dia surgiu, não reconheceram a terra. Divisavam, porém, uma enseada com a sua praia e pretenderam impelir para lá o barco. Soltaram as âncoras, abandonando-as ao mar e, ao mesmo tempo, afrouxaram as cordas dos lemes. Depois içaram ao vento a vela da frente e seguiram rumo à praia. Mas, tendo batido num baixio, que tinha mar de ambos os lados, fizeram encalhar o navio. A proa, bem fincada, manteve-se firme, mas a popa foi-se desconjuntando com a força das vagas. Os soldados resolveram, então, matar os prisioneiros, para que nenhum deles fugisse a nado. Mas o centurião, querendo salvar Paulo, impediu-os de executar os seus planos e ordenou primeiro aos que sabiam nadar que alcançassem a terra, atirando-se à água. Quanto aos outros, foram para terra, quer sobre pranchas, quer sobre os destroços do barco. E, assim, chegaram todos a terra, sãos e salvos. Depois de salvos, é que soubemos que a ilha se chamava Malta. Os nativos trataram-nos com invulgar humanidade, pois acenderam uma grande fogueira, junto à qual nos recolheram a todos, por causa da chuva que estava a cair e por causa do frio. Paulo juntou um braçado de lenha seca e, ao lançá-la à fogueira, o calor fez saltar uma víbora que se lhe enroscou na mão. Quando os nativos viram a serpente pendurada na mão dele, disseram uns aos outros: «Com certeza, esse homem é assassino, pois conseguiu salvar-se do mar, mas a justiça divina não o deixa viver.» Mas ele, sacudindo o réptil para o fogo, não sofreu dano algum, enquanto eles esperavam que viesse a inchar ou a cair repentinamente morto. Depois de terem aguardado muito tempo e verem que nada de anormal lhe acontecia, mudaram de opinião e começaram a dizer que ele era um deus. Nas proximidades daquele sítio, havia umas terras pertencentes ao Primeiro da ilha, que se chamava Públio, o qual nos recebeu e, durante três dias, nos hospedou da forma mais cordial. Ora, o pai de Públio estava retido no leito com febre e disenteria. Paulo foi vê-lo e, depois de orar, impôs-lhe as mãos e curou-o. Em consequência disso, os outros enfermos da ilha vieram também procurá-lo e foram curados. Eles, por sua vez, cumularam-nos de honras e, na altura da partida, proveram-nos do que era necessário. Volvidos três meses, tomámos um barco de Alexandria com o emblema dos Dióscoros, que tinha passado o Inverno na ilha. Aportámos a Siracusa, onde ficámos três dias e, de lá, contornando a costa, chegámos a Régio. No dia imediato, levantou-se o vento sul e, em dois dias, alcançámos Putéolos, onde encontrámos irmãos, que nos convidaram a passar sete dias com eles. E assim é que fomos para Roma. Os irmãos desta cidade, prevenidos da nossa chegada, vieram ao nosso encontro até Foro de Ápio e Três Tabernas. Paulo, ao vê-los, deu graças a Deus e cobrou ânimo. Quando entrámos em Roma, Paulo foi autorizado a ficar em alojamento próprio com o soldado que o guardava. Três dias depois, convocou os principais dos judeus e, quando estavam todos reunidos, disse-lhes: «Irmãos, embora nada tenha feito contra o povo ou contra os costumes paternos, fui preso em Jerusalém e entregue às mãos dos romanos. Estes, depois de me terem interrogado, queriam libertar-me, por não haver em mim crime algum digno de morte. Mas, como os judeus se opuseram, fui constrangido a apelar para César, sem querer, de modo algum, acusar o meu povo. Foi por este motivo que pedi para vos ver e falar, pois é por causa da esperança de Israel que trago estas cadeias.» Eles responderam-lhe: «Nós não recebemos da Judeia carta alguma a teu respeito, e não chegou aqui nenhum irmão que contasse ou dissesse mal de ti. Desejamos, porém, ouvir da tua boca o que pensas, pois, quanto à seita a que pertences, sabemos todos que, por toda a parte, encontra oposição.» Marcaram, então, o dia e vieram ter com ele, em maior número, ao seu alojamento. Desde a manhã até à tarde, Paulo não cessou de lhes dar testemunho do Reino de Deus e procurou convencê-los do que diz respeito a Jesus, invocando a lei de Moisés e os Profetas. Alguns deixaram-se persuadir com as suas palavras; outros, porém, mantiveram-se incrédulos. Estando em desacordo uns com os outros, começaram a separar-se. Paulo apenas disse estas palavras: «Com razão falou o Espírito Santo a vossos pais, pela boca do profeta Isaías, dizendo: Vai ter com esse povo e diz-lhe: Ouvireis com os vossos ouvidos, mas não compreendereis; vereis com os vossos olhos, mas não percebereis. Sim, o coração deste povo tornou-se endurecido. Taparam os ouvidos e fecharam os olhos, não fossem ver com os olhos, e ouvir com os ouvidos, entender com o coração, converterem-se, e Eu curá-los! Ficai, agora, sabendo: esta salvação de Deus foi enviada aos pagãos que a hão-de escutar.» Depois de ele ter dito estas palavras, os judeus retiraram-se, travando entre eles animada discussão. Paulo permaneceu dois anos inteiros no alojamento que alugara, onde recebia todos os que iam procurá-lo, anunciando o Reino de Deus e ensinando o que diz respeito ao Senhor Jesus Cristo, com o maior desassombro e sem impedimento. Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus, que Ele de antemão prometera por meio dos seus profetas, nas santas Escrituras, acerca do seu Filho, nascido da descendência de David segundo a carne, constituído Filho de Deus em poder, segundo o Espírito santificador pela ressurreição de entre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso; por Ele recebemos a graça de sermos Apóstolos, a fim de, em honra do seu nome, levarmos à obediência da fé todos os gentios, entre os quais estais também vós, chamados a ser de Cristo Jesus; a todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados a ser santos: graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo! Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo, pois a vossa fé é proclamada em todo o mundo. Pois Deus – a quem presto culto no meu espírito, anunciando o Evangelho do seu Filho – me é testemunha de como constantemente me lembro de vós, pedindo sempre nas minhas orações que tenha, finalmente, ocasião de ir ter convosco; assim Deus o queira. É que eu anseio por vos ver, para vos comunicar algum dom espiritual e assim vos fortalecer, ou antes, para, estando convosco, ser reconfortado pela fé que nos é comum, a vós e a mim. Não quero que ignoreis, irmãos, que muitas vezes me propus ir ter convosco – do que tenho sido impedido até agora – a fim de também entre vós obter algum fruto, do mesmo modo que entre os restantes gentios. Tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes eu sou devedor. Daí o propósito que tenho de também vos anunciar o Evangelho, a vós que estais em Roma. Eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo o crente, primeiro o judeu e depois o grego. Pois nele a justiça de Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé. De facto, a ira de Deus, vinda do céu, revela-se contra toda a impiedade e injustiça dos homens que, com a injustiça, reprimem a verdade. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer está à vista deles, já que Deus lho manifestou. Com efeito, o que é invisível nele – o seu eterno poder e divindade – tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras. Por isso, não se podem desculpar. Pois, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram nem lhe deram graças, como a Deus é devido. Pelo contrário: tornaram-se vazios nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato. Afirmando-se como sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus incorruptível por figuras representativas do homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e de répteis. Por isso é que Deus, de acordo com os apetites dos seus corações, os entregou à impureza, de tal modo que os seus próprios corpos se degradaram. Foram esses que trocaram a verdade de Deus pela mentira, e que veneraram as criaturas e lhes prestaram culto, em vez de o fazerem ao Criador, que é bendito pelos séculos! Ámen. Foi por isso que Deus os entregou a paixões degradantes. Assim, as suas mulheres trocaram as relações naturais por outras que são contra a natureza. E o mesmo acontece com os homens: deixando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se em desejos de uns pelos outros, praticando, homens com homens, o que é vergonhoso, e recebendo em si mesmos a paga devida ao seu desregramento. E como não julgaram por bem manter o conhecimento de Deus, entregou-os Deus a uma inteligência sem discernimento. E é assim que fazem o que não devem: estão repletos de toda a espécie de injustiça, perversidade, ambição, maldade; cheios de inveja, homicídios, discórdia, falsidade, malícia; são difamadores, maldizentes, inimigos de Deus, insolentes, orgulhosos, arrogantes, engenhosos para o mal, rebeldes para com os pais, estúpidos, desleais, inclementes, impiedosos. Esses, muito embora conheçam o veredicto de Deus – de que são dignos de morte os que tais coisas praticam – não só as fazem, como até aprovam os que as praticam. Por isso, não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas, por praticares as mesmas coisas, tu que te armas em juiz. Ora nós sabemos que o julgamento de Deus se guia pela verdade contra aqueles que praticam tais acções. Cuidas, então – tu, ó homem que julgas os que praticam tais acções e fazes o mesmo – que escaparás ao julgamento de Deus? Ou não estarás tu a desprezar as riquezas da sua bondade, paciência e generosidade, ao ignorares que a bondade de Deus te convida à conversão? Afinal, com a tua dureza e o teu coração impenitente, estás a acumular ira sobre ti, para o dia da ira e do justo julgamento de Deus, que retribuirá a cada um conforme as suas obras: para aqueles que, ao perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade, será a vida eterna; para aqueles que, por rebeldia, são indóceis à verdade e dóceis à injustiça, será ira e indignação. Tribulação e angústia para todo o ser humano que pratica o mal, primeiro judeu e depois grego! Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu e depois para o grego! É que em Deus não existe acepção de pessoas. De facto, todos os que sem lei pecaram, também sem lei perecerão; e todos os que sob o regime da Lei pecaram, pela Lei serão julgados. É que não são os que ouvem a Lei que são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei é que serão justificados. Com efeito, quando há gentios que, não tendo a Lei, praticam, por inclinação natural, o que está na Lei, embora não tenham a Lei, para si próprios são lei. Esses mostram que o que a Lei manda praticar está escrito nos seus corações, tendo ainda o testemunho da sua consciência tal como dos pensamentos que, conforme o caso, os acusem ou defendam – isto no dia em que Deus, segundo o meu Evangelho, há-de julgar por Jesus Cristo o que de oculto houver nos homens. Mas, se tu gostas que te chamem judeu, te apoias na Lei e te glorias de Deus, conheces a sua vontade e sabes, instruído pela Lei, o que há de melhor a fazer; se estás convencido de ser guia de cegos, luz dos que vivem nas trevas, educador dos ignorantes, mestre dos simples, por estares na posse do conhecimento e da verdade que têm na Lei a sua expressão... Ora, como é que tu, que ensinas os outros, não te ensinas a ti próprio? Pregas que se não deve roubar, e roubas? Que dizes que não se deve cometer adultério, e cometes adultério? Que abominas os ídolos, e saqueias os seus templos? Tu, que te glorias da Lei, ofendes a Deus pela transgressão da Lei! De facto, o nome de Deus por vossa causa é blasfemado entre os gentios, conforme está escrito. A circuncisão é, de facto, proveitosa, se pões a Lei em prática. Mas se és um transgressor da Lei, então a tua circuncisão passa a ser incircuncisão. Se, portanto, quem não é circuncidado observa os preceitos da Lei, não deverá a sua incircuncisão ser considerada como circuncisão? E ele, que, não sendo fisicamente circuncidado, cumpre a Lei, há-de julgar-te a ti que, com a letra da Lei e a circuncisão, és um transgressor da Lei. É que não é aquele que o manifesta exteriormente que é judeu, nem a circuncisão é aquela que se manifesta exteriormente na carne. Mas aquele que o é no íntimo, esse sim é que é judeu, e a circuncisão que conta é a do coração, operada pelo Espírito e não por causa da letra da Lei. Esse é que merece louvor, não dos homens, mas de Deus. Que vantagem têm então os judeus? Ou que utilidade tem a circuncisão? Muita, em todos os aspectos! Em primeiro lugar, porque lhes foram confiadas as palavras de Deus. Que importa, então, se alguns foram infiéis? Irá, porventura, a infidelidade deles anular a fidelidade de Deus? De maneira nenhuma! Fique claro que Deus é verdadeiro, mesmo que todo o homem seja falso! Tal como está escrito: Para que te mostres justo nas tuas palavras e saias vitorioso no litígio que houver contigo. Mas, se a nossa injustiça faz com que se manifeste a justiça de Deus, que diremos? Não estará Deus a ser injusto, ao aplicar-nos a sua ira? Isto digo-o segundo critérios humanos. De maneira nenhuma! Senão, como poderia Deus julgar o mundo? Mas, se foi devido à minha falsidade que a verdade de Deus tanto se evidenciou para sua glória, porque hei-de eu então, ainda por cima, ser condenado como pecador? Não será mesmo de agir conforme aquilo que certa gente caluniosamente afirma termos dito: «Façamos o mal, para que venha o bem?» É gente que justamente merece a condenação. Afinal qual é a conclusão? Temos ou não vantagem alguma sobre os outros? Absolutamente nenhuma! Foi exactamente a acusação que acabámos de fazer: judeus e gregos, todos estão sob o domínio do pecado. Assim está escrito: Não há justo algum, nem um sequer. Não há quem seja sensato, não há quem procure a Deus. Todos se extraviaram, todos se corromperam. Não há quem faça o bem, não há um sequer. Sepulcro aberto é a sua garganta, com a sua língua espalhavam enganos; há nos seus lábios veneno de serpente. A sua boca está cheia de maldição e azedume. Velozes são os seus pés para derramar sangue; há devastação e miséria pelos seus caminhos, e o caminho da paz, não o conheceram. Não há temor de Deus diante dos seus olhos. Ora, nós sabemos que tudo o que a Lei diz, é dito para os que estão sob a Lei, a fim de que toda a língua se cale, e todo o mundo se reconheça culpado diante de Deus. Pois, pelas obras da Lei, ninguém será justificado diante dele. De facto, pela Lei só se chega ao reconhecimento do pecado. Mas agora foi sem a Lei que se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela Lei e pelos Profetas: a justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: todos pecaram e estão privados da glória de Deus. Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus ofereceu-o para, nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que actua mediante a fé; foi assim que ele mostrou a sua justiça, ao perdoar os pecados cometidos outrora, no tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua justiça no tempo presente, porque Ele é justo e justifica quem tem fé em Jesus. Onde está, pois, o motivo para alguém se gloriar? Foi excluído! Por qual lei? Pela das obras? De modo nenhum! Mas pela lei da fé. Pois estamos convencidos de que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei. Será Deus apenas Deus dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, Ele é também Deus dos gentios, uma vez que há um só Deus. É Ele que há-de justificar pela fé os circuncidados, e os não-circuncidados, mediante a fé. Quer isso dizer então que, com a fé, anulamos a Lei? De maneira nenhuma! Pelo contrário, confirmamos a Lei. Que havemos de dizer de Abraão, nosso antepassado segundo a carne? Que obteve ele afinal? É que, se Abraão foi justificado por causa das obras, tem um motivo para se poder gloriar, mas não diante de Deus. Que diz, de facto, a Escritura? Que Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. Ora bem, àquele que realiza obras, o salário não lhe é atribuído como oferta, mas como dívida. Aquele, porém, que não realiza qualquer obra, mas acredita naquele que justifica o ímpio, a esse a sua fé é-lhe atribuída como justiça. Aliás é assim que David celebra a felicidade do homem a quem Deus atribui a justiça independentemente das obras: Felizes aqueles a quem foram perdoados os delitos e a quem foram cobertos os pecados! Feliz o homem a quem o Senhor não tem em conta o pecado! Ora esta felicidade, será proclamada só em relação aos circuncidados ou também em relação aos não-circuncidados? Sim, porque nós dizemos: A fé de Abraão foi-lhe atribuída à conta de justiça. Afinal, como é que foi atribuída? Depois de se ter circuncidado ou antes? Não, não foi depois, mas antes de se ter circuncidado. E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça, obtida pela fé que tinha, antes de se ter circuncidado. Foi assim que ele se tornou pai de todos os crentes não-circuncidados, para que também a eles seja atribuída a justiça, e pai dos circuncidados, daqueles que não somente pertencem ao povo dos circuncisos, mas também seguem as pegadas da fé do nosso pai Abraão antes de ser circuncidado. Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo em herança. De facto, se os herdeiros o são em virtude da lei, nesse caso tornou-se inútil a fé e ficou sem efeito a promessa. É que a lei produz a ira; mas onde não há lei também não há transgressão. Por isso, é da fé que depende a herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se mantém válida para todos os descendentes: não apenas para aqueles que o são em virtude da Lei, mas também para os que o são em virtude da fé de Abraão, pai de todos nós, conforme o que está escrito: Fiz de ti o pai de muitos povos. Pai diante daquele em quem acreditou, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência o que não existe. Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência. Sim, ele não vacilou na fé ao ver como o seu corpo já estava sem vida –com quase cem anos – como sem vida estava o seio de Sara. Diante da promessa de Deus, não duvidou por falta de fé. Pelo contrário, tornou-se mais forte na fé e deu glória a Deus, plenamente convencido de que Ele tinha poder para realizar o que tinha prometido. Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça. Não é só por causa dele que está escrito foi-lhe atribuído, mas também por causa de nós, a quem a fé será tida em conta, nós que acreditamos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, Senhor nosso, entregue por causa das nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação. Portanto, uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. Mais ainda, gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança. Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. De facto, quando ainda éramos fracos é que Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa talvez alguém se atreva a morrer. Mas é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. E agora que fomos justificados pelo seu sangue, com muito mais razão havemos de ser salvos da ira, por meio dele. Se, de facto, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida. Mais ainda, também nos gloriamos em Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a reconciliação. Por isso, tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram... De facto, antes da Lei já existia o pecado no mundo; mas o pecado não é tido em conta quando não há lei. Apesar disso, desde Adão até Moisés reinou a morte, mesmo sobre aqueles que não tinham pecado por uma transgressão idêntica à de Adão, que é figura daquele que havia de vir. Com efeito, o que se passa com o dom gratuito não é o mesmo que se passa com a falta. Se pela falta de um só todos morreram, com muito mais razão a graça de Deus, aquela graça oferecida por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi a todos concedida em abundância. E também com o dom não acontece o mesmo que acontece com as consequências do pecado de um só. Com efeito, o julgamento, que partiu de um só, teve como resultado a condenação; enquanto que o dom gratuito, que partiu de muitas faltas, teve como resultado a justificação. De facto, se pela falta de um só e por meio de um só reinou a morte, com muito mais razão, por meio de um só, Jesus Cristo, hão-de reinar na vida aqueles que recebem em abundância a graça e o dom da justiça. Portanto, como pela falta de um só veio a condenação para todos os homens, assim também pela obra de justiça de um só veio para todos os homens a justificação que dá a vida. De facto, tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos se hão-de tornar justos. A lei interveio para aumentar a falta, mas, onde aumentou o pecado, superabundou a graça. E deste modo, tal como o pecado reinou pela morte, assim também a graça reina pela justiça até à vida eterna, por Jesus Cristo, Senhor nosso. Que havemos de concluir? Que vamos permanecer no pecado, para que aumente a graça? De maneira nenhuma! Como iríamos nós, que morremos para o pecado, viver ainda nele? Ou ignorais que todos nós, que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos baptizados na sua morte? Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova. De facto, se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição. É isto o que devemos saber: o homem velho que havia em nós foi crucificado com Ele, para que fosse destruído o corpo pertencente ao pecado; e assim não somos mais escravos do pecado. É que quem está morto está justificado do pecado. Mas, se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos. Sabemos que Cristo, ressuscitado de entre os mortos, já não morrerá; a morte não tem mais domínio sobre Ele. Pois, na morte que teve, morreu para o pecado de uma vez para sempre; e, na vida que tem, vive para Deus. Assim vós também: considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Portanto, que o pecado não reine mais no vosso corpo mortal, de tal modo que obedeçais às suas paixões. Não entregueis os vossos membros, como armas da injustiça, ao serviço do pecado. Pelo contrário, entregai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos, e entregai os vossos membros, como armas da justiça, ao serviço de Deus. Pois o pecado não terá mais domínio sobre vós, uma vez que não estais sob a Lei, mas sob a graça. Então? Vamos pecar, porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De modo nenhum! Não sabeis que, se vos entregais a alguém, obedecendo-lhe como escravos, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado que leva à morte, quer da obediência que leva à justiça? Demos graças a Deus: éreis escravos do pecado, mas obedecestes de coração ao ensino que vos foi transmitido como norma de vida. E libertos do pecado, tornastes-vos escravos da justiça. Estou a falar em termos humanos, devido à fraqueza da vossa carne. Do mesmo modo que entregastes os vossos membros, como escravos, à impureza e à desordem, para viverdes na desordem, entregai agora também os vossos membros como escravos à justiça, para viverdes em santidade. Quando éreis escravos do pecado, éreis livres no que toca à justiça. Afinal, que frutos produzíeis então? Coisas de que agora vos envergonhais, porque o resultado disso era a morte. Mas agora, que estais libertos do pecado e vos tornastes servos de Deus, produzis frutos que levam à santificação, e o resultado é a vida eterna. É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso. Ou ignorais, irmãos – eu falo a gente que sabe de leis – que a lei só tem poder sobre o homem enquanto ele vive? Assim, a mulher casada só está vinculada por lei a um homem, enquanto ele for vivo. Mas, se o marido morrer, fica liberta da lei que a liga ao marido. Por conseguinte, enquanto o marido for vivo, será declarada adúltera, se vier a dar-se a outro homem. Mas, se o marido morrer, fica livre da lei e não comete adultério, ao dar-se a outro homem. Meus irmãos, o mesmo acontece convosco: mediante o corpo de Cristo, morrestes para a lei, para vos dardes a um outro, ao ressuscitado de entre os mortos, a fim de produzirmos frutos para Deus. De facto, quando estávamos na carne, eram as paixões pecaminosas, despertadas pela lei, que agiam nos nossos membros, para produzirmos frutos que levam à morte. Mas agora fomos libertados da lei, ao morrermos para aquilo de que éramos prisioneiros. É na nova existência do Espírito que somos servos e não na existência caduca da letra da lei. Que devemos concluir? Que a Lei é igual ao pecado? De maneira nenhuma! Mas, eu não conheci o pecado, senão por meio da Lei. Assim, não teria conhecido a cobiça, se a Lei não dissesse: Não cobiçarás. O pecado aproveitou-se da ocasião dada pelo mandamento e provocou em mim toda a espécie de cobiça. É que, sem a lei, o pecado é coisa morta. Eu, sem a lei, estava vivo outrora. Mas, ao chegar o mandamento, ganhou vida o pecado e eu morri. E deparei-me com isto: o mandamento que me devia levar à vida, esse mesmo levou-me à morte. É que o pecado, aproveitando-se da ocasião dada pelo mandamento, seduziu-me e deu-me a morte, por meio dele. Por conseguinte, a Lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom. Será então que aquilo que é bom se transformou em morte para mim? De maneira nenhuma! O pecado é que, para se manifestar como pecado, se serviu do que é bom e foi causa de morte para mim. Foi por meio do mandamento que o pecado ganhou uma extrema força pecaminosa. Sabemos, de facto, que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado. Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é que faço. Ora, se o que eu não quero é que faço, estou de acordo com a lei, reconheço que ela é boa. Mas então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. Sim, eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não. É que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico. Ora, se o que eu não quero é que faço, então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. Deparo, pois, com esta lei: em mim, que quero fazer o bem, só o mal está ao meu alcance. Sim, eu sinto gosto pela lei de Deus, enquanto homem interior. Mas noto que há outra lei nos meus membros a lutar contra a lei da minha razão e a reter-me prisioneiro na lei do pecado que está nos meus membros. Que homem miserável sou eu! Quem me há-de libertar deste corpo que pertence à morte? Graças a Deus, por Jesus Cristo, Senhor nosso! Concluindo: eu sou o mesmo que, com o espírito, sirvo a lei de Deus e, com a carne, a lei do pecado. Portanto, agora não há mais condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus. É que a lei do Espírito que dá a vida libertou-te, em Cristo Jesus, da lei do pecado e da morte. De facto, Deus fez o que era impossível à Lei, por estar sujeita à fraqueza da carne: ao enviar o seu próprio Filho, em carne idêntica à do pecado e como sacrifício de expiação pelo pecado, condenou o pecado na carne, para que assim a justiça exigida pela Lei possa ser plenamente cumprida em nós, que já não procedemos de acordo com a carne, mas com o Espírito. Os que vivem de acordo com a carne aspiram às coisas da carne; mas os que vivem de acordo com o Espírito aspiram às coisas do Espírito. De facto, a carne aspira ao que conduz à morte; mas o Espírito aspira ao que dá vida e paz. É que a carne aspira à inimizade com Deus, uma vez que não se submete à lei de Deus; aliás nem sequer é capaz disso. Os que vivem sob o domínio da carne são incapazes de agradar a Deus. Ora vós não estais sob o domínio da carne, mas sob o domínio do Espírito, pressupondo que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse não lhe pertence. Se Cristo está em vós, o vosso corpo está morto por causa do pecado, mas o Espírito é a vossa vida por causa da justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, somos devedores, mas não à carne, para vivermos de acordo com a carne. É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis. De facto, todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus. Vós não recebestes um Espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai! Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para também com Ele sermos glorificados. Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós. Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus. De facto, a criação foi sujeita à destruição – não voluntariamente, mas por disposição daquele que a sujeitou – na esperança de que também ela será libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus. Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente. Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo. De facto, foi na esperança que fomos salvos. Ora uma esperança naquilo que se vê não é esperança. Quem é que vai esperar aquilo que já está a ver? Mas, se é o que não vemos que esperamos, então é com paciência que o temos de aguardar. É assim que também o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos. Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo com o seu desígnio. Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou. Que mais havemos de dizer? Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele? Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica! Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós. Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? De acordo com o que está escrito: Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro. Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças àquele que nos amou. Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso. É verdade o que vou dizer em Cristo; não minto, pois é a minha consciência que, pelo Espírito Santo, disto me dá testemunho: tenho uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração. Desejaria ser amaldiçoado, ser eu próprio separado de Cristo, pelo bem dos meus irmãos, os da minha raça, segundo a carne. Eles são os israelitas, a quem pertence a adopção filial, a glória, as alianças, a lei, o culto, as promessas. A eles pertencem os patriarcas e é deles que descende Cristo, segundo a carne. Deus que está acima de todas as coisas, bendito seja Ele pelos séculos! Ámen. Não é que a palavra de Deus tenha falhado. O que acontece é que nem todos os que descendem de Israel são Israel, como nem todos, por serem descendentes de Abraão, são seus filhos. Não: Só os de Isaac é que serão chamados a ser teus descendentes. O que significa que não são os filhos por via carnal que são filhos de Deus, mas só os filhos devido à promessa é que são tidos em conta como descendentes. É uma promessa, de facto, o que diz esta palavra: Voltarei por esta altura, e já Sara terá um filho. Não foi só com ela que isso aconteceu, mas também com Rebeca. Concebeu de um só homem, o nosso pai Isaac; e ainda os filhos não tinham nascido, nem nada de bom ou de mau tinham feito – para que se mantenha claro que o desígnio de Deus é da sua livre escolha e está dependente, não das obras, mas de Deus que chama – e já lhe foi dito: O mais velho será servo do mais novo, de acordo com o que está escrito: Amei Jacob, mas não Esaú. Que havemos de concluir? Que há injustiça em Deus? De modo nenhum! É a Moisés que Ele o diz: Usarei de misericórdia com quem me decido a ser misericordioso, e terei compaixão de quem me quero compadecer. Portanto, isto não depende daquele que quer nem daquele que se esforça por alcançá-lo, mas de Deus que é misericordioso. Assim, diz a Escritura ao Faraó: Exactamente para isto é que Eu te fiz surgir: para mostrar em ti o meu poder e para que assim o meu nome seja proclamado em toda a terra. Portanto, Deus usa de misericórdia com quem quer e endurece quem Ele quer. Dir-me-ás então: Nesse caso, de que me pode Ele repreender ainda? Sim, porque quem poderia resistir à sua vontade? Quem és tu, homem, para entrares em contestação com Deus? Dirá, porventura, o que é moldado àquele que o molda: «Porque me fizeste assim?» Ou não tem o oleiro poder sobre o barro para, da mesma massa, tanto fazer um vaso de luxo como um de uso vulgar? Ora, se Deus, na intenção de mostrar a sua ira e manifestar o seu poder, suportou com tanta paciência os vasos da ira, prontos para a perdição, e se Ele o fez também para manifestar a riqueza da sua glória para com os vasos da misericórdia que de antemão tinha preparado para a glória… A estes, que somos nós, chamou-os não só de entre os judeus, mas também de entre os gentios. É exactamente o que Ele diz no livro de Oseias: Àquele que não é meu povo, hei-de chamar meu povo, e minha amada, àquela que não é minha amada. Precisamente no lugar onde lhes tinha sido dito: «Vós não sois o meu povo», aí serão chamados filhos do Deus vivo. Isaías, por sua vez, exclama, a respeito de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel fosse como a areia do mar, só o resto se salvará; pois será de um modo completo e restrito que o Senhor há-de cumprir a sua palavra sobre a terra. É ainda o que profetizou Isaías: Se o Senhor dos exércitos não nos tivesse deixado uma descendência, teríamos ficado como Sodoma, seríamos como Gomorra. Que diremos, portanto? Que os gentios, que não procuravam a justiça, a alcançaram, mas, claro, a justiça que vem pela fé; Israel, ao contrário, que procurava uma lei que podia levar à justiça, não atingiu essa lei. Por que razão? Porque não foi pela fé, mas pelas obras, que a procuraram obter. Tropeçaram na pedra de tropeço, conforme o que está escrito: Reparai que ponho em Sião uma pedra de tropeço, uma rocha de escândalo, e só quem nela acreditar não ficará frustrado. Irmãos, o que eu desejo de todo o coração e o que para eles eu peço a Deus é isto: que eles se salvem. Posso testemunhar em seu abono que eles têm zelo por Deus. Só que o não têm devidamente esclarecido. De facto, por não terem reconhecido a justiça que vem de Deus, e terem procurado estabelecer a sua própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus. É que o fim da Lei é Cristo, para que, deste modo, a justiça seja concedida a todo o que tem fé. De facto, é assim que Moisés escreve acerca da justiça que vem da Lei: O homem que põe em prática essas coisas, esse viverá por elas. Mas a justiça que vem da fé exprime-se assim: Não digas no teu coração: Quem subirá ao céu? Seria para fazer com que Cristo descesse. Nem digas: Quem descerá ao abismo? Seria para fazer com que Cristo subisse de entre os mortos. Que diz a Escritura, afinal? É junto de ti que está a palavra: na tua boca e no teu coração. Esta palavra é a da fé que anunciamos. Porque, se confessares com a tua boca: «Jesus é o Senhor», e acreditares no teu coração que Deus o ressuscitou de entre os mortos, serás salvo. É que acreditar de coração leva a obter a justiça, e confessar com a boca leva a obter a salvação. É a Escritura que o diz: Todo o que nele acreditar não ficará frustrado. Assim, não há diferença entre judeu e grego, pois todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam. De facto, todo o que invocar o nome do Senhor será salvo. Ora, como hão-de invocar aquele em quem não acreditaram? E como hão-de acreditar naquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, sem alguém que o anuncie? E como hão-de anunciar, se não forem enviados? Por isso está escrito: Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas-novas! Porém, nem todos obedeceram à Boa-Nova. É Isaías quem o diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? Portanto, a fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo. Mas, pergunto eu, será que não a ouviram? Pelo contrário: A voz deles ressoou por toda a terra e até aos confins do mundo as suas palavras. Mas, pergunto eu, será que Israel não a entendeu? Em primeiro lugar é Moisés que diz: Vou fazer-vos ciumentos de quem não é um povo, provocar a vossa ira contra um povo insensato. E Isaías atreve-se, mesmo, a dizer: Deixei-me encontrar pelos que não me procuravam, manifestei-me aos que não perguntavam por mim. Mas a respeito de Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo desobediente e rebelde. Pergunto então: terá Deus rejeitado o seu povo? De maneira nenhuma! Pois também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, que de antemão escolheu. Não sabeis, porventura, o que diz a Escritura na passagem onde Elias apresenta a Deus esta queixa contra Israel: Senhor, mataram os teus profetas, derrubaram os teus altares; só eu fiquei e andam a procurar tirar-me a vida! Mas, qual foi a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, aqueles que não dobraram o joelho diante de Baal. Pois bem, assim também no tempo presente existe um resto, cuja eleição se deve à graça de Deus. Mas se o é pela graça, deixa de ser pelas obras; caso contrário a graça deixaria de ser graça. Que conclusão tirar daí? Aquilo que Israel procura, não o conseguiu; só os eleitos o conseguiram. Quanto aos restantes, ficaram endurecidos, foram de acordo com o que está escrito: Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E David diz: Que a sua mesa lhes sirva de laço e de rede, de ocasião para caírem e para serem castigados. Que se obscureçam os seus olhos, de modo a não verem; e faz que as suas costas se curvem para sempre. Agora eu pergunto: terão eles tropeçado só para cair? De modo nenhum! Pelo contrário, foi devido à sua queda que a salvação chegou aos gentios, e isso aconteceu para que Israel sentisse ciúme deles. Ora, se a sua queda reverteu em riqueza para o mundo e a sua perda em riqueza para os gentios, quanto mais não será na plenitude da sua conversão! É a vós, os gentios, que eu digo isto: exactamente como Apóstolo dos gentios que sou, enalteço este meu ministério, para ver se provoco o ciúme dos que são da minha carne e salvo alguns deles. Porque, se a sua rejeição serviu para a reconciliação do mundo, que irá ser a sua admissão senão uma passagem da morte à vida? Ora bem, se as primícias são santas, também o é toda a massa; e se a raiz é santa, também o são os ramos. Mas, se alguns ramos foram cortados, enquanto tu, que eras de oliveira brava, foste enxertado entre os outros, para com eles ficares a participar da raiz donde vem a seiva da oliveira, não te faças arrogante perante aqueles ramos. E se te quiseres orgulhar, lembra-te que não és tu quem sustenta a raiz, mas a raiz é que te sustenta a ti. Dir-me-ás: “Foram cortados ramos, para que eu fosse enxertado”. Muito bem. Foi por falta de fé que eles foram cortados; mas tu, é pela fé que estás seguro. Não sejas soberbo, mas toma cuidado. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará a ti. Portanto, olha bem para a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; para contigo, bondade, desde que permaneças fiel à sua bondade. De contrário, também tu serás cortado. Quanto a eles, se não permanecerem na incredulidade, também hão-de ser enxertados. Pois Deus tem poder para os enxertar de novo. Se tu foste cortado de uma oliveira brava, a que pertencias por natureza, e foste, contrariamente à tua natureza, enxertado numa oliveira boa, quanto mais eles hão-de ser enxertados na sua própria oliveira, a que pertencem por natureza. Eu não quero, irmãos, que ignoreis este mistério, para que vos não julgueis sábios: deu-se o endurecimento de uma parte de Israel, até que a totalidade dos gentios tenha entrado. E é assim que todo o Israel será salvo, de acordo com o que está escrito: Virá de Sião o libertador, que afastará as impiedades do meio de Jacob. Esta é a aliança que Eu farei com eles, quando lhes tiver tirado os seus pecados. No que diz respeito ao Evangelho, eles são inimigos, para proveito vosso; mas em relação à eleição, são amados, devido aos seus antepassados. É que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis. Outrora vós desobedecestes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, devido à desobediência deles; do mesmo modo, também eles desobedeceram agora, em favor da misericórdia que alcançastes, para que também eles venham agora a alcançar misericórdia. Porque Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia. Oh, que profundidade de riqueza, de sabedoria e de ciência é a de Deus! Como são insondáveis as suas decisões e impenetráveis os seus caminhos! Quem conheceu o pensamento do Senhor? Quem lhe serviu de conselheiro? Quem antes lhe deu a Ele, para que lhe seja retribuído? Porque é dele, por Ele e para Ele que tudo existe. Glória a Ele pelos séculos! Ámen. Por isso, vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual. Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito. Assim, em virtude da graça que me foi dada, digo a todos e a cada um de vós que não se sinta acima do que deve sentir-se; mas sinta-se preocupado em ser sensato, de acordo com a medida de fé que Deus distribuiu a cada um. É que, como num só corpo, temos muitos membros, mas os membros não têm todos a mesma função, assim acontece connosco: os muitos que somos formamos um só corpo em Cristo, mas, individualmente, somos membros que pertencem uns aos outros. Temos dons que, consoante a graça que nos foi dada, são diferentes: se é o da profecia, que seja usado em sintonia com a fé; se é o do serviço, que seja usado a servir; se um tem o de ensinar, que o use no ensino; se outro tem o de exortar, que o use na exortação; quem reparte, faça-o com generosidade; quem preside, faça-o com dedicação; quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria. Que o vosso amor seja sincero. Detestai o mal e apegai-vos ao bem. Sede afectuosos uns para com os outros no amor fraterno; adiantai-vos uns aos outros na mútua estima. Não sejais preguiçosos na vossa dedicação; deixai-vos inflamar pelo Espírito; entregai-vos ao serviço do Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração. Partilhai com os santos que passam necessidade; aproveitai todas as ocasiões para serdes hospitaleiros. Bendizei os que vos perseguem; bendizei, não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. Preocupai-vos em andar de acordo uns com os outros; não vos preocupeis com as grandezas, mas entregai-vos ao que é humilde; não vos julgueis sábios por vós próprios. Não pagueis a ninguém o mal com o mal; interessai-vos pelo que é bom diante de todos os homens. Tanto quanto for possível e de vós dependa, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis por vós próprios, caríssimos; mas deixai que seja Deus a castigar, pois está escrito: É a mim que compete punir, Eu é que hei-de retribuir, diz o Senhor. Em vez disso, se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber; porque, se fizeres isso, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem. Que todos se submetam às autoridades públicas, pois não existe autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade opõe-se à ordem querida por Deus, e os que se opõem receberão a condenação. É que os detentores do poder não são temidos por quem pratica o bem, mas por quem pratica o mal. Não queres ter medo da autoridade? Faz o bem e receberás os seus elogios. De facto, ela está ao serviço de Deus, para te incitar ao bem. Mas, se fazes o mal, então deves ter medo, pois para alguma coisa ela traz a espada. De facto, ela está ao serviço de Deus para castigar aquele que pratica o mal. É por isso que é necessário submeter-se, não só por medo do castigo, mas também por razões de consciência. É também por essa razão que pagais impostos; aqueles que têm de se ocupar disso são funcionários de Deus. Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto, a quem se deve o imposto; a taxa, a quem se deve a taxa; o respeito, a quem se deve o respeito; a honra, a quem se deve a honra. Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser isto: amar-vos uns aos outros. Pois quem ama o próximo cumpre plenamente a lei. De facto: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, bem como qualquer outro mandamento, estão resumidos numa só frase: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. Assim, é no amor que está o pleno cumprimento da lei. Sabeis em que tempo vivemos: já é hora de acordardes do sono, pois a salvação está agora mais perto de nós do que quando começámos a acreditar. A noite adiantou-se e o dia está próximo. Despojemo-nos, por isso, das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Como quem vive em pleno dia, comportemo-nos honestamente: nada de comezainas e bebedeiras, nada de devassidão e libertinagens, nada de discórdias e invejas. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não vos entregueis às coisas da carne, satisfazendo os seus desejos. Àquele que é fraco na fé, acolhei-o, sem cair em discussões sobre as suas maneiras de pensar. Enquanto a fé de um lhe permite comer de tudo, o que é fraco só come legumes. Quem come não despreze aquele que não come; e quem não come não julgue aquele que come, porque Deus o acolheu. Quem és tu para julgares o criado de um outro? Se está de pé ou se cai, isso é lá com o seu patrão. Há-de, aliás, ficar de pé, porque o Senhor tem poder para o segurar. Além disso, enquanto um julga que há dias e dias, há quem julgue que os dias são todos iguais. Tenha um e outro plena convicção daquilo que pensa. Quem guarda alguns dias, é em honra do Senhor que os guarda; quem come de tudo, é em honra do Senhor que come, pois dá graças a Deus; e quem não come, é em honra do Senhor que não come, e também ele dá graças a Deus. De facto, nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. Pois foi para isto que Cristo morreu e voltou à vida: para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos. Mas tu, porque julgas o teu irmão? E tu, porque desprezas o teu irmão? De facto, todos havemos de comparecer diante do tribunal de Deus, pois está escrito: Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor, todo o joelho se dobrará diante de mim e toda a língua dará a Deus glória e louvor. Portanto, cada um de nós terá de dar contas de si mesmo a Deus. Deixemos, pois, de nos julgar uns aos outros. Tomai de preferência esta decisão: não ser para o irmão causa de tropeço ou de escândalo. Sei e estou convencido, no Senhor Jesus, de que nada é impuro em si mesmo. Uma coisa é impura só para aquele que a considera como impura. Se, por tomares um alimento, entristeces o teu irmão, então não estás a proceder de acordo com o amor. Não faças, com o teu alimento, com que se perca aquele por quem Cristo morreu. Que não seja, pois, motivo de blasfémia o bem que há em vós. É que o Reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. E quem deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e estimado pelos homens. Procuremos, portanto, aquilo que leva à paz e à edificação mútua. Não destruas a obra de Deus, por uma questão de alimento. Todas as coisas são puras, certamente, mas tornam-se más para aquele que, ao comê-las, encontra nisso causa de tropeço. O que é bom é não comer carne nem beber vinho, nada em que o teu irmão possa tropeçar. Guarda para ti, diante de Deus, a convicção de fé que tens. Feliz de quem não se condena a si mesmo, devido às decisões que toma. Mas quem sente escrúpulos por aquilo que come fica culpado, por não agir de acordo com a sua convicção de fé. Tudo o que não é feito a partir da convicção de fé é pecado. Nós, os fortes, temos o dever de carregar com as fraquezas dos que são débeis e não procurar aquilo que nos agrada. Procure cada um de nós agradar ao próximo no bem, em ordem à construção da comunidade. Pois também Cristo não procurou o que lhe agradava; ao contrário, como está escrito, os insultos daqueles que te insultavam caíram sobre mim. E a verdade é que tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e pela consolação que nos dão as Escrituras, tenhamos esperança. Que o Deus da paciência e da consolação vos conceda toda a união nos mesmos sentimentos, uns com os outros, segundo a vontade de Cristo Jesus, para que, numa só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por conseguinte, acolhei-vos uns aos outros, na medida em que também Cristo vos acolheu, para glória de Deus. Efectivamente, digo que foi por causa da fidelidade de Deus que Cristo se tornou servidor dos circuncisos, confirmando, assim, as promessas feitas aos patriarcas; por sua vez, os gentios, dão glória a Deus por causa da sua misericórdia, conforme está escrito: Por isso te louvarei entre as nações e cantarei em honra do teu nome. E diz-se ainda: Alegrai-vos, nações, juntamente com o seu povo. E ainda: Nações, louvai todas o Senhor; que todos os povos o exaltem. E Isaías diz também: Virá o rebento de Jessé, que se levantará para governar as nações: é nele que as nações hão-de pôr a sua esperança. Que o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança, pela força do Espírito Santo. No que vos toca, meus irmãos, estou pessoalmente convencido de que vós próprios estais cheios de boa vontade, repletos de toda a espécie de conhecimento e com capacidade para vos aconselhardes uns aos outros. Apesar disso, escrevi-vos, em parte, com um certo atrevimento, como alguém que vos reaviva a memória. Faço-o em virtude da graça que me foi dada: ser para os gentios um ministro de Cristo Jesus, que administra o Evangelho de Deus como um sacerdote, a fim de que a oferenda dos gentios, santificada pelo Espírito Santo, lhe seja agradável. É, pois, em Cristo Jesus que me posso gloriar de coisas que a Deus dizem respeito. Eu não me atreveria a falar de coisas que Cristo não tivesse realizado por meu intermédio, em palavras e acções, a fim de levar os gentios à obediência, pela força de sinais e prodígios, pela força do Espírito de Deus. Foi assim que, desde Jerusalém e, irradiando até à Ilíria, dei plenamente a conhecer o Evangelho de Cristo. Mas, ao fazê-lo, tive a maior preocupação em não anunciar o Evangelho onde já era invocado o nome de Cristo, para não edificar sobre fundamento alheio. Pelo contrário, fiz conforme está escrito: Aqueles a quem ele não fora anunciado é que hão-de ver e aqueles que dele não ouviram falar é que hão-de compreender. Era exactamente isso que me impedia muitas vezes de ir ter convosco. Mas agora, como não tenho mais nenhum campo de acção nestas regiões, e há muitos anos que ando com tão grande desejo de ir ter convosco, quando for de viagem para a Espanha... Ao passar por aí, espero ver-vos e receber a vossa ajuda para ir até lá, depois de primeiro ter gozado, ainda que por um pouco, da vossa companhia. Mas agora vou de viagem para Jerusalém, em serviço a favor dos santos. É que a Macedónia e a Acaia decidiram realizar um gesto de comunhão para com os pobres que há entre os santos de Jerusalém. Decidiram e bem; por isso eles lhes são devedores. Porque, se os gentios participaram dos seus bens espirituais, têm também obrigação de os servir com os seus bens materiais. Portanto, quando este assunto estiver resolvido, e lhes tiver entregue o produto desta colecta devidamente selado, partirei para Espanha, passando junto de vós. E sei que, ao ir ter convosco, irei com a plena bênção de Cristo. Exorto-vos, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, a que luteis comigo, pelas orações que fazeis a Deus por mim, para que escape dos incrédulos da Judeia e para que este meu serviço a Jerusalém seja bem acolhido pelos santos. E assim, será com alegria que, se Deus quiser, irei ter convosco e repousar na vossa companhia. Que o Deus da paz esteja com todos vós! Ámen. Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que também é diaconisa na igreja de Cêncreas: recebei-a no Senhor, de um modo digno dos santos, e assisti-a nas actividades em que precisar de vós. Pois também ela tem sido uma protectora para muitos e para mim pessoalmente. Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça. Não sou apenas eu a estar-lhes agradecido, mas todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que se reúne em casa deles. Saudai o meu querido Epéneto, o primeiro fruto da Ásia para Cristo. Saudai Maria, que tanto se afadigou por vós. Saudai Andrónico e Júnia, meus concidadãos e meus companheiros de prisão, que tão notáveis são entre os apóstolos e que, inclusivamente, se tornaram cristãos antes de mim. Saudai Ampliato, que me é tão querido no Senhor. Saudai Urbano, nosso colaborador em Cristo, e o meu querido Estáquio. Saudai Apeles, que deu provas do que ele é em Cristo. Saudai os da casa de Aristóbulo. Saudai Herodião, meu concidadão. Saudai os da casa de Narciso, que pertencem ao Senhor. Saudai Trifena e Trifosa, que se afadigam pelo Senhor. Saudai a minha querida Pérside, que tanto se afadigou pelo Senhor. Saudai Rufo, o eleito no Senhor, e a mãe dele que o é também para mim. Saudai Assíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e todos os irmãos que estão com eles. Saudai Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã, Olímpio e todos os santos que estão com eles. Saudai-vos uns aos outros com um beijo santo. Saúdam-vos todas as igrejas de Cristo. Entretanto, irmãos, exorto-vos a que tenhais cautela com os que provocam divisões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. É que essa gente não é a Cristo Senhor nosso que serve, mas ao seu próprio ventre; e com palavras lindas e lisonjeiras enganam os corações dos ingénuos. De facto, a vossa obediência chegou aos ouvidos de todos; e por isso me alegro convosco. Mas quero que sejais sábios quanto ao bem e sem mancha quanto ao mal. O Deus da paz há-de esmagar Satanás debaixo dos vossos pés, muito em breve. A graça de Jesus, Senhor nosso, esteja convosco! Saúda-vos o meu colaborador Timóteo, assim como os meus concidadãos Lúcio, Jasão e Sosípatro. Saúdo-vos eu, Tércio, que escrevi esta carta, no Senhor. Saúda-vos Gaio, que me recebe como hóspede, assim como a toda a igreja. Saúda-vos Erasto, o tesoureiro da cidade, e o irmão Quarto. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós! Ámen. Àquele que tem o poder para vos tornar firmes, de acordo com o Evangelho que anuncio pregando Jesus Cristo, segundo a revelação de um mistério que foi mantido em silêncio por tempos eternos, mas agora foi manifestado e, por meio dos escritos proféticos, de acordo com a determinação do Deus eterno, levado ao conhecimento de todos os gentios, para os levar à obediência da fé, ao único Deus sábio, por Jesus Cristo, a Ele a glória pelos séculos! Ámen. Paulo, chamado por vontade de Deus a ser apóstolo de Cristo Jesus, e Sóstenes, nosso irmão, à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos os que em qualquer lugar invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou incessantemente graças ao meu Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi concedida em Cristo Jesus. Pois nele é que fostes enriquecidos com todos os dons, tanto da palavra como do conhecimento. Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, de modo que não vos falta graça alguma, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. É Ele também que vos confirmará até ao fim, para que sejais encontrados irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor. Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento. Pois, meus irmãos, fui informado pelos da casa de Cloé, que há discórdias entre vós. Refiro-me ao facto de cada um dizer: «Eu sou de Paulo», ou «Eu sou de Apolo», ou «Eu sou de Cefas», ou «Eu sou de Cristo». Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Ou fostes baptizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus por não ter baptizado nenhum de vós, a não ser Crispo e Gaio, para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome. Baptizei também a família de Estéfanes, mas, além destes, não sei se baptizei mais alguém. Na verdade, Cristo não me enviou a baptizar, mas a pregar o Evangelho, e sem recorrer à sabedoria da linguagem, para não esvaziar da sua eficácia a cruz de Cristo. A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o letrado? Onde está o investigador deste mundo? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Pois, já que o mundo, por meio da sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da pregação. Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Portanto, o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens. Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação: humanamente falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa. Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus. É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e redenção, a fim de que, como diz a Escritura, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com o prestígio da linguagem ou da sabedoria, para vos anunciar o mistério de Deus. Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. Estive no meio de vós cheio de fraqueza, de receio e de grande temor. A minha palavra e a minha pregação nada tinham dos argumentos persuasivos da sabedoria humana, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. E, no entanto, é de sabedoria que nós falamos entre os perfeitos; sabedoria que não é deste mundo, nem dos chefes deste mundo, votados à destruição. Ensinamos a sabedoria de Deus, mistério que permaneceu oculto e que Deus, antes dos séculos, predestinou para nossa glória. Nenhum dos chefes deste mundo a conheceu, pois, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas, como está escrito: O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, o coração do homem não pressentiu, isso Deus preparou para aqueles que o amam. A nós, porém, Deus o revelou por meio do Espírito. Pois o Espírito tudo penetra, até as profundidades de Deus. Quem, de entre os homens, conhece o que há no homem, senão o espírito do homem que nele habita? Assim também, as coisas que são de Deus, ninguém as conhece, a não ser o Espírito de Deus. Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para podermos conhecer os dons da graça de Deus. E deles não falamos com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito inspira, falando de realidades espirituais em termos espirituais. O homem terreno não aceita o que vem do Espírito de Deus, pois é uma loucura para ele. Não o pode compreender, pois só de modo espiritual pode ser avaliado. Pelo contrário, o homem espiritual julga todas as coisas e a ele ninguém o pode julgar. Pois quem conheceu o pensamento do Senhor, para poder instruí-lo? Mas nós temos o pensamento de Cristo. Quanto a mim, irmãos, não pude falar-vos como a simples homens espirituais, mas como a homens carnais, como a criancinhas em Cristo. Foi leite que vos dei a beber e não alimento sólido, que ainda não podíeis suportar. Nem mesmo agora podeis, visto que sois ainda carnais. Pois se há entre vós rivalidades e contendas, não é porque sois carnais e procedeis de modo meramente humano? Quando um diz: «Eu sou de Paulo»; e outro: «Eu sou de Apolo», não estais a proceder como simples homens? Pois, quem é Apolo? Quem é Paulo? Simples servos, por cujo intermédio abraçastes a fé, e cada um actuou segundo a medida que o Senhor lhe concedeu. Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento. Assim, nem o que planta nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus, que faz crescer. Tanto o que planta como o que rega formam um só, e cada um receberá a recompensa, conforme o seu próprio trabalho. Pois, nós somos cooperadores de Deus, e vós sois o seu terreno de cultivo, o edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, assentei o alicerce, mas outro edifica sobre ele. Mas veja cada um como edifica, pois ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo. Se alguém, sobre este alicerce, edifica com ouro, prata, pedras preciosas, madeiras, feno ou palha, a sua obra ficará em evidência; o Dia do Senhor a tornará conhecida, pois ele manifesta-se pelo fogo e o fogo provará o que vale a obra de cada um. Se a obra construída resistir, o construtor receberá a recompensa; mas, se a obra de alguém se queimar, perdê-la-á; ele, porém, será salvo, como se atravessasse o fogo. Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós. Ninguém se engane a si mesmo: se algum de entre vós se julga sábio à maneira deste mundo, torne-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. Com efeito, está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E ainda: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios e sabe que são fúteis. Portanto, ninguém se glorie nos homens, pois tudo é vosso: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro. Tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus. Considerem-nos, pois, servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se requer dos administradores é que sejam fiéis. Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. De nada me acusa a consciência, mas nem por isso me dou por justificado; quem me julga é o Senhor. Por conseguinte, não julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor. Ele é quem há-de iluminar o que se esconde nas trevas e desvendar os desígnios dos corações. E então cada um receberá de Deus o louvor que merece. Se apliquei tudo isto a mim e a Apolo, irmãos, foi por vossa causa, para que aprendais de nós mesmos a «não ir além do que está escrito», e para que ninguém se vanglorie, tomando o partido de um contra o outro. Pois, quem te faz superior aos outros? Que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, porque te glorias, como se não o tivesses recebido? Já estais saciados! Já sois ricos! Sem nós, já vos tornastes reis! Oxalá o tivésseis conseguido, para que também nós pudéssemos reinar convosco. De facto, parece-me que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, no último lugar, como se fôssemos condenados à morte, porque nos tornámos espectáculo para o mundo, para os anjos e para os homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo! Nós somos fracos, e vós, fortes! Vós, honrados, e nós, desprezados! Até este momento, sofremos fome, sede e nudez, somos esbofeteados, andamos errantes, e cansamo-nos a trabalhar com as nossas próprias mãos. Amaldiçoados, abençoamos; perseguidos, aguentamos; caluniados, consolamos! Tornámo-nos, até ao presente, como o lixo do mundo e a escória do universo. Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a meus filhos muito queridos. Na verdade, ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais, porque fui eu que vos gerei em Cristo Jesus, pelo Evangelho. Rogo-vos, pois, que sejais meus imitadores. Foi por isso que vos enviei Timóteo, meu filho muito querido e fiel no Senhor; ele vos recordará as minhas normas de conduta em Cristo, tais como as ensino por toda a parte, em todas as igrejas. Julgando que eu não iria ter convosco, alguns tornaram-se insolentes. Mas, se o Senhor quiser, espero ir em breve ter convosco e tomar conhecimento, não das palavras, mas da acção desses insolentes. Pois o Reino de Deus não está nas palavras, mas na acção. Que preferis? Que vá ter convosco com a vara ou com amor e espírito de mansidão? Ouve-se dizer por toda a parte que existe entre vós um caso de imoralidade, e uma imoralidade como não se encontra nem mesmo entre os pagãos: um de vós vive com a mulher de seu pai. E continuais cheios de orgulho, em vez de andardes de luto, a fim de que seja retirado do meio de vós o autor de tal acção. Quanto a mim, ausente de corpo mas presente em espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que assim procedeu: em nome do Senhor Jesus e com o seu poder, por ocasião de uma assembleia onde eu estarei presente em espírito, que tal homem seja entregue a Satanás para mortificação da sua carne, a fim de que o seu espírito seja salvo no Dia do Senhor. Não é digno o vosso motivo de orgulho! Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma nova massa, já que sois pães ázimos. Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade. Já vos escrevi na minha carta, para não vos relacionardes com os devassos. Não me referia, genericamente, aos devassos deste mundo, ou aos avarentos, ladrões, ou idólatras, porque, então, teríeis de sair deste mundo. Não. Escrevi que não devíeis associar-vos com quem, dizendo-se irmão, fosse devasso, avarento, idólatra, caluniador, beberrão ou ladrão. Com estes, nem sequer deveis comer. Porventura, compete-me, a mim, julgar os de fora? Não são os de dentro que tendes de julgar? Os de fora, Deus os julgará. Afastai o mau do meio de vós. Quando algum de vós entra em litígio com outro, como é que se atreve a submetê-lo ao juízo dos injustos e não ao dos santos? Ou não sabeis que os santos é que hão-de julgar o mundo? E, se é por vós que o mundo há-de ser julgado, sereis indignos de julgar questões menores? Não sabeis que havemos de julgar os anjos? Quanto mais, as pequenas coisas da vida! Quando, pois, tendes questões menores, porque escolheis como juízes aqueles que a Igreja menospreza? Digo isto para vossa vergonha. Não haverá, entre vós, ninguém suficientemente sábio para poder julgar entre irmãos? No entanto, um irmão processa o seu irmão, e isto diante dos não crentes! Ora, a existência de questões entre vós é já um sinal de inferioridade. Porque não preferis, antes, sofrer uma injustiça? Porque não preferis ser prejudicados? Mas, pelo contrário, sois vós que cometeis injustiças e causais danos, e isto contra os próprios irmãos! Ou não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os pedófilos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os beberrões, nem os caluniadores, nem os salteadores herdarão o Reino de Deus. E alguns de vós eram assim. Mas vós cuidastes de vos purificar; fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus. «Tudo me é permitido», mas nem tudo é conveniente. «Tudo me é permitido», mas eu não me farei escravo de nada. Os alimentos são para o ventre, e o ventre para os alimentos, e Deus destruirá tanto aquele como estes. Mas o corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. E Deus, que ressuscitou o Senhor, há-de ressuscitar-nos também a nós, pelo seu poder. Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Iria eu, então, tomar os membros de Cristo para fazer deles membros de uma prostituta? Por certo que não! Ou não sabeis que aquele que se junta a uma prostituta, torna-se com ela um só corpo? Pois, como diz a Escritura: Serão os dois uma só carne. Mas quem se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo, mas quem se entrega à impureza, peca contra o próprio corpo. Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo. Mas a respeito do que me escrevestes, penso que seria bom para o homem abster-se da mulher. Todavia, para evitar o perigo da incontinência, cada homem tenha a sua mulher e cada mulher, o seu marido. O marido cumpra o dever conjugal para com a sua esposa, e a esposa faça o mesmo para com o seu marido. A esposa não pode dispor do próprio corpo, mas sim o marido; e, do mesmo modo, o marido não pode dispor do próprio corpo, mas sim a esposa. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de mútuo acordo e por algum tempo, para vos dedicardes à oração; depois, voltai de novo um para o outro, para que Satanás não vos tente devido à vossa incapacidade de autodomínio. Digo isto como concessão e não como ordem. Desejaria que todos os homens fossem como eu, mas cada um recebe de Deus o seu próprio carisma, um de uma maneira, outro de outra. Aos solteiros e às viúvas digo que é bom para eles ficarem como eu. Mas, se não podem guardar continência, casem-se; pois é melhor casar-se do que ficar abrasado. Aos que já estão casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido; se, porém, está separada, não se case de novo, ou, então, reconcilie-se com o marido; e o marido não repudie a sua mulher. Aos outros, digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem uma esposa não crente e esta consente em habitar com ele, não a repudie. E, se alguma mulher tem um marido não crente e este consente em habitar com ela, não o repudie. Pois o marido não crente é santificado pela mulher, e a mulher não crente é santificada pelo marido; de outro modo, os vossos filhos seriam impuros, quando, na realidade, são santos. Mas se o não crente quiser separar-se, que se separe, porque, em tais circunstâncias, nem o irmão nem a irmã estão vinculados. Deus chamou-vos para viverdes em paz. Com efeito, ó mulher, sabes se podes salvar o teu marido? E tu, ó marido, sabes se podes salvar a tua mulher? De resto, continue cada um a viver na condição que o Senhor lhe atribuiu e em que se encontrava quando Deus o chamou. É o que recomendo em todas as igrejas. Alguém era já circuncidado, quando foi chamado? Não disfarce a sua circuncisão. Era incircunciso, quando foi chamado? Não se faça circuncidar. A circuncisão não é nada, e nada é a incircuncisão; o que conta é a observância dos mandamentos de Deus. Permaneça cada um na condição em que se encontrava, quando foi chamado. Eras escravo, quando foste chamado? Não te preocupes com isso. Mas, ainda que pudesses tornar-te livre, procura, antes, tirar proveito da tua condição. Pois o escravo, que foi chamado no Senhor, é um liberto do Senhor. Do mesmo modo, o que era livre quando foi chamado, é um escravo de Cristo. Fostes comprados por um alto preço; não vos torneis escravos dos homens. Irmãos, permaneça cada um, diante de Deus, na condição em que se encontrava quando foi chamado. A respeito de quem é solteiro, não tenho nenhum preceito do Senhor, mas dou um conselho, como homem que, pela misericórdia do Senhor, é digno de confiança. Julgo, pois, que essa condição é boa, por causa das angústias presentes; sim, é bom para o homem continuar assim. Estás comprometido com uma mulher? Não procures romper o vínculo. Não estás comprometido? Não procures mulher. Todavia, se te casares, não pecas; e se uma virgem se casar, também não peca. Mas estes terão de suportar as tribulações corporais e eu quisera poupar-vos a elas. Eis o que vos digo, irmãos: o tempo é breve. De agora em diante, os que têm mulher, vivam como se não a tivessem; e os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se não o usufruíssem plenamente. Porque este mundo de aparências está a terminar. Eu quisera que estivésseis livres de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor, como há-de agradar ao Senhor. Mas aquele que tem esposa cuida das coisas do mundo, como há-de agradar à mulher, e fica dividido. Também a mulher não casada, tal como a virgem, cuidam das coisas do Senhor, para serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo, como há-de agradar ao marido. Digo-vos isto para vosso bem, não para vos armar uma cilada, mas visando o que é mais nobre e favoreça uma dedicação ao Senhor, sem partilha. Se alguém, cheio de vitalidade, receia faltar ao respeito à sua noiva e pensa que as coisas devem seguir o seu curso, faça o que lhe parecer melhor. Não peca; que se casem. Mas, se alguém tomou a firme resolução no seu coração, sem constrangimento e no pleno uso da sua vontade, e resolve no seu foro íntimo respeitar a sua noiva, fará bem. Portanto, aquele que desposa a sua noiva faz bem; e quem a não desposa ainda faz melhor. A mulher permanece ligada ao seu marido enquanto ele viver. Se, porém, o marido vier a falecer, fica livre para se casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor. Todavia, na minha opinião, será mais feliz, se permanecer como está. Julgo que também eu tenho o Espírito de Deus. Acerca das carnes imoladas aos ídolos, sabemos que todos já estamos instruídos. A ciência incha, mas a caridade edifica. Se alguém pensa que sabe alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber. Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus. Portanto, quanto ao consumo de carnes imoladas aos ídolos, sabemos que um ídolo não é nada no mundo, e que não há outro deus a não ser o Deus único. Pois, embora haja pretensos deuses, quer no céu quer na terra – e há muitos deuses e muitos senhores – para nós, contudo, um só é Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos, e um só é o Senhor Jesus Cristo, por meio do qual tudo existe e mediante o qual nós existimos. Mas nem todos têm esta ciência. Alguns, acostumados até há pouco ao culto dos ídolos, comem a carne como se fosse um verdadeiro sacrifício aos ídolos, e a sua consciência, fraca como é, fica manchada. Ora, não será certamente um alimento que nos aproximará de Deus! Porque nem perdemos nada, se não comermos, nem lucramos, se comermos. Mas, tomai cuidado, que essa vossa liberdade não venha a ser ocasião de queda para os fracos. Se alguém te vê a ti, que tens a ciência, sentado à mesa num templo dos ídolos, não poderá ele, por fraqueza de consciência, ser levado a comer carnes imoladas aos ídolos? E assim, pela tua ciência, vai perder-se quem é fraco, um irmão pelo qual Cristo morreu. Pecando contra os próprios irmãos e ferindo a consciência deles que é débil, é contra Cristo que pecais. Por isso, se um alimento for motivo de queda para o meu irmão, nunca mais voltarei a comer carne, para não causar a queda do meu irmão. Não sou eu um homem livre? Não sou um Apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Não sois vós a minha obra no Senhor? Se, para outros, eu não sou Apóstolo, sou-o certamente para vós, porque sois o selo do meu apostolado no Senhor. Esta é a minha defesa contra aqueles que me criticam. Não temos nós, porventura, o direito de comer e de beber? Não temos o direito de levar connosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os restantes Apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas? Ou somente eu e Barnabé é que não temos o direito de deixar de trabalhar? Quem é que, alguma vez, vai à guerra, à sua própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? Será que digo isto segundo critérios humanos, ou a própria Lei não dirá também o mesmo? Com efeito, na Lei de Moisés está escrito: Não açaimarás o boi que debulha o grão. Porventura, é com os bois que Deus se preocupa? Ou não será por causa de nós que Ele fala assim? De facto, é por nós que foi escrito; porque é na esperança de receber a sua parte, que o lavrador deve lavrar a terra, e o que debulha deve debulhar o grão. Se temos semeado para vós bens espirituais, será demasiado colher de vós bens materiais? Se outros gozam desse direito sobre vós, porque não nós, com maior razão? Mas nós não temos usado desse direito; pelo contrário, temos suportado tudo, para não criar qualquer obstáculo ao Evangelho de Cristo. Não sabeis que aqueles que desempenham funções sagradas vivem dos proventos do templo, e os que servem ao altar participam do que se oferece sobre o altar? Assim, ordenou também o Senhor, que aqueles que anunciam o Evangelho vivam do Evangelho. Eu, porém, não me aproveitei de nenhum desses direitos, nem tão pouco estou a escrever para os reclamar. Preferiria antes morrer do que... Ninguém me poderá privar deste título de glória. Porque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere. De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei – embora não estivesse sob a Lei – para ganhar os que estão sujeitos à Lei; com os que vivem sem a Lei, fiz-me como um sem Lei – embora eu não viva sem a lei de Deus porque tenho a lei de Cristo – para ganhar os que vivem sem a Lei. Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante. Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um ganha o prémio? Correi, pois, assim, para o alcançardes. Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível. Assim, também eu corro, mas não às cegas; dou golpes, mas não no ar. Castigo o meu corpo e mantenho-o submisso, para que não aconteça que, tendo pregado aos outros, venha eu próprio a ser eliminado. Não quero que ignoreis, irmãos, que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, todos passaram através do mar e todos foram baptizados em Moisés, na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e todos beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam de um rochedo espiritual que os seguia, e esse rochedo era Cristo. Apesar disso, a maior parte deles não agradou a Deus, pois foram exterminados no deserto. Ora isto aconteceu para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos coisas más, como eles cobiçaram. Não vos torneis idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo sentou-se para comer e beber; depois, levantaram-se para se divertir. Não nos entreguemos à imoralidade, como fizeram alguns deles e, num só dia, caíram mortos vinte e três mil. Nem tentemos o Senhor, como alguns deles tentaram e pereceram, mordidos pelas serpentes. Não murmureis, como murmuraram alguns deles, e pereceram às mãos do Exterminador. Estas coisas aconteceram-lhes para nosso exemplo e foram escritas para nos servir de aviso, a nós que chegámos ao fim dos tempos. Assim, pois, quem pensa estar de pé, tome cuidado para não cair. Não vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar. Por isso, meus caros, fugi da idolatria. Falo-vos como a pessoas sensatas; julgai vós mesmos o que digo. O cálice de bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse único pão. Vede o Israel segundo a carne: os que comem as vítimas não estão em comunhão com o altar? Que vos hei-de dizer, pois? Que a carne imolada aos ídolos tem algum valor, ou que o próprio ídolo é alguma coisa? Não! Mas aquilo que os pagãos sacrificam, sacrificam-no aos demónios e não a Deus. E eu não quero que estejais em comunhão com os demónios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demónios; não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demónios. Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes do que Ele? «Tudo é permitido» mas nem tudo é conveniente. «Tudo é permitido», mas nem tudo edifica. Ninguém procure o seu próprio interesse mas o dos outros. Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada indagar por motivo de consciência; porque do Senhor é a terra e tudo o que ela contém. Se algum pagão vos convidar e vós quiserdes ir, comei de tudo o que vos for servido, sem nada indagar por motivo de consciência. Mas se alguém vos disser: «Esta é carne imolada aos ídolos», não comais, por causa de quem vos avisou e por motivo de consciência. Refiro-me, não à vossa consciência, mas à dele. Por que motivo, de facto, a minha liberdade havia de ser julgada pela consciência alheia? Se eu tomo alimento, dando graças, porque hei-de ser censurado por aquilo de que dou graças? Portanto, quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. Não vos torneis ocasião de escândalo, nem para os judeus, nem para os gregos, nem para a Igreja de Deus. Fazei como eu, que me esforço por agradar a todos em tudo, não procurando o meu próprio interesse mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos. Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo. Felicito-vos porque em tudo vos lembrais de mim e guardais as tradições, conforme eu vo-las transmiti. Mas quero que saibais que a cabeça de todo o homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem, e a cabeça de Cristo é Deus. Todo o homem que reza ou profetiza, de cabeça coberta, desonra a sua cabeça. Mas toda a mulher que reza ou profetiza, de cabeça descoberta, desonra a sua cabeça; é como se estivesse com a cabeça rapada. Se a mulher não usa véu, mande cortar os cabelos! Mas se é vergonhoso para uma mulher cortar os cabelos ou rapar a cabeça, então cubra-se com um véu. O homem não deve cobrir a cabeça, porque é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do homem. Pois não foi o homem que foi tirado da mulher, mas a mulher do homem. E o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem. Por isso, a mulher deve trazer sobre a cabeça o sinal da autoridade, por causa dos anjos. Todavia, nem a mulher é separável do homem, nem o homem da mulher, diante do Senhor. Pois, se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce da mulher, e tudo provém de Deus. Julgai por vós mesmos: será decoroso que a mulher reze a Deus de cabeça descoberta? E não é a própria natureza que vos ensina que é uma desonra para o homem trazer cabelos compridos, ao passo que, para a mulher, deixá-los crescer é uma glória, porque a cabeleira lhe foi dada como um véu? Mas, se alguém quiser contestar, nós não temos esse costume, nem tão-pouco as igrejas de Deus. Feitas estas advertências, não posso louvar-vos: reunis-vos, não para vosso proveito, mas para vosso dano. Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando vos reunis em assembleia, há divisões entre vós, e em parte eu acredito. É mesmo necessário que haja divisões entre vós, para que se tornem conhecidos aqueles que de entre vós resistem a esta provação. Quando, pois, vos reunis, não é a ceia do Senhor que comeis, pois cada um se apressa a tomar a sua própria ceia; e enquanto um passa fome, outro fica embriagado. Porventura não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Hei-de louvar-vos? Nisto, não vos louvo. Com efeito, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus na noite em que era entregue, tomou pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim.» Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha. Assim, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Portanto, examine-se cada um a si próprio e só então coma deste pão e beba deste vinho; pois aquele que come e bebe, sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação. Por isso, há entre vós muitos débeis e enfermos e muitos morrem. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados; mas, quando somos julgados pelo Senhor, Ele corrige-nos, para não sermos condenados com o mundo. Por isso, meus irmãos, quando vos reunirdes para comer, esperai uns pelos outros. Se algum tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para vossa condenação. Quanto a outros assuntos, hei-de resolvê-los quando chegar. A respeito dos dons do Espírito, irmãos, não quero que fiqueis na ignorância. Sabeis que, quando éreis pagãos, vos deixáveis arrastar, irresistivelmente, para os ídolos mudos. Por isso, quero que saibais que ninguém, falando sob a acção do Espírito Santo, pode dizer: «Jesus seja anátema», e ninguém pode dizer: «Jesus é Senhor», senão pelo Espírito Santo. Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum. A um é dada, pela acção do Espírito, uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, a fé, no mesmo Espírito; a outro, o dom das curas, no único Espírito; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. Tudo isto, porém, o realiza o único e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um, conforme lhe apraz. Pois, como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo. De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito. O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos. Se o pé dissesse: «Uma vez que não sou mão, não faço parte do corpo», nem por isso deixaria de pertencer ao corpo. E se o ouvido dissesse: «Uma vez que não sou olho, não faço parte do corpo», nem por isso deixaria de pertencer ao corpo. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfacto? Deus, porém, dispôs os membros no corpo, cada um conforme lhe pareceu melhor. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: «Não tenho necessidade de ti», nem tão pouco a cabeça dizer aos pés: «Não tenho necessidade de vós.» Pelo contrário, quanto mais fracos parecem ser os membros do corpo, tanto mais são necessários, e aqueles que parecem ser os menos honrosos do corpo, a esses rodeamos de maior honra, e aqueles que são menos decentes, nós os tratamos com mais decoro; os que são decentes, não têm necessidade disso. Mas Deus dispôs o corpo, de modo a dar maior honra ao que dela carecia, para não haver divisão no corpo e os membros terem a mesma solicitude uns para com os outros. Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria. Vós sois o corpo de Cristo e cada um, pela sua parte, é um membro. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, mestres; em seguida, há o dom dos milagres, depois o das curas, o das obras de assistência, o de governo e o das diversas línguas. Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Fazem todos milagres? Possuem todos o dom das curas? Todos falam línguas? Todos as interpretam? Aspirai, porém, aos melhores dons. Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros. Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me vale. O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência vai ser inútil. Pois o nosso conhecimento é imperfeito e também imperfeita é a nossa profecia. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança. Agora, vemos como num espelho, de maneira confusa; depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito; depois, conhecerei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor. Procurai o amor e aspirai aos dons do Espírito, mas sobretudo ao da profecia. Pois aquele que fala em línguas, não fala aos homens, mas a Deus: ninguém, de facto, o entende, pois no Espírito diz coisas misteriosas. Mas o que profetiza fala aos homens para os edificar, exortar e consolar. Quem fala em línguas, edifica-se a si mesmo, mas quem profetiza, edifica a assembleia. Quisera eu que todos vós falásseis em línguas, mas mais ainda que profetizásseis. Quem profetiza está acima daquele que fala em línguas, a não ser que também as interprete, para que a assembleia possa tirar proveito. Imaginai agora, irmãos, que eu ia ter convosco e vos falava em línguas: de que utilidade vos seria, se nada vos comunicasse nem por revelação, nem por ciência, nem por profecia, nem por ensinamento? O mesmo acontece com os instrumentos de música, como a flauta ou a cítara: se não emitirem sons distintos, como identificar a melodia tocada? E, se a trombeta só emitir sons confusos, quem é que se prepara para a guerra? Do mesmo modo vós: se a vossa língua não proferir um discurso inteligível, como se há-de saber o que dizeis? Sereis como quem fala ao vento. Há no mundo não sei quantas espécies de línguas, e todas têm o seu significado. Ora, se eu não conheço o significado de uma língua, serei como um bárbaro para aquele que fala e aquele que fala, também o será para mim. Assim também vós: já que estais ávidos dos dons do Espírito, procurai adquiri-los em abundância, mas para edificação da assembleia. Por isso, o que fala em línguas reze para obter o dom da interpretação. Porque, se eu rezo em línguas, o meu espírito está em oração, mas a minha inteligência não colhe frutos. Que fazer, então? Rezarei com o espírito, mas rezarei também com a inteligência; cantarei com o espírito, mas cantarei igualmente com a inteligência. De outro modo, se tu elevas um cântico de louvor só com o espírito, como pode o que participa como simples ouvinte responder «Ámen» à tua acção de graças, visto que não sabe o que dizes? A tua acção de graças será certamente muito bela, mas o outro não tira qualquer proveito. Graças a Deus, eu falo mais em línguas que todos vós. Mas, numa assembleia, prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência, para instruir também os outros, do que dez mil, em línguas. Irmãos, não sejais crianças, quanto à maneira de julgar; sede, sim, crianças na malícia; mas, quanto à maneira de julgar, sede homens adultos. Está escrito na Lei: Falarei a este povo por homens de outra língua e por lábios estranhos, e nem assim me hão-de escutar, diz o Senhor. Por conseguinte, o dom das línguas é um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; já a profecia não é para os descrentes, mas para os crentes. Se toda a assembleia estivesse reunida e todos começassem a falar em línguas, os simples ouvintes ou descrentes que entrassem, não diriam que estáveis loucos? Mas se todos começarem a profetizar e entrar ali um descrente qualquer ou simples ouvinte, há-de sentir-se tocado por todos, julgado por todos; os segredos do seu coração serão desvendados e, prostrando-se com o rosto por terra, adorará a Deus, proclamando que Deus está realmente no meio de vós. Que devemos fazer, então, irmãos? Quando vos reunis, e cada um de vós tem um hino a cantar, um ensinamento a proferir, ou uma revelação, ou um discurso em línguas, ou uma interpretação, que tudo se faça de modo a edificar. Se se fala em línguas, que não sejam mais que dois ou no máximo três, cada um por sua vez, e que um as interprete. Se não houver intérprete, fiquem calados na assembleia e falem consigo mesmos e com Deus. Quanto aos profetas, que falem dois ou três e que os outros façam o discernimento. Mas se um outro entre os presentes recebe uma revelação, cale-se o anterior. Todos podeis profetizar, mas um após outro, para que todos sejam instruídos e exortados. Mas as inspirações dos profetas devem submeter-se aos profetas, porque Deus não é um Deus de desordem, mas de paz. Como acontece em todas as assembleias de santos, as mulheres estejam caladas nas assembleias, porque não lhes é permitido tomar a palavra e, como diz também a Lei, devem ser submissas. Se quiserem saber alguma coisa, perguntem em casa aos maridos, porque não é conveniente para uma mulher falar na assembleia. Porventura a palavra de Deus, partiu de vós ou só a vós foi comunicada? Se algum de vós julga ser profeta ou estar na posse dos dons do Espírito, deve reconhecer, no que vos escrevo, um preceito do Senhor. Mas se alguém não o reconhecer, também não será reconhecido. Assim, pois, irmãos, aspirai ao dom da profecia e não impeçais que se fale em línguas. Mas que tudo se faça com decoro e ordem. Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto. É que eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou e a graça que me foi concedida, não foi estéril. Pelo contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles: não eu, mas a graça de Deus que está comigo. Portanto, tanto eu como eles, assim é que pregamos e assim também acreditastes. Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. E resulta até que acabamos por ser falsas testemunhas de Deus, porque daríamos testemunho contra Deus, afirmando que Ele ressuscitou a Cristo, quando não o teria ressuscitado, se é que, na verdade, os mortos não ressuscitam. Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados. Por conseguinte, aqueles que morreram em Cristo, perderam-se. E se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. E, como todos morrem em Adão, assim em Cristo todos voltarão a receber a vida. Mas cada um na sua própria ordem: primeiro, Cristo; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois, será o fim: quando Ele entregar o reino a Deus e Pai, depois de ter destruído todo o principado, toda a dominação e poder. Pois é necessário que Ele reine até que tenha colocado todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído será a morte, pois Deus tudo submeteu debaixo dos pés dele. Mas quando diz: «Tudo foi submetido», é claro que se exclui aquele que lhe submeteu tudo. E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, a fim de que Deus seja tudo em todos. Se assim não fosse, que procurariam os que se fazem baptizar pelos mortos? Se, de facto, os mortos não ressuscitam, por que motivo se fazem baptizar por eles? E nós também, porque nos expomos aos perigos a todo o momento? Todos os dias, arrisco-me à morte, tão certo, irmãos, quanto sois vós a minha glória em Jesus Cristo nosso Senhor. Se fosse apenas por motivos humanos, de que me adiantaria ter combatido contra as feras em Éfeso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos porque amanhã morreremos. Não vos iludais: «As más companhias corrompem os bons costumes.» Sede sóbrios, como convém, e não continueis a pecar! Pois alguns de vós mostram que não conhecem a Deus: para vossa vergonha o digo. Mas dir-se-á: Como ressuscitam os mortos? Com que corpo regressam? Insensato! O que semeias não volta à vida, se primeiro não morrer. E o que semeias não é o corpo que há-de vir, mas um simples grão, por exemplo, de trigo ou de qualquer outra espécie. É Deus que lhe dá o corpo, como lhe apraz; dá a cada uma das sementes o corpo que lhe corresponde. Nem toda a carne é a mesma carne, mas uma é a dos homens, outra a dos animais, outra a dos pássaros, outra a dos peixes. Há corpos celestes e corpos terrestres, mas um é o esplendor dos celestes e outro o dos terrestres. Um é o esplendor do Sol, outro o da Lua e outro o das estrelas, e até uma estrela difere da outra em esplendor. Assim também acontece com a ressurreição dos mortos: semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual. Se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual. Assim está escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito um ser vivente e o último Adão, um espírito que vivifica. Mas o primeiro não foi o espiritual, mas o terreno; o espiritual vem depois. O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo vem do céu. Tal como era o terrestre, assim são também os terrestres; tal como era o celeste, assim são também os celestes. E assim como trouxemos a imagem do homem da terra, assim levaremos também a imagem do homem celeste. Digo-vos, irmãos: o homem terreno não pode herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdará a incorruptibilidade. Vou revelar-vos um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados; num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final –pois a trombeta soará – os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. É, de facto, necessário que este ser corruptível se revista de incorruptibilidade e que este ser mortal se revista de imortalidade. E, quando este corpo corruptível se tiver revestido de incorruptibilidade e este corpo mortal se tiver revestido de imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura: A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. Mas sejam dadas graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, meus queridos irmãos, sede firmes, inabaláveis, e progredi sempre na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é inútil no Senhor. Quanto à colecta em favor dos santos, fazei vós também o que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver conseguido poupar, para que, à minha chegada, não se tenha ainda de fazer a colecta. Quando aí chegar, enviarei, munidos de cartas, aqueles que tiverdes escolhido para levar a vossa oferta a Jerusalém. E, se convier que eu vá também, farão a viagem comigo. Irei ter convosco depois de passar pela Macedónia, pois a Macedónia, só a pretendo atravessar. É possível que me demore entre vós ou até passe aí o Inverno, para que me acompanheis aonde eu tenho de ir. Não vos quero ver só de passagem, mas espero permanecer algum tempo convosco, se o Senhor o permitir. Entretanto, ficarei em Éfeso até ao Pentecostes, pois abriu-se ali uma porta larga e propícia, embora os adversários sejam muitos. Se Timóteo aí chegar, velai para que esteja convosco sem receios, porque ele trabalha, como eu, na obra do Senhor. Que ninguém o despreze. E preparai-lhe a viagem para voltar em paz para junto de mim, pois estou à sua espera, com os irmãos. Quanto ao nosso irmão Apolo, pedi-lhe muito que fosse visitar-vos, com os irmãos, mas ele, de modo algum, quis ir agora; irá quando tiver oportunidade. Estai vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos e fortes. Que, entre vós, tudo se faça com amor. Mais uma recomendação, irmãos: conheceis os da família de Estéfanes, que são as primícias da Acaia e todos se consagraram ao serviço dos santos. Sede serviçais para pessoas como eles e para com todos os que trabalham e sofrem com eles. Sinto-me feliz com a chegada de Estéfanes, Fortunato e Acaico, pois eles supriram a vossa ausência. Trouxeram a tranquilidade ao meu espírito e ao vosso. Tende, pois, apreço por tais pessoas. Saúdam-vos as igrejas da Ásia. Áquila e Priscila, juntamente com a assembleia que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações no Senhor. Saúdam-vos todos os irmãos. Saudai-vos uns aos outros com um beijo santo. A saudação é do meu próprio punho: Paulo. Se alguém não ama o Senhor, seja anátema! «Vem, Senhor!» A graça do Senhor Jesus esteja convosco! Eu amo-vos a todos em Cristo Jesus. Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, como a todos os santos que estão na Acaia inteira, a vós, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação! Ele nos consola em toda a nossa tribulação, para que também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus. Na verdade, assim como abundam em nós os sofrimentos de Cristo, também, por meio de Cristo, é abundante a nossa consolação. Se somos atribulados, é, pois, para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, que vos faz suportar os mesmos sofrimentos que também nós padecemos. E a nossa esperança a respeito de vós é firme, porque sabemos que, assim como sois participantes dos nossos sofrimentos, também o haveis de ser da nossa consolação. Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia. Fomos maltratados em extremo, acima das nossas forças, até ao ponto de perdermos a esperança de sobreviver. Sentimos cair sobre nós mesmos a sentença de morte, para que não puséssemos a confiança em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos. Foi Ele quem nos livrou e nos há-de livrar de tão grande perigo de vida; nele colocamos a esperança de que sempre nos livrará, se vós também nos ajudardes, com as vossas orações, a fim de que o dom a nós concedido, pela intercessão de muitos, seja motivo de acção de graças para muitos, em nosso favor. Este é o nosso motivo de glória: o testemunho da nossa consciência de termos procedido no mundo, e mais particularmente em relação a vós, com a simplicidade e a sinceridade que vêm de Deus, e não com a sabedoria humana, mas segundo a graça de Deus. Na verdade, não vos escrevemos nada além do que podeis ler e compreender, e espero que o compreendais até ao fim – como em parte já nos compreendestes – que nós somos o vosso motivo de glória, como vós sereis o nosso, no Dia do Senhor Jesus. Com esta confiança, tencionava primeiro ir ter convosco, para que recebêsseis uma segunda graça, passando por vós a caminho da Macedónia, para, de lá, ir outra vez ter convosco e ser por vós ajudado na viagem para a Judeia. Ao conceber este plano, será que usei de leviandade? Ou será que as resoluções que tomo são puramente humanas, de modo que haja em mim o “sim” e o “não” ao mesmo tempo? Mas Deus é testemunha de que a nossa palavra dirigida a vós não é «sim» e «não.» Pois o Filho de Deus, Jesus Cristo, aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por Timóteo, não foi um «sim» e um «não», mas unicamente um «sim.» Nele todas as promessas de Deus se tornaram «sim» e é por isso que, graças a Ele, nós podemos dizer o «ámen» para glória de Deus. Aquele que nos confirma juntamente convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, Ele que nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito. Quanto a mim, invoco a Deus por testemunha, sobre a minha vida, de que foi para vos poupar que não voltei a Corinto. Não é porque pretendamos actuar como senhores sobre a vossa fé; queremos, antes, contribuir para a vossa alegria, porque, quanto à fé, estais firmes. Por isso, decidi comigo mesmo não voltar a ir ter convosco, estando triste. Com efeito, se vos entristeço, quem me poderá dar alegria senão aquele que eu tiver entristecido? E escrevi-vos justamente isto, para que, ao chegar, não sinta tristeza da parte daqueles que me deviam alegrar. Estou confiante, quanto ao que vos diz respeito, de que a minha alegria é a de todos vós. Foi, pois, em grande aflição e com o coração despedaçado, que vos escrevi entre muitas lágrimas, não para vos entristecer, mas para que conheçais o amor transbordante que vos tenho. Se alguém causou tristeza, não foi a mim, mas, de certo modo – não quero exagerar – a todos vós. Basta a esse homem a censura que a comunidade lhe infligiu. Agora, porém, é melhor que lhe perdoeis e o consoleis para que não sucumba ao peso de demasiada tristeza. Peço-vos, pois, que tenhais caridade para com ele. Realmente, quando vos escrevi, era minha intenção pôr-vos à prova, para ver se éreis capazes de obedecer em tudo. A quem vós perdoais, eu também perdoo. E se perdoei – na medida em que tinha de o fazer – foi por amor de vós, na presença de Cristo, para que não sejamos enganados por Satanás, já que não ignoramos as suas maquinações. Quando cheguei a Tróade, para pregar o Evangelho de Cristo, e apesar de lá me estar aberta uma porta no Senhor, não tive sossego de espírito porque não encontrei Tito, meu irmão. Despedi-me deles e parti para a Macedónia. Mas graças sejam dadas a Deus, que, em Cristo, nos conduz sempre em seu triunfo e, por nosso intermédio, difunde em toda a parte o perfume do seu conhecimento. Porque somos para Deus o bom odor de Cristo, para aqueles que se salvam e para aqueles que se perdem: para uns, odor da morte que conduz à morte; para outros, odor da vida que conduz à vida. E quem estaria à altura de uma tal missão? É que, de facto, não somos como muitos outros que falsificam a palavra de Deus, mas é com sinceridade, como enviados de Deus, que falamos em Cristo, diante de Deus. Vamos começar de novo a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós ou da vossa parte? A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações. Tal confiança, porém, nós a temos diante de Deus, por meio de Cristo. Não é que sejamos capazes de conceber alguma coisa como de nós mesmos; é de Deus que provém a nossa capacidade. É Ele que nos torna aptos para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, enquanto o Espírito dá a vida. Ora se o ministério da morte, gravado com letras em pedra, foi de tal glória que os filhos de Israel não podiam fixar o rosto de Moisés, por causa do esplendor que nele havia, aliás passageiro, quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito? Na verdade, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais rico de glória será o ministério da justiça. Mesmo até o que, sob tal aspecto, foi glorioso, deixou de o ser por causa da glória eminentemente superior. Se, com efeito, foi glorioso o que era transitório, muito mais glorioso é o que permanece. Na posse de uma tal esperança, procedemos com total desassombro. E não fazemos como Moisés, que punha um véu sobre o seu rosto para que os filhos de Israel não vissem o fim do que era transitório. Mas o entendimento deles foi obscurecido, e ainda hoje, quando lêem o Antigo Testamento, esse mesmo véu continua a não ser removido, pois é só em Cristo que deve ser levantado. Sim, até hoje, todas as vezes que lêem Moisés, um véu cobre-lhes o coração. Mas, quando se converterem ao Senhor, o véu será tirado. Ora, o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade. E nós todos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito. Por isso, investidos neste ministério que nos foi concedido por misericórdia, não perdemos a coragem, mas repudiamos os subterfúgios vergonhosos, não procedendo com astúcia nem adulterando a palavra de Deus, antes, pela manifestação da verdade, recomendando-nos à consciência de todos os homens diante de Deus. Se, entretanto, o nosso Evangelho continuar velado, está velado para os que se perdem, para os incrédulos, cuja inteligência o deus deste mundo cegou, a fim de não verem brilhar a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é imagem de Deus. Pois, não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus. Porque o Deus que disse: das trevas brilhe a luz, foi quem brilhou nos nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso. Em tudo somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não aniquilados. Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo. Estando ainda vivos, estamos continuamente expostos à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus seja manifesta também na nossa carne mortal. Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida. Animados do mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: Acreditei e por isso falei, também nós acreditamos e por isso falamos, sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos há-de ressuscitar com Jesus, e nos fará comparecer diante dele junto de vós. E tudo isto faço por vós, para que a graça, multiplicando-se na comunidade, faça aumentar a acção de graças, para a glória de Deus. Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia. Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. Sabemos, com efeito, que, quando a nossa morada terrestre, a nossa tenda, for destruída, temos uma habitação no Céu, obra de Deus, uma casa eterna, não construída por mãos humanas. E por isso, gememos nesta tenda, ansiando por revestir-nos daquela habitação celeste, contanto que nos encontremos vestidos e não nus. Pois, enquanto estamos na tenda gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos mas revestidos, a fim de que o que é mortal seja absorvido pela vida. E quem nos preparou para isso mesmo foi Deus, que nos deu o penhor do Espírito. Portanto, estamos sempre confiantes e conscientes de que, permanecendo neste corpo, vivemos exilados, longe do Senhor, pois caminhamos pela fé e não pela visão... Cheios dessa confiança, preferimos exilar-nos do corpo, para irmos morar junto do Senhor. Por isso também, quer permaneçamos na nossa morada, quer a deixemos, esforçamo-nos por lhe agradar. Com efeito, todos havemos de comparecer perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba conforme aquilo que fez de bem ou de mal, enquanto estava no corpo. Compenetrados, pois, do temor do Senhor, procuramos persuadir os homens e viver plenamente transparentes diante de Deus. Mas espero ter-me também manifestado plenamente às vossas consciências. Não vamos recomendar-nos, de novo, a vós, mas queremos dar-vos a oportunidade de vos gloriardes por causa de nós, a fim de que saibais como responder aos que se gloriam das aparências e não do que está no coração. Porque, se entramos em exaltação, é por Deus; se somos sensatos, é por vós. Sim, o amor de Cristo nos absorve completamente, ao pensar que um só morreu por todos e, portanto, todos morreram. Ele morreu por todos, a fim de que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Por conseguinte, de agora em diante, não conhecemos ninguém à maneira humana. Ainda que tenhamos conhecido a Cristo desse modo, agora já não o conhecemos assim. Por isso, se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou; eis que surgiram coisas novas. Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação. Pois foi Deus quem reconciliou o mundo consigo, em Cristo, não imputando aos homens os seus pecados, e pondo em nós a palavra da reconciliação. É em nome de Cristo, portanto, que exercemos as funções de embaixadores e é Deus quem, por nosso intermédio, vos exorta. Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus. Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus. E como seus colaboradores, exortamo-vos a não receber em vão a graça de Deus. Pois Ele diz: No tempo favorável, ouvi-te e, no dia da salvação, vim em teu auxílio. É este o tempo favorável, é este o dia da salvação. Não damos em nada qualquer motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado. Ao contrário, em tudo nos recomendamos como ministros de Deus, com muita paciência nas tribulações, nas necessidades e nas angústias, nos açoites e nas prisões, nos tumultos e nas fadigas, nas vigílias e nos jejuns, pela pureza e pela ciência, pela magnanimidade e pela bondade, pelo Espírito Santo e pelo amor sem fingimento, pela palavra da verdade e pelo poder de Deus, pelas armas ofensivas e defensivas da justiça; na honra e na desonra, na má e na boa fama; tidos por impostores e, no entanto, verdadeiros; por desconhecidos e, no entanto, bem conhecidos; por agonizantes e, no entanto, eis-nos com vida; por condenados e, no entanto, livres da morte; por tristes, nós que estamos sempre alegres; por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo. A nossa boca tem-se aberto para vós, ó coríntios; dilatou-se o nosso coração. Não é estreito o espaço que tendes em nós; o vosso íntimo é que se estreitou. Pagai-nos com a mesma moeda – como a filhos vos falo: dilatai, também vós, o vosso coração. Não vos prendais ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a impiedade ou que há de comum entre a luz e as trevas? Que acordo pode existir entre Cristo e Belial ou que parte tem o fiel com o infiel? Que compatibilidade é possível entre o templo de Deus e os ídolos? Porque nós somos o templo do Deus vivo, como o mesmo Deus disse: Habitarei e andarei no meio deles, Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso, saí do meio dessa gente e afastai-vos, diz o Senhor. Não toqueis no que é impuro e Eu vos acolherei, e serei para vós um pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. De posse destas promessas, caríssimos, purifiquemo-nos de toda a mácula da carne e do espírito, completando a obra da nossa santificação no temor de Deus. Dai-nos um lugar nos vossos corações. Não causámos dano a ninguém, não defraudámos ninguém, não explorámos ninguém. Não digo isto para vos condenar, pois já vos disse que estais no nosso coração para a vida e para a morte. Tenho muita confiança em vós e de vós muito me orgulho. Estou cheio de consolação e transbordo de alegria no meio de todas as nossas tribulações. Com efeito, chegados à Macedónia, não tivemos qualquer sossego, mas sofremos toda a espécie de tribulação: lutas, por fora; temores, por dentro. Deus, porém, que consola os humildes, consolou-nos com a chegada de Tito, e não só com a sua chegada mas também com a consolação que ele tinha recebido de vós. Contou-nos ele o vosso vivo desejo, a vossa aflição, a vossa solicitude por mim, de modo que ainda mais me regozijei. Sim, se vos causei tristeza com a minha carta, não me arrependo. E se então me arrependi – pois vejo que essa carta vos entristeceu, embora por pouco tempo – agora alegro-me, não por vos ter entristecido, mas por essa tristeza vos ter levado ao arrependimento. Com efeito, a vossa tristeza foi segundo Deus e assim não sofrestes nenhum dano da nossa parte. Porque a tristeza, segundo Deus, produz um arrependimento que leva à salvação e não dá lugar ao remorso, enquanto a tristeza do mundo produz a morte. Vede antes o que essa mesma tristeza segundo Deus produziu em vós: quanta solicitude, e até quantas desculpas; quanta indignação e quanto temor; que vivo desejo, que zelo, que punição! De qualquer modo, mostrastes que estáveis inocentes neste caso. Portanto, se vos escrevi, não foi por causa daquele que cometeu a ofensa, nem por causa do ofendido, mas para que a vossa solicitude por nós se tornasse patente a vós, diante de Deus. Foi por isso que ficámos consolados. Mas, além desta consolação, ainda mais nos alegrámos pela alegria de Tito, pois o seu espírito ficou tranquilizado a respeito de todos vós. Se diante dele me gloriei um pouco de vós, não tive de que me envergonhar; mas como em tudo vos temos falado com verdade, também o louvor que de vós fizemos a Tito resultou verdadeiro. A sua afeição por vós aumenta ainda mais, ao lembrar-se da obediência de todos vós, e de como o acolhestes com temor e reverência. Alegro-me de poder, em tudo, contar convosco. Queremos dar-vos a conhecer, irmãos, a graça que Deus concedeu às igrejas da Macedónia. No meio das muitas tribulações com que foram provadas, a sua superabundante alegria e extrema pobreza transbordaram em tesouros de generosidade. Sou testemunha de que, segundo as suas possibilidades, e até além delas, com toda a espontaneidade e com muita insistência, pediram-nos a graça de participar neste serviço em favor dos santos. E indo além das nossas expectativas, deram-se a si mesmos, primeiro ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus. Por isso, pedimos a Tito que, tal como a tinha começado, levasse a bom termo, entre vós, esta obra de generosidade. Mas, dado que tendes tudo em abundância – fé, dom da palavra, ciência, toda a espécie de zelo e amor que em vós despertámos – cuidai também de sobressair nesta obra de caridade. Não o digo como quem manda, mas para pôr ainda à prova a sinceridade do vosso amor, servindo-me do zelo dos outros. Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza. É um conselho que vos dou a este respeito: isto é o que vos convém, já que, desde o ano passado, fostes os primeiros não só a empreender a obra mas até a projectá-la. Agora, portanto, levai-a a bom termo, para que, como fostes prontos no querer, também o sejais no executar, conforme as vossas possibilidades. Porque, quando existe boa vontade, ela é bem aceite em atenção ao que se tiver, e não ao que se não tem. Não se trata de, ao aliviar os outros, vos fazer entrar em apuros, mas sim de que haja igualdade. No momento presente, o que vos sobra a vós supera a indigência dos outros, para que um dia o supérfluo deles compense a vossa indigência. Assim haverá igualdade, como está escrito: Quem muito recolheu, não teve de mais e a quem recolheu pouco, nada faltou. Graças sejam dadas a Deus que pôs no coração de Tito o mesmo zelo por vós. Não só recebeu bem o convite, mas, muito solícito, espontaneamente, partiu para junto de vós. Com ele enviámos aquele que é louvado em todas as igrejas, pela pregação do Evangelho, e que, além disso, foi escolhido pelas igrejas para nosso companheiro de viagem, nesta obra de generosidade que é administrada por nós, para glória do Senhor e em testemunho da nossa boa vontade. Queremos, assim, evitar o risco de que alguém nos censure a respeito desta abundante colecta que é administrada por nós, porque nos esforçamos por fazer o bem, não só diante do Senhor mas também diante dos homens. Com eles enviámos também o nosso irmão, cujo zelo temos experimentado, de muitos modos e muitas vezes, e que agora se mostra ainda mais solícito, pela grande confiança que deposita em vós. Quanto a Tito, é meu companheiro e meu colaborador junto de vós; quanto aos nossos irmãos, são enviados das igrejas, glória de Cristo. Dai-lhes, pois, diante da igreja, a prova do vosso amor e justificai, junto deles, o orgulho que sentimos por vós. A respeito do serviço em favor dos santos, é supérfluo que vos escreva. Conheço a vossa boa vontade, que enalteço, para vossa glória, junto dos macedónios: «A Acaia está pronta, desde o ano passado.» E o vosso zelo tem servido de estímulo a muitos outros. Enviei-vos, todavia, os irmãos para que o elogio que fiz de vós não seja desmentido neste particular e para que, como disse, estejais preparados. Não aconteça que, indo comigo alguns macedónios e encontrando-vos desprevenidos, nós, para não dizer vós, ficássemos envergonhados de tal confiança. Julgámos, por isso, necessário pedir aos irmãos que fossem adiante ter convosco e preparassem, de antemão, a vossa oferta prometida, e assim esta esteja já pronta como sinal de liberalidade e não de avareza. Ficai sabendo: Quem pouco semeia, também pouco há-de colher; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também colherá. Cada um dê como dispôs em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus tem poder para vos cumular de toda a espécie de graça, para que, tendo sempre e em tudo quanto vos é necessário, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género. Como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre. Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa justiça. Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de generosidade que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus. Porque o serviço desta colecta não deve apenas prover às necessidades dos santos, mas tornar-se abundante fonte de muitas acções de graças a Deus. Através da comprovada virtude deste serviço, eles glorificarão a Deus pela obediência que professais para com o Evangelho de Cristo, e pela generosidade da comunhão em benefício deles e de todos. E nas suas orações por vós, eles mostrarão quanto vos estimam, por causa da extraordinária graça que Deus vos concedeu. Graças sejam dadas a Deus pelo seu dom inefável! Sou eu mesmo, Paulo, quem vos exorta pela mansidão e bondade de Cristo. Eu, que sou tão humilde quando estou no meio de vós, na vossa presença, mas tão ousado para convosco, quando estou longe! Rogo-vos que, quando estiver presente, não me obrigueis a usar da autoridade com que penso dever afrontar aqueles que consideram o nosso comportamento inspirado por critérios humanos. Pois, embora vivamos numa natureza frágil, não lutamos por motivos humanos. As armas do nosso combate não são de origem humana, mas, por Deus, são capazes de destruir fortalezas. Destruímos os sofismas e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus e cativamos todo o pensamento para o conduzir à obediência a Cristo. Estamos prontos a punir qualquer desobediência, quando a vossa obediência for completa. Olhai as coisas de frente. Se alguém está convencido de pertencer a Cristo, tome consciência, de uma vez por todas, de que assim como ele é de Cristo, também nós o somos. E ainda que eu me gloriasse em excesso do poder que Deus nos deu para a vossa edificação, e não para a vossa ruína, não teria de que me envergonhar. Não quero, porém, dar a impressão de querer intimidar-vos por cartas, porque – dizem eles – «as suas cartas são duras e enérgicas, mas quando está presente é fraco e a sua palavra, desprezível.» Aquele que assim fala saiba que, tal como sou em palavras, por cartas, quando estou ausente, tal serei também por acções, quando estiver presente. Em verdade, não ousamos igualar-nos ou comparar-nos a alguns daqueles que se recomendam a si mesmos. Medindo-se pela sua própria medida e comparando-se consigo mesmos, dão provas de pouco senso. Quanto a nós, não nos gloriaremos desmedidamente, mas de acordo com a norma que Deus nos atribuiu para poder chegar até vós. De facto, não ultrapassamos os limites, como seria o caso, se não tivéssemos chegado até vós, pois fomos mesmo ter convosco com o Evangelho de Cristo. Não nos gloriamos desmedidamente com trabalhos alheios. Temos a esperança de que, com os progressos da vossa fé, cresceremos cada vez mais em vós, segundo a norma que nos foi dada, levando o Evangelho para além das vossas fronteiras, sem contudo entrarmos em campo alheio, para não nos gloriarmos de trabalhos já feitos. Quem se gloria, que se glorie no Senhor, pois não é aquele que se recomenda a si próprio que é aprovado, mas aquele que o Senhor recomenda. Oxalá pudésseis suportar um pouco de insensatez da minha parte! Mas, de certo, ma suportareis. Sinto por vós um ciúme semelhante ao ciúme de Deus, pois vos desposei com um único esposo, Cristo, a quem devo apresentar-vos como virgem pura. Mas receio que, como a serpente seduziu Eva com a sua astúcia, os vossos pensamentos se deixem corromper, desviando-se da simplicidade que é devida a Cristo. Pois de boamente aceitais alguém que surge a pregar-vos outro Jesus diferente daquele que nós pregámos, ou acolheis um espírito diferente daquele que recebestes, ou um Evangelho diverso daquele que abraçastes. Ora, eu penso que em nada sou inferior a esses superapóstolos. E embora seja menos perito na palavra, não o sou, certamente, na ciência. Em tudo e de todas as maneiras vo-lo temos demonstrado. Porventura cometi alguma falta, ao humilhar-me para vos exaltar, quando vos anunciei gratuitamente o Evangelho de Deus? Despojei outras igrejas, recebendo delas o sustento para vos servir, e encontrando-me necessitado no meio de vós, não fui pesado a ninguém, pois os irmãos vindos da Macedónia é que proveram às minhas necessidades. Em tudo me guardei de vos ser pesado e continuarei a fazê-lo. Pela verdade de Cristo que está em mim, não me será tirado este motivo de glória nas regiões da Acaia. E porquê? Porque não vos amo? Deus o sabe! O que faço, continuarei a fazê-lo, para não dar qualquer pretexto àqueles que o buscam, a fim de aparecerem como nós naquilo de que se gloriam. Esses tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçados de apóstolos de Cristo. E não é de estranhar! Também Satanás se disfarça em anjo de luz! Não é por isso grande coisa se os seus ministros se disfarçarem de servidores da justiça. O fim deles será conforme às suas obras. Volto a dizê-lo. Ninguém me tenha por insensato. Ou então, aceitai-me como insensato, para que também eu possa gloriar-me um pouco. O que vou dizer, não o digo segundo o Senhor, mas como num assomo de insensatez, certo de que tenho motivos para me gloriar. Já que muitos se gloriam por motivos humanos, também eu o vou fazer. Na verdade, tão sensatos como sois, suportais de bom grado os insensatos. Suportais quem vos escraviza, vos devora, vos explora, vos trata com arrogância, vos esbofeteia. Para nossa vergonha o digo: como fracos nos mostramos. Mas daquilo de que alguém se faz forte – eu falo como insensato – também eu me posso fazer. São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu. São ministros de Cristo? – Falo a delirar – eu ainda mais: muito mais pelos trabalhos, muito mais pelas prisões, imensamente mais pelos açoites, muitas vezes em perigo de morte. Cinco vezes recebi dos Judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com vergastadas, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar. Viagens a pé sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmãos de raça, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsos irmãos! Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as igrejas! Quem é fraco, sem que eu o seja também? Quem tropeça, sem que eu me sinta queimar de dor? Se é mesmo preciso gloriar-se, é da minha fraqueza que me gloriarei. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não minto. Em Damasco, o etnarca do rei Aretas mandou guardar a cidade dos damascenos para me prender. Mas fui descido num cesto, por uma janela, ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos. É necessário que me glorie? Na verdade, não convém! Apesar disso, recorrerei às visões e revelações do Senhor. Sei de um homem, em Cristo, que, há catorze anos – ignoro se no corpo ou se fora do corpo, Deus o sabe! – foi arrebatado até ao terceiro céu. E sei que esse homem – ignoro se no corpo ou se fora do corpo, Deus o sabe! – foi arrebatado até ao paraíso e ouviu palavras inefáveis que não é permitido a um homem repetir. Desse homem gloriar-me-ei; mas de mim próprio não me hei-de gloriar, a não ser das minhas fraquezas. Decerto, se quisesse gloriar-me, não seria insensato, pois diria a verdade. Mas abstenho-me, não vá alguém formar de mim um juízo superior ao que vê em mim ou ouve dizer de mim. E porque essas revelações eram extraordinárias, para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas Ele respondeu-me: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.» De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me alegro nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte. Procedi como um insensato! Mas vós é que me forçastes a isso. Por vós é que eu deveria ter sido recomendado, pois em nada fui inferior a esses superapóstolos, embora eu nada seja. Os sinais distintivos do Apóstolo realizaram-se entre vós, por uma paciência a toda a prova, por sinais, milagres e prodígios. Em que fostes, na verdade, inferiores às outras igrejas, a não ser que, pessoalmente, não vos fui pesado? Perdoai-me esta injustiça. Eis que estou pronto a ir ter convosco pela terceira vez, mas não vos serei pesado, porque não procuro as vossas coisas mas a vós mesmos. Não compete aos filhos entesourar para os pais, mas sim aos pais para os filhos. Quanto a mim, de bom grado darei o que tenho e dar-me-ei a mim mesmo totalmente, em vosso favor. Será que, por vos ter mais amor, sou menos amado? Mas seja! Não vos fui pesado, mas, astuto como sou, conquistei-vos pela fraude. Será que vos defraudei por algum daqueles que vos enviei? Insisti com Tito e enviei com ele outro irmão. Será que Tito vos defraudou? Não caminhamos segundo o mesmo espírito? Não seguimos os mesmos passos? Desde há muito pensais que queremos justificar-nos diante de vós. Não. Perante Deus, em Cristo, é que falamos. E tudo, caríssimos, para vossa edificação. De facto, temo que à minha chegada, possa não vos encontrar como desejaria e que vós não me encontreis como desejaríeis. Temo que haja entre vós contendas, invejas, rixas, dissensões, calúnias, murmurações, arrogâncias e desordens. Temo que, ao voltar, o meu Deus me humilhe em relação a vós, e tenha de lamentar muitos dos que pecaram no passado e não se converteram da impureza, da imoralidade e da devassidão que praticaram. Pela terceira vez, vou ter convosco. Pela palavra de duas ou três testemunhas será decidido qualquer assunto. Já o disse, como por ocasião da minha segunda visita, e repito-o agora que estou ausente, àqueles que pecaram anteriormente e a todos os demais: se voltar, não usarei de clemência, já que pretendeis ter uma prova de que Cristo fala em mim. Ele não é fraco em relação a vós, mas manifesta em vós o seu poder! Sim, se foi crucificado na sua fraqueza, agora está vivo pelo poder de Deus. Nós também somos fracos nele, mas viveremos com Ele pelo poder de Deus que actua em vós. Examinai-vos a vós mesmos para ver se estais na fé; ponde-vos à prova. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? A não ser que sejais reprovados no exame. Espero, porém, que reconheçais que nós não fomos reprovados. Pedimos a Deus que não façais nada de mal, não para parecermos aprovados, mas para que pratiqueis o bem, mesmo se tivermos de passar por reprovados. Não temos qualquer poder contra a verdade, mas só a favor da verdade. Alegramo-nos quando somos fracos e vós sois fortes. E isto pedimos nas nossas orações: o vosso aperfeiçoamento. Por isso, estando ausente, vos escrevo estas coisas, para que, uma vez presente, não tenha de usar de rigor, conforme o poder que o Senhor me deu para edificar e não para destruir. De resto, irmãos, sede alegres, tendei para a perfeição, confortai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-vos mutuamente com o beijo santo. Saúdam-vos todos os santos. A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós! Paulo, apóstolo – não da parte dos homens, nem por meio de homem algum, mas por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos – e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia: Graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, que a si mesmo se entregou pelos nossos pecados, para nos libertar deste mundo mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai. A Ele a glória pelos séculos dos séculos! Ámen. Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para seguirdes outro Evangelho. Que outro não há; o que há é certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema. Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo. Com efeito, faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana; pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo. Ouvistes falar do meu procedimento outrora no judaísmo: com que excesso perseguia a Igreja de Deus e procurava devastá-la; e no judaísmo ultrapassava a muitos dos compatriotas da minha idade, tão zeloso eu era das tradições dos meus pais. Mas, quando aprouve a Deus – que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios, não fui logo consultar criatura humana alguma, nem subi a Jerusalém para ir ter com os que se tornaram Apóstolos antes de mim. Parti, sim, para a Arábia e voltei outra vez a Damasco. A seguir, passados três anos, subi a Jerusalém, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. Mas não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. O que vos escrevo, digo-o diante de Deus: não estou a mentir. Seguidamente, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. Mas não era pessoalmente conhecido das igrejas de Cristo que estão na Judeia. Apenas tinham ouvido dizer: «Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora, como Evangelho, a fé que então devastava.» E, por causa de mim, glorificavam a Deus. A seguir, catorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém, com Barnabé, levando comigo também Tito. Mas subi devido a uma revelação. E pus à apreciação deles – e, em privado, à dos mais considerados – o Evangelho que prego entre os gentios, não esteja eu a correr ou tenha corrido em vão. Contudo, nem sequer Tito, que estava comigo, sendo grego, foi forçado a circuncidar-se. Ora, por causa de uns intrusos, falsos irmãos, esses que furtivamente se intrometeram a espiar a nossa liberdade, aquela que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzirem à escravidão… A esses nem sequer uma hora cedemos nem nos sujeitámos, para que a verdade do Evangelho se mantivesse para vós. Mas, quanto àqueles que eram considerados como autoridades – o que eles eram outrora de nada me interessa, já que Deus não faz acepção de pessoas – a mim, com efeito, nada mais me impuseram. Antes pelo contrário: tendo visto que me tinha sido confiada a evangelização dos incircuncisos, como a Pedro a dos circuncisos – pois aquele que operou em Pedro, para o apostolado dos circuncisos, operou também em mim, em favor dos gentios – e tendo reconhecido a graça que me tinha sido dada, Tiago, Cefas e João, que eram considerados as colunas, deram-nos a mão direita, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão, para irmos, nós aos gentios e eles aos circuncisos. Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres – o que procurei fazer com o maior empenho. Mas, quando Cefas veio para Antioquia, opus-me frontalmente a ele, porque estava a comportar-se de modo condenável. Com efeito, antes de terem chegado umas pessoas da parte de Tiago, ele comia juntamente com os gentios. Mas, quando elas chegaram, Pedro retirava-se e separava-se, com medo dos partidários da circuncisão. E com ele também os outros judeus agiram hipocritamente, de tal modo que até Barnabé foi arrastado pela hipocrisia deles. Mas, quando vi que não procediam correctamente, de acordo com a verdade do Evangelho, disse a Cefas diante de todos: «Se tu, sendo judeu, vives segundo os costumes gentios e não judaicos, como te atreves a forçar os gentios a viver como judeus?» Nós, por nascimento, somos judeus, e não pecadores de entre os gentios. Sabemos, porém, que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus Cristo; por isso, também nós acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei; porque pelas obras da Lei nenhuma criatura será justificada. Mas se, ao procurarmos ser justificados pela fé em Cristo, fomos também nós achados como pecadores, não será Cristo um servidor do pecado? De maneira nenhuma! Se, com efeito, aquilo que eu tinha destruído, o volto a construir, sou eu que a mim próprio me apresento como transgressor. É que eu pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Não rejeito a graça de Deus; porque, se a justiça viesse pela Lei, então teria sido inútil a morte de Cristo. Oh Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, a vós, a cujos olhos foi exposto Jesus Cristo crucificado? Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes o Espírito ou pela pregação da fé? Sois tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, quereis agora, pela carne, chegar à perfeição? Foi em vão que experimentastes coisas tão grandiosas? Se é que foi mesmo em vão! Aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, será, pois, que o faz pelas obras da Lei ou pela pregação da fé? Assim foi com Abraão: teve fé em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. Ficai, por isso, a saber: os que dependem da fé é que são filhos de Abraão. E como a Escritura previu que é pela fé que Deus justifica os gentios, anunciou previamente como evangelho a Abraão: Serão abençoados em ti todos os povos. Assim, os que dependem da fé são abençoados com o crente Abraão. É que todos os que estão dependentes das obras da Lei estão sob maldição, pois está escrito: Maldito seja todo aquele que não persevera em tudo o que está escrito no livro da Lei, em ordem a cumpri-lo. E que, pela Lei, ninguém é justificado diante de Deus, é coisa evidente, pois aquele que é justo pela fé é que viverá. E a Lei não está dependente da fé; pelo contrário: Quem cumprir as suas prescrições viverá por elas. Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, ao fazer-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito seja todo aquele que é suspenso no madeiro. Isto, para que a bênção de Abraão chegasse até aos gentios, em Cristo Jesus, para recebermos a promessa do Espírito, por meio da fé. Irmãos, vou falar-vos à maneira humana: Mesmo vindo de um homem, um testamento que tenha entrado em vigor ninguém o pode anular ou aumentar. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não se diz: «e às descendências», como se de muitas se tratasse; trata-se, sim, de uma só: E à tua descendência, que é Cristo. Ora, é exactamente isto que quero dizer: um testamento que antes tinha sido posto em vigor por Deus, não é a Lei, aparecida quatrocentos e trinta anos depois, que o vai invalidar e assim anular a promessa. É que, se é da Lei que vem a herança, então não é da promessa. Mas foi pela promessa que Deus concedeu a sua graça a Abraão. Porquê, então, a Lei? Por causa das transgressões é que ela foi acrescentada, até chegar a descendência a quem a promessa foi feita; foi estabelecida através de anjos pela mão de um mediador. Ora, o mediador não o é de um só, ao passo que Deus é único. Estará então a Lei contra as promessas de Deus? De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma lei que fosse capaz de dar a vida, a justiça viria realmente pela Lei. Só que a Escritura tudo fechou sob o pecado, para que a promessa fosse dada aos crentes pela fé em Jesus Cristo. Antes, porém, de chegar a fé, estávamos prisioneiros da Lei, estávamos fechados, até à fé que havia de revelar-se. Deste modo, a Lei tornou-se nosso pedagogo até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Uma vez, porém, chegado o tempo da fé, já não estamos sob o domínio do pedagogo. É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus, mediante a fé; pois todos os que fostes baptizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo mediante a fé. Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. E se sois de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa. Mas eu digo-vos: durante todo o tempo em que o herdeiro é criança, em nada difere de um escravo, apesar de ser senhor de tudo. Pelo contrário, está sob o domínio de tutores e administradores, até ao dia fixado pelo seu pai. Assim também nós, quando éramos crianças, estávamos sob o domínio dos elementos do mundo, a eles sujeitos como escravos. Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! – Pai!” Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus. Mas outrora, quando não conhecíeis a Deus, servistes os deuses que, na realidade, o não são. Agora, porém, tendo conhecido a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível que vos convertais outra vez aos elementos fracos e pobres, querendo novamente ser escravos deles? Observais os dias e os meses, as estações e os anos! Temo, a vosso respeito, que afinal tenha sido em vão o trabalho que suportei por vós. Isto vos peço, irmãos: sede como eu, pois também eu me tornei como vós. Em nada me ofendestes. Mas sabeis que foi por causa de uma doença corporal que vos anunciei o Evangelho pela primeira vez. Embora o meu corpo fosse para vós uma provação, não reagistes com desprezo nem nojo. Pelo contrário: recebestes-me como um anjo de Deus, como a Cristo Jesus. Onde estava, pois, a vossa felicidade? Sim, disto eu sou testemunha a vosso favor: se tivesse sido possível, teríeis arrancado os vossos olhos para mos dar. Tornei-me então vosso inimigo, ao dizer-vos a verdade? Não é por bem que eles andam a interessar-se por vós. Pelo contrário: o que querem é separar-vos de mim, para que vos interesseis por eles. Bom é, sim, que vos interesseis sempre pelo bem, e não apenas quando estou convosco. Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós! Sim, como desejaria estar agora convosco e mudar o tom da minha voz! É que eu estou perplexo a vosso respeito. Dizei-me, vós que quereis estar sob o domínio da Lei: afinal não dais ouvidos à Lei? Com efeito, está escrito que Abraão teve dois filhos: um da escrava e outro da mulher livre. Mas, enquanto o da escrava foi gerado segundo a carne, o da mulher livre foi gerado por causa da promessa. Isto está dito em alegoria; pois elas representam duas alianças: uma, a do monte Sinai, foi a que gerou para a escravidão; essa é Agar. Ora, Agar é o nome dado, na Arábia, ao monte Sinai, e corresponde à Jerusalém actual, já que se encontra sob a escravidão, juntamente com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre; essa é a nossa mãe, pois está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz; rejubila e grita, tu que não sentes as dores de parto; pois são muitos os filhos da abandonada, mais do que os daquela que tem marido! E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa. Só que, como então o que foi gerado segundo a carne perseguia o que o foi segundo o Espírito, assim também agora. Mas que diz a Escritura? Expulsa a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava não poderá herdar juntamente com o filho da mulher livre. Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da mulher livre. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão. Reparai, sou eu, Paulo, que vo-lo digo: se vos circuncidardes, Cristo de nada vos servirá. Uma vez mais o atesto a todo o homem que se circuncida: fica obrigado a cumprir toda a Lei. Tornastes-vos uns estranhos para Cristo, vós os que pretendeis ser justificados pela Lei; abandonastes a graça. Porque nós, é em virtude da fé, pelo Espírito, que aguardamos a justiça que esperamos. Pois, em Cristo, nem a circuncisão vale alguma coisa, nem a incircuncisão, mas sim a fé que actua pelo amor. Corríeis bem. Quem foi que vos deteve, impedindo-vos de obedecer à verdade? Uma persuasão assim não vem daquele que vos chama. Um pouco de fermento faz fermentar toda a massa. Eu, a respeito de vós, tenho confiança no Senhor, de que de maneira nenhuma ireis pensar de outro modo. Mas quem vos perturba sofrerá a condenação, seja ele quem for. Quanto a mim, irmãos, se eu ainda prego a circuncisão, porque sou ainda perseguido? Acabou-se, portanto, o escândalo da cruz. Aqueles que vos inquietam, o que eles deviam era castrar-se. Irmãos, de facto, foi para a liberdade que vós fostes chamados. Só que não deveis deixar que essa liberdade se torne numa ocasião para os vossos apetites carnais. Pelo contrário: pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo. Mas, se vos mordeis e devorais uns aos outros, cuidado, não sejais consumidos uns pelos outros. Mas eu digo-vos: caminhai no Espírito, e não realizareis os apetites carnais. Porque a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito, o que é contrário à carne; são, de facto, realidades que estão em conflito uma com a outra, de tal modo que aquilo que quereis, não o fazeis. Ora, se sois conduzidos pelo Espírito, não estais sob o domínio da Lei. Mas as obras da carne estão à vista. São estas: fornicação, impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contenda, ciúme, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Sobre elas vos previno, como já preveni: os que praticarem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. Por seu lado, é este o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio. Contra tais coisas não há lei. Mas os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e desejos. Se vivemos no Espírito, sigamos também o Espírito. Não nos tornemos vaidosos, a provocar-nos uns aos outros, a ter inveja uns dos outros. Irmãos, se porventura um homem for apanhado nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão; e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado. Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo. É que, se alguém julga ser alguma coisa, nada sendo, engana-se a si mesmo. Mas examine cada um a sua própria acção, e então o motivo de glória que encontrar, tê-lo-á em relação a si próprio e não em relação ao outro. Pois cada um terá de carregar o próprio fardo. Mas quem está a ser instruído na Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens. Não vos enganeis: de Deus não se zomba. Pois o que um homem semear, também o há-de colher: quem semear na própria carne, da carne colherá a corrupção; quem semear no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas principalmente para com os irmãos na fé. Vede com que grandes letras vos escrevo pela minha mão! Todos quantos querem fazer boa figura, são esses que vos forçam a circuncidar-vos, só para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Pois nem mesmo aqueles que se circuncidam observam a Lei; mas o que querem é que vos circuncideis, para se poderem gloriar na vossa carne. Quanto a mim, porém, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Pois nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas sim uma nova criação. Paz e misericórdia para todos quantos seguirem esta regra, bem como para o Israel de Deus. De agora em diante ninguém mais me venha perturbar; pois eu levo no meu corpo as marcas de Jesus. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito, irmãos! Ámen. Paulo, Apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso: a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja o Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que no alto do Céu nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor. Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com o beneplácito da sua vontade, para que seja prestado louvor à glória da sua graça, que gratuitamente derramou sobre nós, no seu Filho bem amado. É em Cristo, pelo seu sangue, que temos a redenção, o perdão dos pecados, em virtude da riqueza da sua graça, que Ele abundantemente derramou sobre nós, com toda a sabedoria e inteligência. Manifestou-nos o mistério da sua vontade, e o plano generoso que tinha estabelecido, para conduzir os tempos à sua plenitude: submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no céu e na terra. Foi também em Cristo que fomos escolhidos como sua herança, predestinados de acordo com o desígnio daquele que tudo opera, de acordo com a decisão da sua vontade, para que nos entreguemos ao louvor da sua glória, nós, que previamente pusemos a nossa esperança em Cristo. Foi nele, ainda, que vós ouvistes a palavra da verdade, o Evangelho que vos salva. Foi nele ainda que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, o qual é garantia da nossa herança, para que dela tomemos posse, na redenção, para louvor da sua glória. Por isso, também eu, desde que ouvi falar da vossa fé no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós, quando vos recordo nas minhas orações. Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê o Espírito de sabedoria e vo-lo revele, para o conhecerdes; sejam iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes que esperança nos vem do seu chamamento, que riqueza de glória contém a herança que Ele nos reserva entre os santos e como é extraordinariamente grande o seu poder para connosco, os crentes, de acordo com a eficácia da sua força poderosa, que eficazmente exerceu em Cristo: ressuscitou-o dos mortos e sentou-o à sua direita, no alto do Céu, muito acima de todo o Poder, Principado, Autoridade, Potestade e Dominação e de qualquer outro nome que seja nomeado, não só neste mundo, mas também no que há-de vir. Sim, Ele tudo submeteu a seus pés e deu-o, como cabeça que tudo domina, à Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude daquele que tudo preenche em todos. Também a vós, que estáveis mortos pelas vossas faltas e pecados, aqueles em que vivestes outrora, de acordo com o curso deste mundo, de acordo com o príncipe que domina os ares, o espírito que agora actua nos rebeldes... Como eles, todos nós nos comportámos outrora: entregues aos nossos desejos mundanos, fazíamos a vontade dele, seguíamos os seus impulsos, de tal modo que estávamos sujeitos por natureza à ira divina, precisamente como os demais. Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou, precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo – é pela graça que vós estais salvos – com Ele nos ressuscitou e nos sentou no alto do Céu, em Cristo. Pela bondade que tem para connosco, em Cristo Jesus, quis assim mostrar, nos tempos futuros, a extraordinária riqueza da sua graça. Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas obras que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos. Lembrai-vos, portanto, de que vós outrora – os gentios na carne, os chamados incircuncisos por aqueles que se chamavam circuncisos, com uma circuncisão praticada na carne – lembrai-vos de que nesse tempo estáveis sem Cristo, excluídos da cidadania de Israel e estranhos às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. Mas em Cristo Jesus, vós, que outrora estáveis longe, agora, estais perto, pelo sangue de Cristo. Com efeito, Ele é a nossa paz, Ele que, dos dois povos, fez um só e destruiu o muro de separação, a inimizade: na sua carne, anulou a lei, que contém os mandamentos em forma de prescrições, para, a partir do judeu e do pagão, criar em si próprio um só homem novo, fazendo a paz, e para os reconciliar com Deus, num só Corpo, por meio da cruz, matando assim a inimizade. E, na sua vinda, anunciou a paz a vós que estáveis longe e paz àqueles que estavam perto. Porque, é por Ele que uns e outros, num só Espírito, temos acesso ao Pai. Portanto, já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito. É graças a isso, que eu, Paulo, prisioneiro de Cristo por vós, os gentios... Com certeza, ouvistes falar da graça de Deus que me foi dada para vosso benefício, a fim de realizar o seu plano: que, por revelação, me foi dado conhecer o mistério, tal como antes o descrevi resumidamente. Lendo-o, podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, que, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas, no Espírito: os gentios são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho. Dele me tornei servidor, pelo dom da graça de Deus que me foi dada, pela eficácia do seu poder. A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas para que agora, por meio da Igreja, seja dada a conhecer, aos Principados e às Autoridades no alto do Céu, a multiforme sabedoria de Deus, de acordo com o desígnio eterno que Ele realizou em Cristo Jesus Senhor nosso. Em Cristo, mediante a fé nele, temos a liberdade e a coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança. Por isso, peço-vos que não desanimeis com as tribulações que sofro por vós; elas são a vossa glória. É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus. Àquele que pode fazer imensamente mais do que pedimos ou imaginamos, de acordo com o poder que eficazmente exerce em nós, a Ele a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos! Ámen. Eu, o prisioneiro no Senhor, exorto-vos, pois, a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos. Mas, a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. Por isso se diz: Ao subir às alturas, levou cativos em cativeiro, deu dádivas aos homens. Ora, este «subiu» que quer dizer, senão que também desceu às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é precisamente o mesmo que subiu muito acima de todos os céus, a fim de encher o universo. E foi Ele que a alguns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo. Assim, deixaremos de ser crianças, batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina, ao sabor do jogo dos homens, da astúcia que maliciosamente leva ao erro; antes, testemunhando a verdade no amor, cresceremos em tudo para aquele que é a cabeça, Cristo. É a partir dele que o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de toda a espécie de articulações que o sustentam, segundo uma força à medida de cada uma das partes, realiza o seu crescimento como Corpo, para se construir a si próprio no amor. É isto, pois, o que digo e recomendo no Senhor: não volteis a proceder como procedem os gentios, no vazio da sua mente; vivem obscurecidos no pensamento, alienados da vida de Deus, devido à ignorância que neles existe e ao endurecimento do seu coração; tornados insensíveis, a si mesmos se entregam à libertinagem, até chegarem a praticar toda a espécie de impureza, na ganância. Vós, porém, não foi assim que aprendestes, ao conhecerdes a Cristo, supondo que dele ouvistes falar e nele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus: que deveis, no que toca à conduta de outrora, despir-vos do homem velho, corrompido por desejos enganadores; que vos deveis renovar pela transformação do Espírito que anima a vossa mente; e que deveis revestir-vos do homem novo, que foi criado em conformidade com Deus, na justiça e na santidade, próprias da verdade. Por isso, despi-vos da mentira e diga cada um a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. Se vos irardes, não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, nem deis espaço algum ao diabo. Aquele que roubava deixe de roubar; antes se esforce por trabalhar com as suas próprias mãos, fazendo o bem, para que tenha com que partilhar com quem passa necessidade. Nenhuma palavra desagradável saia da vossa boca, mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam. E não ofendais o Espírito Santo de Deus, selo com o qual fostes marcados para o dia da redenção. Toda a espécie de azedume, raiva, ira, gritaria e injúria desapareça de vós, juntamente com toda a maldade. Sede, antes, bondosos uns para com os outros, compassivos; perdoai-vos mutuamente, como também Deus vos perdoou em Cristo. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos bem amados, e procedei com amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós como oferta e sacrifício de agradável odor. Mas de prostituição e qualquer espécie de impureza ou ganância nem sequer se fale entre vós, como é próprio de santos; nem haja palavras obscenas, insensatas ou grosseiras; são coisas que não convêm; haja, sim, acção de graças. Porque, disto deveis ter a certeza: nenhum fornicador, impuro ou ganancioso – o que equivale a idólatra – tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras ocas; pois são estas coisas que provocam a ira de Deus contra os rebeldes. Não sejais, pois, cúmplices deles. É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz – pois o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade – procurando discernir o que é agradável ao Senhor. E não tomeis parte nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, denunciai-as. Porque o que por eles é feito às escondidas, até dizê-lo é vergonhoso. Mas tudo isso, se denunciado, é posto às claras pela luz; pois tudo o que é posto às claras é luz. Por isso se diz: «Desperta, tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo brilhará sobre ti». Portanto, vede bem como procedeis: não como insensatos, mas como sensatos, aproveitando o tempo, pois os dias são maus. Por isso mesmo, não vos torneis néscios, mas tratai de compreender qual é a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, que leva à vida desregrada, mas deixai-vos encher do Espírito; entre vós, cantai salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e louvai o Senhor com todo o vosso coração; sem cessar, dai graças por tudo a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Submetei-vos uns aos outros, no respeito que tendes a Cristo: as mulheres, aos seus maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja – Ele, o salvador do Corpo. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra. Ele quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. Assim devem também os maridos amar as suas mulheres, como o seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. De facto, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário, alimenta-o e cuida dele, como Cristo faz à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma só carne. Grande é este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja. De qualquer modo, também vós: cada um ame a sua mulher como a si mesmo; e a mulher respeite o seu marido. Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor, pois é isso que é justo: Honra teu pai e tua mãe – tal é o primeiro mandamento, com uma promessa: para que sejas feliz e gozes de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não exaspereis os vossos filhos, mas criai-os com a educação e correcção que vêm do Senhor. Escravos, obedecei aos senhores terrenos, com o maior respeito, na simplicidade do vosso coração, como a Cristo: não para dar nas vistas, como quem procura agradar aos homens, mas como escravos de Cristo, que fazem a vontade de Deus, do fundo do coração; servi de boa vontade, como se servísseis ao Senhor e não a homens, sabendo que cada um, escravo ou livre, será recompensado pelo Senhor, conforme o bem que fizer. E vós, os senhores, fazei o mesmo para com eles: deixai-vos de ameaças, sabendo que o Senhor, que o é tanto deles como vosso, está nos Céus e diante dele não há acepção de pessoas. Finalmente, tornai-vos fortes no Senhor e na sua força poderosa. Revesti-vos da armadura de Deus, para terdes a capacidade de vos manterdes de pé contra as maquinações do diabo. Porque não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas, e contra os espíritos do mal que estão nos céus. Por isso, tomai a armadura de Deus, para que tenhais a capacidade de resistir no dia mau e, depois de tudo terdes feito, de vos manterdes firmes. Mantende-vos, portanto, firmes, tendo cingido os vossos rins com a verdade, vestido a couraça da justiça e calçado os pés com a prontidão para anunciar o Evangelho da paz; acima de tudo, tomai o escudo da fé, com o qual tereis a capacidade de apagar todas as setas incendiadas do maligno. Recebei ainda o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus. Servindo-vos de toda a espécie de orações e preces, orai em todo o tempo no Espírito; e, para isso, vigiai com toda a perseverança e com preces por todos os santos, e também por mim; que, quando abrir a minha boca, me seja dada a palavra, para que, corajosamente, dê a conhecer o mistério do Evangelho, de que sou embaixador em cadeias; que, nele, eu possa falar aberta e corajosamente, tal como é meu dever. Mas, para que também vós, no que me diz respeito, saibais como vou, de tudo vos informará Tíquico, o irmão querido e servidor fiel no Senhor. Foi para isso mesmo que eu vo-lo enviei: para que tomeis conhecimento do que é feito de nós e console os vossos corações. Paz aos irmãos, bem como amor e fé da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça esteja com todos os que amam Nosso Senhor Jesus Cristo, com um amor inalterável. Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com seus bispos e diáconos: a vós a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo! Todas as vezes que me lembro de vós, dou graças ao meu Deus, sempre, em toda a minha oração por todos vós. É uma oração que faço com alegria, por causa da vossa participação no anúncio do Evangelho, desde o primeiro dia até agora. E é exactamente nisto que ponho a minha confiança: aquele que em vós deu início a uma boa obra há-de levá-la ao fim, até ao dia de Cristo Jesus. É justo que eu tenha tais sentimentos por todos vós, pois tenho-vos no coração, a todos vós que, nas minhas prisões e na defesa e consolidação do Evangelho, participais na graça que me foi dada. Pois Deus é minha testemunha de quanto anseio por todos vós, com a afeição de Cristo Jesus. E é por isto que eu rezo: para que o vosso amor aumente ainda mais e mais em sabedoria e toda a espécie de discernimento, para vos poderdes decidir pelo que mais convém, e assim sejais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, repletos do fruto da justiça, daquele que vem por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus. Quero comunicar-vos, irmãos, que o que se passa comigo acabou até por contribuir para o progresso do Evangelho. Assim, foi em Cristo que as minhas prisões se tornaram conhecidas em todo o pretório e de todos os restantes. E a maior parte dos irmãos no Senhor, é pela confiança ganha devido às minhas prisões, que têm ainda mais coragem para, sem medo anunciar a Palavra. É certo que alguns é por inveja e rivalidade, mas outros é mesmo com boa intenção que pregam a Cristo: os que o fazem por amor sabem que estou designado para a defesa do Evangelho; mas os que anunciam a Cristo por ambição, sem sinceridade, pensam que estão a agravar a tribulação que sofro nas minhas prisões. Mas que importa? Desde que, de qualquer modo, com segundas intenções ou com verdade, Cristo seja anunciado. É com isso que me alegro. Mais ainda: continuarei a alegrar-me; pois sei que isto irá resultar para mim em salvação, graças às vossas orações e ao apoio do Espírito de Jesus Cristo, de acordo com a ansiedade e a esperança que tenho de que em nada serei envergonhado. Pelo contrário: com todo o desassombro, agora como sempre, Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida quer pela morte. É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro. Se, entretanto, eu viver corporalmente, isso permitirá que dê fruto a obra que realizo. Que escolher então? Não sei. Estou pressionado dos dois lados: tenho o desejo de partir e estar com Cristo, já que isso seria muitíssimo melhor; mas continuar a viver é mais necessário por causa de vós. E é confiado nisto que eu sei que ficarei e continuarei junto de todos vós, para o progresso e a alegria da vossa fé, a fim de que a glória, que tendes em Cristo Jesus por meio de mim, aumente com a minha presença de novo junto de vós. Só isto é necessário: comportai-vos em comunidade de um modo digno do Evangelho de Cristo, para que – quer eu vá ter convosco, quer esteja ausente – ouça dizer isto de vós: que permaneceis firmes num só espírito, lutando juntos, numa só alma, pela fé no Evangelho e não vos deixando intimidar em nada pelos adversários – o que para eles é sinal de perdição, porém, é sinal da vossa salvação; e isto vem de Deus. Porque, a vós foi dada a graça de assim actuardes por Cristo: não só a de nele acreditar, mas também a de sofrer por Ele, assumindo o mesmo combate que vistes em mim e de que agora ouvis falar a respeito de mim. Se tem algum valor uma exortação em nome de Cristo, ou um conforto afectuoso, ou uma solidariedade no Espírito, ou algum afecto e compaixão, então fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento; nada façais por ambição, nem por vaidade; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós próprios, não tendo cada um em vista os próprios interesses, mas todos e cada um exactamente os interesses dos outros. Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome, para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra; e toda a língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor!”, para glória de Deus Pai. Por isso, meus caríssimos, na mesma medida em que sempre fostes obedientes – não só como aconteceu na minha presença, mas agora com muito mais razão na minha ausência – trabalhai com temor e tremor pela vossa salvação. Pois é Deus quem, segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir. Fazei tudo sem murmurações nem discussões, para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo. Conservai a palavra da vida. Para mim será um motivo de glória para o dia de Cristo, por não ter corrido em vão nem me ter esforçado em vão. Mas alegro-me até mesmo se o meu sangue tiver de ser derramado em sacrifício e oferta pela vossa fé; sim, com todos vós me alegro. Do mesmo modo, alegrai-vos também vós; sim, alegrai-vos comigo. Espero, no Senhor Jesus, enviar-vos em breve Timóteo, para que também eu fique bem disposto, ao saber da vossa vida. É que não tenho ninguém com igual disposição, que tão sinceramente se preocupe pela vossa vida. De facto, todos os demais procuram os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo. Mas as provas dadas por ele, vós as conheceis: como um filho para com o pai, entregou-se comigo a servir o Evangelho. É a ele, pois, que espero enviar-vos, logo que veja com clareza a minha situação. Mas estou confiante no Senhor de que também eu próprio irei em breve. Entretanto, acho necessário enviar-vos Epafrodito, meu irmão, colaborador e companheiro de luta e vosso enviado para me servir nas minhas necessidades. É que ele tem sentido saudades de todos vós e tem-se preocupado, por terdes ouvido dizer que esteve doente. E é verdade: esteve doente, à beira da morte. Mas Deus compadeceu-se dele; não dele apenas, mas também de mim, para que não tenha tristeza sobre tristeza. Por isso, mais depressa o envio, para que, ao vê-lo, de novo vos alegreis e eu fique menos triste. Recebei-o, portanto, no Senhor, com toda a estima e estimai homens como ele; pois foi por causa da obra de Cristo que esteve perto da morte, arriscando a vida, para vos substituir nos serviços que vos era impossível prestar-me. De resto, meus irmãos, alegrai-vos no Senhor. Escrever-vos as mesmas coisas, a mim não me custa, e a vós torna-vos firmes. Cuidado com esses cães, cuidado com esses maus trabalhadores, cuidado com os falsos circuncisos! Porque nós é que somos pela circuncisão: nós, os que prestamos culto pelo Espírito de Deus, nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne – ainda que eu tenha razões para, também eu, pôr a confiança precisamente nos méritos humanos. Se qualquer outro julga poder confiar nesses méritos, eu posso muito mais: circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu; no que toca ao zelo, perseguidor da Igreja; no que toca à justiça – a que se procura na lei – irrepreensível. Mas, tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo. Sim, considero que tudo isso foi mesmo uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: por causa dele, tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a Cristo e nele ser achado, não com a minha própria justiça, a que vem da Lei, mas com a que vem pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e que se apoia na fé. Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos. Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro, para ver se o alcanço, já que fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não me julgo como se já o tivesse alcançado. Mas uma coisa faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direcção à meta, para o prémio a que Deus, lá do Alto, nos chama em Cristo Jesus. Todos nós, os perfeitos, tenhamos, pois, estes sentimentos! E, se porventura tiverdes sentimentos diferentes, Deus vos há-de esclarecer sobre este assunto. De qualquer modo, aquilo a que chegámos, é por isso que nos devemos orientar. Sede todos meus imitadores, irmãos, e olhai atentamente para aqueles que procedem conforme o modelo que tendes em nós. É que muitos – de quem várias vezes vos falei e agora até falo a chorar – são, no seu procedimento, inimigos da cruz de Cristo: o seu fim é a perdição, o seu Deus é o ventre, e gloriam-se da sua vergonha – esses que estão presos às coisas da terra. É que, para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso, com aquela energia que o torna capaz de a si mesmo sujeitar todas as coisas. Portanto, meus caríssimos e saudosos irmãos, minha coroa e alegria, permanecei assim firmes no Senhor, caríssimos. Exorto Evódia e exorto Síntique a terem o mesmo pensamento no Senhor. Sim, e a ti, fiel Sízigo, peço-te que as acolhas; são pessoas que, em conjunto, lutaram comigo pelo Evangelho, juntamente com Clemente e os meus restantes colaboradores, cujos nomes estão no livro da Vida. Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos! Que a vossa bondade seja conhecida por todos. O Senhor está próximo. Por nada vos deixeis inquietar; pelo contrário: em tudo, pela oração e pela prece, apresentai os vossos pedidos a Deus em acções de graças. Então, a paz de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. De resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é respeitável, tudo o que possa ser virtude e mereça louvor, tende isso em mente. E o que aprendestes e recebestes, ouvistes de mim e vistes em mim, ponde isso em prática. Então, o Deus da paz estará convosco. É grande a alegria que sinto no Senhor por, finalmente, terdes feito com que desabrochasse o vosso amor por mim. É que tínheis o interesse, mas faltava a oportunidade. Não falo assim por me sentir carecido. Pois, no meu caso, aprendi a ser autónomo nas situações em que me encontre. Sei passar por privações, sei viver na abundância. Em toda e qualquer situação, estou preparado para me saciar e passar fome, para viver na abundância e sofrer carências. De tudo sou capaz naquele que me dá força. Entretanto, fizestes bem em tomar parte na minha tribulação. Vós bem o sabeis, filipenses: no início da pregação do Evangelho, quando saí da Macedónia, nenhuma outra igreja esteve em comunhão comigo na permuta de dar e receber, a não ser apenas vós: em Tessalónica e por duas vezes me enviastes socorro para as minhas necessidades. Não é que eu esteja à procura de donativos; o que procuro, sim, é que aumente o produto, que está registado na vossa conta. Sim, tudo recebi em abundância. Estou plenamente fornecido, depois de receber de Epafrodito o que veio da vossa parte: um odor perfumado, um sacrifício que Deus aceita e lhe é agradável. E o meu Deus há-de compensar-vos plenamente em todas as necessidades, segundo a sua riqueza, na glória que se tem em Cristo Jesus. A Deus nosso Pai, a glória pelos séculos dos séculos! Ámen! Saudai cada um dos santos em Cristo Jesus. Saúdam-vos os irmãos que estão comigo. Saúdam-vos todos os santos, mas em especial os da casa de César. A graça do Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito! Paulo, Apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, aos irmãos em Cristo, santos e fiéis, que vivem em Colossos: a vós graça e paz da parte de Deus, nosso Pai. Damos graças a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, nas orações que continuamente fazemos por vós, desde que ouvimos falar da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos, por causa da esperança que vos está reservada no Céu. Dela ouvistes falar outrora pela palavra da verdade, o Evangelho que chegou até vós. Como em todo o mundo, também entre vós ele tem produzido frutos e progredido, desde o dia em que o recebestes e, em verdade, tomastes conhecimento da graça de Deus. Assim o aprendestes de Epafras, servo como nós, ele que é um fiel servidor de Cristo ao vosso serviço e que nos informou do vosso amor no Espírito. Por isso, também nós, desde o dia em que ouvimos falar disso, não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que vos encha do conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual, a fim de caminhardes de modo digno do Senhor, para seu total agrado: dai frutos em toda a espécie de boas obras e progredi no conhecimento de Deus; deixai-vos fortalecer plenamente pelo poder da sua glória, para chegardes a uma constância e paciência total com alegria; dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de tomar parte na herança dos santos na luz. Foi Ele que nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino do seu amado Filho, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. É Ele a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criatura; porque foi nele que todas as coisas foram criadas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, os Tronos e as Dominações, os Poderes e as Autoridades, todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele. Ele é anterior a todas as coisas e todas elas subsistem nele. É Ele a cabeça do Corpo, que é a Igreja. É Ele o princípio, o primogénito de entre os mortos, para ser Ele o primeiro em tudo; porque foi nele que aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude e, por Ele e para Ele, reconciliar todas as coisas, pacificando pelo sangue da sua cruz, tanto as que estão na terra como as que estão no céu. Também a vós, que outrora andáveis afastados e éreis inimigos, com sentimentos expressos em acções perversas, agora Cristo reconciliou-vos no seu corpo carnal, pela sua morte, para vos apresentar santos, imaculados e irrepreensíveis diante dele, desde que permaneçais sólidos e firmes na fé, sem vos deixardes afastar da esperança do Evangelho que ouvistes; ele foi anunciado a toda a criatura que há debaixo do céu e foi dele que eu, Paulo, me tornei servidor. Agora, alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja. Foi dela que eu me tornei servidor, segundo a missão que Deus me confiou para vosso benefício: levar à plena realização a Palavra de Deus, o mistério escondido ao longo das gerações e que agora Deus manifestou aos seus santos. Deus quis dar-lhes a conhecer a imensa riqueza da glória deste mistério entre os gentios: Cristo entre vós, a esperança da glória! É a Ele que anunciamos, admoestando e ensinando todos e cada homem com toda a sabedoria, para apresentar a Deus todos os homens na sua perfeição em Cristo. É para isso mesmo que eu trabalho, lutando com a força que Ele me dá e que actua poderosamente em mim. Com efeito, quero que saibais como é grande a luta que mantenho por vós, bem como pelos de Laodiceia e por quantos nunca me viram pessoalmente, para que tenham ânimo nos seus corações, vivendo bem unidos no amor, e assim atinjam toda a riqueza, que é a plena compreensão, o conhecimento do mistério de Deus: Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Digo isto para que ninguém vos engane com discursos sedutores. Com efeito, ainda que eu esteja ausente de corpo, estou, porém, convosco em espírito, alegrando-me por ver a ordem que há entre vós e a firmeza da vossa fé em Cristo. Do mesmo modo que recebestes Cristo Jesus, o Senhor, continuai a caminhar nele: enraizados e edificados nele, firmes na fé, tal como fostes instruídos, transbordando em acção de graças. Olhai que não haja ninguém a enredar-vos com a filosofia, o que é vazio e enganador, fundado na tradição humana ou nos elementos do mundo, e não em Cristo. Porque é nele que habita realmente toda a plenitude da divindade, e nele vós estais repletos de tudo, Ele que é a cabeça de todo o Poder e Autoridade. Foi nele que fostes circuncidados com uma circuncisão que não é feita por mão humana: fostes despojados do corpo carnal, pela circuncisão de Cristo. Sepultados com Ele no Baptismo, foi também com Ele que fostes ressuscitados, pela fé que tendes no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos. A vós, que estáveis mortos pelas vossas faltas e pela incircuncisão da vossa carne, Deus deu-vos a vida juntamente com Ele: perdoou-nos todas as nossas faltas, anulou o documento que, com os seus decretos, era contra nós; aboliu-o inteiramente, e cravou-o na cruz. Depois de ter despojado os Poderes e as Autoridades, expô-los publicamente em espectáculo, e celebrou o triunfo que na cruz obtivera sobre eles. Por isso, não vos deixeis condenar por ninguém, no que toca à comida e à bebida, ou a respeito de uma festa, de uma Lua-nova ou de um sábado. Tudo isto não é mais que uma sombra das coisas que hão-de vir; a realidade está em Cristo. Não vos deixeis inferiorizar por quem quer que seja que se deleite com práticas de humildade ou culto dos anjos. É gente que, dando toda a atenção às suas visões, em vão se gloria com a sua inteligência carnal e não se apoia naquele que é a Cabeça; é a partir dele que todo o Corpo, abastecido e mantido pelas junturas e articulações, recebe o seu crescimento de Deus. Se morrestes com Cristo para os elementos do mundo, porque é que vos submeteis a normas, como se estivésseis ainda dependentes do mundo? Não tomes, não proves, não toques em coisas, todas elas destinadas a ser consumidas; coisas de acordo com os preceitos e ensinamentos dos homens! São normas que, embora tenham uma aparência de sabedoria – a respeito do culto voluntário, da humildade, da austeridade corporal – não têm qualquer valor; só servem para satisfazer a carne. Portanto, já que fostes ressuscitados com Cristo, procurai as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Aspirai às coisas do Alto e não às coisas da terra. Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, a vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória. Crucificai os vossos membros no que toca à prática de coisas da terra: fornicação, impureza, paixão, mau desejo e a ganância, que é uma idolatria. Estas coisas provocam a ira de Deus sobre os que lhe resistem. Entre eles também vós caminhastes outrora, quando vivíeis nessas coisas. Mas agora rejeitai também vós tudo isso: ira, raiva, maldade, injúria, palavras grosseiras saídas da vossa boca. Não mintais uns aos outros, já que vos despistes do homem velho, com as suas acções, e vos revestistes do homem novo, aquele que, para chegar ao conhecimento, não cessa de ser renovado à imagem do seu Criador. Aí não há grego nem judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre, mas Cristo, que é tudo e está em todos. Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também. E, acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição. Reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados num só corpo. E sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós com toda a sua riqueza: ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria; cantai a Deus, nos vossos corações, o vosso reconhecimento, com salmos, hinos e cânticos inspirados. E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as esposas e não vos exaspereis contra elas. Filhos, obedecei em tudo aos pais, porque isso é agradável no Senhor. Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo. Escravos, obedecei em tudo aos senhores terrenos, não para dar nas vistas, como se procurásseis agradar aos homens, mas com simplicidade de coração, no temor do Senhor. No que fizerdes, trabalhai de todo o coração, como quem o faz para o Senhor e não para os homens, sabendo que é do Senhor que recebereis a herança como recompensa. O Senhor, a quem servis, é Cristo. É que, quem cometer uma injustiça receberá em paga a injustiça que cometeu, e não há acepção de pessoas. Senhores, dai aos escravos o que for justo e equitativo, sabendo que também vós tendes um Senhor no Céu. Perseverai na oração e mantende-vos, por ela, em vigilante acção de graças. Ao mesmo tempo, orai também por nós, para que Deus abra uma porta à nossa pregação, a fim de que eu anuncie o mistério de Cristo – é por ele que estou preso – para que o dê a conhecer, falando como devo. Procedei com sabedoria para com os que estão de fora, aproveitando as ocasiões. Que a vossa palavra seja sempre amável, temperada de sal, para que saibais responder a cada um como deveis. De tudo o que me diz respeito informar-vos-á Tíquico, o irmão querido, servidor fiel e meu companheiro no serviço do Senhor. Foi para isso mesmo que eu vo-lo enviei: para que saibais o que se passa connosco e consolar os vossos corações. Vai juntamente com Onésimo, o irmão fiel e querido, que é um dos vossos. Eles informar-vos-ão de tudo o que aqui se passa. Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, bem como Marcos, primo de Barnabé. Recebestes instruções a respeito dele; se for ter convosco, recebei-o bem. Também Jesus, chamado Justo, vos saúda. São os únicos judeus circuncisos que colaboram comigo no reino de Deus; têm sido uma consolação para mim. Saúda-vos Epafras, que é um dos vossos, um servo de Cristo Jesus, que continuamente luta por vós nas suas orações, para que vos mantenhais no aperfeiçoamento e no pleno cumprimento da vontade de Deus. Com efeito, dele posso testemunhar que trabalha muito por vós, assim como pelos que estão em Laodiceia e em Hierápoles. Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico, bem como Demas. Saudai os irmãos de Laodiceia, assim como Ninfa e a igreja que se reúne em casa dela. E quando esta carta tiver sido lida entre vós, fazei com que seja lida também na igreja de Laodiceia. Lede também a que receberdes da igreja de Laodiceia. E dizei a Arquipo: «Presta atenção ao serviço que recebeste do Senhor, a fim de o realizares bem.» A saudação é da minha mão, Paulo. Lembrai-vos das minhas cadeias. A graça esteja convosco! Paulo, Silvano e Timóteo à igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo, que está em Tessalónica. A vós, graça e paz. Damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações; a vosso respeito, guardamos na memória a actividade da fé, o esforço da caridade e a constância da esperança, que vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo, diante de Deus e nosso Pai, conhecendo bem, irmãos amados de Deus, a vossa eleição, pois o nosso Evangelho não se apresentou a vós apenas como uma simples palavra, mas também com poder e com muito êxito pela acção do Espírito Santo; vós sabeis como estivemos entre vós para vosso bem. Vós fizestes-vos imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo, tendo-vos, assim, tornado um modelo para todos os crentes na Macedónia e na Acaia. Na verdade, partindo de vós, a palavra do Senhor não só ecoou na Macedónia e na Acaia, mas por toda a parte se propagou a fama da vossa fé em Deus, de tal modo que não temos necessidade de falar disso. De facto, são eles próprios que contam o acolhimento que vós nos fizestes e como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes do Céu o seu Filho, que Ele ressuscitou de entre os mortos, Jesus, que nos livra da ira que está para vir. Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis. Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes. Sabeis que, tal como um pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de vós exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e à sua glória. Por isso, damos continuamente graças a Deus, porque, tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de homens, mas como ela é verdadeiramente, palavra de Deus, a qual também actua em vós que acreditais. De facto, irmãos, vós tornastes-vos imitadores das igrejas de Deus, que estão na Judeia, em Cristo Jesus, pois também sofrestes, da parte dos vossos compatriotas, o mesmo que elas sofreram da parte dos Judeus; eles mataram o Senhor Jesus e os profetas e agora perseguem-nos: não agradam a Deus e são mal vistos por todos os homens; impedem-nos de pregar aos gentios para que se salvem e, assim, enchem cada vez mais a medida dos seus pecados. Mas, finalmente, a ira de Deus caiu sobre eles. Mas nós, irmãos, órfãos de vós por breve tempo, longe da vista mas perto de coração, redobrámos esforços para rever o vosso rosto, porque tínhamos um ardente desejo. Por isso, tínhamos decidido ir ter convosco – eu, Paulo, mais que uma vez – mas Satanás no-lo impediu. De facto, quem é a nossa esperança, a nossa alegria e a nossa coroa de glória diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, aquando da sua vinda, senão vós? Sim, vós é que sois a nossa glória e a nossa alegria! Por isso, não podendo resistir mais, aceitámos que nos deixassem sós em Atenas, e enviámos Timóteo, nosso irmão e colaborador de Deus no Evangelho de Cristo, para vos confirmar e encorajar na vossa fé, para que ninguém se desencaminhe no meio destas tribulações. Vós bem sabeis que a tal estamos destinados. Quando estávamos entre vós, já então vos prevenimos que teríamos de sofrer provações, e assim aconteceu, como sabeis. Por isso, não podendo esperar mais, mandei saber notícias da vossa fé, receando que o tentador vos tivesse tentado, tornando assim vão o nosso esforço. Agora que Timóteo voltou daí e nos trouxe boas notícias sobre a vossa fé e a vossa caridade, e porque conservais de nós uma grata recordação, desejando-nos ver tal como nós a vós, encontrámos reconforto em vós, irmãos, graças à vossa fé, no meio de todas as nossas angústias e tribulações. Agora sentimo-nos com mais vida, porque estais firmes no Senhor. Que acção de graças poderemos nós dar a Deus por toda a alegria que gozamos, devido a vós, diante do nosso Deus? Nós que, noite e dia, insistentemente, pedimos para rever o vosso rosto e completar o que falta à vossa fé? Que o próprio Deus, nosso Pai, e Nosso Senhor Jesus nos encaminhem até vós. O Senhor vos faça crescer e superabundar de caridade uns para com os outros e para com todos, tal como nós para convosco; que Ele confirme os vossos corações irrepreensíveis na santidade diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus com todos os seus santos. Quanto ao resto, irmãos, pedimo-vos e exortamo-vos no Senhor Jesus Cristo, a fim de que, tendo aprendido de nós o modo como se deve caminhar e agradar a Deus – e já o fazeis – assim progridais sempre mais. Conheceis bem que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. Esta é, na verdade, a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão, que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra, sem se deixar levar pelo desejo da paixão como os pagãos que não conhecem Deus. Que ninguém, nesta matéria, defraude e se aproveite do seu irmão, porque o Senhor vinga tudo isto, como já vos dissemos e testemunhámos. Com efeito, Deus não nos chamou à impureza mas à santidade. Pois quem despreza estes preceitos não despreza um homem, mas o próprio Deus, que vos dá o seu Espírito Santo. A respeito do amor fraterno não precisais que se vos escreva, pois vós próprios fostes ensinados por Deus a amar-vos uns aos outros; aliás, vós já o fazeis com todos os irmãos da Macedónia. Exortamo-vos, irmãos, a progredir sempre mais, a ter como ponto de honra viver em paz, a ocupar-vos das próprias actividades, a trabalhar com as vossas mãos, como vos recomendámos, de modo que vos comporteis honestamente perante os de fora e não preciseis de ninguém. Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos que faleceram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança. De facto, se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus reunirá com Jesus os que em Jesus adormeceram. Eis o que vos dizemos, baseando-nos numa palavra do Senhor: Nós, os vivos, os que ficarmos para a vinda do Senhor, não precederemos os que faleceram; pois o próprio Senhor, à ordem dada, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do Céu, e os mortos em Cristo ressurgirão primeiro. Em seguida nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras. Irmãos, quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva. Com efeito, vós próprios sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor chega de noite como um ladrão. Quando disserem: «Paz e segurança», então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína, como as dores de parto sobre a mulher grávida, e não escaparão a isso. Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. Na verdade, todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos nem da noite nem das trevas. Não durmamos, pois, como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. Os que dormem, dormem de noite e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Ao contrário, nós que somos do dia, sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança da salvação. De facto, Deus não nos destinou à ira mas à posse da salvação por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós, a fim de que, quer durmamos, quer estejamos vigilantes, com Ele vivamos unidos. Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como já o fazeis. Pedimo-vos, irmãos, que sejais reconhecidos para com aqueles que se afadigam entre vós, que vos governam no Senhor e que vos instruem; dedicai-lhes uma caridade acrescida devido à sua obra. Vivei em paz entre vós. Exortamo-vos, irmãos: corrigi os indisciplinados, encorajai os desanimados, amparai os fracos, sede pacientes com todos. Prestai atenção a que ninguém pague o mal com o mal; procurai, antes, fazer sempre o bem uns para com os outros e para com todos. Sede sempre alegres. Orai sem cessar. Em tudo dai graças. Esta é, de facto, a vontade de Deus a vosso respeito em Jesus Cristo. Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo, guardai o que é bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal. Que o Deus da paz vos santifique totalmente, e todo o vosso ser – espírito, alma e corpo – se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é aquele que vos chama: Ele há-de realizá-lo. Irmãos, orai também por nós. Saudai todos os irmãos com o beijo santo. Advirto-vos no Senhor que esta Carta seja lida a todos os irmãos. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco. Paulo, Silvano e Timóteo à Igreja de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, que está em Tessalónica. Graça e paz a vós da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. Devemos dar continuamente graças a Deus por vós, irmãos, como é justo, pois que a vossa fé cresce extraordinariamente e a caridade recíproca superabunda em cada um e em todos vós, a ponto de nós próprios nos gloriarmos de vós nas igrejas de Deus, pela vossa constância e fé em todas as perseguições e tribulações que suportais. Elas são o indício do justo juízo de Deus, para que sejais considerados dignos do reino de Deus pelo qual padeceis. Com efeito, é justo da parte de Deus retribuir com tribulações àqueles que vos atribulam e a vós, os atribulados, retribuir com o repouso, juntamente connosco, aquando da manifestação do Senhor Jesus que virá do Céu com os anjos do seu poder, em fogo ardente, e fará justiça aos que não conhecem a Deus e não obedecem ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus. O seu castigo será a ruína eterna, longe da face do Senhor e da glória da sua força, quando, naquele dia, vier para ser glorificado nos seus santos e admirado em todos aqueles que acreditaram; ora o nosso testemunho foi por vós considerado digno de fé. Eis por que oramos continuamente por vós: para que o nosso Deus vos torne dignos da vocação e, com o seu poder, a vossa vontade de bem e a actividade da vossa fé atinjam a plenitude, de modo que seja glorificado em vós o nome de Nosso Senhor Jesus e vós nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. Acerca da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e da nossa reunião junto dele, pedimo-vos, irmãos, que não percais tão depressa a presença de espírito, nem vos aterrorizeis com uma revelação profética, uma palavra ou uma carta atribuída a nós, como se o Dia do Senhor estivesse iminente. Ninguém, de modo algum, vos engane. Com efeito, antes deve vir a apostasia e manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se ergue contra tudo o que se chama Deus ou é objecto de culto, até ao ponto de ele próprio se sentar no templo de Deus e de se ostentar a si mesmo como Deus. Não vos lembrais de que, quando ainda estava convosco, vos dizia estas coisas? E agora sabeis o que o detém para que se manifeste no momento que lhe toca. Com efeito, o mistério da iniquidade já está em acção; basta que seja afastado aquele que agora o detém. Então é que se manifestará o iníquo que o Senhor destruirá com o sopro da sua boca e aniquilará com o fulgor da sua vinda. A vinda do iníquo dá-se por obra de Satanás, com toda a espécie de milagres, sinais e prodígios enganadores, com todo o tipo de seduções de injustiça para os que se perdem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. Por isso, Deus manda-lhes uma força que leva ao erro para que acreditem na mentira, e sejam condenados todos os que não acreditaram na verdade mas sentiram prazer na injustiça. Nós, porém, devemos dar continuamente graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, pois Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação na santificação do Espírito e na fé da verdade. A isto Ele vos chamou por meio do nosso Evangelho: à posse da glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, irmãos, estai firmes e conservai as tradições nas quais fostes instruídos por nós, por palavra ou por carta. O próprio Senhor Nosso Jesus Cristo e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua graça, uma consolação eterna e uma boa esperança, consolem os vossos corações e os confirmem em toda a obra e palavra boa. Quanto ao resto, irmãos, orai por nós para que a palavra do Senhor avance e seja glorificada como o é entre vós, e para que sejamos libertados dos homens perversos e malvados, pois nem todos têm fé. Mas fiel é o Senhor que vos confirmará e vos protegerá do mal. A respeito de vós, temos confiança no Senhor em que já fazeis e continuareis a fazer o que vos ordenamos. O Senhor dirija os vossos corações para o amor de Deus e para a constância de Cristo. Ordenamo-vos, irmãos, no nome do Senhor Jesus Cristo, que vos afasteis de todo o irmão que leva uma vida desordenada e oposta à tradição que de nós recebestes. Com efeito, vós próprios sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos desordenadamente entre vós, nem comemos o pão de graça à custa de alguém, mas com esforço e canseira, trabalhámos noite e dia, para não sermos um peso para nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas foi para nos apresentarmos a nós mesmos como modelo, para que nos imitásseis. Na verdade, quando ainda estávamos convosco, era isto que vos ordenávamos: se alguém não quer trabalhar também não coma. Ora constou-nos que alguns vivem no meio de vós desordenadamente, não se ocupando de nada mas vagueando preocupados. A estes tais ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo a que ganhem o pão que comem, com um trabalho tranquilo. Da vossa parte, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Se alguém não obedecer à nossa palavra comunicada nesta Carta, a esse assinalai-o, não tenhais contacto com ele para que se envergonhe. Não o considereis, todavia, como um inimigo mas repreendei-o como a um irmão. O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em todos os lugares. O Senhor esteja com todos vós. A saudação é do meu punho, de Paulo. É este o sinal em todas as Cartas. É assim que eu escrevo. A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós. Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, a Timóteo, verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor. Quando parti para a Macedónia, recomendei-te que ficasses em Éfeso, para dissuadir alguns de ensinarem doutrinas estranhas e de se ocuparem de fábulas ou de genealogias intermináveis, que favorecem mais as discussões do que o desígnio de Deus que se realiza na fé. O objectivo desta recomendação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. Por se terem afastado desta linha, alguns perderam-se em discursos vãos. Pretendendo serem mestres da lei, não sabem nem o que dizem, nem o que afirmam com tanta segurança. Mas nós sabemos que a lei é boa, contanto que dela se faça um uso legítimo e tendo em conta que a lei não foi feita para o justo, mas para os maus e rebeldes, para os ímpios e pecadores, para os sacrílegos e profanadores, para os parricidas e matricidas, homicidas, impudicos, pederastas, traficantes de escravos, mentirosos, perjuros, e tudo aquilo que está em contradição com a sã doutrina, segundo o Evangelho da glória do Deus bem-aventurado, que me foi confiado. Dou graças àquele que me confortou, Cristo Jesus Nosso Senhor, por me ter considerado digno de confiança, pondo-me ao seu serviço, a mim que antes fora blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, sem ter fé ainda. E a graça de Nosso Senhor manifestou-se em mim com superabundância, juntamente com a fé e o amor que está em Cristo Jesus. Eis uma palavra digna de fé e de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. E justamente por isso alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Cristo Jesus mostrasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para aqueles que haviam de crer nele para a vida eterna. Ao rei dos séculos, ao Deus incorruptível, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Ámen. Esta é a recomendação que te confio, meu filho Timóteo, de acordo com o que predisseram algumas profecias a teu respeito: apoiado nelas, combate o bom combate, conservando a fé e a boa consciência. Alguns, que as rejeitaram, naufragaram na sua fé, como aconteceu com Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar. Recomendo, pois, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois, há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus, que se entregou a si mesmo como resgate por todos. Tal é o testemunho dado para os tempos estabelecidos. Foi para isto que fui constituído arauto e apóstolo – digo a verdade, não minto – mestre das nações, na fé e na verdade. Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, erguendo as mãos puras, sem ira nem altercação. Do mesmo modo, as mulheres usem trajes decentes, adornem-se com pudor e modéstia, sem tranças, nem ouro, nem pérolas, ou vestidos sumptuosos, mas, como convém a mulheres que fazem profissão de piedade, por meio de boas obras. A mulher receba a instrução em silêncio, com toda a submissão. Não permito à mulher que ensine, nem que exerça domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher que, deixando-se seduzir, incorreu na transgressão. Contudo, será salva pela sua maternidade, desde que persevere na fé, no amor e na santidade, com recato. É digna de fé esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, deseja um excelente ofício. Mas é necessário que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, ponderado, de bons costumes, hospitaleiro, capaz de ensinar; que não seja dado ao vinho, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; que governe bem a própria casa, mantendo os filhos submissos, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará ele da igreja de Deus? Que não seja neófito, para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação do diabo. Mas é necessário também que ele goze de boa reputação entre os de fora, para não cair no descrédito e nas ciladas do diabo. Do mesmo modo, os diáconos sejam pessoas dignas, sem duplicidade, não inclinados ao excesso de vinho, nem ávidos de lucros desonestos. Guardem o mistério da fé numa consciência pura. Sejam também eles, primeiro, postos à prova e só depois, se forem irrepreensíveis, exerçam o diaconado. Do mesmo modo, as mulheres sejam dignas, não maldizentes, sóbrias, fiéis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, capazes de dirigir bem os filhos e a própria casa. Pois aqueles que cumprirem bem o diaconado adquirem para si uma posição honrosa e autoridade em questões de fé, em Cristo Jesus. Escrevo-te estas coisas, na esperança de ir ter contigo em breve. Porém, eu quero que saibas como deves proceder na casa de Deus, esta Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade. Grande é – todos o confessam – o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne, foi justificado no Espírito, apresentado aos anjos, anunciado às nações, acreditado no mundo, exaltado na glória. O Espírito diz abertamente que, nos últimos tempos, alguns hão-de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas diabólicas, seduzidos pela hipocrisia de mentirosos, cuja consciência foi marcada com ferro em brasa. Proibirão o casamento e o uso de alimentos, que Deus criou para serem consumidos em acção de graças, pelos que têm fé e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom e nada deve ser rejeitado, quando tomado com acção de graças. Com efeito, tudo é santificado pela palavra de Deus e pela oração. Expondo estas coisas aos irmãos, serás um bom servo de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tão diligentemente tens seguido. Mas rejeita as fábulas ímpias, coisa de comadres. Exercita-te na piedade. O exercício físico de pouco serve, mas a piedade é útil para tudo, pois tem a promessa da vida presente e da futura. É digna de fé e de toda a aceitação esta palavra. Pois se nós trabalhamos e lutamos, é porque pomos a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, sobretudo dos que crêem. Eis o que deves proclamar e ensinar. Ninguém escarneça da tua juventude; antes, sê modelo dos fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé, na castidade. Enquanto aguardas a minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não descures o carisma que está em ti, e que te foi dado através de uma profecia, com a imposição das mãos dos presbíteros. Toma a peito estas coisas e persevera nelas, a fim de que o teu progresso seja manifesto a todos. Cuida de ti mesmo e da doutrina, persevera nestas coisas, porque, agindo assim, salvar-te-ás a ti mesmo e aos que te ouvirem. Não repreendas com dureza um ancião, mas exorta-o como um pai; trata os jovens como irmãos, as anciãs como mães, as jovens como irmãs, com toda a pureza. Honra as viúvas, as que são verdadeiramente viúvas. Mas se alguma viúva tiver filhos ou netos, aprendam estes, antes de mais, a cumprir os seus deveres de piedade para com a própria família e a retribuir aos pais o que deles receberam, pois isso é agradável diante de Deus. A que é verdadeiramente viúva e ficou só, põe a sua esperança em Deus e persevera em súplicas e orações, noite e dia. Mas aquela que se entrega aos prazeres, embora vivendo, já está morta. E recomenda-lhes isto, para que sejam irrepreensíveis. Se alguém não cuida dos seus, e principalmente dos da sua própria casa, renegou a fé e é pior do que um infiel. Só pode ser inscrita como viúva a que tiver pelo menos sessenta anos, tiver sido esposa de um só marido, gozar do testemunho de boas obras, tiver educado os filhos, praticado a hospitalidade, lavado os pés dos santos, assistido os atribulados e for dedicada a toda a obra boa. Não admitas as viúvas mais jovens, porque, quando são arrastadas por uma paixão que as afasta de Cristo, querem voltar a casar-se, incorrendo na condenação de terem rompido o primeiro compromisso. Além disso, estando na ociosidade, habituam-se a andar de casa em casa e a ser, não só ociosas, mas também loquazes e indiscretas, falando do que não convém. Quero, pois, que as viúvas mais jovens se casem, tenham filhos, governem a sua casa, para não darem ao adversário nenhuma ocasião de maledicência. Algumas, com efeito, já se desviaram, seguindo a Satanás. Se alguma mulher crente tem viúvas na família, dê-lhes assistência e não se sobrecarregue a igreja, a fim de que esta possa assistir as que são verdadeiramente viúvas. Os presbíteros que exercem bem a presidência sejam julgados dignos de dupla honra, principalmente os que trabalham na pregação e no ensino. Pois a Escritura diz: Não açaimarás a boca do boi que debulha; e ainda: o operário é digno do seu salário. Não aceites denúncia contra um presbítero, se não for confirmada por duas ou três testemunhas. Aos que cometem faltas, repreende-os na presença de todos, para que também os demais se encham de temor. Conjuro-te, diante de Deus e de Cristo Jesus e dos anjos eleitos, que observes estas regras com imparcialidade, nada fazendo por favoritismo. Não imponhas as mãos a ninguém precipitadamente, nem te tornes cúmplice de pecados alheios. Conserva-te puro. Não continues a beber só água, mas toma também um pouco de vinho, por causa do estômago e das tuas frequentes indisposições. Enquanto os pecados de alguns são manifestos, mesmo antes de serem submetidos a juízo, os de outros só aparecem depois. Do mesmo modo, também as boas obras são manifestas; e aquelas que não o são não podem permanecer sempre ocultas. Todos os que se encontram sob o jugo da escravidão considerem os seus senhores dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados. E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes, devem servi-los melhor, porque os que beneficiam do seu trabalho são fiéis e amados de Deus. Isto é o que deves ensinar e recomendar. Se alguém ensinar outra doutrina e não aderir às sãs palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo e ao ensinamento conforme à piedade, é um obcecado pelo orgulho, um ignorante, um espírito doentio dado a querelas e contendas de palavras. Daí nascem invejas, rixas, injúrias, suspeitas maldosas, altercações entre homens de espírito corrompido e desprovidos de verdade, que julgam ser a piedade uma fonte de lucro. A piedade é, realmente, uma grande fonte de lucro para quem se contenta com o que tem. Pois nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isso. Mas os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições. Mas tu, ó homem de Deus, foge dessas coisas. Procura antes a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e da qual fizeste uma bela profissão na presença de muitas testemunhas. Na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho perante Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, recomendo-te que guardes o mandato, sem mancha nem culpa, até à manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta manifestação será feita nos tempos estabelecidos, pelo bem-aventurado e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade, que habita numa luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele, honra e poder eterno! Ámen! Aos ricos deste mundo recomenda que não sejam orgulhosos, nem ponham a sua esperança na riqueza incerta, mas em Deus que nos dá tudo com abundância para nosso usufruto; que pratiquem o bem, se enriqueçam de boas obras, sejam generosos, capazes de partilhar. Deste modo, acumularão um bom tesouro para o futuro, a fim de conquistarem a verdadeira vida. Ó Timóteo, guarda o depósito da fé, evita as vãs conversas profanas e as contradições da falsa ciência, que alguns professam e desviaram-se da fé. A graça esteja convosco! Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, por desígnio de Deus, segundo a promessa de vida que há em Cristo Jesus, a Timóteo, meu filho querido: graça, misericórdia e paz de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor. Dou graças a Deus, a quem sirvo em consciência pura, como já o fizeram os meus antepassados, ao recordar-te constantemente nas minhas orações, noite e dia. Ao lembrar-me das tuas lágrimas, anseio ver-te, para completar a minha alegria, pois trago à memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Loide e na tua mãe Eunice e que, estou seguro, se encontra também em ti. Por isso recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela imposição das minhas mãos, pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso. Portanto, não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e chamou-nos, por santo chamamento, não em atenção às nossas obras, mas segundo o seu próprio desígnio e a graça a nós concedida em Cristo Jesus, antes dos séculos eternos, e agora revelada na manifestação do nosso Salvador, Cristo Jesus, que destruiu a morte e irradiou vida e imortalidade, por meio do Evangelho, do qual eu próprio fui constituído arauto, apóstolo e mestre. Por este motivo é que suporto também esta situação. Mas não me envergonho, pois sei em quem acreditei e estou persuadido de que Ele tem poder para guardar, até àquele dia, o bem que me foi confiado. Toma como modelo as sãs palavras que ouviste de mim, na fé e no amor de Cristo Jesus. Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso bem que te foi confiado. Como sabes, todos os da Ásia me abandonaram, inclusivamente Figelo e Hermógenes. Que Deus mostre a sua misericórdia para com a família de Onesíforo, que tantas vezes me confortou e não se envergonhou das minhas cadeias. Pelo contrário, quando chegou a Roma, procurou-me afanosamente até me encontrar. Que o Senhor o faça encontrar misericórdia diante de si, naquele dia. Além disso, conheces melhor do que ninguém os serviços que ele prestou em Éfeso. Tu, pois, meu filho, sê forte na graça de Cristo Jesus. Quanto de mim ouviste, na presença de muitas testemunhas, transmite-o a pessoas de confiança, que sejam capazes de o ensinar também a outros. Compartilha as dificuldades, como bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum soldado em campanha se deixa enredar pelos afazeres da vida, se quer agradar àquele que o alistou. E também aquele que participa numa competição não recebe o prémio, se não competir segundo as regras. O lavrador que se afadiga é o primeiro a receber os frutos. Reflecte sobre o que te digo, pois o Senhor te dará a compreensão de tudo. Tem sempre bem presente Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos e nascido da linhagem de David, segundo o meu evangelho, pelo qual sofro mesmo estas cadeias, como se fosse um malfeitor. Mas a palavra de Deus não pode ser acorrentada. Por isso, tudo suporto pelos eleitos, para que também eles alcancem a salvação em Cristo Jesus e a glória eterna. É digna de fé esta palavra: Se com Ele morrermos, também com Ele viveremos. Se nos mantivermos firmes, reinaremos com Ele. Se o negarmos, também Ele nos negará. Se formos infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. Lembra-lhes estas coisas, advertindo seriamente em nome de Deus que não se envolvam em litígios de palavras. Isso não serve para nada e leva à ruína dos ouvintes. Esforça-te por te apresentares diante de Deus como trabalhador digno e irrepreensível, interpretando rectamente a palavra da verdade. Evita as vãs conversas profanas, pois só fazem prosperar a impiedade; e as palavras dessa gente proliferam como gangrena. Entre esses encontram-se Himeneu e Fileto, os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já se deu e perverteram a fé de alguns. Apesar de tudo, o sólido fundamento posto por Deus permanece firme e tem esta marca: O Senhor conhece os que são seus; e afaste-se da maldade todo o que invoca o nome do Senhor. Numa casa grande não existem somente vasos de ouro e prata, mas também há os que são de madeira e de barro. Uns servem para usos nobres e outros para uso ordinário. Se alguém, pois, se purifica destas coisas, será um vaso de nobre préstimo, consagrado, útil ao seu dono e apropriado para toda a obra boa. Foge das paixões juvenis. Procura a justiça, a fé, o amor e a paz com todos os que invocam o Senhor de coração puro. Abstém-te de discussões estúpidas e néscias, pois sabes que só levam a conflitos e aquele que está ao serviço do Senhor não deve ser conflituoso, mas tem de ser amável para com todos, ter uma boa pedagogia, ser tolerante, saber corrigir os adversários com suavidade, na esperança que Deus lhes conceda o arrependimento em ordem ao reconhecimento da verdade e escapem ao laço do diabo, que os mantém cativos e sujeitos à sua vontade. Fica sabendo que, nos últimos dias, surgirão tempos difíceis. As pessoas tornar-se-ão egoístas, interesseiras, arrogantes, soberbas, blasfemas, desrespeitadoras dos pais, ingratas, ímpias, sem coração, implacáveis, caluniadoras, descontroladas, desumanas e inimigas do bem, traidoras, insolentes, orgulhosas e mais amigas dos prazeres do que de Deus. Conservarão uma aparência de piedade, mas negarão a sua essência. Procura evitar essa gente. São desses, alguns que se introduzem nas casas e cativam mulheres mundanas, carregadas de pecados e subjugadas por toda a espécie de paixões, que estão sempre a aprender, mas são incapazes de chegar algum dia à verdade. Do mesmo modo que Janes e Jambres se opuseram a Moisés, assim estes se opõem à verdade. É gente de mente corrupta e inapta para a fé. Mas não irão longe, pois a sua insensatez tornar-se-á patente a todos, como aconteceu com os primeiros. Tu, porém, seguiste de perto o meu ensinamento, o meu modo de vida e os meus planos, a minha fé e a minha paciência, o meu amor fraterno e a minha firmeza, as perseguições e sofrimentos que tive de suportar em Antioquia, Icónio e Listra. Que perseguições tive de suportar! Mas de todas elas me livrou o Senhor. E assim também todos os que quiserem viver a fé em Cristo Jesus serão perseguidos. Quanto a esses perversos e impostores, irão de mal a pior, extraviando outros e extraviando-se a si próprios. Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e de que adquiriste a certeza, bem ciente de quem o aprendeste. Desde a infância conheces a Sagrada Escritura, que te pode instruir, em ordem à salvação pela fé em Cristo Jesus. De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa. Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há-de julgar os vivos e os mortos, peço-te encarecidamente, pela sua vinda e pelo seu Reino: proclama a palavra, insiste em tempo propício e fora dele, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência. Virão tempos em que o ensinamento salutar não será aceite, mas as pessoas acumularão mestres que lhes encham os ouvidos, de acordo com os próprios desejos. Desviarão os ouvidos da verdade e divagarão ao sabor de fábulas. Tu, porém, controla-te em tudo, suporta as adversidades, dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério. Quanto a mim, já estou pronto para oferecer-me como sacrifício; avizinha-se o tempo da minha libertação. Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel. A partir de agora, já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor, justo juiz, e não somente a mim, mas a todos os que anseiam pela sua vinda. Vem ter comigo quanto antes, pois Demas abandonou-me. Preferiu o mundo presente e foi para Tessalónica. Crescente foi para a Galácia, e Tito para a Dalmácia. Apenas Lucas está comigo. Traz contigo Marcos, pois me será de grande ajuda no ministério. Quanto a Tíquico, enviei-o a Éfeso. Quando vieres, traz o manto que deixei em Tróade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. Alexandre, o fundidor de cobre, causou-me muitos danos. O Senhor lhe retribuirá segundo as suas obras. Toma tu também cuidado com ele, pois muito se tem oposto ao nosso ensinamento. Na minha primeira defesa, ninguém esteve ao meu lado. Todos me abandonaram. Que não lhes seja levado em conta. O Senhor, porém, esteve comigo e deu-me forças, a fim de que, por meu intermédio, o anúncio fosse plenamente proclamado e todos os gentios o escutassem. Assim fui arrebatado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me levará a salvo para o seu Reino celeste. A Ele, a glória, pelos séculos dos séculos. Ámen! Saúda Priscila e Áquila, bem como a família de Onesíforo. Erasto ficou em Corinto. Deixei Trófimo doente em Mileto. Faz o possível por vir antes do Inverno. Cumprimentos de Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos. O Senhor esteja contigo e a graça vos acompanhe. Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à fé dos eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade, que conduz à piedade, na esperança da vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente e que, no devido tempo, manifestou a sua palavra, pela pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador: a Tito, meu verdadeiro filho, pela fé comum, a graça e a paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador. Deixei-te em Creta, para acabares de organizar o que ainda falta e para colocares presbíteros em cada cidade, de acordo com as minhas instruções. Cada um deles deve ser irrepreensível, marido de uma só mulher, com filhos crentes, e não acusados de vida leviana ou de insubordinação. Porque é preciso que o bispo, como administrador de Deus, seja irrepreensível, não arrogante, nem colérico, nem dado ao vinho, à violência ou ao lucro desonesto; mas, antes, hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente enraizado na doutrina da palavra digna de fé, de modo que seja capaz de exortar com sãos ensinamentos e de refutar os contraditores. Há, de facto, muitos insubordinados, palradores e sedutores, sobretudo entre os da circuncisão, aos quais é preciso tapar a boca, pois transtornam famílias inteiras, ensinando o que não devem, tendo em vista o lucro desonesto. Aliás, como disse um deles, que era profeta, «os cretenses são sempre mentirosos, bestas más e ventres preguiçosos.» E este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que tenham uma fé sã, não dando ouvidos a fábulas judaicas e a preceitos de homens que se afastaram da verdade. Tudo é puro para os puros, mas, para os corruptos e os incrédulos, nada é puro, porque a sua mente e a sua consciência estão corrompidas. Proclamam conhecer a Deus, mas negam-no com as obras, revelando-se abomináveis, rebeldes e incapazes de qualquer obra boa. Tu, porém, ensina o que é conforme à sã doutrina. Os anciãos sejam sóbrios, dignos, prudentes, firmes na fé, na caridade e na paciência. Do mesmo modo, as anciãs tenham um comportamento reverente, não sejam caluniadoras nem escravas do vinho, mas mestras de virtude, a fim de ensinarem as jovens a amar os maridos e os filhos, a serem prudentes, castas, boas donas de casa e dóceis aos maridos, de modo que a palavra de Deus não seja difamada. Exorta igualmente os jovens a serem moderados, apresentando-te em tudo a ti próprio como exemplo de boas obras, de integridade na doutrina, de dignidade, de palavra sã e irrepreensível, para que os adversários fiquem confundidos, por não terem nada de mal a dizer de nós. Exorta os escravos a serem em tudo dóceis aos seus senhores, procurando agradar-lhes em tudo e não os contradizendo nem defraudando, mas mostrando-se totalmente leais, a fim de honrarem em tudo a doutrina de Deus nosso Salvador. Com efeito, manifestou-se a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens, para nos ensinar a renúncia à impiedade e aos desejos mundanos, a fim de vivermos no século presente com sobriedade, justiça e piedade, aguardando a bem-aventurada esperança e a gloriosa manifestação do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. Ele entregou-se por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniquidade e de purificar e constituir um povo de sua exclusiva posse e zeloso na prática do bem. Assim é que deves falar, exortar e repreender com toda a autoridade. E que ninguém te despreze. Recorda-lhes que sejam submissos e obedientes aos governantes e autoridades, que estejam prontos para qualquer boa obra, que não digam mal de ninguém, nem sejam conflituosos, mas sejam afáveis, mostrando sempre amabilidade para com todos os homens. Pois também nós éramos outrora insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda a espécie de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, odiados e odiando-nos uns aos outros. Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, Ele salvou-nos, não em virtude de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas da sua misericórdia, mediante um novo nascimento e renovação do Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados pela sua graça, nos tornemos, segundo a nossa esperança, herdeiros da vida eterna. Esta palavra é digna de fé, e desejo que tu fales com firmeza destas coisas, para que os que acreditaram em Deus se empenhem na prática de boas obras, pois isso é bom e útil para os homens. Evita, porém, as discussões insensatas, as genealogias, bem como as contendas legalistas, pois são inúteis e vãs. Depois de uma ou duas advertências, afasta-te do sectário, pois bem sabes que esse homem está transviado, peca e a si mesmo se condena. Quando te enviar Ártemas ou Tíquico, apressa-te em vir ter comigo a Nicópolis, pois decidi passar lá o Inverno. Providencia solicitamente quanto à viagem de Zenas, o jurista, e de Apolo, de modo que nada lhes falte. Também os nossos devem aprender a empenhar-se em boas obras, para atender às necessidades prementes, de modo que não deixem de produzir frutos. Saúdam-te todos os que estão comigo. Saúda todos os que nos amam na fé. A graça esteja com todos vós. Paulo, prisioneiro por causa de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, a Filémon, nosso querido colaborador, à irmã Ápia, a Arquipo, nosso companheiro de luta, e à igreja que se reúne em tua casa: a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo! Dou graças ao meu Deus, lembrando-me sempre de ti nas minhas orações, por ouvir falar do teu amor e da tua fé: fé no Senhor Jesus e amor para com todos os santos. Que a tua comunhão de fé se torne eficaz, no reconhecimento de tudo aquilo que entre nós é considerado bom em relação a Cristo. De facto, foi grande a alegria e a consolação que tive com o teu amor, porque os corações dos santos foram reconfortados por meio de ti, irmão. Por isso, embora tenha toda a autoridade em Cristo para te impor o que mais convém, levado pelo amor, prefiro pedir como aquele que sou: Paulo, um ancião e, agora, até prisioneiro por causa de Cristo Jesus. Peço-te pelo meu filho, que gerei na prisão: Onésimo, que outrora te era inútil, mas agora é, para ti e para mim, bem útil. É ele que eu te envio: ele, isto é, o meu próprio coração. Eu bem desejava mantê-lo junto de mim, para, em vez de ti, se colocar ao meu serviço nas prisões que sofro por causa do evangelho. Porém, nada quero fazer sem o teu consentimento, para que o bem que fazes não seja por obrigação, mas de livre vontade. É que, afinal, talvez tenha sido por isto que ele foi afastado por breve tempo: para que o recebas para sempre, não já como escravo, mas muito mais do que um escravo: como irmão querido; isto especialmente para mim, quanto mais para ti, que com ele estás relacionado tanto humanamente como no Senhor. Se, pois, me consideras em comunhão contigo, recebe-o como a mim próprio. E se ele te causou algum prejuízo ou alguma coisa te deve, põe isso na minha conta. Sou eu, Paulo, que o escrevo pela minha própria mão: serei eu a pagar. Isto, para não te dizer que me deves a tua própria pessoa. Sim, irmão, possa eu sentir-me satisfeito contigo no Senhor: reconforta o meu coração em Cristo. Escrevo-te porque confio na tua obediência: sei que até farás mais do que aquilo que digo. Mas, ao mesmo tempo, prepara também alojamento para mim, pois espero, graças às vossas orações, poder brevemente ser entregue a vós. Saúdam-te Epafras, meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, assim como Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus colaboradores. A graça do Senhor Jesus Cristo esteja convosco. Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. Este Filho, que é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e que tudo sustenta com a sua palavra poderosa, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas, tão superior aos anjos quanto superior ao deles é o nome que recebeu em herança. Com efeito, a qual dos anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei? E ainda: Eu serei para Ele um Pai e Ele será para mim um Filho? E de novo, quando introduz o Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus. Se, a respeito dos anjos, diz: Ele faz dos seus anjos espíritos e dos seus ministros chamas de fogo, a respeito do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, permanece pelos séculos dos séculos e ceptro de justiça é o teu ceptro real. Amaste a justiça e odiaste a iniquidade, por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo da alegria, preferindo-te aos teus companheiros. E ainda: Tu, Senhor, fundaste a terra, no princípio, e os céus são obra das tuas mãos. Eles deixarão de existir, mas Tu permaneces; como o vestido, todos eles envelhecerão; como um manto, os enrolarás, e como o vestuário, serão mudados; mas Tu permaneces sempre o mesmo e os teus anos não acabarão. E a qual dos anjos disse Deus alguma vez: Senta-te à minha direita, até que Eu faça dos teus inimigos um estrado dos teus pés? Não são todos eles espíritos encarregados de um ministério, enviados ao serviço daqueles que hão-de herdar a salvação? Por isso, é necessário prestarmos maior atenção ao que ouvimos, para que não nos transviemos. Se, de facto, uma palavra pronunciada pelos anjos permaneceu válida e toda a transgressão e desobediência receberam a justa retribuição, como escaparemos nós, se desprezarmos tão grande salvação? Tendo sido primeiro proclamada pelo Senhor, essa salvação foi-nos confirmada pelos que a escutaram e foi testemunhada por Deus, por meio de sinais e prodígios, por diversas manifestações de poder e pelos dons do Espírito Santo, repartidos segundo a sua vontade. Deus não submeteu aos anjos o mundo futuro de que falamos. Mas alguém, em certo lugar, atesta, dizendo: Que é o homem, para que te recordes dele, ou o filho do homem para que cuides dele? Fizeste-o por um pouco inferior aos anjos, coroaste-o de honra e de glória, submeteste tudo aos seus pés. Ora, ao submeter-lhe tudo, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Contudo, ainda não vemos que tudo lhe esteja sujeito. Vemos, porém, Jesus, que foi feito por um pouco inferior aos anjos, coroado de glória e de honra, por causa da morte que sofreu, a fim de que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em favor de todos. Convinha, com efeito, que aquele por quem e para quem existem todas as coisas, querendo levar muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o autor da sua salvação. De facto, tanto o que santifica, como os que são santificados, provêm todos de um só; razão pela qual não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome aos meus irmãos, no meio da assembleia te louvarei; e ainda: Eu porei nele a minha confiança; e de novo: Eis-me, a mim e aos filhos que Deus me deu. Pois, tal como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão. Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova. Por conseguinte, irmãos santos, participantes de uma vocação celeste, considerai Jesus como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da fé que professamos, o qual é fiel ao que o constituiu, como Moisés o foi em toda a sua casa. Ora, Ele foi considerado mais digno de glória do que Moisés, tal como maior é a honra do construtor da casa do que a da própria casa. Toda a casa, com efeito, é edificada por alguém, mas foi Deus quem tudo construiu. Moisés, na verdade, foi fiel em toda a sua casa, como servo, para dar testemunho de tudo o que devia ser anunciado; Cristo, porém, o foi como Filho sobre a sua casa, que somos nós, se conservarmos a confiança e a esperança de que nos gloriamos. Por isso, como diz o Espírito Santo: Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como no tempo da revolta, no dia da tentação no deserto, quando os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, depois de verem as minhas obras, durante quarenta anos. Por isso me indignei contra esta geração e disse: ‘Erram sempre no seu coração; não conheceram os meus caminhos.' Assim, jurei na minha ira: ‘Não entrarão no meu repouso.’ Tende cuidado, irmãos, que não haja em nenhum de vós um coração mau, a ponto de a incredulidade o afastar do Deus vivo. Exortai-vos, antes, uns aos outros, cada dia, enquanto dura a proclamação do «hoje», a fim de que não se endureça nenhum de vós, enganado pelo pecado. De facto, tornamo-nos companheiros de Cristo, desde que mantenhamos firme até ao fim a confiança inicial. Ele diz: Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como no tempo da revolta. Quais foram os que se revoltaram, depois de o terem ouvido? Não foram todos os que saíram do Egipto, por meio de Moisés? E contra quem se indignou Deus, durante quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que desobedeceram? Na realidade, vemos que não puderam entrar, por causa da sua incredulidade. Temamos, pois, que, permanecendo a promessa de entrar no seu repouso, algum de vós seja considerado excluído. Porque, a nós como a eles, foi anunciada a Boa-Nova; porém, a eles, a palavra escutada não valeu de nada, pois não permaneceram unidos na fé aos que a tinham escutado. Quanto a nós, os que acreditámos, entraremos no descanso, como Ele disse: Tal como jurei na minha ira, não entrarão no meu repouso. No entanto, as suas obras estavam realizadas desde a fundação do mundo, pois diz-se em qualquer parte, a propósito do sétimo dia: Deus repousou no sétimo dia, de todas as suas obras; e ainda, neste passo: Não entrarão no meu repouso. Assim, uma vez que a alguns está reservado entrar nele, e que os que primeiro receberam a Boa-Nova não entraram por causa da sua desobediência, Ele fixa de novo um dia, hoje, dizendo por David, depois de tanto tempo, como acima se disse: Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações. De facto, se Josué lhes tivesse dado o repouso, Deus não teria falado de um outro dia posterior. Por conseguinte, permanece um repouso sabático para o povo de Deus. O que entra no seu repouso, repousa também das suas obras, tal como Deus repousou das suas. Apressemo-nos, então, a entrar nesse repouso para que ninguém caia no mesmo tipo de desobediência. Na verdade, a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração. Não há nenhuma criatura oculta diante dele, mas todas as coisas estão a nu e a descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas. Uma vez que temos um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos firme a fé que professamos. De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado. Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna. Todo o Sumo Sacerdote tomado de entre os homens é constituído em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza; por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados, como pelos do povo. E ninguém tome esta honra para si mesmo, mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão. Assim também Cristo não se atribuiu a glória de se tornar Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei. E, como diz noutro passo: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec. Temos muitas coisas a dizer sobre isto e coisas difíceis de explicar por palavras, porque vos tornastes lentos para compreender. Pois, vós, que há muito tempo devíeis ser mestres, precisais ainda de alguém que vos ensine os primeiros rudimentos das palavras de Deus e tornastes-vos necessitados de leite, em vez de comida sólida. Ora, o que se alimenta de leite é incapaz de entender a doutrina da justiça, pois é uma criança. A comida sólida, porém, é para os adultos, para os que têm já exercitadas, pela prática, as faculdades de distinguir o bem do mal. Por isso, deixando de parte os ensinamentos elementares sobre Cristo, elevemo-nos a coisas mais completas, sem lançar de novo os fundamentos da conversão das obras mortas, da fé em Deus, da doutrina do baptismo, da imposição das mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno. É isso que faremos, se Deus o permitir. É impossível, com efeito, que aqueles que uma vez foram iluminados, que provaram o dom celeste, que se tornaram participantes do Espírito Santo, que provaram a boa palavra de Deus e as maravilhas do mundo futuro, e que, no entanto, caíram, é impossível que sejam de novo renovados, levados à conversão, pois por si mesmos crucificam de novo o Filho de Deus e expõem-no ao escárnio. Na verdade, a terra que absorve a chuva que cai muitas vezes sobre ela, e produz plantas úteis para aqueles que a cultivam, recebe a bênção de Deus; mas, se produz espinhos e cardos, não tem valor e está próxima da maldição: acabará por ser queimada. Quanto a vós, amados irmãos, e apesar de falarmos deste modo, estamos convencidos que existem em vós coisas melhores, que conduzem à salvação. De facto, Deus não é injusto, para esquecer as vossas obras e o amor que mostrastes pelo seu nome, pondo-vos ao serviço dos santos e servindo-os ainda agora. Desejamos, porém, que cada um de vós mostre o mesmo zelo para a plena realização da sua esperança até ao fim, de modo que não vos torneis preguiçosos, mas imiteis aqueles que, pela fé e pela perseverança, se tornam herdeiros das promessas. Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha ninguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Na verdade, Eu te abençoarei e multiplicarei a tua descendência. E assim, Abraão, tendo esperado com paciência, alcançou a promessa. Ora, os homens juram por alguém maior do que eles, e o juramento é para eles uma garantia que põe fim a toda a controvérsia. Por isso, querendo Deus mostrar mais claramente aos herdeiros da promessa que a sua decisão era imutável, interveio com um juramento, para que, graças a duas acções imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, encontrássemos grande estímulo, nós os que procurámos refúgio nele, agarrando-nos à esperança proposta. Nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu onde Jesus entrou como nosso precursor, tornando-se Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao encontro de Abraão quando ele voltava da derrota infligida aos reis e abençoou-o; Abraão concedeu-lhe o dízimo de todas as coisas; o seu nome significa, em primeiro lugar, rei de justiça, e depois, «rei de Salém», que quer dizer «rei de paz». Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, assemelha-se ao Filho de Deus e permanece sacerdote para sempre. Considerai, portanto, como é grande aquele a quem o patriarca Abraão deu o dízimo dos despojos. Na verdade, também os filhos de Levi que recebem o sacerdócio, têm ordem, segundo a Lei, para cobrar o dízimo ao povo, isto é, aos seus irmãos, embora eles sejam também descendentes de Abraão. Mas aquele, que não era da sua descendência, cobrou o dízimo de Abraão e abençoou o detentor das promessas. Ora, sem dúvida, é o inferior que é abençoado pelo superior. Num caso, os que cobram o dízimo são homens mortais, mas no outro, é alguém que se afirma estar vivo. E, por assim dizer, Levi, que recebe o dízimo, pagava o dízimo, na pessoa de Abraão, pois ele ainda estava nas entranhas do seu antepassado quando Melquisedec veio ao seu encontro. Ora, se a perfeição tivesse sido realizada pelo sacerdócio levítico – sob ele o povo recebeu a Lei – que necessidade havia de que surgisse um outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão? De facto, quando muda o sacerdócio, dá-se também, necessariamente, a mudança da Lei. Aquele de quem isto se diz pertence a outra tribo, da qual nenhum membro fez o serviço do altar. É claro que Nosso Senhor procede de Judá, tribo acerca da qual Moisés nada disse a propósito dos sacerdotes. E isto é ainda mais evidente, quando aparece outro sacerdote à semelhança de Melquisedec, instituído, não segundo o mandamento de uma lei humana, mas segundo o poder de uma vida indestrutível. Na verdade, dele se testemunha: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. Assim, dá-se, por um lado, a abolição do mandamento precedente, devido à sua fraqueza e inutilidade – pois a Lei nada levou à perfeição – e, por outro, a introdução de uma esperança melhor, mediante a qual nos aproximamos de Deus. E isso não foi feito sem juramento. Os outros tornavam-se sacerdotes sem juramento, mas este com um juramento daquele que lhe disse: O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre. Por isso mesmo, Jesus se tornou o garante de uma aliança superior. Além disso, aqueles sacerdotes eram numerosos porque a morte os impedia de continuar, mas este, porque permanece eternamente, possui um sacerdócio que não acaba. Sendo assim, Ele pode salvar de um modo definitivo, os que por meio dele se aproximam de Deus, pois Ele está vivo para sempre, a fim de interceder por eles. Tal é, com efeito, o Sumo Sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado acima dos céus, que não tem necessidade, como os outros sacerdotes, de oferecer vítimas todos os dias, primeiro pelos seus próprios pecados e depois pelos do povo, porque Ele o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. A Lei, com efeito, constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à debilidade; mas a palavra do juramento, posterior à Lei, constitui o Filho perfeito para sempre. O ponto principal do que estamos a dizer é que temos um Sumo Sacerdote que se sentou nos céus à direita do trono da Majestade, como ministro do santuário e da verdadeira tenda, construída pelo Senhor e não pelo homem. Todo o Sumo Sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; daí a necessidade de também ele ter algo para oferecer. Se Cristo estivesse na terra, nem sequer seria sacerdote, pois já existem aqueles que oferecem os dons segundo a Lei. Esses prestam um culto que é uma imagem e uma sombra das realidades celestes, como foi revelado a Moisés quando estava para construir a tenda. Foi-lhe dito: Presta atenção, faz tudo segundo o modelo que te foi mostrado no monte. Mas, de facto, ele obteve um ministério tanto mais elevado, quanto maior é a aliança de que é mediador, a qual foi estabelecida sobre melhores promessas. Se, na verdade, a primeira fosse perfeita, não haveria lugar para a segunda. De facto, censurando-os, diz: Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que farei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova, não como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os fazer sair do Egipto; porque eles não permaneceram na minha aliança, também Eu me desinteressei deles – diz o Senhor. Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, depois daqueles dias. Diz o Senhor: Porei as minhas leis na sua mente e as imprimirei nos seus corações; serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Ninguém ensinará o seu próximo nem o seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor’; porque todos me conhecerão, do mais pequeno ao maior, pois perdoarei as suas iniquidades e não mais me lembrarei dos seus pecados. Ao falar de uma aliança nova, Deus declara antiquada a primeira; ora, o que se torna antiquado e envelhece está prestes a desaparecer. Com efeito, a primeira aliança continha normas para o culto e um santuário terrestre. Foi construída uma tenda, a primeira, chamada o Santo, na qual se encontrava o candelabro e a mesa dos pães da oferenda. Por detrás do segundo véu estava a tenda chamada Santo dos Santos, onde se encontrava o altar de ouro para os perfumes e a Arca da aliança, toda recoberta de ouro, contendo um vaso de ouro com o maná, a vara de Aarão que tinha florescido e as tábuas da aliança. Sobre a Arca estavam os querubins da glória, que cobriam com a sua sombra o propiciatório. Mas não é agora o momento de falar desse assunto em pormenor. Ora, estando assim dispostas as coisas, os sacerdotes entram continuamente na primeira tenda para celebrar o culto; mas na segunda, só entra o Sumo Sacerdote, uma vez por ano, e não entra sem levar consigo o sangue que oferece por si próprio e pelos pecados involuntários do povo. Com isto, queria o Espírito Santo mostrar que, enquanto subsistisse a primeira tenda, ainda não estava aberto o caminho do santuário. Esta é uma figura para o tempo presente, no qual se oferecem dons e sacrifícios que não podem tornar perfeita a consciência daquele que oferece, pois trata-se de comidas, bebidas e diversas purificações, todas prescrições humanas, impostas até ao tempo da nova ordem. Mas, Cristo veio como Sumo Sacerdote dos bens futuros, através de uma tenda maior e mais perfeita, que não é feita por mão humana, isto é, não pertence a este mundo criado. Entrou uma só vez no Santuário, não com o sangue de carneiros ou de vitelos, mas com o seu próprio sangue, tendo obtido uma redenção eterna. Se, de facto, o sangue dos carneiros e dos touros e a cinza da vitela com que se aspergem os impuros, os santifica, purificando-os no corpo, quanto mais o sangue de Cristo – que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo a Deus, sem mácula – purificará a nossa consciência das obras mortas, para que prestemos culto ao Deus vivo! Por isso, Ele é o mediador de uma nova aliança, um novo testamento; para que, intervindo a morte para a remissão das transgressões cometidas sob a primeira aliança, os chamados recebam a herança eterna prometida. Na realidade, onde há testamento, é necessário comprovar a morte do testador, pois um testamento só entra em vigor depois da morte e não tem efeito enquanto vive o que o fez. Por isso, nem sequer a primeira aliança foi inaugurada sem efusão de sangue. De facto, tendo Moisés proclamado a todo o povo cada prescrição, segundo a Lei, tomou o sangue dos vitelos e dos bodes com água, lã escarlate e um hissope e aspergiu o próprio livro e todo o povo, dizendo: Este é o sangue da aliança que Deus estabelece convosco. E, do mesmo modo, aspergiu também com sangue a tenda e todos os vasos de culto. Segundo a Lei, quase tudo é purificado com sangue e sem efusão de sangue não há perdão. Era, pois, necessário que as figuras das realidades celestes fossem purificadas por tais meios, mas as realidades do céu deviam sê-lo por sacrifícios maiores do que esses. Na realidade, Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, figura do verdadeiro santuário, mas entrou no próprio céu, para se apresentar agora diante de Deus em nosso favor. E nem entrou para se oferecer a si mesmo muitas vezes, tal como o Sumo Sacerdote, que entra cada ano no santuário com sangue alheio; nesse caso, deveria ter sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo. Agora, porém, na plenitude dos tempos, apareceu uma só vez para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. E, assim como está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento, assim também Cristo, que se ofereceu uma só vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá uma segunda vez, não já por causa do pecado, mas para dar a salvação àqueles que o esperam. Possuindo apenas a sombra dos bens futuros e não a expressão própria das coisas, a Lei nunca pode conduzir à perfeição aqueles que participam nos sacrifícios que se oferecem constantemente cada ano. Não se teria porventura deixado de os oferecer, se os que prestam culto, purificados de uma vez por todas, já não tivessem consciência de algum pecado? Pelo contrário, com esses sacrifícios, recordam-se anualmente os pecados, uma vez que é impossível que o sangue dos touros e dos bodes apague os pecados. Por isso, ao entrar no mundo, Cristo diz: Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo. Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados. Então, Eu disse: Eis que venho – como está escrito no livro a meu respeito – para fazer, ó Deus, a tua vontade. Disse primeiro: Não quiseste nem te agradaram sacrifícios, oferendas e holocaustos pelos pecados – e, no entanto, eram oferecidos segundo a Lei. Disse em seguida: Eis que venho para fazer a tua vontade. Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo. E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre. Todo o sacerdote se apresenta diariamente para oferecer o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem apagar os pecados. Cristo, porém, depois de oferecer pelos pecados um único sacrifício, sentou-se para sempre à direita de Deus, esperando, por último, que os seus inimigos sejam postos como estrado dos seus pés. De facto, com uma só oferta, Ele tornou perfeitos para sempre os que são santificados. É o que o Espírito Santo também nos atesta. De facto, depois disse: Esta é a aliança que estabelecerei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: ‘Porei as minhas leis nos seus corações e gravá-las-ei nas suas mentes; e não mais me recordarei dos seus pecados nem das suas iniquidades.’ Ora, onde há perdão dos pecados, já não há necessidade de oferenda pelos pecados. Temos, pois, irmãos, plena liberdade para a entrada no santuário por meio do sangue de Jesus. Ele abriu para nós um caminho novo e vivo através do véu, isto é, da sua humanidade e, tendo um Sumo Sacerdote à frente da casa de Deus, aproximemo-nos dele com um coração sincero, com a plena segurança da fé, com os corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água pura. Conservemos firmemente a profissão da nossa esperança, pois aquele que fez a promessa é fiel. Estejamos atentos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, sem abandonarmos a nossa assembleia – como é costume de alguns – mas animando-nos, tanto mais quanto mais próximo vedes o Dia. De facto, se pecamos deliberadamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, não nos resta nenhum sacrifício pelos pecados, mas somente a terrível espera do julgamento e o ardor de um fogo que se prepara para devorar os rebeldes. Se aquele que transgride a Lei de Moisés é, sem piedade, condenado à morte com base em duas ou três testemunhas, quanto maior castigo pensais que merecerá o que tiver calcado aos pés o Filho de Deus, tiver considerado profano o sangue da aliança, pelo qual foi santificado, e tiver ultrajado o Espírito da graça? Conhecemos, de facto, aquele que disse: A mim pertence a vingança; Eu é que retribuirei. E ainda: O Senhor julgará o seu povo. É terrível cair nas mãos do Deus vivo! Recordai os primeiros dias nos quais, depois de terdes sido iluminados, suportastes a grande luta dos sofrimentos, tanto sendo expostos publicamente a insultos e tribulações, como sendo solidários com os que assim eram tratados. Tomastes parte nos sofrimentos dos encarcerados, aceitastes com alegria a confiscação dos vossos bens, sabendo que possuís bens melhores e mais duradouros. Não percais, pois, a vossa confiança, à qual está reservada uma grande recompensa. Na realidade, tendes necessidade de perseverança, para que, tendo cumprido a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Pois ainda um pouco, de facto, um pouco apenas, e o que há-de vir, virá e não tardará. O meu justo viverá pela fé, mas, se ele voltar atrás, a minha alma não encontrará nele satisfação. Nós, porém, não somos daqueles que voltam atrás para a perdição, mas homens de fé para a salvação da nossa alma. Ora a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. Foi por ela que os antigos foram aprovados. Pela fé, sabemos que o mundo foi organizado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê provém de coisas não visíveis. Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício maior que o de Caim; com base nela, foi declarado justo, porque Deus aceitou os seus dons e, por meio dela, fala ainda depois da morte. Pela fé, Henoc foi arrebatado, para não ver a morte, e não foi encontrado porque Deus o tinha levado. Porém, antes de ser levado, obtivera o testemunho de que tinha agradado a Deus. Ora, sem a fé é impossível agradar-lhe; e quem se aproxima de Deus tem de acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que o procuram. Pela fé, Noé, avisado acerca de coisas que ainda se não viam, e, tomando o aviso a sério, construiu uma Arca para salvar a sua família; por essa fé, condenou o mundo e tornou-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé. Pela fé, Abraão, ao ser chamado, obedeceu e partiu para um lugar que havia de receber como herança e partiu sem saber para onde ia. Pela fé, estabeleceu-se como estrangeiro na Terra Prometida, habitando em tendas, tal como Isaac e Jacob, co-herdeiros da mesma promessa, pois esperava a cidade bem alicerçada, cujo arquitecto e construtor é o próprio Deus. Pela fé, também Sara, apesar da sua avançada idade, recebeu a possibilidade de conceber, porque considerou fiel aquele que lho tinha prometido. Por isso, de um só homem, e já marcado pela morte, nasceu uma multidão tão numerosa como as estrelas do céu e incontável como a areia da beira-mar. Foi na fé que todos eles morreram, sem terem obtido os bens prometidos, mas tendo-os somente visto e saudado de longe, confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Ora, os que assim falam mostram que procuram uma pátria. Se eles tivessem pensado naquela que tinham deixado, teriam tido oportunidade de lá voltar; mas agora eles aspiram a uma pátria melhor, isto é, à pátria celeste. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado o «seu Deus», porque preparou para eles uma cidade. Pela fé, Abraão, quando foi posto à prova, ofereceu Isaac, e estava preparado para oferecer o seu único filho, ele que tinha recebido as promessas e a quem tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência. De facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho. Pela fé, Isaac abençoou Jacob e Esaú, relativamente às coisas futuras. Pela fé, Jacob, estando para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e prostrou-se, apoiando-se na extremidade do seu bastão. Pela fé, José, no fim da vida, evocou o êxodo dos filhos de Israel e deu instruções acerca dos seus ossos. Pela fé, Moisés, acabado de nascer, foi escondido durante três meses pelos seus pais, porque viram que o menino era belo e não tiveram medo do decreto do rei. Pela fé, Moisés, já crescido, recusou ser chamado filho da filha do Faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus, a desfrutar por breve tempo o gozo do pecado. Ele considerou a humilhação de Cristo uma riqueza maior do que os tesouros do Egipto, pois tinha os olhos fixos na recompensa. Pela fé, deixou o Egipto, sem temer a ira do rei, mantendo-se firme, como se contemplasse o Invisível. Pela fé, celebrou a Páscoa e fez a aspersão do sangue, a fim de que o Exterminador não tocasse nos primogénitos de Israel. Pela fé, atravessaram o Mar Vermelho como se fosse terra seca, ao passo que os egípcios foram engolidos quando tentavam passar. Pela fé, caíram as muralhas de Jericó, depois de terem sido circundadas durante sete dias. Pela fé, Raab, a prostituta, não pereceu com os incrédulos, por ter acolhido pacificamente os espiões. Que mais direi? Faltar-me-ia o tempo se quisesse falar acerca de Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, David e Samuel e dos profetas, os quais, pela fé, conquistaram reinos, exerceram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza, recobraram a força, tornaram-se fortes na guerra, e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Algumas mulheres recuperaram os seus mortos por meio da ressurreição. Alguns foram torturados, não querendo aceitar a libertação, para obterem uma ressurreição melhor; outros sofreram a prova dos escárnios e dos flagelos, das cadeias e da prisão. Foram apedrejados, serrados ao meio, mortos ao fio da espada; andaram errantes cobertos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, atribulados e maltratados; homens de quem o mundo não era digno, andaram vagueando pelos desertos, pelos montes, pelas grutas e pelas cavidades da terra. E todos estes, apesar de terem recebido um bom testemunho, graças à sua fé, não alcançaram a realização da promessa, porque Deus tinha previsto algo de melhor para nós, de modo que eles não alcançassem a perfeição sem nós. Deste modo, também nós, circundados como estamos de tal nuvem de testemunhas, deixando de lado todo o impedimento e todo o pecado, corramos com perseverança a prova que nos é proposta, tendo os olhos postos em Jesus, autor e consumador da fé. Ele, renunciando à alegria que lhe fora proposta, sofreu a cruz, desprezando a ignomínia, e sentou-se à direita do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que sofreu tal oposição por parte dos pecadores, para que não desfaleçais, perdendo o ânimo. Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado. Esquecestes a exortação que vos é dirigida como a filhos: Meu filho, não desprezes a correcção do Senhor, e não desanimes quando és repreendido por Ele, porque o Senhor corrige os que ama e castiga todo o que reconhece como filho. É para vossa correcção que sofreis. Deus trata-vos como filhos; e qual é o filho a quem o pai não corrige? Mas, se estais isentos da correcção, da qual todos participam, então sois bastardos e não filhos. De resto, tivemos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam e que nós respeitávamos; não será, então, que nos devemos submeter muito mais ao Pai dos espíritos, para termos a vida? Os nossos pais corrigiam-nos por pouco tempo e conforme entendiam; Deus corrige-nos para nosso bem, para nos fazer participantes da sua santidade. É certo que toda a correcção, no momento em que é aplicada, não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; mais tarde, porém, produz um fruto de paz e de justiça nos que foram exercitados por ela. Por isso, levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos enfraquecidos, fazei caminhos rectos para os vossos pés, para que o coxo não coxeie mais, mas seja curado. Procurai a paz com todos e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. Vigiai, para que ninguém venha a estar privado da graça de Deus, nem alguma raiz amarga, crescendo, vos cause dano e, por meio dela, muitos venham a ser contaminados. Que não haja nenhum impuro ou profanador como Esaú que, por um prato de comida, vendeu a sua primogenitura. Sabeis que, desejando depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não encontrou possibilidade de mudança, apesar de a ter pedido com lágrimas. Na verdade, não vos aproximastes de uma realidade palpável, de fogo ardente, das trevas, da obscuridade ou da tempestade, nem do som da trombeta ou do ruído das palavras, cujos ouvintes pediam que não se lhes falasse mais; de facto, não podiam suportar o que fora ordenado: Até um animal, se tocar a montanha, será apedrejado. E o espectáculo era tão terrível, que Moisés disse: Estou apavorado e a tremer. Vós, porém, aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste, de miríades de anjos, da reunião festiva, da assembleia dos primogénitos inscritos nos céus, do juiz que é o Deus de todos, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição, de Jesus, o Mediador da Nova Aliança, e de um sangue de aspersão que fala melhor que o de Abel. Tende cuidado! Não vos recuseis a escutar aquele que vos fala; porque se aqueles que se recusaram a escutar o que os advertia na terra, não escaparam ao castigo, muito menos escaparemos nós, se nos desviarmos daquele que nos fala dos céus, cuja voz outrora abalou a terra e agora faz esta promessa: Mais uma vez abalarei não só a terra, mas também o céu. As palavras «mais uma vez» indicam a mudança das coisas que foram abaladas, enquanto coisas criadas, para que permaneçam as que são inabaláveis. Por isso, tendo recebido um reino inabalável, conservemos a graça e, por meio dela, prestemos um culto agradável a Deus com respeito e reverência, porque o nosso Deus é um fogo devorador. Que permaneça a caridade fraterna. Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos. Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos que são maltratados, porque também vós tendes um corpo. Seja o matrimónio honrado por todos e imaculado o leito conjugal, pois Deus julgará os impuros e os adúlteros. Vivei sem avareza, contentando-vos com o que possuís, porque o próprio Deus disse: Não te deixarei nem te abandonarei. Assim, podemos dizer confiadamente: O Senhor é o meu auxílio; não temerei; que poderá fazer-me um homem? Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus; observai o êxito da sua conduta e imitai a sua fé. Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos. Não vos deixeis levar por doutrinas diversas e estranhas, porque é bom que o coração seja fortalecido pela graça e não por alimentos, que de nada aproveitaram aos que insistiam nessa observância. Nós temos um altar do qual não têm o direito de comer os que servem na tenda. De facto, os corpos dos animais, cujo sangue é levado pelo Sumo Sacerdote ao santuário para a expiação dos pecados, são queimados fora do acampamento. Por isso, também Jesus, para santificar o povo com o seu próprio sangue, padeceu fora das portas. Saiamos, então, ao seu encontro fora do acampamento, suportando a sua humilhação, porque não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura. Por meio dele, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com os outros, pois são esses os sacrifícios que agradam a Deus. Sede submissos e obedecei aos que vos guiam, pois eles velam pelas vossas almas, das quais terão de prestar contas; que eles o façam com alegria e não com gemidos, o que não seria vantajoso para vós. Rezai por nós, pois estamos convencidos de ter uma boa consciência e desejamos comportar-nos bem em tudo. Exorto-vos com maior insistência a que o façais, para que eu vos seja restituído mais depressa. O Deus da paz, que ressuscitou dos mortos o grande Pastor das ovelhas, Jesus, Senhor nosso, pelo sangue da Aliança eterna, vos torne aptos para todo o bem, a fim de que façais a sua vontade. Que Ele realize em nós o que lhe é agradável, por meio de Jesus Cristo, ao qual seja dada glória pelos séculos dos séculos. Ámen. Rogo-vos, irmãos, que suporteis com paciência esta palavra de exortação, pois para isso vos escrevi brevemente. Sabei que o nosso irmão Timóteo foi posto em liberdade. Se vier depressa, irei ver-vos com ele. Saudai todos os vossos guias e todos os santos. Os da Itália saúdam-vos. A graça esteja com todos vós. Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, saúda as doze tribos da Dispersão. Meus irmãos, considerai como uma enorme alegria o estardes rodeados de provações de toda a ordem, tendo em conta que a prova a que é submetida a vossa fé produz a constância. Mas a constância tem de se exercitar até ao fim, de modo a serdes perfeitos e irrepreensíveis, sem falhar em nada. Se algum de vós tem falta de sabedoria, que a peça a Deus, que a todos dá generosamente e sem recriminações, e ser-lhe-á dada. Mas peça-a com fé e sem hesitar, porque aquele que hesita assemelha-se às ondas do mar sacudidas e agitadas pelo vento. Não pense, pois, tal homem que receberá qualquer coisa do Senhor, sendo de espírito indeciso e inconstante em tudo. Que o irmão de condição humilde se glorie na sua exaltação, e o rico na sua humilhação, pois ele passará como a flor da erva. Com efeito, ao despontar o Sol com ardor, a erva seca e a sua flor cai, perdendo toda a beleza; assim murchará também o rico nos seus empreendimentos. Feliz o homem que resiste à tentação, porque, depois de ter sido provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam. Ninguém diga, quando for tentado para o mal: «É Deus que me tenta.» Porque Deus não é tentado pelo mal, nem tenta ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e seduz. E a concupiscência, depois de ter concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do Alto, descendo do Pai das luzes, no qual não há mudanças nem períodos de sombra. Por sua livre decisão, nos gerou com a palavra da verdade, para sermos como que as primícias das suas criaturas. Bem o sabeis, meus amados irmãos: cada um seja pronto para ouvir, lento para falar e lento para se irar, pois uma pessoa irada não faz o que é justo aos olhos de Deus. Rejeitai, pois, toda a imundície e todo o vestígio de malícia e recebei com mansidão a Palavra em vós semeada, a qual pode salvar as vossas almas. Mas tendes de a pôr em prática e não apenas ouvi-la, enganando-vos a vós mesmos. Porque, quem se contenta com ouvir a palavra, sem a pôr em prática, assemelha-se a alguém que contempla a sua fisionomia num espelho; mal acaba de se contemplar, sai dali e esquece-se de como era. Aquele, porém, que medita com atenção a lei perfeita, a lei da liberdade, e nela persevera – não como quem a ouve e logo se esquece, mas como quem a cumpre – esse encontrará a felicidade ao pô-la em prática. Se alguém se considera uma pessoa piedosa, mas não refreia a sua língua, enganando assim o seu coração, a sua religião é vazia. A religião pura e sem mácula diante daquele que é Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo. Meus irmãos, não tenteis conciliar a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo glorioso com a acepção de pessoas. Suponhamos que entra na vossa assembleia um homem com anéis de ouro e bem trajado, e entra também um pobre muito mal vestido, e, dirigindo-vos ao que está magnificamente vestido, lhe dizeis: «Senta-te tu aqui, num bom lugar», e dizeis ao pobre: «Tu, fica aí de pé»; ou «Senta-te no chão, abaixo do meu estrado.» Não é verdade que, então, fazeis distinções entre vós mesmos e julgais com critérios perversos? Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? Não são eles os que blasfemam o belo nome que sobre vós foi invocado? Se cumpris a lei do Reino, de acordo com a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, procedeis bem; mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis um pecado e a lei condena-vos como transgressores. Porque quem observa toda a lei mas falta num só mandamento torna-se réu de todos os outros. Pois aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se, pois, não cometeres adultério, mas matares, tornas-te transgressor da lei. Falai e procedei como pessoas que hão-de ser julgadas segundo a lei da liberdade. Porque quem não pratica a misericórdia será julgado sem misericórdia. Mas a misericórdia não teme o julgamento. De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: «Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda: poderá alguém alegar sensatamente: «Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé. Tu crês que há um só Deus? Fazes bem. Também o crêem os demónios, mas enchem-se de terror.» Queres tu saber, ó homem insensato, como é que a fé sem obras é estéril? Não foi porventura pelas obras que Abraão, nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaac? Repara que a fé cooperava com as suas obras e que, pelas obras, a sua fé se tornou perfeita. E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe contado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. Vedes, pois, como o homem fica justificado pelas obras e não somente pela fé. Do mesmo modo, a prostituta Raab não foi ela também justificada pelas suas obras, ao receber os mensageiros e ao fazê-los sair por outro caminho? Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta. Meus irmãos, não haja muitos entre vós que pretendam ser mestres, sabendo que nós teremos um julgamento mais severo, pois todos nós falhamos com frequência. Se alguém não peca pela palavra, esse é um homem perfeito, capaz também de dominar todo o seu corpo. Quando pomos um freio na boca do cavalo para que nos obedeça, dirigimos todo o seu corpo. Vede também os barcos: por grandes que sejam e fustigados por ventos impetuosos, são dirigidos com um pequeno leme para onde quer a vontade do piloto. Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede como um pequeno fogo pode incendiar uma grande floresta! Assim também a língua é fogo, é um mundo de iniquidade; entre os nossos membros, é ela que contamina todo o corpo e, inflamada pelo Inferno, incendeia o curso da nossa existência. Todas as espécies de animais selvagens, de aves, de répteis e de animais do mar se podem domar e têm sido domadas pelo homem. A língua, pelo contrário, ninguém a pode dominar: é um mal incontrolável, carregado de veneno mortal. Com ela bendizemos quem é Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição. Mas isto não deve ser assim, meus irmãos. Porventura uma fonte lança pela mesma bica água doce e água salgada? Porventura, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira dar figos? Uma fonte de água salgada também não pode dar água doce. Existe alguém entre vós que seja sábio e entendido? Mostre, então, pelo seu bom procedimento, que as suas obras estão repassadas da mansidão própria da sabedoria. Mas, se tendes no vosso coração uma inveja amarga e um espírito dado a contendas, não vos vanglorieis nem falseeis a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do Alto, mas é a terrena, a da natureza corrompida, a diabólica. Pois, onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más. Mas a sabedoria que vem do Alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia; e é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz. De onde vêm as guerras e as lutas que há entre vós? Não vêm precisamente das vossas paixões que se servem dos vossos membros para fazer a guerra? Cobiçais, e nada tendes? Então, matais! Roeis-vos de inveja, e nada podeis conseguir? Então, lutais e guerreais-vos! Não tendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para satisfazer os vossos prazeres. Almas adúlteras! Não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Portanto, quem quiser ser amigo deste mundo torna-se inimigo de Deus! Ou pensais que a Escritura diz em vão: O Espírito que habita em nós ama-nos com ciúme? No entanto, a graça que Ele dá é mais abundante, pelo que diz: Deus opõe-se aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Submetei-vos, portanto, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Aproximai-vos de Deus e Ele aproximar-se-á de vós. Lavai as mãos, pecadores, e purificai os vossos corações, ó gente de alma dividida. Reconhecei a vossa miséria, lamentai-vos e chorai; que o vosso riso se converta em pranto e a vossa alegria em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará. Não faleis mal uns dos outros, irmãos. Quem fala mal de um irmão e o julga, está a falar mal da lei e a julgá-la. Ora, se tu julgas a lei, já não és cumpridor da lei, mas seu juiz. Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e condenar. Mas quem és tu, para julgar o teu próximo? E agora, vós dizeis: «Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, passaremos ali um ano, faremos negócios e ganharemos bom dinheiro.» Vós, que nem sequer sabeis o que será a vossa vida no dia de amanhã! O que é, afinal, a vossa vida? Sois fumo que aparece por um instante e logo a seguir se desfaz! Em vez disso, deveis dizer: «Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.» Pelo contrário, gloriais-vos das vossas prosápias: toda a vaidade deste género é má. Quem sabe praticar o bem e não o faz comete pecado. E agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós e devorará a vossa carne como o fogo. Entesourastes, afinal, para os vossos últimos dias! Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo! Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia da matança! Condenastes e destes a morte ao inocente, e Deus não vai opor-se? Sede, pois, pacientes, irmãos, até à vinda do Senhor. Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando com paciência que venham as chuvas temporãs e as tardias. Tende, também vós, paciência e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, irmãos, para não serdes julgados. Olhai que o Juiz já está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sacrifício e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor. Vede como nós proclamamos bem-aventurados aqueles que sofreram com paciência; ouvistes falar da paciência de Job e vistes o resultado que o Senhor lhe concedeu; porque o Senhor é cheio de misericórdia e compassivo. Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo Céu, nem pela Terra, nem façais qualquer outro juramento. Que o vosso «sim» seja sim e que o vosso “não” seja não, para não incorrerdes em condenação. Está alguém, entre vós, a sofrer? Recorra à oração. Está alguém contente? Cante salmos. Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração fervorosa do justo tem muito poder. Elias, que era um homem da mesma condição que nós, rezou com fervor para que não chovesse, e durante três anos e seis meses não choveu sobre a terra. Depois voltou a rezar, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto. Meus irmãos, se algum de vós se extravia da verdade e alguém o converte, saiba que aquele que converte um pecador do seu erro salvará da morte a sua alma e obterá o perdão de muitos pecados. Pedro, Apóstolo de Jesus Cristo, aos que peregrinam na Dispersão do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia, eleitos por meio da santificação do Espírito, segundo a providência de Deus Pai, para obedecerem a Jesus Cristo e receberem a aspersão do seu sangue. Graça e paz vos sejam dadas em abundância. Bendito seja Deus, Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo, que na sua grande misericórdia nos gerou de novo – através da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos – para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, imaculada e indefectível, reservada no Céu para vós, a quem o poder de Deus guarda, pela fé, até alcançardes a salvação que está pronta para se manifestar no momento final. É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem o terdes visto, vós o amais; sem o ver ainda, credes nele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas. Esta salvação foi objecto das buscas e averiguações dos profetas, que predisseram a graça que vos estava destinada. Eles investigavam a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles morava e que profetizava os padecimentos reservados a Cristo e a glória que se lhes seguiria. Foi-lhes revelado – não para seu proveito, mas para vosso – que eles estavam ao serviço destas realidades que agora vos foram anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho, em virtude do Espírito Santo enviado do Céu; as mesmas que os Anjos avidamente contemplam. Por isso, de ânimo preparado para servir e vivendo com sobriedade, ponde a vossa esperança na dádiva que vos vai ser concedida com a manifestação de Jesus Cristo. Como filhos obedientes, não vos conformeis com os antigos desejos do tempo da vossa ignorância; mas, assim como é santo aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso proceder, conforme diz a Escritura: Sede santos, porque Eu sou santo. E, se invocais como Pai aquele que, sem parcialidade, julga cada um consoante as suas obras, comportai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação; sabendo que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens corruptíveis, prata ou ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro sem defeito nem mancha, predestinado já antes da criação do mundo e manifestado nos últimos tempos por causa de vós; vós, que por meio dele tendes a fé em Deus, que o ressuscitou dos mortos e o glorificou, a fim de que a vossa fé e a vossa esperança estejam postas em Deus. Já que purificastes as vossas almas pela obediência à verdade que leva a um sincero amor fraterno, amai-vos intensamente uns aos outros do fundo do coração, como quem nasceu de novo, não de uma semente corruptível, mas de um germe incorruptível, a saber, por meio da palavra de Deus, viva e perene. De facto, todo o mortal é como a erva e toda a sua glória como a flor da erva. Seca-se a erva e cai a flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre. Esta é a palavra que vos foi anunciada como boa-nova. Portanto, ponde de parte toda a malícia, falsidades, hipocrisias, invejas e toda a espécie de maledicências; como crianças recém-nascidas, ansiai pelo leite espiritual, não adulterado, para que ele vos faça crescer para a salvação, se é que já saboreastes como o Senhor é bom. Aproximando-vos dele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, também vós – como pedras vivas – entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo. Por isso se diz na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa; quem crer nela não será confundido. A honra é, então, para vós, os crentes; mas, para os incrédulos, a pedra que os construtores rejeitaram, esta mesma tornou-se a pedra angular, e também uma pedra que faz tropeçar, uma pedra de escândalo. Tropeçam nela porque não creram na palavra; para isso estavam destinados. Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhas daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável; a vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia. Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos carnais, que combatem contra a alma. Tende entre os gentios um comportamento exemplar, de modo que, ao acusarem-vos de malfeitores, vendo as vossas boas obras, acabem por dar glória a Deus no dia da sua visita. Sede, pois, submissos a toda a instituição humana, por amor do Senhor; quer ao rei, como soberano, quer aos governadores, como enviados por ele para punir os malfeitores e honrar os que fazem o bem. Pois é esta a vontade de Deus: que, praticando o bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos. Actuai como homens livres, não como aqueles que fazem da liberdade um pretexto para a maldade, mas como servos de Deus. Respeitai a todos, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei. Vós, servos, sede obedientes com todo o respeito aos vossos senhores, não só aos bons e compreensivos, mas também aos severos. Pois é meritório suportar contrariedades em atenção a Deus, sofrendo injustamente. Aliás, que mérito tem suportar que vos batam, se vos portais mal? Mas se, fazendo o bem, sofreis com paciência, isso é uma coisa meritória diante de Deus. Ora, foi para isto que fostes chamados; visto que Cristo também padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos. Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se encontrou engano; ao ser insultado, não respondia com insultos; ao ser maltratado, não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga com justiça; subindo ao madeiro, Ele levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fostes curados. Na verdade, éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao Pastor e Guarda das vossas almas. Vós, também, ó mulheres, sede submissas aos vossos maridos, para que, mesmo se alguns não crêem na Palavra, venham a ser conquistados, sem palavras, pelo procedimento das suas mulheres, ao observarem a vossa conduta casta e cheia de respeito. Que o vosso adorno não seja o exterior – arranjo do cabelo, jóias de ouro, roupa vistosa – mas, sim, o interior, que está oculto no coração, o adorno duradouro de uma alma mansa e serena; este é o adorno de maior valor aos olhos de Deus. Era assim que outrora se adornavam as santas mulheres que esperavam em Deus, submissas a seus maridos; assim, Sara que obedecia a Abraão, chamando-lhe seu senhor. Dela vós sois filhas, quando fazeis o bem, sem vos deixardes perturbar por nenhum temor. Do mesmo modo, vós, maridos, no convívio com as vossas mulheres, tende em conta que são de natureza mais delicada, e tende consideração por elas, dado que são também herdeiras convosco do dom da vida. Assim, nada estorvará a vossa oração. Finalmente, tende todos o mesmo pensar e os mesmos sentimentos, o amor de irmãos, a misericórdia e a humildade. Não pagueis o mal com o mal, nem a injúria com a injúria; pelo contrário, respondei com palavras de bênção, pois a isto fostes chamados: a herdar uma bênção. Pois quem quer ter amor à vida e ver dias felizes, refreie a sua língua do mal e os seus lábios de palavras enganosas; aparte-se do mal e pratique o bem, busque a paz e corra atrás dela. Porque os olhos do Senhor fixam-se nos justos e os ouvidos do Senhor estão atentos às suas súplicas; mas o seu rosto volta-se contra os que fazem o mal. E quem vos poderá fazer mal, se fordes zelosos em praticar o bem? Mas, se tiverdes de padecer por causa da justiça, felizes de vós! Não temais as suas ameaças, nem vos deixeis perturbar; mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito, mantende limpa a consciência, de modo que os que caluniam a vossa boa conduta em Cristo sejam confundidos, naquilo mesmo em que dizem mal de vós. Melhor é padecer por fazer o bem, se é essa a vontade de Deus, do que por fazer o mal. Também Cristo padeceu pelos pecados, de uma vez para sempre – o Justo pelos injustos – para nos conduzir a Deus. Morto na carne, mas vivificado no espírito. Foi então que foi pregar também aos espíritos cativos, outrora incrédulos, no tempo em que, nos dias de Noé, Deus os esperava pacientemente enquanto se construía a Arca; nela poucas pessoas – oito apenas – se salvaram por meio da água. Isto era uma figura do baptismo, que agora vos salva, não por limpar impurezas do corpo, mas pelo compromisso com Deus de uma consciência honrada, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo, que, tendo subido ao Céu, está sentado à direita de Deus, e a Ele se submeteram Anjos, Dominações e Potestades. Posto que Cristo padeceu na sua carne, preparai-vos, também vós, para a luta, com esta consideração: quem padeceu na carne rompeu com o pecado, a fim de viver, durante o tempo que lhe resta da sua vida mortal, não já segundo as paixões humanas, mas segundo a vontade de Deus. Já basta que, no tempo passado, tenhais procedido à maneira dos pagãos, vivendo em devassidão, paixões desonestas, embriaguez, excessos no comer e no beber e em intoleráveis cultos de falsos deuses. Por isso, eles estranham agora que não os acompanheis nos mesmos desregramentos de libertinagem e cobrem-vos de insultos. Mas prestarão contas àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. Pois para isto foi o Evangelho também pregado aos mortos; a fim de que, muito embora condenados na sua vida corporal segundo o juízo dos homens, vivam, contudo, em espírito segundo o juízo de Deus. Ora, o fim de todas as coisas está próximo. Sede, portanto, sensatos e sóbrios para vos poderdes dedicar à oração. Acima de tudo, mantende entre vós uma intensa caridade, porque o amor cobre a multidão dos pecados. Exercei a hospitalidade uns com os outros, sem queixas. Como bons administradores das várias graças de Deus, cada um de vós ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu. Se alguém tomar a palavra, que seja para transmitir palavras de Deus; se alguém exerce um ministério, faça-o com a força que Deus lhe concede, para que em todas as coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo. A Ele a glória e o poder por todos os séculos dos séculos. Ámen. Caríssimos, não estranheis a fogueira que se ateou no meio de vós para vos pôr à prova, como se vos acontecesse alguma coisa estranha. Pelo contrário, alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória. Se sois ultrajados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós. Que nenhum de vós tenha de sofrer por ser homicida, ladrão, malfeitor, ou por se intrometer na vida alheia. Mas, se sofre por ser cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus por ter este nome. É tempo de começar o julgamento pela casa de Deus; e, se começa por nós, qual será a sorte dos que não crêem no Evangelho de Deus? E, se o justo dificilmente se salva, o que virá a ser do ímpio e do pecador? Por isso, aqueles que tenham de sofrer segundo a vontade de Deus, encomendem as suas almas ao Criador, que é fiel, perseverando na prática do bem. Aos presbíteros que há entre vós, eu – presbítero como eles e que fui testemunha dos padecimentos de Cristo e também participante da glória que se há-de manifestar – dirijo-vos esta exortação: Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, governando-o não à força, mas de boa vontade, tal como Deus quer; não por um mesquinho espírito de lucro, mas com zelo; não com um poder autoritário sobre a herança do Senhor, mas como modelos do rebanho. E, quando o supremo Pastor se manifestar, então recebereis a coroa imperecível da glória. Igualmente, vós, jovens, sede submissos aos presbíteros; e revesti-vos todos de humildade no trato uns com os outros, porque Deus opõe-se aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no devido tempo. Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigiai, pois o vosso adversário, o diabo, como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos. Depois de terdes padecido por um pouco de tempo, o Deus que é todo graça e vos chamou em Jesus Cristo à sua eterna glória, há-de restabelecer-vos e consolidar-vos, tornar-vos firmes e fortes. Para Ele o poder pelos séculos dos séculos. Ámen. Por Silvano, a quem considero um irmão fiel, escrevo-vos estas breves palavras, para vos exortar e para vos assegurar que esta é a verdadeira graça de Deus; perseverai nela! Manda-vos saudações a comunidade dos eleitos que está em Babilónia e, em particular, Marcos, meu filho. Saudai-vos uns aos outros com um beijo de irmãos que se amam. Paz a todos vós, que estais em Cristo. Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus Cristo, àqueles a quem coube em sorte, pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, uma fé tão preciosa como a nossa: graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso. O divino poder, ao dar-nos a conhecer aquele que nos chamou pela sua glória e pelo seu poder, concedeu-nos todas as coisas que contribuem para a vida e a piedade. Com elas, teve a bondade de nos dar também os mais preciosos e sublimes bens prometidos, a fim de que – por meio deles – vos torneis participantes da natureza divina, depois de vos livrardes da corrupção que a concupiscência gerou no mundo. Por este motivo é que, da vossa parte, deveis pôr todo o empenho em juntar à vossa fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento a temperança; à temperança a paciência; à paciência a piedade; à piedade o amor aos irmãos; e ao amor aos irmãos a caridade. Se tiverdes estas virtudes e elas forem crescendo em vós, não ficareis inactivos nem estéreis, relativamente ao conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. E quem não tiver estas virtudes é um cego que mal pode ver e que deixou cair no esquecimento a purificação dos seus pecados de outrora. Por isso, meus irmãos, ponde o maior empenho no fortalecimento da vossa vocação e eleição. Se assim procederdes, jamais haveis de fracassar e se vos há-de abrir de par em par a entrada para o reino eterno de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Eis por que sempre procurarei lembrar-vos estas coisas, por mais instruídos e firmes que estejais na verdade que já conheceis. É que tenho por meu dever – enquanto estiver nesta tenda – manter-vos alerta com os meus avisos, pois sei que em breve terei de deixá-la, conforme Nosso Senhor Jesus Cristo mo deu a conhecer. E cuidarei de que, mesmo depois da minha partida, possais conservar sempre a lembrança destas coisas. De facto, demo-vos a conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, não por havermos ido atrás de fábulas engenhosas, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Com efeito, Ele foi honrado e glorificado por Deus Pai, quando a excelsa Glória lhe dirigiu esta voz: Este é o meu Filho, o meu muito Amado, em quem Eu pus o meu encanto. E esta voz, vinda do Céu, nós mesmos a ouvimos quando estávamos com Ele na montanha santa. E temos assim mais confirmada a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção como a uma lâmpada que brilha num lugar escuro, até que o dia desponte e a estrela da manhã nasça nos vossos corações. Mas, antes de tudo, tende presente que ninguém pode interpretar por si mesmo uma profecia da Escritura, porque jamais uma profecia foi proferida pela vontade de um homem; mas, sendo movidos pelo Espírito Santo é que certos homens falaram da parte de Deus. Assim como houve entre o povo de Israel falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres; introduzirão disfarçadamente heresias perniciosas e, indo ao ponto de negar o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si mesmos uma rápida perdição. Muitos hão-de segui-los na sua libertinagem e, por causa deles, o caminho da verdade será blasfemado; movidos pela cobiça, hão-de explorar-vos com palavras enganadoras. Mas a sua condenação há muito que não perde pela demora e a sua ruína não dorme. Com efeito, Deus não poupou os anjos que pecaram mas, precipitando-os no Inferno, entregou-os a um fosso de trevas, onde estão reservados para o Juízo; e não poupou o mundo antigo, embora tenha preservado oito pessoas, contando Noé, o arauto da rectidão, quando desencadeou o dilúvio sobre o mundo dos ímpios; e condenou as cidades de Sodoma e Gomorra à destruição, reduzindo-as a cinzas, para servirem de exemplo aos ímpios que viriam depois; mas livrou o justo Lot, deprimido pela vida dissoluta daquela gente depravada, pois este justo, morando no meio deles, sentia atormentada a sua alma recta, devido às obras malvadas que via e ouvia, dia após dia. É que o Senhor sabe livrar da provação quem é piedoso e reservar os maus para o castigo do dia do juízo, principalmente aqueles que correm atrás dos desejos impuros do corpo e desprezam a autoridade do Senhor. Audaciosos e arrogantes, não temem ultrajar seres gloriosos, ao passo que os anjos, superiores em força e poder, não pronunciam um juízo injurioso contra eles, diante do Senhor. Estes, porém, semelhantes a animais irracionais, destinados por natureza a serem caçados e mortos, falam mal do que não conhecem e, assim, morrerão como animais, sofrendo o mal pelo mal que fizeram. Põem a sua satisfação no gozo de um dia e são homens imundos e corrompidos, que sentem prazer em enganar, enquanto se banqueteiam convosco. Os seus olhos estão cheios de adultério e não se fartam de pecar. Seduzem as almas débeis; o seu coração está acostumado à cobiça; são filhos da maldição. Abandonaram o caminho recto e extraviaram-se no caminho de Balaão, filho de Bosor que foi atrás do salário da iniquidade, mas foi repreendido pela sua desobediência: um jumento mudo, falando com voz humana, deteve a insensatez do profeta. Esses são fontes sem água e nuvens agitadas pela tempestade, para quem está reservada a mais tenebrosa escuridão. Gritam discursos empolados e vazios e, excitando as paixões carnais e a devassidão, seduzem aqueles que começam a afastar-se dos que vivem no erro. Prometem-lhes a liberdade, quando eles próprios são escravos da corrupção, pois é-se escravo daquele por quem nos deixamos vencer. Com efeito, se aqueles que fugiram da corrupção do mundo, pelo conhecimento de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, se deixam de novo enredar e vencer por ela, o seu último estado torna-se pior do que o primeiro. Melhor lhes fora não ter conhecido o caminho da justiça do que, depois de o conhecer, voltar atrás, abandonando a lei santa que lhes foi transmitida. Acontece-lhes o que diz aquele provérbio tão acertado: «O cão volta ao seu vómito e a porca, acabada de lavar, volta a revolver-se na lama.» Caríssimos, esta é a segunda Carta que vos escrevo. Tanto numa como noutra, procuro com as minhas exortações despertar em vós uma correcta maneira de pensar, a fim de que vos recordeis das coisas preditas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador, transmitido pelos vossos Apóstolos. Antes de mais, ficai a saber que, nos últimos dias, hão-de vir uns impostores trocistas, que viverão segundo as suas más paixões e, troçando, vos perguntarão: «Em que fica a promessa da sua vinda? Desde que os pais morreram, tudo continua na mesma, como desde o princípio do mundo!» Esquecem-se propositadamente de que, noutros tempos, havia uns céus e uma terra que a palavra de Deus tornou firmes a partir da água e no meio das águas; e, em virtude destas, o mundo de então pereceu afogado. Quanto aos céus e à terra que agora existem, a mesma palavra os tem reservados para o fogo, mantendo-os até ao dia do juízo e da perdição dos ímpios. Mas há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um só dia. Não é que o Senhor tarde em cumprir a sua promessa, como alguns pensam, mas simplesmente usa de paciência para convosco, pois não quer que ninguém pereça, mas que todos se convertam. Porém, o Dia do Senhor chegará como um ladrão: os céus desaparecerão com estrondo, os elementos do mundo abrasados dissolver-se-ão, assim como a terra e as obras que nela houver. Uma vez que todas as coisas serão assim destruídas, como deve ser santa a vossa vida e a vossa piedade, enquanto esperais e apressais a chegada do dia de Deus, quando os céus, a arder, se desintegrarem e os elementos do mundo, com o ardor do fogo, se derreterem! Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos uns novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais estes acontecimentos, esmerai-vos para que Ele vos encontre imaculados, irrepreensíveis e em paz. Considerai que a paciência de Nosso Senhor é para nossa salvação. Nesta ordem de ideias, escreveu-vos também o nosso caríssimo irmão Paulo, segundo a sabedoria que lhe foi concedida. E assim fala em todas as Cartas em que trata destes temas; há nelas alguns temas difíceis, que os ignorantes e pouco firmes deturpam – como fazem às restantes Escrituras – para a sua própria perdição. Vós, caríssimos, dado que sabeis isto de antemão, estai alerta para que não venhais a descair da vossa firmeza, arrastados pelo erro desses malvados. Crescei, antes, na graça e no conhecimento do Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A Ele seja dada glória, agora e até ao dia eterno. Ámen. O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida – de facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-la, dela damos testemunho e vos anunciamos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós – o que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa. Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade. Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo. Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso e a verdade não está nele; ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou. Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde o princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. É, contudo, um mandamento novo o que vos escrevo – o que é verdade nele e em vós – pois as trevas passaram e a luz verdadeira já brilha. Quem diz que está na luz, mas tem ódio a seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos. Eu vo-lo escrevo, filhinhos: Os vossos pecados estão-vos perdoados pelo nome de Jesus. Eu vo-lo escrevo, pais: vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevo, jovens: vós vencestes o maligno. Eu vo-lo escrevi, filhinhos: vós conhecestes o Pai. Eu vo-lo escrevi, pais: vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevi, jovens: vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em vós e vós vencestes o Maligno. Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso – não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências, mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre. Filhinhos, estamos na última hora. Ouvistes dizer que há-de vir um Anticristo. Pois bem, já apareceram muitos anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora. Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido connosco; mas aconteceu assim para que ficasse claro que nenhum deles é dos nossos. Vós, porém, tendes uma unção recebida do Santo e todos estais instruídos. Não vos escrevi por não saberdes a verdade, mas porque a sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira. Quem é, então, o mentiroso? Quem é, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, aquele que nega o Pai e igualmente o Filho. Todo aquele que nega o Filho fica sem o Pai; aquele que confessa o Filho tem também o Pai. Quanto a vós, procurai que em vós permaneça o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também vós permanecereis no Filho e no Pai. E esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna. Escrevo-vos isto a propósito dos que procuram enganar-vos. Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que ninguém vos ensine; mas, tal como a sua unção vos ensina acerca de todas as coisas – e ela é verdadeira e não engana – permanecei nele, de acordo com o que Ele vos ensinou. E agora, filhinhos, permanecei nele, para que, quando Ele se manifestar, tenhamos plena confiança e não fiquemos cheios de vergonha, longe dele, por ocasião da sua vinda. Se sabeis que Ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele. Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos! É por isso que o mundo não nos conhece, uma vez que o não conheceu a Ele. Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é. Todo o que tem esta esperança em Deus, torna-se puro, como Ele, que é puro. Todo o que comete o pecado comete a iniquidade, pois o pecado é, de facto, a iniquidade. E bem sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não há pecado. Todo aquele que permanece em Deus não se entrega ao pecado; e todo aquele que se entrega ao pecado não o viu nem o conheceu. Filhinhos meus, que ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo, como Ele, que é justo. Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde a origem. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque um germe divino permanece nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus. Nisto é que se distinguem os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão. Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim que, sendo do Maligno, assassinou o seu irmão. E porque o assassinou? Porque as suas obras eram más, ao passo que as do irmão eram boas. Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte. Todo aquele que tem ódio a seu irmão é um homicida; e vós bem sabeis que nenhum homicida mantém dentro de si a vida eterna. Foi com isto que ficámos a conhecer o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos. Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele? Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade. Por isto conheceremos que somos da verdade e, na sua presença, sentir-se-á tranquilo o nosso coração, mesmo quando o coração nos acuse; pois Deus é maior que o nosso coração e conhece tudo. Caríssimos, se o coração não nos acusa, então temos plena confiança diante de Deus, e recebemos dele tudo o que pedirmos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que lhe é agradável. E este é o seu mandamento: que acreditemos no Nome de seu Filho, Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros, conforme o mandamento que Ele nos deu. Aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele; e é por isto que reconhecemos que Ele permanece em nós: graças ao Espírito que nos deu. Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, pois muitos falsos profetas apareceram no mundo. Reconheceis que o espírito é de Deus por isto: todo o espírito que confessa Jesus Cristo que veio em carne mortal é de Deus; e todo o espírito que não faz esta confissão de fé acerca de Jesus não é de Deus. Esse é o espírito do Anticristo, do qual ouvistes dizer que tem de vir; pois bem, ele já está no mundo. Meus filhinhos, vós sois de Deus e venceste-los, porque é mais poderoso o espírito que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles são do mundo; por isso falam a linguagem do mundo, e o mundo ouve-os. Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus ouve-nos; quem não é de Deus não nos ouve. É por isto que nós reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro. Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros. A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós. Damos conta de que permanecemos nele, e Ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito. Nós o contemplámos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. É nisto que em nós o amor se mostra perfeito: em estarmos cheios de confiança no dia do juízo, pelo facto de sermos neste mundo como Ele foi. No amor não há temor; pelo contrário, o perfeito amor lança fora o temor; de facto, o temor pressupõe castigo, e quem teme não é perfeito no amor. Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro. Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E nós recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão. Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus; e todo aquele que ama quem o gerou ama também quem por Ele foi gerado. É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos; pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé. E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus? Este, Jesus Cristo, é aquele que veio com água e com sangue; e não só com a água, mas com a água e com o sangue. E é o Espírito quem dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. Pois são três os que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três coincidem no mesmo testemunho. Se aceitamos o testemunho dos homens, maior é o testemunho de Deus; e o testemunho de Deus está em que foi Ele a dar testemunho a respeito do seu Filho. Quem crê no Filho de Deus tem esse testemunho consigo. Quem não crê em Deus faz de Deus mentiroso, uma vez que não crê no testemunho que Deus deixou a favor do seu Filho. E este é o testemunho: Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho. Quem tem o Filho de Deus tem a vida; quem não tem o Filho também não tem a vida. Escrevi-vos estas coisas, a vós que credes no Nome do Filho de Deus, para que tenhais a certeza de ter convosco a vida eterna. Esta é a plena confiança que nele temos: se lhe pedimos alguma coisa segundo a sua vontade, Ele ouve-nos. E, dado que sabemos que nos vai ouvir em tudo o que lhe pedirmos, estamos seguros de que obteremos o que lhe pedimos. Se alguém vir que o seu irmão comete um pecado que não leva à morte, peça, e dar-lhe-á vida. Não me refiro aos que cometem um pecado que não leva à morte; é que existe um pecado que conduz à morte; por esse pecado não digo que se reze. Toda a iniquidade é pecado, mas há pecados que não conduzem à morte. Nós bem sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca, mas o Filho de Deus o guarda, e o Maligno não o apanha. E bem sabemos que somos de Deus, ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno. Bem sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro; e nós estamos no Verdadeiro, no seu Filho, Jesus Cristo. Este é o Verdadeiro, é Deus e é vida eterna. Meus filhinhos, guardai-vos dos ídolos. O Presbítero, à Senhora eleita e a seus filhos, a quem amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecimento da verdade, graças à verdade que está em nós e para sempre estará connosco. Na verdade e no amor, connosco estarão também a graça, a misericórdia e a paz que nos vêm de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai. Muito me alegrei por ter encontrado entre os teus filhos quem caminha na verdade, conforme o mandamento que recebemos do Pai. E agora rogo-te, Senhora – e não como quem te escreve um mandamento novo, mas sim aquele mandamento que temos desde o princípio – que nos amemos uns aos outros. Nisto consiste o amor: em caminharmos segundo os seus mandamentos. E este é o mandamento, segundo ouvistes dizer desde o princípio: que caminheis no amor. É que apareceram no mundo muitos sedutores que afirmam que Jesus Cristo não veio em carne mortal. Esse é o sedutor e o Anticristo! Acautelai-vos, para não perderdes o fruto do vosso trabalho, mas receberdes a plena recompensa. Todo aquele que passa adiante e não permanece na doutrina de Cristo não tem Deus consigo; mas aquele que permanece na doutrina, esse tem em si o Pai e o Filho. Se alguém vier até vós e não traz esta doutrina, não o recebais em vossa casa nem o saudeis, pois quem o saúda torna-se cúmplice das suas más obras. Apesar de ter muitas coisas a escrever-vos, não quis fazê-lo com papel e tinta, mas espero ir ter convosco e falar de viva voz, para que a nossa alegria seja completa. Saúdam-te os filhos de tua Irmã eleita. O Presbítero ao caríssimo Gaio, a quem amo na verdade. Caríssimo, rezo para que tudo te corra bem e estejas de boa saúde como está bem a tua alma. Alegrei-me muito com a chegada dos irmãos e com o testemunho que deram da tua fidelidade, isto é, de como tu caminhas segundo a verdade. Não tenho maior alegria do que ouvir dizer que os meus filhos caminham na verdade. Caríssimo, em tudo o que fazes aos irmãos, mesmo sendo estrangeiros, tu procedes como é próprio de um fiel. Eles deram testemunho da tua caridade, diante da igreja. Farás bem em os prover do necessário para a sua viagem, de um modo digno de Deus, pois foi pelo seu nome que eles se puseram a caminho, sem nada receberem dos gentios. Por isso, nós devemos acolhê-los, a fim de sermos cooperadores da causa da verdade. Escrevi algumas palavras à igreja, mas Diótrefes, na sua ambição de ser o mais importante, não nos aceita bem. Por isso, quando eu for aí, recordar-lhe-ei o que ele anda a fazer, criticando-nos com palavras maldosas; e, não contente com isto, não acolhe os irmãos, proíbe-o aos que os querem acolher e expulsa-os da igreja. Caríssimo, não imites o mal, mas sim o bem. Quem faz o bem é de Deus; quem faz o mal não viu a Deus. Todos dão bom testemunho de Demétrio, até a própria verdade; nós também damos testemunho, e tu sabes que o nosso testemunho é verdadeiro. Tinha muitas coisas para te escrever, mas não quero fazê-lo com tinta e pena. Espero ver-te em breve e então falaremos de viva voz. A paz seja contigo. Os amigos saúdam-te; e tu saúda os amigos, um por um. Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos que receberam o chamamento divino e se mantêm no amor de Deus Pai e na entrega a Jesus Cristo; para vós, a misericórdia, a paz e o amor em abundância. Caríssimos, desejava muito escrever-vos acerca da nossa salvação comum, e senti-me obrigado a fazê-lo, para vos exortar a combater pela fé, que foi transmitida aos santos de uma vez para sempre. De facto, entre vós infiltraram-se certos homens que já há muito estão inscritos para este julgamento, uns ímpios que convertem em libertinagem a graça do nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo. Embora tenhais ficado a saber bem tudo isto, eu quero lembrar-vos que o Senhor, depois de ter salvo de vez o seu povo da terra do Egipto, num segundo momento, fez perecer os que não creram; e que os anjos que não mantiveram a sua dignidade, mas abandonaram a sua própria morada, o Senhor os tem guardados sob o poder das trevas com cadeias perpétuas para o julgamento do grande dia. Também Sodoma, Gomorra e as cidades circunvizinhas, que se prostituíram da mesma maneira e se entregaram a vícios contra a natureza, são apontadas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. Também estes, apesar de tudo, deixando-se levar pelos seus desvarios, profanam o seu corpo, desprezam a autoridade divina e ultrajam seres gloriosos. Até mesmo Miguel, o arcanjo, quando discutia com o diabo, disputando-lhe o corpo de Moisés, não se atreveu a pronunciar uma sentença injuriosa contra ele, mas disse somente: Que seja o Senhor a castigar-te! Estes, porém, falam impiamente de tudo o que desconhecem; e, quanto ao que conhecem por instinto natural, como animais irracionais, isso só lhes serve para se corromperem. Ai deles! Enveredaram pelo caminho de Caim; por ânsia de lucro, precipitaram-se no extravio de Balaão e pereceram na rebelião de Coré. Estes são um escândalo nos vossos ágapes; banqueteando-se convosco sem respeito nenhum, o que fazem é cevar-se. São nuvens sem água arrastadas pelos ventos; árvores de Outono sem fruto, duas vezes mortas e arrancadas pela raiz; ondas furiosas do mar a cuspir a espuma das suas desvergonhas; astros errantes, para os quais está reservada para sempre a mais tenebrosa escuridão. A respeito deles, também profetizou Henoc, o sétimo descendente de Adão, ao dizer: «Eis que chega o Senhor com as suas santas miríades, para exercer o julgamento contra todos e deixar convencidos todos os ímpios de todas as obras ímpias que impiamente cometeram e de todas as palavras arrogantes, que contra Ele proferiram esses ímpios pecadores.» Estes são uns murmuradores, queixosos da sua sorte, gente que vive ao sabor das suas paixões; da sua boca saem palavras pomposas, para adularem as pessoas, em vista do próprio interesse. Quanto a vós, caríssimos, lembrai-vos das coisas preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando vos diziam: «Nos últimos tempos haverá uns impostores, que viverão impiamente ao sabor das suas paixões.» Estes são os que semeiam divisões, pessoas guiadas pelos instintos, pessoas que não têm o Espírito. Vós, porém, caríssimos, edificando-vos uns aos outros sobre o fundamento da vossa santíssima fé e orando ao Espírito Santo, mantende-vos no amor de Deus, esperando que a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda a vida eterna. Tratai com misericórdia aqueles que vacilam; a uns, procurai salvá-los, arrancando-os do fogo; a outros, tratai-os com misericórdia, mas com cautela, detestando até a túnica contaminada pelo seu corpo. Àquele que é poderoso para vos livrar das quedas e vos apresentar diante da sua glória, imaculados e cheios de alegria, ao Deus único, nosso Salvador, por meio de Jesus Cristo, Senhor nosso, seja dada a glória, a majestade, a soberania e o poder, antes de todos os tempos, agora e por todos os séculos. Ámen. Revelação de Jesus Cristo. Deus encarregou-o de manifestar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer e que Ele comunicou pelo anjo que enviou ao seu servo João, o qual atesta que tudo o que viu é Palavra de Deus e testemunho de Jesus Cristo. Feliz o que lê e os que escutam a mensagem desta profecia e põem em prática o que nela está escrito, porque o tempo está próximo. João saúda as sete igrejas da província da Ásia: graça e paz da parte daquele que é, que era e que há-de vir, da parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primeiro vencedor da morte e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama e nos purificou dos nossos pecados com o seu sangue, e fez de nós um reino, sacerdotes para Deus e seu Pai; a Ele seja dada a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Ámen! Olhai: Ele vem no meio das nuvens! Todos os olhos o verão, até mesmo os que o trespassaram. Todas as nações da terra se lamentarão por causa dele. Sim. Ámen! Eu sou o Alfa e o Ómega – diz o Senhor Deus – aquele que é, que era e que há-de vir, o Todo-Poderoso. Eu, João, que sou vosso irmão e companheiro na perseguição, no Reino e na constância cristã, encontrava-me na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor, o Espírito arrebatou-me e ouvi atrás de mim uma voz potente como de trombeta, que dizia: «O que vais ver, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas: à de Éfeso, de Esmirna, de Pérgamo, de Tiatira, de Sardes, de Filadélfia e de Laodiceia.» Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava. E, ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro; no meio dos candelabros, vi alguém com aparência humana; estava vestido de uma túnica comprida até aos pés e cingido com um cinto de ouro em torno do peito; a sua cabeça e os seus cabelos eram brancos, como a brancura da lã e da neve; os seus olhos eram como uma chama de fogo; os seus pés assemelhavam-se ao bronze incandescente numa forja, e a sua voz era como o rumor de águas caudalosas; Ele tinha na mão direita sete estrelas e da sua boca saía uma aguda espada de dois gumes; o seu rosto era como o Sol resplandecente com toda a sua força. Ao vê-lo, caí como morto, a seus pés. Mas Ele colocou a mão direita sobre mim, dizendo: «Não tenhas medo! Eu sou o Primeiro e o Último; aquele que vive. Estive morto; mas, como vês, estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da Morte e do Abismo! Escreve, pois, as coisas que vês, as que estão a acontecer e as que vão acontecer, depois destas. E este é o simbolismo das sete estrelas que viste na minha mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas; e os sete candelabros são as sete igrejas.» Ao anjo da igreja de Éfeso, escreve: «Isto diz o que tem na mão direita as sete estrelas, o que caminha no meio dos sete candelabros de ouro: ‘Conheço as tuas obras, as tuas fadigas e a tua constância. Sei também que não podes tolerar os malvados e que puseste à prova os que se dizem apóstolos – mas não o são – e os achaste mentirosos; tens constância, sofreste por causa de mim e não perdeste a coragem. No entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu primitivo amor. Lembra-te, pois, donde caíste, arrepende-te e torna a proceder como ao princípio. Se não procederes assim e não te arrependeres, Eu virei ter contigo e retirarei o teu candelabro do seu lugar. Mas tens isto em teu favor: detestas as obras dos nicolaítas, como Eu também as detesto.’ Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que sair vencedor, dar-lhe-ei a comer da árvore da Vida que está no Paraíso de Deus.» Ao anjo da igreja de Esmirna escreve: «Isto diz o Primeiro e o Último, aquele que estava morto, mas reviveu: ‘Conheço as tuas tribulações e a tua pobreza; no entanto, és rico. Também conheço as calúnias dos que se dizem judeus, mas que não são mais que uma sinagoga de Satanás. Não temas nada do que vais sofrer. Eis que o Diabo vai lançar alguns de vós na prisão para vos provar. Sereis atribulados durante dez dias. Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida.’ Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Aquele que vence não será vítima da segunda morte.» Ao anjo da igreja de Pérgamo escreve: «Isto diz o que tem uma aguda espada de dois gumes: ‘Sei onde habitas. É onde está o trono de Satanás; e, no entanto, guardas fidelidade ao meu nome e não renegaste a fé em mim, nem sequer nos dias de Antipas, minha testemunha fiel, que foi morto na vossa cidade – que é morada de Satanás Mas tenho algumas coisas contra ti: tens aí alguns que seguem a doutrina daquele Balaão que ensinou Balac a tentar os israelitas, de modo a comerem as carnes imoladas aos ídolos e a praticarem a imoralidade. Mais ainda, também tens alguns que seguem igualmente a doutrina dos nicolaítas. Converte-te, pois; se não, virei ter contigo brevemente e combaterei contra eles com a espada da minha boca.’ O que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que sair vencedor, dar-lhe-ei a comer do maná escondido e dar-lhe-ei também uma pedra branca; na pedra branca estará gravado um novo nome que ninguém conhece, a não ser o que a recebe.» Ao anjo da igreja de Tiatira escreve: «Isto diz o Filho de Deus, aquele cujos olhos são como chama de fogo e cujos pés são semelhantes ao bronze: ‘Conheço as tuas obras, a tua caridade, a tua fé, a tua dedicação, a tua constância e as tuas últimas obras, mais numerosas que ao princípio. Mas tenho uma coisa contra ti: toleras que Jezabel, essa mulher que a si mesma se chama profetisa, ensine e engane os meus servos, levando-os à imoralidade e a participar em banquetes idolátricos. Concedi-lhe um prazo para que se arrependesse da sua imoralidade, mas ela não quer arrepender-se. Então, vou prostrá-la num leito de dor, e sobre os seus amantes vou lançar uma grande tribulação, a menos que se arrependam das obras que praticaram com ela. Vou destruir pela morte os filhos que ela gerou. Deste modo, saberão todas as igrejas que sou Eu quem conhece profundamente os pensamentos e os corações e que retribuirei a cada um de vós conforme as vossas obras. Agora, dirijo-me a vós, aos restantes de Tiatira, a todos quantos não professam essa tal doutrina nem conhecem, como eles dizem, as profundidades de Satanás: não vos imponho outra carga; no entanto, o que tendes, guardai-o bem, até que Eu venha. Ao que vencer, cumprindo até ao fim as minhas obras, darei poder sobre os povos, o mesmo que Eu recebi de meu Pai, os quais Ele governará com ceptro de ferro e quebrará como quem parte vasos de barro; e dar-lhe-ei a estrela da manhã.’ O que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» Ao anjo da igreja de Sardes, escreve: «Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas: ‘Conheço as tuas obras; tens fama de estar vivo, mas estás morto. Sê vigilante e fortifica aquilo que está a morrer, pois não encontrei perfeitas as tuas obras, diante do meu Deus. Recorda, portanto, o que recebeste e ouviste. Guarda-o e arrepende-te. Pois se não estiveres vigilante, virei como um ladrão, sem que saibas a que hora virei ter contigo. No entanto, tens em Sardes algumas pessoas que não mancharam as suas vestes; esses caminharão comigo, vestidos de branco, pois são dignos disso. Assim, o que vencer andará vestido com vestes brancas e não apagarei o seu nome do livro da Vida, mas o darei a conhecer diante de meu Pai e dos seus anjos.’ Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» Ao anjo da igreja de Filadélfia escreve: «Isto diz o Santo, o Verdadeiro, o que tem a chave de David, o que abre e ninguém fecha e fecha e ninguém abre: ‘Conheço as tuas obras. Vê, coloquei diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar. Tens pouca força, mas guardaste a minha palavra e não renegaste o meu nome. Farei que alguns da sinagoga de Satanás – esses que se dizem judeus sem o serem, pois mentem – venham prostrar-se a teus pés. E saberão que Eu te amei. Porque guardaste a minha palavra com perseverança, também Eu te guardarei na hora da provação que vai vir sobre todo o mundo, para provar os habitantes da terra. Venho em breve: guarda o que tens, para que ninguém te arrebate a tua coroa.’ Ao que vencer, fá-lo-ei coluna no templo do meu Deus. Entrará e não mais sairá dele. E gravarei nele o meu nome novo, o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu de junto do meu Deus. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» Ao anjo da igreja de Laodiceia, escreve: «Isto diz o Ámen, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da Criação de Deus: ‘Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente. Assim, porque és morno – e não és frio nem quente – vou vomitar-te da minha boca. Porque dizes: ‘Sou rico, enriqueci e nada me falta’ – e não te dás conta de que és um infeliz, um miserável, um pobre, um cego, um nu – aconselho-te a que me compres ouro purificado no fogo, para enriqueceres, vestes brancas para te vestires, a fim de não aparecer a vergonha da tua nudez e, finalmente, o colírio para ungir os teus olhos e recobrares a vista. Aos que amo, Eu os repreendo e castigo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.’ Ao que vencer, farei que se sente comigo no meu trono, assim como Eu venci e estou sentado com meu Pai, no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.» Depois disto, tive outra visão: havia uma porta aberta no céu e a voz que eu ouvira ao princípio, como se fosse de trombeta, falava comigo, dizendo: «Sobe aqui e vou mostrar-te o que deve acontecer depois disto.» Imediatamente, fui arrebatado em espírito: vi um trono no céu e sobre o trono havia alguém sentado. O que estava sentado era, no aspecto, semelhante à pedra de jaspe e de sardónica e uma auréola, de aspecto semelhante à esmeralda, rodeava o trono. Formando um círculo à volta do trono, vi que havia vinte e quatro tronos e sobre eles estavam sentados vinte e quatro anciãos vestidos de branco e com coroas de ouro na cabeça. Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões; sete lâmpadas de fogo ardiam diante do trono de Deus, as quais são os sete espíritos de Deus. Diante do trono havia também uma espécie de mar de vidro, transparente como cristal. No meio do trono e à volta do trono havia ainda quatro seres viventes cobertos de olhos por diante e por detrás: o primeiro vivente era semelhante a um leão; o segundo era semelhante a um touro; o terceiro tinha uma face semelhante à de um homem e o quarto era semelhante a uma águia em voo. Os quatro seres viventes tinham cada um seis asas cobertas de olhos por fora e por dentro. E não cessavam de cantar, de dia e de noite: «Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso, o que era, o que é e que há-de vir.» E, sempre que os seres viventes dão glória, honra e acção de graças ao que está sentado no trono e que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos prostram-se diante do que está sentado no trono e adoram ao que vive para sempre; e, lançando as suas coroas diante do trono, aclamam: «Digno és, Senhor e nosso Deus, de receber a glória, a honra e a força; porque criaste todas as coisas, por tua vontade foram criadas e existem.» Depois, vi na mão direita do que estava sentado no trono um livro escrito nas duas faces e selado com sete selos. Vi também um anjo forte que clamava com voz potente: «Quem é digno de abrir o livro e de quebrar os selos?» Mas ninguém, nem no céu nem na terra, nem debaixo da terra era capaz de abrir o livro nem de olhar para ele. E eu chorava copiosamente porque não fora encontrado ninguém digno de abrir o livro nem de olhar para ele. Então, um dos anciãos disse-me: «Não chores. Porque venceu o Leão da tribo de Judá, o rebento da dinastia de David; Ele abrirá o livro e os seus sete selos.» Depois olhei e vi no meio do trono e dos quatro seres viventes e no meio dos anciãos, um Cordeiro. Estava de pé, mas parecia ter sido imolado. Tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra. Depois, o Cordeiro aproximou-se e recebeu o livro da mão direita do que estava sentado no trono. E, quando Ele recebeu o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma cítara e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um cântico novo, dizendo: «Tu és digno de receber o livro e de abrir os selos; porque foste morto e, com teu sangue, resgataste para Deus, homens de todas as tribos, línguas, povos e nações; e fizeste deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus; e reinarão sobre a terra.» Na visão, ouvi a voz de uma multidão angélica, à volta do trono, dos seres viventes e dos anciãos; o seu número era de miríades de miríades, milhares de milhares e cantavam com voz forte: «O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor.» Ouvi também todas as criaturas do céu, da terra e de debaixo da terra, do mar e de tudo quanto neles existe, que proclamavam: «Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, sejam dados o louvor, a honra, a glória e a fortaleza pelos séculos dos séculos.» E os quatro seres viventes diziam: «Ámen.» E os anciãos prostraram-se em adoração. Depois, na visão, quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos, ouvi um dos quatro seres viventes que dizia com voz de trovão: «Vem!» E vi que apareceu um cavalo branco; o cavaleiro levava um arco e foi-lhe dada uma coroa. Depois, partiu vencedor para novas vitórias. Quando Ele abriu o segundo selo, ouvi o segundo vivente que dizia: «Vem!» E saiu outro cavalo, que era vermelho; e ao cavaleiro foi dado o poder de retirar a paz da terra e de fazer com que os homens se matassem uns aos outros. Foi-lhe dada, igualmente, uma grande espada. Quando Ele abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente que dizia: «Vem!» Na visão apareceu um cavalo negro. O cavaleiro tinha na mão uma balança. E ouvi algo semelhante a uma voz no meio dos quatro seres viventes que dizia: «Uma medida de trigo por um dinheiro e três medidas de cevada por um dinheiro. Mas não estragues o azeite nem o vinho.» E, quando Ele abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente que dizia: «Vem!» Na visão apareceu um cavalo esverdeado. O cavaleiro chamava-se «Morte»; e o «Abismo» seguia atrás dele. Foi-lhes dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar pela espada, pela fome, pela morte e pelas feras da terra. E, quando Ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos, por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam em alta voz: «Tu, que és o Poderoso, o Santo, o Verdadeiro! Até quando esperarás para julgar e tirar vingança do nosso sangue sobre os habitantes da terra?» Foi dada a cada um uma veste branca e foi-lhes dito que esperassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos seus companheiros de ministério e dos seus irmãos que iam ser mortos, como eles. E, quando Ele abriu o sexto selo, houve um grande terramoto e o Sol tornou-se negro, como um pano de crinas, e toda a Lua ficou como sangue. As estrelas caíram do céu à terra, como os figos verdes caem de uma figueira sacudida por um furacão. O céu foi afastado, como um livro que se enrola e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares. Os reis da terra, os poderosos, os generais, os ricos, os fortes, todos, escravos e livres, se esconderam nas cavernas e nos rochedos das montanhas; e diziam às montanhas e aos rochedos: «Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que está sentado no trono, e da cólera do Cordeiro. Porque chegou o grande dia da sua cólera; e, quem poderá resistir?» Depois disto, vi quatro anjos, de pé sobre os quatro cantos da terra. Seguravam os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre as árvores. Depois, vi outro anjo que subia do Oriente, levando o selo do Deus vivo e gritando com voz forte aos quatro anjos, aos quais fora dado o poder de danificar a terra e o mar. E dizia: «Não danifiqueis a terra nem o mar nem as árvores, até que tenhamos marcado com um selo a fronte dos servos do nosso Deus.» Ouvi também o número dos que foram assinalados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel: da tribo de Judá, doze mil assinalados; da tribo de Rúben, doze mil; da tribo de Gad, doze mil; da tribo de Aser, doze mil; da tribo de Neftali, doze mil; da tribo de Manassés, doze mil; da tribo de Simeão, doze mil; da tribo de Levi, doze mil; da tribo de Issacar, doze mil; da tribo de Zabulão, doze mil; da tribo de José, doze mil; da tribo de Benjamim, doze mil assinalados. Depois disto, apareceu na visão uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão. Aclamavam em alta voz: «A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro.» E todos os anjos, que estavam de pé à volta do trono, dos anciãos e dos quatro seres viventes, prostraram-se diante do trono, com a face por terra, e adoraram a Deus, aclamando: «Ámen! O louvor, a glória, a sabedoria, a acção de graças, a honra, o poder e a força devem ser dados ao nosso Deus pelos séculos do séculos. Ámen!» Então, um dos seres viventes tomou a palavra e disse-me: «Estes, que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e donde vieram?» Eu respondi-lhe: «Meu senhor, tu é que sabes.» Ele disse-me: «Estes são os que vêm da grande tribulação; lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e servem-no, noite e dia, no seu santuário, e o que está sentado no trono abrigá-los-á na sua tenda. Nunca mais passarão fome nem sede; nem o sol nem o calor ardente cairão sobre eles, porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e conduzirá às fontes de água viva; e Deus enxugará todas as lágrimas dos seus olhos.» Quando Ele abriu o sétimo selo, fez-se no céu um silêncio de cerca de meia hora. Depois vi os sete anjos que estão de pé diante de Deus. Foram-lhes entregues sete trombetas. Veio, então, outro anjo com um turíbulo de ouro e deteve-se junto do altar. Deram-lhe muitos perfumes para oferecer com as orações de todos os santos, sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão do anjo, o fumo dos perfumes subiu diante de Deus, juntamente com as orações dos santos. Depois, o anjo tomou o turíbulo, encheu-o de brasas do altar e lançou-o à terra. Houve, então, trovões, estrondos, relâmpagos e um terramoto. Seguidamente, os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para as tocar. Quando o primeiro anjo tocou a trombeta, houve granizo e fogo misturado com sangue que foram lançados sobre a terra: a terça parte da terra, a terça parte das árvores e toda a erva verde foram queimadas. Quando o segundo anjo tocou a trombeta, uma espécie de grande montanha de fogo foi lançada ao mar: a terça parte do mar transformou-se em sangue; morreu a terça parte dos seres vivos do mar e a terça parte dos barcos foi destruída. Quando o terceiro anjo tocou a trombeta, caiu do céu uma grande estrela que ardia como uma tocha chamejante. Caiu sobre a terça parte dos rios e sobre as nascentes das águas. O nome da estrela é «Absinto»: uma terça parte das águas transformou-se em absinto e muitos homens morreram por causa das águas que se tinham tornado amargas. Quando o quarto anjo tocou a trombeta, foi atingida a terça parte do Sol, a terça parte da Lua e das estrelas, de modo que se obscureceu a terça parte deles e o dia perdeu um terço do seu esplendor, assim como a noite. Na visão ouvi também uma águia que voava no mais alto do céu e dizia com voz forte: «Ai, ai, ai dos habitantes da terra por causa do som das trombetas que os três últimos anjos vão tocar!» Quando o quinto anjo tocou a trombeta, vi uma estrela do céu cair sobre a terra e foi-lhe entregue a chave do poço do Abismo. Abriu o poço do Abismo e subiu dele uma fumarada semelhante à de uma grande fornalha. O Sol e o ar escureceram-se com a fumarada do poço. E, do fumo, saíram gafanhotos que se espalharam pela terra; foi-lhes dado um poder semelhante ao dos escorpiões da terra. Foi-lhes dito que não danificassem a erva da terra, toda a verdura e todas as árvores, mas tão somente os homens que não tivessem o selo de Deus na sua fronte. Não lhes foi permitido matá-los mas unicamente atormentá-los durante cinco meses. E o seu tormento era semelhante à picada de um escorpião. Nesses dias, os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas a morte fugirá deles. Os gafanhotos tinham a aparência de cavalos aparelhados para o combate; tinham na cabeça algo semelhante a coroas douradas e a sua fisionomia era semelhante à dos homens; tinham cabelo semelhante ao cabelo das mulheres e seus dentes eram semelhantes aos dos leões. O seu tórax era parecido a uma couraça de ferro e o rumor das suas asas era semelhante ao estrépito de carros de muitos cavalos a correr para a batalha. Tinham também caudas munidas de aguilhões semelhantes às do escorpião e, nas caudas, tinham o veneno para danificar os homens durante cinco meses. Sobre eles reina o anjo do Abismo cujo nome, em hebraico, é «Abadon» e, em grego, «Apolion». Passou o primeiro «ai». Depois disto, virão ainda dois «ais». Quando o sexto anjo tocou a trombeta, ouvi uma voz que saía dos quatro ângulos do altar de ouro que está diante de Deus e que dizia ao sexto anjo que tinha a trombeta: «Solta os quatro anjos que estão acorrentados junto ao grande rio Eufrates.» E foram soltos os quatro anjos que estavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano em que deveriam matar a terça parte da humanidade. O número das tropas de cavalaria era de duzentos milhões; ouvi o seu número. Na visão, vi também os cavalos e os respectivos cavaleiros que vestiam couraças de fogo, de jacinto e de enxofre; as cabeças dos cavalos eram semelhantes a cabeças de leões; e das suas bocas saía fogo, fumo e enxofre. A terça parte dos homens foi destruída por estas três pragas, isto é, pelo fogo, fumo e enxofre que saíam das suas bocas. Os cavalos têm a sua força na boca e na cauda pois as suas caudas são semelhantes a serpentes com cabeças e, com elas, é que fazem mal. Quanto ao resto dos homens, os que não foram mortos por estes flagelos não se arrependeram das suas más acções: da adoração dos demónios, dos ídolos de ouro, de prata, de bronze, de pedra, de madeira, os quais não podem ver nem ouvir nem caminhar. Não se arrependeram dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem das suas devassidões, nem das suas rapinas. Depois, vi um outro anjo poderoso, que descia do céu envolto numa nuvem. E havia uma auréola sobre a sua cabeça; o seu rosto era como o Sol e os seus pés como colunas de fogo; na mão trazia um livrinho aberto. Colocou o pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra. E bradou com voz forte, semelhante ao rugido de um leão. Depois do seu brado, os sete trovões fizeram ouvir os seus estrondos. E quando os sete trovões fizeram ouvir os seus estrondos, eu preparei-me para escrever. Então, ouvi uma voz do céu que dizia: «Guarda o que disseram os sete trovões e não o escrevas.» E o anjo que eu tinha visto sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita ao céu e jurou pelo que vive pelos séculos dos séculos, o qual criou o céu e tudo o que nele existe, a terra e tudo o que nela existe, o mar e tudo quanto nele existe: «Terminou o prazo. E, nos dias em que se ouvir a voz do sétimo anjo – quando ele iniciar o toque da trombeta – então se cumprirá o desígnio de Deus, como Ele tinha anunciado aos seus servos, os profetas.» Depois, a voz do céu, que eu tinha ouvido antes, falou-me de novo: «Vai, toma o livro aberto da mão do anjo que está de pé sobre o mar e sobre a terra.» Aproximei-me do anjo e pedi-lhe para me entregar o livrinho. Ele disse-me: «Toma e come-o. Ele vai amargar-te nas entranhas, mas, na tua boca, será doce como mel.» Tomei o livrinho das mãos do anjo e comi-o: na minha boca era doce como mel; mas, depois de o comer, as minhas entranhas encheram-se de amargura. Depois, disseram-me: «É necessário que continues a profetizar contra muitos povos, nações, línguas e reinos.» Depois, deram-me uma cana semelhante a uma vara de medir e disseram-me: «Levanta-te e mede o templo de Deus, o altar e os adoradores que lá se encontram. Mas o pátio exterior do templo, deixa-o de lado; não o meças porque ele foi entregue aos pagãos, assim como a cidade santa, que eles calcarão aos pés durante quarenta e dois meses. E enviarei as minhas duas testemunhas que hão-de profetizar, vestidas de luto, durante mil duzentos e sessenta dias.» Estas duas testemunhas são as duas oliveiras e os dois candelabros que estão diante do Senhor da terra. Se alguém quiser fazer-lhes mal, sairá fogo da sua boca para devorar os seus inimigos; deste modo, se alguém tentar fazer-lhes mal, morrerá certamente. Eles têm o poder de fechar o céu para que a chuva não caia no tempo da sua profecia. E têm, igualmente, o poder de mudar as águas em sangue, de modo a provocar na terra toda a espécie de flagelos, sempre que o desejem fazer. E, quando terminarem de dar testemunho, a Besta que sobe do Abismo lutará contra eles, vencê-los-á e dar-lhes-á a morte. Os seus cadáveres ficarão na praça da grande cidade, que se chama, simbolicamente, Sodoma e Egipto, precisamente onde o seu Senhor foi crucificado. E, durante três dias e meio, homens de vários povos, tribos, línguas e nações contemplarão os seus cadáveres e não permitirão que sejam sepultados. Os habitantes da terra se felicitarão pela sua morte, farão festa e se presentearão mutuamente; porque eles, os dois profetas, tinham sido um tormento para a humanidade. Mas, depois desses três dias e meio, um sopro de vida, enviado por Deus entrou neles: puseram-se de pé e um grande terror caiu sobre os que os viram. Então, as duas testemunhas ouviram uma voz forte que vinha do céu e lhes dizia: ‘Subi para aqui’. E eles subiram ao céu numa nuvem, à vista dos seus inimigos; nesse momento, houve um grande tremor de terra: ruiu a décima parte da cidade e morreram no terramoto sete mil pessoas. Os sobreviventes, aterrorizados, deram glória ao Deus do céu. O segundo ‘ai’ passou. O terceiro ‘ai’ virá brevemente.» Quando o sétimo anjo tocou a trombeta, ouviram-se grandes aclamações no céu: «O reinado sobre o mundo foi entregue a nosso Senhor e a seu Cristo; Ele reinará pelos séculos dos séculos.» Então, os vinte e quatro anciãos – os que estão sentados nos seus tronos diante de Deus com o rosto por terra – adoraram a Deus, aclamando: «Nós te damos graças, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e entraste na posse do teu reinado. Enfureceram-se as nações, mas chegou a tua ira e o momento de julgar os que morreram e de dar a recompensa aos teus servos, aos profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, pequenos e grandes; chegou o momento de destruir os que corrompiam a terra.» Depois, abriu-se no céu o santuário de Deus e apareceu a Arca da aliança. E houve relâmpagos, estrondos, trovões, um tremor de terra e uma tempestade de granizo. Depois, apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava grávida e gritava com as dores de parto e o tormento de dar à luz. Apareceu ainda outro sinal no céu: era um grande Dragão de fogo com sete cabeças e dez chifres. Sobre as cabeças tinha sete coroas e, com a sua cauda, varreu a terça parte das estrelas do céu e lançou-as à terra. Depois colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando ele nascesse. Ela deu à luz um filho varão. Ele é que há-de governar todas as nações com ceptro de ferro. Mas o filho foi-lhe arrebatado para junto de Deus e do seu trono. E a Mulher fugiu para o deserto onde Deus lhe preparou um lugar, de modo a não lhe faltar aí o alimento durante mil duzentos e sessenta dias. Depois, travou-se uma batalha no céu: Miguel e seus anjos declararam guerra ao Dragão. O Dragão e os seus anjos combateram, mas não resistiram. E nunca mais encontraram lugar no céu: o grande Dragão, a Serpente antiga – a que chamam também Diabo e Satanás – o sedutor de toda a humanidade, foi lançado à terra; e, com ele, foram lançados também os seus anjos. Então ouvi uma voz forte no céu que aclamava: «Eis que chegou o tempo da salvação, da força e da realeza do nosso Deus e do poder do seu Cristo! Porque foi precipitado o Acusador dos nossos irmãos, o que os acusava diante de Deus, dia e noite; mas eles venceram-no pelo sangue do Cordeiro e pelo testemunho da sua palavra e não amaram mais a vida que a morte. Alegrai-vos, pois, ó céus, e vós que neles habitais! Ai da terra e do mar porque o Diabo caiu sobre vós com grande furor, ao ver que pouco tempo lhe resta.» Quando o Dragão se viu precipitado na terra, lançou-se na perseguição da Mulher que tinha dado à luz um Menino. Mas à Mulher foram dadas as duas asas da águia real, a fim de voar para o seu refúgio, no deserto, onde ia ser alimentada durante três anos e meio, longe da Serpente. Então, a Serpente, na perseguição da Mulher, lançou da sua boca um rio de água, a fim de a arrastar na corrente. Mas a terra veio em socorro da Mulher: abrindo a sua boca, a terra engoliu o rio que o Dragão tinha lançado atrás da Mulher. E, furioso contra a Mulher, o Dragão foi fazer guerra contra o resto da sua descendência, isto é, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus. Depois colocou-se na areia da praia. Depois vi uma Besta que subia do mar. Tinha dez chifres e sete cabeças; sobre os chifres tinha sete coroas, e sobre as cabeças tinha nomes blasfemos. Vi que a Besta era semelhante a um leopardo; as suas patas eram semelhantes às do urso e a sua boca era como a do leão. O Dragão deu-lhe a sua própria força, o seu trono e grande poder. Uma das suas cabeças parecia ferida de morte; mas a ferida mortal tinha sido curada. E, maravilhados, todos os habitantes da terra foram atrás da Besta. E adoraram o Dragão porque tinha dado o seu poder à Besta. E adoraram também a Besta, aclamando: «Quem semelhante à Besta? E quem poderá lutar contra ela?» E foi-lhe dada uma boca para proferir palavras eloquentes e blasfemas. Deram-lhe também o poder de agir durante quarenta e dois meses. Então, abriu a boca para proferir blasfémias contra Deus, contra o seu nome, contra a sua morada e contra os que têm morada no céu. Foi-lhe dado, ainda, o poder de fazer guerra contra os santos e de os vencer, assim como o poder sobre todas as tribos, povos, línguas e nações. E adoraram-na todos os habitantes da terra, aqueles cujos nomes não estão escritos, desde o princípio do mundo, no livro da Vida do Cordeiro, que foi imolado.» Quem tem ouvidos, ouça: O que está destinado ao cativeiro, irá para o cativeiro; se alguém matar pela espada, pela espada morrerá. Aqui está a constância e a fé dos santos. Vi ainda outra Besta que subia da terra; tinha dois chifres como um cordeiro, mas falava como um dragão. Tinha todo o poder da primeira Besta e exercia-o na sua presença. Obrigava todo o mundo e os seus habitantes a adorar a primeira Besta – a que tinha sido curada da ferida mortal. E realizava maravilhosos prodígios; até mesmo o de fazer descer fogo do céu, à vista dos homens. Com o poder que tinha de realizar prodígios na presença da Besta, enganava os habitantes da terra, incitando-os a fabricar uma estátua da Besta que fora ferida pela espada, mas tinha sobrevivido. Até lhe foi dado o poder de dar vida à estátua da Besta, a ponto de ela falar e dar a morte a quantos não adorassem a estátua da Besta. E a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, marcou-os com um sinal na mão direita ou na fronte. E assim, quem não tivesse o sinal, o nome da Besta ou o número do seu nome não podia comprar nem vender. Aqui é preciso sabedoria: o que é inteligente decifre o número da Besta, que é um número de homem; o seu número é seiscentos e sessenta e seis. Na visão apareceu o Cordeiro; estava sobre o Monte Sião e, com Ele, estavam cento e quarenta e quatro mil pessoas que tinham o seu nome e o nome de seu Pai escrito nas frontes. Ouvi também uma voz que vinha do céu que era como o fragor do mar ou como estrondo de forte trovão. A voz que eu ouvira era ainda semelhante à música de harpas tocadas por harpistas. E cantavam um cântico novo diante do trono, diante dos quatro seres viventes e diante dos anciãos. Ninguém podia aprender aquele cântico a não ser os cento e quarenta e quatro mil que tinham sido resgatados da terra. Estes são os que não se perverteram com mulheres, porque são virgens; estes são os que seguem o Cordeiro para toda a parte. Foram resgatados, como primícias da humanidade, para Deus e para o Cordeiro. Na sua boca não se achou mentira: são irrepreensíveis. Vi ainda outro anjo que voava no mais alto do céu. Era portador de uma Boa-Nova de valor eterno para anunciar aos habitantes da terra: a todas as nações, tribos, línguas e povos. E clamava: «Reverenciai a Deus e dai-lhe glória, porque chegou a hora do seu julgamento. Adorai o Criador do céu, da terra, do mar e das nascentes das águas!» Um outro anjo, o segundo, seguiu o primeiro anjo, dizendo: «Caiu, caiu a grande Babilónia, a que deu a beber a todas as nações o vinho do furor da sua prostituição.» Ainda um terceiro anjo seguiu os dois primeiros e clamava com voz forte: «Se alguém adorar a Besta e a sua estátua e receber na sua fronte ou na mão o sinal da Besta, esse também há-de beber do vinho do furor de Deus, derramado sem mistura na taça da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. O fumo do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos, pois, os que adoram a Besta e a sua estátua e levam a marca do seu nome não terão descanso nem de dia nem de noite. Nisto é que se manifesta a constância dos santos, isto é, dos que guardam os mandamentos de Deus e a fidelidade a Jesus.» Depois, ouvi uma voz que vinha do céu e me dizia: «Escreve: Felizes os que de agora em diante morrerem em união com o Senhor! Assim é – diz o Espírito; que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham.» Seguidamente, na visão, apareceu uma nuvem branca. Sobre a nuvem estava sentado alguém que se parecia com um homem. Tinha na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Depois saiu do santuário um outro anjo que gritava ao que estava sentado na nuvem: «Lança a tua foice e ceifa, porque chegou o tempo de ceifar. Está madura a seara da terra.» Então, o que estava sentado na nuvem lançou a foice à terra e a terra foi ceifada. Depois saiu outro anjo do santuário celeste que também trazia uma foice afiada. E, do altar, saiu ainda outro anjo, o que tem poder sobre o fogo. E gritou ao anjo que tinha a foice afiada: «Manda a tua foice afiada e vindima os cachos da vinha da terra; porque as uvas já estão maduras.» O anjo lançou a foice à terra, vindimou a vinha da terra e lançou as uvas no grande lagar da ira de Deus. O lagar das uvas foi pisado fora da cidade e do lagar saiu tanto sangue que chegava aos freios dos cavalos num raio de umas sessenta léguas. Depois vi no céu outro sinal maravilhoso e surpreendente: sete anjos eram portadores dos sete últimos flagelos porque neles se cumpria a ira de Deus. Vi ainda uma espécie de mar de vidro misturado com fogo. Os que tinham vencido a Besta, a estátua da Besta e o número correspondente ao nome da Besta estavam junto do mar de vidro com as harpas que Deus lhes tinha dado. E cantavam o Cântico de Moisés, servo do Senhor, e o cântico do Cordeiro, aclamando: «Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Senhor, quem não reverenciará o teu nome? Quem não lhe dará glória? Porque só Tu és santo! Todas as nações virão prostrar-se diante de Ti, pois as tuas justas sentenças foram promulgadas!» Depois disto, vi abrir-se no céu o santuário que abrigava a Tenda do Encontro. Do santuário saíram os sete anjos que eram portadores dos sete flagelos; estavam vestidos de linho puro, resplandecente, e cingidos de cintos de ouro à volta do peito. Então, um dos quatro seres viventes entregou aos sete anjos sete taças de ouro cheias da ira de Deus, que vive eternamente. O santuário encheu-se do fumo da glória de Deus e do seu poder; ninguém podia lá entrar, antes que se cumprissem os sete flagelos dos sete anjos. Ouvi também uma voz potente, que saía do santuário e dizia aos sete anjos: «Ide derramar sobre a terra as sete taças da ira de Deus.» Partiu o primeiro anjo e derramou a sua taça sobre a terra: uma úlcera cruel e maligna apareceu nos homens que tinham o sinal da Besta e que adoravam a sua estátua. Quando o segundo anjo derramou a sua taça sobre o mar, este converteu-se em sangue semelhante ao sangue de um morto e morreram todos os seres vivos do mar. Quando o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas nascentes das águas, eles transformaram-se em sangue. Então, ouvi o anjo das águas que dizia: «Tu és justo, Tu que és, que eras, o Santo; tens razão em dar esta sentença; porque eles derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também lhes deste a beber sangue. É o que eles merecem!» Ouvi também uma voz que vinha do altar: «Na verdade, Senhor Deus Todo-Poderoso, as tuas sentenças são legítimas e justas.» Quando o quarto anjo derramou a sua taça sobre o Sol, este tornou-se tão ardente que queimava os homens no seu ardor. Os homens foram queimados num calor abrasador e blasfemaram do nome de Deus, que tem o poder de infligir estes castigos. E não se arrependeram nem deram razão a Deus. Quando o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da Besta, o seu reino cobriu-se de trevas, os homens mordiam de dor as suas línguas e blasfemavam contra o Deus do céu por causa do sofrimento e das chagas. Mas não se arrependeram das suas más acções. Quando o sexto anjo lançou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, as suas águas secaram, de modo a preparar o caminho aos reis que vêm do Oriente. Depois vi sair da boca do Dragão, da boca da Besta e da boca do falso Profeta três espíritos imundos em forma de rãs. Estes são espíritos demoníacos com poder de realizar prodígios. E dirigiram-se aos reis do mundo inteiro, a fim de os reunir para a batalha do grande dia do Deus Todo-Poderoso. Vêde bem! Virei como um ladrão: feliz daquele que estiver vigilante e vestido com as suas roupas; deste modo, não andará nu e ninguém verá a sua nudez. E reuniu-os no lugar que, em hebraico, se chama Harmaguedon. O sétimo anjo derramou a sua taça nos ares. E no santuário ressoou uma voz forte que saía do trono e dizia: «Está feito.» Houve, então, relâmpagos, estrondos, trovões e um terramoto tão violento como nunca tinha acontecido desde que há homens sobre a terra. A grande cidade dividiu-se em três partes e desmoronaram-se as cidades das nações. Deus recordou-se da grande Babilónia, a fim de lhe dar a taça do seu vinho, isto é, do furor da sua ira. Todas as ilhas se afundaram e as montanhas desapareceram. Grandes pedras de granizo, de três arrobas, caíram do céu sobre os homens. E eles blasfemaram contra Deus por causa do flagelo do granizo; pois os danos que causou foram terríveis. Depois veio um dos sete anjos que tinha as sete taças e falou comigo assim: «Vem cá. Vou mostrar-te a sentença contra a grande prostituta que habita na orla dos mares. Com ela se prostituíram os reis da terra, e os habitantes do mundo embriagaram-se com o vinho da sua prostituição.» Depois, levou-me, em espírito, a um deserto. Vi lá uma mulher montada numa Besta cor de escarlate, coberta de nomes blasfemos e com sete cabeças e dez chifres. A mulher estava vestida de púrpura e escarlate, coberta de ouro, de pedras preciosas e de pérolas. Tinha na mão uma taça de ouro cheia das abominações e das imundícies da sua prostituição. Na sua fronte estava escrito um nome misterioso: «Babilónia, a grande, a mãe das prostitutas e das abominações da terra.» Vi ainda que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus. Fiquei espantado, ao ver tão grande prodígio. Mas o anjo disse-me: «Porque estás espantado? Vou explicar-te o sentido misterioso da mulher e da Besta de sete cabeças e dez chifres, que a transporta: a Besta que viste era, mas já não é, vai subir do abismo, mas caminha para a perdição. E vão espantar-se os habitantes da terra, aqueles cujos nomes não estão escritos no livro da Vida, desde a fundação do mundo, ao verem que a Besta era, já não é, mas voltará de novo. Aqui é preciso inteligência e sabedoria: as sete cabeças são as sete colinas onde a mulher está sentada. Os sete reis: cinco caíram, um existe e o outro ainda não chegou; mas, quando chegar, durará pouco tempo. Quanto à Besta, que era e que já não é, ela mesma representa um oitavo rei. Mas faz parte dos sete e caminha para a perdição. Os dez chifres que vês são dez reis, os quais não receberam ainda o poder de reinar, mas receberão tal poder por um instante, juntamente com a Besta. Estes têm um intento comum: entregar à Besta a sua força e a sua autoridade. Lutam contra o Cordeiro, mas o Cordeiro vencê-los-á, porque é Senhor dos senhores e Rei dos reis. E, com Ele, estarão os chamados, os escolhidos, os fiéis.» Disse-me ainda: «As águas que vês – junto das quais reside a prostituta – são povos, multidões, nações e línguas. Os dez chifres que estás a ver e a Besta odiarão a prostituta, vão deixá-la desolada e nua, vão devorar a sua carne e destruí-la pelo fogo. Pois Deus colocou nos seus corações a vontade de executar o seu desígnio. Assim, vão agir de comum acordo e entregar a realeza à Besta até que se cumpram as palavras de Deus. E a mulher que vês é a grande cidade que reina sobre os reis da terra.» Depois disto, vi outro anjo que descia do céu com grande autoridade. A terra foi iluminada pelo seu esplendor; e gritou com voz forte: «Caiu, caiu Babilónia, a grande. Tornou-se antro de demónios, guarida de todos os espíritos imundos, guarida de todas as aves imundas, guarida de todos os animais imundos e repelentes; porque, do vinho da sua luxúria, se embriagaram todas as nações; prostituíram-se com ela os reis da terra e, com o seu luxo despudorado, enriqueceram os comerciantes do mundo.» Ouvi, depois, uma outra voz que vinha do céu e dizia: «Meu povo, sai desta cidade para não seres cúmplice do seu crime nem vítima dos seus castigos. Porque até ao céu se acumularam os seus pecados, Deus recordou-se dos seus crimes. Pagai-lhe com a mesma moeda, retribuí-lhe o dobro do que ela fez. Da taça que ela deu a beber aos outros, dai-lhe a beber o dobro. Na mesma medida em que ela gozou da glória e do luxo, assim sejam o seu tormento e luto; pois, no seu coração, dizia: ‘Estou sentada no trono como rainha, não sou viúva e jamais conhecerei o luto!’ Por isso, num só dia cairão sobre ela os flagelos que merecia: morte, luto, fome; e o fogo a destruirá. Porque poderoso é o Senhor Deus, que a julga! Chorarão por ela e baterão no peito os reis da terra, os que tomaram parte na sua prostituição e na sua luxúria, quando virem o fumo do braseiro da cidade. Ficarão à distância, com medo do seu tormento, e dirão: ‘Ai da grande cidade! Ai da Babilónia, a grande, a poderosa cidade! Bastou um momento para o teu castigo!’ Chorarão também por ela e se lamentarão os comerciantes da terra, porque ninguém mais comprará as suas mercadorias: «Os objectos de ouro, de prata, de pedras preciosas e de pérolas; de linho, de púrpura, de seda e de escarlate; toda a espécie de madeiras de sândalo, de objectos de marfim e de madeiras preciosas; de bronze, de ferro, de mármore, canela, cravo, especiarias, perfumes e incenso, vinho, azeite, flor de farinha e trigo, bois e ovelhas, cavalos e carros, escravos e prisioneiros. E os frutos, que tão ardentemente apetecias, se afastaram de ti; tudo o que é opulência e esplendor se perdeu para ti. E nunca mais se encontrarão em ti!» E os comerciantes, que ela tinha enriquecido com este comércio, ficarão à distância, com medo do tormento dela; chorando, batendo no peito, dirão: «Ai da grande cidade! Ai da que se vestia de linho, de púrpura e de escarlate, da que se revestia de ouro, de pedras preciosas e de pérolas! Porque bastou um momento para devastar tão grande riqueza!» E também todos os pilotos de barcos e quantos navegam de um lado para o outro, todos os marinheiros e quantos vivem do trabalho do mar, detiveram-se à distância e, ao ver o fumo que subia da cidade, gritavam dizendo: «Quem é semelhante à grande cidade?» E, deitando pó sobre as próprias cabeças, choravam em altos gritos e, batendo no peito, diziam: «Ai, ai da grande cidade, cuja opulência enriqueceu todos, os que têm barcos nos mares! Bastou um momento para ficar devastada! Ó céus, rejubilai pela sua ruína! E vós também, os santos, os apóstolos e os profetas! Porque, condenando-a, Deus fez-vos justiça.» Depois, um anjo poderoso levantou uma pedra do tamanho de uma mó de moinho e lançou-a ao mar, dizendo: «Assim, com o mesmo ímpeto, será lançada Babilónia, a grande cidade! E nunca mais será encontrada. A melodia das cítaras e dos músicos, das flautas e das trombetas nunca mais se ouvirá dentro de ti. Não mais se encontrará em ti nenhum artista de qualquer arte que seja; não mais se ouvirá em ti o ruído da mó. A luz da lâmpada nunca mais brilhará dentro de ti. E as vozes do noivo e da noiva nunca mais se ouvirão dentro de ti. Porque os teus comerciantes eram os magnates da terra e com os teus feitiços ludibriaste todas as nações.» Nela foi encontrado o sangue dos profetas e dos santos e de quantos foram mortos sobre a terra. Depois disto, ouvi no céu algo que parecia o alarido de uma multidão imensa que dizia: «Aleluia! A vitória, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus; porque Ele julga com verdade e com justiça, porque Ele condenou a grande prostituta – a que corrompia a terra com a sua devassidão – e lhe pediu contas do sangue dos seus servos.» E diziam ainda: «Aleluia! O fumo do incêndio da cidade subirá pelos séculos dos séculos!» Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes caíram por terra em adoração a Deus, que está sentado no trono. E diziam: «Ámen! Aleluia!» E veio uma voz do trono, que dizia: «Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, que o reverenciais, pequenos e grandes!» Ouvi ainda algo semelhante ao alarido de uma grande multidão ou ao rumor das águas do mar, ou ainda ao ribombar de grandes trovões. E dizia: «Aleluia! O Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso, começou o seu reinado! Alegremo-nos, rejubilemos, dêmos-lhe glória; porque chegou o momento das núpcias do Cordeiro; a sua esposa já está ataviada. Ele ofereceu-lhe um vestido de linho resplandecente e puro.» O linho representa as boas obras dos santos. Depois disse-me: «Escreve: Felizes os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro!» E acrescentou: «Estas são palavras verdadeiras, do próprio Deus.» E eu caí a seus pés, para o adorar. Mas ele repreendeu-me: «Atenção! Isso não! Eu sou teu companheiro e dos teus irmãos, que são testemunhas de Jesus. Adora a Deus! Pois dar testemunho de Jesus equivale ao espírito profético.» Depois, vi o céu aberto e apareceu um cavalo branco. O Cavaleiro chama-se «Justo e Verdadeiro.» Ele julga e combate com justiça; os seus olhos eram como chamas de fogo; na sua cabeça havia muitas coroas e o seu nome – que leva escrito – ninguém o conhece, a não ser Ele próprio; estava vestido com um manto embebido em sangue e o seu nome é «Verbo de Deus.» Os exércitos celestes seguiam-no montados em cavalos brancos e vestidos de linho branco e puro. Da sua boca saía uma espada aguda para ferir as nações que Ele governará com ceptro de ferro. E pisará o lagar do vinho da ardente ira de Deus Todo-Poderoso. Leva também escrito no seu manto e no lado um título: «Rei dos reis e Senhor dos senhores.» Vi ainda, no Sol, um anjo que estava de pé. Gritou com voz potente a todas as aves que voavam no mais alto do céu: «Vinde, juntai-vos para o grande banquete de Deus, para comerdes as carnes dos reis, as carnes dos generais, as carnes dos poderosos, as carnes dos cavalos, as carnes dos cavaleiros, as carnes de todos, livres e escravos, pequenos e grandes!» Vi então a Besta e os reis da terra e os seus exércitos que se tinham reunido para combater contra o Cavaleiro e contra o seu exército. A Besta foi capturada e, com ela, o falso Profeta, o que fazia maravilhas na sua presença e com as quais enganou os que levavam o sinal da Besta e os que adoravam a sua estátua. Os dois foram lançados vivos no lago de fogo e enxofre ardente. Os restantes foram mortos pela espada do Cavaleiro, pela espada que sai da sua boca. E todas as aves do céu se fartaram com as suas carnes. Vi, depois, um anjo que descia do céu. Trazia na mão a chave do Abismo e uma grande corrente. Agarrou o Dragão, a Serpente antiga, que também se chama Diabo ou Satanás: prendeu-o por mil anos e lançou-o no Abismo que depois fechou e selou, para que ele não mais enganasse as nações, até que se completassem mil anos. Depois deste período, o Diabo deve ser solto por algum tempo. Vi também alguns tronos; e aos que neles estavam sentados foi dado o poder de julgar. Vi ainda as almas dos que foram decapitados pelo testemunho de Jesus e pela Palavra de Deus, os quais não adoraram a Besta, nem a sua estátua, nem trouxeram na fronte ou na mão o sinal da Besta. Eles reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos. O resto dos mortos não voltou à vida antes de se cumprirem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Felizes e santos os que tomam parte na primeira ressurreição! Sobre eles a segunda morte não tem qualquer poder; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com Ele durante mil anos. Quando se cumprirem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e partirá para seduzir as nações dos quatro cantos do mundo, a Gog e Magog, a fim de os reunir para a batalha. O seu número será tão grande como a areia da praia. Eles subiram à planície da terra e cercaram o acampamento dos santos e a cidade predilecta. Mas um fogo que caiu do céu devorou-os. O Diabo, que os tinha enganado, foi precipitado no lago de fogo e de enxofre, onde também estão a Besta e o falso Profeta. Aí serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos. Depois, vi um trono magnífico e branco e alguém sentado nele. Os céus e a terra fugiram da sua presença e desapareceram definitivamente. Vi também todos os mortos, grandes e pequenos. Estavam diante do trono; e foram abertos uns livros. Foi aberto também um outro livro, que é o livro da Vida. Os mortos foram julgados segundo aquilo que estava escrito nos livros, segundo as suas obras. O mar devolveu os mortos que nele havia, a Morte e o Abismo entregaram também os seus mortos, e cada um foi julgado segundo as suas obras. Então, a Morte e o Abismo foram lançados no lago de fogo. Este lago de fogo é a segunda morte. E todos os que não foram encontrados escritos no livro da Vida foram lançados no lago de fogo. Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: «Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor. Porque as primeiras coisas passaram.» O que estava sentado no trono afirmou: «Eu renovo todas as coisas.» E acrescentou: «Escreve, porque estas palavras são dignas de fé e verdadeiras.» E disse-me ainda: «É verdade! Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim. Ao que tiver sede, Eu lhe darei a beber gratuitamente, da nascente da água da vida. O que vencer receberá estas coisas como herança; Eu serei o seu Deus e ele será meu filho; mas os covardes, os infiéis, os depravados, os assassinos, os impúdicos, os feiticeiros, os idólatras e todos os mentirosos terão como herança o lago ardente de fogo e enxofre, o qual é a segunda morte.» Depois, um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos sete últimos flagelos aproximou-se, dirigiu-se a mim e disse: «Vem cá. Vou mostrar-te a noiva, a esposa do Cordeiro.» E transportou-me, em espírito, a uma grande e alta montanha e mostrou-me a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus. Tinha o resplendor da glória de Deus: brilhava como pedra preciosa, como pedra de jaspe cristalino; tinha uma grande e alta muralha com doze portas; nas portas havia doze anjos e em cada uma estava gravado o nome de uma das doze tribos de Israel: ao oriente havia três portas, ao norte três portas, ao sul três portas e ao ocidente três portas. A muralha da cidade tinha doze alicerces, nos quais estavam gravados doze nomes, os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro. O que falava comigo tinha uma cana de ouro para medir a cidade, as suas portas e a sua muralha. A cidade formava um quadrado: o seu comprimento era igual à sua largura. Depois mediu a cidade com a cana: tinha quatrocentas e quarenta e quatro léguas. O seu comprimento, a sua largura e altura são iguais. Mediu depois a muralha: tinha cento e quarenta e quatro côvados de altura, segundo a medida humana, que era também a do anjo. As muralhas estavam construídas com jaspe e a cidade era de ouro puro, semelhante ao puro cristal. Os alicerces da muralha da cidade estavam incrustados com toda a espécie de pedras preciosas: o primeiro com jaspe, o segundo com safira, o terceiro com calcedónia, o quarto com esmeralda, o quinto com sardónica, o sexto com sárdio, o sétimo com crisólito, o oitavo com berilo, o nono com topázio, o décimo com crisópraso, o décimo primeiro com jacinto e o décimo segundo com ametista. As doze portas eram doze pérolas. Cada uma das portas era uma só pérola. E a praça da cidade era de ouro puro, semelhante ao vidro transparente. Templo, não vi nenhum na cidade; pois o senhor Deus, o Todo-Poderoso, e o Cordeiro são o seu templo. E a cidade tão-pouco necessita de Sol nem de Lua para a iluminar; pois a glória de Deus a ilumina e a sua lâmpada é o Cordeiro. As nações caminharão à luz da cidade e os reis da terra hão-de trazer-lhe a sua glória; as suas portas não se fecharão de dia, pois nela não haverá noite. Vão trazer-lhe o esplendor e a riqueza das nações. Mas não entrará nela nada de impuro, nem os idólatras, nem os impostores. Só entrarão os que estiverem inscritos no livro da Vida, que está na posse do Cordeiro. Mostrou-me, depois, um rio de água viva, resplendente como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da praça da cidade e nas margens do rio está a árvore da Vida que produz doze colheitas de frutos; em cada mês o seu fruto, e as folhas da árvore servem de medicamento para as nações. E ali nunca mais haverá nada maldito. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade e os seus servos hão-de adorá-lo e vê-lo face a face, e hão-de trazer gravado nas suas frontes o nome do Cordeiro. Não mais haverá noite, nem terão necessidade da luz da lâmpada, nem da luz do Sol, porque o Senhor Deus irradiará sobre eles a sua luz e serão reis pelos séculos dos séculos. E disse-me: «Estas palavras são dignas de fé e verdadeiras: o Senhor Deus, que inspira os profetas, enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos o que brevemente vai acontecer. Eis que Eu venho em breve. Feliz o que puser em prática as palavras da profecia deste livro.» Eu, João, é que ouvi e vi estas coisas; e, depois de ouvir e ver, caí aos pés do anjo que mas mostrava, para o adorar. Mas ele disse-me: «Guarda-te de fazer tal coisa! Eu sou teu companheiro, assim como dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. A Deus é que deves adorar!» E acrescentou: «Não escondas as palavras da profecia deste livro; pois o tempo está próximo. Que o injusto continue a cometer injustiças; que o impuro continue a cometer acções impuras; o que é honrado continue a ser honrado e o que é santo santifique-se ainda mais. Eis que Eu venho em breve e trarei a recompensa para retribuir a cada um conforme as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Felizes os que lavam as suas vestes, para terem direito à árvore da Vida e poderem entrar nas portas da cidade. Fora os cães, os feiticeiros, os luxuriosos, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e praticam a fraude. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos anunciar todas estas coisas acerca das igrejas: Eu sou o descendente e a estirpe de David, Eu sou a brilhante estrela da manhã.» O Espírito e a Esposa dizem: «Vem!» Diga também o que escuta: «Vem!» O que tem sede que se aproxime; e o que deseja beba gratuitamente da água da vida.» «E Eu declaro a todos os que escutam as palavras proféticas deste livro: Se alguém aumentar alguma coisa, Deus lhe aumentará os flagelos que estão descritos neste livro. E se alguém retirar palavras deste livro profético, Deus lhe retirará a parte que tem na árvore da Vida e na cidade santa, descritas neste livro. O que é testemunha destas coisas diz: ‘Sim. Virei brevemente.’» – Ámen! Vem, Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos vós.