No princípio Deus criou o céu e a Terra. Esta era de início um caos e como uma massa amorfa, com o Espírito de Deus planando sobre os vapores que enchiam as trevas. Então Deus disse: “Haja luz!” E a luz apareceu. Deus viu que a luz era boa e demarcou o aparecimento da luz em relação à escuridão. Ao tempo durante o qual a luz brilhou chamou dia e à escuridão chamou noite. Essa sequência formou o primeiro dia. E Deus disse: “Que os vapores se separem, deixando que haja uma atmosfera acima da terra e águas na sua superfície!” Foi assim que Deus formou o firmamento e separou as águas que estão na Terra das que se encontram na atmosfera. E Deus chamou a este firmamento céu. Foi a tarde e veio a manhã, era o segundo dia. E disse mais: “Que as águas à superfície da Terra se juntem, formando mares e oceanos, deixando aparecer a parte seca!” E assim foi. A essa parte seca emergindo entre as águas chamou-lhe terra e às águas mar. E Deus viu que isso era bom. Estas coisas deram-se ao terceiro dia. Deus disse ainda: “Que no firmamento haja fontes de luz que iluminem a Terra e demarquem o dia e a noite! Servirão também para estabelecer a sucessão das estações e a sequência dos dias e dos anos.” Isto deu-se no quarto dia. E disse mais: “Que as águas se encham de peixes e de várias espécies de vida! Que os céus também sejam atravessados por aves de toda a espécie!” Foi assim que Deus criou os grandes animais marinhos e toda a qualidade de vida aquática, tal como toda a sorte de pássaros, os quais se haviam de reproduzir sempre segundo as suas espécies. E Deus viu que isso era bom. E abençoou-os: “Multipliquem-se e encham os mares e as águas!” E aos pássaros e animais alados ordenou: “Que o vosso número aumente multiplicadamente, encham a Terra!” E aconteceu isto no quinto dia. Deus disse: “Que na terra apareça toda a qualidade de vida animal! Quadrúpedes, rastejantes, animais selvagens de toda a sorte, reproduzindo-se de acordo com a sua espécie.” E assim aconteceu. Deus fez toda a qualidade de animais sobre a terra; cada um segundo a sua espécie. E viu que tudo quanto tinha feito era bom. Disse mais Deus: “Façamos o homem, um ser semelhante a nós! Que ele domine sobre os peixes do mar e as aves do céu, sobre os animais domésticos e selvagens e sobre todas as criaturas que andam sobre a terra!” Deus criou então o homem à sua imagem; assim à imagem de Deus o criou. Homem e mulher, assim os criou. Deus abençoou-os e disse-lhes: “Multipliquem-se, encham a Terra, dominem-na e também toda a vida animal da terra, dos mares e dos ares! Dou-vos todas as plantas que produzem sementes e toda a espécie de frutos para alimento. A todos os animais dou igualmente como alimento a vida vegetal.” E foi assim que aconteceu. Deus viu que tudo quanto tinha feito era muito bom. Assim, passou o sexto dia. Desta forma, terminou a criação do céu e da Terra, e todo o seu exército celestial. No sétimo dia, Deus tinha completado a sua obra e nesse sétimo dia Deus descansou de toda a obra que tinha vindo a fazer. Deus abençoou o sétimo dia e declarou que esse dia seria santo, pois foi quando repousou de toda a sua obra da criação. Esta é a história da criação, quando o Senhor Deus fez os céus e a Terra. Ainda não havia vegetação, nem semente que desabrochasse da terra, porque o Senhor Deus ainda não mandara chuva, nem tão-pouco havia seres humanos que cultivassem a terra. Contudo, subia uma nascente de água da terra que irrigava o solo. Então o Senhor Deus formou o corpo do homem com o pó da terra e insuflou nele um sopro de vida; e o homem tornou-se um ser vivo. Plantou também o Senhor Deus um jardim, no Éden, para os lados do oriente; e colocou nesse jardim o homem que tinha criado. Fez brotar daquela terra toda a espécie de belas árvores que davam belíssimos frutos. No centro do jardim estava a árvore da vida, assim como também a árvore da consciência, que dá a conhecer o bem e o mal. Havia ali um rio que nascia no Éden e que atravessava o jardim para o regar, separando-se depois em quatro braços. Um destes era o Pisom, que atravessa toda a terra de Havila, onde há ouro. O ouro dessa terra é de fina qualidade, assim como pedras preciosas, como o bdélio e a pedra de ónix. O segundo braço do rio é chamado Giom e percorre a terra de Cuche. O terceiro é o Tigre, que corre para oriente da Assíria. O quarto é o Eufrates. O Senhor Deus pôs o homem no jardim do Éden para que o guardasse, cultivasse e cuidasse dele. E deu-lhe o seguinte aviso: “Podes comer de toda a árvore que está no jardim, exceto da árvore da consciência; porque o seu fruto é o do conhecimento do bem e do mal. Se comeres desse fruto, ficas condenado a morrer.” O Senhor Deus achou que não era bom que o homem vivesse sozinho e decidiu arranjar-lhe uma companheira que vivesse com ele. Então o Senhor Deus fez o homem cair num profundo sono; tomou-lhe um dos lados e tornou a fechar a carne nesse lugar. Dessa costela o Senhor Deus fez uma mulher e trouxe-a ao homem. “Esta sim!”, exclamou Adão. “Esta é parte dos meus ossos e da minha carne. O seu nome será mulher. Pois foi tirada do homem!” Assim, o homem deve deixar o pai e a sua mãe, para se unir com a sua mulher, e serão os dois como um só. Ora acontecia que ambos, o homem e a mulher, estavam nus; mas nenhum deles se sentia envergonhado com isso. A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha criado. Então aproximou-se e disse à mulher: “É verdade que Deus disse que não deviam comer de nenhuma das árvores do jardim?” “Não. Nós podemos comer do fruto de todas as árvores do jardim. Só da árvore que está no meio é que não devemos comer. Dessa é que Deus disse que não devíamos comer e nem sequer tocar-lhe, senão morreríamos.” “Não morrem nada!”, retorquiu-lhe a serpente. “Deus sabe muito bem que no mesmo instante em que comerem esse fruto os vossos olhos abrir-se-ão e, tal como Deus, serão capazes de distinguir o bem do mal!” A mulher vendo que a árvore era agradável, que o fruto era bom para alimento, belo, fresco e apetecível, e que ainda por cima lhe daria entendimento, chegou-se, apanhou do fruto, começou a comer e ofereceu ao marido que com ela estava, e ele também comeu. Enquanto comiam, começaram a dar-se conta de que estavam nus, e não se sentiam à vontade. Foram então arrancar folhas de figueira que coseram para se cobrirem à volta da cintura. Ao cair a tarde daquele dia ouviram o Senhor Deus a passar através do jardim. Então esconderam-se por entre o arvoredo. O Senhor Deus chamou por Adão: “Onde estás?” “Ouvi-te a passar pelo jardim”, respondeu Adão, “e não quis que me visses nu. Então escondi-me.” “Mas quem te mostrou que estavas nu? Comeste do fruto daquela árvore sobre a qual te avisei?” Ele respondeu: “A mulher que me deste por companheira é que me deu do fruto dessa árvore e eu comi.” O Senhor Deus perguntou à mulher: “Porque é que fizeste isso?” “Foi a serpente que me enganou.” O Senhor Deus dirigiu-se pois à serpente: “Este é o teu castigo; de entre todos os animais, serás o único que é amaldiçoado. Terás de rastejar no pó da terra e comê-lo toda a tua vida. De agora em diante tu e a mulher serão inimigas, assim como os descendentes de ambas. O descendente da mulher te esmagará a cabeça, enquanto tu lhe ferirás o calcanhar.” E à mulher disse: “Terás de ter filhos com custo e dor. Desejarás muito a afeição do teu marido e este terá predomínio sobre ti.” E para Adão: “Porque deste ouvidos à tua mulher e comeste o fruto que te avisei que não tocasses, o solo da terra será maldito por tua causa. Terás de lutar a vida inteira para tirares da terra a tua subsistência. Dar-te-á muitos espinhos e cardos, mas tu comerás das suas verduras. Terás de suar muito durante a vida toda, para teres o sustento, até que morras e voltes para a terra donde foste tirado. Porque fundamentalmente és terra e para a terra voltarás.” Portanto, Eva foi o nome que Adão chamou à sua mulher, “porque”, disse ele, “se tornará a mãe de toda a humanidade.” O Senhor Deus vestiu Adão e Eva com peles de animais. Disse então o Senhor Deus: “Agora que o homem adquiriu a mesma capacidade que nós, de conhecer o bem e o mal, é preciso que não venha a comer também o fruto da árvore da vida e viva eternamente.” Por isso, o Senhor Deus baniu-o do jardim do Éden e mandou-o cultivar a terra, a própria terra donde tinha sido tirado. E depois de o ter tirado dali, pôs querubins a oriente do jardim, os quais, com uma espada flamejante, guardavam o caminho de acesso à árvore da vida. Então Adão juntou-se à sua mulher; ela concebeu e teve um filho, a que chamou Caim (alcançar), porque disse: “Com a ajuda do Senhor alcancei um homem!” Depois teve outro filho, Abel. Abel tornou-se pastor de gado, enquanto Caim trabalhava na terra. Quando chegou o tempo da colheita, Caim trouxe ao Senhor uma oferta feita de produtos da terra. Abel fez o mesmo, mas com os primogénitos e melhores do seu gado. E o Senhor agradou-se de Abel e da sua oferta; mas não de Caim nem da sua oferta. Este, em consequência, ficou muito dececionado e irritado. O seu aspeto alterou-se, por causa do ódio que sentia. “Porque é que estás furioso?”, perguntou-lhe o Senhor. “Porque estás assim alterado? Se fizeres o bem, serás bem aceite e serás feliz. Se agires mal e não obedeceres, toma atenção, porque o pecado está à espera para poder atacar-te, e o seu desejo é destruir-te. No entanto, está na tua mão poder dominá-lo.” Um dia, Caim veio ter com o irmão e sugeriu-lhe que fossem andar pelos campos. Quando iam juntos, Caim atacou-o e matou-o. O Senhor perguntou-lhe: “Onde é que está o teu irmão?” “Não sei”, respondeu Caim. “Será que sou o guarda dele?” O Senhor insistiu: “Que foi que lhe fizeste? Porque o sangue do teu irmão clama por mim desde a terra em que foi derramado! Por isso, agora viverás como um banido nessa terra manchada com o sangue dele. Quando a cultivares, não dará mais o fruto resultante do teu esforço. Daqui em diante andarás sempre errante e fugido.” Caim replicou: “É um castigo demasiado pesado para suportar. Se me expulsas desta terra que tenho cultivado, fazes de mim um fugitivo e um vagabundo. E qualquer que me encontrar há de querer matar-me!” “Não”, respondeu-lhe o Senhor. “Não te matarão. Porque quem o fizesse haveria de ser castigado sete vezes mais do que tu.” E pôs em Caim um sinal identificador, para o impedir de ser morto por quem o encontrasse. Assim, Caim se afastou da presença do Senhor, indo estabelecer-se na terra de Node, a oriente do Éden. Entretanto, a mulher de Caim concebeu e teve uma criança chamada Enoque. Caim construiu então uma cidade e deu-lhe o nome do seu filho. Enoque veio a ser pai de Irade, o qual teve por filho Meujael; este gerou Metusael, que foi pai de Lameque. Lameque casou com duas mulheres: Ada e Zila. Ada teve um filho por nome Jabal que foi pai de todos os criadores de gado e de todos os nómadas que vivem em tendas. O seu irmão chamava-se Jubal, o primeiro músico; o inventor da harpa e da flauta. Zila, a outra mulher de Lameque, foi mãe de Tubal-Caim, o primeiro a trabalhar com metal fundido, fazendo obras em bronze e em ferro. Este tinha ainda uma irmã: Naamá. Um dia, Lameque disse às suas mulheres: “Ada e Sila, ouçam-me com atenção! Ó mulheres de Lameque, prestem atenção ao que vou dizer! Eu estou pronto a matar um homem, um jovem, por me atacar ou ferir. Na verdade, quem matar Caim será castigado sete vezes mais do que ele foi e quem me matar a mim, para se vingar, será setenta e sete vezes mais castigado.” Adão teve de novo relações com sua mulher e ela teve outro filho a quem chamou Sete. E ela disse: “Deus me deu outro filho em lugar de Abel que Caim havia assassinado.” Sete teve um filho a quem chamou Enos. E foi a partir de então, durante a vida deste, que se começou a invocar o nome do Senhor. Esta é uma lista de alguns dos descendentes de Adão. Deus criou o homem e fê-lo semelhante ao próprio Deus. Criou um homem e uma mulher e abençoou-os. A esta sua criação Deus chamou homem, desde esse dia. Adão tinha 130 anos, quando seu filho Sete nasceu, um filho que reconheceu como semelhante a si próprio em tudo. Depois desse nascimento, Adão viveu ainda mais 800 anos, e teve filhos e filhas, morrendo com a idade de 930 anos. Sete tinha 105 anos, quando lhe nasceu Enos. Depois viveu mais 807 anos, tendo tido filhos e filhas, morrendo com a idade de 912 anos. Enos contava 90 anos, quando nasceu Quenã, seu filho. E viveu mais 815 anos, tendo filhos e filhas; morreu aos 905 anos. Quenã contava 70 anos, quando do nascimento de Malaliel, seu filho. Depois viveu mais 840 anos, tendo-lhe nascido filhos e filhas. Ao todo, viveu 910 anos e morreu. Malaliel tinha 65 anos, quando Jarede nasceu. Viveu ainda 830 anos, tendo tido e filhas. Quando morreu contava 895 anos. Jarede viveu 162 anos e teve Enoque. Depois disso, viveu 800 anos, durante os quais teve filhos e filhas. Ao todo, viveu 962 anos e morreu. Enoque tinha 65 anos, quando lhe nasceu Metusalém. E os 300 anos que viveu depois passou-os em comunhão com Deus. E teve filhos e filhas. Então, quando contava 365 anos de uma vida de andar sempre em comunhão com Deus, desapareceu, porque Deus o levou. Metusalém tinha 187 anos, quando lhe nasceu Lameque. Durante os 782 anos que viveu ainda, gerou mais filhos e filhas, vindo a morrer com 969 anos. Lameque tinha 182 anos quando lhe nasceu um filho, a que chamou Noé porque, disse ele: “Este há de trazer-nos descanso para o duro trabalho da terra que o Senhor amaldiçoou.” Lameque viveu mais 595 anos e teve mais filhos e filhas. Ao todo, foram 777 os anos de vida que teve e morreu. Noé, aos 500 anos, tinha tido três filhos: Sem, Cam e Jafete. Quando os homens começaram a multiplicar-se na Terra e assim foram nascendo mais mulheres, então os filhos de Deus repararam que as filhas dos homens eram belas, e tomaram para si as que quiseram. E o Senhor disse: “O meu Espírito não continuará a ser desonrado pelo homem, visto que é todo ele mau. Dou-lhe 120 anos de vida.” Naqueles dias, e mesmo depois, quando os filhos de Deus tiveram relações com as filhas dos homens, os filhos que lhes nasceram tornaram-se gigantes, os heróis de grande fama de que nos falam os relatos da antiguidade. E o Senhor viu que a maldade humana se tinha estendido multiplicadamente, e que a imaginação e os pensamentos dos seres humanos os levavam unicamente para o mal. Então entristeceu-se muito de os ter criado. “Tirarei da face da Terra tudo o que tem vida, desde o homem até aos próprios animais, inclusive répteis, aves, tudo. Porque estou bem triste de os ter feito.” Noé, contudo, achou graça aos olhos do Senhor com a sua vida. Esta é a história da vida de Noé, um homem justo e íntegro entre as pessoas daquele tempo. Noé andava em comunhão com Deus. E tinha três filhos: Sem, Cam e Jafete. Entretanto, a corrupção aumentava em toda a Terra. E Deus via isso. A violência alastrava por toda a parte. Deus, ao verificar como todo o género humano se tinha deixado arrastar para a depravação e o vício, disse a Noé: “Decidi acabar com toda a humanidade, porque a Terra está cheia de crime e perversão por causa do ser humano. Por isso, os destruirei. Faz então uma embarcação, com madeira resinosa, e que tenha compartimentos no interior. Reveste-a de alcatrão no interior e no exterior. Terá de ter 150 metros de comprimento, 25 de largura e 15 de altura. Terá uma abertura na parte de cima, meio metro logo abaixo do telhado, e no interior haverá três andares. E coloca uma porta de lado. Porque tenciono cobrir toda a Terra com uma imensa cheia que destruirá tudo aquilo em que houver vida. Mas contigo estabelecerei a minha aliança, e entrarás nessa embarcação, com a tua mulher, os teus filhos e suas respetivas mulheres. De todos os animais que existem traz dois, macho e fêmea, para a embarcação, para que sobrevivam contigo, durante o dilúvio. De cada espécie de aves, de quadrúpedes, até do mais pequeno bichinho ou verme que rasteja no solo hás de trazer um par, para que se reproduzam. Armazena também toda a espécie de comida, para sustento vosso e dos bichos.” Noé fez tudo conforme Deus lhe tinha ordenado. Finalmente, chegou o dia em que o Senhor disse a Noé: “Entra na embarcação com toda a tua família, porque, de toda a humanidade, tu és o único ser reto que encontrei. Faz também entrar sete pares, macho e fêmea, de todos os animais cerimonialmente limpos, e um só par, macho e fêmea, dos animais não puros. Das aves farás entrar igualmente sete pares reprodutores. Assim, se poderá manter viva cada espécie após a cheia. Daqui a uma semana começarei a fazer chover, durante 40 dias e 40 noites, e tudo quanto criei com vida morrerá.” Noé fez tudo segundo o que o Senhor lhe tinha ordenado. Era da idade de 600 anos, quando o dilúvio começou. Entrou então na embarcação com a sua mulher, filhos e noras, para escaparem àquela imensa cheia. Passada aquela semana, as águas do dilúvio começaram a cair sobre a Terra. No dia 17 do segundo mês, do ano em que Noé completou 600 anos, começou a chover torrencialmente, como nunca se tinha visto. Era como se os reservatórios dos abismos se tivessem aberto, juntamente com todas as comportas do céu. E assim choveu durante 40 dias e 40 noites. Contudo, Noé, no dia em que a chuva começou, tinha entrado naquela construção flutuante com a mulher e os filhos, Sem, Cam e Jafete, e estes com as mulheres. Com eles tinham-se abrigado também todas as espécies de animais, domésticos e selvagens, desde aves aos que rastejam no solo. Durante 40 dias, aquela enchente enorme cobriu a Terra toda; primeiro as planícies, levantando a construção flutuante. Depois as águas continuaram a subir, sempre cada vez mais, de forma que a embarcação já flutuava em segurança, muitos metros acima da terra. Até que, finalmente, como o dilúvio não parava, mesmo as montanhas mais altas ficaram cobertas. Não se via, debaixo do céu, um só monte que não estivesse sob as águas, as quais os ultrapassavam em uns 7 metros ou mais. E morreu tudo o que tinha vida sobre a terra: aves, quadrúpedes, répteis e, é claro, todo o ser humano. Tudo o que respirava, quer voasse ou vivesse na terra seca, desapareceu. Assim, desapareceu tudo o que existia na Terra, animais e seres humanos. Apenas Noé e os que estavam com ele na embarcação sobreviveram. As águas cobriram a terra durante 150 dias. Deus não se esqueceu de Noé e de toda a vida animal que estava na embarcação. Fez soprar um vento forte e as águas começaram a baixar. Os reservatórios profundos do mundo e as comportas do céu estancaram-se e aquela chuva torrencial parou. As águas começaram gradualmente a baixar de tal forma que, passados os cento e cinquenta dias, no décimo sétimo dia do sétimo mês, a embarcação tocou no cimo do monte Ararat, ficando aí. As águas continuaram escoando até o décimo mês e, no primeiro dia do décimo mês, já se viam os cimos das montanhas. Ao fim de mais quarenta dias Noé abriu a janela que tinha feito na parte superior da construção, e soltou um corvo que voava e voltava, até que a Terra se secou. Entretanto, enviou também uma pomba para ver se já haveria alguma parte seca. A pomba, contudo, não achou nada onde pousar e voltou para a embarcação, porque o nível das águas ainda era muito elevado. Noé estendeu a mão e tomou-a para dentro. Esperou então sete dias e soltou de novo a pomba. Desta vez, ela só voltou ao cair da tarde, e trazia no bico uma folha de oliveira. Noé concluiu, assim, que as águas estavam a descer bastante. Deixou passar ainda mais uma semana, soltou de novo a pomba, mas desta vez ela não voltou. Passaram-se ainda 29 dias depois disso; era o primeiro dia do primeiro mês. Noé tinha a idade de 601 anos, quando levantou a cobertura da construção e verificou que as águas tinham descido totalmente. Ao fim de mais 8 semanas, no dia 27 do segundo mês, a terra estava completamente seca. Então Deus disse a Noé: “Podem sair todos; tu e a tua família. Deixa sair igualmente os animais por toda a parte, de forma a que se reproduzam abundantemente na Terra.” E assim a embarcação em breve ficou vazia dos seus habitantes, tanto da família de Noé como daqueles animais de toda a espécie. Noé construiu um altar e sacrificou nele alguns dos animais que o Senhor lhe tinha indicado, como holocausto. O Senhor ficou satisfeito com esse sacrifício e disse: “Nunca mais voltarei a amaldiçoar a Terra, destruindo assim tudo o que vive, ainda que a inclinação do ser humano seja sempre para o mal, mesmo desde a sua infância, e ainda que ele continue sempre a praticar o mal. Enquanto a Terra durar, sempre há de haver tempo de sementeiras e de colheitas, frio e calor, inverno e verão, tal como há dia e noite.” Deus abençoou Noé e os seus filhos e disse-lhes que se multiplicassem e repovoassem a Terra. “Todas as criaturas da Terra, assim como os pássaros e os peixes, terão medo de vocês”, disse-lhes Deus. “Porque coloquei-os sob o vosso domínio. Servirão para vosso alimento e subsistência, para além da comida de origem vegetal. Mas nunca comam a carne com a sua vida, isto é, com o sangue. Nunca assassinem um ser humano. Pedir-vos-ei contas do sangue humano que tenham feito derramar. E até aos animais que matarem criaturas humanas pedirei contas do sangue que derramaram, porque era a sua vida. Quem assassinar um ser humano terá de morrer, pois ele foi feito à imagem de Deus. Multipliquem-se pois, repovoem a Terra e subjuguem-na.” Deus disse mais a Noé e aos seus filhos: “Faço a minha aliança contigo, com todos os teus descendentes, e não só em relação a esses, mas a todo o ser vivo que trouxeste contigo durante o dilúvio. Estabeleço a minha aliança contigo. Nunca mais mandarei à Terra uma cheia semelhante que destrua tudo o que existe. E este será o sinal da aliança eterna que faço convosco, e com todos os seres vivos que estão convosco: aparecerá um arco nas nuvens, como sinal da minha aliança com a Terra. Quando o céu se acumular de nuvens e houver chuva, há de aparecer esse arco, como lembrança da minha aliança contigo e com todo o ser vivo, de que nunca mais destruirei a vida que existe, por meio de um dilúvio semelhante. O arco, ao surgir entre as nuvens, lembrar-me-á desta aliança eterna, que existe entre mim e todos os seres vivos, com tudo o que vive na Terra. Este é o sinal, para todos os seres que existem na Terra, da aliança que faço convosco”, disse Deus a Noé. Os nomes dos três filhos de Noé eram Sem, Cam e Jafete. Cam é aquele de quem descendem todos os cananeus. Destes três vieram todos os povos da Terra. Noé tornou-se agricultor, plantou vinhas e foi vinicultor. Um dia, embriagou-se e despiu-se completamente dentro da sua tenda. Cam, o pai de Canaã, viu o pai despido e foi chamar os outros dois irmãos. Então Sem e Jafete pegaram numa capa e, de costas, com a capa suspensa pelos ombros, aproximaram-se do pai no meio da tenda e cobriram-o, sem o terem visto nu. Quando Noé se refez da embriaguês e soube o que tinha acontecido, e a forma como Cam, o filho mais novo, tinha agido, amaldiçoou os descendentes de Cam: “Malditos sejam os cananeus. Que se tornem escravos dos descendentes de Sem e de Jafete.” E acrescentou: “Que o Senhor Deus abençoe Sem. Que os cananeus o sirvam. Que Deus abençoe Jafete e partilhe da prosperidade de Sem, e que os cananeus o sirvam igualmente.” Noé viveu ainda 350 anos depois do dilúvio. Tinha 950 anos quando morreu. Os descendentes de Noé são os seguintes: Sem, Cam e Jafete que lhe nasceram antes do dilúvio. Os filhos de Jafete foram: Gomer, Magogue, Madai, Javã, Tubal, Meseque e Tiras. Os filhos de Gomer: Asquenaz, Rifat e Togarma. Os filhos de Javã: Elisá, Társis, Quitim e Dodanim. Os descendentes destes tornaram-se povos marítimos, conquistando terra além-mar, formando nações, cada uma com a sua língua. Os filhos de Cam foram: Cuche, Mizraim, Pute e Canaã. Os filhos de Cuche: Seba, Havila, Sabta, Rama e Sabteca. Os filhos de Ramá: Sabá e Dedã. Um dos descendentes de Cuche foi Nimrode que se tornou um dos homens mais poderosos da Terra. Era um grande caçador e Deus ajudou-o de tal forma que o povo costumava dizer: “Que o Senhor te faça um grande caçador, à maneira de Nimrode!” O seu reino incluía grandes cidades como Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar. Daqui estendeu-se para a Assíria onde edificou Nínive, Reobote-Ir, Cala, Resen, entre Nínive e Cala, que era a maior cidade daquele império. As famílias que descenderam de Mizraim foram os ludeus, anameus, leabeus, naftueus, patruseus e caslueus, de onde descenderam os filisteus, e os caftoreus. Entre os descendentes de Canaã contam-se Sídon, o seu filho primogénito, e Hete. Canaã foi também o antepassado dos jebuseus, amorreus, girgaseus, heveus, arqueus, sineus, arvadeus, zemareus e hamateus. Depois disso, espalharam-se as famílias dos cananeus. O seu território estendia-se desde Sídon a Gerar, chegando ao limite de Gaza. Chegaram mesmo a Sodoma e Gomorra e a Admá e Zeboim perto de Lasa. Estes são os descendentes de Cam que se espalharam, formando povos e nações com as suas diferentes línguas. Sem, o irmão mais velho de Jafete, teve também filhos. Todos os filhos de Eber são descendentes de Sem. Sem teve como filhos Elão, Assur, Arfaxade, Lude e Aram. Este último foi pai de Uz, Hul, Geter e Mas. Arfaxade gerou Sala e este gerou Eber. Eber teve dois filhos: Pelegue, porque foi durante a sua vida que os povos de todo o mundo começaram a separar-se e a dispersar-se, e Joctã. Os filhos de Joctã foram Almodade, Selefe, Hazarmavet, Jera, Hadorão, Uzal, Dicla, Obal, Abimael, Sabá, Ofir, Havila e Jobabe. Todos estes descendentes de Joctã viveram entre Messa e Sefar que é uma montanha do oriente. Estes são os descendentes de Sem, segundo os povos e as nações que foram formando, com as suas línguas próprias e a localização geográfica respetiva. É esta a relação dos descendentes de Noé, a partir dos quais se formaram as nações da Terra depois do dilúvio. Naquele tempo toda a humanidade falava uma só língua. Deslocando-se e espalhando-se em direção ao oriente, os homens descobriram uma planície na terra de Sinar e depressa a povoaram. E começaram a falar em construir uma grande cidade, para o que fizeram tijolos de terra bem cozida, para servir de pedra de construção e usaram alcatrão em vez de argamassa. Depois eles disseram: “Vamos construir uma cidade com uma torre altíssima, que chegue até aos céus; dessa forma, o nosso nome será honrado por todos e jamais seremos dispersos pela face da Terra!” O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que estavam a levantar. “Vejamos se isto é o que eles já são capazes de fazer; sendo um só povo, com uma só língua, não haverá limites para tudo o que ousarem fazer. Vamos descer e fazer com que a língua deles comece a diferenciar-se, de forma que uns não entendam os outros.” E foi dessa forma que o Senhor os espalhou sobre toda a face da Terra, tendo cessado a construção daquela cidade. Por isso, ficou a chamar-se Babel, porque foi ali que o Senhor confundiu a língua dos homens e espalhou-os por toda a Terra. A linha de descendentes de Sem incluía Arfaxade, nascido dois anos após o dilúvio, quando Sem tinha 100 anos de idade. E depois ainda viveu mais 500 anos e teve muitos filhos e filhas. Arfaxade tinha 35 anos, quando lhe nasceu Sala. Viveu ainda 403 anos e teve muitos filhos e filhas. Sala tinha 30 anos, quando Eber nasceu. E viveu depois 403 anos, tendo tido muitos filhos e filhas. Aos 34 anos Eber teve Pelegue. Viveu mais 430 anos com muitos filhos e filhas. Pelegue contava 30 anos, ao nascer-lhe Reu. Viveu ainda 209 anos com muitos filhos e filhas. Reu, aos 32 anos, teve Serugue. Viveu depois disso 207 anos, tendo tido muitos filhos e filhas. Serugue, quando contava 30 anos, teve Naor. Viveu, com muitos filhos e filhas, 200 anos depois disso. Com 29 anos Naor foi pai de Tera. Depois viveu ainda 119 anos, tendo tido muitos filhos e filhas. Tera, aos 70 anos, tinha três filhos: Abrão, Naor e Harã. Esta é a lista de descendentes de Tera. Tera foi pai de Abrão, Naor e Harã. Harã tinha, por sua vez, um filho chamado Lot. Harã morreu ainda novo, na terra onde tinha nascido, em Ur da Caldeia, e o seu pai Tera ainda era vivo. Entretanto, Abrão casou com Sarai, enquanto Naor casou-se com Milca, que era filha de Harã e irmã de Isca. Mas Sarai era estéril, não tinha filhos. Então Tera pegou em Abrão, seu filho, e em Lot, seu neto, mais a sua nora Sarai e deixou Ur da Caldeia, para ir para a terra de Canaã. Contudo, ficaram-se pela cidade de Harã e estabeleceram-se ali, até que Tera morreu aos 205 anos. O Senhor disse a Abrão: “Deixa a tua terra e a tua família, e a casa do teu pai, e vai para a terra que te vou mostrar. Farei que sejas pai de uma grande nação. Abençoar-te-ei e tornarei o teu nome famoso. Tu próprio serás uma bênção para muitos outros. Abençoarei todos os que te fizerem bem; mas amaldiçoarei os que te fizerem mal. Por teu intermédio serão abençoados todos os povos da Terra.” Assim, Abrão partiu como o Senhor lhe tinha ordenado; e Lot foi também com ele. Tinha então Abrão 75 anos. E na companhia da sua mulher Sarai e de Lot, seu sobrinho, com tudo o que tinham, gado e criados que obtiveram em Harã, chegaram a Canaã. Lá, vieram até um lugar perto de Siquem, e acamparam junto dum carvalho em Moré. Eram os cananeus quem habitava aquela área. Então o Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: “Darei esta terra à tua descendência.” E Abrão construiu ali um altar para comemorar a visita que o Senhor lhe fizera. Depois deixou aquele lugar e viajou mais para o sul, para uma terra montanhosa, entre Betel a ocidente e Ai a oriente. Parou aí, levantou outro altar ao Senhor e invocou o nome do Senhor. Continuou depois, lentamente, a deslocar-se em direção ao sul, para o Negueve, parando frequentemente. Por essa altura, havia uma fome terrível naquela zona; então Abrão desceu ao Egito. Ao aproximar-se dessa nova terra, pediu a Sarai, a sua mulher, que dissesse às pessoas que era sua irmã. “Tu és muito bonita”, disse-lhe, “e quando os egípcios te virem, calculando que és a minha mulher, matar-me-ão para ficar contigo. Mas se disseres que és a minha irmã, tratar-me-ão bem, por interesse por ti, e a minha vida será poupada.” Com efeito, quando chegaram ao Egito, toda a gente começou a falar na beleza dela. As pessoas da corte do rei, do Faraó, foram gabá-la diante dele, e o Faraó mandou instalá-la no seu palácio. Ao mesmo tempo, por amor dela, fez muito bem a Abrão, dando-lhe presentes valiosos como gado, jumentos, camelos, e homens e mulheres como criados. No entanto, o Senhor mandou umas pragas terríveis sobre o Faraó e os que viviam com ele, por causa de Sarai estar ali a viver. Foi então que o Faraó mandou chamar Abrão e o acusou severamente: “Que é isto que me fizeste? Porque não me disseste logo que era tua mulher? Porque é que me ias deixar casar com ela dizendo que era a tua irmã? Pega nela e vai-te daqui!” E mandou-o embora do país, sob escolta de soldados que os acompanharam; a ele, a Sarai, e a todos e tudo quanto tinham. E assim deixaram o Egito e dirigiram-se para o norte, em direção a uma região a sul de Canaã, o Negueve. Ia com Abrão a sua mulher, Lot e tudo o que possuíam. Abrão tinha-se tornado muito rico, não só em gado como em prata e ouro. E continuou sempre para o norte em direção a Betel, até ao lugar onde tinha acampado primeiramente, entre Betel e Ai. Lá, diante do altar que anteriormente tinha construído, invocou o nome do Senhor. Lot também tinha enriquecido muito na companhia de Abrão, possuindo igualmente gado em abundância e muitos criados, de tal forma que aquele sítio se tornava muito acanhado para viverem juntos; porque era muito o que ambos tinham. E havia disputas entre os pastores de um e de outro. Os cananeus e os perizeus viviam por ali perto. Então Abrão decidiu conversar seriamente com Lot sobre o assunto: “Estas contendas entre a nossa gente têm de acabar. Porque a verdade é que somos parentes chegados! Ora é certo que não falta aí terra com espaço bastante para ser ocupada. O melhor portanto é separarmo-nos. Escolhe tu; eu saio daqui, se quiseres ficar. Caso contrário, fico eu e sais tu.” Lot observou então com atenção a bela e fértil planície do Jordão, bem regada que era, antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra. Toda aquela região era tão fértil que parecia o próprio jardim do Senhor ou a bela zona de Zoar, quando se entra no Egito. Por isso, Lot escolheu para si toda aquela planície do Jordão, que se encontrava a oriente deles. E assim deixou Abrão e foi para lá com tudo o que tinha, passando a viver no meio daquelas cidades da campina, estabelecendo-se perto de Sodoma. Enquanto Abrão continuou a viver onde estava, na terra de Canaã. A gente que morava naquela região de Sodoma era particularmente perversa. Eram grandes pecadores contra o Senhor. O Senhor dirigiu-se a Abrão, depois que Lot se separou dele: “Olha tão longe quanto puderes em todas as direções. Porque toda essa terra te hei de dar a ti e aos teus descendentes para sempre. E virão a ser tão numerosos que, tal como acontece com os grãos de pó da terra, será impossível contá-los. Começa a percorrer a terra, em todas as direções; explora-a porque virá a ser tua.” Abrão mudou-se novamente; foi viver junto dos carvalhais de Mamre, perto de Hebrom. E levantou aí um altar ao Senhor. Naquela altura, havia guerra nessa terra; Amrafel rei de Sinar, Arioque rei de Elasar, Quedorlaomer rei de Elão e Tidal rei de Goim estavam em guerra contra Bera rei de Sodoma, Birsa rei de Gomorra, Sinabe rei de Admá, Semeber rei de Zeboim, e contra o rei de Bela, que mais tarde passou a chamar-se Zoar. Esta última coligação de reis, os de Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Bela, mobilizou os seus exércitos no vale de Sidim, isto é, no vale do mar Salgado, porque durante 12 anos tinham estado submetidos a Quedorlaomer, e durante o décimo terceiro ano de sujeição começaram a rebelar-se. No ano seguinte aconteceu que Quedorlaomer e os seus aliados decidiram começar a castigar duramente várias tribos; os refaítas em Asterote-Carnaim, os zuzitas em Hã, os emitas em Savé-Quiriataim e os horeus no monte Seir, alcançando até a planície de El-Parã no limite do deserto. Depois continuaram a carnificina em En-Mispate, agora chamada Cades, destruindo os amalequitas e também os amorreus que viviam em Hazazom-Tamar. Foi então que a tal coligação de reis de Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Bela ou Zoar se prepararam para a batalha, no vale de Sidim, contra os outros, que eram Quedorlaomer rei de Elão e os seus aliados. Eram portanto quatro reis contra cinco. Acontecia, aliás, que aquele vale estava cheio de poços de alcatrão. E assim, tendo sido derrotados os exércitos dos reis de Sodoma e de Gomorra, muita gente caiu nesses poços; o resto teve de fugir para as montanhas. As tropas vitoriosas dos outros reis saquearam e pilharam totalmente Sodoma e Gomorra, levaram tudo o que lá havia e deixaram a região. Lot que vivia lá foi também feito prisioneiro e levado com tudo o que tinha. Um dos fugitivos, que conseguira escapar, veio contar tudo a Abrão, o hebreu, que vivia nos carvalhais que pertenciam a Mamre, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, ambos aliados de Abrão. Quando Abrão soube que Lot tinha sido capturado, juntou todos os homens que tinham nascido ao seu serviço, ao todo 318, e perseguiu as tropas vencedoras mesmo até Dan. Durante a noite atacou-as e derrotou-as, obrigando-as a fugirem, e perseguiu-as até Hoba, a norte de Damasco, recuperando tudo o que os outros tinham pilhado; as riquezas, e em particular Lot, seu parente, e os que viviam com ele, incluindo as mulheres e o povo. Quando Abrão regressava desta vitória contra Quedorlaomer e os reis que eram seus associados, no vale de Savé, hoje chamado o vale do Rei, o rei de Sodoma veio encontrar-se com ele. Melquisedeque, rei de Salém, que era sacerdote do Deus altíssimo, ofereceu-lhe pão e vinho; e abençoou Abrão dizendo assim: “Que a bênção do Deus altíssimo, Criador do céu e da Terra, te seja dada, Abrão! E que seja honrado o Deus altíssimo que te livrou dos teus inimigos!” Então Abrão deu a Melquisedeque o dízimo de tudo o que trouxera. O rei de Sodoma disse-lhe: “Dá-me o meu povo, que foi capturado, e fica tu com tudo o que eles me roubaram da cidade.” Contudo, Abrão replicou-lhe: “Prometi solenemente ao Deus altíssimo, Criador do céu e da Terra, que não ficarei com coisa nenhuma do que é teu, nem um fio sequer ou uma simples correia de sapato, para que não venhas a dizer: ‘Abrão enriqueceu com o que eu lhe deixei’, exceto, evidentemente, o que estes jovens comeram, e ainda a parte que é devida aos soldados de Aner, Escol e Mamre, meus aliados, que combateram comigo.” Depois disso, o Senhor falou a Abrão numa visão e disse-lhe: “Não temas, Abrão, porque eu sou o teu escudo e terás uma enorme recompensa!” O Senhor respondeu-lhe: “Não. Nenhum outro será teu herdeiro; porque eu te darei um filho que virá a herdar tudo o que tens!” O Senhor trouxe-o para fora de casa, sob o céu estrelado, e disse-lhe: “Olha para o firmamento e vê se podes contar as estrelas. Pois assim será a tua descendência; serão tantos que nem se poderão contar!” Abrão creu no Senhor e este declarou-o como justo. E disse-lhe mais: “Eu sou o Senhor que te tirou da cidade de Ur na Caldeia, para te dar para sempre esta terra.” Abrão replicou-lhe: “ Senhor Deus, como hei de eu ter a certeza que realmente ma dás?” Deus disse-lhe que fosse buscar uma bezerra, uma cabra e um carneiro, todos eles de três anos, mais uma rola e um pombinho, que os partisse ao meio e pusesse as duas partes uma diante da outra; mas as aves que as deixasse inteiras. E foi o que Abrão fez. Quando as aves de rapina desciam sobre a carne dos animais, Abrão afugentava-as. Naquela tarde, enquanto o Sol se punha, Abrão caiu num sono profundo e eis que vieram sobre ele trevas densas e assustadoras. Então Deus disse a Abrão: “Ficas a saber, com toda a certeza, que os teus descendentes virão a ser oprimidos e explorados como escravos numa terra estrangeira durante 400 anos. Mas eu castigarei a nação que os vai escravizar e eles acabarão por sair livres, trazendo consigo muita riqueza. Quanto a ti, acabarás a tua vida em paz, numa feliz velhice. Depois de 400 anos os teus descendentes voltarão a esta terra, porque a maldade do povo amorreu que agora vive aqui, só nessa altura terá chegado ao ponto de saturação, exigindo o castigo.” E tendo-se posto o Sol, começou a fazer uma grande escuridão, e Abrão viu no meio da obscuridade uma espécie de forno fumegante e uma tocha de fogo que passava entre as metades dos animais que tinham sido partidos ao meio. O Senhor, nesse mesmo dia, fez uma aliança com Abrão nos seguintes termos: “É à tua descendência que dou esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates; e hão de ficar na dependência deles todos estes povos: os queneus, quenezeus, cadmoneus, hititas, perizeus, refaítas, amorreus, cananeus, girgaseus e os jebuseus.” E assim aconteceu, dez anos depois de Abrão ter chegado à terra de Canaã. Sarai, sua mulher, tomou Agar, a egípcia, e a entregou como mulher, ao seu marido, Abrão. Ele concordou; tomou Agar e ela concebeu. A criada, quando viu que ficou grávida, tornou-se muito arrogante para com a sua senhora. Então Sarai disse a Abrão: “A culpa disto tudo é tua; dei eu própria a esta minha criada o privilégio de ser tua mulher e agora despreza-me! Que seja o Senhor mesmo a julgar esta questão entre mim e ti!” Respondeu-lhe Abrão: “Tens toda a liberdade para castigar a mulher como entenderes.” Sarai maltratou-a e ela teve de fugir. O anjo do Senhor achou-a perto do deserto, junto duma fonte, no caminho para Sur: “Agar, tu és a criada de Sarai e estás aqui? Donde vens? Para onde vais?” “Venho fugida da casa de Sarai, a minha senhora”, foi a resposta. “Volta para a tua senhora e obedece-lhe; porque hei de fazer de ti uma grande nação, um povo que se multiplicará de forma incontável. O filho que vais ter chamar-se-á Ismael, pois o Senhor te ouviu na tua aflição. Este teu filho há de vir a ter um carácter rebelde, tão livre e indomável como um jumento selvagem! Será contra todos, e toda a gente será contra ele. Mas viverá perto dos que são da sua raça.” A partir de então, Agar passou a referir-se ao Senhor, que era quem falava com ela, como o Deus que olha por mim. E pensou para si: “Na verdade, eu vi a Deus, mas depois de ele me ter visto primeiro a mim.” Mais tarde, esse poço ficou a ser chamado Poço de Laai-Roi. Fica entre Cades e Berede. Assim, Agar deu um filho a Abrão e este chamou-lhe Ismael. Tinha então Abrão a idade de 86 anos. Quando Abrão era de 99 anos, o Senhor apareceu-lhe: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso. Anda diante da minha presença e sê íntegro. Vou fazer uma aliança contigo, garantindo-te que te hás de tornar num grande povo.” Abrão inclinou-se profundamente diante de Deus, o qual continuou: “É esta a minha aliança: serás o pai não só de uma nação, mas de uma grande quantidade de nações. E mais ainda; vou mudar-te o nome, que não será mais Abrão, mas Abraão, pois por pai de muitas nações te constituí. Dar-te-ei milhões de descendentes que constituirão muitas nações. Haverá mesmo reis na tua descendência. E esta aliança que fica estabelecida entre mim e ti continuará através de todas as gerações futuras, para sempre; porque se aplica não só a ti mas a todos os que hão de ser teus filhos. É como um contrato em como eu serei teu Deus e Deus de toda a tua posteridade. Dar-te-ei esta terra de Canaã, a ti e a todos eles, para sempre. Serei com efeito o seu Deus.” Deus acrescentou ainda: “A parte que te diz respeito neste acordo é esta: obedeceres à minha aliança. Tu pessoalmente, assim como toda a tua descendência, terão continuamente este dever: todo o que nascer, do sexo masculino, terá de ser circuncidado. Isto será uma prova em como tu e eles aceitam esta aliança. Todo o que for do sexo masculino será circuncidado oito dias depois de ter nascido. E isto aplica-se tanto aos que forem da vossa família e da vossa raça, como aos estrangeiros que viverem convosco, e também aos criados e escravos, que tenham sido adquiridos por dinheiro. É assim um sinal permanente como prova deste acordo, e aplica-se tanto a ti como aos teus descendentes. Todos deverão ser circuncidados. Todos terão desta forma, em si mesmos, uma marca física da sua participação nesta aliança perpétua. Aqueles que recusarem aceitar os termos deste acordo terão de deixar de fazer parte do seu povo, visto que violam a minha aliança.” “E no que diz respeito a Sarai, a tua mulher”, acrescentou Deus, “também o seu nome não será mais Sarai, mas Sara, porque hei de abençoá-la e terás um filho dela. Sim, abençoá-la-ei ricamente e será mãe de muita gente. Muitos povos, e até reis, constituirão a sua posteridade.” Abraão inclinou-se em adoração a Deus. Contudo, no seu íntimo, não se impediu de achar graça e de se rir, numa atitude de descrença! “O quê, eu, pai, agora com 100 anos?”, pensou. “E a Sara nascer-lhe um filho agora aos 90?” Então Abraão exclamou: “Pois sim, abençoa então Ismael!” “Não!”, insistiu Deus. “Não é isso que te estou a dizer. Sara, a tua mulher, dará à luz um filho. E o nome que lhe vais dar será Isaque. E estabelecerei a minha aliança com ele, para sempre, assim como com os seus descendentes. Quanto a Ismael, com certeza que também o abençoarei, tal como me pediste agora. Terá uma abundante descendência e tornar-se-á uma grande nação. Haverá doze príncipes no meio da sua posteridade. Contudo, a minha aliança é feita com Isaque, o filho que vocês hão de ter, tu e Sara, no próximo ano, mais ou menos por este tempo.” Após este diálogo, Deus ausentou-se dele, elevando-se. E naquele mesmo dia Abraão pegou em Ismael, o seu filho, e convocou toda a gente do sexo masculino da sua família, nascidos ou não na sua casa, e circuncidou-os, tal como o Senhor lhe dissera. Abraão tinha nessa altura 99 anos assim como todos os outros homens da sua família e da sua casa, nascidos ou adquiridos como servos. O Senhor apareceu a Abraão junto dos carvalhos de Mamre, quando ele estava sentado à entrada da sua tenda, numa tarde quente. Abraão ergueu os olhos e viu três homens que vinham na sua direção. Apressou-se a ir-lhes ao encontro, acolhendo-os com cordialidade: “Senhor meu, se achei graça aos seus olhos, peço-lhe que não continue o caminho sem descansarem aqui um pouco à sombra desta árvore. Vou trazer-vos água para refrescarem os pés, e alguma coisa que comam e vos ajude a refazer as forças. Depois poderão prosseguir viagem.” “Está bem. Faz assim como disseste”, responderam-lhe. Abraão foi a correr à tenda e disse a Sara: “Depressa! Faz num instante uns bolos de farinha, o bastante para as três pessoas que vamos ter de visita.” Depois correu em direção ao seu gado, escolheu a melhor vitela, a mais tenrinha, e mandou o criado que a preparasse rapidamente. De seguida, foi buscar manteiga, queijo e leite, e a carne da vitela que tinha mandado preparar, e trouxe tudo aos visitantes. E ficou ali de pé, junto da árvore, a vê-los comer. Eles perguntaram-lhe: “Onde é que está Sara, a tua mulher?” “Na tenda”, respondeu. E ele disse-lhe: “Fica sabendo que para o ano que vem, voltarei a ti e, na devida altura, a tua mulher Sara terá um filho.” Sara estava a ouvir à entrada da tenda, por detrás dele. Abraão e Sara eram ambos já bastante idosos. E a Sara havia já muito tempo que lhe tinha cessado o costume das mulheres; que tinha passado o tempo em que podia ter filhos. Por isso, começou a rir-se para consigo e a pensar: “O quê? Uma mulher da minha idade poderá ainda ter a alegria de lhe nascer um menino, ainda mais com um marido tão velho como o meu?” Mas o Senhor disse a Abraão: “Porque é que Sara se riu? Porque é que ela está a pensar que uma mulher como ela já não pode ter filhos? Para o Senhor haverá alguma coisa que seja muito difícil de fazer? Não te esqueças portanto de que no próximo ano voltarei à tua presença, tal como te disse, e Sara há de ter um filho.” Mas Sara quis desculpar-se: “Eu não me ri”, porque estava com medo. Contudo, ele insistiu e corrigiu-a: “Sim, é claro que te riste.” Depois levantaram-se e continuaram na direção de Sodoma. E Abraão acompanhou-os uma parte do caminho. O Senhor perguntou: “Deixarei que Abraão ignore aquilo que vou fazer? Porque a verdade é que ele se vai tornar numa poderosa nação e por seu intermédio serão abençoados todos os povos da Terra. Eu escolhi-o; por isso, sei que há de mandar os filhos e todos os da sua casa obedecerem ao Senhor, de forma a serem pessoas que pratiquem o que é justo e reto, a fim de que eu possa realizar tudo o que lhe prometi.” Então o Senhor disse a Abraão: “Vieram a mim as numerosas queixas de Sodoma e Gomorra, pois tudo o que fazem é perverso. Vou descer até lá para confirmar isso. Depois vou agir.” Os homens dirigiram-se então a Sodoma, mas Abraão continuou ainda na presença do Senhor. E aproximou-se para perguntar: “Vais destruir justos e maus, juntamente? Supondo que encontras na cidade 50 pessoas justas, irás destruí-la? Não as pouparás, atendendo a que há um punhado de gente que segue a justiça? Não seria justo que fizesses morrer os retos junto com os pecadores. Tu nunca tratas da mesma maneira uns e outros. O Juiz de toda a Terra não haveria de agir com toda a justiça?” E o Senhor respondeu-lhe: “Se eu encontrar em Sodoma 50 pessoas retas, pouparei a cidade inteira por causa delas.” Mas Abraão insistiu: “Já que comecei a falar-te neste assunto, permite-me que vá mais longe, ainda que eu não valha mais do que cinza ou pó da terra. Então e se houver lá apenas 45 desses que seguem a justiça? Destruirás mesmo assim a cidade só por faltarem 5 ao número que te apresentei primeiro?” Deus tornou a responder-lhe: “Se houver lá 45 desses, não destruirei a cidade.” Mas Abraão quis ir mais longe ainda no seu pedido: “E se forem só 40?” Deus disse-lhe de novo: “Também não destruirei a cidade se forem só 40.” “Não te impacientes, Senhor, se eu continuar a insistir. Supondo então que são apenas 30?” “Não a destruirei ainda que sejam só 30.” Abraão não desistiu ainda de orar a favor dos retos: “Já que tenho ido tão longe na minha ousadia, vou continuar: Se lá estiverem só 20 deles?” “Mesmo que sejam 20”, disse Deus, “não destruirei a cidade por causa desses 20.” “Senhor, se não te importas, deixa-me falar só uma última vez. E se não forem mais de 10?” Deus respondeu-lhe novamente: “Mesmo só com 10, não a destruirei, se eles lá estiverem.” Tendo Abraão acabado de conversar com o Senhor, este foi-se embora. Abraão regressou a casa. Os dois anjos chegaram nessa tarde a Sodoma. Lot estava sentado à entrada quando se aproximaram. Ao vê-los, levantou-se e foi ao seu encontro para dar-lhes as boas vindas, prostrado com o rosto no chão: “Meus senhores, venham para a minha casa. Serão meus hóspedes esta noite, poderão lavar os vossos pés e levantar-vos cedo, e partir e continuar o caminho.” “Não, ficamos mesmo aqui na rua.” Mas Lot tanto insistiu que aceitaram e foram para casa dele. E deu-lhes uma bela refeição; mandou até fazer pães sem fermento para comerem. Quando se preparavam para se deitarem, vieram os sodomitas, os habitantes da cidade, do mais novo ao mais velho, e cercaram a casa, gritando para Lot: “Onde estão os homens que aí tens? Queremos possuí-los!” Lot saiu, fechou a porta atrás de si e falou-lhes: “Meus amigos, imploro-vos que não façam uma coisa tão repulsiva! Olhem, tenho duas filhas, virgens. Trago-as cá fora e vocês fazem delas o que quiserem! Mas deixem estes homens em paz, porque estão sob a minha proteção!” “Sai daí!”, gritaram-lhe. “Quem pensas tu que és? Deixamos este indivíduo fixar-se como estrangeiro aqui no meio da gente e agora vem armar-se em juiz! Vamos fazer-te a ti pior do que a esses dois que estão lá dentro, e é já!” E investiram na direção de Lot, procurando arrombar a porta. Os dois homens contudo entreabriram a porta da casa, puxaram Lot para dentro e trancaram-se com segurança. E fizeram com que aqueles sodomitas que rodeavam a casa ficassem cegos, do mais novo ao mais velho, de tal forma que se cansaram de andar à procura da porta e desistiram. “Que parentes tens tu aqui na cidade?”, perguntaram os visitantes a Lot. “Tira-os todos deste local: filhos, filhas, genros e mais alguém ainda que tenhas, porque vamos destruir completamente a cidade. O mau cheiro, pestilento, deste sítio chegou ao céu, e o Senhor enviou-nos para destruir isto tudo.” Então Lot foi a correr ter com os seus futuros genros e disse-lhes: “Depressa, saiam já da cidade, porque o Senhor vai destruí-la!” Mas os rapazes puseram-se a olhar para ele como se estivesse a brincar. Começava a amanhecer e os anjos iam apressando Lot: “Vamos, quanto antes! Pega na tua mulher e nas tuas duas filhas que aqui vivem contigo e foge o mais rápido que puderes, se não queres ser apanhado na destruição da cidade!” Mesmo assim Lot hesitava e se demorava. Tiveram de pegar nele e na família pela mão e correram todos para fora da cidade; porque o Senhor teve misericórdia e deu-lhes ainda tempo para escaparem. “Fujam se querem escapar com vida!”, gritaram-lhes os anjos. “E não olhem para trás. Escapem-se para as montanhas. Em todo o caso não se demorem a atravessar a campina, porque arriscam-se a ser destruídos!” E Lot replicou: “Assim não, meus senhores! Já que foram tão bondosos comigo, salvando-me a vida e tendo tanta piedade de nós, deixem-me fugir antes para aquela pequena localidade, ali ao fundo, porque estou com muito medo de ir para as montanhas e de ser apanhado lá em cima por esse mal que vai vir. Além disso, é tão pertinho, essa povoação, e não passa dum simples lugarejo, não é verdade? Deixem-me ir para lá e assim estarei seguro.” “Está bem”, disse-lhe o anjo. “Estou de acordo com mais este teu pedido, e será uma maneira de poupar a pequena povoação de que falas. Mas despacha-te! Porque nada poderei fazer enquanto não tiveres lá chegado.” Por isso, aquela aldeia ficou a ser chamada Zoar, que quer dizer Pequena Cidade. O Sol já ia subindo quando Lot chegou enfim à tal localidade. Então o Senhor fez cair do céu enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra, e destruiu-as completamente, assim como às outras cidades daquela planície, fazendo desaparecer tudo; tanto os seres humanos como a vida animal e vegetal. E a mulher de Lot olhou para trás, enquanto ia a fugir. Por isso, ficou convertida numa estátua de sal. Nessa manhã Abraão levantou-se cedo e foi àquele local onde tinha estado a rogar ao Senhor. Olhando então para a campina de Sodoma e Gomorra só viu fumo que subia da terra, como se tudo fosse um gigantesco forno. Foi assim que Deus ouviu a súplica de Abraão e salvou a vida de Lot, tirando-o daquela destruição mortífera que caiu sobre a região. Depois disso, Lot deixou Zoar, com medo de ali permanecer, e foi viver para uma caverna na montanha com as duas filhas. Um dia, a mais velha disse à irmã: “Em toda esta região não há um único homem com quem o nosso pai nos deixe casar. Ele próprio em breve estará velho demais para ter filhos. Vamos enchê-lo de vinho, deitamo-nos com ele, e assim faremos com que haja descendentes e que a nossa família não acabe aqui.” Assim, embriagaram o pai naquela noite e a mais velha foi deitar-se com ele, que não deu por nada, nem quando ela veio nem quando se foi embora. Na manhã seguinte disse à irmã: “Ontem à noite já me deitei com o pai. Vamos enchê-lo outra vez de vinho para que a nossa família não acabe.” Chegando a noite embriagaram-no de novo e foi a vez da mais nova se deitar com ele que, como na véspera, não deu por nada. As duas raparigas ficaram grávidas. A mais velha teve um filho a quem deu o nome de Moabe; o antecessor dos moabitas. O nome do filho da segunda foi Ben-Ami; o pai de todos os amonitas. Abraão partira um dia daquela terra, em direção ao sul, ao Negueve, e tinha-se fixado entre Cades e Sur. A certa altura, estando de passagem pela cidade de Gerar, Abraão terá dito a alguém que Sara era sua irmã. E Abimeleque, rei de Gerar, mandou que a fossem buscar e a trouxessem para o palácio. Nessa mesma noite, Deus apareceu-lhe num sonho e disse-lhe: “Tens de morrer porque essa mulher que mandaste trazer é casada.” Contudo, Abimeleque ainda não lhe tinha tocado; por isso respondeu: “Irás tu matar uma nação inteira, que está inocente, Senhor? Foi ele próprio que me disse que era irmã dele. E ela confirmou que sim, que ele era o seu irmão! Foi com toda a sinceridade e sem a mínima intenção de forçar ninguém que eu fiz isto.” “Sim, eu sei”, respondeu-lhe. “E foi precisamente por isso que quis impedir-te que fosses mais longe e pecasses, o que teria acontecido se lhe tivesses tocado. Portanto, restitui-a ao marido e ele mesmo, que é profeta, orará por ti para que vivas. Se não o fizeres, fica então a saber que terás de morrer, tu e todos os que são teus.” Abimeleque levantou-se muito cedo, mandou reunir rapidamente toda a gente que vivia e trabalhava no palácio e contou-lhes o que tinha acontecido. As pessoas encheram-se de receio. Depois o rei mandou também chamar Abraão: “Para que é que nos fizeste isto? Que foi que eu fiz que merecesse tal atitude da tua parte, levando-nos, a mim a ao meu reino, a tornarmo-nos culpados de um tão grande pecado? Fizeste uma coisa que nunca devias ter feito! E que tinhas tu em vista agindo desta maneira?” “Bem”, respondeu Abraão, “É que eu pensei que esta seria uma terra onde o temor de Deus era inexistente. Tive medo que para me tirarem a minha mulher me matassem. De facto, ela é na verdade minha irmã. Quer dizer, é filha do meu pai, mas não da minha mãe. E casei-me com ela. Quando Deus me mandou sair da minha pátria e andar por terras afastadas e que me eram estranhas, pedi à minha mulher que por amor a mim dissesse em toda a parte que era minha irmã.” Então o rei Abimeleque pegou em ovelhas, vacas e criados, tanto homens como mulheres, e deu-os a Abraão. E restitui-lhe Sara sua mulher. “Tens toda a extensão do meu reino à tua disposição. Escolhe o sítio onde queres viver.” E dirigindo-se a Sara: “Dei ao teu irmão mil peças de dinheiro para reparação do dano moral que lhe causei, de forma também a que tu própria fiques ilibada de qualquer suspeita ou acusação neste assunto, porque é assim que manda a justiça.” O Senhor fez conforme tinha prometido. Sara, ainda que fosse já uma mulher idosa, ficou grávida e deu um filho a Abraão, na altura que Deus lhes tinha indicado. Abraão pôs-lhe o nome de Isaque. Oito dias após o nascimento circuncidou-o, segundo o que Deus tinha ordenado. Tinha então Abraão 100 anos de idade. E Sara declarou: “Deus fez com que eu me risse. E todos os que souberem o que me aconteceu hão de alegrar-se comigo. Porque quem haveria de dizer a Abraão que eu poderia vir a ter um menino? E a verdade é que acabo de dar um filho a Abraão, já em plena velhice!” O tempo foi passando, e o bebé foi crescendo e foi desmamado. Abraão deu nessa altura uma grande festa para comemorar o acontecimento. No entanto, Sara reparou que Ismael, o filho de Abraão e da sua criada egípcia, Agar, se divertia com aquilo tudo e fazia troça. Então disse a Abraão: “Manda embora essa escrava e o seu filho, pois este não será herdeiro juntamente com o meu filho, Isaque!” Abraão ficou bastante contrariado porque, apesar de tudo, Ismael também era seu filho. Mas Deus disse-lhe: “Não fiques contrariado quanto ao filho da criada da tua mulher. Faz como Sara te disse. Porque realmente só através de Isaque é que a minha promessa terá cumprimento. Contudo, sem dúvida que os descendentes do filho da criada formarão também uma grande nação, pois é igualmente teu filho.” Abraão levantou-se muito cedo, na manhã seguinte, para os despedir e preparar-lhes alimento para a viagem. Deu-o a Agar, mais uma vasilha de água e ela pôs tudo aos ombros. E mandou-a embora com o filho. Ela foi andando e vagueando através do deserto de Berseba. Quando a água se acabou, colocou o menino à sombra duns arbustos, e afastou-se dali, à distância mais ou menos de um tiro de arco. Então, rompendo em choro, clamava: “Não posso ver morrer o meu menino!” Deus respondeu aos apelos da criança e o anjo de Deus chamou Agar, desde o céu: “Que tens tu, Agar? Nada receies! Porque Deus ouviu o menino, ali onde ele está. Vai, pega no teu filho e consola-o, porque os seus descendentes hão de constituir uma grande nação.” Naquela altura, Deus abriu-lhe os olhos e viu um poço, mesmo ali. Pôde então encher de água a vasilha e dar de beber ao filho. Deus acompanhou o rapaz enquanto crescia e vivia no deserto de Parã, onde se tornou atirador de arco. A mãe arranjou-lhe casamento com uma rapariga do Egito. Por essa altura, o rei Abimeleque, e Ficol, comandante das suas tropas, veio ter com Abraão e disse-lhe: “É evidente que Deus está contigo e te ajuda em tudo. Jura-me que não me defraudarás; que não me enganarás nem a mim nem aos meus descendentes, e que as tuas relações comigo e com a minha terra serão sempre de boa amizade, como eu fui para contigo.” Abraão respondeu-lhe: “Pois sim, juro.” No entanto, Abraão aproveitou para apresentar-lhe uma queixa a respeito de um poço que os criados do rei tinham tomado pela força aos de Abraão. “É a primeira vez que ouço falar nisso!”, exclamou Abimeleque. “E nem faço ideia de quem possa ser a responsabilidade. Porque não mo disseste há mais tempo?” Então Abraão deu ao rei ovelhas e vacas como sacrifícios que selassem aquela aliança que faziam entre si. Entretanto, Abraão pôs de parte sete ovelhas do rebanho, e o rei perguntou-lhe porque fazia aquilo. Abraão respondeu: “São um presente especial que te dou, como testemunho público de que este poço, que eu próprio abri, me pertence.” Por isso, a partir de então aquele sítio passou a chamar-se Berseba, porque ali ambos fizeram um juramento. Foi pois assim que se realizou aquela aliança entre eles. E o rei Abimeleque, com Ficol, o comandante das suas tropas, foram-se de volta para a terra dos filisteus. Abraão plantou um carvalho naquele sítio, junto ao poço, orando e adorando ao Senhor, o Deus eterno. E viveu ali na terra dos filisteus ainda por muito tempo. Mais tarde, Deus quis provar a fé e a obediência de Abraão. “Abraão!”, chamou Deus. “Aqui estou!” “Pega no teu filho, Isaque, o teu único filho, a quem tanto amas, vai à terra de Moriá e oferece-o lá em holocausto, num dos montes que te hei de indicar.” No dia seguinte, de manhã cedo, preparou o seu jumento para a viagem, assim como a lenha necessária para o holocausto e, na companhia do seu filho Isaque e de mais dois moços, seus criados, partiu para onde Deus lhe tinha dito. Ao terceiro dia de viagem Abraão viu de longe o lugar para onde se dirigia; e disse aos moços que iam com ele: “Fiquem aqui com o animal, porque eu e o meu rapaz vamos até ali para adorar, e logo regressaremos.” Abraão pôs a lenha do holocausto às costas de Isaque, acendeu o fogo, pegou no cutelo e prosseguiram juntos. “Pai”, disse Isaque. “Temos lenha, temos lume para o fogo, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” “Deus proverá um cordeiro, meu filho.” E continuaram juntos o caminho. Quando chegaram ao local de que Deus lhe tinha falado, Abraão construiu um altar; colocou a lenha em ordem, amarrou Isaque, deitou-o no altar em cima da lenha, e pegou no cutelo a fim de sacrificar o seu filho. Nesse preciso momento o anjo do Senhor gritou-lhe, desde o céu: “Abraão! Abraão!” Ele respondeu: “Aqui estou!” “Baixa a tua mão, não lhe faças mal algum. Porque já sei agora que temes a Deus, a ponto de não me recusares nem sequer o teu único e querido filho!” Logo a seguir Abraão reparou num carneiro que estava por detrás deles, preso pelos chifres a um arbusto. Pegou então no animal e sacrificou-o como holocausto em lugar do filho. Por isso, Abraão deu àquele lugar o nome de O Senhor Proverá. E ainda hoje existe entre o povo um ditado que diz: “Lá na montanha, o Senhor proverá o necessário!” Então o anjo do Senhor chamou de novo Abraão, do céu, e disse-lhe: “Eu, o Senhor, juro por mim mesmo que por teres feito o que fizeste, por me teres obedecido, sem sequer me recusares até o teu próprio filho querido, te abençoarei efetivamente, e que terás uma descendência abundantíssima, que serão milhões sem conta, tal como as estrelas do céu, como os grãos da areia das praias; além de que virão a ser vitoriosos sobre os seus inimigos. Na tua descendência todas as nações da Terra serão abençoadas. Tudo isto por me teres obedecido.” Abraão voltou para junto dos criados, que estavam à sua espera, e regressaram todos a casa, a Berseba. Depois destas coisas, vieram anunciar a Abraão que Milca, a mulher do seu irmão Naor, teve filhos: Uz, o mais velho, Buz, Quemuel, pai de Aram, Quesede, Hazo, Pildas, Jidlafe e Betuel, pai de Rebeca. Foram estes os oito filhos que Naor teve de Milca. Teve ainda mais quatro filhos da sua concubina Reuma: Teba, Gaão, Taás e Maacá. Quando Sara tinha 127 anos, morreu em Quiriate-Arba, que é Hebrom, na terra de Canaã. Abraão foi chorar a morte dela. E ali mesmo, ao lado do corpo de Sara, pôs-se de pé e disse aos homens de Hete. “Como sou estrangeiro aqui nesta terra, não tenho um sítio onde sepultar a minha mulher. Vendam-me um pedaço de terra para sepultá-la.” Responderam-lhe: “Tu, no nosso meio, és como um príncipe de Deus. Para nós será um privilégio que escolhas nesta terra a melhor das sepulturas, para colocares a tua falecida mulher.” Abraão inclinou-se profundamente e disse: “Se é essa a vossa vontade, peçam a Efrom, o filho de Zoar, que me venda a gruta de Macpela que está na extremidade do seu campo. Pagar-lhe-ei o devido preço por ela.” Efrom estava sentado ali, no meio da gente de Hete. Por isso, levantou-se e, publicamente, diante de todos os habitantes da terra e de todos os que passavam pela cidade, disse: “Ouve-me, eu dou-te não só a gruta, mas até o campo todo, sem teres nada a pagar. Diante dos meus concidadãos afirmo que o dou sem te pedir preço algum. Podes ir sepultar a tua mulher.” Abraão tornou a inclinar-se diante de todos e respondeu a Efrom, enquanto os outros o ouviam atentamente: “Não, deixa-me que to compre. Dou-te pelo campo o preço que combinarmos e só então enterrarei a minha mulher.” No entanto, Abraão fez questão de lhe pagar o preço que ele tinha sugerido; e pagou-lhe os 4,5 quilos de prata, conforme o peso corrente entre os mercadores, tal como tinha sido combinado publicamente. Por esse preço Abraão adquiriu o campo de Efrom, em Macpela perto de Mamre, e a gruta na extremidade da propriedade, e todas as árvores plantadas no campo. Tornou-se pois dono desse terreno por acordo mútuo, diante de todos os cidadãos de Hete, na praça pública da povoação. Abraão enterrou ali Sara, na gruta do campo de Macpela, perto de Hebrom, na terra de Canaã, conforme o acordo feito com o povo de Hete. Abraão era agora já muito idoso e o Senhor o tinha abençoado em tudo. Um dia, mandou chamar o encarregado da administração da sua casa que era quem há mais tempo trabalhava para ele. “Põe a tua mão debaixo de mim e jura-me solenemente pelo Senhor, o Deus do céu e da Terra, que não deixarás que o meu filho se case com uma das raparigas desta terra em que habito, mas que irás à minha terra de origem e lá procurarás uma mulher para ele entre os meus parentes.” “Supõe que eu não consigo encontrar uma moça que esteja disposta a vir de tão longe? Deverei, se assim acontecer, fazer voltar o teu filho para lá, para viver com os seus familiares?” “Não! Nunca faças tal coisa! Porque o Senhor, o Deus dos céus, disse-me que deixasse essa terra e o meu povo, e prometeu que me daria esta terra, a mim e aos meus descendentes. Ele enviará o seu anjo à tua frente e fará que encontres ali uma rapariga para mulher do meu filho. Se ela não quiser vir, ficarás livre deste juramento. Mas em caso nenhum farás com que o meu filho volte para lá.” Então o mordomo, administrador da fazenda de Abraão, colocou a mão debaixo da coxa de Abraão, para significar solenemente que seguiria à risca todas as suas instruções. Preparou dez dos camelos do seu patrão, carregou-os com amostras do que de melhor havia na casa de Abraão, porque tudo estava nas suas mãos, e partiu para a Mesopotâmia, para a localidade em que vivia Naor. Quando ali chegou fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto de uma fonte. Era o final da tarde, altura em que as moças da povoação vinham tirar água. “Ó Senhor, tu que és o Deus do meu patrão Abraão”, orou ele, “mostra agora a tua bondade para com ele, ajudando-me a alcançar o objetivo para o qual aqui venho. Como vês, eu estou aqui ao pé desta fonte, enquanto as raparigas da localidade vêm buscar água. O pedido que te faço é que quando pedir a uma delas que me dê de beber, se ela disser, ‘Sim, com certeza; e posso até tirar também água para os teus camelos!’, que seja essa a que tu designaste como mulher de Isaque. Assim, ficarei a saber que estás a agir com bondade para com Abraão.” Ele apressou-se a ir ao seu encontro e pediu que lhe desse a beber um pouco de água do seu cântaro. “Sim, certamente!”, e logo baixou a vasilha para que bebesse. Quando acabou de beber acrescentou: “Vou também tirar água para os teus camelos, tanta quanto precisarem.” Vazou o resto da água da bilha na pia da fonte, e correu de novo ao poço, começando a puxar a água para eles, até que ficassem saciados. O mordomo entretanto não disse mais nada; limitava-se a observá-la, por um lado admirado, por outro cuidadoso em verificar se ela ia até ao fim da sua ação, de forma a não ficar com dúvida sobre se era ou não a indicada pelo Senhor. Por fim, quando os camelos acabaram de beber, ofereceu-lhe uns brincos de 6 gramas de ouro e duas pulseiras de 115 gramas de ouro. “De quem és tu filha?”, perguntou-lhe. “Haverá na casa do teu pai lugar para descansarmos?” “Meu pai é Betuel, filho de Milca e de Naor. Sim. Temos lugar para ficares, assim como palha e comida em abundância para os animais.” O homem ficou ali um momento de pé, com a cabeça inclinada, adorando o Senhor. Depois disse em voz alta: “Eu te agradeço, Senhor, Deus do meu patrão Abraão! Porque continuas a ser bondoso e fiel no cumprimento das tuas promessas para com ele! E a mim, conduziste-me precisamente à família dos parentes do meu patrão!” A rapariga correu a casa para contar tudo à mãe e à família. e disse-lhe: “Vem, fica connosco, amigo; o Senhor está certamente contigo. Porque havias de ficar aqui quando temos um quarto pronto para te receber e lugar para recolher os camelos?” Assim, foi para casa com Labão. Desataram os camelos, puseram palha para que se deitassem, e forneceram água para o homem e os camelos lavarem os pés. E depois prepararam-se para jantar. Mas o administrador de Abraão disse: “Eu não queria começar a comer sem vos dizer a razão por que vim até aqui.” “Pois sim”, respondeu-lhe Labão. “Diz o que tens a dizer.” “Eu sou o administrador da casa de Abraão”, explicou. “O Senhor tem enriquecido o meu patrão com toda a espécie de coisas boas, de tal forma que se tornou um grande senhor na terra em que vive. Deus tem-lhe dado rebanhos de ovelhas, manadas de vacas, uma fortuna em prata e ouro, muita gente ao seu serviço, e ainda camelos e jumentos. Sara, a mulher do meu patrão, deu-lhe um filho, quando já estava numa idade avançada, e o moço agora vai herdar tudo quanto o pai tem. Ora o meu patrão fez-me prometer solenemente que não deixaria que Isaque casasse com uma cananita, com uma das raparigas da terra em que habitamos, mas que viria buscar aqui a esta terra distante, a terra dos seus parentes, à família do seu irmão, uma moça com quem seu filho casasse. ‘Mas supondo que não encontro uma rapariga que queira vir comigo?’, perguntei-lhe. ‘Há de querer com certeza! Porque o Senhor, em cuja presença sempre tenho andado, enviará o seu anjo contigo para que sejas bem sucedido na tua missão. Sim, procura uma moça entre os meus parentes na família do meu irmão. Fizeste um juramento. Contudo, se eles não quiserem mandar alguém, então ficarás livre da promessa solene que fizeste.’ Pois bem. Esta tarde quando me aproximava da fonte à entrada da localidade, fiz esta oração: ‘Ó Senhor, Deus do meu patrão Abraão, se tens a intenção de me fazer bem sucedido nesta missão, peço-te que me guies da seguinte maneira: Eu fico aqui junto da fonte, e direi a uma das raparigas que vier buscar água: “Dá-me a beber um pouco de água do teu cântaro.” Se ela responder: “Com certeza! E até poderei tirar também água para os teus camelos!”, então por essa resposta verei que é essa rapariga que tu escolheste para casar com o filho do meu patrão!’ Pois ainda estava eu a dizer a Deus estas palavras quando Rebeca se aproximou com o cântaro de água sobre o ombro. Desceu à fonte, tirou água, encheu a vasilha e eu disse-lhe: ‘Por favor, dá-me de beber!’ Imediatamente baixou o cântaro e eu bebi. Depois acrescentou: ‘Não só te dou a beber a ti como também poderei tirar água para os teus camelos!’ E assim fez. Nessa altura, perguntei-lhe: ‘Quem é a tua família?’ Respondeu: ‘Sou filha de Betuel, filho de Naor e de Milca.’ E dei-lhe os brincos e as pulseiras. Então inclinei a cabeça e adorei e louvei o Senhor, o Deus do meu patrão Abraão, por me ter conduzido pelo caminho exato de forma a encontrar a sobrinha do meu patrão para vir a ser a esposa do seu filho. Sendo assim, digam-me se querem ou não fazer este bem ao meu patrão, o que é, aliás, uma coisa justa. Conforme a vossa resposta, saberei o que fazer a seguir, se devo ou não ir a outro sítio.” Então Labão e Betuel responderam: “Sem dúvida alguma que foi o Senhor que te conduziu até aqui. Por isso, que queres tu que digamos mais? Pega na moça e parte! Que ela case com o filho do teu patrão, conforme o Senhor planeou.” Perante esta resposta, o mordomo de Abraão caiu de joelhos perante o Senhor. Depois foi buscar várias joias em prata e ouro, assim como belas e ricas peças de vestuário para dar a Rebeca. E também à mãe e ao irmão ofereceu valiosos presentes. Só então se sentaram para jantar e o mordomo de Abraão com aqueles que o acompanhavam passaram ali a noite. Logo pela manhã do dia seguinte, levantou-se e disse aos da casa: “Deixem-me regressar, para prestar contas ao meu patrão!” “Mas nós queríamos que a pequena ficasse aqui connosco ainda uns dias, pelo menos uns dez! Depois sim, partiria contigo!” Contudo, ele insistiu: “Não retenham o meu regresso! O Senhor fez com que a minha missão fosse bem sucedida. Por isso, deixem-me ir dar já conta de tudo ao meu patrão.” “Bom, então chamemos a moça para saber o que ela pensa.” Chamaram Rebeca: “Queres partir agora com este homem?” “Sim, quero!” Fizeram a despedida de Rebeca e mandaram com ela a sua ama. E abençoaram-na desta forma: “Ó nossa irmã, que tu te tornes mãe de muitos milhões de pessoas! E que os teus descendentes sejam vitoriosos sobre os seus inimigos!” Por fim, Rebeca e as suas criadas subiram para os camelos e partiram. Entretanto, Isaque, que morava para os lados do sul, do Negueve, tinha regressado ao Poço de Laai-Roi. Tinha saído ao entardecer a dar uma volta no campo e orar e reparou nos camelos que se aproximavam. Por sua vez, Rebeca também viu Isaque que se aproximava e desmontou depressa do camelo em que vinha. “Quem é aquele homem que vem ali pelos campos em nossa direção?”, perguntou ao mordomo. “É o meu patrão.” Então cobriu o rosto com um véu. O mordomo contou a Isaque tudo o que acontecera. Isaque trouxe Rebeca para a tenda da sua mãe e ela tornou-se sua mulher. E amou-a muito. Ela foi para ele um conforto muito especial, após a morte de sua mãe, Sara. Abraão casou outra vez, com uma mulher chamada Quetura. E teve vários filhos: Zimrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque e Suá. Os filhos de Jocsã foram Sabá e Dedã. Os filhos de Dedã: Assurim, Letusim e Leumim. Os filhos de Midiã: Efá, Efer, Enoque, Abida e Eldá. Estes foram os seus descendentes por parte de Quetura. Abraão deixou tudo quanto tinha a Isaque. No entanto, deu presentes aos filhos das concubinas e mandou-os para as regiões orientais, longe de Isaque. Abraão viveu 175 anos; morreu numa velhice feliz, repleto de bons anos, e foi sepultado junto dos outros membros da sua família. Os seus filhos Isaque e Ismael sepultaram-no na gruta de Macpela, perto de Mamre, no campo de Efrom, filho de Zoar, o hitita, no campo que Abraão tinha comprado aos hititas. Foi ali que Abraão e Sara, sua esposa, foram sepultados. Depois da morte de Abraão, Deus abençoou muito a Isaque, que habitava junto do Poço de Laai-Roi. Seguem-se os descendentes de Ismael, filho de Abraão e de Agar, a egípcia, criada de sua mulher Sara. Nabaiote era o mais velho; depois Quedar, Adbeel, Mibsão, Misma, Dumá, Massá, Hadad, Tema, Jetur, Nafis e Quedmá. Estes doze deram os seus nomes às comunidades segundo as quais as famílias se organizaram; ou seja, em acampamentos e em aldeamentos. Ismael viveu 137 anos e foi sepultado junto dos corpos dos outros membros da família. Os seus descendentes espalharam-se desde Havila até Sur, que fica a noroeste do Egito, na direção da Assíria. E estavam constantemente em guerra uns com os outros. Seguem-se os descendentes de Isaque, filho de Abraão. Isaque tinha 40 anos quando casou com Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padan-Arã, e irmã de Labão. Isaque orou insistentemente para que Rebeca lhe desse um filho, pois era estéril. O Senhor ouviu as suas orações e ela ficou grávida. Dois bebés como que lutavam dentro dela. “Mas porque sou assim?” E pediu ao Senhor que a esclarecesse. O Senhor disse-lhe: “Os filhos que tens no teu seio tornar-se-ão dois grandes povos rivais. Um deles será mais forte. E o mais velho terá de submeter-se ao mais novo.” Quando se cumpriu o seu tempo teve gémeos. O primeiro a nascer era ruivo e estava coberto de pelo no corpo todo. Então chamaram-lhe Esaú. O outro vinha agarrado ao calcanhar do irmão. Por isso, lhe puseram o nome de Jacob. Tinha Isaque 60 anos quando lhe nasceram estes gémeos. Entretanto, os meninos cresceram; Esaú fez-se um hábil caçador, enquanto Jacob tinha um feitio sossegado e preferia ficar em casa. Isaque gostava muito de Esaú, porque a caça também era muito do seu gosto. Rebeca tinha uma predileção especial por Jacob. Um dia, Jacob estava a preparar um guisado quando chegou Esaú, exausto de correr pelos campos à procura de caça. “Deixa-me comer desse guisado apetitoso e vermelho que aí tens!” Foi por isso que lhe ficou a alcunha de Edom (vermelho). “Está bem”, disse Jacob. “Mas em troca dás-me o teu direito de filho mais velho.” “De acordo. Para que me há de servir isso se estou a desfalecer, quase a morrer!” “Então jura-me diante de Deus que esse direito há de ser meu!” E Esaú jurou, vendendo assim o seu direito de filho primogénito ao irmão mais novo. Jacob deu-lhe o guisado de lentilhas que estava a preparar e o acompanhamento. Esaú comeu e bebeu e foi-se embora, indiferente à perda dos seus direitos de filho mais velho. Houve uma grande fome naquela terra, como tinha acontecido nos tempos de Abraão. Por isso, Isaque resolveu mudar-se para a cidade de Gerar, onde reinava Abimeleque, rei dos filisteus. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Não desças ao Egito. Faz o que eu te disser e fica nesta terra. Assim, serei contigo e abençoar-te-ei. Hei de dar-te toda esta terra a ti e aos teus descendentes, tal como prometi a Abraão teu pai. Farei com que a tua descendência seja tão numerosa como as estrelas. Eu lhe darei todas estas terras e através dela serão abençoadas todas as nações da Terra. Faço isto porque Abraão obedeceu à minha voz, aos meus preceitos e às minhas leis.” Assim, ficou Isaque em Gerar. E quando os homens dali lhe perguntavam quem era Rebeca, respondia: “É a minha irmã!” Porque tinha receio pela sua própria vida se dissesse que era sua mulher. Temia que o matassem por causa dela, pois era muito atraente. Estava Isaque ali havia já um longo tempo, quando Abimeleque, rei dos filisteus, aproximando-se de uma janela do seu palácio, viu que Isaque brincava afetuosamente com Rebeca. Então mandou chamar Isaque e disse-lhe: “Afinal ela é tua mulher! Porque é que disseste que era tua irmã?” Ele respondeu: “Porque tinha medo que me matassem para ficarem com ela!” “Como é que foste capaz de nos tratar desta maneira? Podia muito bem ter acontecido que alguém tentasse violá-la, e todos nos teríamos tornado culpados de um grave delito por tua causa.” Assim, Abimeleque mandou publicar um comunicado em que dizia: “Seja quem for que tocar neste homem ou na sua mulher morrerá.” Nesse mesmo ano, a colheita de Isaque foi enorme: cem vezes o que tinha semeado. Isto porque o Senhor o abençoava. E tornou-se um homem de grande posição e cada vez mais rico. Tinha grandes rebanhos de ovelhas e manadas de vacas, assim como muita gente ao seu serviço, de tal forma que os filisteus começaram a invejá-lo. Por isso, começaram a encher de terra os poços que tinham sido todos abertos pelos criados do seu pai, Abraão. Por fim, o rei Abimeleque resolveu pedir-lhe que deixasse o país: “É melhor que nos deixes, porque te tornaste muito mais rico e poderoso do que nós.” Isaque mudou-se para o vale de Gerar e ficou ali a viver. E tornou a abrir os poços que tinham sido cavados pelo pai, e que os filisteus tinham enchido de terra, dando-lhes os mesmos nomes que tinham antes. Além disso, os seus pastores abriram um novo poço no vale de Gerar e encontraram uma fonte subterrânea jorrando águas vivas. Os pastores do sítio vieram reclamá-lo: “O poço é nosso; esta terra é nossa!” E insistiram, levantando discussão sobre o assunto. Por isso, Isaque lhe chamou Poço da Discussão. Os homens de Isaque cavaram outro poço, mas houve de novo contenda por causa da posse da água. Por isso, pôs a esse poço o nome de Poço da Desavença. Foram-se dali e abriram ainda um terceiro poço, mas desta vez não houve luta pela sua posse por parte dos habitantes da terra. Daí que lhe tivesse chamado o Reobote, “Porque agora enfim”, justificou ele, “o Senhor nos deu espaço bastante para vivermos e temos prosperado.” Depois subiu até Berseba. E o Senhor, na noite da sua chegada, disse-lhe: “Eu sou o Deus do teu pai Abraão. Nada receies porque estou contigo e te abençoarei, e farei que os teus descendentes venham a formar uma enorme nação, em consequência do que prometi a Abraão que me serviu e obedeceu.” Então levantou ali um altar ao Senhor e orou. E estabeleceu-se ali, tendo os seus homens aberto outro poço. Um dia, Isaque teve a visita do rei Abimeleque, vindo de Gerar, acompanhado do seu conselheiro e amigo Auzate e do comandante do seu exército, Ficol. “Que pretendem de mim?”, perguntou-lhes Isaque. “Porque é bem evidente que não é com intuitos amigáveis que me vêm visitar, visto que as vossas atitudes têm sido muito pouco cordiais.” “Pois bem”, disseram, “temos visto que na verdade o Senhor tem sido contigo e te tem abençoado. Por isso, decidimos vir pedir-te que façamos um tratado. Tu prometes-nos que não nos farás mal, tal como nós nunca te prejudicámos; da nossa parte só te temos feito bem e deixámos-te partir em paz, quando estiveste connosco. Desejamos-te a bênção do Senhor.” Isaque fez-lhes uma grande festa; comeram e beberam. No dia seguinte, de manhã cedo, logo que se levantaram, juraram solenemente um ao outro um pacto de não agressão. E despediram-se em paz. Nesse mesmo dia, os homens de Isaque vieram dizer-lhe que tinham achado água no poço que tinham estado a cavar. Por essa razão, pôs-lhe o nome de Siba. A povoação que se formou ali ficou a ser chamada Berseba, até hoje. Esaú, aos 40 anos, casou com uma rapariga chamada Judite, filha de Beeri, hitita. Casou ainda com Basemate, filha de Elom, hitita também. Estas duas mulheres foram para Isaque e Rebeca razão de amargura. Um dia, quando Isaque já estava bastante idoso e meio cego, chamou pelo filho mais velho. “Que é, meu pai?” “Escuta. Eu já estou muito velho e conto com a morte em cada dia que passa. Pega na tua arma de caça e vai ver se apanhas algum animal; prepara-o daquela maneira saborosa que tu sabes que eu gosto. Depois traz-me para que coma e dê a bênção que te pertence como filho mais velho. Depois disso, estarei mais à vontade para morrer, quando chegar o momento.” Ora Rebeca ouviu essa conversa. Por isso, quando Esaú saiu para caçar, chamou Jacob e disse-lhe “Eu ouvi o teu pai a falar com o teu irmão, Esaú. Estava a dizer-lhe que fosse à caça e lhe preparasse um prato saboroso, para ele comer e para lhe dar a sua bênção em nome do Senhor, antes de morrer. Mas tu vais fazer exatamente o que eu te disser: Vais ao rebanho, trazes-me dois bons cabritos ainda pequenos, e eu própria os prepararei da forma que o teu pai gosta. Depois leva-lhos para que coma e por fim te abençoará antes de morrer!” “Mas, mãe”, retorquiu Jacob, “tu sabes que Esaú é muito cabeludo e que eu tenho a pele lisa; o pai vai querer tocar-me, para se certificar, e vai perceber que o quis enganar, o que trará sobre mim maldição e não bênção!” “Se te amaldiçoar, que isso caia sobre mim, meu filho. Faz o que eu te digo. Vai buscar os dois cabritinhos como te pedi.” Jacob assim fez. Foi buscar os animais, que a mãe preparou conforme o pai gostava. Em seguida, Rebeca trouxe os melhores fatos de Esaú, os fatos dos dias de festa que estavam ali em casa, e mandou que Jacob os vestisse. Depois com as próprias peles dos cabritos fez duas luvas para as mãos do filho, e uma faixa que lhe colocou à volta do pescoço. Por fim, deu-lhe o guisado, que estava muito saboroso e que cheirava muito bem, juntamente com pãezinhos frescos feitos para aquela altura. Jacob levou a comida ao quarto onde o pai estava deitado: “Pai!”, chamou. “Sim, meu filho. Mas quem és, Esaú ou Jacob?” “Sou Esaú, o mais velho. Fiz o que me pediste. Aqui está a caça preparada como tu gostas. Levanta-te, come e abençoa-me segundo tudo o que sentes no coração.” “Como foi que conseguiste apanhar caça assim tão depressa, meu filho?”, perguntou. “Foi o Senhor, teu Deus, que a pôs no meu caminho!” “Chega-te aqui. Quero sentir-te, para ver se és realmente Esaú.” Jacob aproximou-se do pai, que lhe tocou no corpo. “A voz é a de Jacob, mas as mãos são realmente as de Esaú!” E não conseguiu reconhecê-lo porque o disfarce que Jacob trazia o enganou. “És mesmo Esaú?”, perguntou. “Sou, sim!” “Bem, então chega-me a comida. Depois de comer abençoar-te-ei conforme tudo o que sinto no coração.” Jacob chegou-lhe a travessa; ele comeu, acompanhado com o vinho que o filho também lhe trouxera. “Vem cá e dá-me um beijo, meu filho!” Jacob chegou-se e deu-lhe um beijo no rosto. Isaque cheirou os fatos que ele tinha vestido; pareceu convencido e abençoou-o. “Este cheiro do meu filho é o bom cheiro da terra e dos campos que o Senhor abençoou! Que Deus te dê sempre abundância de chuvas para as tuas searas, colheitas ricas e vinho novo. Que os povos te venham a servir e te honrem. Que sejas senhor dos teus irmãos e que te respeitem. Malditos sejam os que te amaldiçoarem e benditos sejam os que te abençoarem.” Isaque tinha acabado de abençoar Jacob, e este apenas tinha saído do quarto onde se encontrava o pai, quando Esaú chegou da caça. Foi também preparar o prato favorito do pai e trouxe-lho: “Pronto, aqui estou eu, meu pai, com a caça que me pediste. Senta-te e come, para que me possas dar então a tua melhor bênção!” “Mas, quem és tu?” “Sou eu, Esaú, o teu filho mais velho!” Isaque começou a tremer. “Então quem foi que esteve aqui agora mesmo e me deu a comer da caça que eu pedira, e a quem abençoei sem poder voltar atrás?” Esaú, ao ouvir aquilo, começou a clamar desesperado e profundamente amargurado. “Ó meu pai, abençoa-me, abençoa-me também!” “Foi o teu irmão que esteve aqui e me enganou e conseguiu tomar de mim a tua bênção!” E Esaú comentou dececionado: “Não é de admirar que se chame Jacob! Primeiro ficou-me com o meu direito de filho mais velho e agora suplanta-me na bênção. Pai, não tens nenhuma bênção para me dar?” “Eu pu-lo por teu senhor; os seus parentes e tu próprio o servirão; garanti-lhe abundância de trigo e de vinho. O que há de ter ficado para ti?” “Nem uma só bênção ficou para mim? Pai, abençoa-me também!” E Esaú chorou de desespero. “Não terás uma vida fácil, nem confortável; a terra não te dará o melhor que tem nem o céu as suas chuvas. Pela espada conseguirás abrir um caminho na vida. Por um tempo servirás o teu irmão, mas por fim libertar-te-ás do seu domínio e ficarás livre.” Por isso, Esaú ficou a odiar Jacob, por causa da bênção que o seu pai lhe dera. E disse para consigo: “Meu pai partirá em breve desta vida. Então hei de matar Jacob.” Mas alguém foi pôr Rebeca ao corrente disso. Esta mandou logo chamar Jacob para o avisar que a sua vida estava em perigo devido à ameaça do irmão. “O que há a fazer”, disse ela, “é isto: foge para casa de teu tio Labão, em Harã. Fica lá uns tempos até que passe esta fúria ao teu irmão e esqueça o que lhe fizeste. Nessa altura, mandarei chamar-te. Porque é que vos havia de perder aos dois no mesmo dia?” Rebeca disse depois a Isaque: “Estou cansada e aborrecida por causa das moças hititas. Preferia morrer a ver Jacob casado com uma delas!” Assim, Isaque chamou a Jacob, abençoou-o e disse-lhe: “Não cases com nenhuma destas raparigas cananeias. Vai antes para Padan-Arã, para a casa do teu avô Betuel, e casa com uma das tuas primas, filhas do teu tio Labão. Que Deus, o Todo-Poderoso, te abençoe, te faça frutificar e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos! Que Deus te dê, a ti e aos teus descendentes, as ricas bênçãos que prometeu a Abraão. Que venhas a possuir esta terra, em que agora somos estrangeiros, pois que também já a tinha prometido a Abraão.” Desta forma, foi Jacob mandado pelo pai a Padan-Arã, à casa do seu tio Labão, irmão de sua mãe e filho de Betuel, o arameu. Esaú deu-se conta de que o pai tinha abençoado Jacob e enviado-o a Padan-Arã, para procurar lá uma moça para casar, com o aviso severo de que nunca procurasse uma cananita. Constatou que Jacob tinha concordado e tinha partido para Padan-Arã. Esaú percebeu então que o pai não tinha em boa conta as mulheres de Canaã. Então Esaú foi à terra do seu tio Ismael, e casou-se com uma das filhas de Ismael, além das que já tinha. Esta mulher com quem se casou, chamava-se Maalate, irmã de Nabaiote e filha do próprio Ismael, filho de Abraão. Jacob partiu pois de Berseba a caminho de Harã. Ao anoitecer, procurou um sítio onde passar a noite; procurou uma pedra que lhe servisse de cabeceira e adormeceu. E sonhou com uma escada que ia da Terra ao céu e que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. No cimo da escada estava o Senhor que lhe disse: “Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão e do teu pai Isaque. Esta terra em que estás deitado é tua. Dar-ta-ei a ti e aos teus descendentes. Porque terás tantos descendentes como o pó da Terra; hão de cobrir a Terra do Oriente ao Ocidente e do Norte ao Sul. E todas as nações da Terra serão abençoadas por intermédio de ti e da tua descendência. E mais ainda, eu estou contigo e te protegerei onde quer que fores; hei de tornar a trazer-te com segurança a esta terra. Serei contigo em todos os momentos, a fim de te dar tudo quanto te estou a prometer.” Jacob acordou: “O Senhor está neste lugar e eu não sabia!”, exclamou. E teve medo. “Que lugar tremendo! É mesmo a casa de Deus e a própria entrada do céu!” De manhã levantou-se cedo, pegou na pedra sobre a qual tinha dormido, ergueu-a e colocou-a em forma de pilar, em sinal comemorativo, derramando azeite sobre ela. E chamou àquele sítio Betel, ainda que o nome da localidade próxima fosse Luz. E Jacob formulou este voto: “Se Deus estiver comigo e me proteger nesta viagem, se me der comida e roupa, e me trouxer de novo em segurança à casa dos meus pais, então o Senhor será o meu Deus. Este pilar tornar-se-á um local de adoração e comprometo-me a dar-lhe a décima parte de tudo quanto ele me der.” Jacob continuou a viagem e chegou finalmente ao seu destino na terra oriental. Ainda longe viu três rebanhos descansando junto dum poço no meio do campo, esperando a altura de irem beber. E uma pesada pedra cobria a boca do poço. O hábito era que a pedra só fosse removida quando todos os rebanhos estivessem ali. Depois de se tirar água para os animais, tornava a colocar-se a pedra no seu lugar. Jacob foi ter com os pastores e perguntou-lhes onde viviam: “Em Harã”, disseram. “Portanto, conhecem um homem chamado Labão, descendente de Naor?” Responderam-lhe: “Com certeza!” Jacob perguntou ainda: “Ele está bem?” Ao que responderam: “Sim! Olha, vem ali a filha Raquel com um rebanho!” “Porque é que não tiram água para os animais, para que possam voltar às pastagens?”, perguntou Jacob. “Vão ficar com fome se param de comer assim tão cedo!” “É que nós só afastamos a pedra e tiramos água depois dos rebanhos estarem todos juntos.” E enquanto falavam, chegou Raquel com o rebanho do pai, porque também era pastora. Ao ver Raquel, filha do seu tio Labão, com o rebanho de seu tio, Jacob aproximou-se e retirou a pedra de cima do poço e deu água ao rebanho do seu tio Labão. Depois beijou Raquel; não se conteve e começou a chorar. Explicou que era seu primo, filho da sua tia Rebeca. A moça foi a correr contar tudo ao pai. Labão, assim que viu que era Jacob que chegava, precipitou-se ao seu encontro, recebendo-o com muita afeição, levando-o para casa, ouvindo do sobrinho tudo o que este lhe contou da sua vida. “Tu és realmente da mesma carne, do mesmo sangue que eu!”, exclamou Labão comovido. Depois de Jacob ter estado ali com eles um mês inteiro, Labão disse-lhe: “Não é por sermos parentes que vais ficar aqui a trabalhar sem salário. Diz-me quanto queres ganhar.” Labão tinha duas filhas, Leia a mais velha, e a segunda, Raquel. Leia tinha uns olhos muito bonitos, mas Raquel era formosa e tinha encanto. Ora como Jacob amava Raquel, disse: “Trabalho para ti durante sete anos e depois deixas-me casar com Raquel.” “De acordo! Prefiro dar-ta a ti do que a um outro qualquer fora da família!” Dessa forma, trabalhou Jacob sete anos por Raquel; e pareceu-lhe pouco tempo pelo muito que a amava. Chegou por fim a altura de casar com ela. “Cumpri o contrato. Agora dá-me Raquel para que seja minha mulher”, disse a Labão. Labão juntou os homens todos do sítio para fazer uma festa celebrando o acontecimento. Quando a noite já ia avançada, Labão, aproveitando-se do escuro, trouxe Leia aos aposentos de Jacob, o qual veio a tomá-la por mulher. Labão deu a Leia, para ser sua criada, uma empregada da casa chamada Zilpa. Na manhã seguinte Jacob foi ter com Labão, todo indignado: “Mas que foi isto? Porque me enganaste? Não trabalhei eu sete anos para ter Raquel?” “É que não é costume fazer assim nesta terra”, respondeu o sogro. “Nunca se dá a filha mais nova em casamento antes da outra! Deixa passar a semana habitual de núpcias e terás Raquel também, se prometeres trabalhar para mim mais sete anos!” E Jacob concordou em trabalhar outros sete anos, ficando com Raquel igualmente. A criada que o pai deu a Raquel, por sua vez, foi Bila. Raquel tornou-se mulher de Jacob que a amou mais do que a Leia, não se importando de ficar a trabalhar por ela mais sete anos. O Senhor, vendo que Jacob dava pouca atenção a Leia, deu-lhe um filho, enquanto Raquel se manteve estéril. Leia ficou grávida e teve um filho a quem chamou Rúben (olhem, um filho!), porque disse: “O Senhor reparou na minha humilhação. Agora o meu marido passará a amar-me.” Depois ficou outra vez grávida e teve outro filho a quem chamou Simeão (ouviu). E exclamou: “O Senhor ouviu que eu não era amada e deu-me outro filho!” Tornou a conceber e a ter mais um filho, pondo-lhe o nome de Levi (ligar). “Com certeza que desta vez o meu marido se ligará mais a mim, pois já é o terceiro filho que lhe dou!”, disse ela. E ainda mais uma vez ficou grávida e deu à luz outro menino chamado Judá (louvar). “Agora”, exclamou ela, “só posso fazer uma coisa, é louvar o Senhor!” E cessou de ter filhos. Raquel, vendo que era estéril, teve inveja da irmã. “Dá-me filhos, se não morro”, disse a Jacob. Este teve de lhe responder, contrariado: “Eu não estou no lugar de Deus. Só ele sabe porque te impediu de ter filhos!” Então Raquel disse-lhe: “Toma a minha criada Bila. Os filhos que ela tiver serão meus.” Deu-lhe pois Bila por mulher, a qual ficou grávida e lhe deu um filho. Raquel chamou-lhe Dan (fazer justiça), “Porque”, disse ela, “Deus fez-me justiça, ouvindo o meu pedido e dando-me um filho.” Bila, criada de Raquel, tornou a conceber e a dar a Jacob outro filho. Raquel deu-lhe o nome de Naftali (lutar): “Lutei com a minha irmã e ganhei!” Entretanto, quando Leia se deu conta de que não engravidava como antes, resolveu dar também a sua criada Zilpa a Jacob. E esta deu-lhe um filho. E Leia exclamou: “Que sorte!” Por isso chamou-lhe Gad (sorte). Zilpa tornou a dar-lhe outro filho; Leia pôs-lhe o nome de Aser (feliz): “As outras mulheres vão considerar-me feliz, com certeza!” Um dia, durante a colheita de trigo, Rúben achou no campo umas mandrágoras e trouxe-as a sua mãe, Leia. Raquel pediu-lhe que lhe desse algumas. Mas Leia respondeu-lhe aborrecida: “Achas pouco teres ficado com o meu marido e ainda me pedes as mandrágoras do meu filho?” Raquel propôs-lhe então: “Ele poderá ficar contigo esta noite se me deres as mandrágoras.” Ao fim do dia, quando Jacob regressava do campo, Leia foi-lhe ao encontro: “Esta noite ficas comigo. Tenho esse direito em troco de uma quantas mandrágoras que o meu filho encontrou!” E assim foi. Deus respondeu às orações de Leia, que ficou grávida de novo e deu à luz um quinto filho; chamou-lhe Issacar (recompensar): “Deus quis recompensar-me pelo sacrifício que fiz, dando ao meu marido a minha criada!” Depois disso, ficou ainda outra vez à espera de um filho, que foi o seu sexto. Chamou-lhe Zebulão (grande consideração), pois exclamara ao ter este menino: “Deus deu-me um belo presente! Desta vez o meu marido ter-me-á em grande consideração, porque já lhe dei seis filhos!” Passado um tempo teve uma filha a quem deu o nome de Dina. Nessa altura, Deus quis responder a Raquel e permitiu que ficasse grávida. Teve pois um filho: “Deus tirou a vergonha que pesava sobre a minha vida!”, disse. E chamou-lhe José (acrescentar), porque fez esta oração: “Que o Senhor me dê outro filho!” Logo após o nascimento de José, Jacob disse a Labão: “Vou regressar a casa. Deixa-me levar as minhas mulheres e os meus filhos, pelos quais trabalhei para ti, para que partamos todos. Sabes bem que te paguei largamente com o serviço que te prestei.” “Não! Peço-te muito que não me deixes”, respondeu Labão. “Eu tenho verificado que o Senhor me tem abençoado assim tanto por amor a ti e por teres estado aqui comigo. Diz-me quanto é que queres que te pague mais e dar-te-ei o que pretenderes.” Jacob retorquiu: “Pudeste ver perfeitamente como te servi fielmente durante todos estes anos e como o teu gado cresceu pelos meus cuidados. Porque o que tinhas antes era relativamente pouco em comparação com os rebanhos que agora tens. O Senhor tem te enriquecido muito através do meu trabalho. Quanto a mim, quando é que começo a trabalhar para a minha própria família?” “Bom, pois diz então quanto queres.” E Jacob respondeu: “Não te peço nenhuma quantia exata como salário. Voltarei a trabalhar para ti, se estiveres de acordo com o que vou propor-te. Passarei por entre os teus rebanhos hoje e porei de parte todas as cabras malhadas e todos os cordeiros de pelo escuro. Serão esses o meu salário. E assim verás por ti próprio que se houver algum animal no meu rebanho que não tenha essas marcas é porque não me pertence.” “Está bem. Seja assim como disseste.” Nesse mesmo dia, Labão foi logo separar todos os bodes e cabras que tinham manchas ou listas e todos os cordeiros de pelo escuro e deu-os aos filhos dele, os seus netos. E deixou três dias de caminho como intervalo entre si e os rebanhos de Jacob. Este continou a pastorear o resto dos rebanhos de Labão. Jacob, contudo, pegou em ramos verdes de choupos, amendoeiras e plátanos e descascou-os de forma a deixá-los às riscas brancas. Pôs esses ramos nos sítios onde o rebanho ia beber, de maneira que os animais os vissem, porque era em geral nessa altura que concebiam; o que realmente aconteceu: as suas crias saíam malhadas e às riscas. E Jacob pô-las no seu rebanho. Depois separou no rebanho de Labão as ovelhas dos cordeiros, e só as deixou conceber com os cordeiros de pelo escuro. Assim, foi fazendo aumentar o seu rebanho a partir do de seu sogro. Além disso, quando eram os animais mais fortes que concebiam, tinha o cuidado de lhes pôr na frente os ramos às riscas. Mas se eram ovelhas fracas, deixava-as à vontade. Dessa forma, as fracas eram de Labão e as fortes ficavam para si. Assim, os rebanhos de Jacob cresceram rapidamente e ele tornou-se rico, possuidor, além disso, de camelos, jumentos e muita criadagem. Jacob começou a ouvir o que os filhos de Labão diziam; que tudo o que tinha o tirara ao pai e que à custa deste é que enriquecera. E Jacob via bem o esfriamento da atitude de Labão em relação a si próprio. Então o Senhor falou a Jacob: “Volta para a terra dos teus pais e da tua família. Eu hei de estar sempre contigo.” Por isso, um dia Jacob mandou chamar Raquel e Leia ao campo, lá onde estava a guardar os rebanhos, para lhes falar destas coisas: “O vosso pai mudou muito comigo, mas o Deus do meu pai tem estado comigo. Vocês sabem como tenho trabalhado duramente para o vosso pai. Contudo, ele enganou-me e alterou várias vezes o contrato de salário que fiz com ele. Deus, no entanto, não permitiu que eu fosse prejudicado. Porque quando dizia que todos os animais malhados seriam meus, então todo o rebanho dava malhados. Depois, quando alterava e dizia que seriam antes os de listas os meus, o rebanho dava só listados! Foi dessa forma que Deus me fez enriquecer à custa do rebanho do vosso pai. Então, na altura do rebanho conceber, tive um sonho em que os bodes que fecundavam as ovelhas eram listados, sarapintados ou às manchas. A certa altura desse sonho o anjo de Deus chamou-me: ‘Jacob!’ E eu disse: ‘Estou aqui!’ E ele disse-me que devia juntar as cabras brancas aos bodes listados, sarapintados e manchados. ‘Tenho visto o que Labão fez contigo. Eu sou o Deus que te encontrou em Betel, naquele lugar em que me consagraste uma pedra levantada como monumento e em que fizeste voto de me servir. Portanto, deixa agora esta terra e volta para onde está a tua família.’ Foram as suas palavras.” Raquel e Leia responderam-lhe: “Estamos inteiramente de acordo. Aliás, não há aqui nada para nós. Nenhuma parte dos bens do nosso pai nos caberia em herança, fosse de que maneira fosse. Pelo contrário, reduziu os nossos direitos aos de meras mulheres estranhas à casa. Vendeu-nos e até o dote a que tínhamos direito ficou com ele! Portanto, toda a fortuna que Deus tirou ao nosso pai agora é nossa e dos nossos filhos; por isso vai, faz tudo o que Deus te disse.” Assim, um certo dia, Jacob pôs as mulheres e os filhos em camelos e partiu levando consigo todos os rebanhos que tinha obtido em Padan-Arã, assim como tudo o que adquirira ali, e partiu para regressar junto do seu pai Isaque, na terra de Canaã. Raquel chegou mesmo a roubar da casa do pai os ídolos, quando tinha ido tosquiar o rebanho. Assim, Jacob enganou Labão, o arameu, seu sogro, ao fugir da casa dele sem lhe dizer nada. Jacob fugiu com tudo o que possuía e atravessou o rio Eufrates, tomando a seguir a direção do território de Gileade. Labão só soube dessa fuga três dias depois. Tomou consigo vários homens da sua casa e foi em perseguição deles, só os apanhando sete dias mais tarde, nos montes de Gileade. Nessa noite, Deus apareceu-lhe num sonho: “Vê bem o que vais dizer a Jacob! Não o amaldiçoes nem tão-pouco cuides em abençoá-lo.” Labão conseguiu finalmente apanhá-los quando acampavam nos montes de Gileade. Ele e os seus homens fizeram o mesmo nas proximidades. “Que significa isto, que te esquivaste assim de mim?”, perguntou-lhe Labão. “Levas-me as minhas filhas como se tivessem sido feitas prisioneiras numa batalha! Porque é que nem sequer me deste a possibilidade de fazer uma festa de despedida em que houvesse alegria, se cantasse e se tocasse? Nem sequer me deixaste beijar os meus netos e netas. Foi muito estranho e muito insensato o que fizeste. Tinha agora a possibilidade de te fazer mal, de me vingar, mas o Deus do teu pai falou comigo ontem à noite, dizendo-me que visse bem que não te amaldiçoasse nem sequer te abençoasse. Queria contudo perguntar-te uma coisa: Embora quisesses muito ir embora, porque tinhas saudades dos teus e da tua casa, por que razão havias tu de me roubar os meus ídolos?” Jacob retorquiu-lhe: “Se me esquivei foi porque tinha medo e pensei que talvez quisesses tirar-me pela força as tuas filhas. Mas quanto aos deuses da tua casa, morra aquele que os tiver tirado! Seja o que for que achares aqui entre nós, e que seja teu, podes levá-lo sem mais problemas.” Jacob não sabia que Raquel os tinha furtado. Labão foi primeiramente à tenda de Jacob e procurou lá. Depois foi à de Leia e à de ambas as criadas e não achou nada. Por fim, entrou na de Raquel. Mas Raquel tinha-os escondido sob a albarda dum camelo e por isso foi-se sentar nele. Labão procurou por toda a parte na tenda e também não viu nada. “Pai, desculpa-me se não me levanto”, disse, “mas é que estou menstruada!” Então Jacob ficou mesmo irritado contra Labão e perguntou-lhe: “Bom e então? O que é que encontraste? Qual foi afinal o meu crime? Vieste em minha perseguição como se fosse um criminoso. Fizeste-me uma busca completa. Põe aqui diante de nós tudo o que eu tenho roubado, para que a tua gente e nós próprios o vejamos e se possa decidir quem é o culpado. Afinal, sabes bem, estive 20 anos contigo, cuidando dos teus animais que sempre deram crias saudáveis e nunca comi sequer um carneiro do teu rebanho. Se acontecia que algum animal do rebanho era atacado por uma fera não o vinha trazer pedindo-te para tomares nota de que havia um a menos. Pelo contrário, pagava-to. Aliás, qualquer animal que tivesse sido roubado, fosse quando fosse, de dia ou de noite, querias que o pagasse, tivesse eu ou não a responsabilidade do rebanho na altura do roubo! Trabalhei para ti tanto sob o calor ardente do dia como durante o frio das noites geladas em que até nem podia dormir. Sim, foram 20 anos: foram 14 para ganhar as tuas duas filhas e mais 6 para conseguir os rebanhos que tenho; e dez vezes mudaste-me o salário! Se não fosse a misericórdia de Deus, o Deus de Abraão meu avô, o grande Deus de Isaque meu pai, ter-me-ias mandado embora sem um centavo. Mas Deus deu atenção à situação em que me encontrava, tomou em consideração o meu duro trabalho e viu a tua crueldade, por isso te apareceu ontem à noite!” Labão respondeu-lhe por sua vez: “Estas mulheres são minhas filhas e estes moços são também filhos meus; e até esses rebanhos e tudo o que tens é, afinal, meu. Mas o que poderia eu fazer com as minhas próprias filhas e os meus netos? Vamos fazer um tratado de paz e dele ficarão dependentes as nossas relações.” Jacob pegou numa pedra e ergueu-a em sinal de monumento comemorando essa aliança. Depois disse aos seus homens que juntassem várias pedras. E assim eles fizeram. Juntaram e fizeram um monte de pedras e junto a ele, comeram. Chamaram-lhe a Pilha do Testemunho; na língua de Labão Jegar-Saaduta e na de Jacob Galeede. E Labão disse: “Que esta pilha de pedras sirva como testemunho da aliança entre mim e ti.” Por isso, o seu nome será Galeede. Também ficou conhecida pela Coluna da Vigilância ou Mizpá, porque Labão também declarou: “Que seja o Senhor mesmo a vigiar se cumprimos este tratado, quando estivermos longe um do outro. Que seja ele próprio a verificar se vieres a tratar mal as minhas filhas ou a tomar outras mulheres além delas. Eu poderei não saber nada, mas Deus há de vê-lo. Que seja o próprio Deus de Abraão, o de Naor e do seu pai, a julgar qualquer tentativa de quebra desta aliança por parte de um de nós.” Jacob jurou, perante o poderoso Deus do seu pai Isaque, que havia de respeitar esse tratado. E apresentou a Deus um sacrifício ali mesmo no cimo daquela montanha, convidando os seus companheiros para uma festa; assim comeram e passaram juntos a noite naquele monte. Na manhã seguinte, ainda de madrugada, Labão beijou as filhas e os netos, abençoou-os e partiu, regressando a casa. Por sua vez Jacob, com todos os seus, também partiu para continuar a viagem. Os anjos de Deus vieram-lhe ao encontro. Quando os viu, Jacob exclamou: “São do acampamento de Deus!” Por isso, chamou àquele sítio Maanaim. Jacob decidiu enviar mensageiros a Esaú, o seu irmão, a Edom, na terra de Seir, com esta mensagem: “Saudações de Jacob. Tenho estado a viver com o nosso tio Labão até há pouco tempo; agora tenho muitos bois, jumentos, ovelhas e muita criadagem, tanto homens como mulheres. Envio-te estes mensageiros para te informar da minha vinda, esperando poder contar com a tua amizade.” Os mensageiros voltaram com a notícia de que Esaú estava a caminho para se encontrar com Jacob, acompanhado dum exército de 400 homens. Jacob ficou cheio de medo e angustiado, e repartiu a gente toda que vinha consigo, tal como os rebanhos, os bois e os camelos, em dois grupos; porque pensou que se Esaú atacasse um dos grupos talvez o outro conseguisse escapar. E orou desta maneira: “Ó Deus do meu avô Abraão e Deus do meu pai Isaque, ó Senhor, tu que me disseste para voltar à terra dos meus parentes e me garantiste que me farias bem; realmente eu não sou digno de toda a bondade e fidelidade com que me tens tratado, conforme as tuas promessas. Porque quando deixei a minha casa e atravessei este rio Jordão nada tinha de meu, exceto um simples cajado! E agora tenho à minha responsabilidade estes dois grandes grupos. Peço-te portanto, que me protejas das mãos destruidoras do meu irmão Esaú, pois estou com muito medo que nos venha matar, a mim e a estas mães e seus filhos. Tu prometeste fazer-me bem e multiplicar os meus descendentes, de forma a tornarem-se tão numerosos como os grãos de areia das praias, que são incontáveis!” Jacob passou ali aquela noite e preparou um presente para o seu irmão Esaú; consistia no seguinte: 200 cabras, 20 bodes, 200 ovelhas, 20 carneiros, camelos de leite, com as suas crias, 40 vacas, 10 bois, 20 jumentas, 10 jumentinhos. Deu instruções aos criados para passarem adiante, mantendo separado cada grupo de animais, com uma certa distância entre cada um. Ao que conduzia o primeiro grupo mandou que quando encontrasse Esaú e este lhe perguntasse: “De quem são estes animais? Para onde vais? Para quem estás a trabalhar?”, devia responder: “Estes animais são de Jacob que está às tuas ordens. São um presente que te envia a ti, Esaú, com todo o respeito e submissão. Ele próprio vem atrás de nós.” Dessa forma, os presentes foram passando à sua frente. Contudo, resolveu ficar ainda aquela noite no acampamento. Depois ficou sozinho no acampamento. E um homem lutou com ele até ao amanhecer. Quando esse homem viu que não ganharia o combate, tocou na anca de Jacob, deslocando-lhe a juntura da coxa; e disse-lhe: “Deixa-me ir embora, porque já está a amanhecer.” Mas Jacob exigiu: “Não te deixarei enquanto não me abençoares!” “Qual é o teu nome?”, perguntou-lhe o homem. “Jacob”, respondeu. “Não serás mais Jacob, mas Israel (lutar com Deus). Porque como príncipe lutaste com Deus e com os seres humanos e prevaleceste!” “Agora diz-me, qual é o teu nome?”, perguntou Jacob por sua vez. “Porque perguntas pelo meu nome?” E abençoou-o ali mesmo. Jacob chamou àquele lugar Peniel (a face de Deus), porque disse: “Vi Deus face a face, com os meus próprios olhos, e contudo não morri!” Entretanto, o Sol já se levantava quando partiu enfim dali. E ia coxeando. É por isso que o povo de Israel ainda hoje não come o nervo que faz a juntura com a coxa. Depois Jacob foi para a frente e quando o irmão chegou inclinou-se numa profunda vénia sete vezes. Esaú correu ao seu encontro e abraçou-o afetuosamente, beijando-o, e ambos choraram de emoção. Esaú observou as mulheres com os filhos e perguntou quem eram. “São os filhos que Deus, na sua bondade, me deu!” Nesse momento as duas criadas aproximaram-se com os filhos e inclinaram-se numa vénia. A seguir, veio Leia também com os filhos e fez o mesmo. Por fim, foi a vez de Raquel com José virem igualmente cumprimentá-lo. “Para que foi que enviaste à frente todos aqueles grupos de animais e de gente que encontrei?”, perguntou. “Eram presentes, com o fim de ganhar a tua benevolência!” “Meu irmão, eu tenho abundância disso tudo! Guarda para ti essas riquezas que te pertencem!” “Não! Peço-te que aceites tudo!”, insistiu. “Porque para mim foi um grande alívio ver a forma amigável como me recebeste. No fundo eu inquietava-me tanto por causa deste encontro contigo como se estivesse diante da face do próprio Deus. Por isso, peço-te que aceites este presente. Deus tem sido muito generoso para comigo e tenho em abundância de tudo.” Finalmente, Esaú aceitou. “Bom, então ponhamo-nos a caminho”, disse Esaú. “Os meus homens e eu próprio vos faremos companhia.” Jacob replicou: “Como podes ver, alguns dos meus filhos ainda são pequeninos. Aliás os rebanhos também têm as crias. Se formos um pouco mais depressa, vão cansar-se e podem morrer. É melhor que vás à frente; nós vamos indo conforme podemos, até nos encontrarmos de novo em Seir.” “Pois bem! Vou deixar, em todo o caso, alguns dos meus homens contigo, para que te ajudem e protejam.” “Não!”, teimou Jacob. “Tudo nos há de correr bem. A questão é que estejamos em paz os dois.” E Esaú partiu então para Seir. Entretanto, Jacob, com toda a sua gente, foi para Sucote e aí levantou um acampamento, fazendo cabanas para o gado. Por isso, o lugar chama-se Sucote (cabanas). Chegaram enfim, em perfeita segurança, a Siquem, na terra de Canaã, acampando junto à cidade. Comprou a terra em que levantou o acampamento à família de Hamor, o pai de Siquem, pela quantia de cem peças de dinheiro. Depois erigiu naquele mesmo sítio um altar a que chamou o Altar do Deus de Israel. Um dia, Dina, a filha de Leia, quis ir visitar as raparigas das proximidades. Siquem, filho de Hamor o heveu e rei daquela terra, viu-a e deitou-se com ela. E tendo ficado profundamente apaixonado pela moça procurou falar-lhe ao coração de forma a ganhar a sua afeição. Falou também com o pai, pedindo-lhe que interviesse, porque queria casar com ela. Jacob, naturalmente, veio a saber o que Siquem tinha desonrado a sua filha Dina, mas não disse nada antes que os seus filhos, que estavam a guardar o rebanho naquelas paragens, regressassem a casa. O rei Hamor, pai de Siquem, veio então falar com Jacob, tendo chegado no momento em que também os rapazes regressavam a casa. Estes ficaram tremendamente aborrecidos e tristes com esse facto, pois que o tomaram como um insulto para Israel, como um ultraje que tivesse sido feito a eles próprios. Hamor disse a Jacob: “O meu filho está verdadeiramente apaixonado pela tua filha e quer a todo o custo casar com ela. Peço-te que a deixes ser sua mulher. Além disso, convidamo-vos a ligarem-se connosco; a viverem aqui no nosso meio e a deixarem as vossas moças casarem com os nossos rapazes e as nossas filhas casarem com os vossos moços. Poderão instalar-se onde quiserem e negociar como quiserem.” Depois foi a vez de Siquem falar ao pai e aos irmãos de Dina: “Peço-vos muito a vossa simpatia e que a deixem ser minha mulher”, suplicou. “Poderei dar-vos tudo o que quiserem. Pagarei o que me pedirem como dote, para que possa tê-la por mulher.” Contudo, os irmãos dela mentiram-lhe, enganando-o; isso por causa da ação ultrajante que Siquem tinha praticado. Por isso, disseram: “Não podemos autorizar porque não estás circuncidado. Seria uma desgraça para ela casar com um homem nas tuas condições. A menos que faças o que te dissermos e que todo o homem entre vocês se circuncide. Nesse caso, poderá haver casamentos entre nós, poderemos viver aqui e unirmo-nos, de forma a tornarmo-nos um só povo. De outra forma, tomaremos a rapariga e iremos embora.” Tanto Hamor como o filho, Siquem, concordaram satisfeitos. Este não perdeu tempo em satisfazer o seu pedido, pelo muito que amava Dina. Ele tinha a certeza que nenhum dos outros homens da cidade se oporia àquela ideia, porque era muito respeitado no meio da sua gente. Portanto, Hamor e Siquem apresentaram-se perante o conselho da cidade e expuseram o assunto: “Esta gente é nossa amiga. Convidemo-los a viverem entre nós; negociemos com eles e que se façam casamentos livremente entre eles e nós. Mas isto só poderá fazer-se sob uma condição, que todos os homens entre nós sejam circuncidados, tal como eles. Se aceitarmos esta condição, tudo o que eles têm, gado, animais e bens, virá a ser nosso, e a nossa terra tornar-se-á mais rica. Vamos, demos o nosso consentimento ao que pedem e poderão estabelecer-se aqui connosco.” Todos estiveram de acordo, tendo todos sido circuncidados. Contudo, três dias mais tarde, quando as suas feridas ainda estavam mal curadas, muito doridas e sensíveis, dois dos irmãos de Dina, Simeão e Levi, pegaram nas espadas, entraram na cidade sem encontrar oposição de ninguém, e assassinaram todos os homens, incluindo Hamor e Siquem. Recuperaram Dina da casa de Siquem e regressaram ao acampamento. Depois vieram os filhos de Jacob e saquearam a cidade; tudo por causa da desonra que ali tinha sido feita contra a sua irmã. Levaram o que encontraram tanto dentro como fora da povoação: ovelhas, gado bovino e jumentos. E levaram ainda mulheres e crianças, despojando-os de tudo o que tinham em casa. Jacob teve de dizer a Simeão e a Levi: “Vocês tornaram-me repelente para com o povo desta terra, os cananeus e os perizeus. Sendo nós tão poucos, facilmente virão contra nós para nos destruir.” “Seria justo que ele tivesse tratado a nossa irmã como uma prostituta?”, retorquiram. Depois disto, Deus disse a Jacob para ir até Betel e estabelecer-se lá. “Levanta ali um altar”, acrescentou Deus, “para adorares a Deus que te apareceu quando fugias do teu irmão Esaú.” Jacob deu também instruções a toda a sua gente para destruirem os ídolos que tivessem trazido consigo, se purificassem e vestissem roupa limpa. “Porque vamos para Betel”, disse, “e tenho a intenção de construir lá um altar a Deus que respondeu às minhas orações, na altura em que atravessava grande angústia e tristeza, e que sempre esteve comigo por onde tenho andado.” Então deram a Jacob todos os ídolos que traziam, os pendentes das pulseiras, os brincos das orelhas, e enterraram tudo debaixo dum carvalho perto de Siquem. Depois partiram dali. E Deus semeou o terror sobre as povoações de toda aquela região, de tal forma que não houve ninguém que tivesse coragem para os perseguir. Por fim, chegaram a Luz, também chamada Betel, em Canaã. Jacob erigiu um altar e chamou-lhe Deus de Betel, porque tinha sido ali mesmo que Deus lhe aparecera quando fugia de Esaú. Pouco depois faleceu Débora, a velha ama de Rebeca, tendo sido enterrada sob um carvalho num vale um pouco abaixo de Betel, a que puseram o nome de Carvalho do Choro. Depois da passagem de Jacob por Betel, a caminho de Padan-Arã, Deus apareceu-lhe uma vez mais e abençoou-o; tendo-lhe dito: “Não te chamarás mais Jacob, mas Israel. Eu sou o Deus Todo-Poderoso! Frutifica e multiplica-te! De ti sairá uma nação e uma multidão de povos, e haverá reis entre os teus descendentes. Dar-te-ei a terra que ofereci a Abraão e a Isaque; não só a ti como aos teus descendentes.” Deus subiu dele, do lugar onde falara com ele. Após esse aparecimento Jacob fez uma coluna de pedra no lugar em que Deus lhe aparecera, derramou vinho sobre ela, como oferta a Deus, e ungiu-a com óleo. Chamou a esse lugar, Betel, porque Deus lhe tinha falado ali. Deixando Betel, ele e os seus continuaram em direção a Efrata. Raquel começou a ter as dores de parto quando ainda estavam a uma certa distância desse local. Após um parto muito difícil, a parteira exclamou: “Não tenhas medo! É outro rapaz!” Raquel, antes de dar o seu último suspiro, porque morreu, teve ainda tempo de chamar ao menino Ben-Oni (filho do meu sofrimento). Mas o pai preferiu chamar-lhe Benjamim (filho da direita). Foi pois desta forma que Raquel faleceu. E enterraram-na junto ao caminho de Efrata, também chamada Belém. Jacob levantou um memorial de pedras sobre o seu túmulo. Ainda lá está atualmente. Israel prosseguiu a sua viagem e acampou para lá da torre de Eder. Foi nessa altura que Rúben dormiu com Bila, concubina do seu pai. Contudo, Jacob veio a sabê-lo. Seguem-se os nomes dos doze filhos de Jacob. Os filhos de Leia: Rúben, o filho mais velho de Jacob, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulão. Os filhos de Raquel: José e Benjamim. Os filhos de Bila, a criada de Raquel: Dan e Naftali. E os filhos de Zilpa, a criada de Leia: Gad e Aser. Estes são pois os filhos que lhe nasceram em Padan-Arã. Jacob chegou por fim junto de seu pai Isaque, em Mamre, em Quiriate-Arba, agora chamada Hebrom, onde também tinha vivido Abraão. Esta é a lista dos descendentes de Esaú também chamado Edom. Esaú casou com três raparigas da terra em que morava, Canaã: Ada, filha de Elom, o hitita, Aolibama, filha de Aná e neta de Zibeão, o heveu, e Basemate, sua prima, porque era filha de Ismael e irmã de Nabaiote. Ada deu-lhe um filho chamado Elifaz e Basemate um outro de nome Reuel. De Aolibama teve Jeús, Jalam e Coré. Todos estes lhe nasceram em Canaã. Estes são os seus descendentes, os edomitas que lhe nasceram no monte de Seir. Dos filhos de Reuel, filho de Esaú, os chefes foram Naate, Zera, Samá e Mizá. Estes eram chefes dos descendentes de Reuel, na região de Edom, e eram descendentes de Basemate, mulher de Esaú. Os filhos de Lotã, filho de Seir, foram Hori e Homã. Lotã tinha ainda uma irmã, Timna. Os filhos de Sobal foram: Alvã, Manaate, Ebal, Sefô e Onã. Os filhos de Zibeão foram: Aia e Aná. Este foi aquele que descobriu umas fontes de água quente no deserto, quando apascentava os jumentos do seu pai. Os filhos de Aná foram: Disom e Aolibama. Os filhos de Disom foram: Hendã, Esbã, Itrã e Querã. Os filhos de Eser foram: Bilã, Zaavã e Acã. Os filhos de Disã foram: Uz e Aram. Segue-se a lista dos reis de Edom que reinaram antes dos reis de Israel dominarem a terra. Bela, filho de Beor, reinou em Edom e viveu na cidade de Dinabá. Quando morreu, sucedeu-lhe o rei Jobabe, filho de Zera, originário de Bozra. Depois sucedeu-lhe Husão da terra dos temanitas. Quando este faleceu, sucedeu-lhe o rei Hadade, o filho de Bedade, o qual destruiu os exércitos dos midianitas nos campos de Moabe. O nome da sua cidade era Avite. Sucedeu-lhe Samela de Masreca. Quando Samela morreu, subiu ao trono Saul, da cidade de Reobote, junto ao rio Eufrates. Ao morrer, sucedeu-lhe Baal-Hanã, filho de Acbor. Por fim, sucedeu-lhe Hadar da cidade de Paú. O nome da mulher deste último era Metabel, filha de Matrede e neta de Mezaabe. Seguem-se os nomes dos chefes descendentes de Esaú, segundo os seus clãs e segundo as localidades em que se estabeleceram e que ficaram com os seus próprios nomes: clã de Timna, clã de Alva, clã de Jetete, clã de Aolibama, clã de Elá, clã de Pinom, clã de Quenaz, clã de Temã, clã de Mibzar, clã de Magdiel e clã de Irã. Cada um destes clãs deu o seu nome à área que habitavam e ocupavam. São estes os edomitas descendentes de Esaú. Jacob estabeleceu-se na terra de Canaã, onde o seu pai vivia. Esta é a história de Jacob. José, filho de Jacob, tinha agora 17 anos. A sua atividade era, na companhia dos seus irmãos filhos de Bila e de Zilpa, apascentar os rebanhos do pai. Contudo, José ia lhe contar as coisas más que os irmãos praticavam. Israel preferia José aos outros filhos, porque nascera quando já tinha muita idade. Um dia, resolveu dar-lhe uma túnica de cores garridas. Os irmãos deram-se conta da parcialidade do pai em relação a José e passaram a querer-lhe mal; eram incapazes de lhe falar com bons modos. Certa noite José teve um sonho e foi contá-lo aos irmãos; estes, evidentemente, passaram a gostar ainda menos dele. “Ouçam o meu sonho!”, pediu-lhes. “Estávamos no campo atando molhos e o meu ficou de pé, enquanto os vossos o rodeavam e se inclinavam perante ele!” “Ah, sim? Então é porque queres ser o nosso rei, não é isso? Queres mandar na gente!” E odiaram-no, não só por causa do sentido do sonho, mas até pelas palavras e pela forma como contou aquilo. Mais tarde, teve um novo sonho e foi de novo contá-lo aos irmãos: “Olhem, tive outro sonho! Desta vez era o Sol, a Lua e onze estrelas que se inclinavam na minha frente!” Desta vez foi também contar o sonho ao pai. Este repreendeu-o: “Que é que isso quer dizer? Não me digas que eu, a tua mãe e os teus irmãos ainda viremos a inclinarmo-nos na tua presença!” Os irmãos estavam furiosos; contudo o pai refletia intimamente no sentido daquilo. Certa vez, os irmãos de José foram levar os rebanhos a pastar para os lados de Siquem. Um homem reparou que ele andava perdido por aquelas terras e perguntou-lhe o que é que procurava. “Os meus irmãos e os rebanhos. Sabes onde estão?” “Sim. Realmente já aqui não estão. Ouvi-os dizer que iam para Dotã.” José seguiu nessa direção e encontrou-os ali. Mas quando eles o viram aproximar-se, tendo-o reconhecido à distância, combinaram matá-lo. “Cá vem o sonhador-mor! Vamos matá-lo e lançamo-lo num destes poços sem água e dizemos ao pai que foi uma fera que o comeu; veremos o que é feito dos seus sonhos!” Rúben, porém, queria poupar-lhe a vida: “Não, não lhe tiremos a vida; não vamos derramar sangue; lancemo-lo apenas no poço e assim virá a morrer sem que lhe toquemos.” Porque tinha a intenção de ir lá depois tirá-lo e entregá-lo ao pai. Quando José chegou junto deles, tiraram-lhe a túnica de cores garridas e lançaram-no dentro dum poço que não tinha água. Depois foram comer. De repente, repararam numa caravana de camelos que se aproximava, vindo na sua direção; eram negociantes ismaelitas que transportavam especiarias, bálsamo e mirra, de Gileade para o Egito. “Ouçam lá”, disse Judá aos outros, “e se vendêssemos José a estes ismaelitas. Porque haveríamos de o matar e ficar com esse peso na consciência? É muito melhor isso do que ficarmos com a responsabilidade da sua morte; vendo bem as coisas, sempre é nosso irmão!” E os outros concordaram. Assim, quando os ismaelitas, que eram comerciantes midianitas, chegaram, os irmãos de José tiraram-no do poço e venderam-no por vinte peças de prata, tendo sido levado, dessa forma, para o Egito. Entretanto, Rúben, que não se encontrava presente quando o irmão foi vendido, veio ao poço para tirar de lá José. Quando verificou que já ali não estava, rasgou as roupas que vestia. “Desapareceu o moço! E agora, o que é que eu faço?”, lamentava-se junto dos irmãos. Estes mataram um bode, sujaram com o sangue a túnica de José e mandaram-na para o pai, pedindo-lhe que a identificasse. “Encontrámos esta túnica. Não será a do teu filho José?” O pai reconheceu-a imediatamente. “Sim, é a túnica do meu filho. Foi certamente um animal feroz que o desfez em pedaços e o tragou.” Então Israel rasgou as suas vestimentas; envolveu o corpo com saco e lamentou e chorou a morte do filho durante muitas semanas. A família bem tentava consolá-lo, mas era em vão. “Quero continuar de luto até descer ao mundo dos mortos para ir ter com o meu filho!”, dizia ele a chorar. Enquanto isto, no Egito os negociantes venderam José a Potifar, alta individualidade da corte do Faraó, chefe militar da sua casa e responsável pelo palácio real. Por esta altura, Judá deixou a sua casa e foi viver em Adulão com um homem chamado Hira. Aí encontrou uma rapariga cananita, com quem casou, filha de um indivíduo de nome Suá. Quando Er, o mais velho, cresceu, Judá arranjou-lhe casamento com uma moça de nome Tamar. Er tinha uma conduta muito perversa aos olhos do Senhor, por isso, teve de lhe tirar a vida. Então Judá disse a Onã, o irmão a seguir a Er: “Deves casar com Tamar, pois é o que a nossa lei exige do irmão de um homem que tenha morrido, de forma a que o primeiro filho que tiveres com ela seja herdeiro do teu irmão.” Contudo, Onã não estava de acordo em ter filhos que não viessem a ser considerados seus; por isso, embora tenha aceitado esse casamento, quando se deitava com ela deixava a sua semente desperdiçar-se fora dela, para evitar ter filhos que se tornassem descendentes do irmão. Isto que ele fazia era reprovado pelo Senhor; por isso, também lhe tirou a vida. Então Judá disse a Tamar, a sua nora, que não se casasse, mas voltasse para a casa do pai e ali ficasse, no estado de viúva, até que Sela, o seu filho mais novo crescesse e tivesse idade bastante para casar com ela. Contudo, ao dizer isto a Tamar tinha receio que Deus também viesse a matar este filho, tal como os outros dois. E Tamar foi para casa dos seus pais. Com o decorrer do tempo, veio também a morrer a mulher de Judá. Este, depois de passar o tempo do luto, foi com seu amigo Hira, o adulamita, vigiar o trabalho dos tosquiadores dos seus rebanhos em Timna. E disseram a Tamar que o sogro ia a Timna ver os trabalhos da tosquia. Ela, constatando que Judá não tinha nenhuma intenção de deixar que o filho mais novo casasse com ela, apesar do moço já ser grande, tirou os vestidos de viúva, cobriu o rosto com um véu, arranjou-se de forma a que não a reconhecessem e foi sentar-se à beira do caminho, à entrada da localidade de Enaim, na estrada para Timna. Judá reparou nela, quando passava por aquele sítio, e tomou-a por uma mulher que se quisesse vender, pois não a reconheceu por ter o rosto coberto. Por isso, parou e foi ter com ela, convidou-a a deitar-se com ele, não sabendo que se tratava da nora. “Quanto me dás?”, perguntou-lhe. “Mando-te um cabrito do meu rebanho.” Ela replicou, “E que penhor me dás como garantia do que prometes?” “Bom, que queres tu que te dê?”, perguntou. “Quero o teu selo identificador, o teu cordão e a vara que tens na mão”, respondeu-lhe. Ele aceitou e ela foi com Judá e ficou grávida. Depois tornou a pôr os vestidos de viúva que trazia de costume. Judá pediu ao seu amigo Hira, o adulamita, que levasse à mulher o cabrito prometido e trouxesse os penhores que lhe deixara. Contudo, quando foi à procura dela, não conseguiu encontrá-la. E andou a perguntar aos homens do sítio se sabiam da prostituta ritual que se punha junto ao caminho, ali à entrada de Enaim. “Nós aqui nunca tivemos uma mulher dessas”, responderam-lhe. E voltou para Judá, dizendo-lhe que não a tinha encontrado e contando-lhe o que os homens de lá tinham dito. “Paciência. Que fique então com o que já lá tem, para que não venhamos a cair em ridículo. Fizemos o que devíamos; mandei-lhe o cabrito, mas tu não a achaste.” Uns três meses mais tarde vieram avisar Judá que Tamar, a sua nora, estava grávida, por se ter tornado prostituta. “Tragam-na, para que seja queimada!”, gritou ele. Quando a foram buscar ela mandou um recado ao sogro: “O homem que é dono deste selo identificador, deste cordão e desta vara é o pai do filho que estou à espera. Reconheces?” Judá admitiu que as coisas eram dele e disse: “Ela é mais justa do que eu, porque não cumpri a minha promessa de lhe dar o meu filho Sela.” No entanto, não casou com ela. No devido tempo Tamar deu à luz dois gémeos. Quando estavam a nascer, a mão de um deles apareceu de fora e a parteira pôs-lhe um fio vermelho à volta do pulso, assinalando-o como tendo sido o primeiro a aparecer. Depois tornou a meter a mão dentro e foi o outro que veio a nascer primeiro. “Como é que conseguiste nascer primeiro?”, disse ela. E ficou a ser chamado Perez (brecha). Logo depois nasceu o irmão com o fio no pulso e chamaram-lhe Zera (brilho). Quando José chegou ao Egito, cativo dos negociantes ismaelitas, foi comprado por Potifar membro da corte do Faraó. Potifar era chefe da casa militar do rei e responsável pelo palácio real. O Senhor estava com José, na casa do seu senhor, de tal forma que tudo o que fazia resultava bem. O próprio Potifar reparou nisso e deu-se conta de que o Senhor estava com José de uma forma especial. José tornou-se o seu favorito e depressa ficou com a responsabilidade da administração da casa de Potifar e dos seus negócios pessoais. Logo o Senhor começou a abençoar o próprio Potifar por causa de José. Todos os seus assuntos corriam bem e floresciam as propriedades no campo, assim como os rebanhos que tinha; de tal maneira que Potifar acabou por deixar sobre José a responsabilidade de tudo o que era seu. Não se preocupava fosse com o que fosse a não ser com o que queria comer cada dia. José era um belo moço com uma apresentação muito agradável. Por esse tempo a mulher de Potifar começou a reparar nele e acabou por convidá-lo a dormir consigo. Ele recusou: “O meu patrão confia-me tudo o que tem. Ele próprio não tem mais autoridade do que eu aqui em casa! Não me privou de coisa nenhuma a não ser de ti, porque és a sua mulher. Como é que eu ia fazer uma coisa assim tão grave? Seria um grande pecado contra Deus!” Ela continuava a convidá-lo todos os dias, apesar de ele sempre recusar. Um dia, estava José em casa cumprindo os serviços habituais e ninguém mais se encontrava ali. Então ela veio e puxou-o pela camisa, incitando-o a ir com ela. Mas ele preferiu deixar-lhe a camisa nas mãos e afastar-se rapidamente para fora de casa. Quando viu que lhe tinha ficado com a camisa, começou a gritar, de tal forma que as pessoas dali perto, à volta da casa, acorreram. “O meu marido trouxe para casa este escravo hebreu para nos ofender!”, exclamava. “Tentou violentar-me e, quando comecei a gritar, fugiu; mas deixou aqui a camisa.” E pôs a roupa perto dela. Quando o marido chegou contou-lhe a sua história: “Esse escravo hebreu que trouxeste cá para casa veio ter comigo e tentou violentar-me. Salvei-me porque comecei a gritar com toda a força. Ele fugiu, mas deixou aqui a camisa.” Ao ouvir aquilo o marido ficou furioso. Pôs José na prisão, onde se encontravam outros presos do rei. Contudo, também ali o Senhor continuava ao lado de José, beneficiando-o com a sua bondade; e fez com que caísse na simpatia do chefe carcereiro. Por isso, este último depressa lhe confiou toda a responsabilidade da administração da prisão, e até todos os outros prisioneiros estavam ao seu cuidado. O carcereiro não se ocupava de mais nada, porque José tomava conta de tudo, e como o Senhor estava com ele tudo lhe corria bem. meteu-os ambos na mesma prisão em que estava José, na fortaleza da guarda de Potifar, seu chefe militar. Ali ficaram por bastante tempo e o carcereiro pô-los sob a vigilância de José. Certa noite cada um deles teve um sonho. Na manhã seguinte José reparou que estavam perturbados com alguma coisa e perguntou-lhes: “O que é que se passa com vocês?” “É que tivemos, cada um de nós, um sonho e não há aqui ninguém que nos explique o seu significado.” José respondeu: “Bem, isso de interpretar sonhos é com Deus; mas contem-me lá o que sonharam.” O copeiro-chefe foi o primeiro a contar: “Eu sonhei com uma vinha que tinha três ramos com rebentos e que florescia; e logo apareceram cachos maduros. Como tinha na mão a taça do Faraó, peguei nos cachos, espremi-os e dei-lhe a beber.” “Eu sei o significado do teu sonho”, disse José. “Os três ramos são três dias. Dentro de três dias o Faraó vai tirar-te da prisão e colocar-te de novo na função de copeiro que tinhas antes. Peço-te que te lembres de mim quando isso acontecer e retomares os favores do rei. Fala-lhe de mim para que me tire daqui; porque fui roubado da minha terra, dos hebreus, e estou preso sem nada ter feito para o merecer.” Quando o padeiro-chefe viu que o sonho do colega tinha uma explicação tão favorável, quis também contar o seu. “Quanto a mim, no meu sonho, tinha três cestos à cabeça. No cesto de cima havia toda a espécie de doçarias e de bolos ao gosto do Faraó; mas as aves vieram e comeram tudo.” “Esses três cestos também são três dias”, disse-lhe José. “Daqui a três dias mandará cortar-te a cabeça, pendurar o corpo num poste e as aves virão comer-te a carne.” Três dias depois o Faraó festejou o seu aniversário e convidou para um banquete toda a gente da sua corte. Mandou chamar o copeiro-chefe, assim como o padeiro-chefe, e foram buscá-los à prisão. Ao primeiro repô-lo no seu cargo anterior; mas ao segundo mandou enforcá-lo, tal como José tinha previsto. No entanto, o copeiro-chefe do Faraó depressa esqueceu o que se passara entre ele e José. Certa noite, dois anos inteiros depois disto, o Faraó sonhou que estava em pé, à beira do rio Nilo, numa das suas margens, quando de repente começaram a subir do rio sete vacas gordas, de belíssimo aspeto, e começaram a pastar por ali. Logo a seguir sete outras vacas vieram também do rio; mas eram muito magras e de aspeto miserável. Chegaram-se e puseram-se ao lado das outras ali na margem do rio; até que começaram a comer as vacas gordas. Nesse ponto, o Faraó acordou. Passado pouco tempo tornou a adormecer e teve um segundo sonho. Desta vez viu sete espigas cheias e do melhor aspeto, brotando do mesmo pé. Logo a seguir apareceram, saindo igualmente desse pé, outras sete espigas. Mas estas últimas, definhadas e queimadas pelos ventos orientais, puseram-se a devorar as outras que eram cheias e belas. Nisto, acordou o Faraó: era um sonho. Na manhã seguinte, relembrando os sonhos que tivera, ficou muito preocupado, cismando no significado daquilo. Chamou os magos e os sábios do Egito e contou-lhes tudo. No entanto, nenhum foi capaz de dar sugestão alguma sobre o sentido das imagens com que sonhara. Só nessa altura é que o copeiro-chefe se lembrou de falar ao rei: “Tenho de confessar neste momento a minha culpa! Há uns tempos atrás, quando o rei estava muito indignado contra dois de nós e nos pôs, a mim e ao padeiro-chefe, na prisão, na fortaleza do chefe da casa militar do rei, o padeiro-chefe e eu também tivemos um sonho cada um, uma certa noite. E contámos os nossos sonhos a um moço hebreu que ali estava que era escravo do chefe da casa militar do Faraó; ele deu-nos a explicação dos sonhos. A verdade é que tudo aconteceu como ele disse: Eu fui reposto nas minhas funções de copeiro e o padeiro foi executado e pendurado num poste.” O Faraó mandou logo chamar José. Fizeram-no sair do cárcere e depois de se barbear e de mudar de roupa, veio à presença do Faraó. “Tive um sonho a noite passada”, disse-lhe o Faraó, “e ninguém conseguiu explicá-lo. Mas ouvi dizer que consegues interpretar sonhos e por isso te chamei.” “Por mim nada posso fazer”, disse José, “mas Deus poderá dar-te uma resposta que te tranquilize.” Então o Faraó contou-lhe o sonho: “Eu estava de pé numa das margens do rio Nilo, quando de repente sete vacas gordas e de ótimo aspeto vieram do rio e começaram a pastar por ali. Depois outras sete vacas subiram também do rio até à margem, mas eram magras e de ar miserável; na realidade nunca tinha visto antes animais de aspeto tão pobre e enfraquecido. E estas últimas começaram a comer as gordas. Mas a verdade é que, mesmo depois de as terem comido, continuavam magras como dantes. Nessa altura, acordei. Pouco tempo depois, nessa mesma noite, tive um novo sonho. Desta vez eram sete espigas, saindo do mesmo pé. As sete espigas eram todas de belo aspeto e cheias de grão. A seguir, ainda do mesmo pé, saíram mais sete espigas, mas finas e ressequidas por causa do vento leste. Estas últimas engoliram as cheias. Contei tudo isto aos meus magos, mas nenhum deles me soube dar uma explicação.” “Ambos os sonhos têm o mesmo significado”, disse José ao Faraó. “Deus quis dar-te a conhecer o que vai fazer. As sete vacas gordas, tal como as sete espigas cheias, significam que vai haver sete anos de prosperidade. As outras sete vacas magras, assim como as sete espigas definhadas, indicam que vai haver sete anos de fome logo após os sete anos de riqueza. Dessa forma, Deus te revela o que vai fazer. Os próximos sete anos serão um período de grande prosperidade em toda a terra do Egito. Mas os sete anos seguintes serão de tanta fome que ninguém se lembrará da prosperidade passada. A fome consumirá a terra. Será tão terrível que toda a fartura dos bons anos passará da memória das gentes. O facto de o sonho ter sido duplicado dá uma força especial ao seu significado, confirmando que aquilo que eu disse certamente virá a dar-se em breve. A minha sugestão é que procures um homem entendido e sábio e o ponhas como responsável de uma política agrícola a nível nacional; que o Faraó institua governadores em todo o país com a missão de recolher um imposto de um quinto de todas as colheitas, durante os próximos sete anos. Eles deverão recolher todo o trigo que sobra durante estes bons anos que estão para vir e depois devem armazenar em cada uma das cidades, às ordens do Faraó, para depois alimentar o país. Assim, haverá comida suficiente nos sete anos de fome que hão de vir depois. Se não, será inevitável um grave desastre!” Estas sugestões de José foram muito bem recebidas pelo Faraó e pelos seus conselheiros. Enquanto discutiam quem seria designado para tal tarefa, o Faraó disse: “Quem melhor do que o próprio José poderia desempenhar esse cargo? É uma pessoa em quem existe claramente o Espírito de Deus.” E voltando-se para José: “Visto que Deus te revelou a ti o significado destes sonhos, és sem dúvida o homem mais entendido do país. Portanto, nomeio-te responsável por todo este projeto. Tudo o que disseres terá validade em toda a terra do Egito. Só eu estarei acima de ti em autoridade.” Então disse mais o Faraó a José: “Fica sabendo que te nomeio responsável sobre toda a terra do Egito.” Depois o Faraó colocou o seu próprio anel de selar no dedo de José como sinal de autoridade; deu-lhe belas roupas de linho da melhor qualidade, pôs-lhe ainda um colar de ouro ao pescoço. Além disso, o Faraó deu-lhe o carro destinado ao seu ajudante principal, e por toda a parte por onde passava gritava-se “Ajoelhem-se!” Faraó fez esta declaração a José: “Eu, o Faraó, declaro que, sem a tua autorização, ninguém poderá fazer seja o que for no Egito.” E ainda lhe deu o título oficial de Safnate-Panea. E deu-lhe por mulher Asenate, filha de Potífera, um sacerdote em Om. Depois José saiu a inspecionar toda a terra do Egito. Tinha 30 anos de idade quando entrou ao serviço do rei. Despediu-se então deste e começou a visitar toda a nação. Nos sete anos que se seguiram a terra produziu com fartura. Durante todo esse tempo José requisitou para o governo parte de tudo o que se produzia, armazenando nas cidades o alimento produzido nos campos dos arredores. No fim dos sete anos os celeiros estavam repletos, e era tanto o abastecimento que nem havia preocupação de contar e registar. Por este tempo, antes que viessem os sete anos de fome, nasceram dois filhos a José e Asenate, sua mulher, a filha de Potífera, sacerdote de Om. José chamou ao mais velho Manassés, querendo dizer com isso que Deus o tinha feito esquecer todas as angústias do passado, assim como a tristeza da perda da família. Ao segundo chamou Efraim, “Porque Deus me fez prosperar na terra em que fui escravo”, disse. Por fim, os sete anos de abundância terminaram. E iniciaram-se os sete anos de fome como José previra. Começou a haver falta de alimentos em todas as terras circunvizinhas; mas no Egito havia o suficiente. O povo começou a sentir a falta de provisões e vieram pedir ao Faraó que fornecesse alimentos; o Faraó mandava as gentes a José: “Vão ter com ele e façam o que vos disser.” Dessa forma, ainda que por toda a terra a fome apertasse as populações, José pôde abrir os postos de armazenamento e vender mantimento aos egípcios; até mesmo aos que das terras próximas vinham ao Egito comprar provisões. Ao ouvir que havia alimento no Egito, Jacob disse aos filhos: “Para que é que estão aí todos a olhar uns para os outros? Eu ouvi que havia alimentos disponíveis no Egito. Vão já e comprem o que puderem, para não morrermos de fome!” Assim, desceram os dez irmãos mais velhos de José ao Egito para comprar comida. Jacob não quis que o mais novo, Benjamim, fosse com eles com medo que lhe viesse a acontecer algum acidente. Chegaram os filhos de Israel ao Egito, com muita outra gente das terras vizinhas, na intenção de comprar trigo, porque a fome apertava tanto em Canaã como nos outros sítios. Visto que José era o governador geral de todo o Egito e o responsável pela venda das provisões, foi a ele que os seus irmãos se chegaram, inclinando-se profundamente, com o rosto em terra. José reconheceu-os logo, mas não se manifestou. Falou-lhes asperamente e interpelou-os: “Donde é que vêm?” Eles responderam: “De Canaã. Viemos em busca de trigo.” José reconheceu os seus irmãos, mas eles não o reconheceram. E José lembrou-se dos sonhos que tinha tido havia tanto tempo. E continuou: “Vocês são mas é espias! Vieram cá para ver como é que a terra ficou enfraquecida.” “Não, não senhor!”, exclamaram. “Viemos unicamente à procura de alimentos. Somos todos irmãos e gente honesta. Não somos espias, de maneira nenhuma!” “Isso é que são!”, retorquiu-lhes, insistindo. “Vieram para espiar a nossa fraqueza.” “Senhor governador, garantimos-lhe que somos apenas uma família de doze irmãos; o nosso pai está lá em Canaã; o nosso irmão mais novo ficou com ele, e um de nós já morreu.” “Como é que isso me garante que não são espias? Vamos verificar se tudo isso que me dizem é verdade. Garanto-vos, pela vida do próprio Faraó, que não deixarão o Egito enquanto o vosso irmão mais novo não vier aqui. Que um de vocês vá lá e o traga. Os outros ficarão aqui presos. Assim, haveremos de verificar a verdade de tudo isso. Se chegarmos à conclusão que não têm nenhum irmão mais novo é porque são realmente espias.” E pô-los sob a vigilância de um guarda, todos juntos, durante três dias. Ao terceiro dia disse-lhes: “Eu sou uma pessoa que teme a Deus; por isso, vou dar-vos uma oportunidade de se defenderem desta acusação. Terão assim ocasião de mostrar se são gente honrada. Ficará apenas um em detenção e os outros poderão ir levar o trigo às famílias; mas na condição de me trazerem o vosso irmão mais novo. Dessa forma, saberei se me dizem a verdade. Se assim for, poupar-vos-ei.” Eles concordaram. E falando uns com os outros diziam: “Isto tudo aconteceu-nos por causa do que fizemos a José. Víamos bem o terror e angústia em que ele estava, como nos pedia aflitivamente que não lhe fizéssemos mal, e não nos importámos com isso!” “Eu não vos dizia?”, intervinha Rúben. “Insisti para que não lhe fizessem nada e não me ligaram. Agora vamos ter de dar contas pela sua vida!” Evidentemente que não pensavam sequer que José, que continuava ali perto deles, os entendia. Aliás, para comunicarem com ele, utilizavam um intérprete. José, contudo, teve de retirar-se, porque precisava de chorar sem que o vissem. Depois voltou outra vez e ele próprio escolheu Simeão e aprisionou-o na frente dos irmãos. Em seguida, deu ordens aos criados para lhes encherem os sacos de trigo, mas que pusessem também o dinheiro do pagamento dentro de cada saco, logo ao de cima; e além disso que lhes fossem fornecidas provisões para a viagem. Carregaram então os animais e partiram para casa com os sacos de trigo. Quando pararam de noite, um deles abriu o saco para tirar uma porção de grão para dar aos jumentos, e viu o dinheiro logo à entrada do saco! “Olhem!”, disse para os outros. “Devolveram-me o dinheiro. Está aqui!” E ficaram cheios de medo, e foi a tremer que disseram uns para os outros: “Mas que é isto que Deus nos tem estado a fazer?” Quando chegaram à casa do seu pai, na terra de Canaã, contaram-lhe tudo. “O governador, ministro do rei, falou-nos muito asperamente e tomou-nos por espias. Nós bem lhe dissemos que não, que não éramos espias, que éramos gente de bem. Que éramos doze irmãos, filhos do mesmo pai, que um deles tinha morrido, e que o mais novo tinha ficado em casa com o pai em Canaã. Então o homem disse-nos que havia uma maneira de saber se o que lhe contávamos era verdade: que deixássemos lá um dos nossos irmãos enquanto trazíamos para casa o alimento; que devíamos levar-lhe lá depois o irmão mais novo. Que assim é que havia de ver se éramos espiões ou gente honesta; se provássemos que falávamos verdade, então nos devolveria o irmão que ficou lá retido e poderíamos voltar quantas vezes quiséssemos para comprar o que fosse preciso.” Ao esvaziarem cada um o seu saco, depararam então com o respetivo dinheiro de paga, dentro das bolsinhas, logo ao de cima. E ficaram cheios de medo, eles e o pai. Jacob exclamou: “Vocês querem-me desfilhar! José já não existe. Simeão, já não o vejo. Querem-me levar agora Benjamim. É de mais! Tudo contra mim!” E Rúben respondeu ao pai: “Fica com os meus dois filhos e tira-lhes a vida, se eu não te trouxer Benjamim de volta. Fico responsável por ele.” Mas Jacob replicou: “Não. O meu filho não irá convosco, porque José já morreu e dos filhos da sua mãe só ele ficou. Se lhe acontecesse alguma coisa a minha velha vida não resistiria, e desceria até ao mundo dos mortos, com tanta tristeza.” A fome era gravíssima naquela terra. Quando o alimento que tinham trazido do Egito se acabou, o pai disse-lhes: “Vão lá outra vez e tornem a comprar mais algum trigo.” Judá respondeu-lhe: “Aquele homem claramente nos disse que não voltássemos lá sem o nosso irmão. Portanto, se estás preparado para deixar nosso irmão partir connosco, desceremos e compraremos comida para ti; mas se não deixares, também não iremos, porque aquele homem nos avisou: ‘Não me vereis o rosto, se o vosso irmão não vier convosco!’ ” “E porque haviam vocês de lhe ter dito que tinham mais um irmão?”, perguntou Israel. “Fizeram-me com isso um mal que vocês nem sabem!” “É que o homem perguntou-nos exatamente sobre a nossa família”, explicaram. “E quis saber se o nosso pai ainda vivia, se tínhamos mais algum irmão, e tivemos que lhe dizer tudo. Não podíamos adivinhar que nos ia exigir que lhe levássemos o mais novo!” Judá retomou a palavra: “Manda o moço comigo para podermos partir e não morrer à fome, nós, tu e os nossos filhos. Eu serei responsável por ele. Se não o trouxer então tornar-me-ei culpado de crime para contigo para sempre. Já tinha tido tempo de ter ido e regressado se nos tivesses deixado levá-lo connosco.” O pai por fim concordou: “Pois então, se não puder ser doutra forma, levem-no lá. Mas façam o seguinte: carreguem os animais com o que de melhor houver aqui da terra e levem a esse homem; bálsamo, mel, especiarias, mirra, pistachos e amêndoas. Tomem também o dinheiro a dobrar, para pagarem o primeiro fornecimento; pode muito bem ter havido um engano. Levem-lhe lá o vosso irmão e vão-se embora. Que Deus Todo-Poderoso vos conceda que esse homem revele misericórdia para convosco, liberte Simeão e deixe regressar Benjamim. Se tiver de os perder que os perca!” Assim fizeram. Prepararam os presentes, dinheiro a dobrar, desceram ao Egito e apresentaram-se perante José. Quando José viu que Benjamim estava entre eles disse ao mordomo da sua casa: “Estes homens hoje almoçam comigo; leva-os para casa e prepara-lhes um banquete.” Ele assim fez. Levou-os para o palácio de José. Eles ficaram paralisados de medo quando viram para onde iam. “É por causa do dinheiro que vinha nos sacos, com certeza”, diziam entre si. “Vai pretender que o roubámos e fica connosco como escravos, com os animais e tudo!” Ao chegar à entrada do palácio foram ter com o mordomo; disseram-lhe: “Senhor, quando da nossa primeira viagem ao Egito para comprar alimento, ao regressar a casa, parando de noite abrimos os sacos e deparámo-nos ao de cima com o dinheiro da paga do trigo. Aqui está ele. Trazemo-lo de volta com o necessário para comprar novas provisões. Aliás, não fazemos a menor ideia de como o dinheiro foi parar aos sacos.” “Não se preocupem com isso. O vosso Deus, o Deus dos vossos pais, foi certamente ele mesmo que pôs o dinheiro lá. De qualquer maneira o vosso pagamento foi feito e está em ordem.” Depois trouxe-lhes Simeão. Fê-los entrar no palácio, deu-lhes água para que se refrescassem e lavassem os pés. Mandou também dar alimento aos animais. Eles, por sua vez, prepararam os presentes para quando José chegasse ao meio-dia, porque já lhes tinham dito que haviam de almoçar ali. Quando José chegou apresentaram-lhe o que traziam, inclinando-se profundamente na sua frente. Ele perguntou-lhes como é que tinham passado e como estava o pai: “Esse homem idoso de quem me falaram ainda está vivo?” “Sim, está vivo e de boa saúde.” E tornaram a inclinar-se respeitosamente na frente dele. Atentando então melhor para o seu irmão Benjamim, filho da sua própria mãe, perguntou: “É esse o vosso irmão mais novo, aquele de quem me falaram?” E dirigindo-se a ele diretamente: “Que Deus te abençoe, meu filho.” E teve de se retirar por um momento, porque estava profundamente comovido com a presença do irmão, e teve de ir chorar para o seu quarto. Depois passou água pela cara e tornou a ir ter com eles, procurando conter-se e dizendo: “Vamos comer.” José pôs-se à parte numa mesa só para si. Os irmãos foram servidos noutra e os egípcios ainda numa outra separada; porque estes consideram indignos os hebreus e nunca comem com eles. José disse-lhes onde deviam sentar-se e colocou-os segundo as suas idades, do mais novo ao mais velho, para grande admiração deles! O alimento que lhes era servido vinha da sua própria mesa. Mas a Benjamim dava sempre cinco vezes mais do que aos outros. Assim, comeram e beberam, regalando-se todos juntos. No final José ordenou ao mordomo que lhes enchesse os sacos, com tanto quanto pudessem levar, e pusesse em cada saco, logo ao de cima, o dinheiro do pagamento. Também mandou que fosse posta no saco de Benjamim a sua própria taça de prata, também logo à entrada do saco juntamente com a bolsa contendo o seu pagamento pessoal. E o mordomo fez tudo como lhe tinha sido dito. Na manhã seguinte, assim que amanheceu, carregaram os animais e puseram-se a caminho. Mal tinham saído da cidade quando José disse ao seu mordomo que fosse atrás deles, os detivesse e lhes dissesse: “Porque é que me pagam o bem com o mal? Qual a razão que vos levou a roubarem a taça de prata do meu senhor, pela qual só ele bebia, e que usa para praticar adivinhação? Foi muito mau o que fizeram.” Ele assim fez; encontrou-os e falou-lhes segundo as instruções recebidas. “Do que é que estás a falar?”, perguntaram admirados. “Quem pensas que somos para nos vires acusar de uma coisa tão grave? Não fomos nós mesmos que devolvemos de Canaã o dinheiro que tinha sido posto nos sacos da primeira vez? Porque é que agora iríamos roubar a taça do teu senhor? Se encontrares essa taça na bagagem de algum de nós, que esse morra. E todos os outros nos tornaremos escravos do teu senhor.” “Está bem”, replicou. “Bastará que aquele que tiver a taça fique como escravo. Os outros poderão ficar livres.” Então rapidamente desceram os sacos de cima dos animais e abriram-nos. Ele começou a procurar, começando no do mais velho e acabando no do mais novo. E foi precisamente no saco de Benjamim que se achou a taça. Num gesto de desespero rasgaram a roupa, tornaram a carregar os jumentos e voltaram para a cidade. José estava ainda em casa quando os irmãos, com Judá à frente, lhe apareceram e se inclinaram na sua frente. “Porque é que fizeram uma coisa destas? Vocês sabem que um homem como eu pode adivinhar!” Judá respondeu: “Nós nada temos a alegar em nossa defesa! Que desculpa haveríamos de dar? Não temos forma de provar a nossa inocência. Deus está a castigar-nos pelos nossos pecados. Por isso, senhor, regressámos e aqui estamos para sermos teus escravos, tanto aquele em cujo saco foi encontrada a taça como nós próprios.” “Não, não é preciso”, esclareceu José. “Basta que fique como escravo o que ficou com a taça. Os outros podem regressar descansados a casa.” Então Judá aproximou-se mais e disse: “Meu senhor, deixa-me explicar-te só mais isto; tem paciência, só por mais um momento; nós bem sabemos que tens tanto poder como o próprio Faraó. Perguntaste-nos da outra vez se tínhamos um pai ou um irmão, além de nós. E nós respondemos que sim, que tínhamos um pai já muito idoso e um irmão rapazinho ainda, que nasceu quando o pai já era velho e cujo irmão, filho da mesma mãe que ele, já morreu. O pai tem por ele um grande amor. Tu, senhor, pediste-nos que o trouxéssemos cá para o conheceres. E nós até te dissemos que se o moço deixasse o pai este acabaria por morrer. Mas tu insististe, afirmando que se assim não fosse não poderíamos voltar. Ao regressarmos contámos ao nosso pai tudo o que tinhas exigido. Por isso, quando ele voltou a mandar-nos cá buscar trigo, nós replicámos que só o faríamos se o mais novo viesse connosco. O pai disse então: ‘Vocês sabem bem que a mãe deste mocinho só teve dois filhos; que o outro foi-se e nunca mais o vi, penso que por ter sido despedaçado por algum animal feroz. De tal forma que se me tiram desta vez o mais novo, e se lhe acontece alguma coisa, farão com que eu desça até ao mundo dos mortos, com tamanha tristeza.’ Eis a razão por que se voltarmos sem o moço, sendo que a vida do pai está tão ligada à dele, ao ver que não vem connosco, é capaz de morrer e seremos responsáveis de ter carregado de tristeza os seus cabelos brancos e o ter conduzido ao mundo dos mortos. Acontece, além disso, que eu me dei a mim mesmo perante o nosso pai como garantia de que o moço regressaria, e em como, se não o tornasse a levar para casa, me tornaria pessoalmente, e até à morte, culpado da gravidade de tal fatalidade. Por isso, peço-te insistentemente que me deixes ficar a mim como escravo e deixes o moço regressar com os irmãos. Porque não serei capaz de chegar junto do meu pai sem o moço. Não posso de maneira nenhuma assistir ao que inevitavelmente lhe acontecerá quando isso se der.” Então José não se pôde conter mais e mandou: “Saiam todos!” As pessoas que estavam ali a ver a cena retiraram-se, ficando ele sozinho com os irmãos. Depois começou a chorar, mas com tal emoção e intensidade que todos no palácio se deram conta disso, tendo a notícia chegado depressa aos ouvidos do Faraó. “Eu sou José! Meu pai ainda está vivo?” Os irmãos, apanhados de surpresa, estavam de tal maneira espantados que não podiam proferir uma palavra. “Cheguem-se cá!” Aproximaram-se e ele repetiu: “Eu sou José, o vosso irmão, que vocês venderam para o Egito. Mas não se aflijam por causa do que me fizeram, porque afinal foi Deus quem o planeou para que vocês todos pudessem continuar com vida. Esta fome, que já dura há dois anos, vai prolongar-se ainda por mais cinco, durante os quais não servirá de nada lavrar a terra; não haverá colheitas de espécie alguma. Deus mandou-me para aqui para vos conservar com vida, assim como à vossa descendência. É uma grande salvação que ele vos dá. Sim, com efeito foi Deus mesmo que me mandou para cá, e não vocês. Por isso, me pôs como conselheiro do Faraó, governador de toda esta nação, chefe sobre toda a terra do Egito. Agora vão, vão depressa ter com meu pai. Comuniquem-lhe que o seu filho José lhe manda dizer que é governador de toda a terra do Egito e que lhe pede que venha depressa ter com ele! Ficará a viver na fértil terra de Gosen e viverá assim perto de mim com os seus filhos, netos, rebanhos, o gado e tudo o que tem. Tomarei ao meu cuidado o seu sustento durante os cinco anos que ainda restam de fome. Para que não venham a empobrecer, ele e todos os seus. Vocês são testemunhas de todas estas promessas que acabo de fazer; vocês e o meu irmão Benjamim bem ouviram tudo o que eu disse. Contem igualmente ao meu pai a alta posição que aqui tenho no Egito, como tudo e todos dependem de mim, e tragam-no depressa para cá.” Então, chorando de alegria, abraçou-se a Benjamim e este chorou também com ele. Fez o mesmo com os outros irmãos, ficando ali a falar com eles. O Faraó rapidamente teve conhecimento do que se passava: “Chegaram os irmãos de José”, foram-lhe dizer. E toda a gente ficou muito satisfeita com aquilo, tanto o rei como os seus súbditos. O Faraó mandou dizer a José: “Diz aos teus irmãos que carreguem os animais, que regressem à terra de Canaã, que tragam o pai assim como as suas famílias e venham viver para cá.” E frisou: “O rei vos dará o melhor solo do Egito e comereis o que há de melhor no país. Diz igualmente aos teus irmãos que levem daqui carros do Egito para poderem transportar para cá as mulheres, os filhos e o vosso pai. Não se preocupem quanto àquilo que tenham de deixar na vossa terra porque o melhor que há por cá será vosso.” José deu-lhes carros, como o rei mandara, e provisões para a viagem; deu-lhes também roupas novas. Mas a Benjamim, em especial, deu-lhe cinco mudas de roupa e trezentas peças de prata. Ao pai mandou dez jumentos carregados de belos presentes do Egito e de toda a espécie de alimentos para a viagem. E mandou-os embora. “Sobretudo não discutam durante o caminho!”, avisou-os à despedida. E chegaram, vindos do Egito, à terra de Canaã, à casa do seu pai Jacob. “José está vivo!”, gritaram-lhe logo à chegada. “Ele é o governador de toda a terra do Egito!” Mas Jacob não reagiu, porque já não acreditava neles; o seu coração tinha perdido a sensibilidade. Mas quando começaram a dar-lhe conta de tudo o que José lhe mandava dizer, quando viu os carros e todos os carregamentos com os alimentos e com o que José lhe enviava, o seu espírito reviveu. E disse: “Agora acredito! O meu filho José está vivo e poderei vê-lo ainda antes de morrer!” Israel partiu com tudo o que tinha, veio a Berseba e ofereceu sacrifícios a Deus, o Deus do seu pai Isaque. Durante essa noite Deus falou-lhe numa visão: “Jacob! Jacob!” Respondeu, “Sim, aqui estou.” “Eu sou Deus, o Deus do teu pai. Não receies coisa alguma pelo facto de desceres ao Egito, porque farei com que te tornes numa grande nação. Eu irei contigo e com certeza um dia te farei regressar, embora venhas a morrer lá, com José ao teu lado até aos teus últimos momentos de vida.” Deixou então Berseba e os filhos trouxeram-no ao Egito, assim como todas as suas famílias, mulheres e meninos, transportando-os nos carros que o Faraó lhes tinha fornecido. Trouxeram igualmente todo o gado que possuíam e os haveres que tinham acumulado na terra de Canaã. Foi desta maneira que Jacob veio para o Egito acompanhado dos seus filhos, netos, filhas e netas – de todos os seus descendentes. Estes são os nomes dos filhos e netos que o acompanharam até ao Egito: Rúben, o mais velho, e os seus filhos: Enoque, Palu, Hezrom e Carmi. Simeão e os seus filhos: Jemuel, Jamim, Oade, Jaquim, Zoar e Saul, este último filho de uma mulher de Canaã. Levi cujos filhos eram: Gerson, Coate e Merari. Judá mais os seus filhos: Sela, Perez e Zera. Havia ainda Er, que era o mais velho, e Onã, o segundo, mas estes morreram-lhe na terra de Canaã. Os filhos de Perez eram: Hezrom e Hamul. Issacar e os seus filhos: Tola, Puva, Jó e Simrom. Zebulão, com os seus filhos: Serede, Elom e Jaleel. Estes eram os filhos da sua mulher Leia, não incluindo a filha Dina, que lhe nasceu em Padan-Arã. Ao todo eram trinta e três descendentes. Os outros foram: Gad e os seus filhos: Zifiom, Hagi, Suni, Ezbom, Eri, Arodi e Areli. Aser com os filhos: Imna, Isva, Isvi, Beria e Sera, irmã deles; Beria tinha também os seguintes filhos: Heber e Malquiel. Estas dezasseis pessoas eram os filhos de Jacob e de Zilpa, a criada de Leia, que lhe tinha dado o seu pai Labão. Da parte de Raquel, a outra mulher de Jacob: José e Benjamim, os dois únicos filhos que Raquel lhe deu. José teve dois filhos que lhe nasceram no Egito: Manassés e Efraim, cuja mãe era Asenate, filha de Potífera, sacerdote em Om. Benjamim teve os seguintes filhos: Bela, Bequer, Asbel, Gera, Naamã, Ei, Rôs, Mupim, Hupim e Arde. Estes foram os catorze descendentes de Raquel e Jacob. Dan que teve um filho: Husim. Naftali cujos filhos eram: Jazeel, Guni, Jezer e Silem. Estes foram os sete descendentes de Jacob por parte de Bila, a criada dada por Labão à sua filha Raquel. Portanto, na totalidade, todas as pessoas descendentes de Jacob que vieram para o Egito, sem contar com as mulheres dos seus filhos, foram sessenta e seis. No conjunto, com a família de José cujos filhos tinham já nascido no Egito, toda a casa de Jacob formava setenta indivíduos. Jacob enviou Judá adiante avisar José que estavam a caminho e que chegariam em breve à terra de Gosen. Assim aconteceu. José mandou aprontar o seu carro e correu ao seu encontro, em Gosen. Quando se viram, caíram nos braços um do outro e choraram longamente de emoção. Então Israel disse: “Agora posso morrer, porque te vejo de novo e sei que estás vivo!” E José, dirigindo-se aos irmãos e a toda a família, disse: “Vou avisar o Faraó que já cá estão, que já vieram da terra de Canaã para viverem comigo. Dir-lhe-ei também que vocês são pastores e criadores de gado, e que trouxeram convosco os rebanhos, animais e tudo o que têm. Desta forma, quando o Faraó vos chamar e perguntar o que fazem poderão dizer-lhe: ‘Sempre temos sido pastores, desde pequenos, como os nossos pais e antepassados.’ Se responderem assim, com certeza que vos deixará ficar a viver aqui nesta terra de Gosen.” Porque no resto do Egito os pastores eram considerados gente indigna. José veio à presença do Faraó e anunciou-lhe: “Meu pai e meus irmãos chegaram de Canaã com os rebanhos, o gado e tudo quanto têm. Encontram-se, para já, instalados na terra de Gosen.” E tinha trazido consigo cinco dos seus irmãos que apresentou ao Faraó. Este perguntou-lhes: “Qual é a vossa atividade?” Responderam, “Somos pastores, tal como os nossos antepassados. Viemos viver aqui para o Egito porque lá em Canaã não há pastagens para os rebanhos; a fome é muito maior do que cá. Queríamos pedir-te que nos deixasses viver na terra de Gosen.” Faraó disse a José: “O teu pai e teus irmãos vieram ter contigo. Escolhe tu onde queres que eles vivam. Dá-lhes mesmo a melhor terra do Egito. Se querem a terra de Gosen está muito bem; e se houver entre eles alguns que sejam bastante capazes, põe-nos como responsáveis dos meus rebanhos.” Então José trouxe o seu pai Jacob para o apresentar ao Faraó. E Jacob abençoou o rei. “Qual é a tua idade?”, perguntou-lhe o Faraó. “Tenho 130 anos; anos difíceis e de labutas, e não são tantos quantos os meus antepassados viveram.” Antes de sair da presença do rei, Jacob abençoou-o de novo. Assim, José reservou a melhor terra do Egito, a terra de Ramessés, para o seu pai e os irmãos viverem lá, tal como o Faraó tinha indicado. E forneceu-lhes alimentos, de acordo com os seus agregados familiares. A fome era cada vez maior. As pessoas morriam de miséria, tanto na terra de Canaã como no Egito. José conseguiu arrecadar todo o dinheiro do Egito e de Canaã, em troca de trigo, e mando-o depositar nos cofres reais. Quando já não havia mais dinheiro, a população veio ter com José, chorando outra vez por mais comida. “Já não temos dinheiro. Arranja-nos contudo maneira de termos o que comer. Porque haveríamos de morrer?” “Bom, então deem-me o vosso gado. Recebê-lo-ei em troca de comida.” Trouxeram assim o gado a José para terem com que se alimentar. E depressa toda a espécie de animais, cavalos, ovelhas, bois e jumentos, que havia no Egito, se tornaram propriedade do Faraó. No ano seguinte vieram de novo: “Não temos dinheiro, os animais já são todos teus, só temos as nossas vidas e as terras. Não queremos morrer! Compra-nos a nós e às nossas terras para servirmos o rei. Se nos vendermos por alimento, ao menos não morreremos, e nem as terras ficarão abandonadas.” Dessa forma, José comprou toda a terra do Egito para o Faraó e os egípcios venderam-se para o seu serviço. As únicas terras que não comprou foram as que pertenciam aos sacerdotes, porque estes recebiam a alimentação do Faraó e não necessitaram de vender coisa nenhuma. José disse ao povo: “Comprei-vos, vocês e as vossas terras, para o Faraó. Portanto, aqui está o trigo. Agora vão e semeiem a terra. Quando fizerem as colheitas, um quinto de tudo o que obtiverem pertencerá ao Faraó. Das quatro partes que ficam, terão de pôr de lado um tanto para semearem de novo no ano seguinte, e o resto é para se alimentarem, vocês, as vossas famílias e os vossos meninos.” “Salvaste-nos a vida”, disseram. “De bom grado seremos servos do rei.” Foi dessa forma que José fez a lei, válida para todo o território do Egito e que ainda hoje está em vigor, que deve ser pago ao Faraó um imposto de um quinto de todos os cereais, exceto quanto do que for produzido nas terras pertencentes aos sacerdotes. E viveu Israel na terra de Gosen, no Egito, tomando posse da terra e trabalhando-a, começando a prosperar e multiplicando-se muito. Jacob viveu ainda 17 anos depois que veio para o Egito. Ao todo foram 147 os anos da sua vida. Quando sentiu que se aproximava o fim, chamou José e disse-lhe: “Quero pedir-te que dês solenemente a garantia em como respeitarás este último pedido que te vou fazer, e que mostrarás assim a tua bondade para comigo: não me enterres aqui no Egito; mas que me leves daqui e ponhas o meu corpo, depois de eu morrer, junto com o dos meus pais.” José garantiu-lhe que faria assim. Jacob insistiu: “Mas jura-me.” E ele jurou-lhe. Israel adorou, inclinando a cabeça sobre a cabeceira da cama. Algum tempo depois, vieram dizer a José que o pai estava doente. Então pegou nos seus dois filhos, Manassés e Efraim, e foi visitá-lo. Quando Jacob ouviu que José ia chegar, juntou as poucas forças que ainda tinha e sentou-se na cama; saudou-o assim que ele chegou: “O Deus Todo-Poderoso apareceu-me em Luz, na terra de Canaã, e abençoou-me. E prometeu-me: ‘Farei com que te tornes numa grande nação e darei esta terra de Canaã a ti e aos teus descendentes para sempre.’ E agora, com respeito a estes teus dois filhos que te nasceram aqui no Egito, antes que eu para cá viesse, adotá-los-ei como se tivessem sido gerados por mim mesmo. Efraim e Manassés serão meus tal como Rúben e Simeão. Outros filhos que possas ainda vir a ter, esses então sim serão teus e herdarão o que tiver cabido em herança a Efraim e Manassés. Nunca me esquecerei de que a tua mãe Raquel morreu quando vinha ainda de Padan-Arã, a pouca distância de Efrata (Belém), e que tive de a sepultar ali, perto do caminho.” Então atentou para os dois rapazes: “São estes os teus dois filhos?” “Sim, são os dois filhos que Deus me deu aqui no Egito.” E pediu: “Aproxima-os de mim para que os abençoe.” Israel já via mal, por causa da sua muita idade. José trouxe-os junto do pai, que os beijou e os abraçou. E disse comovido: “Eu, já nem pensava tornar a ver-te sequer a ti, e agora Deus dá-me esta grande alegria de ver até os teus dois filhos!” Então José pegou nos moços pela mão e inclinou-se profundamente diante do pai; pô-los junto aos seus joelhos, Efraim à esquerda dele e Manassés à direita. Mas Israel, ao estender os braços para eles, cruzou-os, pondo assim as mãos sobre as cabeças dos rapazes de forma que a direita ficou sobre Efraim e a esquerda sobre Manassés, o mais velho. Sabia portanto o que fazia. E abençoou José: “Que Deus, o Deus dos meus pais Abraão e Isaque, o Deus que me sustentou e amparou durante toda a vida, o anjo que me livrou de todo o mal, abençoe ricamente estes moços! Que estes rapazes possam honrar o meu nome e o dos meus antepassados Abraão e Isaque, e que cresçam abundantemente em número!” José ficou contrariado quando viu que o pai punha a mão direita sobre Efraim. E pegou na mão do pai para a colocar em cima da cabeça de Manassés: “Não, pai. Não é na cabeça desse que deves pôr a mão direita. Este é que é o mais velho, por isso, é sobre ele que deves pô-la.” Mas o pai recusou: “Eu sei o que estou a fazer, meu filho. Manassés também se há de tornar numa grande nação, mas o mais novo será maior do que ele.” E abençoou os rapazes assim: “Que Israel se habitue a abençoar o seu companheiro, dizendo: Que Deus te faça tão próspero como Efraim e como Manassés!” E assim colocou Efraim à frente de Manassés. E acrescentou: “Estou a ponto de morrer, mas Deus estará contigo e levar-te-á de novo a Canaã, a terra dos teus antepassados. Eu dei-te em herança a belíssima terra de Siquem, que é muito melhor do que a que caberá aos teus irmãos, e que eu tomei com a minha espada aos amorreus.” Então Jacob chamou todos os seus filhos e disse-lhes: “Juntem-se aqui, perto de mim e dir-vos-ei o que será de vocês no futuro. Ouçam-me, ó filhos de Jacob, escutem Israel, o vosso pai! Rúben, tu és o mais velho, o filho que eu tive na maturidade do meu vigor; és o primeiro em categoria e em honra. Mas inconstante como és, semelhante às vagas do mar, deixarás de ser o mais excelente porque me desonraste, deitando-te com uma das minhas mulheres, profanando o meu leito. Simeão e Levi são dois da mesma espécie; são homens de violência e injustiça. A minha alma manteve-se afastada deles, não quis participar nos seus intentos secretos, porque no seu ódio mataram homens, na sua excitação mutilaram bois. Maldita seja a sua fúria, pois foi feroz e cruel. Por isso, espalharei os seus descendentes por todo o Israel. Judá, os teus irmãos te louvarão. Destruirás os teus inimigos. Os filhos do teu pai se inclinarão perante ti. És como um pequeno leão que acabou de tragar a sua presa. Assenta-se como um forte leão e deita-se como uma leoa; quem ousará despertá-lo? O cetro real não deixará de lhe pertencer, até que venha Silo, a quem todo o mundo obedecerá. Ele amarra o seu jumentinho à melhor videira, e lava os seus fatos no vinho. Seus olhos são mais escuros do que o vinho, seus dentes mais brancos que o leite. Zebulão habitará à beira do mar e terá os portos de que se servirão os navios. Os seus limites estender-se-ão até Sídon. Issacar é um possante animal de carga que repousa no meio dos fardos. Quando vê que o seu repouso é bom, e a terra é agradável para se viver, de boa vontade se entregou ao trabalho e aceitou a tarefa que lhe era imposta. Dan governará o seu povo tal como qualquer outra tribo de Israel. Ele será como uma serpente no caminho, como uma víbora à beira da estrada que morde as patas do cavalo, o qual lança o cavaleiro ao chão. Eu confio na tua salvação, Senhor! Gad será atacado por um bando de guerrilheiros, mas ele os atacará pelos calcanhares. Aser produzirá alimento abundante e de finíssima qualidade, próprio de reis. Naftali é como uma gazela à solta, produzindo lindas crias. José é como uma árvore frutífera, produzindo frutos junto duma fonte. Os seus ramos passam acima do muro. Foi gravemente ferido por aqueles que se atiraram sobre ele e o perseguiram. Mas o seu arco permeneceu firme, e os seus braços jamais esmoreceram, diante do Poderoso de Jacob, o seu Pastor, o Rochedo de Israel. Que o Deus dos teus pais, o Todo-Poderoso, te abençoe com as bênçãos dos céus e também com as da Terra, as bênçãos dos seios, assim como as da madre, Que as bênçãos do teu pai ultrapassem as bênçãos das antigas montanhas, que chegam às alturas das colinas eternas. Estas serão as bênçãos que descerão sobre a cabeça de José, que teve de se separar dos irmãos. Benjamim é um lobo que devora a sua presa. Devora os seus inimigos logo de manhã e pela tarde reparte os despojos.” Estas são as bênçãos que Israel deu aos doze filhos. Foi lá que sepultaram Abraão e Sara, a sua mulher; e ainda Isaque mais a sua mulher Rebeca; eu próprio ali coloquei o corpo de Leia. Essa gruta e o campo foram comprados pelo meu avô Abraão aos filhos de Hete.” Tendo acabado de dar aquelas profecias e estas indicações aos filhos, deitou-se, acomodou-se na cama, deu um último suspiro e faleceu, juntando-se aos seus antepassados. José lançou-se sobre o rosto do pai e chorou sobre ele, beijando-o. Depois ordenou aos criados que mandassem embalsamar o corpo, o que foi feito pelos especialistas. O processo de embalsamento levou 40 dias e o luto nacional durou 70 dias. Passado esse período José foi ter com a corte do Faraó e disse-lhes que intercedessem junto do rei a favor dele: “Digam ao Faraó que o meu pai me fez jurar que levaria o seu corpo para a terra de Canaã para lá o sepultar. Digam-lhe que prometo regressar sem demora.” O Faraó concordou: “Vai e sepulta o teu pai tal como ele te pediu.” José foi e acompanharam-no o conjunto dos conselheiros do Faraó, assim como os seus assistentes e todos os anciãos da terra. Além deles foi também toda a família de José, assim como os seus irmãos e as respetivas famílias, deixando ficar apenas os meninos, os rebanhos e o gado, na terra de Gosen. Constituiu-se dessa forma um desfile extremamente concorrido, com carros e cavaleiros. Quando chegaram à Eira do Espinhal, do outro lado do Jordão, fizeram um grande e solene funeral com um período de sete dias de pesar pelo pai de José. A gente daquela terra, os cananeus, vendo aquilo chamaram ao sítio Abel-Mizraim (luto dos egípcios), porque diziam: “Isto deve ter sido um grande luto e uma grande perda para os egípcios!” Assim fizeram os filhos de Israel conforme lhes tinha ordenado; levaram o corpo para a terra de Canaã, sepultaram-no na gruta de Macpela que Abraão tinha comprado, com o campo em que se encontrava, a Efrom, o hitita, em frente de Mamre. Depois José voltou para o Egito, assim como os irmãos e todos aqueles que os acompanharam no funeral do pai. Contudo, agora que este falecera, os irmãos de José começaram a sentir receio: “A partir de agora”, diziam entre si, “José é capaz de querer vingar-se do mal que lhe fizemos.” Por isso, mandaram-lhe uma mensagem: “O teu pai antes de morrer deixou instruções pedindo-te que perdoasses aos teus irmãos as transgressões e o pecado que cometeram. Nós, que servimos o Deus do teu pai, rogamos-te pois que nos perdoes.” Quando José tomou conhecimento disto que lhe mandaram dizer não se conteve e chorou. Mais tarde, vieram os irmãos, que se inclinaram diante dele e disseram: “Somos teus servos.” Mas José respondeu: “Não tenham receio de mim. Sou eu Deus para poder julgar e castigar-vos? A verdade é que aquilo que vocês reconhecem como o mal que me fizeram, Deus o mudou em bem, e me elevou até este alto cargo que agora ocupo, de forma a salvar a vida de muita gente. Não, não tenham medo. Podem estar certos de que tomarei conta de vocês e das vossas famílias.” E assim lhes falou afetuosamente, retransmitindo-lhes confiança. José, os irmãos e suas respetivas famílias continuaram a viver no Egito. José tinha 110 anos quando morreu. Mas viveu o bastante para poder ver os filhos do seu filho Efraim e os filhos de Maquir, que era filho de Manassés, os quais teve a alegria de colocar nos seus joelhos. “Vou morrer em breve”, disse José aos irmãos, “mas Deus virá com certeza buscar-vos para vos tirar desta terra do Egito e vos levar para aquela que prometeu a Abraão, a Isaque e a Jacob.” E fez com que os irmãos lhe prometessem solenemente, com juramento, que levariam o seu corpo para Canaã. Assim morreu José com 110 anos. Embalsamaram-no e puseram-no num caixão, no Egito. Estes são os nomes dos filhos de Israel que vieram com ele para o Egito com as suas famílias: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulão, Benjamim, Dan, Naftali, Gad e Aser. Foram ao todo com ele 70 pessoas. José já estava no Egito. Tanto José como cada um dos irmãos foram morrendo, tendo desaparecido toda aquela geração. Entretanto, os seus descendentes multiplicaram-se imenso, de tal forma que depressa se tornaram uma grande nação, enchendo toda aquela terra de Gosen onde habitavam. Então chegou ao trono um rei que não conhecia José; e disse ao seu povo: “Estes israelitas tornaram-se um perigo, porque são muitos e fortes. Vamos pois tomar medidas convenientes para pôr fim a isto. Caso contrário, se vier uma guerra, juntar-se-ão aos nossos inimigos, lutando contra nós, e dessa forma fugirão do país.” Assim, os egípcios começaram a oprimi-los e impuseram-lhes capatazes que os subjugaram com cargas insuportáveis, enquanto estavam a trabalhar na construção das cidades de entreposto Pitom e Ramessés. No entanto, quanto mais os subjugavam mais se reproduziam; de forma que os egípcios se alarmavam. Por isso, tornavam a escravidão dos israelitas ainda mais amarga, forçando-os a trabalhar sem descanso nos campos, com toda a espécie de pesadas cargas e duros trabalhos, com barro e tijolos. Então o Faraó, o rei do Egito, deu instruções às parteiras dos hebreus, que se chamavam Sifrá e Puá, para que quando lhes nascessem filhos, se fossem meninos, os matassem, se fossem meninas, as deixassem viver. Só que as parteiras temiam Deus e não obedeceram ao rei. Deixaram viver os meninos igualmente. Por isso, o rei mandou chamá-las e perguntou-lhes: “Porque é que não fizeram o que eu mandei e não mataram os meninos?” “Porque as mulheres hebreias”, responderam-lhe, “são muito rápidas a terem os bebés, de forma que quando lá chegamos é sempre depois do tempo. Nisso não são como as egípcias.” Deus abençoou as parteiras e o povo de Israel continuou a multiplicar-se e foi-se tornando muito forte. Deus deu a essas mulheres filhos e uma família próspera, porque temeram a sua vontade. Perante isto o Faraó mandou ao seu povo que pegassem em todos os meninos recém-nascidos dos hebreus e os lançassem ao rio Nilo, mas que às meninas lhes poupassem a vida. Por essa altura, havia um moço hebreu que era casado com uma rapariga da tribo de Levi, tal como ele. Estes tiveram um menino; a mãe deu-se conta de que o bebé era formoso e escondeu-o em casa durante três meses. Quando já não podia tê-lo escondido sem que o soubessem, fez uma cesta de canas de papiro, cobriu-a de betume, para a tornar impermeável, pôs dentro o menino e deixou-a entre os juncos na margem do rio Nilo. A irmã do bebé ficou um pouco afastada a ver o que lhe acontecia. E o que lhe aconteceu foi isto: A princesa, filha do Faraó, veio tomar banho no rio na companhia das aias. Andava por ali a passear na margem quando descobriu a pequena cesta entre os juncos, mandando logo uma criada buscá-la. Quando a abriu, viu lá dentro um menino a chorar e isto comoveu-a muito. “É com certeza um menino dos hebreus!”, disse ela. Nessa altura, a irmã do bebé aproximou-se e perguntou-lhe: “Deseja que vá procurar uma mulher hebreia que dê leite ao menino?” “Sim, vai!”, respondeu-lhe a princesa. E a moça correu a casa a chamar a mãe. A princesa disse-lhe: “Leva o bebé para a tua casa e amamenta-o. Pagar-te-ei por isso.” A mãe foi e criou-o. Algum tempo depois, quando o menino já estava mais crescido, trouxe-o à princesa que o adotou como seu filho e lhe deu o nome de Moisés, “porque”, disse ela, “o tirei da água.” Quando Moisés era já homem, ia ter com os seus irmãos de raça e começou a dar-se conta das terríveis condições em que viviam e trabalhavam. Certa vez, viu um egípcio a bater num dos seus irmãos hebreus e não se conteve. Olhou para um lado e para o outro, para se certificar que ninguém o via, matou o egípcio e enterrou o corpo na areia para o esconder. No dia seguinte, tendo ido de novo visitar os seus irmãos, deparou com dois deles a agredirem-se. Interpelando o agressor, disse-lhe: “Que é que estás a fazer? Estás a bater num dos teus próprios irmãos!” O homem respondeu: “Quem te nomeou chefe e juiz sobre nós? Queres matar-me como mataste aquele egípcio?” Moisés, constatando que o seu ato tinha sido descoberto, encheu-se de medo. Na verdade, o Faraó soube disso e mandou que Moisés fosse preso e executado. Este, contudo, fugiu para a terra de Midiã. Estava ele sentado junto dum poço, quando sete raparigas, filhas dum sacerdote de Midiã, se chegaram para tirar água e encher as pias para dar de beber aos rebanhos do pai. Mas alguns pastores começaram a repeli-las. Moisés interveio, defendendo-as, e depois tirou ele mesmo água para os rebanhos. Quando voltaram para casa, o pai, Reuel, perguntou-lhes: “Vocês hoje vieram mais cedo! Como foi isso?” “Foi um egípcio que não só nos defendeu dos pastores, que começaram a atacar-nos, como até nos tirou água e deu a beber aos rebanhos.” “Bom, e onde está ele?”, perguntou o pai. “Não me digam que o deixaram lá! Vão já buscá-lo, para que coma ao menos connosco!” Depois Moisés aceitou mesmo o convite de Reuel para ficar a viver com eles, e veio a casar com uma das filhas que lhe deu por mulher, Zípora. Tiveram um filho a quem Moisés chamou, Gerson, porque ele se considerava um estrangeiro em terra estranha. Anos mais tarde o rei do Egito morreu, mas os israelitas continuavam a sofrer sob o peso das suas cargas, escravizados e chorando amargamente perante Deus. Ora Deus ouviu os seus clamores lá do céu e achou ter chegado o momento de cumprir a aliança feita com Abraão, Isaque e Jacob. E Deus viu e atentou para a condição dos israelitas. Um dia em que Moisés levou a pastar os rebanhos de Jetro seu sogro, sacerdote de Midiã, no deserto perto de Horebe, o monte de Deus, apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo dentro de uma sarça, e a sarça não se consumia. Moisés disse para si mesmo: “Isto é extraordinário! Porque é que a sarça não se consome? Tenho de ir ver isto.” E quando o Senhor viu que Moisés se aproximara para ver melhor, Deus chamou-o do meio da sarça: “Moisés! Moisés!” Ao que ele respondeu: “Pronto! Aqui estou!” “Não te aproximes. Descalça-te, porque estás em terreno sagrado. Eu sou o Deus do teu pai, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacob.” Moisés desviou o olhar, porque teve receio de olhar para Deus. O Senhor continuou: “Tenho visto a aflição do meu povo no Egito, e tenho ouvido os seus clamores sob a opressão daqueles que os tiranizam. Por isso, desci a livrá-los dos egípcios e a tirá-los dali para uma belíssima e vasta terra, uma terra onde jorra leite e mel, onde habitam os cananeus, os hititas, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. Sim, o choro do povo de Israel tem subido até mim, e tenho visto as duras condições de vida com que os egípcios os oprimem. Por isso, vou enviar-te ao Faraó para que lhe peças que te deixe levar o meu povo para fora do Egito.” “Mas eu não sou a pessoa indicada para tal!”, exclamou Moisés. Deus insistiu: “Eu estarei seguramente contigo. E a prova de que sou eu próprio que te envia será a seguinte: Quando tiveres levado o meu povo para fora do Egito havereis de adorar Deus aqui mesmo, nesta montanha.” Moisés replicou ainda: “Se eu for ter com o povo de Israel e lhe disser que foi o Deus dos nossos pais quem me enviou, eles vão perguntar-me de que Deus é que eu estou a falar. E o que é que eu lhes digo?” “Que foi o Deus Que é ”, foi a resposta. “Diz assim: o eu sou foi quem me mandou. Sim, diz-lhes: O Senhor, o Deus dos nossos antepassados Abraão, Isaque e Jacob mandou-me vir ter convosco. Porque este é o meu nome eterno, através de todas as gerações. Reúne então todos os anciãos e conta-lhes como o Senhor, o Deus dos seus antepassados, te apareceu aqui nesta sarça a arder e aquilo que eu te disse: Vim ter com o meu povo e vi o que lhe está a acontecer no Egito. Prometo que hei de salvá-los das cargas e da humilhação que estão a sofrer, e que hei de levá-los para a terra que está agora ocupada pelos cananeus, hititas, amorreus, perizeus, heveus e pelos jebuseus, uma terra onde jorra leite e mel. Os anciãos do povo de Israel hão de aceitar a tua mensagem e irão contigo falar com o rei do Egito. E dir-lhe-ão: O Senhor, o Deus dos hebreus, apresentou-se a nós e mandou-nos que fôssemos a três dias de caminho no deserto oferecer-lhe sacrifícios de adoração. Deixa-nos pois ir. Eu sei que o rei do Egito não vos deixará ir a não ser sob uma pressão muito forte. Por isso, hei de estender a mão para castigar o Egito com maravilhas que se realizarão ali até que, por fim, vos deixe ir. E farei com que os egípcios vos encham de presentes, quando se forem embora. Não hão de deixar o Egito de mãos vazias. Cada mulher irá pedir à vizinha e à mulher do seu patrão toda a espécie de coisas de prata e ouro e dos tecidos mais finos com que vestirão os vossos filhos; e assim despojarão o Egito do que tem de melhor!” Então Moisés disse: “Eles não vão acreditar em mim nem fazer o que lhes disser. Vão dizer-me que o Senhor nunca me apareceu!” “Que é isso que tens na mão?”, perguntou-lhe o Senhor. “Uma vara de pastor.” “Lança-a ao chão.” Moisés assim fez e a vara tornou-se serpente e ele até fugia dela. Então o Senhor tornou a dizer-lhe: “Pega-lhe pela cauda.” E a serpente tornou-se vara de novo. “Faz isto”, disse-lhe o Senhor, “e hão de dar-se conta de que o Senhor, o Deus dos vossos antepassados, Abraão, Isaque e Jacob, te apareceu verdadeiramente. Agora mete a mão dentro da roupa, junto ao peito.” Ele assim fez e quando tornou a tirá-la estava toda branca de lepra. Mas ele disse-lhe: “Volta a metê-la no peito.” E desta vez a mão veio de novo sã como antes! “Se não acreditarem depois do primeiro milagre, hão de crer ao segundo. E se não te aceitarem depois destes dois sinais, vai ao Nilo buscar água e derrama-a na terra seca. Esta água tornar-se-á em sangue.” Moisés disse ainda ao Senhor: “Mas Senhor, eu não sou bom orador, nunca fui, nem mesmo agora depois de me teres falado. Sou de fala presa, tenho a língua pesada.” “Quem foi que fez o homem falar?”, perguntou-lhe o Senhor. “Não fui eu, o Senhor? Não sou eu quem faz as pessoas falarem ou não, ouvirem ou não, verem ou não? Então vai e faz o que eu te disse, porque te ajudarei a falar como deve ser. Eu próprio te direi o que deves falar.” “Ó Senhor, peço-te que mandes outra pessoa em vez de mim!” Desta vez o Senhor zangou-se: “Pois bem, o teu irmão Aarão, o levita, sabe falar, não é isso? Acontece que ele vem cá ver-te e ficará feliz em estar contigo. Sendo assim, comunico-te o que lhe hás de dizer e vos ajudarei a dizer o que devem e ensinar-vos-ei o que fazer. Ele será o teu porta-voz junto do povo. Serás para ele como a voz de Deus, ensinando-lhe o que deve falar. Não deixes de levar essa tua vara com que hás de realizar os sinais que te indiquei.” Moisés voltou para casa e disse ao sogro: “Preciso regressar ao Egito, de ir ter com os meus irmãos e parentes, pois nem sei sequer os que ainda vivem.” Jetro respondeu-lhe: “Vai descansado e em paz!” Antes de deixar Midiã o Senhor ainda disse a Moisés: “Não tenhas receio de voltar ao Egito, porque todos os que te queriam matar já morreram.” Então, com a mulher e os filhos montados em jumentos, partiu para o Egito, segurando na mão a vara de Deus. “Quando chegares ao Egito vai ter com o Faraó e faz os milagres que te falei.” Disse-lhe mais o Senhor: “Eu endurecerei o seu coração e não permitirá que o povo saia. Então lhe dirás: Israel é o meu filho mais velho, diz o Senhor. Mandei-te que o deixasses ir para que me adorasse, mas recusaste; por isso, fica sabendo que tirarei a vida ao teu filho mais velho.” Durante a viagem de Moisés e da sua família, e numa altura em que tiveram de parar de noite para descansar, o Senhor apareceu a Moisés e ameaçou matá-lo. Ora o Senhor tinha dito a Aarão: “Vai ao encontro de Moisés no deserto.” Aarão assim fez e encontrou-se com Moisés em Horebe, no monte de Deus, tendo-se saudado muito afetuosamente. Moisés disse a Aarão o que o Senhor os mandara fazer, o que deviam dizer e os milagres que tinham de realizar diante do Faraó. Regressaram ambos ao Egito e logo convocaram os anciãos do povo de Israel para uma assembleia. Aarão relatou-lhes tudo o que o Senhor tinha dito a Moisés, e este realizou os milagres na presença deles. Os anciãos creram que Deus os tinha enviado. Ao ouvirem que o Senhor ia intervir a seu favor, porque observara o seu sofrimento e decidira salvá-los, alegraram-se e inclinaram as suas cabeças para adorar Deus. Depois foram ver o Faraó: “Trazemos-te uma mensagem do Senhor, o Deus de Israel, que é a seguinte: ‘Deixa sair daqui o meu povo ao deserto, porque têm de celebrar uma festa em minha honra.’ ” “Quem é esse Senhor cuja voz eu tenho que obedecer para deixar partir Israel? Não sei quem é o Senhor e tão-pouco deixarei Israel sair daqui”, foi a resposta. Aarão e Moisés insistiram: “O Deus dos hebreus veio ao nosso encontro. Temos de fazer uma viagem de três dias ao deserto, a fim de celebrar um sacrifício ao Senhor, nosso Deus. Se não lhe obedecermos, sujeitamo-nos a morrer pelo efeito de pragas ou de guerra.” Então o Faraó respondeu: “Quem pensam vocês que são, para andarem a distrair o povo dos seus trabalhos? Vão já ocupar-se das vossas tarefas!” E acrescentou: “Agora que esse povo é já tão grande no país, vão desviá-lo dos seus trabalhos?” E naquele mesmo dia o Faraó deu ordem aos capatazes e fiscais que nomeara para estarem sobre o povo: “Daqui em diante não devem mais fornecer palha ao povo para fabricarem os tijolos. Eles próprios que a vão buscar! Contudo, o nível de produção não deverá ser reduzido, nem sequer um tijolo, porque se está mesmo a ver que têm pouco que fazer, pois doutra forma não andariam por aí a falar em ir ao deserto e em sacrificar lá ao seu Deus. Carreguem-nos com trabalho, façam-nos suar bem; isso há de ensiná-los a não darem ouvidos a apelos mentirosos!” Assim, os capatazes e contra-mestres informaram o povo: “O Faraó deu-nos ordens para não vos ser fornecida mais palha para os tijolos. Vão buscá-la onde quiserem; no entanto, devem produzir o mesmo número de sempre.” Então o povo viu-se obrigado a ir por toda a parte à procura de palha. Os capatazes eram brutais. “Têm de manter o mesmo nível de produção de sempre!”, estavam constantemente a dizer. E puseram-se a açoitar os chefes de turno israelitas, que eles próprios tinham posto sobre o povo, gritando-lhes: “Porque é que não apresentaram o mesmo número de tijolos, nem ontem, nem hoje?” Então esses chefes de turno israelitas foram, em representação do povo, ter com o Faraó implorar-lhe: “Porque nos tratas desta maneira? Não nos é dada a palha e exigem-nos que façamos o mesmo trabalho de antes, e ainda por cima batem-nos, quando nos é impossível cumprir tal tarefa. A culpa é dos capatazes, que nos exigem o que não podemos fazer!” “O que vocês são é preguiçosos e estão ociosos. Se assim não fosse não andariam por aí a dizer: ‘Vamos fazer um sacrifício ao Senhor.’ Vão mas é trabalhar! E já sabem, não vos darão mais palha e terão de apresentar os mesmos níveis de produção de antes!”, foi a resposta do Faraó. Os chefes de turno israelitas estavam angustiados. Ao encontrarem Moisés e Aarão, esperando por eles fora do palácio, quando voltavam da audiência com o Faraó, disseram-lhes solenemente: “Que o Senhor vos julgue por terem feito com que nos tornássemos repelentes perante o Faraó e o seu povo, como uma coisa podre e mal cheirosa, e lhes terem dado uma desculpa para nos matarem!” Moisés foi falar com o Senhor: “Como podes tratar assim o teu próprio povo? Porque é que me mandaste aqui se tencionavas fazer-lhes isto? Desde que comuniquei ao Faraó a tua mensagem, este tornou-se ainda mais brutal para o povo e tu de maneira nenhuma o salvaste!” Então o Senhor disse a Moisés: “Agora vais ver o que hei de fazer ao Faraó. Ele será forçado a deixar o meu povo. E não apenas isso: ele próprio os lançará fora desta terra.” E acrescentou: “Eu sou o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, que apareceu a Abraão, a Isaque e a Jacob, ainda que não lhes tenha revelado toda a força do meu nome: o Senhor. Estabeleci com eles uma solene aliança nos termos da qual prometi dar-lhes, a eles e aos seus descendentes, a terra de Canaã, em que habitavam. Ouvi o choro de aflição do povo de Israel, escravizado pelos egípcios, e decidi executar a minha aliança. Portanto, diz aos descendentes de Israel que vou pôr em ação todo o meu grande poder e farei grandes manifestações de juízo, com o meu forte braço, para os libertar da escravidão e torná-los livres. Aceitá-los-ei como meu povo e serei o seu Deus; e saberão que eu sou o Senhor, o seu Deus, que os salvou dos egípcios. Hei de levá-los à terra que prometi a Abraão, a Isaque e a Jacob, e que ficará a pertencer ao meu povo. Eu sou o Senhor.” Moisés foi dizer isto tudo ao povo, mas não quiseram mais ouvi-lo, porque estavam profundamente deprimidos por causa das trágicas consequências daquilo que antes lhes tinha dito. Por isso, o Senhor falou de novo a Moisés: “Vai ter outra vez com o Faraó e diz-lhe que tem de deixar sair o meu povo.” “Mas Senhor ”, replicou Moisés, “bem vês, pois, se os meus próprios irmãos já não me querem ouvir, que será do Faraó, tanto mais não sendo um orador, não tendo habilidade para argumentar!” Contudo, o Senhor ordenou a Moisés e a Aarão que fossem ter de novo com o povo de Israel e com o Faraó, o rei do Egito, dizendo-lhe que deixasse partir o povo. Estes são os chefes das famílias patriarcais de algumas das tribos de Israel. Dos descendentes de Rúben, o filho mais velho de Israel: Enoque, Palu, Hezrom e Carmi. Dos descendentes de Simeão: Jemuel, Jamim, Oade, Jaquim, Zoar e Saul, este último, filho de uma cananita. Dos descendentes de Levi, e segundo as suas idades: Gerson, Coate e Merari. Levi viveu 137 anos. Os filhos de Gerson foram: Libni e Simei, e as suas famílias. Os filhos de Coate: Amrão, Izar, Hebrom e Uziel. Coate viveu 133 anos. Os filhos de Merari: Mali e Musi. Estas são as famílias dos levitas de acordo com as suas idades. Amrão, filho de Coate, casou com Joquebede, sua tia, e tiveram como filhos Aarão e Moisés. Amrão viveu até à idade de 137 anos. Os filhos de Izar foram: Coré, Nefegue e Zicri. Os de Uziel: Misael, Elzafã e Sitri. Aarão, filho de Amrão, casou com Eliseba, filha de Aminadabe e irmã de Nassom. Os seus filhos foram Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar. Os filhos de Coré foram: Assir, Elcana e Abiassafe. Estas são as famílias de Coré. Eleazar, filho de Aarão, casou com uma das filhas de Putiel. Um dos filhos que tiveram foi Fineias. Estes são pois os nomes dos chefes de clã dos levitas, segundo as suas famílias. Aarão e Moisés, incluídos aqui nesta lista, são aqueles a quem o Senhor disse: “Levem todo o meu povo de Israel para fora da terra do Egito.” Foram eles, Aarão e Moisés, que falaram com o Faraó dizendo-lhe para os deixar tirar o povo do Egito. No dia em que o Senhor falou a Moisés no Egito, disse-lhe: “Eu sou o Senhor. Vai e diz ao Faraó tudo quanto te mandei dizer.” Foi também este mesmo Moisés que replicou ao Senhor, objetando: “Eu não sei falar bem. Como é que o Faraó me vai ouvir?” Tornou o Senhor a dizer a Moisés: “Eu chamei-te para seres o meu embaixador para com o Faraó, mas é o teu irmão Aarão quem te servirá de porta-voz, como um profeta. Dá a saber a Aarão tudo o que eu te disse. Será ele quem o comunicará ao Faraó e lhe pedirá para deixar livre o povo de Israel para sair do Egito. Contudo, eu endurecerei o Faraó, que recusará obstinadamente, e hão de suceder-se os meus milagres na terra do Egito. Mesmo assim, nem com isso tudo o Faraó te ouvirá. Por isso, terei de esmagar o Egito com um grande desastre final e nessa altura então conduzirei o meu povo para fora dali. Os egípcios reconhecerão, enfim, que eu sou realmente o Senhor, quando o meu poder os forçar a deixar ir o meu povo.” Moisés e Aarão fizeram como o Senhor lhes ordenara. Moisés tinha 80 anos de idade e Aarão 83 anos, nessa época em que se confrontaram com o Faraó. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “O Faraó pedir-vos-á que lhe mostrem um milagre, que prove que foi Deus quem vos mandou. Nessa altura, dirás a Aarão para lançar ao chão a sua vara, a qual se tornará numa serpente.” E Moisés e Aarão foram em audiência perante o Faraó e fizeram aquele milagre, tal como o Senhor os instruíra. Aarão, na presença do Faraó e da sua corte, deitou ao chão a vara, que se tornou numa serpente. Mas o Faraó chamou os seus sábios e os magos, que foram também capazes de fazer o mesmo através de artes e encantamento; porque as suas próprias varas se tornaram igualmente em serpentes. No entanto, a serpente de Aarão engoliu as outras. Ainda assim, o coração do Faraó manteve-se na mesma, duro e obstinado, sem querer aceitar coisa alguma, tal como o Senhor dissera. Então ele fez saber a Moisés como tinha visto o coração do Faraó inalterável e como assim haveria de continuar. “Contudo”, continuou o Senhor, “volta de novo amanhã, para o apanhares quando descer em direção ao rio. Põe-te de pé na margem, perto dele, segura na tua mão a vara que se tornou em serpente, e diz-lhe: O Senhor, o Deus dos hebreus, enviou-me para te dizer que deixes ir o seu povo adorá-lo no deserto. Tu não quiseste ouvir. Pois agora, diz o Senhor, saberás que eu sou o Senhor. A vara que Moisés segura na mão baterá nas águas do rio Nilo e todo o rio se tornará em torrentes de sangue. Os peixes hão de morrer, o rio ficará a cheirar mal e os egípcios serão incapazes de beber a sua água.” Então o Senhor deu as seguintes instruções a Moisés: “Diz a Aarão para apontar a sua vara para todas as águas da terra do Egito, ribeiros, canais, tanques e reservatórios, para que tudo se torne em sangue, até mesmo as águas conservadas em casa em bilhas e potes.” Moisés e Aarão fizeram como o Senhor lhes indicara. O Faraó e a toda a sua comitiva viram Aarão bater com a vara nas águas do Nilo e estas tornarem-se em sangue. Os peixes morreram e as águas tornaram-se tão repugnantes que nenhum egípcio podia beber delas. E houve sangue por toda a terra do Egito. No entanto, os magos do Egito, usando das suas artes mágicas, conseguiram também fazer das águas sangue. Dessa forma o coração do Faraó continuou endurecido e não quis dar ouvidos a Moisés e a Aarão, tal como o Senhor previra, tendo regressado ao seu palácio impassível. Os egípcios foram obrigados a cavar poços junto ao rio para conseguirem água para beber, porque a do rio era nauseabunda. E assim se passou uma semana, depois que o Senhor feriu o rio. O Senhor disse outra vez a Moisés: “Vai ter com o Faraó e diz-lhe: O Senhor diz-te que deixes ir o seu povo para que o adore. Se recusares mandará montes de rãs por toda a terra duma extremidade à outra. O rio Nilo ficará tão cheio delas, que até virão às vossas habitações, penetrarão nos quartos e achá-las-ão nas camas. Cada casa no Egito estará repleta de rãs, que virão poluir os fornos e as massadeiras. Tu e o teu povo ficarão mergulhados em rãs.” E continuou o Senhor: “Diz a Aarão que aponte a vara para os ribeiros, as torrentes e poços do Egito de forma a que haja rãs em todos os recantos da terra.” Aarão assim fez e as rãs cobriram literalmente todo o país. Mas os magos conseguiram fazer de novo o mesmo. Com os seus bruxedos fizeram aparecer rãs. O Faraó convocou à pressa Moisés e Aarão e rogou-lhes: “Peçam ao Senhor que tire todas estas rãs daqui e deixarei o povo ir e sacrificar-lhe.” “Pois sim! Diz-me só quando queres que peça ao Senhor ”, concordou Moisés, “e eu orarei para que as rãs morram por toda a parte, na altura que tu indicares, exceto as do rio.” E respondeu: “Façam isso amanhã!” Moisés replicou-lhe: “Está bem, seja assim! Ficarás a saber que não há ninguém semelhante ao Senhor, nosso Deus! As rãs afastar-se-ão de ti, do teu palácio, dos teus servidores e do teu povo. Ficarão somente no rio.” Moisés e Aarão saíram da presença do Faraó e Moisés intercedeu junto do Senhor quanto às rãs. E o Senhor fez conforme Moisés tinha dito. A terra ficou coberta, agora de rãs mortas, nos campos e nas casas. As pessoas varreram-nas e juntaram-nas em montes, e a terra tinha um cheiro pestilento. Mas quando o Faraó viu que as rãs tinham acabado, endureceu de novo o coração e recusou deixar ir o povo, como o Senhor dissera. Então o Senhor disse a Moisés: “Diz a Aarão que bata no pó da terra com a sua vara e o pó se tornará em piolhos em todo o Egito.” Eles assim fizeram e toda a nação ficou de repente infestada de piolhos. As pessoas e os animais estavam cheios deles. Os magos tentaram fazer o mesmo com as suas artes e encantamentos, mas falharam. “Isto tem o dedo de Deus!”, exclamaram para o Faraó. Mas este continuou endurecido e teimoso sem querer ceder, de forma nenhuma, tal como o Senhor tinha dito que haveria de acontecer. Falou o Senhor de novo a Moisés: “Levanta-te de manhã cedo, vai ao encontro do Faraó, quando vier banhar-se ao rio, e diz-lhe: O Senhor manda que deixes ir o seu povo, para que lhe preste culto. Se recusares, enviará enxames de moscas por todo o Egito. As casas ficarão cheias e o chão coberto de moscas. Na terra de Gosen, onde vivem os israelitas, será muito diferente, não haverá lá moscas. Assim saberás que é o Senhor de toda a Terra, porque fará distinção entre o teu povo e o seu. Isto tudo sucederá amanhã.” O Senhor fez como tinha dito e terríveis enxames de moscas entraram por toda a parte, desde o palácio do Faraó a cada uma das casas do Egito. O Faraó chamou apressadamente Moisés e Aarão: “Está bem, façam esse sacrifício ao vosso Deus, mas que seja aqui nesta terra. Não vão lá para o deserto.” Moisés replicou: “Não pode ser assim. Os nossos sacrifícios, que oferecemos ao Senhor nosso Deus, causam horror aos egípcios. Se os fizermos aqui, diante deles, matam-nos. Tem de ser a três dias de caminho, no deserto, que devemos prestar culto ao Senhor, nosso Deus, tal como nos ordenou.” “Pois sim, vão!”, replicou Faraó, “mas não vão longe. E agora, roguem depressa ao Senhor, vosso Deus, em meu favor.” “Está bem, pedirei que os enxames de moscas desapareçam. No entanto, aviso-te de que não deves mais enganar-nos, prometendo deixar ir o povo e depois voltando com a palavra atrás.” Moisés deixou o Faraó e orou ao Senhor que os libertasse das moscas. O Senhor respondeu à oração de Moisés e fez desaparecer as moscas, de tal forma que nem uma depois havia. Mas o Faraó tornou a endurecer-se e não deixou sair o povo. “Volta a ir ter com o Faraó”, mandou o Senhor a Moisés, “e diz-lhe que o Senhor, o Deus dos hebreus, manda dizer que deixes o seu povo ir adorar. Se recusar, o poder do Senhor enviará uma peste mortal que liquidará o gado, cavalos, jumentos, camelos, ovelhas e cabras. Mas só os animais dos egípcios serão afetados. Nenhum animal do gado e dos rebanhos dos israelitas ficará sequer doente.” O Senhor fez anunciar que isso aconteceria no dia seguinte, e assim foi. Logo pela manhã todo o gado dos egípcios começou a morrer, mas nenhum animal dos israelitas foi afetado. O Faraó mandou verificar se era realmente verdade que nada tinha acontecido aos animais dos israelitas, e mesmo assim manteve a sua intransigência e recusou que o povo saísse. Depois, o Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Peguem em duas mãos-cheias de cinza do forno e que Moisés a espalhe para o ar diante do Faraó; espalhar-se-á como uma poeira fina sobre toda a terra e provocará chagas que rebentarão tanto nas pessoas como nos animais.” Eles foram, pegaram em cinza do forno e foram ter com o Faraó; diante dele Moisés lançou-a para o ar e fez rebentar chagas nos seres humanos e nos animais, por toda a terra. Os próprios magos não puderam manter-se na presença de Moisés porque também tinham chagas. O Senhor deixou que o Faraó se obstinasse como dantes, continuando a recusar dar autorização, tal como dissera a Moisés. O Senhor disse de novo a Moisés: “Levanta-te cedo, apresenta-te diante do Faraó e diz-lhe: Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: Deixa ir o meu povo, para que me vá servir. Se não, desta vez enviarei uma praga tal que provará indiscutivelmente, a ti, à tua corte e a todo o povo do Egito, que não há outro como eu em toda a Terra. Eu já vos podia ter matado a todos. Não o fiz, porque te levantei como rei do Egito, para por ti mostrar o meu poder, a fim de que em toda a Terra seja honrado o meu nome. Tu pensas ainda valer alguma coisa e desafias o meu poder, recusando deixar ir o povo. Pois bem, amanhã por esta altura mandarei uma chuva de saraiva sobre toda a nação, de uma intensidade tal que nunca terá sido vista no Egito desde a sua fundação. Manda depressa recolher o teu gado dos campos, porque cada ser humano e cada animal que ficar de fora sob a saraivada certamente morrerá.” Alguns egípcios, dentre os conselheiros do Faraó, aterrorizados com esta palavra do Senhor, foram buscar o gado e os escravos aos campos e trouxeram-nos para casa. Mas todos os outros desprezaram a palavra do Senhor e deixaram-nos onde estavam. O Senhor falou a Moisés: “Estende a tua mão para o céu para que caia saraiva em toda esta terra, sobre pessoas, animais e plantas.” Moisés estendeu a mão e o Senhor mandou saraiva no meio de uma tempestade de raios e trovões. Era qualquer coisa de tremendo e indescritível. Em toda a história do Egito nunca se tinha dado por algo de semelhante. Todo o Egito ficou em ruínas. Todo o ser vivo deixado de fora, tanto seres humanos como animais, foi morto, as árvores rachadas, as plantações destruídas. O único sítio em todo o Egito onde não caiu a saraiva foi na terra de Gosen, onde viviam os israelitas. Então o Faraó mandou chamar Moisés e Aarão: “Desta vez estou a ver que pequei”, confessou. “O Senhor é justo. Eu e o meu povo é que temos sido ímpios todo este tempo. Pede ao Senhor que acabe com esta terrível tempestade, com esta saraiva, porque eu deixo-vos partir já.” “Está bem”, respondeu Moisés, “logo que saia da cidade levantarei as mãos ao Senhor e a tempestade e a saraiva cessarão. Isto te provará que a Terra é controlada pelo Senhor. Mas no que te diz respeito e à tua comitiva, eu sei que ainda não temem ao Senhor Deus.” Todo o linho e a cevada foram destruídos, porque o linho estava maduro e a cevada já tinha flor. Mas o trigo e o centeio conseguiram escapar porque ainda não tinham despontado. Moisés deixou o Faraó, saiu da cidade, levantou as mãos ao céu para o Senhor e tudo aquilo parou de vez. Vendo que a praga tinha acabado, o Faraó e os seus conselheiros continuaram a pecar, e até se tornaram ainda mais obstinados. Assim, o Faraó manteve a sua recusa de autorizar o povo a deixar a terra, tal como o Senhor predissera a Moisés. Dirigiu-se de novo o Senhor a Moisés: “Vai novamente fazer o teu pedido ao Faraó. No entanto, endurecerei o seu coração, assim como o dos seus acompanhantes, de forma a ter oportunidade de fazer mais maravilhas, demonstrando o meu poder, coisas que poderão contar aos vossos filhos e descendentes, descrevendo o que tem acontecido no Egito, para que saibam que sou o Senhor.” Moisés e Aarão pediram nova audiência ao Faraó: “O Senhor, o Deus dos hebreus, diz-te: ‘Até quando recusarás submeter-te a mim? Deixa ir o meu povo para que me adore. Se recusares, amanhã cobrirei toda a nação de um espesso bando de gafanhotos. Será de tal forma que nem se poderá ver a terra do chão e acabarão por destruir tudo o que ainda escapou da saraiva. Encherão o teu palácio, as casas dos teus ministros e todas as habitações do Egito. Nunca se há de ter visto uma coisa assim em toda a história do Egito, uma praga semelhante a esta.’ ” Depois de falar, Moisés virou-se e saiu. Desta vez a corte do Faraó chegou-se e disse-lhe: “Não estás a ver que nos vais destruindo completamente? Não te dás conta de que todo o Egito está em ruínas? Deixa essa gente ir servir o Senhor, o seu Deus!” Por isso, Moisés e Aarão foram de novo trazidos ao Faraó: “Está certo, vão lá e sirvam o Senhor, o vosso Deus. Digam-me então quem é que querem que vá.” “Todos devemos ir; nós e os nossos filhos e filhas, com os rebanhos e o gado”, respondeu Moisés. “Levaremos tudo connosco, porque todos nos devemos juntar numa santa peregrinação.” “Não! Não vou permitir que levem os pequeninos! Estão a ver como procuram o vosso próprio mal? Isso nunca! Vão vocês, os homens, e sirvam o Senhor, pois foi isso que me pediram.” E expulsaram-nos da presença do Faraó. O Senhor falou de novo a Moisés: “Levanta a tua mão sobre toda a terra do Egito para que venham os gafanhotos e cubram a terra, comendo tudo o que ainda ficou da saraiva.” Moisés ergueu a sua vara e o Senhor fez levantar um vento oriental que soprou durante todo o dia e toda a noite. Na manhã do dia seguinte o vento trouxe gafanhotos. Cobriram a terra duma ponta a outra, e era uma praga tal que nunca se viu coisa assim, nem depois se tornou a ver. Era uma massa tão densa que até cobriu o Sol e a terra ficou escura. Comeram a vegetação que ainda ficou da saraiva, sem deixar um bocadinho sequer à vista. Não se ficou a ver nem um pedaço de verde, nem de plantas nem de árvores por todo o Egito. Faraó mandou chamar urgentemente Moisés e Aarão: “Confesso que pequei de novo contra o Senhor, o vosso Deus, e contra vocês. Perdoem-me o meu pecado só mais esta vez e roguem ao Senhor, o vosso Deus, que leve daqui esta mortandade!” Moisés retirou-se e foi orar ao Senhor, que mandou um forte vento ocidental que empurrou os gafanhotos para o mar Vermelho, e deixou de se ver gafanhotos ali. Mas o Senhor endureceu mais uma vez o coração do Faraó e não deixou o povo sair. O Senhor disse a Moisés: “Levanta as mãos para os céus e uma grande escuridão descerá sobre o Egito; serão trevas densas de não se ver um palmo adiante.” Moisés obedeceu e caiu uma escuridão densíssima sobre a terra durante três dias. E todo esse tempo a população quase não se podia mover. No entanto, o povo de Israel tinha a luz habitual. O Faraó tornou a chamar Moisés: “Vão lá, adorem o Senhor, mas deixem ficar os rebanhos e o gado. Quanto às crianças, podem levá-las convosco.” “Não”, disse Moisés. “Temos de levar connosco o gado e os rebanhos para os sacrifícios e holocaustos ao Senhor, nosso Deus. Nem um só animal deixaremos aqui, pois precisamos deles para os sacrifícios a oferecer ao Senhor, nosso Deus. Só depois de lá chegarmos haveremos de escolher aqueles de que precisamos.” O Senhor endureceu ainda o coração do Faraó, que recusou que partissem. “Vai-te daqui, e livra-te de veres de novo a minha face!”, gritou para Moisés. “Se tornares a vir aqui, morres!” “Pois sim. Nunca mais te verei”, foi a resposta. Disse o Senhor de novo a Moisés: “Mandarei só mais uma grande calamidade sobre o Faraó e a sua terra, depois da qual deixará então o povo partir. Desta vez ficará, na realidade, tão ansioso por se ver livre de vocês que será ele próprio, praticamente, a expulsar-vos. Diz a todos os homens e mulheres de Israel que se preparem, pedindo aos seus vizinhos egípcios todo o tipo de objetos caros, de prata e ouro.” O Senhor fez com que os egípcios se tornassem agradáveis para eles, até porque Moisés era já uma grande figura no Egito, respeitado não só pelos funcionários do Faraó, como por todo o povo. Moisés fez então anunciar ao Faraó: “Assim diz o Senhor: ‘Cerca da meia-noite passarei através do Egito. E morrerão todos os filhos mais velhos de cada família no país; desde o filho mais velho do Faraó, herdeiro do trono, até ao filho mais velho do mais humilde escravo, inclusive dos animais. Um grande clamor de morte se levantará em toda a terra. Nunca se terá visto tristeza semelhante, nem antes nem depois. Contudo, nem sequer um cão ousará ladrar contra alguém do povo de Israel ou contra um só dos seus animais, para que saibam a diferença que o Senhor faz entre os egípcios e os israelitas.’ Toda a tua comitiva virá até mim, inclinando-se e rogando: ‘Por favor, retira-te imediatamente daqui e leva o teu povo contigo.’ Nessa altura, então, ir-me-ei!” E Moisés retirou-se, encolerizado, do palácio. O Senhor disse a Moisés: “O Faraó não vos ouvirá, e isso dar-me-á oportunidade de fazer poderosas maravilhas que demonstrem o meu poder.” Por isso, ainda que Moisés e Aarão tenham feito estes milagres na presença do próprio Faraó, o Senhor endureceu o coração deste e não deixou sair daquela terra os filhos de Israel. O Senhor disse depois a Moisés e a Aarão: “Daqui em diante, este será o primeiro mês do ano e o mês mais importante do vosso calendário. Todos os anos, no dia 10 deste mesmo mês, isto será o que terão de anunciar ao povo de Israel: cada família tomará um cordeiro. Se for uma família pequena poderá partilhar um cordeiro com outra família vizinha. Dependerá, portanto, do tamanho da família. Este cordeiro deverá ser um macho de um ano, mas sem nenhum defeito. Em vez de um cordeiro, poderá ser um cabrito. Deverão guardá-lo até ao dia 14 deste mesmo mês e, nesse dia, ele será morto, ao cair da tarde, pela assembleia do povo de Israel. Depois o seu sangue será posto nos dois lados e na parte de cima da entrada da casa. O sangue que usarem para isso será o do cordeiro que for comido nessa casa. Toda a gente deverá comer a carne assada do cordeiro nessa noite, acompanhada de pão sem fermento e de ervas amargas. Não poderá ser comido nem cru, nem cozido, mas sim assado no forno, incluindo a cabeça, as pernas, o coração e as vísceras. Além disso, deverá ser comido todo ele nessa noite, sem deixar nada para o dia seguinte. Se algum resto tiver de ficar, queimem-no. Ao comê-lo devem estar vestidos e preparados como para uma longa viagem, com os sapatos de marcha e a vara na mão, e será comido à pressa. Isto é a Páscoa do Senhor. Porque eu passarei esta noite através da terra do Egito e matarei todos os filhos mais velhos, de entre os homens, e os primeiros nascidos dos machos entre os animais, e executarei o meu julgamento sobre todos os deuses do Egito, pois eu sou o Senhor. O sangue que tiverem colocado nas ombreiras e na verga das portas mostrará que vocês me obedeceram. Quando eu vir o sangue, passarei adiante e não matarei o filho primogénito dessa família, quando vier ferir o país do Egito. Celebrarão este acontecimento cada ano. É uma lei para sempre que vos lembrará esta noite especial. Esta celebração durará sete dias, durante os quais comerão apenas pão sem fermento. Quem desobedecer a este mandamento durante os sete dias da celebração será expulso da comunidade de Israel. Tanto no primeiro dia da celebração como no sétimo, haverá serviços religiosos especiais para toda a congregação, e não se fará trabalho de espécie alguma, exceto o necessário para a preparação dos alimentos. Esta celebração dos pães sem fermento, que terá lugar todos os anos, vos fará lembrar o dia em que vos vou tirar para fora do Egito. Por isso, é um mandamento que vocês terão de cumprir neste dia, anualmente, para sempre. Comerão apenas pão sem fermento, desde a noite do dia 14 até à noite do dia 21 deste mesmo mês. Durante os sete dias não deverá haver qualquer vestígio de fermento nas vossas casas. E se alguém nesse período comer seja o que for com levedura deverá ser expulso da comunidade de Israel. Tais regras terão de se aplicar igualmente aos estrangeiros que viverem convosco e aos naturais da terra. Repito: durante esse tempo não devem comer nada que tenha fermento, apenas pães sem fermento.” Moisés chamou então todos os anciãos de Israel e disse-lhes: “Escolham cordeiros dos vossos rebanhos, um cordeiro para uma ou mais famílias de acordo com o número de pessoas de cada família, e matem-no para que Deus ao passar não vos destrua: é o sacrifício da Páscoa. Escorram o sangue para uma bacia, façam um molho de ramos de hissopo e com ele ponham o sangue do cordeiro nos lados e na parte de cima da entrada da casa. Ninguém deverá sair nessa noite. Porque o Senhor passará por toda a terra para matar os egípcios, mas quando vir o sinal do sangue nas ombreiras e nas vergas da entrada, passará adiante e não permitirá que o destruidor entre e mate o filho mais velho. E lembrem-se: isto é uma lei para sempre, para vocês e para a vossa posteridade. Quando entrarem na terra que o Senhor vos der, como prometeu, quando estiverem a celebrar esta Páscoa, e os vossos filhos vos perguntarem: ‘O que é que isto significa?’, responderão assim: ‘É a celebração do sacrifício da páscoa do Senhor, quando ele feriu de morte os egípcios, ao ter passado sobre nós, sobre as casas do povo de Israel, e não nos destruiu.’ ” Então todos inclinaram as suas cabeças e adoraram o Senhor. O povo de Israel fez como Moisés e Aarão mandaram. Naquela noite, à meia-noite, o Senhor matou todos os primogénitos da terra do Egito, desde o filho mais velho do Faraó, seu sucessor no trono, até ao do prisioneiro que estava no cárcere, inclusive dos animais. O Faraó e a sua corte, assim como todo o povo do Egito, levantaram-se de noite. Começou a ouvir-se um clamor de aflição por toda a terra, porque não havia uma só casa em que a morte não tivesse entrado. O Faraó convocou Moisés e Aarão mesmo durante a noite e disse-lhes: “Deixem-nos! Vão-se embora todos e sirvam o Senhor como pretendem. Levem o gado e os rebanhos. Não deixem de me dar a vossa bênção de despedida.” Ao mesmo tempo, os egípcios faziam pressão sobre o povo de Israel para que saíssem da terra o mais depressa possível, porque diziam: “Se não, acabamos por morrer todos!” Os israelitas tomaram consigo a massa sem fermento, embrulharam as amassadeiras na roupa que tinham vestida ou puseram-nas ao ombro. Fizeram também como Moisés dissera: pediram aos egípcios que lhes dessem objetos e recipientes de prata e ouro assim como roupa. O Senhor fez nascer um movimento de simpatia dos egípcios a favor do povo, de tal forma que deram tudo de que os israelitas precisavam, ficando praticamente despojados de tudo o tinham. Nessa noite, o povo de Israel deixou Ramessés em direção a Sucote. Eram 600 000, só os homens, não contando as mulheres e as crianças; e todos iam a pé. Além disso, uma grande mistura de gente foi com eles e havia ainda o gado e os rebanhos. Era um vasto êxodo de animais. Cozeram pães sem fermento, com a massa que tinham trazido do Egito, porque não tinham tido tempo para preparar outras provisões. Os filhos de Israel estiveram 430 anos completos no Egito. Foi no último dia desses 430 anos que todo o povo do Senhor deixou aquela terra. Essa foi a noite escolhida pelo Senhor para tirar o seu povo fora do Egito e, por tal, escolhida para a celebração anual da salvação do Senhor. O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Estes são os regulamentos respeitantes à comemoração da Páscoa: Nenhum estrangeiro comerá do cordeiro, porém os servos comprados por dinheiro podem comer, se tiverem sido circuncidados. Mas o estrangeiro e o assalariado, esses não. Todos aqueles que comem do cordeiro devem estar juntos numa casa, não vão comê-lo para fora. Também não devem quebrar nenhum osso do cordeiro. Toda a congregação de Israel celebrará esta festividade ao mesmo tempo. Ainda, quanto aos estrangeiros, se estiverem a viver convosco e quiserem comemorar a Páscoa na vossa companhia, terão de fazer circuncidar todos os indivíduos do sexo masculino. Só assim poderão vir e celebrar com vocês, porque serão como se tivessem nascido no vosso meio. Doutra forma, nenhum incircunciso comerá do cordeiro. Esta lei deverá aplicar-se tanto aos naturais de Israel, como aos estrangeiros que estiverem a viver no vosso meio.” E todo o povo de Israel seguiu as instruções que o Senhor deu a Moisés e a Aarão. Naquele mesmo dia o Senhor trouxe para fora do Egito toda aquela grande multidão do povo de Israel. O Senhor deu as seguintes instruções a Moisés: “Consagra-me todo o primogénito, o primeiro a abrir o seio materno, dos filhos de Israel, assim como também o primogénito macho dos animais. Esses são meus!” Então Moisés disse ao povo: “Este é um dia para ser lembrado para sempre, o dia em que deixaram o Egito e a vossa escravidão, da qual o Senhor vos tirou através de muitas maravilhas. Agora não se esqueçam: durante a celebração anual deste acontecimento não deverão comer pão fermentado. Tomem bem nota do dia do vosso êxodo, no fim do mês de Abibe de cada ano, quando o Senhor vos tiver trazido para a terra em que ainda habitam os cananeus, os hititas, os amorreus, os heveus, os jebuseus, a terra que ele prometeu aos vossos pais, essa terra onde jorra leite e mel. Durante os dias dessa solenidade, em cada ano, deverão explicar aos vossos filhos a razão por que estão a fazer essa comemoração, que é por aquilo que o Senhor fez por vocês quando saíram do Egito. Esta semana de festividade solene, todos os anos, é como um sinal que vos qualifica para sempre como pertencendo ao Senhor, tal como se tivessem uma marca de propriedade nas mãos ou nas testas. Será assim para que a Lei do Senhor não se afaste das vossas bocas. Portanto, guardarão este mandamento sempre nesta mesma data. Também deverão cumprir o seguinte: Quando o Senhor vos trouxer para a terra que prometeu aos vossos antepassados, na qual os cananeus estão a viver atualmente, todo o primeiro filho que nascer, assim como o primogénito macho dos animais, pertence ao Senhor e deverão oferecer-lho. No caso de crias de burros, poderão ser resgatados em troca dum cordeiro ou cabrito; se não quiserem fazer esse resgate, partirão o pescoço ao burrinho. Dessa forma, igualmente todo o primeiro nascido dos seres humanos deverão resgatar por meio de uma oferta. Se acontecer no futuro que os vossos filhos vos perguntem: ‘Porque é que fazem isso?’, explicarão assim: ‘Porque foi com o seu poder que o Senhor nos trouxe do Egito, da escravidão em que vivíamos. O Faraó não queria deixar-nos partir. Então, o Senhor matou todos os primogénitos do sexo masculino da terra do Egito, tanto homens como animais. Por isso, agora, vos oferecemos ao Senhor, embora os primeiros dos nossos filhos os possamos resgatar.’ Mais uma vez vos digo, esta comemoração identifica-vos como o povo de Deus, como se tivessem uma marca de propriedade nas mãos ou nas testas. É uma lembrança do modo como o Senhor vos tirou do Egito com grande poder.” Aconteceu que, por fim, o Faraó deixou o povo ir. Contudo, Deus não os levou pelo caminho que atravessa a terra dos filisteus, ainda que fosse o caminho mais curto e direto para a terra prometida. A razão disso foi que Deus sentiu que o povo podia desencorajar-se ao ter de travar combates indo por ali e voltar para o Egito. Por isso, Deus os conduziu pelo caminho que atravessa o mar Vermelho e o deserto. Os israelitas saíram do Egito organizados como um exército. Moisés teve o cuidado de levar os ossos de José, conforme a promessa solene que este exigiu dos filhos de Israel de levaram os seus ossos dali, quando Deus os tirasse do Egito, visto que tinha a certeza de que ele haveria de fazer isso. Ao deixar Sucote acamparam em Etã, à entrada do deserto. O Senhor conduzia-os de dia por meio duma coluna de nuvem, a qual de noite se tornava em fogo. Desta forma, podiam deslocar-se tanto de dia como de noite. Nunca aquela coluna de nuvem e de fogo os deixou fosse de noite fosse de dia. O Senhor deu as seguintes indicações a Moisés: “Diz aos filhos de Israel que voltem e acampem diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom; acamparão aí junto ao mar. Porque o Faraó vai pensar assim: ‘Os israelitas estão aflitos, com certeza, entalados entre o deserto por um lado, e o mar por outro!’ E mais uma vez endurecerei o coração do Faraó, o qual se porá em vossa perseguição. Planeei assim para que seja ainda maior a minha honra e glória sobre o Faraó e os seus exércitos; e os egípcios saberão, sem dúvida alguma, que eu sou o Senhor.” E foi assim que acamparam ali como lhes tinha sido dito. Quando chegou aos ouvidos do rei do Egito que os israelitas não tencionavam voltar para o Egito, mas que se propunham continuar o seu caminho, o Faraó e a sua corte tornaram-se novamente ousados: “Mas afinal que foi isto que fizemos, deixando fugir todos estes escravos?” Então o rei mandou aprontar o seu carro de guerra e dar ordem de marcha. Formou um corpo de elite com 600 carros escolhidos, seguidos de todos os outros carros do Egito conduzidos por oficiais. Foi em perseguição do povo de Israel, pois o Senhor endurecera o coração do Faraó, rei do Egito, embora estes continuassem a sair corajosamente. Toda a cavalaria do Faraó, cavalos, carros e condutores, se empenhou nesta perseguição, tendo-os alcançado quando estavam acampados junto ao mar, perto de Pi-Hairote, diante de Baal-Zefom. Aproximando-se o exército egípcio, o povo de Israel viu-os à distância, correndo na direção deles, e ficaram terrivelmente atemorizados, começando a gritar ao Senhor por ajuda. Puseram-se até a dizer a Moisés: “Não havia bastantes sepulcros no Egito? Que necessidade havia de nos trazeres para aqui para acabarmos por morrer neste deserto? Para que é que nos tiraste de lá? Nós sempre te dissemos que nos deixasses em paz, e que era muito melhor sermos escravos no Egito do que vir a morrer neste deserto!” Contudo, Moisés disse ao povo: “Não estejam assim receosos. Tenham calma, estejam em paz e hão de ver a forma maravilhosa como o Senhor vos vai salvar hoje. Nestes egípcios que estão a ver aí a chegar, nunca mais hão de pôr os olhos em cima. O Senhor mesmo combaterá por vocês e vocês não farão mais do que assistir a tudo.” O Senhor falou a Moisés: “Não precisas continuar a clamar por mim. Diz ao povo que avance, que marche! E tu, levanta a tua vara sobre as águas e, no meio do mar, se abrirá um caminho na vossa frente; todo o povo passará por ali como se fosse em terra seca. Deixarei que o coração dos egípcios se endureça e que entrem obstinadamente nesse caminho também, atrás do povo, e verão a glória que obterei, derrotando o Faraó e o seu exército inteiro, carros e cavaleiros. Todo o Egito constatará, mais uma vez, que eu sou o Senhor.” Então o anjo de Deus que estava a conduzir o povo de Israel retirou a coluna de nuvem e veio pôr-se atrás deles; ficou assim entre o povo e os egípcios. Nessa noite, quando se tornou numa coluna de fogo, alumiava o campo dos israelitas, mas do lado dos egípcios havia escuridão. Por isso, estes últimos não conseguiram alcançá-los durante essa noite. Os egípcios meteram-se também por aquele caminho aberto no fundo do mar; cavalos, carros e condutores incluídos. Ao amanhecer, o Senhor, a partir da coluna de fogo e da nuvem, deu atenção ao campo dos egípcios e começou a desordená-los e a embaraçá-los. Saltavam as rodas dos carros e não podiam avançar. “Fujamos daqui!”, gritavam os egípcios. “O Senhor está a lutar por eles contra nós!” O Senhor disse a Moisés: “Estende de novo a tua mão sobre o mar, de forma que as águas se fechem sobre os egípcios, sobre os seus carros e cavaleiros.” Moisés obedeceu e o mar voltou à normalidade pela manhã. Os egípcios ainda tentaram fugir, mas o Senhor desembaraçou-se deles ali no meio do mar. As águas sepultaram-nos a todos; carros e condutores. De todo aquele grande exército do Faraó, que pretendia alcançar Israel através do mar, nem um só sobreviveu. Mas o povo de Israel pôde atravessar o mar como por terra seca, porque as águas formaram uma parede de ambos os lados da passagem. Dessa maneira, o Senhor salvou naquele dia Israel dos egípcios, que o povo via ali mortos na praia. Israel constatou assim o grande milagre que o Senhor fez por eles contra os egípcios, encheu-se de um profundo e reverente temor pelo Senhor e creu nele e no que lhe dizia Moisés, o servo de Deus. Então Moisés e todo o povo de Israel cantaram este cântico ao Senhor: “Canto ao Senhor porque triunfou gloriosamente, lançando ao mar os carros e os cavaleiros. O Senhor é a minha força, o motivo do meu cântico. Ele é a minha salvação. Ele é o meu Deus, por isso o louvarei. É o Deus de meu pai, por isso lhe darei glória. O Senhor é um poderoso combatente! Sim, Senhor é o seu nome! Lançou ao mar os carros de guerra e os exércitos do Faraó; todos os seus chefes militares de elite se afogaram no mar Vermelho; submergiram sob as águas profundas como se fossem pedras pesadas. A tua mão, Senhor, tem um poder glorioso; despedaça completamente o inimigo! Na grandeza da tua majestade abateste os que se levantaram contra ti. O teu furor arde e consome-os como palha. Tu sopraste com poder e as águas separaram-se! Formaram paredes que aguentaram solidamente o peso das águas. O inimigo dizia: ‘Vou persegui-los e apanhá-los! Vou dividir os seus despojos e com eles satisfazer os meus desejos! Desembainharei a espada para os exterminar!’ Mas Deus soprou o seu vento e o mar os cobriu e afundaram-se como chumbo naquelas águas impetuosas. Quem é como tu, desses deuses que há por aí? Quem é glorioso na sua santidade como tu? Quem é tão magnífico nas maravilhas que faz? Estendeste a tua mão e a terra os tragou! Pela tua bondade, conduziste o povo que salvaste; pela tua força, conduziste-o à tua santa morada. As outras nações ouviram o que aconteceu e tremeram; o medo apoderou-se dos habitantes da Filístia. Os chefes de Edom ficaram pasmados; os poderosos de Moabe tremeram; todos o habitantes de Canaã ficaram aterrorizados. O pavor e o espanto os dominou. Ó Senhor, foi por causa do teu forte braço que eles não conseguiram atacar-nos. O teu povo, que adquiriste para ti, passará sempre por eles em segurança. Tu os trarás e os plantarás na tua montanha, na tua santa terra, ó Senhor, o santuário que fizeste para eles viverem. O Senhor reinará eterna e perpetuamente!” Os cavalos do Faraó mais os seus cavaleiros, conduzindo carros de guerra, tentaram segui-los também através do mar. Mas o Senhor fez desabar sobre eles as paredes de água, enquanto o povo de Israel continuou no seu caminho como se fosse por terra seca. Então Miriam a profetisa, irmã de Aarão, pegou num tamboril e todas as mulheres a seguiram, dançando e tocando os seus pequenos tambores. E Miriam acompanhava a dança com estas palavras: “Cantem ao Senhor porque triunfou gloriosamente, lançando ao mar os carros e os cavaleiros.” Depois Moisés levou o povo do mar Vermelho em direção ao deserto de Sur e andaram naquela região três dias sem achar água. Chegaram a Mara e encontraram água, mas não a podiam beber porque era amarga. Daí o nome do lugar, que quer dizer amargo. O povo voltou-se contra Moisés: “E agora, vamos morrer de sede?” Moisés clamou ao Senhor por ajuda e o Senhor mostrou-lhe uma certa árvore, que lançou nessa água; e assim tornou-se boa para beber. Foi ali mesmo também que o Senhor lhes fixou as seguintes condições, para provar a sua vontade de o seguir: “Se estiverem decididos a obedecer à voz do Senhor, vosso Deus, e a fazer o que for reto, e seguirem atentamente os seus mandamentos e leis, guardar-vos-ei de todos os males que mandei ao Egito, porque eu sou o Senhor que vos sara.” Vieram a Elim, onde havia 12 fontes e 70 palmeiras, e acamparam ali perto da água. Depois deixaram Elim e chegaram ao deserto de Sim, que se encontra a meio caminho entre Elim e o Sinai, no dia 15 do segundo mês após a saída do Egito. Aí mais uma vez o povo falou amargamente a Moisés e a Aarão: “Para que é que saímos do Egito!? Mais valia que o Senhor nos tivesse morto lá, porque ao menos tínhamos o que comer, panelas cheias de carne e pão a fartar! Trouxeram-nos para este deserto para morrermos todos de fome.” Então o Senhor disse a Moisés: “Vou fazer chover alimento dos céus e cada um, todos os dias, poderá sair e apanhar tanto quanto necessitar para esse dia. Nisto verei se tencionam seguir as minhas ordens. Diz-lhes ainda que no sexto dia apanhem o dobro da quantidade dos outros dias.” Moisés e Aarão convocaram o povo e disseram-lhes: “Hoje, ao anoitecer, hão de verificar como foi o Senhor mesmo que vos tirou da terra do Egito. Então Moisés disse a Aarão para dizer a toda a congregação de israelitas: “Venham agora perante o Senhor e ouçam a sua resposta às vossas lamúrias.” E aconteceu que, quando Aarão estava a falar ao povo, de repente, do lado do deserto, na nuvem que os guiava, apareceu a tremenda glória do Senhor. E o Senhor falou a Moisés: “Ouvi a sua revolta. Diz-lhes que, ao cair da tarde, hão de ter carne e pela manhã fartar-se-ão de pão, e ficarão a saber que eu sou Senhor, o vosso Deus.” Nesse fim de tarde um grande número de codornizes apareceu e cobriu o acampamento. Pela manhã também todo o solo do deserto, à volta do acampamento, apareceu molhado de orvalho. E à medida que o orvalho ia desaparecendo ficava no chão algo como uns finos e leves flocos, qualquer coisa como uma espécie de geada. Quando o povo de Israel viu aquilo, perguntou pasmado: “Mas o que é isto?” E Moisés respondeu-lhes: “É o alimento que o Senhor vos dá a comer, do qual vos disse para cada um apanhar tanto quanto precisar, uns dois litros por cada pessoa duma família.” Então o povo foi recolhê-lo, uns mais, outros menos, conforme as necessidades de cada casa. Mediram o que recolheram com a medida de dois litros e cada um teve precisamente aquilo de que necessitava; o que recolheu muito não teve demais e o que colheu pouco, também nada lhe faltou. Moisés disse-lhes: “Que ninguém deixe nada para o dia seguinte.” O certo é que alguns não ligaram e deixaram ficar até de manhã. Quando foram ver estava cheio de bicho e cheirava mal. Por isso, Moisés se indignou muito com eles. Todas as manhãs iam buscar o alimento, cada um segundo as necessidades da sua casa. E quando o Sol começava a aquecer, durante a manhã aquilo, derretia-se e desaparecia. No sexto dia apanharam o dobro do habitual: quatro litros em vez de dois. Os responsáveis do povo relataram estes resultados a Moisés. “O Senhor determinou que amanhã seja um dia de repouso, portanto um sábado santo, dedicado ao Senhor, em que se deve evitar fazer tarefas correntes. Por isso, cozam o que quiserem, façam no forno a quantidade que entenderem, e o que sobejar, guardem-no para amanhã.” Na manhã seguinte a comida estava em perfeito estado de conservação e boa para comer, sem bichos nem mau cheiro. Moisés lembrou-lhes: “Este é o vosso alimento para hoje, porque hoje é um sábado consagrado ao Senhor e não aparecerá comida no solo. Durante seis dias apanhem conforme vos foi dito, porque o sétimo é um sábado e não acharão nada nesse dia.” Contudo, alguns do povo foram ver se encontravam comida, apesar de ser sábado, e não acharam nada. “Até quando recusará este povo obedecer-me?”, perguntou o Senhor a Moisés. “Não constataram eles que lhes dei duas vezes mais no sexto dia, de forma a que tivessem bastante para os dois dias? Porque o Senhor deu-vos o sétimo dia como um dia de sábado, de descanso. Fiquem nas vossas tendas e não saiam para arranjar alimento nesse dia.” Foi assim que o povo descansou no sétimo dia. E aquela comida ficou sendo conhecida como maná. Era uma coisa branca, parecida com a semente do coentro e tinha um sabor a bolo de mel. Moisés deu-lhes mais instruções da parte do Senhor: tiveram de recolher dois litros do maná para ser guardado para sempre como testemunho, de forma a que as gerações futuras pudessem ver o pão com que o Senhor os alimentara no deserto, depois de os ter tirado do Egito. Moisés disse a Aarão para arranjar um recipiente e pôr nele três litros de maná, para o conservar perante o Senhor, onde ficaria através dos tempos. Aarão fez tal como o Senhor ordenara a Moisés e foi guardado na arca do testemunho. Portanto, o povo de Israel comeu o maná durante 40 anos até chegarem à terra de Canaã, em que havia produtos da terra para se alimentarem. A quantidade que apanhavam era a décima parte do efa. Depois, sob a ordem do Senhor, o povo de Israel deixou o deserto de Sim, dirigindo-se por pequenas etapas a Refidim. Mas ao chegarem viram que não havia ali água. Então, mais uma vez se queixaram e resmungaram contra Moisés: “Mas nós queremos água!”, gemeram eles. “Tenham calma! Estarão a tentar pôr à prova a paciência do Senhor para convosco?” Contudo, atormentados pela sede gritavam: “Porque nos tiraste afinal do Egito e nos trouxeste para morrermos aqui, nós, os nossos filhos e o gado?” Então Moisés rogou ao Senhor: “Que hei de eu fazer? Daqui a pouco apedrejam-me!” Disse-lhe o Senhor: “Passa adiante do povo e toma contigo alguns dos anciãos de Israel contigo. Leva também na mão a vara com que bateste nas águas do Nilo, e segue em frente. Eu estarei à tua espera em Horebe, no alto da rocha. Bate nela com a tua vara, e dela sairá água da rocha, o bastante para toda a gente.” Moisés fez tudo como lhe tinha sido dito, na presença dos anciãos de Israel. Chamou pois àquele lugar Massá (prova). Às vezes, o povo também se referia a ele pelo nome de Meribá (contenda), porque foi ali que o povo de Israel contendeu com Deus e quiseram prová-lo, dizendo: “O Senhor está connosco ou não?” Então apareceram os amalequitas para combaterem contra o povo de Israel em Refidim. Moisés deu instruções a Josué para uma mobilização geral, convocando todos os homens para combater os amalequitas. “Amanhã”, disse-lhe Moisés, “estarei no cimo do monte com a vara de Deus na minha mão.” Josué e os seus homens foram combater o exército de Amaleque, enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram à colina. E todo o tempo que Moisés mantinha o braço levantado, Israel prevalecia e avançava sobre os seus inimigos; mas quando punha o braço para baixo, para descansar, eram os amalequitas os mais fortes. Por fim, Moisés tinha os braços de tal forma cansados que já não podia mais mantê-los elevados. Por isso, Aarão e Hur fizeram-no sentar-se numa pedra e puseram-se cada um do seu lado, segurando-lhe os braços com firmeza, e isto até ao pôr-do-sol. Desta forma, Josué e os seus homens derrotaram a gente de Amaleque com as suas espadas. O Senhor deu a Moisés as seguintes instruções: “Escreve isto num livro, para que fique registado para sempre, de forma a que ninguém mais o esqueça, e avisa Josué que hei de apagar completamente os vestígios da vida de Amaleque.” Moisés levantou um altar naquele sítio, a que chamou “O Senhor é a minha bandeira”. “Visto que a mão foi levantada ao trono do Senhor ”, disse Moisés, “eis que haverá para sempre guerra do Senhor contra Amaleque!” Jetro, sogro de Moisés e sacerdote de Midiã, ouviu falar acerca de todas estas coisas maravilhosas que o Senhor tinha feito pelo seu povo e por Moisés, e como os tinha tirado do Egito. Por isso, Jetro tomou Zípora, a mulher de Moisés, que ele tinha enviado para casa, e trouxe-lha, juntamente com os seus dois filhos. Um dos filhos chamava-se Gerson (estrangeiro ali) porque Moisés disse: “Andei peregrinando por uma terra estrangeira.” O outro chamava-se Eliezer (o meu Deus é ajuda), porque disse: “O Deus dos meus pais foi quem me ajudou e me livrou da espada do Faraó.” Quando eles chegaram estavam Moisés e o povo acampados junto ao monte de Deus. Então vieram dizer a Moisés: “Jetro, o teu sogro, veio ver-te e trouxe também a tua mulher e os seus dois filhos.” Moisés veio ter com eles e recebeu-os calorosamente. Estiveram assim uns momentos trocando cumprimentos e sabendo como passava um e outro. Depois vieram conversar para a tenda de Moisés. Este contou o que lhes tinha acontecido, o que o Senhor tinha feito ao Faraó e aos egípcios a fim de livrar Israel, assim como os problemas que se tinham levantado durante o caminho e como o Senhor lhes tinha dado solução. Jetro ficou muito satisfeito com tudo o que o Senhor fizera a Israel e com a forma como os tirou do Egito. “Louvado seja o Senhor ”, disse Jetro, “porque vos salvou dos egípcios e do Faraó e resgatou Israel. Agora sei como o Senhor é muito superior a todos os outros deuses, porque livrou este povo, quando os egípcios tratavam este povo com arrogância.” Jetro ofereceu sacrifícios a Deus. Depois Aarão e os anciãos de Israel vieram encontrar-se com ele para comerem juntos os alimentos oferecidos perante Deus. No dia seguinte Moisés sentou-se, como habitualmente, para ouvir as petições e queixas de uns contra os outros, que o povo pretendia apresentar-lhe, e isto de manhã à noite. O sogro, vendo o tempo que aquilo lhe tomava, disse-lhe: “Porque é que fazes isso sozinho, deixando o povo o dia todo aguardando a vez de saber a tua opinião?” “É porque o povo é comigo que vem ter para o ajudar a resolver as suas querelas e saber qual a vontade de Deus”, respondeu-lhe Moisés. “Eu sou o seu juiz, aquele que decide quem tem ou não razão, e que os instrui no caminho de Deus. Indico-lhes as ordens de Deus que se aplicam aos seus problemas particulares.” “Não está certo!”, exclamou o sogro. “Estás a desgastar-te; e até mesmo o povo não irá aguentar isto sempre. Escuta Moisés: é uma responsabilidade demasiada para que a suportes sozinho. Ouve o que eu te digo: é um conselho que te vou dar e com certeza que Deus será contigo. Continua a ser tu o advogado deste povo, o seu representante diante de Deus, a quem continuarás a apresentar os seus anseios, e problemas. A eles apresentarás as decisões de Deus e as suas ordens, indicando-lhes os princípios de uma vida de justiça. Mas por outro lado, procura homens dignos, tementes a Deus, honestos e competentes, e nomeia-os juízes, um por cada mil pessoas. Estes mesmos terão à sua responsabilidade dez outros juízes, cada um deles ocupando-se de cem pessoas. Por sua vez, a cada um destes também estarão subordinados dois juízes, um para cinquenta indivíduos. E por fim estes igualmente chefiarão mais cinco que terão a seu cargo as questões de dez pessoas. Que estes indivíduos sejam responsabilizados por servir o povo com justiça a todo o momento. Qualquer assunto de maior importância ou mais complicado podem trazer junto de ti. Mas as pequenas questões devem eles resolvê-las. Assim será mais fácil o teu cargo, se o repartires com eles. Se seguires este conselho e se Deus o aceitar, serás capaz de resistir, de ir até ao fim da tua missão, e haverá paz e harmonia entre o povo.” Moisés aceitou o conselho do sogro e pôs em execução a sugestão. Escolheu, de entre todo o Israel, homens competentes e fê-los juízes do povo, por escalões de mil, cem, cinquenta e dez pessoas, e em toda a ocasião à disposição do povo para aplicar a justiça. Os casos mais delicados traziam-nos diante de Moisés, mas todos os outros assuntos julgavam-nos eles próprios. Depois disto, Moisés despediu-se do sogro que regressou à sua terra. No primeiro dia do terceiro mês, depois daquela noite em que deixaram o Egito, os israelitas chegaram ao deserto de Sinai. Depois de terem levantado o acampamento em Refidim, vieram até junto do monte Sinai e ali ficaram. Moisés subiu aquele monte escarpado para se encontrar com Deus. Lá no alto ouviu a voz do Senhor que o chamava e lhe dizia: “Diz ao povo de Israel o seguinte: Vocês viram o que eu fiz aos egípcios e como vos trouxe como sobre as asas duma águia. Por isso, se me obedecerem e forem fiéis à aliança que fiz convosco, tornar-se-ão como a minha propriedade preciosa, obtida de entre todas as nações da Terra, ainda que a Terra toda afinal seja minha. E serão um reino de sacerdotes de Deus, serão uma nação santa. Isto falarás aos filhos de Israel.” Moisés voltou da montanha, chamou os anciãos do povo e disse-lhes o que o Senhor lhe transmitira. E todos responderam unanimemente: “Faremos tudo o que o Senhor nos disse.” E Moisés levou estas palavras até ao Senhor. Então o Senhor tornou a dizer-lhe: “Hei de vir ter convosco sob a forma de uma nuvem espessa, de forma a que o povo possa, ele próprio, ouvir-me quando falar contigo para não ter dúvidas nenhumas sobre o que tu lhes dizes.” Moisés falou ao Senhor o que o povo respondeu. Põe limites que o povo não deva ultrapassar e diz-lhes: Atenção que ninguém suba ao monte e que nem sequer toque na base do monte. Quem o fizer morrerá. Mão nenhuma lhe tocará, pois doutra forma deverá morrer, apedrejado ou com setas, seja ser humano ou mesmo animal. Mantenham-se afastados da montanha até ouvirem um longo toque da trombeta. Então, poderão subir o monte.” Moisés desceu para junto do povo, santificou-os e eles lavaram as suas vestes. E disse-lhes: “Estejam preparados para quando Deus aparecer ao terceiro dia. Abstenham-se de relações sexuais com as vossas mulheres.” Ao amanhecer do terceiro dia ouviram-se grandes trovões seguidos de relâmpagos, e uma grande nuvem desceu sobre a montanha, ouvindo-se então um longo e pesado toque de trombeta, como de uma grande trompa, e todo o povo que estava no acampamento tremeu. Moisés levou-os do acampamento ao encontro de Deus e ali ficaram no sopé da montanha. Todo o monte Sinai estava coberto de fumo, porque o Senhor tinha descido sobre ele em forma de fogo. O fumo subia até ao céu como se saísse duma fornalha e toda a montanha estremecia abalada por um forte tremor de terra. Um som de trompa ia crescendo mais e mais. Moisés falou e Deus respondeu-lhe. Então, tendo o Senhor descido sobre o monte Sinai, chamou Moisés para que subisse até ele. Contudo, o Senhor teve de dizer a Moisés: “Volta a descer e avisa o povo que não ultrapasse os marcos que limitam a montanha. Eles que não tentem ver o Senhor porque morreriam. Até mesmo os sacerdotes, que têm por função chegar-se ao Senhor, devem santificar-se primeiro para que o Senhor não os destrua.” “O povo não faria tal coisa”, protestou Moisés. “Tu já lhe disseste que não viessem à montanha e para isso mandaste-me pôr limites à volta do monte e declarar-lhes que este chão é santo, reservado a Deus.” Mas o Senhor respondeu-lhe: “Vai, desce, traz contigo Aarão, e não deixes que os sacerdotes ou o povo ultrapassem os limites e venham até cá, porque teria de os destruir.” Então Moisés desceu para junto do povo e comunicou-lhes o que Deus lhe dissera. E Deus falou-lhes as seguintes palavras: “Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te libertou da escravidão do Egito. Não prestes culto a outros deuses senão a mim. Não faças imagens nem esculturas de ídolos: seja do que for que viva no céu, na Terra ou nos mares. Não te inclines perante elas, nem lhes prestes adoração. Porque eu sou o Senhor, teu Deus. Não admito partilhar o culto com outros deuses e castigo a maldade dos que me desprezam, até à terceira e até à quarta geração. Mas dispenso o meu amor sobre milhares dos que me amam e me obedecem. Não faças uso do nome do Senhor, teu Deus, de uma forma irreverente. Não escaparás ao castigo se o fizeres. Lembra o dia de sábado como um dia santo. Durante seis dias trabalharás, e neles realizarás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás qualquer trabalho; nem os teus filhos, nem os teus servos, nem os teus animais, tão-pouco os estrangeiros que vivem contigo. Porque foi também em seis dias que o Senhor fez os céus, a Terra, os mares e tudo o que neles existe, e ao sétimo dia repousou. Foi assim que o Senhor abençoou o sétimo dia e declarou que esse dia seria santo. Honra o teu pai e a tua mãe, para que tenhas uma longa vida na terra que o Senhor, teu Deus, te dá. Não mates. Não adulteres. Não roubes. Não profiras uma falsa acusação contra outra pessoa. Não cobices a casa do teu próximo. Não cobices a mulher do teu próximo, nem o seu servo ou a serva, o gado e os animais de carga, ou qualquer outra coisa que lhe pertença.” Todo o povo viu os relâmpagos e o fumo que subia da montanha e ouviu igualmente o trovão e o longo e terrível toque da trombeta; e mantiveram-se à distância atemorizados. Por isso, disseram a Moisés: “Diz-nos tu o que Deus mandar que nós obedeceremos, mas que não seja o Deus a falar diretamente connosco, porque se assim fosse haveríamos de morrer.” “Nada receiem!”, disse-lhes Moisés, “porque Deus veio desta maneira, mas foi para vos dar a conhecer o seu grande poder de forma a que daqui em diante sintam horror em pecar contra ele.” Enquanto o povo se mantinha à distância, Moisés penetrou naquela obscuridade onde Deus se encontrava. Então o Senhor disse-lhe que fosse portador da seguinte mensagem junto do povo: “Vocês são testemunhas de como vos dou a conhecer a minha vontade e vos falo desde o céu. Lembrem-se que não devem fazer nem prestar culto a ídolos feitos de prata ou ouro. Os altares que me consagrarem devem ser feitos de terra, com toda a simplicidade. Neles me oferecerão os vossos sacrifícios, holocaustos e ofertas de paz, de ovelhas e de bois. Só levantarão altares onde eu vos disser, e aí vos abençoarei. Poderão também fazer altares de pedra, mas se assim for hão de ser de pedras toscas, ao natural, e nunca de pedras trabalhadas. Não empreguem escopro e martelo para as preparar, porque seria uma profanação. Nunca lhe façam degraus, para que não se veja nenhuma parte do corpo. E devem cumprir outras leis: Se um hebreu tiver de se vender a ti por te ter ficado a dever algo que não pôde pagar, só durante seis anos te servirá. Ao sétimo ficará livre sem ter mais nada a pagar pela sua liberdade. Se ele se casou depois de se ter vendido para te servir, só ele sairá livre, mas se já era casado antes, então a sua mulher será libertada com ele. Portanto, se o seu senhor lhe deu uma mulher enquanto o servia, e se tiveram filhos, a mulher e os filhos continuarão a pertencer ao senhor, e ele sairá livre. Se esse homem declarar: ‘Prefiro continuar a servir o meu senhor, quero ficar com a minha mulher e os meus filhos, não me interessa ficar livre’, então o seu senhor o trará perante os juízes e publicamente lhe furará as orelhas. Assim ficará a servi-lo para sempre. Se um homem vender a sua filha como serva, ela não será liberta ao fim dos seis anos como os homens. Se ela não agradar aos olhos daquele que a comprou para casar com ela, deixará que seja resgatada. Mas não poderá tornar a vendê-la a um estrangeiro, pois que a enganou. E se ele vier a casá-la com o seu filho, não a tratará mais como serva, mas sim como filha. Se esse mesmo homem vier a casar de novo, não deverá reduzir em nada nem o vestuário nem a alimentação da primeira, nem deixará de lado as suas obrigações conjugais para com ela. Se falhar numa destas três coisas, ela poderá sair livre sem ter ela própria de pagar seja o que for. Quem ferir outra pessoa de forma a que esta venha a morrer, terá também certamente de morrer. Mas se tiver sido por acidente, por Deus o ter posto no seu caminho, e se não foi, portanto, intencionalmente, então eu vos indicarei um sítio para onde correrá para se proteger. Contudo, se alguém deliberadamente atacar outra pessoa, matando-a propositadamente, vão buscá-lo, nem que esteja agarrado ao altar, pois terá de morrer. Quem ferir o seu pai ou a sua mãe também terá, sem falta, de morrer. Do mesmo modo, quem raptar um indivíduo terá de ser morto, venha ele a ser encontrado ainda na posse da sua vítima ou já o tenha vendido como escravo. Quem ultrajar ou amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe deverá morrer. Se numa zaragata um homem ferir o outro, seja com uma pedra ou com um murro, de tal forma que o outro tenha de ficar de cama ferido, não será por isso que deva ser morto, se o que foi ferido vier a restabelecer-se e a poder andar, ainda que só o possa fazer com ajuda de muletas. O indivíduo que feriu o outro não será culpado de morte, tendo no entanto que o indemnizar pelo tempo em que esteve retido doente, e pelas despesas de tratamento. Se uma pessoa bater no seu servo, seja este homem ou mulher, de forma a que venha a morrer, será certamente culpado de morte. Contudo, se dentro de um ou dois dias o servo não morrer, ficará isento de castigo, porque o servo é sua propriedade. Se dois homens brigarem entre si e durante a luta ferirem uma mulher grávida, e isso for causa de danos graves para esta, embora não venha a morrer, aquele que a feriu terá de pagar a quantia que o marido da mulher lhe exigir, com a aprovação dos juízes. Mas se resultar a morte, então o culpado terá de morrer. Olho por olho, dente por dente. Se alguém te ferir a mão, fere-lhe a sua. Se te ferirem o pé, fere-lhe o seu. Queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe. Quando alguém ferir o seu servo ou serva num olho, e se ficar cego, o servo deverá ficar livre por causa disso. Da mesma forma, se em vez dum olho for um dente, ficará livre em paga do dente que perdeu. Se um boi escornear um homem ou uma mulher, tirando-lhe a vida, o boi terá de ser apedrejado e não se comerá a sua carne. Mas o dono do animal não será culpado de nada, a menos que o boi fosse já conhecido como atacando habitualmente as pessoas e o dono não tivesse tomado as devidas precauções para o controlar ou guardar. Neste caso também o dono deverá ser executado. No entanto, se a família do morto aceitar uma indemnização, então o dono deverá pagar o que lhe é exigido por resgate da sua vida. A mesma lei se aplicará no caso do animal ter matado um rapaz ou uma rapariga. Mas se tiver um servo ou uma serva, deverá ser pago ao senhor do servo trinta peças de prata e o boi será na mesma apedrejado. Se um homem cavar um poço e não o cobrir, e se um boi ou um burro cair nele, o dono da cova deverá reembolsar o proprietário do animal do seu custo, mas ficará com o animal morto. Se um boi matar outro, os donos de ambos procurarão vender o que ficou vivo e dividir entre si o dinheiro obtido, assim como também o próprio animal morto. Mas se o boi já era conhecido por ser mau e o dono não o guardou como devia, nesse caso não haverá partilha; o dono vivo pagará ao outro o custo do animal morto, ainda que guardando este para si. Se alguém roubar um boi ou um cordeiro e depois o matar e vender, deverá pagar uma multa. No caso do boi, será cinco vezes o custo de um boi, ou cinco bois pelo boi roubado. Para o cordeiro será o quádruplo, quatro cordeiros pelo roubado. Se o ladrão for morto ao assaltar uma casa, o que o matar não será culpado. No entanto, se tal acontecer em pleno dia, o que matar deverá ser incriminado de assassínio. Um ladrão que vier a ser capturado terá de restituir tudo o que roubou. Se não puder fazê-lo, será vendido para pagamento da sua dívida. Se for apanhado a roubar um boi, um burro ou um cordeiro, estando ainda vivo, terá de pagar uma multa equivalente ao dobro do preço dos animais. Se alguém soltar o seu animal e deliberadamente o deixar ir para o campo ou para a vinha doutra pessoa, terá de pagar uma indemnização ao outro, equivalente ao melhor da sua colheita. Se um campo tiver sido incendiado e o fogo acabar por queimar os molhos de trigo, a seara ou seja o que for do campo de um vizinho, o que fez a queimada terá de pagar tudo o que ardeu. Se alguém der dinheiro ou bens a guardar a uma outra pessoa, e se esta última vier a ser roubada, o ladrão deverá pagar o dobro de tudo, no caso de ser apanhado. Se o ladrão não for encontrado, então aquele a quem os valores foram confiados terá de vir à presença de Deus para se determinar se foi ele próprio ou não o ladrão. Sempre que um animal, boi, jumento, cordeiro, ou uma peça de vestuário, ou seja o que for, se tiver perdido e o seu proprietário julgar que isso está na posse de outra pessoa, a qual negue a acusação, então ambas as partes terão de ir perante Deus e aquele que Deus declarar deverá pagar ao outro o dobro. Se uma pessoa pedir a outra que lhe guarde o burro, ou o boi, ou o cordeiro, ou outro qualquer animal, e este vier a morrer ou a ser ferido ou a fugir, sem que haja testemunhas que confirmem o sucedido, então o que se responsabilizou por ficar com o animal terá de jurar que não o roubou e o primeiro deverá aceitar a sua palavra e não haverá lugar a nenhuma restituição ou multa. Mas se o animal tiver sido realmente roubado, deverá dar ao dono o seu preço. No caso do animal ter sido ferido por uma besta feroz, trará ao dono a carcaça ou os restos, em testemunha do facto e não haverá lugar a pagamento algum. Se for pedido emprestado um animal ou um objeto qualquer que venha a ser ferido, morto ou estragado, sem que o dono daquilo que foi emprestado estivesse presente, este último terá a receber o equivalente àquilo que emprestou. No entanto, se isso acontecer na presença do dono, não haverá necessidade de pagamento. A mesma decisão se aplicará se tiver sido alugado, porque a eventualidade de danos ou perdas já está incluída no contrato de aluguer.” “Se um homem seduzir uma rapariga virgem, ainda não comprometida com ninguém, e se deitar com ela, deverá certamente casar com ela, pagando aos pais o dote habitual. No entanto, se o pai dela recusar de todo, terá apenas de pagar o correspondente ao dote, como se casasse. Os feiticeiros terão de morrer. Quem tiver relações sexuais com animais com certeza deverá morrer. Quem oferecer sacrifícios a outros deuses que não seja o Senhor terá de ser executado. Não deverão oprimir um estrangeiro de nenhuma maneira. Lembrem-se que foram também estrangeiros na terra do Egito. Não explorarão nem viúvas nem órfãos. Se o fizerem, qualquer que seja o modo, e se eles clamarem pela minha ajuda, certamente lhes responderei. A minha cólera se inflamará contra vocês e serão mortos com as armas dos vossos inimigos, de tal forma que as vossas próprias mulheres se tornarão viúvas e os vossos filhos órfãos. Se emprestarem dinheiro a um vosso irmão hebreu necessitado, não o farão com interesse usurário. Se lhe ficaram com uma peça de roupa como penhor deverão devolver-lha à noite; porque provavelmente precisará dela para se agasalhar e como poderá deitar-se sem ela? Se não o fizerem e ele clamar por mim, ouvi-lo-ei porque eu sou misericordioso. Não insultarão Deus. Não amaldiçoarão os que vos governam, os vossos juízes e os vossos chefes. Serão prontos em dar-me os primeiros frutos das vossas colheitas, assim como o que começar a correr dos vossos lagares. A cria que primeiro nascer aos vossos bois e cordeiros dar-me-ão ao oitavo dia, depois de a ter deixado com a mãe durante os sete primeiros dias de vida. E visto que são um povo santo, um povo meu, especial, não comam nenhum animal que tenha sido atacado e morto por uma besta feroz. Deixem a carcaça para que os cães a comam. Não aceitem nem divulguem falsos boatos. Não cooperem com gente perversa dando testemunho de algo que sabem não ser verdade. Não sigam as multidões quando for para fazer mal. Quando tiverem de testemunhar numa questão qualquer, não sejam tendenciosos ou parciais para estar com a maioria ou com a parte mais influente ou poderosa. Também, por outro lado, não deverão favorecer um pobre pelo facto de ser pobre. Se encontrarem o boi ou o jumento do vosso inimigo, que se tenha desgarrado, devem ir levá-lo ao seu dono. Se virem o vosso inimigo tentando levantar o seu animal que vergou sob uma carga demasiado pesada, não deixarão de o ajudar. Pelo facto de um homem ser pobre, isso não é razão para torcerem a justiça contra ele. Afastem-se da falsidade e nunca admitam a condenação de um inocente. Nunca darei o meu consentimento a tal injustiça. Também nunca se deixem subornar, porque o suborno impede-vos de verem com clareza e transtorna as palavras dos justos. Não oprimam os estrangeiros. Vocês bem sabem o que é ser estrangeiro. Lembrem-se das vossas experiências na terra do Egito. Durante seis anos semeiem e colham os frutos das vossas terras, mas deixem a terra repousar durante o sétimo ano, e permitam aos pobres do povo colher algumas plantas que cresçam naturalmente. O resto que ficar seja para os animais. Isto aplicar-se-á igualmente às vinhas e aos olivais. Trabalhem durante seis dias apenas e descansem ao sétimo. Isto é para que descanse o vosso boi, o vosso jumento, assim como o pessoal que trabalha convosco, na vossa casa, tanto os servos como os estrangeiros. Não deixem de obedecer a todas estas instruções. E lembrem-se que nunca deverão sequer mencionar o nome de outros deuses. Há três festividades anuais que devem celebrar em minha honra. A primeira é a dos pães sem fermento, em que durante sete dias deverão comer pão sem fermento, tal como já vos tinha ordenado. Esta celebração terá lugar todos os anos em data certa, ou seja, no mês de Abibe, o mês em que deixaram o Egito. Toda a gente me trará um sacrifício nessa altura. Depois há a festa da ceifa, em que deverão trazer-me os primeiros frutos do que tiverem semeado. E, finalmente, a festa das colheitas, no fim da época em que colhem todo o resultado do vosso trabalho. Nestas três ocasiões, em cada ano, todos os homens em Israel deverão comparecer perante o Senhor Deus. Não oferecerão sangue dos sacrifícios com pão levedado. Também não deixarão que a gordura, que não foi oferecida em sacrifício, fique de noite até à manhã seguinte. Trarão à casa do Senhor, vosso Deus, o melhor dos primeiros frutos da colheita de cada ano. Não cozerão um cabritinho no leite da sua mãe. Vou enviar-vos um anjo que na vossa frente vos conduzirá com segurança para a terra que vos preparei. Respeitem-no e obedeçam às suas instruções. Não se insurjam contra ele, porque não perdoará a vossa transgressão. O meu nome está nele; é meu representante. Mas se tiverem o cuidado de lhe obedecer, seguindo todas as suas instruções, então serei o adversário dos vossos inimigos. Pois o meu anjo irá à vossa frente para vos conduzir até à terra dos amorreus, hititas, perizeus, cananeus, heveus e jebuseus, para que vivam aí, e destruirei esses povos. Não prestarão culto aos deuses desses povos, não os servirão, não lhes oferecerão sacrifícios, seja de que maneira for. Não deverão seguir os maus exemplos desses povos idólatras. Deverão destruí-los totalmente e quebrar todos os seus ídolos vergonhosos. Servirão o Senhor, vosso Deus, unicamente. Então vos abençoarei com comida e com água, e tirarei a doença do vosso meio. Não haverá quem aborte, nem quem seja estéril em toda a terra e viverão a cota máxima dos anos da vossa vida. Espalharei o meu terror sobre todos os povos cujas terras invadires e eles hão de fugir à vossa frente; enviarei vespões que lançarão fora os heveus, os cananeus e os hititas diante de vocês. Não farei isso num só ano, porque assim a terra ficaria deserta e os animais selvagens se multiplicariam de forma que não poderiam ser controlados. Será pouco a pouco até que a vossa população tenha aumentado o suficiente para encher a terra. Porei as vossas fronteiras desde o mar Vermelho até à costa da Filístia, desde os desertos do sul até ao rio Eufrates. Farei com que derrotem os povos que vivem agora nessa terra e os expulsarão da frente. Não deverão fazer qualquer espécie de tratado com eles, nem tenham nada a ver com os seus deuses. Não permitam que vivam no vosso meio, para que não vos façam pecar contra mim, adorando os seus falsos deuses, o que seria para vocês uma armadilha fatal.” Depois o Senhor instruiu assim Moisés: “Sobe aqui com Aarão, Nadabe e Abiú, mais 70 dos anciãos de Israel. Todos vocês, com exceção de Moisés, adorarão à distância. Apenas Moisés se aproximará do Senhor. E não se esqueçam que ninguém do povo deverá subir com ele.” Então Moisés anunciou ao povo todas as leis e mandamentos que Deus lhe tinha dado. O povo respondeu por unanimidade: “Obedeceremos a todas essas palavras.” Moisés escreveu tudo o que o Senhor lhe dissera. De manhã cedo construiu um altar ao pé da montanha com doze pilares à volta, porque eram doze as tribos de Israel. Em seguida, mandou alguns mancebos sacrificarem holocaustos de novilhos e ofertas de paz ao Senhor. Moisés tomou metade do sangue destes animais e deitou-o em bacias. Com a outra metade aspergiu o altar. E leu para o povo o livro da aliança. E o povo tornou a dizer: “Prometemos obedecer a tudo o que o Senhor ordenou.” Em seguida, Moisés aspergiu o povo com o sangue que estava nas bacias dizendo: “Este sangue confirma a aliança que o Senhor fez convosco, na base de todos estes mandamentos.” Então Moisés, Aarão, Nadabe e Abiú, mais 70 dos anciãos de Israel subiram à montanha. E viram o Deus de Israel. Sob os seus pés parecia haver um chão de pedras de safira, tão límpidas como o azul do firmamento. Contudo, ainda que tenham visto Deus, ele não destruiu esses privilegiados dos filhos de Israel. E assim puderam continuar a comer e a beber. O Senhor disse a Moisés: “Sobe à montanha junto de mim e fica aí até que te dê a Lei e os mandamentos que escrevi nas placas de pedra, para que possas ensinar o povo com elas.” Moisés, acompanhado de Josué, seu auxiliar, subiu à montanha de Deus. E disse para os anciãos: “Fiquem aqui, esperem por nós até que regressemos. Se houver algum problema, enquanto estamos ausentes, consultem Aarão e Hur.” Então Moisés subiu à montanha e desapareceu numa nuvem que cobria o cimo. A glória do Senhor permaneceu sobre o monte Sinai e a nuvem o cobriu durante seis dias. Ao sétimo, ele chamou Moisés desde a nuvem. Os que estavam em baixo puderam observar aquele tremendo espetáculo. A glória do Senhor no cimo da montanha parecia um fogo devorador. Moisés entretanto desapareceu lá no cimo, no interior da nuvem, e ali ficou quarenta dias e quarenta noites. O Senhor disse a Moisés: “Diz ao povo de Israel que quem quiser pode trazer-me uma oferta, se o seu coração se sentir movido a isso; estas são as ofertas que podem receber: ouro, prata ou bronze; tecido azul, púrpura e vermelho, feito de linho fino retorcido ou de pelo de cabra; peles de carneiro tingidas de vermelho e curtidas, peles de couro fino; madeira de acácia; azeite para os candeeiros; especiarias para o óleo da unção e para o incenso aromático; pedras de ónix e pedras para serem usadas no éfode e no peitoral. Pois pretendo que o povo de Israel me faça um santuário no qual eu possa viver no meio deles. Esta minha casa será uma tenda, um tabernáculo. Mostrar-te-ei o plano para a sua construção e os detalhes para o fabrico de cada objeto. Com madeira de acácia farás uma arca de 125 centímetros de comprimento, 75 centímetros de largura e 75 centímetros de altura. Revesti-la-ás de ouro puro por dentro e por fora. Pôr-lhe-ás uma moldura em toda a volta, também em ouro. Molda quatro argolas de ouro, que fixarás aos seus quatro cantos, duas argolas de cada lado. Faz varas de madeira de acácia revestidas de ouro e mete-as nas argolas nos lados da arca, para poder ser transportada. Estas varas permanecerão sempre nas argolas. Nunca deverão ser tiradas. Colocarás no seu interior as placas de pedra que te darei como testemunho. Faz uma tampa de ouro puro, um propiciatório, de 125 centímetros de comprimento, por 75 de largura. Moldarás dois querubins de ouro, trabalhados a martelo, e os porás um em cada extremidade da tampa da arca. Eles serão moldados de forma a fazer com essa tampa, que é o propiciatório, uma só peça. Os querubins estarão virados um para o outro, olhando para baixo, para o propiciatório. Terão as asas estendidas cobrindo o propiciatório. Coloca a tampa sobre a arca e, no interior desta, o testemunho que te darei. Ali me encontrarei contigo e te falarei, de cima do propiciatório, por entre os querubins que estão sobre a arca do testemunho. Nesse lugar te darei os meus mandamentos para o povo de Israel. Também farás uma mesa de madeira de acácia com 1 metro de comprimento, 50 centímetros de largura e 75 de altura. Reveste-a com ouro puro e faz-lhe uma moldura de ouro em volta. Põe-lhe também uma coroa de ouro de 7 centímetros de altura à volta da mesa. Faz quatro argolas de ouro e coloca-as nos cantos exteriores das quatro pernas da mesa, junto ao tampo. Estas argolas são para as varas com que será transportada. Faz as varas de madeira de acácia revestidas de ouro, pois através delas, a mesa será transportada. Faz pratos, colheres, jarros e taças, tudo em ouro puro, e sobre a mesa coloca o pão da Presença, o qual deve estar sempre diante de mim. Farás um candelabro de ouro puro, trabalhado a martelo. Todo ele, mais os seus ornamentos, serão de uma só peça: a base, as hastes, os cálices e os botões em forma de flores de amendoeira. O candelabro terá seis hastes, três para cada lado. Em cada uma das hastes haverá três cálices em forma de flor de amendoeira, com botão e flor. A haste central do candelabro será decorada com quatro cálices em forma de flor de amendoeira, com os seus botões e flores; uma entre cada saída das hastes laterais. Igualmente o pé, no meio do candelabro, será decorado com flores de amendoeira, uma flor sob a saída de cada um dos três pares de hastes laterais e uma outra na extremidade. Toda esta decoração e as hastes deverão ser uma só peça de ouro puro, trabalhado a martelo. Depois farás sete lâmpadas para este candelabro. Fá-las-ás de forma a que iluminem para a frente dele. As peças com que se espevitarão as luzes, como as que servirão para as apagar, serão também feitas de ouro puro. Precisarás de 34 quilos de ouro puro para o candelabro e seus acessórios. Certifica-te de que farás tudo de acordo com o modelo que te mostrei aqui na montanha. Junta cinco desses véus, lado a lado, de maneira a formarem duas longas peças retangulares. Emprega laços azuis para poder juntar estas duas peças lado a lado. Terá de haver cinquenta pares de laços azuis para prender as duas extremidades. E terá que haver igualmente cinquenta colchetes de ouro para poder atar os laços, de forma a que o tabernáculo, a morada de Deus, fique todo de uma só peça unida. A sua cobertura será de mantas de pelo de cabra. Terá de haver onze dessas cobertas, cada uma com 15 metros de comprimento por 2 de largura. Juntarás cinco delas, sobre uma secção da largura da tenda, e outras para a outra parte da largura, de forma a que a sexta coberta caia, em forma de véu, sobre a frente do tabernáculo. Emprega laços nas bainhas de cada uma destas duas grande peças, para poder depois juntá-las com cinquenta colchetes de bronze. Toda a estrutura desta tenda sagrada será de madeira de acácia. Cada tábua terá 5 metros de altura por 75 centímetros de largura e será colocada ao alto, com uma ranhura numa extremidade, para poder encaixar na tábua seguinte. O lado sul da tenda será formado por vinte destas tábuas, que ficarão assentes em quarenta bases de prata. Cada tábua terá duas dessas bases. Do lado norte também haverá vinte tábuas, com as suas quarenta bases de prata, duas bases sob cada tábua. Mas do lado ocidental serão apenas seis tábuas. Em cada canto serão postas duas tábuas. Estas duas tábuas de canto estarão presas entre si por meio de argolas. Ao todo haverá oito tábuas nos cantos da construção, com dezasseis bases de prata, duas bases para cada tábua. Farás também barras de madeira de acácia que prendam as tábuas e fiquem atravessadas de um lado ao outro, cinco traves para cada lado do tabernáculo, assim como mais cinco para a retaguarda, do lado do ocidente. A barra do meio, que ficará a meia altura das tábuas, atravessá-las-á de uma ponta à outra. As tábuas serão cobertas de ouro. As argolas por onde passarão as traves e que as suportarão serão feitas de ouro. As traves estarão igualmente revestidas de ouro. Levantarás esta tenda, o tabernáculo, conforme o modelo que te mostrei no monte. Depois farás um véu de azul, púrpura, vermelho, de linho fino retorcido, com querubins artisticamente bordados no tecido. Este véu ficará suspenso em quatro colunas de madeira de acácia, cobertas de ouro, por meio de quatro ganchos de ouro. Os pilares assentarão em quatro bases de prata. Colocarás o véu nos ganchos e por detrás dele ficará a arca que contém as placas de pedra onde está gravada a Lei de Deus. O véu ficará assim a separar o lugar santo do lugar santíssimo. A seguir, instalarás o propiciatório, isto é, a tampa de ouro da arca do testemunho, no lugar santíssimo. Põe a mesa do lado de fora do véu, diante dele, o candelabro ao lado da mesa, de forma a que esta fique do lado norte do tabernáculo, em relação ao candelabro que ficará a sul. Farás também outro véu para a entrada da tenda sagrada, artisticamente bordado com fino linho retorcido, azul, púrpura e vermelho. Suspende este véu em cinco postes revestidos de ouro, por meio de ganchos de ouro, uma base de bronze para cada poste. Com madeira de acácia farás também um altar de 2,5 metros de lado e 1,5 metros de altura. Porás chifres nos quatro cantos do altar, os quais ficarão muito bem fixados, de forma a fazerem um só corpo com o altar. Revestirás tudo de bronze. E todos os seus utensílios serão igualmente em bronze: os recipientes para recolher as cinzas, as pás, as bacias, os garfos e os ganchos. O altar terá também uma grelha com argolas nos cantos. Ficará pendurado a meia altura da caixa interior do altar. Para poder deslocar este altar farás varas de madeira de acácia, revestidas de bronze, que passem por argolas de cada lado do altar, para ser transportado. Este deverá ser oco, e feito de pranchas, como te foi mostrado no monte. Seguidamente, farás um pátio para o tabernáculo, cercado por véus de linho fino retorcido. A sul, os véus medirão 50 metros e ficarão suspensos por vinte postes, os quais estarão assentes em vinte bases de bronze. Os véus estarão pendurados em ganchos de prata os quais estarão presos a pequenas hastes de prata ligadas aos postes. Será o mesmo quanto ao lado norte do pátio: 50 metros de véus, seguros por vinte postes assentes em bases de bronze, com ganchos e hastes de prata. O lado ocidental terá 25 metros de largo com dez postes e dez bases. O lado oriental terá igualmente 25 metros, mas da seguinte maneira: A entrada do pátio terá um véu de 10 metros de largo, com artísticos bordados com linho fino retorcido, a azul, púrpura e vermelho, sustentado por quatro colunas com quatro bases. Todos os postes à volta do pátio deverão estar ligados entre si com varas de prata. Os ganchos serão de prata, e todos os postes embutidos em sólidas bases de bronze. Assim, o pátio terá 50 metros de comprimento, por 25 de largura, com paredes de véus de 2,5 metros de altura, feitos com linho fino retorcido, e as suas bases, de bronze. Todos os utensílios utilizados no serviço do tabernáculo, incluindo os pregos e as cavilhas para pendurar na parede os diferentes objetos, serão feitos de bronze. Dá instruções ao povo para que te traga azeite puro para ser usado nas lâmpadas do tabernáculo, para que estejam ardendo continuamente. Aarão e os seus filhos colocarão esta chama eterna no lado de fora do véu que está junto à arca do testemunho, na tenda do encontro, e ocupar-se-ão dela de forma a que brilhe toda a noite diante do Senhor, sem nunca se apagar. Isto é uma lei que nunca será alterada em todas as gerações dos filhos de Israel. Consagra o teu irmão Aarão e os seus fihos, Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar, para me servirem como sacerdotes. Faz fatos especiais para Aarão, que indiquem a sua separação para Deus e que pela beleza e ornamentação porão em relevo a dignidade deste serviço. Dá instruções àqueles a quem dei especial habilidade como costureiros, que lhe confecionem vestuário que o consagre para Deus, à parte dos outros, de forma a que possa prestar-me serviço na função de sacerdote. Esta é a roupa que ele há de ter: um peitoral, um éfode, um manto, uma túnica bordada a cores, um turbante e um cinto. Farão igualmente vestimentas especiais para os filhos de Aarão a fim de que possam servir-me na função de sacerdotes. As vestes serão feitas com fio azul, púrpura e vermelho e linho fino. O éfode será confecionado pelos mais hábeis artífices e nele empregarão fio azul, púrpura e vermelho de linho fino retorcido. Consistirá em duas peças para os ombros, ligadas nas extremidades. O cinto será do mesmo material: usarão fios de ouro, azul, púrpura e vermelho de linho fino retorcido. Toma duas pedras de ónix e grava nelas os nomes das tribos de Israel. Seis nomes em cada uma, de forma a que todas as tribos fiquem aí mencionadas na ordem do nascimento dos seus patriarcas. Quando gravares estes nomes emprega a mesma técnica dos gravadores de pedra ao fazerem selos. As pedras serão engastadas em ouro. Liga-as às ombreiras do éfode como lembrança para os filhos de Israel: Aarão levará os nomes destes para memória diante do Senhor. Serão igualmente feitas duas cadeias de ouro puro, retorcido, ligadas a colchetes de ouro puro, sobre as ombreiras do éfode. Seguidamente, farás o peitoral que será usado para decisões. Será obra de hábeis artífices. Usarás fio de linho fino retorcido, em dourado, azul, púrpura e vermelho, tal como fizeste para o éfode. Este peitilho será de dois panos, unidos de forma a formarem uma bolsa. Prende-lhe quatro filas de pedras preciosas: na primeira um rubi, um topázio e um berilo. Na segunda uma esmeralda, uma safira e um diamante. Na terceira uma opala, uma ágata e uma ametista. Na última um topázio, um ónix e um jaspe, todas elas engastadas em ouro. Cada pedra representa uma das tribos de Israel, cujo nome será gravado nela como um selo. Prende a parte superior do peitoral ao éfode por meio de duas cadeias de ouro puro entrançadas. Farás mais dois anéis de ouro que porás nas duas extremidades inferiores da parte de dentro do peitoral. Farás igualmente dois outros anéis de ouro que porás na bainha inferior do éfode junto ao cinto. Então prenderás a extremidade do peitoral aos anéis do éfode por meio de laços azuis. Isto evitará que o peitoral se separe do éfode. Desta forma, Aarão levará os nomes das tribos de Israel sobre o peitoral, sobre o seu coração, quando entrar no lugar santo. Será um memorial contínuo na presença do Senhor. Porás dentro da bolsa do peitoral o urim e o tumim, para que Aarão os leve sobre o seu coração, quando for apresentar-se perante o Senhor. Assim terá sempre sobre si o juízo de Deus, junto do seu coração, quando se apresentar ao Senhor. Seguidamente, farás o manto do éfode em tecido azul, com uma abertura para deixar passar a cabeça. As bainhas desta abertura terão uma faixa tecida como uma armadura de malha, para que não se rasgue. Aarão vestirá este manto sempre que estiver servindo o Senhor. As campainhas ouvir-se-ão quando ele entrar e sair da presença do Senhor, no lugar santo, e dessa forma não morrerá. Também farás uma chapinha de ouro puro e nela gravarás: consagrado ao Senhor. Esta chapinha estará ligada à parte da frente do turbante de Aarão por meio duma fita azul. Dessa forma, Aarão a trará na sua fronte e levará a culpa no que diz respeito às ofertas do povo de Israel. Deverá trazê-las sempre quando for à presença do Senhor, de forma a que o povo seja aceite. Ele vestirá também uma túnica feita de linho fino retorcido. Farás ainda um turbante deste mesmo linho e um cinto bordado. Para os filhos de Aarão, da mesma forma, farás túnicas, cintos e turbantes, como sinal de honra e respeito. Veste Aarão e os seus filhos com estas peças e consagra-os à sua santa atividade, ungindo-lhes a cabeça com azeite, santificando-os para serem sacerdotes ao meu serviço. Farás também calções de linho, para que os usem junto ao corpo, cobrindo-os desde os rins até aos joelhos. Devem vestir isto, tanto Aarão como os seus filhos, sempre que entrarem na tenda do encontro, ou quando se chegarem ao altar para ministrarem no santuário, para que não se tornem culpados e não morram. Isto é um estatuto perpétuo tanto para Aarão como os seus descendentes. Será assim a cerimónia da consagração de Aarão e dos seus filhos como sacerdotes: tomarás um novilho e dois carneiros sem defeito, assim como pão sem fermento e bolos de farinha também sem fermento, amassados com azeite, e bolachas feitas igualmente sem fermento, untadas de azeite. Usarás farinha de trigo fina. Depois vestirás a túnica a Aarão e o manto; pôr-lhe-ás o éfode e o peitoral com o cinto. Colocarás na sua cabeça o turbante com a placa sagrada em ouro. Depois pegarás no óleo de unção e verterás sobre a sua cabeça. Depois trarás o novilho até à tenda do encontro. Aarão e os seus filhos porão as mãos em cima dele. A seguir, matá-lo-ás perante o Senhor à entrada da tenda do encontro. Porás do seu sangue sobre as pontas do altar com o teu dedo e deitarás o resto na base do altar. Depois tomarás a gordura que cobre as partes interiores, assim como a vesícula biliar e os dois rins com as gorduras, e queimarás tudo sobre o altar. Depois disso, pegarás no corpo, com a pele e as fezes, e os queimarás fora do acampamento, como um sacríficio pelo pecado. A seguir, Aarão e os seus filhos deverão pôr as mãos sobre a cabeça de um dos carneiros. Depois matarás o carneiro e o seu sangue deverá ser recolhido e posto nas pontas do altar. Parte o carneiro e lava-lhe as entranhas e as pernas. Coloca estas com a cabeça e as outras partes do corpo sobre o altar e queima tudo. É um holocausto ao Senhor, que lhe é muito agradável, oferta queimada ao Senhor. Seguidamente, pegarás no outro carneiro. Aarão e os seus filhos deverão pôr-lhe as mãos em cima. Depois de matares o carneiro, recolhe o sangue e põe um pouco sobre o lóbulo da orelha direita de Aarão e dos filhos, assim como nos seus dedos polegares, tanto da mão direita como do pé direito. O resto do sangue salpicarás sobre o altar. Depois apanharás um pouco do sangue que está sobre o altar, misturarás com uma porção de óleo da unção e aspergirás sobre Aarão e os seus filhos, assim como sobre a sua roupa. Dessa forma, tanto eles como o vestuário, serão santificados. Depois pegarás em todas as partes do carneiro que têm gordura, a cauda, as entranhas, a vesícula, os dois rins, tal como a gordura que está à volta dessas partes, e ainda a coxa direita, porque este é o carneiro para a consagração de Aarão e dos seus filhos, e ainda um pão, um bolo de pão com azeite e uma bolacha, do cesto dos pães sem fermento que estiverem diante do Senhor. Colocarás tudo nas mãos de Aarão e dos seus filhos, para oferecerem com um gesto de apresentação cerimonial ao Senhor. Seguidamente, os tomarás das suas mãos e os queimarás sobre o altar. É um holocausto ao Senhor, que lhe é muito agradável, oferta queimada ao Senhor. Depois pegarás no peito do carneiro da consagração de Aarão e oferecerás com o gesto de apresentação cerimonial ao Senhor. Esta será a tua parte. Darás o peito e a coxa deste carneiro, com um gesto de apresentação cerimonial, a Aarão e aos seus filhos. O povo de Israel deverá sempre contribuir com esta porção dos seus sacrifícios, sejam ofertas de pacificação ou de reconhecimento, como uma contribuição para o Senhor. O vestuário sagrado de Aarão será reservado para a consagração do seu filho que lhe suceder, e isto de descendência em descendência, para a cerimónia da unção. Seja quem for o próximo sumo sacerdote depois de Aarão, usará essas vestimentas durante sete dias, antes de iniciar o seu ministério na tenda do encontro e no lugar santo. Tomarás o carneiro da consagração, o carneiro usado na cerimónia da investidura sagrada, e cozerás a sua carne no lugar sagrado. Aarão e os seus filhos comerão desta carne assim como do pão que está no cesto à porta da tenda do encontro. Só eles poderão comer estes alimentos que foram usados na sua expiação, na cerimónia da sua consagração. Se ficar até à manhã seguinte alguma carne ou algum pão da consagração, queima-os. Não deverão ser comidos, porque se trata de comida santa. Esta é pois a forma como consagrarás Aarão e os filhos para os seus ofícios. Esta cerimónia prolongar-se-á por sete dias. E em cada dia sacrificarás um novilho como sacrifício de expiação do pecado. Depois purificarás o altar, fazendo a expiação sobre ele. Ungi-lo-ás com óleo, para que seja santificado. Durante esses sete dias, em cada dia farás expiação sobre o altar para o santificar. E assim se tornará santíssimo. Dessa forma, tudo o que tocar nele será santo. Em cada dia oferecerás sobre o altar dois cordeiros de um ano. Isto se fará perpetuamente. Um dos cordeiros será oferecido de manhã e o outro pela tarde. Com um deles oferecerás 2,2 litros de fina flor de farinha, misturada com um litro de azeite de oliveira, e ainda um litro de vinho como oferta. Quanto ao outro cordeiro, oferecê-lo-ás à tarde, com farinha e com a oferta de vinho, tal como o da manhã. Será uma oferta queimada, de cheiro suave, para o Senhor. Isto será uma oferta diária contínua à porta da tenda do encontro, perante o Senhor, onde me encontrarei com todos vocês, israelitas, e falarei contigo. Aí me encontrarei com o povo de Israel, e o tabernáculo será santificado pela minha glória. Sim, santificarei a tenda do encontro e o altar, assim como Aarão e os seus filhos, que são meus ministros, meus sacerdotes. Viverei no meio do meu povo Israel e serei o seu Deus. Verão que eu sou o Senhor, seu Deus, que os tirou do Egito, para que possa viver entre eles. Eu, o Senhor, é que sou o seu Deus. Farás também um altar de madeira de acácia para queimar incenso. Deverá ser quadrado, com 50 centímetros de lado e 1 metro de altura. Terá chifres esculpidos na própria madeira do altar. Não deverão ser peças que lhe estejam meramente ligadas. Será revestida de ouro puro a parte de cima, todos os lados e as pontas. E farás uma moldura, toda em volta da parte de cima, em ouro. Por baixo, nos dois lados, farás duas argolas de ouro por onde possam passar as varas, a fim de carregar o altar. Estas serão igualmente de madeira de acácia revestida de ouro. Coloca o altar precisamente fora do véu, perto do lugar de misericórdia, o propiciatório, que está por cima da arca do testemunho. É aí que me encontrarei contigo. Cada manhã, enquanto prepara as luzes, Aarão deixará queimar incenso aromático no altar; e cada tarde, enquanto acende as luzes, também queimará dessas especiarias perante o Senhor. Isto será assim através de todas as gerações. Nunca deverá ser queimado nenhum incenso profano nem deverá ser oferecido holocausto ou cereais, nem feitas sobre eles libações que não aquelas que estão indicadas. Uma vez por ano Aarão deverá santificar o altar pondo sobre as pontas do altar sangue do sacrifício da expiação. Este acontecimento realizar-se-á através de todas as gerações, porque se trata do altar santíssimo para o Senhor.” Disse ainda mais o Senhor a Moisés: “Cada vez que contarem o povo de Israel, cada indivíduo que for considerado na contagem deverá dar um resgate pela sua alma ao Senhor, para que não haja pragas entre o povo quando fizerem o recenseamento. Deverá pois pagar 6 gramas de prata todo que tiver atingido os 20 anos de idade. Nem o que for rico dará mais, nem o pobre, por ser pobre, dará menos do que isso, porque se trata de uma oferta ao Senhor para expiação das vossas almas. Empregarão esse dinheiro para as despesas da tenda do encontro. Será para memorial do povo de Israel perante o Senhor, e para fazer expiação pelas vossas almas.” O Senhor disse a Moisés: “Faz uma bacia de bronze com uma base igualmente de bronze. Coloca-a entre o altar e a tenda do encontro, e enche-a de água. Aí lavarão, Aarão e os seus filhos, as mãos e os pés quando entrarem na tenda do encontro para comparecerem perante o Senhor, ou quando se aproximarem do altar para queimar ofertas ao Senhor. Terão sempre de se lavar, porque doutra forma morrerão. Estas instruções para Aarão e seus filhos deverão cumprir-se através de todas as gerações.” Depois o Senhor mandou mais a Moisés que recolhesse das mais finas especiarias: mirra pura: 5,75 quilos; canela aromática: 2,88 quilos; cálamo aromático: a mesma quantidade; cássia: a mesma quantidade; azeite: 4 litros. O Senhor deu instruções a hábeis perfumistas para comporem com todos estes componentes um óleo de santa unção. E o Senhor disse-lhe: “Usa-o para ungir a tenda do encontro, a arca do testemunho, a mesa e todos os seus instrumentos, o candelabro e os seus instrumentos, o altar do incenso, o altar dos holocaustos, com os respetivos instrumentos, e a bacia mais a sua base. Consagra-os para que fiquem santíssimos, de tal forma que seja o que for que lhes tocar se tornará reservado para Deus. Usa-o também para ungir a Aarão e os seus filhos, santificando-os para que sejam dignos de me servirem como sacerdotes. E diz ao povo de Israel: Este deverá ser sempre o meu santo óleo de unção. Nunca será derramado sobre uma pessoa qualquer e nunca farão para vocês um óleo semelhante, para vosso uso pessoal, porque se trata de um óleo santo e, como tal, deverá ser considerado para sempre. Alguém que venha a compor um óleo igual a este e a derramá-lo sobre uma pessoa qualquer será excomungado.” Eis aqui as indicações que o Senhor deu a Moisés quanto ao incenso: “Emprega especiarias aromáticas: estoraque, onicha, gálbano e incenso puro, em igual quantidade de cada um. Usa as técnicas habituais dos fabricantes de incenso e tempera com sal puro. Pisa-o, moendo-o muito fino, e põe algum diante da arca, no sítio onde me encontro contigo na tenda do encontro. Este incenso é santíssimo. Nunca farão igual para vosso uso pessoal, porque é reservado para o Senhor e deve ser considerado como santo. Se alguém fabricar esse incenso para si mesmo será excomungado.” Disse também o Senhor a Moisés: “Toma nota de que chamei Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da tribo de Judá, e que o enchi com o Espírito de Deus, dando-lhe sabedoria, capacidade e conhecimentos para todos os trabalhos. Ele está pois altamente dotado como artista desenhador de todas as peças feitas em ouro, prata e bronze. Está igualmente capacitado para trabalhar como joalheiro e escultor de madeira. Também nomeei Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dan, para que seja seu assistente. Além disso, tenho dado especial sabedoria a todos os que são conhecidos como peritos na construção de tudo o que te indiquei para fazer, ou seja: a tenda do encontro; a arca do testemunho com o propiciatório sobre ela; todo o mobiliário do tabernáculo; a mesa com os seus utensílios; o candelabro de ouro puro e os seus utensílios; o altar de incenso; o altar dos holocaustos com os seus instrumentos; a bacia com o seu pedestal; o vestuário litúrgico e os santos paramentos para o sacerdócio de Aarão, assim como para os seus filhos, para que possam servir-me nesse santo ministério como sacerdotes; o óleo de unção; o incenso aromático para o lugar santo. Deverão seguir rigorosamente as diretivas que te dei.” Então o Senhor deu-lhe mais instruções: “Diz ao povo de Israel que descanse no meu dia de sábado, porque o sábado é um sinal para que se lembrem da aliança que existe entre mim e vocês, nas vossas gerações. É uma forma de vos ajudar a lembrarem-se de que eu sou o Senhor que vos santifica. Sim, repousem no sábado porque é um dia santo. Quem não obedecer a este mandamento deverá morrer. Seja quem for que fizer qualquer trabalho nesse dia deverá ser morto. Trabalhem somente seis dias, porque o sétimo é um dia especial de solene repouso, sagrado para o Senhor. Quem trabalhar no dia de repouso será condenado à morte. Esta lei é uma aliança perpétua e uma obrigação para o povo de Israel. Será um símbolo eterno da aliança que existe entre mim e o povo de Israel. Porque também em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, e no sétimo dia parou e descansou.” Tendo Deus acabado de falar com Moisés no monte Sinai, deu-lhe as duas placas de pedra em que estavam os dez mandamentos, escritos com o dedo de Deus. Vendo o povo que Moisés não desceu logo da montanha, foi ter com Aarão e disse-lhe: “Olha, faz-nos ídolos, para que tenhamos deuses que nos guiem, pois não sabemos o que foi feito desse Moisés que nos tirou do Egito.” “Deem-me os vossos brincos de ouro”, respondeu-lhes Aarão. Assim fizeram todos; as mulheres e os seus filhos e filhas. Aarão fundiu o ouro e moldou-o, dando-lhe a forma de um bezerro. E o povo exclamou: “Ó Israel, aqui tens os teus deuses que te fizeram sair do Egito!” Quando Aarão constatou o quanto o povo tinha ficado feliz com aquilo, construiu um altar defronte do bezerro e proclamou: “Amanhã haverá uma celebração dedicada ao Senhor!” Assim, logo de manhã cedo, levantaram-se e começaram a oferecer holocaustos e ofertas de paz, ao bezerro, o ídolo. Por fim, o povo descansou a comer e a beber, e levantou-se para se divertir. Então o Senhor disse a Moisés: “Depressa! Desce imediatamente, porque o teu povo que trouxeste do Egito está a corromper-se; desviou-se e rapidamente abandonou as minhas leis. Fizeram para si um bezerro. Estão a prestar-lhe culto e a sacrificar-lhe dizendo: ‘Aqui tens os teus deuses, ó Israel, que te fizeram sair do Egito!’ ” E o Senhor acrescentou: “Tenho visto como este povo é rebelde e obstinado. Portanto, agora vai-te, porque a minha ira se acenderá contra eles e destruí-los-ei. E de ti, Moisés, farei uma grande nação.” Contudo, Moisés implorou ao Senhor, seu Deus, que não fizesse isso. “ Senhor ”, rogou ele, “porque está a tua cólera tão ateada contra o teu próprio povo que tiraste da terra do Egito, com um poder tão grande e com tão formidáveis milagres? Os egípcios acabarão por dizer: ‘Deus levou-os até às montanhas para os assassinar, destruindo-os da face da Terra.’ Desiste da tua ira, desse tremendo mal que estás a planear contra o teu povo. Lembra-te do que prometeste aos teus servos Abraão, Isaque e Israel. Pois que juraste sobre ti mesmo: ‘Multiplicarei a vossa posteridade como as estrelas dos céus e dar-vos-ei toda esta terra que prometi aos vossos descendentes, e possuí-la-ão para sempre.’ ” Então o Senhor desistiu do seu intento e poupou-os. Assim, Moisés desceu da montanha, levando nas suas mãos os dez mandamentos escritos em ambas as faces das duas placas de pedra. Porque Deus mesmo escrevera os mandamentos nas pedras. Quando Josué ouviu o barulho lá em baixo, do povo que gritava, exclamou para Moisés: “Parece que se estão a preparar para a guerra!” Mas Moisés replicou-lhe: “Não, não são nem gritos de vitória nem de derrota; estão só a cantar.” Quando chegaram perto do campo, Moisés viu o bezerro e toda aquela gente a dançar e, encolerizado, lançou ao chão as placas de pedra, que se quebraram ali, no sopé da montanha. Pegou depois no bezerro e lançou-o no fogo. Quando o metal se fundiu, moeu-o em pó e espalhou-o na água, fazendo o povo bebê-la. Depois disse a Aarão: “Que foi que te fez este povo que trouxeste um tão grande pecado sobre ele?” “Não fiques assim tão indignado!”, respondeu-lhe Aarão. “Sabes bem como este povo é inclinado para o mal. Eles disseram-me: ‘Faz-nos ídolos, para que tenhamos deuses que nos guiem, pois não sabemos o que foi feito desse Moisés que nos tirou do Egito.’ E eu disse-lhes: Tragam-me o que tiverem em ouro. Eles assim fizeram e lancei tudo no fogo e saiu este bezerro!” Então Moisés, vendo que o povo estava desenfreado, servindo de escárnio aos seus inimigos, porque Aarão os tinha deixado chegar àquele estado, pôs-se à entrada do campo e exclamou: “Quem é do Senhor venha a mim!” Todos os filhos de Levi se juntaram a ele. E disse-lhes: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Ponham as vossas espadas, percorram o campo duma ponta à outra e matem, mesmo que seja o vosso irmão, o vosso amigo, o vosso vizinho.’ ” Eles assim fizeram e morreram naquele dia cerca de 3000 homens. Moisés disse-lhes: “Hoje vocês consagraram-se para o serviço ao Senhor, porque souberam obedecer-lhe, mesmo quando isso significou matar os vossos filhos e irmãos. Por isso, ele vos abençoará grandemente.” No dia seguinte Moisés disse ao povo: “Vocês cometeram um grande pecado. Mas eu vou voltar à montanha, ao encontro do Senhor; talvez consiga obter-vos o seu perdão.” Assim, Moisés voltou ao encontro do Senhor e disse-lhe: “Este povo cometeu um grande pecado, chegando a fazer para si um deus de ouro. Mas agora peço-te que lhes perdoes; se não, risca-me do teu livro!” O Senhor replicou a Moisés: “Aquele que pecar contra mim é que será riscado do meu livro. Agora vai, leva o povo para o lugar que te disse e garanto-te que o meu anjo irá à vossa frente. Quando vier visitá-los, castigarei o povo pelo seu pecado.” E o Senhor enviou uma grande praga sobre o povo por causa de terem adorado o bezerro de Aarão. Disse mais o Senhor a Moisés: “Leva este povo, que trouxeste do Egito, para a terra que prometi a Abraão, a Isaque e a Jacob, porque lhes prometi: Darei esta terra aos vossos descendentes. Mandarei um anjo na vossa frente para expulsar de lá os cananeus, os amorreus, os hititas, os perizeus, os heveus e os jebuseus. É uma terra onde jorra leite e mel. Mas eu não viajarei convosco, porque vocês são obstinados e arriscar-me-ia a ter de vos destruir durante o caminho.” Quando o povo ouviu esta má notícia ficou acabrunhado e ninguém se arranjou nem pôs os seus adornos. Porque o Senhor mesmo dissera a Moisés que lhes transmitisse o seguinte: “Vocês são um povo obstinado e rebelde. Se eu ficasse um momento que fosse no vosso meio teria de vos exterminar. Tirem os adornos e enfeites até que eu decida o que farei convosco.” E foi assim que eles se despojaram dos seus atavios aos pés do monte Horebe. Moisés passou a montar a tenda, “a tenda do encontro” como ele lhe chamou, fora do acampamento. E quem quisesse consultar o Senhor tinha de sair até lá. Todas as vezes que Moisés ia à tenda do encontro todo o povo se levantava e ficava de pé à entrada das tendas olhando para ele até entrar. De seguida, a coluna de nuvem descia e ficava em frente à entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés. Todo o povo adorava, desde o limiar das suas tendas, e se inclinava profundamente quando via a nuvem descer. Ali o Senhor falava com Moisés face a face, tal como alguém fala com o seu amigo. Depois Moisés voltava para o acampamento, mas o jovem que o assistia, Josué, filho de Num, nunca se afastava do interior da tenda. Moisés disse ao Senhor: “Tu disseste-me: ‘Leva este povo para a terra prometida’, mas não disseste quem é que mandas comigo. Tu dizes: ‘Conheço-te pelo teu nome e achaste graça aos meus olhos.’ Ora, se realmente é assim, mostra-me e guia-me com clareza no caminho por onde queres que vá, para que possa ainda conhecer-te mais e continue a achar graça aos teus olhos. Não te esqueças que esta nação é o teu povo.” E o Senhor respondeu-lhe: “Eu próprio irei contigo e te darei descanso.” “Se não fores connosco não nos deixes afastarmo-nos um só passo deste sítio. Se não vieres connosco, quem ficará a saber que eu e o teu povo achámos graça aos teus olhos e que somos um povo separado, diferente de todos os outros povos da Terra?” E o Senhor disse-lhe: “Sim, farei o que me pediste, porque sem dúvida achaste graça perante mim, e és meu amigo.” Moisés então pediu para ver a glória de Deus. Mas o Senhor respondeu-lhe: “Farei passar diante de ti a minha bondade. Revelar-te-ei o significado do meu nome, o Senhor. Terei compaixão de quem eu quiser e serei misericordioso para com quem eu entender. Mas não poderás ver a glória do meu rosto, porque ninguém poderia vê-la e continuar a viver. Contudo, põe-te aqui, nesta rocha, junto a mim. Quando a minha glória passar, colocar-te-ei na fenda do rochedo e cobrir-te-ei com a minha mão, até eu ter passado. Depois de retirar a mão, ver-me-ás de costas, mas não a minha face.” O Senhor disse mais a Moisés: “Prepara duas placas de pedra como as primeiras, e escreverei sobre elas os mesmos mandamentos que estavam nas outras que quebraste. Prepara-te de manhã para subires ao monte Sinai e vem à minha presença no cimo da montanha. Ninguém virá contigo e não haverá mais ninguém em sítio nenhum da montanha. Não permitas sequer que ovelhas e bois apascentem perto do monte.” Então Moisés talhou duas lápides semelhantes às primeiras, levantou-se cedo e subiu ao monte Sinai, tal como o Senhor lhe dissera, levando consigo as duas placas. O Senhor desceu numa nuvem e ficou ali junto dele, passando na sua frente e anunciando-lhe o significado do seu nome: “Eu sou o Senhor, o Deus misericordioso e compassivo, lento a zangar-me e rico em demonstração constante de amor e verdade. Eu manifesto este permanente amor para com milhares, perdoando a sua iniquidade, transgressões e pecado. Recuso considerar o culpado como inocente, ficando indiferente às suas culpas, as quais castigarei nos filhos e nos netos, até à terceira e até à quarta geração.” Moisés inclinou-se perante o Senhor e adorou-o. “Se é verdade”, disse ele, “que achei graça aos teus olhos, ó Senhor, peço-te então que vás connosco até à terra prometida. Sim, este povo é rebelde e duro. Perdoa a nossa iniquidade e os nossos pecados e aceita-nos como teus, como tua propriedade.” O Senhor respondeu-lhe: “Pois bem, farei uma aliança convosco! Farei milagres tais que nunca antes foram vistos sobre a Terra e todo o povo de Israel verá o poder do Senhor, pois obra tremenda é o que farei contigo. A vossa parte neste contrato é obedecer a todos os meus mandamentos; e eu lançarei fora os amorreus, os cananeus, os hititas, os perizeus, os heveus e os jebuseus. Não façam, de maneira nenhuma, qualquer espécie de aliança com os povos da terra para onde vão, porque seria para vocês uma armadilha fatal. Em vez disso, deverão destruir os seus altares pagãos, quebrar os obeliscos que eles adoram e derrubar os seus postes ídolos de Achera. Não deverão adorar outro deus senão o Senhor, porque é um Deus que requer uma lealdade absoluta e uma devoção exclusiva. Não façam tratado de paz de espécie alguma com o povo que lá vive, porque são uns prostituídos espiritualmente, cometendo adultério contra mim ao sacrificarem aos seus deuses. Se estabelecerem relações amigas com eles e se alguém vos convidar a ir na sua companhia adorar o ídolo, facilmente irão com ele. Da mesma forma, aceitarão as suas filhas, que adoram outros deuses, para que casem com os vossos filhos e os vossos filhos cometerão adultério para comigo ao adorar os deuses das suas mulheres. Não façam para vocês ídolos de metal fundido. Não se esqueçam de comemorar a festa dos pães sem fermento, durante sete dias, de acordo com as minhas instruções e nas datas designadas em cada ano, no mês de Abibe. Foi nesse mês que deixaram o Egito. Todo o menino, o primeiro filho de um casal, será meu; assim também os animais, vacas ou cordeiros. Mas o primogénito de um burro poderá ser substituído por um cordeiro. Se alguém decidir não substituí-lo, terá de lhe quebrar o pescoço. Resgatarás, por meio de uma oferta, todos os primogénitos dos teus filhos. Ninguém aparecerá vazio perante mim sem trazer uma oferta. Mesmo quando tiverem de lavrar os campos ou durante as colheitas, trabalharão apenas seis dias e ao sétimo descansarão. Devem lembrar-se de celebrar a festa das semanas, que é a do início da ceifa do trigo e a festa das colheitas, no fim do ano. Em cada uma destas três ocasiões, todos os homens e moços de Israel deverão comparecer perante o Senhor, o Deus de Israel. Ninguém atacará ou conquistará a vossa terra quando vierem à presença do Senhor, vosso Deus, durante essas três vezes no ano. Pois eu expulsarei as nações na vossa frente e alargarei os vossos domínios. Não deverão empregar pão levedado nos meus sacrifícios. Nada do sacrifício do cordeiro da Páscoa deverá ser guardado até à manhã seguinte. Trarão à casa do Senhor, vosso Deus, o melhor dos primeiros frutos da colheita de cada ano. Não cozerão um cabritinho no leite da sua mãe.” O Senhor disse mais a Moisés: “Escreve as leis que acabo de referir, porque representam os termos da minha aliança contigo e com Israel.” Moisés esteve ali na montanha com o Senhor durante quarenta dias e quarenta noites, e em todo esse tempo não comeu nem bebeu. Foi então nessa altura que Deus escreveu as palavras da aliança, os dez mandamentos, nas placas de pedra. Ao regressar da montanha com as placas escritas, Moisés não se deu conta de que o seu rosto resplandecia, por ter estado na presença de Deus. Por causa desse brilho na sua face, Aarão e o povo de Israel receavam aproximar-se dele. Mas Moisés chamou-os para junto de si, e Aarão mais os chefes da congregação vieram e falaram com ele. Depois todo o povo também se aproximou; e deu-lhes os mandamentos que o Senhor lhe comunicara lá na montanha. Quando Moisés acabou de lhes falar, pôs um véu sobre a sua face. Mas sempre que entrava para estar na presença do Senhor tirava o véu. E quando saía transmitia ao povo todas as instruções que Deus lhe dera. Assim, o povo via o seu rosto resplandecer. Mas logo após, tornava a pôr o véu até voltar a falar com o Senhor. Moisés convocou todo o povo de Israel e disse-lhes: “Estas são as leis do Senhor a que devem obedecer. Trabalharão apenas seis dias. O sétimo é um dia de solene repouso, um dia santo. Todo aquele que trabalhar nesse dia deverá morrer. Nem sequer acendam o fogo nas vossas casas nesse dia.” E continuou: “Isto é o que o Senhor vos ordenou: Todos os que tiverem um coração generoso podem trazer, se assim o desejarem, estas ofertas ao Senhor: ouro, prata, bronze; tecido azul, púrpura e vermelho, feito de linho fino retorcido ou de pelo de cabra; peles de carneiro tingidas de vermelho e curtidas, assim como, especialmente, peles de couro fino; madeira de acácia; azeite para os candeeiros; especiarias para o óleo da unção e para o incenso aromático; pedras de ónix, e pedras para serem usadas no éfode e no peitoral. Que todos aqueles que são habilidosos no trabalho manual, e os que têm talentos especiais, venham para construir o que o Senhor mandou: o tabernáculo, as suas cobertas, colchetes, tábuas, barras, colunas e bases; a arca e as varas de transporte; o propiciatório; o véu para separar o lugar santo; a mesa e as varas para transportá-la, assim como os seus utensílios; o pão da Presença, o candelabro, com as lâmpadas e o óleo respetivo; o altar do incenso e as varas de transporte; o óleo da unção e o incenso aromático; o véu da porta do tabernáculo; o altar dos holocaustos; as grelhas de bronze para o altar e as suas respetivas varas e utensílios; a bacia e a sua base; os véus das divisórias do pátio e as suas colunas e bases; os véus da entrada do pátio; as estacas do pátio do tabernáculo mais as suas cordas; os fatos dos sacerdotes, para usarem no ministério do lugar santo; as vestimentas santas para Aarão e os seus filhos.” Todo o povo saiu da presença de Moisés e foi para as tendas preparar estes donativos, e todos aqueles que sentiram boa vontade e coração generoso foram levar a sua oferta ao Senhor para a construção da tenda do encontro, bem como para as vestimentas sagradas. Tanto homens como mulheres, vieram todos aqueles que dispuseram o seu coração para tal. Assim trouxeram ao Senhor ofertas de ouro, pedras preciosas, brincos, anéis e colares e toda a espécie de objetos em ouro, com um gesto de apresentação cerimonial. Outros trouxeram tecidos de linho fino retorcido, ou pelos de cabra, em azul, púrpura e vermelho, assim como peles de carneiro tingidas de vermelho, especialmente peles de couro fino. Outros ainda trouxeram prata e bronze como oferta para o Senhor. Por fim houve quem trouxesse madeira de acácia necessária para a construção. As mulheres hábeis a fiar e coser trouxeram já preparado fio e tecido, e linho fino retorcido em azul, púrpura e vermelho. Outras usaram com alegria os seus dons especiais para fiar e fazer tecido de pelo de cabra. Os chefes trouxeram pedras de ónix para serem postas no éfode e no peitoral, assim como especiarias e óleo, tanto para as luzes, como para a composição do óleo da unção e do incenso aromático. E foi desta maneira que o povo de Israel, todos os homens e mulheres que quiseram colaborar na obra que lhes foi dada por mandamento do Senhor a Moisés, trouxeram de livre vontade as suas ofertas ao Senhor. E Moisés disse-lhes: “O Senhor designou especialmente Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da tribo de Judá, como superintendente-geral deste santo projeto. O Espírito de Deus encheu-o de sabedoria, capacidade e conhecimentos para a construção do tabernáculo e de tudo o que deve conter. Ele está, pois, altamente dotado como artista e desenhador de todas as peças feitas em ouro, prata e bronze. Será capaz de trabalhar pedras preciosas e tal como um joalheiro fará também belas gravações. Na verdade é um homem dotado para tudo. Deus também dispôs o coração dele e de Aoliabe para ensinarem a outros aquilo que sabem. Aoliabe é filho de Aisamaque da tribo de Dan. Deus encheu-os a ambos com um talento pouco vulgar para serem joalheiros, carpinteiros, bordadores em linho e tecidos de azul, púrpura e vermelho, e ainda tecelãos. Eles serão excelentes em todas as tarefas que é preciso executar para esta obra. Todos os outros artistas, com capacidades dadas pelo Senhor, deverão prestar assistência a Bezalel e a Aoliabe na construção e no mobiliário do tabernáculo.” Moisés chamou Bezalel, Aoliabe e todos os homens capazes, que o Senhor dotou de sabedoria e que se tinham oferecido voluntariamente para ajudar neste trabalho, e mandou que começassem. Moisés entregou-lhes o material oferecido pelo povo, mas este ainda trazia em cada manhã mais ofertas voluntárias. Por fim, todos os que trabalhavam naquela tarefa vieram ter com Moisés e disseram-lhe: “Já temos muito mais do que é necessário para esta obra!” Moisés então enviou uma mensagem, através do campo, anunciando que não eram precisas mais ofertas. E o povo teve mesmo de ser impedido de trazer mais coisas, porque aquilo que eles já tinham era mais do que suficiente para realizar todo o serviço. Os artistas tecelãos fizeram primeiramente dez véus de linho fino retorcido, em azul, púrpura e vermelho, com querubins habilmente bordados. O comprimento de cada véu era de 14 metros e de largura, 2 metros. Eram todos da mesma medida. Cinco destes véus eram ligados entre si, lado a lado, e outros cinco também da mesma maneira, de forma a fazerem duas peças retangulares. Depois fizeram-se cinquenta colchetes de ouro para prender os laços, atando assim as duas peças de maneira a formarem um todo único. Por cima desse teto havia uma segunda coberta feita de onze mantas de pelo de cabra, cada uma delas uniformemente com 15 metros de comprimento por 2 de largura. Bezalel juntou cinco destas cobertas, formando uma peça retangular, e as outras seis também as uniu da mesma forma. Depois fez cinquenta laços na bainha dum dos lados de cada uma dessas peças, assim como cinquenta pequenos colchetes de bronze para poder atar os laços uns aos outros, a fim de que as duas peças ficassem bem unidas. A última camada deste telhado era feita de pele de carneiro tingida de vermelho e ainda de pele de couro fino. Para os lados do tabernáculo empregou tábuas de madeira de acácia, postas ao alto. A altura de cada tábua era de 5 metros, e a largura de 75 centímetros. Cada tábua tinha uma ranhura para poder encaixar na seguinte. Havia vinte tábuas do lado sul, com as extremidades enfiando, ao todo, em quarenta bases de prata. Cada tábua estava fixada à base por duas braçadeiras. Havia também vinte tábuas do lado norte do tabernáculo, com quarenta bases de prata, duas sob cada tábua. O lado ocidental, que era a parte de trás, tinha seis tábuas, Assim, no lado ocidental, havia oito tábuas nos cantos da construção, com dezasseis bases de prata; duas bases para cada tábua. Depois fez cinco conjuntos de barras de madeira de acácia para prender as tábuas entre si; cinco barras para cada lado do tabernáculo. Cinco traves para cada lado do tabernáculo, mais cinco para a retaguarda, do lado do ocidente. A barra do meio, que ficará a meia altura das tábuas, atravessá-las-á de uma ponta à outra. Tanto as tábuas como as barras foram cobertas de ouro, mas as argolas eram de ouro puro. O véu interior, de azul, púrpura e vermelho, foi feito de linho, com querubins artisticamente bordados. Depois foi atado a quatro ganchos postos em quatro colunas de madeira de acácia, cobertas de ouro e assentes em quatro bases de prata. Seguidamente, fez o véu para a entrada da tenda sagrada, de linho fino retorcido, bordado a azul, púrpura e vermelho. Este véu estava suspenso por cinco postes ou colunas. Estes postes, os seus capitéis e hastes foram revestidos de ouro. As suas cinco bases foram moldadas em bronze. A seguir, Bezalel fez a arca. Foi construída em madeira de acácia, com 125 centímetros de comprimento, 75 centímetros de largura e 75 centímetros de altura. Foi toda revestida de ouro puro, por dentro e por fora, e colocou-lhe uma moldura em ouro em toda a volta. Prenderam quatro argolas de ouro aos seus quatro cantos, duas argolas de cada lado. Depois fez varas de madeira de acácia, revestiu-as de ouro e colocou-as nas argolas nos lados da arca a fim de poder ser transportada. Fez uma tampa de ouro puro, um propiciatório. Tinha 125 centímetros de comprimento, por 75 de largura. Fez dois querubins de ouro, trabalhados a martelo, e colocou-os, um em cada extremidade da tampa da arca. Estes querubins foram moldados de forma a fazerem, com esta tampa, que é o propiciatório, uma só peça. Os querubins estavam voltados um para o outro, olhando para baixo, e com as asas estendidas, cobrindo assim o propiciatório. Seguidamente, fez a mesa de madeira de acácia com 1 metro de comprimento, 50 centímetros de largura e 75 de altura. Foi revestida de ouro puro, com uma moldura de ouro em volta. Também construiu uma coroa de ouro de 7 centímetros de altura à volta da mesa. Depois fundiu quatro argolas de ouro e colocou-as nos cantos exteriores das quatro pernas da mesa, junto ao tampo, para poder enfiar as varas para ser transportada. Seguidamente, fez as varas de madeira de acácia revestidas de ouro, e fez ainda, os pratos, colheres, jarros e taças, tudo em ouro puro, que deveriam estar sobre a mesa. Então foi a vez do candelabro, em ouro puro, trabalhado a martelo. A sua base, as hastes, os cálices e os botões, em forma de flores de amendoeira, tudo foi feito de uma só peça. O candelabro ficou com seis hastes, três para cada lado. Em cada uma das hastes estavam três cálices em forma de flor de amendoeira, com botão e flor. A haste central do candelabro ficou decorada com quatro cálices em forma de flor de amendoeira, com os seus botões e flores, uma entre cada saída das hastes laterais. Igualmente o pé, no meio do candelabro, foi decorado com flores de amendoeira, uma flor sob a saída de cada um dos três pares de hastes laterais e uma outra na extremidade. Toda esta decoração mais as hastes foram feitas de uma só peça de ouro puro, trabalhado a martelo Depois fez as sete lâmpadas para este candelabro. Também fez em ouro puro, as peças com que se espevitam as luzes, tanto como as que servem para as apagar. O candelabro e seus acessórios, pesava 34 quilos; e todo ele era de ouro puro. O altar do incenso foi feito de madeira de acácia. Era quadrado, com 50 centímetros de lado e 1 metro de altura, e com os seus chifres de cada canto feitos de uma só peça com o próprio altar. Revestiu de ouro puro a parte de cima, todos os lados e as pontas. E pôs-lhe uma moldura, toda em volta da parte de cima, em ouro. E foram colocadas duas argolas de ouro, nos dois lados opostos, abaixo da moldura, para nelas enfiar as varas a fim de carregar o altar. Também estas varas eram de madeira de acácia, revestidas de ouro. Fez então o óleo sagrado para ungir os sacerdotes, com incenso aromático, puro, usando também as técnicas dos mais hábeis perfumistas. O altar dos holocaustos, foi igualmente construído em madeira de acácia, quadrado, com 2,5 metros de lado e 1,5 metros de altura. Tinha quatro chifres em cada canto, tudo de uma só peça com o resto. Este altar foi revestido de bronze. Depois fez em bronze os utensílios a serem usados no serviço do altar: as caldeiras, as pás, as bacias, os garfos e os braseiros. Seguidamente, fez uma grelha de bronze que ficou apoiada numa cercadura, na parte inferior, a meia altura. Foram feitas ainda quatro argolas para cada lado da grelha, para nelas se porem as varas para o transporte. Estas varas eram feitas de madeira de acácia, revestidas de bronze. Pôs também duas varas nas argolas nos lados do altar, a fim de ser transportado. Este altar, feito de pranchas, era oco por dentro. A bacia de bronze e o seu pé, da mesma liga, foi feita com os espelhos das mulheres que se juntaram à entrada da tenda do encontro. Em seguida, foi a vez do pátio. A parede do sul tinha 50 metros de comprimento e consistia em véus de linho fino retorcido. Havia vinte postes, para manter os véus, que assentavam em bases de bronze e tinham ganchos e hastes de prata. A parede no norte media, da mesma forma, 50 metros, com vinte colunas e bases de bronze, e também ganchos e hastes de prata. O lado ocidental ficou com 25 metros. Os véus foram suspensos em dez postes, com as suas bases, e com ganchos e hastes de prata. O lado oriental tinha igualmente 25 metros. Todos os véus que formavam as paredes do pátio eram tecidos com linho fino retorcido. Cada poste tinha uma base de bronze e todos os ganchos e hastes foram feitos de prata maciça. Os véus da entrada do pátio foram feitos também em linho fino retorcido, artisticamente bordados em azul, púrpura e vermelho. Tinha essa entrada 10 metros de comprimento e 2,5 metros de altura, a largura do tecido, tal como a parede do pátio. Os véus desta porta eram sustentados por quatro colunas com quatro bases de bronze e com ganchos e hastes de prata. Os cimos dos postes eram de prata. Todas as estacas, tanto do tabernáculo como do pátio, eram de bronze. Esta é a enumeração do material empregado na construção do tabernáculo da aliança, registada por ordem de Moisés pelos levitas, sob direção de Itamar, filho de Aarão, o sacerdote. Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da tribo de Judá, executou tudo o que o Senhor tinha ordenado a Moisés; foi assistido por Aoliabe, filho de Aisamaque da tribo de Dan, que também era um hábil artífice e perito em trabalhos de gravação, de tecelagem e bordados em azul, púrpura e vermelho, e em tecidos de linho fino. Os donativos que o povo trouxe ascenderam a 1000 quilos de ouro; todo ele foi usado no tabernáculo. O montante da prata recolhida foi de mais de 3600 quilos, segundo o peso oficial do santuário, que vieram da taxa paga de 6 gramas de prata por todos os que estavam registados, segundo o censo do povo, de 20 anos para cima, num total de 603 550 homens. As bases para as tábuas das paredes do santuário e para os postes que sustentavam o véu requereram 3500 quilos de prata, ou seja, 34 quilos por cada base. O resto da prata foi usada nos postes e no revestimento dos seus cimos, assim como nos ganchos e hastes. O povo trouxe mais de 2500 quilos de bronze que foi usado na fundição das bases dos postes da entrada da tenda do encontro e na construção do altar de bronze, na sua grelha e seus utensílios, nas bases das colunas que suportam os véus da entrada do pátio e nas estacas usadas na montagem do tabernáculo e do pátio. Então fizeram também, para os sacerdotes, belas vestimentas em tecido azul, púrpura e vermelho, fatos esses que deviam ser usados no serviço do lugar santo. Este mesmo tecido foi usado na confeção das vestimentas sagradas de Aarão, de acordo com as instruções que o Senhor deu a Moisés. Também o éfode foi feito deste mesmo tecido, fabricado com ouro e fino linho retorcido. Bezalel estendeu ouro em lâminas, que cortou depois em fios para entretecê-los por entre o azul, a púrpura, o vermelho e o linho fino retorcido. Ficou uma bela obra-prima depois de acabada. As duas pedras de ónix, presas às presilhas dos ombros, estavam engastadas em ouro e tinha gravados os nomes das tribos de Israel, tal como os nomes são gravados num anel. Estas pedras serviam para lembrar, perante o Senhor, o povo de Israel. Tudo isto foi feito de acordo com as instruções do Senhor a Moisés. O peitoral era uma bela obra-prima, tal como o éfode, feito do mais fino linho, em ouro, azul, púrpura e vermelho. Era uma peça quadrada, de 23 centímetros de lado, dobrada em duas partes. Havia nele quatro fileiras de pedras preciosas. A primeira fileira tinha um rubi, um topázio e um berilo. A segunda, uma esmeralda, uma safira e um diamante. A terceira, uma opala, uma ágata e uma ametista. E a quarta, um topázio, um ónix e um jaspe. Todas estas pedras estavam engastadas em ouro e estavam gravadas com os nomes das doze tribos de Israel. O peitoral ficava seguro acima do cinto do éfode, quando se atavam as suas argolas à do éfode, com fita azul. Tudo isto foi ordenado pelo Senhor a Moisés. O manto do éfode era tecido todo em azul. Havia uma abertura no meio, como numa cota de malha, por onde a cabeça passava. A bainha dessa abertura estava reforçada de forma a não se desfiar. Havia romãs na extremidade do manto, feitas em tecido de linho bordado a azul, púrpura e vermelho. Também se fizeram vestimentas para Aarão e os seus filhos, confecionadas em fino linho retorcido. O peitoral, os belos turbantes, os gorros, assim como os calções a serem usados interiormente, tudo foi feito igualmente neste mesmo linho. E o cinto, também de linho, estava bordado a azul, púrpura e vermelho, tal como Senhor indicara a Moisés. Finalmente, foi feita também a placa sagrada, de ouro puro, para ser usada na parte da frente do turbante, tendo gravadas as seguintes palavras: consagrado ao Senhor. E foi presa ao turbante com um fio azul, segundo as instruções do Senhor. Assim se acabou a obra do tabernáculo e da tenda do encontro, seguindo à risca todas as instruções dadas pelo Senhor a Moisés a este respeito. Então trouxeram todo o tabernáculo a Moisés: a tenda, todos os recipientes, os colchetes, as tábuas, as barras, as colunas e as bases; as cobertas para o teto e para os lados do tabernáculo, de peles de carneiro tingidas de vermelho e de peles de couro fino, assim como o véu; a arca do testemunho, com os dez mandamentos, mais as suas varas de transporte e o propiciatório; a mesa e os seus utensílios e o pão da Presença; o candelabro de ouro puro com as suas lâmpadas, utensílios e óleo; o altar de ouro, o óleo da unção e o incenso aromático; o véu da entrada do tabernáculo, o altar de bronze e a grelha, igualmente de bronze, e os respetivos utensílios, a bacia e a respetiva base; os véus das paredes do pátio, assim como os postes para os manter, as bases e os véus para a entrada do pátio, as cordas, os pregos e todos os utensílios usados na construção da tenda do encontro. Também trouxeram para inspeção as belas vestimentas confecionadas para serem usadas no serviço do culto no lugar santo, e as vestimentas sagradas de Aarão, o sacerdote, e as dos seus filhos, que deviam usar no serviço de Deus. Dessa maneira, o povo de Israel seguiu as instruções que o Senhor deu a Moisés. Este inspecionou todo o seu trabalho e abençoou-os, porque tudo estava conforme as instruções que o Senhor lhe dera. Então o Senhor disse a Moisés: “Montarás o tabernáculo, a tenda do encontro, no primeiro dia do primeiro mês. Porás nele a arca do testemunho. Suspende o véu que encerrará a arca dentro do lugar santíssimo. Depois põe a mesa e sobre ela os utensílios. Traz o candelabro e acende as lâmpadas. Coloca o altar em ouro para o incenso diante da arca do testemunho. Instala os véus da entrada do tabernáculo. O altar dos holocaustos ficará à entrada da tenda do encontro. A bacia estará entre este e a tenda do encontro e enchê-la-ás de água. Depois estende os véus à volta, para formarem o pátio, e instala o véu da entrada do pátio. Toma o óleo da unção e asperge-o por todo o lado no tabernáculo, assim como sobre tudo o que ele contém. Sobre todos os utensílios e mobiliário, para os santificar. E serão santos. Deita também do óleo sobre o altar dos holocaustos e sobre os seus utensílios para o santificar. O altar será pois algo de santíssimo. Unge igualmente a bacia e o seu pedestal para os santificar. Depois traz Aarão e os seus filhos para a entrada da tenda do encontro e lava-os com água. Veste Aarão com as suas santas vestimentas e unge-o para o santificar, a fim de poder administrar como sacerdote. Seguidamente, traz os filhos, veste-lhes os seus fatos, unge-os tal como fizeste com o pai, para que possam servir-me como sacerdotes. Essa unção será válida e permanente para todos os seus descendentes. Todos os seus filhos e os filhos dos seus filhos me servirão para sempre como sacerdotes.” E fez Moisés da forma como o Senhor lhe mandara. No primeiro dia do primeiro mês, no segundo ano, o tabernáculo ficou montado. Moisés erigiu-o pondo as tábuas nas suas bases ligadas às barras. Depois estendeu a coberta sobre o tabernáculo, assim como as cobertas a pôr por cima dela, exatamente como o Senhor havia ordenado a Moisés. No interior da arca pôs as placas de pedra com os dez mandamentos gravados. Colocou as varas de transporte na arca e colocou em cima o propiciatório. Depois trouxe a arca do testemunho para o tabernáculo e estendeu o véu que a escondia, segundo a ordem do Senhor. Seguidamente, pôs a mesa na tenda do encontro, na divisória seguinte, fora do véu, a norte; e colocou o pão da Presença sobre ela, de acordo com a ordem do Senhor. Pôs o candelabro perto da mesa, do lado sul, e acendeu as lâmpadas na presença do Senhor, segundo as suas instruções. Colocou o altar de ouro na tenda do encontro junto ao véu; e queimou nele incenso aromático, como o Senhor tinha ordenado. Pôs o véu à entrada do tabernáculo, colocou no exterior o altar dos holocaustos, perto da entrada, oferecendo um holocausto e uma oferta de carne, segundo a instrução do Senhor. Seguidamente, pôs a bacia entre a tenda do encontro e o altar, enchendo-a de água, para que os sacerdotes pudessem lavar-se. Moisés, Aarão e os seus filhos lavaram ali as mãos e os pés. Sempre que tinham de ir do altar para entrar na tenda do encontro, paravam e lavavam-se ali, de acordo com as instruções do Senhor a Moisés. Também levantou a vedação de véus, circundando a tenda e o altar, e estendeu a porta de véus à entrada dessa vedação. Foi assim que Moisés terminou o seu trabalho. Então a nuvem cobriu a tenda do encontro e a glória do Senhor o encheu. Moisés não podia entrar por causa da nuvem que ali se mantinha e da glória do Senhor que enchia a tenda do encontro. Sempre que a nuvem se levantava acima do tabernáculo e se movia, o povo de Israel caminhava e avançava seguindo-a. Mas se a nuvem permanecia onde estava, eles também ficavam sem se deslocar. Durante o dia a nuvem do Senhor pairava sobre o tabernáculo, mas de noite era como fogo, de forma que o povo nunca deixava de a ver. Foi assim em todas as deslocações e viagens do povo. O Senhor chamou por Moisés, da tenda do encontro; mandou-lhe que desse as seguintes instruções ao povo de Israel: “Quando sacrificarem ao Senhor tragam animais do vosso gado, dos vossos rebanhos. Se o vosso sacrifício for de gado que oferecem como holocausto, que seja sempre um macho, sem defeito. Tragam o animal até à porta da tenda do encontro onde os sacerdotes aceitarão a oferta ao Senhor. A pessoa que a oferece porá a mão sobre a cabeça do animal. A morte do animal será aceite por Deus em lugar da morte do homem que o trouxe; essa morte é o castigo dos seus pecados. colocarão os pedaços, a cabeça e a gordura sobre a lenha. Os intestinos e as patas deverão ser lavados com água; depois os sacerdotes queimarão tudo sobre o altar, e será um holocausto, uma oferta queimada com que o Senhor se agradará. Se o vosso sacrifício for um cordeiro ou uma cabra, como holocausto, deverá ser igualmente um macho, sem defeito. O homem que o trouxer matá-lo-á perante o Senhor, no lado norte do altar, e os filhos de Aarão, os sacerdotes, aspergirão o seu sangue à volta do altar. Então o homem esquartejá-lo-á e os sacerdotes porão os pedaços, mais a cabeça e a gordura, sobre a lenha no altar. Porém, as partes intestinais e as patas serão primeiro lavadas com água. Depois os sacerdotes queimarão tudo sobre o altar. É um holocausto, oferta queimada com que o Senhor se agrada. Se o vosso sacrifício ao Senhor for um pássaro como holocausto, deverão escolher entre uma rola ou um pombinho. O sacerdote trará a ave sobre o altar, torcer-lhe-á o pescoço e o sangue será escoado junto do altar. Então o sacerdote tirará o papo e as penas, lançando-os para o lado oriental do altar, para o lugar onde estão as cinzas. Depois fendê-la-á por entre as asas, sem as separar, e queimará tudo sobre o altar. É um holocausto, oferta queimada, com que o Senhor se agrada. Se o vosso sacrifício for uma oferta de cereais, será de farinha fina misturada com azeite e incenso. Tomarão um punhado de farinha, deitando-lhe azeite e juntando todo o incenso, trazendo-o a um dos sacerdotes para que o queime, em representação de toda a oferta, e o Senhor se agradará disso. O resto da farinha deverá ser dado a Aarão e aos seus filhos como alimento; mas toda ela deverá ser considerada uma santíssima oferta queimada ao Senhor. Se for antes pão cozido no forno, aquilo que vier a ser trazido como oferta, deverá ser feito de farinha finamente moída, amassada com azeite, mas sem fermento. Bolachas sem fermento, untadas com azeite, podem também servir para oferta. Se o vosso sacrifício for uma oferta de cereais feita na frigideira, será de farinha moída muito fina, sem fermento, e amassada com azeite. Parte isso em pedaços, deita-lhe azeite por cima e será igualmente uma oferta de cereais. Se a oferta for cozida numa panela, deverá também ser de fina farinha com azeite. Contudo, seja cozida no forno, ou frita na frigideira, ou cozida na panela, essa oferta de cereais deverá ser trazida ao sacerdote que a levará ao altar para a apresentar ao Senhor. O sacerdote deverá queimar apenas uma porção representativa, mas toda ela será plenamente apreciada pelo Senhor. O resto pertence a Aarão e a seus filhos para seu alimento; mas o todo é considerado como uma santíssima oferta queimada ao Senhor. Não empreguem fermento nas vossas ofertas de farinha; porque nem fermento, nem tão-pouco mel, é permitido nas ofertas queimadas ao Senhor. Poderão oferecer pão e mel como oferta de gratidão por ocasião das colheitas, mas não como ofertas queimadas. Toda a oferta será temperada com sal, porque o sal é uma lembrança da aliança com Deus. Se a vossa oferta for dos primeiros frutos das vossas colheitas, debulhem o grão das espigas verdes, tostem-no e ofereçam isso ao Senhor. Ponham azeite e incenso na oferta, porque é uma oferta de cereais. Então o sacerdote queimará uma parte desse grão debulhado, misturado com azeite e todo o incenso, como memorial perante o Senhor. Se o vosso sacrifício for oferta de paz ao Senhor, podem oferecer tanto um boi como uma vaca, mas deverá ser sem defeito algum, para poder ser oferecido ao Senhor. O homem que o trouxer porá a mão sobre a cabeça do animal e matá-lo-á à porta da tenda do encontro. Os filhos de Aarão, os sacerdotes, derramarão o sangue sobre os lados do altar e queimarão perante o Senhor a gordura que cobre os órgãos internos, os dois rins com a gordura que os cobre e que está perto dos lombos, e a vesícula biliar, que ele removerá junto com os rins. Os descendentes de Aarão queimarão tudo isso em cima do holocausto que está sobre a lenha acesa no altar. É um holocausto, oferta queimada, com que o Senhor se agrada. Se a vossa oferta de paz ao Senhor for antes gado miúdo, não deverá ter defeito algum, e tanto pode ser um macho como uma fêmea. Se for um cordeiro, apresentá-lo-á ao Senhor; o homem que o trouxer por-lhe-á a mão na cabeça e matá-lo-á à entrada da tenda do encontro. Os sacerdotes derramarão parte do sangue dele à volta do altar, Se for um cabrito a oferecer ao Senhor, por-lhe-á a mão na cabeça e matá-lo-á à entrada da tenda do encontro. Os sacerdotes aspergirão o seu sangue sobre os lados do altar, e neste oferecerão, como oferta queimada para o Senhor, a gordura que cobre os órgãos internos, os dois rins com a gordura que os cobre e que está perto dos lombos, e a vesícula biliar, que ele removerá junto com os rins. O sacerdote queimá-los-á no altar como alimento, como oferta preparada no fogo. É uma oferta queimada com que o Senhor se agrada. Toda a gordura é do Senhor. Aliás, isto é uma lei válida para sempre, para todos os vossos descendentes, onde quer que vivam: não comerão nem gordura nem sangue.” O Senhor deu mais estas instruções a Moisés: “Diz ao povo que estas são as minhas leis respeitantes a alguém que, sem intenção, violar algum dos meus mandamentos. Se um sacerdote pecar sem ser propositadamente, trazendo contudo culpa sobre o povo, deve oferecer ao Senhor um novilho sem defeito para expiação do seu pecado. Deverá trazê-lo à porta da tenda do encontro, pôr-lhe a mão na cabeça e matá-lo na presença do Senhor. Depois esse sacerdote tomará parte do sangue do animal e o trará até dentro da tenda do encontro; porá o seu dedo no sangue e deverá aspergi-lo sete vezes, perante o Senhor, diante do véu que separa o lugar santíssimo. Seguidamente, porá igualmente um pouco de sangue nos chifres do altar de incenso aromático que está perante o Senhor na tenda do encontro. O resto do sangue será derramado na base do altar dos holocaustos à entrada do tabernáculo. Então tomará toda a gordura das entranhas; os dois rins e a respetiva gordura e a vesícula biliar, e queimará tudo no altar das ofertas queimadas, como no caso do boi ou vaca, sacrificados como oferta de paz. Contudo, o que ficar do novilho, a pele, a carne, a cabeça, as patas, os órgãos internos e os intestinos, será transportado para um lugar fora do acampamento, para um lugar ritualmente limpo, o mesmo lugar para onde se levam as cinzas do altar, e queimará tudo num fogo de lenha. Se for toda a nação de Israel que pecar, sem se dar conta disso, e fizer alguma coisa que o Senhor tenha dito para não se fazer, o povo ficará, por consequência, culpado. Quando se derem conta do que aconteceu deverão oferecer um novilho como sacrifício de expiação do pecado e trazê-lo até diante da tenda do encontro, onde os anciãos da nação porão as mãos sobre a cabeça do animal e o matarão na presença do Senhor. Então o sacerdote trará o seu sangue para dentro da tenda do encontro, molhará o dedo nele e salpicá-lo-á sete vezes diante do Senhor, na frente do véu. Depois porá do sangue nos chifres do altar que está na tenda do encontro, diante do Senhor, e o resto irá vazá-lo na base do altar dos holocaustos, no pátio, à entrada da tenda do encontro. Tirará toda a gordura e a queimará sobre o altar. E seguirá o mesmo processo da oferta de pecado; desta maneira o sacerdote fará expiação por toda a nação e todos serão perdoados. O sacerdote transportará depois o novilho para fora do acampamento e queimá-lo-á ali, como se fosse uma oferta de expiação do pecado de um indivíduo; só que desta vez é por expiação do pecado de toda a nação. No caso de ser um ancião que pecar, sem ser com intenção, e se tornar culpado de desobediência a uma das leis do Senhor, seu Deus, logo que tal facto lhe seja notificado, deverá trazer como sacrifício um bode sem defeito. Por-lhe-á a mão na cabeça e o matará no lugar onde são mortos os animais para o holocausto, e apresentá-lo-á ao Senhor. Este é o sacrifício que apresenta para a expiação do seu pecado. Seguidamente, o sacerdote tomará algum do sangue do animal e com o dedo porá dele nos chifres do altar dos holocaustos; o resto do sangue será derramado na base do altar. Toda a gordura será queimada sobre o altar, como se fosse uma oferta de paz; dessa maneira o sacerdote fará a expiação do pecado cometido pelo chefe do povo, e este será perdoado. Se se tratar de alguém do povo que tiver pecado, mas sem ter consciência disso, será considerado culpado. Contudo, assim que a sua consciência for despertada para tal facto, deverá trazer como sacrifício uma cabra sem defeito para expiar o seu pecado. Tem de trazê-la para o sítio onde os animais oferecidos em holocausto são mortos, e aí porá a mão na cabeça do animal e o matará. O sacerdote molhará o dedo no sangue do animal e o porá nos chifres do altar dos holocaustos. O resto do sangue, o sacerdote derramará na base do altar. Toda a gordura lhe será tirada, tal como se faz para a oferta de paz, e o sacerdote a queimará no altar, sendo de agrado ao Senhor. Assim, o sacerdote fará expiação por esse homem, o qual será perdoado. No entanto, se ele preferir trazer um cordeiro como sacrifício pelo seu pecado, deverá ser fêmea, sem nenhum defeito físico. Deverá trazê-la para o sítio onde são mortos os animais para os holocaustos; por-lhe-á a mão na cabeça e matá-la-á, como uma oferta em sacrifício pelo pecado. O sacerdote tomará um pouco do sangue, com o dedo, e o porá nos chifres do altar dos holocaustos, derramando o resto na base do mesmo. Quanto à gordura, tirá-la-á tal, como faz com o cordeiro da oferta de paz, e o sacerdote queimá-la-á no altar, da mesma forma que com qualquer outro sacrifício apresentado ao Senhor pelo fogo. O sacerdote faz assim expiação por essa pessoa, e o seu pecado será perdoado. Se alguém recusar dar testemunho respeitante a um ato mau de que tenha ouvido falar ou que tenha visto, será culpado. Se alguém tocar nalguma coisa considerada ritualmente impura, como o corpo morto de um animal proibido para alimento, seja selvagem, seja doméstico, ou o corpo dalguns insetos proibidos, será imundo e culpado, ainda que o tenha feito sem saber. Se tocar alguma impureza humana de qualquer espécie, torna-se culpado assim que se der conta do que fez. Se alguém fizer um juramento, seja para o bem ou para o mal, quando chegar a ter consciência do quanto foi irrefletido ao pronunciar tal coisa, será culpado. Em qualquer destes casos a pessoa culpada deverá confessar o seu pecado e trazer a sua oferta em sacrifício de culpa ao Senhor: um cordeiro fêmea ou uma cabra; o sacerdote fará expiação por ela com respeito a este pecado. Se for demasiado pobre para trazer ao Senhor um cordeiro, deverá trazer então duas rolas ou dois pombinhos como oferta de culpa. O sacerdote oferecerá como sacrifício pelo pecado qualquer deles que lhe foi trazido primeiro, torcendo-lhe o pescoço, mas sem separar a cabeça do corpo. Depois aspergirá um pouco do sangue sobre o lado do altar, derramando o resto na base; esta é a oferta pelo pecado. O segundo pássaro será oferecido como holocausto, conforme o preceito habitual que já foi indicado. É desta maneira que o sacerdote fará expiação pelo seu pecado e ele será perdoado. Se for tão pobre que não possa trazer nem rola nem pombinho, trará 2,2 litros de farinha fina. Mas não deverá amassá-la com azeite, nem pôr-lhe incenso, porque se trata de uma oferta pelo pecado. Deverá trazê-la ao sacerdote e este tomará um punhado como porção representativa, queimando-a no altar, tal como qualquer outra oferta feita ao Senhor pelo fogo. Esta será a oferta pelo seu pecado. É desta maneira que o sacerdote fará expiação por ele, por qualquer pecado desta espécie, e será perdoado. O resto da farinha pertence ao sacerdote, tal como aconteceu com a oferta de cereais.” E o Senhor disse a Moisés: “Se alguém pecar, sem ser intencionalmente, transgredindo por ignorância das coisas sagradas do Senhor, então deverá trazer um carneiro, sem defeito físico, no valor daquilo que estimares ter sido o montante da transgressão em causa; essa será a oferta que pela sua culpa fará ao Senhor. E restituirá aquilo que defraudou das coisas sagradas, pagando o que deve, acrescido de vinte por cento. Deverá trazê-lo ao sacerdote que fará expiação por ele com o carneiro de oferta pela culpa, e será perdoado. Alguém que desobedece a qualquer lei do Senhor, mesmo sem ter tido consciência disso, será culpado, e deverá trazer um sacrifício dum valor que estimares ter sido o da transgressão em causa. Este sacrifício será um carneiro sem defeito, que será trazido ao sacerdote como uma oferta de culpa; com ele o sacerdote fará o resgate por essa pessoa, para que seja perdoada por aquilo que tiver feito sem o saber. Deverá ser oferecido como uma oferta de culpa, porque sem dúvida se tornou culpada perante o Senhor.” E falou mais o Senhor a Moisés o seguinte: “Se alguém pecar contra o Senhor, recusando devolver o depósito referente a qualquer coisa que emprestou ou que alugou, ou recusando devolver aquilo que lhe foi emprestado ou alugado, ou roubado ao seu próximo, ou que tenha encontrado e depois minta, jurando que nunca viu coisa nenhuma, na altura em que for declarado culpado destes pecados deverá restituir o que subtraiu, acrescido de vinte por cento do valor em questão, entregando-o a quem defraudou; e na mesma ocasião trará a sua oferta de culpa ao tabernáculo. Esta oferta deverá ser um carneiro, sem defeito físico, e há de ter o valor daquilo que tu estimares. Tem de trazê-lo ao sacerdote; este fará expiação por ele perante o Senhor e será perdoado.” O Senhor disse também a Moisés: “Dá a Aarão e aos seus filhos o seguinte regulamento respeitante aos holocaustos: O holocausto será deixado sobre o altar toda a noite, mantendo o fogo do altar aceso. Na manhã seguinte, o sacerdote deverá vestir a roupa interior própria, de linho, assim como o vestuário litúrgico, tirar as cinzas depois do fogo ter consumido o holocausto, pondo-as junto do altar. Depois mudará de roupa e levará as cinzas para fora do acampamento para um lugar considerado ritualmente limpo. Entretanto, o fogo no altar deve ser mantido aceso; não o deverão deixar apagar. O sacerdote porá nova lenha em cada manhã e deixará ali o holocausto, queimando a gordura da oferta de paz. O fogo deve ser mantido aceso no altar continuamente. Nunca o deixarão apagar. Este é o regulamento respeitante à oferta de cereais. Os filhos de Aarão ficarão de pé diante do altar, para a oferecer perante o Senhor. O sacerdote tomará então uma mão-cheia dessa farinha moída muito fina, amassada com o seu azeite e todo o incenso, e queimará sobre o altar uma porção simbólica, para o Senhor, o qual terá nisso grande prazer. Depois de ter retirado essa mão-cheia, o resto da farinha pertence a Aarão e aos filhos como alimento, e deverá ser comida, sem fermento, no pátio da tenda do encontro. Insiste nesta indicação: de que se for cozida, deverá sê-lo sem fermento. Portanto, destinei aos sacerdotes esta parte das ofertas queimadas que me são feitas. Contudo, toda ela é coisa santíssima, tal como acontece com a totalidade da oferta pelo pecado e a oferta de culpa. Poderá ser comida por qualquer sacerdote, descendente masculino de Aarão. Unicamente os sacerdotes poderão comer destas ofertas feitas pelo fogo ao Senhor. Tudo o que nelas tocar tornar-se-á santo.” E Senhor disse a Moisés: “No dia em que Aarão e os seus filhos forem investidos como sacerdotes, hão de trazer ao Senhor uma oferta de cereais; 2,2 litros de fina farinha, metade a ser ofertada pela manhã e a outra metade à tarde. Deverá ser frita numa frigideira, usando azeite; deverá ficar muito bem frita e depois ser trazida ao Senhor como oferta que muito lhe agradará. Sempre que os filhos dos sacerdotes vierem a substituir seus pais, ao serem investidos nas suas funções sacerdotais, deverão oferecer este mesmo sacrifício no dia da sua unção. Isto é uma lei válida para sempre. Estas ofertas deverão ser queimadas inteiramente; não se comerá nada delas.” Disse mais o Senhor a Moisés: “Dá a Aarão e aos seus filhos as seguintes instruções respeitantes à oferta de pecado: Este sacrifício é coisa santíssima e o animal deverá ser morto perante o Senhor, no sítio onde os animais são mortos em holocausto. O sacerdote que realiza a cerimónia deve comê-lo no lugar santo, no pátio da tenda do encontro. Tudo o que tocar na carne se tornará santo; se alguma parte desse sangue cair sobre a roupa de alguém, essa deverá ser lavada no lugar santo. O recipiente de barro em que a carne for cozida tem de ser quebrado; se for um recipiente de bronze, deve ser esfregado e lavado com água. Todo o homem entre os sacerdotes, e somente estes, podem comer esta oferta, porque é coisa santíssima. Nenhuma oferta de expiação de pecado, contudo, poderá ser comida pelos sacerdotes, se algum do seu sangue for trazido para a tenda do encontro para se fazer resgate no lugar santo. Essa carcaça do animal deve ser inteiramente queimada com fogo diante. Aqui estão as instruções que dizem respeito à santíssima oferta de expiação de culpa: O animal do sacrifício deverá ser morto no sítio onde são degolados os holocaustos e o seu sangue aspergido sobre todo o altar. O sacerdote oferecerá sobre o altar toda a sua gordura, e também a cauda, além da gordura que cobre as partes internas, e ainda os dois rins com a gordura que os cobre e a vesícula; tudo será posto de parte para o sacrifício. O sacerdote queimá-los-á sobre o altar como oferta de expiação de culpa ao Senhor. Só os homens, de entre os sacerdotes, poderão comer a carcaça do animal, e sempre no lugar santo, porque se trata de um sacrifício santíssimo. As mesmas instruções se aplicam tanto à oferta de pecado como à de culpa; a carcaça deverá ser dada ao sacerdote encarregado da cerimónia de resgate, porque é alimento seu. Quando a oferta é um holocausto, o sacerdote oficiante tomará para si a pele do animal. Os sacerdotes que apresentarem as ofertas de cereais trazidas pelo povo ficarão com o que restar do sacrifício após a conclusão da cerimónia. Esta regra aplica-se quer o sacrifício seja cozido, frito ou grelhado. Todas as outras ofertas de cereais, amassadas com azeite ou secas, serão propriedade comum de todos os filhos de Aarão. São as seguintes as indicações respeitantes aos sacrifícios dados ao Senhor como ofertas de paz: Se se tratar de uma oferta de ação de graças, deverão ser incluídos no sacrifício pãezinhos sem fermento, acompanhados de bolachas sem fermento, amassadas com azeite, e bolos feitos de massa de farinha fina amassada com azeite. Esta oferta de louvores e de paz será acompanhada de bolos de farinha levedada. Parte deste sacrifício será apresentado ao Senhor com um gesto especial de movimento perante o altar; depois será dada ao sacerdote oficiante, o qual aspergirá o sangue do animal apresentado como sacrifício. Após o animal ter sido sacrificado, como oferta de paz que lhe testemunhe louvor e gratidão, a sua carne é para ser comida nesse mesmo dia, sem nada se deixar ficar para o dia seguinte. Contudo, se alguém trouxer um sacrifício que não seja de ação de graças, mas antes por causa de um voto, ou simplesmente como uma oferta voluntária, aquilo que do sacrifício não tiver sido comido, no dia em que foi apresentado, pode ser comido no dia seguinte. No entanto, o que ficar até ao terceiro dia deve ser queimado. Porque se alguma porção for comida no terceiro dia o Senhor não aceitará; não terá valor como sacrifício e não será dado crédito a favor daquele que a trouxe como oferta. O sacerdote que o comer será culpado, porque fez algo detestável; a pessoa que comeu deverá responder pelo seu pecado. Qualquer carne que aconteça tocar em algo de ritualmente imundo não poderá ser comida, mas antes ardida; e quanto à comida que pode ser comida, deve sê-lo somente por alguém ritualmente limpo. Mas se alguém que esteja impuro comer de alguma carne da oferta de ação de graças será banido do seu povo, porque manchou algo que é sagrado, que pertence ao Senhor. Alguém que tocar seja no que for cerimonialmente impuro, seja imundice de ser humano, seja de animal, e que depois comer da oferta de paz, deverá ser banido do seu povo, porque manchou algo de santo.” E o Senhor disse a Moisés: “Diz ao povo de Israel que nunca coma gordura, seja de boi, de cordeiro ou de cabra. A gordura de um animal que morre de doença, ou que tenha sido morto por um outro animal, pode ser usada para qualquer fim, mas que não seja comida. Se alguém comer da gordura dum animal de uma oferta sacrificada pelo fogo ao Senhor deverá ser banido do seu povo. Nunca se coma o sangue, seja de pássaros, seja de quadrúpedes. Alguém que o fizer será excomungado do seu povo.” E o Senhor disse a Moisés: “Diz ao povo de Israel que a aquele que trouxer uma oferta de louvor ao Senhor deve trazê-la pessoalmente, com as suas próprias mãos. Trará a oferta da gordura e do peito que deve ser apresentado ao Senhor, movendo-o perante o altar, com um gesto de apresentação cerimonial. Então o sacerdote queimará a gordura sobre o altar, mas o peito pertencerá a Aarão e aos seus filhos; a coxa direita será dada ao sacerdote oficiante. Porque destinei tanto o peito como a coxa para serem o donativo do povo de Israel aos filhos de Aarão. Portanto, a Aarão e aos seus filhos será sempre dada esta porção de sacrifício. É a porção que lhes é devida. Deverá ser retirada das ofertas queimadas e dada a todos aqueles que foram designados para administrar para o Senhor como sacerdotes, ou seja, a Aarão e aos seus filhos. Porque no dia em que o Senhor os ungiu ordenou também que o povo de Israel lhe desse estas porções; é pois um direito seu para sempre, no decurso de todas as gerações vindouras.” Foram pois estas as instruções respeitantes aos holocaustos, ofertas de cereais, ofertas de pecado, ofertas de culpa, e ainda às ofertas de consagração e às ofertas de paz. Foram dadas a Moisés pelo Senhor junto ao monte Sinai, a fim de serem transmitidas ao povo de Israel para que soubessem como oferecer os seus sacrifícios ao Senhor no deserto de Sinai. O Senhor disse a Moisés: “Agora traz Aarão e os seus filhos para a entrada da tenda do encontro, e que venham com as vestes sacerdotais, mais o óleo de unção, e ainda um novilho para oferecer pelo pecado, dois carneiros e o cesto de pães sem fermento. Convoca todo o povo de Israel para uma assembleia à entrada da tenda do encontro.” Moisés fez o que o Senhor lhe tinha ordenado e convocou todo o povo ali e disse-lhes: “O que agora vou fazer foi ordenado pelo Senhor.” Então dirigiu-se a Aarão e seus filhos, lavou-os com água, vestiu Aarão com a túnica especial, pôs-lhe a faixa, o manto, o colete do éfode e o cinto belamente tecido. De seguida, pôs-lhe o peitoral e depositou o urim e o tumim na sua bolsa. Colocou-lhe na cabeça o turbante, tendo na parte frontal a placa sagrada em ouro, isto é, a coroa santa, tal como o Senhor tinha ordenado. Então Moisés pegou no azeite da unção, aspergiu-o sobre o próprio tabernáculo e sobre tudo o que ele continha, para tudo santificar. Aspergiu também o altar sete vezes, assim como os seus utensílios e também a bacia e o pedestal, para os santificar. Depois derramou o azeite da unção sobre a cabeça de Aarão, santificando-o assim de forma a poder executar o serviço a que se destinava. Em seguida, vestiu as túnicas aos filhos de Aarão, e ainda os cintos e os gorros, tal como o Senhor lhe tinha ordenado. Seguidamente, pegou no novilho da oferta pelo pecado, e Aarão e os seus filhos puseram-lhe as mãos em cima da cabeça, enquanto Moisés o matava. Salpicou com o seu dedo um pouco do sangue do animal sobre os quatro chifres do altar e sobre o próprio altar, para o santificar, e derramou o resto do sangue na base do altar. Foi assim que santificou o altar fazendo resgate por ele. Tomou toda a gordura que cobria as entranhas, toda a massa gordurosa que cobre o fígado, os dois rins com a sua gordura e queimou tudo no altar. A carcaça do novilho, com a pele e o esterco, foi queimada fora do acampamento, tal como o Senhor ordenara a Moisés. Depois apresentou ao Senhor um dos carneiros como holocausto. Aarão e os filhos puseram-lhe as mãos na cabeça; Moisés matou-o, aspergindo o sangue sobre todo o altar. Depois esquartejou-o e queimou os pedaços, assim como a cabeça e a gordura. Em seguida, lavou com água as partes internas e as patas, e queimou-o no altar, de forma que todo o carneiro foi consumido perante o Senhor; um holocausto ao Senhor, que lhe é muito agradável; oferta queimada, conforme as indicações do Senhor a Moisés. Moisés apresentou o outro carneiro, o carneiro da consagração. Aarão e os seus filhos puseram as mãos na cabeça do animal, Moisés matou-o e pôs um pouco do sangue na ponta da orelha direita de Aarão, assim como no seu polegar direito e ainda no dedo grande do seu pé direito. Depois fez o mesmo em relação aos filhos, pondo do sangue sobre a ponta das orelhas e sobre os polegares das mãos e dos pés direitos. O resto do sangue aspergiu-o sobre todo o altar. De seguida, tomou a gordura, a cauda, a gordura das partes intestinais, a vesícula, os dois rins com a respetiva gordura e a espádua direita; pôs sobre isto um bolo sem fermento, um bolo untado com azeite e uma bolacha, tirados do cesto que fora colocado perante o Senhor. Tudo foi posto nas mãos de Aarão e dos seus filhos para ser apresentado ao Senhor, com um gesto de apresentação cerimonial, na frente do altar. Moisés tomou depois isso das suas mãos e queimou-o sobre o altar; é um holocausto ao Senhor, que lhe é muito agradável; oferta queimada ao Senhor. Então Moisés pegou no peito e apresentou ao Senhor, movendo-o diante do altar, com um gesto de apresentação cerimonial. Esta foi a porção pertencente a Moisés, do carneiro da consagração, conforme o Senhor o tinha instruído. Em seguida, tomou algum do azeite, e parte do sangue que fora aspergido sobre o altar, e salpicou Aarão e as suas roupas, fazendo o mesmo com os filhos, consagrando dessa forma Aarão, seus filhos e as respetivas roupas. Disse Moisés a Aarão e seus filhos: “Cozam a carne na entrada da tenda do encontro; comam-na com o pão que está no cesto da consagração, tal como vos instruí que fizessem. Tudo o que restar da carne e do pão deverá ser queimado.” E disse-lhes que não deixassem a entrada da tenda do encontro durante sete dias, após os quais a sua consagração ficaria completa. Esta deverá durar pois sete dias. Moisés afirmou novamente que o que fizera nesse dia tinha sido ordenado pelo Senhor, a fim de fazer resgate por eles. E mais uma vez avisou Aarão e seus filhos que deveriam ficar à porta da tenda do encontro dia e noite pelo espaço de sete dias. “Se saírem daí”, disse-lhes, “morrerão; foi o que o Senhor disse.” E Aarão e os seus filhos fizeram tudo o que o Senhor ordenara a Moisés. No oitavo dia Moisés chamou Aarão, os seus filhos, mais os anciãos de Israel, e disse a Aarão que trouxesse um bezerro para a oferta de expiação do pecado e um carneiro sem defeito físico como oferta de holocausto e os oferecesse perante o Senhor. “Diz ao povo de Israel”, mandou-lhe Moisés, “que tragam um bode para expiação do pecado; além deste, um bezerro e um cordeiro, ambos de um ano, sem defeito, para o seu holocausto. Devem ainda trazer ao Senhor um sacrifício de oferta de paz: um boi e um carneiro, e uma oferta de cereais: farinha amassada com azeite. Porque hoje o Senhor vos aparecerá.” Assim trouxeram tudo isso até à entrada da tenda do encontro, conforme Moisés dissera, e o povo veio e ficou de pé na presença do Senhor. Moisés disse-lhes: “Quando tiverem cumprido as instruções do Senhor, a sua glória vos aparecerá.” Moisés mandou Aarão chegar-se ao altar e oferecer a oferta de expiação do pecado e o holocausto, fazendo assim expiação por si mesmo, primeiramente, e depois pelo povo, tal como o Senhor ordenara. Assim, Aarão foi até ao altar e matou o bezerro como sacrifício pelo seu próprio pecado; os seus filhos trouxeram-lhe o sangue e, molhando o dedo nele, salpicou sobre os chifres do altar e o resto derramou na base do altar. Em seguida, queimou sobre o altar a gordura, os rins e a vesícula desse sacrifício pelo pecado, tal como o Senhor indicara a Moisés, porém a carne e a pele queimou num sítio fora do acampamento. Seguidamente, matou o animal de oferta de holocausto, os filhos trouxeram-lhe o sangue e ele aspergiu-o sobre todo o altar; trouxeram-lhe igualmente as partes em que o animal foi partido, incluindo a cabeça, e queimou tudo sobre o altar. Lavou as partes intestinais e as patas, oferecendo-as também sobre o altar como holocausto. Depois sacrificou a oferta do povo. Degolou o bode e ofereceu-o da mesma maneira que tinha feito para a oferta por si próprio. Assim sacrificou os seus holocaustos, de acordo com as instruções dadas por Deus. Depois apresentou a oferta de cereais, tomando dela uma mão-cheia e queimando-a sobre o altar, além da oferta regular da manhã. Então degolou o boi e o carneiro, a oferta de paz da parte do povo; os filhos de Aarão trouxeram-lhe o sangue e ele aspergiu-o sobre todo o altar. Entregaram-lhe também a gordura dos dois animais, assim como a cauda e a gordura que cobre as entranhas, mais os rins e a vesícula. A gordura foi colocada sobre o peito dos animais e Aarão queimou-a sobre o altar; mas o peito e a espádua direita ofereceu-os, com um movimento balanceado, um gesto de apresentação cerimonial perante o Senhor, tal como Moisés o instruíra. Por fim, com as mãos levantadas na direção do povo, Aarão abençoou-o e desceu do altar. Moisés e Aarão entraram na tenda do encontro; quando tornaram a sair abençoaram de novo o povo. E a glória do Senhor apareceu a toda a assembleia, tendo vindo fogo de diante do Senhor que consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar. Quando o povo viu isto todos clamaram de alegria e se inclinaram até à terra. Nadabe e Abiú, filhos de Aarão, tomaram cada um o seu incensário, puseram-lhe fogo e incenso sobre ele, trazendo fogo estranho perante o Senhor, contrariamente àquilo que o ele expressamente ordenara. Então saiu fogo da presença do Senhor que os consumiu. Moisés disse a Aarão: “Foi isto mesmo que o Senhor disse: ‘Darei prova da minha santidade, através daqueles que se aproximam de mim, e serei glorificado assim perante todo o povo.’ ” Porém, Aarão guardou silêncio. Moisés chamou então Misael e Elzafã, primos de Aarão, filhos de Uziel, e disse-lhes: “Vão buscar os corpos que estão diante do santuário e levem-nos para fora do acampamento.” E assim fizeram e levaram-nos, mesmo nas túnicas com que estavam, tal como Moisés lhes dissera. Então Moisés disse a Aarão e aos seus filhos Eleazar e Itamar: “Não descubram as vossas cabeças, em sinal de contrição, nem rasguem as vossas roupas, para que não venham a morrer também, e a ira do Senhor não venha a este povo de Israel. No entanto, o resto do povo pode lamentar todo este terrível fogo que o Senhor mandou. Vocês, contudo, não devem afastar-se da tenda do encontro, sob pena de morrer, pois o azeite da unção do Senhor está sobre vós.” Eles assim fizeram como Moisés lhes disse. O Senhor disse mais o seguinte a Aarão: “Não bebam nunca vinho nem bebida forte quando entrarem na tenda do encontro, se não morrerão. Esta regra aplicar-se-á a vocês e a todos os vossos descendentes, em todas as gerações vindouras. O vosso dever é ensinar o povo, mostrar-lhe qual a diferença entre o santo e o profano, o puro e o impuro; ensinar-lhe todas as leis que o Senhor tem dado por intermédio de Moisés.” Moisés disse a Aarão e aos filhos que lhe ficaram, Eleazar e Itamar: “Tomem a oferta de cereais, o que ficou depois de ter oferecido ao Senhor aquela mão-cheia que foi queimada sobre o altar, certifiquem-se que não há nela fermento e comam-na junto do altar, num lugar sagrado; trata-se de uma oferta santíssima. Por isso, devem comê-la num lugar santo. É uma porção que vos pertence a ti e a teus filhos, essa parte das ofertas ao Senhor feitas com fogo. Assim me foi ordenado. Mas o peito e a coxa, que foram oferecidas ao Senhor com um movimento balanceado, um gesto de apresentação cerimonial, na sua presença, podem comer num lugar limpo cerimonialmente. É um alimento que vos é destinado; a ti, aos teus filhos e filhas. É a porção que vos pertence dos sacrifícios de paz que faz o povo de Israel. O povo deverá trazer a coxa, que foi posta de parte, mais o peito que foi oferecido quando a gordura se queimava, e deverão apresentá-los ao Senhor com um gesto de apresentação cerimonial. Depois então vos pertencerão, a ti e à tua família, tal como o Senhor tem ordenado.” Moisés procurou por toda a parte o bode da oferta pelo pecado e descobriu que tinha sido queimado. Por isso, ficou muito zangado com Eleazar e com Itamar, os filhos que restaram a Aarão. “Porque não comeram vocês a oferta pelo pecado no santuário, visto que é coisa santíssima? Deus vo-la deu para que levassem a iniquidade e a culpa do povo, para fazer expiação por eles perante o Senhor!”, disse-lhes. “Visto que o sangue não foi levado para dentro do santuário, deveriam tê-la comido ali tal como vos mandei.” Aarão intercedeu junto de Moisés: “Eles ofereceram a sua oferta de expiação do pecado e o seu holocausto perante o Senhor ”, disse. “Poderia eu comer a expiação pelo pecado num dia como este? Teria isso agradado ao Senhor?” Moisés, ouvindo isto, ficou de acordo. Então o Senhor disse a Moisés e a Aarão: Quer isto dizer que os seguintes animais não devem ser comidos: o camelo que rumina, mas não tem o casco fendido, deve ser considerado impuro; o damão-do-cabo que rumina, mas não tem o casco fendido, deve ser considerado impuro; a lebre que também rumina, mas não tem o casco fendido, deve ser considerada impura; o porco, embora tenha o casco fendido, não rumina, deve ser considerado impuro. Não deverão comer a sua carne nem sequer tocar nos seus cadáveres. É alimento que vos é proibido, pois é considerado impuro. E quanto aos peixes poderão comer os que têm barbatanas e escamas, sejam pescados no mar ou em rios; mas todos os outros vos são proibidos. Não deverão comer a sua carne e não tocarão nos seus corpos mortos. Repito: qualquer animal aquático que não tenha barbatanas ou escamas vos é proibido, pois é considerado impuro. No que concerne às aves, são as seguintes as que não devem comer: a águia, o abutre, a águia pesqueira, o milhafre, o falcão de toda a espécie, o corvo de toda a espécie, a coruja do deserto, a coruja pequena, a gaivota, o gavião de toda a espécie, o mocho, o pelicano, o corujão-orelhudo, a gralha, a coruja do deserto, o abutre-egípcio, a cegonha, a garça de toda a espécie, a poupa e o morcego. Nenhum inseto que voa, que tenha quatro patas, deverão comer, pois é considerado impuro; mas poderão comer de todos os que saltam. Por isso, podem comer toda a variedade de locusta, de gafanhoto devorador, de gafanhoto comum, de grilo. Mas tudo o mais que voe e tenha quatro patas é proibido. Quem tocar os seus corpos mortos será impuro até à noite; quem transportar o cadáver dum deles tem de lavar as suas roupas e ficará impuro até à noite. Também serão considerados impuros se tocarem qualquer animal com casco não fendido em duas partes, ou qualquer animal que não rumine. Igualmente todo o animal plantígrado, que anda pousando no chão toda a planta dos pés, vos é proibido. Quem tocar nos seus corpos mortos será impuro até ao cair da noite. Qualquer pessoa que tiver de carregar as suas carcaças deverá lavar a roupa e será impura até à noite. Porque são para vocês animais proibidos. Também vos serão proibidos os seguintes pequenos animais, que se esgueiram por entre os pés ou que rastejam: a doninha, o rato, o lagarto, o geco, a iguana, a agama, a lagartixa e o camaleão. Seja quem for que tocar nos seus corpos mortos ficará impuro até ao anoitecer; também tudo aquilo sobre o que caírem os seus cadáveres será impuro, quer se trate de objeto de madeira, de tecido, de pele ou tecido de saco, ou instrumento de trabalho; deverá ser metido em água, e será impuro até ao fim da tarde. Só depois disso poderá ser usado novamente. Se for dentro de um vaso de barro que caírem os seus corpos mortos, tudo o que lá estiver será impuro, e o recipiente será quebrado. E se a água usada para a limpeza do objeto impuro tocar algum alimento, todo este será impuro. Toda a bebida que estiver nesse recipiente de barro ficará impura. Se o corpo morto de um desses animais tocar num forno de barro será impuro: deverá quebrar-se. Se cair dentro de uma fonte de água ou de uma cisterna, a água não será impura, mas quem tirar de lá o corpo morto será impuro. Se tocar ou cair sobre semente a semear no campo, esta não ficará contaminada. No entanto, se o grão estiver molhado quando cair nele o corpo morto dum desses animais, essa semente será impura. Animais que rastejam não deverão ser comidos. Isto inclui tanto os que rastejam sobre o ventre como os que têm patas. Tão pouco os que se arrastam, com muitas patas, poderão comer, porque são impuros. Não se contaminem tocando-lhes. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Mantenham-se puros no respeitante a estas coisas, e sejam santos, porque eu sou santo. Não se contaminem tocando algum desses animais que rastejam sobre o chão. Porque eu sou o Senhor que vos tirou da terra do Egito para que eu seja o vosso Deus. Devem pois ser santos porque eu sou santo.” São pois estas as leis referentes aos animais que vivem sobre a terra, às aves, aos que vivem na água e aos que rastejam sobre a terra; para se fazer diferença entre os animais que são cerimonialmente limpos, e podem ser comidos, e os que são impuros e não devem ser ingeridos. O Senhor disse a Moisés para dar as seguintes instruções ao povo de Israel: “Quando nascer uma criança, se for rapaz a mãe será cerimonialmente impura por 7 dias, sob as mesmas restrições que durante os seus períodos menstruais. No oitavo dia o menino será circuncidado. E durante os 33 dias seguintes, enquanto a mãe recupera da sua impureza ritual, não deverá tocar em nada que seja sagrado, nem entrar no tabernáculo. Se for uma menina que tiver nascido, a impureza da mãe prolongar-se-á por duas semanas, durante as quais ficará sob as mesmas restrições que durante os seus períodos menstruais. Depois, durante mais 66 dias, continuará a recuperar da sua impureza. Quando acabarem estes dias de purificação, por um menino ou por uma menina, deverá trazer um cordeiro de um ano como holocausto, mais um pombo de pouca idade, ou uma rola, para expiação do pecado. Deverá trazê-los até ao sacerdote, à porta da tenda do encontro, e este oferecê-lo-á ao Senhor para fazer expiação por ela. Assim será limpa novamente depois da sua perda de sangue. Isto é o que deverá fazer depois do nascimento do filho. Mas se for demasiado pobre para poder obter um cordeiro, poderá trazer duas rolas ou dois pombinhos. Um deles será para o holocausto e o outro para a oferta de expiação do pecado. O sacerdote fará a expiação por ela, com estes animais, e será limpa novamente.” O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Se alguém notar na sua pele um inchaço ou uma crosta ou um empolamento, deverá ser suspeito de estar com lepra. Será levado a Aarão, o sacerdote, ou a um dos seus filhos, para ser observado. Se o pelo desse sítio afetado se tiver tornado branco e tiver a aparência de algo mais profundo que a pele, é porque se trata de lepra; o sacerdote terá de o declarar impuro. Mas se a mancha branca não der a impressão de ser mais funda que a pele, e se o pelo não se tiver tornado branco, o sacerdote pô-lo-á de quarentena durante sete dias. Ao fim desse tempo, ao sétimo dia, o sacerdote o examinará de novo; se a mancha não se tiver alterado nem alastrado na pele, então o sacerdote mantê-lo-á retirado ainda por mais sete dias, examinando-o de novo ao fim desse tempo. Se a mancha se tiver tornado menos carregada, e não se tiver espalhado, então o sacerdote o declarará sarado. Tratava-se apenas duma lesão superficial. A pessoa só terá de lavar a roupa e tudo continuará normalmente para si. Mas se a mancha alastrar, após ter sido observada pelo sacerdote, deverá voltar junto dele; o sacerdote o examinará e, se for o caso, deverá declará-lo impuro; está leproso. Quando alguém suspeito de lepra for trazido ao sacerdote, este verá se há um inchaço branco na pele, se o pelo naquele sítio se tornou branco e se aparece carne viva. Se estes sintomas se confirmarem, é sem dúvida um caso declarado de lepra. O sacerdote deverá declará-lo impuro. Essa pessoa não ficará de quarentena para observação posterior, porque está diagnosticado definitivamente o mal. Contudo, se o sacerdote vir que a lepra irrompeu e se espalhou por todo o corpo, da cabeça aos pés, tanto quanto se pode ver, então o sacerdote o declarará sarado da lepra, visto que se tornou todo branco. Está portanto limpo. Mas se aparecer carne viva nalgum sítio, a pessoa será declarada impura. A lepra está provada pela carne viva que apareceu. No entanto, se a carne viva se fizer mais tarde branca, o leproso deverá voltar ao sacerdote, para que este o examine novamente. Se aquela parte se tiver tornado, com efeito, completamente branca, então o sacerdote o declarará limpo. No caso de uma pessoa ter uma ferida na pele, e vier depois a sarar, tendo ficado no entanto um inchaço branco ou uma mancha avermelhada, a pessoa deve ir ter com o sacerdote para ser examinada. Se o sacerdote vir que aquela afeção é mais funda que a pele, e se o pelo se tornou branco, então deverá declará-la impura, porque foi lepra que brotou da ferida anterior. No entanto, se o sacerdote vir que não há pelo branco no sítio, e que não dá a impressão de ser mais fundo que a pele, e se tiver tornado escura, a pessoa ficará de quarentena durante sete dias. Durante esse espaço de tempo, se a mancha se espalhar, o sacerdote considerá-la-á impura; está leprosa. No entanto se não se tiver alastrado, nem se tiver tornado maior, é porque se trata simplesmente de uma inflamação superficial; o sacerdote declará-la-á limpa. Se uma pessoa se queimar de alguma maneira, e o sítio da queimadura se tornar avermelhado ou branco, então o sacerdote deverá examiná-la; e se o cabelo se tiver tornado branco, e a aparência for de algo mais profundo que a pele, é porque se trata de lepra que brotou da queimadura. O sacerdote deverá declará-la impura; está leprosa. Mas se o sacerdote vir que não há naquele sítio pelo branco e que aquela branquidão não tem aspeto de ser mais profunda que a pele, e que se vai esbatendo, o sacerdote pô-lo-á de quarentena durante sete dias, tornando a examinar a pessoa ao fim desse tempo. Se a mancha se tiver espalhado, o sacerdote considerá-la-á impura; está leprosa. Mas se não se tiver alastrado e for esmorecendo, é uma mera lesão da pele e o sacerdote deverá declará-la limpo; não há lepra. Se um homem, ou uma mulher, tiverem uma chaga na cabeça ou na barba, o sacerdote terá de o examinar. Se a infeção parecer mais profunda que a pele e o cabelo se tornar amarelo, o sacerdote deverá considerá-lo imundo; está leproso. Mas se o exame do sacerdote revelar que essa afeção é apenas superficial e que o pelo naquele sítio é preto, então ficará de quarentena por sete dias. Após esse tempo será examinado de novo; se a afeção não tiver alastrado, não tiver aparecido pelo amarelo e não parecer mais funda que a pele, deverá rapar todo o cabelo à volta da afeção, mas não no próprio sítio, e o sacerdote voltará a pô-lo de quarentena por mais sete dias. Depois será outra vez examinado ao sétimo dia; e se a mancha se não tiver alastrado nem tiver aspeto de ser mais profunda que a pele, então o sacerdote declará-lo-á limpo; depois de lavar a sua roupa essa pessoa poderá ir em paz. No entanto, se mais tarde a mancha começar a espalhar-se, o sacerdote terá de o examinar de novo e mesmo que não veja o pelo amarelecer, deverá declará-lo impuro. Mas se notar que parou na sua evolução, e que há cabelo preto naquele sítio, é porque está curado e não há lepra. O sacerdote deverá considerá-lo limpo. Se um homem ou uma mulher tiverem empolamentos brancos (ou transparentes) na sua pele, que vão escurecendo progressivamente, é porque não se trata de lepra, mas de uma infeção vulgar que brotou nessa área da pele; está limpo. Se o cabelo dum homem começar a cair, não é por isso que é impuro, ainda que venha a ficar completamente calvo. Se lhe cair o cabelo na parte da frente da cabeça será naturalmente uma calvície, mas não se poderá considerar leproso; está puro. Contudo, se na parte calva da cabeça houver uma mancha avermelhada, então sim, poderá tratar-se de lepra a despontar. Nesse caso o sacerdote examinará a pessoa e se houver um inchaço branco começando a avermelhar, parecendo lepra, é porque está certamente leprosa, e o sacerdote deverá declará-la impura. Alguém que se constate que é leproso deverá rasgar a sua roupa, destapar a cabeça e não se pentear; cobrir o lábio superior e clamar: ‘Impuro! Impuro!’ Todo o tempo que durar a doença estará impuro e deverá viver fora do acampamento. Quando se declarar lepra nalguma peça de vestuário de lã ou de linho, de tecido ou tricotada, ou em qualquer espécie de couro, ou em algo fabricado com peles, e apareça uma mancha cinzenta ou avermelhada, é provavelmente lepra. Deverá ser levado ao sacerdote para que examine. Este manterá o objeto ou peça de vestuário fechado durante sete dias. Ao sétimo dia tornará a observá-lo; se a mancha tiver alastrado é porque se trata de lepra maligna; está impuro. Terá de queimar essa roupa ou objeto, seja de que tecido for; linho, lã, malha ou pele, pois trata-se de algo maligno. Terá de ser destruído pelo fogo. Contudo, se quando o examinar de novo ao sétimo dia, a mancha não tiver alastrado, o sacerdote mandará que essa coisa seja lavada e de novo isolada por mais sete dias; após o que, se a mancha não tiver mudado de cor, mesmo que não tenha alastrado, será lepra e deverá ser queimada, porque está infetada tanto de fora como da parte de dentro do tecido. Se o sacerdote vir que a mancha se esvaneceu depois da lavagem, então cortará essa parte do tecido, da pele ou da malha. Contudo, se tornar a aparecer, é porque se trata de lepra; deverá ser queimado. Se depois de ter sido lavado aqueles vestígios tiverem desaparecido, poderá ser usado novamente; está limpo. Estas são as leis respeitantes à lepra em vestuário de lã ou de linho, ou em qualquer coisa feita de pele ou de couro, para se saber se deve ser declarado limpo ou impuro.” O Senhor deu a Moisés as seguintes regulamentações respeitantes a uma pessoa cuja lepra desaparece: “O sacerdote sairá fora do acampamento para a examinar. Se chegar à conclusão de que a lepra se foi, deverá requerer dois pássaros vivos de uma espécie que seja permitida comer, e ainda um pedaço de madeira de cedro, um fio carmesim e alguns ramos de hissopo, para serem usados na cerimónia de purificação de alguém que foi curado. O sacerdote mandará que uma das aves seja morta dentro dum recipiente de barro, mas sob água a correr. O outro pássaro que ficou vivo será molhado no sangue que está no vaso, juntamente com a madeira de cedro, o fio de escarlate e os ramos de hissopo. Depois o sacerdote aspergirá o sangue sete vezes sobre a pessoa curada de lepra e declará-la-á limpa, soltando a ave viva para que voe livremente sobre os campos. Seguidamente, a pessoa curada deverá lavar a sua roupa, rapar todo o pelo do corpo, lavar-se para ficar limpa, e só depois voltará a viver no interior do acampamento. Contudo, ainda deverá permanecer durante sete dias fora da sua tenda. Ao sétimo dia rapará todo o cabelo da cabeça, da barba, das sobrancelhas, lavará a sua roupa, lavar-se a si próprio, e só então será declarado inteiramente limpo da sua lepra. No dia seguinte, no oitavo dia, pegará em dois cordeiros machos, uma cordeirinha no primeiro ano de vida, todos sem nenhum defeito físico, em 6,6 litros de farinha moída muito fina, amassada com azeite; trará ainda 1/3 de um litro de azeite, e o sacerdote que examina colocará a pessoa com as suas ofertas perante o Senhor à entrada da tenda do encontro. O sacerdote tomará dois cordeiros e 1/3 de um litro de azeite e oferecê-lo-á ao Senhor como oferta pela culpa, e isso com um gesto de apresentação cerimonial perante o altar. Seguidamente, matará o cordeiro no lugar em que se degolam as ofertas pelo pecado e os holocaustos, no pátio. Esta oferta pela culpa será dada ao sacerdote para o seu alimento, como acontece com a oferta pelo pecado. Trata-se de algo santíssimo. O sacerdote tomará do sangue desta expiação de culpa e porá um pouco sobre a ponta da orelha direita da pessoa que tem de purificar-se, assim como sobre os dedos polegares da mão direita e do pé direito. Depois o sacerdote tomará do azeite e o derramará sobre a palma da sua própria mão esquerda; molhará nele o dedo da mão direita e com este salpicará sete vezes na presença do Senhor. Deste azeite, o que lhe ficar, porá ainda na ponta da orelha direita da pessoa que está a purificar-se, assim como no dedo polegar da mão direita e no do pé direito, como fez com o sangue da expiação de culpa. O resto do azeite da sua mão será usado para ungir a pessoa, pondo-o sobre a sua cabeça. Assim, o sacerdote fará expiação por ela perante o Senhor. Seguidamente, o sacerdote deverá apresentar a oferta pelo pecado e de novo executar o ritual de resgate pela pessoa que está sendo purificada da lepra. A seguir, o sacerdote matará o animal para o holocausto; oferecê-lo-á com a oferta de cereais, sobre o altar, fazendo expiação pela pessoa, que desta forma será considerada finalmente purificada. Se for tão pobre que não possa oferecer dois cordeiros, trará somente um que seja macho, para a expiação de culpa, a fim de ser apresentado na cerimónia de expiação, fazendo o gesto de apresentação cerimonial; trará ainda 2,2 litros de fina farinha branca, amassada com azeite, para a oferta de cereais, e 1/3 de um litro de azeite. Trará também duas rolas ou dois pombos novinhos, conforme o que conseguir alcançar, e usará um deles para a expiação do pecado e o outro para o holocausto. Deverá trazê-los ao sacerdote à entrada da tenda do encontro, ao oitavo dia, para a cerimónia da purificação na presença do Senhor. O sacerdote tomará o cordeiro para a expiação de culpa, assim como 1/3 de um litro de azeite e os dará com um gesto de apresentação cerimonial perante o altar como oferta ao Senhor. Depois matará o cordeiro da expiação de culpa e porá do seu sangue sobre a ponta da orelha direita da pessoa, a favor de quem se está realizando a cerimónia, assim como sobre o polegar da sua mão direita e do seu pé direito. O sacerdote depois derramará algum do azeite sobre a palma da sua própria mão esquerda e com o dedo da outra mão aspergi-lo-á sete vezes perante o Senhor. Mais ainda, porá desse azeite sobre a ponta da orelha direita da pessoa e sobre o polegar da sua mão direita e do seu pé direito, tal como fizera com o sangue da expiação de culpa. O resto do azeite que lhe ficou na mão servirá para ungir a pessoa, derramando-o sobre a sua cabeça. Será assim que o sacerdote fará expiação por ela perante o Senhor. Depois deve oferecer as duas rolas ou os dois pombinhos, conforme o que tiver podido arranjar. Um dos dois animais é para a expiação do pecado e o outro para o holocausto, para serem sacrificados com a oferta de cereais. E o sacerdote fará a expiação pela pessoa na presença do Senhor. São pois estas as leis referentes àqueles que são purificados da lepra, mas que não podem trazer os sacrifícios normalmente requeridos para essa cerimónia.” Então o Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Quando chegarem à terra de Canaã, a qual eu vos dei, e eu puser a lepra nalguma casa ali, o seu proprietário deverá vir comunicá-lo ao sacerdote: ‘Parece-me que haverá lepra na minha casa.’ O sacerdote mandará que a casa seja despejada e fique vazia antes de ir examiná-la, de forma a que não haja necessidade de considerar tudo o que lá estava dentro impuro. Se ele vir que as paredes apresentam umas concavidades esverdeadas ou avermelhadas, que parecem ser mais fundas que as paredes, mandará fechar a casa por sete dias; ao sétimo tornará a observar. Se as pequenas manchas se tiverem espalhado, o sacerdote mandará deitar abaixo aquela parte da parede que está afetada e lançará as pedras num lugar impuro fora da cidade. Depois fará raspar as paredes da casa, no interior, e o que tiver caído dessa raspagem será lançado no mesmo lugar impuro no exterior da cidade. Pôr-se-ão outras pedras no lugar das que foram tiradas, e se refarão novamente as paredes. Se as manchas tornarem a aparecer, o sacerdote virá e observará; se constatar que as manchas se espalharam, é porque é lepra; a casa está impura. Deverá então dar ordens para que a casa seja destruída e que as pedras, madeira e barro, que constituíam o material com que a casa era feita, sejam lançados fora da cidade num lugar impuro. Alguém que tiver entretanto penetrado lá dentro, enquanto ela estava fechada, será impuro até ao cair da noite. Alguém que tenha dormido ou comido lá dentro deverá lavar a sua roupa. Mas se, quando o sacerdote tiver vindo observá-la pela segunda vez, as manchas não tiverem reaparecido, após a nova feitura das paredes, então declarará a casa limpa e considerará que a lepra desapareceu. Fará também uma cerimónia de purificação, usando duas aves, madeiras de cedro, fio escarlate e ramos de hissopo. Matará uma das aves sobre água corrente, dentro de um recipiente de barro; molhará a madeira de cedro, assim como o fio escarlate, o ramo de hissopo, e igualmente a outra ave que ficou viva, com o sangue da ave morta sobre água a correr, e salpicará a casa sete vezes. Ele purificará a casa com o sangue da ave, com a água da fonte, com a ave viva, com a madeira de cedro, com o hissopo e com o fio escarlate. Desta forma, a casa ficará limpa. Depois deixará a outra ave livre, voando sobre os campos em redor da cidade. É desta maneira que se fará o resgate da casa e a sua purificação. São pois estes os regulamentos respeitantes aos vários sítios em que a lepra pode aparecer: na roupa, numa casa, no inchaço da pele de uma pessoa, numa ferida, num empolamento. Desta forma, saberão efetivamente quando está impuro e quando está limpo. Esta é a lei da lepra.” O Senhor disse a Moisés e a Aarão que dessem ao povo mais estas ordenações: “Alguém que tenha um corrimento dos seus órgãos fica cerimonialmente impuro; seja de carácter contínuo, regular ou que se interrompa por alguma razão. A cama onde dormir ou o sítio onde se sentar ficará impuro. Da mesma forma, quem tocar a cama desse homem fica cerimonialmente impuro até ao cair da noite; deverá lavar-se bem como a sua roupa. Alguém que se sente no sítio onde esse homem também se sentou, enquanto estava impuro, fica também cerimonialmente impuro até à noite; deverá lavar-se bem como a sua roupa. As mesmas instruções se aplicam a alguém que tocar nele próprio. Aquele sobre quem a sua saliva cair fica cerimonialmente impuro até à noite; deve lavar-se bem como a sua roupa. Também toda a sela em que cavalgar será imunda. Alguém que tocar ou que carregar uma coisa que tenha estado sob ele será impura até à noite; deverá lavar-se bem como a sua roupa. Se aquele que está impuro tocar em alguém, antes de lavar primeiramente as mãos, essa outra pessoa deve lavar-se e lavar a sua roupa; estará impura até à noite. Qualquer recipiente de barro em que tocar o homem impuro deverá ser quebrado; se se tratar de um utensílio de madeira, deverá ser lavado com água. Quando o corrimento parar deverá fazer a sua purificação durante sete dias, começando por lavar a roupa e banhar-se em água corrente. No oitavo dia tomará duas rolas ou dois pombos novinhos e virá à presença do Senhor à entrada da tenda do encontro, entregando-os ao sacerdote. O sacerdote sacrificá-los-á ali; um para a expiação do pecado e o outro para o holocausto. Assim fará o sacerdote expiação perante o Senhor pelo homem, por causa da sua descarga. Também quando a semente dum homem sair dele, deverá tomar um banho completo e ficará impuro até ao fim da tarde. Qualquer roupa de vestuário ou da cama em que haja dessa semente deverá ser lavada e ficará cerimonialmente impura até ao anoitecer. Depois duma relação sexual, tanto a mulher como o homem devem banhar-se; ficarão impuros até ao anoitecer seguinte. Quando uma mulher tiver o seu fluxo menstrual, ficará em estado de impureza cerimonial pelo espaço de sete dias; durante esse tempo, alguém que lhe tocar ficará impuro até ao entardecer. Tudo aquilo sobre que se deitar ou sentar durante esse tempo será impuro. Alguém que tocar na sua cama, onde ela este deitada, deverá lavar-se, bem como as suas roupas, e permanecerá impuro até ao cair da noite. Se tocar em algo sobre o qual ela esteve sentada, tiver sentado deverá lavar-se, bem como as suas roupas, e permanecerá impuro até ao cair da noite. Também se alguma coisa se encontrar sobre a cama ou sobre o objeto no qual ela estava sentada, isso ficará impuro até a noite. Um homem que tenha com ela relação sexual durante este tempo será impuro durante sete dias; qualquer cama onde se deite será igualmente impura. Se o fluxo menstrual continuar além do tempo normal, ou acontecer fora da altura prevista, aplicar-se-ão as mesmas regras indicadas acima, de tal forma que qualquer coisa onde se deitar ficará impura, tal como aconteceria se a menstruação tivesse vindo no tempo normal; aquilo onde se sentar ficará em igual estado de impureza cerimonial. Alguém que tocar na sua cama ou naquilo em que se sentar ficará impuro e deverá lavar as suas roupas e banhar-se, ficando impuro até ao cair da noite. Sete dias após ter passado a menstruação, a mulher deixa de ser ritualmente impura. Ao oitavo dia trará duas rolas ou dois pombinhos ao sacerdote à entrada da tenda do encontro; o sacerdote oferecerá um para a expiação do pecado e o outro para o holocausto, fazendo expiação por ela perante o Senhor, por causa da situação de impureza quando do período menstrual. Desta maneira, purificarão o povo de Israel das suas impurezas, para que não morram ao contaminar o tabernáculo que está no meio deles. Esta é a lei aplicada ao homem por causa duma descarga genital ou duma emissão seminal; e à mulher, quando do período menstrual, e ainda a alguém que tenha relação sexual com ela, no espaço de tempo seguinte em que está impura.” Depois da morte dos dois filhos de Aarão, por terem entrado na presença do Senhor com fogo estranho, o Senhor disse a Moisés: “Avisa o teu irmão Aarão que não entre sempre que queira, numa altura qualquer, no lugar santíssimo para além do véu, onde estão a arca e o lugar de misericórdia; porque se o fizesse, morreria. Porque eu próprio estou presente na nuvem que está sobre o propiciatório. Aarão deverá entrar no santuário levando consigo um novilho para o sacrifício pelo pecado e um carneiro para o holocausto. Antes de entrar, Aarão deverá lavar-se e vestirá as roupas sacerdotais sagradas, todas confeccionadas em linho, isto é, os calções, a túnica e o cinto; e na cabeça ele colocará o turbante também feito de linho puro. O povo de Israel deverá trazer-lhe dois bodes para a expiação dos pecados e um carneiro para o holocausto. Primeiramente apresentará o novilho de expiação por si próprio, fazendo expiação por si e pela sua família. Depois trará os dois bodes perante o Senhor à entrada da tenda do encontro; lançará sortes para determinar qual dos dois é para o Senhor e qual o que deverá ser mandado para longe, para Azazel. O bode que calhou para o Senhor será sacrificado por Aarão para a expiação do pecado. O outro será deixado com vida e colocado perante o Senhor. O rito da expiação será realizado sobre ele e depois mandado para o deserto, para Azazel. Depois de Aarão ter sacrificado o novilho de expiação do pecado, por si e pela sua família, tomará também o incensário cheio de brasas do fogo do altar do Senhor, e encherá as mãos com o incenso aromático moído em pó fino e o trará para dentro do véu. Ali, perante o Senhor, porá o incenso sobre o fogo, de forma que uma nuvem cubra o propiciatório sobre a arca do testemunho; assim não morrerá. E trará sangue do novilho, salpicando-o com o seu dedo para o lado do oriente do propiciatório, e depois sete vezes na sua frente. Então deverá sair e sacrificar o bode de expiação pelo pecado do povo, trazendo o seu sangue para o interior do véu, e salpicar com ele o propiciatório e também a sua frente, tal como fez com o sangue do novilho. Fará assim expiação pelo lugar santíssimo, porque ficou contaminado com os pecados do povo de Israel e pela tenda do encontro, que está erguida no meio deles, ficando rodeado da sua impureza. Ninguém mais deverá estar na tenda do encontro, quando Aarão entrar para fazer expiação no santuário, até ao momento em que ele sair, depois de ter feito expiação por si e pela sua família, assim como por todo o povo de Israel. Depois deverá sair e vir até junto do altar perante o Senhor e fazer expiação pelo próprio altar. Terá de untar, com sangue do novilho e do bode, os chifres do altar, e salpicar com aquele sangue sete vezes o altar, com o seu dedo, purificando-o das impurezas de Israel e santificando-o. Quando tiver completado este ritual do resgate do santuário e de toda a tenda do encontro, assim como do altar, trará o bode que ficou vivo; pondo as duas mãos sobre a sua cabeça, confessará, sobre esse animal, todos os pecados do povo de Israel. Porá dessa forma sobre a cabeça do bode todos os pecados e o mandará para o deserto conduzido por um homem designado para esse encargo. O bode carregará todos os pecados do povo para uma terra onde ninguém vive; o homem deixá-lo-á livre lá no deserto. Depois Aarão entrará de novo na tenda do encontro, despirá a roupa de linho que trazia vestida, quando foi para lá do véu, e a deixará ali no tabernáculo. Seguidamente, lavar-se-á num lugar santo, tornará a pôr o vestuário habitual e sairá para sacrificar o seu próprio holocausto e do povo, fazendo resgate por si e por eles. A gordura da oferta do pecado queimará sobre o altar. O homem que levou o bode para o deserto deverá depois lavar os seus vestidos e banhar-se; só depois tornará a entrar no acampamento. O novilho e o bode usados na oferta pelo pecado, cujo sangue foi levado para o santuário por Aarão para fazer a expiação, serão levados para fora do campo e queimados, incluindo a pele e as partes intestinais. Depois disso, a pessoa que os queimar deverá lavar a sua roupa e banhar-se antes de regressar ao acampamento. A seguinte lei terá validade perpétua: Não deverão trabalhar no dia 10 do sétimo mês; passarão esse dia em reflexão íntima e humildade. Isto aplica-se tanto ao que tiver nascido na terra, como ao estrangeiro que esteja no meio do povo de Israel. Porque este é o dia em que se faz a expiação que vos purifica dos vossos pecados aos olhos do Senhor. Será um sábado solene de descanso e deverão passar o dia em humilde recolhimento. Isto é uma lei perpétua. Esta cerimónia, nas gerações futuras, será executada pelo sumo sacerdote, que tiver sido ungido para tal e consagrado no lugar do seu antepassado Aarão. Só ele porá as roupas sagradas de linho; fará expiação pelo lugar santíssimo, pela tenda do encontro, pelo altar, pelos sacerdotes e pelo povo. Isto será uma lei para sempre que vos diz respeito, para que se faça expiação pelo povo de Israel uma vez por ano, por causa dos seus pecados.” Aarão seguiu todas estas instruções que o Senhor deu a Moisés. O Senhor deu a Moisés mais as seguintes instruções para que as transmitisse a Aarão, aos sacerdotes e a todo o povo de Israel: “Qualquer israelita que sacrificar um boi, um cordeiro ou uma cabra noutro sítio que não seja no acampamento, à entrada da tenda do encontro, para o oferecer ao Senhor, tal homem será culpado, porque fez derramar sangue; terá de ser expulso da sua nação. O fim desta lei é impedir que os israelitas façam sacrifícios nos campos e levá-los a trazerem-nos antes ao sacerdote, à entrada da tenda do encontro, e a oferecerem-nos como ofertas de paz ao Senhor. Porque desta maneira o sacerdote poderá aspergir o sangue sobre o altar do Senhor, à entrada da tenda do encontro, e queimar a gordura como um cheiro que o Senhor muito apreciará. E dessa forma não sacrificarão mais aos bodes, prestando-lhes um culto de zombaria. Isto será uma lei perpétua para vocês, por todas as gerações. Repito: Alguém, seja israelita ou estrangeiro que viva no vosso meio, que ofereça um holocausto ou um sacrifício, noutro sítio que não seja à entrada da tenda do encontro, onde deve ser sacrificado ao Senhor, será excomungado. Também me levantarei contra alguém, seja israelita, seja um estrangeiro que viva entre vocês, que coma sangue, seja de que forma for. Expulsá-lo-ei do meu povo. Porque a vida da carne está no sangue. Dei-vos o sangue para que seja aspergido sobre o altar como expiação pelas vossas almas. É pelo sangue que se faz a expiação, porque o sangue é a vida. Portanto, este é o meu decreto para o povo de Israel: que nem eles nem nenhum estrangeiro que viva entre eles coma sangue. Seja quem for, israelita ou estrangeiro entre eles, que vá à caça e mate um animal ou uma ave dos que é permitido comerem, deverá derramar o seu sangue e cobri-lo com terra; porque o sangue é a vida. É por isso que digo ao povo de Israel para nunca o comer, porque a vida de toda a ave, de todo o animal, está no seu sangue. Portanto, alguém que come sangue deverá ser expulso da comunidade de Israel. E também alguém, nascido na terra ou estrangeiro, que coma o corpo morto dum animal que tenha morrido por si mesmo, ou que tenha sido despedaçado por outro animal, deverá lavar a sua roupa e banhar-se, permanecendo impuro até ao cair da noite. Depois disso, será declarado limpo. Se tal não fizer, terá de sofrer as consequências.” O Senhor disse então a Moisés para comunicar isto ao povo de Israel: “Eu sou Senhor, o vosso Deus, portanto não façam as mesmas coisas que os povos do Egito, onde viveram tanto tempo, ou os de Canaã, para onde vos levarei. Devem obedecer às minhas leis e cumpri-las em todos os detalhes, porque eu sou o Senhor, vosso Deus. Obedeçam-lhes, porque quem cumprir estas prescrições viverá por elas. Eu sou o Senhor. Nenhum de vocês terá relações sexuais com um parente próximo. Eu sou o Senhor. Não deves ter relações sexuais com a tua mãe! Seria desonrar o teu pai. Não deves ter relações sexuais com a mulher casada com o teu pai, pois seria desonrar o teu pai. Não deves ter relações sexuais com a tua irmã, ou meia-irmã, seja esta filha do teu pai ou da tua mãe, nascida na sua própria casa ou não. Não terás relações sexuais com a tua neta, filha do teu filho ou da tua filha, porque é como se fosse a tua própria carne. Não poderás ter relações sexuais com a tua meia-irmã, a filha da mulher do teu pai. Não poderás ter relações sexuais com a tua tia, irmã do teu pai, porque é alguém ligado intimamente ao teu pai. Não poderás ter relações sexuais com a irmã da tua mãe, pela mesma razão, de estar ligada à tua mãe. Não poderás ter relações sexuais com a mulher do irmão do teu pai. Não poderás ter relações sexuais com a tua nora, a mulher do teu filho. Não poderás ter relações sexuais com a mulher do teu irmão; porque é como se fosse o teu próprio irmão. Não terás relações sexuais ao mesmo tempo com uma mulher e com a sua filha ou neta, porque são parentes muito próximas; tal ato é condenável. Não terás relações sexuais com duas irmãs, pois poderiam criar-se rivalidades. Não deverás ter relações sexuais com a mulher durante a sua menstruação. Nem tão-pouco com a mulher do teu semelhante, para que não se contaminem ambos. Não darás nenhum dos teus filhos a Moloque, queimando-os para prestar culto a este, profanando o nome do teu Deus. Eu sou Senhor. Um homem não deve ter relações sexuais com outro homem, pois trata-se de uma coisa abominável. Um homem não poderá ter relações sexuais com um animal fêmea, contaminando-se dessa forma; da mesma forma uma mulher não se dará a si mesmo a um animal macho, para se juntar com ele. Trata-se de uma perversão. Não se contaminem de nenhuma destas maneiras; porque isto são as coisas que fazem os habitantes da terra para onde vão, que expulso perante vocês. Toda aquela terra está contaminada com essa espécie de atos. Por isso, castigarei os povos que lá vivem, e os lançarei para fora dali como um vómito! Deverão obedecer estritamente às minhas leis e nunca farão estas coisas abomináveis. Isto aplica-se tanto a vocês que nasceram no seio da nação de Israel como aos estrangeiros que vivem convosco. Com efeito, todas essas abominações têm sido continuamente cometidas pelos povos da terra para onde vos levo, e a terra está contaminada. Não façam pois estas coisas, porque se não, terei de vos lançar fora dali, tal como irei lançar fora as gentes que lá vivem atualmente. Quem quer que praticar estas coisas abomináveis será excomungado da nação. Portanto, nunca hesitem no cumprimento destas leis e, de forma alguma, pratiquem esses costumes vis. Não se contaminem com os atos abomináveis desses que vivem na terra para onde vão. Porque eu sou o Senhor, o vosso Deus.” O Senhor disse também a Moisés que comunicasse o seguinte ao povo de Israel: “Sejam santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Devem respeitar as vossas mães e os vossos pais. Deverão também guardar a lei do meu sábado. Porque eu sou o Senhor, vosso Deus. Não façam nem adorem ídolos, deuses de metal fundido. Eu sou o Senhor, o vosso Deus. Quando vierem oferecer uma oferta de paz ao Senhor, façam-no de modo voluntário e corretamente, para que seja aceite. Comam-no no mesmo dia em que o oferecerem, ou o mais tardar no dia seguinte. O que ficar para o terceiro dia deve ser queimado, porque aquilo que viesse a ser comido no terceiro dia seria repulsivo para mim, e eu não o aceitaria. Portanto, se comerem disso no terceiro dia serão culpados, porque assim será profanada a santidade de Senhor, e serão excomungados do povo do Senhor. Quando fizerem as colheitas nas vossas terras, não ceifem os cantos dos campos completamente, nem apanhem as espigas que forem caindo no chão. E o mesmo também durante as vindimas; não apanhem tudo até ao último bago, nas vinhas, nem tão-pouco apanhem os que caírem no chão. Deixem-nos para os pobres e para os que viajem através da terra. Porque eu sou o Senhor, o vosso Deus. Não roubem, não mintam, não usem de falsidade para com o vosso semelhante; não pronunciem juramentos falsos a coberto do meu nome, trazendo assim desonra sobre ele, pois eu sou o Senhor. Não explores nem oprimas ninguém; deverás pagar prontamente aos que trabalham por tua conta. Se lhes deves alguma coisa, não a guardes sequer para o dia seguinte. Não amaldiçoes um surdo; não ponham tropeços no caminho dos cegos. Teme o teu Deus. Eu sou o Senhor! Os juízes devem ser sempre justos nas suas sentenças, sem estar a considerar se se trata de um pobre ou de um rico. Devem ser absolutamente retos. Não sejas mexeriqueiro. Nunca acuses falsamente o teu próximo. Porque eu sou o Senhor. Não tenhas pensamentos de ódio para com o teu irmão. Não deixes de repreender todo aquele que pecar. Não permitam que continue nesse caminho, pois serão tão culpados como ele. Não procures a vingança, não alimentes a má vontade contra ninguém. Ama o teu próximo como a ti mesmo, porque eu sou o Senhor. Guardem as minhas leis. Não juntem animais de diferentes espécies. Não semeiem espécies diferentes de semente ao mesmo tempo. Não usem roupa feita metade de lã metade de linho. Se um homem seduzir uma rapariga escrava que estiver comprometida para casar com outro, deverão ser trazidos a tribunal, mas não mortos, porque ela não é livre. O homem culpado deverá trazer a sua oferta de culpa ao Senhor, à entrada da tenda do encontro; terá de ser um carneiro. O sacerdote fará expiação com o carneiro, diante do Senhor, pelo pecado que o homem cometeu, e será perdoado. Quando se instalarem na terra e tiverem plantado toda a espécie de árvores de fruto, não deverão comer as três primeiras colheitas, porque são consideradas impuras. E ao quarto ano todo o fruto colhido será dedicado ao Senhor, em louvor a ele. Finalmente, no quinto ano comerás do que colheres, e assim a vossa colheita aumentará. Eu sou o Senhor, o vosso Deus! Não devem comer nada com o seu sangue. Nunca recorram a leitura de sinas, nem a bruxarias ou coisas semelhantes. Não cortem o cabelo, arredondando-o nos cantos da cabeça, nem cortem também os cantos da barba, como fazem os pagãos. Tão-pouco devem dar golpes na vossa carne ou fazer marcas na pele a título de ritos funerários, por causa de alguém que tenha morrido. Eu sou o Senhor. Não violem a santidade da vossa filha, levando-a a prostituir-se, porque a terra se encheria de maldade. Guardem os meus sábados e reverenciem o meu tabernáculo. Eu sou o Senhor. Não se sujem, voltando-se para os médiuns e adivinhos. Eu sou o Senhor, o vosso Deus. Devem honrar e respeitar os mais velhos, os que têm os seus cabelos já brancos, porque assim respeitarão também a Deus. Eu sou o Senhor. Não explorem o estrangeiro que vier instalar-se na vossa terra; não o oprimam. Ele deve ser tratado como qualquer outro cidadão. Amem-no como a vocês mesmos; não se esqueçam que foram também estrangeiros no Egito. Eu sou o Senhor, o vosso Deus. Devem ser imparciais quando julgarem. Usem medidas corretas para medir o comprimento, para pesar, para calcular o volume. Que as balanças não sejam fraudulentas e que as vossas medidas sejam sempre exatas, porque eu sou o Senhor, o vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito. Guardem todos os meus mandamentos e leis, obedecendo-lhes cuidadosamente. Eu sou o Senhor.” O Senhor deu a Moisés mais as seguintes instruções para o povo de Israel: “Alguém, seja israelita ou estrangeiro a viver no vosso meio, que sacrifique o seu filho em holocausto a Moloque deverá certamente morrer apedrejado pelo povo. Eu próprio me voltarei contra esse homem e o expulsarei do seu povo, porque deu o seu filho a Moloque, fazendo com que o meu santuário se torne impróprio para que habite nele, e insultando o meu santo nome. Se o povo da terra pretender que não sabe o que essa pessoa fez, e recusar matá-la, eu próprio me voltarei contra ele e todos os que o seguem, e os excluirei, a ele e a todos os que se prostituem, voltando-se para Moloque. Serei contra os que consultam os espíritos e os adivinhos em vez de me consultarem a mim; a essa pessoa excomungarei do seu povo. Por isso, santifiquem-se; sejam santos porque eu sou o Senhor, vosso Deus. Devem obedecer a todas as minhas instruções, porque eu sou o Senhor que vos santifica. Quem quer que amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe deverá certamente morrer, porque amaldiçoou a sua própria carne e sangue. Se o homem cometer adultério com a mulher de outro homem, ambos, tanto o homem como a mulher, deverão morrer. Se o homem cometer adultério com a mulher do seu pai, sujou o que é do seu pai; ambos, tanto o homem como a mulher, deverão morrer, porque a culpa é deles próprios. Se um homem tiver relações sexuais com a sua nora, ambos serão executados. O que fizeram foi uma depravação; cometeram uma perversão, os dois são culpados. O castigo por atos homossexuais é a morte para ambas as partes; trata-se duma abominação, a culpa recai sobre eles próprios. Um homem que tem relações sexuais com uma mulher e com a mãe dela, trata-se de um grande mal. Serão os três queimados, a fim de arrancar a iniquidade do vosso meio. Se um homem tiver relações sexuais com um animal, será executado, e o animal morto. Da mesma forma, uma mulher que tenha relações sexuais com um animal serão mortos ambos, ela e o animal. Merecem o seu castigo. Se um homem tiver relações sexuais com a sua irmã, seja ela filha do seu pai ou da sua mãe, trata-se de uma coisa vergonhosa; serão ambos publicamente expulsos do povo de Israel. Levará sobre si a culpa desse ato. Se um homem tiver relações sexuais com uma mulher durante o seu período menstrual, serão ambos excomungados, porque pôs a claro a fonte da sua perda de sangue. Um homem também não deverá ter relações sexuais com a sua tia, seja ela irmã da sua mãe ou do seu pai, porque são parentes próximos. Tornar-se-ão ambos culpados. Um homem que tenha relações sexuais com a esposa do seu tio, sujou o que é do seu tio. Ambos levarão a culpa do seu pecado e serão privados de filhos. Se um homem casar com a esposa do seu irmão, praticou um ato impuro; sujou o que é do seu irmão. Serão ambos privados de filhos. Devem obedecer às minhas leis e às minhas instruções, para que não vos expulse da terra para onde vos levo a habitar. Não sigam os costumes das gentes que lanço fora dessa terra, na vossa frente; porque praticam todas estas coisas contra as quais acabo de vos avisar. É por isso que as aborreço. Prometi-vos essa terra; eu vo-la darei para que a possuam. É uma terra que jorra leite e mel. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei das outras nações. Terão pois de fazer diferença no que diz respeito a animais e pássaros, entre os que são puros, que vos dou permissão para comerem e os que não podem comer. Não devem contaminar-se, tornando-se repulsivos perante mim, comendo algum animal ou ave que eu vos tenha proibido. Vocês serão santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo, e vos separei dos outros povos para serem meus. Os médiuns e os adivinhos, sejam homem ou mulher, deverão ser apedrejados até à morte. São eles os responsáveis pela sua própria condenação.” O Senhor disse a Moisés: “Diz aos sacerdotes, filhos de Aarão, que nunca se contaminem, tocando numa pessoa morta, a menos que se trate de um parente próximo, como mãe, pai, filho, filha, irmão, ou uma irmã solteira por quem tenha uma responsabilidade especial pelo facto de ela não ter marido. Porque o sacerdote é um responsável entre o povo e não deve ficar cerimonialmente impuro, como acontece com as outras pessoas. O sacerdote não deverá cortar o cabelo de forma a deixar pedaços de calva na cabeça; tão-pouco fará isso na barba. Não fará incisões, dando golpes na sua carne. Serão santos para o seu Deus e não deverão desonrar o meu nome; doutra forma tornar-se-ão indignos de fazerem ofertas queimadas ao Senhor, seu Deus. Um sacerdote não se casará com uma prostituta, nem com uma divorciada, porque é um homem santo de Deus. O sacerdote é consagrado para oferecer sacrifícios a vosso Deus; ele é santo, porque eu o Senhor que vos santifica sou santo. A filha de um sacerdote que se tornar prostituta, violando a santidade do seu pai, e a sua própria, será queimada. O sumo sacerdote, ungido com o azeite especial de unção e trazendo o seu vestuário especial, não deverá deixar os cabelos despenteados, em sinal de luto, nem raspar as suas vestes; tão-pouco deve permanecer na presença duma pessoa morta, mesmo que seja o seu pai ou a sua mãe. Não deixará o santuário, nem tomará o meu tabernáculo como se fosse uma habitação vulgar; porque tem sobre si a unção do azeite santo que o consagrou para Deus. Eu sou o Senhor. Deverá casar com uma virgem. Não pode casar com uma viúva, nem com uma mulher divorciada, nem com uma prostituta. A sua mulher deve ser virgem dentre o seu povo, pois assim não profanará a sua descendência, pois eu sou o Senhor que o santifico.” E o Senhor disse a Moisés: “Diz a Aarão que qualquer dos seus descendentes, e isto por todas as gerações, que tenha algum defeito corporal não pode oferecer sacrifícios a Deus. Por exemplo, se um homem for cego ou coxo, ou se tiver o nariz partido ou os membros deformados; ou ainda se tiver uma mão ou um pé partido, ou for corcunda ou anão, ou se tiver defeito na vista, ou impigens e sarna na pele, ou testículos imperfeitos, ainda que sendo filho de Aarão, não tem autorização para oferecer ofertas de comida ao Senhor, por causa do seu defeito físico. No entanto, será alimentado com a comida dos sacerdotes, das ofertas apresentadas a Deus, tanto dos sacrifícios santos como dos santíssimos. Mas não poderá chegar perto do véu, nem aproximar-se do altar, porque tem um defeito físico; isso profanaria o meu santuário, porque eu, o Senhor, os santifico.” Moisés deu estas instruções a Aarão e aos seus filhos, assim como a todo o povo de Israel. O Senhor disse a Moisés: “Diz a Aarão e aos seus filhos que tenham muito cuidado em não profanar o meu santo nome, ao não consagrarem as ofertas sagradas do povo. Eu sou o Senhor. Daqui em diante e para sempre, se um sacerdote que está cerimonialmente impuro sacrificar animais trazidos pelo povo, ou se manusear ofertas consagradas ao Senhor, será desqualificado do seu sacerdócio. Eu sou o Senhor! Nenhum sacerdote que for leproso ou tiver um corrimento poderá comer das coisas sagradas enquanto não estiver curado. Qualquer sacerdote que tocar em alguma coisa tornada impura pelo contacto com um morto ou um homem que teve uma emissão seminal, ou tocar num réptil ou em qualquer outra coisa proibida, ou que tocar mesmo noutro indivíduo cerimonialmente impuro por uma razão qualquer, esse sacerdote será impuro até ao cair da noite, e não deverá comer dos sacrifícios santos antes de se ter lavado nessa noite. Depois do pôr-do-sol, estará novamente puro e poderá comer do alimento santo, pois trata-se daquilo que o faz viver. Não poderá comer nenhum animal encontrado morto ou que tenha sido despedaçado por outro, porque isto torná-lo-ia impuro. Eu sou o Senhor. Avisa os sacerdotes que sigam cuidadosamente estas instruções pois correm o risco de serem considerados culpados e de virem a morrer por terem violado estas regras. Eu sou o Senhor que vos santifica. Ninguém poderá comer dos santos sacrifícios a não ser um sacerdote; ninguém que esteja, por exemplo, de visita a um sacerdote poderá comer desse alimento; tão-pouco alguém que esteja a trabalhar por sua conta. Há contudo uma exceção; se o sacerdote comprar um escravo com o seu próprio dinheiro, esse escravo poderá comer disso, assim como os filhos dos escravos que nascerem na sua casa. Se a filha de um sacerdote se casar fora da sua tribo, não poderá comer mais desses sacrifícios. Mas se enviuvar ou se se tiver divorciado, e não tiver nenhum filho que a mantenha, e se tiver regressado à casa do seu pai, pode então tornar a comer do alimento do pai. Fora disto, ninguém que não pertença às famílias sacerdotais poderá comer deste alimento. Se alguém vier a comer dos sacrifícios sagrados, sem se dar conta do que está a fazer, deverá devolver ao sacerdote o equivalente daquilo que tomou, acrescido da quinta parte; porque os sacrifícios sagrados trazidos pelo povo de Israel não devem ser profanados ao serem comidos por pessoas não indicadas para tal, porque se trata de coisas oferecidas ao Senhor. Quem quer que seja que violar esta lei será culpado de algo que exige uma reparação, pois comeu das ofertas sagradas. Porque eu sou o Senhor que santifica essas ofertas.” O Senhor disse a Moisés: “Diz a Aarão e aos seus filhos e a todo o povo de Israel que se um israelita ou outra pessoa que viver entre vocês fizer um sacrifício de holocausto ao Senhor, seja para cumprir uma promessa ou como oferta espontânea, só será aceitável se for um animal macho sem defeito; deverá ser um novilho, um cordeiro ou uma cabra. Nada que tenha defeito deverá ser ofertado, porque não seria aceite. Alguém que faça uma oferta de paz ao Senhor tirada do rebanho das vacas ou das ovelhas, seja para cumprir um voto ou como uma oferta voluntária, deverá escolher um animal sem defeito, ou então não será aceite. Um animal cego, com um membro partido ou aleijado, que tenha verrugas, sarna ou uma doença de pele qualquer, não deverá ser oferecido ao Senhor. Se o boi ou o cordeiro apresentado ao Senhor tiver alguma parte do corpo ou um membro maior ou mais pequeno que os outros pode ser oferecido como oferta voluntária, mas não para cumprimento de um voto. Um animal que seja ferido, esmagado, partido ou cortado não deverá ser oferecido ao Senhor em nenhuma altura. Estas restrições aplicam-se aos sacrifícios feitos tanto pelos estrangeiros que estão no vosso meio como pelos que vocês mesmos fazem, pois nenhum animal defeituoso será aceite para este sacrifício.” E o Senhor disse a Moisés: “Quando nascer um boi, um cordeiro ou uma cabra, ficará sete dias com a sua mãe, mas a partir do oitavo dia poderá ser apresentado como oferta queimada ao Senhor. Não degolarás a mãe com a sua cria, no mesmo dia, quer se trate de um boi ou de gado miúdo. Quando oferecerem ao Senhor um sacrifício de gratidão, deverão fazer isso corretamente, comendo o animal do sacrifício no mesmo dia em que for morto. Não deixem nada para o dia seguinte. Eu sou o Senhor. Guardem todos os meus mandamentos. Eu sou o Senhor. Não devem tratar as coisas que me dizem respeito como se fossem comuns e vulgares. Reverenciem-me e santifiquem-me, porque eu, o Senhor, vos fiz santos, e vos resgatei do Egito para que sejam o meu povo. Eu sou Senhor.” O Senhor disse a Moisés: “Anuncia ao povo de Israel as várias festividades anuais que têm de celebrar para o Senhor. Serão ocasiões em que todo o Israel se reunirá para me adorar. Trata-se de celebrações a realizar além dos vossos sábados, o sétimo dia de cada semana, os quais serão sempre dias de solene repouso em todas as casas, ocasiões de reunião para adorar e descansar das atividades da semana. São pois estas as santas festividades que deverão ser observadas em cada ano. A Páscoa do Senhor será celebrada no dia 14 do primeiro mês, ao cair da tarde. A festa dos pães sem fermento começará no dia seguinte ao da Páscoa. Durante sete dias devem comer pão sem fermento. No primeiro dia desta celebração convocarão o povo para adorar, e deverá cessar todo o trabalho comum. Farão o mesmo no sétimo dia da celebração. Nos outros dias farão uma oferta queimada ao Senhor.” O Senhor disse a Moisés que comunicasse aos israelitas o seguinte: “Quando chegarem à terra que eu vos der, e fizerem as primeiras colheitas, trarão o molho da primeira ceifa ao sacerdote no dia seguinte ao sábado. Ele o moverá perante o Senhor, num gesto de oferta, e será aceite pelo Senhor como oferta. Nesse mesmo dia, oferecerão um cordeiro macho de um ano sem defeito como holocausto. E também uma oferta de cereais, que consistirá em 4,4 litros de farinha fina amassada com azeite, a ser oferecida ao Senhor pelo fogo. Ser-lhe-á de grande agrado. Ofereçam também uma oferta de aproximadamente um litro de vinho. Enquanto isto não for feito não devem comer nada das vossas colheitas; nem pão, nem trigo tostado, nem espigas verdes. Isto é uma lei imutável para a nação. A acompanhar o pão e o vinho, deverão sacrificar ao Senhor, como ofertas queimadas, sete cordeiros de um ano, sem defeito, um novilho e dois carneiros. Serão ofertas que passam pelo fogo, de grande aceitação por parte do Senhor. Deverão oferecer também um bode para a expiação do pecado, e dois cordeiros machos de um ano, como oferta de paz. Os sacerdotes movimentarão estas ofertas perante o Senhor ao mesmo tempo que os pães, representando os primeiros frutos da colheita. São coisas santas, para o Senhor, e serão dadas aos sacerdotes para seu alimento. Esse dia será anunciado como tempo de santa convocação para todo o povo. Nenhum trabalho farão nesse dia. Isto é uma lei que deve ser respeitada por todas as gerações. Lembrem-se de que quando ceifarem os vossos campos não deverão segar até ao extremo dos cantos do terreno, nem apanhar os grãos que tiverem caído; deixem isso para os pobres e para os estrangeiros que vivam convosco, os quais não têm uma terra a que pertençam. Eu sou o Senhor, o vosso Deus.” O Senhor disse a Moisés que comunicasse aos israelitas o seguinte: “O primeiro dia do sétimo mês é uma ocasião solene para todo o povo se encontrar e juntamente adorarem. É um tempo de recordação e deve ser anunciado com forte som de trombetas. Não façam qualquer espécie de trabalho nesse dia de celebração; e ofereçam um sacrifício, uma oferta queimada ao Senhor.” O Senhor disse a Moisés: “O dia da expiação será no dia 10 do sétimo mês. Todo o povo deverá juntar-se perante o Senhor e contristar-se pelo pecado. Deverão oferecer ofertas queimadas ao Senhor. Não farão trabalho algum nesse dia, porque é um dia especial para fazer expiação perante o Senhor, vosso Deus. Alguém que não passe esse dia em arrependimento e contrição pelo seu pecado deverá ser excomungado do seu povo. E cortarei do seu povo aquele que fizer alguma espécie de trabalho nesse dia. Isto é uma lei em Israel para todas as gerações onde quer que se encontrem. Porque este é um sábado de solene repouso e nele humilharão as vossas almas que estarão arrependidas. Este tempo de expiação começa na tarde anterior e vai até ao anoitecer seguinte.” O Senhor disse a Moisés que comunicasse aos israelitas o seguinte: “No dia 15 do sétimo mês é a festa dos abrigos (tabernáculos) que será celebrada perante o Senhor durante sete dias. No primeiro dia haverá uma santa assembleia de todo o povo. Não farão nenhum trabalho nesse dia. E em cada um dos sete dias de celebração deverão sacrificar uma oferta queimada ao Senhor. No oitavo dia será convocada nova assembleia de todo o povo, em que haverá novamente um sacrifício queimado ao Senhor. É uma festividade a realizar com alegria; não será permitido realizar nenhuma espécie de trabalho. Estas são pois as festividades regulares anuais, as santas convocações de todo o povo, em que se farão ofertas queimadas ao Senhor através do fogo. Estas celebrações anuais são a adicionar aos vossos dias de repouso regular semanal. E os sacrifícios feitos durante estas solenidades são a acrescentar às vossas dádivas regulares e ao cumprimento normal dos vossos votos. No dia 15 do sétimo mês, no fim das vossas colheitas, será a ocasião de celebrarem esta festividade de sete dias perante o Senhor. Não se esqueçam de que o primeiro e o último desses dias é de repouso solene. No primeiro dia trarão ramos de árvores de adorno, ramos de palmeiras, e outros ramos cheios de folhas, como de salgueiros que crescem junto aos ribeiros, e com eles construirão cabanas, alegrando-se perante o Senhor, vosso Deus, durante sete dias. Esta festa anual de sete dias, no sétimo mês do ano, é um mandamento a observar por todas as gerações. Durante esses dias, todos os israelitas de origem devem viver nesses abrigos. A finalidade é lembrar ao povo de Israel, geração após geração, que vos resgatei do Egito e vos fiz habitar em tendas. Eu sou o Senhor, o vosso Deus.” E foi assim que Moisés anunciou todas estas celebrações anuais dedicadas ao Senhor pelo povo de Israel. O Senhor disse a Moisés: “Dá instruções ao povo para que te traga azeite puro para ser usado nas lâmpadas do tabernáculo, para que estejam ardendo continuamente. Aarão colocará esta chama eterna no lado de fora do véu que esconde a arca do testemunho, na tenda do encontro, e ocupar-se-ão dela de forma a que brilhe toda a noite diante do Senhor, sem nunca se apagar. Isto é uma lei que nunca será alterada em todas as gerações. Será uma chama que arderá eternamente perante o Senhor, por todas as gerações. Depois será derramado incenso puro sobre cada fileira de pão. Isto será uma oferta queimada, memorial feito no fogo ao Senhor. A cada sábado os pães devem ser colocados diante do Senhor, por aliança eterna feita com o povo de Israel. O pão será comido por Aarão e pelos seus filhos num lugar especialmente designado para isso, porque se trata de ofertas feitas pelo fogo ao Senhor, constituindo um estatuto permanente, e é algo de santíssimo.” Certo dia, no acampamento, um rapaz filho de mãe israelita e pai egípcio meteu-se numa briga com um homem de Israel. Enquanto se batiam, o filho da israelita blasfemou do nome de Deus e foi trazido a julgamento perante Moisés. O nome da sua mãe era Selomite, filha de Dibri, da tribo de Dan. E ficou detido até que o Senhor indicasse o que deveria ser feito. Então o Senhor disse a Moisés: “Leva-o para fora do acampamento e os que o ouviram que lhe ponham as mãos na cabeça; depois será apedrejado por todo o povo. Diz ainda ao povo de Israel que se alguém dirigir ofensas contra o seu Deus, terá de levar o castigo da sua culpa. Toda a congregação do povo o apedrejará. É uma lei a ser aplicada tanto ao estrangeiro como ao israelita que blasfemar do nome do Senhor; deverá morrer. Da mesma forma, todos os assassinos serão executados. Alguém que matar um animal, que não seja seu, terá de restituir com outro vivo. Quando alguém ferir o seu próximo, terá de ser ferido da mesma forma que o fez: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente. O que alguém fizer a outro assim lhe será feito. Repito: quem matar um animal deverá restituí-lo por outro e quem matar um ser humano morrerá. A mesma lei aplica-se tanto ao estrangeiro como ao que nasceu na terra. Porque eu sou o Senhor, o vosso Deus.” E foi assim que levaram o rapaz para fora do acampamento e o apedrejaram, tal como o Senhor ordenara a Moisés. Enquanto Moisés estava junto ao monte Sinai, o Senhor deu-lhe estas instruções para o povo de Israel: “Quando chegarem à terra que vos vou dar, devem deixar a terra repousar perante o Senhor em cada sete anos. Durante seis anos podem semear, vindimar, ceifar; mas durante o sétimo ano a terra deve repousar diante do Senhor, sem ser cultivada. Nesse ano então não semeiem, nem vindimem, nem ceifem. Nem tão-pouco ceifem o que nascer por si mesmo nas searas da última sementeira; nem apanhem os bagos de uva que ainda aparecem; porque é um ano de repouso para a terra. Mas aquilo que nascer nesse mesmo ano será livre para toda a gente; para vocês, para os escravos, e para qualquer estrangeiro que viva convosco. E da mesma forma também o gado e qualquer animal deverá ser deixado a pastar e a comer do que nascer nesse ano. Após sete períodos de sete anos, somando 49 anos, no dia 10 do sétimo mês, no dia da expiação, as trombetas deverão tocar por toda a terra com um som longo e forte. Porque esse ano será santo; é um tempo de se proclamar a liberdade através da terra para todos os que se tornaram escravos por causa de dívidas, e em que serão canceladas todas as dívidas, públicas ou privadas. É um ano em que todas as propriedades familiares vendidas tornarão aos seus proprietários originais ou aos seus herdeiros. Será um ano de contentamento! Nele não semearão, nem colherão as searas, nem as vindimarão; será um ano santo de jubileu para vocês. Nesse ano o vosso alimento será o que naturalmente vos nascer nos campos. Durante o ano de jubileu cada um voltará à posse da propriedade original da sua família. Portanto, se venderes ao teu próximo ou dele comprares, que não haja prejuízo ou opressão ao teu irmão! Deves calcular o preço de compra conforme os anos que já passaram, desde o jubileu anterior; e o outro deve vender-te tendo também em conta os anos de produção que faltam ainda. Se for ainda daí a muitos anos, o preço será mais elevado; se pelo contrário já faltar pouco tempo até lá, então o seu custo descerá. Porque o que efetivamente estão negociando são os anos possíveis de colheita que o novo proprietário poderá obter da terra, antes que volte à vossa posse. Devem respeitar o vosso Deus e nunca praticar a opressão. Porque eu sou o Senhor, o vosso Deus. Obedeçam às minhas leis se querem viver seguros na terra. Se obedecerem, a terra vos dará abundantes colheitas e poderão comer os seus frutos com segurança. Vocês hão de perguntar: ‘O que é que comeremos no sétimo ano, visto que não nos é permitido plantar nem colher nesse ano?’ A resposta é esta: ‘Abençoar-vos-ei com abundantes searas no sexto ano, de tal forma que terão o que comer até que as colheitas do oitavo ano se façam.’ E lembrem-se que a terra é minha; por isso não poderão vendê-la com carácter permanente. Vocês estão a explorar uma terra que é minha. Todo o contrato de venda deverá permitir que a terra possa ser, em qualquer, altura resgatada por aquele que vende. Se alguém vier a empobrecer e tiver de vender parte da sua terra, o seu parente próximo pode resgatá-la. E se não tiver ninguém que possa resgatá-la e ele próprio conseguir dinheiro suficiente, então poderá tornar a comprá-la por um preço, descontando o número de anos que esteve na posse do comprador; e aquele que a detinha é obrigado a aceitar o dinheiro e a devolver-lhe a propriedade. Mas se o primeiro proprietário não for capaz de a resgatar, então a terra pertencerá ao seu novo possuidor até ao ano do jubileu; sendo nesse ano devolvida ao primeiro. Se alguém vender uma casa numa cidade murada, tem um ano para poder resgatá-la; tem pleno direito de o fazer, durante esse tempo. Contudo, se nesse espaço de tempo não o fizer, então a casa ficará definitivamente na posse do novo proprietário, e nem sequer no ano do jubileu voltará à posse da primeira pessoa. Se a venda se der numa vila, isto é, um conjunto de casas que não são protegidas por muralha, então o negócio decorre como se se tratasse de um terreno; a casa é resgatável em qualquer ocasião, e voltará ao proprietário original no ano do jubileu. Há contudo uma exceção: são as casas dos levitas; ainda que estejam em cidades da sua possessão, essas poderão ser resgatadas em qualquer momento, e deverão ser devolvidas ao proprietário de origem no ano do jubileu; visto que a estes não é distribuída terra, à semelhança das outras tribos; receberão apenas casas nas cidades (mais os campos circunvizinhos). Aos levitas não é permitido vender campos nas terras dos arredores das suas cidades, porque são possessão sua permanente, e de ninguém mais devem ser. Se o vosso irmão empobrecer, serão responsáveis por ajudá-lo. Deverão convidá-lo a viver convosco como se ajuda a um estrangeiro ou hóspede. Temam a Deus e deixem o vosso irmão viver convosco; nem tão-pouco lhe peçam juros sobre o dinheiro que lhe emprestarem. Não se esqueçam: não levem juros; e deem-lhe aquilo de que ele precisar ao preço do custo; não tentem fazer negócio. Porque eu, o Senhor, vosso Deus, vos tirei da terra do Egito para vos dar a terra de Canaã e para ser o vosso Deus. Se um vosso irmão israelita vier a empobrecer e se vender a um de vocês, não deverão tratá-lo como escravo, mas antes como um assalariado ou como um hóspede; ele apenas vos servirá até ao ano de jubileu. Nesse ano poderá deixar-vos, com os seus filhos, e retornar à sua família e àquilo que é dele. Porque eu vos trouxe da terra do Egito e vocês são meus servos. Por isso, não poderão ser vendidos como escravos comuns, nem tratados duramente. Temam o vosso Deus. Contudo, poderão comprar escravos das nações estrangeiras que vivam à vossa volta. Podem também comprar os filhos dos estrangeiros que vivam convosco, ainda que tendo nascido na vossa terra. Serão vossos escravos permanentemente, podendo passar para os vossos filhos. Mas quanto aos que são vossos irmãos, o povo de Israel, esses não serão tratados da mesma maneira. Se um estrangeiro que viva no vosso meio se tornar rico, e se um israelita empobrecer e se vender ao estrangeiro, ou à família desse estrangeiro, poderá ser resgatado por um dos seus irmãos, ou pelo tio, sobrinho ou qualquer parente que lhe seja próximo. Pode mesmo resgatar-se a si mesmo, se obtiver dinheiro suficiente. O preço da sua libertação será propocional ao número de anos que faltarem até ao ano do jubileu, e será calculado segundo o salário de um trabalhador durante esse número de anos. Se faltarem ainda muitos anos até ao jubileu, deverá pagar uma quantia aproximada à que recebeu no ato da compra. Se já tiver passado tempo, e faltarem poucos anos até ao jubileu, então terá de repor apenas uma parte do que recebeu ao vender-se. Será tratado como um trabalhador assalariado e não com dureza na vossa casa. Se não tiver sido resgatado entretanto, ao chegar o ano do jubileu, ele e os seus filhos sairão livres. Porque o povo de Israel é meu servo. Trouxe-o da terra do Egito. Eu sou o Senhor, o vosso Deus. Não fabriquem ídolos; não deverão prestar culto a imagens esculpidas ou a estátuas. Porque eu sou o Senhor, o vosso Deus. Devem guardar as minhas leis respeitantes ao repouso do sábado e reverenciar o meu tabernáculo. Eu sou o Senhor. Se andarem conforme as minhas leis e guardarem os meus mandamentos, pondo-os em prática, então vos darei as chuvas a seu tempo, e a terra produzirá abundantes colheitas, as árvores carregar-se-ão de frutos. A ceifa durará até ao tempo da vindima e a vindima até ao tempo das novas sementeiras. Comerão até se fartarem e viverão seguros da terra, porque vos darei paz; poderão dormir sem temores. Afastarei os animais perigosos e as guerras. Perseguirão inimigos, os quais morrerão sob as vossas armas. Cinco porão em fuga uma centena e cem liquidarão dez mil! Derrotarão todos os adversários. Cuidarei de vocês e vos multiplicarei; cumprirei a minha aliança convosco. Hão de ter uma tal abundância de fruto da terra que nem saberão o que fazer com ele quando chegar nova ceifa! Estabelecerei a minha morada no vosso meio; não vos repudiarei. Andarei no vosso meio, serei o vosso Deus e vocês serão o meu povo. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito para nunca mais serem escravos. Quebrei as vossas cadeias e farei que vivam com dignidade. Contudo, se não me ouvirem e não me obedecerem, antes desprezarem e rejeitarem as minhas leis, anulando assim a minha aliança, não obedecendo às minhas leis, eis o que vos farei: castigar-vos-ei com terrores repentinos e com pânico, e ainda com a tuberculose e com febres ardentes que consomem os olhos e vão destruindo a vida. Hão de semear em vão, porque serão os vossos inimigos que colherão os frutos. Serei contra vocês e hão de fugir na frente dos que vos atacam; serão governados por quem vos odeia. Até fugirão sem haver ninguém que vos esteja a perseguir. Se continuarem a desobedecer-me, castigar-vos-ei sete vezes mais severamente ainda, por causa dos vossos pecados. Quebrarei a vossa força orgulhosa. Os céus ser-vos-ão como ferro e a terra como bronze. A vossa força se consumirá em vão; porque a vossa terra não vos dará searas, nem as árvores frutos. E se mesmo assim não me obedecerem e não quiserem ouvir-me, mandar-vos-ei sete vezes mais pragas por causa dos vossos pecados. Enviarei animais ferozes que matarão os vossos filhos, destruirão o vosso gado e vos diminuirão de tal forma que os caminhos ficarão desertos. E se ainda mesmo assim isto não vos fizer mudar, antes continuarem a andar segundo os vossos desejos, contrários aos meus, então também eu me oporei ao vosso querer; eu próprio vos ferirei sete vezes mais por causa do vosso pecado. Castigar-vos-ei por terem quebrado a minha aliança, trazendo a guerra contra vocês. Hão de fugir para a cidade, mas mandarei pragas que vos apanharão e acabarão por ser conquistados pelos inimigos. Destruirei os vossos fornecimentos de comida de tal forma que um só forno será largamente suficiente para cozer pão para dez famílias; e continuarão com fome ainda depois de terem recebido o vosso pequeno quinhão. E se continuarem sem me obedecer, então darei largas ao meu furor; mandar-vos-ei um castigo pelos vossos pecados que seja sete vezes mais intenso. Comerão os vossos próprios filhos e filhas; destruirei os santuários pagãos sobre as colinas em que adoraram ídolos; deitarei abaixo os altares de incenso; deixarei que se amontoem os vossos cadáveres por entre os ídolos destruídos; aborrecer-vos-ei. As cidades ficarão desoladas; destruirei os lugares de culto e não aceitarei as vossas ofertas de incenso. Sim, tornarei deserta a terra; os vossos inimigos viverão nela, eles próprios se espantarão com o que vos fiz. Espalhar-vos-ei entre as nações, fazendo desencadear guerras contra vocês por onde forem. A vossa terra ficará desolada e as cidades destruídas. Então por fim a terra descansará e se recomporá dos muitos anos em que não a deixaram repousar; pois manter-se-á desolada todos os anos em que estiverem cativos nas terras dos inimigos. Sim, então a terra descansará e desfrutará dos seus sábados. Poderá recompor-se do repouso que não lhe deram todos os sete anos, quando lá viviam. Os que ficarem vivos serão levados para terras distantes como prisioneiros de guerra e como escravos, e lá viverão em constantes terrores. O som de uma folha levada pelo vento os fará fugir como se estivessem a ser ameaçados por um homem armado. Cairão sem que alguém os persiga. Sim, mesmo sem ninguém a persegui-los, cairão uns sobre os outros na precipitação, como se fugissem de uma batalha em que não conseguissem suster a força do inimigo. Hão de perecer entre as nações e ser destruídos pelos vossos adversários. E os que ainda ficarem desfalecerão nas terras dos inimigos por causa dos seus pecados, os mesmos dos seus pais. Mas por fim, se confessarem o seu pecado e as iniquidades que os pais praticaram contra mim, que fizeram que se voltassem contra mim, e eu contra eles, e os levasse para as terras dos seus inimigos; se por fim os seus maus corações se humilharem e aceitarem o castigo que lhes enviei por causa dos seus pecados, então me lembrarei da minha aliança feita a Abraão, a Isaque e a Jacob, e da terra que ficou desolada. A terra desfrutará dos sábados, enquanto está desolada, e por fim aceitarão o castigo por terem rejeitado as minhas leis e desprezado os meus regulamentos. Apesar de tudo o que fizeram, não os destruirei totalmente nem invalidarei a minha aliança com eles, porque sou o Senhor, o seu Deus. Pois trouxe os seus antepassados do Egito, perante a admiração das nações que observavam tudo isso. Eu sou o Senhor.” Estas foram as leis, mandamentos e instruções que o Senhor deu ao povo de Israel, por meio de Moisés, junto ao monte Sinai. O Senhor disse a Moisés: “Diz ao povo de Israel que quando uma pessoa fizer um voto especial de se dedicar ela própria ao Senhor, deverá fazer o seguinte pagamento no lugar da pessoa: Um homem entre os 20 e os 60 anos de idade pagará 575 gramas de prata, segundo os pesos do santuário. Uma mulher entre os 20 e os 60 anos pagará 345 gramas de prata. Um rapaz dos 5 aos 20 anos pagará 230 gramas; e uma rapariga 115 gramas. Um menino de um mês até aos cinco anos será avaliado em 58 gramas e uma menina em 35 gramas. Um homem acima dos 60 anos deverá pagar 175 gramas e uma mulher 115 gramas. Mas se a pessoa for tão pobre que não possa pagar esse montante, deverá ser levada perante o sacerdote que avaliará em função dos meios de que dispõe. Se se tratar de um animal de uma espécie que é permitida oferecer como sacrifício que se faz voto de oferecer ao Senhor, será coisa santa. O voto não pode ser alterado. Aquele que o fez não poderá nem alterar a sua intenção de o dar a Deus, nem substituí-lo, seja o bom pelo mau, seja o mau pelo bom. Se vier a fazê-lo, tanto um como o outro pertencerão a Deus. Se o homem pretender resgatá-lo, deverá pagar mais vinte por cento do que o valor estabelecido pelo sacerdote. Se uma pessoa dedicar uma parte do seu campo ao Senhor, avaliá-la-á em função do que pode ser semeado ali. Uma área que requeira 220 litros de semente de cevada, será avaliada em 575 gramas de prata. Se o campo for consagrado no ano de jubileu, o seu valor é aquele que foi indicado. Mas se for depois desse ano, a avaliação será em proporção ao número de anos que restam até ao próximo jubileu. Se a pessoa decidir resgatar o campo, pagará um quinto mais além da avaliação do sacerdote, e poderá reaver o campo. Mas se decidir não resgatá-lo, ou se o tiver vendido a outra pessoa, não deverá voltar à sua posse. Quando chegar o jubileu ficará pertença do Senhor, como um campo que lhe é consagrado, e será dado aos sacerdotes. Se um homem dedicar ao Senhor um campo que comprou, mas que não faz parte da propriedade familiar, o sacerdote fará a estimativa do seu valor até ao ano do jubileu, e dará logo esse montante ao Senhor; no ano do jubileu o campo voltará à posse do primeiro proprietário a quem tinha sido comprado. Todas as avaliações serão efetuadas de acordo com os pesos do templo, cujo peso-base, o siclo, equivale a 11,5 gramas. Não poderão consagrar ao Senhor o primeiro nascido de um boi ou de um cordeiro, porque esse já lhe pertence. Mas se for o primeiro a nascer de um animal impuro, que não pode ser usado nos sacrifícios, porque não está na lista daqueles que o Senhor aceita, então o seu dono pagará a estimativa do sacerdote, acrescido de um quinto; se o dono não o resgatar, o sacerdote poderá vendê-lo. Contudo, nada que tenha sido consagrado ao Senhor, pessoas, animais ou campos herdados, deverá ser vendido ou resgatado, porque são santíssimos para o Senhor. Ninguém que tenha sido sentenciado à morte pelos tribunais poderá pagar uma multa no lugar da condenação. Terá certamente de morrer. Os dízimos e produtos da terra, sejam cereais seja fruta, pertencem ao Senhor; é coisa sagrada. Se alguém desejar reaver esses produtos, terá de juntar mais um quinto ao seu valor. Também ao Senhor pertence a décima parte dos animais do vosso gado e dos vossos rebanhos; quer dizer, o décimo dos animais que passam sob a vara, ao serem contados. O que é dado como dízimo ao Senhor não pode ser escolhido na base de ser bom ou ser mau; além disso não haverá substituições; porque se alguma substituição tiver sido feita, ambos, o original e o substituto, pertencerão ao Senhor, e não poderão ser resgatados.” Estes são os mandamentos que o Senhor deu a Moisés junto ao monte Sinai, para serem comunicados ao povo de Israel. No primeiro dia do segundo mês do segundo ano depois dos israelitas terem deixado o Egito, o Senhor deu as seguintes instruções a Moisés, que se encontrava nessa ocasião na tenda do encontro, enquanto Israel estava acampado no deserto de Sinai: “Faz um recenseamento de todos os homens israelitas, da tribo de Simeão: Selumiel, filho de Zurisadai; da tribo de Judá: Nassom, filho de Aminadabe; da tribo de Issacar: Netanel, filho de Zuar; da tribo de Zebulão: Eliabe, filho de Helom; Dos filhos de José: Elisama, filho de Amiude, pela tribo de Efraim; Gamaliel, filho de Pedazur, pela tribo de Manassés; da tribo de Benjamim: Abidã, filho de Gideoni; da tribo de Dan: Aiezer, filho de Amisadai; da tribo de Aser: Pagiel, filho de Ocrã; da tribo de Gad: Eliasafe, filho de Deuel; da tribo de Naftali: Airá, filho de Enã.” Foram estes os nomeados para a tarefa indicada. Moisés e Aarão, com os chefes acima indicados, convocaram todos os homens de Israel no primeiro dia do segundo mês com idade a partir de 20 anos para virem registar-se e indicar a sua tribo e família, tal como o Senhor ordenara a Moisés no deserto do Sinai. Foi esta a contagem final: Esta relação não inclui os levitas, porque o Senhor tinha dito a Moisés que isentasse os levitas dessa obrigação e não os incluísse no recenseamento; Mas os levitas agrupar-se-ão à volta do tabernáculo como uma parede entre o povo e a severidade de Deus, que é santo, para os proteger da ira divina. Todas estas instruções do Senhor a Moisés foram postas em execução. O Senhor deu mais as seguintes ordens a Moisés e a Aarão: “Cada tribo deverá ter o seu próprio espaço para instalar as tendas, cada uma sob o respetivo pendão e cada família com a respetiva insígnia, e hão de dispor-se de forma a que fiquem no meio da tenda do encontro.” Os exércitos de Israel totalizavam 603 550 indivíduos. Não incluía os levitas, que não eram tidos nessa contagem, conforme a indicação de Senhor a Moisés. Estabelecia assim o povo de Israel os seus acampamentos; cada tribo sob o seu estandarte, no local que o Senhor mostrava a Moisés. No tempo em que o Senhor falou a Moisés junto ao monte Sinai, eram os seguintes os filhos de Aarão: Nadabe, o mais velho, Abiú, Eleazar e Itamar. Eram todos ungidos como sacerdotes e separados para administrar as coisas sagradas no tabernáculo. Contudo, Nadabe e Abiú morreram perante o Senhor no deserto de Sinai, quando lhe ofereceram fogo estranho que não era sagrado. E como não tinham filhos, ficaram apenas Eleazar e Itamar para assistirem a seu pai, Aarão. Então o Senhor disse a Moisés: “Convoca a tribo de Levi e apresenta-os a Aarão e seus assistentes. Eles deverão seguir as suas instruções e cumprir com os deveres sagrados na tenda do encontro a favor do povo de Israel. Fica a seu cargo todo o material e mobiliário, assim como a manutenção da tenda do encontro. E disse-lhe mais o Senhor: “Separei para mim os levitas em lugar dos filhos mais velhos do povo de Israel. Portanto, os levitas são meus em troca de todos os primogénitos. Desde o dia em que matei os filhos mais velhos das famílias do Egito, separei para mim os primeiros filhos a nascer aos casais israelitas, assim como também aos próprios animais. São meus. Eu sou o Senhor.” O Senhor falou-lhe de novo no deserto de Sinai, dizendo: “Recenseia a tribo de Levi, indicando o número de pessoas em cada família. Conta cada indivíduo, de sexo masculino, a partir da idade de um mês.” Foi o que Moisés fez, conforme a ordem recebida do Senhor, sendo estes os nomes dos filhos de Levi e dos seus filhos: Gerson, Coate e Merari. Libni e Simei foram os filhos de Gerson que deram o nome às famílias descendentes dele. Amrão, Izar, Hebrom e Uziel foram os filhos de Coate que deram o nome a outras tantas famílias descendentes dele. Mali e Musi, filhos de Merari, deram igualmente o nome às duas famílias descendentes dele. Estas são, portanto, as famílias de levitas, segundo os seus clãs. Filho de Levi: Gerson. Netos de Levi (e nomes das famílias): Libni e Simei. Ao todo, os homens com mais de um mês de idade eram 7500. Responsabilidades: Estas duas famílias de levitas têm a responsabilidade de cuidar da manutenção da tenda do encontro; das suas cobertas, das cortinas da entrada, das que rodeiam o pátio, das portas do pátio, do altar, e das cordas para atar todo o tabernáculo, sempre que preciso. Filho de Levi: Coate. Netos de Levi (e nomes das famílias): Amrão, Izar, Hebrom, Uziel. Ao todo, os homens com mais de um mês de idade eram 8600. E ficaram como encarregados das funções do santuário. Responsabilidades: As responsabilidades destas quatro famílias incidem sobre a arca, a mesa, o candelabro, os altares, os vários utensílios usados no tabernáculo, o véu, e todas as reparações que for necessário fazer em cada uma dessas coisas. Nota: Eleazar, filho de Aarão, será o administrador responsável sobre os chefes dos levitas, com a especial responsabilidade da superintendência geral do santuário. Filho de Levi: Merari. Netos de Levi (e nomes das famílias): Mali e Musi. Ao todo, os homens com mais de um mês de idade eram 6200. Chefe do clã: Zuriel, filho de Abiail. Localização do acampamento: A norte do tabernáculo. Responsabilidades: Têm de cuidar de toda a estrutura do tabernáculo, das tábuas, das varas, das colinas, das bases, e também de todos os recipientes, assim como de equipamento necessário para o seu uso; e ainda das estacas e cordas. A área oriental em relação à tenda do encontro foi reservada para as tendas de Moisés, de Aarão e dos filhos, que tinham a responsabilidade superior do tabernáculo, a favor de Israel. Quem não fosse sacerdote nem levita e tentasse aproximar-se do tabernáculo teria de ser executado. Assim, o total dos levitas, segundo a contagem de Moisés e de Aarão, de acordo com a ordem do Senhor, foi de 22 000 indivíduos do sexo masculino, a partir de um mês de idade. Então o Senhor disse a Moisés: “Recenseia agora os filhos primogénitos dos israelitas, a partir de um mês de idade, e faz o registo de cada nome. Quanto aos levitas, esses serão meus, eu sou Senhor, como substitutos dos primogénitos dos israelitas; também me pertencem as primeiras crias do gado do povo.” Assim fez Moisés o censo dos filhos mais velhos do povo de Israel, tal como o Senhor lhe ordenara, sendo o total de homens com mais de um mês de idade, de 22 273. Disse o Senhor a Moisés: “Dá-me os levitas em lugar dos primeiros filhos que nascerem aos israelitas, e também o gado dos levitas em lugar dos primeiros nascidos do gado de Israel. Sim, os levitas serão meus. Eu sou o Senhor. Quanto aos 273 indivíduos que ultrapassam o número equivalente dos levitas (22 000) Dessa forma, recebeu Moisés o dinheiro em resgate dos primogénitos israelitas que estavam em excesso relativamente ao número dos levitas. O dinheiro assim coletado atingiu um montante de 16 quilos de prata, que Moisés deu a Aarão e filhos como o Senhor ordenara. Então o Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Tomem a soma do grupo familiar de Coate, da tribo de Levi. Serão contados todos os do sexo masculino, entre 30 e 50 anos, capazes de trabalharem na tenda do encontro. Estes são os seus deveres quanto às coisas santas: Quando o acampamento for chamado a deslocar-se, Aarão e os filhos entrarão primeiramente na tenda do encontro e descerão o véu, cobrindo a arca do testemunho com ele. Seguidamente, cobrirão o próprio véu com a coberta de peles de couro fino e, sobre esta, um pano azul. Porão ainda as varas na arca. Depois deverão estender igualmente um pano azul sobre a mesa, na qual está exposto o pão da Presença, e colocarão os pratos, as colheres, as taças, os jarros, e também o pão sobre esse tecido. Porão em cima disso tudo um pano carmesim; e finalmente uma coberta pele de couro fino. Então enfiarão as varas de transporte nos lados da mesa. Depois disso, cobrirão o candelabro com um pano azul, assim como as lâmpadas, os apagadores, os espevitadores e o reservatório de azeite. Todo este conjunto de objetos será depois coberto com peles de couro fino, feito o seu acondicionamento, será colocado sobre uma armação, para ser transportado. Deverão depois estender um pano azul sobre o altar de ouro, cobri-lo com uma pele de couro fino, e pôr as varas nos seus cantos. Todos os outros utensílios do tabernáculo deverão ser acondicionados num tecido azul, cobertos com pele de couro fino, e postos numa armação de transporte. Hão de ser tiradas as cinzas do altar e este será coberto com um pano de púrpura. Todos os utensílios do altar devem ficar sobre ele; braseiros, garfos, pás, bacias e outros recipientes, e uma coberta de peles de couro fino, estendida sobre eles. Finalmente, as varas de transporte serão enfiadas lateralmente, nos seus lugares. Quando Aarão e os seus filhos tiverem terminado esta tarefa, os homens de Coate chegar-se-ão e carregarão os embrulhos, levando-os para onde o acampamento se deslocar. Mas não deverão tocar nos objetos sagrados, senão morrerão. Esta é portanto a sagrada tarefa dos descendentes de Coate na tenda do encontro. Eleazar, filho de Aarão, terá a responsabilidade do azeite para a iluminação, do incenso aromático, da oferta diária de cereais, do azeite da unção; na realidade, terá até a supervisão de todo o tabernáculo; tudo ali estará à sua responsabilidade.” Então o Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Atenção que as famílias dos coatitas não se destruam a si mesmas! Para que eles não morram quando transportam as coisas santas, farás o seguinte: Aarão e os seus filhos entrarão e indicarão a cada um o que deve transportar. No entanto, eles nunca deverão entrar no santuário, nem sequer por um momento, nem olhar para os objetos sagrados; senão morrerão.” Disse mais o Senhor a Moisés: “Toma o número dos gersonitas da tribo de Levi todos os homens entre 30 e 50 anos, capazes para o trabalho sagrado com a tenda do encontro. Serão estas as suas funções: levarão as cortinas do tabernáculo, mais propriamente o conjunto da tenda do encontro, com as cobertas, as peles de couro fino, a cortina da porta; e ainda as cortinas do pátio e as da entrada deste; também deverão transportar as suas cordas e todos os acessórios respetivos. São plenamente responsáveis por tudo isto que foi referido. Aarão ou os seus filhos deverão indicar-lhes as tarefas; mas os gersonitas serão diretamente responsáveis perante Itamar, sacerdote, filho de Aarão. Agora, conta os homens do grupo das famílias descendentes de Merari, da tribo de Levi, entre 30 e 50 anos, capazes para o serviço da tenda do encontro. Quando a tenda do encontro tiver de ser deslocada, deverão transportar toda a armação, as bases, as tábuas, assim como a estrutura envolvente do pátio, com as suas bases, estacas, cordas, e tudo o resto que esteja relacionado com isso e que sirva para a sua conservação. Distribui as tarefas por cada homem, notando o seu nome. A divisão de Merari será igualmente responsável perante Itamar, filho de Aarão.” Moisés, Aarão e os outros chefes tomaram o número dos homens da divisão de Coate, dos que tinham entre 30 e 50 anos, capazes para o serviço da tenda do encontro; e acharam que havia um total de 2750. Tudo isto foi feito para dar cumprimento às instruções do Senhor a Moisés. Este censo foi realizado em resposta às ordens do Senhor a Moisés, o qual indicou para cada um a sua função e o que devia transportar. São mais estas as instruções do Senhor a Moisés: “Informa o povo de Israel de que deverão pôr fora do acampamento todos os leprosos, todos os que tiveram um corrimento, ou que se tenham tornado impuros por terem tocado num morto. Isto aplica-se tanto a homens como a mulheres. Afastem-nos pois para que não contaminem o acampamento onde vivo no meio deles.” A estas instruções foi, portanto, dado cumprimento. Então o Senhor disse a Moisés: “Diz ao povo de Israel que quando alguém, homem ou mulher, transgredir contra o Senhor, faltando a um compromisso financeiro que tiver tomado, isso é um pecado. Terá de confessar o seu pecado e pagar à pessoa lesada a totalidade daquilo que defraudou, juntando ainda mais vinte por cento. E se esta última já tiver morrido, e não houver parentes próximos a quem a dívida seja paga, deverá entregar esse montante ao sacerdote, juntamente com o carneiro para a expiação da culpa. Falou mais o Senhor a Moisés: “Diz ao povo de Israel que se uma mulher cometer adultério, O sacerdote deverá trazê-la diante do Senhor; porá água santa num jarro, misturando-lhe pó apanhado do chão do tabernáculo. Depois desata-lhe os cabelos e põe-lhe a oferta nas mãos, a fim de verificar se as suspeitas do marido são ou não justificadas. O sacerdote ficará na frente dela, segurando no jarro de água amarga que traz consigo maldição. Mandá-la-á jurar que está inocente e dir-lhe-á: ‘Se mais nenhum homem dormiu contigo além do teu marido, ficarás livre dos efeitos desta água amarga que te trará maldição. O sacerdote escreverá estas maldições num livro e as apagará com aquela água; água essa que, quando a mulher vier a bebê-la, lhe provocará amargos no interior. O sacerdote tomará a oferta de suspeitas das mãos dela e movê-la-á na presença do Senhor, levando-a depois para o altar. Tomará um punhado dessa farinha, fazendo queimar essa porção no altar, e nessa altura então dará a água a beber à mulher. Se esta se tiver manchado, cometendo adultério contra o seu marido, a água lhe fará amargos no interior, ficará com o corpo inchado e estéril; tornar-se-á uma maldição no meio do povo. Se pelo contrário estiver isenta de culpa e não tiver cometido adultério contra o seu esposo, não sofrerá incómodo algum e poderá vir a ter filhos. Esta é pois a lei respeitante a um marido que tenha suspeitas de que a sua mulher se tenha eventualmente conduzido levianamente, para determinar se lhe tem sido ou não infiel. Ele a trará diante do Senhor e o sacerdote fará aquilo que foi descrito acima. O seu marido nunca deverá ser julgado por causa da doença com que tiver sido amaldiçoada, porque só ela é responsável por tal coisa.” O Senhor deu mais estas instruções a Moisés para o povo de Israel: “Quando alguém, homem ou mulher, fizer o voto especial de nazireu, consagrando-se a si mesmo ao Senhor de uma forma especial, nunca mais em todo o tempo da sua especial consagração beberá bebida forte alcoolizada, ou vinho, ou vinagre de vinho, nem sequer vinho fresco ou sumo de uvas; nem comerá bagos de uvas, mesmo secas. Não deverá comer nada que venha da vinha, nem as grainhas nem as peles dos bagos. Em todo esse tempo não deverá cortar o cabelo, porque é santo, consagrado ao Senhor; por isso terá de deixar crescer o cabelo. Nunca se aproximará dum corpo morto durante o tempo do seu voto, ainda que seja o corpo do seu pai, mãe, irmão ou irmã; se o fizer, o seu voto ficará sem efeito, porque o cabelo que têm na cabeça representa a sua separação para Deus. É pois consagrado ao Senhor em todo esse período. Se se tiver tornado impuro inadvertidamente, pelo facto de alguém cair morto na sua frente ou perto de si, sete dias mais tarde rapará a cabeça que se tornou impura; e ficará limpo da contaminação resultante de alguém ter morrido perto de si subitamente, sem ter podido prevenir-se. No dia seguinte, no oitavo dia, trará duas rolas ou dois pombos ao sacerdote, à entrada da tenda do encontro. O sacerdote oferecerá uma como expiação de pecado, e a outra como holocausto, fazendo expiação por esse pecado. E a pessoa deverá renovar o seu voto nesse dia, tornando a deixar crescer o cabelo. Os dias anteriores a essa contaminação serão perdidos, não contarão. Deverá recomeçar com um novo voto; terá de trazer um cordeiro macho, de um ano, como oferta de culpa. Na conclusão do período do seu voto de separação, irá até à entrada da tenda do encontro e oferecerá um holocausto ao Senhor, um cordeiro de um ano, sem defeito algum. Oferecerá igualmente uma oferta pelo pecado, uma cordeira de um ano também sem defeito; uma oferta de paz, que será um carneiro sem defeito; e ainda um cesto de pão sem fermento, bolos de farinha fina amassados com azeite, bolachas sem fermento untadas de azeite, e a respetiva oferta de cereais com as ofertas de vinho. O sacerdote apresentará isto perante o Senhor: primeiro a oferta pelo pecado e a oferta a queimar; depois o carneiro em oferta de paz, com o cesto do pão sem fermento; e finalmente os cereais com a oferta de vinho. Então o nazireu rapará o cabelo que lhe cresceu e que era o sinal do seu voto de separação. Isto será feito à entrada da tenda do encontro; depois o cabelo será queimado no fogo, debaixo da oferta de paz. Após a cabeça da pessoa ter sido rapada, o sacerdote tomará a espádua assada do carneiro, um dos bolos feitos sem fermento, uma das bolachas também sem fermento, e porá tudo nas mãos da pessoa. O sacerdote balançará isso, dum lado para o outro, com o gesto de apresentação cerimonial; essas coisas constituem a porção santa reservada ao sacerdote, juntamente com o peito e com a espádua oferecidos na presença do Senhor. Só então, depois disso, poderá de novo o nazireu beber vinho, porque está desligado do seu voto. Estes são os preceitos respeitantes aos nazireus e aos seus sacrifícios na conclusão do período da sua consagração especial. Além destes sacrifícios deverá trazer ainda qualquer outro sacrifício que tiver prometido durante o tempo em que fez o voto de se tornar nazireu.” Então o Senhor falou assim a Moisés: “Diz a Aarão e aos seus filhos que será esta a bênção especial que darão ao povo de Israel: ‘Que o Senhor vos abençoe e vos proteja; que a face do Senhor brilhe por vossa causa, que ele tenha misericórdia de vocês; que vos revele toda a sua boa vontade, e vos dê a paz.’ É assim que Aarão e seus filhos farão descer o meu nome sobre o povo de Israel e eu pessoalmente os abençoarei.” Moisés ungiu e santificou cada parte do tabernáculo, incluindo o altar e os seus utensílios, no dia em que acabou de o montar. Então os chefes de Israel, os chefes das tribos, os homens que tinham organizado o recenseamento, trouxeram as suas ofertas. Consistiram elas em seis carros cobertos, cada um deles puxado por dois bois; um carro por cada dois chefes e um boi por cada um. Apresentaram-nos ao Senhor diante do tabernáculo. O Senhor disse a Moisés: “Aceita esses donativos e usa os carros para o serviço da tenda do encontro. Dá-os aos levitas para aquilo que tiverem necessidade.” Moisés deu os carros e os bois aos levitas. Dois carros e quatro bois foram dados ao grupo de Gerson, para o serviço deles; para o de Merari, sob a chefia de Itamar, filho de Aarão, foram dados quatro carros e oito bois. Ao grupo de Coate não foi dado nenhum carro, nem nenhuma parelha de bois, porque foram designados para transportar sobre os ombros o que lhe competia do tabernáculo. Os chefes também apresentaram ofertas de consagração, no dia em que o altar foi ungido, e colocaram-nas perante o altar. O Senhor disse a Moisés: “Que cada um deles traga os seus donativos para a consagração do altar, em dias diferentes.” Nassom, filho de Aminadabe, chefe da tribo de Judá, trouxe a sua oferta no primeiro dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando cerca de 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Netanel, filho de Zuar, chefe de tribo de Issacar, trouxe a sua oferta no segundo dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Eliabe, filho de Helom, chefe da tribo de Zebulão, trouxe a sua oferta no terceiro dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Elizur, filho de Sedeur, chefe da tribo de Rúben, trouxe a sua oferta no quarto dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Selumiel, filho de Zurisadai, chefe da tribo de Simeão, trouxe a sua oferta no quinto dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Eliasafe, filho de Deuel, chefe da tribo de Gad, trouxe a sua oferta no sexto dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Elisama, filho de Amiude, chefe da tribo de Efraim, trouxe a sua oferta no sétimo dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Gamaliel, filho de Pedazur, chefe da tribo de Manassés, trouxe a sua oferta no oitavo dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Abidã, filho de Gideoni, chefe da tribo de Benjamim, trouxe a sua oferta no nono dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Aiezer, filho de Amisadai, chefe da tribo de Dan, trouxe a sua oferta no décimo dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Pagiel, filho de Ocrã, chefe da tribo de Aser, trouxe a sua oferta no décimo primeiro dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Airá, filho de Enã, chefe da tribo de Naftali, trouxe a sua oferta no décimo segundo dia. Consistia numa salva de prata, pesando 1,5 quilos e uma taça de prata de 800 gramas, ambas cheias de ofertas de farinha fina, amassada com azeite, como sacrifício de cereais. Trouxe também uma pequena caixa de ouro cheia de incenso, pesando 115 gramas. Além disso, veio com um novilho, um carneiro e um cordeiro de um ano para holocausto, e ainda um bode para a expiação de pecado. Para a oferta de paz: dois bois, cinco carneiros, cinco bodes e cinco cordeiros de um ano. Quando Moisés entrava no interior da tenda do encontro para falar com Deus, ouvia a voz que lhe falava entre os dois querubins por cima do propiciatório que estava sobre a arca do testemunho. Disse o Senhor a Moisés: “Diz a Aarão que quando acender as sete lâmpadas do candelabro, deverá fazê-lo de forma a que iluminem para a frente.” E foi assim que fez Aarão. O candelabro, incluindo a decoração de flores sob as suas lâmpadas, era feito inteiramente de ouro trabalhado a martelo, construído exatamente de acordo com o modelo que o Senhor mostrara a Moisés. Disse mais o Senhor a Moisés: “Agora separarás os levitas de entre o resto do povo de Israel e purificá-los-ás. Fá-lo aspergindo sobre eles água de purificação, fazendo-os rapar todo o pelo do corpo e lavarem-se a si próprios, assim como toda a sua roupa. E que tragam um novilho mais uma oferta de cereais feita de fina farinha misturada com azeite, e ainda outro novilho para sacrifício pelo pecado. Seguidamente, traz os levitas para a frente da porta da tenda do encontro e manda que o resto do povo venha assistir. Aí os chefes das tribos porão as mãos sobre eles; Aarão, com o gesto de apresentação cerimonial, oferecê-los-á ao Senhor como uma dádiva feita por toda a nação de Israel. Os levitas representam todo o povo ao serviço do Senhor. Seguidamente, os chefes levitas deverão pôr as mãos sobre as cabeças dos novilhos e oferecê-los ao Senhor; um deles será por oferta pelo pecado e o outro como holocausto, para fazer expiação pelos levitas. Então os levitas serão apresentados a Aarão e aos seus filhos, com o gesto de apresentação cerimonial, como qualquer outra dádiva que é oferecida ao Senhor através dos sacerdotes. Será desta maneira que serão dedicados os levitas, de entre o resto do povo de Israel, e os levitas serão meus. Depois de terem sido assim santificados e oferecidos, entrarão e sairão da tenda do encontro conforme precisarem para a realização do seu trabalho normal. Eles são meus, de entre todo o povo de Israel; aceitei-os em lugar de todos os filhos primogénitos dos israelitas; tomei-os por seus substitutos. Porque todo o primeiro filho que uma mãe tiver, no meio do povo de Israel, será meu, tanto entre os homens como entre os animais. Reclamei-os para mim na noite em que fiz morrer os filhos mais velhos no Egito. Aceitei os levitas em lugar dos primeiros filhos dos israelitas. Entregá-los-ei a Aarão e aos filhos. Os levitas cumprirão todos os sagrados deveres requeridos do povo de Israel na tenda do encontro, e oferecerão os sacrifícios do povo, fazendo expiação por eles. Dessa forma, não haverá mortandade entre os israelitas quando eles se aproximarem do tabernáculo.” Moisés, Aarão e todo o povo de Israel dedicaram então os levitas, seguindo cuidadosamente as instruções dadas pelo Senhor a Moisés. Os levitas purificaram-se, lavaram as suas roupas e Aarão apresentou-os ao Senhor com o gesto de apresentação cerimonial. Depois cumpriu o rito de expiação sobre eles, para os purificar. Seguidamente, entraram no interior da tenda do encontro, como assistentes de Aarão e dos seus filhos. Tudo foi feito conforme aquilo que o Senhor ordenara a Moisés. O Senhor deu ainda estas instruções a Moisés: “Os levitas deverão começar o serviço na tenda do encontro com a idade de 25 anos, e deverão retirar-se aos 50 anos. Após essa idade poderão ainda ajudar os seus irmãos nos serviços da tenda do encontro, mas não terão responsabilidades regulares.” O Senhor deu estas instruções a Moisés quando ele e todo o povo estavam no deserto de Sinai, durante o primeiro mês do segundo ano, depois da saída do Egito: “O povo de Israel deverá celebrar a Páscoa anualmente no dia 14 deste primeiro mês, começando ao princípio da noite. Procurem seguir estritamente todas as minhas instruções respeitantes a esta celebração.” E Moisés anunciou que a celebração da Páscoa começaria na noite do dia 14, ali no deserto de Sinai, e a celebração fez-se tal como o Senhor ordenara. Contudo, aconteceu que algumas pessoas se encontravam ritualmente impuras, pelo facto de terem tocado num corpo morto; por essa razão, não podiam comer o cordeiro da Páscoa nessa noite. Vieram ter com Moisés e com Aarão, e explicaram-lhes o seu problema, queixando-se de serem impedidos de oferecer os seus sacrifícios ao Senhor na ocasião ordenada por ele. Moisés disse que perguntaria ao Senhor acerca desse assunto. O Senhor disse a Moisés: “Diz aos israelitas: Se algum de vocês, agora ou nas gerações futuras, se tornar impuro na altura da Páscoa, por ter tocado num corpo morto, ou se estiver a viajar e não puder estar presente, pode mesmo assim celebrar a Páscoa; mas fá-lo-á um mês mais tarde, ou seja, no dia 14, mas do segundo mês, começando sempre à noite. Comerão pois o cordeiro nessa altura, com pão sem fermento e com ervas amargas. E nada deixarão para o dia seguinte; tão-pouco quebrarão nenhum osso do animal; deverão seguir todas as instruções acerca da Páscoa. Contudo, se aparecer alguém que não esteja impuro, nem de viagem, e que mesmo assim recuse celebrar a Páscoa no tempo próprio, deverá ser expulso do povo de Israel por se negar a sacrificar ao Senhor na ocasião devida. Deverá pois carregar a sua culpa. Por outro lado, se um estrangeiro, que viva no vosso meio, desejar celebrar a Páscoa ao Senhor, terá de seguir todas estas indicações. Há só uma lei para toda a gente.” E nessa noite a nuvem cobriu o tabernáculo que guardava o documento da aliança e mudou de aparência. Tornou-se fogo, assim permanecendo através da noite. Aliás ficou a ser sempre assim; de dia era uma nuvem e de noite mudava o seu aspeto para um fogo. Quando a nuvem se levantava e se movia, o povo de Israel deslocava-se até onde ela parasse, e aí acampavam. Desta maneira, caminhavam sempre na direção que o Senhor os mandava e estacionavam onde ele quisesse, permanecendo nesse local tanto tempo quanto a nuvem ali se demorasse. Se ela se mantivesse muito tempo, aí ficavam; se apenas se demorasse uns dias, era pois só por esses dias que o acampamento lá estava. Tinha sido expressamente essa a ordem do Senhor. Por vezes, a nuvem de fogo parava só por uma noite, e logo continuava a mover-se pela manhã seguinte. Contudo, de dia ou de noite, sempre que ela se movia, o povo levantava o acampamento e seguia-a. Ficasse a nuvem sobre o tabernáculo, dois dias, um mês ou um ano esse era o espaço de tempo em que o povo estacionava. Logo que se movia, seguiam-na. Desta forma, acampavam ou viajavam sempre sob o mandado do Senhor. E tudo o que o Senhor dizia a Moisés para fazerem, faziam. Então o Senhor disse a Moisés: “Faz duas cornetas de prata batida, para com elas convocares o povo para uma reunião, ou para levantarem o acampamento. Quando ambas as trombetas tocarem ao mesmo tempo, o povo ficará a saber que deverá juntar-se à entrada da tenda do encontro. Se for uma só a tocar, então é porque são só convocados os chefes das tribos para virem ter contigo. Só aos sacerdotes é permitido tocar as cornetas. É uma ordem permanente, a ser seguida por toda as gerações vindouras. Quando chegarem à terra prometida e tiverem de combater, o Senhor, vosso Deus, vos ouvirá e vos salvará dos vossos inimigos, quando tocarem em sinal de alarme, com estas duas cornetas. Usem-nas igualmente em tempos de alegria, como por exemplo nas vossas festividades anuais, assim como no início de cada mês, para se alegrarem com os vossos holocaustos e sacrifícios de paz, como memorial para o povo de Israel da aliança que Deus fez convosco. Eu sou o Senhor, o vosso Deus.” A nuvem ergueu-se então sobre o tabernáculo no dia 20 do segundo mês do segundo ano após a saída de Israel do Egito; e foi assim que os Israelitas deixaram o deserto de Sinai, seguindo a nuvem até se deter sobre o deserto de Parã. Esta foi a sua primeira deslocação após terem recebido as instruções que o Senhor deu a Moisés respeitantes às viagens que teriam de realizar. À cabeça da coluna ia a tribo de Judá, agrupada atrás do seu pendão, conduzida por Nassom, o filho de Aminadabe. Logo a seguir vinha a tribo de Issacar, chefiada por Netanel, filho de Zuar; após eles, a tribo de Zebulão, com Eliabe, filho de Helom, à frente. O tabernáculo fora desarmado e os homens dos grupos de Gerson e de Merari, da tribo de Levi, vinham logo a seguir na linha de marcha, transportando o tabernáculo aos ombros. Vinha a seguir a bandeira do campo de Rúben, com Elizur, filho de Sedeur, conduzindo o povo. E depois a tribo de Simeão, trazendo à cabeça Selumiel, filho de Zurisadai; após eles, a tribo de Gad, comandados por Eliasafe, filho de Deuel. Seguiam-se os coatitas, carregando os objetos que lhes competiam, do interior do santuário. Quando estes chegavam ao novo local, já os outros tinham montado a estrutura do tabernáculo. A seguir, na ordem da coluna, vinha a tribo de Efraim, sob a sua bandeira, conduzida por Elisama, filho de Amiude; e depois a tribo de Manassés, com Gamaliel, filho de Pedazur, à frente, e a tribo de Benjamim, conduzida por Abidã, filho de Gideoni. A coluna fechava com as seguintes três tribos, ordenadas assim: Dan sob a chefia de Aiezer, filho de Amisadai; Aser, com Pagiel, filho de Ocrã, como chefe; e Naftali, conduzida por Airá, filho de Enã. Esta era a ordem pela qual se deslocavam as tribos. Um dia, Moisés disse para o seu cunhado Hobabe, filho de Reuel, midianita, sogro de Moisés: “Estamos, enfim, a caminhar para a terra prometida! Vem connosco e te faremos bem. Olha que o Senhor fez promessas maravilhosas a Israel!” Mas ele respondeu-lhe: “Eu tenho de regressar à minha terra e à minha família.” “Fica connosco”, insistiu Moisés, “porque como conheces bem todos os caminhos do deserto, serias uma grande ajuda para nós. Já sabes, se vieres, partilharás de todas as boas coisas que o Senhor nos der e fizer.” E assim viajaram durante três dias, após terem deixado o monte do Senhor, levando a arca da aliança do Senhor à cabeça da coluna, para lhes mostrar o local onde deviam parar. Era dia quando iniciaram a marcha, com a nuvem deslocando-se à sua frente. Quando a arca partia, Moisés dizia: “Levanta-te, Senhor, e dispersa os teus inimigos! Que fujam diante de ti!” Assim também, quando a arca tornava a ser posta no chão, dizia: “Volta, Senhor, para os milhares de milhares de Israel!” Em breve o povo começou a lamentar-se devido a vários contratempos e o Senhor ouviu-os. A sua ira acendeu-se contra eles por causa dessas queixas, e uma extremidade do acampamento começou a ser destruída por fogo divino. Então gritaram a Moisés por socorro; quando este orou por eles, o fogo apagou-se. Daí em diante, aquela área ficou sendo conhecida por Tabera (deflagrar um incêndio), porque ali ardera o fogo do Senhor. Um dia, os estrangeiros que tinham vindo do Egito com eles começaram a ter grandes saudades das coisas que lá tinham. Isto aumentou o descontentamento do povo de Israel, de tal forma que começaram a chorar e a dizer: “Quem nos dera comer carne! Ah! Se tivéssemos daquele peixe do Egito que comíamos de graça, assim como os pepinos, os melões, os alhos-porros, as cebolas, os alhos! Aqui as nossas energias gastam-se e somos coagidos a aceitar dia a dia este maná!” O maná era como uma semente de coentro e parecia-se com as gotas de bdélio que escorrem pelo tronco de uma árvore. O povo recolhia-o do chão, moía-o em moinhos para o transformar em farinha, ou pisava-o num almofariz, cozia-o e fazia bolos; sabia como qualquer bolo frito em azeite. O maná caía com o orvalho durante a noite. Moisés ouvia todas aquelas famílias lamentarem-se e chorarem à porta das tendas. Então a ira do Senhor acendeu-se. Moisés também ficou indignado, e disse ao Senhor: “Porque é que me deste este castigo de ter de carregar com um povo de tal natureza? São eles por acaso meus filhos? Serei eu pai deles? Por que razão tenho de cuidar zelosamente deles, como se fossem criancinhas, até que cheguem à terra que prometeste aos seus antepassados? Onde vou arranjar agora carne para toda esta gente que está para aí a chorar? Não posso levar sozinho esta nação! É um fardo demasiado pesado para mim! Se é isso que tencionas fazer comigo, então será melhor tirares-me a vida; é um favor que te peço! Tira-me desta situação impossível!” Então o Senhor respondeu-lhe: “Convoca à minha presença setenta anciãos de Israel. Trá-los até à tenda do encontro e fiquem ali. Descerei e falarei contigo e tirarei do Espírito que está sobre ti e pô-lo-ei também sobre eles; levarão assim também contigo o fardo do povo, para que não esteja só sobre ti essa tarefa. E diz ao povo que se purifique, pois amanhã terão carne para comer. Diz-lhes assim: ‘O Senhor ouviu as vossas lamúrias a respeito de tudo o que deixaram lá no Egito e vai dar-vos carne. Comê-la-ão não apenas um dia ou dois, ou cinco ou dez, ou mesmo vinte dias! Comerão carne durante todo o mês, até que a vomitem de nojo, até que a deitem pelo nariz e pelos olhos. Porque rejeitaram o Senhor que está aqui no vosso meio, e lamentaram ter saído do Egito!’ ” Moisés retorquiu: “Mas são pelo menos 600 000 homens válidos, além das mulheres e das crianças, e tu lhes prometes carne para um mês inteiro! Nem que matássemos todos os rebanhos e todo o gado isso chegaria! Teríamos de pescar todo o peixe do oceano para poder cumprir tal promessa!” “Desde quando se tornou mais curto o meu braço? Em breve verás se as minhas palavras se concretizam ou não.” Foi a resposta do Senhor. Moisés saiu do tabernáculo e veio relatar as palavras de Senhor ao povo. Juntou então os setenta anciãos e pô-los à roda do tabernáculo. O Senhor desceu na nuvem, falou com Moisés, tirou do Espírito que estava sobre ele e pô-lo sobre os setenta anciãos, os quais, nessa altura começaram a profetizar por algum tempo apenas. Dois desse grupo de setenta, Eldade e Medade, tinham ficado no acampamento. Contudo, o Espírito desceu na mesma sobre eles e começaram também a profetizar, no sítio onde estavam. Então um rapaz veio a correr dizer a Moisés o que estava a acontecer. Josué, filho de Num, servo de Moisés, um dos jovens escolhidos como assistente de Moisés, protestou: “Senhor, proíbe que o façam!” Moisés respondeu-lhe: “Isso são ciúmes por mim? Oxalá todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor pusesse o seu Espírito sobre todos!” Moisés regressou ao acampamento com os anciãos. Depois disso, o Senhor enviou um vento que trouxe codornizes do mar, e fê-las descer sobre o acampamento e seus arredores, à distância de um dia de marcha. Em toda aquela zona havia codornizes voando muito baixo, à altura de um metro acima do solo. Dessa forma, o povo apanhou-as e matou-as, durante esse dia e pela noite fora, e no dia seguinte. O mínimo que alguém recolheu foi o equivalente a mais de 400 quilos. Havia codornizes por toda a parte no acampamento. Contudo, quando aquela gente começou a comer a carne, a ira do Senhor tornou a acender-se e matou um grande número de pessoas com uma praga. O nome daquele lugar ficou a ser Quibrote-Hatava (sepulcros de cobiçosos), visto que tiveram de enterrar muita gente dos que cobiçaram carne e desejaram as coisas do Egito. Dali partiram para Hazerote onde permaneceram algum tempo. Um dia, Miriam e Aarão começaram a criticar Moisés por causa da sua mulher, uma cuchita; e disseram: “Mas afinal foi só através de Moisés que o Senhor falou? Não foi também por nosso meio?” E o Senhor ouviu isso. E Moisés era o homem mais humilde da Terra. O Senhor convocou imediatamente Moisés, Aarão e Miriam para a tenda do encontro: “Venham, os três!” O Senhor desceu na coluna de nuvem e ficou à entrada do tabernáculo: “Aarão e Miriam, cheguem-se à frente!” Eles obedeceram. O Senhor disse-lhes: “Com um profeta eu falaria por meio de sonhos e de visões. Mas com o meu servo Moisés não é assim. Ele serviu fielmente na casa de Deus. Com ele falo face a face! Ele vê mesmo a semelhança do Senhor! Então porque não tiveram receio de criticar o meu servo Moisés?” A cólera do Senhor inflamou-se contra eles; depois partiu. A nuvem subiu sobre o tabernáculo e Miriam ficou toda branca com lepra. Quando Aarão viu o que acontecera, rogou a Moisés: “Ó meu senhor, não nos castigues por causa deste pecado; fomos loucos em proceder de tal maneira. Não deixes que ela fique assim como uma morta, ou como um bebé nado-morto, que ao nascer já tem o seu corpo quase todo consumido!” E Moisés clamou ao Senhor: “Cura-a, ó Deus, rogo-te!” O Senhor disse a Moisés: “Se o seu pai lhe tivesse cuspido na cara, seria impura durante sete dias. Que fique então excluída, fora do acampamento durante sete dias, e depois recolham-na.” Foi o que fizeram; Miriam foi posta fora do acampamento por sete dias, e o povo esperou até que pudesse ser trazida para dentro; só depois continuaram a viagem. Partindo dali, de Hazerote, vieram a acampar no deserto de Parã. O Senhor deu a Moisés as seguintes instruções: “Manda homens que espreitem e observem secretamente a terra de Canaã, a terra que vou dar a Israel; manda um dos chefes de cada tribo.” Safate, filho de Hori, da tribo de Simeão; Calebe, filho de Jefoné, da tribo de Judá; Igal, filho de José, da tribo de Issacar; Oseias, filho de Num, da tribo de Efraim; Palti, filho de Rafu, da tribo de Benjamim; Gadiel, filho de Sodi, da tribo de Zebulão; Gadi, filho de Susi, da tribo de José, ou seja, da tribo de Manassés; Amiel, filho de Gemali, da tribo de Dan; Setur, filho de Micael, da tribo de Aser; Nabi, filho de Vofsi, da tribo de Naftali; Geuel, filho de Maqui, da tribo de Gad. Foi nessa altura que Moisés mudou o nome de Oseias, da tribo de Efraim, em Josué. Ao enviá-los, para irem explorar a terra de Canaã, Moisés deu-lhe estas instruções: “Subam pelo Negueve e depois vão na direção do norte, até às montanhas. Vejam como é a terra; observem como é a gente que lá vive, se são fortes ou fracos, se são muitos ou poucos; se a terra é fértil ou pobre; como são as cidades, se são fortificadas ou abertas; se a terra é rica ou pobre, se há muitas árvores. Tragam algumas amostras dos frutos da terra que encontrarem.” Aquele tempo, aliás, era o das primeiras vindimas. E assim eles partiram para espiar a terra, desde o deserto de Zim até Reobe, até perto de Hamate. Indo na direção do norte, passaram primeiro pelo Negueve e chegaram a Hebrom. Ali viram os aimanitas, os sesaitas, os talmaitas, tudo famílias descendentes de Anaque. Aliás Hebrom era muito antiga, tendo sido fundada sete anos antes de Zoã do Egito. Então chegaram a um sítio que agora é conhecido pelo vale de Escol, onde cortaram um cacho de uvas apenas, mas que era tão grande que foram precisos dois homens para o transportar numa vara ao ombro de cada um! Levaram também romãs e figos. Os Israelitas chamaram àquele lugar o vale de Escol cacho, por causa do cacho de uvas que de lá trouxeram. Quarenta dias mais tarde regressaram. E fizeram um relatório a Moisés, a Aarão e a todo o povo de Israel, ali no deserto de Parã, em Cades, e mostraram-lhes a fruta que tinham trazido. Foi este o relato que fizeram: “Chegámos à terra que nos mandaram observar e verificámos que é realmente uma terra magnífica, uma terra que na verdade jorra leite e mel. Esta fruta que de lá trouxemos é a prova disso. Mas o povo que lá vive é muito forte, têm cidades fortificadas muito grandes; mais ainda, vimos ali os gigantes de Anaque! Os amalequitas vivem na região do Negueve, no sul, e nas colinas estão os hititas, os jebuseus e os amorreus; ao longo da costa do mar Mediterrâneo e no vale do Jordão estão os cananeus.” Então Calebe tratou de tranquilizar o povo enquanto estavam todos ainda na presença de Moisés: “Vamos e tomemos imediatamente posse da terra, com toda a confiança, porque seremos bem capazes de a conquistar!” “Não, nunca conseguiremos!”, diziam por sua vez os outros espias. “É gente muito mais forte do que nós. Esmagavam-nos num instante.” Era pois negativo o relatório dos espias: “A terra está cheia de gente guerreira, fortemente defendida. Além disso, até lá vimos alguns dos descendentes do Anaque, a antiga raça de gigantes. Nós parecíamos gafanhotos ao lado deles, tão altos e fortes eles eram!” Então todo o povo começou a chorar em altos clamores e assim ficaram durante a noite toda. E levantaram um grande coro queixando-se contra Moisés e Aarão: “Mais valia que tivéssemos morrido no Egito, ou até mesmo aqui no deserto, em vez de sermos levados para essa terra. O Senhor irá matar-nos lá; as nossas mulheres e os nossos filhos ficarão cativos como escravos. Saiamos daqui e voltemos para o Egito!” Esta ideia arrastou todo o campo. “Vamos eleger um chefe para nos levar outra vez para o Egito!”, gritavam. Então Moisés e Aarão caíram com os rostos em terra na frente do povo de Israel. Contudo, dois daqueles que tinham sido enviados a espreitar a terra, Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, tiveram outra atitude; rasgaram a roupa que vestiam, em sinal de indignação. E disseram ao povo: “Olhem que essa terra que fomos ver, que temos diante de nós, é uma região maravilhosa! Não se esqueçam de que o Senhor nos ama! Ele nos levará com toda a segurança e a terra será nossa. É extremamente fértil; pode dizer-se realmente que produz leite e mel. Não se revoltem contra o Senhor! Não tenham medo daquele povo! Nós os devoraremos, como se fossem pão. O Senhor está connosco e por isso retira-lhes todo o apoio. Sobretudo não tenham medo deles!” Contudo, a única resposta do povo foi pensar em apedrejá-los. Nessa altura, apareceu a glória do Senhor na tenda do encontro, e disse a Moisés: “Até quando me desprezará este povo? Será que nunca chegarão a acreditar em mim, mesmo depois de todos os milagres que fiz no meio deles? Vou rejeitá-los e castigá-los com uma praga. Quanto a ti, farei com que te tornes uma nação ainda mais numerosa e mais poderosa do que eles!” “ Senhor!”, suplicou Moisés, “mas que hão de dizer os egípcios quando ouvirem isso? Eles constataram todo o poder que revelaste quando resgataste o teu povo de lá. Entretanto, já contaram tudo aos habitantes da terra, os quais se dão perfeitamente conta de que estás com Israel, e que lhes apareces face a face. Veem até a coluna de nuvem e de fogo que se mantém por cima deles e sabem que os guias e proteges dia e noite. Se matares todo o teu povo, as nações que ouviram a tua fama dirão: ‘O Senhor matou-os porque não podia cuidar deles no deserto. Não foi capaz de os trazer à terra que jurou dar-lhes!’ Oh! Peço-te, Senhor! Manifesta o teu grande poder, perdoando os nossos pecados e fazendo prova do teu profundo amor para connosco. Perdoa-nos ainda que tenhas dito que não deixarás o pecado por castigar, mas que punirás a culpa dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração. Rogo-te pois que perdoes os pecados deste povo, de acordo com a tua grandeza e o teu amor autêntico, como lhe tens perdoado sempre desde que deixaram o Egito.” Então o Senhor respondeu-lhe: “Pois sim, perdoo-lhes conforme me pediste. Mas prometo solenemente pelo meu próprio nome que, tão certo como a Terra vir a encher-se com a minha glória, nenhum destes que viram a minha grandeza e os milagres que fiz, tanto no Egito como no deserto, e dez vezes quiseram experimentar-me e desobedeceram-me, nenhum deles verá sequer a terra que prometi aos seus antepassados. No entanto, o meu servo Calebe obedeceu-me inteiramente; houve nele uma atitude diferente. A ele, levá-lo-ei até à terra que foi observar, e os seus descendentes possui-la-ão. Agora pois, visto que o povo de Israel está com tanto medo dos amalequitas e dos cananeus que vivem nos vales, regressará ao deserto amanhã na direção do mar Vermelho.” O Senhor ainda disse a Moisés e a Aarão: “Até quando continuará este povo mau a queixar-se de mim? Porque ouvi tudo o que têm dito. Digam-lhes então: Tão certo como eu viver, diz o Senhor, far-vos-ei aquilo que vos ouvi declarar: Dizem que os vossos filhos haverão de tornar-se escravos do povo da terra. A eles sim, levarei com segurança para a terra e possuirão aquilo que vocês recusaram. Os vossos corpos hão de vir a cair no deserto. Até lá, vaguearão como nómadas durante 40 anos. Será dessa forma que pagarão pela vossa falta de confiança, até que o último caia morto nessa terra desabitada. Como os espias estiveram 40 dias na terra que vos ia dar, levarão 40 anos a vaguear pelo deserto; levarão um ano por cada dia o peso da culpa dos vossos pecados. Assim vos ensinarei o que significa rejeitarem-me. Eu, o Senhor, falei. Cada um dos que conspirou contra mim morrerá nesta terra deserta.” Os outros dez espias que tinham iniciado a rebelião contra o Senhor, lançando o medo nos corações do povo, desacreditando a terra, foram feridos de morte perante o Senhor. De todos os espias ficaram vivos apenas Josué e Calebe. E quando Moisés veio relatar ao povo as palavras de Deus, espalhou-se uma grande tristeza por todo o acampamento. Na manhã seguinte levantaram-se muito cedo e começaram a preparar-se para ir para a terra prometida. “Aqui estamos!”, diziam, “confessamos que pecámos; estamos prontos agora para subir ao lugar que o Senhor nos prometeu.” Contudo, Moisés respondeu-lhes: “Agora estão a desobedecer à ordem do Senhor de voltarem para o deserto. Não prossigam com o vosso plano, porque então é que seriam mesmo vencidos pelos vossos inimigos, visto que Deus já não vos apoia. Lembrem-se que presentemente estão lá os amalequitas e os cananeus que vos chacinariam! Desviaram-se do Senhor, ele desviar-se-á de vocês!” Apesar destas palavras, continuaram a subir à zona das colinas, sem que a arca da aliança do Senhor ou Moisés tivessem deixado o acampamento. Então os amalequitas que viviam nessas colinas desceram e atacaram-nos, ferindo-os e perseguindo-os até Horma. O Senhor disse a Moisés que desse as seguintes instruções ao povo de Israel: “Quando os vossos filhos viverem finalmente na terra que vou dar-lhes, e quiserem agradar ao Senhor, oferecendo-lhe um holocausto ou qualquer outra oferta pelo fogo, se os seus sacrifícios forem um animal, tomá-lo-ão dos seus rebanhos de ovelhas e de carneiros ou das suas manadas de gado. Cada sacrifício, seja um sacrifício vulgar ou o cumprimento de um voto, uma oferta voluntária ou um sacrifício especial na ocasião das solenidades anuais, será acompanhado de uma oferta de cereais. Se uma ovelha for sacrificada, usem 2,2 litros de farinha fina misturada com um litro de azeite, acompanhada de um litro de vinho como oferta. Se o sacrifício for um carneiro, usem 4,4 litros de farinha fina misturada com 1,3 litros de azeite, e 1,3 litros de vinho como oferta. Isto será um sacrifício de cheiro agradável ao Senhor. mais 1,9 litros de vinho como oferta. Isto será oferecido pelo fogo como cheiro agradável ao Senhor. O Senhor disse ainda a Moisés nesta mesma ocasião: “Dá ordens ao povo de Israel de que, quando chegarem à terra que lhes vou dar, É uma oferta anual feita da vossa eira, e deverá ser respeitada por todas as gerações futuras. Se por engano, vocês ou os vossos descendentes, falharem no cumprimento dos regulamentos que o Senhor vos tem dado durante estes anos através de Moisés, O sacerdote fará expiação por todo o povo de Israel e serão perdoados; visto que foi um engano e procuraram corrigi-lo, oferecendo um sacrifício pelo fogo perante o Senhor e um sacrifício pelo pecado. Todo o povo será perdoado, incluindo os estrangeiros que vivem no vosso meio, pois toda a população foi igualmente envolvida no mesmo erro e esquecimento. Se se tratar de um só indivíduo que errou, então deverá sacrificar uma cabra de um ano como oferta pelo pecado; o sacerdote fará expiação por ele perante o Senhor e será perdoado. Esta mesma lei se aplica também aos estrangeiros que vivem entre vocês. Mas se acontecer que alguém deliberadamente desobedeça a um mandamento, seja natural ou estrangeiro, isso é uma blasfémia ao Senhor e deverá ser expulso de entre o seu povo. Porque desrespeitou a palavra do Senhor e deliberadamente transgrediu o seu mandamento, deverá ser expulso do seu povo; será responsável pela sua culpa.” Um dia, enquanto o povo de Israel estava no deserto, um deles foi achado a apanhar lenha num dia de sábado. Foi preso e trazido à presença de Moisés, de Aarão e de todo o povo. Puseram-no sob guarda, pois não estava ainda declarado o que se deveria fazer. Então o Senhor disse a Moisés: “O homem deve morrer; todo o povo o apedrejará fora do acampamento, até que morra.” Eles assim fizeram; levaram-no para fora do acampamento e mataram-no como o Senhor ordenara. Disse o Senhor a Moisés: “Diz ao povo de Israel que faça franjas para as bainhas das suas roupas, isto deverá tornar-se um regulamento permanente por todas as gerações vindouras, e que prenda essas franjas à roupa com cordões azuis. A finalidade deste regulamento é, sempre que repararem nas franjas, lembrar-vos dos meus mandamentos e que devem obedecer às minhas leis, em vez de seguirem os desejos de andarem nos vossos próprios caminhos. Isso lembrar-vos-á de obedecerem a todos os meus mandamentos e de serem santos para o vosso Deus. Porque eu sou o Senhor, o vosso Deus, que vos trouxe da terra do Egito. Sim, eu sou o Senhor, vosso Deus.” Um dia, Coré, filho de Izar, neto de Coate e descendente de Levi, foi ter com Datã e Abirão, filhos de Eliabe, e ainda com Om, filho de Pelete, estes três últimos da tribo de Rúben, e conspiraram juntos, incitando uma quantidade de gente à revolta contra Moisés. Estiveram envolvidos 250 homens, com responsabilidades na chefia do povo. Foram ter com Moisés e com Aarão e disseram-lhes: “Já chega da vossa presunção. Vocês não são melhores do que qualquer outro. Todos em Israel são uma nação santa para o Senhor e ele está com cada um de nós. Que direito têm vocês de se porem em evidência, clamando que devemos obedecer-vos e fazer tudo como se fossem maiores do que qualquer um entre todo este povo do Senhor?” Quando Moisés ouviu isto caiu com o rosto em terra. E disse a Coré e aos que estavam com ele: “Pela manhã o Senhor vos mostrará quem é seu, quem é santo e quem é que ele escolheu para se aproximar dele. Façam isto: Tu, Coré, e os que estão contigo, tomem incensários; acendam-nos e deitem-lhes incenso perante o Senhor amanhã de manhã; veremos quem o Senhor escolheu; esse será o consagrado. Já chega da vossa presunção, filhos de Levi!” Moisés disse ainda mais isto a Coré: “Parece-vos então pouca coisa que o Deus de Israel vos tenha escolhido de entre todo o povo de Israel para estarem junto dele, trabalhando no tabernáculo do Senhor, apresentando-se perante o povo para os servir no culto? Será que de nada vale que vos tenha dado esta tarefa só a vocês, os levitas? E agora pretendem também o sacerdócio? Porque é isto, afinal, que vocês realmente procuram! É por isso que se revoltam contra Senhor! Que vos fez Aarão para não estarem satisfeitos com ele?” Moisés mandou ainda chamar Datã e Abirão, os filhos de Eliabe, mas eles recusaram vir. “E tu também achas pouco”, retorquiram com azedume, “que nos tenhas tirado duma terra onde jorra leite e mel, para nos matares aqui neste deserto terrível, e que queiras agora tornar-te nosso rei? Para além disso, nunca chegaste a levar-nos para a tal bela terra que nos prometeste, onde jorra leite e mel, nem nos deste campos e vinhas por herança. Quem queres tu enganar? Não, não vamos ter contigo!” Moisés estava extremamente indignado e disse ao Senhor: “Não aceites os seus sacrifícios! Tu sabes que nunca tirei um só jumento que fosse deles, que nunca os prejudiquei.” E disse a Coré: “Vem aqui amanhã à presença do Senhor com os que te acompanham. Aarão estará também aqui. Não se esqueçam de trazer os vossos incensários e o incenso; um incensário para cada um, ou seja, 250 ao todo. Aarão trará também o seu.” Eles assim fizeram. Vieram com os incensários, acenderam-nos, puseram-lhes o incenso e colocaram-se à entrada da tenda do encontro, com Moisés e com Aarão. Entretanto, Coré já tinha sublevado toda a nação contra Moisés e Aarão, pelo que toda a gente se juntou para ver. Então a glória do Senhor apareceu a todo o povo, e o Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Afasta-te dessa multidão, para que possa destruí-los num instante!” Mas Moisés e Aarão caíram com os seus rostos em terra: “Ó Deus, Deus de toda a humanidade”, rogaram, “deverá a tua cólera cair sobre todos, quando afinal o pecado foi de um só?” Então o Senhor respondeu-lhe: “Diz ao povo que se afaste das tendas de Coré, Datã e Abirão.” Moisés correu para as tendas deles, seguido de perto pelos anciãos de Israel. “Depressa”, gritou para o povo, “afastem-se das tendas destes homens malvados, e nem sequer toquem seja no que seja que lhes pertença, para que não se identifiquem com os seus pecados e sejam destruídos com eles!” O povo afastou-se das tendas dos três homens indicados. Datã e Abirão saíram das suas tendas e ficaram de pé, à entrada, juntamente com as mulheres, os filhos e as criancinhas. Moisés disse: “Agora hão de ver que foi o Senhor quem mandou fazer tudo o que eu fiz; que não foi por minha própria vontade. Se estas pessoas morrerem de morte natural, ou por algum mero acidente ou por doença, então o Senhor não me enviou. Mas se o Senhor fizer um milagre, e se o chão se abrir e os tragar, a eles assim como tudo o que lhes pertence, e descerem vivos ao mundo dos mortos, então ficarão a saber dessa forma que estes homens rejeitaram o Senhor.” Mal tinha acabado de dizer isto quando o chão se abriu de repente debaixo deles, e uma grande fenda os tragou, juntamente com as tendas, as suas famílias e amigos que estavam com eles, além de todas as coisas que eram deles. Foram sepultados vivos e a terra fechou-se de novo sobre eles. Morreram portanto dessa forma. Todo o povo de Israel fugira com os gritos, temendo serem também tragados pela terra. A seguir, veio fogo do céu, da parte de Senhor, e queimou os 250 homens que ofereciam incenso. O Senhor disse a Moisés: “Diz a Eleazar, filho de Aarão, o sacerdote, que tire esses incensários do fogo; porque são santos, foram dedicados a mim. Deverá também espalhar o incenso que arde nos incensários daqueles homens que pecaram, e que por isso perderam a vida. Com os incensários façam chapas e estendam-nas sobre o altar, visto que os incensários são santos por terem sido usados perante o Senhor. Essas chapas no altar servirão de lembrança ao povo de Israel.” Eleazar o sacerdote pegou então nos 250 incensários de bronze e fez com eles folhas de metal para cobrir o altar, para que o povo de Israel não se esquecesse mais de que ninguém está autorizado, ninguém que não seja descendente de Aarão, a vir perante o Senhor queimar incenso, sob o risco de lhe acontecer a mesma coisa que a Coré e aos seus seguidores. Assim foram cumpridas as direções dadas a Moisés pelo Senhor. No entanto, logo na manhã seguinte, todo o povo começou de novo a murmurar contra Moisés e Aarão dizendo: “Mataram o povo do Senhor!” Em breve começou a formar-se um grande levantamento. A certa altura, dirigiram-se contra a tenda do encontro e logo apareceu a nuvem; e toda a gente viu a tremenda glória do Senhor. Moisés e Aarão chegaram-se, puseram-se à entrada da tenda do encontro, e o Senhor disse a Moisés: “Afasta-te desse povo, para que possa destruí-los já.” Mas ambos caíram com os rostos em terra. E Moisés disse a Aarão: “Depressa, traz um incensário, acende-o com fogo do altar, põe nele incenso e leva-o rapidamente pelo meio do povo para fazer expiação por eles; porque já a cólera do Senhor está a atuar; a praga já começou a atingi-los!” Aarão fez como Moisés lhe dissera; correu por entre o povo, visto que se estava a espalhar a praga, e com o incenso no incensário fez expiação por eles. Colocou-se entre os mortos e os vivos e a praga cessou; contudo ainda morreram 14 700 pessoas, além das que tinham perecido antes, aquando da rebelião de Coré. Então Aarão regressou até junto de Moisés à entrada da tenda do encontro. Foi assim que a praga terminou. Então o Senhor falou o seguinte a Moisés: “Diz ao povo de Israel que cada chefe de tribo deverá trazer uma vara de madeira com o seu próprio nome escrito nela. Na vara da tribo de Levi escrever-se-á o nome de Aarão, pois cada vara representa o chefe duma tribo. Ponham estas varas na divisão interior da tenda do encontro, para além do véu, onde eu me encontro contigo, em frente do testemunho. Servir-me-ei destas varas para identificar o homem que eu escolhi, pois a sua vara dará rebentos e florescerá, para que parem enfim as murmurações e as lamentações contra vocês.” Moisés transmitiu estas indicações ao povo e cada um dos doze chefes, incluindo Aarão, trouxe a sua vara. Pô-las perante o Senhor, na divisão interior onde estava o testemunho. E quando no dia seguinte tornou a entrar ali verificou que a vara de Aarão, representando a tribo de Levi, tinha dado rebentos, produzira flores e até amêndoas. Moisés trouxe para fora as varas que estavam diante do Senhor e mostrou-lhas. Cada um tornou a pegar na sua. O Senhor disse a Moisés que colocasse a vara de Aarão junto da arca do testemunho, como lembrança daquela rebelião. Ele deveria trazê-la de novo para fora e mostrá-la ao povo, no caso de haver ainda qualquer movimento contra a autoridade de Aarão; isto evitaria outra catástrofe entre o povo. Moisés fez conforme a ordem do Senhor. Mas o povo continuava: “Acabaremos todos por ser liquidados!”, gemiam eles. “Seja quem for que tente aproximar-se do tabernáculo morre. Iremos todos ser consumidos?” Por isso, o Senhor disse ainda o seguinte a Aarão: “Tu, teus filhos e a tua família são responsáveis por qualquer profanação que se faça no santuário, assim como por toda a incorreção no exercício do vosso serviço sacerdotal. Os teus irmãos, da tribo de Levi, serão os teus assistentes; mas só tu e os teus filhos poderão cumprir os deveres sagrados diante da tenda do testemunho. Não te esqueças de que apenas os sacerdotes deverão cumprir as tarefas sagradas dentro do santuário e em relação com o altar. Se seguires estas ordens, nunca o meu juízo cairá outra vez sobre seja quem for do povo de Israel, e a minha lei não será violada. Só os teus parentes levitas podem ajudar-te no serviço da tenda do encontro. São para ti como um dom do Senhor. Mas tu e os teus filhos, os sacerdotes, executarão pessoalmente o serviço sagrado, incluindo o do altar e tudo o que diz respeito ao interior do véu; o sacerdócio é o vosso serviço especial. Um estranho que tentar realizar essas tarefas deverá morrer.” O Senhor acrescentou ainda as seguintes instruções: “Dei aos sacerdotes todas as dádivas que me foram trazidas pelo povo; todas estas ofertas a mim apresentadas, num gesto balanceado perante o altar, pertencem a ti e aos teus filhos; é uma lei para sempre. As ofertas de cereais, as ofertas por causa do pecado, assim como as de culpa, são vossas, com exceção do que me é apresentado, queimando no altar; isso deve ser comido só no lugar santíssimo e unicamente por homens. Todos os outros presentes que me forem trazidos, com um gesto de apresentação cerimonial perante o altar, são para vocês, para os vossos filhos e filhas. Porque todos os membros das vossas famílias podem comer disso, a menos que alguém se encontre ritualmente impuro nessa ocasião. Também são para vocês os primeiros frutos que o povo vier oferecer ao Senhor, o melhor do azeite, do vinho novo, do grão e de todas as outras colheitas. As vossas famílias poderão comer disso, a não ser que se encontrem cerimonialmente impuros nessa altura. Assim, tudo o que for dedicado ao Senhor será vosso, incluindo os primogénitos dos casais do povo de Israel e ainda as primeiras crias dos animais. Todavia os primogénitos dos casais do povo de Israel, e também dos animais impuros, que não vos permito comer, desses nunca aceitarão os primeiros nascidos, esses serão redimidos. Em vez deles, haverá um pagamento de 58 gramas de prata, que deverá ser trazido quando já tiverem um mês. No entanto, os primeiros nascidos das vacas, das ovelhas ou das cabras não deverão ser resgatados, mas antes sacrificados ao Senhor. O seu sangue será aspergido sobre o altar e a gordura ardida como oferta queimada. É algo muito agradável ao Senhor. A carne destes animais será vossa, incluindo o peito e a coxa direita, que são apresentados ao Senhor com um gesto de apresentação cerimonial em frente do altar. Sim, dei-te todas estas ofertas de movimento, que o povo de Israel traz ao Senhor; são para ti, e para os teus, como alimento. Isto é uma aliança eterna selada com sal que o Senhor faz contigo e com os teus descendentes.” O Senhor disse a Aarão: “Vocês, os sacerdotes, não possuirão qualquer propriedade, nem qualquer outro rendimento, porque eu sou tudo aquilo de que precisam. Quanto à tribo de Levi, vossos familiares receberão em troca dos seus serviços na tenda do encontro, os dízimos de toda a terra de Israel. E assim os israelitas não mais se aproximarão da tenda do encontro; pois se o fizerem cometerão pecado e morrerão. Somente os levitas poderão exercer ali a sua atividade; tornar-se-ão também eles culpados, se não a cumprirem. Portanto, os levitas não possuirão quaisquer propriedades em Israel; isto é uma lei a vigorar permanentemente entre vós, porque os dízimos do povo, oferecidos ao Senhor perante o altar, pertencer-lhes-ão; será isso a parte a que têm direito; é por essa razão que não necessitarão de ter a posse de qualquer propriedade.” Disse o Senhor a Moisés: “Diz aos levitas que deem ao Senhor a décima parte dos dízimos que recebem; esse dízimo dos dízimos deverá ser apresentado ao Senhor perante o altar. Será considerada como se viesse de terras vossas, dos vossos próprios lagares. Aarão, seus filhos e famílias podem comer isso nas suas casas ou onde desejarem, porque é a compensação que recebem pelo serviço executado na tenda do encontro. Vocês, os levitas, não serão tidos por culpados ao aceitarem os dízimos se deles derem também o dízimo aos sacerdotes. Mas tenham cuidado em não tratar esses donativos sagrados do povo de Israel como coisas vulgares, porque se assim acontecer, morrerão.” O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Diz ao povo de Israel que tragam uma novilha ruiva, sem defeito, que nunca tenha recebido jugo. Deem-na a Eleazar, o sacerdote, que a levará para fora do acampamento; aí alguém a matará na sua frente. Eleazar tomará do seu sangue com os dedos e o aspergirá sete vezes na frente da tenda do encontro. Depois alguém queimará a novilha, fazendo arder a pele, a carne, o sangue e os intestinos, também à vista dele. Eleazar pegará num pau de cedro, num ramo de hissopo, num fio de carmesim e lançará tudo nesse fogo. Depois deverá lavar a roupa que veste, lavar-se e voltar para o acampamento, considerando-se impuro até ao final da tarde. Aquele que queimou o animal também deve lavar a roupa, tomar banho e considerar-se impuro até à noite. Outra pessoa que não esteja impura juntará as cinzas da novilha e pô-las-á num lugar limpo fora do acampamento, onde serão conservadas como reservas de preparação das águas para as cerimónias de purificação, para tirar o pecado. Aquele que tiver juntado as cinzas da novilha terá de lavar a sua roupa e ter-se-á por impuro até ao fim do dia. Isto é um regulamento permanente para benefício do povo de Israel, assim como também dos estrangeiros que vivam no meio deles. Alguém que tocar num morto será impuro por sete dias, e deverá purificar-se ao terceiro e ao sétimo dia com a água referida anteriormente; e só então ficará limpo. Se não fizer isto ao terceiro dia, continuará impuro até depois do sétimo. Portanto, alguém que tocar num morto e não se purificar da forma indicada estará a manchar o próprio tabernáculo do Senhor, e terá de ser excomungado de Israel. A água de purificação não foi aspergida sobre ele, por isso continua a estar imundo. Quando uma pessoa morrer na sua tenda, há vários regulamentos a observar. Se alguém estiver lá dentro, ou entrar lá nessa altura, ficará impuro durante sete dias. Também todo o recipiente que ali se encontrar que não esteja tapado ficará imundo. Se um indivíduo fora no campo tocar no cadáver de alguém que tenha morrido, combatendo ou doutra maneira qualquer, ou mesmo que tenha tocado apenas no osso dum esqueleto ou numa sepultura ficará impuro por sete dias. Para tornar a purificar-se, terá de juntar, num vaso em que haja água duma fonte natural, as cinzas da bezerra queimada oferecida por expiação do pecado. Depois alguém que esteja puro tomará ramos de hissopo, mergulhá-los-á na água e salpicará a tenda, os recipientes e as pessoas que se tornaram imundas, por lá terem entrado na ocasião da morte, ou por terem tocado em alguém que foi morto ou que morreu de qualquer outra maneira, ou que tenha tocado num sepulcro. Isto terá lugar no terceiro e no sétimo dia; então a pessoa impura terá de lavar a roupa que veste e tomar banho; nessa tarde ficará então livre da impureza. Mas se alguém que se tornou impuro nada fizer para se purificar, será expulso porque manchou o santuário do Senhor; não deu ocasião a que a água da purificação fosse aspergida sobre si, por isso permanece imundo. Isto é uma lei para sempre. O homem que salpicar com essa água deverá posteriormente lavar a sua roupa; e quem tocar nessa água também ficará impuro até à noite. Tudo em que uma pessoa impura tocar ficará igualmente impuro até ao final da tarde.” O povo de Israel chegou ao deserto de Zim no primeiro mês do ano e acampou em Cades. E aconteceu que Miriam morreu e foi ali sepultada. Ora não havia água bastante para beberem naquele lugar, por isso o povo novamente se rebelou contra Moisés e Aarão, juntando-se em protesto. “Teria valido muito mais que tivéssemos perecido com os nossos irmãos castigados pelo Senhor!”, gritaram eles para Moisés. “Trouxeram-nos deliberadamente para este deserto para se verem livres de nós e do nosso gado. Por que razão nos tiraram do Egito e fizeram vir para este sítio horrível? Onde está essa tal terra tão fértil, de frutos maravilhosos, com aqueles figos, vinhas e romãs de que nos falaram? Aqui nem sequer há água bastante para matarmos a sede!” Moisés e Aarão afastaram-se e foram até à entrada da tenda do encontro, onde se inclinaram até ao chão. A glória do Senhor apareceu-lhes, e disse a Moisés: “Vai buscar a vara. Convoquem os dois o povo e à vista deles falem à rocha que ali está e digam-lhe para deixar jorrar água. Eles beberão água dessa rocha que será suficiente para os saciar a eles e ao gado!” Moisés obedeceu. Foi buscar a vara ao lugar, onde estava guardada na presença do Senhor. Depois convocaram o povo e juntaram-no perto da rocha, dizendo: “Ouçam, vocês, rebeldes! Iremos tirar água desta rocha?” Moisés levantou depois a vara e bateu duas vezes na rocha, tendo a água imediatamente jorrado. O povo e o gado puderam beber à vontade. Mas o Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Visto que não creram em mim e não me santificaram aos olhos do povo de Israel, não serão vocês a introduzi-los na terra que lhes prometi!” Este lugar passou a chamar-se Meribá (contenda), porque o povo de Israel contendeu com o Senhor que lhes mostrou ser santo. Enquanto se encontrava em Cades, Moisés enviou mensageiros ao rei de Edom com esta declaração: “Somos descendentes do teu irmão Israel. Sabes já a nossa atribulada história. Os nossos antepassados desceram para o Egito e lá ficaram muito tempo, onde os egípcios os maltrataram. No entanto, quando clamámos ao Senhor, ele ouviu-nos e mandou o seu anjo que nos tirou do Egito; agora estamos aqui em Cades, acampados perto das fronteiras da tua terra. Pedimos-te, por isso, que nos deixes atravessar o teu país. Seremos cuidadosos; não pisaremos terra cultivada, nem iremos pelas vinhas; nem sequer pretendemos beber a água das tuas fontes. Limitar-nos-emos ao caminho principal e não o deixaremos até que tenhamos atravessado a fronteira do outro lado.” Contudo, a resposta do rei de Edom foi: “Não autorizo! Se tentarem entrar na minha terra irei ao vosso encontro com o meu exército!” Os embaixadores de Israel protestaram: “Mas senhor, nós apenas pretendemos passar pela entrada principal e nem da água dos poços queremos beber, a não ser pagando aquilo que nos pedirem. Só queremos passar para o outro lado da fronteira.” Mas o rei foi intransigente. “Mantenham-se afastados!” E fazendo mobilizar o exército, deslocou para a fronteira uma grande força militar. Por causa dessa recusa de Edom em deixar Israel passar pela sua terra, foram obrigados a voltar para trás, indo de Cades até ao monte Hor. Então o Senhor disse a Moisés e a Aarão, perto ainda da terra de Edom: “Chegou o tempo de Aarão morrer, pois não deverá entrar na terra que dei ao povo de Israel, em consequência de os dois terem alterado as minhas ordens quanto à água em Meribá. Tu, Moisés, levarás Aarão e o seu filho Eleazar até ao cimo do monte Hor; ali tirarás as vestes sacerdotais a Aarão e as vestirás a Eleazar, o seu filho. Aarão será recolhido e ali morrerá.” Moisés fez conforme o Senhor lhe ordenara. Os três subiram juntos ao monte Hor, à vista de toda a gente. Quando chegaram ao cimo, Moisés tirou as vestes sagradas a Aarão, vestiu-as a Eleazar, seu filho, e Aarão morreu sobre o monte. Moisés e Eleazar regressaram. O povo, ao ser informado da morte de Aarão, chorou-o por trinta dias. Quando o rei cananeu de Arade, que habitava no Negueve, ouviu que os Israelitas se estavam a aproximar e que vinham pelo caminho de Atarim, mobilizou as suas forças militares e atacou Israel, fazendo alguns prisioneiros. Então o povo prometeu ao Senhor que, se ele os ajudasse a vencer o rei de Arade e o seu povo, haveriam de aniquilar completamente todas as cidades daquela área. O Senhor atendeu ao seu pedido; os cananeus foram completamente derrotados e as suas cidades destruídas. O nome daquela região ficou a ser Horma (destruição). O povo de Israel voltou para o monte Hor e dali continuou para o sul, pelo caminho do mar Vermelho, para contornar a terra de Edom. O povo estava muito desencorajado, e começaram a lamentar-se contra Deus e a murmurar contra Moisés: “Porque é que nos tiraram do Egito para virmos morrer neste deserto? Não há nada para comer aqui, nada para beber, e já aborrecemos este insípido maná!” Então o Senhor mandou serpentes venenosas para os castigar; muitos foram mordidos e morreram. O povo chegou-se a Moisés e exclamou: “Pecámos, porque falámos contra o Senhor e contra ti. Ora ao Senhor para que afaste estas serpentes.” Moisés orou pelo povo. O Senhor disse-lhe: “Faz uma imitação em bronze, de uma dessas serpentes, e põe-na no alto duma vara; quem quer que tenha sido mordido ficará vivo, se simplesmente olhar para ela!” Moisés assim fez, e todos os que eram mordidos pelas serpentes e olhavam para a serpente de bronze, salvavam-se. Israel deslocou-se a seguir para Obote e acampou ali. Depois continuaram para Ié-Abarim, no deserto, a curta distância de Moabe, do lado nascente. Dali foram para o vale do ribeiro de Zerede e acamparam. Em seguida, mudaram-se para a outra banda do rio Arnom, que faz a fronteira entre os moabitas e os amorreus. Este facto está mencionado no Livro das Guerras do Senhor: “Vaeb em Sufá, e os afluentes, o vale do rio Arnom e a margem dos seus afluentes que se estendem para os lados de Ar e chegam até à fronteira de Moabe.” A deslocação seguinte foi para Beer. Este é o poço onde o Senhor disse a Moisés. “Convoca o povo e dar-lhe-ei água.” Esse acontecimento está descrito nesta canção que o povo canta: “Jorra, ó poço! Cantem a canção da água! Este é o poço que abriram os chefes. Foi escavado pelos nobres, pelos legisladores com as suas varas.” Depois deixaram o deserto e continuaram para Mataná; daí para Naaliel e em seguida para Bamote. Daqui foram para o vale do planalto de Moabe, sobranceiro ao deserto, donde se avista à distância o monte Pisga. Israel mandou daí embaixadores a Siom, rei dos amorreus: “Deixa que nos desloquemos através da tua terra. Não nos desviaremos do caminho principal até que tenhamos atingido a fronteira oposta. Não pisaremos os teus campos, nem tocaremos nas tuas vinhas, nem sequer da tua água provaremos.” Mas o rei Siom recusou. Mandou mesmo mobilizar o seu exército, veio ao encontro de Israel no deserto e atacou-o em Jaaz. Israel derrotou-os passando-os ao fio da espada, ocupando-lhes as terras, desde o rio Arnom até ao rio Jaboque, mesmo até às fronteiras dos amonitas; pararam aí, porque a fronteira era fortificada. Foi assim que Israel capturou todas as cidades dos amorreus e viveu nelas, incluindo a cidade de Hesbom que tinha sido a capital do rei Siom. Derrotou um anterior rei moabita e apropriou-se de todo o seu território até ao rio Arnom. Os antigos poetas referiram-se ao rei Siom neste poema: “Venham até Hesbom, capital do rei Siom, Reedifiquem-na e estabeleçam-na de novo. Porque fogo saiu dali e devorou a cidade de Ar, de Moabe, e destruiu os governantes das altura de Arnom. Ai de ti, Moabe! Estás perdido, povo de Quemós. Os seus filhos fugiram e as suas filhas foram capturadas pelo rei Siom dos amorreus. Nós os derrotámos completamente; Hesbom ficou destruída até Dibom; nós os devastámos até Nofá e até Medeba.” Enquanto Israel esteve a viver na terra dos amorreus, Moisés enviou espias para observar a área de Jazer e conquistaram todas as cidades, expulsando os amorreus. Depois disso, voltaram a atenção contra a cidade de Basã. Mas o rei Ogue, dessa cidade, mais o seu exército, saiu contra eles em Edrei. O Senhor disse a Moisés para não os temer, porque lhes garantia antecipadamente a vitória sobre esses inimigos: “Acontecerá ao rei Ogue o mesmo que se deu com Siom, rei dos amorreus, em Hesbom.” E foi precisamente assim, de maneira que não ficou vivo um só dos inimigos. E Israel ocupou aquela terra. O povo de Israel passou depois pelas planícies de Moabe e veio acampar a oriente do rio Jordão, em frente de Jericó. Quando o rei Balaque de Moabe, filho de Zípor, soube o que tinham feito aos amorreus, e verificou como eram numerosos, ele e o seu povo ficaram aterrorizados. E foram consultar apressadamente os anciãos de Midiã. “Esta multidão vai tragar-nos tal como os bois comem a erva!”, exclamavam. O rei Balaque, filho de Zípor, enviou mensageiros a Balaão, filho de Beor, que vivia na sua terra natal, em Petor, perto do rio Eufrates, para lhe pedir que viesse ajudá-lo. “É uma gente que chegou do Egito. Cobrem toda a face da terra e estabeleceram-se perto de mim. O rei pede-te que venhas e que os amaldiçoes por nós, para que os vejamos desviarem-se da terra; porque sabemos bem como caem bênçãos sobre aqueles que tu abençoas, e também sabemos que aqueles que amaldiçoas são amaldiçoados.” Os mensageiros eram alguns dos anciãos de Moabe e de Midiã; tinham ido ter com Balaão com dinheiro na mão, explicando-lhe o que Balaque pretendia. “Passem aqui a noite”, disse Balaão. “Pela manhã vos direi aquilo que o Senhor me mandar responder-vos.” E assim fizeram. Naquela noite Deus veio até Balaão e perguntou-lhe: “Quem são estes homens?” “Vieram da parte do rei Balaque, de Moabe”, respondeu. “O rei diz que um vasto bando de povo do Egito se chegou até junto da sua fronteira, e agora quer que eu vá e os amaldiçoe, na esperança de poder travar batalha com aquela gente e expulsá-los.” “Tu não farás isso”, disse-lhe Deus. “Não irás amaldiçoá-los porque sou eu quem os abençoa.” Na manhã seguinte Balaão disse-lhes: “Podem regressar. O Senhor não me deixa ir.” Os delegados do rei Balaque retornaram e comunicaram o recado que traziam. Mas Balaque tentou novamente. Desta vez mandou um número maior de embaixadores, todos de mais alta categoria social do que o primeiro grupo. Vieram até Balaão com esta mensagem: “O rei Balaque, filho de Zípor, pede-te que venhas. Promete-te grandes honras e ainda todo o dinheiro que quiseres pedir-lhe. É só dizeres quanto queres! A questão é que venhas e amaldiçoes esta gente.” Mas Balaão retorquiu-lhes: “Nem mesmo que me desse um palácio cheio de prata e ouro eu poderia alguma coisa contra o mandamento do Senhor, meu Deus. Contudo, fiquem aqui esta noite, para que possa saber se o Senhor acrescentará alguma coisa àquilo que já me disse antes.” Nessa noite, Deus falou a Balaão: “Levanta-te e vai com eles, mas tem cuidado em dizer unicamente o que eu te mandar.” Dessa forma, na manhã seguinte, albardou a sua jumenta e partiu com os chefes de Moab. Mas Deus estava zangado com Balaão; por isso, mandou o anjo do Senhor para se pôr no seu caminho e matá-lo. Enquanto Balaão e os dois criados seguiam cavalgando pela estrada, a jumenta de Balaão viu o anjo do Senhor em pé no caminho, com a espada desembainhada, e saiu pelo campo. Balaão bateu-lhe e trouxe-a de novo para o caminho. Mas o anjo do Senhor pôs-se mais adiante num sítio onde se passava entre as paredes de duas vinhas. Quando a jumenta o viu de novo ali procurou passar muito rente a um dos muros, apertando de tal maneira o pé de Balaão que ele tornou a bater-lhe. Ora o anjo do Senhor foi pôr-se ainda mais à frente num lugar tão estreito que a jumenta ali não podia passar mesmo. Por isso, baixou-se e ali ficou. Balaão ficou furioso e espancou-a com o bordão. Então o Senhor fez com que a jumenta falasse e dissesse: “O que é que te fiz para que me espanques já por três vezes?” “Porque tens estado a brincar comigo!” gritou-lhe Balaão. “Só queria ter aqui uma espada, que te matava já.” Porém, a jumenta disse a Balaão: “Eu sou a tua jumenta, que tens montado sempre, até hoje. Alguma vez fiz isto contigo anteriormente?”, perguntou a jumenta. “Não!”, admitiu ele. Então o Senhor deixou que os olhos se lhe abrissem e viu o anjo do Senhor no meio do caminho com a espada desembainhada; logo se inclinou até ao chão perante ele. “Porque é que por três vezes bateste na tua jumenta?”, perguntou-lhe o anjo do Senhor. “Eu vim aqui para te deter, porque o teu caminho é perverso diante de mim. A jumenta por três vezes me viu e procurou desviar-se; se assim não tivesse sido, certamente te teria morto e ela teria sido poupada.” Então Balaão confessou: “Pequei. Não me dei conta que estavas aí. Se não queres que vá, volto agora mesmo para casa.” Mas o anjo do Senhor disse-lhe: “Não, vai então com esses homens, mas dirás apenas o que eu te disser.” Assim, Balaão continuou o caminho com os outros. Quando o rei Balaque ouviu que Balaão vinha a caminho, deixou a capital e saiu a encontrar-se com ele junto ao rio Arnom na fronteira da sua terra. “Porque demoraste tanto em vir?”, perguntou-lhe o rei. “Não acreditaste em mim quando te prometi grandes honrarias?” Balaão respondeu-lhe: “Eu vim, sim, mas não tenho poder para dizer senão exclusivamente o que Deus me mandar proferir. Só isso falarei.” Balaão acompanhou o rei até Quiriate-Huzote, onde este sacrificou bois e cordeiros, tendo dado também animais para Balaão e os embaixadores sacrificarem, por sua vez. Na manhã seguinte Balaque levou Balaão até ao cimo do monte Bamote-Baal, do qual se podia ver parte do povo de Israel espalhado lá em baixo. Balaão disse para o rei: “Levanta sete altares aqui e prepara sete novilhos e sete carneiros para serem sacrificados.” Balaque fez como este lhe dissera e foi sacrificado em cada altar um novilho e um carneiro. Então Balaão disse para o rei: “Fica aqui junto do holocausto e verei se o Senhor vem ao meu encontro. O que ele me disser, comunicar-to-ei.” Depois foi a um sítio mais elevado; lá Deus encontrou-se com ele e Balaão disse-lhe: “Preparei sete altares e sacrifiquei um novilho e um carneiro em cada um.” E o Senhor comunicou-lhe a mensagem que deveria transmitir a Balaque. Quando Balaão regressou, o rei estava de pé ao lado dos holocaustos, com todos os altos conselheiros de Moabe. Esta foi a mensagem que Balaão lhe trouxe: “O rei Balaque, rei de Moabe, trouxe-me aqui desde a terra de Aram, desde as montanhas lá do oriente. ‘Vem’, disse, ‘amaldiçoa-me Jacob!’ Como poderei eu amaldiçoar o que Deus não amaldiçoou? Como detestarei um povo que o Senhor não condena? Estou a vê-lo do alto do monte, observo-os do cimo da montanha. Este povo é separado das outras gentes; quer viver sem se misturar com outros, com outras nações. Quem contou os grãos de pó de Jacob ou enumerou a quarta parte de Israel? Se ao menos eu pudesse morrer tão feliz como morre um justo! Se o meu fim pudesse ser como o deles!” “Mas o que é que me fizeste?”, exclamou o rei Balaque. “Disse-te para amaldiçoares os meus inimigos e acabaste por abençoá-los!” Mas Balaão replicou: “Posso eu falar seja o que for que o Senhor não me mande dizer?” Então Balaque tentou novamente: “Vem comigo a outro lugar; dali verás apenas uma parte de Israel: amaldiçoa ao menos só esses que vires!” Então Balaque trouxe Balaão até aos campos de Zofim, subiu ao monte Pisga, levantou sete altares e ofereceu um novilho e um carneiro em cada um. Balaão tornou a dizer ao rei: “Fica aqui, junto dos holocaustos, enquanto vou ali encontrar-me com o Senhor.” E de novo o Senhor veio ter com Balaão e lhe disse o que devia proferir. Por isso, regressou até onde estava o rei e os conselheiros moabitas, ao lado dos holocaustos. “Que foi que te disse o Senhor?”, perguntou o rei ansioso. E a sua resposta foi: “Levanta-te, Balaque, e ouve. Escuta-me tu, filho de Zípor. Deus não é um homem para que possa mentir. Ele não muda de intenções como fazem os seres humanos. Alguma vez ele prometeu uma coisa sem que tenha cumprido o que disse? Ouve! Recebi ordem para os abençoar, porque é Deus mesmo quem abençoa, e não seria eu quem poderia alterar tal coisa! Ele não vê desgraça em Jacob; nem contemplará algum sofrimento em Israel. O Senhor, o seu Deus, está com eles. Ele é aclamado como seu Rei! Deus o tirou do Egito. Israel tem a força de um boi selvagem. Não há maldição que possa ser lançada sobre Jacob. Não há encantamento que consiga virar-se contra Israel. Porque desde agora será dito de Jacob e de Israel: ‘Quantas maravilhas Deus fez por eles!’ Este povo levanta-se com o impulso de uma leoa. Não descansarão enquanto não tiverem devorado a presa toda, e enquanto não tiverem bebido todo o sangue!” “Ao menos, já que não os amaldiçoas, não os abençoes!”, exclamou o rei. Mas ele replicou-lhe: “Não te disse eu que havia de falar apenas o que o Senhor me dissesse?” Então Balaque insistiu: “Vou levar-te ainda para outro lugar. Talvez Deus te deixe amaldiçoá-los ali.” Balaque levou Balaão para o cimo do monte Peor, sobranceiro ao deserto. Balaão disse ao rei para construir sete altares e para sacrificar sete novilhos e sete carneiros. Balaque fez conforme essa indicação e ofereceu os animais nos altares como anteriormente. Balaão viu bem que os planos do Senhor eram de abençoar Israel. Por isso, nem sequer foi desta vez procurar adivinhá-los, como fizera antes. Em vez disso, voltou-se logo para o deserto. Olhou para os israelitas, que se encontrava lá em baixo, distribuído pelas suas áreas tribais. E o Espírito de Deus veio sobre ele, declarando esta profecia a respeito do povo: “Balaão, filho de Beor, o homem que tem os olhos abertos, que ouve a palavra de Deus, e que tem a visão da parte do Todo-Poderoso. Inclina-se até ao chão, mas tem os olhos abertos: Oh! Que alegrias esperam por Israel, que contentamentos haverá nos lares de Jacob! Vejo-os espalhados diante de mim como vales verdes, como jardins verdejantes à beira de rios, como aloés plantadas pelo próprio Senhor, como cedros junto à fonte de água. A água corre dos reservatórios deste povo, e com a água, as searas produzirão muito. O seu rei revelar-se-á como sendo bem maior do que Agague. O seu reino será exaltado. Deus os tirou do Egito. Israel tem o poder de um boi selvagem. Devorará as nações que se lhe opuserem, esmigalhará os seus ossos em pó, crivá-los-á de flechas. Ali está Israel descansando como um leão, como uma leoa: Quem ousará perturbá-lo? Abençoado será quem te abençoar, ó Israel, e maldito quem te amaldiçoar!” O rei Balaque estava cheio de cólera. Brandindo os punhos cerrados de fúria, gritou: “Eu chamei-te para amaldiçoares os meus inimigos e afinal acabas por abençoá-los já por três vezes! Fora daqui! Vai lá para donde vieste! Tinha planeado elevar-te a um cargo de grande honra, mas o Senhor privou-te desse privilégio!” Balaão replicou: “Não disse eu aos teus delegados que mesmo que me dessem um palácio cheio de ouro e prata, não poderia ir além das palavras do Senhor? Não poderia dizer uma só palavra da minha lavra. Sim, vou com certeza regressar para donde vim, para a minha terra. Mas primeiro deixa-me dizer-te o que os israelitas vão fazer ao teu povo futuramente.” E disse-lhe mais esta profecia: “Balaão, o filho de Beor, é o homem cujos olhos estão abertos, que ouve as palavras de Deus, que conhece os pensamentos do Altíssimo, que tem a visão da parte do Todo-Poderoso, que se inclina até ao chão e cujos olhos estão abertos: Vejo o futuro de Israel, vejo bem longe o seu trilho. Há de aparecer uma estrela vinda de Jacob! O governante de Israel esmigalhará o povo de Moabe, e destruirá os filhos de Sete. Israel virá a possuir todo o Edom e Seir. Eles vencerão os seus inimigos. De Jacob erguer-se-á um que na sua força acabará com os sobreviventes da capital.” Em seguida, Balaão virou-se para Amaleque e profetizou ainda: “Amaleque foi o primeiro das nações, mas o seu destino será a destruição!” Depois, referindo-se aos queneus disse: “Sim, estás situada num sítio com toda a segurança, o teu ninho está posto sobre as rochas! Mas os queneus serão também destruídos e o poderoso exército do rei da Assíria te levará para longe desta terra!” E concluiu assim estas profecias: “Ai de nós! Quem poderá viver quando é Deus quem faz estas coisas? Virão até barcos das costas de Chipre, que oprimirão tanto Eber como a Assíria. Também eles hão de ser destruídos.” Desta forma, se separaram Balaão e Balaque e regressaram cada um ao seu lugar. Enquanto Israel estava acampado em Sitim, alguns dos homens do povo começaram a juntar-se com as raparigas moabitas. Estas, por sua vez, também os convidavam para os sacrifícios aos seus deuses e em breve os homens não só assistiam aos festejos como até já se inclinavam em adoração perante aqueles ídolos. Portanto, Israel tornou-se ligado a Baal-Peor, o deus de Moabe. E a cólera do Senhor acendeu-se contra o seu povo. Por isso, deu a seguinte ordem a Moisés: “Executa todos os chefes de tribo de Israel. Enforca-os em plena luz do dia, para que a cólera do Senhor se retire deles.” E assim Moisés ordenou aos juízes que executassem todos os que tinham adorado a Baal-Peor. Contudo, um dos homens israelitas trouxe uma rapariga midianita para o acampamento, ali mesmo diante dos olhos de Moisés e de todo o povo, enquanto choravam à porta da tenda do encontro. Fineias, filho de Eleazar e neto de Aarão, perante isto, avançou do sítio em que se encontrava, pegou numa lança, correu para a tenda daquele homem, para onde já tinha levado entretanto a rapariga, e atravessou-os a ambos com a lança a qual, perfurando o homem, veio enterrar-se no estômago da moabita. Com isso parou uma praga que entretanto se alastrara, mas não sem que 24 000 pessoas tivessem já morrido. Então o Senhor disse a Moisés: “Fineias, o filho de Eleazar e neto de Aarão, o sacerdote, conseguiu afastar a minha cólera, porque estava tão indignado como eu, com zelo pela minha honra; e dessa maneira suspendi a destruição de todo o Israel, como era minha intenção. Diz-lhe que far-lhe-ei uma aliança de paz. Por isso, em consequência do que ele fez, do zelo que demonstrou pelo seu Deus, e porque dessa forma fez resgate pelo povo de Israel, prometo que tanto ele como os seus descendentes serão sacerdotes para sempre.” O nome do homem que foi morto com a rapariga midianita era Zimri, filho de Salu, chefe da tribo de Simeão. O da rapariga era Cozbi, filha de Zur, príncipe midianita. O Senhor disse a Moisés: “Considera os midianitas como inimigos e destrói-os, porque eles perturbaram-vos com os seus enganos, levaram-vos até a adorar Baal-Peor, e seduziram-vos, como foi o caso de Cozbi, a midianita, que foi morta pela praga em Baal-Peor.” Depois de ter passado a praga, o Senhor disse a Moisés e a Eleazar, filho de Aarão, o sacerdote: “Recenseia todos os homens de Israel, de 20 anos para cima, para se saber com quantas pessoas de cada tribo e família se poderá contar para a guerra.” de Eliabe, que era um dos filhos de Palu, e que se dividia ainda nos agregados familiares de Nemuel, Datã e Abirão. Estes últimos foram aqueles dois chefes que apoiaram Coré na conspiração contra Moisés e contra Aarão num desafio à autoridade do Senhor. Mas a terra abriu-se e engoliu-os vivos. Foram nessa altura destruídos igualmente pelo fogo de Deus 250 homens, como aviso a toda a nação. Mas os filhos de Coré não morreram. Portanto, o total dos homens aptos para o serviço militar foi de 601 730. Então o Senhor disse a Moisés que dividisse a terra por cada tribo, proporcionalmente à população de cada uma, conforme os dados do recenseamento; desta forma, as tribos maiores deveriam ter mais terra do que as mais pequenas. “Que os representantes das tribos sorteiem entre si as diversas zonas da terra, mas em duas vezes: as tribos maiores sortearão as zonas maiores e as outras as zonas mais pequenas.” São estas as famílias da tribo de Levi, conforme o recenseamento: os descendentes de Gerson, de Coate e de Merari. Constavam ainda os seguintes agregados familiares: os libnitas, os hebronitas, os malitas, os musitas os coraítas. Coate foi o antepassado de Amrão. Quando Levi estava no Egito nasceu-lhe uma filha, chamada Joquebede, que veio a casar com Amrão. Foram estes os pais de Aarão, Moisés e Miriam. Depois a Aarão nasceram-lhe Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar. Nadabe e Abiú morreram quando pretendiam oferecer fogo estranho ao Senhor. O resultado do recenseamento revelou haver 23 000 levitas do sexo masculino, com mais de um mês de idade. Mas estes não foram incluídos nos resultados finais, porque não lhes foi dada a terra, aquando da repartição por entre as tribos. Estes são os números relativos à contagem feita por Moisés e por Eleazar nas planícies do Moabe, nas margens do Jordão, em frente de Jericó. Nem um só indivíduo de todo este alistamento tinha sido contado no anterior recenseamento feito no deserto de Sinai. Todos os que naquela altura tinham sido alistados estavam agora mortos, de acordo com aquilo que o Senhor dissera, que haveriam de morrer no deserto; as únicas duas exceções foram Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num. “Nosso pai morreu no deserto”, disseram elas. “Mas não foi daqueles que se juntaram na revolta de Coré contra o Senhor; morreu antes no seu próprio pecado e não deixou filhos rapazes. Por que razão haveria de desaparecer o nome dele, só porque não deixou herdeiros do sexo masculino? Por isso, sentimos que devíamos também receber uma terra tal como os outros membros da nossa família.” Moisés trouxe o caso até à presença do Senhor. A resposta de Senhor foi esta: “As filhas de Zelofeade têm razão. Dá-lhes também uma parte, na repartição das terras, tal como é dada aos seus tios. Ficarão com a parte que teria sido dada ao pai, se ainda vivesse. E isto passará a ser uma lei no vosso meio, que se um homem morrer sem descendentes do sexo masculino, então a sua herança passará às filhas. E se não tiver tido filhas, serão os seus irmãos a herdar. Se por acaso até tiver sido filho único herdarão os tios dele. E se ainda isto não puder ser, passará a herança para o parente mais próximo.” Certo dia, o Senhor disse a Moisés: “Sobe ao monte de Abarim e vê a terra que dei ao povo de Israel. Depois de a contemplares, morrerás, tal como aconteceu com o teu irmão Aarão, porque rebelaram-se contra as minhas instruções no deserto de Zim. Quando o povo de Israel se revoltou, não me honraram perante eles seguindo exatamente as minhas instruções de dizer à água para jorrar da rocha.” Ele estava a referir-se ao incidente das águas de Meribá, em Cades, no deserto de Zim. Então Moisés disse ao Senhor: “Ó Senhor, Deus dos espíritos e doador da vida de toda a humanidade, peço-te que indiques um novo chefe para o povo, um homem que esteja à sua frente para onde quer que vá, para que não sejam como ovelhas sem pastor.” O Senhor respondeu-lhe: “Vai buscar Josué, filho de Num, que tem o Espírito, e impõe-lhe as mãos; e leva-o a Eleazar, o sacerdote, e na presença de todo o povo dá-lhe instruções para conduzir o povo. Dá-lhe assim a tua autoridade para que toda a nação lhe obedeça. O Senhor falará a Eleazar através do urim e este comunicará a Josué e ao povo as instruções necessárias. Desta forma, o Senhor continuará a conduzi-los.” Moisés assim fez, conforme o mandado do Senhor; tomou Josué, levou-o a Eleazar, o sacerdote e, aos olhos de toda a gente, pôs as mãos sobre a cabeça dele e consagrou-o às suas novas responsabilidades, tal como o Senhor ordenara. O Senhor disse a Moisés que transmitisse ao povo estas ordens: “As ofertas que me queimaram no altar são como um alimento, são como um cheiro delicioso para mim. Portanto, tenham cuidado para que sejam trazidas regularmente e de acordo com as instruções que receberam. Quando fizerem ofertas pelo fogo, empregarão cordeiros machos de um ano, sempre sem defeito. Dois deles serão oferecidos em cada dia, como uma oferta queimada regular. Isto far-se-á perpetuamente. Um dos cordeiros será oferecido de manhã e o outro pela tarde. Com eles será apresentada uma oferta de cereais de 2,2 litros de fina flor de farinha misturada com um litro de azeite de oliveira. Esta é a oferta queimada, ordenada no monte Sinai, que deve ser oferecida regularmente como cheiro suave, como holocausto ao Senhor. Com ela será trazida a oferta de vinho, derramada no santuário perante o Senhor, consistindo em um litro de vinho a acompanhar cada cordeiro. Quanto ao outro cordeiro, oferecê-lo-ás à tarde, com farinha e com a oferta de vinho tal como o da manhã. Será uma oferta queimada, de cheiro suave, para o Senhor. Também no primeiro dia de cada mês haverá um holocausto extra, apresentado ao Senhor, consistindo em dois novilhos, um carneiro e sete cordeirinhos de um ano; todos estes animais terão de ser sem defeito. Acompanhem-nos de 6,6 litros de farinha finamente moída, misturada com azeite, como oferta de cereais juntamente com cada novilho; e 4,4 litros de fina farinha moída, com azeite, para o carneiro; para cada cordeirinho deem 2,2 litros da mesma farinha misturada com azeite. Este holocausto será apresentado pelo fogo e dará grande prazer ao Senhor. Acompanhando cada um destes sacrifícios haverá uma oferta de vinho: 2 litros para cada novilho, 1,3 litros para o carneiro e um litro para cada cordeirinho. Isto será a vossa oferta de holocausto em cada mês, durante todo o ano. Também no primeiro dia de cada mês oferecerão um bode para oferta de expiação do pecado, perante o Senhor, para além do vosso holocausto regular diário e das suas libações. No dia 14 do primeiro mês, celebrarão a Páscoa do Senhor. No dia seguinte começará uma grande e alegre festividade que durará sete dias; mas não será servido pão com fermento. No primeiro dia da festa chamar-se-á todo o povo a reunir-se numa santa assembleia, e não se executará nenhum trabalho pesado nesse dia. Oferecerão ofertas queimadas ao Senhor, consistindo em dois novilhos, um carneiro e sete cordeirinhos de um ano, todos sem defeito. Para cada novilho oferecerão também uma oferta de cereais de 6,6 litros de fina farinha misturada com azeite; com o carneiro será de 4,4 litros e para cada um dos sete cordeiros, 2,2 litros de fina farinha. Devem também oferecer um bode como oferta pelo pecado, para fazer expiação por vocês. Estas ofertas serão feitas para além das que apresentam regularmente, todos os dias. Esta oferta queimada, que acabei de referir, será apresentado em cada um dos sete dias da festividade. Será de grande prazer para o Senhor. No sétimo dia haverá de novo uma santa e solene assembleia de todo o povo e durante esse dia não se fará qualquer espécie de trabalho pesado. No dia dos primeiros frutos haverá uma assembleia solene especial, de todo o povo, a festa das semanas, para celebrar as novas colheitas. Nesse dia deverão apresentar as vossas primeiras colheitas de cereais, como oferta de cereais ao Senhor; não se fará qualquer trabalho nesse dia. Um holocausto especial, que dará grande prazer ao Senhor, será oferecido nesse dia. Consistirá em dois novilhos, um carneiro e sete cordeirinhos de um ano. Serão acompanhados da vossa oferta de cereais de 6,6 litros de fina farinha misturada com azeite para cada novilho, de 4,4 litros para o carneiro e de 2,2 para cada um dos cordeiros. Ofereçam igualmente um bode para fazer expiação por vocês. Estas ofertas especiais são para além dos holocaustos regulares diários, das ofertas de cereais e das de vinho. Tenham em atenção que cada animal oferecido seja sem mancha ou defeito. No primeiro dia do sétimo mês de cada ano realizar-se-á a festa das trombetas. Haverá um solene ajuntamento do povo nesse dia, e não será feito qualquer trabalho. Oferecerão nesse dia um holocausto constituído por um novilho, um carneiro e sete cordeiros de um ano, todos sem defeito. Serão sacrifícios que o Senhor muito apreciará. Uma oferta de cereais de 6,6 litros de farinha fina misturada com azeite será apresentada com os novilhos, mais outra de 4,4 litros com o carneiro e outra ainda de 2,2 litros para cada um dos sete cordeiros. Para além disto oferecerão um bode para fazer expiação pelo vosso pecado. Estas ofertas especiais são para além do holocausto regular mensal que é apresentado naquele dia, e também das ofertas queimadas regulares diárias oferecidas com a respetiva oferta de cereais e de vinho, tal como especificado nas instruções que as regulamentam. Dez dias mais tarde realizar-se-á outra assembleia de todo o povo. Será um dia de solene humilhação perante o Senhor, e nenhum trabalho, de espécie alguma, será feito. Oferecerão nesse dia um holocausto ao Senhor que será muito do seu agrado; tomarão para isso um novilho, um carneiro e sete cordeiros de um ano, todos sem defeito algum. Serão acompanhados das respetivas ofertas de cereais: 6,6 litros de fina farinha misturada com azeite, com o novilho, 4,4 litros com o carneiro e 2,2 com cada cordeiro. Deverão igualmente sacrificar um bode para fazer expiação pelo vosso pecado. Isto para além da oferta pelo pecado do dia de expiação, para além igualmente das ofertas queimadas regulares diárias de cereais e de vinho. Cinco dias depois haverá ainda outra santa assembleia de todo o povo e não se fará então nenhum trabalho duro; será o começo de uma festividade de sete dias a celebrar perante o Senhor. O vosso holocausto, como oferta queimada agradável ao Senhor, será de treze novilhos, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, todos eles sem defeito, acompanhados das habituais ofertas: 6,6 litros da fina farinha misturada com azeite, isto para cada um dos novilhos, 4,4 litros de farinha para cada carneiro e 2,2 para cada cordeiro. Deverá haver um bode como oferta pelo pecado, tudo isto para além das ofertas diárias, acompanhadas das de cereais e de vinho. No segundo dia desta festividade de sete dias, sacrificarão doze novilhos, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, todos eles sem defeito, acompanhados da habitual oferta de cereais e de vinho. Também para além do holocausto regular diário, devem sacrificar um bode com a sua oferta de cereais e de vinho, para oferta pelo pecado. No terceiro dia dessa festividade oferecerão onze novilhos, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano; todos animais sem defeito, mais as usuais ofertas de cereais e de vinho. Para além dos holocaustos diários regulares, oferecerão um bode para oferta pelo pecado, acompanhado da sua oferta de cereais e de vinho. No quarto dia de festa oferecerão dez novilhos, dois carneiros e catorze cordeirinhos de um ano; todos sem defeito. Cada um com o seu acompanhamento de oferta de cereais e de vinho; e ainda oferecerão um bode, juntamente com as usuais ofertas de cereais e de vinho, como oferta pelo pecado, para além dos holocaustos diários regulares. No quinto dia sacrificarão nove novilhos, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, sempre sem qualquer defeito, e acompanhados das habituais ofertas de cereais e de vinho; também sacrificarão um bode com as ofertas usuais de cereais e de vinho, como uma oferta especial pelo pecado, para além dos holocaustos diários. No sexto dia deverão sacrificar oito novilhos, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, todos animais sem defeito, juntamente com as respetivas ofertas de cereais e de vinho. Farão mais o sacrifício de um bode, como oferta pelo pecado, com as suas ofertas de cereais e de vinho, para além dos holocaustos diários. No sétimo dia serão sete os novilhos a sacrificar, mais dois carneiros e catorze cordeiros de um ano, todos eles sem defeito, com as referidas ofertas de cereais e de vinho. Sacrifiquem mais um bode, com a sua correspondente oferta de cereais e de vinho, como oferta especial pelo pecado, para além das outras ofertas regulares diárias. No oitavo dia convoquem o povo para outra solene assembleia; não farão nenhum trabalho duro nesse dia. Sacrifiquem uma oferta queimada, que será de grande agrado para o Senhor; será constituído por um novilho, um carneiro e sete cordeiros de um ano, todos sem defeito, mais as habituais ofertas de cereais e de vinho. Sacrifiquem igualmente um bode, com a costumada oferta de cereais e de vinho, como oferta pelo pecado, para além dos holocaustos diários regulares. Estas ofertas são obrigatórias nas alturas das vossas festas anuais e deverão ser feitas para além dos sacrifícios e ofertas que apresentam em consequência de votos feitos, e para além das ofertas voluntárias, holocaustos, ofertas de cereais, de vinho e de paz.” Moisés transmitiu tudo o que o Senhor lhe tinha ordenado ao povo de Israel. Então Moisés convocou os chefes de tribos e disse-lhes: “O Senhor ordenou que quando alguém fizer uma promessa ao Senhor, seja de realizar algo ou de, por exemplo, deixar de praticar determinada ação, esse voto deverá ser cumprido; não se violará a palavra dada; terá de se cumprir exatamente aquilo que se prometeu. Se uma mulher prometer ao Senhor fazer, ou não fazer, qualquer coisa, e se for jovem e viver ainda com os pais, e se o pai ouvir que ela fez uma promessa a que se ligou com obrigações e não lhe disser nada, então esse voto será válido. Mas se o pai recusar deixá-la fazer esse voto, ou sentir que as penalidades a que se obrigou são demasiado duras, então esse voto automaticamente é inválido. O pai deverá declarar a sua desaprovação no primeiro dia em que ouvir falar disso. O Senhor perdoará à rapariga, visto que o pai não o permitiu. Se uma mulher fizer um voto ou uma promessa proferida irrefletidamente, e se depois vier a casar, quando o marido tomar conhecimento desse voto, se não disser nada no próprio dia em que ouviu isso, então o voto manter-se-á válido. Mas se o marido se opuser, se recusar aceitar esse voto ou promessa leviana, a sua recusa a tornará sem valor, e o Senhor lhe perdoará. Contudo, se uma mulher for viúva ou divorciada deverá sempre cumprir o seu voto. Se ela for casada, vivendo com o marido na altura em que fez o voto, quando o marido o ouvir, se não disser nada o voto manter-se-á. Mas se ele recusar, se não o consentir no próprio dia em que o ouviu, o voto fica anulado e o Senhor a perdoará. O marido poderá tanto confirmar como anular o voto dela, mas se não disser nada durante o dia inteiro, é porque concorda. Estas são pois as ordens que o Senhor deu a Moisés respeitantes a relações entre uma mulher e o seu marido e entre o pai e as filhas que vivem com ele. Então o Senhor falou a Moisés: “Castiga os midianitas por terem levado à idolatria o povo de Israel. Depois disso, terás de morrer; serás recolhido para junto dos teus.” Moisés disse ao povo: “Armem-se alguns de vocês e preparem-se para travar uma guerra do Senhor contra os midianitas, para os castigar. Mobilizem 1000 homens de cada tribo.” E assim foi feito. Foram alistados 12 000 soldados de Israel, os quais Moisés mandou para a batalha. Fineias, filho de Eleazar, o sacerdote, foi quem conduziu esse exército; os objetos sagrados acompanharam-nos, ao mesmo tempo que iam tocando as cornetas. E o resultado foi que todos os homens midianitas foram mortos nesse combate, como o Senhor tinha mandado a Moisés. Entre eles encontravam-se os cinco reis midianitas: Evi, Requem, Zur, Hur e Reba. Também Balaão, filho de Beor, foi morto. Israel trouxe cativos as mulheres e as crianças e apoderou-se do seu gado e rebanhos, assim como de muitas outras coisas que saquearam. Todas as povoações, cidades e aldeias foram incendiadas. Moisés e o sacerdote Eleazar, acompanhados de todos os chefes do povo, vieram fora do arraial ao encontro daquela tropa vitoriosa; mas Moisés ficou muito irado contra os oficiais do exército e os comandantes dos batalhões. “Porque é que deixaram vivas as mulheres?”, perguntou. “Estas são precisamente aquelas que, seguindo as indicações de Balaão, fizeram com que o povo de Israel adorasse os ídolos no caso de Peor, provocando aquela praga entre a congregação do Senhor! Matem agora todos os rapazes e todas as mulheres que alguma vez se tenham deitado com um homem. As restantes deixem-nas com vida e podem levá-las convosco. Todos os que mataram alguém ou que tenham tocado num corpo morto deverão ficar fora do acampamento durante sete dias, purificando-se a si e às cativas no terceiro e no sétimo dia. Lembrem-se também de purificar as vossas roupas e tudo o que seja feito de pele de animal ou de pelo de cabra, assim como os recipientes de madeira.” Eleazar, o sacerdote, disse para os homens que tinham combatido: “Este é o regulamento que Senhor deu a Moisés: No sétimo dia lavarão os vossos fatos e purificar-se-ão; só depois poderão regressar ao acampamento.” O Senhor disse a Moisés: “Tu e o sacerdote Eleazar, mais os líderes das tribos, deverão fazer uma lista de tudo o que foi saqueado, incluindo gente e animais; depois repartam em duas partes. Metade ficará para os homens que combateram e a outra metade será dada ao povo de Israel. Da metade que pertence aos homens que combateram terão de dar um tributo ao Senhor; consistirá de um em cada quinhentos, tanto dos cativos, como dos bois, dos burros e dos rebanhos capturados pelo exército. Deem este tributo a Eleazar, o sacerdote, para que o apresente ao Senhor. Levantem igualmente um tributo da metade que pertence ao povo, de um em cada cinquenta também dos prisioneiros, dos rebanhos e do resto do gado, que for dado ao povo de Israel, e apresentem-no aos levitas que têm o cargo do tabernáculo. Será a parte que lhes pertence.” Moisés e Eleazar fizeram conforme o Senhor lhes ordenou. O total dos despojos tomados aos midianitas, além da parte dada aos que combateram, foi de 675 000 ovelhas, 72 000 bois, 61 000 burros; as raparigas cativas foram 32 000. A metade com que o exército ficou totalizou: 337 500 ovelhas, das quais 675 foram dadas ao Senhor; 36 000 bois, dos quais 72 foram dados ao Senhor; 30 500 burros, dos quais 61 foram dados ao Senhor; 16 000 raparigas, das quais 32 foram dadas ao Senhor para os levitas. Tudo o que era para o Senhor foi dado a Eleazar, o sacerdote, tal como o Senhor ordenara. 36 000 bois; 30 500 burros; 16 000 raparigas. De acordo com a vontade do Senhor, Moisés entregou um por cada cinquenta destes aos levitas, que estavam encarregados do serviço do tabernáculo do Senhor. Os oficiais e os comandantes de batalhão vieram até Moisés e disseram-lhe: “Fizemos a chamada de todos os que tinham partido a combater e verificámos que não se perdeu um só deles! Por isso, trouxemos aqui uma oferta especial de gratidão ao Senhor, tomada do que recebemos; ouro, joias, pulseiras, colares, anéis, brincos e arrecadas. Isto é para fazer expiação pelas nossas almas perante o Senhor.” Quando Israel chegou à terra de Jazer e à terra de Gileade, as tribos de Rúben e de Gad, que tinham grandes rebanhos de ovelhas, deram-se conta de como aquela região era ótima para o gado. Por isso, vieram ter com Moisés, com o sacerdote Eleazar e com os chefes das outras tribos e disseram-lhes: Pedimos pois que nos deixem ficar aqui com esta terra como a parte que nos caberia na partilha geral e não passaremos para além do Jordão.” “Ficariam aqui descansados, enquanto os vossos irmãos continuavam a lutar no outro lado do rio?”, perguntou Moisés. “Assim estão a desencorajar o resto do povo a passar para a margem de lá, para a terra que o Senhor lhes deu! Isso é o mesmo que fizeram os vossos pais, quando os mandei de Cades-Barneia para observarem secretamente a terra. Quando regressaram, depois de terem passado pelo vale de Escol, desanimaram o povo, levando-o a desistir de entrar na terra prometida. A ira do Senhor ardeu contra eles e jurou então que todos os que tinham sido tirados do Egito, com mais de 20 anos, nunca haveriam de ver a terra que prometera a Abraão, a Isaque e a Jacob, visto que recusaram obedecer-lhe. As únicas exceções foram Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, e Josué, filho de Num, porque persistiram em seguir o Senhor com todo o seu coração. Assim, o Senhor fez-nos vaguear dum lado para o outro no deserto, durante 40 anos, até que toda aquela geração que praticou o mal morresse. Agora aqui estão vocês, um bando de pecadores, fazendo exatamente a mesma coisa, seguindo o exemplo dos vossos antepassados, aumentando por isso, a ira do Senhor sobre Israel. Se recusarem dessa forma segui-lo, isso fará ficar todo o povo ainda por mais tempo no deserto, e serão vocês os responsáveis pela destruição do seu povo e por terem trazido tamanha catástrofe sobre esta nação inteira!” “De maneira nenhuma!”, esclareceram eles. “A nossa intenção é construir currais e estábulos para o nosso gado e cidades para as nossas crianças; quanto a nós, estamos decididos a ir combater, à frente do povo de Israel, até que os tenhamos estabelecido definitivamente na terra que vão receber. Mas primeiro precisávamos edificar cidades fortificadas aqui para as nossas famílias, para deixá-las em segurança, na eventualidade de algum ataque das populações locais. Não voltaremos à nossa possessão até que o povo tenha ocupado aquilo que é seu por herança. Além disso, não precisamos de ter terra do outro lado do rio; basta-nos aquela com que ficamos aqui nesta zona oriental.” Moisés respondeu-lhes: “Pois sim, está bem, se fizerem tudo o que disseram, e se se armarem para a guerra do Senhor, levando as vossas tropas a atravessar o Jordão até que o Senhor tenha expulsado os seus inimigos; quando a terra estiver enfim subjugada na sua presença, não serão culpados perante o Senhor. Terão cumprido o vosso dever para com o Senhor e todo o resto do povo de Israel. Então a terra que está neste lado oriental será o domínio que o Senhor vos dá. Mas se não fizerem como prometeram, terão pecado contra o Senhor, e podem ter a certeza de que virão a receber o devido castigo. Vão então e construam as cidades de que precisam para as vossas famílias e os estábulos para os vossos rebanhos; façam tudo o que disseram.” “Faremos precisamente conforme nos mandas”, replicaram as gentes de Gad e de Rúben. “Os nossos filhos, mulheres, rebanhos e gado ficarão aqui nas cidades de Gileade. Mas todos os que nos alistarmos iremos lutar pelo Senhor, tal como nos mandaste.” Moisés deu assim a sua aprovação à pretensão deles, dizendo ao sacerdote Eleazar, a Josué e aos líderes de Israel: “Se todos os homens das tribos de Gad e de Rúben, que estão recrutados para as guerras do Senhor, forem convosco para além do Jordão, quando a terra for conquistada, deverão dar-lhe o território de Gileade; mas se recusarem, terão de aceitar aquela que lhes for distribuída, entre todos, no país de Canaã.” As tribos de Gad e de Rúben disseram de novo: “Estamos dispostos a fazer conforme o mandamento do Senhor; seguiremos todo o exército do Senhor até Canaã, mas depois a nossa terra será aqui deste lado do Jordão.” Assim, Moisés distribuiu o território do rei Siom dos amorreus e do rei Ogue de Basã, incluindo terras e cidades, às tribos de Gad e de Rúben, assim como à meia tribo de Manassés, filho de José. O povo de Gad construiu as seguintes cidades: Dibom, Atarote, Aroer, Atarote-Sofã, Jazer, Jogboa, Bete-Nimra, Bete-Harã; todas cidades fortificadas e com currais. O povo de Rúben edificou: Hesbom, Eleale, Quiriataim, Nebo, Baal-Meom e Sibma. Os israelitas mais tarde mudaram o nome de algumas cidades que tinham conquistado e reconstruído. Os descendentes de Maquir, filho de Manassés, foram à terra de Gileade e expulsaram os amorreus na zona que conquistaram. Por isso, Moisés deu também aos maquiritas terra em Gileade e passaram a viver ali. Os homens de Jair, outro agregado da tribo de Manassés, ocuparam igualmente muitas cidades de Gileade, e alterou-se o nome da sua área para Havote-Jair (Aldeias de Jair). Entretanto, um homem chamado Noba, à frente dum destacamento militar, foi a Quenate e conquistou-a, assim como as aldeias dos arredores, ocupando-as e dando àquele sítio o seu próprio nome. Este foi o itinerário da nação de Israel, desde a altura em que Moisés e Aarão os tiraram para fora do Egito. Moisés tinha escrito todas essas deslocações, conforme as instruções dadas pelo Senhor. Deixaram a cidade de Ramessés, no Egito, no dia 15 do primeiro mês, no dia a seguir à Páscoa. Partiram corajosamente e triunfantes à vista de todos os egípcios, que estavam entretanto a enterrar os filhos mais velhos de cada família, mortos pelo Senhor. Foi uma grande derrota para os deuses dos egípcios. Depois de saírem de Ramessés, ficaram em Sucote, depois em Etã, à beira do deserto, e a seguir em Pi-Hairote, perto de Baal-Zefom, onde acamparam no sopé do monte Migdol. Dali passaram pelo meio do mar Vermelho e caminharam por três dias no deserto de Etã, tendo acampado em Mara. Depois de deixarem Mara, vieram até Elim, onde há doze fontes e setenta palmeiras, tendo ali permanecido bastante tempo. Após terem deixado Elim vieram acampar junto do mar Vermelho, e depois no deserto de Sim; seguidamente em Dofca e em Alus e em Refidim, onde lhes faltou água. De Refidim foram até ao deserto de Sinai. A partir do deserto de Sinai foram estas as etapas que percorreram: Quibrote-Hatava Hazerote Ritma Rimon-Perez Libna Rissa Queelata Sefer Harada Maquelote Taate Tera Mitca Hasmona Moserote Bene-Jaacã Hor-Hagidgade Jotbatá Abrona Eziom-Geber Cades no deserto de Zim e monte de Hor no fim da terra de Edom. Enquanto se encontravam junto do monte de Hor, Aarão o sacerdote foi mandado pelo Senhor subir à montanha e aí morrer. Isto ocorreu 40 anos depois do povo de Israel ter deixado o Egito. Ele morreu no primeiro dia do quinto mês do ano quarenta, quando tinha 123 anos de idade. Foi então que o rei cananeu de Arade, que vivia no Negueve, a sul de Canaã, ouviu que o povo de Israel se aproximava da sua terra. Depois os israelitas partiram do monte de Hor e foram acampar em Zalmona, e depois em Punom, e em Obote, e em Ié-Abarim, perto da fronteira de Moabe. Dali foram para Dibom-Gad, e depois para Almon-Diblataim. Vindo a acampar nas montanhas de Abarim, perto do monte Nebo. Finalmente chegaram às planícies de Moabe, nas margens do rio Jordão defronte de Jericó. Enquanto estiveram nessa área, acamparam em diversos sítios ao longo do Jordão, desde Bete-Jesimote até Abel-Sitim, nas planícies de Moabe. Foi durante o tempo que ali estiveram que o Senhor disse a Moisés para transmitir ao povo de Israel o seguinte: “Quando passarem para o outro lado do Jordão, para a terra de Canaã, deverão expulsar toda a gente que lá viver e destruir os seus ídolos, imagens feitas de pedra e de metal, assim como os santuários pagãos que têm sobre as colinas e onde adoram os seus deuses. Dei-vos essa terra. Tomem-na e vivam lá. Reparti-la-ão proporcionalmente ao tamanho das vossas tribos. As tribos maiores terão naturalmente partes maiores; as áreas mais pequenas irão para as tribos menores. Se se negarem a lançar fora o povo que aí vive, os que lá ficarem farão arder os vossos olhos, e serão como espinhos na vossa carne. E destruir-vos-ei tal como planeei destruí-los a eles.” O Senhor mandou Moisés dizer assim ao povo: “Quando entrarem na terra de Canaã, que vos dou como vossa pátria, terão a sul, por limite, o deserto de Zim, junto à fronteira de Edom. A fronteira do sul começará com o mar Salgado, e continuará pela subida de Acrabim, na direção de Zim. O ponto mais a sul será Cades-Barneia, donde seguirá para Hazar-Adar e para Azmom. Depois a linha de fronteira seguirá em direção à Ribeira do Egito, descendo até ao mar Mediterrâneo. Este mar constituirá a vossa fronteira a ocidente. A norte, a linha fronteiriça começará no mar Mediterrâneo e prosseguirá para o nascente até ao monte Hor, seguindo sobre a entrada de Hamate, através de Zedade e Zifron, até Hazar-Enã. Quanto à fronteira oriental, começará em Hazar-Enã, descendo até Sefã, e depois até Ribla, a oriente de Aim. Dali descreverá um largo semi-círculo, indo primeiro para o sul e depois para o poente até passar a ponta sul do mar da Galileia, seguindo ao longe do rio Jordão, terminando de novo no mar Salgado. Este é pois o território que deverão repartir entre vós. Será partilhado por nove tribos e meia, Disse mais o Senhor a Moisés: “Serão os seguintes, os homens encarregados de proceder à repartição da terra: Eleazar, o sacerdote, Josué, filho de Num, e um chefe de cada tribo, conforme a seguinte lista: de Judá, Calebe, filho de Jefoné; de Simeão, Samuel, filho de Amiude; de Benjamim, Elidade, filho de Quislon; de Dan, Buqui, filho de Jogli; de Manassés, Haniel, filho de Efode; de Efraim, Quemuel, filho de Siftã; de Zebulão, Elizafã, filho de Parnaque; de Issacar, Paltiel, filho de Azã; de Aser, Aiude, filho de Selomi; de Naftali, Pedael, filho de Amiude.” São estes pois os nomes daqueles que o Senhor designou para supervisionar a divisão do território pelas tribos. Enquanto Israel estava acampado nas planícies de Moabe, em frente de Jericó, o Senhor disse a Moisés: “Dá instruções ao povo de Israel para que dê aos levitas como possessão certas cidades com as respetivas terras dos arredores para pastagens. Essas cidades servirão para habitação e as terras vizinhas serão para o gado, rebanhos e outros animais. Darão aos levitas seis cidades de refúgio, para onde uma pessoa que tenha por acidente matado alguém possa correr para se refugiar e ficar em segurança; além dessas, dar-lhes-ão mais quarenta e duas outras cidades. Ao todo serão quarenta e oito as cidades, mais os seus campos de pastagem, concedidos aos levitas. Serão distribuídas pelas diversas partes da nação. As tribos maiores, que ficarão com maior número de povoações, darão mais cidades aos levitas, enquanto as outras dar-lhes-ão menos.” O Senhor disse a Moisés: “Diz ao povo que quando entrarem na terra, terão de escolher cidades de refúgio para que nelas se recolham os que por acidente tiverem matado alguém. Serão lugares para proteger essa pessoa da vingança que sobre ela queiram exercer os parentes do morto. Pois que o causador dessa morte não deverá ser executado antes de ser considerado culpado num julgamento legal. Servirão para proteção não só dos israelitas, mas também dos estrangeiros e viajantes que se encontrarem no vosso meio. Contudo, se alguém tiver sido abatido por meio de uma peça de ferro, presumir-se-á que foi assassinado e o assassino terá de ser executado. Se for com uma grande pedra que o tiver matado, será também considerado assassino e deverá morrer. A mesma coisa se passará no caso do instrumento de morte ter sido um objeto de madeira. O vingador do sangue do morto será ele pessoalmente a matar o assassino, quando o encontrar. Portanto, se alguém matar outra pessoa num gesto de ódio, atirando contra ela alguma coisa ou empurrando-a, ou batendo-lhe com o punho, ou armando-lhe uma cilada, será tomada por assassino e deverá ser morto pelo vingador do sangue. Mas se tiver sido por acidente, um caso em que um indivíduo lançou um objeto que foi ferir mortalmente outra pessoa, sem que tivesse havido intenção ou zanga, ou por ter pensado que podia tirar a vida a alguém, sem a mínima intenção de ferir um inimigo, no caso do ferido vir a falecer, a comunidade julgará se foi ou não por acidente e se deverá ou não levar-se o causador da morte ao vingador do sangue do morto. Se se concluir que foi acidental, então o povo livrará o indivíduo do vingador do sangue. Quem matou terá autorização para ficar na cidade de refúgio; e lá ficará a viver até à morte do sumo sacerdote, que foi consagrado com o óleo sagrado. No caso do homicida abandonar a cidade, se o vingador do sangue o encontrar no exterior e o matar, não será considerado ele próprio culpado do sangue, porque o outro deveria ter ficado no interior da cidade, até que o sumo sacerdote morresse. Só depois do falecimento deste, o homem pode voltar para a sua própria terra, para a sua casa. Isto são leis permanentes para todo Israel, por todas as gerações. Todos os assassinos devem ser executados, mas só se houver desse ato mais do que uma testemunha; ninguém poderá ser condenado e morto só pelo testemunho de uma única pessoa. Quando alguém for considerado culpado de assassínio, deverá morrer sem que qualquer resgate seja dado por ele. Tão-pouco será aceite pagamento algum da parte de um refugiado numa cidade de refúgio, para poder voltar para casa antes do sumo sacerdote falecer. Dessa maneira, se evitará que a terra seja poluída, porque o sangue polui a terra, e nenhuma outra expiação existe para o sangue senão o sangue daquele que o derramou. Não hão de pois sujar a terra para onde vão viver, porque eu, o Senhor, ali vivo no meio dos israelitas.” Então os principais responsáveis de agregado de Gileade, do subgrupo de Maquir, da tribo de Manassés, um dos filhos de José, veio ter com Moisés e os demais chefes de Israel, com esta petição: “O Senhor deu-vos instruções para repartirem a terra pelo povo de Israel, por sorteio, e dar a parte do nosso familiar Zelofeade às suas filhas. Mas se elas casarem dentro de outra tribo, a terra delas irá com elas para ser incorporada na tribo dentro da qual casarem, incorporação que ficará definitiva com o ano de jubileu. Desta forma, a área total da nossa tribo ficará reduzida.” Então Moisés respondeu diante de toda a gente, e deu as seguintes instruções da parte do Senhor: “Os homens da tribo de José apresentam um requerimento justo. Isto é, portanto, o que o Senhor disse mais quanto ao caso das filhas de Zelofeade: que elas casem com quem quiserem, mas que seja sempre dentro da sua própria tribo. Desta forma, nenhuma fração de terra de uma tribo passará para outra tribo, visto que a herança recebida por cada tribo deverá ficar inalterada, como foi originalmente distribuída. Portanto, toda a rapariga, sendo ela a herdeira, deverá casar na sua própria tribo, para que a terra que lhe pertence não venha a agregar-se a outra tribo. Desta forma as heranças não passarão duma tribo para outra e as tribos israelitas poderão continuar sempre ligadas cada uma à sua herança.” As filhas de Zelofeade fizeram como o Senhor ordenara a Moisés. Estas raparigas, Mala, Tirza, Hogla, Milca e Noa, casaram-se com seus primos, filhos de tios paternos, da descendência de Manassés, filho de José, de forma que a herança dessa tribo não foi alterada. Estes são os mandamentos e os regulamentos que o Senhor deu ao povo de Israel através de Moisés, enquanto estavam acampados nas planícies de Moabe, nas margens do rio Jordão, em frente de Jericó. Este livro regista as palavras que Moisés comunicou ao povo de Israel, quando estavam acampados no vale de Arabá, no deserto de Moabe, do lado nascente do rio Jordão, em frente de Sufe, entre Parã e Tofel, dum lado, e Labão, Hazerote e Di-Zaabe, do outro. Na altura em que estas palavras foram proferidas, já o rei Siom dos amorreus tinha sido derrotado em Hesbom e o rei Ogue de Basã também já fora vencido em Astarote, perto de Edrei. Assim falou Moisés a Israel, expondo toda a Lei que Deus lhe dissera para comunicar ao povo: Foi há 40 anos, no monte Horebe, que o Senhor, nosso Deus, nos disse: “Ficaram aqui bastante tempo. Agora vão e ocupem as montanhas dos amorreus, o vale de Arabá, os montes, o Negueve e toda a planície costeira de Canaã e do Líbano; toda a área que vai do Mediterrâneo até ao grande rio Eufrates. Dou-vos todo este território; possuam-no, pois trata-se da terra que o Senhor prometeu aos vossos antepassados Abraão, Isaque e Jacob, e a todos os seus descendentes.” Por essa altura, eu disse-vos: “Preciso de ajuda. Vocês são um fardo demasiado grande para eu levar sozinho, porque o Senhor, vosso Deus, vos multiplicou como as estrelas. Que o Senhor, Deus dos vossos pais, vos multiplique mil vezes ainda e vos abençoe como prometeu! Que pode um só homem fazer perante todas as vossas disputas e problemas? Escolham alguns homens de cada tribo, que sejam pessoas de bom senso, compreensivas e com experiência de vida, e nomeá-los-ei como vossos chefes.” Vocês concordaram. Por isso, tomei os homens que selecionaram, alguns de cada tribo, e designei-os para assistentes administrativos, por escalões de mil, cem, cinquenta e dez pessoas, para deliberarem quanto às questões que lhes fossem apresentadas, e para prestarem assistência geral em cada dia. Instruí-os para que fossem sempre perfeitamente justos, mesmo com os estrangeiros. “Quando tomarem decisões”, disse-lhes, “nunca favoreçam um indivíduo porque é rico, por exemplo. Sejam justos com todos, tanto grandes como pequenos. Não temam o desagrado das pessoas, pois estão a julgar em nome de Deus. Tragam-me algum caso cuja dificuldade vos ultrapasse e eu o resolverei.” Aliás, dei-vos outras instruções nessa altura. “O Senhor Deus deu-nos esta terra. Vão e conquistem-na. Nada receiem e não duvidem!” Mas vocês replicaram: “Primeiramente, enviemos espias para descobrirem o melhor caminho para lá entrar e para escolherem as cidades que devemos capturar primeiro.” Isto pareceu-nos uma boa ideia. Por isso, escolhi doze espias, um de cada tribo. Eles atravessaram as colinas e vieram até ao vale de Escol, tendo regressado com amostras dos frutos da terra. Bastava vê-los para nos convencermos de que se tratava, na verdade, de uma ótima terra, essa que o Senhor, nosso Deus, nos dera! Contudo, recusaram-se a ir conquistá-la e rebelaram-se contra a ordem do Senhor, vosso Deus. Lamentaram-se e murmuraram nas vossas tendas: “O Senhor deve odiar-nos, trazendo-nos do Egito até aqui, para sermos assassinados por estes amorreus. Porque é que precisamos de ir para lá? Os nossos irmãos que foram observar a terra aterrorizaram-nos com o seu relato; dizem que o povo da terra é forte e de alta estatura e que tem cidades fortificadas com muralhas altíssimas até ao céu! Até viram lá gigantes descendentes de Anaque!” E disse-vos: “Não estejam com medo! O Senhor Deus é o vosso chefe e lutará em vosso favor com o seu poder divino, tal como no Egito. Sabem como o Senhor, vosso Deus, cuidou de vocês dia após dia, aqui no deserto, e que foi como um pai para cada um!” Mas de nada serviu tudo o que vos disse. Recusaram-se a crer no Senhor, vosso Deus, que vos tinha conduzido em todos os momentos, selecionando os melhores lugares para acamparem, guiando-vos clara e seguramente por meio duma coluna de fogo durante a noite e duma nuvem durante o dia. O Senhor ouviu os vossos lamentos e ficou muito irado. Garantiu então que nem uma só pessoa de toda a vossa geração viveria o tempo bastante para poder ver a boa terra que prometera aos vossos antepassados, à exceção de Calebe, filho de Jefoné, o qual, pelo facto de ter seguido inteiramente o Senhor, haveria de receber como herança pessoal uma parte da terra em que já tinha penetrado. Mesmo comigo, o Senhor também ficou zangado, por vossa causa, e disse-me: “Não entrarás na terra prometida! Será antes o teu assistente, Josué, filho de Num, quem lá fará entrar o povo. Anima-o a preparar-se para tomar a liderança. A terra será dada às crianças que ainda não distinguem o que é bom do que é mau, das quais agora dizem temer que venham a morrer no deserto. Quanto a vocês, voltem para trás e tornem a atravessar o deserto em direção ao mar Vermelho.” Então confessaram: “Pecámos! Estamos agora decididos a entrar na terra e a lutar por ela, tal como o Senhor, nosso Deus, nos disse.” Pegaram em armas e pensaram que seria fácil subir à montanha. No entanto, o Senhor ordenou-me: “Diz-lhes para não o fazerem, porque não irei com eles; serão vencidos pelos seus inimigos.” Comuniquei-vos esse aviso, mas não quiseram ouvir-me. Desobedeceram novamente às ordens do Senhor e insistiram em subir à montanha. Os amorreus que lá viviam vieram ao vosso encontro, perseguiram-vos como se fossem um enxame de abelhas e feriram-vos; isto passou-se entre Seir e Horma. Regressaram e choraram então perante o Senhor, sem que este, contudo, vos escutasse. E assim ficaram naquele sítio, em Cades, durante muito tempo. Então voltámos para trás, através do deserto, para o mar Vermelho, pois fora assim que o Senhor me mandara. Durante muitos anos vagueámos à volta do monte Seir. Por fim, o Senhor disse-me: “Já estiveram aqui bastante tempo. Voltem para o norte. Informem o povo de que deverão atravessar a terra dos seus parentes, os edomitas, descendentes de Esaú, que vivem aqui em Seir. Os edomitas estão desconfiados e têm medo de vocês; portanto sejam cautelosos. Não provoquem nenhum conflito, pois não vos darei sequer um torrão dessa terra, porque lhes dei toda esta região acidentada do monte Seir. Paguem-lhes todo o alimento ou água de que precisarem enquanto passarem por lá.” O Senhor, vosso Deus, tem cuidado de vocês e tem-vos abençoado durante estes 40 anos que têm andado por este grande deserto; nada vos faltou em nenhum momento. Dessa forma, passámos através de Edom onde viviam os nossos parentes, percorrendo o caminho de Arabá que vai para o sul para Elate e para Eziom-Geber, e continuámos para o norte em direção do deserto de Moabe. Depois o Senhor avisou-nos: “Também não devem atacar os moabitas, visto que não vos darei nada da região de Ar. Pertence aos descendentes de Lot.” (Antes viviam ali os emitas, uma tribo muito grande, gente tão alta como os gigantes de Anaquim. Tanto os emitas como os anaquins são frequentemente referidos como sendo refaítas; mas os moabitas chamam-lhes emitas. Antigamente os horeus viviam em Seir, mas foram aniquilados e expulsos pelos edomitas, os descendentes de Esaú, tal como os israelitas lançaram depois fora o povo de Canaã, cuja terra lhes tinha sido destinada pelo Senhor.) “Agora atravessem o ribeiro de Zerede”, disse-nos o Senhor, e assim fizemos. “Hoje Israel atravessará a fronteira de Moabe, em Ar, entrando na terra dos amonitas, mas não os ataques, porque não te vou dar a terra deles; eu dei-a aos descendentes de Lot.” (Aquela terra também tinha sido habitada pelos refaítas, aos quais os amonitas chamavam zamezumeus. Eram uma tribo grande e poderosa, de estatura tão alta como os anaquins; mas o Senhor destruiu-os, quando os amonitas apareceram e passaram a viver ali. O Senhor também tinha ajudado os descendentes de Esaú no monte Seir, pois aniquilou os horeus que lá viviam antes deles. Outra situação idêntica ocorreu quando o povo de Caftor invadiu e destruiu a tribo de Avim que vivia em povoações espalhadas por aquela zona, chegando até Gaza.) Então o Senhor disse: “Atravessem o ribeiro de Arnom e penetrem na terra do amorreu Siom, rei de Hesbom. Conquistem essa terra e declarem-lhe guerra. A partir de agora farei com que os povos de toda a Terra tremam com receio, angustiando-se com a vossa aproximação.” Então enviei mensageiros desde o deserto de Quedemote ao rei Siom de Hesbom com uma proposta de paz: “Deixa-nos passar pela tua terra. Não nos afastaremos do caminho central, não pisaremos os campos cultivados, nem dum lado nem do outro. Toda a comida de que precisarmos, comprá-la-emos, assim como também a própria água que bebermos. Tudo o que pretendemos é unicamente autorização para atravessar o teu território. Os edomitas de Seir já nos deixaram passar pelo seu país, assim como os moabitas, cuja capital é Ar; o nosso objetivo é chegarmos até ao Jordão, atravessá-lo e entrar na terra que o Senhor, nosso Deus, nos deu.” Mas o rei Siom recusou; aliás, foi o Senhor, o vosso Deus, que permitiu que se tornasse obstinado e fosse destruído às mãos de Israel; foi isso que aconteceu. Então o Senhor disse-me: “Comecei por dar-te a terra do rei Siom. Quando a conquistarem, pertencerá a Israel.” O rei Siom fez-nos guerra, mobilizando as suas forças em Jaaz. Mas o Senhor, nosso Deus, esmagou-o, e nós abatemo-lo, juntamente com os seus filhos e todo o seu exército, e conseguimos conquistar-lhe todas as cidades e destruir tudo, incluindo mulheres e crianças. Nada deixámos com vida, à exceção do gado que trouxemos como despojo de guerra, com outras coisas ainda, resultado do saque feito às cidades tomadas. Conquistámos tudo desde Aroer até Gileade; portanto todo o território que tem por limite o vale de Arnom, incluindo as cidades dessa zona. Não houve uma só cidade que tivesse podido resistir-nos; foi o Senhor, nosso Deus, quem nos deu tudo isso. Contudo, não nos intrometemos com o povo de Amon, nem nos aproximámos do ribeiro de Jaboque, nem das povoações das colinas, zonas em que o Senhor, nosso Deus, nos tinha proibido de entrar. Depois voltámo-nos contra a terra de Basã do rei Ogue. Este mobilizou imediatamente o seu exército e atacou-nos em Edrei. Mas o Senhor disse-me que não o temesse. “Todo o seu povo e a sua terra serão vossos”, disse-me o Senhor. “Farás com ele o mesmo que fizeste ao rei Siom dos amorreus em Hesbom.” Assim, o Senhor, nosso Deus, ajudou-nos a lutar contra o rei Ogue e contra o seu povo, e matá-los a todos. Conquistámos as suas sessenta povoações, tendo ocupado inteiramente a região de Argobe de Basã. Eram cidades fortificadas, rodeadas por altas muralhas, e com as entradas vedadas por fortes portões. Apoderámo-nos igualmente das cidades desprotegidas. Destruímos assim o reino de Basã, tal como fizemos com o reino de Siom em Hesbom, liquidando toda a população de homens, mulheres e crianças. Conservámos, no entanto, o gado que repartimos por todos nós. Possuíamos agora toda a terra dos dois reis amorreus, a nascente do rio Jordão, todo o território desde o vale de Arnom até ao monte Hermon. (Os sidónios chamam ao monte Hermon, Siriom, enquanto os amorreus dão-lhe o nome de Senir.) Tínhamos conquistado todas as cidades do planalto, todo o Gileade e Basã, até às cidades de Salca e de Edrei. O rei Ogue de Basã era o último dos gigantes de Refaim. A sua cama de ferro, que ainda se pode ver em Rabá, uma das cidades dos amonitas, e mede 4,5 metros de comprimento por 2 de largo. Foi por essa altura que dei a terra conquistada às tribos de Rúben e de Gad. Dei-lhes a área que vai de Aroer, na ribeira de Arnom, mais metade do monte Gileade, incluindo as suas povoações. A meia tribo de Manassés recebeu o resto de Gileade e tudo o que tinha constituído o reino de Ogue, a região de Argobe. (Basã é por vezes também chamada a terra dos refaítas.) O agregado de Jair, da tribo de Manassés, conquistou toda a região de Argobe, ou seja, Basã, até às fronteiras dos gesuritas e dos maacatitas; deram a esse território o seu próprio nome, chamando-lhe Havote-Jair (Aldeias de Jair), e é assim que ainda hoje é conhecido. Então dei Gileade ao agregado de Maquir. As tribos de Rúben e de Gad receberam a área que se estende desde o ribeiro de Jaboque, em Gileade, que era a fronteira dos amonitas, até ao meio da depressão onde corre o rio Arnom. Também tiveram a Arabá, limitada a ocidente pelo Jordão, com uma fronteira entre Quinerete e o monte Pisga, até ao mar de Arabá, também chamado mar Salgado. Por essa ocasião lembrei às tribos de Rúben e de Gad, assim como à meia tribo de Manassés que, apesar do Senhor, seu Deus, lhes ter dado aquela terra, não poderiam estabelecer-se definitivamente antes que os seus guerreiros tivessem levado os seus irmãos das outras tribos a atravessar o Jordão e a ocupar a terra que o Senhor lhes tinha dado. “Contudo, as vossas mulheres e os meninos”, disse-lhes, “poderão ficar a viver aqui nas cidades que o Senhor vos deu, ocupando-se do muito gado que têm, até ao vosso regresso, após o Senhor vos ter dado a vitória, a vocês e às outras tribos. Depois de eles terem conquistado a terra que o Senhor, vosso Deus, lhes deu, do outro lado do rio Jordão, poderão regressar ao vosso próprio território.” A seguir, disse a Josué: “Viste o que o Senhor, vosso Deus, fez a estes dois reis. Farás o mesmo a todos os reinos do outro lado do Jordão. Não receies aquelas nações, porque o Senhor, vosso Deus, lutará por vocês.” Nessa altura, fiz um pedido ao Senhor. Contudo, o Senhor estava muito zangado comigo, por vossa causa, e não me deixou entrar na terra. “Basta! Não me fales mais nesse assunto”, ordenou-me. “Sobe ao monte Pisga e de lá poderás olhar em todas as direções; verás assim a terra à distância, mas não atravessarás o Jordão. Manda a Josué que te substitua, e encoraja-o, porque será ele quem levará o povo para o lado de lá e quem conquistará a terra que irás ver do cimo da montanha.” Assim ficámos neste vale, perto de Bete-Peor. E agora, ó Israel, ouve cuidadosamente estes estatutos que te transmito e obedece-lhes, se quiseres viver e tomar posse da terra que o Senhor, Deus dos vossos antepassados, vos dá. Não lhes acrescentem coisa alguma, nem lhes diminuam seja o que for; cumpram-nos, porque vos foram comunicados pelo próprio Senhor, o vosso Deus. Vocês viram o que o Senhor fez por vocês em Baal-Peor, onde destruiu muita gente por ter prestado culto a ídolos. Contudo, todos aqueles que permaneceram fiéis ao Senhor, vosso Deus, estão vivos ainda hoje. São pois estes os mandamentos que devem cumprir quando chegarem à terra onde passarão a viver. Foram dados diretamente pelo Senhor, meu Deus, a mim primeiro, para que os passasse depois a vocês. Se lhes obedecerem, comunicar-vos-ão sabedoria e inteligência. E quando as nações da vizinhança ouvirem falar desses mandamentos, exclamarão: “Não há nação tão sábia e sensata como Israel!” Que outro povo haverá, grande ou pequeno, que tenha Deus a viver no seu meio, como acontece com o Senhor, nosso Deus, que está sempre entre nós, pronto para quando o chamamos? E que nação há, seja de que grandeza for, que tenha leis tão justas como estas que vos dou hoje? Tenham muito cuidado! Nunca se esqueçam daquilo que viram Deus fazer por vocês. Que os seus milagres possam ter um efeito profundo e permanente sobre as vossas vidas. Contem aos vossos filhos e netos as maravilhas que ele executou. Digam-lhes em especial o que aconteceu no dia em que estiveram perante o Senhor, vosso Deus, no monte Horebe, e em que ele me disse: “Convoca todo o povo para que venha à minha presença e instruí-los-ei para que aprendam a reverenciar-me e ensinem aos seus descendentes as minhas leis.” Vocês ali estiveram na base da montanha e esta ardia em fogo; subiam chamas até ao céu, rodeadas por nuvens negras e espessa escuridão. O Senhor falou-vos desde aquele fogo; ouviram-lhe as palavras, mas não o viram. Foi ali que proclamou a sua aliança, a que deverão obedecer, os dez mandamentos, e escreveu-as em duas placas de pedra. Sim, foi nessa altura que o Senhor me mandou decretar-vos as leis a que devem obedecer quando chegarem à terra prometida. Mas atenção! Nunca chegaram a ver qualquer forma de Deus, nesse dia em que o Senhor vos falou desde aquelas labaredas no monte Horebe; por isso, não se enganem a vós mesmos, nem se deixem corromper tentando fazer alguma imagem de Deus ou um ídolo, sob que forma for, seja de homem ou de mulher, de animal quadrúpede ou de ave, de réptil ou de peixe. Nunca levantem os vossos olhos para o firmamento, a fim de adorar o Sol ou a Lua ou as estrelas, pois o Senhor, vosso Deus, deu-os a todos os povos debaixo dos céus. O Senhor libertou-vos da fornalha de ferro do Egito para que sejam um povo seu, especial, que lhe pertença em particular; isto mesmo é o que vocês são agora. Contudo, o Senhor irou-se comigo, por vossa causa, e prometeu que eu não atravessaria o rio Jordão para a boa terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá como possessão. Por isso, devo morrer no lado de cá do rio, mas vocês hão de atravessá-lo e hão de tomar posse daquela terra maravilhosa. Tenham cuidado e não se esqueçam da aliança que o Senhor, vosso Deus, fez convosco! Uma forma de a anularem será fazerem imagens de ídolos de qualquer espécie, visto que o Senhor, vosso Deus, o proibiu de uma forma muito clara. O Senhor, vosso Deus, é cioso; é como um fogo devorador. No futuro, quando os vossos filhos e netos, os vossos descendentes, tiverem nascido na terra onde se vão instalar, quando já tiver passado bastante tempo depois de terem ocupado a terra, quando começarem a corromper-se, modelando e talhando ídolos, e o Senhor, vosso Deus, ficar muito encolerizado por causa do vosso pecado, os céus e a Terra são testemunhas de como serão rapidamente destruídos e postos fora da terra. Daqui a pouco irão atravessar o rio e tomar a terra, mas os dias que ali viverem não serão muito prolongados; serão duramente aniquilados. O Senhor vos espalhará entre as outras nações e ficarão reduzidos em número. Lá nessas terras bem distantes, prestarão culto a ídolos, feitos meramente de madeira e de pedra, ídolos que não podem nem ver, nem ouvir, nem comer, nem cheirar! Então começarão a procurar o Senhor, o vosso Deus, e hão de encontrá-lo, quando o procurarem com todo o vosso coração, com toda a vossa alma. Quando esses tempos amargos caírem sobre vocês, nesse futuro que há de vir, então finalmente hão de voltar-se para o Senhor, vosso Deus, e ouvir o que ele vos disse. Porque o Senhor, vosso Deus, é misericordioso, não vos abandonará, nem vos destruirá totalmente, nem se esquecerá da aliança que fez com os vossos antepassados e que jurou cumprir. Em toda a história da humanidade, desde o tempo em que Deus criou o homem sobre a Terra, procurem de uma ponta à outra do mundo, se podem encontrar alguma coisa semelhante a isto: uma nação inteira ouvir a voz de Deus a falar do meio do fogo, como aconteceu convosco, e continuar a viver! Que outro exemplo se poderá achar semelhante a este, em que Deus tira um povo da escravidão, enviando contra os que o dominavam terríveis pragas, poderosos milagres, guerra e terror? E foi isso que o Senhor, vosso Deus, fez por vocês no Egito, mesmo perante os vossos olhos. Ele fez tudo isso para que se dessem conta de que o Senhor é Deus e de que não há outro semelhante a ele. Fez com que ouvissem a sua voz, instruindo-vos desde os céus; mostrou-vos o seu tremendo fogo sobre a Terra; escutaram mesmo as palavras proferidas pelo próprio Deus de dentro desse fogo. Foi porque amou os vossos antepassados, e porque decidiu abençoar os seus descendentes, que Deus, com a sua presença, vos trouxe para fora do Egito, numa grande demonstração do seu poder. Lançou fora, na vossa frente, outras nações muito mais poderosas e deu-vos as suas terras como propriedade, o que aliás se está a cumprir agora. Esta é a ideia maravilhosa que deverá ocupar o vosso pensamento: que Senhor é Deus tanto nos céus como na Terra; não há outro além dele. Terão de obedecer a estas leis que hoje vos transmito, para que tudo vos vá bem, a vocês e aos vossos filhos, e para que vivam para sempre nesta terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá. Então Moisés ordenou ao povo de Israel que pusesse de parte três cidades na parte nascente do rio Jordão, nas quais alguém que tivesse acidentalmente matado outra pessoa pudesse refugiar-se. Estas povoações foram Bezer, no planalto do deserto, para a tribo de Rúben; Ramote, em Gileade, para a tribo de Gad; e Golã, em Basã, para a tribo de Manassés. Segue-se a Lei que Moisés deu ao povo de Israel, mandamentos, leis e preceitos que Moisés lhes transmitiu, depois de terem deixado o Egito, enquanto estavam acampados na margem oriental do rio Jordão, perto da cidade de Bete-Peor. Esta foi a terra antes ocupada pelos amorreus, sob o domínio do rei Siom, e cuja capital era Hesbom; tanto este como o seu povo foram destruídos por Moisés, pelos israelitas. Israel conquistou não só esta terra, como também a do rei Ogue de Basã; aliás, os dois reis eram amorreus desse lado do Jordão. Israel tomou também todo o território desde Aroer, no limite da depressão do ribeiro de Arnom, até ao monte Siom, que é o Hermon; assim como todo o oriente, com Arabá a nascente do Jordão, até ao mar Salgado, sob as ravinas do monte Pisga. Moisés continuou a falar ao povo de Israel e disse-lhes: Ouçam agora cuidadosamente todas estas leis que Deus vos deu. Retenham-nas e nunca deixem de as cumprir! O Senhor, nosso Deus, fez uma aliança connosco no monte Horebe. Reparem bem que não foi com os vossos pais que essa aliança foi estabelecida, mas connosco, os que estamos vivos agora. Falou convosco face a face no meio do fogo lá na montanha. Eu fui intermediário entre vocês e o Senhor, para vos anunciar a palavra do Senhor, porque vocês estavam aterrorizados com todo aquele braseiro e não subiram o monte. Foi isto o que ele disse: “Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te libertou da escravidão do Egito. Não prestes culto a outros deuses senão a mim. Não faças imagens nem esculturas de ídolos: seja do que for que viva no céu, na Terra ou nos mares. Não te inclines perante elas, nem lhes prestes adoração. Porque eu sou o Senhor, teu Deus. Não admito partilhar o culto com outros deuses e castigo a maldade dos que me desprezam, até à terceira e quarta geração. Mas dispenso o meu amor sobre milhares dos que me amam e me obedecem. Não faças uso do nome do Senhor, teu Deus, de uma forma irreverente. Não escaparás ao castigo se o fizeres. Respeita o dia de sábado como um dia santo, conforme o Senhor, teu Deus, te ordenou. Durante seis dias trabalharás, e neles realizarás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás qualquer trabalho; nem os teus filhos, nem os teus servos, nem o teu boi ou burro ou qualquer dos teus animais, nem os estrangeiros que vivem contigo, para que os teus servos repousem como tu. Não te esqueças que foste escravo no Egito, donde o Senhor, teu Deus, te tirou com o seu poderoso e forte braço. E assim te ordenou que guardasses o sábado. Honra o teu pai e a tua mãe, como o Senhor, teu Deus, te ordenou, para que tenhas uma longa vida na terra que o Senhor, teu Deus, te dá e tudo te vá bem. Não mates. Não adulteres. Não roubes. Não profiras uma falsa acusação contra outra pessoa. Não cobices a mulher do teu próximo. Não cobices a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo ou a serva, o gado e os animais de carga, ou qualquer outra coisa que lhe pertença.” São estas as palavras que vos dirigiu o Senhor desde o interior do fogo, com grande voz, rodeado pelas nuvens e pela espessa escuridão que envolvia o Sinai. Foram estes os únicos mandamentos que vos deu nessa altura; escreveu-os em duas placas de pedra que me entregou. Contudo, quando ouviram a forte voz vinda da escuridão, e viram todo aquele terrível fogo ardendo no cimo da montanha, todos os chefes das vossas tribos e os vossos anciãos se chegaram junto a mim, rogando: “Hoje vimos a glória e a grandeza do Senhor, nosso Deus, e ouvimos a sua voz saindo do meio do fogo. Sabemos agora que Deus pode falar ao homem, sem que este tenha de morrer. Contudo, morreremos certamente se voltar a falar connosco, porque este fogo tremendo acabará por nos consumir. Qual é o ser humano que pode ouvir, como nós ouvimos, a voz do próprio Deus vivo, falando-nos do interior das labaredas e continuar com a viver? Vai tu, escuta tudo o que o Senhor, nosso Deus, te disser e vem depois comunicá-lo a nós. Prestaremos atenção e obedeceremos a tudo.” O Senhor aceitou o vosso requerimento e disse-me: “Ouvi o que o povo te disse e estou de acordo. Quem dera tivessem sempre um coração inclinado para mim, desejoso de obedecer aos meus mandamentos! Tudo iria bem para eles no futuro, e para os seus descendentes, por todas as gerações vindouras! Vai então e diz-lhes que voltem para as tendas. Tu, porém, ficarás junto de mim, enquanto te der todos os meus mandamentos, os quais ensinarás ao povo, para que os cumpram na terra que lhes der.” Por isso, deverão obedecer a todos os mandamentos do Senhor, vosso Deus, seguindo as suas diretivas em cada detalhe; seguindo decididamente no caminho que vos traça, sem se desviarem nem para um lado nem para o outro. Só assim terão uma vida longa e próspera na terra que vão possuir. O Senhor, vosso Deus, disse-me para vos dar todos estes estatutos que devem cumprir na terra onde em breve vão entrar e onde vão passar a viver. A finalidade desses preceitos é levar-vos, a vocês, aos vossos filhos e aos vossos descendentes a temer ao Senhor, vosso Deus, através da obediência às suas instruções todo o tempo que viverem. Se o fizerem, terão uma vida longa e muitos anos de prosperidade pela frente. Portanto, ó Israel, atenta cuidadosamente para cada um desses mandamentos e procura cumpri-los rigorosamente, para que tudo te vá bem e para que te multipliques como nação. Se obedecerem a estes regulamentos tornar-se-ão numa grande nação nessa terra onde jorra leite e mel, tal como vos prometeu o Senhor, Deus de vossos pais. Ouve, Israel: só o Senhor e apenas ele é o nosso Deus. Ama o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força. Estas palavras que hoje vos dou deverão estar constantemente gravadas nas vossas mentes. Ensinem-nas aos vossos filhos; falem nelas quando estiverem em casa, fora ou caminhando. Que seja a última coisa que fazem ao deitar e a primeira ao levantar no dia seguinte. Que elas vos acompanhem como um sinal que atam a um dedo, como uma marca que esteja inscrita nas vossas testas. Que os vossos lares sejam conhecidos por terem essas leis escritas à entrada. Quando o Senhor, vosso Deus, vos tiver trazido para a terra que prometeu aos vossos antepassados Abraão, Isaque e Jacob, e quando vos tiver dado grandes cidades, plenas de boas coisas, cidades que não foram vocês a construir, casas cheias de tudo o que é bom, sem teres sido tu a enchê-las, com poços que também não foram vocês a abrir e com vinhas e olivais que igualmente não plantaram, e começarem a comer dos seus frutos até estarem satisfeitos, nessa altura tenham muito cuidado em não se esquecerem do Senhor que vos tirou do Egito, dessa terra de escravidão. Não se esqueçam de continuar a temer o Senhor, vosso Deus, de continuar a servi-lo, de usar o seu nome só como garantia dos vossos votos. Não adorem os deuses das nações vizinhas, porque o Senhor, o vosso Deus, que vive no vosso meio, é um Deus cioso e a sua ira pode acender-se rapidamente contra vocês e fazer-vos desaparecer sobre a face da terra. Por isso, não devem provocar o Senhor, vosso Deus, que foi o que aconteceu quando protestaram contra ele em Massá. Esforcem-se por cumprir os mandamentos do Senhor, vosso Deus, as suas instruções e as leis, que ele vos deu. Só então poderão ter a certeza de estar a fazer o que é justo e o que é bom aos olhos do Senhor. Se lhe obedecerem, tudo vos correrá bem e poderão tomar posse da boa terra que o Senhor prometeu aos vossos antepassados. Terão também força para expulsar deste território todos os adversários, visto que o Senhor colaborará convosco. Nos tempos vindouros, quando os vossos filhos vos perguntarem: “Para que servem todas estas leis, mandamentos e preceitos que o Senhor, nosso Deus, nos deu?”, deverão responder-lhes: “Nós fomos escravos do Faraó no Egito e o Senhor nos tirou de lá pelo seu grande poder, e com tremendos milagres, golpes terríveis para o Egito e para o Faraó, e toda a sua casa. Vimos tudo isso com os nossos próprios olhos. Tirou-nos dali para conduzir-nos e dar-nos esta terra que tinha prometido aos nossos antepassados. E mandou-nos obedecer a todas estas leis para temermos ao Senhor, nosso Deus, para poder preservar-nos com vida, como tem acontecido até agora. Seremos justificados ao obedecermos a todos os preceitos do Senhor, nosso Deus, conforme ele nos ordenou.” Quando o Senhor, vosso Deus, vos trouxer para a terra prometida, destruirá as seguintes sete nações, todas maiores e mais poderosas do que vocês. São elas: os hititas, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. Quando o Senhor, vosso Deus, os entregar nas vossas mãos, destruam-nos completamente. Não façam, de maneira nenhuma, qualquer espécie de aliança com eles; não tenham misericórdia deles. Devem liquidá-los completamente. Não aceitem casamentos com eles; os vossos filhos e filhas não deverão ligar-se com as filhas e filhos deles. Se isso se desse, com toda a certeza que os vossos filhos começariam a adorar os seus ídolos. E então a cólera do Senhor se acenderia contra vocês e vos destruiria sem hesitar. Terão de deitar abaixo os seus altares pagãos, de quebrar os seus obeliscos, de destruir os seus postes ídolos de Achera, de queimar tudo aquilo que adoram. Porque vocês são um povo santo, consagrado ao Senhor, vosso Deus. Ele vos escolheu de entre todos os povos da face da Terra, para que sejam sua propriedade preciosa. Não foi por serem uma grande nação, maior do que qualquer outra, pois até eram muito poucos, que vos preferiu e derramou sobre vocês o seu amor! Foi antes porque vos amou, e porque manteve a promessa que fizera aos vossos antepassados. Foi por isso que vos arrancou da servidão do Egito com uma força tão maravilhosa e com milagres poderosos. Compreendam pois que o Senhor, vosso Deus, é o Deus fiel que, por milhares de gerações, guarda a aliança e conserva o seu amor para com aqueles que o amam e lhe obedecem. Mas os que o odeiam e repelem serão individualmente castigados e aniquilados. Tratará com eles pessoalmente. Portanto, obedeçam-lhe quanto a todos estes mandamentos que hoje vos transmito. Em consequência da vossa obediência, o Senhor, vosso Deus, respeitará a sua parte na aliança que, pelo grande amor que vos tem, estabeleceu com os vossos antepassados. Amar-vos-á e vos abençoará; fará de vocês uma grande nação. Tornar-vos-á férteis e produtivos; dará igualmente fertilidade à vossa terra e aos vossos animais, de tal forma que serão abundantes as vossas colheitas de cereais, de vinho novo e de azeite; possuirão grandes rebanhos de gado, de ovelhas e de vacas, quando viverem na terra que prometeu aos vossos antepassados dar-vos. Serão abençoados muito acima das outras nações da Terra; não haverá ninguém no vosso meio, homem ou mulher, que seja estéril, nem sequer entre os animais. O Senhor fará desaparecer a doença e não deixará que sofram de qualquer daqueles males que tinham no Egito, e de que bem se devem ainda lembrar. Serão antes os vossos inimigos que passarão a sofrer disso. Terão de destruir todas as nações que o Senhor, vosso Deus, entrega nas vossas mãos. Não tenham piedade delas; nunca venham a prestar culto aos seus deuses. Se o fizerem, isso será uma armadilha para vocês. Talvez pensem, cada um lá no íntimo: “Como é que vamos poder conquistar estas nações que são muito mais poderosas do que nós?” Mas não devem ter medo deles. Lembrem-se do que o Senhor, vosso Deus, fez ao Faraó e a toda a terra do Egito. Sabem bem o terror com que os encheu; os vossos pais viram com seus próprios olhos os milagres formidáveis, as maravilhas, a força que o Senhor, vosso Deus, empregou para vos tirar do Egito! Pois bem, o Senhor, vosso Deus, usará desse mesmo poder contra os povos que receiam. E mais ainda, o Senhor, vosso Deus, mandará vespões para expulsar aqueles que venham ainda a esconder-se. Não, não tenham medo dessas nações, porque o Senhor, vosso Deus, está no vosso meio; ele é um Deus grande e tremendo. Aliás, o Senhor, vosso Deus, lançá-las-á fora a pouco e pouco; não fará isso logo duma vez, porque se assim fizesse, os animais ferozes se multiplicariam com muita rapidez e seria perigoso. Fá-lo-á gradualmente. É o Senhor, teu Deus, quem vai entregá-las a ti. Vocês irão contra elas; serão elas, sim, que se encherão de terror e destruí-las-ão. Entregará os seus reis nas vossas mãos e vocês riscarão os seus nomes da face da Terra. Ninguém será capaz de vos fazer frente. Queimem os seus ídolos e não cobicem nem fiquem com a prata ou o ouro de que são feitos. Tornar-se-iam uma cilada, se o fizessem. Porque essas coisas são todas malditas, abomináveis, para o Senhor, vosso Deus. Nunca levem nenhum ídolo para a vossa casa para adorá-lo, porque estaria garantida a vossa maldição. Devem repeli-los de forma absoluta, porque são coisas amaldiçoadas. Obedeçam a todos os mandamentos que vos dou hoje. Se o fizerem, não só serão mantidos com vida, como até se hão de multiplicar e poderão entrar na terra que o Senhor prometeu aos vossos antepassados e conquistá-la. Lembrem-se como o Senhor, vosso Deus, vos conduziu através do deserto durante estes 40 anos, humilhando-vos e experimentando-vos para saber o que estava no vosso coração, se guardariam ou não os seus mandamentos. Sim, ele humilhou-vos, deixando-vos ter fome e depois alimentando-vos com o maná, essa comida que nem vocês nem os vossos pais tinham conhecido antes. Fez isso para vos dar a entender que: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Durante estes 40 anos o vosso vestuário não se estragou nem envelheceu; os vossos pés não empolaram nem incharam. Por isso, terão de reconhecer que, tal como um homem castiga o seu filho, assim o Senhor, vosso Deus, vos castiga, para vosso bem. Obedeçam às leis do Senhor, vosso Deus. Andem nos seus caminhos e temam-no. Porque o Senhor, vosso Deus, vos traz para uma boa terra, com ribeiros, fontes e poços profundos, com vales e colinas. Uma terra de trigo e de cevada, de vinhas, de figueiras, de romãzeiras, de oliveiras e de mel. É uma terra de fartura onde não haverá escassez de coisa nenhuma; onde o ferro é tão abundante como a pedra e onde se encontra cobre nas colinas. Quando tiverem comido até fartar, agradeçam e louvem o Senhor, vosso Deus, pela boa terra que vos deu. No entanto, é nessas alturas que deverão estar mais atentos! Tenham cuidado que a vossa abundância não vos faça esquecerem-se do Senhor, vosso Deus, para virem a desobedecer-lhe. Porque quando começarem a ficar cheios e prósperos, e se puserem a construir belas casas para habitarem, quando os vossos rebanhos e manadas se tiverem tornado muito grandes, quando tiverem abundância de prata e de ouro, então é tempo de ter muito cuidado, para não se tornarem orgulhosos e não se esquecerem do Senhor, vosso Deus, que vos arrancou da servidão da terra do Egito. Ele vos levou através do terrível deserto, cheio de perigosas serpentes e de escorpiões, onde o calor ardia e a secura era tão grande que teve de tirar-vos água de uma rocha! Alimentou-vos com o maná no deserto, o qual era uma espécie de pão que nunca antes tinham conhecido; e isso para que aprendessem a humildade, para vos pôr à prova e para que Deus vos fizesse prosperar no futuro. Portanto, não digam no vosso íntimo: “Eu é que consegui fazer esta enorme riqueza, com a minha força, com as minhas próprias mãos.” Lembrem-se de que foi o Senhor, vosso Deus, que vos deu a possibilidade de enriquecerem, e que se o fez foi para confirmar a aliança que fizera aos vossos antepassados. Contudo, se se esquecerem do Senhor, vosso Deus, e adorarem outros deuses, seguindo os vossos maus caminhos, então com toda a certeza hão de perecer tal como fez com outras nações no passado. Esse será também o vosso destino, se não obedecerem ao Senhor, vosso Deus. Ouve, ó Israel! Hoje vão atravessar o rio Jordão e começar a tirar às nações do lado de lá a posse dessas terras. São nações muito maiores e mais poderosas do que vocês! Vivem em cidades rodeadas de altas muralhas. No meio delas vivem os famosos gigantes de Anaque de quem se diz que ninguém lhes pode fazer frente! Mas o Senhor, vosso Deus, irá adiante de vocês e será como um fogo devorador que os consumirá, de tal forma que num curto espaço de tempo os conquistarão e os lançarão dali para fora. Então, quando o Senhor, vosso Deus, tiver feito isso em vosso favor, não digas no teu coração: “O Senhor ajudou-nos porque somos bons e justos!” Não, de maneira nenhuma; foi por causa da maldade dessas outras nações que ele fez isso. Não foi porque fossem gente justa e honesta que o Senhor os expulsou na vossa frente. Repito, foi por causa da impiedade desses povos e também por causa daquilo que prometera aos vossos antepassados, Abraão, Isaque e Jacob. O Senhor, o vosso Deus, dá-vos esta boa terra não por serem justos, pois não são; vocês são uma gente rebelde. Não se lembram como continuamente provocavam a ira do Senhor, vosso Deus, no deserto, desde o dia em que deixaram o Egito até agora? Durante todo esse tempo, constantemente se revoltaram contra ele! Lembrem-se como o encolerizaram no monte Horebe. Ele estava pronto a destruir-vos. Eu estava lá na montanha nessa altura, recebendo os termos em que o Senhor estabelecia convosco uma aliança; eram duas placas de pedra com essas leis lá inscritas. Estive ali quarenta dias e quarenta noites sem nada comer durante todo esse tempo; nem água sequer bebi. O Senhor disse-me: “Desce depressa, porque o teu povo, que tu conduziste para fora do Egito, se corrompeu, afastando-se rapidamente do caminho que tracei para ele, e fizeram um ídolo de metal fundido.” E o Senhor continuou: “Vejo que este povo é mesmo rebelde! Deixa-me sozinho, para que destrua este povo mau e obstinado. Apagarei o seu nome de baixo do céu e farei de ti uma grande nação, ainda maior e mais poderosa do que eles.” Desci então da montanha, enquanto ela ardia em chamas, e eu trazia nas mãos as duas placas da aliança com as leis de Deus lá inscritas. Ao descer, vi logo lá em baixo o bezerro que vocês tinham feito, no vosso terrível pecado contra o Senhor, vosso Deus. Como se desviaram tão depressa! Levantei as placas e lancei-as ao chão, partindo-as sob os vossos olhos! Então durante outros quarenta dias e quarenta noites estive prostrado perante o Senhor, sem nada comer nem beber; pois tinham feito aquilo que o Senhor mais abominava, provocando grandemente a sua ira. Receei muito por vocês nessa altura, porque vi bem como o Senhor estava mesmo pronto para vos destruir. Mas ainda dessa vez aceitou ouvir-me. Aarão corria grande risco porque o Senhor estava muito irado contra ele; mas eu orei e o Senhor poupou-o. Tomei então o vosso pecado, o bezerro que tinham feito, fi-lo arder e moí-o até ficar em pó; seguidamente lancei esse pó para a torrente que jorrava da montanha. Também em Tabera, em Massá, e em Quibrote-Hatava, encolerizaram o Senhor. Em Cades-Barneia, quando o Senhor, vosso Deus, vos disse para subirem e tomarem posse da terra que vos tinha dado, revoltaram-se e não quiseram acreditar que vos ajudaria; recusaram mais uma vez obedecer-lhe. Sim, vocês foram rebeldes contra o Senhor desde os primeiros dias em que vos conheci. Por isso, estive prostrado perante o Senhor esses quarenta dias e quarenta noites, quando o Senhor estava pronto a destruir-vos. Eu orei dizendo-lhe: “Ó Senhor Deus, não destruas o teu próprio povo. São a tua possessão que salvaste do Egito com o teu grande poder, com a tua força gloriosa. Não leves em consideração a rebelião, o endurecimento deste povo; lembra-te em vez disso das promessas que fizeste aos teus servos Abraão, Isaque e Jacob. Oh! Peço-te que perdoes a tremenda maldade e o pecado deste povo! Porque se o destruires, os egípcios dirão que foi por o Senhor não ter sido capaz de os levar à terra que lhes prometera, ou então que os destruiu porque afinal lhes queria mal; que os trouxe para o deserto para os assassinar ali. Eles são o teu povo, a tua possessão, que tiraste do Egito pelo teu grande poder, com o teu poderoso e forte braço!” Nessa altura, o Senhor disse-me para talhar duas novas placas de pedra semelhantes às primeiras e para fazer uma arca de madeira, e para voltar depois para junto dele na montanha, porque haveria de tornar a escrever nessas placas os mesmos mandamentos que estavam nas outras que eu quebrara. E depois teria de colocá-las na arca. Fiz então a arca com madeira de acácia e talhei as duas placas de pedra como as primeiras, levando-as até ao cimo da montanha junto de Deus. Ele escreveu nelas os dez mandamentos e tornou a dar-mas. Nelas estavam inscritas as mesmas leis que vos tinha dado do meio do fogo que rodeava a montanha, enquanto olhavam cá de baixo. Desci pois, coloquei-as na arca que fizera, e onde estão até hoje, tal como o Senhor ordenara. O povo de Israel deslocou-se, depois disto, de Berote-Bene-Jaacá até Mosera, onde Aarão morreu e foi enterrado. O seu filho Eleazar sucedeu-lhe no exercício das funções de sacerdote. Depois foram até Gudgoda e daí a Jotbatá, terra percorrida por vários cursos de água. Foi lá que o Senhor mandou separar a tribo de Levi e consagrá-la ao transporte da arca da aliança do Senhor, e a manter-se perante o Senhor, fazendo o serviço de Deus e louvando o seu nome, como acontece atualmente. É por isso que a tribo de Levi não tem nenhum quinhão na terra prometida, como têm as tribos dos seus irmãos; porque como o Senhor, vosso Deus, lhes tinha dito, ele próprio é o quinhão que lhes compete. Tal como disse antes, eu tinha permanecido no monte perante o Senhor durante quarenta dias e quarenta noites, da segunda vez, como acontecera da primeira, e o Senhor ouviu de novo o meu clamor e não vos destruiu. Contudo, disse-me: “Levanta-te e leva o povo para a terra que prometi aos seus antepassados. É tempo de tomar posse dela.” Eis que tanto a Terra e tudo o que nela existe, como os altos céus pertencem ao Senhor, vosso Deus. Apesar disso o Senhor teve alegria nos vossos antepassados e amou-os de tal maneira que vos escolheu de entre todos os povos, como é agora evidente. Por isso, circuncidem os vossos corações pecadores e abandonem o vosso endurecimento. Pois o Senhor, o vosso Deus, é Deus de deuses e Senhor de senhores. É o grande e poderoso Deus, o Deus tremendo de perfeita imparcialidade que nunca se deixaria ganhar com presentes. É ele quem faz justiça aos órfãos e às viúvas. O seu amor dirige-se também aos estrangeiros e dá-lhes pão e com que se vestir. Por isso, também devem amar os que são estranhos a Israel, pois foi o que vocês foram no Egito. Devem temer o Senhor, vosso Deus, adorá-lo, apegar-se a ele e servi-lo, e só em seu nome fazer qualquer voto na vossa vida. É ele a única razão dos vossos louvores. É ele o vosso Deus, aquele que realizou os poderosos milagres que viram. Quando os vossos antepassados desceram para o Egito eram apenas 70 pessoas, mas agora o Senhor, vosso Deus, tornou-vos tão numerosos como as estrelas do céu! Deverão amar o Senhor, vosso Deus, e cumprir os seus preceitos, os seus decretos, as suas leis e os seus mandamentos, durante toda a vossa vida. Ouçam bem! Não estou a falar com os vossos filhos que não tiveram a experiência dos castigos do Senhor, vosso Deus, nem viram a imensidão do seu tremendo poder. Eles não assistiram aos milagres que fez no Egito contra Faraó em toda aquela terra. Não viram o que Deus fez aos exércitos do Egito, aos seus cavalos, aos seus carros de combate; como os afundou no mar Vermelho, quando vos perseguiam, e como anulou toda a sua força até ao dia de hoje. Eles não sentiram como Deus tomou conta de vocês, momento após momento, por todos estes anos em que andaram vagueando pelo deserto até chegarem aqui. Eles não estavam lá quando Datã e Abirão, os filhos de Eliabe, descendentes de Rúben, pecaram e a terra se abriu e foram engolidos com as suas famílias, as tendas e tudo o que tinham, aos olhos de todo o Israel! Vocês, sim, viram todas essas coisas espantosas que o Senhor realizou. Por isso, tanto mais zelosos devem ser na observância destes mandamentos que vos dou hoje, para que possam ter força para tomar posse da terra que vão conquistar. Se obedecerem a estas ordenanças desfrutarão de uma vida próspera e longa na terra que o Senhor vos prometeu e àqueles de quem descendem, uma terra onde jorra leite e mel. Porque essa terra onde se preparam para entrar não é como o território do Egito donde vêm, onde era necessário regar com bombas operadas com o pé para dar de beber à terra. Esta é uma terra de colinas e de vales onde a terra é regada pelas chuvas que caiem do céu; é uma terra da qual o Senhor, vosso Deus, se ocupa pessoalmente! Os seus olhos estarão sempre sobre ela, dia após dia, todo o ano. Se cuidadosamente respeitarem todas estas leis que vos dou hoje, e se amarem o Senhor, vosso Deus, com todo o coração e de toda a vossa alma, e o adorarem, então, enviar-vos-ei chuvas no seu devido tempo, chuvas do outono e da primavera, as quais farão produzir maravilhosas colheitas de cereais, de vinho novo e de azeite. Terão excelentes pastagens para o gado, beneficiarão de comida abundante e viverão felizes. Mas tenham cuidado que os vossos corações não se desviem de Deus, para vir a adorar uns outros deuses quaisquer. Pois se o fizerem, a ira do Senhor se acenderá severamente contra vocês e vos fechará os céus; não haverá mais chuva, nem belas searas, e depressa perecerão nessa boa terra que o Senhor vos dá. Por isso, guardem estes mandamentos atentamente nos vossos espíritos. Atem-nos às vossas mãos como um sinal de lembrança, para nunca falharem em obedecer-lhes; ponham-nos nas vossas testas, entre os olhos! Ensinem-nos aos vossos filhos. Falem deles quando estiverem sentados, repousando em casa, ou quando saírem e estiverem caminhando fora de casa, à hora de deitar e à hora de levantar de manhã. Escrevam-nos nas portas das vossas casas, à entrada das vossas habitações, a fim de que, enquanto houver céus acima da Terra, vocês e os vossos filhos gozem dessa vida próspera que vos espera na terra que o Senhor jurou dar aos vossos antepassados. Se obedecerem cuidadosamente aos mandamentos que vos dou, se amarem o Senhor, vosso Deus, andando em todos os seus caminhos, apegando-se a ele, então o Senhor lançará fora da vossa terra todos os outros povos, ainda que possam ser maiores e mais poderosos do que vocês. Para onde quer que forem a terra é vossa. As vossas fronteiras estender-se-ão desde o Negueve, a sul, até ao Líbano, e desde o rio Eufrates até ao mar Mediterrâneo. Ninguém terá poder bastante para vos fazer frente, porque o Senhor, vosso Deus, mandará medo e terror à vossa frente, para onde quer que forem, como prometeu. Hoje vos proponho a escolha entre a bênção e a maldição de Deus! Haverá bênção se obedecerem aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos dou; haverá maldição se os rejeitarem e se se puserem a adorar os deuses dos outros povos. Quando o Senhor, vosso Deus, vos estabelecer na terra que vão possuir, deverá ser proclamada uma bênção no monte Gerizim e uma maldição no monte Ebal. Gerizim e Ebal são dois montes a poente do rio Jordão, onde moram os cananeus, nas campinas de Gilgal, onde estão os carvalhais de Moré. Vão pois atravessar o Jordão e viver na terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá. Quando tomarem posse dela e nela viverem, deverão obedecer a todas as leis que hoje vos dou. São então estas as leis que devem guardar quando chegarem à terra que o Senhor, o Deus de vossos antepassados, vos deu para sempre: Terão de destruir todos os altares pagãos, das gentes que habitavam essa terra, seja onde for que os encontrarem; no cimo das montanhas, nas colinas, debaixo de árvores. Quebrem os altares, reduzam a pó os pilares, queimem os seus postes ídolos de Achera, deitem abaixo os ídolos de metal; não deixem vestígio algum dessas coisas! Não deverão apresentar sacrifícios ao Senhor, vosso Deus, num sítio qualquer, como os antigos habitantes faziam com os seus deuses. Pelo contrário, deverão construir-lhe um santuário, num lugar que ele mesmo escolherá para sua habitação. Será aí que trarão os holocaustos e outros sacrifícios, os dízimos, as ofertas apresentadas com o gesto próprio diante do altar, ofertas para cumprir votos feitos, ofertas voluntárias e os primeiros animais nascidos ao vosso gado. Será ali que vocês e as vossas famílias celebrarão as festividades perante o Senhor, vosso Deus, alegrando-se pelo bom resultado dos vossos trabalhos, com que o Senhor, vosso Deus, vos abençoou. Não vão continuar a viver, cada um como entende, à sua maneira, fazendo o que lhe parece justo a si mesmo; porque estas leis terão efeito, na verdade, quando entrarem no lugar que o Senhor, vosso Deus, vos dá para repousarem. Quando atravessarem o rio Jordão e passarem a viver na terra prometida, e o Senhor, vosso Deus, vos der descanso e vos mantiver seguros em relação a todos os vossos inimigos, então deverão trazer tudo o que vos mandei oferecer: os vossos holocaustos, os vossos sacrifícios, os vossos dízimos, as vossas ofertas sagradas, e toda a espécie de promessas que fizeram ao Senhor. Tudo isso trarão ao lugar que o Senhor, vosso Deus, escolher para seu santuário, o lugar em que o seu nome é adorado. Será ali que se alegrarão na presença do Senhor, vosso Deus, com os vossos filhos, filhas e criados. Não se esqueçam de convidar os levitas para as vossas confraternizações, porque não têm terra deles. Não sacrifiquem os vossos holocaustos em qualquer lugar; só poderão fazê-lo no lugar que o Senhor vos disser. Há de ser no território que terá cabido em sorte a uma das tribos. Só lá poderão oferecer os vossos holocaustos e trazer as vossas ofertas. Contudo, os animais que abatem para vossa alimentação poderão ser mortos onde quiserem, como fazem agora com as gazelas e os veados. Comam carne sempre que quiserem e puderem obtê-la. Mesmo os que estão ritualmente impuros podem comê-la. A única restrição é que não comam o sangue; derramem-no no chão, como se fosse água. No que diz respeito aos sacrifícios, não poderão ser comidos em casa; nem tão-pouco os dízimos dos vossos cereais, do vinho novo, do azeite, nem das primeiras crias dos vossos rebanhos e do vosso gado, nem coisa alguma que tenha sido votada ao Senhor, vosso Deus, nem mesmo as ofertas voluntárias ou as que devem ser apresentadas ao Senhor defronte do altar. Essas coisas só as podem comer no lugar que ele escolher. Vocês, os vossos filhos e os levitas as comerão perante o Senhor, vosso Deus. Alegrem-se perante o Senhor, vosso Deus, em tudo o que fizerem. E tenham cuidado em não se esquecerem dos levitas. Compartilhem com eles. tal como fazem agora com as gazelas e os veados. E mesmo as pessoas cerimonialmente impuras podem comer disso. A única restrição é nunca comerem o sangue, porque o sangue é a vida; não comerão a vida com a carne. Em vez disso, derramem o sangue sobre a terra como água. Se o fizerem, tudo vos irá bem, convosco e com os vossos filhos, pois desse modo farão o que é justo ao olhos do Senhor. Mas as coisas que consagraram e as vossas promessas devem ir oferecê-las no lugar que o Senhor tiver escolhido. Estes terão mesmo de ser sacrificados no altar do Senhor, vosso Deus. O sangue será derramado diante do altar, e comerão a carne. Tenham cuidado em cumprir todos estes preceitos. Se fizerem o que for justo aos olhos do Senhor, vosso Deus, tudo vos irá bem, assim como aos vossos filhos, para sempre. Quando ele destruir os povos da terra onde vão passar a viver, não lhes sigam o exemplo, adorando os seus deuses. Não digam: “Gostaríamos de saber como é que eles faziam as suas adorações!” Porque isso vos levaria a imitá-los, a copiar o culto deles. Fazer isso seria o mesmo que insultar o Senhor, vosso Deus. Essas nações fazem coisas abomináveis que ele odeia; e tudo em nome da sua religião! Chegaram a queimar os próprios filhos e filhas, sacrificando-os aos seus deuses. Por isso, obedeçam a todos os mandamentos que vos dou. Nada lhes acrescentem nem tirem. Se houver no vosso meio um profeta ou alguém que afirme prever o futuro por meio de sonhos, e no caso das suas predições virem a realizar-se, e vos incitar: “Venham, adoremos os deuses doutras nações que não conhecem!”, não o ouçam. Porque o Senhor está a experimentar-vos para saber se realmente o amam de todo o coração e com toda a vossa alma. Sigam somente o Senhor, vosso Deus, e temam-no; obedeçam só aos seus mandamentos e cheguem-se a ele, sirvam-no e permaneçam fiéis a ele. O profeta ou sonhador que tentar desviar-vos terá de ser executado, porque tentou fomentar a revolta contra o Senhor, vosso Deus, que vos trouxe da escravidão do Egito. Matando-o estarão a limpar o mal do vosso meio. Mesmo que seja o vosso parente mais próximo, o vosso amigo mais íntimo, um irmão, um filho, uma filha ou a esposa amada que venha segredar-vos o convite para irem adorar esses deuses estranhos, que não conheceram, nem vocês, nem vossos antepassados, sejam deuses dos povos à vossa volta, vizinhos ou distantes, de qualquer parte do mundo, não consintam, não lhe deem ouvidos nem tenham piedade dele. Não poupem essa pessoa do castigo que merece e, de forma alguma, deem seguimento à sua sugestão. Executem-na! A vossa própria mão deverá ser a primeira a cumprir a ordem de morte sobre essa pessoa que vos era chegada; seguir-se-ão os outros para executar a sentença. Apedrejem-na até que morra, pois tentou desviar-vos dos caminhos do Senhor, vosso Deus, que vos tirou do Egito, a terra de servidão. Todo o Israel terá conhecimento dessa ação, terá medo e não tornará a fazer uma coisa tão má como essa. Se chegar aos vossos ouvidos que, nalguma das povoações de Israel que o Senhor vos deu, apareceu algum homem perverso, pertencente ao vosso próprio povo, que conseguiu desencaminhar os seus concidadãos, levando-os a adorarem deuses estranhos, primeiro apurem os factos, para verificar se realmente isso foi verdade. Se acharem que sim, que realmente aconteceu essa coisa horrível entre vocês, deverão sem hesitar declarar guerra contra essa povoação e destruir completamente os seus habitantes, até mesmo todo o gado. Depois trarão para fora das casas o recheio e tudo o que lá houver, pô-lo-ão no meio das ruas e lançarão fogo a tudo; por último farão arder toda a localidade, como sendo um holocausto que oferecem ao Senhor, o vosso Deus. Essa cidade permanecerá para sempre um montão de ruínas e nunca mais será reconstruída. Não fiquem com nada do que apanharam do recheio das casas ou da cidade! Assim, o Senhor desviará a sua cólera ardente e será misericordioso convosco, terá compaixão e fará de vocês uma grande nação, como prometeu aos vossos antepassados. Na verdade, o Senhor, vosso Deus, só terá misericórdia se lhe forem obedientes, se seguirem à risca os seus mandamentos que hoje vos dou, e se praticarem o que é justo aos olhos do Senhor. Como são filhos do Senhor, vosso Deus, nunca deem golpes em vós mesmos, como fazem os naturais da terra quando prestam culto aos seus ídolos, nem rapem os cabelos da testa nos funerais. Vocês pertencem exclusivamente ao Senhor, vosso Deus, que vos escolheu para serem a sua possessão, mais do que qualquer outra nação do mundo. Não deverão comer nenhum animal que eu tenha declarado impuro. São estes os animais que podem comer: o boi, o cordeiro, a cabra, a gazela, o veado, o búfalo, a cabra-montês, o antílope, o boi selvagem e o gamo. Todo o animal que tenha unhas fendidas e que rumina pode ser comido, mas se não tiver ao mesmo tempo essas duas características não poderão comê-lo; é o que acontece com o camelo, com a lebre e com o damão-do-cabo que ruminam, mas não têm patas com unhas fendidas. Por outro lado, o porco também não pode ser comido, porque embora tendo patas fendidas em duas partes, contudo não rumina. Não deverão sequer tocar nos corpos mortos desses animais. De peixes só comerão os que têm escamas e barbatanas; todas as outras espécies são cerimonialmente impuras. Podem comer de todos os pássaros com exceção destes: a águia, o abutre, a águia pesqueira, o açor, o milhafre, o falcão de toda a espécie, o corvo de toda a espécie, a coruja do deserto, a coruja pequena, a gaivota, o gavião de toda a espécie, o mocho, o corujão-orelhudo, a gralha, a coruja do deserto, o abutre-egípcio, o pelicano, a cegonha, a garça de toda a espécie, a poupa e o morcego. Não comam nenhum animal que possa ter morrido de morte natural. Os estrangeiros poderão dá-lo ou vendê-lo, mas não o comam vocês mesmos, porque são santos para o Senhor, vosso Deus. Não cozerão o cabritinho no leite da sua mãe. Deverão dizimar todas as vossas colheitas de cada ano. Tragam-nas para serem comidas perante o Senhor, vosso Deus, no lugar que há de escolher para ser o seu santuário; isto aplica-se aos dízimos tanto de cereias, como do vinho novo, do azeite, e mesmo às primeiras crias dos vossos rebanhos e ao gado em geral. Os dízimos têm por finalidade ensinar-vos a porem sempre o Senhor, vosso Deus, em primeiro lugar nas vossas vidas. Se o lugar que o Senhor, vosso Deus, escolher para o seu santuário for tão longe que não se torne viável levar esses dízimos até lá, então poderão vender esses cereais ou esse gado e levar depois o dinheiro ao santuário do Senhor. Quando lá chegarem com esse dinheiro, comprem um boi ou um cordeiro ou uma porção de vinho ou outra bebida forte, e comerão isso perante o Senhor, vosso Deus, alegrando-vos, vocês e as vossas famílias. Não se esqueçam de partilhá-lo com os levitas na vossa comunidade, porque não receberam nenhuma propriedade, nem têm colheitas a fazer como vocês. De três em três anos deverão juntar o produto dos vossos dízimos para o armazenar na vossa cidade. Deem-nos aos levitas que não receberam terra ou aos estrangeiros, às viúvas ou aos órfãos que habitam na mesma localidade, para que comam e possam ficar felizes; e então o Senhor, o vosso Deus, vos abençoará e ao vosso trabalho. Ao fim de sete anos deverá haver um cancelamento geral de todas as dívidas. Cada credor deverá considerar como paga qualquer promissória referente a um empréstimo que tenha feito a um seu compatriota israelita, porque nesse ano o Senhor desquita toda a gente de uma obrigação com a qual eventualmente se tenha comprometido. Essa desobrigação não se aplica aos estrangeiros. Dessa forma, não haverá ninguém pobre no vosso meio, porque o Senhor, vosso Deus, vos abençoará grandemente na terra que vos vai dar, se obedecerem a este mandamento. A única condição necessária para que essa bênção se efetive é que guardem cuidadosamente todas as ordenanças do Senhor, vosso Deus, que eu hoje vos dou. Ele vos abençoará tal como vos prometeu. Emprestarão dinheiro a muitos povos, mas não terão necessidade de pedir emprestado a ninguém. Hão de ter predominância sobre muitas nações, mas nenhuma delas vos dominará. Se quando chegarem à terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá, houver pobres no vosso meio, não lhes fechem o vosso coração nem a vossa mão, voltando-lhe as costas; deverão emprestar-lhes tanto quanto necessitarem. Tenham o cuidado de não alimentar pensamentos malignos e recusar esse auxílio só pelo facto de se estar aproximando o ano da remissão! Se o recusarem e o necessitado clamar ao Senhor, o vosso ato será considerado como um pecado. Deverão emprestar-lhe o que ele precisar e sem chorar essa vossa decisão. Porque o Senhor, vosso Deus, virá a fazer-vos prosperar em resultado disso que fizeram. Visto que nunca deixará de haver uns mais necessitados do que outros entre vocês, este mandamento é necessário. Deverão emprestar-lhes liberalmente. Quando um vosso irmão ou irmã tiver de se vender como escravo, deverão deixá-lo livre ao fim do sexto ano de serviço na vossa dependência; não devem deixá-lo partir de mãos vazias. Deem-lhe um bom presente de despedida, tomado dos vossos rebanhos ou dos vossos lagares de azeite ou de vinho. Partilhem com ele na proporção em que o Senhor, vosso Deus, vos tiver abençoado. Lembrem-se de que também foram escravos na terra do Egito e que o Senhor, vosso Deus, vos tirou de lá. É por isso que vos dou esta lei. Mas se esse hebreu que está ao vosso serviço não quiser deixar-vos, se disser que gosta do seu senhor, que gosta do serviço que faz, que sempre se deu bem convosco, então peguem numa sovela e perfurem-lhe a orelha, à entrada da vossa casa; depois disso tornar-se-á vosso servo para sempre. Façam o mesmo quando se tratar de servas. Quando tiverem de deixar ir em liberdade um servo, não fiquem aborrecidos com isso; lembrem-se que durante seis anos ele vos custou menos de metade do preço dum trabalhador regular. E o Senhor, vosso Deus, vos fará prosperar pelo facto de o terem deixado partir livre. Deverão pôr de parte para o Senhor, vosso Deus, todos os primogénitos machos dos vossos rebanhos e manadas. Não empreguem os primogénitos das manadas para trabalhar nos campos; também não devem tosquiar os primogénitos dos rebanhos de ovelhas; pelo contrário, vocês e a vossa família deverão comer estes animais perante o Senhor, vosso Deus, cada ano no lugar que ele escolher. Contudo, se esse animal primogénito tiver algum defeito, se for coxo ou cego, ou tiver qualquer outro defeito, então não será sacrificado ao Senhor, vosso Deus. Usem-no para alimento na vossa casa. Seja quem for, mesmo que esteja impuro nessa altura, poderá comer dele como se fosse uma gazela ou um veado que matou para comer. Só que não deverão comer o seu sangue; derramem-no na terra como água. Lembrem-se sempre de celebrar a Páscoa durante o mês de Abibe, porque foi numa noite desse mês que o Senhor, o vosso Deus, vos tirou do Egito. O vosso sacrifício de Páscoa será ou um cordeiro ou um boi, oferecido ao Senhor, vosso Deus, no lugar que o Senhor escolher para habitação do seu nome. Comam esse sacrifício com pão sem fermento durante sete dias, para se lembrarem daquele que comeram enquanto escapavam do Egito. Isto é para se lembrarem que deixaram o Egito com tal pressa que não tiveram tempo de deixar o pão fermentar. Lembrem-se desse dia durante toda a vossa vida. Durante sete dias não haverá fermento nas vossas casas; além disso, nada do cordeiro pascal será deixado para a manhã seguinte. A Páscoa não é para ser celebrada em qualquer das cidades, que o Senhor, vosso Deus, vos dará, mas sim no lugar que o Senhor tiver escolhido para o seu santuário. Celebrem o sacrifício ali, na tarde do dia do aniversário do acontecimento, ao fim do dia, ao pôr-do-sol. Cozam o cordeiro e comam-no, depois voltem para as vossas casas na manhã seguinte. Durante seis dias não comerão pão feito com fermento. No sétimo dia haverá uma reunião solene do povo de cada povoação perante o Senhor, vosso Deus. Não façam qualquer espécie de trabalho nesse dia. Sete semanas após o começo das colheitas, haverá outra festividade, na presença do Senhor, vosso Deus, chamada a festa das semanas. Nessa altura, tragam uma oferta voluntária que será proporcional em valor à bênção que receberam, de acordo com a colheita. Será uma ocasião de se alegrarem perante o Senhor, vosso Deus, com a vossa família e com todos os da casa, no lugar que ele escolher para habitação do seu nome. Não se esqueçam de incluir os levitas da vossa localidade nessa festa, como também os estrangeiros, as viúvas e os órfãos. Convidem-nos a acompanharem-vos nessa celebração. Lembrem-se que foram escravos no Egito! Por isso, tenham cuidado de seguir à risca este mandamento. Uma outra celebração será a festa dos tabernáculos que deverá ser realizada durante sete dias, no final da época das colheitas, depois do grão ter sido guardado e o vinho pisado no lagar. Há de ser uma ocasião de se alegrarem juntos, com a vossa família e os vossos escravos. Nunca se esqueçam de convidar também os levitas e os estrangeiros, os órfãos e viúvas da vossa localidade. Durante sete dias celebrarás esta festividade no santuário, no sítio que o Senhor, vosso Deus, tiver escolhido. Será uma oportunidade de expressar profunda gratidão e ação de graças ao Senhor pelas suas bênçãos, representadas numa tão boa colheita e em muitas outras coisas. Será um tempo de grande alegria. Cada homem de Israel deverá apresentar-se ao Senhor, seu Deus, no lugar que ele tiver escolhido, três vezes ao ano, para estas três festas: a festa dos pães sem fermento, a festa das semanas, e a festa dos tabernáculos. Em cada uma destas ocasiões tragam um presente ao Senhor. Deem o que está nas vossas possibilidades, de acordo com o que o Senhor, vosso Deus, vos abençoou. Designem juízes e funcionários administrativos para todas as cidades que o Senhor, vosso Deus, vos dá. Eles administrarão a justiça em todas as partes da terra. Nunca torçam a justiça em benefício de um rico, por exemplo, nem se deixem nunca comprar por presentes; porque o suborno cega os olhos até dos sábios e transtorna as palavras dos justos. Deve prevalecer só a justiça. É essa a única forma de terem sucesso na terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá. Nunca ergam altares e imagens de postes ídolos de Achera junto do altar do Senhor, vosso Deus. E nunca levantem pilares religiosos, porque o Senhor, vosso Deus, os aborrece. Nunca sacrifiquem ao Senhor, vosso Deus, um boi ou um cordeiro defeituoso. Dons desses não o honram de maneira nenhuma. Se, numa das cidades que o Senhor vos vai dar, acontecer um homem ou uma mulher violarem a vossa aliança com o Senhor, vosso Deus, fazendo aquilo que lhe desagrada, adorando outros deuses, o Sol, a Lua ou as estrelas, coisa que estritamente vos proibi, verifiquem primeiro, cuidadosamente, se é verdade, se isso está realmente a acontecer em Israel; depois o indivíduo responsável por tal ato deverá ser trazido para fora da cidade e apedrejado até morrer. Contudo, nunca condenem ninguém à morte apenas na base do testemunho de uma só pessoa; terá de haver duas ou três testemunhas. As testemunhas serão as primeiras a lançar as pedras e o povo depois juntar-se-á a eles. Tirem o mau do vosso meio. Se aparecer algum caso demasiado difícil sobre o qual tiveram de tomar uma decisão, por exemplo, saber se alguém é ou não culpado de assassínio, quando não há disso provas suficientemente evidentes, ou se os direitos de alguém foram realmente violados, levarão esse assunto até ao lugar que o Senhor, vosso Deus, tiver escolhido. Vão aos sacerdotes e aos levitas, e o juiz supremo em exercício nessa altura tomará uma decisão. A sua sentença será sem apelo e deverá ser seguida à letra. Quer dizer que o que ele sentenciar terá de ser cumprido à risca. Não te desvies nem para a direita nem para a esquerda. Se o acusado se negar a aceitar a decisão do sacerdote ou do juiz nomeado pelo Senhor, vosso Deus, para fazer justiça, então o castigo será a morte. Tais pecadores deverão ser expurgados de Israel. Se assim for, toda a gente ouvirá sobre o que aconteceu a esse indivíduo que recusou o veredito de Deus, e as pessoas terão medo de desafiar o juízo do tribunal numa próxima vez. Quando chegarem à terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá, depois de a terem conquistado, e começarem a pensar: “Devíamos ter um rei como as outras nações à nossa volta!”, terão de estar certos de ter selecionado como rei realmente aquele homem que o Senhor, vosso Deus, escolher. Deverá ser um israelita, nunca um estrangeiro. Que não venha a cair no luxo e ambição pessoal, acumulando cavalos para si próprio em grandes cavalariças, e que não mande enviados ao Egito para lhe trazer cavalos, porque o Senhor vos disse para nunca mais voltarem ao Egito. Não deverá ter muitas mulheres para que não venha a desviar-se. Não deve acumular muita prata e muito ouro. E quando tiver sido coroado rei e estabelecido no trono terá de escrever num livro uma cópia desta Lei que os sacerdotes levitas guardam. Esse livro será o seu constante companheiro. Deverá lê-lo todos os dias da sua vida para aprender a temer o Senhor, seu Deus, a fim de cumprir todas as palavras desta Lei, pela obediência aos seus mandamentos. Esta leitura regular da palavra de Deus preservá-lo-á de pensar que é melhor que os seus irmãos, os seus concidadãos, e também de se desviar deste caminho de Deus, nem sequer nos mínimos detalhes, garantindo um reinado longo e próspero. E os seus descendentes suceder-lhe-ão no trono. Lembrem-se que os sacerdotes e todos os outros membros da tribo dos levitas não receberão nenhuma terra, ao contrário das outras tribos. Por isso, os sacerdotes e os levitas deverão ser sustentados pelos sacrifícios que são trazidos ao altar do Senhor e pelas outras ofertas que o povo lhe trouxer. Não precisam possuir nenhuma terra, porque o Senhor é a sua possessão! Foi isso que ele lhes prometeu. As espáduas, as queixadas e o estômago de cada boi ou cordeiro trazido para ser sacrificado deve ser dado aos sacerdotes. Além disso, deverão também receber as amostras dos primeiros frutos colhidos e que são trazidos em ação de graças ao Senhor; os primeiros cereais, o primeiro vinho produzido, o primeiro azeite, assim como a primeira lã no tempo da tosquia. Porque o Senhor, vosso Deus, escolheu a tribo de Levi de entre as outras tribos para servir o Senhor através de todas as gerações. Qualquer levita, seja onde for que viva na terra de Israel, tem o direito de vir ao lugar que o Senhor escolher, quando quiser, e administrar em nome do Senhor, seu Deus, à semelhança dos outros levitas seus irmãos que ali trabalham regularmente. Partilhará dos sacrifícios e das ofertas como um direito seu e não como uma esmola que lhe seja feita. Quando chegarem à terra prometida que o Senhor, vosso Deus, vos vai dar, terão muito cuidado em não se deixarem corromper pelos horríveis costumes das nações que lá vivem agora. Que ninguém entre algum israelita seja achado a apresentar o seu filho para ser queimado em sacrifício aos deuses pagãos. Nenhum israelita praticará coisas como artes mágicas ou magia negra, ou adivinhação, invocando os espíritos dos mortos, utilizando médiuns ou adivinhos. Quem quer que seja que pratique qualquer destas coisas torna-se, para o Senhor, seu Deus, objeto de abominação e repugnância; pois é por causa dessas mesmas coisas que o Senhor expulsa da terra as nações que aqui estavam. Deverão andar com toda a integridade e retidão na presença do Senhor, vosso Deus. Os povos cujo território vão agora ocupar, todos eles praticavam essas coisas, mas o Senhor, vosso Deus, não permite que façam tal coisa. O Senhor, vosso Deus, fará levantar-se, do vosso meio, um profeta semelhante a mim, entre os vossos irmãos, um homem que deverão ouvir, e a quem deverão obedecer. Porque foi isso mesmo que pediram ao Senhor, vosso Deus, junto ao monte Horebe. Ali, ao pé da montanha, rogaram-lhe que não fossem obrigados a ouvir de novo diretamente a tremenda voz do Senhor, nem a ver o terrível fogo sobre o monte, pois se isso tornasse a acontecer haveriam de morrer. “Pois sim!”, disse-me o Senhor. “Farei como me pediram. Farei erguer-se entre eles um profeta, israelita como tu. Dir-lhe-ei o que deve declarar; será o meu porta-voz junto do povo. E toda a pessoa que não escutar as minhas palavras que esse profeta dirá em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas disso. Mas também qualquer profeta que pretender falsamente expor uma mensagem em meu nome, sem que isso corresponda à verdade, morrerá. Igualmente um profeta que se ponha a pregar em nome de outros deuses terá de morrer!” Se perguntarem: “Como haveremos de saber se uma mensagem é do Senhor ou não?” É assim que saberão: se aquilo que foi profetizado não acontecer é porque não foi o Senhor quem comunicou essa mensagem; foi fruto da sua própria imaginação. Não têm que se preocupar minimamente com o que ele disse. Quando o Senhor, vosso Deus, tiver destruído os povos que vocês desarraigarão, quando passarem a viver nas cidades e nas casas deles, terão de destacar três cidades de refúgio para que alguém que por simples acidente tenha matado outra pessoa possa para lá fugir e estar em segurança. Para tal, dividam o território em três zonas, cada uma com a sua cidade, e com as vias que conduzam até elas em bom estado. Se alguém matar sem intenção, e sem que houvesse prévia hostilidade, outra pessoa, o assassino pode fugir para qualquer uma destas cidades e aí encontrar asilo. Por exemplo: um homem vai a um bosque na companhia do seu vizinho para cortar lenha. A certa altura, o ferro do machado escapa-se do cabo e mata o companheiro. Aquele homem poderá fugir então para uma dessas cidades e ficará seguro. Se aparecer alguém pretendendo vingar a morte do seu vizinho, não poderá fazê-lo. Essas cidades deverão estar suficientemente acessíveis a toda a gente. Doutra forma, um vingador exaltado pode apanhar e liquidar o indivíduo que matou outro sem ser por mal, o que não deveria acontecer, pois não o matou deliberadamente. Por isso, te ordenei que escolhesses três cidades de refúgio. Se o Senhor, vosso Deus, alargar as vossas fronteiras, como prometeu aos vossos antepassados, e vos der toda a terra que garantiu dar-vos, e ele fará isso na condição de obedecerem a todos os mandamentos que vos dou hoje, de amarem o Senhor, vosso Deus, e de andarem nos seus caminhos, então terão de destacar mais três outras cidades de refúgio. Dessa forma, impedirão a morte de gente inocente e não se tornarão responsáveis por um derramamento injusto de sangue. Mas se alguém odeia uma pessoa e, armando-lhe uma emboscada, lhe aparece de repente à frente e a mata, se depois vier a fugir para uma das cidades de refúgio, os anciãos da sua cidade de origem mandarão buscá-lo e trazê-lo para casa e entregá-lo-ão ao vingador da morte daquele que assassinou, para ser executado. Não tenham pena dele. Expurguem de Israel todos os assassinos. Só assim tudo vos correrá bem. Quando chegarem à terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá não se esqueçam de que não deverão roubar terra ao vosso vizinho, deslocando as marcas dos limites do seu campo. Nunca culpem ninguém com base numa só testemunha. Toda a acusação deve ser confirmada por duas ou três testemunhas. Se alguém der um falso testemunho, dizendo que viu outra pessoa praticar uma ação má, mas sem que isso seja verdade, deverão ser ambos trazidos à presença dos sacerdotes e dos juízes em exercício na altura, perante o Senhor. Será então interrogado e se virem que a testemunha está a mentir, o seu castigo terá de ser aquele que o outro receberia se fosse verdade a acusação. Dessa forma, limparão o mal do vosso meio. Todos quantos ouvirem o que aconteceu terão medo de dizer mentiras ao testemunhar contra outros. Não tenham misericórdia de uma falsa testemunha. Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé; será este o vosso critério em tais casos. Quando forem à guerra e virem na vossa frente um grande número de cavaleiros e de carros de combate, um exército muito superior ao vosso, não se atemorizem! O Senhor, vosso Deus, está convosco, o mesmo Deus que vos trouxe com segurança para fora do Egito. Antes de começarem a batalha haverá um sacerdote que se porá diante do exército de Israel e dirá: “Ouçam-me, ó gente de Israel! Não desfaleçam nem tenham medo! Não entrem em pânico nem se deixem atemorizar por causa deles! Porque o Senhor, vosso Deus, vai convosco. Ele combaterá contra os vossos inimigos e vos dará a vitória!” Então os oficiais do exército dirigir-se-ão aos seus homens desta maneira: “Há alguém que acaba de construir uma casa nova, mas que ainda a não consagrou? Então que volte para casa. Porque pode morrer na batalha e seria outra pessoa que a consagraria. Algum de vocês plantou uma vinha e ainda não comeu do seu fruto? Se sim, que vá para casa! Poderá vir a morrer na batalha e será uma outra pessoa a comê-lo. Alguém aqui está noivo? Pois bem, que volte para casa e se case! Pode acontecer morrer na luta e ser um outro homem a casar com a noiva. E agora, está alguém com medo? Se for o caso, volte já para casa antes de comunicar esse terror aos outros!” Quando os oficiais tiverem terminado de falar aos soldados, anunciarão os nomes dos comandantes de batalhão. Quando chegarem junto de uma cidade para atacá-la, primeiro ofereçam-lhe tréguas. Se aceitar e vos abrir as portas, nessa altura toda a população se tornará vossa tributária e vos servirá. Se recusar e não aceitar a vossa proposta de paz, deverão então sitiá-la. Quando o Senhor, vosso Deus, vo-la tiver dado, matem todos os habitantes do sexo masculino; poderão guardar para vós as mulheres, as crianças, o gado e o que tiver sido saqueado. Estas instruções aplicam-se somente a cidades distantes, não às cidades propriamente da terra prometida. Porque nestas cidades dentro dos limites da terra prometida não deverão poupar seja quem for; terão de destruir tudo o que tem vida. Destruam completamente os hititas, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. É isto que o Senhor, vosso Deus, manda. E o objetivo desta ordem é impedir que o povo da terra que viesse a ficar vivo vos engane e vos leve a adorar os seus ídolos e a participar nos seus costumes abomináveis, fazendo-vos pecar profundamente contra o Senhor, vosso Deus. Quando sitiarem uma cidade, não destruam as árvores de fruto. Comam de toda a fruta que vos apetecer; mas não deitem abaixo as árvores. Não se tratam de inimigos que seja preciso abater! Contudo, árvores que não deem fruto que sirvam para a alimentação, essas sim, podem cortar. Usem-nas até para montar o assalto à cidade, construindo baluartes, por exemplo. Se quando chegarem à terra prometida, que o Senhor, vosso Deus, vos vai dar, for encontrado jazendo no chão alguém vítima de assassínio, sem que se saiba quem o matou, os anciãos e juízes calcularão a distância que vai dali à cidade mais próxima. Então os anciãos daquela cidade tomarão uma bezerra, que ainda não tenha trabalhado nem puxado com jugo, e levá-la-ão até um vale que nunca tenha sido lavrado nem semeado, e onde corra água; ali quebrem-lhe o pescoço. Depois virão os sacerdotes, descendentes de Levi, que o Senhor, vosso Deus, escolheu para administrar na sua presença e para pronunciar as suas bênçãos, para decidir sobre processos jurídicos e sobre as respetivas sentenças; Os anciãos da cidade mais próxima lavarão as mãos sobre a bezerra e dirão: “Não foram as nossas mãos que derramaram este sangue; tão-pouco vimos coisa alguma. Ó Senhor, perdoa o teu povo de Israel que resgataste e não o condenes pela morte de uma pessoa inocente. Isenta-nos da culpa do sangue deste homem.” Então ninguém mais vos pedirá contas dessa morte. Desta forma, se livrarão da culpa de derramento de sangue inocente no vosso meio, seguindo as diretivas do Senhor. Quando forem à guerra, e o Senhor, vosso Deus, vos entregar o adversário nas vossas mãos, se virem entre os cativos uma formosa rapariga e um de vocês a tomar por mulher, que a leve para casa. Ela terá de rapar a cabeça e cortar as unhas; mudará a roupa que trazia quando foi capturada e ficará em casa um mês inteiro para poder chorar a perda do pai e da mãe. Depois poderá casar com ela. Contudo, se depois vier a verificar que não gosta dela, deverá deixá-la ir embora livre; não pode vendê-la ou tratá-la como escrava, porque a humilhou. Se um homem tiver duas mulheres, mas amar uma e não a outra, e se ambas lhe tiverem dado filhos, e ainda se a mãe do filho mais velho for aquela de quem ele não gosta, não poderá dar maior herança ao filho mais novo, ao filho da mulher que ama. Deverá dar a habitual porção dobrada ao filho mais velho, porque ele representa o começo da sua força, da sua vida de adulto, e tem o direito que lhe compete como filho mais velho, ainda que seja o filho da mulher que o seu pai não ama. Se um homem tiver um filho obstinado e rebelde, que não obedeça nem ao pai nem à mãe, ainda que estes o castiguem para o corrigir, os pais deverão trazê-lo perante os anciãos da cidade e declarar: “Este nosso filho é obstinado e rebelde e não quer obedecer; além disso é um comilão e beberrão incorrigível.” Os homens da cidade apedrejá-lo-ão até morrer. Dessa forma, tirarão o mal do vosso meio e todos os jovens de Israel ouvirão isso que aconteceu e terão medo. Quando alguém tiver cometido um crime digno de morte, se depois de executada a sentença for pendurado numa árvore, o seu corpo não deverá ficar suspenso durante a noite. Terão de o enterrar ainda no mesmo dia; pois todo aquele que for pendurado no poste de madeira está sob a maldição de Deus. Não contaminem a terra que o Senhor, vosso Deus, vos deu. Se alguém vir que o boi ou o cordeiro de outra pessoa se extraviou pelos campos, não deverá fazer como se o não tivesse visto, mas deverá levá-lo ao seu proprietário. E se não souber de quem é, que o recolha e trate dele até que apareça o proprietário para vir buscá-lo; então o restituirá. Farão o mesmo tratando-se de um jumento, ou de vestuário, ou seja o que for que tiverem encontrado; guardem-no para o restituirem ao seu dono. Se virem alguém tentando levantar um boi ou um jumento que tenha caído sob o peso da carga, não desviem os olhos para outro lado. Vão e deem a vossa ajuda! Uma mulher não deve trazer roupa de homem, nem um homem roupa de mulher; é coisa que o Senhor, vosso Deus, aborrece. Se encontrarem um ninho de aves numa árvore ou no chão, e se houver nele crias ou se a mãe estiver a chocar os ovos, não levem a mãe com os filhos. Deixem a mãe voar em liberdade e podem ficar com as crias para que tudo vos vá bem e tenham longa vida. Quando edificarem uma casa nova deverão construir um parapeito na beira do telhado para evitar que alguém caia dali abaixo, tornando-vos assim responsáveis pelo acidente como o seu proprietário. Não semeiem outras sementes por entre as vossas vinhas. Se o fizerem, tanto as plantas que semearem como as uvas que obtiverem serão confiscadas pelos sacerdotes. Não ponham juntos a lavrar um boi e um jumento. Não tragam roupa de tecidos diversos, por exemplo, de lã e de linho. Cosam franjas nos quatro lados das mantas com que se cobrem. Quando um homem casar com uma rapariga, se depois de ter dormido com ela, deixar de gostar dela, ou vier a acusá-la de já ter tido relações com outro homem, afirmando: “Ela não era virgem quando casei com ela”, o pai e a mãe da rapariga trarão as provas da sua virgindade perante os anciãos da cidade. E o pai dirá aos anciãos: “Dei a minha filha a este homem por mulher e agora ele despreza-a, acusando-a de coisas vergonhosas, afirmando que já não era virgem quando casou com ele. No entanto, estão aqui os sinais em contrário.” E estenderá a peça de roupa perante os juízes. Estes deverão mandar prendê-lo e castigá-lo. E deverá pagar uma multa de um quilo de prata ao pai da rapariga, pois acusou falsamente uma virgem em Israel. Ela continuará a ser sua mulher e nunca poderá divorciar-se dela. No entanto, se se provar que a acusação é verdadeira, que a rapariga na verdade já não era virgem, os juízes trarão a rapariga até à porta da casa do seu pai, onde os homens da cidade a apedrejarão até morrer. Ela manchou Israel com um crime flagrante, prostituindo-se enquanto vivia no lar de seus pais; um tamanho mal deverá ser varrido do vosso meio. Se um homem for encontrado cometendo adultério, tanto ele como a mulher do outro homem deverão morrer, expurgando o mal do meio de Israel. Se um homem encontrar numa povoação uma rapariga virgem, que está noiva de outro, e tiver relações com ela, tanto ela como o homem que a seduziu serão levados para fora das muralhas e apedrejados até morrerem; a rapariga, porque não quis gritar por socorro, quando foi seduzida, e o homem porque violou a virgindade da noiva de outro homem. Desta maneira, reduzirão o crime entre vocês. Mas se é fora da povoação que esse homem encontra a dita rapariga, e então a forçar a ter relações, violentando-a, só ele é que morrerá. A rapariga ficará inocente, pois está na mesma situação da vítima de um assassínio; pode partir-se do princípio que terá gritado e que não havia ninguém para intervir em favor dela, ali no descampado. Se um homem violar uma rapariga que ainda não esteja comprometida, e se for apanhado no próprio ato, terá de pagar uma multa de 575 gramas de prata ao pai da moça e casará com ela; e nunca poderá divorciar-se dela. Um homem nunca dormirá com a viúva do pai, visto que seria uma desonra à memória do próprio pai. Se um homem tiver sido mutilado sexualmente, ou se tiver sido castrado, não poderá tomar parte na assembleia do Senhor. Um bastardo também não poderá ser admitido na assembleia do Senhor, nem nenhum dos seus descendentes, durante dez gerações. Nenhum amonita ou moabita poderá ser admitido na assembleia do Senhor, nem mesmo após a décima geração. A razão desta lei é que essas nações não quiseram receber-vos, cedendo-vos alimento e água, quando vinham do Egito; e até pagaram a Balaão, o filho de Beor, de Petor na Mesopotâmia, para que tentasse amaldiçoar-vos. Mas o Senhor, vosso Deus, não ouviu as palavras de Balaão; em vez disso, mudou a pretensa maldição em bênção, porque o Senhor, vosso Deus, vos ama. Durante o tempo que viverem não deverão ajudar nem os amonitas nem os moabitas, seja de que forma for. Por outro lado, não deverão abominar nem os edomitas nem os egípcios; os edomitas porque são vossos irmãos, e os egípcios porque viveram no meio deles. Os netos dos egípcios que vieram convosco do Egito poderão entrar na assembleia do Senhor. Quando estiverem em guerra, os que combatem deverão abster-se de tudo o que seja impuro. Um homem que se tenha tornado ritualmente impuro, devido a uma descarga de sémen durante a noite, deverá afastar-se do exército combatente e ficar de fora até ao final da tarde. Então banhar-se-á e poderá retornar, depois do pôr-do-sol. A área para fazer as necessidades ficará fora do acampamento militar. Cada homem terá, fazendo parte do seu equipamento, uma pá; fará com ela uma cova e tapará o seu excremento. O acampamento deverá ser um lugar santo, porque o Senhor anda no vosso meio para vos proteger e para fazer com que os vossos inimigos caiam na vossa frente; ele não quer ver nada de indecente em vocês que possa fazer com que vos deixe. Se um escravo fugir do seu senhor não deverão forçá-lo a voltar; deixem-no viver na cidade que escolher e não o oprimam. Não haverá prostitutos em Israel, sejam homens sejam mulheres. Não deverão trazer à casa do Senhor, vosso Deus, qualquer oferta resultante de ganhos obtidos por atos de prostituição, porque o Senhor, vosso Deus, detesta tais práticas. Não peçam juros sobre empréstimos a um vosso irmão israelita, quer se trate de dinheiro, de alimentos ou de outra coisa qualquer; podem pedir juros a um estrangeiro, mas não a um filho de Israel. Porque se pedirem juros a um irmão vosso, o Senhor, vosso Deus, não poderá abençoar-vos, quando entrarem na terra prometida. Quando fizerem um voto ao Senhor, vosso Deus, sejam prontos a cumpri-lo, a fazer aquilo que tiverem prometido, seja o que for. É o Senhor, vosso Deus, quem vos pede que cumpram logo os vossos votos. Se não o fizerem, pecam. Mas se se abstiverem de formular um voto, isso não será um pecado. No entanto, desde que o voto seja expresso, terão de cumprir o que disseram, porque foi uma decisão da vossa responsabilidade, feita para com o Senhor, vosso Deus. Poderão comer à vossa vontade, até se fartarem, da vinha de outro proprietário, desde que não ponham as suas uvas num recipiente. O mesmo acontecerá na seara doutra pessoa; poderão comer, arrancando com as mãos o grão das espigas, mas não usem foice. Se um homem escolhe uma mulher e casa com ela, mas depois quer deixá-la, porque encontrou nela qualquer coisa que lhe desagrade ou seja indecente, dar-lhe-á uma declaração de divórcio; depois de lha entregar pode mandá-la embora. Se ela tornar a casar, e se esse segundo marido também se divorciar dela ou se morrer, o primeiro não poderá casar segunda vez com ela, porque se tornou impura, e tal é abominação perante o Senhor. Ao fazê-lo traria culpa para a terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá. Um homem casado recentemente não será mobilizado para a guerra, nem lhe serão dadas responsabilidades especiais; durante um ano inteiro ficará em casa, para que a mulher se alegre na sua companhia. Não será permitido tomar por penhor um moinho, nem sequer uma mó; seria penhorar a própria vida, pois é daquilo que o dono depende para viver. Se alguém raptar um irmão israelita como refém, para com ele negociar ou para o vender como escravo, terá de morrer, para assim se expurgar o mal do vosso meio. Tenham muito cuidado em seguir as indicações do sacerdote nos casos de lepra, pois dei-vos regras e indicações que deverão obedecer à letra. Lembrem-se daquilo que o Senhor, vosso Deus, fez com Miriam, quando vinham do Egito. Se emprestarem alguma coisa a outra pessoa, não poderão entrar em sua casa para se apoderarem do penhor ou reaverem o que emprestaram. Ficarão de fora, e será o dono da casa que trará o que vos pertence. Se o homem for pobre e não puder dar-vos mais do que o próprio cobertor com que se cobre, vocês não podem dormir sob ele. Devolvam-lho logo que se ponha o Sol, para que possa usá-lo durante a noite e abençoar-vos. O Senhor, vosso Deus, tomará isso como um ato de justiça a vosso favor. Nunca oprimam um trabalhador pobre no vosso meio, seja um vosso irmão israelita, seja um estrangeiro vivendo na vossa terra. Paguem-lhe o salário cada dia, antes que o Sol se ponha, pois sendo pobre precisa dele; doutra forma poderá clamar ao Senhor contra vocês e isso será tido em conta como um pecado. Os pais não poderão ser mortos por causa dos pecados dos filhos, nem os filhos pelos dos pais. Cada pessoa morrerá pelos seus próprios crimes. Deverão fazer justiça aos estrangeiros e aos órfãos e nunca aceitar a roupa de uma viúva como penhor duma dívida. Lembrem-se que foram escravos no Egito e que o Senhor, vosso Deus, vos resgatou dali; é por isso que vos dou este mandamento. Se, quando ceifarem a vossa seara, deixarem cair um molho, ou se se tiverem esquecido dele no campo, não voltem atrás para ir buscá-lo. Deixem-no para os estrangeiros, para os órfãos e viúvas; assim o Senhor, vosso Deus, vos abençoará e vos fará prosperar. Da mesma forma, quando sacudirem as oliveiras não insistam em fazê-lo duas vezes; deixem ficar alguma coisa para os estrangeiros, para os órfãos e para as viúvas. O mesmo ainda quanto às uvas das vossas vinhas; não vindimem tudo com exagerado cuidado, mas deixem aquilo que tiver ficado para os estrangeiros, para os órfãos e para as viúvas. Lembrem-se de que foram escravos na terra do Egito e que é por isso que vos dou este mandamento. Quando duas pessoas tiverem uma questão entre si e a apresentarem ao tribunal, façam o julgamento e deem razão a quem tem razão e as culpas a quem as tiver. E, se o culpado merecer ser açoitado, o juiz deve-o mandar deitar no chão para ser açoitado na sua presença com o número de açoites que o caso exigir. Até quarenta açoites, em relação com a gravidade da sua falta; mas não lhe darão mais de quarenta açoites, para que o vosso irmão não se sinta humilhado na vossa presença. Não ates a boca ao boi, quando faz a debulha do trigo. Se o irmão de um homem morrer sem ter filhos, a viúva não deverá casar fora dessa família; o irmão do seu falecido marido casará com ela e tomá-la-á por mulher. O primeiro filho que ela tiver será tido como filho do falecido, para que o seu nome não seja esquecido. Contudo, se o irmão do homem que morreu recusar cumprir o seu dever, e não quiser tomar por mulher a viúva, então ela irá ter com os anciãos da povoação e lhes dirá: “O irmão do meu falecido marido recusa dar continuidade ao nome do seu irmão; não quer casar comigo.” Os anciãos convocá-lo-ão, conversarão com ele e, se a sua decisão se mantiver, a viúva dirigir-se-á a ele na frente dos anciãos, tirar-lhe-á a sandália do pé e cospir-lhe-á no rosto. E dirá: “Isto é o que acontece àquele que recusa dar continuidade à casa do seu irmão.” A partir de então, a sua casa será considerada como “a casa do homem a quem descalçaram a sandália”! Se dois homens estiverem a lutar um contra o outro e se a mulher de um deles, para intervir a favor do seu marido, agarrar nos testículos do outro, a sua mão deverá ser cortada, sem piedade! Não devem trazer no saco dois pesos, um maior e outro mais pequeno. Na vossa casa não devem ter duas medidas, uma maior e outra mais pequena. Em todas as vossas transações deverão usar medidas justas e pesos corretos, para que tenham uma vida longa e boa na terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá. Todo aquele que engana por meio de pesos e de medidas falsificadas é considerado indigno pelo Senhor, vosso Deus. Não se esqueçam nunca daquilo que vos fez Amaleque, quando vinham do Egito. Lembrem-se de que ele combateu convosco e abateu todos os que estavam fracos e cansados, que se deixaram ficar para a retaguarda. Amaleque não teve respeito nem temor por Deus. Por isso, quando o Senhor, vosso Deus, vos tiver dado descanso em relação aos vossos inimigos, na terra prometida, deverão apagar totalmente debaixo do céu tudo o que lembre o nome de Amaleque. Nunca mais se esqueçam disto! Quando chegarem à terra que o Senhor, vosso Deus, vos dará, depois de a terem conquistado, e quando começarem a viver ali, deverão apresentar ao Senhor, vosso Deus, no lugar que ele tiver escolhido para habitação do seu nome, os primeiros frutos de cada colheita anual. Tragam-nos num cesto e entreguem-nos ao sacerdote em exercício nessa altura e digam-lhe: “Estes dons são a prova do meu agradecimento ao Senhor, meu Deus, por me ter trazido à terra que prometeu aos meus antepassados.” O sacerdote tomará então o cesto da vossa mão e o porá diante do altar do Senhor, vosso Deus. Cada pessoa deverá então dizer diante do Senhor, seu Deus: “O meu antepassado, Jacob, era um velho arameu errante que desceu ao Egito com apenas algumas pessoas. No entanto, ele e os seus descendentes tornaram-se um povo numeroso e forte, uma grande nação. Os egípcios maltrataram-nos e oprimiram-nos, obrigando-nos a fazer trabalhos muito pesados. Então nós clamámos pelo auxílio do Senhor, o Deus dos nossos antepassados. Ele ouviu-nos, viu a nossa aflição, a nossa miséria, a opressão em que vivíamos; tirou-nos de lá por meio de poderosos milagres, com o seu poderoso e forte braço; trouxe-nos para este lugar, dando-nos esta terra na qual jorra leite e mel! Agora, Senhor, como vês, trago-te este símbolo dos primeiros frutos da terra que nos deste.” Cada um colocará então esses frutos na presença do Senhor, seu Deus, e se inclinará em adoração. Depois vão e façam uma festa, alegrando-se por todas as coisas que o Senhor, vosso Deus, vos deu. Comemorem com a vossa família, com os levitas e com os estrangeiros que vivam no vosso meio. De três em três anos haverá um dízimo especial. Nesse ano deverão dar todos os vossos dízimos aos levitas, aos estrangeiros, aos órfãos e às viúvas dentro das vossas cidades, para que fiquem satisfeitos. Declararão então perante o Senhor, vosso Deus: “Dei todos os meus dízimos aos levitas, aos estrangeiros, aos órfãos e às viúvas, tal como me ordenaste; não esqueci nem violei nenhum dos teus regulamentos. Não toquei em nenhum dízimo, enquanto estava cerimonialmente impuro ou quando estava de luto, nem disso ofereci pela memória dum morto. Obedeci ao Senhor, meu Deus, e fiz tudo o que me ordenaste. Olha desde a tua santa habitação no céu e abençoa o teu povo e a terra que nos deste, tal como prometeste aos nossos pais; uma terra donde jorrem leite e mel!” Deverão obedecer de todo o coração a todos estes mandamentos e regulamentos que o Senhor, vosso Deus, hoje vos dá. Declararam hoje que ele é o vosso Deus e prometeram obedecer-lhe e guardar as suas leis e ordenações, cumprindo tudo o que vos diz para fazerem. O Senhor hoje também declara que são o seu próprio povo, como tinha prometido antes, e que deverão obedecer às suas leis. Se assim fizerem, fará de vocês a maior nação entre todas as outras e receberão louvores, honra e fama; contudo, para poder atingir essa fama e prestígio terão de ser um povo santo para o Senhor, vosso Deus; é isso que requer de vós. Então Moisés e os anciãos de Israel deram ainda mais estas instruções ao povo, para que as cumprissem: “Quando passarem para o lado de lá do rio Jordão e entrarem na terra prometida, que o Senhor, vosso Deus, vos dá, peguem em pedras grandes, Sacrifiquem ofertas de paz e celebrem uma festa com grande júbilo na presença do Senhor, vosso Deus. Escrevam as palavras desta Lei com toda a clareza.” Depois Moisés e os sacerdotes levitas dirigiram-se a todo o Israel desta maneira. “Israelitas, ouçam bem! Hoje tornaram-se o povo do Senhor, vosso Deus. Ouçam aquilo que o Senhor, vosso Deus, vos ordena e obedeçam a todos estes mandamentos que hoje vos dou.” Nesse mesmo dia, Moisés deu esta ordem ao povo: Quando tiverem passado para a terra prometida, as tribos de Simeão, de Levi, de Judá, de Issacar, de José e de Benjamim pôr-se-ão sobre o monte Gerizim para proclamar uma bênção ao povo; as tribos de Rúben, de Gad, de Aser, de Zebulão, de Dan e de Naftali estarão no monte Ebal para proclamarem uma maldição. Os levitas colocar-se-ão entre eles e gritarão a todo o Israel: “Maldito quem fizer e adorar um ídolo, mesmo em segredo, seja esculpido em madeira ou feito de metal fundido, porque o Senhor odeia esses deuses feitos pela mão do homem.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem desprezar o pai ou a mãe.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem alterar as marcas que distinguem o seu campo do outro do vizinho.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem se aproveita dum cego e o explora.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem for injusto para com um estrangeiro, um órfão ou uma viúva.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem comete adultério com uma das mulheres do seu pai, visto que ela pertence ao pai.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem tiver relação sexual com um animal.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem tiver relações sexuais com a sua irmã, mesmo que se trate de uma meia-irmã.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem tiver relações sexuais com a sogra.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem assassinar secretamente outra pessoa.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem aceitar um pagamento para matar uma pessoa inocente.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” “Maldito é quem não põe em prática as palavras deste livro da Lei.” E todo o povo responderá: “Assim seja!” Se obedecerem inteiramente a estes mandamentos do Senhor, vosso Deus, a todas estas leis que vos estou a declarar hoje, o Senhor, vosso Deus, fará de vocês a maior nação da Terra. E são estas as bênçãos que virão sobre vocês: Serão abençoados nas povoações, serão abençoados nos campos. Terão muitos filhos, serão abundantes as vossas colheitas, terão grandes rebanhos e manadas. Será abençoado o teu cesto e a tua masseira de farinha. Serão abençoados quando chegarem a um sítio e quando partirem para outro local. O Senhor derrotará os vossos inimigos na vossa presença; marcharão juntos contra vocês, mas depois fugirão e se dispersarão em sete direções. O Senhor vos abençoará com boas colheitas e com gado saudável, fazendo prosperar tudo quanto fizerem ao chegar à terra que o Senhor, vosso Deus, vos dá. Fará de vocês um povo santo que lhe seja consagrado. Isto é o que o Senhor, vosso Deus, vos promete se lhe obedecerem e andarem nos seus caminhos. Todas as nações do mundo constatarão que pertencem ao Senhor e sentirão respeito por vocês. O Senhor dar-vos-á abundância de boas coisas na terra como prometeu aos vossos antepassados: muitos filhos, muito gado e ricas colheitas. Abrirá para os seus tesouros maravilhosos de chuvas dos céus, para vos dar belas colheitas em todas as épocas. Abençoará tudo quanto fizerem e poderão ceder empréstimos a muitas outras nações estrangeiras, sem terem de pedir emprestado a outros. Se obedecerem aos mandamentos do Senhor, vosso Deus, que hoje vos dou, o Senhor vos porá à cabeça e não na cauda; terão sempre a supremacia. No entanto, cada uma destas bênçãos depende de não se desviarem nem para um lado nem para o outro das leis que hoje vos dou e de nunca adorarem outros deuses. Contudo, se não quiserem ouvir o Senhor, vosso Deus, nem obedecer a estas leis que hoje vos estou a dar, então todas estas maldições cairão sobre vocês. Serão malditos nas povoações, serão malditos nos campos. Será maldito o teu cesto e a tua masseira de farinha. Serão amaldiçoados com madres estéreis, as vossas searas serão malditas, também o vosso gado e os vossos rebanhos serão malditos. Serão amaldiçoados quando chegarem a qualquer sítio ou quando partirem. Será o próprio Senhor que vos amaldiçoará. Andarão em confusão e tudo o que empreenderem falhará. Até que por fim serão destruídos por causa de se terem esquecido dele. Mandar-vos-á a doença até que sejam destruídos da face da terra de que vão tomar posse agora. Mandar-vos-á a tuberculose, febre, infeções, pragas e guerra. Queimará as vossas searas, cobrindo-as de míldio. Todas estas devastações vos perseguirão até que todos pereçam. Os céus por cima parecerão de bronze e a terra debaixo de vocês será como o ferro. A terra ficará seca como o pó, por falta de água, e até as tempestades de pó vos destruirão. O Senhor fará com que sejam destruídos pelos vossos inimigos. Avançarão para a batalha, mas acabarão por fugir perante os inimigos no meio da maior confusão; serão sacudidos dum lado para o outro entre as nações da Terra. Os vossos corpos mortos servirão de alimento às aves de rapina e aos animais selvagens, e não haverá ninguém para os afugentar. O Senhor vos ferirá com úlceras do Egito, com tumores, com escorbuto e com sarna. E para nenhum desses males haverá remédio. Mandar-vos-á loucura, cegueira, terrores e pânico. Em pleno dia andarão às apalpadelas como um cego em plena escuridão. Não prosperarão em nada do que fizerem. Serão continuamente oprimidos e explorados; nada vos salvará. Será um outro indivíduo que virá a casar com a mulher de quem estavam noivos; outra pessoa virá a morar na casa que construíram; outros comerão o fruto das vinhas que plantaram. Os vossos bois serão abatidos contra a vossa vontade, à vossa frente, sem que venham a comer a sua carne. Roubar-vos-ão os jumentos na vossa presença e nunca mais os verão. As vossas ovelhas serão dadas aos vossos inimigos; ninguém quererá dar-vos proteção. Sob os vossos olhos serão os vossos filhos e filhas levados como escravos. O vosso coração ficará despedaçado pela saudade sem conseguirem ir socorrê-los. Uma nação estrangeira, da qual nunca antes tinham ouvido falar, comerá as searas que vos custaram tanto a fazer crescer. Serão sempre oprimidos e esmagados. Ficarão loucos por causa da tragédia que verão à vossa volta. O Senhor vos cobrirá os joelhos e pernas com chagas incuráveis. Realmente, vocês ficarão cobertos da cabeça aos pés. Vocês e o vosso rei serão levados para uma terra que nem vocês nem os vossos antepassados conheceram e durante o exílio chegarão a adorar deuses feitos de madeira e de pedra. Tornar-se-ão objeto de horror, um provérbio, uma fábula entre todas as nações, pois o Senhor vos espalhará. Semearão muito, mas colherão quase nada, visto que os gafanhotos comerão as vossas colheitas. Plantarão vinhas, tratarão delas, mas não chegarão a comer das suas uvas nem a beber do seu vinho, porque serão destruídas por vermes. Plantarão oliveiras por toda a parte, mas não haverá azeite bastante sequer para se ungirem! Porque as árvores perderão as azeitonas antes de estarem maduras. Os vossos filhos e filhas serão levados para serem escravos. Os gafanhotos destruirão as vossas árvores e as vossas vinhas. Os estrangeiros no vosso meio tornar-se-ão cada vez mais ricos, enquanto vocês serão cada vez mais pobres. Serão eles quem vos emprestará aquilo de que precisam e não vocês a eles. Eles estarão à cabeça e vocês na cauda. Todas estas maldições vos seguirão e vos alcançarão, até que sejam destruídos, por terem recusado ouvir o Senhor, vosso Deus, e não terem obedecido aos mandamentos e às leis que vos deu. Estes horrores cairão sobre vocês e os vossos descendentes como um sinal. Tornar-se-ão escravos dos vossos inimigos, por não terem servido com alegria e satisfação o Senhor, vosso Deus, por tudo o que vos deu. O Senhor mandará os vossos inimigos contra vós; terão fome, sede, frio e necessidades em todos os domínios. Um jugo de ferro será posto no vosso pescoço, até que sejam destruídos. O Senhor trará uma nação distante que vos cairá em cima como uma águia; uma nação cuja língua não compreenderão; gente feroz que não terá compaixão nem de velhos nem de novos. Comerão tudo o que é vosso, em casa e nos campos; levarão todo o gado e as colheitas; desaparecerão com os cereias, o vinho novo, o azeite, as crias das vacas e das ovelhas. Essa nação sitiará as vossas cidades e derrubará as muralhas, por mais altas que sejam e por muito que pensem que vos protejem. Chegarão a comer a carne dos vossos próprios filhos e filhas nesses dias terríveis, que hão de vir, em que estarão cercados. Até o mais sensível e delicado se tornará endurecido e mau para com o seu próprio irmão, a sua querida mulher e os filhos que ainda lhe restarem com vida. Recusará mesmo deixá-los partilhar da carne que possa estar a devorar, a carne dos seus próprios filhos, porque sente que morre de fome no meio daquele cerco à cidade. A mulher mais terna e mais branda, aquela que quase nem assenta os pés no chão, recusará repartir com o seu querido marido, filhos e filhas o que tem para comer. Esconderá deles, quando tiver dado à luz, a placenta e a criança que lhe nasceu, para que possa comê-los ela própria; tão terrível será a fome durante esse ataque, e tão terrível a depressão causada pela presença dos inimigos às vossas portas. Se recusarem obedecer a todos os mandamentos desta Lei escritos neste livro, negando-se a temer o nome tremendo e glorioso do Senhor, o vosso Deus, então o Senhor vos enviará chagas perpétuas, a vocês e aos vossos filhos. Mandará todas as doenças e males do Egito que vocês receiam tanto; toda a terra será flagelada dessa maneira. E não será tudo! O Senhor trará sobre vocês toda a espécie de doenças e de pragas que existem, mesmo as que não são mencionadas neste livro da Lei, até que sejam destruídos. Serão poucos os que ficarão vivos depois disto, ainda que tenham sido tão numerosos como as estrelas do firmamento. É o que vos acontecerá se não quiserem ouvir o Senhor, vosso Deus. Da mesma forma que o Senhor se alegrou convosco e fez coisas tão maravilhosas, tendo-vos multiplicado, assim também nesse tempo ele sentir-se-á satisfeito em destruir-vos. E vocês desaparecerão da terra. Porque o Senhor vos espalhará entre as nações, duma extremidade à outra da Terra. Lá adorarão os deuses desses povos pagãos, que nem vocês nem os vossos antepassados conheceram, deuses feitos de madeira e de pedra. Lá entre essas nações não encontrarão repouso; antes vos dará o Senhor constante desassossego interior, escuridão e corpos esgotados pela tristeza e pelo cansaço. As vossas vidas andarão sempre como que suspensas pela dúvida. Viverão noite e dia em temores e nunca chegarão a ter a certeza de poder ver a luz da manhã. Ao amanhecer dirão: “Quem dera que já fosse noite!” E ao cair da noite: “Que venha depressa a manhã!” Isto dirão por causa dos terríveis horrores que vos rodeiam. Então o Senhor vos mandará de novo para o Egito em navios, viagem que vos tinha prometido que nunca mais haveriam de fazer. Lá vender-se-ão aos vossos próprios inimigos como escravos e ninguém quererá comprar-vos. São estes os termos da aliança que o Senhor ordenou a Moisés e que fez com o povo de Israel nas planícies de Moabe, além da aliança que já tinha feito com eles no monte Horebe. Mesmo assim, até hoje não têm inteligência para compreender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, que são coisas que Deus vos pode dar! Diz Deus: “Durante 40 anos eu vos conduzi através do deserto, e nem por isso o vosso vestuário envelheceu ou o vosso calçado se gastou. Não vos deixei cultivar trigo para fazerem pão nem vinhas para beberem vinho e bebidas fortes, para que se deem conta de que eu sou o Senhor, vosso Deus.” Quando aqui chegámos, o rei Siom de Hesbom e o rei Ogue de Basã vieram lutar contra nós, mas destruímo-los; tomámos a sua terra e demo-la às tribos de Rúben, de Gad e à meia tribo de Manassés. Por isso, obedeçam aos termos desta aliança para que possam prosperar em tudo quanto fizerem. Todos vocês, os chefes, o povo, os juízes e os responsáveis administrativos, estão aqui perante o Senhor, vosso Deus, com os vossos filhos, as vossas mulheres e os estrangeiros que vivem convosco, que cortam a vossa lenha e transportam a vossa água. Estão aqui para entrar na aliança que o Senhor, vosso Deus, faz hoje convosco em juramento. Ele quer confirmar-vos como o seu povo, afirmar-se ele próprio como o vosso Deus, tal como prometeu aos vossos antepassados, a Abraão, a Isaque e a Jacob. Aliás, não é só convosco que eu firmo esta aliança e este juramento, não apenas com aqueles que aqui estão presentes, neste momento solene, na presença do Senhor, nosso Deus, mas também com aqueles que não estão aqui hoje. Lembram-se bem, com certeza, como vivemos na terra do Egito e como, depois de sairmos de lá, fomos conduzidos através do território de nações inimigas. Viram os seus ídolos abomináveis, feitos de madeira, pedra, prata e ouro. No dia em que algum de vós, homem ou mulher, uma só família ou toda uma tribo de Israel, começar a desviar-se do Senhor, nosso Deus, e pretender adorar os ídolos das outras nações, esse dia será como plantar uma raiz que vem a dar frutos amargos e venenosos. Que ninguém, numa alegre indiferença, pense, ao ouvir os avisos desta maldição: “As coisas hão de correr-me bem, ainda que ande como muito bem me apetece, ainda que faça tudo o que me dá na vontade!” Porque o Senhor não o perdoará. A sua cólera e o seu zelo acender-se-ão contra essa pessoa. E todas as maldições escritas neste livro cairão pesadamente sobre ela; o Senhor riscará o seu nome de debaixo dos céus. O Senhor separará esse indivíduo de todas as tribos de Israel, para derramar sobre ele todas as maldições, consignadas neste livro da Lei, que se referem aos que quebram esta aliança. Então os vossos filhos e as gerações vindouras, e até os estrangeiros que passam pela vossa terra vindos de longe, verão a devastação da terra e as doenças e os males que o Senhor fez cair sobre ela. Verão que toda a terra ficou queimada com enxofre e com sal; será uma terra ardida, completamente estéril, sem produzir nada, sem vestígios de vegetação, como aconteceu com Sodoma e Gomorra, com Admá e Zeboim, destruída pela cólera do Senhor. “Porque é que o Senhor fez isto a esta terra?”, perguntarão as gentes estrangeiras. “Porque se acendeu assim a sua cólera?” E dirão: “Porque o povo da terra quebrou a aliança que fez com eles, o Senhor, o Deus dos seus antepassados, quando os trouxe para fora do Egito. Pois começaram a adorar outros deuses, violando a expressa proibição de Deus. Foi essa a razão da grande ira do Senhor contra esta terra, de tal forma que todas as maldições que estão expressas neste livro desabaram sobre eles. Com grande furor o Senhor os expulsou da sua terra e os mandou para outra, onde ainda vivem atualmente.” As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, mas as reveladas são para nós e para os nossos filhos, para que as cumpramos sempre. Quando todas estas coisas vos acontecerem, as bênçãos e as maldições que coloquei na vossa frente, hão de meditar seriamente sobre elas, quando viverem entre os povos para onde o Senhor, vosso Deus, vos enviou. Se nessa altura quiserem voltar para o Senhor, vosso Deus, e se tanto vocês como os vossos filhos começarem a obedecer de todo o coração a todos os mandamentos que vos dou hoje, então o Senhor, vosso Deus, vos livrará do cativeiro. Terá compaixão e começará a juntar-vos de todas as nações onde vos espalhou. Ainda que estejam nos confins da Terra, irá ao vosso encontro e vos fará regressar de novo para a terra dos vossos pais. Possuirão novamente a terra e far-vos-á bem, e abençoar-vos-á ainda mais do que aos vossos pais. Limpará os vossos corações assim como os dos vossos filhos, para que possam amar o Senhor, vosso Deus, com todo o coração e com toda a alma; Israel tornará de novo a viver! O Senhor, vosso Deus, fará prosperar tudo o que fizerem; dar-vos-á muitos filhos, muito gado e searas maravilhosas; pois o Senhor se regozijará tal como se regozijou com os vossos antepassados, se obedecerem aos mandamentos escritos neste livro da Lei, e se se converterem ao Senhor, vosso Deus, de todo o vosso coração, de toda a vossa alma. Obedecer a esta Lei não é nada que não possam fazer, que não esteja ao vosso alcance. Não está no céu, tão distante que tenham de dizer: “Quem pode subir aos céus para trazê-la ou fazê-la ouvir para que a cumpramos?” Também não está para além do mar, de modo que alguém pergunte: “Quem atravessará o mar para trazê-la até nós, para que a ouçamos e lhe obedeçamos?” Pelo contrário, a sua mensagem está mesmo à mão; na tua boca e no teu coração, para que possas cumpri-la. Vejam bem, hoje coloco na vossa frente a vida e a prosperidade, a morte e a calamidade, conforme obedeçam ou desobedeçam. Hoje ordeno-vos que amem o Senhor, vosso Deus, e que sigam os seus caminhos, guardando as suas leis, para que vivam e se tornem uma grande nação, e para que o Senhor, vosso Deus, vos abençoe; vocês e a terra que vão possuir. Mas se os vossos corações se desviarem e não quiserem ouvir, se forem levados a adorar outros deuses, então declaro-vos solenemente neste momento que com toda a certeza perecerão; não terão uma vida longa e boa na terra de que vão tomar posse, depois de atravessarem o Jordão. Apelo para o céu e para a Terra, como testemunhas, como hoje pus diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolham a vida, para que tanto vocês como os vossos filhos possam viver! Escolham o amar o Senhor, vosso Deus, obedecer-lhe e depender dele, porque ele é a vossa vida, ele é o prolongamento dos vossos dias. Serão capazes assim de viver em segurança na terra que o Senhor prometeu aos vossos antepassados, a Abraão, a Isaque e a Jacob. Depois de Moisés ter declarado todas estas coisas ao povo de Israel, disse-lhes: “Tenho já 120 anos. Não posso mais conduzir-vos, pois o Senhor me disse que não hei de atravessar o rio Jordão. O Senhor, vosso Deus, ele mesmo, vos conduzirá e destruirá as nações que lá vivem e as vencerão. Josué será o vosso novo comandante, segundo as instruções do Senhor. O Senhor destruirá as nações que vivem na terra, como já destruiu Siom e Ogue, reis dos amorreus. Ele vos entregará o povo que lá vive e vocês os aniquilarão, de acordo com o que vos tenho dito. Sejam fortes! Sejam corajosos! Não tenham medo deles! Porque o Senhor, vosso Deus, está convosco. Não vos deixará nem abandonará.” Então Moisés chamou Josué e disse-lhe, ali na presença de todo Israel: “Sê forte! Tem coragem! Pois conduzirás este povo para a terra prometida pelo Senhor aos seus antepassados. Tu os levarás a conquistá-la. Não estejas temeroso, porque o Senhor irá na tua frente e estará contigo. Ele não te deixará nem te abandonará.” Então Moisés escreveu esta Lei que tinha entregado ao povo e deu-a aos sacerdotes, os filhos de Levi, que transportam a arca da aliança do Senhor. Moisés deu igualmente cópias desta Lei aos anciãos de Israel. “Chama-os a todos para que se juntem”, instruiu Moisés, “homens, mulheres, crianças e estrangeiros que estejam vivendo no vosso meio, para que ouçam a Lei de Deus e aprendam a fazer a sua vontade, para que todos temam o Senhor, vosso Deus, e obedeçam à sua Lei. Façam isto para que os vossos netos e descendentes, que não conhecerem esta Lei, a escutem e aprendam a temer o Senhor, vosso Deus, todo o tempo que viverem na terra, quando atravessarem o rio Jordão.” Então o Senhor disse a Moisés: “Chegou o tempo em que terás de morrer. Convoca Josué e venham os dois à tenda do encontro para que lhe dê instruções.” Assim fez Moisés e foi apresentar-se com Josué diante da tenda do encontro. O Senhor apareceu-lhes numa grande nuvem em forma de coluna, à entrada do tabernáculo. E disse a Moisés: “Tu morrerás e irás ter com os teus antepassados. Depois disso, este povo começará a adorar deuses estranhos na terra prometida. Esquecer-se-ão de mim e da aliança que fiz com eles. Então a minha ira se inflamará contra eles e abandoná-los-ei, escondendo deles o meu rosto, e serão destruídos. Tremenda perturbação cairá sobre eles e exclamarão: ‘Deus já não está mais connosco!’ Afastar-me-ei deles por causa dos seus pecados, por terem adorado outros deuses. Escreverás agora as palavras deste cântico, para as ensinares ao povo de Israel, como um aviso que lhes faço. Quando os trouxer para a terra que prometi aos seus antepassados, uma terra onde brotam o leite e o mel, quando se tiverem tornado fartos e prósperos e começarem a adorar outros deuses, a desprezar-me e a quebrar a minha aliança, trazendo dessa forma grandes calamidades sobre eles, este cântico lembrar-lhes-á a razão dos seus infortúnios. Porque este cântico perdurará de geração em geração. Eu já sei, mesmo antes de entrarem na terra, qual é a natureza deste povo.” Naquele mesmo dia Moisés escreveu as palavras desse cântico e as ensinou aos israelitas. Depois encorajou Josué, filho de Num, dizendo-lhe: “Sê forte e corajoso, porque tu é que conduzirás o povo de Israel para a terra que, sob juramento, lhes prometi; e eu estarei contigo.” Quando Moisés acabou de escrever toda a Lei aqui registada, deu instruções aos levitas que levavam a arca da aliança do Senhor: “Ponham este livro da Lei ao lado da arca da aliança do Senhor, vosso Deus, para que seja um solene aviso para o povo de Israel. Porque eu sei como vocês são rebeldes e obstinados. Se mesmo atualmente, enquanto aqui estou convosco, vocês são rebeldes contra o Senhor, quanto mais depois da minha morte! Agora chamem todos os anciãos e os oficiais das vossas tribos para que possa falar-lhes e invocar como testemunhas contra eles o céu e a Terra. Eu sei que depois da minha morte se hão de corromper e desviar de Deus e dos seus mandamentos; e que nos dias vindouros o mal vos esmagará, porque fazem aquilo que o Senhor diz que é mau, levando-o a encolerizar-se.” Então Moisés apresentou este cântico a toda a assembleia de Israel: Ouçam, céus e Terra! Ouçam o que eu vou dizer! As minhas palavras cairão sobre vocês, como a chuva delicada e como o orvalho, como a chuva sobre a erva tenra, sobre a relva. Hei de proclamar a grandeza do Senhor! Como ele é glorioso! Ele é a rocha e sua obra é perfeita. Tudo o que ele faz é justo e reto. Deus é a verdade; nele não há injustiça. Mas Israel corrompeu-se, sujou-se no pecado. Já não lhe pertence mais; é um povo duro e torcido. É assim que tratas com o Senhor, ó povo louco e insensato? Não é Deus o vosso Pai? Não foi ele quem vos criou? Não foi ele quem vos estabeleceu e vos tornou fortes? Lembrem-se dos dias de antigamente! Perguntem aos vossos pais e aos anciãos, pois eles vos contarão tudo! Quando o Altíssimo repartiu o mundo entre as nações, fixou os limites dos povos, segundo o número dos filhos de Israel. Porque Israel é a possessão do Senhor; os descendentes de Jacob são a sua herança pessoal. Encontrou-os num deserto, numa região árida repleta de uivos. Cuidou deles e protegeu-os, como se fossem a menina dos seus olhos. Abriu as suas asas para os amparar, como a águia pairando junto às crias no ninho. Recolheu-os e transportou-os, pois assim faz o Senhor com o seu povo! O Senhor conduziu-os sozinho, pois viviam sem deuses estrangeiros. Deu-lhes férteis planaltos, campos de rica terra, mel saindo da rocha, e azeite de chão rochoso! Deu-lhes leite e carne; escolheu para eles carneiros e bodes de Basã, e o melhor do trigo; beberam vinho da cor do sangue. Mas Israel altivo, ao engordar, rebelou-se, de tão bem tratado que estava. Na sua abundância, esqueceu-se de Deus, e repudiou a rocha da sua salvação. Israel começou a seguir deuses estrangeiros e Deus ficou muito irado; foi provocado pelos ciúmes do seu povo. Este sacrificou a demónios, novos deuses que nunca tinham adorado, nem eles nem os seus antepassados. Desdenharam da rocha que os tinha criado, esqueceram-se de que foi Deus quem os criou. O Senhor viu o que estavam a fazer e rejeitou-os; ficou irritado com os seus filhos e filhas. Por isso, disse: “Vou abandonar-vos! Vejam o que está a acontecer-vos, por serem uma geração dura e desleal! Provocaram-me severos ciúmes, com aqueles seus ídolos inúteis, os quais não eram deuses nenhuns. Por isso, agora, lhes suscitarei ciúmes com gente que não é meu povo; com um povo que não tem conhecimento provocarei a sua ira. Porque a minha ira acendeu um fogo que arde até às profundezas do mundo dos mortos. Consumirei a Terra e as suas searas, pondo os fundamentos das suas montanhas a arder. Amontoarei males sobre eles, atirarei sobre eles as minhas flechas. Morrerão de fome e serão consumidos por febres e epidemias mortais. Enviarei contra eles animais ferozes e serpentes venenosas. Do exterior virá a espada do inimigo, como do interior vieram as pragas. Serão aterrorizados, tanto os mancebos como as raparigas, tanto o bebé de mama como o indivíduo mais idoso. Decidi espalhá-los por terras longínquas, para que até a lembrança deles desapareça. Mas então eu pensei: Os meus inimigos fanfarronarão, dizendo: ‘Israel foi destruído pela nossa própria força! Não foi o Senhor que fez isso!’ ” Israel é uma nação sem inteligência, louca e sem entendimento. Oh! Se eles fossem sensatos! Como haveriam de entender! Haveriam de dar-se conta do seu destino! Como poderia um só inimigo perseguir mil combatentes, e dois porem fora de combate dez mil, se a sua rocha não os tivesse abandonado, se o Senhor não os tivesse entregado nas suas mãos? A rocha das outras nações não é como a nossa! Até os nossos inimigos o reconhecem! São como as vinhas de Sodoma, plantadas nos campos de Gomorra: as suas uvas são venenosas e os seus cachos são amargos; Bebem vinho feito de veneno de serpentes. Deus diz: “Tenho planos para o que farei aos inimigos Israel e às nações. Minha é a vingança. Decreto que os meus inimigos sejam castigados; a sentença deles está já assinada.” O Senhor julgará o seu povo. Terá compaixão dele, quando escorregar, e quando a sua força for decaindo, e já não houver nem escravos nem gente livre. Então declarará: “Onde estão aqueles deuses deles as tais rochas que declaravam ser o seu refúgio? Onde estão agora esses deuses, aos quais consagraram gordura e vinho? Que se levantem então esses deuses, que os ajudem e os abriguem! Não veem que só eu sou Deus? Eu tiro e dou a vida. Faço a ferida e saro-a, ninguém escapa ao meu poder. Levanto a mão ao céu e juro pela minha própria vida, que é eterna: Afiarei a minha espada reluzente e despejarei castigos sobre os meus inimigos, para dar a paga àqueles que me odeiam! As minhas flechas embriagar-se-ão com sangue. A minha espada devorará a carne de todos os que foram mortos e feitos prisioneiros, as cabeças dos chefes dos inimigos.” Alegrem-se, ó nações, com o povo de Deus, pois ele vingará a morte dos seus servos! Há de vingá-los por aquilo que os seus inimigos lhes fizeram, purificando a sua terra e o seu povo. Depois de Moisés e Oseias, isto é, Josué, filho de Num, terem apresentado as palavras deste cântico ao povo, Moisés fez os seguintes comentários: “Meditem em toda a Lei que vos dei agora, ensinem-na aos vossos filhos. Não se trata de meras palavras; são a vossa vida! Se lhes obedecerem, terão vidas prolongadas e prósperas na terra que vão agora possuir do outro lado do Jordão.” Nesse mesmo dia, o Senhor disse a Moisés: “Sobe ao monte Nebo, na cordilheira de Abarim, na terra de Moabe, defronte de Jericó. Lá do cimo, contempla a terra de Canaã que eu dei ao povo de Israel. Depois de olhares para ela, deverás morrer e ir ter com os teus antepassados, tal como aconteceu com Aarão, o teu irmão, que morreu no monte Hor e também se foi juntar aos seus. Porque vocês desonraram-me na frente do povo de Israel, nas fontes de Meribá, em Cades, no deserto de Zim. Verás na sua extensão a terra que dei ao povo de Israel, contudo, não entrarás nela.” Esta é a bênção que Moisés, o homem de Deus, deu ao povo de Israel, antes de falecer: “O Senhor vem do monte Sinai, rompeu sobre o seu povo, como um sol, desde o monte Seir, resplandeceu no monte Parã, rodeado por dez milhares dos seus santos anjos, e com fogo flamejante na mão direita. Como tu amas o teu povo, os teus santos estão seguros nas tuas mãos! Eles seguiram as tuas pisadas, ó Senhor, receberam de ti as tuas diretivas. Moisés deu-nos a Lei, que é a possessão da assembleia de Jacob. Deus era Rei em Israel, quando os chefes do povo se reuniram com as tribos de Israel. Que Rúben viva para sempre e que a sua tribo seja um pequeno povo!” E acerca de Judá Moisés disse: “Ó Senhor, ouve o grito de Judá, une-o com Israel! Com as suas mãos, ele defende a sua causa e livra-o dos seus inimigos.” Então Moisés disse acerca da tribo de Levi: “Dá a Levi, o teu servo fiel, o teu urim e tumim. Puseste Levi à prova em Massá e em Meribá. Os levitas obedeceram à tua palavra e guardaram a tua aliança. Foram-te mais leais do que aos seus próprios pais. Desprezaram os seus parentes e não fizeram caso dos próprios filhos. Os levitas ensinam a Israel a tua Lei, e no altar dos holocaustos te oferecem incenso. Ó Senhor, faz os levitas prosperarem, e aceita o serviço que fazem para ti. Esmaga os que são seus inimigos, não deixes que levantem cabeça!” Quanto à tribo de Benjamim, disse Moisés: “Ele é amado por Deus e vive em segurança ao seu lado. Deus o rodeia com amorosa atenção e o preserva de qualquer dano.” Em relação à tribo de José, disse: “Que a sua terra seja abençoada por Deus com o orvalho do céu e também com águas profundas! Que ele seja abençoado com o melhor daquilo que o Sol faz crescer, tornando-se cada vez mais rico, mês após mês, com o melhor dos frutos das colinas e dos eternos outeiros! Que ele seja abençoado com os melhores dons da terra e da sua plenitude e com o favor de Deus que apareceu na sarça ardente! Que todas estas bênçãos venham sobre José, que é príncipe entre os seus irmãos! Ele é como um boi novo, em toda a sua força e pujança, as suas pontas são como as de um boi selvagem, para ferir as nações, seja onde for. Esta é a minha bênção sobre as dezenas de milhares de Efraim, sobre os milhares de Manassés.” Sobre as tribos de Zebulão e Issacar, disse Moisés: “Alegra-te, Zebulão, gente do campo, da natureza, assim como Issacar se alegrará no inteiror das suas tendas! Eles convidarão outros povos para a montanha para oferecer os sacrifícios estabelecidos. Explorarão as riquezas do mar e os tesouros escondidos na areia.” Acerca da tribo de Gad, Moisés disse: “Benditos aqueles que estendem o território de Gad! Ele agacha-se como uma leoa e despedaça braços e cabeças. Escolheu o melhor da terra para si mesmo, porque está destinado a ser um chefe. Conduziu o povo, executou a justiça do Senhor e os seus juízos sobre Israel.” Da tribo de Dan, ele disse: “Dan é como uma cria do leão, saltando desde Basã!” Da tribo de Naftali, Moisés disse: “Ó Naftali, vives satisfeito com todas as bênçãos do Senhor! A região do lago e a sul deste, são o teu lar.” Da tribo de Aser, disse: “Aser é abençoado pelos seus filhos e estimado mais do que todos os seus irmãos; lava os pés em azeite suavizante. Que sejas protegido com fortes ferrolhos de ferro e de bronze e que a tua força seja semelhante à extensão dos teus dias! Não há ninguém como o Deus de Israel! Ele desce dos céus para te ajudar, sobre as nuvens, em majestoso esplendor. O Deus eterno é o teu refúgio e por baixo estão os seus braços eternos. Ele expulsa os teus inimigos diante de ti; ele próprio é quem grita: ‘Destrói-os!’ E assim Israel habita em segurança, prosperando numa terra de trigo e de vinho, com orvalho que cai docemente dos céus. Como és bem-aventurado, ó Israel! Quem é como tu, um povo salvo pelo Senhor? Ele é o teu escudo e o teu socorro, é a tua excelente espada! Os teus inimigos curvar-se-ão perante ti e tu calcarás os seus lugares altos!” Então Moisés subiu da planície de Moabe ao cume de Pisga, no monte Nebo, defronte de Jericó. O Senhor mostrou-lhe a terra prometida, desde Gileade até Dan; a região de Naftali, a de Efraim e de Manassés; também a de Judá, que se estende até ao mar Mediterrâneo. Depois a região do Negueve, o vale do Jordão e também Jericó, a cidade das palmeiras, até Zoar. “É esta a terra”, disse o Senhor a Moisés, “que prometi a Abraão, a Isaque e a Jacob que daria aos seus descendentes. Agora já a viste, mas não entrarás nela.” Moisés, o servo do Senhor, morreu na terra de Moabe, conforme o Senhor lhe dissera. Deus mesmo o enterrou no vale que está perto de Bete-Peor em Moabe, mas ninguém sabe exatamente onde. Moisés tinha 120 anos quando faleceu e a sua vista era ainda perfeita e tinha a força de um jovem. O povo de Israel chorou-o e esteve de luto por ele durante trinta dias nas planícies de Moabe. Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria, pois Moisés tinha colocado as suas mãos sobre ele. Assim, o povo de Israel obedecia-lhe e seguia as ordens que o Senhor tinha dado a Moisés. Não houve jamais outro profeta semelhante a Moisés, a quem o Senhor tivesse conhecido face a face. Ele realizou espantosos milagres que nunca mais foram igualados. Fez grandes e tremendas maravilhas, em obediência ao Senhor, para castigar o Faraó, os seus súbditos e toda a sua terra. Nenhum outro teve tanto poder nem despertou tanto respeito em Israel como Moisés. Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, o Senhor falou àquele que tinha sido o ajudante de Moisés, e cujo nome era Josué, filho de Num, e disse-lhe: “Moisés, o meu servo, morreu. Leva o povo a atravessar o Jordão para a terra prometida. Digo-te o que disse a Moisés: Toda a terra por onde fores pertencerá a Israel; desde o deserto do Negueve a sul, até às montanhas do Líbano a norte; e desde o mar Mediterrâneo a poente, até ao rio Eufrates no oriente, incluindo toda a terra dos hititas. Ninguém terá força bastante para se opor a ti, enquanto viveres, porque serei contigo tal como fui com Moisés; não te abandonarei nem te desampararei. Esforça-te e tem ânimo, pois serás bem sucedido na chefia do meu povo; este conquistará toda a terra que prometi aos seus antepassados. Precisas apenas de ser forte e corajoso e obedecer literalmente a toda a Lei que Moisés te deu, visto que se fores cuidadoso no cumprimento da mesma, tudo o resto te correrá bem. Lembra constantemente ao povo este livro da Lei; tu próprio deverás meditar nele, dia e noite, para teres a certeza de que obedeces integralmente ao que nele está escrito, porque só então terás sucesso. Sim, sê ousado e forte! Abandona o medo e a dúvida! Não te deves esquecer que o Senhor, teu Deus, está contigo para onde quer que vás.” Então Josué deu instruções a todos os líderes de Israel que dissessem ao povo para estar pronto para atravessar o rio Jordão. “Daqui a três dias passaremos para o lado de lá, conquistaremos a terra que o Senhor, vosso Deus, vos deu e passaremos a viver ali”, disse-lhes. Depois convocou os líderes das tribos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés; e lembrou-lhes o acordo que tinham feito com Moisés que lhes disse: “O Senhor, vosso Deus, deu-vos uma terra aqui no lado oriental do Jordão; por isso, as vossas mulheres, os vossos filhos e o vosso gado podem ficar aqui, mas os homens aptos para combater deverão passar o Jordão com os outros, com todo o seu armamento, à frente de todos os outros, para participar na conquista do território que está na outra margem; só os deixarão para voltarem à sua terra, quando tiverem conquistado todo o território. Só nessa altura se estabelecerão definitivamente nesta margem oriental do Jordão.” Eles concordaram com isto, garantindo que obedeceriam a Josué. “Obedecer-te-emos tal como obedecemos a Moisés”, asseguraram. “E que o Senhor, teu Deus, seja contigo tal como foi com Moisés! Se alguém, seja quem for, se rebelar contra as tuas ordens, deverá morrer. Por isso, vai para a frente com coragem e ânimo!” Então Josué enviou dois espiões, dali onde se encontravam, no campo israelita em Sitim, para passarem o rio e dar-se conta, secretamente, da situação no outro lado, especialmente em Jericó. Assim que chegaram a uma estalagem dirigida por uma mulher chamada Raabe, que era meretriz, e resolveram passar ali a noite. No entanto, alguém foi informar o rei de Jericó que alguns israelitas, suspeitos de serem espias, tinham chegado à cidade naquela noite. Imediatamente, o rei mandou avisar Raabe, para que os entregasse. “São espias”, explicaram-lhe eles. “Foram mandados pelos chefes israelitas para espiar toda a terra.” Mas ela tinha-os escondido e por isso disse: “Uns homens estiveram cá durante o dia, mas eu não sabia de onde eram. Deixaram a cidade ao anoitecer, quando as portas estavam a fechar-se, e não sei para onde foram. Se se despacharem talvez ainda os apanhem.” Na realidade ela tinha-os feito subir ao terraço da casa e estavam escondidos sob uns fardos de linho que ali estavam a secar. Assim, aqueles homens foram a correr até à beira do vale do Jordão, à procura deles, enquanto era dada ordem para que as portas da cidade se mantivessem fechadas. Raabe subiu para falar com os espias antes que se deitassem: “Sei muito bem que o Senhor já vos deu esta terra. Estamos todos com medo de vocês; basta só que o nome de Israel seja mencionado para ficarmos aterrorizados. Ouvimos como o Senhor vos abriu um caminho através do mar Vermelho, quando saíram do Egito. Sabemos o que fizeram a Siom e a Ogue, os dois reis amorreus, do outro lado do Jordão, e como os destruíram totalmente. Por essa razão, não é para admirar que estejamos com muito medo! Não há ninguém com ânimo para lutar, depois do que ouvimos, porque o Senhor, vosso Deus, é, na verdade, Deus supremo no céu e na Terra. Os homens concordaram. “Se não nos atraiçoares faremos com que tu e a tua família não sofram dano; proteger-vos-emos, se for preciso, com a nossa própria vida”, prometeram. “Quando o Senhor nos entregar esta terra, usaremos de misericórdia e de fidelidade para contigo.” Seguidamente, visto que a casa estava construída sobre a muralha da cidade, desceu-os com uma corda, por uma janela. “Fujam para as montanhas!”, aconselhou. “Escondam-se lá durante três dias, até que os homens que andam à vossa procura tenham voltado. Depois então regressem.” Contudo, antes de partirem, os dois homens ainda lhe disseram o seguinte: “Não poderemos ser responsáveis por aquilo que possa vir a acontecer-te, se não deixares este fio escarlate suspenso na janela, e também se os teus parentes, o teu pai, a tua mãe, irmãos e outros familiares não estiverem escondidos dentro de casa. No caso de saírem para a rua, já não nos responsabilizamos por eles; mas juramos que seja quem for que estiver dentro de casa não será morto nem ferido. Além disso, se nos traíres, o nosso juramento também não nos obrigará a coisa nenhuma.” “Aceito essas condições”, replicou ela. E deixou o fio escarlate pendurado na janela. Os espias dirigiram-se para as montanhas e por lá ficaram três dias, até que aqueles que tinham ido no seu encalço tivessem voltado para a cidade, depois de os terem procurado, em vão, ao longo do caminho até ao Jordão. Só então os dois espias desceram das montanhas, atravessaram o Jordão e relataram enfim a Josué o que lhes tinha acontecido. “O Senhor vai com certeza dar-nos toda esta terra”, disseram eles, “porque as gentes dali morrem de medo por nossa causa.” Na manhã seguinte, logo muito cedo, Josué e o povo de Israel deixaram Sitim e vieram até às margens do rio Jordão, onde ficaram acampados durante alguns dias antes de o atravessarem. No terceiro dia foram mandados chefes por todo o acampamento com estas instruções: “Quando virem os sacerdotes levitas transportar a arca da aliança do Senhor, vosso Deus, sigam-na. Nunca fizeram este caminho antes, por isso, precisam que vos guiem. Mantenham uma distância aproximada de um quilómetro entre a arca; tenham cuidado em não se aproximarem mais do que a distância indicada.” Seguidamente, Josué disse ao povo: “Santifiquem-se, porque amanhã o Senhor fará coisas maravilhosas no vosso meio.” Pela manhã Josué deu aos sacerdotes estas ordens: “Levantem a arca da aliança e atravessem o rio à nossa frente.” E eles foram, caminhando diante do povo. “Hoje”, disse o Senhor a Josué, “aumentarei muito a tua autoridade perante todo o povo; porque Israel constatará que eu estou contigo como estive com Moisés. Dá instruções aos sacerdotes, que levam a arca, para que parem mesmo à beira do rio.” Então Josué convocou toda a gente e disse: “Venham ouvir o que o Senhor, vosso Deus, disse. Hoje vão dar-se conta, seguramente, que o Deus vivo está no vosso meio e que, com toda a certeza, expulsará daquela terra os cananeus, os hititas, os heveus, os perizeus, os girgaseus, os amorreus e os jebuseus; todos os povos que habitam atualmente o território que, em breve, irão ocupar. A arca da aliança de Deus, que é o Senhor de toda a Terra, é que vos conduzirá através do rio! Por isso, elejam doze homens, um de cada tribo, para a tarefa especial que lhes vai ser indicada. Quando os sacerdotes que transportam a arca tocarem na água com os pés, o rio parará de correr, como se as águas estivessem a ser retidas por uma represa; amontoar-se-ão como se uma muralha invencível as retivesse!” imediatamente as águas começaram a amontoar-se como se tivessem encontrado um dique, e isto já muito acima, na cidade de Adão, perto de Zaretã. As águas abaixo desse ponto foram correndo para o mar Salgado, até que o leito ficou sem nenhuma água. Então todo o povo passou, no sítio em que o rio mais se aproximava da cidade de Jericó; os sacerdotes que transportavam a arca da aliança do Senhor permaneceram ali, no meio do Jordão, sobre terra sem água, até que toda a gente passou para o outro lado. Quando o povo passou em perfeita segurança, o Senhor disse a Josué: “Diz aos doze homens escolhidos para executarem a tal tarefa especial, um de cada tribo. Pegue cada um deles numa pedra do sítio onde os sacerdotes permaneceram no meio do Jordão, e levem-nas para construírem um monumento no lugar onde acamparem esta noite.” Foi assim que Josué convocou os doze homens e lhes disse: “Vão até ao meio do Jordão, onde a arca parou, e cada um traga sobre os ombros uma pedra, doze pedras ao todo, uma por cada uma das doze tribos. Servirão para levantarmos um monumento. Quando no futuro os vossos filhos perguntarem, ‘Que monumento é este?’, terão ocasião de lhes responder assim: ‘É para nos lembrarmos que o rio Jordão parou de correr quando a arca da aliança do Senhor teve de o atravessar.’ Este monumento tornar-se-á um memorial perpétuo para o povo de Israel que lhes recordará este espantoso milagre.” Os homens fizeram como Josué lhes mandou. Pegaram em doze pedras do meio do rio, uma por cada tribo, segundo a ordem dada pelo Senhor a Josué. Levaram-nas até ao sítio onde acamparam naquela noite e lá as colocaram. Josué mandou colocar outras doze pedras no meio do Jordão, no lugar onde os sacerdotes tinham ficado em pé, enquanto o povo passava; e ali está até ao dia de hoje. Portanto, os sacerdotes que transportavam a arca não saíram dali, do meio do rio, sem que todas estas instruções que o Senhor tinha dado a Josué, ainda por intermédio de Moisés, tivessem sido cumpridas. Entretanto, o povo tinha-se apressado a passar para o outro lado do rio; quando toda a gente passou, ficaram a observar os sacerdotes levando a arca no meio do rio. As tropas de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, com todo o seu armamento, segundo as determinações dadas por Moisés, que eram formadas por 40 000 homens de guerra que formavam o exército do Senhor, nas ações militares através das campinas de Jericó. Foi um dia muito importante na vida de Josué. O Senhor concedeu-lhe grande prestígio aos olhos de todo o povo de Israel e respeitaram-no tanto como a Moisés, não só naquela altura, mas por toda a sua vida. Porque foi Josué quem, a mandado do Senhor, deu as instruções aos sacerdotes que transportavam a arca do testemunho. “Subam agora do rio”, foi a ordem que o Senhor lhe deu para que a transmitisse. Josué comunicou esta ordem, e logo que os sacerdotes que carregavam a arca da aliança do Senhor saíram do leito do Jordão, as águas começaram a correr como normalmente, transbordando nas margens como antes. Este milagre deu-se no décimo dia do primeiro mês. Foi nesse dia que toda a nação passou o Jordão, tendo acampado em Gilgal, a oriente da cidade de Jericó. E nesse sítio as doze pedras do Jordão foram erguidas como monumento. Josué explicou-lhes de novo o propósito daquelas pedras: “No futuro, quando os vossos filhos vos perguntarem porque é que estão aqui estas pedras, e o que representam, hão de responder-lhes que são um memorial que recorda o maravilhoso acontecimento de toda a nação de Israel ter atravessado o Jordão por terra seca. Deverão contar-lhes como o Senhor, vosso Deus, secou o rio, ali sob os vossos olhos, e o manteve seco enquanto todos passávamos. Foi a mesma coisa que o Senhor fez com o mar Vermelho. E fez isso para que todas as nações da Terra se dessem conta de que o Senhor é o Deus poderoso e para que todos vocês o temam para sempre.” Quando as nações da banda ocidental do Jordão, os amorreus e os cananeus que viviam, estes últimos, na costa do Mediterrâneo, ouviram que o Senhor tinha secado o rio Jordão para que o povo de Israel pudesse passar, perderam completamente o alento e ficaram paralisados de terror. Porque a nação de Israel percorrera o deserto, andando em várias direções, durante 40 anos, até que todos os homens com idade para o combate, na altura em que deixaram o Egito, morreram, visto não terem obedecido ao Senhor que lhes dissera que não haveriam de entrar na terra que prometera a Israel, uma terra onde jorra leite e mel. Foi pois essa a razão por que Josué circuncidou os filhos deles, os homens que tinham crescido para tomarem o lugar dos pais. Enquanto estavam acampados ali em Gilgal, nas planícies de Jericó, celebraram a Páscoa na noite do dia 14 do mês. No dia seguinte começaram a comer dos frutos e dos cereais dos campos que invadiram, tendo feito pães sem fermento. Nesse dia, o maná deixou de cair e nunca mais ninguém o achou. Portanto, a partir dessa altura passaram a comer das searas de Canaã. Numa ocasião em que Josué estava perto da cidade de Jericó, apareceu-lhe um homem com uma espada desembainhada. Josué avançou para ele e perguntou: “És amigo ou inimigo?” Ele respondeu: “Não. Sou o comandante do exército do Senhor e acabo de chegar.” Josué prostou-se diante dele, adorou-o e disse: “Dá-me as tuas ordens.” “Descalça-te, porque este terreno é santo.” E Josué obedeceu. Os portais de Jericó eram mantidos completamente fechados, pois o povo estava cheio de medo dos israelitas e não deixavam ninguém entrar nem sair. Mas o Senhor disse a Josué: “Jericó, o seu rei e todos os seus valentes guerreiros encontram-se praticamente derrotados, porque já os entreguei nas vossas mãos. O vosso exército, com todos os seus efetivos, deverá rodear a cidade uma vez por dia durante seis dias seguidos. Sete sacerdotes levarão a arca, cada um deles com uma trombeta feita de chifre de carneiro. No sétimo dia darão a volta à cidade sete vezes, com os sacerdotes tocando as trombetas. Então, quando soprarem um longo e alto toque, todo o povo deverá gritar com muita força. Nessa altura, as muralhas da cidade cairão e poderão lá entrar por todos os lados.” “Ninguém falará, nem dirá nada; só se ouvirão as trombetas a tocar”, ordenou Josué. “Não dirão sequer uma palavra até que vos diga para gritarem; então gritem!” A arca rodeou a cidade uma vez nesse dia e depois toda a gente regressou ao acampamento para passar a noite. Ao amanhecer, Josué levantou-se e os sacerdotes pegaram na arca do Senhor. Os sete sacerdotes que tocavam trombeta iam à frente da arca do Senhor. Adiante deles iam os guerreiros e o resto do exército seguia atrás da arca. Durante a marcha, jamais deixaram de tocar as trombetas. No segundo dia, deram novamente uma volta à cidade e regressaram ao acampamento. E fizeram o mesmo durante seis dias. Na manhã do sétimo dia fizeram o mesmo, mas desta vez rodearam a cidade não uma, mas sete vezes. À sétima vez, quando os sacerdotes tocaram um som alto e prolongado com as trombetas, Josué bradou ao povo, “Gritem! O Senhor deu-nos a cidade!” Anteriormente tinha-lhes dito: “Matem toda a gente, à exceção de Raabe, a meretriz, e de todos os que estiverem na sua casa, pois protegeu os nossos espias. Não fiquem com coisa nenhuma do saque; tudo deverá ser destruído. Se assim não fizerem, cairá a desgraça sobre a nação de Israel. No entanto, a prata e o ouro, os utensílios de bronze e de ferro, tudo isso será consagrado ao Senhor e deverá ser levado para o seu tesouro.” Assim, quando todo o povo ouviu o toque das trombetas, gritaram tão alto quanto podiam e, repentinamente, as muralhas de Jericó ruíram; caíram na sua frente. O povo de Israel irrompeu sobre elas, penetrando na cidade por todos os lados e conquistou-a. Destruíram tudo pela espada; homens e mulheres, novos e velhos, bois, cordeiros e jumentos. Josué disse aos dois espias, “Mantenham a vossa palavra, quanto à promessa que fizeram, e recolham a meretriz e os que estão com ela.” Os homens foram e trouxeram-na, a ela e ao pai e à mãe, aos irmãos e outros parentes que lá se encontravam. E deixaram-nos ficar a viver fora do acampamento de Israel. Os israelitas queimaram a cidade e tudo o que ali havia, exceto a prata, o ouro e os utensílios de bronze e de ferro, que foram levados para o tesouro da casa do Senhor. Josué salvou Raabe, a meretriz, e os parentes que estavam com ela dentro de casa, os quais vivem ainda hoje entre os israelitas, pois escondeu os espias que Josué enviara a Jericó. Então Josué declarou uma maldição sobre quem viesse a reconstruir Jericó, advertindo que, quando os seus fundamentos fossem repostos, o filho mais velho do construtor haveria de morrer e que, quando as suas portas fossem montadas, seria o filho mais novo desse alguém que morreria. Desta forma, o Senhor estava com Josué e o seu nome tornou-se famoso por toda a parte. O certo é que houve quem pecasse entre os israelitas. A ordem de Deus de tudo destruirem, exceto aquilo que tinha sido reservado para o tesouro do Senhor, foi desobedecida. Com efeito, Acã, filho de Carmi, neto de Zabdi e bisneto de Zera, da tribo de Judá, guardou algum do saque para si e o Senhor ficou extremamente irado com toda a nação de Israel por causa disso. Pouco depois da derrota sofrida por Jericó, Josué enviou alguns dos seus homens a espiarem a cidade de Ai, perto de Bete-Aven, a oriente de Betel. Quando regressaram disseram-lhe: “Trata-se duma pequena cidade e não serão precisos mais de dois ou três mil de nós para a destruir; não há necessidade nenhuma de irmos todos.” Assim foram enviados aproximadamente três mil soldados que foram batidos completamente. Trinta e seis israelitas foram mortos durante o ataque e muitos outros foram atacados, durante a perseguição que os homens de Ai lhes moveram, até ao sítio das pedreiras. O exército israelita ficou desolado e sem ânimo algum perante o sucedido. Josué e os anciãos rasgaram as roupas que vestiam e prostraram-se perante a arca do Senhor até à noite, pondo terra sobre as cabeças. Josué clamou: “Ó Senhor Deus, por que razão nos fizeste passar o Jordão, se vais deixar os amorreus matar-nos? O melhor que devíamos ter feito era contentarmo-nos em ficar do outro lado de lá! Ó Senhor, que hei de eu fazer, agora que Israel fugiu dos seus inimigos? Porque quando os cananeus e os outros povos dos arredores ouvirem o que se passou, cercar-nos-ão e hão de atacar-nos e expulsar-nos. Que vai acontecer à honra do teu grande nome?” O Senhor respondeu-lhe: “Levanta-te! Não fiques assim prostrado com o rosto em terra. Israel pecou e violou a minha aliança, desobedecendo às minhas ordens, tendo ficado com parte do saque, quando lhes tinha dito expressamente que não ficassem com coisa nenhuma; não somente ficaram com parte do saque, mas mentiram e esconderam-no entre a bagagem. Foi por essa razão que Israel foi batido. Foi por isso que os teus homens fugiram dos inimigos; é que estavam sob a maldição. Não estarei convosco enquanto esse pecado não for desarraigado completamente do vosso meio. Vamos, levanta-te! Diz ao povo assim: ‘Que cada um se submeta aos ritos próprios da purificação, preparando-se para o dia de amanhã, porque o Senhor, Deus de Israel, diz que alguém pretendeu roubá-lo; dessa maneira não podem derrotar os vossos inimigos até que afastem esse pecado. Logo de manhã deverão vir por tribos e o Senhor indicará a tribo a quem pertence o culpado. Essa tribo apresentar-se-á por clãs e o Senhor apontará o clã culpado; depois virão as famílias desse clã uma por uma, e o Senhor mostrará qual a culpada. Aquele que subtraiu o que pertencia ao Senhor deverá ser queimado, acompanhado de tudo o que lhe pertence, pois violou o acordo feito com o Senhor e trouxe a desgraça sobre Israel.’ ” Assim, de manhã cedo, Josué trouxe as tribos de Israel e foi indicada a tribo de Judá. Depois apresentaram-se os clãs respetivos e foi assinalado o clã de Zera. Depois foram trazidas as famílias desse clã e foi isolada a de Zabdi. Por fim, vieram os homens dessa família, um por um, e foi o neto de Zabdi, Acã, que se revelou culpado. Josué disse a Acã: “Meu filho, dá glória ao Senhor, o Deus de Israel, e confessa o teu pecado. Diz-me o que foi que fizeste.” Acã respondeu: “Pequei contra o Senhor, o Deus de Israel. Vi uma bela capa de Sinar, e alguma prata, pesando uns 2 quilos, assim como uma barra de ouro de uns 600 gramas; cobicei estas coisas de tal maneira que fiquei com tudo para mim; estão escondidas debaixo do chão da minha tenda, com a prata enterrada por baixo de tudo.” Josué mandou alguns homens procurarem essa parte do despojo; foram a correr à tenda e encontraram as coisas ali escondidas, segundo a indicação de Acã, e a prata por baixo do resto. Trouxeram tudo a Josué e colocaram no chão diante do Senhor. Josué e todos os israelitas pegaram em Acã, na prata, na capa e na pequena barra de ouro, nos seus filhos e filhas, nos seus bois, jumentos, cordeiros, na sua tenda, e tudo o que possuía, e levaram tudo e todos para o vale de Acor. Então Josué disse a Acã: “Porque foi que preferiste trazer sobre nós todos a desgraça? O Senhor agora te desgraça a ti.” E os homens de Israel apedrejaram-nos até morrerem e queimaram os seus corpos. As pedras ainda lá estão atualmente e aquele sítio continua a ser chamado o vale da Desgraça. Foi assim que a ira tremenda do Senhor se apaziguou. Então o Senhor disse a Josué: “Não tenhas medo nem desanimes. Leva o exército todo e avança contra Ai, porque agora hás de conquistá-la. Entreguei-te o rei de Ai, assim como todo o seu povo, nas tuas mãos. Farás com eles como fizeste com Jericó e o seu rei, mas desta vez poderão guardar para vocês o que tiver sido saqueado, mais o gado. Ponham uma emboscada por detrás da cidade.” “É este o plano”, explicou-lhes. “Quando o exército atacar, os homens de Ai virão combater-nos, como fizeram antes, e nós fugiremos. Deixaremos que nos persigam até que todos tenham abandonado a povoação; porque hão de pensar: ‘Os israelitas estão a fugir de nós, como fizeram antes!’ Será então a altura de saírem da vossa emboscada e entrarem na cidade, porque é o Senhor, vosso Deus, quem vo-la dá. Ponham fogo a tudo; é a ordem do Senhor. São estas as instruções que terão que cumprir.” Assim, aquele batalhão de soldados especiais partiu de noite e emboscou-se entre Betel e o ocidente de Ai. Mas Josué e o resto do exército passou a noite com o povo. Na manhã seguinte, logo muito cedo, Josué despertou os seus homens e partiu para Ai, acompanhado dos anciãos de Israel. E parou à entrada do vale que está a norte da cidade. O rei de Ai, vendo os israelitas espalhados nesse vale, saiu logo e atacou-os em direção ao vale de Arabá. Não se deu conta de que havia uma emboscada por detrás da povoação. O exército israelita, com Josué no comando, fugiu em direção ao deserto, como se já estivesse a ser derrotado. Por isso, todos os combatentes da povoação foram chamados a perseguirem-nos, deixando-a dessa forma sem defesa. Não ficou um só soldado em Ai, nem sequer em Betel, e as portas da cidade ficaram abertas de par em par. Então o Senhor disse a Josué: “Aponta a tua lança em direção a Ai, porque te darei a cidade.” Josué obedeceu. Quando os homens da emboscada viram aquele sinal saltaram dos esconderijos e lançaram-se sobre a cidade, pondo-lhe fogo. A gente de Ai voltou-se e viu o fumo da sua cidade escurecendo o céu, percebendo que não tinham para onde ir. Josué e os seus soldados ao verem igualmente o fumo do incêndio tiveram a certeza de que os companheiros, que tinham ficado emboscados, se encontravam já dentro da povoação; voltaram-se então contra os seus perseguidores e começaram a liquidá-los. Os israelitas que estavam em Ai saíram e puseram-se também, da sua banda, a destruí-los; de tal forma que, apanhados entre as duas forças, como numa ratoeira, acabaram todos por morrer; ninguém escapou ou sobreviveu, exceto o rei, que foi capturado e trazido a Josué. Quando o exército de Israel acabou de matar todos os homens que se encontravam fora da cidade, voltaram para a povoação e mataram a gente que tinha ficado lá dentro. Foi assim que a população de Ai, ao todo 12 000 pessoas, caiu naquele dia. Porque Josué manteve a sua lança apontada para Ai até que toda a gente tivesse morrido. Somente o gado e o despojo saqueado não foram destruídos, pois desta vez os combatentes de Israel puderam guardá-los para si. Aliás, foi o Senhor que disse a Josué que desta vez podiam fazer isso. Depois Josué incendiou Ai, deixando-a num montão de ruínas, desolada, e assim se manteve até ao dia de hoje. Josué mandou enforcar o rei de Ai numa árvore e deixou-o lá ficar até ao fim do dia; ao pôr-do-sol tiraram o corpo e puseram-no em frente à porta da povoação, levantando sobre ele um grande montão de pedras, que ainda se pode ver hoje. Depois Josué construiu um altar ao Senhor Deus de Israel no monte Ebal, como Moisés mandara e está escrito no livro da sua Lei: “O Senhor diz para lhe levantarem um altar no monte Ebal, feito de pedras inteiras que nunca tenham sido esculpidas.” Então os sacerdotes ofereceram holocaustos e ofertas de paz ao Senhor sobre o altar. E na frente de todo o povo de Israel Josué gravou a Lei que Moisés tinha escrito sobre as pedras do altar. Todo o povo de Israel, incluindo os anciãos, os chefes, os juízes e os estrangeiros que viviam com Israel, se dividiu em dois grupos, metade pondo-se junto ao monte de Gerizim e a outra metade ao pé do monte Ebal. Entre os dois grupos puseram-se os sacerdotes com a arca da aliança do Senhor, prontos a pronunciar as suas bênçãos. Tudo foi feito de acordo com as instruções dadas muito antes por Moisés. Josué leu-lhes todo o texto, exprimindo as bênçãos e as maldições que Moisés escrevera no livro da Lei de Deus. Todos os mandamentos que Moisés tinha dado anteriormente foram lidos perante a assembleia inteira, incluindo mulheres, crianças e estrangeiros que viviam com eles. Contudo, quando o povo de Gibeão soube o que acontecera a Jericó e a Ai, Quando chegaram ao acampamento de Israel em Gilgal, disseram a Josué e às gentes de Israel: “Viemos duma terra distante pedir-vos que façam connosco um tratado de paz.” Os israelitas responderam a esses heveus: “E como é que nós sabemos que vocês não são gente daqui de perto? Pois se assim fosse não faríamos convosco nenhum tratado.” “Seremos vossos escravos”, replicaram. “Mas quem são vocês, afinal? Donde é que vêm?”, perguntou-lhes Josué. “Somos duma terra muito longe; temos ouvido falar do poder do Senhor, vosso Deus, e de tudo o que já fez no Egito; assim como daquilo que fizeram aos dois reis amorreus, a Siom rei de Hesbom e a Ogue rei de Basã, que reinava em Astarote. Por isso, os nossos anciãos e o nosso povo nos deram ordens: ‘Preparem-se para uma longa viagem; vão ter com o povo de Israel e declarem-lhes, em nosso nome, que a nossa nação se submeterá a eles como escravos e façam paz com eles.’ Este pão que aqui está vinha ainda quente do forno, quando deixámos a terra, e agora, como estão a ver, está seco e cheio de bolor; estes odres eram novinhos, e aqui estão eles já velhos e meio rotos; a roupa e o calçado que trazemos gastou-se durante a longa viagem que tivemos de fazer.” Josué e os outros líderes acabaram por acreditar neles, sem se terem incomodado de pedir conselho ao Senhor. Foram para a frente com esse tratado de paz e os líderes de Israel ratificaram-no com juramento. Três dias mais tarde os factos começaram a ser conhecidos e a verdade a vir ao de cima; essa gente não era mais do que simples vizinhos. O exército de Israel pôs-se logo em campo para averiguar os factos e alcançou as cidades deles em três dias. Os nomes dessas povoações eram Gibeão, Cafira, Beerote e Quiriate-Jearim. No entanto, nenhuma dessas cidades foi atacada, devido ao tratado que os líderes de Israel tinham feito na presença do Senhor, o Deus de Israel. O povo de Israel ficou revoltado contra os seus chefes, por causa do engano em que caíram, assinando esse tratado de paz. Contudo, os líderes responderam-lhes: “Jurámos perante o Senhor, o Deus de Israel, que não lhes tocaríamos e assim faremos. Teremos de deixá-los com vida pois, se quebrarmos o juramento que fizemos, a ira de Deus cairá sobre nós.” E foi assim que eles se tornaram servos dos israelitas como rachadores de lenha e aguadeiros. Josué entretanto tinha-os chamado e falou-lhes desta forma: “Porque é que nos enganaram dizendo-nos que vinham duma terra distante, quando afinal viviam mesmo aqui ao nosso lado? Por isso, permanecerá sobre vós uma maldição. Desde agora e para sempre deverão ser nossos servos, servindo-nos como rachadores de lenha e como aguadeiros no serviço do santuário do meu Deus.” Eles responderam: “Fizemos isto porque nos disseram que o Senhor, vosso Deus, dera instruções a Moisés, o seu servo, para conquistar toda esta terra e destruir o povo que aqui vive. Por isso, tivemos medo que nos tirassem a vida. Essa foi a razão por que atuámos desta forma. Estamos nas vossas mãos; façam connosco o que bem entenderem.” Josué não deixou que o povo os matasse. Tornaram-se, efetivamente, rachadores de lenha e carregadores de água para o povo de Israel e para o altar do Senhor, onde quer que este fosse construído, porque o Senhor não tinha ainda dito onde haveria de ser erguido. Este acordo vigora ainda hoje, no tempo em que este texto está a ser escrito. Quando Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém, soube que Josué tinha capturado e destruído Ai, e morto o seu rei, e como atuara contra Jericó, e que o povo de Gibeão fizera a paz com os israelitas e cooperava agora com eles, ficou extremamente atemorizado. Porque Gibeão era uma grande cidade, como as cidades reais, muito maior do que Ai, e os seus habitantes eram conhecidos como aguerridos combatentes. Por isso, o rei Adoni-Zedeque, de Jerusalém, mandou embaixadores a alguns reis: a Hoão de Hebrom, a Piram de Jarmute, a Jafia de Laquis e Debir de Eglom com esta mensagem: “Venham ajudar-me a destruir Gibeão, visto que fizeram a paz com Josué e com o povo de Israel.” Assim, aqueles cinco reis amorreus aliaram os seus exércitos com vista a um ataque conjunto a Gibeão. O povo de Gibeão mandou urgentemente mensageiros a Josué, em Gilgal, com este pedido: “Vem depressa ajudar os teus servos! Todos os reis amorreus que vivem nas colinas estão já aqui com os seus exércitos.” O exército israelita, sob o comando de Josué, deixou Gilgal para ir salvar os gibeonitas. “Não tenham medo deles”, disse o Senhor a Josué. “Estão já praticamente derrotados. Sou eu quem os entrega para que os destruam. Nenhum deles será capaz de vos resistir.” Josué marchou toda a noite com os seus soldados, desde Gilgal, e atacou de surpresa sobre os exércitos inimigos. O Senhor fez cair sobre estes um grande pânico, de forma que os israelitas puderam matar um grande número deles, ali mesmo em Gibeão, e perseguir outros por todo o caminho que vai para Bete-Horom e para Azeca e Maqueda, acabando também por liquidar esses. Numa altura em que os adversários estavam a fugir pela ladeira de Bete-Horom, o Senhor começou a destruí-los com uma saraivada violentíssima que os seguiu até Azeca. Na realidade, foram mais os que morreram dessa chuva de pedras do que pelas armas dos israelitas. Aconteceu que, quando Israel estava a perseguir e a aniquilar os seus inimigos, Josué fez este pedido em voz alta: “Que o Sol se mantenha sobre Gibeão, e a Lua sobre o vale de Aijalom!” Na verdade, tanto o Sol como a Lua pararam, enquanto o exército israelita destruía os seus inimigos. Isto, aliás, está escrito no Livro do Justo. Foi assim que o Sol parou no firmamento quase um dia inteiro. Nunca houve um dia semelhante, anteriormente, e nunca mais tornou a dar-se outro fenómeno igual a esse em que o Senhor fez parar o Sol e a Lua em resposta à oração de um homem. Porque era o Senhor quem lutava por Israel. Depois disso, Josué e os israelitas regressaram a Gilgal. Durante a batalha os cinco reis conseguiram escapar e esconderam-se numa caverna em Maqueda. Quando vieram trazer a Josué a notícia de que tinham sido encontrados, ele mandou que uma grande pedra fosse posta contra a entrada da caverna e que fossem postos guardas para não os deixar escapar dali. Josué deu ordens ao resto do exército para continuar a perseguir os adversários e matá-los: “Não os deixem regressar às suas cidades, porque o Senhor, vosso Deus, vos ajudará a destruí-los completamente.” Assim, Josué e o exército israelita continuaram a matar e a castigar duramente os cinco exércitos inimigos, exceto um pequeno resto que conseguiu chegar às suas cidades fortificadas. Os israelitas voltaram para o seu acampamento em Maqueda, sem ter perdido um só homem. Depois disso, mais ninguém ousou atacar Israel. Josué deu então ordens aos seus homens para que fossem remover a pedra da boca da caverna e trouxessem para fora os cinco reis: o rei de Jerusalém, o de Hebrom, o de Jarmute, o de Laquis e o de Eglom. Mandou formar todo o exército e disse aos generais para porem os pés nos pescoços daqueles reis. “Nunca tenham medo nem desanimem!”, disse Josué aos seus homens. “Sejam fortes e corajosos, porque é desta forma que o Senhor desfará todos os vossos inimigos.” Depois Josué matou com a espada cada um desses reis e pendurou-os em cinco árvores até ao anoitecer. Quando o Sol se pôs, deu ordens para que descessem os corpos e os pusessem na caverna onde se tinham escondido, tendo levantado uma grande pilha de pedregulhos à entrada, a qual ainda hoje lá está. Dali dirigiram-se a Laquis e atacaram-na. Ao segundo dia de ataque o Senhor deu-a aos israelitas. E também aqui a população inteira foi morta, como acontecera em Libna. Durante o ataque a Laquis, o rei Horão de Gezer apareceu com o seu exército, para tentar defender a cidade, mas os homens de Josué mataram-no e liquidaram os seus homens. Assim, Josué e o seu exército conquistaram toda a região; as nações e os reis da zona das colinas, do Negueve, da área das planícies costeiras e das montanhas escarpadas. Liquidaram toda a gente da terra, segundo a ordem do Senhor, Deus de Israel; desde Cades-Barneia até Gaza e desde a terra de Gosen até Gibeão. Tudo realizado numa só campanha, porque o Senhor, o Deus de Israel, estava a lutar pelo seu povo. Só depois disso é que as tropas de Israel, sob a chefia de Josué, regressaram ao seu acampamento em Gilgal. Quando o rei Jabim de Hazor teve conhecimento do que estava a acontecer, enviou mensagens urgentes aos seguintes reis: a Jobabe rei de Madom e aos reis de Simrom e Acsafe; a todos os reis das colinas do norte, aos reis da região de Arabá a sul de Quinerete, aos da planície costeira, aos reis da zona das montanhas de Dor a ocidente, para os lados do mar; aos reis dos cananeus do oriente e do ocidente, aos dos amorreus, dos hititas, dos perizeus, dos jebuseus nas montanhas, e dos heveus nas cidades e falésias do monte Hermon na terra de Mizpá. Contudo, o Senhor disse a Josué: “Não tenhas receio deles; amanhã por estas horas estarão todos mortos. Cortarás o tendão das pernas dos seus cavalos e queimarás os seus carros.” Josué e o seu exército apareceram subitamente nas fontes de Merom e caíram sobre eles. O Senhor entregou todo aquele vasto conjunto de exércitos aos israelitas, que os perseguiram mesmo até à grande Sídon e até Misrefote-Maim, e também para o oriente até ao vale de Mizpá; de tal forma que nem um homem sequer escapou dessa batalha. Josué e a sua gente fizeram como o Senhor lhes ordenara: quebraram os tendões das pernas aos cavalos e deitaram fogo aos carros de guerra. No caminho de regresso, Josué tomou a localidade de Hazor e matou o seu rei. (Hazor tinha sido anteriormente a capital federal de todos aqueles territórios referidos). A gente ali de Hazor foi morta e a cidade incendiada. Depois atacou e destruiu as outras cidades daquela zona e os seus reis. Toda a gente foi morta pelas armas, segundo as instruções dadas muito tempo antes por Moisés, servo do Senhor. Contudo, os israelitas não incendiaram nenhuma das cidades construídas sobre as colinas, com exceção, já referida, de Hazor. O despojo e o gado das cidades devastadas foi tomado pelos israelitas para si próprios, mas mataram toda a gente. Porque foi isso que o Senhor tinha ordenado anteriormente por intermédio de Moisés, seu servo; e Moisés transmitiu essa ordem expressa a Josué, o qual cumpriu o que lhe foi mandado, obedecendo escrupulosamente a todas as instruções dadas pelo Senhor a Moisés. Foi assim que Josué conquistou aquela terra inteira; a zona das colinas, o Negueve, a terra de Gosen, toda a região das planícies costeiras, o Arabá e as terras altas e as planuras de Israel. O território de Israel agora estendia-se do monte Halaque, perto de Seir, até Baal-Gad no vale do Líbano, próximo do monte Hermon. Josué fez desaparecer todos os reis dessas regiões; depois de muito tempo a lutar contra eles para conseguir tudo isto. Com nenhuma cidade estabeleceu qualquer tratado de paz, com exceção do caso já referido dos heveus de Gibeão; tudo o resto foi destruído. Era mesmo o Senhor quem incitava aqueles reis inimigos a lutar contra os israelitas, em vez de pediram a paz; e acabavam por ser aniquilados. Assim se cumpriam as ordens do Senhor a Moisés. Foi também durante esse período que Josué derrotou os gigantes todos; os descendentes de Anaque que viviam na zona das colinas, em Hebrom, Debir, Anabe e nas montanhas, que hoje pertencem a Judá e a Israel; matou-os e destruiu as cidades onde moravam. Não foi deixado nenhum dos anaquins na terra de Israel, ainda que alguns tenham ficado em Gaza, Gate e Asdode. Josué conquistou toda a terra, tal como o Senhor dissera a Moisés para fazer. E deu-a ao povo de Israel para que a possuísse e a dividisse entre as tribos. Até que por fim a terra descansou e não houve mais guerras. Esta é a lista dos reis da margem oriental do rio Jordão, cujas cidades foram destruídas pelos israelitas; uma área que ia desde o vale do rio Arnom até ao monte Hermon, incluindo as cidades do deserto oriental. Um deles era o rei Siom dos amorreus, que vivia em Hesbom. O seu reino cobria o território que tinha por limite, dum lado Aroer, mesmo na extremidade do vale de Arnom, e a meio da depressão cavada pelo rio Arnom, e do outro lado o rio Jaboque até metade de Gileade, que servia de fronteira com os amonitas. Portanto, inclui desde a planície até ao mar da Galileia, do lado oriental, até ao mar da planície, o mar Salgado, estendendo-se em direção a Bete-Jesimote, a sul, até às encostas do monte Pisga. Outro era o rei Ogue de Basã, o último dos refaítas, que vivia em Astarote e Edrei. Era ele quem governava aquele território que se estendia do monte Hermon a norte, até Salca no monte Basã, a oriente; a ocidente ia até aos limites dos reinos de Gesur e Maacá. O seu reino cobria também uma área a sul, que incluía a metade norte de Gileade, onde a fronteira tocava os limites do reino de Siom rei de Hesbom. Moisés e o povo de Israel tinham destruído esses povos e a terra tinha sido dada à tribo de Rúben, à tribo de Gad e à meia tribo de Manassés. Foram ainda os seguintes reinos que Josué, comandando o exército de Israel, destruiu a ocidente do Jordão. (Essa terra que fica entre Baal-Gad no vale do Líbano e o monte Halaque, a ocidente do monte Seir, foi dada por Josué às outras tribos de Israel. Essa área incluía a zona das colinas, as planuras, o Arabá, as vertentes na montanha, o deserto da Judeia e o Negueve. Os povos que lá viviam eram os hititas, os amorreus, os cananeus, os perizeus, os heveus e os jebuseus.) Eram os reis das seguintes cidades: Jericó, Ai perto de Betel, Jerusalém, Hebrom, Jarmute, Laquis, Eglom, Gezer, Debir, Geder, Horma, Arade, Libna, Adulão, Maqueda, Betel, Tapua, Hefer, Afeque, Lasarom, Madom, Hazor, Simrom-Merom, Acsafe, Taanaque, Megido, Quedes, Jocneão no Carmelo, Dor em Nafate-Dor, Goiim em Gilgal, e Tirza. Ao todo, trinta e um reis que foram aniquilados e as suas cidades destruídas. Josué era agora um homem idoso. O Senhor disse-lhe: “Estás já numa idade avançada e ainda há muita terra para ser ocupada. São as seguintes as áreas que vocês ainda não ocuparam: toda a terra dos filisteus; a terra de Gesur, que vai desde rio Sior, na fronteira do Egito, até à fronteira de Ecron, a norte, que pertence aos cananeus. Lá encontram-se os cinco príncipes dos filisteus: de Gaza, Asdode, Asquelom, Gate e Ecrom; a terra de Avim, a sul; a terra dos cananeus, a norte, incluindo Meara que pertence aos sidónios, estendendo-se para norte até Afeque, na fronteira com os amorreus; a terra dos gebalitas, na costa; toda a área da cordilheira do Líbano desde Baal-Gad, entre o monte Hermon a sul, e a entrada de Hamate a norte. E ainda toda a região das colinas do Líbano até Misrefote-Maim, incluindo toda a terra dos sidónios. Eu lançarei fora estes povos diante da nação de Israel. Por isso, incluirás toda a terra que te indiquei no território, a repartir entre as nove tribos e a outra meia tribo de Manassés, como te indiquei.” Como já se sabe, as tribos de Rúben, de Gad e a meia tribo de Manassés já tinham recebido a sua parte a oriente do Jordão; Moisés, servo do Senhor, tinha-lhes distribuído previamente essa parte. O território deles ia desde Aroer, à entrada do vale do ribeiro de Arnom, incluindo a cidade no vale, passando pelo planalto de Medeba até Dibom. Incluía também todas as cidades do rei Siom dos amorreus, que reinava em Hesbom, que se estendia até aos limites dos amonitas. Incluía ainda Gileade, o território dos gesuritas e dos maacatitas, todo o monte Hermon, o monte Basã com a cidade de Salca; e todo o território do rei Ogue de Basã, que tinha reinado em Astarote e Edrei. Como já se disse, foi ele o último dos gigantes, dos refaítas, pois Moisés os tinha atacado e expulsado. Contudo, o povo de Israel não tinha lançado fora os gesuritas nem os maacatitas que, aliás, ainda hoje vivem entre os israelitas. Tribo de Levi: Moisés não distribuiu nenhuma terra à tribo de Levi, porque a eles foi-lhes dado a partilha das ofertas trazidas ao Senhor, Deus de Israel. A terra dada à tribo de Rúben: De acordo com a sua própria população, Moisés atribuiu à tribo de Rúben uma área que se estendia desde Aroer até à entrada do vale da ribeira de Arnom; portanto, para lá da cidade de Arnom, que está no meio do vale, e abrangendo todo o planalto até Medeba. Esse território incluía Hesbom e as outras cidades da planície: Dibom, Bamote-Baal, Bete-Baal-Meon, Jaaz, Quedemote, Mefaate, Quiriataim, Sibma, Zerete-Saar, esta última, na montanha sobre o vale, e ainda Bete-Peor, Bete-Jesimote e as vertentes do monte Pisga. A terra de Rúben incluía também as cidades do planalto e o reino de Siom. Siom foi o rei que vivia em Hesbom e que Moisés matou, juntamente com os outros chefes de Midiã: Evi, Requem, Hur, Zur e Reba. O povo de Israel matou também Balaão, o mágico, filho de Beor. O rio Jordão formou o limite ocidental da tribo de Rúben. A terra dada à tribo de Gad: O território que Moisés atribuiu à tribo de Gad foi igualmente na proporção da sua população. Este território incluía Jazer e todas as cidades de Gileade, metade da terra de Amon, até Aroer, perto de Rabá. Estendia-se igualmente desde Hesbom até Ramá-Mizpá e até Betonim; e ainda de Maanaim até Debir. No vale ficavam Bete-Arã, Bete-Nimra, Sucote, Zafom, e ainda o que restara do reino de Siom, de Hesbom. O rio Jordão formava o seu limite ocidental, estendendo-se até ao mar da Galileia; aí, o limite infletia para oriente, deixando o rio Jordão. Foi esta a parte, incluindo cidades e aldeias, que recebeu a tribo de Gad, segundo o número das suas famílias. A terra dada à meia tribo de Manassés: Moisés deu o seguinte território à meia tribo de Manassés, de acordo com as suas necessidades: uma área que se estendia para norte desde Maanaim e que incluía toda a Basã, o antigo reino de Ogue, e as sessenta povoações de Jair em Basã. Metade de Gileade e as cidades reais do rei Ogue, Astarote e Edrei, foram dadas a metade do clã de Maquir, filho de Manassés. Foi assim que Moisés dividiu a terra que ficava na margem oriental do Jordão, quando Israel ali esteve acampado em frente a Jericó. Mas, a Levi, Moisés não deu terra nenhuma, porque, tal como lhes tinha explicado, o Senhor, Deus de Israel, era a sua herança e representava para eles tudo o que necessitavam. Como já foi dito, Moisés dera anteriormente às outras duas tribos e meia território na margem leste do Jordão. Aquela que deveria ter sido a tribo de José tornou-se duas tribos separadas: Manassés e Efraim. Aos levitas não foi dada nenhuma terra, exceto as cidades em que haveriam de viver, com os seus subúrbios com pastagens para o seu gado. Esta distribuição foi feita de acordo com as diretivas dadas pelo Senhor a Moisés. Uma delegação da tribo de Judá, chefiada por Calebe, filho de Jefoné, o quenezeu, veio ter com Josué a Gilgal. “Lembras-te do que o Senhor disse a Moisés, homem de Deus, acerca de ti e de mim, quando estávamos em Cades-Barneia?”, perguntou Calebe a Josué. “Tinha eu nessa altura 40 anos e Moisés mandara-nos espiar a terra de Canaã. No regresso fiz o meu relato de acordo com aquilo que senti ser a verdade. Mas os nossos irmãos, que tinham ido connosco, aterrorizaram o povo e desencorajaram-no a entrar na terra prometida. Mas eu mantive-me fiel ao Senhor, meu Deus. Por isso mesmo naquele dia, Moisés disse-me: ‘Aquela área de Canaã, por onde andaste, pertencerá a ti e aos teus descendentes para sempre, porque foste fiel ao Senhor, meu Deus.’ Como vês, o Senhor continuou a manter-me com vida e saúde, durante estes 45 anos, desde que atravessámos o deserto, e hoje estou com 85 anos. Tenho agora tantas forças como tinha, quando Moisés nos mandou para aquela missão, e posso ainda ir, seja onde for, combater como nessa altura! Por isso, peço-te que me dês a zona das colinas que o Senhor me prometeu. Certamente te recordas que, quando lá fomos como espias, encontrámos os anaquins a viver ali, em grandes cidades cercadas de altas muralhas; mas, se o Senhor for comigo, com certeza os expulsarei da terra.” Então Josué o abençoou e lhe deu Hebrom como herança; porque não se tinha desviado do Senhor, Deus de Israel. Antes desse tempo Hebrom tinha-se chamado Quiriate-Arba, de acordo com o nome dum grande herói entre os anaquins. Por fim, a terra descansou e não houve mais guerras. seguia ao longo da estrada que rodeia a sul pela subida de Acrabim, atravessava o deserto de Zim até Hezrom, a sul de Cades-Barneia, e depois subia por Adar, voltando depois para Carca, e por Azmom, até alcançar finalmente o ribeiro do Egito, terminando no mar Mediterrâneo. Esta era a fronteira a sul. O limite oriental estendia-se ao longo do mar Salgado até à foz do rio Jordão. O limite norte começava na baía em que o rio Jordão desagua no mar Salgado; seguia até Bete-Hogla, passava pelo norte de Bete-Arabá, até ao rochedo do Boã, filho de Rúben. Dali atravessava o vale de Acor até Debir, onde infletia para noroeste, passando por Gilgal, em frente das vertentes de Adumim no lado sul do vale. O limite estendia-se até às fontes de En-Semes, e até En-Rogel. Passava depois essa linha de demarcação através do vale de Ben-Hinom, pela banda do sul dos jebuseus que é onde se localiza Jerusalém, e voltava para oeste até ao cimo da montanha que domina o vale de Ben-Hinom, continuando até ao extremo norte do vale de Refaim. Dali a linha estende-se do cimo da montanha até à fonte de Neftoa, e depois até às cidades do monte Efrom, antes de voltar para norte e rodear Baalá, que é outro nome dado a Quiriate-Jearim. Depois de dar a volta a Baalá pelo oeste até ao monte Seir, passa pela cidade de Quesalom, na banda norte do monte Jearim, e desce até Bete-Semes. Inclinando-se novamente para norte, a linha de limite passava pelo sul de Timna, até à banda da colina norte de Ecrom, altura em que declinava para a esquerda, passando a sul de Siquerom e do monte Baalá. Voltando de novo na direção do norte, passava por Jabneel e acabava no mar Mediterrâneo. O limite ocidental era formado pela linha da costa do Mediterrâneo. O Senhor deu instruções a Josué no sentido de conceder a Calebe, filho de Jefoné, parte do território de Judá. E assim foi-lhe doada a cidade de Quiriate-Arba, também chamada Hebrom, do nome do antepassado de Anaque. Calebe expulsou de lá os descendentes dos três filhos de Anaque: Sesai, Aimã e Talmai. Depois lutou contra o povo da cidade de Debir, antigamente chamada Quiriate-Sefer. “Quem vai comandar o ataque contra Quiriate-Sefer?”, desafiou Calebe. “Quem a conquistar terá a minha filha Acsa como mulher!” E foi Otniel, filho de Quenaz, irmão do próprio Calebe, quem tomou a cidade, casando assim com Acsa. Quando estavam para ir viver juntos para o seu novo lar, ele pediu-lhe insistentemente que pedisse ao pai mais terra. E foi ela própria que, vendo seu pai Calebe, desceu da montada em que ia para lhe falar no assunto. “Que pretendes?”, disse-lhe o pai ao vê-la aproximar-se. “O que é que se passa?”, perguntou-lhe o pai. “Que pretendes?” “Dá-me outra doação! Porque a terra que já me deste é um deserto. Dá-me também fontes para ter água!” Então deu-lhe as fontes superiores e as das terras mais baixas. Foi esta a terra concedida à tribo de Judá. As cidades que estavam situadas ao longo da fronteira com Edom, no Negueve: Cabzeel, Eder, Jagur, Quiná, Dimona, Adada, Quedes, Hazor, Itnã, Zife, Telem, Bealote, Hazor-Hadatá, Queriote-Hezrom (ou seja Hazor), Amã, Sema, Molada, Hazar-Gada, Hesmom, Bete-Palete, Hazar-Sual, Berseba, Biziotiá, Baalá, Iim, Ezem, Eltolade, Quesil, Horma, Ziclague, Madmana, Sansana, Lebaote, Silim, Aim, Rimom. Ao todo eram vinte e nove cidades, mais as aldeias ao redor. As seguintes cidades situadas nas planícies foram igualmente dadas a Judá: Estaol, Zora, Asná, Zanoa, En-Ganim, Tapua, Enam, Jarmute, Adulão, Socó, Azeca, Saaraim, Aditaim, Gedera e Gederotaim. Ao todo eram catorze cidades, mais as aldeias ao redor. A tribo de Judá herdou ainda as seguintes vinte e cinco cidades, mais as aldeias dos arredores: Zenã, Hadasa, Migdal-Gad, Dileã, Mizpá, Jocteel, Laquis, Bozcate, Eglom, Cabom, Laamás, Quitlis, Gederote, Bete-Dagom, Naamá, Maqueda. Ao todo, dezasseis cidades com as suas aldeias. Ainda Libna, Eter, Asã, Jefté, Asná, Nezibe, Queila, Aczibe, Maressa, ou seja, nove cidades com as suas aldeias. O território da tribo de Judá incluía todas as cidades e povoações de Ecrom. De Ecrom, a linha de demarcação estendia-se até ao Mediterrâneo, e incluía as cidades ao longo dos limites de Asdode com as suas aldeias circunvizinhas; e ainda a própria cidade de Asdode com as suas aldeias, mais a de Gaza, igualmente com as aldeias dos arredores, até ao ribeiro do Egito; e ainda toda a costa do Mediterrâneo, desde a foz do ribeiro do Egito a sul, até Tiro a norte. Judá recebeu também as seguintes quarenta e quatro cidades, na área das colinas, com as aldeias dos arredores: Samir, Jatir e Socó, Daná, Quiriate-Saná (ou seja Debir), Anabe, Estemó, Anim, Gosen, Holom, Gilo, Arabe, Dumá, Esã, Janim, Bete-Tapua, Afeca, Humetá, Quiriate-Arba (ou seja Hebrom), Zior, Maom, Carmelo, Zife, Jutá, Jezreel, Jocdeão, Zanoa, Caim, Gibeá, Timna, Halul, Bete-Zur, Gedor, Maarate, Bete-Anote, Eltecom, Quiriate-Baal (também conhecida como Quiriate-Jearim) e Rabá, duas cidades com suas aldeias. No deserto, as cidades de Bete-Arabá, Midim, Secaca, Nibsã, a Cidade do Sal e En-Gedi. Ao todo, seis cidades com as suas aldeias. No entanto, a tribo de Judá não foi capaz de expelir os jebuseus que habitavam em Jerusalém; por isso, essa gente vive ainda atualmente no meio do povo de Judá. Limite sul comum às tribos dos filhos de José: Este limite estendia-se desde o rio Jordão em Jericó, passando pelo deserto e pela zona das colinas até Betel. Depois continuava por Luz, indo até Atarote, no território dos arquitas. Infletia depois para ocidente, para o território dos jafletitas, até Bete-Horom de Baixo, e depois até Gezer, e nesse sentido até ao mar Mediterrâneo. Foi aqui que alcançaram a sua herança os filhos de José, Manassés e Efraim. A terra dada à tribo de Efraim tinha como limite leste Atarote-Adar. Dali alongava-se até Bete-Horom de Cima e ia até ao mar Mediterrâneo. O limite norte começava no mar e seguia em direção ao oriente, passando junto a Micmetá e continuando por Taanate-Silo e Janoa. De Janoa descia para sul, para Atarote e Naará, tocava Jericó e acabava no rio Jordão. A metade ocidental do limite norte ia desde Tapua, e depois ao longo do ribeiro de Caná, até ao Mediterrâneo. Também foram dadas a Efraim algumas das cidades que estavam no território da meia tribo de Manassés. Os cananeus que viviam em Gezer nunca foram expulsos, por isso, vivem ainda como escravos no meio do povo de Efraim. Também foi dada terra à meia-tribo de Manassés, o filho mais velho de José. O clã de Maquir, o filho mais velho de Manassés e pai de Gileade, já tinha recebido a terra de Gileade e de Basã, na margem oriental do Jordão, porque eram grandes guerreiros. Por isso, a terra atribuída agora à tribo, a ocidente do Jordão, foi dada aos clãs de Abiezer, Heleque, Asriel, Siquem, Hefer e Semida. Contudo, Zelofeade, filho de Hefer, neto de Gileade, bisneto de Maquir e trineto de Manassés, não teve filhos rapazes; teve cinco filhas que se chamavam Mala, Noa, Hogla, Milca e Tirza. Estas chegaram-se junto do sacerdote Eleazar e de Josué, e dos outros líderes de Israel, e lembraram-lhes o seguinte: “O Senhor disse a Moisés que deveríamos receber a mesma quantidade de terra que os homens da nossa tribo.” Assim, de acordo com a ordem que o Senhor dera por intermédio de Moisés, foram doados a estas mulheres territórios, conjuntamente com os seus cinco tios-avós. Deste modo, a área total concedida à tribo de Manassés consistiu em dez secções de terra, além da terra de Gileade e de Basã, do outro lado do Jordão, porque às filhas de Manassés também foram dadas terras, tal como aos filhos. Quanto à terra de Gileade, ficou a pertencer aos outros filhos de Manassés. O limite a norte da tribo de Manassés estendia-se para o sul desde a beira do Aser até Micmetá, que se encontra a leste de Siquem. A sul, a linha limite corria de Micmetá até En-Tapua. (A terra de Tapua pertencia a Manassés, mas a cidade de Tapua, no extremo da terra de Manassés, pertencia à tribo de Efraim). Das fontes de Tapua, o limite de Manassés seguia a margem norte do ribeiro de Caná até ao Mediterrâneo. (Várias cidades a sul do ribeiro pertenciam à tribo de Efraim, ainda que estivessem localizadas no território de Manassés.) A terra a sul do ribeiro e para o ocidente, até ao mar Mediterrâneo, foi atribuída a Efraim; a terra a norte do ribeiro assim como a leste do mar foi para Manassés. A norte da linha de demarcação de Manassés estava o território de Aser; a leste encontrava-se o de Issacar. À meia tribo de Manassés foram igualmente dadas as seguintes cidades situadas nas áreas atribuídas a Issacar e a Aser: Bete-Seã, Ibleão, Dor, En-Dor, Taanaque e Megido; cada uma delas incluindo os lugares da sua jurisdição. Mas os descendentes de Manassés não puderam expelir o povo que vivia naquelas cidades e assim os cananeus permaneceram na terra. Mais tarde, contudo, quando os israelitas se tornaram suficientemente fortes, forçaram-nos a trabalhar como escravos. Então as duas tribos de José vieram ter com Josué e perguntaram-lhe: “Porque nos deste apenas uma área na distribuição das terras pelas tribos, sendo que o Senhor nos abençoou, sendo nós uma população tão numerosa?” “Se a terra das colinas de Efraim não é bastante espaçosa para vocês”, respondeu Josué, “desbastem, se forem capazes, as florestas da terra onde habitam os perizeus e os refaítas.” “Estamos de acordo; até porque os cananeus das planuras à volta de Bete-Seã e no vale de Jezreel têm carros de combate em ferro, e são demasiado fortes para nós.” Josué perguntou-lhes: “Quanto tempo vão ainda esperar para expelirem as gentes que vivem na terra que o Senhor, Deus dos vossos antepassados, vos deu? Selecionem três homens de cada tribo e enviá-los-ei para explorarem o território ainda não conquistado, e depois fazerem um relatório quanto à sua extensão e divisões naturais, para que possa reparti-la por vocês. Esses exploradores dividirão o território em sete partes, deixando a sul Judá com os seus territórios e a parte de José também com os seus territórios, a norte. De seguida, lançarei sortes, diante do Senhor, nosso Deus, para decidir quais as partes que caberão a cada tribo. Contudo, lembrem-se que os levitas não deverão receber terra alguma; eles são sacerdotes do Senhor. Essa é a parte maravilhosa que lhes é atribuída. Além disso, as tribos de Gad, de Rúben e a meia tribo de Manassés também não poderão receber mais nenhuma terra, visto que tiveram o seu quinhão na margem leste do Jordão, onde Moisés lhes prometeu que poderiam estabelecer-se.” E foi assim que os batedores partiram para estabelecerem uma carta de toda a terra e trazerem um relatório a Josué. Só depois, aqui em Silo, o Senhor concederia as diversas secções da terra às tribos, lançando-se sortes. Os homens fizeram como lhes tinha sido dito e dividiram o território em sete secções, estabelecendo uma lista das cidades que havia em cada secção. Depois vieram ter com Josué ao campo de Silo. Ali no tabernáculo em Silo o Senhor mostrou a Josué, tirando à sorte na presença do Senhor, a que tribo calhava cada secção. O território cedido às famílias da tribo de Benjamim ficou entre a terra atribuída às tribos de Judá e de José. A linha de demarcação a norte começava no rio Jordão, seguia até ao norte de Jericó e depois infletia para ocidente, através da zona das colinas e do deserto de Bete-Aven. Dali a linha descia para sul até Luz, também chamada Betel, e prosseguia até Atarote-Adar, na terra de colinas a sul de Bete-Horom de Baixo. Ali a demarcação voltava de novo para o sul, passando a montanha perto de Bete-Horom, e terminava na localidade de Quiriate-Baal, também chamada, por vezes, Quiriate-Jearim, uma das cidades da tribo de Judá. Era esta a linha de separação a ocidente. A linha que balizava a sul corria desde o limite de Quirate-Baal, passava sobre o monte Efrom, até às fontes de Neftoa, descia até à base da montanha, que ladeia o vale de Ben-Hinom, e que está a norte do vale de Refaim. Dali continuava através do vale de Hinom, atravessava a sul os campos da velha cidade de Jerusalém, onde viviam os jebuseus, e continuava para baixo, para En-Rogel. De En-Rogel a linha divisória voltava para nordeste até En-Semes, continuando até Gelilote, que está defronte da falésia de Adumim. Depois descia até à rocha de Boã, o que era filho de Rúben, correndo depois ao longo do limite norte de Arabá; ao descer para o sul passava por Bete-Hogla e terminava na baía norte do mar Salgado, que é onde desagua o rio Jordão. A baliza oriental era constituída pelo próprio rio Jordão. Esta foi a terra conferida à tribo de Benjamim. As seguintes cidades estavam incluídas no território de que tomou posse: Jericó, Bete-Hogla, Emeque-Queziz, Bete-Arabá, Zemaraim, Betel, Avim, Pará, Ofra, Quefar-Amonai, Ofni, Geba. Ao todo, doze cidades com as suas aldeias. Gibeão, Ramá, Beerote, Mizpá, Cafira, Moza, Requem, Irpeel, Tarala, Zela, Elefe, Jebus, ou seja Jerusalém, Gibeá e Quiriate. No total, catorze cidades com as suas aldeias. Todas estas cidades e as localidades dos arredores foram dadas à tribo de Benjamim. A terra dada à tribo de Simeão: A tribo de Simeão recebeu o seguinte lote de terra, incluindo parte da que fora previamente dada a Judá. A porção doada incluía as seguintes cidades com as localidades da sua jurisdição: Berseba, Seba, Molada, Hazar-Sual, Balá, Ezem, Eltolade, Betul, Horma, Ziclague, Bete-Marcabote, Hazar-Susa, Bete-Lebaote, Saruem; treze cidades com as suas aldeias. Aim, Rimom, Eter, e Asã; quatro cidades com as suas aldeias. As cidades mais para o sul, como Baalate-Beer (também conhecida por Rama no Negueve) foram igualmente dadas à tribo de Simeão. Portanto, a herança que a tribo de Simeão recebeu veio parcialmente daquilo que tinha anteriormente sido dado a Judá, visto que o lote de Judá foi considerado demasiado grande para esta tribo. A terra dada à tribo de Zebulão: A terceira tribo a receber a sua concessão foi Zebulão. O seu limite começava a sul de Saride. Dali rodava para oeste, indo passar perto de Marala e de Dabesete, até que atingia a leste o ribeiro de Jocneão. Na outra direção a linha de demarcação ia para leste até à beira de Quislote-Tabor, e dali para Daberate e Jafia. Depois continuava para o nascente, passando Gate-Hefer, Ete-Cazim e Rimom, voltando para Neá. O limite norte de Zebulão era por Hanatom e terminava no vale de Ifta-El. A terra dada à tribo de Issacar: A quarta tribo a herdar terra foi Issacar. O seu território incluía as seguintes cidades: Jezreel, Quesulote, Sunem, Hafaraim, Siom, Anacarate, Rabite, Quisiom, Ebes, Remete, En-Ganim, En-Hada, Bete-Pazez, A terra dada à tribo de Aser: A quinta tribo a receber terra foi Aser. Os seus limites incluíam estas cidades: Helcate, Hali, Beten, Acsafe, Alameleque, Amade e Misal. A linha balizadora a ocidente ia do Carmelo até Sior-Libnate, infletia para leste, para Bete-Dagom, e chegava a Zebulão, ao vale de Ifta-El, correndo a norte de Bete-Emeque e de Neiel. Depois passava a leste de Cabul, de Ebrom, Reobe, Hamom e Caná, até à grande Sídon. Então a linha divisória dirigia-se na direção de Ramá e da cidade fortificada de Tiro e chegava ao mar Mediterrâneo em Hosa. O território incluía também Maalabe, Aczibe, A terra dada à tribo de Naftali: A sexta tribo a receber a sua herança foi a tribo de Naftali. As cidades fortificadas que se incluíam neste território eram: Sidim, Zer, Hamate, Racate, Quinerete, Adama, Ramá, Hazor, Quedes, Edrei, En-Hazor, A terra dada à tribo de Dan: A última a receber terra foi Dan. As cidades que se incluíam na sua área eram: Zora, Estaol, Ir-Semes, Saalabim, Aijalom, Itla, Elom, Timna, Ecrom, Elteque, Gibetom, Baalate, Jeude, Bene-Beraque, Gate-Rimom, Me-Jarcom, Racom, e também o território junto de Jope. Mas parte deste território mostrou-se difícil de ser conquistado; por isso, a tribo de Dan capturou a cidade de Lesem, matou a população e passou a viver ali, dando à cidade o nome de Dan, o nome do pai da tribo. Este foi o território que ficou a pertencer à tribo de Dan, incluindo cidades e aldeias. Foi desta forma que a terra foi repartida por todas as tribos, segundo as demarcações aqui indicadas. Além disso, a nação de Israel decidiu atribuir um pedaço especial do território a Josué; pois o Senhor dissera que poderia ficar com qualquer cidade que pretendesse; com efeito, ele escolheu Timenate-Sera na região das colinas de Efraim, a qual reconstruiu, passando a viver ali. Eleazar, o sacerdote, Josué e os chefes das tribos de Israel controlaram o ato em que foram tiradas à sorte, na presença do Senhor, as diversas porções em que a terra foi dividida. Isto realizou-se à entrada da tenda do encontro em Silo. Disse o Senhor a Josué: “Diz ao povo de Israel que designe agora as cidades de refúgio, de acordo com as instruções que dei a Moisés. Se uma pessoa for culpada da morte de alguém, sem que o tenha feito com intenção, poderá fugir para uma dessas cidades e ficará protegido de qualquer ação movida contra ela por parte dos parentes do morto, os quais poderiam mesmo tentar matá-la por vingança. Portanto, quando o homicida involuntário alcançar uma dessas cidades, deverá ir ter com os anciãos da cidade e explicar o que aconteceu; eles deixá-lo-ão ficar na cidade e passar a viver ali. No caso de se apresentar um parente do morto, pretendendo vingar a sua morte, tirando a vida ao homicida involuntário, este não poderá ser-lhe entregue, visto que aquela morte foi acidental. Por isso, o causador da morte por acidente não deverá sair dessa cidade até que tenha sido julgado pelos juízes, e deverá viver ali até à morte do sumo sacerdote em funções à data do acidente. Só então estará livre para regressar à sua própria cidade e ao seu lar.” As localidades escolhidas como cidades de refúgio foram: Quedes da Galileia nas colinas de Naftali; Siquem nas colinas de Efraim; Quiriate-Arba (também conhecida por Hebrom) nas colinas de Judá. Designaram outras três cidades com o mesmo propósito, na margem de lá do Jordão, a oriente de Jericó. Foram elas: Bezer no deserto do território da tribo de Rúben; Ramote de Gileade no território da tribo de Gad; Golã de Basã na terra da tribo de Manassés. Estas cidades de refúgio eram tanto para os estrangeiros que viviam em Israel como para os próprios israelitas, a fim de que, fosse quem fosse que por mero acidente matasse outra pessoa pudesse fugir para lá e ficasse à espera de julgamento, escapando à ação de quem por vingança quisesse tirar-lhe a vida. E foi assim que lhes foram dadas algumas das cidades recentemente conquistadas, com campos de pasto, conforme o Senhor lhes havia dito. Treze destas localidades, que tinham sido anteriormente doadas às tribos de Judá, Simeão e Benjamim, foram dadas a alguns dos sacerdotes da divisão de Coate, da tribo de Levi, e descendentes de Aarão. As outras famílias da divisão de Coate receberam dez povoações dos territórios de Efraim, Dan e da meia tribo de Manassés. A divisão de Gerson recebeu treze cidades, selecionadas por sorteio, na área de Basã. Estas cidades foram dadas pelas tribos de Issacar, de Aser, de Naftali e pela meia tribo de Manassés. A divisão de Merari recebeu doze cidades, das tribos de Rúben, de Gad e de Zebulão. E assim se cumpriram as ordens do Senhor dadas a Moisés; aquelas cidades mais as pastagens ao redor foram dadas aos levitas, tirando as sortes perante o Senhor. Hebrom, nas colinas de Judá, como cidade de refúgio, também chamada Quiriate-Arba; Arba era o antepassado de Anaque. Contudo, os campos da área circundante da cidade, mais as aldeias dos arredores, foram dados a Calebe, filho de Jefoné. Além de Hebrom, que era cidade-refúgio para quem tinha morto alguém involuntariamente, deram aos descendentes do sacerdote Aarão, as seguintes cidades: Libna, Jatir, Estemoa, Holom, Debir, Aim, Jutá e Bete-Semes, cada qual com os seus campos de pastagens. Foram nove as cidades dadas por essas duas tribos. A tribo de Benjamim deu-lhes estas quatro cidades, mais os seus pastos dos arredores: Gibeão, Geba, Anatote e Almom. Ao todo, foram dadas treze cidades, e seus arredores, aos sacerdotes descendentes de Aarão. As outras famílias da divisão de Coate receberam quatro cidades, com as suas pastagens, da parte da tribo de Efraim: Nas colinas de Efraim, Siquem, uma cidade de refúgio, Gezer, Quibzaim e Bete-Horom. As quatro seguintes cidades, com as respetivas pastagens, foram dadas pela tribo de Dan: Elteque, Gibetom, Aijalom e Gate-Rimom. A meia tribo de Manassés deu as cidades de Taanaque e Gate-Rimom com as suas terras de pastagens à volta. Assim, o número total de cidades dadas ao resto da divisão de Coate foi de dez. Os descendentes de Gerson, outra divisão dos levitas, receberam duas cidades com os pastos circundantes da parte da meia tribo de Manassés: Golã em Basã, como cidade de refúgio, e Besterá. A tribo de Issacar deu quatro cidades: Quisiom, Daberate, Jarmute, En-Ganim. A tribo de Aser deu quatro cidades com as suas pastagens: Misal, Abdom, Helcate e Reobe. A tribo de Naftali deu: Quedes, na Galileia, uma cidade de refúgio, Hamote-Dor e Cartã; três cidades. Foram treze as cidades entregues à divisão de Gerson. Aos restantes levitas, à divisão de Merari, foram dadas quatro cidades pela tribo de Zebulão: Jocneão, Cartá, Dimna, Naalal. Foram dadas também quatro cidades pela tribo de Rúben: Bezer, Jaaz, Quedemote e Mefaate. A tribo de Gad deu ainda quatro cidades com as suas pastagens: Ramote, uma cidade de refúgio em Gileade, Maanaim, Hesbom e Jazer. Assim, a divisão de Merari dos levitas recebeu ao todo doze cidades. Desta forma, o Senhor deu a Israel toda a terra que tinha prometido aos seus antepassados; os israelitas entraram nela, conquistaram-na e passaram a viver ali. O Senhor deu-lhes paz, tal como prometera, e ninguém pôde resistir-lhes; o Senhor deu-lhes vitória sobre todos os seus inimigos. Todas as boas coisas que o Senhor lhes prometera se realizaram. Josué convocou as tropas das tribos de Rúben, Gad e da meia tribo de Manassés. E falou-lhes deste modo: “Vocês fizeram tudo conforme Moisés, o servo do Senhor, vos ordenou e obedeceram a cada mandamento que vos foi transmitido, a cada ordem dada pelo Senhor, vosso Deus. Não abandonaram as tribos vossas irmãs, mesmo tendo esta campanha durado tanto tempo. O Senhor, vosso Deus, deu repouso a vossos irmãos, como lhes tinha prometido. Por isso, regressem aos vossos lares, à terra que vos foi dada pelo servo do Senhor, Moisés, no lado de lá do Jordão. Não deixem de obedecer o mandamento e a Lei que Moisés, o servo do Senhor, vos mandou. Amem o Senhor, vosso Deus, e sigam o seu plano para as vossas vidas. Cheguem-se a ele e sirvam-no com zelo e entusiasmo.” Desta forma, Josué abençoou-os e mandou-os embora. (Eles regressaram à terra que Moisés lhes tinha atribuído; no que respeita à meia tribo de Manassés, a terra de Basã; a outra meia tribo recebeu igualmente terra, mas do lado ocidental do Jordão.) Josué, ao mandar regressar aquelas tropas, abençoou-as; disse-lhes também que repartissem os bens que tinham obtido do despojo dos combates com os seus irmãos que tinham ficado do outro lado; bens esses que consistiam em gado, prata, ouro, bronze, ferro e vestuário. Assim, as tropas de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés deixaram o exército de Israel em Silo, em Canaã, e atravessaram de novo o Jordão, de volta aos seus lares, à terra de Gileade. Contudo, antes de encetarem essa travessia, enquanto estavam ainda em Canaã, resolveram construir um grande monumento, bem visível a toda a gente, e com a forma de um altar. Quando o resto de Israel ouviu dizer o que eles estavam a fazer, mobilizaram imediatamente um exército em Silo e prepararam-se para combater aquelas tribos irmãs. No entanto, enviaram primeiro uma delegação chefiada por Fineias, filho do sacerdote Eleazar. Estes atravessaram o rio e vieram conferenciar com as tribos de Rúben e de Gad e com a meia tribo de Manassés. Nessa delegação havia dez oficiais de Israel, um de cada uma das dez tribos, um chefe por cada clã. Quando chegaram à terra de Gileade disseram às outras três tribos: “Toda a congregação do Senhor vos pede que lhe façam saber a razão por que estão a pecar contra o Deus de Israel, desviando-se dele e construindo um altar, sinal de rebelião contra o Senhor. Terá sido pouca coisa a rebelião de Peor, da qual ainda hoje não estamos completamente limpos, a despeito da praga que nos flagelou, e agora querem cair no mesmo erro? Sabem bem que se se revoltarem hoje contra o Senhor, amanhã estará contra todos nós. Se precisam desse altar por causa da terra estar impura, venham para a terra do Senhor, onde está o tabernáculo do Senhor; repartiremos a nossa terra convosco. Mas não se voltem contra o Senhor, construindo outro altar além do único altar verdadeiro do Senhor, nosso Deus. Não se lembram que quando Acã, o filho de Zera, pecou, ao apoderar-se das coisas condenadas à destruição, a nação inteira foi castigada? Além do mais não foi só ele a morrer devido ao seu pecado.” A resposta do povo de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés àqueles oficiais foi a seguinte: “Nós juramos, pelo Senhor, o Deus dos deuses, que não construímos nenhum altar em rebelião contra o Senhor. Ele sabe bem, e que todo Israel o saiba igualmente, que não construímos um altar para nele realizar holocaustos, ofertas de cereais ou de paz. Que a maldição do Senhor recaia sobre nós se o fizermos. Edificámos este altar, porque tememos que no futuro os vossos filhos venham a dizer aos nossos: ‘Com que direito adoram o Senhor Deus de Israel? O Senhor colocou o rio Jordão como fronteira entre o nosso povo e o vosso. Vocês nada têm a ver com o Senhor!’ E assim os vossos descendentes seriam a causa dos nossos descendentes abandonarem o temor ao Senhor. Por isso, decidimos construir este altar, não para oferecer holocaustos de animais nem quaisquer sacrifícios, mas como um testemunho, para mostrar aos nossos e aos vossos descendentes que nós, cá deste lado, também adoramos o Senhor, oferecendo-lhe holocaustos, ofertas de paz e sacrifícios. Assim, os vossos filhos não poderão vir a dizer para os nossos: ‘Nada têm a ver com o Senhor, nosso Deus.’ No caso de virem a dizê-lo, os nossos poderão responder-lhes. ‘Vejam o altar do Senhor que os nossos pais construíram, de acordo com o modelo do altar do Senhor. Não servirá para oferecer holocaustos ou sacrifícios; será apenas um símbolo do relacionamento que nós e vocês temos com o Senhor.’ Longe de nós pretendermos afastar-nos do Senhor ou insurgirmo-nos contra ele, construindo um altar para oferecermos os nossos holocaustos, ofertas de paz e sacrifícios. Só o altar que está defronte do tabernáculo pode ser usado para isso.” Quando Fineias, o sacerdote, e os outros delegados ouviram esta explicação da parte das tribos de Rúben, Gad e Manassés, ficaram muito satisfeitos. Fineias replicou-lhes: “Continuamos a verificar que o Senhor tem estado no nosso meio; vocês não pecaram contra o Senhor, como tínhamos pensado, e com essas palavras conseguiram evitar que vos destruíssemos!” Fineias e os outros dez embaixadores regressaram para junto do povo de Israel, relatando o seu encontro com os rubenitas e os gaditas em Gileade. Todo o Israel se alegrou e louvou a Deus, não se tendo falado mais de guerra contra Rúben e Gad. O povo destas tribos chamou ao monumento que tinham levantado Altar do Testemunho: “É um testemunho entre nós e eles em como o Senhor é também o nosso Deus!” Muito tempo depois, após o Senhor ter dado êxito ao povo de Israel na sua luta contra os inimigos, Josué, que era já bastante idoso, chamou os chefes de Israel, anciãos, juízes, altos magistrados, e disse-lhes: “Já estou velho. Têm visto tudo o que o Senhor, vosso Deus, tem feito por vocês durante a minha vida; tem combatido contra os vossos inimigos e deu-vos a terra deles. Dividi entre vocês a terra dessas nações, mesmo daquelas que ainda não foram conquistadas, para além das que já tinham destruído; toda a terra, desde o rio Jordão até ao Mediterrâneo, será vossa. O Senhor, vosso Deus, expulsará todos os povos que ali vivem atualmente, para que possam habitar naquele lugar como vos prometeu. Contudo, tenham muito cuidado em cumprir todas as instruções escritas no livro da Lei de Moisés; não se desviem delas nem um bocadinho. De maneira nenhuma se misturem com os povos indígenas que ainda permanecem na terra; nem sequer façam referência aos seus deuses, e muito menos jurem nem garantam nada por eles, nem lhes prestem culto. Antes sigam o Senhor, vosso Deus, como têm feito até agora. Ele baniu da vossa frente grandes e poderosas nações e ninguém tem sido capaz de vos derrotar. Cada um foi capaz de pôr em fuga mil dos vossos adversários, visto que era o Senhor, vosso Deus, quem combatia por vocês, como vos tinha prometido. Portanto, ponham todo o zelo em amar o Senhor, vosso Deus. Se não o fizerem, e começarem a associar-se com as nações à volta e a casarem-se com eles, então poderão ter a certeza de que o Senhor, vosso Deus, não mais expulsará estas nações da vossa terra; pelo contrário, tornar-se-vos-ão como armadilhas, espinhos na carne, grãos de terra nos olhos, e vocês acabarão por desaparecer desta boa terra que o Senhor, vosso Deus, vos deu. Em breve irei pelo caminho que leva tudo o que vive na terra; morrerei. Sabem muito bem que todas as promessas que o Senhor, vosso Deus, vos tem feito se têm cumprido. Mas tão certo como o Senhor, vosso Deus, vos tem dado todas as boas coisas que vos prometeu, assim também permitirá que o mal vos aconteça se lhes desobedecerem. Pois se forem infiéis à aliança que o Senhor, vosso Deus, fez com vocês, e se adorarem outros deuses, o Senhor expulsar-vos-á desta boa terra que vos deu. A sua ira se levantará contra vocês e rapidamente perecerão.” Então Josué convocou todo o povo de Israel para virem a Siquem, acompanhados dos seus anciãos, magistrados e juízes. E assim vieram apresentar-se perante Deus. Josué falou-lhes desta maneira. “Diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Os vossos antepassados, incluindo Tera, o pai de Abraão e de Naor, viviam a oriente do rio Eufrates; eles adoravam outros deuses. Mas eu tirei o vosso pai Abraão daquela terra dalém do rio e trouxe-o para esta terra de Canaã, tendo-a dado aos seus descendentes através de Isaque, seu filho. A Isaque dei Jacob e Esaú. A Esaú dei a região montanhosa de Seir, enquanto que Jacob e seus filhos foram para o Egito. Depois enviei Moisés e Aarão que trouxeram terríveis pragas sobre o Egito e posteriormente tirei de lá o meu povo como gente livre. Quando chegaram ao mar Vermelho, os egípcios perseguiram-nos com carros de combate e cavalaria. Mas Israel clamou a mim por auxílio e coloquei uma escuridão entre eles e os egípcios; fiz com que o mar caísse sobre eles, submergindo-os. Vocês bem viram o que lhes fiz. A partir daí Israel passou a viver no deserto durante muitos anos. Finalmente, trouxe-os para a terra dos amorreus, no outro lado do Jordão; eles combateram contra vocês, mas destruí-os e dei-vos aquela terra. Então o rei Balaque, filho de Zípor, de Moabe começou uma guerra contra Israel e pediu a Balaão, filho de Beor, para vos amaldiçoar. Mas eu não permiti que tal acontecesse; em vez disso, fiz com que vos abençoasse. E assim livrei Israel das suas mãos. Posteriormente, atravessaram o rio Jordão e vieram até Jericó. A gente da cidade combateu-vos; o mesmo fizeram muitos outros; os amorreus, os perizeus, os cananeus, os hititas, os girgaseus, os heveus e os jebuseus, mas eu fiz com que vocês os vencessem. Enviei vespões à vossa frente que puseram em fuga os dois reis dos amorreus e o seu povo. Não foram as vossas armas que vos trouxeram a vitória. Dei-vos terra que não cultivaram e cidades que não edificaram, essas onde vivem agora. Dei-vos igualmente vinhas e olivais para se alimentarem, mas que vocês não plantaram.’ Por isso, temam o Senhor e sirvam-no com sinceridade e integridade. Rejeitem para sempre os ídolos que os vossos antepassados adoravam, dalém do rio Eufrates e no Egito. Adorem só o Senhor. Se não estiverem dispostos a servir o Senhor, decidam hoje quem querem servir. Será os deuses dos vossos antepassados, dalém do Eufrates, ou os deuses dos amorreus, aqui desta terra? Quanto a mim, eu e a minha casa serviremos o Senhor!” E todo o povo respondeu: “Que nunca nos aconteça deixar o Senhor para servir a outros deuses! O Senhor, nosso Deus, foi quem resgatou os nossos pais da escravidão da terra do Egito. É o Deus que fez poderosos milagres à vista de Israel, enquanto andávamos pelo deserto, e nos protegeu dos nossos inimigos quando atravessámos a terra deles. Foi o Senhor que expulsou os amorreus e os outros povos que aqui viviam. Sim, nós escolhemos o Senhor; só ele é o nosso Deus!” Apesar disso, Josué tornou a replicar ao povo: “Vocês não têm naturalmente capacidades para servirem o Senhor Deus, pois é santo e zeloso e não pode passar por cima da vossa rebelião e dos vossos pecados. Se o abandonarem e servirem a outros deuses, voltar-se-á contra vós e destruir-vos-á, ainda que tenha cuidado de vocês durante este longo tempo.” Contudo, o povo voltou a retorquir: “Nós escolhemos o Senhor!” “Vocês mesmos são testemunhas do que acabam de proferir”, disse Josué, “e de que escolheram servir ao Senhor.” O povo respondeu: “Sim, somos testemunhas!” “Pois bem, terão que destruir todos os ídolos que há no vosso meio e voltem-se com todo o coração para o Senhor Deus de Israel.” “Adoraremos e serviremos só ao Senhor, nosso Deus, e obedeceremos à sua voz”, foi a resposta. Então Josué fez uma aliança com eles, nesse dia em Siquem, levando-os a um compromisso entre eles e Deus; e deu-lhes leis e preceitos. Josué registou a resposta do povo no livro da Lei de Deus. Pegou num grande rochedo e pô-lo sob o carvalho que estava junto ao tabernáculo, para que servisse de memorial daquele ato. Josué disse a todo o povo: “Este rochedo ouviu tudo o que o Senhor disse; por isso, servirá de testemunho contra vós, no caso de não virem a cumprir a vossa palavra.” Por fim, despediu o povo para que regressasse aos seus lares, nas suas terras. Pouco tempo depois, Josué, filho de Num, faleceu com a idade de 110 anos. Foi enterrado na sua própria terra, em Timenate-Sera, nas colinas de Efraim, a norte do monte Gaás. Os israelitas serviram ao Senhor durante todo o tempo da vida de Josué e dos outros anciãos, gente idosa que tinha testemunhado diretamente as coisas maravilhosas que o Senhor fizera por Israel. Os restos mortais de José, que o povo de Israel trouxera consigo, quando deixaram o Egito, foram enterrados em Siquem, na parcela de terreno que Jacob comprara por cem peças de prata aos filhos de Hamor. Essa parcela de terra estava agora situada no território doado precisamente às tribos de José. Eleazar, filho de Aarão, também faleceu e foi sepultado nas colinas de Efraim em Gibeá, a cidade que fora dada ao seu filho Fineias. Após a morte de Josué, a nação de Israel consultou o Senhor para receber as suas instruções. “Qual será a tribo que deverá ir primeiro à guerra contra os cananeus?”, perguntaram. A resposta do Senhor foi: “Judá. E dar-lhe-ei uma grande vitória.” Os líderes da tribo de Judá, contudo, pediram auxílio à tribo de Simeão: “Venham connosco lutar contra o povo que está ainda na porção de terra que nos coube em sorte, e depois seremos nós a ajudar-vos a conquistar a vossa parte.” E assim o exército de Simeão foi com o de Judá. Quando Judá subiu para lutar, o Senhor ajudou-os a derrotarem os cananeus e os perizeus, de tal forma que houve 10 000 baixas, da parte do inimigo, em Bezeque. Ali enfrentaram Adoni-Bezeque e, lutando contra ele, venceram os cananeus e perizeus. O rei Adoni-Bezeque conseguiu fugir, mas o exército de Israel capturou-o de seguida, e cortaram-lhe os dedos polegares dos pés e das mãos. “Fiz o mesmo a 70 reis que depois andavam a apanhar migalhas debaixo da minha mesa!”, dizia o rei Adoni-Bezeque. “Agora Deus pagou-me da mesma moeda.” Foi levado para Jerusalém e ali morreu. Judá tinha conquistado Jerusalém e destruído a sua população, pondo fogo à cidade. Depois o exército de Judá combateu os cananeus na região das colinas, no Negueve e nas planícies costeiras. Posteriormente, retomou a luta contra eles em Hebrom (antigamente chamada Quiriate-Arba), destruindo-lhes as cidades de Sesai, Aimã e Talmai. Por último atacaram a cidade de Debir, antigamente chamada Quiriate-Sefer. “Quem vai comandar o ataque contra Quiriate-Sefer?”, desafiou Calebe. “Quem a conquistar terá a minha filha Acsa como mulher!” Foi Otniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb, quem tomou a cidade, casando assim com Acsa. Quando estavam para ir viver juntos para o seu novo lar, ele pediu-lhe insistentemente que pedisse ao pai mais terra. E foi ela própria que, vendo seu pai Calebe, desceu da montada em que ia para lhe falar no assunto. “Que pretendes?”, disse-lhe o pai ao vê-la aproximar-se. “O que é que se passa?”, perguntou-lhe o pai. “Que pretendes?” “Dá-me outra doação! Porque a terra que já me deste é um deserto. Dá-me também fontes para ter água!” Então deu-lhe as fontes superiores e as das terras mais baixas. Quando a tribo de Judá foi instalar-se no seu novo território, no deserto do Negueve, a sul de Arade, os descendentes do sogro de Moisés, membros do grupo dos queneus, acompanharam-na. Deixaram as suas casas em Jericó, a cidade das palmeiras, e passaram a viver juntos com a tribo de Judá. Posteriormente, a tribo de Judá juntou-se à de Simeão, para combater os cananeus na cidade de Zefate, e destruíram a população. Assim, a cidade passou a ser chamada Horma (destruição). O exército de Judá conquistou igualmente as cidades de Gaza, Asquelom e Ecrom, com as localidades da sua jurisdição. O Senhor ajudou a tribo de Judá a exterminar o povo das colinas, ainda que tivessem falhado na tentativa de conquistar o povo do vale, que tinha carros de ferro. A cidade de Hebrom foi dada a Calebe, conforme as instruções de Moisés. Assim, Calebe lançou fora os seus habitantes, que eram descendentes dos três filhos de Anaque. A tribo de Benjamim não exterminou os jebuseus que viviam em Jerusalém; por isso, ainda lá vivem hoje misturados com os benjamitas. Primeiro enviaram espias que capturaram um homem que vinha a sair da cidade. Propuseram-lhe poupar a vida dele e da sua família, se desse a conhecer a passagem através da muralha para entrar na cidade. O homem concordou; mostrou-lhes como entrar lá dentro e eles massacraram a população toda, exceto este homem e a sua família. Mais tarde, aquele homem foi para a terra dos hititas e edificou ali uma cidade, à qual chamou também Luz, como é ainda conhecida hoje. A tribo de Manassés também não expulsou os povos que viviam em Bete-Seã, Taanaque, Dor, Ibleão e Megido, nem tão-pouco nos lugares circunvizinhos; e assim os cananeus continuaram a viver ali. Anos mais tarde, quando os israelitas se tornaram mais fortes, puseram os cananeus a trabalhar como escravos, mas nunca os forçaram a deixar o território. Aconteceu o mesmo, aliás, com os cananeus que viviam em Gezer; ainda lá estão habitando no meio da tribo de Efraim. A tribo de Zebulão também não destruiu o povo de Quitrom nem de Naalol, mas fizeram-nos seus escravos. A tribo de Aser também não expulsou os residentes de Aco, Sídon, Alabe, Aczibe, Helba, Afeca, nem de Reobe; e assim os aseritas vivem ainda entre os cananeus, o povo indígena daquela terra. O mesmo se deu com a tribo de Naftali que não pôs fora o povo de Bete-Semes nem de Bete-Anate; e essa gente continua a viver com eles como servos. Quanto à tribo de Dan, os amorreus forçaram-nos a circunscreverem-se à região das colinas e não os deixaram descer para os vales. Quando mais tarde os amorreus tentaram espalhar-se em Har-Heres, Aijalom e Saalabim, a tribo de José dominou-os e fez deles escravos. A fronteira dos amorreus começa na subida de Acrabim, desde Sela para cima. Certo dia, o anjo do Senhor chegou a Boquim, vindo de Gilgal, e fez este anúncio ao povo de Israel: “Tirei-vos do Egito, trouxe-vos para esta terra que prometi aos vossos antepassados e garanti-vos que nunca quebraria a aliança que fiz convosco na condição de, da vossa parte, não fazerem qualquer espécie de tratado com os povos que vivem aqui; disse-vos que deveriam destruir os altares destas gentes. Porque não obedeceram? Agora, visto que quebraram a aliança feita comigo, esta deixou de ter efeito, e já não prometo destruir as nações que vivem nesta terra; pelo contrário, elas serão como espinhos na carne; os seus deuses tornar-se-ão uma armadilha fatal para vocês.” O povo começou a lamentar-se e a chorar, quando o anjo do Senhor acabou de falar. Por isso, o nome daquele lugar ficou a chamar-se Boquim (eles choram). Então ofereceram sacrifícios ao Senhor. Quando Josué finalmente licenciou os exércitos de Israel, cada tribo foi para os seus novos territórios e tomaram posse das terras que lhes tinham sido doadas. O povo permaneceu fiel ao Senhor durante o tempo de vida de Josué, e também enquanto viveram aqueles anciãos da sua geração que tinham visto os poderosos milagres feitos pelo Senhor a favor de Israel. Josué, o homem de Deus, morreu com a idade de 110 anos; foi enterrado no limite da sua propriedade em Timenate-Heres, nas colinas de Efraim, a norte do monte Gaás. Contudo, essa geração acabou por morrer; veio depois outra que ignorou o Senhor e tudo o que tinha feito por Israel. O povo de Israel fez o que era mau aos olhos do Senhor, incluindo a adoração aos ídolos de Baal. Abandonaram o Senhor, o Deus dos seus antepassados, que os tinha arrancado do Egito e puseram-se a prestar adoração aos ídolos das nações vizinhas. Por isso, a ira do Senhor acendeu-se contra Israel. Os israelitas afastaram-se do Senhor e puseram-se a adorar a Baal e os ídolos astarotes. Isto fez com que o Senhor ardesse de ira contra Israel. Então entregou-os nas mãos de salteadores que roubaram as suas propriedades. Entregou-os nas mãos dos seus inimigos ao seu redor e eles já não foram capazes de lhes resistir. Assim, sempre que a nação de Israel saía, o Senhor dificultava-lhes a ação. Tinha-os avisado disso mesmo; tinha-lhes até prometido que o faria. Mas quando o povo se encontrava em grande aperto, o Senhor fazia levantarem-se juízes para os livrar dos inimigos. Mesmo assim, Israel não quis ouvir esses juízes, pondo-se a adorar outros deuses. Bem depressa se desviaram da verdadeira fé dos seus pais, pois recusaram obedecer aos mandamentos do Senhor. Cada juiz salvava o povo de Israel dos seus inimigos, enquanto vivia, porque o Senhor se apiedava com o clamor do povo sob o peso da opressão; e assim os ajudava enquanto o juiz vivia. Mas quando este morria, deixavam de viver com justiça e faziam ainda pior do que os seus pais. Dirigiam novamente preces aos ídolos pagãos, lançando-se ao chão em atitudes de humilde adoração. Voltavam obstinadamente aos hábitos malvados das nações que se situavam à sua volta. Então a ira do Senhor tornava a acender-se contra Israel e declarava: “Visto que este povo violou a aliança que fiz com os seus antecessores e não me obedeceu, nunca mais expulsarei as nações que Josué deixou por conquistar quando morreu. Pelo contrário, usarei estas nações para testar o meu povo, para me certificar se obedecem ao Senhor como fizeram os seus pais.” Foi assim que o Senhor não expulsou os povos que não tinha entregado nas mãos de Josué, antes permitiu que lá permanecessem. Segue-se uma lista dos povos que o Senhor deixou na terra para experimentar as novas gerações de Israel, que ainda não tinham passado pelas guerras de Canaã. Porque Deus pretendia dar oportunidade à juventude de Israel de pôr à prova a sua fé e a sua obediência, dominando os inimigos. São eles os filisteus, com cinco cidades, os cananeus, os sidónios e os heveus, que viviam nas montanhas do Líbano, desde o monte Baal-Hermon até à entrada de Hamate. Estes povos foram um teste para a nova geração de Israel, para ver se obedeceriam aos mandamentos que o Senhor lhes tinha dado através de Moisés. E assim viveu Israel entre os cananeus, os hititas, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. Em vez de os destruir, o povo de Israel cruzou-se com eles através de casamentos. Os moços israelitas tomaram as raparigas deles como mulheres e vice-versa. E daí, até que Israel começasse a adorar também os seus deuses, foi um pequeno passo. Por isso, o povo de Israel fez o que era mau aos olhos do Senhor, porque esqueceu-se do Senhor, seu Deus, e puseram-se a oferecer adoração a Baal e aos postes ídolos de Achera. A ira do Senhor inflamou-se contra Israel e permitiu que o rei Cusã-Risataim da Mesopotâmia os vencesse na guerra. E ficaram sob o seu domínio durante oito anos. Mas quando Israel gritou ao Senhor por socorro, deu-lhes Otniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Calebe, que os salvou. O Espírito do Senhor tomou posse dele e pôde assim reformar e limpar Israel, de tal forma que quando conduziu as forças militares de Israel contra Cusã-Risataim, rei de Aram, o Senhor ajudou Israel a vencê-lo duma forma absoluta. Depois, durante os 40 anos que estiveram sob a chefia de Otniel, filho de Quenaz, houve paz na terra. Quando Otniel faleceu, o povo de Israel começou de novo a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, e o Senhor deixou que o rei Eglom de Moabe os vencesse. Tinham-se aliado a esse rei os exércitos dos amonitas e dos amalequitas. Essas forças derrotaram os israelitas e tomaram posse de Jericó, frequentemente chamada a cidade das palmeiras. E durante 18 anos o povo de Israel esteve sujeito ao rei Eglom. Mas quando clamaram ao Senhor, mandou-lhes um libertador, Eude, filho de Gera, benjamita, que era canhoto. Eude era o homem que devia levar o imposto anual de Israel à capital moabita. Antes de encetar a viagem mandou fazer uma espada de dois gumes com meio metro de comprimento e escondeu-a na roupa que vestia, junto à coxa direita. Depois de ter entregado o dinheiro ao rei Eglom, que era muito gordo, foi-se embora. Já fora da cidade, junto das pedreiras de Gilgal, despediu os companheiros e voltou sozinho ter com o rei. “Tenho uma mensagem secreta para ti”, disse-lhe. O rei mandou imediatamente sair toda a gente que ali se encontrava, de forma a poder conversar em privado com ele. Estavam numa sala fresca nos andares superiores. Eude avançou então e disse: “É uma mensagem de Deus!” O rei levantou-se logo. Eude, com a mão esquerda, puxou da espada que tinha escondida junto à perna direita e cravou-lha no ventre. O próprio punho da espada ficou enterrado na gordura do corpo. Eude deixou a espada, fechou as portas atrás de si e escapou-se por uma saída secundária. Quando os servos do rei chegaram, viram as portas fechadas e esperaram, pensando que talvez estivesse na casa de banho. Mas depois de passar algum tempo sem que o rei aparecesse, começaram a ficar preocupados e foram buscar uma chave. Ao abrirem a porta depararam-se com o seu senhor morto, estendido no chão. Entretanto, chegando de novo às pedreiras, Eude fugiu em direção a Seirá. Quando chegou às colinas de Efraim fez um apelo às armas, ao som de trombetas, e organizou um exército sob o seu próprio comando. “Sigam-me!”, gritou. “Porque o Senhor entregou já os vossos inimigos, os moabitas, nas vossas mãos!” Inicialmente a sua ação consistiu em ocupar os baixios do Jordão, perto de Moabe, para evitar que os outros passassem por ali, atravessando o rio a pé. Depois foram atacar os moabitas, matando aproximadamente uns 10 000 dos seus mais fortes e hábeis guerreiros, não deixando escapar ninguém. E dessa maneira Moabe foi conquistado por Israel naquele mesmo dia. A terra ficou em paz durante os 80 anos seguintes. O juiz que veio a seguir a Eude foi Sangar, filho de Anate. Duma vez conseguiu matar 600 filisteus com uma vara de bois. Com esse golpe salvou Israel dum desastre. Após a morte de Eude, Israel tornou a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, o qual deixou que o rei Jabim de Hazor em Canaã os vencesse e dominasse. O comandante das suas forças militares era Sísera que vivia em Harosete-Ha-Goiim. Este tinha novecentos carros de combate em ferro e tornou a vida insuportável para os israelitas durante 20 anos. Por fim, clamaram muito ao Senhor que os socorreu. A pessoa que chefiava Israel nessa altura era Débora, uma mulher profetisa, casada com Lapidote. Vivia num lugar chamado Palmeira de Débora, entre Rama e Betel nas colinas de Efraim. Era ali que os israelitas vinham ter com ela para resolver as suas questões. Um dia, ela mandou chamar Baraque, filho de Abinoão, que vivia em Quedes no território de Naftali, e disse-lhe: “O Senhor, Deus de Israel, manda que mobilizes 10 000 homens das tribos de Naftali e de Zebulão. Leva-os ao monte Tabor para combater o poderoso exército de Jabim e todos os carros sob as ordens do general Sísera. O Senhor diz: ‘Atraí-los-ei para junto do ribeiro de Quisom e os derrotarás ali.’ ” “Estou de acordo em partir; mas só se fores comigo!” disse-lhe Baraque. “Está bem, irei contigo! Mas desde já te aviso que a honra desta empreitada não será para ti, porque o Senhor entregará Sísera nas mãos de uma mulher!” Foi, portanto, Débora com Baraque até Quedes. Quando Baraque convocou os homens de Zebulão e de Naftali em Quedes, 10 000 acompanharam-no e Débora marchou com eles. Entretanto, Heber, o queneu, tinha-se separado do resto do clã, passando a viver em vários sítios, chegando a estabelecer-se ao pé do carvalhal de Zaananim perto de Quedes. Os queneus eram os descendentes de Hobabe, o sogro de Moisés. Quando o general Sísera foi informado de que Baraque e o seu exército estava acampado no monte Tabor, tratou de mobilizar todo o exército, incluindo os novecentos carros de combate em ferro, pondo-se em marcha de Harosete-Ha-Goiim para o ribeiro de Quisom. Então Débora disse a Baraque: “É a altura de entrar em ação! É o Senhor que vai à tua frente e te vai entregar Sísera!” Baraque levou os seus 10 000 homens até à base do monte Tabor, preparando-se para o combate. Porém, o Senhor lançou o pânico nas hostes inimigas, tanto na infantaria como nos condutores dos carros. Sísera saltou mesmo do seu carro e fugiu a pé. Baraque e os seus homens perseguiram-nos, aos que iam a pé e aos carros, até Harosete-Ha-Goiim. Não os deixaram até que estivessem todos liquidados. Ninguém foi deixado com vida. Entretanto, Sísera escapara para a tenda de Jael, a mulher de Heber o queneu, pois havia um acordo de auxílio mútuo entre o rei Jabim de Hazor e o clã de Heber. Jael saiu ao encontro de Sísera e disse-lhe: “Vem para a minha tenda, senhor! Ficarás seguro sob a nossa proteção. Nada receies.” Ele aceitou o convite e ela cobriu-o com uma manta. “Por favor, dá-me água, estou morto de sede!”, disse-lhe. Jael deu-lhe leite a beber e tornou a cobri-lo. “Põe-te aí à entrada”, pediu ele. “Se alguém vier à minha procura, dizes que não está aqui ninguém.” Então Jael pegou numa estaca de tenda e num martelo; aproximou-se mansamente dele, que dormia num profundo sono, e cravou-lhe a estaca na testa, pregando-lhe a cabeça ao chão. E morreu dessa forma, pois estava carregado de sono e de cansaço. Quando Baraque chegou à procura dele, Jael veio logo ao seu encontro: “Anda, vou mostrar-te o homem que procuras.” Baraque entrou com ela na tenda e deparou com Sísera ali prostrado e sem vida com a estaca cravada na cabeça. Nesse dia, Deus usou Israel para subjugar o rei Jabim de Canaã. A partir dessa altura, Israel foi ganhando cada vez mais supremacia sobre a nação do rei Jabim, até que acabou por ser toda destruída. Débora e Baraque, filho de Abinoão, compuseram então e cantaram este cântico de vitória: “Os líderes de Israel conduziram corajosamente o povo. Este seguiu-os de voluntariamente. Sim, bendito seja o Senhor! Escutem, ó reis! Ouçam com atenção, ó governantes! Pois vou cantar ao Senhor, vou entoar hinos de louvor ao Senhor, Deus de Israel. Quando saíste de Seir, e deixaste os campos de Edom, a terra tremeu, os céus derramaram chuvas. As montanhas tremeram diante do Senhor, o Deus do Sinai, perante o Senhor, o Deus de Israel. Nos dias de Sangar, filho de Anate, e nos dias de Jael, as grandes estradas ficaram desertas; os viajantes tomaram atalhos retorcidos. O povo de Israel conteve-se e não lutou, até que apareceu Débora, até que levantei uma mãe em Israel. Quando Israel vai atrás de deuses estrangeiros, é a derrocada de tudo, é a guerra. Os senhores que nos dominavam não permitiam sequer que tivéssemos um escudo ou uma lança nas mãos. Entre 40 000 soldados israelitas não se encontra uma só arma! Como me alegro nos chefes de Israel, que tão generosamente se deram a si próprios! Louvem o Senhor! Que Israel inteiro, ricos e pobres, se juntem nos seus louvores, tanto os que andam montados em brancos jumentos e pisam ricos tapetes em casa, como os que têm de andar a pé pelos caminhos. Os músicos de cada povoação juntam-se no poço da vila, para exaltar os triunfos do Senhor. Sem cessar, fazem suceder hinos e baladas, sobre como o Senhor salvou Israel com um exército de combatentes! O povo do Senhor passou as portas das cidades. Levanta-te, Débora, e canta! Ergue-te, Baraque! Tu, filho de Abinoão, chega-te, com os teus prisioneiros! Descendo o monte Tabor via-se o nobre resto do povo. O povo do Senhor desceu avançando contra os poderosos. De Efraim, cujas raízes estão na antiga região de Amaleque, desceram guerreiros atrás de Benjamim e do seu povo; de Maquir descem os príncipes e de Zebulão, os comandantes. Veio até ao vale essa nobre gente de Issacar, com Débora e com Baraque. À ordem de Baraque acorreram todos ao vale. Contudo, a tribo de Rúben não se deslocou. Porque ficas sentado em casa, no meio dos rebanhos, ouvindo os balidos dos animais e as flautas dos pastores? Sim, a tribo de Rúben não pode estar com a consciência descansada. Porque ficou também Gileade do lado de lá do Jordão, e por que razão Dan ficou à beira dos seus barcos? E qual a razão que levou Aser a ficar impassível, nas praias, descansando junto aos seus portos? Mas as tribos de Zebulão e de Naftali não tiveram medo de morrer nos campos de batalha. Os reis de Canaã lutaram em Taanaque, junto às fontes de Megido, mas deles não levaram prata. Até as próprias estrelas do céu lutaram contra Sísera. O veloz ribeiro de Quisom os arrastou, os varreu. Avante, alma minha, corajosamente! Ouve o trotar dos cascos da cavalaria inimiga! Observa o galopar dos seus corcéis! Pois apesar disso o anjo de Senhor amaldiçoou Meroz: ‘Que os seus habitantes sejam asperamente amaldiçoados’, disse. ‘Porque não quiseram empenhar-se na luta pelo Senhor como seus valentes.’ Bendita seja Jael, a mulher de Heber, o queneu. Sim, que ela seja abençoada, acima de todas as mulheres, nos seus lares. Pediu-lhe água, e ela deu-lhe leite, numa bela taça. Mas depois, pegou numa estaca, num martelo, cravou-a na testa de Sísera, rachando-lhe a cabeça, atravessando-a de lado a lado. Ele dobrou-se a seus pés e ali ficou prostrado; a seus pés caiu e ali ficou! Ali no chão caiu sem vida. A mãe de Sísera bem olhava pela janela, esperando o seu regresso: ‘Mas porque é que o seu carro demora tanto a regressar? Porque é que não se ouve ainda o barulho do rodado dos carros pelo caminho?’ As amigas que lhe faziam companhia respondiam e ela concordava: ‘É que deve haver grande despojo a repartir e isso leva tempo. Cada homem fica com uma ou duas raparigas.’ ‘Sim’, acrescentava, ‘Sísera há de trazer vestidos de lindas cores, e muitos presentes para me oferecer.’ Ó Senhor, que todos os teus inimigos pereçam como Sísera, mas aqueles que te amam, que sejam como o Sol, quando se levanta na sua força!” Depois disto acontecer, houve paz na terra durante 40 anos. Novamente o povo de Israel fez o que era mau aos olhos do Senhor, e mais uma vez o Senhor permitiu que os seus inimigos os castigassem. Desta vez foram os midianitas e durante 7 anos. Estes foram tão cruéis que os israelitas tiveram de se refugiar nas montanhas, indo viver para cavernas e esconderijos. Quando semeavam os campos, vinham bandos de Midiã, de Amaleque e de outros povos vizinhos acamparam nos seus campos e destruíram-nos até Gaza, não deixando uma migalha para comer, levando tudo o que era gado, cordeiros, bois e jumentos. Estes bandos inimigos chegavam montados em camelos que nem se podiam contar, e só deixavam a terra depois de a ter desvastado e saqueado completamente. Israel ficou reduzido à miséria por causa daquela gente. Até que o povo de Israel começou a clamar pela ajuda do Senhor. Quando os israelitas clamaram ao Senhor, por causa dos ataques de Midiã, ele respondeu através dum profeta que lhes foi enviado com esta mensagem: “Assim diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tirei-vos da escravidão do Egito; livrei-vos dos egípcios e de todos os que vos dominavam cruelmente. Expulsei os vossos inimigos e dei-vos esta terra. Mostrei-vos que sou o Senhor, vosso Deus, e que não devem prestar culto aos deuses dos amorreus que vivem à vossa volta. Mas não deram ouvidos às minhas recomendações.’ ” Um dia, o anjo do Senhor chegou-se e sentou-se sob o carvalho de Ofra, na propriedade de Joás, o abiezrita. O filho de Joás, Gedeão, estava a malhar trigo no lagar, para se esconder dos midianitas e salvar o grão. O anjo do Senhor dirigiu-lhe estas palavras: “O Senhor é contigo, homem valente!” “Se o Senhor é connosco”, respondeu-lhe Gedeão, “porque é que nos tem acontecido tudo isto? Por que razão não se dão entre nós aqueles famosos milagres que os nossos pais nos contam como quando o Senhor nos tirou do Egito? O Senhor desamparou-nos e deixou que os midianitas nos arruinassem completamente.” Então o Senhor, voltando-se para ele, declarou-lhe: “Vai com a força que te dou e livrarás Israel das mãos dos midianitas. Sou eu mesmo quem te envia!” Gedeão replicou: “Como posso ser eu a salvar Israel? A minha família é a mais pobre de toda a tribo de Manassés e na minha casa eu sou aquele a quem menos atenção se dá.” “Eu, o Senhor, serei contigo! E tu destruirás os midianitas duma vez!” “Se realmente achei graça aos teus olhos, rogo-te que faças agora um milagre que me dê prova disso. Que me prove que é realmente o Senhor que me está a falar desta maneira. Mas peço-te que não te vás já embora, porque quero ir buscar um presente para ti.” O Senhor respondeu: “Está bem, ficarei aqui até que voltes.” Gedeão foi a correr a casa, preparou um cabrito, mediu 22 litros de farinha e amassou uns bolos, sem fermento; pôs a carne e o caldo numa panela e trouxe tudo ao anjo que continuava debaixo do carvalho. O anjo de Deus disse-lhe: “Põe a carne e os bolos sobre aquela rocha e derrama o caldo por cima.” Depois de Gedeão ter obedecido, o anjo do Senhor tocou na carne, com a ponta do seu cajado, e saiu fogo da rocha que consumiu aquilo tudo. De repente, o anjo do Senhor desapareceu da frente dele. Gedeão deu-se então conta de que era mesmo o anjo do Senhor que tinha estado ali com ele e exclamou: “Ai de mim, ó Senhor Deus, porque vi o anjo do Senhor face a face!” “Paz seja contigo”, respondeu-lhe o Senhor. “Não tenhas receio! Não morrerás!” Gedeão construiu ali mesmo um altar e pôs-lhe o nome de Altar da Paz com o Senhor. Está ainda hoje em Ofra na terra dos abiezritas. Nessa noite, o Senhor disse-lhe para amarrar o melhor boi do seu pai ao altar de família consagrado a Baal e deitá-lo abaixo com a força do animal; mandou-o também derrubar o ídolo de madeira da deusa Achera que estava ali perto. “Substitui-o por um altar ao Senhor, vosso Deus; constrói-o aqui nesta colina, colocando as pedras com todo o cuidado. Depois sacrifica o boi como holocausto, usando a madeira do ídolo da deusa Achera como lenha para o fogo do altar.” Gedeão tomou dez homens dos seus criados e fez como o Senhor lhe mandara. Mas fez tudo de noite, com medo da reação das pessoas que viviam na casa do seu pai e da gente da cidade; pois dava-se bem conta do que aconteceria quando verificassem o que tinha feito. Logo bem cedo, na manhã seguinte, quando a vida na cidade recomeçava, alguém descobriu que o altar de Baal tinha sido derrubado, que o ídolo da deusa Achera, ali perto tinha desaparecido e que um novo altar fora construído, vendo-se ainda os restos de um sacrifício. “Quem foi que fez isto?”, perguntava toda a gente. Depois de investigarem acabaram por descobrir que tinha sido Gedeão, o filho de Joás. “Traz o teu filho cá fora!”, gritaram defronte à casa de Joás. “Terá de morrer porque insultou o altar de Baal e deitou abaixo o símbolo de Achera que estava junto dele.” Joás respondeu àquela gente amotinada: “Será que Baal precisa mesmo da vossa ajuda? Isso seria um insulto para qualquer deus! Vocês é que deveriam morrer por estarem assim a insultar Baal! Se Baal é realmente um deus, deixem que seja ele a cuidar de si próprio e a aniquilar quem tiver destruído o altar.” Daí em diante Gedeão passou a ser conhecido por Jerubaal que queria dizer: Deixem Baal cuidar de si próprio! Algum tempo depois, os exércitos de Midiã, de Amaleque e de outras nações vizinhas uniram-se numa aliança contra Israel. Atravessaram o Jordão e acamparam no vale de Jezreel. Então o Espírito do Senhor veio sobre Gedeão; este tocou a trombeta de chamada às armas e os homens de Abiezer juntaram-se a ele. Mandou também mensageiros através de Manassés, Aser, Zebulão e Naftali, congregando as suas forças de combate, e todos responderam. Gedeão disse a Deus: “Se vais na verdade usar-me para salvar Israel, tal como me prometeste, dá-me a prova disso. Vou pôr um pedaço de lã esta noite no chão da eira; se pela manhã o novelo estiver húmido, mas o resto do chão estiver seco, saberei dessa forma que irás ajudar-me!” E aconteceu precisamente assim. Quando se levantou na manhã seguinte, foi apertar o novelo de lã e estava cheio de água; encheu mesmo uma taça com a água que tinha. Então Gedeão disse a Deus: “Peço-te que não fiques irado comigo, mas deixa-me fazer um novo teste: que desta vez seja o novelo a ficar seco e o chão à volta molhado.” Deus fez como ele lhe pediu; nessa noite o novelo ficou seco, mas todo o chão estava coberto de orvalho. Jerubaal, isto é, Gedeão, e o seu exército partiram muito cedo, pela manhã, e chegaram até à fonte de Harode. Os exércitos de Midiã estavam acampados a norte, no vale por detrás da colina de Moré. O Senhor disse então a Gedeão: “Há gente demais contigo. Não posso deixar todos esses homens lutar contra os midianitas, porque se assim fosse o povo de Israel haveria de gabar-se de ter vencido devido à sua própria força! Manda para casa todos os que estiverem receosos e acobardados, para fora da região montanhosa de Gileade.” E foi assim que nada menos do que 22 000 homens se foram embora e só 10 000 ficaram decididos a combater. O Senhor tornou a dizer a Gedeão: “Ainda há gente a mais! Leva-os até à fonte e ali te mostrarei quem irá contigo e quem ficará de parte.” Gedeão juntou-os à beira da água e ali o Senhor lhe disse: “Divide-os em dois grupos, de acordo com o modo como bebem. Porás de um lado aqueles que beberem a água, lambendo-a como os cães; do outro ficarão aqueles que se ajoelharem e levarem a água à boca.” Apenas 300 homens beberam com as mãos; todos os outros se inclinaram com a boca até à corrente. “Conquistarei os midianitas com estes 300 homens!”, disse o Senhor a Gedeão. “Manda o resto para casa!” Gedeão mandou recolher todos os jarros de barro e as trombetas que havia entre eles e enviou-os para casa, ficando apenas com os tais 300 homens. O acampamento midianita ficava no vale, mesmo abaixo. Nessa noite, o Senhor disse a Gedeão: “Levanta-te! Manda formar os teus homens e ataca os midianitas, pois farei com que os derrotes. No entanto, se houver em ti ainda algum receio, desce primeiro ao acampamento inimigo; leva contigo o teu ajudante Purá; e escuta o que estão a dizer lá em baixo. Vais ver que isso te dará muito alento e desejo de atacar!” Então ele e Purá desceram na escuridão até ao limite do acampamento, junto das sentinelas mais avançadas do inimigo. Encontravam-se ali os vastos exércitos de Midiã, de Amaleque e das outras nações orientais, concentrados por todo o vale, numa multidão compacta que lembrava uma praga de gafanhotos; parecia a areia da praia e eram incontáveis os seus camelos! Gedeão aproximou-se; um homem tinha tido um sonho e contava-o ao camarada: “Sonhei com uma coisa muito estranha”, estava ele a dizer. “Um grande pão de cevada vinha rolando lá de cima, sobre o nosso acampamento, caía em cima das tendas e deitava-as abaixo!” O outro soldado respondeu-lhe: “Podes ter a certeza de que esse teu sonho só pode ter um significado. É Gedeão, filho de Joás, o israelita, que vai chegar para massacrar todas as forças aliadas de Midiã!” Quando Gedeão ouviu aquilo, tanto o sonho como a interpretação, louvou o Senhor. Regressou para junto dos seus homens e gritou-lhes: “Todos de pé! O Senhor vai usar-vos para derrotar estes grandes exércitos de Midiã!” Dividiu os 300 soldados em três grupos, deu a cada um dos homens uma trombeta e um jarro de barro com uma tocha acesa lá dentro. Depois explicou-lhes o seu plano: “Quando chegarmos às primeiras sentinelas do campo inimigo, façam todos como eu. Assim que me ouvirem, a mim e aos que estão comigo, soprar as trombetas, devem fazer o mesmo em volta de todo o acampamento e gritar: ‘Combatemos por o Senhor e por Gedeão!’ ” Passava pouco da meia-noite e da altura do render das sentinelas, quando Gedeão e os cem que ficaram com ele chegaram ao limite do campo dos midianitas. Subitamente sopraram as trombetas e logo a seguir partiram os jarros que tinham na mão. Os outros duzentos fizeram imediatamente o mesmo, soprando as trombetas com a mão direita, levantando as tochas acesas com a outra e gritando: “Uma espada pelo Senhor e por Gedeão!” E ficaram a ver o que acontecia. Todo aquele imenso exército inimigo começou a andar às voltas, gritando de pânico e a fugir. Enquanto os 300 homens tocavam as trombetas, o Senhor fez com que as tropas inimigas começassem a lutar entre si, matando-se uns aos outros, e isto duma ponta à outra do acampamento; muitos conseguiram fugir, correndo até Bete-Sita perto de Zerará e até à entrada de Abel-Meolá acima de Tabate. Gedeão mandou mensageiros às tropas de Naftali, Aser e Manassés para que perseguissem e destruíssem toda aquela gente do exército de Midiã que fugia. Mandou igualmente mensageiros pelas colinas de Efraim, convocando tropas para que ocupassem os baixios do Jordão, em Bete-Bará, para evitar que os midianitas passassem a pé para o outro lado e escapassem. Orebe e Zeebe, dois generais midianitas, foram capturados. Orebe foi morto junto ao rochedo de Orebe, e Zeebe foi morto no lagar de Zeebe. Os israelitas pegaram nas cabeças dum e doutro, atravessaram o Jordão e trouxeram-nas a Gedeão. Os chefes tribais de Efraim ficaram muito contrariados e perguntaram a Gedeão. “Porque não nos mandaste chamar quando foste lutar contra os midianitas?” Entretanto, Gedeão tinha atravessado o Jordão com os seus 300 homens. Estavam todos muito cansados, mas continuavam a perseguir os inimigos. E pediram alimentos à gente de Sucote: “Estamos esgotados de energias, por andarmos a perseguir Zeba e Zalmuna, os reis de Midiã.” Contudo, os líderes de Sucote retorquiram-lhes: “Porque devemos dar comida às vossas tropas, se ainda não apanharam Zeba e Zalmuna!” Ao ouvir isto Gedeão avisou-os: “Pois então, quando o Senhor os entregar nas minhas mãos, regressarei aqui e hei de rasgar a vossa carne com espinhos e abrolhos do deserto.” Depois foi a Penuel e pediu ali alimento, mas obteve a mesma resposta. A estes disse também: “Quando toda a campanha acabar, tornarei aqui e derrubarei esta torre.” Por esta altura, esses tais reis midianitas, Zeba e Zalmuna, encontravam-se em Carcor com cerca de uns 15 000 soldados das suas tropas. Era tudo o que restava daqueles exércitos aliados do oriente, pois 120 000 tinham já sido mortos. Então Gedeão contornou a zona onde estavam os fugitivos, indo pelo caminho das caravanas, a oriente de Noba e de Jogboa, caindo de surpresa sobre o que restava do exército midianita, que não estava a contar com aquele ataque. Os dois reis fugiram, mas Gedeão perseguiu-os e capturou-os, derrotando o exército inteiro. Algum tempo depois, Gedeão regressou pelo caminho de Heres. Ali prendeu um moço de Sucote e disse-lhe que escrevesse os nomes dos 77 chefes políticos e religiosos da cidade. Depois disso, regressou a Sucote e disse àquela gente: “Vocês escarneceram de mim, dizendo que nunca haveria de apanhar os reis Zeba e Zalmuna e recusaram-me alimento numa altura em que estava extenuado e debilitado pela fome. Pois bem, aqui estão!” Então pegou nos chefes da cidade e deu-lhes uma lição com espinhos e abrolhos. Foi também a Penuel e deitou abaixo a torre da cidade, matando toda a população. Gedeão perguntou a esses reis, Zeba e Zalmuna: “A gente que vocês mataram em Tabor, como é que eles eram?” Responderam-lhe: “Eram parecidos contigo, como filhos de reis!” “Pois eram certamente os meus irmãos!”, exclamou Gedeão. “Tão certo como vive o Senhor, de que não vos mataria se não lhes tivessem tirado a vida.” Seguidamente, voltando-se para Jeter, o seu filho mais velho, mandou que os matasse. No entanto, como o rapaz ainda era novinho, teve receio. Zeba e Zalmuna disseram a Gedeão: “Mata-nos tu mesmo. Preferimos morrer às mãos dum homem!” E então Gedeão matou-os e guardou para si os ornamentos que estavam nos pescoços dos seus camelos. Os homens de Israel pediram-lhe que fosse o seu rei: “Sê o nosso governador! Tu, o teu filho e o teu neto, porque nos salvaste dos midianitas.” Mas a resposta de Gedeão foi: “Eu não serei o vosso rei, nem tão-pouco o meu filho. O Senhor, sim, é o vosso rei! No entanto pretendo fazer-vos um pedido: deem-me todos os pendentes das orelhas dos nossos inimigos que guardaram do despojo.” Porque as tropas midianitas, sendo ismaelitas como eram, usavam pendentes de ouro. “De boa vontade o faremos!” E logo estenderam ali uma capa onde toda a gente foi pôr os pendentes que tinha guardado. O valor total daquilo foi calculado nuns 20 quilos de ouro, sem contar os crescentes, as cadeias, os fatos reais em púrpura e os ornamentos dos pescoços dos camelos. Gedeão fez um éfode com todo aquele ouro e pô-lo em Ofra, a sua própria cidade. Em breve Israel começou a prestar-lhe adoração, voltando as costas a Deus. Isto veio a ser a ruína de Gedeão e de sua família. Esta é a narrativa de como Midiã foi subjugado por Israel. Os midianitas nunca mais levantaram a cabeça e a terra permaneceu em paz por 40 anos; ou seja, todo o tempo de vida de Gedeão. Este viveu sempre na sua própria casa; chegou a ter 70 filhos, pois teve muitas mulheres. Teve igualmente uma concubina em Siquem que lhe deu um filho de nome Abimeleque. Quando faleceu era já muito velho e foi posto no sepulcro do seu pai Joás em Ofra, na terra dos abiezritas. No entanto, logo que Gedeão morreu, os israelitas começaram a adorar os ídolos de Baal e de Baal-Berite. Deixaram de considerar o Senhor como o seu Deus, ainda que tivesse sido ele quem os salvou de todos os inimigos ao redor. Tão-pouco mostraram bondade alguma para com a família de Jerubaal, apesar de todo o bem que fez por eles. Um dia, o filho de Jerubaal, Abimeleque, veio visitar os tios (os irmãos da sua mãe) em Siquem. “Vão falar com os líderes de Siquem”, pediu ele, “e perguntem-lhes o que preferem: ser governados por 70 reis, os filhos de Jerubaal, ou por um só homem, por mim que sou da vossa carne e do vosso sangue?” Os tios assim fizeram; foram ter com os chefes da cidade e expuseram a proposta de Abimeleque. E decidiram que, sendo a mãe dele uma filha da cidade, iriam segui-lo. Deram-lhe o dinheiro das ofertas do templo do ídolo de Baal-Berite e com ele contratou uns quantos indivíduos, de baixa condição, que faziam tudo o que lhes mandava. Levou-os à casa do seu pai em Ofra e ali, sobre uma pedra, matou todos os seus 70 meio-irmãos, com exceção do mais novo, Jotão, que conseguiu escapar e esconder-se. Então os cidadãos de Siquem e os de Bete-Milo convocaram toda a gente para se reunir sob o carvalho, junto à guarnição militar de Siquem, e ali foi Abimeleque aclamado rei. Quando Jotão teve conhecimento disto, subiu ao cimo do monte Gerizim e gritou para as gentes de Siquem: “Ouçam-me, para que Deus vos ouça também. Um dia, as árvores decidiram eleger um rei. Primeiro pediram à oliveira, mas ela recusou: ‘Haveria eu deixar de produzir azeite, que serve para honrar a Deus e abençoar o homem, só para me pôr aí a abanar de um lado para o outro, sobre as outras árvores?’, perguntou ela. Seguidamente, foram ter com a figueira e fizeram a mesma proposta: ‘Queres governar-nos?’ Mas também ela recusou: ‘Por que razão haveria de parar de produzir figos doces, apenas para ter a possibilidade de levantar a cabeça acima das outras árvores?’ Então foram ter com a videira: ‘Vem reger-nos!’ E a resposta desta foi também: ‘Não vou parar de produzir vinho novo, que alegra tanto aos deuses como os homens, só para ter poder acima das outras!’ Então as árvores voltaram-se para o espinheiro: ‘Tu serás o nosso rei!’ E o espinheiro respondeu: ‘Se realmente me querem, venham e submetam-se docilmente sob a minha sombra. Se recusarem, saia fogo de mim que reduza a cinzas os grandes cedros do Líbano!’ Portanto, vejam se agiram corretamente ao fazer de Abimeleque vosso rei e se estão a proceder honestamente para com Jerubaal e todos os seus descendentes. Porque o meu pai lutou por vocês e arriscou a sua vida para vos livrar dos midianitas; e apesar disso revoltaram-se contra ele e mataram-lhe os 70 filhos sobre uma rocha, acabando por escolher para rei o filho da sua escrava, Abimeleque, apenas porque é vosso parente. Se têm a certeza de ter feito o que é justo e honesto com Jerubaal e os seus descendentes então, tanto vocês como Abimeleque, tenham uma longa e feliz vida todos juntos. Caso contrário, se a vossa conduta não foi a que deveria ter sido para com Gedeão, então que saia fogo de Abimeleque e consuma os cidadãos de Siquem e de Bete-Milo. E que saia fogo destes cidadãos e consuma Abimeleque!” Jotão fugiu e passou a viver em Beer, com receio do seu irmão Abimeleque. Três anos mais tarde Deus fez despertar um conflito entre o rei Abimeleque e os cidadãos de Siquem que se revoltaram. Através dos acontecimentos que se seguiram, tanto Abimeleque como os homens de Siquem, que o ajudaram na sua carnificina contra os filhos de Jerubaal, foram castigados. Os de Siquem armaram uma emboscada a Abimeleque, no cimo da montanha, no caminho que por lá passava. Enquanto o esperavam, iam assaltando e roubando qualquer pessoa que por ali passasse. No entanto, alguém foi avisar Abimeleque disso. Por essa altura, Gaal, filho de Ebede, mudou-se para Siquem com os seus irmãos, e os cidadãos aliaram-se a ele. Durante a festa das colheitas em Siquem, naquele ano, realizada no templo do deus local, o vinho abundou e toda a gente bebeu livremente, começando as pessoas a amaldiçoar Abimeleque. “Quem é esse Abimeleque?”, gritou Gaal. “E porque haveria de ser nosso rei? Por que razão devemos ser seus servos? Ele é somente o filho de Jerubaal, e este Zebul não é apenas o seu representante. Sirvam a família de Hamor, pai de Siquem. Façam-me vosso rei e verão o que em breve acontecerá a Abimeleque! Vou enviar-lhe um ultimato: ‘Junta um exército e vem combater comigo!’ ” Quando Zebul, o governador de Siquem, ouviu o que Gaal estava a dizer, ficou furioso. Mandou logo mensageiros a Abimeleque em Aruma: “Gaal, filho de Ebede, veio viver aqui para a cidade, acompanhado da família e agora está a fomentar a insurreição da população contra ti. Vem de noite com um exército e esconde-te nos campos. De manhã, logo que o dia desponte, ataca a cidade. Quando ele e os que o acompanham vierem ao teu encontro, poderás fazer o que melhor te parecer!” E foi assim que Abimeleque e a sua gente chegaram de noite, repartiram-se em quatro grupos e rodearam a cidade. Pela manhã, na altura em que Gaal se punha à porta da cidade, Abimeleque com os seus homens avançaram contra a cidade. Quando Gaal os viu, exclamou para Zebul: “Olha ali para cima, para aquela elevação! Não te parece que é gente que vem a descer?” Zebul respondeu-lhe: “Não! O que estás a ver são sombras que te parecem pessoas.” “Olha que não. Repara bem; estou certo que é gente que vem contra nós. Aliás, vêm ali mais, pelo caminho do carvalho dos Adivinhos!” Nessa altura, Zebul voltou-se triunfantemente para ele e disse: “E agora, onde é que está aquela tua arrogância? Onde está aquele que perguntava quem era Abimeleque e por que razão seria nosso rei? As pessoas de quem escarnecias e que amaldiçoavas estão aí a chegar à cidade. Vai ao seu encontro e luta!” Gaal assim fez. Levou os homens de Siquem e bateu-se contra Abimeleque. Contudo, foi derrotado, tendo ficado no campo de batalha muitos feridos de Siquem, parte dos quais iam deixando ficar-se pelo caminho de regresso à cidade. Abimeleque estava a viver nessa altura em Aruma. Zebul expulsou Gaal e os seus parentes de Siquem não permitindo mais que ficassem a viver ali. No dia seguinte os habitantes de Siquem tentaram novamente travar combate. No entanto, alguém avisou previamente Abimeleque daquele plano. Este dividiu os seus homens em três grupos e esconderam-se pelos campos. Quando os de Siquem saíram ao ataque, os outros saltaram dos seus esconderijos e caíram-lhe em cima, começando a matá-los. Abimeleque e o seu grupo correram para a entrada de Siquem, para impedir que os adversários fossem refugiar-se. Os outros dois grupos liquidaram-nos ali no campo. Mas a luta ainda se prolongou por todo o dia, antes que Abimeleque tomasse conta da cidade, matasse os habitantes e a deixasse em ruínas. O povo da torre de Siquem viu o que acontecera e foi refugiar-se num forte que havia perto do templo de Baal-Berite. Quando Abimeleque tomou conhecimento, mandou a sua gente acompanhá-lo ao monte Zalmom, onde começou a cortar e a juntar lenha que depois transportou aos ombros. “Façam depressa como eu”, disse-lhes Abimeleque. Cada homem trouxe assim um fardo de lenha que veio depositar junto da fortaleza, seguindo o exemplo do seu chefe, fazendo uma pilha encostada às muralhas e pegando-lhe fogo. Dessa maneira, todo o povo que estava no interior da torre de Siquem acabou por morrer; eram perto dum milhar de homens e mulheres. De seguida, Abimeleque atacou a povoação de Tebez e capturou-a. Havia dentro da povoação uma torre forte e a população fugiu para lá, barricando-se no interior e subindo ao terraço. Abimeleque preparava-se para fazer o mesmo que aos outros e matá-los pelo fogo; mas uma mulher lançou lá de cima uma mó que lhe esmagou o crânio. Ainda com vida pôde gritar para o seu moço de armas: “Mata-me! Que não se venha a dizer que uma mulher matou Abimeleque!” Por isso, o moço trespassou-o com a espada e ele morreu. Quando a sua gente o viu morto, resolveram voltar para as suas casas. Assim, Deus castigou tanto Abimeleque como os habitantes de Siquem, por causa do assassínio dos seus 70 irmãos. Dessa forma, se cumpriu a maldição de Jotão, filho de Jerubaal. Após a morte de Abimeleque, o juiz que chefiou Israel foi Tola, filho de Puá e neto de Dodo, da tribo de Issacar, que vivia na cidade de Samir, nas colinas de Efraim. Foi juiz de Israel durante 23 anos. Quando morreu foi enterrado em Samir. Sucedeu-lhe Jair, um homem de Gileade, que julgou Israel por 22 anos. Os seus 30 filhos deslocavam-se sempre montados sobre jumentos; cada um deles governava uma cidade na terra de Gileade e que ainda são conhecidas por cidades de Jair. Quando morreu, Jair foi enterrado em Camom. O povo de Israel voltou a fazer o que era mau aos olhos do Senhor e a adorar os deuses dos pagãos, Baal e Astarote, assim como os deuses de Aram, Sídon, Moabe, Amon e da Filístia. Como se não bastasse, puseram de lado o culto ao Senhor, que ficou irado com o seu povo e permitiu aos filisteus e aos amonitas Até que os israelitas se voltaram novamente para o Senhor e imploraram-lhe que os salvasse. “Pecámos contra ti; esquecemo-nos de ti como nosso Deus e adorámos os ídolos de Baal”, confessaram. Mesmo assim continuam a pôr-me de lado e a adorar outros deuses. Por isso, continuem como estão; vão-se embora, pois não vos salvarei mais. Vão dirigir preces a esses novos deuses que arranjaram. Que vos salvem agora dessa vossa angústia!” Contudo, continuaram a insistir e a implorar: “Sim, nós sabemos que pecámos. Castiga-nos como melhor entenderes, mas salva-nos uma vez mais dos nossos inimigos!” Então destruíram os deuses estranhos que tinham e passaram a adorar o Senhor que sentiu compaixão perante a sua miséria. Os batalhões dos amonitas tinham sido mobilizados e reunidos em Gileade, preparando-se para um ataque ao exército de Israel em Mizpá. “Quem vai comandar as nossas tropas contra os amonitas?”, interrogavam-se os chefes de Gileade. “Quem se apresentar voluntariamente será o nosso rei.” Jefté era um valente soldado da terra de Gileade, mas a mãe era uma meretriz. O pai, que se chamava Gileade, tinha várias filhos da mulher legítima. Quando cresceram, estes meio-irmãos de Jefté expulsaram-no da região: “És filho duma prostituta! Não herdarás nada do nosso pai.” Por isso, Jefté fugiu e passou a viver na terra de Tobe. Em breve juntou à sua volta um bando de gente marginal que passou a movimentar-se com ele. Foi por essa mesma altura que os amonitas iniciaram uma guerra contra Israel. Os anciãos de Gileade decidiram ir buscar Jefté, pedindo-lhe que viesse comandar as forças militares contra os amonitas. No entanto, Jefté respondeu-lhes: “Porque me mandaram chamar se me odeiam e me expulsaram da casa do meu pai? Agora que estão em dificuldades é que vêm à minha procura?” “É porque precisamos de ti”, replicaram. “Se aceitares ser o nosso comandante contra os amonitas, faremos de ti chefe dos que vivem em Gileade.” Então Jefté declarou aos anciãos de Gileade: “Se me viestes levar de volta para casa a fim de combater os amonitas e se o Senhor nos der a vitória, serei o vosso chefe.” E os líderes de Gileade juraram: “Que o Senhor seja testemunha entre nós, se não fizermos tudo como disseste!” Jefté aceitou a proposta e foi eleito comandante-chefe. Esse contrato foi ratificado perante o Senhor em Mizpá, numa assembleia geral a que assistiu todo o povo. Então Jefté enviou mensageiros ao rei de Amon, inquirindo das razões por que Israel estava a ser atacado. A resposta que deu é que aquela terra pertencia ao povo de Amon; tinha-lhes sido roubada, quando os israelitas vieram do Egito. Todo aquele território, desde o rio Arnom até Jaboque e até ao Jordão, era seu. “Devolvam-nos a nossa terra pacificamente”, pediu o rei amonita. Jefté enviou de novo os seus mensageiros ao rei de Amon com a resposta: “Israel não roubou nada. O que aconteceu foi isto: Quando o povo israelita chegou a Cades, vindo do Egito, depois de ter atravessado o mar Vermelho, foi enviada uma mensagem ao rei de Edom pedindo-lhe licença para atravessar o seu território, mas ele recusou autorização. Então pediram licença semelhante ao rei de Moabe e aconteceu o mesmo com este. Por isso, o povo de Israel teve de ficar em Cades. Finalmente, resolveram rodear Edom e Moabe, através do deserto, viajando ao longo da fronteira oriental, chegando ao rio Arnom, para além dos limites de Moabe, mas nunca chegaram a atravessar Moabe. Então Israel enviou mensageiros ao rei Siom dos amorreus, que vivia em Hesbom, e pediu-lhe autorização para atravessar a sua terra, a fim de atingirem o seu destino. No entanto, o rei Siom não confiou em Israel e mandou mobilizar um exército; fê-lo concentrar-se em Jaaz e atacou-os. O Senhor, Deus de Israel, ajudou Israel a derrotar o rei Siom e todo o seu povo. Foi por essa razão que Israel se apoderou do território amorreu que vai do rio Arnom até Jaboque e do deserto até ao rio Jordão. Como vês, foi o Senhor, Deus de Israel, que tirou esse território aos amorreus e o deu a Israel. Porque haveríamos de devolvê-lo? Vocês guardam bem tudo o que o vosso deus Quemós vos dá e nós guardaremos tudo o que Senhor, nosso Deus, nos dá! Além disso, quem pensam vocês que são? Julgam-se melhores do que o rei Balaque, filho de Zípor, de Moabe? Tentou ele recuperar a terra que Israel lhe conquistou, depois de o derrotar? Sabem bem que não. E agora, ao fim de 300 anos vêm levantar um conflito por causa disto! Israel tem vivido aqui, espalhou-se por toda a terra, desde Hesbom até Aroer e ao longo de todo o rio Arnom. Porque não fizeram anteriormente uma tentativa para retomarem aquilo que agora reclamam? Não, não somos nós que estamos em falta. Foram vocês que nos hostilizaram, declarando-nos guerra; mas em breve o Senhor, o Supremo Juiz, revelará quem de nós está com razão, Israel ou Amon.” O rei de Amon nem sequer ligou à mensagem de Jefté. Foi então que o Espírito do Senhor veio sobre Jefté e conduziu o seu exército através de Gileade e Manassés, ainda para além de Mizpá em Gileade, e atacou o exército de Amon. Entretanto, Jefté tinha formulado uma promessa: se Deus ajudasse Israel a vencer os amonitas, então quando voltasse para casa, qualquer que lhe saísse ao encontro seria sacrificado ao Senhor como holocausto. Jefté levou os seus soldados a combater os amonitas e o Senhor deu-lhe a vitória, tendo-os liquidado por todo o caminho, desde Aroer até Minite, incluindo vinte povoações que foram destruídas, atingindo mesmo a campina das Vinhas. Desta forma, os amonitas ficaram subjugados ao povo de Israel. Quando Jefté regressou a casa, a sua filha (e ele não tinha mais filhos) veio a correr ao seu encontro, tocando uma pandeireta e dançando de alegria. Mas ele, quando a viu, rasgou as vestes que trazia vestidas, em sinal de profunda angústia. “Ai, minha filha!”, gritou. “Deste cabo de mim agora! Porque fiz um voto ao Senhor e não posso voltar atrás.” Ela respondeu. “Pai, deves fazer conforme tudo o que prometeste ao Senhor, porque deu-te uma grande vitória sobre os inimigos, os amonitas. Mas deixa-me ir para as colinas e andar por lá durante dois meses com as minhas amigas, chorando o facto de nunca vir a casar.” “Pois sim, vai.” E foi o que ela fez; lamentou o seu destino na companhia das companheiras durante dois meses. Depois regressou para junto do pai que agiu conforme o seu voto e ela nunca casou. Foi na sequência disto que se tornou costume em Israel as raparigas irem quatro dias em cada ano lamentar o destino da filha de Jefté. Então a tribo de Efraim mobilizou a sua tropa, reuniu-a em Zafom e mandou uma nota a Jefté: “Porque não nos chamaste para te ajudarmos quando foste combater contra os amonitas? Por isso, agora vamos queimar a tua casa contigo dentro!” “Eu convoquei-vos, mas vocês recusaram-se a vir!”, retorquiu Jefté. “Foram vocês que se recusaram vir ajudar-nos quando precisávamos. Por essa razão, coloquei a minha vida em risco, indo combater sem vocês, e o Senhor ajudou-me a derrotar os adversários. Há alguma justificação para que agora venham contra mim?” Então Jefté, reuniu os homens de Gileade e atacou os de Efraim, por eles terem dito que os das tribos de Efraim e Manassés, que viviam em Gileade, eram desertores de Efraim. E Jefté derrotou-os. Ocupou os baixios do Jordão na sua retaguarda e quando algum fugitivo de Efraim tentava escapar através do rio, a sentinela de Gileade perguntava-lhe: “És membro da tribo de Efraim?” Se respondia que não, então mandavam-o dizer a palavra “Chibolete”. Se ele dizia “Sibolete”, porque não era capaz de a pronunciar corretamente, pegavam nele e matavam-no. Ao todo morreram 42 000 pessoas de Efraim nessa ocasião. Jefté foi juiz em Israel durante 6 anos. Quando morreu enterraram-no numa das cidades de Gileade. O juiz seguinte chamava-se Ibzã e vivia em Belém. Tinha 60 filhos; 30 rapazes e 30 meninas. As raparigas, casou-as fora do seu clã, e trouxe 30 moças para casarem com os filhos. Chefiou Israel durante 7 anos. Na sua morte foi enterrado em Belém. Depois seguiu-se Elom de Zebulão. Governou Israel durante 10 anos. Está enterrado em Aijalom na terra de Zebulão. Sudeceu-lhe Abdom, filho de Hilel, de Piraton. Tinha 40 filhos e 30 netos que se deslocavam montados em 70 jumentos. Foi juiz em Israel durante 8 anos. Está sepultado em Piraton, em Efraim, nas colinas dos amalequitas. Israel mais uma vez fez o que era mau aos olhos do Senhor, pondo-se a adorar deuses estranhos. Por isso, o Senhor permitiu que fossem derrotados pelos filisteus que sujeitaram o povo durante 40 anos. Na cidade de Zora vivia um homem da tribo de Dan, chamado Manoá. A sua mulher nunca pôde dar-lhe filhos, mas um dia o anjo do Senhor apareceu-lhe e disse: “Ainda que tenhas sido estéril durante tanto tempo, em breve conceberás e terás um filho. Não bebas vinho nem qualquer outra bebida alcoólica, nem comida que não seja ritualmente pura. O cabelo do teu filho nunca deverá ser cortado, pois será um nazireu de Deus, mesmo logo desde o nascimento; ele começará a salvar Israel dos filisteus.” A mulher correu a contar isto ao marido: “Um homem de Deus apareceu-me; penso que deverá ter sido o anjo de Deus, porque tinha uma aparência gloriosa e ofuscante. Eu nem lhe perguntei donde é que era e ele também não me disse sequer como se chamava; mas afirmou-me o seguinte: ‘Vais ter um filho rapaz!’ Mandou que não bebesse vinho nem qualquer bebida alcoólica e que não comesse nada que fosse impuro, porque o rapaz que hei de dar à luz será nazireu; será dedicado a Deus desde o seu nascimento até morrer!” Então Manoá orou assim: “Ó Senhor, peço-te que o homem de Deus venha de novo ter connosco e nos dê mais instruções quanto ao filho que nos vais dar.” Deus respondeu à sua oração e o anjo de Deus apareceu novamente à mulher, quando estava sentada no campo. O marido porém, não estava presente. Foi chamá-lo a correr: “Está ali outra vez o mesmo homem!” Manoá acompanhou-a até junto do anjo e perguntou-lhe: “És aquele que falou com a minha mulher no outro dia?” Ao que respondeu: “Sim, sou eu.” “Podes então dar-nos mais algumas instruções acerca de como haveremos de criar o bebé depois dele nascer?”, perguntou Manoá. O anjo do Senhor respondeu: “Tem muito cuidado em que a tua mulher siga as instruções que lhe dei. Ela não deve comer qualquer produto da vinha, nem beber vinho ou outra bebida alcoólica, nem tão-pouco ingerir alimentos considerados impuros.” Manoá então disse ao anjo do Senhor: “Por favor, fica aqui até prepararmos um cabrito para comer.” “Pois sim, ficarei. Mas não comerei nada. Se desejam trazer alguma coisa, ofereçam um holocausto ao Senhor.” Manoá não se dava conta de que estava a falar com o anjo do Senhor. Então perguntou-lhe como se chamava: “Depois disso acontecer, do bebé nascer, queremos dizer a toda a gente que foste tu quem o predisse!” “Porque me perguntas o meu nome? É um nome misterioso.” Então Manoá pegou num cabrito e numa oferta de cereais e apresentou-os ao Senhor como sacrifício. O Senhor fez então algo maravilhoso. Ao mesmo tempo que as chamas subiam, sob os olhos de Manoá e da sua mulher, ergueu-se com as chamas até ao céu! Manoá e a mulher prostaram-se com os rostos em terra. Foi essa a última vez que o viram. Manoá deu-se finalmente conta de que se tratava verdadeiramente do anjo do Senhor. “Vamos morrer, pois vimos a Deus!”, Manoá exclamou para a mulher. “Se o Senhor nos quisesse matar”, disse-lhe ela, “não teria aceitado as nossas ofertas nem nos teria aparecido, dizendo-nos estas coisas maravilhosas e fazendo estes milagres.” Quando lhes nasceu o menino puseram-lhe o nome de Sansão e o Senhor abençoava-o à medida que ia crescendo. O Espírito do Senhor começou a manifestar-se regularmente na sua vida em Campo de Dan, entre as cidades de Zora e Estaol. Um dia em que Sansão se encontrava em Timna, reparou numa rapariga filisteia. Quando veio para casa disse ao pai e à mãe que queria casar com ela. Eles opuseram-se firmemente: “Porque hás de ir buscar uma moça desses filisteus pagãos? Será que não há entre todo o povo de Israel uma rapariga que te agrade e com quem possas casar?” Mas Sansão disse ao pai: “É só a ela que eu quero. Peçam-na para mim.” O pai e a mãe não percebiam que era o Senhor que estava por detrás deste pedido; era Deus preparando como que uma armadilha aos filisteus que nessa altura dominavam Israel. Quando Sansão e os pais iam a caminho de Timna, ouviu o rugido de um leão ainda novo que vinha sobre eles. O Espírito do Senhor apoderou-se fortemente dele e mesmo sem ter nada nas mãos abriu-lhe as mandíbulas e fendeu-o, como se se tratasse dum cabritinho! Contudo, nada disse aos pais do que acontecera. Ao chegarem a Timna, foi falar com a moça e viu que lhe agradava muito; por isso logo trataram do casamento. Quando mais tarde voltou para as bodas, desviou-se do caminho para ver o que tinha sido feito do corpo do leão morto. Lá estava a carcaça do animal, mas havia um enxame de abelhas à volta e estava cheia de mel. Tirou um pouco do mel para levar consigo e ir comendo enquanto caminhava; deu também a comer ao pai e à mãe, mas não lhes disse onde o tinha obtido. Enquanto o pai estava a fazer os últimos preparativos para o casamento, Sansão deu uma festa como era costume dos noivos. Quando chegou, trouxeram-lhe trinta rapazes para o acompanharem. Sansão perguntou-lhes a certa altura se queriam ouvir uma adivinha: “Se forem capazes de dar resposta à minha adivinha durante os 7 dias da festa, dar-vos-ei 30 lençóis e 30 fatos. Se não conseguirem encontrar a resposta, serão vocês a dar-me a mesma coisa!” Eles concordaram: “Está certo! Venha de lá a adivinha.” Era pois este o enigma que lhes apresentou: “Saiu comida do comedor, e doçura da fera.” Três dias mais tarde ainda andavam à procura da resposta à adivinha. No quarto dia disseram à noiva: “Vê lá se consegues que Sansão te diga a resposta, porque se não, lançamos fogo à tua casa contigo lá dentro. Ou teremos sido convidados para esta festa para ficarmos a mendigar?” Então a rapariga começou a desfazer-se em lágrimas à frente dele dizendo: “Tu não gostas de mim. Tu odeias-me, porque disseste uma adivinha ao meu povo e não me dás a conhecer a resposta!” “Mas se eu não disse a solução nem sequer aos meus pais, porque é que te diria a ti?”, disse-lhe ele. Ela chorava sempre que estava com ele e continuou naquilo o resto dos dias da festa. Por fim, no sétimo dia, ele cedeu e disse-lhe a resposta à adivinha, e ela foi logo contá-la aos outros jovens. Antes que o Sol se pusesse nesse último dia, eles deram a resposta a Sansão. “Que há mais doce que o mel e mais feroz que um leão?” “Se vocês não tivessem andado a lavrar com a minha bezerra não teriam sido capazes de encontrar a resposta!”, retorquiu-lhes. Então o Espírito do Senhor veio sobre ele, foi à cidade de Asquelom, matou trinta homens, pegou nas roupas deles e trouxe-a aos rapazes que tinham dado solução à adivinha. No entanto, ficou furioso e voltou para casa, continuando a viver com o pai e a mãe. A mulher acabou por casar com o rapaz que tinha servido de mestre de cerimónias na boda. Mais tarde, durante a ceifa do trigo, Sansão trouxe um cabrito ainda novo, como presente para a mulher de Timna, com a intenção de passar a noite com ela. Mas o pai da rapariga não o deixou entrar. “Pensei que a odiavas”, explicou-lhe. “Por isso, casei-a com o teu companheiro que tinha servido de mestre de cerimónias. Mas repara, a irmã dela é mais nova e mais bonita. Casa antes com ela.” Sansão ficou furioso: “Se é assim, não me poderão censurar pelo que venha a fazer!” Então retirou-se; apanhou trezentas raposas, atou-lhes as caudas duas a duas e prendeu-lhes uma tocha. Depois pegou fogo às tochas e largou as raposas nos campos dos filisteus, o que fez incendiar as searas e os molhos já atados, assim como as vinhas e os olivais. “Quem foi que fez isto?”, perguntavam os filisteus. “Sansão!”, era a resposta. “Por causa do sogro ter dado a mulher a outro.” Então os filisteus pegaram fogo à casa da rapariga que morreu, ela e o pai. “Pois agora vou vingar-me de vocês!”, prometeu Sansão. Então atacou-os com fúria e matou um grande número deles. Depois foi viver numa gruta na rocha de Etã. Os filisteus, por seu lado, enviaram uma vasta companhia de soldados contra Judá e atacaram Laí. “Porque estão a atacar-nos?”, perguntou a população de Judá. Os filisteus responderam: “Pretendemos capturar Sansão e fazer-lhe tanto como nos fez a nós.” Dessa forma, foram mandados 3000 homens de Judá para capturar Sansão na rocha de Etã. “Tu não vês como estás a prejudicar-nos?”, perguntaram-lhe. “Não te dás conta de que são os filisteus que nos dominam?” Mas Sansão replicou-lhes: “Apenas me vinguei daquilo que me fizeram.” “Pois, por isso, viemos capturar-te e entregar-te aos filisteus.” Ao que ele replicou: “Prometam que não me matarão!” E eles responderam: “Prometemos que não faremos uma coisa dessas!” Então amarraram-no com duas cordas novas e mandaram-no seguir à frente. Quando chegaram a Laí, os filisteus gritaram de contentamento. Nessa altura, a força do Senhor apoderou-se de Sansão e ele rebentou as cordas que o amarravam, que lhe caíram dos pulsos como se fossem fios de linho queimados pelo fogo! Pegou então na queixada dum jumento que ali estava no chão e matou com ela 1000 filisteus. Sansão, na sua alegria, fez o seguinte poema: “Eles vão caindo uns sobre os outros, aos montões! Tudo com uma queixada de jumento! Matei mil homens, tudo com uma queixada de jumento!” Quando terminou, deitou fora a queixada. Aquele lugar ficou conhecido como Ramat-Laí (Colina da Queixada). Depois, estando com muita sede, orou ao Senhor: “Deste grande vitória por intermédio do teu servo! Será que irei agora morrer de sede e ficar à mercê destes pagãos?” Então Deus fez sair água duma rocha. Sansão bebeu e ficou com as forças renovadas. Em consequência, passou a chamar-se àquele lugar En-Hacoré (a Fonte Daquele que Clama). Essa fonte ainda lá está hoje. Sansão foi juiz de Israel durante 20 anos, mas os filisteus ainda controlavam a terra. Um dia, Sansão foi a Gaza, cidade dos filisteus, e passou a noite em casa de uma meretriz. Depressa correu a notícia de que fora visto na cidade. As autoridades foram alertadas e muita gente decidiu ficar de noite a espiar as saídas da cidade, para o capturar quando tentasse escapar. “Pela manhã”, pensaram eles, “quando houver a luz do dia, haveremos de encontrá-lo e poderemos matá-lo.” Quando era meia-noite, Sansão levantou-se, veio para a rua, dirigiu-se à saída da cidade, pegou nos portões juntamente com as ombreiras mais a tranca, levantou-os do chão, pô-los aos ombros e levou-os até ao cimo da elevação que está defronte de Hebrom. Mais tarde, apaixonou-se por uma rapariga chamada Dalila, lá para os lados do vale de Soreque. Os cinco chefes dos filisteus foram pessoalmente ter com ela, pedindo-lhe que procurasse descobrir o que é que fazia de Sansão um homem tão forte, para que soubessem como vencê-lo, subjugá-lo e prendê-lo. “Damos-te cada um de nós 1100 peças de dinheiro por esse serviço!”, prometeram. Então Dalila começou a pedir a Sansão que lhe revelasse o segredo da sua força. “Por favor, Sansão, diz-me a razão por que és tão forte. Acho que ninguém seria capaz de te capturar!” “Olha”, disse-lhe ele, “se me atarem com sete vergas de vimes frescos, tornar-me-ei tão fraco como qualquer pessoa.” Então trouxeram-lhe as sete vergas e, enquanto dormia, ela atou-o com aquilo. Uns quantos homens esconderam-se no quarto contíguo; depois de o ter atado, ela gritou: “Sansão! Estão aqui os filisteus para te atacarem!” Ele partiu as vergas como se fosse fio de estopa sobre fogo. E continuaram a ignorar o segredo da sua força. Dalila insistiu: “Estiveste a fazer pouco de mim! Mentiste-me! Sansão, diz-me, peço-te, como é que te podem prender.” “Pois bem, se eu for atado com cordas novas, que nunca tenham sido usadas, serei tão fraco como qualquer outra pessoa.” Então novamente, enquanto dormia, Dalila atou-o com cordas novas. Os homens estavam no quarto ao lado como da outra vez e Dalila gritou: “Sansão! Os filisteus vêm aí para te atacar!” Ele quebrou logo as cordas como se fossem meros fios. “Tens estado todo este tempo a troçar de mim e a mentir-me! Diz-me lá, Sansão, como é que realmente te podem prender.” “Escuta, se teceres os meus cabelos no teu tear e os fixares com a cavilha, ficarei sem forças e serei como qualquer outro homem.” Enquanto ele dormia, ela fez isso e gritou-lhe: “Estão aí os filisteus, Sansão!” Ele despertou e arrancou o cabelo que estava preso, partindo o tear. “Como podes tu dizer que me amas, se não tens confiança em mim?” disse-lhe ela. “Já por três vezes fazes pouco de mim e ainda não me disseste onde está o segredo da tua força!” E dia após dia ela insistia, de tal forma que, não podendo aguentar aquilo mais tempo, lhe contou o seu segredo. “O meu cabelo nunca foi cortado”, confessou, “porque tenho sido um nazireu de Deus, desde o meu nascimento. Se o meu cabelo fosse cortado, perderia a minha força e tornar-me-ia igual a qualquer outro.” Dalila percebeu que desta vez lhe dizia a verdade e por isso mandou chamar os chefes dos filisteus: “Venham já, só mais esta vez, porque agora já me disse tudo.” Eles vieram e trouxeram o dinheiro. Ela fê-lo adormecer com a cabeça no seu colo e disseram a um homem para lhe vir cortar o cabelo. Dalila começou a bater-lhe, mas via-se que já não possuía a mesma força. Ela gritou: “Chegaram os filisteus para te capturar, Sansão!” Ele acordou e pensou consigo: “Bom, farei como antes e fico livre.” Porque ainda não tinha constatado que o Senhor o deixara. Então os filisteus amarraram-no, esvaziaram-lhe os olhos e levaram-no para Gaza, onde o prenderam com cadeias de bronze duplas. E faziam-no mover uma mó de grão na prisão. Entretanto o cabelo começou a crescer-lhe novamente. Os chefes filisteus organizaram uma grande festa para celebrar a captura de Sansão. O povo fez sacrifícios ao seu deus Dagom e louvavam-no: “O nosso deus entregou-nos o nosso inimigo, Sansão!”, diziam eles com satisfação, olhando para ele na prisão. “O nosso deus deu-nos a vitória sobre o nosso inimigo, que matou tantos de nós!” A certa altura, aquela gente excitada pediu: “Tragam cá para fora Sansão, para que possamos rir da sua figura!” Ele foi tirado da cela e puseram-no no templo, entre os pilares que suportavam o teto. Sansão disse para o rapaz que o levava pela mão: “Deixa-me apalpar e sentir onde estão as colunas, para que descanse um pouco contra elas.” Naquela altura, o templo estava repleto de gente. Estavam também ali os cinco reis dos filisteus. Só no terraço havia umas 3000 pessoas, pretendendo ver Sansão, com os seus próprios olhos, fazer palhaçadas diante deles. Então Sansão orou assim: “Ó Senhor Deus, lembra-te de mim mais uma vez e dá-me novamente força, para que possa dar a paga a estes filisteus pela perda dos meus olhos.” Sansão abraçou as colunas e aplicou toda a sua força. “Que eu morra com os filisteus!”, foi a sua última frase. E o templo ruiu, soterrando o povo todo, incluindo os seus cinco chefes. Os que matou naquela ocasião, na sua própria morte, foram mais do que os que matou em toda a vida. Mais tarde, os irmãos e outros parentes vieram buscar o corpo e foram enterrá-lo entre Zora e Estaol, onde o pai, Manoá, também estava sepultado. Tinha sido juiz em Israel por 20 anos. Nas colinas de Efraim vivia um homem chamado Mica. Um dia, disse para a mãe: “Aquelas 1100 peças de dinheiro que julgas terem sido roubadas, tendo amaldiçoado o ladrão, fui eu quem as tirou!” A mãe exclamou: “Que o Senhor te abençoe, meu filho, por teres confessado tal coisa!” E ele devolveu-lhe o dinheiro. “Eu quero dar este dinheiro ao Senhor, para que seja contado a teu favor”, declarou ela. “Vou mandar esculpir uma imagem e cobri-la de prata.” A mãe pegou então em 200 peças de dinheiro e levou-as a um ourives que fez um ídolo que ela colocou num nicho em sua casa. Mica já tinha uma coleção de ídolos, além de um éfode e alguns terafins, e designou um dos seus próprios filhos como sacerdote. Porque naqueles dias Israel não tinha rei, de forma que cada qual fazia o que melhor parecia aos seus olhos. Entretanto, houve um levita da cidade de Belém de Judá que chegou àquela região de Efraim, procurando um lugar onde se instalasse para viver. Aconteceu passar pela casa de Mica. “Donde vens?”, perguntou-lhe Mica. “Sou levita, de Belém de Judá, e procuro um lugar para viver.” O jovem aceitou e ficou a viver com Mica. Este consagrou-o como seu sacerdote pessoal. “Agora tenho a certeza de que o Senhor me abençoará”, exclamou Mica, “porque tenho um levita como sacerdote!” Não havia rei em Israel nesse tempo. A tribo de Dan estava a tentar achar um território para se estabelecer, visto que ainda não tinham expulsado as gentes que viviam na terra que lhes tinha sido consignada. Os homens de Dan escolheram então cinco valentes soldados das cidades de Zora e Estaol, para irem observar secretamente a terra onde pensavam estabelecer-se. Chegados às colinas de Efraim ficaram na casa de Mica. Reparando no sotaque da fala do jovem levita, tomaram-no à parte e perguntaram-lhe: “Que estás a fazer aqui? Porque vieste para cá?” Ele contou-lhes o contrato que tinha feito com Mica e que era presentemente o seu sacerdote pessoal. “Então”, disseram-lhe, “pergunta a Deus se a nossa incursão será bem sucedida.” “Sim, tudo correrá bem. O Senhor está a tomar conta de vocês.” Assim, os cinco homens continuaram até à cidade de Laís e repararam que ali toda a gente se sentia segura e confiante. Viviam à maneira dos fenícios; era um povo próspero e pacífico, e nem sequer estava preparado para a eventualidade de algum ataque do exterior, pois naquela área não havia gente suficientemente forte. Estavam a grande distância dos sidónios, com quem se aparentavam, e tinham pouco ou nenhum contacto com as povoações vizinhas. Dali os espias voltaram para os seus em Zora e Estaol. “O que têm para contar-nos”, perguntaram-lhes. “Devemos atacar! Vimos uma terra que é perfeitamente o que nos convém: espaçosa, fértil, um território espantoso, um verdadeiro paraíso. O povo nem sequer está preparado para se defender! Vamos, despachem-se! Deus já nos deu esta terra!” Dessa forma, 600 homens armados da tribo de Dan partiram de Zora e de Estaol. Acamparam primeiro num lugar a ocidente de Quiriate-Jearim, em Judá, que ainda hoje se chama Campo de Dan. Continuaram depois até às colinas de Efraim. Ao passarem pela casa de Mica, os tais cinco soldados disseram aos outros: “Há ali um santuário com um éfode, alguns terafins e ídolos de prata. Não devemos deixar de ir lá.” Depois os cinco espias foram lá dentro, ao santuário, e começaram a pegar nos ídolos, no éfode e nos terafins. “O que é que estão a fazer?”, perguntou-lhes o sacerdote, quando viu que levavam tudo com eles. “Sossega, vem connosco. Serás sacerdote de todos nós. Não é muito melhor seres sacerdote de uma tribo inteira do que de um homem só, numa casa particular?” O jovem sacerdote, muito satisfeito com a ideia, agarrou tudo; o éfode, os terafins e os ídolos. Assim retomaram o caminho, colocando as crianças, o gado e os seus haveres à frente da coluna. Quando já se encontravam a uma distância razoável da casa de Mica, viram que este mais alguns vizinhos corriam atrás deles, gritando-lhes que parassem. “O que pretendes para vires a correr atrás da gente?”, perguntaram os de Dan. “Vocês ainda me perguntam o que é que eu pretendo, depois de levarem todos os meus deuses, o meu sacerdote e me deixarem sem nada!” “Tem cuidado com a maneira como falas, pode alguém com ânimo mais exaltado atirar-se a ti e matar-te.” Os homens de Dan continuaram o seu caminho. Quanto a Mica, ao constatar que não podia enfrentá-los, pois eram muito numerosos, voltou para casa. Os outros, na posse dos ídolos de Mica e do sacerdote, lá chegaram à cidade de Laís, que nem sequer tinha guardas; por isso, foi só entrar e começar a matança, acabando por incendiar a cidade, deixando-a em ruínas. Não houve ninguém que pudesse auxiliar aqueles habitantes, pois estavam muito longe de Sídon e não tinham aliados na vizinhança, pois não se relacionavam com ninguém. Isso aconteceu num vale perto de Bete-Reobe. O povo de Dan reconstruiu depois a cidade e ficou a viver ali. A localidade passou a chamar-se Dan, o nome do pai da tribo, do filho de Israel. No entanto, como já foi referido, antes chamava-se Laís. Então instalaram os ídolos e designaram Jónatas, filho de Gerson e neto de Moisés, mais os seus filhos, para serem sacerdotes. Os membros desta família mantiveram-se como sacerdotes até à altura em que o povo da terra foi levado para o cativeiro. Os ídolos de Mica foram adorados pela tribo de Dan todo o tempo que a casa de Deus permaneceu em Silo. Nesse tempo, em que ainda não havia rei em Israel, houve um homem da tribo de Levi, que vivia num extremo da região das colinas de Efraim, que levou para sua casa uma rapariga de Belém para ficar a viver com ele como concubina. A certa altura, porém, ela abandonou-o por outro e regressou para casa do pai, em Belém, ficando lá por uns quatro meses. O marido, acompanhado dum criado, preparou-se para ir a Belém; aparelhou também mais um jumento que levou sem ninguém; o seu intuito era trazer a rapariga de volta para casa. Quando chegou, ela recebeu-o, apresentou-o ao pai e mostrou-se alegre por tornar a vê-lo. O pai pediu-lhe muito que ficasse e ele aceitou, ficando três dias, mostrando-se satisfeitos por estarem juntos. No quarto dia levantaram-se cedo, prontos para partir, mas o pai insistiu para que tomassem ao menos alguma coisa antes da viagem. Entretanto, fez pressão sobre ele para que ficasse mais um dia, visto que tinham passado um bom tempo juntos. A princípio o levita recusou, mas o pai da moça tanto insistiu que ele acabou por aceitar. Na manhã seguinte, tornaram a levantar-se cedo e novamente o pai insistiu: “Fiquem mais hoje e partam esta tarde, ao fim do dia.” E foi mais um dia de festa lá em casa. De tarde, quando o casal e o criado se preparavam para a viagem, chegou-se outra vez o pai: “Não veem que já é tarde. Fiquem mais esta noite. Fazemos um belo serão e amanhã cedo podem iniciar a viagem.” Contudo, desta vez partiram mesmo, tendo chegado a Jebus, que é Jerusalém, já muito tarde, com os dois jumentos aparelhados. O criado disse-lhe: “Já é muito tarde para viajar; fiquemos aqui esta noite.” “Não. Não podemos ficar aqui numa cidade pagã, onde não há ninguém israelita. Vamos continuar até Gibeá ou mesmo, se possível, até Ramá.” E assim continuaram a viagem. O Sol tinha-se posto há muito quando atingiram Gibeá, uma povoação da tribo de Benjamim. Por isso, resolveram entrar e passar ali a noite; mas como ninguém os convidou para recebê-los em casa, decidiram dormir ali mesmo na praça. Nessa altura, chegou-se um homem idoso, que regressava do trabalho no campo, a caminho de casa. Era originário das colinas de Efraim, mas vivia agora em Gibeá, apesar daquele ser o território de Benjamim. Quando viu os viajantes acampados em plena praça, perguntou-lhes donde eram e para onde iam. “Vimos de Belém, na Judeia”, respondeu o levita. “Vivo no extremo da região das colinas de Efraim, porém agora vou à casa do Senhor. Ficámos aqui porque ninguém fez o gesto de nos acolher para passar a noite, ainda que tenhamos alimento suficiente para os nossos jumentos e comida e vinho que baste para nós próprios.” “Não se preocupem, serão meus hóspedes; aqui é que não vão ficar, pois é demasiado perigoso.” E levou-os para casa. Deu de comer aos animais e depois todos jantaram juntos. Na alegria daquele convívio, um bando de gente pervertida começou a juntar-se em frente da casa, batendo na porta e gritando para o velho, o dono da casa, que trouxesse para fora o homem que estava com eles, para que o possuíssem. O homem idoso veio cá fora falar com eles: “Não, meus irmãos, não façam um tal ato de tamanha loucura! Ele é meu hóspede. Levem a minha filha, que é virgem, e a mulher dele. Trago-as aqui e façam delas o que quiserem, mas não levem por diante uma coisas dessas com este homem.” Os outros contudo não aceitaram. Então o levita trouxe a sua concubina para fora e empurrou-a para junto deles; e aquela gente abusou dela a noite inteira. De madrugada deixaram-na. Ela arrastou-se até à entrada da casa e ali ficou até o dia clarear. Quando o levita abriu a porta para seguir viagem, viu-a caída, com as mãos sobre o limiar. “Levanta-te”, disse-lhe, “vamos embora.” Mas não obteve resposta; estava morta. Então pô-la sobre o jumento e levou-a para casa. Chegado ao seu destino pegou num cutelo, partiu o corpo em pedaços, e enviou um pedaço a cada uma das tribos de Israel. A nação inteira ficou escandalizada. “Nunca se ouviu falar num crime assim, desde que Israel saiu do Egito”, dizia toda a gente. “Temos de fazer alguma coisa!” Assim, toda a nação de Israel, de toda a parte, de Dan até Berseba, e mesmo do outro lado do Jordão, da terra de Gileade, juntaram-se numa só vontade perante o Senhor em Mizpá. Os chefes de todo o povo compareceram na assembleia do povo de Deus, uma tropa de 400 000 homens armados de espadas. A notícia daquela mobilização em Mizpá depressa chegou aos ouvidos do povo de Benjamim. Entretanto, os líderes de Israel mandaram chamar o marido da mulher assassinada e quiseram saber como tinha acontecido. “Chegámos de viagem a Gibeá, na terra de Benjamim, para ali passar a noite”, começou ele. “Nessa mesma noite, uns homens de Gibeá chegaram-se à casa onde estávamos e quiseram matar-me; violaram a minha mulher, que acabou por morrer. Por isso, separei o corpo em doze pedaços que mandei por todo o Israel, pois essa gente cometeu um crime terrível. Agora, filhos de Israel, digam o que pensam; deem-me um conselho!” Todos unanimemente responderam: “Nem um só de nós regressará a casa, A nação inteira se uniu nesta tarefa. Foram enviados mensageiros à tribo de Benjamim, perguntando: “Vocês estão ao corrente do que aconteceu de tão terrível no vosso meio? Entreguem-nos essa gente má, da cidade de Gibeá, para que os executemos e expurguemos este mal de Israel.” No entanto, o povo de Benjamim não quis dar seguimento a esta mensagem. Entre estes havia também uns 700 homens canhotos, que eram esplêndidos atiradores com a mão esquerda. Eram capazes de acertar num simples cabelo e nunca erravam. O exército de Israel, sem contar com Benjamim, eram 400 000 homens. Antes da batalha, as tropas de Israel foram primeiro a Betel para pedir conselho a Deus: “Qual a tribo que nos conduzirá contra o povo de Benjamim?” O Senhor respondeu-lhes: “Judá irá à frente.” O exército todo iniciou a marcha na manhã seguinte e acamparam perto da cidade. Os soldados dispuseram em posição frontal à cidade. O certo é que a tropa que defendia a cidade irrompeu corajosamente e conseguiu matar, só naquele dia, 22 000 israelitas. Então os soldados israelitas encheram-se de coragem e tomaram as mesmas posições no local onde tinham lutado no dia anterior. O exército de Israel lamentou-se perante o Senhor, até à noite, perguntando: “Será justo continuarmos a lutar contra os nossos irmãos de Benjamim?” O Senhor respondeu-lhes: “Sim.” Então encetaram um novo ataque contra as tropas de Benjamim. Mais uma vez, nesse dia, perderam 18 000 homens de guerra, todos experientes soldados. Toda a nação foi chorar de novo perante o Senhor, em Betel, jejuando até ao anoitecer, oferecendo holocaustos e ofertas de paz. Naqueles dias, a arca da aliança de Deus encontrava-se em Betel. Fineias, filho de Eleazar, neto de Aarão, era o sacerdote. Os homens de Israel perguntaram ao Senhor: “Iremos de novo atacar os nossos irmãos de Benjamim ou suspendemos a luta?” A resposta foi: “Vão, pois amanhã serão vocês a derrotar Benjamim.” Os israelitas puseram emboscadas ao redor da cidade. Atacaram uma terceira vez, formando em ordem de combate como habitualmente. Quando os de Benjamim saíram da cidade para os enfrentar, a tropa de Israel recuou, com a intenção de afastar os benjamitas da cidade e, tal como antes, estes últimos começaram a matar alguns adversários, ao longo do caminho entre Betel e Gibeá; uns 30 homens morreram assim. As tropas de Benjamim já gritavam: “Estamos a derrotá-los novamente!”, mas não percebiam que se tratava de um movimento estratégico, combinado antecipadamente, fazendo com que os benjamitas, ao persegui-los, se afastassem da cidade. Assim, enquanto o grosso do exército israelita batia em retirada e se reagrupava em Baal-Tamar, os homens que cercavam Gibeá saíram dos seus esconderijos, na área rochosa das imediações da cidade. Especialmente escolhidos de todo o Israel, 10 000 atacaram Gibeá e a luta foi feroz. Os de Benjamim, porém, não pressentiram que iam ser esmagados. O Senhor deu a Israel a vitória sobre o exército benjamita. Naquele dia, os israelitas mataram 25 100 soldados inimigos. Os de Benjamim foram derrotados. Entretanto, a maior parte do exército israelita tinha fugido dos benjamitas, porque contava com os soldados escondidos à volta de Gibeá. Estes correram rapidamente em direção a Gibeá, penetraram na cidade e mataram todos os que lhes apareceram. O exército de Israel e estes soldados escondidos tinham combinado previamente um sinal: quando vissem uma grande nuvem de fumo subindo da cidade, os israelitas no campo de batalha deviam dar meia volta. Entretanto, os benjamitas tinham já matado uns 30 israelitas e diziam entre si: “Derrotámo-los como da primeira vez.” Então surgiu o sinal: uma nuvem de fumo saía da cidade. Quando os benjamitas olharam para trás, ficaram surpreendidos com a cidade em chamas. Os israelitas deram meia volta e os benjamitas entraram em pânico, ao descobrirem que estavam perdidos. Fugindo dos israelitas, correram pelos campos em direção ao deserto, mas não puderam escapar. Foram alcançados entre a coluna principal e os homens que saíam nesse momento da cidade e foram derrotados. Os israelitas tinham-nos apanhado na armadilha e perseguiram-nos sem dó, até ao extremo oriental de Gibeá, matando-os pelo caminho. Perderam a vida 18 000 dos melhores soldados benjamitas. Os restantes procuraram refúgio nos campos até ao rochedo de Rimom. Entre eles foram mortos 5000 e os israelitas não pararam no encalço dos restantes, até Gidom, matando ainda 2000. Desta maneira, a tribo de Benjamim perdeu 25 000 bravos combatentes nesse dia. Ficaram apenas uns 600 que escaparam refugiados no rochedo de Rimom, onde se esconderam durante quatro meses. O exército de Israel regressou e matou toda a população de Benjamim: homens, mulheres, crianças e gado, incendiando todas as cidades e povoações da sua terra. Os israelitas tinham prometido em Mizpá nunca mais deixar as suas filhas casar com homens da tribo de Benjamim. O povo de Israel reuniu-se depois em Betel, diante de Deus, chorando amargamente até à noite. “Ó Senhor, Deus de Israel”, clamavam eles, “porque é que isto teve de acontecer, que agora falte uma das nossas tribos?” Na manhã seguinte levantaram-se cedo, construíram um altar e ofereceram holocaustos e ofertas de paz sobre ele. Então ocorreu-lhes o seguinte: “Houve alguma tribo que não se tivesse feito representar, quando nos reunimos perante o Senhor em Mizpá?” Nessa altura, tinham feito um juramento que se alguém se recusasse a vir, deveria morrer. Levantou-se pois entre todos uma profunda tristeza pela perda de Benjamim a tribo irmã. “Israel perdeu uma parte de si mesmo”, diziam. “Perdemos toda uma tribo do nosso povo. E agora como vamos arranjar mulheres para os poucos que restaram, visto que jurámos, na presença do Senhor, que não lhes daríamos as nossas filhas?” Mandaram então 12 000 dos seus melhores soldados para destruir o povo daquela localidade; mataram os homens todos, as mulheres casadas e ainda as crianças. Contudo, pouparam as virgens em idade de casar; destas, contaram-se 400, que foram trazidas ao campo de Silo. Israel enviou depois uma delegação de paz ao restante do povo de Benjamim que estava no rochedo de Rimom. As 400 raparigas foram-lhes dadas e a delegação regressou; no entanto, nem mesmo assim havia raparigas suficientes para todos os benjamitas. Isto aumentava ainda mais a tristeza dos israelitas, pelo facto do Senhor, como dizia o povo, ter permitido aquela brecha no conjunto de Israel. “O que havemos de fazer para arranjar mulheres para os outros? Logo haviam de ter morrido todas as mulheres de Benjamim!”, exclamavam os anciãos da assembleia. “Tem de haver uma solução, se não uma tribo de Israel vai ficar perdida para sempre. Em todo o caso não poderemos dar-lhes as nossas filhas. Jurámos solenemente que qualquer um de nós que fizesse isso seria maldito de Deus.” A certa altura, alguém apresentou uma ideia: “Anualmente há uma festa religiosa, nos campos de Silo, entre Lebona e Betel, do lado nascente da estrada que vai de Betel a Siquem.” Foram pois dizer aos homens de Benjamim que ainda precisavam de mulher: “Vão-se esconder nessa altura, entre as vinhas. Quando as raparigas de Silo se chegarem para dançar, corram a apanhá-las e levem-nas para vossas mulheres! Quando os pais e os irmãos vierem protestar, diremos: Por favor, sejam compreensivos e deixem-nos ficar com as moças; sabem bem que não conseguimos achar mulheres suficientes, quando fomos destruir Jabes-Gileade; e pela vossa parte também não podiam ter dado as raparigas sem se tornarem culpados.” Os tais homens de Benjamim fizeram assim; raptaram as moças que participavam na celebração religiosa e levaram-nas consigo. Reconstruíram as povoações e continuaram a viver ali. Assim, o povo de Israel regressou cada qual às suas terras. Não havia rei em Israel naquela altura e cada um fazia como lhe parecia melhor. Elimeleque faleceu naquela terra e Noemi ficou sozinha com os dois rapazes. Entretanto, estes casaram com duas raparigas de Moabe, Orfa e Rute. Depois de ali terem vivido cerca de 10 anos, tanto Malom como Quiliom morreram e Noemi viu-se de novo desamparada, sem marido e sem filhos. Por isso, decidiu regressar a Israel na companhia das noras, pois tinha ouvido que o Senhor abençoara o seu povo, dando-lhe novamente boas colheitas. Na companhia das duas noras, deixou o lugar onde tinham estado a viver e tomaram o caminho que as conduziria de volta a Judá. Já a caminho resolveu dizer às noras: “Não preferem antes voltar para as vossas famílias em vez de me acompanharem? Se o fizerem, que o Senhor vos recompense pela vossa bondade com que trataram os vossos falecidos maridos e a mim mesma. Que ele vos abençoe, preparando-vos outro casamento feliz!” E abraçou-as e beijou-as e todas choraram de emoção. “Não”, diziam as moças. “Nós vamos viver contigo junto do teu povo.” Porém, Noemi insistiu: “Fariam melhor em voltar para o vosso povo. Sabem bem que já não há hipótese de eu vir a ter filhos que crescessem e casassem convosco. Não, minhas filhas, voltem para as vossas casas, porque já não tenho idade para tornar a casar. E mesmo que isso acontecesse e que esta mesma noite eu concebesse e viesse a ter filhos, iriam esperar tanto tempo até que eles fossem crescidos? Não, com certeza que não. Oh! Como eu lamento que o Senhor me tenha castigado assim! A minha amargura é maior do que a vossa!” E estiveram a chorar algum tempo até que Orfa, abraçando-se à sogra, decidiu dizer-lhes adeus e regressar à casa paterna. No entanto, Rute foi inflexível e quis ficar com Noemi. “Vê”, disse-lhe Noemi, “a tua cunhada já se foi embora para junto da sua família e dos seus deuses. Faz tu também o mesmo.” Mas Rute respondeu-lhe: “Não me forces a deixar-te. Porque eu irei para onde tu fores; onde passares a viver, aí eu também viverei; o teu povo é o meu e o teu Deus é o meu Deus. Quero vir a morrer onde tu morreres e ficar aí sepultada. Que o Senhor me castigue e faça aquilo que quiser se houver alguma coisa, a não ser a morte, que nos separe.” Quando Noemi viu que Rute tinha tomado uma decisão firme e que nada a podia demover, não insistiu mais. Então ambas vieram para Belém. A povoação inteira comoveu-se à sua chegada. “Mas é mesmo Noemi?”, perguntavam as mulheres. Ela respondia: “Não me chamem mais Noemi (agradável), mas sim Mara (amargurada), porque o Todo-Poderoso me tem afligido muito. Parti cheia e regresso vazia. Porque haveriam de chamar-me Noemi, quando o Senhor parece ter-se desviado de mim e me trouxe tamanha calamidade?” O regresso delas a Belém, vindas de Moabe, deu-se no princípio da colheita da cevada. Noemi tinha em Belém um parente de Elimeleque, seu marido; era um homem muito rico chamado Boaz. Em certa ocasião, Rute disse a Noemi: “Olha, vou sair pelos campos para ver se apanho as espigas que vão caindo atrás daquele que for amável comigo.” Ela respondeu-lhe: “Pois sim, minha filha, vai lá então!” E ela foi e aconteceu que o campo para onde foi era precisamente do tal Boaz que era da família de Elimeleque. Boaz apareceu por lá, vindo da cidade, enquanto Rute ali estava e saudou os ceifeiros: “O Senhor esteja convosco!” E eles responderam: “O Senhor te abençoe!” A seguir, perguntou ao capataz: “Escuta, de quem é aquela rapariga que ali está?” “É a moabita que veio com Noemi. Pediu-me esta manhã se podia apanhar as espigas que os ceifeiros deixavam caídas e tem estado sempre aqui, exceto quando foi descansar um pouco à sombra.” Boaz foi ter com ela para lhe falar: “Minha filha, fica aqui connosco neste campo a apanhar espigas. Não precisas de ir a outros campos. Junta-te às moças que aí estão a trabalhar. Já avisei os rapazes para não te incomodarem; quando tiveres sede vai beber à tua vontade.” Ela agradeceu-lhe muito: “Não há razão para seres assim tão amável comigo. Eu não passo duma estrangeira.” “Sim, eu sei. Mas sei também de toda a afeição e carinho que tens mostrado para com a tua sogra, desde a morte do teu marido, e como preferiste deixar o teu pai e a tua mãe para viver entre estranhos. Que o Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas vieste refugiar-te, te abençoe por tudo.” “Agradeço-te muito. Foste muito bom para mim, não sendo eu sequer uma empregada tua!” À hora do almoço, Boaz chamou-a: “Vem comer connosco.” Rute veio sentar-se junto dos ceifeiros e ele serviu-a generosamente, muito mais do que podia comer. Quando a jovem voltou ao trabalho, Boaz disse ao capataz que a deixasse apanhar mesmo entre os feixes sem lhe dizer nada; e que fizessem de propósito deixar cair espigas, sem que ela se sentisse incomodada por as apanhar. Assim, ficou ali o dia todo. Ao fim da tarde, quando foi juntar o que debulhara, contou uns 22 litros! Trouxe o grão para a povoação e entregou-o à sogra, e também o que lhe sobejara do almoço. “Mas tanto!”, exclamou Noemi. “Onde é que andaste hoje a apanhar? Que Deus abençoe quem foi tão generoso contigo!” E Rute contou-lhe tudo o que se passara, dizendo que o dono do campo se chamava Boaz. “Que o Senhor seja louvado, porque continua a ser bondoso para com os vivos, tanto quanto para com os que já morreram!”, exclamou Noemi comovida. “Porque esse homem é um dos nossos parentes mais chegados!” “Ele disse-me para lá ficar a apanhar espigas, atrás dos ceifeiros, até que todo o campo estivesse ceifado.” “Isso é maravilhoso! Ouve bem: faz conforme ele te disse. Fica lá com as outras moças até ao fim da ceifa. Ali estarás mais segura do que em qualquer outro campo!” Rute assim fez, indo lá apanhar espigas até ao fim das ceifas, tanto da cevada como do trigo. E ficou a viver com a sogra. Depois Noemi disse a Rute: “Minha filha, não será tempo de tentar encontrar-te um marido e de seres feliz? Tenho estado a pensar em Boaz; além disso é nosso parente. Eu sei que esta noite ele vai estar a peneirar a cevada na eira. Por isso, faz o que eu te digo: lava-te, perfuma-te, arranja-te bem e vai lá à eira, mas de modo que ele não te veja antes de ter acabado de jantar. Repara onde se vai deitar e depois levanta-lhe a manta e deita-te aos pés dele. Ele próprio te dirá o que deves fazer.” “Está bem. Vou fazer como me disseste.” E foi à eira nessa noite, seguindo as instruções da sogra. Depois de ter acabado de comer, Boaz deitou-se satisfeito ao pé dum feixe e adormeceu. Então Rute veio sem fazer barulho, levantou a ponta da manta aos pés, e deitou-se. De repente, por volta da meia noite, ele despertou e sentou-se admirado. Havia uma mulher deitada aos seus pés! “Quem és tu?” “Sou eu, senhor, sou Rute. Faz de mim tua mulher, de acordo com as leis de Deus, pois és o nosso parente mais chegado.” “Que o Senhor te abençoe!”, exclamou ele. “Pois estás a ser ainda mais bondosa para com Noemi do que já tens sido. Seria natural que preferisses um rapaz novo, pobre ou rico. Não te preocupes com mais nada, minha filha. Eu tratarei de todos os detalhes referentes a esse assunto, pois todas as pessoas na cidade sabem bem a mulher virtuosa que és. É verdade que sou vosso parente próximo, no entanto, existe um outro que é ainda mais próximo do que eu. Fica aqui esta noite e pela manhã irei falar-lhe. Se ele quiser casar contigo, está certo; caso contrário, tão certo como vive o Senhor, que serás minha mulher. Fica aqui até de manhã.” Ela ficou ali deitada aos seus pés até de madrugada. Logo cedo, antes que o dia rompesse, levantou-se e foi-se embora, porque tinha-lhe dito: “Que não se venha a saber que uma mulher esteve aqui na eira.” Disse-lhe ainda, “Dá-me o teu manto.” E deitou-lhe dentro seis medidas de cevada, como presente para a sogra, ajudando-a a pô-lo às costas. Ela regressou à cidade. “Então, como foi que se passou tudo, minha filha?”, perguntou-lhe Noemi, quando a jovem chegou a casa. Rute contou-lhe e deu-lhe a cevada da parte de Boaz, sublinhando o facto de Boaz não querer deixá-la regressar sem um presente. Noemi disse-lhe: “Tem paciência até vermos o que acontece, pois Boaz não é homem para descansar enquanto não tiver levado a bom termo o seu intento. Vais ver que hoje mesmo tratará de tudo.” Com efeito, Boaz foi até à praça, junto às portas da cidade, e lá encontrou o tal parente que mencionara. “Olha, chega-te aqui!”, chamou-o ele. “Quero falar-te num assunto.” E sentaram-se os dois. Boaz entretanto chamara dez dos anciãos responsáveis pela cidade, pedindo-lhes para se sentarem também ali como testemunhas. Boaz disse ao seu parente: “Como sabes, Noemi regressou de Moabe para a nossa terra. Ela pretende vender a propriedade do nosso familiar Elimeleque. Achei por bem dizer-te, na presença dos que estão aqui sentados e anciãos do meu povo, que fiques com o terreno. Se queres usar do teu direito de parente mais próximo, compra a propriedade, mas, se não queres, diz-mo já, para eu saber o que devo fazer, porque tu és o parente mais próximo e a seguir a ti sou eu.” “Pois, sim, compro-a”, disse-lhe. “Mas repara que o facto de a comprares”, acrescentou Boaz, “implica que cases com Rute, para que possa ter filhos que deem continuidade ao nome da família do marido e venham a herdar as terras.” “Sendo assim, já não posso fazê-lo”, replicou o homem. “Pois um filho dela viria a ser também herdeiro da minha propriedade. Compra-a tu, então.” Naqueles dias era costume em Israel, quando um homem transferia para outro um direito de compra, descalçar o sapato e entregá-lo à outra parte; isto como que validava publicamente o contrato. Por isso, quando o outro disse a Boaz para ser ele a comprar a propriedade, descalçou o sapato e deu-lho. Boaz disse para os anciãos e para a gente que se tinha juntado em volta: “Hoje são testemunhas de que comprei a Noemi a propriedade que pertencia a Elimeleque, a Quiliom e a Malom. Em consequência dessa transação, fico com Rute a moabita, viúva de Malom, como minha mulher, para que possa ter um filho que continue o nome da família do defunto marido.” Todas as pessoas em redor, assim como os anciãos, responderam: “Somos testemunhas. Que o Senhor torne essa mulher que agora entra no teu lar tão fértil como Raquel e Leia, de quem toda a nação de Israel descende! Que possas ser um homem próspero em Efrata e prestigiado em Belém! Que os descendentes que o Senhor te der, dessa jovem mulher, sejam tão numerosos e tão dignos como foram os do nosso antepassado Perez, filho de Tamar e de Judá!” Assim, Boaz casou com Rute. Ela concebeu e teve um filho. E as mulheres da cidade disseram a Noemi: “Bendito seja o Senhor que não deixou de te dar um resgatador! Que venha a ser famoso em Israel! Que venha a dar-te novamente a juventude da alma e seja o teu apoio na velhice, pois é filho da tua nora que tanto te ama e que foi para ti mais afetuosa do que sete filhos!” Noemi criou ela própria o menino. As vizinhas diziam: “É como se Noemi tivesse sido novamente mãe!” E deram ao bebé o nome de Obede. Foi ele o pai de Jessé e o avô do rei David. É esta a sua árvore genealógica, começando com Perez: Perez, Hezrom, Rão, Aminadabe, Nassom, Salmom, Boaz, Obede, Jessé e David. Houve um homem chamado Elcana, da tribo de Efraim, que vivia em Ramataim de Zofim nos montes de Efraim. O nome de seu pai era Jeroão, o do seu avô Eliú, do bisavô Toú e do trisavô Zufe. Tinha duas mulheres, Ana e Penina. Esta última tinha filhos, porém Ana não tinha nenhum. Todos os anos Elcana ia com a sua família até ao tabernáculo em Silo para adorar o Senhor dos exércitos e sacrificar-lhe. Nesse tempo, os sacerdotes em funções eram os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias. No dia em que apresentava o seu sacrifício, Elcana assinalava o facto, dando presentes a Penina e aos seus filhos. Ainda que amasse muito Ana, apenas lhe podia dar um só presente, porque o Senhor lhe tinha fechado a madre. Por essa razão, Ana não recebia presentes que pudesse ela própria passar aos filhos. As coisas complicavam-se ainda mais porque Penina provocava Ana e a humilhava porque o Senhor a tinha deixado estéril. Todos os anos era a mesma coisa. Penina troçava e ria da outra, quando iam a Silo, e Ana chorava muito e deixava de comer. “O que é que se passa, Ana?”, perguntava Elcana. “Porque não comes? Porquê toda essa agitação? É por não teres filhos? Não sou eu para ti melhor do que dez filhos?” Uma noite depois de jantar, quando foram a Silo, Ana dirigiu-se ao santuário do Senhor. Eli, o sacerdote, encontrava-se sentado no lugar habitual ao lado da entrada. Ana encontrava-se profundamente angustiada e chorava amargamente enquanto orava ao Senhor. Fez então este voto: “Ó Senhor dos exércitos, se atentares para a minha tristeza e responderes à minha oração, dando-me um filho, então eu to tornarei a dar; será teu por toda a sua vida e o cabelo nunca lhe será cortado.” Eli reparou que ela mexia os lábios, sem se lhe ouvir a voz, visto que orava em silêncio. Pensou que estaria toldada pelo vinho e dirigiu-lhe estas palavras: “Então tu vens para aqui embriagada? Vai curar a bebedeira para outro sítio.” “Oh! Não, meu senhor!”, replicou ela. “Eu não bebi! Encontro-me é muito triste e estava a abrir o meu coração ao Senhor. Peço-te que não penses que a tua serva é uma mulher qualquer! Tenho estado a orar assim por causa da minha dor e angústia.” “Nesse caso, anima-te! Que o Deus de Israel responda à tua oração, conforme o que lhe pediste!” “Fico-te muito grata.” E regressou mais feliz, começando a alimentar-se normalmente. Toda a família se levantou cedo na manhã seguinte e foi ao tabernáculo adorar o Senhor mais uma vez, regressando depois a Ramá. Elcana e Ana deitaram-se juntos e o Senhor lembrou-se do seu pedido. Na altura própria nasceu-lhe um menino, a quem chamou Samuel. “Porque o pedi ao Senhor ”, disse ela. No ano seguinte, Elcana, Penina e os filhos foram, como todos os anos, ao tabernáculo, para oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir a sua promessa. Mas Ana não foi, pois dissera ao marido: “Prefiro esperar até que o menino seja desmamado; depois então levá-lo-ei ao santuário para ser apresentado diante do Senhor, e ali ficará.” “Está bem. Faz como melhor te parecer”, concordou Elcana. “Faça-se a vontade do Senhor.” Ela ficou em casa e criou o menino até que foi desmamado. Então, ainda muito pequenino, levaram-no à casa do Senhor, em Silo. E levaram consigo um novilho de três anos para o sacrifício, 22 litros de farinha e algum vinho. Depois do sacrifício entregaram a criança a Eli. “Senhor”, disse Ana, “eu sou aquela mulher que aqui esteve certa vez orando ao Senhor. Pedi-lhe que me desse um filho e a minha petição foi ouvida. Venho agora oferecê-lo ao Senhor por toda a sua vida.” Assim, deixou-o no tabernáculo para o serviço do Senhor. E ali eles adoraram ao Senhor. Ana fez a seguinte oração: “Como me sinto feliz no Senhor! Nele tenho novas forças! Agora já posso responder a quem me quer mal, porque o Senhor deu solução ao meu problema. Como me sinto feliz! Ninguém é tão santo como o Senhor. Não há outro deus, nem há rocha alguma como o nosso Deus. Deixem de ser tão orgulhosos e altivos! O Senhor é Deus de sabedoria, e julgará as vossas ações. Os arcos dos heróis foram quebrados. Os que fraquejam foram revestidos de força. Os que viviam na fartura agora dão tudo por uma côdea de pão; e os que andavam a morrer de fome agora são fartos. A que era estéril tem agora sete filhos; e a que ia tendo sempre filhos agora deixou de os ter. O Senhor é quem tira a vida, mas é também quem a dá. Ele faz descer ao mundo dos mortos e levanta novamente os que para lá foram. O Senhor tira a riqueza, mas também sabe dá-la; abaixa, mas também exalta. Tira o pobre do pó da terra, sim, da mais baixa miséria, e trata-o como príncipes, fazendo-o sentar-se em lugares de honra. Toda a Terra pertence ao Senhor; foi ele quem deu estruturas a todo este mundo. Protegerá os seus fiéis; mas o malvado será silenciado, lançado nas trevas. O ser humano não tem capacidade de o enfrentar pela força. Os que contendem com o Senhor serão aniquilados; trovejará desde os céus sobre eles. O Senhor julga sobre a Terra, duma extremidade à outra. Dará força ao seu rei, exaltará o poder do seu ungido.” Então regressaram todos a Ramá, mas sem Samuel; este menino tornou-se um servidor do Senhor, ajudando o sacerdote Eli. No entanto, os filhos de Eli eram pessoas de muito má conduta que não manifestavam qualquer interesse pelo Senhor. Tinham por hábito, sempre que alguém estava a oferecer um sacrifício, e enquanto a carne do animal do sacrifício cozia, mandar um criado, com um grafo de três dentes, pô-lo dentro da caldeira, dizendo que fosse o que fosse que o garfo espetasse seria levado para os filhos de Eli. E faziam isso com todas as pessoas que iam a Silo para adorar. Outras vezes o criado, mesmo antes do rito de queima da gordura sobre o altar, reclamava um determinado pedaço da carne, antes que fosse cozida, para a assar depois. Se aquele que apresentava o sacrifício dissesse: “Leva quanto quiseres, mas deixa primeiro que a gordura seja queimada”, então o criado respondia: “Não. Dá-mo agora, se não tiro-to à força.” Assim, o pecado destes jovens era muito grande aos olhos do Senhor, pois tratavam com desprezo as ofertas que o povo trazia perante Deus. Samuel, apesar de criança, estava já ao serviço do Senhor e vestia uma veste sacerdotal como o dos sacerdotes. Todos os anos a mãe fazia-lhe uma túnica de linho, à medida, que lhe trazia quando vinha com o marido para o sacrifício anual. Antes de regressarem a casa, Eli abençoava Elcana e Ana, pedindo a Deus que lhes desse outros filhos que substituíssem aquele que tinha oferecido ao Senhor. E o Senhor respondeu dando a Ana três rapazes e duas meninas. Samuel continuava a crescer e permanecia ao serviço do Senhor. Eli era já muito idoso, mas mantinha-se ao corrente de tudo o que se ia passando à sua volta. Sabia, por exemplo, que os seus filhos seduziam mulheres que se juntavam em grupos à entrada da tenda do encontro. “Tenho ouvido coisas terríveis sobre o que vocês têm feito e que o povo do Senhor me vem contando”, dizia Eli aos filhos. “Meus filhos, é muito mau o que ouço dizer a vosso respeito. É muito grave levar o povo do Senhor a pecar. O pecado tem sempre o seu castigo, e isso é tanto mais verdade no vosso caso, pois isso que fazem é pecado contra o Senhor!” Mas eles não ligavam ao que o pai lhes dizia; por isso, o Senhor tinha já decidido tirar-lhes a vida. O pequeno Samuel ia crescendo em tamanho e ganhava a simpatia de toda a gente, além de que se tornava objeto do favor do Senhor. Um dia, veio ter com Eli um servo de Deus que lhe comunicou a seguinte mensagem da parte do Senhor: “Não revelei eu o meu poder, quando o povo de Israel era escravo no Egito? Não escolhi o teu antepassado Levi, de entre todos os seus irmãos, para ser meu sacerdote e sacrificar junto do altar, queimar incenso e trazer as vestimentas sacerdotais enquanto me servia? E não dei também as ofertas apresentadas em sacrifício aos sacerdotes? Então porque são tão vorazes em relação às outras ofertas que me são trazidas? Porque tens respeitado mais a vontade dos teus filhos do que a minha? Porque é que tanto tu como eles têm engordado com o melhor dos sacrifícios que me são oferecidos pelo meu povo? Por isso, eu, o Senhor Deus de Israel, declaro que apesar de ter prometido que os descendentes da tribo de Levi seriam sempre meus sacerdotes, seria insensato pensar que os vossos atos poderiam continuar. Eu darei honra apenas a quem me honra e afastarei aqueles que me desprezam. Porei um fim à tua família, para que não me sirvam mais como sacerdotes. Cada um dos seus membros morrerá antes do tempo normal. Nenhum chegará a velho. Terás ocasião de constatar a prosperidade que darei ao meu povo, mas tu e a tua família achar-se-ão em necessidade e angústia. Ninguém entre vós alcançará uma idade avançada. Os que prolongarem o seu tempo de vida será para viverem na amargura e no desgosto; os seus filhos morrerão na força da idade. E para te provar que é verdade aquilo que te foi dito, e que há de acontecer, farei com que os teus dois filhos, Hofni e Fineias, morram no mesmo dia! Depois suscitarei um sacerdote fiel para me servir e fazer tudo aquilo que eu disser. Abençoarei os seus descendentes; e todos os da sua linhagem serão sacerdotes diante do meu ungido para sempre. Então os da tua família se inclinarão perante ele, para pedir dinheiro e comida: ‘Rogamos-te’, dirão eles, ‘que nos deixes ter alguma função entre os sacerdotes, para que tenhamos alguma coisa para comer.’ ” Entretanto, o menino Samuel continuava a servir o Senhor como assistente de Eli. As mensagens diretas, da parte do Senhor, eram muito raras naqueles tempos; mas uma certa noite aconteceu o seguinte: Eli, que já tinha quase perdido a vista, devido à sua muita idade, foi deitar-se no seu quarto. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel dormia no tabernáculo do Senhor, perto da arca. E o Senhor chamou por ele: “Samuel! Samuel!” “Sim! Que é?”, respondeu Samuel. Levantou-se e correu a ir ter com Eli: “Aqui estou. Que desejas?” “Mas eu não te chamei”, disse-lhe Eli. “Vai deitar-te.” Samuel retirou-se e foi deitar-se. Então o Senhor chamou-o novamente e Samuel tornou a saltar da cama e a ir ter com Eli: “Que é? Necessitas de alguma coisa?” “Mas eu não te chamei, meu filho”, respondeu-lhe Eli. “Vai outra vez para a cama.” Samuel nunca tinha recebido uma mensagem da parte de Senhor anteriormente. Então o Senhor chamou por ele terceira vez e, tal como antes, Samuel ergueu-se da cama e apresentou-se junto de Eli: “De que é que precisas?” Mas desta vez Eli deu-se conta de que era o Senhor que falava com a criança. Por isso, disse a Samuel: “Olha, vai deitar-te de novo e se ouvires chamarem-te mais alguma vez, diz assim: ‘Fala, Senhor, porque o teu servo está a ouvir.’ ” E Samuel voltou para a cama. Então o Senhor veio e ali ficou e chamou-o como das outras vezes: “Samuel! Samuel!” E Samuel respondeu: “Fala, Senhor, porque o teu servo está a ouvir.” E o Senhor disse a Samuel: “Vou fazer algo de espantoso em Israel. Vou dar cumprimento a todas as tremendas coisas de que avisei Eli. Avisei-o continuamente, a ele e à sua família, de que os castigaria por causa dos filhos andarem a blasfemar de Deus, sem que tivesse feito nada para os impedir. Agora pois, jurei que os pecados de Eli e dos seus filhos não serão mais perdoados com sacrifícios ou ofertas.” Samuel ficou na cama até amanhecer; depois abriu as portas do tabernáculo, como habitualmente, mas estava com receio de contar a visão a Eli. Então Samuel comunicou-lhe tudo o que o Senhor lhe dissera. “É a vontade do Senhor ”, replicou. “Que ele faça o que melhor lhe parecer.” Enquanto Samuel crescia, o Senhor estava com ele e cumpriu com tudo quanto tinha prometido. Todo o Israel, de Dan até Berseba, ficou a saber que Samuel tinha sido confirmado como profeta do Senhor. O Senhor continuou a transmitir mensagens a Samuel, em Silo, e ele comunicava-as ao povo de Israel. E veio a palavra de Samuel a todo o Israel. Nesse tempo, Israel estava em guerra com os filisteus. O exército israelita estava acampado perto de Ebenezer e os filisteus junto de Afeque. Estes derrotaram Israel, matando 4000 dos seus soldados. Depois do combate, o exército de Israel regressou ao acampamento e os seus anciãos interrogavam-se por que razão o Senhor os teria conduzido àquela derrota: “Vamos trazer para aqui a arca da aliança, desde Silo. Se a trouxermos connosco, o Senhor estará no nosso meio e nos salvará seguramente dos nossos inimigos.” Então mandaram vir a arca da aliança do Senhor dos exércitos que habita entronizado acima dos querubins. Hofni e Fineias, os filhos de Eli, vieram com ela até ao campo da batalha. Quando os israelitas viram chegar a arca da aliança do Senhor, deram um brado de alegria tão forte que até a terra tremeu! “O que é que se passa?”, perguntaram os filisteus. “Para que foi aquele grito no campo dos hebreus?” Quando souberam que a arca do Senhor tinha chegado ali, entraram em pânico. “Um deus veio para o campo deles!”, gritavam. “Ai de nós, pois nunca enfrentámos uma situação destas! Quem é que nos vai salvar destes poderosos deuses de Israel? São os mesmos que destruíram o Egito com pragas, quando Israel lá morava. Lutem agora, ó filisteus, como nunca o fizeram antes, pois doutra forma tornar-se-ão seus escravos, tal como eles já foram nossos escravos!” Por isso, os filisteus lutaram desesperadamente e Israel foi novamente derrotado. Dos homens de Israel morreram 30 000 nesse dia e o restante fugiu para as tendas. A arca de Deus foi capturada e Hofni e Fineias foram mortos. Um homem da tribo de Benjamim veio a correr da batalha e chegou nesse mesmo dia a Silo com a roupa rasgada e a cabeça coberta de terra. Eli estava sentado à beira do caminho, à espera de notícias da batalha, porque o seu coração tremia de cuidados pela segurança da arca de Deus. Quando o mensageiro chegou da frente de combate e relatou o que acontecera, levantou-se um grande clamor em toda a cidade. “O que é este barulho todo?”, perguntou Eli. O mensageiro apressou-se a ir ter com Eli, dando-lhe a conhecer o que sucedera. Eli era um ancião já de 98 anos e perdera totalmente a vista. Quando o mensageiro mencionou o que acontecera à arca, Eli caiu para trás no seu assento, ao lado do portão de entrada, partiu o pescoço e faleceu, porque era muito velho e pesado. Eli julgou a Israel durante 40 anos. Quando a nora de Eli, a mulher de Fineias, que estava grávida, ouviu dizer que a arca fora tomada, que o marido tinha sido morto e o sogro falecera, o processo de dar à luz precipitou-se e começou a sentir as dores de parto, ao mesmo tempo que a vida se ia apagando. Antes de morrer, as mulheres que a assistiam disseram-lhe que estava tudo bem e que tinha tido um rapaz. Ela nada respondeu nem vibrou com a notícia. Apenas murmurou: “Chamem ao menino Icabode (foi-se a glória), porque foi-se a glória de Israel.” Deu esse nome ao bebé, porque a arca de Deus tinha sido capturada e o marido e o sogro tinham morrido. Mas no dia seguinte, quando os cidadãos daquela localidade vieram vê-la logo pela manhã, verificaram que Dagom tinha caído com o rosto virado para o chão perante a arca de Senhor e levantaram-no. Contudo, na manhã seguinte aconteceu a mesma coisa. O ídolo tinha caído novamente sobre o seu rosto perante a arca do Senhor. Só que desta vez tinha a cabeça e as mãos separadas do resto do corpo, caídas no limiar da porta da entrada. Somente o tronco tinha ficado intacto. É por isso que até ao dia de hoje nem os sacerdotes nem os adoradores de Dagom em Asdode, quando entram no seu templo, pisam o limiar da entrada. Então o Senhor começou a castigar duramente o povo de Asdode e das localidades circunvizinhas, por meio de uma praga de tumores. Quando o povo se deu conta do que estava a acontecer, exclamou: “Não podemos conservar aqui mais tempo a arca do Deus de Israel, porque a mão de Deus está a pesar duramente sobre todos nós assim como sobre o nosso deus Dagom!” E foram convocados os governadores das cinco cidades dos filisteus para uma conferência para decidirem o que fazer da arca. Resolveram então levá-la para Gate. Quando a arca lá chegou, o Senhor começou a castigar o povo dali, tanto novos como velhos, com uma praga de tumores, gerando-se um enorme pânico coletivo. Enviaram pois a arca a Ecrom. Mas também o povo daquele lugar, quando a viu chegar, clamou: “Estão a trazer a arca do Deus de Israel para aqui para nos matarem!” Por isso, convocaram novamente os governadores e foi-lhes pedido que mandassem a arca do Deus de Israel de volta para o seu país, se não toda a povoação acabaria por morrer. Porque já a praga tinha começado e se espalhava um grande terror por toda a cidade. Os que não tinham morrido estavam às portas da morte, gravemente doentes, e havia choro por toda a parte. A arca ainda ficou na Filisteia uns sete meses. Os filisteus chamaram, por fim, os seus sacerdotes e adivinhos e perguntaram-lhes: “Que vamos fazer com a arca do Senhor quando a enviarmos de volta para a sua terra?” “Devem devolvê-la com uma oferta”, disseram. “Enviem uma oferta de culpa, para que a praga seja suspensa. Se isso não acontecer, saberão que afinal não foi Deus quem mandou a praga.” “Que oferta de culpa vamos nós mandar?”, perguntaram. “Mandem cinco modelos em ouro do tumor causado pela praga e cinco outros modelos em ouro dos ratos que devastaram a terra toda (as cidades principais e as outras povoações). Se assim fizerem e depois derem louvores ao Deus de Israel é possível que pare de vos perseguir, a vocês e aos vossos deuses. Não sejam teimosos e rebeldes como o Faraó e os egípcios que não deixaram partir Israel sem que Deus os tivesse destruído com pragas tremendas. Façam um carro novo, atrelem-lhe duas vacas que tenham tido crias há pouco tempo e que nunca tenham levado um jugo; separem as crias mantendo-as no estábulo. Ponham a arca do Senhor no carro e ao lado um cofre com os modelos em ouro, dos ratos e dos tumores, e deixem as vacas partir na direção que quiserem. Se atravessarem o limite da nossa terra em Bete-Semes, então ficarão a saber que foi Deus quem trouxe este grande mal sobre nós. Se não, é porque se tratou simplesmente de um acaso, não foi nada enviado por Deus.” Deram pois execução a estas indicações. Duas vacas, que ainda amamentavam as crias, foram atreladas a um carro e os bezerros encerrados no estábulo. Puseram depois a arca do Senhor e o cofre que continha os ratos e os tumores de ouro em cima do carro. Logo as vacas se encaminharam diretamente em direção a Bete-Semes, berrando à medida que iam andando, e os governadores filisteus seguiram o carro até à fronteira. O povo daquela localidade israelita estava a ceifar o trigo no vale e ao verem chegar a arca exultaram de alegria. O carro veio até ao campo de um homem chamado Josué e parou ao pé duma grande rocha. A gente dali fez uma grande fogueira com a própria madeira do carro, matou as vacas e ofereceram-nas em sacrifício ao Senhor como holocausto. Vários homens da tribo de Levi desceram do carro a arca e o cofre com os ratos e os tumores de ouro e colocaram-nos sobre aquela grande pedra. Muitos outros holocaustos e sacrifícios foram oferecidos ao Senhor naquele dia pela povoação de Bete-Semes. Os cinco governadores filisteus, depois de terem visto tudo aquilo, retiraram-se e regressaram a Ecrom nesse mesmo dia. Os cinco modelos de tumores que tinham sido enviados pelos filisteus, como oferta de expiação de culpa ao Senhor, representavam ofertas por cada uma das cinco cidades dos filisteus: Asdode, Gaza, Asquelom, Gate e Ecrom. Os ratos de ouro eram para aplacar a ira de Deus, em representação das outras cidades filisteias, tanto as que tinham muralhas como as povoações do campo que eram controladas pelos cinco governadores principais. Aquela grande rocha em Bete-Semes, que foi testemunha destes acontecimentos, ainda hoje pode ser vista no campo de Josué. Aconteceu, no entanto, que Deus teve de matar setenta homens de Bete-Semes, porque se atreveram a olhar para dentro da arca. O povo entristeceu-se por causa daquela grande desgraça entre a população. “Quem é que pode manter-se perante o Senhor, este Deus santo?”, gritavam. “Para onde havemos de mandar a arca?” E resolveram enviar mensageiros a Quiriate-Jearim dizendo-lhes que os filisteus tinham devolvido a arca do Senhor. “Venham buscá-la!”, pediram-lhes. Então o povo de Quiriate-Jearim veio buscar a arca do Senhor e levaram-na para o outeiro onde estava a casa de Abinadabe. Depois consagraram Eleazar, o filho dele, como guarda responsável pela arca. A arca ficou ali durante 20 anos, e durante esse tempo Israel clamou e esforçou-se por buscar ao Senhor por meio de súplicas. Por fim, Samuel dirigiu-se a todos dizendo: “Se realmente estão desejosos de se voltarem para o Senhor, abandonem os vossos deuses estranhos e os ídolos astarotes. Decidam-se a obedecer unicamente ao Senhor e ele vos livrará dos filisteus.” Foi o que fizeram: destruíram os ídolos de Baal e Astarote e adoraram apenas o Senhor. Depois Samuel disse-lhes: “Venham todos até Mizpá e eu orarei ao Senhor por vocês.” Juntaram-se em Mizpá e numa cerimónia solene tiraram água do poço e derramaram-na perante o Senhor. Jejuaram também todo aquele dia em sinal de tristeza pelos seus pecados. Foi em Mizpá que Samuel se tornou juiz de Israel. Quando os líderes dos filisteus ouviram acerca da grande multidão que se concentrava em Mizpá, mobilizaram o seu exército e avançaram sobre Israel. Os israelitas ficaram aterrorizados ao saberem do avanço do inimigo. “Não cesses de clamar ao Senhor, nosso Deus, por nós para que nos salve e nos livre dos filisteus!”, imploraram a Samuel. Samuel pegou num cordeirinho de mama, sacrificou-o inteiro em holocausto ao Senhor, a favor de Israel, e o Senhor respondeu-lhe. Na altura em que Samuel estava a sacrificar o holocausto, chegaram os filisteus para a batalha. O Senhor fez então trovejar com grande violência sobre os filisteus, que ficaram de tal modo aterrados que os israelitas puderam derrotá-los. Perseguiram-nos desde Mizpá até Bete-Car e feriram-nos por todo aquele caminho. Samuel pegou então numa pedra e colocou-a entre Mizpá e Sem, dando-lhe o nome de Ebenezer (pedra de auxílio), dizendo: “Até aqui nos ajudou o Senhor!” Os filisteus foram subjugados e nunca mais invadiram a Israel durante a vida de Samuel, porque o Senhor estava contra eles. As cidades entre Ecrom e Gate, que tinham sido conquistadas pelos filisteus, tornaram à posse de Israel, porque o exército israelita pôde resgatá-las das mãos dos seus conquistadores filisteus. Houve enfim paz entre Israel e os amorreus naqueles dias. Samuel continuou como juiz de Israel durante o resto da sua vida. Visitava anualmente as diferentes regiões do território, estabelecendo a base do seu tribunal em Betel, Gilgal e Mizpá. Todos os casos de litígio eram-lhe trazidos, de todo o território, a cada uma das três cidades indicadas. Depois regressava a Ramá, porque era ali que morava e era ali que também continuava a julgar os conflitos. Também construiu um altar ao Senhor em Ramá. Sendo já muito idoso, Samuel constituiu os seus filhos como juízes sobre Israel. Joel, que era o mais velho, e Abias estabeleceram os seus postos de juízo em Berseba. Porém, não andavam nos mesmos caminhos do seu pai, antes se deixaram levar pela cobiça, e vendiam-se a troco de presentes, pervertendo a administração da justiça. Finalmente, os chefes de Israel reuniram-se em Ramá para debater o assunto com Samuel. Disseram-lhe que estando já velho, as coisas não corriam da mesma maneira, pois os seus filhos não se conduziam retamente. “É melhor que nos dês um rei, como acontece com todas as outras nações”, pediram. Contudo, este pedido pareceu muito mal a Samuel que foi aconselhar-se com o Senhor em oração. “Faz como eles dizem”, respondeu-lhe o Senhor, “porque é a mim que estão a rejeitar e não a ti. Não querem que seja mais eu a reinar sobre eles. Já desde o tempo em que os tirei do Egito que me têm constantemente esquecido e seguido outros deuses. E agora fazem contigo o mesmo. Faz pois como dizem, mas avisa-os de como se passarão as coisas quando tiverem um rei!” Então Samuel comunicou ao povo o que o Senhor lhe dissera: “Se insistem em ter um rei, saibam que este recrutará os vossos filhos e os porá a correr diante dos seus carros. Outros serão tomados para fazerem as guerras como soldados e oficiais, enquanto outros ainda irão trabalhar para os campos; forçá-los-ão a lavrar as terras da coroa e a ir para as ceifas sem remuneração; terão também de fazer as armas de guerra e os apetrechos dos carros de combate. Levará as vossas filhas, obrigando-as a trabalhar como cozinheiras, pasteleiras e perfumistas na sua corte. Tomará para si as vossas melhores terras, vinhas e olivais, dando-as aos seus amigos. Levará igualmente o dízimo das vossas colheitas e o distribuirá pelos seus favoritos. Tirar-vos-á também os vossos criados e o melhor da vossa juventude; usará os vossos animais para seu proveito pessoal. Pedir-vos-á a décima parte dos vossos rebanhos e vocês mesmo deverão ser seus escravos. Haverão de derramar lágrimas amargas por causa desse rei que agora estão a pedir, mas nessa altura o Senhor não vos há de ajudar.” O povo, contudo, recusou dar seguimento aos avisos de Samuel. “Mesmo assim, queremos um rei!”, responderam. “Queremos ser iguais às outras nações à nossa volta. Será ele quem nos há de governar e conduzir nas batalhas.” Então Samuel expôs ao Senhor aquilo que o povo lhe respondera. E o Senhor voltou a replicar: “Faz como pretendem; dá-lhes um rei.” Samuel acabou por aceder e mandou todos regressarem aos seus lares. Cis era um homem rico e influente da tribo de Benjamim. Era filho de Abiel, neto de Zeror e bisneto de Becorate e ainda trineto de Afias. Tinha um filho, Saul, que era o moço mais bem parecido que havia em Israel e que em altura ultrapassava, acima dos ombros, todos os seus concidadãos. Um dia, os jumentos de Cis extraviaram-se e este mandou Saul com um criado à procura deles. Percorreram toda a zona das colinas de Efraim, a terra de Salisa e ainda a área de Saalim, assim como todo o território de Benjamim, mas não os encontraram. Finalmente, depois de os terem procurado na terra de Zufe, Saul disse ao criado: “Vamos embora, pois o meu pai já deve estar mais preocupado connosco do que com os jumentos!” Mas o moço respondeu-lhe: “Eu pensei numa coisa! Há um profeta aqui nesta terra que é tido em grande consideração por todo o povo, porque tudo quanto diz é verdade. Vamos ter com ele, talvez possa indicar-nos alguma pista para encontrarmos os animais.” “Mas não temos aqui nada com que lhe pagar”, replicou Saul. “Até a comida que trazíamos se acabou; já não temos mais nada.” “Eu tenho aqui uma peça de prata; podemos oferecer-lha e logo se vê o que acontece.” Entraram na cidade e, ao passarem a entrada, viram Samuel que saía para o alto da colina. Samuel estava prevenido. O Senhor tinha-lhe dito no dia anterior: “Amanhã, por esta altura, vou enviar-te um homem da terra de Benjamim. Deverás ungi-lo como chefe do meu povo. Ele irá livrá-lo dos filisteus. Olhei para o meu povo com misericórdia, pois ouvi o seu choro.” Quando Samuel viu Saul, o Senhor disse-lhe: “É este o homem de quem te falei. Ele regerá o meu povo!” Nesse preciso momento Saul aproximou-se de Samuel e perguntou-lhe: “Diz-me, por favor, onde é a casa do vidente.” “Eu sou o vidente”, replicou Samuel. “Sobe a colina à minha frente e comeremos juntos; amanhã dir-te-ei o que pretendes saber e poderás ir embora. Entretanto, não te preocupes mais com os jumentos que se perderam há três dias, porque já foram achados. Mas quem é aquele que o povo de Israel mais procura? Porventura não és tu e a família do teu pai?” “Perdão, senhor”, replicou Saul. “Eu sou da tribo de Benjamim, a mais pequena de Israel, e a minha família é a menos importante da tribo. Deves estar enganado!” Contudo, Samuel levou Saul e o moço para a sala do banquete e fê-los sentarem-se à cabeceira da mesa, dando-lhe um lugar de honra acima dos outros trinta convidados. Samuel entretanto tinha já dado ordens ao cozinheiro para reservar o melhor pedaço de carne, destinado ao convidado de honra. O cozinheiro trouxe-o e pô-lo diante de Saul. “Vá, come!”, disse-lhe Samuel. “Foi para ti que o mandei reservar, mesmo antes de ter convidado estes outros.” E Saul comeu na companhia de Samuel. Depois daquela celebração, quando regressavam à cidade, Samuel levou Saul para o terraço e esteve ali a conversar com ele. Ao romper do dia chamou-o: “Levanta-te! Tens de te pôr já a caminho.” Saul levantou-se e preparou-se e Samuel acompanhou-o até à saída da cidade. Quando chegaram às muralhas, disse a Saul que mandasse o criado à frente e dirigiu-lhe as seguintes palavras: “Recebi da parte de Deus uma mensagem especial para ti.” Pegou então num recipiente contendo azeite e derramou-lho sobre a cabeça; beijou-o no rosto e disse-lhe: “Estou a fazer isto porque o Senhor te designou para seres o rei do seu povo Israel. Depois de me deixares, verás dois indivíduos junto ao túmulo de Raquel, em Zelza, na terra de Benjamim. Dir-te-ão que os jumentos já foram encontrados e que o teu pai está preocupado contigo e a interrogar-se: ‘Onde estará o meu filho?’ Quando chegares ao carvalho de Tabor verás três homens vindo na tua direção, os quais vão adorar a Deus em Betel. Um deles traz consigo três cabritinhos, o outro três pães e o terceiro tem um odre com vinho. Eles hão de cumprimentar-te e oferecer-te dois dos pães que deverás aceitar. Depois disso, virás à colina de Deus, onde está a guarnição dos filisteus. Quando lá chegares encontrarás um grupo de profetas descendo o outeiro, tocando saltérios, tamborins, flautas e harpas, e profetizando ao mesmo tempo. Nessa altura, o Espírito do Senhor virá sobre ti com poder e profetizarás no meio deles; vais sentir-te e agir como uma pessoa diferente. A partir dessa altura, as tuas decisões serão tomadas de acordo com as circunstâncias, porque Deus é contigo. Vai então para Gilgal e espera ali sete dias por mim, porque hei de lá ir para sacrificar holocaustos e ofertas de paz. Dar-te-ei mais instruções quando lá chegar.” Depois de se despedir, ao encetar o caminho de regresso, Deus deu a Saul uma nova atitude e todas as profecias de Samuel se realizaram. Quando ele e o criado chegaram a Gibeá, depararam-se com os tais profetas que vinham na sua direção e o Espírito de Deus desceu sobre ele, começando também a profetizar. Quando as pessoas que o conheciam ouviram aquilo exclamaram: “O quê? Saul um profeta?” E um dos seus vizinhos acrescentou: “Com um pai como o dele?” É esta a origem do provérbio que diz: “Está Saul também entre os profetas?” Quando Saul acabou de profetizar, subiu o resto do outeiro até ao altar. Um tio dele perguntou-lhe nessa altura: “Por onde é que andaste?” “Fomos à procura dos jumentos e não pudemos encontrá-los. Depois resolvemos ir consultar Samuel para lhe perguntar onde poderiam estar os animais.” “Ah, sim? E o que foi que ele disse?”, perguntou-lhe o tio. “Que os jumentos já tinham sido encontrados!” Mas Saul não quis contar o resto; que tinha sido ungido rei. Samuel convocou todo o povo para uma assembleia em Mizpá. E deu-lhe esta mensagem do Senhor, Deus de Israel: “Trouxe-vos do Egito e resgatei-vos de todas as nações que vos torturavam. Contudo, vocês rejeitaram o vosso Deus, aquele que vos livrou de todos os vossos males e de todas as vossas angústias que vos oprimiam, e ainda disseram: ‘Queremos ter um rei!’ Pois bem, apresentem-se todos perante o Senhor, por tribos e famílias.” Samuel chamou todos os chefes de tribo e a tribo de Benjamim foi escolhida por sorteio sagrado. Depois trouxe cada uma das famílias de Benjamim, e foi escolhida a família de Matri. Até que finalmente foi escolhido Saul, filho de Cis. Mas quando foram à sua procura não o encontraram. E perguntaram ao Senhor: “Onde é que ele está? Estará aqui entre nós?” O Senhor respondeu: “Está escondido entre a bagagem.” Foram então buscá-lo. E estando no meio de toda a gente, sobressaía em altura, acima dos ombros, em relação a quem quer que fosse. E Samuel disse ao povo: “Este é o homem que o Senhor escolheu para vosso rei. Não há outro igual a ele em todo o Israel!” E todo o povo gritou: “Viva o rei!” Samuel expôs-lhes novamente os direitos e deveres de um rei, escreveu-os num livro e guardou-o perante o Senhor. Depois despediu o povo. Quando Saul regressou a casa, a Gibeá, formou-se um grupo de homens cujo coração foi tocado por Deus e que se tornaram seus companheiros. No entanto, alguns marginais exclamavam: “Como é que este indivíduo nos pode livrar?” E desprezaram-no, recusando trazer-lhe presentes. Porém, Saul não ligou a isso. Por essa altura, à frente do exército dos amonitas, Naás atacou a cidade israelita de Jabes-Gileade. Os cidadãos de Jabes, no entanto, pediram-lhe tréguas: “Faz connosco uma aliança de paz e te serviremos.” “Está bem!”, disse Naás. “Mas só na condição de esvaziar a cada um o olho direito para vergonha de toda a nação!” “Então dá-nos ao menos sete dias, para ver se conseguimos obter o auxílio de alguém em Israel”, foi a resposta dos anciãos de Jabes. “Se nenhum dos nossos irmãos vier socorrer-nos, aceitaremos a tua proposta.” Quando os mensageiros chegaram a Gibeá, a terra onde Saul vivia, e expuseram o apuro em que se encontravam, toda a gente desatou a chorar e a lamentar-se em voz alta. Saul tinha estado a lavrar no campo e regressava com os bois: “O que é que se passa? Para que é este choro todo?” Contaram-lhe então o que acontecera com as gentes de Jabes. Ao ouvir o relato, o Espírito de Deus desceu poderosamente sobre Saul que ficou extremamente irado. Pegou em dois bois, cortou-os em pedaços e enviou-os por todo o Israel. “Isto é o que vai acontecer aos bois de todo aquele que recusar seguir Saul e Samuel à batalha!”, anunciou. O Senhor fez com que o povo temesse a cólera de Saul e juntaram-se todos a ele como um só homem. Contou-os depois em Bezeque e eram 300 000, além dos de Judá que eram 30 000 homens. Mandou pois mensageiros a Jabes-Gileade que lhes dissessem: “Receberão ajuda amanhã antes do meio-dia.” A alegria foi grande na cidade quando esta mensagem chegou. Os homens de Jabes disseram então astutamente aos seus inimigos: “Rendemo-nos. Amanhã vamos ter convosco e poderão fazer-nos o que vos apetecer.” Na manhã seguinte, logo muito cedo, Saul chegou, dividiu o exército em três destacamentos e caíram de surpresa sobre os amonitas lutando toda a manhã. Os que escaparam com vida foram perseguidos e não ficaram dois juntos. Então o povo disse a Samuel: “Onde está essa gente que dizia que Saul não haveria de ser nosso rei? Sejam trazidos aqui para os matarmos!” Contudo, Saul respondeu: “Ninguém será castigado hoje, porque foi um dia em que o Senhor salvou a Israel!” Depois Samuel disse ao povo: “Venham, vamos todos a Gilgal confirmar Saul como nosso rei.” Ali, numa cerimónia solene perante o Senhor, consagraram-no rei. Depois ofereceram ofertas de paz ao Senhor. E Saul e todo o Israel celebraram felizes. Samuel dirigiu-se de novo ao povo: “Fiz como pediram, dei-vos um rei. Ele está agora à frente dos vossos destinos. Eu estou já velho e encanecido. Partirei, mas os meus filhos ficam convosco. Quanto a mim, estive ao serviço de todo o povo desde a minha meninice. Agora, diante do Senhor e daquele que ele ungiu como rei, digam-me a quem defraudei, ficando-lhe com algum boi ou jumento. Alguma vez vos enganei ou oprimi? Alguma vez me deixei aliciar com presentes? Digam-me, para que possa restituir qualquer dívida que tenha para convosco.” Responderam-lhe: “Em nada nos defraudaste ou oprimiste. Nunca te deixaste vender com presentes de qualquer espécie.” “O Senhor e o seu rei ungido são testemunhas de que nunca vos explorei”, declarou Samuel. “Sim, é verdade”, responderam. “Foi o Senhor quem escolheu Moisés e Aarão”, continuou Samuel, “e que trouxe os vossos antepassados para fora do Egito. Prestem atenção e deixem que vos recorde, perante o Senhor, todas as boas coisas que fez por vocês e pelos vossos pais. Quando os israelitas ainda estavam no Egito e clamaram ao Senhor, enviou-lhes Moisés e Aarão para que os trouxessem para esta terra. Mas em breve se esqueceram do Senhor, seu Deus. Por isso, permitiu que fossem vencidos por Sísera, o general do exército do rei Hazor, pelos filisteus e ainda pelo rei de Moabe. Depois disso, clamaram de novo ao Senhor e confessaram que tinham pecado, desviando-se dele e adorando os ídolos de Baal e de Astarote. E garantiram: ‘Só a ti adoraremos, somente a ti, se nos livrares dos nossos inimigos.’ Ora o Senhor enviou Jerubaal (isto é, Gedeão), Bedan, Jefté e Samuel para vos livrar, e ficaram a viver em segurança. Aconteceu também que, quando estavam com medo de Naás, o rei dos amonitas, vieram ter comigo dizendo que queriam um rei que reinasse sobre vocês. No entanto, o Senhor, vosso Deus, já era o vosso rei; ele foi sempre o vosso rei. Pois bem, aqui está o rei que escolheram. Pediram-no e o Senhor respondeu ao vosso requerimento. Portanto, se temerem e servirem o Senhor e obedecerem aos seus mandamentos, sem se revoltarem contra Deus, e se tanto vocês como o vosso rei seguirem os caminhos do Senhor, vosso Deus, tudo vos correrá bem. No entanto, se se revoltarem contra os mandamentos do Senhor e se recusarem a acatá-los, a sua mão se tornará pesada como foi sobre os vossos antepassados. Deem agora atenção a uma intervenção milagrosa da parte do Senhor. Sabem que normalmente não chove nesta altura do ano, durante o tempo da ceifa. Mas vou orar ao Senhor e ele hoje mandará trovoada e chuva, para que se deem conta da extensão da vossa maldade, pedindo um rei!” Samuel então clamou ao Senhor que mandou trovões e chuva. O povo ficou muito temeroso do Senhor e de Samuel. “Ora já ao Senhor, teu Deus, por nós, se não vamos todos morrer!”, rogaram a Samuel. “Reconhecemos que acrescentámos aos nossos pecados ainda mais este de ter pedido um rei.” “Não estejam com medo!”, tranquilizou-os Samuel. “É certo que fizeram mal, mas agora devem servir o Senhor com todo o vosso coração. Não devem desviar-se dele, de forma alguma. Dos outros deuses, nenhum há que possa salvar-vos. O Senhor não abandonará o seu povo escolhido, pois isso seria um descrédito para o seu grande nome. Ele fez de vocês uma nação especial para si próprio, pois foi essa a sua vontade. Quanto a mim, longe de mim pecar contra o Senhor deixando de orar por vocês e de continuar a ensinar-vos o que é bom e o que é reto. Tão somente temam o Senhor e sirvam-no com sinceridade. Lembrem-se das coisas tremendas que fez por vocês. Mas se continuarem a pecar, tanto vocês como o vosso rei serão destruídos.” Saul tinha 30 anos quando foi investido rei em Israel. O seu reinado durou 40 anos. Escolheu um contingente especial de 3000 combatentes, levando 2000 consigo para Micmás e para a região montanhosa de Betel, enquanto os outros 1000 ficavam com o seu filho Jónatas em Gibeá na terra de Benjamim. O resto do exército foi mandado para casa. Jónatas atacou e destruiu a guarnição dos filisteus em Gibeá. A notícia desta iniciativa militar depressa se espalhou pela terra da Filisteia e Saul mandou tocar a trombeta por todo o Israel, para que os hebreus ouvissem o que aconteceu. Anunciou que tinha destruído a guarnição dos filisteus e avisou as tropas de que se tinham tornado alvo do ódio dos seus inimigos. Por isso, todo o exército israelita foi novamente mobilizado e concentrou-se em Gilgal. Os filisteus recrutaram igualmente um poderoso exército de 3000 carros de combate, 6000 cavaleiros e tantos soldados de infantaria que de longe mais pareciam a areia das praias. Estes acamparam em Micmás a oriente de Bete-Aven. Quando os israelitas viram aquele vasto ajuntamento de tropas inimigas, descontrolaram-se e foram esconder-se em cavernas, matas, penhascos, fendas de rochas e até em túmulos e cisternas. Alguns deles atravessaram o rio Jordão e fugiram para a terra de Gad e de Gileade. Entretanto, Saul ficou em Gilgal e os que estavam com ele tremiam de medo à espera do que poderia acontecer. Samuel tinha avisado anteriormente Saul que deveria esperar sete dias pela sua chegada. Mas Saul, impaciente, vendo que ele não chegava, e perante aquela fuga das tropas, decidiu sacrificar ele próprio o holocausto e as ofertas de paz. Estava a acabar a cerimónia quando Samuel chegou. Saul foi ao encontro dele para o saudar. Samuel perguntou-lhe: “Que foi que fizeste?” “Comecei a ver os meus homens a fugir, e que tu não chegavas na altura prevista, perante toda esta concentração de filisteus em Micmás prontos para o combate. E disse para comigo: ‘Os filisteus estão prontos a atacar-nos em Gilgal e eu nem sequer pedi a ajuda do Senhor!’ Por isso, ainda que com relutância, ofereci o holocausto sem esperar que viesses.” “Procedeste como um louco!”, exclamou Samuel. “Desobedeceste ao mandamento do Senhor, teu Deus. Ele estava a planear fazer de ti e dos teus descendentes reis de Israel para sempre. Sendo assim, a tua governação não terá continuidade. O Senhor pretende um homem segundo o seu coração. Até já escolheu quem há de ser e já o nomeou para rei sobre o seu povo, porque tu não guardaste as ordens que te deu.” Samuel deixou Gilgal e foi para Gibeá na terra de Benjamim. Saul contou aqueles que ainda tinha consigo e viu que eram apenas 600 soldados. Saul e Jónatas, mais esses 600 homens, acamparam em Gibeá na terra de Benjamim; os filisteus continuavam em Micmás. Três companhias de tropa de choque dos filisteus em breve deixaram o acampamento militar e dirigiram-se uma para Ofra na terra de Shual; a outra para Bete-Horom e a terceira em direção à fronteira, acima do vale de Seboim, perto do deserto. Não havia, nessa altura, em toda a terra de Israel um só ferreiro. Os próprios filisteus tinham criado essa situação entre os israelitas, por temerem que fizessem as suas próprias armas, espadas e lanças. Assim, os hebreus eram obrigados, sempre que precisavam de amolar as suas relhas, enxadas, machados ou sachos, a ir ter com os ferreiros filisteus. Chegavam mesmo, para afiar os instrumentos de trabalho, a pagar os seguintes preços: uma relha ou uma enxada, 7,5 gramas de prata; os outros instrumentos ou um aguilhão de bois por metade daquela tarifa. Por essa razão, não havia sequer uma só espada ou lança no meio daquele povo, à exceção de Saul e Jónatas que estavam armados. O desfiladeiro de Micmás estava sob a vigilância dum contingente militar filisteu. Uns dias mais tarde, disse Jónatas ao moço que lhe levava as armas: “Vamos atravessar o vale até à guarnição dos filisteus.” Mas não avisou o pai do que tencionava fazer. Saul mais os seus 600 homens continuavam acampados nos limites de Gibeá, no sítio da romeira de Migrom. Entre a sua gente encontrava-se o sacerdote Aías que era filho de Aitube, irmão de Icabode; Aitube era neto de Fineias e bisneto de Eli, o sacerdote do Senhor em Silo. Ninguém se deu conta da ausência de Jónatas. Para chegar à guarnição inimiga, Jónatas era obrigado a passar por um intervalo entre duas rochas muito íngremes, às quais se tinha dado o nome de Bozez e Sené. A rocha a norte estava defronte de Micmás e a sul diante de Gibeá. “Vamos ter com estes pagãos”, disse Jónatas ao seu escudeiro. “Talvez o Senhor faça um milagre a nosso favor. Para ele não conta o número das tropas inimigas que aqui se encontram!” “Está certo!”, replicou o escudeiro. “Faz como melhor entenderes. Estou contigo de alma e coração seja qual for a tua decisão.” “Então vamos fazer assim: Quando eles nos virem, se disserem, ‘Fiquem onde estão, se não matamos-vos!’, deixamo-nos ficar e esperamos que eles se cheguem. Mas se disserem, ‘Venham, subam até aqui!’, faremos o que nos disserem, pois será o sinal de que Deus nos ajudará a derrotá-los.” Quando os filisteus os viram aproximar-se, gritaram: “Os israelitas já estão a surgir das tocas para onde fugiram!” E disseram para Jónatas e para o seu escudeiro: “Subam até aqui para que vos demos uma boa lição!” “Anda, trepa atrás de mim”, disse Jónatas ao moço escudeiro, “porque Deus vai ajudar-nos a vencê-los!” Então amarinharam, apoiando-se nos pés e nas mãos, e chegando junto dos filisteus começaram a atacá-los. Jónatas derrubava-os e o escudeiro, atrás dele, acabava de os matar. Assim, uns vinte homens foram abatidos no espaço dum simples campo. Foi o suficiente para que repentinamente o pânico se apoderasse de todo o exército filisteu e até da própria tropa de choque. A terra tremeu e um grande medo de Deus caiu sobre todos. As sentinelas de Saul, em Gibeá, no território de Benjamim, olharam e viram aquele vasto exército inimigo dispersando e fugindo em todas as direções. “Vejam quem é que falta, dos nossos”, mandou Saul. Fizeram a chamada e verificaram que era Jónatas e o seu escudeiro. “Tragam aqui a arca de Deus!”, ordenou Saul a Aías. Nessa altura, a arca andava entre o povo. Enquanto Saul falava com o sacerdote, os gritos e o alvoroço no campo dos filisteus ia aumentando cada vez mais, pelo que lhe disse: “Já não há tempo!” Então Saul e os homens que com ele estavam avançaram para a peleja e deram com os filisteus a matarem-se uns aos outros numa tremenda confusão. Até havia, do lado dos filisteus, hebreus que tinham estado com eles e que agora se juntavam aos israelitas. Finalmente, todos aqueles que se tinham escondido nas montanhas, quando viram os filisteus a fugir, vieram também e puseram-se a persegui-los. Foi assim que o Senhor salvou a Israel nesse dia e a batalha continuou para além de Bete-Aven. Jónatas não tinha ouvido a ordem do pai e, pegando num pau, levou algum mel à boca e sentiu-se muito melhor. Foi só nessa altura que alguém lhe comunicou que o seu pai tinha amaldiçoado quem comesse alguma coisa antes do anoitecer. Por isso, todos os homens estavam esgotados e desfaleciam. “É ridículo!”, exclamou Jónatas. “Uma ordem dessas só serve para vos retirar as forças. Vejam como eu me sinto muito mais renovado agora que comi aquele pedaço de mel. Se o povo tivesse tido autorização para comer os alimentos que tivessem encontrado entre os nossos inimigos, poderíamos ter feito uma matança muito maior!” Mesmo assim, cansados e com fome, continuaram a perseguir e a matar filisteus, todo esse dia, desde Micmás até Aijalom, até não poder mais, devido à falta de forças. Por fim, lançaram-se sobre os despojos da batalha, mataram ovelhas, bois, vacas e bezerros e comeram-nos mesmo com sangue. Alguém veio dar a notícia a Saul, dizendo-lhe o que estava a acontecer, que o povo pecava contra o Senhor ao comer carne com o sangue. “Isso é uma infâmia!”, exclamou Saul. “Tragam para aqui uma grande pedra. Vão por entre as tropas e digam para trazerem os bois e os cordeiros e que os comam então, mas depois de terem escorrido o sangue; que não pequem contra o Senhor comendo-o.” Assim fizeram. E Saul construiu um altar. Foi o primeiro altar que edificou ao Senhor. Depois declarou o seguinte: “Vamos perseguir os filisteus durante toda a noite e não deixemos um só com vida!” “De acordo!”, disseram os que estavam com ele. “Faz como melhor entenderes.” No entanto, o sacerdote lembrou: “Temos primeiro de consultar a Deus.” Saul perguntou a Deus: “Deveremos ir atrás dos filisteus? Ajudar-nos-ás a derrotá-los?” Mas Deus nada respondeu durante toda a noite. Então Saul dirigiu-se aos chefes do povo: “Há qualquer coisa de errado! Temos de saber que pecado foi cometido hoje. Tão certo como vive o Senhor, que salvou a Israel, que mesmo que se trate do meu próprio filho Jónatas, certamente morrerá!” Mas ninguém entre o povo lhe disse de que perturbação se tratava. Saul propôs o seguinte: “Jónatas e eu próprio nos poremos aqui e vocês estarão aí defronte de nós.” Todo o povo concordou. Depois Saul dirigiu-se ao Senhor, Deus de Israel: “Porque é que não respondeste à minha pergunta? O que é que está errado? Seremos nós, Jónatas e eu culpados, ou estará o pecado do lado dos outros? Mostra-nos de quem é a culpa.” Jónatas e Saul foram escolhidos, pelas sortes sagradas, como sendo os culpados e o povo foi declarado inocente. Saul então acrescentou: “Sendo assim lancem de novo sortes entre mim e Jónatas.” E desta vez foi Jónatas o escolhido como culpado. “Diz-me o que foi que fizeste”, pediu ele ao filho. “Provei um bocado de mel”, confessou Jónatas. “Foi apenas uma pequena porção na ponta dum pau e agora sei que devo morrer.” “Sim, Jónatas, deves morrer. Que Deus me tire a vida a mim, se não fores efetivamente executado por causa do que fizeste.” No entanto, o povo interveio. “Jónatas, que salvou hoje a Israel, ter de morrer? Isso nunca! Tão certo como vive o Senhor, que não se tocará num só cabelo da sua cabeça, porque foi usado por Deus para fazer hoje um grande milagre entre nós.” Desta forma, o povo o salvou. Saul mandou recolher o exército. Os filisteus deixaram de ser perseguidos e regressaram às suas próprias terras. Já seguro como rei de Israel, Saul enviou o exército lutar contra Moabe, Amon, Edom, os reis de Zobá e os filisteus. Para onde se voltasse triunfava. Cometeu grandes feitos e conquistou os amalequitas, salvando Israel daqueles que antes tinham sido seus conquistadores. Saul tinha três filhos: Jónatas, Isvi e Malquisua; e duas filhas: Merabe e Mical que era a mais nova. A mulher de Saul chamava-se Ainoã e era filha de Aimaaz. O general comandante do exército era o seu primo Abner, filho de Ner, tio de Saul. Ner, o pai de Abner, e Cis, o pai de Saul, eram irmãos, filhos de Abiel. Durante todo o tempo do reinado de Saul, os israelitas combateram os filisteus. E sempre que Saul via um homem valente e forte alistava-o no seu exército. Um dia, Samuel disse a Saul: “Consagrei-te rei de Israel por indicação do Senhor. Por isso, ouve bem isto que o Senhor dos exércitos te diz: ‘Vou castigar os amalequitas por aquilo que fizeram antigamente a Israel, quando lhes fecharam o caminho, ao saírem do Egito. Deverás agora destruí-los totalmente: homens, mulheres, crianças, mesmo os bebés, e também bois, cordeiros, camelos e jumentos.’ ” Saul mobilizou então o exército em Telaim. Eram ao todo 200 000 soldados de infantaria, além de 10 000 só de Judá. Depois avançaram para a cidade dos amalequitas e prepararam uma emboscada no vale. Saul enviou uma mensagem aos queneus dizendo-lhes: “Afastem-se do meio dos amalequitas, senão morrerão com eles. Pois vocês foram bons com o povo de Israel quando este voltava do Egito.” Os queneus seguiram o aviso e retiraram-se. Saul matou amalequitas desde Havila por todo o caminho até Sur, a oriente do Egito. Capturou Agague, o rei dos amalequitas, mas matou o resto do exército. No entanto, Saul e os seus homens conservaram com vida o melhor dos bois e das ovelhas e os cordeiros mais gordos; enfim, tudo o que lhes interessou. Só destruíram o que lhes pareceu desprezável e sem qualidade. Então o Senhor disse a Samuel: “Lamento ter posto Saul como rei; deixou de me seguir, de executar as minhas ordens.” Samuel ficou profundamente contristado, de tal maneira que passou toda a noite a clamar ao Senhor. Logo de manhã cedo foi ao encontro de Saul, mas alguém lhe disse que ele tinha ido ao monte Carmelo erigir um monumento em sua própria honra, seguindo depois para Gilgal. Quando finalmente Samuel o encontrou, Saul veio ter com ele, saudando-o: “Bendito sejas tu do Senhor! Tenho a dizer-te que já dei cumprimento às palavras do Senhor!” “Mas então que balido de ovelhas e que mugido de vacas é esse que estou a ouvir?” “É verdade que o exército poupou o melhor que havia de ovelhas e de vacas, mas é para serem sacrificadas ao Senhor, teu Deus. Tudo o resto destruímos totalmente.” “Não digas mais nada! Escuta agora o que o Senhor me disse esta noite!” “O que foi?”, perguntou Saul. “Numa altura em que ainda não te tinhas em grande consideração, o Senhor fez de ti rei de Israel. Depois mandou-te cumprir esta ação, ordenando-te: ‘Vai destruir completamente esses pecadores amalequitas, até que todos estejam mortos.’ Por que razão não obedeceste ao Senhor? Porque é que te lançaste sobre o despojo, e fizeste o que era mau aos olhos do Senhor?” “Eu obedeci ao Senhor!”, insistiu Saul. “Fiz o que me disse. Trouxe o rei Agague, mas matei o resto dos amalequitas. Só quando as tropas pediram para ficar com o melhor dos animais e do saque é que autorizei, para oferecerem ao Senhor, teu Deus, em Gilgal.” “Alguma vez o Senhor tem o mesmo prazer nos holocaustos e sacrifícios do que na obediência à sua palavra? Obedecer é muito melhor do que sacrificar! Ele está muito mais interessado em que lhe obedeças do que na gordura de carneiros. A rebelião é um pecado tão grave como a própria feitiçaria; a obstinação é uma coisa tão má como a idolatria. Já que rejeitaste a palavra do Senhor, também ele te rejeitou como rei.” “Sim, eu pequei”, admitiu finalmente Saul. “É verdade que desobedeci às tuas instruções e às ordens do Senhor. Tive medo do povo, por isso fiz o que me pediram. Rogo-te que me perdoes o meu pecado desta vez e que venhas comigo adorar o Senhor.” “Não. Não vou contigo. Visto que desprezaste a palavra do Senhor também o Senhor te rejeitou como rei de Israel.” Quando Samuel se ia a retirar, Saul agarrou-o pela aba da capa para o fazer voltar, rasgando-lhe um pedaço. E Samuel disse-lhe: “Também o Senhor arrancou de ti o reino de Israel, hoje mesmo, e o deu a um compatriota melhor do que tu. Aquele que é a força de Israel não mente, nem muda de intenções, pois não é homem!” Saul insistiu: “Pequei, com certeza. Ao menos honra-me perante os chefes e o povo, indo comigo adorar o Senhor teu Deus.” Samuel desta vez foi com ele, e assim Saul adorou ao Senhor. Depois Samuel ordenou: “Tragam-me aqui o rei Agague.” Este chegou-se, todo confiante, pensando consigo mesmo: “Com certeza que o pior já passou. Eles vão seguramente poupar-me a vida!” Contudo, Samuel falou-lhe assim: “A tua espada tirou os filhos a muitas mães, por isso agora será a tua mãe a ser desfilhada.” E a seguir despedaçou-o ali mesmo, perante o Senhor em Gilgal. Samuel regressou a sua casa em Ramá e Saul voltou para Gibeá. Samuel nunca mais tornou a encontrar-se com Saul, embora tivesse ficado com muita pena dele. Também o Senhor ficou triste por o ter posto por rei de Israel. Finalmente, o Senhor disse a Samuel: “Não há razão para continuares a ter pena de Saul, porque o rejeitei como rei de Israel. Pega num recipiente com azeite e vai a Belém encontrar-te com um homem chamado Jessé. Escolhi um dos seus filhos para ser o novo rei.” Samuel perguntou: “Como posso fazer uma coisa dessas? Se Saul vier a saber, tentará matar-me!” “Leva contigo uma bezerra”, continuou o Senhor, “e diz que vais para fazer um sacrifício ao Senhor. Depois convidarás Jessé e mostrar-te-ei como hás de fazer e qual o filho que deverás ungir.” Samuel fez como o Senhor lhe disse. Quando chegou a Belém os anciãos da cidade vieram ter com ele muito receosos: “O que é que se passa? Alguma coisa não está bem?” Samuel respondeu: “Está tudo bem. Eu vim para fazer um sacrifício ao Senhor. Purifiquem-se e venham comigo ao sacrifício.” Cumpriu então o rito da purificação. Fez o mesmo com Jessé e os seus filhos e convidou-os igualmente. Quando chegaram ao local do sacrifício, Samuel reparou em Eliabe e pensou: “É com certeza este o homem que o Senhor escolheu!” Mas o Senhor disse-lhe: “Não julgues pelo seu aspeto ou pela sua estatura. Não é esse aquele que eu escolhi. Eu não julgo da mesma forma que os homens. Estes fazem juízos de acordo com a aparência, mas eu olho para as intenções do coração.” Depois Jessé disse ao seu outro filho, a Abinadabe, que avançasse perante Samuel. E ele disse: “O Senhor também não escolheu este.” A seguir, Jessé mandou Samá avançar. E ele disse: “O Senhor também não escolheu este.” E passaram diante de Samuel os seus sete filhos, sendo todos rejeitados. “O Senhor não escolheu nenhum deles”, disse Samuel a Jessé. “São estes todos os teus filhos?” “Há ainda o mais novo, mas está fora a apascentar as ovelhas.” “Manda-o vir aqui!”, disse Samuel. “Não nos sentaremos à mesa enquanto não tiver chegado.” Jessé mandou que fossem buscá-lo. Era um rapaz de bela aparência, de rosto formoso e saudável. O Senhor disse-lhe: “É este. Unge-o.” Assim, enquanto David estava ali em pé, entre os irmãos, Samuel pegou no azeite que trouxera e derramou-o sobre a cabeça de David. E o Espírito do Senhor veio sobre David desse dia em diante. Samuel regressou depois a Ramá. O Espírito do Senhor deixou Saul e enviou-lhe um espírito atormentador que lhe causava depressão e medo. “Pois sim”, disse Saul. “Arranjem então um harpista.” Um deles disse que conhecia um moço de Belém, filho de um homem chamado Jessé, que não só era um harpista talentoso, mas ainda um indivíduo hábil, corajoso, forte, de boa presença e inteligente. “E o que é ainda mais importante”, acrescentaram, “o Senhor está com ele.” Saul mandou mensageiros a Jessé, pedindo-lhe que lhe enviasse David, o pastor. Jessé respondeu, enviando não só David, mas também um cabrito e um jumento carregado com alimentos e vinho. Logo que viu David, Saul sentiu afeição por ele e fez dele seu pajem de armas. Saul mandou dizer a Jessé: “Peço-te que deixes David fazer parte da minha corte. Estou muito satisfeito com ele.” Sempre que o espírito atormentador atacava Saul, da parte de Deus, David tocava harpa, ele sentia-se melhor e o espírito mau deixava-o. Os filisteus convocaram o seu exército para uma guerra e acamparam entre Socó em Judá e Azeca em Efes-Damim. Saul combatia-os com um ajuntamento de tropas reunidas no vale de Elá. Os filisteus e os israelitas encontravam-se frente a frente em duas colinas opostas com o vale entre eles. Golias, um grande guerreiro originário de Gate, avançou nas fileiras dos filisteus e colocou-se diante das forças militares israelitas. Tratava-se de um verdadeiro gigante; media para cima de 3 metros de altura! Trazia um capacete de bronze e vestia uma couraça que pesava uns 60 quilos. Tinha as pernas protegidas com caneleiras também de bronze e a sua lança, do mesmo metal, tinha vários centímetros de espessura, estando guarnecida com uma ponta de ferro com cerca de 7 quilos. O seu escudeiro ia à frente carregando um grande escudo. Desafio os exércitos de Israel! Mandem vir um homem que combata comigo!” Ao ouvir isto, Saul e todo o exército israelita ficaram extremamente angustiados e aterrorizados. Em Belém de Judá havia um homem da família de Efraim chamado Jessé. Tinha oito filhos e um deles era David. Nesta altura Jessé já era bastante idoso. Os seus três filhos mais velhos, Eliabe, Abinadabe e Samá, tinham seguido o exército de Saul para combaterem os filisteus. Enquanto os três mais velhos permaneciam com o exército do rei, David, que era o mais novo, ia ter com Saul e voltava para Belém, a fim de cuidar do rebanho de seu pai. Durante 40 dias, duas vezes por dia, de manhã e à tarde, o gigante filisteu pavoneava-se perante as forças israelitas. Um dia, Jessé disse ao seu filho David: “Leva estes 22 litros de grão torrado mais estes dez bolos aos teus irmãos. Dá também esses queijos ao capitão e vê se estão a passar bem. Toma conta de algum recado que me queiram mandar.” Saul e as suas forças militares estavam acampados no vale de Elá. David deixou as ovelhas entregues a outro pastor e partiu de manhã cedo levando o que o pai enviava aos filhos. Chegou à entrada do acampamento, quando o exército israelita se preparava para a batalha com gritos e apelos à luta. As forças inimigas encontravam-se frente a frente em disposição de combate. David entregou o seu fardo ao bagageiro e correu para as fileiras à procura dos irmãos. Enquanto conversava com eles, viu Golias avançar entre os pelotões filisteus e gritar o seu desafio às tropas de Israel. E David ouviu-o. Assim que o viram, recuaram aterrorizados. “Viste aquele gigante?”, perguntavam os soldados. “Tem insultado o exército de Israel. O rei ofereceu já uma enorme recompensa a quem o matar: dar-lhe-á uma das suas filhas e toda a sua família ficará isenta de impostos!” David informou-se, junto de alguns que ali estavam perto, sobre o que fariam àquele que matasse o filisteu e parasse com aqueles insultos a Israel. “Quem é este incircunciso filisteu que ousa desafiar os exércitos do Deus vivo?”, perguntava. E davam-lhe sempre a mesma resposta. O irmão mais velho de David, Eliabe, quando ouviu David falar desta maneira, ficou muito zangado: “Afinal o que estás tu aqui a fazer? A quem deixaste aquelas poucas ovelhas lá no deserto? Sei bem como és atrevido e gabarola! Queres é ver a peleja!” “Que foi que eu fiz agora? Fiz apenas uma pergunta!” E afastou-se para continuar a falar com outros, dizendo-lhe toda a gente a mesma coisa. As pessoas começaram a reparar nele e no que dizia e foram contar a Saul. Este mandou chamá-lo. “Que ninguém se angustie por causa daquele gigante”, disse David. “Eu me encarregarei desse filisteu!” “Como é que um rapaz como tu poderia fazer frente a um homem daqueles que é soldado desde a sua mocidade?” David insistiu: “Quando estou a tomar conta das ovelhas do meu pai, se aparece um leão ou um urso para roubar um cordeiro do rebanho, corro atrás dele e tiro-lhe o cordeiro da boca. Se ele se volta contra mim, agarro-o pelas mandíbulas e despedaço-o até morrer. Fiz isto tanto com ursos como com leões; certamente que poderei fazer o mesmo em relação a esse incircunciso filisteu que teve a ousadia de desafiar os exércitos do Deus vivo! O Senhor, que me salvou dos dentes do leão e do urso, salvar-me-á também deste filisteu!” Saul, por fim, consentiu: “Está bem, vai lá e que o Senhor seja contigo!” Saul deu-lhe a sua própria armadura; uma couraça de bronze e uma cota de malha. David colocou aquilo tudo sobre si, cingiu a espada e deu dois ou três passos para ver como se sentia, porque era a primeira vez que usava um equipamento de combate. “Eu nem sequer me posso mexer! Nunca andei com coisas destas!” E tirou tudo. Foi depois buscar à torrente, que por ali passava, cinco pequenos seixos e colocou-os no seu alforge; pegou no cajado e na funda e dirigiu-se na direção de Golias. Este veio também ao seu encontro, com o homem que lhe levava o escudo à sua frente, olhando com desprezo aquele rapaz de rosto corado e de aspeto gentil. “Ouve lá, sou algum cão”, rugiu para David, “para vires contra mim com um pau?” E amaldiçoou David pelos nomes dos seus deuses. “Vem cá para que dê a tua carne a comer às aves e aos animais selvagens”, gritou Golias. David, por sua vez, gritou-lhe como resposta: “Tu vens contra mim armado de lança e escudo, mas eu lutarei contigo em nome do Senhor dos exércitos, o Deus das hostes de Israel, o verdadeiro Deus, a quem tens afrontado. Hoje o Senhor te entregará na minha mão; hei de matar-te e cortar-te a cabeça e depois darei os corpos mortos dos teus homens aos pássaros e às feras; toda a gente ficará a saber que há um Deus em Israel! E todos os que aqui estão hão de ver que o Senhor não depende de armas de guerra para dar cumprimento aos seus planos de salvação; ele atua sem estar sujeito a meios humanos. Esta questão é só dele e ele vos entregará na nossa mão.” Golias aproximou-se e David correu ao seu encontro. Tirando do alforge uma das pequenas pedras, pô-la na funda e feriu o filisteu na cabeça. O seixo cravou-se mesmo na fronte, de tal forma que o homem caiu com o rosto no chão. David conseguiu vencer o gigante filisteu com uma simples funda e uma pedra. Como não tinha espada, correu para Golias, tirou a dele da bainha e matou-o cortando-lhe a cabeça. Quando os filisteus viram aquilo, e que o seu campeão estava morto, desataram a fugir. Os israelitas deram um grande grito de triunfo e foram atrás deles, perseguindo-os até Gate e até às portas de Ecrom. Os corpos dos mortos e dos feridos espalhavam-se por todo o caminho de Saaraim. As tropas israelitas regressaram e despojaram o acampamento abandonado pelos filisteus. Mais tarde, David levou a cabeça de Golias para Jerusalém, mas guardou as armas de Golias na sua própria tenda. Saul, quando viu David dirigir-se na direção de Golias, perguntou a Abner, o general do seu exército: “Abner, a que família pertence este rapaz?” “Realmente não sei!” “Então procura informar-te”, disse-lhe o rei. Depois de David ter matado Golias, Abner trouxe-o junto de Saul com a cabeça do gigante ainda nas mãos. “Fala-me lá do teu pai, meu rapaz”, pediu-lhe Saul. David respondeu: “Chama-se Jessé. Vivemos em Belém.” Depois de Saul ter conversado com David, este encontrou-se com Jónatas, o filho do rei. Imediatamente estabeleceu-se entre os dois uma grande amizade. Jónatas gostava tanto de David como de si próprio. Saul, naquele mesmo dia, tomou David para o seu serviço e não permitiu que voltasse para casa de seu pai. Jónatas fez com David uma aliança, porquanto tornara-se o seu melhor amigo. Como penhor dessa grande amizade deu-lhe a sua capa, a espada, o arco e o cinto que trazia. Tornou-se oficial do exército e todas as diretrizes que recebia executava-as inteligentemente. Essa nomeação foi aplaudida não só pelos que estavam ao serviço do rei como por toda a população. Um dia, quando o exército israelita regressava vitorioso, depois de David ter matado Golias, muitas mulheres de todas as cidades de Israel vieram ao encontro do rei Saul para o aclamar, cantando e dançando, acompanhadas de adufes e de instrumentos de música, no meio de grande alegria. No entanto, nos seus cantares diziam: “Saul matou os seus milhares e David os seus dez milhares!” Saul indignou-se muito com isto: “O quê? Louvam a David por dez milhares e a mim só por milhares? Pouco falta para que façam dele rei!”, pensou consigo. A partir dessa altura, o rei Saul ficou sempre de pé atrás em relação a David. No dia seguinte, o espírito atormentador veio sobre ele, da parte de Deus. Para o acalmar, David começou a tocar a harpa como das outras vezes que tal acontecia. Saul tinha ali ao seu alcance uma lança. Lançou-a repentinamente contra David com a intenção de o cravar contra a parede. Contudo, David desviou-se a tempo e conseguiu escapar-lhe. Isto aconteceu também noutra ocasião. Saul temia-o por o Senhor o ter deixado e estar agora com David. Finalmente, Saul baniu-o da sua presença e demitiu-o do cargo de oficial do exército de 1000 homens e David liderou as tropas nas suas campanhas. David continuava a ser bem sucedido em tudo o que empreendia, porque o Senhor estava com ele. Perante tais factos, Saul receava-o cada vez mais. Todo o Israel e Judá amava a David, porque era ele que liderava as tropas. Um dia, Saul disse a David: “Estou pronto a dar-te a minha filha mais velha, Merabe, por esposa. Mas primeiramente terás de provar que és um verdadeiro soldado, combatendo as guerras do Senhor.” Porque Saul pensava consigo: “vale mais que o mande lutar contra os filisteus e que morra assim do que ser eu a tirar-lhe a vida.” “Quem sou eu para me tornar genro do rei!”, exclamou David. “A família do meu pai pouco vale!” Entretanto, quando chegou a altura de Merabe ser dada a David, Saul casou-a com Adriel, um homem de Meolate. No entanto Mical, outra filha de Saul, amava muito a David e Saul ficou satisfeito ao saber disso. “Aqui está uma oportunidade para que seja morto pelos filisteus!”, pensou Saul. Contudo, ao próprio David disse: “Tens ainda ocasião de te tornares genro do rei; posso dar-te a minha filha mais nova.” Saul deu instruções aos seus homens para que dissessem a David, confidencialmente, que o rei, no fundo, gostava mesmo muito dele; que todos, aliás, gostavam dele e achavam que deveria aceitar a proposta do rei de se tornar seu genro. Ele replicava-lhes: “Ficariam assim tão honrados se a filha do rei casasse com um homem tão pobre e de humilde condição como eu?” Quando vieram contar isto a Saul, este disse-lhes: “Digam a David que o único dote de que preciso é de uma centena de filisteus mortos! Vingança sobre os meus inimigos é tudo o que eu pretendo.” No entanto, o que tinha em mente era que David fosse morto nesse combate. David ficou muito contente com essa proposta. Assim, muito antes que o prazo fixado tivesse acabado, partiu, acompanhado dos seus próprios homens e matou duzentos filisteus, apresentando os seus prepúcios ao rei. E Mical foi-lhe dada por mulher. Quando o rei se deu conta do quanto o Senhor estava com David, e como a sua filha Mical o amava, ficou ainda mais receoso, aumentando o ódio que sentia por ele de dia para dia. Sempre que as tropas dos filisteus atacavam, David era muito mais bem sucedido contra os inimigos do que o resto dos soldados de Saul. Dessa forma, o nome de David tornou-se famoso em toda a terra. Saul apertava agora com os ajudantes e com o próprio Jónatas para assassinarem David. Jónatas, por causa da sua grande amizade por David, contou-lhe o que o seu pai estava a planear. “Amanhã de manhã terás de procurar um lugar escondido nos campos”, disse-lhe. “Pedirei ao meu pai que venha comigo até esse sítio e falar-lhe-ei de ti. Depois te direi tudo o que se tiver passado.” Na manhã seguinte, Jónatas conversou com o pai e falou-lhe bem de David, pedindo-lhe que não se voltasse contra ele. “Nunca fez nada contra ti. Pelo contrário, procurou ajudar-te sempre que pôde. Terás já esquecido que arriscou a vida para matar o Golias e como por meio dele o Senhor deu uma vitória tão grande a Israel? Nessa altura, estavas bem satisfeito com isso, não é verdade? Porque haverias agora de assassinar um homem inocente? Não há razão nenhuma para uma coisa dessas!” Saul acabou por concordar e prometeu: “Tão certo como vive o Senhor que não o matarei!” A seguir, Jónatas chamou David e relatou-lhe o que acontecera. Levou-o depois à presença de Saul e tudo ficou como nos primeiros tempos. Pouco tempo depois, rebentou nova guerra e David conduziu as tropas contra os filisteus, matando um grande número e pondo em fuga o resto do exército inimigo. Uma noite em que Saul estava sentado nos seus aposentos a ouvir David tocar harpa, o espírito atormentador, da parte do Senhor, atacou-o de repente. Havia uma lança ali à mão. Saul atirou-a contra David com o intuito de o matar. Mas este desviou-se a tempo, fugindo para fora para o escuro da noite. A lança ficou cravada na parede. Saul enviou tropas para vigiarem a casa de David e para o matarem pela manhã, quando saísse. “Se não fugires esta mesma noite”, avisou-o Mical, “amanhã de manhã estarás morto.” Ela própria o ajudou a descer por uma janela. Então pegou num ídolo, pô-lo na cama, cobriu-o com cobertores e colocou sobre a almofada uma pele de cabra. Quando os soldados vieram para prender David e levá-lo a Saul, disse-lhes que estava doente, que não podia sair da cama. Saul disse aos soldados para lhe trazerem David mesmo na cama, para que pudesse matá-lo. Quando chegaram para o levar, descobriram que se tratava apenas de uma imagem! “Porque é que me enganaste e deixaste escapar o meu inimigo?”, perguntou Saul a Mical. “Fui obrigada a isso. Ele ameaçou que me matava se não o ajudasse.” Dessa forma, David conseguiu fugir para Ramá, para se encontrar com Samuel, e contou-lhe o que Saul lhe tinha feito. Samuel levou-o para viver consigo em Naiote. Quando Saul soube que David estava em Naiote de Ramá, enviou alguns tropas para o capturar. Ao chegarem e ao verem Samuel e os outros homens de Deus profetizando, o Espírito de Deus veio também sobre eles e começaram a profetizar. Saul, sabendo o que acontecera, enviou mais tropas, mas sucedeu-lhes a mesma coisa. E ainda com um terceiro contingente se passou idêntico facto. Saul decidiu ir ele pessoalmente a Ramá. Chegado ao grande poço de Seco, perguntou: “Onde estão Samuel e David?” Alguém lhe disse que estavam em Naiote. Ao dirigir-se para lá, também o Espírito de Deus veio sobre ele e profetizou, à semelhança dos outros! Despiu a sua roupagem e permaneceu assim todo o dia e toda a noite, profetizando na companhia dos profetas de Samuel. “O quê!”, exclamavam as pessoas, “Saul está também a profetizar?” David fugiu de Naiote de Ramá e encontrou-se com Jónatas. “Que foi que eu fiz?”, perguntou. “Porque é que teu pai procura tirar-me a vida?” “Não é verdade!”, protestou Jónatas. “Tenho a certeza que não está a planear nada, pois sempre me diz tudo o que pensa fazer, mesmo as mais pequenas coisas, e sei que não me esconderia uma coisa como essa. Não, isso não pode ser.” “Tu é que não sabes o que se passa! O teu pai sabe bem da nossa amizade e por isso pensa: ‘Não vou dizer nada a Jónatas para não o magoar.’ A verdade é que ando constantemente a dois passos da morte. Tão certo como vive o Senhor e estar viva a tua alma!” Jónatas respondeu-lhe: “Farei tudo o que puder por ti.” “Amanhã começa a celebração da lua nova. Sempre passei essa ocasião com o teu pai, mas amanhã escondo-me no campo e fico lá até à noite do terceiro dia. Se o teu pai perguntar onde estou, diz-lhe que pedi licença para ir a Belém celebrar com toda a minha família o sacrifício anual. Se responder, ‘Está bem!’, saberei que não há novidade. Mas se ele se encolerizar, será o sinal de que na verdade quer mesmo matar-me. Sê então bondoso para comigo, pois fizemos aliança no Senhor, de sermos como irmãos. Se não, mata-me tu mesmo, se é verdade que pequei contra o teu pai, mas não me entregues!” “Eu não faria uma coisa dessas!”, exclamou Jónatas. “Eu não deixaria de te avisar se soubesse que o meu pai estava com intenções de te matar!” David perguntou: “Como hei de saber se o teu pai está ou não zangado?” “Vamos para o campo”, sugeriu Jónatas. E saíram juntos. Jónatas disse então a David: “Prometo, pelo Senhor Deus de Israel, que amanhã por esta altura do dia, ou depois de amanhã o mais tardar, falarei ao meu pai a teu respeito e dar-te-ei a conhecer definitivamente o que ele sente por ti. Se estiver encolerizado e com a intenção de te matar, então que seja o Senhor a matar-me se eu não te avisar, para que possas escapar e viver. Que o Senhor seja contigo como foi com o meu pai. Lembra-te que deves demonstrar o amor e a bondade do Senhor não só para comigo, durante a minha vida, mas também para com os meus filhos, depois do Senhor ter destruído todos os teus inimigos.” Assim, Jónatas fez uma aliança com a família de David, dizendo: “Que o Senhor vingue os inimigos de David!” Jónatas fez com que David jurasse segunda vez pela grande amizade que havia entre eles; porque lhe queria tanto quanto a si próprio. Então Jónatas disse: “Amanhã é a festa da lua nova; darão pela tua falta à mesa, quando virem o teu lugar vazio. Depois de amanhã, toda a gente perguntará por ti. Por isso, mantém-te no esconderijo onde te encontrares junto à pedra de Ezel. Eu aproximar-me-ei e atirarei três setas em direção à pedra, como se estivesse a atirar ao alvo. A seguir, mandarei um moço ir buscar as setas. Se me ouvires dizer-lhe: ‘Procura-as que estão aí mesmo’, saberás que tudo vai bem e que não há problemas. Tão certo como vive o Senhor. Mas se lhe disser: ‘Mais adiante, as setas estão lá mais para a frente’, isso quererá dizer que deves ir embora, porque o Senhor manda-te ir. Que o Senhor nos ajude a sermos fiéis ao que prometemos um ao outro, pois ele próprio foi testemunha disso.” David escondeu-se no campo. Quando a celebração da lua nova começou, o rei sentou-se para comer no lugar habitual, junto à parede. Jónatas sentou-se à sua frente e Abner ao lado de Saul, ficando vazio o lugar de David. Saul nada disse sobre o facto durante o dia todo, porque supôs que alguma coisa teria acontecido a David que o tivesse tornado ritualmente impuro. Quando no dia seguinte o seu lugar continuou vazio perguntou a Jónatas: “Porque é que David não veio comer nem ontem nem hoje?” “Ele pediu-me se podia ir a Belém tomar parte na celebração da família”, respondeu Jónatas. “O irmão pediu para ele lá estar e eu disse-lhe que fosse.” Saul ficou a arder em ira: “Filho duma prostituta!”, gritou-lhe. “Pensas que não sei muito bem que te aliaste a esse filho de Jessé, envergonhando-te a ti mesmo e à tua família? Enquanto esse indivíduo for vivo, nunca serás rei. Vai já à procura dele para que o mate!” “Que mal fez ele? Porque haveria de morrer?” Então Saul atirou-lhe com a lança para o matar. Jónatas deu-se bem conta de que o pai estava absolutamente decidido a matar David. Deixou a mesa profundamente revoltado e recusou-se a comer naquele dia por causa do vergonhoso comportamento do pai para com David. Na manhã seguinte, como combinado, saiu para o campo e levou consigo um moço para lhe apanhar as setas. “Vai a correr apanhar as setas que eu atirar.” Este partiu e ele atirou uma seta que fez passar adiante dele. Quando o rapaz estava quase a chegar ao sítio gritou-lhe: “A seta está mais à frente. Apressa-te, não demores!” O moço apanhou as setas e veio entregá-las a Jónatas, sem ter percebido as intenções do seu senhor. Só Jónatas e David sabiam o significado daquelas palavras. Jónatas entregou as setas e o arco ao moço e disse-lhe que regressasse à cidade. Logo que o moço partiu, David saiu do lugar onde estava escondido, para o lado sul do campo, veio ao seu encontro, abraçaram-se e ambos choraram. David estava inconsolável! Por fim, Jónatas disse-lhe: “Tem coragem, porque confiámos as nossas vidas e as vidas de nossos filhos nas mãos do Senhor para sempre.” Então separaram-se e Jónatas regressou à cidade. David foi à cidade de Nobe visitar o sacerdote Aimeleque. Este ficou a tremer quando o viu. “Porque é que vens só? Porque não vem ninguém contigo?” “O rei enviou-me cá para um assunto confidencial”, mentiu David. “Disse-me que ninguém deveria saber que estou aqui. Os meus homens sabem onde me hão de encontrar mais tarde. Para já, tens alguma coisa que se coma? Dá-me uns cinco pães ou outra coisa qualquer.” “Nós aqui não temos pão nenhum, a não ser o pão sagrado, que suponho podem levar, contanto que os teus moços se tenham abstido de mulheres.” “Sim, podes estar descansado. Há três dias que os meus homens mantêm a santidade ritual, embora estejamos numa simples campanha. Assim irão mantê-la com muito mais razão!” Como não havia ali outro alimento, o sacerdote deu-lhe daquele pão santo, o pão da Presença que estava colocado perante o Senhor no tabernáculo. Tinha, aliás, sido substituído por pão fresco naquele mesmo dia. Aconteceu que Doegue, edomita, o mais valente dos pastores de Saul, se encontrava ali naquela altura, para se purificar cerimonialmente. David pediu ainda a Aimeleque se tinha à mão uma flecha ou uma espada que pudesse utilizar: “O serviço do rei exigiu-me tamanha pressa que tive de partir precipitadamente e vim desarmado!” “O que eu tenho aqui é a própria espada de Golias, o filisteu, que mataste no vale de Elá. Está embrulhada num pano ali no armário. Leva-a se quiseres, pois aqui não tenho mais nada.” David respondeu: “Era mesmo disso que eu precisava! Dá-ma já.” David foi-se logo embora, pois estava com medo de Saul e veio ter com o rei Aquis de Gate. Contudo, os conselheiros deste não ficaram satisfeitos com a sua presença: “Afinal, não é este um chefe máximo de Israel?”, perguntavam. “Não é aquele a quem o povo honrava com danças e cantando que Saul matou um milhar e David dez milhares?” Ao ouvir estes comentários, David receava o que o rei Aquis lhe pudesse fazer. Então pensou fazer-se passar por louco. Punha-se a arranhar as portas e deixava a baba escorrer-lhe pela boca até à barba. Até que finalmente o rei Aquis disse para a sua gente: “Olhem para este homem louco. Por que razão mo trouxeram até mim? Faltam-me cá doidos para que me tragam ainda mais um? Para que me serve um maluco destes aqui na minha casa?” David deixou Gate e foi esconder-se na caverna de Adulão, onde em breve se lhe juntaram os irmãos e outros parentes. E mais gente começou a ir ter com ele; pessoas que de alguma maneira se encontravam em aperto, endividadas ou revoltadas por alguma razão, de tal forma que reuniu à sua volta uns 400 homens. Mais tarde, David foi a Mizpá, em Moabe, pedir licença ao rei para deixar viver ali os seus pais, sob a proteção real, até saber o que Deus faria dele. E ficaram ali durante todo o tempo em que David se manteve no seu refúgio fortificado. Um dia, o profeta Gad disse a David para deixar a caverna e voltar para a terra de Judá. David foi para a floresta de Herete. Rapidamente a sua chegada a Judá chegou aos ouvidos de Saul, que se encontrava em Gibeá naquela altura, instalado debaixo dum carvalho, entretido com a lança, rodeado da corte. “Ouçam-me bem, gente de Benjamim!” exclamou o rei quando recebeu a notícia. “Será porque David prometeu campos, vinhas e postos no exército para toda a gente? Será por isso que estão todos contra mim? Porque é que não houve um só sequer que me tivesse avisado de que o meu próprio filho tinha feito aliança com David? Vocês não têm pena nenhuma de mim! O meu próprio filho encorajando David a vir aqui matar-me!” Doegue, o edomita, que ali estava, acompanhando a corte de Saul, pediu para falar: “Quando estive em Nobe vi David a conversar com o sacerdote Aimeleque, filho de Aitube. Este consultou o Senhor sobre o que David devia fazer e depois deu-lhe alimento e a espada de Golias.” O rei convocou imediatamente Aimeleque, assim como os outros sacerdotes em Nobe. Quando estes chegaram, Saul gritou: “Ouve lá, filho de Aitube!” Aimeleque respondeu a tremer: “Estou a ouvir, meu senhor!” “Porque é que tu e David conspiraram contra mim? Porque lhe deste comida e uma espada e ainda consultaram Deus a favor dele? Porque é que o encorajaste a revoltar-se contra mim e a vir aqui atacar-me?” “Senhor, haverá entre os vossos servos alguém que vos seja mais fiel do que o vosso genro? Por que razão é ele afinal vosso pajem e dos membros mais honrados da vossa corte? Nem foi esta, com certeza, a primeira vez que consultei Deus a favor dele! Não é justo que eu seja acusado com a minha família dessas coisas que ouvi. Nós nada sabíamos de semelhante conspiração!” “Terás de morrer, Aimeleque, tu e toda a tua família!”, gritou-lhe o rei. E dirigindo-se aos ajudantes disse: “Matem estes sacerdotes, porque são aliados na conspiração de David. Sabiam que ele andava fugido e não me disseram nada!” No entanto, os soldados recusaram fazer mal aos sacerdotes. Então Saul ordenou a Doegue: “Faz tu isso!” Doegue foi e matou-os; oitenta e cinco sacerdotes, no total, todos usando as vestimentas sacerdotais. Depois foi a Nobe, à cidade dos sacerdotes, e matou as famílias dos sacerdotes: homens, mulheres, crianças e até bebés, assim como bois, jumentos e cordeiros. Só Abiatar, um dos filhos de Aimeleque conseguiu escapar e fugir para junto de David. E contou-lhe o que acontecera, como Saul havia morto os sacerdotes do Senhor. Ao ouvir isto, David exclamou: “Eu já estava à espera! Quando vi ali Doegue, fiquei com a certeza de que Saul seria avisado. Fui eu o culpado da morte de toda a tua família. Fica comigo e proteger-te-ei. Só poderão fazer-te mal depois de me tirarem a vida.” Um dia, chegou aos ouvidos de David que os filisteus estavam em Queila a saquear as eiras. E perguntou ao Senhor: “Deverei ir atacá-los?” O Senhor respondeu-lhe: “Sim, vai e salva Queila.” Mas os homens de David disseram: “Nós aqui em Judá vivemos constantemente amedrontados, quanto mais se formos atacar todo o exército dos filisteus!” David tornou a consultar o Senhor e a obter a mesma resposta: “Vai a Queila, pois ajudar-te-ei a vencer os filisteus.” Foram até lá e conseguiram, na verdade, matar os filisteus e confiscar-lhes gado. Dessa forma, o povo de Queila foi salvo. Abiatar, filho de Aimeleque, o sacerdote, acompanhou David nessa expedição, levando consigo o éfode para obter as respostas que Deus dava a David. Saul em breve soube que David estava em Queila. “Ótimo!”, exclamou. “Apanhámo-lo. Deus entregou-mo, pois ficará encurralado numa cidade murada!” Mobilizou todo o exército e marchou em direção a Queila para sitiar David com os seus homens. David teve conhecimento dos planos de Saul e disse a Abiatar para trazer o éfode, a fim de consultar o Senhor sobre o que deveria fazer. “Ó Senhor, Deus de Israel”, disse David, “ouvi que Saul planeia destruir Queila por eu estar aqui. Será que a gente de Queila me entregará na sua mão? E será que Saul vem mesmo cá como ouvi dizer? Peço-te, Senhor, Deus de Israel, que me respondas.” E o Senhor respondeu-lhe: “Sim, ele virá.” “A população de Queila entregar-me-á a Saul?”, insistiu David. “Entregar-te-ão.” Então David e os seus homens, que eram agora uns 600, deixaram Queila e andaram a vaguear por aquela região. Saul depressa soube que David escapara; por isso, não chegou a ir até lá. David vivia agora nas grutas do deserto, na região das colinas de Zife. Saul andava dia após dia à procura dele, mas o Senhor não permitia que o encontrasse. Um dia, perto de Hores, teve conhecimento de que Saul se dirigia a Zife, procurando matá-lo. O seu filho Jónatas foi ter com David e encontrou-se com ele em Hores, encorajando-o a ter confiança em Deus. “Não tenhas receio. O meu pai nunca te encontrará! Tu virás a ser rei em Israel e eu serei o segundo no reino, ao teu lado, e meu pai sabe muito bem disso.” Assim, ambos renovaram a sua aliança de amizade, tomando o Senhor como testemunha. David ficou em Hores e Jónatas voltou para casa. Mas os homens de Zife foram ter com Saul a Gibeá e traíram David: “Sabemos onde é que ele se esconde. Está nas grutas de Hores nas colinas de Haquila, para o sul do deserto. Vem, que nós o apanharemos para to entregar e assim o teu maior desejo será cumprido!” “Louvado seja o Senhor!”, disse Saul. “Até que enfim alguém teve piedade de mim! Vão e verifiquem melhor, para terem a certeza do sítio onde ele está, e tomem nota de quem é que o viu. Olhem que ele é muito astuto. Vejam bem onde é que se esconde, depois voltem para me dar um relato detalhado da situação. Depois irei convosco. Se realmente ele se encontrar ali achá-lo-ei de certeza, nem que tenha de verificar cada centímetro de terreno!” Os homens de Zife regressaram adiante de Saul. Entretanto, David e os seus homens estavam no deserto de Maom, na península arábica, a sul do deserto. David soube que Saul tinha intenções de vir a Zife, por isso, resolveu sair com os companheiros para mais longe, para o deserto de Maom, para os lados do sul. Saul seguiu-os até lá. A certa altura, David e Saul encontravam-se nas vertentes opostas da mesma montanha. Saul começou a cercá-lo e David procurava, com os seus, escapar-lhe, sem o conseguir. Nisto chegou a Saul uma mensagem que os filisteus atacavam de novo a Israel. Por isso, desistiu da perseguição e foi combater os outros. Desde então o lugar onde acampara ficou a chamar-se Rochedo da Separação. David foi dali viver para as grutas de En-Gedi. Voltando Saul de combater os filisteus, disseram-lhe que David tinha ido para os lugares desertos de En-Gedi. Levou então consigo 3000 homens da tropa de elite e foi em busca dele por entre os desfiladeiros rochosos e por caminhos de acesso a cabras-monteses. Chegado a um sítio onde costumavam descansar rebanhos de ovelhas, Saul retirou-se para uma gruta, para fazer as suas necessidades. Aconteceu que nessa gruta estavam justamente escondidos David e os companheiros. “É agora a tua vez!”, murmuraram-lhe os seus homens. “Este é o dia do que o Senhor falava quando dizia: ‘Dar-te-ei o teu inimigo nas tuas mãos e far-lhe-ás como melhor entenderes.’ ” David rastejou com muito cuidado até Saul e cortou-lhe, sem ele sentir, um pedaço da capa que trazia. Contudo, logo a seguir, a sua consciência ficou a acusá-lo. “Não devia ter feito isto”, disse para a sua gente. “É um grave pecado atacar de alguma maneira o rei que foi escolhido pelo Senhor.” E com foi estas palavras que persuadiu os companheiros a não matarem Saul. Depois de deixar aquela gruta, Saul continuou o seu caminho. David saiu e gritou atrás dele: “Ó rei, meu senhor!” Saul olhou para donde vinha a voz e David inclinou-se até ao chão. A seguir, continuou: “Porque é que dás ouvidos às pessoas que te dizem que eu quero o teu mal? Hoje vais ter a prova de que tal não é verdade. O Senhor pôs-te à minha mercê, ali naquela gruta, e até alguns dos meus homens me disseram para te matar; mas eu poupei-te. Porque disse para comigo: ‘Não lhe hei de fazer mal, pois é o ungido do Senhor.’ Olha aqui o que eu tenho nas mãos. É um pedaço da tua capa. Cortei-o sem te ter feito mal algum! Será que isto não te convence ainda de que não tenho a mínima intenção de te fazer mal e de que não pequei em nada contra ti, apesar de andares todo o tempo a perseguir-me? O Senhor é que há de julgar entre nós dois. É possível que ele te venha a matar por aquilo que procuras fazer-me; mas eu, quanto a mim, nunca te farei mal. Como diz aquele velho provérbio: ‘O perverso atua perversamente.’ Apesar da tua maldade, eu não te hei de tocar. Ao fim e ao cabo, atrás de quem anda o rei de Israel? O que o faz andar a perder o seu tempo, perseguindo um indivíduo que vale tanto como um cão morto ou uma pulga? Que seja pois o Senhor a julgar qual de nós tem razão e castigue aquele que é culpado. Ele é o meu juiz e o meu advogado. Ele me defenderá da tua mão!” “David, meu filho, és tu mesmo quem estou a ouvir?”, disse Saul depois de ele acabar. Então desatou a chorar. E acrescentou a seguir: “Tu és mais justo do que eu, porque me pagaste o mal com o bem. Sim, foste extremamente bom para comigo hoje pois, quando o Senhor me entregou nas tuas mãos, não me mataste. Quem mais no mundo deixaria o seu adversário ir embora depois de o ter ao seu alcance? Que o Senhor te recompense pelo bem que hoje me fizeste. Dou-me conta agora de que te tornarás efetivamente rei e que Israel será bem governado sob a tua mão. Jura-me, em todo o caso, pelo Senhor, que pouparás a minha família quando isso acontecer e que não acabarás com a minha descendência.” David prometeu e Saul foi embora. Mas David regressou à gruta. Algum tempo depois, morreu Samuel e todo o Israel se juntou para o funeral, sepultando-o no local próprio da sua família em Ramá. Entretanto, David desceu para o deserto de Parã. Havia um homem rico de Maom que tinha uma grande propriedade, para criação de gado, perto da aldeia do Carmelo. Possuía 3000 ovelhas e 1000 cabras. Naquela altura, encontrava-se na sua quinta tosquiando as ovelhas. O seu nome era Nabal e a sua mulher, que era bela e inteligente, chamava-se Abigail. No entanto, aquele indivíduo, descendente de Calebe, tinha um mau carácter e uma natureza ruim. Ao ouvir que Nabal estava a tosquiar as ovelhas, David mandou dez dos seus companheiros ao Carmelo com uma mensagem, dizendo-lhes que cumprimentassem a Nabal, em seu nome, e que lhe dissessem ainda: “Que seja aumentada a tua prosperidade, bem como a da tua família, e que tenhas muita paz, tu e todos os teus! Disseram-me que estás a tosquiar os animais. Hás de saber certamente que aos teus pastores, enquanto estiveram no nosso meio, nunca lhes aconteceu qualquer mal, e nada lhes faltou enquanto estiveram no Carmelo. Pergunta-lhes e verás se é ou não assim. Envio-te alguns dos meus homens para te pedir um donativo, pois sabemos que é uma altura de fartura para ti. Por favor, dá-nos alguma coisa do que tiveres à mão.” Os moços de David deram o recado e ficaram à espera. “Quem é esse David?”, perguntou. “Quem pensa, esse filho de Jessé, que ele é? Há muitos servos nestes tempos que correm, fugidos aos seus senhores. Porque é que haveria de pegar no meu pão, na minha água, na carne das reses que abati para os meus criados e dá-la a um bando de gente que aparece não se sabe donde?” Os mensageiros de David voltaram e contaram-lhe a resposta de Nabal. “Peguem nas espadas!”, foi a resposta de David, enquanto embainhava a sua. Quatrocentos partiram com ele e duzentos ficaram a guardar as bagagens. Entretanto, um dos criados de Nabal foi contar tudo a Abigail: “David mandou cá uns homens seus, desde o deserto, que falaram com muito boas maneiras ao nosso amo, mas este insultou-os e pô-los na rua. E é verdade que a gente de David nos tratou sempre bem e nada sofremos enquanto estivemos com eles; a bem dizer, de dia e de noite, eles eram como um muro de proteção para nós e para o gado; nada nos foi roubado durante todo o tempo que estivemos com eles. Vê bem o que há a fazer, porque as coisas vão correr mal para o nosso amo e família; ele tem tão mau feitio que ninguém pode falar com ele!” Abigail preparou à pressa duzentos bolos de farinha, dois odres de vinho, cinco ovelhas guisadas, cinco medidas de grão torrado, cem bolos de passas, duzentos bolos de figo e carregou tudo em jumentos, dizendo ao criados: “Vão já andando com isso que eu vou a seguir.” Mas não disse nada ao marido. Quando ela vinha a caminho montada no seu jumento, encontrou-se com David. David tinha vindo a pensar durante a marcha: “Fartámo-nos de fazer bem a este indivíduo, sem recompensa alguma. Protegemos-lhe os rebanhos no deserto, de tal forma que nada lhe foi roubado nem lhe faltou, e agora paga-nos desta maneira o bem que lhe fizemos. Tudo o que acabámos por receber foi insultos. Que Deus me castigue se até amanhã de manhã ficar vivo algum homem naquela casa!” Abigail, ao ver David, desmontou rapidamente e inclinou-se. “Recaia sobre mim a culpa disto tudo, meu senhor”, disse. “Peço-te que ouças aquilo que pretendo dizer-te. Nabal é um homem mau; por favor não ligues ao que diz. É um louco, tal como o seu nome indica. Eu não soube da vinda dos teus mensageiros. E agora, sendo que o Senhor te impediu de matares e de te vingares por tuas próprias mãos, a minha oração a Deus, a favor da tua vida, é que todos os teus inimigos sejam tão castigados como Nabal for. Aqui está um presente que vos trouxe, para ti e para os teus homens. Perdoa-me a ousadia em ter vindo até aqui. O Senhor certamente te recompensará com um reinado firme, assim como aos teus descendentes, pois combates as guerras do Senhor e nunca se viu que agisses erradamente em toda a tua vida. Mesmo quando és perseguido por aqueles que procuram tirar-te a vida, o Senhor, teu Deus, te protege como se estivesses na palma da sua mão! Mas as vidas dos teus inimigos desaparecerão como pedras atiradas numa funda. Quando o Senhor tiver cumprido todas as coisas que te prometeu e te tiver feito rei de Israel, certamente não quererás ter a consciência dum assassino que procurou fazer justiça por suas próprias mãos! Quando o Senhor tiver realizado todas essas grandes coisas a teu favor, peço-te que te lembres de mim, a tua serva!” David respondeu a Abigail desta forma: “Seja bendito o Senhor, Deus de Israel, que te mandou ao meu encontro neste dia! Graças a Deus pelo teu bom senso! Abençoada sejas tu por me teres impedido de matar um homem e de me ter vingado por minhas próprias mãos. Tão certo como vive o Senhor, o Deus de Israel, que me guardou de te fazer mal, que se não tivesses vindo ao meu encontro, nenhum dos homens de Nabal estaria com vida amanhã de manhã.” David aceitou os presentes e disse-lhe que regressasse a casa em paz, porque ele lhe daria o que ela pediu. Quando ela chegou a casa verificou que Nabal tinha dado uma grande festa, como se fosse um rei, e que estava a cair de bêbedo. Por isso, nada lhe disse do seu encontro com David até chegar a manhã seguinte. Nessa altura, estando Nabal já recuperado da embriaguês, quando lhe contou tudo o que acontecera, ele teve um ataque e caiu paralisado. Ficou assim durante dez dias, até que morreu. Foi o Senhor quem lhe tirou a vida. Ao ouvir da sua morte, David disse: “Louvado seja o Senhor! Ele deu a Nabal a recompensa que merecia e preservou-me de ser eu a fazê-lo. Recebeu assim a paga do seu pecado.” David enviou então mensageiros a Abigail, pedindo-lhe que se tornasse sua mulher. Quando chegaram ao Carmelo e lhe apresentaram o pedido, Abigail inclinou-se até ao chão e disse: “Eu sou apenas uma serva, disposta a lavar os pés dos seus criados.” Então aprontou-se para partir. Levou consigo cinco das suas moças, montou no jumento e foi com os homens de David. Assim se tornou mulher de David. David casou também com Ainoã de Jezreel. O rei Saul tinha entretanto obrigado a primeira mulher de David, a sua filha Mical, a casar com um indivíduo de Galim chamado Palti, filho de Laís. Os homens de Zife vieram ter com Saul a Gibeá para dizer-lhe que David tinha voltado para o deserto e estava escondido nas colinas de Haquila. Saul reuniu a tropa de elite, com 3000 combatentes, e foi em sua perseguição. Acampou junto à estrada, à entrada do deserto em que David se escondia. David, sabendo da sua vinda, enviou espias para lhe estudar os movimentos. Uma noite David esgueirou-se pelo acampamento de Saul. Este, acompanhado do general Abner, estava a dormir no centro do acampamento, rodeado de soldados. “Há algum voluntário que queria vir comigo até lá?”, perguntou David a Aimeleque, o hitita, e a Abisai, irmão de Joabe e filho de Zeruía. “Vou eu!”, respondeu Abisai. Desceram ambos até ao lugar onde estava Saul e viram que dormia com a lança ao lado, no chão. “Deus pôs o teu inimigo nas tuas mãos, sem dúvida alguma”, sussurrou Abisai a David. “Deixa-me ir a mim atravessá-lo com a lança. Cravo-o no chão. Faço-o de um só golpe!” “Não! Não o matarás! Quem seria considerado inocente depois de ter matado aquele que foi ungido rei pelo Senhor? Deus certamente o castigará um dia e virá a morrer, ou numa batalha ou simplesmente de velhice. Que o Senhor nunca permita que eu venha a matar aquele que foi escolhido por ele para ser rei! Vou dizer-te o que faremos: tiramos-lhe a lança e a bilha de água e vamo-nos daqui!” David pegou na lança e na bilha de água, e foram-se ambos embora sem que ninguém desse por nada, nem sequer acordasse, pois tinha sido o Senhor mesmo que os tinha posto a dormir. Subiram a encosta do monte que estava em frente ao acampamento e puseram-se a uma distância segura. Então David gritou para Abner e para Saul: “Acorda, Abner!” “Quem é que está a chamar o rei?”, perguntou Abner. “Abner, és um militar exemplar!”, disse-lhe David com ironia. “Onde é que se encontraria em Israel uma pessoa assim? Mas olha que não soubeste guardar o teu senhor, o rei, quando houve alguém que veio para matá-lo! Isso não é bom sinal! Tão certo como vive o Senhor, que deverias morrer por causa do teu descuido. Onde estão a lança e a bilha de água que estavam à cabeceira do rei?” Saul reconheceu a voz de David e disse: “És tu, David, meu filho?” “Sim, senhor, sou eu. Porque me persegues? Que fiz eu? Qual é o meu crime? Se foi o Senhor quem te incitou contra mim, então que ele aceite a minha oferta de paz. Mas se tudo isto não for mais do que o fruto da vontade dum homem, então que esse homem seja amaldiçoado perante o Senhor. Tu fizeste com que fugisse da minha casa e não posso viver com o povo do Senhor; têm chegado a propor-me prestar culto a deuses estranhos. Estarei eu destinado a morrer em terra estrangeira, longe da presença do Senhor? Porque é que o rei de Israel haveria de correr atrás da minha vida, como se fosse uma pulga ou uma perdiz dos montes?” Então Saul confessou: “Atuei erradamente. Regressa a casa, meu filho, e nunca mais hei de fazer-te mal; porque hoje poupaste a minha vida. Tenho sido como um louco e errei profundamente.” “Aqui está a tua lança, meu senhor”, respondeu David. “Que um dos vossos moços venha aqui buscá-la. O Senhor recompensa cada um pela sua retidão e pela sua lealdade. Quanto a mim, ele bem viu que recusei levantar a mão contra o ungido do Senhor, mesmo tendo ele colocado a tua vida nas minhas mãos. Agora, que o Senhor guarde a minha vida, tal como eu poupei a tua hoje. Que ele me livre de todas as minhas tribulações.” E Saul disse a David: “Que Deus te abençoe, meu filho David. Tu farás grandes coisas e serás um grande guerreiro.” Então David foi embora e Saul voltou para o sítio onde estava antes. No entanto, David pensava consigo mesmo: “Pode ainda acontecer que Saul me apanhe. O melhor é tentar a minha sorte entre os filisteus, até que Saul realmente desista e deixe de perseguir-me. Só então estarei novamente seguro.” Por isso, ele e os seus 600 homens e as suas famílias foram viver para Gate, sob a proteção do rei Aquis, filho de Maoque. Tinha consigo as suas duas mulheres, Ainoã de Jezreel e Abigail do Carmelo, a viúva de Nabal. Saul veio a saber, em breve, que David tinha fugido para Gate e que tinha parado de o perseguir. Um dia, David disse a Aquis: “Meu senhor, se não te parecesse mal, gostaríamos de viver antes numa das cidades da província e não aqui na capital.” Então Aquis deu-lhe Ziclague, cidade que ainda hoje pertence aos reis de Judá. E ali viveram entre os filisteus durante um ano e quatro meses. David e os seus homens passavam o tempo a fazer incursões sobre os gesuritas, os girzitas e os amalequitas, povos filisteus que viviam perto de Sur, ao longo do caminho do Egito, desde tempos remotos. Não deixavam alma viva nas localidades sobre as quais caíam e traziam como despojo carneiros, bois, jumentos e camelos, além de vestuário, quando regressavam a casa. “Então onde foi a vossa incursão hoje?”, perguntava-lhes Aquis, quando voltavam. E David respondia: “Caímos sobre o sul de Judá, sobre o povo jerameelita e sobre os queneus.” Porque não ficava ninguém vivo para dizer onde tinham realmente estado. Fizeram isto muitas vezes, enquanto viveram no meio dos filisteus. Aquis acreditava no que David dizia e pensava que o povo de Israel devia aborrecê-lo profundamente. “Ele agora vê-se obrigado a ficar aqui e a servir-me até ao fim da vida!”, pensava o rei. A certa altura, os filisteus convocaram o seu exército e prepararam-se para nova guerra contra Israel. “Vem ajudar-nos a combater!”, disse o rei Aquis a David e aos seus companheiros. “Está bem!”, concordou David. “Verás em breve como podemos ser-vos úteis.” Aquis acrescentou: “Se assim for, tornar-te-ás meu escudeiro para toda a vida.” Entretanto, Samuel tinha morrido e Israel chorara o seu desaparecimento. Fora enterrado em Ramá, a sua cidade natal. Saul também tinha banido da terra de Israel tudo o que era adivinhação e consulta dos espíritos dos mortos. Os filisteus acamparam em Sunem e Saul e os seus batalhões em Gilboa. Quando Saul viu o vasto exército que os inimigos constituíam ficou paralisado de medo. E perguntou ao Senhor o que deveria fazer. No entanto, o Senhor recusou responder-lhe, fosse por sonhos, fosse através do urim ou mesmo pelos profetas. Então Saul deu instruções aos seus ajudantes para tentarem encontrar alguém que consultasse o espírito dos mortos, a quem perguntasse o que devia fazer, e ainda acharam uma mulher que fazia isso, em En-Dor. Saul disfarçou-se, vestindo roupas de gente vulgar e dirigiu-se a casa dela, de noite, acompanhado por dois dos seus homens. E disse-lhe: “Eu pretendia falar com um homem que já morreu. Consegues chamar o seu espírito?” “Queres que eu seja morta?”, protestou ela. “Sabes bem o que Saul mandou fazer a todos os adivinhos e médiuns. Estás a armar-me uma cilada!” Saul jurou-lhe solenemente que não a trairia. Por fim, a mulher disse: “Então quem é que tu queres que eu faça vir em espírito?” Respondeu-lhe: “Traz-me Samuel.” Quando a mulher viu Samuel, gritou: “Enganaste-me! Tu és Saul!” Ele retorquiu: “Não tenhas medo! Diz-me o que é que estás a ver.” Ela disse: “Vejo um espetro subindo da terra.” “Como é que é ele?”, perguntou Saul. “É um ancião e está envolto numa túnica”, respondeu-lhe. Saul viu que se tratava de Samuel e inclinou-se. “Porque é que me incomodaste, fazendo-me subir?”, perguntou-lhe Samuel. “Porque estou profundamente perturbado. Os filisteus estão em guerra contra nós; Deus abandonou-me e não me responde, nem pelos profetas nem por sonhos. Por isso, chamei-te, para te perguntar o que devo fazer.” Samuel respondeu: “E por que razão me perguntas a mim, se o Senhor te deixou e se tornou teu inimigo? Ele atuou como já antes te tinha dito e tirou-te o reino para o dar ao teu rival David. Tudo isto veio sobre ti porque não obedeceste às instruções do Senhor, dando cumprimento ao ardor da sua ira sobre os amalequitas. Todo o exército de Israel será derrotado e destruído amanhã pelos filisteus. Tu e os teus filhos estarão aqui comigo.” Saul caiu estendido no chão, fulminado de terror pelas palavras de Samuel. Ele também se encontrava muito enfraquecido, pois não tinha comido nada durante todo aquele dia. Quando a bruxa viu a sua reação e o estado em que tinha ficado, disse: “Senhor, eu apenas obedeci às tuas ordens com o risco da minha vida. Agora ouve o que eu te digo e deixa-me dar-te alguma coisa para comer, a fim de que ganhes forças para a viagem de regresso.” Ele recusou. No entanto, os companheiros insistiram para que aceitasse a oferta da mulher. Por fim, acedeu e sentou-se à beira da cama. A mulher tinha em casa um bezerro cevado que se apressou a degolar; amassou também farinha e cozeu uns pães sem fermento. Trouxe a comida ao rei e aos seus homens que comeram, encetando depois a viagem de regresso naquela mesma noite. O exército filisteu concentrou-se em Afeque e os israelitas na fonte de Jezreel. Na altura em que os filisteus organizavam as suas tropas em batalhões e companhias, David e os seus puseram-se na retaguarda com o rei Aquis. Então os comandantes filisteus perguntaram: “Que estão estes israelitas aqui a fazer?” “Este é David, o servo do rei Saul, que fugiu de Israel. Já há muito tempo que está comigo e não encontrei nele nada de culpável, desde que aqui chegou”, foi a resposta de Aquis. “Manda essa gente embora!”, pediram-lhe, zangados. “É evidente que não irão à batalha connosco, pois voltar-se-iam contra nós. Haveria melhor maneira de se reconciliarem com o seu senhor do que nos traírem durante a luta? Não te esqueças que este é o homem de quem as mulheres israelitas diziam a dançar: ‘Saul matou os seus milhares e David os seus dez milhares!’ ” Aquis acedeu, por fim, chamando David e os companheiros: “Tão certo como vive o Senhor, que são os melhores homens que eu já tive e a minha vontade é que viessem lutar connosco; mas os meus chefes militares não pensam assim. Por favor, não os irritem e vão embora sossegadamente.” “Que fizemos nós para merecer este tratamento?”, perguntou David. “Porque não posso combater os inimigos do rei, meu senhor?” “No que me diz respeito”, insistiu Aquis, “tu és tão reto como um anjo de Deus. Contudo, os meus comandantes militares receiam ter-te com eles durante a batalha. Por isso, levantem-se cedo e vão embora logo que amanheça.” Então David voltou para a terra dos filisteus, enquanto o exército deles se dirigia para Jezreel. Três dias mais tarde, quando David, acompanhado dos seus homens, chegou a casa, na cidade de Ziclague, constatou que os amalequitas tinham feito uma incursão na cidade e ateado o fogo; mas levaram consigo mulheres, crianças e toda a gente que ali estava, pequenos e grandes, sem matar ninguém. Logo que David e os seus homens chegaram à cidade, observaram que ela fora totalmente incendiada e que tinham levado as suas mulheres, com os filhos e filhas. Ao verem aquilo e ao darem-se conta do que acontecera às suas famílias, todos choraram amargamente. As duas mulheres de David, Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita, encontravam-se também entre os cativos. David estava seriamente preocupado, porque os homens, na sua grande dor por causa dos filhos que os amalequitas lhes tinham levado, falavam até em apedrejá-lo. No entanto, David tomou forças no Senhor, seu Deus. Então disse ao sacerdote Abiatar, filho de Aimeleque: “Traz-me aqui o éfode!” E perguntou ao Senhor: “Vou no encalço deles? Apanhá-los-emos?” O Senhor respondeu-lhe: “Vai, persegue-os e recuperarás tudo o que vos levaram!” David e os outros 600 homens partiram atrás dos amalequitas. Quando alcançaram o ribeiro de Besor, 200 deles estavam de tal maneira exaustos que não conseguiram atravessá-lo. Mas os outros 400 prosseguiram na corrida. “Quem és tu? Donde vens?”, perguntou-lhe David. “Sou egípcio, servo dum amalequita. O meu senhor abandonou-me há três dias porque eu estava muito doente. Vínhamos de uma incursão militar na terra dos cretenses, e também no sul de Judá, e ainda na terra de Calebe; também incendiámos Ziclague.” “Podes dizer-me para onde eles foram?” Ele respondeu: “Se jurares em nome de Deus que não me matas nem me entregas de novo ao meu amo, guiar-te-ei até eles.” Assim levou-os ao acampamento dos amalequitas. Estavam espalhados numa grande área daquela terra, a comer, a beber e a dançar de alegria, por causa do enorme despojo que tinham trazido da Filisteia e de Judá. David e os companheiros saltaram-lhes em cima e lutaram durante a noite toda e no dia seguinte até ao anoitecer. Os únicos que conseguiram escapar foram 400 rapazes que fugiram montados em camelos. David recuperou tudo o que os amalequitas tinham levado e resgatou também as suas duas mulheres. Recuperou todas as pessoas, desde as pequenas às grandes, os filhos e as filhas dos seus homens, e todos os despojos que os amalequitas tinham roubado. Toda a gente juntou o gado e os rebanhos, conduzindo-os diante de si e exclamando: “Este é o teu despojo, David!” Quando chegaram de novo ao ribeiro de Besor e se juntaram aos tais duzentos que não tinham podido continuar, por se encontrarem esgotados e sem forças, David saudou-os pacificamente. Contudo, alguns dos que vinham com David, homens ruins e perversos, começaram a dizer: “Esses não vieram connosco, por isso, não hão de ter parte no despojo. Levem as mulheres e os filhos e vão embora.” “Não, meus irmãos! O Senhor guardou-nos e ajudou-nos a derrotar o inimigo. Numa altura destas alguém poderia dar ouvidos a uma tal proposta? Vamos repartir o que obtivemos irmãmente com os que foram à batalha e com os que guardaram as bagagens.” Foi assim que David fez desta uma lei para todo o Israel que ainda hoje é válida. Quando chegou a Ziclague enviou parte do saque aos anciãos de Judá: “Isto é um presente tirado aos inimigos do Senhor ”, escreveu-lhes. Os filisteus atacaram e derrotaram as tropas israelitas, as quais fugiram, tendo sido liquidadas no sopé do monte Gilboa. Os filisteus foram atrás de Saul e dos seus três filhos e mataram Jónatas, Abinadabe e Malquisua. A luta cresceu depois com violência em volta de Saul e os frecheiros conseguiram feri-lo gravemente. Então ele gritou ao seu escudeiro: “Desembainha a tua espada e atravessa-me com ela, antes que esta gente incircuncisa me mate, gabando-se ainda do que fizeram.” Mas o homem teve medo de fazer tal coisa. Por isso, Saul pegou na sua própria espada e atirou-se sobre ela. Nessa altura, o escudeiro, vendo que Saul estava morto, matou-se da mesma forma. Assim, Saul e o seu pajem, os seus três filhos e as suas tropas morreram no mesmo dia. Quando os israelitas do outro lado do vale, para lá do Jordão, ouviram que os seus compatriotas tinham fugido e que Saul e os filhos tinham morrido, abandonaram as cidades, e os filisteus foram viver nelas. No dia seguinte, quando os filisteus vieram para despojar os mortos, encontraram os corpos de Saul e dos seus três filhos no monte Gilboa. Cortaram a cabeça a Saul, tiraram-lhe as armas e anunciaram-no nos templos dos seus deuses e ao seu povo por toda a terra. As suas armas foram colocadas no templo de Astarote e o seu corpo pendurado no muro de Bete-Seã. Quando o povo de Jabes-Gileade ouviu o que os filisteus tinham feito ao corpo de Saul, os seus guerreiros, os mais valentes, foram de noite até Bete-Seã, retiraram de lá os corpos de Saul e dos filhos e trouxeram-nos para Jabes onde os queimaram. O que restou enterraram sob o carvalho de Jabes, jejuando depois por sete dias. Saul morrera e David voltara para Ziclague após ter derrotado os amalequitas. Aí permaneceu dois dias. No terceiro dia chegou um homem do exército de Saul com a roupa rasgada e com terra na cabeça em sinal de consternação. Aproximando-se de David inclinou-se até ao chão em atitude de profundo respeito. “Donde vens?”, perguntou David. “Do exército de Israel”, replicou o homem. “Que foi que aconteceu? Como é que correu o combate?” O homem respondeu: “Todos fugiram em debandada. Milhares foram mortos e feridos no campo de batalha. Saul e Jónatas também morreram.” “E como sabes que foram mortos?”, insistiu David. “Porque chegando, por acaso, ao monte de Gilboa, vi Saul inclinado sobre a sua espada e a cavalaria e os carros de combate do inimigo apertando a luta contra a posição em que se encontrava. Olhando para trás, Saul reparou em mim e gritou-me que fosse ter com ele e perguntou-me: ‘Quem és tu?’ ‘Sou amalequita’, respondi. ‘Mata-me’, pediu-me ele, ‘e tira-me desta angústia, porque estou a sofrer muito e a vida está presa a mim.’ Então matei-o, pois sabia que não poderia continuar com vida. Depois peguei na sua coroa e numa pulseira que trazia no braço e trouxe-as para ti, meu senhor.” David e os seus homens rasgaram a roupa que tinham vestida, em manifestação de tristeza, ao ouvirem aquelas notícias. Choraram, lamentaram-se e jejuaram todo o dia por Saul e pelo seu filho Jónatas, assim como pelo povo do Senhor e pelos homens de Israel que tinham morrido naquele dia. David disse àquele que lhe trouxera as notícias: “Donde és tu?” Ele respondeu: “Eu sou amalequita.” “E como te atreveste a matar o rei ungido por o Senhor?” E David, dirigindo-se a um dos seus mancebos, disse: “Mata-o!” O rapaz atravessou-o com a sua espada e ele morreu. E acrescentou: “Foste vítima da tua própria condenação, porque confessaste, tu mesmo, ter matado o rei ungido do Senhor.” David compôs então uma elegia à memória de Saul e Jónatas. E ordenou que fosse cantada através de todo o Israel. É este o texto, tal como está no Livro do Justo: “Ó Israel, aqueles que eram para ti o teu orgulho e a tua alegria jazem mortos sobre as colinas. Morreram os poderosos heróis! Não o contes aos filisteus, para que não rejubilem. Esconde-o das cidades de Gate e de Asquelom, para que povos pagãos não venham a rir-se triunfantemente. Ó montes de Gilboa, que não caia mais chuva, nem sequer orvalho sobre vós; que não cresçam searas nas vossas vertentes. Porque foi aí que o escudo dos heróis foi tristemente arrojado no chão; o escudo de Saul não mais ungido com óleo. Tanto Saul como Jónatas eram capazes de liquidar os seus mais fortes inimigos; nunca regressavam da batalha de mãos vazias. Como eram amados! Eram pessoas admiráveis! Tanto Saul como o seu filho! Sempre estiveram juntos, tanto na vida como na morte! Eram mais velozes do que águias, mais fortes do que leões. Por isso, mulheres de Israel, chorem agora por Saul. Ele enriqueceu-vos, vestiu-vos de finas roupas e deu-vos belos adornos. Foram valentes heróis que morreram no campo da batalha. Jónatas foi morto sobre a colina. Como eu choro por ti, meu irmão Jónatas, como eu te amava! O teu amor tinha mais profundidade para mim do que o amor de uma mulher. Foram valentes homens que caíram. Despojados das suas armas, morreram!” Então David perguntou ao Senhor: “Deverei voltar para Judá?” O Senhor respondeu-lhe: “Sim.” Perguntou ainda: “Para que cidade devo ir?” E o Senhor respondeu: “Para Hebrom.” David e as suas mulheres, Ainoã de Jezreel e Abigail, a viúva de Nabal do Carmelo, mais os seus homens com as respetivas famílias, mudaram-se para Hebrom. Os líderes de Judá vieram dar-lhe as boas vindas e consagraram-no rei sobre o povo de Judá. Ao saber que os homens de Jabes-Gileade tinham tido o cuidado de fazer o enterro de Saul, mandou-lhes uma mensagem: “Que o Senhor vos abençoe por terem honrado dessa maneira a memória do vosso rei, fazendo-lhe um funeral digno. Que o Senhor vos trate com bondade e fidelidade! Eu também vos retribuirei o bem que praticaram. Agora peço-vos que aceitem ser meus fortes e fiéis súbditos, visto que Saul já está morto. A tribo de Judá também já me designou como seu rei.” No entanto Abner, comandante das tropas de Saul, foi a Maanaim para fazer de Isbosete rei. O seu território era Gileade, Asuri, Jezreel, Efraim, a tribo de Benjamim e o restante Israel. Isbosete tinha 40 anos nessa altura. Reinou em Israel durante dois anos. Mas a tribo de Judá manteve-se leal a David. Entretanto, David reinava em Hebrom. Durante sete anos e meio foi rei do povo de Judá. Um dia, o general Abner levou as tropas de Isbosete de Maanaim até Gibeão. Joabe, filho de Zeruía, general de David, levou as suas tropas ao encontro das primeiras. Ficaram frente a frente junto ao poço de Gibeão, uns do lado de cá e os outros do lado oposto. Abner sugeriu a Joabe o seguinte: “Vamos pôr alguns dos nossos moços a defrontarem-se à espada diante de nós!” E Joabe acedeu. Foram escolhidos doze combatentes de cada lado para se confrontarem mortalmente. O combate começou e cada um, pegando na cabeça do outro, enfiou-lhe a espada no corpo, acabando todos por morrer assim. Aquele lugar ficou conhecido como o Campo das Espadas. Os dois exércitos começaram então a luta. No final do dia, Abner e os seus homens tinham sido derrotados por Joabe. Abisai e Asael, irmãos de Joabe, também se encontravam na batalha. Asael era um grande corredor; corria como uma gazela. Este foi em perseguição de Abner, correndo sem descanso, absolutamente determinado a apanhá-lo. A certa altura, Abner olhou para trás, viu-o e perguntou-lhe: “Tu és Asael?” Ao que lhe respondeu: “Sim, sou!” “Aviso-te que não venhas atrás de mim. Vai antes em perseguição dum soldado qualquer e fica com os despojos.” Mas Asael não desistiu e continuou no seu encalço. Abner tornou a gritar-lhe: “Sai de trás de mim! Eu nunca mais poderia aparecer ao teu irmão Joabe, se te matasse!” Asael recusou-se a desistir. Então Abner trespassou-lhe o ventre com a extremidade mais grossa da sua lança que lhe saiu do outro lado. Asael ficou ali estendido e toda a gente que passava parava para ver o corpo morto. Joabe e Abisai puseram-se, por sua vez, em perseguição de Abner. Estava já o Sol a pôr-se quando chegaram ao outeiro de Amá, em frente de Giá, no caminho para o deserto de Gibeão. As tropas de Abner, formadas por contingentes de soldados de Benjamim, reagruparam-se no cimo da colina. Dali Abner gritou para Joabe no vale: “Será que as nossas tropas hão de continuar a matar-se umas às outras? Quando é que pensas dizer à tua gente que deixe de perseguir os irmãos?” “Garanto-te, diante de Deus, que mesmo que não tivesses falado, os homens teriam continuado a persergui-los até a manhã nascer”, respondeu-lhe Joabe. Tocou a trombeta e os seus homens pararam de correr atrás das tropas de Israel. Nessa noite, Abner e os seus soldados retiraram-se através da planície do Jordão. Atravessaram o rio, caminharam durante toda a manhã seguinte, até que chegaram a Maanaim. As tropas de Joabe também se retiraram para a sua terra. Quando contaram as baixas verificaram que tinham perdido apenas 19 homens, além de Asael. Da parte de Abner tinha havido 360 perdas, todas da tribo de Benjamim. Os soldados de Joabe levaram o corpo de Asael para Belém e enterraram-no na sepultura do seu pai. Depois marcharam toda a noite e chegaram a Hebrom ao romper do dia. Estes foram os acontecimentos que deram origem a uma longa guerra entre os que tinham sido seguidores de Saul e os que estavam do lado de David. A posição deste ia-se tornando cada vez mais forte, enquanto os apoiantes de Saul enfraqueciam cada vez mais. Vários filhos nasceram a David enquanto se encontrava em Hebrom. O mais velho era Amnom, filho de Ainoã. O segundo, Quileabe, nascido de Abigail, a viúva de Nabal do Carmelo. O terceiro, Absalão, que lhe deu Maacá, filha de Talmai, o rei de Gesur. O quarto era Adonias que nasceu de Hagite. A seguir, vinha Sefatias filho de Abital. O sexto era Itreão, de Egla, também mulher de David. À medida que a guerra continuava, Abner tornou-se um chefe poderoso dos seguidores de Saul. Aproveitando-se da sua posição, tomou para si uma das concubinas de Saul, uma rapariga chamada Rispa, filha de Aiá. Quando Isbosete o criticou por isso, Abner ficou furioso: “Sou algum cão judeu para ser escorraçado desta maneira? Depois de tudo o que fiz por ti e pelo teu pai, não vos entregando a David, é essa a recompensa que me dás, acusar-me por causa duma questão com uma simples mulher! Isbosete não lhe respondeu sequer uma palavra, porque tinha medo dele. Abner enviou então mensageiros a David para discutirem entregar-lhe o reino de Israel e em troca ficar com o cargo de general das tropas conjuntas de Israel e Judá. “Está bem”, disse David. “Mas não trato nada contigo enquanto não me trouxeres a minha mulher Mical, filha de Saul.” David enviou igualmente uma mensagem a Isbosete nestes termos: “Devolvam-me Mical, a minha mulher, que recebi em troca da vida de cem filisteus.” Então Isbosete tirou-a a Paltiel, filho de Laís. Este último foi atrás dela chorando, até Baurim, até que Abner lhe disse: “Volta agora para casa.” E ele voltou. Entretanto, Abner fez uma consulta aos anciãos de Israel e lembrou-lhes que durante muito tempo tinham desejado que fosse David o rei: “Chegou agora a altura! Porque o Senhor disse: ‘É com David que salvarei o meu povo dos filisteus e de todos os seus inimigos.’ ” Abner falou igualmente com os líderes de Benjamim e depois foi a Hebrom relatar a David os progressos feitos junto do povo de Benjamim e de Israel. Havia vinte homens que o acompanhavam e David ofereceu-lhes um banquete. Antes de ir embora Abner prometeu a David: “Quando eu voltar convocarei uma assembleia de todo o povo de Israel e serás eleito rei como sempre desejaste.” David deixou-o ir em paz. Pouco depois de Abner se ter despedido, Joabe e alguns homens das tropas de David regressaram duma investida, trazendo muito despojo com eles. Quando disseram a Joabe que Abner tinha acabado de fazer uma visita ao rei e se tinha retirado em paz, este foi a correr ter com David e perguntou-lhe: “Que foi que fizeste? Que pretendes ao teres deixado esse indivíduo retirar-se em paz? Sabes perfeitamente que veio apenas para nos espiar; o que ele quer é voltar e atacar-nos!” Então Joabe mandou emissários para irem apanhá-lo e dizer-lhe que voltasse. Encontraram-no no poço de Sira e ele aceitou voltar. Contudo, David nada sabia do que se estava a tramar. Quando Abner chegou de novo a Hebrom, Joabe tomou-o à parte, junto à porta da povoação, como se quisesse falar-lhe em particular, e apunhalou-o na barriga, matando-o por vingança da morte do seu irmão Asael. Quando David soube disto, declarou: “Estou inocente, tanto eu como o meu povo, deste crime contra Abner. Os únicos culpados são Joabe e a sua família. Que cada um dos seus filhos venha a ser vítima ou de cancro, ou de lepra, ou seja estéril, ou venha a morrer de fome, ou seja morto pela espada!” Assim, Joabe e o seu irmão Abisai mataram Abner, porque ele tinha morto o irmão deles, Asael, na batalha de Gibeão. David disse a Joabe e a todos os que estavam com ele: “Rasguem as vossas roupas, e vistam-se de panos de saco. Vamos lamentar a morte de Abner.” No funeral, o rei David ia atrás da urna até ao local onde seria enterrado em Hebrom. David e o povo choraram o morto à beira do túmulo. David lamentou assim a morte de Abner: “Porque haveria Abner de ter morrido como um miserável? Não tinhas as mãos atadas, não tinhas os pés em cadeias, e contudo foste assassinado, vítima de uma cruel cilada.” E todo o povo fez luto. David recusou comer fosse o que fosse, ainda que o povo insistisse para que comesse alguma coisa. Mas ele fez voto de não provar nada até ao pôr-do-sol. Isto agradou a toda a gente como tudo o que fazia. Dessa forma, toda a nação, tanto Judá como Israel, compreendeu pelas ações de David que ele não era responsável pela morte de Abner. David disse ainda ao povo: “Um grande chefe, um grande homem, tombou hoje em Israel. Ainda que eu seja o rei escolhido por Deus, nada posso fazer perante a dureza destes dois filhos de Zeruía. Que o Senhor recompense os malfeitores pelas suas maldades!” Quando Isbosete soube da morte de Abner em Hebrom ficou cheio de medo e todo o povo de Israel ficou alarmado. O comando das tropas israelitas recaiu agora sobre os dois irmãos Baaná e Recabe, que eram capitães do príncipe Isbosete, liderando as suas ações de guerrilha. Eram filhos de Rimom, originários de Beerote, povoação sob a jurisdição de Benjamim. A população de Beerote é considerada benjamita, apesar de ter fugido para Gitaim, onde agora vive. Havia um neto do rei Saul de nome Mefibosete, filho de Jónatas, que era aleijado dos pés. Tinha 5 anos na altura em que o pai e o avô morreram na batalha de Jezreel. Quando a notícia dessa derrota chegou à capital, a ama pegou na criança e fugiu, mas tropeçou e deixou-o cair, ficando assim aleijado. Recabe e Baaná chegaram a casa de Isbosete certo dia. O Sol estava a pique e ele passava pelo sono. Dirigiram-se à cozinha, como se fossem buscar um saco de trigo, mas entraram no quarto e assassinaram-no. Cortaram-lhe a cabeça e fugiram com ela pelo caminho de Arabá, durante essa noite toda. Foram apresentá-la a David em Hebrom: “Aqui tens a cabeça de Isbosete, o filho do teu inimigo Saul, que tentou matar-te. Hoje o Senhor vingou-te de Saul e de toda a sua família!” David respondeu: “Tão certo como vive o Senhor que sempre me salvou dos meus inimigos! Quando alguém me disse ‘Saul morreu’, pensando dar-me boas notícias, eu matei-o em Ziclague! Foi desta forma que recompensei as supostas boas notícias que me trazia. Desta vez, com muito mais razão, farei o mesmo a esta gente malvada que matou um homem inocente, na sua própria casa, na sua cama! Não exigiria eu as vossas vidas?” Então ordenou aos rapazes da sua guarda que os matassem. Eles obedeceram; cortaram-lhes os pés e penduraram os corpos junto ao poço em Hebrom. A cabeça de Isbosete enterraram-na no túmulo de Abner também em Hebrom. Representantes de todas as tribos de Israel vieram ter com David a Hebrom, oferecer-lhe a garantia da sua lealdade: “Somos do mesmo sangue que tu”, disseram. “Mesmo quando Saul era o rei, tu eras o nosso verdadeiro chefe. Foi a ti que o Senhor disse: ‘Serás o pastor do meu povo de Israel. Serás o seu rei.’ ” Então David fez uma aliança diante do Senhor com os anciãos de Israel ali em Hebrom e eles consagraram-no rei de Israel. David decidiu levar as suas tropas até Jerusalém para combater os jebuseus que ali viviam. “Nunca entrarás aqui”, tinham-lhe dito. “Até os nossos cegos e coxos poderiam enfrentar-te!” Porque pensavam que estavam muito seguros. No entanto, David e os seus homens derrotaram-nos e capturaram a fortaleza de Sião, agora chamada Cidade de David. Quando a mensagem insultuosa dos defensores da cidade chegou ao conhecimento de David, este dissera aos soldados: “Subam através do túnel de abastecimento de água à cidade e destruam esses tais cegos e coxos que eu aborreço.” E esta é a origem do ditado “Nem cego nem coxo entrará aqui!” David estabeleceu-se na fortaleza de Sião; por isso, passou a chamar-se Cidade de David. Começando no velho bairro da cidade chamado Milo, empreendeu uma série de construções, do norte em direção ao centro da cidade. David tornou-se cada vez mais famoso e poderoso, porque o Senhor, o Deus dos exércitos, estava com ele. O rei Hirão, de Tiro, enviou mensageiros a David e muita madeira de cedro, carpinteiros e pedreiros para a construção de um palácio para David. David deu-se conta da razão por que o Senhor o tinha feito rei e tinha tornado o seu reino tão prestigiado: por amor ao seu povo. Após se ter mudado de Hebrom para Jerusalém, David teve outras mulheres e concubinas, de quem teve muitos filhos e filhas. São estes os que lhe nasceram em Jerusalém: Samua, Sobabe, Natã, Salomão, Ibar, Elisua, Nefegue, Jafia, Elisama, Eliada e Elifelete. Quando os filisteus ouviram que David tinha sido consagrado rei de Israel, mobilizaram as suas forças e saíram para o capturar; ao tomar conhecimento, David refugiou-se na fortaleza. Os filisteus chegaram e espalharam-se pelo vale de Refaim. David perguntou ao Senhor: “Deverei sair e lutar contra eles? Entregá-los-ás nas minhas mãos?” E o Senhor respondeu: “Sim, podes avançar, porque hei de entregá-los.” David atacou-os em Baal-Perazim e derrotou-os. E exclamou: “O Senhor abriu uma brecha como num dique para derrubar os meus inimigos diante de mim!” Por isso, chamou àquele lugar Baal-Perazim (Senhor das brechas). Por essa altura, David e as suas tropas confiscaram muitos ídolos que os filisteus tinham abandonado. Os filisteus tornaram a tomar posições de luta contra os israelitas e espalharam-se pelo vale de Refaim. Quando David voltou a perguntar ao Senhor o que devia fazer, foi esta a resposta: “Desta vez não os ataques de frente. Vai por detrás e aparece-lhes por entre as amoreiras. Quando ouvires um barulho como de gente marchando por de cima das copas das amoreiras, então ataca! Pois esse será o sinal de que o Senhor irá à tua frente e destruirá o exército dos filisteus.” David fez segundo as instruções dadas pelo Senhor e destruiu os filisteus desde Geba a Gezer. David mobilizou 30 000 dos melhores soldados de Israel. E foram juntos até Baalá de Judá, a fim de trazer de volta a arca de Deus que está consagrada ao Senhor dos exércitos, cujo trono está acima dos querubins. Era seguido por David e pelos outros líderes de Israel que agitavam alegremente ramos de faia, na presença do Senhor, e tocavam liras, harpas, tamborins, pandeiretas e címbalos. No entanto, quando chegaram à eira de Nacom, os bois tropeçaram e Uzá estendeu o braço para segurar a arca. A ira do Senhor acendeu-se contra ele e Deus matou-o por causa do seu gesto. E ficou ali estendido ao lado da arca de Deus. David ficou muito contristado por causa do que o Senhor fizera e deu àquele lugar o nome Perez-Uzá (brecha de Uzá). Ainda hoje é assim chamado. O rei ficou com medo do Senhor e interrogava-se: “Como poderei trazer a arca do Senhor até mim?” Por isso, resolveu não transportá-la para a Cidade de David, mas levá-la antes para a casa de Obede-Edom, originário de Gate. Esta ficou ali por três meses e o Senhor abençoou a Obede-Edom e a toda a sua casa e família. Quando o rei soube que o Senhor tinha abençoado Obede-Edom, toda a sua família e bens, por causa da arca de Deus, decidiu ir à casa de Obede-Edom e ordenou que transportassem a arca de Deus com grande alegria para a Cidade de David. A cada seis passos que os transportadores da arca davam, paravam e esperavam que se oferecesse o sacrifício de um boi e de um bezerro cevado. David dançava perante o Senhor com toda a exuberância, vestido com a veste sacerdotal. Foi dessa maneira que Israel trouxe para o seu local próprio a arca do Senhor. Tudo isto acompanhado de brados de júbilo e toques de trombetas. Quando a arca do Senhor se aproximou da Cidade de David, Mical, a filha de Saul, que estava observando da janela, viu David a saltar e a dançar na presença do Senhor e desprezou-o no seu íntimo. Puseram pois a arca do Senhor numa tenda, no lugar que David tinha preparado. Depois David ofereceu holocaustos e ofertas de paz ao Senhor. No final destas ofertas David abençoou o povo em nome do Senhor dos exércitos. Distribuiu por cada um, homens e mulheres, um pão, um bolo de tâmaras e um bolo de uvas. Quando tudo terminou todos se retiraram. David regressou a casa para abençoar a sua família. No entanto, Mical veio ao seu encontro e exclamou com um tom irónico: “Que ar glorioso tinha hoje o rei de Israel, expondo-se aos olhos das raparigas, ao longo das ruas, como um vadio qualquer!” David respondeu-lhe: “Estive a dançar diante do Senhor, que me escolheu em lugar do teu pai e da tua família, e me nomeou chefe de Israel, o povo do Senhor! Não me importo de me humilhar mais e rebaixar, como tu dizes, pois sei que mesmo assim serei respeitado pelas raparigas a quem te referias!” E Mical não teve filhos durante toda a sua vida. Algum tempo depois de David estar a viver no seu novo palácio, o Senhor enviou finalmente a paz sobre a terra; Israel já não estava em guerra com nenhuma nação dos arredores. E David disse a Natã, o profeta: “Repara bem, eu vivo numa casa toda forrada de cedro, enquanto a arca de Deus está sob uma tenda!” “Vai para a frente com os planos que tiveres em mente, porque o Senhor está contigo”, foi a resposta do homem de Deus. Nessa noite, o Senhor disse a Natã: “Dá ao meu servo David esta mensagem: Serás tu quem construirá uma casa para a minha habitação? Nunca vivi num templo. A minha casa, desde que trouxe Israel do Egito, tem sido sempre uma tenda. Jamais me lamentei junto dos chefes de Israel, os pastores do meu povo. Nunca lhes perguntei: ‘Porque é que não me constroem um belo templo em cedro?’ Por isso, diz ao meu servo David: Assim manda dizer o Senhor dos exércitos: Tirei-te dum trabalho de pastor de ovelhas e fiz de ti rei do meu povo. Tenho sido contigo por onde tens andado; destruí os teus inimigos e farei com que o teu nome seja prestigiado na Terra. Darei ao meu povo um lar permanente e plantá-lo-ei na sua própria terra. Não tornarão a ser perturbados; nações malvadas não mais os conquistarão, como aconteceu anteriormente, quando os juízes governavam o meu povo. Não tens de travar mais guerras contra os teus inimigos. Além do mais, ficas hoje a saber que te edificarei uma casa. Quando o teu tempo aqui na Terra terminar e tiveres de morrer, porei um dos teus filhos no trono e tornarei o seu reinado poderoso. Ele é que há de construir uma casa ao meu nome e hei de prolongar o seu reinado para sempre. Eu serei para ele um Pai e ele será meu filho. Se pecar, usarei outras nações para o castigar. No entanto, a minha misericórdia nunca o deixará, ao contrário do que aconteceu com Saul, o teu antecessor. Confirmá-lo-ei sobre o meu povo e terá um reinado firme para sempre. A tua dinastia será estabelecida para sempre.” Natã fez saber a David tudo o que Deus lhe tinha dito naquela visão. Então o rei David entrou na presença do Senhor e disse: “Quem sou eu, ó Senhor Deus, e quem é a minha família, para que lhe concedas tantas bênçãos? A acrescentar a tudo isso, ó Senhor Deus, ainda me falas de uma dinastia futura! Tal generosidade não é certamente própria de seres humanos, ó Senhor Deus! Que mais posso dizer, Senhor Deus? Conheces bem o teu servo. Pela tua palavra, fizeste todas estas grandes coisas por mim e trataste-me com amor. Como és grandioso, Senhor Deus, e não há ninguém semelhante a ti! Nunca ouvimos falar de ninguém como tu, porque não há outro Deus além de ti. E que outra nação haverá sobre a face da Terra que se compare a Israel, o teu povo? É uma nação única que resgataste do Egito para ser o teu povo. O teu nome tornou-se grande, quando fizeste maravilhas para destruir o Egito e os seus deuses. Escolheste Israel para ser o teu povo para sempre e tu, ó Senhor, tornaste-te o seu Deus. Agora, Senhor Deus, faz como me prometeste, a mim e à minha família. Que isso possa trazer honra eterna ao teu nome! Quando toda a gente verificar que sempre cumpres o que dizes, exclamarão: ‘O Senhor dos exércitos é verdadeiramente o Deus de Israel!’ E assim a dinastia de David, teu servo, estará firme para sempre diante de ti. Concedeste-me a graça de me revelares, ó Senhor dos exércitos, Deus de Israel, que sou o primeiro de uma dinastia que governará o teu povo. Por essa razão, tomei a liberdade de te dirigir esta oração de gratidão. Verdadeiramente, ó Senhor, tu és Deus! As tuas palavras são verdadeiras! Prometeste-me coisas maravilhosas. Agora age conforme prometeste. Abençoa-me a mim e à minha família para sempre. Que a nossa dinastia permaneça na tua presença para sempre, pois foste tu, Senhor Deus, quem o prometeu. E com a tua bênção, será para sempre abençoada, a nossa dinastia!” Depois disto, David venceu e submeteu os filisteus, tirando das mãos deles Metegue-Amá, a sua maior cidade. Também conquistou Moabe. Dividiu as suas vítimas, fazendo-as deitarem-se lado a lado, em fileiras. Depois de medir com uma fita, dois terços de cada fila eram condenados a morrer; o terço restante era poupado, para serem servos de David; pagaram-lhe um tributo anualmente, daí em diante. Conquistou o domínio do rei Hadadezer, filho de Reobe, rei de Zobá, numa batalha junto ao rio Eufrates, porque Hadadezer tinha tentado retomar o poder. David capturou 1700 cavaleiros e 20 000 soldados. Inutilizou os cavalos dos seus carros de combate, à exceção de uma centena que guardou para seu próprio uso. Quando os arameus vieram de Damasco para socorrer Hadadezer, David matou 22 000 deles. David pôs várias guarnições militares em Damasco, e os arameus tornaram-se seus súbditos, pagando-lhe um tributo anual. O Senhor concedia-lhe sempre vitórias, para onde quer que se virasse. Trouxe também para Jerusalém os escudos de ouro que os oficiais do rei Hadadezer usavam, assim como uma grande quantidade de bronze de Beta e de Berotai, cidades do rei Hadadezer. Quando o rei Toú de Hamate ouviu narrar todas as vitórias de David sobre o exército de Hadadezer, enviou o seu filho Jorão para felicitá-lo, visto que Hadadezer e Toú eram inimigos. Jorão trouxe-lhe presentes de prata, ouro e bronze. David tornou-se muito famoso. Depois disso, ainda destruiu 18 000 edomitas no vale do Sal. Colocou também guarnições militares através da terra de Edom, de forma que toda essa nação foi obrigada a pagar tributo a Israel. O Senhor tornou-o vitorioso para onde quer que se dirigisse. David reinou com justiça sobre Israel, dirigindo as causas do seu povo com toda a equidade. Joabe, filho de Zeruía, era o general do seu exército. O seu secretário para os assuntos da governação era Jeosafá, filho de Ailude. Zadoque, filho de Aitube, e Aimeleque, filho de Abiatar, eram os sacerdotes; Seraías era o secretário particular do rei. Benaia, filho de Jeoiada, era o chefe da guarda pessoal do rei, formada por cretenses e peleteus. Os filhos do rei eram seus assistentes. Um dia, David começou a inquirir se haveria ainda alguém da família de Saul com vida, pois queria fazer-lhe bem, tal como prometera ao príncipe Jónatas. Falaram-lhe então num tal Ziba que fora um dos servos de Saul. O rei mandou-o chamar: “Chamas-te Ziba?” Respondeu: “Sim, senhor, sou eu próprio.” “Conheces alguém que tenha ficado da família de Saul? Porque quero cumprir a minha promessa de demonstrar bondade de Deus a essa pessoa.” Ziba respondeu: “Há um filho de Jónatas, que vive ainda, e que é coxo.” “Onde mora ele?”, perguntou o rei. E disse-lhe: “Em Lo-Debar na casa de Maquir, filho de Amiel.” Mas David disse-lhe: “Não tenhas receio! Mandei vir-te para que possa fazer-te bem, de acordo com a promessa que fiz ao teu pai Jónatas. Devolver-te-ei todas as terras do teu avô Saul e viverás aqui no meu palácio!” Mefibosete prostrou-se até ao chão e disse: “Será possível que o rei se mostre assim tão bom com alguém que não passa de um cão morto como eu?” David mandou chamar Ziba, o servo de Saul, e disse-lhe. “Dei ao neto do teu senhor tudo o que pertencia a Saul e à sua família. Tu, teus filhos e servos deverão trabalhar nas suas terras, para que a sua família tenha o que comer. Quanto a ele próprio, viverá aqui comigo.” Ziba, que tinha quinze filhos e vinte servos, replicou: “Senhor, farei tudo o que mandaste.” Daí em diante Mefibosete passou a comer regularmente com o rei David, como se fosse um dos seus próprios filhos. Mefibosete tinha um filho pequeno chamado Mica. Toda a família de Ziba ficou a trabalhar ao serviço de Mefibosete. Mas Mefibosete, que era coxo dos dois pés, veio para Jerusalém para viver no palácio do rei. Algum tempo depois, o rei amonita morreu e o seu filho Hanum ascendeu ao trono em seu lugar. David declarou: “Vou mostrar bondade para com Hanum, filho de Naás, por causa da amizade que o seu pai revelou para comigo.” David enviou embaixadores para expressarem as suas condolências a Hanum pelo falecimento do pai. Quando os embaixadores de David chegaram, os conselheiros de Hanum falaram desta forma ao rei amonita: “Esta gente não veio honrar a memória do teu pai. David mandou-os para espiarem a cidade antes de a atacar!” Então Hanum mandou rapar metade da barba dos embaixadores e cortar-lhes a roupa que traziam, até à altura das ancas. Depois mandou-os embora. Quando David teve conhecimento do que acontecera, disse-lhes que ficassem em Jericó até lhes crescer novamente a barba, pois aqueles homens estavam envergonhados por causa do aspeto que tinham. Nessa altura, o povo de Amon deu-se conta de como tinha suscitado seriamente a ira de David. Em consequência, contrataram 20 000 mercenários arameus, de Bete-Reobe e de Zobá, outros 1000 ao rei de Maacá e 12 000 da terra de Tobe. Quando contaram isto a David, este enviou Joabe e todo o exército israelita para os atacar. O exército dos amonitas saiu-lhes ao encontro e começou o combate às portas da cidade de Medeba, enquanto os arameus de Zobá, Reobe, Tobe e Maacá lutavam no campo. Joabe, vendo que tinha de lutar em duas frentes, pôs de parte os melhores combatentes das suas tropas e, sob o seu próprio comando, levou-os a confrontarem-se com os arameus na planície. Outro grupo, sob o comando do seu irmão Abisai, dirigiu-se contra os amonitas. “Se os arameus forem mais fortes do que eu, vem ajudar-me”, disse Joabe ao irmão. “Se os amonitas prevalecerem sobre ti, vou eu ajudar-te.” “Coragem e atuemos como homens que defendem o povo e as cidades do nosso Deus. Que o Senhor faça o que for melhor!” Seguidamente, quando Joabe e as suas tropas atacaram, os arameus começaram a fugir. Por sua vez, os amonitas ao verem o que estava a acontecer também se puseram a fugir para dentro da cidade. Então Joabe deu por terminada a campanha contra os amonitas e regressou a Jerusalém. Os arameus perceberam que não eram suficientes para fazer frente ao exército de Israel, por isso, ao reagruparem-se, engrossaram os seus efetivos com um contingente adicional. Hadadezer enviou mensageiros para reunir os arameus que viviam do outro lado do rio Eufrates. Estas tropas chegaram a Helã sob as ordens de Sobaque, comandante das forças militares de Hadadezer. Ao saber dos acontecimentos, David mobilizou todo o Israel, atravessou o rio Jordão e foi para Helã, onde os arameus tinham atacado. Os arameus fugiram de novo dos israelitas, mas desta vez deixaram mortos no campo de batalha 700 condutores de carros de combate e ainda 40 000 cavaleiros, incluindo o general Sobaque. Os aliados de Hadadezer, constatando que os arameus tinham sido derrotados, renderam-se a Israel e tornaram-se seus servos. A partir de então, os arameus tiveram medo de ajudar os amonitas. Na primavera do ano seguinte, na altura em que as guerras costumam recomeçar, David enviou Joabe e o exército israelita destruir os amonitas. Começaram por pôr cerco à cidade de Rabá. David ficara em Jerusalém. Uma noite, levantou-se do leito onde repousava e foi para um terraço do seu palácio. Enquanto passeava reparou numa mulher muito bonita que estava a tomar banho. Procurou saber quem era e disseram-lhe que se tratava de Bate-Seba, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita. Mandou-a chamar. Quando veio, deitou-se com ela. A mulher tinha acabado de completar os ritos de purificação do seu período. Depois disso, voltou para casa. A mulher ficou grávida e mandou avisá-lo. O rei enviou um recado a Joabe: “Que Urias, o hitita, venha ter comigo.” Quando este chegou, David perguntou-lhe como ia Joabe e as tropas e como iam as ações de combate. Disse-lhe que fosse para casa descansar; mais tarde fez-lhe chegar um presente. Contudo, Urias não entrou na sua casa. Ficou à porta do palácio do soberano e ali passou a noite com outros servos do rei. Ao saber do que Urias tinha feito, David mandou-o chamar: “Que é que se passa contigo? Porque não foste para casa ter com a tua mulher a noite passada, depois de teres estado longe tanto tempo?” Urias replicou: “A arca, os exércitos, o general e os seus oficiais estão todos no campo de batalha e eu iria para casa beber vinho e dormir com a minha mulher? Juro que nunca me tornarei culpado de tal ação!” “Está bem. Fica então aqui e amanhã voltas.” Urias manteve-se por ali perto. Entretanto, David convidou-o para jantar e embebedou-o. Mesmo assim ele não foi a casa nessa noite; tornou a dormir à entrada do palácio. Na manhã seguinte David escreveu uma carta a Joabe e deu-a a Urias para que lha entregasse. A carta dava instruções a Joabe para colocar Urias na frente mais acesa da batalha, e para que depois se afastassem e o deixassem morrer. Joabe destacou Urias para um sítio junto à cidade sitiada, onde sabia estarem os melhores atiradores do inimigo. Dessa forma, Urias foi morto, com mais alguns outros soldados israelitas. Quando Joabe enviou ao rei o relatório dos combates, Não foi Abimeleque, filho de Jerubaal, morto em Tebez por uma mulher que lhe atirou com uma mó de moinho em cima?’ Diz-lhe assim: ‘Também morreu teu servo Urias, o hitita.’ ” O mensageiro chegou a Jerusalém e transmitiu o relatório a David: “O inimigo veio sobre nós e eram mais fortes do que nós”, disse-lhe, “e quando estávamos a persegui-los até à entrada da cidade, do alto da muralha os arqueiros dispararam as suas flechas contra as tropas do rei, e alguns dos nossos, incluindo Urias, o hitita, foram mortos.” “Diz a Joabe que não perca a coragem”, respondeu David. “A espada tanto mata uns como outros! Lutem com mais ardor para a próxima vez e conquistem a cidade. Diz-lhe que estou satisfeito com a sua atuação.” Quando Bate-Seba soube que o marido tinha morrido, pôs luto por ele. Passado esse período de nojo, David mandou-a chamar e trouxe-a para o palácio. Ela tornou-se uma das suas mulheres e deu à luz o seu filho. No entanto, tudo isto que David fez pareceu muito mal aos olhos do Senhor. O outro, muito pobre, tinha apenas uma pequena ovelha que conseguira comprar e que criara em casa. Crescera com os seus próprios filhos; muitas vezes tirara alimento do seu prato para lhe dar; dera-lhe a beber do seu copo; dormira no seu regaço como uma filha. Certo dia, chegou a casa do rico um hóspede. Em vez de matar um cordeiro do seu rebanho para o jantar do viajante, foi buscar a ovelha do pobre, assou-a e serviu-a ao convidado.” David ficou furioso ao ouvir aquilo: “Tão certo como vive o Senhor, que quem quer que tenha feito uma coisa dessas deve morrer. Deverá pagar quatro ovelhas pela que roubou e por não ter tido misericórdia.” “Tu és esse homem!”, disse-lhe Natã. “O Senhor Deus de Israel manda dizer: ‘Consagrei-te rei de Israel e salvei-te do poder de Saul. Dei-te a família e as mulheres do teu senhor, e os reinos de Israel e de Judá. Se isso não bastasse, dar-te-ia muito mais. Porque é que então desprezaste a palavra do Senhor, e praticaste uma ação tão má? Enviaste Urias para ser morto em batalha, por intermédio da espada dos amonitas, e roubaste-lhe a mulher. Por isso, o assassínio será uma constante ameaça no seio da tua família daqui em diante, pois insultaste-me, tomando para ti a mulher de Urias. Garanto-te que, em razão daquilo que fizeste, a tua própria casa se revoltará contra ti. Darei as tuas mulheres a outro homem, que dormirá com elas à luz do dia. Enquanto tu o fizeste secretamente, eu tomarei providências para que tal se passe abertamente, para que sirva de sinal a todo o Israel.’ ” “Pequei contra o Senhor ”, confessou David a Natã. Este respondeu: “Sim, mas o Senhor perdoou-te. Não morrerás por causa deste pecado. No entanto, deste uma grande oportunidade aos inimigos do Senhor para que o desprezem e blasfemem dele. Por isso, a criança que nasceu morrerá.” Natã retirou-se. O Senhor permitiu que o menino de Bate-Seba ficasse muito doente. David implorou a Deus que poupasse o filho; deixou de comer e ficou prostrado no chão, a noite inteira. Os responsáveis pela sua casa imploravam-lhe que se levantasse e fosse comer com eles, mas sempre recusou. Então, ao fim de sete dias, o bebé morreu. Os criados tinham receio de lho ir dizer: “Se estava daquela maneira quando a criança se encontrava doente, o que não será quando lhe comunicarmos que já faleceu?” David, no entanto, reparando naqueles sussurros, percebeu o que acontecera. “A criança morreu?”, perguntou. “Sim, já faleceu.” Então levantou-se, foi-se lavar, arranjou o cabelo, mudou de roupa, dirigiu-se ao tabernáculo e adorou o Senhor. Regressou ao palácio e comeu. Os criados estavam atónitos: “Não percebemos nada”, disseram. “Enquanto a criança estava com vida, choraste e recusaste comer; agora que está morta, acabaste com o choro e tornaste a comer.” “Se jejuei e chorei, enquanto a criança vivia, é porque pensava assim: Pode ser que o Senhor me conceda a graça de permitir que o bebé sobreviva. Por que razão haveria de continuar a jejuar depois de ele morrer? Poderia fazê-lo ressuscitar? Eu sim, poderei ir ter com ele, mas o menino não vem mais ter comigo.” Depois foi consolar Bate-Seba. Tornando a dormir com ela, nasceu-lhe outro filho a quem chamou Salomão. O Senhor amou a criança. Mandou abençoá-la através do profeta Natã. O rei chamou ao menino Jedidias, que quer dizer “amado do Senhor ”, devido ao interesse que o Senhor manifestou. Entretanto, Joabe e o exército de Israel estavam a terminar vitoriosamente o assalto a Rabá, capital dos amonitas. O general mandou mensageiros a David: “Rabá, com o seu depósito de água, é já nossa! Traz o resto do exército e finaliza o combate, para que recebas o crédito da vitória e não eu.” David conduziu o exército até Rabá e capturou-a. Deslocando-se ao local da batalha, tirou a coroa da cabeça do rei de Rabá, que se chamava Milcom, e colocou-a na sua própria cabeça. Era feita toda de ouro, com pedras preciosas incrustadas, e pesava 34 quilos. Levou também da cidade grande despojo. Obrigou ainda o povo da cidade a trabalhar com serras, machados e picaretas e como fabricantes de tijolos. Foi desta forma que capturou todas as cidades dos amonitas. David e todo o seu exército regressaram a Jerusalém. O príncipe Absalão, filho de David, tinha uma irmã muito bonita chamada Tamar. E o príncipe Amnom, que era meio-irmão dela, apaixonou-se perdidamente pela rapariga. Amnom estava tão enamorado que ficou doente. E não tinha maneira de lhe falar, pois os rapazes e as meninas eram mantidos separados. Amnom tinha um amigo muito esperto, o seu primo Jonadabe, filho de um irmão de David chamado Simeia. Um dia, Jonadabe perguntou a Amnom: “O que é que se passa contigo? Porque é que o filho de um rei há de andar definhando de dia para dia?” Respondeu-lhe: “Estou apaixonado por Tamar, minha meia-irmã.” “Pois bem, vou dizer-te o que hás de fazer. Vai para a cama e finge que estás muito doente. Quando o teu pai vier ver-te, pede-lhe que Tamar venha preparar-te alguma comida; diz-lhe que te sentirás melhor se ela te vier trazer o alimento.” Amnom assim fez. Quando o rei veio vê-lo, Amnom pediu-lhe, por favor, que a sua irmã Tamar fosse autorizada a preparar-lhe algum alimento para ele comer. David concordou e mandou dizer a Tamar que fosse aos aposentos de Amnom preparar-lhe alguma coisa para comer. Ela obedeceu e foi ao quarto dele; começou a amassar farinha e preparou-lhe um bolo especial. Mas quando lho levou ele recusou comer: “Quero que toda a gente saia daqui”, disse aos criados. E as pessoas saíram todas. Depois disse a Tamar: “Traz-me tu a comida aqui à cama e então hei de comer.” A moça assim fez. Quando ela estava ali em frente dele, prendeu-a e pediu-lhe: “Vem, deita-te aqui comigo, minha irmã.” “Oh! Não, meu irmão!”, gritou ela. “Não faças uma loucura dessas. Não me forces! Sabes bem o crime tremendo que isso seria em Israel. Eu nem saberia onde esconder-me de vergonha! Tu serias considerado o maior louco da nação! Por favor, fala ao rei no assunto e ele certamente deixará que me case contigo.” Ele não quis ouvi-la e, como tinha mais força, violentou-a. Logo a seguir a sua paixão tornou-se ódio e acabou por odiá-la ainda mais do que a tinha amado. “Sai daqui!”, rosnou ele. “Não! Rejeitares-me agora seria um crime ainda maior do que aquilo que me fizeste.” Mas ele não lhe deu ouvidos. Chamou por um criado e ordenou-lhe: “Tira esta rapariga daqui e fecha a porta atrás dela.” Assim a expulsou. Ela trazia vestida uma túnica até aos pés, às cores e com mangas, segundo o traje das princesas ainda virgens, naqueles dias. Então rasgou a túnica, colocou cinza sobre si, cruzou as mãos na cabeça e foi andando e chorando. Seu irmão Absalão veio ter com ela: “Então sempre é verdade que Amnom esteve contigo! Não te angusties, visto que tudo se passou em família. Não é caso para ficares assim!” E Tamar foi morar com o seu irmão Absalão como uma mulher solitária. Ao ouvir o que acontecera, o rei David ficou extremamente irado. Absalão não disse nada a Amnom, porque lhe tinha um ódio profundo pelo que fizera à irmã. Dois anos mais tarde, quando as ovelhas de Absalão estavam a ser tosquiadas em Baal-Hazor em Efraim, Absalão convidou o pai e todos os irmãos para um banquete, a fim de festejarem a ocasião. Foi ter com o rei e disse-lhe: “Chegou o tempo da tosquia do meu rebanho. Peço que o rei e os seus oficiais venham à festa deste seu servo.” O rei respondeu-lhe: “Não, meu rapaz. Se fôssemos todos, seria um encargo enorme para ti.” Absalão insistiu, mas David não aceitou e mandou-lhe felicitações. “Bom”, disse Absalão, “já que não vens, manda em teu lugar o meu irmão Amnom.” O rei perguntou: “Porquê Amnom?” Absalão insistiu muito, até que o rei concordou e permitiu que todos os filhos lá fossem, incluindo Amnom. Absalão preparou um grande banquete como se fosse um rei. Absalão avisou os seus homens: “Esperem até que Amnom esteja embriagado e quando eu der o sinal matem-no! Não tenham receio. Aqui sou eu quem dá as ordens e é isto que estou a ordenar-vos. Vamos em frente e nada de ter medo!” Foi dessa maneira que mataram Amnom. Os outros príncipes, seus irmãos, montaram nas suas mulas e fugiram. Vinham ainda a caminho de Jerusalém, quando chegou aos ouvidos de David o seguinte rumor: “Absalão matou todos os irmãos; nem um ficou em vida!” O rei levantou-se, rasgou a roupa que tinha vestida e prostrou-se no chão. Os seus conselheiros rasgaram igualmente as roupas em sinal de amargura. Nessa altura, chegou Jonadabe, sobrinho de David, filho de Simeia, que explicou: “Não morreram todos! Só Amnom foi morto! Absalão tinha isto preparado desde que Tamar fora violentada por Amnom. Os teus filhos não foram todos mortos! Só foi Amnom.” Entretanto, Absalão fugiu. O guarda que estava de vigia na muralha de Jerusalém deu o aviso de que via gente a chegar, na direção da cidade, ao longo da estrada que corre junto da colina. “Pronto”, disse Jonadabe ao rei. “Aqui estão eles. Os teus filhos estão a chegar, tal como te disse.” Em breve os outros apareceram, a chorar e a lamentarem-se. O rei e os conselheiros também choraram com eles. Quando o general Joabe percebeu que o rei tinha saudades de Absalão, Quando a mulher se aproximou do rei, prostrou-se na sua frente com o rosto no chão e implorou: “Ó rei! Ajuda-me!” “Que tens tu?”, perguntou-lhe. “Sou uma pobre viúva; os meus dois filhos guerrearam entre si e, como não havia ninguém para os separar, um deles foi morto. Agora o resto da família exige que eu entregue o outro para ser executado por assassínio do irmão. Se o fizer, fico sem ninguém na vida, e o nome do meu marido desaparecerá.” “Deixa isso comigo”, disse-lhe o rei. “Eu me encarregarei de que ninguém lhe toque.” “Muito obrigada, meu senhor! Tomarei sobre mim a responsabilidade desse ato, se alguém te criticar por me teres ajudado.” “Não te preocupes. Se alguém se opuser, traz-me essa pessoa. Garanto-te que nunca mais levantará oposição!” Então ela disse: “Por favor, jura-me diante do Senhor, teu Deus, que não deixarás ninguém fazer mal ao meu filho. Não quero que haja mais sangue derramado.” Retorquiu-lhe: “Tão certo como vive o Senhor, que nem um só cabelo da cabeça do teu filho lhe será arrancado por esse motivo.” “Agora deixa-me pedir-te mais uma coisa!”, disse a mulher. “Podes falar.” “Porque não fazes com todo o resto do povo de Deus o mesmo que prometeste fazer comigo? Condenaste-te a ti mesmo, ao tomar essa decisão, visto que tens recusado deixar regressar a casa o teu próprio filho que vive exilado. Todos nós estamos destinados a morrer um dia. A nossa vida é como água no chão, não se pode juntar outra vez. Deus te abençoará com muitos mais dias de vida se souberes encontrar uma forma de fazer voltar o teu filho do exílio em que se encontra. E se vim rogar-te isto, a propósito de um filho cuja vida, tal como a minha, estaria ameaçada, é porque disse para comigo: Talvez o rei me ouça e me salve dos que pretendem pôr fim à nossa existência em Israel. Sim, o rei dar-nos-á paz, de novo. Eu sei que és como o anjo de Deus e podes discernir o bem do mal. Que o Senhor, teu Deus, seja contigo!” “Quero que me digas uma coisa”, replicou o rei. “Sim, meu senhor”, disse-lhe. “Foi Joabe quem te mandou aqui?” A mulher replicou: “Como poderei negá-lo? Com efeito, Joabe mandou-me cá e disse-me o que deveria falar. Fez isso para que este assunto te fosse apresentado sob uma luz diferente. Mas tu tens a sabedoria de um anjo de Deus e sabes bem como as coisas se fazem!” O rei convocou Joabe e disse-lhe: “Está bem. Faz o que for necessário para que Absalão regresse.” Joabe inclinou-se até ao chão perante o soberano e abençoou-o: “Verifico que o rei me favorece, visto que esteve de acordo com o meu pedido.” Joabe foi até Gesur e trouxe Absalão de volta para Jerusalém. “Ele deve habitar nos seus próprios aposentos”, ordenou o rei. “Nunca deverá comparecer aqui. Recuso vê-lo.” Absalão era dos homens mais belos em Israel; toda a sua aparência, dos pés à cabeça, era agradável. Tinha um cabelo extremamente farto e cortava-o uma vez no ano, porque chegava a pesar mais de dois quilos e não aguentava esse incómodo! Tinha três filhos e uma filha, Tamar, que era uma bela rapariga. Depois de estar em Jerusalém dois anos, Absalão ainda não tinha visto o rei. Por isso, mandou pedir a Joabe que intercedesse por ele, mas Joabe não lhe respondeu. O príncipe insistiu e de novo se recusou a dar-lhe resposta. Então Absalão disse aos seus criados que pusessem fogo num campo de cevada que Joabe possuía, ao lado do seu, e assim fizeram. Nessa altura, Joabe veio falar-lhe: “Porque é que os teus criados puseram fogo no meu campo?” “Porque eu queria perguntar-te a razão por que o rei me mandou vir de Gesur se não tinha a intenção de me ver. Bem podia ter ficado onde estava. Faz com que eu possa ter um encontro com o meu pai; se fiz algum mal, então que me mande executar.” Joabe foi dizer ao rei o que Absalão lhe comunicara. Por fim, David chamou Absalão. Quando este compareceu, prostou-se perante o rei, que o beijou. Absalão comprou um carro ao qual mandou atrelar cavalos e contratou cinquenta homens que corressem diante dele. Levantava-se de manhã cedo e ia para a entrada da cidade. Quando alguém trazia algum caso para submeter ao julgamento do rei, Absalão mandava-o parar e perguntava: “De onde és tu?” Ele respondia: “Sou de tal tribo de Israel, meu senhor!” “Estou a ver que tens razão nesse assunto. Infelizmente o rei não tem ninguém que o assista para ouvir esses casos. Eu bem desejaria ser juiz, para que qualquer pessoa que tivesse uma causa a apresentar pudesse vir ter comigo para lhe fazer justiça!” Se alguém se chegava e lhe fazia uma reverência, ele dava-lhe um abraço de saudação com um beijo. Dessa forma, ia roubando os corações de todo o povo de Israel a seu favor. O rei disse-lhe: “Vai em paz e cumpre o teu voto.” O príncipe dirigiu-se a Hebrom. Enquanto ali estava, mandou gente a todas as partes de Israel, incitando a população à revolta contra o rei: “Logo que ouçam as trombetas”, dizia a mensagem que enviava, “saberão que Absalão foi coroado rei em Hebrom.” Levou consigo duzentos homens de Jerusalém, como hóspedes, que nada sabiam das suas intenções. Enquanto oferecia o sacrifício, mandou buscar Aitofel, um dos conselheiros de David que vivia em Gilo. Aitofel declarou-se a favor de Absalão tal como muitos outros. E assim a conspiração ganhou força. Em breve chegou a Jerusalém um mensageiro que contou ao rei David o que se passava: “Israel em peso está a conspirar contra ti a favor de Absalão!” “Teremos de fugir antes que seja tarde demais!”, foi a resposta imediata de David ao homem. “Se sairmos da cidade antes que ele chegue, tanto nós como a própria cidade poderemos ser poupados.” “Nós estamos contigo”, disseram-lhe os conselheiros. “Faz o que achares melhor.” Então o rei e a sua casa saíram logo da cidade. Não deixou ninguém no palácio senão dez das suas mulheres, para manterem a casa em ordem. David parou num dos limites da cidade, para deixar as suas tropas passarem à frente; seiscentos homens de Gate, que dali tinham vindo com ele, mais os cretenses e os peleteus. No entanto, voltando-se para Itai, o capitão dos seiscentos giteus, disse-lhe: “Para que hás de vir connosco? Vai ter com os teus homens a Jerusalém, e com o teu rei, pois és um hóspede em Israel, um estrangeiro no exílio. Parece que foi ontem que aqui chegaste e iria obrigar-te a andar vagueando connosco, sabe-se lá por onde? Volta para trás com as tuas tropas e que o Senhor use de misericórdia e de fidelidade para contigo!” Itai retorquiu: “Tão certo como vive o Senhor e pela tua própria vida, que irei para onde quer que vás, aconteça o que acontecer, quer isso represente a vida ou a morte.” David respondeu-lhe: “Está bem, podes vir connosco!” Assim Itai e os seus seiscentos homens prosseguiram com ele. Havia uma tristeza profunda na cidade, enquanto o rei ia passando, com os que o acompanhavam, e enquanto atravessava o ribeiro de Cedron e seguia pelo campo. Abiatar, Zadoque e os levitas levaram a arca da aliança de Deus e colocaram-na no chão, até que toda a gente passou. Depois, de acordo com instruções de David, Zadoque voltou com a arca para a cidade. “Se o Senhor achar bem”, disse David, “fará com que regresse para tornar a ver a arca e o santuário. Mas se desejar que a minha carreira acabe, que se faça a sua vontade.” O rei disse ainda a Zadoque: “Ouve-me, este é o meu plano: Volta tranquilamente para a cidade com o teu filho Aimaaz e Jónatas, o filho de Abiatar. Dá-me notícias do que se vai passando em Jerusalém, enquanto me refugio no deserto.” Zadoque e Abiatar levaram a arca de Deus para a cidade e ali ficaram. David subiu pelo caminho que conduz ao monte das Oliveiras, chorando à medida que caminhava. Ia de cabeça coberta, em sinal de profunda consternação. O povo que o acompanhava ia também de cabeça coberta e chorava, à medida que subiam o monte. Quando alguém veio dizer ao rei que Aitofel, seu conselheiro, se tinha passado para o lado de Absalão, David fez a seguinte oração: “Ó Senhor, faz com que os conselhos de Aitofel sejam transtornados!” Toda a gente chegou finalmente ao cimo do monte das Oliveiras e o povo adorou Deus. David encontrou ali Husai, o arquita, que o esperava com a roupa rasgada e terra sobre a cabeça. O rei disse-lhe: “Se tens a intenção de me seguir, fica a saber que me levantarás problemas. Volta para Jerusalém e diz a Absalão: ‘Estou ao teu serviço, como estive antes ao serviço do teu pai.’ Assim poderás contrapor os conselhos de Aitofel. Zadoque e Abiatar, os sacerdotes, já lá estão. Dá-lhes a conhecer tudo o que ouvires. Eles hão de enviar Aimaaz e Jónatas para vir ter comigo e me dizerem o que se vai passando por lá.” Dessa forma, Husai, o amigo de David, voltou para a cidade, na altura em que Absalão também chegava. David estava justamente a começar a descida do outro lado do monte quando Ziba, o governante da casa de Mefibosete, o encontrou. Ia conduzindo dois burros carregados com duzentos pães, cem cachos de passas e um odre de vinho. “Para quem é isso?”, perguntou-lhe o soberano. “Os burros são para que a gente da tua casa monte neles; o pão e as passas são para os teus moços comerem; o vinho deverá ir contigo para o deserto para dar aos que possam vir a desfalecer.” “E onde está Mefibosete?”, perguntou-lhe o rei. “Ficou em Jerusalém, pois disse que agora se tornaria rei e que poderia recuperar o reino do seu avô Saul.” O rei disse a Ziba: “Nesse caso dou-te a ti tudo quanto pertence a Mefibosete.” Ziba respondeu: “Fico profundamente grato, meu senhor.” Ao passarem por Baurim, saiu da povoação um homem que os amaldiçoava. Era Simei, filho de Gera, membro da família de Saul. Atirava pedras ao rei e aos seus chefes militares, assim como aos valentes guerreiros que o rodeavam. “Sai daqui, assassino, malvado!”, gritava ele para David. “O Senhor está a fazer-te pagar por teres assassinado Saul e a sua família. Roubaste-lhe o trono e agora o Senhor deu-o ao teu filho Absalão! Agora é a tua vez de provares o sabor da desgraça, assassino!” “Porque havemos de deixar que este cão morto amaldiçoe o rei, meu senhor?”, perguntou Abisai. “Deixa-me ir ter com ele e esmagar-lhe a cabeça!” “Não”, disse o rei. “Se foi o Senhor quem o mandou amaldiçoar-me, quem sou eu para o impedir? O meu próprio filho pretende matar-me; este filho de Benjamim apenas me amaldiçoa. Deixa-o em paz, pois foi, sem dúvida, o Senhor quem o mandou fazer isso. Talvez o Senhor veja como estou a ser humilhado e acabe por me abençoar, por causa destas maldições.” David e a sua gente continuaram o caminho, enquanto Simei se mantinha na encosta da colina que estava em frente a amaldiçoá-lo, a atirar-lhe pedras e terra para o ar. Tanto o rei como os outros estavam cansados quando atingiram o rio Jordão, por isso, pararam ali a descansar. Entretanto, Absalão chegava a Jerusalém com os seus homens e acompanhado de Aitofel. Quando o amigo de David, Husai o arquita, chegou foi imediatamente ver Absalão. “Viva o rei!”, saudou-o. “Viva o rei!” “Será justo essa forma de te conduzires em relação ao teu amigo David?”, perguntou-lhe Absalão. “Porque não estás com ele?” “Porque trabalho para o homem que foi escolhido pelo Senhor e por Israel”, replicou Husai. “Porque haveria de estar com ele? Colaborei com o teu pai e agora colaboro contigo!” Absalão aconselhou-se com Aitofel: “Que devo fazer agora?” Aitofel disse-lhe: “Vai deitar-te com as mulheres do teu pai, aquelas que deixou aqui para manter a casa em ordem. Todo o Israel verá que o insultas de forma a tornar impossível qualquer reconciliação e dessa forma a população cerrará fileiras atrás de ti.” Foi então levantada uma tenda num dos terraços do palácio, que toda a gente podia ver, e ali Absalão possuía as mulheres de seu pai. Absalão fez tudo o que Aitofel lhe dizia tal como aconteceu com David. É que por detrás de cada palavra de Aitofel se descobria a sabedoria de Deus. “Dá-me 12 000 homens para que vá atrás de David esta noite”, disse-lhe Aitofel. “Vou atacá-lo enquanto está cansado e abatido e as suas tropas entrarão em pânico e fugirão. Procurarei matar apenas o rei. Pouparei os que estão com ele, os quais te trarei posteriormente.” Absalão e todos os anciãos de Israel aprovaram este plano. No entanto, Absalão ainda deu a seguinte ordem: “Perguntem a Husai, o arquita, o que pensa disso.” Quando Husai chegou, Absalão pô-lo ao corrente do plano de Aitofel e perguntou-lhe. “Qual é a tua opinião? Achas que devemos seguir os conselhos de Aitofel? Se não tens a mesma opinião, fala à vontade.” Husai respondeu: “Desta vez Aitofel engana-se. Conheces bem o teu pai e os seus homens; são valentes guerreiros e provavelmente estão tão revoltados como uma ursa a quem tenham roubado as crias. Além disso, o teu pai, que é um velho soldado, não iria passar a noite no meio das suas tropas. Muito possivelmente está já escondido nalguma cova ou gruta. Quando aparecer para atacar, bastará que alguns dos teus homens caiam para que se gere o pânico e todos se ponham a gritar que a tua gente está sendo toda morta. Até os mais bravos entre eles, mesmo aqueles com o coração de leões, ficarão paralisados de medo. Porque todo o povo sabe como o teu pai é um homem poderoso e como são corajosos os seus soldados. O meu conselho é que mobilizes todo o exército de Israel, desde Dan até Berseba, uma multidão como a areia do mar, e depois vás com eles para a batalha. Quando nos encontrarmos com David, cairemos sobre ele, como o orvalho cai sobre a terra, sem que fique um só com vida. No caso do teu pai se ter escondido nalguma cidade, teremos todo o exército de Israel sob as tuas ordens e poderemos levar cordas, derrubar as muralhas e fazer delas um montão de pedras no vale mais próximo.” Absalão e todos os outros acharam o conselho de Husai melhor que o de Aitofel. Mas era o Senhor quem estava a intervir para que a opinião deste último fosse recusada, embora mais sensata, para que a iniciativa de Absalão falhasse. Husai contou a Zadoque e a Abiatar, os sacerdotes, o que Aitofel aconselhara e o que ele próprio contrapusera. “Depressa!”, disse-lhes. “Procurem David e digam-lhe que não fique nas margens do Jordão esta noite, mas que passe além do deserto, se não morrerá, ele e todo o seu exército.” Jónatas e Aimaaz tinham ficado em En-Rogel para não serem vistos a entrar e a sair da cidade. Tinham combinado que uma criada lhes levaria a mensagem a ser entregue a David. No entanto, houve um rapaz que os viu deixar En-Rogel para ir ter com David, e foi dizê-lo a Absalão. Contudo, puderam ainda ocultar-se em Baurim, onde alguém os escondeu dentro dum poço no seu jardim. A mulher desse indivíduo pôs um pano a tapar a boca do poço, deitou-lhe grão em cima, como se fosse para secar ao Sol, e ninguém suspeitou do esconderijo. Quando a gente de Absalão chegou e perguntou à mulher se tinha visto Aimaaz e Jónatas, disse que tinham atravessado o ribeiro para o outro lado. Assim, cansaram-se de os procurar e voltaram para trás. Os dois filhos dos sacerdotes saíram entretanto do poço e correram para junto de David: “Atravessa o Jordão já esta noite!” E deram-lhe a conhecer como Aitofel tinha aconselhado que fosse capturado e morto. David e todos os que estavam com ele atravessaram o rio durante a noite e de madrugada estavam do outro lado. Aitofel, vendo que o seu conselho não fora seguido, albardou um jumento, voltou à povoação onde morava, pôs em ordem as suas coisas e enforcou-se. Assim morreu e foi enterrado junto do seu pai. David em breve chegou a Maanaim. Entretanto, Absalão mobilizou todo o exército de Israel e atravessou o rio Jordão. Nomeou Amasa como general do seu exército, em substituição de Joabe. Amasa era primo em segundo grau de Joabe; seu pai era Itra, um ismaelita, e sua mãe, Abigail, filha de Naás, irmã de Zeruía, a mãe de Joabe. Absalão e as tropas israelitas acamparam na terra de Gileade. Quando David chegou a Maanaim, foi muito bem recebido por Sobi, filho de Naás de Rabá, um amonita, e por Maquir, filho de Amiel de Lo-Debar, e por Barzilai, um gileadita de Rogelim. Trouxeram-lhes colchões, vasilhas de barro, trigo, cevada, farinha, grão torrado, favas e lentilhas também torradas; assim como mel, manteiga e queijo de ovelha e de vaca. Porque diziam: “Devem estar muito cansados, com fome e com sede, depois de uma marcha tão longa pelo deserto.” mas os conselheiros opuseram-se fortemente: “Não deves fazer tal coisa, porque se tivermos que fugir, e mesmo que metade de nós venha a morrer, eles não ligarão a isso, visto que só pretendem capturar a tua pessoa. Tu vales o mesmo que 10 000 de nós. Portanto, é muito melhor que fiques aqui na cidade e nos mandes ajuda, se viermos a precisar.” “Seja como melhor entenderem.” Assim, ficou à porta da cidade, até que toda a tropa passou. Deu ainda a seguinte ordem a Joabe, a Abisai e a Itai: “Peço-vos, por amor de mim, que tratem bem o meu filho Absalão.” Todos os soldados ouviram esta recomendação do soberano. A batalha travou-se na floresta de Efraim. As tropas israelitas foram batidas pelos homens de David. Houve mesmo uma enorme matança; 20 000 homens deixaram ali as suas vidas. A luta estendeu-se por todo aquele campo e foram mais os que desapareceram na floresta do que os que foram mortos. Durante a peleja Absalão encontrou-se com alguns dos homens mais chegados a David. Ao pôr-se em fuga na sua mula, esta meteu-se debaixo da ramagem espessa de um grande carvalho, ficando a cabeça de Absalão presa ali. A mula continuou a correr, deixando-o pendurado. Um dos homens de David viu-o e veio contá-lo a Joabe. “O quê! Viste-o nessa situação e não o mataste?”, exclamou Joabe. “Ter-te-ia dado dez peças de prata e um cinto.” “Nem por mil peças o teria feito”, replicou o homem. “Todos nós ouvimos o rei dizer-te a ti, a Abisai e a Itai: ‘Por amor de mim, peço-vos que não tratem mal o meu filho Absalão!’ Se tivesse traído o rei, matando-lhe o filho, o rei com certeza haveria de descobrir quem o fez e serias o primeiro a acusar-me.” “Não posso estar aqui a perder tempo contigo”, respondeu Joabe. Depois pegou em três dardos e foi enterrá-los no coração de Absalão, enquanto ainda estava vivo e pendurado nos ramos do carvalho. Dez dos pajens de armas de Joabe atiraram-se seguidamente sobre o príncipe e acabaram com ele. Joabe mandou tocar a trombeta e a tropa deixou de perseguir o exército dos israelitas. Pegaram posteriormente no corpo de Absalão e atiraram-no numa funda cova ali na floresta, fazendo um grande monte de pedras sobre ele. Os soldados do exército israelita fugiram todos, cada um para sua casa. Absalão tinha feito erguer um monumento em sua própria honra no vale do Rei, pois tinha pensado: “Não tenho filhos que façam perdurar o meu nome.” Deu-lhe o nome de Monumento de Absalão, como é conhecido até hoje. Aimaaz, o filho de Zadoque disse: “Vamos a correr ter com o rei David para lhe dar a grande notícia que o Senhor o salvou do seu inimigo Absalão.” “Não!”, respondeu-lhe Joabe. “Isso não seria uma boa notícia para ele dizer-lhe que o filho morreu. Poderás transmitir-lha mais tarde.” E dirigiu-se a um homem de Cuche: “Vai dizer ao rei o que viste acontecer.” O homem inclinou-se e partiu a correr. Aimaaz insistiu com Joabe: “Por favor, deixa-me ir também.” Joabe respondeu: “Por agora não precisamos de ti, meu rapaz. Não temos mais mensagens a transmitir, neste momento.” “Está bem, mas deixa-me ir de qualquer maneira.” Joabe, por fim, acedeu: “Está bem, vai lá então!” Aimaaz tomou um atalho através da planície e conseguiu chegar antes do homem de Cuche. David estava sentado à porta da cidade. A sentinela, ao subir os degraus que levavam ao seu posto no alto da muralha, viu alguém sozinho a correr em direção à cidade. E gritou dali para o rei: “Há um homem que se aproxima sozinho.” Este respondeu-lhe: “Se vem só, é porque traz notícias!” Enquanto o mensageiro se aproximava correndo, a sentinela reparou noutro indivíduo que também corria e gritou: “Há mais outro que se aproxima.” O soberano replicou: “É porque traz ainda mais notícias.” “O primeiro está-me a parecer que se trata de Aimaaz, o filho de Zadoque”, disse o vigia. “É um bom rapaz, certamente que traz boas notícias”, acrescentou o rei. Então Aimaaz gritou, ainda de longe, para o rei: “Vai tudo bem!”, e inclinou-se até ao chão, quando chegou à presença do rei, e disse: “Bendito seja o Senhor, teu Deus, que destruiu os rebeldes que ousaram levantar-se contra ti!” “E que é feito do jovem Absalão?”, perguntou o rei. “Ele está bem?” Aimaaz respondeu: “Quando Joabe me disse para vir, havia uma grande confusão, por isso não sei.” “Espera aí, não te vás embora.” Aimaaz ficou ali ao lado, de pé. Por fim, chegou o homem de Cuche e disse: “Tenho boas notícias a dar ao rei, meu senhor. Hoje o Senhor salvou-te de todos aqueles que se revoltaram contra ti.” “E quanto ao meu filho, Absalão? Ele está bem?” O homem de Cuche respondeu: “Que todos os teus inimigos estejam como está agora esse jovem!” O rei rompeu em lágrimas, foi para os seus aposentos sobre a entrada da cidade, chorando enquanto andava. “Ó meu filho Absalão, meu filho, meu querido filho Absalão! Se ao menos eu pudesse ter morrido em teu lugar! Ó Absalão, meu filho, meu filho!” Chegou aos ouvidos de Joabe que o rei estava a chorar e a lamentar-se por causa da morte de Absalão. Quando o povo soube da profunda tristeza do rei, por causa da perda do filho, desapareceu a alegria que tinha marcado aquele dia de vitória, tornando-se em amargura para todos. Toda a tropa regressou cabisbaixa à cidade, como se estivessem com vergonha e tivessem sido batidos na luta. O rei cobria o rosto com as mãos e continuava chorando: “Ó meu filho Absalão! Ó Absalão, meu filho, meu querido filho!” Joabe foi ter com o rei aos seus aposentos e disse-lhe: “Hoje salvámos a tua vida e a dos teus filhos, filhas, mulheres e concubinas. E tu tomas uma atitude destas, fazendo-nos até sentir envergonhados, como se tivéssemos cometido uma má ação. Parece mesmo que amas os que te odeiam e odeias os que te amam. Aparentemente, nós nada valemos aos teus olhos. Se Absalão estivesse vivo e todos tivéssemos morrido, então sim, estarias feliz! Peço-te que saias e vás felicitar as tropas; pois juro-te, diante de Senhor, que se não o fizeres, nem um só deles aqui ficará esta noite. E isto será muito pior para ti do que o mal que te tem acontecido a vida inteira.” O rei saiu de casa, foi sentar-se à entrada da cidade e quando se soube que o rei estava ali, as pessoas vieram ter com ele. Entretanto, os israelitas que apoiavam Absalão tinham fugido para as suas casas. Havia grande controvérsia por toda a nação e o povo perguntava: “Porque não tratamos de trazer de volta o rei? Foi ele quem nos salvou dos nossos inimigos, os filisteus. Absalão, que nós consagrámos em lugar do pai, está agora morto. Vamos buscar David e fazê-lo de novo o nosso rei.” David enviou Zadoque e Abiatar, sacerdotes, dizer aos anciãos de Judá: “Por que razão são os últimos a restabelecer o rei? Todo o Israel está pronto menos vocês. Vocês são meus irmãos, a minha própria tribo, a minha carne e meu sangue!” Disse-lhes ainda que transmitissem a Amasa: “Sendo meu sobrinho, que Deus me castigue se não te nomear comandante do meu exército, em lugar de Joabe.” Então Amasa conseguiu convencer todos os chefes de Judá, os quais responderam unanimemente, mandando um recado ao soberano: “Volta para nós com os que estão contigo.” O rei partiu de regresso a Jerusalém. Quando chegou ao rio Jordão, parecia que toda a população de Judá tinha vindo a Gilgal ao seu encontro para o escoltar atravessando o rio. Simei, filho de Gera, de Benjamim, o homem de Baurim, correu na companhia da gente de Judá para dar as boas vindas ao rei David. Um milhar de indivíduos da tribo de Benjamim estava com ele, incluindo Ziba, o servo de Saul, mais os quinze filhos de Ziba e vinte dos seus criados. Desceram à pressa até ao Jordão e chegaram à presença do rei. Esforçaram-se prestavelmente no transporte de todo o pessoal da casa real e das tropas e ajudaram em tudo o que foi possível. Quando foi a vez do rei passar, Simei prostrou-se perante ele e rogou-lhe: “Ó rei, meu senhor, peço-te que me perdoes e esqueças a conduta perversa que tive quando deixaste Jerusalém. Sei muito bem quanto pequei. É por isso que vim aqui hoje; fui a primeira pessoa de toda a tribo de José que te deu as boas vindas.” Abisai perguntou: “Não deverá Simei morrer, visto que amaldiçoou o rei ungido pelo Senhor?” “Não quero que fales dessa maneira diante de mim!”, exclamou David. “Este não deverá ser um dia de execuções. Eu tornei a ser rei de Israel!” Depois, voltando-se para Simei, garantiu-lhe: “A tua vida será poupada.” Mefibosete, neto de Saul, saiu de Jerusalém para ir encontrar-se com o rei. Não tinha lavado os pés, nem a roupa que vestia, nem feito a barba, desde o dia em que o rei deixara Jerusalém. “Porque é que não vieste comigo, Mefibosete?”, perguntou-lhe o rei. Mefibosete respondeu: “Ó meu senhor, meu rei, Ziba o meu criado enganou-me. Eu disse-lhe: ‘Sela o meu jumento para que possa ir com o rei.’ Pois como sabes, sou coxo. Mas Ziba caluniou-me. Disse que eu recusara ir contigo. Tu és como um anjo de Deus, portanto, aquilo que decidires está certo. Eu e os meus familiares só tínhamos o direito de esperar a morte da tua parte; em vez disso honraste-me, integrando-me entre os que comem à tua própria mesa! Por isso, como posso queixar-me?” “Está bem”, respondeu David. “A minha decisão é que tu e Ziba dividam a terra equitativamente entre os dois.” “Podes dar-lhe a terra toda”, disse Mefibosete. “Eu já estou feliz que tenhas voltado!” “Passa comigo para o outro lado e vem viver para Jerusalém”, disse-lhe o soberano. “Estarás ali sob os meus cuidados.” “Não, já sou demasiado velho para isso. Estou com 80 anos e a vida para mim já não tem muitos atrativos. Comida e bebida deixaram de me interessar muito; as diversões não são coisa atrás das quais eu corra. Acabaria por me tornar nada mais do que um fardo para o meu senhor e rei. A única honra que peço neste momento é a de poder atravessar o rio contigo! Depois deixem-me voltar para a minha terra e morrer ali onde o meu pai e minha mãe jazem enterrados. Está aqui o meu filho Quimã. Ele que vá contigo e que receba todos os benefícios que queiras dar-lhe!” O rei concordou: “Está bem. Quimã que me acompanhe e farei por ele tudo aquilo que queria fazer por ti.” Todo o povo atravessou o Jordão com o rei. David beijou e abençoou Barzilai que voltou para casa. O rei continuou até Gilgal, levando consigo Quimã. Grande parte da população de Judá e metade de Israel estavam ali para o saudar. No entanto, os homens de Israel lamentaram-se perante o rei pelo facto de somente a gente de Judá ter ajudado o rei e a sua casa no transporte através do rio Jordão. “E que mal há nisso?”, perguntaram os de Judá. “O rei é da nossa tribo. Por que razão haveriam de se sentir por isso? Nós não lhe pedimos nada em troca; o rei não nos forneceu nem concedeu nada em recompensa!” “Há dez tribos em Israel”, responderam os outros. “Temos dez vezes mais direitos em relação à pessoa do rei. Porque não nos convidaram? E lembrem-se duma coisa, nós fomos os primeiros a falar em restabelecer o nosso rei.” Continuaram a discutir, mas os homens de Judá acabaram por ter mais força nos seus argumentos. Um extremista revoltado que se chamava Seba, filho de Bicri da tribo de Benjamim, tocou trombeta e gritou para toda a gente: “Nós não temos nada a ver com David; nada temos de comum com este filho de Jessé! Gente de Israel: Vamos embora daqui! Ele não é o nosso rei!” À exceção de Judá, todos deixaram de seguir a David e foram atrás de Seba. Os homens de Judá ficaram com o seu rei, acompanhando-o do Jordão até Jerusalém. Quando chegou ao seu palácio, o rei deu instruções para que as suas dez mulheres, que deixara a guardar o palácio, ficassem a viver retiradas num aposento próprio. Seriam sustentadas devidamente, mas o rei não mais teria relações com elas como suas mulheres e seriam como viúvas até falecerem. Então o rei deu instruções a Amasa para mobilizar o exército de Judá dentro do período de três dias e que depois se apresentasse de novo ao soberano. Amasa foi recrutar tropas, mas levou mais tempo que os três dias que lhe tinham sido concedidos. David disse a Abisai: “Esse indivíduo Seba é bem capaz de nos fazer ainda mais mal do que Absalão. Portanto, despacha-te, pega na minha guarda pessoal e vai atrás dele, antes que tome posição numa cidade fortificada onde não possamos atingi-lo.” Abisai e Joabe foram em perseguição dele com um batalhão de elite formado por soldados do exército de Joabe, como os cretenses e peleteus da guarda privada do soberano. Deixaram Jerusalém e foram em perseguição de Seba, filho de Bicri. Quando chegaram à grande rocha de Gibeão, deram de caras com Amasa. Joabe envergava o seu uniforme militar, com uma espada ao lado. Ao aproximar-se de Amasa para o saudar, foi tirando disfarçadamente a espada da bainha. “Então como vais, meu irmão?”, disse-lhe Joabe, enquanto lhe pegava na barba, com a mão direita, como se preparasse para o beijar. Amasa não reparou na espada já desembainhada na mão esquerda e Joabe enfiou-lha no estômago, de tal forma que até as entranhas lhe saíram. Nem foi preciso feri-lo segunda vez; morreu logo ali. Joabe e Abisai deixaram-no caído e continuaram atrás de Seba. Um dos jovens oficiais de Joabe gritou para as tropas de Amasa: “Se vocês são por David, venham e sigam a Joabe.” O corpo de Amasa jazia ali, no meio do caminho, banhado em sangue. O jovem oficial vendo que toda aquela gente se amontoava em volta do cadáver para o ver, arrastou-o para fora do caminho, para um campo ao lado e pôs-lhe uma manta em cima. Com o corpo morto afastado da estrada, toda a gente foi atrás de Joabe para capturarem Seba. Entretanto, Seba tinha atravessado a terra de Israel para mobilizar o seu próprio clã de Bicri na cidade de Abel-Bete-Maacá. Quando as forças de Joabe chegaram, cercaram Abel-Bete-Maacá, construíram uma plataforma, levantaram-na até à altura da muralha da povoação e começaram a destruí-la. Uma mulher conhecida pela sua sensatez chamou por Joabe: “Escuta-me, Joabe. Chega-te aqui. Quero falar contigo.” Ele aproximou-se e a mulher perguntou-lhe: “Tu és mesmo Joabe?” Respondeu-lhe: “Sim, sou eu próprio.” “Há um ditado que diz: ‘Se quiseres ganhar uma causa, pede conselho em Abel’, porque nós sempre damos bons conselhos. Tu estás a destruir uma cidade antiga, pacífica e leal a Israel. Será correto que estejas a derrubar o que pertence ao Senhor?” “A questão não é essa”, replicou Joabe. “Tudo o que eu pretendo é um homem chamado Seba, das colinas de Efraim, que se revoltou contra o rei David. Se mo entregarem, deixaremos a cidade em paz.” “Está bem, lançaremos a sua cabeça sobre a muralha.” Então a mulher levou aos habitantes da povoação esse assunto; eles cortaram a cabeça a Seba e lançaram-na a Joabe. Este tocou a trombeta, reuniu as tropas para abandonarem o ataque e voltaram para junto do rei em Jerusalém. Joabe era o comandante-chefe do exército, Benaia, filho de Jeoiada, tinha a chefia dos cretenses e peleteus. Adonirão era o responsável pelos serviços de impostos, Jeosafá, filho de Ailude, era o cronista. Seva era escrivão, Zadoque e Abiatar eram os sacerdotes. Ira, o jairita, era o sacerdote pessoal ao serviço de David. Houve uma fome durante o reinado de David que durou três anos consecutivos. David consultou o Senhor que lhe disse: “Esta fome é por causa da maldade de Saul e da sua família sanguinária que matou os gibeonitas.” O rei chamou os gibeonitas. Estes não faziam parte de Israel; tinham ficado da nação dos amorreus. Israel jurara não os matar, mas Saul, no seu zelo nacionalista, tentou liquidá-los. David perguntou-lhes: “Que posso fazer por vocês, para que nos livremos desta culpa que recai sobre nós, e para que possamos enfim pedir a bênção do Senhor?” “O caso não se resolve com dinheiro e também não pretendemos matar seja quem for dos israelitas.” David perguntou de novo: “Que posso eu fazer? Digam-me para que assim proceda.” No entanto, poupou Mefibosete, filho de Jónatas e neto de Saul, devido ao juramento que fizera a Jónatas. Mas deu-lhes os dois filhos de Rispa, Armoni e Mefibosete, que eram netos de Saul através da sua mulher Aiá. Também lhes entregou cinco filhos de Merabe, filha de Saul, que tivera de Adriel, filho de Barzilai, meolatita. Os homens de Gibeão enforcaram-nos na montanha perante o Senhor. Os sete morreram juntos no princípio da colheita da cevada. Rispa, a mãe de dois dos homens, estendeu um saco de serapilheira sobre um rochedo e ficou ali a guardar os cadáveres, durante toda a estação da sega, para evitar que as aves de rapina os despedaçassem de dia e que de noite os animais selvagens os comessem. David, ao saber do que ela tinha feito, Uma vez mais os filisteus estavam em guerra com Israel. David e os seus homens participavam na batalha, tendo o rei ficado exausto e muito fraco. Isbi-Benobe, um gigante cuja lança de bronze pesava mais de 3 quilos e que usava uma armadura nova, aproximou-se de David com a intenção de o matar. Mas Abisai, o filho de Zeruía, chegou a tempo e matou este gigante filisteu. Na sequência desse incidente os homens de David disseram-lhe: “Nunca mais voltarás a combater! Por que razão haveríamos de correr o risco de se apagar a luz de Israel?” Mais tarde, durante uma guerra com os filisteus também em Gobe, Sibecai, o husatita, matou Safe, um outro gigante. Durante outra guerra contra os filisteus, El-Hanã, filho de Jaré-Oreguim, natural de Belém, matou o irmão de Golias, o giteu, cuja lança era tão grande como a viga dum tecelão. Noutra batalha, em Gate, um gigante com seis dedos em cada mão e em cada pé, filho também dum gigante, injuriava a nação de Israel; Jónatas, sobrinho de David, filho de Simeia, irmão de David, matou-o. Estes quatro gigantes pertenciam à tribo dos gigantes de Gate e foram mortos por elementos das tropas de David. David compôs este cântico para o Senhor após ter sido salvo por ele das mãos de Saul e dos seus outros inimigos: “O Senhor é o meu rochedo, o meu lugar forte e o meu libertador. Esconder-me-ei em Deus que é o meu rochedo e o meu alto retiro. Ele é o meu escudo, o poder da minha salvação e o meu refúgio. Ó meu Salvador, tu me livras da violência. Invocarei o Senhor que é digno de todo o louvor; salvar-me-á de todos os meus adversários. Ondas de morte me cercaram; torrentes de maldade desabaram sobre mim. Fui ligado e atado por laços do mundo dos mortos e por ciladas da morte. Clamei pelo Senhor, meu Deus, na minha tribulação, e ele ouviu-me desde o seu templo; o meu clamor chegou aos seus ouvidos. Então a Terra foi abalada e tremeu; os fundamentos dos céus abalaram-se, por causa da sua ira. Saiu fumo do seu rosto, da sua boca um fogo devorador, que tudo consumia, e punha as brasas a arder. Fez baixar os céus e desceu, andando sobre espessas nuvens. Voou sobre um querubim, sobre as asas do vento. As trevas rodearam-no, espessas nuvens o circundaram; Com o brilho da sua presença acendiam-se centelhas de fogo. O Senhor trovejou desde os céus; o Deus supremo fez ecoar a sua voz. Disparou as suas frechas de luz e dispersou os inimigos. Pelo sopro da sua respiração até o mar se dividiu em dois, e viu-se o fundo das águas pela repreensão do Senhor. Desde o alto me livrou, salvou-me de ser levado pelas vagas. Libertou-me do meu poderoso inimigo, daqueles que me odiavam, dos que tinham muito mais força do que eu. Saltaram sobre mim no dia da calamidade, mas o Senhor foi a minha proteção. Fez-me reaver a liberdade; resgatou-me, porque me amava. O Senhor recompensou-me, conforme a minha retidão, porque tinha as mãos limpas. Guardei os caminhos do Senhor; não me afastei impiamente do meu Deus. Tive sempre presentes as suas leis; não me desviei dos seus estatutos. Fui sempre reto perante ele e fugi do pecado. Por isso, o Senhor atendeu à minha justiça, pois viu que eu estava limpo. Tu és misericordioso para com os misericordiosos; revelas a tua retidão para com os que são retos. Com os puros, mostras-te puro, mas astuto com os perversos. Tu salvas os que estão aflitos, mas abates os orgulhosos, pois tens os olhos sempre postos neles. Senhor, tu és a minha luz! Transformas em luz a minha escuridão. Pelo teu poder posso esmagar um exército; pela tua força saltarei muralhas. O caminho de Deus é reto. A palavra do Senhor é verdade; é um escudo para os que procuram a sua proteção. Só o Senhor é Deus. Quem é como um rochedo senão o nosso Deus? Deus é a minha poderosa fortaleza; faz-me andar em perfeita segurança. Faz com que caminhe com passo bem firme, como as gazelas sobre os cumes. Torna-me hábil nos combates, dá-me força capaz de dobrar um arco de bronze; Deste-me o escudo da tua salvação; pela tua bondade me engrandeceste. Fizeste-me andar sobre caminhos planos, onde os meus pés não vacilaram. Persegui os meus inimigos e os destruí; não desisti sem os derrotar. Consumi-os e destrocei-os de tal forma que mais nenhum deles se poderá levantar. Caíram debaixo dos meus pés. Pois deste-me força para a batalha. Fizeste com que subjugasse todos os que se levantaram contra mim. Obrigaste os meus inimigos a retroceder e fugir; destruí todos os que me odiavam. Pediram ajuda, mas ninguém os auxiliou; clamaram ao Senhor, mas recusou ouvi-los. Pisei-os como o pó do chão, esmaguei-os e dispersei-os, como pó pelas ruas. Guardaste-me da rebelião do meu povo; livraste-me para que seja cabeça das nações. Estrangeiros me servirão. Em breve me serão sujeitos, quando ouvirem falar do meu poder. Perderão a altivez e virão a tremer, lá dos seus esconderijos. O Senhor vive! Bendito seja aquele que é o meu rochedo. Que Deus seja louvado, aquele que é a rocha da minha salvação! Ele é o Deus que por mim faz vingança, que destrói os que se levantam contra mim. Resgataste-me dos meus adversários. Sim, tu levantaste-me em segurança, acima das suas cabeças. Livraste-me da violência. Por isso, Senhor, dar-te-ei graças entre as nações, e cantarei louvores ao teu nome. Ele deu uma maravilhosa salvação ao seu rei; manifestou misericórdia ao seu ungido, a David e à sua família, para sempre.” Estas foram as últimas palavras de David: “Diz assim David, o filho de Jessé, o homem a quem Deus deu tanto sucesso, o ungido do Deus de Jacob, o suave salmista de Israel. O Espírito do Senhor falou por mim, a sua palavra estava na minha boca. Disse-me assim a rocha de Israel: ‘Aquele que governa com toda a justiça, que administra no temor de Deus, é como a luz da manhã, como uma esplêndida alvorada, quando a tenra erva brota do solo, sob o calor do Sol, depois da chuva.’ Foi igualmente a minha família que ele escolheu! Sim, Deus estabeleceu uma aliança eterna comigo; está selada com o seu acordo eterno. Zelará constantemente pela minha segurança e pelo meu sucesso. Os ímpios são como espinhos que se lançam para longe; rasgam a mão de quem lhes pega. Tem de se estar protegido para os apanhar, e para serem lançados no fogo.” São os seguintes os nomes dos três homens mais valentes que David teve, os mais heróicos soldados do seu exército: O primeiro foi Josebe-Bassebete, de Taquemoni, também conhecido por Adino, o eznita; certa vez matou 800 homens numa só batalha. Depois é Eleazar, o filho de Dodo e neto de Aoí. Foi um dos três homens que, com David, enfrentaram os filisteus daquela vez que o exército de Israel fugiu. Matou filisteus, até que a sua mão, de cansada, já lhe doía ao segurar a espada; o Senhor deu-lhe uma grande vitória. O resto do exército só voltou na altura de recolher o despojo. Um dia, quando David vivia na caverna de Adulão e os invasores filisteus estavam no vale de Refaim, três dos trinta oficiais comandantes do exército israelita desceram no tempo da sega para o visitar. No momento do acontecimento David encontrava-se numa fortaleza. Uns guerreiros filisteus tinham ocupado Belém. A certa altura, David expressou o seguinte desejo: “Quem me dera poder beber da água daquele poço de Belém que está junto à porta!” Então esses três homens romperam através desse posto avançado dos filisteus, tiraram água do poço e trouxeram-na a David! Contudo, David recusou; em vez de a beber, derramou-a como oferta perante o Senhor. E disse: “Nunca faria tal coisa, Senhor! Nunca beberia uma água que afinal representa o sangue destes homens que arriscaram as suas vidas para a ir buscar!” Também Abisai, irmão de Joabe, filho de Zeruía, foi comandante dos trinta. Certa vez, só com a sua lança, matou 300 soldados inimigos. Foi por tais feitos que ele ganhou uma reputação semelhante à daqueles três homens, ainda que não fosse igual a eles. Entre o corpo dos trinta comandantes, ele era o chefe. Havia também Benaia, filho de Jeoiada, um valente soldado de Cabzeel. Benaia matou os dois filhos de Ariel de Moabe. Noutra altura, entrou numa gruta e a despeito do chão estar muito escorregadio, por causa da neve gelada, pegou num leão que ali se tinha abrigado e matou-o. Noutra ocasião ainda, tendo na mão unicamente uma vara, matou um soldado egípcio armado com uma lança; conseguiu arrancar-lha e com ela matou o egípcio. Estes foram alguns dos feitos que deram a Benaia, filho de Jeoiada, quase tanta fama como a dos três primeiros. Era muito famoso entre os trinta, mas não pode rivalizar com o grupo dos três. David fê-lo capitão da sua guarda pessoal. Asael, irmão de Joabe, era também um dos trinta comandantes. Os outros eram: El-Hanã, filho de Dodo, de Belém; Samá de Harode; Elica também de Harode; Helez de Palti; Ira, filho de Iques, de Tecoa; Abiezer de Anatote; Mebunai de Husate; Zalmom o aoíta; Maarai de Netofá; Helebe, filho de Baaná, de Netofá; Itai, filho de Ribai, de Gibeá, da tribo de Benjamim; Benaia de Piraton; Hidai do ribeiro de Gaás; Abi-Albom de Arbate; Azmavete de Baurim; Eliaba de Saalbom; Os filhos de Jasen; Jónatas, filho de Sage, de Harar; Samá de Harar; Aião, filho de Sarar, de Harar; Elifelete, filho se Aasbai, de Maacá; Eliam, filho de Aitofel, de Gilo; Hezro do Carmelo; Paarai de Arba; Igal, filho de Natã, de Zobá; Bani de Gad; Zeleque de Amon; Naarai de Beerote, o que levava as armas de Joabe, o filho de Zeruía; Ira de Itra; Garebe de Itra; Urias, o hitita. Trinta e sete ao todo. A ira do Senhor tornou a acender-se contra Israel e David foi levado a tomar uma decisão que trouxe uma desgraça para o povo: fazer um recenseamento de Israel e Judá. O rei disse a Joabe, comandante do seu exército: “Faz o recenseamento geral de toda a população, desde Dan até Berseba, para que se saiba quantos são ao todo.” Joabe replicou: “Que o Senhor, teu Deus, permita que vivas o bastante para veres este povo multiplicado cem vezes neste reino! Que interesse tens tu nesse recenseamento?” A vontade do rei prevaleceu contra a argumentação de Joabe. Este, acompanhado de outros oficiais do exército, começou a tarefa da contagem do povo de Israel. Primeiramente atravessaram o Jordão e instalaram-se em Aroer, a sul da cidade que fica no meio do vale de Gad, junto de Jazer. Depois foram para Gileade, na terra de Tatim-Hodchi, para Dan-Jaã e para os arredores de Sídon. Seguidamente, deslocaram-se para a fortaleza de Tiro e para todas as cidades dos heveus e dos cananeus e depois para o sul de Judá até Berseba. Passaram pela terra toda, tendo completado a sua missão em nove meses e vinte dias. Joabe trouxe o número total do povo ao rei: eram 800 000 homens em idade de serviço militar em Israel e 500 000 em Judá. Após ter mandado fazer o recenseamento, a consciência de David começou a acusá-lo e disse ao Senhor: “Pequei gravemente ao fazer tal coisa. Peço-te que me perdoes, porque reconheço que agi loucamente.” Na manhã seguinte, quando David se levantou, veio a palavra do Senhor ao profeta Gad, vidente de David. O Senhor disse a Gad: “Vai dizer a David: O Senhor propõe-te três coisas; escolhe a que preferes.” Gad veio ter com David e perguntou-lhe: “Preferes sete anos de fome em toda a terra, ou fugir diante dos teus inimigos durante três meses, ou que haja três dias de praga na tua terra? Pensa nisto e depois dá-me uma resposta, para que a transmita a quem me enviou.” “É uma decisão muito difícil”, respondeu David. “É melhor cair nas mãos do Senhor, porque grande é a sua misericórdia, do que nas mãos dos homens.” Então o Senhor enviou uma praga sobre Israel naquela manhã, que durou três dias, e morreram 70 000 pessoas desde Dan, no norte, até Berseba, no sul. Quando o anjo do Senhor se preparava para estender a sua mão sobre Jerusalém para a destruir, por causa da grande compaixão que sentiu, o Senhor ordenou ao anjo destruidor: “Para! Já basta!” O anjo do Senhor estava sobre a eira de Arauna, o jebuseu. Quando David viu o anjo, disse ao Senhor: “ Senhor, eu sou o único culpado deste pecado! Estas ovelhas nada fizeram! Destrói-me a mim e à minha família.” Nesse dia, Gad foi ter com David e disse-lhe: “Sobe à eira de Arauna, o jebuseu, e constrói ali um altar ao Senhor.” David pôs-se logo a caminho, como o Senhor lhe tinha ordenado por intermédio de Gad. Quando Arauna viu o rei e os seus homens virem na sua direção, foi e inclinou-se com o rosto no chão perante o rei. “Porque vieste aqui?”, perguntou Arauna. David respondeu: “Para te comprar a eira e construir ali um altar ao Senhor, a fim de que cesse esta praga.” Arauna disse-lhe: “Fica já com ela, meu senhor, e usa-a como bem entenderes. Estão aqui bois para o holocausto e podes usar o carro e os jugos dos bois como madeira para o fogo do altar. Tudo te dou. Assim, o Senhor Deus aceite o teu sacrifício.” “Não”, disse David. “Quero comprar-ta pelo seu preço, pois não oferecerei ao Senhor, meu Deus, holocaustos que nada me custem.” David pagou-lhe então 50 peças de prata pela eira e pelos bois; Construiu ali um altar ao Senhor e sacrificou holocaustos e ofertas de paz sobre ele. O Senhor respondeu à sua oração e a praga cessou. Sendo o rei David já muito idoso, tinha enorme dificuldade em se aquecer. Por mais mantas com que o cobrissem, tinha sempre frio. “O remédio para isso”, disseram-lhe os criados, “é procurar-se uma rapariga virgem que cuide do rei e se recline nos seus braços, mantendo-o quente.” Então procuraram em todo o país uma rapariga que fosse formosa e selecionaram Abisague, sunamita. Trouxeram-na para junto do rei e ela cuidava dele, mas não tiveram relações sexuais. Por essa altura, o príncipe Adonias, cuja mãe era Hagite, decidiu ocupar o trono em lugar do seu pai. Reuniu carros e cavaleiros e recrutou cinquenta homens de marcha. O pai nunca o tinha sabido disciplinar; nunca fora contrariado nem repreendido. Era um homem extremamente bem parecido e Absalão era o seu irmão mais velho. Este procurou ganhar a confiança do general Joabe e de Abiatar, o sacerdote, os quais concordaram em colaborar nos seus intentos. Mas houve alguns que permaneceram fiéis ao rei David e que recusaram a apoiar Adonias, como foi o caso do sacerdote Zadoque, e Benaia, filho de Jeoiada, o profeta Natã e ainda Simei, Reé e os outros valentes do rei. Adonias foi até En-Rogel e sacrificou ovelhas, bois e bezerros cevados, junto à pedra de Zoelete. Convidou todos os irmãos, os outros filhos do rei David, assim como figuras de relevo de Judá pertencentes à casa real, pedindo-lhes que assistissem à sua coroação. Contudo, não convidou nem o profeta Natã, nem Benaia, nem os valentes guerreiros que tinham permanecido leais, nem o seu irmão Salomão. O profeta Natã foi ter com Bate-Seba, mãe de Salomão, e perguntou-lhe: “Estás a dar-te conta do que anda a suceder? Adonias, o filho de Hagite, vai tornar-se rei sem que David, o nosso senhor, o saiba! Se queres conservar a tua vida e a do teu filho Salomão, faz exatamente o que te vou dizer: Vai já ter com David e coloca-lhe esta questão: ‘Meu senhor, não me prometeste tu que o meu filho Salomão te sucederia no trono? Por que razão está então Adonias a reinar?’ Enquanto estiveres a falar, eu chegarei e confirmarei o que tiveres dito.” Bate-Seba assim fez e entrou nos aposentos do rei. Este estava mesmo muito velho e Abisague tratava dele. Bate-Seba inclinou-se perante ele. “Que pretendes?”, perguntou-lhe o soberano. “Meu senhor, tu prometeste-me, na presença do Senhor, teu Deus, que o meu filho Salomão seria rei depois de ti e que se sentaria no trono. No entanto, é Adonias que está a reinar e nem sequer estás informado disso. Até já celebrou a sua coroação sacrificando bois, bezerros cevados e muitas ovelhas. Convidou também todos os seus irmãos, o sacerdote Abiatar e o general Joabe, à exceção de Salomão. Todo o Israel está à espera da tua decisão, quanto a saber se Adonias é mesmo aquele que escolheste para te suceder. Se não fizeres alguma coisa, o meu filho Salomão e eu própria seremos presos e executados como qualquer criminoso, logo que venhas a falecer.” “Meu senhor, designaste Adonias para ser rei em teu lugar? É ele o príncipe que designaste para se sentar no teu trono? Hoje mesmo celebrou a sua coroação, sacrificando bois, bezerros cevados e um sem número de ovelhas; além disso convidou o general Joabe e o sacerdote Abiatar a assistir a essas celebrações. Eles estão a festejar, a beber e a aclamar: ‘Viva o rei Adonias!’ Contudo, é bom saberes que nem Zadoque, o sacerdote, nem Benaia, filho de Jeoiada, nem Salomão, nem eu próprio fomos convidados. Terá isto sido feito com o teu conhecimento? Ainda não disseste uma palavra quanto a qual dos teus filhos escolheste para te suceder no trono.” “Tornem a chamar Bate-Seba”, disse David. Ela tornou a entrar nos aposentos e ali ficou diante do rei. Este prometeu-lhe: “Tão certo como vive o Senhor que me salvou de todos os perigos! Segundo o meu decreto o teu filho Salomão será o rei que me sucederá no trono, como antes tinha garantido na presença do Senhor, Deus de Israel.” Bate-Seba tornou a curvar-se perante ele e exclamou: “Estou-te muito grata, senhor! Que o rei, meu senhor, viva para sempre!” “Agora chamem o sacerdote Zadoque e Benaia”, ordenou o rei. “Que o profeta Natã torne também a vir.” Quando eles chegaram, disse-lhes: “Levem Salomão e a minha guarda real a Giom. Salomão deverá ir montado na minha mula. Ali, Zadoque, o sacerdote, e Natã, o profeta, deverão ungi-lo rei sobre Israel. Tocarão a trombeta e gritarão: ‘Viva o rei Salomão!’ Quando regressarem, ele deverá sentar-se no meu trono como novo rei, porque foi a ele que eu ungi rei de Israel e Judá.” O sacerdote Zadoque, o profeta Natã, Benaia, filho de Jeoiada, e os cretenses e peleteus da guarda pessoal do rei levaram Salomão a Giom, montado na mula do soberano. Ali, Zadoque pegou num recipiente contendo o óleo sagrado do tabernáculo e derramou-o sobre Salomão. As trombetas tocaram e todo o povo gritou: “Viva o rei Salomão!” Seguidamente, regressaram todos a Jerusalém, desfilando no meio de muita alegria e de muita música que fazia estremecer o chão. Adonias e os seus hóspedes começaram a ouvir toda aquela euforia e aquele barulho, na altura em que finalizavam o banquete. “Que é que se está a passar?”, perguntou Joabe. “Que alvoroço é este?” Estava ele ainda a pronunciar estas palavras quando Jónatas, o filho do sacerdote Abiatar, apareceu de rompante. “Podes entrar”, disse-lhe Adonias, “porque és um homem valente e deves ter boas notícias.” “O rei David constituiu Salomão sobre o trono!”, exclamou Jónatas. “O rei enviou-o a Giom na companhia de Zadoque, o sacerdote, do profeta Natã e de Benaia, filho de Jeoiada, protegido pela guarda real. Ia montado na própria mula do rei. Zadoque e Natã ungiram-no rei em Giom! Neste momento já regressaram e toda a cidade está em festa, celebrando o acontecimento. Por isso, é que se ouve este barulho. Salomão está já sentado no trono. O povo felicita o rei David dizendo: ‘Que Deus te abençoe ainda mais através de Salomão do que te abençoou pessoalmente e torne o seu reinado ainda maior do que o teu!’ O rei está deitado nos seus aposentos e aí recebe as felicitações, dizendo: ‘Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que escolheu um dos meus filhos para se sentar no meu trono, mantendo-me em vida para ver isso.’ ” Então Adonias e os seus hóspedes deixaram o banquete e fugiram com medo, pois receavam pela segurança das suas vida. Adonias correu para o tabernáculo e pegou nas pontas do altar sagrado. Quando chegou aos ouvidos de Salomão que Adonias estava no tabernáculo pedindo clemência, respondeu: “Se se conduzir retamente, não tem nada a temer; caso contrário morrerá.” O rei Salomão mandou-o vir à sua presença e fizeram-no descer do altar. Ele veio e prostou-se perante o soberano que apenas lhe disse: “Vai para casa!” O rei David sentiu que se aproximava do fim dos seus dias e deu a Salomão as seguintes recomendações: “Em breve irei para onde toda a gente acaba por ir. Espero que sejas um homem forte e ativo. Obedece às leis do Senhor, teu Deus, e segue os seus caminhos. Guarda cada um dos seus mandamentos, leis, preceitos e decretos, escritos na Lei de Moisés, para que prosperes em tudo o que fizeres e por onde quer que vás. Se assim fizeres, o Senhor cumprirá a promessa que me deu, que se os meus filhos e os seus descendentes caminharem com lealdade e se mantiverem fiéis a Deus de todo o coração e alma, haverá sempre um deles que reinará em Israel; a minha dinastia não terá fim. Portanto, ouve as minhas instruções. Sabes que Joabe assassinou os meus dois generais, Abner e Amasa. Alegou que se tratou de um ato de guerra, mas o certo é que o fez em tempo de paz. És um homem sensato e saberás o que hás de fazer; não o deixes morrer em paz. Contudo, sê bondoso para com os filhos de Barzilai de Gileade. Que sejam hóspedes permanentes da casa real, pois cuidaram de mim, quando tive de fugir do teu irmão Absalão. Lembras-te certamente de Simei, o filho de Gera, benjamita de Baurim. Lançou-me tremendas maldições, quando eu ia para Maanaim, mas posteriormente, quando foi ter comigo ao rio Jordão, prometi-lhe que não o mataria. No entanto, essa promessa não te compromete. És suficientemente sábio para não o deixares morrer sem castigo.” David faleceu e foi sepultado na Cidade de David. Reinou em Israel durante 40 anos; 7 anos em Hebrom e 33 anos em Jerusalém. Salomão tornou-se o novo rei, substituindo o pai, e o seu reinado foi próspero. Por esses dias, Adonias, o filho de Hagite, veio falar com Bate-Seba, mãe de Salomão. “Vens com intenções pacíficas?”, perguntou-lhe ela. “Sim, as minhas intenções são de paz. Tenho um favor a pedir-te”, disse-lhe. “Diz então.” Adonias respondeu: “Sabes bem que o reino estava para ser meu e tudo me corria favoravelmente; toda a gente esperava que eu sucedesse ao meu pai. Mas as coisas alteraram-se e o trono acabou por ser do meu irmão, porque era assim que o Senhor tinha planeado. Agora queria fazer-te um pedido e peço-te que não mo recuses.” Bate-Seba perguntou: “O que é?” “Intercede junto do rei Salomão a meu favor, pois sei que nada te recusa, e pede-lhe que me dê Abisague, a sunamita, como mulher.” Ela respondeu: “Está bem; irei pedir-lhe.” Efetivamente ela foi ter com o rei para lhe apresentar esse pedido. Quando se apresentou, o rei levantou-se do trono e inclinou-se perante ela. Ordenou em seguida que fosse colocado outro trono ao lado do seu para a sua mãe e ela sentou-se do seu lado direito. “Tenho um pequeno pedido a apresentar-te. Espero que não o recuses”, disse ela. Salomão perguntou-lhe: “Do que se trata, minha mãe? Sabes que nada te recusarei.” “Deixa que teu irmão Adonias case com Abisague.” “Sabes o que estás a pedir-me? Se lhe desse Abisague, dar-lhe-ia também o reino, porque ele é meu irmão mais velho! Tanto ele como o sacerdote Abiatar e o general Joabe tomariam conta do poder!” Então o rei Salomão ordenou que Benaia o matasse e este executou-o com uma espada. O soberano disse ao sacerdote Abiatar: “Regressa à tua terra, a Anatote, e vai para casa, porque deverias também morrer. Contudo, não o quero fazer por agora, por teres transportado a arca do Senhor Deus durante o reinado do meu pai e teres sofrido ao lado dele nas suas angústias.” Assim, Salomão forçou Abiatar a ceder a sua posição de sacerdote do Senhor, cumprindo-se a palavra do Senhor, a qual anunciara em Silo, respeitante aos descendentes de Eli. Quando Joabe soube da notícia da morte de Adonias, foi a correr para o santuário, o tabernáculo do Senhor, e pegou nas pontas do altar. Joabe tinha apoiado a revolta de Adonias, mas não a de Absalão. “Faz como ele disse”, respondeu-lhe o rei. “Mata-o ali mesmo e depois sepulta-o, para que tires de sobre mim e da minha família a culpa dos seus crimes. O Senhor o tornará pessoalmente culpado do assassínio de dois homens que eram melhores do que ele. Porque o meu pai não teve a menor participação na morte do general Abner, comandante do exército de Israel, nem do general Amasa, comandante do exército de Judá. Que Joabe e os seus descendentes se tornem culpados para sempre destes assassínios e que o Senhor declare David e os seus descendentes inocentes dessas mesmas mortes!” Benaia voltou ao santuário e matou Joabe, mandando sepultá-lo junto à sua casa no deserto. O rei substituiu Joab por Benaia, no comando do exército, e Zadoque sacerdote em lugar de Abiatar. Mandou também buscar Simei e disse-lhe: “Terás de vir para Jerusalém e ficar com residência fixa. Se saíres daqui, já sabes que é o castigo da morte que te espera. No momento em que ultrapassares o ribeiro do Cedron, considera-te um homem liquidado e unicamente por tua própria culpa!” Simei respondeu: “Aceito o que me dizes.” E passou a viver em Jerusalém bastante tempo. Três anos mais tarde, fugiram-lhe dois escravos, que se escaparam para Gate, para junto do rei Aquis, filho de Maacá. Quando Simei soube onde estavam, mandou selar a sua montada e foi ter com o rei Aquis. Encontrou ali os servos e trouxe-os de novo para Jerusalém. Salomão teve conhecimento de que Simei deixara Jerusalém, que fora a Gate e regressara. Mandou-o chamar: “Não te ordenei, em nome do Senhor, que não deixasses Jerusalém sob pena de morte? Até respondeste que concordavas com essa decisão. Porque é que não respeitaste o juramento que fizeste ao Senhor, nem obedeceste à minha ordem? Sabes bem todo o mal que fizeste ao meu pai David, pelo que o Senhor fez recair sobre ti toda a culpa. Quanto a mim, certamente receberei as ricas bênçãos de Deus e sempre haverá um descendente de David no trono, diante do Senhor.” A mando do soberano, Benaia trouxe Simei para fora e matou-o. Desta forma, se confirmou a autoridade de Salomão como rei. Salomão fez aliança com o Faraó, o rei do Egito, e casou com uma das suas filhas, trazendo-a para Jerusalém para viver na Cidade de David até que acabasse de construir o seu palácio, o templo e a muralha em volta da cidade. Naquele tempo o povo de Israel ainda apresentava sacrifícios em altares sobre as colinas, porque o templo para adorar o nome do Senhor ainda não fora construído. Salomão amava o Senhor e seguia todas as instruções do seu pai David. No entanto, continuava a sacrificar sobre as colinas e a oferecer incenso nesses lugares. A colina mais importante onde havia um altar ficava em Gibeão. Salomão sacrificou ali um milhar de holocaustos. Nessa noite, o Senhor apareceu a Salomão num sonho e disse-lhe: “Pede-me o que quiseres e dar-te-ei!” Salomão respondeu: “Foste extremamente bondoso para com o teu servo David, meu pai, visto que ele foi honesto e fiel para contigo e obedeceu aos teus mandamentos. Confirmaste-lhe a tua bondade, dando-lhe um sucessor no trono. Ó Senhor, meu Deus, fizeste-me rei em seu lugar, mas eu sou como uma criança que nada sabe da vida. Aqui estou, no meio do teu povo escolhido, uma nação tão grande cuja população quase nem se pode contar! Dá-me sabedoria para que possa conduzir bem o teu povo e saiba a diferença entre o que é justo e o que é errado. Pois quem seria capaz de governar uma tão grande nação como esta?” A resposta de Salomão agradou muito ao Senhor, porque lhe pediu sabedoria. Então replicou-lhe: “Visto teres pedido sabedoria para governar o meu povo e não uma longa vida, nem riquezas pessoais, nem sequer a derrota dos teus inimigos, dar-te-ei o que me pediste! Terás uma mente mais sábia do que alguém antes ou depois de ti! Dar-te-ei igualmente aquilo que não pediste: fortuna e honra. Ninguém no mundo será tão rico nem tão famoso como tu, durante toda a tua vida! Terás uma longa vida se me seguires e obedeceres à minha palavra tal como fez o teu pai David.” Salomão despertou e deu-se conta de que tinha tido um sonho. Regressou a Jerusalém, apresentou-se diante da arca da aliança do Senhor e sacrificou holocaustos e ofertas de paz. Depois convidou toda a sua corte para um grande banquete. Um dia, pediram-lhe uma audiência duas prostitutas que lhe apresentaram o seguinte caso: “Senhor”, começou uma delas, “nós vivemos na mesma casa, só eu e ela e recentemente tive um bebé. Três dias depois também ela deu à luz um filho, mas o menino dela morreu durante a noite. Enquanto dormia, ao virar-se, deitou-se sobre ele e abafou-o. A meio da noite ela levantou-se, pegou no meu bebé, porque eu estava a dormir, e pôs o outro ao meu lado, indo deitar-se com o meu. De manhã, quando ia para dar de mamar ao meu filho, estava morto! No entanto, à medida que se fazia dia, certifiquei-me de que aquele não era o meu!” A outra interrompeu-a: “Era sim, o teu filho. O vivo é que é o meu.” A outra retorquiu: “Não, o morto era o teu. O outro é o meu.” E assim continuaram a discutir diante do rei. Este disse por fim: “Vamos lá resumir a questão: ambas reclamam a criança viva e cada uma diz que o menino morto pertence à outra. Sendo assim, tragam-me uma espada.” E trouxeram-lha. Depois acrescentou: “Dividam o menino vivo em dois e deem uma parte a cada uma das mulheres!” A mulher que era realmente a mãe do bebé disse logo ao rei: “Oh não, senhor! Dá-lhe a criança, mas não a mates!”, porque lhe tinha muito amor. A outra contudo limitou-se a responder: “Está bem, que não seja nem teu nem meu; dividam-no entre nós as duas!” Perante isto o rei decidiu imediatamente: “Deem o bebé à mulher que quer que ele viva. Essa é sua verdadeira a mãe!” Esta decisão do soberano depressa se espalhou por toda a nação e o respeito pelo rei aumentou imenso, porque toda a gente se deu conta da grande sabedoria que Deus lhe dera. Salomão foi rei de todo o povo de Israel. Esta é a lista dos homens que colaboravam com o rei na administração dos assuntos de Israel: Azarias, filho de Zadoque, era o sumo sacerdote; Eliorefe e Aías, filhos de Sisa, exerciam as funções de secretários; Jeosafá, filho de Ailude, era cronista; Benaia, filho de Jeoiada, era o comandante do exército; Zadoque e Abiatar eram sacerdotes; Azarias, filho de Natã, tinha as funções de administrador-geral; Zabude, filho de Natã, era sacerdote e o seu conselheiro especial; Aisar chefiava a casa real; Adonirão, filho de Abda, superintendia sobre os trabalhos obrigatórios. Havia ainda na corte de Salomão doze administradores, um por cada tribo, responsáveis pela tributação daquilo que a população devia fornecer para a casa real. Cada um administrava esse aprovisionamento durante um mês do ano. São estes os seus nomes: Bene-Hur cuja área de tributação era a região das colinas de Efraim; Bene-Dequer que tinha a área de Macaz, Saalabim, Bete-Semes, Elom-Bete-Hanã; Bene-Hesede com a área de Arubote, incluindo Socó e toda a terra de Hefer; Ben-Abinadabe, que casou com a filha de Salomão, a princesa Tafate, era responsável pela área das serranias de Dor; Baaná, filho de Ailude, era responsável por Taanaque, Megido, toda a Bete-Seã perto de Zaretã, abaixo de Jezreel e todo o território desde Bete-Seã até Abel-Meolá e até Jocmeão; Bene-Geber cuja área era Ramote-Gileade, incluindo as povoações de Jair, filho de Manassés, que estão em Gileade; mais a região de Argobe em Basã, incluindo também sessenta cidades muradas com portões de bronze; Ainadabe, filho de Ido, cuja área era Maanaim; Aimaaz, que casou com a princesa Basemate, outra filha de Salomão, que tinha a área de Naftali; Baaná, filho de Husai, cujas áreas eram Aser e Bealote; Jeosafá, filho de Paruá, que tinha a área de Issacar; Simei, filho de Ela, com a área de Benjamim; Geber, filho de Uri, cuja área era Gileade, incluindo os territórios do rei Siom dos amorreus e do rei Ogue de Basã. Havia depois um administrador que supervisionava todo este trabalho. Israel e Judá nesse tempo eram uma nação tão numerosa como a areia da praia junto ao mar; todos comiam, bebiam e viviam felizes. O rei Salomão governava um extenso território que ia desde o rio Eufrates até à terra dos filisteus, descendo até à fronteira com o Egito. Os povos destas áreas, que tinham sido conquistados, pagavam impostos a Salomão e estiveram-lhe sujeitos durante toda a sua vida. A provisão alimentar para o palácio real era diariamente de 6600 litros de farinha e de 13 200 litros de cereais; dez vacas cevadas e outras vinte trazidas dos pastos, cem ovelhas, além dos veados, gazelas, búfalos e aves de capoeira. O seu domínio alargava-se a todos os reinos do oeste do rio Eufrates, desde Tifsa até Gaza. E havia paz em toda a terra. Durante o tempo do reinado de Salomão, Israel e Judá, desde Dan até Berseba, viveram em paz e segurança; cada família possuía a sua própria casa com a sua videira e a sua figueira. Salomão possuía ainda 40 000 cavalos, para os seus carros de combate e 12 000 cavaleiros. Em cada mês, como se viu, os administradores forneciam a casa real de alimentos; além de cevada e palha para as estrebarias reais. Deus deu a Salomão grande sabedoria e inteligência, assim como conhecimento tão profundo como as areias nas praias do mar. De facto, a sua sabedoria excedia a de qualquer sábio do Oriente, incluindo os do Egito. Era mais sábio do que Etã, o ezraíta, e do que Hemã, Calcol e Darda, os filhos de Maol. A sua fama estendeu-se a todas as nações vizinhas. Foi o autor de 3000 provérbios e escreveu 1005 cânticos. Interessou-se muito pela natureza, pela vida dos animais quadrúpedes, das aves, dos répteis, dos peixes, assim como das plantas, desde os grandes cedros do Líbano até ao mais insignificante hissopo que cresce nas fendas dos muros. De todos os países vinham pessoas para ouvir a sabedoria de Salomão. Todos os reis da terra mandaram-lhe embaixadores. O rei Hirão de Tiro tinha sido sempre um grande admirador de David. Por isso, quando soube que Salomão, o filho de David, era o novo rei de Israel, enviou embaixadores para lhe apresentarem as suas felicitações e bons votos. Salomão respondeu-lhe com uma proposta sobre o templo que tinha a intenção de construir. “O meu pai David não pôde construí-lo por causa das inúmeras guerras que se sucederam, até que por fim o Senhor, seu Deus, trouxe paz ao seu reinado. No entanto, o Senhor, meu Deus, deu-me agora descanso de todos os lados; não tenho inimigos externos nem rebeliões internas. Por isso, estou a planear construir um templo ao Senhor, meu Deus, de acordo com as instruções que deu ao meu pai quanto ao que eu deveria fazer. O Senhor disse-lhe: ‘Teu filho, que colocarei no teu trono, construir-me-á um templo.’ Portanto, peço-te que me dês apoio neste projeto. Envia os teus lenhadores às montanhas do Líbano para que cortem cedros para me mandares. Da minha parte, os meus homens trabalharão com os teus e pagarei o salário que exigires. Como sabes, ninguém em Israel sabe cortar tão bem madeira como vocês os sidónios!” Hirão ficou muito contente com a mensagem de Salomão: “Louvado seja o Senhor por ter dado a David um filho tão sábio para ser rei da grande nação de Israel!” Depois mandou a resposta a Salomão: “Recebi a tua mensagem e farei como me pediste quanto à madeira. Posso fornecer-te tanto cedro como cipreste. Os meus homens farão transportar os toros de madeira das montanhas do Líbano até ao Mediterrâneo, amarrando-os em jangadas. Estas serão conduzidas ao longo da costa até ao local que designares. Aí os toros serão descarregados e entregues aos teus cuidados. Pagar-me-ás com alimentos para a minha casa.” Assim, Hirão forneceu a Salomão toda a madeira de cedro e de cipreste de que ele precisou. Em retorno Salomão enviou-lhe um pagamento anual de 3250 toneladas de trigo para a sua casa e ainda 440 000 litros de azeite puro. Desta forma, o Senhor deu a Salomão a sabedoria de que ele necessitava como lhe prometeu. Hirão e Salomão fizeram uma aliança formal de paz. O rei recrutou 30 000 operários de todo o Israel. Mandou-os para o Líbano, 10 000 por mês, de maneira que cada homem estava um mês no Líbano e dois em casa. Adonirão superintendeu a esse trabalho de exterior. O rei tinha também 70 000 homens que trabalhavam como carregadores e 80 000 outros que trabalhavam nas montanhas, cortando pedra. Além destes, tinha ainda 3300 capatazes. Os canteiros na montanha prepararam e talharam grandes blocos de pedra, um trabalho que custou muito caro, para os alicerces do templo. Homens de Gebal ajudaram os operários de Salomão e os de Hirão a cortar os toros de madeira e a preparar as pranchas, assim como a talhar as pedras para o templo. Foi na primavera do quarto ano do reinado de Salomão que ele começou a construção do templo; 480 anos depois do povo de Israel ter deixado a escravidão do Egito. O templo, que o rei Salomão construiu para o Senhor, tinha 30 metros de comprimento, 10 metros de largura e 15 metros de altura. A fachada principal tinha um pórtico com 10 metros de largura e 5 metros de fundo. Tinha janelas com grades. Fez também edificar compartimentos em todo o comprimento de ambos os lados do templo, contra as paredes exteriores. Estas salas tinham a altura de três andares, tendo o primeiro piso de 2,5 metros de largura, o segundo piso 3 metros e o de cima 3,5 metros. Os compartimentos estavam ligados à parede do templo por vigas presas em blocos no exterior da parede; as vigas não estavam mesmo inseridas na parede. As pedras usadas na construção do templo foram assentadas sem o ruído de martelo nem de qualquer instrumento semelhante. Para o andar inferior dos compartimentos laterais entrava-se pelo lado direito do templo e havia umas escadas em caracol até ao segundo andar; um outro lanço de escadas levava até ao último piso, o terceiro. Acabada a edificação, Salomão mandou revesti-la completamente de cedro, incluindo as traves e os pilares. Como se disse, havia de cada lado da construção, encostado às paredes laterais, um anexo ligado ao edifício por vigas de cedro. Cada andar desse anexo media 2,5 metros de altura. Então o Senhor deu a Salomão a seguinte mensagem respeitante ao templo que estava a construir: “Se andares de acordo com a minha palavra e seguires os meus mandamentos e instruções, farei o que disse ao teu pai David: Viverei no meio do povo de Israel e nunca o desampararei.” Por fim, o templo ficou acabado. Todo o seu interior foi revestido de cedro, do chão ao teto. O sobrado foi feito com pranchas de cipreste. Igual revestimento recebeu a câmara interior ao fundo do templo, o lugar santíssimo, também do chão ao teto, com tábuas de cedro; estas tiveram de ser cortadas à medida do compartimento, tábuas com 10 metros. Para o resto do templo empregaram-se tábuas com 20 metros. Por todo o edifício, o revestimento de cedro que cobria a pedra das paredes tinha incrustados botões de flores e flores abertas. O compartimento interior era onde estava a arca da aliança do Senhor. Este santuário interior tinha 10 metros de comprimento, 10 metros de largura e 10 metros de altura. As paredes e o teto estavam cobertas de ouro puro. Salomão fez um altar de cedro para esta sala. Para o interior deste, fez dois querubins de madeira de oliveira, cada um com 5 metros de altura. Havia figuras de querubins, palmeiras e flores abertas gravadas nas paredes do templo e do santuário interior. O chão de ambos os lugares também estava revestido de ouro. Mandou fazer igualmente ombreiras de madeira de oliveira para a entrada do templo. Colocaram-se duas portas duplas feitas de madeira de cipreste e cada porta dobrava-se sobre si mesma. Estas portas também tinham os mesmos entalhes: querubins, palmeiras e flores abertas, e eram todas revestidas a ouro. As paredes do átrio interior tinham três fiadas de pedras lavradas intercaladas com uma viga de cedro. Os alicerces do templo foram colocados no mês de Ziv do quarto ano do reinado de Salomão. O edifício ficou inteiramente pronto, com todos os seus acabamentos, no mês de Bul do décimo primeiro ano do seu reinado. Levou 7 anos a ser construído. Depois Salomão mandou edificar o seu próprio palácio que levou 13 anos a construir. Uma das salas do palácio chamava-se Salão da Floresta do Líbano. Era uma sala enorme que media 50 metros de comprimento por 25 metros de largura e 15 metros de altura. Enormes vigas de cedro saíam do teto e repousavam sobre quarenta e cinco colunas também de cedro, distribuídas em três séries de quinze cada uma. Tinha três ordens de janelas que ficavam umas em frente das outras. As portas da sala estavam emolduradas em retângulos, ficando umas em frente das outras, em três filas. O Salão dos Pilares media 25 metros de comprimento e 15 metros de largura, com um pórtico à entrada e uma abóbada suportada por pilares. Havia também a Sala do Trono ou Sala de Julgamento, onde o rei se sentava para ouvir os processos jurídicos, que era revestida de cedro do chão até ao teto. Os seus aposentos pessoais eram igualmente em cedro e dispunham-se em volta de um pátio, na retaguarda desta última sala. Reservou, aliás, apartamentos idênticos, com as mesmas medidas, no palácio que mandou construir para a filha do Faraó, uma das suas mulheres. Todas estas construções foram feitas com enormes blocos de pedra cortados à medida. O custo de cada um desses blocos ficou, por isso, muito elevado. As pedras para os alicerces tinham 5 e 4 metros de largura. Os grandes blocos das paredes, cortados à medida exata da largura, juntavam-se no alto com as vigas de cedro. O Grande Pátio tinha três correntezas de pedras lavradas, intercaladas com vigas de cedro, como acontecia no templo e no pórtico do palácio. O rei Salomão pediu a um homem de Tiro, chamado Hurão, que viesse fazer aquelas obras, porque era um artista inteligente e hábil a trabalhar em bronze. Ele era meio judeu, sendo filho de uma viúva de Naftali, e o seu pai fora operário de fundição em Tiro. Esse homem veio trabalhar para o rei Salomão. Fez então duas grandes colunas de bronze, cada uma com 9 metros de altura e 6 metros de perímetro. No topo desses pilares fez dois capitéis em forma de lírios, em bronze fundido, cada um com 2,5 metros de altura. Cada capitel era decorado com sete conjuntos de rosáceas. Depois mandou forjar um enorme tanque redondo, também chamado mar de fundição, com um diâmetro de 5 metros. A borda dessa grande bacia ficava 2,5 metros do chão; a sua circunferência media 15 metros. Por baixo da borda, do lado de fora, havia duas filas de ornamentos, separadas por alguns centímetros e fundidos juntamente com o tanque. Este assentava sobre doze bois de metal com as partes traseiras viradas para o interior; três voltados para o norte, três para o sul, três para o este e três para o oeste. As paredes do tanque mediam 8 centímetros de espessura. O seu rebordo era como o de uma taça em forma de lírio. Tinha capacidade para 44 000 litros. Depois fez dez bases de bronze, com quatro rodas. Cada base era quadrada com 2 metros de lado e 1,5 metros de altura. Estavam montadas sobre um suporte rodado feito de peças cruzadas. Tinham como decoração leões incrustados, bois e querubins; acima e abaixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas. Cada uma destas bases tinha quatro rodas de bronze e eixos também em bronze; em cada canto das bases havia postes de bronze decorados com figuras em espiral nos lados. A parte de cima destas bases consistia numa peça redonda de 50 centímetros de altura. O seu centro era côncavo, com 75 centímetros de fundo, decorado no exterior com espirais. As paredes do revestimento eram quadradas, não redondas. Estas bases andavam sobre quatro rodas ligadas a eixos fundidos com as próprias bases. As rodas tinham 75 centímetros de altura. Eram semelhantes às rodas de um carro. Todas as partes das bases eram feitas de bronze fundido, incluindo os eixos, os raios, os arcos e o centro. Havia suportes em cada um dos quatro cantos das bases, também eles fundidos com as bases. Estas tinham uma cercadura com 25 centímetros, na parte superior, de que saíam umas pegas; tudo fundido numa só peça com a base. Nos espaços que podiam ser decorados, viam-se querubins, leões e palmeiras rodeadas por figuras em espiral. As dez bases eram todas do mesmo tamanho e tinham as mesmas decorações, visto terem sido feitas no mesmo molde. Depois mandou fazer dez tinas de bronze e colocou-as sobre as bases. Eram quadradas, com 2 metros de lado, e tinham a capacidade para 900 litros de água. Cinco destas tinas foram postas num dos lados do templo e as outras cinco no outro. O tanque ficava no canto sul, no lado direito. Hurão fez também o resto dos utensílios necessários: bacias, pás e tinas. Por fim, Hurão terminou toda a obra para o templo do Senhor, que Salomão lhe encomendara. Esta é a lista dos trabalhos feitos: dois pilares; um capitel para o cimo de cada pilar; rosáceas para cobrir as bases dos capitéis de cada pilar; quatrocentas romãs, em duas filas, no trabalho das rosáceas, para cobrir as bases dos dois capitéis; dez bases para dez pias; um grande tanque e doze bois para o suportar; recipientes; pás; bacias. Todos estes utensílios foram feitos por este hábil artífice, Hurão, para o rei Salomão, usando bronze polido. Tudo foi feito em bronze fundido e preparado nas planícies do Jordão, num sítio entre Sucote e Zaretã. Foram usadas grandes quantidades de bronze, cujo peso era tal, que Salomão nem sequer registou o seu valor. No entanto, Salomão recomendou que todos os utensílios e o mobiliário da casa do Senhor fossem feitos de ouro puro. Isto incluía o altar, a mesa onde se encontrava exposto o pão da Presença de Deus; o candelabro, com cinco luzes à direita e cinco à esquerda, em frente do lugar santíssimo, as decorações florais, as lâmpadas e os espevitadores; as taças, os apagadores, as bacias, os perfumadores, os braseiros; tudo foi feito em ouro puro; também as dobradiças das portas do lugar santíssimo e as da entrada principal do templo. Todos estes objetos eram feitos de ouro puro. Quando o templo acabou de ser construído, Salomão colocou no tesouro do templo a prata, o ouro e todos os recipientes consagrados por seu pai, David. Então Salomão convocou uma grande assembleia, em Jerusalém, de todos os anciãos de Israel, os cabeças de tribos e de clãs, a fim fazerem subir a arca da aliança do Senhor da Cidade de David, que é Sião. Esta celebração ocorreu por ocasião da festa dos tabernáculos, no mês de Etanim, que é o sétimo mês. O rei Salomão e todo o povo juntaram-se em frente da arca e ofereceram um número incontável de cordeiros e bois em sacrifício. Os sacerdotes pegaram na arca da aliança do Senhor e levaram-na para o interior do templo, para o lugar santíssimo, colocando-a sob as asas dos querubins. Estes tinham sido construídos de forma que as asas se abriam sobre o lugar em que a arca se encontrava; assim, as asas faziam sombra sobre a arca e sobre as varas para a transportar. Estas eram tão compridas que ultrapassavam os querubins e podiam ser vistas da sala anterior, embora não se vissem do pátio exterior; ali ficaram até ao dia de hoje. Na arca estavam somente as duas placas de pedra que Moisés ali colocara, recebidas no monte Horebe, quando o Senhor fez uma aliança com o povo de Israel, no tempo em que deixaram o Egito. Quando os sacerdotes saíram do santuário interior uma nuvem encheu o templo. Os sacerdotes não puderam cumprir o seu serviço, porque a glória do Senhor enchia o santuário. Salomão dirigiu a Deus, nessa ocasião, a seguinte oração: “O Senhor disse que habitaria na densa escuridão; mas eu fiz um templo, ó Senhor, para aí manteres para sempre a tua presença!” O rei virou-se seguidamente para o povo, que se levantou para receber a sua bênção: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, o Deus que falou pessoalmente ao meu pai, David, e cumpriu as promessas que lhe fez. Disse-lhe com efeito: ‘Nunca antes, desde que tirei o meu povo Israel do Egito, tinha escolhido um local em Israel para aí construir o meu templo, um lugar onde o meu nome fosse glorificado. No entanto, nomeei um homem para que fosse o líder do meu povo. Este foi o meu pai David.’ Ele quis construir um templo para o nome do Senhor, o Deus de Israel. Contudo, o Senhor disse-lhe: ‘Tiveste a feliz ideia de me construir um templo, para a habitação do meu nome. Mas não serás tu a construí-lo; será o filho que te há de nascer quem edificará um templo ao meu nome!’ O Senhor fez como prometera; eu tornei-me rei, sucedendo a meu pai, e construí este templo, tal como o Senhor disse, para o nome do Senhor, o Deus de Israel. Preparei um lugar no templo para a arca que contém o documento da aliança que o Senhor fez com os nossos antepassados, quando os tirou da terra do Egito.” Seguidamente, sempre na presença de todo o povo, Salomão pôs-se diante do altar do Senhor com as mãos estendidas para os céus. E disse: “Ó Senhor, Deus de Israel, não há outro Deus como tu no céu ou na Terra! Tu és misericordioso e bom, e guardas a aliança e o teu amor para com todos os que te obedecem de coração e estão desejosos de fazer a tua vontade. Cumpriste as promessas que fizeste ao teu servo David, meu pai, como hoje se vê. E agora, ó Senhor, Deus de Israel, cumpre igualmente o resto da promessa que lhe fizeste, que sempre haveria um herdeiro no trono de Israel, se os seus descendentes andassem com fidelidade diante da tua face, como ele fez. Sim, ó Deus de Israel, cumpre esta promessa feita ao teu servo David, meu pai. Será realmente possível que Deus viva na Terra? Os céus dos céus não podem conter-te! Como seria isso possível neste templo que acabo de construir? Ainda assim, ó Senhor, meu Deus, ouve e responde ao meu pedido neste dia. Peço-te que de noite e de dia veles sobre este templo, este lugar onde disseste que haverias de pôr o teu nome. Ouve e responde às orações que eu te fizer, quando me voltar para este lugar. Ouve qualquer súplica que o povo de Israel te dirigir, sempre que se virar para este lugar para orar. Sim, ouve desde os céus onde vives e, quando ouvires, perdoa. Se alguém for acusado de pecar contra alguém, e se puser aqui diante do teu altar jurando que não o fez, ouve desde os céus e exerce a tua justiça; condena o culpado, fazendo recair sobre ele o castigo pelo mal que praticou, e faz justiça ao inocente, recompensando-o devidamente. Se o teu povo for derrotado pelos teus inimigos, por ter pecado contra ti, mas depois se arrepender e confessar que és o seu Deus, orando a ti neste templo, ouve-o do céu, perdoa-lhe o seu pecado e trá-lo de novo a esta terra que lhe deste e aos seus antepassados. Quando os céus se fecharem e não houver mais chuva, por causa dos nossos pecados, se orarmos neste lugar, confessando que és o nosso Deus, e nos arrependermos dos nossos pecados, depois de nos teres castigado, então ouve do céu e perdoa os pecados do teu povo; ensina-lhe o que é reto e manda chuva sobre esta terra que deste ao teu povo como herança. Se houver fome provocada por doenças nas plantas, por pragas de insetos ou outros bichos nocivos, se os inimigos de Israel atacarem as suas cidades, se o povo for ferido por alguma praga ou epidemia, ou por outra coisa qualquer, ouve a oração e a súplica de cada um, ou do teu povo de Israel, que arrependido levanta as mãos em oração voltado para esta casa. Ouve desde o céu, onde vives, e perdoa; trata cada um conforme as suas ações, pois conheces o coração de todos os homens. Desta maneira, aprenderão a temer-te sempre, enquanto viverem nesta terra que deste aos seus antepassados. Quando estrangeiros ouvirem falar do teu grande nome e vierem de terras distantes para te adorar, atraídos pelo prestígio glorioso do teu nome e pela grandeza do teu forte braço, se orarem voltados para este templo, escuta-os, desde o céu onde estás, e responde ao que pedirem. Então todos os povos da Terra se darão conta da grandeza do nosso Deus e o adorarão, como faz o povo de Israel; também eles saberão que este templo que mandei construir é o teu templo. Se o teu povo sair, para onde quer que tu os envies à guerra, para combater os seus inimigos, e orar ao Senhor voltando-se para esta cidade que tu escolheste e para este templo que edifiquei ao teu nome, ouve as suas orações desde o céu e dá-lhe a vitória. Se pecarem contra ti, e não há ser humano que não peque, e te indignares contra eles, se permitires que os seus inimigos os derrotem e os levem cativos para países estrangeiros, longe ou perto, e se nessa terra de exílio se converterem a ti e se virarem para esta terra que deste aos seus antepassados, para esta cidade de Jerusalém e para este teu templo que mandei construir e disserem: ‘Pecámos, procedemos perversamente e praticámos o mal’, e se ali orarem e te rogarem perdão com toda a sua alma, voltados para a terra que deste aos seus antepassados, para a cidade que escolheste e para a casa que edifiquei ao teu nome, ouve as suas orações e rogos desde os céus em que vives e vem em seu auxílio. Perdoa ao teu povo todas as suas maldades e torna os seus opressores misericordiosos para com eles. Pois são o teu povo, são a tua possessão que resgataste da fornalha de ferro do Egito. Que os teus olhos estejam atentos e os teus ouvidos abertos aos seus clamores. Escuta e responde quando te invocarem, pois quando tiraste os nossos antepassados do Egito, ó Senhor Deus, disseste ao teu servo Moisés que escolheras Israel, de entre todas as nações da Terra, para ser o teu povo eleito.” Salomão tinha-se mantido de joelhos e com as mãos estendidas para o céu. Ao terminar esta oração, levantou-se de diante do altar do Senhor e, em voz bem alta, proferiu esta bênção sobre o povo de Israel: “Bendito seja o Senhor que cumpriu a sua promessa de dar repouso ao povo de Israel. Não falhou nem uma palavra de todas as maravilhosas promessas transmitidas através do seu servo Moisés. Que o Senhor, nosso Deus, seja connosco tal como foi com os nossos antepassados! Que nunca nos desampare! Que nos dê vontade de cumprir toda a sua vontade e obedecer a todos os seus mandamentos e a todas as instruções que deu aos nossos antepassados! Que as palavras da minha oração estejam presentes diante do Senhor, nosso Deus, dia e noite, para que possa amparar-me, assim como a todo o Israel, de acordo com as nossas necessidades diárias! Que toda a gente em todo o mundo fique sabendo que o Senhor é Deus e que não há outro! Ó meu povo, que possas viver com um coração reto diante do Senhor, nosso Deus, e obedecer às suas leis e mandamentos, tal como hoje está a acontecer!” Salomão consagrou o pátio interior do templo, para uso naquele dia, como local de sacrifício para os holocaustos das ofertas de cereais e da porção de gordura das ofertas de paz, porque estes eram tantos que se tornava incomportável sacrificar no altar de bronze. Naquele momento, Salomão celebrou com todo o Israel a festa dos tabernáculos, durante 14 dias; mais 7 dias para além dos primeiros 7. E reuniu-se ali uma grande multidão, perante o Senhor, nosso Deus. Vinham desde Hamate, numa das extremidades do país, até ao ribeiro do Egito, no lado oposto. No oitavo dia Salomão despediu o povo que regressou a casa feliz por toda a bondade que o Senhor tinha demonstrado para com o seu servo David e com o seu povo de Israel. E a população abençoou o rei. Quando Salomão terminou a construção do templo do Senhor, do palácio real e de tudo quanto se propusera fazer, o Senhor apareceu-lhe uma segunda vez, a primeira tinha sido em Gibeão, e disse-lhe: “Ouvi a tua oração. Santifiquei este templo que construíste e nele coloquei o meu nome para sempre. Vigiarei sobre ele e o meu coração ali estará constantemente. Quanto a ti mesmo, se andares perante mim como o teu pai David, em honestidade e integridade de coração, se respeitares os meus mandamentos e guardares a minha palavra como te ordenei, farei com que os teus descendentes sejam reis de Israel para sempre, tal como prometi a David, teu pai, quando lhe disse: ‘Não te faltará descendente para reinar sobre o trono de Israel.’ Contudo, se tu ou os teus filhos se afastarem de mim, se deixarem de seguir as leis e mandamentos que vos dei, para servirem e adorarem outros deuses, então arrancarei o povo de Israel da sua terra, da terra que lhes dei. Tirá-lo-ei deste templo, que santifiquei por causa do meu nome, e afastá-lo-ei da minha vista. Israel tornar-se-á motivo de desprezo e de escárnio para todas as nações, uma desgraça que toda a gente receia que venha a acontecer-lhes. Este templo ficará num montão de ruínas e qualquer pessoa que por aqui passar ficará espantada e abanará a cabeça dizendo: ‘Porque é que o Senhor fez tais coisas a esta terra e a este templo?’ E a resposta será: ‘Porque este povo abandonou o Senhor, seu Deus, que tirou da terra do Egito os seus antepassados, e agora adora outros deuses. Foi por essa razão que o Senhor trouxe sobre ele este grande mal.’ ” Tinham-se passado 20 anos desde que Salomão se tornara rei e os seus grandes projetos de construção, como o templo e o palácio real, estavam concretizados. O soberano deu vinte cidades da Galileia ao rei Hirão de Tiro em pagamento de toda a madeira de cedro e de faia e de todo o ouro que este lhe tinha fornecido para as referidas construções. Hirão deslocou-se desde Tiro para visitar as cidades e não ficou nada contente com elas. “Que negócio é este, meu irmão?”, perguntou ele. “Estas povoações não passam de montes de areia seca!” Por isso, ainda hoje são conhecidas por Terra de Cabul (sem valor). É que Hirão tinha enviado a Salomão 4000 quilos de ouro. Salomão tinha imposto o trabalho obrigatório para construir o templo, o seu palácio, a fortaleza de Milo, a muralha de Jerusalém e as cidades de Hazor, Megido e Gezer. Esta última, a cidade de Gezer, tinha sido conquistada e incendiada pelo rei do Egito que matou toda a sua população de cananeus; mais tarde deu-a em dote à sua filha, quando ela se casou com Salomão. Assim, Salomão reconstruiu Gezer, ao mesmo tempo que povoações como Bete-Horom de Baixo, Baalate e Tadmor, a cidade do deserto. Construiu igualmente povoações para depósito de abastecimentos e outras onde os seus carros de combate e os cavalos eram guardados. Construiu tudo quanto desejou em Jerusalém, no Líbano e por todo o seu reino. O povo recrutado para tributo de trabalho obrigatório foi o que sobreviveu dos países conquistados: amorreus, hititas, perizeus, heveus e jebuseus, gente que não era do povo de Israel. Porque o povo de Israel não tinha sido capaz de os expulsar completamente, quando da conquista da terra de Israel, e por isso se mantem ainda hoje a prática de obrigar o tributo de trabalho obrigatório. Salomão não recrutou nenhum israelita para esta obra; estes foram chamados como soldados, oficiais do exército, comandantes de companhias de carros de combate e de cavalaria. Além disso, havia 550 homens de Israel com a função de fiscais dos trabalhos. O soberano fez a filha do Faraó mudar os seus aposentos da Cidade de David, o sector antigo de Jerusalém, para o novo palácio que lhe construíra. Depois mandou construir a fortaleza de Milo. Após a conclusão do templo, Salomão oferecia holocaustos e ofertas de paz três vezes por ano no altar que construíra. Também queimava incenso sobre ele. O soberano tinha também um estaleiro naval em Eziom-Geber, perto de Elote, no mar Vermelho na terra de Edom, onde mandou construir uma armada de navios. O rei Hirão forneceu marinheiros experimentados para acompanharem as tripulações de Salomão. Estas fizeram viagens a Ofir, trazendo 14 toneladas de ouro para o rei Salomão. Ouvindo a rainha de Sabá toda a fama de Salomão e como o Senhor lhe tinha dado tantas qualidades, resolveu vir apresentar-lhe pessoalmente algumas questões bastante complexas para ver a resposta que daria. Chegou a Jerusalém com uma grande comitiva e muitos camelos carregados de especiarias, ouro e joias, e colocou-lhe as questões que entendeu. Salomão a tudo respondeu; nada se revelou demasiado difícil para ele; deu-lhe sempre a resposta exata. Ela depressa se deu conta de que tudo o que lhe tinham dito, quanto à sua grande sabedoria, era verdadeiro. Pôde igualmente constatar a beleza do seu palácio. Quando viu os ricos pratos que vinham à mesa, o grande número de criados a servir nos seus belos uniformes, os copeiros e os inúmeros holocaustos que oferecia pelo fogo ao Senhor, ficou como que fora de si, de espanto! A rainha disse a Salomão: “O que ouvi no meu país, acerca da tua sabedoria e das belíssimas coisas que aqui há, é tudo verdade. Antes de chegar não podia acreditar, mas agora, eu própria pude verificar tudo isso com os meus próprios olhos. O que me tinham contado não correspondia sequer a metade da realidade! A tua sabedoria e a tua riqueza são, de longe, maiores do que aquilo que tinha ouvido! O teu povo é feliz, o pessoal do teu palácio está satisfeito, e não podia ser de outra forma, se vivem constantemente a ouvir a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, o teu Deus, que te escolheu e te colocou sobre o trono de Israel. O amor do Senhor por Israel é eterno, por isso, lhe deu um rei como tu! E tu ofereces ao teu povo uma governação justa e boa!” Depois deu ao rei um presente de 4000 quilos de ouro e uma enorme quantidade de especiarias e de pedras preciosas. Nunca se viu em Israel tantas e tais especiarias como as que ofereceu a rainha de Sabá a Salomão. Quando os navios do rei Hirão trouxeram a Salomão ouro de Ofir, também carregaram um grande fornecimento de pedras preciosas e madeira de sândalo. A madeira, usou-a o rei para a casa do Senhor e para o palácio real, e para fabricar instrumentos, como harpas e liras para acompanharem os cantores. Nunca antes nem depois se viu tanta quantidade desta bela madeira. Em troca dos presentes recebidos, o rei Salomão ofereceu à rainha de Sabá tudo o que ela lhe pediu, além dos presentes que já tinha planeado ofertar-lhe. Depois disso, regressou à sua terra com o seu séquito e aqueles que a serviam. Todos os anos Salomão recebia 23 toneladas de ouro. Além disso, recebia as taxas e os benefícios dos negócios que fazia com reis da Arábia e com outros territórios daquela região. Salomão mandou fazer, com parte desse ouro, 200 peças de armadura, pesando cada uma 7 quilos. E ainda 300 escudos, tendo mandado pesar para cada um aproximadamente 3,5 quilos de ouro. Conservou-os no Salão da Floresta do Líbano. Também mandou construir um enorme trono de marfim e revesti-lo de ouro puro. Tinha seis degraus e um espaldar com descansos para os braços e um leão de cada lado. Nos degraus havia igualmente dois leões, de cada lado, ao todo doze. Não havia no mundo outro trono tão deslumbrante como aquele. Todas as taças que o rei Salomão usava eram de ouro puro e no Salão da Floresta do Líbano todo o serviço de jantar era feito em ouro. Não se usava prata, porque nesse tempo não tinha muito valor. A frota comercial do rei Salomão e do rei Hirão trazia, de três em três anos, um grande fornecimento de ouro, prata e marfim, e também de macacos e pavões, que chegava aos portos de Israel. Desta forma, o rei Salomão era o mais rico e o mais sábio de todos os reis da Terra. Pessoas de várias terras vinham visitá-lo e ouvir da sua boca a sabedoria que Deus lhe pusera no coração. Traziam-lhe igualmente, todos os anos, presentes em prata e ouro, armas, rico vestuário, especiarias, cavalos e mulas. Organizou uma enorme força militar com 1400 carros de combate e recrutou 12 000 cavaleiros, para formarem uma guarda de proteção às cidades onde ficaram depositados os carros, ainda que alguns tivessem ficado em Jerusalém, sob o controlo direto do rei. Naqueles dias, o rei tornou a prata tão abundante como as pedras em Jerusalém; o cedro também não tinha muito mais valor do que a madeira de uma simples figueira brava de planície. Salomão enviou ao Egito especialistas no comércio de cavalos para comprarem manadas inteiras a preços especiais. Por esse tempo, os carros egípcios eram vendidos por 7 quilos de prata e os cavalos por cerca de 1,7 quilos de prata, e entregues em Jerusalém. Muitos eram posteriormente vendidos a reis hititas e arameus. O rei Salomão casou com muitas mulheres estrangeiras, além da princesa egípcia. Muitas delas vieram de nações onde se adoravam ídolos: Moabe, Amon, Edom, Sídon e dos hititas. O Senhor tinha dado instruções expressas ao seu povo para que não casasse com pessoas dessas nações, porque as mulheres com quem casassem haveriam de levá-los adorar os seus deuses. Apesar disso, Salomão deixou-se levar pelo amor a essas mulheres. Teve setecentas mulheres de sangue real e trezentas concubinas. Elas foram, sem dúvida, responsáveis por ter desviado o seu coração do Senhor. Especialmente já no tempo da sua velhice, levando-o a adorar os seus deuses em vez de confiar inteiramente no Senhor, seu Deus, como fizera o seu pai David. Salomão prestou culto a Astarote, deusa dos sidónios, e a Milcom, o abominável deus dos amonitas. Dessa forma, Salomão fez o que era mau aos olhos do Senhor, recusando-se a seguir o Senhor, ao contrário do seu pai David. Chegou mesmo a construir um santuário pagão no monte das Oliveiras, do outro lado do vale em frente a Jerusalém, dedicado a Quemós, o abominável deus de Moabe, e um outro a Moloque, o igualmente abominável deus dos amonitas. Salomão construiu templos para que as suas mulheres estrangeiras oferecessem incenso e sacrifícios aos seus deuses. O Senhor irou-se muito contra Salomão, pois o rei deixou de se interessar pelo Senhor, Deus de Israel. Tinha-lhe aparecido duas vezes para o avisar especificamente contra o perigo de prestar culto a outros deuses e ele fechou os seus ouvidos. Por isso, o Senhor lhe disse: “Visto que não guardaste a minha aliança e não obedeceste às minhas leis, tirarei de ti o reino e da tua família e dá-lo-ei ao teu servo. Contudo, por amor do teu pai David não o farei enquanto viveres. O reino será tirado ao teu filho. Mesmo assim permitirei que seja rei de uma tribo, por amor de David e de Jerusalém, a minha cidade escolhida.” Foi assim que o Senhor permitiu a ascensão de Hadade, o edomita. Salomão tornou-se apreensivo, porque Hadade era membro da família real de Edom. Anos antes, quando David tinha estado em Edom com Joabe, para tratarem do enterro de alguns soldados israelitas mortos em combate, o exército israelita matou quase todos os homens do país. Levou seis meses, mas finalmente conseguiu matá-los a todos. A única exceção foi Hadade e alguns membros da corte que o levaram para o Egito, pois era uma criança nessa altura. Conseguiram escapar-se de Midiã e foram a Parã, onde outros se juntaram e os acompanharam até ao Egito, onde o Faraó lhes deu casa e alimentação. Hadade tornou-se um dos amigos mais íntimos do Faraó e este deu-lhe por mulher a irmã da rainha Tafnes. Teve dela um filho, Genubate, que cresceu no palácio do Faraó com os seus próprios filhos. Quando Hadade, estando no Egito, ouviu que David e Joabe tinham ambos morrido, pediu ao Faraó licença para voltar para Edom. “Porquê?”, perguntou-lhe o Faraó. “O que é que te falta aqui? Em que é que te desapontámos?” Ao que lhe respondeu: “Tudo me tem corrido maravilhosamente, mas mesmo assim preferia voltar para a minha terra.” Outro dos inimigos de Salomão, que Deus permitiu que crescesse em poderio, foi Rezom, filho de Eliada, um dos membros da corte do rei Hadadezer de Zobá. Depois de David ter derrotado o exército de Zobá, Rezom reuniu alguns homens e tornou-se chefe um bando de revoltosos. Rezom e os seus homens foram viver para Damasco e ali o proclamaram rei. Rezom tornou-se rei de Aram e foi adversário de Israel, durante toda a vida de Salomão. Tal como Hadade, causou-lhes muitos danos, pois odiavam a Israel intensamente. Outro chefe rebelde foi Jeroboão, o filho de Nebate, servo de Salomão, que veio da cidade de Zereda em Efraim; a sua mãe era Zeruá, uma viúva. Esta é a história da sua rebelião. Salomão estava a reconstruir a fortaleza de Milo, a fazer reparações na muralha desta cidade que o seu pai tinha mandado edificar. Jeroboão era muito hábil; quando Salomão constatou as suas aptidões, colocou-o como supervisor de todas as equipas de trabalho das tribos de José. Um dia em que Jeroboão saía de Jerusalém, o profeta Aías de Silo, que tinha vestido uma roupa nova para essa ocasião, veio ao seu encontro e chamou-o à parte para conversar com ele. Quando os dois se afastaram, já no campo, Aías rasgou o seu fato novo em doze partes. E disse a Jeroboão: “Pega em dez destes bocados, pois assim diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Rasgarei o reino, tirando-o da mão de Salomão e dar-te-ei dez tribos! Contudo, deixar-lhe-ei uma tribo, por amor do meu servo David e de Jerusalém, que escolhi de entre todas as povoações de Israel. Porque Salomão me virou as costas e presta culto a Astarote, a deusa dos sidónios, a Quemós, o deus de Moabe, e a Milcom, o deus dos amonitas. Não seguiu os meus caminhos nem exerceu a justiça; não guardou as minhas leis e instruções como David seu pai. No entanto, não lhe tirarei agora o reino, por amor do meu servo David, meu escolhido, que obedeceu aos meus mandamentos; deixarei que Salomão reine durante o resto da sua vida. Será das mãos do seu filho que tirarei o reino e a ti darei dez tribos. Ele ficará com a restante, para que os descendentes de David continuem a reinar em Jerusalém, a cidade que escolhi para que o meu nome seja honrado. Colocar-te-ei sobre o trono de Israel e dar-te-ei poder absoluto. Se prestares ouvidos às minhas palavras, andares nos meus caminhos e fizeres o que eu considero justo, obedecendo aos meus mandamentos, como fez o meu servo David, então abençoar-te-ei, e os teus descendentes terão um reinado firme para sempre. Fiz esta mesma promessa a David. Por causa do pecado de Salomão castigarei os descendentes de David, embora não para sempre.’ ” Salomão ainda tentou matar Jeroboão, mas este fugiu para junto do rei Sisaque do Egito e ali ficou até à morte do soberano. Quanto ao resto dos feitos de Salomão, o que fez e o que disse, está escrito no Livro das Crónicas de Salomão. Salomão reinou em Jerusalém, sobre todo o Israel, durante 40 anos. Depois morreu e foi enterrado na Cidade de David. O seu filho Roboão reinou em seu lugar. Todos os chefes de Israel vieram à coroação de Roboão a Siquem. Entretanto, uns amigos de Jeroboão, filho de Nebate, mandaram dizer-lhe que Salomão morrera. Ele encontrava-se no Egito por essa altura; tinha ido para lá para fugir ao rei Salomão. Por isso, regressou e esteve presente na coroação. Apresentou então, em nome do povo, uma petição a Roboão: “O teu pai foi um duro governante. Se te tornares mais brando, servir-te-emos!” “Deem-me três dias para pensar nesse assunto”, respondeu Roboão. “Voltem depois para saber a resposta.” E o povo foi-se embora. Roboão foi discutir o assunto com os velhos conselheiros do seu pai Salomão: “O que pensam que devo fazer? O que é que lhes digo?” “Se lhes deres uma resposta favorável e concordares em ser bom e servi-los com bondade, poderás vir a ser o seu rei para sempre.” Roboão recusou o conselho desses anciãos e mandou chamar os moços que tinham crescido com ele: “Amigos, que acham que devo fazer? Serei mais bondoso com eles do que foi o meu pai?” “Não!” responderam. “Diz-lhes assim: ‘Se pensam que o meu pai foi duro convosco, esperem um pouco e verão como eu serei! O meu dedo mindinho será mais grosso do que a cintura do meu pai! O meu jugo será mais duro e não mais brando! O meu pai castigou-vos com açoites; eu usarei um chicote de pontas de ferro!’ ” Jeroboão e o povo que estava com ele voltaram ao fim dos três dias para conhecer a decisão do rei Roboão. O rei falou-lhes duramente, pois recusara o conselho dos anciãos. Seguiu o conselho dos mais novos: “O meu pai deu-vos pesados fardos, dizem vocês; pois o meu será ainda mais pesado! O meu pai castigou-vos com açoites; eu castigar-vos-ei com chicote de pontas de ferro!” Desta forma, o rei recusou o pedido do povo. O Senhor fez com que assim fosse, para que se cumprissem as predições feitas por Aías, o silonita, a Jeroboão. O povo deu-se conta de que o rei não tinha a intenção de ouvir o seu pedido. “Que temos nós a ver com David e a sua dinastia?”, gritaram furiosamente. “Arranjaremos outra pessoa para ser o nosso rei. Que Roboão governe a sua própria tribo de Judá! Nós vamos para a nossa terra!” E todos foram embora. Quanto aos israelitas que moravam nas cidades de Judá, Roboão continuou como seu rei. Quando o rei enviou Adonirão, que era administrador do serviço obrigatório, para fazer o alistamento dos homens das outras tribos, levantou-se um grande motim e apedrejaram-no até à morte. O rei Roboão conseguiu escapar num carro e fugiu para Jerusalém. Israel tem estado em rebelião contra a dinastia de David desde esse tempo. Quando o povo de Israel soube do regresso de Jeroboão do Egito, pediram-lhe que se apresentasse perante o povo numa grande reunião e declararam-no rei de Israel. Apenas a tribo de Judá se manteve sob a liderança dum descendente da família de David. Ao chegar a Jerusalém, Roboão convocou o exército; todos os homens aptos para a guerra de Judá e Benjamim: 180 000 tropas especiais para obrigar o resto de Israel a reconhecê-lo como rei. Contudo, Deus enviou a seguinte mensagem ao profeta Semaías, homem de Deus: “Diz a Roboão, o filho de Salomão, rei de Judá, e a todo o povo de Judá e Benjamim, e ao restante povo, que não devem combater contra os seus irmãos israelitas. Diz-lhes que se desmobilizem e voltem para suas casas, porque o que aconteceu a Roboão correspondeu à minha vontade.” Então o exército desfez-se, tal como o Senhor mandara. Jeroboão construiu depois a cidade de Siquem, na região das colinas de Efraim, que ficou a ser a sua capital. Mais tarde, construiu Penuel. Jeroboão pensou o seguinte: “Se não tiver cuidado, o povo pode requerer um descendente de David como rei. Quando forem a Jerusalém oferecer sacrifícios no templo do Senhor, deixar-se-ão aliciar pelo rei Roboão; depois matar-me-ão e pedirão que ele se torne seu rei.” Seguindo a opinião dos seus conselheiros, o rei fez dois bezerros de ouro e disse ao povo: “Não precisam mais de se darem ao trabalho de irem a Jerusalém para adorar. Ó Israel, aqui tens os teus deuses que te fizeram sair do Egito!” Um desses bezerros foi colocado em Betel e o outro em Dan. Este foi um grande pecado, porque o povo começou efetivamente a adorá-los. Mandou igualmente construir santuários pagãos sobre colinas e ordenou sacerdotes de gente menos qualificada do povo, sem ter o cuidado de que fossem da tribo sacerdotal de Levi. Jeroboão anunciou também que a festa anual dos tabernáculos se realizaria em Betel, no dia 15 do oitavo mês, uma data inteiramente da sua escolha, semelhante à que se realizava em Judá. Ele próprio ofereceu sacrifícios aos bezerros e colocou ali em Betel os sacerdotes que serviam nos santuários pagãos que ele também construíra. Naquele dia, Jeroboão foi a Betel celebrar a festa que tinha instituído para o povo de Israel e ofereceu um sacrifício no altar, queimando insenso. Quando Jeroboão se aproximava do santuário pagão em Betel para queimar incenso ao bezerro, o ídolo em ouro, um servo de Deus veio de Judá, por ordem do Senhor. Dirigiu-se para este e, à ordem do Senhor, clamou em alta voz: “Ó altar, o Senhor manda dizer que uma criança chamada Josias nascerá da linhagem de David, o qual há de sacrificar sobre ti os sacerdotes dos santuários pagãos que aqui vêm queimar incenso! Ossos de seres humanos serão queimados sobre ti!” Seguidamente, deu a seguinte prova de como a sua mensagem fora ditada pelo Senhor: “Este altar partir-se-á em dois e a cinza que nele está espalhar-se-á pelo chão.” O rei ficou furioso por o homem de Deus ter dito semelhantes coisas e gritou para os guardas: “Prendam esse homem!”, dirigindo o punho fechado contra ele. Imediatamente o seu braço ficou paralisado, sem o poder recolher. Ao mesmo tempo, apareceu uma larga fenda no altar e as cinzas derramaram-se, tal como o homem de Deus tinha dito que haveria de acontecer. Esta foi a prova de que o Senhor falara pela boca do profeta. “Ó, peço-te que rogues ao Senhor, teu Deus”, gritou o rei para o homem de Deus, “que me faça recuperar o meu braço!” Então ele orou ao Senhor e o braço ficou normal. O rei disse ao homem de Deus: “Vem comigo descansar e comer alguma coisa. Quero recompensar-te.” No entanto, o homem de Deus respondeu-lhe: “Ainda que me desses metade do teu palácio, não entraria nele, nem sequer comeria ou beberia água nessa casa! O Senhor deu-me ordens estritas para não comer nem beber o que quer que fosse, enquanto aqui me encontrar, e para não regressar a Judá pelo mesmo caminho.” E assim foi embora por outra estrada. Vivia em Betel um velho profeta e o seu filho foi contar-lhe o que o homem de Deus, de Judá fizera e o que dissera ao rei. “Por que caminho foi ele?” E informaram-no. “Vem a minha casa e come comigo.” “Não posso. Não me é permitido comer nem beber seja o que for em Betel, nem sequer água. Foram as ordens estritas que o Senhor me deu; mandou-me também que não regressasse pelo mesmo caminho.” Contudo, o ancião insistiu: “Eu também sou profeta como tu e um anjo deu-me uma mensagem da parte do Senhor. Devo levar-te para minha casa e dar-te de comer e beber.” No entanto, o velho profeta estava a mentir. Assim, os dois voltaram para trás e o profeta comeu algum alimento e bebeu água em casa do ancião. Estavam eles à mesa, quando veio uma mensagem do Senhor ao profeta idoso. Este exclamou para o homem de Deus de Judá: “O Senhor manda dizer que por teres desobedecido às ordens claras que te tinham sido dadas, tendo vindo até aqui para comer e beber água, num lugar que te tinha sido proibido, o teu corpo morto não será enterrado no túmulo dos teus pais.” Terminada a refeição, o ancião selou o jumento do profeta. Este partiu, mas durante a viagem apareceu um leão que o matou. O seu corpo ficou ali estendido no caminho com o jumento e o leão ao lado. Alguns homem que passaram por ali viram o corpo no meio da estrada com o leão ao lado e foram contá-lo em Betel, onde vivia o velho profeta. Quando este ouviu o que acontecera, exclamou: “É o homem de Deus que desobedeceu à ordens do Senhor! O Senhor cumpriu a sua palavra, fazendo com que o leão o matasse.” Depois disse aos seus filhos: “Selem o meu jumento!” Assim fizeram. Ele foi e achou o corpo do profeta estendido no caminho com o leão ainda ali ao lado, sem que tivesse comido o corpo ou atacado o jumento. O profeta colocou o corpo sobre o jumento e levou-o para a cidade para lhe fazer o funeral e enterrá-lo. Colocou o corpo no seu próprio sepulcro e chorando dizia: “Ah! Meu irmão!” Depois disse ao filho: “Quando morrer, enterrem-me no sepulcro em que está o homem de Deus. Ponham os meus ossos ao lado dos seus. Pois o Senhor mandou que ele clamasse contra o altar de Betel e as suas maldições contra os santuários pagãos das cidades de Samaria certamente se cumprirão.” Apesar dos avisos do profeta, Jeroboão não se converteu dos seus maus caminhos. Em vez disso, ordenou ainda mais sacerdotes, de entre o povo, para oferecerem sacrifícios aos ídolos nos santuários pagãos. Quem quisesse podia ser sacerdote. Este foi um grande pecado e foi a causa da destruição do reino de Jeroboão e da morte de toda a sua família. Abias, filho de Jeroboão, ficou por essa altura muito doente. Então o rei disse à sua mulher: “Disfarça-te, de forma a que ninguém te possa reconhecer como sendo a rainha, e vai ter com Aías, o profeta que está em Silo, o homem que me anunciou que me tornaria rei. Leva-lhe um presente de dez pães e uma botija de mel e pergunta-lhe se o rapaz se restabelecerá.” A sua mulher assim fez e foi até à casa de Aías em Silo. Este era agora um homem muito idoso e já não podia ver bem. Mas o Senhor avisou-o de que a rainha viria, fazendo-se passar por outra pessoa, para lhe perguntar acerca da saúde do filho que estava muito doente. E o Senhor comunicou-lhe o que deveria dizer-lhe. Quando Aías a ouviu chegar à porta, gritou de dentro: “Podes entrar, mulher de Jeroboão! Porque pretendes fazer-te passar por outra pessoa?” Depois disse-lhe: “Tenho más notícias para te dar. Leva ao teu marido esta mensagem da parte do Senhor, o Deus de Israel: ‘Fiz-te ascender de entre gente comum ao lugar de rei de Israel. Arranquei o reino à família de David e entreguei-o a ti; contudo não obedeceste aos meus mandamentos como fez o meu servo David. Os desejos do seu coração foram sempre obedecer-me e cumprir a minha vontade. Mas tu, sozinho, fizeste mais mal do que todos os outros reis antes de ti; arranjaste ídolos e acendeste a minha ira com os teus bezerros de ouro. Visto que me viraste as costas, trarei consternação sobre o teu lar e sobre todos em Israel. Varrerei a tua família como se varre o esterco. Garanto-te que aqueles da tua família que morrerem na cidade serão comidos pelos cães; os que morrerem no campo serão comidos pelas aves.’ ” Depois Aías disse à mulher de Jeroboão: “Vai para casa; quando tiveres entrado na cidade o menino morrerá. Todo o Israel o lamentará e o sepultará, mas ele será o único membro da tua família que terá um fim sossegado. Porque este menino é a única coisa boa que o Senhor, Deus de Israel, vê em toda a família de Jeroboão. O Senhor vai designar um novo rei de Israel, que acabará com a dinastia de Jeroboão. E há de ser já! O Senhor sacudirá Israel como uma cana à beira duma torrente, que é abanada pela força das águas; arrancará o povo de Israel da boa terra dos seus pais e os espalhará para além do rio Eufrates, pois suscitaram a ira do Senhor adorando os seus postes ídolos de Achera. Ele abandonará Israel porque Jeroboão pecou e fez pecar todo o Israel com ele.” A mulher de Jeroboão regressou a Tirza e o menino faleceu no momento em que ela entrava na sua residência. Sepultaram-no e houve lamentos por toda a terra, tal como o Senhor predissera através do profeta Aías. O resto dos feitos de Jeroboão, as guerras que fez e outros acontecimentos do seu reino, está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Jeroboão reinou 22 anos. Quando morreu, o seu filho Nadabe ocupou o trono. Entretanto, Roboão, o filho de Salomão, continuava a reinar em Judá. Tinha 41 anos de idade quando começou a reinar e esteve 17 anos no trono em Jerusalém, a cidade entre todas as cidades de Israel que o Senhor escolhera para habitar. A mãe de Roboão chamava-se Naamá e era amonita. Durante o seu reinado o povo de Judá, à semelhança de Israel, fez o que era mau e acendeu a ira do Senhor por causa do seu pecado, pois foi pior do que os seus antepassados. Construíram santuários pagãos e obeliscos, assim como estátuas e postes ídolos de Achera, sobre todas as colinas e debaixo de árvores verdes. Espalhou-se a prostituição masculina pela terra e o povo de Judá tornou-se tão depravado como as nações pagãs que o Senhor tinha expulsado da terra para dar lugar ao seu povo. No quinto ano do reinado de Roboão o rei Sisaque do Egito atacou Jerusalém. Levou os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, assim como todos os escudos de ouro que Salomão mandara fazer. O rei Roboão mandou fazer escudos de bronze para substituir os outros, e os guardas do palácio passaram a usá-los. Sempre que o rei ia ao templo, os guardas formavam em parada, com os escudos, e depois punham-nos novamente na casa da guarda. Os outros acontecimentos respeitantes ao reinado de Roboão estão escritos no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Houve constantemente guerra entre Roboão e Jeroboão. Quando Roboão faleceu foi enterrado junto dos seus antepassados em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Naamá e era amonita. O seu filho Abias tomou o seu lugar no trono. Pecou ainda mais do que o seu pai; o seu coração não foi reto para com o Senhor, seu Deus, como tinha sido o do rei David. Apesar do pecado de Abias, o Senhor lembrou-se do amor que tinha por David e não fez terminar a sua linhagem real. Porque David obedecera ao Senhor durante todo o tempo da sua vida, exceto naquele assunto de Urias, o hitita. Durante o reinado de Roboão continuou a haver guerra entre ele e Jeroboão. O resto da história deste reinado está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Abias e Jeroboão guerrearam entre si. Quando morreu, Abias foi enterrado em Jerusalém e o seu filho Asa sucedeu-lhe no trono. Asa tornou-se rei de Judá, em Jerusalém, 20 anos depois de Jeroboão ter começado a reinar sobre Israel. Reinou 41 anos. A sua avó era Maacá, filha de Absalão. Asa fez o que era reto aos olhos do Senhor, à semelhança do seu antepassado David. Expulsou do país os que praticavam a prostituição e mandou retirar todos os ídolos que os seus antepassados mandaram fazer. O rei Asa retirou à sua avó Maacá a distinção de rainha-mãe, por ter sido ela quem fizera o abominável ídolo de Achera; destruiu esse ídolo desprezível, despedaçou-o e queimou-o, deitando as cinzas no ribeiro de Cedron. Contudo, não foram removidos os santuários pagãos sobre as colinas, apesar do coração de Asa se manter fiel ao Senhor todo o tempo da sua vida. Tornou a trazer para o templo as taças e as bacias de prata e de ouro que o seu pai tinha consagrado ao Senhor. Houve guerra permanente entre o rei Asa de Judá e o rei Bacha de Israel. O rei Bacha de Israel declarou-lhe guerra e construiu a fortaleza de Ramá, a fim de poder controlar a estrada de acesso a Judá. Asa juntou toda a prata e ouro que ficara no templo do Senhor e no palácio real e entregou tudo aos líderes do seu reino, para levarem a Damasco como presente ao rei de Aram, Ben-Hadade, filho de Tabrimom e neto de Hezion, com esta mensagem: “Vamos renovar a aliança que existia entre o teu pai e o meu. Mando-te prata e ouro para te convencer a quebrares a aliança com Bacha, rei de Israel, para que me deixe tranquilo.” Ben-Hadade aceitou a proposta de Asa e mobilizou o seu exército com o fim de atacar Israel. Destruiu Ijom, Dan, Abel-Bete-Maacá, toda a Quinerete e todas as povoações de Naftali. Ouvindo o que acontecera, Bacha suspendeu os trabalhos que estava a fazer na fortaleza de Ramá e voltou para Tirza. O rei Asa fez circular em Judá uma proclamação pedindo a todos os homens, sem exceção, que viessem ajudar a deitar abaixo as construções de pedra e madeira. Essas pedras e madeiras foram usadas para construir Geba, em Benjamim, e a cidade de Mizpá. O resto dos feitos de Asa, as suas conquistas e feitos e os nomes das povoações que mandou construir, estão escritos no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Na sua velhice o rei começou a padecer dos pés. Quando morreu foi sepultado no cemitério real na Cidade de David. O seu filho Jeosafá tornou-se o novo rei de Judá. Entretanto, em Israel, Nadabe, filho de Jeroboão, tornara-se rei. Reinou durante 2 anos, começando a reinar no segundo ano do reinado de Asa, rei de Judá. Ele fez o que era mau aos olhos do Senhor. À semelhança do seu pai, adorou muito ídolos e levou Israel a pecar. Foi então que Bacha, filho de Aías da tribo de Issacar, conspirou contra Nadabe e o assassinou, quando com o exército de Israel estava a sitiar a cidade filisteia de Gibetom. Assim, Bacha substituiu Nadabe como rei de Israel, em Tirza, durante o terceiro ano do reinado de Asa, rei de Judá. Imediatamente mandou matar todos os descendentes do rei Jeroboão, não tendo ninguém da família real ficado com vida, tal como o Senhor dissera que haveria de acontecer, quando falou por intermédio de Aías, o profeta de Silo. Isto aconteceu porque Jeroboão acendeu a ira do Senhor, o Deus de Israel, pecando e levando o resto de Israel a pecar. Outros acontecimentos do reinado de Nadabe estão registados no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Houve sempre guerra entre o rei Asa de Judá e o rei Bacha de Israel. No terceiro ano de Asa, rei de Judá, Bacha, filho de Aías, tornou-se rei sobre Israel em Tirza, e reinou durante 24 anos. Mas todo esse tempo fez o que era mau aos olhos do Senhor. Seguiu os maus caminhos de Jeroboão, levando Israel a pecar. O profeta Jeú, filho de Hanani, entregou ao rei Bacha uma mensagem de condenação da parte do Senhor. “Tirei-te do pó do chão”, dizia a mensagem, “para te constituir rei sobre o povo de Israel; mas tu preferiste andar nos maus caminhos de Jeroboão. Fizeste pecar o meu povo e acendeste a minha ira! Por isso, destruir-te-ei e à tua família como fiz com os descendentes de Jeroboão, filho de Nebat. Os teus familiares que morrerem na cidade serão comidos por cães, os que morrerem nos campos serão comidos pelas aves.” O resto da biografia de Bacha, os seus atos e conquistas, está no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Bacha morreu e foi sepultado na cidade de Tirza. Sucedeu-lhe no trono o seu filho Elá. Quando o Senhor enviou a sua mensagem a Bacha e aos seus, por intermédio do profeta Jeú, filho de Hanani, fê-lo por duas razões: primeiro, por Bacha e os seus familiares terem feito o que desagradava ao Senhor e provocado a sua ira, como fizeram Jeroboão e a sua família; segundo, por Bacha ter massacrado toda a família de Jeroboão. Elá, filho de Bacha, começou a reinar no vigésimo sexto ano do reinado do rei Asa de Judá, mas reinou em Tirza durante 2 anos. O general Zimri, que tinha a seu cargo o comando de metade dos carros reais de combate, conspirou contra ele. Um dia, o rei Elá encontrava-se na casa de Arza, o superintendente do palácio em Tirza. O rei estava já embriagado quando Zimri simplesmente entrou, o feriu e matou. Isto ocorreu no vigésimo sétimo ano do reinado de Asa, rei de Judá. Zimri proclamou-se a si mesmo o novo rei de Israel. Imediatamente mandou matar toda a família real anterior, sem deixar com vida um só elemento masculino. Eliminou mesmo os familiares mais afastados e os amigos do rei. Esta destruição dos descendentes de Bacha correspondia ao que o Senhor tinha predito por intermédio do profeta Jeú. A tragédia ocorreu por causa dos pecados de Bacha e do seu filho Elá; porque foram eles que levaram Israel à idolatria e o Senhor, Deus de Israel, ficou muito irado com isso. O resto da história do reinado de Elá está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. No entanto, Zimri ficou no poder apenas sete dias. Quando as tropas de Israel, que estavam a atacar a cidade filisteia de Gibetom, souberam que Zimri tinha assassinado o rei, decidiram eleger como rei o general Omri, comandante das forças militares. Omri levou o exército, desde Gibetom, a atacar Tirza, a capital de Israel. Ao ver a cidade tomada, Zimri foi para a fortaleza do palácio, incendiou-o e morreu entre as chamas. Porque também ele tinha pecado, fazendo o que era mau aos olhos do Senhor, à semelhança de Jeroboão, prestando culto a ídolos e levando o povo a pecar. O resto dos acontecimentos da vida de Zimri e a sua traição estão narrados no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Agora o próprio reino de Israel estava dividido em dois; metade era leal ao general Omri e outra metade seguia Tibni, filho de Ginate. Contudo, o general saiu vitorioso e matou Tibni; Omri passou a reinar sem oposição. O rei Asa de Judá tinha estado no trono 31 anos, quando Omri começou o seu reinado sobre Israel, o qual durou 12 anos, 6 dos quais em Tirza. Omri comprou a colina, agora conhecida por Samaria, ao seu proprietário Semer, por 70 quilos de prata, e construiu ali uma cidade, chamando-lhe Samaria em honra do seu proprietário Semer. Omri foi pior do que qualquer dos reis que o precederam, pois fez tudo o que era mau aos olhos do Senhor. Prestou culto aos ídolos, tal como Jeroboão, filho de Nebate, e levou Israel a cometer o mesmo pecado, acendendo a ira do Senhor, Deus de Israel, com a sua inútil idolatria. O resto da história de Omri está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Omri morreu e foi sepultado em Samaria; o seu filho Acabe reinou em seu lugar. O rei Asa de Judá tinha estado no trono 38 anos, quando Acabe se tornou rei de Israel. Acabe reinou 22 anos. Acabe fez o que era mau aos olhos do Senhor, e foi pior do que o seu pai Omri e do que qualquer outro rei de Israel. Como se não bastasse em pecar como Jeroboão, filho de Nebate, casou-se com Jezabel, filha do rei Etbaal, rei dos sidónios, acabando por prestar culto a Baal. Iniciou o culto a Baal, começando por construir um templo e um altar a esse deus em Samaria. Depois fez outros postes ídolos de Achera, e acendeu ainda mais a ira do Senhor, o Deus de Israel, do que qualquer dos outros reis de Israel antes dele. Foi durante o seu reinado que Hiel, um homem de Betel, reconstruiu Jericó. Quando colocou os alicerces, morreu-lhe o filho mais velho, Abirão. Quando completou as construções e colocou as portas da povoação, faleceu-lhe o filho mais novo, Segube. Porque esta tinha sido a maldição do Senhor sobre Jericó, declarada por Josué, filho de Num. Elias, o tesbita, que morava em Gileade, disse ao rei Acabe: “Tão certo como vive o Senhor, o Deus de Israel, o Deus a quem adoro e sirvo, te garanto que não haverá nem chuva nem orvalho durante vários anos, até eu dizer basta!” O Senhor disse a Elias: “Vai para o oriente e esconde-te junto do ribeiro de Querite, num lugar a leste do rio Jordão. Bebe da água do ribeiro e come o que os corvos te trouxerem, porque mandei que eles te alimentassem.” Elias fez como o Senhor lhe ordenara e foi viver para junto do ribeiro. Os corvos traziam-lhe pão e carne de manhã e à tarde e bebia a água do rio. Passado algum tempo o ribeiro secou, porque deixou de cair chuva sobre a terra. Então o Senhor disse-lhe: “Vai viver para a aldeia de Zarefate, perto da cidade de Sídon. Há lá uma viúva que te alimentará. Já lhe dei as minhas instruções.” Então foi para Zarefate e quando ia a entrar na cidade viu uma mulher viúva a apanhar lenha e pediu-lhe de beber. Quando ela ia buscar a água, ele pediu-lhe mais: “Traz-me também um pedaço de pão.” Mas ela disse: “Tão certo como vive o Senhor, teu Deus, que não tenho um só pedaço de pão em casa. Tenho apenas uma mão-cheia de farinha e uma pequena porção de azeite no fundo duma botija. Estava justamente a juntar alguns pedaços de lenha para cozinhar a minha última refeição e depois deixar-me morrer de fome com o meu filho.” “Não tenhas medo! Vai e cozinha aquilo que consideras a tua última refeição, mas faz primeiro para mim um pequeno pão; depois verás que haverá alimento suficiente para ti e para o teu filho. Porque o Senhor, o Deus de Israel, diz que haverá sempre farinha na panela e azeite na botija até que o Senhor mande a chuva e as searas tornem a crescer!” Ela fez como Elias disse e tanto ela e o filho como o profeta continuaram a poder comer, tanto quanto lhes foi necessário. A farinha não se acabou na panela nem o azeite na botija, tal como o Senhor prometera a Elias. Um dia, o filho da mulher adoeceu de tal maneira que morreu. “Ó homem de Deus”, clamou ela, “que foi que me fizeste? Vieste aqui para me castigar pelos meus pecados e matar-me o meu filho?” “Dá-me o teu menino”, respondeu-lhe Elias. Pegou no corpo do rapaz, levou-o para cima, para o quarto onde vivia e deitou-o na sua cama. E clamou ao Senhor: “Ó Senhor, meu Deus, porque é que mataste o filho desta viúva em casa de quem estou alojado?” E estendeu-se três vezes sobre o corpo do menino, rogando ao Senhor: “Ó Senhor, meu Deus, imploro-te que o espírito deste menino volte para ele!” O Senhor ouviu a oração de Elias e o espírito do rapaz voltou e este tornou a viver. Elias pegou nele, desceu e entregou-o à mãe. “Olha! Aqui está ele, vivo!” “Agora tenho a certeza de que és um homem de Deus”, retorquiu a mulher, “e que tudo o que dizes em nome do Senhor é verdadeiro!” Três anos mais tarde o Senhor disse a Elias: “Vai dizer ao rei Acabe que em breve enviarei chuva!” Elias foi dizer-lho. Entretanto, a fome tinha-se tornado extrema em Samaria. O homem que servia de intendente da casa de Acabe era Obadias, um devoto e temente no Senhor. Certa vez, em que a rainha Jezabel tentara matar todos os profetas do Senhor, Obadias escondeu cem deles em duas grutas, cinquenta em cada uma, alimentado-os com pão e água. Naquele mesmo dia, em que Elias ia a caminho para encontrar-se com o rei Acabe, este disse a Obadias: “Temos de ir a todas as correntes e ribeiros para ver se arranjamos erva, para salvar pelo menos alguns dos meus cavalos e mulas. Eu irei por um lado e tu por outro; percorreremos toda a terra.” Assim fizeram, indo cada um por seu lado, sozinhos. De repente, Obadias viu Elias dirigindo-se na sua direção. Reconheceu-o logo e inclinou-se até ao chão. “És mesmo tu, meu senhor Elias?”, perguntou. “Sim, sou eu. Vai dizer ao rei que estou aqui.” “Ó, meu senhor!”, protestou Obadias. “Que mal fiz eu para que me condenes dessa forma à morte? Tão certo como vive o Senhor, teu Deus, que o rei te tem mandado procurar de uma extremidade à outra da terra e em todas as nações e reinos. De cada vez que lhe diziam ‘Elias não está aqui’, forçava o rei dessa nação a jurar que falava a verdade. Agora vens tu dizer-me: ‘Vai avisar o rei que Elias está aqui.’ Aliás, assim que eu te deixasse, o Espírito do Senhor poderia transportar-te para longe, sabe-se lá para onde. Quando Acabe viesse e já não te encontrasse, eu seria um homem morto, e contudo tenho sempre sido um fiel servo do Senhor em toda a minha vida. Ninguém te contou o que fiz quando, na altura em que a rainha Jezabel tentou matar os profetas do Senhor, escondi uma centena deles em duas grutas, alimentando-os com pão e água? E agora vens dizer-me: ‘Vai avisar o rei que Elias está aqui.’ Se fizer isso, a minha vida está liquidada!” Elias respondeu-lhe: “Tão certo como vive o Senhor dos exércitos, em cuja presença vivo, que me apresentarei, eu próprio, perante Acabe hoje mesmo.” Obadias aceitou ir dizer a Acabe que Elias tinha regressado. Acabe foi ao seu encontro: “És tu o homem que trouxe esta desgraça sobre Israel?”, disse-lhe Acabe quando o viu. “Tu é que tens perturbado a Israel, não eu”, respondeu o profeta. “Porque tu e a tua família recusaram obedecer ao Senhor e têm prestado culto a Baal. Convoca agora todo o povo de Israel para ir ao monte Carmelo, com todos os 450 profetas de Baal, mais os 400 profetas de Achera que são mantidos por Jezabel.” Acabe convocou todo o povo e os profetas para o monte Carmelo. Elias falou assim ao povo: “Até quando coxearão entre dois caminhos? Se o Senhor é Deus, sigam-no! Se Baal é que é Deus, então sigam-no antes a ele!” E depois acrescentou: “Sou o único profeta do Senhor que ficou vivo, mas Baal tem 450 profetas. Tragam dois novilhos. Os profetas de Baal que escolham um deles e cortem-no em peças e coloquem-nas sobre o seu altar, mas sem acender fogo. Quanto a mim, prepararei o outro novilho e o porei sobre a lenha, sem lhe pôr fogo. Depois orem ao vosso deus e eu orarei ao Senhor. Aquele que responder, mandando fogo para acender a lenha, esse é o verdadeiro Deus!” E o povo todo concordou com esse teste. Elias voltou-se para os profetas de Baal: “Primeiro vocês, porque são muitos; escolham um dos novilhos, preparem-no e clamem ao vosso deus; mas não acendam o fogo.” Eles preparam um dos animais, puseram-no sobre o seu altar e clamaram a Baal toda a manhã, gritando: “Ó Baal, ouve-nos!” Mas não se via resposta alguma. Começaram mesmo a fazer danças em volta do altar. Por volta do meio-dia, Elias ria-se deles: “Têm de gritar ainda mais alto para chamar a atenção do vosso deus! Talvez esteja a conversar com alguém, ou tenha ido tratar de algum assunto, ou pode estar a viajar; quem sabe até se não estará a dormitar um pouco e precise de ser despertado!” “Eles gritavam cada vez mais alto e, segundo o seu costume, laceravam-se a si próprios com facas e espadas, cobrindo-se de sangue. Assim estiveram, desesperados, até à altura do sacrifício da tarde, sem que se visse qualquer reação, ou se ouvisse alguma voz, ou houvesse uma resposta fosse de que tipo fosse.” Então Elias chamou o povo para junto de si: “Cheguem-se todos aqui!” Toda a gente se concentrou à sua volta, enquanto arranjava o altar do Senhor, que tinha sido derrubado. Pegou em doze pedras para representarem cada uma das tribos dos descendentes de Jacob, a quem a palavra do Senhor tinha sido dirigida, dizendo: “Teu nome será Israel.” Empregou-as para levantar o altar do Senhor. Depois cavou um rego em volta, com a largura aproximada de um metro. Dispôs a lenha sobre o altar e cortou o novilho em pedaços que arrumou sobre a lenha. “Encham quatro cântaros de água!”, mandou ele. “Deitem-na sobre as peças de carne e sobre a lenha!” Depois de terem feito o que ordenara, insistiu: “Façam outra vez a mesma coisa.” Eles obedeceram. “Agora façam o mesmo uma terceira vez!” E fizeram. A água escorria para o rego em volta do altar, enchendo-o. Chegando a altura da oferta do sacrifício da tarde, o profeta Elias subiu ao altar e orou assim: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, prova hoje que és o Deus de Israel e que eu sou teu servo; prova que tudo o que eu tenho feito é por tua ordem. Ó Senhor, responde-me! Responde-me, para que este povo saiba que tu és Deus e queres que o seu coração se arrependa.” Então veio fogo do Senhor e queimou a carne do holocausto, a madeira do altar, as pedras, a terra, a ponto de fazer evaporar a água do rego! Quando o povo viu aquilo, caiu com os seus rostos em terra, clamando: “O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” Elias mandou que agarrassem os profetas de Baal: “Não deixem escapar um só!” Apanharam-nos a todos. Elias levou-os para o ribeiro de Quisom e matou-os ali. Depois disse a Acabe. “Podes ir tomar uma boa refeição! Estou a ouvir o ruído de uma grande chuvada que se aproxima!” Acabe foi comer e beber. Elias, no entanto, subiu ao monte Carmelo e ficou de joelhos com o rosto em terra. E disse ao seu criado: “Vai olhar na direção do mar.” Ele obedeceu e voltou dizendo: “Não vejo nada.” Elias respondeu: “Vai e retorna ao mesmo lugar!” E isto aconteceu por sete vezes. Finalmente, à sétima vez, o criado disse-lhe: “Já vejo uma pequena nuvem, do tamanho da mão de um ser humano, levantando-se sobre o mar.” Elias ordenou-lhe: “Corre, vai ter com Acabe e diz-lhe que se meta no seu carro e que desça já, se não quer ser apanhado pela chuva!” Aquela pequena nuvem em breve se tornou num amontoado de grossas nuvens negras. Soprou uma forte ventania e caíram tremendas bátegas de água. Acabe foi para Jezreel. O Senhor deu a Elias uma capacidade especial para conseguir correr e chegar à entrada da cidade à frente do carro de Acabe. Quando Acabe contou à rainha Jezabel o que Elias fizera, que tinha matado todos os profetas de Baal, ela mandou um recado a Elias: “Mataste os meus profetas, mas juro-te pelos deuses que amanhã, por esta altura, te matarei eu.” Elias resolveu fugir para escapar com vida. Foi a Berseba, cidade de Judá e deixou ali o seu criado. Depois continuou sozinho pelo deserto, andando o dia inteiro. A certa altura, sentou-se debaixo dum zimbro e orou, pedindo que a morte o levasse: “Já basta, Senhor! Toma agora a minha vida. Tenho de morrer um dia, como todos os que me precederam e que morreram por te servir. Então que seja agora.” Deitou-se e adormeceu ali, debaixo do zimbro. Enquanto dormia, um anjo chegou-se, tocou-lhe e disse-lhe que se levantasse e comesse. Olhou em volta e viu pão, que fora cozido sobre brasas, e um jarro de água. Comeu, bebeu e tornou a deitar-se. O anjo do Senhor veio de novo, tocou-lhe e disse-lhe: “Levanta-te, come mais alguma coisa, porque tens uma longa caminhada pela frente.” Levantou-se então, comeu, bebeu, e aquele alimento deu-lhe forças bastantes para uma longa marcha de quarenta dias e quarenta noites, até ao monte Horebe, a montanha de Deus. Ali passou a noite numa gruta. Contudo, o Senhor disse-lhe: “Que fazes aqui, Elias?” Elias respondeu: “Tenho sido muito zeloso pelo Senhor, Deus dos exércitos, mas o povo de Israel quebrou a aliança que fizeste com ele, derrubou os teus altares e matou os teus profetas; só eu fiquei e ainda procuram matar-me.” “Sai daí; põe-te perante mim, nesta montanha.” Elias assim fez e o Senhor passou por ele, ao mesmo tempo que soprava um fortíssimo vento sobre a montanha; era de tal intensidade que até as rochas se quebravam. Mas o Senhor não estava nesse vento. Depois houve um tremor de terra; mas também aí não estava o Senhor. Posteriormente apareceu um fogo; mas também no fogo o Senhor não estava. Por fim, ouviu-se o ruído de um som delicado, como um sopro. Ao ouvi-lo, Elias escondeu o rosto na capa, saiu da gruta e pôs-se à entrada. Disse-lhe assim uma voz: “Que estás aqui a fazer, Elias?” Respondeu de novo o profeta: “Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos exércitos, mas o povo de Israel quebrou a aliança que fizeste com ele, derrubou os teus altares e matou os teus profetas; só eu fiquei e ainda procuram matar-me.” “Volta pelo caminho do deserto para Damasco; quando lá chegares unge Hazael como rei de Aram. Depois unge também Jeú, o filho de Ninsi, como rei de Israel, e unge ainda Eliseu, o filho de Safate de Abel-Meolá, para te substituir como profeta. Quem escapar de Hazael será morto por Jeú; os que escaparem de Jeú, serão mortos por Eliseu. Acontece que ainda há 7000 pessoas em Israel que nunca se inclinaram perante Baal, nem o beijaram!” Elias partiu e encontrou Eliseu, lavrando um campo com doze juntas de bois; ele encontrava-se com a última junta. Elias foi ter com ele, lançou-lhe a capa sobre os ombros e continuou o seu caminho. Eliseu deixou ali os bois e correu atrás de Elias dizendo: “Deixa-me ir primeiro dizer adeus aos meus pais e depois logo vou contigo!” Elias respondeu-lhe: “Vai e volta depois! Bem viste o que eu te fiz!” Eliseu voltou para os seus bois, matou-os e usou a madeira do arado para fazer fogo para assar a carne. Deu assim de comer a todo o povo. Depois seguiu Elias como seu assistente. O rei Ben-Hadade de Aram mobilizou o exército e, com mais 32 nações aliadas com os seus batalhões de carros de combate e cavalaria, atacou Samaria, a capital israelita. Ben-Hadade mandou uma mensagem à cidade para o rei Acabe de Israel: “A tua prata e o teu ouro são meus, assim como as tuas mulheres mais bonitas e os melhores dos teus filhos!” “Está bem, meu senhor”, respondeu Acabe. “Tudo o que tenho é teu!” Os mensageiros de Ben-Hadade em breve voltaram com outra mensagem: “Não será apenas o ouro, a prata, as mulheres e os filhos que terás de me dar. Amanhã, por esta altura mandarei os meus homens fazer uma busca no teu palácio e nas casas do teu povo e trazer tudo o que lhes apetecer!” Acabe convocou todos os anciãos do país: “Vejam bem o que este indivíduo está a fazer!”, lamentou-se ele. “Está decididamente a provocar-me para a guerra, a despeito de já lhe ter dito que podia ficar com as minhas mulheres, os meus filhos, o ouro e a prata, como exigira.” “Então não lhes dês mais nada”, opinaram os anciãos. Acabe deu esta resposta aos mensageiros: “Digam ao rei, meu senhor: Dar-te-ei tudo o que pediste da primeira vez, mas não deixarei que os teus homens entrem no meu palácio e nas casas do meu povo.” Os mensageiros regressaram com a resposta para Ben-Hadade. Ben-Hadade tornou a enviar uma nova mensagem a Acabe. “Que os deuses me façam ainda pior do que aquilo que eu te fizer, se não tornar Samaria num montão de ruínas!” O rei de Israel enviou-lhe a seguinte resposta: “Não contes com vitórias de guerras que ainda não travaste.” Esta última resposta recebeu-a Ben-Hadade e os outros reis que estavam com ele, numa altura em que bebiam juntos na sua tenda de campanha. “Preparem o ataque!”, ordenou o rei arameu aos oficiais. Então um profeta veio ter com Acabe e deu-lhe esta mensagem da parte do Senhor: “Vês todas estas forças inimigas? Vou entregá-las nas tuas mãos, hoje mesmo. Reconhecerás, enfim, que eu sou o Senhor.” Acabe perguntou: “E quem é que vai fazer isso?” O profeta respondeu: “Serão as tropas das províncias.” Inquiriu ainda: “Quem começará a atacar?” Ao que lhe respondeu: “Tu.” Assim contou os soldados das províncias, 232 mais o resto do exército israelita, 7000 homens. Cerca do meio-dia, enquanto Ben-Hadade e os 32 reis aliados estavam ainda a beber, já embriagados, saíram as primeiras tropas de Acabe da cidade. Durante a aproximação, as sentinelas de Ben-Hadade vieram dizer-lhe: “Estão a aproximar-se algumas tropas inimigas da Samaria!” “Apanhem-nos vivos”, ordenou o rei, “venham para pedir tréguas ou para combater.” Entretanto, o resto das tropas de Acabe tinham-se juntado para atacar. Cada um matou um soldado arameu e, de repente, todo o exército de Ben-Hadade desertou em pânico. Os israelitas perseguiram-nos; contudo, o rei e alguns outros conseguiram escapar a cavalo, mas a maior parte dos carros e da cavalaria foi capturada e muitos dos arameus foram mortos. O profeta foi dizer a Acabe: “Vai e fortalece-te; atenta bem para as tuas atitudes, porque na próxima primavera o rei de Aram voltará a atacar-te!” Porque, após esta derrota, os oficiais de Ben-Hadade disseram: “O Deus dos israelitas tem poder nas montanhas; por isso, é que eles ganharam; numa planície, facilmente os bateremos. Da próxima vez substitui os reis por generais! Recruta outro exército semelhante àquele que perdeste; dá-nos o mesmo número de cavalos, de carros e de homens; vencê-los-emos se for numa planície; não há sombra de dúvida que os liquidaremos.” Então o rei Ben-Hadade aceitou a sugestão. No ano seguinte mobilizou o exército e marchou novamente contra Israel; desta vez em Afeque. Israel convocou igualmente as suas tropas, que foram revistas; organizaram-se as linhas de abastecimento e deslocaram-se para a batalha; mas as forças israelitas mais pareciam dois pequenos rebanhos de cabritinhos em comparação com a imensa força militar dos arameus, que enchia por completo a paisagem. Um homem de Deus foi ter com o rei de Israel para lhe dar a seguinte mensagem da parte do Senhor: “Visto que os arameus declaram: ‘O Senhor é Deus de colinas e não de planícies’, derrotarei este imenso exército e saberás, sem dúvida alguma, que eu sou o Senhor.” Os dois exércitos formaram em linha de combate um em frente do outro e assim estiveram sete dias. Por fim, começou a peleja. Os israelitas mataram 100 000 homens de infantaria naquele primeiro dia. O resto foi refugiar-se dentro das muralhas de Afeque; mas estas ruíram sobre eles, matando mais 27 000. Ben-Hadade fugiu também para dentro da povoação, escondendo-se no interior duma casa. “Senhor”, disseram-lhe os seus oficiais, “ouvimos dizer que os reis de Israel são muito misericordiosos. Vamos pôr saco sobre nós e cordas ao pescoço e apresentar-nos perante o rei Acabe, pode ser que nos poupe a vida.” Foram assim ter com o rei de Israel e imploraram: “O teu servo Ben-Hadade roga-te: ‘Deixa-nos viver!’ ” O rei de Israel respondeu: “O quê? Ele ainda está vivo? É meu irmão!” Aqueles homens receberam aquelas palavras como um raio de esperança e apressaram-se a exclamar: “Sim, é verdade! É teu irmão!” O rei de Israel ordenou-lhes: “Vão já buscá-lo!” Quando Ben-Hadade chegou, convidou-o a subir para o seu carro. O rei arameu disse-lhe: “Devolver-te-ei as povoações que o meu pai tomou ao teu e poderás estabelecer postos de comércio em Damasco, tal como o meu pai fez em Samaria.” Acabe disse-lhe: “Vou deixar-te sair sob estas condições.” Fizeram então um tratado e Ben-Hadade foi em liberdade. Entretanto, o Senhor deu instruções a um dos profetas para dizer a outro: “Fere-me, peço-te!” Mas aquele homem recusou. Então o profeta disse-lhe: “Visto não teres obedecido à voz do Senhor, um leão matar-te-á assim que saíres daqui.” Com efeito, mal ele se foi, apareceu um leão que o matou. O profeta voltou-se para outro homem e disse-lhe: “Fere-me com a tua espada.” O outro obedeceu e feriu-o. O profeta ficou à espera do rei à beira da estrada, tendo vendado os olhos para se disfarçar. Quando o rei passou, o profeta chamou-o: “Senhor, eu estive na batalha; um homem trouxe-me um prisioneiro e disse-me: ‘Guarda este indivíduo; se ele fugir, terás de morrer, ou então pagar-me 34 quilos de prata!’ Enquanto eu fazia alguma coisa, o prisioneiro desapareceu.” O rei replicou: “Pois bem, a culpa é tua. Terás de pagar.” Nessa altura, o profeta desvendou os olhos e o rei reconheceu-o como sendo um dos profetas. Este disse-lhe: “Assim diz o Senhor: ‘Visto que poupaste o homem que eu disse que devia morrer, morrerás tu em seu lugar e o teu povo perecerá em lugar do dele.’ ” O rei de Israel regressou a Samaria muito irritado e desgostoso. Nabote, um indivíduo de Jezreel, tinha uma vinha nos subúrbios da cidade, perto do palácio do rei Acabe, rei da Samaria. Um dia, o rei propôs-lhe comprar-lhe aquele pedaço de terra. “Quero fazer um jardim”, explicou-lhe, “porque está junto ao palácio.” Ofereceu-se para lhe pagar em dinheiro ou dar-lhe em troca outra vinha melhor. Nabote respondeu: “Nunca poderia vender essa terra, porque se trata de uma herança dos meus antepassados, já de há muitas gerações. O Senhor não o permite.” Acabe foi para casa abatido e indignado. Não queria comer e meteu-se na cama com a cara virada para a parede. “Que desgosto tão grande é esse?”, perguntou-lhe a mulher, Jezabel. “Porque é que nem sequer queres comer?” “Pedi a Nabote que me vendesse a vinha, ou que a desse em troca de outra e recusou!”, disse-lhe Acabe. “Afinal, és ou não o rei de Israel? Trata de te levantar e andar normalmente, porque eu me ocuparei desse assunto; hei de conseguir essa vinha de Nabote!” Jezabel escreveu uma série de cartas, em nome de Acabe, com o selo real, e endereçou-as aos líderes da cidade de Jezreel, onde vivia Nabote. Nelas dava a seguinte ordem: “Façam uma proclamação, por toda a cidade, para que a população jejue. Convoquem Nabote e arranjem dois marginais que o acusem de ter amaldiçoado a Deus e ao rei. Depois levem-no e apedrejem-no até morrer.” Os chefes locais obedeceram àquelas instruções. Depois os líderes da cidade participaram a Jezabel que Nabote já estava morto. Quando a rainha tomou conhecimento disso, falou a Acabe: “Lembras-te da vinha que Nabote não te queria ceder? Pois bem, já podes tê-la. O homem morreu!” Então Acabe desceu para ir tomar posse da terra. No entanto, o Senhor disse a Elias, o tesbita: “Vai até Samaria falar com Acabe. Ele há de estar na vinha de Nabote, tomando posse dela. Dá-lhe esta mensagem da minha parte: ‘Não terá sido bastante que tenhas morto Nabote? Irás ainda roubá-lo? Visto que fizeste tamanha maldade, o teu sangue virá a ser lambido por cães, fora da cidade, tal como lamberam o sangue de Nabote!’ ” “Acabas sempre por me encontrar, meu inimigo!”, exclamou Acabe para Elias. “Sim, é verdade”, respondeu Elias. “Vim para te dar a conhecer a maldição que Deus colocou sobre ti, porque te vendeste para fazeres o que é mau aos olhos do Senhor. Ele trará um grande mal sobre ti e não deixará que um só dos teus descendentes masculinos sobreviva! Deus destruirá a tua família, como o fez com a de Jeroboão, filho de Nebate, e a do rei Bacha, filho de Aías, porque acendeste a sua ira muitíssimo e levaste todo o Israel a pecar. O Senhor também me disse que os cães despedeçarão o corpo da tua mulher Jezabel junto à muralha de Jezreel. Os membros da tua família que morrerem na cidade serão comidos pelos cães e os que morrerem no campo serão devorados pelas aves dos céus.” Não houve ninguém que se tivesse vendido como Acabe, para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, instigado por sua mulher Jezabel. A sua culpa era especialmente agravada porque prestava culto aos ídolos, tal como os amorreus, o povo que o Senhor tinha lançado fora da terra para dar lugar ao seu povo de Israel. Quando Acabe ouviu estas profecias, rasgou a roupa que trazia vestida, cobriu-se com saco e até assim dormia, jejuou e andava profundamente triste. Mais tarde, veio outra mensagem a Elias, o tesbita: “Estás a ver como Acabe anda humilhado perante mim? Visto que tomou essa atitude, não farei o que lhe prometi durante o tempo da sua vida; isso dar-se-á com os seus filhos; destruirei os seus descendentes.” Durante três anos houve guerra entre a Aram e Israel. Durante o terceiro ano, enquanto o rei Jeosafá de Judá estava a visitar o rei Acabe de Israel, Acabe disse aos seus oficiais: “Estão a dar-se conta de como os arameus ainda ocupam Ramote-Gileade? E nós aqui estamos, sentados, sem nada fazer para a recuperar!” Depois voltou-se para Jeosafá: “Estarias de acordo em enviar as tuas tropas com as minhas para reaver essa cidade?” Jeosafá respondeu ao rei Acabe: “Com certeza que sim! Tu e eu somos irmãos! O meu povo poderá ficar sob o teu comando e os meus cavalos ao teu serviço. No entanto, vamos primeiro consultar o Senhor sobre isso.” O rei Acabe convocou 400 dos seus profetas pagãos e perguntou-lhes: “Devo ir à guerra contra Ramote-Gileade?” Eles responderam-lhe: “Vai, porque o Senhor te concederá a vitória!” Por sua vez, Jeosafá perguntou: “Não haverá aqui um profeta do Senhor? Gostaria de o interrogar também.” “Sim, há um”, respondeu o rei Acabe, “mas odeio-o, porque nunca profetiza nada de bom! É um tal Micaías, filho de Imlá.” Jeosafá replicou: “Acho que não devias falar assim.” Então o rei de Israel chamou um dos seus ajudantes: “Vai buscar Micaías, o filho de Imlá, depressa!” O rei de Israel e Jeosafá, rei de Judá, estavam sentados em tronos, com os seus trajes de gala, numa praça à entrada de Samaria, com todos os profetas pagãos profetizando em frente deles. Um dos profetas, Zedequias, filho de Quenaana, fez uns chifres de ferro e declarou: “O Senhor promete que com estes chifres empurrarás na tua frente os arameus, até os teres destruído.” E todos os outros concordavam: “Sim!”, diziam em coro. “Sobe a Ramote-Gileade e vencerás. O Senhor te fará prosperar nesse empreendimento.” O mensageiro encarregado de ir buscar Micaías contou-lhe o que os profetas estavam a declarar e pressionou-o para que dissesse a mesma coisa. Micaías, no entanto, respondeu-lhe: “Tão certo como vive o Senhor, que direi aquilo que o Senhor me mandar dizer.” Quando chegou perante o rei, este perguntou-lhe: “Micaías, iremos nós à guerra contra Ramote-Gileade?” Micaías retorquiu: “Sim, com certeza. Terás uma grande vitória e o Senhor te ajudará!” O rei disse-lhe com rispidez: “Quantas vezes te tenho dito que quero que me fales unicamente o que o Senhor te manda dizer?” Então Micaías falou deste modo: “Tive uma visão em que vi todo o Israel disperso pelos montes como ovelhas sem pastor. E o Senhor disse: ‘Não têm pastor porque foi morto. Que cada um vá em paz para a sua casa!’ ” Voltando-se para Jeosafá, Acabe lamentou-se: “Não te disse que era isto que iria acontecer? Ele nunca me diz nada de bom; fala sempre mal.” Micaías continuou. “Ouve o resto da palavra do Senhor. Eu vi o Senhor sentado sobre o seu trono, com os exércitos celestiais à sua volta. E o Senhor disse: ‘Quem irá convencer Acabe para que vá e morra em Ramote-Gileade?’ Várias sugestões foram feitas. Finalmente, apresentou-se um espírito diante do Senhor que disse: ‘Vou eu. Eu o persuadirei.’ O Senhor perguntou-lhe: ‘Como?’ E ele respondeu: ‘Serei um espírito de mentira na boca dos profetas.’ E o Senhor disse: ‘Isso dará resultado; conseguirás o que pretendes; podes ir.’ ” Micaías continuou, dirigindo-se ao rei: “Estás a ver que o Senhor pôs um espírito de mentira na boca destes teus profetas. Na realidade o que ele determinou foi o oposto do que têm estado a dizer!” Então Zedequias, o filho de Quenaana, adiantou-se e deu uma bofetada no rosto de Micaías: “Quando foi que o Espírito do Senhor me deixou a mim para falar por ti?” “Não tardará que tenhas a resposta”, respondeu-lhe Micaías, “quando te fores esconder no quarto interior!” O rei Acabe mandou que prendessem Micaías: “Levem-no a Amom, o governador da cidade, e a Joás, o meu filho. Digam-lhes: ‘O rei manda pôr este indivíduo no cárcere e alimentá-lo a pão e água, apenas o suficiente para que não morra, até que eu regresse em paz!’ ” “Se voltares em paz”, insistiu Micaías, “isso será a prova de que o Senhor não falou por mim.” Depois voltou-se para o povo que estava a assistir: “Tomem bem nota do que eu disse!” O rei Acabe de Israel e o rei Jeosafá de Judá levaram os seus exércitos contra Ramote-Gileade. O rei de Israel disse a Jeosafá: “Leva tu o fato real que eu irei disfarçado!” Então Acabe foi para a batalha trajando como um simples soldado. O rei de Aram tinha dado ordens aos capitães dos 32 carros que lutassem apenas contra o Acabe. Quando viram o rei Jeosafá vestido com os trajes reais, pensaram: “É este o homem que procuramos.” Rodearam-no para o atacar, mas Jeosafá gritou. Logo que viram que não era o rei de Israel, deixaram-no. Contudo, alguém atirou uma flecha ao acaso que foi precisamente ferir Acabe numa juntura da sua armadura. “Levem-me daqui para fora, porque estou ferido”, rouquejou ele ao condutor do carro. A batalha ia-se tornando cada vez mais intensa, à medida que o dia avançava. Tiveram que manter o rei Acabe de pé no seu carro diante dos arameus. O sangue que saía da sua ferida escorria no fundo do carro. Finalmente, ao anoitecer, morreu. Estava o Sol a pôr-se, quando começou a correr a notícia por entre as tropas: “Acabou-se, voltemos para casa! O rei morreu!” O seu corpo foi levado para Samaria e enterrado ali. Quando o carro e a armadura foram lavados junto dum poço em Samaria, onde as prostitutas se lavavam, os cães vieram e puseram-se a lamber o sangue do rei, tal como o Senhor dissera que haveria de acontecer. O resto da história de Acabe, incluindo a descrição do seu palácio de marfim e as cidades que construiu, está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Acabe foi sepultado junto dos seus antepassados. Acazias, seu filho, tornou-se o novo rei de Israel. Em Judá, Jeosafá, o filho de Asa, tinha sido coroado rei no quarto ano do reinado de Acabe de Israel. Jeosafá tinha 35 anos quando ascendeu ao trono e reinou 25 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Azuba e era filha de Sili. Fez o que seu pai Asa tinha feito, obedecendo ao Senhor em tudo, e fez sempre o possível por não se desviar dos caminhos de Deus, fazendo o que era reto aos olhos do Senhor. Contudo, não destruiu os santuários pagãos e continuou a queimar ali incenso. Fez também a paz com Acabe, rei de Israel. O resto dos feitos de Jeosafá, o poder que revelou e as guerras que travou, está descrito no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Também mandou fechar todas as casas de prostituição masculina que ainda se mantinham, depois do tempo do seu pai Asa. Acazias, o filho e sucessor do rei Acabe, tinha proposto a Jeosafá que os seus homens fossem também, mas este recusou a sua oferta. Quando Jeosafá morreu, foi enterrado junto dos seus antepassados, em Jerusalém, a cidade do seu antecessor David. O seu filho Jeorão ocupou o trono em seu lugar. Foi no décimo sétimo ano do reinado de Jeosafá, rei de Judá, que Acazias, filho de Acabe, começou a reinar sobre Israel, em Samaria, e reinou durante 2 anos. Não foi um bom rei, pois seguiu nas pisadas do seu pai e da sua mãe e também de Jeroboão, que levou Israel a pecar contra o Senhor. Serviu o deus Baal e adorou-o. Por isso, Acazias suscitou muito a ira do Senhor, Deus de Israel, tal como antes fizera o seu pai. Após a morte de Acabe, a nação de Moabe declarou a sua independência e recusou continuar a pagar impostos a Israel. O novo rei de Israel, Acazias, caiu da varanda dum andar alto do seu palácio em Samaria e ficou gravemente ferido. Na sequência deste acontecimento, enviou mensageiros ao templo do deus Baal-Zebube, em Ecrom, para perguntarem se recuperaria. Contudo, o anjo do Senhor disse a Elias, o tesbita: “Vai ao encontro desses mensageiros e pergunta-lhes: Será mesmo verdade que já não há Deus em Israel? Será por essa razão que vão ter com Baal-Zebube, o deus de Ecrom, para lhe perguntar se o rei há de recuperar? Visto que Acazias tomou uma decisão dessas, o Senhor manda dizer que nunca mais deixará a cama em que está deitado; infalivelmente morrerá.” Elias fez como o anjo lhe ordenou. Depois de Elias lhes ter dito isto, os mensageiros regressaram apressadamente para falar com o rei. “Porque é que regressaram tão depressa?”, perguntou-lhes. “É que veio ter connosco um homem que nos mandou regressar para te dizer o seguinte: ‘Diz assim o Senhor: “Por que razão vão dirigir perguntas a Baal-Zebube, o deus de Ecrom? Será porque não há Deus em Israel? Visto que fizeste uma tal coisa, não deixarás mais a cama em que estás e com toda a certeza hás de morrer.” ’ ” “Mas quem era esse homem?”, exigiu o rei. “Que aspeto tinha?” “Tinha o cabelo comprido, vestia-se de peles e trazia um cinto de couro.” O rei exclamou: “É o profeta Elias, o tesbita!” Mandou logo um grupo de cinquenta soldados, sob o comando de um oficial, para o prender. Acharam-no sentado no alto duma colina. Disse-lhe o oficial: “Ó homem de Deus, o rei ordena-te que venhas connosco.” Elias respondeu: “Se sou um homem de Deus, que desça fogo do céu para vos destruir, a ti e aos teus cinquenta homens!” Então veio um raio que os matou a todos. O rei mandou outro oficial com mais um grupo de cinquenta homens: “Ó homem de Deus, o rei manda que desças já daí!” Elias respondeu: “Se sou um homem de Deus, que venha fogo do céu e vos destrua, a ti e aos teus cinquenta soldados!” E novamente veio fogo, da parte de Deus, que os queimou. Uma vez mais o rei enviou cinquenta soldados; mas desta vez o capitão caiu de joelhos perante Elias e rogou-lhe: “Ó homem de Deus, peço-te que me poupes a vida e a destes teus cinquenta servos. Tem misericórdia de nós! Não nos destruas, como aconteceu com os outros!” O anjo do Senhor disse a Elias: “Não tenhas receio. Podes ir com estes.” Elias foi então ter com o rei. E disse-lhe: “Porque mandaste enviados a Baal-Zebube, o deus de Ecrom, para te informares sobre a tua doença, assim te diz o Senhor: ‘Será que não há Deus em Israel a quem te dirigires? Visto que fizeste uma tal coisa, não deixarás mais essa cama; com toda a certeza morrerás.’ ” Assim morreu Acazias, tal como o Senhor dissera por intermédio de Elias. O seu irmão Jorão tornou-se o novo rei, porque Acazias não teve filhos que lhe sucedessem. Isto ocorreu no segundo ano do reinado do rei Jeorão, filho de Jeosafá de Judá. O resto da história do reinado de Acazias está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Os jovens profetas da escola de Betel vieram ao encontro deles e perguntaram a Eliseu: “Sabes que o Senhor vai levar Elias hoje para si?” “Sim, calem-se!” respondeu Eliseu. “Já sei isso.” Elias disse a Eliseu: “Peço-te que fiques aqui em Betel, porque o Senhor mandou-me a Jericó.” Eliseu tornou a responder: “Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma que não te deixarei.” Por isso, foram juntos até Jericó. Os estudantes da escola de Jericó vieram ter com Eliseu e perguntaram-lhe: “Sabes que o Senhor vai levar o teu mestre para si?” Eliseu respondeu: “Estejam calados. Eu sei bem!” Elias disse a Eliseu: “Por favor, fica aqui, porque o Senhor mandou-me ao rio Jordão.” Eliseu respondeu como anteriormente: “Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma que não te deixarei.” Foram juntos e chegaram ao rio Jordão, enquanto os cinquenta jovens profetas ficavam a ver, à distância. Elias tirou a capa, dobrou-a e bateu com ela na água; a torrente dividiu-se e eles passaram a seco. Quando chegaram ao outro lado, Elias disse a Eliseu: “Pede-me o que quiseres, antes que eu seja levado.” E Eliseu respondeu: “Peço-te que me dês uma porção dobrada do teu poder profético. ” “Pedes uma dura coisa. Se puderes ver-me, quando for levado de junto de ti, obterás o que pretendes. Se não, não o obterás.” Enquanto iam caminhando e conversando, de repente um carro de fogo apareceu e passou pelo meio deles, separando-os. Elias foi, assim, levado para os céus num remoinho. Eliseu, que viu tudo, gritou: “Meu pai! Meu pai! Carro de Israel e seus condutores!” Quando o carro desapareceu, Eliseu rasgou a sua roupa. Depois pegou na capa que Elias deixou cair e voltou para a margem do Jordão. Pegou, então, na capa que Elias tinha deixado cair e bateu na água com ela, dizendo: “Onde está o Senhor, o Deus de Elias?.” A corrente separou-se e Eliseu passou em seco para o outro lado. Quando os jovens profetas de Jericó viram o que acontecera, disseram: “O poder profético de Elias ficou em Eliseu!” E foram ter com ele e inclinaram-se diante dele até ao chão. “Senhor, basta que digas uma palavra e cinquenta dos nossos homens mais valentes irão à procura do teu senhor no deserto; talvez o Espírito do Senhor o tenha deixado sobre algum monte ou ravina.” Eliseu respondeu: “Não façam nada disso.” Contudo, eles continuaram a insistir, a ponto de o importunarem; por fim acedeu: “Está bem! Vão lá!” Foram então cinquenta rapazes à procura dele durante três dias, mas não o acharam. Eliseu estava ainda em Jericó quando eles voltaram: “Não vos disse para não irem?” Os responsáveis da cidade de Jericó vieram falar com Eliseu: “Temos um problema: a cidade está bem localizada, como podes ver, mas a água é má e a terra é estéril.” “Tragam-me uma tigela nova cheia de sal.” Trouxeram-lha. Depois, dirigiu-se ao poço da povoação e deitou lá para dentro o sal, dizendo: “O Senhor curou estas águas. Não mais causarão nem morte nem infertilidade.” Na verdade, as águas ficaram purificadas, tal como Eliseu dissera. De Jericó dirigiu-se a Betel. Quando ia a caminho, alguns rapazes da cidade começaram a troçar dele. “Sobe, careca!”, gritavam eles. “Sobe, careca!” Ele voltou-se e amaldiçoou-os em nome do Senhor. Apareceram então duas ursas que saíam dos bosques e mataram quarenta e dois deles. Depois foi para o monte Carmelo e finalmente voltou para Samaria. Jorão, o filho de Acabe, começou o seu reinado sobre Israel, quando corria o décimo oitavo ano do reinado de Jeosafá sobre Judá. E reinou 12 anos em Samaria, a capital. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, mas não tanto quanto o seu pai e a sua mãe, porque deitou abaixo o pilar que o pai erguera em honra de Baal. Contudo, aderiu ao pecado de Jeroboão, o filho de Nebate, que tinha levado o povo de Israel ao culto dos ídolos. O rei Messa de Moabe e o seu povo eram negociantes de gado. Pagavam a Israel um tributo anual de 100 000 cordeiros e mais a lã de 100 000 carneiros. Contudo, após a morte de Acabe, o rei de Moabe rebelou-se contra Israel. Por isso, o rei Jeorão mobilizou o seu exército. Mandou mensageiros a Jeosafá, rei de Judá: “O rei de Moabe revoltou-se contra mim. Ajudas-me a combatê-lo?” Jeosafá respondeu: “Com certeza que sim. Podes dispor do meu povo e da minha cavalaria. Quais são os teus planos de combate?” Jorão respondeu: “Atacaremos a partir do deserto de Edom.” Dessa forma, os dois exércitos, reforçados com as tropas de Edom, fizeram uma marcha de sete dias através do deserto, para rodearem o inimigo. No entanto, faltou-lhes a água para os homens e para os animais. “O que vamos fazer agora?”, gritava o rei de Israel. “O Senhor trouxe-nos aqui para sermos derrotados pelo rei de Moabe!” Jeosafá perguntou: “Não há nenhum profeta do Senhor entre a nossa gente? Se houvesse, saberíamos o que fazer!” Um dos oficiais do rei de Israel respondeu: “Há Eliseu!” E acrescentou: “Era o assistente de Elias.” Jeosafá respondeu: “É o homem de que precisamos; ele fala a mensagem do Senhor.” E os três reis, de Israel, Judá e Edom, foram consultar Eliseu. “Não tenho nada a ver contigo”, disse Eliseu ao rei Jorão de Israel. “Vai ter com os falsos profetas do teu pai e da tua mãe!” Mas o rei respondeu: “Não. Porque foi o Senhor quem nos enviou até aqui para sermos destruídos pelo rei de Moabe!” “Tão certo como vive o Senhor dos exércitos, em cuja presença eu sirvo, que, se não fosse pela presença do rei Jeosafá, de Judá, não me incomodaria um bocadinho sequer contigo”, retorquiu Eliseu. “Tragam-me então alguém que toque a harpa.” Quando o músico começou a tocar, Eliseu recebeu a mensagem do Senhor: “O Senhor ordena que façam covas em todo este vale seco. Não hão de ver nem vento, nem chuva; mas este vale encher-se-á de água e poderão saciar-se, tanto os homens como os animais! Isto é só uma pequena amostra do que o Senhor pode fazer; ele vos tornará vitoriosos sobre as tropas de Moabe! Conquistarão o melhor das suas povoações, mesmo as que são fortificadas, e encherão de pedras todos os bons campos.” Com efeito, no dia seguinte, por altura em que o sacrifício da manhã deveria ser oferecido, apareceu água. Corria, vinda do lado de Edom, e em breve havia água por toda a parte. Entretanto, quando o povo moabita ouviu falar dos três exércitos que vinham contra ele, mobilizaram todos os homens válidos para a guerra, velhos e novos, e dispuseram-se ao longo da fronteira. Logo cedo, na manhã seguinte, o Sol refletindo nas águas dava-lhes um tom vermelho de sangue. “É sangue!”, começaram a gritar. “Os três exércitos, com toda a certeza, voltaram-se uns contra os outros e estão a matar-se mutuamente! Vamos depressa à presa!” Quando chegaram ao acampamento militar dos israelitas, estes caíram sobre eles e começaram a matá-los. A tropa moabita fugiu. Os israelitas avançaram pela terra de Moabe, destruindo tudo à sua frente. Arrasaram povoações, lançaram entulho sobre as terras e para dentro dos poços, cortaram as árvores frutíferas. No fim, apenas a fortaleza de Quir-Haresete tinha ficado de pé e mesmo essa acabou também por ser tomada pelos soldados, armados com fundas. Quando o rei de Moabe viu que a batalha tinha sido perdida, reuniu 700 dos seus homens que melhor lutavam à espada e, num esforço desesperado, tentou ainda confrontar-se com o rei de Edom, mas não conseguiu. Pegou então no seu filho mais velho, que estava destinado a suceder-lhe no trono e, perante o horror do exército Israelita, matou-o e sacrificou-o sobre a muralha. O exército de Israel regressou indignado para a sua terra. Um dia, a mulher de um membro do grupo dos profetas veio comunicar a Eliseu a morte do marido. “Era um homem que temia ao Senhor ”, afirmou ela. Ele tivera de pedir emprestado algum dinheiro. Se não o pagasse, o credor viria tomar-lhe os seus dois filhos como escravos. “E que queres tu que eu faça?”, perguntou Eliseu. “Diz-me lá, o que tens em casa?” “Nada! Tudo o que tenho é um jarro com azeite”, respondeu-lhe. “Então vai pedir emprestadas muitas vasilhas aos teus vizinhos. Volta para casa, fecha-te lá, com os teus filhos, e começa a encher todos esses recipientes, pondo-os de lado à medida que estiverem cheios.” Ela assim fez. Os filhos iam-lhe trazendo vasilhas; ela ia-as enchendo, uma após outra. Em breve todos os recipientes ficaram cheios. “Tragam mais vasilhas”, disse aos filhos. “Já não há mais!”, responderam. E nessa altura o azeite parou. Quando foi contar ao homem de Deus o que tinha acontecido, ele respondeu-lhe: “Agora vai vender o azeite e paga a dívida e ainda te ficará bastante dinheiro para viveres com os teus filhos.” Um dia, Eliseu foi para Sunem. Uma mulher rica que ali vivia convidou-o para tomar uma refeição. A partir de então, sempre que por ali passava, parava para comer. A mulher disse ao marido: “Tenho a certeza de que este homem que aqui vem de tempos a tempos é um santo homem de Deus. Vamos preparar-lhe um quarto no sótão. Podemos lá pôr uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; ficará assim com um lugar certo para repousar sempre que por aqui passar.” Uma vez, o profeta estava a descansar no quarto. E disse para o seu criado Geazi: “Diz à mulher que preciso de lhe falar.” Quando ela apareceu, pediu de novo a Geazi: “Explica-lhe que apreciamos muito a sua hospitalidade e pergunta-lhe o que podemos fazer em seu favor. Quererá ela, por exemplo, que apresente qualquer assunto junto do rei ou do comandante do exército?” Ela respondeu: “Não preciso de nada. Eu vivo bem, no meio da minha gente.” “O que poderíamos fazer por ela?”, perguntou Eliseu de novo a Geazi, mais tarde. Por fim, este sugeriu: “Eles não têm filhos e o marido já é um homem idoso.” “Chama-a lá outra vez.” Quando ela veio, o profeta disse-lhe, enquanto ela esperava à entrada do quarto: “No ano que vem, na altura própria, terás um filho!” Ela exclamou: “Ó homem de Deus, peço-te que não me mintas dessa maneira!” O certo é que isso aconteceu. A mulher em breve concebeu e teve depois um bebé, um rapaz, tal como Eliseu lhe prometera. Um dia, quando o seu filho já era crescido, decidiu sair de casa para ir ter com o pai que se encontrava a trabalhar junto dos ceifeiros. A certa altura, começou a queixar-se de fortes dores de cabeça: “Ai, a minha cabeça! Ai, a minha cabeça!”, gritava ele. O pai disse a um dos servos: “Leva-o à mãe, que está em casa.” A mãe pô-lo sobre os joelhos e consolava-o, mas por volta do meio-dia acabou por falecer. A mulher levou-o para cima, para o quarto do homem de Deus, deitou-o na cama e fechou a porta. Depois, enviou um recado ao marido: “Manda um dos criados e um jumento; tenho de ir chamar o homem de Deus e voltar.” “Porque precisas de ir hoje? Não é a festa da lua nova, nem dia de descanso.” Ela insistiu: “É muito importante que vá.” Albardou o jumento e disse para o criado: “Depressa! Não abrandes a marcha, a menos que eu to diga.” Quando já estavam próximos do monte Carmelo, Eliseu viu-a à distância e disse para Geazi: “Vem aí aquela mulher de Sunem. Corre ao seu encontro e pergunta-lhe o que é que se passa. Pergunta-lhe se o marido e o filho estão bem.” Quando este a encontrou, ela respondeu a Geazi: “Tudo vai bem.” No entanto, quando chegou junto de Eliseu, no monte, prostrou-se com o rosto no chão e agarrou-se aos seus pés. Geazi aproximou-se para tentar afastá-la, mas o homem de Deus disse-lhe: “Deixa-a em paz; a sua alma está carregada de amargura e o Senhor não me disse o que se passa.” Depois ela falou: “Foste tu quem me disse que haveria de ter um filho e eu pedi-te que não me enganasses!” Eliseu ordenou a Geazi: “Corre, vai já buscar o meu bordão e parte! Não saúdes a ninguém pelo caminho, nem respondas a ninguém. Chegando lá, põe o bordão sobre o rosto do menino.” Mas a mãe disse: “Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, que não saio daqui enquanto não fores comigo.” Então Eliseu acompanhou-a. Geazi partira à frente; chegando lá a casa, pôs o bordão sobre o rosto do menino. Contudo, nada aconteceu; não houve sinal de vida. Por isso, voltou. Encontrando-se com Eliseu, disse-lhe: “A criança ainda está morta.” Quando Eliseu chegou, a criança estava efetivamente morta, deitada na cama do profeta. O profeta entrou, fechou a porta atrás de si e orou ao Senhor. Depois deitou-se sobre o corpo do menino, pondo a boca na dele, encostando os olhos aos dele e colando as mãos às da criança. O corpo do menino começou a aquecer de novo. Então desceu e andou pela casa algum tempo; tornando a subir, estendeu-se novamente sobre a criança. Desta vez ela espirrou sete vezes e abriu os olhos. O profeta chamou Geazi: “Diz à mãe que venha cá!” Quando ela apareceu, disse-lhe: “Aqui está o teu filho.” Ela prostrou-se aos seus pés. Depois pegou no menino e desceu. Eliseu voltou para Gilgal, mas havia fome na terra. Estava um dia a ensinar os novos profetas, quando disse para Geazi: “Põe a panela grande ao lume e faz um caldo de verduras para estes comerem.” Um dos rapazes foi ao campo apanhar alguns legumes e regressou com umas quantas plantas selvagens. Preparou-as, cortou-as e pô-las na panela, sem se dar conta de que não eram comestíveis. Começando a comer, logo exclamaram: “Há veneno neste caldo!” “Tragam-me farinha”, disse Eliseu. Lançou-a na panela e acrescentou: “Agora já não há perigo. Podem continuar a comer!” E nada de mal lhes aconteceu. Um dia, um homem de Baal-Salisa trouxe ao homem de Deus, Eliseu, um saco de cereais frescos e vinte pães de cevada feitos das primeiras espigas da sua ceifa. Eliseu mandou a Geazi que com isso alimentasse os jovens profetas. “O quê!”, exclamou ele. “Alimentar cem homens só com isto?” Mas Eliseu foi firme: “Dá-lhes isso a comer, porque o Senhor diz que haverá bastante para toda a gente e ainda há de sobejar!” E na verdade, tal como o Senhor dissera, houve suficiente para todos e ainda sobejou. O rei de Aram tinha uma grande admiração por Naamã, chefe do seu exército. Porque através de Naamã, o Senhor tinha dado muitas e gloriosas vitórias aos exércitos arameus. Por isso, era considerado um grande herói e muito respeitado. No entanto, era leproso. As tropas de Aram tinham invadido, certa vez, a terra de Israel; entre os cativos que levaram, encontrava-se uma menina que ficou ao serviço da mulher de Naamã. Um dia, a menina disse à sua senhora: “Bem gostaria que o meu senhor fosse ver o profeta na Samaria. Haveria de curá-lo da lepra!” Naamã contou ao rei o que a menina dissera. “Sim, vai lá ver esse profeta”, disse-lhe. “Escreverei uma carta para apresentares ao rei de Israel.” Naamã partiu, levando consigo 340 quilos de prata, 6000 peças de dinheiro em ouro e 10 mudas de roupa. A carta para o rei de Israel dizia assim: “O homem que é portador desta carta é o meu súbdito Naamã; o que eu pretendo é que trates da cura da sua lepra.” Quando o rei de Israel leu a missiva, rasgou a roupa que trazia vestida e disse: “Este homem manda-me um leproso para que eu o cure! Sou eu Deus para poder dar vida ou matar? Ele está é a arranjar uma desculpa para nos invadir de novo.” Quando o profeta Eliseu soube do aperto em que o rei se encontrava, mandou-lhe uma mensagem: “Porque é que estás tão preocupado? Manda Naamã vir ter comigo; ele ficará a saber que há um verdadeiro homem de Deus aqui na terra de Israel.” Naamã chegou com os seus carros e cavalos em frente da casa de Eliseu. Este enviou-lhe um mensageiro dizer-lhe para ir lavar-se sete vezes no rio Jordão, que ficaria sarado de qualquer vestígio de lepra. No entanto, muito irritado, Naamã resolveu ir-se embora. “Vejam bem!”, disse ele. “Sempre pensei que, pelo menos, viria falar comigo, poria a mão sobre as partes leprosas, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, e eu ficaria curado! Não são os rios Abana e Farpar, de Damasco, muito melhores do que todos os rios de Israel juntos? Se a questão era lavar-me num rio, poderia muito bem fazê-lo na minha terra e curar-me.” E retirou-se indignado. Os seus ajudantes tentaram que reconsiderasse: “Se o profeta te tivesse pedido para fazer uma coisa muito difícil, não a terias feito? Então porque não o fazes, se te disse para te lavares que ficarias curado?” Naamã aceitou descer até ao rio Jordão; mergulhou sete vezes, como Eliseu lhe dissera, e a sua carne ficou como a de um menino; ficou curado. Voltou então com toda a sua comitiva, para ir falar de novo com o homem de Deus, e Naamã disse: “Agora sei que em todo o mundo não há Deus verdadeiro senão em Israel. Peço-te que aceites estes presentes.” “Tão certo como vive o Senhor, que não os aceitarei.” Naamã insistiu para que os aceitasse e ele recusou firmemente. “Está bem”, disse Naamã. “Mas peço-te que me dês terra correspondente a dois carregamentos de mula para levar comigo, porque daqui em diante nunca mais oferecerei holocaustos a outro deus senão ao Senhor. Contudo, que o Senhor me perdoe, quando o meu senhor, o meu rei, entrar no templo do deus Rimom para o adorar e se apoiar no meu braço, que o Senhor me perdoe se eu também me inclinar.” “Podes ir em paz”, disse-lhe Eliseu. E Naamã partiu. Geazi, o ajudante de Eliseu, disse para consigo: “O meu senhor não devia ter deixado este indivíduo partir sem ter ficado com alguns dos seus presentes. Quem há de ir atrás dele, para ver se ainda apanho alguma coisa, serei eu.” Geazi partiu atrás de Naamã. Quando este o viu aproximar-se, saiu do carro e foi ao encontro de Geazi. “Há alguma novidade?” perguntou-lhe. “Não, vai tudo bem”, respondeu Geazi. “O meu senhor mandou-me vir ter contigo, porque chegaram dois jovens profetas, das colinas de Efraim, e ele gostaria de lhes dar 34 quilos de prata e duas mudas de roupa.” “Tens aqui 68 quilos”, respondeu Naamã. Deu-lhe ainda dois fatos caros e pôs o dinheiro em dois sacos, mandando dois servos seus carregarem os presentes, na companhia de Geazi. No entanto, quando chegaram à colina onde Eliseu vivia, Geazi pegou nos presentes e mandou os servos embora. Depois escondeu o dinheiro na sua casa. Ao apresentar-se novamente ao seu senhor, Eliseu perguntou-lhe: “Onde é que estiveste, Geazi?” Respondeu-lhe: “Em sítio nenhum!” “Não estás a ver que o meu pensamento te acompanhou, quando Naamã desceu do carro para vir ao teu encontro? Seria esta situação própria para arranjares dinheiro, roupa, olivais, vinhas, cordeiros, bois e servos? Visto que fizeste tal coisa, a lepra de Naamã ficará sobre ti e sobre os teus filhos, e sobre os teus descendentes para sempre!” Geazi saiu dali leproso, com a pele branca como neve. Um dia, o grupo dos profetas veio ter com Eliseu: “Como estás a ver, as nossas habitações são muito acanhadas. Achas que podemos ir até ao Jordão e construir ali melhores alojamentos?” Ele retorquiu: “Podem ir.” “Por favor, vem connosco”, pediu-lhe um deles. Eliseu respondeu: “Pois sim.” Quando chegaram ao Jordão, começaram a cortar madeira. A certa altura, o ferro de um machado caiu ao rio. “Oh! Senhor!”, exclamou ele. “Era emprestado!” “Onde foi que ele caiu?”, perguntou o homem de Deus. O jovem mostrou-lhe o sítio; Eliseu cortou um pedaço de madeira e lançou-o à água; o ferro do machado veio ao de cima e ficou a flutuar! “Vai apanhá-lo”, disse-lhe o profeta. E assim o recuperou. Numa altura em que o rei de Aram estava em guerra contra Israel, aquele rei disse aos seus chefes militares: “Vamos mobilizar as nossas tropas.” E deu-lhes indicações quanto ao processo e ao local de concentração. Imediatamente Eliseu avisou o rei de Israel: “Não te aproximes de tal sítio, porque os arameus estão a planear mobilizar ali o seu exército!” O rei mandou um estafeta espiar se era assim como Eliseu dizia; e era verdade. Isto aconteceu não só uma vez, mas em várias ocasiões. O homem de Deus salvou dessa forma o rei, repetidas vezes, dum desastre militar. O soberano arameu estava atónito. Chamou os seus chefes militares e perguntou-lhes: “Quem é que nos anda a trair? Quem é que faz saber ao rei de Israel os nossos planos?” “Não somos nós, senhor”, respondeu um deles. “É o profeta Eliseu que comunica ao rei de Israel até aquilo que dizes na intimidade do teu quarto!” “Vão já ver onde é que ele se encontra para que envie soldados que o tragam cá!”, exclamou o rei. E vieram dizer-lhe: “Eliseu está em Dotã.” Então, uma noite, o rei de Aram enviou um grande exército, com muitos carros e cavalos, cercar a povoação. Quando, no dia seguinte, o criado do homem de Deus se levantou de manhã cedo e saiu de casa, havia tropas, cavalos e carros por toda a parte. “Ai, meu senhor, que vamos fazer agora?”, gritou ele para Eliseu. “Não tenhas medo, porque os que estão connosco são muito mais numerosos do que todos eles juntos!” Eliseu fez então a seguinte oração: “ Senhor, abre-lhe os olhos para que veja!” E o Senhor abriu os olhos do moço, que pôde ver cavalos e carros de fogo por todo o lado na montanha. Quando o exército arameu avançou sobre eles, Eliseu orou: “ Senhor, peço-te que os cegues.” E assim aconteceu. Eliseu foi ao encontro deles: “Vieram pelo caminho errado; não é esta a povoação que vos interessa. Venham comigo e levar-vos-ei ao homem que procuram.” E conduziu-os a Samaria. Assim que chegaram, Eliseu orou de novo: “ Senhor, abre-lhes os olhos para que vejam.” O Senhor assim fez e os soldados constataram que estavam em Samaria, a capital de Israel! O rei de Israel, ao vê-los, gritou para Eliseu: “Senhor, mato-os? Mato-os?” Eliseu respondeu: “De maneira nenhuma! Iríamos matar prisioneiros de guerra? Dá-lhes de comer e beber e manda-os embora.” O rei preparou-lhes uma grande festa e depois deixou-os ir ter com o seu rei. Depois disso, os comandos arameus suspenderam as investidas na terra de Israel. Mais tarde, contudo, o rei Ben-Hadade de Aram mobilizou todo o seu exército e atacou Samaria. Como resultado, houve uma grande fome na cidade. Passado algum tempo, a cabeça dum jumento chegou a custar um quilo de prata e um quarto de litro de esterco de pomba era vendido por uma peça de 60 gramas de prata! Um dia em que o rei de Israel ia andando sobre a muralha da cidade, uma mulher chamou-o: “Ajuda-me, ó rei, meu senhor!” O rei retorquiu: “Se não for o Senhor que te ajude, que poderei fazer por ti? Não tenho nada que te possa dar; nem da eira trigo, nem do lagar vinho. Afinal, de que é que te queixas?” Ela respondeu: “Aqui esta mulher propôs-me que comêssemos num dia o meu filho e no outro o dela. Então cozinhámos o meu filho e comemo-lo. Mas, no dia seguinte, quando lhe disse: ‘Dá cá o teu filho para que o cozinhemos’, ela escondeu-o.” Quando o rei ouviu isto, rasgou a roupa que tinha vestida. O povo que ali estava, perto da muralha, reparou que o soberano trazia junto ao corpo roupa interior feita de saco. “Que Deus me tire a mim a vida, se eu não cortar a cabeça a Eliseu hoje mesmo!”, exclamou o rei. Eliseu estava reunido em casa com os anciãos de Israel, quando chegou o recado do rei que o convocava. No entanto, antes mesmo que o mensageiro chegasse, Eliseu disse aos anciãos: “Este assassino enviou-me alguém com a intenção de me matar. Quando ele aparecer, fechem-lhe a porta e não o deixem entrar, porque o seu senhor vem, com certeza, atrás dele.” Estava Eliseu ainda a dizer estas palavras, quando o mensageiro chegou; e o rei vinha logo atrás dele: “Foi o Senhor quem provocou toda esta miséria em que estamos!” rouquejou o rei. “Por que razão haveria eu de ficar à espera de alguma ajuda da sua parte?” Eliseu replicou: “O Senhor manda dizer que amanhã, por esta altura, sete litros de farinha ou catorze litros de cevada serão vendidos nos mercados de Samaria por 12 gramas de prata!” Um dos ajudantes do rei disse-lhe: “Isso, nem que o Senhor abrisse janelas no céu, poderia acontecer!” Eliseu replicou-lhe: “Verás isso acontecer, mas não poderás comprar nada!” Havia quatro leprosos que se sentavam habitualmente do lado de fora dos portões da cidade. “Afinal, o que é que estamos aqui a fazer, sentados, a deixarmo-nos morrer?”, disseram uns para os outros. “Se ficamos aqui, morremos de fome; se vamos para a cidade, também morremos de fome. O melhor é a gente render-se ao exército arameu. Se nos deixarem viver, tanto melhor; se nos matarem, iríamos de qualquer forma acabar por morrer.” No final da tarde, dirigiram-se ao acampamento dos arameus e constataram que não havia ali ninguém. É que o Senhor tinha feito com que o exército arameu ouvisse o ruído do rodado de muitos carros e o galopar de muitos cavalos a aproximarem-se. “O rei de Israel contratou o exército dos hititas e dos egípcios para nos atacarem!”, gritaram eles. Entraram em pânico e fugiram durante a noite, abandonando tendas, cavalos, jumentos, tudo. Quando os leprosos chegaram à entrada do acampamento, foram de tenda em tenda, comendo e bebendo o que encontravam, ao mesmo tempo que guardavam tudo o que fosse prata, ouro e roupa, para esconderem. Acabaram por reconhecer que faziam mal: “Isto não está certo! Acontecer uma coisa maravilhosa e não dizermos a ninguém! Se esperarmos pela manhã, até nos pode suceder alguma desgraça; vamos dizer ao povo e no palácio aquilo que aconteceu.” Voltaram para a cidade e contaram às sentinelas o sucedido; que tinham ido ao acampamento dos arameus e que não estava ali ninguém, embora os cavalos e os jumentos continuassem presos e as tendas em ordem; mas não se via vivalma em redor. As sentinelas transmitiram a notícia ao pessoal do palácio. O rei levantou-se da cama e disse aos seus conselheiros: “Eu sei o que aconteceu. Os arameus sabem que estamos a morrer de fome, por isso armaram-nos uma cilada; deixaram o acampamento, esconderam-se aí pelos campos, pensando atrair-nos assim para fora da cidade. Nessa altura, atacar-nos-ão; levam-nos para sermos seus escravos e ocupam a cidade.” Um dos conselheiros avançou: “Não seria melhor que enviássemos alguns homens a espiar o que se passa? Poderão levar cinco dos cavalos que ainda nos restam; se alguma coisa lhes acontecer, a perda será igual a ficarem aqui e morrerem connosco.” Conseguiram encontrar quatro cavalos, que atrelaram a dois carros, e o rei mandou dois homens com os carros ver para onde tinham ido os arameus. Eles seguiram o trilho do inimigo; havia roupa e equipamentos espalhados por todo o lado, que tinham sido abandonados na corrida até ao Jordão. Os espias regressaram e contaram ao rei o que tinham visto. O povo de Samaria irrompeu para fora da cidade e lançou-se literalmente sobre o acampamento dos arameus. Dessa forma, sete litros de farinha ou catorze litros de cevada chegaram a ser vendidos por 12 gramas de prata, tal como o Senhor dissera! O rei tinha colocado à entrada da cidade um ajudante, em cujo braço se apoiara, para controlar a circulação de quem entrava e saía. Este acabou por ser derrubado e morreu debaixo dos pés da multidão em delírio. Este ajudante fora o tal que, na véspera, Eliseu previra haveria de chegar daí a instantes para o prender. Nessa altura, o homem de Deus dissera ao rei que sete litros de farinha ou catorze litros de cevada haveriam de ser vendidos no dia seguinte por 12 gramas de prata. Esse tal ajudante retorquira ao homem de Deus, que isso não poderia acontecer nem que as janelas do céu fossem abertas pelo Senhor! Eliseu garantira a esse ajudante: “Verás isso acontecer, mas não poderás comprar nada!” E foi o que sucedeu, porque o povo o esmagou à entrada da cidade, morrendo ali. Eliseu dissera à mulher cujo filho trouxera de novo à vida: “Pega na tua família e vai viver noutro país, porque o Senhor mandou vir sobre Israel uma fome que durará sete anos.” A mulher, com efeito, levou a família para viverem na terra dos filisteus por sete anos. Quando a fome acabou, voltou para Israel e pediu uma audiência ao rei, com o fim de reaver a sua casa e as terras que lhe pertenciam. Quando compareceu perante o rei, este estava justamente a falar com Geazi, o ajudante de Eliseu, e dizia-lhe o seguinte: “Conta-me lá outros feitos notáveis que Eliseu tenha feito.” Geazi estava a contar ao soberano como Eliseu ressuscitou o rapaz que tinha morrido, quando a mulher apareceu: “Oh! Senhor!”, exclamou Geazi. “É esta precisamente a mulher de que te falava e este é o seu filho, o rapaz que Eliseu devolveu à vida!” “Isto é verdade?”, perguntou o rei à mulher. Ela confirmou-lhe tudo. O rei deu então ordens a um dos seus conselheiros que garantisse à mulher a posse do que tinha tido antes, assim como o direito às rendas daquilo que terras entretanto tinham produzido. Posteriormente, Eliseu foi para Damasco, capital de Aram, onde o rei Ben-Hadade se encontrava doente. Alguém lhe comunicou a chegada do homem de Deus. Quando o rei teve conhecimento disso, disse a Hazael: “Leva um presente ao homem de Deus e pede-lhe que pergunte ao Senhor se hei de restabelecer-me.” Hazael levou a Eliseu um carregamento de quarenta camelos, com tudo o que de melhor a terra produzia, e disse-lhe: “O teu filho, Ben-Hadade, rei de Aram, mandou-me perguntar-te se ele se restabelecerá.” “Diz-lhe que sim”, respondeu o profeta. “Contudo, o Senhor mostrou-me que, de qualquer modo, ele morrerá.” Entretanto, Eliseu começou a olhar para ele muito fixamente. Hazael, embaraçado, já não sabia o que havia de fazer, até que o homem de Deus começou a chorar. “Que é que se passa, senhor?”, perguntou-lhe Hazael. Eliseu respondeu: “Eu sei as coisas terríveis que farás ao povo de Israel: queimarás as suas fortalezas, matarás os seus jovens, esmagarás os bebés contra os rochedos, desventrarás as grávidas!” Então Hazael respondeu: “O quê, eu? Não valho mais que um cão vadio. Alguma vez faria tais coisas!” Eliseu insistiu: “O Senhor mostrou-me que hás de ser rei de Aram.” Quando Hazael regressou, o rei perguntou-lhe: “Que te disse ele?” Hazael respondeu: “Que haverias de ficar bom.” No dia seguinte, Hazael pegou num cobertor, molhou-o e abafou com ele a cara do rei, e assim o matou. Na sequência disto, ascendeu ao trono em lugar de Ben-Hadade. O rei Jeorão, filho do rei Jeosafá de Judá, começou a reinar no quinto ano do reinado de Jorão, rei de Israel, filho de Acabe. Tinha 32 anos quando começou a reinar. Reinou 8 anos em Jerusalém. Foi tão mau como os reis de Israel. Assemelhou-se ao ímpio Acabe e até casou com uma das suas filhas. Toda a sua vida fez o que era mau aos olhos do Senhor. No entanto, o Senhor não tinha a intenção de destruir Judá, por causa da promessa feita a David, seu servo, de que, quanto ele e os seus filhos, manteria para sempre acesa a sua lâmpada. Durante o reinado de Jeorão, o povo de Edom revoltou-se contra Judá e elegeu o seu próprio rei. Jeorão tentou, inutilmente, travar essa rebelião; atravessou o Jordão e atacou a povoação de Zair, mas foi rapidamente cercado pelo exército de Edom. A coberto da noite, ainda tentou atacar as fileiras edomitas, mas a sua tropa desertou e fugiu. Edom manteve a sua independência até este dia. Por essa altura, também Libna se revoltou. Outros acontecimentos respeitantes à história do rei Jeorão encontram-se relatados no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Jeorão faleceu e foi sepultado no junto dos seus antepassados na Cidade de David. O seu filho Acazias reinou em seu lugar. O seu filho Acazias subiu ao trono no décimo segundo ano do reinado de Jorão, rei de Israel, o filho de Acabe. Acazias tinha 22 anos quando começou a reinar. Reinou durante um ano em Jerusalém. O nome da sua mãe era Atalia, neta de Omri, rei de Israel. Ele fez o que era mau aos olhos do Senhor, tal como foram todos os descendentes de Acabe. Aliás, estava relacionado com este último pelo casamento. Aliou-se a Jorão para combater contra Hazael, rei de Aram, em Ramote-Gileade. Jorão ficou ferido na batalha. Regressou a Jezreel, para se restabelecer dos ferimentos. Enquanto ali se encontrava, foi visitado por Acazias, rei de Judá. Eliseu tinha mandado chamar um dos jovens profetas para lhe dizer: “Prepara-te para ires a Ramote-Gileade. Pega nesta almotolia e vai ter com Jeú, o filho de Jeosafá e neto de Ninsi. Chama-o à parte, longe dos que o rodeiam. Derrama o óleo sobre ele e diz-lhe que o Senhor o unge para que seja rei de Israel. Em seguida, foge depressa!” O jovem fez como lhe foi mandado. Quando chegou a Ramote-Gileade, foi ter com Jeú, que estava sentado com os oficiais do exército à sua volta, e disse-lhe: “Tenho uma mensagem para ti, senhor.” Jeú perguntou: “Para qual de nós?” E respondeu: “Para ti, capitão.” Jeú levantou-se, entrou nos seus aposentos e o jovem profeta derramou sobre ele o óleo, dizendo: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Unjo-te rei de Israel, o povo do Senhor. Deverás destruir a família de Acabe. Vingarás a morte dos meus profetas e do resto do meu povo que foi assassinado por Jezabel. Toda a família de Acabe deverá ser varrida da terra; todos os homens, sejam eles quem forem. Destruirei a família de Acabe tal como destruí a família de Jeroboão, filho de Nebate, e de Bacha, filho de Aías. Cães comerão Jezabel, a mulher de Acabe, em Jezreel, e não haverá ninguém que a enterre.’ ” Depois de pronunciar estas palavras, abriu a porta e fugiu a correr. Jeú voltou para junto dos seus amigos, os quais lhe perguntaram: “Há alguma novidade? O que é que esse maluco te veio dizer?” Jeú respondeu: “Vocês sabem muito bem quem era e o que ele queria.” “Não, não sabemos. Diz lá o que ele queria.” Então Jeú contou: “Ele disse-me o seguinte: ‘Assim diz o Senhor: Eu te ungi rei sobre Israel!’ ” Os outros, sem perder tempo, puseram as suas capas sobre os degraus da casa, mandaram tocar a trombeta e gritaram: “Jeú é rei!” Foi assim que Jeú, filho de Jeosafá, filho de Ninsi, se revoltou contra o rei Jorão. Este tinha estado em Ramote-Gileade, defendendo Israel das forças do rei Hazael de Aram. No entanto, fora para Jezreel com o fim de se restabelecer dos ferimentos. “Visto que me querem como rei”, disse Jeú aos homens que estavam com ele, “não deixem que ninguém escape da cidade e vá contar em Jezreel o que fizemos.” Jeú subiu para um carro de combate e dirigiu-se ele próprio a Jezreel, para se encontrar com Jorão, que se encontrava de cama ainda ferido. Também o rei Acazias de Judá ali estava, pois tinha ido visitá-lo. A sentinela na torre da povoação viu Jeú e os seus acompanhantes aproximarem-se e gritou: “Está a chegar um grupo de gente.” “Manda um cavaleiro que vá ver se são amigos ou inimigos!”, disse Jorão. E saiu para ir ter com eles um homem a cavalo: “O rei manda perguntar se vêm como amigos ou como inimigos”, disse o cavaleiro a Jeú. “Vêm com intuitos de paz?” Jeú replicou: “Que é que tu entendes de paz ou de guerra? Passa já para trás de mim!” O vigia mandou novo recado ao rei dizendo-lhe que o mensageiro enviado ao encontro dos outros não tinha regressado. O rei mandou outro cavaleiro, que lhes perguntou igualmente se vinham como amigos ou como inimigos. “Que história é essa de amigos ou inimigos? Passa já para trás de mim!”, respondeu Jeú. “Também este lá ficou!”, exclamou a sentinela. “Deve tratar-se de Jeú, pela forma como se aproxima furiosamente.” “Depressa! Preparem o meu carro!”, mandou o rei. E logo saiu, em companhia de Acazias, ao encontro de Jeú. Encontraram-se com ele no campo de Nabote. Jorão perguntou-lhe: “Vens como amigo, Jeú?” Jeú respondeu: “Como pode haver paz, enquanto a tua mãe, Jezabel, continuar com as suas práticas de feitiçaria e idolatria?” Jorão fez meia-volta com o seu carro, gritando enquanto fugia: “Traição, Acazias! Atraiçoaram-nos!” Jeú retesou com toda a força o seu arco e atirou-lhe uma flecha que o apanhou entre as espáduas. Com o coração perfurado, caiu logo morto do carro para o chão. Jeú disse para Bidcar, o seu assistente: “Lança-o no campo de Nabote, porque uma vez, quando vínhamos atrás do seu pai Acabe, o Senhor revelou-me esta profecia: ‘Assim como ontem vi o assassínio de Nabote e dos seus filhos, assim dar-lhe-ei aqui mesmo, neste campo, a paga deste assassínio.’ Por isso, deita-o na antiga propriedade de Nabote, tal como o Senhor disse.” Entretanto, Acazias, o rei de Judá, fugira pelo caminho que vai para Bete-Hagã. Mas Jeú foi atrás dele gritando: “Matem-no! Matem também esse!” E, com efeito, mataram-no no seu carro, no lugar em que o caminho sobe para Gur, perto de Ibleão. Conseguiu mesmo ir até Megido, mas acabou por morrer ali. Os seus oficiais levaram-no num carro para Jerusalém, onde o enterraram no cemitério real. O reinado de Acazias sobre Judá tinha começado no décimo segundo ano do reinado de Jorão de Israel. Quando Jezabel ouviu que Jeú tinha vindo a Jezreel, arranjou-se toda, pintou os olhos, penteou-se e foi sentar-se à janela. Na altura em que Jeú regressava e entrava pelo portão do palácio, ela gritou-lhe: “Então já estás satisfeito, tu Zimri, que mataste o teu senhor?” Ele olhou para cima, viu-a à janela e disse: “O que eu quero agora saber é quem está do meu lado.” Nessa altura, dois ou três eunucos que se encontravam ali perto de Jezabel, olharam para ele: “Atirem-na daí abaixo!”, gritou-lhes Jeú. Eles empurraram-na da janela abaixo e, ao esmagar-se no solo, o sangue espirrou para as paredes e sobre os cavalos; estes, excitados, esmagaram-na sob as patas. Jeú entrou no palácio para comer. Mais tarde, disse: “Que alguém vá enterrar essa mulher maldita, porque sempre era filha de um rei!” Contudo, quando foram buscar o cadáver, apenas acharam a caveira, os pés e as mãos. Regressando e, ao darem-lhe conta disso, Jeú reconheceu: “Foi justamente o que o Senhor afirmou que haveria de acontecer, através de Elias, o tesbita. Ele disse que no campo os cães comeriam a carne de Jezabel. E que o seu corpo seria lançado como esterco no campo, sem que ninguém a pudesse reconhecer.” Jeú escreveu uma carta ao conselho da cidade de Samaria, aos aios dos 70 filhos de Acabe que viviam ali, e ainda ao conselho dos anciãos de Jezreel: Contudo, eles estavam demasiado atemorizados para o fazer: “Nem dois reis poderiam enfrentar-se com um indivíduo destes!”, diziam eles. “Que havemos de fazer?” Então o administrador do palácio, juntamente com o governador da cidade, o conselho local e os aios dos filhos de Acabe, enviaram-lhe uma mensagem: “Jeú, nós somos teus servos e faremos tudo o que mandares. Decidimos que serás o nosso rei, em lugar de um dos filhos de Acabe.” Jeú respondeu-lhes com outra mensagem: “Se estão do meu lado e dispostos a obedecer-me, tragam-me as cabeças dos filhos do vosso senhor a Jezreel amanhã a esta hora.” Esses 70 filhos de Acabe viviam em casa dos responsáveis da cidade, onde tinham sido educados desde a sua infância. Ao receberem a mensagem de Jeú, todos os 70 foram mortos e as suas cabeças colocadas dentro de cestos e enviadas a Jeú, que se encontrava em Jezreel. Avisado de que as cabeças tinham chegado, mandou que fizessem com elas um monte à entrada da cidade e as deixassem ali até de manhã. No dia seguinte, cedo, Jeú saiu e foi falar à multidão que, entretanto, se tinha aglomerado: “Não devem sentir remorsos”, disse-lhes. “Fui eu quem conspirou contra o meu senhor e o matou; no entanto, não fui eu quem matou os seus filhos! Foi o Senhor quem o fez, porque tudo quanto ele diz se realiza. Ele declarou, através do seu servo Elias, que isto haveria de acontecer aos descendentes de Acabe.” Posteriormente, Jeú matou o resto da família de Acabe que vivia em Jezreel, assim como todas as figuras importantes do seu pessoal administrativo, amigos íntimos e sacerdotes privados, de forma que não ficou ninguém. Depois, Jeú partiu para Samaria e estabeleceu-se ali. Mas antes, passou a noite em Bete-Equede dos Pastores, que ficava no caminho. Enquanto ali estava, viu uns homens que eram irmãos do rei Acazias de Judá. “Quem são vocês?”, perguntou-lhes. “Somos irmãos do rei Acazias. Vamos a Samaria visitar os filhos do rei Acabe e da rainha Jezabel.” “Apanhem já essa gente!”, gritou Jeú para os seus homens. Levou-os para a cisterna junto à casa da tosquia e ali os matou; eram 42 ao todo. Ao deixar a estalagem, Jeú encontrou-se com Jonadabe, o filho de Recabe, que vinha justamente ao seu encontro. Depois de se terem cumprimentado, perguntou-lhe Jeú: “És tão leal comigo como eu sou contigo?” Jonadabe respondeu: “Sou, sim!” E disse-lhe: “Então dá-me a mão.” E fê-lo subir para o seu carro real. “Vem comigo”, continuou ele, “e verás o meu zelo pelo Senhor.” E Jonadabe foi com ele. Quando chegou a Samaria, matou todos os parentes próximos de Acabe que ali viviam, tal como o Senhor tinha anunciado a Elias. Jeú convocou uma assembleia dos habitantes da cidade e disse-lhes: “Acabe pouco serviu a Baal; eu, sim, hei de prestar-lhe culto convenientemente! Mandem juntar todos os profetas e sacerdotes de Baal e chamem todos os seus adoradores. Não falte ninguém, porque pretendo fazer um grande sacrifício ao deus Baal. Quem faltar deverá morrer.” Jeú dizia isto com astúcia; o seu plano era liquidá-los a todos. Jeú deu ordem ao chefe do guarda-roupa: “Quero que todas as pessoas vistam túnicas sacerdotais!” Depois, acompanhado de Jonadabe, o filho de Recabe, entrou no templo e falou à multidão: “Certifiquem-se de que aqui não esteja mais ninguém além dos que adoram a Baal. Não deixem entrar ninguém que adore o Senhor!” Quando os sacerdotes começaram a oferecer os sacrifícios e os holocaustos, Jeú cercou o edifício com oitenta dos seus homens e disse-lhes: “Vão lá dentro e matem-nos a todos. Se deixarem escapar alguém, terão de pagar com a vida.” Eles entraram e assassinaram todos os indivíduos que lá se encontravam, lançando os corpos para o exterior. Depois disso, penetraram no interior do templo. Derrubaram o pilar usado para a adoração de Baal, queimando-o. Derrubaram o edifício e transformaram as ruínas em latrinas, permanecendo assim até ao dia de hoje. Dessa forma, Jeú exterminou todos os vestígios do culto de Baal em Israel. Contudo, não destruiu os bezerros de ouro que se encontravam em Betel e em Dan; esses bezerros tinham sido o grande pecado de Jeroboão, filho de Nebate, porque levaram todo o Israel a pecar. Posteriormente, o Senhor disse a Jeú: “Fizeste bem em seguir as minhas instruções, destruindo a dinastia de Acabe. Por isso, farei com que o teu filho, o teu neto e ainda o teu bisneto sejam reis de Israel.” No entanto, Jeú não se preocupou em cumprir fielmente a Lei do Senhor, Deus de Israel, com todo o seu coração, nem se afastou dos pecados com que Jeroboão fez pecar Israel. Por essa altura, o Senhor começou a diminuir o território de Israel. O rei Hazael conquistou várias zonas do país; a leste do rio Jordão, assim como todo o território de Gileade, Gad e Rúben; também tomou partes de Manassés, desde o ribeiro de Aroer, no vale de Arnom, até Gileade e Basã. O resto da história do reinado de Jeú está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Quando Jeú faleceu, foi enterrado em Samaria. O seu filho Jeoacaz subiu ao trono. Jeú reinou ao todo 28 anos como rei de Israel, em Samaria. Quando Atalia, mãe do rei Acazias de Judá, soube que o seu filho tinha morrido, matou os filhos deste. Houve contudo um, Joás, que devia ter um ano de idade, que escapou, porque a sua tia Jeoseba, irmã do rei Acazias, filha do rei Jeorão, que era o pai de ambos, o salvou. Ela escondeu o menino e a sua ama numa câmara do templo, de tal forma que Atalia não o conseguiu matar. Joás ficou escondido no templo do Senhor durante 6 anos. Entretanto, Atalia governava como rainha regente. No sétimo ano da regência de Atalia, o sacerdote Jeoiada convocou os oficiais da guarda e a guarda pessoal da rainha para um encontro no próprio templo; fê-los jurarem segredo absoluto e mostrou-lhes o filho do rei. Depois deu-lhes instruções: “Um terço dos que estiverem de serviço ao sábado deverão fazer a guarda do palácio. O outro terço guardará a porta de Sur e o outro terço ficará de guarda na porta que está por detrás dos outros guardas. Assim guardarão por turnos o templo. As duas outras unidades que não estejam de serviço no sábado devem ficar de sentinela no templo, para proteger o rei. Coloquem um corpo de guarda em redor do rei e tenham as vossas armas à mão. Matem todo aquele que se tentar abrir caminho. Mantenham-se sempre junto ao rei para onde quer que ele vá!” Os oficiais seguiram estas indicações. Trouxeram a Jeoiada os homens que iam sair de serviço no sábado e também os que iam entrar. Armaram-nos com as lanças e os escudos do próprio templo que tinham pertencido ao rei David. Os guardas, armados, formaram uma linha, de um lado ao outro, na frente do templo e em volta do altar. Jeoiada trouxe fora o príncipe, colocou-lhe uma coroa na cabeça, entregou-lhe uma cópia do testemunho e, imediatamente, o proclamaram rei e o ungiram. Toda a gente bateu as palmas e gritou: “Viva o rei!” Atalia, ao ouvir as aclamações, correu para o templo para ver o que se passava, Lá estava o rei, junto ao pilar da entrada, como era costume nas coroações, com os oficiais do exército e os trombeteiros a rodeá-lo. O povo que vinha de toda a parte manifestava a sua alegria, ao mesmo tempo que se ouvia o toque das cornetas. Atalia rasgou os vestidos e gritou: “Traição! Traição!” “Tirem-na daqui”, ordenou Jeoiada aos oficiais da guarda. “Não a matem aqui no templo e matem quem quer que seja que tente livrá-la!” Levaram-na para as cavalariças do palácio e ali a mataram. Jeoiada fez então uma promessa solene perante o Senhor, o rei e o povo, que haveriam de ser o povo do Senhor. Fez também uma aliança com o rei e com o povo. Depois toda a gente se dirigiu ao templo de Baal para derrubá-lo, destruindo os altares e as imagens, e mataram Matã, o sacerdote de Baal, diante dos altares. Jeoiada pôs guardas no templo do Senhor. Então ele, os oficiais da guarda, o corpo da guarda e todo o povo escoltaram o rei desde o templo, pelo caminho do quartel da guarda, até ao palácio e sentaram-no no trono real. Toda a gente ficou feliz e a cidade se pacificou, após a morte de Atalia no palácio. Joás tinha 7 anos quando começou a reinar. Sete anos depois de Jeú se ter tornado rei de Israel, Joás tornou-se rei de Judá. Reinou em Jerusalém 40 anos. A sua mãe era Zibia de Berseba. Joás fez o que era reto aos olhos do Senhor ao longo de todos os anos em que o sumo sacerdote Jeoiada o instruiu. Mesmo assim, não destruiu os santuários pagãos que foram levantados nas colinas; o povo continuou ainda a sacrificar e a queimar ali incenso. No entanto, ainda no vigésimo terceiro ano do seu reinado, o templo mantinha-se no mesmo estado. Por isso, Joás mandou chamar Jeoiada e os outros sacerdotes e perguntou-lhes: “Por que razão ainda nada fizeram para restaurar o templo? Não utilizem mais dinheiro nenhum para cobrir as vossas necessidades pessoais. Daqui em diante, tudo o que for recebido deverá ser empregado com o fim de restaurar o templo.” Os sacerdotes concordaram estabelecer um fundo especial para a reparação do edifício e não receber mais donativos que revertessem para si próprios. Jeoiada, o sacerdote, preparou uma grande arca com uma abertura na tampa e colocou-a ao lado do altar, à direita de quem entrava no templo. Os sacerdotes com a função de porteiros colocavam aí todas as contribuições do povo. Sempre que a arca ficava cheia, o tesoureiro real e o sacerdote contavam o dinheiro e punham-no em sacos. Davam-no depois ao mestre-de-obras para pagar aos carpinteiros, aos pedreiros, aos marceneiros, aos canteiros, e também para comprar os materiais necessários às obras da casa do Senhor. Nenhum desse dinheiro era usado para adquirir fosse o que fosse em matéria de instrumentos ou recipientes em prata ou ouro, fossem garfos, bacias ou taças. Todo ele ia exclusivamente para os trabalhos de restauração. Também não eram exigidas contas aos encarregados da obra, porque atuavam com fidelidade. Apenas o dinheiro proveniente de contribuições por ofertas de culpa e sacrifícios pelo pecado era dado aos sacerdotes para o seu uso pessoal; esse não era colocado na arca das ofertas. Por essa altura, o rei Hazael de Aram entrou em guerra com Gate e conquistou-a. Depois virou-se contra Jerusalém para atacar. O rei Joás pegou em todos os objetos sagrados que os seus antepassados (Jeosafá, Jeorão e Acazias, reis de Judá) tinham consagrado, e no que ele próprio dera, assim como no ouro que se achou nos tesouros do templo e do palácio, e enviou tudo a Hazael. Desta forma, este último desistiu do ataque. O resto da história do reinado de Joás está narrado no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Os seus conselheiros conspiraram contra ele e assassinaram-no na sua residência real em Bete-Milo, no caminho para Sila. Os assassinos foram Jozabade, filho de Simeate, e Jeozabade, filho de Somer, ambos seus auxiliares de confiança. Foi sepultado no cemitério real em Jerusalém. O seu filho Amazias reinou em seu lugar. Jeoacaz, o filho de Jeú, começou um reinado sobre Israel, que duraria 17 anos, durante o vigésimo terceiro ano do reinado de Joás, rei de Judá. Foi um rei que fez o que era mau aos olhos do Senhor, e seguiu os maus caminhos de Jeroboão, filho de Nebate, que levara Israel a pecar. Dessa forma, a ira do Senhor acendeu-se contra Israel e permitiu que Hazael, rei de Aram, assim como o seu filho Ben-Hadade, conquistassem terras. Jeoacaz pediu ao Senhor que o ajudasse e o Senhor ouviu-o, porque o rei de Aram estava a oprimir fortemente a Israel. Por isso, o Senhor suscitou um salvador para libertar a nação da tirania dos arameus. Até que finalmente o povo pôde viver novamente em segurança, como antigamente. No entanto, continuaram a pecar e a seguir os maus caminhos de Jeroboão, adorando a deusa Achera em Samaria. Jeoacaz acabou por ficar reduzido a uma força militar composta apenas por 50 tropas montadas, 10 carros de combate e 10 000 soldados de infantaria. É que o rei de Aram tinha destruído o exército, reduzindo-o a nada. O resto da história de Jeoacaz está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Jeoacaz faleceu e foi sepultado em Samaria. Sucedeu-lhe no trono o seu filho Jeoás. O seu filho Jeoás reinou em Samaria durante 16 anos. Subiu ao trono no trigésimo sétimo ano do reinado de Joás, rei de Judá. Contudo, foi também um mau rei. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, e seguiu os maus caminhos de Jeroboão que levara Israel a pecar. O resto da história do reinado de Jeoás, incluindo as guerras que travou contra o rei Amazias de Judá, está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Jeoás morreu e foi enterrado em Samaria com os outros reis de Israel. Jeroboão II tornou-se o novo rei. Quando Eliseu adoeceu, com a enfermidade de que morreu, o rei Jeoás veio visitá-lo e chorou na sua presença: “Meu pai! Meu pai! Carro de Israel e seus condutores!”, lamentava-se. “Pega num arco e em flechas”, disse-lhe Eliseu. “Agora”, continou o profeta, “pega nas outras setas e bate com elas no chão.” O rei pegou nelas e bateu com elas três vezes no chão. Eliseu ficou zangado: “Devias ter batido no chão cinco ou seis vezes”, disse-lhe. “Poderias vir a derrotar os arameus até ficarem completamente destruídos; sendo assim, serás vitorioso apenas três vezes.” Eliseu faleceu e foi sepultado. Nesses dias, bandos de moabitas invadiam a terra na primavera. Uma vez, uns quantos homens que estavam a fazer o enterro de um amigo depararam-se com um desses bandos de marginais e lançaram apressadamente o corpo para dentro do túmulo de Eliseu. Logo que tocou nos ossos de Eliseu, o morto reviveu e pôs-se em pé! O rei Hazael tinha oprimido a Israel durante todo o reinado de Jeoacaz. Mas o Senhor teve compaixão do povo israelita e, por isso, este não foi completamente destruído. Deus não só teve misericórdia deles, como foi fiel à aliança que fez com Abraão, Isaque e Jacob. Essa é a razão por que ainda se mantêm vivos. Hazael, o rei de Aram, morreu. O seu filho Ben-Hadade reinou em seu lugar. O rei Jeoás de Israel, filho de Jeoacaz, saiu vitorioso sobre ele em três ocasiões, reconquistando as cidades que o seu pai perdera a favor de Ben-Hadade. Durante o segundo ano do reinado de Jeoás, filho de Jeoacaz, rei de Israel, o rei Amazias começou a reinar sobre Judá. Tinha 25 anos quando se tornou rei. Reinou durante 29 anos em Jerusalém. O nome da sua mãe era Jeoadã, natural de Jerusalém. Fez o que era reto aos olhos do Senhor, não como o seu antepassado David, mas foi tão bom rei como o seu pai, Joás. Contudo, não destruiu os santuários pagãos sobre as colinas e o povo continuou a sacrificar e a oferecer ali incenso. Logo que alcançou estabilidade como rei, mandou matar os homens que tinham assassinado o seu pai. No entanto, poupou os seus filhos, porque quis respeitar a ordem que o Senhor tinha dado, na Lei de Moisés, que os pais não poderão ser mortos por causa dos pecados dos filhos, nem os filhos pelos dos pais. Cada pessoa morrerá pelos seus próprios crimes. Certa ocasião, Amazias matou 10 000 edomitas no vale do Sal. Também conquistou Sela e mudou-lhe o nome para Jocteel, assim sendo conhecida até ao dia de hoje. Um dia, Amazias enviou uma mensagem ao rei Jeoás de Israel, filho de Jeoacaz e neto de Jeú, desafiando-o a mobilizar o exército e a vir combater contra ele. O rei Jeoás enviou, no entanto, a Amazias a seguinte mensagem: “No Líbano um cardo mandou dizer a um cedro: ‘Dá a tua filha em casamento ao meu filho.’ Nessa altura, passou um animal selvagem que pisou o cardo e o esmagou! Tu destruíste Edom e estás muito orgulhoso disso; contudo, dou-te um conselho: fica contente com a vitória que obtiveste e deixa-te ficar onde estás. Porque haverias de provocar um desastre não só para ti como para Judá?” Amazias não lhe deu ouvidos. Por isso, Jeoás, rei de Israel, mandou preparar o seu exército. A batalha começou em Bete-Semes, uma das povoações de Judá. Judá foi derrotado e o seu exército teve de fugir, cada um para sua casa. O rei Jeoás de Israel capturou o rei Amazias em Bete-Semes, e avançou sobre Jerusalém. Ordenou que fossem derrubados 200 metros da muralha da cidade, desde a porta de Efraim até à porta do Canto. Depois tomou consigo todo o ouro, a prata e todos os objetos de valor que havia na casa do Senhor, assim como os tesouros do palácio; levou também reféns e regressou a Samaria. O resto dos acontecimentos referentes ao reinado de Jeoás e à sua guerra contra o rei Amazias está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Quando Jeoás morreu, foi sepultado em Samaria, junto dos outros reis de Israel. O seu filho Jeroboão reinou em seu lugar. O rei Amazias viveu ainda mais 15 anos depois de Jeoás, o rei de Israel, ter morrido. O resto dos acontecimentos da vida de Amazias está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Conspiraram contra ele em Jerusalém e fugiu para Laquis; perseguiram-no até Laquis e ali o mataram. Levaram o seu corpo para Jerusalém, escoltado por um pelotão de cavalaria. Foi enterrado no cemitério real, junto dos seus antepassados, na Cidade de David. O seu filho Azarias ascendeu ao trono; tinha 16 anos de idade. Depois da morte de seu pai, edificou a povoação de Elate e entregou-a a Judá. Entretanto, Jeroboão II tornara-se rei de Israel, durante o décimo quinto ano do reinado de Amazias, rei de Judá. O reinado de Jeroboão durou 41 anos. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, e não se afastou dos erros e pecados que Jeroboão, filho de Nebate, tinha levado Israel a cometer. Jeroboão II recuperou os territórios que Israel perdera entre Hamate e o mar Morto, tal como o Senhor, o Deus de Israel, tinha predito através do profeta Jonas, filho de Amitai, de Gate-Hefer. Porque o Senhor viu a grande miséria em que Israel se encontrava, sem ninguém que viesse em seu auxílio. O Senhor não dissera que apagaria o nome de Israel de sobre a terra; por isso, serviu-se do rei Jeroboão II para o salvar. O resto da biografia de Jeroboão II, tudo o que fez, o seu grande poder, as suas batalhas e como recuperou para Israel Damasco e Hamate, tomadas por Judá, está narrado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Quando faleceu, Jeroboão II foi sepultado com os outros reis de Israel, e o seu filho Zacarias reinou em seu lugar. Conduziu-se com retidão aos olhos do Senhor, imitando o seu pai Amazias naquilo que este tinha feito de bem. Contudo, não destruiu os santuários pagãos sobre as colinas, onde o povo continuava a fazer sacrifícios e a oferecer incenso queimado. Por causa disso, o Senhor castigou-o com lepra, tendo ficado assim até ao dia da sua morte. Em consequência dessa enfermidade, foi obrigado a viver isolado, numa casa à parte. O seu filho Jotão era o regente. O resto dos acontecimentos da vida de Azarias está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Quando Azarias faleceu, foi sepultado junto dos seus antepassados, na Cidade de David, e o seu filho Jotão tornou-se rei. O novo rei de Israel foi Zacarias. O seu pai era Jeroboão, o rei anterior. O seu reinado durou seis meses. Em Judá, Azarias era rei havia 38 anos, quando aquele ascendeu ao trono. Zacarias foi um mau rei, pois fez o que era mau aos olhos do Senhor, tal como muitos dos seus antecessores. À semelhança de Jeroboão I, o filho de Nebate, incentivou Israel a pecar. Salum, filho de Jabes, conspirou contra ele, assassinou-o em Ibleão e reinou em seu lugar. O resto da história do reinado de Zacarias encontra-se no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Assim se concretizou a palavra do Senhor dirigida a Jeú, que o seu filho, neto e bisneto seriam reis de Israel. O novo rei de Israel foi Salum. O seu pai era Jabes e o seu reinado durou um mês. Em Judá, Uzias, também chamado Azarias, era nessa altura rei havia 39 anos. Um mês depois de Salum ter ascendido ao trono, Menaem, filho de Gadi, veio de Tirza a Samaria e assassinou-o, ocupando o trono em seu lugar. Outros detalhes acerca de Salum e dessa conspiração estão escritos no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Menaem destruiu a povoação de Tifsa, assim como os seus arredores, porque os seus habitantes se recusaram a aceitá-lo como rei. Por isso, matou toda a população, chegando ao ponto de desventrar mulheres grávidas. O novo rei de Israel foi Menaem. O seu reinado, com sede em Samaria, durou 10 anos. Nessa altura, Azarias era rei havia 39 anos. Menaem fez aquilo que era mau aos olhos do Senhor. Prestou culto a ídolos, tal como muito antes o fizera Jeroboão I que levara o povo de Israel a pecar gravemente. O rei Pul da Assíria invadiu a terra. Menaem subornou-o a troco de umas 34 toneladas de prata, para que se retirasse do país. Menaem teve posteriormente de extorquir esse dinheiro da mão de todos os poderosos e ricos da terra, sob a forma de uma taxa especial de 575 gramas de prata por pessoa. O resto dos acontecimentos da história do rei Menaem está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. Quando morreu, o seu filho Pecaías tornou-se o novo rei. O novo rei de Israel foi Pecaías. O seu pai foi o rei anterior, Menaem. O seu reinado durou 2 anos e esteve sediado em Samaria. Em Judá, Azarias reinava havia já 50 anos. Pecaías fez aquilo que era mau aos olhos do Senhor e deu continuidade ao mau exemplo de Jeroboão I, filho de Nebate, que levou Israel por maus caminhos. Peca, filho de Remalias, o comandante-geral do seu exército, conspirou contra ele, acompanhado de cinquenta homens de Gileade, e assassinou-o no palácio de Samaria. Argobe e Arie foram também mortos nessa revolta. Peca tornou-se o novo rei. O resto da história do rei Pecaías está narrado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. O novo rei de Israel foi Peca. O seu pai foi Remalias e o seu reinado durou 20 anos, com sede em Samaria. Em Judá, o rei Azarias reinava havia já 52 anos. Peca fez aquilo que era mau aos olhos do Senhor, pois prosseguiu nos caminhos de Jeroboão I, filho de Nebate, que levou todo o Israel a pecar. Foi durante o seu reinado que o rei Tiglate-Pileser atacou Israel. Capturou as povoações de Ijom, Abel-Bete-Maacá, Janoa, Quedes, Hazor, Gileade, Galileia e toda a terra de Naftali, levando os seus habitantes cativos para a Assíria. Então Oseias, filho de Elá, conspirou contra Peca e assassinou-o, ocupando o trono em seu lugar. O novo rei de Israel foi Oseias. Em Judá, Jotão, filho de Uzias, era rei havia 20 anos. O resto da história de Peca está registado no Livro das Crónicas dos Reis de Israel. O novo rei de Judá foi Jotão. O seu pai foi o rei Uzias. Tinha 25 anos quando se sentou no trono e reinou 16 anos, tendo Jerusalém como sua capital. A sua mãe era Jerusa, filha de Zadoque. Conduziu-se de forma reta aos olhos do Senhor, seguindo os passos de seu pai Uzias. No entanto, não soube destruir os santuários pagãos que estavam nas colinas, onde o povo ia oferecer sacrifícios e queimava incenso. Foi durante o seu reinado que a porta alta do templo foi construída. O resto dos acontecimentos da vida de Jotão encontra-se no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Naqueles dias, o Senhor levou o rei Rezim de Aram e o rei Peca de Israel a atacar Judá. Quando Jotão faleceu, foi sepultado junto dos seus antepassados na Cidade de David. O seu filho Acaz ocupou o trono. Foi tão mau como os reis de Israel. Chegou ao ponto de oferecer em sacrifício aos deuses o seu próprio filho, segundo o costume pagão das nações vizinhas de Judá; nações que o Senhor expulsara quando levou o seu povo Israel para a terra que lhe prometera. Fez sacrifícios e queimou incenso nos santuários pagãos sobre as colinas, e debaixo de cada árvore verde. O rei Rezim de Aram e o rei Peca de Israel, filho de Remalias, declararam guerra a Acaz e puseram cerco a Jerusalém, mas não puderam conquistá-la. Contudo, por essa ocasião, o rei de Aram, Rezim, conseguiu recuperar a cidade de Elate, depois de ter expulsado os judeus que ali viviam. Os edomitas regressaram a Elate, onde ficaram até ao dia de hoje. Acaz enviou mensageiros a Tiglate-Pileser, rei da Assíria, dizendo: “Eu sou teu servo e teu filho! Rogo-te que venhas livrar-me dos reis de Aram e de Israel, que estão a atacar-me.” Ao mesmo tempo, pegou na prata e no ouro do templo e dos cofres reais e mandou-o como presente ao rei da Assíria. Desta forma, o rei da Assíria atacou Damasco, a capital de Aram, levou cativa a população, reinstalando-a em Quir, e matou Rezim, o rei de Aram. Acaz foi até Damasco para se encontrar com Tiglate-Pileser. Enquanto ali se encontrava, reparou num altar invulgar, num templo pagão. Logo fez um desenho com as medidas exatas e enviou-o a Urias, o sacerdote, acompanhado de uma descrição detalhada. Urias mandou construir um altar igual, segundo a descrição feita, e aprontou-o de forma que, quando o rei regressou de Damasco, pôde inaugurá-lo, oferecendo ali um sacrifício. O rei apresentou nele um holocausto e uma oferta de cereais, derramou sobre ele uma oferta de bebida e aspergiu-o com o sangue das ofertas de paz. Depois mandou remover o antigo altar de bronze de diante do templo, que tinha ficado entre a entrada do templo e o novo altar, mandando colocá-lo a norte deste último. Deu também instruções ao sacerdote Urias para usar o novo altar nos sacrifícios de holocaustos e de ofertas de cereais, assim como nas ofertas do povo, incluindo as ofertas de vinho. O sangue dos holocaustos e dos sacrifícios deveria ser igualmente aspergido sobre o novo altar. Desta forma, o antigo altar passaria a ser usado unicamente para inquirir de Deus daquilo que respeitava ao futuro. “O antigo altar”, disse ele, “será apenas para meu uso pessoal.” O sacerdote Urias obedeceu às instruções dadas pelo rei Acaz. Depois disso, o soberano mandou desmantelar as rodas das bases das bacias do templo, fez remover os suportes e os recipientes que estavam sobre eles, tal como o grande tanque que se apoiava sobre o dorso dos bois em bronze, colocando-o sobre o pavimento. Por causa do rei da Assíria mandou também remover a passagem festiva que tinha sido construída entre a casa real e o templo. O resto dos acontecimentos do reinado de Acaz está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Quando Acaz morreu, foi enterrado no cemitério real, no sector de Jerusalém chamado Cidade de David. O seu filho Ezequias reinou em seu lugar. Salmaneser, rei da Assíria, atacou e derrotou o rei Oseias, obrigando Israel a pagar pesados impostos anuais à Assíria. Oseias conspirou contra o rei assírio, pedindo auxílio ao rei Sô, do Egito, para atingir o seu fim. No entanto, esta conjura foi descoberta. Ao mesmo tempo, Oseias deixou de pagar as taxas anuais de tributo à Assíria. Por isso, o soberano assírio o colocou-o na prisão, encarcerando-o por causa dessa rebelião. A terra de Israel estava cheia de tropas assírias que cercaram Samaria, a capital de Israel, durante três anos. Finalmente, no nono ano do reinado de Oseias, Samaria foi conquistada e o povo de Israel exilado para a Assíria. Foram instalados em colónias na cidade de Hala e ao longo das margens do rio Habor em Gozã, e nas cidades dos medos. Este desastre caiu sobre a nação de Israel, porque o povo prestava culto a outros deuses, pecando contra o Senhor, seu Deus, que os tinha libertado da opressão do Faraó, rei do Egito. Seguiram os maus costumes das nações que o Senhor tinha expulsado da sua frente, assim como as práticas que os reis de Israel tinham introduzido. O povo de Israel fez ainda secretamente muitas outras coisas erradas, contra o Senhor, seu Deus; construíram também santuários pagãos sobre as colinas, dedicados a outros deuses, em toda a terra. Colocaram obeliscos e imagens de postes ídolos de Achera no cimo de todas as colinas e sob a copa das árvores verdes. Constantemente o Senhor enviou profetas e videntes para avisar, tanto Israel como Judá, de que deviam converter-se dos seus maus caminhos; incitou-os a obedecerem aos seus mandamentos que tinham sido dados aos antepassados através desses profetas. Contudo, Israel não lhe quis prestar ouvidos. O povo era duro de coração, tal como seus pais, que também recusaram crer no Senhor, seu Deus. Rejeitaram os seus preceitos, não cumpriram a aliança que fizera com os seus pais e desprezaram todas as suas advertências. Na sua loucura puseram-se a prestar adoração aos ídolos dos povos pagãos, apesar dos avisos do Senhor. Desprezaram todos os mandamentos do Senhor, seu Deus, e fizeram dois bezerros com ouro derretido. Fabricaram imagens de postes ídolos de Achera; adoraram Baal, o Sol, a Lua e as estrelas. Até queimaram os seus próprios filhos e filhas, matando-os sobre os altares do deus Moloque; consultaram bruxas, praticaram o ocultismo e venderam-se ao pecado. Por isso, o Senhor muito se irou contra eles. Varreu-os da sua presença de tal forma que apenas ficou a tribo de Judá na terra. Judá também recusou obedecer aos mandamentos do Senhor, seu Deus; também se meteram nos mesmos maus caminhos de Israel. Foi por essa razão que o Senhor rejeitou todos os descendentes de Israel. Castigou-os, entregando-os aos seus adversários, até que foram totalmente destruídos. Porque Israel se separou do reino de David e escolheu como rei Jeroboão I, filho de Nebate. Este rei levou Israel para longe dos caminhos do Senhor. Fê-los pecar com gravidade. O povo de Israel nunca mais parou de pecar, depois de Jeroboão os ter levado para o mal. Até que finalmente o Senhor os afastou para longe da sua presença, tal como os seus profetas tinham avisado que haveria de acontecer. Eis a razão por que Israel foi transportado para a Assíria onde permanece até ao dia de hoje. O rei da Assíria levou contingentes de colonos, vindos da Babilónia, Cuta, Ava, Hamate e Sefarvaim, a estabelecerem-se nas cidades de Samaria, substituindo o povo de Israel. Dessa forma, os assírios ocuparam a Samaria e as outras povoações de Israel. Como esses povos não temeram o Senhor, quando ali chegaram, Deus enviou-lhes leões que mataram uns quantos entre eles. Então mandaram uma mensagem ao seu rei na Assíria: “Nós, colonos aqui em Israel, não conhecemos as leis do Deus da terra; por isso, mandou leões que nos destroem, visto que não lhe prestamos culto.” O rei da Assíria decretou, em razão disso, que um dos sacerdotes exilados de Samaria voltasse para Israel e ensinasse aos novos residentes as leis do Deus da terra. Um deles regressou a Betel e ensinou aqueles colonos da Babilónia a temer o Senhor. No entanto, esses estrangeiros continuavam a adorar os seus próprios deuses. Colocaram as suas imagens em santuários pagãos nas proximidades das povoações. Aqueles que eram originários da Babilónia adoravam os ídolos do seu deus Sucote-Benote; os que vinham de Cuta, prestavam culto ao deus Nergal; e a gente vinda de Hamate adorava Asima. Os deuses Nibaz e Tartaque eram adorados pelos aveus, e o povo de Sefarvaim chegava a queimar os seus próprios filhos sobre os altares dos seus deuses Adrameleque e Anameleque. Simultaneamente adoravam o Senhor e designaram alguns, entre eles, para serem sacerdotes que oferecessem sacrifícios a favor deles, nos santuários pagãos. Adoravam o Senhor, mas continuavam a seguir os costumes religiosos das nações donde vinham. Isto acontece ainda hoje; seguem as suas antigas práticas religiosas, em vez de adorarem verdadeiramente o Senhor e obedecerem às leis que deu aos descendentes de Jacob, cujo nome mudou mais tarde para Israel. Porque o Senhor fizera uma aliança com eles, que nunca deveriam prestar culto ou fazer sacrifícios a qualquer deus pagão. Tinham de temer somente o Senhor que os tirara da terra do Egito com espantosos milagres e tão grande manifestação do seu forte braço. Os descendentes de Jacob deveriam obedecer a toda a Lei de Deus e nunca mais adorar outros deuses. Pois Deus dissera: “Não deverão esquecer nunca a aliança que fiz convosco; nunca adorarão outros deuses. Devem adorar apenas o Senhor, vosso Deus. Só ele vos salvará dos vossos inimigos.” Israel recusou-se a aceitá-lo e o povo prosseguiu na adoração dos ídolos. Estes colonos da Babilónia adoravam o Senhor, é certo, mas adoravam igualmente os seus ídolos. Até hoje, os seus descendentes fazem o mesmo. No terceiro ano do reinado de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, Ezequias, filho de Acaz, tornou-se rei em Judá. Ezequias tinha 25 anos quando se tornou rei de Judá. Reinou 29 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Abia e era filha de Zacarias. Ezequias fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera David, seu antepassado. Tirou os santuários pagãos nas colinas, derrubou os obeliscos, quebrou os vergonhosos ídolos de Achera, destruiu a serpente de bronze que Moisés fizera, pois até então o povo oferecia-lhe incenso queimado, chamando-lhe Neustan, ainda que o rei Ezequias lhes tivesse dito que não passava de uma simples peça de bronze. Confiou no Senhor, o Deus de Israel. Com efeito, não houve nem antes nem depois dele nenhum rei tão fiel ao Senhor. Manteve-se fiel ao Senhor, sem jamais se afastar dele e obedeceu aos mandamentos dados através de Moisés. Por isso, o Senhor esteve sempre com ele, o ajudou e o fez prosperar em tudo. Rebelou-se contra o rei da Assíria e recusou-se a servi-lo. Conquistou terra aos filisteus, até ao limite de Gaza e seus arredores, destruindo povoações, tanto as maiores como as mais pequenas. Foi durante o quarto ano do reinado de Ezequias, que correspondia ao sétimo do reinado de Oseias de Israel, que o rei Salmaneser da Assíria atacou Israel e pôs cerco à cidade de Samaria. Três anos mais tarde, durante o sexto ano do reinado de Ezequias e o nono do rei Oseias de Israel, Samaria cedeu e foi conquistada. O rei da Assíria transportou israelitas para o seu país e organizou colónias para a sua instalação na cidade de Hala e ao longo das margens do rio Habor em Gozã, assim como nas cidades dos medos. Isso aconteceu-lhes porque não quiseram dar ouvidos à palavra do Senhor, seu Deus, de aceitar tudo o que queria que fizessem. Ao contrário, quebraram a aliança estabelecida com Deus e desobedeceram aos mandamentos que Moisés, o servo do Senhor, lhes tinha dado. Mais tarde, no décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaqueribe, rei da Assíria, veio combater contra todas as cidades fortificadas de Judá e tomou-as. O rei Ezequias pediu a paz e enviou uma mensagem ao rei da Assíria em Laquis: “Errei. Estou pronto a pagar o tributo que exigires, contanto que te retires da terra.” O rei assírio pediu então um pagamento de 10 000 quilos de prata e 1000 de ouro. Para juntar todo esse dinheiro, o rei Ezequias serviu-se de prata armazenada no templo e nos cofres do palácio real. Arrancou ainda o ouro que revestia as portas do templo, e o das ombreiras de outras portas que tinham sido revestidas com esse metal precioso, e deu tudo ao rei assírio. Contudo, este último enviou o comandante supremo do seu exército, o tesoureiro real e o mordomo da corte em Laquis, com um grande exército; acamparam junto à estrada principal, ao lado do campo das lavadeiras, perto do aqueduto do reservatório superior. Pediram que o rei Ezequias viesse falar com eles. Então Eliaquim, filho de Hilquias, que era o primeiro-ministro, acompanhado de Sebna, escrivão do rei, e de Joá, filho de Asafe, secretário real, formaram entre si uma comissão que saiu da cidade para se encontrar com o enviado da Assíria. Então o general assírio enviou o seguinte recado ao rei Ezequias: “O poderoso rei da Assíria diz-te que és um louco ao pensares que o rei do Egito te poderá ajudar. Pensas que a estratégia e a valentia militares são apenas uma questão de palavras? Em quem confias para te revoltares contra mim? No Egito? Se te apoias no Egito, vais verificar que essa nação é como um pau que logo se quebra, quando nos apoiamos nele, e que acaba por nos perfurar a mão. O Faraó egípcio não inspira confiança alguma! Talvez também estejas a dizer: ‘Nós confiamos no Senhor, nosso Deus!’ Então não é esse aquele que o vosso rei insultou, deitando abaixo os seus santuários e os altares sobre as colinas, obrigando toda a gente de Judá a adorar em Jerusalém e a usar unicamente o altar do templo? O meu mestre, o rei da Assíria, propõe-vos o seguinte negócio: se conseguirem arranjar 2000 homens, do que ficou de todo o vosso exército, ele dá-vos outros tantos cavalos para que os montem! Assim, como poderás resistir a um oficial do meu senhor, mesmo que seja um dos menores, quando estás confiante que o Egito te fornecerá carros e cavaleiros? Além disso, julgas que vim aqui de minha própria iniciativa? Não. Foi o Senhor quem me disse: ‘Vai destruir essa nação!’ ” Então Eliaquim, filho de Hilquias, Sebna e Joá responderam-lhe: “Pedimos-te que fales em aramaico, porque compreendemos esse idioma. Não uses o hebraico, para que o povo que está sobre as muralhas não perceba.” O general assírio retorquiu: “O meu senhor não me mandou apenas para vos falar a vocês, mas também a essa gente que está em cima da muralha. É que eles estão também condenados a ingerirem o seu próprio esterco e a sua urina!” Logo a seguir, o embaixador levantou a voz e falou, em hebraico, ao povo que ali estava: “Ouçam o que vos diz o grande rei da Assíria: ‘Não se deixem enganar por Ezequias; ele não será capaz de vos livrar do meu poder. Não lhe deem ouvidos, quando vos disser para confiarem no Senhor, e que o Senhor não permitirá que sejam conquistados pelo rei da Assíria!’ Não ouçam Ezequias! Vejam antes o que o rei da Assíria vos oferece: Primeiro, devem trazer-me um presente em sinal de rendição e aliarem-se a mim. Depois, abram todas as portas da cidade e saiam; deixarei que cada família possua a sua própria casa com a sua videira e a sua figueira. Isso até que eu tenha conseguido organizar a vossa ida para uma terra muito semelhante a esta, uma terra de belas cearas e de vinho, terra de pão e de vinhas, terra de oliveiras e de mel, para que lá vivam e não morram. Não deixem que Ezequias vos defraude, garantindo que o Senhor vos livrará dos meus exércitos. Algum dos deuses das outras nações alguma vez conseguiu livrar o seu povo do rei da Assíria? Que foi que aconteceu com os deuses de Hamate, Arpade, Sefarvaim, Hena e Iva? Foram eles capazes de proteger Samaria? Qual foi o deus que, em alguma ocasião, teve poder para preservar uma nação da minha força? O que vos leva a pensar que o Senhor pode salvar Jerusalém?” O povo permaneceu calado e não lhe respondeu uma só palavra, pois Ezequias tinha-lhes dito para nada retorquirem. Então Eliaquim, filho de Hilquias, administrador do palácio, assim como Sebna, escrivão real, e Joá, filho de Asafe, o cronista da corte, voltaram para junto de Ezequias, com as suas vestes rasgadas, em sinal de profunda tristeza, e contaram-lhe tudo o que o general assírio lhes dissera. Quando o rei Ezequias ouviu o relatório que eles lhe fizeram, rasgou a roupa que trazia vestida, cobriu-se com pano de saco e dirigiu-se ao templo para orar. Disse a Eliaquim, a Sebna e a alguns dos sacerdotes mais velhos para se cobrirem igualmente com pano de saco e irem ter com o profeta Isaías, o filho de Amós, com a seguinte mensagem: “O rei Ezequias manda dizer: ‘Hoje foi um dia de angústia, desonra e blasfémia. É como se uma criança estivesse prestes a nascer e a mãe não tivesse forças para dar à luz. Mas pode bem ser que o Senhor, teu Deus, tenha ouvido os insultos provocatórios do general assírio, dirigidos ao Deus vivo, e o castigue. Oh! Pedimos-te que ores pelos poucos de entre nós que ainda restamos!’ ” Esta foi a mensagem que trouxeram a Isaías. Então Isaías respondeu assim: “Digam ao rei Ezequias que o Senhor lhe transmite o seguinte: ‘Não te deixes perturbar por esse discurso do servo do rei da Assíria e pelas suas blasfémias. O rei da Assíria receberá uma notícia em como é requerida, com urgência, a sua presença no país; ele regressará e farei com que o matem ali.’ ” O delegado assírio deixou Jerusalém para ir consultar o seu rei que, entretanto, já tinha deixado Laquis e se encontrava a combater em Libna. Pouco tempo depois, trouxeram ao rei assírio a notícia que o rei Tiraca de Cuche se aproximava para o atacar. Antes de partir, este enviou ainda a seguinte mensagem ao rei Ezequias: “Não te deixes enganar pelo teu Deus em quem confias. Não acredites naquilo que ele te disse que não hei de conquistar Jerusalém. Sabes perfeitamente o que os reis da Assíria fizeram por toda a parte por onde têm andado; têm destruído tudo. Porque é que haveria de ser diferente contigo? Alguma vez os deuses das outras nações as livraram? Nações como Gozã, Harã, Rezefe e Éden, da terra de Telessar, os anteriores reis assírios destruíram-nas a todas! Que foi que aconteceu ao rei de Hamate e ao rei de Arpade? Que aconteceu com os reis de Sefarvaim, Hena e Iva?” Ezequias abriu a carta que os mensageiros lhe entregaram e leu-a. Depois dirigiu-se ao templo e apresentou-a perante o Senhor. E orou ao Senhor do seguinte modo: “Ó Senhor, Deus de Israel, que habitas entre os querubins, só tu és o Deus de todos os povos da Terra! Tu fizeste os céus e a Terra! Ouve a minha súplica. Inclina os teus olhos para mim e ouve a minha oração. Vê esta carta do rei Senaqueribe, uma autêntica afronta a ti, o Deus vivo! É verdade, ó Senhor, que os reis da Assíria têm destruído essas nações, como diz a carta. Queimaram os seus ídolos, mas não eram deuses nenhuns! Foram destruídos porque eram meros objetos fabricados por homens com madeira e pedra. Agora, ó Senhor, nosso Deus, imploramos-te que nos salves do seu poder e então todos os soberanos da Terra saberão que só tu, Senhor, és Deus!” Então Isaías, o filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: “O Senhor, o Deus de Israel, diz o seguinte: ‘Esta é a minha resposta à tua oração sobre Senaqueribe, o rei da Assíria: Ouvi a tua oração! Esta é a resposta que dou ao rei Senaqueribe: A virgem, a filha de Sião, não tem medo de ti! A filha de Jerusalém ri-se francamente de ti. Viste bem quem é que desafiaste e quem é que insultaste? Dás-te conta de para quem ousaste levantar os olhos com arrogância? Foi para o Santo Deus de Israel! Vanglorias-te, dizendo: “Os meus carros de guerra conquistaram as mais poderosas fortalezas! Sim, nem os mais altos cimos do Líbano são inexpugnáveis para mim! Deitei abaixo cedros gigantes e ciprestes maravilhosos! O meu domínio estende-se às fronteiras mais longínquas! Refresquei-me e matei a sede nos mais variados cursos de água de terras estranhas! Destruí a força do Egito com a planta dos pés!” Ainda não compreendeste que fui eu quem decidiu, há muito tempo, que tudo isso acontecesse e que fui eu quem te deu todo esse poder e que fiz com que tudo se realizasse segundo o que tinha planeado? Os meus planos eram precisamente que derrubasses cidades fortemente muradas e as tornasses em montões de ruínas. Eis a razão por que as nações que conquistaste não tiveram poder para te resistir, antes se fizeram como a erva do campo, murchando debaixo dum calor ardente, como trigo que se queima antes de ficar maduro. Eu conheço-te muito bem; estou ao corrente de todas as tuas idas e vindas, de tudo o que fazes; vi bem a tua raiva contra mim. Por causa da arrogância que mostraste a meu respeito, vou pôr-te um gancho no nariz, um freio nos dentes e fazer-te dar meia volta no caminho em que vieste.’ ” Então Deus disse a Ezequias: “Esta será a prova em como sou eu mesmo quem está a libertar a vossa cidade das mãos do rei da Assíria: Ainda este ano ele levantará o cerco e, mesmo que seja já demasiado tarde para a sementeira, o grão que nasceu espontaneamente neste outono dar-te-á bastante semente para obteres uma colheita reduzida no próximo ano. Daqui a dois anos já poderão semear e ceifar o vosso trigo, e plantar vinhas e fazer a vindima. Os que foram deixados em Judá tomarão de novo raízes no vosso próprio solo; florescerão e se mulplicarão. Porque sairá um resto de Jerusalém e do monte Sião para repovoar a terra. É o zelo do Senhor dos exércitos que fará com que tudo isto aconteça! Quanto ao rei da Assíria, o seu exército não chegará a entrar em Jerusalém, nem disparará ali as suas armas, nem mesmo desfilará perante as suas portas, nem sequer construirá uma torre para poder atacar as suas muralhas. Regressará à sua terra pelo caminho por onde veio, sem ter penetrado na cidade, diz o Senhor. Eu defenderei e salvarei esta cidade, por causa do meu nome e por causa do meu servo David!” Nessa mesma noite, o anjo do Senhor veio até ao campo dos assírios e matou 185 000 soldados das tropas assírias. Pela manhã, viam-se corpos mortos estendidos por toda a parte. Então o rei Senaqueribe da Assíria regressou a Nínive. Um dia, enquanto adorava no templo do deus Nisroque, os seus filhos Adrameleque e Sarezer mataram-no à espada, fugindo em seguida para a terra de Ararat. O seu filho Esar-Hadom ascendeu ao trono. Ezequias adoeceu gravemente, ficando às portas da morte. O profeta Isaías veio visitá-lo. “Põe todos os teus assuntos em ordem”, disse-lhe Isaías, “e prepara-te para morreres. O Senhor manda dizer-te que não recuperarás a saúde.” Ezequias voltou-se para o lado da parede e orou assim ao Senhor: “Ó Senhor, lembra-te de como eu tenho sido honesto e sincero contigo e como procurei obedecer a tudo o que tens dito!” E começou a chorar intensamente. Antes que o profeta tivesse deixado o pátio do palácio, o Senhor tornou a falar-lhe: “Volta para trás e vai ter com Ezequias, o chefe do meu povo; diz-lhe que o Senhor, o Deus do seu antepassado David, ouviu a sua oração e viu as lágrimas que verteu. Curá-lo-ei; daqui a três dias levantar-se-á da cama e estará no templo! Acrescentarei 15 anos à sua vida e salvarei esta cidade do rei da Assíria. Tudo isto será feito para glória do meu próprio nome e por amor do meu servo David.” Isaías mandou preparar uma pomada de figos e aplicou-a sobre a chaga do rei. E ele sarou. Entretanto, o rei Ezequias perguntou a Isaías: “Que sinal me dará o Senhor como prova de que me curará e de que estarei em condições de ir ao templo daqui a três dias?” Isaías respondeu: “O Senhor vai dar-te uma prova. O que é que preferes? Que a sombra do relógio de Sol avance 10 graus ou que recue 10 graus?” “A sombra avançar, isso é o seu movimento normal. Faz com que ela recue.” Então o profeta Isaías pediu ao Senhor que fizesse isso e, com efeito, a sombra recuou 10 graus no relógio de sol de Acaz! Pouco tempo depois, Merodaque-Baladã, filho do rei Baladã da Babilónia, enviou embaixadores com cartas e um presente a Ezequias, porque tinha ouvido dizer que estivera muito doente. Ezequias apreciou muito este gesto e concedeu-lhes uma audiência, na qual levou os delegados da Babilónia a visitar o seu palácio, mostrando-lhes inclusivamente a casa do tesouro, cheia de peças de prata e de ouro, de especiarias raras e dos melhores perfumes. Levou-os ainda à casa das armas e mostrou-lhes tudo; não lhes escondeu nada; abriu-lhes todas as portas. Então o profeta Isaías foi ter com o rei e disse-lhe: “Donde vieram esses homens? Que foi que te disseram?” Ezequias respondeu: “Vieram de muito longe! Vieram da Babilónia!” “Que foi que eles viram do teu palácio?”, perguntou Isaías. “Viram tudo! Mostrei-lhes todos os meus tesouros.” “Ouve-me!”, disse-lhe Isaías. “Dá atenção à palavra do Senhor: Há de vir a altura em que tudo neste palácio será transportado para a Babilónia. Todos os tesouros dos teus antepassados serão levados; nada ficará aqui. Alguns dos teus filhos até serão feitos escravos. Sim, eunucos do palácio do rei da Babilónia.” “Essa é uma boa notícia da parte do Senhor ”, respondeu Ezequias. É que pensou: “Pelo menos, haverá paz e segurança durante a minha vida!” Os outros acontecimentos da história de Ezequias e os seus feitos, incluindo o poço e a conduta que mandou construir para trazer água à cidade, estão escritos no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Quando faleceu, o seu filho Manassés ascendeu ao trono. Manassés tinha apenas 12 anos quando começou a reinar. Reinou durante 55 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Hafzibá. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, cometendo as mesmas abominações que as nações que o Senhor tinha desterrado para dar lugar a Israel. Chegou ao ponto de sacrificar um dos seus próprios filhos num holocausto. Praticou adivinhação e feitiçaria, consultou médiuns e adivinhos. Por isso, o Senhor se irou grandemente, pois Manassés foi um homem perverso perante o Senhor. Pôs um ídolo de Achera no templo, no lugar acerca do qual o Senhor tinha dito a David e a Salomão: “Colocarei para sempre o meu nome neste templo e em Jerusalém, a cidade que escolhi entre todas as tribos de Israel. Se o povo de Israel simplesmente cumprir os meus mandamentos, dados por intermédio de Moisés, nunca o expulsarei desta terra que dei aos seus antepassados.” O povo não quis prestar ouvidos ao Senhor e Manassés permitiu que se endurecessem e fizessem ainda pior do que as nações vizinhas, apesar do Senhor as ter destruído, justamente por causa das suas práticas perversas, e ter dado a sua terra ao povo de Israel. Então o Senhor declarou pelos profetas: “Visto que o rei Manassés fez todas estas coisas horríveis e se tornou pior até do que os amorreus, que aqui habitaram, e visto que levou o povo de Judá à idolatria, trarei sobre Jerusalém e sobre Judá calamidades tais que hão de fazer estremecer os ouvidos dos que as ouvirem contar. Castigarei Jerusalém com a mesma medida que usei para Samaria e como fiz com o rei Acabe. Será assolada à semelhança de alguém que lava um prato muito bem, de todos os seus restos, e o vira para ficar a secar. Até aqueles que restarem do meu povo, também a esses rejeitarei e os entregarei aos seus inimigos e serão saqueados. Pois cometeram grandes pecados e suscitaram a minha ira, desde que tirei os seus antepassados do Egito.” Para além de ter conduzido o povo à prática da idolatria, a qual o Senhor odiava, Manassés assassinou um grande número de pessoas inocentes do povo. Jerusalém ficou repleta, duma ponta à outra, dos corpos das suas vítimas. O resto da história de Manassés está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Quando morreu, foi enterrado no jardim do palácio de Uzá. O seu filho Amom ocupou o seu lugar no trono. O novo rei de Judá foi Amom. Tinha a idade de 22 anos quando começou a reinar. O seu reinado durou apenas 2 anos, tendo como capital Jerusalém. A sua mãe chamava-se Mesulemete e era filha de Haruz, de Jotba. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, tal como o seu pai Manassés. Imitou-o em tudo: prestou culto aos mesmos ídolos e serviu-os. Voltou as costas ao Senhor, o Deus dos seus antepassados, e não andou segundo o caminho do Senhor. Os seus colaboradores conspiraram contra ele e mataram-no no palácio. Contudo, uns quantos cidadãos resolveram fazer justiça por suas mãos, matando aqueles que o tinham assassinado, declarando o seu filho Josias rei da nação. O resto dos acontecimentos da vida deste rei está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Foi enterrado numa sepultura no jardim de Uzá. O seu filho Josias reinou em seu lugar. O novo rei de Judá foi Josias. Começou a reinar com a idade de 8 anos e reinou durante 31 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Jedida e era filha de Adaías, de Bozcate. Fez o que era reto aos olhos do Senhor; andou nos caminhos de David, seu antepassado; nunca se afastou deles. No décimo oitavo ano do seu reinado, o rei Josias mandou o seu secretário Safã, filho de Azalias e neto de Mesulão, ao templo. “Vai ter com o sumo sacerdote Hilquias e diz-lhe que mande contar o dinheiro que o povo dá para o templo e que é recolhido pelos sacerdotes que estão a guardar a porta do templo. Não se pedia contas do dinheiro entregue aos encarregados das obras, porque eram pessoas que atuavam com a máxima honestidade. Um dia, Hilquias, o sumo sacerdote, foi ter com Safã, o secretário real: “Descobri no templo o livro da Lei de Deus!” E deu o livro a Safã e ele leu-o. Quando este foi em audiência ao rei, apresentar o relatório do andamento das obras de reparação do templo, fez também menção do livro que Hilquias tinha achado e leu-o diante do rei. Ao ouvir as palavras que estavam escritas, o rei rasgou a roupa que tinha vestida, em sinal de profunda consternação. Mandou a Hilquias, o sacerdote, a Safã, a Asaías, assistente do rei, a Aicão, filho de Safã, e a Acbor, filho de Micaías, que perguntassem ao Senhor: “Que devemos fazer? Porque as palavras deste livro são bem explícitas quanto às razões por que a grande ira do Senhor caiu sobre nós, pois os nossos antepassados não obedeceram aos mandamentos escritos neste livro.” Então Hilquias, o sumo sacerdote, e os homens referidos foram ter com Hulda, a profetisa, ao bairro de Misné, em Jerusalém. Esta profetisa era mulher de Salum, o filho de Ticvá e neto de Harás, que estava encarregado do guarda-roupa real. Quando lhe contaram a causa da perturbação do rei, respondeu: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Digam ao homem que vos enviou, que vou destruir esta cidade e a sua população, como está escrito no livro que leste. Pois o povo de Judá abandonou-me, queimou incenso a outros deuses e tornou a minha ira tão intensa, por causa da obra das suas mãos, que o meu furor contra este lugar não poderá ser sustido. Mas vão ter com o rei de Judá, que vos enviou a buscar ao Senhor, e transmitam-lhe: o que o Senhor Deus de Israel vos diz a respeito da mensagem que ouviram é o seguinte: Visto que te entristeceste e te humilhaste diante do Senhor, quando leste o livro e os seus avisos de que esta terra haveria de ser amaldiçoada e se tornaria desolada, e visto que rasgaste a tua roupa, chorando perante mim de tristeza, darei ouvidos aos teus rogos. Só enviarei o mal que prometi sobre esta cidade após a tua morte.’ ” Foi esta a mensagem que levaram ao rei. O rei mandou chamar os anciãos de Judá e de Jerusalém para irem com ele ao templo. Todos os sacerdotes, os profetas e o povo, desde o maior até ao mais pequeno, tanto de Jerusalém como de Judá, se reuniram no templo, para que o rei lhes lesse todas as palavras da aliança que Deus estabelecera com o seu povo, do livro que fora achado no templo. Ele ficou de pé, ao lado da coluna que está diante do povo e, tanto ele como o povo, renovaram a aliança com o Senhor, em como obedeceriam à sua palavra, guardariam os seus mandamentos, preceitos e decretos, e obedeceriam ao Senhor com todo o seu coração e com toda a sua alma. O rei deu instruções a Hilquias, o sumo sacerdote, aos sacerdotes e guardas do templo para destruírem todo o mobiliário e material que serviu para o culto prestado a Baal, a Achera, ao Sol, à Lua e às estrelas. O rei queimou tudo nos terrenos do vale de Cedron, fora de Jerusalém, e levou as cinzas para Betel. Também matou os sacerdotes do culto idólatra, nomeados para tal pelos anteriores reis de Judá, pois tinham queimado incenso nos santuários pagãos, em toda a terra de Judá e mesmo em Jerusalém. Também esses tinham oferecido incenso a Baal, ao Sol, à Lua, às estrelas e aos planetas. Também pôs fora da casa do Senhor o ídolo blasfemo de Achera e levou-o para Jerusalém, para o ribeiro de Cedron; queimou-o ali e desfê-lo em pó, lançando as cinzas nas sepulturas do povo comum. Mandou derrubar as casas dos homens prostitutos em volta do templo, onde as mulheres faziam roupa em honra da deusa Achera. Tornou a mandar vir para Jerusalém os sacerdotes de Deus, que viviam noutras cidades de Judá, e destruiu todos os santuários pagãos onde se queimava incenso aos ídolos, mesmo os que estavam muito distantes, como em Geba e em Berseba. Destruiu igualmente os santuários pagãos à entrada do palácio de Josué, o antigo governador da cidade de Jerusalém, à esquerda de quem entra pela porta da cidade. Contudo, os sacerdotes desses santuários nunca serviram no altar do Senhor em Jerusalém, ainda que comessem pães sem fermento com os outros sacerdotes. Também deitou abaixo o altar erigido a Tofete no vale de Ben-Hinom, de forma a que nunca mais ninguém ali pudesse oferecer em holocausto o seu filho ou filha como sacrifício a Moloque. Mandou destruir igualmente as estátuas de cavalos e os carros localizados perto da entrada do templo, nas proximidades da residência de Natã-Meleque, o eunuco. Essas figuras tinham sido dedicadas, por anteriores reis de Judá, ao deus do Sol. Fez o mesmo com os altares que os reis de Judá tinham feito erguer nos terraços da sala de Acaz. Os altares que Manassés levantara nos pátios do templo esmagou-os, despedaçando-os e lançando-os depois no vale de Cedron. Seguidamente, tirou os santuários pagãos a oriente de Jerusalém e a sul do monte da Corrupção. Salomão tinha feito erguer esses santuários a Astarote, a abominável deusa dos sidónios, e a Quemós, o deus execrável de Moabe, e também a Milcom, o deus abominável dos amonitas. Fez desaparecer os obeliscos e os vergonhosos ídolos de Achera; tornou esses terrenos imundos, espalhando neles ossos de cadáveres. Fez o mesmo com o altar e os santuários pagãos de Betel, que Jeroboão I, filho de Nebate, mandara edificar e que levaram Israel a pecar dessa maneira. Desfez essas pedras e queimou o repugnante ídolo de Achera. Enquanto ia observando a situação no território, Josias reparou em vários túmulos perto da montanha. Deu ordens aos seus homens que tirassem dali os ossos e que os queimassem sobre o altar de Betel, para o tornar impuro, tal como o homem de Deus tinha declarado, em nome do Senhor, que haveria de acontecer ao altar de Jeroboão. “Que monumento é aquele ali?”, perguntou. A gente da cidade respondeu-lhe: “É o túmulo do homem de Deus que veio de Judá e proclamou que haveria de acontecer aquilo que acabaste justamente de fazer com o altar de Betel!” “Não mexam então nessa sepultura; deixem-na ficar assim!”, ordenou. E deixaram os ossos como estavam, mais os ossos dos profetas que vieram de Samaria. Josias demoliu ainda os santuários pagãos de Samaria. Tinham sido erguidos por vários reis de Israel e suscitado grandemente a ira do Senhor. Desfê-los em pó, tal como fizera com o altar em Betel. Mandou que os sacerdotes idólatras dos santuários pagãos fossem executados sobre os altares e queimou ossos humanos sobre eles para os tornar impuros. Finalmente, regressou a Jerusalém. O rei deu ordens para todo o povo, dizendo: “Celebrem a Páscoa ao Senhor, vosso Deus, exatamente como está escrito neste livro da aliança.” Não tinha havido comemoração da Páscoa semelhante a essa desde os dias dos juízes de Israel, e nunca mais houve outra assim em todos os anos dos reis de Israel e Judá. Esta Páscoa teve lugar no décimo oitavo ano do reinado de Josias e foi celebrada em Jerusalém, em honra do Senhor. Josias também mandou exterminar os médiuns, os adivinhos e toda a espécie de culto abominável e idólatra, tanto em Jerusalém como em toda a terra. Porque Josias estava decidido a cumprir as palavras e os mandamentos escritos no livro que o sacerdote Hilquias encontrara no templo. Não houve outro rei que se tivesse convertido tão completamente ao Senhor e tivesse sido tão cumpridor da Lei dada por Moisés; nenhum outro rei depois dele foi tão obediente. Contudo, o Senhor não afastou a sua grande ira de Judá, devido aos graves pecados do rei Manassés. Porque o Senhor dissera: “Destruirei Judá como fiz com Israel; rejeitarei a minha cidade escolhida de Jerusalém e o templo que disse que seriam meus.” O resto da biografia de Josias está escrito no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Nesses dias o rei Neco do Egito atacou o rei da Assíria, junto ao rio Eufrates, e Josias declarou-lhe guerra. Neco matou Josias em Megido, logo que ali chegou. Os seus chefes militares trouxeram o seu corpo para Jerusalém e colocaram-no na sepultura que escolhera. O seu filho Jeoacaz foi escolhido pelo povo para ser o novo rei. O novo rei de Judá foi Jeoacaz. Quando começou a reinar tinha 23 anos. O seu reinado em Jerusalém durou três meses. A sua mãe chamava-se Hamutal e era filha de Jeremias, de Libna. Foi um mau rei. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, à semelhança de tudo o que de mal tinham feito os seus antecessores. O Faraó Neco mandou-o prender em Ribla, na terra de Hamate, para impedir que reinasse, e impôs um tributo a Judá de 3400 quilos de prata e 34 quilos de ouro. O soberano egípcio escolheu Eliaquim, um outro filho de Josias, para reinar em Jerusalém, mudando-lhe o nome para Joaquim. Levou depois o rei Jeoacaz para o Egito, onde morreu. Joaquim estabeleceu um imposto sobre o povo para obter o dinheiro que o Faraó exigia. O novo rei de Judá foi Joaquim. Tinha 25 anos quando começou a reinar e reinou 11 anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era Zebida e era filha de Pedaías, de Ruma. Tal como outros reis anteriores, fez o que era mau aos olhos do Senhor. Durante o reinado do rei Joaquim, Nabucodonozor, rei da Babilónia, atacou Jerusalém. Joaquim rendeu-se e teve de pagar-lhe tributo durante três anos; depois rebelou-se. O Senhor enviou bandos de caldeus, arameus, moabitas e amonitas contra Judá, a fim de destruir a nação, tal como o Senhor tinha avisado pela boca dos seus profetas que aconteceria. Não havia dúvida de que estes ataques caíam sobre Judá mandados pelo Senhor que decidira castigar duramente Judá, varrê-lo para longe da sua vista, devido aos muitos pecados de Manassés. Pois tinha enchido Jerusalém de sangue e, por isso, o Senhor não quis perdoá-lo. O resto dos acontecimentos da vida de Joaquim está relatado no Livro das Crónicas dos Reis de Judá. Quando morreu, o seu filho Jeconias subiu ao trono em seu lugar. O Faraó egípcio nunca mais saiu da sua terra, porque o rei da Babilónia ocupou toda a região que tinha sido dominada pelo Egito, toda a terra de Judá, desde o ribeiro do Egito até ao rio Eufrates. O novo rei de Judá foi Jeconias. Tinha 18 anos quando começou a reinar e reinou 3 meses em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Neusta e era filha de Elnatã, de Jerusalém. Foi um mau reinado aos olhos do Senhor, tal como o do seu pai. Durante o seu reinado, os exércitos do rei da Babilónia cercaram a cidade de Jerusalém. O próprio Nabucodonozor chegou a Jerusalém durante o cerco. O rei Jeconias, com todo o seu estado maior e os responsáveis pela administração do reino e a rainha mãe tiveram de render-se. Jeconias foi feito prisioneiro e enviado para a Babilónia, durante o oitavo ano do reinado de Nabucodonozor. Os babilónios levaram todos os tesouros do templo e do palácio real. Quebraram os vasos de ouro que o rei Salomão de Israel tinha colocado no templo por indicação do Senhor. O rei Nabucodonozor levou 10 000 cativos de Jerusalém, incluindo as altas individualidades, guerreiros de elite, comerciantes e artesãos. Apenas os mais pobres de entre o povo e os que não tinham profissão foram deixados na sua terra. Nabucodonozor levou assim o rei Jeconias, as suas mulheres, os chefes da administração pública e a rainha mãe para a Babilónia. Também transferiu 7000 dos melhores soldados do exército e 1000 carpinteiros e ferreiros, todos gente capaz e forte para a guerra. O rei da Babilónia nomeou como rei o tio de Jeconias, chamado Matanias, mudando o seu nome para Zedequias. Zedequias tinha 21 anos quando se tornou rei e reinou 11 anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era Hamutal, filha de Jeremias de Libna. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme os atos anteriormente praticados por Joaquim. As coisas tornaram-se muito más em Jerusalém e em Judá, por causa da ira do Senhor, e ele os baniu da sua presença. Zedequias revoltou-se contra o rei da Babilónia. O rei Nabucodonozor da Babilónia mobilizou todo o seu exército e pôs cerco a Jerusalém, chegando ali no dia 10 do décimo mês, do nono ano do reinado de Zedequias, rei de Judá. O cerco manteve-se até ao décimo primeiro ano do seu reinado. No dia 9 do quarto mês, tinham-se esgotado completamente os mantimentos e a fome apertava a cidade. Nessa noite, o rei e os seus cabos de guerra fizeram um buraco na muralha da cidade e conseguiram escapar-se em direção à campina de Arabá, através da porta que ficava entre a dupla muralha, perto do jardim do rei. As tropas dos caldeus que rodeavam a cidade puseram-se em perseguição e capturaram-no nas campinas de Jericó. No entanto, todos os seus homens conseguiram escapar. O rei foi feito prisioneiro em Ribla, onde o interrogaram e sentenciaram perante o rei da Babilónia. Os filhos de Zedequias foram mortos na sua presença; depois arrancou-lhe os olhos e mandou-o amarrado com cadeias para a Babilónia. Nebuzaradão, comandante da guarda, chegou a Jerusalém, vindo da Babilónia, no sétimo dia do quinto mês, do décimo nono ano do reinado de Nabucodonozor. Pôs fogo ao templo e ao palácio real, e a todas as casas de maior importância, e mandou os soldados deitar abaixo as muralhas da cidade. A população da cidade e os judeus desertores, que tinham declarado a sua fidelidade ao rei da Babilónia, foram levados para a Babilónia. Mas o comandante da guarda deixou alguns outros, dos mais miseráveis do povo, para colherem os frutos dos campos, e como vinhateiros e lavradores. Os caldeus derrubaram os dois grandes pilares de bronze, que estavam à entrada do templo do Senhor, assim como as suas bases, mais o mar de bronze, e carregaram todo esse bronze para a Babilónia. Levaram igualmente todos os recipientes, pás, perfumadores e bacias, e outros utensílios de bronze usados no serviço do templo. Foram também retirados de lá os incensários e também as bacias de ouro e de prata com tudo o que havia em ouro puro e prata maciça. Era impossível fazer uma estimativa do peso dos dois enormes pilares e do mar, com a suas bases, tudo feito para o templo pelo rei Salomão, pois eram extremamente pesados. Cada um dos pilares media 9 metros de altura, com uma intrincada rede em bronze, de romãs decorativas, nos capitéis de metro e meio no alto dos pilares. O comandante da guarda levou Seraías, o sumo sacerdote, o seu assistente Sofonias e os três guardas do templo cativos. Um comandante do exército de Judá, o chefe dos serviços de recrutamento do exército, cinco dos conselheiros do rei e sessenta fazendeiros, todos eles descobertos ainda na cidade, foram levados pelo comandante da guarda, Nebuzaradão, ao rei da Babilónia, em Ribla. Ali foram executados à espada, na terra de Hamate. Assim, Judá foi exilado da sua terra. O rei Nabucodonozor nomeou Gedalias, filho de Aicão e neto de Safã, como governador da terra e sobre o povo que ali foi permitido ficar. Quando as forças militares israelitas souberam que o rei da Babilónia tinha nomeado Gedalias como governador, alguns chefes que viviam no anonimato, mais os seus homens, juntaram-se a ele em Mizpá. Neste número encontram-se Ismael, filho de Netanias, Joanã, filho de Careá, Seraías, filho de Tanumete, o netofatita, e Jazanias, filho de maacatita, com os seus homens. Gedalias assegurou-lhes que seria mais seguro submeterem-se aos caldeus. “Fiquem aqui, sirvam o rei da Babilónia e tudo o resto vos correrá bem.” Mas no sétimo mês daquele ano, Ismael, filho de Netanias e neto de Elisama, que era membro da família real, foi a Mizpá com dez homens e matou Gedalias e os seus conselheiros, tanto os que eram judeus como os que tinham nacionalidade caldeia. Então todos os homens de Judá e os oficiais do exército fugiram em pânico para o Egito, porque estavam com receio das represálias que o rei da Babilónia viesse a exercer sobre eles. No trigésimo sétimo ano, após a prisão na Babilónia de Jeconias, rei de Judá, Evil-Merodaque, que se tornou rei da Babilónia nesse ano, mostrou-se generoso para com o rei Jeconias e tirou-o da prisão no dia 27 do décimo segundo mês. Falou-lhe gentilmente e deu-lhe até preferência em relação a todos os outros reis que estavam na Babilónia. Foi ainda dada a Jeconias a possibilidade de trocar a sua roupa de prisioneiro, dando-lhe roupa nobre, e assim assentou-se à mesa do rei. E isso todo o resto do tempo da sua vida. O rei também lhe concedeu uma pensão diária, para que pudesse atender às necessidades quotidianas, o resto da sua vida. Estas são as mais antigas gerações da humanidade: Adão, Sete, Enos, Quenã, Malaliel, Jarede, Enoque, Metusalém, Lameque, Noé, Sem, Cam e Jafete. Os filhos de Jafete foram: Gomer, Magogue, Madai, Javã, Tubal, Meseque e Tiras. Os filhos de Gomer: Asquenaz, Rifat e Togarma. Os filhos de Javã: Elisá, Társis, Quitim e Dodanim. Os filhos de Cam foram: Cuche, Mizraim, Pute e Canaã. Os filhos de Cuche: Seba, Havila, Sabta, Rama e Sabteca. Os filhos de Ramá: Sabá e Dedã. Um dos descendentes de Cuche foi Nimrode que se tornou um dos homens mais poderosos da Terra. As famílias que descenderam de Mizraim foram os ludeus, anameus, leabeus, naftueus, patruseus e caslueus, de onde descenderam os filisteus e os caftoreus. Entre os descendentes de Canaã contam-se Sídon, o seu filho primogénito, e Hete. Canaã foi também o antepassado dos jebuseus, amorreus, girgaseus, heveus, arqueus, sineus, arvadeus, zemareus e hamateus. Os filhos de Sem foram: Elão, Assur, Arfaxade, Lude, Aram, Uz, Hul, Geter, Meseque. Arfaxade gerou Sala e este gerou Eber. Eber teve dois filhos: Pelegue, porque foi durante a sua vida que os povos de todo o mundo começaram a separar-se e a dispersar-se, e Joctã. Os filhos de Joctã foram Almodade, Selefe, Hazarmavet, Jera, Hadorão, Uzal, Dicla, Ebal, Abimael, Sabá, Ofir, Havila e Jobabe. Um dos filhos de Sem foi Arfaxade, cujos descendentes foram: Sala, Eber, Pelegue, Reu, Serugue, Naor, Tera, Abrão, cujo nome foi mudado para Abraão. Os filhos de Abraão foram Isaque e Ismael. Ismael teve os seguintes filhos: Nabaiote, Quedar, Adbeel, Mibsão, Misma, Dumá, Massá, Hadad, Tema, Jetur, Nafis e Quedmá. Abraão teve da sua concubina Quetura: Zimrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque e Suá. Os filhos de Jocsã foram: Sabá e Dedã. Os filhos de Midiã: Efá, Efer, Enoque, Abida e Eldá. Estes foram os seus descendentes por parte de Quetura. Isaque, o filho de Abraão, teve dois filhos: Esaú e Israel. Os filhos de Esaú foram: Elifaz, Reuel, Jeús, Jalam e Coré. Os filhos de Elifaz: Temã, Omar, Zefô, Gaetã, Quenaz e Amaleque, cuja mãe era Timna. Os filhos de Reuel: Naate, Zera, Samá e Mizá. Seir teve também outros filhos: Lotã, Sobal, Zibeão, Aná, Disom, Eser e Disã. Teve igualmente uma filha chamada Timna. Os filhos de Lotã foram Hori e Homã. Os filhos de Sobal: Alvã, Manaate, Ebal, Sefô e Onã. Zibeão teve os seguintes filhos: Aia e Aná. Aná teve um filho: Disom. Os filhos de Disom: Hamran, Esbã, Itrã e Querã. Os filhos de Eser: Bilã, Zaavã e Jaacã. Os filhos de Disã: Uz e Aram. A seguir, dá-se uma lista dos reis de Edom que reinaram antes dos reis de Israel dominarem a terra: Bela, filho de Beor, que viveu na cidade de Dinabá. Quando Bela morreu, reinou em seu lugar Jobabe, filho de Zera, originário de Bozra. Quando Jobabe faleceu, tornou-se rei Husão, da terra dos temanitas. Depois de Husão, tomou o trono Hadade, o filho de Bedade, o qual destruiu os exércitos dos midianitas nos campos de Moabe. O nome da sua cidade era Avite. Após Hadade, tomou o seu lugar Samela de Masreca. Quando Samela morreu, subiu ao trono Saul, da cidade de Reobote, junto ao rio Eufrates. Saul morreu e substituiu-o no trono Baal-Hanã, filho de Acbor. Após o falecimento de Baal-Hanã, começou a reinar Hadade, que tinha o seu trono na cidade de Paú, e era casado com Metabel, filha de Matrede e neta de Mezaabe. Falecido Hadade, os reis de Edom foram os seguintes: clã de Timna, clã de Alva, clã de Jetete, clã de Aolibama, clã de Elá, clã de Pinom, clã de Quenaz, clã de Temã, clã de Mibzar, clã de Magdiel e clã de Irã. Os filhos de Israel foram: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulão, Dan, José, Benjamim, Naftali, Gad e Aser. Judá teve três filhos da filha de Suá, a cananeia: Er, Onã e Sela. Mas Er, o mais velho, fez o que era mau aos olhos do Senhor, pelo que lhe tirou a vida. Então a viúva de Er, Tamar, e o seu sogro Judá foram pais de dois gémeos: Perez e Zera. Portanto, os filhos de Judá acabaram por ser cinco. Os filhos de Perez foram: Hezrom e Hamul. Os filhos de Zera foram: Zimri, Etã, Hemã, Calcol e Dara. Acã, filho de Carmi, foi o homem que roubou a Deus, trazendo grande perturbação ao povo de Israel. Etã teve um filho: Azarias. Os filhos de Hezrom foram: Jerameel, Rão e Quelubai. Rão foi pai de Aminadabe e este foi pai de Nassom, líder de Israel. Nassom gerou Salmom, o qual foi pai de Boaz. Este foi pai de Obede e Obede de Jessé. Jessé teve como primogénito Eliabe e depois Abinadabe, Simeia, Netanel, Radai, Ozem e David. Teve também duas irmãs que se chamavam Zeruía e Abigail. Zeruía teve os seguintes filhos: Abisai, Joabe e Asael. Abigail, que casou com Jéter, originário da terra de Ismael, teve um filho chamado Amasa. Calebe, filho de Hezrom, teve duas mulheres: Azuba e Jeriote. Os filhos de Azuba foram: Jeser, Sobabe, Ardom. Após a morte de Azuba, Calebe casou-se com Efrata, que lhe deu um filho: Hur. Hur teve um filho a quem chamou Uri e o filho deste último foi Bezalel. Hezrom casou-se com a filha de Maquir, tendo ele a idade de 60 anos, e ela deu-lhe um filho que tinha o nome de Segube. Maquir foi também o pai de Gileade. Segube foi pai de Jair, que governou sobre vinte e três povoações na terra de Gileade. Gesur e Aram tomaram-lhe essas localidades e ainda Quenate, mais as sessenta povoações ao redor. Depois que Hezrom morreu em Calebe-Efrata, Abias, mulher de Hezrom, deu-lhe Acheúr, fundador de Tecoa. São estes os filhos de Jerameel, o filho mais velho de Hezrom: Rão, o primogénito, Buna, Orem, Ozem, Aías. Atara, a segunda mulher de Jerameel, foi mãe de Onã. Os filhos de Rão foram: Maaz, Jamim e Equer. Os filhos de Onã: Samai e Jada. Samai teve: Nadabe e Abisur. Os filhos de Abisur e de sua mulher Abiail foram: Abã e Molide. Os filhos de Nadabe foram: Selede e Apaim. Selede faleceu sem ter filhos. Apaim teve um filho chamado Isi; Sesã foi filho de Isi; e Alai foi filho de Sesã. Jada, irmão de Samai, teve dois filhos: Jeter e Jónatas. Jeter faleceu sem filhos. Jónatas teve dois filhos chamados Pelete e Zaza. Este gerou Eflal, que por sua vez foi pai de Obede. O filho de Obede chamou-se Jeú e Jeú foi pai de Azarias. Azarias gerou Helez; o filho de Helez chamou-se Elasá. Elasá foi pai de Sismai; Sismai foi pai de Salum. Salum foi pai de Jecamias e Jecamias de Elisama. O filho mais velho de Calebe, irmão de Jerameel, foi Messa; este foi pai de Zife, o qual gerou Maressa, o pai de Hebrom. Foram os seguintes os descendentes de Hebrom: Coré, Tapua, Requem e Sema. Sema foi pai de Raão e avô de Jorqueão. Requem foi pai de Samai. Samai teve um filho chamado Maom, o qual foi pai de Bete-Zur. Efá, a concubina de Calebe, gerou-lhe Harã, Moza e Gazez; Harã teve um filho chamado Gazez. Os descendentes de Jadai foram: Regem, Jotão, Gesã, Pelete, Efá e Saafe. Outra das concubinas de Calebe, Maacá, gerou-lhe Seber, Tiraná, Saafe, que foi pai de Madmana, e Seva, pai de Macbena e de Gibeá. Calebe teve também uma filha que se chamou Acsa. Os filhos de Hur, que foi o filho mais velho de Calebe e Efrata, foram: Sobal, que foi pai de Quiriate-Jearim; Salma, pai de Belém, e Harefe, pai de Bete-Gader. Os filhos de Sobal incluíram Quiriate-Jearim e Haroé, o antepassado de metade da tribo de Manaate. As famílias de Quiriate-Jearim foram os itreus, os puteus, os sumateus e os misraeus, de quem descendem os zorateus e os estaoleus. Os descendentes de Salma foram o seu filho Belém, os netofatitas, Atarote-Bete-Joabe, metade dos manaatitas e os zoritas. Incluíam igualmente as famílias dos escribas que viviam em Jabez, os tiratitas, os simeatitas e os sucatitas; todos estes são queneus que descenderam de Hamate, o pai da família de Recabe. São estes os filhos que naceram a David, quando estava a viver em Hebrom. O filho mais velho do rei David foi Amnom, que lhe nasceu da sua mulher Ainoã, a jezreelita. O segundo foi Daniel, cuja mãe foi Abigail, do Carmelo. O terceiro foi Absalão, filho de sua mulher Maacá, a qual era filha de Talmai, rei de Gesur. O quarto, foi Adonias, filho de Hagite. O quinto, Sefatias, filho de Abital. O sexto, Itreão, filho de sua mulher Egla. Estes seis nasceram-lhe em Hebrom, onde reinou sete anos e meio. Depois foi viver para Jerusalém, que passou a ser a capital do reino, e onde permaneceu durante 33 anos. Em Jerusalém, a sua mulher Bate-Seba, filha de Amiel, deu à luz Simeia, Sobabe, Natã e Salomão. David teve ainda mais outros nove filhos: Ibar, Elisama, Elifelete, Nogá, Nefegue, Jafia, Elisama, Eliada e Elifelete. Esta lista não inclui os filhos das suas concubinas. David teve também uma filha, Tamar. São estes os descendentes do rei Salomão: Roboão, Abias, Asa, Jeosafá, Jeorão, Acazias, Joás, Amazias, Azarias, Jotão, Acaz, Ezequias, Manassés, Amom, Josias. Os filhos de Josias foram: Joanã, Joaquim, Zedequias, Salum. Os filhos de Joaquim: Jeconias, Zedequias. Estes são os filhos que nasceram ao rei Jeconias durante o tempo em que esteve sob prisão: Sealtiel, Malquirão, Pedaías, Senazar, Jecamias, Hosama e Nedabias. Os filhos de Hananias foram Pelatias e Jesaías; o filho de Jesaías foi Refaías; o filho de Refaías foi Arnã; o filho de Arnã foi Obadias; o filho de Obadias foi Secanias. O filho de Secanias foi Semaías; Semaías teve seis filhos, entre os quais: Hatus, Igal, Bariá, Nearias e Safate. Nearias teve três filhos: Elioenai, Ezequias, Azricão. Elioenai teve sete filhos: Hodavias, Eliasibe, Pelaías, Acube, Joanã, Delaías e Anani. Estes foram os filhos de Judá: Perez, Hezrom, Carmi, Hur e Sobal. Sobal teve um filho, Reaías, que foi pai de Jaate, o antepassado de Aumai e de Laade. Estes são conhecidos como as famílias dos zorateus. Os descendentes de Etã foram: Jezreel, Isma, Idbas e Hazelelponi, sua filha. Ainda Penuel, pai de Gedor, e Ezer, pai Husá, filhos de Hur, o filho mais velho de Efrata, que foi o pai de Belém. Acheúr, o pai de Tecoa, teve duas mulheres: Hela e Naará. Naará deu à luz Auzão, Hefer, Temeni e Haastari. Hela deu-lhe Zerete, Izar e Etnã. Coz foi pai de Anube e de Zobeba; foi também o antepassado das famílias chamadas pelo nome de Aarel, filho de Harum. Jabez foi o mais ilustre de todos os seus irmãos. A sua mãe chamou-lhe Jabez, porque teve um parto muito difícil. Este invocou o Deus de Israel e orou desta maneira: “Peço-te que me concedas as tuas maravilhosas bênçãos e que me favoreças no meu trabalho! Sê comigo em tudo o que fizer. Guarda-me do mal e das desgraças!” Deus respondeu ao seu pedido. Os filhos de Quenaz foram Otniel e Seraías. Otniel teve como filhos Hatate e Menotai. Menotai foi pai de Ofra; Seraías foi pai de Joabe, o antepassado dos habitantes do vale dos Artífices, assim chamado porque ali se concentrou um grande número de artesãos. Os filhos de Calebe, filho de Jefoné, foram: Iru, Elá e Naã. Um dos filhos de Elá foi Quenaz. Foram filhos de Jealelel: Zife, Zifa, Tiria e Asareel. Hodias teve por mulher a irmã de Naã. Um dos seus filhos foi o pai de Queila, o garmita; e outro foi pai de Estemoa, o maacatita. Os filhos de Simão foram os seguintes: Amnom, Rina, Bene-Hanã e Tilom. Foram filhos de Isi: Zoete e Bene-Zoete. Os filhos de Sela, filho de Judá, foram: Er, pai de Leca, Lada, pai de Maressa, as famílias dos operários do linho que trabalhavam em Bete-Asbeia, e ainda: Joquim, mais as famílias Cozeba, Joás, Sarafe, o qual foi chefe em Moabe antes de voltar para Leem. Todos estes nomes foram obtidos através de registos muito antigos. Estas famílias ficaram conhecidas por serem oleiros que viviam em Netaim e Gedera; todos trabalhavam para o rei. Os filhos de Simeão foram: Nemuel, Jamim, Jaribe, Zera e Saul. O filho de Saul chamou-se Salum, o seu neto Mibsão e o seu bisneto Misma. Os filhos de Misma incluíam Hamuel, pai de Zacur e avô de Simei. Simei teve dezasseis filhos e seis filhas; no entanto, nenhum dos seus irmãos teve grandes famílias; todos eles tiveram poucos filhos; menos do que era normal em Judá. Habitaram em Berseba, em Molada, em Hazar-Sual, em Bila, em Ezem, em Tolade, em Betuel, em Horma, em Ziclague, em Bete-Marcabote, em Hazar-Susim, em Bete-Biri e em Saaraim. Estas foram as povoações que estiveram sob o seu controlo até ao tempo de David. Os descendentes habitaram também perto ou nas seguintes localidades: Etã, Aim, Rimom, Toquem e Asã. Algumas não ficavam muito longe de Baal. Tudo isto está relatado nas suas genealogias. Acharam boas pastagens, terra espaçosa e fértil. Mas aquela zona pertencia aos descendentes de Cam. Por isso, durante o reinado de Ezequias, rei de Judá, esses príncipes, atrás nomeados, invadiram a terra e destruíram as tendas e as habitações dos meunitas; mataram os habitantes da terra e ali se estabeleceram. Mais tarde, 500 destes invasores da tribo de Simeão foram para as montanhas de Seir. Os seus líderes eram Pelatias, Nearias, Refaías e Uziel, todos filhos de Isi. Destruíram os poucos amalequitas que ainda restavam e ficaram a viver ali. O filho mais velho de Israel foi Rúben, mas a partir do momento em que desonrou o pai, deitando-se com uma das mulheres dele, o seu direito de primogénito foi dado aos descendentes de José, filho de Israel. É por essa razão que a genealogia oficial não indica Rúben como filho mais velho. José recebeu pois esse direito, contudo foi Judá que se tornou a tribo mais poderosa e influente em Israel; dela provém um príncipe. Os filhos de Rúben, filho de Israel, foram: Enoque, Palu, Hezrom e Carmi. Os descendentes de Joel foram o seu filho Semaías, o seu neto Gogue e o seu bisneto Semei. O filho de Simei foi Mica; o seu neto Reaías e o seu bisneto Baal. O filho de Baal chamou-se Beera. Foi príncipe da tribo de Rúben e levado cativo pelo rei Tiglate-Pileser da Assíria. Os seus parentes tornaram-se cabeças de famílias e foram incluídos nas genealogias oficiais: Jeiel, Zacarias, Bela, filho de Azaz, neto de Sema e bisneto de Joel. Estes rubenitas viveram em toda aquela área desde Aroer até junto do monte Nebo e de Baal-Meom. Joel foi criador de gado, deixando os seus animais pastarem para as bandas do oriente, até ao limite do deserto, junto do rio Eufrates, porque havia muito gado na terra de Gileade. Durante o tempo do rei Saul, os homens de Rúben derrotaram os hagarenos numa guerra e ocuparam as suas habitações até ao limite oriental de Gileade. Defronte deles, na terra de Basã, viviam os descendentes de Gad, que se estenderam até Salca. Joel foi o maior, seguido de Safã e também de Janai e de Safate, que estavam em Basã. Os seus irmãos, cabeças de sete famílias, foram Micael, Mesulão, Seba, Jorai, Jacã, Zia e Eber. Os descendentes de Buz, na ordem das suas gerações, foram: Jado, Jesisai, Micael, Gileade, Jaroa, Huri e Abiail. Aí, filho de Abdiel e neto de Guni, foi o líder da família. Esse clã viveu em Gileade, na terra de Basã e nas suas vizinhanças, ocupando toda a região de pastagens de Sarom, até aos seus limites. Todos foram incluídos na genealogia oficial, no tempo do rei Jotão de Judá e de Jeroboão, rei de Israel. O exército formado pelas tropas de Rúben e de Gad e da meia tribo de Manassés era constituído por 44 760 homens armados, bem treinados e corajosos. Declararam guerra aos hagarenos, assim como aos homens de Jetur, de Nafis e de Nodabe. Clamaram a Deus que os ajudasse e Deus respondeu-lhes, porque confiaram nele. Por essa razão, foram derrotados os hagarenos e todos os seus aliados. Ao todo, isso rendeu-lhes 50 000 camelos, 250 000 ovelhas, 2000 burros e 100 000 prisioneiros. Um grande número dos inimigos morreu em combate, porque Deus combatera por eles. Dessa forma, os rubenitas passaram a habitar nesse território dos hagarenos, até ao tempo em que foram levados para o exílio. A meia tribo de Manassés espalhou-se pela terra de Basã até Baal-Hermon, Senir e ao monte Hermon. Era também muito numerosa. Os líderes dos seus clãs foram os seguintes: Efer, Isi, Eliel, Azriel, Jeremias, Hodavias e Jadiel. Cada um destes homens tinha grande reputação como guerreiro e como líder. Mas não foram fiéis ao Deus dos seus antepassados, pois prestaram culto aos ídolos dos povos que Deus tinha destruído. Essa foi a razão por que o Deus de Israel fez com que o rei Pul da Assíria, também conhecido como Tiglate-Pileser III, invadisse a sua terra e deportasse os homens de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés. Levaram-nos para Hala, Habor, Hara e para o rio Gozã, onde ficaram até hoje. São estes os nomes dos filhos de Levi: Gerson, Coate e Merari. Os filhos de Coate foram: Amrão, Izar, Hebrom e Uziel. Os descendentes de Amrão incluíam: Aarão, Moisés e Miriam. Os filhos de Aarão foram: Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar. Os filhos mais velhos das sucessivas gerações de Aarão foram: Eleazar, pai de Fineias, pai de Abisua, pai de Buqui, pai de Uzi, pai de Zeraías, pai de Meraiote, pai de Amarias, pai de Aitube, pai de Zadoque, pai de Aimaaz, pai de Azarias, pai de Joanã, pai de Azarias, o sumo sacerdote no templo de Salomão, em Jerusalém, pai de Amarias, pai de Aitube, pai de Zadoque, pai de Salum, pai de Hilquias, pai de Azarias, pai de Seraías, pai de Jeozadaque, o qual foi levado para o exílio, quando o Senhor mandou o povo de Judá e de Jerusalém para o cativeiro sob Nabucodonozor. Tal como se disse antes, os filhos de Levi foram: Gerson, Coate e Merari. Os filhos de Gerson foram: Libni e Simei. Os filhos de Coate foram: Amrão, Izar, Hebrom e Uziel. Os filhos de Merari: Mali e Musi. Os subclãs dos levitas foram: No clã de Gerson: Libni, Jaate, Zima, Joá, Ido, Zera e Jeaterai. No clã de Coate: Aminadabe, Coré, Assir, Elcana, Ebiasafe, Assir, Taate, Uriel, Uzias e Saul. O subclã de Elcana, os seus filhos: Amasai, Aimote, Elcana, Zofai, Naate, Eliabe, Jeroão, Elcana. As famílias do subclã de Samuel foram encabeçadas pelos filhos de Samuel: Joel, o mais velho, e Abias, o segundo. Os subclãs de Merari foram encabeçados pelos seus filhos: Mali, Libni, Simei, Uzá, Simeia, Hagias e Asaías. O rei David nomeou cantores e organizou coros para louvarem o Senhor no templo, depois de ali ter colocado a arca. Já antes de Salomão construir o templo do Senhor, estes homens exerciam as suas funções de cantores, diante da tenda do encontro, conforme as normas estabelecidas. Estes são os nomes dos antecessores dos líderes dos coros: Hemã, o cantor, era do clã de Coate; a sua genealogia foi traçada em retrospetiva da seguinte forma: Joel, Samuel, Elcana III, Jeroão, Eliel, Toá, Zufe, Elcana II, Maate, Amasai, Elcana I, Joel, Azarias, Sofonias, Taate, Assir, Ebiasafe, Coré, Izar, Coate, Levi e Israel. O assistente de Hemã era o seu colega Asafe, cuja genealogia retrospetiva foi traçada da seguinte maneira: Berequias, Simeia, Micael, Baaseias, Malquias, Etni, Zera, Adaías, Etã, Zima, Simei, Jaate, Gerson e Levi. O segundo assistente de Hemã foi Etã, representante do clã de Merari, que se mantinha à sua esquerda. Os antepassados de Merari, retrospetivamente foram: Quisi, Abdi, Maluque, Hasabias, Amazias, Hilquias, Amzi, Bani, Semer, Mali, Musi, Merari, Levi. Os seus parentes, todos os outros levitas, foram designados para várias tarefas no tabernáculo. Só Aarão e os seus descendentes foram sacerdotes. As suas responsabilidades incluíam os sacrifícios de holocaustos e de incenso, assim como os deveres respeitantes ao interior do santuário, o santo dos santos, o lugar santíssimo, e as tarefas relacionadas com o dia anual de resgate de Israel. Deviam zelar para que todos os detalhes ordenados por Moisés, o servo de Deus, fossem observados. Os descendentes de Aarão foram: Eleazar, Fineias, Abisua, Buqui, Uzi, Zeraías, Meraiote, Amarias, Aitube, Zadoque e Aimaaz. Segue-se o relato das cidades e terras atribuídas por sorteio aos descendentes de Aarão, todos membros do clã de Coate: Hebrom com os pastos em volta de Judá. (Ainda que os campos e os subúrbios tivessem sido dados a Calebe, filho de Jefoné). Também as seguintes cidades de refúgio com os pastos em redor: Libna, Jatir, Estemoa, Hilem, Debir, Asã e Bete-Semes. Treze outras povoações, incluindo os arredores de pastagens, entre as quais Geba, Alemete e Anatote, foram dadas aos sacerdotes pela tribo de Benjamim. Foram atribuídas por sorteio as terras para serem doadas aos descendentes de Coate que restaram, e receberam dez povoações no território da meia tribo de Manassés. Os subclãs de Gerson receberam treze cidades na área de Basã, da parte das tribos de Issacar, de Aser, de Naftali e de Manassés. Os subclãs de Merari receberam por sorteio doze cidades, da parte das tribos de Rúben, de Gad e de Zebulão. Mais povoações e pastagens em redor foram dadas aos levitas (que lhes puseram novos nomes) da parte das tribos de Judá, de Simeão e de Benjamim. A tribo de Efraim deu estas cidades de refúgio, com as suas pastagens, ao subclã de Coate: Siquem, nas colinas de Efraim, Gezer, Jocmeão, Bete-Horom, Aijalom e Gate-Rimom. As seguintes cidades de refúgio com as suas pastagens foram dadas aos subclãs dos coatitas pela meia tribo de Manassés: Aner e Balaão. Foram as seguintes cidades de refúgio, com as suas pastagens, dadas ao clã de Gerson pela meia tribo de Manassés: Golã em Basã e Astarote. A tribo de Issacar deu-lhes Quedes, Daberate, Ramote e Anem, mais as pastagens em redor de cada uma. A tribo de Aser deu-lhes Abdom, Masal, Hucoque e Reobe, com as respetivas pastagens. A tribo de Naftali deu-lhes Quedes na Galileia, Hamom e Quiriataim, com as suas pastagens. A tribo de Zebulão deu Rimono e Tabor ao clã de Merari, como cidades de refúgio. Do outro lado do rio Jordão, em frente a Jericó, a tribo de Rúben deu-lhes Bezer, uma povoação do deserto de Jaaz, Quedemote e Mefaate, mais as pastagens ao redor de cada uma. A tribo de Gad deu-lhes Ramote em Gileade, Maanaim, Hesbom e Jazer, com as respetivas zonas de pastagens em redor. Os filhos de Issacar foram: Tola, Puá, Jasube e Simrom. Os filhos de Tola, cada um dos quais foi cabeça de um subclã, foram: Uzi, Refaías, Jeriel, Jamai, Ibsam e Samuel. No tempo do rei David, o número de homens de guerra destas famílias foi de 22 600. O filho de Uzi foi Izraías, entre cujos cinco filhos se contam Micael, Obadias, Joel e Issias, todos eles chefes de subclãs. Entre os seus descendentes, no tempo do rei David, contavam-se 36 000 soldados. Os cinco acima referidos tiveram várias mulheres e muitos filhos. O número total dos homens aptos para o combate, de todos os clãs da tribo de Issacar, foi de 87 000 valentes soldados, todos incluídos nas genealogias oficiais. Os filhos de Benjamim foram: Bela, Bequer e Jediael. Os filhos de Bela foram: Ezbom, Uzi, Uziel, Jerimote e Iri. Estes cinco valentes guerreiros foram chefes de subclãs e líderes de 22 034 soldados, todos com o seu nome nas genealogias oficiais. Os filhos de Bequer foram: Zemira, Joás, Eliezer, Elioenai, Omri, Jeremote, Abias, Anatote e Alemete. No tempo de David havia 20 200 poderosos guerreiros entre os seus descendentes, que eram conduzidos pelos chefes do clã. O filho de Jediael foi Bilã. Os filhos de Bilã foram: Jeús, Benjamim, Eude, Quenaana, Zetã, Társis e Aisaar. Foram chefes dos subclãs de Jediael e os seus descendentes incluíam 17 200 guerreiros no tempo de David. Os filhos de Ir foram Supim e Hupim. Husim foi um dos filho de Aer. Os filhos de Naftali, descendentes de Bila, mulher de Jacob, foram: Jaziel, Guni, Jezer e Salum. Os filhos de Manassés, que lhe deu a sua concubina aramaica, foram: Asriel e Maquir, que se tornou pai de Gileade. Foi Maquir que encontrou mulheres para Hupim e para Supim. A irmã de Maquir chamava-se Maacá. Outro dos seus descendentes foi Zelofeade, que só teve filhas. A mulher de Maquir, também chamada Maacá, deu-lhe um filho a quem chamou Peres. O nome do seu irmão foi Seres e teve como filhos Ulão e Raquem. O filho de Ulão foi Bedan. Estes foram os filhos de Gileade, netos de Maquir e bisnetos de Manassés. Hamolequete, irmã de Maquir, deu à luz Isode, Abiezer e Mala. Os filhos de Semida foram: Aião, Siquem, Liqui e Anião. Os descendentes diretos de Efraim foram: Sutela, Berede, Taate, Eleadá, Taate, Zabade, Sutela, Ezer e Eleade. Eleade e Ezer tentaram roubar gado em Gate, mas foram mortos pelos proprietários locais. O pai deles, Efraim, chorou-os durante muito tempo e os irmãos procuraram consolá-lo. Depois disso, a sua mulher ficou grávida e deu à luz um filho a quem chamou Beria, que quer dizer tragédia, por causa do que acontecera. A filha de Efraim chamava-se Seerá. Foi ela quem construiu Bete-Horom de Cima, Bete-Horom de Baixo e também Uzem-Seerá. Esta é a linha de descendentes de Efraim: Refá, pai de Resefe, pai de Telá, pai de Taã, pai de Ladã, pai de Amiude, pai de Elisama, pai de Num, pai de Josué. Viveram numa área delimitada dum lado por Betel e pelas aldeias ao redor, a oriente por Naarã, a ocidente por Gezer e suas aldeias e, finalmente, por Siquem e as suas aldeias, até Aiá com as suas aldeias. A tribo de Manassés, filho de José e neto de Israel, controlou as seguintes cidades com as suas aldeias em redor: Bete-Seã, Taanaque, Megido e Dor. Os filhos de Aser foram: Imna, Isva, Isvi, Beria e Sera, irmã deles. Os filhos de Beria foram: Heber, Malquiel, pai de Birzavite. Os filhos de Heber foram: Jaflete, Somer, Hotão e Suá, irmã deles. Os filhos de Jaflete foram: Pasaque, Bimal e Asvate. Os filhos de Semer foram: Aí, Rogá, Jeubá e Aram. Os filhos do seu irmão Helém foram: Zofá, Imna, Seles e Amal. Os filhos de Zofá foram: Suá, Harnefer, Shual, Beri, Imra, Bezer, Hode, Samá, Silsa, Itrã, Beera. Os filhos de Jeter foram: Jefoné, Pispa e Ara. Os filhos de Ula foram: Ará, Haniel e Rizia. Estes descendentes de Aser foram cabeças de subclãs; foram hábeis combatentes e chefes. Os seus descendentes, na genealogia oficial, eram 26 000 homens de combate. Os filhos de Benjamim foram, de acordo com a ordem de nascimento: Bela, o primeiro; Asbel, o segundo; Aará, o terceiro; Noá, o quarto; Rafa, o quinto. Os filhos de Bela foram: Adar, Gera, Abiude, Abisua, Naamã, Aoá, Gera, Sefufã e Hurão. Os filhos de Eude, chefes dos subclãs que viviam em Geba, foram feitos prisioneiros de guerra e exilados para Manaate. Eram eles: Naamã, Aías e Gera, também chamado Heglã, o pai de Uzá e de Aiude. Saaraim divorciou-se das suas mulheres Husim e Baara. Teve filhos na terra de Moabe, de Hodes, a sua outra mulher: Jobabe, Zibia, Mesa, Malcã, Jeuz, Saquia e Mirma. Todos estes filhos se tornaram cabeças de subclãs. A sua mulher Husim deu-lhe Abitube e Elpaal. Os filhos de Elpaal foram: Eber, Misã, Semede, o qual construiu Ono e Lode, assim como as localidades ao redor. Os seus outros filhos foram Beria e Sema, chefes de subclãs, que viveram em Aijalom; estes expulsaram os habitantes de Gate. Os filhos de Elpaal incluíam também os seguintes nomes: Aiô, Sasaque, Jeremote. Os filhos de Beria foram: Zebadias, Arade, Eder, Micael, Ispa e Joá. Entre os filhos de Elpaal incluíam-se igualmente: Zebadias, Mesulão, Hizqui, Heber, Ismerai, Izlia e Jobabe. Os filhos de Sasaque foram: Ispã, Eber, Eliel, Abdom, Zicri, Hanã, Hananias, Elão, Antotia, Ifdeia e Penuel. Estes foram os chefes dos subclãs que viviam em Jerusalém. Jeiel, o pai de Gibeão, vivia em Gibeão, e o nome de sua mulher foi Maacá. O seu filho mais velho chamava-se Abdom e foi seguido por: Zur, Cis, Baal, Nadabe, Gedor, Aiô, Zequer, e Miclote, o qual foi pai de Simeá. Todas estas famílias viviam juntas, perto de Jerusalém. Ner foi pai de Cis e Cis foi pai de Saul. Entre os filhos de Saul incluíam-se: Jónatas, Malquisua, Abinadabe e Esbaal. O filho de Jónatas foi Mefibosete. O filho de Mefibosete foi Mica. Os filhos de Mica foram: Pitom, Meleque, Tarea e Acaz. Acaz foi pai de Jeoada. Jeoada foi pai de: Alemete, Azmavete e Zimri. O filho de Zimri foi Moza. Moza foi pai de Binea, cujos filhos foram: Rafa, Elasá e Azel. Azel teve seis filhos: Azricão, Boqueru, Ismael, Searias, Obadias e Hanã. Eseque, irmão de Azel, teve três filhos: Ulão, o primeiro; Jeús, o segundo; e Elifelete, o terceiro. Os filhos de Ulão foram valentes guerreiros e exímios atiradores de arco. Estes homens tiveram 150 filhos e netos e eram todos da tribo de Benjamim. A árvore genealógica de cada pessoa em Israel foi cuidadosamente verificada e escrita no Livro dos Reis de Israel. Judá foi exilado para a Babilónia, porque o povo prestou culto a ídolos. Os primeiros a regressar e a viver novamente nas suas antigas povoações foram as famílias do reino de Israel e também os sacerdotes, os levitas e os ajudantes do templo. Depois algumas famílias das tribos de Judá, Benjamim, Efraim e Manassés voltaram a Jerusalém. Uma delas foi a de Utai, filho de Amiude, neto de Omri, bisneto de Imri e trineto de Bani, do clã de Perez, filho de Judá. A família dos silonitas foi outra dessas famílias, e incluía Asaías, o filho mais velho de Silo e os seus descendentes. Havia também os filhos de Zera, incluindo Jeuel e seus parentes: 690 ao todo. Entre os membros da tribo de Benjamim que regressaram contaram-se: Salu, o filho de Mesulão, neto de Hodavias e bisneto de Hassenua; Ibneias, filho de Jeroão; Elá, filho de Uzi, neto de Micri; Mesulão, filho de Sefatias, neto de Reuel e bisneto de Ibnijas. Todos estes eram chefes de subclãs. O total dos benjamitas eram 956 homens. Os sacerdotes que regressaram foram: Jedaías, Jeoiaribe, Jaquim, Azarias, filho de Hilquias, neto de Mesulão, bisneto de Zadoque, trineto de Meraiote e descendente de Aitube. Era ele o guarda-mor do templo. Outro sacerdote a regressar foi Adaías, filho de Jeroão, neto de Pasur, bisneto de Malquias. Outro ainda foi Maasai filho de Adiel, neto de Jazerá, bisneto de Mesulão, trineto de Mesilemite e descendente de Imer. Foram ao todo 1760 sacerdotes a regressar. Entre os levitas que regressaram estava: Semaías, filho de Hassube, neto de Azricão, bisneto de Hasabias, descendente de Merari. Outros levitas a regressar foram: Baquebacar, Heres, Galal, Matanias, filho de Mica, neto de Zicri, bisneto de Asafe; Obadias, filho de Semaías, neto de Galal, bisneto de Jedutun; Berequias, filho de Asa, neto de Elcana, que vivia na área dos netofatitas. Os porteiros foram: Salum, o chefe, Acube, Talmom e Aimã, todos levitas. Ainda hoje são responsáveis pela porta oriental, o portão do palácio. A ascendência de Salum passava por Core, Ebiasafe e Coré. Tanto ele como os seus parentes mais próximos, os coraítas, tinham a seu cargo os sacrifícios e a proteção do santuário, tal como os seus antepassados, administrando e guardando o tabernáculo. Fineias, filho de Eleazar, foi o primeiro responsável por este sector nos tempos antigos. O Senhor estava com ele. Zacarias, filho de Meselemias, era o responsável pela proteção da entrada da tenda do encontro. Nesse tempo, havia 212 porteiros, escolhidos nas suas povoações, de acordo com as suas genealogias, e nomeados por Samuel e por David, conforme a confiança que mereciam. Tanto eles como os seus descendentes ficaram encarregados do tabernáculo do Senhor. Foram-lhes atribuídos cada um dos quatro lados; este, oeste, norte e sul. Os seus parentes das povoações serviam com eles, de tempos a tempos, durante um período de sete dias. Os quatro chefes dos porteiros, todos levitas, exerciam um ofício de confiança, pois tinham à sua responsabilidade as dependências e os tesouros do tabernáculo de Deus. Por causa disso, viviam perto do tabernáculo e todas as manhãs tinham de abrir os portões. Alguns deles foram designados para cuidar dos recipientes usados nos sacrifícios e nos atos de adoração. Cada vez que eram utilizados, antes e depois, tinham de contá-los, para evitar qualquer perda. Outros eram responsáveis pelo mobiliário, pelas peças do santuário e pelo fornecimento de farinha fina, vinho, incenso e especiarias. Alguns sacerdotes tinham como função preparar as especiarias e o incenso. Matitias, levita, o filho mais velho de Salum, o coraíta, foi responsabilizado pela confeção dos bolos para as ofertas de cereais. Alguns dos membros do clã de Coate deviam preparar o pão especial de cada sábado. Jeiel, o pai de Gibeão, vivia em Gibeão; o nome de sua mulher era Maacá. O seu filho mais velho chamava-se Abdom; seguiram-se: Zur, Cis, Baal, Ner, Nadabe, Gedor, Aiô, Zacarias e Miclote. Este último, Miclote, vivia com o seu filho Simeão em Jerusalém, perto dos seus familiares. Ner foi pai de Cis e Cis foi pai de Saul. Entre os filhos de Saul incluíam-se: Jónatas, Malquisua, Abinadabe e Esbaal. O filho de Jónatas foi: Mefibosete. O filho de Mefibosete foi Mica. Os filhos de Mica foram: Pitom, Meleque, Tarea e Acaz. Acaz foi pai de Jaera, que foi pai de Alemete, Azmavete e Zimri. O filho de Zimri foi Moza. Moza foi pai de Binea, cujos filhos foram: Refaías, Elasá e Azel. Azel teve seis filhos: Azricão, Boqueru, Ismael, Searias, Obadias e Hanã. Os filisteus atacaram e derrotaram as tropas israelitas, as quais fugiram, tendo sido liquidadas no sopé do monte Gilboa. Os filisteus foram atrás de Saul e dos seus três filhos e mataram Jónatas, Abinadabe e Malquisua. A luta cresceu depois com violência em volta de Saul e os frecheiros conseguiram feri-lo. Então ele gritou ao seu escudeiro: “Desembainha a tua espada e atravessa-me com ela, antes que esta gente incircuncisa me mate, gabando-se ainda do que fizeram.” Mas o homem teve medo de fazer tal coisa. Por isso, Saul pegou na sua própria espada e atirou-se sobre ela. Nessa altura, o escudeiro, vendo que Saul estava morto, matou-se da mesma forma. Foi assim que Saul e os seus três filhos morreram juntos; toda a família foi liquidada. Quando os israelitas no vale souberam que as suas tropas tinham sido derrotadas e que Saul e os seus filhos tinham morrido, abandonaram as cidades e fugiram. Os filisteus ocuparam-nas e passaram a viver nelas. No dia seguinte, quando os filisteus vieram para despojar os mortos, encontraram os corpos de Saul e dos filhos no monte Gilboa. Cortaram a cabeça a Saul, tiraram-lhe as armas e anunciaram-no aos seus deuses e ao seu povo por toda a terra. Penduraram as armas nas paredes do templo dos seus deuses e pregaram a cabeça num muro do templo de Dagom. Quando o povo de Jabes-Gileade ouviu o que os filisteus tinham feito ao corpo de Saul, os seus guerreiros, os mais valentes, voltaram ao campo de batalha e trouxeram o corpo de Saul e dos seus três filhos. Enterraram-no sob um carvalho em Jabes, jejuando depois por sete dias. Saul morreu por causa da sua desobediência ao Senhor e por ter consultado uma médium. Não buscou o Senhor para que o guiasse. Por isso, o Senhor o matou e deu o reino a David, o filho de Jessé. Representantes de todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebrom, oferecer-lhe a garantia da sua lealdade: “Somos do mesmo sangue que tu”, disseram. “Mesmo quando Saul era o rei, tu eras o nosso verdadeiro chefe. Foi a ti que o Senhor teu Deus disse: ‘Serás o pastor do meu povo de Israel. Serás o seu rei.’ ” Então David fez uma aliança diante do Senhor com os líderes de Israel ali em Hebrom e eles consagraram-no rei de Israel, tal como o Senhor dissera a Samuel. Depois David e os líderes foram a Jerusalém ou Jebus, como era habitualmente chamada, onde os jebuseus, os que tinham habitado originalmente na terra, viviam. Contudo, o povo de Jebus recusou deixá-los entrar. Por isso, David capturou a fortaleza de Sião, chamada mais tarde Cidade de David. Ele disse para os seus homens: “O primeiro que matar um jebuseu será comandante-chefe!” Joabe, o filho de Zeruía, foi o primeiro. Por isso, tornou-se general do exército de David. David ficou a viver nessa fortaleza e essa é a razão por que essa área de Jerusalém é chamada Cidade de David. Estendeu a área de urbanização em redor da fortaleza, enquanto Joabe reconstruiu o resto de Jerusalém. David tornou-se cada vez mais famoso e poderoso, porque o Senhor dos exércitos estava com ele. São os seguintes os nomes de alguns dos mais valentes guerreiros de David, os quais também encorajaram os líderes de Israel a fazer de David rei, tal como o Senhor dissera que haveria de acontecer: Jasobeão, filho de Hacmoni, era o líder dos três maiores heróis entre os homens de David. Uma vez matou 300 homens com a sua lança. O segundo desses três foi Eleazar, filho de Dodo, membro do subclã de Aoí. Estava com David na batalha contra os filisteus em Pas-Damim. O exército israelita encontrava-se num campo de cevada e começava já a fugir dos filisteus. Contudo, ele pôs-se no meio do campo, defendendo-o tenazmente e ferindo os filisteus. Em consequência, o Senhor deu-lhes uma grande vitória. Numa outra vez, três homens pertencentes ao grupo dos trinta, foi ter com David, quando este vivia escondido na gruta de Adulão. Os filisteus estavam acampados no vale de Refaim. No momento do acontecimento David encontrava-se numa fortaleza. Uns guerreiros filisteus tinham ocupado Belém. A certa altura, David expressou o seguinte desejo: “Quem me dera poder beber da água daquele poço de Belém que está junto à porta!” Então esses três homens romperam através desse posto avançado dos filisteus, tiraram água do poço e trouxeram-na a David. Contudo, David recusou; em vez de a beber, derramou-a como oferta perante o Senhor. E disse: “Nunca faria tal coisa, Deus! Nunca beberia uma água que afinal representa o sangue destes homens que arriscaram as suas vidas para a ir buscar!” Abisai, irmão de Joabe, foi comandante dos trinta. Certa vez, só com a sua lança, matou 300 soldados inimigos. Era não só o chefe deles como o mais famoso dos trinta. Contudo, não atingiu o prestígio dos três, já referidos. Havia também Benaia, filho de Jeoiada, um valente soldado de Cabzeel. Benaia matou os dois filhos de Ariel de Moabe. Noutra altura, entrou numa gruta e, a despeito do chão estar muito escorregadio, por causa da neve gelada, pegou num leão que ali se tinha abrigado e matou-o. Noutra ocasião matou um egípcio que media 2,5 metros de altura, e cuja lança era tão grossa como uma barra dum tecelão. Benaia dirigiu-se contra ele, tendo apenas na mão uma vara, e conseguiu arrancar ao outro a lança, com a qual acabou por matá-lo. Estes foram alguns dos feitos que deram a Benaia, filho de Jeoiada, quase tanta fama como a dos três primeiros. Era muito famoso entre os trinta, mas não pode rivalizar com o grupo dos três. David fê-lo capitão da sua guarda pessoal. Outros valentes guerreiros entre os homens de David foram: Asael, irmão de Joabe; El-Hanã, filho de Dodo, de Belém; Samote de Harode; Helez de Pelom; Ira, filho de Iques, de Tecoa; Abiezer de Anatote; Sibecai de Husate; Ilai de Aoí; Maarai de Netofá; Helede, filho de Baaná, de Netofá; Itai, filho de Ribai, um benjamita de Gibeá; Benaia de Piraton; Hurai das proximidades do ribeiro de Gaás; Abiel de Arbate; Azmavete de Baarum; Eliaba de Saalbom; os filhos de Hasem de Gizom; Jónatas, filho de Sage, de Harar; Aião, filho de Sacar, de Harar; Elifal, filho de Ur; Hefer de Mequerate; Aías de Pelom; Hezro de Carmelo; Naarai, filho de Ezbai; Joel, irmão de Natã; Mibar, filho de Hagri; Zeleque de Amon; Naarai de Beerote, o que levava as armas de Joabe, o filho de Zeruía; Ira de Itra; Garebe de Itra; Urias, o hitita; Zabade, filho de Alai; Adina, filho de Siza, da tribo de Rúben, que estava entre os trinta e era um chefe da sua tribo; Hanã, filho de Maacá; Josafate de Mitna; Uzias de Asterate; Sama e Jeiel, filhos de Hotão, de Aroer; Jediael, filho de Simri; Joá, irmão do anterior, de Tiza; Eliel de Maavi; Jeribai e Josavias, filhos de Elnaão; Itma de Moabe; Eliel, Obede e Jaasiel de Mezoba. São os seguintes os nomes dos valentes guerreiros que se juntaram a David, em Ziclague, no tempo em que tinha de andar escondido por causa de Saul. Todos eles eram exímios atiradores de arco e de funda, tanto com a mão direita como com a esquerda. À semelhança do próprio rei Saul, eram todos da tribo de Benjamim. Aiezer era o seu chefe; era filho de Semaá, de Gibeá. Os outros eram: Joás, seu irmão; Jeziel e Pelete, filhos de Azmavete; Beraca; Jeú de Anatote; Ismaías de Gibeão, um valente guerreiro, tanto ou mais até do que os trinta; Jeremias; Jaaziel; Joanã; Jozabade de Gedera; Eluzai; Jerimote; Bealias; Semarias; Sefatias, de Harufe; Elcana, Issias, Azarel, Joezer e Jasobeão, todos coraítas; Joela e Zebadias, filhos de Jeroão de Gedor. Grandes e valentes guerreiros, da tribo de Gad, foram também juntar-se a David no deserto, à fortaleza onde se encontrava. Eram muito hábeis tanto de escudo como de lança; dizia-se deles que tinham rostos de leões e eram tão ligeiros como gazelas sobre os montes. Ezer era o seu chefe; Obadias, o segundo no comando; Eliabe, o terceiro; e assim, por ordem de graduação: Mismana, Jeremias, Atai, Eliel, Joanã, Elzabade, Jeremias, Macbanai. Estes homens eram oficiais do exército. O mais fraco valia por cem soldados vulgares e o mais forte valia por mil! Atravessaram o rio Jordão, na época em que está mais cheio, e conquistaram toda a terra das margens, tanto de um lado como do outro. Também vieram a David homens de Benjamim e Judá. David saiu ao seu encontro e disse-lhes: “Se vieram para me ajudar, seremos amigos; mas se vieram para me entregar aos meus inimigos, sendo eu inocente, então que o Deus dos nossos pais o veja e intervenha como juiz.” Ao responderem, o Espírito de Deus veio sobre eles e Amasai, o chefe dos trinta, disse: “Somos teus, David; Estamos do teu lado, filho de Jessé. Paz seja contigo, e com todos os que te ajudam! Deus está do teu lado.” Então David deixou que se juntassem e fez deles capitães do seu exército. Alguns homens de Manassés desertaram do exército de Israel e vieram juntar-se a David, na altura em que David se dirigia, juntamente com os filisteus, à luta contra Saul. Mas os generais filisteus recusaram deixar que David e os seus homens saíssem com eles à guerra. Depois de muita discussão, resolveram mandá-los embora, pois tinham receio que David, com a sua gente, pusessem em risco as suas forças, desertando para o lado de Saul. Eis a lista dos homens de Manassés que passaram para o lado de David, quando este se dirigia a Ziclague: Adna, Jozabade, Jediael, Micael, Jozabade, Eliú, Ziletai. Cada um deles ocupava um lugar de destaque na hierarquia militar de Manassés. Eram bravos e hábeis combatentes e apoiaram David no combate contra as incursões que sofriam em Ziclague. Cada dia aumentava o número dos que se juntavam a David, de tal maneira que se formou um tremendo exército; era como um exército de Deus. Eis o registo dos que vieram a David em Hebrom. Todos estavam ansiosos por ver David tornar-se rei em lugar de Saul, tal como o Senhor dissera que haveria de acontecer. De Judá, 6800 homens armados com escudo e com lança. Da tribo de Simeão, 7100 notáveis soldados. Da tribo de Benjamim, a mesma tribo de Saul, vieram 3000. A maior parte dos membros dessa tribo manteve-se fiel a Saul. Da tribo de Efraim, 20 800 valentes guerreiros, cada um deles famoso no respetivo clã. Da meia tribo de Manassés, 18 000 foram mandados com o objetivo de ajudar David a tornar-se rei. Da tribo de Issacar houve 200 líderes, com os seus parentes, todos homens que compreendiam o sentido dos tempos e a direção que Israel deveria tomar. Da tribo de Zebulão houve 50 000 homens de guerra bem treinados e armados, totalmente fiéis a David. De Naftali houve 1000 oficiais e 37 000 soldados, equipados com escudos e lanças. Da tribo de Dan houve 28 600 soldados, todos treinados para a guerra. Da tribo de Aser houve 40 000 soldados, também treinados e prontos para a guerra. Do outro lado do Jordão, onde viviam as tribos de Rúben, de Gad e a meia tribo de Manassés, houve 120 000 soldados equipados com toda a espécie de armamento. Todos estes homens vieram até Hebrom em formação militar, prontos para a batalha e com o único propósito de fazer de David rei de Israel. Na verdade, Israel inteiro estava pronto para isso. Durante três dias, na companhia de David, fizeram uma festa, comendo e bebendo, pois tinham sido feitos preparativos para os receber da melhor maneira. Gente da vizinhança, assim como de pontos mais afastados, como de Issacar, Zebulão e Naftali, trouxe alimentos em burros, camelos, mulas e bois. Grandes fornecimentos de farinha, bolos de figos e de passas, vinho, azeite, gado e ovelhas foram trazidos para aquele grande encontro. A alegria espalhou-se por toda a terra de Israel. Depois de ter consultado todos os seus chefes e comandantes militares, David dirigiu-se à assembleia de Israel da seguinte maneira: “Visto que vos parece bem que eu seja vosso rei, e visto que temos a aprovação do Senhor, nosso Deus, mandemos uma mensagem aos nossos irmãos em toda a terra de Israel, incluindo os sacerdotes e os levitas, convidando-os a juntar-se a nós. Tornemos também a trazer para junto de nós a arca de Deus, porque tem ficado esquecida, desde que Saul se tornou rei.” Houve consenso geral e toda a gente esteve de acordo com a iniciativa. David convocou todo o povo de Israel, desde Sior, na fronteira do Egito, até à entrada de Hamate, para que estivesse presente quando a arca de Deus fosse trazida de Quiriate-Jearim. Então David e todo o Israel foram a Baalá, ou seja Quiriate-Jearim, em Judá, para trazer a arca do Senhor Deus, cujo trono está acima dos querubins. Foram-na buscar a casa de Abinadabe, num carro novo. Uzá e Aiô conduziam o carro. David e todo o povo dançaram perante Deus, com grande entusiasmo, acompanhados de cânticos, harpas, liras, tamborins, címbalos e cornetas. Quando chegaram à eira de Quidom, os bois tropeçaram e Uzá estendeu a mão para segurar a arca. A ira do Senhor acendeu-se contra ele e matou-o, por ter tocado na arca. E ficou ali estendido diante de Deus. David ficou muito contristado devido àquilo que o Senhor fizera e deu àquele lugar o nome Perez-Uzá (brecha de Uzá). Ainda hoje é assim chamado. O rei ficou com medo de Deus e interrogava-se: “Como hei de trazer a arca de Deus para junto de mim?” Finalmente, decidiu-se por trazê-la até à casa de Obede-Edom, originário de Gate, em lugar de a levar para a sua própria casa, na Cidade de David. A arca permaneceu ali com a família de Obede-Edom durante três meses. E o Senhor abençoou-o, a ele e à sua casa. Depois Hirão, o rei de Tiro, enviou mensageiros a David, pedreiros e carpinteiros para construírem o seu palácio; forneceu-lhe igualmente muita madeira de cedro. David deu-se conta de que a razão por que o Senhor o tinha feito rei e tornado o seu reino tão prestigiado era o amor que tinha pelo seu povo. Depois de se mudar para Jerusalém, David casou com outras mulheres e teve muitos filhos e filhas. São estes os nomes dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Samua, Sobabe, Natã, Salomão; Ibar, Elisua, Elpelete; Nogá, Nefegue, Jafia; Elisama, Beeliada e Elifelete. Quando os filisteus ouviram que David era o novo rei de todo o Israel, mobilizaram as suas forças para o capturar; ao tomar conhecimento, David convocou o seu exército. Os filisteus estenderam-se pelo vale de Refaim. David perguntou então a Deus: “Se eu sair e lutar contra eles, dar-me-ás a vitória?” O Senhor respondeu-lhe: “Sim, entregá-los-ei nas tuas mãos.” Então atacou-os em Baal-Perazim e derrotou-os. E David exclamou: “Deus abriu uma brecha, como num dique, para derrubar os meus inimigos diante de mim!” Por isso, chamou àquele lugar Baal-Perazim (Senhor das brechas). Depois da batalha, ao fugirem, os filisteus deixaram abandonadas as imagens dos seus deuses e David mandou-as queimar. Passado algum tempo, os filisteus voltaram a atacar o vale. David consultou de novo a Deus sobre o que haveria de fazer. A resposta de Deus foi: “Desta vez não os ataques frontalmente. Vai por detrás e aparece-lhes por entre as amoreiras. Quando ouvires um barulho como de gente marchando por cima das copas das amoreiras, esse será o sinal para atacares. Deus irá à tua frente e destruirá o inimigo.” David fez segundo as instruções dadas por Deus e destruiu o exército filisteu, perseguindo-o desde Gibeão até Gezer. A fama de David espalhou-se por toda a parte e o Senhor fez com que todas as nações o temessem. David fez para si vários palácios em Jerusalém. Construiu também uma tenda para que nela estivesse a arca de Deus. Para tal deu as seguintes instruções: “Ninguém mais, além dos levitas, poderá transportá-la; é a eles que compete esse serviço para sempre.” Então David convocou todo o povo de Israel para Jerusalém, a fim de celebrarem o transporte da arca para o lugar que tinha destinado. Foram estes os sacerdotes e os levitas que estiveram presentes: do clã do Coate estiveram 120, Uriel era o seu chefe; do clã de Merari, 220, Asaías era o chefe; do clã de Gerson, 130, Joel era o chefe; do subclã de Elizafã, 200, Semaías era o chefe; do subclã de Hebrom, 80, Eliel era o chefe; do subclã de Uziel, 112, Aminadabe era o chefe. David mandou chamar os sacerdotes Zadoque e Abiatar, assim como os chefes dos levitas: Uriel, Asaías, Joel, Semaías, Eliel e Aminadabe. “Vocês são os chefes dos clãs dos levitas”, disse-lhes. “Portanto, santifiquem-se, a vós próprios e aos vossos irmãos, de forma que possam trazer a arca do Senhor, o Deus de Israel, para o lugar que lhe preparei. O Senhor, nosso Deus, castigou-nos da outra vez, porque não respeitámos os preceitos divinos; era a vocês que competia levarem a arca.” Então os sacerdotes e os levitas executaram os rituais de santificação, como preparação para o transporte da arca de Senhor, o Deus de Israel. Depois os levitas carregaram-na, eles próprios, aos ombros, com as varas apropriadas, tal como o Senhor ordenara a Moisés. David também tinha ordenado aos levitas que organizassem os coros de cantores, acompanhando-se da música forte e alegre dos instrumentos, como alaúdes, harpas e címbalos. Hemã, filho de Joel, Asafe, filho de Berequias, e Etã, filho de Cusaías, do clã de Merari, eram os responsáveis pela parte musical. Os seguintes homens foram escolhidos como seus assistentes: Zacarias, Bene, Jaaziel, Semiramote, Jeiel, Uni, Eliabe, Benaia, Maaseia, Matitias, Elifeleu, Micneias, Obede-Edom e Jeiel; estes eram também porteiros. Hemã, Asafe e Etã foram escolhidos para tocarem os címbalos de bronze. Zacarias, Aziel, Semiramote, Jeiel, Uni, Eliabe, Maaseia e Benaia formavam um octeto acompanhado de harpas. Matitias, Elifeleu, Micneias, Obede-Edom, Jeiel e Azazias eram harpistas. O chefe dos cantores era Quenanias, líder dos levitas, o qual foi selecionado pelas suas qualidades. Berequias e Elcana eram os guardas da arca. Sebanias, Josafate, Netanel, Amasai, Zacarias, Benaia e Eliezer, todos eles sacerdotes, formavam um conjunto de cornetas que ia à frente do cortejo. Obede-Edom e Jeías guardavam a arca. David e os anciãos de Israel, acompanhados dos generais do exército, foram com grande alegria até à casa de Obede-Edom, para trazerem a arca da aliança do Senhor para Jerusalém. E porque Deus protegeu os levitas que transportavam a arca da aliança do Senhor, sacrificaram sete novilhos e sete carneiros. David e os levitas que transportavam a arca, os cantores e Quenanias, o chefe dos cantores, estavam vestidos de roupa de linho; David trazia também uma veste sacerdotal. Foi dessa maneira que os líderes de Israel transportaram a arca da aliança, com brados de júbilo, ao som de trombetas, cornetas e címbalos, acompanhados de harpas e alaúdes. Quando a arca da aliança do Senhor chegou à Cidade de David, Mical, a filha de Saul, da janela onde se encontrava, sentiu desprezo por David ao vê-lo a dançar e a tocar. Puseram pois a arca de Deus numa tenda que David tinha preparado. Depois ofereceram holocaustos e ofertas de paz perante Deus. No final destas ofertas, David abençoou o povo em nome do Senhor. Seguidamente, ofereceu a cada israelita, tanto homens como mulheres, um pão, algum vinho e um bolo de tâmaras. Designou certos levitas para estarem de serviço perante a arca, dando constantes louvores e graças ao Senhor, o Deus de Israel. São estes os nomes dos que foram nomeados: Asafe, o chefe do grupo, que tocava os címbalos. Os seus companheiros de equipa eram Zacarias, Jeiel, Semiramote, Jeiel, Matitias, Eliabe, Benaia, Obede-Edom e Jeiel, que tocavam alaúde e harpa. Os sacerdotes Benaia e Jaaziel eram responsáveis por tocar regularmente as cornetas junto da arca da aliança de Deus. Foi nesse tempo que David introduziu o hábito de empregarem coros para cantarem louvores de gratidão ao Senhor. Asafe foi o diretor deste grupo coral de sacerdotes. Deem graças ao Senhor e invoquem o seu nome. Contem aos povos os seus feitos. Cantem-lhe, cantem-lhe louvores e contem todas as suas maravilhas. Deem glória ao seu santo nome. Que todos rejubilem, aqueles que buscam o Senhor. Procurem o Senhor! Procurem a sua força e a sua face continuamente! Lembrem-se dos seus poderosos milagres, dos seus maravilhosos feitos, dos juízos da sua palavra, vocês os seus servos, descendentes de Israel, os descendentes de Jacob, seus eleitos. Ele é o Senhor, nosso Deus. A sua autoridade é reconhecida em toda a Terra. Lembrem-se para sempre da sua aliança, das palavras dos seus mandamentos, dirigidos a milhares de gerações, do seu acordo feito com Abraão, do seu juramento feito a Isaque. Foi confirmado a Jacob e prometido a Israel, como aliança eterna: “Dar-te-ei a terra de Canaã por posse.” Ainda eram muito poucos e simples estrangeiros na terra prometida. Andavam de nação em nação, de um reino para outro. Deus nem por isso permitiu que alguém lhes fizesse mal; os reis eram repreendidos por amor deles. “Não façam mal algum ao meu povo escolhido”, ordenou-lhes Deus. “Estes são meus profetas, não lhes toquem!” Cantem ao Senhor em toda a Terra! Declarem em cada dia que é ele quem salva! Anunciem a sua salvação dia após dia! Deem a conhecer, publicamente, entre todos os povos da Terra, como é excelsa a sua glória! Contem a todas as gentes as suas maravilhas! Porque o Senhor é grande e digno de todo o louvor; é muitíssimo superior a todos os chamados deuses. Esses pretensos deuses são apenas ídolos, mas o Senhor, esse é o Criador dos céus. À sua volta só há glória e majestade; força e alegria no seu santuário. Ó povos de todas a nações, louvem o Senhor; reconheçam a sua grande força e glória! Sim, deem ao Senhor a glória que é devida ao seu nome! Tragam ofertas e venham à sua presença; adorem o Senhor, revestido de santidade! Que a Terra inteira trema na sua presença! O mundo permanece inabalável. Alegrem-se os céus, regozije-se a Terra; que todas as nações digam: “O Senhor reina.” Que os vastos mares exultem, que o campo e tudo o que ele contém se alegre! Que as árvores dos bosques cantem de alegria perante o Senhor, porque ele virá para julgar a Terra. Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque o seu amor é eterno! Clamem a ele: “Salva-nos, Deus da nossa salvação; torna a trazer-nos do meio das nações, para que possamos louvar em liberdade a força do teu nome, e alegrarmo-nos com esse mesmo louvor!” Que o Senhor, o Deus de Israel, seja louvado por toda a eternidade! E todo o povo gritou “Amém!”, louvando o Senhor. David tomou as providências necessárias para que Asafe e os levitas seus companheiros servissem regularmente perante a arca da aliança do Senhor, executando diariamente as suas funções. Esse grupo incluía Obede-Edom, filho de Jedutun, Hosa e 68 dos seus colegas como guardas. Entretanto, o velho tabernáculo do Senhor, na colina de Gibeão, continuou em atividade. David deixou que Zadoque, o sacerdote, e os seus colegas administrassem ali o culto ao Senhor. Sacrificavam holocaustos ao Senhor todas as manhãs e todas as tardes, no altar dos holocaustos, de acordo com o mandamento do Senhor a Israel. David também designou, pelos seus próprios nomes, Hemã, Jedutun e vários outros para darem louvores ao Senhor, porque o seu amor é eterno. Tocavam cornetas e címbalos para acompanhar os cantores nos seus louvores a Deus. Os filhos de Jedutun foram nomeados como guardas. Por fim, aquela celebração terminou e o povo regressou às suas casas. David regressou também para abençoar a sua própria casa e família. Algum tempo depois de David estar a viver no seu novo palácio, disse ao profeta Natã: “Repara, eu vivo numa casa toda forrada de cedro, enquanto a arca da aliança do Senhor está numa mera tenda!” Natã respondeu-lhe: “Vai para a frente com os planos que tiveres em mente, porque Deus está contigo.” Nessa noite, Deus disse a Natã: “Dá ao meu servo David esta mensagem: Não serás tu quem construirá casa para minha habitação! Porque eu nunca vivi num templo. Tenho andando de tenda em tenda, já desde o tempo em que trouxe Israel do Egito. Jamais me lamentei junto dos chefes de Israel, os pastores do meu povo. Nunca lhes perguntei: ‘Porque é que não me constroem um belo templo em cedro?’ Por isso, diz ao meu servo David: Assim manda dizer o Senhor dos exércitos: Tirei-te dum trabalho de pastor de ovelhas e fiz de ti rei do meu povo. Tenho sido contigo por onde tens andado; destruí os teus inimigos e farei com que o teu nome seja prestigiado na Terra. Darei ao meu povo um lar permanente e plantá-lo-ei na sua própria terra. Não tornarão a ser perturbados; nações malvadas não mais os conquistarão, como aconteceu anteriormente, quando os juízes governavam o meu povo. Subjugarei todos os vossos inimigos. Declaro-te ainda o seguinte: edificar-te-ei uma casa. Quando o teu tempo aqui na Terra terminar e tiveres de morrer, porei um dos teus filhos no trono e tornarei o seu reinado poderoso. Ele é que me há de construir uma casa e hei de prolongar o seu reinado para sempre. Serei para ele um Pai e ele será meu filho. Nunca retirarei dele a minha misericórdia, como retirei de Saul, o teu antecessor. Confirmá-lo-ei sobre o meu povo e sobre o meu reino para sempre. A sua dinastia será estabelecida para sempre.” Natã fez saber a David tudo o que Deus lhe tinha dito naquela visão. Então o rei David entrou na presença do Senhor e disse: “Quem sou eu, ó Senhor Deus, e quem é a minha família, para que lhe concedas tantas bênçãos? A acrescentar a tudo isso, ó Deus, ainda me falas de uma dinastia futura! Falas de mim como se fosse alguém com grandeza, ó Senhor Deus! Que posso eu dizer mais? Conheces bem o teu servo e, contudo, decidiste honrar-me! Ó Senhor, fizeste todas estas grandes coisas por mim e trataste-me com amor, para manifestares a tua grandeza. Não há ninguém semelhante a ti, ó Senhor! Nunca ouvimos falar de ninguém como tu, porque não há outro Deus além de ti. E que outra nação haverá sobre a face da Terra que se compare a Israel, o teu povo? É uma nação única que resgataste do Egito para ser o teu povo. O teu nome tornou-se grande, quando fizeste maravilhas, ao levar outras nações a fugirem de diante do teu povo. Declaraste que o teu povo Israel te pertence para sempre e tu, ó Senhor, tornaste-te o seu Deus. Agora, Senhor, faz como me prometeste, a mim e à minha família. Que tudo isso se realize e traga honra eterna ao teu nome! Quando toda a gente verificar que sempre cumpres o que dizes, exclamarão: ‘O Senhor dos exércitos é verdadeiramente o Deus de Israel!’ E assim a dinastia de David, teu servo, estará firme para sempre diante de ti. Concedeste-me a graça de me revelares, ó meu Deus, que Israel será sempre regido pelos meus filhos e pela sua posteridade. Por essa razão, tomei a liberdade de te dirigir esta oração de gratidão. Verdadeiramente, ó Senhor, tu és Deus! Prometeste-me coisas maravilhosas. Agora age conforme prometeste. Abençoa-me a mim e à minha família para sempre. Que a nossa dinastia permaneça na tua presença para sempre, porque quando garantes uma bênção, Senhor, é uma bênção eterna!” Depois disto, David venceu e submeteu os filisteus, conquistou Gate e as localidades da vizinhança. Também conquistou Moabe e obrigou o seu povo a pagar-lhe um tributo anual. Conquistou o domínio do rei Hadadezer, de Zobá, até a Hamate, quando este rei tinha ido confirmar o seu domínio ao longo do rio Eufrates. David capturou 1000 dos seus carros, 7000 cavaleiros e 20 000 soldados. Inutilizou os cavalos dos seus carros de combate, à exceção de uma centena que guardou para seu próprio uso. Quando os arameus vieram de Damasco para socorrer Hadadezer, David matou 22 000 deles. David pôs várias guarnições militares em Damasco, e os arameus tornaram-se seus súbditos, pagando-lhe um tributo anual. O Senhor concedia-lhe sempre vitórias, para onde quer que se virasse. Trouxe também para Jerusalém os escudos de ouro que os oficiais do rei Hadadezer usavam, assim como uma grande quantidade de bronze das cidades de Tibate e de Cum, pertencentes ao rei Hadadezer. Mais tarde, o rei Salomão mandou derreter esse bronze e empregou-o no templo, fazendo com ele o mar de bronze, os pilares e os instrumentos usados nos sacrifícios sobre o altar. Quando o rei Toú de Hamate ouviu narrar todas as vitórias de David sobre o exército de Hadadezer, rei de Zobá, enviou o seu filho Hadorão para felicitá-lo, visto que Hadadezer e Toú eram inimigos, e apresentar-lhe muitos presentes de ouro, prata e bronze. O rei David consagrou tudo isso ao Senhor, tal como fizera com o ouro e a prata trazidos das nações de Edom, Moabe, Amon, Filisteia e Amaleque. Por essa altura, Abisai, filho de Zeruía, destruiu 18 000 edomitas no vale do Sal. Colocou também guarnições militares em Edom, de forma que toda essa nação foi obrigada a pagar tributo a Israel, outro exemplo da forma como o Senhor o tornou vitorioso para onde quer que se dirigisse. David reinou com justiça sobre Israel, dirigindo as causas do seu povo com toda a equidade. Joabe, filho de Zeruía, era o general do seu exército. O seu secretário para os assuntos da governação era Jeosafá, filho de Ailude. Zadoque, filho de Aitube, e Aimeleque, filho de Abiatar, eram os sacerdotes; Savsa era o secretário particular do rei. Benaia, filho de Jeoiada, era o chefe da guarda pessoal do rei, formada por cretenses e peleteus. Os filhos do rei eram os seus assistentes diretos. Algum tempo depois, morreu Naás, rei dos amonitas, e seu filho ascendeu ao trono em seu lugar. David declarou: “Vou mostrar bondade para com Hanum, filho de Naás, por causa da amizade que o seu pai revelou para comigo.” David enviou embaixadores para expressarem as suas condolências a Hanum pelo falecimento do pai. Quando os embaixadores de David chegaram, os conselheiros de Hanum falaram desta forma ao rei amonita: “Esta gente não veio honrar a memória do teu pai. David mandou-os para espiarem a nação antes de a atacar!” Então Hanum mandou rapar a barba dos embaixadores e cortar-lhes a roupa que traziam, até à altura das ancas, o que representava um insulto. Depois mandou-os embora, no meio de grande vergonha. Quando David teve conhecimento do que acontecera, disse-lhes que ficassem em Jericó até lhes crescer novamente a barba, pois aqueles homens estavam envergonhados por causa do aspeto que tinham. Por seu lado, Hanum deu-se conta de como tinha suscitado seriamente a ira de David e mandou estipular, do tesouro do reino, uma soma de 34 toneladas de prata para comprar tropas mercenárias, cavalos de guerra e cavaleiros da Mesopotâmia, de Aram, de Maacá e de Zobá. Também alugou 32 000 carros de guerra, bem como o próprio apoio do rei de Maacá e de todo o seu exército. Todas estas tropas acamparam em Medeba, onde se juntaram os amonitas que também vieram para combater. Quando contaram isto a David, este enviou Joabe e todo o exército israelita para os atacar. O exército dos amonitas saiu-lhes ao encontro e começou o combate às portas da cidade de Medeba. Entretanto, as forças mercenárias aproximaram-se do campo de batalha. Joabe, vendo que tinha de lutar em duas frentes, pôs de parte os melhores combatentes das suas tropas e, sob o seu próprio comando, levou-os a confrontarem-se com os arameus na planície. Outro grupo, sob o comando do seu irmão Abisai, dirigiu-se contra os amonitas. “Se os arameus forem mais fortes do que eu, vem ajudar-me”, disse Joabe ao irmão. “Se os amonitas prevalecerem sobre ti, vou eu ajudar-te. Coragem e atuemos como homens que defendem o povo e as cidades do nosso Deus. Que o Senhor faça o que for melhor!” Seguidamente, quando Joabe e as suas tropas atacaram, os arameus começaram a fugir. Por sua vez, os amonitas ao verem o que estava a acontecer também se puseram a fugir para dentro da cidade. Joabe retirou-se para Jerusalém. Depois desta derrota, os arameus mandaram vir mais tropas do oriente do rio Eufrates, conduzidas por Sofaque, o chefe do exército do rei Hadadezer. Ao saber dos acontecimentos, David mobilizou todo o Israel, atravessou o rio Jordão e ordenou uma batalha contra as tropas inimigas. Os arameus fugiram novamente de David e este matou 7000 condutores de carros de combate e 40 000 soldados. Sofaque, o general das tropas arameias, também foi morto. Os aliados de Hadadezer, constatando que os arameus tinham sido derrotados, renderam-se ao rei David e tornaram-se seus servos. A partir de então, nunca mais os arameus quiseram ajudar os amonitas. Na primavera do ano seguinte, na altura em que as guerras costumam recomeçar, Joabe levou o exército israelita a vitoriosos ataques contra as cidades e aldeias dos amonitas. Depois de as destruir, pôs cerco a Rabá e conquistou-a. David ficara em Jerusalém. Deslocando-se ao local da batalha, tirou a coroa da cabeça do rei de Rabá, que se chamava Milcom, e colocou-a na sua própria cabeça. Era feita toda de ouro, com pedras preciosas incrustadas, e pesava 34 quilos. Levou também da cidade grande despojo. Obrigou ainda o povo da cidade a trabalhar com serras, machados e picaretas, como era hábito fazer com todos os povos amonitas. David e todo o seu exército regressaram a Jerusalém. A guerra seguinte foi contra os filisteus em Gezer. Contudo, um homem de Husate, chamado Sibecai, matou um dos filhos dos refaítas Sipai e os filisteus renderam-se. Durante outra guerra contra os filisteus, El-Hanã, filho de Jair, matou Lami, irmão de Golias, o giteu, cuja lança era tão grande como a viga dum tecelão. Noutra batalha, em Gate, um gigante com seis dedos em cada mão e em cada pé, filho também dum gigante, injuriava a nação de Israel; Jónatas, sobrinho de David, filho de Simeia, irmão de David, matou-o. Estes gigantes pertenciam à tribo dos gigantes de Gate e foram mortos por elementos das tropas de David. Satanás conseguiu trazer uma desgraça sobre Israel, levando David a fazer um recenseamento de Israel. “Faz o recenseamento geral de todo o povo, desde Dan até Berseba e traz-me os totais”, disse David a Joabe e aos outros chefes. Joabe replicou: “Ainda que o Senhor multiplicasse o seu povo cem vezes mais, não continuaria a pertencer-te? Então porque é que queres fazer uma coisa dessas? Porque levas Israel a pecar?” A vontade do rei prevaleceu contra a argumentação de Joabe. Este foi por toda a terra de Israel e voltou a Jerusalém. Joabe trouxe o número total do povo ao rei: eram 1 100 000 homens em idade de serviço militar em Israel e 470 000 em Judá. Não incluiu as tribos de Levi e de Benjamim nestes números, porque esta iniciativa do rei lhe pareceu muito mal. Deus também não se agradou com este recenseamento e castigou Israel. David disse então a Deus: “Pequei gravemente ao fazer tal coisa. Peço-te que me perdoes, porque reconheço que agi loucamente.” O Senhor disse a Gad, o vidente de David: “Vai dizer a David: O Senhor propõe-te três coisas; escolhe a que preferes.” Gad veio ter com David e perguntou-lhe: “O que é que tu escolhes? Queres escolher três anos de fome, três meses de destruição por parte dos inimigos de Israel, ou três dias duma praga mortal, trazida pelo anjo do Senhor com a sua espada sobre o povo? Pensa nisso e depois dá-me uma resposta, para que a transmita a quem me enviou.” “É uma decisão muito difícil”, respondeu David. “É melhor cair nas mãos do Senhor, porque grande é a sua misericórdia, do que nas mãos dos homens.” Então o Senhor enviou uma praga sobre Israel, de tal forma que chegaram a morrer 70 000 pessoas. Durante essa praga, Deus enviou um anjo para destruir Jerusalém. Quando o anjo do Senhor se preparava para estender a sua mão sobre Jerusalém para a destruir, por causa da grande compaixão que sentiu, o Senhor ordenou ao anjo destruidor: “Para! Já basta!” O anjo do Senhor estava sobre a eira de Ornã, o jebuseu. Quando David viu o anjo do Senhor entre o céu e a Terra, com a sua espada desembainhada apontada para Jerusalém, tanto ele como os anciãos de Israel vestiram-se de pano de saco e prostraram-se. David disse a Deus: “Fui eu quem pecou, ordenando esse recenseamento. Estas ovelhas, que fizeram elas de mal? Ó Senhor, meu Deus, destrói-me a mim e à minha família, mas não o teu povo.” O anjo do Senhor disse ao profeta Gad que desse instruções a David para subir à eira de Ornã, o jebuseu, e ali construir um altar ao Senhor. David pôs-se logo a caminho, como o Senhor lhe tinha ordenado por intermédio de Gad. Ornã estava, nesse momento, a malhar o trigo e viu o anjo, ao virar-se; os seus quatro filhos fugiram e esconderam-se. Entretanto, Ornã reparou em David que se aproximava. Deixou logo a eira e foi inclinar-se com o rosto no chão perante o rei David. David disse-lhe: “Vende-me esta eira pelo preço exato do seu valor, para que aqui construa um altar ao Senhor, a fim de que cesse esta praga.” “Fica já com ela, meu senhor, e usa-a como melhor entenderes”, respondeu Ornã a David. “Toma também os bois para o holocausto; até os instrumentos de madeira que aí estão podem servir de lenha para o fogo, e o trigo poderá ser para uma oferta de cereais. Tudo te dou.” “Não”, disse David. “Quero comprar-ta pelo seu preço; não posso tomar o que é teu e dá-lo ao Senhor. Não oferecerei a Deus holocaustos que nada me custem.” David pagou a Ornã 7 quilos de ouro. Construiu ali um altar ao Senhor e sacrificou holocaustos e ofertas de paz sobre ele. A seguir, invocou o Senhor, que respondeu enviando fogo do céu para queimar as ofertas que estavam no altar. O Senhor mandou que o anjo pusesse a espada na bainha. Quando David viu que o Senhor respondera, fez novos sacrifícios. Nessa altura, o tabernáculo e o altar dos holocaustos que Moisés mandara construir estavam na colina de Gibeão. Contudo, David não pôde deslocar-se até lá para consultar a Deus, pois estava aterrorizado com a espada ameaçadora do anjo do Senhor. David disse mais: “Será aqui mesmo, na eira de Ornã, que hei de mandar construir o templo do Senhor e o altar dos holocaustos para as ofertas da nação.” David deu ordem para que todos os residentes estrangeiros em Israel preparassem blocos de cantaria para a construção do templo. Também prepararam ferro em grande quantidade, com o qual fabricaram pregos para as portas e para as inúmeras junturas. Foi tanto o bronze derretido que nem se achou necessário pesá-lo. Os homens de Tiro e de Sídon trouxeram a David grandes toros de madeira de cedro. “O meu filho Salomão ainda é novo e sem experiência”, disse David, “e o templo do Senhor tem de ser uma obra maravilhosa, com fama e glória a nível mundial. Por isso, começo agora os preparativos.” Foi essa a razão que levou David a armazenar os materiais necessários à construção, antes da sua morte. Chamou o seu filho Salomão e deu-lhe ordens expressas de construir um templo para o Senhor, o Deus de Israel. “Queria ter podido construí-lo, eu próprio”, disse-lhe David, “mas o Senhor, meu Deus, disse-me para não o fazer. ‘Mataste muita gente em muitas e grandes batalhas’, disse-me o Senhor. ‘Derramaste muito sangue; por isso, não serás tu quem me construirá o templo.’ Deus disse-me: ‘Dar-te-ei um filho que será um homem pacífico; farei com que tenha paz com os povos vizinhos, seus inimigos; o seu nome será Salomão e darei paz e sossego a Israel durante o seu reinado. Construirá o meu templo, serei para ele um Pai e ele será meu filho; farei com que a sua dinastia permaneça para sempre em Israel.’ Portanto, meu filho, que o Senhor seja contigo, te faça prosperar e construir o templo do Senhor, teu Deus, como ele te ordena. Que o Senhor te dê sabedoria e discernimento para guardares a Lei do Senhor, teu Deus, quando te fizer rei de Israel. Porque se obedeceres cuidadosamente às ordens e às leis que deu a Israel pela boca de Moisés, certamente prosperarás. Esforça-te e tem coragem! Não tenhas medo nem recues! Através dos meus combates consegui recolher 3400 toneladas de ouro, 34 000 toneladas de prata e tanto ferro e bronze que nem foi preciso pesar. Também juntei muita madeira e pedras para a construção. Isto é apenas o ponto de partida; tu farás o resto. Tens também ao teu serviço muitos pedreiros, carpinteiros e outros artífices competentes e em grande número. Tens também ourives que sabem trabalhar o ouro e a prata e artesãos para trabalharem o ferro e o bronze. Portanto, põe mãos à obra e que o Senhor seja contigo!” David deu também ordens para que todos os líderes de Israel dessem apoio ao seu filho neste projeto. “O Senhor, vosso Deus, está convosco”, declarou ele. “Deu-vos paz com as nações vizinhas, pois foi em nome do Senhor e para o seu povo que as conquistei. Portanto, esforcem-se, com todo o vosso coração e a vossa alma, por obedecer ao Senhor, vosso Deus. Ponham mãos à obra e construam o santuário do Senhor, vosso Deus, para levarem a arca da aliança do Senhor e os objectos sagrados para o templo que se vai construir ao Senhor!” Quando David se sentiu já muito velho e cansado, abdicou do trono a favor do seu filho Salomão. Convocou todos os líderes políticos, os sacerdotes e os levitas de Israel para a cerimónia de coroação. Por essa altura, foi feito um recenseamento da tribo de Levi, com idade de 30 anos ou mais, e apurou-se um total de 38 000 homens. “Entre eles, 24 000 deverão supervisionar o serviço no templo”, ordenou David. “Capatazes e fiscais serão 6000. Os guardas dos estaleiros serão 4000 e também 4000 os que louvarão o Senhor com os instrumentos de música que mandei fazer.” David dividiu-os em três grupos, conforme os filhos de Levi: Gerson, Coate e Merari. Gerson repartiu-se também em subdivisões segundo os seus filhos: Ladã e Simei. Estas subdivisões foram ainda organizadas em subgrupos, conforme os filhos de Ladã: Jeiel, o chefe, Zetam e Joel. Os filhos de Simei foram Selomite, Haziel e Harã. A divisão de Coate estava subdividida em quatro grupos, de acordo com os seus filhos: Amrão, Izar, Hebrom e Uziel. Amrão foi pai de Aarão e de Moisés. Aarão e os seus filhos tinham sido separados para o serviço sagrado de apresentar ao Senhor os sacrifícios que o povo oferecia; para servir o Senhor continuamente e pronunciar bênçãos em seu nome para sempre. Os filhos de Gerson ficaram a ser chefiados por Sebuel. Reabias, o único filho de Eliezer, tornou-se o líder do seu clã, pois teve muitos filhos. Os filhos de Izar eram chefiados por Selomite. Os filhos de Hebrom eram chefiados por Jerias. Amarias era o segundo em responsabilidade, Jaaziel era o terceiro e Jecameão o quarto. Os filhos de Uziel eram conduzidos por Mica e Issias era o segundo. Os filhos de Merari foram Mali e Musi. Os filhos de Mali foram Eleazar e Cis. Eleazar morreu sem filhos e as suas filhas casaram com os primos, os filhos de Cis. Os filhos de Musi foram Mali, Eder e Jeremote. No recenseamento, todos os homens de Levi de 20 anos para cima foram registados sob o nome deste clã e nomeados para o serviço no templo. Porque David dissera: “O Senhor, Deus de Israel, deu-nos paz e estará sempre em Jerusalém. Portanto, os levitas não necessitam mais de transportar o tabernáculo e os seus instrumentos de lugar em lugar.” Este recenseamento dos levitas a partir da idade de 20 anos, foi uma das últimas coisas que David fez antes de morrer. O trabalho dos levitas era dar assistência aos sacerdotes, os descendentes de Aarão, nos sacrifícios do templo do Senhor; encarregavam-se também dos pátios, das salas laterais, da purificação de todos os objetos sagrados e das demais tarefas necessárias à manutenção da casa de Deus. Tinham a responsabilidade de fornecer o pão da Presença, a farinha para as ofertas de cereais e para as bolachas sem fermento, tanto as fritas como as amassadas com azeite; também verificavam os pesos e as medidas de tudo. Todas as manhãs e todas as tardes colocavam-se diante do Senhor para lhe cantar louvores e dar graças. Participavam nos sacrifícios especiais de holocaustos, nos sacrifícios do sábado, nas celebrações da lua nova e em todas as festividades. Havia sempre o número de levitas necessário para determinada ocasião. Responsabilizavam-se pela tenda do encontro e pelo templo, e davam assistência aos sacerdotes em tudo o que fosse necessário. Os sacerdotes, descendentes de Aarão, foram colocados em grupos, designados pelos nomes dos filhos de Aarão: Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar. Nadabe e Abiú eram também filhos de Aarão, mas morreram antes do pai e não tiveram filhos. Por isso, apenas Eleazar e Itamar ficaram com esse cargo sacerdotal. David consultou Zadoque, que representava o clã de Eleazar, e Aimeleque, que representava o clã de Itamar; depois dividiu os descendentes de Aarão em grupos, para poderem servir rotativamente. Os descendentes de Eleazar foram divididos em dezasseis grupos e os de Itamar em oito; porque havia mais homens com capacidade de chefia entre os descendentes de Eleazar. Todas as tarefas dos vários grupos de serviço eram atribuídas por sorteio, para que não houvesse favoritismos, pois em cada divisão havia muitos homens famosos e com altos cargos no templo. Semaías, um levita filho de Netanel, fez os registos, escrevendo os nomes e as atribuições de cada um, na presença do rei e dos seguintes chefes: o sacerdote Zadoque, Aimeleque, filho de Abiatar, e os chefes dos sacerdotes e dos levitas. Dois grupos da divisão de Eleazar e um da divisão de Itamar foram designados para cada tarefa. O trabalho foi atribuído, por sorteio, na seguinte ordem: primeiro, o grupo chefiado por Jeoiaribe; segundo, o grupo chefiado por Jedaías; terceiro, o grupo chefiado por Harim; quarto, o grupo chefiado por Seorim; quinto, o grupo chefiado por Malquias; sexto, o grupo chefiado por Miamim; sétimo, o grupo chefiado por Hacoz; oitavo, o grupo chefiado por Abias; nono, o grupo chefiado por Jesua; décimo, o grupo chefiado por Secanias; décimo primeiro, o grupo chefiado por Eliasibe; décimo segundo, o grupo chefiado por Jaquim; décimo terceiro, o grupo chefiado por Hupa; décimo quarto, o grupo chefiado por Jesebeabe; décimo quinto, o grupo chefiado por Bilga; décimo sexto, o grupo chefiado por Imer; décimo sétimo, o grupo chefiado por Hezir; décimo oitavo, o grupo chefiado por Hapizez; décimo nono, o grupo chefiado por Petaías; vigésimo, o grupo chefiado por Ezequiel; vigésimo primeiro, o grupo chefiado por Jaquim; vigésimo segundo, o grupo chefiado por Gamul; vigésimo terceiro, o grupo chefiado por Delaías; vigésimo quarto, o grupo chefiado por Maazias. Cada grupo exercia as funções referentes ao templo, tal como tinham sido indicadas pelo Senhor, Deus de Israel, ao seu antepassado Aarão. Os outros chefes dos descendentes de Levi eram: dos filhos de Amrão, Subael; dos filhos de Subael, Jedias; o grupo de Reabias era chefiado por Issias, o seu filho mais velho; o grupo de Izar era constituído por Selomote e pelo seu descendente Jaate; o grupo de Hebrom por Jerias, o seu filho mais velho; Amarias, o seu segundo filho; Jaaziel, o seu terceiro; Jecameão, o quarto. Os descendentes de Mali eram Eleazar, que não teve filhos, e Cis, cujo filho era Jerameel. Os filhos de Musi eram Mali, Eder e Jerimote. Eram estes os vários descendentes de Levi, de acordo com os seus clãs. À semelhança dos descendentes de Aarão, foram consagrados às suas funções por sorteio, sem distinção de idade ou de categoria, na presença do rei David, de Zadoque, de Aimeleque e dos chefes dos sacerdotes e dos levitas. David e os comandantes do exército nomearam homens para profetizarem, acompanhados de harpas, alaúdes e címbalos, do grupo. Era dos grupos de Asafe, Hemã e Jedutun. Esta é a lista dos seus nomes e do seu trabalho: sob a liderança do profeta Asafe, sob as ordens diretas do rei, estavam os seus filhos: Zacur, José, Netanias e Asarela; sob Jedutun, que conduzia os atos de louvor e agradecimento ao Senhor, acompanhados por cítaras, estavam os seus seis filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Simei, Hasabias e Matitias; sob a direção do sacerdote Hemã, sob as ordens diretas do rei, estavam os seus filhos: Buquias, Matanias, Uziel, Sebuel, Jerimote, Hananias, Hanani, Eliata, Gidalti, Romanti-Ezer, Josbecasa, Maloti, Hotir e Maaziote. Deus tinha-lhe dado catorze filhos e três filhas. O seu serviço consistia em tocar címbalos, harpas e liras. Todos estavam sob a direção do seu pai, ao exercerem as funções na casa de Deus. Asafe, Jedutun e Hemã dependiam diretamente do rei. Tanto eles como as suas famílias estavam treinados para cantar louvores ao Senhor. Cada um deles, e eram 288 ao todo, estava devidamente instruído para a sua função. Os cantores eram nomeados para esse serviço especial por sorteio, sem se olhar nem à idade nem à reputação de mestre ou discípulo. O primeiro sorteio indicou José, do clã de Asafe; o segundo, Gedalias mais doze dos seus filhos e irmãos; o terceiro, Zacur mais doze dos seus filhos e irmãos; o quarto, Izri mais doze dos seus filhos e irmãos; o quinto, Netanias mais doze dos seus filhos e irmãos; o sexto, Buquias mais doze dos seus filhos de irmãos; o sétimo, Jesarela mais doze dos seus filhos e irmãos; o oitavo, Jesaías mais doze dos seus filhos e irmãos; o nono, Matanias mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo, Simei mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo primeiro, Azarel mais doze do seus filhos e irmãos; o décimo segundo, Hasabias mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo terceiro, Subael mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo quarto, Matitias mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo quinto, Jeremote mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo sexto, Hananias mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo sétimo, Josbecasa mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo oitavo, Hanani mais doze dos seus filhos e irmãos; o décimo nono, Maloti mais doze dos seus filhos e irmãos; o vigésimo, Eliata mais doze dos seus filhos e irmãos; o vigésimo primeiro, Hotir mais doze dos seus filhos e irmãos; o vigésimo segundo, Gidalti mais doze dos seus filhos e irmãos; o vigésimo terceiro, Maaziote mais doze dos seus filhos e irmãos; o vigésimo quarto, Romanti-Ezer mais doze dos seus filhos e irmãos. Os porteiros do templo pertenciam à divisão de Asafe, do clã de Coré. O seu chefe era Meselemias, filho de Coré. Os auxiliares eram os seus filhos: Zacarias, o mais velho; Jediael, o segundo; Zebadias, o terceiro; Jatniel, o quarto; Elão, o quinto; Jeoanã, o sexto; Elioenai, o sétimo. Os filhos de Obede-Edom também foram designados para porteiros do templo: Semaías, o mais velho; Jeozabade, o segundo; Joá, o terceiro; Sacar, o quarto; Netanel, o quinto; Amiel, o sexto; Issacar, o sétimo; Peuletai, o oitavo. Que bênção Deus lhe ter dado todos estes filhos! Os filhos de Semaías eram homens notáveis e tinham posições de grande autoridade no seu clã. Os seus nomes eram: Otni, Refael, Obede e Elzabade. Os seus irmãos Eliú e Semaquias foram também homens muito capazes. Estes filhos e netos de Obede-Edom, ao todo 62, eram pessoas destacadas, particularmente bem qualificadas para o trabalho que desempenhavam. Também os dezoito filhos e irmãos de Meselemias eram chefes notáveis. Hosa, um dos do grupo de Merari, nomeou Simri como líder dos seus filhos, ainda que não fosse o mais velho. Eis os nomes de alguns dos seus outros filhos: Hilquias, o segundo; Tebalias, o terceiro; Zacarias, o quarto. Os filhos e os irmãos de Hosa eram treze ao todo. As divisões dos porteiros do templo indicavam-se segundo os nomes dos chefes. À semelhança dos outros levitas, o seu serviço era no templo. Tinham como função guardar as várias entradas. Eram escolhidos por sorteio, sem se olhar à idade, nem à família a que pertenciam. A responsabilidade da guarda da porta oriental coube a Selemias e ao seu grupo; a da entrada do norte ao seu filho Zacarias, um homem de bom discernimento. A entrada do sul coube a Obede-Edom e ao seu grupo; aos seus filhos foi entregue o cuidado dos armazéns. A porta ocidental e a porta Salequete, que dava para o caminho que subia, ficou à responsabilidade de Supim e Hosa. Seis porteiros eram escalados diariamente para a porta oriental; quatro para a do norte, quatro para a do sul e dois para cada armazém. Seis porteiros eram escalados diariamente para a porta do oeste; quatro para o lado do caminho que subia e dois para as áreas próximas. Os guardas do templo eram escolhidos dos clãs de Coré e Merari. Aos levitas chefiados por Aías foi dado o cargo de velarem pelos tesouros trazidos ao templo de Deus e que eram colocados no depósito dos objetos sagrados. Estes homens de Ladã, um subclã de Gerson, eram, entre outros, Zetam e Joel, filhos de Jeieli. Os filhos desse Jeieli e de seus irmãos Zetam e Joel ficaram com a responsabilidade dos tesouros do templo do Senhor. A linha de descendentes de Eliezer passava por Reabias, Jesaías, Jorão, Zicri e Selomite. Selomote e os seus irmãos cuidavam das ofertas trazidas a Deus pelo rei David e outros líderes da nação, como governantes e oficiais do exército. Estes homens consagraram os despojos de guerra para suporte dos encargos com o templo. Selomite e os seus irmãos eram também responsáveis pela manutenção de tudo quanto fora dedicado a Deus pelo profeta Samuel, por Saul, filho de Cis, por Abner, filho de Ner, por Joabe, filho de Zeruía. Cananias e os seus filhos, do subclã de Izar, foram designados administradores públicos e juízes. Hasabias e 1700 membros do seu clã de Hebrom, todas pessoas destacadas, foram colocados como supervisores do território de Israel a oeste do rio Jordão; eram responsáveis pelos assuntos religiosos e pela administração pública nessa área. O exército israelita estava dividido em doze regimentos, cada um com 24 000 militares, incluindo oficiais e corpo administrativo. Estas unidades eram chamadas ao serviço ativo um mês por ano. Esta é a lista das unidades e dos seus comandantes: o comandante da segunda divisão era Dodai, descendente de Aoí; tinha sob o seu comando 24 000 homens; o seu serviço ativo era executado no segundo mês de cada ano; Miclote era o seu ajudante; o comandante da terceira divisão era Benaia, filho de Jeoiada; tinha sob o seu comando um exército de 24 000 homens, em serviço ativo no terceiro mês de cada ano; o comandante Benaia era filho de Jeoiada, o sumo sacerdote, chefe do grupo dos trinta oficiais de elite do exército de David; o seu filho Amizabade sucedeu-lhe no comando desta divisão; o comandante da quarta divisão era Asael, irmão de Joabe, que mais tarde foi substituído pelo seu filho Zebadias; tinha 24 000 soldados em serviço ativo no quarto mês; o comandante da quinta divisão era Samute, de Izra, com 24 000 homens no ativo durante o quinto mês; o comandante da sexta divisão era Ira, filho de Iques de Tecoa; tinha 24 000 militares no ativo durante o sexto mês; o comandante da sétima divisão era Helez, de Pelom em Efraim, com 24 000 homens em serviço ativo durante o sétimo mês; o comandante da oitava divisão era Sibecai, do clã Husate de Zera, que tinha 24 000 soldados em serviço no oitavo mês; o comandante da nona divisão era Abiezer, de Anatote, da tribo de Benjamim, que comandava 24 000 homens no nono mês; o comandante da décima divisão era Maarai, de Netofa em Zera, com 24 000 em serviço no décimo mês; o comandante da décima primeira divisão era Benaia, de Piraton em Efraim, com 24 000 soldados em serviço no décimo primeiro mês de cada ano; o comandante da décima segunda divisão era Heldai de Netofa, na área de Otniel, que tinha sob comando 24 000 homens no décimo segundo mês. Os oficiais mais graduados, das tribos de Israel, eram os seguintes: sobre a tribo de Rúben estava Eliezer, filho de Zicri; sobre Simeão, Sefatias, filho de Maacá; sobre Levi, Hasabias, filho de Quemuel; sobre os descendentes de Aarão, Zadoque; sobre Judá, Eliú, irmão do rei David; sobre Issacar, Omri, filho de Micael; sobre Zebulão, Ismaías, filho de Obadias; sobre Naftali, Jerimote, filho de Azriel; sobre Efraim, Oseias, filho de Azazias; sobre a meia tribo de Manassés, Joel, filho de Pedaías; sobre a outra meia tribo de Manassés, em Gileade, Ido, filho de Zacarias; sobre Benjamim, Jaasiel, filho de Abner; sobre Dan, Azarel, filho de Jeroão. Quando David os recenseou, não incluiu os de 20 anos e mais novos, porque o Senhor prometera multiplicar o seu povo como as estrelas do céu. Joabe iniciou o recenseamento, mas nunca chegou a acabá-lo, porque a ira de Deus caiu sobre Israel; o total nunca foi inscrito nas crónicas do rei David. Azmavete, filho de Adiel, era o tesoureiro do palácio real e Jónatas, filho de Uzias, era o guarda dos armazéns de cada região, cidade, aldeia e fortaleza de Israel. Ezri, filho de Quelube, era o chefe do pessoal ao serviço do rei. Simei de Ramate era responsável por todas as vinhas do rei; Zabdi de Sifma encarregava-se da produção vinícola e do seu armazenamento. Baal-Hanã de Gedera tinha a seu cargo os olivais e as figueiras bravas das planícies costeiras, próximo das fronteiras com os filisteus, enquanto Joás se encarregava do armazenamento do azeite. Sitrai de Sarom superintendia sobre o gado, nas planícies de Sarom; Safate, filho de Adlai, tinha também a seu cargo o gado, mas nos vales. Obil, do território de Ismael, tinha a seu cargo os camelos; Jedias de Meronote, os burros. As ovelhas estavam ao cuidado de Jaziz, o hagareno. Estes eram os superintendentes do rei David. Jónatas, tio de David, era um sábio conselheiro e um homem muito instruído, e exercía a função de escriba. Jeiel, filho de Hacmoni, era o tutor dos príncipes. Aitofel era o conselheiro oficial do rei e Husai, o arquita, era o seu consultor pessoal. Aitofel era assistido por Jeoiada, filho de Benaia, e por Abiatar. Joabe era o comandante do exército israelita. David convocou todos os responsáveis do reino para Jerusalém: os líderes políticos, os comandantes das doze divisões e os outros oficiais do exército, os superintendentes sobre a sua casa e propriedades, e todos os que estavam investidos de autoridade. Levantou-se, na frente deles, e dirigiu-lhes estas palavras: “Meus irmãos e meu povo! Era meu desejo construir um templo onde a arca da aliança do Senhor pudesse repousar, um lugar onde o nosso Deus estivesse. Armazenei todo o material necessário para essa construção. Contudo, Deus disse-me: ‘Não serás tu quem construirá o meu templo, porque és um guerreiro e fizeste derramar muito sangue.’ No entanto, o Senhor, o Deus de Israel, escolheu-me a mim, de entre todos os membros da família do meu pai, para dar início à dinastia que regerá Israel para sempre. Ele escolheu a tribo de Judá e de entre as famílias de Judá, a família do meu pai. Entre os seus filhos, o Senhor agradou-se de mim e fez-me rei sobre Israel. De entre os meus filhos, e o Senhor deu-me muitos filhos, escolheu Salomão para me suceder no trono do reino de Israel, em nome do Senhor. Disse-me: ‘O teu filho Salomão construirá o meu templo; pois escolhi-o e serei para ele um Pai, e ele será meu filho. Se ele continuar a obedecer aos meus mandamentos e às minhas instruções, como até aqui, farei que o seu reino dure para sempre.’ Aqui, na presença de todos os israelitas, o povo do Senhor, ordeno que guardem cada um dos mandamentos do Senhor, vosso Deus, de forma a poderem continuar a reger esta boa terra e deixá-la aos vossos filhos, para que a governem para sempre. E tu, Salomão, meu filho, entrega-te ao conhecimento do Deus dos teus antepassados. Adora-o e serve-o com um coração reto e uma mente predisposta, pois o Senhor conhece cada coração e todos os nossos pensamentos. Se o buscares, encontrá-lo-ás; mas se o deixares, ele rejeitar-te-á para sempre. Portanto, presta atenção, porque o Senhor te escolheu para construíres o seu santo templo. Esforça-te e faz o que ele te ordena.” Então David deu a Salomão a planta do templo, com as suas dependências, as salas para guardar os tesouros, os quartos nos andares superiores, os quartos interiores e do lugar do propiciatório. Deu também a Salomão os planos para o pátio exterior e para os compartimentos exteriores, para as áreas de armazenamento, as salas para guardar os tesouros de dons consagrados. Foi o Espírito de Deus quem indicou tudo a David. O rei passou então para as mãos de Salomão todas as instruções referentes aos ofícios dos vários grupos de sacerdotes e levitas; deu-lhe instruções específicas em relação a cada objeto a ser usado no templo, nos atos de culto e nos sacrifícios. David tinha pesado ouro e prata suficientes para mandar fazer cada um desses objetos, assim como a quantidade de ouro necessária para os castiçais e lâmpadas. Pesou também a prata para os candelabros e lâmpadas em prata, conforme o uso de cada um. Pesou o ouro para a mesa onde seria colocado o pão de presença e para as outras mesas de ouro; fez o mesmo com a prata para as mesas de prata. Pesou igualmente o ouro puro para os garfos usados para pegar a carne dos sacrifícios, e também para as bacias, taças e tigelas de ouro e prata. Finalmente, pesou o ouro refinado para o altar de incenso e para os querubins de ouro, cujas asas abriam sobre a arca da aliança do Senhor. “Todos estes planos”, disse David a Salomão, “foram-me dados por escrito pela mão do Senhor.” Depois continuou: “Esforça-te, tem coragem e lança mãos à obra. Não te deixes atemorizar pela grandeza da tarefa, porque o Senhor, meu Deus, está contigo; não te abandonará. Ele próprio velará para que tudo se concretize. Estão aí indicados os vários grupos de sacerdotes e levitas que servirão no templo. Poderá haver outros com competências variadas que servirão como voluntários. Além disso, tens o exército e a nação inteira sob as tuas ordens.” David voltou-se depois para toda a assembleia: “O meu filho Salomão, que Deus escolheu para ser o próximo rei de Israel, ainda é novo e inexperiente e a tarefa que está à sua frente é enorme, porque o templo que terá de construir não é uma edificação qualquer; é algo a ser dedicado ao Senhor Deus! Usando todos os recursos que estavam à minha disposição, juntei tudo o que me foi possível para essa construção: ouro, prata, bronze, ferro, madeira, grandes quantidades de ónix e outras pedras preciosas, joias e mármore. Visto que amo a casa do meu Deus, do meu tesouro pessoal dediquei também muita coisa para essa obra, além dos materiais de construção que estão armazenados. Essas contribuições pessoais consistem em 100 000 quilos de ouro de Ofir e 235 toneladas de prata pura, para ser usada na cobertura das paredes do edifício. Este ouro e prata também serão utilizados no fabrico de utensílios e nas decorações. Quem quer agora seguir o meu exemplo? Quem quer consagrar-se a si próprio e tudo o que tem ao Senhor?” Então os chefes dos clãs, os cabeças das tribos, os oficiais do exército, os responsáveis da administração da casa real ofereceram voluntariamente um total de 170 toneladas, mais 84 quilos de ouro, 340 toneladas de prata, 610 toneladas de bronze e 3400 toneladas de ferro. Também ofereceram grande quantidade de joalharia, que foi depositada no tesouro do templo, à guarda de Jeiel, descendente de Gerson. Toda a gente estava feliz com esta oportunidade de serviço, pois deram de coração ao Senhor. O rei David ficou profundamente comovido de alegria. Ainda na presença de toda a assembleia, David expressou os seus louvores ao Senhor desta maneira: “ Senhor, Deus do nosso pai Israel, que o teu nome seja louvado sempre e sempre! Teu é o poder e a glória e a majestade e a vitória. Tudo o que há nos céus e na Terra te pertence, ó Senhor, e este reino é teu. Adoramos-te porque tudo está sob o teu controlo. Riquezas e honra vêm apenas por ti; tu és o juiz de toda a humanidade. Teu é o poder e a força. É por tua vontade que os homens se tornam grandes e recebem força. Ó nosso Deus, nós te louvamos e celebramos o teu nome glorioso! Quem sou eu e quem é o meu povo para te oferecermos tais coisas? Tudo o que temos vem de ti; nós apenas te damos aquilo que vem de ti! Nós vivemos aqui na Terra apenas por um curto espaço de tempo, como estrangeiros numa terra que era dos nossos pais. Os nossos dias na Terra são como uma sombra que passa rapidamente, sem deixar vestígios. Ó Senhor, nosso Deus, todos estes materiais que juntámos para construir um templo para o teu santo nome te pertencem! Eu sei, Deus meu, que provas os homens para veres se são retos, porque te agradas de homens sinceros. Sabes que fiz tudo isto com as mais puras intenções e que velei para que o povo oferecesse os seus donativos voluntariamente e com alegria. Senhor, Deus dos nossos pais Abraão, Isaque e Israel, faz com que o teu povo queira sempre obedecer-te e que o seu amor por ti nunca se altere! Dá ao meu filho Salomão um coração reto para contigo, para que queira obedecer às tuas leis, mandamentos e preceitos, e procure empenhadamente finalizar a construção do teu templo para o qual fiz estes preparativos.” Depois David disse a todo o povo: “Deem louvores ao Senhor, vosso Deus!” E todos louvaram o Senhor, Deus dos seus antepassados, inclinando-se diante do Senhor e do rei. No dia seguinte trouxeram 1000 novilhos, 1000 carneiros e 1000 cordeiros e ofereceram-nos em holocausto ao Senhor. Também apresentaram ofertas de vinho e muitos outros sacrifícios em favor de todo o Israel. Seguidamente, comeram e beberam perante o Senhor, com grande alegria. Novamente consagraram Salomão, o filho do rei David, como seu rei. Ungiram-no perante o Senhor como seu chefe e Zadoque como seu sacerdote. Desta forma, Salomão sucedeu ao seu pai David no trono do Senhor; prosperou grandemente e todo o Israel lhe obedeceu. Os líderes nacionais, os comandantes do exército e todos os seus irmãos submeteram-se ao rei Salomão. O Senhor deu-lhe grande popularidade junto de todo o povo de Israel. Conseguiu angariar mais riquezas e honra do que qualquer outro rei que reinou anteriormente em Israel. David, filho de Jessé, reinou em Israel durante 40 anos; 7 anos em Hebrom e 33 anos em Jerusalém. Morreu numa idade avançada, rico e honrado. O seu filho Salomão reinou em seu lugar. A história do rei David foi escrita nas crónicas do profeta Samuel, na história escrita pelo profeta Natã e na história do vidente Gad. Estas narrativas dizem respeito ao seu reino, ao seu poder e a tudo o que lhe aconteceu, a si e a Israel, assim como aos reis dos povos vizinhos. Salomão, filho do rei David, era agora o incontestado governante de Israel, porque o Senhor, seu Deus, era com ele e fez dele um poderoso rei. O rei David tinha levado a arca de Deus para Jerusalém, onde a colocou numa tenda levantada no lugar que tinha preparado, quando a mandou vir de Quiriate-Jearim. Também o altar de bronze, feito por Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, ainda ali se encontrava defronte do velho tabernáculo. Salomão e aqueles que ele convocara reuniram-se diante dele, enquanto foram sacrificados 1000 holocaustos como oferta ao Senhor. Nessa noite, Deus apareceu a Salomão e disse-lhe: “Pede-me o que quiseres e dar-te-ei!” Salomão respondeu: “Ó Deus, tu foste extremamente bondoso para com o meu pai, David, e agora deste-me o reino. Só pretendo, ó Senhor Deus, que as tuas promessas se confirmem! A tua palavra, dirigida a meu pai, David, concretizou-se e fizeste-me rei sobre um povo tão numeroso como o pó da terra! Dá-me agora sabedoria e conhecimento para conduzi-lo com competência. Pois quem seria capaz de governar uma tão grande nação como esta?” Deus respondeu-lhe: “Sendo que o teu maior desejo é seres capaz de servir este povo e que não pretendeste nem riquezas nem honras pessoais, nem pediste que amaldiçoasse os teus inimigos, nem tão-pouco que te desse uma longa vida, mas sabedoria e conhecimento para guiar o meu povo, concedo-te o que me pediste, e ainda te darei tantas riquezas, prosperidade e honras como nenhum outro rei antes ou depois de ti! Não haverá depois de ti outro semelhante em toda a Terra!” Salomão deixou a tenda do encontro, desceu a colina e voltou para Jerusalém, para iniciar o seu mandato real sobre Israel. Organizou uma enorme força militar com 1400 carros de combate e recrutou 12 000 cavaleiros, para formarem uma guarda de proteção às cidades onde ficaram depositados os carros, ainda que alguns tivessem ficado em Jerusalém, sob o controlo direto do rei. Naqueles dias, o rei tornou a prata e o ouro tão abundantes como as pedras em Jerusalém; o cedro também não tinha muito mais valor do que a madeira de uma simples figueira brava de planície. Salomão enviou ao Egito especialistas no comércio de cavalos para comprarem manadas inteiras a preços especiais. Por esse tempo, os carros egípcios eram vendidos por 7 quilos de prata e os cavalos por cerca de 1,7 quilos de prata, e entregues em Jerusalém. Muitos eram posteriormente vendidos a reis hititas e arameus. Salomão decidiu que chegara o momento de construir o templo ao Senhor e um palácio para si próprio. Contratou 70 000 operários, 80 000 canteiros para trabalharem nas montanhas e 3600 capatazes. Salomão mandou um embaixador ao rei Hirão de Tiro, pedindo-lhe que lhe enviasse carregamentos de madeira de cedro, à semelhança do que fizera com David, quando este construíra o seu palácio. “Pretendo construir um templo ao Senhor, meu Deus”, disse Salomão a Hirão. “Será um lugar onde poderei queimar incenso aromático perante Deus, e apresentar o pão da Presença, assim como sacrificar holocaustos de manhã e ao fim do dia, nos sábados, nas celebrações da lua nova e noutras festividades regulares em honra do Senhor, nosso Deus. Porque Deus pretende que Israel celebre sempre estas ocasiões especiais. Será um templo maravilhoso, porque Deus é grande como não há outro igual. Quem poderá construir-lhe uma casa condigna? Nem as alturas mais sublimes do firmamento o podem conter! Quem sou eu para ousar construir um templo a Deus? Será sobretudo um lugar para queimar incenso diante dele! Por isso, envia-me um artífice habilidoso a trabalhar o ouro e a prata, e também o bronze e o ferro; manda-me também homens que saibam trabalhar com púrpura, carmesim e tecido azul. Preciso também de gente capaz para fazer a obra de gravador, para trabalhar ao lado dos artistas de Judá e de Jerusalém, que o meu pai selecionou. Manda-me igualmente madeira de cedro, faia e sândalo, da floresta do Líbano, porque sei que os teus homens não têm concorrentes na habilidade de cortar madeira; mandarei gente minha para os ajudar. Terei necessidade de muita madeira, pois o templo que irei construir será de uma grandeza e de uma beleza nunca vistas. Pagarei aos teus homens 3200 toneladas de trigo malhado, 3200 toneladas de cevada, 440 000 litros de vinho e 440 000 litros de azeite.” O rei Hirão respondeu ao rei Salomão: “O Senhor ama o seu povo, por isso fez de ti seu rei! Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que fez os céus e a Terra, e que deu a David um filho tão sábio, inteligente e capaz, a fim de construir um templo para Deus e um palácio real para si próprio! Vou mandar-te Hurão Abiú, um mestre artífice; é um homem muito competente. É filho de uma mulher judia, da tribo de Dan de Israel; seu pai era daqui de Tiro. É um hábil trabalhador em ouro e prata; faz também belos trabalhos em bronze e ferro. Sabe tudo sobre obras de talhe em pedra e carpintaria; sabe também trabalhar com tecidos de púrpura, vermelho, azul e linho fino. Conhece igualmente o trabalho de gravador, tendo uma grande capacidade inventiva. Poderá trabalhar com os teus operários e com aqueles que o teu pai, o meu senhor David, selecionou para essa obra. Manda então o trigo, a cevada, o azeite e o vinho que mencionaste. Começaremos a cortar madeira nas montanhas do Líbano, tanta quanto necessitares. Enviá-la-emos em jangadas pelo mar até Jope; daí poderás transportá-la até Jerusalém.” Salomão fez, por esse tempo, o recenseamento dos estrangeiros que viviam no país, tal como fizera o seu pai David: eram 153 600. Empregou 70 000 como operários, 80 000 como pedreiros e 3600 como capatazes. Finalmente, começou a construção do templo em Jerusalém, no cimo do monte Moriá, onde o Senhor aparecera a David, seu pai, onde se localizava a eira de Ornã, o jebuseu. Foi David quem escolheu esse sítio. O início da construção teve lugar no dia 2 do segundo mês, no quarto ano do reinado de Salomão. A parte principal do templo era forrada com madeira de cipreste, coberta de ouro puro, com gravações de folhas de palmeiras e cadeias. Havia pedras preciosas incrustadas nas paredes, para aumentar a sua beleza; o ouro era do melhor, de Parvaim. Todas as paredes, traves, portas e ombreiras das entradas do templo estavam cobertas de ouro com querubins gravados. Dentro, numa extremidade, ficava o local mais sagrado, o lugar santíssimo, com 10 metros quadrados. Esta área também era toda coberta de ouro do mais puro, pesando 21 toneladas. Os pregos ali usados eram igualmente de ouro e pesavam 575 gramas cada. As salas superiores estavam também forradas a ouro. Dentro da referida dependência, o lugar santíssimo, Salomão colocou duas esculturas de querubins revestidas de ouro. À entrada desta sala colocou um véu em azul, vermelho, púrpura e linho fino, decorado também com querubins. Na frente do templo havia dois pilares de 17,5 metros de altura, com capitéis de 2,5 metros que os ligavam ao teto. Mandou fazer cadeias, como as do santuário, e colocou-as no cimo dos pilares; havia 100 romãs ligadas às cadeias. Os pilares, colocou-os um à direita e o outro à esquerda, na parte da frente do templo, e deu-lhes nomes: ao da direita deu o nome de Jaquim, ao da esquerda, Boaz. Mandou também fazer um altar de bronze, quadrado, com 10 metros de lado e 5 metros de altura. Depois mandou forjar um enorme tanque redondo, também chamado mar de fundição, com um diâmetro de 5 metros. A borda dessa grande bacia ficava a 2,5 metros do chão; a sua circunferência media 15 metros. Estava apoiada nas costas de duas fileiras de bois em metal. Todo o conjunto, tanto dos bois como do tanque, foi feito de uma só peça. Este assentava sobre doze bois de metal com as partes traseiras viradas para o interior; três voltados o norte, três para o sul, três para o este e três para o oeste. As paredes do tanque mediam 8 centímetros de espessura. O seu rebordo era como o de uma taça em forma de lírio. Tinha capacidade para 66 000 litros. Mandou ainda construir dez vasilhas para água, com o fim de se lavarem nelas as ofertas; estavam dispostas cinco de cada lado da imensa bacia, à direita e à esquerda. Os sacerdotes usavam a bacia, e não as vasilhas, para se lavarem. Seguindo cuidadosamente as instruções, mandou moldar dez candelabros de ouro e colocou-os no templo, cinco junto da parede da esquerda e os outros cinco do lado oposto. Fez também dez mesas, colocando cinco junto da parede da esquerda e cinco do lado oposto. Moldou ainda cem bacias em ouro. Construiu um pátio para os sacerdotes e outro para o público. Forrou as portas de acesso com bronze. O grande tanque estava no canto sudeste da sala exterior do templo. Hurão fez também o resto dos utensílios necessários: bacias, pás e tinas. Por fim, Hurão terminou toda a obra para o templo, que Salomão lhe encomendara: dois pilares; um capitel para o cimo de cada pilar; rosáceas para cobrir as bases dos capitéis de cada pilar; 400 romãs, em duas filas, no trabalho das rosáceas, para cobrir as bases dos dois capitéis; bases para sustentarem as pias; um grande tanque e doze bois para o suportar; bacias, pás e garfos. Este hábil artífice, Hurão Abiú, fez todos esses trabalhos acima mencionados para o rei Salomão, usando bronze polido. Tudo foi feito em bronze fundido e preparado nas planícies do Jordão, num sítio entre Sucote e Zereda. Foram usadas grandes quantidades de bronze, cujo peso era tal, que Salomão nem sequer registou o seu valor. No entanto, Salomão recomendou que todos os utensílios e o mobiliário da casa de Deus fossem feitos de ouro puro. Isto incluía o altar, as mesas onde se encontrava exposto o pão da Presença de Deus, os candelabros de ouro puro, com as lâmpadas que deviam estar acesas diante do lugar santíssimo, segundo o costume, as decorações florais, as lâmpadas, os espevitadores, os apagadores, as bacias, os perfumadores, os braseiros; tudo foi feito em ouro puro; também as portas do lugar santíssimo e as da entrada principal do templo. Todos estes objetos eram feitos de ouro puro. Quando o templo acabou de ser construído, Salomão colocou no tesouro do templo a prata, o ouro e todos os recipientes consagrados por seu pai, David. Então Salomão convocou para Jerusalém os anciãos de Israel, os cabeças de tribos e de clãs, a fim de fazerem subir a arca da aliança do Senhor da Cidade de David, que é Sião. Esta celebração ocorreu por ocasião da festa dos tabernáculos, no mês de Etanim, que é o sétimo mês. Sob o olhar dos anciãos de Israel, os levitas ergueram a arca. Os sacerdotes levitas transportaram a arca juntamente com a tenda do encontro, assim como os recipientes sagrados que tinham estado nela. O rei Salomão e todo o povo juntaram-se em frente da arca e ofereceram um número incontável de cordeiros e bois. Os sacerdotes pegaram na arca da aliança do Senhor e levaram-na para o interior do templo, para o lugar santíssimo, colocando-a sob as asas dos querubins. Estes tinham sido construídos de forma que as asas se abriam sobre o lugar em que a arca se encontrava; assim, as asas faziam sombra sobre a arca e sobre as varas para a transportar. Estas eram tão compridas que ultrapassavam os querubins e podiam ser vistas diante da arca, embora não se vissem do pátio exterior; ali ficaram até ao dia de hoje. Na arca estavam somente as duas placas de pedra que Moisés ali colocara, no monte Horebe, quando o Senhor fez uma aliança com o povo de Israel, no tempo em que deixara o Egito. Depois de terem executado as cerimónias da sua própria purificação, todos os sacerdotes participaram das cerimónias, sem se preocuparem com as funções de cada um. Os levitas davam louvores ao Senhor, quando os sacerdotes saíam do lugar santíssimo. Como cantores havia Asafe, Hemã, Jedutun e todos os seus filhos e irmãos, vestidos com tecidos de linho fino; mantinham-se no lado oriental do altar. Este coro era acompanhado por 120 sacerdotes que tocavam cornetas. Outros tocavam címbalos, liras e harpas. Tanto a banda como o coro louvavam harmoniosamente e agradeciam ao Senhor. Os cantores eram acompanhados e intercalados com partes musicais, pelos instrumentos, e cantavam: “O Senhor é bom! A sua bondade é eterna!” Nessa altura, a glória do Senhor, vindo como uma nuvem luminosa, encheu o templo. Os sacerdotes não puderam cumprir o seu serviço, porque a glória do Senhor enchia o santuário. Salomão dirigiu a Deus, nessa ocasião, a seguinte oração: “O Senhor disse que habitaria na densa escuridão; mas eu fiz um templo, ó Senhor, para aí manteres, para sempre, a tua presença!” O rei virou-se seguidamente para o povo, que se levantou para receber a sua bênção: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, o Deus que falou pessoalmente ao meu pai, David, e cumpriu as promessas que lhe fez. Disse-lhe, com efeito: ‘Nunca antes, desde que tirei o meu povo do Egito, tinha escolhido um local em Israel para aí construir o meu templo, um lugar onde o meu nome fosse glorificado; também nunca antes escolhera um rei para o meu povo Israel. No entanto, agora escolhi Jerusalém para ali estabelecer o meu templo e David como rei.’ Ele quis construir um templo para o nome do Senhor, o Deus de Israel. Contudo, o Senhor disse-lhe: ‘Tiveste a feliz ideia de me construir um templo, para a habitação do meu nome. Mas não serás tu a construí-lo; será o filho que te há de nascer quem edificará um templo ao meu nome!’ O Senhor fez como prometera; eu tornei-me rei, sucedendo a meu pai, e construí este templo, tal como o Senhor disse, para o nome do Senhor, o Deus de Israel. Coloquei nele a arca que contém o documento da aliança que o Senhor fez com o seu povo de Israel.” Seguidamente, sempre na presença de todo o povo, Salomão pôs-se diante do altar do Senhor com as mãos estendidas para os céus. Salomão tinha feito uma plataforma de bronze, quadrada, com 2,5 metros de lado e 1,5 metros de altura. Depois, sob o olhar de todo o povo, ajoelhou-se e, com as mãos estendidas para os céus, formulou esta oração: “Ó Senhor, Deus de Israel, não há outro Deus como tu no céu ou na Terra! Tu és misericordioso e bom, e guardas a aliança e o teu amor para com todos os que te obedecem de coração e estão desejosos de fazer a tua vontade. Cumpriste as promessas que fizeste ao teu servo David, meu pai, como hoje se vê. E agora, ó Senhor, Deus de Israel, cumpre igualmente o resto da promessa que lhe fizeste, que sempre haveria um herdeiro no trono de Israel, se os seus descendentes obedecessem à tua Lei, como ele fez. Sim, ó Senhor, Deus de Israel, cumpre esta promessa feita ao teu servo David. Será realmente possível que Deus viva na Terra com os homens? Os céus dos céus não podem conter-te! Como seria isso possível neste templo que acabo de construir? Ainda assim, ó Senhor, meu Deus, ouve e responde ao meu pedido. Peço-te que de noite e de dia veles sobre este templo, este lugar onde disseste que haverias de pôr o teu nome. Ouve e responde às orações que eu te fizer, quando me voltar para este lugar. Ouve qualquer súplica que o povo de Israel te dirigir, sempre que se virar para este lugar para orar. Sim, ouve desde os céus onde vives e, quando ouvires, perdoa. Se alguém for acusado de pecar contra alguém e se puser aqui diante do teu altar jurando que não o fez, ouve desde os céus e exerce a tua justiça; condena o culpado, fazendo recair sobre ele o castigo pelo mal que praticou, e faz justiça ao inocente, recompensando-o devidamente. Se o teu povo for derrotado pelos teus inimigos, por ter pecado contra ti, mas depois se arrepender e confessar que és o seu Deus, orando a ti neste templo, ouve-o do céu, perdoa-lhe o seu pecado e trá-lo de novo a esta terra que deste aos seus antepassados. Quando os céus se fecharem e não houver mais chuva, por causa dos nossos pecados, se orarmos neste lugar, confessando que és o nosso Deus, e nos arrependermos dos nossos pecados, depois de nos teres castigado, então ouve do céu e perdoa os pecados do teu povo; ensina-lhe o que é reto e manda chuva sobre esta terra que deste ao teu povo como herança. Se houver fome provocada por doenças nas plantas, por pragas de insetos ou outros bichos nocivos, se os inimigos de Israel atacarem as suas cidades, se o povo for ferido por alguma praga ou epidemia, ou por outra coisa qualquer, ouve a oração e a súplica de cada um ou do teu povo de Israel que, arrependido, levanta as mãos em oração voltado para esta casa. Ouve desde o céu, onde vives, e perdoa; trata cada um conforme as suas ações, pois conheces o coração de todos os homens. Desta maneira, aprenderão a temer-te sempre e a andarem nos teus caminhos, enquanto viverem nesta terra que deste aos seus antepassados. Quando estrangeiros ouvirem falar do teu grande nome e do teu forte braço, e vierem de terras distantes para prestar culto ao teu grande nome, se orarem voltados para este templo, escuta-os, desde o céu onde estás, e responde ao que pedirem. Então todos os povos da Terra se darão conta da grandeza do nosso Deus e o adorarão, como faz o povo de Israel; também eles saberão que este templo que mandei construir é o teu templo. Se o teu povo sair, para onde quer que tu os envies à guerra, para combater os seus inimigos e orar a ti voltando-se para esta cidade que tu escolheste e para este templo que edifiquei ao teu nome, ouve as suas orações desde o céu e dá-lhe a vitória. Se pecarem contra ti, e não há ser humano que não peque, e te indignares contra eles, se permitires que os seus inimigos os derrotem e os levem cativos para países estrangeiros, longe ou perto, e se nessa terra de exílio se converterem a ti e se virarem para esta terra que deste aos seus antepassados, para esta cidade de Jerusalém e para este teu templo que mandei construir e disserem: ‘Pecámos, procedemos perversamente e praticámos o mal’, e se ali orarem e te rogarem perdão com toda a sua alma, voltados para a terra que deste aos seus antepassados, para a cidade que escolheste e a casa que edifiquei ao teu nome, então perdoa-lhes, responde-lhes do céu, onde vives, e socorre-os, perdoando o teu povo que pecou contra ti. Sim, ó meu Deus, pedimos-te que estejas sempre atento e pronto a responder a todas as orações que te forem feitas neste lugar. Levanta-te, Senhor Deus, e entra no teu templo, lugar do teu repouso, juntamente com a arca que é a expressão do teu poder. Os sacerdotes hão de vestir-se de salvação e todo o teu povo se encherá de alegria. Senhor Deus, não me abandones! Que o teu rosto se não volte contra mim, o teu ungido! Lembra-te do amor que revelaste para com David, teu servo, e das tuas misericórdias.” Quando Salomão acabou de orar, desceu fogo do céu e consumiu os holocaustos. A glória do Senhor encheu o templo. Foi de tal forma que os sacerdotes nem podiam sequer lá entrar! Todo aquele povo que ali estava prostrou-se com o rosto em terra, adorou e louvou o Senhor, quando viu aquilo: “O Senhor é bom! A sua bondade é eterna!” Os sacerdotes encontravam-se nos lugares que lhes eram atribuídos, segundo as suas funções; os levitas acompanhavam com instrumentos os cânticos de louvor ao Senhor, “porque a sua bondade é eterna.” Os instrumentos que usavam eram os que David fizera, ele próprio, e usara para o culto do Senhor. Chegando a altura em que os sacerdotes tocaram as trombetas, todo o povo se ergueu e ficou de pé. Salomão consagrou o pátio interior do templo, para uso naquele dia, como local de sacrifício para os holocaustos das ofertas de cereais e da porção de gordura das ofertas de paz, porque estes eram tantos que se tornava incomportável sacrificar no altar de bronze. Nos sete dias seguintes, Salomão celebrou com todo o Israel, a festa dos tabernáculos e reuniu-se ali uma grande multidão que chegava de toda a parte de Israel. Vinham desde Hamate, numa das extremidades do país, até ao ribeiro do Egito, no lado oposto. No final, no oitavo dia, realizaram uma assembleia, pois tinham celebrado a dedicação do altar em sete dias e o festival em sete dias suplementares. Depois, no dia 23 do sétimo mês, o povo foi mandado para casa, no meio de grandes manifestações de alegria e muito contentamento interior, porque o Senhor tinha sido tão bom para David e Salomão e para o seu povo de Israel. Salomão terminou assim a construção do templo e também a do seu próprio palácio; tudo conforme planeara. De noite, apareceu-lhe o Senhor, que lhe disse: “Ouvi a tua oração e escolhi este sítio para o templo onde me será prestado culto. Se eu fechar os céus de forma a que não haja mais chuva, se ordenar aos gafanhotos que consumam as searas, ou se enviar uma epidemia entre o povo, então, se o meu povo a quem dei o meu nome se humilhar, orar e me buscar, arrependendo-se dos seus pecados, eu responderei desde o céu, perdoarei os seus pecados e sararei a terra. Estarei bem atento e favorável às orações feitas neste lugar. Porque escolhi este templo e o santifiquei para que o meu nome seja nele glorificado para sempre. Os meus olhos e o meu coração estarão aqui continuamente. Quanto a ti mesmo, se andares perante mim como o teu pai, David, se a tua vida se conformar com tudo quanto te ordenei, se respeitares os meus mandamentos e guardares a minha palavra, farei com que os teus descendentes sejam reis de Israel para sempre, tal como prometi a David, teu pai, quando lhe disse: ‘Não te faltará descendente para reinar sobre o trono de Israel.’ Contudo, se tu ou os teus filhos se afastarem de mim, se deixarem de seguir as leis e mandamentos que vos dei, para servirem e adorarem outros deuses, então arrancarei este povo da minha terra que lhes dei, e este templo, que santifiquei para que o meu nome seja nele glorificado, será destruído. Afastá-lo-ei da minha vista e farei com que o meu povo se torne motivo de desprezo e de escárnio para todas as nações; uma desgraça que toda a gente receia que venha a acontecer-lhe. Este templo ficará num montão de ruínas, e qualquer pessoa que por aqui passar ficará espantada e abanará a cabeça, dizendo: ‘Porque é que o Senhor fez tais coisas a esta terra e a este templo?’ A resposta será: ‘Porque este povo abandonou o Senhor, Deus dos seus antepassados, o Deus que o tirou da terra do Egito, e agora adora outros deuses. Foi por essa razão que o Senhor trouxe sobre ele este grande mal.’ ” Tinham-se passado 20 anos desde que Salomão se tornara rei, e os seus grandes projetos de construção, como o templo e o palácio real, estavam concretizados. Por isso, dedicou as suas energias à reconstrução das cidades que Hirão, rei de Tiro, lhe dera e repovoou-as com gente de Israel. Foi também por essa altura que Salomão atacou a cidade de Hamate-Zobá e a tomou. Edificou Tadmor, no deserto, e construiu povoações em Hamate como centros de abastecimento. Fortificou as cidades de Bete-Horom de Cima e Bete-Horom de Baixo, ambas de reabastecimento, reconstruindo as muralhas e reforçando os portões das entradas. Edificou igualmente Baalate e outras cidades para depósito de abastecimentos, construindo ao mesmo tempo povoações onde os seus carros de combate e os cavalos eram guardados. Construiu, tanto em Jerusalém como no Líbano e em todas as terras do seu domínio, tudo quanto teve em mente edificar. O povo que recrutou para tributo de trabalho obrigatório foi o que sobreviveu dos países conquistados: amorreus, hititas, perizeus, heveus e jebuseus, gente que não era do povo de Israel. Porque o povo de Israel não tinha sido capaz de os expulsar completamente, quando da conquista da terra de Israel, e por isso se mantém ainda hoje a prática de obrigar o tributo de trabalho obrigatório. Não recrutou nenhum israelita; estes foram chamados, sim, mas para o serviço militar, como soldados e como oficiais, como condutores de carros de combate e tropa de cavalaria. Além disso, tinha 250 homens de Israel responsáveis pelos diversos serviços. Salomão fez a filha do Faraó mudar os seus aposentos da Cidade de David para o novo palácio que lhe construíra. “Ela não deve viver no palácio do rei David”, explicou ele, “porque a arca do Senhor esteve ali e é solo sagrado.” Salomão ofereceu holocaustos ao Senhor sobre o altar que mandara edificar e que estava defronte do pórtico do templo. O número dos sacrifícios variava de dia para dia, segundo as instruções dadas por Moisés; aos sábados havia sacrifícios extras, assim como nas luas novas e nas três festividades anuais: a celebração dos pães sem fermento, a festividade das semanas e a festividade dos tabernáculos. Na atribuição das funções e dos postos que os sacerdotes deviam ocupar, seguiu o esquema que o seu pai tinha preparado; também aos levitas foi atribuído trabalho de louvor e de apoio às funções sacerdotais, de acordo com os seus deveres diários; colocou também equipas de porteiros em cada entrada do templo, tal como tinha ordenado David, homem de Deus. Desta forma, se cumpriram as instruções de David quanto aos sacerdotes, aos levitas e quanto à guarda dos tesouros. Desta forma, Salomão completou inteiramente a construção do templo. O soberano deslocou-se depois a Eziom-Geber, onde tinha um estaleiro naval, e a Elote em Edom. Foi preparar a saída de uma frota enviada por Hirão. Estes barcos, com uma tripulação experiente, trabalhando em conjunto com os homens de Salomão, foram a Ofir e trouxeram cerca de 15 toneladas de ouro para o soberano de Israel. Ouvindo a rainha de Sabá toda a fama de Salomão, resolveu vir apresentar-lhe pessoalmente algumas questões bastante complexas, para ver a resposta que daria. Chegou a Jerusalém com uma grande comitiva e muitos camelos carregados de especiarias, ouro e joias, e colocou-lhe as questões que entendeu. Salomão a tudo respondeu; nada se revelou demasiado difícil para ele; deu-lhe sempre a resposta exata. Ela depressa se deu conta de que tudo o que lhe tinham dito, quanto à sua grande sabedoria, era verdadeiro. Pôde igualmente constatar a beleza do seu palácio. Quando viu os ricos pratos que vinham à mesa, o grande número de criados a servir nos seus belos uniformes, os copeiros e os inúmeros sacrifícios que oferecia pelo fogo ao Senhor, ficou como que fora de si, de espanto! A rainha disse a Salomão: “O que ouvi no meu país, acerca da tua sabedoria e das belíssimas coisas que aqui há, é tudo verdade. Antes de chegar não podia acreditar, mas agora eu própria pude verificar tudo isso com os meus próprios olhos. O que me tinham contado não correspondia sequer a metade da realidade! A tua sabedoria é muito maior do que aquilo que tinha ouvido! O teu povo é feliz, o pessoal do teu palácio está satisfeito; e não podia ser de outra forma, se vivem constantemente a ouvir a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, o teu Deus, que te escolheu e te colocou sobre o trono de Israel. Como o Senhor, o teu Deus, deve amar Israel, para o estabelecer para sempre, porque lhe deu um rei como tu! E tu ofereces ao teu povo uma governação justa e boa!” Depois deu ao rei um presente de 4000 quilos de ouro e uma enorme quantidade de especiarias e de pedras preciosas. Nunca se viu em Israel tantas e tais especiarias como as que ofereceu a rainha de Sabá a Salomão. As tripulações do rei Hirão, com as do rei Salomão, trouxeram ouro de Ofir, madeira de sândalo e pedras preciosas. A madeira, usou-a o rei para fazer soalhos para a casa do Senhor e para o palácio real e para fabricar instrumentos, como harpas e liras, que acompanhassem os cantores. Nunca antes tinha havido instrumentos de tanta beleza em toda a terra de Judá. O rei Salomão ofereceu à rainha de Sabá presentes do mesmo valor daqueles que ela lhe trouxera, e ainda tudo aquilo que lhe pediu. Depois disso, a rainha regressou à sua terra acompanhada de toda a sua comitiva. Todos os anos Salomão recebia 23 toneladas de ouro. Além disso, mantinha relações comerciais com a Arábia, exportando mercadorias em troca do ouro e da prata que lhe enviavam. Salomão mandou fazer, com parte desse ouro, 200 peças de armadura, pesando cada uma 7 quilos. E ainda 300 escudos, tendo mandado pesar para cada um aproximadamente 3,5 quilos de ouro. Conservou-os no Salão da Floresta do Líbano. Também mandou construir um enorme trono de marfim e revesti-lo de ouro puro. Tinha seis degraus e um estrado, tudo em ouro; os apoios de braços eram igualmente de ouro, assim com os dois leões que lhe estavam juntos. Nos degraus havia igualmente dois leões, de cada lado, ao todo doze. Não havia no mundo outro trono tão deslumbrante como aquele. Todas as taças que o rei Salomão usava eram de ouro puro, e no Salão da Floresta do Líbano todo o serviço de jantar era feito em ouro. Não se usava prata, porque nesse tempo não tinha muito valor. De três em três anos, o rei enviava barcos a Társis, tripulados por marinheiros enviados pelo rei Hirão, para trazerem ouro, prata, marfim, macacos e pavões. Desta forma, o rei Salomão era o mais rico e o mais sábio de todos os reis da Terra. Soberanos de todos os países vinham visitá-lo e ouvir da sua boca a sabedoria que Deus lhe pusera no coração. Traziam-lhe igualmente, todos os anos, presentes em prata e ouro, armas, rico vestuário, especiarias, cavalos e mulas. Para além disso, Salomão tinha 4000 estábulos e cocheiros para guardar carros de guerra; eram 12 000 os seus cavaleiros. O local de estacionamento de todo este equipamento e das tropas era nas cidades destinadas a carros de combate, e também em Jerusalém, sob o controlo direto do soberano. O seu domínio exercia-se sobre todos os reis, desde o rio Eufrates até à terra dos filisteus e até à fronteira do Egito. Naqueles dias, o rei tornou a prata tão abundante como as pedras em Jerusalém; o cedro também não tinha muito mais valor do que a madeira de uma simples figueira brava de planície. Traziam-lhe cavalos de toda a parte, tanto do Egito como doutros sítios. Quanto ao resto dos feitos de Salomão está escrito nas Crónicas do Profeta Natã, nos escritos proféticos de Aías, o silonita, e nas visões de Ido, o vidente, no que concerne a Jeroboão, filho de Nebate. Salomão reinou em Jerusalém, sobre todo o Israel, durante 40 anos. Depois morreu e foi enterrado na Cidade de David. O seu filho Roboão reinou em seu lugar. Todos os chefes de Israel vieram à coroação de Roboão a Siquem. Entretanto, uns amigos de Jeroboão, filho de Nebate, mandaram dizer-lhe que Salomão morrera. Ele encontrava-se no Egito, por essa altura; tinha ido para lá para fugir ao rei Salomão. Por isso, regressou e esteve presente na coroação. Apresentou então, em nome do povo, uma petição a Roboão: “O teu pai foi um duro governante. Se te tornares mais brando, servir-te-emos!” “Deem-me três dias para pensar nesse assunto”, respondeu Roboão. “Voltem depois para saber a resposta.” E o povo foi-se embora. Roboão foi discutir o assunto com os velhos conselheiros do seu pai, Salomão: “O que pensam que devo fazer? O que é que lhes digo?” “Se queres ser o seu rei para sempre, terás de lhes dar uma resposta favorável e tratá-los com bondade.” Roboão recusou o conselho desses anciãos e mandou chamar os moços que tinham crescido com ele: “Amigos, que acham que devo fazer? Serei mais bondoso com eles do que foi o meu pai?” “Não!” responderam. “Diz-lhes assim: ‘Se pensam que o meu pai foi duro convosco, esperem um pouco e verão como eu serei! O meu dedo mindinho será mais grosso do que a cintura do meu pai! O meu jugo será mais duro e não mais brando! O meu pai castigou-vos com açoites; eu usarei um chicote de pontas de ferro!’ ” Jeroboão e o povo que estava com ele voltaram ao fim dos três dias para conhecer a decisão do rei Roboão. Este falou-lhes duramente, pois recusara o conselho dos anciãos. Seguiu o conselho dos mais novos: “O meu pai deu-vos pesados fardos, dizem vocês; pois o meu será ainda mais pesado! O meu pai castigou-vos com açoites; eu castigar-vos-ei com chicote de pontas de ferro!” Desta forma, o rei recusou o pedido do povo. Deus fez com que assim fosse, para que se cumprissem as predições feitas por Aías, o silonita, a Jeroboão, filho de Nebate. O povo deu-se conta de que o rei não tinha a intenção de ouvir o seu pedido. “Que temos nós a ver com David e a sua dinastia?”, gritaram furiosamente. “Arranjaremos outra pessoa para ser o nosso rei. Que Roboão governe a sua própria tribo de Judá! Nós vamos para a nossa terra!” E todos foram embora. Quanto aos israelitas que moravam nas cidades de Judá, Roboão continuou como seu rei. Quando o rei enviou Adonirão, que era administrador do serviço obrigatório, para fazer o alistamento dos homens das outras tribos, levantou-se um grande motim e apedrejaram-no até à morte. O rei Roboão conseguiu escapar num carro e fugiu para Jerusalém. Israel tem estado em rebelião contra a dinastia de David desde esse tempo. Ao chegar a Jerusalém, Roboão mobilizou as tropas de Judá e de Benjamim, 180 000 hábeis soldados, e declarou guerra contra o resto de Israel, numa tentativa de reunir o reino. Contudo, o Senhor enviou ao profeta Semaías, homem de Deus, a seguinte mensagem: “Vai dizer a Roboão, o filho de Salomão, rei de Judá, e a todo o povo de Judá e Benjamim estas palavras: O Senhor diz: Não combatam contra os vossos irmãos. Vão para casa; porque sou eu quem está por detrás desta rebelião.” Eles assim fizeram; obedeceram ao Senhor e desistiram de combater contra Jeroboão. Roboão ficou em Jerusalém e fortificou as seguintes povoações de Judá, reforçando muralhas e portas para maior segurança: Belém, Etã, Tecoa, Bete-Zur, Socó, Adulão, Gate, Maressa, Zife, Adoraim, Laquis, Azeca, Zora, Aijalom e Hebrom. Estas cidades fortificadas estão nos territórios de Judá e de Benjamim. Também reconstruiu e reforçou as fortalezas, guarnecendo-as com maiores contingentes de tropas sob o comando de oficiais, reabastecendo-as com comida, azeite e vinho. Também renovou as provisões, escudos e lanças, em cada cidade, como medida de segurança. Porque só Judá e Benjamim se mantiveram leais. Jeroboão designou outros sacerdotes no lugar dos primeiros, encorajando o povo a prestar culto a ídolos, e não a Deus, fazendo sacrifícios a imagens de ídolos feitas por mãos de homens, que haviam construído em forma de bodes e de bezerros. Houve também gente de todas as partes de Israel a mudar-se para Jerusalém, onde podia continuar a adorar livremente o Senhor, o Deus dos seus antepassados, e a prestar-lhe culto. Isto deu ainda mais força ao reino de Judá, pelo que o rei Roboão pôde fortalecer-se durante três anos sem dificuldade; porque, durante esse tempo, houve um esforço grande para obedecer ao Senhor, tal como os reis David e Salomão tinham feito. Roboão casou-se com Maalate, que era filha de Jerimote, filho de David e Abiail, filha de Eliabe, que era filho de Jessé. Três filhos nasceram desse casamento: Jeús, Semarias e Zaão. Mais tarde, casou-se também com Maacá, filha de Absalão. Os filhos que esta última lhe deu foram Abias, Atai, Ziza e Selomite. Roboão amou mais Maacá do que qualquer outra das mulheres ou concubinas e teve 18 mulheres e 60 concubinas que lhe deram 28 filhos e 60 filhas. Abias, filho de Maacá, era o seu favorito, e decidiu fazê-lo herdeiro no trono. Prudentemente espalhou os outros filhos pelas povoações fortificadas das terras de Judá e Benjamim, dando-lhes generosas pensões e a possibilidade de viver com muitas mulheres. Quando Roboão atingiu o auge da sua popularidade e poder, abandonou a Lei do Senhor, e o povo seguiu-o nesse pecado. Como resultado, o rei Sisaque do Egito atacou Jerusalém; era o quinto ano do reinado de Roboão. O rei egípcio atacou-o com 1200 carros de guerra, 60 000 cavaleiros e um número incalculável de tropas de infantaria: egípcios, líbios, suquitas e cuchitas. Sem dificuldade, conquistou as cidades fortificadas de Judá e logo se aproximou de Jerusalém. O profeta Semaías foi ter com Roboão e com os líderes de Judá, que se tinham concentrado em Jerusalém, fugindo de Sisaque. Disse-lhe: “Assim diz o Senhor: ‘Vocês abandonaram-me; por isso, vos abandonei e entreguei nas mãos de Sisaque.’ ” O rei e os líderes de Judá confessaram então os seus pecados e exclamaram: “O Senhor tem razão em fazer-nos isto!” Quando o Senhor viu que se humilhavam, falou novamente a Semaías dizendo-lhe: “Visto que se humilharam, não os destruirei completamente. Alguns escaparão. Não usarei Sisaque para derramar a minha ira sobre Jerusalém. Contudo, deverão ficar a pagar-lhe tributo. Assim dar-se-ão conta de como é muito melhor servir-me a mim do que a ele!” O rei Sisaque do Egito conquistou realmente Jerusalém e levou os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, assim como os escudos de ouro que Salomão mandara fazer. O rei Roboão mandou fazer escudos de bronze para substituir os outros, e os guardas do palácio passaram a usá-los. Sempre que o rei ia ao templo, os guardas formavam em parada, com os escudos, e depois punham-nos novamente na casa da guarda. Sendo que o rei se humilhou, a ira do Senhor desviou-se dele e não permitiu a destruição total; de facto, mesmo após a invasão de Sisaque, ainda havia boas condições de vida em Judá. O rei Roboão reinou 17 anos em Jerusalém, a cidade que o Senhor escolhera de entre todas as outras cidades de Israel para ali estar presente. Tornara-se rei com a idade de 41 anos; a sua mãe chamava-se Naamá, uma mulher amonita. Foi um mau rei, pois nunca decidiu, no seu coração, agradar ao Senhor. Os outros acontecimentos do reinado de Roboão estão registados nas crónicas escritas por Semaías, o profeta, e por Ido, o vidente, e também no Registo de Genealogias. Houve constantemente guerras entre Roboão e Jeroboão. Quando Roboão faleceu, foi enterrado em Jerusalém, e o seu filho Abias ascendeu ao trono. Judá, sob o comando do próprio rei Abias, reuniu um exército de 400 000 soldados, que se confrontou com uma força israelita duas vezes mais numerosa, formada de gente aguerrida e corajosa, conduzida pelo próprio rei Jeroboão. Quando as forças militares de Judá chegaram ao monte Zemaraim, na região das colinas de Efraim, o rei Abias gritou para o rei Jeroboão e para os soldados israelitas: “Escutem! Não se lembram que o Senhor, o Deus de Israel, jurou a David que os descendentes de David seriam sempre reis em Israel, mediante uma aliança de sal? O vosso rei Jeroboão, filho de Nebate, não é mais do que um servo do filho de David que traiu o seu senhor. Um bando de rebeldes indignos juntou-se a ele, desafiando Roboão, o filho de Salomão, o qual era novo e inexperiente e, por isso, não pôde fazer-lhes frente. Estarão verdadeiramente convencidos de que podem derrotar o reino do Senhor, conduzido por descendentes de David? O vosso exército é duas vezes superior ao meu, mas vocês têm convosco a maldição desses bezerros de ouro que estão no vosso meio e que Jeroboão mandou fazer, chamando-lhes deuses! Vocês lançaram fora os sacerdotes do Senhor e os levitas, designando em seu lugar sacerdotes pagãos. À semelhança dos povos de outras terras, aceitam como sacerdotes seja quem for que se chegue com um novilho e com sete carneiros para a consagração. Um qualquer pode ser sacerdote desses que nem sequer são deuses nenhuns! Quanto a nós, o Senhor é o nosso Deus; não o abandonámos! Só os descendentes de Aarão são os nossos sacerdotes e só os levitas podem ajudá-los nas suas funções. Queimam holocaustos todas as manhãs e todas tardes; ofertas queimadas e ofertas de incenso aromático ao Senhor; colocam o pão da Presença sobre a mesa santa. O candelabro de ouro é aceso todas as noites. Nós somos cuidadosos no cumprimento das instruções do Senhor que o nosso Deus nos deu; mas vocês abandonaram-no. Como veem, Deus está connosco. Ele é o nosso chefe. Os seus sacerdotes, tocando as cornetas, irão à nossa frente na batalha. Ó povo de Israel, não guerreiem contra o Senhor, o Deus de vossos pais, pois não ganharão!” Entretanto, Jeroboão tinha mandado secretamente parte do seu exército dar a volta por detrás das forças de Judá, para atacarem de surpresa. Dessa forma, Judá ficou cercada, com adversários atrás e à frente. Clamaram então pela misericórdia do Senhor e os sacerdotes tocaram as cornetas. Os homens de Judá começaram a gritar. Enquanto gritavam, Deus interveio a favor de Abias e contra Jeroboão e as tropas de Israel, Os israelitas fugiram diante dos soldados de Judá e Deus entregou-os nas suas mãos. Abias e o seu exército causaram grande matança entre eles, tendo sido mortos 500 000 soldados da elite israelita, naquele dia. Foi desse modo que Judá, dependendo do Senhor, do Deus dos seus antepassados, derrotou Israel. Perseguiu Jeroboão e capturou algumas das suas povoações, como Betel, Jesaná, Efrom e os respetivos subúrbios. O rei Jeroboão nunca mais recuperou o poder que tivera, durante a vida de Abias. Mais tarde, o Senhor feriu-o e ele morreu. Entretanto, o rei Abias de Judá tornara-se muito forte. Casou com 14 mulheres e teve 22 filhos e 16 filhas. A sua biografia completa e os seus discursos estão relatados na História de Judá do profeta Ido. Abias foi enterrado em Jerusalém, e o seu filho Asa sucedeu-lhe no trono. Durante os primeiros 10 anos do seu reinado houve paz na terra. Asa fez o que era bom e reto aos olhos do Senhor, seu Deus. Deitou abaixo os santuários pagãos sobre as colinas, derrubou os obeliscos e destruiu os vergonhosos ídolos de Achera. Pediu ainda a toda a nação que obedecesse à Lei e aos mandamentos do Senhor, o Deus dos seus antepassados. Também fez remover dos santuários pagãos as imagens e os altares de incenso de todas as povoações de Judá. Por isso, o Senhor manteve o seu reinado em paz, o que lhe deu a possibilidade de reconstruir cidades fortificadas, por toda a terra de Judá. “É agora que devemos fazer estas obras”, disse ao povo, “enquanto buscamos o Senhor, nosso Deus, e ele nos está a abençoar com paz. Edifiquemos e reforcemos estas cidades com muralhas, torres, portões e ferrolhos.” E assim levaram a cabo essas obras. O exército de Judá do rei Asa tinha 300 000 combatentes, equipados com escudos pequenos e com lanças. O contingente do seu exército originário de Benjamim totalizava 280 000 soldados, armados com grandes escudos e arcos. Ambos os exércitos eram compostos por homens valentes e bem treinados. A certa altura, Judá foi atacado por um exército de um milhão de homens, com trezentos carros de guerra, sob a liderança do General Zera, o cuchita. Estes avançaram para a cidade de Maressa, no vale de Zefatá. O rei Asa mandou as suas tropas ali ao seu encontro. “Ó Senhor ”, clamou ele a Deus, “ninguém mais nos pode socorrer! Aqui estamos nós, fracos e enfrentando um poderoso exército. Ajuda-nos, ó Senhor, nosso Deus! Pois confiamos só em ti para que nos salves. É no teu nome que vamos atacar este exército. Não permitas que meros homens possam derrotar-nos!” Então o Senhor derrotou os cuchitas diante de Asa e diante do exército de Judá, e estes fugiram. Perseguiram-nos até Gerar e todo o exército de cuchitas foi aniquilado, de tal forma que não se salvou nem um homem. Porque fora o Senhor e o seu exército quem os destruíra. As tropas de Judá trouxeram um abundante despojo. Enquanto estavam em Gerar, atacaram todas as cidades daquela zona e o terror do Senhor caiu sobre os habitantes dali. Como resultado, grandes quantidades de despojos foram trazidas daquelas cidades. Também destruíram currais e capturaram muito gado e camelos, antes de regressarem definitivamente a Jerusalém. Então o Espírito de Deus veio sobre Azarias, filho de Odede. Este foi encontrar-se com o rei Asa, quando o rei regressava da batalha. “Escuta-me, Asa! Ouçam, todos os exércitos de Judá e de Benjamim!”, gritou ele. “O Senhor estará convosco, enquanto vocês estiverem com ele! Sempre que o buscarem, o acharão. Mas se lhe virarem as costas, ele vos deixará. Durante muito tempo, o povo de Israel não prestou culto ao verdadeiro Deus, nem teve sacerdotes para o ensinar; viveram sem a Lei de Deus. Contudo, sempre que se voltavam para o Senhor, o Deus de Israel, e na sua angústia o procuravam, ele socorria-os. Nos tempos de rebelião contra Deus não havia paz, nem para os que saíam, nem para os que entravam. Um período de grandes perturbações veio sobre os habitantes daquela nação. Havia guerras no exterior e conflitos internos entre as cidades. Era Deus quem os afligia com todos esses apertos. Mas vocês, gente de Judá, esforcem-se por fazer o bem e não desanimem, porque serão recompensados.” Ouvindo as palavras e a mensagem do profeta Azarias, filho de Odede, Asa encheu-se de coragem e destruiu todos as abominações das terras de Judá e de Benjamim, assim como das povoações que tinha ocupado nas colinas de Efraim. Reconstruiu também o altar do Senhor do pórtico do templo do Senhor. Depois convocou todo o povo de Judá e de Benjamim e os imigrantes de Israel, porque muita gente viera dos territórios de Efraim, Manassés e Simeão, ao perceberem que o Senhor Deus estava com o rei Asa. Todos vieram a Jerusalém, no terceiro mês do décimo quinto ano do reinado de Asa. Sacrificaram ao Senhor 700 bois e 7000 cordeiros; era parte do despojo capturado na batalha. Em seguida, fizeram uma promessa solene de prestar culto unicamente ao Senhor, o Deus dos seus antepassados. Concordaram também que se alguém se recusasse a adorar o Senhor, Deus de Israel, deveria morrer, fosse velho ou novo, homem ou mulher. Juraram bem alto a sua lealdade ao Senhor, acompanhados de toques de trombetas e cornetas. Todos estavam felizes com este juramento, pois fizeram-no de boa vontade e de todo o seu coração. Buscaram o Senhor acima de todas as coisas e encontraram-no; por isso, o Senhor deu paz a toda a nação. O rei Asa retirou à sua avó Maacá a distinção de rainha-mãe, por ter sido ela quem fizera o abominável ídolo de Achera; destruiu esse ídolo desprezível, despedaçou-o e queimou-o, deitando as cinzas no ribeiro de Cedron. Contudo, em Israel não foram removidos os santuários pagãos sobre as colinas, apesar do coração de Asa se manter fiel ao Senhor todo o tempo da sua vida. Tornou a trazer para o templo as taças e as bacias de prata e de ouro que o seu pai tinha consagrado a Deus. Não houve guerra até ao trigésimo quinto ano do reinado de Asa. No ano 36 do reinado de Asa, o rei Bacha de Israel declarou-lhe guerra e construiu a fortaleza de Ramá, a fim de poder controlar a estrada de acesso a Judá. A resposta de Asa foi pegar no ouro e na prata do templo e do palácio e enviá-los ao rei Ben-Hadade de Aram, em Damasco, com esta mensagem: “Vamos renovar a aliança que existia entre o teu pai e o meu. Mando-te prata e ouro para te convencer a quebrares a aliança com Bacha, rei de Israel, para que me deixe tranquilo.” Ben-Hadade aceitou a proposta de Asa e mobilizou o seu exército com o fim de atacar Israel. Destruiu Ijom, Dan, Abel-Maim e todos os centros de reabastecimento em Naftali. Ouvindo o que acontecera, Bacha suspendeu os trabalhos que estava a fazer na fortaleza de Ramá. O rei Asa e o povo de Judá foram a Ramá, carregaram as pedras e a madeira da construção e usaram-nas para construir Geba e Mizpá. Por essa altura, veio ter com Asa o profeta Hanani que lhe disse: “Visto que puseste a tua confiança no rei de Aram e não no Senhor, teu Deus, o exército do rei de Aram escapou da tua mão. Não te lembras do que aconteceu ao imenso exército de cuchitas e líbios, com todos os seus carros e cavaleiros? Nesse tempo, confiaste no Senhor e ele entregou-os a todos nas tuas mãos. Porque os olhos do Senhor passam por toda a Terra, procurando aqueles cujo coração é reto diante dele, para lhes mostrar o seu poder e o seu socorro. Procedeste loucamente! Daqui em diante haverá guerras contra ti.” Asa ficou tão zangado com o profeta, por ter dito estas coisas, que o pôs na masmorra. A partir dessa altura, Asa começou a oprimir duramente alguns do povo. O resto dos feitos de Asa está escrito no Livro dos Reis de Israel e de Judá. No ano 39 do seu reinado, Asa ficou gravemente doente dos pés, mas nem mesmo assim procurou a ajuda do Senhor; confiou apenas nos médicos. Faleceu no ano 41 do seu reinado. Foi sepultado no túmulo que mandara construir para si na Cidade de David. Foi colocado numa cama cheia de especiarias e de óleos perfumados e o povo fez-lhe um enterro durante o qual se queimou muito incenso. Jeosafá, seu filho, reinou em seu lugar e mobilizou-se para a guerra contra Israel. Pôs guarnições militares em todas as cidades fortificadas de Judá, em vários outros pontos do seu território e também nas povoações de Efraim que o seu pai conquistara. O Senhor estava com Jeosafá, pois ele teve um comportamento semelhante ao que teve David no princípio, e não prestou culto às imagens do deus Baal. Obedeceu inteiramente aos mandamentos do Deus do seu pai, ao contrário do que acontecia para além das fronteiras com Israel. Por isso, o Senhor fortaleceu a sua posição como rei de Judá. Todo o povo cooperou, pagando as suas taxas. Em consequência, tornou-se muito rico e muito popular. Andou voluntariamente nos caminhos do Senhor; derrubou os santuários pagãos sobre as colinas e destruiu os ídolos de Achera nos bosques. No terceiro ano do seu reinado enviou os principais responsáveis da administração, como professores, por todas as cidades de Judá; eram eles Bene-Hail, Obadias, Zacarias, Netanel e Micaia. Também enviou levitas para esse efeito: Semaías, Netanias, Zebadias, Asael, Semiramote, Jónatas, Adonias, Tobias e Tobe-Adonias. Foram enviados igualmente os sacerdotes Elisama e Jeorão. Levaram cópias do livro da Lei do Senhor para as cidades de Judá, a fim de ensinarem a palavra de Deus ao povo. Então o temor do Senhor caiu sobre os reinos vizinhos, de tal forma que todos eles se abstiveram de declarar guerra ao rei Jeosafá. Alguns filisteus chegaram mesmo a trazer-lhe presentes e um tributo anual. Os árabes ofertaram-lhes 7700 carneiros e um número igual de bodes. Foi assim que Jeosafá se engrandeceu em extremo e construiu fortalezas e povoações de reabastecimento por toda a terra de Judá. O seu programa de obras públicas foi bastante intenso. Tinha um exército muito grande, estacionado em Jerusalém, a capital. 300 000 soldados estavam sob o comando do general Adna. Na hierarquia de comando seguia-se Jeoanã, com uma divisão de 280 000 homens. Depois Amasias, filho de Zicri, um homem bastante consagrado ao Senhor, que tinha a seu cargo 200 000 soldados. Benjamim forneceu 200 000 homens equipados com arcos e escudos, sob o comando de Eliada, um grande general. O segundo de Benjamim era Jeozabade, comandando 180 000 homens bem treinados para a guerra. Estas tropas estavam estacionadas em Jerusalém, para além daquelas que o rei colocara nas cidades fortificadas, por toda a terra de Judá. Apesar de rico e honrado, Jeosafá fez uma aliança de casamento do seu filho com a filha do rei Acabe de Israel. Alguns anos mais tarde, desceu a Samaria para visitar o rei Acabe. Este último deu uma grande festa em sua honra e da sua comitiva, matando grande número de cordeiros e de bois para essa receção. Depois pediu a Jeosafá que juntasse as suas forças militares às dele, contra Ramote-Gileade. “Claro!”, exclamou Jeosafá. “Estou contigo, seja de que forma for! As minhas tropas são tuas. No entanto, vamos primeiro consultar o Senhor sobre isso.” O rei Acabe convocou 400 dos seus profetas pagãos e perguntou-lhes: “Iremos à guerra contra Ramote-Gileade ou não?” Eles responderam-lhe: “Vai, sim, porque Deus te concederá a vitória!” Por sua vez, Jeosafá perguntou: “Não haverá aqui um profeta do Senhor? Gostaria de o interrogar também.” “Sim, há um”, respondeu o rei Acabe, “mas odeio-o, porque nunca profetiza nada de bom! É um tal Micaías, filho de Imlá.” Jeosafá replicou: “Acho que não devias falar assim.” Então o rei de Israel chamou um dos seus ajudantes: “Vai buscar Micaías, o filho de Imlá, depressa!” O rei de Israel e Jeosafá, rei de Judá, estavam sentados em tronos, com os seus trajes de gala, numa praça à entrada de Samaria, com todos os profetas pagãos profetizando em frente deles. Um dos profetas, Zedequias, filho de Quenaana, fez uns chifres de ferro e declarou: “O Senhor promete que com estes chifres empurrarás na tua frente os arameus, até os teres destruído.” E todos os outros concordavam: “Sim!”, diziam em coro. “Sobe a Ramote-Gileade e vencerás. O Senhor te fará prosperar nesse empreendimento.” O mensageiro encarregado de ir buscar Micaías contou-lhe o que os profetas estavam a declarar e pressionou-o para que dissesse a mesma coisa. Micaías, no entanto, respondeu-lhe: “Tão certo como vive o Senhor, que direi aquilo que o meu Deus me mandar dizer.” Quando chegou perante o rei, este perguntou-lhe: “Micaías, iremos nós à guerra contra Ramote-Gileade?” Micaías retorquiu: “Sim, com certeza. Vai e terás uma grande vitória!” O rei disse-lhe com rispidez: “Quantas vezes te tenho dito que quero que me fales unicamente o que o Senhor te manda dizer?” Então Micaías falou deste modo: “Tive uma visão em que vi todo o Israel disperso pelos montes como ovelhas sem pastor. E o Senhor disse: ‘Não têm pastor porque foi morto. Que cada um vá em paz para a sua casa!’ ” Voltando-se para Jeosafá, Acabe lamentou-se: “Não te disse que era isto que iria acontecer? Ele nunca me diz nada de bom; fala sempre mal.” Micaías continuou. “Ouve o resto da palavra do Senhor. Eu vi o Senhor sentado sobre o seu trono, com os exércitos celestiais à sua volta. O Senhor disse: ‘Quem irá convencer Acabe para que vá e morra em Ramote-Gileade?’ Várias sugestões foram feitas. Finalmente, apresentou-se um espírito diante do Senhor que disse: ‘Vou eu. Eu o persuadirei.’ O Senhor perguntou-lhe: ‘Como?’ Ele respondeu: ‘Serei um espírito de mentira na boca dos profetas.’ E o Senhor disse: ‘Isso dará resultado; conseguirás o que pretendes; podes ir.’ ” Micaías continuou, dirigindo-se ao rei: “Estás a ver que o Senhor pôs um espírito de mentira na boca destes teus profetas. Na realidade o que ele determinou foi o oposto do que têm estado a dizer!” Então Zedequias, o filho de Quenaana, adiantou-se e deu uma bofetada no rosto de Micaías: “Quando foi que o Espírito do Senhor me deixou a mim para falar por ti?” “Não tardará que tenhas a resposta”, respondeu-lhe Micaías, “quando te fores esconder no quarto interior!” O rei Acabe mandou que prendessem Micaías: “Levem-no a Amom, o governador da cidade, e a Joás, o meu filho. Digam-lhes: ‘O rei manda pôr este indivíduo no cárcere e alimentá-lo a pão e água, apenas o suficiente para que não morra, até que eu regresse em paz!’ ” “Se voltares em paz”, insistiu Micaías, “isso será a prova de que o Senhor não falou por mim.” Depois voltou-se para o povo que estava a assistir: “Tomem bem nota do que eu disse!” O rei Acabe de Israel e o rei Jeosafá de Judá levaram os seus exércitos contra Ramote-Gileade. O rei de Israel disse a Jeosafá: “Leva tu o fato real que eu irei disfarçado!” Então Acabe foi para a batalha trajando como um simples soldado. O rei de Aram tinha dado ordens aos capitães dos carros para que lutassem apenas contra Acabe. Quando viram o rei Jeosafá vestido com os trajes reais, pensaram: “É este o homem que procuramos.” Rodearam-no para o atacar, mas Jeosafá gritou ao Senhor para que o salvasse, e Deus fez com que os guerreiros dos carros percebessem o seu erro e o deixassem. Logo que viram que não era o rei de Israel, deixaram-no. Contudo, alguém atirou uma flecha ao acaso que foi precisamente ferir Acabe numa juntura da sua armadura. “Levem-me daqui para fora, porque estou ferido”, rouquejou ele ao condutor do carro. A batalha ia-se tornando cada vez mais intensa, à medida que o dia avançava. Tiveram que manter o rei Acabe de pé no seu carro diante dos arameus. Finalmente, ao anoitecer, morreu. O rei Jeosafá regressou à sua terra, a Jerusalém, são e salvo. O vidente Jeú, filho de Hanani, foi ao seu encontro. “Terá sido correto que tenhas ajudado um ímpio e tornado amigo de alguém que repudia o Senhor?”, perguntou-lhe. “Por isso, a ira do Senhor cairá sobre ti. Contudo, há boas coisas a teu respeito: tiraste os ídolos da deusa Achera e fizeste o possível por ser fiel a Deus.” Jeosafá viveu em Jerusalém. Mais tarde, tornou a deslocar-se pela terra, desde Berseba até às colinas de Efraim, para encorajar o povo a adorar o Senhor, Deus dos seus antepassados. Nomeou também juízes sobre toda a nação, estabelecidos nas principais cidades. Deu-lhes instruções: “Vejam bem como procedem; não fui eu quem vos nomeou, foi Deus. Ele estará convosco e vos ajudará a fazer justiça em cada caso que vos for apresentado. Tenham muito cuidado em nunca tomar decisões que não correspondam à vontade do Senhor. Porque não pode haver injustiça, nem parcialidade, nem suborno entre os juízes do Senhor, nosso Deus.” Jeosafá estabeleceu tribunais em Jerusalém, formados também por levitas, sacerdotes, líderes dos clãs e juízes para julgarem da parte do Senhor, bem como mediarem e resolverem controvérsias. Foram estas as instruções que lhes deu: “Vocês são chamados a agir sempre no temor do Senhor, com corações retos. Sempre que um caso vos seja referido pelos juízes da província, seja por agressão física ou assuntos referentes à violação da Lei e das ordenanças de Deus, deverão estabelecer com clareza todos os dados e, com provas em apoio, decidir com justiça, para que a ira do Senhor não venha sobre vocês e sobre eles. Se assim fizerem, livrar-se-ão de qualquer culpa em alguma injustiça que puder ser feita.” Depois nomeou Amarias, o sumo sacerdote, como presidente dos juízes, em casos que envolvessem a violação de coisas sagradas. Zebadias, filho de Ismael, chefe da tribo de Judá, foi nomeado presidente de todos os casos de carácter civil, tendo os levitas por assistentes. “Sejam corajosos no exercício das vossas funções!”, disse-lhes. “Que o Senhor seja com os que são retos!” Mais tarde, os exércitos dos reis de Moabe, de Amon e de uma parte dos meunitas, declararam guerra a Jeosafá e ao povo de Judá. Chegou ao conhecimento de Jeosafá que um vasto exército estava a marchar contra ele, vindo das partes do mar Salgado, de Edom, e que já estava em Hazazom-Tamar (também conhecida por En-Gedi). Jeosafá ficou profundamente abalado com estas notícias e decidiu implorar o socorro do Senhor. Anunciou que todo o povo de Judá deveria jejuar durante algum tempo. O povo veio de todas as partes da nação, até Jerusalém, para orarem juntos ao Senhor. Jeosafá ficou de pé, no meio do povo reunido no pátio novo do templo, e fizeram a seguinte oração: “ Senhor, Deus dos nossos pais, o único Deus dos céus, o dominador de todos os reinos da Terra, tu tens todo o poder e força. Quem poderá fazer-te frente? Ó nosso Deus, não foste tu quem expulsou os povos pagãos que viviam nesta terra de diante do teu povo Israel? E não foste tu quem deu esta terra aos descendentes de Abraão, o teu amigo? O teu povo estabeleceu-se neste lugar e edificou este templo ao teu nome. Cremos sinceramente que em tempos de angústia, como este, sempre que formos confrontados com uma calamidade, seja guerra, doença ou fome, poderemos vir à tua presença, neste templo, e clamar que nos salves, ouças e socorras. Atenta, pois, para aquilo que os exércitos de Amon, de Moabe e do monte Seir estão a fazer. Tu não permitiste aos nossos antepassados que invadissem essas terras, quando saíram do Egito; contornaram-nas e não as destruíram. Vê a recompensa que nos dão agora! Querem pôr-nos fora desta terra que nos deste. Ó nosso Deus, não irás tu detê-los? Não temos forma de nos protegermos desse poderoso exército. Não sabemos o que fazer; apenas temos os olhos postos em ti.” Enquanto todo aquele povo, vindo de todas as partes de Judá, estava ali perante o Senhor, com os filhos, mulheres e bebés, o Espírito do Senhor veio sobre um dos homens presentes, Jaaziel, filho de Zacarias, filho de Benaia, filho de Jeiel, filho de Matanias, o levita, que era um dos filhos de Asafe. “Que todo o povo me escute, povo de Judá e de Jerusalém, e também o rei Jeosafá!”, exclamou ele. “O Senhor diz: ‘Não tenham medo! Não fiquem paralisados por causa deste poderoso exército! Esta batalha não é vossa, mas de Deus! Amanhã, vão e ataquem-nos! Encontrá-los-ão subindo as ladeiras de Ziz, no fim do vale que se abre sobre o deserto de Jeruel. Nem terão necessidade de lutar! Tomem os vossos lugares de combate, fiquem quietos e vejam a maravilhosa operação de salvação que Deus realizará, ó povo de Judá e de Jerusalém! Não tenham medo, nem desfaleçam! Partam amanhã, porque o Senhor estará convosco!’ ” Então o rei Jeosafá inclinou-se, com o rosto no chão, e todo o povo de Judá e Jerusalém fez o mesmo, adorando o Senhor. Os levitas do clã de Coate e os do clã de Coré levantaram-se para louvar o Senhor, o Deus de Israel, com cânticos vibrantes e grande ressonância. Na manhã seguinte, cedo, as forças de Judá dirigiram-se para o deserto de Tecoa. Jeosafá, a meio do caminho, mandou-os parar e disse-lhes: “Escutem-me, ó povo de Judá e de Jerusalém. Creiam no Senhor, no vosso Deus, e ficarão firmes. Creiam nos seus profetas e tudo correrá bem!” Depois de ter consultado os líderes do povo, o rei determinou que um coro abriria a marcha do exército, vestindo as roupas santas e cantando o seguinte tema: “Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque o seu amor é eterno!” No momento em que começaram a cantar e a entoar os louvores, o Senhor pôs emboscadas sobre os exércitos de Amon, como de Moabe, e o do monte Seir, que estavam a invadir as terras de Judá, e eles foram todos derrotados. Eles começaram a guerrear entre si, destruindo-se mutuamente! Primeiro foram os dois exércitos dos amonitas e dos moabitas que investiram contra os do monte Seir, matando-os a todos. Quando acabaram, os dois exércitos voltaram-se um contra o outro. Quando as tropas de Judá chegaram ao miradouro que dá para o deserto, tudo o que podiam ver era corpos mortos, jazendo no solo; nem um só dos seus inimigos escapou. O rei Jeosafá e o povo desceram para apanhar o despojo, o dinheiro, a roupa e as joias que tiraram dos corpos; era tanto que levou três dias a saquear! No quarto dia juntaram-se no vale da Beraca (ação de graças), como é chamado hoje, e aí deram graças ao Senhor. Voltaram para Jerusalém, com Jeosafá à frente, cheios de alegria pela forma maravilhosa como o Senhor os tinha livrado dos seus inimigos. Entraram em Jerusalém acompanhados por uma orquestra de harpas, liras e cornetas e dirigiram-se ao templo. Quando os reinos vizinhos ouviram o que acontecera, que o Senhor, ele próprio, combatera contra os inimigos de Israel, o temor de Deus caiu sobre eles. O reino de Jeosafá permaneceu assim sossegado, porque Deus lhes dava paz. Jeosafá tornou-se rei de Judá aos 35 anos de idade e reinou 25 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Azuba e era filha de Sili. Fez o que seu pai Asa tinha feito, obedecendo ao Senhor em tudo, e fez sempre o possível por não se desviar dos caminhos de Deus, fazendo o que era reto aos olhos do Senhor. No entanto, não destruiu os santuários pagãos sobre as colinas, e o povo não se dispôs a seguir somente o Deus dos seus antepassados. Outros relatos dos acontecimentos respeitantes ao reinado de Jeosafá, do princípio ao fim da sua vida, podem encontrar-se na história de Jeú, o filho de Hanani, no Livro dos Reis de Israel. No final da sua vida, Jeosafá, rei de Judá, aliou-se a Acazias, rei de Israel, que era um homem mau. Associaram-se para a construção de navios, em Eziom-Geber, para navegarem até Társis. Então Eliezer, filho de Dodava, de Maressa, profetizou contra Jeosafá, dizendo: “Visto que te aliaste ao rei Acazias, o Senhor já destruiu essa obra que mandaste executar.” Com efeito, aqueles navios partiram-se em pedaços e não puderam sair para Társis. Quando Jeosafá morreu, foi enterrado junto dos seus antepassados, na Cidade de David. O seu filho Jeorão ocupou o trono em seu lugar. Os seus irmãos, os outros filhos de Jeosafá, eram: Azarias, Jeiel, Zacarias, Asarias, Micael e Sefatias. O pai tinha dado a cada um valiosos presentes em dinheiro e joias, assim como o senhorio de algumas das cidades fortificadas de Judá. Contudo, o trono foi para Jeorão, porque era o mais velho. Quando este último se sentiu confirmado solidamente como rei, matou os irmãos e muitos outros líderes de Israel. Jeorão tinha 32 anos quando começou a reinar. Reinou 8 anos em Jerusalém. Foi tão mau como os reis de Israel. Assemelhou-se ao ímpio Acabe e até casou com uma das suas filhas. Toda a sua vida fez o que era mau aos olhos do Senhor. No entanto, o Senhor não tinha a intenção de destruir a descendência de David, pois fizera com ele uma aliança em que lhes tinha prometido, a ele e aos seus descendentes, que manteria para sempre acesa a sua lâmpada. Durante o reinado de Jeorão o povo de Edom revoltou-se contra Judá e elegeu o seu próprio rei. Jeorão atacou-o com todo o exército, equipado com carros de combate, progredindo de noite, e quase conseguiu dominá-los. Edom manteve a sua independência até este dia. Por essa altura, também Libna se revoltou. Tudo porque Jeorão desprezou o Senhor, o Deus dos seus antepassados. Além disso, construiu santuários pagãos, no cimo das colinas de Judá, e levou a população de Jerusalém a prestar-lhes culto; foi mesmo uma imposição que fez ao povo de Jerusalém e Judá. O profeta Elias escreveu-lhe, certa vez, a seguinte carta: “O Senhor, o Deus do teu antepassado David, diz que não tens andado nos caminhos de Jeosafá, teu pai, e do rei Asa. Tornaste-te tão perverso como os reis de Israel e fizeste com que o povo de Jerusalém e de Judá adorasse ídolos, como nos tempos do rei Acabe, e mataste os teus irmãos, que eram melhores do que tu. Por isso, o Senhor destruirá a tua nação com uma grande praga; tanto tu como os teus filhos, as tuas mulheres e tudo o que tens se perderá. Serás ferido com uma enfermidade intestinal e as tuas entranhas rebentarão.” O Senhor suscitou a revolta dos filisteus e dos árabes, vizinhos dos cuchitas. Estes foram levados a atacar Jeorão, a marchar contra Judá, a atravessar a fronteira, e a levar tudo o que havia de valioso no palácio real, e ainda os seus filhos e as suas mulheres; só o mais novo, Jeoacaz, conseguiu escapar. Foi depois disto que o Senhor o feriu com a tal doença intestinal incurável. Com a evolução da doença, ao fim de dois anos, os intestinos rebentaram e morreu no meio de tremendo sofrimento. Nem sequer lhe fizeram as cerimónias fúnebres habituais com queima de aromas. Tinha 32 anos de idade quando começou a reinar. Reinou 8 anos em Jerusalém e morreu sem deixar saudades. Foi enterrado na Cidade de David, mas não no cemitério real. A população de Jerusalém colocou no trono Acazias, que era o filho mais novo do rei antecedente; os bandos de pilhagem árabes tinham morto todos os outros filhos. Acazias tinha 22 anos quando começou a reinar. Reinou durante um ano em Jerusalém. O nome da sua mãe era Atalia, neta de Omri. Também ele se comportou perversamente, como todos os descendentes Acabe, a conselho da própria mãe. Essa influência maléfica de Acabe deveu-se, em grande parte, também ao facto de membros da família de Acabe se terem tornado seus conselheiros, depois da morte do pai, conduzindo-o à ruína. Seguindo os seus maus conselhos, Acazias fez aliança com o rei Jorão de Israel, filho de Acabe, que estava em guerra contra Hazael, rei de Aram, em Ramote-Gileade. Entretanto, o rei Jorão de Israel ficou ferido. Regressou a Jezreel, para se restabelecer dos ferimentos que tinha sofrido em Ramote-Gileade, e Acazias foi visitá-lo. Isto revelou-se um erro fatal, pois Deus usou essa visita a Jorão para castigar Acazias. Durante essa visita, Acazias foi com Jorão desafiar Jeú, filho de Ninsi, aquele que o Senhor tinha indicado para pôr fim à dinastia de Acabe. Enquanto Jeú perseguia e matava os membros e amigos da família de Acabe, encontrou os sobrinhos de Acazias, príncipes de Judá, e matou-os. Indo ele e os seus homens à procura de Acazias, acharam-no escondido na cidade de Samaria. Este foi trazido a Jeú, que o matou. Apesar de tudo, fizeram-lhe um enterro real, porque era neto do rei Jeosafá, o homem que fervorosamente servira o Senhor. Da família de Acazias, naquele momento, não havia ninguém que pudesse suceder-lhe como rei. Quando Atalia, mãe do rei Acazias de Judá, soube que o seu filho tinha morrido, matou os filhos deste. Joás foi salvo pela sua tia Jeoseba, irmã do rei Acazias, que o escondeu numa câmara do templo, de tal forma que Atalia não o conseguiu matar; Jeoseba era filha do rei Jeorão e mulher do sacerdote Jeoiada. Joás ficou escondido no templo de Deus durante 6 anos. Entretanto, Atalia governava como rainha regente. No sétimo ano da regência de Atalia, o sacerdote Jeoiada encheu-se de coragem e foi ter com alguns dos oficiais do exército: Azarias, filho de Jeroão, Ismael, filho de Jeoanã, Azarias, filho de Obede, Maaseia, filho de Adaías, e Elisafate, filho de Zicri, para fazer com eles um tratado. Estes homens deslocaram-se secretamente através da nação, para colocar os levitas e os chefes de clã ao corrente dos seus planos de conspiração e convocá-los para Jerusalém. Reunidos, juraram lealdade ao jovem rei, que ainda vivia escondido no templo. “Chegou, enfim, o tempo do nosso rei começar a reinar!”, exclamou Jeoiada. “A promessa do Senhor, de que um descendente de David seria sempre o nosso rei, irá concretizar-se de novo. O plano que temos é este: um terço dos sacerdotes e levitas, que executam serviço ao sábado, ficará à entrada, de guarda. Outro terço irá para o palácio e a outra terça parte ficará na porta do Fundamento. O resto deverá permanecer nos pátios exteriores do templo, como requerem as leis do Senhor. Porque apenas os sacerdotes e os levitas em funções podem entrar no templo, porque estão santificados. Os levitas formarão a guarda pessoal do rei; estarão armados e prontos a matar seja quem for que entre no templo sem autorização. Mantenham-se sempre junto ao rei!” Os levitas seguiram as indicações de Joiada. Cada um dos três líderes levou um terço dos sacerdotes, tanto os que iam entrar nesse sábado em funções como os que saíam nessa semana, porque Jeoiada não deixou ninguém ir embora. Depois Jeoiada entregou lanças e escudos a todos os oficiais do exército. Eram armas que tinham pertencido ao rei David e se encontravam agora depositadas numa das dependências do templo. Estes oficiais, completamente armados, formaram uma linha, de um lado ao outro, na frente do templo e em volta do altar. Depois trouxeram fora o príncipe, colocaram-lhe uma coroa na cabeça, entregaram-lhe uma cópia do testemunho e, imediatamente, o proclamaram rei e o ungiram. Jeoiada e os seus filhos com grande brado gritaram: “Viva o rei!” Quando Atalia ouviu todo aquele barulho e a agitação popular, aclamando o rei, correu para o templo para ver o que se passava. Lá estava o rei, junto ao pilar da entrada, com os oficiais do exército e os trombeteiros a rodeá-lo. O povo, que vinha de toda a parte, regozijava-se. Ouviam-se as cornetas; os levitas também cantavam, acompanhados de instrumentos e conduzindo o povo num grande salmo de louvor. Atalia rasgou os vestidos e gritou: “Traição! Traição!” “Tirem-na daqui”, ordenou Jeoiada aos oficiais da guarda. “Não a matem aqui no templo e matem quem quer que seja que tente livrá-la!” Levaram-na para as cavalariças do palácio e ali a mataram. Jeoiada fez então uma promessa solene em como ele, o rei e o povo haveriam de ser o povo do Senhor. Depois toda a gente se dirigiu ao templo de Baal para derrubá-lo, destruindo os altares e as imagens, e mataram Matã, o sacerdote de Baal, diante dos altares. Jeoiada designou sacerdotes levitas como guardas no templo do Senhor e também os que deveriam ter a função de oferecer holocaustos, de acordo com as ordenanças que o Senhor determinara na Lei de Moisés. Fez, aliás, a mesma distribuição de funções entre os levitas que o rei David estabelecera. Eles cantavam de alegria, enquanto trabalhavam. Estabeleceu também guardas às portas do templo, que fiscalizavam o acesso, impedindo a entrada de pessoas ritualmente impuras. Os oficiais do exército, os nobres, os governadores e o povo escoltaram o rei no percurso, desde a porta superior até ao palácio, e sentaram-no no trono. Toda a gente ficou feliz e a cidade se pacificou, após a morte de Atalia. Joás tinha 7 anos quando começou a reinar. Reinou em Jerusalém 40 anos. A sua mãe era Zibia de Berseba. Joás fez o que era reto aos olhos do Senhor, enquanto viveu o sacerdote Jeoiada. Este arranjou-lhe dois casamentos e teve filhos e filhas. A dada altura, Joás resolveu fazer reparações no templo do Senhor. Convocou os sacerdotes e os levitas e deu-lhes as seguintes instruções: “Vão a todas as cidades de Judá e façam uma coleta de fundos para a reconstrução do templo, para que possamos fazer obras de renovação. Vão imediatamente! Não arrastem esse assunto!” Contudo, os levitas não tiveram pressa em obedecer. O rei mandou chamar Jeoiada, o sumo sacerdote: “Porque é que não exigiste aos levitas que fossem recolher os impostos do templo em todas as cidades de Judá e em Jerusalém? É o imposto ordenado por Moisés, servo do Senhor, que prevê o pagamento de um imposto por parte da congregação de Israel, para a conservação da tenda do testemunho!”, lembrou-lhe o rei. “É necessário fazer a recolha desse dinheiro.” A ímpia Atalia e os seus filhos tinham arruinado o templo, e muito do equipamento sagrado, destinado ao culto a Deus, tinha sido levado para o culto aos ídolos de Baal. O rei deu instruções para que se fizesse uma caixa e que esta fosse colocada à entrada, do lado de fora do templo do Senhor. Foi enviada uma proclamação a todas as cidades de Judá e a Jerusalém, convidando o povo a trazer ao Senhor o imposto que Moisés, servo de Deus, tinha instituído para Israel, no deserto. Todos os chefes, e também o povo, acolheram muito bem a ideia, e começaram a trazer dinheiro, depositando-o na caixa das ofertas, a qual rapidamente ficou cheia. Os levitas levaram-na à tesouraria real, onde o secretário do rei e o representante do sumo sacerdote contaram o dinheiro na frente do tesoureiro, levando a caixa de novo para o templo. E assim aconteceu dia após dia, acumulando-se uma elevada quantia de dinheiro. O rei e Jeoiada deram este dinheiro aos empreiteiros encarregados das obras de restauro, assim como aos carpinteiros e aos serralheiros designados para fazerem as peças de ferro e bronze. O trabalho foi avançando e o templo acabou por ser restaurado, ficando em muito melhores condições do que anteriormente. Quando tudo ficou pronto, o dinheiro que sobejou foi trazido ao rei e a Jeoiada; foi acordado que o excedente seria aplicado no fabrico de colheres e recipientes em ouro e prata, para uso nas ofertas de incenso, e também no fabrico de utensílios usados nos sacrifícios e nas ofertas de holocaustos que eram continuamente oferecidos durante o tempo de vida do sacerdote Jeoiada. Este faleceu muito idoso, com a idade de 130 anos. Foi enterrado na Cidade de David, junto aos túmulos dos reis, devido ao muito que fez por Israel, por Deus e pelo templo. Contudo, após a morte de Jeoiada, os líderes de Judá foram ter com o rei Joás e prostraram-se diante dele. Convenceram-no a deixar de se preocupar com o templo do Senhor, Deus dos seus antepassados, e a prestar antes culto aos ídolos e às imagens da deusa Achera. Por causa disso, a ira de Deus desceu novamente sobre Judá e sobre Jerusalém. Deus enviou-lhes profetas, para os levar a converterem-se ao Senhor, mas o povo não lhes deu ouvidos. Então o Espírito de Deus veio sobre Zacarias, filho do sacerdote Jeoiada, o qual se apresentou diante do povo e disse-lhes: “Deus pergunta por que razão desobedeceram aos mandamentos do Senhor. A verdade é que tudo aquilo que procuram realizar nunca resulta, porque abandonaram o Senhor; por isso, também ele vos abandonou agora!” Os líderes começaram a conjurar para o matar, até que o próprio rei Joás ordenou que fosse apedrejado no pátio do templo. Foi dessa maneira infeliz, matando-lhe o filho, que o rei Joás assinalou a memória de Jeoiada e todo o amor e lealdade que tinha demonstrado em vida. As últimas palavras de Zacarias, ao morrer, foram: “Que o Senhor veja e lhes dê a paga!” Por volta da primavera, o exército arameu avançou contra Judá e Jerusalém, conquistando a terra, matando todos os líderes da nação e levando para Damasco grandes quantidades de despojos. Tratou-se dum grande triunfo para o exército de Aram, que até tinha poucos homens. Foi o Senhor que permitiu que o grande exército de Judá fosse conquistado, porque tinham abandonado o Senhor, o Deus dos seus antepassados. Foi dessa forma que o Senhor executou a sua sentença sobre Joás. Quando os arameus partiram, deixando Joás gravemente ferido, os próprios oficiais do rei decidiram matá-lo, por ter assassinado o filho do sacerdote Jeoiada. Executaram-no quando estava deitado na sua cama e enterraram-no na Cidade de David, mas não no cemitério dos reis. Aqueles que conspiraram contra ele foram Zabade, cuja mãe se chamava Simeate, mulher amonita, e Jeozabade, cuja mãe era Simrite, uma moabita. Os factos referentes aos filhos de Joás e também as maldições que recaíram sobre ele, assim como a restauração que empreendeu no templo, podem ser lidos no Livro dos Reis. Quando Joás morreu, o seu filho Amazias ascendeu ao trono. Amazias tinha 25 anos quando se tornou rei. Reinou durante 29 anos em Jerusalém. O nome da sua mãe era Jeoadã, natural de Jerusalém. Fez o que era reto aos olhos do Senhor, mas não de todo o coração. Assim que consolidou o seu domínio sobre a nação, mandou matar os homens que tinham assassinado o seu pai. Deixou, contudo, os seus filhos em paz, seguindo as ordens do Senhor, na Lei de Moisés, que estabelecem que os pais não poderão ser mortos por causa dos pecados dos filhos, nem os filhos pelos dos pais. A pessoa que merece morrer será morta em razão dos seus próprios crimes. Amazias reorganizou também o exército, nomeando comandantes para cada um dos clãs de Judá e Benjamim. Fez depois um recenseamento, ficando a saber que o exército ascendia a 300 000 soldados com a idade de 20 anos para cima, todos treinados e hábeis no uso de lança e escudo. Outra das suas deliberações foi pagar 3400 quilos de prata pela contratação de 100 000 mercenários experientes vindos de Israel. Veio, porém, ter com ele um homem de Deus com a seguinte mensagem: “Ó rei, não tomes contigo tropas de Israel, porque o Senhor não está com os descendentes de Efraim. Se os deixares ir à batalha com as tuas tropas, serás derrotado, por muito que te esforces. Deus tem poder para ajudar e para fazer cair.” “E o dinheiro que já gastei?” perguntou Amazias. “Que faço agora?” O homem de Deus retorquiu: “O Senhor tem muito mais para te dar do que isso que aparentemente perdes!” Então Amazias mandou embora essas tropas vindas de Efraim, que ficaram iradas, pois tomaram isso como um insulto. Amazias encheu-se de coragem e levou o exército até ao vale do Sal, matando ali 10 000 homens de Seir. Outros 10 000 foram levados ao cimo de uma elevação e lançados dali abaixo, morrendo dilacerados nas rochas. Entretanto, as tropas israelitas que tinham sido mandadas embora fizeram várias incursões contra algumas localidades de Judá, nas vizinhanças de Bete-Horom, na região de Samaria, matando 3000 pessoas e levando consigo grande quantidade de despojos. Quando o rei Amazias regressou daquela matança aos edomitas, trouxe consigo ídolos dos deuses do povo de Seir, e começou a queimar-lhes incenso. Então a ira do Senhor acendeu-se e mandou um profeta perguntar-lhe: “Porque é que te puseste a prestar culto a esses deuses estrangeiros que não foram capazes de salvar o seu próprio povo das tuas mãos?” “Quando foi que pedi a tua opinião?”, retorquiu-lhe o rei. “É melhor calares-te, se não és homem morto!” Perante isto, o profeta calou-se e não insistiu mais, mas deixou este aviso: “Sei que Deus já determinou destruir-te, por teres adorado esses ídolos e recusado o meu conselho.” O rei Amazias de Judá foi ouvir os seus conselheiros; depois declarou guerra ao rei Jeoás de Israel, filho de Jeoacaz e neto de Jeú, desafiando-o a mobilizar o exército e a vir combater contra ele. O rei Jeoás enviou, no entanto, a Amazias a seguinte mensagem: “No Líbano um cardo mandou dizer a um cedro: ‘Dá a tua filha em casamento ao meu filho.’ Nessa altura, passou um animal selvagem que pisou o cardo e o esmagou! Ficaste muito orgulhoso com a conquista de Edom; contudo, dou-te um conselho: fica em casa e não te metas comigo. Porque haverias de provocar um desastre não só para ti como para Judá?” Amazias não lhe deu ouvidos; essa atitude foi estimulada por Deus, que tinha a intenção de o destruir, por ter prestado culto aos deuses de Edom. Jeoás, rei de Israel, mandou preparar o seu exército. A batalha começou em Bete-Semes, uma das povoações de Judá. Judá foi derrotado e o seu exército teve de fugir, cada um para sua casa. O rei Jeoás de Israel capturou o rei Amazias em Bete-Semes e levou-o prisioneiro para Jerusalém. Aí, ordenou que fossem derrubados 200 metros da muralha da cidade, desde a porta de Efraim até à porta do Canto. Depois tomou consigo todo o ouro, a prata e todos os objetos de valor que estavam na casa de Deus, ao cuidado de Obede-Edom, assim como os tesouros do palácio; levou também reféns e regressou a Samaria. O rei Amazias viveu ainda mais 15 anos depois de Jeoás, o rei de Israel, ter morrido. O resto dos acontecimentos da vida de Amazias está escrito no Livro dos Reis de Judá e de Israel. A partir da altura em que Amazias se desviou do Senhor, começaram a conspirar contra ele em Jerusalém. Ele fugiu para Laquis, mas perseguiram-no até Laquis e ali o mataram. Levaram o seu corpo para Jerusalém, escoltado por um pelotão de cavalaria. Foi enterrado no cemitério real, junto dos seus antepassados, na cidade de Judá. O povo de Judá coroou Uzias, que tinha 16 anos, para suceder a seu pai, Amazias Este reconstruiu a cidade de Elote e reintegrou-a em Judá, após a morte de seu pai. Uzias tinha dezasseis anos quando foi investido rei, e reinou durante 52 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Jecolia e era originária de Jerusalém. Conduziu-se com retidão aos olhos do Senhor, imitando o seu pai Amazias naquilo que este tinha feito de bem. Enquanto viveu Zacarias, homem entendido nas visões de Deus, Uzias esforçou-se por fazer o que era reto aos olhos do Senhor. Enquanto o rei buscou a Deus, as coisas correram-lhe bem. Declarou guerra aos filisteus e conquistou a cidade de Gate, derrubando as suas muralhas; fez o mesmo às cidades de Jabné e Asdode. Construiu posteriormente novas povoações, na área de Asdode e noutras partes da Filisteia. Deus ajudou-o, não somente nessas guerras contra os filisteus, mas ainda contra os árabes de Gur-Baal e contra os meunitas. Os amonitas ficaram a pagar-lhe um tributo, e a sua fama espalhou-se até ao Egito, tornando-se muito poderoso. Edificou torres fortificadas em Jerusalém, na porta do Canto, na porta do vale e nos ângulos da muralha. Também construiu fortalezas no Negueve, assim como muitos reservatórios de água, pois tinha grandes rebanhos e gado, tanto nos vales como nas planícies. Era um homem que amava o trabalho agrícola; tinha ao seu serviço fazendeiros e vinhateiros nas montanhas e nas campinas férteis. Reorganizou o exército em regimentos, enviando para os destacamentos militares homens aptos para o combate, segundo o recrutamento ordenado por Jeiel, secretário-geral do exército, e pelo seu assistente Maaseia. O comando militar das suas tropas estava sob as ordens de Hananias. Dentro do exército, 2600 bravos oficiais, todos eles chefes de clãs, tinham responsabilidades de chefia. O número total dos militares alistados era de 307 500 homens, todos cuidadosamente preparados para o combate e dispostos a obedecer às ordens do rei. Uzias equipou o exército com armamento: escudos, lanças, couraças, arcos, e até fundas para arremesso de pedras. Forneceu também capacetes para os soldados. Mandou igualmente construir máquinas de guerra, inventadas por competentes construtores de engenhos, as quais ficaram em Jerusalém. Essas máquinas serviam para atirar flechas e grandes pedras, a partir das torres fortificadas nos cantos da muralha. Ganhou grande fama e tornou-se poderoso, porque o Senhor o ajudou. Depois disso, quando se viu cheio de poder, começou a tornar-se orgulhoso e corrupto. Transgrediu as leis do Senhor, seu Deus, entrando no santuário do templo, o que lhe era absolutamente ilícito, e queimou ele próprio incenso sobre o altar. Azarias, o sumo sacerdote, entrou atrás dele, acompanhado de 80 sacerdotes, todos homens fortes. Ordenou-lhe que saísse dali: “Não é da tua competência, Uzias, queimar incenso perante o Senhor!”, declarou-lhe. “Essa é uma função estritamente reservada aos sacerdotes, aos filhos de Aarão, que foram consagrados para esse serviço. Retira-te daqui! Transgrediste contra o Senhor Deus, e o que estás a fazer não é honroso para ti!” Uzias ficou furioso e recusou largar o incensário que segurava na mão. Nessa altura, começou a aparecer-lhe lepra na testa, ali aos olhos de todos os sacerdotes. Estes e Azarias, quando viram aquilo, empurraram-no apressadamente para fora. Ele próprio se apressou a sair dali, pois reconheceu que o Senhor o castigava. Uzias ficou leproso até morrer e foi obrigado a viver isolado, numa casa à parte, excluído do contacto com as pessoas e com o templo. O seu filho Jotão tornou-se regente, gerindo os assuntos da governação do reino e atendendo aos problemas do povo. O resto dos acontecimentos deste reinado, do começo até ao final, foi escrito pelo profeta Isaías, filho de Amós. Quando morreu, Uzias foi sepultado no cemitério real, apesar de estar leproso. O seu filho Jotão ascendeu ao trono. Jotão tinha 25 anos quando se sentou no trono. Reinou 16 anos, tendo Jerusalém como sua capital. A sua mãe era Jerusa, filha de Zadoque. Conduziu-se de forma reta aos olhos do Senhor, seguindo os passos de seu pai Uzias, à excessão daquele pecado de entrar no santuário do templo. Apesar disso, o povo continuou a corromper-se. Construiu a porta alta do templo e fez obras extensas de reconstrução das muralhas da cidade, na zona de Ofel, onde o templo se erguia. Edificou povoações nas montanhas de Judá e erigiu fortalezas e torres fortificadas na região dos bosques. Saiu vitorioso na guerra contra os amonitas, ficando a receber, durante três anos, um tributo anual de 3400 toneladas de prata, 1600 toneladas de trigo e outro tanto de cevada. Jotão tornou-se poderoso, porque foi cuidadoso em dirigir os seus passos pelos caminhos do Senhor, seu Deus. O resto dos acontecimentos da vida de Jotão, incluindo as guerras que travou e outros factos, está relatado no Livro dos Reis de Israel e de Judá. Tinha 25 anos quando se sentou no trono e reinou 16 anos, tendo Jerusalém como sua capital. Quando Jotão faleceu, foi sepultado junto dos seus antepassados na Cidade de David. O seu filho Acaz ocupou o trono. Acaz tinha 20 anos de idade quando se tornou rei. Reinou durante 16 anos em Jerusalém. Ao contrário do seu antepassado David, Acaz não fez o que era reto aos olhos do Senhor. Como os reis de Israel, prestou culto aos ídolos de Baal. Chegou ao ponto de se deslocar ao vale de Ben-Hinom. E não foi só para queimar incenso aos ídolos, pois chegou a sacrificar os seus próprios filhos no fogo, à semelhança do que faziam os povos pagãos que o Senhor expulsara da terra que deu a Israel. Fez sacrifícios e queimou incenso nos santuários pagãos sobre as colinas, e debaixo de cada árvore verde. Por isso, o Senhor, seu Deus, permitiu que fosse vencido pelo rei de Aram, que o derrotou e expatriou para Damasco um grande número da sua população. Os exércitos de Israel também mataram muitas das suas tropas. Num só dia, Peca, filho de Remalias, matou 120 000 dos seus melhores soldados. Tudo por terem deixado o Senhor, o Deus dos seus antepassados. Foi igualmente nesse tempo que Zicri, um grande guerreiro de Efraim, matou o príncipe Maaseia, filho do rei, assim como Azricão, administrador-geral do palácio, e o comandante-geral do exército, Elcana, o segundo depois do rei. Israel também levou cativas 200 000 mulheres e crianças de Judá, levando de igual modo uma enorme quantidade de despojos para Israel. Havia em Samaria um profeta do Senhor, chamado Odede, que foi ao encontro do exército quando este regressava. “Vejam!”, exclamou ele. “O Senhor, o Deus dos vossos pais, irou-se contra Judá e permitiu que os conquistassem; mas vocês mataram-nos sem misericórdia e todo o céu ficou perturbado. Irão agora fazer dessa gente de Judá e de Jerusalém escravos? Não têm vocês mesmos pecado tanto contra o Senhor, vosso Deus? Prestem atenção às minhas palavras e mandem embora estes vossos irmãos; que regressem às suas casas, porque é convosco que o Senhor agora está irado!” Alguns dos principais líderes de Efraim apoiaram as palavras do profeta; eram eles Azarias, filho de Jeoanã, Berequias, filho de Mesilemote, Ezequias, filho de Salum, e Amasa, filho de Hadlai, e fizeram a seguinte declaração: “Não podem trazer para aqui esses prisioneiros! Se o fizerem, provocam a ira do Senhor. Não agravem ainda mais a nossa culpa, pois já é bastante o que fizemos para irritar a Deus.” Os oficiais do exército entregaram os prisioneiros e o despojo aos líderes políticos do povo, para que decidissem sobre o que fazer. Os quatro homens mencionados distribuíram pelas mulheres e meninos mais necessitados as roupas trazidas com o despojo; deram-lhes também calçado, alimento e bebidas. Puseram os doentes e os velhos sobre jumentos e mandaram-nos de volta para as suas famílias em Jericó, a cidade das Palmeiras. Depois voltaram para Samaria. Por essa altura, o rei Acaz de Judá pediu ao rei da Assíria que fosse seu aliado na luta contra as tropas de Edom. Estes estavam a invadir Judá e a levar muita gente cativa. Entretanto, os filisteus tinham ocupado as povoações das planícies costeiras e do Negueve, nomeadamente as cidades de Bete-Semes, Aijalom, Gederote, Socó, Timna e Ginzo, assim como as localidades em redor. Instalaram lá alguma da sua gente, que ali passou a viver. O Senhor humilhava Judá, por causa dos pecados de Acaz, pois levara o povo a pecar de modo desenfreado, e assim, entregou-se à transgressão contra o Senhor. Contudo, quando Tiglate-Pileser, o rei da Assíria, chegou, foi muito mais o incómodo do que a ajuda que trouxe. De nada serviu todo o ouro do templo e dos tesouros do palácio que Acaz lhe ofereceu. Nessa ocasião de grande aperto, foi ainda maior a sua degradação espiritual. Pôs-se a prestar culto e a oferecer sacrifícios aos deuses de Damasco, que o tinham derrotado, afirmando que, se esses ídolos tinham ajudado os reis de Aram, então haveriam de o ajudar a ele, se os adorasse. Mas foi o contrário, pois trouxeram a ruína, a ele e a todo o seu povo. O próprio rei tirou os vasos do templo e fê-los em pedaços; mandou fechar a casa do Senhor e edificou altares aos ídolos em cada canto da cidade de Jerusalém. Mandou igualmente erguer santuários pagãos em cada cidade de Judá, para oferecer incenso a outros deuses, acendendo assim a ira do Senhor, Deus dos seus antepassados. O resto dos acontecimentos e outros factos referentes à sua vida estão relatados no Livro dos Reis de Judá e de Israel. Quando Acaz morreu, foi enterrado em Jerusalém, mas não junto aos túmulos dos outros reis. O seu filho Ezequias reinou em seu lugar. Ezequias tinha 25 anos quando se tornou rei de Judá. Reinou 29 anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Abia e era filha de Zacarias. Ezequias fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera David, seu antepassado. Logo no primeiro mês do primeiro ano do seu reinado, tratou de abrir as portas do templo, mandando-as reparar. Convocou os sacerdotes e os levitas, reunindo-os na praça a oriente do templo, e dirigiu-lhes a palavra nestes termos: “Ouçam-me, levitas. Santifiquem-se e santifiquem o templo do Senhor, o Deus dos vossos antepassados. Retirem do santuário tudo o que seja impuro. Porque os nossos pais cometeram grandes pecados contra o Senhor, nosso Deus; abandonaram-no, assim como à sua casa, deixaram-no e pecaram contra ele. Trancaram as portas deste templo e deixaram apagar-se a chama perpétua dos candelabros. Nunca mais houve incenso queimado, nem holocaustos oferecidos como culto ao Deus de Israel. Por isso, a ira do Senhor caiu sobre Judá e sobre Jerusalém. Tornámo-nos objeto de horror, espanto e desprezo, como hoje se pode ver. Os nossos pais morreram na guerra; os nossos filhos, filhas e esposas são escravos dos nossos inimigos, por causa disso. Agora, contudo, no meu coração tenho a firme intenção de renovar a aliança com o Senhor, o Deus de Israel; a sua ira há de desviar-se de nós. Meus filhos, não sejam mais descuidados no cumprimento dos vossos deveres, a partir de agora, pois o Senhor vos escolheu para o servirem e lhe oferecerem incenso.” Então os seguintes levitas entraram em ação: do clã de Coate: Maate, filho de Amasai, e Joel, filho de Azarias do clã de Merari: Cis, filho de Abdi, e Azarias, filho de Jealelel do clã de Gerson: Joá, filho de Zima, e Éden, filho de Joá do clã de Elizafã: Simri e Jeiel do clã de Asafe: Zacarias e Matanias do clã de Hemã: Jeuel e Simei do clã de Jedutun: Semaías e Uziel. Estes convocaram, por sua vez, os seus companheiros, santificaram-se e começaram a limpar e a santificar o templo, de acordo com as ordens do rei, que correspondiam à palavra do Senhor. Os sacerdotes limparam o interior do templo e trouxeram para o pátio exterior a imundície que ali se encontrava; os levitas levaram todo esse lixo para o ribeiro de Cedron. Começaram esse trabalho no primeiro dia do primeiro mês; ao fim de oito dias tinham chegado ao pátio exterior, e dezasseis dias depois estava tudo limpo e a casa do Senhor santificada. Depois pediram uma audiência ao rei Ezequias, no palácio, e relataram-lhe o serviço executado: “Acabámos de purificar o templo, o altar dos holocaustos e todos os utensílios, assim como a mesa dos pães da Presença e os seus acessórios. Mais ainda, conseguimos recuperar e santificar todos os recipientes que o rei Acaz tinha deitado fora, na sua transgressão, quando mandou encerrar o templo; encontram-se junto do altar do Senhor.” Na manhã seguinte, muito cedo, o soberano Ezequias dirigiu-se ao templo do Senhor, acompanhado dos membros da administração da cidade. Mandou sacrificar sete novilhos, sete carneiros, sete ovelhas e sete bodes e ofereceu-os pela nação e pelo templo. Ordenou especificamente aos sacerdotes que os imolassem em holocaustos sobre o altar do Senhor. Os novilhos foram mortos e os sacerdotes aspergiram o sangue sobre o altar; fizeram o mesmo com o sangue dos carneiros e dos cordeiros; os bodes foram oferecidos pelo pecado. Estes foram levados à presença do rei e dos membros da administração local que o acompanhavam, os quais puseram as mãos sobre os animais. Os sacerdotes mataram-nos e ofereceram-nos sobre o altar, como expiação pelo pecado de toda a nação, porque tinha sido uma indicação expressa do rei que os holocaustos fossem oferecidos para expiação do pecado de todo o Israel. Seguidamente, o rei organizou os levitas no templo do Senhor, num grupo orquestral com acompanhamento de címbalos, alaúdes e harpas, conforme as diretivas dadas por David e por Gad, o vidente, e pelo profeta Natã, que eles próprios receberam do Senhor. Os levitas estavam de pé, com os instrumentos de David, e os sacerdotes formavam um conjunto com cornetas. Ezequias deu então ordem para que oferecessem o holocausto sobre o altar. Ao mesmo tempo que começavam os sacrifícios, os instrumentos de música começaram a tocar cânticos ao Senhor, acompanhados pelas cornetas, ao som dos instrumentos de David, rei de Israel. Durante toda a cerimónia, todos adoravam o Senhor, enquanto os cantores cantavam e os instrumentos tocavam, isto até terminar a oferta do holocausto. Acabados os sacrifícios, o rei e a sua comitiva inclinaram-se perante o Senhor em adoração. O rei ainda ordenou que os levitas cantassem, na presença do Senhor, alguns dos salmos de David e do vidente Asafe, o que fizeram com alegria, inclinando-se e adorando. “Terminou esta cerimónia de consagração”, disse Ezequias. “Agora, tragam aqui à casa do Senhor os vossos próprios holocaustos e ofertas de louvor.” O povo, de todas as partes da nação, trouxe os seus holocaustos e ofertas de gratidão; aqueles que quiseram trouxeram também holocaustos. No total sacrificaram 70 novilhos, 100 carneiros e 200 cordeiros. Trouxeram ainda 600 bois e 3000 ovelhas como ofertas santas. Verificou-se, aliás, que eram poucos os sacerdotes para preparar tantos holocaustos; por isso, os seus irmãos levitas puseram-se a ajudá-los, até que outros sacerdotes decidissem santificar-se e participar naquele serviço; porque os levitas foram muito mais prestes na sua dedicação que os sacerdotes. Houve pois uma grande abundância de holocaustos, ofertas de vinho e ofertas de paz. Dessa forma, foi restaurado o culto no templo do Senhor e retomados os sacrifícios. Ezequias e todo o povo estavam felizes com a prontidão com que o culto foi restabelecido. O rei Ezequias enviou cartas por todo o reino de Israel e de Judá, incluindo Efraim e Manassés, convidando as populações a vir ao templo do Senhor, em Jerusalém, para a celebração anual da Páscoa em honra do Senhor, Deus de Israel. Tanto o rei como os seus governantes e a comunidade em Jerusalém tinham deliberado que a comemoração da Páscoa fosse celebrada, desta vez, no segundo mês. Não seria na altura normal por não haver ainda um número suficiente de sacerdotes santificados e não haver tempo suficiente para avisar toda a gente. O rei e os conselheiros chegaram a um consenso unânime sobre esta matéria. Mandaram então uma proclamação através da nação, convocando para a celebração da Páscoa, convidando todos, desde Dan até Berseba, para essa celebração em Jerusalém, perante o Senhor, o Deus de Israel. Porque muitos, durante algum tempo, tinham descurado essa festividade e não a tinham celebrado conforme estava prescrito. “Convertam-se ao Senhor, o Deus de Abraão, de Isaque e de Israel!”, convidavam as cartas levadas pelos mensageiros do rei, “para que se volte para nós, que escapámos ao poder do rei da Assíria. Não sejam como os vossos pais e irmãos, que pecaram contra o Senhor, o Deus dos seus antepassados, e foram entregues à ruína, como podem ver. Não sejam duros de coração, como eles foram, mas entreguem-se ao Senhor e venham ao templo que ele consagrou para sempre, e adorem ali o Senhor, vosso Deus, para que a sua ira se afaste. Porque, se se converterem ao Senhor, os vossos irmãos e os vossos filhos serão tratados com misericórdia pelos seus captores e hão de regressar à sua terra natal. Porque o Senhor, vosso Deus, é cheio de bondade e de misericórdia e não continuará a desviar o seu rosto, no caso de se voltarem para ele.” Os mensageiros foram de povoação em povoação, através de Efraim e de Manassés, chegando mesmo a Zebulão. No entanto, a maioria das pessoas riu-se e fez troça deles. Houve, contudo, uns quantos, das tribos de Aser, Manassés e Zebulão, que se humilharam e vieram a Jerusalém. Em Judá, toda a nação sentiu um forte desejo, inspirado por Deus, de obedecer à palavra do Senhor, de acordo com as indicações do rei e dos seus governantes. Foi de tal modo que se juntou uma grande multidão em Jerusalém, no segundo mês, para a celebração da festa dos pães sem fermento. As pessoas encheram-se de brio e puseram-se a destruir os altares pagãos de Jerusalém; deitaram abaixo os altares de incenso erguidos aos ídolos e lançaram tudo no ribeiro de Cedron. No dia 14 do segundo mês mataram o cordeiro da Páscoa. Os próprios sacerdotes e levitas sentiram-se envergonhados por não terem participado mais ativamente nesse movimento de dedicação a Deus; por isso, santificaram-se e trouxeram os seus holocaustos ao templo. Colocaram-se nos postos que lhes competiam, segundo as instruções da Lei de Moisés, o homem de Deus; e os sacerdotes aspergiram o sangue recebido dos levitas. Ora havia muitos na congregação que não se tinham santificado. Então os levitas mataram os cordeiros da Páscoa, para os santificar ao Senhor. Como muitas das pessoas que vinham de Efraim, Manassés, Issacar e Zebulão estavam impuras, pois não se tinham submetido aos ritos de purificação, e tomaram parte da refeição pascal, ainda que tal fosse contrário aos preceitos divinos, então o rei Ezequias orou pelo povo e disse: “Que o Senhor, que é bom, perdoe! Perdoe todo aquele que tiver determinado seguir o Senhor, o Deus dos seus antepassados, ainda que não esteja limpo para a cerimónia, como exige a santidade do santuário.” O Senhor atendeu à oração de Ezequias e sarou o povo. Os israelitas celebraram a festa dos pães sem fermento em Jerusalém, durante sete dias, no meio de grande alegria. Todos os dias os levitas e os sacerdotes louvavam o Senhor com música e com címbalos. O rei teve mesmo palavras de apreço aos levitas, pela boa música de louvor que executavam ao Senhor. Durante os sete dias observaram-se continuamente os ritos da solenidade, sendo oferecidas ofertas de paz, e o povo confessou os seus pecados ao Senhor, o Deus dos seus antepassados. O entusiasmo era tal que foi decidido, unanimemente, continuar as celebrações por mais sete dias. O rei Ezequias deu ao povo 1000 novilhos para as ofertas, mais 7000 cordeiros; os altos dignitários, por sua vez, deram 1000 novilhos e 10 000 cordeiros. Nessa altura, um grande número de sacerdotes também se apresentou e santificou. O povo de Judá, os sacerdotes, os levitas, os estrangeiros residentes e os que estavam apenas de passagem estavam cheios de alegria. Porque Jerusalém nunca tinha visto uma celebração como aquela, desde os dias de Salomão, o filho do rei David. Por fim, os sacerdotes e os levitas puseram-se de pé e abençoaram o povo, e Deus ouviu as suas orações desde a sua santa morada nos céus. Assim que os dias dedicados à celebração e aos festejos passaram, todos os israelitas que se achavam ali saíram às cidades de Judá, despedaçaram as estátuas pagãs, cortaram e derrubaram os santuários pagãos, os obeliscos dedicados a esse culto, assim como os postes ídolos de Achera e outros centros pagãos de idolatria em todo Judá e Benjamim, e em Efraim e Manassés. Depois, cada um regressou às suas casas e às suas cidades. Ezequias organizou os sacerdotes e os levitas por turnos, para oferecerem holocaustos e ofertas de paz e louvores e cânticos junto aos portões do templo do Senhor. Fez ele próprio uma contribuição pessoal de animais para as ofertas diárias, matinais e do final do dia, assim como para as ofertas semanais de sábado e mensais para as festividades da lua nova e outras celebrações, como era requerido na Lei de Deus. Além disso, mandou que o povo de Jerusalém trouxesse os dízimos aos sacerdotes e levitas, a fim de poderem dedicar-se inteiramente aos seus deveres, como a Lei do Senhor exigia. O povo respondeu imediata e generosamente, trazendo os primeiros frutos das suas colheitas de trigo, vinho novo, azeite, mel e de tudo o mais; traziam o dízimo de tudo o que recolhiam e tudo era depositado em grandes montes. Aqueles de entre o povo que se tinham mudado para Judá, juntamente com o povo de Judá, também trouxeram os seus dízimos de gado, vacas e ovelhas, assim como daquilo que era consagrado ao Senhor, seu Deus. Os primeiros dízimos chegaram no terceiro mês e amontoaram-se até ao sétimo mês. Quando Ezequias e as autoridades que o acompanhavam começaram a ver aqueles montes, deram graças ao Senhor e louvaram o povo de Israel. O rei encontrou-se com os sacerdotes e levitas e trocaram impressões sobre aquele movimento de generosidade. Azarias, o sumo sacerdote, da família de Zadoque, afirmou na ocasião: “Desde que estes dízimos têm chegado, temos tido o suficiente para nos alimentarmos, e o que aqui está é o que vai sobrando. O Senhor tem abençoado o seu povo!” Ezequias deu ordens para prepararem dependências de armazenamento no templo. Todos os fornecimentos foram trazidos à casa de Deus. Conanias, o levita, foi encarregado desses depósitos, auxiliado pelo seu irmão Simei. Havia ainda os seguintes ajudantes: Jeiel, Azazias, Naate, Asael, Jerimote, Jozabade, Eliel, Ismaquias, Maate e Benaia. Todos eles foram nomeados pelo rei e por Azarias, o responsável pela casa de Deus. Core, filho de Imna, o levita, que era responsável pela entrada do templo situada a oriente, ficou encarregado das ofertas voluntárias feitas a Deus e de administrar o que constituía um tributo para o Senhor e a parte mais sagrada das ofertas a ele destinadas. Os seus auxiliares eram Éden, Miniamim, Jesua, Semaías, Amarias e Secanias. Os donativos eram distribuídos aos clãs dos sacerdotes, nas suas cidades, com toda a equidade, tanto por grandes como por pequenos. Contudo, os sacerdotes que serviam no templo, e as suas famílias, recebiam diretamente no templo os seus fornecimentos, pelo que não eram incluídos naquela distribuição. Os sacerdotes eram registados nas listas genealógicas, segundo os seus clãs; os levitas, a partir da idade de 20 anos, eram inscritos de acordo com os seus turnos de serviço. Uma provisão regular de alimentos era entregue a todas as famílias de sacerdotes, devidamente inscritos, os quais não tinham outra fonte de recursos, visto que eram fiéis em se consagrarem. Havia um sacerdote, entre os descendentes de Aarão, em cada uma das suas cidades, que tinha como função específica a entrega dos fornecimentos alimentares a todos os outros sacerdotes dessa área, assim como aos levitas devidamente registados. Foi desta forma que o rei Ezequias superintendeu à distribuição realizada no reino de Judá, velando para que tudo fosse feito com justiça e verdade perante o Senhor, seu Deus. Esforçou-se, tanto quanto possível, por encorajar o respeito pela casa de Deus, pela Lei e por buscar o seu Deus de todo o coração, e foi bem sucedido. Alguns anos mais tarde, e apesar da fidelidade do rei Ezequias a Deus, o rei Senaqueribe da Assíria invadiu Judá e pôs cerco às cidades fortificadas com a intenção de conquistá-las. Quando teve a certeza de que Senaqueribe tinha o intuito de atacar Jerusalém, Ezequias convocou os seus conselheiros e governantes para um conselho de guerra, tendo decidido tapar as fontes do lado de fora da cidade. Para isso, mobilizaram uma enorme quantidade de gente que, para além desse trabalho, também se empenhou no corte das águas do ribeiro que atravessava os campos: “Porque acharia o rei da Assíria tanta água?”, diziam eles. Seguidamente, consolidou a sua defesa, reparando a muralha, onde havia fendas, e levantando, junto às torres fortificadas, outra muralha do lado de fora. Também reforçou a construção da fortaleza de Milo, na Cidade de David, e mandou fabricar grande quantidade de armas e de escudos. Mobilizou o exército e nomeou oficiais, mandando que se concentrassem nas campinas em frente da cidade, dizendo-lhes: “Esforcem-se e sejam corajosos! Não tenham medo do rei da Assíria nem do seu poderoso exército, porque connosco está quem é muito maior do que ele! O seu exército é grande, mas não passam de simples homens; nós temos o Senhor, nosso Deus, combatendo do nosso lado!” Estas palavras foram para eles de grande incentivo. Senaqueribe, o rei da Assíria, enquanto sitiava a cidade de Laquis, enviou embaixadores ao rei Ezequias, com a seguinte mensagem dirigida ao povo de Jerusalém: “O rei Senaqueribe da Assíria pergunta-vos: Pensam poder sobreviver ao cerco que porei a Jerusalém? Não serve de nada que o rei Ezequias tente persuadir-vos a um suicídio coletivo, levando-vos a permanecerem na cidade, morrendo de fome e de sede, ao mesmo tempo que vos promete que o Senhor, vosso Deus, vos livrará do rei da Assíria. O rei Ezequias foi quem mandou destruir todos os santuários pagãos sobre as colinas e ordenou que em Judá e Jerusalém se usasse unicamente o altar do templo, queimando apenas ali o incenso. Não percebem que tanto eu como os outros reis da Assíria, antes de mim, nunca fomos impedidos de conquistar qualquer nação que atacássemos? Qual foi o deus das nações já conquistadas que foi capaz de fazer alguma coisa para salvar essas terras? Digam-me o nome de apenas um que tivesse podido resistir aos nossos ataques. O que é que vos leva a pensar que o vosso Deus vos pode salvar? Não se deixem enganar por Ezequias! Não acreditem nele. Repito, não houve deus, de nação nenhuma, que alguma vez tivesse sido capaz de salvar o seu povo da minha mão, nem dos meus antecessores; muito menos o vosso Deus o poderá fazer!” O embaixador falou com desprezo pelo Senhor Deus e pelo servo de Deus Ezequias, com todos aqueles insultos. Senaqueribe enviou, pelos embaixadores, cartas injuriosas contra o Senhor, o Deus de Israel: “Nenhum dos deuses das outras nações conseguiu salvar os seus povos das minhas mãos. O Deus de Ezequias também não conseguirá!”, escreveu ele. Os embaixadores gritaram ameaças, em língua judaica, dirigindo-se ao povo que se juntara nas muralhas da cidade, tentando atemorizá-lo e desencorajá-lo. Falavam do Deus de Jerusalém, como se se tratasse de um simples deus pagão, de um ídolo feito por mãos de homens. O rei Ezequias e o profeta Isaías, filho de Amós, clamaram em oração ao Deus do céu. Em resposta, o Senhor enviou um anjo que destruiu o exército assírio, com todos os seus oficiais e generais. Senaqueribe foi obrigado a regressar à sua terra, coberto de vergonha. Quando entrou no templo do seu deus, os seus filhos mataram-no ali mesmo. Foi assim que o Senhor salvou Ezequias e o povo de Jerusalém. Houve, enfim, paz na terra. A partir de então, o rei Ezequias tornou-se muito respeitado entre as nações vizinhas. Muitos estrangeiros traziam valiosos presentes a Jerusalém, para oferecer ao Senhor e também ao rei Ezequias. Algum tempo depois, Ezequias adoeceu gravemente e orou ao Senhor, que lhe respondeu através de um milagre. No entanto, Ezequias não correspondeu a esse benefício com um verdadeiro espírito de gratidão, porque se deixou levar pelo orgulho. Por isso, Deus indignou-se contra Judá e Jerusalém. Ezequias e a população de Jerusalém humilharam-se, e a ira do Senhor não se manifestou durante o tempo de vida do rei. Ezequias teve muitas riquezas e foi altamente honrado. Teve de construir cofres especiais para guardar o ouro, a prata e as pedras preciosas, assim como as especiarias e ainda os escudos e as taças de ouro. Edificou igualmente muitos armazéns para recolha de cereais, vinho novo e azeite; também construiu estábulos para os seus animais e currais para os grandes rebanhos de ovelhas e cabras que adquirira. Fundou ainda povoações em grande número e possuiu ovelhas e vacas em abundância, pois Deus concedeu-lhe grande prosperidade. Tapou a fonte superior de Giom e fez correr as águas, para baixo, através do aqueduto a ocidente do bairro de Jerusalém chamado Cidade de David. Foi muito feliz nas obras que empreendeu. Contudo, quando vieram embaixadores da Babilónia, para se informarem do milagre da sua cura, Deus deixou-o agir, sem interferir, para que se revelasse inteiramente o seu carácter. Os outros acontecimentos da história de Ezequias e todas as boas coisas que realizou estão escritos no livro do profeta Isaías, filho de Amós, e no Livro dos Reis de Judá e de Israel. Quando faleceu, Ezequias foi enterrado no cemitério real, na encosta da colina, entre os outros reis. Foi honrado por toda a população de Judá e de Jerusalém com exéquias solenes. O seu filho Manassés ascendeu ao trono. Manassés tinha apenas 12 anos quando começou a reinar. Reinou durante 55 anos em Jerusalém. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, cometendo as mesmas abominações que as nações que o Senhor tinha desterrado para dar lugar a Israel. Tornou a levantar os santuários pagãos que o seu pai, Ezequias, tinha derrubado. Edificou altares a Baal, ídolos de Achera e altares aos astros. Chegou mesmo a levantar altares no próprio templo do Senhor, acerca do qual o Senhor tinha dito: “Ali porei o meu nome para sempre.” Levantou altares para adorar os astros nos dois pátios do templo. Chegou ao ponto de sacrificar seus próprios filhos no fogo, em holocausto, no vale de Ben-Hinom. Praticou adivinhação e feitiçaria, consultou médiuns e adivinhos, e encorajou toda a espécie de maldades, atraindo a ira do Senhor. Pôs uma imagem esculpida no templo, no lugar acerca do qual Deus tinha dito a David e a Salomão: “Colocarei para sempre o meu nome neste templo e em Jerusalém, a cidade que escolhi entre todas as tribos de Israel. Se obedecerem aos meus mandamentos, a toda a Lei e instruções que vos dei através de Moisés, nunca mais deixarei partir Israel desta terra que dei aos seus antepassados.” Manassés, pelo contrário, encorajou a população de Judá e de Jerusalém a praticar ainda mais maldades do que as nações que o Senhor tinha destruído quando Israel tomou a terra. Avisos repetidos foram desprezados, tanto pelo próprio Manassés como pelo povo. Por essa razão, o Senhor enviou os exércitos da Assíria que o prenderam com ganchos, amarraram com cadeias e o levaram para a Babilónia. Ali a sua consciência despertou, na angústia, e humilhou-se sinceramente perante o Deus dos seus antepassados, orando e rogando-lhe por socorro. O Senhor respondeu à sua súplica e tornou a trazê-lo para Jerusalém, restaurando o seu reino. Manassés reconheceu, por fim, que o Senhor era realmente o Deus verdadeiro. Foi depois disto que mandou reconstruir o muro exterior da Cidade de David, assim como a muralha, desde o ocidente da fonte de Giom, no vale de Cedron, até à porta do Peixe, rodeando a colina de Ofel, onde a muralha se elevava a grande altura. Também colocou guarnições militares, comandadas por oficiais, em todas as cidades fortificadas de Judá. Retirou os ídolos estrangeiros das colinas e a imagem que fora colocada no templo; derrubou os altares que tinha levantado na colina onde se erguia o templo de Deus, assim como todos os altares que havia em Jerusalém, fazendo um montão de lixo fora da cidade. Depois reconstruiu o altar do Senhor, sacrificou sobre ele ofertas de paz e louvor e pediu que o povo de Judá adorasse o Senhor, o Deus de Israel. Contudo, o povo continuou a sacrificar sobre os antigos santuários pagãos, embora os sacrifícios fossem oferecidos ao Senhor, seu Deus. O resto da história de Manassés, a sua oração a Deus e a resposta que o Senhor, Deus de Israel, lhe deu através dos videntes e profetas, está tudo escrito nos Livros dos Reis de Israel. A sua oração e a forma como Deus lhe respondeu, assim como um relato dos seus erros e dos seus pecados, incluindo a lista dos locais, as colinas e os bosques onde colocou santuários pagãos e postes ídolos de Achera, antes de se ter humilhado perante o Senhor, está tudo relatado nos Livros dos Videntes. Quando Manassés faleceu foi sepultado junto ao seu próprio palácio. O novo rei de Judá foi Amom. Tinha a idade de 22 anos quando começou a reinar. O seu reinado durou apenas 2 anos, tendo como capital Jerusalém. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, tal como o seu pai Manassés nos primeiros tempos, porque ofereceu sacrifícios a todos os ídolos. Mas não se arrependeu perante o Senhor, como ele, antes foi agravando o seu pecado. Morreu assassinado pelos seus próprios colaboradores no seu palácio. Contudo, uns quantos cidadãos resolveram fazer justiça por suas mãos, matando aqueles que o tinham assassinado, declarando o seu filho Josias rei da nação. O novo rei de Judá foi Josias. Começou a reinar com a idade de 8 anos e reinou durante 31 anos em Jerusalém. Fez o que era reto aos olhos do Senhor; andou nos caminhos de David, seu antepassado; nunca se afastou deles. Quando tinha 16 anos, no oitavo ano do seu reinado, começou a buscar o Deus de David, seu antepassado, seguindo nos seus caminhos, sem se desviar deles nem para a direita nem para a esquerda. Quatro anos mais tarde iniciou o processo de limpeza de Judá e de Jerusalém, destruindo os santuários pagãos dos postes ídolos de Achera e os altares dos altos. Deu-se ao cuidado de ir verificar, pessoalmente, nos próprios locais, se tudo tinha sido destruído; os altares a Baal, os altares de incenso, os postes ídolos de Achera, as imagens, tudo teve a preocupação de reduzir a pó, e até de mandar lançar esse entulho sobre os túmulos daqueles que tinham praticado o culto da idolatria e que, entretanto, tinham morrido. Os ossos dos que tinham sido sacerdotes desses deuses mandou queimar sobre os próprios altares dos ídolos, num ato público de reforma e de purificação do pecado da idolatria. Depois dirigiu-se às povoações de Manassés, Efraim, Simeão, e até à distante Naftali, e fez o mesmo. Destruiu os altares pagãos idólatras, reduziu a pó as imagens dos postes ídolos de Achera, derrubou os altares de incenso; por toda a parte da terra de Israel fez o mesmo. Por fim, regressou a Jerusalém. Durante o décimo oitavo ano do seu reinado, após ter purificado a terra e o próprio templo, designou Safã, filho de Azalias, e Maaseia, governador de Jerusalém, assim como Joá, filho de Jeoacaz, secretário real, para que ficassem com o cargo de repararem o templo do Senhor, seu Deus. Organizaram então um sistema de recolha de donativos para a casa de Deus; foram ter com o sumo sacerdote Hilquias e entregaram-lhe o dinheiro que os levitas porteiros tinham recolhido das ofertas das tribos de Manassés e de Efraim, bem como das restantes populações de Israel e de Judá, de Benjamim e dos habitantes de Jerusalém. Entregaram esse dinheiro aos empreiteiros e encarregados das obras de consolidação e restauração da casa do Senhor, para pagarem aos carpinteiros e pedreiros, e para pagarem a aquisição de materiais: blocos de pedras lavradas, para construção, e madeira para as traves e pranchas; reconstruiu, assim, aquilo que outros reis antes de si tinham deixado degradar-se. Os operários trabalharam aplicadamente, sob as ordens de Jaate e Obadias, levitas do subclã de Merari. Zacarias e Mesulão, do subclã de Coate, eram os superintendentes de toda a obra. Os levitas, que eram músicos hábeis, tocavam música, enquanto a obra se fazia. Outro grupo de levitas dirigia o trabalho dos operários não qualificados, que apenas transportavam material; outros eram escrivães, contra-mestres e fiscais. Um dia, quando Hilquias, o sumo sacerdote, andava pelo templo, onde se dirigia regularmente para registar o dinheiro dos donativos recolhidos nas entradas, achou um velho livro que verificou ser, precisamente, a Lei do Senhor dada através de Moisés. “Safã!”, exclamou Hilquias dirigindo-se ao secretário do rei. “Olha o que eu encontrei aqui no templo! A Lei do Senhor!” E passou-lhe o livro para as mãos. Safã pegou nele e levou-o ao rei, com quem tinha uma audiência para dar conta dos avanços que a obra ia registando. “Foram abertas as caixas dos donativos e o dinheiro, depois de contado e registado, foi entregue aos supervisores para pagarem aos operários”, disse ao rei. Seguidamente, referiu a questão do livro da Lei, contando como Hilquias o achara, e começou a lê-lo para o rei. Ao ouvir as palavras da Lei de Deus, o rei rasgou a roupa que trazia vestida, em sinal de desespero. Mandou convocar Hilquias, Aicão, o filho de Safã, Abdom, filho de Mica, Safã, o secretário real, e Asaías, conselheiro pessoal do rei. “Vão consultar o Senhor, em meu nome e em nome dos que restam do povo de Israel e de Judá, a respeito do que está escrito neste livro que acaba de se encontrar. É que o Senhor deve estar muito irado contra nós, visto que os nossos antepassados não prestaram atenção ao que diz o Senhor, nem puseram em prática o que está escrito neste livro.” Hilquias e outros enviados do rei foram ter com Hulda, a profetisa, mulher de Salum, filho de Tocate e neto de Hasra. Salum estava encarregado do guarda-roupa real e morava no bairro de Misné em Jerusalém. Quando lhe contaram a causa da perturbação do rei, respondeu: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘Digam ao homem que vos enviou: O Senhor destruirá esta cidade e a sua população, e todas as maldições escritas no livro, que foi lido diante do rei de Judá, se concretizarão. Pois o meu povo abandonou-me, queimou incenso a outros deuses e tornou a minha ira tão intensa, por causa da obra das suas mãos, que o meu furor contra este lugar não poderá ser sustido.’ Mas vão ter com o rei de Judá, que vos enviou para consultarem o Senhor, e transmitam-lhe: É isto que o Senhor Deus de Israel diz a respeito da mensagem que ouviram: ‘Visto que te entristeceste e te humilhaste diante de Deus, quando leste o livro e os seus avisos de que esta terra haveria de ser amaldiçoada e ficaria desolada, e visto que rasgaste a tua roupa, chorando perante mim de tristeza, darei ouvidos aos teus rogos. Só enviarei o mal que prometi sobre esta cidade e o seu povo após a tua morte.’ ” Foi esta a mensagem que levaram ao rei. Este mandou chamar os anciãos de Judá e de Jerusalém. Também reuniu os sacerdotes e levitas, juntamente com todo o povo, desde o maior até ao mais pequeno, que o acompanharam até ao templo. Ali, o rei leu-lhes as palavras do livro que fora achado no templo, as palavras da aliança que Deus estabelecera com o seu povo. De pé, diante de toda a gente, o rei estabeleceu uma aliança com o Senhor e comprometeu-se a seguir os seus mandamentos, leis e preceitos, com todo o coração e com toda a sua alma, fazendo o que estava escrito naquele livro. Fez também com que toda a gente de Jerusalém e de Benjamim que ali se encontrava se comprometesse a fazer o mesmo. Desta forma os habitantes de Jerusalém passaram a observar a aliança feita com o Deus dos seus antepassados. Josias retirou todos os ídolos das áreas habitadas por judeus e exigiu que todos adorassem o Senhor, o seu Deus. Durante o resto da vida de Josias, o povo continuou a servir ao Senhor, o Deus dos seus antepassados. Josias anunciou que a Páscoa para o Senhor seria celebrada no dia 14 do primeiro mês em Jerusalém; o cordeiro pascal seria morto no final desse dia. Restabeleceu as funções dos sacerdotes, instigando-os a retomar o serviço no templo. Emitiu também a seguinte ordem aos levitas que se tinham consagrado e que se dedicavam ao ensino em Israel: “Visto que a arca está definitivamente depositada no templo que Salomão mandou construir, e sendo que não precisam mais de a carregar aos ombros, apliquem o vosso tempo ao serviço do Senhor, vosso Deus, junto do seu povo. Distribuam-se conforme os turnos de atividade em que estavam organizados os vossos antecessores, tal como foram agrupados por David, rei de Israel, e pelo seu filho Salomão. Cada turno dará assistência particular a um clã do povo que venha trazer as suas oferendas ao templo. Matem o cordeiro pascal e santifiquem-se; preparem-se para dar assistência ao povo que se apresentar; sigam todas as instruções do Senhor, dadas através de Moisés.” O rei contribuiu com 30 000 cordeiros e cabritos, para as ofertas de celebração da Páscoa, e ainda com 3000 bois. Os governantes fizeram também contribuições voluntárias aos sacerdotes e aos levitas. Hilquias, Zacarias e Jeiel, os supervisores do templo, deram aos sacerdotes 2600 ovelhas e cabritos e 300 bois, como ofertas de Páscoa. Os líderes levitas, Conanias, Semaías e Netanel, com os seus irmãos Hasabias, Jeiel e Jozabade, deram 5000 cordeiros pascais e 500 bois aos levitas. Quando tudo estava organizado e os sacerdotes se encontravam nos seus lugares, com os levitas formados em turnos de serviço, conforme as instruções reais, os levitas começaram a matar os cordeiros pascais, apresentando o sangue aos sacerdotes, que com ele aspergiam o altar, enquanto outros levitas arrancavam a pele dos animais. Amontoavam seguidamente os corpos dos animais mortos, para que cada tribo apresentasse o seu holocausto ao Senhor, como está escrito na Lei de Moisés; fizeram o mesmo com os bois. Então, de acordo com as instruções da Lei, assaram os cordeiros e cozeram as ofertas sagradas em caldeiras, panelas e sertãs, apressando-se a reparti-las entre o povo, para que comesse. A seguir, os levitas prepararam uma refeição para si e para os sacerdotes, pois tinham estado ocupados desde a manhã até à noite, oferecendo a gordura dos holocaustos. Os cantores, os filhos de Asafe, estavam nos seus lugares, segundo as diretrizes dadas pelo rei David, Asafe, Hemã e Jedutun, o profeta do rei. Os porteiros encontravam-se nas entradas do templo e não tiveram necessidade de abandonar os seus lugares, porque as refeições foram-lhes trazidas pelos outros levitas seus irmãos. Assim se completou toda a cerimónia da Páscoa num só dia; todos os holocaustos foram queimados sobre o altar do Senhor, conforme as ordens de Josias. Os israelitas presentes em Jerusalém participaram nesta celebração da Páscoa, seguida da festa dos pães sem fermento, durante os sete dias posteriores. Não tinha havido, desde os dias do profeta Samuel, uma celebração de Páscoa assim, nem nenhum dos reis de Israel fez uma festividade que envolvesse tantos sacerdotes, levitas, povo de Jerusalém e de todas as partes de Judá e de Israel. Esta Páscoa teve lugar no décimo oitavo ano do reinado de Josias. Algum tempo depois, o rei Neco do Egito levou o seu exército a combater contra os assírios em Carquemis, na margem do rio Eufrates, e Josias declarou-lhe guerra. O rei Neco do Egito enviou-lhe embaixadores com a seguinte mensagem: “Não estou interessado em lutar contigo, ó rei de Judá! O meu intuito é unicamente fazer guerra ao rei da Assíria! Não te metas comigo! Deus disse-me que não me detivesse. Não interfiras com as ordens de Deus, senão serás destruído, pois Deus está do meu lado.” Contudo, Josias recusou alterar a sua posição e conduziu o exército à batalha, no vale de Megido. Tirou as roupas reais, para que o inimigo não o reconhecesse; Josias não quis acreditar que a mensagem de Neco era de Deus. Os archeiros inimigos atingiram gravemente o rei Josias. “Tirem-me daqui, do meio da batalha!”, clamou ele aos seus ajudantes. Tiraram-no então do carro de combate, levaram-no para outro carro e conduziram-no a Jerusalém, onde acabou por morrer. Foi sepultado no cemitério real. Todo o reino de Judá e a população de Jerusalém choraram a sua morte. Jeremias compôs uma lamentação sobre Josias. Os cantores e cantoras do templo cantaram nas exéquias fúnebres e ainda hoje se cantam as lamentações fúnebres da cerimónia do seu enterro, pois foram incorporadas no Livro da Lamentações. Outros feitos de Josias e as suas louváveis ações, a forma como seguiu o livro da Lei do Senhor, está tudo escrito no Livro dos Reis de Israel e de Judá. O seu filho Jeoacaz foi escolhido pelo povo para ser o novo rei em Jerusalém. Tinha 23 anos quando começou a reinar e reinou durante 3 meses em Jerusalém. Foi deposto pelo rei do Egito, que impôs a Judá um tributo de 3400 quilos de prata e 34 quilos de ouro. O rei do Egito colocou no seu lugar Eliaquim, irmão do rei anterior, mudando-lhe o nome para Joaquim. Entretanto, Jeoacaz foi levado pelo Faraó Neco, como prisioneiro para o Egito. Tinha Joaquim 25 anos quando começou a reinar e reinou 11 anos em Jerusalém. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, seu Deus. Nabucodonozor, rei da Babilónia, atacou Jerusalém e levou-o, amarrado com cadeias de bronze para a Babilónia. Nabucodonozor levou também parte das taças de ouro do templo e outros objetos, colocando-os no seu próprio templo na Babilónia. O resto dos acontecimentos da vida de Joaquim, e todas as coisas horríveis que praticou, está registado no Livro dos Reis de Judá. O seu filho Jeconias subiu ao trono em seu lugar. Jeconias tinha 18 anos quando começou a reinar e reinou 3 meses e 10 dias em Jerusalém. Foi um mau reinado aos olhos do Senhor. Na primavera seguinte foi levado para a Babilónia pelo rei Nabucodonozor. Nessa altura, muitos tesouros do templo foram também levados para a Babilónia e Nabucodonozor designou como rei, em seu lugar, o seu parente, Zedequias. Zedequias tinha 21 anos quando se tornou rei e reinou 11 anos em Jerusalém. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, seu Deus, tendo recusado dar ouvidos aos conselhos do profeta Jeremias, que lhe transmitia as mensagens do Senhor. Rebelou-se contra Nabucodonozor, apesar de lhe ter jurado lealdade. Zedequias era um homem duro e obstinado, que sempre resistia às ordens do Senhor, o Deus de Israel. Todas as altas personagens da nação, incluindo os sacerdotes principais, prestavam culto aos ídolos das nações vizinhas e poluíam o templo do Senhor em Jerusalém. O Senhor, o Deus dos seus antepassados, enviou-lhes profetas, repetidas vezes, que os avisavam insistentemente, pois tinha compaixão do seu povo e do seu templo. O povo ria-se das mensagens de Deus, desprezava a sua palavra e troçava dos profetas. Até que não foi mais possível conter a ira do Senhor; deixou de ser possível empreender uma reforma do povo. O Senhor trouxe o rei da Babilónia contra ele, que matou os jovens, quando fugiam para dentro do próprio templo, não tendo piedade de ninguém, nem mesmo das moças ou dos velhos; Deus usou o rei da Babilónia para os destruir completamente. Este também levou consigo todos os utensílios do templo, objetos grandes e pequenos, assim como os tesouros da casa de Deus e do palácio real. Tomou também consigo os filhos do rei e os altos dignitários. O seu exército deitou fogo ao templo, derrubou as muralhas de Jerusalém, queimou as casas apalaçadas e destruiu tudo o que havia de precioso no templo. Aos sobreviventes levou-os como escravos para a Babilónia, colocando-os ao seu serviço pessoal e dos seus filhos. Mais tarde, o reino da Babilónia foi vencido pelo rei da Pérsia. Assim se cumpriu a palavra do Senhor, comunicada através de Jeremias, que a terra deveria repousar durante 70 anos, para compensar os anos em que o povo recusou observar os períodos de repouso. No primeiro ano do rei Ciro, da Pérsia, cumprindo-se a profecia do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor despertou o espírito deste rei, levando-o a fazer a seguinte proclamação, através de todo o reino, a qual enviou também por escrito. Assim fala Ciro, rei da Pérsia, Todos os reinos da Terra me foram dados pelo Senhor, o Deus dos céus, que me deu instruções para que lhe construísse um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Todos os que são seu povo devem subir, e que o Senhor, o seu Deus, seja com eles! No primeiro ano do rei Ciro, da Pérsia, cumprindo-se a profecia do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor despertou o espírito deste rei, levando-o a fazer a seguinte proclamação, através de todo o reino, a qual enviou também por escrito. Assim fala Ciro, rei da Pérsia, Todos os reinos da Terra me foram dados pelo Senhor, o Deus dos céus, que me deu instruções para que lhe construísse um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Todos os que são seu povo devem subir a Jerusalém de Judá, para reconstruir o templo do Senhor, o Deus de Israel, o Deus que habita em Jerusalém, e que Deus seja com eles! Aqueles, de entre os judeus, que não partirem, deverão contribuir para as despesas dos que forem a Jerusalém, fornecendo-lhes também vestuário, gado e mantimento para a viagem, além de uma oferta voluntária para o templo. Deus suscitou entre os chefes das tribos de Judá e de Benjamim, e entre os sacerdotes e levitas, um grande movimento de consagração, no sentido de regressarem a Jerusalém e de começarem logo a reconstrução do templo. Aqueles que optaram por ficar deram-lhes tudo o que puderam, em prata, ouro, roupa, gado e outras coisas de valor. O próprio rei Ciro devolveu as taças de ouro e outros objetos valiosos que Nabucodonozor levara do templo em Jerusalém e depositara no templo dos seus deuses. Nesse sentido, deu ordens a Mitredate, o tesoureiro do império, para que tais objetos fossem entregues a Sesbazar, o líder de todo o movimento de retorno a Judá. É esta a lista daquilo que Ciro devolveu: 30 salvas de ouro 1000 salvas de prata 29 incensários 30 bacias de ouro maciço 410 bacias de prata, para várias funções 1000 outros objetos diversos. Foram ao todo 5400 os objetos de ouro e de prata entregues a Sesbazar para que os levasse a Jerusalém, ao sair da Babilónia, acompanhado de outros exilados. Esta é a lista dos judeus expatriados que regressaram a Jerusalém e a outras cidades de Judá, de onde os seus pais foram deportados pelo rei Nabucodonozor para a Babilónia. Eram estes os líderes: Zorobabel, Josué, Neemias, Seraías, Reelaías, Mardoqueu, Bilsã, Mispar, Bigvai, Reum e Baaná. A seguir, temos o recenseamento de todos os retornados, segundo os seus subclãs: subclã de Parós: 2172; subclã de Sefatias: 372; subclã de Ará: 775; subclã de Paate-Moabe, descendentes de Jesua e Joabe: 2812; subclã de Elão: 1254; subclã de Zatu: 945; subclã de Zacai: 760; subclã de Bani: 642; subclã de Bebai: 623; subclã de Azgade: 1222; subclã de Adonicão: 666; subclã de Bigvai: 2056; subclã de Adim: 454; subclã de Ater, descendentes de Ezequias: 98; subclã de Bezai: 323; subclã de Jora: 112; subclã de Hasum: 223; subclã de Gibar: 95; subclã de Belém: 123; subclã de Netofá: 56; subclã de Anatote: 128; subclã de Azmavete: 42; subclãs de Quiriate-Jearim, Cafira e Beerote: 743; subclãs de Ramá e Geba: 621; subclã de Micmás: 122; subclãs de Betel e Ai: 223; subclã de Nebo: 52; subclã de Magbis: 156; subclã de Elão: 1254; subclã de Harim: 320; subclãs de Lode, Hadide e Ono: 725; subclã de Jericó: 345; subclã de Senaá: 3630. O recenseamento dos sacerdotes retornados foi o seguinte: das famílias de Jedaías, subclã de Jesua: 973; subclã de Imer: 1052; subclã de Pasur: 1247; subclã de Harim: 1017. Quanto aos levitas: das famílias de Jesua e Cadmiel do subclã de Hodavias: 74. Dos cantores do clã de Asafe: 128. Dos descendentes dos porteiros, das famílias de Salum, Ater, Talmom, Acube, Hatita e Sobai: 139. Também havia representantes das seguintes famílias de auxiliares do templo: Zia, Hasufa, Tabaote; Querós, Siá, Padom; Lebana, Hagaba, Acube; Hagabe, Salmai, Hanã; Gidel, Gaar, Reaías; Rezim, Necoda, Gazão; Uzá, Paseia, Besai; Asná, Meunim, Nefusim; Baquebuque, Hacufa, Harur; Bazlute, Meida, Harsa; Barcos, Sísera, Tema; Nezias, Hatifa. Entre os retornados encontravam-se igualmente descendentes de homens que tinham estado ao serviço do rei Salomão; eram descendentes de: Sotai, Soferete, Peruda; Jaala, Darcom, Gidel; Sefatias, Hatil, Poquerete-Hazebaim, Ami. O total dos auxiliares do templo mais os descendentes dos servidores de Salomão era de 392. Houve igualmente um grupo de pessoas que regressou a Jerusalém, na mesma altura, vindo das cidades persas de Tel-Mela, Tel-Harsa, Querube, Adã e Imer. Contudo, perderam as suas genealogias e não puderam provar que eram israelitas. Estas pessoas incluíam descendentes dos subclãs de Delaías, Tobias e Necoda, num total de 652. Houve três subclãs de sacerdotes: Hobaías, Coz e Barzilai. Este último casou com uma das filhas de Barzilai, o gileadita, e ficou como o nome da família dela. Estes regressaram igualmente a Jerusalém, mas também perderam as suas genealogias. Por isso, os responsáveis recusaram permitir que continuassem como sacerdotes; nem sequer os deixaram comer do alimento dos sacríficios, até que fossem consultados o urim e tumim, para se saber, da parte de Deus, se eram realmente descendentes de sacerdotes. O total de todos os que regressaram a Judá foi de 42 360 pessoas. Deve juntar-se a este número 7337 escravos e 200 cantores e cantoras. Trouxeram consigo 736 cavalos, 245 mulas, 435 camelos e 6720 burros. Alguns dos líderes deram generosamente ofertas para a reconstrução do templo, cada um tanto quanto pôde. O valor da totalidade das dádivas ascendeu a 500 quilos de ouro, 2800 quilos de prata e 100 vestes sacerdotais. Os sacerdotes, os levitas e algumas pessoas do povo comum, estabeleceram-se em Jerusalém e nas povoações ao redor. Os cantores, os porteiros, os funcionários auxiliares do templo e o resto do povo, voltaram às outras localidades de Judá de onde eram originários. Durante o sétimo mês, todos os que tinham regressado a Judá vieram até Jerusalém, das terras onde estavam a morar. Jesua, filho de Josadaque, com os seus companheiros sacerdotes, mais Zorobabel, filho de Sealtiel, com o seu clã, reconstruíram o altar do Deus de Israel. Ofereceram holocaustos sobre ele, tal como está escrito nas instruções de Moisés, o homem de Deus. O altar foi reconstruído sobre os seus próprios alicerces e foi usado para os sacrifícios da manhã e da tarde, oferecendo-se nele holocaustos ao Senhor, apesar do medo que sentiam dos povos ao redor. Celebraram também a festa dos tabernáculos, de acordo com as instruções de Moisés, oferecendo holocaustos, especificamente para cada dia da festa. Também apresentaram os holocaustos requeridos e os sacrifícios para as celebrações da lua nova, e para outras festas regulares anuais dedicadas ao Senhor. Ofereceram ainda as ofertas voluntárias ao Senhor. Foi no primeiro dia do sétimo mês que os sacerdotes começaram a sacrificar holocaustos ao Senhor. Isto foi antes de se colocarem os fundamentos para a reconstrução do templo. Contrataram depois pedreiros e carpinteiros, e compraram madeira de cedro ao povo de Tiro e de Sídon, pagando-lhes com comida, vinho e azeite. A madeira era trazida das montanhas do Líbano e transportada pelo mar, ao longo da costa do Mediterrâneo, até Jope; isto de acordo com a concessão de Ciro, rei da Pérsia. As obras efetivas de reconstrução do templo iniciaram-se no segundo mês do segundo ano da chegada dos exilados a Jerusalém. Os trabalhos foram realizados por todos os que tinham regressado, sob a direção de Zorobabel, filho de Sealtiel, de Josué, filho de Josadaque, e dos outros sacerdotes, seus companheiros, e dos levitas. Os levitas, a partir da idade de 20 anos, eram designados para supervisionar as obras. Jesua, com os seus filhos e irmãos, juntamente com Cadmiel e seus filhos, que eram descendentes de Judá, e com os companheiros, puseram-se a dirigir os que trabalhavam no templo de Deus. Juntamente com eles dirigiam também os trabalhos os levitas descendentes de Henadade. Quando os trabalhos de reparação dos alicerces do templo acabaram, os sacerdotes vestiram os seus trajes sacerdotais e tocaram as cornetas; os descendentes de Asafe vieram, igualmente, com os seus címbalos para louvarem o Senhor, conforme as indicações de David, rei de Israel. Repetiam com louvor e gratidão este cântico: “O Senhor é bom; e o seu amor para com Israel é eterno.” Todo o povo manifestou exuberantemente a sua grande alegria, louvando também o Senhor, por os alicerces do templo estarem reconstruídos. Muitos dos sacerdotes, levitas e outros chefes, homens idosos que se lembravam ainda do belo templo de Salomão, choravam de comoção, enquanto outros expressavam jubilosamente os seus sentimentos. As manifestações da emoção do povo misturavam-se, de tal forma que se podiam ouvir a uma grande distância. Quando os inimigos de Judá e de Benjamim tomaram conhecimento de que os exilados tinham regressado e estavam a reconstruir o templo do Senhor, o Deus de Israel, vieram ter com Zorobabel e com os outros chefes, sugerindo-lhes o seguinte: “Deixem-nos trabalhar convosco, porque também buscaremos o vosso Deus como vocês; temos-lhe oferecido sacríficios desde que Esar-Hadom, rei da Assíria, nos trouxe para aqui.” Zorobabel, Josué e os outros líderes judeus replicaram-lhes: “Vocês não podem participar connosco nesta obra; o templo do Senhor, Deus de Israel, terá de ser construído pelos próprios israelitas, tal como mandou o rei Ciro.” Contudo, o povo que residia na terra tentava desencorajá-los e aterrorizá-los. Enviaram, ao mesmo tempo, agentes ao rei Ciro, para lhe contar mentiras a seu respeito. Esta situação manteve-se durante o resto do reinado de Ciro, até que o rei Dario subiu ao trono. Posteriormente, quando o rei Assuero começou a reinar, escreveram-lhe uma carta de acusação contra o povo de Judá e de Jerusalém. Fizeram o mesmo durante o reinado de Artaxerxes; Bislão, Mitredate, Tabeel e seus companheiros escreveram-lhe uma carta em aramaico, que foi traduzida para que o rei a compreendesse. Tinham sido trazidos das suas terras pelo grande e afamado Osnapar e instalados em Jerusalém, Samaria e noutras terras a ocidente do Eufrates. É este o texto da referida carta. Majestade, Saudações te enviam os teus leais súbditos a ocidente do rio Eufrates. Permite-nos informar-te que os judeus, enviados da Babilónia para Jerusalém, estão a reconstruir esta cidade rebelde e malvada; já reconstruíram as muralhas e refizeram os alicerces do templo. Por isso, pretendemos que fiques a saber que se esta cidade for reconstruída, não será para teu benefício, pois os judeus não pagarão impostos nem as taxas devidas. Somos súbditos reconhecidos da administração real, por isso não vemos com bons olhos a desonra do rei, e resolvemos avisar-te. Sugerimos que mandes investigar as antigas crónicas, para verificar o quanto esta cidade foi contenciosa no passado; foi mesmo destruída por causa da sua longa história de sedição contra os reis e as nações que procuravam controlá-la. Queremos informar-te que, se esta cidade for reconstruída e as suas muralhas fechadas, o melhor será esqueceres-te do teu império para cá do Eufrates, pois perdê-lo-ás. O rei mandou esta resposta. Ao governador Reum e ao secretário Simsai, assim como aos seus companheiros que vivem na Samaria e em toda a área a ocidente do Eufrates. Paz! A carta que me enviaram foi traduzida e lida perante mim. Ordenei uma pesquisa às crónicas antigas e verifiquei, na verdade, que Jerusalém foi nos tempos passados um foco de insurreição contra muitos reis; com efeito, a sedição e a rebelião eram coisa habitual ali. Houve, no entanto, reis notáveis em Jerusalém que chegaram a ter domínio sobre toda a terra para além do Eufrates, recebendo avultados tributos, cobrando direitos e rendas. Dados os factos, ordeno que essa gente pare o trabalho, a fim de que essa cidade não venha a ser reconstruída até que eu autorize. Que a minha ordem seja cumprida estritamente, pois não posso permitir que haja prejuízo contra os interesses do rei. Quando esta carta chegou às mãos de Reum e de Simsai, foram a correr a Jerusalém e forçaram os judeus a parar as obras. Dessa maneira, os trabalhos foram suspensos até ao segundo ano do reinado de Dario, rei da Pérsia. Houve profetas em Jerusalém e em Judá, nesse tempo, Ageu e Zacarias, filho de Ido, que trouxeram mensagens da parte do Deus de Israel, dirigidas a Zorobabel, filho de Sealtiel, e a Josué, filho de Josadaque, encorajando-os a retomar a obra de reconstrução, o que eles fizeram com o apoio dos profetas. Contudo, Tatenai, o governador das terras a ocidente do Eufrates, e Setar-Bozenai, com os seus associados, vieram até Jerusalém e perguntaram: “Quem vos deu licença para reconstruir este templo e para acabar estas muralhas?” Pediram ainda uma lista de todos os homens que trabalhavam nas obras do templo. Mas como os olhos de Deus estavam sobre os líderes dos judeus, não foram impedidos de trabalhar até que um relatório fosse enviado a Dario e dele se recebesse uma decisão oficial a respeito do assunto. Eis a carta que o governador Tatenai, Setar-Bozenai e os outros funcionários enviaram ao rei Dario: Para o rei Dario: Muita paz para ti! Queremos informar-te que fomos até às obras de reconstrução do templo do grande Deus de Judá; está a ser feita com grandes pedras e muita madeira; também as muralhas estão a ser levantadas; toda a obra avança com precisão e eficácia. Perguntámos aos seus responsáveis quem lhes tinha dado licença para aquilo. Tomámos igualmente nota dos seus nomes, para os dar a conhecer a Dario. Responderam-nos: “Somos servos do Deus dos céus e da Terra; estamos a reconstruir o templo que aqui existia há séculos atrás e que foi levantado por um grande rei de Israel. Mais tarde, os nossos antepassados irritaram o Deus dos céus, que os abandonou e deixou que o rei Nabucodonozor destruísse este templo e exilasse a população para a Babilónia. Insistiram também que o rei Ciro da Babilónia, no primeiro ano do seu reinado, publicara um decreto em como o templo deveria ser reconstruído. Garantem ainda que o rei Ciro devolveu os recipientes de ouro e prata que Nabucodonozor levara do templo de Jerusalém, para os colocar no templo da Babilónia. Esses vasos foram entregues à guarda de um homem chamado Sesbazar, a quem o rei Ciro nomeou governador de Judá. Ele tinha o encargo de trazer de volta esses objetos preciosos até Jerusalém e de promover a reconstrução do templo de Deus que antes ali existia. Foi assim que Sesbazar deu início aos trabalhos dos alicerces do templo em Jerusalém; o povo tem-se dedicado a essa obra, desde então, ainda que não esteja acabada.” Rogamos-te, pois, que mandes inquirir nos arquivos da Babilónia se é verdade que o rei Ciro emitiu tal decreto, e que depois possamos saber qual a tua decisão quanto a este assunto. O rei Dario, com efeito, mandou pesquisar nos diversos arquivos na Babilónia, onde os documentos eram guardados. Na verdade, foi encontrado no palácio de Acmeta, na província de Média, um relato que dizia o que a seguir se lê. No primeiro ano do reinado de Ciro, foi publicado um decreto respeitante ao templo de Deus em Jerusalém, onde os judeus fazem os seus sacrifícios de culto. Esse templo deverá ser reconstruído e os seus alicerces refeitos; terá 30 metros de altura e igual medida de largura. Os alicerces serão compostos de três carreiras de grandes pedras, terminando com uma carreira de madeira nova; todas as despesas serão pagas pelo rei. Os vasos de ouro e de prata que tinham sido levados do templo de Deus pelo rei Nabucodonozor, deverão voltar para Jerusalém e ser postos no templo, como antes. O rei Dario enviou, então, a seguinte mensagem ao governador Tatenai, ao Setar-Bozenai e aos outros altos funcionários, a ocidente do Eufrates: Não ponham qualquer entrave à construção do templo. Deixem que seja reconstruído, no local primitivo, e não molestem o governador de Judá nem os outros líderes nessa obra. Ordeno ainda que todas as despesas com essa construção do templo sejam pagas, sem demora, com o dinheiro proveniente dos impostos cobrados nesse território. Deem aos sacerdotes de Jerusalém bois, carneiros e cordeiros para os holocaustos a oferecer ao Deus do ceú; deem-lhes também trigo, vinho, sal e azeite, diariamente, sem falhar, para que possam oferecer sacrifícios aceitáveis ao Deus dos céus e para que orem por mim e pelos meus filhos. Para quem quer que seja que tente alterar estas minhas ordens será construída uma forca, com madeira da sua própria casa, e será pendurado nela; a sua casa tornar-se-á num monturo. O Deus que escolheu a cidade de Jerusalém destruirá qualquer rei e qualquer nação que alterar esta ordem e destruir este templo. Eu, Dario, mandei fazer este decreto. Seja posto em execução com toda a diligência. O governador Tatenai, Setar-Bozenai e os outros funcionários deram imediatamente cumprimento às ordens do rei Dario. Os chefes judeus continuaram a obra e eram grandemente encorajados pelas pregações dos profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido. Por fim, o templo ficou terminado, conforme Deus mandara, e conforme as ordens de Ciro, Dario e Artaxerxes, reis da Pérsia. Era o terceiro dia do mês de Adar do sexto ano do reinado de Dario. O templo foi consagrado no meio de grandes manifestações de júbilo dos sacerdotes, levitas e de todo o povo que tinha regressado do exílio. Durante essas celebrações, foram sacrificados 100 bois, 200 carneiros e 400 cordeiros; foram também apresentados 12 cabritos, como sacrifício pelo pecado, em nome das doze tribos de Israel. Os sacerdotes e levitas dividiram-se nos vários grupos, de acordo com as suas funções, para executarem o serviço de Deus, conforme as instruções dadas por Moisés. Os que regressaram do cativeiro celebraram a Páscoa no dia 14 do primeiro mês. Todos os sacerdotes e levitas se purificaram e, em seguida, ofereceram os sacrifícios da Páscoa por todos os retornados da Babilónia, pelos seus companheiros sacerdotes e por eles mesmos. É esta a genealogia de Esdras, que viajou da Babilónia para Jerusalém, durante o reinado de Artaxerxes da Pérsia: Esdras era filho de Seraías; Seraías era filho de Azarias; Azarias era filho de Hilquias; Hilquias era filho de Salum; Salum era filho de Zadoque; Zadoque era filho de Aitube; Aitube era filho de Amarias; Amarias era filho de Azarias; Azarias era filho de Meraiote; Meraiote era filho de Zeraías; Zeraías era filho de Uzi; Uzi era filho de Buqui; Buqui era filho de Abisua; Abisua era filho de Fineias; Fineias era filho de Eleazar; Eleazar era filho de Aarão, o sumo sacerdote. Como chefe religioso, Esdras era muito versado na Lei de Moisés, dada pelo Senhor, o Deus de Israel. Pedira ao rei para regressar a Jerusalém da Babilónia e este concedeu-lhe tudo o que ele precisava, porque o Senhor, seu Deus, o abençoava. Houve, aliás, muita gente do povo, assim como sacerdotes, levitas, cantores, porteiros e funcionários do templo, que viajou com ele para Jerusalém no sétimo ano do rei Artaxerxes. Isto porque Esdras tinha proposto no seu coração estudar a Lei do Senhor, obedecer-lhe e ensinar em Israel os seus mandamentos e preceitos. Foi esta a carta que o rei Artaxerxes deu ao sacerdote Esdras, mestre nas leis e mandamentos do Senhor em Israel: Artaxerxes, rei de reis, a Esdras, sacerdote e mestre na Lei do Deus dos céus. Decreto que qualquer judeu no meu reino, incluindo sacerdotes e levitas, pode regressar a Jerusalém contigo. Da minha parte e dos meus sete conselheiros, te mandamos que leves a Lei do teu Deus para Judá e Jerusalém e que faças um relatório dos progressos religiosos verificados. Também te ordenamos que leves para Jerusalém a prata e o ouro que apresentamos como oferta ao Deus de Israel, cuja habitação está em Jerusalém. Além disso, deverás recolher as ofertas voluntárias para o templo, em prata e ouro, que os judeus e os seus sacerdotes, em todas as províncias da Babilónia, queiram dar. Estes fundos serão usados, prioritariamente, para a compra de bois, carneiros, cordeiros e ofertas de cereais e bebidas, para serem oferecidos sobre o altar do teu templo, quando chegares a Jerusalém. O dinheiro que sobejar poderá ser usado por ti e pelos teus irmãos, da forma que entenderem ser a vontade do vosso Deus. Leva contigo os vasos de ouro e outros objetos que damos para o templo do vosso Deus em Jerusalém. Se vos faltar dinheiro para a reconstrução do templo, ou para qualquer outra coisa relacionada com isso, podem requerê-lo dos fundos do tesouro real. Eu, Artaxerxes, rei, envio este mesmo decreto a todos os tesoureiros reais nas províncias a ocidente do rio Eufrates: deverão entregar a Esdras o que ele vos requisitar, porque se trata de um sacerdote e mestre na Lei do Deus dos céus. Poderão fornecer-lhe até 3400 quilos de prata, 22 000 litros de trigo, 2200 litros de vinho, 2200 litros de azeite e qualquer quantidade de sal. Tudo o mais que o Deus dos céus pedir para o seu templo, deverão entregar-lhe, pois por que razão arriscaria eu a ira de Deus contra o rei e os seus filhos? Também decreto que a nenhum sacerdote, levita, cantor do coro, porteiro, funcionário do templo ou a qualquer outro trabalhador do templo seja requerido o pagamento de qualquer tipo de imposto. Quanto a ti, Esdras, deverás usar da sabedoria que Deus te deu para escolheres e designares administradores que governem todos os povos a ocidente do rio Eufrates. Se forem pessoas que não estejam familiarizadas com as leis do teu Deus, deverás ensinar-lhas. Seja quem for que se recuse a obedecer à Lei do teu Deus e à lei do rei terá de ser, imediatamente, condenado à morte ou ao degredo, ou ao confiscamento dos seus bens, ou à prisão. Louvado seja o Senhor, o Deus dos nossos antepassados, que inspirou o coração do rei para enriquecer o templo do Senhor em Jerusalém! Bendito seja o Senhor, também, pela demonstração de misericórdia para comigo, honrando-me perante o rei e os seus conselheiros, assim como perante todos os seus poderosos ministros! Foi-me dada uma grande responsabilidade, porque o Senhor, meu Deus, está comigo. Consegui também persuadir alguns dos chefes de Israel a subirem comigo a Jerusalém. São estes os nomes e as genealogias dos chefes que me acompanharam, desde Babilónia, durante o reinado do rei Artaxerxes: descendentes de Fineias: Gerson; descendentes de Itamar: Daniel; do subclã de David, pertencente ao clã de Secanias: Hatus; descendentes de Parós: Zacarias e 150 outros homens; descendentes de Paate-Moabe: Elioenai, filho de Zeraías, e mais 200 homens; descendentes de Zatu: Secanias, filho de Jaaziel, e com ele 300 homens; descendentes de Adim: Ebede, filho de Jónatas, e 50 homens; descendentes de Elão: Jesaías, filho de Atalia, e mais 70 homens; descendentes de Sefatias: Zebadias, filho de Micael, com ele 80 homens; descendentes de Joabe: Obadias, filho de Jeiel, e 218 homens; descendentes de Bani: Selomite, filho de Josifias, e mais 160 homens; descendentes de Bebai: Zacarias, filho de Bebai, e 28 homens; descendentes de Azgade: Joanã, filho de Hacatã, e mais 110 homens; descendentes de Adonicão: Elifelete, Jeiel e Semaías, mais 60 homens, que chegaram mais tarde; descendentes de Bigvai: Utai, Zacur e 70 outros homens. Juntámo-nos na margem do rio Aava e ficámos ali acampados três dias, enquanto eu verificava as listas do povo e dos sacerdotes que iam chegando. Verifiquei que não havia nem um só levita que se tivesse apresentado voluntariamente. Então, mandei chamar Eliezer, Ariel, Semaías, Elnatã, Jaribe, Elnatã, Natã, Zacarias e Mesulão, líderes levitas; também mandei buscar Joiaribe e Elnatã, que eram sábios. Enviei-os depois a Ido, líder dos judeus em Casifia, para lhe pedir, a ele, aos seus irmãos e aos funcionários do templo, que nos mandassem sacerdotes para o templo de Deus em Jerusalém. E Deus foi bom para connosco! Mandou-nos um homem notável chamado Serebias e os seus 18 filhos e irmãos; uma pessoa muito inteligente, descendente de Mali, filho de Levi e neto de Israel. Deus também fez com que se apresentassem Hasabias e Jesaías, filho de Merari, com 20 dos seus familiares, filhos e irmãos. Vieram também 220 funcionários do templo. Estes funcionários eram assistentes dos levitas, uma categoria instituída pelo rei David. Todos estes 220 homens foram devidamente registados pelos seus nomes. Enquanto ali estávamos, à beira do rio Aava, proclamei um jejum, para nos humilharmos perante Deus; orámos para que nos desse uma boa viagem e nos protegesse, a nós, assim como aos nossos filhos e bagagens, durante a viagem. Porque me envergonhei de pedir ao rei soldados, a pé e a cavalo, para nos acompanharem e nos protegerem dos inimigos durante o caminho; pois tínhamos dito que o nosso Deus protege todos quantos o adoram e a desgraça só vem aos que o abandonam. Por isso, jejuámos e implorámos a Deus que cuidasse de nós, e ele assim fez. Designei 12 chefes de entre os sacerdotes, Serebias, Hasabias e 10 outros sacerdotes; deveriam responsabilizar-se pelo transporte da prata e do ouro, dos recipientes em ouro e dos outros objetos que o rei e o seu conselho, e os líderes do povo de Israel, tinham oferecido para o templo de Deus. Pesei o dinheiro, quando lho entreguei, e contei no total 22 quilos de prata; avaliei também em 3,4 toneladas os vasos de prata e em outro tanto os de ouro. Havia também 20 taças de ouro que pesavam 8 quilos; entreguei-lhes, igualmente, 2 belas taças de bronze que eram tão preciosas com as de ouro. Depois disse-lhes: “Vocês estão consagrados ao Senhor; tal como vocês, também consagrei os tesouros: o equipamento, o dinheiro e as taças que foram oferecidas voluntariamente ao Senhor, o Deus dos vossos pais. Assim, vigiem bem estes tesouros! Terão de os apresentar, sem a mínima perda, aos sacerdotes e aos chefes dos levitas, assim como aos anciãos de Israel em Jerusalém, onde deverão ser colocados nas salas do tesouro do templo do Senhor.” Os sacerdotes e os levitas aceitaram a responsabilidade daquele transporte até ao templo de Deus em Jerusalém. Levantámos o acampamento junto ao rio Aava no dia 12 do primeiro mês e partimos para Jerusalém. Deus protegeu-nos e livrou-nos dos inimigos e dos bandidos durante todo o caminho. Assim, chegamos sãos e salvos a Jerusalém e permanecemos ali três dias. No quarto dia, após a chegada, todo o ouro e prata e os outros valores foram pesados no templo, por Meremote, filho de Urias o sacerdote, por Eleazar, filho de Fineias, por Jozabade, filho de Jesua, e por Noadias, filho de Binuí, todos eles levitas. Foi tudo contado e anotado o peso do ouro e da prata. Depois disso, os que tinham regressado do cativeiro, ofereceram holocaustos ao Deus de Israel: 12 novilhos por toda a nação de Israel, 96 carneiros, 77 cordeiros e 12 bodes como oferta pelo pecado. Todos estes animais foram queimados em holocausto ao Senhor. Os decretos reais foram entregues aos seus representantes e aos governadores de todas as províncias a ocidente do rio Eufrates, os quais colaboraram, eles próprios, nos trabalhos de reconstrução do templo de Deus. A dado momento, os chefes judeus vieram dizer-me que muitos de entre o povo, e até alguns sacerdotes e levitas, tinham seguido costumes extremamente reprováveis dos povos pagãos: cananeus, hititas, perizeus, jebuseus, amonitas, moabitas, egípcios e amorreus. Homens de Israel tinham casado com raparigas desses povos pagãos e tinham levado os seus filhos a celebrar casamentos semelhantes. Dessa maneira, o povo santo de Deus estava a misturar-se com essas pessoas; os chefes políticos eram dos piores nesse tipo de transgressão. Quando ouvi isto, rasguei a minha roupa, coloquei as mãos na cabeça, arrepelei o cabelo e a barba e caí numa cadeira em profundo desalento. Muitos dos que temiam o Deus de Israel, na sequência deste pecado do povo, vieram sentar-se ao meu lado, até à hora do sacrifício da tarde. Por fim, levantei-me, profundamente perturbado, pus-me de joelhos perante o Senhor, levantei as mãos ao meu Deus e clamei: “Ó meu Deus, estou extremamente confuso e envergonhado, ao levantar o meu rosto para ti; porque os nossos pecados se acumulam, bem acima das nossas cabeças, e a nossa culpa sobe até aos céus. Toda a nossa história traz a marca do pecado; por essa razão, os nossos reis e os nossos sacerdotes foram mortos por reis pagãos; fomos feitos cativos, fomos roubados e desgraçados, tal como ainda hoje acontece. Ultimamente, tinha-nos sido dado um momento de descanso; porque permitiste que alguns de nós regressassem a Jerusalém do cativeiro; deste-nos, Senhor, nosso Deus, um momento de alegria e uma vida nova, no meio da escravatura. Pois éramos escravos; mas no teu amor e misericórdia, não nos abandonaste nessa situação; antes, fizeste com que os reis persas nos fossem favoráveis, ao ponto de até nos darem ajuda na reconstrução do templo de Deus e na edificação de muralhas de segurança de Jerusalém, para poder tornar-se uma parede defensiva em toda a Judá. Agora, ó Deus, o que poderemos nós dizer, depois do que está a acontecer? Mais uma vez transgredimos as tuas leis e abandonámos-te! Os profetas avisaram-nos que a terra que iríamos possuir estava totalmente corrompida pelas práticas abomináveis dos povos que aqui viviam, que a terra estava manchada de corrupção. Por esse motivo, disseste-nos para não deixarmos as nossas filhas casarem com os filhos deles, nem os nossos filhos casarem com as filhas deles, e que nem sequer os ajudássemos fosse de que maneira fosse. Disseste-nos que só seguindo este princípio nos tornaríamos numa nação próspera e legaríamos aos nossos filhos uma prosperidade perene. E agora, mesmo depois do castigo no exílio, por causa da nossa maldade (e fomos punidos muito menos do que aquilo que merecíamos), mesmo tendo deixado que alguns de nós regressassem, desobedecemos novamente aos teus mandamentos, e permitimos casamentos com gente que pratica coisas abomináveis. Certamente que a tua ira nos destruirá ao ponto de nem este remanescente escapar. Ó Senhor, Deus de Israel, tu és um Deus justo; que esperança poderemos ter, se quiseres exercer a tua justiça sobre nós, que estamos aqui diante de ti?” Enquanto eu estava assim, prostrado no solo, diante do templo, chorando, orando e fazendo estas confissões, foi-se juntando à minha volta uma grande multidão de homens, mulheres e crianças que choravam comigo. Disse-me então Secanias, filho de Jeiel da família de Elão: “Reconhecemos o nosso pecado contra o nosso Deus, porque casámos com mulheres pagãs oriundas dos povos nossos vizinhos; mas ainda há esperança para Israel, apesar disto tudo. Aceitamos diante do nosso Deus separar-nos das mulheres pagãs e despedi-las com os seus filhos; seguiremos o conselho do Senhor e o dos que temem os mandamentos do nosso Deus; faça-se conforme a Lei do nosso Deus. Levanta-te, anima-te e diz-nos o que fazer, para que este assunto fique resolvido; podes contar com toda a nossa obediência.” Levantei-me, pois, e pedi aos líderes dos sacerdotes e dos levitas, assim como a todo o povo de Israel que prometesse fazer como Secanias tinha dito, e eles assim fizeram. De seguida, dirigi-me às dependências de Jeoanã, filho de Eliasibe, no templo; contudo, fiquei sem beber nem comer, porque estava muito acabrunhado, por causa do pecado dos retornados do exílio. Foi então feita uma proclamação em toda Jerusalém e Judá, convocando a população a vir a Jerusalém, dentro de três dias, e anunciando que os anciãos e os chefes tinham decidido que se alguém recusasse apresentar-se teria os seus bens confiscados e seria excluído dos exilados que regressaram. Nos três dias indicados, no dia 20 do nono mês, todos os homens de Judá e de Benjamim se apresentaram e sentaram no espaço livre que havia defronte do templo. Estavam temerosos, por causa da seriedade do assunto, e também preocupados com as grandes chuvas. Esdras, o sacerdote, levantou-se e falou-lhes: “Vocês pecaram, porque casaram com mulheres pagãs; estamos agora ainda mais sob a condenação de Deus do que dantes. Confessem os vossos pecados ao Senhor, o Deus dos vossos pais, e façam o que ele vos pede: separem-se das gentes pagãs à nossa volta e dessas mulheres.” Toda a congregação disse em voz alta: “Faremos como dizes. Contudo, isso não é coisa que se faça num dia ou dois; somos muitos os que estamos envolvidos nesta transgressão; além disso, chove de tal maneira que não poderemos ficar aqui muito tempo. Que os nossos chefes nomeiem juízes; quem está nessa situação de se ter ligado a uma mulher pagã, venha apresentar-se, na data determinada, acompanhado dos anciãos e dos juízes da sua cidade; cada caso será decidido da melhor maneira e a ira do nosso Deus vai afastar-se de nós.” Apenas Jónatas, filho de Asael, Jaseias, filho de Ticvá, Mesulão e Sabetai, o levita, não concordaram com essa forma de agir. Foi este o plano seguido: Alguns dos chefes dos clãs, e eu próprio, fomos designados como juízes. Começámos a trabalhar no primeiro dia do décimo mês e acabámos no primeiro dia do primeiro mês. descendentes de Imer: Hanani e Zebadias; descendentes de Harim: Maaseias, Elias, Semaías, Jeiel e Uzias; descendentes de Pasur: Elioenai, Maaseias, Ismael, Netanel, Jozabade e Elasá. Dos levitas, foram culpados Jozabade, Simei, Quelaías (também chamado Quelita), Petaías, Judá e Eliezer; dos cantores: Eliasibe; dos porteiros: Salum, Telem e Uri. É esta a lista dos cidadãos comuns que se declararam culpados: descendentes de Parós: Ramias, Izias, Malquias, Miamim, Eleazar, Malquias e Benaia; descendentes de Elão: Matanias, Zacarias, Jeiel, Abdi, Jeremote e Elias; descendentes de Zatu: Elioenai, Eliasibe, Matanias, Jeremote, Zabade e Aziza; descendentes de Bebai: Jeoanã, Hananias, Zabai e Atlai; descendentes de Bani: Mesulão, Maluque, Adaías, Jasube, Seal e Jeremote; descendentes de Paate-Moabe: Adna, Quelal, Benaia, Maaseias, Matanias, Bezalel, Binuí e Manassés; descendentes de Harim: Eliezer, Issias, Malquias, Semaías, Simeão, Benjamim, Maluque e Semarias; descendentes de Hasum: Matenai, Matatá, Zabade, Elifelete, Jeremai, Manassés e Simei; descendentes de Bani: Maadai, Amrão, Uel, Benaia, Bedeias, Queluí, Vanias, Meremote, Eliasibe, Matanias, Matenai, Jaasai, descendentes de Binuí: Simei, Selemias, Natã, Adaías, Macnadebai, Sasai, Sarai, Azarel, Selemias, Semarias, Salum, Amarias e José. Descendentes de Nebo: Jeiel, Matitias, Zabade, Zebina, Jadai, Joel e Benaia. Todos estes se tinham ligado a mulheres gentias e alguns tinham filhos dessas mulheres. Livro das memórias de Neemias, filho de Hacalias. No mês de Quisleu, no ano 20 do reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, quando me encontrava no palácio real em Susã, um dos meus irmãos judeus, chamado Hanani, veio ver-me, acompanhado de alguns homens vindos de Judá. Aproveitei para saber como iam as coisas em Jerusalém. Perguntei-lhes: “Como estão os judeus que regressaram a Jerusalém, daqui do exílio?” “As coisas não estão bem; o muro de Jerusalém foi derrubado; as portas mantêm-se queimadas.” Ao ouvir estas palavras, sentei-me e chorei; recusei comer durante vários dias e passei muito tempo a orar ao Deus dos céus. “Ó Senhor, Deus dos céus!”, clamei. “Ó grande e tremendo Deus que guardas a aliança, e que és bom e misericordioso para com os que te amam e obedecem! Ouve a minha oração! Escuta atentamente o que tenho para te dizer! Vê como oro noite e dia pelo teu povo de Israel; confesso que pecámos contra ti! Sim, eu e o meu povo cometemos o grave pecado de não obedecer aos mandamentos que nos deste através do teu servo Moisés. Lembra-te, peço-te, daquilo que disseste a Moisés: ‘Se pecarem, espalhar-vos-ei entre as nações. Mas se se voltarem para mim e obedecerem às minhas leis, ainda que se encontrem exilados nos mais longíquos pontos da Terra, farei com que voltem a Jerusalém; pois Jerusalém é o local que escolhi para que o meu nome fosse honrado.’ Somos teus servos, o povo que resgataste pelo teu grande poder. Senhor, peço-te que ouças a minha oração! Atenta para as orações dos que têm prazer em te honrar. Ajuda-me, agora, que vou pedir ao rei um grande favor; faz com que o seu coração se torne benévolo para comigo.” Nesse tempo, era eu quem servia as bebidas ao rei. mas repliquei: “Viva o rei para sempre! Senhor, não hei de eu estar triste, quando a cidade dos meus antepassados está em ruínas e os seus portões queimados!” “Bem, e o que é preciso fazer?”, perguntou o rei. Orei ao Deus dos céus e respondi: “Se a vossa majestade achar bem e me quiser beneficiar com a sua boa vontade, poderia enviar-me a Judá para reconstruir a cidade dos meus pais.” O rei, com a rainha sentada ao seu lado, tornou a perguntar: “E quanto tempo precisas para isso? Quando regressarias?” Respondi-lhe e o rei aceitou enviar-me; indiquei-lhe também a data da partida. Ainda fiz mais este pedido: “Que a vossa majestade se digne dar-me cartas para os governadores a ocidente do rio Eufrates, para que me deixem atravessar os seus territórios na viagem para Judá; e ainda uma carta para Asafe, o responsável pelas florestas reais, dando-lhe instruções para que me seja dada madeira para refazer as portas da cidade, para colocar também a porta na fortaleza, junto do templo, e para a minha própria casa.” O rei concordou com este pedido, porque era Deus quem o inclinava a meu favor. Quando cheguei às províncias a ocidente do Eufrates, entreguei as credenciais do rei aos governadores. Devo acrescentar que o rei me fez acompanhar de tropas, comandadas por oficiais, para me protegerem. No entanto, quando Sanbalate, o horonita, e Tobias, o oficial amonita, souberam da minha chegada, ficaram furiosos, por haver alguém preocupado em ajudar Israel. Três dias após ter chegado a Jerusalém, levantei-me de noite e chamei junto de mim alguns homens; eu ainda não tinha contado absolutamente a ninguém os planos que Deus pusera no meu coração quanto a Jerusalém. Subi para a montada e os outros seguiram-me a pé. Fomos pelo caminho da porta do vale em direção à fonte do Dragão, continuando pela porta do Monturo, para vermos o estado das muralhas em ruínas e as portas queimadas. Depois seguimos pela porta da Fonte, até ao tanque Real; mas o animal não podia passar por ali. Então contornámos a cidade e seguimos pelo ribeiro, sempre inspecionando as muralhas, tornando a entrar pela porta do vale. Os administradores da cidade não souberam o que eu fiz, porque eu não tinha contado aos judeus os meus planos, nem sequer aos chefes políticos e religiosos, nem aos que trabalhavam nas obras. Mas depois disse-lhes: “Sabem muito bem a miséria em que se encontra a nossa cidade, toda em ruínas, com as suas portas queimadas. Vamos reconstruir as muralhas de Jerusalém e sair deste opróbrio em que nos encontramos!” E prossegui, falando-lhes do desejo que Deus me tinha dado, da conversa que tivera com o soberano persa e dos planos, com os quais ele tinha concordado. A sua resposta foi unânime: “Ótimo! Vamos reconstruir a muralha!” E metemos mãos à obra. Quando Sanbalate, Tobias e Gesem, o árabe, souberam desta decisão, troçaram de nós e advertiram-nos: “Que é isso que querem fazer? Querem revoltar-se contra o rei?” Respondi-lhes: “O Deus do céu ajudar-nos-á! Nós, os seus servos, haveremos de reconstruir os muros. Vocês não têm nada a ver com esta obra, nem por razões de passado nem por razões de justiça.” Então Eliasibe, o sumo sacerdote, e os outros sacerdotes reconstruíram as muralhas, até à torre dos Cem e à torre de Hananel. Seguidamente, refizeram a porta das Ovelhas; aplicaram-lhe os batentes e consagraram-na. Homens da cidade de Jericó trabalharam ao seu lado; tiveram também o apoio de uma equipa de trabalhadores chefiada por Zacur, filho de Imri. A porta do Peixe foi reconstruída pelos filhos de Senaá, que fizeram tudo: prepararam a madeira, aplicaram as portas, fizeram as dobradiças e as fechaduras. Meremote, filho de Urias, filho de Coz, ocupou-se da secção da muralha a seguir; mais à frente, trabalharam Mesulão, filho de Berequias, filho de Mesezabel e Zadoque, filho de Baaná. Tiveram também a seu lado os homens de Tecoa; os seus chefes, porém, não estavam dispostos a empenhar-se neste trabalho. A porta Velha foi reparada por Joiada, filho de Paseia, e por Mesulão, filho de Besodeias. Prepararam a madeira e colocaram as portas com os gonzos e as fechaduras. Na secção a seguir estavam Melatias de Gibeão, Jadom de Meronote e homens de Gibeão e de Mizpá, cidadãos desta província. Uziel, filho de Haraías, que era ourives, e Hananias, um fabricante de perfumes, também trabalharam nas muralhas, separadamente. Não foi preciso fazerem-se reparações no sector que ia dali até ao muro Largo. Refaías, filho de Hur, administrador de metade do distrito de Jerusalém, também participou nos trabalhos na sua zona. Jedaías, filho de Harumafe, reconstruiu a parte do muro que ficava junto à sua casa e mais ao lado trabalhou Hatus, filho de Hasabneias. A seguir, estavam Malquias, filho de Harim, e Hassube, filho de Paate-Moabe, que se ocuparam da torre dos Fornos e de uma secção adjacente da muralha. Salum, filho de Haloés, e as suas filhas repararam a parte seguinte; Salum era o administrador da outra metade do distrito de Jerusalém. O povo de Zanoa, chefiado por Hanum, refez a porta do vale, levantou os batentes, colocou os ferrolhos e as dobradiças; além disso, trabalharam também na secção de 500 metros até à porta do Monturo. Esta última foi reparada por Malquias, filho de Recabe, administrador do bairro de Bete-Haquerem; tal como com nas outras, ocuparam-se do madeiramento, das ferragens e sua aplicação. A porta da Fonte ficou a cargo de Salum, filho de Col-Hoze, administrador do bairro de Mizpá; este refez todo o emadeiramento e recolocou as portas, com as respetivas ferragens. Depois aplicou-se na muralha que vai do tanque de Siloé até ao jardim do rei e nos degraus que descem da Cidade de David. A seguir, estava Neemias, filho de Azbuque, administrador de metade do bairro de Bete-Zur; reconstruiu até diante do cemitério real, até ao reservatório de água e até à casa dos valentes guerreiros. Vinha depois um grupo de levitas que trabalhavam sob o controlo de Reum, filho de Bani. Hasabias, administrador de metade do bairro de Queila, reedificou o muro da zona de território de que era responsável. Seguiam-se os seus irmãos, atuando sob as ordens de Bavai, filho de Henadade, administrador da outra metade do bairro de Queila. Os operários que vinham a seguir eram liderados por Ezer, filho de Jesua, administrador da outra parte de Mizpá; estes trabalharam igualmente na parte da muralha defronte da subida para a casa das armas, onde a parede faz uma esquina. Logo após, aplicou-se com grande ardor na reconstrução Baruque, filho de Zacai, a partir da esquina da muralha e até à casa de Eliasibe, o sumo sacerdote. Meremote, filho de Urias e neto de Coz, reparou uma secção da muralha que ia do ponto oposto à porta da casa de Eliasibe até junto da mesma casa. A seguir, estavam os sacerdotes vindos das campinas fora da cidade. Benjamim, Hassube e Azarias, filho de Maaseias e neto de Ananias, trabalharam nas partes que ficavam mesmo junto às suas próprias casas. Vinha depois Binuí, filho de Henadade, que se encarregou da secção que ia da casa de Azarias até ao canto seguinte. Palal, filho de Uzai, responsabilizou-se pela obra, desde o canto até à base da torre superior da casa real, junto ao pátio da prisão. A seguir vinha Pedaías, filho de Parós. Os ajudantes que davam assistência em trabalhos no templo e que viviam em Ofel reconstruíram a muralha até defronte da porta da Água, para o leste, e até à torre Alta. Depois seguiam-se os tecoítas, que repararam a secção oposta à torre do Castelo e por cima do muro de Ofel. Os sacerdotes encarregaram-se da parte após a porta dos Cavalos, cada um refazendo a parte imediatamente oposta à sua casa. Zadoque, filho de Imer, também reconstruiu a parte junto à sua habitação; depois dele estava Semaías, filho de Secanias, o porteiro da porta Oriental. Logo após, estavam Hananias, filho de Selemias, Hanum, o sexto filho de Zalafe, e Mesulão, filho de Berequias, que reconstruíram junto às casas que habitavam. Malquias, um dos ourives, ocupou-se da secção que ia até à morada dos auxiliares do templo e dos comerciantes, defronte da porta da Inspeção, até à câmara superior, junto ao canto da muralha. Os outros ourives e comerciantes completaram a muralha desde esse canto até à porta das Ovelhas. Sanbalate ficou irritadíssimo quando se deu conta de que estávamos a reconstruir as muralhas da cidade; encheu-se de raiva e insultou-nos. O mesmo fizeram os seus amigos, assim como os oficiais do exército samaritano: “O que é que este desprezível punhado de judeus pretende fazer? Pensarão eles que podem reconstruir as muralhas num só dia? Oferecerão eles sacrifícios? Vejam aqueles montões de pedras queimadas! Serão eles capazes de as pôr como novas?” Tobias, atrás deles, acrescentou: “Basta uma raposa andar ali por cima e aquilo vem tudo abaixo!” Então eu orei assim: “Ouve-nos, ó nosso Deus, pois esta gente despreza-nos. Que a sua troça recaia sobre as suas cabeças e se tornem cativos numa terra estranha! Não te esqueças do seu pecado; não o ignores; é a ti que insultam, quando dizem isto de nós, que estamos a levantar estas muralhas.” O trabalho chegou, por fim, a metade da altura dos muros em toda a volta da cidade, porque toda a gente trabalhou duramente e com grande dedicação. Quando Sanbalate, Tobias, os árabes, os amonitas e os asdoditas verificaram que a obra progredia bem e que as brechas iam sendo tapadas, ficaram muito irados. Chegaram mesmo a pôr a hipótese de enviar um exército contra Jerusalém e suscitar tumultos e confusão. Contudo, nós orámos ao nosso Deus e pusemos guardas à cidade, de dia e de noite, para nos protegermos. O povo de Judá começou a queixar-se que os operários estavam a ficar cansados, no meio de imensa terra e pó, que achávamos que não poderíamos trabalhar sem auxílio exterior. Ao mesmo tempo, os nossos inimigos planeavam cair sobre nós repentinamente e matar-nos, terminando de vez com a obra. Mas os judeus que habitavam no meio deles vieram várias vezes avisar-nos de que os nossos inimigos viriam atacar-nos por todos os lados. Coloquei, por isso, guardas armados de cada família, em espaços abertos, por detrás das muralhas. Fiz então o ponto da situação. Convoquei os líderes e o povo e disse-lhes: “Não estejam com medo! Lembrem-se do Senhor, que é grande e glorioso! Combatam pelos vossos irmãos, pelas vossas famílias e pelos vossos lares!” Os inimigos perceberam que tínhamos conhecimento dos seus planos e que fora Deus quem tinha feito descobrir e frustrar esses intentos; assim, pudemos regressar ao trabalho. A partir daí, metade trabalhava e a outra metade estava de guarda, atrás. Os pedreiros e os outros operários trabalhavam com as suas armas ali perto, ao alcance rápido da mão; outros trabalhavam com as espadas presas à cintura; aquele que tocava a trombeta mantinha-se ao meu lado, para dar o alarme logo que fosse preciso. “A obra é muito extensa”, expliquei-lhes, “e estamos separados uns dos outros. Quando ouvirem tocar a trombeta, corram para aqui, onde eu estou, e Deus lutará por nós.” Trabalhávamos do nascer do sol até as estrelas aparecerem no céu; metade dos homens estavam sempre de guarda. Disse a todos os que moravam fora da cidade para se mudarem para o interior de Jerusalém, de forma que os seus criados pudessem ficar de sentinela à noite, e ajudar na obra de dia. Durante esse tempo, nenhum de nós, nem eu, nem os meus irmãos, nem os meus servos ou qualquer dos guardas que estavam comigo, ninguém tirou sequer a roupa que trazia vestida. Também trazíamos sempre as armas connosco. Foi nessa altura que se levantou um grande clamor de protesto, entre o povo, homens e mulheres, contra certos judeus ricos que os exploravam. Diziam: “Nós temos famílias numerosas. Precisamos de mais alimento para sobreviver.” Outros diziam: “Empenhámos os campos, as vinhas ou as casas para conseguir alimento em tempo de fome.” Alguns nem isso podiam fazer, pois tinham já dado tudo o que possuíam para poder pagar os impostos ao rei. “Somos irmãos e os filhos deles são iguais aos nossos!”, protestava o povo. “Porque é que haveríamos de vender os nossos filhos como escravos para conseguir dinheiro para viver? Vendemos já algumas das nossas filhas e não arranjámos dinheiro para as redimir, pois as propriedades que tínhamos foram empenhadas.” Fiquei muito zangado ao saber de tal coisa. Por isso, depois de refletir, resolvi advertir esses chefes e os magistrados: “Que é isso que andam a fazer? Como ousam tomar penhor para ajudar um israelita?” Organizei mesmo um debate público para se julgar sobre essa questão. Nessa discussão pública disse-lhes com veemência: “Muitos de nós estamos a fazer tudo o que é possível para ajudar os nossos irmãos judeus que regressaram do exílio, onde eram escravos, lá numa terra distante; agora vocês estão a forçá-los a tornarem-se escravos aos pagãos de novo. Quantas vezes será preciso resgatá-los?” Os acusados não tinham, naturalmente, nada a dizer em sua defesa. E continuei a dirigir-me a eles: “O que estão a fazer é mau! Não deveriam vocês viver no temor do nosso Deus? Não temos nós já bastantes inimigos entre as nações que nos rodeiam e zombam de nós? Muitos de nós estão mesmo a emprestar dinheiro e cereais aos nossos irmãos, sem cobrar juros. Peço-vos que parem com esses negócios de usura. Devolvam-lhes hoje mesmo os campos, as vinhas, os olivais e as casas, bem como todo o valor em juros que cobraram deles: a centésima parte do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite.” Eles concordaram com a minha proposta e disseram que estavam de acordo em ajudar os seus irmãos, sem lhes pedir as terras como penhor e sem os obrigar a vender os filhos. Convoquei então os sacerdotes e fiz com que esses homens prometessem solenemente que manteriam a sua promessa. Sacudi também o meu manto e disse: “Assim sacuda Deus para fora da sua casa e do seu serviço todo aquele que não cumprir esta promessa; seja assim sacudido e despojado do que tem!” Todo o povo exclamou: “Amém!”, e louvou ao Senhor. O povo cumpriu a sua palavra. Durante os 12 anos em que fui governador de Judá, desde o ano 20 até ao ano 32 do reinado de Artaxerxes, nem eu nem os meus ajudantes aceitámos salário, nem qualquer outra espécie de gratificação do povo de Israel. Isto contrastou com a atuação dos governadores anteriores, que exigiam comida e vinho, e ainda 500 gramas de prata diários, e que mantinham a população à mercê dos seus ajudantes, que os tiranizavam; mas eu obedeci a Deus e não seria capaz de agir doutra maneira. Eu próprio trabalhei na reconstrução da muralha e nunca aceitei benefícios de terras; quis mesmo que os meus ajudantes também trabalhassem na obra de recuperação dos muros. Além disso, sentava à minha mesa 150 funcionários judeus, além dos visitantes de outras terras, que sempre os havia. Eram precisas, para cada dia, provisões que consistiam num boi, seis cordeiros gordos e um grande número de aves domésticas; precisávamos ainda de um grande fornecimento de vinhos, a cada dez dias. Recusei sempre fazer qualquer exigência a este povo, porque estava a atravessar um duro tempo de crise. Lembra-te de mim, ó meu Deus, e de tudo quanto fiz por este povo! Sanbalate, Tobias, Gesem, o árabe, e o resto dos nossos inimigos constataram que estávamos praticamente a terminar esta obra de restauro, ainda que não tivéssemos colocado as portas de todas as entradas. Enviaram-me uma mensagem, pedindo-me para me encontrar com eles numa das localidades da planície de Ono, mas eu percebi que a intenção deles era fazer-me mal. Por isso, respondi-lhes assim: “Estou a fazer uma grande obra; não posso largá-la! Porque haveríamos de parar para que me encontrasse convosco?” Enviaram-me quatro vezes a mesma mensagem, e de cada vez lhes respondi o mesmo. À quinta vez, o enviado de Sanbalate trazia na mão uma carta aberta. A carta dizia o seguinte: Gesem afirma que por toda a parte se ouve dizer que os judeus andam a pensar em revoltar-se, e que é por isso que estão a reconstruir as muralhas; ele afirma que tens a intenção de te tornares o seu rei; isto é o que se ouve dizer. Também circula o rumor de que arranjaste profetas para falarem a teu favor em Jerusalém: “Neemias é o homem de que precisávamos, como rei em Judá!” Podes ter a certeza de que darei a conhecer estas informações ao rei Artaxerxes; por isso, proponho que venhas ter comigo e que conversemos, pois é a única forma de escapares. Foi esta a minha resposta: “Sabes bem que tudo isso é mentira; não há em toda essa história uma ponta de verdade.” Porque todos eles procuravam atemorizar-nos, ameaçando: “As suas mãos largarão a obra e não se efetuará mais trabalho algum!” Então orei: “Agora, ó Deus, fortalece as minhas mãos!” Mais tarde, fui visitar Semaías, filho de Delaías e neto de Metabel, que estava retido em casa. Disse ele: “Vamos encontrar-nos no templo e trancar-nos lá dentro. Os teus inimigos vão vir esta noite para te matar!” Respondi-lhe: “Iria eu, o governador, fugir? E não sendo sacerdote como poderia entrar no templo sem perder a vida? Não, nunca faria uma coisa dessas!” Percebi logo que não tinha sido Deus quem lhe falara; Sanbalate e Tobias tinham-no subornado. Fizeram-no para me atemorizar e me levar a pecar, fugindo para o templo, para terem do que me acusar. “Ó meu Deus”, orei eu, “não te esqueças de todo o pecado de Tobias, de Sanbalate e também de Noadias, a profetisa, assim como de todos os outros profetas que tentaram desencorajar-me.” A muralha ficou finalmente acabada aos 25 dias do mês de Elul, precisamente 52 dias após terem começado os trabalhos. Quando ouviram isto, os nossos inimigos e os povos em volta encheram-se de temor e espanto, pois deram-se conta de que aquela obra tinha sido realizada com a ajuda de Deus. Durante esses 52 dias, muita correspondência foi trocada entre Tobias e os administradores de Judá. Porque muitos em Judá lhe tinham prestado juramento, visto que era genro de Secanias, filho de Ará, e porque o seu filho, Jeoanã, casara com a filha de Mesulão, filho de Berequias. Todos diziam que Tobias era um excelente homem e iam contar-lhe tudo o que eu dizia. Tobias mandava-me cartas ameaçadoras, para me meter medo. Após a conclusão da muralha, e depois de termos colocado as portas nas entradas e nomeado os porteiros, os cantores e os levitas, dei a responsabilidade do governo de Jerusalém ao meu irmão Hanani; a Hananias, homem fiel que temia a Deus mais do que muitos outros, dei o comando da fortaleza. Dei-lhes instruções para não abrirem as portas de Jerusalém antes do meio dia e para as fecharem e trancarem, enquanto os guardas se mantinham de vigilância. Também ordenei que os guardas residissem em Jerusalém e estivessem nos seus postos, e que os proprietários das casas construídas junto da muralha vigiassem, eles próprios, essa secção. A cidade era muito grande, mas a sua população reduzida, e eram poucas as casas edificadas dentro da cidade. Então, Deus colocou no meu coração o propósito de convocar todos os líderes da cidade e os cidadãos comuns para se fazerem os registos, porque eu tinha encontrado as genealogias onde estavam escritos os nomes daqueles que tinham retornado anteriormente a Judá. Esta é a lista dos judeus expatriados que regressaram a Jerusalém e a outras cidades de Judá, de onde os seus pais foram deportados pelo rei Nabucodonozor para a Babilónia. Eram estes os líderes: Zorobabel, Josué, Neemias, Azarias, Raamias, Naamani, Mardoqueu, Bilsã, Misperete, Bigvai, Neum, Baaná. A seguir, temos o recenseamento de todos os retornados, segundo os seus subclãs: subclã de Parós: 2172; subclã de Sefatias: 372; subclã de Ará: 652; das famílias de Jesua e de Joabe, do subclã de Paate-Moabe: 2818; subclã de Elão: 1254; subclã de Zatu: 845; subclã de Zacai: 760; subclã de Binuí: 648; subclã de Bebai: 628; subclã de Azgade: 2322; subclã de Adonicão: 667; subclã de Bigvai: 2067; subclã de Adim: 655; subclã de Ater, descendentes de Ezequias: 98; subclã de Hasum: 328; subclã de Bezai: 324; subclã de Harife: 112; subclã de Gibeão: 95; subclãs de Belém e Netofá: 188; subclã de Anatote: 128; subclã de Bete-Azmavete: 42; subclãs de Quiriate-Jearim, Cafira e Beerote: 743; subclãs de Ramá e Geba: 621; subclã de Micmás: 122; subclãs de Betel e Ai: 123; subclã de Nebo: 52; subclã de Elão: 1254; subclã de Harim: 320; subclã de Jericó: 345; subclãs de Lode, Hadide e Ono: 721; subclã de Senaá: 3930. O recenseamento dos sacerdotes retornados foi o seguinte: das famílias de Jedaías, subclã de Jesua: 973; subclã de Imer: 1052; subclã de Pasur: 1247; subclã de Harim: 1017. Quanto aos levitas, das famílias de Jesua e Cadmiel: subclã de Hodeva: 74. Dos cantores do clã de Asafe: 148. Dos descendentes dos porteiros, das famílias de Salum, Ater, Talmom, Acube, Hatita e Sobai: 138. Também havia representantes das seguintes famílias de auxiliares do templo: Zia, Hasufa, Tabaote; Querós, Siá, Padom; Lebana, Hagaba, Salmai; Hanã, Gidel, Gaar; Reaías, Rezim, Necoda; Gazão, Uzá, Paseia; Besai, Asná, Meunim, Nefusesim; Baquebuque, Hacufa, Harur; Bazlite, Meida, Harsa; Barcos, Sísera, Tema; Nezias, Hatifa. Entre os retornados havia também descendentes de homens que tinham estado ao serviço do rei Salomão; eram descendentes de Sotai, Soferete, Perida, Jaala, Darcom, Gidel, Sefatias, Hatil, Poquerete-Hazebaim, Amom. O total dos auxiliares do templo mais os descendentes dos servidores de Salomão era de 392. Houve igualmente um grupo de pessoas que regressou a Jerusalém na mesma altura, vindo das cidades persas de Tel-Mela, Tel-Harsa, Querube, Adom e Imer. Contudo, eles tinham perdido as suas genealogias e não puderam provar que eram israelitas. Estas pessoas incluíam descendentes dos subclãs de Delaías, Tobias e Necoda, num total de 642. Houve três subclãs de sacerdotes: Hobaías, Coz e Barzilai. Este último casou com uma das filhas de Barzilai, o gileadita, e ficou como o nome da família dela. Estes regressaram igualmente a Jerusalém, mas também perderam as suas genealogias, por isso, os responsáveis recusaram permitir que eles continuassem como sacerdotes. Nem sequer os deixaram comer do alimento dos sacríficios, até serem consultados o urim e tumim, para se saber da parte de Deus se eram realmente descendentes de sacerdotes. O total de todos os que regressaram a Judá foi de 42 360 pessoas. Deve juntar-se a este número 7337 escravos e 245 cantores e cantoras. Trouxeram consigo 736 cavalos, 245 mulas, 435 camelos e 6720 jumentos. Alguns dos líderes ofereceram donativos para a obra. O governador deu 8,4 quilos de ouro, 50 bacias e ainda 530 vestes sacerdotais. Outros chefes deram 170 quilos de ouro, mais 1200 quilos de prata. O resto do povo deu 170 quilos de ouro, 1100 quilos de prata e 67 vestes sacerdotais. Os sacerdotes, os levitas, os porteiros, os elementos do coro, os auxiliares do templo e o resto do povo instalaram-se nas suas respetivas povoações em toda a terra de Judá. No sétimo mês, já os israelitas habitavam nas localidades de onde eram originários. No sétimo mês, todo o povo se concentrou na praça em frente à porta da Água, e pediu ao escriba Esdras que lhes lesse o livro da Lei de Moisés, que o Senhor tinha dado a Israel. Esdras, que era também sacerdote, trouxe o livro da Lei e apresentou-o diante de toda a congregação, que era composta por homens, mulheres, crianças e todos os que podiam entender a leitura. Ali na praça, em frente à porta da Água, leu desde manhã cedo até ao meio-dia. Todos estavam atentos à leitura da Lei. Esdras estava num estrado de madeira, feito propositadamente para aquela cerimónia, para que toda a gente pudesse vê-lo enquanto lia. À direita de Esdras encontravam-se Matitias, Sema, Anaías, Urias, Hilquias e Maaseias; à sua esquerda estavam Pedaías, Misael, Malquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão. Quando abriu o livro, toda a gente se levantou e todos os que tinham idade para compreender prestavam muita atenção ao que ouviam. Esdras louvou o Senhor, o grande Deus, e todo o povo disse: “Amém! Assim seja!”, levantando as mãos; depois curvaram-se e adoraram o Senhor com os rostos em terra. Os levitas Jesua, Bani, Serebias, Jamim, Acube, Sabetai, Hodias, Maaseias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã e Pelaías dirigiram-se ao povo que permanecia nos seus lugares, para explicar o sentido da passagem que estava a ser lida. Todo o povo chorava a ouvir as palavras da Lei. Então o sacerdote Esdras e eu próprio, Neemias, como governador, e os levitas que me assistiam, lhes dissemos-lhes: “Não chorem num dia como este! Hoje é um dia consagrado ao Senhor, vosso Deus. Vão comer uma boa refeição”, disse-lhes, “e enviem presentes aos que estão necessitados. Não estejam tristes, porque a alegria do Senhor é a vossa força!” Também os levitas sossegavam o povo: “Não se ponham assim! Não chorem! Este dia deve ser de santa alegria e não de amargura!” Todo o povo saiu então para comer e beber e enviar presentes; foi uma ocasião de grande celebração, pois puderam ouvir e compreender as palavras de Deus. No dia seguinte, os líderes, os sacerdotes e os levitas juntaram-se a Esdras para continuarem a debruçar-se sobre a Lei com mais detalhe. Enquanto a estudavam, deram-se conta de que o Senhor dissera a Moisés que o povo devia viver em tendas durante a festa dos tabernáculos, no sétimo mês. Deus tinha dito igualmente que deveria ser feita uma proclamação em todas as localidades, particularmente em Jerusalém, dizendo ao povo que fossem até aos montes, que trouxessem ramos de oliveira, zambujeiro, murta, palmeira e figueira, e que fizessem cabanas. Todo o povo assim fez; foram buscar ramos, cortaram-nos e fizeram cabanas nos telhados das suas habitações, nos pátios das casas, no pátio do templo, na praça por detrás da porta da Água e na praça da porta de Efraim. As pessoas viveram nessas cabanas durante os sete dias das festividades, e toda a gente estava cheia de alegria; tal coisa nunca tinha sido feita desde os tempos de Josué, filho de Num. Esdras leu o livro da Lei de Deus cada dia da celebração, do primeiro ao último; no oitavo dia, houve uma assembleia solene de encerramento, como requeria a Lei. No dia 24 desse mês, o povo israelita tornou congregar-se para outra celebração: desta vez jejuaram e vestiram-se de pano de saco, cobrindo a cabeça de pó. Alguns dos levitas encontravam-se sobre o estrado para invocar em voz bem alta ao Senhor, seu Deus: Jesua, Bani, Cadmiel, Sebanias, Buni, Serebias, Bani e Quenani. Então os chefes dos levitas fizeram um apelo ao povo: “Levantem-se e louvem o Senhor, vosso Deus, pois ele vive por toda a eternidade! Louvem o poder do seu glorioso nome! Ele é maior do que podemos dizer ou pensar!” (Os responsáveis por esta parte do culto eram Jesua, Cadmiel, Bani, Hasabneias, Serebias, Hodias, Sebanias e Petaías.) “Só tu és o Senhor! Tu fizeste o céu e o mais altos dos céus, com todo o seu exército celestial, a Terra e os mares e tudo o que neles existe. Toda a vida que existe é mantida por ti; toda a criação te adora. Tu és o Senhor Deus que escolheu Abrão e o trouxe de Ur, na Caldeia, mudando-lhe o nome para Abraão. Como viste que te era fiel no seu íntimo, fizeste com ele um pacto em como lhe darias, a ele e aos seus descendentes, a terra dos cananeus, hititas, amorreus, perizeus, jebuseus e girgaseus; agora cumpriste as tuas promessas. Tu és sempre fiel em tudo o que prometes. Viste a aflição dos nossos antepassados no Egito; ouviste o seu clamor, lá na terra para além do mar Vermelho. Mostraste sinais e prodígios ao Faraó e ao seu povo, pois conhecias a brutalidade com que nos tratavam; a tua fama tornou-se conhecida até hoje. Fendeste o mar, para que o teu povo pudesse atravessar em terra seca e depois destruíste os seus inimigos nas profundezas do mesmo mar; afundaram-se como pedras em águas revoltas. Conduziste os nossos antepassados por meio duma nuvem em forma de coluna, durante o dia, e de noite por meio dum pilar de fogo, para que soubessem o caminho por onde seguir. Desceste sobre o monte Sinai, falaste com eles desde os céus e deste-lhes bons mandamentos, estatutos justos, verdadeiras leis, incluindo as leis respeitantes ao santo sábado, e ordenaste através do teu servo Moisés que lhes obedecessem. Deste-lhes o pão dos céus, quando estavam com fome, e água dum rochedo quando estavam com sede; ordenaste que avançassem e conquistassem a terra que tinhas prometido dar-lhes. Mas os nossos antepassados eram altivos e teimosos e recusaram dar ouvidos aos teus mandamentos. Recusaram obedecer e atentar aos milagres que fizeste em favor deles; em vez disso, revoltaram-se e designaram um líder para os reconduzir de novo à escravidão do Egito. Contudo, tu és um Deus de perdão, sempre pronto a esquecer e a ter misericórdia, lento em irar-se, cheio de amor e compaixão; por isso, não os abandonaste, apesar de eles terem feito um ídolo em forma de bezerro e proclamado: ‘Este é o vosso Deus! Foi ele quem vos trouxe do Egito!’ Na verdade, pecaram de muitas maneiras. No entanto, na tua enorme paciência não os abandonaste no deserto! A coluna de nuvem continuou a guiá-los dia após dia e a coluna de fogo a mostrar-lhes o caminho de noite. Enviaste o teu bom Espírito para os instruir e nunca deixaste de lhes dar o pão do céu e água para saciar a sua sede. Durante 40 anos sustentaste-os no deserto; não tiveram falta de nada durante esse tempo; a sua roupa não envelheceu e os seus pés não incharam! Ajudaste-os a conquistarem grandes reinos e muitos povos, colocaste o teu povo em cada canto da terra; possuíram a terra do rei Siom de Hesbom e do rei Ogue de Basã. Multiplicaste-os como as estrelas do céu e trouxeste-os para a terra que prometeste aos seus antepassados; Entraram nela e tomaram posse dela. Derrotaste diante deles os seus habitantes, os cananeus, e entregaste-os nas mãos do teu povo. Este podia tratar como quisesse os reis e os povos daquela região! O teu povo capturou cidades fortificadas e terras férteis; tomaram casas cheias de boas coisas, com cisternas, vinhas, olivais e muitas árvores de fruto; comeram, fartaram-se e rejubilaram com as tuas bênçãos. Apesar de tudo, foram desobedientes e rebeldes contra ti; atiraram para trás das costas a tua Lei, mataram os profetas que lhes diziam para se converterem a Deus e fizeram muitas outras coisas terríveis. Por isso, entregaste-os aos seus inimigos. No entanto, nos tempos de angústia eles clamaram a ti e ouviste-os dos céus; na tua grande misericórdia, enviaste-lhes libertadores, para os livrarem daqueles que os oprimiam. Porém, quando tudo parecia ir bem, o teu povo voltou ao pecado e de novo permitias que os seus inimigos os capturassem. Mesmo assim, sempre que o teu povo se voltou para ti e te implorou por socorro, tu ouviste-os dos céus e na tua grande misericórdia salvaste-os! Castigaste-os para os levar a dar ouvidos à tua Lei, mas não deram ouvidos aos teus mandamentos, pelos quais viverá quem os cumprir, e continuaram a pecar. Durante muitos anos, foste paciente e enviaste os teus profetas para os advertirem contra os pecados que praticavam; mas eles não fizeram caso e de novo entregaste-os às nações pagãs que os conquistaram. Contudo, na tua grande misericórdia não os destruíste completamente, nem os abandonaste para sempre. Que Deus clemente e compassivo tu és! Agora, ó grande e tremendo Deus, que guardas a aliança e o teu amor, não tenhas em pouca conta todas as aflições por que atravessámos, nós, os nossos reis, governantes, sacerdotes, profetas e antepassados, desde os dias em que os reis da Assíria triunfaram sobre nós até agora. Sempre que nos castigaste, foste justo; nós pecámos tanto que os castigos que recebemos foram inteiramente merecidos. Os nossos reis, governantes, sacerdotes e antepassados não quiseram obedecer à tua Lei, nem atentar para os teus avisos. Apesar dos muitos bens que lhes deste e da terra espaçosa e fértil que lhes entregaste, não te adoraram nem se converteram das suas más ações. Por isso, hoje somos escravos na terra que deste aos nossos pais! Escravos no meio de tanta abundância! A riqueza desta terra passou para as mãos de reis que tu permitiste que nos conquistassem, por causa dos nossos pecados; dominam sobre os nossos corpos e sobre o nosso gado; servimo-los conforme a sua vontade, sendo grande a nossa miséria.” Por tudo isto, nós fazemos um compromisso firme por escrito. Nós e os nossos governantes, levitas e sacerdotes colocamos os nossos nomes nesta aliança. Neemias, filho de Hacalias, o governador, assinou este texto. Os outros que assinaram foram: Zedequias, Seraías, Azarias, Jeremias; Pasur, Amarias, Malquias; Hatus, Sebanias, Maluque; Harim, Meremote, Obadias; Daniel, Ginetom, Baruque; Mesulão, Abias, Miamim; Maazias, Bilgai, Semaías. Todos estes eram sacerdotes. Os levitas que assinaram foram: Jesua, filho de Azanias, Binuí, filho de Henadade, Cadmiel; Sebanias, Hodias, Quelita, Pelaías, Hanã; Mica, Reobe, Hasabias; Zacur, Serebias, Sebanias; Hodias, Bani, Beninu. Os líderes políticos que assinaram foram: Parós, Paate-Moabe, Elão, Zatu, Bani; Buni, Azgade, Bebai; Adonias, Bigvai, Adim; Ater, Ezequias, Azur; Hodias, Hasum, Bezai; Harife, Anatote, Nebai; Magpias, Mesulão, Hezir; Mesezabel, Zadoque, Jadua; Pelatias, Hanã, Anaías; Oseias, Hananias, Hassube; Haloés, Pilha, Sobeque; Reum, Hasabna, Maaseias; Aías, Hanã, Anã; Maluque, Harim, Baaná. Estes assinaram em nome de toda a nação, do povo comum, sacerdotes, levitas, porteiros, cantores do coro, auxiliares do templo e de todos os outros homens com suas mulheres, filhos e filhas, com idade para compreender o ato que realizavam, e que se tinham separado dos povos gentios da terra, a fim de obedecerem à Lei de Deus. Todos aderimos firmemente a este compromisso, aceitando o castigo do Senhor, nosso Deus, se não obedecêssemos à Lei que ele ordenou através do seu servo Moisés. Concordámos igualmente em não deixar as nossas filhas casarem com homens que não fossem judeus, nem os nossos filhos casarem com mulheres não fossem judias. Aceitámos ainda que, se a gente pagã da terra viesse vender-nos cereais ou qualquer outro produto num sábado ou noutro dia dedicado a Deus, recusaríamos fazer negócio. Também não deveríamos realizar qualquer obra durante o sétimo ano, e deveríamos cancelar as dívidas que os nossos irmãos judeus tivessem para connosco. Da mesma maneira, concordámos em impor uma taxa anual para o templo, para que nunca ali faltassem meios financeiros; pois tinham necessidade de fornecimentos do pão especial da presença, assim como de cereais para as ofertas de alimentos, para as ofertas dos sábados, luas novas e festividades anuais. Precisávamos ainda de comprar tudo o que era necessário para o serviço do templo e para a expiação de Israel. Também tirámos à sorte quem, em alturas regulares durante o ano, de entre as famílias dos sacerdotes, levitas e chefes deveria fornecer lenha para os holocaustos no altar do Senhor, nosso Deus, requeridos pela Lei. Reconhecemos a necessidade de trazer as primeiras novidades da terra ao templo, fossem cereais ou frutos das nossas árvores. Aceitámos dedicar a Deus os nossos filhos mais velhos e as primeiras crias do gado, manadas e rebanhos, tal como a Lei exige, que apresentaríamos aos sacerdotes que administram no templo do nosso Deus. Armazenaríamos todos os produtos no templo do nosso Deus, o melhor das nossas searas e outras contribuições, os primeiros frutos, o vinho novo e o primeiro azeite. Prometemos trazer aos levitas os dízimos de tudo o que a nossa terra produzisse, pois os levitas estavam encarregados de recolher os dízimos em todas as localidades rurais. Haveria um sacerdote, um descendente de Aarão, que acompanharia os levitas nessa coleta regular, e que receberia depois os dízimos de toda essa recolha, para serem entregues no templo e armazenados em câmaras próprias. É que a Lei requeria que tanto o povo como os levitas trouxessem estas ofertas de cereais, de vinho novo e de azeite ao templo e as colocassem em reservatórios consagrados para uso dos sacerdotes, porteiros e cantores do coro. Concordámos, assim, em não negligenciar o templo do nosso Deus. Os governantes israelitas viviam nessa altura em Jerusalém, a santa cidade de Deus; mas um em cada dez do povo das outras povoações e cidades de Judá e Benjamim aceitou ser escolhido por sorteio para ali viver também. O povo elogiou todos os que voluntariamente se ofereceram para residir em Jerusalém. Segue-se uma lista dos nomes dos funcionários administrativos que vieram para Jerusalém, ainda que a maioria dos chefes, sacerdotes, levitas, auxiliares do templo e descendentes dos funcionários reais de Salomão continuasse a habitar nas suas casas em várias localidades de Judá. Outras pessoas, tanto de Judá como de Benjamim, ficaram a viver em Jerusalém. Chefes da tribo de Judá: Ataías, cujos ascendentes eram, sucessivamente, de filho para pai: Uzias, Zacarias, Amarias, Sefatias e Malaliel, descendentes de Perez; Maaseias, cujos ascendentes eram: Baruque, Col-Hoze, Hazaías, Adaías, Joiaribe, Zacarias e Silonite. Ao todo eram 468 os valentes descendentes de Perez que viviam em Jerusalém. Chefes da tribo de Benjamim: Salu, cujos ascendentes eram Mesulão, Joede, Pedaías, Colaías, Maaseias, Itiel e Jesaías, e os 968 descendentes de Gabai e de Salai. O seu chefe era Joel, filho de Zicri, assistido por Judá, filho de Hassenua. Chefes dos sacerdotes: Jedaías, filho de Joiaribe, Jaquim, Seraías, cuja ascendência era sucessivamente: Hilquias, Mesulão, Zadoque, Meraiote e Aitube, que era o sumo sacerdote. Chefes levitas: Semaías, cuja ascendência era: Hassube, Azricão, Hasabias e Buni; Sabetai e Jozabade, que tinham a seu cargo o trabalho fora do templo; Matanias, filho de Mica, neto de Zabdi, bisneto de Asafe, era ele quem começava o serviço de oração com agradecimento a Deus; Baquebuquias e Abda, cuja ascendência era: Samua, Galal e Jedutun, eram ambos assistentes. Ao todo havia 284 levitas em Jerusalém. Havia também 172 porteiros, chefiados por Acube, Talmom e outros do seu clã. Os outros sacerdotes, levitas e povo viviam nos lugares onde as suas famílias tinham herdado propriedades dos antepassados. Contudo, os auxiliares do templo, cujos chefes eram Zia e Gispa, viviam todos em Ofel. O supervisor dos levitas em Jerusalém e dos que serviam no templo era Uzi, cujos ascendentes eram: Bani, Hasabias, Matanias e Mica, descendente de Asafe, cujo clã se tornou cantores do tabernáculo. Fora nomeado pelo rei que também estabelecera a escala de gratificações devidas aos cantores. Petaías, filho de Mesezabel, descendente de Zera, filho de Judá, ocupava-se de todos os assuntos da administração pública. Estas são algumas das localidades onde o povo de Judá vivia: Quiriate-Arba, Dibom, Jecabzeel e as povoações ao redor; Jesua, Molada, Bete-Palete, Hazar-Sual, Berseba e arredores; Ziclague, Mecona e as suas aldeias; En-Rimom, Zora, Jarmute, Zanoa, Adulão e as aldeias ao redor; Laquis, Azeca e lugares e campos em volta. Foi assim que o povo se espalhou de Berseba até ao vale de Ben-Hinom. O povo da tribo de Benjamim vivia em Geba, Micmás, Aiá, Betel e aldeias circunvizinhas, Anatote, Nobe, Ananias, Hazor, Ramá, Gitaim, Hadide, Zeboim, Nebalate, Lode e Ono, o vale do Artífices. Alguns dos levitas que viviam em Judá foram enviados para viver com a tribo de Benjamim. Lista dos sacerdotes que acompanharam Zorobabel, filho de Sealtiel, e Josué, o sumo sacerdote: Seraías, Jeremias, Esdras; Amarias, Maluque, Hatus; Secanias, Reum, Meremote; Ido, Ginetói, Abias; Miamim, Maadias, Bilga; Semaías, Joiaribe, Jedaías; Salu, Amoque, Hilquias e Jedaías. Estes eram os chefes dos sacerdotes e dos seus familiares, no tempo de Josué, o sumo sacerdote. Os levitas que foram com eles eram Jesua, Binuí, Cadmiel, Serebias, Judá e Matanias; este último tinha o encargo de dirigir os cânticos de louvor juntamente com os seus irmãos. Baquebuquias e Uni, seus irmãos de clã, assistiam-no nesse serviço. Josué foi pai de Joiaquim; Joiaquim foi pai de Eliasibe; Eliasibe foi pai de Joiada; Joiada foi pai de Jónatas; Jónatas foi pai de Jadua. A seguir, indicam-se os chefes de clã dos sacerdotes que serviram sob o sumo sacerdote Joiaquim: Meraías, líder do clã de Seraías; Hananias, líder do clã de Jeremias; Mesulão, líder do clã de Esdras; Jeoanã, líder do clã de Amarias; Jónatas, líder do clã de Maluque; José, líder do clã de Sebanias; Adna, líder do clã de Harim; Helcai, líder do clã de Meraiote; Zacarias, líder do clã de Ido; Mesulão, líder do clã de Ginetom; Zicri, líder do clã de Abias; Piltai, líder dos clãs de Miniamim e Moadias; Samua líder do clã de Bilga; Jeónatas, líder do clã de Semaías; Matenai, líder do clã de Joiaribe; Uzi, líder do clã de Jedaías; Calai, líder do clã de Salai; Eber, líder do clã de Amoque; Hasabias, líder do clã de Hilquias; Netanel, líder do clã de Jedaías. Um relato genealógico dos cabeças de clãs dos sacerdotes e levitas foi compilado durante o reinado de Dario da Pérsia, nos dias de Eliasibe, Joiada, Joanã e Jadua, todos eles levitas. No Livro das Crónicas os nomes dos levitas foram inscritos até aos dias de Joanã, filho de Eliasibe. Eram estes os chefes dos levitas nessa altura: Hasabias, Serebias e Jesua, filho de Cadmiel. Os seus irmãos de clã auxiliavam-nos durante as cerimónias de louvor e agradecimento, como fora ordenado por David, o homem de Deus. Os porteiros que organizavam os locais de recolha das coletas nas entradas eram: Matanias, Baquebuquias, Obadias, Mesulão, Talmom e Acube. Estes eram os homens ativos durante o tempo de Joiaquim, filho de Josué, filho de Josadaque, e no tempo em que Neemias era governador e Esdras era sacerdote e escriba. Durante a consagração da nova muralha de Jerusalém, os levitas de toda a terra vieram a Jerusalém para assistir às cerimónias e tomar parte nessa festa com alegria e com os seus louvores, acompanhados de címbalos, liras e harpas. Os membros do coro também vieram a Jerusalém das localidades vizinhas e das aldeias dos netofatitas. Vieram igualmente de Bete-Gilgal, da área de Geba e de Azmavete, porque os cantores tinham construído as suas próprias aldeias nos subúrbios de Jerusalém. Os sacerdotes e os levitas consagraram-se primeiro a si mesmos; depois consagraram o povo, as portas e a muralha. Conduzi os chefes judeus e dois coros ao cimo da muralha e dividi-os em duas longas colunas que caminhavam em direções opostas, louvando com gratidão. O grupo que ia para a direita, em direção à porta do Monturo, era formado por metade dos chefes de Judá e incluía Hosaías, Azarias, Esdras, Mesulão, Judá, Benjamim, Semaías e Jeremias. Os sacerdotes que tocavam as cornetas eram Zacarias, filho de Jónatas, cuja ascendência era Semaías, Matanias, Micaías, Zacur e Asafe; e ainda Semaías, Azarel, Milalai, Gilalai, Maai, Netanel, Judá e Hanani, que usavam os instrumentos de música do rei David; o escriba Esdras encabeçava o cortejo. Quando chegaram à porta da Fonte, continuaram em frente e subiram as escadas da velha Cidade de David; depois seguiram até à porta da Água, a oriente. O outro grupo, do qual eu próprio fazia parte, foi no outro sentido ao encontro do primeiro; deslocou-se a partir da torre dos Fornos até ao muro Largo; depois, desde a porta de Efraim até à porta Velha; passámos a porta do Peixe e a torre de Hananel e prosseguimos até à porta da Torre dos Cem; avançámos até à porta das Ovelhas e parámos à porta da Prisão. também os cantores Maaseias, Semaías, Eleazar, Uzi, Jeoanã, Malquias, Elão e Ezer; os coros cantaram forte e claramente, sob a direção de Izraías. Muitos sacrifícios foram oferecidos nessa alegre jornada, porque Deus nos tinha dado razões de grande regozijo. As mulheres e as crianças também se alegravam e o ruído dessa grande manifestação ouvia-se até muito longe! Nesse dia, foram designados os homens que ficaram encarregados dos cofres, das ofertas alçadas, dos dízimos, dos primeiros frutos colhidos e da recolha destes donativos junto dos agricultores, conforme tinha sido ordenado na Lei de Moisés. Estas ofertas eram destinadas aos sacerdotes e levitas, como expressão do apreço que o povo de Judá tinha pelo serviço que executavam. Também o serviço dos cantores e dos porteiros era tido em muita consideração; estes assistiam os outros homens no culto a Deus e no cumprimento das cerimónias de purificação, como requerido nas leis de David e do seu filho Salomão. Foi nos dias de David e de Asafe que se iniciou o costume dos diretores que conduziam o coro com hinos de louvor e gratidão a Deus. Agora, nos dias de Zorobabel e de Neemias, o povo trazia um fornecimento diário de comida para os membros do coro, porteiros e levitas. Estes últimos, por sua vez, davam aos sacerdotes, descendentes de Aarão, a parte que lhes pertencia. Nesse mesmo dia, enquanto era lida a Lei de Moisés, o povo reparou numa passagem em que se dizia que os amonitas e os moabitas nunca deveriam ser aceites em atos de culto no templo, porque esses povos não tinham tido uma atitude amigável para com o povo de Israel. Pelo contrário, eles compraram os serviços de Balaão para que os amaldiçoasse, ainda que Deus tivesse transformado essa maldição em bênção. Quando essa proibição foi lida, todos os estrangeiros foram imediatamente retirados da assembleia. Antes disso acontecer, o sacerdote Eliasibe, que fora designado encarregado das câmaras do templo, tinha transformado uma das câmaras num belo quarto, para receber Tobias, homem de quem era muito amigo. Essa divisão tinha sido anteriormente reservada ao armazenamento de ofertas de cereais, incenso, recipientes, dízimos de cereais, vinho novo e azeite. Moisés decretara que essas ofertas pertencessem aos levitas, aos membros do coro e aos porteiros; as ofertas alçadas é que seriam para os sacerdotes. Eu não estava em Jerusalém nessa ocasião, porque voltara à Babilónia no ano 32 do reinado de Artaxerxes, embora tivesse mais tarde pedido autorização para regressar novamente a Jerusalém. Quando voltei a Jerusalém e soube dessa ação indigna de Eliasibe, de preparar um quarto de hóspede para Tobias no templo, fiquei bastante desagradado. Fui lá e lancei fora todo o mobiliário e as coisas pertencentes a Tobias. Depois mandei que fosse limpo e que pusessem de novo ali os recipientes do templo, as ofertas de cereais e o incenso. Também soube que não se tinha dado aos levitas o que lhes era devido e que, por isso, tanto eles como os membros do coro tinham voltado às suas terras no campo. Dirigi-me imediatamente aos chefes, perguntando-lhes porque tinham descurado o templo. Tornei a chamar os levitas e reorganizei as suas funções respetivas. O povo de Judá tornou a trazer os seus dízimos dos cereais, do vinho novo e do azeite para os cofres do templo. Coloquei o sacerdote Selemias, o escriba Zadoque e o levita Pedaías na administração desse armazenamento; também designei Hanã, filho de Zacur, filho de Matanias, como assistente. Estes homens tinham excelente reputação e o seu trabalho consistia em fazer uma distribuição equitativa dessas dádivas pelos seus irmãos levitas. Meu Deus, lembra-te destas coisas boas que fiz! Não te esqueças de tudo o que fiz pela casa do meu Deus e pelo seu culto. Um dia, em Judá, vi alguns homens a pisar uvas, e era sábado; também carregavam fardos que punham sobre jumentos, e carregamentos de vinho, uvas, figos e toda a espécie de mercadorias para levarem nesse mesmo dia para Jerusalém. Opus-me veementemente a tudo isso. Havia até gente de Tiro que vinha vender peixe e outras coisas, aos sábados, ao povo de Jerusalém. Então perguntei aos chefes de Judá: “Porque profanam o sábado? Não bastou que os vossos antepassados fizessem essas coisas, tendo trazido sobre nós os males que nós conhecemos, e que a nossa cidade sofreu? Agora fazem cair maior ira de Deus sobre o povo de Israel, permitindo que profanem o sábado desta forma!” A partir de então, ordenei que as portas da cidade se fechassem, assim que escuresse na sexta-feira à noite, e que só tornassem a ser abertas quando terminasse o período do sábado. Enviei mesmo alguns elementos da minha guarda para que nenhuma mercadoria fosse trazida durante o sábado. Os mercadores e comerciantes ainda insistiram, ficando fora das muralhas uma ou duas vezes. Mas eu falei-lhes severamente: “Que estão aí a fazer acampados à volta das muralhas? Se tornarem a voltar, mando-vos prender!” E foi a última vez que apareceram ao sábado. Ordenei aos levitas que se purificassem cerimonialmente e que guardassem as portas, a fim de preservar a santidade do sábado. Lembra-te, ó meu Deus, destes bons atos que pratiquei! Tem compaixão de mim segundo a tua grande bondade! Pela mesma altura, constatei que alguns judeus se tinham casado com mulheres de Asdode, Amon e Moabe. Muitos dos seus filhos falavam na língua dos asdoditas e não percebiam a língua de Judá. Então adverti duramente esses pais e lembrei-lhes que estavam sob a maldição de Deus; tive mesmo de castigar alguns e de lhes puxar os cabelos; fi-los jurar que não deixariam casar mais filhos seus com gente que não fosse judia. “Não foi esse exatamente o problema do rei Salomão?”, perguntei. “Não houve soberano que se lhe comparasse; Deus amava-o e fê-lo rei sobre Israel, e mesmo assim ele deixou-se levar para a idolatria pelas mulheres estrangeiras. Não pensem que vos deixaremos à vontade, a continuar a prevaricar num assunto tão importante como este!” Um dos filhos de Jeoiada, filho de Eliasibe, o sumo sacerdote, era genro de Sanbalate, o horonita; por isso, excluí-o do templo. Lembra-te deles, ó meu Deus, pois profanaram o sacerdócio, e a aliança que fizeste com sacerdotes e levitas! Assim, suprimi a presença dos estrangeiros, verificando que cada um desempenharia com eficiência a sua função. Forneciam madeira para o altar, no momento preciso, ocupavam-se dos sacrifícios e também das ofertas das primícias na época das colheitas. Lembra-te de mim, ó meu Deus, de acordo com a tua misericórdia! Era o terceiro ano do reinado de Assuero, que dominava sobre o vasto império medo-persa, com as suas 127 províncias, estendendo-se da Índia até Cuche. Houve nesse ano uma grande celebração no palácio de Susã, para a qual o imperador convidou todos os seus governadores, colaboradores e oficiais do exército da Pérsia e da Média, fazendo-os deslocarem-se de todos os cantos do seu território para a ocasião. Essa festa durou seis meses, e foi uma tremenda demonstração da riqueza e glória do seu império. Quando tudo terminou, o rei deu uma receção especial para a população de Susã, tanto pobres como ricos; foram mais sete dias de festa nos pátios e jardins do palácio. Havia belas decorações a verde, branco e azul, presas com faixas de púrpura a argolas de prata suspensas em colunas de marfim, e canapés de ouro e prata num chão pavimentado com pórfiro, mármore, alabastro e pedras preciosas; as bebidas eram servidas em taças de ouro com diferentes desenhos. Havia abundância de vinho real, porque o rei estava inclinado à generosidade. Todos bebiam sem constrangimento, quanto tivessem na vontade; o rei dera instruções para que toda a gente fizesse como lhe apetecia. Também a rainha Vasti ofereceu, na mesma ocasião, um banquete às mulheres do palácio. No sétimo dia, sentindo-se alegre com o vinho, o rei ordenou aos seus sete eunucos, Meumá, Bizta, Harbona, Bigta, Abagta, Zetar e Carcás que lhe trouxessem a rainha Vasti com a coroa real na cabeça, para que todos pudessem admirar a sua beleza, porque era uma mulher muito bonita. A rainha recusou obedecer a essa ordem e o soberano ficou furioso. Antes de tomar qualquer medida, ele resolveu consultar primeiro os homens das leis, porque não fazia nada sem o seu conselho. Tratava-se de pessoas muitos sábias, conhecedoras das diversas situações e de todas as leis da justiça. Os seus nomes eram Carsena, Setar, Admata, Társis, Meres, Marsena e Memucã, sete altos funcionários da Pérsia e da Média que tinham acesso direto ao rei. “Que castigo prevê a lei”, perguntou-lhes, “para uma rainha que recuse obedecer às ordens do rei através dos seus eunucos?” Memucã foi o porta-voz de todos: “A rainha Vasti prevaricou não só em relação ao rei, mas contra todos príncipes e cidadãos deste império. Corre-se o risco de as mulheres, por toda a parte, começarem a desobedecer aos maridos, quando tiverem conhecimento do que a rainha Vasti fez. Antes que este mesmo dia termine, as mulheres da Pérsia e da Média terão conhecimento da atitude que a rainha tomou, e falarão com os seus maridos da mesma maneira, e haverá desprezo e indignação por toda a parte. Sugerimos pois que, se for do teu agrado, se publique um édito real que se torne lei para os medos e persas, que jamais poderá ser revogado e no qual se decretará que a rainha Vasti seja banida para sempre da tua presença, e que escolhas outra rainha mais digna do que ela. Quando esse édito for tornado público em todo o teu vasto domínio, todas as mulheres serão levadas a respeitar os seus maridos, seja qual for o seu nível social!” O rei e todos os seus colaboradores concordaram com este parecer e decidiram decretá-lo. Enviaram cartas para todas as províncias do império, escritas nas línguas de cada região, lembrando que cada homem deveria ser soberano no seu lar. Quando a ira do rei Assuero se foi apaziguando, começou a pensar na rainha Vasti, naquilo que acontecera e na decisão tomada contra ela. Então os seus colaboradores sugeriram: “Vamos reunir as raparigas mais bonitas do império e trazê-las à presença do rei. Nomeie o rei agentes em cada província que selecionem raparigas jovens e bonitas para o harém real. Hegai, o eunuco responsável pelas mulheres, fará com que passem por tratamentos de beleza. Depois a rapariga que mais agradar ao rei tornar-se-á rainha em lugar de Vasti.” O rei ficou contente com esta opinião, e o plano foi logo posto em prática. Havia um certo judeu que vivia em Susã, chamado Mardoqueu, filho de Jair, da tribo de Benjamim, neto de Simei e bisneto de Cis. Cis fora transportado de Jerusalém, quando aquela cidade foi destruída pelo rei Nabucodonozor, e viera exilado para a Babilónia, juntamente com o rei Jeconias de Judá e muitos outros. Mardoqueu tinha uma prima muito bonita de feições e formas, de nome Hadassa, mas conhecida por Ester, cujos pais tinham morrido, e que ele tinha trazido para sua casa e educado como filha. Em consequência do decreto real, Ester foi levada para o harém do soberano do palácio de Susã, juntamente com muitas outras moças. Hegai, responsável pelo harém, ficou muito impressionado quando a viu, e tratou-a o melhor possível, tanto nos alimentos que lhe dava a comer como nos meios de torná-la ainda mais bela. Deu-lhe também sete raparigas do palácio como criadas, assim como os melhores quartos do harém. Ester não dissera a ninguém que era judia, porque Mardoqueu assim a instruíra. Aliás, o seu primo vinha todos os dias ao pátio do harém para saber notícias de Ester e informar-se do que se ia passando com ela. As instruções quanto a estas raparigas eram que, antes de serem levadas para junto do rei, deveriam passar um ano em tratamentos de beleza: seis meses com óleo de mirra, seguidos doutros seis meses com perfumes especiais e unguentos. Quando chegava a vez de alguma moça ir para o harém do rei, recebia o que pedisse para se vestir e arranjar. No dia seguinte, passava ao segundo harém, onde viviam as mulheres do rei, e ficava sob os cuidados de Saasgaz, eunuco real, e aí vivia o resto dos seus dias, nunca mais tornando a ver o rei, a não ser que lhe agradasse especialmente ou fosse chamada pelo seu próprio nome. Chegou a vez de Ester preparar-se para ir à presença do rei. Ester era filha de Abiail, tio de Mardoqueu, que a adotara por filha. Ela aceitou vestir-se e arranjar-se de acordo com o gosto de Hegai; Ester agradava a toda a gente. Assim, ela foi levada para o palácio do rei no décimo mês que é o mês de Tebet, no sétimo ano do seu reinado. O rei sentiu-se atraído por Ester, mais do que por qualquer outra moça, de tal maneira que colocou na sua cabeça a coroa real e declarou-a rainha em lugar de Vasti. Então o rei deu outro grande banquete para todos os seus príncipes e ministros, decretou feriado em todas as províncias e mandou distribuir presentes. Mais tarde, as raparigas voltaram a juntar-se; nessa altura já Mardoqueu estava de serviço junto ao portão do palácio. Ester não dissera ainda a ninguém que era judia, pois continuava a seguir as instruções de seu primo Mardoqueu, como quando vivia em sua casa. Um dia, estando Mardoqueu exercendo as suas funções no palácio, dois dos eunucos do rei, Bigtã e Teres, que eram guardas do portão do palácio, começaram a conspirar um atentado contra o rei, para o assassinarem. Mardoqueu soube do que se passava e deu a informação à rainha Ester, que a transmitiu ao rei, informando que a recebera do primo. Feitas as devidas investigações, os dois homens foram descobertos e enforcados. Tudo isto está devidamente registado nas crónicas do reinado de Assuero. Pouco tempo depois, o rei Assuero nomeou Hamã, filho de Hamedata, o agagita, como primeiro-ministro; era o mais poderoso magistrado no império, a seguir ao próprio rei. Todos os outros oficiais de serviço ao portão do palácio tinham de inclinar-se reverentemente na sua presença quando por ele passavam, porque era assim que o rei tinha ordenado. Mardoqueu, porém, recusou-se a fazê-lo. “Não seria melhor obedeceres às ordens do rei?”, perguntavam-lhe os outros funcionários. Mas ele mantinha a mesma atitude. Por fim, foram contá-lo a Hamã, para ver se mudava de comportamento; Mardoqueu tinha-lhes explicado que a sua condição de judeu o impedia de proceder deste modo. No primeiro mês, que é o mês de Nisan, no décimo segundo ano do reinado de Assuero, foi lançado o “pur”, isto é, as sortes, diante de Hamã, para escolher o dia e o mês em que deveria levar a cabo os seus intentos; a escolha caiu no mês de Adar, que é o décimo segundo mês. Hamã resolveu abordar o rei sobre o assunto: “Há um povo de uma certa raça, espalhado por todas as províncias do teu reino, cujas leis são diferentes das leis das outras nações, e que se recusam obedecer às tuas; por isso, não é do interesse do rei deixá-los viver. Se o rei estiver de acordo, publique um decreto que os mande destruir; eu próprio pagarei 10 000 talentos de prata ao tesouro real para as despesas que essa ação implique.” O rei concordou e confirmou a sua decisão, tirando o anel do dedo e dando-o a Hamã. E disse-lhe: “Guarda o teu dinheiro e faz conforme achares melhor em relação a esse povo.” No décimo terceiro dia do primeiro mês, Hamã chamou os secretários do rei e ditou cartas para os governadores e chefes políticos de cada província em todo o império, nas suas respetivas línguas e dialetos. Essas cartas foram escritas em nome do rei e seladas com o seu anel. Foram levadas por mensageiros que se dirigiram a cada uma das províncias do império, decretando que todos os judeus, velhos e novos, mulheres e crianças, deveriam morrer num só dia, o dia 13 de Adar, e que os seus bens deveriam ser dados a quem os matasse. “Uma cópia deste édito”, continuava a carta, “deverá ser tornada pública nas províncias e dada a conhecer a todo o vosso povo, para que esteja pronto no dia indicado.” O édito seguiu para os seus destinos, levado pelos mensageiros mais rápidos, após ter sido proclamado primeiramente na cidade de Susã. O rei e Hamã sentaram-se satisfeitos, a comer e a beber, enquanto o pânico caía sobre a cidade. Quando Mardoqueu soube do que tinha sido feito, rasgou os vestidos, cobriu-se com pano de saco e cinzas, e chorou amargamente em alta voz. Foi pôr-se diante do portão do palácio, pois não se deixava entrar ninguém vestido daquela maneira. Em todas as províncias, o clamor de angústia era enorme entre os judeus, que jejuavam e choravam desesperados, devido ao decreto do imperador; muitos puseram também roupas de pano de saco e cinzas sobre si. Quando as criadas de Ester e os eunucos vieram contar-lhe como Mardoqueu se encontrava, ela ficou profundamente entristecida e enviou-lhe roupas, para que se vestisse, mas ele recusou. Então Ester mandou chamar Hataque, um dos eunucos do rei que estava ao seu serviço, e disse-lhe que fosse ter com Mardoqueu para saber o que é que o perturbava, e por que razão estava a agir assim. Hataque dirigiu-se à praça em frente ao palácio e encontrou Mardoqueu junto do portão. Ouviu da boca dele toda a história, inclusivamente sobre o dinheiro que Hamã estava de acordo em pagar aos cofres reais para a destruição dos judeus. Mardoqueu deu também a Hataque um exemplar do decreto real que mandava executar todos os judeus, dizendo-lhe que o mostrasse a Ester, pondo-a ao corrente do que estava a acontecer, e avisando-a que deveria interceder junto do rei em favor do seu povo. Hataque voltou para junto de Ester com o recado de Mardoqueu. A rainha enviou-o outra vez a Mardoqueu para lhe dizer o seguinte: “Toda a gente sabe que qualquer homem ou mulher que tente entrar nos aposentos do rei, sem ser convocado, está condenado a morrer, a menos que o rei estenda o seu cetro de ouro. Acontece que o rei não me manda chamar, já faz mais de um mês.” Hataque transmitiu a Mardoqueu o que Ester lhe mandara dizer. Foi esta a resposta de Mardoqueu para Ester: “Pensas tu que por estares no palácio escaparás, quando todos os outros judeus forem mortos? Se te mantiveres calada numa situação destas, os judeus serão salvos de outra maneira, mas tu e os teus parentes morrerão. E quem sabe se não foi para um tempo como este que foste colocada nesta posição?” Ester mandou responder a Mardoqueu: “Manda reunir todos os judeus de Susã para um jejum; não comam nem bebam durante três dias, nem de noite nem de dia; eu e as minhas criadas faremos o mesmo. Ainda que seja estritamente proibido, irei ver o rei; e se tiver de morrer, que morra!” Mardoqueu fez como Ester lhe indicara. Três dias mais tarde, Ester vestiu-se com roupas reais e entrou no pátio interior, mesmo em frente à sala onde se encontrava o rei no seu trono. Quando ele viu a rainha Ester no pátio interior, deu-lhe as boas-vindas, estendendo para ela o cetro de ouro. Ester aproximou-se e tocou-lhe. Perguntou-lhe o rei: “Que pretendes, rainha Ester? Que queres pedir-me? Dar-te-ei o que me pedires, mesmo que seja metade do reino!” Ester respondeu: “Se o rei achasse bem, gostaria que viesse hoje, juntamente com Hamã, ao banquete que preparei para vos oferecer.” O rei voltou-se para os seus colaboradores: “Digam a Hamã que se despache!” E foram os dois ao banquete da rainha. Na altura de servirem os vinhos, o rei disse a Ester: “Diz-me o que pretendes realmente e eu to darei, mesmo que seja metade do reino!” “O meu pedido, o meu grande desejo é este: se o rei me ama e quer na verdade ser-me favorável, que venha de novo amanhã com Hamã ao banquete que preparei, e então explicarei tudo.” Hamã era um homem feliz quando deixou o banquete; mas quando viu Mardoqueu ali junto ao portão do palácio, sem se levantar nem tremer na sua presença, ficou furioso. Conteve-se, contudo; foi para casa e juntou os amigos e Zerés sua mulher. Começou a gabar-se das suas riquezas, dos muitos filhos, das honras que o rei lhe tinha concedido e como se tornara na pessoa mais importante no reino a seguir ao soberano. E não pôde deixar de acrescentar triunfalmente: “Sim, a própria rainha Ester me convidou, a mim e ao rei, só os dois, para um banquete que nos foi oferecido! Amanhã estamos de novo convidados! No entanto, há uma coisa que me incomoda tremendamente, que é ver esse judeu Mardoqueu sentado ali mesmo em frente ao portão do palácio, e ele nem sequer se levanta quando eu passo!” A sua mulher Zerés, apoiada por todos os amigos, sugeriu-lhe então: “Manda levantar uma forca com 25 metros de altura e logo de manhã pede ao rei para enforcarem Mardoqueu. Assim, já poderás ir outra vez ao banquete satisfeito.” Hamã concordou e mandou fazer a forca. Aconteceu, no entanto, que naquela mesma noite o rei teve uma insónia e, como não conseguia dormir, mandou vir as crónicas do reino. Leram-lhe a passagem que relata como Mardoqueu denunciou a conspiração de Bigtã e Teres, os dois eunucos do rei que controlavam as entradas no palácio e que tinham conspirado para assassinar o soberano. “Digam-me lá”, perguntou o rei aos conselheiros, “que recompensa se deu a Mardoqueu por esse ato?” “Nada!”, responderam-lhe. E ouviram-se passos: “Quem é que está no pátio exterior?”, inquiriu o rei. Era precisamente Hamã que vinha a entrar, para pedir ao rei que mandasse enforcar Mardoqueu na forca que mandara levantar. Os pajens do rei disseram: “É Hamã que está lá fora!” Então o rei ordenou: “Mandem-no entrar!” Assim que ele entrou, o rei perguntou-lhe: “Que achas que deve ser feito a um homem de quem o rei se agrade profundamente?” Ele pensou: “De quem poderá agradar-se mais do que de mim?” “Ótimo!”, concluiu o soberano. “Traz depressa as roupas reais e o meu cavalo e faz exatamente como disseste com Mardoqueu, o judeu que trabalha junto ao portão do palácio. Não alteres nada do que disseste!” Hamã teve então de mandar vir as roupas reais, vesti-las a Mardoqueu, colocá-lo sobre a montada real e levá-lo pelas ruas, proclamando: “Eis a forma como o rei honra quem verdadeiramente lhe agrada!” Depois disso, Mardoqueu voltou ao seu trabalho, mas Hamã correu para casa, profundamente humilhado. Quando contou à mulher e aos amigos o que acontecera, disseram-lhe: “Se Mardoqueu é judeu, nunca conseguirás nada contra ele; continuar a lutar contra ele pode ser-te fatal.” Enquanto discutiam o assunto, chegaram os enviados do rei para levá-lo ao banquete de Ester. O rei e Hamã foram juntos ao banquete de Ester. De novo, chegado o momento de servir os vinhos, o rei perguntou-lhe: “O que é que pretendes, rainha Ester, qual é o teu desejo? Seja o que for que pedires, dar-to-ei, até metade do meu reino!” A rainha disse então: “Ó rei, se realmente caí nas tuas boas graças, e se bem te parecer, peço-te que salves a minha vida e a do meu povo! Porque tanto eu como o meu povo fomos vendidos a quem nos quer destruir. Estamos condenados a sermos liquidados, assassinados e exterminados. Se ao menos fôssemos vendidos como escravos e escravas, talvez me calasse, visto que o prejuízo causado ao rei não seria de grande monta.” “De quem é que estás a falar? Quem é esse cujo coração procura atentar contra a tua vida?” “O nosso inimigo é este perverso Hamã!”, respondeu Ester. Hamã empalideceu de terror perante os dois. O rei levantou-se furioso e retirou-se para o jardim do palácio. Hamã, entretanto, tentava proteger a sua vida junto de Ester, implorando-lhe que o salvasse, pois sabia que estava perdido. Hamã lançou-se de joelhos junto ao leito em que a rainha se reclinava, no momento em que o rei regressava dos jardins do palácio. “Será que, ainda por cima, queria abusar da rainha debaixo do meu teto!”, exclamou o rei. E ordenou imediatamente a sua morte. Os ajudantes do rei apressaram-se a colocar sobre o seu rosto o véu de condenado. Harbona, um dos eunucos do palácio lembrou: “Majestade, Hamã acabou de mandar erguer uma forca de 25 metros para enforcar Mardoqueu, o homem que salvou a vossa vida! Essa forca ainda lá está, junto à casa dele.” “Enforquem-no lá”, ordenou o soberano. Assim fizeram e a ira do rei apaziguou-se. Nesse mesmo dia, Assuero deu a Ester o que pertencia a Hamã, o inimigo dos judeus. Mardoqueu foi trazido à presença do rei, porque Ester tinha declarado a relação familiar que os ligava. Assuero pegou no anel que retirara a Hamã e deu-o a Mardoqueu. Por seu lado, Ester nomeou Mardoqueu administrador das propriedades que recebera, confiscadas a Hamã. Mais uma vez, Ester foi ter com o rei, caindo a seus pés, rogando-lhe, banhada em lágrimas, que suspendesse a ação proposta por Hamã para destruir o povo judeu. De novo o rei estendeu o cetro na sua direção e ela, erguendo-se em frente do soberano, retomou: “Se o rei quiser dar-me ouvidos, e se realmente me ama, então que faça publicar um decreto anulando a ordem inspirada por Hamã, filho de Hamedata, de destruir os judeus em todas as províncias do reino. Como poderia eu resistir vendo o meu povo assassinado e destruído?” O rei Assuero disse à rainha Ester e ao judeu Mardoqueu: “Dei a Ester o palácio de Hamã, esse homem que acabou de ser enforcado porque tentou fazer-vos mal. Estou com certeza de acordo com o vosso desejo; mandem uma mensagem a todos os judeus, dizendo-lhes o que quiserem, em nome do rei; podem selá-la com o anel real, para que não possa ser revogada.” Os secretários do rei foram imediatamente chamados; era o dia 23 do terceiro mês, o mês de Sivan. Escreveram, enquanto Mardoqueu ia ditando, um decreto dirigido diretamente aos judeus e para conhecimento de altos funcionários, governadores e chefes políticos de todas as províncias, desde a Índia até Cuche, ao todo 127. Este texto legal foi traduzido nas línguas e dialetos de todos os povos do império, foi selado com o anel real e fez-se acompanhar de cartas enviadas por mensageiros montados em cavalos, condutores de camelos, mulas e dromedários rápidos, usados ao serviço do rei. Este decreto concedia aos judeus de todas as cidades licença para se unirem na defesa das suas vidas e das suas famílias, e matar quem quisesse destruí-los, podendo mesmo apropriar-se dos seus bens. O dia escolhido para isto, em todas as províncias, era o dia 13 de Adar. O decreto estabelecia ainda que o mesmo deveria ser reconhecido por toda a parte como lei, e dado a conhecer ao resto da população, a fim de que os judeus não tivessem dificuldades em preparar-se para vencerem os seus inimigos. Os mensageiros partiram apressadamente, sob as ordens do rei, e o decreto foi tornado igualmente público no palácio de Susã. Mardoqueu vestiu as roupas reais azuis e brancas, colocou uma grande coroa de ouro e ainda um manto de linho fino e púrpura sobre os ombros; saiu da presença do soberano e atravessou as ruas da cidade que se encheram de gente manifestando a sua satisfação. Os judeus exultavam de alegria, regozijo e felicidade. Em cada cidade e província onde as cartas reais iam chegando, os judeus celebravam de alívio e satisfação, estabelecendo um dia feriado para comemorar o facto. Muitos até se fizeram passar por judeus, com receio daquilo que os judeus pudessem fazer-lhes. Assim, no dia 13 de Adar, o dia em que o decreto real deveria ser posto em execução, quando os inimigos dos judeus contavam aniquilá-los, sucedeu precisamente o contrário. Os judeus juntaram-se nas suas cidades em todas as províncias do império para se defenderem contra alguém que pretendesse feri-los; mas ninguém ousou fazê-lo, porque eram grandemente temidos. Todos os representantes da autoridade, governadores, altos funcionários e chefes políticos, deram o seu apoio aos judeus, com medo de Mardoqueu. Ele tinha ganho enorme prestígio, não só em Susã, como por todo o território imperial; tinha-se tornado muito poderoso. Os judeus é que não se ficaram por ali; nesse tal dia mataram os seus inimigos. Só em Susã mataram 500 homens. Nesse mesmo dia, depois do rei ter sido informado do número de mortos em Susã, ele mandou chamar a rainha Ester: “Os judeus mataram 500 dos seus inimigos, só aqui em Susã!”, exclamou. “E ainda os 10 filhos de Hamã! Se isso foi só aqui, o que não terá sido no resto das províncias! Diz-me o que mais pretendes; diz-me o que queres e se fará!” “Se o rei não se importar”, disse ela, “que se permita aos judeus aqui em Susã continuar ainda amanhã aquilo que já fizeram hoje, e que os filhos de Hamã sejam pendurados em forcas.” O rei concordou; o seu decreto foi publicado em Susã, e penduraram os corpos dos 10 filhos de Hamã. Os judeus da cidade tornaram a juntar-se e mataram mais 300 dos seus inimigos, mas não ficaram com as suas propriedades. Entretanto, os judeus de outras partes do reino tinham-se juntado para se defenderem; passaram depois ao ataque e mataram 75 000 inimigos, que os odiavam, mas também não ficaram com os seus bens. Por toda a parte, foi feito o mesmo no dia 13 do mês de Adar. No dia seguinte descansaram, celebrando a sua vitória com festas e grande alegria. Só em Susã é que os judeus não descansaram no dia seguinte; mas repousaram no terceiro dia, no meio de festa e regozijo. É por isso que, nas povoações sem muralhas, os judeus de todo o Israel têm até hoje uma celebração anual de dois dias em que mandam presentes uns aos outros. Mardoqueu escreveu um relato de todos estes acontecimentos e enviou cartas aos judeus, de perto e de longe, em todo o território do império, encorajando-os a que estabelecessem uma festa anual nos dias 14 e 15 do mês de Adar, para poderem celebrar e trocar presentes nessa ocasião histórica em que os judeus foram salvos dos seus inimigos, em que a sua tristeza se transformou em satisfação e a sua angústia em felicidade. Os judeus aceitaram a proposta de Mardoqueu e mantiveram essa comemoração como um costume, para nunca se esquecerem que Hamã, filho de Hamedata o agagita, o inimigo de todos os judeus, planeara a sua destruição numa altura tirada à sorte; para lhes lembrar também que o rei, ao ter conhecimento disso, mandara fazer um decreto que permitia neutralizar os planos de Hamã, a causa de ele e os seus filhos terem sido pendurados em forcas. É por essa razão que se dá o nome de Purim a esta celebração, porque na língua persa chama-se ao ato de tirar à sorte “pur”. Todos os judeus do reino concordaram em estabelecer regularmente essa comemoração, transmitindo-a aos seus descendentes e a todos os que se tornassem judeus. Declararam, assim, que nunca deixariam de celebrar estes dois dias na altura própria, tornando-se um acontecimento anual, observado de geração em geração por todas as famílias, nas cidades e no campo, a fim de que a memória do sucedido não se apagasse entre os seus descendentes. Entretanto, a rainha Ester, filha de Abiail, prima de Mardoqueu e educada por ele, escreveu uma carta dando todo o seu apoio à carta que Mardoqueu tinha escrito, propondo também a comemoração da festa anual de Purim. Com estas, foram enviadas outras cartas a todos os judeus espalhados pelas 127 províncias do reino de Assuero. Eram mensagens de boa vontade e encorajamento, confirmando a comemoração de dois dias da festa de Purim, decretada tanto por Mardoqueu como pela rainha Ester. No fundo, os judeus já de si mesmo tinham acordado que se deveria estabelecer essa celebração com jejum e oração nacional. As ordens da rainha Ester apenas vieram confirmar as datas de celebração da festa de Purim e dar carácter legal ao assunto, e isto foi escrito num documento. O rei Assuero impôs o pagamento dum tributo, não só no seu território, mas também nas ilhas do mar. Os seus grandes feitos, assim como um relato completo da grandeza de Mardoqueu e das honras que lhe foram concedidas pelo imperador, estão escritos no Livro das Crónicas dos Reis da Média e da Pérsia. O judeu Mardoqueu tornou-se primeiro-ministro; a sua autoridade era exercida hierarquicamente, logo a seguir à do rei. Tornou-se, na verdade, um homem com imenso prestígio entre os judeus e respeitado por toda a gente da nação, por ter feito tudo o que pôde pelo seu povo e pela prosperidade da sua raça. Havia um homem chamado Job que vivia na terra de Uz; era uma pessoa reta que temia a Deus e se afastava do mal. Tinha sete filhos e três filhas. Era também muito rico; possuía 7000 ovelhas, 3000 camelos, 500 juntas de bois e 500 jumentas, tendo ao seu serviço um número considerável de pessoas. Era, sem dúvida, o homem mais rico entre todos os do Oriente. Os seus filhos costumavam juntar-se para comerem e beberem juntos na casa de cada um, à vez, convidando também as três irmãs. Nessas ocasiões comiam e bebiam abundantemente. Quando aquelas festanças acabavam, e por vezes prolongavam-se por vários dias, Job mandava chamar os filhos e santificava-os, levantando-se de manhã cedo e oferecendo um holocausto por cada um deles, porque Job pensava desta forma: “Talvez os meus filhos tenham pecado e tenham ofendido a Deus nos seus corações!” Essa era a razão por que fazia isso regularmente. Um dia, os anjos vieram apresentar-se perante o Senhor e Satanás veio com eles. “Donde vens?”, perguntou o Senhor a Satanás. Respondeu-lhe: “De passear pela Terra.” “Reparaste no meu servo Job e como não há na Terra ninguém semelhante a ele? É um homem reto que teme a Deus e se afasta do mal!” “Sim, mas não é para admirar; ele é assim porque tu o recompensas!”, respondeu Satanás. “Ele tem da tua parte proteção garantida para a sua casa e para os seus bens; fizeste-o prosperar em tudo o que faz, por isso, é tão rico! Não admira pois que te adore! Contudo, basta que lhe tires as riquezas e verás como te amaldiçoa na cara!” E o Senhor replicou-lhe: “Podes fazer o que quiseres com tudo o que lhe pertence, mas não lhe toques fisicamente.” E Satanás retirou-se da presença do Senhor. Sucedeu que estando os filhos e as filhas de Job a comer e a beber vinho em casa do irmão mais velho, um mensageiro veio a correr à casa de Job com esta notícia: “Os teus bois estavam a lavrar e as jumentas a pastar ao lado. Chegaram os sabeus que caíram sobre os animais e mataram os guardadores; só eu escapei!” Ainda este não tinha acabado de falar quando se chegou outro: “Veio fogo do céu sobre as ovelhas e os pastores todos; só eu consegui escapar e vim logo trazer-te a notícia!” Mal este tinha acabado de falar, eis que um terceiro chega: “Apareceram três bandos de caldeus que deram sobre os camelos e mataram os teus criados; só eu escapei e consegui vir até aqui para te dar a notícia!” Imediatamente após este, apareceu ainda outro a dizer: “Teus filhos e filhas estavam a fazer uma festa na casa do mais velho. Subitamente, levantou-se um forte vento do deserto que fez ruir a casa sobre os que lá estavam, morrendo todos; só eu escapei!” Então Job levantou-se, rasgou a roupa que trazia e rapou o cabelo; ficou profundamente abatido e prostrou-se no chão na presença de Deus: “Saí nu do ventre de minha mãe e nada levarei quando morrer. Foi o Senhor que me deu tudo o possuía, por isso, tinha o direito de tornar levar aquilo que afinal lhe pertencia. Que o Senhor seja louvado!” Em tudo isto Job não pecou nem atribuiu a Deus culpa alguma pelo sucedido. Os anjos vieram novamente apresentar-se perante o Senhor e Satanás chegou-se também com eles. “Donde vens?”, perguntou o Senhor a Satanás. “De passear pela Terra.” “Observaste o meu servo Job? Ele é o melhor homem que há sobre a Terra; é uma pessoa reta que teme a Deus e se desvia de tudo o que é mal. Conservou a sua integridade, mesmo depois de me teres persuadido a permitir que fosse ferido sem razão alguma.” “Pele por pele!”, replicou Satanás. “Um indivíduo dará tudo para salvar a sua própria vida. Ataca-lhe o corpo com doença e verás se não blasfema de ti sem vergonha!” “Podes fazer-lhe o que pretendes; terás unicamente de lhe poupar a vida.” Satanás retirou-se então da presença do Senhor e feriu Job com chagas terríveis, da cabeça aos pés. Job pegou num pedaço de barro partido, para raspar as inflamações da pele, e ficava sentado no meio de cinzas. Então a sua mulher disse-lhe: “Achas que ainda vale a pena seres crente e íntegro, quando Deus te tem feito tudo isto? Amaldiçoa-o, e deixa-te morrer!” “Estás a falar como qualquer mulher insensata. Então haveríamos esperar receber de Deus apenas coisas boas e não também coisas desagradáveis?” E foi assim que Job nunca pecou no seu falar. Houve três amigos de Job que, ao ouvirem toda a tragédia que lhe acontecera, combinaram ir juntos ter com ele, para o confortarem e consolarem. Eram eles Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita. Ao chegarem junto de Job, viram-no tão desfigurado que nem o reconheciam. Puseram-se então a chorar e a lamentá-lo em voz alta, rasgando a roupa que traziam, em sinal de desespero, lançando terra sobre si como sinal da profunda tristeza que os tomou. Por fim, sentaram-se no chão junto dele, deixando-se estar assim durante sete dias e sete noites, sem dizerem uma palavra, pois davam-se bem conta de que era grande o seu sofrimento. Passados estes dias, foi Job quem começou a falar e amaldiçoou o dia do seu nascimento. Ele disse: “Que desapareça o dia em que nasci, o momento em que fui concebido! Que nunca mais seja lembrado! Que nem sequer Deus o recorde! Que fique mergulhado nas trevas eternas! Sim, a escuridão se apodere dele e nuvens negras o envolvam! Seja riscado do calendário! Que as trevas tomem conta daquela noite e não consiga encontrar a alegria que habita entre os dias do ano, e nunca mais seja contado entre os meses! Seja recordada como uma noite gelada e triste e nela não se ouçam mais manifestações de alegria! Aqueles que sabem amaldiçoar os dias e esconjuram o monstro marinho, a amaldiçoem! As estrelas da noite desapareçam; esperem ansiosas pela luz e nunca mais a vejam, nunca mais vejam a luz da manhã! Seja amaldiçoado por não ter fechado o seio de minha mãe, por ter deixado que eu nascesse para toda esta aflição! Porque não morri eu ao nascer? Porque me deixou a parteira viver? Porque razão me alimentaram com o leite materno? Se ao menos tivesse morrido ao nascer, estaria agora sossegado, repousaria descansado, Estaria junto de governantes e chefes de estado, que construíram para si enormes monumentos, hoje transformados em montes de escombros; Ou estaria com príncipes ricos em ouro que encheram de prata os seus palácios. Oh! Se eu tivesse sido um aborto que não tivesse chegado a respirar nem a ver a luz! É que na morte o malvado cessa de perturbar e os que estão cansados da vida repousam. Lá, até os prisioneiros estão à vontade, sem carcereiros a vigiá-los. Lá, encontra-se tanto o rico como o pobre; o escravo está igualmente livre do seu senhor. Oh! Porque é que a luz e a vida hão de ser dadas àqueles que vivem na miséria e amargura? Aos que desejam a morte sem que ela venha, que a procuram escavando, mais do que tesouros escondidos? Que alívio abençoado, quando acabam por morrer! Porque é que se deixa um homem nascer, se Deus lhe vai dar unicamente uma vida sem esperança, sem utilidade, cheia de frustrações? Não consigo comer, porque ando a suspirar de aflição; os meus gemidos jorram como água. Aquilo que sempre receei acabou por me acontecer. Não tenho paz, nem tranquilidade; não consigo descansar, vivo em desassossego.” Resposta que Elifaz, o temanita, deu a Job: “Permites-me uma palavra? Quem é que poderia ser impedido de falar? É verdade que tu ensinaste a muitos e deste força às mãos enfraquecidas. Encorajaste aqueles que estavam fracos, desfalecendo, ou se encontravam prostrados e caídos no desespero. No entanto, agora, quando é sobre ti que a desgraça se abate, estás tu em baixo. Será que não está a tua confiança alicerçada no temor a Deus e a tua esperança no teu comportamento irrepreensível? Para e pensa um pouco! Já alguma vez viste alguém que, sendo verdadeiramente reto e inocente, tivesse sofrido destruição? A experiência, ela própria ensina que são aqueles que semeiam o pecado e a opressão que colhem essas mesmas coisas. Pelo sopro de Deus são destruídos; pelo vento de sua ira são consumidos. Como leões rugem, lançam os seus rugidos selvagens; mas os seus dentes, como de leões ferozes, serão partidos. Os leões velhos morrerão por falta de presa e os filhotes das leoas andarão errantes. Esta verdade foi-me comunicada em segredo, como que soprada aos ouvidos. Veio-me de noite, numa visão, enquanto outros dormiam. De repente, o terror estarreceu-me; tremia todo com pavor. Um espírito passava na minha frente e arrepiaram-se-me os cabelos. Um vulto estava diante dos meus olhos, mas não consegui identificá-lo. Era como uma imagem diante de mim, em silêncio; mas depois ouvi uma voz: ‘Será um simples ser humano mais justo que Deus, mais puro que o seu Criador? Nem nos seus servos confia; os seus próprios mensageiros podem enganar-se. Quanto menos nos seres humanos, feitos de terra, que se podem esmagar como simples traças! Estão com vida durante a manhã e pela tardinha podem encontrar-se mortos, desaparecendo para sempre, sem que alguém se aperceba! Se o fio da sua vida se quebra, morrem sem atingir a sabedoria!’ Clama agora por ajuda, para ver se alguém te responde! Para qual dos santos te voltarás? Porque a ira destrói o insensato e a inveja mata o tolo. Já vi o insensato estabelecer raízes e ser temporariamente bem sucedido; contudo, de repente toda a sua casa foi amaldiçoada. Os seus filhos são defraudados sem que haja alguém que os defenda. As suas propriedades são pilhadas e as riquezas que têm servem para satisfazer a ganância de muitos outros, mas não deles próprios! A aflição abate-se sobre eles para os castigar, por terem semeado sementes de pecado. A humanidade nasce para a miséria, tal como as chamas se erguem do fogo para o ar. Se fosse eu, buscaria mais a Deus, e lhe entregaria o meu problema. Porque ele faz coisas maravilhosas, milagres sem conta. Manda a chuva sobre a terra para a regar. Dá prosperidade ao pobre e ao humilde e põe os que sofrem em lugar seguro. Contraria os planos dos ardilosos, de modo que as suas mãos nada possam executar. Apanha os sábios na sua própria astúcia e os seus esquemas caem por terra. Por isso, andam tateando como cegos em plena luz; nem por ser de dia veem melhor do que de noite. Deus protege os órfãos das garras desses opressores. Assim, finalmente, os que vivem mal têm esperança; mas os malvados têm de calar a sua boca. Feliz é aquele a quem Deus corrige! Oh! Não desprezes a correção do Todo-Poderoso! Porque ainda que fira, ele mesmo trata e cura. Livrar-te-á, sempre que for preciso, de forma que o mal não te afetará definitivamente. Guardar-te-á da morte e da fome e do poder das armas, em tempo da guerra. Estarás protegido do maldizente; não terás de recear quando vier a desgraça. Rir-te-ás na guerra e na fome; os animais selvagens não te meterão mais medo; todos os animais perigosos se reconciliarão contigo. Pois farás aliança até com as pedras do campo e os animais da terra conviverão em paz contigo. Verás que a tua casa está em segurança; quando tiveres de te ausentar, para visitar o teu rebanho, contarás os teus bens e concluirás que nada te falta. A tua descendência se multiplicará; os teus filhos serão tão numerosos como a erva. Terás uma vida longa e boa; serás como os cereais que só se recolhem quando chega exatamente o tempo devido. A experiência tem-me mostrado que tudo isto é verdade; por isso, para teu próprio bem, ouve o meu conselho!” Resposta de Job: “Oh! Se a minha tristeza e a minha mágoa se pudessem pesar! São mais pesadas do que a areia de milhares de praias; por isso, falei inconsideradamente. Porque o Todo-Poderoso me atingiu com as suas flechas; as suas setas envenenadas penetraram fundo no meu coração. Todos os terrores vindos de Deus se abateram sobre mim. Quando os jumentos monteses zurram é porque se lhes acabou a erva verde; o boi não se põe a mugir de fome se está junto ao pasto. Geralmente uma pessoa queixa-se, se lhe faltar o tempero na comida. Terá algum gosto a clara do ovo crua? Perco mesmo o apetite só de ver; fico doente ao pensar que teria de a engolir! Oh! Se Deus me concedesse aquilo que mais anseio! Morrer debaixo da sua mão e ficar livre do seu aperto que me magoa. Uma coisa me dá consolação, apesar de todo o sofrimento: é que não neguei as palavras do Deus Santo. Porque é que a minha própria resistência me mantém vivo? Como posso ter paciência para ficar à espera de morrer? Porventura tenho a resistência da pedra? É meu o corpo de bronze? Estou completamente desamparado; o sucesso está fora do meu alcance. Normalmente é-se misericordioso com um amigo enfraquecido, a menos que se tenha afastado do temor do Todo-Poderoso! Meus irmãos, vocês mostraram-se menos consequentes que um ribeiro que transborda no vale. Corre cheio quando neva e chega o degelo. Mas quando o tempo aquece, ele baixa; com o calor, desaparece completamente. Os viajantes procuram-no para se refrescarem, mas não encontram nada no seu leito e perecem. Os que vêm de Tema e de Sabá detêm-se, para ali se abastecerem de água. Mas ficam dececionados, ao chegarem; sentem-se envergonhados, por terem confiado. Assim acontece comigo: estou desiludido; vocês afastam-se de mim cheios de medo e recusam-me ajuda. Mas porquê, afinal? Já vos pedi alguma vez a mais pequena coisa? Alguma vez vos roguei que me oferecessem um presente? Pedi que me libertassem do inimigo ou me resgatassem dos opressores? Tudo o que pretendo é uma resposta adequada e então ficarei sossegado. Digam-me o que é que eu fiz de errado? Como são duras as palavras justas e verdadeiras! Contudo, a vossa crítica não se baseia em factos. Querem porventura reprovar as minhas palavras e tratar como vento as palavras dum homem desesperado? Isso seria bater num órfão desamparado ou vender um amigo. Olhem para mim: Mentir-vos-ia eu? Parem de me considerar culpado, porque sou uma pessoa reta. Não sejam tão injustos! Não conheço eu bem a diferença entre o bem e o mal? Não saberia aceitar, se tivesse realmente pecado em alguma coisa? A humanidade é obrigada a lutar. A vida duma pessoa é longa e dura; os seus dias são semelhantes aos dum assalariado. É como um escravo que suspira pela sombra, pelo fim do dia; como um assalariado, que suspira pelo seu salário. A mim também me deram meses de frustração, com longas e pesadas noites. Quando vou para a cama penso: ‘Oh! Se fosse já de manhã!’ E assim me agito até que o Sol nasce. Tenho a pele cheia de vermes e de terra; A minha carne abre-se com chagas, cheias de pus. Os meus dias passam mais rápido que a lançadeira do tecelão que não para; um segue-se ao outro sem esperança alguma. Lembra-te de que a minha vida é como o vento que passa sem deixar rasto; nada fica de bom. Estão a ver-me, neste momento, mas não será por muito mais tempo; em breve estarão a ver apenas um morto. Da mesma forma que a nuvem se desfaz e desaparece, assim os que descem ao mundo dos mortos, se vão para sempre. Vão-se para sempre das suas famílias, dos seus lares; nunca mais serão vistos. Ah! Deixa-me expressar a minha angústia! Quero sentir-me livre para dizer toda a amargura que me vai na alma. Ó Deus, serei eu o mar ou algum grande animal marinho, para que ponhas um guarda sempre a meu lado? Tento esquecer a minha miséria no sono. Mas tu horrorizas-me com pesadelos. Preferia antes morrer estrangulado, a continuar a viver sempre assim. Desprezo a minha vida; não quero viver para sempre! Deixa-me sozinho, pois os meus dias não têm sentido. Que vale um simples homem, para que lhe dês tanta atenção? Será obrigatório que sejas o seu inquisidor logo de manhã e fiques a experimentá-lo cada momento do dia? Porque não me deixas só, nem mesmo o tempo de engolir a saliva? Feriu-te o meu pecado, ó meu Deus, guarda da humanidade? Por que razão fizeste de mim o teu alvo preferido, tornando-me a vida num pesado fardo? Porque não perdoas, enfim, o meu pecado e não o atiras para longe? Porque em breve jazerei debaixo da terra, morto; quando forem à minha procura, já terei desaparecido.” Bildade, o suíta, responde a Job: “Até quando continuarás, dessa forma, a atirar pela boca fora palavras à toa, como se fossem sopradas por um vento impetuoso? Seria Deus capaz de perverter a justiça? Não reconheceria o Todo-Poderoso quem é inocente? Quando os teus filhos pecaram contra ele, ele os castigou, se rogares ao Deus Todo-Poderoso misericórdia, se fores puro e reto, ele ouvirá a tua oração, responder-te-á, e abençoar-te-á dando-te um lar feliz. E, ainda que tenhas começado com pouco, acabarás na abundância. Debruça-te sobre o passado e verás, consulta os documentos das gerações passadas e constatarás o que te digo. Nós, em relação a eles, apenas nascemos ontem e conhecemos pouquíssimas coisas; os nossos dias aqui na Terra passam como sombras. Mas o conhecimento do passado dar-te-á sabedoria; a experiência dos outros falar-te-á. Poderá o papiro crescer sem um pântano, E o junco pode florescer sem água? Começa a murchar, mesmo antes que a cortem. Assim são os caminhos dos que se esquecem de Deus; assim acaba a esperança do ímpio. A sua segurança será frustrada e a sua confiança como se pendurasse numa teia de aranha. Ele apoia-se na sua teia, mas ela não suportará; segura-se, mas ela não resistirá. É como uma planta bem regada pelo Sol; os seus ramos estendem-se nos caminhos do jardim. As raízes vão à procura da água por entre as pedras. Mas depois de desaparecer, nem sequer se dá pela sua falta; é esse o seu destino. Assim chega ao fim a alegria do seu caminho e outros brotam da terra no seu lugar. No entanto, repara: Deus não rejeitará alguém que seja reto; também não estenderá a mão para ajudar malfeitores. Ele acabará por encher a tua boca de risos e os teus lábios de exclamações de felicidade. Aqueles que te odeiam serão cobertos de vergonha e o malvado será destruído.” Resposta de Job: “Sim, eu sei isso tudo. Não me estão a dizer nada de novo. Como pode alguém ser verdadeiramente justo aos olhos de Deus? Se Deus decidir confrontá-lo, terá alguma possibilidade de responder a uma só das mil questões que lhe apresentar? Deus é infinitamente sábio e poderoso. Quem jamais conseguiu defrontá-lo com sucesso? É capaz de, repentinamente, derrubar montanhas, na sua cólera; de abanar a Terra, e tirá-la do seu lugar, de fazer estremecer os seus alicerces. O Sol poderá não aparecer, nem as estrelas brilhar, se tal for ordenado por ele. Foi só Deus quem estendeu os céus; ele caminha sobre as ondas do mar. Formou as constelações da Ursa, Orion e Plêiades, assim como as do Zodíaco, no extremo sul. Seus milagres são enormes e inumeráveis. Deus está junto de nós e não o vemos; move-se por toda a parte e ninguém o sente. Quando apanha a presa que deseja, quem pode impedi-lo de o fazer? Quem ousaria perguntar-lhe: ‘Que estás a fazer?’ Deus não refreia a sua ira; até os aliados de Raab se curvam a seus pés. Quem seria eu, para argumentar com o Deus, ou para abrir sequer a minha boca diante dele? Mesmo que eu não fosse pecador, não haveria de proferir uma palavra, a não ser para implorar misericórdia ao meu juiz. E se as minhas orações fossem respondidas, dificilmente haveria de crer que a minha voz foi ouvida. Deus é o único que é capaz de me destruir; multiplica as minhas feridas, sem eu compreender porquê. Impede-me de respirar, antes me enche de amargura. Em questão de força, ele é o mais forte; a tribunal, quem o intimaria? Mas eu, seria eu também justo? A minha boca obriga-me a dizer que não! Ainda que eu fosse perfeito, em confronto com Deus, facilmente teria de revelar a minha perversão natural. Ainda que esteja inocente, não ouso considerar-me tal; não considero a minha vida com valor algum. Aliás, que esteja inocente ou não, é-lhe indiferente, porque Deus faz acabar a vida tanto dos que o são como dos que o não são. Para ele é coisa sem grande peso que a calamidade esmague o inocente. Toda a Terra foi entregue nas mãos dos ímpios; Deus cega os olhos dos juízes e deixa-os ser parciais. Se não é ele quem o faz, quem é então? Os meus dias correm mais rápidos que um atleta; fogem sem ter vislumbrado o bem e a felicidade. Os anos passam por mim como rápidos barcos de junco, como águias caindo sobre uma presa. Se eu decidisse esquecer as minhas queixas contra Deus, esquecer a amargura e me pusesse bem disposto, nessa altura, ó Deus, haverias de derramar sobre mim angústias ainda maiores. Eu sei que não permitirás que eu seja tido por inocente. Pelo contrário, me condenarás; por isso, de que serve tentar mudar de atitude? Ainda que me lavasse com a água mais pura e esfregasse as mãos com o mais forte sabão, mesmo assim, haverias de me atolar num fosso de lama; até a minha roupa seria considerada, por ti, menos suja que eu mesmo! E eu não posso defender-me a mim próprio, porque ele não é um simples humano como eu. Se fosse, poderíamos discutir este assunto, ao mesmo nível, de homem para homem; mas não há árbitro possível entre nós, não há intermediário, não há mediador que possa pôr-nos frente a frente. Oh! Que ele pare de me castigar, para que não continue a viver no terror da sua punição! Então sim, poderia falar-lhe sem ter medo e dizer-lhe ousadamente que não sou culpado. Estou cansado de viver! Deixem-me queixar livremente; deixem-me exprimir a minha tristeza e amargura! Direi a Deus: Não me condenes! Diz-me, antes, por que razão contendes comigo. Parece-te realmente justo oprimires-me e desprezares-me, a mim, um ser humano que tu criaste, e dar alegria e prosperidade ao malvado? Tens tu uma mente carnal, como toda a gente? Será a tua vida como a de um mortal ou serão os teus anos como os anos de um homem, para que tentes encontrar em mim qualquer culpa ou pecado? Bem sabes que não sou culpado; todavia ninguém há que me salve das tuas mãos! Tu criaste-me e mesmo assim destróis-me. Oh! Peço-te que te lembres que sou feito de terra! Irás fazer-me de novo em pó, assim tão depressa? Já me tens andado a vazar de jarro para jarro, como leite, e coalhaste-me como queijo. Juntaste os meus ossos, entreteceste os meus nervos, revestiste-me de carne e de pele. Deste-me vida, revelaste para comigo atenção e amor, fui protegido pelos teus cuidados. E afinal tinhas uma intenção bem definida. Caso eu pecasse, destruir-me-ias e recusarias perdoar a minha iniquidade. Portanto, à mais leve maldade, eu estava já liquidado! No entanto, no caso de eu ser justo, isso não contava; por isso, sinto-me totalmente frustrado. Se começo a tentar erguer-me, saltas sobre mim como um leão e rapidamente acabas comigo. Renovas, sem cessar, os teus testemunhos contra a minha pessoa e derramas sobre mim um volume cada vez maior de ira. Para atacar-me tens os teus exércitos. Porque foi então que me deixaste nascer? Podia ter morrido, sem que ninguém me chegasse a ver. Seria como se não tivesse existido; teria simplesmente passado do ventre de minha mãe para o túmulo. Não vês como me fica pouco tempo para viver como queria? Oh! Deixa-me em paz para que possa ainda ter um momento de descanso, antes de partir para a terra das trevas, das sombras da morte, para nunca mais regressar. Terra tão escura como noite cerrada sem luar; terra do silêncio da morte onde não existe ordem ou lógica, onde o clarão mais intenso em nada altera as trevas.” Zofar, o naamatita, responde a Job: “Mas então não haverá ninguém que ponha cobro a esta torrente de palavras? Será que pelo muito falar se tem razão? Haveria eu de ficar em silêncio perante a ousadia das tuas palavras? Zombas de Deus e não haverá ninguém que te envergonhe? Afianças que és puro aos olhos de Deus! Oh! Se Deus falasse e te dissesse o que pensa! Oh! Se ele te fizesse ver exatamente quem tu és! Porque ele sabe bem tudo o que tens feito. Ouve! Deus, sem dúvida alguma, está a castigar-te, mas está a fazê-lo muito menos do que mereces! Conheces tu a mente e os propósitos de Deus? Pensarás tu que se procurares intensamente poderás conhecê-los enfim? Terás algum direito de julgar Deus, o Todo-Poderoso? A sabedoria de Deus é mais alta que os céus. Que poderás fazer? Ela é mais profunda que o mundo dos mortos. Que poderás compreender? A sua extensão é muito mais vasta que a Terra, mais ampla que os grande oceanos. Se ele vier acusar alguém e o julgar, quem será capaz de o impedir? Porque conhece perfeitamente todas as culpas e pecados da humanidade; vê toda a iniquidade sem precisar de procurar. Mas o insensato só se tornará sábio quando a cria do jumento selvagem nascer dócil e mansa. Antes de te voltares para Deus e de lhe estenderes as mãos, livra-te dos teus pecados, abandona a iniquidade atrás de ti. Só então, sem as manchas de pecado a sujarem-te, poderás andar com segurança perante Deus, sem nada recear. Só então poderás esquecer definitivamente a tua miséria e te lembrarás dela como águas passadas. A tua vida será mais brilhante que o meio-dia; qualquer sombra parecerá ter a luz duma manhã! Serás corajoso porque terás esperança; olharás em volta e deitar-te-ás seguro e tranquilo. Deitar-te-ás sem medos e muitos buscarão tua face para pedir o teu favor. Contudo, o ímpio não encontrará forma de escapar; a sua única expectativa é a morte.” Resposta de Job: “Sim, na verdade, quem vos ouve é levado a pensar que vocês sabem tudo! A sabedoria acaba nas vossas pessoas! Mas eu próprio também sei umas quantas coisas, que vocês não são melhores do que eu. Aliás, quem não sabe isso que vocês estiveram a dizer? Eu, aquele que rogou a Deus por ajuda e a quem ele respondeu, tornei-me um motivo de troça para o meu próximo. Sim, eu, uma pessoa reta, sou agora aquele de quem se riem. Entretanto, o rico zomba dos que se encontram em aperto e é rápido em desprezar os que estão em necessidade. Nas tendas dos ladrões há prosperidade e aqueles que desafiam a Deus sentem-se seguros, pensando que têm Deus na sua mão. Quem é que não se dá conta de que Deus faz coisas assim? Pergunta até às mudas bestas, elas sabem que assim é; pergunta aos pássaros, dir-te-ão o mesmo. A própria terra ou os peixes do mar comunicar-te-ão a mesma coisa. Qual entre todos não tem conhecimento que a mão do Senhor criou tudo o que existe? Porque a alma de todo o ser vivente está nas mãos de Deus, assim como a respiração, a vida de toda a humanidade. Assim como o paladar está preparado para diferenciar os gostos, também o meu espírito sabe provar a verdade, quando a ouço. Tal como vocês dizem, os velhos como eu são sabedores, têm entendimento. Mas a verdadeira sabedoria e o poder são de Deus; só ele sabe o que devemos fazer e entende todas as situações. E como é grande a sua força! Aquilo que vier a destruir não poderá ser reconstruído; aquele a quem ele aprisiona, não poderá escapar. Se retém as chuvas, a terra torna-se num deserto; envia tempestades e as cheias cobrem as terras. Sim, com ele está a força e a sabedoria; tanto o que faz errar como o que erra lhe pertencem. É capaz de fazer até desvairar juízes e conselheiros. Liberta-nos das algemas postas pelos reis, e amarra-lhes uma corda à sua cintura. Os próprios sacerdotes se arriscam a partir como escravos; os poderosos são abatidos. Aos eloquentes, tira-lhes a palavra; retira também o entendimento aos anciãos. Derrama desprezo sobre os líderes da nação e tira forças ao forte. Enche a escuridão com luz, mesmo a própria sombra da morte. Pode exaltar uma nação para, de seguida, a abater; dispersa um povo, mas junta-o de novo. Tira o discernimento aos administradores e aos governantes, deixando-os a tactear, perdidos. Sem norte, sem luz que os guie, fá-los vaguear como ébrios. Ouçam, já tenho visto muitas circunstâncias como as que vocês descreveram. Aquilo que vocês sabem também eu sei; em nada sou inferior. Oh! Como eu desejava falar com o Todo-Poderoso! Quero falar sobre isto diretamente com Deus. Porque vocês estão a interpretar tudo mal; são como médicos que não sabem o que hão de fazer. Oh! Peço-vos que estejam calados! Isso seria a melhor prova da vossa sabedoria. Portanto, agora escutem-me; ouçam as minhas razões, ouçam os meus argumentos. Irão vocês continuar a falar em lugar de Deus, quando nunca disse nada daquilo que põem na sua boca? Precisará Deus da vossa ajuda, contenderão a favor de Deus? Que seria de vocês se se sujeitassem a julgamento? Tentariam enganá-lo, como se engana um homem? Ele terá de vos acusar, se se deixarem levar por juízos parciais. Vocês ficarão perturbados perante ele. A sua majestade não vos enche de terror? Essas tremendas afirmações que fizeram valem tanto como pedaços de madeira ardida. As vossas razões são tão frágeis como barro! Calem-se então e deixem-me falar: estou pronto a enfrentar as consequências. Sim, tomarei a minha vida nas mãos e direi aquilo que realmente penso. Deus poderá matar-me: mas tenho esperança nele. Estou disposto a defender a minha causa perante ele. Em todo o caso, tenho isto a meu favor: eu não sou um ímpio descrente, para que me rejeite imediatamente da sua presença. Ouçam pois, atentamente, aquilo que tenho a dizer; deem-me atenção. Esta é a minha causa: eu sei que sou reto. Quem será capaz de pôr em dúvida isto que afirmo? Se houver alguém que o faça, prove que estou errado, que eu paro de me defender e morro. Ó Deus, há duas coisas que peço que não me faças; só então poderei ficar na tua presença. Não me aterrorizes com a tua tremenda presença. Chama-me e responder-te-ei depressa! Se for eu a tomar a palavra primeiro, responde-me tu! Diz-me o que é que eu fiz de mal, ajuda-me! Notifica-me da minha transgressão. Porque te escondes de mim? Porque me consideras como teu inimigo? Repreenderás uma folha que esvoaça levada pelo vento? Perseguirás tu a palha seca? Escreves coisas amargas contra mim e vens recordar todas as loucuras da minha mocidade. Acorrentaste os meus pés no tronco e sondas todos os meus desígnios. Tomas nota de todos os meus passos. Sou como uma árvore seca derrubada, como uma peça de roupa toda roída da traça. Como é frágil o ser humano; são bem poucos os seus dias e cheios de inquietação! Desabrocha por um momento, como uma flor, e logo seca; como a sombra fugitiva duma nuvem que o vento sopra, também ele desaparece num instante. Terás mesmo de ser assim tão áspero para com os fracos humanos e trazê-los a julgamento? Como podes pedir pureza a alguém que nasceu impuro? Concedes ao ser humano um curto espaço de vida; são apenas alguns meses que lhe dás, sem possibilidade de ultrapassar o tempo que lhe foi atribuído! Por isso, dá-lhe um pouco de descanso, peço-te. Desvia a tua ira e permite que passe tranquilamente o seu dia, como um trabalhador. Até para uma árvore há esperança; se lhe cortarem um ramo, ainda pode dar rebentos e florescer. Mesmo quando as raízes começam a envelhecer, debaixo da terra, e o caule fica menos tenro. Ainda assim é capaz de se renovar, se for regada, à semelhança duma planta nova. Mas quando uma pessoa morre e a enterram, dando o último suspiro o que fica dela? Tal como a água que se evapora num mar, ou como o ribeiro que seca e desaparece por falta de chuva, assim o ser humano se deita pela última vez; não se levantará mais, senão quando já não existir o universo; não se reerguerá antes, não despertará do seu sono. Oh! Se me escondesses no mundo dos mortos e lá me deixasses esquecido, até que a tua ira tivesse acabado e tivesses um momento determinado em que tornasses a lembrar-te de mim! Se um indivíduo morre, voltará à vida? Quanto a mim, esperarei por dias melhores, até que seja liberto das minhas lutas e dificuldades. Chamar-me-ias e eu te responderia; recompensar-me-ias, pois me criaste. Observarias todos os meus passos e não tomarias em conta as minhas falhas. Arquivarias o processo que serviria para me condenar. Assim como as montanhas podem desfazer-se e desaparecer e as rochas são arrancadas de seus lugares, assim como a erosão da água sobre as rochas as desfaz em areia e a sua força altera a superfície do solo, da mesma forma tu destróis toda a esperança dos homens. Fazes deles gente velha e enrugada e depois manda-los embora. Nunca chegam a saber se os seus filhos são honrados pela sociedade, ou se antes se decaem e se arruínam. Para eles há apenas tristeza e sofrimento.” Resposta de Elifaz, o temanita: “Tu és considerado como sendo um sábio, no entanto, acabas de nos expor a essa conversa tola. Não vales mais que um saco cheio de vento; não devias ter direito a falar tão insensatamente. Que utilidade podem ter todas essas palavras? Não temes tu a Deus? Não o reverencias? São os teus pecados que te ensinam a falar dessa maneira; as tuas palavras baseiam-se na astúcia e na deceção. Mas afinal porque haveria de ser eu a acusar-te? A tua própria boca o faz! Serás tu, por acaso, o primeiro homem que nasceu? Terias nascido antes das montanhas terem sido formadas? Estiveste a ouvir as secretas intenções de Deus? Terás sido convocado para o seu gabinete pessoal, para o centro das suas decisões? Terás o monopólio da sabedoria? Que sabes tu que nós não saibamos? Que inteligência tens das coisas que nós não tenhamos? Temos connosco gente mais velha, até do que o teu próprio pai! As consolações de Deus valem assim tão pouco para ti? A sua gentileza parece-te certamente muito rude. Que é isso que andas a fazer, de um lado para o outro, cheio de ira, com os olhos flamejantes? Voltas-te contra Deus e dizes todas essas coisas ruins contra ele. Haverá alguém sobre a face da Terra tão puro e tão justo como tu próprio pretendes ser? Como? Pois se nem mesmo nos anjos Deus confia! Nem sequer os próprios céus podem ser absolutamente puros, se comparados com ele! Quanto menos o homem, que é corrupto e pecador, bebendo o pecado como uma esponja absorve a água! Escuta-me e responder-te-ei, de acordo com a minha própria experiência, confirmada também pela experiência de gente sábia, que já ouviu as mesmas coisas de seus pais, os nossos antepassados, aqueles a quem foi dada esta terra e que nos passaram, a nós, esses conhecimentos: O ímpio estará sempre em aflição através da vida, como também o tirano, nos poucos anos que lhe são reservados. Sons de terrores chegam-lhe aos ouvidos e, quando as coisas parecem correr-lhe bem, atacam-no por todos os lados. Não ousa sair para o escuro, com medo de ser assassinado. Vagueia por toda a parte, implorando por mantimento. Vive no temor, em apertos, na angústia; os seus inimigos facilmente dão conta dele, tal como um forte rei abate os seus adversários. Estende orgulhosamente o punho contra Deus, desafiando o Todo-Poderoso, arremetendo-o obstinadamente contra ele, protegido pelo seu resistente escudo. O seu rosto é gordo e a sua cintura está inchada. Vivem em cidades abandonadas, em casas desabitadas, que estavam prestes a cair em ruínas. Mas não ficarão assim ricos e não alargarão os seus domínios. A escuridão os engolirá para sempre; a respiração de Deus bastará para os destruir; as chamas consumirão tudo o que têm. Que o homem nunca mais confie em coisas falíveis, que não continue a enganar-se a si próprio! Porque o dinheiro em que confia acabará por lhe dar a paga que merece. Mesmo antes de morrer, toda a sua futilidade se tornará evidente para ele, pois como uma palmeira que murcha, assim será. Cairá no chão como as uvas ainda verdes de uma videira, como oliveira que deixa cair a flor. Os descrentes são gente inútil; o fogo acabará por consumir os que se entregam à corrupção. A única coisa que podem conceber e produzir é o pecado; os seus corações dão à luz só maldade.” Resposta de Job: “Já tinha ouvido tudo isso antes. Que miseráveis consoladores são vocês! Não quererão parar de vez com essas torrentes de loucura? Que disse eu, afinal, que vos leve a um falatório sem fim? Seria eu capaz de fazer sermões semelhantes aos vossos, se estivesse no vosso lugar e vocês no meu? Jorraria assim tanta crítica contra vocês, meneando a cabeça em sinal de censura? Não! Antes haveria de falar de forma a ajudar-vos; tentaria, sim, aliviar-vos da vossa dor. Quanto a mim, a minha dor não cessa, diga o que disser; mesmo quando me calo, em nada sou ajudado. Ó Deus, abateste-me e tiraste-me a família. Deixaste-me unicamente com a pele e os ossos, o que é a prova, dizem eles, dos meus pecados. Deus, na sua ira ataca-me e rasga-me as carnes; range os dentes contra mim e vigia-me, para que não se reacenda qualquer sinal de vida. Estes homens abrem as gargantas para me tragar; esmurram-me os queixos; juntam-se como inimigos, todos contra mim. Deus entrega-me, assim, a gente perversa, às mãos de pecadores. Estava a viver muito tranquilamente e eis que, de repente, me quebrantou. Pegou-me pelo pescoço, fez-me em pedaços; seguidamente pendurou-me e colocou-me como alvo. De todos os lados cercam-me e atingem-me com as suas setas; com elas atravessam as minhas entranhas, sem piedade, e derramam pelo chão o meu fel. Ataca-me repetidamente; arremete contra mim como um lutador. E eu aqui estou vestido de saco; a minha esperança jaz no pó do chão. Tenho os olhos vermelhos de chorar; nas minhas pálpebras pesa a sombra da morte. E contudo estou inocente; a minha oração é pura. Ó terra, não retenhas o meu sangue; rejeita-o em sinal de protesto! Mesmo assim, tenho ainda, no céu, a testemunha da minha inocência; o meu advogado está lá no alto. Os meus amigos podem troçar de mim, mas eu derramo as minhas lágrimas perante Deus. Imploro-lhe que me ouça, tal como uma pessoa escuta o seu amigo. Porque em breve descerei pela estrada pela qual ninguém volta para trás. Estou doente e perto de me apagar; o sepulcro está pronto para me receber. Estou rodeado de trocistas; vejo-os por toda a parte. Dá-me, por favor, alguém como fiador diante de ti, alguém que me segure pela mão e me apoie. Tu, ó Deus, impediste-os de compreenderem isto. Oh! Não os deixes triunfar! Se aceitaram subornos para denunciarem os amigos, os seus filhos tornar-se-ão cegos. Fez de mim objeto de troça entre o povo; cospem-me na face. Já nem consigo ver com clareza, de tanto chorar; não sou senão uma sombra do que fui. A gente honesta fica espantada quando me vê, mas um dia, o inocente será exaltado acima dos ímpios. Os retos seguirão o seu caminho firmemente; os que têm um coração puro tornar-se-ão cada vez mais fortes. Quanto a vocês, por favor, venham cá; de certo não encontrarei nenhum sábio no vosso meio. Já se foram os bons tempos e perdi as esperanças; malograram-se as aspirações do meu coração. Eles chamam à noite dia e dia à noite, pervertem a verdade! Ora, se o único lar pelo qual aguardo é o mundo dos mortos, e estendo a minha cama na escuridão, se digo à corrupção mortal: ‘És meu pai!’ e aos vermes: ‘Vocês são minha mãe e irmã!’ Onde está então a minha esperança? Alguém saberá encontrá-la? Não, a minha esperança vai comigo para o mundo dos mortos; descansaremos ambos debaixo da terra.” Mais uma resposta de Bildade, o suíta: “Até quando estarás tu a tentar enganar? Fala sensatamente, se queres que respondamos! Aos teus olhos tornámo-nos como animais, estúpidos e mudos? Estás só a magoar-te a ti mesmo zangando-te dessa maneira, irá isso fazer com que as rochas se movam dos seus lugares e a terra se despovoe? A verdade é esta: se não prosperas, é porque não és reto; a chama da tua vida se apagará. Haverá escuridão nas casas de todos os ímpios. A passada confiante do malvado se tornará vacilante; será derrubado pelos seus próprios planos. Cai na armadilha, conduzido pelo seu próprio pé, e, trôpego, cairá nas redes à sua volta. Andará sobre armadilhas; assaltantes armar-lhe-ão emboscadas. Há uma ratoeira em cada atalho que toma. Tem razões suficientes para andar aterrorizado; os seus adversários andam cerradamente no seu encalço O seu vigor decai por causa da fome; a calamidade está pronta a lançar-lhe as garras. Tem a pele carcomida devido à carência de alimentos; a morte acabará por devorá-lo. Será arrancado ao sossego da sua casa e será levado até ao rei dos terrores. A sua casa acabará por desaparecer num braseiro de enxofre. As raízes que tinha hão de secar e os ramos que produzir hão de murchar. Qualquer lembrança da sua existência será banida da Terra; ninguém mais se lembrará dele. Será posto fora do reino da luz para o das trevas; será expulso do mundo. Não deixará descendente algum, nem filhos nem netos nem qualquer outro parente. Do Oriente ao Ocidente, todos pasmarão sobressaltados perante o seu destino. Assim termina a habitação do ímpio; sim, é isso que acontece ao que não conhece a Deus!” Resposta de Job: “Até quando continuarão a entristecer-me e a quebrantar-me a alma com tais palavras? Já por dez vezes declararam que sou pecador; não têm vergonha de me tratar assim tão rudemente? Se, com efeito, fiz alguma coisa errada, isso diz respeito somente a mim mesmo. Se se têm assim em tão grande valor, vocês mesmos, então provem a minha baixeza, a minha culpa! O que se passa, na realidade, é que Deus me derrubou e me apanhou na sua rede. Grito por ajuda e ninguém me quer ouvir. Clamo: ‘Violência!’ Mas ninguém me faz justiça. Deus entrincheirou-me no meu caminho e cercou-me de obscuridade. Despojou-me da honra, tirou da minha cabeça a coroa dos meus merecimentos. Desfez-me a vida, em todos os aspetos, e deu cabo de mim; tirou-me a esperança, como quem arranca uma árvore. A sua fúria acendeu-se contra mim; tem-me por seu inimigo. Convoca contra mim os seus combatentes, que avançam e acampam ao redor da minha habitação. Pôs longe de mim os meus irmãos; os que me conhecem comportam-se como estranhos. Os meus parentes deixaram-me; todos os meus conhecidos se esqueceram de mim. Os que viviam comigo, em casa, inclusive aqueles que trabalhavam para mim, olham-me como se fosse um estranho. Chamo um criado e não vem; nem mesmo que lhe peça por favor! O meu hálito tornou-se intolerável para a minha mulher e os meus irmãos recusam reconhecer-me. Até as crianças me desprezam; mal me levanto, voltam-me as costas e não me ligam. Os amigos mais íntimos aborrecem-me; aqueles por quem tinha mais afeição estão contra mim. Só tenho a pele e os ossos; escapei, por um triz, da morte. Ó, meus amigos, tenham piedade de mim! Porque fui atingido pela ira da mão de Deus. Porque hão de pôr-se a perseguir-me como Deus faz? Não se sentem já satisfeitos por consumirem a minha carne? Quem me dera que as minhas palavras fossem escritas! Sim, que fossem todas gravadas num livro! Quem me dera que fossem gravadas a ferro e chumbo, ficando para sempre esculpidas na rocha! Porque eu sei que o meu Redentor vive e que, por fim, ele se levantará para me defender, ainda que eu esteja no pó do meu túmulo. Depois do meu corpo se consumir, ainda neste corpo, verei a Deus! Nessa altura, ele estará do meu lado; sim, eu próprio o verei e não outros por mim! Olharei para ele como amigo e não como estrangeiro; esta gloriosa esperança enche o meu íntimo de alegria! Como é que ousam continuar a perseguir-me, como se tivessem provas garantidas da minha culpabilidade? Ouçam, antes, o meu aviso: são vocês que se arriscam a um castigo pela vossa atitude!” Discurso de Zofar, o naamatita: “Apresso-me a tomar a palavra para responder, visto que tenho uma resposta a dar. Tentaste envergonhar-me, ao considerar-te um pecador; mas o meu espírito tem qualquer coisa a dizer-te. Não te dás conta do que sucede, desde que o homem foi posto sobre a Terra? O triunfo do malvado sempre foi de curta duração e as alegrias do ímpio apenas momentos passageiros. Ainda que o ímpio pretenda elevar-se a si mesmo, até ao cimo dos céus, e ande sempre de cara levantada, há de perecer para sempre, posto de lado, como esterco. Aqueles que o conheciam dirão: ‘Onde está?’ Desaparece tal como um sonho; ele se dissipará como uma visão da noite. Os olhos que o viam já não o verão mais, nem sequer o seu lugar será visto de novo. Os seus filhos serão obrigados a indemnizar os pobres; pelo seu próprio e duro trabalho pagarão as dívidas do pai. Ainda que seja jovem, os seus ossos jazerão no pó da terra. Ele aprecia o gosto da maldade; é como doçura para o seu paladar. Guarda-a na boca para prolongar-lhe o sabor. Mas, repentinamente, os alimentos que ingere transformam-se em veneno de víboras nas suas entranhas. É obrigado a vomitar todas as riquezas que engoliu; Deus não permitirá que as guarde. Sugará o veneno da cobra; as presas de uma víbora o matarão. Não gozará dos bens que roubou; não serão, de maneira nenhuma, manteiga ou mel para ele. O seu trabalho não lhe será pago; a riqueza não lhe trará alegria. Porque oprime o pobre e confisca-lhe as casas; casas essas que os infelizes jamais recuperarão. Era insaciável e agora nada tem; nada daquilo com que sonhou pode conservar. Visto que aproveitava cada ocasião para roubar, a sua fazenda não se manterá. Ainda que em plena abastança, viverá sempre angustiado; a mão de outros infames procurará destruí-lo. Quando estiver a encher a barriga, Deus fará chover sobre ele o ardor da sua ira. Ainda que fuja das armas de ferro, acabará por ser atravessado por um arco de bronze. Ao arrancarem a flecha do seu corpo, sair-lhe-á o fel; assombros mortais virão sobre ele. Os seus tesouros perder-se-ão em tenebrosos esconderijos; um fogo devastador devorar-lhe-á as riquezas, consumindo tudo o que deixou. Os céus revelarão os seus pecados e a Terra dará testemunho contra ele. Uma inundação arrastará os bens da sua casa. Como torrentes serão levados pelo furor de Deus. Eis a sorte do ímpio; isto é o que Deus lhe prepara!” Resposta de Job: “Ouçam! Deixem-me falar! Seja essa a consolação que vocês me dão! Permitam que eu fale livremente; quando tiver encerrado a minha tese, zombem à vontade da minha pessoa. Estou a queixar-me de Deus e não de um homem; não admira que o meu espírito esteja tão perturbado. Olhem para mim e pasmem; ponham a mão na boca, de espanto. Até eu, olhando para mim próprio, me horrorizo; fico estupefacto e estremeço. Porque é que os ímpios têm vidas longas, se tornam respeitados e prestigiados na sua velhice? Vivem o suficiente para verem os filhos tornarem-se maduros; ficam rodeados de netos. Os seus lares estão ao abrigo de qualquer terror e Deus não os castiga. Possuem gado que se multiplica; as suas vacas dão à luz sem perder as crias. Deixam correr as suas crianças como cabritos; os seus filhos passam o tempo a dançar e a cantar. Cantam ao som de tambores e da harpa; alegram-se ao som da flauta. São prósperos, ao longo da sua vida, e em paz descem ao mundo dos mortos. Dizem a Deus: ‘Afasta-te de nós, deixa-nos em paz! Não queremos saber das tuas ordens!’ ‘Quem é esse Todo-Poderoso?’, perguntam com ar de troça. ‘Porque haveríamos de interceder junto dele? Que bem nos fará?’ Entretanto, a prosperidade que possuem não depende deles, nem está segura nas suas mãos. Portanto, longe de mim o conselho dos ímpios! Quantas vezes se apaga a lâmpada do ímpio e se contempla a sua destruição? Quantas vezes a desgraça cai sobre eles? Quantas vezes Deus os castiga com dureza? Quantas vezes são como a palha levada pelos ventos ou como o pó da terra arrastado pelo furacão? Contudo, vocês dizem: ‘Deus castiga nos filhos os pecados do pai!’ Mas o pai faltoso é que deveria pagar pelo seu erro, a fim de que aprendesse a lição! Que cada um veja a sua própria destrução, e bebam, até à última gota, da ira do Todo-Poderoso. Quando tiver morrido, terminada a sua vida, que lhe importará que a sua família sofra? Na verdade, quem seria capaz de ensinar sabedoria a Deus, o supremo juiz? Alguns levam uma vida feliz e tranquila e morrem abastados, no meio das riquezas, gordos e prósperos. Entretanto, outros morrem cheios de amargura, sem nunca terem conhecido nada de bom na vida. Ambos acabam enterrados no mesmo pó da terra, ambos comidos pelos mesmos vermes. Eu conheço bem os vossos pensamentos; as vossas ideias acerca de mim são injustas! Vão contar-me casos de homens ricos e perversos que foram abatidos por causa dos seus pecados? Perguntem àqueles que viajam; não acreditam naquilo que eles contam? O mau, habitualmente, é poupado no dia da calamidade e poupado no dia da ira de Deus. Ninguém ousa censurá-lo abertamente; ninguém lhe dá a paga por aquilo que fez. Depois é sepultado num rico mausoléu e um guarda de honra fica junto do seu túmulo. O seu funeral é acompanhado por um enorme cortejo e é com suavidade que a terra lhe é lançada em cima. Como podem vocês então consolar-me, se os vossos pensamentos estão errados, logo à partida?” Então Elifaz o temanita respondeu: “Pode uma pessoa fazer alguma coisa para ajudar Deus? Pode mesmo um sábio ser-lhe útil? Tem o Todo-Poderoso algum benefício, se fores justo? Teria ele algum lucro, se fosses perfeito? Chamar-te-á a julgamento ou repreender-te-á, porque és honesto? De forma alguma! Se te castiga é porque és mau! Os teus pecados são incontáveis! Com certeza, recusaste emprestar dinheiro, a amigos necessitados, se não fosse em troca de algum penhor de valia; sim, despojaste-os e deixaste-os sós. Deves ter recusado água a gente sedenta e pão a pessoas famintas. Sendo dono de muitas terras e vivendo do fruto delas, eras honrado diante de todos. Mandaste embora viúvas, sem o auxílio de que precisavam, e houve órfãos que ficaram destroçados. Por isso, estás agora rodeado de laços e de pavores repentinos. A escuridão não te deixa ver nada; é como uma inundação que te afoga. Deus está lá no céu, para lá do firmamento, mais além das estrelas. No entanto, atreves-te a pensar assim: ‘Por isso mesmo, não pode ver o que faço! Como poderá Deus exercer o seu julgamento, através da espessa escuridão do infinito? Porque espessas nuvens o rodeiam e não pode ver; anda lá por cima, passeando sobre a abóbada celeste!’ Não te dás conta, tu, de que aqueles que trilham os velhos caminhos do pecado são apanhados, mesmo já na sua mocidade, e os fundamentos arrastados por uma enchente repentina? Eles dizem a Deus: ‘Vai-te embora, Todo-Poderoso! Nada podes fazer por nós!’ Que Deus me guarde de vir, alguma vez, a dizer tais coisas! Esquecem-se que foi Deus quem encheu os seus lares de boas coisas. Mas agora os retos verão a sua destruição; os inocentes rir-se-ão deles. ‘Vejam bem!’, dirão estes, ‘o último dos nossos inimigos acaba de ser destruído pelo fogo!’ Para de discutir com Deus! Tem paz com ele e terás, enfim, descanso! Ouve as suas instruções e armazena-as no teu coração. Se te voltares para o Todo-Poderoso e puseres em ordem tudo o que está mal na tua casa, então a tua vida será refeita. Se abandonares o amor ao dinheiro e deitares fora o ouro de Ofir, então o Todo-Poderoso será para ti como ouro; será como prata valiosa! Então terás prazer no Todo-Poderoso e olharás para Deus. Orarás a ele e te ouvirá; cumprirás todas as promessas que lhe fizeste. Seja o que for que desejares, ser-te-á concedido! A luz do céu iluminará o caminho à tua frente. Quando alguém for humilhado e tu disseres: ‘Coragem!’, então o humilde será salvo. Ele libertará até alguém que não é inocente, por meio da pureza das tuas mãos.” Resposta de Job: “Hoje a minha queixa será feita com amargura; estou a ser castigado duramente, apesar dos meus gemidos. Oh! Se eu soubesse onde encontrar Deus! Se pudesse subir até ao seu trono e ali conversar com ele! Haveria de expor-lhe os argumentos que tenho a apresentar. Ouviria a sua resposta, compreendendo o que pretende. Estou convencido de que não iria esmagar-me com a sua superioridade e grandeza. Ouvir-me-ia, antes, com simpatia. As pessoas honestas e retas podem tratar com ele, tendo a certeza de que nele encontrarão sempre um perfeito juiz. No entanto, se o busco a oriente, lá ele não está; se me volto para o ocidente, não o descubro. Busco-o nas bandas do norte e não está; procuro-o no sul, mas também não consigo encontrá-lo. No entanto, ele conhece cada detalhe do que me acontece e, quando me tiver examinado, há de declarar-me completamente inocente; tão puro como ouro maciço. Tenho trilhado os caminhos de Deus, seguido as suas pisadas, sem me desviar delas. Não tenho rejeitado os seus mandamentos, antes desfruto deles, mais do que da própria comida diária. Contudo, a sua ideia a meu respeito permanece a mesma; quem poderá mudar os seus propósitos? Tudo aquilo que quer fazer ele faz. Por isso, fará comigo tudo o que planeou e ainda muitas outras coisas que tem em vista. Não admira, pois, que me perturbe tanto na sua presença; quando penso nisso, o terror assalta-me. Deus deu-me um coração fraquinho; ele, o Todo-Poderoso, me aterrorizou. Porque há trevas à minha volta; trevas espessas, impenetráveis, escuridão completa. Porque é que o Todo-Poderoso não estabelece um tempo de julgamento sobre a Terra e porque não veem esse dia chegar os que o conhecem? Porque hão de ser obrigados a esperar, em vão, os que creem nele? Fomos submergidos por uma onda de crimes; os limites das propriedades têm sido alterados, rebanhos inteiros são roubados. Até levam os jumentos dos pobres e dos órfãos; as viúvas são obrigadas a entregar o boi que têm, como penhor. Os necessitados são postos de parte; são coagidos a sair do caminho, ao cruzarem-se com os grandes. Como os burros selvagens do deserto, os pobres passam dias inteiros a tentar apanhar alimento, para se manterem com vida; procuram comida para os filhos em terras desertas. Comem o que vão encontrando, o que cresce ao acaso, ou então têm de vindimar as vinhas dos maus. Passam a noite a tremer de frio, sem nada para os cobrir. Ficam encharcados com as chuvadas, trazidas pelos ventos das montanhas, e abrigam-se em cavernas, nas rochas, por falta dum lar. Os traidores são capazes, até, de arrancar criancinhas órfãs de pai, do peito das mães, e de raptar os bebés dos pobres, antes que lhes peçam emprestado dinheiro ou comida. Os desventurados são coagidos a andar nus, sem roupa para se cobrirem, e a carregar comida para outros, enquanto eles próprios desfalecem com fome. São forçados a pisar o azeite no lagar, sem poder prová-lo, e a esmagar cachos de uvas, estando a morrer de sede. Os gemidos dos moribundos clamam desde a cidade e os feridos rogam que os socorram; contudo, Deus não atende aos seus lamentos. Os pecadores rebelam-se contra a luz e não se identificam com os retos e os bons. São assassinos que ao erguer-se, logo de manhã cedo, só têm em mente matar o pobre e o necessitado; de noite atacam os ladrões. O adúltero espera apenas que caia o crepúsculo e diz para consigo: ‘É uma boa altura, porque ninguém me vê!’ Esconde a cara para que ninguém o reconheça. A noite, para os ladrões, serve para assaltar casas e o dia para dormir; não lhes interessa mostrarem-se sob a luz do dia. A noite mais escura, para eles, é como o amanhecer; são aliados naturais dos terrores das trevas. São como espuma na superfície da água! Tudo o que possuem é amaldiçoado e, como tal, não voltam às suas vinhas. O mundo dos mortos consome os pecadores, tal como a neve se derrete com o calor e a seca. Aos pecadores, até a sua própria mãe os esquece; só servem para que os vermes os comam regaladamente. Ninguém se lembrará mais deles! Os perversos serão abatidos como uma árvore num ciclone. E isso, porque exploram aqueles velhos, que viviam sozinhos sem filhos para os protegerem, e desprezam as pobres viúvas. Contudo, Deus, na sua força, destrói os ímpios, ainda que firmemente estabelecidos; quando ele aparece, deixam de estar seguros. Deus permite que vivam à vontade, mas vigia os caminhos que escolhem seguir. Ainda que agora pareçam muito seguros e fortes, de um momento para o outro ir-se-ão, como toda a gente, ceifados como espigas maduras. Poderá alguém desmentir-me? Poderá alguém dizer que estou a mentir ou que estou errado?” Mais uma resposta de Bildade, o suíta: “Deus é poderoso e temível, mantém os céus em paz. Quem seria capaz de contar os seus servidores? A sua luz desce sobre toda a Terra. Como poderia então um simples ser humano, perante Deus, afirmar que é justo? Quem, em toda a face da Terra, se poderá gabar de ser puro? A glória de Deus é de tal ordem que até os astros, a Lua e as estrelas são pouco mais que nada em comparação com ele. Portanto, quanto pode valer uma pessoa, que não passa dum pequeno verme, perante ele?” Resposta de Job: “Que boa maneira de ajudar quem está fragilizado! Não trouxeste nenhum encorajamento ao meu abatimento! Em nada esclareceste a minha ignorância! Disseste até coisas sem sabedoria nenhuma! Quem é que te inspirou tamanha sabedoria? Em nome de quem estiveste a falar? A alma dos mortos treme debaixo das águas com seus habitantes. O mundo dos mortos abre-se diante de Deus, a terra da destruição aparece a descoberto. Ele estende os céus do norte sobre os espaços infinitos e suspende a Terra sobre o nada. Acumula a chuva nas espessas nuvens, sem que estas se ressintam de tal peso. Envolve nelas o seu trono. Estabelece limites aos oceanos, sim, uma barreira constante, tanto de dia como de noite. As estruturas do firmamento tremem perante uma ameaça sua. Pela sua força fez sossegar o monstro marinho; é pela sua inteligência que os oceanos abatem o orgulho que os agita! A beleza dos céus foi-lhe dada pelo seu sopro; foi também a sua mão que formou a serpente veloz. E estas são apenas algumas das coisas que ele fez, apenas um vislumbre do seu poder. Quem poderá enfrentar o seu tremendo poder?” Defesa final de Job: “Prometo, perante o Deus Todo-Poderoso, que subtraiu os meus direitos e tanto me amargurou a alma, que, enquanto eu viver, e Deus me der o meu respirar, os meus lábios não proferirão iniquidade, a minha língua não pronunciará mentira. Longe de mim que alguma vez vos dê razão; até à morte hei de afirmar a minha integridade. Não sou um ímpio! Repeti-lo-ei tantas vezes quantas for preciso; a minha consciência de nada me acusa na vida. Que o meu inimigo seja castigado como o ímpio e os meus adversários como os malvados! Que esperança pode ter o ímpio, quando Deus o liquida e lhe arranca a vida? Deus aceitaria o seu clamor, quando está aflito, no momento em que lhe cai em cima a aflição? Essas pessoas não têm prazer no Todo-Poderoso; não ligam a Deus, a não ser em tempos de crise. Ensinar-vos-ei acerca do poder de Deus; nada esconderei do que sei acerca do Todo-Poderoso. Na realidade, não preciso de o fazer, porque vocês sabem tanto sobre ele como eu. Apesar disso, dizem-me coisas perfeitamente inúteis. Este é o destino que espera os perversos, da parte do Todo-Poderoso: Se tiverem uma multidão de descendentes, será apenas para morrerem na guerra ou de fome. E os que puderem sobreviver serão levados à cova, pela doença ou pelas pragas, sem terem ninguém para chorar a sua morte, nem sequer as suas mulheres. Os malignos acumulam dinheiro como pó e têm arcas a abarrotar de roupa; sim, podem estar sempre a encomendar roupa nova. Mas será o inocente quem acabará por usá-la; serão os justos quem repartirá, entre si, a sua prata. A casa construída pelos pecadores é tão frágil como o casulo de uma traça; tão cheia de fendas como uma cabana de juncos! Vão para a cama muito satisfeitos com o dinheiro que têm, mas, ao acordarem, descobrem que perderam toda a riqueza. O terror apodera-se deles; são abalados pelas tempestades da noite. O vento oriental levá-los-á e terão desaparecido; terão sido varridos por toda a eternidade! Deus lançará tudo isto sobre eles; não os poupará; desejarão ardentemente escapar a Deus, sem poder. Toda a gente aplaudirá, quando morrerem; serão apupados para sempre. Os homens sabem onde encontrar a prata nas minas e como refinar o ouro. Conhecem a forma de extrair da terra o ferro e de tirar o cobre das rochas. Eles sabem como iluminar a escuridão, de forma a perfurar uma mina, no interior da Terra, explorando os seus recantos mais profundos. Penetram no seu interior rochoso, onde reinam trevas sinistras, descendo com cordas, balançando dum lado para o outro. Os homens sabem, igualmente, como tirar alimento da superfície da Terra, enquanto no seu interior arde fogo. Conhecem a forma de encontrar safiras e pepitas de ouro; tesouros que não há ave de rapina que possa descobrir, nem olho do falcão que destrince, pois estão no fundo das minas. Não são coisas que os animais altivos pisem nos campos; o leão nunca lhes pôs a pata em cima. Os homens são capazes de rebentar duras pedreiras e de revolver as raízes dos montes. Abrem túneis no meio de rochedos e deixam a descoberto pedras preciosas. Prendem as correntes de águas com barragens; trazem à luz o que estava escondido. Mas onde se encontrará a sabedoria? Onde habita o entendimento? Não sabem como obter tais coisas; o facto é que não se encontram entre os seres vivos. ‘Não está aqui!’, dizem os oceanos. ‘Nem aqui!’, respondem os mares. Não podem ser adquiridas com ouro ou prata, ainda que fosse com todo o ouro de Ofir, ou com pedras preciosas de ónix ou safira. A sabedoria é algo muito mais precioso que ouro ou cristal; não pode ser comprada com ricas joias de ouro, cravejadas de pedras preciosas. O coral e o cristal perdem o seu brilho e valor ao lado dela; o seu preço é bem acima dos rubis. Topázios de Cuche não chegam para comprá-la, nem sequer todo o ouro, do mais puro. Mas, então, onde é que podemos obtê-la? Onde é que a podemos achar? Está escondida dos olhos de toda a humanidade; nem a vista penetrante de certas aves consegue descobri-la. No entanto, a destruição e a morte dizem: ‘Só conhecemos de ouvir!’ Deus, claro está, sabe onde é que ela se pode achar, pois estende a sua vista através da Terra inteira, duma à outra extremidade dos céus. Faz soprar os ventos e põe limites aos oceanos. Estabeleceu leis para as chuvas e para o desencadear dos relâmpagos. Sim, ele sabe onde se encontra a sabedoria e di-lo a todos os que estiverem dispostos a escutar; foi ele quem a estabeleceu e a examinou detalhadamente. É isto aquilo que ele diz a toda a humanidade: ‘Escutem! O temor o Senhor é isso, a genuína sabedoria! A verdadeira inteligência está no afastar-se do mal!’ ” E Job prossegue: “Oh! Quem me dera aqueles anos em que Deus tomava conta de mim! Em que me iluminava o caminho e eu andava com segurança pela escuridão. Sim, na minha mocidade, o amor de Deus era coisa sensível no meu lar! O Todo-Poderoso ainda estava comigo e eu vivia rodeado dos meus filhos. Os meus projetos iam avante, como se andasse sobre um chão suave; era como se das próprias rochas brotassem torrentes de azeite sobre mim! Nesses tempos ia até à entrada da cidade e lá me sentava entre os respeitáveis anciãos. Os jovens, quando me viam, afastavam-se do meu caminho, e até as pessoas mais velhas se levantavam; ficavam respeitosamente de pé, quando me aproximava. Os príncipes ouviam-me em silêncio; se falavam, mediam bem o que diziam. Até os mais altos magistrados da cidade preferiam calar-se na minha presença. Toda a gente aprovava o que eu dizia; todos os que me conheciam diziam bem de mim. Porque eu ajudava os pobres nas suas necessidades e os órfãos que não tinham quem os socorresse. Também auxiliei aqueles que estavam prestes a perecer e que assim me abençoaram. Fiz com que o coração das viúvas rejubilasse de alegria. A retidão era a roupa com que me vestia; revesti-me da justiça como de um turbante. Servi de vista para os cegos e de pés para os coxos. Fui como um pai para os pobres e inquiri cuidadosamente as causas em tribunal, até de estrangeiros. Quebrei as garras aos ímpios opressores e arranquei-lhes dos dentes as vítimas. Eu pensava assim: Com certeza, hei de morrer sossegado, no meu lar, no fim duma vida longa e boa. As minhas raízes chegam até às águas e o orvalho desce de noite sobre os meus ramos. A minha vida renova-se dentro de mim e o meu arco ganha força na minha mão. Toda a gente me ouvia com atenção e aceitava o meu conselho; ninguém mais abria a boca, enquanto eu falava. E mesmo depois de ter falado, ninguém mais tinha nada a dizer, porque a minha opinião convencia toda a gente. Aliás, as pessoas esperavam pelas minhas intervenções bebendo-as com avidez, tal como a terra absorve as chuvas tardias da primavera. Quando alguém se encontrava desencorajado, se eu lhe sorria, retomava alento e o seu espírito abria-se. Dizia-lhes o que deviam fazer e corrigia-os, tal como faz um chefe ou general que instrui as suas tropas. Na minha pessoa, encontravam sempre alguém que consolava aqueles que choram. Mas agora, os de menos idade riem-se de mim, rapazes cujos pais considerava indignos de ficar com os cães do meu rebanho. Sem dúvida que têm força e agilidade, mas não são úteis à sociedade, não têm entendimento. Estão debilitados pela fome e foram expulsos para as campinas desoladas e tenebrosas. Apanham malvas junto aos arbustos e comem raízes de zimbro. Foram lançados fora da civilização, banidos do convívio dos homens como se fossem ladrões. Por isso, agora têm de viver em barrancos sinistros, em cavernas, no meio das rochas. Bramam como os animais na floresta, amontoando-se, à procura de abrigo, debaixo das ortigas. São bandos de loucos, gente sem nome, vivendo à margem da sociedade. E agora fazem de mim o assunto das suas cantigas satíricas! Sirvo de tema para as anedotas que contam! Desprezam-me e fogem para longe de mim; se se cruzam comigo, não hesitam em cuspir-me na cara. Deus pôs a minha vida em perigo; estes jovens, tendo-me humilhado, conduzem-se agora, sem a menor vergonha, perante mim. Gente infame lança-me armadilhas e imagina assaltos à minha vida. Impedem-me de fazer seja o que for e esforçam-se por piorar a situação calamitosa em que estou, dando-se conta de que não tenho ninguém que venha em meu auxílio. Assaltam-me de todas as direções; atiram-se a mim, mesmo estando eu já entre escombros. Vivo no meio de pavores; eles afrontam-me; a minha dignidade foi-se como nuvem levada por um vento ciclónico. Tenho o coração em pedaços; a depressão apoderou-se de mim. As noites para mim são um tormento; passo-as cheio de sofrimentos, como se alguma coisa me estivesse a corroer os ossos. Até que amanheça, passo o tempo a virar-me e a agitar-me; de manhã fico com a roupa toda retorcida no corpo. Deus lançou-me para a lama; tornei-me como pó e cinza. Clamo a ti, ó Deus, mas não me ouves; estou na tua presença, mas nem sequer te incomodas em atentar para mim. Tornaste-te cruel para comigo; persegues-me com grande poder e eficácia. Lanças-me para o remoinho de ventos e desfaço-me no meio da tormenta. Sinto bem que as tuas intenções, a meu respeito, são de morte. Eu ainda esperava ser detido na minha queda, como alguém que estende a mão, pedindo ajuda, quando cai, ou que grita na sua desventura. Porventura não chorei, eu próprio, por aqueles que estavam aflitos? Não me sentia eu angustiado, por causa dos que viviam com necessidades? Nessas alturas, procurava soluções justas para essas situações, mas, para mim, foi o mal que me aconteceu; esperava pela luz e foram as trevas que me envolveram. Tenho o íntimo agitado e em constante inquietação; ondas de aflição me submergem. Estou com a pele enegrecida, não por ter apanhado Sol, mas por causa do sofrimento. Ergo-me, diante dos meus concidadãos, e clamo por socorro. Tornei-me companheiro dos chacais, parceiro das corujas do deserto. O meu corpo tornou-me de cor escura; os ossos queimam com a febre. A minha harpa e a minha flauta, que antes se ouviam à minha volta, tornaram-se agora em tristes lamentações. Eis que fiz um pacto com os meus olhos de não os fixar com luxúria numa rapariga. Senão, que poderia esperar lá de cima, de Deus, e que herança do Todo-Poderoso, lá das alturas? Não manda ele a desgraça ao perverso, a calamidade aos que fazem o mal? Ele vê tudo o que faço, cada passo que dou. Se eu tivesse mentido e defraudado alguém, mas Deus pesa-me em balanças fiéis e sabe que sou íntegro! Se eu me afastei do caminho de Deus, se, no íntimo, cobicei aquilo que os olhos viam, se sou culpado de qualquer outro pecado, então que os outros ceifem aquilo que eu semeei, que tudo o que plantei seja arrancado de raiz! Se o meu coração se deixou apaixonar por outra mulher, ou se fiquei à espreita na porta do meu próximo, então que a minha mulher moa cereal para outro homem e que outros disponham dela à sua vontade. Pois teria cometido um mal que merece castigo. Seria como um fogo devastador, que consumiria toda a minha colheita. Se alguma vez tivesse sido injusto para o meu criado, ou para a minha criada, quando tiveram questões contra mim, que teria eu a responder se Deus quisesse interrogar-me sobre isso? Pois foi Deus quem me criou, tanto a mim, como aos meus trabalhadores, fez-nos a todos. Se alguma vez prejudiquei os pobres ou fiz chorar viúvas, ou se tenho saboreado sozinho o meu alimento, recusei dá-lo ao órfão com fome, aliás, na minha casa, sempre se cuidou bem dos órfãos, tratando-os como nossos próprios filhos, e desde a infância aprendi que a viúva deve ser amparada. Ou se alguma vez vi alguém tremendo de frio e não o agasalhei com roupa, e porque não o aqueci com a lã dos meus cordeiros não fui abençoado, se levantei a mão contra um órfão, valendo-me da influência que exerço no tribunal, se fiz alguma destas coisas, então que o meu braço se rasgue do ombro, e se rompa da articulação. Tenho muito medo do castigo de Deus; sim, receio isso mais do que qualquer outra coisa! Porque se tiver de enfrentar a majestade de Deus, que esperança me resta? Se alguma vez coloquei a minha confiança no ouro, se a minha felicidade se baseou unicamente na riqueza, se olhei para o Sol, a brilhar no firmamento, ou para a Lua, deslocando-se no céu, no seu caminho de esplendor, e deixei que o coração ficasse intimamente enfeitiçado, pondo-me a adorar esses astros e a beijar a minha mão perante eles, que seja igualmente castigado pelos juízes, como deve ser. Pois que, se fiz alguma dessas coisas, isso quereria dizer que reneguei o Deus dos céus. Se me alegrei com a desgraça de um inimigo, na verdade, nunca amaldiçoei ninguém nem sobre ninguém reclamei vingança. Se algum dos meus empregados foi mandado embora, com fome, a realidade é que nunca fechei a porta a ninguém, nem sequer ao estrangeiro, pelo contrário, a minha casa estava aberta a toda a gente. Se, como Adão, tentei encobrir as minhas faltas, com receio daquilo que o povo poderia dizer, se, com medo de afrontas, recusei reconhecer as minhas culpas e não procurei intervir a favor de outros, quem me dera que alguém me ouvisse e tentasse dar atenção aos meus argumentos! Vejam: eu próprio assino a minha defesa; peço que o Todo-Poderoso me mostre em que é que errei, apoiando as acusações que os meus inimigos me fazem. Haveria de guardar o processo desse julgamento como uma coroa! Dir-lhe-ia exatamente aquilo que fiz e porque o fiz, apresentando-lhe a minha defesa como a alguém que tem, verdadeiramente, competência para me ouvir. Ou se a minha terra me acusa de ter roubado o fruto que ela produz, se tirei a vida a alguém para poder ficar com as suas propriedades, então que cresçam ali cardos, em vez de trigo, e joio, em lugar de cevada.” Fim das palavras de Job. Os três homens recusaram continuar a responder a Job, por este insistir na sua inocência. Então Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão, irritou-se, porque Job recusava admitir que tinha pecado e não queria admitir que Deus o castigava com razão. Por outro lado, estava também zangado com os três amigos de Job porque, tendo sido incapazes de responder aos seus argumentos, continuavam, contudo, a condená-lo. Eliú esperou até esta altura para falar, porque os outros eram todos mais velhos que ele. Quando viu que não tinham mais nada a responder-lhe, tomou a palavra, com indignação. E disse: “Eu sou jovem e vocês mais velhos que eu; por isso, me mantive retirado e calado, sem ousar dizer o que pensava. Visto que os mais velhos são mais sabedores, a experiência fala mais alto. Mas a sabedoria e a inteligência que o homem tem é o espírito que há no homem, o sopro do Todo-Poderoso que lhe proporciona entendimento. Nem sempre os idosos são sábios, nem os mais velhos têm sempre conhecimento do que é mais certo. Portanto, escutem-me e permitam-me que expresse a minha opinião. Esperei todo este tempo, para ver se nas vossas palavras rebuscadas encontrava alguma explicação profunda. Escutei-vos com muita atenção, mas nenhum de vocês foi capaz de refutar a Job, nem ao menos de responder adequadamente às suas afirmações. E não me venham dizer: ‘Descobrimos a sabedoria!’ Pois somente Deus, e não um homem, lhe pode responder. Se Job tivesse discutido comigo, nunca lhe teria respondido com esse tipo de lógica! Agora aí estão vocês, desiludidos, esgotada a vossa capacidade de resposta. Haveria eu de continuar a esperar em silêncio? Não! Vou também dar já a minha resposta. O meu espírito me pressiona; estou cheio de palavras. Sou como um barril de vinho, fechado, sem ventilação! Estou pronto a rebentar com palavras! Sou obrigado a falar, para poder respirar; por isso, deixem-me dizer tudo o que preciso, como resposta. Não serei parcial a favor de alguém, e a ninguém lisonjearei. Se eu fosse hábil na lisonja, o meu Criador logo me castigaria. Por favor, Job, ouve o que tenho a dizer-te. Já que comecei a falar, agora continuo. Direi a verdade com toda a sinceridade, e com todo o conhecimento que possuo. Porque foi o Espírito de Deus que me fez, o sopro do Todo-Poderoso deu-me vida. Não hesites em responder-me, se puderes. Diante de Deus sou tanto como tu; eu também fui formado do barro. Não precisas de recear; não sou ninguém assim tão importante que te ponha nervoso ou receoso. Tu disseste, e repetiste várias vezes, uma coisa que os meus ouvidos captaram claramente: ‘Sou puro, estou inocente, não pequei! Mas Deus busca pretextos contra mim e trata-me como se fosse seu inimigo. Prende-me os pés com cadeias e observa todos os movimentos que faço!’ Pois bem, aqui está a minha resposta: Nisso não tens razão, em falar de Deus dessa maneira, porque Deus é maior do que os homens. Por que razão contenderias tu com Deus? Ele não é obrigado a responder ao que lhe perguntam. Deus dirige-se repetidamente aos homens, e de várias maneiras, mas não atentam no que ele diz. Fala-lhes por meio de sonhos, em visões de noite, quando caem em sono profundo, deitados nos seus leitos. Abre os seus ouvidos e mete-lhes medo com os seus avisos, fazendo-os mudar a mente, apartando-os da soberba, para impedir a sua alma de cair no abismo e a sua vida de perecer pela espada. Também os corrige com dores e com males que os afligem sem parar. O indivíduo perde o gosto de tudo, perde o apetite, desinteressa-se até dos mais requintados pratos. Emagrece, fica apenas com a pele e os ossos. Fica às portas da morte, já se avizinha do mundo dos mortos. Mas se vier um mensageiro dos céus, um entre os milhares de Deus, para interceder por ele, como um amigo, para lhe mostrar o que é reto, então Deus terá compaixão e dirá ao intercessor: ‘Livra-o, para que não desça à cova; tenho resgate para ele!’ Então o seu corpo se tornará tão saudável como o de um jovem: firme e novamente robusto. Quando orar a Deus, ele o ouvirá e lhe responderá, recebendo-o com alegria e salvando-o. A pessoa declarará aos seus amigos: ‘Pequei e perverti o direito. Mas Deus não me castigou. Livrou a minha alma de descer à cova. Assim sei que verei a luz!’ Sim, Deus faz isto, frequentemente, ao homem! Desvia a sua alma da perdição, para que possa viver na luz da vida. Escuta bem isto, Job! Peço-te que me ouças e me deixes dizer ainda algo mais. Contudo, se tiveres algo a acrescentar, fala; gostaria de te ouvir, porque queria muito justificar-te. Caso contrário, ouve-me então. Cala-te e ensinar-te-ei a sabedoria!” Eliú continuou: “Escutem-me, vocês, os sábios, ouçam vocês que são entendidos. Porque o ouvido testa as palavras, tal como a língua faz com aquilo que se come. Da mesma forma, deveríamos saber escolher aquilo que é reto; antes de mais, deveríamos definir, entre nós, o que é bom. Porque Job disse: ‘Estou inocente e Deus diz-me que não. Sou chamado de mentiroso e, no entanto, estou inocente. Sou tremendamente castigado pelas suas flechas, mesmo sem ter pecado!’ Haverá alguém semelhante a Job que bebe zombarias como água? Isto é mesmo de pessoas que passam muito tempo no meio de gente má. Pois diz: ‘Para que serve perder tempo a agradar a Deus?’ Deem-me atenção, gente de entendimento; o Deus Todo-Poderoso não pratica o mal, nem comete qualquer injustiça! Mas ele retribui às pessoas conforme o que fazem, compensa-as segundo merece a sua conduta. É coisa que não se discute; o Deus Todo-Poderoso nunca é mau nem injusto. Quem é que lhe entregou o governo da Terra? Quem pôs o mundo inteiro ao seu cuidado? Se Deus viesse a retirar o seu Espírito e o seu sopro dos homens, toda a vida desapareceria e a humanidade tornar-se-ia novamente em pó. Ouçam-me, pois, e tentem compreender. Poderia Deus governar, se odiasse a justiça? Queres tu condenar aquele que é justo e poderoso? Quem ousaria condenar este Deus que diz a reis e nobres: ‘Vocês são maus e injustos!’? Porque não olha a posição social das pessoas, nem dá mais atenção ao rico do que ao pobre, pois de todos foi o Criador. Todos podem passar desta vida, dum momento para o outro; em plena noite, grandes ou pequenos podem partir, sem qualquer intervenção humana. Deus vigia cuidadosamente os caminhos de cada um; vê todos os seus passos. Não há escuridão suficientemente espessa para ocultar os ímpios aos seus olhos. É por isso que Deus não necessita de mais tempo para analisar os seres humanos e conduzi-los à sua presença para julgamento. Sem questionar, Deus simplesmente destrói, até o maior dos seres humanos, e o substitui por outro. Sabe tudo o que fazem e, numa só noite, pode deitá-los abaixo. À vista de toda a gente, pode castigá-los como ímpios que são, visto que se desviaram de Deus e não procuraram seguir os seus caminhos. Assim, o grito do pobre chegou a Deus. Sim, ele ouve os gritos dos oprimidos! E mesmo que Deus prefira não falar, quem iria criticá-lo por isso? Se encobrir a sua face, quem conseguirá contemplá-lo, seja uma nação inteira ou um indivíduo? Pode, igualmente, evitar que um homem ruim governe e que não haja quem iluda toda uma nação. Pois quem jamais disse a Deus: ‘Sofri, apesar de não ter pecado! Ensina-me a compreender o que não posso ver! Se agi mal, não voltarei a fazê-lo!’? Deveria Deus recompensar-te, se não confessas a tua culpa? És tu que tens de fazer a melhor escolha e não eu! Agora, pois, diz lá o que pensas! As pessoas com discernimento e com inteligência estão, com toda a certeza, comigo. Ao afirmarem que Job falou sem conhecimento não há sabedoria nas suas palavras! Job deveria ser provado até ao fim, pela forma condenável como falou de Deus. É que dessa forma acrescenta rebelião, arrogância e blasfémia aos seus outros pecados contra Deus.” E Eliú prosseguiu: “Achas que é justo dizeres: ‘Maior é a minha justiça do que a de Deus?’ Ainda dizes: ‘Que vantagem tenho eu, ou que ganho teria se abandonasse o meu pecado?’ Vou responder-te, assim como a todos os teus amigos. Olha para o céu, vê como as nuvens estão bem acima de ti. Se pecares, que mal poderás fazer contra Deus? Se multiplicas os teus crimes, nenhum prejuízo lhe causas. Da mesma forma, se fores justo, o que lhe darás? O que receberá das tuas mãos? Os teus pecados podem, sim, afetar os outros homens; igualmente, os teus atos de justiça poderão beneficiá-los. Os que vivem oprimidos podem gritar, sob o efeito de injúrias, e gemer sob o braço dos poderosos. Contudo, nenhum deles pergunta: ‘Onde está Deus, o meu Criador, aquele que inspira cânticos durante a noite? Que nos ensina mais que aos animais de toda a Terra e nos torna mais sábios que as aves dos altos céus?’ Se alguém lhe lançar essa questão, ele não replicará com o castigo próprio de tiranos. Pois Deus não ouve clamores sem sinceridade, nem para eles atentará o Todo-Poderoso. Muito menos te ouvirá, se disseres que não o vês! A tua causa está diante dele, portanto, espera nele. Imaginas que, na sua ira, Deus parou de castigar, que não leva em consideração o orgulho e a iniquidade dos homens. Assim, Job, falas demais, porém, não sabes o que estás a dizer!” Disse ainda mais Eliú: “Deixa-me continuar, provar-te-ei aquilo que afirmo; ainda não acabei de defender Deus! Dar-te-ei ilustrações sobre a justiça do meu Criador. Vou dizer-te a verdade, com toda a honestidade, pois sou pessoa com largos conhecimentos. Deus é poderoso e, apesar disso, não põe de parte ninguém! Não poupa a vida do ímpio, mas faz justiça aos aflitos. Não desvia o olhar dos que são justos, antes os honra, colocando-os sobre tronos reais, eternos. Se estão presos a grilhões, e a aflição os atormenta, então dar-se-á ao trabalho de lhes indicar as razões de tal situação, aquilo que fizeram de mal, ou como se terão conduzido com altivez. Ajudá-los-á a ouvirem a sua instrução, a fim de se desviarem dos seus pecados. Se o ouvirem e obedecerem, então serão abençoados com prosperidade, todo o tempo das suas vidas. Se, pelo contrário, lhe fecharem os ouvidos, perecerão no meio das lutas, morrerão em consequência da sua falta de bom senso. A verdade é que os ímpios colherão a ira de Deus; mesmo agrilhoados, recusam-se a clamar por socorro. Acabarão por morrer novos, como jovens entregues à prostituição. Mas ele livra o aflito da sua aflição e isto faz com que o escutem! Também ele quer conduzir-te do meio da opressão, para um lugar amplo, tranquilo e livre, para a fartura da tua mesa cheia de gordura. Porém, acumulaste sobre ti mesmo o juízo dos ímpios; por isso, a justiça e o castigo estão sobre a tua cabeça. Que a raiva não te leve a excessos, nem te deixes seduzir pelas riquezas! Pensas, realmente, que se gritasses com força, ou se te esforçasses muito, isso poria um fim ao teu aperto? Não desejes a noite em que os povos se revoltam. Desvia-te do mal, pois escolheste isso em vez do sofrimento. Repara, Deus é todo-poderoso! Quem, melhor do que ele, sabe ensinar? Quem ousaria dizer-lhe o que deve fazer, ou dizer-lhe: ‘Cometeste uma injustiça!’ Portanto, engrandece-o pela sua obra, que tem sido contada pelos homens. São coisas que toda a gente vê; de longe os homens as contemplam. Deus é tão grande que ninguém pode pretender conhecê-lo. Ninguém pode calcular os anos da sua existência. Ele concentra o vapor de água e depois transforma-o em correntes de água, que as nuvens despejam em aguaceiros sobre os seres humanos. Poderá alguém entender perfeitamente o caminho das nuvens e os trovões dentro delas? Vê como dispara os relâmpagos à sua volta e como cobre os cimos das montanhas! Com a chuva alimenta os povos, dando-lhes recursos em abundância. Enche as mãos com raios faiscantes; lança cada um deles sobre um alvo certo. O trovão anuncia a sua chegada e o rebanho pressente a chegada da tempestade! O meu coração treme com estas coisas. Escuta, escuta o trovão da sua voz, que ecoa através dos céus! Os seus relâmpagos dardejam em todas as direções. Depois vem o rugir dos trovões; ali ecoa a voz tremenda da sua majestade; quando a sua voz ressoa, ninguém se aguenta em pé. Em cada trovão, essa voz é cheia de glória; não podemos compreender a grandeza do seu poder. Porque ele diz à neve, aos aguaceiros e às tempestades para caírem sobre a Terra. Nessas ocasiões, o trabalho do homem cessa, para que toda a gente possa reconhecer o seu poder. Os animais selvagens escondem-se nas rochas e nas tocas. O vento do sul traz a chuva; o do norte, o frio. Deus sopra sobre as torrentes e até os rios mais vastos gelam. Carrega as nuvens com humidade e elas disparam relâmpagos. Os raios são dirigidos pela sua mão e fazem o que lhes manda, por toda a Terra. Manda tempestades, ora como castigo para os homens, ora para regar favoravelmente a sua terra. Ouve, Job, detém-te um pouco! Considera as maravilhas de Deus! Sabes como Deus controla toda a natureza e como faz relampejar através das nuvens? Compreendes como é feito, o equilíbrio das nuvens, por aquele que é perfeito em conhecimento? Percebes o calor que te incomoda, quando sopra o vento do sul e há calma sobre a terra? Saberias tu estender o firmamento, que é sólido como um espelho fundido? Tu, que julgas saber tanto, ensina-nos a nós como deveremos aproximar-nos de Deus. Somos, talvez, demasiado ignorantes para saber essas coisas! Poderá Deus ser notificado, de que eu vou falar? Haverá algum homem que aceite, de boa vontade, ser engolido vivo? Não podemos olhar para o Sol, por causa da sua luminosidade, quando os ventos limpam o firmamento de nuvens. Do norte vêm resplendores de luz dourada; Deus está rodeado de temível majestade. Não podemos, sequer, imaginar o poder do Todo-Poderoso! Mesmo assim, é tão justo e misericordioso que não nos destrói. Não admira que toda a gente, em toda a parte, o tema! Ele não se deixa impressionar pelo mais sábio dos homens.” Então foi a vez do Senhor responder a Job num redemoinho: “Quem é que busca turvar os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Agora prepara-te, porque terás de me responder a algumas perguntas que te vou fazer. Onde estavas tu quando eu fundava a Terra? Responde-me, se tens sabedoria para isso. Sabes quem determinou as suas dimensões e quem fez o seu plano? Sobre o que estão apoiadas as suas bases e quem foi que assentou a pedra fundamental, quando as estrelas juntamente produziam harmonias e todos os anjos gritavam de alegria? Quem foi que pôs limites aos mares, quando se agitavam e transbordavam nas profundidades? Quem os revestiu de nuvens e de espessas trevas, os encerrou nas paredes dos oceanos, dizendo-lhes: ‘Até aqui e não mais adiante; aqui rebentarão as vossas vagas alterosas!’? Alguma vez pudeste ordenar à manhã que aparecesse e à alvorada que se levantasse para os lados do nascente? Alguma vez foste capaz de dizer à luz do dia que se espalhasse até às extremidades da Terra, para pôr fim à maldade da noite? A Terra assume forma como barro sob um sinete, como as dobras de um belo manto colorido. A luz é retirada do alcance do malvado e detém o braço que se levanta em violência. Alguma vez conseguiste explorar as fontes dos mares, ou andar sobre os seus profundos abismos? Alguma vez te foram reveladas as portas da morte? Viste tu a entrada para aquele reino de sombras? Dar-te-ás conta da verdadeira extensão da Terra? Responde-me a isto, se fores capaz! Donde vem a luz, como a alcanças? Fala-me sobre as trevas; donde vêm? Terás possibilidade de encontrar os seus limites, ou de chegar à sua origem? Se calhar, sabes todas estas coisas, porque nasceste antes que tudo tivesse sido criado, e já tens muitos anos de vida! Já pudeste conhecer os segredos da neve, ou ver onde o granizo é feito e armazenado? Porque o reservei para quando precisar dele, para o dia da peleja. Sabes como se difunde a luz e por onde é que o vento oriental invade a Terra? Quem foi que cavou as gargantas, entre as montanhas, por onde correm os ribeiros formados pelas chuvas? Quem abriu o caminho ao relâmpago, que faz com que a chuva caia sobre as terras desertas, para que os terrenos secos e áridos fiquem saciados de água, e se renove a erva tenra? Terá a chuva um pai? Donde vem o orvalho? Quem fez aparecer o gelo e a geada? Porque a água torna-se gelo e fica como uma rocha dura. Serás tu capaz de atar as cordas da constelação de Plêiades, ou de desatar as de Oríon? Poderias controlar a sequência das constelações, ou determinar a deslocação da Ursa Maior e da Ursa Menor, através dos céus? Conheces tu as leis do universo e de que maneira os céus influenciam a Terra? Poderias tu gritar para as nuvens e fazeres-te inundar por torrenciais aguaceiros? Serias capaz de dar ordens aos raios, a ponto de te dizerem: ‘Pronto, aqui estamos!’ Quem deu ao íbis sabedoria e ao galo entendimento? Quem terá sabedoria suficiente para saber a quantidade de nuvens? Quem é que inclina os cântaros do céu, para que chova, quando tudo se encontra seco e o pó se acumula em montões? És tu capaz de caçar uma presa, tal como faz a leoa, para satisfazer o apetite dos filhotes que estão na toca, ou que esperam no meio da selva? Quem é que fornece alimento aos corvos, quando os filhos gritam a Deus e desfalecem nos ninhos, por não terem que comer? Sabes quando é que as cabras-monteses têm as crias? Já alguma vez viste as gazelas darem à luz? Sabes quantos meses andam elas prenhes, antes de se curvarem sobre si próprias com as dores de parto? Os filhos criam-se nos campos, sob o céu aberto, depois deixam os pais e não voltam mais para eles. Quem pôs o burro selvagem em liberdade? Quem o fez viver sem amarras? Coloquei-o no deserto e dei-lhe terra salgada para nela viver. Porque ri-se do barulho das cidades e não tem de ouvir os berros do condutor. Os grandes espaços das montanhas são os seus pastos; é lá que procuram a mais pequena erva verde. Serias capaz de tornar o boi selvagem num servo obediente, de o manter sossegado atrás da sua manjedoura? Utilizarias um animal desses para te lavrar o campo e para te puxar o arado? Só porque tem muita força, poderias confiar nele? Entregar-lhe-ias o trabalho duro que te pertence? Mandá-lo-ias pelos teus campos, para recolher o trigo e trazê-lo para a eira? A avestruz é um animal imponente, quando a vemos bater majestosamente as asas, mas comparar-se-á a sua plumagem à das cegonhas? Põe os ovos à superfície da terra, para os aquecer com o pó. Esquece-se, porém, que podem ser pisados e esmagados; que qualquer animal selvagem os pode destruir. Despreza os seus filhotes, como se não fossem seus, e fica indiferente se os seus esforços forem em vão. Isto porque Deus não lhe deu inteligência. No entanto, quando se levanta para correr, ri-se da velocidade do cavalo e do cavaleiro. Foste tu quem deu a força ao cavalo e lhe revestiu de crinas o pescoço? Ensinaste-o tu a saltar como um gafanhoto? Terrível é o fogoso respirar das suas narinas! Escava a terra e regozija-se na sua força, quando tem de ir à guerra. Ri-se do medo e nada teme; não recua diante da espada. À sua volta, vibram as setas na aljava e brilham as lanças e os dardos. Sacudindo-se ferozmente, escava a terra e dispara toda a corrida para a batalha, quando soa o toque da trombeta. Ao soar das trombetas grita: ‘Eh!’ Sente já ao longe o cheiro da guerra e os brados dos comandantes. É pela tua inteligência que o gavião levanta voo e bate as asas em direção ao sul? É por ordem tua que a águia escolhe ir até aos altos cimos das montanhas para ali fazer o ninho? Vive sobre as rochas dos montes e faz a sua morada nas penhas seguras. Dali espia a presa, a uma grande distância. As suas crias chupam sangue, porque onde há mortos, aí está ela!” E o Senhor prosseguiu: “Queres continuar a argumentar com o Todo-Poderoso? Se pretendes arvorar-te em crítico de Deus, responde, então, a tudo isto.” Então Job respondeu ao Senhor: “Eu nada valho! Como poderia eu, alguma vez, encontrar resposta para essas coisas? Ponho, antes, a mão na boca e fico em silêncio. Já falei uma vez, mas não repetirei, ou mesmo duas vezes, porém não insistirei.” O Senhor tornou a dirigir-se a Job, do meio do redemoinho: “Levanta-te, então, como um homem, deixa-me fazer-te uma pergunta e dá-me uma resposta. Irás desacreditar a minha justiça e condenar-me, de forma a poderes dizer que és justo? Serás tu tão forte como Deus e poderás dar voz ao trovão como ele? Pois então, veste os teus trajes de honra; reveste-te de honra e de esplendor! Dá livre curso à tua ira e que ela se derrame sobre os altivos. Humilha os orgulhosos, só com um olhar teu; derruba os ímpios, onde quer que tentem estabelecer-se. Lança-os no pó do chão, com os rostos virados para a morte. Se puderes fazer tais coisas, então estarei de acordo contigo, em como a tua força te poderá salvar. Olha só para aquele monstro, o beemot! Criei-o como a ti e come apenas erva como um boi! Repara nos seus fortíssimos lombos e nos músculos do seu ventre. A sua cauda é tão forte como um cedro; tem os tendões das coxas entretecidos. As vértebras parecem-se com tubos de bronze; as costelas são como barras de ferro. É um animal imponente, entre toda a criação; Deus o mantém em respeito com a sua espada. As montanhas oferecem-lhe o melhor que têm para ele comer, enquanto os outros animais selvagens folgam. Deita-se debaixo dos lótus, escondido nos canaviais, junto aos pântanos. Os lótus cobrem-no com sua sombra e os salgueiros do ribeiro cercam-no. Não fica incomodado com a força das correntes dos grandes rios, nem mesmo quando se trata do Jordão, na altura das grandes cheias. Ninguém é capaz de o caçar, à sua vista, nem de lhe pôr uma argola no nariz e de o levar para outro lado. Poderias pescar o monstro marinho com linha e anzol ou atar-lhe a língua com uma corda? Serias capaz de o prender com uma corda no nariz, ou furar-lhe as queixadas com uma escápula? Porventura iria pedir-te que desistisses das tuas intenções e tentar brandamente fazer-te mudar de ideias? Aceitaria, alguma vez, que fizesses dele teu escravo para toda a vida? Farias dele um animalzinho domesticado, como um passarinho que se cria numa gaiola, que darias às tuas filhinhas para brincar? Os teus companheiros de pesca vendê-lo-iam aos comerciantes na lota? A sua pele, poderia ela ser furada por ganchos, ou a cabeça presa por arpões? Se lhe pusesses as mãos em cima, durante muito tempo haverias de te lembrar da luta e nunca mais o farias outra vez! Não! É absolutamente inútil tentar capturá-lo! Até só o pensar nisso aterroriza! Não há ninguém tão ousado, que se atreva a provocá-lo e muito menos a conquistá-lo; se ninguém lhe resiste, quem poderia erguer-se contra mim? Nada recebi de ninguém; tudo o que existe debaixo dos céus é meu. Não deixarei de fazer referência à tremenda força dos seus membros, nem da sua grande força, nem de seu belo porte. Quem poderia penetrar a sua pele, ou quem ousaria ficar ao alcance das suas goelas? Quem jamais lhe abriu o focinho, guarnecido como está de dentes terríveis? As escamas que possui, sobrepostas como escudo, são o seu orgulho; são como uma proteção compacta, de tal forma que nem o ar passa entre elas, e assim é impossível separá-las. Quando ele espirra, a luz brilha; os seus olhos são como as pálpebras da alva. Da sua boca saem chamas, saltam dela fagulhas de fogo que estalam. O fumo brota das suas narinas, até parece uma panela a ferver com água, ou uma caldeira aquecida. A sua respiração bastaria para acender carvões; jorram-lhe chamas da boca. A força enorme que tem no pescoço lança o terror por onde passa. Tem uns músculos duros e firmes; não se encontra nele carne flácida. O seu coração é duro como uma rocha, é como uma mó de moinho. Quando se ergue, até os mais valentes têm medo e ficam paralisados de terror. Não há espada que o detenha, nem qualquer outra arma, seja lança, dardo ou flecha. Ferro, para ele, é como palha e o bronze como madeira podre. Setas não o fariam fugir; pedras de fundas valem contra ele tanto como estolho. Uma tranca, que lhe seja atirada, é perfeitamente inútil; fica-se a rir das lanças projetadas na sua direção. O ventre, tem-no revestido de escamas; espoja-se no chão duro como sobre relva! Quando se desloca, deixa atrás de si um rasto de espuma; agita violentamente os abismos dos oceanos. Deixa atrás de si um sulco brilhante; poderia pensar-se que o mar gelou! Não há nada mais tremendo, sobre a face da Terra, que se lhe possa comparar. De todos os animais, é o mais altivo; é o rei sobre todos os arrogantes.” Então Job respondeu ao Senhor: “Sei bem que podes todas as coisas e que nenhum dos teus propósitos pode ser frustrado. Perguntaste quem foi que tão loucamente desacreditou a tua providência. Fui eu; falei de coisas que ignorava, de que nada sabia; coisas demasiado maravilhosas para a minha compreensão. Tu dizes: ‘Ouve e falarei! Deixa-me pôr-te umas quantas questões; vê depois se podes responder!’ Mas eu quero dizer-te o seguinte: Antes, ouvi falar a teu respeito, mas agora vi-te com os meus próprios olhos! Por isso, me detesto e me arrependo; ponho-me sobre o pó e a cinza.” Depois do Senhor ter falado com Job, disse a Elifaz, o temanita: “Estou irado contigo e com os teus amigos, porque não foram justos no que disseram a meu respeito, ao contrário do meu servo Job, que falou retamente. Agora peguem em sete novilhos e sete carneiros, vão ter com o meu servo Job e ofereçam holocaustos por vocês. Ele orará a vosso favor e eu aceitarei essa oração; não vos destruirei, como deveria, por causa do vosso pecado, da vossa falha em dizer coisas retas como o meu servo Job.” Assim, Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, fizeram conforme o que o Senhor lhes mandara e o Senhor aceitou a intercessão de Job a favor deles. Quando Job orou pelos seus amigos, o Senhor restaurou-lhe os bens e a felicidade. Com efeito, o Senhor tornou a dar-lhe a dobrar tudo o que dantes possuía. Então todos os seus irmãos, irmãs e antigos amigos vieram ter com ele, para o confortar e consolar, e festejaram juntos, na sua casa, o bem-estar recuperado; isso o compensou de todas as tristezas e provas pelas quais o Senhor o tinha feito passar. Cada um trouxe-lhe um presente em dinheiro e um anel de ouro. Desta forma, o Senhor abençoou Job, no fim da sua vida, mais do que no princípio. Porque passou a ter 14 000 ovelhas, 6000 camelos, 1000 juntas de bois e 1000 jumentas. Deus deu-lhe igualmente outros sete filhos e três filhas. Estas últimas chamavam-se Jemima, Quezia e Queren-Hapuc. Em toda a Terra não houve raparigas tão encantadoras como estas filhas de Job. Seu pai fê-las herdar em igualdade de direitos com os seus irmãos. Depois disto, Job viveu mais 140 anos, o suficiente para poder ver os netos e ainda os bisnetos. Por fim, faleceu muito velho, tendo vivido uma vida longa e boa. Feliz é aquele que não segue o conselho dos ímpios, que não vai pelo caminho dos pecadores, nem se senta na companhia dos escarnecedores. Antes tem prazer em fazer o que o Senhor ensina, meditando dia e noite na sua Lei. É como a árvore plantada junto a cursos de água, que dá fruto na época própria, e cujas folhas não murcham. Tudo o que ele fizer prospera. Mas não são assim os ímpios! São antes como a palha que o vento leva. Por isso, não resistirão, quando vier o julgamento de Deus, não poderão permanecer no ajuntamento dos justos. Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à perdição. Porque se revoltam os povos? Porque elaboram eles planos vãos? Os reis da Terra reúnem-se com os chefes, para conspirarem contra o Senhor e contra o seu Messias! “Quebremos as suas correntes”, dizem, “deixemos de ser escravos de Deus!” Aquele que se senta no trono no céu simplesmente se ri; o Senhor diverte-se com os seus mesquinhos planos. Então lhes falará com cólera, a sua severidade os espantará: “Este é o Rei da minha escolha, coroado por mim no meu santo monte Sião.” E o seu escolhido responde: “Vou revelar os propósitos de Deus, porque o Senhor me disse: ‘Tu és meu Filho, hoje tornei-me teu Pai. Basta pedires e eu te darei todas as nações do mundo. Tu as governarás com uma vara de ferro e as despedaçarás como louça de barro!’ ” Sendo assim, que os reis compreendam isto; que todos os líderes dos povos se deixem corrigir. Sirvam o Senhor com temor reverente; alegrem-se com tremor. Honrem o filho, antes que a sua cólera se acenda e morram. Porque a sua cólera não leva tempo a inflamar-se. Como são felizes todos os que se refugiam nele! Senhor, são muitos os que estão contra mim! São muitos os que procuram fazer-me mal! Muitos dizem que Deus nunca me salvará. Mas tu, Senhor, és o meu escudo protetor, a minha glória, a minha única esperança. Só tu podes erguer a minha cabeça. Chamei o Senhor e ele ouviu-me da sua santa habitação. Então deitei-me, dormi em paz e acordei em segurança, porque o Senhor estava a vigiar sobre mim. Ainda que dez mil adversários se levantem de todos os lados, e me cerquem, não terei medo. “Levanta-te, Senhor! Salva-me, meu Deus!” Pois tu feres todos os meus inimigos e aos maus partes os dentes. A salvação vem de ti, Senhor; a tua bênção está sobre o teu povo! Ouve-me quando eu te chamar, ó Deus, que defendes o meu direito. Sempre cuidas de mim, quando estou em aflição. Por isso, tem piedade de mim agora, e ouve a minha oração. Homens, até quando cobrirão de vergonha a minha glória? Até quando continuarão a deixar-se iludir por aquilo que é vazio de sentido e correrão atrás do que é falsidade? O Senhor já separou para si os redimidos; ele responderá quando eu o chamar. Não pequem, deixando que a ira vos domine. Meditem seriamente e em silêncio, na intimidade da vossa cama. Ofereçam a Deus sacrifícios justos e confiem no Senhor. Há muitos que perguntam: Quem nos dará a felicidade? Mas tu, Senhor, responde-lhes, fazendo brilhar sobre nós a luz do teu rosto. Sim, a alegria que puseste no meu coração é muito maior do que a alegria dos que têm trigo e vinho em abundância, quando se deleitam diante de abundantes colheitas. Eu me deitarei em paz e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes viver em segurança. Senhor, ouve as palavras da minha oração. Escuta a minha súplica, meu Rei e meu Deus, pois é só a ti que me dirijo. De manhã ouvirás a voz da minha oração, Senhor; cada manhã me apresento na tua presença e espero a tua resposta. Porque eu sei, ó Deus, que não podes tolerar a maldade, nem o pecado pode existir diante de ti. Os pecadores orgulhosos não poderão resistir ao teu olhar penetrante, pois aborreces todos os que praticam obras más. Destruirás os que dizem mentiras; detestas os que fazem derramar sangue inocente e os que enganam o seu semelhante. Quanto a mim, poderei entrar na tua casa, devido ao teu grande amor e ao teu perdão. Inclinar-me-ei diante de ti com profundo respeito. Senhor, guia-me na tua justiça, por causa dos meus inimigos. Indica-me com clareza o caminho que devo seguir. Na sua boca não se encontra uma só palavra verdadeira; o seu íntimo está cheio de maldade. A sua garganta é um sepulcro aberto, a sua língua lisonja. Declara-os culpados, ó Deus. Que os seus projetos sejam as armadilhas onde eles mesmos são apanhados! Que sejam expulsos para longe de ti, em virtude da multidão das suas transgressões, pois é contra ti que se revoltam! Mas que se alegrem todos os que se refugiam em ti! Que cantem de alegria, para sempre, porque tu os defendes! Que se sintam felizes os que amam o teu nome! Pois tu, Senhor, abençoarás aquele que é justo; tu o proteges com o escudo do teu amor. Não, Senhor, não me castigues com cólera; não me corrijas com severidade. Tem piedade de mim, Senhor, porque estou enfraquecido. Cura-me porque o meu corpo está doente. O meu espírito está confuso e perturbado; até quando, Senhor, esperarei por ti? Vem libertar a minha alma e salva-me na tua bondade. Depois de morto ninguém pode lembrar-se de ti; no mundo dos mortos quem te louvará? Já estou cansado de gemer; molho a almofada com as lágrimas que derramo de noite. A minha vista está cansada e turva de tanta tristeza, por causa dos que me querem mal. Afastem-se de mim, todos os que praticam a maldade, porque o Senhor já ouviu o meu lamento. Ele já ouviu a minha súplica; o Senhor atendeu à minha oração. Num momento, todos os meus adversários recuarão, cobertos de vergonha e desanimados. Senhor, meu Deus, em ti me refugio; salva-me de todos os que me perseguem e livra-me. Não permitas que se lancem sobre mim como leões, despedaçando-me, sem que ninguém possa livrar-me. Seria diferente, Senhor meu Deus, se eu estivesse a fazer coisas más. Se estivesse a pagar com maldade a quem me faz bem, ou a atacar injustamente aqueles de quem não gosto. Então compreenderia que deixasses os meus inimigos perseguir-me, esmagando-me no chão, pisando a minha vida no pó da terra! Mas, Senhor, levanta-te com cólera, contra a fúria dos que me oprimem! Vigia, para aplicares a meu favor a justiça que ordenaste! Reúne os povos diante de ti; senta-te no alto, no teu trono, julgando os seus pecados. A mim, justifica-me publicamente, tornando clara a minha honestidade e inocência. Põe fim a toda a maldade dos ímpios, e abençoa todos os que são verdadeiramente justos. Pois tu, Deus justo, investigas bem fundo o coração dos homens e examinas todas as suas intenções e pensamentos. Deus é o meu escudo; ele salva aqueles que têm um coração íntegro. Deus é um juiz perfeitamente justo; os seus severos avisos repetem-se, dia após dia. Se o homem não se arrepender, afiará a sua espada; o seu arco está já retesado e apontado, pronto a disparar. Ele o armou com flechas mortais e inflamadas. O homem mau concebe uma perversa combinação; faz nascer aflições e produz mentiras. Contudo, virá a cair na funda cova que ele próprio fez, como armadilha. As obras más e a violência que planeou para os outros recairão sobre si mesmo. Eu estou tão grato ao Senhor, porque ele é justo! Cantarei louvores ao Senhor, porque o seu nome está acima de tudo e de todos! Ó Senhor, nosso Deus, como é admirável a grandeza que o teu nome tem sobre toda a Terra! Estabeleceste o teu esplendor acima dos céus. Da boca dos pequenos e das criancinhas de peito, levantaste uma fortaleza, por causa dos teus inimigos, para fazer calar todo aquele que se opõe a ti. Quando de noite contemplo os céus e vejo a obra dos teus dedos, a Lua e as estrelas que fizeste, pergunto: Que é o homem, para que te preocupes com ele? E quem é o filho do homem, para que te lembres dele? Apesar disso, fizeste-o um pouco menor do que Deus, e coroaste-o de honra e glória. Deste-lhe domínio sobre aquilo que criaste. Puseste tudo sob os seus pés: ovelhas, bois, animais selvagens; pássaros, peixes e tudo o que tem vida nos mares. Ó Senhor, nosso Deus, como é admirável a grandeza que o teu nome tem sobre toda a Terra! Ó Senhor, eu te louvarei de todo o meu coração; quero contar todas as tuas maravilhas. Tu me enches de alegria; por tua causa estou cheio de júbilo, ó Altíssimo. Os meus inimigos recuaram, caíram e morreram na tua presença porque tu me defendeste e me apoiaste. Sentado no tribunal, como justo juiz, sempre me julgas com toda a justiça. Repreendeste as nações e destruíste os maus; nunca mais haverá lembrança deles. Os meus adversários estão condenados para sempre; destruíste as suas cidades e elas ficaram esquecidas. Quanto ao Senhor, ele vive para sempre; o seu tribunal está já preparado para julgar. Ele mesmo julgará o mundo com justiça e as nações com toda a retidão. Todos os oprimidos encontrarão nele refúgio; um refúgio perfeito em tempos de angústia. Em ti confiarão todos os que conhecem a força do teu nome; pois tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam. Cantem louvores ao Senhor que está entronizado em Sião; contem a toda a gente tudo o que ele tem feito. Aquele que sabe vingar o sangue derramado lembra-se certamente de todos os que a ele clamam por justiça; não se esquece do clamor dos que estão aflitos. Tem misericórdia de mim, Senhor; vê como sofro nas mãos daqueles que me odeiam. Tu podes arrebatar-me das portas da morte. Salva-me, para que possa louvar-te dentro das portas de Sião e me alegre por me teres salvo. Os povos caíram nas covas que eles mesmos abriram, para que outros nelas ficassem cativos; ficaram presos nas armadilhas que prepararam. Toda a gente sabe como o Senhor manifesta a sua justiça, apanhando os ímpios nas suas próprias ciladas. Os maus serão lançados no mundo dos mortos, assim como todos os que se esquecem de Deus. Os necessitados, porém, jamais serão esquecidos, nem as esperanças dos pobres serão, de forma alguma, iludidas. Levanta-te, Senhor, que o homem não seja vencedor! Que os povos sejam julgados na tua presença! Farás com que tremam, Senhor, para que saibam que, afinal, não passam de meros seres humanos. Senhor, porque te manténs distante? Porque te escondes quando estou angustiado? Que essa gente perversa, que no seu orgulho e maldade persegue furiosamente o pobre, seja apanhada nas ciladas que preparou para os outros! Pois ainda se gabam de obter tudo o que pretendem; louvam os que fazem do dinheiro um ídolo, e ainda insultam o Senhor. Por causa do seu orgulho, essa gente perversa não quer pensar; não se lembra sequer de procurar a Deus. Tudo o que sabem dizer é que não há Deus, que está morto. São até bem sucedidos no que fazem, não dão importância aos teus juízos; quanto aos seus adversários, ele faz pouco caso. Dizem no seu íntimo: “Ninguém me derrubará. Nunca me verei em dificuldades.” A sua boca está cheia de maldição, engano e opressão; têm sempre, debaixo da língua, malícia e maldade. Põem-se à espreita na vizinhança dos povoados, e em lugares escondidos, para assassinarem os inocentes. Como leões, nos seus esconderijos, preparam-se para cair inesperadamente sobre os pobres, e como caçadores para roubar os infelizes que são apanhados nas suas redes. Preparam-se habilmente para saltar sobre as suas vítimas, que subjugam com a sua força. E dizem para si mesmos: “Deus não vê!” Ou então: “Deus nunca virá a saber disso!” Levanta-te, Senhor! Ó Deus, ergue a tua mão para os castigares. Não te esqueças dos que estão em necessidade. Porque há de insultar-te o mau, dizendo que nunca lhe pedirás contas? Senhor, tu vês o que eles andam a fazer; tomas nota de todas as suas más ações. Por toda a tristeza e aflição que têm causado, os castigarás; o pobre entrega-se aos teus cuidados, és o auxílio do desamparado. Quebra o braço dos perversos; persegue-os até que desapareça a sua maldade, sem que nada reste. O Senhor é Rei para todo o sempre; da sua terra serão varridos os povos pagãos. Senhor, deste ouvidos ao desejo dos que querem a paz; confortarás os seus corações. Os teus ouvidos estarão sempre abertos para eles. Fazes justiça aos desamparados e oprimidos, a fim de que os habitantes da Terra não continuem a espalhar o terror. No Senhor me refugio! Sendo assim, como são capazes de me dizer: “Foge como um pássaro para o cimo da montanha, para que encontres segurança?” Porque os maus já retesaram os seus arcos, puseram as flechas na corda, para atirarem contra todos os que têm um coração íntegro. Na realidade, os alicerces da lei e da ordem estão desfeitos, que pode fazer o justo? O Senhor ainda está presente no seu santo templo; ele ainda está a governar lá dos céus, donde vigia atentamente todos os povos. Se por um lado põe à prova a vida do justo, por outro, aborrece o mau e os que amam a violência. O Senhor fará chover fogo e enxofre sobre os maus; um vento tempestuoso os queimará. Porque o Senhor é justo e ama a justiça. Os retos verão o seu rosto. Socorre-nos, Senhor! Porque os homens piedosos estão a desaparecer! São poucos os que te são fiéis, entre os humanos. Cada um procura enganar o seu próximo; são lisonjeiros e falam sem sinceridade. O Senhor castigará os que falam com adulação e altivamente; os que dizem: “Continuarei a falar como me apetecer. A boca é minha. Quem pode governar sobre nós?” E o Senhor responde: “Eu me levantarei para defender os pobres da opressão, para fazer calar os gemidos dos infelizes. Darei salvação aos que suspiram por ela.” A palavra do Senhor é pura; é tão verdadeira como a prata refinada no forno sete vezes. Tu guardarás para sempre os que são teus, Senhor, fora do alcance e da influência desta geração maligna. Gente perversa aparece por toda a parte; as pessoas depravadas chegam a ser mais admiradas e louvadas. Até quando te esquecerás de mim, Senhor? Será para sempre? Até quando esconderás de mim o teu rosto? Até quando estarei metido comigo mesmo, acumulando tristeza no meu coração? Até quando é que o meu inimigo continuará a ter vantagens sobre mim? Repara na minha situação e responde-me, Senhor, meu Deus; dá-me a tua luz, para que não morra nas trevas. E para que o meu adversário não diga: “Já o tenho na mão!” E para que os que me querem mal não possam alegrar-se por eu ter caído. Eu confio na tua misericórdia; o meu coração se alegra na tua salvação. Hei de cantar ao Senhor, porque tem sido muito o bem que me tem feito. Diz o louco para consigo mesmo: “Deus não existe.” Todos se têm corrompido e degenerado. Não há ninguém que faça o bem. O Senhor olha desde os céus sobre toda a humanidade, para ver se existe alguém que saiba conduzir-se com sabedoria e busque Deus. Todos se desviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, absolutamente ninguém! Serão assim tão ignorantes, esses malfeitores, que devoram o meu povo como se comessem pão? Recusam-se a chamar pelo Senhor. O terror dominará as suas vidas, porque Deus está presente a favor dos justos. Vocês desprezam o direito dos pobres, mas o Senhor é o seu refúgio. Que bom seria se já tivesse vindo de Sião a salvação do povo de Deus! Que alegria será quando o Senhor libertar os presos! Senhor, quem pode achar refúgio no teu tabernáculo e ficar contigo no teu santo monte? Certamente aquele que anda em retidão, que pratica a justiça e que fala verdade. Aquele que não calunia os outros, que respeita o próximo e não dá ouvidos à maledicência. Aquele que sabe censurar quem pratica o pecado, mas que honra os que temem o Senhor; também aquele que cumpre as promessa que faz; ainda que fique prejudicado, nada o fará mudar de ideias. Aquele que ajuda os pobres, sem esperar pesados serviços em recompensa; que recusa receber subornos contra o inocente. Quem assim procede permanecerá firme para sempre. Guarda-me, ó Deus, porque em ti me refugio. Eu disse ao Senhor: “Tu és o meu Senhor, não tenho outra riqueza além de ti.” Quero a companhia do povo santo nesta terra; eles são a verdadeira nobreza. Terão muito a sofrer, todos esses que prestam culto a outros deuses. Quanto a mim, nunca hei de oferecer desses sacrifícios, nem sequer pronunciarei o nome dos seus deuses. O Senhor é a minha herança e a minha recompensa; tu guardas tudo o que me pertence. Faz com que a parte que me toca, nesta vida, seja deliciosa. Sim, ele é como uma herança maravilhosa! Louvarei o Senhor que sempre me tem aconselhado; até durante a noite ele me ensina o que devo fazer. Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; visto que ele está ao meu lado, não serei movido. Portanto, o meu coração está alegre e a minha alma está satisfeita; o meu corpo repousará em segurança. Pois não deixarás a minha alma no mundo dos mortos, nem permitirás que o teu santo conheça a corrupção. Dás-me a conhecer o caminho da vida e as abundantes alegrias que há na tua presença. A vida ao teu lado é um gozo permanente! Senhor, aplica a tua justiça na minha vida; atende à súplica que te dirijo. Dá ouvidos à minha oração, pois é feita com toda a sinceridade. Publica a tua sentença a meu favor; dá-me razão, Senhor. Tu me puseste à prova, até durante a noite me tens examinado, e não tens encontrado nada de falso; estou decidido a não pecar nas minhas palavras. Tenho seguido as tuas palavras; tenho-me guardado de homens cruéis e violentos. Dirige os meus passos nos teus caminhos, para que nunca vacile. Se te chamei, ó Deus, é porque sei que me queres ouvir; escuta-me e dá ouvidos às palavras da minha oração. Mostra-me as maravilhas do teu amor. Tu livras os que em ti se refugiam, daqueles que são teus inimigos e que se revoltam contra ti. Guarda-me como se fosse a menina do teu olho; esconde-me, à sombra das tuas asas, dos homens maus que me oprimem, Defende-me dos perversos que me oprimem, dos que andam à minha volta para me matar. Andam inchados de orgulho; só sabem falar com altivez. Espiam os meus passos, observam-me cuidadosamente, para me lançar ao chão, assim que puderem. São como leões desejosos de se lançar sobre a presa; como leõezinhos que se escondem, esperando a oportunidade. Senhor, levanta-te e fá-los parar; livra a minha alma dessa gente perversa, livra-me pela tua espada. Salva-me desta gente mundana, cujos interesses estão só nos lucros desta vida. Tu enches de bens materiais aqueles que amas, fartas os seus filhos e os filhos dos seus filhos. Pela tua justiça, verei a tua face; quando acordar, ficarei satisfeito com a visão da tua presença! Eu te amo, Senhor, tu que és a minha força. O Senhor é o meu rochedo, o meu lugar forte e o meu libertador. Esconder-me-ei em Deus que é a minha rocha e o meu alto retiro. Ele é o meu escudo, o poder da minha salvação e o meu refúgio. Invocarei o Senhor que é digno de todo o louvor; salvar-me-á de todos os meus adversários. Cercaram-me laços de morte; torrentes de maldade desabaram sobre mim. Fui ligado e atado por laços do mundo dos mortos e por ciladas da morte. Clamei pelo Senhor, meu Deus, na minha tribulação, e ele ouviu-me desde o seu templo; o meu clamor chegou aos seus ouvidos. Então a Terra foi abalada e tremeu; os fundamentos das montanhas abalaram-se, por causa da sua ira. Saiu fumo do seu rosto, da sua boca um fogo devorador que tudo consumia, e punha as brasas a arder. Fez baixar os céus e desceu, andando sobre espessas nuvens. Voou sobre um querubim, sobre as asas do vento. As trevas rodearam-no, espessas nuvens o circundaram. O brilho da sua presença resplandeceu, com nuvens, relâmpagos e tempestades de granizo. O Senhor trovejou desde os céus; o Deus supremo fez ecoar a sua voz. Disparou as suas frechas de luz e dispersou os inimigos. Pelo sopro da tua respiração, até o mar se dividiu em dois; viu-se o fundo das águas pela repreensão do Senhor. Desde o alto me livrou, salvou-me de ser levado pelas vagas. Libertou-me do meu poderoso inimigo, daqueles que me odiavam, dos que tinham muito mais força do que eu. Saltaram sobre mim, no dia da calamidade, mas o Senhor foi a minha proteção. Fez-me reaver a liberdade; resgatou-me, porque me amava. O Senhor recompensou-me, conforme a minha retidão, porque tinha as mãos limpas. Guardei os caminhos do Senhor; não me afastei impiamente do meu Deus. Tive sempre presentes as suas leis; não me desviei dos seus estatutos. Fui sempre reto perante ele e fugi do pecado. Por isso, o Senhor atendeu à minha justiça, pois viu que eu estava limpo. Tu és misericordioso para com os misericordiosos; revelas a tua retidão para com os que são retos. Com os puros, mostras-te puro, mas astuto com os perversos. Salvas os que estão aflitos, mas abates os orgulhosos, mas humilhas os que têm olhar altivo. Senhor, meu Deus, tu acendes a minha luz! Transformas em luz a minha escuridão. Pelo teu poder posso esmagar um exército; pela tua força saltarei muralhas. O caminho de Deus é reto. A palavra do Senhor é verdade; é um escudo para os que procuram a sua proteção. Só o Senhor é Deus. Quem é como um rochedo senão o nosso Deus? Deus é quem me fortalece; faz-me andar em perfeita segurança. Faz com que caminhe com passo bem firme, como as gazelas sobre os cumes. Torna-me hábil nos combates, dá-me força capaz de dobrar um arco de bronze; Deste-me o escudo da tua salvação; amparaste-me com a tua mão direita e com a tua bondade me engrandeceste. Fizeste-me andar sobre caminhos planos, onde os meus pés não vacilaram. Persegui os meus inimigos e os alcancei; não desisti sem os derrotar. Persegui-os e destrocei-os, nenhum deles se poderá levantar. Caíram debaixo dos meus pés. Pois deste-me força para a batalha. Fizeste com que subjugasse todos os que se levantaram contra mim. Obrigaste os meus inimigos a retroceder e fugir; destruí todos os que me odiavam. Pediram ajuda, mas ninguém os auxiliou; clamaram ao Senhor, mas recusou ouvi-los. Pisei-os como o pó do chão que se vai com o vento; esmaguei-os e dispersei-os como pó nas ruas. Guardaste-me da rebelião do meu povo; designaste-me para que seja cabeça das nações. Estrangeiros me servirão. Em breve me serão sujeitos, quando ouvirem falar do meu poder. Perderão a altivez e virão a tremer, lá dos seus esconderijos. O Senhor vive! Bendito seja aquele que é a minha rocha! Que seja louvado o Deus da minha salvação! Ele é o Deus que por mim faz vingança, que destrói os que se levantam contra mim. Resgataste-me dos meus adversários. Sim, tu levantaste-me em segurança, acima das suas cabeças. Livraste-me da violência. Por isso, Senhor, dar-te-ei graças entre as nações, e cantarei louvores ao teu nome. Ele deu uma maravilhosa salvação ao seu rei; manifestou misericórdia ao seu ungido, a David e à sua família, para sempre. Os céus expressam a glória de Deus e o firmamento demonstra a obra das suas mãos. Cada dia transmite mensagem ao dia seguinte e cada noite compartilha conhecimento a outra noite. Não pronunciam discursos, nem palavras, nem fazem ouvir a sua voz. Contudo a sua mensagem vai por toda a Terra, até às suas extremidades; o Sol mora nos céus, que Deus fez como uma tenda para ele. Atravessa o firmamento, levantando-se, radiante como um noivo para o casamento, jubiloso como um atleta, preparando-se para a competição. Atravessa o céu de ponta a ponta e nada se pode furtar ao seu calor. A Lei do Senhor é perfeita e consola a alma. Os mandamentos do Senhor merecem toda a confiança e dão sabedoria às pessoas simples. Os regulamentos do Senhor são justos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é límpido e esclarece a mente. O temor ao Senhor conduz a uma vida reta e permanece para sempre; o Senhor julga sempre de forma justa e perfeita. As suas leis são mais desejáveis do que o ouro e mais agradáveis do que o mel gotejando dum favo. Pois previnem os teus servos contra o mal; são bem recompensados aqueles que as guardam. Ninguém sabe ajuizar os seus próprios erros; limpa-me das falhas de que eu próprio não me dou conta. Livra-me de cometer erros intencionalmente; que eu saiba parar de praticá-los. Só assim ficarei sem culpa e limpo de uma grande falta. Que as minhas palavras te sejam agradáveis, assim como os pensamentos do meu coração, Senhor, minha rocha e meu libertador! Que o Senhor te ouça quando estiveres angustiado. Que o nome do Deus de Jacob te proteja. Que te envie o seu socorro, desde a sua santa morada em Sião. Que ele se lembre de todas as tuas ofertas e aceite os teus holocaustos em sua honra. Que te conceda o que deseja o teu coração e cumpra todos os teus planos. Haveremos de nos alegrar com a tua vitória, e em louvor do nome do nosso Deus levantaremos as nossas bandeiras. Assim, o Senhor responda a todos os teus pedidos. Eu sei que o Senhor salva o seu ungido. Ele o ouvirá desde o céu, desde a sua santa casa, e responderá com a força salvadora da sua mão direita. Há quem confie em exércitos e nos seus cavalos, mas nós confiaremos no nome do Senhor, nosso Deus. Outros são batidos e caem vencidos; nós levantamo-nos e ficamos de pé. Dá a vitória ao nosso rei, Senhor, e ouve a nossa oração! O rei alegra-se na tua força, Senhor, e regozija-se enormemente na tua salvação. Porque lhe concedeste o desejo do seu coração e não recusaste atender à súplica que te dirigiu. Na tua bondade, deste-lhe prosperidade; puseste na sua cabeça uma coroa de ouro fino. Pediu-te vida e deste-lha; uma vida prolongada até à eternidade. Foi grandemente honrado com a tua salvação; vestiste-o de esplendor e majestade. Deste-lhe uma felicidade eterna; tu o enches de gozo com a tua presença. Porque o rei confia no Senhor; pela misericórdia do Altíssimo, ele nunca tropeçará. A tua mão, Senhor, alcançará os teus inimigos e todos os que te querem mal. Quando apareceres, serão destruídos como um forno aceso; o fogo da indignação do Senhor os consumirá. Destruirás a sua posteridade de sobre a Terra e os seus filhos desaparecerão de entre a humanidade. Pois tramaram o mal contra ti; pensaram em ardis para te prejudicarem, mas sem a possibilidade de qualquer sucesso. Portanto, os farás dar meia-volta e fugir, quando virem as tuas flechas apontadas contra eles. Senhor, seja grande a tua força e cantaremos e louvaremos o teu poder. Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Porque não escutas o meu gemido e estás longe, sem me salvares? Chamo de dia e não me ouves, meu Deus; de noite é a mesma coisa: não tenho resposta e não consigo sossegar. Porém, tu és santo; os louvores de Israel envolveram o teu trono. Confiaram em ti e tu os livraste. Gritaram por socorro e escaparam; buscaram a tua ajuda e não ficaram dececionados. Mas eu sou verme e não homem; escarnecido pelos homens e desprezado pelo povo. Todos os que me veem fazem troça de mim, encolhem os ombros, abanam a cabeça e dizem: “Confiou nele? Então ele que o livre, já que diz que ele tem prazer nele.” Mas foste tu quem me tirou do ventre de minha mãe e me protegeu desde os primeiros dias no seu seio. Desde o meu nascimento que estou à tua guarda; tens sido sempre o meu Deus. Não me deixes agora, porque a aflição está próxima e não há mais ninguém que possa ajudar-me. Estou cercado de gente má, violenta como touros bravos de Basã. Abriram contra mim as suas bocas, como leões rugindo, quando atacam a presa. A minha vida se desfez como água; todos os meus ossos se desconjuntaram. O meu coração, dentro de mim, derreteu-se como cera. Secou-se-me a força como barro ao Sol; a língua pega-se-me à boca, porque me lançaste no pó da morte. Rodeou-me um bando de malfeitores, como se fossem cães; atravessaram-me as mãos e os pés. Poderia até contar todos os ossos do meu corpo; eles olham para mim, observam-me malignamente. Repartem a minha roupa entre si e tiram à sorte a minha túnica. Mas tu, Senhor, não te afastes de mim; és a minha força, vem socorrer-me depressa. Livra a minha alma das armas de morte; poupa a minha preciosa vida da maldade desses cães. Salva-me da boca do leão; sim, ouve-me quando estiver preso nos chifres de touros selvagens. Então declararei o teu nome perante os meus irmãos; falarei de ti perante a assembleia do povo. Louvem o Senhor, todos os que o temem; honrem-no, todos os que são da descendência de Jacob; tenham-lhe reverência, todos os que descendem de Israel. Porque não ficou indiferente nem se esqueceu da dor daquele que estava aflito; não virou a cara quando eu sofria; quando o chamei, ouviu-me. Eu te louvarei na grande assembleia do povo; cumprirei publicamente os meus votos na presença de todos os que te temem. Os pobres, que vivem aflitos, comerão e ficarão fartos. Todos os que buscam o Senhor o louvarão; o vosso coração viverá para sempre. A Terra inteira se lembrará dele e se voltará para o Senhor. Todos os povos das nações o adorarão, pois o Senhor é Rei e domina sobre as nações. Os grandes da Terra o adorarão; os que na vida só esperam pela morte também se inclinarão perante ti para te adorar. Nossos filhos também o servirão, porque lhes falaremos do Senhor. Gerações que ainda não nasceram ouvirão falar sobre a justiça de Deus; falarão de tudo o que ele fez. O Senhor é o meu Pastor, por isso, nada me faltará. Faz-me descansar em verdes pastagens; guia-me calmamente a ribeiros tranquilos. Dá novas forças à minha alma; conduz-me pelos caminhos da justiça, para que eu honre o seu bom nome. Se andar pelo escuro desfiladeiro da morte, não terei medo, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me amparam. Preparas-me uma mesa maravilhosa, mesmo na presença dos meus inimigos. Unges a minha cabeça com óleo; enches-me de abundantes bênçãos, como uma taça que transborda. Sem dúvida que a tua bondade e a tua misericórdia me hão de acompanhar todos os dias da minha vida. Habitarei na tua casa para sempre. A Terra e tudo o que nela há pertence ao Senhor! Todo o mundo é dele, assim como os seus habitantes! Foi ele quem a fez surgir do fundo dos mares e a torna estável no meio das águas. Quem pode subir até ao monte do Senhor? Quem pode estar no lugar santo onde ele mora? Somente aquele cujas mãos estão limpas de maldade e cujo coração é puro, que não pratica a mentira nem a desonestidade. Ele receberá a bênção do Senhor; terá como recompensa a própria justiça de Deus, o seu Salvador. Esse é o que te busca; o que anseia pela tua face, ó Deus de Jacob. Abram-se, ó portas, abram-se de par em par, ó entradas eternas, e passará o Rei da glória. E quem é esse Rei da glória? É o Senhor, forte e poderoso, invencível na batalha. Abram-se, ó portas, abram-se de par em par, ó entradas eternas, e passará o Rei da glória. Quem é este Rei da glória? O Senhor dos exércitos! Ele é o Rei da glória! A ti, Senhor, se dirige a minha alma. Meu Deus, eu confio em ti, não me deixes ficar mal na frente dos meus inimigos; não permitas que eles triunfem sobre mim. Na realidade, os que têm esperança em ti nunca ficarão envergonhados; envergonhados ficarão, sim, aqueles que defraudam traiçoeiramente os outros. Ensina-me a andar nos teus caminhos, Senhor; dá-me a conhecer a direção exata dos teus caminhos. Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois és o Deus da minha salvação; só tu és a minha esperança, Senhor. Lembra-te da tua misericórdia, da grande bondade que sempre tens demonstrado. Não te lembres dos pecados da minha mocidade; perdoa as minhas transgressões. Olha para mim segundo a tua compaixão e de acordo com o teu amor. Bom e justo é o Senhor; por isso ele ensinará o seu caminho aos pecadores. Guiará na sua justiça os humildes e lhes ensinará por onde devem seguir. Os caminhos do Senhor são amor e verdade, para os que guardarem a sua aliança e preceitos. Por amor do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniquidade, que é grande! Quem diz temer o Senhor, venha, para que lhe ensine o melhor caminho da vida. A sua alma gozará do bem e os seus descendentes possuirão a terra. Os que temem o Senhor terão o privilégio de entrar na sua intimidade; ele lhes dará a conhecer a sua aliança. Os meus olhos estão continuamente postos no Senhor; só ele pode livrar os meus pés das ciladas que me armam. Olha para mim e tem piedade de mim, porque me sinto só e acabrunhado. As ânsias do meu coração têm-se multiplicado; tira-me dos apertos em que me vejo. Vê a minha aflição e a minha dor e perdoa os meus pecados. Olha quantos inimigos eu tenho; como se vão multiplicando e me odeiam cruelmente. Guarda a minha alma e livra-me deles; não me deixes ficar mal, porque em ti me refugio. Que a sinceridade e a retidão me guardem na vida; tu és a minha esperança. Livra Israel, ó Deus, de todas as suas aflições! Senhor, faz-me justiça, pois tenho andado com integridade. Sempre tenho confiado em ti, por isso, não hesitarei nem recuarei. Examina-me, Senhor, e confirma que é assim mesmo; observa bem o meu íntimo, os meus sentimentos. Porque penso muito na tua bondade; a tua verdade é a lei da minha vida. Não convivo com gente falsa nem hipócrita. Detesto ajuntamentos de malfeitores; não me chego aos que te desprezam. Lavo as mãos em sinal da minha inocência e para poder prestar-te culto diante do teu altar. Para poder cantar-te publicamente louvores, contando, assim, as tuas maravilhas. Senhor, eu amo a tua morada e o lugar em que está a tua gloriosa habitação. Não deixes nunca que eu fique em igualdade de circunstâncias com os pecadores. Não deixes que a minha vida fique associada à conduta de homens sanguinários, Nas suas mãos só há assassínios; nada fazem sem subornos. Quanto a mim, procuro andar em integridade; livra-me e tem compaixão de mim. Os meus pés andam num caminho plano. Louvarei o Senhor publicamente. O Senhor é a minha luz e a minha salvação. Quem temerei? O Senhor é a força da minha vida. De quem terei receio? Quando os malvados, meus adversários, se lançaram contra mim, para comerem a minha carne, tropeçaram e caíram. Ainda que um exército inteiro me cerque, o meu coração não terá medo; ainda que me declarem uma guerra mortal, eu confio em Deus. Uma coisa, sobretudo, desejo que o Senhor me faça; é aquilo que mais procuro: poder morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para poder apreciar as suas maravilhas e meditar na sua perfeição. Quando as lutas vierem, esconder-me-ei nesse lugar santo; ele há de manter-me em segurança, como sobre uma rocha alta. A minha cabeça estará fora do alcance dos meus inimigos. Então oferecerei ao Senhor alegres sacrifícios; cantarei-lhe-ei louvores. Ouve a minha voz, quando te chamo, Senhor; tem piedade de mim e socorre-me. Quando disseste: “Procurem a minha presença!” O meu coração logo te respondeu: “A tua presença, Senhor, buscarei!” Não escondas então de mim a tua face; não me rejeites, por causa da tua severidade. Tens sido sempre a minha ajuda; não me deixes nem me desampares, ó Deus da minha salvação. Se o meu próprio pai ou a minha mãe me abandonassem, tu, Senhor, me recolherias. Ensina-me a andar no teu caminho e guia-me pela vereda direita, por causa de todos os que andam a espiar-me. Não me entregues à vontade dos meus adversários. Levantam falsos testemunhos contra mim, todos eles respiram crueldade para com os outros. Estou certo que verei a bondade do Senhor na terra dos vivos! Não te impacientes, anima-te! Espera no Senhor e ele dará força ao teu coração. Peço-te que me socorras, Senhor, pois és o rochedo da minha segurança. Não fiques mudo para comigo, mas responde-me, se não, sou capaz de desesperar, de ficar como os que descem ao abismo da morte. Ouve a voz das minhas súplicas quando te invoco e levanto as mãos para o teu lugar santíssimo. Não me castigues juntamente com os pecadores, que estão sempre a falar de paz com os seus amigos, mas têm os corações cheios de maldade. Castiga-os segundo merecem as suas obras, de acordo com a sua malícia; recompensa-os segundo as obras das suas mãos, por todo o mal que praticam. São gente que não se interessa pelo Senhor, nem pelo que tem feito e criado. Por isso, Deus os derrubará; como casas que foram destruídas, nunca serão reerguidos. Louvado seja o Senhor, porque ouviu a voz das minhas súplicas. Ele é a minha força, o meu escudo contra todo o perigo; o meu coração confiou nele e fui socorrido. Por isso, salto de alegria; louvarei o Senhor com o meu canto. O Senhor é a força do seu povo, a força de salvação do seu ungido. Salva o teu povo e abençoa os que te pertencem; apascenta-os como um pastor e guia-os para sempre. Louvem o Senhor, ó anjos; louvem-no pela sua glória e força! Louvem-no pela grandeza da glória do seu nome; venham adorá-lo revestidos de santidade! A voz do Senhor ouve-se sobre as nuvens; o Deus da glória troveja nos céus. O Senhor ecoa sobre a vastidão dos mares. A voz do Senhor é poderosa e cheia de majestade. A voz do Senhor derruba os cedros e racha os cedros do Líbano. Sacode os montes do Líbano e de Siriom, que saltam como bezerros. A voz do Senhor troveja no relâmpago. A voz do Senhor faz tremer o deserto; sacode o deserto de Cades. A voz do Senhor apressa as gazelas, que estão para ter os filhos, e deixa nuas as florestas. No seu templo todos cantam: “Glória!” No dilúvio, o Senhor mostrou o seu poder; ele domina sobre tudo e todos, para sempre. O Senhor dará força ao seu povo; ele o abençoará com a paz. Eu te louvarei, Senhor, porque me levantaste e não deixaste que os meus inimigos triunfassem sobre mim. Senhor, meu Deus, eu chamei por ti e tu deste de novo saúde à minha vida. Tiraste-me da beira do mundo dos mortos; não deixaste que descesse ao abismo da morte. Cantem ao Senhor, todos os seus santos, para que seja sempre lembrada a sua santidade. A sua cólera dura só um momento, mas sua boa vontade dura a vida inteira. Posso chorar uma noite inteira, mas sei que pela manhã virá a alegria. Quando me encontrava bem e me sentia firme dizia: “Isto está seguro; nada me perturbará.” Tu, Senhor, fizeste-me o favor de me tornar forte como uma montanha. Mas viraste o rosto e eu fiquei sem coragem. Chamei por ti, Senhor, e supliquei-te dizendo: “Que ganharás, se eu descer à cova? Como poderei louvar-te se estiver desfeito em pó? Poderei anunciar a tua verdade aos outros? Ouve-me então, Senhor, tem piedade de mim e socorre-me!” Então ele mudou o meu choro em dança alegre. Arrancou-me a roupa da tristeza e fez-me vestir de alegria. Agora posso cantar-lhe louvores, em vez de jazer em silêncio. Senhor, meu Deus, eu te cantarei para sempre! Só em ti, Senhor, me refugio; jamais me deixes ficar mal perante os meus inimigos. Livra-me porque és justo. Responde-me depressa; inclina-te para ouvires a minha súplica. Sê para mim como um rochedo bem firme, como uma casa onde esteja em perfeita segurança. Sim, com efeito tu és o meu rochedo, o lugar forte onde me abrigo. Por isso, te peço, por causa do prestígio do teu nome, que me guies e me protejas. Tira-me da rede que os meus inimigos armaram para me apanhar; só tu és a minha fortaleza. Entrego o meu espírito nas tuas mãos; tu, que guardas as promessas que fazes, me livraste, ó Senhor. Aborreço aqueles que se entregam ao culto de deuses falsos; eu, quanto a mim, confio no Senhor. Ficarei radiante de alegria pela tua bondade, pois tiveste em consideração a minha aflição; viste bem como a minha alma estava angustiada. Não me entregaste nas mãos do inimigo, antes me deste perfeita liberdade de movimentos. Tem misericórdia de mim, Senhor, porque me sinto atribulado; os meus olhos já estão vermelhos de tanto choro. A minha alma e o meu corpo estão cansados de tanta tristeza. Vou-me consumindo de abatimento; esgotam-se os meus anos em aflição. Os meus pecados também me têm tirado a força; os meus ossos consomem-se pela vergonha e pela tristeza. Os meus inimigos fizeram até com que os meus próprios vizinhos me desprezassem; fogem de mim quando passo na rua. Para eles sou como morto, como pedaços de louça partida que se deitam fora. Ouvi as mentiras que muitos diziam a meu respeito. Para qualquer lado que olhava, tinha medo, porque todos tramavam contra a minha vida. Mas eu confio em ti, Senhor, e digo: “Tu és o meu Deus!” Todo o tempo da minha vida está nas tuas mãos; livra-me dos que me perseguem. Que o teu favor brilhe novamente sobre o teu servo; que a tua misericórdia me salve! Não me deixes abatido, Senhor, porque tenho chamado por ti. Os pecadores, esses sim, sejam envergonhados e reduzidos ao silêncio do mundo dos mortos. Os seus lábios mentirosos sejam, enfim, emudecidos pois falam com desprezo e arrogância dos que praticam a justiça. Grande é a bondade que tens reservado para com aqueles que te temem! Tu os esconderás na tua presença, abrigados das intrigas dos homens. A esses irás recolhê-los na tua habitação, salvos da maldade das suas línguas. Bendito é o Senhor, porque já me mostrou o seu amor; um amor que nunca falha, maravilhoso, que me protegeu quando a minha cidade estava sob ataque. Falei precipitadamente quando disse: “O Senhor desamparou-me!” Porém, tu sempre ouviste a minha súplica, quando chamei por ti. Amem o Senhor, todos quantos lhe pertencem! O Senhor protege os que lhe são fiéis, mas castiga severamente os soberbos. Vocês que confiam no Senhor, tenham coragem! O Senhor dará força ao vosso coração. Feliz aquele cujas transgressões são perdoadas e cujo pecado é coberto! Feliz é aquele cujo pecado não é tido em conta pelo Senhor e cujo espírito foi limpo de engano! Houve um tempo em que eu me calei; não quis reconhecer o meu pecado. Por causa disso, o meu corpo definhava perante o meu gemido ao longo do dia. Dia e noite a tua mão pesava sobre mim; a minha vida secou como um charco no verão. Até que te confessei os meus pecados e deixei de encobrir a minha maldade. Disse para mim mesmo: “Confessarei ao Senhor as minhas transgressões.” E tudo me perdoaste! Toda a minha culpa desapareceu! Agora posso afirmar que todo aquele que crê deve confessar os seus pecados a ti, Deus, enquanto for possível encontrar-te. Na angústia, mesmo que seja como um grande caudal, não será derrubado. Tu és o lugar em que me escondo. Tu me livras no meio das angústias. Tu me rodeias de alegres cantos de vitória. Diz o Senhor: “Eu te instruirei e ensinarei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não sejas como o cavalo selvagem ou como a mula, que não têm entendimento, que precisam dum freio para serem dominados.” Muitas tristezas têm os maus, mas os que confiam no Senhor são permanentemente rodeados pelo seu amor. Alegrem-se no Senhor! Encham-se de alegria, vocês, os que têm um coração íntegro. Cantem de alegria, vocês que se conduzem com retidão. Alegrem-se, vocês, os justos no Senhor, pois aos retos convém que o louvem! Toquem melodias de louvor com harpa e com lira. Cantem-lhe cantos novos; executem-nos bem e com alegria. Porque a palavra do Senhor é a verdade; tudo o que ele faz é digno de confiança. O Senhor ama a justiça e a retidão; a Terra está cheia de provas do seu amor. Foi pela palavra do Senhor que os céus foram feitos; todos os astros foram criados pelo sopro que saiu da sua boca. Ele reuniu num só lugar as águas dos oceanos, mantendo as profundezas em reservatórios. Que o mundo inteiro e os seus moradores temam o Senhor e lhe tenham reverência! Porque ele falou e tudo se criou; mandou e logo tudo apareceu. O Senhor desfaz os planos das nações; anula as intenções dos povos. Mas o seu plano permanece para sempre; os seus pensamentos em todas as gerações. Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor, cujo povo ele escolheu para si mesmo. O Senhor olha desde os céus e vê toda a humanidade. Da sua morada observa toda a gente. Foi ele quem fez o coração das pessoas e examina de perto tudo o que fazem. Não há exército, por mais bem armado que esteja, que possa garantir a salvação de um chefe de estado. A muita força não livra ninguém. Um cavalo de guerra não pode dar a vitória a um indivíduo, por muito forte que seja. Mas os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam no seu amor. Ele os livrará da morte e os conservará em tempos de escassez. A nossa alma espera pela ajuda do Senhor; ele é o nosso auxílio e protege-nos como um escudo. Não é de admirar que estejamos alegres, pois confiamos no Senhor e na força do seu santo nome. Sim, Senhor, que o teu amor nos rodeie, pois esperamos somente em ti! Louvarei o Senhor em todos os momentos; louvá-lo-ei aconteça o que acontecer. Glorio-me no Senhor por tudo o que me tem feito; todos os humildes se alegrarão com estas coisas. Louvemos juntos o Senhor e falemos da excelência do seu nome. Procurei o Senhor e ele respondeu-me; livrou-me de todos os meus receios. Muitos dirigiram os seus olhos para o Senhor e as suas vidas receberam a luz; nunca mais tiveram que se envergonhar. Também eu, pobre de mim, chamei pelo Senhor; ele ouviu-me e livrou-me do aperto em que estava. O anjo do Senhor põe-se de guarda, para proteger e livrar todos os que o temem. Verifiquem e constatem como o Senhor é bom! Feliz é o homem que faz dele o seu refúgio. Temam o Senhor, vocês que são o seu santo povo; pois os que o temem não têm falta de nada. Até os filhotes dos leões chegam a passar fome, mas os que buscam o Senhor não têm falta de nenhum bem. Meus filhos e filhas, venham ouvir-me e vos ensinarei como temer ao Senhor. Se alguém ama a vida, pretende ter muitos anos para ver o bem. Tenha então cuidado com a língua e guarde-se de proferir mentiras. Afaste-se do mal e pratique o bem; procure a paz e seja constante nesse caminho. Os olhos do Senhor vigiam os que se conduzem com justiça; os seus ouvidos estão atentos quando chamam por ele. O Senhor vira a cara aos que praticam o mal; está disposto a apagar da Terra a lembrança deles. Os que são justos clamam ao Senhor que atende e os livra de todas as suas aflições. O Senhor está perto dos que têm o coração ferido; liberta os que têm o espírito carregado de angústia. Muitas são as aflições que o justo tem na vida, mas o Senhor o livra de todas. Até o seu corpo está guardado por Deus; nenhum dos seus ossos será quebrado. A calamidade atingirá certamente os maus; os que aborrecem os justos serão condenados. O Senhor liberta a alma dos que o servem; nenhum daqueles que nele se refugiam será condenado. Senhor, peço-te que acuses aqueles me acusam; combate os que me combatem. Com a tua armadura e o teu escudo, vem, ajuda-me na batalha. Levanta-te e barra o caminho aos meus perseguidores; Quero ouvir-te declarar: “Eu sou a tua salvação.” Lança a confusão e a vergonha sobre os que procuram matar-me; recuem e sejam derrotados os que me querem mal. Sopra neles como o vento na palha; que o anjo do Senhor os faça fugir. Que o seu caminho se torne escuro e traiçoeiro; que o anjo do Senhor os persiga. Porque sem motivo me prepararam uma armadilha, cavaram um fosso no meu caminho, para me apanhar. Sejam destruídos, inesperadamente, e apanhados na rede que esconderam para mim; presos na armadilha com que queriam liquidar-me. Eu me alegrarei muitíssimo no Senhor e na salvação que me trará. Todo o meu ser louvará o Senhor dizendo: “Quem é como tu que livras o pobre daquele que o oprime, por ser mais forte que ele, o pobre e o necessitado daquele que os rouba?” Levantaram-se contra mim falsas testemunhas; acusaram-me de coisas que nunca tinha ouvido. Pagaram-me com o mal, o bem que lhes fiz; fique como alguém desolado. Contudo, quando estavam doentes, eu ficava triste; o meu espírito sentia-se abatido e eu jejuava. No meu íntimo, fiz muitas orações; mas elas permaneceram sem resposta. Estava em cuidados, como se fosse o meu próprio irmão, o meu melhor amigo, que estivesse às portas da morte; andava abatido e lamentava-me, como se fosse a minha mãe que estivesse a sofrer. Mas quando fiquei em dificuldades, ficaram contentes; reuniram-se para unir forças, sem eu saber; caluniaram-me e não deram descanso à minha vida. Como os ímpios, zombaram de mim, rangendo os dentes de raiva contra mim. Senhor, até quando verás isto, sem fazer nada? Liberta a minha alma dos seus ataques; só tenho uma vida e como leões querem destruí-la. Hei de agradecer-te no ajuntamento do teu povo; louvar-te-ei no meio da multidão. Não se alegrem da minha desgraça os meus inimigos; nem arregalem os olhos os que me odeiam sem motivo. São pessoas que não sabem falar de paz; proferem mentiras contra a vida de pessoas sossegadas e boas. Bradam que me têm visto a fazer o mal: “Vimo-lo com os nossos próprios olhos!”, dizem. Mas tu, Senhor, sabes tudo; não te cales e não me desampares. Levanta-te para julgares este assunto, Senhor, meu Deus; para defenderes a minha causa. Julga-me segundo a tua justiça, Senhor, meu Deus; não deixes que fiquem felizes com as minhas dificuldades. Não os deixes dizer: “Já estamos satisfeitos; conseguimos apanhá-lo!” Que sejam eles, sim, a ficar mal e envergonhados, todos os que se regozijam com as minhas dificuldades. Sejam apanhados na confusão, os que querem subir na vida à minha custa. Mas tenham grandes alegrias os que desejam o meu bem; que nunca deixem de cantar: “Grande é o Senhor! Ele tem prazer em ver prosperar os que o servem.” E assim todo o dia eu te louvarei por causa da tua justiça. O pecado oculta-se profundamente no coração dos maus; para eles não há o temor de Deus. Pelo contrário, pensam que podem viver bem e que não serão apanhados, se esconderem as suas obras más. Tudo o que dizem é com maldade e engano; perderam o entendimento das coisas e nem são já capazes de fazer o bem. Ficam acordados durante a noite, a fim de planearem os seus atos perversos, em vez de planearem a forma de fazerem o bem e de se afastarem do erro. A tua misericórdia, Senhor, chega até aos céus; a tua fidelidade vai mesmo até às nuvens. A tua justiça é sólida como as grandes montanhas; as tuas decisões são tão cheias de sabedoria como profundos são os oceanos. Preocupas-te com a vida dos homens e dos animais. Como é preciosa, ó Deus, a tua misericórdia! Por isso, a humanidade se abriga à sombra das tuas asas. Tu os alimentas com as bênçãos da tua própria casa e os fazes beber dos teus rios de gozo divino. Pois tu és a fonte da vida; a nossa luz vem da tua luz. Derrama o teu amor sobre os que te conhecem, e a tua justiça sobre os que têm um coração íntegro. Não deixes que gente orgulhosa me pise; não consintas que mãos perversas me façam fugir. Esses obreiros da maldade já caíram; caíram e nunca mais se levantarão. Não te irrites por causa dos maus, não tenhas inveja dos que praticam a maldade. Porque em breve serão cortados como a erva; murcharão e ficarão sem vida. Mas tu, confia no Senhor e faz o bem; viverás seguro na Terra e terás o teu alimento garantido. Alegra-te no Senhor e ele te dará o que deseja o teu coração. Entrega ao Senhor tudo o que fizeres; confia nele e ele te ajudará em tudo. Tornará evidente a tua inocência perante toda a gente, tal como a luz do dia que todos veem. A tua justiça brilhará como o Sol em pleno dia. Descansa no Senhor e espera pacientemente pela sua ação. Não te irrites por causa daqueles que vivem a executar só falsidades e que prosperam. Não te indignes e deixa a ira; não te irrites, será só para teu prejuízo. Porque os que fazem o mal serão destruídos; mas os que confiam no Senhor herdarão a Terra. Só mais um pouco de tempo e os maus desaparecerão; quando perguntares por eles, já não existirão. Os mansos herdarão a Terra e gozarão da abundância da paz de Deus. Aquele que despreza Deus pensa o mal dos justos; range os dentes de raiva contra eles. O Senhor se rirá dele, pois sabe que está perto o momento de ser julgado. Os maus armaram-se, com o propósito firme de assassinarem o pobre e o necessitado; de tirarem a vida aos que se conduzem com justiça. Mas as suas espadas atravessarão os seus próprios corações, e os seus arcos serão desfeitos. Vale mais o pouco que tem o homem justo do que toda a fortuna de uma abundância de perversos. A força dos maus será quebrada, mas o Senhor sustém os justos. O Senhor conhece os dias dos que andam na retidão; dar-lhes-á uma recompensa eterna. Não deixará que fiquem prejudicados em tempos de dificuldade; mesmo em tempos de crise e de fome, terão o suficiente. Mas os maus morrerão; os inimigos do Senhor serão como a gordura no fogo; desaparecerão como fumaça. Os ímpios pedem emprestado e ficam a dever; os justos se compadecem e até dão sem recompensa. Aqueles que Deus abençoa herdarão a Terra; mas os que ele amaldiçoar desaparecerão. Os passos dos homens retos são dirigidos pelo Senhor, o qual tem prazer nas suas vidas. Se tropeçarem, não ficarão caídos, porque o Senhor os sustenta com a sua mão. Já fui moço, e agora estou velho, e nunca vi uma pessoa justa abandonada, nem os seus filhos passarem fome. São generosos e emprestam aos que precisam; os seus filhos são felizes. Afasta-te do mal e pratica o bem, e viverás para sempre. Porque o Senhor ama a justiça e nunca abandonará o seu povo; será guardado em segurança para sempre. Os ímpios e os seus descendentes, esses morrerão. Os que seguem a justiça herdarão a Terra e nela habitarão para sempre. A boca dos que seguem a justiça fala com sabedoria, distinguindo o certo do errado. A Lei de Deus está nos seus corações; os seus passos serão sempre firmes. Os maus espiam os que praticam a justiça, procurando acusá-los e matá-los. O Senhor não deixará que caiam nas suas mãos; quando forem julgados, não serão condenados. Espera no Senhor e mantém-te firme no seu caminho. Ele te levantará para te dar a posse da Terra; verás os maus destruídos. Vi realmente os ímpios espalharem-se e multiplicarem-se como certas plantas em clima propício; vi o seu poder crescer e confirmar-se. Mas passado algum tempo tinham deixado de existir; procurei-os, mas não pude encontrá-los. Repara naquele que anda sinceramente com Deus, naquele que pratica o que é reto; para esse, o futuro será feliz, será de paz. Os que transgridem as leis divinas serão destruídos; a sua descendência será liquidada. O Senhor salva os que seguem a sua justiça; ele é o lugar onde me abrigo nos tempos de angústia; O Senhor ajudará e livrará dos perversos todos os que nele buscam refúgio. Senhor, não me castigues na tua severidade, não me repreendas com ira. As tuas setas me têm ferido, a tua mão tem pesado sobre mim. Devido à tua cólera, todo o meu corpo está doente. Não tenho paz e sinto dores contínuas, por causa dos meus pecados. As minhas culpas me submergem inteiramente. São como um fardo demasiado pesado para as minhas forças. As minhas feridas estão inflamadas e cheias de pus, em consequência da minha loucura. Ando encurvado e abatido; os meus dias estão cheios de angústia e lamentos. Os meus lombos ardem-me; todo o meu corpo está doente. Estou doente e quebrantado; gemo de desespero. Senhor, tu conheces as minhas ânsias e ouves o meu lamento. O meu coração bate apressado, faltam-me as forças; até a luz dos olhos me vai faltando. Tanto amigos como vizinhos se afastam de mim, com medo da minha doença. Até a minha família se mantém à distância. Enquanto isto, os meus inimigos procuram matar-me e dizem coisas para me estragar a vida; andam todo o dia a tramar contra mim. Mas eu mantenho-me surdo às suas ameaças; na frente deles sou como um mudo. Não abro a minha boca; nada tenho a replicar. Porque espero em ti, Senhor; tu me ouvirás, Senhor, meu Deus. Eu orei: “Não deixes que os meus inimigos se gabem por minha causa, nem que se alegrem quando escorrego.” Estou à beira de cair; a minha dor acompanha-me constantemente. Confesso os meus pecados; aflijo-me por causa do mal que fiz. Mas os meus inimigos são fortes e perseguem-me; odeiam-me sem que lhes dê razão para isso. Eles pagam-me o bem com o mal e odeiam-me por seguir um caminho reto. Não me deixes, Senhor! Meu Deus, não te afastes de mim! Vem depressa em meu auxílio! Socorre-me, ó Senhor, meu Salvador! Disse para mim mesmo: “Vou estar atento quando abrir a minha boca, principalmente quando estiver rodeado de ímpios.” Mas enquanto estive em silêncio, nada dizendo, mesmo de bem, cresceu o tumulto dentro de mim até rebentar. Quanto mais refletia, mais cresciam as labaredas da agitação em mim. Até que falei e supliquei a Deus: “ Senhor, ajuda-me a compreender como é curto o meu tempo aqui na Terra! Ajuda-me a compreender a minha fragilidade! Aos teus olhos, a minha vida pode medir-se em palmos; o tempo da minha existência é como um sopro para ti. Na verdade, o ser humano, por mais bem estabelecido que esteja na vida, é frágil como um sopro, é como uma sombra. Em vão corre atarefado, de um lado para o outro, e amontoa fortunas, para serem gastas por outros. Assim, Senhor, em quem posso eu esperar? Tu és a minha única esperança. Livra-me de ser subjugado pelos meus pecados, porque até os loucos me desprezariam. Estou sem fala diante de ti. Não direi uma palavra só de queixa, porque o meu castigo vem de ti. Não me atormentes mais, pois estou a desfalecer sob o golpe da tua mão. Quando castigas um homem pelo seu pecado, logo fica destruído; fica como roupa bonita estragada pela traça. Sim, o homem vale tão pouco como um simples sopro. Ouve, Senhor, a minha oração e inclina os teus ouvidos ao meu apelo. Não fiques parado perante as minhas lágrimas! Sou para ti como um simples estranho; sou como um viajante passando pela Terra, como todos os meus antepassados. Poupa-me, Senhor! Ajuda-me a recuperar forças, antes que venha a morte e eu deixe de existir.” Esperei com paciência que o Senhor me socorresse; então ele me ouviu e atendeu ao meu apelo. Tirou-me dum poço de desespero, dum charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma rocha, fez-me andar num caminho seguro. Deu-me um novo cântico de louvor ao nosso Deus. Muitos poderão ouvir as coisas maravilhosas que fez e porão igualmente a sua confiança no Senhor. Felizes são aqueles que põem a sua confiança no Senhor, que não confiam em gente orgulhosa, nem que se desvia para a mentira. Senhor, meu Deus, têm sido muitas as maravilhas que tens feito e nós estamos sempre no teu pensamento. Eu queria poder falar de todas as tuas obras maravilhosas, mas não tenho palavras para o fazer; ninguém pode ser comparado contigo. Não quiseste holocaustos nem ofertas, mas abriste-me os ouvidos; não são animais queimados que reclamas pelo pecado. Então eu disse: “Aqui venho, ó Deus, como está escrito a meu respeito no livro do Senhor. Deleito-me em fazer a tua vontade, meu Deus, porque a tua Lei está escrita no meu coração.” Anunciei a toda a gente as boas notícias de justiça; não fui acanhado, como bem sabes, Senhor. Não conservei para mim a tua justiça, mas preguei a todo o povo a tua salvação, o teu amor e a tua verdade através dos tempos. Não me negues, Senhor, a tua misericórdia! Que o teu amor e verdade me guardem continuamente. Porque os problemas se têm amontoado e já ultrapassam as minhas forças. Também o número dos meus pecados é maior do que os cabelos na minha cabeça; até tenho vergonha de levantar os olhos. O meu coração enfraquece dentro de mim. Digna-te livrar-me, Senhor! Vem depressa em meu auxílio! Que aqueles que procuram destruir a minha vida sejam apanhados pela confusão e vergonha. Que tropecem e caiam os que troçam de mim; os que com afronta dizem: “É bem feito!” Mas alegrem-se em ti todos os que te buscam. Que todos os que te amam e à tua salvação digam: “O Senhor é grande!” Eu sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador, ó meu Deus! Vem depressa socorrer-me! Felizes são aqueles que socorrem os pobres; a esses o Senhor os livra. Mantendo-lhes a vida, o Senhor os favorece aqui na Terra e os guarda de ficarem por conta dos seus inimigos. É o Senhor mesmo quem cuida deles, quando estão doentes, e os alivia restabelecendo-os na sua cama. Eu disse ao Senhor: “Tem piedade de mim e cura a minha alma, pois pequei contra ti.” Mas os meus adversários falam contra mim dizendo: “Não há meio de morrer, de forma a que mais ninguém se lembre dele!” Quando vêm visitar-me, são muito delicados; dizem banalidades, para serem amáveis. Mas no seu coração vão amontoando maldade; quando vão embora deixam-na sair da boca. E vão falando, entre si, sobre tudo o que imaginam de mal a meu respeito. E dizem: “Aquilo é doença sem cura! Já não poderá levantar-se daquela cama!” Até o meu melhor amigo, em quem eu confiava, e que comia do meu pão, até esse me trai. Mas tu, Senhor, tem compaixão de mim; dá-me de novo a saúde, para que possa retribuir-lhes. Será a prova de como tu me favoreces; que não deixas que os meus inimigos triunfem. Tu me tens dado forças, porque vês que sou sincero; deixas que eu viva na tua presença, para sempre. Louvado seja o Senhor, o Deus de Israel, através de todos os séculos e para sempre! Amém! Assim seja! Como o veado anseia pela água, assim suspiro eu por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei partir e ficar diante dele? As minhas lágrimas correm noite e dia, porque andam sempre a zombar de mim, perguntando: “Onde é que anda esse teu Deus?” Tem coragem, ó minha alma! Lembro-me de quando ia festivamente com a multidão, em cortejo, à casa de Deus, cantando com alegria e louvando o Senhor! Porque estás abatida, minha alma? Porque ficas perturbada? Confia em Deus! Pois ainda o louvarei pela sua salvação. Agora estou abatido e acabrunhado; porém, recordo a tua bondade para com esta terra, onde corre o rio Jordão, e onde se situam os montes Hermon e Mizar. Tens permitido que ondas de tristeza, como vagas enormes, tenham passado sobre mim, com a força de uma queda de água. Mas o Senhor derramará, durante o dia, a sua misericórdia sobre mim. Durante a noite, cantarei para Deus; farei oração ao Deus da minha vida. Pergunto a Deus, que é o meu rochedo: “Porque me abandonaste? Porque hei de sofrer tanto, por causa dos ataques dos meus inimigos?” Os seus insultos ferem-me como uma chaga mortal. Passam todo o tempo repetindo: “Onde é que anda esse teu Deus?” Porque estás abatida, minha alma? Porque ficas perturbada? Confia em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a minha salvação! Ele é o meu Deus! Faz-me justiça, ó Deus; defende-me das acusações desta gente ímpia. Livra-me do homem enganador e perverso. Pois tu, meu Deus, és o lugar onde me abrigo. Porque me pões de lado? Porque hei de viver assim triste, com a opressão dos meus inimigos? Envia-me a tua luz e a tua verdade, para que me guiem e me levem à tua santa habitação, ao teu santo monte. Então chegar-me-ei ao altar de Deus, do Deus que é a minha grande alegria. Eu te louvarei com a minha harpa, meu Deus! Porque estás abatida, ó minha alma? Porque estás perturbada? Confia em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a minha salvação! Ele é o meu Deus! Ó Deus, temos ouvido dos gloriosos milagres que realizaste nos tempos antigos; os nossos antepassados contaram-nos como arrancaste as nações pagãs desta terra. Como estabeleceste o teu povo aqui; castigaste esses povos sem Deus e espalhaste Israel por toda a terra. Não foi pela sua força ou capacidade que ganharam essa terra, mas pelo poder da tua mão direita, o teu braço e o fulgor da tua face, com que os favoreceste. Tu és o meu Rei e o meu Deus; ordena que o teu povo tenha vitórias. Por ti venceremos os nossos inimigos e pelo teu nome os esmagaremos. Eu não confio nas minhas armas; elas nunca me poderiam salvar. Só tu podes livrar-nos dos nossos adversários e fazê-los bater em retirada. Por isso, durante todo o tempo da nossa vida, sentimo-nos honrados pelo Deus que temos, e todo o dia louvaremos o teu nome! Apesar disso, parece-nos que, por algum tempo, nos puseste de lado, e já não nos acompanhas nas nossas lutas. Permites que fujamos dos nossos inimigos, os quais invadem a nossa terra e a saqueiam. Deixaste que fôssemos tratados como ovelhas, destinadas ao matadouro, e espalhaste-nos entre as nações do mundo. Vendeste o teu povo por uma bagatela; não nos deste valor nenhum. Fazes com que sejamos a vergonha dos nossos vizinhos; os que nos rodeiam desprezam-nos e troçam de nós. O próprio nome de judeu se tornou motivo de injúria e desonra entre os povos da Terra; as pessoas viram o rosto com antipatia. Sou constantemente desprezado; escarnecem na minha cara. Sou insultado e amaldiçoado pelos meus inimigos que querem vingar-se de mim. Tudo isto nos acontece, apesar de não nos termos esquecido de ti, nem termos violado a aliança que tínhamos contigo. O nosso coração não te abandonou; não nos desviámos do teu caminho. De outra forma, teríamos compreendido que nos castigasses, num deserto estéril, entre chacais, e nos enviasses para a escuridão da morte. Se nos tivéssemos esquecido do nosso Deus, e tivéssemos pedido auxílio a deuses estranhos, Deus não o teria sabido? Com certeza que sim! Ele conhece os segredos de cada coração. Mas não é o caso; antes por amor a ti, Senhor, enfrentamos a morte em qualquer momento; somos como ovelhas a ser abatidas no matadouro. Desperta, não durmas, Senhor! Acorda! Não nos abandones tanto tempo! Porque nos voltas as costas? Porque fechas os olhos à nossa tristeza e opressão? Temos a alma abatida até ao pó da terra e o corpo curvado até ao chão. Levanta-te em nosso auxílio, Senhor, e salva-nos pelo teu grande amor! O meu coração transborda de boas intenções. Escrevi um belo poema para o rei; vou expressar-me como faria o mais hábil escritor. Tu és o mais belo de todos! As tuas palavras estão cheias de beleza; Deus te abençoa para sempre. Arma-te, ó valente, com as armas da tua glória e da tua majestade! E nesse esplendor avança para a vitória, defendendo a verdade, a paz e a justiça. A tua capacidade te levará a realizações assombrosas. Ferirás certeiramente o coração dos teus inimigos e assim subjugarás povos inteiros. O teu trono, ó Deus, dura para sempre; a justiça é aquilo que faz a força do teu reino. Tu amas a justiça e aborreces o mal. Por isso Deus, o teu Deus, derramou sobre ti mais óleo de alegria do que sobre os teus companheiros. As tuas vestes são perfumadas com mirra, aloés e cássia; nos teus palácios, belamente decorados de marfim, toca-se música para teu prazer. Entre as mulheres ilustres da tua corte estão filhas de reis; ao teu lado está a rainha, com as suas joias do mais puro ouro de Ofir. Ouve, minha filha, com atenção, não lamentes a família e a pátria distante que deixaste. O rei ficará preso à tua formosura; reverencia-o, pois é o teu senhor. O povo de Tiro virá oferecer-te abundantes presentes; os seus nobres mais ricos suplicarão favores da tua parte. A noiva é uma princesa que espera nos seus aposentos, vestida de roupas tecidas com ouro. Será depois conduzida até ao rei, encantadora nos seus vestidos de ricos bordados, acompanhada das donzelas em cortejo de honra. No meio de alegria e prazer, assim entrarão no palácio do rei. No lugar dos teus pais estarão os teus filhos, que tu designarás como chefes de todo o país. Eu farei com que o teu nome seja comemorado, por todas as gerações, e as nações da Terra te louvarão para sempre. Deus é o nosso refúgio e a nossa força; é um socorro infalível nos tempos de angústia. Por isso, não havemos de ter medo, ainda que a Terra se mude toda, ainda que as montanhas se desfaçam para dentro dos mares. Ainda que os mares rujam e espumem revoltos e agitados; ainda que os montes tremam todos. Há um rio correndo pela cidade de Deus e que alegra esse lugar santo onde habita o Altíssimo. Deus mesmo está ali, por isso, essa cidade é inabalável. Deus está pronto a socorrê-la sem demora. As nações levantam-se em fúria, agitam-se de raiva; mas Deus falou e a terra derrete-se em submissão. O Senhor dos exércitos está connosco. Ele, o Deus de Jacob, é o nosso refúgio. Venham ver o que o Senhor tem feito, as ruínas que ele tem trazido ao mundo. Ele faz acabar as guerras por toda a Terra; quebra o arco e despedaça a lança; com chamas destrói os carros de combate. “Calem-se e saibam que eu sou Deus! Serei honrado entre todas as nações do mundo!” O Senhor dos exércitos, está connosco. Ele, o Deus de Jacob, é o nosso refúgio. Venham todos e batam palmas de alegria! Cantem a Deus, louvando o seu triunfo! Porque o Senhor, que está acima de tudo e de todos, é Deus imensamente poderoso; ele é o grande Rei com autoridade total sobre a Terra. Ele subjugou os povos diante de nós e pôs as nações sob o nosso comando. Escolheu para nós as suas melhores bênçãos; o melhor de tudo o que existe para o povo que ele ama. Deus subiu entre clamores de alegria, sob o toque triunfante das trombetas. Cantem louvores a Deus! Sim, cantem louvores ao nosso Rei! Deus é Rei sobre toda a Terra. Cantem-lhe louvores com harmonia e inteligência! Ele reina sobre as nações, sentado no seu santo trono. Os chefes dos povos se juntarão a nós, para formarem connosco o povo do Deus de Abraão. A Deus pertencem os governantes da Terra; Deus está acima de todos! Grande é o Senhor! Ele é digno do nosso louvor! Deus está na sua cidade, no seu santo monte. É um lugar muito belo! Vejam o monte Sião erguendo-se a norte da cidade! É a alegria de toda a Terra! É a morada do grande Rei! Deus mesmo, na sua fortaleza sublime, é conhecido como o seu refúgio bem seguro. Os reis da Terra chegaram juntos para avançarem contra a cidade. Ficaram maravilhados com o que viram e voltaram para as suas terras, cheios de espanto. Ficaram mesmo cheios de apreensão e medo, tal como uma mulher que está prestes a dar à luz. Deus pareceu-lhes como uma rajada de vento oriental que destrói os grandes navios de Társis. Já tínhamos ouvido falar na excelência dessa cidade, a cidade do nosso Deus, o Senhor dos exércitos, mas agora vemos por nós mesmos! Deus firmou Jerusalém para sempre. Deus, aqui no teu templo meditamos sobre a tua bondade e o teu amor. O teu nome é conhecido em toda a Terra. Por isso, também és louvado por toda a parte, porque a tua mão exerce a justiça plenamente, sobre o mundo inteiro. Que o monte Sião se alegre e também o povo de Judá, por causa da justiça com que Deus vos trata! Vão, observem bem Sião! Andem à sua volta e contem todas as suas torres. Vejam bem as muralhas, visitem as suas fortalezas, para que possam contar tudo à geração vindoura. Porque este Deus é o nosso Deus para sempre. Ele será o nosso guia até morrermos. Elas serão ditas com sabedoria; serão o fruto de uma meditação feita com inteligência. Inclinarei os meus ouvidos ao ensino dum provérbio e explicarei o seu sentido ao som da lira. Não devo ter medo, quando chegam os dias de aflição, mesmo rodeado da maldade dos que me querem mal. Aqueles que confiam nas suas riquezas e se gabam de tudo quanto possuem, nenhum deles, de modo algum, pode resgatar o seu próximo do castigo do pecado. Uma alma é algo de valor tão elevado que as fortunas da Terra inteira, juntas, não seriam suficientes para comprar a vida eterna e para livrar da morte. Pois todos podem ver que os sábios também morrem, como morrem os loucos e os insensatos, e as suas riquezas serão para outros. Dão às propriedades que possuem os seus próprios nomes, porque pensam para si mesmos, que serão suas e dos seus descendentes para sempre, e que nunca deixarão de morar nelas. Mas essas pessoas, apesar de toda a sua vaidade, terão de morrer, como qualquer animal! Tal é o destino dos que confiam em si mesmos e dos que o seguem. O mundo dos mortos leva toda a humanidade como um grande rebanho do qual se alimenta. Ao romper do dia, os retos os dominarão, pois a sua beleza acabará quando morrerem, visto que se encontram longe das suas moradas. Quanto a mim, Deus salvará a minha alma do mundo dos mortos; certamente me receberá. Portanto, não temas quando homens sem Deus enriquecem e alcançam grande prosperidade. Porque quando morrem não levam nada consigo; o seu bem-estar não os acompanhará. Ainda que toda a sua vida se tenham tido por felizes, e outros os aplaudam por todo o bem que souberem fazer a si mesmos, contudo, terão o fim que teve toda a gente antes deles, a escuridão eterna. Porque o ser humano, mesmo com toda a sua prosperidade, é destituído de entendimento; terá de morrer como qualquer animal. O Deus poderoso, o Senhor, convocou toda a humanidade, desde o Oriente até ao Ocidente! Sião é perfeita em beleza. É de lá que Deus resplandece. Ele vem com o estrondo do trovão, rodeado de um fogo destruidor; uma grande tempestade ruge ao seu redor. Pois veio julgar o seu povo. Então clama ao céu e à Terra: “Que o meu povo se junte, todos os que, por meio de um sacrifício, fizeram comigo uma aliança.” Deus os julgará como perfeito juiz que é; os céus inteiros são testemunha da sua justiça. “Escuta-me, meu povo! Pois sou o teu Deus! Ouve-me! Estas são as coisas que tenho contra ti: Não tenho nada a dizer a respeito dos holocaustos que trazes ao altar, pois isso fazes com regularidade. Não te peço nenhum dos teus touros, nem os bodes que tens nos currais, porque, afinal, meu é todo o animal, tanto dos campos como das florestas. Pertence-me todo o gado nos milhares de colinas. Conheço bem, porque são minhas, todas as aves nas montanhas e todas as criaturas dos campos. Se eu tivesse fome não o diria, pois o mundo, e tudo o que nele existe, pertence-me. Não, eu não preciso dos sacrifícios de carne de boi e do sangue dos bodes que me ofereces. O que eu pretendo de ti é uma verdadeira gratidão e que cumpras as promessas que fizeste ao Altíssimo. Confia em mim nas horas de aflição e eu te livrarei, e tu me honrarás e me louvarás.” Porém, ao ímpio, diz Deus: “Com que direito recitas as minhas leis e fazes apelo às minhas promessas, à minha aliança com o meu povo? Pois recusas a minha disciplina e desrespeitas as minhas palavras. Tornas-te cúmplice de ladrões, se os vês; gastas o teu tempo com gente adúltera. Quando falas é só para praguejar e mentir, numa linguagem imprópria. Falas mal até do próprio irmão. Tudo isto fazes e eu tenho-me calado; pensavas que eu era como tu. Mas agora chegou o tempo de te castigar, de te pôr diante dos olhos tudo aquilo de que te acuso. Ouçam então, vocês que se esquecem de Deus, antes que vos destrua inteiramente, sem que ninguém vos possa ajudar: Aquele que louva com verdade, com sinceridade, honra-me. Os que ordenam as suas vidas retamente no meu caminho receberão a salvação de Deus.” Tem misericórdia de mim, ó Deus, pois é grande a tua bondade. Apaga a mancha terrível das minhas transgressões, pois a tua piedade é sem limites. Lava-me completamente da minha iniquidade; purifica-me do meu pecado. Porque reconheço as minhas transgressões, que, aliás, não saem do meu pensamento. Foi contra ti, somente contra ti, que eu pequei e fiz essa coisa tão baixa aos teus olhos. As tuas palavras são verdadeiras e o teu julgamento é justo. Eu nasci pecador, sim, desde o momento em que a minha mãe me concebeu. Tu ficas satisfeito quando há verdade e sinceridade no coração. Oh! Dá-me essa sabedoria! Purifica-me com hissopo e ficarei de novo limpo; lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Depois de me teres castigado, devolve-me a alegria, mais uma vez. Não fiques lembrado dos meus pecados; apaga-os da tua vista. Cria em mim, ó Deus, um coração limpo e dá-me um espírito renovado e firme. Não me afastes da tua presença; não me prives do teu Santo Espírito. Dá-me novamente a alegria da tua salvação; quero obedecer-te decididamente. Poderei, assim, ensinar os teus caminhos aos transgressores e os pecadores voltar-se-ão para ti. Não me condenes à morte, meu Deus. Só tu podes livrar-me! Cantarei intensamente a tua justiça. Senhor, abre os meus lábios e a minha boca te louvará plenamente. Tu não te satisfazes com sacrifícios, senão eu os ofereceria de bom grado. Não estás interessado em holocaustos de animais. Para ti o verdadeiro sacrifício é um espírito rendido a teus pés e arrependido. Um coração humilhado e magoado tu não desprezarás, ó Deus. Abençoa a Sião, segundo a tua boa vontade erige as muralhas de Jerusalém! Então te agradarás com os holocaustos oferecidos pelos justos, e oferecerão novilhos sobre o teu altar. Porque te consideras um herói na maldade, e te gabas do mal que fizeste? A bondade de Deus permanece continuamente. És como uma navalha afiada, quando planeias ações malvadas. Amas o mal e não o bem, a mentira e não a verdade. A tua língua mentirosa deleita-se em caluniar; em dizer tudo o que possa prejudicar os outros. Mas Deus te destruirá para sempre e te arrancará do lugar onde vives. Tirar-te-á da terra dos vivos. E os que seguem a justiça de Deus verão isso acontecer e terão medo. Mas depois, rindo até, dirão a respeito dele: “Vejam o que acontece a quem despreza a Deus e confia antes nas suas posses; a quem se torna mais atrevido na sua maldade.” Mas eu sou como uma oliveira que Deus protege e defende na sua casa. Confio na misericórdia de Deus para todo o sempre. Ó Deus, eu te louvarei para sempre pelo que fizeste. Espero em ti, pois todos os crentes sabem que o teu nome é o de um Deus bom. Diz o louco para consigo mesmo: “Deus não existe!” Todos se têm corrompido e degenerado; não há ninguém que faça o bem. Deus olha desde os céus para a humanidade, para ver se existe alguém que saiba conduzir-se com sabedoria e busque Deus. Todos se desviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, absolutamente ninguém! Serão assim tão ignorantes, esses malfeitores, que devoram o meu povo como se comessem pão, que se recusam a chamar por Deus? Ali um terror dominou as suas vidas, mas não havia nada a temer. Deus espalhará os ossos desses que te cercavam; estão condenados, porque Deus os rejeitou. Que bom seria se já tivesse vindo de Sião a salvação do povo de Deus! Que alegria será quando Deus libertar os presos do seu povo e salvar Israel! Salva-me, ó Deus, pelo teu nome; defende-me com o teu poder! Ouve a minha oração; inclina os teus ouvidos ao que vou dizer. Gente estranha se levantou contra mim, gente violenta e cruel que quer tirar-me a vida e não se preocupa, sequer, com o que Deus pensa sobre isso. Mas Deus me ajuda; o Senhor é quem sustenta a minha vida. Ele anulará o mal dos que andam à espreita, para darem cabo de mim. Segundo o que tu próprio prometeste, Senhor, destrói-os. Com alegria trago-te os meus sacrifícios; louvarei o teu nome, Senhor, porque tu és bom. Porque me livraste das minhas aflições e vi cumprido o meu desejo, em relação aos meus adversários. Ouve a minha oração, ó Deus, não ignores a minha súplica. Atende-me e ouve-me, pois gemo e choro de angústia. Porque os meus inimigos bradam contra mim e causam-me opressão; atacam-me com toda a sua maldade e com raiva me aborrecem. Dói-me até o coração; terrores mortais caíram sobre mim. Tenho medo e pavor; estou cheio de terror. Eu disse: “Quem me dera ter asas como uma pomba! Voaria para longe e teria descanso. Fugiria para um deserto bem distante e lá ficaria. Escaparia a toda esta tempestade, a este vento de ódio e fúria.” Destrói-os, Senhor! Reduz ao silêncio os seus conselhos mentirosos, porque vejo violência e discórdia na cidade. Dia e noite patrulham as muralhas, mas o mal e a destruição estão no seu interior. A maldade e a mentira estão no coração da cidade; há roubo, homicídios e engano lá dentro, nas suas ruas e por toda a parte. Não foi um inimigo quem me insultou; se assim fosse, eu até teria suportado; poderia ter-me escondido e escapado. Mas foste tu, o meu companheiro e amigo. Aquele que conversava comigo e ia comigo, e com todo o povo, à casa de Deus. Que a morte os arrebate e os derrube; que desçam ao mundo dos mortos, mesmo que estejam cheios de vida, porque as suas casas estão cheias de pecado; estão contaminados até ao fundo da alma. Quanto a mim, clamarei a Deus; o Senhor me salvará. Orarei de manhã, a meio do dia e à noite, suplicando em voz alta, e ele me responderá. Livrou a minha alma da guerra que me faziam, apesar de serem muitos contra mim. Deus, que está sempre no trono, lhes responderá; como não temem a Deus não mudarão de ideias. Eram meus amigos e traíram-me; a mim que vivia em paz com eles. Tinham palavras mansas, palavras de mel, mas no seu coração havia guerra; as suas palavras, mais suaves que o óleo, escondiam punhais bem afiados. Lança o teu cuidado sobre o Senhor e ele te dará forças; não deixará que os que seguem a sua justiça caiam. A eles, ó Deus, mandá-los-ás para a cova da destruição; assassinos e mentirosos não viverão, nem metade do tempo que poderiam viver. Quanto a mim, confiarei sempre em ti! Tem misericórdia de mim, ó Deus, porque há gente que procura devorar-me; oprimem-me e lutam comigo o dia inteiro. São muitos e espiam-me, de forma a terem tempo para me aniquilar. Quando estiver com medo, porei a minha confiança em ti. Confiarei nas promessas de Deus; se assim for, que poderão fazer-me? Todos os dias torcem o que eu digo; só pensam no que hão de fazer para me prejudicar. Juntam-se para estabelecerem os seus planos; escondem-se e espiam-me, aguardando a hora de me liquidar. Conseguirão os seus objetivos perversos? Não os deixes, ó Deus, derruba-os! Tens visto toda a minha agitação; recolheste as minhas lágrimas na tua taça, registaste-as no teu livro. Quando clamo a ti por socorro, os meus inimigos retrocedem; sei isto, porque Deus está comigo. Louvo as palavras de Deus e as suas promessas. Confiarei em Deus e não terei medo; assim, que me poderá fazer o homem? Certamente que farei o que te prometi, ó Deus, e te darei ações de graças. Pois livraste a minha alma da morte e os meus pés de escorregarem, para que ande na terra dos vivos diante de Deus. Tem piedade de mim, ó Deus! Tem piedade, porque a minha alma em ti se refugia. Eu abrigo-me à sombra das tuas asas, até que passem as calamidades. Clamarei ao Deus altíssimo, e que tudo faz por mim. Ele enviará lá do alto o seu auxílio, para me salvar dos que querem devorar-me; Deus enviará o seu amor e a sua fidelidade. Estou rodeado de leões ferozes, de gente violenta com dentes mais afiados que punhais, e cuja língua é uma faca cortante. Ó Deus, engrandece-te acima dos céus! Que a tua glória brilhe sobre toda a Terra! Puseram uma rede no meu caminho; a minha alma ficou abatida com temores. Abriram uma cova para que eu caísse, mas afinal foram eles que vieram a cair nela. O meu coração está pronto, ó Deus; não é de surpreender que te cante salmos. Desperta, minha alma! Que a harpa e a lira comecem a tocar! Eu mesmo, ao romper do dia, cantarei a Deus. Louvar-te-ei diante dos povos, Senhor; no meio das nações cantar-te-ei salmos. Pois a tua misericórdia chega aos céus e a tua fidelidade até às nuvens. Sim, ó Deus, engrandece-te acima dos céus! Que a tua glória brilhe sobre toda a Terra! Os grandes da sociedade sabem o que é a justiça? Algum de vocês sabe aplicar a imparcialidade? No vosso coração forjam planos de maldade, abrem as portas à violência e ao suborno. Essa gente já nasceu pecadora; mentem e agradam-se do erro, desde que nasceram. Quebra-lhes os dentes, ó Deus, Senhor, parte os queixais desses filhos de leões! Desapareçam como água numa terra seca e arenosa; despedaça as flechas que seguram nas mãos. Sejam como lesmas que se desfazem no lodo; como os que morrem ao nascer, sem nunca verem o Sol. Deus aniquilará, tanto os velhos como os novos; ele os destruirá mais depressa que o tempo que uma panela leva a aquecer sobre brasas de espinheiros. Os justos se alegrarão quando são vingados; pisarão os campos da gente má que tiver sido castigada. Então todos dirão: “Certamente, os justos são recompensados; existe um Deus que exerce a justiça na Terra.” Livra-me, ó Deus, dos meus inimigos; livra-me daqueles que se levantam contra mim! Livra-me desta gente que pratica a iniquidade e o crime! Armam ciladas contra a minha vida; preparam-se para me cair em cima, sem que eu lhes tenha feito mal algum, ó Senhor. Agitam-se e têm pressa em me liquidar, sem razão. Desperta e ajuda-me! Desperta para me ajudares, Senhor, Deus dos exércitos, Deus de Israel! Castiga as nações pecadoras que nos cercam; não poupes nenhum desses maus e traiçoeiros! Ao anoitecer vêm espiar-me, andando em volta como cães, rondando a cidade. Ouço-lhes os insultos que ferem como espadas. Gritam e dizem: “Ninguém nos ouve!” Mas tu, Senhor, ris-te deles; também vês como essas nações são ridículas. Ó Deus, tu és a minha força! Espero em ti porque és a minha defesa segura. Deus nunca mudará o seu amor por mim; fará com que veja cumprido o meu desejo, a respeito dos meus inimigos. Não os mates, pois o meu povo logo se esquece. Que o teu poder os disperse e abata, Senhor, pois és o nosso escudo! Pecam ao falar! São uns arrogantes! Só proferem maldições e mentiras. Por essas mesmas coisas serão condenados. Destrói-os com a tua severidade e liquida-os, para que se saiba que Deus governa em Jacob e que domina sobre toda a Terra! Ao anoitecer vêm espiar-me, andando em volta como cães, rondando a cidade. Uivam e procuram comida, para matar a fome. Quanto a mim, não deixarei de cantar a tua força; cedo pela manhã cantarei, com alegria, o teu amor. Pois tens sido o meu refúgio bem seguro, a minha segurança nos momentos de angústia. A ti, pois, minha força, cantarei louvores; tu és o Deus que me defende e me ama! Deus, tu rejeitaste-nos e dispersaste-nos; tens estado zangado connosco, mas volta-te de novo para nós. Fizeste tremer esta terra, dividiste-a em pedaços; cura-a, pois está abalada até nos fundamentos. Fizeste-nos passar por coisas muito duras; deste-nos a beber um vinho que enlouquece. Deste uma bandeira a todos os que te temem, para que a levantem bem alto pela causa da verdade. Salva-nos, para que o povo que amas seja livre! Ouve-nos e livra-nos pela força do teu braço! Deus jurou pela sua santidade: “É justo que me encha de alegria; hei de repartir Siquem e medir o vale de Sucote. Gileade e Manassés ainda são meus; Efraim é o apoio da minha força e Judá me dará governantes. Moabe é para mim uma bacia de lavar e Edom como o sítio onde me descalço. Sobre a Filisteia bradarei vitória.” Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me guiará até Edom? Deus o fará, ainda que nos tenha rejeitado e nos tenha abandonado aos exércitos do inimigo. Auxilia-nos em tempos de aperto, pois de nada vale o socorro humano! Com Deus faremos coisas formidáveis; ele esmagará os nossos inimigos. Ouve, ó Deus, o meu clamor! Atende à minha oração! Ainda que esteja no fim do mundo clamarei por ti, pois o meu coração está abatido; leva-me para essa alta rocha de salvação. Porque tens sido o meu refúgio, como uma alta torre fortificada onde o adversário nunca me poderá alcançar. Morarei no teu tabernáculo para sempre; estarei seguro ao abrigo das tuas asas. Pois tu, ó Deus, deste atenção aos meus votos; deste-me as bênçãos que reservas aos que temem o teu nome. Prolongarás a minha vida de rei; os meus anos serão muitos e magníficos como os de muitas gerações juntas. Permanecerei diante de Deus para sempre. Envia a tua bondade e a tua fidelidade, para que guardem a minha vida de rei. Então cantarei salmos ao teu nome continuamente, cumprindo a solene promessa de te louvar todos os dias. Eu permaneço tranquilo diante de Deus, visto que só dele vem a minha salvação. Só ele é o meu rochedo, o meu libertador e o meu defensor; não me hei de perturbar quando vierem as aflições. Até quando continuarão a tramar o mal contra mim, querendo derrubar-me como uma parede a cair ou um muro em ruínas? Só pensam em violência para me levar à ruína; deleitam-se na mentira e com a boca dizem o bem, mas no íntimo estão a amaldiçoar. Eu permaneço tranquilo diante de Deus, visto que só dele vem a minha esperança. Só ele é o meu rochedo, o meu libertador e o meu defensor; não me hei de perturbar quando chegarem as aflições. De Deus vem a minha salvação e a minha honra; ele é o rochedo que me serve de fortaleza. Sim, o meu refúgio está em Deus! Confia nele, meu povo, em todo o tempo; apresentem-lhe todo o vosso coração, porque ele é o nosso refúgio. Tanto as pessoas de alta como de baixa condição, nada são, sem dúvida, aos olhos de Deus; pesam menos que o ar numa balança. Não penses que podes prosperar pela opressão; não fiques satisfeito com o que não passa de roubo. Se a fortuna aumentar, não lhe entregues o coração. Deus disse, e tenho ouvido repetidas vezes, que o verdadeiro poder só a ele pertence. Além disso, a ti, Senhor, pertence a bondade e recompensas cada um segundo as suas obras. Ó Deus, meu Deus, bem cedo, desde que acordo, eu te procuro! A minha alma tem sede de ti, todo o meu ser anseia encontrar-te, como terra ressequida onde não há gota de água. Eu gostaria de ver, no santuário, a tua força e o teu esplendor! Porque, para mim, a tua bondade vale mais que a própria vida. Quero louvar-te com os meus lábios! Enquanto viver, bendirei o teu nome, levantando a ti as minhas mãos. A minha alma ficará feliz como quando nos servimos dos mais ricos alimentos. Louvar-te-ei com enorme alegria! De noite, lembro-me de ti; quando fico acordado, penso em ti. Tens sido o meu verdadeiro auxílio; feliz cantarei debaixo da sombra das tuas asas! A minha alma segue-te bem de perto; o teu braço hábil e forte mantém a minha vida. Os que andam atrás de mim, para me destruir, descerão às profundezas do abismo. Estão condenados a serem mortos na luta, hão de tornar-se o alimento de raposas. Eu, o rei, me regozijarei em Deus. Todos os que confiam plenamente em Deus serão altamente recompensados. Os mentirosos, esses ficarão reduzidos ao silêncio! Ouve-me, ó Deus, nesta minha oração; livra-me dos horrores dos meus inimigos. Guarda a minha vida das intenções malignas dessa gente ruim e das maquinações desses malfeitores. Transformam as suas línguas em armas de guerra; apontam e atiram contra mim palavras venenosas. Disparam, repentinamente e às escondidas, contra o inocente, contra o justo, e não têm medo das consequências. Combinam bem os seus planos de maldade; encontram-se para preparar armadilhas e dizem: “Aqui, ninguém nos apanha!” Investigam e inquirem tudo o que podem fazer, para melhor atingirem os seus fins perversos e ferir os outros no mais íntimo do seu ser. Mas Deus mesmo disparará sobre eles e num só momento serão abatidos. Tudo o que disserem de mal contra os outros servirá para sua própria condenação. Os que virem isso acontecer irão embora abanando a cabeça. Toda a gente temerá a Deus e confessará a grandeza das suas obras. Todos compreenderão as coisas admiráveis que ele faz. Os que seguem a justiça do Senhor terão alegria e se refugiarão nele; alegrem-se todos os que têm um coração íntegro. Ó Deus de Sião, esperamos diante de ti, enquanto te louvamos, e cumprimos as nossas solenes promessas. Visto que respondes às orações, toda a humanidade virá a ti com os seus pedidos. Embora os meus pecados pesem em meu desfavor, tu perdoas todas as transgressões. Como são felizes aqueles a quem escolheste para morar contigo no interior do teu santuário! Que alegrias nos esperam ali, rodeados da tua bondade, no teu santo templo! Com feitos espantosos da tua justiça nos trarás a salvação que te pedimos, ó Deus. Tu és a esperança da humanidade inteira, de um extremo ao outro da Terra, até aos confins dos mares. Tu formaste as montanhas, por meio da tua poderosa força. Acalmas os oceanos em fúria e a violência das suas vagas; dominas a agitação dos povos. Até os que habitam em sítios mais afastados ficarão pasmados com os teus atos gloriosos. Tanto o nascer como o pôr-do-sol serão momentos de alegria para todos. Tu regas a terra para a tornar fértil; os rios de Deus nunca secam. Preparas a terra do teu povo enviando-lhe ricas colheitas de cereais. Regas e nivelas os sulcos com chuvas abundantes; os aguaceiros amolecem os terrenos, fazendo a semente brotar. Tudo coroas com abundantes colheitas; por onde quer que vás há abundância. Até no deserto há ricas pastagens verdes; as encostas das montanhas florescem de alegria. Os campos cobrem-se de imensos rebanhos e os vales enchem-se de cereais. Por tudo isto, cantam de alegria! Que a Terra inteira cante para Deus com toda a alegria! Que seja cantada toda a força do seu nome! Que o mundo diga como Deus é maravilhoso! Como são tremendas as tuas obras, ó Deus! O teu poder é tão grande! Não admira que os teus inimigos se rendam! Toda a Terra te adorará e cantará louvores, exaltando o teu nome. Venham ver as obras de Deus, as coisas admiráveis que tem feito por todos os povos! Abriu-lhes um caminho através do mar, e passaram-no a pé. Alegremo-nos com isso! Deus tudo domina eternamente, pelo seu grande poder. Observa constantemente as nações da Terra; não se engrandeçam as gentes rebeldes. Que os povos digam todo o bem que há em Deus; que façam ouvir as suas vozes em seu louvor! Porque sustenta a nossa vida nas suas mãos e não deixa que resvalemos no caminho. Tu, ó Deus, nos purificaste, como a prata num cadinho. Apanhaste-nos na tua rede; puseste-nos às costas fardos bem pesados. Homens cavalgaram sobre as nossas cabeças; passámos pelo fogo e por torrentes de águas, mas finalmente trouxeste-nos para a abundância. Por isso, virei até à tua casa com holocaustos, para pagar os meus votos. Pois quando estava no meio da aflição fiz-te essas solenes promessas. Queimarei no teu altar animais gordos; hei de oferecer-te carneiros, novilhos e bodes. Venham ouvir, todos os que temem a Deus, e contarei o que ele fez por mim. Clamei por socorro; exaltei-o com a minha boca. Se tivesse guardado iniquidade no meu coração, o Senhor não me teria ouvido. Mas Deus ouviu-me; prestou atenção à minha oração. Bendito seja Deus que não recusou ouvir-me e não me negou a sua misericórdia! Que Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe. Que a tua luz brilhe sobre nós. Que se venha a conhecer o teu caminho e a tua salvação em toda a Terra. Que os povos te louvem! Que todos os povos te louvem, ó Deus! As nações serão felizes e viverão alegres, quando julgares com verdadeira justiça, quando fores tu quem as governa. Que os povos te louvem! Que todos os povos te louvem, ó Deus! A terra dará abundantes colheitas; Deus, o nosso Deus, nos abençoará. Que Deus nos abençoe e os povos das terras distantes temerão a Deus! Levanta-te, ó Deus, e dispersa os teus inimigos; que fujam diante de ti! Assim como o fumo se vai, diante do vento, assim os porás tu em fuga. Como a cera se derrete com o fogo, assim morram os maus. Que se encham de alegria os que amam justiça; que sejam felizes e gozem de contentamento! Cantem para Deus, cantem louvores ao seu nome; louvem aquele que anda sobre os altos céus. O seu nome é Senhor; rejubilem na sua presença. Ele é pai dos órfãos; é quem defende o direito das viúvas, é Deus na sua santa morada. Ele faz com que o que vive só tenha uma família; liberta os presos das cadeias. Mas os que se revoltam contra Deus viverão numa terra queimada pelo Sol. Ó Deus, tu guiaste o teu povo através do deserto. A terra tremeu e os céus foram sacudidos; até o monte Sinai tremeu diante de Deus, o Deus de Israel. Enviaste abundantemente a chuva sobre a terra; refrescaste aquela terra cansada e gasta. Nela morava o rebanho do teu povo. Deste àquele pobre povo uma pátria; foste muito generoso com ele. O Senhor falou, e um grande número de mulheres partilhou as boas novas: “Os exércitos inimigos e os seus chefes fugiram!” Até as mulheres de toda a parte de Israel repartem os despojos de guerra. Ainda que fossem como simples e humildes ovelhas, deitadas nos seus currais, tornaram-se belas como as asas duma pomba, cobertas com as joias e o ouro que ganharam. Quando o Todo-Poderoso ali espalhou os reis inimigos, foi como flocos de neve derretendo no monte Zalmom. Quão alto é o monte de Basã, como o monte de Deus! Majestosos e elevados são os seus cumes. Ó cordilheira magnífica, com tantos cimos imponentes! O monte de Deus foi o lugar que ele escolheu em que o próprio Senhor habitará para sempre, rodeado de inúmeros carros de guerra. O Senhor está no meio deles, como estava também no Sinai, morando na sua santa habitação. Tu subiste às alturas, levando muitos cativos atrás de ti. Recebeste presentes dos homens, até daqueles que foram rebeldes, para que pudesses habitar entre eles, Senhor Deus. Bendito seja o Senhor que, dia após dia, leva as nossas cargas; Deus é a nossa salvação. Ele nos salva, o Senhor Deus, porque tem domínio sobre a morte. Contudo, esmagará a cabeça dos seus inimigos, o crânio cabeludo desses que teimam em andar nos seus caminhos de pecado. O Senhor disse: “Eu farei voltar os seus inimigos do monte Basã, onde se escondem, e até dos fundos mares. O povo de Deus precisa destruí-los; pisará o seu sangue e os cães os devorarão.” Eles viram o teu cortejo, ó meu Deus e meu Rei, movimentando-se em direção ao teu santuário. Os cantores na frente, os músicos atrás, e no meio, meninas tocando pandeiretas. Que todo o povo de Deus louve o Senhor, que é a fonte de Israel! A pequena tribo de Benjamim abre o caminho; depois vêm os chefes de Judá, com todo o conjunto dos seus anciãos; logo atrás os chefes de Zebulão e Naftali. O teu Deus decidiu que fosses forte. Mostra a tua força, ó Deus, tu que já fizeste coisas tão poderosas em nosso favor. Os reis trazem presentes ao teu templo em Jerusalém, porque o apreciam muito. Repreende os nossos inimigos, Senhor, porque são como feras; são como manadas imensas de touros e bezerros, todos esses povos que têm prazer na guerra; traze-os submissos com os seus tributos na mão. O Egito enviará embaixadores; Cuche estenderá as suas mãos em adoração a Deus. Cantem a Deus, ó nações da Terra, cantem louvores ao Senhor! Àquele que está em cima, nos altíssimos céus, desde a antiguidade sem fim, e cuja poderosa voz brada intensamente. O poder pertence a Deus; a sua majestade se exerce sobre Israel; a sua força vem lá dos céus. Ó Deus de Israel, quão admirável és no teu santuário! És tu quem dá o poder e a força ao teu povo. Bendito seja Deus! Salva-me, ó Deus, pois estou quase a afogar-me. Atolei-me num fundo lamaçal, já não consigo manter-me de pé; as águas cobrem-me e arrastam-me. Estou exausto de gritar. Tenho a garganta seca e os olhos cansados de tanto chorar, esperando pelo meu Deus. São tantos que nem posso contar, os que me odeiam sem motivo. É gente poderosa e influente, esses que querem destruir-me; embora esteja inocente do que me acusam, exigem que eu devolva algo que não roubei. Tu, ó Deus, sabes como sou pouco sensato; conheces todos os meus pecados. Que aqueles que confiam em ti, ó Deus, Senhor dos exércitos, não fiquem mal por minha causa; que não precisem de ficar envergonhados, aqueles que te buscam, ó Deus de Israel! Eu realmente tenho sido escarnecido e envergonhado, por amor de ti. Tenho-me tornado como um estranho, para com os meus irmãos, que fazem que não me conhecem. Arde em mim um grande zelo pela tua casa; por isso, os insultos dos teus inimigos caem sobre mim. Chorei e jejuei, por tua causa; até isso se tornou razão para me ofenderem. Vesti-me de luto e de tristeza; ando de boca em boca, falam mal de mim, Sou o assunto do dia, na cidade; tornei-me a canção dos beberrões. Contudo, continuo a fazer oração a ti, Senhor, enquanto é tempo e estás inclinado a ouvir. Responde-me, com uma boa dose do teu amor, segundo a promessa da tua salvação. Tira-me, então, para fora deste lamaçal; salva-me dos que me odeiam e das águas profundas. Não permitas que as correntes me engulam e que este poço profundo se torne a minha sepultura. Senhor, responde-me, pois é grande a tua misericórdia; atenta para a minha necessidade, pois é imensa a tua piedade. Não te escondas de mim, pois estou angustiado. Responde-me depressa! Vem até mim e salva-me! Liberta-me de todos os meus inimigos! Tu sabes como me ofendem vergonhosamente e me deixam desnorteado; tu conheces todos os meus inimigos. As suas afrontas despedaçam-me o coração; sinto-me muito debilitado. Ainda esperei que alguém me compreendesse, tivesse pena de mim e quisesse consolar-me; mas não encontrei ninguém. Pelo contrário, deram-me veneno como alimento; quando tinha sede, ofereceram-me vinagre. Que os seus banquetes se tornem numa armadilha, uma ruína para castigo deles. Que os seus olhos se turvem para que não vejam; que vivam esmagados sob um pesado fardo. Derrama sobre eles a tua indignação; sejam atingidos pelo furor da tua ira. Que o seu acampamento fique deserto, sem ninguém que nas suas tendas habite. Pois perseguem aquele que tu próprio já afligiste e zombam da dor com que o feriste. Que os seus pecados, amontoados, os impeçam de ter acesso à tua justiça. Que sejam riscados do livro da vida, da companhia dos que seguem a tua justiça. Para mim, ó Deus, que estou aflito e abatido, que a tua salvação seja um abrigo bem seguro. Então louvarei a Deus com o meu cântico; dar-lhe-ei toda a minha gratidão. Isto lhe será muito mais agradável do que sacrifícios de bois ou de novilhos, segundo os preceitos da Lei. Os humildes também ficarão felizes; o vosso coração terá uma vida nova, visto que buscam a Deus. Porque o Senhor ouve o apelo dos necessitados e não despreza os seus cativos. Louvem-no todo o céu e a Terra, os mares e tudo o que neles vive! Porque Deus salvará Sião; tornará a edificar as cidades de Judá, para que o seu povo tome posse dela e ali habite. Os seus filhos a herdarão; todos os que amam o nome de Deus ali habitarão. Apressa-te, ó Deus, em me livrar! Vem depressa em meu auxílio! Desmascara e envergonha toda essa gente que procura matar-me, esses que querem o meu mal. Que sejam obrigados a voltar para trás, a fugir, esses que pretendem divertir-se à minha custa! Mas que se encham de alegria os que te procuram, os que amam a tua salvação, e que possam dizer sempre: “Grande é o poder de Deus!” Eu estou aflito e necessitado; corre em meu auxílio, ó Deus! Só tu podes ajudar-me e libertar-me; Senhor, não me faças esperar! Senhor, tu és o meu refúgio; nunca me deixes ficar mal. Livra-me dos meus inimigos porque tu és justo; presta atenção aos meus rogos e salva-me! Sê para mim como um lugar forte e um refúgio para onde eu possa fugir sempre que me ataquem. Pois deste ordem para que eu seja salvo; tu és o meu rochedo e a minha fortaleza! Livra-me, meu Deus, das mãos dos ímpios, dessa gente injusta e cruel. Senhor Deus, só tu és a minha esperança; tenho confiado em ti desde menino. Tenho sido sustentado por ti desde que nasci; foste tu quem me tirou do seio de minha mãe, por isso, te louvarei constantemente. Muitos se admiram por tudo me correr bem, pois tu és o meu forte protetor. Todo o dia a minha boca está cheia de louvores a ti. Agora que estou velho, não me deixes de lado; não me abandones quando as forças se forem acabando. Os meus adversários falam contra mim, os que querem matar-me conspiram. Juntos dizem: “Deus abandonou-o! Vamos persegui-lo e prendamo-lo, agora que não tem ninguém por ele!” Meu Deus, não te afastes de mim; corre em meu auxílio! Sejam vencidos e destruídos os inimigos da minha alma; saibam o que é a desgraça e o opróbrio os que me querem mal. Mas eu continuarei à espera da tua ajuda e te louvarei cada vez mais. Nem posso contar as vezes que me livraste, pela tua justiça e pela tua salvação, o dia inteiro. Andarei sustentado pela força do Senhor Deus; falarei a todos da tua justiça e só dela. Desde a minha infância me tens ensinado, ó Deus; até aqui tenho anunciado as maravilhas que tens feito. Agora que já estou velho e de cabelos brancos, não me desampares até que tenha anunciado o teu poder a toda esta nova geração e também aos seus filhos. A tua justiça, ó Deus, é sublime; por ela tens feito maravilhas. Onde encontraríamos um Deus semelhante a ti? Deixaste-me atravessar muitos males e apertos, mas sempre renovarás a minha vida, arrancando-me dos abismos deste mundo. Dar-me-ás honras maiores do que as que tinha antes e voltarás a confortar-me. E eu te louvarei com música e instrumentos, a ti e à tua verdade, ó Santo de Israel! Com os meus lábios te cantarei em alta voz, porque me salvaste. Falarei aos outros da tua justiça o dia inteiro, pois todos quantos tentaram fazer-me mal já caíram em desonra e em desgraça. Ó Deus, ajuda o rei a julgar como tu julgarias e o filho do rei a andar na tua justiça. Para que possa julgar justamente o teu povo e fazer justiça aos oprimidos. Que as montanhas e as colinas tragam ao povo paz e retidão. Que o rei defenda os oprimidos e os necessitados e tire a força ao opressor. Que a ti temam, ó Deus, por todo o sempre, enquanto o Sol e a Lua permanecerem no firmamento! Que durante o seu reinado haja prosperidade, como chuvas caindo sobre a relva e regando a terra. Que a paz e a justiça floresçam nos seus dias, e que durem enquanto a Lua brilhar no céu. Que ele domine de mar a mar, e desde o rio Eufrates até aos confins da Terra. Os nómadas, que habitam no deserto, ser-lhe-ão sujeitos; os seus inimigos lamberão o pó da terra. Os reis de Társis e os das ilhas, assim como os de Sabá e de Seba, todos trarão os seus presentes. Sim, os reis de toda a parte se inclinarão perante ele e o servirão. Ele cuidará dos necessitados, quando o procurarem, e dos desamparados que não têm ninguém que os ajude. Terá compaixão dos pobres e dos aflitos, salvará o pobre da morte. Libertará as suas almas da opressão e da violência, pois as suas vidas são-lhe preciosas. Que o rei tenha uma longa vida; Tragam-lhe o ouro de Sabá. Todos os dias se farão orações por ele; o povo constantemente o bendirá. Que a terra seja extremamente fértil e até no cimo dos montes se colha o trigo. Produza fruto igual ao do Líbano, e que a vida das cidades prospere. Que o seu nome seja honrado para sempre; enquanto durar o brilho do Sol. Que por meio dele se sintam abençoadas e o felicitem todas as nações! Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, o único que faz coisas maravilhosas! Bendito seja para sempre o seu nome glorioso! Que toda a Terra se encha da sua glória! Amém! Assim seja! Aqui terminam as orações de David, o filho de Jessé. Deus é verdadeiramente bom para com Israel, para com todos os que têm um coração puro. Quanto a mim, por pouco me ia desviando do caminho reto; quase escorregava. Pois tive inveja do bem-estar dos soberbos e dos maus. Eles não têm medo de morrer; o seu poder é garantido. Não se veem metidos em dificuldades, como toda a gente, nem rodeados de problemas. O orgulho é como um ornamento nas suas vidas; vestem-se de violência como da melhor roupa. Têm os olhos arregalados de cobiça e a mente cheia de ambições. É gente corrompida, que só sabe tratar com maldade e opressão; tudo o que dizem é sempre com arrogância. Quando abrem a boca, têm sempre de praguejar contra o céu; a sua língua maldizente é capaz de varrer a Terra. Assim o povo de Deus fica frustrado e confuso, aceitando tudo o que eles dizem. E vão-se perguntando a si próprios: “Será que Deus, lá no alto, sabe o que está a acontecer?” Esta gente é contra Deus e vive em plena segurança; estão sempre a ver as suas riquezas a aumentar. Não terá sido em vão que me tenho preocupado, com a pureza das minhas intenções, e procurado manter-me sempre isento de maldade? Afinal, tudo o que tenho obtido, em cada dia, é só problemas e aborrecimentos! Mas se eu falasse realmente assim estaria traindo o teu povo, ó Deus! Na verdade, isto é muito difícil de entender; quando procurava uma resposta ficava confuso. Até que entrei no santuário de Deus e compreendi, enfim, o destino dessa gente. Tu os colocas em caminhos escorregadios e os farás cair na destruição. De um momento para o outro cairão na ruína e ficarão consumidos pelo terror. A imagem deles varrerás das memórias, Senhor, como quando alguém acorda dum pesadelo. Quando vi isto, o meu coração ficou perturbado. Senti-me tão estúpido e ignorante; eu parecia um animal diante de ti, Senhor. Mas eu estou sempre contigo; tu seguras-me pela mão. Guiar-me-ás com a tua sabedoria e depois me receberás na tua glória. A quem tenho eu no céu, além de ti? És, na Terra, quem eu mais desejo! A minha saúde e o meu espírito enfraquecem, mas Deus é a força do meu coração. Ele é meu para a eternidade! Aqueles que se afastam de ti, Senhor, perecerão; destruirás os que te são infiéis. Quanto a mim, sinto-me feliz em aproximar-me de Deus. O Senhor Deus é o meu refúgio; hei de anunciar todos os teus feitos! Ó Deus, porque é que nos rejeitaste? Terá sido para sempre? Porque estás tão zangado com as tuas ovelhas? Lembra-te deste teu povo que resgataste em tempos tão antigos, desta terra que tomaste para ti e do monte Sião, onde tens habitado. Levanta-te contra as constantes destruições e contra todo o mal que o inimigo tem feito no teu santuário. Aí mesmo, nos lugares santos, os teus adversários erguem gritos de guerra e bandeiras de combate. São como os lenhadores, avançando de machado em punho pela floresta, desbastando à esquerda e à direita. Partem e destroem tudo, até as mais belas obras de talha. Lançaram fogo ao teu santuário, profanaram a morada do teu nome; deitaram tudo abaixo. Disseram nos seus corações: “Apaguemos todos os vestígios de Deus, de uma vez para sempre.” Queimaram os santos lugares onde eras adorado na terra pelo povo. Tudo o que nos marcava como teu povo desapareceu; desapareceram os homens de Deus, os profetas, e entre nós ninguém sabe até quando isto durará. Sim, até quando, ó Deus, nos enxovalhará o inimigo? Até quando deixarás que desonrem o teu nome? Porque retrais a tua mão, sim, a tua mão direita? Estende-a e fá-los desaparecerem. Todavia, Deus é o meu Rei, desde os tempos antigos, que salva pessoas em muitos lugares da Terra. Com o teu poder abriste o mar e esmagaste a cabeça dos grandes animais marinhos. Fizeste em pedaços as cabeças do monstro marinho e as deste como alimento aos nómadas do deserto. Sob as tuas ordens brotaram fontes e nasceram ribeiros para dar água ao teu povo. Secaste rios caudalosos, como o Jordão, para que passassem a seco para a outra margem. O dia e a noite pertencem-te; fizeste a Lua e o Sol. Na Terra, tudo foi ordenado por ti; estabeleceste tanto o verão como o inverno. Assim, Senhor, vê como o inimigo te insultou; uma gente louca e orgulhosa blasfemou do teu nome. Não deixes os animais arrebatarem o teu povo, como se fosse uma simples rola; não o deixes assim neste estado de aflição. Lembra-te da tua aliança, pois nos lugares obscuros da terra as pessoas planeiam cometer violência! Que o oprimido não fique sem desforra; que o aflito e o necessitado ainda tenham muitas razões para louvarem o teu nome! Levanta-te, ó Deus, defende aquilo que afinal é a tua própria causa! Lembra-te dos insultos que esta gente louca profere todo o dia. Não te esqueças dos gritos de ódio dos teus inimigos; a sua revolta vai aumentando cada vez mais contra ti. Como te estamos gratos, ó Deus! Como te louvamos! Os teus poderosos milagres são a prova de que a força do teu nome atua no nosso meio. “Sim!”, responde o Senhor. “Quando chegar a altura, no lugar determinado, hei de julgar com toda a justiça. Ainda que a Terra trema e os seus habitantes vivam na confusão, eu mantenho as suas colunas firmes. Disse aos orgulhosos: ‘Parem com a loucura da vossa arrogância!’ E aos perversos: ‘Não levantem a cabeça com insolência! Acabem com a vossa atitude altiva! Não continuem nessa dura obstinação!’ ” Porque o progresso e o poder não vêm do deserto nem das montanhas; nem do Oriente, nem do Ocidente; Deus é o perfeito juiz; sabe quem deve honrar e quem deve submeter. O Senhor tem na mão uma taça de vinho, vinho amargo e fermentado; toda a gente perversa, que o tem rejeitado na Terra, dele beberá, até à última gota. Quanto a mim, hei de afirmá-lo para sempre, cantando louvores ao Deus de Jacob. Deus diz: “Acabarei com o poder dos homens perversos mas aumentarei a força dos justos.” Deus é bem conhecido em Judá; o seu nome tem grande prestígio em Israel. É em Salém (Jerusalém) que está a sua habitação; a sua morada é no monte Sião. Ali ele destrói as armas de combate do inimigo: escudos, espadas, arcos e flechas. As montanhas eternas não podem ser comparadas contigo em glória. Os mais valentes dos nossos adversários foram despojados; jazem na terra, no sono da morte. Nenhum dos seus mais valentes combatentes foi capaz de levantar as mãos contra nós. Quando os repreendes, ó Deus de Jacob, os carros de combate e os seus ocupantes caem. Por isso, és grandemente temido. Quem pode ficar impassível, quando te exaltas na tua severidade? A tua sentença faz-se ouvir desde os céus; a terra tremeu e ficou silenciosa diante de ti. Levantaste-te para punir os malfeitores e para defenderes os aflitos na terra. A cólera dos homens só fará com que sejas louvado; os que escaparem à tua ira servir-te-ão de adorno. Cumpram os votos que fizerem ao Senhor, vosso Deus; tragam-lhe presentes, os que vivem perto dele, pois deve ser respeitado e temido. Ele tem na sua mão a vida, mesmo a dos homens mais importantes, e causa espanto até aos reis da Terra. Clamo a Deus, elevo-lhe a minha voz; tenho-me dirigido a ele para que me ouça. Quando me encontrava angustiado procurei o Senhor. Durante toda a noite levantei-lhe, sem cessar, as minhas mãos em oração; recusava qualquer tipo de consolação. Pensava em Deus e gemia; queixava-me e o meu espírito desfalecia. Fugia-me o sono; estava tão perturbado que nem conseguia orar. Lembrava-me dos dias passados, de há já muito tempo, em que enchia as noites de cânticos; comecei então a refletir e examinar-me. Será que o Senhor nos rejeitará para sempre e nunca mais nos será favorável? Terá a sua bondade terminado definitivamente? As suas promessas, que se têm cumprido de geração em geração, terão agora falhado? Ter-se-á Deus esquecido da misericórdia ou a sua cólera sido maior que o seu amor? Então disse para mim mesmo: “O mal está em mim!” Terá o poder da mão de Deus deixado de ser o mesmo? Recordarei, pois, as obras do Senhor, todos os seus milagres maravilhosos, desde os tempos da antiguidade. Meditarei em todos os teus feitos, recordá-los-ei de novo no meu espírito. Ó Deus, os teus caminhos são santos; onde encontrarei um deus poderoso como tu? És o Deus que opera maravilhas; tornas conhecida a tua força entre os povos. Salvaste-nos com a força do teu braço, a nós, o teu povo, os filhos de Jacob e José. Quando as águas do mar Vermelho te viram, recuaram de medo e o fundo do mar tremeu. Grossas nuvens se desfizeram em chuva; os céus ecoaram com trovões, foram atravessados de ponta a ponta com relâmpagos. O barulho dos trovões encheu os ares; a luz dos relâmpagos acendeu-se sobre o mundo; a terra tremeu e foi sacudida. Abriste um caminho pelo meio do mar, uma estrada através do mar alto; um caminho que nunca ninguém tinha visto. Foi assim que guiaste o teu povo, como um rebanho, pela mão de Moisés e Aarão. Meu povo, presta atenção ao meu ensino; abre os ouvidos às palavras da minha boca. Falarei por parábolas; explicarei mistérios desde a antiguidade. Os problemas que os nossos pais enfrentaram e que servem para nos ensinar a nós; coisas que ouvimos e sabemos, que os nossos pais nos contaram. Também não deixaremos de contar e de mostrar às gerações futuras as coisas pelas quais o Senhor deve ser louvado, o seu poder e todos os seus milagres. Deus deu o seu testemunho a Jacob, e estabeleceu a sua Lei em Israel; mandou que os nossos pais os dessem a conhecer aos seus filhos. Para que as gerações futuras os conhecessem; foi assim que passaram de geração em geração. Pois era necessário que confiassem em Deus; não esquecessem as suas obras maravilhosas e sempre guardassem os seus mandamentos. Que não fossem como os seus antepassados, gente teimosa e rebelde, que não soube entregar o seu coração a Deus nem submeter-lhe fielmente o seu espírito. O povo de Efraim, completamente armado, virou as costas à batalha, tomado de medo. Não se manteve fiel à aliança de Deus e recusou andar na sua Lei. Esqueceu-se das obras e dos milagres que fizera na sua frente. E também na frente dos seus pais, lá no Egito e em Zoã. Dividiu o mar em dois e fê-los passar; fez com que as águas se amontoassem e atravessaram. De dia guiava-os com uma nuvem branca e de noite com um clarão de fogo. Fez as rochas abrirem-se para lhes dar água que correu com a abundância de um rio. Fez com que fontes saíssem das rochas, donde brotaram caudais de água. Mesmo assim, continuaram a pecar; não tiveram medo de, ali no deserto, desafiar o Altíssimo. Queixaram-se, exigindo que Deus lhes desse outra comida, pois apetecia-lhes carne. Revoltavam-se, dizendo: “Será Deus capaz de servir-nos à mesa no deserto? É verdade que ele bateu na rocha e dela saiu água; tanta que formava um rio! Mas poderá ele dar-nos também pão, e preparar carne verdadeira para o seu povo?” Ouvindo isto, acendeu-se a ira do Senhor, que lançou fogo contra Jacob e também se indignou contra Israel. Pois não creram em Deus, nem na sua capacidade para os salvar. Isto apesar do Senhor já ter ordenado que se abrissem as janelas do céu. Fez chover sobre eles o maná, que era o pão do céu, para se alimentarem. Assim puderam comer a comida dos anjos, tanta quanto quiseram, até fartar! Contudo, Deus fez que soprasse com força um vento de oriente e também do sul. Este trouxe sobre eles bandos de aves que mais pareciam nuvens de pó ou de areia, como quando se levanta o vento na praia. As aves vieram parar-lhes mesmo às mãos, ali onde estavam, no meio das suas tendas. E o povo comeu até se fartar; tiveram o que desejavam. Contudo, mal tinham satisfeito o seu apetite, ainda tinham aquela comida na boca. A ira de Deus caiu sobre eles e matou os mais fortes, a elite de Israel! Pois nem mesmo assim deixaram de pecar; continuaram sem acreditar, sem ligar aos milagres do Senhor. Por isso, reduziu as suas vidas a dias sem sentido, a anos cheios de angústia. Sempre que Deus os deixava sentir o terror da morte, voltavam-se para ele e buscavam-no com ansiedade. Lembravam-se que Deus era como um rochedo firme e que o Deus altíssimo era o seu Redentor. No entanto, o culto que lhe prestavam era só de boca; no fundo mentiam-lhe! Os seus corações não eram retos para com Deus; não foram fiéis à sua aliança. Mas Deus, que é extremamente misericordioso, perdoou-lhes a sua maldade e não os destruiu; frequentemente suspendeu o rigor da sua justiça e indignação. Porque se lembrava que eram meros humanos; mortais que desaparecem num momento, como um vento que sopra e não volta. Oh! Quantas vezes ofenderam a Deus no deserto e na solidão o provocaram! Quantas vezes puseram Deus à prova; irritaram constantemente o Santo de Israel. Esqueceram-se da força que tem a sua mão; de tudo o que já tinha feito para livrá-los dos adversários. Esqueceram-se dos milagres que fez no Egito, e das maravilhas que fez acontecer nos campos de Zoã. Como transformou em sangue as águas dos rios, de modo que ninguém podia matar a sede. Como mandou grandes enxames de moscas, que cobriram a terra, e também rãs que encheram todo o Egito! As lagartas comeram-lhes as plantas e os gafanhotos levaram o produto de todo o seu trabalho. Destruiu-lhes as vinhas e as figueiras bravas com a saraiva. Também o gado foi morto pelo granizo e os rebanhos desvastados pelos raios. Soltou sobre eles a intensidade de toda a sua severidade e indignação; mandou-lhes angústias. Deu livre curso à sua cólera, não lhes poupou a vida; deixou-os entregues às doenças e às pestes. Tirou a vida ao filho mais velho das famílias egípcias, aqueles que constituíam os descendentes de Cam. Contudo, conduziu o seu povo através do deserto, como um pastor que leva o rebanho. Guiou-os com segurança, para não terem de recear coisa alguma; aos adversários do seu povo, porém, o mar os cobriu. Conduziu-os até à entrada daquela terra santa, que lhes tinha destinado; até ao monte que, com o seu poder, lhes tinha reservado. Expulsou as nações que ocupavam essa terra e repartiu-a por cada uma das tribos de Israel. Contudo, continuaram a revoltar-se, e puseram à prova o Deus altíssimo; recusaram obedecer aos seus mandamentos. Desviaram-se de Deus e foram-lhe infiéis e foram desobedientes como os seus pais; portaram-se como um arco cuja flecha se vira contra o atirador. Fizeram suscitar a cólera de Deus, levantando altares a outros deuses e fazendo imagens para adorarem. Ao ouvir isto Deus ficou altamente indignado e rejeitou Israel. Por isso, abandonou a sua morada em Silo, onde habitara no meio dos homens. Permitiu que a sua arca, que representava a sua força e esplendor, fosse capturada pelo inimigo. Deixou que o seu povo fosse chacinado, porque estava intensamente irado. Os seus jovens foram mortos pelo fogo e as raparigas calaram as canções de noivado, antes de atingirem a idade do casamento. Os sacerdotes foram assassinados e as suas viúvas não puderam chorá-los. Até que o Senhor se levantou, como se despertasse dum sono, ou como um guerreiro que recobra os sentidos, depois de uma noite de festa. Dispersou os seus inimigos, que se puseram em fuga, entregues a um desprezo permanente. Depois o Senhor entendeu por bem não considerar a família de José, a tribo de Efraim. Em seu lugar escolheu a tribo de Judá e o monte Sião que ele amava. Ali construiu um célebre templo, como a Terra que estabeleceu para sempre. Também escolheu David para o servir, quando este era pastor de ovelhas. David deixou as ovelhas e os cordeirinhos, para ser o pastor de Jacob, o povo de Deus, e de Israel, a sua propriedade. Ele conduziu esse rebanho do Senhor, com integridade de coração e mãos hábeis. Ó Deus, a tua terra foi ocupada por nações pagãs. Profanaram o teu santo templo; reduziram-no a um montão de ruínas. Deram os cadáveres dos teus servos por alimento às aves e aos animais da terra. O seu sangue correu por Jerusalém, como se fosse água, e nem sequer houve alguém para os enterrar. Tornámo-nos alvo da zombaria dos nossos vizinhos. Até quando, Senhor, ficarás zangado connosco? Continuará para sempre acesa a tua indignação? Deixa cair a tua cólera sobre as nações pecadoras, que não te conhecem, e sobre os povos que não querem invocar o teu nome, mas não sobre nós. Porque eles destruíram Jacob, o teu povo, e invadiram as suas moradas. Não te lembres dos nossos pecados passados. Que a tua profunda compaixão venha depressa ao encontro das nossas necessidades, pois estamos muito abatidos. Ajuda-nos, ó Deus, nosso Salvador! Ajuda-nos pela honra do teu nome! Livra-nos e perdoa os nossos pecados, por amor do teu nome! Porque hão de dizer os povos estrangeiros: “Onde está o Deus deles?” Senhor, vinga publicamente o extermínio do teu povo. Ouve o suspiro dos presos e dos condenados à morte, segundo a grandeza do teu poder. Vinga-te sete vezes das nações vizinhas que te injuriaram e ofenderam, Senhor. E assim nós, o teu povo, as tuas ovelhas, te louvaremos para sempre, de geração em geração. Ó Pastor de Israel, inclina os teus ouvidos à minha súplica, tu que guias o teu povo como um rebanho, tu que habitas entre os querubins, mostra o teu poder, faz brilhar a tua glória. Revela todo o poder que tens para salvar diante de todos os que são teus, diante de Efraim, de Benjamim e de Manassés. Faz-nos voltar de novo para ti, ó Deus! Faz resplandecer a tua face sobre nós e seremos salvos! Ó Senhor, Deus dos exércitos, continuarás indignado, rejeitando a oração do teu povo? Tens-nos sustentado com abundância de tristeza e lágrimas. Transformaste-nos num objeto de desprezo para os nossos vizinhos; os nossos inimigos riem de nós, entre si. Faz-nos voltar de novo para ti, ó Deus dos exércitos! Faz resplandecer a tua face sobre nós e seremos salvos! Trouxeste-nos do Egito como se fôssemos uma delicada planta de videira; tiraste da terra os povos pagãos para nos plantares. Limpaste o terreno e preparaste o solo; criámos raízes e enchemos a terra. Os montes cobriram-se com a sombra das nossas habitações; a nossa força cresceu como ramos de cedros gigantes. Estendemo-nos desde o grande rio; do Eufrates até ao mar. Porque deixastes que os nossos muros fossem derrubados? Toda a gente que passa pelos nossos campos tira o que quer. O javali e todos os animais selvagens nos devoram e nos devastam. Ó Deus dos exércitos, volta-te para nós! Olha dos céus, vê a nossa aflição e visita esta vinha. Sim, protege esta videira que tu próprio plantaste, que regaste e criaste. Fomos queimados e cortados pelos nossos inimigos. Que eles pereçam pela tua desaprovação! Seja a tua mão sobre o homem da tua destra, sobre o filho do homem que fortaleceste para ti! E nunca mais te abandonaremos; Guarda a nossa vida e invocaremos o teu nome. Ó Senhor, Deus dos exércitos, faz resplandecer a tua face sobre nós e seremos salvos! Cantem para Deus com toda a alegria! Ele é quem nos dá a força. Cantem louvores ao Deus de Jacob! Cantem com acompanhamento de instrumentos; com tambores, com a harpa suave e com a lira. Toquem a trombeta! Venham participar nas festas da lua nova e da lua cheia, que é a nossa grande festa! Porque tudo isto foi ordenado por Deus, foi mandado pelo Deus de Jacob. Para lembrança, entre os descendentes de José, do tempo em que saíram do Egito. Ali ouvimos uma voz desconhecida, que disse: “Tirarei dos seus ombros aquele fardo; as suas mãos ficarão livres de tarefas pesadas. Clamaste na tua angústia e eu te livrei; respondi-te, do lugar oculto dos trovões. Provei a tua fé em Meribá, quando te queixaste de falta de água. Ouve, povo meu, o meu solene aviso. Ah! Israel, se tu me ouvisses! Eu tinha-te dito: ‘Nunca adorarás outros deuses; não prestarás culto a ídolos. Pois eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito. Experimenta abrir a tua boca e verás como te encherei das minhas bênçãos.’ Mas o meu povo não quis ouvir-me; Israel rejeitou-me. Por isso, os deixarei entregues a si mesmos e aos desejos dos seus corações. Ah! Se o meu povo me tivesse escutado, e tivesse aceitado andar nos meus caminhos! Como teria rapidamente subjugado os seus inimigos! Como me teria oposto aos seus adversários! Os que desprezam o Senhor ter-se-iam sujeitado; teriam sido vencidos para sempre. Eu teria sustentado Israel com o trigo mais fino; tê-lo-ia satisfeito com o delicioso mel que escorre da rocha.” Deus levantou-se na assembleia celeste. Ele julga os juízes: “Até quando continuarão a julgar sem justiça e a considerar as pessoas segundo as aparências? Saiam em defesa dos órfãos e dos pobres; em favor dos aflitos e necessitados. Livrem os miseráveis e os infelizes das mãos dos homens perversos que os oprimem. Eles não sabem nada da justiça divina; nada percebem e andam como cegos. Os fundamentos da sociedade estão abalados. Eu tenho-vos dito que vocês são deuses, que são filhos do Deus altíssimo. Mas perante a morte vocês são simples humanos; hão de morrer um dia, como os grandes da sociedade.” Levanta-te, ó Deus, e julga a Terra, pois todos os povos te pertencem! Ó Deus, não fiques em silêncio! Não feches os ouvidos nem fiques impassível ao nosso apelo. Os teus inimigos agitam-se; os que te aborrecem levantam a cabeça com arrogância. Com astúcia conspiram contra o teu povo, contra os teus protegidos. “Venham”, dizem, “vamos riscar Israel do mapa, de forma a que mais ninguém se lembre da sua existência!” Esta foi a decisão unânime que tomaram e assim todos se aliaram contra ti. Os de Edom e os ismaelitas; os de Moabe e os hagarenos. Os povos de Gebal, Amon, Amaleque e da Filisteia, e ainda os habitantes de Tiro. Também a Assíria fez aliança com eles; aliou-se com os descendentes de Lot. Faz com eles, Senhor, o que fizeste com os midianitas ou com Sísera, e com Jabim junto ao ribeiro de Quisom. Como fizeste com os teus inimigos em En-Dor, cujos corpos vieram a servir de estrume. Faz aos grandes senhores deles o mesmo que a Orebe e a Zeebe; que todos os seus chefes morram como Zeba e Zalmuna. Estes disseram: “Ficaremos com essas belas terras de Deus!” Ó Deus, sopra-os como pó, como palha ao vento. Como o fogo numa floresta, que tudo queima de montanha em montanha. Da mesma forma, a tua tempestade os persiga, com vendavais e ciclones. Sintam-se envergonhados pela sua conduta reprovável e reconheçam o poder e a força do teu nome, Senhor. Que qualquer empreendimento deles seja sempre um fracasso; sejam abatidos pela vergonha, sejam, enfim, derrotados! Para que saibam que só tu tens o nome de Senhor; tu que estás acima de tudo e de todos sobre a face da Terra! Como é bom estar no teu templo, ó Senhor dos exércitos! Eu anseio, tenho um desejo profundo de entrar nos átrios da tua habitação. Todo o meu ser reclama a presença do Deus vivo! Até os pardais e as andorinhas têm a felicidade de poder abrigar-se e fazer o ninho, para si e para os filhotes, perto do teu altar, Senhor dos exércitos, meu Rei e meu Deus! Felizes os que têm o privilégio de habitar na tua casa cantando a ti louvores! Felizes aqueles cuja força vem de ti e desejam, de coração, peregrinar nos teus caminhos! Quando atravessarem o vale de Baca, farão dele um lugar de fontes, um lugar cheio das chuvas das tuas bênçãos! E assim, com as forças constantemente renovadas, irão apresentar-se perante Deus, em Sião. Ó Senhor, Deus dos exércitos, escuta a minha oração! Inclina os teus ouvidos, ó Deus de Jacob! Ó Deus, nosso defensor, tem compaixão daquele que escolheste, daquele que elegeste como rei! Porque vale mais um dia passado nos teus átrios, do que uma vida inteira noutro sítio qualquer. Preferia ficar à porta da morada do meu Deus a viver em palácios, onde haja maldade. Porque o Senhor Deus é como um Sol e um escudo; dá-nos a sua bondade e deseja honrar-nos. Não negará bem algum aos que andam na retidão. Senhor dos exércitos, felizes são os que confiam em ti! Senhor, tu tens abençoado esta terra que é tua; restauraste a prosperidade de Jacob. Perdoaste os pecados do teu povo; sim, apagaste-os todos. A tua indignação terminou; desviaste de nós o ardor da tua ira. Torna a trazer-nos de novo para junto de ti, ó Deus, nosso Salvador, para que não precises mais de estar contra nós. Ou ficarás para sempre zangado, até mesmo com as gerações futuras? Dá-nos uma vida nova, para que nos tornemos a alegrar em ti. Mostra-nos o teu amor e a tua bondade, Senhor; concede-nos a tua salvação. Ouço atentamente tudo quanto Deus, o Senhor, diz; fala de paz ao seu povo, aos que lhe pertencem, desde que não voltem a pecar. Sem dúvida a salvação está perto daqueles que o temem; a nossa terra se encherá da sua glória. A misericórdia e a verdade encontraram-se; a justiça e a paz beijaram-se. A verdade sairá da Terra e a justiça olhará desde os céus. O Senhor dará as suas bênçãos e a terra produzirá abundantes colheitas. A justiça irá na sua frente, preparando o caminho aberto pelos seus passos. Presta atenção à minha oração, Senhor; ouve-me, pois estou bem necessitado e aflito. Guarda a minha alma, pois sou teu, ó Deus meu; salva-me, pois eu te sirvo e confio em ti. Tem misericórdia de mim, ó Senhor, pois chamo por ti o dia inteiro. Dá-me alegria, Senhor, pois estou ao teu serviço; é a ti que a minha alma se dirige. Tu, Senhor, és bom e pronto a perdoar; cheio de bondade para os que apelam à tua ajuda. Ouve atentamente a minha oração, Senhor; atende a voz das minhas súplicas. Chamarei por ti, quando me encontrar em angústia, porque sei que me respondes. Entre os deuses não há nenhum que se assemelhe a ti, nem que faça obras como as tuas. Todas as nações, que tu próprio formaste, virão e se inclinarão perante ti, Senhor; dirão coisas belas sobre a força do teu nome. Porque és grande e realizas grandes maravilhas. Só tu és Deus! Ensina-me, Senhor, o teu caminho e andarei na tua verdade; que todo o meu ser saiba temer o teu nome! Eu te louvarei de todo o meu coração, Senhor, meu Deus, e darei honra ao teu nome para sempre. Pois tem sido grande a tua misericórdia para comigo; livraste a minha alma das profundezas do mundo dos mortos. Ó Deus, gente soberba levantou-se contra mim; ajuntamentos de pessoas violentas, verdadeiros tiranos que procuram matar-me e nem sequer pensam que tu podes ver tudo. Mas tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão e misericórdia; és meigo e bom e nunca falhas ao que prometes. Olha para mim e compadece-te da minha situação; dá-me força para te servir e salva-me, pois sou filho de uma mulher que também te serviu! Dá-me uma prova do teu favor, para que a vejam os que te aborrecem e sejam condenados por toda a gente, quando virem, que tu, Senhor, me ajudas e confortas. Sião tem os seus fundamentos entre as montanhas santas de Deus. O Senhor ama os portões de Sião, mais do que qualquer outra morada de Jacob. Coisas maravilhosas se dizem de ti, ó cidade de Deus! “Gente de Raab e da Babilónia estará entre os que me reconhecem como seu Deus; gentes da Filisteia, de Tiro e de Cuche serão consideradas cidadãos de Jerusalém.” E de Sião se dirá: “Este e aquele nasceram ali! Foi o Altíssimo que a estabeleceu.” E o Senhor os inscreverá no registo dos povos como tendo nascido ali. E os cantores, acompanhados de instrumentistas, a louvarão dizendo: “Tu és a fonte de todo o bem da minha vida!” Senhor, Deus da minha salvação, tenho clamado por ti de dia e de noite. Que a minha oração chegue até ti; inclina os teus ouvidos ao meu apelo. Porque a minha alma está cheia de angústias e sinto-me perto do mundo dos mortos. É como se fizesse já parte do número dos que vão descer ao abismo. Sou uma criatura sem vigor algum. Estou como se tivesse sido lançado no monte dos casos perdidos, sem esperança. É como se não te lembrasses mais de mim, como se a tua mão me tivesse afastado, por eu estar numa situação desesperada. Puseste-me num profundo abismo, em densas trevas. A tua cólera pesa sobre mim; as tuas vagas derrubam-me. Fizeste com que os meus amigos me abandonassem; foram-se embora porque me detestavam. Sinto-me como um prisioneiro; não vejo saída para isto. Tenho os olhos cansados de tanto chorar de aflição; clamo por ti todos os dias, estendendo-te as mãos. Um corpo morto não poderá falar das tuas maravilhas; a alma dos mortos não irá levantar-se para te louvar. Debaixo da terra, nas sepulturas, não poderá ser anunciada a tua bondade e a fidelidade com que socorres os teus. Na escuridão não se poderá falar dos teus milagres, nem da tua justiça na terra do esquecimento. Mas eu, Senhor, logo de madrugada clamo por ti, dirigindo-te a minha oração. Senhor, porque recusas o teu favor à minha alma? Porque viras de mim o teu rosto? Desde a minha mocidade que sou fraco, doente, sempre à beira da morte; o terror de me sentir desamparado por ti abate-me. A tua ardente indignação abate-se sobre mim; os teus terrores vão acabando comigo. Estes receios e terrores apertam-me, rodeiam-me de manhã à noite. E tudo isto faz com que amigos e companheiros se afastem para longe de mim. Em lugar da amizade dos que me rodeavam na intimidade, agora só tenho trevas à minha volta. Cantarei constantemente a bondade do Senhor; a minha boca anunciará às gerações vindouras como te manténs fiel às tuas promessas. Direi que a tua bondade é eterna; confirmaste a tua fidelidade até no céu. Disse o Senhor: “Fiz uma aliança solene com David, aquele que eu próprio escolhi: A tua dinastia será estabelecida para sempre e firmarei o teu trono eternamente.” Os céus te louvarão pelas tuas maravilhas, ó Senhor; milhares de anjos te darão louvores, por seres fiel à tua palavra. Quem, em todo o universo, se pode comparar com o Senhor? Qual dos anjos mais poderosos é semelhante a Deus? Ele é extremamente admirado na assembleia dos anjos; é grandemente reverenciado por todos os que o cercam. Ó Senhor, Deus dos exércitos, quem é tão forte como tu? A fidelidade faz parte do teu próprio carácter. Tu dominas a força do mar; acalmas as vagas que se levantam sob a violência das tempestades. Abateste o altivo Raab como se fosse ferido de morte; dispersaste os inimigos com o teu poderoso e forte braço. Pertencem-te os céus e a Terra; criaste o universo com tudo o que nele existe. Toda a Terra, de norte a sul, foi criada pelas tuas mãos; os montes Tabor e Hermon alegram-se, por serem uma obra assinada pelo teu nome. O teu braço é poderoso! Forte é a tua mão! A sua força atua eficazmente até na glória do céu! A justiça e a retidão são as bases do teu trono; a misericórdia e a verdade vão à tua frente. Feliz é o povo que conhece e que responde ao som festivo da trombeta e que toca para te celebrar! Esses andarão na luz da tua presença. Alegrar-se-ão o dia inteiro no prestígio que tem o teu nome e a tua justiça. Tu és o esplendor da sua força: o nosso poder está fundamentado no teu favor. Porque o nosso rei, que é para nós como um escudo, pertence ao Senhor; o rei pertence ao Santo de Israel. Numa visão, falaste aos teus servos fiéis: “Prestei ajuda a alguém que é um herói e cheio de vontade, que vem do meio do povo. É David quem me servirá! Nomeei-o e qualifiquei-o através do santo óleo que recebeu de mim. Firmá-lo-ei e o fortalecerei com o meu forte braço. O inimigo nunca lhe passará por cima; os filhos da maldade não o afligirão. Derrubarei os seus inimigos na sua frente; destruirei os que o aborrecem. Acompanhá-lo-ei com a minha bondade; terá sempre a garantia da minha fidelidade. O seu poder eu estenderei sobre os mares; dominará desde os rios até ao mar. Invocar-me-á, dizendo: ‘És o meu Pai, o meu Deus, a rocha da minha salvação.’ Também, por isso, o tratarei com a honra que se dá a um filho mais velho; farei dele o mais poderoso dos reis da Terra. Manterei para sempre a minha bondade para com ele; a aliança de amor que faço com ele nunca será anulada. Terá sempre um herdeiro e o seu trono não terá fim; será como os dias do céu! Mas, se os seus filhos deixarem a minha Lei, e não seguirem os meus mandamentos, se desprezarem os meus estatutos, interpretando-os segundo os seus interesses, então virei junto deles para os castigar, para punir a sua maldade. Contudo, não retirarei dele a minha bondade, nem deixarei de cumprir a minha promessa. Não anularei a minha aliança com ele, nem retirarei uma só palavra que saiu dos meus lábios. Porque o jurei a David, como Deus santo que não pode mentir. A sua descendência durará para sempre e o seu trono terá a duração do próprio Sol. Será como a Lua que permanece sólida, como testemunho no céu da minha fidelidade.” No entanto, tu rejeitaste e aborreceste o teu ungido; indignaste-te contra ele. Não vês com bons olhos a aliança que fizeste com ele; lançaste a sua coroa no pó da terra. Derribaste as muralhas; deixaste em ruínas as fortificações que o defendiam. Todos os que passam por ali o despojam; os seus vizinhos o desprezam. Deste força aos seus inimigos, os quais têm tido fortes razões para se regozijarem. As suas armas encravaram-se, não prestam; retiraste-lhe a tua ajuda na batalha. Acabaste com o esplendor que tinha antes; o seu trono caiu. Envelheceu antes do tempo; cobriste-o de vergonha. Até quando, Senhor, será assim? Vais ignorar para sempre o meu apelo? Deixarás que a tua ira se acenda como um fogo? Lembra-te como são breves os dias da minha vida; tu não criaste os homens para uma vida inútil e vazia. Também não há ninguém que viva para sempre, sem conhecer a morte; que tenha a capacidade de se livrar do poder do mundo dos mortos. Senhor, onde está o amor que mostraste para com David, antigamente, e que lhe juraste com a verdade da tua palavra? Lembra-te da vergonha em que se encontra o teu povo; trago no peito a marca do escárnio de toda essa gente. Gente que tem posto a tua honra de rastos, pois são teus inimigos, Senhor; riem-se da vida deste, que tu escolheste e ungiste. Bendito seja o Senhor, para sempre! Amém! Assim seja! Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, através dos tempos. Antes de formares as montanhas, antes mesmo de criares a Terra e todo o universo, sim, desde a eternidade tu és Deus. Tu falas e fazes voltar a criatura humana ao pó de onde veio. Mil anos são para ti apenas como o dia de ontem que se foi ou como uma simples hora que passa, durante a noite. Nós passamos, no tempo, tão rapidamente como uma corrente de água. A vida passa como o sono, como a relva que floresce de madrugada. Somos como a relva que, de manhã, é verde; depois, sendo cortada, murcha antes que caia a noite. Se a tua severidade se acende, somos consumidos; se cairmos na alçada da tua condenação, o teu castigo nos esmagará. A nossa maldade está exposta diante de ti; o nosso pecado oculto é revelado sob a luz da tua face. Não é de admirar que os nossos dias se tornem longos e pesados sob a tua indignação; os nossos anos vão-se como um suspiro. A duração da nossa vida é setenta anos; se alguns, pela sua robustez, chegam aos oitenta, o que a vida lhes dá é só cansaço e aborrecimento; o tempo passa tão rápido que temos a sensação de voarmos. Quem é capaz de avaliar a força da tua ira? Quem não teme a violência do teu desagrado? Ensina-nos a contar os nossos dias, para que os nossos corações se encham de sabedoria. Volta-te para nós, Senhor! Até quando teremos de esperar? Sê benigno para connosco os que te servimos. Pela manhã, satisfaz-nos com a tua bondade e teremos alegria até ao fim das nossas vidas. Dá-nos a felicidade por tanto tempo quanto aquele em que fomos afligidos e em que passámos por dias muito difíceis. Que possamos de novo ver as tuas maravilhas! Que os nossos filhos se familiarizem com a tua glória no meio do povo que te serve! Que o favor do Senhor nosso Deus seja sobre nós! Consolida tu próprio o trabalho que fazemos! Sim, confirma aquilo que fazem as nossas mãos! Aquele que mora escondido na presença do Altíssimo vive descansado à sombra do Todo-Poderoso. Quero declarar: “Deus é o meu refúgio, o meu lugar forte; confio plenamente nele!” Deus te livrará de todas as armadilhas; ele livra-te das pestes malignas! Cobre-te com as suas asas e estarás seguro. A sua verdade, as suas promessas que não falham, é para ti um escudo e uma armadura. Não terás medo dos males que ferem, inesperadamente durante a noite, nem da seta que voa em pleno dia. Nem sequer das calamidades que espreitam, nem dos desastres que matam em pleno Sol. Poderão cair mil pessoas à tua volta; dez mil podem ser abatidas ao teu lado, mas tu não serás atingido. Não terás mais do que olhar e refletir na forma como os maus são castigados. Porque fizeste do Senhor o teu refúgio, do Altíssimo a tua habitação. Por isso, nenhum mal te acontecerá; nenhuma praga atingirá a tua tenda. Deus dará ordens aos seus anjos para que te guardem, seja onde for que estiveres. Eles te susterão com as suas mãos, para que não tropeces nas pedras do caminho. Podes enfrentar um leão ou pisar uma serpente e até esmagar ambos sob os teus pés. O Senhor diz: “Visto que tanto me amou, eu o livrarei; hei de trazê-lo para um alto lugar, porque conhece o meu nome. Quando chamar por mim, responder-lhe-ei; estarei com ele quando se encontrar em angústia; livrá-lo-ei e o honrarei. Dar-lhe-ei uma vida longa e lhe revelarei a minha salvação!” É agradável louvar-te, ó Senhor, cantar hinos ao teu nome, ó Altíssimo! Como é bom anunciar, logo de manhãzinha, o teu grande amor e à noite afirmar a tua fidelidade. Cantem louvores ao som da lira e da cítara, e com a música suave da harpa. Porque tu, Senhor, tornaste-me tão feliz com tudo quanto tens feito; regozijo-me intensamente com as tuas obras. Como são grandes os teus atos e como são profundos os teus pensamentos! Os insensatos não os compreendem; os loucos não compreendem. Embora os perversos prosperem como ervas daninhas, e os que praticam a iniquidade floresçam, o seu destino é serem destruídos para sempre. Mas tu, Senhor, és exaltado para sempre. Os teus inimigos, Senhor, hão de morrer; serão aniquilados todos os que praticam a maldade. Aumentaste a minha força como a de um boi selvagem; derramaste sobre mim óleo fresco e revigorante. Vi cumprido o destino dos meus adversários e executada a sentença contra os meus inimigos. Quanto aos justos, esses crescerão e se desenvolverão como palmeiras; terão a envergadura dos cedros do Líbano. Porque os que estão plantados na casa do Senhor viverão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e saudáveis. Poderão anunciar a justiça do Senhor. Ele é a minha rocha! Nele não há injustiça! O Senhor é Rei! Está revestido de majestade e poder. Por isso, também o mundo está firme, não poderá ser abalado. O teu trono é estável; tu dominas desde toda a eternidade. Os mares levantam-se revoltos, ó Senhor! Os oceanos rugem na violência das suas vagas. Mas o Senhor, lá nas alturas, é mais poderoso do que o ruído de ondas gigantes, do que um oceano agitado por um furacão. Os teus preceitos são seguros e imutáveis; a santidade caracteriza a tua casa, Senhor, eternamente. Ó Senhor Deus, a ti compete fazer justiça, castigar como recompensa do mal. Mostra assim a tua glória! Levanta-te, pois és o juiz de toda a Terra; castiga os soberbos como merecem! Até quando, ó Senhor, gente perversa esfregará as mãos de contentamento? Até quando continuarão a dizer tudo o que querem com insolência, orgulhando-se de todo o mal que fazem? Vê como oprimem o teu povo, Senhor, e o reduzem a nada; como afligem os que te pertencem. Assassinam as viúvas; matam os estrangeiros e os órfãos. E dizem: “O Senhor não há de ver! O Deus de Jacob não repara nestas coisas!” Deem atenção, vocês que parecem estúpidos e têm prazer na loucura; quando irão interessar-se pela sabedoria? Aquele que deu ao ser humano a capacidade de ouvir, seria ele surdo? Aquele que dotou as pessoas do sentido da vista, seria ele cego? Aquele que sabe e pode castigar com justiça não vos castigará também? Aquele que deu o entendimento ao homem não entenderia o que eles combinam e pensam? O Senhor conhece os pensamentos das pessoas e como os seus esforços são vãos. Felizes são aqueles que tu repreendes, Senhor, aqueles a quem ensinas a tua Lei. Porque a esses darás descanso nos dias maus, enquanto o perverso, aquele que te despreza, cairá na cova da destruição. O Senhor não abandonará nem desamparará a sua possessão. Os julgamentos voltarão a ser feitos com justiça; todos os que têm um coração íntegro seguirão o‎ Senhor. Quem estará a meu favor contra os malfeitores e do meu lado contra os que praticam a iniquidade? Se o Senhor não tivesse vindo em meu auxílio, já o meu corpo estaria na terra do silêncio. Quando eu gritei: “ Senhor, os meus pés tropeçam, vou escorregar!”, logo acorreste com a tua bondade e me amparaste. Quando se multiplicam, dentro de mim, as preocupações e os cuidados, consolas-me e trazes alegria e esperança à minha alma. Poderás dar proteção a um governo corrupto que torce as leis para pôr em execução planos injustos? Eles atentam contra a vida dos justos, e condenam à morte o inocente. Mas o Senhor é o meu mais seguro retiro; é o rochedo em que me abrigo. Deus fará recair sobre eles as consequências inevitáveis da sua iniquidade. Serão destruídos pela sua própria malícia; o Senhor, nosso Deus, ele mesmo os destruirá. Venham, cantemos para o Senhor! Cantemos com toda a alegria àquele que é a rocha que nos salva! Vamos até à sua presença com os corações cheios de louvores, dirigindo-lhe cânticos! Porque o Senhor é o Deus grande; ele é o grande Rei que está acima de tudo o que os homens consideram como deuses. Nas suas mãos está o controlo da Terra, tanto dos seus fundamentos como das mais altas montanhas. Foi ele quem fez o mar e formou a Terra, por isso, tem o domínio sobre eles. Venham e ajoelhemo-nos em adoração, perante o Senhor que nos criou! Ele é o nosso Deus. Nós somos suas ovelhas e ele é o nosso pastor. Se hoje ouvirem a sua voz, “Não endureçam os vossos corações, como no deserto em Meribá e em Massá, naquele dia em que me provocaram. Ali os vossos pais tentaram a minha paciência e duvidaram de mim, mesmo depois de terem visto tudo o que eu fiz. Durante quarenta anos andei desgostoso com esta geração. É um povo que erra constantemente; eles não conheceram os meus caminhos. Por isso, jurei, na minha cólera: não entrarão no lugar do meu descanso!” Cantem ao Senhor um cântico novo; cantem-lhe em toda a Terra! Cantem ao Senhor; deem louvores à força do seu nome! Anunciem a sua salvação dia após dia! Deem a conhecer entre todos os povos da Terra, como é excelsa a sua glória! Contem a todas as gentes as suas maravilhas! Porque o Senhor é grande e digno de todo o louvor; é muitíssimo superior a todos os chamados deuses. Esses pretensos deuses são apenas ídolos, mas o Senhor, esse é o Criador dos céus. À sua volta só há glória e majestade; a força e a beleza encontram-se no seu santuário. Ó povos de todas a nações, louvem o Senhor; reconheçam a sua grande força e glória! Sim, deem ao Senhor a glória que é devida ao seu nome! Tragam ofertas e venham aos seus átrios! Adorem o Senhor revestido de santidade! Que a Terra inteira trema na sua presença! Digam às nações: “O Senhor governa o mundo, o mundo permanece inabalável! Ele julgará os povos com perfeita justiça.” Alegrem-se os céus, regozije-se a Terra! Que os vastos mares exultem! Que tudo o que os campos produzem seja um motivo para se louvar o Senhor, pois é uma prova do seu poder. Que as árvores das florestas exaltem o Criador, porque o Senhor virá. Ele há de vir para julgar a Terra com justiça e os povos com a sua verdade. O Senhor domina e governa sobre tudo o que existe. Que a Terra inteira se alegre com isso! Que os vastos e distantes continentes se regozijem com essa verdade! Nuvens e escuridão rodeiam-no; a retidão e a justiça são os fundamentos do seu trono. À sua frente vai um fogo que consome todos os seus inimigos. Os seus relâmpagos atravessam todo o firmamento; toda a Terra vê o que acontece e estremece. As montanhas derretem-se como cera diante do Senhor que domina toda a Terra. Os céus proclamam a sua justiça; a sua glória é vista por todos os povos. Que fiquem envergonhados todos os que adoram imagens de escultura, e têm vaidade nesses ídolos inúteis! Que todos esses pretensos deuses se inclinem perante o Senhor! Sião e todas as cidades de Judá ouviram falar da tua justiça, Senhor, e se alegraram. Pois tu, Senhor, dominas sobre toda a Terra; és bem superior a todos esses falsos deuses. Os que amam o Senhor, aborreçam o mal; ele protege a vida do seu povo e livra-o da mão dos maus. A luz é feita para os retos e a alegria para os que têm um coração íntegro. Alegrem-se, os que são justos aos olhos do Senhor, e deem louvores ao nosso santo Deus! Cantem ao Senhor um cântico novo, porque ele fez coisas maravilhosas! Ele alcançou vitórias pela sua mão direita, pela força do seu santo braço. O Senhor tornou conhecida a sua vitória; manifestou a sua justiça aos olhos das nações. Lembrou-se da sua bondade e das suas promessas para com Israel. De uma à outra extremidade da Terra, todos viram a salvação de Deus. Louvem com alegria o Senhor, todos os habitantes da Terra! Que o vosso júbilo se manifeste bem alto, expandindo-se com cânticos de louvor! Cantem ao Senhor acompanhados de harpa e de coros! Que a vossa alegria possa expandir-se livremente diante do Senhor, diante do Rei, tocando com força trombetas e cornetas! Que o mar, na sua imensa vastidão, faça ecoar o rugido profundo das suas vagas! Que o mundo inteiro e todos os seus habitantes deem glória a Deus! Que o barulho dos rios seja como palmas e as montanhas festejem de alegria! Cantem na presença do Senhor, pois ele vem julgar o mundo! Julgará os povos com toda a justiça! O Senhor é quem governa o mundo. Tremam os povos! O seu assento está entre os querubins. Estremeça a Terra! O Senhor é grande em Sião; todos reconhecem que está acima das nações. Que toda a gente te louve pelo prestígio do teu nome, pois é grande e santo! O Rei determinou usar todo o seu poder, para que se faça justiça. A imparcialidade é a tua marca, Senhor; a tua justiça exerce-se em todos os filhos de Jacob. Louvem o Senhor, nosso Deus! Inclinem-se na sua presença, aproximem-se dele, pois é santo! Quando Moisés e Aarão, e também Samuel, clamavam a ele, invocando o seu nome, e ele lhes respondia. Falava-lhes da coluna de nuvem, e o povo seguia as suas instruções, os mandamentos que lhe tinha dado. Senhor, nosso Deus, tu respondias às suas orações; estavas sempre a perdoar as suas maldades, ainda que sejas um Deus castigador do pecado. Honrem grandemente o Senhor, nosso Deus! Adorem-no, no seu santo monte, em Jerusalém, porque é o Deus da santidade! Que todos os habitantes da Terra cantem ao Senhor com o coração cheio de alegria! Que todos se dediquem a servi-lo com júbilo, vindo à sua presença no meio de alegres cânticos! Que toda a gente reconheça que o Senhor é Deus! Somos, na verdade, o seu povo, as suas ovelhas; foi ele quem nos fez e somos dele. As portas da sua santa morada estão abertas de par em par; entremos por elas com louvores de gratidão. Penetremos nos seu átrios cantando-lhe hinos. Louvem-no pelo nome grande que tem! Porque o Senhor é bom; o seu amor é eterno. Ele mantém-se fiel, século após século. Senhor, cantar-te-ei um cântico que fale da tua bondade e da tua justiça. Sim, é isso que eu cantarei! Procurarei andar num caminho reto; quando virás até mim? Viverei com integridade na minha casa. Não porei os meus olhos nas pessoas indignas e perversas. Detesto os atos daqueles que fogem de ti e nem ouvir falar disso eu quero! Também recusarei que o meu coração ganhe o gosto pela perversidade; rejeito o contacto com a maldade. Serei intransigente com aqueles que caluniam o próximo nas suas costas. Não posso suportar os orgulhosos, aqueles que têm atitudes altivas e arrogantes. Admiro os que são fiéis nesta terra; esses habitarão comigo. Os que se conduzem na vida com retidão me servirão. Na minha casa nunca habitarão enganadores; não quero mentirosos na minha presença! Sem descanso, dia após dia, serei intolerante com os maus deste reino, para que a cidade do Senhor fique limpa de todos os que praticam o pecado. Senhor, peço-te que ouças a minha oração! Que escutes a minha súplica! Não te afastes de mim nesta hora de aflição! Presta bem atenção ao clamor que te lanço, neste dia de angústia, e responde-me depressa. Os dias da minha vida vão-se desfazendo como o fumo; os meus ossos ardem, no meu corpo, como lenha. Tenho o coração ferido e pisado; estou como a relva que secou. Perdi o apetite e a comida só me dá fastio. Sou só pele e osso, devido aos meus forte gemidos; a minha vida tem sido um constante sofrimento. Sou como a coruja do deserto; sou como o mocho em lugares desolados. Não consigo dormir e sinto-me só, como um pássaro solitário num telhado. Os meus inimigos não fazem outra coisa senão troçar de mim o dia inteiro; os que me querem mal atormentam-me a alma. O pão sabe-me a cinza; a minha bebida são as lágrimas que verto. Isto, por causa da tua severidade, da tua ira contra mim, pois rejeitaste-me; expulsaste-me da tua presença. A minha vida apaga-se como a sombra da noite que cai; vou secando como relva pisada e sem água. Contudo, Senhor, tu permaneces o mesmo sempre; a tua fama atravessa toda a história. Eu sei que virás cheio de compaixão para com Sião; esta é a hora determinada para teres compaixão e ajudares. Porque o teu povo ama as pedras das suas muralhas e cada grão de pó das suas ruas. Por isso, todas as nações da Terra hão de temer reverentemente o teu nome; todos os governantes se inclinarão diante da tua glória! Pois o Senhor vai reconstruir Sião; ele há de aparecer gloriosamente. Ele ouvirá as orações dos desamparados; não se esquecerá deles. Que isto fique escrito para as futuras gerações, para que aqueles que ainda hão de nascer possam louvar o Senhor! Porque o Senhor olhou desde a sua santa habitação, lá dos céus. Prestou atenção aos gemidos dos presos e decidiu libertar os condenados à morte. Para que o nome do Senhor seja anunciado em Sião e em Jerusalém, seja louvado; quando as multidões, das nacionalidades mais diversas, acorrerem para louvar e adorar o Senhor. Ele tirou-me as forças no meio da vida, encurtou os meus dias. Mas eu clamei: “Meu Deus! Não me leves a meio do caminho da vida, tu, que vives eternamente! Foste tu quem fundou a Terra; fizeste o universo com as tuas mãos. Um dia, estes desaparecerão, mas tu permanecerás. Todos acabarão, como roupa velha; tu os mudarás como vestuário que deixa de ser usado. Tu, porém, permaneces sempre o mesmo; os teus anos não têm fim. Os nossos filhos viverão seguros; e os seus descendentes florescerão diante da tua presença.” Ó minha alma, louva o Senhor! Que todo o meu ser exulte de alegria, louvando o santo nome de Deus! Ó minha alma, louva o Senhor, sem esquecer nenhuma das coisas boas que tem feito por mim! É ele quem perdoa todos os meus pecados e me cura de todas as minhas doenças! É ele quem livra a minha vida do túmulo e me enche com a sua bondade e misericórdia. Enche-me de coisas boas, de forma que a minha vida se renova como a da águia! O Senhor faz justiça a todos os oprimidos. Revelou os seus caminhos a Moisés; mostrou tudo o que podia fazer ao povo de Israel. Ele é misericordioso e compassivo; só em último caso é que aplica o seu castigo, porque é grande a sua bondade. Não guarda rancor, como os humanos, nem se mantém inflexivelmente irado para sempre. Pelo contrário, face aos nossos pecados, não nos tratou como eles mereciam, nem nos castigou como as nossas maldades requeriam! Pois a sua misericórdia para com os que o temem é tão grande quanto a altura dos céus acima da Terra. Afastou de nós os nossos pecados para tão longe, quanto o Oriente está afastado do Ocidente. Ele é como um pai afetuoso e compreensivo para com todos os que o temem. Pois conhece perfeitamente como somos feitos; lembra-se bem de que somos apenas pó! Na verdade, os nossos dias são poucos; somos como as ervas e as plantas do campo, que aparecem e crescem. Mas soprando-lhes o vento, desaparecem e só fica o lugar onde estavam! Mas a misericórdia do Senhor dura para sempre, para com os que o temem; a sua justiça é para todos os que lhe são fiéis, assim como para toda a sua descendência; para os que cumprem a sua aliança e se lembram dos seus mandamentos para os cumprir. O Senhor tem a base do seu poder nos céus e dali domina sobre todas as coisas. Louvem o Senhor, os seus anjos poderosos, que cumprem as suas ordens e obedecem à sua palavra! Louvem o Senhor, os seus exércitos celestiais, que o servem e executam a sua vontade! Louvem o Senhor, todas as suas obras, em todos os lugares do seu domínio! Ó minha alma, louva o Senhor! Ó minha alma, louva o Senhor! Senhor, meu Deus, como tu és grandioso! Estás revestido de honra e majestade. A luz te rodeia como um manto sublime; como imponente reposteiro, estendeste os céus! Escavaste na superfície da Terra abismos que encheste com os oceanos; fazes-te transportar pelas nuvens. Voas nas asas do vento; fazes dos teus mensageiros ventos e os seus ministros eficazes como fogo. És tu quem sustenta a Terra, para que não se desintegre no espaço. Envolveste a Terra com os oceanos e até as altas montanhas ficaram submersas. Falaste e, ao som da tua voz, as águas juntaram-se e formaram os oceanos. Ergueram-se as altas cordilheiras, cavaram-se os vales; tudo à medida da tua vontade. Impuseste um limite aos mares, de forma a não mais cobrirem a Terra. Deus fez rebentar nascentes nos vales que percorrem a terra, entre os montes, dando de beber a todos os animais. Dessa água bebem todos os animais do campo; até os burros selvagens matam nela a sua sede. Junto a rios e ribeiros fazem as aves os seus ninhos, cantando entre a ramagem das árvores. É ele que, lá do alto, rega as montanhas, e faz com que a Terra se encha de fruto. Faz crescer a erva que alimenta os animais; a vegetação existe para benefício da humanidade, que tira da terra grande parte do seu sustento. Também o vinho, que lhe alegra o coração, o azeite que faz brilhar a pele do rosto, e ainda o pão para lhe renovar as forças. Foi o Senhor que plantou os grandiosos, altíssimos e viçosos cedros do Líbano. Neles se aninham os mais variados pássaros; a cegonha é nos ciprestes que se abriga. No alto das montanhas refugiam-se as cabras-monteses e nem mesmo as rochas são inúteis, porque nelas se abrigam os damões-do-cabo. Deus estabeleceu que a Lua marcasse os tempos e que o Sol conhecesse o seu ocaso. Ordenou a sucessão das noites; aproveitando a sua escuridão, os animais das matas saem das suas tocas. Os filhotes dos leões rugem pedindo comida e buscam de Deus o seu alimento. Assim que o Sol nasce de novo, esgueiram-se de volta para os seus covis. É então a altura do homem sair para o trabalho, até que novamente caia a noite. Senhor, como é tão variada a tua criação! Com que sabedoria tu fizeste todas as coisas! A Terra está cheia daquilo que tu criaste! Basta olhar para esse vasto oceano, onde vive uma infinidade de criaturas maravilhosas, dos mais diversos tamanhos! Esses mares imensos são também cruzados por toda a espécie de navios; neles pode até brincar o monstro marinho! Cada um desses seres vivos depende de ti, para o seu sustento diário. Tu o forneces e eles só têm de colher; abres a tua mão e satisfazem-se com a tua generosidade. Basta que te afastes por algum tempo, para que fiquem perdidos. Se param de respirar, morrem; ficam reduzidos ao pó da terra. Pelo teu Espírito, que envias à Terra, nasce uma vida nova, e assim renovas a tua criação. Seja a glória do Senhor para sempre! Como deve alegrar-se nas suas próprias obras! A Terra treme sob o seu olhar; tocando Deus nas montanhas, logo fumegam! Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores ao meu Deus até ao fim da vida! Seja-lhe agradável a minha meditação! Ele é a fonte de toda a minha alegria. O meu desejo é que, um dia, todos os pecadores venham a desaparecer da face da Terra e que não mais exista gente que faça o mal! Ó minha alma, louva o Senhor. Louvem o Senhor! Deem graças ao Senhor e invoquem o seu nome! Contem aos povos os seus feitos! Cantem-lhe, cantem-lhe louvores e contem todas as suas maravilhas! Deem glória ao seu santo nome! Que rejubilem todos aqueles que buscam o Senhor! Procurem o Senhor! Procurem a sua força e a sua face continuamente! Lembrem-se dos seus poderosos milagres, dos seus maravilhosos feitos, dos juízos da sua palavra, vocês os seus servos, descendentes de Abraão, os descendentes de Jacob, seus eleitos. Ele é o Senhor, nosso Deus; a sua autoridade é reconhecida em toda a Terra. Ele lembra-se para sempre da sua aliança, das palavras dos seus mandamentos, dirigidos a milhares de gerações, do seu acordo feito com Abraão, do seu juramento feito a Isaque. Foi confirmado a Jacob e prometido a Israel, como aliança eterna: “Dar-te-ei a terra de Canaã por posse.” Ainda eram muito poucos e simples estrangeiros na terra prometida. Andavam de nação em nação, de um reino para outro. Deus nem por isso permitiu que alguém lhes fizesse mal; os reis eram repreendidos por amor deles. “Não façam mal algum ao meu povo escolhido!”, ordenou-lhes Deus. “Estes são meus profetas, não lhes toquem!” Fez vir um período de fome à terra de Canaã, privando-a de pão. Deixou que José fosse vendido como escravo para o Egito. Os egípcios amarraram-lhe os pés com correntes, puseram-no a ferros. Isto durou até ao momento em que a palavra do Senhor provou que ele tinha razão. Então o rei mesmo o mandou chamar e soltou-o. Fê-lo responsável por toda a sua casa e pô-lo como ministro da nação. Podia, como entendesse, exercer a sua autoridade sobre os grandes senhores do reino, e até instruir os seus próprios anciãos. Entrou então Israel no Egito, e Jacob foi viver como estrangeiro na terra de Cam. Depois disso, o povo multiplicou-se espantosamente, a ponto de tornar-se uma nação maior do que aquela no meio da qual vivia e que o ia oprimindo. Deus deixou que os egípcios aborrecessem os israelitas, profundamente, e os enganassem. Então apareceu Moisés, acompanhado de Aarão, que Deus escolheu como seu representante. Por seu intermédio fizeram-se prodígios, fenomenais, na terra de Cam. Deus enviou densas trevas; mas Moisés e Aarão não foram desobedientes à palavra de Deus. As águas tornaram-se, por toda a parte, em sangue, e não ficou um só peixe vivo! E houve uma praga de rãs como nunca se viu; até no palácio e nos aposentos privados do rei! Depois foram enxames de moscas e piolhos, que encheram o Egito de uma ponta à outra. Até a chuva se tornou, noutra ocasião, numa saraiva destruidora e raios queimaram a terra. As vinhas e as figueiras foram destruídas; por todo o lado, as árvores secaram e caíram. À chamada de Deus acorreram bandos imensos de gafanhotos e nuvens de pulgões. Comeram tudo o que encontraram; não escapou sequer uma planta, um fruto de árvore! Depois tirou a vida a todo o filho mais velho de cada família egípcia, aquele que era o orgulho e a alegria de todo o lar dessa terra. Quanto ao seu povo, tirou-os dali com toda a segurança, carregados de ouro e prata, sem que houvesse entre eles um só doente. Todo o povo egípcio se alegrou de alívio, quando os israelitas se foram, porque se tinham enchido de terror por causa deles. Deus estendeu sobre eles uma nuvem para os proteger, e de noite era como a luz dum fogo que os alumiava. A certa altura, pediram carne para comer e o Senhor mandou-lhes codornizes; alimentou-os com o maná, o pão do céu. Fez com que uma rocha se abrisse e dela jorasse água em grande abundância, até formar como que um rio, através de toda aquela terra desértica e estéril. Porque se lembrou das sagradas promessas que tinha feito a Abraão, seu fiel servidor. Fez esses que tinha escolhido como povo entrar cheios de ânimo e alegria na terra prometida. Deu-lhes um território, até ali ocupado por gentes estranhas, onde comeram, de início, o que outros tinham plantado. Tudo isso foi feito para que viessem a ser fiéis e obedientes às suas leis e mandamentos. Louvem o Senhor! Louvem o Senhor! Deem-lhe graças porque ele é bom, porque o seu amor é eterno. Quem é capaz de fazer uma relação completa das obras formidáveis que o Senhor faz? Quem é realmente capaz de louvá-lo de forma perfeita? Felizes aqueles que cumprem o que é reto, que praticam o que é justo em todas as circunstâncias. Lembra-te também de mim, Senhor, quando abençoares e salvares o teu povo! Para que participe na prosperidade daqueles que escolheste, para que me alegre com eles, e me orgulhe dos que te pertencem. Sem dúvida que nós, os da minha geração, assim como os nossos antepassados, pecámos e praticámos muita maldade. Os nossos antecessores não souberam dar o devido valor a todas as maravilhas que fizeste no Egito; bem depressa se esqueceram de toda a misericórdia que tiveste para com eles; foram rebeldes contra ti, ali à beira do mar Vermelho. Contudo, mesmo assim os salvaste, para que se mantivesse a honra do teu nome e o teu poder fosse conhecido em todo o mundo. Ordenaste ao mar Vermelho que se dividisse, formando um caminho enxuto e seco, como o próprio deserto! Dessa maneira, salvaste-os daqueles que os odiavam. E quando as águas do mar cobriram os seus adversários, nem um só, entre eles, sobreviveu! Aí, sim, creram na palavra de Deus! Cantaram-lhe louvores! Mas cedo se esqueceram do que ele havia feito; não foram capazes de esperar pelo seu conselho. Antes deixaram-se levar pela gula, ali no deserto, querendo pô-lo à prova. Deus atendeu às suas exigências, mas permitiu que as suas vidas fossem castigadas com uma grande epidemia. Depois tiveram inveja de Moisés, e até de Aarão, o homem que o Senhor tinha eleito como seu sacerdote. Por causa disso, também a terra se abriu e engoliu Datã, Abirão e os seus amigos. Veio um fogo que consumiu toda aquela gente perversa. Fizeram ainda a estátua dum bezerro e puseram-se a adorá-la em Horebe. Trocaram a presença gloriosa do próprio Deus por um simples animal que se alimenta de erva! Desprezaram assim Deus, o seu Salvador que no Egito tinha feito grandes prodígios. Que tinha feito coisas tão maravilhosas na terra de Cam e no mar Vermelho. Por isso, o Senhor decidiu que os destruiria; porém, Moisés, o homem da sua confiança, pôs-se entre o povo e o seu Deus, implorando-lhe que não os destruísse. Não contentes com isto, na altura de tomarem posse da terra prometida, recusaram lá entrar e não acreditaram nas promessas. Pelo contrário, resmungaram, recusando-se a dar ouvidos à voz do Senhor. Por isso, Deus jurou-lhes que os deixaria morrer no deserto. Que faria dispersar os seus descendentes por todas as nações da Terra. A certa altura, uniram-se aos adoradores de Baal-Peor, e comeram sacrifícios consagrados aos mortos. Isto levou o Senhor a irar-se grandemente e uma peste rebentou no meio deles. Até que Fineias se levantou e executou o juízo, e a praga cessou. Assim foi declarado justo, de geração em geração, para sempre. Também junto às nascentes de Meribá, Israel irritou o seu Deus, e por causa deles, Moisés foi castigado. Porque foram rebeldes contra o Espírito de Deus, e Moisés falou impensadamente. Além disso, os israelitas não destruíram, como o Senhor lhes tinha ordenado que fizessem, os povos maus que moravam na terra prometida. Antes se misturaram com eles e aprenderam os seus costumes. Ofereceram sacrifícios aos seus ídolos, o que veio a ser para eles uma armadilha fatal. Chegaram mesmo a sacrificar os seus próprios filhos aos demónios de Canaã. Fizeram derramar aquele sangue inocente, o sangue dos seus meninos, em honra de ídolos, poluindo a terra com essas coisas horríveis. As suas maldades os corromperam; toda aquela idolatria foi perversa aos olhos de Deus. Foi por essa razão que o Senhor se irou contra aquele povo que era seu e os detestou. Entregou-os às mãos de outras nações pagãs que os oprimiram e se tornaram senhores deles. Foram governados por gente que lhes queria mal, por gente que os humilhou. Muitas vezes os livrou dessa escravidão, mas continuaram a ser rebeldes contra o seu Deus; foram abatidos pelos seus próprios pecados. Mesmo assim, ouviu os seus gritos de aflição; prestou atenção ao seu desespero. Lembrou-se das promessas que lhes tinha feito; o grande amor que lhes tinha levou-o a ter pena deles. Por isso, fez com que os seus próprios inimigos, aqueles que os tinham derrotado e aprisionado, tivessem compaixão. Senhor, nosso Deus, salva-nos! Torna a tirar-nos do meio das nações, para que possamos louvar, em liberdade, a força do teu nome e alegrarmo-nos com esse mesmo louvor! Que o Senhor, o Deus de Israel, seja louvado por toda a eternidade! Que todos os povos da Terra digam: “Amém! Louvem o Senhor!” Deem graças ao Senhor porque ele é bom, porque o seu amor é eterno! Que aqueles a quem o Senhor salvou contem como Deus os salvou dos seus inimigos! Como tornou trazê-los dos quatro cantos da Terra, do oriente e do ocidente, do norte e das zonas do mar. Andaram desgarrados pelo deserto, isolados, sem um lar onde pudessem descansar. Andaram famintos, sedentos, desfalecendo. Mas clamaram ao Senhor, na sua tribulação, e ele os livrou das suas angústias. Levou-os, por fim, com segurança, a um lugar seguro onde habitaram. Louvem o Senhor pela sua bondade e pelas suas maravilhas para com os homens! Porque satisfez plenamente a alma que tinha sede, encheu de bens a alma que tinha fome. Quem são esses que estão sentados nas trevas, nas sombras da morte, prisioneiros da miséria, pela opressão e pela escravidão? Pois rebelaram-se contra as palavras de Deus e desprezaram os decretos do Altíssimo. Foi por isso que ele os abateu com dificuldades; caíram e ninguém houve que pudesse ajudá-los a erguerem-se de novo. Mas clamaram ao Senhor, na sua tribulação, e ele os livrou das suas angústias. Tirou-os daquelas trevas em que estavam, daquelas sombras da morte, e quebrou as cadeias que os amarravam. Louvem o Senhor pela sua bondade e pelas suas maravilhas para com os homens! Derrubou os pesados portões de bronze e despedaçou as barras de ferro das suas prisões; fez em pedaços as correntes que os amarravam. Outros houve que foram afligidos por causa das suas muitas transgressões, da loucura que os levou por caminhos de maldade. À força de tanto sofrerem, chegaram a definhar; nem sequer a comida lhes apetecia, ficando às portas da morte. Então clamaram ao Senhor, na sua tribulação, e ele os livrou das suas angústias. Lembrou-lhes a sua palavra, e as suas fraquezas foram saradas; livrou-os da destruição. Louvem o Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os homens! Ofereçam alegres sacrifícios de ação de graças, e anunciem a toda a gente as suas maravilhosas obras. E há ainda os navegantes, os marinheiros, que atravessam de lés a lés todos esses mares, cruzando as rotas do mundo; Também esses, lá no mar alto, podem ver obras maravilhosas que o Senhor fez. À sua ordem, podem levantar-se ventos tempestuosos que fazem erguer vagas imensas. Pesados navios elevam-se nas suas cristas e são mergulhados novamente no profundo abismo. A própria gente do mar encolhe-se de terror, cambaleando, vacilando como bêbedos, perdendo mesmo o controlo de si mesmos. Mas clamaram ao Senhor na sua tribulação, e ele livrou-os das suas angústias. Ele faz acabar a tormenta, acalma as vagas. A alegria volta de novo com essa bonança; Deus leva-os até ao porto desejado. Louvem o Senhor pela sua bondade e pelas suas maravilhas para com os homens! Como deveriam dar toda a honra a Deus, publicamente, e perante os anciãos conselheiros! Deus seca os rios e transforma-os em desertos. Transforma a boa terra num deserto de sal, por causa da maldade dos que nela habitam. Por outro lado, converte os desertos em terra fértil, cheia de água. Ele traz gente faminta para ali habitar e construir as suas cidades. Semeiam os campos e plantam vinhas; comem de tudo o que a terra produzir. É assim que Deus os abençoa e os ajuda a constituírem grandes famílias, fazendo multiplicar o seu gado. Vemos também que há outros que ficam pobres; em vez de progredirem, definham, abatidos pela opressão, aflição e tristeza. Deus lança desprezo sobre os orgulhosos; faz com que governantes acabem por vaguear entre as ruínas daquilo que possuíram. Contudo, aos desfavorecidos Deus os salva da opressão; no seu abrigo seguro, faz as famílias a multiplicarem-se. Estas coisas alegram as pessoas que são retas, enquanto os maus ficam mudos, sem palavras. A sabedoria consiste em prestar atenção a estas coisas, em refletir sobre a grande bondade do Senhor! Ó Deus, o meu coração está pronto para te louvar! Quero cantar-te salmos com toda a minha alma! Que a harpa e a lira comecem a tocar! Eu mesmo, ao romper do dia, cantarei a Deus. Louvar-te-ei diante dos povos, Senhor; no meio das nações cantar-te-ei salmos. Pois a tua misericórdia chega aos céus e a tua fidelidade até às nuvens. Ó Deus, engrandece-te acima dos céus! Que a tua glória brilhe sobre toda a Terra! Salva-nos, para que o povo que amas seja livre! Ouve-nos e livra-nos pela força do teu braço direito! Deus jurou pela sua santidade: “É justo que me encha de alegria; hei de repartir Siquem e medir o vale de Sucote. Gileade e Manassés ainda são meus; Efraim é o apoio da minha força e Judá me dará governantes. Moabe é para mim uma bacia de lavar e Edom como o sítio onde me descalço. Sobre a Filisteia bradarei vitória.” Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me guiará até Edom? Deus o fará, ainda que nos tenha rejeitado e nos tenha abandonado aos exércitos do inimigo. Auxilia-nos em tempos de aperto, pois de nada vale o socorro humano! Com Deus faremos coisas formidáveis; ele esmagará os nossos inimigos. Ó Deus, tu que és o objeto do meu louvor, não permaneças calado! Os perversos e mentirosos caluniam-me; dizem mentiras a meu respeito. Eles não têm razão para me odiar e estar cerradamente contra mim, como fazem. Em paga pelo meu amor são meus inimigos; quanto a mim, só me resta fazer-te oração! Pagam-me o bem com o mal, o amor com o ódio. Nomeiem um juiz corrupto e que haja um acusador contra ele à sua direita! Seja julgado e condenado! Que a sentença seja infalivelmente a sua condenação! Que até as suas orações sejam consideradas um pecado! Que os dias da sua vida sejam poucos e breves e que venha outro tirar-lhe o trabalho! Que os seus filhos fiquem órfãos e a sua mulher viúva! Que sejam expulsos das ruínas do seu lar e os seus descendentes obrigados a mendigar o pão, por terras distantes! Que os credores lancem mão de tudo o que era dele e que estranhos fiquem com tudo o que ganhou! Que ninguém tenha misericórdia dele nem dó dos seus órfãos! Que a sua posteridade venha a desaparecer e que ninguém se lembre dele, passada uma geração! Que o Senhor se lembre da maldade dos seus pais e não os tenha por inocentes! Que o Senhor tenha esses pecados sempre presentes; que ninguém se lembre que existiram esses homens! Pois recusou ser bondoso para com o seu próximo; chegou ao ponto de perseguir os que estavam aflitos, os necessitados e os que viviam com o coração angustiado; perseguiu-os até os liquidar! Visto que teve alegria na maldição dos outros, venha agora a maldição sobre ele! Se nunca quis a tua bênção, por que razão haveria agora de ser abençoado por ti? A maldição era algo que lhe era tão habitual, como a própria roupa que se veste ou a água que normalmente se bebe ou como óleo para os ossos. Que essas mesmas maldições que distribuiu se voltem agora contra ele! Que se lhes peguem como a roupa ao corpo! Que o apertem como o cinto que tem à cintura! Seja esse o castigo do Senhor aos meus inimigos, aos que dizem toda a espécie de mentiras a meu respeito e querem a destruição da minha alma. Mas tu, Senhor, meu Deus, age em meu favor, para que o teu nome seja honrado! Livra-me, porque sei que é grande a tua bondade! Estou aflito e necessitado; o meu coração vai desfalecendo. Vou resvalando pela encosta da vida, em direção à sombra da morte; em breve a vida me sacudirá como se sacode um gafanhoto. Os meus joelhos estão esfraquecidos de tanto jejuar; sou só pele e osso! Sou já, para toda a gente, como que a própria imagem do fracasso; olham para mim e abanam a cabeça. Ajuda-me, Senhor, meu Deus! Salva-me, porque és cheio de bondade! Para que toda a gente constate que intervéns na minha vida. Eles podem amaldiçoar, é certo, mas que importa se és tu quem me abençoará? Bem podem levantar-se para me destruir; mas que eles sejam envergonhados, e que o teu servo se alegre! Que fracassem em tudo o que fizerem! Que a desgraça se lhes cole à vida como a roupa ao corpo! Quero agradecer ao Senhor com todas as forças; contarei a toda a gente o que fez por mim. Pois ele permanece à direita do pobre, para o livrar dos que pretendem destruir a sua alma. Disse o Senhor ao meu Senhor: “Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.” O Senhor estabeleceu a base do teu poder em Sião, para que domines no meio dos teus inimigos. Quando exerceres o teu domínio, o teu povo virá de coração, vestindo roupas santas. A tua força será renovada diariamente, como o orvalho da madrugada. O Senhor jurou e nunca há de alterar o seu intento: “Tu és sacerdote para sempre, à semelhança de Melquisedeque.” O Senhor, ao teu lado, derrubará muitos reis, quando executar o rigor da sua justiça! Castigará nações que ficarão cheias de mortos; ferirá cabeças que se levantam altivamente. Ele se refrescará nas fontes do caminho; por isso, prosseguirá de fronte erguida. Louvem o Senhor! Louvarei o Senhor de todo o meu coração. Quero fazê-lo publicamente, na companhia dos retos e na assembleia do povo. Quero dizer como são grandes as obras do Senhor e como se sentem felizes em relembrá-las. As suas obras maravilhosas são a expressão da sua glória, da sua majestade e da sua eterna justiça. Quem poderá esquecer as maravilhas que realiza? Os seus atos são de misericórdia e de bondade! Alimenta os que o temem; nunca se esquecerá da aliança que fez com os seus! Concedeu ao seu povo a prova do seu enorme poder, oferecendo-lhe uma terra que era propriedade de muitas nações. Tudo o que faz é justo e bom; todos os seus preceitos são fiéis e justos. A essência deles é a verdade e a retidão, por isso, valem para todo o sempre! Pagou um preço pela redenção do seu povo; estabeleceu uma aliança de paz que nunca acabará. Santo e poderoso é o nome de Deus! O temor do Senhor é o fundamento da sabedoria. Verdadeiramente sábios são os que lhe obedecem. Ele há de ser louvado eternamente! Louvem o Senhor! Feliz é aquele que teme e honra o Senhor e cumpre com alegria os seus mandamentos! Os seus descendentes alcançarão prestígio. Sim, sem dúvida que a descendência daqueles que pertencem a Deus será muito abençoada! Serão ricos e prósperos; as realizações das suas vidas justas hão de permanecer. Ainda que se vejam envolvidos em trevas, a luz sempre surge para os retos, para os que são bondosos, misericordiosos e justos. Ao homem generoso tudo lhe correrá bem; os seus negócios decorrem com honestidade. Um homem assim não será derrotado; ninguém esquecerá a honra de uma pessoa justa. Não terá receio de notícias súbitas desastrosas; o seu coração está seguro porque confia no Senhor. É por isso que não tem medo, porque sabe de onde vem o seu auxílio, até ver que os seus inimigos serão derrotados. Reparte liberalmente os seus bens com os necessitados; a justiça que pratica terá efeitos duradouros. Tornar-se-á grande e honrado. O homem sem Deus, ao ver isto, fica enraivecido; range os dentes de raiva, consome-se em ódio. Os seus perversos intentos serão frustrados! Louvem o Senhor! Louvem o Senhor, aqueles que o servem! Louvem o nome do Senhor! Bendito é o nome do Senhor, agora e sempre! Que desde o oriente, onde nasce o Sol, até ao ocidente, onde se põe, haja por toda a Terra, e sempre, quem louve o Senhor! Ele domina sobre todos os povos da Terra; também no céu reina gloriosamente. Quem é como o Senhor, nosso Deus, que tem a sua habitação nos céus sublimes? Muito abaixo está o firmamento da Terra; ele se inclina para ver o que se está a passar. Levanta os pequenos da baixeza em que vivem; tira os desprotegidos da miséria e da lama. Para os pôr em igualdade de circunstâncias com os de elevada categoria social; sim, até com chefes de estado! É poderoso para fazer com que a mulher estéril se transforme numa mãe feliz! Louvem o Senhor! Quando os israelitas saíram do Egito, dessa terra de língua estranha, Judá ficou sendo o lugar do santuário de Deus e Israel tornou-se o seu domínio. O mar Vermelho, quando viu o povo aproximar-se, até se afastou para o deixar passar; o Jordão também parou para que passasse a seco. Os montes saltaram como carneiros e as colinas como cordeirinhos. Que aconteceu, ó mar Vermelho, para te dividires em dois? E tu, Jordão, porque se afastaram as tuas águas? E vocês, montes e colinas, porque se puseram a saltar como carneiros e cordeirinhos? Sim, ó Terra, treme na presença do Senhor, o Deus de Jacob! Ele fez brotar da dura rocha águas abundantes; transformou uma pedreira em fontes de água! Não somos nós, Senhor, não somos nós, mas sim o teu grande nome que queremos que seja altamente honrado, por causa da bondade e da verdade que há em ti! Por que razão hão de continuar os povos a dizer: “Onde está o Deus deles?” Quando afinal tu estás presente nos céus, fazendo plenamente a tua vontade! Os deuses deles, esses é que nada são, porque não passam de ídolos de prata e de ouro, feitos pelas mãos de meros homens! Têm boca, mas não falam. Têm olhos, mas não veem. Têm ouvidos e não ouvem. Têm nariz e não cheiram. Têm mãos e nada fazem. Têm pés e não saem do mesmo sítio. Não sai som algum da garganta deles! Os que os mandam fazer e os que neles creem, são como eles! Ó Israel, confia no Senhor! Ele é o teu ajudador e o teu protetor! Sacerdotes de Aarão, confiem também no Senhor! Ele é o vosso auxílio, o vosso escudo! Todos vocês que temem e que honram o Senhor, confiem nele! Ele é o vosso auxiliador, o vosso escudo! O Senhor, que sempre se lembrou de nós, não deixará de nos abençoar; não só a nós, que somos o seu povo, Israel, como os sacerdotes que são a família de Aarão. Ele abençoará todos os que o temem, grandes e pequenos. Que o Senhor vos torne prósperos, a vocês e aos vossos filhos! O Senhor, o Criador dos céus e da Terra, ele próprio vos dará as suas bênçãos. Os céus pertencem-lhe, naturalmente, mas a Terra deu-a ele aos seres humanos! Os corpos sem vida, debaixo da terra, não podem louvar o Senhor, com certeza. Mas nós, sim, podemos! Nós o louvaremos, agora e sempre! Louvem o Senhor! Eu amo o Senhor, porque ele ouve a minha voz e as minhas orações. Ele dá-me atenção e ouve-me. Enquanto viver, hei de chamar por ele! Cercaram-se laços de morte; assaltaram-me angústias do mundo dos mortos. Vi-me profundamente abatido. Então clamei pelo Senhor, gritando pelo seu nome: “ Senhor, salva-me!” Como o Senhor é bom e justo! É cheio de misericórdia, o nosso Deus! O Senhor protege os simples e os inocentes. Estava profundamente abatido pelas circunstâncias, mas ele livrou-me. Agora sim, posso descansar, porque o Senhor fez uma obra maravilhosa na minha vida. Tu, Senhor, livraste-me da morte, enxugaste-me as lágrimas dos olhos, evitaste que os meus pés tropeçassem mortalmente. Agora sei que poderei continuar a viver, aqui na terra e na presença do Senhor. Acreditei quando falei: “Eu estive muito aflito.” Estando perturbado, eu disse: “Todo o homem é mentiroso.” Mas agora, que hei de dar ao Senhor por tudo quanto fez por mim? Erguerei diante do Senhor o meu cálice, agradecendo-lhe a salvação! Hei de oferecer publicamente tudo quanto prometi, em reconhecimento pelo que me fez! É muito custosa, aos olhos do Senhor, a morte dos que lhe pertencem! Senhor, tu me livraste das minhas prisões, por isso, te hei de servir sempre, assim como a minha mãe te serviu. Oferecer-te-ei sacrifícios de louvor e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei todos os compromissos que fiz ao Senhor, na presença de todo o seu povo, nos átrios da casa do Senhor, junto de ti, ó Jerusalém! Louvem o Senhor! Louvem o Senhor, todas as nações! Que todos os povos lhe deem louvores! Porque a sua bondade para connosco é grande. A sua verdade dura para sempre! Louvem o Senhor! Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque o seu amor é eterno! Que todo o Israel o louve, repetindo: “O seu amor é eterno!” Também os sacerdotes, da família de Aarão, digam a mesma coisa: “O seu amor é eterno!” Os que temem o Senhor devem repetir: “O seu amor é eterno!” Na angústia, gritei pelo Senhor. Ele ouviu-me e livrou-me com toda a segurança! O Senhor está comigo; não terei medo do que o homem me possa fazer. O Senhor está comigo, dando ajuda a todos os que me apoiam; triunfarei sobre os que me querem mal. É melhor buscar refúgio no Senhor do que confiar nos homens. É melhor buscar refúgio no Senhor do que nos chefes de uma nação. Cercaram-me muitos povos, mas eu derrotei-os em nome do Senhor! Sim, cercaram-me e tornaram-me a cercar, mas eu derrotei-os em nome do Senhor! Cercaram-me como abelhas prontas a ferroar, cujos espinhos ardiam como fogo, mas eu derrotei-os em nome do Senhor! O inimigo procurou fazer-me cair, mas o Senhor estava lá, para me socorrer. Deus é a minha força! O Senhor é o único assunto dos meus cânticos, porque ele é a minha salvação! Na habitação dos justos ouvem-se alegres cânticos de vitória, agradecendo a Deus pela sua salvação. O braço forte do Senhor é eficaz e faz coisas maravilhosas! A mão poderosa do Senhor é exaltada; a mão poderosa do Senhor opera maravilhas. Eu sei que não hei de morrer agora, mas continuarei a viver, para poder contar ao mundo as obras do Senhor. O Senhor castigou-me muito, mas não me entregou à morte. Abram-me as portas do templo, no qual se conhece a justiça de Deus; pois eu quero entrar para dar graças ao Senhor! Essas portas são o caminho para a presença do Senhor; por elas entram todos os que praticam a justiça. Senhor, eu te agradeço porque me salvaste, porque tu me ouviste! A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício! Isto foi outra obra que o Senhor fez e é espantosa aos nossos olhos! Este é o dia que o Senhor fez; alegremo-nos e rejubilemos todos com isso! Salva-nos, Senhor, nós te pedimos! Faz-nos prosperar contigo, nós te rogamos! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Sê feliz e vitorioso no templo do Senhor! O Senhor é Deus e fez a sua luz brilhar sobre nós. Tragam a vítima para o sacrifício e atem-na com cordas às pontas do altar. Tu és o meu Deus e eu te louvarei; dar-te-ei toda a honra. Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque o seu amor é eterno! Felizes aqueles que andam por caminhos retos, que andam de acordo com a Lei do Senhor. Felizes os que obedecem aos preceitos de Deus e que o procuram de todo o coração. E também os que não praticam a maldade, antes andam nos seus caminhos. Deste-nos os teus preceitos, para lhes obedecermos cuidadosamente. Tomara que a minha vida fosse dirigida de molde a que eu pudesse cumprir os teus estatutos! Então nunca teria ocasião de ficar envergonhado, pois toda a minha conduta seria fiel aos teus mandamentos. Depois de ter estudado e aprendido os teus decretos, serei capaz de te louvar com um coração sincero. Não me abandones, de forma nenhuma, Senhor, para que possa obedecer aos teus estatutos. Como podem os jovens permanecer puros? É conformando as suas vidas com a tua palavra! Procurei-te de todo o meu coração; não deixes que me desvie dos teus mandamentos. Guardei a tua palavra no meu coração para poder manter-me afastado do pecado. Louvado sejas tu, Senhor! Ensina-me os teus estatutos! Sou capaz de recitar fielmente todos os teus decretos. Sinto-me muito mais feliz andando de acordo com os teus preceitos, do que passando o tempo a acumular riquezas. Medito nos teus preceitos, esforçando-me por conformar a minha vida com eles. Os teus estatutos são toda a minha alegria; nunca me hei de esquecer da tua palavra. Abençoa a minha vida, para que possa continuar a viver obedecendo à tua palavra. Abre-me os olhos, para que constate todas as maravilhas que há na tua Lei. Aqui na Terra sou um peregrino; por isso, bem preciso dos teus mandamentos. Vivo todo o tempo ansioso pelos teus decretos. Repreendes severamente os orgulhosos pecadores amaldiçoas os que rejeitam os teus mandamentos. Não permitas que zombem de mim, porque eu obedeço aos teus preceitos. Os poderosos reúnem-se para decidirem e combinarem como hão de fazer-me mal, mas continuo confiadamente a estudar os teus estatutos. Os teus testemunhos são o meu prazer; eles são os meus conselheiros. Estou completamente desanimado; reanima-me com a tua palavra! Contei-te toda a minha vida e tu ouviste-me; agora ensina-me os teus estatutos. Faz-me entender tudo o que diga respeito aos teus preceitos, pois só assim poderei refletir nas tuas maravilhas. A minha alma consome-se de tristeza; fortalece-me com a tua palavra! Desvia-me de tudo o que for falsidade e ajuda-me, pela tua misericórdia, a aprender com a tua Lei! Escolhi o caminho da verdade; tomei a firme decisão de seguir os teus decretos. Apego-me aos teus preceitos; certamente não me deixarás dececionado. Senhor, põe em mim cada vez mais vontade de te obedecer; então hei de andar de acordo com os teus mandamentos. Ensina-me, Senhor, o significado dos teus estatutos e manter-me-ei neles até ao fim da vida. Dá-me sempre entendimento para poder obedecer à tua Lei, pois quero segui-la de todo o coração. Faz-me viver de acordo com os teus mandamentos, porque com eles me sinto bem feliz. Inclina os meus desejos à obediência aos teus preceitos e não à ganância. Não deixes que me atraia pelas coisas efémeras deste mundo, mas concede-me que viva de acordo com o teu caminho. Confirma as promessas que me tens feito, as promessas feitas aos que te temem. Não deixes que me desprezem por te obedecer, pois os teus decretos são bons. Desejo muito seguir os teus preceitos. Renova a minha vida de acordo com a tua justiça. Cobre a minha vida com a tua misericórdia e com a tua salvação, a tua palavra. Assim terei como responder ao que me ataca, pois apoio-me na tua palavra. Que eu nunca me esqueça da palavra da verdade, pois coloquei a minha esperança nos teus decretos. É assim que poderei obedecer continuamente à tua Lei, nesta vida e até na eternidade! E é assim que desfrutarei da liberdade, procurando seguir os teus preceitos. Poderei dessa forma anunciar os teus testemunhos, até na presença de governantes, sem ter de me envergonhar. Tenho toda a alegria nos teus mandamentos, porque os amo. A minha oração é que nunca deixe os teus estatutos, não só porque os amo, mas porque quero meditar neles. Lembra-te das promessas que me fizeste porque elas são a minha única esperança. Têm sido a minha consolação no meio das angústias, porque só a tua palavra pode renovar-me a vida. Gente orgulhosa zombou de mim; apesar disso nunca me desviei da tua Lei. Lembro-me do valor eterno dos teus decretos e isso consola-me. Fico revoltadíssimo, quando vejo gente pecadora desprezando a tua Lei. Os teus estatutos têm sido a fonte dos meus cânticos, durante os anos da minha peregrinação terrena. Mesmo de noite o teu nome está presente no meu espírito, Senhor, para que eu guarde a tua Lei! Se faço isso é porque obedeço aos teus preceitos. Senhor, tu mesmo és tudo quanto eu possuo; faço o compromisso de obedecer às tuas palavras. Desejo, de todo o coração, ter-te ao meu lado; tem piedade de mim, segundo a tua palavra! Pus-me a refletir nos caminhos que tenho trilhado na vida e decidi conduzir-me segundo os teus testemunhos. Sem demora, sem hesitações, comecei a obedecer aos teus mandamentos. Pessoas perversas amarram-me com cordas; apesar disso, nunca deixei de seguir a tua Lei. Se desperto a meio da noite é para te louvar pelos teus justos decretos. Os meus verdadeiros amigos são os que te temem e guardam os teus preceitos. A Terra, Senhor, está cheia de provas da tua bondade! Ensina-me os teus estatutos! Tens-me feito muito bem, Senhor, de acordo com as tuas promessas. Agora, ensina-me a ajuizar corretamente, e dá-me a verdadeira sabedoria, pois creio nos teus mandamentos. Andava errado até ao momento em que me humilhaste; agora sigo fielmente a tua palavra. Tu és bom e só o bem vem de ti; ensina-me os teus estatutos! Homens orgulhosos forjaram mentiras contra mim; mas a verdade é que, de todo o coração, tenho obedecido aos teus preceitos! São mentes embotadas e estúpidas; quanto a mim todo o meu prazer está na tua Lei. O castigo que me fizeste sofrer sempre teve utilidade; fez-me prestar bem atenção aos teus estatutos. A lei que saiu da tua boca vale para mim muito mais do que uma riqueza incontável em prata e ouro. Foste tu, Senhor, quem criou o meu corpo e formou a minha personalidade; dá-me entendimento para aprender os teus mandamentos. Todos aqueles que te temem se alegram quando me veem, pois sabem que eu confio na tua palavra. Bem sei, Senhor, que os teus decretos são justos; quando me castigaste, foi prova de que querias o meu bem. Que o teu amor me sirva de conforto, segundo as promessas que me tens feito. Que a tua compaixão me envolva, para que continue a viver e a fazer da tua Lei todo o meu prazer! Que a gente altiva fique envergonhada, pois tratam-me de forma perversa, sem justificação! Mas eu continuarei a concentrar-me nos teus preceitos. Juntem-se a mim todos os que te temem e conhecem os teus testemunhos. Que o meu coração seja sempre íntegro aos teus estatutos, para que nunca venha a haver razão de ficar envergonhado. É verdade que me senti desesperado, enquanto esperava pela tua salvação. Apesar de tudo, continuei confiado na tua palavra. Cansei-me de procurar ver o fim da provação, esperando pela tua promessa. Ia dizendo: “Quando virás consolar-me?” Fiquei envelhecido como um odre de vinho exposto à fumaça, cansado de esperar; no entanto, não me esqueço dos teus estatutos. Por quanto tempo terei ainda de esperar? Quando farás justiça contra os que me perseguem? Gente má e arrogante abriu covas para que caísse nelas, porque não se comportam segundo a tua Lei. Os teus mandamentos são a verdade e eles perseguem-me com mentiras. Portanto, ajuda-me! Eles quase conseguiram acabar comigo, mas nunca abandonei os teus preceitos. Fortalece-me segundo a tua bondade, para poder obedecer aos preceitos que me deste. A tua palavra, Senhor, permanece para sempre, imutável nos céus. A tua fidelidade estende-se a cada geração, com a mesma firmeza com que a Terra permanece. Tudo se mantém, até hoje, segundo as tuas ordens; todas as coisas te servem. Se a tua Lei não fosse a minha felicidade, há muito que já teria morrido de angústia. Nunca me hei de esquecer dos teus preceitos, pois por eles me tens dado uma vida nova. Eu sou teu, Senhor! Salva-me! Porque sempre tenho buscado os teus preceitos. Gente perversa arma-me ciladas para me destruir, mas eu nunca deixarei de atentar para os teus testemunhos. A toda a perfeição sempre vi um limite, exceto para os teus mandamentos. Oh! Como eu amo a tua Lei! Nela medito o dia inteiro. Os teus mandamentos tornam-me mais sábio que os meus adversários, pois eles são o meu guia constante. Sim, sou também mais sábio do que todos os meus mestres, porque estou sempre a pensar nos teus preceitos. Sou também mais sabedor do que os anciãos, porque obedeço e guardo os teus preceitos. Desviei os meus pés de todo o caminho mau, pois pretendo permanecer obediente à tua palavra. Não, eu não me desviei dos teus decretos, porque és tu quem me ensina. Como são doces as tuas palavras na minha boca; mais doces do que o próprio mel! Sendo que foi só por meio dos teus preceitos que alcancei entendimento, por isso recuso tudo o que seja falso ensinamento. A tua palavra é como uma lâmpada que de noite ilumina o meu caminho. Já disse isto uma vez e torno a repetir: “Hei de seguir o caminho dos teus justos decretos.” Senhor, sabes como estou aflito; dá-me uma vida nova, segundo a tua palavra! Rogo-te, Senhor, que aceites a expressão do meu louvor e que me ensines os teus decretos. A minha vida está constantemente em perigo; contudo, isso não me fará esquecer a tua Lei. Os ímpios põem laços no meu caminho; mas tal nunca fez com que me desviasse dos teus preceitos. Os teus preceitos são a minha herança; sê-lo-ão para sempre, pois enchem-me de alegria. Estou plenamente decidido a obedecer aos teus estatutos, até ao final da minha vida. Detesto os que não tomam uma posição firme em Deus; quanto a mim, amo a tua Lei. Tu és o meu refúgio e a minha proteção; a minha esperança está na tua palavra. Afastem-se de mim, os que só sabem fazer o mal; deixem-me praticar livremente os mandamentos do meu Deus. Conserva-me a vida, Senhor, conforme a tua promessa; não me deixes ficar enganado nesta minha esperança. Mantém-me seguro e serei salvo; assim, poderei sempre atentar para os teus estatutos. Tens rejeitado todos os que rejeitam os teus estatutos; esses não estão mais do que a enganar-se a si próprios. Lançaste fora, como escória, toda essa gente perversa; por isso, amo os teus testemunhos. Tremo de medo perante ti, pelo respeito que tenho pelos teus decretos. Tenho feito o que é certo, o que é de justiça; por isso, não me abandones à mercê dos que me oprimem. Senhor, tu és a garantia do bem que me pode acontecer; não permitas que gente orgulhosa me oprima! Tenho os olhos cansados de esperar pela tua salvação e pela promessa da tua justiça. Trata-me segundo a tua misericórdia e ensina-me os teus estatutos. Eu estou ao teu serviço, por isso, dá-me inteligência, para compreender os teus testemunhos. Senhor, chegou a hora de intervires, pois toda essa gente tem violado a tua Lei. Eu amo os teus mandamentos; são-me mais preciosos do que o ouro, o ouro de mais valor. Conduzo-me segundo os teus preceitos; detesto toda a falsidade. Os teus testemunhos são maravilhosos; por isso, os guardo na alma. O ensino e o estudo das tuas palavras dão luz e esclarecem os mais simples de entendimento. Por isso, todo o meu ser está na expectativa de receber e de se alimentar dos teus mandamentos. Vem, Senhor, e tem piedade de mim, conforme costumas ter com os que amam o teu nome. Mantém-me sempre no caminho da tua palavra, para que nunca seja vencido pelo mal. Livra-me da opressão dos homens maus, para que possa sempre obedecer aos teus preceitos. Que a tua face brilhe sobre a minha vida e ensina-me os teus estatutos. Quando vejo a forma como a tua Lei é desprezada, tenho vontade de chorar de tristeza. Senhor, tu és justo; os teus decretos são retos. Os testemunhos que ordenaste são justos e inteiramente corretos. O meu zelo consome-me quando constato que os meus inimigos se esqueceram da tua palavra. A tua palavra é exata e perfeita; por isso, eu que estou ao teu serviço, a amo. É verdade que sou pequeno e desprezado; mas isso não me fará esquecer dos teus preceitos. A tua justiça é de valor eterno; a tua Lei é a verdade. No desespero e na angústia os teus mandamentos me confortam. A justiça dos teus testemunhos tem um valor eterno; dá-me inteligência para entendê-los e viverei. Clamei de todo o coração e disse: “Responde-me, Senhor, e obedecerei aos teus estatutos!” Chamo por ti: “Salva-me e obedecerei aos teus testemunhos!” Oro antes que o Sol nasça e decido esperar que a tua palavra se concretize. Fico acordado durante a noite, para meditar na tua palavra. Ouve os meus pedidos, de acordo com a tua bondade; torna a dar-me vida, Senhor, de acordo com a tua justiça. Aproxima-se gente de intenções perversas, que foge da tua Lei. Mas tu estás perto de mim, Senhor; todos os teus mandamentos são a verdade. Eu sei, desde a minha infância, que os teus testemunhos nunca hão de prescrever. Olha para a minha aflição e livra-me, pois não me esqueci da tua Lei. Defende-me, Senhor, e livra-me; dá-me de novo vida, segundo a tua promessa. Os ímpios estão bem longe da salvação, pois não têm qualquer interesse nos teus estatutos. Senhor, a tua misericórdia é grande; dá-me uma vida boa, de acordo com a tua palavra. Muitos são os meus inimigos e os que me perseguem, mas não me desvio dos teus preceitos. Ao ver toda essa gente transgredindo, sinto-me afligido, porque desprezam a tua palavra. Senhor, vê como amo os teus preceitos; dá-me vida de acordo com a tua bondade. A tua palavra é a verdade! Cada um dos teus decretos valem para sempre! Os governantes perseguem-me injustamente, mas no meu coração respeito a tua palavra. A felicidade que sinto com a tua palavra é a mesma de alguém que encontra um grande tesouro. Detesto e abomino a falsidade, mas amo profundamente a tua Lei. Sete vezes por dia te louvo, por causa dos teus justos decretos. Muita paz têm os que amam a tua Lei; esses tais não tropeçam na maldade. Anseio, Senhor, pela tua salvação; por isso, continuo a praticar os teus mandamentos. A minha alma tem cumprido os teus testemunhos; assim tenho aprendido a amá-los extremamente. Tenho posto em prática os teus preceitos e testemunhos; tu sabes tudo quanto eu tenho sido e feito. Senhor, ouve as minhas orações; dá-me o entendimento que prometes na tua palavra. Que o meu clamor chegue até à tua presença! Livra-me, conforme o que dizes na tua palavra. Ensinaste-me os teus estatutos; isso fez com que a minha boca se abrisse em louvores a ti! A minha língua desembaraça-se para falar da tua palavra, visto que todos os teus mandamentos são justos. Estende a tua mão para socorrer-me, pois na minha vida já optei pelos teus preceitos. Senhor, desejo ardentemente a tua salvação! A tua Lei faz-me feliz! Dá vida à minha alma e poderei louvar-te perfeitamente. Assim me ajudem os teus decretos! Andei vagueando como uma ovelha desgarrada. Vem ao meu encontro, pois sabes bem que não me esqueci dos teus mandamentos. No meio da minha angústia clamei ao Senhor, e ele ouviu-me: “ Senhor, livra-me da ação dos mentirosos, dos que só sabem abrir a boca para enganar!” Na verdade, qual é o fruto da língua mentirosa? Ela ataca e fere como punhais; destrói como um fogo intenso. Sinto-me muito infeliz habitando em Meseque, e vivendo entre as tendas de Quedar. Estou realmente cansado de viver com pessoas que, no fundo, detestam a paz. Eu quero a paz e, por mais que fale a favor dela, eles sempre procuram a guerra! Levanto os olhos para as altas montanhas: Donde me virá o socorro? O socorro virá do Senhor, que é o Criador dos céus e da Terra. Ele não deixará que tropeces e caias; não corre o risco de dormitar, aquele que te protege! Não deixará que o sono lhe pese nas pálpebras; não adormecerá nem por fadiga, aquele que protege Israel. Aquele que te guarda é o próprio Senhor! Está presente ao teu lado como a tua própria sombra. Durante o dia o Sol não te fará mal, nem de noite a Lua. O Senhor protege-te de todo o mal; ele guarda a tua alma. O Senhor protege-te quando entras e quando sais; sabe tudo o que fazes, hoje e sempre! Fiquei cheio de alegria quando me disseram: “Vamos subir a Jerusalém, à casa do Senhor!” E agora aqui estamos, Jerusalém, pisando o teu chão, dentro das tuas portas! Aqui estamos nesta grande cidade, tão cheia de gente! Todas as tribos de Israel, as tribos do Senhor, sobem até aqui, conforme o mandamento de Deus, para dar ao Senhor louvor pelo seu nome! É aqui que se encontram os tronos de julgamento, os tronos da casa de David. Orem pela paz de Jerusalém! Todos os que te amam hão de prosperar na vida. Que haja paz no teu interior e felicidade nas tuas fortalezas! É pensando no bem dos meus irmãos e amigos que repito: “Haja paz no teu meio!” É também por causa do templo do Senhor, nosso Deus, que desejo profundamente o teu bem! Levanto os meus olhos para ti, ó Deus, que habitas lá nos céus. Como se está atento às ordens de um superior, e como os criados atentam para as indicações dos patrões, assim também nós esperamos por um sinal da tua parte, esperando a tua compaixão, Senhor, nosso Deus. Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade de nós, pois estamos já sobejamente fartos de desprezo! Estamos, na verdade, saturados de tanta zombaria da parte daqueles que vivem na fartura, dos que se enchem de arrogância. Se o Senhor não tivesse estado ao nosso lado, e Israel deve confessá-lo, o que teria sido de nós? Se o Senhor não tivesse estado connosco, o que teria sido de nós, quando os adversários nos atacaram? Ter-nos-iam engolido vivos, quando o seu ódio desabou sobre nós. Teríamos ficado submersos sob essa avalanche. Ter-nos-íamos afogado sob esse dilúvio. Senhor, aceita o nosso reconhecimento, por não teres permitido que nos devorassem. A nossa alma escapou como o pássaro que foge da armadilha; a armadilha partiu-se e ficámos livres! O nosso socorro está na força do nome do Senhor que fez o céu e a Terra! Os que confiam no Senhor estão firmes como o monte Sião que não pode ser abalado. Como as montanhas rodeiam a cidade de Jerusalém, assim o Senhor protege o seu povo, agora e sempre. Pois o poder da maldade não ficará sempre sobre a vida dos justos, para que não sejam levados pela força da iniquidade. Senhor, faz o bem àqueles que te obedecem, aos que praticam a retidão. Os que se conduzem por caminhos torcidos de falsidade, esses terão a recompensa reservada aos pecadores. O povo de Israel terá paz e tranquilidade! Quando o Senhor trouxe de novo a Sião os que tinham sido levados como prisioneiros, até nos pareceu como se fosse um sonho. Cantámos de alegria e felicidade! As populações dos outros países diziam: “Que coisas espantosas o Senhor fez por eles!” Com efeito, coisas espantosas fez o Senhor por nós; por isso, estamos assim tão felizes! Senhor, faz regressar os nossos exilados, como as torrentes do deserto que trazem a fertilidade. Os que semeiam com lágrimas irão colher com alegria. Saem pelos campos, lamentando-se enquanto semeiam; mas hão de voltar felizes, carregando os fardos. Se não for o Senhor a construir a casa, será inútil o trabalho dos operários. Se não for o Senhor a guardar a cidade, não adiantará nada a vigília das sentinelas. De nada serve trabalhar desde a madrugada, até altas horas da noite e comer o pão ganho com suor. Deus quer dar aos seus filhos o justo descanso. Os filhos que temos são uma dádiva, são um galardão que o Senhor nos concede. Os filhos que nascem na nossa juventude são como flechas nas mãos de um valente guerreiro. Felizes os que fazem uma boa provisão deles! Nunca hão de ficar mal, quando tiverem de se confrontar com os adversários. Feliz aquele que teme e confia no Senhor e que anda nos seus caminhos. Beneficiará dos resultados do seu trabalho; será feliz e tudo lhe correrá bem. A sua mulher será como uma videira frutífera que lhe enche a casa; os seus filhos, quando toda a família se junta, terão o ar saudável de oliveiras novas. Desta maneira será abençoado o homem que teme o Senhor. Que o Senhor te abençoe desde Sião! Verás a prosperidade de Jerusalém, todos os dias da tua vida. Que tenhas alegria na companhia dos teus netos! Que haja paz em Israel! Isto é o que Israel poderá dizer: “Muitas vezes fui perseguido, já desde a minha juventude! Sim, já na minha mocidade me oprimiram; contudo, não conseguiram acabar comigo! Exploraram-me como o agricultor que lavra a terra; os açoites que me deram abriram sulcos profundos.” Mas o Senhor é justo; ele corta as amarras dos ímpios. Sejam envergonhados e retirem-se, todos os que odeiam a Sião. Que todos esses sejam como a erva dos telhados, que seca depressa, antes de a arrancarem. Ninguém lhe liga; nem o agricultor, nem o ceifeiro. Que ninguém, ao vê-los, diga: “O Senhor vos abençoe! Que sejam abençoados em nome do Senhor!” Senhor, a ti clamo, do profundo desespero em que caí. Ouve-me, Senhor! Dá atenção aos meus rogos! Se considerares os nossos pecados, Senhor, quem é que poderá sequer manter-se vivo? Mas tu és um Deus que perdoa; é isso que faz com que sejas temido. Confio em ti, esperando a tua resposta, segundo o que prometeste. Anseio por ti, Senhor, mais do que as sentinelas pelo romper da madrugada. Sim, mais do que elas! Espera no Senhor, ó povo de Israel, porque ele é cheio de misericórdia e deseja salvar-te perfeitamente! Ele redimirá Israel de todas as suas iniquidades. Senhor, tu sabes que não sou arrogante; não me considero melhor do que os outros, nem finjo saber tudo. Estou tranquilo e sossegado, tal como uma criancinha, junto da mãe. Sim, estou calmo e confiante como uma criança desmamada! Israel, confia no Senhor, agora e sempre! Lembra-te, Senhor, de quando David estava tão aflito. Quando te fez aquela solene promessa, a ti, o Poderoso Senhor de Jacob, dizendo: “De maneira nenhuma poderei vir para casa, descansar e dormir em paz. Não fecharei os meus olhos para dormir; as minhas pálpebras não terão repouso. Não, enquanto não construir uma casa onde o Poderoso Senhor de Jacob seja adorado.” A arca santa do Senhor já andou por Efrata e viemos encontrá-la no campo de Jaar. Entremos agora no seu santo templo e adoremos diante dos seus pés! Levanta-te, Senhor, e entra no teu templo, lugar do teu repouso, juntamente com a arca, que é a expressão do teu poder. Os sacerdotes hão de vestir-se de justiça e todo o teu povo cantará de alegria. Por amor de David, que te serve, não deixes de responder ao teu ungido! O Senhor fez uma promessa a David e não falharia: “Estabelecerei um dos teus descendentes e ele se sentará no trono, depois de ti. Se os teus descendentes se mantiverem fiéis à aliança que fiz com o povo de Israel, e fiéis aos mandamentos que virão a aprender, também ocuparão o trono de Israel, para sempre.” Tu, Senhor, escolheste Sião para ser o local da tua habitação: “É aqui, o lugar do meu descanso para sempre; este é o meu desejo! Tornarei esta cidade próspera; fartarei de pão os pobres que lá vivam. Vestirei de salvação os sacerdotes e os fiéis exaltarão de júbilo. O poder de David aumentará e prepararei uma lâmpada para o meu ungido. Os seus inimigos ficarão cobertos de vergonha. David será um rei glorioso!” Como é bom e agradável que os irmãos vivam em união! Dá satisfação como quando vemos o óleo perfumado descer sobre a cabeça do sacerdote, descendente de Aarão, perfumando-lhe o rosto, a barba e as roupagens. É como quando o orvalho cai sobre o monte Hermon, e sobre os montes de Sião. Porque é assim que o Senhor nos pode dar a sua bênção, o seu mandamento é vida eterna! Louvem o Senhor todos os que o servem, os que todas as noites se mantêm diante dele! Ergam-lhe as vossas mãos e louvem-no na sua santa habitação! Que o Senhor te abençoe desde Sião, ele que fez o céu e a Terra! Louvem o Senhor! Que o seu nome seja honrado! Louvem-no todos os que o servem. Louvem-no, vocês que estão presentes no templo do Senhor, nos átrios do templo do nosso Deus. Louvem o Senhor, porque é infinitamente bom. Cantem louvores ao poder do seu nome maravilhoso. Porque o Senhor escolheu o povo de Jacob e Israel para serem a sua propriedade preciosa. Eu sei que o Senhor é grande, muito superior ao que os homens consideram deuses. Tudo o que quis, o Senhor fez, tanto nos céus como na Terra, como nos mares e até nas maiores profundidades. É ele quem faz as águas condensarem em nevoeiros, das partes mais diversas da Terra; faz os relâmpagos que trazem a chuva; faz surgir os ventos dos seus reservatórios. Foi também ele quem tirou a vida ao filho mais velho das famílias do Egito, e até aos próprios animais; quem realizou grandes milagres e maravilhas, contra Faraó e os seus súbditos, nessa terra. Abateu muitas nações e aniquilou poderosos reis; Siom, rei dos amorreus, e Ogue, rei de Basã, e todos os reis de Canaã. E deu a terra deles a Israel, seu povo, para que a possuísse. A força do teu nome permanecerá para sempre, Senhor; a tua fama será conhecida por todas as gerações. O Senhor defenderá o seu povo e terá compaixão dos que o servem. Os ídolos que os povos pagãos adoram não são mais do que meros objetos de prata e de ouro, mandados fazer por seres humanos. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não são capazes de ver. Têm ouvidos, mas não ouvem; têm boca e nem sequer respiram. Tornar-se-ão iguais a eles aqueles que os mandam fazer, aqueles que neles confiam! Ó povo de Israel, louva a grandeza do teu Senhor! E vocês, os sacerdotes da descendência de Aarão, deem glória ao Senhor! Também os sacerdotes levitas louvem o Senhor! Todos aqueles que o temem e confiam nele, louvem-no! Bendito seja o Senhor, Deus de Sião, que está em Jerusalém! Louvem o Senhor! Deem graças ao Senhor porque ele é bom, porque o seu amor é eterno. Deem graças a Deus que está acima de todos os deuses; porque o seu amor é eterno. Louvem aquele que é o Senhor dos senhores; porque o seu amor é eterno. O único que faz milagres poderosos; porque o seu amor é eterno. Fez o universo pela sua sabedoria; porque o seu amor é eterno. Foi ele quem distribuiu os mares sobre a superfície da Terra; porque o seu amor é eterno. Criou os grandes astros; porque o seu amor é eterno. Fez o Sol para dar luz e marcar o tempo durante o dia; porque o seu amor é eterno. Fez a Lua e as estrelas para governarem a noite; porque o seu amor é eterno. Ele tirou a vida aos filhos mais velhos das famílias do Egito; porque o seu amor é eterno. Retirou o seu povo Israel do meio daqueles que os escravizavam; porque o seu amor é eterno. Fê-lo com todo o seu poder e autoridade; porque o seu amor é eterno. Fez com que o mar Vermelho se abrisse em dois; porque o seu amor é eterno. Levou Israel a atravessá-lo em seco; porque o seu amor é eterno. Deixou que o exército do Faraó se afogasse nesse mesmo mar; porque o seu amor é eterno. Depois guiou o seu povo através do deserto; porque o seu amor é eterno. Derrotou grandes e poderosos reis; porque o seu amor é eterno. Tirou a vida a reis famosos; porque o seu amor é eterno. A Siom, rei dos amorreus; porque o seu amor é eterno. E a Ogue, rei da Basã; porque o seu amor é eterno. A sua terra foi dada como propriedade aos israelitas; porque o seu amor é eterno. Foi-lhes dada como herança, pois é um povo que serve o Senhor; porque o seu amor é eterno. Deus lembrou-se da nossa grande fraqueza; porque o seu amor é eterno. Salvou-nos dos nossos inimigos; porque o seu amor é eterno. Ele sustenta todos os seres vivos; porque o seu amor é eterno. Louvem o Deus dos céus; porque o seu amor é eterno. Junto aos rios da Babilónia sentámos-nos a chorar, pensando em Sião. Nos salgueiros, que por ali havia, pendurámos as nossas harpas. Os que nos tinham feito prisioneiros pediam-nos que cantássemos; tinham-nos destruído e queriam que estivéssemos alegres. Exigiam-nos: “Vamos, cantem-nos um cântico de Sião!” Mas como era possível que cantássemos se vivíamos exilados? Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, então será melhor que a minha mão direita deixe de tocar os instrumentos! Que a língua se me pegue ao paladar, se eu for capaz de me esquecer de ti, Jerusalém, e se tu não fores toda a minha alegria! Lembra-te, Senhor, do que esses edomitas fizeram, no dia em que Jerusalém foi capturada. “Arrasem-na! Arrasem-na inteiramente!”, gritavam. Ah! Babilónia, como hás de ser destruída! Felizes os que te fizerem o mesmo que nos fizeste a nós! Felizes aqueles que pegarem nos teus filhos e os esmagarem nas pedras! Senhor, quero louvar-te de todo o meu coração. Mesmo na presença dos falsos deuses, te cantarei louvores! Em direção ao teu santo templo, darei honra ao teu nome, por causa da tua bondade e da tua fidelidade, pois as tuas promessas se sustentam em toda a honra do teu nome. Quando clamei a ti, respondeste-me; encorajaste-me, dando força à minha alma. Todos os chefes das nações da Terra te louvarão, Senhor, quando prestarem atenção à tua palavra. Cantarão hinos descrevendo o bem do teu caminho, Senhor, pois grande é a glória do Senhor! Apesar do Senhor ser tão sublime, dá atenção às pessoas mais simples; mas o orgulhoso, a esse mantém-no à distância! Ainda que me encontre rodeado de angústias, hás de dar-me uma vida nova. A tua mão susterá o ímpeto dos meus inimigos e com a tua mão direita me salvarás. O Senhor saberá aperfeiçoar a minha vida. O teu amor, Senhor, é eterno. Não desampares pois a obra das tuas mãos! Senhor, tu tens-me examinado; tu conheces-me! Sabes tudo o que eu faço, mesmo as coisas mais simples como o sentar-me e o levantar-me; nenhum dos meus pensamentos te escapa. Toda a minha conduta é registada por ti; esteja acordado ou a descansar, tudo sabes a meu respeito. Sem que seja preciso dizer alguma coisa, tudo sabes sobre mim. Envolves-me e proteges-me; a tua mão está sobre mim. E tudo isso é para mim maravilhoso; representa uma sabedoria que me ultrapassa. Aliás, para onde poderia eu ir, fora do alcance do teu Espírito? Onde poderia estar que tu não me visses? Se subir até aos céus, tu aí estás; se descer ao profundo mundo dos mortos, também aí estás. E se voar na brisa matinal, fugindo para além do mar? Sempre a tua mão continuará a guiar-me e a tua mão direita me susterá. Se eu disser: “Nas trevas estarei perfeitamente escondido e a luz à minha volta se tornar noite”, ainda assim as trevas não serão para ti escuridão; para ti a noite brilha como o dia e as trevas são como a luz. Tu criaste-me, Senhor; toda a estrutura do meu ser foi formada por ti, mesmo no seio de minha mãe! Por isso, louvo-te pela forma maravilhosa e admirável como sou formado. Quando penso nisso não posso deixar de afirmar: “De uma forma maravilhosa me criaste!” Logo nos primeiros momentos do meu ser, quando só tu sabias que me estavas a formar, já aí o teu poder criador intervinha. Os teus olhos viam o meu corpo em formação, e no teu livro tudo ia sendo registado; tudo se ia realizando, segundo estava programado, mesmo antes de eu começar a existir! Quão precioso é, Deus, reconhecer que estás a pensar constantemente em mim! Não posso contar os teus pensamentos, pois seriam mais do que a areia; e quando eu acordar, ainda estás contigo! Ó Deus, destrói o perverso. Afastem-se de mim, ó gente sedenta de sangue! Só sabem rebelar-se contra ti e falam com malícia do teu nome! Senhor, como aborreço esses que te odeiam e como sofro por causa dessa gente que se levanta contra ti! Tenho por eles o maior repúdio! Para mim são como inimigos! Examina-me, ó Deus, observa o meu íntimo; prova-me e analisa os meus pensamentos! Vê se há em mim algum caminho mau e conduz-me pelo caminho eterno! Senhor, livra-me dos homens perversos; guarda-me de gente violenta! Só pensam o mal no seu íntimo; estão constantemente a planear agressões. O que dizem fere como a picada da serpente; só há veneno de víbora nos seus lábios. Mantém-me fora do alcance das suas mãos; protege-me da violência dos maus. Esses indivíduos, cheios de soberba, armaram-me ciladas para me fazerem cair; puseram-me armadilhas no caminho, laços para me tolherem os movimentos. Eu disse ao Senhor: “Tu és o meu Deus!” Ouve as minhas súplicas, ó Senhor! Ó Senhor Deus, tu és a força que me salva; tu proteges a minha cabeça durante a batalha. Não deixes que esses que te repudiam vejam os seus desejos satisfeitos, vejam cumpridos os seus maus propósitos e o seu orgulho se exalte ainda mais. Esses que andam à minha volta sejam destruídos pelo mesmo mal que planeavam! Que brasas vivas caiam sobre as suas cabeças; que sejam lançados em abismos profundos donde não possam mais sair! Não deixes os mentirosos prosperar na vida; possa a desgraça perseguir os homens violentos. Eu sei que o Senhor apoia a causa dos oprimidos e o direito dos pobres. Por isso, os retos louvarão o teu nome e viverão na tua presença. Senhor, rogo-te, ouve a minha oração, escuta-me! Recebe a minha oração, como o fumo do incenso que sobe na tua presença, e o levantar das minhas mãos como um dos sacrifícios da tarde. Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca, uma sentinela aos meus lábios. Não deixes que o meu coração se incline para o mal, que se ocupe de coisas más, que se junte com os que praticam a maldade, participando nos seus gozos e excessos. Se tiver de ser castigado, que seja por pessoas justas. Se esses me repreenderem, até isso considerarei como um benefício que não deixarei de aceitar. Quanto à gente perversa, continuarei a orar contra as maldades deles! Os juízes deles ouvirão as minhas palavras e saberão que são bem intencionadas. Assim como se sulca e lavra a terra, assim também os nossos ossos são espalhados ao abrir-se o mundo dos mortos. Mas eu espero a tua ajuda, Senhor, meu Deus; confio em ti, não me desampares. Guarda-me das ciladas que me armam, das ratoeiras que põem no meu caminho, essa gente que pratica a iniquidade. Sejam eles a cair nas armadilhas que preparam e que eu fique inteiramente livre deles! Suplico ao Senhor, em voz alta clamo por ele! Derramo o meu choro perante a sua face; exponho-lhe a minha angústia. No meio de todo esse meu desespero, só tu sabes dar-me o escape! Os meus inimigos aproveitam-se da situação, para me armarem ciladas. Se procuro alguém que me ajude, acho-me completamente sozinho! Ninguém me pode servir de refúgio; ninguém quer saber de mim! Então clamo por ti, Senhor: “Tu és o meu refúgio!”, grito eu. “Tu és tudo o que tenho nesta vida!” Ouve a minha oração, pois estou tão abatido! Livra-me dos que me perseguem, porque são muito mais fortes do que eu! Arranca-me desta prisão, porque só assim poderei louvar o teu nome! Os justos se juntarão a mim, ao constatarem todo o bem que me fizeste! Senhor, ouve a minha oração! Dá atenção às minhas súplicas, pois tu és justo e fiel em tudo quanto prometes. Não me peças contas; perante ti ninguém pode considerar-se justo. Os meus inimigos perseguiram-me, abateram-me até ao chão. Fazem-me viver nas trevas profundas, como se estivesse com os que já deixaram a vida. Por isso, estou tão angustiado; estou como que afogado em desespero! Lembro-me de tudo o que fizeste no passado; reflito nas tuas obras, em todo o teu poder. Por isso, estendo-te as minhas mãos. A minha alma tem sede de ti, como uma terra sedenta! Ouve-me depressa, Senhor! O meu espírito desfalece; não desvies de mim o teu olhar, para que não fique como os que descem à cova. Permite-me que, logo de manhãzinha, constate a tua bondade, pois confio em ti. Ensina-me o caminho que devo seguir, pois a ti dirijo a minha oração. Livra-me, Senhor, dos meus inimigos, pois és o meu único refúgio! Ensina-me a fazer a tua vontade, pois és o meu Deus. Que o teu bom Espírito me guie, por um caminho plano! Dá-me uma vida nova e honrarei o teu nome; pela tua justiça, livra-me da minha angústia. No teu infalível amor para comigo, extermina os meus inimigos. Sejam destruídos os meus adversários, pois a minha vida está ao teu serviço! Louvem o Senhor, a minha rocha, que prepara as minhas mãos para a batalha e os meus dedos para a guerra! A sua bondade é o meu lugar forte; ele é a minha perfeita segurança e o meu libertador. É para mim como um escudo, atrás do qual me adianto sem medo. Se o meu povo me está sujeito, só a ele o devo! Senhor, que é o homem, para que te interesses por ele? Que é o ser humano, para que o consideres? Vale tanto como um sopro! Os dias da sua vida vão-se como a sombra que passa. Inclina-te, Senhor, desde os céus, e vem! As montanhas deitarão fumo, quando lhes tocares. Os teus inimigos serão derrotados, quando lhes lançares os teus raios e os destruíres com as tuas armas certeiras. Estende, lá do alto, as tuas mãos! Salva-me das águas profundas e tira-me delas, assim como das mãos dessa gente estrangeira! A sua boca está cheia de nulidades; a sua habilidade está só na falsidade. Cantar-te-ei um novo cântico, ó Deus, acompanhado de harpa de dez cordas. Porque tu dás vitória aos reis. Livrarás o teu servo David da espada mortal. Livra-me das mãos dessa gente que te é estranha; gente mentirosa, cuja força só consiste na maldade. Para que os nossos filhos sejam bem desenvolvidos, na sua mocidade, como plantas viçosas, e as nossas filhas, belas e graciosas, como as colunas esculpidas dum palácio. Para que nunca nos faltem recursos na vida e tenhamos gado que forneça carne em abundância. Que os nossos animais sejam fortes para o trabalho e haja segurança no nosso meio; sem assaltos, sem fugas, sem gritos nas ruas! Feliz o povo que pode viver assim! Feliz é o povo cujo Deus é o Senhor! Eu te louvarei, meu Deus e meu Rei! Quero cantar a força do teu nome para sempre! Sim, dia após dia, quero louvar-te e por toda a eternidade falar de toda a grandeza do teu nome. Grande é o Senhor e inteiramente digno de louvor; a sua grandeza ultrapassa o nosso entendimento. Cada geração conte aos seus descendentes as maravilhas que o Senhor faz. Quero falar da magnífica glória da tua majestade e meditar nas tuas maravilhas. Toda a fama dos teus espantosos milagres correrá de boca em boca, assim como toda a tua grandeza. Todos falarão da tua bondade e cantarão a tua justiça. Bondoso e misericordioso é o Senhor; ele é paciente e cheio de amor. É bom para todos; tudo o que faz é consequência do seu amor. Tudo o que criaste, Senhor, é motivo para que aqueles que te pertencem te louvem. Para que falem da glória do teu reino, mencionando os feitos do teu poder. Darão a conhecer à humanidade os teus milagres, a tua majestade e a glória do teu reino. O teu reino não tem fim; o teu domínio estende-se por todas as gerações. O Senhor ampara todos os que caem e levanta os que estão abatidos. Os olhos de todos estão postos em ti, Senhor; tu lhes dás alimento conforme o que precisam. Abres a tua generosa mão e satisfazes os desejos de todo o ser vivo. Justo é o Senhor em tudo o que faz; as suas obras têm a marca da sua bondade. O Senhor está perto de todos os que o chamam, de todos os que o invocam em verdade. Realizará os desejos daqueles que o temem; ouvirá os seus apelos e os salvará. O Senhor guarda todos os que o amam, mas todos os ímpios serão destruídos. Louvarei o Senhor, publicamente, e todos os habitantes da Terra louvarão a força do seu nome, para sempre! Louvem o Senhor! Ó minha alma, louva o Senhor! Louvarei o Senhor enquanto viver! Sim, durante todo o tempo da minha vida, cantarei louvores ao meu Deus. Não confiem nos grandes chefes, nem em homem algum; nenhum deles pode salvar seja quem for. Se o seu coração para de bater, o seu destino é irem para debaixo da terra; com eles morre, num instante, tudo o que planearam. Feliz aquele que é ajudado pelo Deus de Jacob, cuja esperança está no Senhor, seu Deus. Ele fez o céu e a Terra, os mares e tudo o que neles existe, e cumpre todas as suas promessas. Deus faz justiça aos que vivem oprimidos, alimenta os que têm fome e liberta os prisioneiros. Abre os olhos aos cegos e levanta os abatidos; o Senhor ama os que seguem a sua justiça. Protege os que vivem desterrados das suas pátrias; ampara os órfãos e as viúvas, mas frustrará os planos de gente perversa. O Senhor dominará para sempre! O teu Deus, ó Sião, vive por toda a eternidade! Louvem o Senhor! Louvem o Senhor! É bom cantar louvores ao nosso Deus! É agradável e justo louvá-lo! O Senhor restaura Jerusalém e faz regressar os exilados de Israel. Conforta os que têm o coração quebrantado; ele cura as suas feridas. Sabe o número exato das estrelas, chamando todas pelos seus nomes. Por isso, o nosso Senhor é grande! O seu poder é absoluto! A sua sabedoria não tem limite! O Senhor dá força aos humildes, mas abate até ao pó os que praticam o mal. Cantem-lhe cânticos de gratidão! Cantem louvores ao nosso Deus, acompanhados de harpa! É por ele que o céu se cobre de nuvens que se destilam em chuva sobre a terra, fazendo crescer a erva nos montes. Os animais devem-lhe o seu sustento; os filhotes dos corvos recebem dele a comida, quando chamam. O Senhor não tem interesse especial na força do cavalo nem nos músculos do ser humano. Tem alegria, sim, naqueles que o temem e naqueles que se apoiam na sua bondade. Ó Jerusalém, louva o Senhor! Louva o teu Deus, ó Sião! Foi ele quem reforçou as trancas das tuas portas, e deu paz e segurança aos teus habitantes. Trouxe tranquilidade a toda a nação; encheu os teus celeiros de trigo excelente. Envia as suas ordens à Terra e a sua palavra corre velozmente por toda a parte. Faz cair a neve, branca como a lã, e espalha a geada como um manto cristalino. É por ele que o granizo cai sobre a terra e o frio intenso a que ninguém consegue resistir. Mas depois, pela sua palavra, o calor vem derreter tudo: neve, gelo, geada. Os ventos sopram e as águas retomam as torrentes. Ensinou a Jacob as suas leis e todos os seus regulamentos a Israel. Isso ele não fez com nenhuma outra nação; os outros povos desconhecem os seus estatutos. Louvem o Senhor! Louvem o Senhor! Louvem-no lá do céu; louvem-no, vocês, os que habitam nas alturas! Louvem-no, todos os seus anjos! Louvem-no, todos os seus exércitos celestes! Louvem-no, o Sol e a Lua! Louvem-no, todas as brilhantes estrelas! Louvem-no, o firmamento, assim como a atmosfera acima da Terra! Louvem a grandeza do seu nome, pois ao seu mando tudo foi criado! Tudo passou a existir para sempre, obedecendo a leis que nunca serão alteradas. Louvem o Senhor, todos os animais terrestres, assim como os que vivem nos profundos mares e os grandes animais marinhos! O fogo e a saraiva, a neve e a bruma, as ventanias que sopram às suas ordens! As altas montanhas e os pequenos outeiros, as árvores de fruto e os cedros! Os animais selvagens e os animais domésticos; os que rastejam e os que voam! Todos os governantes da Terra e os seus povos, chefes de estado e responsáveis pelo exercício da justiça! Moços e moças, velhos e crianças! Que todos louvem o poder do nome do Senhor, pois só ele é digno de ser exaltado, acima de tudo o que existe na Terra e nos céus! Também ao seu povo ele o torna grande e forte, objeto de honra de todos os que lhe são fiéis. Esse povo, que vive junto de si, o povo de Israel! Louvem o Senhor! Louvem o Senhor! Cantem-lhe um cântico novo! Louvem-no na assembleia dos fiéis! Que Israel se alegre no seu Criador! Que o povo de Sião se regozije no seu Rei! Louvem-no pelo seu grande nome; façam-no com danças, harpas e tambores. Porque o Senhor se alegra com o seu povo; recompensará os humildes com salvação. Que os fiéis se alegrem na sua glória; cantem de alegria, mesmo que estejam a repousar! Que as suas vozes se façam ouvir louvando a Deus, tendo na mão a espada de dois gumes. Para julgar as nações e castigar os povos. Para aprisionar os governantes, amarrando-os com correntes de ferro, e aos que colaboram na governação dos países. É assim que executará a sua sentença; esta honra terão todos os seus fiéis. Louvem o Senhor! Louvem o Senhor! Louvem a Deus no seu santuário! Louvem-no no firmamento, que é a sede do seu poder! Louvem-no pelas obras poderosas que realiza! Louvem-no pela sua grandeza inigualável! Louvem-no com todos os instrumentos; a trombeta, a lira e a harpa! Louvem-no com pandeiretas e com danças, acompanhadas por instrumentos de cordas e flautas! Louvem-no com címbalos sonoros; sim, com címbalos de som vibrante! Tudo quanto respira louve o Senhor! Louvem o Senhor! Provérbios de Salomão, filho de David, rei de Israel, destinados a dar a conhecer a sabedoria, dar educação e ensinar também a compreender palavras cheias de profundo sentido. Para que se tenha um entendimento esclarecido e para que se seja justo, reto, íntegro na vida. Destinam-se ainda a formar e a enriquecer a mente de pessoas simples e a dar capacidade de compreensão aos jovens. Quanto aos que têm instrução, que aprofundem a sabedoria; tornem-se hábeis na exploração do significado dos ditos e enigmas dos sábios. O temor do Senhor é o princípio de todo o conhecimento; só os loucos recusam ser ensinados. Ouve o teu pai e a tua mãe e não desprezes o que te ensinarem. Porque o que aprenderes com eles será como um diadema na tua cabeça e um colar no teu pescoço. Meu filho, se pecadores quiserem aliciar-te, nunca lhes cedas! Se te disserem: “Vem connosco!”, volta-lhes as costas. Dir-te-ão: “Vamos lá! A gente, sem ninguém saber, rouba este aqui, mata aquele inocente além; apanhamo-los vivos e mandamo-los inteirinhos para a cova! Ficará para nós o belo quinhão que cá deixarem e assim encheremos os bolsos! Tiramos à sorte e tu terás a tua parte connosco.” Não, meu filho! Não vás com eles! Desvia-te de gente semelhante! Porque o seu modo de vida é o crime; são especialistas no assassínio. Apesar de até uma ave saber desviar-se, quando lhe preparam uma armadilha, estas pessoas deixam-se apanhar pelas suas próprias ciladas. Este é o destino de todo aquele que vive da rapina, e esta levá-lo-á à violência e à morte. A sabedoria clama, em voz bem alta, pelas ruas da cidade e nos cruzamentos; sobre os muros eleva a sua voz, diante das portas da cidade, na frente de todos: “Ó gente insensata! Até quando continuarão a viver contentes com a loucura? Até quando continuarão a desprezar a sabedoria e a contestar a evidência dos factos? Venham ouvir e convençam-se com os meus argumentos. Derramarei sobre vocês um espírito de sabedoria e dar-vos-ei a conhecer a minha mensagem. Tantas vezes vos chamei e não quiseram vir; insisti convosco, estendendo a mão, mas ninguém me deu atenção. Rejeitaram os meus conselhos; não fizeram caso da minha repreensão. Por isso, quando se encontrarem em dificuldades, será a minha vez de me rir e de me divertir com os vossos medos. Quando esses medos vos sobrevierem, como uma tenebrosa tempestade, quando estiverem submergidos pela angústia e pelo pânico, então, ao gritarem pela minha ajuda, não responderei; embora me procurem ansiosamente, não me acharão. Porque preferiram desprezar a sabedoria e rejeitaram o temor do Senhor. Voltaram-me as costas e desprezaram o meu juízo. Essa é a razão por que terão de vir a comer o fruto amargo da vossa própria conduta e terão de fartar-se com as consequências desastrosas das vossas opções. Porque é pela sua imprudência que a gente insensata morrerá; a segurança dos doidos matá-los-á. Mas todos os que me derem ouvidos viverão em paz e segurança, e sem medo.” Meu filho, se aceitares as minhas palavras e guardares os meus mandamentos, se ouvires atentamente a sabedoria e abrires o teu coração para o entendimento; sim, se quiseres melhor compreensão das coisas da vida, e discernimento, se buscares essas coisas como se fossem dinheiro, ou um tesouro precioso escondido, então entenderás a importância de temer o Senhor e chegarás ao conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá sabedoria! Das suas palavras vêm o conhecimento e a inteligência. Ele garante a verdadeira sabedoria aos retos; é um escudo para os que andam com integridade; protege-os para que a sua conduta se conforme com os juízos de Deus. Só então saberás distinguir a justiça e a injustiça, o direito e o errado, e poderás tomar as decisões corretas em cada situação. Porque a sabedoria penetrará no teu coração e o entendimento da vida será para ti uma fonte de alegria. O bom senso te guardará e o entendimento te protegerá, mantendo-te afastado de maus caminhos e de gente que fala falsidades. São pessoas que se desviam dos caminhos retos de Deus para trilharem os tenebrosos, que só conduzem à maldade. Ficam felizes quando praticam o mal; gozam intimamente com os seus pecados. Tudo o que fazem é andar por caminhos errados e turtuosos. Só a sabedoria pode proteger um homem dos falsos afagos de uma mulher leviana; mulher que deixou o companheiro da sua mocidade e desprezou a aliança do seu Deus. A sua casa e a sua vida familiar resvalam por um caminho de morte. Todos os que a procuram estão condenados e impossibilitados de encontrar os caminhos da vida. Portanto segue as pisadas dos que andam nos caminhos do bem; mantém-te nos trilhos da justiça. Porque só os retos habitarão a Terra e os íntegros nela permanecerão. Os malvados serão removidos da Terra; os infiéis serão tirados dela! Meu filho, não te esqueças do que te ensinei e guarda no teu coração os meus mandamentos; pois eles te darão uma vida longa e de paz. Mantém na tua vida a bondade e a fidelidade; trá-las contigo, como um colar, e grava-as no teu coração. Assim acharás o favor de Deus e a consideração dos homens. Confia no Senhor de todo o teu coração e nunca em ti mesmo. Em tudo o que fizeres, põe Deus em primeiro lugar, e ele te dirigirá nos teus caminhos. Não te consideres sábio aos teus próprios olhos; teme o Senhor e volta as costas ao mal. Quando assim fizeres, gozarás saúde e vitalidade. Honra o Senhor com os teus ganhos, com a primeira parte dos teus rendimentos; e ele encherá, a transbordar, os teus celeiros; correrão abundantes os teus vinhos, dos mais finos. Meu filho, não desprezes a correção do Senhor e não desanimes quando ele te mostrar que estás errado. Porque o Senhor repreende quem ama, tal como um pai corrige um filho a quem quer muito bem. A pessoa que acha a sabedoria, que adquire a capacidade de avaliar o certo e o errado, essa é feliz. Porque isso é melhor do que grandes riquezas; a sabedoria vale mais do que ouro. É mais preciosa do que pérolas; nada se lhe pode comparar. A sabedoria, por um lado, dá-te uma longa vida; por outro, dá-te riquezas e honra. Os seus caminhos dão felicidade e paz. É uma árvore de vida, para os que a alcançam; felizes são os que se apegam a ela. Foi com essa sabedoria que o Senhor firmou a Terra; com a sua inteligência estabeleceu os céus; pelo seu conhecimento, as profundas fontes da Terra abrem-se e as nuvens gotejam. Meu filho, nunca deixes de ter estes dois objetivos: fazer o que é reto e ter bom senso. Porque serão para ti fonte de vida, como joias que adornam o teu pescoço. Então andarás com segurança e sem risco de tropeçares. Poderás deitar-te e adormecer sossegadamente. Não terás que recear catástrofes repentinas, nem a desgraça causada pelos malfeitores. Porque o Senhor será a tua segurança; guardará os teus pés de ficarem presos. Não te atrases a fazer o bem que deves a alguém, se nada te impedir disso. Não digas: “Olha, fica para outra vez!”, se puderes pagar-lhe logo na ocasião. Não trames o mal contra o teu próximo, pois confia em ti. Não entres em disputas inúteis, particularmente com pessoas que nunca te fizeram mal. Não tenhas inveja de gente violenta nem a imites. Porque o Senhor tem horror a pessoas assim, mas quer na sua intimidade os que andam retamente. A casa do perverso está sob a maldição do Senhor, mas os retos beneficiam da sua bênção. Ele rir-se-á dos que fazem troça de tudo, mas favorecerá os humildes. Os que têm sabedoria adquirem honra, mas os insensatos obtêm para si desonra. Jovens, escutem-me como se ouvissem o vosso pai; estejam atentos, a fim de crescerem em sensatez. Porque de mim obterão boa doutrina; não se afastem do meu ensino. Em criança era ternamente amado pela minha mãe, como um filho único, sendo para o meu pai como um aluno. Este dizia-me que nunca me esquecesse das suas palavras, no meu coração: “Guarda os meus mandamentos e viverás! Aprende o saber da vida, desenvolve em ti a sensatez! Nunca te esqueças desta minha insistência! Agarra-te bem à sabedoria e será ela depois a proteger-te; ama-a e te conservará a vida. A sabedoria é tudo o que há de mais importante; procurá-la, com determinação, é o primeiro passo para se ser sábio; com ela podes desenvolver o teu discernimento. Exalta-a e ela te exaltará; prende-a a ti e ela te conduzirá numa vida de dignidade; ela dará à tua vida como que uma coroa de glória.” Ouve-me, meu filho, e aceita as minhas palavras, de forma que os teus anos de vida se multipliquem. Eu ensinei-te no caminho da sabedoria e fiz-te andar nos trilhos da retidão. Continuando a andar por eles, certamente nunca terás embaraços; mesmo que tenhas de correr, não tropeçarás. Segue de perto as minhas instruções; não as esqueças, porque só elas te farão viver uma verdadeira vida. Não sigas a conduta dos perversos; não imites a gente má. Não pises os terrenos em que andam e evita-os; passa de largo pelos sítios que frequentam. Porque não dormem, enquanto não puserem em prática o mal que tramaram; não descansam, enquanto não fizerem tropeçar alguém, para o destruir. Eles comem a maldade como pão, bebem a violência como vinho. Mas o caminho por onde seguem os que vivem na justiça de Deus é como a luz da aurora: vai brilhando cada vez mais até se tornar dia perfeito! Por seu lado, o caminho dos perversos mergulha nas trevas; nem sequer sabem no que tropeçam. Meu filho, dá bem atenção às minhas palavras; escuta atentamente os meus argumentos. Que te acompanhem como alguma coisa que tens sempre em vista; esconde-os bem no íntimo da tua vida. Porque essas palavras significam uma verdadeira vida, para quem as recebe; são saúde para todo o teu ser. E, sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele depende tudo na vida. Que da tua boca nunca saia um falar tortuoso; afasta de ti a maledicência. Olha sempre a direito, diante de ti; não espreites fingidamente pelo canto do olho. Vê bem onde pões os pés, de forma que a tua marcha seja feita em segurança. Não resvales nem para um lado nem para o outro; afasta o teu pé do mal. Meu filho, presta atenção à sabedoria que aqui te apresento: ouve as minhas explicações, para seres prudente e para que a tua língua guarde o conhecimento. Os lábios de uma mulher de má vida podem parecer que escorrem mel; as suas falsas lisonjas são untuosas e macias. Mas no fim, deixam um sabor amargo, uma ferida feita como que por uma aguda espada de dois gumes. Os seus comportamentos conduzem à morte; a sua conduta é inspirada pelo mundo dos mortos. Não conhece o caminho da vida; cambaleia por um caminho tortuoso e nem se importa de saber onde é que ele leva. Portanto, agora, meus filhos, deem-me ouvidos, e nunca se desviem das palavras que vos estou a dizer: Afastem-se dessas mulheres; não se aproximem sequer da porta onde elas moram, para que não percam a dignidade, fazendo depender a vossa vida de gente cruel; para que gente que vos é estranha não venha a tirar-vos força e se tornem seus escravos. As consequências não poderão deixar de ser o gemerem no final da vida, enquanto o vosso corpo vai apodrecendo pelo vício. No fim, só terão isto a dizer: “Oh! Se ao menos eu tivesse prestado atenção aos avisos que me deram! Se não tivesse desprezado as repreensões! Porque é que não quis ouvir os que queriam ensinar-me? Porque é que não dei atenção aos meus mestres? Pouco faltou para que a minha desgraça fosse completa e agora até o desprezo público tenho de enfrentar!” Por isso, bebe a água da tua própria cisterna. Porque haveria o teu amor de derramar-se por mulheres da rua? Sejam estes mananciais para ti, somente, e não os repartas com outros! Que a tua fonte seja bendita! Sê feliz com a mulher que escolheste na tua juventude! Bela, aos teus olhos, como uma linda gazela, como uma corça graciosa; que te satisfaças todo o tempo no seu seio e que só o seu amor te deleite! Porque te deixarias atrair, meu filho, por outras mulheres, que não a tua? Porque abraçarias tu uma mulher que te é estranha? Deus observa atentamente a tua conduta, examina cuidadosamente tudo o que fazes. Quem faz o mal ficará cativo da sua própria maldade; será acorrentado pelo seu pecado. Morrerá porque preferiu viver sem correção; todos os seus erros se explicam pela sua loucura. Meu filho, se ficaste por fiador de alguém que conheces mal, garantindo as suas dívidas, caíste numa armadilha feita de palavras, de promessas que tu próprio assinaste. Livra-te, depressa, se ainda puderes! Põe de lado a altivez, pois estás nas mãos doutra pessoa; vai e livra o teu nome desse compromisso. Não vás dormir, nem sequer descansar, sem tratar disso. Se conseguires safar-te dessa rede em que foste apanhado, podes comparar-te a uma gazela que livrou a vida da arma do caçador, ou a um pássaro que escapou da armadilha que lhe prepararam. Vai ter com a formiga, preguiçoso! Observa o seu comportamento e aprende! Ainda que não tenha nem chefe, nem governador, nem superior, contudo, sabe que deve trabalhar bem no verão, juntando alimento, tendo em vista o inverno. Mas tu, preguiçoso, tudo o que sabes fazer é dormir! Quando é que te levantas e despertas? “Deixa-me dormir mais um bocado!” E continuas, pestanejando mais um bocado, cruzando mais um bocado os braços, ficando mais um bocado na cama! É assim que a pobreza te chegará, como um ladrão, sem te dares conta; a miséria te destruirá, como por um bandido armado. Este é o retrato duma criatura perversa e corrupta: para já, tem a mentira constantemente na boca. Esconde, fingidamente, os seus verdadeiros pensamentos e só os comunica por meio de sinais disfarçados, com os olhos, e de acenos com os pés e com os dedos. Depois tem o coração cheio de malvadez; passa o tempo todo a engendrar o mal e a semear desavenças entre toda a gente. Esses, sem esperarem, serão destruídos; sem contemplações, sem remédio! Há seis coisas que o Senhor aborrece e até mesmo sete que ele detesta: a altivez, a mentira, mãos que derramam o sangue inocente, o andar a tramar o mal contra os outros, avidez em fazer o mal, o falso testemunho, e o semear a discórdia entre irmãos. Meu filho, guarda o mandamento que teu pai te ensinou e também não desprezes os que a tua mãe te deu. Ata-os para sempre no teu coração; pendura-os ao teu pescoço, para que durante o dia, e pela noite fora, eles te dirijam e te protejam de tudo o que possa vir a prejudicar-te. Quando acordares de manhã, essas instruções te conduzirão durante o novo dia. Porque o mandamento é uma lâmpada e o ensino uma luz, avisando-te dos perigos, ajudando-te a viver com justiça. Conservar-te-ão longe da mulher perversa e dos seus falsos afagos. Não te excites com a sua beleza; não te prendas com os olhares que te dá. Por causa duma mulher assim, um homem pode tornar-se miserável; uma adúltera pode fazer-lhe perder a vida. Ninguém pode esconder um pedaço de lenha, que arda dentro de si, sem que se queime. Não há ninguém que consiga andar descalço sobre brasas, sem que se lhe queimem os pés. É o que acontece com quem comete adultério com a mulher do próximo; não poderá ficar sem castigo, o seu pecado. Poderá, talvez, haver uma certa desculpa para um indivíduo que rouba para matar a fome. Mesmo assim, a justiça obriga-o a pagar multiplicadamente o que roubou, a ponto de chegar a ficar sem nada do que tinha antes. Mas o que comete adultério está louco, está a arruinar a sua própria alma! Chagas e uma vida desgraçada é que ganha com isso, além de uma vergonha que nunca se apagará. O marido da mulher com quem adulterou ficará furioso, no seu ciúme, e não lhe perdoará, quando se lhe apresentar ocasião de vingança. Nem aceitará nada de tudo quanto penses oferecer-lhe, ou fazer-lhe, para o apaziguar. Meu filho, obedece às minhas palavras; esconde dentro de ti os meus mandamentos. Cumpre os meus mandamentos e viverás; guarda os meus preceitos como o bem mais precioso que possuis. Escreve-os, para que os tenhas sempre à mão; grava-os no teu íntimo. Considera a sabedoria como uma irmã a quem amas, como um membro querido da tua família. Para que te proteja da mulher leviana, da estranha que te procura atrair com conversas sedutoras. Um dia, aproximando-me da janela da minha casa e olhando para a rua, vi um grupo de rapazes simples, e entre eles um moço insensato, que se dirigia para a casa duma dessas mulheres, num recanto da rua. Era já o fim do dia, anoitecia; as sombras favoreciam-no. E ela saiu-lhe ao encontro, arranjada de forma provocante. Com o ar ligeiro de quem nunca para em casa. Daquelas que andam pelas esquinas das ruas, nos lugares mais frequentados, procurando por todo o lado. Então aproximou-se, beijou-o e disse-lhe com descaramento: “Decidi sacrificar ofertas de paz e assim cumpri os meus votos. Por isso, vim a correr à tua procura, a saber onde estavas. Olha, já fiz a cama bonitas colchas bordadas com linho fino do Egito, e perfumei-a com mirra, aloés e canela. Vem já, vamo-nos saciar de amores e gozar até de manhã. Porque o meu marido não está em casa; deve ter ido a um sítio distante. Eu vi que até levou bagagem e dinheiro; com certeza que não volta para casa antes da lua cheia.” E assim o seduziu, com muita conversa e palavrinhas doces; e ele deixou-se enfeitiçar. Quando vi que a seguia, veio-me à lembrança um boi que levam para o matadouro, ou um veado apanhado numa armadilha de caça. Só lhe resta esperar que um tiro certeiro lhe atravesse o corpo; é como a ave que corre para o sítio onde vai ficar presa num laço, sem pensar que estará ali o fim da sua vida. Agora ouçam-me, meus filhos, mas ouçam-me com atenção! Não percam o controlo dos vossos desejos; afastem-se delas e dos sítios por onde andam! Porque têm sido a causa da ruína de muita gente; são muitas as suas vítimas. Frequentar a casa delas é seguir o caminho que conduz à morte e ao mundo dos mortos. Não estão a ouvir a voz da sabedoria, a voz da razão? No cimo das elevações que dominam as estradas, nas encruzilhadas dos caminhos, nas entradas das povoações, à porta de cada habitação, escutem a sua voz: “Que toda a gente me escute! Falo a todo o ser humano! Vocês ingénuos, deixem que vos dê entendimento! Ó loucos, recebam o bom senso que vos dou! Ouçam-me, porque tenho coisas bem importantes a comunicar-vos, e porque tudo o que vos digo é justo e é a verdade, pois aborreço o engano e a maldade. Tudo o que sai da minha boca é só justiça; não se encontra aí nada de tortuoso ou fingido. Tudo o que digo é simples e claro, para quem procura entender; quem abriu a sua mente ao conhecimento verá que se trata de palavras retas. Aceitem a minha instrução, pois o conhecimento vale mais do que a prata e o ouro da melhor qualidade. O valor da sabedoria está muito acima do das pedras preciosas; nada se lhe pode comparar. Eu, a sabedoria e o entendimento vivemos juntos e disponho de conhecimento e conselhos. Quem teme ao Senhor aborrece o mal. Eu odeio o orgulho e a arrogância, assim como a corrupção e o engano. Eu, a sabedoria, dou entendimento e bom senso; meu é o poder. Pois com a minha força têm reinado reis; mostro aos juízes o que é certo e errado. Os governantes dirigem os destinos de povos com a minha ajuda. Amo todos os que me amam; os que me procuram com zelo hão de, seguramente, encontrar-me. Tenho comigo riquezas que nunca se acabam e dignidade para distribuir por toda a gente. Sim, riquezas em honra e em retidão! Os dons que reparto são mais preciosos do que o ouro mais puro e do que a melhor prata. Faço as pessoas andarem pelo caminho da justiça, pela estrada do direito. Os que me amam possuem riquezas permanentes e têm as suas reservas cheias. O Senhor adquiriu-me logo no princípio de tudo, antes mesmo do princípio das suas obras mais antigas. Já desde a eternidade sou o que sou; existo antes da Terra ter começado a sua existência; antes que os grandes oceanos se formassem e que existissem fontes carregadas de água; antes das altas cordilheiras e das montanhas. Sim, eu nasci antes que Deus tivesse feito tudo o que há na superfície do nosso planeta! Eu estava presente quando ele estabeleceu os céus, quando delineou o horizonte sobre a face do oceano; quando formou as nuvens no céu, e encheu os abismos com grandes mares. Eu estava lá quando impôs limites aos oceanos e determinou que não se estendam além das fronteiras estabelecidas. Estava presente quando fazia os cálculos e os planos fundamentais deste mundo maravilhoso. Eu ali estava, como um aluno junto do seu mestre. Eu era, a cada momento, as suas delícias, brincando na sua presença. Como me sentia feliz no seu vasto mundo, no meio de toda a humanidade! Agora então, ouçam, meus filhos, porque bem felizes serão todos os que seguem as minhas instruções. Escutem os meus conselhos! Não os rejeitem, sejam inteligentes! Feliz aquele que está tão ansioso por me ter consigo, que me espera diariamente na entrada da minha casa, diante da minha morada! Porque quem me encontrar achará a verdadeira vida e tem a aprovação do Senhor. Mas quem me ofender violenta-se a si mesmo, irreparavelmente; e quem me desprezar é como se amasse a própria morte!” A sabedoria já edificou o seu belo palácio, levantado sobre sete colunas. Matou animais para o banquete, misturou o vinho e preparou a mesa. Já deu ordens aos criados e mandou-os ir convidar toda a gente para que venha. Ela clama a todos, desde os pontos mais altos da cidade, e onde passa mais gente: “Venham, aqueles que são simples, sem muita inteligência! Venham ao banquete da sabedoria e bebam as finas misturas que preparei! Deixem ficar para trás os insensatos e comecem a viver; aprendam a ter entendimento!” Se repreenderes um arrogante, tudo o que podes receber, é desprezo; quem censura o perverso, será insultado. Por isso, não repreendas o escarnecedor, para que não te aborreça; mas admoesta o sábio e ele te amará. Mas uma pessoa esclarecida quererá bem a quem a corrigir; um indivíduo inteligente, quando é ensinado, fica mais culto; aquele que é reto fica com mais capacidades, quando o instruem. O temor ao Senhor é o fundamento de toda a sabedoria; conhecer o Deus santo é alcançar o pleno conhecimento. “Eu, a sabedoria, tornarei cada momento da vossa vida mais proveitoso; prolongarei os anos da vossa existência.” Terás toda a vantagem em seguir a sabedoria; mas, se a desprezares, terás de suportar as consequências. A insensatez é como uma mulher escandalosa; além do mais, é louca, e daí a sua ignorância. Senta-se à porta de casa, ou nos lugares mais altos da cidade. Faz sinais aos que vão passando e que seguem direito nos seus caminhos. “Venham comigo!”, diz ela aos simples, sem muita inteligência! “A fruta roubada é a mais saborosa; maçãs trincadas às escondidas sabem melhor!” E nem se dão conta de que os que antes foram com ela são agora hóspedes do mundo dos mortos. Provérbios de Salomão. Um filho sábio é a alegria do seu pai; um filho insensato é a tristeza de sua mãe. Os ganhos obtidos irregularmente de nada servem, mas o viver com justiça livra da morte. O Senhor não deixa ter fome aquele que anda na justiça, mas contraria a ambição dos perversos. As mãos preguiçosas levam à pobreza; as mãos diligentes alcançam a riqueza. Um moço inteligente saberá juntar durante o verão; é uma vergonha ver gente nova dormindo quando deveria estar a trabalhar! O que anda na justiça cobre-se de bênçãos, mas os ímpios têm a boca cheia de violência. Toda a gente se lembra, com gosto, dos que foram retos, mas o nome dos perversos fica a cheirar mal, depois deles. Uma pessoa inteligente aceita o mandamento, mas o que só tem conversas insensatas tornar-se-á um inútil. Quem anda com integridade, anda seguro na vida, mas aquele que segue caminhos tortuosos virá a ser descoberto. O fechar os olhos ao pecado só traz é tristeza; o que só tem conversas insensatas tornar-se-á um inútil. Há como que uma fonte de vida no que diz um homem reto, mas a boca dos maus está só cheia de violência. O ódio gera contendas, mas o amor passa por cima das ofensas. As pessoas com bom senso são pretendidas como conselheiras, mas a vara da repreensão cai sobre o insensato. As pessoas com entendimento entesouram sabedoria, mas a boca do insensato anuncia a ruína iminente. A riqueza do rico é a fortaleza dentro da qual se protege, mas a pobreza dos pobres é a sua ruína. Os ganhos do que anda com retidão conduzem à vida, mas a retribuição do perverso é o pecado. Aquele que recebe, de boa vontade, a correção está no caminho da vida, mas o que a recusa desencaminha-se a si mesmo e aos outros. O que encobre o ódio é um hipócrita; o que difama o seu semelhante é um louco. No muito falar há sempre grande risco de pecar, mas quem sabe refrear a sua língua é sensato. Aquilo que diz uma pessoa reta é precioso como a prata, mas o coração dos perversos vale muito pouco. Os retos podem dar conselhos a muita gente, mas os tolos morrem porque lhes falta juízo. A bênção do Senhor é que enriquece e não traz desgosto algum. Para o louco, o praticar o mal é uma brincadeira, mas o homem com entendimento tem alegria na sabedoria. Os temores de uma pessoa má vêm a realizar-se; mas às esperanças do reto é Deus quem lhes dá cumprimento. Quando as catástrofes rebentam, o mau é levado; o que anda com justiça permanece para sempre. Um preguiçoso, para quem o emprega, é como o fumo para os olhos, como o ácido para os dentes. O temor ao Senhor aumenta o tempo da vida; os anos dos perversos serão abreviados. A esperança do homem justo traz alegria, mas as esperanças dos maus são em vão. O caminho do Senhor é o refúgio dos íntegros, mas será a destruição de todos os que praticam a iniquidade. O indivíduo reto nunca será abalado, mas os maus não ficarão na Terra. A boca do que anda com justiça revela sabedoria em abundância, mas a língua perversa será cortada. O que vive na justiça sabe falar do que é agradável, mas a boca da gente perversa está sempre cheia de maldade. O Senhor repudia a balança desonesta, mas tem grande prazer no peso correto. A gente soberba acaba sempre por cair na vergonha; a sabedoria está do lado dos mansos. As pessoas íntegras são conduzidas pela sua própria honestidade; as desonestas serão arruinadas pela sua maldade. As riquezas de nada servem no dia do juízo; só a justiça livra da morte. A justiça das pessoas íntegras torna reta a sua conduta, mas o pecador cairá com o peso dos seus pecados. A justiça dos retos os livrará, mas os maus serão apanhados pelos seus próprios apetites. Quando o pecador morre, morrem com ele as suas esperanças, porque se baseiam unicamente nas coisas materiais. Deus livra os retos da angústia, mas aos homens maus deixa-os passar por ela. O hipócrita destrói o seu próximo com a língua, mas os justos hão de livrar-se, por meio do conhecimento. Todo o cidadão se regozija com o sucesso de um homem justo, assim como também com a queda dos homens maus. Com a bênção dos justos a cidade prosperará, mas será destruída pelas palavras dos perversos. Quem despreza o seu próximo carece de bom senso; aquele que tem entendimento sabe dominar-se. Quem anda metido em mexericos só espalha intrigas, mas a pessoa de confiança sabe quando deve calar-se. Sem uma direção sábia, o povo perturba-se, mas com bons conselheiros há segurança. Quem ficar por fiador de um estranho, certamente virá a sofrer; vale mais recusar sê-lo e ficar seguro. A honra é própria de uma mulher graciosa; mas os homens violentos só adquirem riquezas. Uma pessoa bondosa faz bem, até à sua própria alma, mas destrói-a, quando se torna cruel. Os lucros que os maus obtêm não lhes rendem nada; os que semeiam a justiça terão uma recompensa garantida. Tal como a justiça conduz à vida, assim também o que segue o mal fá-lo para a sua própria morte. O Senhor aborrece profundamente os que têm um coração tortuoso, mas tem prazer nos que andam em retidão. O indivíduo mau nunca virá a ficar sem castigo, mas os filhos dos justos escaparão. Como uma joia de ouro no focinho dum porco, assim é uma mulher bonita, mas insensata. Os que vivem com justiça podem contar com a felicidade, mas os que se afastam de Deus só podem esperar a condenação. Alguns há que distribuem o que têm e ainda se tornam ricos; outros retêm, com avareza, o que possuem e acabam por perder tudo. Sim, os que são generosos engordarão; os que dão a beber aos outros serão saciados. O povo amaldiçoa quem açambarca alimentos para especular, mas aqueles que vendem o que faz falta serão abençoados. O que procura ansiosamente o bem, virá a encontrar favor; àquele que só sabe seguir o mal, o mal acabará por destruí-lo. Confia nas tuas riquezas e cairás; mas os justos crescerão como uma planta viçosa. O louco que provoca zangas em família verá o vento levar-lhe tudo; virá a ser servo de outros que têm mais entendimento do que ele. Os justos são como uma árvore de vida; aquele que ganha almas sábio é. Se até mesmo os justos terão a sua retribuição nesta Terra, quanto mais os perversos e os pecadores! Se gostas de aprender, terás de aceitar ser ensinado e corrigido; recusar a repreensão e a crítica é prova de estupidez. Os que seguem o bem alcançam o favor do Senhor; os que têm uma mente perversa serão antes condenados por ele. A maldade nunca traz consigo verdadeiro sucesso para ninguém, mas a raiz dos justos é firme e não será arrancada. Uma mulher virtuosa é motivo de alegria para o seu marido, mas a que procede vergonhosamente tira-lhe a força. Os pensamentos dos justos são retos, mas os conselhos dos perversos são enganosos. O ímpio, quando fala, é para acusar e armar ciladas, mas os retos saberão defender-se. Os maus serão abatidos e desaparecerão, mas a casa dos justos permanecerá firme. Cada um será louvado pelo bom senso de que dá provas; quem tem uma mente pervertida encontrará o desprezo do seu semelhante. É preferível aparentar um ar mais rude e ter em casa o suficiente para comer, a andar muito aprumado e elegante, mas passar fome! As pessoas justas preocupam-se até com a saúde dos seus animais; a gente malvada, mesmo quando pretende fazer misericórdia, torna-se cruel. O trabalho feito com aplicação e esforço conduz à prosperidade; só quem não tem realmente juízo nenhum se dá a futilidades. Os maus têm inveja uns dos outros, mas os justos desejam, intimamente, o bem do seu semelhante. O ímpio é apanhado pela sua fala pecadora; mas o justo consegue livrar-se das dificuldades. O falar a verdade dá às pessoas uma grande satisfação íntima; o trabalho honesto virá sempre a recompensar quem o faz. Os tolos pensam que nunca precisam de conselhos, mas os que têm verdadeiro entendimento sabem ouvir a opinião dos outros. Os loucos são desequilibrados e precipitados; os que têm bom senso sabem manter a cabeça fria e dominar-se, mesmo quando os insultam. Quem fala verdade põe em evidência a justiça; uma testemunha falsa só saberá revelar mentira e engano. Há gente cujas palavras ferem como pontas de espada; mas a fala dos que têm sabedoria é como se desse saúde aos outros. A verdade aguenta, inalterável, a prova do tempo; mas a língua do mentiroso dura apenas um instante! Engano é tudo o que há no coração dos que só se ocupam a maquinar o mal, mas há alegria transbordante na vida dos que procuram construir a paz. Nenhum agravo sobreviverá ao justo, mas os maus vivem em constante inquietação. O Senhor reprova os que falam mentira, mas os que falam a verdade são do seu agrado. Uma pessoa prudente revela o que sabe, com moderação e equilíbrio; os loucos lançam aos quatro ventos os seus disparates. Quem trabalha aplicadamente ganhará qualidades para vir a conduzir outros; os preguiçosos nunca terão sucesso na vida. As preocupações tornam-se um peso grande no coração das pessoas; uma palavra amiga de apoio é capaz de levar-lhes alegria. O justo serve de guia para os seus amigos, mas os caminhos dos perversos levam-nos a errar. O preguiçoso não chega, sequer, a assar a presa que caçou; aquele que é diligente sabe tirar, a seu tempo, o devido proveito do que alcança. O caminho da justiça conduz à vida; nele não há que ter medo da morte! Os filhos sensatos aceitam os avisos dos pais; mas os arrogantes desprezam-nos. As pessoas honestas ganham as suas causas com uma argumentação cuidada e séria; os transgressores só sabem defender-se por meio da violência. O que sabe controlar o seu espírito sabe também, com certeza, dominar a língua; quem abre precipitadamente a boca leva tudo à ruína. O preguiçoso quer ter muita coisa, mas é muito pouco o que consegue obter, mas os que trabalham aplicadamente prosperam. Os justos aborrecem a mentira; os pecadores mentem constantemente e espalham infâmias por toda a parte. A própria justiça protege aquele cuja conduta é íntegra; a maldade dos pecadores destruí-los-á. Há quem se faça passar por rico e nada tem; outros há que passam por pobres e têm grandes riquezas. Raptos e pedidos de milhões para resgate, nunca foi coisa que preocupasse os pobres. A vida dos justos está cheia de luz; o caminho dos pecadores é escuro e até a luzinha que o ilumina virá a apagar-se. O orgulho leva sempre a discussões, mas os que admitem conselhos são verdadeiros sábios. A riqueza obtida à pressa, por especulação, virá a desaparecer, mas aquela que se obtém pelo trabalho virá a aumentar. Uma esperança muito demorada põe o coração doente; quando os sonhos se realizam é como uma árvore de vida. O que despreza a palavra de Deus virá a perder-se, mas o que respeita os seus mandamentos será bem sucedido. O ensino dos sábios é uma fonte de vida, capaz de nos desviar das armadilhas da morte. O bom senso é coisa sempre apreciada; o caminho de gente corrupta é duro de trilhar. Um indivíduo prudente age com conhecimento de causa; o insensato até faz gala da sua loucura. Um mensageiro que não é de confiança causa desgraça; o embaixador digno de crédito sana as situações. Aquele que rejeita a repreensão virá a cair na pobreza e na desgraça; quem sabe aceitar a crítica sã está no caminho da honra. Um sonho que se realiza é coisa que faz bem à alma; os loucos recusam abandonar os seus desejos, quando são abomináveis. Se fores companheiro de pessoas sensatas, ganharás entendimento; se andares com gente louca, ver-te-ás em apuros. O mal persegue os pecadores, mas as bênçãos seguem os passos dos justos. Uma pessoa de entendimento procura deixar uma herança para os filhos e netos; mas a riqueza dos pecadores irá para os justos. A terra que o pobre cultiva pode ser muito rica, mas frequentemente são as injustiças que o tornam pobre. Se recusares disciplinar o teu filho, dás provas de que não o amas devidamente; se o amasses saberias castigá-lo sempre que é preciso. O justo come e fica satisfeito; no entanto, os maus andam sempre com fome. Uma mulher sabedora compreende como deve construir a sua casa, mas uma louca é capaz até de a destruir, à custa do seu desvario. O homem que anda na retidão teme o Senhor, mas o que se desvia do seu caminho está a desprezá-lo. Nas palavras do louco germina o orgulho; a fala do sábio é a sua proteção. Um estábulo sem animais permanece limpo, mas o certo é que com um estábulo limpo não há ganhos. Uma testemunha digna de confiança não mentirá; uma falsa testemunha respira mentira. O escarnecedor nunca chega a encontrar a sabedoria que diz procurar, ainda que esta chegue facilmente às pessoas de bom senso. Se procuras conselhos, afasta-te de gente insensata. A sabedoria duma pessoa sensata manifesta-se preparando o futuro; o louco revela a sua insensatez enganando-se a si mesmo. Os loucos fazem pouco do pecado; os que respeitam a Deus conhecem-se pela sua vontade em fazer o bem. Só a própria pessoa sabe medir a amargura ou a alegria que lhe vai na alma; os outros nunca poderão realmente compartilhar da sua alegria. A casa dos ímpios virá a ser destruída, mas a habitação das pessoas retas florescerá. Há caminhos que ao homem parecem ser uma via segura, mas que acabam por levar à morte. O riso pode esconder um coração amargurado; acabada a alegria, a tristeza torna a vir ao de cima. O traidor acabará por ter nojo da sua falsidade, mas a vida dos retos é cheia de interesse. Só os ingénuos acreditam em tudo quanto se lhes diz; um indivíduo sensato procura certificar-se das situações. Uma pessoa com entendimento é cautelosa e desvia-se do mal; os insensatos atiram-se de cabeça, com toda a confiança, seja para onde for. Quem se irrita com facilidade vem sempre a fazer disparates; o homem de más intenções será odiado. Os simples recebem como herança a insensatez, mas os que têm discernimento têm em paga o conhecimento. Os maus submeter-se-ão diante dos homens de bem; os perversos suplicarão à porta dos justos. O pobre até pelos seus companheiros é odiado, mas os ricos têm muitos amigos. Desprezar o seu semelhante é um pecado; abençoados serão os que se interessam pelos mais desfavorecidos. Os que praticam o mal perdem-se na vida, mas para os que sabem fazer planos de bem haverá amor e fidelidade. O trabalho traz ganhos; a muita conversa traz pobreza. Os sábios são louvados pelo seu entendimento; os loucos são postos de parte por causa da sua insensatez. Uma testemunha de confiança, que diz a verdade, pode até salvar vidas; uma falsa testemunha é traição. Temer ao Senhor dá ao homem amparo e segurança; até os seus filhos nisso encontrarão proteção. O temor ao Senhor é uma fonte de vida; as suas águas livram da cilada da morte. Uma população que se desenvolve é a glória dos governantes; a sua redução é a ruína deles. Uma pessoa com entendimento sabe controlar o seu temperamento; o de ânimo precipitado exalta a loucura. Um coração em paz prolonga a vida, mas a inveja faz apodrecer os ossos. Quem oprime os pobres e os fracos insulta o Criador dos homens; ajudar os pobres é honrar a Deus. Os pecadores serão expulsos, por causa dos seus pecados; o justo, mesmo quando morre, encontrará um refúgio. A sabedoria está bem assente no coração das pessoas de bom senso; para os loucos, ela tem de ser gritada bem forte, a fim de que possam ouvi-la. A justiça exalta as nações, mas o pecado traz vergonha aos povos. O rei alegra-se com o servo sábio; mas a sua cólera cairá sobre o que age vergonhosamente. Uma resposta delicada anula a irritação; as palavras duras suscitam a cólera. A língua dos sábios faz da aprendizagem uma alegria, mas da boca dos insensatos só jorram disparates. Os olhos do Senhor estão em toda a parte, observando tanto os bons como os maus. Uma palavra reconfortante é uma árvore de vida, mas a do que fala perversamente logo traz desencorajamento. Só os tolos desprezam a opinião dos pais; uma pessoa prudente toma em consideração as suas sugestões e avisos. Na casa do justo há um grande tesouro; os rendimentos dos perversos trazem-lhes perturbação. A boca dos sábios difunde conhecimento, mas o coração dos insensatos não procede assim. O Senhor repudia o culto e os sacrifícios dos perversos, mas tem todo o prazer nas orações dos retos. O Senhor detesta os feitos dos pecadores, mas ama os que seguem a justiça. Deus corrigirá severamente os que se desviam do bom caminho; os que se revoltarem contra essa correção morrerão. Se nem as profundezas do mundo dos mortos podem ocultar-se aos olhos do Senhor, quanto mais o coração dos seres humanos! Os escarnecedores nunca se chegam às pessoas com entendimento, porque não gostam de ser repreendidos. Um rosto alegre traduz a felicidade dum coração; a aflição do íntimo reflete-se na expressão que apresenta. As pessoas com discernimento estão sempre sedentas da verdade; os insensatos engordam só com parvoíces. Quando alguém está aflito, tudo lhe parece sombrio e mal; um coração alegre vive sempre em festa. É melhor viver com pouco, mas temer ao Senhor, do que ser multimilionário e viver dia-a-dia com aflições. Vale mais ter um simples caldo, na companhia daqueles que amamos, do que a carne mais saborosa num ambiente de discórdia. Um indivíduo irascível está sempre a levantar discussões; o que lhe vale são as pessoas que sabem dominar-se, para pôr um ponto final na contenda. Para o preguiçoso, a vida é como um caminho cheio de espinhos; os retos sabem fazer dela um caminho plano. Um filho sábio procura dar alegria aos seus pais; os insensatos desprezam a opinião deles. Os pobres de entendimento ficam todos contentes com palermices; as pessoas de juízo procuram ter uma conduta sensata. Um empreendimento feito sem o conselho dos que conhecem o assunto falha; são os muitos conselheiros que podem dar uma garantia de sucesso. Toda a gente gosta de dar bons conselhos; como é bom ser-se capaz de dizer aquilo que é preciso, no momento certo! Para os que seguem a Deus, o caminho da vida é para cima, deixando para trás o mundo dos mortos. O Senhor destruirá a casa dos orgulhosos, mas cuidará das posses das viúvas. O Senhor aborrece solenemente os pensamentos dos pecadores, mas tem todo o prazer nas palavras bondosas. O dinheiro ganho desonestamente traz perturbação para toda a família; mas quem aborrecer o suborno viverá. Uma pessoa reta pensa antes de falar; os maus são capazes de falar sem um mínimo de reflexão. O Senhor está bem longe dos perversos; quanto à oração dos justos, essa sim, ouve-a! Um olhar feliz e uma boa notícia são coisas que dão felicidade; as boas notícias renovam as forças. Os que sabem aproveitar as críticas construtivas virão a ser recebidos no meio de pessoas sensatas. Quem rejeita a correção prejudica-se profundamente; quem compreende a repreensão adquire ainda mais entendimento. Temer ao Senhor e saber ser humilde é o fundamento da sabedoria e da dignidade humana. Nós podemos fazer os nossos próprios planos, mas o Senhor tem a última palavra. Ao homem parece-lhe bom tudo o que faz, mas o Senhor é quem julga as verdadeiras motivações. Entrega tudo o que fazes ao Senhor, e os teus planos irão por diante. Tudo o que o Senhor fez tem um objetivo; até mesmo o perverso, para o dia do castigo. Deus abomina o orgulho; por muito que se faça, o orgulho não escapará ao castigo. A culpa é perdoada pela misericórdia e pela verdade; e é pelo temor ao Senhor que o ser humano se pode resguardar do mal. Quando alguém procura agradar ao Senhor, Deus faz com que até os seus piores inimigos tenham paz com essa pessoa. Melhor é ter pouco, mas vivendo uma vida reta, do que ter uma grande fortuna ganha por meios desonestos. Ao elaborarmos os nossos planos, deveríamos sempre contar com a intervenção do Senhor. O rei fala com grande autoridade; contudo, a sua boca não deve jamais trair a justiça. O Senhor exige as balanças certas; e decide os pesos que se devem utilizar. Um chefe de estado tem horror à iniquidade; o seu direito de governar só pode ter como fundamento a justiça. Um povo que fala e respeita a verdade e que ama a justiça faz felizes os seus governantes. A ira do rei é como alguém que anuncia a morte; o sábio encontrará a forma de a abrandar. Quando o rosto do rei exprime alegria, isso é vida; a sua benevolência é como uma nuvem de chuva serôdia. É melhor ter sabedoria do que ouro; vale mais o entendimento do que prata. O caminho dos justos distingue-se, essencialmente, por se desviar do mal; quem segue por ele está em segurança. Ao orgulho segue-se a ruína; a arrogância vem antes da queda. É preferível estar ao lado dos humildes e dos simples, a partilhar privilégios com gente altiva. Deus abençoa os que obedecem consciente e refletidamente à sua palavra; os que confiam no Senhor serão felizes. O indivíduo sábio será conhecido pelo seu bom senso; quem ensina será mais persuasivo se empregar palavras adequadas. A sabedoria é fonte de vida para os que a possuem; o castigo dos loucos é a sua própria loucura. Do íntimo de quem tem entendimento saem palavras inteligentes, capazes de persuadir os outros. As palavras amáveis e delicadas são como o mel; fazem bem à alma, dão saúde à vida. Há caminhos que ao homem parecem direitos e seguros, mas no final deles encontra-se a morte. A fome é boa para levar o homem a trabalhar, a fim de satisfazer a sua necessidade. O malfeitor provoca o mal; aquilo que diz é como um fogo. As pessoas perversas estão sempre a levantar contendas; o intriguista é capaz de separar os melhores amigos. As pessoas violentas costumam aliciar outros, para os levar por caminhos condenáveis. Fecham os olhos, imaginando cuidadosamente o que podem tramar; de lábios cerrados, levam os seus planos perversos por diante. Os cabelos brancos representam dignidade; eles veem-se nos que caminham na justiça. Uma pessoa que é paciente vale mais do que alguém muito corajoso; é melhor saber dominar-se do que conquistar uma cidade. As pessoas lançam sortes para muitas decisões, mas no fim é sempre do Senhor que dependem as situações. Melhor é um pedaço de pão seco, mas comido com tranquilidade, do que ter a casa cheia de boa comida, no meio de discussões constantes. Um mordomo inteligente procurará orientar o filho do patrão que procede mal; se o fizer, virá a ter direito a uma parte da herança desses filhos. O ouro e a prata são purificados pelo fogo, mas é só o Senhor quem purifica os corações. Os pecadores procuram a companhia dos que falam e fazem como eles; todo o mentiroso escuta a língua maligna. Desprezar os pobres é insultar a Deus que criou todos os homens; não ficará sem castigo aquele que se alegra com a desgraça alheia. Para os avós, os netos são a sua coroa de glória, tal como a coroa dos filhos são os pais. Normalmente, não se espera ouvir coisas sensatas da boca dum louco; dum governante também não contamos que falte à verdade. Os presentes funcionam, muitas vezes, como uma chave mágica, alcançando muito para quem os utiliza. A amizade faz esquecer muita coisa mal feita; os que andam sempre a discutir são capazes de separar os melhores amigos. A repreensão dada a uma pessoa sensata é mais eficaz do que cem açoites aplicados a um insensato. Os perversos anseiam a rebeldia; por isso, não deixarão de ter alguém que os castigue severamente. Será menos perigoso ter um encontro com uma ursa enfurecida, a quem roubaram os filhotes, do que com um louco num acesso de fúria. Para quem paga o bem com o mal haverá sempre maldição na sua casa. Começar uma contenda é como abrir uma represa; por isso, o melhor é evitá-la antes que ela rebente. O Senhor repudia tanto os que fecham os olhos às culpas dos maus como os que condenam os justos. De que serve ao insensato ter dinheiro para comprar sabedoria, se não tem entendimento? Um verdadeiro amigo é sempre leal e é na adversidade que se forma um irmão. É prova de pouco juízo ficar por fiador doutra pessoa e responsabilizar-se pelas suas dívidas. Quem ama a transgressão, ama o pecado; quem se exalta, procura a ruína. O homem de coração perverso nunca será feliz; o de língua mentirosa logo cai em desgraça. Triste coisa é ser-se pai dum filho insensato; o pai de um louco não pode ter alegria. Um coração alegre tem o mesmo efeito dum bom remédio, mas um espírito abatido torna todo o corpo doente. O ímpio aceita presentes em segredo, para desviar o curso da justiça. A sabedoria é o grande objetivo das pessoas sensatas; mas os olhos do louco vagueiam pela Terra, sem saber o que o satisfaz de facto. Um filho insensato é um desgosto para o seu pai; é a amargura para quem o deu à luz. É extremamente mau, quando os governantes castigam os justos, e punem os que agem com honestidade. As pessoas entendidas, que têm conhecimento da vida, sabem quando devem calar-se. Até o tolo é capaz de passar por esperto, quando sabe ficar quieto; quando cala a boca, até pode ser tomado por inteligente. O individualista, que faz tudo sempre sozinho, é um egoísta; recusa toda a espécie de conselhos. Os loucos não querem saber como são as coisas na realidade; só lhes interessa gritar aos quatro ventos aquilo que pensam. Aparecem os malfeitores e com eles logo vem a infâmia, o desprezo, o insulto. As palavras de um homem sábio exprimem profundas torrentes de pensamento. Quem favorece os malfeitores, a fim de poder condenar o inocente, está a agir com profunda injustiça. As palavras do insensato provocam contendas; a sua língua clama por açoites. A boca do insensato traz-lhe dissabores; os seus lábios armam-lhe ciladas. As conversas do caluniador são como saborosos petiscos que se engolem com muita facilidade. O preguiçoso que faz um trabalho com negligência é como se estivesse a destruir uma obra de valor. O nome do Senhor é como uma poderosa fortaleza; os justos acorrem e acham aí perfeita segurança. O rico considera a sua riqueza como uma cidade impenetrável, como uma muralha perfeitamente segura. O orgulho acaba sempre na ruína, mas a honra vem sempre precedida da humildade. Responder antes de ouvir é loucura; é mesmo uma vergonha para quem o faz. A moral duma pessoa pode ajudá-la na doença, mas para um espírito abatido que esperança haverá? Uma pessoa esclarecida está sempre pronta a adquirir novos conhecimentos; tem o ouvido atento a tudo o que possa enriquecer o seu espírito. Os presentes são coisas que, por vezes, até fazem milagres; conseguem dar acesso a pessoas consideradas muito importantes. Quando há um debate, o primeiro a falar parece ter toda a razão; depois aparecem outros a contestá-lo e a rebater os seus argumentos. Tirar à sorte pode decidir o fim de uma discussão e a posição de gente poderosa. Um irmão ofendido torna-se mais impenetrável que uma fortaleza militar; as querelas fecham-no como se fossem ferrolhos dum velho castelo. Para a pessoa que sabe dar bons conselhos, isso dá-lhe satisfação como um bom prato de comida, quando está com fome. A morte e a vida estão à mercê da força da língua; os que a usam habilmente serão recompensados. Um homem que encontra uma esposa acha uma boa coisa; ela é uma bênção da parte do Senhor. O pobre fala suplicando, mas o rico responde duramente. Quem tem muitos amigos pode dar-se por muito satisfeito, mas há um amigo que é mais chegado do que um irmão. Uma pessoa íntegra, ainda que pobre, é sempre alguém de valor; é melhor que o perverso de lábios e o insensato. Uma intenção expressa sem conhecimento, não é coisa boa; quem é precipitado nos seus atos, peca. Uma pessoa pode dar cabo da sua vida, por causa da sua insensatez, mas, no fim, acaba por culpar Deus pelo que lhe acontece. As riquezas arranjam sempre muitos amigos; quando alguém empobrece, até o seu melhor amigo é capaz de o deixar. Não será impunemente que alguém serve de falsa testemunha; quem diz mentiras não escapará. Muitos procuram lisonjear os poderosos; muita gente se torna amiga de quem lhe sabe dar presentes. Se até os irmãos do pobre o aborrecem e se afastam envergonhados, quanto mais os que se dizem apenas seus amigos! Por muito que se explique e que fale, não lhe ligam. Quem procura a sabedoria, ama-se a si mesmo; quem mantém a sua razão esclarecida, prosperará. Uma falsa testemunha não ficará sem castigo; o mentiroso virá a ser apanhado. Não parece certo a ninguém que um louco venha a ser bem sucedido na vida; também é errado que um servo dê ordens a quem foi investido de autoridade. Um indivíduo sensato procura controlar a sua irritação e não valorizar as ofensas; afinal, isso só vem contribuir para o seu prestígio. A ira daquele que governa um povo é tão perigosa como a do leão, mas a sua simpatia refresca e renova, como o orvalho sobre a erva. Um filho insensato é uma grande calamidade para os pais; uma mulher sempre a ralhar tem o mesmo efeito de gotas caindo continuamente. Casa e riquezas são coisas que se podem receber como simples herança, mas uma esposa sensata é verdadeiramente um dom de Deus. A preguiça faz mergulhar num profundo torpor; o estômago do negligente acaba por sofrer de fome. Quem guarda os mandamentos de Deus, guarda-se a si próprio, mas o que despreza os seus caminhos morrerá. Quem dá aos pobres, empresta a Deus, o qual virá a pagar com juros largamente vantajosos. Corrige o teu filho, enquanto é novo, enquanto ainda há esperança; se não o fizeres arruinarás a sua vida. Uma pessoa que se irrita facilmente, virá a sofrer as consequências da sua atitude; se outros vierem a desculpá-la, estarão a incitar os seus excessos. Ouve os conselhos que te derem e aceita as correções, para que sejas sábio o resto da tua vida. Muitos são os projetos que se formam no espírito dos homens, mas só os planos de Deus perduram. Uma pessoa bondosa torna-se naturalmente atraente; vale mais ser-se pobre do que desonesto. O temor ao Senhor produz a verdadeira vida, dá felicidade e protege do mal. Há gente tão preguiçosa que até lhes custa levar a mão à boca para comer! Se castigares o escarnecedor, outros como ele procurarão corrigir-se; as pessoas sensatas são capazes, através das críticas, de ficar ainda mais sabedoras. Um filho que maltrata ou que aflige os seus pais, torna-se uma vergonha social. Quando te estiverem a ensinar alguma coisa, nunca deixes que te desviem do conhecimento que já verificaste ser correto. A falsa testemunha não quer saber da justiça para nada; a boca da gente malvada ingere iniquidade. Há castigo já preparado para os que desprezam a sabedoria e açoites para as costas dos insensatos. O vinho dá uma falsa coragem e as bebidas alcoólicas provocam rixas; aqueles que se deixam dominar por elas, não são sábios. A ira dum governante mete tanto medo como o rugido dum leão; dar ocasião a que a sua cólera se acenda é arriscar a própria vida. Uma pessoa que sabe evitar brigas, é digna de todo o respeito; só os tolos se metem em discussões. O preguiçoso não quer lavrar a terra na estação própria; quando chega a época da colheita, não tem o que comer. Por mais fundo que se escondam no coração do ser humano os seus pensamentos, um indivíduo com bom entendimento saberá tirá-los para fora. Toda a gente diz que sabe ser um amigo bondoso para os outros, mas sê-lo-ão mesmo? O justo leva uma vida íntegra; felizes serão os filhos da sua descendência. Um governante, quando tem de tomar decisões, pesa todas as informações, distinguindo cuidadosamente a verdade e a falsidade. Quem poderá dizer: “O meu coração é puro, estou sem pecado!”? O Senhor abomina diversos pesos e medidas; diferentes critérios para aplicar a este ou àquele, conforme as conveniências. Até uma criança se revela pela sua maneira de agir; através da sua conduta pode verificar-se se ela é pura e honesta. Saber ouvir e ver pode ser considerado um dom de Deus. Se te dás muito ao sono, acabarás por empobrecer; mantém-te desperto e te fartarás de pão. “Isto não é grande coisa, tem pouco valor!”, diz o comprador ao discutir o preço; mas depois do negócio feito vai-se embora a gabar-se da boa compra que fez. Ouro e joias é coisa de alto preço, mas não se compara ao valor do bom senso e do conhecimento. Quem fica por fiador de alguém que não conhece é como se estivesse já a dar-lhe até a própria roupa que tem. Há muita gente que até se sente feliz a mentir e a enganar os outros, mas mais tarde isso sabe-lhes a um bolo cheio de areia. Os projetos que se fazem devem ser amadurecidos com reflexão; não se vai à guerra sem se ter ponderado no que se faz. Nunca te abras com um linguareiro; evita a gente que fala demais. Para quem amaldiçoa o pai ou a mãe, a sua luz apagar-se-á no meio de densas trevas. Uma fortuna rapidamente obtida não terá um final abençoado. Não digas: “Hei de vingar-me!” Espera e o Senhor se encarregará do assunto. O Senhor repudia o uso de balanças falsificadas, assim como diferentes formas de ajuizar, conforme as pessoas. O Senhor é quem dirige a nossa vida; por isso, as pessoas não entendem o que lhes acontece. É perigoso uma pessoa fazer levianamente promessas a Deus e só depois pensar no que disse. O rei sábio afasta de si os homens perversos e faz passar sobre eles a roda, como se fossem palha. A consciência do homem é como uma lâmpada para o Senhor; ilumina e desvenda tudo o que há de mais secreto no seu íntimo. A bondade e a fidelidade protegem o rei; é com a bondade que ele mantém firme o seu governo. Se, por um lado, os jovens têm brio na sua força, por outro, os velhos sentem-se honrados com os seus cabelos brancos. Um castigo que faz mesmo doer é remédio para a maldade; os açoites tocam no mais íntimo do ser. Assim como a água pode ser canalizada para onde for preciso, assim o Senhor pode dirigir, segundo a sua vontade, os pensamentos de quem governa. O que uma pessoa faz parece-lhe bem feito, mas só o Senhor sabe avaliar corretamente as intenções. O Senhor tem ainda mais alegria, quando se pratica a justiça e se julga com retidão, do que quando lhe fazemos ofertas. O orgulho, a altivez para com os outros, é o sinal claro do pecado dos ímpios. O trabalho refletido de uma pessoa diligente leva certamente à prosperidade, mas a impaciência e a precipitação vêm a dar unicamente na pobreza. Dinheiro obtido por meio da mentira, torna-se prosperidade ilusória, que arrasta para a morte. A violência dos homens perversos leva-os à ruína, porque recusam comportar-se com retidão. O homem revela-se pelos seus atos e os do mau são tortuosos; mas aquele que é honesto tem uma conduta reta. Vale mais morar num canto dum sótão do que com uma mulher conflituosa numa bela casa. A alma do pecador anseia por praticar o mal, até mesmo para com o seu amigo. Uma pessoa inteligente aprende quando é instruída; o simples só aprende quando vê o escarnecedor castigado. Deus, o Justo, atenta para o que se passa na casa dos perversos, e atira com eles para a desgraça. Os que fecham os ouvidos aos apelos dos pobres também virão a ser esquecidos, quando chegar a hora de gritarem por auxílio. Um presente dado discretamente é capaz de sanar uma zanga, de acalmar uma indignação violenta. Para o justo, é uma alegria quando se faz justiça, mas para os que praticam a iniquidade isso é um espanto. Quem se afasta do caminho do bom senso acabará por ir descansar na companhia dos mortos. Os que amam os prazeres caem na pobreza; os escravos das bebidas alcoólicas e do luxo nunca virão a saber o que é a verdadeira prosperidade. O perverso será castigado no lugar do justo e o traidor no lugar do fiel. Vale mais viver num deserto do que com uma mulher rixosa e irascível. Na casa duma pessoa de bom senso há bem-estar e poupanças; o insensato dá cabo de tudo quanto ganha. Quem segue a justiça e a bondade terá vida, honra e também justiça. A sabedoria do sábio dá-lhe força, para tomar até uma cidade fortificada e anular a força dos que a defendem. Aquele que sabe guardar a sua boca, e controlar o que diz, protege a sua alma de muitos aborrecimentos. Os soberbos são, em geral, pessoas zombadoras e presumidas; no fundo, é uma questão de orgulho. Os desejos do preguiçoso acabam por matá-lo, porque as suas mãos recusam-se a trabalhar. Ele passa o tempo a cobiçar mais e mais; o justo é diferente, pois gosta de dar com generosidade. Deus recusa sacrifícios dos pecadores; muito mais se esses sacrifícios são feitos com intenções desonestas. Uma falsa testemunha morrerá; aquele que escutar e obedecer à verdade poderá falar para sempre. Uma pessoa malvada age de forma orgulhosa e confiante; os retos sabem considerar corretamente as situações. Não há sabedoria, nem inteligência, nem reflexão, por mais profundas, que possam opor-se ao Senhor. Os homens podem preparar os seus cavalos para o dia da batalha, mas o certo é que só o Senhor dá a vitória. Se for preciso escolher, que se escolha antes uma boa reputação do que riquezas; vale mais ser-se estimado do que ter ouro e prata. Afinal, tanto o rico como o pobre têm a mesma origem; ambos são criaturas do Senhor. As pessoas prudentes preveem o mal e procuram evitá-lo; os tolos continuam por diante e vêm a sofrer as consequências. A verdadeira humildade e o temor ao Senhor abrem às pessoas as portas das riquezas, da honra e da vida. Os caminhos por que andam os perversos estão cheios de espinhos e de armadilhas; quem tem amor à sua própria alma afasta-se para longe deles. Ensina à criança o caminho por onde deve andar e quando for velha ainda continuará a andar por ele. Os ricos dominam os pobres; aquele que pede emprestado fica na dependência de quem lhe empresta. Quem semear perversidade recolherá males; as suas armas de violência se encravarão. Felizes os que recebem os pobres com bondade; serão abençoados porque repartiram com eles a sua própria comida. Manda embora o escarnecedor, e com ele irá a contenda; e acabar-se-ão as discussões e os insultos. Aquele que dá valor a um coração puro, e cujas falas são sensatas, terá por seu amigo o rei. Os olhos do Senhor velam sobre aquele que tem sabedoria, mas contraria as palavras do traidor. O preguiçoso inventa muitas desculpas. Ele diz: “Não posso ir trabalhar. Pode haver um leão lá fora e ainda me arrisco a morrer!” A boca das mulheres de má vida é como uma cova profunda; caem nela aqueles contra quem o Senhor se ira. A insensatez é uma característica natural do coração das crianças; a disciplina e a correção afastará delas esse mal. Quem oprime o pobre, para poder enriquecer, ou para agradar aos ricos, acabará na pobreza. Ouve atentamente, escuta as palavras dos sábios e consagra o teu coração a estudar a minha experiência. Verás como é bom guardá-las no teu coração e aplicá-las a tudo o que disseres. Para que a tua confiança esteja posta no Senhor, faço-te saber agora todas estas coisas, a ti, pessoalmente. Não é verdade que te tenho escrito já trinta conselhos, referentes ao conhecimento e à experiência da vida? E se o fiz foi para te dar a certeza da verdade e para que possas responder com essa mesma verdade a quem vier pedir-te conselhos. Não explores o pobre, pelo facto de não ter defesa, nem oprimas os que vivem aflitos. Porque o Senhor defenderá a sua causa, perante a justiça, e a quem lhes roubar a vida a vida lhes será tirada. Não andes com gente desordeira, nem acompanhes pessoas violentas. Para não vires a aprender os seus modos, arriscando-te a colocares uma cilada à tua alma. Não sejas dos que, com um simples aperto de mão, se deixam ficar por fiadores de dívidas alheias. Se tu próprio não tens com que pagar, porque ficarias sujeito a que te venham tirar até a cama de debaixo de ti? Não alteres os marcos que limitam as terras e que já os teus antepassados fixaram. Tens visto, certamente, as pessoas que trabalham diligentemente; serão bem sucedidas, os governantes dar-lhe-ão responsabilidades e não servirão pessoas insignificantes. Quando fores convidado para comer com alguém de alta posição social, toma cuidado com a forma como te serves. Se és glutão, põe um freio à tua garganta. Por muito apetitosa que seja a comida, pode ser que ele queira subornar-te com alimentos e nada de bom virá desse convite. Não te esgotes com a ambição de enriqueceres, desiste de todos esses teus cálculos. Irás tu fixar o olhar naquilo que não é nada? As riquezas têm asas e desaparecerão no ar como a águia! Não fiques a dever favores a gente má; não cobices as suas concessões. A falsa bondade é um truque que usam contra ti. Eles poderão dizer-te: “Come e bebe à vontade!” Mas, na realidade, não são teus amigos, é só para te apanhar. O que receberes deles virá a azedar-te no estômago e vomitarás tudo e terás de engolir depois as doces palavras de agradecimento que lhes disseste. Não desperdices as tuas palavras com o insensato. Quanto melhor for o teu conselho tanto mais ele o desprezará. Não desloques, em teu favor, os limites das terras estabelecidos pelos teus antepassados, nem ocupes o terreno dos órfãos indefesos. Porque o seu defendor é poderoso; ele próprio defenderá a causa deles contra ti. Deixa o teu coração aplicar-se à sabedoria e à disciplina. Não recuses as críticas; elas são-te necessárias. Não deixes de corrigir os teus filhos, porque a disciplina e a correção nunca mataram ninguém. Talvez te custe castigá-los, mas estarás a contribuir para livrar as suas almas do inferno. Meu filho, como eu ficarei feliz se te tornares uma pessoa de bom senso! É verdade, terei grande alegria ao ouvir-te falar coisas retas e bem pensadas. Não tenhas inveja da vida que levam os pecadores, mas vive sempre no temor do Senhor. Porque terás certamente um futuro feliz; a tua esperança não será iludida. Meu filho, ouve-me e sê inteligente. Dirige a tua vida nos caminhos de Deus. Não andes no meio de beberrões e de comilões, amantes só de bons acepipes. Porque virão a cair na miséria, pois essas coisas dão moleza e sonolência, levando essas pessoas, por fim, a vestir-se de farrapos. Escuta o teu pai, a quem deves a vida, e não desprezes a tua mãe, quando for velha. Faz tudo para obteres a verdade, custe o que custar; faz o mesmo para a sabedoria, para a educação e para a inteligência. O pai de um justo terá motivos de grande alegria. Que felicidade o ter-se um filho cheio de bom senso! Por isso, não deixes de dar essa alegria aos teus pais, de proporcionar esse prazer a quem te pôs neste mundo. Meu filho, dá-me o teu coração e que os teus olhos se fixem no meu exemplo. Afasta-te das mulheres de má conduta, porque são como um buraco profundo, que te atirará para uma fossa suja em que acabarás por te arruinares. Uma mulher de má vida é como um salteador que espreita a passagem das suas vítimas. Elas só servem para multiplicar entre os homens o número de infiéis. Para quem são os ais? Para quem são as angústias e tristezas? Quem é que anda sempre metido em discussões e brigas? Quem são os que andam sempre de olhos vermelhos, inflamados e cheios de mazelas interiores? São os que perdem o seu tempo na bebida, provando misturas e enchendo-se de álcool. Não te deixes dominar pelo brilho e pelo sabor suave do vinho. O mal que ele faz, quando te vencer, é como a mordedura duma serpente venenosa ou duma víbora. Terás alucinações; chegarás a dizer loucuras. Perderás o controlo de ti mesmo, de tal maneira que serás como alguém que estivesse a dormir em cima de ondas, ou atado ao cimo dum mastro. Depois disso tudo, ainda dirás: “Foi como se me tivessem dado uma sova, mas não me doeu nada! Ao acordar, a primeira coisa que procuro é outra bebida!” Não tenhas inveja de tudo o que os pecadores fazem, nem procures a sua convivência. Pois passam o tempo tramando violência e forjando mentiras. A casa tem de ser arquitetada com inteligência e é por meio de planos bem estudados que ela se consolida e se faz. É por meio do conhecimento que se pode enriquecer com coisas preciosas e agradáveis. Uma pessoa com bom senso e sabedoria tem muita força. Uma pessoa inteligente, com uma rica experiência de vida, redobra a sua própria força natural. Pois é justamente com essa sabedoria que se faz a táctica da guerra, mais do que com a força. A vitória é, em geral, para os que lutaram tendo chefes inteligentes e generais por bons conselheiros. A sabedoria é coisa demasiado inacessível para os loucos; nas assembleias serão incapazes de abrir a boca. Quem está sempre a planear o mal fica conhecido como malfeitor. A intriga do insensato é pecado; e o escarnecedor é desprezado por todas as pessoas. Se te mostrares fraco, quando chegam as angústias, é porque a tua energia é realmente pouca! Faz tudo para livrares os que estão condenados à morte; não fiques indiferente perante o seu destino. Não fujas às responsabilidades, dizendo: “Mas eu não sabia de nada!” Deus, que conhece os corações, não saberá bem o que se passa no teu? Não dará Deus a cada um segundo as suas obras? Come mel, meu filho, porque é um bom alimento e doce ao paladar. Pois assim é também a sabedoria para a tua alma. Se te encheres dela, terás um futuro feliz, diante de ti, e as tuas esperanças realizar-se-ão. Não espies a morada do justo, ó homem perverso! Deixa-o em paz! Sabes bem que um justo, ainda que o faças cair sete vezes, de todas se levantará; mas tu, basta caíres uma vez, para ficares liquidado. Não te alegres com a queda do teu inimigo, nem quando vier a ficar em apuros. Pois o Senhor, ao verificar a tua atitude, certamente te desaprova, e até deixará de castigar o teu inimigo. Não tenhas inveja da aparente boa sorte que, por vezes, parece que têm os malfeitores. Não te preocupes com isso. Porque para os pecadores não há futuro de paz; a sua lâmpada apagar-se-á. Teme ao Senhor, meu filho. Honra o chefe da tua nação e nunca te associes com rebeldes. Porque, de repente, serás arrastado com eles para a ruína. E depois? Onde é que tudo isso vai acabar? Eis mais alguns provérbios dos sábios: Não está certo, num tribunal, fazer-se distinção entre pessoas; julgar uns diferentemente doutros, segundo a sua categoria social. Um juiz que declare inocente um malfeitor será condenado pela sociedade e repudiado pela nação. Mas quem o condenar será louvado e receberá bênçãos. É uma honra e uma prova de simpatia o receber-se respostas francas e honestas. Arruma primeiro os teus negócios no exterior e trata bem dos teus campos; depois, podes edificar a tua casa. Não testemunhes sem motivo contra o teu próximo. Porque havias de mentir contra ele, se está inocente? Não digas: “Vou aproveitar para ajustar contas com ele. Há de pagar-me tudo o que me fez!” Passei pelo campo dum preguiçoso, e pela vinha do insensato. Vi-o coberto de mato, espinhos e cardos, e a cercadura estava derribada. Perante isto, fiquei a pensar e tirei para mim esta lição: A fazer mais uma soneca agora, descansando mais um bom pedaço daqui a pouco, relaxando com os braços cruzados um bocado mais tarde. É assim que a pobreza surpreende uma pessoa, sem se dar por isso, como o assalto dum ladrão, como o ataque dum homem violento. Estes provérbios, a seguir, foram descobertos e copiados pelos secretários de Ezequias, rei de Judá: É um privilégio de Deus agir em segredo; os governantes têm como privilégio desvendar o segredo. Contudo, há coisas impenetráveis como o infinito do universo e as profundezas do planeta; frequentemente, também, as verdadeiras intenções políticas dos governantes. Retirada a escória da prata, fica-se com prata-de-lei, pronta para o joalheiro. Da mesma forma, quando a administração pública é limpa de homens perversos, o governo torna-se estável e firma-se na justiça. Não te engrandeças a ti mesmo na presença de autoridades ou governantes, nem forces para que te considerem uma alta individualidade. Vale mais que sejam eles a convidar-te para o círculo das pessoas importantes, do que arriscares-te a ser publicamente envergonhado, por não te tomarem em consideração. Não tenhas muita pressa em levar a tribunal uma questão com alguém; a conclusão do processo pode não te ser favorável e sujeitas-te a ficares numa situação extremamente desagradável. É preferível tentares resolver o assunto diretamente com a pessoa com quem estás em conflito. Podem outros acusar-te de inconfidência, de modo que nunca mais recuperarás a tua boa reputação. Como maçãs douradas, numa salva de prata, assim é uma boa palavra dita a seu tempo. Como uma condecoração, ou como um anel de ouro, assim é a crítica sincera, objetiva e justa, para aquele que a sabe aceitar. Como a frescura da neve, no auge dos calores do verão, assim é aquele que cumpre fielmente a sua missão para com quem o mandou. Uma pessoa que promete, mas que nunca chega a dar, é como nuvens que passam sobre a terra seca, sem nunca trazerem chuva. Com muita paciência pode chegar-se a convencer até mesmo um magistrado; as palavras brandas são capazes de quebrar ossos duros. Gostas de mel? Não comas demais, para que não venhas a enjoá-lo. Não visites demais o teu amigo; a certa altura, ele não poderá mais suportar-te. Dizer mentiras sobre alguém, fere tanto, como bater-lhe com uma vara de ferro ou feri-lo com uma arma. Confiar num indivíduo desleal, quando estamos aflitos, é comer carne com um dente quase a partir-se, ou correr com um osso do pé deslocado. Cantar cantigas alegres, ou dizer piadas junto de quem está a sofrer, é o mesmo que obrigar alguém a andar em camisa, num dia de muito frio, ou esfregar uma ferida com sal. Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Porque assim amontoarás brasas vivas sobre a cabeça dele e o Senhor te recompensará. Assim como o vento do norte traz a chuva, também uma resposta torta provoca a ira. Vale mais viver num canto dum sótão, do que numa bela casa com uma mulher implicadora e rabugenta. Como água bem fresca para quem está sedento e cansado, assim são as boas notícias que se recebem de longe. Um homem justo, mas que se compromete com os ímpios, é como uma fonte poluída, ou um poço cheio de lama. Tal como não é bom comer mel em exagero, também não está certo uma pessoa passar a vida a pensar nas honras que teria merecido. Uma pessoa que não sabe, ou não pode, controlar-se é como uma cidade aberta, sem muralhas. Assim como é um absurdo neve no verão, e nunca se espera que chova durante as colheitas, assim também a honra não é coisa que possa condizer com loucos. Uma maldição lançada sem motivo justo é como um pardal ou uma andorinha volteando no ar, sem procurar atingir um objetivo preciso. Os cavalos dominam-se com chicote, os jumentos com freio, os insensatos com uma vara nas costas. Se responderes a um louco de acordo com a sua loucura, arriscas-te a pareceres tão doido como ele. Mas responde ao insensato segundo as suas loucuras, para que ele não pense que é sensato. Mandar uma mensagem por um insensato é como ficar sem pernas ou beber veneno. Um provérbio na boca de um insensato vale tanto como as pernas de um paralítico. Como atar uma pedra a uma funda, assim é o dar honra a um insensato. Como um pequeno espinho que se crava na mão dum bêbedo, assim é um provérbio na boca dum insensato, pois não lhe sente a força. Quem dá emprego a um insensato, ou a um desconhecido que passa, é como um arqueiro que dispara ao acaso e a todos fere. Como um cachorro que volta a farejar o que vomitou, assim é o insensato que anda sempre a repetir as mesmas asneiras. Há mais esperança para o insensato do que para o indivíduo que está cheio de si mesmo. Diz o preguiçoso: “Não posso sair, porque anda à solta um animal feroz, anda um leão na rua.” Revolve-se na cama, pesadamente, como um velho portão nos seus gonzos. Há pessoas tão preguiçosas que até lhes custa levar a mão à boca para comer! No entanto, têm-se por tão inteligentes, como sete professores juntos. Quem se mete numa discussão que não é da sua conta é como se pegasse num cão pelas orelhas. Como um demente com uma arma na mão, lançando a morte à sua volta, assim é o indivíduo que conta uma mentira a outro e depois diz: “Foi só por brincadeira!” Sem lenha, o fogo acaba por apagar-se; também sem a difamação acabam as contendas. Assim como o carvão ou a lenha são bons para acender o fogo, da mesma forma, um indivíduo conflituoso é capaz de levantar uma briga. A tagarelice é para um intriguista, como um petisco apetitoso que lhe consola o íntimo. Belas palavras podem, por vezes, encobrir um coração maligno, tal como um esplêndido esmalte pode revestir um vaso de metal ordinário. Uma pessoa com ódio no coração pode ser capaz de falar com muita amabilidade, mas não é de fiar, porque no seu interior esconde a falsidade; Não lhe dês ouvidos, mesmo que venha suplicar-te algo, em tom comovido, porque há sete abominações no seu coração. Por muito que dissimule o que lhe vai na alma, um dia toda a gente virá a conhecê-lo bem. Quem prepara uma cilada contra outros, virá a cair nela; ao pretender rolar uma pedra contra alguém, esta acabará por esmagá-lo. A língua mentirosa odeia aqueles a quem engana; uma língua lisonjeira só serve para trazer ruína. Não faças planos contando demasiado com o dia de amanhã, porque nunca se sabe o que pode vir a acontecer no dia seguinte. Que seja antes um estranho a louvar-te e nunca tu próprio! A pedra é pesada e a areia também, mas bem mais pesada é a cólera dum insensato. Uma ira desencadeada, uma raiva impetuosa, é coisa cruel, mas quem pode parar diante do ciúme? Vale muito mais a repreensão feita com franqueza e sinceridade do que um amor demasiado reservado. Feridas, quando feitas por um amigo, são muito melhores do que os beijos de quem nos odeia. Quem está farto, até o mel despreza; quem passa fome até o amargo lhe parece doce. Como um pássaro que vagueia sem rumo, por ter perdido o ninho, assim é quem anda à aventura, longe de casa. Um bom conselho, dado por um amigo fiel, é como um agradável perfume que deixa uma pessoa bem disposta. Nunca abandones um amigo, mesmo o dos teus pais, e evita importunar os teus familiares num dia atribulado; vale mais um vizinho próximo, do que o irmão que está longe. Meu filho, tu me farás feliz, se cresceres em sabedoria; ficarei honrado perante os outros. Uma pessoa prudente prevê os problemas e prepara-se para enfrentá-los; os ingénuos nunca se previnem e acabam por sofrer as consequências. Se alguém ficar por fiador da dívida de um desconhecido, deve dar sua própria roupa como garantia de pagamento. Se alguém se puser a gritar alegres saudações a um amigo, de madrugada, enquanto este está no melhor do sono, isso só pode vir a ser tomado como se lhe gritassem imprecações. O gotejar constante e ruidoso, num dia de chuva, e uma mulher implicadora têm muito em comum. Conter uma pessoa assim seria como reter o vento ou apanhar um objeto liso com as mãos cheias de óleo. Tal como o ferro é trabalhado com o próprio ferro, assim uma pessoa se cultiva em contacto com os amigos. Quem cuida da sua figueira é natural que coma do que ela produz; quem zela pelos interesses do seu mestre deve ser apoiado por este. Assim como a água reflete o rosto das pessoas, o coração revela quem nós somos! A destruição e a morte nunca se fartam; também os olhos do homem nunca se satisfazem. A pureza do ouro ou da prata prova-se no cadinho do forno; o homem é provado pelos louvores que recebe. Ainda que batesses num louco e o moesses, como os grãos de cevada num moinho, não seria dessa forma que deixaria a sua loucura. Procura conhecer o estado das tuas ovelhas; cuida com atenção do teu gado. Porque aquilo que se possui não dura para sempre; nem a coroa real fica eternamente na mesma família. Quando a erva aparecer nas montanhas, recolhe-a. Assim, das ovelhas terás lã suficiente para te vestires; e a venda dos bodes render-te-á o dinheiro do campo. Terás leite de cabra para teu sustento, da tua família e das tuas criadas. Quem é mau foge, mesmo sem que ninguém o persiga; as pessoas justas são confiantes, tal como os filhotes do leão. Numa nação em que a maldade se multiplica, muitos aparecem para dirigi-la, mas só com chefes honestos e experimentados haverá estabilidade. Um homem pobre que oprime os mais pobres é como uma enxurrada; não fica migalha de pão para ninguém. Desprezar a Lei é como que favorecer a maldade; obedecer-lhe é levantar uma barreira ao mal. Os maus não entendem nada da verdadeira justiça, mas os que buscam o Senhor compreendem todas as coisas. Melhor é o pobre que se mantém íntegro, do que rico, e ter uma conduta condenável. Um jovem com entendimento guarda os princípios que regem uma vida reta; os que andam na companhia de gente corrompida, tornam-se uma vergonha para os seus pais. Os lucros conseguidos pela exploração dos outros, através da avareza e usura, acabarão por vir parar às mãos dos que defendem os que foram explorados. Aquele que faz ouvidos surdos às exigências da Lei, torna as suas orações detestáveis. Aquele que faz com que os retos se desviem para um mau caminho será condenado por aquilo mesmo em que fez pecar os outros; as pessoas honestas nunca deixarão de ser recompensadas. Os ricos, em geral, consideram-se muito espertos aos seus próprios olhos, mas as pessoas humildes, que conhecem bem a vida, sabem desmascará-los. Quando os justos triunfam há grande alegria; quando é gente perversa que sobe na vida, cada um procura esconder-se para abrigar-se. Quem esconde os seus pecados nunca prosperará, mas quem os confessa e os abandona será perdoado. Feliz é aquele que teme Deus; os obstinados nunca serão felizes. Um ditador corrupto, que domina um povo miserável, é como um leão rugindo, como um urso feroz, atacando esfaimado e enraivecido. Só um chefe de estado louco oprime o seu povo; se rejeitar a corrupção, verá prolongar-se o seu tempo de chefia. A consciência manchada dum assassino acompanhá-lo-á até ao inferno; que ninguém o detenha! Os que vivem com retidão estarão sempre seguros; os fraudulentos serão castigados infalivelmente. O que cultiva a sua terra, terá pão em abundância, mas o ocioso fartar-se-á de miséria. As pessoas leais serão cumuladas de bênçãos; aqueles que querem enriquecer rapidamente, rapidamente cairão no fracasso. A parcialidade é coisa condenável; até pelo pão para a boca, as pessoas são capazes de cometer injustiças. Correr atrás de riquezas fáceis é errado e não pode deixar de levar à miséria. Quem corrige alguém, encontra depois mais gratidão do que aquele que só lisonjeia. Quem defrauda os seus pais e ainda diz: “Não tem importância!”, identifica-se com um destruidor. O ambicioso é um constante provocador de contendas; só o confiar no Senhor pode dar prosperidade. Quem confia em si mesmo é um insensato; quem sabe conduzir-se de acordo com a sabedoria, andará seguro. Quem reparte com os pobres não sofrerá necessidades; os que fingem ignorar os que vivem na miséria cobrir-se-ão de maldições. Quando gente perversa consegue subir na vida, as populações fogem a esconder-se; quando eles são castigados e desaparecem, então multiplicam-se os retos. Quem é frequentemente repreendido e continua na sua teimosia virá inesperadamente a sofrer a derrota, sem mais remédio. Quando são os justos que acedem ao poder, toda a população se alegra; quando é um homem perverso quem domina o povo, este só pode gemer. Um filho que ama e segue a sabedoria é uma alegria para os seus pais; o que anda atrás de mulheres levianas, dissipa os bens que seu pai honradamente lhe deixou. É pela execução do direito e da justiça que um governante dá estabilidade à nação; aquele que se deixa levar por interesses pessoais, ou pelo desejo do poder, leva o povo à ruína. A pessoa que lisonjeia o seu próximo é como se lhe armasse uma cilada. Os homens maus caem nas suas ciladas, mas os retos vivem felizes e cantam de alegria. Os retos conhecem bem os direitos dos pobres; os maus não se preocupam com isso. Os escarnecedores armam brigas por toda a parte, mas aqueles que são sensatos procuram conservar a paz. É inútil discutir com um insensato; este só sabe exaltar-se ou zombar, sem nunca se chegar a um entendimento. Os assassinos odeiam os retos; os retos oram por aqueles que lhes querem mal. Os loucos dão livre curso às suas paixões, mas os sensatos refreiam-se e acalmam-se. Um governante que dá ouvidos à mentira acaba por encontrar, à sua volta, auxiliares com atitudes perversas. Tanto o pobre como o rico têm isto em comum: é que ambos recebem a luz da parte de Deus. O chefe duma nação que se interessa pela situação dos mais desfavorecidos verá confirmado, por muito tempo, o seu governo. A repreensão e o castigo ajudam uma criança a aprender na vida; se a deixam entregue a si mesma, acaba por ser uma vergonha para os seus pais. Quando cresce o número dos ímpios, multiplicam-se as transgressões; mas os justos hão de ser testemunhas da sua queda. Corrige o teu filho e virás a estar tranquilo; ele encher-te-á de felicidade e de paz de espírito. Quando deixa de haver pessoas que falem em nome de Deus, o povo corrompe-se, mas uma nação que guarda a Lei de Deus é uma gente feliz. Às vezes, simples palavras não chegam para corrigir o servo; apesar de as entender, não está disposto a obedecer. Já viste uma pessoa precipitada no que diz? Pode esperar-se melhores frutos dum insensato do que dela. Se alguém trata o seu escravo, desde jovem, com demasiado mimo, ele acabará por pretender aquilo a que não tem direito e tornar-se-á indolente. Um indivíduo de génio violento só sabe provocar discussões; o irascível comete muitos pecados. O orgulho duma pessoa levá-la-á à humilhação, mas a humildade do espírito é o caminho da honra. Quem colabora com um ladrão tem pouca consideração por si mesmo; sabe que há mal e não o denuncia. Ter medo dos homens é uma armadilha perigosa, mas quem confia no Senhor estará em perfeita segurança. Queres obter justiça? Não andes atrás de ministros e altos funcionários; vem ter com o Senhor e pede-lha! Os justos aborrecem a maldade dos maus; os maus aborrecem a bondade dos bons. Seguem-se as palavras que Agur, filho de Jaque, dirigiu a Itiel e a Ucal: Sim, eu sou o mais bruto dos seres humanos; falta-me inteligência suficiente para poder considerar-me um homem. Não tenho sabedoria, nem o conhecimento do Deus santo. Quem é que, tendo subido ao céu, pode descer de novo de lá? Quem é que alguma vez conseguiu reter os ventos na sua mão ou guardar as águas sob as suas vestes? Quem estabeleceu os limites da Terra? Qual é o seu nome ou o do seu filho? Sabê-lo-ás? Cada palavra de Deus é pura; ele é um escudo real para os que nele encontram refúgio. Por isso, nada acrescentes à sua palavra, para que não venhas a ser repreendido e acusado de falsidade. Duas coisas te pedi, ó Deus, antes de morrer: Primeiro, que me afastes da falsidade e da mentira; depois, que não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me o bastante para as minhas necessidades. Se ficar rico, corro o risco de me esquecer de ti e perguntar: “Mas afinal quem é o Senhor?” Por outro lado, se vier a empobrecer, a miséria pode levar-me ao roubo e a desonrar o nome de Deus. Não acuses falsamente um indivíduo, perante aquele que o emprega, para que não te rogue pragas, por causa dessa tua má ação. Há pessoas que maldizem o seu pai, e não bendizem a sua mãe. Outros há, ainda, que se consideram puros, mas que nunca chegaram a lavar-se da sua imundície. É gente arrogante e altiva, que olha os outros sempre de sobrancelhas levantadas. Atropelam os aflitos e devoram os pobres com dentes afiados como cutelos. Há três coisas, ou mesmo quatro, que nunca se fartam, que nunca dizem: “Basta!” Como a sanguessuga que sempre clama “Dá-me! Dá-me!” São elas o inferno, a madre estéril, uma terra seca o fogo. Quem zomba do seu pai, mesmo que seja só com o olhar, ou quem despreza a obediência devida à sua mãe, acabará com os olhos arrancados pelos corvos e devorados pelas crias de águia. Estas três coisas parecem-me maravilhosas e há até uma quarta que eu não compreendo: O caminho da águia no céu, o caminho duma serpente deslizando nas rochas, o caminho dum navio no alto mar e o desenvolvimento do amor entre um homem e uma moça. Há ainda outra coisa: a conduta duma mulher adúltera, que depois de pecar procura recompor-se dizendo: “Mas que mal é que eu fiz?” Três coisas existem, e mesmo quatro, capazes de transtornar toda a Terra e que se tornam insuportáveis: Um miserável que se torna governante, um insensato que tem comida de sobra, uma mulher desprezada, quando casa, uma escrava que toma o lugar da sua senhora. Há quatro pequenas coisas, mas que possuem um entendimento maravilhoso: As formigas, que são uns animaizinhos indefesos, mas que sabem guardar no verão a comida para o inverno; Os damões-do-cabo, animais também não muito fortes, mas que têm inteligência para construir as suas habitações nas rochas; Os gafanhotos que, apesar de não terem um chefe, sabem voar organizados em enxames; Os gecos que se podem apanhar com as mãos, mas que conseguem entrar nos palácios dos grandes senhores. Existem três, ou mesmo quatro criaturas, que têm um porte e uma conduta admiráveis: O leão, o rei dos animais, que ninguém faz recuar; O pavão, exibindo a sua beleza, o bode e o chefe duma nação a quem ninguém deve resistir. Se caíste na loucura de te elevares a ti próprio, ou se começaste a tramar o mal, é melhor calares-te. Como o bater as natas produz manteiga e o esmurrar do nariz provoca sangue, assim também a explosão da cólera gera disputas. Palavras do rei Lemuel, que a sua mãe lhe transmitiu e ensinou: Ó meu filho, filho das minhas entranhas, tu, a quem eu consagrei a Deus, não gastes as tuas energias com mulheres, não entregues o teu destino às que até são capazes de levar reis à ruína. Não convém que os reis, ó Lemuel, se deixem vencer pelo vinho e outras bebidas alcoólicas. Porque se se derem à bebida, virão a esquecer os seus deveres e não saberão fazer justiça aos oprimidos. As bebidas alcoólicas podem ajudar doentes, que estão para morrer, ou os que vivem deprimidos. Bebendo, não se lembram mais da sua pobreza e miséria. Não feches a boca, se puderes contribuir para ajudar os que não sabem se defender, e por todos os desamparados. Não te cales, pois deves intervir sempre a favor dos necessitados, exigindo que se lhes faça justiça. Não é fácil encontrar uma mulher virtuosa; o seu valor ultrapassa em muito o das mais finas joias. O seu marido tem confiança nela e os recursos materiais nunca lhe faltarão. Nunca se tornará um empecilho para o seu esposo; pelo contrário, sempre o ajudará a vida toda. Escolhe lã e linho, e vai costurando e trabalhando, com gosto, com as suas mãos. Tal como um navio mercante, ela traz de longe os alimentos necessários à sua casa. Levanta-se cedo, escuro ainda, para preparar as refeições para a família e distribuir o trabalho pelas suas empregadas. Se é preciso comprar um terreno, vai pessoalmente examiná-lo com cuidado; ela própria cultiva a sua vinha com o produto do trabalho. Concentra as energias e procura ganhar forças para o trabalho que lhe compete. É cuidadosa em tudo o que compra; durante a noite há sempre uma luz acesa na casa. Pega, de boa vontade, nas suas costuras, nas suas malhas. Confeciona roupa para os necessitados, a quem as oferece com generosidade. Também não tem receio do inverno, para a família, porque tem roupa quente suficiente para todos. Prepara cobertores, lençóis, toalhas e cortinas com tecidos escolhidos; a roupa com que se veste é fina e de boa qualidade. O seu marido é conhecido pela sua dignidade e pela sua participação honesta na vida cívica da localidade. Ela própria também faz roupas de linho fino que vende aos negociantes. É uma mulher com energia e dignidade e não tem medo da velhice. Quando fala é com graça e sabedoria; há bondade em tudo quanto diz. Zela pelo governo da casa; para ela não há preguiça. Os seus filhos bendizem-na; e o marido louva-a, dizendo: “Há muita mulher virtuosa neste mundo, mas tu és superior a todas!” Os encantos femininos podem enganar; a beleza não dura sempre. Mas uma mulher que ama e teme o Senhor, essa merece todos os elogios. Louvem-na por tudo o que faz e os seus atos virtuosos serão reconhecidos publicamente. O autor deste livro é Salomão, rei em Jerusalém, filho do rei David, conhecido como o pregador. Na minha opinião tudo é ilusão, pura ilusão; tudo é passageiro. O que é que uma pessoa ganha com todo o duro trabalho que tem? As gerações vão passando, umas após outras, mas a Terra permanece do mesmo jeito. O Sol nasce e põe-se, mas volta sempre ao lugar onde nasceu. O vento sopra, ora do sul, ora do norte, duma e doutra banda, circulando; o vento gira e vira sem parar. Os rios correm para o mar, mas este nunca chega a ficar cheio, e essa água retorna, por fim, aos rios, para correr novamente para o mar. Tudo é extremamente fastidioso e cansativo. Podemos ter visto e ouvido já muita coisa, mas nunca estaremos satisfeitos. A história não passa de uma mera repetição de factos. Não há nada que seja verdadeiramente novo; já tudo foi feito ou dito anteriormente. Haverá alguma coisa que se possa indicar como sendo realmente nova? Tudo já aconteceu nos séculos passados. Nós é que não temos lembrança dessas coisas. Com as gerações futuras acontecerá o mesmo; não se recordarão do que nós fizemos. Eu, o pregador, fui rei de Israel, vivendo em Jerusalém. Apliquei o coração a procurar entender todas as coisas e a fazer uso do saber, para explorar tudo o que é realizado debaixo dos céus. Que fardo pesado Deus colocou sobre os homens e que eles têm de suportar! Descobri que a sorte do ser humano, aquilo que ele faz debaixo do Sol é tudo ilusão. É como andar a correr atrás do vento. O que está mal não pode ser corrigido e também não vale a pena refletir sobre como as coisas poderiam ter sido doutra forma. Disse assim para comigo: “Afinal, sou mais instruído do que qualquer dos reis que me precederam em Jerusalém. Tenho uma melhor bagagem de sabedoria e de conhecimentos!” Esforcei-me muitíssimo para ser sábio e não ignorante e, no entanto, dou-me agora conta de que também isso foi como correr atrás do vento. Porque quanto maior era a minha sabedoria, maiores eram as minhas preocupações; aumentar os conhecimentos apenas traz consigo mais aflições. Disse a mim próprio: “Vamos, torna-te alegre e goza tanto quanto puderes!” Mas achei que isto também era ilusão. Porque é tolice andar a rir todo o tempo e a alegria de que serve? Assim, depois de ter pensado bem, resolvi tentar a via da bebida, ainda que continuando firmemente interessado na busca de sabedoria. Depois alterei, de novo, o meu rumo e segui o caminho da loucura, para poder experimentar a única felicidade que muita gente tem na vida. Tentei, seguidamente, realizar-me pessoalmente, construindo para mim próprio casas e vinhas, jardins, parques e pomares, com tanques de rega para as plantações. Depois comprei escravos, homens e mulheres, e tive também outros nascidos na minha casa. Possuí grandes rebanhos de vacas e de ovelhas, mais do que qualquer outro rei antes de mim em Jerusalém. Acumulei prata e ouro, riquezas que pertenceram a outros reis e a outros reinos. Organizei igualmente coros de homens e de mulheres. Experimentei os prazeres humanos e tive belas concubinas. Desta forma, tornei-me mais importante do que qualquer rei que governou antes de mim em Jerusalém e, contudo, mantive a minha inteligência. De forma a poder dar o devido valor a todas estas coisas, obtive tudo o que me apetecia e não me privei de nenhuma alegria. Achei até grande prazer em executar pesadas tarefas. Este prazer foi, aliás, a única recompensa para tudo o que passei. Mas quando olhei para aquilo que tinha empreendido, dei-me conta do quanto era absurdo e superficial, que não havia nada, debaixo do Sol, que não fosse ilusório. Comecei, então, um estudo comparativo das virtudes da sabedoria e da loucura. Que pode fazer aquele que sucede a um rei? Só aquilo que os outros já fizeram. Percebi que a sabedoria é mais válida do que a loucura, tal como a luz é melhor do que as trevas. O sábio é alguém que pode ver e que, por outro lado, o louco é um cego. Constatei também que há uma coisa que acontece tanto ao sábio como ao insensato, que tanto morre um como o outro. Portanto, de que vale a sabedoria? Dei-me conta de que também o ser sábio é uma ilusão. Porque tanto o sábio como o insensato morrerão e, no futuro, ambos virão a ser esquecidos. Eis a razão por que aborreço esta vida; é que tudo é tão irracional! Tudo é tão ilusório como perseguir o vento! Aborreci sobretudo isto, que tenha de deixar o fruto de todo o meu duro trabalho àquele que me suceder. E quem me garante a mim que ele será uma pessoa sensata e não um louco? Mesmo assim, terei de lhe deixar tudo. E tudo isto também é ilusão. Então a ideia de que tinha trabalhado tanto nesta Terra fez-me desesperar. Voltei-me para a procura da minha satisfação pessoal, visto que gastei a minha vida a procurar sabedoria, conhecimento e competência, e que tenho de deixar tudo a alguém que em nada contribuiu para isso, e que irá herdar o resultado de todo o meu esforço, sem ter pago o devido preço. E isto não é só absurdo como até é injusto! Que ganha, afinal, uma pessoa de todo o labor que a fez penar? Apenas dias plenos de tristeza, amargura, fadiga e insónias. Não há dúvida que é algo que não tem qualquer lógica! Cheguei à conclusão que não havia nada melhor, para o ser humano, do que comer, beber e beneficiar do resultado do esforço do seu trabalho. Constatei, assim, que é Deus quem lhe oferece este prazer. Porque quem é que pode comer ou gozar da vida se não lhe for concedido por ele? Deus dá, a quem lhe agrada, sabedoria, conhecimento e alegria; mas se um pecador se tornar rico, Deus tira-lhe os bens e dá-os a quem quiser. Também aqui vemos um exemplo do absurdo que é correr atrás do vento! Existe um tempo próprio para tudo e há uma época para cada coisa debaixo do céu. Há um tempo para nascer e um tempo para morrer; um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou; um tempo para matar e um tempo para curar as feridas; um tempo para destruir e um tempo para reconstruir; um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo para lamentar e um tempo para dançar de alegria; um tempo para espalhar pedras e um tempo para as juntar; um tempo para abraçar e um tempo para afastar quem se chega a nós; um tempo para andar à procura e um tempo para perder; um tempo para armazenar e um tempo para distribuir; um tempo para rasgar e um tempo para coser; um tempo para estar calado e um tempo para falar; um tempo para amar e um tempo para odiar; um tempo para a guerra e um tempo para a paz. O que é que uma pessoa realmente obtém com o seu esforço? Pensei nisto, em relação às várias espécies de trabalho que Deus dá à humanidade. Tudo tem o seu tempo próprio e ainda que Deus tenha posto no coração do ser humano a ideia da eternidade, mesmo assim o homem não consegue atingir inteiramente o propósito das obras de Deus, desde o princípio até ao fim. Por isso, concluí que, primeiramente, não há nada melhor para o ser humano do que ser feliz e gozar a vida, tanto quanto puder. Em segundo lugar, que deve comer, beber e desfrutar do fruto do seu trabalho, pois estas coisas são um dom de Deus. Uma coisa eu sei, é que tudo quanto Deus faz é perfeito, é para sempre; nada se lhe pode acrescentar ou tirar e a intenção de Deus é que as pessoas temam o Deus todo-poderoso. Aquilo que acontece agora, no presente, como o que vai acontecer mais tarde, já se produziu no passado. Deus faz com que os mesmos factos se repitam uma e outra vez. Observei também isto sobre a Terra, que a maldade reina onde o direito deveria ser aplicado e onde deveria ser feita justiça. E disse para comigo: “Com certeza que, no momento próprio, Deus julgará tudo quanto o ser humano faz, tanto o bem como o mal!” E assim dei-me conta que Deus permite que o mundo continue no curso do pecado, para poder testar a humanidade e para que os próprios homens verifiquem que não são melhores do que os animais. Pois tanto estes como aqueles respiram o mesmo ar e ambos morrem. A humanidade não tem vantagens reais sobre os animais. Eis outra coisa absurda! Tudo vai ter ao mesmo lugar, pois todos são pó e ao pó voltarão. Quem pode provar que o fôlego do homem vai para cima e o dos animais fica no pó da terra? Dessa forma, constatei que não há nada melhor para o homem do que ser feliz no seu trabalho; é esse o seu quinhão na Terra; ninguém o fará voltar à vida, para ver o que acontecerá depois dele. Por isso, que desfrute do presente! Seguidamente, pus-me a observar todas as opressões que se praticam sobre a face da Terra, as lágrimas dos oprimidos, sem haver ninguém que intervenha a favor deles, ao mesmo tempo que o poder se concentra do lado dos opressores. Acho que os mortos são mais felizes do que os vivos. Mais felizes do que uns e outros são os que ainda não nasceram e não viram todas as maldades que se praticam na Terra. Então descobri que a força que impele os homens para o sucesso é a inveja para com o seu próximo. Também isto é ilusão e uma corrida atrás do vento! O tolo cruza os braços e não quer trabalhar, quase preferindo morrer de fome. Está convencido que é melhor conquistar uma mão-cheia de descanso do que duas mãos-cheias de canseira, correndo atrás do vento. Observei também outra situação absurda que existe sobre a Terra. É o caso do homem que vive absolutamente sozinho, sem filhos e sem irmãos, e que mesmo assim trabalha, sem descanso, para enriquecer cada vez mais. A quem vai ele deixar o que tem, afinal? Porque se priva ele de tanto? Esta é, sem dúvida alguma, uma forma errada e absurda de viver. O trabalho realizado por dois é sempre mais proveitoso. Se um cair, o outro levanta-o; se estiver sozinho, ao cair, ver-se-á em grande dificuldade. Também, numa noite fria, se dois dormirem juntos, poderão aquecer-se um ao outro, mas como se aquecerá aquele que dorme só? Duas pessoas podem resistir melhor a um ataque do que uma só. Um cordão de três dobras não rebenta com facilidade! Vale muito mais um jovem pobre, mas sábio, do que um rei velho e insensato que recusa todo e qualquer conselho. E isso, ainda que tal jovem tenha saído da prisão para reinar ou tenha nascido na pobreza. Toda a gente correria a ajudar um jovem nessas condições, que há de suceder ao rei. Pois poderá tornar-se o chefe de toda uma nação e ser muito popular. No entanto, as gerações seguintes não virão a ter por ele nenhum entusiasmo. Mais uma vez, tudo isto é ilusão! É como andar atrás do vento! Quando entrares na casa de Deus, fá-lo numa atitude de reflexão! Entra com a intenção de escutar e não de oferecer sacrifícios, como fazem os insensatos, que nem sequer compreendem que fazem mal. Não fales precipitadamente, nem faças promessas irrefletidas a Deus, pois ele está nos céus e tu aqui na Terra; mede bem o que dizes. Assim como os muitos sonhos nascem da muita atividade, assim também, quanto mais se fala, mais riscos se correm de se proferirem disparates. Por isso, quando fizeres uma promessa a Deus, cumpre-a sem tardar; Deus não gosta de gente inconsequente, cumpre aquilo que prometeste. Vale muito mais não prometer coisa nenhuma do que prometer e depois não cumprir. Neste caso, a tua boca fez-te pecar. Não tentes defender-te, dizendo ao mensageiro de Deus que se tratou de um engano. Isso suscitaria a cólera de Deus, o qual acabaria com a tua prosperidade. Andar na vida a sonhar, em vez de realizar atos concretos, é tão inútil como proferir muitas palavras sem sentido. Por isso, tem cuidado em temer a Deus. Se vires algum pobre oprimido pelo rico e a violência a substituir a justiça, em qualquer ponto da terra, não te surpreendas! Porque cada funcionário está sob as ordens de um outro, que lhe é superior, e o chefe de todos eles tem ainda alguém que lhe está acima. Todos devem usufruir do que a terra produz; até o mais alto magistrado se serve dela. Aquele que ama o dinheiro, nunca tem o bastante. É uma loucura pensar que a riqueza traz felicidade! Quanto mais tiveres, mais gastarás, até ao limite dos teus recursos. Por isso, de que serve ser-se rico? Apenas para ver o dinheiro fugir por entre os dedos! O trabalhador dorme bem, quer tenha pouco ou muito para comer, mas o rico, por causa dos muitos cuidados que lhe traz a fortuna, sofre de insónias. Há outra situação dramática, que verifiquei por toda a parte, a de alguém que põe dinheiro de lado, mas para seu próprio prejuízo. Se investir e perder capital num mau negócio, nada terá para deixar ao filho. Deixará a Terra, como quando chegou, sem nada possuir. Isto é igualmente um problema sério, porque todo o seu trabalho de nada lhe serviu; andou a trabalhar para o vento. O resto da sua vida será obscurecida por numerosos cuidados, sofrimentos e irritações. No entanto, vi uma coisa boa, uma pessoa a comer e a beber, a aproveitar os resultados do seu trabalho, durante o tempo de vida que Deus lhe deu. Essa é a porção que lhe cabe. Na verdade, é muito bom, se uma pessoa tiver recebido de Deus riqueza e saúde e puder desfrutar delas. Gozar do seu trabalho e aceitar a parte que lhe toca na vida é, na verdade, um dom de Deus. A pessoa que fizer isso não necessitará de olhar para trás, com tristeza, porque Deus lhe enche o coração de felicidade. Há um mal que vi acontecer, frequentemente, em toda a parte e com toda a gente. Deus deu a alguns grandes riquezas e honra, de tal forma que podem ter tudo quanto pretendem, mas não lhes permite gozarem do que têm. Outros, vindos de outro lado, é que ficam com o que eles tinham! Ora isto é ilusão e sofrimento cruel. Se um indivíduo tiver uma centena de filhos e filhas, e viver até ser muito velho, mas ao morrer deixar tão pouco dinheiro que os filhos nem sequer lhe possam fazer um funeral decente, digo que era melhor que tivesse sido um nado-morto. O seu nascimento não teria sido considerado e acabaria por ir para as trevas, sem ter tido um nome. Não teria visto o Sol e nem sequer se daria conta da sua existência, e isso teria sido melhor do que ser velho e infeliz. Ainda que viva dois mil anos, mas não tiver felicidade, de que serve isso? Afinal, não estamos todos a caminhar para o mesmo fim? Todo o homem trabalha para comer e, contudo, o seu apetite jamais encontra satisfação. Que vantagem tem, então, o sábio sobre o insensato, ou que vantagem tem o pobre em saber como enfrentar a vida? Mais vale aquilo que se vê do que aquilo que se imagina. O andar só a sonhar com coisas belas é loucura, é andar a correr atrás do vento. Todas as coisas têm já o seu destino fixado; muito antes, já está decidido aquilo que qualquer homem deverá ser. De nada serve discutir com Deus sobre o nosso destino. Quanto mais se falar, menos significado terão as nossas palavras; por isso, de que serve procurar falar a todo o custo? Nestes poucos dias da nossa vida de ilusão, quem é que nos pode dizer a melhor forma de desfrutar a vida que passa como uma sombra? Quem é que pode saber o futuro, depois de ter morrido? Uma boa reputação vale muito mais do que um bom perfume. O dia em que alguém morre é melhor do que aquele em que nasceu. É mais útil ir a funerais do que a festas, porque todos teremos de morrer, e é uma boa coisa pensar nisso enquanto é tempo. A tristeza tem mais valor do que o riso, pois a tristeza exerce sobre nós um efeito depurador. Sim, uma pessoa sábia pensa muito na morte, enquanto o insensato só pensa em gozar bem o presente. Vale mais ser criticado por alguém que tem sabedoria do que ser louvado por um tolo! O cumprimento dum tolo vale tanto como um papel a arder; seria ridículo alguém deixar-se impressionar por ele. A opressão faz endoidecer, até as pessoas com entendimento; é coisa que corrompe as capacidades mentais. Acabar é melhor do que começar! Ser paciente tem mais valor do que ser orgulhoso! Não sejas precipitado, isso é comportamento de insensatos. Não andes sempre com saudade dos bons velhos tempos, porque também é uma maneira de pensar inútil. A sabedoria é tão boa quanto uma valiosa herança e é uma bênção para todos quantos vivem debaixo do Sol. A sabedoria é uma proteção, tal como as muitas riquezas, mas a sabedoria tem a vantagem de preservar a vida de quem a possui. Atenta para a forma como Deus fez as coisas; quem poderá endireitar o que ele torceu? Goza da prosperidade, sempre que puderes e, quando vierem os tempos difíceis, lembra-te que Deus dá tanto uma coisa como a outra, a fim de que cada um se dê conta de que nada é certo na vida. Nesta vida de ilusão tenho visto de tudo, incluindo o facto de muitos dos que são bons morrerem novos e muitos dos que são maus continuarem a viver. Por isso, não sejas nem excessivamente bom nem excessivamente sábio! Por que razão te destruirias a ti mesmo? Por outro lado, não sejas demasiado perverso, não sejas louco! Porque haverias de morrer antes do tempo próprio? É bom que prestes atenção a uma coisa, sem descuidar a outra, pois aquele que ama e teme a Deus saberá encontrar o melhor de ambas. Um sábio é mais poderoso do que uma fortaleza guardada por dez valentes! Não há um só homem, em toda a Terra, que tenha sido sempre justo e nunca tenha pecado. Não escutes às portas! Pode acontecer que ouças o teu servo dizer mal de ti! Sabes bem, quantas vezes tens dito mal de outros. Tentei tudo para ser sábio, fiz mesmo esta afirmação: “Serei sábio!”, mas de nada serviu. A sabedoria é coisa difícil de obter, não se encontra facilmente. Pus-me a investigar bem a fundo e procurei por toda a parte, determinado a encontrar não só a sabedoria como a verdadeira razão das coisas, decidido a provar, a mim próprio, qual a pior das ignorâncias e a maior insensatez. Uma mulher que se vende, que enreda e arma laços a um homem, é coisa pior do que a morte. Aquele que agrada a Deus evita-a, mas os pecadores caem nos seus laços. E esta é a minha conclusão, diz o pregador, pouco a pouco fui chegando a este resultado. Depois de ter inquirido em todas as direções, descobri que é possível encontrar-se um homem, entre mil, que seja sábio; mas mulheres, que sejam sábias, nem uma! Também descobri que ainda que Deus tenha feito os seres humanos com perfeição, cada um se desvia para seguir as suas próprias inclinações. É maravilhoso ser-se sábio, entender as coisas, ser capaz de as analisar e interpretar. A sabedoria dá luz a um rosto, suaviza a sua dureza. Observa os mandamentos do rei, de acordo com os teus votos. Não estejas sempre a tentar livrar-te da obrigação de cumprir com os teus deveres, mesmo que sejam desagradáveis, porque o rei faz o que bem entende. A palavra do rei tem poder e ninguém tem capacidade para o contestar ou contrariar. Os que lhe obedecem estarão abrigados de qualquer mal. O sábio encontrará sempre a ocasião mais oportuna e a melhor forma de dizer o que pensa; mesmo quando são grandes os problemas que pesam sobre o homem. Sim, há um tempo para tudo e um modo próprio de agir, ainda que os males dos homens caiam pesadamente sobre si próprios. Como podem impedir que aquilo que desconhecem venha mesmo a acontecer? Ninguém pode impedir que o seu espírito parta para a eternidade; ninguém tem poder para escapar à morte. Não há armas que valham, nessa peleja. Quanto aos ímpios, não será a sua maldade a livrá-los. Tenho refletido profundamente sobre tudo o que acontece aqui, neste mundo, onde há gente que é capaz de oprimir a outros. Vi pessoas malvadas irem a sepultar, e os seus amigos, de regresso do cemitério, tendo esquecido todas as más ações do morto, louvarem-no na localidade onde tinham sido praticados tantos crimes! Que coisa absurda! Visto que Deus não castiga os pecadores no próprio instante, as pessoas convencem-se que ficam impunes, ao praticarem o mal. Ainda que um homem peque mil vezes e continue a viver, sei, de certeza, que as coisas correrão bem para os que temem a Deus. O mesmo não sucederá aos ímpios, que não terão vidas prolongadas e boas; os seus dias passarão tão depressa como as sombras, visto que não temem a Deus. Acontece uma coisa estranha aqui neste mundo: há justos que sofrem, como se fossem maus, e alguns maus que são recompensados, como se fossem retos. Isto é algo muito perturbador! Por isso, decidi gastar a minha vida divertindo-me, pois senti que não havia nada melhor, sobre a Terra, para um homem, do que comer, beber e alegrar-se, na esperança de que esta felicidade o acompanhe em todo o duro trabalho que Deus dá à humanidade, por toda a parte. Na minha busca de sabedoria, observei que tudo isso acontecia em qualquer ponto do mundo; atividades incessantes, de dia e de noite. Na verdade, apenas Deus pode ver tudo o que se passa; nem o homem mais sábio, que diz que sabe tudo, nem esse consegue ver o mesmo que Deus. Também isto cuidadosamente tomei em consideração, que os justos e os sábios estão dependentes da vontade de Deus. Os homens não sabem sequer se virão a conhecer o amor ou o ódio. Não podem prever coisa nenhuma. Acontece o mesmo a toda a gente, tanto ao justo como ao ímpio, ao bom e ao mau, ao puro e ao impuro, ao que consagra sacrifícios e louvores e àquele que não os oferece. O que acontece com o homem bom, ocorre também com o pecador, e o que faz juramentos passa pelas mesmas circunstâncias que aquele que evita jurar. Essa é a razão por que os homens não procuram ser bons e escolhem os seus maus caminhos; porque na vida não lhes resta senão, como esperança, a morte. A esperança é apenas para os vivos. Um cão vivo vale mais que um leão morto! Os vivos, esses sabem, pelo menos, que hão de morrer! Os mortos não sabem nada, nem sequer têm memória. Tudo o que fizeram, os seus amores, ódios, invejas, tudo se foi com eles e já não têm participação, de espécie alguma, naquilo que se passa aqui na Terra. Por isso, come e bebe com alegria, porque Deus já se agradou do que fazes! Veste sempre roupa de festa e nunca deixes de ungir a tua cabeça com óleo! Vive feliz com a mulher que amas, cada dia da breve existência que Deus te concede aqui no mundo. Esse é o quinhão com que Deus te recompensa pelo que passas aqui em baixo. Tudo o que fizeres, fá-lo bem, porque no mundo dos mortos, para onde acabarás por ir, não há realizações, nem planos para fazer, nem coisas para compreender e analisar. Voltei-me de novo para o que se passa sobre a face da Terra e vi que os que correm mais rápido não são sempre os que ganham as corridas, nem são os mais fortes que ganham sempre as batalhas. Também vi que os homens mais sábios são frequentemente pobres e que os mais capazes não são necessariamente famosos; o tempo e a sorte sobrevêm a todos. O ser humano nunca é capaz de prever quando sobrevirão tempos maus. Como o peixe capturado na rede ou o pássaro apanhado na armadilha, assim vê a desgraça cair-lhe em cima, repentinamente. Há ainda outra coisa que me impressionou bastante, enquanto observava os assuntos dos homens. Havia uma pequena localidade, apenas com alguns habitantes. Veio um poderoso rei atacá-la com o seu exército e sitiá-la com grandes engenhos bélicos. Vivia ali um homem sábio, muito pobre, que sabia como salvar aquela povoação, mas ninguém se preocupou em ir ter com ele. Então dei-me conta de que, apesar da sabedoria ser melhor do que a força, se uma pessoa sábia for pobre será desprezada, e aquilo que ela disser não será tido em consideração. Mesmo assim, vale mais escutar as palavras sábias de um homem sensato, falando calmamente, do que os gritos dum rei de tolos. A sabedoria tem mais valor do que um arsenal de guerra, mas um só erro é capaz de destruir os bens que ela concede. As moscas mortas são capazes de estragar e fazer cheirar mal um frasco do melhor perfume. Sim, um pequeno erro pode anular os efeitos da sabedoria e da honra! O coração dum indivíduo sábio levá-lo-á à prática do que é reto; o dum louco, conduzi-lo-á para o mal. Podes identificar um doido até pela forma como anda na rua! Se aquele que manda se irrita contra ti, não reajas precipitadamente! Uma atitude pacífica e calma é remédio que neutraliza grandes conflitos. Vi outro mal, enquanto observava a vida, uma situação triste, respeitante a reis e governantes. Vi tolos a quem se deu grande autoridade e ricos a quem não se deu honra alguma. Vi também servos andando a cavalo e nobres deslocando-se a pé, como servos. Quem fizer uma cova cairá nela; quem derrubar um muro, uma cobra o morderá! Quem andar a acarretar pedras, acabará por ser maltratado por elas. O que racha lenha corre riscos! Se o ferro do machado estiver embotado, precisará de mais força. Sê sábio e afia a lâmina. Se a cobra morder antes de estar encantada, é inútil o trabalho do encantador. É agradável ouvir palavras sábias, mas o falar dum louco leva-o à ruína. Basta que comece por uma falsa premissa, para que qualquer conclusão a que chegue seja ridícula. O insensato sabe tudo sobre o futuro e conta-o a toda a gente, mas poderá alguém realmente saber o que irá acontecer? O tolo fica esgotado com qualquer esforço e depois não sabe orientar-se. Ai da terra cujo rei for uma criança e cujos líderes, logo pela manhã, já estão embriagados! Feliz a terra cujos governantes receberam uma educação cuidada e cujos chefes se alimentam, não com intemperança, mas para ganharem mais forças para novas tarefas! A preguiça faz enfraquecer o telhado; depressa os barrotes começam a apodrecer. Uma festa dá sempre alegria e o vinho transmite satisfação, mas é com dinheiro que se consegue tudo isso. Nunca digas mal do rei, nem sequer em pensamento; tão-pouco do rico digas mal, porque um pássaro lhes dará a conhecer aquilo que disseste. Lança o teu pão sobre as águas, porque passado algum tempo o recolherás. Reparte o que tens com muita gente, porque nos tempos vindouros poderás vir a necessitar de muita ajuda. Quando as nuvens são escuras e pesadas, vem chuva; caindo uma árvore, seja em que direção for, no sítio em que tombar, aí ficará. Se estiveres à espera das condições ideais para realizar alguma coisa, nunca farás nada; quem está sempre a observar o vento, de que lado está ou não está, nunca chegará a semear o que quer que seja; quem anda sempre a olhar para as nuvens, a ver se chove, nunca segará. Assim como não podes compreender os caminhos do vento ou o mistério de um pequeno feto formando-se no ventre de sua mãe, assim também não compreendes as obras de Deus, que faz todas as coisas. Pela manhã lança a semente à terra e continua pela tarde, porque não sabes qual a semente que virá a crescer; se esta, se aquela, ou mesmo todas. A luz é uma coisa maravilhosa! É tão boa a luz do Sol! Se uma pessoa viver muitos anos, que se alegre todos os dias da sua vida, mas que não se esqueça que a eternidade é muito longa! Tudo aqui em baixo é ilusão em relação a ela! Alegra-te, jovem, com a tua juventude! Goza cada minuto dela! Faz tudo o que tiveres planeado, mas não te esqueças que terás de dar conta a Deus de cada coisa que fizeres. Evita aquilo que pode provocar desgostos e sofrimento; lembra-te que a juventude, com toda uma vida por diante, passa como um vento. Lembra-te do teu Criador na tua mocidade, antes que venham os maus anos em que já não tenhas prazer na vida. Será demasiado tarde, então, quando o Sol, a luz, a Lua e as estrelas escurecerem e já não haja raios de Sol brilhando entre as nuvens. Porque há de vir um tempo em que os teus membros tremerão sob o peso dos anos; as tuas pernas enfraquecerão; terás poucos dentes para mastigar; virá a perda de vista. Os teus lábios se fecharão, enquanto comes; acordarás de manhã cedo, quando se ouvirem os primeiros cantos das aves, mas tu próprio serás surdo a esses sons. Terás medo das alturas, terás medo de cair; serás um velho de cabelos brancos, arrastando-se a si próprio; faltar-te-ão os apetites. Estarás às portas da morte, abeirando-te da tua eterna morada, enquanto os pranteadores vão percorrendo a cidade. Sim, lembra-te do teu Criador agora, enquanto és novo, antes que se rompa o fio de prata da vida, e se despedace a taça de ouro e se quebre o cântaro junto à fonte, e a nora junto ao poço. Antes que o pó volte à terra, donde veio, e o espírito retorne a Deus, que o deu. Tudo é ilusão, diz o pregador, tudo é passageiro. Como o pregador era sábio, continuou a ensinar ao povo tudo o que sabia; coligiu provérbios e ordenou-os. O pregador tentou encontrar as palavras apropriadas e escreveu, com destreza e justiça, os seus muitos discursos cheios de verdade. As palavras do sábio são como aguilhões que espicaçam à ação, são como pregos bem fixados. Os melhores estudantes são aqueles que retêm bem a matéria que lhes foi transmitida pelo único pastor. Mas, meu filho, tem cuidado! Não há limite para a expressão de opiniões; pode-se passar a vida a estudá-las, mas acaba-se por se ficar cansado. Esta é a minha conclusão final: teme a Deus e obedece aos seus mandamentos; este é o dever de todo o ser humano. Deus nos julgará por tudo o que fazemos, incluindo o que está encoberto, seja bom, seja mau. Este cântico foi composto pelo rei Salomão. Que ele me beije com a sua boca, porque o seu amor me é melhor do que o vinho! Como o teu perfume é agradável! Como o teu nome é doce! Não admira que todas as raparigas gostem de ti! Leva-me contigo! Anda, corramos! O rei levou-me para o seu palácio. Como seremos felizes! O seu amor é melhor para mim do que o vinho. Não admira que todas as raparigas te apreciem! Eu sou morena, mas bela, ó filhas de Jerusalém, crestada como as tendas curtidas de Quedar, e, no entanto, formosa como as tendas de seda de Salomão! Não olhem sobranceiramente para mim, por eu ser assim escura, porque foi o Sol que me queimou. Os meus irmãos tinham má vontade comigo e mandaram-me para fora, a trabalhar nas vinhas sob os raios do Sol, e foi assim que a minha pele se queimou! Diz-me, tu, a quem eu amo, para onde vais levar o teu rebanho a pastar? Onde é que o farás descansar ao meio-dia? Porque irei lá ter contigo, e assim não andarei no meio dos rebanhos dos teus companheiros, dando impressão de ser uma rapariga de cabeça leve. Se ainda não o sabes, ó mulher mais bela de todas, segue as pisadas do meu rebanho, e apascenta os teus cabritos lá, junto às tendas dos pastores. Tu és bela para mim, meu amor, como as éguas dos carros do Faraó! Como são bonitas as tuas faces, entre os teus brincos, e belo é o teu pescoço com os colares que te adornam! Como fica soberbo o teu pescoço, com esse magnífico colar de pedras preciosas! Haveremos de te fazer brincos de ouro e outras joias de prata. O rei está assentado à sua mesa, encantado com o meu perfume de nardo. O seu amor, para mim, é como um ramalhete de mirra, que guardo entre os meus seios. O meu amado é um ramo de flores nas vinhas de En-Gedi. Como és bela, meu amor, como és linda! Teus olhos são suaves, como pombas. És gentil, meu querido! Como és encantador! A relva verde será o nosso leito de amor. À sombra dos cedros, as vigas da nossa casa, e debaixo dos ciprestes, o teto que nos cobre! Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales. Sim, um lírio entre espinhos; assim é a minha querida, quando a comparo às outras. O meu amado é como uma macieira, no meio das árvores do pomar, quando comparado com outros rapazes. Sento-me à sua desejada sombra; o seu fruto é doce ao meu paladar. Leva-me a beber na sala de banquetes e ergue sobre mim o estandarte do amor. Sustém-me com fruta, com uvas, com maçãs, pois estou desfalecendo de amor. Põe a sua mão esquerda debaixo da minha cabeça e com a direita abraça-me. Ó filhas de Jerusalém, conjuro-vos, pelas gazelas e cervas dos bosques, que não acordem o meu amado, até que ele queira! Já o ouço, o meu amor! Lá vem ele, galopando sobre os montes, saltando por cima das colinas. O meu querido é como uma gazela, ou o filho dum veado. Vejam, aí está ele, por detrás do nosso muro; agora, está já a olhar pelas janelas! Disse-me o meu amor: “Levanta-te, querida, minha bela, e vem! Porque já passou o inverno; a chuva parou e foi-se. As flores começam a brotar nos campos; é o tempo de cantar e de podar; ouve-se o cantar da rola nos nossos campos. As figueiras começam a dar os seus primeiros figos, e os cachos começam a aparecer nas vinhas. Já começam a cheirar bem! Levanta-te, amor, minha linda, e vem!” Minha pomba, que te escondes nas fendas das penhas, no fundo dos desfiladeiros, faz-me ouvir a tua voz tão doce; mostra-me o teu rosto encantador. As raposinhas andam correndo pelas vinhas. Apanhem-nas, porque os cachos estão já todos a desabrochar. O meu amor é meu e eu sou dele. Ele apascenta o seu rebanho entre os lírios! Antes que refresque o dia e caiam as sombras, volta, meu querido; faz-te semelhante a uma gazela, ou ao filho dum veado sobre os montes de Beter. De noite, na minha cama, busquei aquele que a minha alma deseja. Procurei por ele e não o encontrei. Levantei-me, saí para as ruas da cidade, pelas praças, a ver se o achava, mas em vão. Os guardas, que faziam a ronda na cidade, detiveram-me, e perguntei-lhes: “Viram aquele que eu tanto amo?” Mas, passado pouco tempo, logo achei aquele que a minha alma deseja e não o deixei até o ter levado para casa, para o velho quarto de minha mãe. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não despertem o meu amor, até que ele queira. Que é isto que se eleva, dos desertos, semelhante a uma nuvem de fumo, cheirando a mirra, a incenso e a toda a espécie de pós aromáticos que se podem importar? Olhem: é o carro de Salomão! Rodeiam-no sessenta dos homens mais valentes de Israel. Todos eles são hábeis no manejo de armas e de instrumentos de guerra. Cada um deles tem a sua espada pronta, à cintura, para defender o rei contra qualquer incidente noturno. O rei Salomão mandou fazer, para si próprio, um palanquim com madeira do Líbano. Os seus suportes são de prata; o dossel é de ouro e o assento forrado de púrpura; todo o interior foi revestido, com carinho, pelas raparigas de Jerusalém! Saiam, ó filhas de Sião! Venham admirar o rei Salomão! Reparem na coroa com que sua mãe o coroou no dia do casamento, nesse dia de grande alegria para ele! Como és formosa, meu amor, como és bela! Os teus olhos são como pombas, escondidas atrás do teu véu. Os teus cabelos, como um rebanho de cabras pastando no monte de Gileade. Os teus dentes são brancos como a lã de ovelhas tosquiadas, subindo do lavadouro. Todas elas têm gémeos, não há nenhuma estéril entre elas. Os teus lábios são como um fio de escarlate. Como é linda a tua boca! As tuas faces são duas romãs, por detrás do teu véu. O teu pescoço é como a torre de David, erguida como um arsenal. Ela está ornada com mil escudos de guerra, todos eles escudos dos heróis. Os teus dois seios são como duas crias, como crias gémeas de gazela, apascentando-se entre lírios. Antes que refresque o dia, e caiam as sombras, irei ao monte de mirra e ao outeiro de incenso. És toda formosa, minha querida! Não tens nenhum defeito! Vem comigo do Líbano, minha esposa! Olharemos para baixo, do cimo das montanhas, do alto dos cumes de Amaná, Senir e Hermon, onde os leões habitam e os leopardos vagueiam. Arrebataste-me o coração, meu amor, minha esposa. Fico vencido, quando os teus olhos se põem em mim; fico preso às voltas do teu colar. Como me é doce o teu amor, minha querida mulher! Ele vale muito mais, para mim, do que o melhor vinho! O perfume do teu amor é mais intenso do que o das melhores especiarias. Os teus lábios, minha esposa, são de mel! Sim, mel e leite estão debaixo da tua língua! A fragrância dos teus vestidos é semelhante à das florestas de cedro do Líbano. A minha querida esposa é como um jardim privado, como uma fonte de que mais ninguém bebe, que é só para mim. És semelhante a um pomar de romãs encantador, que dá frutos excelentes, onde se cheiram flores de alfena e de nardo: o nardo, o açafrão, o cálamo, a canela e toda a espécie de árvores de incenso; a mirra, o aloés e outras especiarias agradabilíssimas. Tu és a fonte principal dos jardins, és como um poço de águas vivas, alimentando as correntes que descem das montanhas do Líbano. Levanta-te, vento norte, desperta! Vem, vento sul, sopra sobre o meu jardim! Espalhem os seus perfumes encantadores! Que ele venha para o seu jardim e coma os seus frutos excelentes! Cá estou eu no meu jardim, minha querida esposa! Colhi a minha mirra e as minhas especiarias. Comi o meu favo com o mel. Bebi o meu vinho e o meu leite. Oh! Querido e amado, come e bebe! Sim, bebe abundantemente! Uma noite, estava eu a dormir, o meu coração acordou, num sonho. É que ouvi a voz do meu amor, que estava a bater à porta do meu quarto: “Abre, minha querida, minha amada! Minha pomba sem defeito! Passei a noite toda fora e estou coberto de orvalho.” Mas eu respondi-lhe: “Já me despi, iria vestir-me de novo? Já lavei os pés, iria tornar a sujá-los?” O meu amor tentou abrir, ele próprio, o fecho da porta e as minhas entranhas estremeceram por amor dele. Saltei, por fim, da cama para lhe abrir. As minhas mãos destilavam mirra, quando puxei a fechadura da porta. Abri, então, ao meu amado, mas ele já se tinha ido embora. O meu coração parou de bater. Busquei-o por toda a parte, sem o encontrar. Chamei por ele, mas não obtive resposta. Os guardas, que faziam a ronda na cidade, viram-me e espancaram-me, deixando-me ferida; a sentinela da muralha rasgou-me o manto. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que se encontrarem o meu amor lhe digam que estou doente de amor. Ó mulher de rara beleza, que tem o teu amado mais do que qualquer outro, para que nos peças tal coisa? O meu querido tem uma pele de cor saudável; é elegante e melhor do que dez mil outros mais! A sua cabeça é como ouro puríssimo; tem os cabelos ondulados e pretos retintos. Os seus olhos são duas pombas, junto a uma corrente de águas límpidas e calmas. As suas faces são um canteiro de especiarias; os seus lábios, perfumados, são como lírios que gotejassem mirra! Os seus braços parecem argolas de ouro engastadas de topázios; o seu corpo é como esplêndido marfim, escrustado de safiras. As sua pernas, é como se fossem pilares de mármore, assentes em bases de ouro puro, parecem-se com os maravilhosos cedros do Líbano; não têm rival! O seu falar é doce! Sim, é todo desejável! Tal é o meu amado, o meu amigo, ó filhas de Jerusalém! Ó mais formosa entre as mulheres, para onde foi o teu amado? Estamos dispostas a ir procurá-lo contigo. O meu amor desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para apascentar os seus rebanhos e colher lírios. Eu sou do meu amado e o meu amado é meu. Ele apascenta o seu rebanho entre os lírios! Ó minha querida, és tão bela! Tão encantadora como a terra de Tirza! Sim, tão bela como Jerusalém! A tua beleza conquistou-me, como se se tratasse dum exército imponente. Desvia de mim os teus olhos, porque eles me perturbam! O teu cabelo, emoldurando-te o rosto, é como um rebanho de cabras pastando em Gileade. Os teus dentes são como um rebanho de ovelhas recém-lavadas, Todas elas têm gémeos; não há estéreis entre elas. Como duas metades de romã, assim são as tuas faces, escondidas atrás do teu véu. Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas, as virgens não têm conta. Mas tu, minha pomba, és única entre elas! És perfeita, não tens rival! As mulheres de Jerusalém ficaram encantadas, quando te viram, e até as rainhas e as concubinas te louvam. Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a Lua, pura como o Sol, incondicionalmente conquistadora? Desci até ao bosque das nogueiras, fui até ao vale para ver os novos frutos ali, para ver se floresciam as vides e se já brotavam as romeiras. Mas antes de me dar conta disso, os meus pensamentos já me haviam sentado no carro com o meu príncipe. Volta, volta, ó sulamita! Regressa para que possamos ver-te outra vez! Porque querem olhar para uma simples rapariga de Sulam, como para uma dança de Maanaim? Como são bonitos os teus pés ágeis, ó princesa! As voltas das tuas coxas são como joias, trabalhadas por mãos de artista. O teu umbigo, como uma artística taça, cheia de fino licor; o teu ventre é um campo de trigo cercado de lírios. Os teus dois seios parecem-se com duas crias, com gémeas de gazela. O teu pescoço é como uma torre de marfim; os teus olhos são dois límpidos poços, em Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim. O teu nariz tem a forma airosa duma torre do Líbano, olhando para Damasco. Como o monte Carmelo é a coroa das montanhas que o rodeiam, assim é a tua cabeça sobre ti. Os teus cabelos são de púrpura. O rei está preso pelas tuas belas tranças. Como és formosa! Como és encantadora, ó delícia de amor! Tens o porte altivo e elegante de uma palmeira. Os teus seios são como cachos de uvas. Eu disse assim: “Hei de subir à palmeira! Hei de agarrar-me aos seus ramos!” Os teus seios são como cachos de uvas. O hálito da tua respiração como o aroma de maçãs. Os teus beijos dão a mesma alegria que o melhor dos vinhos, suave e doce, fazendo até falar os lábios dos que dormem. Eu sou do meu amado! Ele deseja-me! Vem, meu amor! Vamos para os campos! Passemos as noites nas aldeias! Levantemo-nos de manhã cedo e saiamos às vinhas, a ver se já florescem as vides, se já se abrem as flores e brotam as romeiras. Ali te darei o meu grande amor! As mandrágoras exalam a sua fragância. Às nossas portas há toda a espécie de frutos, dos mais excelentes, frescos e secos. Guardei-os para ti, meu amor! Oh! Se ao menos fosses meu irmão! Poder-te-ia beijar à vontade! Fosse quem fosse que estivesse a olhar, não haveria de rir-se de mim. Trazer-te-ia para a casa da minha mãe, aquela que me ensinou. Dar-te-ia a beber vinho aromático e mosto das minhas romãs. Pôr-me-ias a mão esquerda debaixo da cabeça e com a direita me abraçarias. Conjuro-vos, filhas de Jerusalém, não acordem o meu amor, até que ele queira! Quem é esta que sobe do deserto, encostada tão aprazivelmente ao seu amado? Debaixo da macieira, onde a tua mãe te deu à luz, aí eu te acordei. Põe-me como um selo sobre o teu coração, grava-me como marca forte no teu braço. Porque o amor é forte como a morte e o ciúme cruel como o mundo dos mortos. Flameja como labaredas de fogo, são labaredas da chama divina. Nem a água toda poderia apagar este amor; tão-pouco enchentes de rios o poderiam fazer. Alguém que quisesse comprar este amor, com a riqueza toda que possuísse, não conseguiria. Temos uma irmã, pequenina, que ainda não tem seios. Que faremos à nossa irmã, se alguém pretender pedi-la em casamento? Se ela for uma muralha, construiremos sobre ela um palácio de prata; se ela for uma porta, cercá-la-emos com placas de cedro. Eu sou uma muralha. Os meus seios são como torres. Por isso, eu sou, aos seus olhos, como aquela que lhe traz contentamento. Salomão teve uma vinha em Baal-Hamom que entregou a uns rendeiros dali; cada um dava-lhe mil peças de prata. Quanto à minha vinha, ó Salomão, trato eu dela! Leva as tuas mil peças de prata e eu darei duzentas aos guardas que se ocupam dela. Ó meu amor, que habitas em jardins, os teus companheiros atentam para a tua voz! Deixa-me ouvi-la também! Vem depressa, meu querido! Faz-te semelhante à gazela, ao veado novo, correndo sobre montes perfumados! Estas são as mensagens que foram comunicadas a Isaías, filho de Amós, através das visões que teve durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá. Nestas mensagens, Deus mostrou-lhe o que iria acontecer a Judá e a Jerusalém. Ouçam, ó céu e Terra, prestem ouvidos, porque é o Senhor quem fala: “Os filhos que eu criei, e dos quais tratei com tanto cuidado, voltaram-se contra mim. Até os animais, como o boi ou o jumento, conhecem o dono e apreciam os cuidados que têm com eles, mas tal não acontece com o meu povo de Israel; seja o que for que eu faça por eles, não compreendem, não se interessam.” Que nação pecadora que eles são! Andam carregados sob o peso da maldade e os seus pais também eram corruptos. Voltaram as costas ao Senhor, blasfemaram do Santo de Israel; foram eles próprios quem desprezou a sua ajuda. Para quê castigar-vos ainda mais, se perseveram no pecado? Porque insistis na rebeldia? De facto, toda a vossa cabeça está em chagas, o coração tomado pelo sofrimento. Com efeito, da cabeça aos pés, tudo em vocês é doença, fraqueza, debilidade; estão cobertos de contusões e nódoas negras, feridas já infetadas, que nunca foram tratadas, nem ligadas com pensos. A vossa terra está em ruínas, as vossas cidades arrasadas pelo fogo; estrangeiros vão destruindo e saqueando tudo quanto encontram. No entanto, vocês limitam-se a olhar, deixando-se ficar abandonados, desamparados como a pobre cabana dum guarda no meio da vinha, depois da ceifa ter acabado, ou quando a colheita foi roubada e pilhada. Se não fosse a misericórdia do Senhor dos exércitos, poupando alguns de nós, teríamos sido destruídos, tal como aconteceu com as cidades de Sodoma e Gomorra! Ouçam, chefes de Sodoma, a palavra do Senhor, e vocês, povo de Gomorra, atentem para a Lei do nosso Deus! Diz o Senhor: “Estou farto dos vossos sacrifícios. Não quero mais gordura de bezerros cevados. Não quero ver mais o sangue dos vossos holocaustos, de novilhos, cordeiros e bodes. Vêm à minha presença, mas quem vos convidou para entrarem nos meus átrios? Não continuem a trazer-me ofertas sem sentido; o incenso é para mim abominação. Já não suporto as festas inúteis que celebram pela lua nova, aos sábados e noutras assembleias solenes, sempre repletas de iniquidade. As vossas festas da lua nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; causam-me tanto nojo que já não as suporto. Daqui em diante, quando orarem de mãos estendidas para o céu, não olharei nem escutarei nada. Ainda que multipliquem as orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos são as mãos de assassinos; estão manchadas com o sangue de vítimas inocentes. Oh! Lavem-se! Limpem-se! Que eu não vos veja mais praticar toda essa maldade! Acabem com a vossa má conduta! Aprendam a prática do bem; aprendam a ser justos, a ajudar os oprimidos, os órfãos e as viúvas. O Senhor diz: Venham então ter comigo e conversemos! Por mais profundas que sejam as manchas do vosso pecado, eu poderei tirá-las e tornar-vos tão limpos como a neve ao cair. Ainda que essas manchas sejam vermelhas como o carmesim, poderei tornar-vos brancos como a mais branca lã! Se quiserem e se me ouvirem, se me obedecerem, terão tudo o que há de melhor! Mas se continuarem a voltar-me as costas e a recusar ouvir-me, serão devorados pelos vossos inimigos. Eu, o Senhor, é quem vos diz isto.” Jerusalém foi em tempos como uma esposa fiel. Agora, tornou-se como uma prostituta! Anda atrás de outros deuses! Já foi a cidade da justiça e agora tornou-se uma cidade de assassinos. Foi em tempos como a prata genuína, mas tornou-se numa liga inferior, de metais sem valor! Antigamente era tão pura e presentemente não tem qualidade nenhuma, como um vinho misturado com água. Os seus chefes são rebeldes, são companheiros de ladrões; todos eles se deixam subornar e são incapazes de fazer justiça pelos órfãos; nem se interessam sequer pela causa das viúvas. Por isso, eis o que tem para dizer Deus, o Senhor dos exércitos, o Poderoso de Israel: “Transbordarei a minha ira sobre vocês, que são meus inimigos! Eu próprio vos fundirei num cadinho e deitarei fora a escória. Depois, tornarei a dar-vos bons juízes e conselheiros sábios, semelhantes aos que costumavam ter. Então a tua cidade se chamará novamente a cidade da justiça, a cidade fiel.” Os que se voltarem para o Senhor, que praticarem a justiça e forem bons, serão redimidos. Mas todos os pecadores serão totalmente destruídos, porque se recusam aproximar do Senhor. Ficarão cheios de vergonha e hão de corar, só de pensar em todos esses sacrifícios que ofereceram aos ídolos nos bosques de carvalhos sagrados. Hão de perecer com um carvalho que secou ou como o jardim que deixou de ser regado. Aquele que é forte desaparecerá como a palha que arde; as vossas más ações são como faíscas que pegarão fogo à palha e que ninguém poderá apagar. Isaías, filho de Amós, teve uma visão referente a Judá e a Jerusalém. Nos últimos dias, o monte sobre o qual está a casa do Senhor tornar-se-á no monte mais sublime, na mais célebre elevação do mundo. Gentes de todas as nações ali acorrerão. Muitos povos ali acorrerão e dirão: “Venham! Vamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacob! Ele nos ensinará o que fazer e nós o faremos.” Porque de Sião sairá a Lei e de Jerusalém a palavra do Senhor. Ele julgará entre as nações; será o árbitro nas disputas entre os povos. Os povos converterão o seu equipamento de guerra em instrumentos de trabalho, as suas armas em ferramentas. As nações não se levantarão mais umas contra as outras, nem haverá mais escolas ou treinos de guerra. Ó descendentes de Jacob, vamos, andemos na luz do Senhor! Senhor, rejeitaste o teu povo, os descendentes de Jacob, por se terem associado a estrangeiros do Oriente, que praticam a magia e comunicam com os espíritos, como fazem os filisteus. A sua terra tem vastos tesouros de prata e de ouro, assim como grande quantidade de cavalos e de carros. Também está repleta de ídolos; há disso por toda a terra! São fabricados por homens e, mesmo assim, inclinam-se para adorar aquilo que fizeram as suas próprias mãos! Assim, eles serão humilhados e abatidos. Ó Deus, não lhes perdoes esse pecado! Mete-te já dentro das cavernas das rochas e esconde-te no pó, da presença espantosa do Senhor e da sua gloriosa majestade! Porque virá o dia em que os vossos olhares altivos serão abatidos e só o Senhor será exaltado. Naquele dia, o Senhor dos exércitos será contra o orgulhoso e o altivo, para que sejam abatidos. Todos os altos cedros do Líbano e os poderosos carvalhos de Basã se abaixarão até à terra. Todas as altas montanhas e colinas, as altas torres, as muralhas, os altivos navios que cruzam os mares e as belas embarcações nos portos, todos serão abatidos nesse dia. Toda a altivez da humanidade será humilhada; o orgulho dos homens será esmagado e só o Senhor será exaltado naquele dia. Todos os ídolos serão completamente abolidos e desaparecerão. Quando o Senhor se levantar do seu trono para abalar a Terra, os seus inimigos enfiar-se-ão, de terror, pelos buracos das rochas e cavernas, por causa da glória da sua majestade. Largarão, por fim, os seus ídolos de prata e de ouro às toupeiras e aos morcegos. Meter-se-ão pelas fendas das rochas, esconder-se-ão por entre as penhas agrestes e no cimo dos penhascos, tentando escapar ao terror do Senhor e à glória da sua majestade, quando se levantar para assombrar a Terra. Pobre do ser humano! Frágil como a sua própria respiração! Não merece nada que se confie nele! Vejam que Deus, o Senhor dos exércitos, tirará de Jerusalém e Judá o seu sustento e apoio; retirará o fornecimento de água e de alimento. Os seus exércitos, os seus juízes, profetas, anciãos, chefes militares, homens de negócio, juristas, mágicos e políticos serão destruídos. Os reis de Israel serão como criancinhas, governando infantilmente. Prevalecerá a pior espécie de anarquia e cada um se voltará contra o seu próximo; vizinhos contra vizinhos, os jovens contra a autoridade, os criminosos contra a gente de bem e o povo viverá sob a opressão. Naqueles dias dirá uma pessoa ao seu irmão: “Sei que tens alguma roupa a mais, além da que vestes. Por isso, sê tu o nosso rei, e tenta governar toda esta ruína.” “Não!”, será a resposta. “Não posso dar ajuda nenhuma! Nem sequer tenho roupa nem alimentos a mais! Não me metam nisso!” Jerusalém, de facto, está um caos e Judá caiu em ruínas, porque os judeus falaram contra o Senhor e não o adoram; ofendem a sua glória. Vê-se mesmo, até pelas suas caras, o que fizeram e como são culpados. Ainda por cima, gabam-se do seu pecado ser igual ao de Sodoma; não têm vergonha alguma! Que catástrofe! Eles mesmos processaram a sua própria condenação. No entanto, tudo correrá bem para os justos que são de Deus. Digam-lhes: “Que boa recompensa vão ter pelas vossas obras!” Mas aos ímpios digam: “A vossa condenação é certa! Terão a justa recompensa dos vossos atos!” Ó povo meu, não estão a ver como os vossos governantes são loucos? São fracos como mulheres; são irresponsáveis como criancinhas brincando aos reis! Serão isto governantes? Certamente que não! Antes vos levam pela via da ruína. O Senhor levanta-se! Ele é como o grande acusador público, denunciando o seu povo! Os primeiros a sentirem o peso da sua condenação serão os anciãos e os príncipes, porque destruíram a minha vinha; encheram-se com o que roubaram aos pobres. “Como ousaram moer o meu povo, desta maneira, até ao pó da terra?” Quem pergunta é Deus, o Senhor dos exércitos. Diz mais o Senhor: “Vejam como são altivas as mulheres de Sião, que andam de pescoço erguido, com vaidade, tilintando com as argolas que trazem à volta dos tornozelos, lançando olhares descarados, quando passam entre a multidão na rua.” O Senhor fará aparecer a tinha e as suas cabeças ficarão nuas para todos verem, sem qualquer ornamento. Não andarão mais com enfeites nas pernas, nem com os seus ornamentos, porque o Senhor destruirá toda aquela beleza artificiosa. Desaparecerão os colares, as pulseiras, os véus; assim como os diademas no cabelo, os enfeites dos braços, os brincos, as caixinhas de perfume; os anéis e as arrecadas; os vestidos de festa, as capas, os pentes para enfeitar o cabelo, os broches e bolsas; os espelhos, as finas capinhas de linho, as toucas, as rendas. E será que em vez de cheirarem bem a perfumes raros, hão de exalar um cheiro fedorento; em vez de ricas faixas em volta da cintura, usarão simples cordas; os seus belos penteados cairão e ficarão calvas; em lugar de lindas roupas, usarão sacos para se vestir. Toda a sua beleza desaparecerá; ficarão apenas a vergonha e a desgraça. Os seus maridos cairão ao fio da espada, na guerra. Sião, como uma mulher desolada, chora e lamenta, porque ninguém entra ou sai dos seus portões. Nesse tempo, haverá tão poucos homens deixados com vida que sete mulheres lançarão mão dum deles e dirão: “Deixa-nos casar contigo! Nós próprias nos encarregaremos do nosso alimento e do nosso vestuário; queremos apenas ser chamadas pelo teu nome, para que não nos desprezem por sermos solteiras.” Naquele dia, o Renovo do Senhor será belo e glorioso e a terra produzirá os mais ricos frutos, um orgulho e honra para os de Israel que forem salvos. E aqueles que restarem em Sião e permanecerem em Jerusalém tornar-se-ão o povo santo de Deus; isto é, todo o que estiver inscrito para viver em Jerusalém. Quando o Senhor tiver lavado a impureza das filhas de Sião e limpado Jerusalém da culpa do sangue no meio dela derramado, mediante o Espírito de justiça e do Espírito purificador, então, o Senhor criará uma nuvem de fumo sobre todo o monte Sião e sobre todos ali reunidos, que terá a forma de coluna durante o dia e dum resplendor de fogo durante a noite; a glória cobrirá essa terra, protegendo-a dos calores e abrigando-a das chuvas e tempestades. Agora vou cantar uma canção dedicada àquele que amo, a propósito da sua vinha: Aquele que amo tem uma vinha numa colina fértil. Lavrou-a, limpou-a das pedras, e plantou-a com excelentes vides; ergueu ali uma torre e mandou construir um lagar. Depois esperou pelos frutos, mas os cachos que cresceram eram de uva brava e ácida; não eram as uvas doces que ele tanto esperava. “Agora, pois, gente de Jerusalém e de Judá, que ouviu o que se passou, sejam vocês os juízes! Que mais poderia eu ter feito? Porque deu a minha vinha uvas bravas em vez de doces? Isto é o que eu farei: vou deitar abaixo a vedação que tinha levantado; deixarei que a minha vinha seja pasto de rebanhos, e de gado, que a pisarão. Não a podarei nem a cavarei mais; deixarei que cresçam nela sarças e espinhos; darei ordens às nuvens, para que não derramem ali mais chuvas.” Contei-vos a história do povo do Senhor dos exércitos. São eles a vinha de que vos falei. Israel e Judá são esse campo que lhe dava tanto prazer! O Senhor esperava que produzissem uma colheita de justiça, mas apenas encontrou derramamento de sangue; esperava retidão, mas só o choro da profunda opressão e injustiça lhe chegou aos ouvidos. Ai dos que vão comprando propriedade atrás propriedade, a ponto dos outros não terem mais onde viver! As vossas casas são construídas em grandes latifúndios, de forma a poderem viver sozinhos no meio da terra! Mas o Senhor dos exércitos já garantiu o vosso terrível destino; ouvi-o, com os meus próprios ouvidos, dizer: “Muitas dessas belas e grandes habitações ficarão desertas e os seus proprietários as abandonarão!” Dois hectares não chegarão a produzir senão uns vinte litros de vinho! Dez medidas de semente não chegarão a produzir mais do que uma só! Ai dos que se levantam de manhã cedo para apanhar grandes bebedeiras, que se prolongam até tarde na noite, e andam sempre a cair de bêbedos! Liras e harpas, tamboris, flautas e vinho há sempre nas vossas festas e receções, mas não reparam nos feitos do Senhor, nem veem o que as suas mãos realizam. Por isso, o meu povo será levado cativo para o exílio, porque nem sabem nem se interessam em saber tudo o que fez por vocês. A gente da alta sociedade morrerá de fome e os do povo morrerão de sede. Por isso, o mundo dos mortos já está a abrir a boca toda, com o apetite que lhe dá este belo pedaço que é Jerusalém. Tanto os grandes como os pequenos que nela moram serão engolidos, tal como os magotes de embriagados. O orgulhoso será abatido até ao pó da terra e o altivo humilhado. Mas o Senhor dos exércitos será exaltado acima de tudo, porque só ele é santo, justo e bom. Nesses dias, os rebanhos pastarão por entre as ruínas; cordeiros, bezerros e cabritos pastarão ali à vontade. Ai dos que arrastam os seus pecados atrás de si com cordas de engano e as suas injustiças com tirantes de carroças! Ousam até exclamar: “Que Deus apresse a realização da sua obra a fim de que a possamos ver: que se cumpra o plano do Santo de Israel, para o podermos conhecer!” Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem mal; dos que dizem que as trevas são luz e a luz trevas; dos que fazem do amargo doce e do doce amargo! Ai dos que se fazem passar por sábios e astutos aos seus próprios olhos! Ai dos que se consideram heróis, quando se trata de beber, e se gabam de todo o álcool que são capazes de ingerir! Deixam-se subornar com presentes, para perverter aquilo que é justo, permitindo que os culpados fiquem livres e que os inocentes sejam presos. Por isso, serão consumidos como a palha e o feno pelo fogo; as raízes que conseguiram lançar apodrecerão; as flores que brotaram murcharão e se desfarão em pó. Porque rejeitaram a Lei do Senhor dos exércitos e desprezaram a palavra do Santo de Israel. É por isso que a ira do Senhor se acende contra o seu povo; é por isso que estende a sua mão para os esmagar. As montanhas tremerão; os cadáveres do seu povo serão lançados para a berma da rua como lixo. E mesmo assim a sua ira não desaparece. A sua mão continua a ser pesada sobre eles. Ele levantará um estandarte para chamar as nações, até as mais afastadas, assobiando às extremidades da Terra; os exércitos vêm a correr contra Jerusalém. Não haverá cansados entre eles, nem gente que tropece. Não terão descanso e não pararão para dormir. Nem sequer desapertarão os cintos nem as botas para se aliviarem um pouco. Vêm armados com flechas bem pontiagudas e arcos bem retesados. As patas dos cavalos, correndo sobre as pedras, até lançam faíscas; as rodas dos carros parecem um turbilhão de vento. O seu rugido é como o de leões saltando sobre a presa. Será pois assim que saltarão sobre o meu povo e o levarão para o cativeiro, sem que haja alguém para os livrar. O rugido que farão, ao cair sobre as suas vítimas, será semelhante ao bramido do mar durante uma tempestade. Sobre Israel cairá uma mortalha de trevas e de tristeza e o próprio céu se fará escuridão. No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor! Estava sentado num trono sublime. O templo estava cheio com a sua glória e a aba do seu manto enchia todo o templo. Pairando sobre ele havia serafins, cada um com seis asas. Com duas das asas cobriam as faces; com outras duas, os pés; com as duas últimas voavam. E clamavam uns para os outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos! Toda a Terra está cheia da sua glória!” Isto era expresso de tal maneira que fez tremer o templo até aos alicerces, e todo o santuário se encheu de fumo. Então eu disse: “Ai de mim que já estou condenado, porque sou um pecador de fala impura! Pertenço a uma raça pecadora que fala duma forma impura e vi o Rei, o Senhor dos exércitos!” Então um dos serafins voou sobre o altar e com uma tenaz tirou uma brasa. Tocou-me os lábios com ela e disse: “A partir de agora és considerado não culpado, porque esta brasa tocou a tua boca. Os teus pecados estão perdoados.” Depois ouvi o Senhor perguntar: “Quem enviarei como mensageiro ao seu povo? Quem irá por nós?” E eu disse: “Vou eu! Envia-me a mim!” “Vai, então, e diz o seguinte a este povo: Com efeito, ainda que ouçam com os vossos ouvidos, não compreenderão; e ainda que vejam com os vossos olhos, não perceberão. Torna o coração deste povo insensível e fecha-lhes os ouvidos e os olhos. Que os seus olhos não vejam, os seus ouvidos não ouçam e os seus corações não compreendam, para que não se arrependam e sejam curados.” Depois disso, perguntei: “Senhor, até quando?” E ele respondeu: “Até que as suas cidades sejam destruídas de tal maneira que fiquem sem habitantes; até que todo o país se torne num deserto imenso. Até que o Senhor leve o seu povo para países distantes e toda a terra fique inteiramente desabitada! No entanto, uma décima parte ficará de resto e sobreviverá; ainda que Judá seja invadida repetidas vezes e seja queimada, no entanto, será semelhante a um terebinto ou um carvalho abatido, cujo cepo ainda pode reviver e dar novamente frutos.” Durante o reinado de Acaz, filho de Jotão e neto de Uzias, rei de Judá, Jerusalém foi atacada pelo rei Rezim de Aram e pelo rei Peca de Israel, que era filho de Remalias. Mas não chegou a ser tomada, pois a cidade resistiu. Quando chegou à corte a notícia de que Aram se tinha aliado com Israel contra a cidade, os corações, tanto do rei como do povo, tremeram de medo, como árvores dum bosque abaladas por um vendaval. Então o Senhor disse a Isaías: “Vai encontrar-te com o rei Acaz. Vai tu e teu filho Sear-Jasube. Hão de encontrá-lo no fim do aqueduto do reservatório superior, perto da estrada que desce até ao campo das lavadeiras. Diz-lhe que deixe de se angustiar, que não precisa de estar com medo da fúria de Rezim, o arameu, e de Peca, filho de Remalias, pois são dois indivíduos falhados. É verdade que esses dois, os reis de Aram e de Efraim, virão contra ti, dizendo: ‘Vamos invadir Judá e pôr essa população em pânico, para podermos depois tomar facilmente Jerusalém e colocar ali o filho de Tabeel como rei.’ Contudo, o Senhor Deus responde-lhes que esse plano não resultará. Porque Damasco continuará a ser a capital de Aram e o rei Rezim nunca chegará a alargar as suas fronteiras. É verdade que dentro de sessenta e cinco anos Efraim também será derrotada e aniquilada. Até lá, Samaria manter-se-á a única grande cidade, a capital de Efraim, e o poder do rei Peca não virá a aumentar. Se não crerem em mim não poderão ficar firmes e não poderei ajudar-vos!” O Senhor mandou mais esta mensagem ao rei Acaz: “Pede ao Senhor, ao teu Deus, um sinal que prove que esmagarei os teus inimigos, como tinha dito. Pede-lhe um sinal, venha ele das profundezas ou do alto dos céus!” Mas o rei recusou: “Não, não peço! Não poria o Senhor à prova!” Então Isaías disse: “Ó casa de David, não estás satisfeita em esgotar a minha paciência, como ainda cansas a paciência do meu Deus? Está bem, então! O Senhor, ele próprio, escolherá o sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Emanuel, ‘Deus connosco’. Comerá manteiga e mel, até chegar à idade de saber escolher entre o bem e o mal. Mas antes que o menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra dos dois reis que tanto temes ficará deserta. O Senhor trará uma terrível maldição sobre vocês, sobre a vossa nação, sobre a casa de David. Será um terror como nunca houve desde a divisão do reino de Salomão em Israel e Judá, porque o poderoso rei da Assíria virá com o seu grande exército!” Nesse tempo, o Senhor assobiará aos exércitos do alto Egito e da Assíria, para que enxameiem a vossa terra e caiam sobre vocês como moscas; que vos destruam, como abelhas vos ferrem e vos matem. Virão em vastos bandos, espalhando-se por toda a terra; até pelos vales desabitados, pelas cavernas, pelos sítios onde não há senão espinhos; também ocuparão as florestas e as terras férteis. Nesse dia, o Senhor pegará nessa navalha que está para além do rio Eufrates, esses assírios que vocês contrataram para vos salvarem, para que rapem tudo o que têm; terra, searas, povo! Quando, finalmente, acabarem a pilhagem, a terra toda se tornará num imenso terreno de pastagem. Todos os rebanhos e todo o gado serão destruídos; um lavrador que tenha ficado com uma bezerra e duas ovelhas considerar-se-á feliz. No entanto, toda essa terra de pasto produzirá leite em abundância e aqueles que tiverem sido deixados na terra alimentar-se-ão de manteiga e mel. O Senhor deu-me mais esta mensagem: “Faz uma grande tabuleta e escreve nela o anúncio do nascimento do filho que te vou dar. Escreve em caracteres legíveis! O seu nome será Maer-Salal-Has-Baz, que quer dizer: Os teus inimigos serão em breve destruídos.” Pedi ao sacerdote Urias e a Zacarias, filho de Jeberequias, ambos conhecidos como pessoas fiéis, que viessem, de forma a poderem testemunhar que o tinha realmente escrito. Depois juntei-me com a profetisa, ela engravidou e teve um filho. O Senhor disse-me: “Chama-lhe Maer-Salal-Has-Baz. Este nome profetiza que dentro de algum tempo, antes que o menino seja capaz de dizer papá e mamã, o rei da Assíria invadirá tanto Damasco como a Samaria, levando consigo os despojos que saqueou.” O Senhor falou-me outra vez: “O povo de Jerusalém rejeitou as águas de Siloé, que correm brandamente, e derrete-se de medo dos dois reis, o rei Rezim e o rei Peca, filho de Remalias. Por isso, hei de fazer submergir o meu povo com as torrentes impetuosas do Eufrates; o rei da Assíria e todos os seus poderosos exércitos se enfurecerão contra eles. Esse rio transbordará das suas margens e inundará a terra de Judá, ó Emanuel, submergindo-a duma extremidade à outra.” Façam tudo o que fizerem de mal, ó Aram e Israel, nossos inimigos, não terão sucesso, serão despedaçados. Ouçam bem, todos os que são nossos inimigos: Preparem-se para nos fazerem guerra, contudo, hão de morrer! Sim, hão de morrer! Convoquem os vossos conselhos de guerra, estudem estratégias, preparem os vossos planos de ataque, no final serão destruídos, porque Deus é connosco! O Senhor avisou-me de forma categórica, com mão forte sobre mim: “Em circunstância nenhuma te deixes levar pelos planos de Judá! Não acreditem em conspiração, quando este povo fala de conspiração! Não participem dos seus receios e temores nem percam a esperança. Santifiquem unicamente ao Senhor dos exércitos! É dele que devem ter medo, é ele que vos deve inspirar temor. Ele será, tanto para o reino de Israel como para o de Judá, um santuário. Mas também será uma pedra de tropeço, uma rocha que os fará cair; será como uma armadilha ou uma cilada para o povo em Jerusalém. Muitos deles tropeçarão; serão despedaçados; serão apanhados em ciladas e ficarão cativos.” Isaías disse: “Escreve todas estas coisas e sela-as. Confia-as aos meus discípulos. Espero no Senhor, ainda que de momento esconda o seu rosto aos descendentes de Jacob. Nele esperarei. Aqui estou eu, com os filhos que o Senhor me deu; juntos tornámo-nos símbolos e prodígios em Israel, da parte do Senhor dos exércitos que habita no monte Sião.” Então porque andam a tentar descobrir o futuro, consultando adivinhos e os espíritos dos mortos? Não deem ouvidos aos seus sussurros, ao que vos murmuram ao ouvido. Alguma vez seria possível que os mortos revelassem o futuro aos vivos? Então porque não recorrem ao vosso Deus? Consultem a palavra de Deus e o testemunho que vos dei selado! Se o que dizem esses bruxos é diferente da mensagem de Deus, é porque Deus nunca os enviou; pois neles não há a luz da revelação e da verdade. O meu povo será levado cativo, aos tropeções, oprimido e faminto. E justamente porque estão com fome e enraivecidos, levantarão os seus punhos contra o céu e amaldiçoarão o seu Rei e seu Deus. Para onde quer que olhem só veem agitação, angústia e negro desespero. E assim serão impelidos para as trevas. Contudo, esse tempo de trevas e de desespero não durará para sempre. Ainda que brevemente a terra de Zebulão e de Naftali venha a ficar sob o desprezo e o julgamento de Deus, no futuro esta mesma terra, a Galileia dos gentios, a oeste do Jordão, onde está a estrada para o mar, ficará cheia de glória. O povo que anda nas trevas viu uma grande luz, uma luz que brilhou sobre todos os que vivem na terra da sombra da morte. Multiplicaste este povo e encheste-o de alegria; alegram-se como os ceifeiros, quando chega o tempo da ceifa, ou como os que repartem os despojos depois de vencerem a batalha. Porque quebrarás as cadeias que amarram o teu povo e a vara que os açoita, como quando destruíste as imensas tropas opressoras dos midianitas. Porque nesse glorioso dia de paz não haverá mais distribuição de armamento de guerra, nem de equipamento militar de combate; tudo isso será destruído. Porque um menino nos nasceu; foi-nos dado um filho. O governo está sobre os seus ombros. Estes serão os seus títulos: conselheiro maravilhoso, deus forte, pai para sempre, príncipe da paz. O seu governo de paz e de desenvolvimento nunca terá fim. Ele chefiará com uma justiça e uma honestidade perfeitas, desde o trono de seu pai David. Trará verdadeira justiça e paz a todas as nações do mundo. Isto acontecerá mesmo, pois no seu zelo, o Senhor dos exércitos está especialmente empenhado em que tal se realize! O Senhor lançou a sua sentença contra Jacob e ela caiu sobre o reino de Israel. Todo o povo há de ouvi-la, Efraim e os habitantes da Samaria. Eles dizem com soberba e altivez de coração: “Se caíram os tijolos, reconstruiremos com pedras lavradas! Se as figueiras bravas foram cortadas, haveremos de as substituir por cedros!” Contudo, o Senhor suscitou contra eles os adversários de Rezim e incitou contra eles os seus inimigos. Os arameus, pelo leste, os filisteus pelo oeste. Com as suas bocas escancaradas, devorarão Israel. Mesmo assim, a sua ira não desaparece. A sua mão continua a pesar sobre eles. Porque mesmo depois de todo este castigo, não se arrependeram nem quiseram voltar-se de novo para o Senhor dos exércitos. Por isso, num mesmo dia o Senhor cortará em Israel a cabeça e a cauda, a palma e o junco. O ancião e o homem de respeito são a cabeça; o profeta que ensina a mentira, esse é a cauda. Os líderes deste povo enganam-no e os que são conduzidos ficam desfeitos. Esta é a razão por que o Senhor não tem alegria nos seus jovens, nem piedade das viúvas e dos órfãos, porque as palavras das suas bocas são repugnantes; são maus e mentirosos. Mesmo assim, a sua ira não desaparece. A sua mão continua a pesar sobre eles. Ele queimará toda esta maldade, todos estes espinhos e sarças; as chamas virão depois também a consumir florestas e o fumo subirá em espiral, por cima do vasto incêndio. A terra ficará enegrecida pelo fogo, como consequência da cólera do Senhor dos exércitos. O próprio povo serve de combustível para o fogo. Cada qual luta com o seu próximo, para poder roubar-lhe comida, e mesmo assim continuarão a ter fome. Acabarão por comer os seus próprios filhos! Manassés contra Efraim e Efraim contra Manassés, e ambos contra Judá. Mesmo assim, a sua ira não desaparece. A sua mão continua a pesar sobre eles. Ai dos juízes injustos e dos que decretam leis injustas! Daqueles que não deixam haver justiça para os pobres, para as viúvas e para os órfãos! Sim, porque a verdade é que chegam até a roubar as viúvas e os órfãos! Que farão vocês, quando vier o castigo, nesse dia em que vier a desolação duma terra distante? Para quem hão de voltar-se para pedir ajuda? Onde vão pôr os vossos tesouros de forma a ficarem em segurança? Nada podereis fazer, senão andar aos tropeções por entre os prisioneiros e cair por entre os mortos. Mesmo assim, a sua ira não desaparece. A sua mão continua a pesar sobre eles. Deus diz: “Ai da Assíria, a vara da minha ira! A sua força militar é a minha arma contra esta nação sem Deus, condenada e amaldiçoada. Fará nela escravos, saqueá-los-á e os pisará como o pó debaixo dos pés. Mas o rei da Assíria não saberá que fui eu quem o mandou. Pensará simplesmente que está a atacar o meu povo como parte do seu plano de conquista do mundo. E declarará que cada um dos seus príncipes será brevemente um rei, que governará cada uma das terras conquistadas. ‘Destruiremos Calno como fizemos com Carquemis!’, dirá ele. ‘E Hamate cairá como tinha caído antes Arpade! Samaria será arrasada da mesma forma que Damasco! Sim, acabámos com muitos reinos cujos ídolos eram maiores do que os de Jerusalém e de Samaria! Por isso, quando tivermos derrotado Samaria e os seus ídolos, também haveremos de destruir Jerusalém e os seus ídolos!’ ” Depois do Senhor concluir toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém dirá: “Eis que castigarei o rei assírio por causa da sua arrogância, do seu coração orgulhoso e do seu olhar insolente. Gabam-se dizendo: ‘Foi com todo o nosso poder e com a nossa sabedoria que ganhámos estas guerras todas! Somos grandes e célebres! Com a nossa própria força derrubámos muralhas, vencemos povos e pilhámos os seus tesouros! Pela nossa grandeza assaltámos os ninhos da riqueza deles e acumulámos reinos conquistados, tal como o camponês junta os seus ovos; ninguém ousa mexer sequer um dedo ou abrir a boca para dizer uma palavra contra nós!’ ” Será normal que o machado se gabe de ter mais poder do que aquele que o emprega? E a serra, será ela mais poderosa do que o serrador? Poderá uma vara bater sem que uma mão a mova? Uma cana é capaz de andar sozinha? Por causa de toda essa tua arrogância, ó rei da Assíria, Deus, o Senhor dos exércitos, mandará uma praga que se disseminará no meio dessa tua tropa orgulhosa que os abaterá. Deus, que é a luz e o Santo de Israel, se fará como uma chama e como um fogo que os destruirá. Numa só noite fará arder esses espinheiros e essas sarças que são os assírios. O vasto exército da Assíria é como uma imensa floresta; mesmo assim, será destruído. Deus os desfará, corpo e alma; serão como uma pessoa doente que perde os sentidos. Só uns poucos escaparão de todo esse poderoso exército; serão tão poucos que uma criança os saberá contar! Por fim, os restantes de Israel, os sobreviventes de Jacob, não mais confiarão naquele que os feriu, mas passarão a depositar toda a sua confiança no Senhor, o Santo de Israel. Um resto deles se voltará para o Deus forte. Ainda que o número dos filhos de Israel seja agora tão numeroso como a areia das praias, apenas um pequeno número será salvo. A destruição está decretada, transbordante de justiça. Deus, o Senhor dos exércitos, dará execução à sua palavra na Terra. Sim, está já decidido que irá consumi-los. Contudo, Deus, o Senhor dos exércitos, diz: “Ó meu povo, que habitas em Sião, não tenhas receio dos assírios, quando vos oprimirem como vos fizeram os egípcios há muito tempo atrás. Isso não durará muito. Ao fim de pouco tempo a minha ira contra vocês acabará e então me levantarei contra eles e os destruirei.” O Senhor dos exércitos levantará o seu chicote para os matar, como aconteceu, quando Gedeão triunfou sobre os midianitas, junto à rocha de Orebe. Ele erguerá a sua vara sobre o mar, como fez contra os egípcios. Nesse dia, Deus acabará com a escravidão do seu povo; quebrará o jugo que pesa sobre os seus pescoços; será destruído por decreto seu. Vejam! Estão já a chegar os poderosos exércitos da Assíria! Já se encontram em Aiate; agora em Migrom; fazem já o armazenamento do seu equipamento militar em Micmás. Estão a passar o desfiladeiro e vão acampar em Geba para aí passarem a noite. A cidade de Ramá já treme de medo e o povo de Gibeá, a cidade de Saul, foge para salvar a vida. É natural que grites de terror, ó povo de Galim! Avisa bem alto, Laís, porque o grande exército se aproxima! Ó pobre Anatote, que destino desgraçado vai ser o teu! O povo de Madmena já fugiu e os habitantes de Gebim preparam-se para debandar. Mas o inimigo para em Nobe e aí fica o resto do dia; daí acena com o punho contra Jerusalém no monte Sião. Mas, olhem, olhem! Deus, o Senhor dos exércitos, está a cortar pela base essa poderosa árvore! Está a destruir todo esse vasto exército, tanto os das linhas de ataque como os da retaguarda, tanto oficiais como soldados. Ele, o Poderoso, abaterá a força do inimigo tal como o lenhador abate as árvores das florestas do Líbano. Do cepo de Jessé brotará um rebento e das suas raízes frutificará um ramo. O Espírito do Senhor ficará sobre ele: Espírito de sabedoria e de discernimento; Espírito de conselho e de poder; Espírito de conhecimento e de temor ao Senhor. Todo o seu prazer será em temer ao Senhor. Não julgará segundo as aparências, nem por ouvir dizer. Castigará a Terra com a vara da sua palavra e com o sopro da sua boca condenará à morte os malvados. Pelo contrário, defenderá com justiça os pobres e com equidade os explorados. Porque se revestirá de justiça e de verdade na cintura e no tronco. Nesse dia, o lobo e o cordeiro deitar-se-ão juntos, o leopardo e o cabrito viverão em paz; bezerros e gordas ovelhas estarão em segurança no meio de leões e uma criança os guiará. As vacas pastarão juntamente com os ursos, enquanto os respetivos filhotes ficarão deitados uns com os outros. Também o leão comerá erva como os bois. Haverá bebés gatinhando, sem perigo, por entre serpentes venenosas e crianças que põem despreocupadamente a mão dentro dum ninho de víboras, retirando-a depois sem a mínima mordedura. Não se praticará mal nem destruição de espécie alguma no meu santo monte, porque tal como as águas enchem os mares, assim também a Terra se encherá do conhecimento do Senhor. Nesse dia, aquele que é a raiz de Jessé será como uma bandeira para todo o mundo. As nações se juntarão a ele e será gloriosa a morada do seu descanso. Nesse dia, o Senhor fará regressar, pela segunda vez à terra de Israel, um resto do seu povo, trazendo-os da Assíria, do Alto e do Baixo Egito, de Cuche, do Elão, de Sinar (Babilónia), de Hamate e de terras distantes de além-mar. Levantará uma bandeira entre as nações para os chamar e reunir. Juntará, assim, os israelitas dispersos pelos quatro cantos do mundo. Então terminará a inveja de Efraim e os inimigos de Judá serão destroçados; nunca mais Efraim terá inveja de Judá, nem Judá se voltará contra Efraim. Juntos voarão contra as nações, conquistando as suas terras a leste e a oeste, unindo forças para as destruir, vindo a ocupar as nações de Edom, de Moabe e de Amon. O Senhor fará secar um caminho através do mar Vermelho; levantará a sua mão sobre o rio Eufrates, mandando um forte vento que o divida em sete braços que qualquer pessoa poderá atravessar, mesmo calçada. Aplanará um largo caminho desde a Assíria, para que venha por ele o resto que ainda lá vive, tal como fez há muito tempo para Israel poder regressar do Egito. Nesse dia, dirás: “Eu te louvo, Senhor! É verdade que estiveste irado contra mim, mas agora confortas-me. Vejam bem, Deus veio salvar-me! Tenho razão para confiar e nada recear, porque o Senhor é a minha força. É ele quem me leva a cantar! Ele é a minha salvação!” Oh! Que alegria poder beber da fonte da salvação! Nesse dia maravilhoso dirão: “Louvem o Senhor! Louvem o seu nome! Contem ao mundo como as suas obras são maravilhosas! Como o seu poder é grande! Cantem ao Senhor, porque fez coisas maravilhosas! Que isso se saiba em toda a Terra! Que os habitantes de Sião cantem bem alto os seus louvores, e que o façam com alegria! Porque grande e poderoso é o Santo de Israel, que vive no vosso meio!” Esta é a mensagem que Deus revelou a Isaías, filho de Amós, referente à condenação da Babilónia. Levantem uma bandeira sobre o monte pelado. Gritem alto para os que combatem e façam-lhes sinais com as mãos para que marchem sobre a Babilónia, entrando pelas portas dos poderosos. Fui eu, quem convocou estes exércitos para uma tal intervenção. Chamei aqueles que se orgulham da minha força para fazer este trabalho, a fim de satisfazer a minha ira. Ouçam todo este tumulto sobre as montanhas, como se fosse de uma imensa multidão! Escutem o tumulto e o clamor de muitas nações. É o Senhor dos exércitos que passa revista ao seu exército para a guerra. Foi o Senhor quem os trouxe aqui, vindos de terras distantes; são as suas armas contra ti, ó Babilónia; são os instrumentos que usará para destruir toda a tua terra. Grita de terror, porque chegou o dia do Senhor, a altura em que o Todo-Poderoso te vai esmagar. Os teus braços descaem paralisados de terror; o coração dos mais valentes desfalece de medo. O pavor aperta-te com terríveis angústias, como uma mulher antes do parto. Olham uns para os outros, absolutamente desamparados, enquanto as chamas da cidade a arder se refletem nas vossas faces empalidecidas. Vejam como o dia do Senhor está a chegar, o terrível dia do seu juízo, da sua tremenda ira. A terra será destruída e com ela todos os pecadores. Os céus tornar-se-ão negros por cima da cidade; luz alguma lhes virá, seja do Sol da Lua ou das estrelas. Castigarei o mundo pela sua maldade e o pecador pela sua iniquidade. Esmagarei a arrogância do orgulhoso e humilharei o orgulho dos tiranos. Poucos sobrevirão após eu ter terminado a minha ação. Os homens tornar-se-ão mais raros que o ouro; serão mais raros que o ouro de Ofir. Porque farei abalar os céus com a minha cólera, a minha terrível ira; até a Terra alterará a sua posição no universo. É a manifestação da ira do Senhor dos exércitos. Os exércitos da Babilónia desgastar-se-ão até ficarem exaustos, batendo em retirada para a sua terra, como uma gazela perseguida por cães de caça, ou vagueando perdidos como ovelhas cujo pastor fugiu. Aqueles que não fugirem serão abatidos. Os seus meninos serão despedaçados contra o chão à vista deles; as suas casas serão saqueadas e as mulheres violadas pelos exércitos atacantes. Incitarei contra a Babilónia os medos, que não estimam a prata nem se deleitam com o ouro. Com os seus arcos abaterão os jovens; eles não terão compaixão nem das crianças, nem dos bebés da Babilónia. Então Babilónia, o mais glorioso dos reinos, a fina flor da cultura da Caldeia, será destruída tão completamente como foram Sodoma e Gomorra, as cidades sobre as quais Deus mandou fogo do céu. Nunca mais será reconstruída e habitada. Novas gerações se sucederão umas às outras, mas naquela terra nunca mais viverá ninguém. Nem sequer os nómadas ali acamparão, nem os pastores deixarão os rebanhos ali passar a noite. Os animais selvagens feitos à vida nos desertos, esses sim, habitarão naquele sítio. As suas ruínas ficarão cheias de animais horríveis. Viverão ali corujas do deserto e virão bodes para ali dançar. Hienas e chacais farão dos seus palácios tocas. Os dias da Babilónia estão contados. A hora da sua condenação chegará em breve! Mas o Senhor terá compaixão dos descendentes de Jacob; ele tornará a escolher de novo Israel e há de trazê-los novamente para a sua terra. Muitas nações virão e se juntarão a eles, tornando-se seus fiéis aliados. As nações do mundo os ajudarão a regressar e aqueles que vierem estabelecer-se na sua terra os servirão; aqueles que os escravizaram serão seus escravos; Israel dominará sobre os seus inimigos. Nesse dia, em que o Senhor der ao seu povo descanso das tristezas e dos terrores, das prisões e cadeias por que passaram, dirás assim do rei da Babilónia: “O tirano desaparece, enfim! A sua opressão terminou! O Senhor quebrou o teu bastão de dominador, esmagou o teu poder malvado! Perseguiste os povos com os golpes contínuos da tua raiva odiosa, tiranizaste nações sob as tuas garras. Era insustentável a tua atrocidade! Finalmente, a Terra está sossegada e em descanso! Todo o mundo começa a cantar! Até as árvores dos bosques, as faias e os cedros do Líbano cantam com alegria: ‘Desde que tu caíste, ninguém mais nos incomoda. Até que enfim, estamos em paz!’ ” Os habitantes do mundo dos mortos juntam-se em magotes para te receberem quando entrares nos seus domínios. Entre eles estão grandes chefes mundiais e poderosos governantes que vieram esperar-te. E todos chorarão juntos em voz alta: “Também te tornaste em nada, tal como nós!” A tua força e o teu poder desapareceram; foi tudo lançado no mundo dos mortos. Cessou de vez a bela música dos teus palácios. Agora, são os bichinhos o teu lençol; os vermes são o cobertor com que te tapas! Como caíste do céu, ó Lúcifer, estrela matinal! Como foste abatido, tu que enfraqueceste as nações do mundo! Dizias no teu íntimo: “Hei de subir aos céus; levantarei o meu trono acima das estrelas de Deus; ascenderei ao mais alto trono e governarei a partir do monte da assembleia, lá no extremo norte! Subirei aos mais altos céus e serei semelhante ao Altíssimo!” Mas em vez disso serás levado para o mundo dos mortos, lá bem para as profundezas do abismo. Todos os que lá te virem perguntarão espantados: “Então é este quem fazia tremer a Terra e as nações do mundo? É este quem tudo arrasou e fez da Terra um açougue? Quem demoliu as grandes cidades, sem ter a mínima compaixão dos prisioneiros?” Os reis, os grandes chefes das nações jazem, cada um, no seu pomposo mausoléu. Quanto a ti, o teu corpo foi lançado fora da tua sepultura como se fosse um pau seco que não presta. E ali está, de cova aberta, coberto com os cadáveres dos que foram mortos nos combates, tão desprezado como um cadáver espezinhado. Não te juntarás a eles no túmulo, pois destruíste a tua nação e assassinaste o teu povo. Nunca o teu filho te sucederá como rei. Matem os filhos desse malvado! Não deixem que venham a levantar-se, a reconquistar a terra e a tornar a encher o mundo de cidades reconstruídas! “Eu próprio me levantarei contra ele”, diz o Senhor dos exércitos, e tirarei aos seus filhos e aos seus netos toda e qualquer possibilidade de virem a ocupar o trono. “Reduzirei a Babilónia a uma terra desolada, cheia de porcos-espinhos, de charcos fétidos e de pântanos insalubres. Varrerei aquela terra com a vassoura da destruição”, diz o Senhor dos exércitos. O Senhor dos exércitos jurou e estes são os seus propósitos e os seus planos: “Decidi destruir os exércitos da Assíria, enquanto se encontram em Judá, na minha terra, e esmagá-los, enquanto ocupam as minhas montanhas. O meu povo não mais será escravo deles. E este é o meu plano a aplicar em toda a Terra. Farei isso pela minha força poderosa que é capaz de atuar no mundo inteiro.” O Senhor dos exércitos foi quem falou, quem poderá alterar os seus planos? Quando o seu braço se estende para atuar, haverá alguém capaz de o impedir? Esta é a mensagem que veio até mim, no ano em que o rei Acaz morreu: “Não se alegrem, filisteus, pelo facto de ter morrido o rei que vos afligia. A vara quebrou-se, é verdade, mas o seu filho tornar-se-á num açoite ainda mais duro do que o seu pai! Da cobra nascerá uma terrível serpente venenosa que te destruirá! Tratarei dos pobres do meu povo com os cuidados dum pastor; os necessitados estarão em segurança. Quanto a ti, escorraçar-te-ei por meio da fome e da guerra; a ti e aos teus descendentes. Gritem de dor, ó cidades filisteias, vocês estão condenadas, tal como toda a vossa nação! Toda ela está condenada. Eles são como uma nuvem negra de fumaça vinda do norte contra ti. Não há ninguém que vacile naquelas fileiras. Que se dirá, então, aos mensageiros deste povo? Que o Senhor fundou Sião e determinou que os oprimidos do seu povo encontrem um refúgio dentro dos seus muros.” Eis a mensagem de Deus sobre Moabe: Numa só noite as tuas cidades de Ar e de Quir de Moabe serão destruídas. O teu povo em Dibom vai-se lamentando; vão para os santuários pagãos lamentando-se pelo destino que Nebo e Medeba vão ter; rapam as cabeças de tristeza e cortam as barbas. Andam vestidos de saco pelas ruas e de cada casa saem clamores de lamentações. Os choros, nas cidades de Hesbom e de Eleale, até de longe se ouvem, até mesmo em Jaaz! Os mais valentes dos combatentes de Moabe gritam de terror. O meu coração chora por causa de Moabe! O seu povo foge para Zoar e para Eglate-Selichia. Vão subindo a ladeira até Luite, a chorar, e os seus prantos ouvem-se por todo o caminho de Horonaim. Até o ribeiro de Nimrim se tornou num sítio desolado; as suas verdes margens secaram; desapareceu toda a sua vegetação. Os que fogem, desesperados, levam apenas o que podem transportar consigo e atravessam o ribeiro dos Salgueiros. A terra toda de Moabe está em pranto, duma ponta à outra; as suas lamentações chegam até Eglaim, fazem-se ouvir até Beer-Elim. A torrente que passa em Dibom ficará vermelha, por causa do sangue, mas isto não será tudo quanto a Dibom. Por fim, andarão leões atrás dos sobreviventes, daqueles que escaparam e ficaram na terra. Enviem um cordeiro como tributo ao governante da terra de Sela, pelo deserto até ao monte Sião. As mulheres de Moabe são deixadas nos baixios do rio Arnom como pássaros vagueando sem ninho. Os embaixadores que acompanham a oferta a Jerusalém imploram conselho e ajuda: “Deem-nos um santuário! Protejam-nos! Não nos entreguem aos nossos inimigos! Deixem que os nossos refugiados fiquem no vosso meio; escondam-nos dos nossos adversários!” Deus vos recompensará pela vossa boa vontade para connosco. Sendo assim, em bondade, estabelecer-se-á um trono de David para sempre. Sentar-se-á nele com lealdade e será um juiz preocupado com a retidão, e sempre pronto a fazer o que é justo. Ouvimos falar da arrogância e soberba de Moabe. Com efeito, é espantoso como toda a sua arrogância, o seu ódio e toda a sua insolência se foram! Agora Moabe inteira chora. Sim, Moabe, lamentar-te-ás, por causa dos bolos de passas de Quir-Haresete! Também por causa das quintas de Hesbom e das vinhas de Sibma que foram abandonados. Os grandes senhores, os generais do inimigo, cortaram os melhores cachos de uvas e as suas armas se espalharam por toda aquela terra, até Jazer, lá no deserto, e até à beira-mar. Por isso, gemo e me lamento por Jazer e pelas vinhas de Sibma. Derramo as minhas lágrimas, por causa de Hesbom e de Eleale, pois desapareceu a alegria dos teus frutos de verão e das tuas segas. Foi-se o júbilo e a alegria dos campos férteis! Nunca mais se ouvirão as canções dos vinhateiros! Acabou-se aquela festa que era o pisar das uvas nos lagares! Fiz cessar toda aquela alegria! Todas as minhas entranhas choram e se lamentam por Moabe. Estou profundamente triste, por causa de Quir-Haresete. O povo de Moabe virá a fazer angustiosas rezas aos seus ídolos, no cimo das colinas, mas isso não lhes servirá para nada. Implorarão aos seus deuses nos templos dos seus ídolos e nenhum deles virá salvá-los. Esta é a palavra que o Senhor outrora pronunciou contra Moabe. Agora o Senhor confirma que dentro de três anos, infalivelmente, a glória de Moabe acabará. Serão bem poucos e fracos os que ficarão do seu povo. Esta é a mensagem de Deus para Damasco, capital de Aram: “Vejam como Damasco acabou! Já não é mais uma cidade! É praticamente um montão de ruínas! As cidades de Aroer estão desertas. Só rebanhos se veem ali a pastar; os animais deitam-se sossegadamente, porque não há ninguém que os espante. A força de Israel e o poder de Damasco terão fim e os que ficarem de Aram serão destruídos, porque como a glória de Israel desapareceu, a deles certamente também desaparecerá, declara o Senhor dos exércitos. É verdade! A glória de Jacob tornar-se-á bem diminuta, quando a pobreza invadir a terra. Tornar-se-á numa terra tão abandonada como os campos de trigo do vale de Refaim. Muito poucos da sua gente serão poupados! Será como quando se sacodem as oliveiras e só fica nos ramos mais altos uma ou outra azeitona. Eis o que acontecerá com Damasco e com Israel, sacudidos e despojados, com exceção de alguns dos mais pobres que serão poupados!” Assim diz o Senhor, o Deus de Israel. Então, por fim, pensarão em Deus, o seu Criador, e se voltarão para o Santo de Israel. Não mais se dirigirão aos altares, pedindo socorro, nem adorarão mais aquilo que as suas próprias mãos fabricaram! Nunca mais prestarão culto às imagens de Achera e aos altares de incenso. Naquele tempo as suas cidades fortificadas serão como as cumeadas abandonadas dos amorreus, que eles abandonaram por causa dos israelitas; haverá desolação. E porque é que isto tudo se dará? Porque vocês abandonaram o Deus que vos salva, o rochedo que pode proteger-vos. Por isso, ainda que venham a plantar videiras importadas e de alta qualidade, e mesmo que tenha tanta vitalidade que chegue a crescer na manhã em que a semearem, mesmo assim nunca chegarão a colhê-la; irão colher unicamente fardos de tribulação e dolorosos sofrimentos. Reparem bem! Eis que se ouve o alvoroço de uma multidão de povos, como o rugir dos mares revoltosos. Este rugir das nações mais parece o agitar tempestuoso das grandes vagas do mar. No entanto, ainda que venham bramando como as vagas do mar que se quebram com violência contra a costa, Deus os silenciará. Acabarão por fugir como a palha levada pelo vento, como o pó da terra levantado em turbilhão por um vendaval. Ao anoitecer, Israel estará em pavor, mas pela manhã verá os seus inimigos mortos. Esta será a sorte dos que nos saqueiam e nos destroem. Ai da terra onde se ouve o zumbido dos gafanhotos, que fica para além dos rios de Cuche! Terra que envia embaixadores em barcos de junco pelo Nilo abaixo! Velozes mensageiros voltarão para ti, ó forte e ilustre nação, temida em toda a parte, nação que conquista e destrói, cuja terra o rio divide. Esta é a mensagem que te é dirigida: “Quando se levantar a bandeira sobre a montanha, que todo o mundo o saiba! Quando tocar a trombeta do ataque a Israel, que toda a gente preste atenção!” Porque o Senhor disse-me o seguinte: “Estarei a olhar serenamente desde a minha morada, como o calor do Sol a meio do dia ou como a nuvem de orvalho no calor da ceifa.” Antes que comecem o ataque, na altura em que os vossos planos estiverem a amadurecer como uvas na vinha, eu vos cortarei como uma tesoura de podar; cortarei os sarmentos e os ramos. O vosso poderoso exército será deixado morto no campo, para as aves de rapina e animais selvagens. As aves de rapina terão o que comer durante todo o verão; todos os animais da terra terão ossos para roer o inverno inteiro. Virá o tempo em que essa forte e poderosa nação, o terror de todos, de longe e de perto, essa nação de conquistas e destruição, cuja terra o rio divide, virá trazer ofertas ao Senhor dos exércitos, a Sião, o lugar onde ele pôs o seu nome. Esta é a mensagem de Deus referente ao Egito: Vejam, o Senhor está vindo contra o Egito, montado numa nuvem veloz. Os ídolos do Egito tremem. O coração dos egípcios derrete-se de medo. “Farei com que lutem um contra o outro; irmão contra irmão, vizinho contra vizinho, cidade contra cidade, província contra província. Os seus sábios conselheiros estão completamente confusos sem saber o que fazer. Rogam aos ídolos por sabedoria e fazem apelo aos médiuns, aos feiticeiros e aos adivinhos, para que lhes ensinem as medidas a tomar. Entregarei o Egito a um senhor duro e cruel; um rei despótico os governará”, diz Deus, o Senhor dos exércitos. As águas do rio Nilo deixarão de cobrir e irrigar os campos; a sua corrente esgotar-se-á e secará. Os seus canais cheirarão mal e as suas correntes diminuirão e secarão; encher-se-á de canas e juncos murchos. Tudo o que é verde, ao longo das margens, ficará sem vida e desaparecerá. Todas as sementeiras morrerão. Tudo morrerá. Os pescadores lamentar-se-ão pela falta de trabalho. Tanto os que pescam à linha como os que usam redes ficarão inativos. Os tecelões não terão nem linho nem algodão, porque os campos não terão produzido nada. Toda a gente, grandes e pequenos, assim como os trabalhadores que vivem dos seus salários, andará acabrunhada e triste. Como foram insensatos os conselheiros de Zoã! Tudo o que se lembram de dizer ao rei do Egito é apenas estupidez e asneiras. Será que mesmo assim continuarão a gabar-se da sua grande sabedoria? Ousarão ainda lembrar ao Faraó a longa linhagem de sábios de quem descendem? Que foi que aconteceu aos teus sábios conselheiros, ó Faraó? Para onde foi afinal a sabedoria deles? Se são assim tão sábios, que te digam o que o Senhor dos exércitos vai fazer ao Egito. Os sábios de Zoã são igualmente loucos e os de Menfis estão profundamente errados. Eles podem constituir a elite da sua sociedade, mas o certo é que arruinaram o Egito com os seus conselhos disparatados. O Senhor enviou-lhes um espírito de loucura, de forma que todas as suas sugestões são erradas; fazem com que o Egito ande incerto e a tropeçar como um bêbedo perdido. Não, o Egito não poderá ser salvo por coisa nenhuma nem por ninguém; não há quem possa mostrar-lhe o caminho. Nesse dia, os egípcios serão tão fracos como mulheres, tremendo de medo sob a mão estendida do Senhor dos exércitos. A terra de Judá será um terror para o Egito; todo o que mencionar Judá ficará trémulo de medo, pois o Senhor dos exércitos já estabeleceu os seus planos contra eles. Nesse tempo, haverá cinco cidades do Egito que tomarão a decisão de seguir o Senhor dos exércitos e começarão até a falar a língua dos hebreus. Uma delas será chamada a Cidade do Sol. Haverá um altar em honra do Senhor no coração do Egito, nesses dias, e um monumento ao Senhor na sua fronteira. Isto será um sinal de lealdade ao Senhor dos exércitos. Então, quando clamarem ao Senhor, pedindo ajuda contra aqueles que os oprimem, ele lhes enviará um salvador que os libertará. Nesse dia, o Senhor se dará a conhecer aos egípcios. Com efeito, eles ficarão a conhecer o Senhor e apresentar-lhe-ão sacrifícios e ofertas; farão promessas ao Senhor e cumpri-las-ão. O Senhor castigará o Egito, mas depois curá-lo-á! Porque os egípcios se voltarão para o Senhor e ele ouvirá as suas orações e os sarará. Naquele dia, o Egito e a Assíria estarão ligados por uma larga estrada; as populações de ambos poderão deslocar-se livremente entre um e o outro país e adorarão o mesmo Deus. Israel será aliado deles; juntar-se-ão os três e Israel será para eles uma bênção. Porque o Senhor dos exércitos abençoará o Egito e a Assíria, em razão da amizade que terão feito com o seu povo. E dir-lhes-á: “Bendito seja o Egito, meu povo! Bendita seja a Assíria, terra que eu fiz! Bendito seja Israel, a minha herança!” No ano em que Sargom, rei da Assíria, enviou o comandante supremo do seu exército contra Asdode, cidade da Filisteia, e a tomou, o Senhor disse a Isaías, o filho de Amós, que se despisse, que tirasse os sapatos e andasse assim nu e descalço. Isaías fez como lhe foi ordenado. Então o Senhor disse: “O meu servo Isaías, que tem andado despido e descalço nestes últimos três anos, é uma imagem das terríveis calamidades que vou enviar ao Egito e a Cuche. Porque o rei da Assíria virá levar os egípcios e os cuchitas como prisioneiros, fazendo-os andar nus e descalços, tanto jovens como velhos; andarão com as nádegas à mostra, para vergonha do Egito. Então ficarão aflitos os filisteus que contavam com o poder de Cuche, que descansavam no seu glorioso aliado, o Egito! E dirão nessa altura: ‘Se tal pode acontecer até ao Egito, qual não será a nossa sorte!’ ” Esta é a mensagem de Deus respeitante à Babilónia: “A desgraça aproxima-se, rugindo das bandas do horrível deserto, como se fosse um tufão soprando furiosamente do Negueve!” Estou a ter uma visão tremenda. Oh! Que horror que é isto tudo! Deus está a dizer-me o que vai fazer. Vejo-vos saqueados e destruídos. Serão os elamitas e os medos que tomarão parte no assalto. A Babilónia cairá e cessará enfim o clamor de todas as nações que escravizou. Até o meu próprio estômago se contrai, o meu íntimo se angustia; dores agudas me oprimem, como quando uma mulher está para dar à luz. A minha mente como que cambaleia e o meu coração bate descompassadamente; estou cativo dum terrível pavor. O descanso da noite, que para mim era tão sossegado, foi-se; fico a tremer sem conseguir dormir. Vejam! Estão a preparar um grande banquete! Enchem as mesas de comida, estendem os tapetes e preparam tudo para se instalarem em volta das mesas. Levantem-se, capitães, e preparem as armas! Entretanto, o Senhor disse-me: “Põe um vigia sobre a muralha da cidade, para que grite aquilo que vir. Quando vir cavaleiros aos pares montados em jumentos e em camelos, que diga: ‘Aqui está! É isto mesmo!’ ” Coloquei um vigia sobre a muralha e passado algum tempo ele gritou: “Senhor, tenho estado aqui no meu posto dia após dia e noite após noite. Agora sim, estou a ver cavaleiros aproximando-se aos pares!” Então ouvi uma voz a gritar: “Caiu a Babilónia, caiu! Todos os ídolos da Babilónia estão quebrados pelo chão!” Ó povo meu, batido e espancado, comuniquei-vos tudo quanto o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, disse. Esta é a mensagem de Deus para Edom: “Alguém do vosso meio me grita continuamente: ‘Guarda, que se passa de noite? Guarda, que se passa de noite? Quanto tempo ainda falta?’ E o guarda replica: ‘Está a amanhecer o dia do vosso julgamento. Voltem-se para Deus, para que possa dar-vos notícias mais encorajadoras. Procurem-no e então venham perguntar-me outra vez.’ ” Esta é a mensagem de Deus referente à Arábia: “Ó caravanas de Dedam, ainda terão de se esconder nos desertos da Arábia! Ó gente de Tema, venham trazer comida e água a estes cansados fugitivos! Eles estão a fugir das espadas nuas, das agudas flechas e dos horrores da guerra!” Assim me disse o Senhor: “Daqui a um ano, a grande força do inimigo deles, a poderosa tribo de Quedar, terminará. Apenas um pequeno número dos seus soldados atiradores sobreviverá.” Assim falou o Senhor, o Deus de Israel. Esta é a mensagem de Deus sobre o vale da Visão. O que é que está a acontecer? Onde é que vai toda a gente? Porque estão todos a subir para os telhados? Para onde é que estão a olhar? A cidade inteira encontra-se em plena agitação. Que se passa nesta ativa e feliz cidade? São corpos, mortos não por armas, nem na guerra. Todos os teus chefes estão a fugir ou rendem-se sem resistência. O povo esgueira-se e escapa como pode, mas acaba por ser igualmente capturado. Deixem-me sozinho a chorar amargamente. Não tentem consolar-me; deixem-me que chore pelo meu povo que está a ser liquidado. Oh! Que dia de tremenda desgraça! Dia de perturbação e de terror que nos mandou Deus, o Senhor dos exércitos! As muralhas de Jerusalém foram derrubadas e os gritos dos que vão morrer ecoam até junto às montanhas. Os que transportam as armas são elamitas e vêm com carros e cavalos; os homens de Quir são quem traz os escudos. E vêm enchendo os vossos melhores vales, juntando-se em magotes junto dos portões da cidade. É que Deus retirou a sua vigilante proteção! Vocês bem correm ao depósito das armas na casa da floresta! Bem inspecionam os muros da Cidade de David a ver se podem reparar e tapar as brechas! Ainda armazenaram as águas da piscina inferior! Vão mesmo ver que casas de Jerusalém poderiam derrubar, a fim de ter pedra para essas reparações. Entre as duas muralhas fazem um reservatório de água da piscina velha! Mas todos esses vossos precipitados planos de nada servirão, porque nunca pedem a ajuda de Deus, o qual permite que tudo isto vos aconteça. Pois foi ele quem planeou todas estas coisas já desde há muito tempo. Deus, o Senhor dos exércitos, bem insistiu convosco para que se arrependessem, que chorassem e se contristassem e rapassem a cabeça em sinal de pesar, por causa dos vossos pecados, e que se vestissem de saco para mostrar arrependimento. Em vez disso, mataram-se bois e cordeiros, cantaram, dançaram, divertiram-se em festas e beberetes. E diziam: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos!” Deus, o Senhor dos exércitos, revelou-me que este pecado nunca será perdoado, até ao dia da vossa morte. Além disso, Deus, o Senhor dos exércitos, falou-me o seguinte: “Vai dizer a Sebna, o administrador do palácio real: ‘Quem pensas tu ser, para teres mandado construir na rocha este belo sepulcro para ti mesmo? Eis que o Senhor te arrastará para longe e te mandará para o cativeiro, a ti, ó homem forte! Amachucar-te-á nas mãos, como se fosses um pedaço de trapo, e lançar-te-á para bem longe, para uma terra espaçosa, e aí morrerás tu, o grande senhor que desgraçou a sua nação! Sim, expulsar-te-ei das tuas funções, diz o Senhor, derrubar-te-ei da tua alta posição. Chamarei então o meu servo Eliaquim, filho de Hilquias, para te substituir. Vesti-lo-ei com a tua túnica, cingi-lo-ei com o teu cinto, colocarei nas suas mãos o teu poder. Será um pai para os habitantes de Jerusalém e para o reino de Judá. Porei sobre os seus ombros a chave da casa de David. O que ele abrir, ninguém poderá fechar; o que ele fechar, ninguém poderá abrir. Fixá-lo-ei como uma estaca em terreno firme e será um motivo de glória para a casa de seu pai. Será responsabilizado pela honra do nome da sua família.’ Quanto a essa estaca que parece tão segura em terreno firme, o Senhor dos exércitos a tirará! Será arrancada e abatida, arrastando atrás de si tudo quanto segurava.” Foi o Senhor quem o disse. Esta é a mensagem para Tiro: Chorem, ó navios de Társis que regressam a casa vindos de terras distantes! Chorem pelo vosso porto, porque desapareceu! Os rumores preocupantes que vos tinham chegado aos ouvidos em Chipre eram afinal certos! Pesa por toda a parte um silêncio de morte. A calma reina no vosso porto, onde antes fervilhava a agitação dos barcos que vinham de Sídon. Traziam mercadorias de além dos mares do Egito e do Nilo e vocês eram os donos do comércio dos mares e do mundo. Envergonha-te, Sídon, a fortaleza do mar! É o mar quem agora te diz: “Não tive dores de parto, nem dei à luz; não criei meninos, nem eduquei meninas!” Quando o Egito ouvir as notícias acerca de Tiro, haverá grande tristeza. Fujam a chorar para Társis, habitantes das costas marítimas! Estas ruínas silenciosas é tudo quanto resta da vossa terra que pulsava de alegria. Que triste história a vossa! Pensem só em todos os colonos que mandaram para terras tão longínquas! E afinal quem foi que trouxe tamanho desastre sobre Tiro, a cidade edificadora de impérios, a sede do comércio mundial? Foi o Senhor dos exércitos quem o ordenou, para destruir o vosso orgulho e opor a altivez dos homens. Façam-se ao mar, ó barcos de Társis, naveguem porque o vosso porto desapareceu! O Senhor estende a sua mão sobre os mares; faz tremer as nações da Terra. Ele falou contra esta grande cidade comercial, para desfazer a sua força. Diz ele: “Nunca mais, ó desonrada virgem, filha de Sídon, te alegrarás e serás forte. Ainda que fujas para Chipre, nem por isso encontrarás repouso.” Serão os caldeus e não os assírios, quem entregará Tiro aos animais selvagens. Sitiá-la-ão, arrasarão as suas fortalezas, farão dela um montão de ruínas. Uivem, navios que cruzam os oceanos, porque o vosso porto de abrigo foi destruído! Durante 70 anos, Tiro será esquecida. E então, nos dias doutro rei, a cidade voltará de novo à vida. Ao fim dos 70 anos, acontecerá a Tiro o que diz a Canção da Prostituta: “Toma a harpa, e percorre a cidade, ó prostituta esquecida! Toca o melhor que puderes e canta sem parar, para que se lembrem de ti!” Sim, após 70 anos, o Senhor fará reviver Tiro, mas não será diferente do que era antes! Tornará aos seus maus caminhos por onde andava em todo o mundo. Contudo, virá o tempo em que todos os seus grandes negócios trarão benefícios para o Senhor! Eles não serão entesourados, mas usados na aquisição do melhor alimento e da melhor roupa para aqueles que vivem na presença do Senhor! Vejam! O Senhor está a transtornar a Terra e a fazer dela uma vasta destruição! Reparem como a está a esvaziar inteiramente da sua população e a espalhá-la! Sacerdotes e povo, servos e senhores, escravas e patroas, gente que compra e que vende, gente que empresta e que pede emprestado, banqueiros e financeiros, ninguém será poupado. A Terra ficará completamente vazia e será pilhada, foi o Senhor quem o disse. Porque a Terra sofre por causa dos pecados do povo; vai perdendo vitalidade, as searas murcham, os céus recusam a chuva. A Terra foi profanada pelos seus habitantes. O povo transgrediu as leis de Deus, violaram os seus preceitos e quebraram a aliança eterna. Por essa razão, caiu sobre eles a maldição de Deus; são abandonados e destruídos pela seca; poucos resistirão a isto tudo. Todas as alegrias da vida desaparecerão; as vindimas cessarão e não haverá mais vinho novo; mesmo os que tinham um carácter folgazão não farão mais do que suspirar e gemer. Não se ouvirão mais os sons melodiosos da harpa e o ritmo alegre dos tambores. Acabaram-se os dias de alegria. Não haverá mais folguedos de vinho; as bebidas fortes se farão amargas na boca. A cidade está um caos. Cada casa, cada loja, está trancada a cadeado para impedir os assaltos. Nas ruas formam-se ajuntamentos de gente que pede vinho. A alegria é verdadeiramente uma coisa bem rara; o contentamento foi banido da Terra. A cidade foi deixada em ruínas; as portas de entrada foram derrubadas. Assim será na terra, entre todas as nações, como quando se usa a vara na oliveira ou se buscam os restos das uvas após a colheita. No entanto, todos esses que foram poupados gritarão e cantarão de alegria. Os que estão no ocidente, do lado do mar, louvarão a majestade do Senhor. Por isso, glorifiquem o Senhor desde o oriente! Nas costas marítimas proclamem o seu nome! Ele é o Senhor, o Deus de Israel! Ouvimos cantar desde as extremidades da Terra: “Glória ao justo!” Contudo, o meu coração está pesado de tristeza, porque o mal ainda prevalece e a desonestidade reina por toda a parte. O terror, a cova e a armadilha é o que vocês merecem, ó habitantes da Terra. Quando fugirem dos gritos de terror, cairão numa cova; se escaparem da cova, serão apanhados numa armadilha, porque esta destruição que vos cai em cima vem do céu. Até em baixo a Terra treme! Toda a Terra está profundamente perturbada e caótica; tudo está ao abandono e perdido. Ela cambaleia como um embriagado; parece uma tenda sacudida sob uma forte tempestade. Cairá e não mais se levantará, porque os seus pecados são de extrema gravidade. Nesse dia, o Senhor castigará os exércitos celestes, nos céus, assim como os reis orgulhosos na Terra. Serão cercados e feitos prisioneiros, postos numa masmorra até serem julgados e condenados. O Senhor dos exércitos porá o seu trono em Sião e governará gloriosamente em Jerusalém, na presença dos anciãos do povo. A sua glória será de tal maneira intensa que o esplendor do Sol e da Lua se esvanecerá. Ó Senhor, eu honrarei e louvarei o teu nome, porque és o meu Deus e fazes coisas tão maravilhosas! Coisas que planeaste há muito tempo e que realizaste agora tal como tinhas predito! Tornaste poderosas cidades em montões de ruínas. As mais poderosas fortalezas foram feitas num amontoado de pedregulhos. Em terras distantes, luxuosos palácios desapareceram e nunca mais serão reedificados. Por isso, fortes nações tremerão de medo na tua presença; nações cruéis obedecerão e glorificarão o teu nome. Mas para os pobres és um refúgio na tempestade, uma sombra no calor, a sua defesa contra gente sem misericórdia que contra eles investe como a chuva torrencial contra um muro de terra! Tal como a terra seca e quente é resfriada pela sombra das nuvens, assim esfriarás o orgulho desses povos tiranos. Aqui no monte Sião, em Jerusalém, o Senhor dos exércitos dará uma festa maravilhosa para todos os habitantes do mundo; um banquete excecional com deliciosa comida, carne escolhida, da melhor, e vinho do mais antigo, do mais puro. Por esse tempo, ele tirará a sombra de melancolia, a máscara de morte com que toda a gente na Terra anda encoberta. Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todos os rostos e fará desaparecer, de toda a Terra, a afronta que o seu povo tem suportado. Porque assim falou o Senhor. Nesse dia, o povo proclamará: “Este é o nosso Deus, aquele por quem esperávamos e ele nos salvou! Este é o Senhor em quem nós confiámos. Na sua salvação nos alegraremos e teremos satisfação!” A mão do Senhor ficará sobre o monte Sião e Moabe será esmagada como se fosse palha pisada que fica a apodrecer. Deus os empurrará e os afastará como o nadador que estende as mãos para nadar. Acabará com o seu orgulho e com todos os seus atos malvados. As altas muralhas de Moabe serão demolidas e feitas em pó. Ouçam como eles cantam! Naquele dia, toda a terra de Judá cantará este cântico: A nossa cidade é bem forte! Estamos protegidos pelas muralhas da salvação de Deus! Abram os portões para que por eles entre o povo reto que se mantém leal. Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti, porque confia em ti! Confiem sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha eterna! Ele humilha o altivo e derriba a orgulhosa cidade até ao pó. Ela é pisada pelos pobres, calcada pelos indefesos. Para os justos o caminho não é trabalhoso e escarpado, porque Deus lhes suaviza a estrada à sua frente. É através do caminho dos teus juízos que nós esperamos em ti, ó Senhor! O nosso maior desejo é glorificar o teu nome! Durante toda a noite te procuro; fervorosamente te busco, ó Deus! Só quando a tua justiça for aplicada na Terra é que as gentes deixarão a maldade e farão o que é reto. Ainda que te mostres bom para com os maus, isso não os fará serem mais justos. Até na terra de retidão continuam a praticar a maldade e não atentam para a tua grandeza, ó Senhor! Não ligam às tuas ameaças, nem lhes interessa que o teu punho já esteja estendido. Mostra-lhes o teu zelo para com o teu povo e talvez isso os envergonhe. Sim, os teus adversários arderão com o fogo que lhes reservas! Senhor, dás-nos a paz, porque tudo o que temos e somos vem de ti! Ó Senhor, nosso Deus, em tempos, outros senhores, que não tu, tiveram domínio sobre nós, mas agora é só a ti que adoramos. Aqueles que antes servimos morreram; foram-se e nunca voltarão à vida. Vieste contra eles e os destruíste; já há muito que estão esquecidos. Tu, Senhor, tornaste esta nação muito grande e assim manifestaste a tua glória. Aumentaste largamente as fronteiras da nossa terra! Senhor, na sua tristeza eles te procuraram; quando o teu castigo estava sobre eles, fizeram-te uma oração no seu íntimo. Como nos fez falta a tua presença, Senhor! Sofremos como uma mulher grávida que grita quando dá à luz e se torce com as dores de parto. Nós também nos torcemos em agonia, mas foi tudo em vão. Nenhuma salvação veio à Terra, nem nasceram novos habitantes do mundo. Mas os vossos mortos tornarão a viver e também o meu cadáver ressuscitará! Os que habitam no pó despertarão e cantarão de alegria, porque a luz da vida, da parte de Deus, descerá sobre eles como o orvalho. Vai para casa, meu povo, e fecha-te no quarto! Esconde-te por um pouco de tempo, até que a cólera do Senhor contra os teus inimigos tenha passado. Vejam! O Senhor já vem dos céus para castigar os povos da Terra pelos seus pecados. A Terra não esconderá mais os seus assassinos. O culpado será encontrado e castigado. Naquele dia, o Senhor tomará a sua terrível e aguda espada para castigar o monstro marinho, a veloz serpente, e matará esse tortuoso dragão do mar. No dia da libertação de Israel será cantado este hino: “Israel é a minha vinha; eu, o Senhor, cuidarei dela para que dê bom fruto; cada dia a regarei; dia e noite vigiarei para a guardar dos seus inimigos. A minha ira contra Israel já passou. Se encontrar espinhos e sarças perturbando-a, hei de queimá-los. A menos que esses meus inimigos se rendam e peçam a paz e a minha proteção.” Virá o tempo em que Jacob criará raízes, crescerá, desabrochará, florescerá e encherá a terra com os seus frutos! Terá Deus castigado Israel tanto como os seus inimigos? Não! Porque os seus inimigos foram literalmente devastados, mas Israel foi punido apenas por algum tempo e exilado para longe da sua terra como se tivesse sido soprado por um vento tempestuoso do leste. E porque fez Deus isso? Foi para tirar os seus pecados, para o despojar de todos os seus ídolos, de todos os seus altares de idolatria; altares onde nunca mais se adorará, postes ídolos de Achera e altares de incenso que não ficarão mais de pé. As suas cidades fortes, rodeadas de muralhas, ficarão vazias e silenciosas, as casas abandonadas e as ervas crescerão nas ruas, porque não serão pisadas; haverá bezerros pastando, por toda a parte, comendo os seus ramos e rebentos. O meu povo é como os ramos quebrados e secos duma árvore que servem apenas para arder sob uma panela de comida. São uma nação de loucos, um povo insensato e sem entendimento, porque se desviaram de Deus. Por isso, aquele que os criou não terá misericórdia deles, nem lhes mostrará piedade. Contudo, naquele dia o Senhor os juntará, um a um, colhendo-os como plantas selecionadas dum campo cujos limites são o rio Eufrates e as fronteiras do Egito. Nesse dia, ouvir-se-á tocar a grande trombeta e muitos que estavam já destinados a morrer no meio dos seus inimigos, na Assíria e no Egito, serão salvos e trazidos para Jerusalém, para adorarem o Senhor no monte santo. Ai da Samaria, rodeada pelo seu rico vale, coroa orgulhosa e o deleite dos bêbedos de Efraim! Ai da sua beleza passageira, o glorioso ornamento duma nação de gente caída nas valetas das ruas, vencida pelo vinho! Porque o Senhor enviará um poderoso exército contra vocês; será como uma tremenda saraivada que vos cairá em cima e vos abaterá até ao chão. A coroa soberba, o gozo dos ébrios de Efraim, será atirada ao chão e pisada aos pés dos seus inimigos. A sua beleza superficial, com todo aquele fértil vale a rodeá-la, desaparecerá de repente como o primeiro figo maduro que é rapidamente colhido e engolido. Então, por fim, o Senhor dos exércitos, ele próprio se tornará a sua glória, a coroa de beleza do seu povo, daqueles que escaparam. Ele dará aos seus juízes um grande desejo de justiça e uma grande coragem aos seus soldados, que se batem até à última gota de sangue, fazendo recuar o combate até às portas da cidade. No entanto, neste momento Jerusalém é governada por bêbedos! Os seus sacerdotes e os seus profetas cambaleiam, vacilam e tropeçam, cometendo erros e enganos absolutamente estúpidos. As suas mesas estão cobertas de vómito. Por toda a parte há sujidade. “Mas afinal quem pensa Isaías que é”, diz o povo, “para falar assim desta maneira? Seremos nós criancinhas que ainda mal sabem falar? Anda aqui a dar-nos sentenças e mais sentenças, sempre aos bocadinhos, uma linha de cada vez, em palavras muito simples!” Na verdade, por lábios estranhos e por outra língua falará a este povo. A quem disse: “Este é o lugar de descanso! Deem repouso ao que está cansado! Este é o lugar do alívio!” Mas não quiseram ouvir. Então o Senhor tornará a soletrar tudo novamente para eles, repetindo uma e outra vez em palavras muito simples. Mesmo assim, com essa mensagem simples e tão direta, eles tropeçarão e cairão, serão apanhados e capturados. Portanto, ouçam a palavra do Senhor, governantes escarnecedores que dominam o povo que está em Jerusalém: “Fizemos um pacto com a morte, uma aliança com o mundo dos mortos!”, dizem vocês. “Quando o flagelo destruidor passar não nos apanhará, porque fizemos da mentira o nosso refúgio e da falsidade um esconderijo!” Mas o Senhor Deus diz: “Eis que ponho em Sião a principal pedra da construção, uma pedra segura; será uma preciosa pedra de esquina, solidamente assentada. Aquele que nele crer não ficará ansioso. Pegarei na linha e no prumo da justiça para verificar a verticalidade da muralha que estão a construir. A saraiva varrerá o refúgio da mentira; uma avalanche inundará o esconderijo da falsidade. Anularei a vossa aliança com a morte e com o mundo dos mortos, de tal forma que, quando vier o flagelo destruidor, serão esmagados. Essa cheia tornará a vir, uma e outra vez, arrebatando-vos, até que por fim a força inconfundível da verdade dos meus avisos vos acordará.” A cama que fizeram é demasiado curta para se deitarem; os cobertores são muito curtos, não vos tapam o bastante. O Senhor virá de repente e com ira, como no monte Perazim e no vale de Gibeão, para fazer algo estranho e invulgar, para destruir o seu próprio povo! Por isso, não escarneçam mais, para que o vosso castigo não venha a tornar-se ainda mais duro; porque Deus, o Senhor dos exércitos, me disse duma forma muito clara que está decidido a esmagar-vos. Ouçam-me! Ouçam o que vos quero dizer! Será que um lavrador passa todo o tempo a lavrar sem nunca chegar a semear? Ficará ele o tempo todo a abrir sulcos na terra sem nunca vir a plantar? Não será que depois de nivelar o solo, acabará por plantar sementes, os grãos de nigela e depois os de cominho, o trigo, o milho miúdo e a cevada, nos regos convenientes, e o centeio nas margens? Ele bem sabe o que deve fazer, porque é Deus quem o ensina e lhe faz ver como são as coisas. Ele não debulha todos os grãos da mesma maneira. Um malho nunca é usado sobre a ervilhaca; bate-se antes com uma vara. Não se passa uma roda debulhadora sobre cominhos; sacodem-se antes, levemente, com um pau. O trigo esmiuça-se facilmente, por isso, não se trilha continuamente. O Senhor dos exércitos é um conselheiro maravilhoso e dá sabedoria ao lavrador. “Ai de Ariel, a cidade que David ocupou! Ano após ano fazem as vossas muitas ofertas e podem até acrescentá-las! Mas eu vos enviarei uma pesada sentença e haverá choro e tristeza. Jerusalém se tornará para mim como a antiga Ariel, uma fornalha de Deus. Eu serei o vosso inimigo. Rodearei Jerusalém e levantarei um cerco contra ela; construirei à sua volta pontes de ataque para a destruir. A tua voz será como um sopro, como um débil gemido, porque sairá debaixo da terra onde estás enterrada. No entanto, repentinamente, os teus implacáveis inimigos voarão para longe, como fino pó levado pelo vento. Num instante, eu, o Senhor dos exércitos, cairei sobre eles com raios, tremores de terra, tufões e fogo. Todas as nações que combatem Ariel desaparecerão como um sonho! Tal como uma pessoa a morrer de fome sonha com comida, mas continua esfomeada, e um indivíduo cheio de sede sonha com bebida, mas permanece enfraquecido e com sede ao acordar, assim acontecerá com a multidão das nações que lutam contra o monte Sião, que de maneira nenhuma alcançarão.” Estão admirados e incrédulos? Não acreditam nisso? Pois então, já que o querem, continuem assim cegos e vão por diante! O vosso entendimento está obtuso e não é do vinho! Cambaleiam, mas não é por terem bebido! É porque o Senhor derramou sobre vocês um espírito de profundo adormecimento; fechou os olhos dos vossos profetas e videntes. Por isso, todos estes acontecimentos futuros são como um livro fechado para eles. Dá-se esse livro a alguém que sabe ler e dirá: “Não posso lê-lo, está fechado e selado!” Dá-se a outra pessoa que não sabe ler e dirá: “Tenho pena, mas nem sequer sei ler!” Assim, o Senhor diz: “Este povo aproxima-se de mim com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Honra-me apenas com tradições humanas aprendidas de cor. Por isso, continuarei a fazer uma obra espantosa com eles; será destruída a sabedoria dos seus sábios e escondida a competência dos inteligentes.” Ai dos que tentam esconder os seus planos do Senhor! Que tentam agir às escuras, para que Deus não veja! “Quem poderá ver-nos?”, dizem para consigo mesmos. “Quem poderá saber disto?” Como é possível ser-se tão estúpido! Não será ele, o oleiro, muito maior do que vocês, os vasos de barro que ele faz? Serão vocês capazes de dizer: “Não foi ele quem nos fez!”? Uma máquina dirá do seu inventor: “Não percebe nada disto!”? Porventura o Líbano não se tornará num campo fértil e não se pensará que o campo fértil é uma floresta? Nesse dia, os surdos ouvirão as palavras do livro e os cegos, livres da escuridão e das trevas, as compreenderão. Os humildes serão cheios da alegria que vem do Senhor e os pobres rejubilarão no Santo de Israel. Os tiranos serão reduzidos a nada, os escarnecedores acabarão e os que conspiram o mal serão mortos: o violento, que briga com o seu próximo sem razão, os que, escondidos, fazem uma espera para bater no juiz que os sentenciou, e aqueles que são sempre desonestos e injustos. Esta é a razão por que o Senhor, que resgatou Abraão, diz aos descendentes de Jacob: “O meu povo não mais ficará envergonhado, nem a sua face se cobrirá de palidez. Porque, quando virem os seus filhos e o que vou fazer no meio deles, me reconhecerão como o Deus santo de Jacob e ficarão espantados. Louvarão o Santo de Israel e o adorarão! Os que andam no erro acreditarão na verdade e os que sempre refilam terão, enfim, o desejo de ser ensinados! Ai dos filhos rebeldes!”, diz o Senhor. “Pedem conselho a toda a gente menos a mim; fazem alianças, mas não pelo meu Espírito, acumulando os seus pecados! Porque foi sem me consultar que desceram ao Egito para procurar ajuda, confiando no Faraó para lhe pedir proteção. Mas a segurança do Faraó será a vossa vergonha e o refúgio à sombra do Egito a vossa humilhação. Ainda que o seu poder se estenda a Zoã e a Hanes, para onde enviou os príncipes de Judá, contudo, virá a servir-vos só para vergonha; de nenhum proveito vos será!” Vejam, a viagem vagarosa que fazem para o Egito, através desse terrível deserto, com jumentos e camelos carregados de toda a espécie de coisas ricas para pagar o auxílio do Egito! Lá vão eles, atravessando aquela zona árida e perigosa, onde vivem leões e rápidas víboras e serpentes venenosas. Afinal, o Egito nada lhes dará em troca, pois as promessas do Egito não têm valor nenhum! “Animal inútil” é como eu lhe chamo! Vai e escreve estas minhas palavras a respeito do Egito, para que fiquem escritas para sempre, até ao fim dos tempos, como um ato de acusação contra a descrença de Israel! Porque além de rebeldes, são teimosos! Não querem ouvir a Lei do Senhor! Dizem aos videntes: “Calem-se já! Não queremos mais dos vossos discursos!” Ou então: “Não queremos cá dessas coisas da verdade, assuntos desagradáveis! Queremos ouvir coisas mais suaves, mais aprazíveis, mesmo que não sejam bem a verdade, mesmo que sejam mentiras! Ponham de parte toda essa negrura! Saiam do caminho estreito! Estamos fartos de ouvir falar do Santo de Israel e de tudo o que ele diz!” Aqui está a resposta do Santo de Israel: “Visto que desprezam o que vos digo e acreditam mais na opressão e nas mentiras, cairão calamidades repentinamente sobre vocês. Será como um muro velho cheio de fendas e já meio a cair. De um momento para o outro desmorona-se e desfaz-se no chão. Deus vos desfará como um vaso rachado, sem misericórdia! Não ficará um só bocado aproveitável, que sirva sequer para apanhar brasas no fogo ou para trazer um pouco de água do poço.” É por isso que o Senhor Deus, o Santo de Israel, diz: “Só voltando para mim e confiando em mim serão salvos! No descanso e na confiança está a vossa força! Mas vocês não quiseram nada disso! ‘Não!’, dizem vocês. ‘Obteremos a ajuda do Egito que nos há de dar rápidos cavalos para podermos correr para a batalha.’ Se querem rapidez, hão de vê-la sim, mas será a dos vossos inimigos a perseguir-vos! Um só deles chegará a perseguir mil fugitivos! Cinco deles, apenas, conseguirão dispersar-vos e nem mesmo dois poderão fugir juntos! Serão como uma bandeira lá no cimo distante duma montanha!” Mesmo assim, o Senhor espera que se voltem para ele, para que possa mostrar-vos o seu amor. Porque o Senhor é um Deus de justiça e é fiel às suas promessas. Felizes serão todos aqueles que esperam pela ajuda dele! Ó meu povo de Sião, que habita em Jerusalém, não hão de chorar mais, porque Deus seguramente terá compaixão de vocês, perante os vossos rogos. Ele vai responder-vos. Mesmo tendo-vos dado o pão da adversidade e a água da aflição, ele será convosco para vos ensinar: os vossos mestres não se esconderão mais; vê-los-ão com os vossos próprios olhos. E se vierem a desviar-se do caminho de Deus e a seguir noutras direções, ouvirão então uma voz atrás de vocês dizendo: “Não! O caminho é este! Vão antes por aqui e nunca mais se desviem nem para um lado nem para o outro!” Hão de destruir todos os vossos ídolos de prata e as vossas imagens de ouro, deitando-as fora como coisas imundas, e até vos meterá nojo tocar-lhes. “Fora com isto daqui!”, dirão vocês. Nessa altura, Deus vos abençoará com chuva, na altura em que dela necessitarem, com maravilhosas colheitas e com ricas pastagens para o vosso gado. Os bois e os jumentinhos que ajudam a lavrar a terra comerão grão puro, limpo da palha pelo vento. Nesse dia, em que Deus intervier para destruir os vossos inimigos, em que as torres desabarem, dar-vos-á correntes de água que jorrarão de cada montanha, de cada colina. A Lua será tão luminosa como o Sol e a luz deste tão intensa como o brilho de sete dias juntos! Será pois assim, quando o Senhor começar a curar o seu povo e a sarar as chagas com que o feriu. Reparem, que o nome do Senhor vem de longe, ardendo em ira, rodeado duma espessa nuvem de fumo! Os seus lábios estão cheios de indignação! As suas palavras são um fogo consumidor! A sua ira jorra como uma torrente sobre os povos, para os varrer para bem longe. Ele peneirará as nações orgulhosas; pôr-lhes-á um freio que as fará extraviarem-se. Contudo, o povo de Deus cantará cânticos de santa alegria, como nas reuniões de culto ou como quando se realizam celebrações solenes de adoração. O seu povo terá alegria no coração, como quando o flautista conduz uma peregrinação de Jerusalém até à montanha do Senhor, a rocha de Israel. E o Senhor fará ouvir a sua voz majestosa e gloriosa e deixará cair o seu poderoso e forte braço sobre os seus inimigos, com forte indignação, com chamas devoradoras, com ciclones, fortes tempestades e tremendas saraivadas. A voz do Senhor desfará os Assírios que na sua mão tinham sido uma vara de castigo. E por cada açoite que o Senhor fizer cair sobre eles, o seu povo se alegrará com música e cânticos; com golpes do seu braço os combaterá. Tofete está pronto, desde há muito tempo, preparado para o rei. É bem alta a pilha de lenha, numa cova profunda e larga, com muito fogo. O sopro do Senhor, semelhante ao fogo dum vulcão, a incendiará. Ai daqueles que fogem para o Egito, procurando ajuda, confiando na sua poderosa cavalaria e nos seus carros de combate, em vez de olharem para o Santo de Israel e de o consultar! Na sua sabedoria, Deus enviará grandes males ao seu povo e não mudará de ideias. Levantar-se-á contra eles, por causa do mal que fizeram, e esmagará também os seus aliados. Esses egípcios são meros homens que não podem substituir Deus! Os seus cavalos são simplesmente carne e não poderosos espíritos! Quando o Senhor fechar o seu punho contra eles, cambalearão e cairão, ali mesmo no meio daqueles que pretendiam ajudar, acabando todos por cair juntos. O Senhor disse-me o seguinte: “Quando um leão, mesmo que seja um leãozinho, mata uma ovelha, não liga ao barulho e aos gritos que faz o pastor; continua e come a presa. Da mesma maneira, o Senhor dos exércitos virá e lutará pelo monte Sião; não se deixará atemorizar! Ele, o Senhor dos exércitos, pairará sobre Jerusalém, tal como as aves pairam sobre os ninhos para os defender, e assim protegerá e livrará a cidade.” É verdade, ó meu povo, que vocês são profundamente rebeldes, mas peço-vos que se voltem para Deus! Eu sei que ainda há de vir o dia glorioso em que cada um lançará para longe os seus ídolos de ouro, as imagens de prata que fizeram com as vossas próprias mãos e que são um pecado. “Os Assírios serão destruídos, mas não por armas humanas. A espada de Deus os liquidará. Entrarão em pânico e fugirão; a forte mocidade assíria será tomada cativa, eles tornar-se-ão escravos. Até mesmo os seus generais e chefes militares tremerão de terror e debandarão, quando virem as bandeiras de guerra de Israel!” Isto diz o Senhor que tem o seu fogo em Sião e a sua fornalha em Jerusalém. Eis que um rei justo está para vir; estará acompanhado de governadores honestos. Cada um será como um abrigo contra o vento, como um refúgio contra a tempestade. Refrescarão como um rio no deserto ou como a sombra duma grande rocha numa terra seca. Então os olhos dos que podem ver não mais estarão fechados e os ouvidos dos que podem escutar se abrirão para ouvir. Até os insensatos ficarão cheios de entendimento e aqueles que gaguejam passarão a exprimir-se com clareza. Nesses dias, os descrentes não mais serão como gente liberal. Os ricos que são fraudulentos não serão mais considerados generosos. Toda a gente reconhecerá logo um insensato, quando o vir. O seu coração pratica a iniquidade, age impiedosamente e profere mentiras contra o Senhor; deixa o faminto sem alimento e priva o sedento de matar sua sede. O mesmo acontecerá com os hábeis truques que usa a gente má e as falsidades que inventam para explorar os pobres, mesmo nos tribunais. Mas os retos serão generosos com o seu próximo e Deus os abençoará por tudo quanto fizerem. Ouçam, vocês mulheres que descansam por aí despreocupadamente! Ouçam-me e eu vos direi qual há de ser a vossa paga! Dentro em breve, dentro de pouco mais de um ano, deixarão de se sentir tão seguras. Começarão a ficar bem preocupadas, pois a colheita dos frutos que esperavam terá falhado completamente e nem sequer haverá ceifa. Por isso, tremam, ó mulheres que aí estão tão descansadas, pois não se justifica a vossa despreocupação! Rasguem antes a vossa bela e delicada roupa e vistam-se de saco como prova de contrição! Batam no peito pelo desespero de verem perder-se as vossas belas propriedades e as belas vinhas que já se foram! Todas estas terras que foram vossas não produzirão mais do que espinhos e sarças. Desaparecerão igualmente os vossos lares confortáveis, as felizes cidades onde viviam. As fortalezas, os ricos solares ficarão desertos e as cidades populosas acabarão vazias de gente. Jumentos monteses e animais selvagens pastarão nas colinas onde se levantavam as torres dos guardas. Até que lá do céu se derrame sobre nós o Espírito. Então as terras desertas se tornarão de novo campos férteis com enormes searas. Então a justiça dominará nas terras que estavam desertas e reinará nos campos férteis. Como efeito da justiça, haverá paz, assim como repouso e segurança para sempre. O meu povo viverá descansadamente em segurança nos seus lares. Mesmo que haja saraivada sobre a floresta e as suas cidades sejam derrubadas. Deus abençoará grandemente o seu povo. Seja onde for que semearem, ricas searas crescerão; os seus rebanhos, o seu gado, pastarão em esplêndidas pastagens verdes. Ai de vocês, assírios, que tudo destruíram à vossa volta e nunca sentiram o efeito dessa destruição! Contam que os outros respeitem as promessas que vos fizeram e vocês próprios são os primeiros a faltar à palavra dada! Agora serão vocês traídos e destruídos! Quanto a nós, ó Senhor, pedimos-te que sejas misericordioso, porque esperámos por ti. Sê a cada manhã, a nossa força e a nossa salvação no tempo de aflição. O inimigo foge ao som da tua voz. Quando te levantas, as nações fogem. Como gafanhotos em bandos, caindo sobre os campos e sobre as vinhas, que tudo devastam, assim Jerusalém saqueará o derrotado exército da Assíria. O Senhor é grande, pois habita lá no alto! Fará de Sião o lar da justiça, da bondade e da retidão. Haverá estabilidade e reservas seguras e abundantes de salvação para Judá, assim como de sabedoria, de conhecimento e de temor ao Senhor. Presentemente, os teus embaixadores choram com amargo pranto, porque a Assíria recusou o clamor de paz que lhe foi dirigido. As tuas estradas estão abandonadas e em estado lamentável; os viajantes que por elas pretendem passar preferem tomar atalhos. Os Assírios violaram o seu tratado de paz e desprezam em absoluto as promessas feitas na presença de testemunhas; não têm respeito por ninguém. Toda a terra de Israel está perturbada; o Líbano foi destruído; Sarom tornou-se uma terra desabitada; Basã e Carmelo foram pilhados. Agora o Senhor diz: “Levantar-me-ei e mostrarei o meu poder e a minha força! Vocês, Assírios, nada ganharão com todos os vossos esforços! A vossa própria respiração se tornará fogo e vos matará! Os vossos exércitos arderão como cal, como espinheiros que se arrancam e lançam no fogo. Ouçam o que eu fiz, ó nações distantes! Vocês também, que estão perto, reconheçam o meu poder! Os pecadores em Sião tremem de medo. ‘Quem é que de nós’, clamam eles, ‘pode aqui viver na presença deste eterno fogo consumidor?’ Eu vos direi quem é que pode aqui viver. Todos os que são honestos e retos, que rejeitam lucros de atos fraudulentos, que fecham as mãos ao suborno, que recusam dar ouvidos a conspirações de assassínios, que desviam os olhos de tudo o que os incita a praticar o mal. São estes os que poderão aqui viver! As rochas das montanhas serão as suas fortalezas e nunca lhes faltará nem alimento nem água, toda a que desejarem! Os vossos olhos verão o rei na sua majestade, assim como as terras distantes lá do céu. Recordarás este tempo de terror em que os oficiais assírios, do lado de fora dos muros, contam as tuas torres, fazendo estimativas de tudo quanto obterão da tua cidade conquistada. Mas dum momento para o outro eles ir-se-ão. Este terrível e violento povo, com a sua língua estranha e incompreensível, desaparecerá.” Quando olhares para Jerusalém, quando vires Sião, a cidade das nossas festas, parecer-te-á uma morada tranquila, uma tenda bem fixada, cujas estacas nunca mais serão arrancadas e cujas cordas não serão retiradas. Ali o Senhor glorioso será para nós como uma fronteira formada por um largo rio de proteção, que nenhum inimigo poderá atravessar. Pois o Senhor é o nosso juiz, o nosso legislador e o nosso rei! Ele cuidará de nós e nos salvará! As velas dos navios inimigos pendem soltas de mastros quebrados; as amarras estão inutilizadas. Os seus tesouros serão partilhados pelo povo de Deus; até os coxos terão a sua parte. O povo de Israel não dirá mais: “Estamos doentes e desamparados!”, porque Deus lhes perdoará os pecados e os abençoará. Cheguem-se e ouçam, nações da Terra! Que o mundo, e tudo o que nele existe, ouça as minhas palavras! O Senhor está extremamente indignado contra os povos. A sua ira dirige-se especialmente contra os seus exércitos. Por isso, os destruirá completamente e os entregará à matança. Os seus mortos serão deixados até sem serem enterrados; o mau cheiro dos corpos a apodrecer encherá a terra e dos montes escorrerá o seu sangue. Por esse tempo, os céus em cima como que se derreterão e desaparecerão; serão como um rolo que se enrola. As estrelas cairão como folhas secas da videira e da figueira. “Quando a minha espada tiver acabado o seu trabalho nos céus, então deem atenção, porque será a altura de cair sobre Edom, o povo que eu amaldiçoei.” A espada do Senhor está cheia de sangue; ela está coberta de gordura, e do sangue dos cordeiros e dos bodes, e também da gordura das entranhas dos carneiros. Porque, na verdade, o Senhor executará um enorme sacrifício em Edom, fará uma tremenda matança na cidade de Bozra. Até os melhores dos mais fortes morrerão, além dos jovens e dos veteranos. A terra ficará embriagada de sangue e o solo ficará mais rico, por causa de toda aquela gordura. Porque chegou, enfim, o dia da vingança, o ano da recompensa por tudo aquilo que Edom fez a Sião. Os ribeiros de Edom se encherão de alcatrão, a terra cobrir-se-á de fogo. A aplicação desta pena sobre Edom nunca mais terminará; aquele fumo subirá para sempre. A terra permanecerá deserta por todas as gerações; ninguém nunca mais ali viverá; só corujas do deserto e porcos-espinhos, corujões-orelhudos e corvos. Deus fará um juízo sobre esta terra e chegará à conclusão que é digna de ser destruída. Julgará os seus responsáveis e verá que são dignos de morte. Será chamada terra de ninguém e todos os seus príncipes terão desaparecido num instante. Nas suas fortalezas passarão a crescer só espinhos; ortigas e cardos é o que haverá nas fortificações; tornar-se-á a habitação de chacais, o poiso de corujas do deserto. Os animais selvagens dos desertos ali se misturarão com lobos e hienas e os seus gritos encherão as noites. Animais noturnos chamar-se-ão lugubremente uns aos outros e até os demónios ali irão para descansar. As corujas porão naquele lugar os seus ovos, terão crias e delas cuidarão. Também os milhafres virão aos pares para ali acasalarem. Procurem no livro do Senhor e vejam tudo quanto irá fazer; nem um só detalhe falhará, nem um só milhafre estará ali sem o seu macho. Porque foi o Senhor quem o disse e o seu Espírito faz com que tudo venha a verificar-se. Porque ele próprio inspecionou a terra, repartiu-a e deixou-a em legado a essas sinistras criaturas, as quais a ocuparão para sempre, por todas as gerações. Até os desertos e as terras áridas e desoladas se hão de alegrar nesses dias! O deserto tornar-se-á todo florido de rosas! É verdade! Ali haverá abundância de flores, música e alegria! Todas essas terras se tornarão tão verdes como as montanhas do Líbano, tão encantadoras como as pastagens do monte Carmelo e os prados de Sarom. O Senhor fará ali uma demonstração espetacular da sua glória, da excelência do nosso Deus. Que estas notícias possam comunicar ânimo e alegria aos desencorajados, cujas mãos estão fracas, cujos joelhos tremem! Digam aos que têm medo no coração: “Esforcem-se! Nada receiem, porque o vosso Deus está a vir para destruir os vossos inimigos, para vos salvar!” Quando chegar, abrirá os olhos aos cegos e os ouvidos aos surdos. Os coxos saltarão como pequenos veados e os mudos cantarão a plenos pulmões. O chão ressequido se tornará num tanque, devido à abundância de água; os terrenos áridos estarão cheios de fontes, jorrando água abundantemente. Onde apenas viviam chacais, só se verão juncos e canaviais! Uma importante estrada atravessará o que antes não passava de uma terra desértica; será chamada Caminho Santo. Nenhum coração malvado caminhará por ela. Deus andará convosco e nem os de fraca inteligência poderão enganar-se no caminho! Não haverá ali leão ou animal feroz que possa atacar alguém. Ninguém se encontrará com eles. Só os redimidos andarão por esse caminho. Estes, os que o Senhor resgatou, regressarão a Sião cantando e com uma alegria perpétua brilhando no seu rosto. Estarão cheios de júbilo e gozo. A tristeza e o abatimento desaparecerão. No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaqueribe, rei da Assíria, veio combater contra todas as cidades fortificadas de Judá e tomou-as. Depois enviou o seu representante pessoal com um grande exército de Laquis para conferenciar com o rei Ezequias em Jerusalém. Fez acampar o exército junto ao aqueduto das águas do reservatório superior, ao longo do caminho que vai para o campo das lavadeiras. Então Eliaquim, filho de Hilquias, que era o primeiro-ministro, acompanhado de Sebna, escrivão do rei, e de Joá, filho de Asafe, secretário real, formaram entre si uma comissão que saiu da cidade para se encontrar com o enviado da Assíria. Então o general assírio enviou o seguinte recado ao rei Ezequias: “O poderoso rei da Assíria diz-te que és um louco ao pensares que o rei do Egito te poderá ajudar. Pensas que a estratégia e a valentia militares são apenas uma questão de palavras? Em quem confias para te revoltares contra mim? No Egito? Se te apoias no Egito, vais verificar que essa nação é como um pau que logo se quebra, quando nos apoiamos nele, e que acaba por nos perfurar a mão. O Faraó egípcio não inspira confiança alguma! Talvez também estejas a dizer: ‘Nós confiamos no Senhor, nosso Deus!’ Então não é esse aquele que o vosso rei insultou, deitando abaixo os seus santuários e os altares sobre as colinas, obrigando toda a gente de Judá a adorar em Jerusalém e a usar unicamente o altar do templo? O meu mestre, o rei da Assíria, propõe-vos o seguinte negócio: se conseguirem arranjar 2000 homens, do que ficou de todo o vosso exército, ele dá-vos outros tantos cavalos para que os montem! Assim, como poderás resistir a um oficial do meu senhor, mesmo que seja um dos menores, quando estás confiante que o Egito te fornecerá carros e cavaleiros? E mais ainda, julgas que vim aqui sem que tivesse sido o Senhor a dizer para tomar esta terra? Foi mesmo o Senhor quem me disse: ‘Vai e destrói-a!’ ” Então Eliaquim, Sebna e Joá responderam-lhe: “Pedimos-te que fales em aramaico, porque compreendemos esse idioma. Não uses o hebraico, para que o povo que está sobre as muralhas não perceba.” O general assírio retorquiu: “O meu senhor não me mandou apenas para vos falar a vocês, mas também a essa gente que está em cima da muralha. É que eles estão também condenados a ingerirem o seu próprio esterco e a sua urina!” Logo a seguir, o embaixador levantou a voz e falou, em hebraico, ao povo que ali estava: “Ouçam o que vos diz o grande rei da Assíria: ‘Não se deixem enganar por Ezequias; ele não será capaz de vos salvar! Não lhe deem ouvidos, quando vos disser para confiarem no Senhor, e que o Senhor não permitirá que sejam conquistados pelo rei da Assíria!’ Não ouçam Ezequias! Vejam antes o que o rei da Assíria vos oferece: Primeiro devem trazer-me um presente em sinal de rendição e aliarem-se a mim. Depois abram todas as portas da cidade e saiam; deixarei que cada um tenha a sua própria casa, com a sua videira e a sua figueira. Isto até que eu tenha conseguido organizar a vossa ida para uma terra muito semelhante a esta, uma terra de belas searas e de belas vinhas, uma terra de abundância. Não deixem que Ezequias vos defraude, garantindo que o Senhor vos livrará dos meus exércitos. Algum dos deuses das outras nações alguma vez conseguiu livrar o seu povo do rei da Assíria? Não se lembram do que fiz a Hamate e a Arpade? Os seus deuses alguma vez puderam salvá-los? E quanto a Sefarvaim? Foram eles capazes de proteger Samaria? Qual foi o deus que, em alguma ocasião, teve poder para preservar uma nação da minha força? O que é que vos leva a pensar que o Senhor pode salvar Jerusalém?” O povo permaneceu calado e não lhe respondeu uma só palavra, pois Ezequias tinha-lhes dito para nada retorquirem. Então Eliaquim, filho de Hilquias, administrador do palácio, assim como Sebna, escrivão real, e Joá, filho de Asafe, o cronista da corte, voltaram para junto de Ezequias com as suas vestes rasgadas em sinal de profunda tristeza e contaram-lhe tudo o que o general assírio lhes dissera. Quando o rei Ezequias ouviu o relatório que eles lhe fizeram, rasgou a roupa que trazia vestida, cobriu-se com pano de saco e dirigiu-se ao templo para orar. Disse a Eliaquim, a Sebna e a alguns dos sacerdotes mais velhos para se cobrirem igualmente com pano de saco e irem ter com o profeta Isaías, o filho de Amós, com a seguinte mensagem: “O rei Ezequias manda dizer: ‘Hoje foi um dia de angústia, desonra e blasfémia. É como se uma criança estivesse prestes a nascer e a mãe não tivesse forças para dar à luz. Mas pode bem ser que o Senhor, teu Deus, tenha ouvido os insultos provocatórios do general assírio, dirigidos ao Deus vivo, e o castigue. Oh! Pedimos-te que ores pelos poucos de entre nós que ainda restamos!’ ” Esta foi a mensagem que trouxeram a Isaías. Então Isaías respondeu assim: “Digam ao rei Ezequias que o Senhor lhe transmite o seguinte: ‘Não te deixes perturbar por esse discurso do servo do rei da Assíria e pelas suas blasfémias. O rei da Assíria receberá uma notícia em como é requerida, com urgência, a sua presença no país; ele regressará e farei com que o matem ali.’ ” O delegado assírio deixou Jerusalém para ir consultar o seu rei que, entretanto, já tinha deixado Laquis e se encontrava a combater em Libna. Pouco tempo depois, trouxeram ao rei assírio a notícia que o rei Tiraca de Cuche se aproximava para o atacar. Mas antes de partir para esse encontro bélico, enviou ainda esta mensagem ao rei Ezequias: “Não te deixes enganar pelo teu Deus em quem confias. Não acredites naquilo que ele te disse que não hei de conquistar Jerusalém. Sabes perfeitamente o que os reis da Assíria fizeram por toda a parte onde têm andado; têm destruído tudo. Porque é que haveria de ser diferente contigo? Alguma vez os deuses das outras nações as livraram? Nações como Gozã, Harã, Rezefe e Éden, da terra de Telessar, os anteriores reis assírios destruíram-nas a todas! Que foi que aconteceu ao rei de Hamate e ao rei de Arpade? Que aconteceu com os reis de Sefarvaim, Hena e Iva?” Ezequias abriu a carta que os mensageiros lhe entregaram e leu-a. Depois dirigiu-se ao templo e apresentou-a perante o Senhor. E orou ao Senhor do seguinte modo: “Ó Senhor dos exércitos, Deus de Israel, que habitas entre os querubins, só tu és o Deus de todos os povos da Terra! Tu fizeste os céus e a Terra! Ouve a minha súplica. Inclina os teus olhos para mim e ouve a minha oração. Vê esta carta do rei Senaqueribe, uma autêntica afronta a ti, o Deus vivo! É verdade, ó Senhor, que os reis da Assíria têm destruído todas essas nações, como diz a carta. Queimaram os seus ídolos, mas não eram deuses nenhuns! Foram destruídos porque eram meros objetos fabricados por homens com madeira e pedra. Agora, ó Senhor, nosso Deus, imploramos-te que nos salves do seu poder e então todos os soberanos da Terra saberão que só tu, Senhor, és Deus!” Então Isaías, o filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: “O Senhor, o Deus de Israel, diz o seguinte: ‘Esta é a minha resposta à tua oração sobre Senaqueribe o rei da Assíria. Esta é a resposta que dou ao rei Senaqueribe: A virgem, filha de Sião, não tem medo de ti! A filha de Jerusalém ri-se francamente de ti. Viste bem quem é que desafiaste e quem é que insultaste? Dás-te conta de para quem é que ousaste levantar os olhos com arrogância? Foi para o Santo Deus de Israel! Vanglorias-te, dizendo: “Os meus carros de guerra conquistaram as mais poderosas fortalezas! Sim, nem os mais altos cimos do Líbano são inexpugnáveis para mim! Deitei abaixo cedros gigantes e ciprestes maravilhosos! O meu domínio estende-se às fronteiras mais longínquas! Refresquei-me e matei a sede nos mais variados cursos de água de terras estranhas! Destruí a força do Egito com a planta dos pés!” Ainda não compreendeste que fui eu quem decidiu, há muito tempo, que tudo isso acontecesse e que fui eu quem te deu todo esse poder e que fiz com que tudo se realizasse segundo o que tinha planeado? Os meus planos eram precisamente que derrubasses cidades fortemente muradas e as tornasses em montões de ruínas. Eis a razão por que as nações que conquistaste não tiveram poder para te resistir, antes se fizeram como a erva do campo, murchando debaixo dum calor ardente, como trigo que se queima antes de ficar maduro. Eu conheço-te muito bem; estou ao corrente de todas as tuas idas e vindas, de tudo o que fazes; vi bem a tua raiva contra mim. Por causa da arrogância que mostraste a meu respeito, vou pôr-te um gancho no nariz, um freio nos dentes e fazer-te dar meia volta no caminho em que vieste.’ ” Então Deus disse a Ezequias: “Esta será a prova em como sou eu mesmo quem está a libertar a vossa cidade das mãos do rei da Assíria: Ainda este ano ele levantará o cerco e mesmo que seja já demasiado tarde para a sementeira, o grão que nasceu espontaneamente neste outono dar-te-á bastante semente para obteres uma colheita reduzida no próximo ano. Daqui a dois anos já poderão semear e ceifar o vosso trigo, e plantar vinhas e fazer a vindima. Os que foram deixados em Judá tomarão de novo raízes no vosso próprio solo; florescerão e se mulplicarão. Porque sairá um resto de Jerusalém e do monte Sião, para repovoar a terra. É o zelo do Senhor dos exércitos que fará com que tudo isto aconteça! Quanto ao rei da Assíria, o seu exército não chegará a entrar em Jerusalém, nem disparará ali as suas armas, nem mesmo desfilará perante as suas portas, nem sequer construirá uma torre para poder atacar as suas muralhas. Regressará à sua terra pelo caminho por onde veio, sem ter penetrado na cidade, diz o Senhor. Eu defenderei e salvarei esta cidade, por causa do meu nome e por causa do meu servo David!” O anjo do Senhor veio até ao campo dos assírios e matou 185 000 soldados das tropas assírias. Pela manhã, viam-se corpos mortos estendidos por toda a parte. Então o rei Senaqueribe da Assíria regressou a Nínive. Um dia, enquanto adorava no templo do deus Nisroque, os seus filhos Adrameleque e Sarezer mataram-no à espada, fugindo em seguida para a terra de Ararat. O seu filho Esar-Hadom ascendeu ao trono. Ezequias adoeceu gravemente, ficando às portas da morte. O profeta Isaías veio visitá-lo. “Põe todos os teus assuntos em ordem”, disse-lhe Isaías, “e prepara-te para morreres. O Senhor manda dizer-te que não recuperarás a saúde.” Ezequias voltou-se para o lado da parede e orou assim ao Senhor: “Ó Senhor, lembra-te de como eu tenho sido honesto e sincero contigo e como procurei obedecer a tudo o que tens dito!” E começou a chorar intensamente. Então o Senhor mandou outra mensagem a Isaías: “Vai dizer a Ezequias: O Senhor, o Deus de David, teu antepassado, ouviu a tua oração, viu as tuas lágrimas e deixar-te-á viver mais 15 anos. Livrar-te-ei, a ti e a esta cidade, do rei da Assíria; defenderei esta cidade. E esta é a prova daquilo que digo: Farei com que o Sol recue 10 graus, segundo o relógio de sol de Acaz.” E o Sol recuou 10 graus. Quando o rei Ezequias se restabeleceu, escreveu este poema sobre a sua experiência: “Disse no meu íntimo: vivi metade da minha vida e tenho de deixar tudo. Ficarei privado do resto dos meus anos e terei de passar as portas do mundo dos mortos. Nunca mais tornarei a ver o Senhor na terra dos vivos. Nunca mais verei os meus amigos neste mundo. A minha vida acaba e desfaz-se como a tenda dum pastor, como a obra dum tecelão quando chega ao fim. De um dia para o outro, a minha vida está a ser consumida. Passei toda a noite a gemer; era como se um leão me estivesse a partir os ossos. De um dia para o outro, a minha vida está a ser consumida. No meu delírio chilreava como um grou ou uma andorinha, gemia como uma pomba. Levantava os olhos para cima, pedindo ajuda. Ó Senhor, gritava eu, estou angustiado! Socorre-me!” Mas que tenho eu a dizer? Porque foi ele próprio quem me mandou esta doença. Todo o meu sono desapareceu, por causa da amargura do meu coração. Ó Senhor, a tua disciplina é boa, dá vida e saúde. Cura-me e faz com que eu viva! Agora já compreendo tudo! Foi bom para mim passar por toda esta aflição, porque me livraste carinhosamente da morte; perdoaste todos os meus pecados. Visto que os mortos não te podem louvar, não podem ficar cheios de esperança e de alegria. Os vivos, só os vivos, podem louvar-te como eu estou a fazer agora. A nossa geração dará a conhecer à seguinte a tua fidelidade. O Senhor veio salvar-me! Todos os dias da minha vida, de agora em diante, cantarei hinos de louvor no templo, acompanhado de instrumentos musicais. Isaías tinha dito aos criados de Ezequias: “Façam uma pomada de figos e ponham-na sobre a chaga e ele sarará.” Ezequias, nessa altura, até tinha perguntado: “Que sinal me dará o Senhor como prova de que estarei com condições para ir ao templo?” Pouco tempo depois, Merodaque-Baladã, filho do rei Baladã da Babilónia, enviou embaixadores com cartas e um presente a Ezequias, porque tinha ouvido dizer que estivera muito doente e que já estava restabelecido. Ezequias apreciou muito este gesto e quis levar os delegados da Babilónia a visitar o seu palácio, mostrando-lhes inclusivamente a casa do tesouro, cheia de peças de prata e de ouro, de especiarias raras e dos melhores perfumes. Levou-os ainda à casa das armas e mostrou-lhes tudo; não lhes escondeu nada; abriu-lhes todas as portas. Então o profeta Isaías foi ter com o rei e disse-lhe: “Donde vieram esses homens? Que foi que te disseram?” Ezequias respondeu: “Vieram de muito longe! Vieram da Babilónia!” “Que foi que eles viram do teu palácio?”, perguntou Isaías. “Viram tudo! Mostrei-lhes todos os meus tesouros.” “Ouve-me!”, disse-lhe Isaías. “Dá atenção à palavra do Senhor dos exércitos: Há de vir a altura em que tudo neste palácio será transportado para a Babilónia. Todos os tesouros dos teus antepassados serão levados; nada ficará aqui. Alguns dos teus filhos até serão feitos escravos. Sim, eunucos, do palácio do rei da Babilónia.” “Essa é uma boa notícia da parte do Senhor ”, respondeu Ezequias. Porque pensou: “Pelo menos, haverá paz e segurança durante a minha vida!” “Consolem o meu povo, diz o vosso Deus. Falem ternamente a Jerusalém e digam-lhe que os seus dias de tristeza já se foram. Os seus pecados são perdoados e já recebeu do Senhor o dobro do castigo pelos seus pecados.” Ouçam! Eu ouvi a voz de alguém gritando: “Façam um caminho para o Senhor no deserto. Façam um caminho direito para o nosso Deus. Sejam levantados os vales e nivelados todos os montes e colinas; sejam aplanados os caminhos tortuosos da montanha, limpas as veredas pedregosas e tapadas as suas covas. A glória do Senhor será vista por toda a raça humana junta.” Foi o Senhor quem falou; assim acontecerá. Disse a voz: “Clama bem alto!” “O que é que eu hei de clamar?”, perguntei. “Que o ser humano é como a erva e que toda a sua beleza murcha como as flores que morrem. A erva seca e as flores murcham sob o sopro do Senhor. E assim é com a frágil criatura humana. A erva seca e as flores murcham, contudo, a palavra do nosso Deus permanece para sempre.” Tu, ó Sião, anunciador de boas novas, sobe a um alto monte! Tu, anunciador de boas novas a Jerusalém, grita bem alto, não tenhas receio, e diz às cidades de Judá: “Eis aqui o vosso Deus!” Sim, o Senhor Deus vem aí com grande poder. Governará com domínio eficaz. Dará a cada um a justa recompensa. Alimentará o seu rebanho como um pastor; levará nos braços os cordeirinhos e guiará mansamente as ovelhas que amamentam. Quem mais tem poder para segurar nas suas mãos os oceanos e para conhecer os céus em todas as suas medidas? Quem mais conhece perfeitamente o peso de toda a Terra, das montanhas e das cordilheiras? Quem conheceu todo o pensamento do Senhor ou quem é seu conselheiro? Alguma vez terá precisado de ser instruído quanto ao que é reto, ao que é melhor? Quem é que lhe ensinou a ciência e lhe deu a conhecer a sabedoria? Porque os povos do mundo nada são em relação a ele; são como uma gota de água que cai num balde ou como um grão de pó no prato duma balança. Pega nas ilhas como se fossem coisa sem peso. As florestas do Líbano juntas não formariam combustível suficiente para consumir um holocausto no seu altar; nem tão-pouco todos os seus animais seriam suficientes para o holocausto. Todas as nações são como nada para ele; aos seus olhos, são até menos que nada; são vazio e nulidade. Como se poderá então descrever Deus? Com que é que poderá ser comparado? Com algum ídolo? Com um ídolo qualquer, feito segundo um molde, pintado de tinta dourada, com cadeias prateadas em volta do pescoço? Qualquer pessoa, se não tiver dinheiro bastante para comprar um ídolo desses, pode pegar num pedaço de madeira e procurar um artífice para lhe fazer um ídolo que possa durar! Serão vocês assim tão ignorantes? Serão assim tão surdos às palavras de Deus, palavras essas que já foram dadas desde a fundação do mundo? Nunca ouviram nem compreenderam isso? É Deus quem se senta acima do globo da Terra, cujos habitantes são para ele como minúsculos gafanhotos. É ele quem estende os céus como uma cortina, como se fizesse com ela a sua tenda. Reduz a nada os grandes senhores desta Terra e torna inúteis os seus governantes. Dificilmente estabilizam e criam raízes, se Deus soprar sobre eles; as suas obras perdem todo o seu valor, levando-as o vento como à palha. “Com quem me hão de comparar então? Quem será semelhante a mim?”, pergunta aquele que é Santo. Vejam os céus! Quem foi que criou todas essas estrelas? Tal como um pastor conduz as suas ovelhas, chamando cada uma pelo seu nome, e as conta para ver se alguma se terá perdido ou desviado, assim Deus faz com os astros! Ó Jacob, ó Israel, como podes tu dizer que o Senhor não vê as tuas aflições, que não se interessa em fazer-te justiça? Não compreendes? Não sabes tu já que o eterno Deus, o Criador das mais distantes partes da Terra, nunca fica cansado nem desfalecido? Ninguém jamais conseguirá descobrir a profundidade do seu pensamento. Dá novas forças ao que está cansado e multiplica as energias daquele que está fraco. Até mesmo a juventude se cansará; há jovens que acabarão por desistir. Mas os que confiam no Senhor renovarão as suas forças. Subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; andarão sem desfalecerem. “Escutem em silêncio, na minha presença, ó terras para além do mar! Depois venham e falem, apresentem os vossos mais fortes argumentos. O tribunal está pronto a julgar o vosso caso. Quem foi que suscitou, para vir lá do oriente, este que alcança vitórias a cada passo? Quem, na verdade, senão Deus? Quem faz com que as nações se lhe submetam e os reis lhe sejam entregues, e com a sua espada os transforme em pó e com o seu arco em palha que o vento arrebata? Persegue-os, afasta-os e continua seguro, por um caminho por onde nunca tinha andado. Quem é o responsável por tão célebres façanhas? É aquele que anuncia o futuro de antemão. Sou eu, o Senhor, o primeiro e o último! Eu mesmo!” As terras para além do mar tremem de medo, esperando notícias sobre as novas campanhas de Ciro. Terras distantes estremecem e mobilizam-se para a guerra. Cada pessoa encoraja o seu vizinho e diz: “Não te preocupes! Havemos de ganhar!” O certo é que correm a fazer um novo ídolo; o artífice de ouro encoraja o entalhador e o escultor ajuda o fundidor. “Está bem!”, dizem eles. “Ficou mesmo bem! Agora vamos fixar-lhe os membros!” Juntam-lhe as diferentes peças e fixam a imagem cuidadosamente ao chão, não vá ela cair! “Ouve, Israel, meu servo, povo de Jacob, meu escolhido, descendência de Abraão, o meu amigo! Chamei-vos das extremidades da Terra e disse-vos que a ninguém mais deviam servir senão a mim! Fui eu quem vos escolheu, por isso, nunca vos lançarei fora! Não temam porque eu estou convosco! Não se espantem, porque eu sou o vosso Deus! Dar-vos-ei força e ajudar-vos-ei; hei de sustentar-vos com a força e a justiça da minha mão vitoriosa. Reparem como todos os vossos irritados inimigos ficarão confundidos e frustrados! Todos quantos se vos opõem morrerão! Em vão procurarão saber deles, pois todos terão desaparecido. Eu, o Senhor, vosso Deus, seguro-vos pela vossa mão direita e digo-vos: Nada receiem! Estou aqui para vos ajudar! Ainda que sejam desprezados como vermes, não tenham medo, ó descendência de Jacob, ó Israel, porque eu vos socorrerei! Eu sou o Senhor, o vosso Redentor! Eu sou o Santo de Israel! Vou fazer de ti uma debulhadora de dentes agudos, que há de moer todos os vossos inimigos, despedaçando-os, transformando as montanhas em palha. Vocês os sacudirão no ar e o vento se encarregará de os levar para longe; remoinhos de ventos tempestuosos os dispersarão. A alegria do Senhor vos encherá e exultarão no Senhor, o Santo de Israel, o qual será a vossa glória. Quando os pobres e os necessitados procurarem água, sem a encontrar, e as suas línguas se secarem pela sede, então responderei, quando a mim clamarem. Eu, o Senhor, o Deus de Israel, nunca me esquecerei deles! Abrirei rios nos planaltos e dar-lhes-ei fontes de água nos vales. Haverá poços nos desertos e ribeiros alimentados por fontes correrão no meio de terras secas e ressequidas. Plantarei cedros, acácias, murtas, oliveiras, ciprestes e pinheiros em terras desertas. Toda a gente verá este milagre e compreenderá que foi o Senhor, o Santo de Israel, quem o fez. Podem os vossos ídolos fazer coisas semelhantes a estas? Então que venham e mostrem o que podem fazer, diz o Senhor, o Rei de Jacob. Que tentem dizer-nos e dar a entender o que ocorreu em anos passados ou o que nos aguarda no futuro. Sim, é isso! Se são deuses, então que digam o que irá acontecer nos tempos vindouros ou façam algum milagre poderoso que nos deixe estarrecidos, abismados. Mas não! Eles são menos que nada! Não podem fazer coisíssima nenhuma! Se alguém confia neles faz uma coisa abominável! Mas eu fiz com que viesse um do noroeste; um que virá contra as nações e que invocará o meu nome; dar-lhe-ei a vitória sobre reis e príncipes; há de esmagá-los como o oleiro pisa e amassa o barro. Quem mais vos anunciou que isto iria acontecer, senão eu? Quem mais predisse estas coisas antes de acontecerem, para que verifiquem depois como era verdade? Ninguém mais! Não houve ninguém que tivesse dito uma só palavra! Eu fui o primeiro a dizer a Sião: ‘Olhem! Olhem! Já vem a caminho a ajuda!’ A Jerusalém darei um anunciador de boas novas Nenhum dos vossos ídolos vos disse tal coisa. Ninguém respondeu quando vos interpelei. Vocês bem veem que esses ídolos não passam de coisas ocas, sem valor algum; são tão vazios como o vento. Aqui está o meu servo, que eu sustento; o meu escolhido em quem a minha alma tem prazer. Pus o meu Espírito sobre ele e julgará as nações. Não gritará nem se porá a discutir alto nas praças públicas. Não pisará a cana trilhada nem apagará o pavio que ainda fumega. Há de promover a justiça. Não ficará satisfeito enquanto a verdade e a justiça não tiverem prevalecido em toda a Terra, sem ver a sua Lei estabelecida entre os povos das ilhas que nele têm a sua esperança.” O Senhor Deus, que criou os céus e os estendeu, que criou a Terra e tudo quanto há nela, que dá vida, respiração e espírito a todas as criaturas no mundo, é aquele que diz: “Eu, o Senhor, chamei-te para dar prova da minha retidão; hei de guardar-te e amparar-te, pois dei-te ao meu povo como uma confirmação pessoal da minha aliança com eles. Serás igualmente uma luz para guiar as nações até mim. Abrirás os olhos aos cegos e soltarás os que jazem nas prisões, em trevas e desespero. Eu sou o Senhor! Este é o meu nome! Não darei a minha glória a mais ninguém! Não consinto em partilhar louvores com ídolos esculpidos! Tudo o que profetizei se realizou e agora tornarei a profetizar e a dizer-vos o que se vai dar no futuro, antes que aconteça.” Cantem ao Senhor um novo cântico! Cantem-lhe louvores todos os que vivem na Terra, ainda que seja nas paragens mais remotas! Que também o próprio mar lhe cante! Que lhe dirijam louvores, cantando, todos os que moram bem longe, para além do mar! Juntem-se igualmente a esse coro, Quedar e Sela, cidades do deserto, e também os habitantes das montanhas! Que nas ilhas distantes se glorifique o Senhor! Cantem sobre o seu forte poder! O Senhor sairá como um poderoso guerreiro, cheio de zelo, combaterá os seus inimigos. Dará um grande brado de guerra e sujeitará os seus adversários. “Por muito tempo me calei e estive silencioso, mas agora gritarei com força, como uma mulher que está a ter um filho. Nivelarei as montanhas e as elevações, farei secar a densa vegetação. Os cursos de água e as lagoas se tornarão terra firme. Guiarei os cegos por um caminho por onde nunca andaram, por vias que ignoravam. Farei com que as trevas se tornem luz diante deles. Alisarei o caminho que têm de pisar. Nunca me esquecerei deles. Mas os que confiam nos ídolos e lhes chamam deuses ficarão imensamente desapontados, voltarão para trás, envergonhados. Oh! Como vocês foram cegos e surdos para com Deus! Ouçam, ó surdos! Cegos, olhem e vejam! Quem no mundo inteiro é tão cego como o meu próprio povo que está designado para ser o meu mensageiro da verdade? Quem é tão cego como aquele que me foi dedicado, o servo do Senhor? Vocês veem e compreendem o que é reto, mas não lhe prestam atenção nem o praticam. Ouvem, mas não querem escutar.” O Senhor enalteceu a sua Lei, tornou-a verdadeiramente gloriosa. Através dela quis mostrar ao mundo que é reto. Mas afinal foram roubados, escravizados, feitos prisioneiros, aniquilados à traição, tornados o joguete de toda a gente, sem ninguém para vos libertar; foram despojados e ninguém diz: “Restituam!” Não haverá sequer um de vocês que tire uma lição em relação ao passado e considere seriamente a ruína que vos espera no futuro? Afinal, quem foi que permitiu que Israel tivesse sido saqueado, que os descendentes de Jacob tivessem sido feridos? Não foi justamente o Senhor contra quem pecámos, recusando andar nos caminhos que indicava e não querendo ouvir os seus mandamentos? Foi por isso que o Senhor derramou sobre eles toda a sua indignação e a sua ira. Mesmo assim, apesar da força das guerras e do fogo que os destruiu, não quiseram saber a verdadeira razão de tudo isso. Mas agora o Senhor que te criou, ó Jacob, aquele que te formou, ó Israel, diz-te: “Não tenhas medo, porque te resgatei! Chamei-te pelo teu nome, és meu! Quando passares pelas águas profundas de grandes tribulações, estarei contigo. Quando tiveres de atravessar rios de pesadas dificuldades, não te afundarás. Quando passares pelas labaredas da opressão, não ficarás queimado; será um fogo que não te consumirá. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o teu Salvador, o Santo de Israel. Dei o Egito, Cuche e Seba em troca da tua liberdade, como resgate. Outros morreram para que pudesses viver; negociei as suas vidas em troca da tua, porque para mim és precioso; és a minha honra e eu amo-te. Não tenham receio, pois eu estou convosco; juntar-vos-ei do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul. Trarei os meus filhos e filhas de novo para Israel, desde os cantos mais distantes da Terra. Virão todos os que me invocam como seu Deus, que se chamam pelo meu nome, pois foram criados para a minha glória. Fui eu quem os formou. Tragam-nos de volta para mim, cegos como são e surdos, quando eu os chamo, embora tenham ouvidos e vista. Reúnam todas as nações! Qual de todos os seus ídolos foi capaz de anunciar previamente todas estas coisas? Qual deles pôde predizer um só dia que fosse, com antecipação? Quem pode servir de testemunha de qualquer coisa que eles tenham dito? Então, se não houver testemunhas, terão de confessar que só Deus diz a verdade. Quanto a mim, eu tenho testemunhas, ó Israel, diz o Senhor! Vocês são as minhas testemunhas e os meus servos, escolhidos para me conhecerem e para crerem em mim, e para compreenderem que só eu sou Deus. Não há, nem houve, nem haverá outro Deus além de mim. Eu sou o Senhor e não há outro Salvador! De todas as vezes que vocês decidiram lançar fora os ídolos, dei-vos a conhecer o meu poder. Com uma só palavra minha vos salvei e vocês viram-no bem! Por isso, são testemunhas de como é realmente verdade. De eternidade em eternidade, eu sou Deus. Ninguém há que possa impedir-me de fazer o que faço.” O Senhor, o vosso Redentor, o Santo de Israel, diz: “Por vossa causa, enviarei um exército invasor contra Babilónia e a todos os de lá farei embarcar como fugitivos, isto é, os caldeus, nos navios com os quais se vangloriavam. Eu sou o Senhor, o vosso Criador, o Santo e o Rei de Israel. Eu sou o Senhor, capaz de abrir um caminho através das águas, mesmo no meio do mar. Levei o poderoso exército do Egito com os seus carros de guerras, condutores e cavaleiros, para que morressem ali, sepultados sob as águas; as suas vidas apagaram-se como a chama duma vela. Não lembrem nem considerem as coisas passadas. Nada são em comparação com aquilo que irei realizar! Será algo inteiramente novo! Olhem, até já comecei! Não estão a ver? Farei um caminho através do deserto deste mundo, para que o meu povo regresse à sua pátria; farei aparecer rios para eles nesse deserto. Os animais selvagens, chacais e corujas do deserto agradecer-me-ão, por lhes ter dado água no meio daquela aridez, por ter feito brotar ali fontes, a fim de que o meu povo, aqueles que escolhi, possa refrescar-se. Formei Israel para mim e este povo ainda um dia me honrará perante todo o mundo. Contudo, ó povo de Jacob, vocês não me invocaram, não pediram o meu auxílio e até se cansaram de mim! Não me trouxeram cordeiros para os holocaustos, não quiseram honrar-me com sacrifícios, apesar de ser bem pouco aquilo que eu reclamava como oferta e como incenso! Não me trouxeram incenso aromático, nem quiseram agradar-me com a gordura dos sacrifícios. A única coisa que decidiram oferecer-me foram pecados; até me cansaram com as maldades que praticaram. Eu sou o único que pode anular os vossos pecados e faço-o por causa da minha própria justiça; nunca mais os levarei em conta. Seria bem preferível que fossem vocês a lembrar-me as minhas promessas de perdão, porque temos de falar dos vossos pecados. Apresentem as vossas razões e pedidos de clemência, para que possa perdoar-vos. O vosso primeiro antepassado pecou; todos os vossos representantes se revoltaram contra mim. Foi por essa mesma razão que expulsei os vossos sacerdotes, entreguei Jacob à destruição e cobri Israel de vergonha. Agora ouve-me, Jacob, meu servo Israel, o meu escolhido! O Senhor que vos criou quer ajudar-vos e diz-vos assim: Nada receiem, ó descendência de Jacob, povo que me serve, Israel, escolhido por mim. Dar-vos-ei águas abundantes para matar a sede, a vocês e aos vossos campos ressequidos. Derramarei o meu Espírito e as minhas bênçãos sobre os vossos filhos. Crescerão viçosamente como erva bem regada, como salgueiros à beira dos rios. ‘Eu pertenço ao Senhor ’, dirão com orgulho. Outros reclamarão para si o nome de Jacob. Trarão nas mãos o nome do Senhor e o honroso nome de Israel.” O Senhor, o Rei de Israel, sim, o Redentor de Israel, o Senhor dos exércitos falou assim: “Eu sou o primeiro e o último! Além de mim não há mais nenhum Deus! Quem mais poderia dizer-vos aquilo que vai acontecer no futuro? Se puderem, que o digam e provem o seu poder, se têm algum. Que façam o mesmo que eu fiz desde os tempos antigos. Não temam, não! Não vos garanti eu já, desde há muito tempo, que vos salvaria? Vocês são testemunhas de como não há outro Deus! Não conheço mais ninguém. Não há outra rocha!” Como são loucos os que fabricam ídolos para lhes servir de deuses! As suas petições ficam sem resposta. Eles próprios são testemunhas de como é mesmo assim, porque os seus ídolos não veem nem conhecem. Não admira que quem os adora fique tão envergonhado. Quem senão um doido se lembraria de fazer para si um deus, um ídolo sem valor algum? E quem os adorar terá de se apresentar perante o Senhor, envergonhado e humilhado; ele e todos esses fabricantes modeladores de imagens, meros seres humanos, que se gabam com altivez de terem feito um deus. Todos juntos terão de se apresentar aterrorizados a juízo. Primeiro, o ferreiro faz o machado; trabalha o metal na forja, batendo-o com toda a força e fica cansado, com sede e fome; tanto trabalho fá-lo desfalecer. Seguidamente, o marceneiro pega nesse machado para fabricar então um ídolo. Tira as medidas, faz as marcas necessárias e começa a esculpir um rosto humano. Por fim, tem na sua frente uma imagem, que até pode ser muito perfeita, mas que nem sequer é capaz de se mover do seu lugar. São assim, essas pessoas; abatem cedros, escolhem ciprestes ou carvalhos para derrubar; plantam olmeiros que a chuva faz crescer. Depois, parte dessa madeira serve para se aquecerem ou para cozerem pão. Com o resto, fazem um deus para adorarem, perante o qual se inclinam e ajoelham. É assim mesmo! Parte da árvore serviu para prepararem a carne que vão comer, serviu para se aquecerem, para lhes dar satisfação. Com o resto fabricam um deus para si, um deus esculpido! Inclinam-se perante ele, adoram-no e fazem-lhe orações. “Livra-me!”, dizem-lhe. “Tu és o meu deus!” Tanta ignorância e estupidez! Têm olhos para ver, mas não veem e os seus corações não conseguem compreender. Nenhum deles reconsidera, nenhum deles tem o bom senso nem a inteligência para dizer: “Isto que tenho na minha frente não passa, afinal, dum simples pedaço de madeira! Foi lenha que me serviu para cozer o pão, para me assar a carne; como é que então o resto pode servir para ser um deus? Será realmente justo que me ajoelhe em frente dum pedaço de lenha?” Esse pobre e enganado está a alimentar-se como que de cinzas; está a confiar em algo que nunca lhe poderá dar ajuda de espécie alguma. Para cúmulo, não tem sequer entendimento suficiente para refletir e dizer para consigo: “Não será que esta coisa, este ídolo que estou a segurar nas mãos, é uma profunda mentira?” “Lembra-te destas coisas, Jacob, porque tu, Israel, és meu servo! Formei-te e não me esquecerei de ti! Liquidei os vossos pecados. Foram-se, tal como o crepúsculo matinal se esvai perante a luz do Sol! Oh! Voltem-se para mim, pois já paguei o preço da vossa libertação!” Cantem, ó céus, porque o Senhor fez todas estas coisas maravilhosas. Grita de júbilo, ó Terra! Que as montanhas e as florestas, e até cada uma das suas árvores, se expandam em cânticos, visto que o Senhor resgatou Jacob e se fez glorioso em Israel! O Senhor, o teu Redentor, que te formou desde o ventre da tua mãe, diz: “Todas as coisas foram feitas por mim. Fui só eu quem estendeu os céus. Fui eu só quem fez a Terra e tudo o que nela existe. Eu sou aquele que é capaz de mostrar como são mentirosos os falsos profetas, porque faço acontecer as coisas muito diferentemente do que eles disseram. Faço com que gente tida como sábia diga precisamente o contrário daquilo que deveria dizer, faço com que se tornem como loucos. Por outro lado, aquilo que os meus profetas dizem, isso faço com que aconteça mesmo. Quando eu digo que Jerusalém será repovoada e que as cidades de Judá serão reedificadas, isso se realizará efetivamente! Quando digo às torrentes de águas: ‘Sequem-se!’, elas hão de mesmo secar. Quando digo a Ciro, ‘Ele é o meu pastor’, com certeza que ele fará tudo o que eu tiver dito e Jerusalém será reedificada e o templo restaurado, pois fui eu quem o disse.” Esta é a mensagem do Senhor para Ciro, o ungido de Deus: “Eu escolhi-te para que conquistes muitas terras. Dou força ao teu braço e esmagarás o poder de reis poderosos. Abrir-te-ei as portas da Babilónia, as quais nunca mais se te fecharão na frente. Irei adiante de ti, Ciro, nivelarei os montes no teu caminho, arrombarei as portas de bronze e quebrarei as trancas de ferro. Dar-te-ei riquezas escondidas em lugares sem luz, tesouros secretos, e saberás que sou eu quem faz isso, o Senhor, o Deus de Israel, aquele que te chama pelo teu nome. Afinal, por que razão te nomeei para esse trabalho? Por causa de Jacob, meu servo, Israel, o meu eleito. Chamei-te pelo teu nome, mesmo antes de me conheceres. Eu sou o Senhor! Não há outro Deus! Dar-te-ei força e encaminhar-te-ei para a vitória, mesmo que ainda não me conheças. Todo o mundo, do oriente ao ocidente, verificará que não há outro Deus. Eu sou o Senhor e não há outro para além de mim! Faço a luz e faço as trevas. Sou eu quem tem domínio sobre os bons como sobre os maus tempos. Eu, o Senhor, faço estas coisas. Que os céus derramem a justiça! Abra-se a Terra e que a salvação e a justiça se espalhem, pois fui eu, o Senhor, quem as criou. Ai do homem que luta contra o seu Criador! Será que o vaso de barro se põe a argumentar contra o oleiro que o fabricou? Já alguma vez se viu o barro a disputar com aquele entre cujas mãos está a ser moldado e dizer: ‘O que estás a fazer?’ Será que o vaso diz: ‘O oleiro não tem mãos!’? Ai daquele que diz ao pai: ‘O que foi que geraste?’ Infeliz da criança que diz à mãe: ‘O que é que deste à luz?’ ” O Senhor, o Santo de Israel, o Criador de Israel, diz: “Que direito têm de contestar aquilo que faço? Quem são vocês para me dar ordens ou indicações quanto ao trabalho das minhas mãos? Fiz a Terra e criei o homem para viver nela. Com as minhas próprias mãos estendi os céus e comando todo o universo das estrelas. Eu mesmo suscitei Ciro para dar cumprimento aos meus justos propósitos, por isso, guiá-lo-ei em todos os seus caminhos. Restaurará a minha cidade e libertará o meu povo cativo, e não o fará na esperança duma recompensa.” Diz o Senhor: “Os egípcios, os cuchitas e os habitantes de Seba ser-te-ão sujeitos. Virão ter contigo com as suas riquezas, com tudo o que produzem, e serão teus. Seguir-te-ão como prisioneiros em cadeias; dobrarão os seus joelhos perante ti e dirão: ‘O único Deus que existe é o teu!’ ” Na verdade, ó Deus de Israel, ó Salvador, tens formas misteriosas de agir! Todos os que adoram ídolos ficarão dececionados. Mas Israel será salvo pelo Senhor com uma salvação eterna; nunca serão desiludidos pelo seu Deus, por toda a eternidade. Porque o Senhor que criou os céus, o Deus que formou a Terra e pôs tudo no seu lugar, para que fosse habitada e não para que ficasse vazia ou no caos. Ele mesmo diz: “Eu sou o Senhor e não há outro como eu! Não foram palavras obscuras que balbuciei num canto escuro. Nunca mandei Israel inquirir de mim aquilo que nunca planeei dar-lhe, porque eu, o Senhor, só anuncio a verdade e o que é reto! Reúnam-se e venham juntas as nações que escaparam a Ciro! Que loucura essa, a de fazer procissões com ídolos esculpidos e dirigir rezas a deuses que não podem salvar! Cheguem-se e discutam entre vós se vale a pena adorar um ídolo! Quem, senão Deus, pôde dar garantia de que tudo isto viria a acontecer? Alguma vez algum ídolo vos prometeu algum acontecimento futuro? É porque não há outro Deus além de mim, um Deus justo, um Salvador; não há um só sequer! Olhem para mim e serão salvos, vocês todos os habitantes do mundo inteiro, pois eu sou Deus! Não há outro! Jurei, por mim mesmo, e nunca volto atrás com a minha palavra dada: Perante mim, todo o joelho se dobrará e toda a língua me jurará submissão. ‘Só no Senhor há justiça e poder!’, é o que toda a gente há de declarar.” E todos os que se revoltaram contra ele voltarão confundidos à sua presença. No Senhor todas as gerações de Israel serão justificadas e triunfarão. Os ídolos da Babilónia, Bel e Nebo, são transportados e puxados por carros de bestas, mas até os próprios animais vacilam de cansaço. Se nem sequer a si mesmos se podem livrar duma queda, como poderão salvar os seus adoradores das mãos de Ciro? “Quanto a vocês, ouçam-me, ó casa de Jacob e todo o restante do povo de Israel! Formei-vos e cuidei de vocês ainda antes de nascerem. Serei o vosso Deus até à velhice. Cuidarei de vocês quando tiverem a cabeça cheia de cabelos brancos. Criei-vos e carrego-vos ao colo. Eu cuidarei de vocês e vos livrarei. O que é que poderá haver, no céu ou na Terra, a que possam comparar-me? Quem acharão vocês que seja semelhante a mim? Irão comparar-me a um ídolo feito prodigamente com prata ou com ouro? Eles pagam a um ourives e mandam-no fazer um deus. Depois inclinam-se na frente dele e adoram-no. Levam-no em procissão, por toda a parte, sobre os ombros. Depois, quando têm de pousá-lo no chão, ele ali fica, porque é uma coisa que não se move. Quando alguém lhe faz rezas, não há qualquer resposta. Aquele ídolo não tem a capacidade de livrar seja quem for da tribulação. Lembrem-se disto, ó transgressores, gravem-no no fundo do vosso ser! Não se esqueçam das inúmeras vezes em que claramente vos anunciei o que iria acontecer mais tarde, porque eu sou Deus, eu só, e não há outro como eu. Eu posso dizer-vos o que irá passar-se posteriormente. Tudo o que eu digo se realizará, porque eu faço aquilo que proponho. Chamarei a veloz ave de rapina para vir do oriente, esse homem, Ciro, que virá de terras longínquas, e que fará o que lhe mandar. Disse que farei assim e assim será. Ouçam-me, gente teimosa que está distante da justiça! Estou a oferecer-vos a minha justiça, não num futuro distante, mas agora mesmo! Estou pronto para vos salvar e restaurar Sião e Israel, que são a minha glória. Ó filha virgem, cidade da Babilónia, vem e senta-te no pó da terra! Ó filha da Caldeia, nunca mais tornarás a ser a encantadora e delicada princesa! Toma a mó e mói a farinha; tira o véu e abre o teu vestido; descobre-te à vista de toda a gente e atravessa os rios. Ficarás despida e envergonhada, vingar-me-ei de ti e não me arrependerei.” Assim fala o nosso Redentor, que tem como nome Senhor dos exércitos, o Santo de Israel. “Senta-te nas trevas e no silêncio, ó filha da Caldeia! Nunca mais serás chamada rainha dos reinos! É verdade que estive irado contra o meu povo de Israel e que os castiguei, deixando-os cair nas tuas mãos, ó Babilónia. Mas tu não foste compreensiva com eles; até os velhos obrigaste a carregar fardos insuportáveis. Pensaste que o teu reino não acabaria mais. Nem um bocadinho te preocupaste com o meu povo ou pensaste no destino que teriam os que lhe fizessem mal. Ó reino dos loucos prazeres da vida fácil! Tu dizes: ‘Sou única no mundo! Sou como Deus! Nunca ficarei viúva! Nunca perderei os meus filhos!’ Pois bem, estas duas coisas virão sobre ti duma só vez e num só dia: a viuvez e a perda dos teus filhos, apesar das tuas feitiçarias e artes de magia. Sentias-te segura na tua maldade. ‘Ninguém me pode ver!’, dizias. A tua sabedoria e o conhecimento que pensavas ter perverteram-te e dizias: ‘Além de mim, mais nada!’ É por essa razão que o mal virá sobre ti repentinamente, tão inesperadamente que nem te darás conta donde vem. Nessa altura, já não haverá mais possibilidade para ti de resgate dos teus pecados. Chama os bandos de demónios que adoraste durante todos estes anos. Pede-lhes para ferirem novamente de terror muitos corações. Tens muitos conselheiros, os teus astrólogos e videntes que tentam descobrir o futuro para ti. Ser-te-ão tão inúteis como restolho para queimar. Nem sequer a si mesmos se podem livrar! Não obterás deles ajuda absolutamente nenhuma, não te darão conforto nem proteção. Todos os teus amigos de infância desaparecerão da tua vista, fugirão e te deixarão, porque são incapazes de te socorrer. Ouçam-me, ó povo de Jacob, vocês que são chamados pelo nome de Israel, descendentes de Judá! Vocês juram fidelidade ao nome do Senhor e invocam o Deus de Israel, mas sem verdade nem retidão. Gabam-se de viver na cidade santa, fanfarroneiam-se de depender do Deus de Israel, cujo nome é Senhor dos exércitos. Já muitas vezes vos disse o que iria acontecer no futuro. De repente, mal as minhas palavras eram pronunciadas, logo se realizava o que eu dissera. Apesar disso, sei como são obstinados. Os vossos pescoços não dobram facilmente, são como o ferro; as vossas cabeças são duras como o bronze. Foi por isso que quis anunciar-vos com antecipação o que ia fazer, para que nunca viessem a dizer: ‘Foi o meu ídolo quem fez isto! A minha imagem esculpida ordenou e aconteceu!’ Vocês ouviram as minhas predições e deram-se conta de como se realizaram e, mesmo assim, recusaram aceitar aquilo que estavam a constatar! Agora vou dizer-vos coisas novas, que nunca mencionei previamente, que vocês nunca ouviram antes. Não poderão dizer: ‘Já sabíamos disso há muito!’ Sim, vou dar-vos a conhecer coisas inteiramente novas, pois sei bem como são traidores e rebeldes. Já desde os tempos da vossa infância que são completamente corruptos. Mas por causa do meu próprio nome e pela minha honra refrearei a minha cólera e não vos açoitarei. Refinei-vos, mas não como a prata. Fiz-vos passar pela fornalha das aflições. Mas é por causa da minha honra, sim, é só por causa da minha honra que o faço, para que os gentios não venham a dizer que foram os deuses deles. Não lhes darei a eles a minha glória. Ouçam-me, descendência de Jacob, meus eleitos! Só eu sou Deus! Eu sou o primeiro! Eu sou o último! Foi a minha mão que pôs os fundamentos da Terra; foi a minha mão direita que construiu o firmamento, o universo. Chamo por eles e estão prontos para fazer a minha vontade. Venham, reúnam-se e ouçam! De entre esses ídolos, qual deles alguma vez predisse estas coisas? O escolhido do Senhor irá executar o seu plano contra a Babilónia; o seu braço estender-se-á contra os exércitos da Caldeia. Sou eu próprio quem o diz. Chamei-o, enviei-o com este propósito e vai sair-se bem. Aproximem-se e ouçam! Sempre vos disse, com toda a simplicidade, o que iria acontecer, para que pudessem compreender claramente.” E agora o Senhor Deus, e o seu Espírito, enviou-me com esta mensagem: “O Senhor, o vosso Redentor, o Santo de Israel diz assim: Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos ensina o bem e vos conduz pelos caminhos por onde devem andar. Oh! Se tivessem querido dar atenção às minhas leis! Teriam tido paz, sem interrupção, como as águas mansas dum rio correndo tranquilamente; a tua justiça teria sido abundante e forte como as ondas do mar. Então ter-se-iam tornado tão numerosos como os grãos de areia das praias, incontáveis até, e não teria havido razão para vos destruir.” Mesmo assim, libertem-se do vosso cativeiro na Babilónia! Deixem os caldeus, cantando, enquanto vão saindo. Gritem até aos confins da Terra que o Senhor redimiu os seus servos, a descendência de Jacob. Não tiveram sede enquanto eram conduzidos através dos desertos; bateu na rocha e jorrou água bastante para que todos bebessem. “Mas para os perversos não haverá paz!”, diz o Senhor. “Ouçam-me, todos os que habitam em terras distantes! O Senhor chamou-me antes que eu nascesse. Já desde o ventre da minha mãe me chamou pelo meu nome. Deus tornará as minhas palavras de julgamento tão incisivas e penetrantes como espadas afiadas. Escondeu-me sob a sombra da sua mão. Sou como uma flecha aguda da sua aljava. Disse-me: ‘És meu servo, um príncipe do poder de Deus e por ti hei de ser glorificado!’ Repliquei: ‘Mas o meu trabalho a favor deles parece-me em vão! Gastei com eles a minha força, inutilmente, sem resposta. Contudo, deixei com Deus a questão do meu direito; deixei com o Senhor o problema da minha recompensa.’ E agora, o Senhor que me formou desde o ventre de minha mãe para o servir, ele que me mandou restaurar para si os descendentes de Jacob e me deu força para cumprir essa tarefa, e me honrou com isso, diz: ‘Tu farás mais do que restaurar as tribos de Jacob para mim e reunir os restantes de Israel. Farei de ti uma luz para as nações do mundo, para seres a minha salvação até aos recantos mais longínquos da Terra.’ ” O Senhor, o Redentor e o Santo de Israel, diz àquele que é desprezado, rejeitado pela humanidade, dominado pelo calcanhar de governantes terrenos: “Os chefes das nações ainda se hão de levantar respeitosamente à tua passagem! Reis, príncipes e governantes hão de inclinar-se profundamente perante ti, por causa do Senhor te ter escolhido! Ele, o Senhor fiel, o Santo de Israel, é quem te escolhe!” Diz o Senhor: “Ouvi-te em tempo oportuno e socorri-te no dia da salvação! Dar-te-ei como sinal e como penhor a Israel, como prova de que tornarei a restabelecer a terra de Israel e a tornarei a dar ao seu próprio povo! Vejam bem como o meu povo volta dos pontos mais distantes, do norte, do ocidente e do sul!” Cantem de alegria, ó céus! Grita, ó Terra! Rompam em cânticos, ó montanhas, porque o Senhor confortou o seu povo e teve compaixão dele na sua tristeza! Mesmo assim Sião diz: “O meu Senhor abandonou-me, esqueceu-se de mim!” Mas eu respondo: “Nunca! Pode uma mulher esquecer-se do seu menino e não ter amor pelo seu próprio filho? Mesmo que isso possa acontecer, eu, contudo, nunca me esquecerei de vocês! Pois eu escrevi o vosso nome na palma da minha mão e perante mim está constantemente a imagem das muralhas de Jerusalém em ruínas. Em breve chegarão aqueles que te vão reconstruir e que hão de expulsar todos os que te destruíram. Olha! Vê como todos se reúnem para vir ter contigo! Tão certo como eu vivo, diz o Senhor, garanto que eles serão para ti como preciosos ornamentos, como as joias duma noiva. Até mesmo as partes mais desoladas da vossa terra abandonada ficarão sobrepovoadas e os inimigos que vos escravizaram fugirão. As gerações que nasceram no exílio retornarão e dirão: ‘Precisamos de mais espaço! Aqui há demasiada gente!’ Então dirás no teu coração: ‘Quem foi que fez isto tudo a meu favor? Porque a maior parte dos meus filhos foi morta e o resto foi levado para o exílio, deixando-me aqui sozinho. Quem foi então que criou estes? Quem foi que suscitou estes e os trouxe até aqui?’ ” O Senhor Deus diz: “Olha, farei um sinal aos gentios! Levantarei perante os seus olhos a minha bandeira e eles te trarão os teus próprios filhos nos braços, as tuas filhas aos ombros. Chefes e governantes estarão ao teu serviço, atendendo a todas as tuas necessidades. Inclinar-se-ão até à terra, na tua frente, respeitando até o pó que os teus pés pisarem. Então verificarás que eu sou o Senhor! Aqueles que têm esperança em mim nunca ficarão desapontados!” Quem é capaz de arrancar uma presa das mãos dum homem poderoso? Quem ousará pedir a um tirano que liberte os seus cativos? Mas o Senhor diz: “Até os prisioneiros dos mais poderosos, daqueles que são mais temidos, serão libertados, porque serei eu próprio a lutar contra os que te combatem e salvarei os teus filhos. Alimentarei os teus adversários com a própria carne deles e chegarão a embriagar-se com o seu próprio sangue, como se de vinho novo se tratasse. Todo o mundo saberá que eu, o Senhor, sou o vosso Salvador, que o Poderoso de Jacob é o vosso Redentor!” Pergunta o Senhor: “Vender-vos-ia eu a credores? Ter-se-á ido embora a vossa mãe, porque me divorciei dela e a despedi? Não! Foram vocês mesmos que se venderam pelos vossos pecados. A vossa mãe foi tomada como paga das vossas maldades. Seria eu tão fraco que não pudesse salvar-vos? Será por isso que a casa está envolvida em silêncio e vazia quando eu regresso? Não terei eu mais poder para libertar? Não! Essa não é a razão! Porque eu até posso repreender o mar e fazê-lo secar! Posso transformar os rios em desertos cheios de peixes mortos! Sou eu quem controla as trevas através do firmamento. O Senhor Deus deu-me as suas palavras de sabedoria, a fim de que possa saber o que devo dizer aos que estão cansados. Em cada manhã ele me acorda e abre o meu entendimento à sua vontade. O Senhor Deus falou-me e eu ouvi. Não me revoltarei, nem voltarei atrás. Dei as costas aos que me açoitavam e as faces aos que queriam puxar-me pela barba. Não fujo à vergonha e aos que me cospem no rosto. É o Senhor Deus quem me ajuda, por isso, não enfraquecerei. Fiz do meu rosto uma rocha, sei que triunfarei. Está perto de mim aquele que me fará justiça. Sendo assim, quem ousará lutar comigo agora? Onde estão então os meus inimigos? Que apareçam! Vejam bem, o Senhor Deus está a meu favor! Quem é que poderá declarar-me culpado? Todos os meus inimigos serão destruídos, como trapos velhos, roídos pela traça! Quem entre vocês teme o Senhor e obedece ao seu servo? Se algum destes andar em trevas, sem um raio de luz sequer na sua vida, então que confie no nome do Senhor, que se entregue inteiramente ao seu Deus! Quanto a vocês, os que vivem à luz de si mesmos, que se aquecem com o calor que só vem de si próprios e não de Deus, a vossa vida será apenas tormentos! Ouçam-me, todos os que buscam a justiça, que procuram o Senhor! Considerem bem a pedreira donde foram extraídos, a rocha donde foram cortados! Sim, pensem nos vossos antecessores Abraão e Sara! Lamentam-se de serem pequenos e tão poucos, mas Abraão era apenas um só quando o chamei. Depois de o ter abençoado tornou-se numa grande nação. O Senhor tornará a abençoar Sião e a transformar os desertos em zonas florescentes! As vossas terras desoladas tornar-se-ão tão belas como o Éden, e a sua solidão, como o jardim do Senhor! Alegria e satisfação é o que ali haverá, assim como sentimentos de gratidão e som de hinos. Ouçam-me, meu povo! Ouçam-me, ó Israel! Eu estabelecerei a Lei e farei com que a justiça prevaleça e conduza os povos na luz. A minha justiça e a minha salvação estão quase a chegar. Com a força dos meus braços governarei os povos; as ilhas esperam confiadamente em mim e depositam a sua confiança na ação do meu braço forte. Reparem nos céus em cima! Atentem para a Terra em baixo! Pois os céus desaparecerão como fumo e a Terra envelhecerá como um fato usado. As gentes da Terra morrerão como moscas, mas a minha salvação durará, terá efetividade para sempre, e o meu governo de justiça nunca mais será abolido, não terá fim. Escutem-me, vocês que sabem diferenciar o que é justo do que é errado e que acarinham, nos vossos corações, a minha Lei. Não tenham receio da troça dos outros e das suas palavras caluniosas. Porque a traça os destruirá como faz com a roupa; o bicho os comerá como faz com a lã. A minha justiça, porém, permanecerá para sempre, assim como a minha salvação, através de todas as gerações.” Desperta, desperta! Levanta-te, ó braço forte do Senhor! Ergue-te como nos dias de antigamente em que liquidaste Raab, o dragão dos mares! Não és tu o mesmo hoje, o Deus poderoso que secou o mar, abrindo um caminho pelo meio dele para que passassem os teus redimidos? Estes, os que o Senhor resgatou, regressarão a Sião cantando e com uma alegria perpétua brilhando no rosto. Estarão cheios de júbilo e gozo. A tristeza e o abatimento desaparecerão. “Eu, eu mesmo, sou quem vos conforta e vos dá toda esta alegria! Por isso, que razão têm para temer simples homens mortais, que morrem naturalmente como a erva dos campos e que hão de desaparecer? Mesmo assim, não têm temor ao Senhor que vos fez! Esqueceram-no, a ele que distribuiu os astros pelo universo e fez a Terra! Ficarão vocês sob o constante temor da opressão dos homens, receando a sua ira? Mas onde está a fúria do opressor? Em breve, muito em breve, os escravos serão libertados! Masmorras, fome e morte, esse não é o vosso destino! Porque eu sou o Senhor, vosso Deus, o Senhor dos exércitos, que agito o mar para fazer rugir as suas ondas. Coloquei as minhas palavras na vossa boca; abriguei-vos seguramente sob a palma da minha mão. Fui eu quem fez o universo e quem moldou a Terra. Eu sou aquele que diz a Sião: ‘Tu és meu povo!’ ” Acorda, acorda! Levanta-te, Jerusalém! Bebeste do copo da ira do Senhor. Bebeste até perderes os sentidos, sorvendo até às últimas gotas. Nenhum dos seus filhos ficou vivo para a ajudar ou para lhe dizer o que devia fazer. Estas duas coisas foi o que te calhou em sorte: desolação e destruição. Sim, a fome e a espada! E quem ficou para te consolar? Quem ficou para te dar conforto? Porque os teus filhos desmaiaram e caíram nas ruas sem amparo, como se fossem animais selvagens apanhados na rede duma armadilha. Foi o Senhor quem derramou a sua cólera e os castigou. Mas agora ouçam isto, vocês que foram afligidos, que estão cheios de perturbação e como que embriagados, mas não com vinho. Eis o que diz o Senhor, vosso Deus, que defende a causa do seu povo: “Vejam, estou a tirar-vos das mãos esse copo terrível e não mais hão de beber da minha ira! Acabou-se, enfim! Vou pô-lo antes nas mãos dos que vos atormentaram e vos diziam: ‘Baixem-se para que vos passemos por cima!’ E vocês deitaram-se no chão e calcaram-vos com os pés.” Desperta, desperta, Sião! Reveste-te de força! Põe a tua melhor roupa, ó Jerusalém, cidade santa, porque os incircuncisos, os impuros, nunca mais entrarão pelas tuas portas! Levanta-te do pó do chão, Jerusalém! Tira a corda da escravidão do teu pescoço, ó filha cativa de Sião! Porque o Senhor diz: “Foram levados para o exílio sem nenhuma indemnização, também serão resgatados sem nada pagar. O meu povo refugiou-se no Egito e ali habitou; mais tarde foi tiranizado sem causa pela Assíria. E agora? Pergunta o Senhor. Porque está de novo escravizado o meu povo? Porque está ele novamente oprimido sem justificação alguma? Os que os governam dão uivos de exaltação e o meu nome é constantemente blasfemado, todo o dia, por vossa causa. Contudo, revelarei o poder do meu nome ao meu povo e conhecerão a virtude que há nele. Por fim, hão de reconhecer que sou eu, sim, eu quem fala com eles.” Como são belos, sobre as montanhas, os pés dos que trazem as felizes notícias de paz e salvação, as boas novas, dizendo a Sião: “O teu Deus reina!” A sentinela de vigia levanta a voz e canta de alegria, porque ali perante os seus olhos vê o Senhor que regressa a Sião. Que as próprias ruínas de Jerusalém rompam em cânticos de felicidade, pois o Senhor confortou o seu povo, redimiu Jerusalém! O Senhor arregaçou a manga do seu forte e santo braço aos olhos de todas as nações. Até as extremidades da Terra hão de ver a salvação do nosso Deus. Vamos então! Deixem as vossas cadeias e a escravidão! Saiam do meio deles! Afastem-se! Não tenham contacto com aquilo que eu repudio! Purifiquem-se, todos os que transportam os recipientes santos do Senhor! Não será à pressa que hão de sair de lá, como se fugissem para salvar as vidas, porque é o Senhor quem vai à vossa frente. Ele, o Deus de Israel, vos protegerá, até mesmo à retaguarda. “Reparem! O meu Servo prosperará e será altamente exaltado! Mas quem creu na nossa pregação? A quem foi revelado o braço forte do Senhor? Aos olhos de Deus, ele era o delicado rebento duma planta que brota duma raiz numa terra seca e estéril. Mas aos nossos olhos não tinha atrativo nenhum, nada que nos fizesse interessar-nos por ele. Desprezámo-lo e rejeitámo-lo. Era um homem de sofrimentos experimentado nas mais amargas provações. Voltávamos-lhe as costas e olhávamos para o outro lado quando passava perto. Era desprezado e não lhe ligávamos importância nenhuma. Contudo, ele levou verdadeiramente as nossas enfermidades e carregou os nossos sofrimentos. Pensámos que era afligido, castigado e humilhado por Deus. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e esmagado pelas nossas culpas. Foi castigado para que pudéssemos ter paz; pelas suas feridas fomos sarados. Perdemo-nos como ovelhas tresmalhadas! Deixámos o caminho certo para seguir a nossa própria via. Contudo, o Senhor fez cair sobre ele os pecados e a culpa de cada um de nós. Foi oprimido e afligido, contudo, não abriu a sua boca. Foi levado como uma ovelha para o matadouro e assim como o cordeiro se mantém mudo diante dos que o tosquiam também ele não abriu a sua boca. Após a prisão e o julgamento levaram-no então para a morte. Mas, afinal, quem de entre o povo, naquele dia, se deu conta de que era pelos pecados deles que ia morrer, que estava a sofrer o castigo que deviam eles ter suportado? Foi sepultado como um criminoso; puseram-no no túmulo de um rico. A verdade é que ele nunca cometeu pecado e nunca enganou ninguém. Contudo, foi o bom plano do Senhor que ele fosse moído e cheio de aflições. Mas quando a sua alma for oferecida por expiação do pecado, então terá uma multidão de filhos, uma posteridade imensa. Tornará a viver e os planos do Senhor hão de prosperar nas suas mãos. “E quando vir que tudo isso foi realizado através da angústia da sua alma, verá a luz e ficará satisfeito. Por causa de tudo por que passou, o meu Servo justo fará com que muitos sejam considerados justos perante Deus, visto que levará todos os seus pecados. Por isso, lhe darei as honras de quem é grande e poderoso, pois derramou a sua alma, indo até à morte. Ele foi contado entre os transgressores, carregou os pecados de muitos e intercedeu junto de Deus pelos pecadores. Alegra-te tu, mulher que não tiveste filhos! Expande a tua alegria com cânticos, tu que não estás de parto! Porque tu que foste abandonada terás mais filhos do que a que tem marido, diz o Senhor. Amplia a tua habitação; acrescenta o espaço da tua tenda; não hesites! Alonga as cordas; firma bem as estacas! Porque em breve transbordarás por todos os lados! Os teus descendentes possuirão as cidades abandonadas durante o exílio e mandarão nas nações que tomaram as suas terras. Não tenhas receio; nunca mais viverás humilhada! O opróbrio da tua mocidade e o acabrunhamento da tua viuvez são coisas que nunca mais serão lembradas! Porque o teu Criador é o teu marido. Senhor dos exércitos é o seu nome, é o teu Redentor, o Santo de Israel, o Deus de toda a Terra. O Senhor chamou-te no meio do teu abatimento, pois eras como uma jovem mulher abandonada pelo seu marido. Por um curto espaço de tempo abandonei-te, mas com imensa compaixão te recolherei. Durante um momento de cólera, virei-vos a cara por algum tempo, mas com amor eterno terei piedade de vocês, diz o Senhor, o vosso Redentor. Tal como no tempo de Noé, em que jurei nunca mais permitir que águas dum dilúvio cobrissem a Terra e destruíssem a vida, também agora juro que nunca mais derramarei a minha ira sobre vocês nem vos ameaçarei. Ainda que as montanhas tremam e as colinas desapareçam, o meu amor infalível nunca vos abandonará. A aliança de paz que vos faço nunca será alterada, diz o Senhor, que tem piedade de vocês. Ó meu povo afligido e oprimido, batido pelas tempestades, tornarei a edificar-vos sobre alicerces de safiras! As vossas torres serão de rubi, as vossas portas de esmeralda e os vossos muros de joias cintilantes. Todos os teus filhos serão ensinados por mim e será grande a sua paz. Hão de viver sob um governo justo e honesto! Os vossos inimigos e tudo o que seja opressão estará bem longe! Viverão em paz e nunca terror algum se aproximará de vocês! Se alguma nação vier fazer-vos guerra, não terá sido enviada por mim para vos castigar, com toda a certeza! Será derrotada, pois estou convosco! Fui eu quem criou o ferreiro que sopra o carvão para aquecer a forja e fabricar as armas de destruição. Eu criei os exércitos devastadores. Mas nesse dia, que há de vir, arma alguma voltada contra ti terá sucesso e ser-te-á feita justiça sempre que quiserem condenar-te na base da mentira. Esta é a herança e o ganho dos servos do Senhor. Esta é a bênção que vos dei, diz o Senhor. Ouçam! Alguém tem sede? Venha e beba mesmo que não tenha dinheiro! Venha, escolha o que quiser de vinho e leite, é tudo de graça! Porque é que gastam o dinheiro naquilo que não vos alimenta? Por que razão hão de aplicar o produto do vosso trabalho em coisas que não vos servem de nada? Ouçam-me bem e dir-vos-ei onde podem obter o melhor alimento que fortalecerá a vossa alma! Venham, com os ouvidos bem abertos! Escutem, porque a vossa vida está em jogo! Farei convosco uma aliança para sempre e realizarei a vosso favor todas as promessas sagradas e maravilhosas que garanti a David. Ele teve a prova do meu poder quando conquistou nações estrangeiras. Vocês controlarão igualmente nações, que virão apressadamente para vos obedecer, não por causa do vosso próprio poder ou virtude, mas porque eu, o Senhor, vosso Deus, o Santo de Israel, vos glorifiquei!” Busquem o Senhor enquanto é possível encontrá-lo! Invoquem-no enquanto está perto! Deixem os perversos a sua má conduta! Expulsem a maldade da sua mente e voltem-se para o Senhor que terá misericórdia deles! Voltem-se para o nosso Deus que terá para eles abundantes reservas de perdão! O Senhor declara: “Os meus pensamentos não são os mesmos que os vossos e os vossos caminhos não são os mesmos que os meus. Porque assim como os céus estão muito acima da Terra, também os meus caminhos são muito superiores aos vossos e os meus pensamentos muito acima dos vossos. A chuva e a neve descem do céu para regar a terra, tornar produtiva a vegetação e dar vida à natureza, para que as sementes se reproduzam e haja pão para quem tem fome. Assim é a minha palavra; ela sai da minha boca e dá sempre fruto; realizará sempre o que pretendo e prosperará por toda a parte para onde a envie. Com alegria sairão e em paz serão guiados. As montanhas e as colinas, as árvores dos campos, todo o mundo à vossa volta se alegrará e estará em festa. Onde antes havia espinhos crescerão ciprestes; em lugar de sarças ver-se-ão murtas a desenvolver-se por toda a parte. Este milagre tornará grandioso o nome do Senhor e será um sinal para sempre. Sejam justos para toda a gente, diz o Senhor. Pratiquem a retidão e o bem, porque chegarei brevemente para vos salvar. Abençoado é todo aquele que assim procede, que age com firmeza, e que respeita o sábado. Abençoada é a pessoa que sabe guardar-se de praticar o mal. A minha bênção dirige-se igualmente aos gentios que aceitarem o Senhor. E que não pensem estes que farei deles uma espécie de cidadãos de segunda classe! Da mesma forma, esta promessa diz respeito também aos eunucos. Eles podem ser meus, tanto quanto qualquer outro. E tenho a dizer o seguinte aos eunucos que guardam os meus sábados, que preferem as coisas que me agradam, que aceitam a minha aliança. Dar-lhes-ei, na minha casa, dentro das minhas muralhas, um nome, uma honra muito superior à que teriam se gerassem filhos e filhas, visto que será uma honra que não passará, que não desaparecerá. Portanto, aos não-judeus que se juntarem ao Senhor, que o servirem, amarem o seu nome, não desacreditarem os sábados e aceitarem a sua aliança e as suas promessas, a esses trarei para o meu santo monte e os encherei de alegria no interior da minha casa de oração. Aceitarei os seus holocaustos e ofertas, porque o meu templo será chamado casa de oração para todas as nações.” Porque o Senhor Deus que traz de volta os que foram expulsos para fora de Israel; também trará outros juntamente com o seu povo. Aproximem-se, animais selvagens, venham despedaçar! Que as feras das montanhas venham devorar o meu povo! Porque os sentinelas estão cegos e não têm conhecimento algum. São como cães mudos, incapazes de ladrar; deitam-se a sonhar e só querem dormir. São gulosos como cães, nunca se satisfazem, são pastores estúpidos. Só compreendem bem aquilo que representa os seus interesses pessoais e imediatos, procurando obter e ganhar tanto quanto possível, cada um para si e seja de que forma for. “Venham!”, dizem eles. “Vamos buscar vinho e fazer uma festa! Vamo-nos todos embriagar! Isto assim é que é viver! Faremos isto hoje, amanhã e depois, e quantos mais dias melhor!” As pessoas justas perecem. Os que seguem a Deus morrem antes de serem velhos e ninguém parece preocupar-se; ninguém pergunta porque é que assim acontece. Ninguém parece dar-se conta de que é afinal Deus que os está a livrar da calamidade. Porque os que amam a Deus, morrendo, repousarão em paz. “Mas vocês, cheguem-se cá, filhos de feiticeiras, descendentes de adúlteros e de prostitutas! Com quem é que vocês se estão a divertir, afinal, fazendo caretas e deitando a língua de fora? Vocês são filhos de pecadores, são gente falsa! Adoram ídolos com toda a devoção, entre os carvalhos e debaixo de cada árvore verde, e sacrificam os vossos filhos nos vales e ribeiros e nas fendas dos penhascos. Os vossos deuses são as pedras lisas dos ribeiros. Adoram-nos e eles aos vossos olhos é que são, e nunca eu, a feliz bênção que vos coube em sorte! Será que isso tudo me faz feliz? Praticaram o adultério no cimo dos montes e ali subiram para oferecer sacrifícios aos ídolos. Também dentro de casa, com as portas fechadas, instalam lá os vossos deuses e é assim que adoram toda a espécie de coisas, em vez de me adorarem a mim. Isto é adultério, porque estão a dar o vosso amor a esses ídolos, contemplando o objeto obsceno. Levam incenso aromático e perfumes a Moloque como ofertas. Viajaram até bem longe e teriam sido capazes de ir até ao mundo dos mortos para encontrar mais deuses para amar. Chegaram a cansar-se nessa busca, mas não desistiram. Procuraram ganhar novas forças e continuaram no mesmo. Afinal por que razão tinham mais medo deles do que de mim? Como foi que aconteceu não terem pensado, um segundo sequer, em mim? Terá sido porque estive demasiado calado que não me temem? Depois há aquilo que consideram a vossa justiça, as vossas boas obras, e nenhuma delas vos poderá salvar. Veremos se essa coleção de ídolos será capaz de vos ajudar, quando lhes pedirem que vos salvem! Valem tanto que um simples pé de vento os pode fazer desaparecer! Pelo contrário, aquele que confia em mim possuirá a terra e receberá a posse do meu santo monte. Por isso, vos direi: ‘Reconstruam o caminho! Tirem as pedras, os pedregulhos! Preparem um caminho glorioso para que o meu povo regresse do cativeiro!’ ” O alto e sublime, que habita na eternidade, o Santo, diz: “Eu vivo num lugar excelso e santo, mas também comigo estão todos aqueles que têm um espírito contrito e humilde. Conforto os humildes e dou nova coragem aos corações arrependidos. Porque não será para sempre que lutarei convosco, que vos mostrarei a minha ira. Se assim acontecesse, destruiria o sopro da vida, as almas que eu criei. Eu mostrei a minha ira e castiguei esses por serem maus e egoístas. Aliás, continuaram a pecar, fazendo sempre o que apetecia aos seus corações maus. Vi bem a conduta deles, mas apesar disso hei de curá-los! Hei de guiá-los e confortá-los, ajudando-os a prantear e a confessar os seus pecados. Paz! Paz para eles! Tanto para os que estão perto como os para que estão longe, porque curarei a todos! Aqueles que continuam a rejeitar-me são como um mar agitado, cujas vagas nunca se acalmam; são como as águas revoltas dum pântano que só deitam lodo e sujidade. Para os ímpios, diz o meu Deus, não há paz! Clamem com uma voz como de trombeta! Denunciem claramente ao meu povo a sua maldade, aos descendentes de Jacob os seus pecados! Porque eles pretendem dar uma aparência de piedade, de religiosidade! Vêm todos os dias ao templo e quem os vê parece que estão deleitados a ouvir a leitura das minhas leis, como se quisessem sinceramente obedecer-lhes, como se não desprezassem, de forma alguma, os mandamentos do seu Deus! Julgar-se-ia até que estão ansiosos por cumprir corretamente os preceitos da justiça e até parecem ter vontade de se aproximar de Deus! ‘Jejuámos na tua presença!’, dizem. ‘Porque é que não ficaste impressionado com isso? Porque não reparaste nos nossos sacrifícios? Porque é que não quiseste ouvir as nossas orações? Fizemos tanta penitência e não te deste conta de nada!’ A razão está em que, no dia do vosso jejum, correm atrás dos vossos próprios desejos e negócios, e continuam também a oprimir os vossos trabalhadores. É que jejuais entre rixas e contendas, disputando entre vós, guerreando brutalmente uns contra os outros. Essa espécie de jejuns não tem qualquer efeito comigo, pois assim a vossa voz não se fará ouvir nos céus. Alguma vez eu quero que vocês façam esse tipo de penitências e se inclinem até ao chão como juncos batidos pelo vento, ou que se vistam de saco e se cubram de cinza? É a isso que vocês chamam jejum e dia agradável ao Senhor? Não! A espécie de jejum que eu quero é esta: libertem os que foram presos injustamente e também o jugo que transportam; libertem os oprimidos e quebrem toda a espécie de opressão. Quero que partilhem a vossa comida com os que têm fome e que sejam hospitaleiros para com os que vivem desprotegidos, pobres e desamparados. Que deem roupa aos que têm frio e que não se escondam daqueles que, sendo até vossos familiares, precisam da vossa ajuda. Se fizerem estas coisas, Deus fará brilhar sobre vocês a luz da sua própria glória! Dar-vos-á saúde; a vossa vida com Deus será a força do vosso progresso; a vossa justiça tornar-se-á o vosso escudo de proteção e a glória do Senhor vos protegerá à retaguarda! Então, quando chamarem, o Senhor responderá. ‘Sim! Estou aqui!’, será a sua rápida resposta. Tudo o que precisam de fazer é deixar de oprimir o fraco, abandonar a falsidade, não fazer falsas acusações, nem espalhar mentiras! Deem de comer ao faminto! Ajudem os necessitados e aflitos! Então a vossa luz brilhará nas trevas e a escuridão à vossa volta será como a brilhante claridade do dia. O Senhor vos guiará continuamente e vos encherá de toda a sorte de coisas boas, dando-vos bem-estar e saúde. Serão como um viçoso jardim bem regado com frescas águas; serão como uma fonte jorrando continuamente água abundante. Os vossos filhos tornarão a reconstruir as ruínas antigas, edificando sobre velhas fundações do passado; serão conhecidos como o povo que reconstrói as suas muralhas e cidades. Se guardarem o santo sábado, não se divertindo nem trabalhando nesse dia, antes honrando-o e tendo prazer nele, como o dia santo do Senhor, honrando o Senhor em tudo o que fizerem, não seguindo os vossos próprios desejos e prazeres, nem mantendo propósitos e conversas ociosas e inúteis, então o Senhor será todo o vosso prazer. Eu farei com que cavalguem nas alturas e obtenham a totalidade das bênçãos que prometi a Jacob, vosso pai.” É o Senhor mesmo quem diz isto! Agora escutem! O Senhor não é nenhum ser fraco que não possa salvar-nos, nem tão-pouco se está a tornar surdo! Ele ouve perfeitamente quando clamam a ele! Mas o problema é que os vossos pecados vos separam de Deus! Por causa do pecado virou-vos a cara e já não vos ouve mais! Porque as vossas mãos são as mãos de assassinos; os vossos dedos estão sujos de pecado; mentem, refilam, recusam o que é reto. Ninguém se preocupa em ser honesto e verdadeiro; os vossos processos judiciais baseiam-se sempre na mentira; passam o tempo a conspirar e armar ciladas. Tecem teias de aranha e chocam ovos de serpente; quem comer desses ovos, morre e de cada ovo esmagado sai uma víbora. As teias que tecem não prestam para fazer roupa; ninguém se pode cobrir com semelhantes produtos. Tudo o que fazem é cheio de pecado; o produto das vossas mãos é a violência. Os vossos pés correm para a maldade e precipitam-se para derramar sangue; os vossos pensamentos são de pecado e, por onde quer que vão, deixam um rasto de miséria e morte. Ignoram o que seja a verdadeira paz, nem o que quer dizer ser bom e justo; fazem continuamente o que é mau e aqueles que vos seguem não conseguirão experimentar nenhuma paz. É por causa de todo esse mal que não nos é feita justiça e a retidão não nos alcança. Esperamos pela luz e só há trevas; vivemos na escuridão. Andamos às apalpadelas como cegos; tropeçamos em plena luz do dia, como se fosse o lusco-fusco do anoitecer. Somos como mortos entre os vivos. Grunhimos como ursos, gememos como pombas. Esperamos pela justiça, mas em vão. Esperamos por salvação, mas é coisa que está bem longe de nós. Porque os nossos pecados amontoam-se perante o Deus justo e servem de testemunho contra nós. Sim, nós sabemos bem como somos pecadores! Conhecemos a nossa desobediência; rejeitámos o Senhor, voltámos as costas contra o nosso Deus. Sabemos como somos rebeldes e injustos; é com todo o cuidado que inventamos as nossas mentiras. Os nossos tribunais opõem-se aos justos; não se sabe o que é a honradez. A verdade anda de rastos pelas ruas e a justiça vive como os marginais, os fora-da-lei. Sim, a verdade foi-se e todos os que tentam viver mais corretamente são atacados. O Senhor viu todo este mal e indignou-se com a falta de justiça. Viu que não havia ninguém que tomasse a iniciativa de lutar contra o pecado e interviesse. Por isso, ele próprio avançou para os salvar por meio do seu forte braço e da sua justiça. Revestiu-se da armadura da justiça, pôs o capacete da salvação; vestiu-se com a roupagem do castigo e da ira divina. Retribuirá aos seus inimigos conforme as suas más ações. A sua cólera atingirá os seus adversários, mesmo que se encontrem nas terras mais distantes de além-mar. Por fim, hão de temer e glorificar o nome do Senhor, do ocidente ao oriente. Porque ele virá como uma corrente de águas, impulsionado pelo sopro do Senhor. “Virá o Redentor a Sião e para os de Jacob que se arrependerem da sua transgressão, diz o Senhor. Esta é a aliança que faço com eles, diz o Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que coloquei na tua boca, nunca se afastarão de ti, nem os teus descendentes, diz o Senhor, agora e para sempre!” Levanta-te, meu povo! Que a tua luz brilhe para todas as nações verem! Porque a glória do Senhor está a irradiar de ti. Os outros povos da Terra serão cobertos por uma escuridão tão densa como a noite escura, mas a glória do Senhor resplenderá sobre ti. Então as nações virão para a tua luz; os reis se chegarão para verem o resplendor que te envolve. Levanta os olhos e vê! Os teus filhos e as tuas filhas estão a regressar vindos de terras bem longe. Os teus olhos cintilarão de contentamento e o teu coração estremecerá de emoção. Mercadores de todas as partes do mundo afluirão trazendo-te as riquezas de muitas terras. Grandes desfiles de camelos convergirão sobre ti; dromedários de Midiã, de Sabá e de Efá virão carregados de ouro e de incenso para oferecer, enquanto proclamam os louvores ao Senhor. Rebanhos inteiros de ovelhas de Quedar te serão dados; carneiros de Nabaiote serão oferecidos para o meu altar. O meu glorioso templo será exaltado nesse dia. E quem serão estes que voam como nuvens, como pombas correndo para os seus ninhos? Em mim esperam as ilhas; à frente vêm os grandes navios de Társis, para trazerem os filhos de Israel de novo para casa, vindos de muito longe, carregando todos os seus bens de prata e ouro, para glorificar o Senhor teu Deus. Porque o Santo de Israel, conhecido em todo o mundo, vos glorificou, vos honrou aos olhos de toda a gente. Virão estrangeiros edificar as vossas cidades, reis e presidentes enviar-vos-ão ajuda, porque apesar de vos ter destruído, na minha ira, terei agora misericórdia através da minha graça. Os portões das muralhas ficarão continuamente abertos de par em par, para poderem deixar passar todas essas riquezas que vos chegam do exterior, vindas das nações. Os governos dos países estrangeiros vos servirão. E aqueles que não quiserem ser vossos aliados, acabarão por perecer; virão a ser destruídos. “Será vossa a glória do Líbano, as florestas de faias, ciprestes e pinheiros, a fim de ornamentarem o meu santuário, o sítio onde descansam os meus pés. Até aqueles que vos afligiram virão e se inclinarão perante vocês! Chamar-te-ão Cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel. Ainda que tenham sido rejeitados, odiados e desprezados por toda a gente, tornar-se-ão agora prestigiados para sempre; serão bem vistos; serão os preferidos de todo o mundo, porque serei eu quem faz isso. Governos poderosos de grandes nações fornecerão o melhor dos seus produtos, para satisfazer as vossas necessidades. Vocês saberão, enfim, e compreenderão realmente que eu, o Senhor, sou o vosso Salvador, o vosso Redentor, o Poderoso de Jacob. Trocarei o vosso bronze por ouro, o vosso ferro por prata, a madeira por bronze e pedras por ferro. A paz e a justiça serão os princípios fundamentais das vossas leis de trabalho! Desaparecerá a violência da vossa terra! Não haverá mais guerra! As muralhas à vossa volta chamar-se-ão Salvação e os portões Louvor. Não precisarão mais nem do Sol nem da Lua para vos iluminarem, porque o Senhor, o vosso Deus, será a vossa luz eterna e a vossa glória. O vosso Sol nunca mais se porá! A Lua nunca mais se desvanecerá! O Senhor será a vossa luz para sempre! O vosso tempo de tristeza acabará! Toda a vossa população será gente justa. Possuirão a sua terra para sempre, visto que serei eu próprio a estabelecê-los ali, com as minhas próprias mãos, e isso será para mim uma glória. A mais pequena família se multiplicará formando um imenso grupo. A mais pequenina tribo se tornará numa grande nação. Eu, o Senhor, farei com que tudo isto aconteça, no tempo oportuno. O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para levar boas novas aos pobres. Enviou-me para levar conforto aos que têm o coração ferido, para anunciar a liberdade aos cativos, abrir os olhos aos cegos e as prisões aos presos. Enviou-me a anunciar o tempo do favor do Senhor e da sua ira para com os seus inimigos; para consolar todos os que choram. A todos os que vivem tristes em Sião dar-lhes-á alegria em lugar de cinzas, gozo em vez de lamentações, louvor em vez de angústia. O Senhor os plantou como carvalhos de justiça, como a plantação do Senhor, para sua própria glória. Eles reconstruirão as antigas ruínas, repararão as cidades desde há muito destruídas, fazendo-as reviver, ainda que tenham estado mortas durante muito tempo. Estrangeiros virão servir-vos; apascentarão os rebanhos, lavrarão os campos, tratarão das vinhas. Quanto a vocês, serão sacerdotes do Senhor, ministros do nosso Deus. Serão alimentados com a riqueza das nações e terão muita honra em todos esses tesouros. Em vez de vergonha e desonra, terão uma porção dobrada de prosperidade e uma alegria sem limites. Porque eu, o Senhor, amo a justiça e odeio a maldade, o roubo. Recompensarei certamente com generosidade o meu povo, por tudo o que sofreu, e farei com ele uma aliança eterna. Os seus descendentes serão conhecidos e honrados entre as nações. Toda a gente se dará conta de que são um povo que o Senhor abençoou.” Deixem que vos diga como o Senhor me fez feliz, como a minha alma se alegra em Deus! Porque me vestiu com o fato da salvação e me cobriu com a roupa da justiça! Sou como um noivo no seu fato de casamento e como uma noiva adornada com todas as suas joias. O Senhor Deus mostrará às nações do mundo a sua justiça e todos o louvarão. A sua retidão será como uma planta cheia de rebentos e de flores em botão; como um jardim no princípio da primavera, cheio de novas plantas desabrochando por toda a parte. Por amor de Sião, por amor de Jerusalém, não me calarei! Não deixarei de fazer oração por ela, nem de clamar a Deus a favor dela, até que resplandeça na sua justiça e se torne gloriosa na sua salvação! As nações verão a tua justiça. Os chefes das nações ficarão ofuscados pela tua glória. Serás chamado por um novo nome, o qual foi escolhido pelo Senhor. Serás como uma esplêndida coroa, um diadema real, que o Senhor, o teu Deus, segura na sua mão. Nunca mais serás chamada Abandonada, nem a tua terra será chamada Desolada. Antes o teu novo nome será a Terra Preferida de Deus, e também a Esposa, pois terás a preferência do Senhor e a tua terra será desposada. Os teus filhos terão cuidado de ti, ó Jerusalém, com a mesma alegria com que um noivo se ocupa da sua jovem esposa. Deus se regozijará em ti como um noivo na mulher com quem acaba de casar. Ó Jerusalém, coloquei intercessores sobre os teus muros, para que clamassem ao Senhor dia e noite pelo cumprimento das suas promessas. Não descansem, os que oram a Deus! Não lhe deem descanso enquanto não tiver restabelecido Jerusalém, enquanto não a tiver tornado respeitada e admirada por toda a Terra. O Senhor jurou a Jerusalém com toda a integridade: “Nunca mais te darei aos teus inimigos! Nunca mais soldados estrangeiros virão pilhar o azeite e o vinho novo, que tanto te custou a cultivar! Tudo aquilo que colheres guardarás e darás graças a Deus. Dentro dos átrios do templo só tu beberás o vinho que pisaste nos teus lagares.” Saiam! Saiam! Preparem a estrada pela qual regressará o povo! Construam-na onde for preciso, limpem-na de pedregulhos, ergam a bandeira de Israel! Vejam! O Senhor enviou os seus mensageiros a cada terra com este recado: “Digam a Sião que eu, o teu Salvador, estou a chegar, trazendo a recompensa que cada um merece de acordo com as suas obras.” Serão chamados o Povo Santo e os Redimidos do Senhor. Jerusalém será apelidada Terra Desejada e Cidade não Abandonada. Quem é este que vem de Edom, da cidade de Bozra com uma roupa magnífica tingida de vermelho? Quem é este, assim vestido com fatos reais, marchando na exaltação da sua força? “Sou eu que promovo a justiça! Eu, poderoso para salvar!” Então porque está assim a tua roupa tão vermelha, como se estivesse manchada de vinho, como se tivesses estado a pisar no lagar? “Sim, estive a pisar sozinho no lagar. Ninguém ali estava para me ajudar. Na minha ira esmaguei os meus inimigos como cachos de uvas. Na minha cólera pisei os meus adversários. É o sangue deles que veem na minha roupa. Porque chegou o tempo de vingar o meu povo, de o resgatar das mãos dos seus opressores. Olhei e não vi ninguém que viesse socorrê-lo. Fiquei espantado. Por isso, decidi executar sozinho a vingança. Sem o auxílio de ninguém fiz eu o julgamento. Esmaguei as nações pagãs na minha cólera, fi-las cambalear e cair redondamente no chão.” Falarei das bondades do Senhor! Louvá-lo-ei por tudo quanto fez por nós! Alegrar-me-ei pela sua grande bondade para com Israel, que ele concedeu de acordo com a sua misericórdia e o seu amor! Disse ele: “São meus, pertencem-me! Nunca mais serão mentirosos, enganadores!” E tornou-se o seu Salvador. Por cada uma das suas aflições foi ele angustiado e o próprio anjo da sua presença os salvou. No seu amor, na sua piedade, redimiu-os, reergueu-os e levou-os através dos séculos. Contudo, revoltaram-se contra ele e ofenderam o Espírito Santo. Por isso, tornou-se seu inimigo e lutou pessoalmente contra eles. Por fim, lembraram-se dos dias antigos em que Moisés, o servo de Deus, levou o seu povo para fora do Egito e clamaram: “Onde está aquele que conduziu Israel através do mar, com Moisés como pastor? Onde está o Deus que mandou o Espírito Santo entre o seu povo? Onde está esse cujo grande e forte braço foi capaz de separar as águas do mar na frente deles, quando Moisés levantou a mão, confirmando para sempre o seu prestígio? Quem foi que os levou através das profundezas do mar? Como fortes cavalos de raça, nunca tropeçaram através do deserto. Como gado pastando nos vales, assim o Espírito do Senhor lhes deu repouso. Assim conduziste o teu povo e o teu nome se tornou glorioso.” Olha desde os céus e contempla-nos desde a tua santa e gloriosa morada! Onde está o amor que nos mostravas, o teu zelo, a tua misericórdia, a tua compaixão? Onde estão agora? Certamente que ainda és o nosso Pai! Mesmo que Abraão ou Jacob não nos reconhecessem, tu, ó Senhor, és o nosso Pai e o nosso Redentor, desde a antiguidade. Ó Senhor, porque é que permitiste que os nossos corações se endurecessem, nos desviássemos dos teus caminhos e não te honrássemos? Volta e ajuda-nos, porque nós, que te pertencemos, precisamos tanto de ti! Como foi curto o tempo em que possuímos Jerusalém! E agora os nossos inimigos destruíram-na! Ó Deus, tornámo-nos como aqueles sobre quem tu nunca governaste e como os que nunca se chamaram pelo teu nome! Oh! Se rompesses os céus e descesses! Como as montanhas haveriam de tremer na tua presença! O fogo consumidor da tua glória faria arder os gravetos e ferver a água. As nações estremeceriam perante ti e os teus inimigos seriam forçados a reconhecer as razões de toda a tua fama! Assim acontecia antes, quando descias e fazias coisas tremendas muito para além do que poderíamos pensar e, nessas alturas, como tremiam os montes! Porque desde que o mundo começou a existir nunca ninguém viu ou ouviu algum deus como o nosso, que faz tais coisas para aqueles que esperam por ele! Tu estás pronto a receber de braços abertos aqueles que têm prazer em praticar o bem, que seguem os caminhos de Deus. Mas nós não somos desses. Estamos constantemente a pecar e assim tem sido toda a nossa vida. Por isso, o teu castigo pesa sobre nós. Como é que gente como nós pode ser salva? Estamos todos sujos, infetados de pecado. Quando fomos vestir aquilo que considerávamos os nossos valiosos fatos de justiça, vimos bem que não eram mais do que trapos imundos. Somos semelhantes às folhas de outono que murcham, secam e caem. Todos os nossos pecados, como um ciclone, nos arrebatam e nos levam. E ninguém invoca o teu nome ou roga pela tua clemência. Eis a razão por que te desviaste de nós e nos lanças sobre os nossos pecados. Contudo, ó Senhor, és o nosso Pai! Somos o barro e tu és o oleiro! Somos todos criados pelas tuas mãos! Oh! Não te enfureças tanto connosco, Senhor, e não tenhas para sempre na tua lembrança os nossos pecados! Vê, repara que somos todos teu povo! As tuas santas cidades estão destruídas. Sião parece um deserto e Jerusalém um lugar desolado. O nosso santo e belo templo, onde os nossos pais te louvaram, está derrubado, e todas as belas coisas que continha estão destruídas. Será que depois disto tudo ainda recusas socorrer-nos, Senhor? Ficarás silencioso e quererás castigar-nos ainda mais? E Deus diz: “Fui procurado pelos que nunca antes tinham inquirido sobre mim. Os que nunca antes me tinham buscado, agora me acham. A uma nação que não invocava o meu nome disse: ‘Estou aqui! Estou aqui!’ Continuamente estendi as minhas mãos a um povo rebelde e desobediente, que anda por um caminho que não é bom e busca seguir os seus próprios pensamentos. Todo o dia me insultam no rosto, adorando ídolos nos seus muitos jardins e queimando incenso em altares de tijolo. À noite saem por entre as campas dos cemitérios e cavernas para consultar os espíritos dos mortos; comem carne de porco e outros alimentos proibidos. Apesar disso, ainda são capazes de dizer uns para os outros: ‘Não te aproximes de mim, afasta-te! Sou mais santo do que tu!’ Dia após dia, o fumo de toda aquela maldade cada vez mais me enfurece. Vejam, esta é a minha decisão! Não ficarei silencioso perante isso! Darei a paga! Sim, castigá-los-ei, e não somente pelos seus próprios pecados, mas pelos dos seus pais também, diz o Senhor, porque também eles queimaram incenso e me insultaram sobre os montes. Dar-lhes-ei inteiramente a recompensa que merecem. Contudo, não os destruirei completamente, diz o Senhor. Porque tal como se encontram uvas sãs num cacho que aparentemente estava todo podre, não destruirei Israel inteiramente, porque existem lá no meio verdadeiros servos meus. Acontece até haver sempre alguém que diz: ‘Não as deites fora a todas, pois ainda prometem algum vinho!’ Conservarei um resto do povo de Jacob, para que possua o meu monte santo; dá-lo-ei àqueles que escolhi e ali os meus servos habitarão. Para aqueles de entre o meu povo que me têm procurado, os verdes prados de Sarom ainda se encherão de rebanhos e o fértil vale de Acor acolherá muito gado. Para todos os outros que abandonaram o Senhor e se esqueceram do meu santo monte, e adoraram os deuses da sorte e do destino, a vossa sorte será a espada e o vosso destino bem negro. Porque quando chamei não me responderam, quando falei não quiseram ouvir-me. Pecaram deliberadamente perante os meus próprios olhos, escolhendo conscientemente aquilo que bem sabiam que eu detestava. Por isso, diz o Senhor Deus: Vocês hão de passar fome. Quanto àqueles que querem servir-me, esses comerão à sua vontade. Vocês terão sede, mas eles beberão até se saciarem. Vocês terão vergonha e tristeza, enquanto eles se alegrarão. Vocês chorarão de pesar, vergonha e desespero, enquanto eles cantarão de alegria. O vosso nome tornar-se-á como uma maldição entre o meu povo, porque o Senhor Deus vos matará e aos que o servem chamará por um outro nome. Ainda hão de vir os dias em que todos os que invocam uma bênção ou fazem um juramento o farão sempre pelo Deus da verdade, visto que porei de lado a minha ira e me esquecerei do mal que fizeram. Ouçam bem! Vou criar novos céus e nova Terra! E serão tão maravilhosos que ninguém mais se lembrará dos anteriores! Alegrem-se! Folguem para sempre com a minha criação! Vejam! Tornarei a criar Jerusalém como um lugar de felicidade e o seu povo viverá em gozo! Terei plena alegria em Jerusalém e no meu povo! Nunca mais ali se ouvirá nem a voz do choro nem a dos lamentos! Nunca mais morrerão ali crianças com apenas alguns dias de vida! Nunca mais se considerará velha uma pessoa de 100 anos! Só os pecadores morrerão jovens! Naqueles dias, construirão casas e habitarão nelas; plantarão vinhas e comerão o seu fruto. Não construirão casas para que outros nelas habitem, nem plantarão vinhas para que outros delas comam. O meu povo viverá longos anos como as árvores e os meus escolhidos desfrutarão alegremente do fruto do seu labor. Não mais trabalharão inutilmente e as suas crianças não crescerão para virem a tornar-se vítimas da guerra, visto que são descendência bendita do Senhor, tanto elas como os seus filhos. Responderei às suas orações, ainda antes de as terem formulado. Quando estiverem a falar comigo, apresentando as suas necessidades, adiantar-me-ei e responderei às suas orações. O lobo e o cordeirinho comerão juntos; o leão comerá palha como o boi e o pó será o alimento da serpente. Nesses dias, nada nem ninguém será ferido ou destruído em todo o meu santo monte!”, diz o Senhor. Assim diz o Senhor: “O céu é o meu trono e a Terra é o estrado dos meus pés! Que casa me poderiam construir ou que lugar para o meu descanso? Foi a minha mão que fez todas essas coisas! Tudo é meu! Contudo, olharei com piedade para todo aquele que tiver um coração simples e arrependido, que trema perante a minha palavra. Mas aqueles que preferem escolher os seus próprios caminhos, deleitando-se nos seus pecados, serão amaldiçoados; as suas oferendas não serão aceites. Quando uma tal pessoa sacrificar um boi sobre o altar de Deus, isso terá para mim o mesmo significado e gravidade que assassinar um homem. Se sacrificarem um cordeiro, ou se trouxerem uma oferta de cereais, será tão repugnante como trazer um cão ou sangue de porco para o altar! Quando queimarem incenso será absolutamente o mesmo que prestar culto a abominações. Mandar-lhes-ei grandes tribulações; tudo aquilo que precisamente receiam, visto que quando chamei por eles recusaram responder-me e quando lhes dirigi a minha palavra não quiseram ouvir-me. Até fizeram o mal, na minha própria presença, e optaram por aquelas coisas que sabiam bem que eu abominava.” Ouçam a palavra do Senhor, todos os que o temem e tremam com a sua palavra: “Os vossos irmãos vos odeiam e aborrecem; expulsam-vos por serem leais ao meu nome; troçam de vocês dizendo: ‘Que o Senhor seja glorificado, para que vejamos a vossa alegria!’ Mas se dizem isso, agora na risota, o certo é que hão de ficar envergonhados. Que movimento, que rumor é este na cidade? Que ruído tremendo é este que se ouve no templo? É justamente a voz do Senhor dando a paga aos seus inimigos. Antes das contrações do parto, ela deu à luz; antes que as dores viessem, teve um menino. Quem alguma vez ouviu tal ou viu coisa semelhante? Porventura um povo nasce num só dia ou uma nação nasce duma só vez? Mas foi este o caso de Sião, que mal sentiu as contrações, deu à luz os seus filhos. Seria eu capaz de levar o parto até ao último momento sem que se desse o nascimento?, pergunta o Senhor, o vosso Deus. Não, nunca! Alegrem-se com Jerusalém! Regozijam-se com ela, todos os que a amam e que choraram por causa dela! Deleitem-se em Jerusalém! Saciem-se fartamente da sua glória, como se fosse um bebé sôfrego ao peito da mãe. A prosperidade encherá Jerusalém como se um rio a inundasse, diz o Senhor, pois sou eu quem a envia. Serão as riquezas dos gentios que se derramarão sobre ela. Os seus filhos alimentar-se-ão aos seus peitos, levados ao seu colo, embalados sobre os seus joelhos. Confortar-vos-ei ali, tal como um pequenino é consolado pela mãe.” Quando virem Jerusalém, o vosso coração vibrará de gozo; o vosso corpo retomará vigor como a erva na primavera. Todo o mundo verá a boa mão do Senhor sobre o seu povo e a sua cólera sobre os seus adversários. Reparem, o Senhor há de vir com fogo e com velozes carros, para condenar com severa cólera, para fazer justiça com chamas de fogo! Será precisamente com fogo e com a sua espada que o Senhor condenará o mundo e será grande a matança que terá de fazer! “Serão mortos todos aqueles que adoram ídolos atrás de qualquer árvore dum jardim, fazendo festins com carne de porco e de ratos, e com toda a espécie de coisas abomináveis. Sim, esses terão um fim maldito, diz o Senhor. Conheço muito bem as suas obras; sei perfeitamente o que pensam. Por isso, juntarei todas as nações e todos os povos contra Jerusalém, para ali verem a minha glória. Realizarei um poderoso milagre contra eles e aos que dali escaparem enviá-los-ei como missionários a Társis, a Pul e a Lude, povo exímio no uso do arco, a Tubal, à Grécia e às terras para além do mar, que nunca ouviram falar da minha fama, nem se deram conta da minha glória. Aí será anunciada a minha glória aos gentios. E trarão os vossos irmãos, vindos de todas as nações, como se fosse um presente oferecido ao Senhor, transportando-os cuidadosamente em carros e liteiras, em mulas e camelos, até ao meu santo monte, até Jerusalém, diz o Senhor. Será como quando se trazem as ofertas na época das colheitas, que enchem o templo do Senhor, transportadas em vasos limpos. E nomearei alguns desses para serem meus sacerdotes e levitas, diz o Senhor. Tão certo como os novos céus e a nova Terra que eu hei de criar permanecerão para sempre, assim também serão para sempre o meu povo, com um nome que nunca há de desaparecer. Toda a humanidade virá para me adorar, de sábado a sábado, de uma festa da lua nova a outra, diz o Senhor. Ao saírem verão os corpos mortos dos que se revoltaram contra mim, visto que os vermes que os comem nunca morrerão e o fogo que os consome nunca se apagará; serão um sinal de desprezo para todo o ser humano.” Estas são as mensagens de Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes que viveu na cidade de Anatote, na terra de Benjamim. A primeira destas mensagens do Senhor foi-lhe transmitida no décimo terceiro ano do reinado de Josias, filho a Amom, rei de Judá. As outras foram-lhe transmitidas no reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, e em várias outras vezes, até ao quinto mês do décimo primeiro ano do reinado de Zedequias, filho de Josias, rei de Judá, em que Jerusalém foi tomada e o seu povo levado cativo, como escravos. O Senhor disse-me: “Conheci-te antes que fosses formado dentro do ventre de tua mãe; antes de teres nascido te santifiquei e te nomeei como meu profeta entre as nações.” “Oh! Senhor Deus!”, disse eu. “Não posso fazer isso! Sou ainda tão novo! Sou apenas um moço!” “Não digas isso!”, replicou-me. “Porque irás onde eu te mandar e dirás tudo o que eu te indicar. Não tenhas medo do povo, porque eu, o Senhor, serei contigo para te livrar!” Então tocou-me na boca e disse: “Vê, coloquei as minhas palavras na tua boca! Hoje começa o teu serviço de advertir as nações e os governos do mundo. De acordo com as minhas palavras, ditas através da tua boca, derribarei alguns deles para os liquidar, e estabelecerei outros e os alimentarei, tornando-os fortes e grandes.” Então o Senhor disse-me: “Repara, Jeremias! O que vês tu?” Respondi: “Vejo uma vara feita de um ramo de amendoeira!” “É verdade! Isso significa que estou atento para que a minha palavra se cumpra.” Depois o Senhor tornou a perguntar-me: “E agora que vês tu?” Respondi: “Vejo um recipiente com água a ferver, virado para o sul e derramando-se sobre Judá.” “Sim, é isso mesmo! Porque um terror vindo do norte ferverá sobre todo o povo desta terra. Estou a convocar os exércitos nas nações do norte para que venham a Jerusalém e ponham os seus tronos nas entradas da cidade e ao longo das suas muralhas, assim como em todas as outras cidades de Judá. Esta é a forma como hei de castigar o meu povo, por me ter abandonado e por ter queimado incenso a outros deuses, a ídolos feitos por eles próprios! Levanta-te e veste-te! Vai dizer-lhes tudo o que eu te disser! Não tenhas receio, pois doutra forma não terás a força necessária para os confrontares. Porque farei com que te tornes inabalável perante os seus ataques. Eles não poderão ferir-te. Serás tão forte como uma cidade fortificada, impossível de capturar, como uma coluna de ferro, como pesados portões de bronze. Nenhum rei de Judá, nem os seus nobres ou sacerdotes, nem o povo, poderá prevalecer contra ti. Eles tentarão, mas não conseguirão, pois estou contigo, diz o Senhor, eu te livrarei!” De novo o Senhor me falou. “Vai e grita isto nas ruas de Jerusalém: O Senhor diz: Lembro-me do tempo em que procuravas pressurosamente agradar-me, tal como um jovem esposo, em que me amavas e me seguias, mesmo nas terras secas do deserto. Nesses dias Israel era um povo santo, o primeiro dos meus filhos. Quem lhe fizesse mal seria considerado profundamente culpado e grande prejuízo caía sobre quem lhe tocasse.” Ó descendentes de Jacob e gentes da casa de Israel, o Senhor pergunta: “Porque é que os vossos pais me abandonaram? Que mal encontraram em mim, a ponto de se desviarem e de se porem a adorar ídolos sem valor, tornando-se eles próprios sem valor? Eles não se preocuparam em perguntar: ‘Onde está o Senhor que nos trouxe seguramente para fora do Egito e nos conduziu através do deserto estéril, duma terra de sequidão e de pedregulhos, de sombras tenebrosas e de morte, onde ninguém vive nem sequer viaja?’ Eu vos trouxe para uma terra fértil, onde puderam comer dos seus frutos e de todas as boas coisas que generosamente produz, mas vocês transformaram-na numa terra de pecado e corrupção, tendo feito desse meu território uma abominação. Os sacerdotes não perguntaram: ‘Onde está o Senhor?’ Os seus juízes ignoraram-me; os responsáveis por ensinar a Lei revoltaram-se contra mim e os profetas puseram-se a falar em nome de Baal, gastando o tempo em coisas insensatas. Contudo, continuarei a pleitear convosco, para que voltem para mim, e até com os filhos dos vossos filhos! Os céus ficam desolados com estas coisas. Porque o meu povo cometeu dois pecados! Deixaram-me a mim, a fonte da água da vida e, além disso, cavaram cisternas rotas que não podem conter água! Por que razão se tornou Israel numa nação de escravos? Porque foram eles capturados e levados para longe? Vejo grandes exércitos marchando sobre Jerusalém, com rugidos poderosos, prontos para destruir e para deixar todas as outras cidades em ruínas, queimadas e desoladas. Vejo os exércitos do Egito levantando-se contra Israel, avançando desde as suas cidades de Menfis e de Tafnes, para aniquilar inteiramente a glória de Israel. E isto é consequência direta do facto de se terem rebelado contra o Senhor, vosso Deus, que queria guiar-vos no vosso caminho! O que pensas tu ganhar indo ao Egito, para beber da água do Nilo? O que pensas tu ganhar indo à Assíria, para beber água do Eufrates? A vossa própria maldade vos castiga. Hão de ver que coisa má e amarga é rebelarem-se contra o Senhor, vosso Deus, sem temor algum de o esquecerem, diz Deus, o Senhor dos exércitos. Há já muito tempo, tu quebraste o meu jugo e desprendeste as cadeias que te prendiam, mas não quiseste obedecer-me. No cimo de cada outeiro, debaixo de cada árvore frondosa te entregaste a algum culto de prostituição. Quando vos plantei, escolhi cuidadosamente a minha videira, a melhor de todas, de uma semente absolutamente pura. Como foi que se tornaram uma planta degenerada, uma vinha estragada? Não há sabão ou detergente que chegue para vos lavar. Vocês estão sujos com uma culpa que não sai assim. Vejo-a continuamente perante os meus olhos, diz o Senhor Deus. Vocês dizem que não, que não é assim, que não têm adorado ídolos de Baal. Mas como é que podem afirmar uma coisa dessas? Vão ver, em cada vale da terra! Encarem bem os terríveis pecados que têm praticado. Vocês são como camelas ligeiras desviando-se do seu caminho! São como uma jumenta selvagem sorvendo o ar no tempo do acasalamento. Quem poderá reter a tua lascívia? Qualquer macho que te queira nem precisa de procurar-te; tu logo apareces correndo para ele! Porque não deixas de andar a correr assim atrás de outros deuses? Mas tu dizes: ‘Não percas tempo! Estou apaixonada por esses estrangeiros e já não posso deixar de os amar!’ Tal como um ladrão inveterado, a única coisa de que pode ter vergonha é ser apanhado. Reis, altas entidades, sacerdotes e profetas, são todos assim! Chamam pai a uma coisa talhada em madeira e têm como mãe um ídolo esculpido em pedra! Mas o certo é que em tempos de aflição sabem clamar a mim que os salve. Porque não vão ter com essa espécie de deuses que vocês mesmo fizeram? Quando o perigo ameaça, deem-lhes ocasião para que se mostrem e vos salvem, se puderem! Até porque vocês têm tantos deuses quantas as cidades de Judá! Não venham ter comigo, porque vocês são rebeldes, diz o Senhor. Castiguei os teus filhos, mas isso de pouco lhes serviu. Continuam sem querer obedecer. Vocês mesmos têm morto os meus profetas, como os leões ao despedaçarem a presa. Ó, meu povo, ouve a palavra do Senhor! Terei sido como um deserto para com Israel? Ter-lhe-ei proporcionado uma vida como numa terra de trevas e de maldade? Então porque diz o meu povo: ‘Até que enfim estamos livres de Deus! Já não temos mais nada a ver com ele!’? Como podem desligar-se de Deus assim dessa maneira? Poderá uma rapariga esquecer os seus enfeites? Qual é a noiva que os põe de lado e não se lembra mais do seu vestido de noiva? Pois é o que tem acontecido há anos com o meu povo que se tem esquecido de mim! O que tu não inventas para cativares os teus amantes! A meretriz mais experimentada teria muito a aprender contigo! As tuas roupas estão manchadas com o sangue dos inocentes e dos pobres. Assassinas descaradamente, sem causa alguma, e ainda por cima dizes: ‘Não fiz nada que justifique a cólera de Deus! Estou certo de que ele não está zangado!’ Hei de castigar-te severamente, porque dizes: ‘Não pequei!’ Andas de um lado para o outro, de um aliado saltas para outro, procurando apoio, mas isso não servirá de nada. Os teus novos amigos no Egito hão de esquecer-te, tal como já aconteceu com a Assíria. Serás deixado no desespero, cobrindo a cara com as mãos, porque o Senhor rejeita esses em quem tu confias. Não terás sucesso, a despeito da sua ajuda. Há uma lei em como um homem que se divorcie duma mulher, se esta vier a casar com outro, não poderá casar novamente com ela, porque dessa forma a terra tornar-se-ia corrompida. Ora tu deixaste-me para te juntares a muitos amantes e, mesmo assim, queres tornar para mim?, diz o Senhor. Haverá algum lugar em toda a terra onde tu não te tenhas manchado com os teus adultérios, esses cultos que prestas a outros deuses? Sentas-te como uma prostituta à beira da estrada à espera de clientes. Pões-te sozinha ali, como um beduíno no deserto. Poluíste a terra com as tuas prostituições. É por isso que até as chuvas da primavera te falham, porque és uma prostituta que perdeu completamente a vergonha. E ainda tens cara para me dizer: ‘Ó pai, tu foste sempre para nós um amigo! Não vais ficar zangado com essas coisas tão pequenas! Vais com certeza esquecê-las!’ É essa a vossa conversa e, entretanto, continuam a fazer o mal que vos apetece.” Esta é a mensagem que o Senhor me transmitiu durante o reinado do rei Josias: “Tens reparado no que Israel está a fazer? Como uma mulher luxuriosa, que se prostitui a cada momento, assim Israel adorou outros deuses em cada colina, debaixo de cada árvore frondosa. Eu sempre pensei que algum dia ela voltaria para mim e tornaria a ser minha, mas não voltou! E Judá, a sua infiel irmã, esteve a ver tudo. Apesar disso, não prestou atenção, não ligou, mesmo quando me divorciei da sua desleal irmã Israel. Agora também me abandonou e entregou-se à prostituição, indo atrás doutros deuses para lhes prestar culto. E fê-lo com toda a ligeireza; para ela era como se fosse coisa sem importância adorar ídolos de madeira e pedra. Dessa forma, a terra poluiu-se e sujou-se grandemente. Passados tempos, esta infiel voltou para mim, mas a sua tristeza era inteiramente fingida, diz o Senhor Deus. De facto, até a enganosa Israel é menos culpada do que a falsa Judá! Portanto, vai e diz a Israel: Ó Israel, meu povo pecador, vem outra vez para casa, porque eu sou misericordioso e não ficarei irado eternamente contra ti! Apenas te peço que reconheças a tua culpa, que admitas que te rebelaste contra o Senhor, o teu Deus, e que cometeste adultério contra mim ao adorares ídolos sob toda a espécie de árvores! Confessa que recusaste seguir-me! Ó filhos pecadores, voltem para mim, porque eu sou o vosso Senhor e tornarei a trazer-vos para Sião; um daqui, outro dacolá, de toda a parte para onde foram espalhados. E dar-vos-ei pastores, de acordo com o meu próprio coração, que vos conduzirão com sabedoria e compreensão. Então, quando a vossa terra estiver de novo cheia de gente, diz o Senhor, nunca mais desejarão os bons velhos tempos de antigamente em que tinham no vosso meio a arca da aliança de Deus. Não terão saudades desses dias, nem sequer pensarão neles; não precisarão de tornar a reconstruir a arca. Pois o Senhor, ele próprio, estará no vosso meio e a cidade inteira de Jerusalém será conhecida como sendo ela mesma o trono do Senhor. Todas as nações virão ter com ele ali e nunca mais andarão segundo os propósitos do seu coração maligno. Nesse tempo, o povo de Judá e o povo de Israel voltarão juntos do exílio, no norte, para a terra que dei aos seus antepassados por posse, para sempre. E pensei como seria maravilhoso que vocês aqui estivessem entre os meus filhos! Fiz planos de vos dar parte desta bela terra, a melhor do mundo. Previ que me chamariam pai e imaginei que nunca mais me deixariam. Mas vocês atraiçoaram-me; foram-se embora e deram-se a uma multidão de deuses estranhos; foram como uma mulher infiel que deixa o seu marido.” Ouço vozes chorando alto do cimo das montanhas, vozes de lamento e de súplica. São os filhos de Israel que viraram as costas a Deus e se esqueceram do Senhor, do seu Deus. “Ó meus filhos rebeldes, voltem de novo para mim e curar-vos-ei dos vossos pecados!” Eles respondem, “Sim, voltaremos porque tu és o Senhor, nosso Deus! Foi um erro adorar ídolos sobre os altos e fazer orgias nas montanhas. Só no Senhor, nosso Deus, pode Israel encontrar ajuda e salvação para sempre. Desde a nossa mocidade, deuses vergonhosos consumiram tudo o que os nossos pais tinham; rebanhos, gado, filhos e filhas. Aqui estamos agora, cobertos de vergonha e desonra, porque tanto nós como os nossos pais pecámos, já desde a juventude, contra o Senhor, nosso Deus, e não lhe obedecemos.” “Ó Israel, se voltarem para mim renegando as vossas abominações, diz o Senhor, se deixarem os ídolos que detesto, não precisarão de andar sem rumo; se passarem a jurar pela vida do Senhor, e começarem a viver retamente, tendo vidas honestas e limpas, por vosso intermédio serão abençoados todos os povos da Terra e estes glorificarão o meu nome.” Assim diz o Senhor aos homens de Judá e Jerusalém: “Lavrem o vosso campo não arado! Não semeiem entre os espinhos! Circuncidem os vossos corações para o Senhor, pois doutra forma a minha cólera se acenderá, por causa dos vossos pecados, e ninguém poderá apagar esse fogo! Gritem a toda a Jerusalém e a toda a Judeia! Que a trombeta toque por toda a terra! Salve-se quem puder! Fujam para as cidades fortificadas! Mandem um sinal desde Jerusalém: ‘Fujam já, não se demorem!’ Porque eu, o Senhor, trago-vos uma grande destruição desde o norte.” Um leão, um destruidor de nações, já saiu do seu covil e dirige-se para a vossa terra. As cidades serão arrasadas e ficarão sem um habitante. Vistam-se de luto e chorem, com corações quebrantados, porque a ira do Senhor ainda não esmoreceu. “Nesse dia, diz o Senhor, o rei e os demais governantes tremerão de pavor; os sacerdotes e os profetas estremecerão de horror.” Então eu disse: “Mas, Senhor Deus, o povo foi enganado pelo que disseste, pois prometeste grandes bênçãos para Jerusalém. Acontece agora que a espada lhe penetra até à alma!” Nesse tempo, será dito a este povo e a Jerusalém: “Um vento ardente, que procede das dunas do deserto, sopra em direção ao meu povo, mas a sua missão não é peneirar, nem limpar. É um vento muito forte que virá por minha ordem. Agora eu pronunciarei o meu julgamento contra eles.” Eis que os seus carros de guerra serão como remoinhos de ventos; os seus cavalos serão mais rápidos do que águias. Ai, ai de nós, porque estamos liquidados! Ó Jerusalém, limpa o teu coração enquanto é tempo! Ainda podes ser salva, expurgando os teus maus pensamentos! A tua sentença já foi proclamada desde Dan e desde o monte Efraim. “Avisa as outras nações que o inimigo está vindo de uma terra distante e grita contra Jerusalém e as cidades de Judá. Cercam já Jerusalém, como homens que guardam um campo. Porque o meu povo se rebelou contra mim, diz o Senhor. Foram os vossos caminhos, a vossa conduta, que provocaram tudo isto; é a vossa própria iniquidade que vos penetra até ao coração, como uma bebida bem amarga.” Ah! Meu coração, meu coração! Torço-me de aflição e dores; o meu coração bate com violência dentro de mim. Não posso estar sossegado, porque ouvi, ó minha alma, o som da trombeta de guerra do inimigo, os gritos de combate dos meus adversários. Ondas de destruição rolam sobre esta terra e não a deixam antes que esteja em ruínas. De repente, num abrir e fechar de olhos, uma casa está feita num montão de ruínas. Até quando terei de ver o estandarte de guerra e ouvir o toque das trombetas a convocar para o combate? “Até que o meu povo deixe a sua loucura, visto que já não me conhece! São como atrasados mentais que não compreendem nada! Para a prática do mal são perspicazes e argutos, mas para praticar a justiça não têm talento nenhum!” Olhei para baixo, para a Terra deles, tão longe quanto podia avistar em todas as direções, e vi um caos que era como uma massa amorfa; nem o firmamento tinha qualquer luminosidade. Olhei para as montanhas e vi que tremiam e se abalavam. Olhei e a humanidade inteira tinha desaparecido; até os pássaros dos ares tinham fugido. Os férteis vales tinham-se tornado em terras secas e desertas; todas as cidades estavam derribadas, diante do Senhor, e esmagadas pela sua fúria. O decreto do Senhor manda destruir a terra inteira. “Mesmo assim”, diz ele, “ainda ficará um pequeno resto do povo. A Terra lamentar-se-á e os céus vestir-se-ão de luto, por causa desse meu decreto contra o povo; mas o certo é que aquilo que propus na minha mente não o alterarei.” Todas as cidades fogem de terror ao ruído dos exércitos que se aproximam marchando. As populações escondem-se onde podem, por entre os bosques e nas montanhas. Todas as povoações estão abandonadas; toda a gente procura escapar com medo. Porque te vestes com a tua melhor roupa? Para que pões as joias, maquilhas o rosto e dás cor nos olhos? Isso é tudo inútil! Os teus antigos amantes desprezam-te e hão de matar-te. Tenho ouvido gritos como os de uma mulher a dar à luz o seu primeiro filho. É o grito da filha de Sião que geme ofegante e estende as suas mãos clamando: “Ai de mim! Estou a desfalecer! A minha vida corre perigo nas mãos de assassinos!” “Percorram todas as ruas de Jerusalém em todas as direções! Procurem em todos os cantos e vejam se podem encontrar um só homem reto e honesto! Procurem em cada largo, em cada cruzamento e, se conseguirem encontrar um só que seja, eu não destruirei a cidade! Embora digam: ‘Tão certo como vive o Senhor, eles são capazes de mentir.’ ” Ó Senhor, tu só atentas para a verdade das coisas! Tentaste levá-los a serem honestos, castigando-os, mas eles recusaram mudar! Destruíste-os, mas simplesmente não quiseram abandonar os seus pecados. Estão perfeitamente determinados a não se arrependerem, os seus rostos são duros como pedras. Então eu disse: “Que podemos nós esperar de uns pobres ignorantes? Eles não sabem qual é o caminho do Senhor, como podem obedecer-lhe? Irei ter com os seus líderes, os governantes, e falar-lhes-ei, porque esses, sim, sabem quais são os caminhos do Senhor e qual o julgamento da parte de Deus.” Entretanto, todos eles também rejeitaram a autoridade de Deus sobre eles e recusaram-se a obedecer-lhe. Por isso, virá contra eles a fúria selvagem do leão da floresta; os lobos do deserto saltarão sobre eles e um leopardo rondará as suas povoações, de tal forma que uma pessoa que tente sair será logo despedaçada; pois os seus pecados são imensos e graves as suas transgressões. “Como posso eu perdoar-vos? Até os vossos filhos se desgarraram e adoram coisas a que chamam deuses e que não são deuses nenhuns. Alimentei o meu povo até que estivesse plenamente satisfeito e o seu agradecimento foi entontecer-se de adultérios e ir a correr meter-se nas casas de prostituição da cidade. Estão todos bem tratados, como cavalos nédios; todas as manhãs relincham para a companheira do seu próximo. E não os haveria de castigar, quando estas coisas se passam? Não mandarei eu a minha severa recompensa a uma nação desta natureza? Percorram as vinhas e destruam-nas! Deixem, mesmo assim, algumas com vida! Quebrem-lhes os ramos, porque não são do Senhor. Porque o povo de Israel e de Judá estão cheios de engano e traição contra mim, diz o Senhor.” Têm mentido e dito: “Que ele não nos aborreça! Não nos há de acontecer nenhum mal! Não há de haver nem guerra nem fome! Até as palavras dos profetas”, dizem eles, “são como sacos vazios, só com ar; estão cheios de palavras, mas sem autoridade divina. As suas ameaças de condenação cairão sobre eles próprios, não sobre nós!” É isto o que o Senhor, o Deus dos exércitos, tem a dizer: “Por causa do que falaram, converterei em fogo as minhas palavras na vossa boca e farei delas um fogo devastador que arderá sobre este povo como o incêndio numa floresta. Vejam bem, hei de trazer uma nação distante contra vocês, ó Israel, diz o Senhor, uma nação poderosa, uma nação antiga, cuja língua vocês desconhecem. A sua aljava de flechas é mortal; todos os seus valentes são gente de grande força. Virão comer as vossas searas, matarão os vossos filhos e filhas, os rebanhos, as manadas de gado e até devorarão as uvas e os figos! Abaterão mesmo as cidades com altas muralhas, dentro das quais pensavam estar com segurança! Contudo, nesses dias não vos destruirei completamente, diz o Senhor. E quando perguntarem: ‘Porque foi que o Senhor, nosso Deus, nos fez isto?’, então lhes responderás: ‘Foi porque o rejeitaram e se deram a si próprios a outros deuses, enquanto estavam na vossa terra; e agora também servirão estrangeiros, numa terra que não é vossa.’ Proclamem isto a Judá e a Jacob: Ouçam, ó povo louco e insensato, vocês que têm olhos e não veem nada, que têm ouvidos e não ouvem nada! Será que também não me temerão?, pergunta o Senhor. Como pode ser que nem sequer tremem na minha presença? Fui eu quem estabeleceu os limites do mar, com leis perpétuas, de forma que os oceanos, por muito que rujam e que se agitem, nunca ultrapassam essa barreira. Um tal Deus não será ele digno de ser temido e adorado? Mas o meu povo tem corações rebeldes; voltaram-se contra mim e abandonaram-me. Não reconhecem a eles mesmos que melhor é temer o Senhor, nosso Deus, que lhes dá chuva a seu tempo, no outono e na primavera, e lhes conserva o tempo da sega. Por isso, as vossas iniquidades afastaram estas bênçãos maravilhosas. Foi o vosso pecado que vos subtraiu todas essas boas coisas. Entre o meu povo há gente perversa que faz esperas às suas vítimas, como se fossem caçadores armando ciladas aos animais; também armam laços, mas para caçarem gente. Como uma gaiola cheia de pássaros, assim os seus lares estão repletos de engano e traições. E o resultado? São agora grandes e ricos senhores! Estão bem nutridos, bem tratados, e parece nem haver limites para os seus atos malvados. Recusam fazer justiça aos órfãos, respeitar os direitos dos pobres. Deveria então sentar-me recostado e fazer como se nada disto se desse?, pergunta o Senhor Deus. Não hei de eu castigar uma nação assim? Uma coisa tremenda aconteceu nesta terra! Os profetas só falam mentiras, os sacerdotes governam de acordo com os seus próprios interesses e o meu povo está satisfeito que seja assim! Mas como acabará tudo isso? Foge, povo de Benjamim, foge para poupares a vida! Foge de Jerusalém! Toquem o alarme em Tecoa! Enviem um sinal de fumo em Bete-Haquerem! Avisem toda a gente que um exército poderoso vem a caminho do norte para destruir esta nação! Desprotegida estás, formosa e delicada filha de Sião e, dessa forma, condenada. Maus pastores te rodearão; acampar-se-ão à volta da cidade; repartirão as tuas pastagens pelos seus rebanhos.” “Vejam-nos a prepararem-se para a batalha! Começou ao meio-dia. Durante toda a tarde se embraveceram, até caírem as sombras da noite.” “Vamos!”, dizem eles. “Ataquemos de noite e destruamos as suas fortalezas!” Porque o Senhor dos exércitos lhes disse: “Cortem as suas árvores, para construir tranqueiras e abater com elas os muros de Jerusalém. Esta é uma cidade a ser punida, porque tudo o que há nela é só perversidade. Jorra dela maldade como água duma fonte! As suas ruas ecoam com os ruídos de violência; as suas enfermidades e as suas chagas estão sempre patentes aos meus olhos. Muda, ó Jerusalém! Se não me quiseres ouvir, apartar-me-ei de ti e a terra ficará assolada e vazia. Desastres atrás de desastres cairão sobre ti. E até os poucos que ficaram em Israel serão colhidos em posteriores revoadas de ataques, diz o Senhor dos exércitos! Porque tal como o vindimador dá uma segunda volta pela vinha para apanhar cachos que tenham ficado esquecidos ou escondidos, assim também o meu povo será destruído novamente!” Mas quem é que me ouve quando os advirto? Têm os ouvidos fechados; recusam ouvir. A palavra do Senhor irrita-os; não têm nela nenhum interesse. É por causa disto tudo que estou cheio do furor do Senhor contra eles. Estou cansado de o conter. “Derramá-lo-ei sobre Jerusalém, até sobre os meninos que brincam nas ruas; sobre os ajuntamentos de jovens, sobre os maridos e as esposas e sobre os velhos. Os seus inimigos viverão nos seus lares, ocuparão os seus campos e ficarão com as suas mulheres, porque hei de castigar a gente desta terra, diz o Senhor. São cobiçosos e mentirosos, desde o mais humilde até ao mais importante! Desde o profeta ao sacerdote todos se conduzem perfidamente. Não se pode tratar uma ferida fazendo de conta que não é uma ferida e que está tudo são! Pois é o que fazem os sacerdotes e os profetas que se põem a dar segurança de paz, dizendo: ‘Paz! Paz!’, quando não há paz! Acaso terá ficado o meu povo envergonhado, quando cometeu a abominação de adorar ídolos? Não, de maneira nenhuma! Antes pelo contrário! Eles sabem lá o que é corar de vergonha! Por isso, hão de cair entre os que forem assassinados; hão de cair sob a minha ira!” Mesmo assim, o Senhor insiste convosco: “Perguntem qual é a melhor estrada, o caminho de justiça, essas veredas antigas por onde costumavam andar. Vão por elas, e acharão repouso para as vossas almas. Mas vocês respondem: ‘Não, não é nessa direção que quero ir; não me interessa esse caminho!’ Pus sentinelas vigiando sobre vocês, as quais vos alertaram: ‘Estejam atentos ao toque da trombeta! Ela vai avisar-vos quando a aflição chegar.’ Mas a vossa resposta foi: ‘Não! Não estamos interessados em dar atenção a isso!’ Esta é pois a minha sentença contra o meu povo! Ouçam bem, terras distantes, assim como Jerusalém! Que toda a Terra ouça isto: Trarei o mal sobre este povo; será isso o fruto do seu pecado, visto que não querem ouvir-me e rejeitam a minha Lei. De nada interessa agora porem-se a queimar incenso aromático de Sabá na minha presença! Fariam melhor em poupar esses perfumes caros! Não posso aceitar essas ofertas que para mim não cheiram a nada; nada significam. Farei, por isso, do caminho do meu povo uma espécie de pista de obstáculos, uma estrada minada onde serão apanhados e ficarão, tanto os pais como os filhos; vizinhos e amigos todos ali perecerão!” O Senhor diz: “Vejam esses exércitos que avançam desde o norte! Uma grande nação se prepara para vir sobre vocês! São gente cruel e sem piedade, armada até aos dentes, convenientemente preparada para a guerra. O barulho que faz o seu exército é como o rugir do mar.” Temos ouvido da fama desses exércitos e ficámos sem pinga de sangue, com o terror. O terror e sofrimento apanharam-nos e tiram-nos as forças, como se fôssemos mulheres na angústia e no aperto do parto. Não saiam para os campos! Não fujam pelas estradas! Porque o inimigo está por toda a parte, pronto a matar. O terror vos apanhará a cada esquina, a cada curva da estrada. Ó Jerusalém, o orgulho do meu povo, põe roupa de luto, senta-te sobre cinzas e chora amargamente como se fosse pelo teu único filho. Porque inesperadamente batalhões de soldados cairão sobre nós para nos destruir. “Jeremias, estabeleci-te como se fosses um aferidor de metais, para que pudesses testar o meu povo e determinar o seu verdadeiro valor. Ouve as suas falas e observa o que fazem. Todos eles são os piores dos rebeldes, cheios duma linguagem perversa e caluniosa; são insolentes e tão duros como o ferro e o bronze. O fole sopra furiosamente, o fogo refinador está cada vez mais ateado e quente, mas o facto é que não consegue depurá-los, pela simples razão de que não há nenhuma pureza neles. Só lhes convém a etiqueta ‘metal rejeitado’. Pô-los-ei de parte.” Então o Senhor disse a Jeremias: “Vai até à entrada do templo do Senhor e dá esta mensagem ao povo: Ó Judá, ouve a mensagem de Deus! Ouçam-na, todos vocês que aqui vêm para adorar! O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Apesar de tudo, se deixarem os vossos maus caminhos, deixar-vos-ei ficar na vossa terra. Mas não se deixem enganar nem ser iludidos por aqueles que vos dizem: ‘Este é o templo do Senhor! É o templo do Senhor! É o templo do Senhor! Estamos em segurança!’ Só sob estas condições é que poderão ficar: Se acabarem com os vossos maus pensamentos e com os vossos maus procedimentos, se forem honestos uns para com os outros. Se pararem de explorar os órfãos, as viúvas e os estrangeiros, se pararem com os assassínios e o derramamento de sangue, e deixarem de adorar ídolos, como fazem agora, para o vosso próprio mal. Então, e só então, vos deixarei ficar nesta terra que dei aos vossos antepassados para que a possuíssem para sempre. Pensam vocês que, devido ao facto do templo estar aqui, nunca hão de sofrer? Não sejam loucos, enganando-se a vós mesmos! Como é que podem pensar que continuando a roubar, a matar, a cometer adultérios, a mentir, a adorar a Baal e a todos esses novos deuses estranhos que arranjaram, podem continuar a vir aqui? Como podem pôr-se diante de mim no meu templo e cantar: ‘Estamos salvos, somos livres!’, só para poderem voltar, de consciência descansada, a cometer as mesmas abominações? Acaso consideram esta minha casa, este templo que tem o meu nome, uma caverna de salteadores? O que eu tenho visto é entrar aqui toda a espécie de maldades! Vão até Silo, a povoação que logo no princípio honrei com o meu nome, e vejam o que lhe fiz, por causa de toda a maldade do meu povo de Israel. E agora, diz o Senhor, farei a mesma coisa aqui, por causa de toda a maldade que têm praticado. Vezes sem conta vos falei sobre isto, chamando-vos sempre a atenção, mas recusaram ouvir-me ou sequer responder-me. Sim, com certeza destruirei este templo tal como fiz em Silo! Este templo que tem o meu nome e no qual confiam para obter socorro, este lugar que vos dei e aos vossos antepassados. Mandar-vos-ei para o exílio, como aconteceu com os vossos irmãos, o povo de Efraim. Não ores mais por este povo, Jeremias! Não chores por ele, não faças oração a favor dele, rogando-me que o ajude, pois não te ouvirei! Não vês o que estão a fazer nas ruas de Jerusalém e nas cidades de Judá? Não admira que seja tão grande a minha ira! Vê como as crianças vão buscar lenha para os pais acenderem o fogo, a fim das mulheres poderem amassar a farinha e fazer bolos para oferecerem à Rainha dos Céus e a todos os outros seus ídolos a que chamam deuses! Pergunta o Senhor: será só a mim que eles ferem? Não será também a eles próprios, aviltando-se dessa maneira com coisas tão vergonhosas? Por isso, assim diz o Senhor Deus: Derramarei a minha cólera, sim, a minha fúria sobre este lugar! Gente, animais, árvores e demais vegetação serão consumidos pelo fogo inextinguível da minha severidade. O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Para longe com todos os vossos holocaustos e ofertas! Não foi nem ofertas nem holocaustos que pedi aos vossos pais, quando os conduzi para fora do Egito. Não era esse o aspeto essencial daquilo que lhes ordenava. O que eu lhes dizia era: Obedeçam-me e eu serei o vosso Deus e vocês serão o meu povo! Façam simplesmente o que eu vos disse e tudo vos correrá bem! Mas não quiseram ouvir-me e continuaram a fazer tudo o que lhes apetecia, seguindo o curso dos seus próprios pensamentos rebeldes e perversos. Foi assim que recuaram, em vez de progredirem. Desde o dia em que os vossos pais deixaram o Egito, até agora, continuei a enviar-lhes os meus profetas. Mas não estiveram na disposição de os ouvir e nem sequer fizeram um esforço! São duros, obstinados e rebeldes! Piores ainda do que os seus pais! Diz-lhes tudo o que lhes farei, mas não esperes que te ouçam. Grita bem alto os teus avisos, mas não contes que te respondam. Diz-lhes: Esta é uma nação que recusa obedecer ao Senhor, seu Deus, que se recusa a ser ensinada, e assim continua a viver uma mentira. Ó Jerusalém, rapa a tua cabeça de vergonha e chora sozinha sobre as montanhas, porque o Senhor rejeitou e esqueceu esta geração, por causa da sua ira! O povo de Judá pecou perante os meus olhos, diz o Senhor. Puseram as suas abominações ali mesmo, no meu próprio templo, poluindo-o. Construíram um altar chamado Tofete, no vale de Ben-Hinom, e ali queimaram no fogo os seus próprios filhos e filhas, em sacrifícios aos seus deuses, uma coisa tão terrível que nem sequer me passava pela mente, e que nunca teria permitido. Vem o tempo, diz o Senhor, em que o nome do vale não será mais Tofete ou vale de Ben-Hinom, mas vale da Matança. Porque haverá ali tantos mortos a enterrar que nem se acharão sepulcros que cheguem para pôr todos os corpos. Terão de amontoar os cadáveres no vale; os corpos deste povo servirão de pasto às aves de rapina e aos animais selvagens e não haverá ninguém para os enxotar. Acabarei com as alegres canções e os risos que se ouvem nas ruas de Jerusalém e nas cidades de Judá, assim como com as vozes dos noivos e das noivas. Porque a terra ficará numa desolação. Então, diz o Senhor, o inimigo quebrará os selos dos túmulos dos reis de Judá, dos governantes, dos profetas e do povo; pegará nos seus ossos e os espalhará pelo chão. Esses ossos não tornarão a ser apanhados e sepultados, mas antes espalhados como estrume pelo chão, à luz do Sol, sob a claridade da Lua e das estrelas, esses que eram os deuses deste povo e a quem amaram e prestaram culto. E a gente desta nação maligna que for deixada ainda com vida desejará muito mais morrer do que ir viver para onde os espalharei, diz o Senhor dos exércitos. Mais uma vez dá-lhes esta mensagem do Senhor. Quando uma pessoa cai, procura levantar-se; se encetou caminho por uma estrada errada e verifica que se enganou, voltará para trás, até ao cruzamento onde se enganou na direção. Mas esta gente continua no seu trilho errado, mesmo tendo-os eu avisado. Ouço a sua conversa e que é que ouço? Ouvirei eu alguém triste por ter pecado? Haverá alguém a dizer: ‘Que coisa terrível que eu fiz!’? Não! Todos eles descem como loucos pelo caminho do pecado, tão velozes como cavalos correndo para a batalha! Até a cegonha conhece o tempo em que deve emigrar e o mesmo acontece com outras aves, como a rola, o grou e a andorinha. Todas sabem regressar na altura que Deus lhes indica, em cada ano, mas isso não é para o meu povo! Não aceitam as leis do Senhor. Como podem dizer: ‘Nós compreendemos a sua Lei’, quando os vossos escribas a distorceram de forma a poder significar aquilo que eu nunca disse? Essas pessoas tão sábias ficarão cobertas de vergonha com o exílio que o vosso pecado vos trouxer, porque rejeitaram a palavra do Senhor. Veremos se nessa altura terão assim tanta sabedoria! Por isso, darei as suas mulheres e as suas quintas a outros, porque todos eles, grandes e pequenos, profetas e sacerdotes têm atualmente uma só coisa em mente, apossar-se do que não é deles. Tratam as feridas do meu povo com remédios perfeitamente ineficazes, pois lhe asseguram que tudo vai bem, quando não é nada assim. Serão eles capazes de ter vergonha de adorar outros deuses? Absolutamente! Nem um bocadinho sequer! Eles nem são capazes de corar! É por isso que hei de fazer que morram entre os vencidos. Castigá-los-ei com a morte. Os seus figos e as suas uvas desaparecerão; as suas árvores de fruto secarão; desaparecerão em breve todas as boas coisas que preparei para eles.” Então o povo dirá: “Porque haveremos então de esperar aqui para morrer? Venham, vamos para as cidades fortificadas e morreremos lá! Porque o Senhor, nosso Deus, decretou a nossa condenação e dá-nos a beber uma taça de veneno, por causa dos nossos pecados. Esperávamos a paz e não foi paz que tivemos! Contávamos com o bem-estar e chega-nos o terror!” “O ruído da guerra já soa na fronteira do norte. Toda a terra treme à aproximação daquele tremendo exército, porque o inimigo aproxima-se e vai devorando a terra e tudo o que nela encontra, tanto as povoações como os seus habitantes. Porque eu enviarei essas tropas adversárias para o vosso meio como serpentes envenenadas que ninguém poderá encantar. Façam o que fizerem, elas vos morderão e vocês hão de morrer”, diz o Senhor. A minha mágoa não tem consolação; o meu coração será destruído. Ouçam o choro do meu povo por toda a terra. “Não está o Senhor em Sião?”, perguntam. “Esta terra já não tem o seu Rei?” E o Senhor responde-lhes: “Oh! Porque é que eles me provocaram com os seus ídolos esculpidos, com aqueles ritos perversos e extravagantes?” “Acabou a sega; passou o verão e nós não estamos salvos!” Choro pela ferida do meu povo. Estou espantado, sem fala, mudo de angústia. Já não há remédio em Gileade? Não haverá ali um médico? Porque é que não houve cura para o meu povo? Oh! Se os meus olhos fossem uma fonte de lágrimas, haveria de chorar sem cessar! Haveria de soluçar noite e dia por causa da matança que cai sobre o meu povo! Se ao menos eu pudesse fugir, esquecê-los e viver numa cabana qualquer no deserto! Porque são todos gente adúltera e falsa! “Dobram as línguas como se fossem arcos e atiram flechas de mentira; são indiferentes a tudo o que seja retidão; vão de mal a pior na malícia. Não querem saber de mim para nada, diz o Senhor. Tenham cautela com os vizinhos! Desconfiem do vosso irmão! Andam todos à procura de se enganarem uns aos outros, caluniando-se mutuamente. Com línguas argutas enganam e defraudam os seus próximos; até se cansam a agir perversamente. Amontoam pecados sobre pecados e mentiras sobre mentiras, e recusam obstinadamente vir até mim”, diz o Senhor. Contudo, o Senhor dos exércitos diz também: “Vejam bem, vou derretê-los numa aflição cruciante! Vou refiná-los e testá-los como se faz ao metal! Aliás, que outra coisa mereciam que lhes fizesse? Porque as suas línguas atiram mentiras como flechas envenenadas. Falam muito sensatamente aos vizinhos, enquanto por trás estão a planear matá-los. Não deveria eu castigá-los por coisas destas?, pergunta o Senhor. Não deveria a minha alma vingar-se de gente assim?” Soluçando e chorando, olho para as montanhas e para as pastagens; vejo-as desoladas e sem vivalma. Foi-se o mugido do gado, foi-se o canto das aves, foram-se até os chacais! Todos fugiram! “Farei de Jerusalém montões de ruínas onde só os chacais terão os seus covis. As cidades de Judá não passarão de povoações assoladas, onde já ninguém habita.” Quem tem compreensão bastante para entender estas coisas? Onde está o mensageiro do Senhor para explicá-lo? Qual a razão por que esta terra se fez num deserto de maneira que ninguém ousa viajar através dela? “Tudo isto aconteceu, porque o meu povo abandonou a minha Lei, que lhes tinha dado!”, respondeu o Senhor. “Não obedeceu nem atentou para as minhas orientações. Têm feito só o que lhes agrada e até têm adorado os ídolos de Baal, conforme os seus pais lhes ensinaram. Por isso, eis o que o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Hei de alimentá-los com fel e dar-lhes água envenenada. Espalhá-los-ei pelo mundo e hão de ser estrangeiros em terras bem distantes, e mesmo lá a espada de destruição os perseguirá até serem completamente aniquilados.” O Senhor dos exércitos diz: “Mandem chamar as carpideiras! Tragam mulheres hábeis em cânticos fúnebres. Depressa! Ponham-se a chorar! Que as lágrimas corram abundantes nos vossos rostos! Ouçam de Sião lamentos de desespero: ‘Estamos arruinados! Caiu-nos a calamidade em cima! Temos de deixar as terras e as casas!’ ” Ouçam as palavras do Senhor, ó mulheres que estão aí a gemer! Ensinem as vossas filhas e as vossas vizinhas igualmente a gemer! Porque a morte trepou pelas janelas e está a entrar nos vossos lares; já matou a flor da vossa juventude. Não haverá mais crianças a brincar nas ruas, nem moços juntando-se nas praças. Diz-lhes, assim ordena o Senhor: haverá corpos lançados através dos campos, como se fossem esterco, como gavelas deixadas pelo segador, sem que haja alguém que as apanhe. Diz o Senhor: “Que o sábio não se orgulhe na sua sabedoria, nem o poderoso na sua força, nem o rico nas suas riquezas! Quem se quiser gloriar, glorie-se em me conhecer e em saber que eu sou o Senhor da justiça e da retidão, cujo amor é sem limite. É disso que eu me agrado. Virá o tempo, diz o Senhor, em que castigarei todos aqueles que são circuncidados de corpo mas não de espírito; os egípcios, os edomitas, os amonitas, os moabitas, os árabes, e até vocês, povo de Judá, porque todas essas gentes pagãs se circuncidam também. Mas vocês, a menos que circuncidem o vosso coração, amando-me, a vossa circuncisão não passará dum mero rito pagão, semelhante ao de outros povos e nada mais.” Ouve a palavra do Senhor, ó Israel! “Não façam o mesmo que os outros povos que elaboram horóscopos e tentam ler o seu destino e o seu futuro através dos astros. Não fiquem atemorizados com as suas predições, porque tudo não passa dum monte de mentiras. São processos estúpidos e sem sentido. Cortam uma árvore e talham com essa madeira um ídolo. Revestem-no de ouro e prata e depois seguram-no num determinado lugar, por meio de pregos e dum martelo, para que não caia. E ali fica o seu deus como um espantalho mudo num campo cultivado! Não pode falar e tem de ser transportado, porque não se desloca por si próprio. Não tenham medo dum deus assim, porque não vos pode fazer mal nenhum nem tão-pouco ajudar! Não vos serve para coisa nenhuma!” Ó Senhor, não há outro deus além de ti! Porque tu és grande e o teu nome é cheio de poder. Como é possível que haja quem não te tema, ó Rei das nações? E este é um título que só a ti pertence. Entre todos os sábios da Terra, em todos os países do mundo, não há ninguém que se assemelhe a ti! Os mais inteligentes dos homens que adoram ídolos de madeira acabam por se revelar, por isso mesmo, estúpidos e loucos. Trazem folhas de prata batida de Társis e ouro de Ufaz; entregam isso a habilidosos ourives que lhes fazem os seus ídolos; depois vestem esses deuses com fatos reais, feitos de púrpura, que alfaiates de categoria fizeram. Mas o Senhor permanece o único e verdadeiro Deus, o Deus vivo, o Rei eterno. Toda a Terra tremerá sob a sua ira; o mundo inteiro se esconderá da sua indignação. “Diz a esses que adoram outros deuses: ‘Essas coisas a que chamam deuses, que não fizeram nem os céus nem o mundo, serão banidas da Terra.’ ” Deus fez a Terra pelo seu poder e sabedoria; estendeu os céus segundo o seu conhecimento. É a sua voz que ecoa no meio do trovão, por entre as nuvens duma tempestade. Faz o vapor de água erguer-se sobre a Terra; manda os relâmpagos e traz a chuva; faz soprar o vento dos seus recantos. O homem tornou-se estúpido, não tem sabedoria. O ourives é ludibriado pelas imagens que fabrica; fica envergonhado porque tem consciência disso; não há nelas o mais pequeno sopro de vida. São coisas sem valor algum, inutilidades! Serão desfeitas quando Deus vier para destruí-las. Mas o Deus de Jacob não é como estes ídolos. Porque foi ele quem fez tudo o que existe! Israel é a sua nação escolhida. Senhor dos exércitos é o seu nome. “Faz as tuas malas. Apronta-te a partir; o cerco em breve vai começar. Porque, diz o Senhor, dum momento para o outro, lançar-te-ei para fora desta terra e trarei grandes provações sobre ela; sentirás, enfim, a minha ira.” A minha chaga é desesperante, a minha tristeza é enorme, a minha doença é incurável, mas tudo terei de suportar. A minha tenda está destruída e todas as suas cordas se desprenderam. Alguns dos meus filhos foram-se embora, outros desapareceram. Não ficou ninguém para tornar a montar a minha a tenda e estender os seus panos. Os pastores do meu povo perderam o entendimento; já não seguem o Senhor nem procuram a sua vontade. Por isso, as suas ovelhas estão dispersas. Ouçam bem! Escutem o terrível barulho de grandes exércitos aproximando-se do norte! As cidades de Judá hão de tornar-se covis de chacais! Ó Senhor, eu sei bem que não compete ao homem dispor da sua vida, traçar os seus caminhos! Por isso, me corriges, Senhor! Mas peço-te que o faças com medida. Não o faças com fúria, porque eu não resistiria. Derrama a tua ira sobre os povos que não te obedecem, porque destruíram Israel e fizeram de toda a sua terra um enorme deserto. Então o Senhor falou mais uma vez a Jeremias e disse-lhe: “Lembra ao povo de Judá e a todos os habitantes de Jerusalém que fiz uma aliança. Diz mais o Senhor, o Deus de Israel: Maldito é aquele que não a respeita! Porque fiz esta aliança com vossos pais, quando os tirei para fora da escravidão do Egito, da fornalha de ferro, que se me obedecessem e fizessem tudo quanto lhes mando, então eles e os seus descendentes seriam meus e eu seria o seu Deus. Agora, Israel, obedece-me, diz o Senhor, para que possa fazer em vosso favor todas as coisas maravilhosas que jurei realizar, se me obedecessem. Quero dar-vos uma terra onde jorra leite e mel, como se vê hoje.” Então eu respondi: “Assim seja, Senhor!” Então o Senhor disse: “Transmite esta mensagem nas ruas de Jerusalém e vai também de cidade em cidade através da terra e diz: ‘Lembrem-se desta aliança que os vossos pais fizeram com Deus e façam tudo o que eles prometeram fazer. Porque eu disse solenemente aos vossos pais, quando os trouxe para fora do Egito, e tenho continuado a dizer sempre o mesmo: Obedeçam aos meus mandamentos! Mas os vossos pais não quiseram fazer isso! Nem sequer quiseram ouvir-me! Cada um preferiu seguir a sua vontade rebelde e o seu coração orgulhoso. E visto que recusaram obedecer-me, cumpri contra eles todas as coisas más que a aliança estabelecia.’ ” De novo o Senhor me falou e disse: “Existe uma conspiração contra mim entre os homens de Judá e Jerusalém. Regressaram aos pecados dos seus pais, recusando ouvir-me; além disso, puseram-se a adorar ídolos; a aliança que fiz com os vossos pais foi quebrada. Em consequência disso, o Senhor diz: Vou trazer calamidades sobre eles das quais não escaparão! Ainda que clamem a mim, não atenderei aos seus rogos! Perante isto, irão certamente fazer rezas aos seus ídolos e queimar-lhes incenso. Contudo, estes não os poderão salvar, como é evidente, desse tempo de angústia e desespero. Ó meu povo, tens tido tantos deuses como as tuas cidades e os teus altares vergonhosos, onde queimam incenso a Baal, levantam-se ao longo de cada rua de Jerusalém! Portanto, Jeremias, não faças oração por este povo! Não chores nem rogues por eles, porque não os ouvirei, quando estiverem bastante aflitos e me pedirem socorro! Que direito tem o meu povo amado de vir ainda ao meu templo? Têm sido desleais e adoraram outros deuses. Será que promessas e sacrifícios poderiam, nesta altura, fazer alguma coisa para impedir a vossa condenação e tornar-vos a dar vida e alegria?” O Senhor costumava chamar-vos a sua oliveira verde, bela à vista e cheia de bons frutos, mas agora decidiu enviar-vos a fúria dos inimigos, para vos queimar no fogo e vos deixar quebrantados, reduzidos a cinza. É por causa da maldade de Israel e de Judá, que ofereceram incenso a Baal, que o Senhor dos exércitos, que plantou ele próprio essa árvore, ordenará agora a sua destruição. O Senhor fez-me saber os planos deles, deu-me a conhecer as suas conjuras contra mim. Eu estava longe de suspeitar fosse do que fosse; era como um cordeiro manso que se leva ao matadouro, sem desconfiar de nada. Não sabia que estavam a intentar matar-me! “Vamos destruir este indivíduo e acabamos com todas as suas pregações!”, dizem. “Matemo-lo e nunca mais ninguém se lembrará dele!” Ó Senhor dos exércitos, tu és justo! Atenta para os corações e as intenções destes homens! Dá-lhes tu a paga de tudo o que têm planeado! Conto contigo para que se faça justiça! E o Senhor dos exércitos respondeu: “Os homens da cidade de Anatote serão castigados por terem pensado matar-te. Eles dirão para não profetizares em nome do Senhor, sob pena de teres de morrer. Por isso, os seus mancebos morrerão na batalha; a sua juventude, rapazes e raparigas, morrerão de fome. Quanto a esses conspiradores de Anatote nem um sequer sobreviverá, pois trarei grandes desgraças sobre eles. O seu tempo chegou agora.” Ó Senhor, sempre me tens feito justiça, quando te trago algum caso para que sejas tu a decidir! Permite-me agora que te traga esta queixa: Por que razão são os maus tão prósperos? Porque é que os malvados são tão felizes? Plantaste-os e eles criaram raízes, os seus negócios prosperam. Multiplicam-se os seus ganhos e tornam-se ricos. Depois dizem: “Graças a Deus!” Mas nos seus corações não querem saber de ti para nada. Quanto a mim, Senhor, tu conheces o meu coração, vês tudo a meu respeito. Senhor, empurra-os para o matadouro como ovelhas! Durante quanto tempo suportará ainda esta terra todos os seus excessos? Até a erva do campo chora e se lamenta por causa dos seus atos malvados! Já os animais selvagens e as aves se foram, deixando deserta a terra. Mesmo assim, o povo ainda diz: “Deus não nos condenará! Estamos perfeitamente seguros!” Deus respondeu-me: “Se te cansas de correr com meros homens, como poderás competir com cavalos? Se tropeças numa terra plana, que farás quando correres nos matagais, na altura da enchente do Jordão? Até os teus irmãos, a tua própria família se voltaram contra ti. Formaram uma intriga, convocando a multidão para te linchar. Não confies neles! Por muito bem que falem, não creias neles! Abandonei o meu povo, a minha possessão; entreguei aqueles que eu amava aos seus inimigos. O meu povo rugiu contra mim como um leão das florestas, por isso, tratei-os como se os odiasse. O meu povo caiu; trarei sobre eles bandos de aves de rapina e animais selvagens para comerem a carne dos seus cadáveres. Muitos chefes estrangeiros assolaram a minha vinha, pisaram os seus cachos e fizeram de toda aquela beleza uma desolação. Transformaram-na num deserto; estou a ouvir os seus gritos lamentosos. Toda a terra está desvastada e ninguém se ocupa dela. Exércitos destruidores rasgam a terra; a espada do Senhor devora tudo duma ponta à outra do país; nada lhe escapa; não há paz para ninguém. O meu povo semeou trigo e colhe espinhos; trabalharam bem duro na terra e nada recolheram. Segarão unicamente uma colheita de vergonha, porque a dura cólera do Senhor caiu sobre eles.” Agora o Senhor dirige esta mensagem às nações perversas, aos povos que rodeiam Israel: “Explusar-vos-ei das vossas terras, mas arrancarei a casa de Judá do meio deles. Depois voltarei e terei compaixão de todos. Tornarei a trazer-vos de novo para casa, para as vossas terras, cada homem para a sua terra. E se estas nações pagãs aprenderem realmente os caminhos do meu povo e me proclamarem como o seu Deus, em vez de Baal, a quem ensinaram o meu povo a adorar, serão estabelecidas juntamente com o meu povo. Mas toda aquela nação que recusar obedecer-me será de novo expulsa e liquidada”, diz o Senhor. Disse-me o Senhor: “Vai comprar um cinto de linho e usa-o, mas não o laves; não o ponhas de maneira nenhuma na água.” E assim fiz; coloquei um cinto de linho. Então veio outra vez a mim a mensagem do Senhor e disse-me desta vez: “Leva o teu cinto de linho ao rio Eufrates e esconde-o numa cavidade das rochas.” Fiz como me foi dito e escondi-o segundo a indicação do Senhor. Passado muito tempo, disse-me: “Vai novamente ao rio e pega o cinto que te mandei guardar ali.” Fui, dirigi-me à cavidade onde o tinha deixado e verifiquei que tinha apodrecido, que já não prestava para nada! Então disse-me o Senhor: “Isso ilustra a forma como eu farei apodrecer o orgulho de Judá e Jerusalém. Esta nação maligna recusa-se a ouvir-me e segue os seus desejos maus e concupiscentes, e adora ídolos; por isso, se tornará como esse cinto, sem valor nenhum. Porque assim como um cinto é coisa que está normalmente bem ajustada à cintura duma pessoa, assim Judá e Israel me estavam ligados, diz o Senhor. Eram o meu povo, uma honra para o meu nome, mas depois desviaram-se de mim. Diz-lhes então isto: O Senhor, o Deus de Israel, comunica-vos o seguinte: Todas as vossas bilhas se encherão de vinho. Eles replicar-te-ão: ‘Com certeza! Nem precisas de nos dizer que somos gente próspera!’ Mas tu responde-lhes: Não se trata disso que estão a entender. É que eu hei de encher toda a gente que vive nesta terra de espanto e confusão, desde o rei que se senta no trono de David, passando pelos sacerdotes e pelos profetas, até ao mais pequeno de entre o povo. Lançarei pais e filhos uns contra os outros, diz o Senhor. Não permitirei que nem a piedade nem a misericórdia os poupe duma destruição completa.” Oh! Se vocês não fossem orgulhosos e tão duros! Então ouviriam o Senhor, porque ele vos falou. Deem glória ao Senhor, vosso Deus, antes que seja demasiado tarde, antes que deixe cair uma profunda e impenetrável escuridão que vos fará tropeçar nas escuras montanhas; nessa altura, quando andarem procurando ansiosamente a luz, só encontrarão terríveis trevas. Recusam ainda ouvir? O meu coração contristado lamentar-se-á solitariamente por causa do vosso orgulho. Os meus olhos serão inundados de lágrimas, porque o rebanho do Senhor será levado para fora, como escravos. “Diz isto ao rei e à rainha-mãe: ‘Desçam do vosso trono e sentem-se no pó da terra, porque as vossas coroas gloriosas vos serão tiradas da cabeça. Já não vos pertencem.’ Já as cidades do Negueve, a sul de Jerusalém, estão fechadas e não há quem nelas consiga entrar. Judá inteira foi levada cativa para o exílio. Vejam também os exércitos que se aproximam do norte! Onde estão os teus rebanhos, Jerusalém, os belos rebanhos que te dei para tomares conta deles? Como te vais sentir quando puser os teus aliados sobre ti para te governarem? Torcer-te-ás de aperto como quando uma mulher está a dar à luz. E se te perguntares a ti mesma: ‘Porque é que tudo isto me acontece?’, saberás que é por causa da intensidade dos teus pecado; foi por isso que rasgaram as tuas roupas e foste violada. Pode um cuchita mudar a cor da sua pele ou um leopardo perder as manchas do corpo? Nem tão-pouco podem vocês começar a fazer o bem, estando tão viciados na prática do mal. Assim vos espalharei como restolho, como palha, pela fúria dos ventos do deserto. Esta é a sorte que te espera, a porção que determinei para ti!, assegura o Senhor. Porquanto te esqueceste de mim, me abandonaste e confiaste em mentiras. Eu próprio vos exporei à mais completa vergonha. Estou perfeitamente ao corrente das vossas apostasias, da vossa deslealdade, da vossa abominável adoração a ídolos nos campos e sobre as colinas. Ai de ti, ó Jerusalém! Quando será que te tornarás pura?” A mensagem a seguir veio a Jeremias da parte do Senhor, explicando as razões por que havia uma seca: “Judá lamenta-se; os negócios estão completamente parados; todo o povo anda de luto e roja-se pelo chão de desespero; o clamor do povo de Jerusalém ouve-se bem ao longe. Os grandes senhores tentam ainda enviar os criados à procura de água nos poços, mas estes estão secos. Os criados regressam envergonhados e desesperados, cobrindo os rostos de pesar com as mãos. O chão abre-se em fendas e está todo ressequido, por causa da falta de chuva; os lavradores cobrem as suas cabeças dececionados. Até as gazelas abandonam as suas crias, porque não encontram erva. Os jumentos selvagens põem-se sobre as elevações, arfando o ar como chacais sedentos. Revolvem os olhos, procuram erva para comer, mas não encontram sequer uma folha.” Ó Senhor, pecámos gravemente contra ti! Ajuda-nos, por amor do teu nome, da tua reputação! Ó esperança de Israel, o nosso Salvador em tempos de angústia, porque és para nós como um estranho, como alguém que passa simplesmente pela terra, ficando só para passar a noite? Porque haverias tu de ser como alguém desamparado, como um guerreiro que não pode salvar ninguém. Não terás mais possibilidade de nos salvar? Mas tu, Senhor, vives no nosso meio e nós chamamo-nos pelo teu nome; somos conhecidos como o teu povo. Ó Senhor, não nos abandones agora! Contudo, o Senhor responde: “Eles sentem-se bem felizes andando longe de mim e nem sequer se preocuparam em seguir nos meus caminhos. Por isso, não os aceitarei mais como meu povo; lembro-me de todo o mal que fizeram e tenho de castigar os seus pecados.” O Senhor disse-me novamente: “Não me peças outra vez para abençoar este povo! Não ores mais por eles! Quando jejuam, não lhes presto a menor atenção; quando me apresentam ofertas e holocaustos, recuso-os. O que lhes darei em recompensa é a guerra, a fome e a doença.” Então eu disse: “Ó Senhor Deus, os seus profetas dizem-lhes que tudo vai bem e que não haverá nem fome nem guerra. Dizem ao povo que tu vais com toda a certeza mandar-lhes a paz, que os abençoarás.” E o Senhor respondeu: “Esses profetas estão a dizer mentiras em meu nome. Nunca os enviei, nem lhes disse para falarem ou darem alguma mensagem da minha parte. Profetizam visões e revelações que nunca tiveram; falam apenas loucuras que são a expressão dos seus corações mentirosos. Por isso, diz o Senhor: castigarei esses profetas mentirosos que falaram em meu nome, sem que eu os tenha enviado, que andam a dizer que não haverá nem guerra nem fome. Será justamente pela fome e pela guerra que eles próprios morrerão! Os corpos das gentes a quem profetizaram serão lançados para o meio das ruas de Jerusalém, vítimas da fome e da guerra, e não haverá ninguém para os enterrar; maridos, mulheres, filhos e filhas todos se irão, porque derramarei sobre eles terrível castigo, por causa dos seus pecados. Portanto, diz-lhes assim: ‘Noite e dia os meus olhos chorarão abundantemente. Não posso parar as minhas lágrimas, porque o meu povo foi atravessado por uma espada e jaz mortalmente ferido, prostrado no chão. Se sair para o campo, ali verei, jazendo no chão, os corpos daqueles que a espada matou; se passar pelas ruas da cidade, tropeçarei nos que morreram de fome e de doença. Mesmo assim, tanto os profetas como os sacerdotes continuam ocupados a percorrer a terra toda, assegurando toda a gente que tudo vai bem, falando de coisas de que nada sabem.’ ” Ó Senhor, terás rejeitado definitivamente Judá? Aborrecerás a Sião? Mesmo depois do castigo não haverá paz? Nós pensávamos: Agora, ao menos, ele curará e ligará as nossas feridas! O certo é que não veio paz nenhuma e só há aflição e terror por toda a parte. Ó Senhor, nós confessamos a nossa maldade e também a dos nossos pais. Não nos odeies, por amor do teu próprio nome! Não te desonres, nem a ti nem ao trono da tua glória, esquecendo-te da aliança que fizeste connosco! Qual é o deus pagão que nos poderia dar chuva? Nem os céus só por si podem fazer chover! Quem, senão tu só, ó Senhor, nosso Deus, pode fazer uma tal coisa? Por isso, esperaremos pela tua ajuda! Então o Senhor disse-me: “Mesmo que Moisés e Samuel se pusessem perante mim, rogando a favor deste povo, mesmo assim eu não ajudaria essa gente. Que se vão embora! Que se tirem da minha vista! E se te perguntarem: ‘Mas para onde iríamos nós?’, diz-lhes que o Senhor lhes responde: ‘Os que estão destinados a morrer, para a morte; os que tiverem de morrer à espada, para a espada; os que estão condenados a morrer à fome, para a fome; os que tiverem de ficar cativos, para o cativeiro.’ Lançarei contra eles quatro espécies de destruidores, diz o Senhor: a espada para os matar, cães para os dilacerar, aves de rapina e animais selvagens para devorar e acabar com aquilo que restar dos outros. Por causa de toda a maldade que Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, praticou em Jerusalém, castigar-te-ei tão severamente que o teu destino fará arrepiar todos os povos da Terra. Quem virá a sentir tristeza por ti, Jerusalém? Quem chorará por ti? Quem se incomodará sequer para saber quem és tu? Tu desprezaste-me e viraste-me as costas. Por isso, estenderei o meu punho fechado contra ti, para te destruir. Já estou cansado de estar sempre a dar-vos novas oportunidades. Peneirar-te-ei à porta das tuas cidades e tirar-te-ei tudo o que te é querido; destruirei o meu próprio povo, porque se recusa a voltar para mim e deixar os seus maus caminhos. Haverá viúvas sem conta e em pleno dia trarei a morte sobre os jovens e o pesar às suas mães. Farei com que a angústia e o terror caiam sobre eles repentinamente. Uma mãe de sete filhos desfalecerá de aflição, porque todos os seus filhos terão sido mortos. O Sol pôs-se enquanto ainda era dia e ali fica ela, agora desfilhada, porque a guerra lhe roubou todos os que saíram do seu seio!”, diz o Senhor. Então eu disse: “Ai de mim, minha mãe! Mais valia que eu tivesse morrido ao nascer, porque sou odiado para onde quer que vá! Não sou nenhum credor que lhes tivesse emprestado com usura e estivesse a reclamar os juros ou o dinheiro! Não lhes devo nada, tão-pouco, e mesmo assim me amaldiçoam!” Respondeu o Senhor: “Libertar-te-ei seguramente para um bom fim. Farei com que os teus inimigos venham interceder junto de ti, quando sofrerem calamidades e estiverem em angústia! Poderá um homem quebrar barras de ferro, ferro do norte ou de bronze? Da mesma forma, também não pode ser quebrada a vontade rebelde deste povo. Assim entregarei todos os vossos bens, as vossas posses, como despojo ao inimigo. Este vos levará como escravos para uma terra onde nunca estiveram anteriormente, porque a minha ira arde como fogo e te consumirei.” Então eu disse: “ Senhor, sabes que tem sido por tua causa que tenho sofrido. Tenho-lhes pregado a tua palavra e por isso sou perseguido. Não deixes que me matem! Livra-me das suas garras e dá-lhes o que merecem! São as tuas palavras que me sustêm; são o alimento da minha alma faminta, trazem alegria ao meu coração amargurado e comunicam-me satisfação. Como me sinto orgulhoso em me chamar pelo teu nome, ó Senhor, Deus dos exércitos! Não me juntei às gentes nas suas reuniões e festins de risota e malícia. Preferi ficar só, sob a tua mão. Rebento de indignação perante os seus pecados e mesmo assim senti que me faltavas quando precisei de ti! Permitiste que continuassem a perseguir-me. Será que eles não pensam em deixar de me ferir? A tua ajuda parece-me tão incerta como um ribeiro que corre da montanha; por vezes cheio de águas torrenciais, noutras alturas sem gota de água.” O Senhor retorquiu: “Para com esse falar insensato! Só se voltares a confiar em mim é que poderás ser meu porta-voz! És tu quem tem de os influenciar a eles e não eles a ti! Combaterão contra ti como um exército que sitia uma cidade com muros de bronze. Não prevalecerão contra ti, porque eu estou contigo para te proteger e livrar, diz o Senhor. Sim, podes ter a certeza de que te libertarei dessa gente malvada! Livrar-te-ei das suas mãos violentas!” Ainda noutra ocasião o Senhor me falou. “Não deverás casar nem ter filhos aqui nesta terra. Porque as crianças que nascerem neste lugar, tal como os seus pais, terão de morrer de doenças terríveis e ninguém chorará por elas nem enterrará os corpos que ficarem pelo chão; serão como esterco nos campos. Morrerão por causa da guerra e da fome; os seus cadáveres serão levados pelas aves do céu e por animais selvagens. Não os lamentes, nem chores, porque lhes retirei a minha proteção e a minha paz; retirei-lhes a minha compaixão e as minhas misericórdias. Tanto grandes como pequenos morrerão nesta terra, sem serem enterrados e sem serem chorados; ninguém de entre os seus amigos porá sinais de luto, fazendo incisões ou rapando a cabeça. Ninguém consolará os que choram, dando-lhes comida ou enviando-lhes um copo de vinho como expressão de pesar pela morte dos seus parentes. Como sinal desses tristes dias que hão de vir, não participes nas suas festanças e receções, nem sequer tomes qualquer refeição com eles. Porque o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Ainda durante o tempo da tua vida, sob os teus próprios olhos, farei cessar o riso e a alegria nesta terra, as canções alegres, as bodas, a felicidade dos que se casam. Quando lhes disseres tudo isto, se te perguntarem: ‘Afinal, por que razão o Senhor decretou todas estas coisas tão terríveis contra nós? Que fizemos nós para merecer um tratamento desta natureza? Qual é o nosso pecado contra o Senhor, nosso Deus?’ Diz-lhes que a resposta do Senhor é esta: É porque os vossos pais me esqueceram e adoraram outros deuses, prestando-lhes culto e servindo-os; não guardaram a minha Lei. Quanto a vocês, foram piores até do que os vossos próprios pais, tendo seguido o que era mau, segundo as tendências dos vossos corações, recusando ouvir-me. Eis a razão por que vos lançarei para fora desta terra, para uma terra estrangeira que nem vocês nem os vossos antepassados conheceram. Se quiserem, poderão continuar a adorar ali os vossos ídolos pois, quanto a mim, não vos concederei os meus favores! Mas virá o dia, diz o Senhor, em que não se dirá mais: ‘Tão certo como vive o Senhor que tirou os filhos de Israel do Egito!’ Mas o único tema de conversa será o facto de Deus trazer de novo o seu povo para casa, vindo das terras do norte, e de todas as terras para onde os tinha exilado. Por isso dirão: ‘Vive o Senhor que trouxe o seu povo das terras para onde os tinha espalhado e os fez voltar à terra dos seus antepassados!’ Enviarei pescadores para que apanhem este povo. Depois enviarei muitos caçadores, diz o Senhor, para os caçarem em todas as montanhas e em todas as serras, até nos penhascos inacessíveis, para onde quer que tenham fugido para escapar aos meus olhos. Os meus olhos vigiam-nos atentamente; não tenham ilusões quanto a esconderem de mim a sua iniquidade. Castiga-los-ei duplamente por todos os seus pecados, pois não só contaminaram a terra com esses abomináveis ídolos, como também a encheram com toda a espécie de iniquidades.” Ó Senhor, a minha força e a minha fortaleza, o meu refúgio em dias de perturbação, nações em todo o mundo virão dizer-te: “Os nossos pais foram loucos, porque puseram-se indignamente a adorar ídolos e falsidades! Alguma vez os homens podem fazer deuses? É evidente que os deuses que eles fazem não são deuses nenhuns!” “E quando se chegarem a mim nesse espírito, dar-lhes-ei a conhecer o meu poder e a minha força; fá-los-ei compreender, enfim, que o meu nome é Senhor. O pecado de Judá está registado como se fosse uma lei a que estivesse sujeito, como se tivessem a maldade gravada com estiletes de diamante ou com ponteiros de ferro nos seus corações de pedra ou nos cantos dos altares. Os seus jovens, em todo o caso, não se esquecem de pecar, de adorar os postes ídolos de Achera debaixo de árvores ramalhudas, nos cimos das colinas, e no alto dos montes. Por isso, darei todas as vossas riquezas e tesouros aos inimigos, assim como os vossos santuários pagãos, por causa dos pecados que praticaram por toda a nação. Uma bela herança que vos estava reservada fugir-vos-á das mãos; mandar-vos-ei como escravos dos vossos inimigos para terras bem longínquas. Vocês acenderam o fogo da minha ira, o qual não deixará de arder.” Diz o Senhor: “Maldito é o homem que põe a sua confiança noutro homem, cujo coração se afasta de Deus e confia na natureza humana para se fortalecer. Será semelhante a um débil cacto no deserto, sem esperança de melhores dias, vivendo num terreno ensalitrado, numa zona de estéreis desertos; os tempos de prosperidade foram-se de vez, para ele. Abençoado é aquele que confia no Senhor; que fez do Senhor a sua esperança, a sua confiança. É como uma árvore plantada junto à margem dum rio, cujas raízes encontram facilmente água, que não se incomoda com os fortes calores, nem se aflige com os meses de seca. As suas folhas mantêm-se verdes e produz sempre os melhores frutos. O coração é algo de muito enganador e desesperadamente mau! Ninguém sabe, na realidade, como ele é ruim! Mas eu, o Senhor, pesquiso todos os corações e examino as intenções mais profundas, de forma a poder dar a cada um a recompensa que merece, de acordo com as suas ações, o modo como vive. Semelhante a uma ave que põe no seu ninho crias que não chocou, e que em breve aprenderão a voar e a deixarão só, assim é a pessoa que junta riquezas por processos desonestos. Cedo ou tarde perderá tudo e acabará a sua vida como um insensato.” Mas o nosso santuário é o teu trono, sublime e glorioso. Ó Senhor, a esperança de Israel, todos os que te deixam serão envergonhados! Os que põem de parte o Senhor, a fonte da água da vida, terão o seu nome escrito no pó da terra e não serão como seres destinados à glória eterna. Senhor, cura-me, e ficarei curado! Salva-me e serei salvo! Louvar-te-ei só a ti! Os outros riem-se de mim e dizem: “Que palavra do Senhor é essa, do que estás a falar? Se essas tuas ameaças vêm realmente de Deus, então porque é que não acontecem?” Eu não recusei ser pastor, ao seguir-te; eu não queria que esta gente fosse esmagada por tamanhas calamidades. Mas, é claro, esses planos são teus, não meus. O que eu lhes comuniquei foi uma mensagem tua, não minha. No entanto, e quanto a mim, eu não queria vê-los assim sentenciados! Não me sobressaltes agora! Só tu és o meu refúgio no meio da calamidade. Lança a confusão e a perturbação sobre todos os que me perseguem, mas a mim dá-me paz! Sim, dá-lhes dobrada destruição! Então disse-me o Senhor: “Vai pôr-te nas entradas de Jerusalém; primeiro, na porta por onde saem os reis; depois em cada um dos outros portais. E diz assim ao povo: Ouçam a palavra do Senhor, reis de Judá e todo o povo desta nação, assim como vocês, cidadãos de Jerusalém! O Senhor diz: Por amor à vossa própria vida, tenham muito cuidado e não transportem cargas ao sábado, nem as façam passar pelas portas de Jerusalém. Não transportem carga alguma da vossa casa, nem façam trabalho desnecessário no dia de sábado, antes respeitam-no como um dia santo, como já tinha ordenado aos vossos pais. No entanto, eles não quiseram ouvir-me e não me obedeceram; recusaram obstinadamente dar-me atenção e a serem ensinados. Mas se me obedecerem, diz o Senhor, e não fizerem passar carga alguma pelas portas desta cidade ao sábado e se aceitarem respeitar o dia de sábado como um dia santo, então esta nação permanecerá para sempre; haverá sempre descendentes de David que se sentem no seu trono, aqui em Jerusalém; haverá sempre reis e príncipes deslocando-se em carros e montando cavalos em pompa e esplendor por entre o povo, e esta cidade subsistirá para sempre. De todas as terras ao redor de Jerusalém, assim como das cidades de Judá e Benjamim, e também do Negueve e das planícies a oeste de Judá, virá povo trazendo holocaustos, ofertas de cereais e incenso, chegando-se para apresentar os seus sacrifícios de louvor ao Senhor no seu templo. Mas se não me ouvirem, se recusarem respeitar o sábado santo, se nesse dia trouxerem pesadas cargas de mercadorias para as passarem pelos portões das entradas de Jerusalém, fazendo como num outro dia, então farei incendiarem-se essas portas. Esse fogo se espalhará às fortalezas, que ficarão completamente destruídas, e ninguém será capaz de extinguir as chamas.” Eis outra mensagem do Senhor a Jeremias. “Desce até à casa do oleiro, o que faz os objetos e os recipientes de barro, e ali falarei contigo.” Fiz como me foi dito e encontrei o oleiro a trabalhar na roda como habitualmente. Como o jarro que estava a formar não saiu como ele queria, tornou a amassar aquele barro, recomeçando o trabalho. Então o Senhor disse-me: “Ó Israel, não poderei eu fazer contigo o que este oleiro fez com o pote de barro? Na verdade, tal como o barro nas mãos do oleiro, assim és tu nas minhas mãos! Sempre que eu anunciar que uma certa nação, ou um reino qualquer, irá ser tomada e destruída, se essa nação renunciar aos seus maus caminhos, não a destruirei, conforme planeara. Se, por outro lado, proclamar que tornarei uma certa nação grande e forte, se esta alterar a sua atitude, se voltar para o mal e recusar obedecer-me, então também mudarei de atitude e não abençoarei essa nação como dissera antes. Portanto, vai advertir Judá e Jerusalém dizendo: ‘Ouçam a palavra do Senhor! Estou a planear coisas más e não coisas boas contra vocês! Convertam-se dos vossos maus caminhos e façam o que é reto!’ Mas responderão: ‘Não percas o teu tempo! Não estamos minimamente interessados em fazer o que Deus diz! Continuaremos a viver como nos apetece, livres de restrições, cheios de rebeldia e de maldade!’ ” Por isso, o Senhor responde-lhes: “Mesmo entre os pagãos, nunca se ouviu coisa semelhante! O meu povo fez algo demasiado horrível para ser compreendido! A neve no cimo das altas montanhas do Líbano nunca se derrete. As frias e caudalosas torrentes que descem por entre os penhascos do monte Hermon nunca secam. Com estes pode-se contar, mas com o meu povo não! Porque me deixaram para se voltarem para a loucura dos ídolos. Abandonaram a antiga estrada do bem e ingressaram nos lamacentos caminhos do pecado. Por isso, a sua terra ficará assolada, para que todos os que por lá passarem abram a boca de espanto e abanem as cabeças, perante tão completa destruição. Dispersarei o povo por entre os inimigos, tal como o vento oriental levanta e espalha a poeira; durante toda essa angústia, voltar-lhe-ei as costas, recusando saber da sua tristeza e perdição.” Então o povo disse: “Vamos livrar-nos deste Jeremias! Temos os nossos próprios sacerdotes, sábios e profetas, não precisamos das suas opiniões! Vamos silenciá-lo, de forma a não falar mais contra a gente, nem a nos incomodar mais!” Ó Senhor, escuta-me! Vê o que eles estão a planear contra mim! Será que vão mesmo pagar-me o bem com o mal? Tramaram ciladas contra mim, apesar de te ter falado bem deles e tentado defendê-los da tua ira severa. Por isso, que os seus filhos lhes morram de fome e que a espada lhes derrame o sangue até à última gota! Que as suas mulheres se tornem viúvas e percam os filhos! Que os seus homens morram de epidemias e os jovens na batalha! Que se ouçam os gritos de aflição saindo das casas, quando o inimigo cair de repente sobre eles, pois pretendem cavar uma armadilha para que eu caia nela; armaram-me ciladas ao longo do caminho. Senhor, conheces bem os planos assassinos que conspiram contra mim! Não lhes perdoes, não apagues o seu pecado, mas que todos pereçam perante ti! Trata-os segundo a tua cólera! Depois o Senhor disse-me para lhes dizer o seguinte: “Ouçam a palavra do Senhor, reis de Judá e cidadãos de Jerusalém! O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Trarei coisas tremendas sobre este lugar, tão terríveis que até os ouvidos de quem as escutar ficarão retinindo! Porque Israel me desprezou e fez deste vale um lugar de degradação e maldade. O povo queima incenso a ídolos, ídolos que nem esta geração, nem os seus antepassados, nem os reis de Judá adoraram antes, e encheram este lugar com sangue inocente. Construíram aparatosos santuários pagãos a Baal e ali ofereceram os seus filhos em sacrifícios, uma coisa que nunca lhes mandei fazer e que nunca poderia ter-me passado pela mente! Está vindo o dia, diz o Senhor, em que este vale não se chamará mais Tofete, nem vale de Ben-Hinom, mas vale de Matança. Hei de contrariar os planos de batalha de Judá e Jerusalém; deixarei que os batalhões invasores vos matem aqui mesmo e deixem os vossos cadáveres para alimento das aves do céu e dos animais selvagens. Riscarei Jerusalém da face da terra, de tal forma que quem passar por ali abrirá a boca de espanto, perante tudo o que eu fiz que lhe acontecesse. Velarei para que o inimigo mantenha o seu cerco à cidade, até que todo o alimento se esgote e aqueles que lá estão dentro sejam obrigados a comer os seus próprios filhos e vizinhos. Agora, Jeremias, na presença dessas pessoas, quebra o pote que trouxeste contigo. E diz-lhes: Esta é a mensagem que vos trago da parte do Senhor dos exércitos: Tal como este pote, aqui feito em pedaços, assim também farei em pedaços o povo de Jerusalém; e assim como este jarro não pode ser recuperado, também eles não o poderão ser. A matança será tão extensa que não haverá lugar para enterros cerimoniosos em sítio nenhum. Os corpos amontoar-se-ão neste mesmo vale. E o que acontecer neste vale também se dará em Jerusalém, porque também a cidade encherei de corpos mortos. As casas de Jerusalém, incluindo os palácios dos reis de Judá, se tornarão imundos, porque são todos sítios onde foi queimado incenso, sobre os telhados, a esses deuses das estrelas, e onde lhes foram oferecidas libações.” Quando Jeremias regressava de Tofete, do sítio onde o Senhor o tinha enviado para profetizar, parou frente ao templo do Senhor e disse a todo o povo: “O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: ‘Trarei sobre esta cidade e sobre as povoações dos subúrbios todo o mal que tenho prometido, porque vocês têm obstinadamente recusado ouvir as minhas palavras.’ ” Quando Pasur, filho de Imer, o sacerdote encarregado da gestão do templo do Senhor, ouviu o que Jeremias estava a dizer, mandou-o prender e espancar, pô-lo no cepo junto à porta de Benjamim, perto do templo, e ali o deixou toda a noite. No dia seguinte, quando finalmente o mandou soltar, Jeremias disse-lhe: “Pasur, o Senhor alterou o teu nome e diz que, a partir de agora, te chamarás Mergulhado em Terror. Pois assim diz o Senhor: ‘Enviarei o pânico, a ti e a todos os teus amigos e vê-los-ás morrer pelas espadas dos seus inimigos. Entregarei Judá ao rei da Babilónia, que levará o povo para a Babilónia como escravos, matando muita gente. Deixarei os vossos inimigos saquear Jerusalém. Todos os famosos tesouros da cidade, as joias preciosas, o ouro e a prata dos reis, tudo será transportado para a Babilónia. Quanto a ti, Pasur, tu, a tua família e os que vivem contigo serão levados escravos para a Babilónia e ali morrerão; tu e todos a quem mentiste, profetizando que tudo estava certo e a correr bem.’ ” Então eu disse: “Ó Senhor, enganaste-me quando me garantiste ajuda! Eu tenho de lhes dar as tuas mensagens, mas tu és poderoso e eu não! Por isso, tornei-me objeto de riso na cidade, assunto de troça de toda a gente. Quando tenho de lhes falar é sempre para clamar e gritar: ‘Violência! Destruição!’ A palavra do Senhor tornou-se motivo de troça e risota e a verdade é que não posso deixar de continuar a pregar a tua palavra! Porque se eu dissesse: ‘Nunca mais farei menção do Senhor, não falarei mais no seu nome’, a tua palavra no meu coração seria como um fogo, consumindo-me os ossos, e não poderia continuar calado. Apesar disso, ouço de todos os lados os sussurros das suas ameaças e tenho medo. ‘Vamos denunciar-te!’, dizem eles. Até os que eram meus amigos me espreitam e aguardam a minha queda final. ‘Acabará por se deixar apanhar!’, dizem. ‘Então ficaremos vingados!’ ” Mas o Senhor mantém-se ao meu lado, como um valente guerreiro, e os que me perseguem cambalearão. Não poderão derrotar-me, antes serão envergonhados e profundamente humilhados; as suas vidas ficarão marcadas para sempre. Ó Senhor dos exércitos, que conheces os que são retos e examinas os mais profundos pensamentos e os corações, que eu veja a tua vingança sobre eles! Porque te entreguei a minha causa. Cantem ao Senhor! Louvem ao Senhor! Porque ele vem em socorro do oprimido e livra-o do poder dos maus. Maldito seja o dia em que eu nasci! Maldita seja a pessoa que trouxe ao meu pai a notícia de que eu nascera, alegrando-o muito com isso! Que esse mensageiro seja destruído, à semelhança daquelas cidades que o Senhor aniquilou sem misericórdia! Que seja aterrorizado todo o dia com gritos de batalha! Pois não me tirou a vida quando nasci. Oh! Se eu tivesse morrido no ventre de minha mãe, se tivesse sido esse o meu túmulo! Porque nasci eu, afinal? A minha vida tem sido, toda ela, apenas tristeza e vergonha. Então o rei Zedequias enviou Pasur, filho de Malquias, acompanhado do sacerdote Sofonias, filho de Maaseias, junto de Jeremias a rogar-lhe: “Pede ao Senhor que nos ajude, pois Nabucodonozor, o rei da Babilónia, declarou-nos guerra! Talvez o Senhor tenha compaixão de nós e faça um poderoso milagre, como nos tempos passados, e force Nabucodonozor a retirar as suas forças militares.” Jeremias respondeu: “Digam ao rei Zedequias que o Senhor, o Deus de Israel, lhe comunica o seguinte: ‘Tornarei inútil todo o teu armamento contra o rei da Babilónia e contra os caldeus que te sitiam. Com efeito, trarei os teus inimigos até ao coração da cidade. Serei eu próprio quem combaterá contra vocês, porque a minha cólera é grande. Mandarei uma terrível praga a esta cidade e todos morrerão, tanto homens como animais. Por fim, entregarei o próprio Zedequias e todos os que tiverem ficado na cidade, após aquela calamidade, para serem mortos, sem piedade nem misericórdia, às mãos do rei Nabucodonozor da Babilónia. Diz a este povo que o Senhor lhes comunica isto: Ponho na vossa frente dois caminhos, o da vida e o da morte. Ficarem aqui em Jerusalém e morrerem, abatidos pelos vossos inimigos, mortos pela fome e pela doença, ou saírem e entregarem-se ao exército caldeu e viverem. Porque me virei contra esta cidade; serei seu inimigo e não seu defensor, diz o Senhor. Será cativa do rei da Babilónia, o qual a reduzirá a cinzas. E ao rei de Judá, diz o Senhor: Ouçam a palavra do Senhor, ó descendência de David! Depressa! Façam justiça a quem estão a julgar! Libertem o oprimido da mão que o subjuga, antes que a minha ira se acenda como um fogo que ninguém será capaz de extinguir, por causa da maldade das vossas ações. Lutarei contra esta cidade de Jerusalém, que domina os vales como um altivo rochedo, diz o Senhor, e que se gaba, dizendo: “Estamos seguros! Ninguém ousará tocar-nos aqui!” Serei eu próprio quem vos destruirá, por causa dos vossos pecados, diz o Senhor. Acenderei um fogo nos bosques que queimará tudo em redor.’ ” Então o Senhor disse-me: “Vai falar diretamente ao rei de Judá e diz-lhe: Ouve esta mensagem do Senhor, ó rei de Judá, que te sentas no trono de David; deixa os teus servos e o povo ouvir também. Diz o Senhor: sê puro de intenções e faz o que for justo! Apoia os que precisam de justiça! Deixa de vez as tuas más ações! Protege os direitos dos estrangeiros, dos órfãos e das viúvas e para de matar inocentes! Se puseres um fim a todos estes terríveis atos que estás a praticar, então livrarei esta nação. Mais uma vez darei reis para se sentarem no trono de David e haverá prosperidade para todos. Mas se recusarem dar atenção a este aviso, garanto-vos, pelo meu próprio nome, diz o Senhor, que este palácio se tornará num verdadeiro açougue.” Esta é a mensagem do Senhor quanto a este palácio: “És-me tão querido como o frutífero Gileade e as verdes florestas do Líbano. Contudo, destruir-te-ei e deixar-te-ei deserto, inabitado. Mandarei vir destruidores para que te desmantelem com as suas armas. Deitarão abaixo todas as tuas grossas vigas de madeira de cedro, para as lançar no fogo. Homens de muitas nações passarão pelas ruínas desta cidade e dirão uns para os outros: ‘Porque foi que o Senhor fez isto? Porque destruiu ele esta grande cidade?’ E a resposta que se lhes dará será esta: ‘Porque o povo que aqui vivia desprezou o Senhor, o seu Deus, e violou a aliança feita com ele, tendo-se voltado para ídolos, para os adorarem.’ ” Povo de Judá, não chorem pelo rei Josias! Não lamentem a sua morte! Chorem antes amargamente pelo seu filho que será levado e nunca mais voltará para ver de novo a terra natal. Pois o Senhor diz a respeito de Salum, que sucedeu ao seu pai, o rei Josias de Judá, que também foi levado cativo: “Ele não mais voltará. Morrerá numa terra distante e nunca mais verá a sua própria terra.” “E ai de ti, rei Joaquim, que estás a construir o teu grande palácio com trabalhadores forçados, com a injustiça. É à força de não pagares os salários que constróis; é na base da opressão e do desprezo dos direitos de quem trabalha que fazes todos os seus belos acabamentos. Dizes: ‘Construirei um palácio magnífico, com salas imensas e inúmeras janelas, todo forrado de madeira de cedro bem aromática e pintada com belos tons de vermelho.’ Mas não é um belo palácio que faz um grande rei! Porque foi que teu pai Josias reinou tanto tempo? Porque era justo e honesto em todos os seus atos. Foi por isso que ele foi abençoado em tudo o que fez. Procurou que fosse feita justiça aos pobres e que se prestasse assistência a quem dela precisava verdadeiramente. É isso que é conhecer-me, diz o Senhor. Mas tu estás cheio de ambição pessoal e és profundamente desonesto! Assassinas os inocentes, oprimes os pobres e governas com violência.” Por isso, este é o castigo que o Senhor decreta contra o rei Joaquim, que sucedeu a seu pai Josias no trono: “A sua família não chorará por ele quando morrer. Os seus súbditos nem sequer se preocuparão em saber se está ou não morto. Será enterrado como o cadáver dum jumento, posto numa cova fora de Jerusalém e lançado como entulho em qualquer parte fora das muralhas! Chora, porque os vossos aliados já se foram. Procura-os no Líbano, grita por eles em Basã, clama desde Abarim e vê se os encontra nos vaus do Jordão. Hás de reparar que estão todos aniquilados. Ninguém ficou para te ajudar! Quando ainda eras próspero, bem te avisei, mas tu respondias: ‘Não me incomodem!’ Desde a tua meninice que és assim, que te recusas escutar! Agora o vento espalhará os teus governantes para longe; os teus aliados serão levados para o exílio. Certamente reconhecerás, por fim, a tua maldade e terás profunda vergonha. Sem dúvida que é muito bonito viver num belíssimo palácio, no meio de madeira de cedros do Líbano! Mas a verdade é que em breve chorarás e gemerás de angústia como se fosse uma mulher com dores de parto. E quanto a ti, Conias, filho de Joaquim, rei de Judá, ainda que tivesses sido como o sinete em forma de anel que uso no dedo da mão direita, lançar-te-ei para longe. Entregar-te-ei simplesmente àqueles que procuram matar-te, de quem tens um medo tremendo, a Nabucodonozor, o rei da Babilónia, e aos seus poderosos caldeus. Jogar-te-ei, a ti e à tua mãe, fora desta terra; morrerão ambos numa terra estrangeira. Nunca mais voltarão a esta terra da qual se encherão de saudades.” Esse homem, Conias, é como um prato vulgar, já rachado. Tanto ele como os seus filhos serão atirados para longe, serão exilados para terras distantes. Ó terra, terra, terra! Ouve a palavra do Senhor! Diz o Senhor: “Registem esse indivíduo, Conias, como não tendo filhos, porque nenhum dos seus filhos jamais se sentará no trono de David, nem governará em Judá. A sua vida pouco vale.” “Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas das minhas pastagens!”, diz o Senhor. Portanto, assim diz o Senhor, o Deus de Israel: “Enviarei calamidades sobre os chefes do meu povo, os pastores das minhas ovelhas, porque destruíram e dispersaram aquelas de quem deveriam ter cuidado atentamente. Em lugar de levarem o rebanho para sítios seguros, deixaram-no só e conduziram-no à destruição. Agora derramarei juízos sobre vocês pelo mal que lhe fizeram. E tornarei a juntar o resto do meu rebanho, de todas as partes para onde os mandei, e o trarei para o seu próprio curral; será frutífero e crescerá. Nomearei pastores responsáveis que cuidem das minhas ovelhas e não precisarão mais de viver em temores; nenhuma delas jamais faltará, quando se tomar a conta. Porque vêm dias, diz o Senhor, em que porei um Renovo justo sobre o trono de David. Será um rei que governará com sabedoria e justiça, e que fará prevalecer a retidão sobre toda a Terra. E este será o seu nome: O Senhor é a nossa Justiça. Nesse tempo, Judá será salva e Israel viverá em paz. O povo não dirá mais, ao querer garantir qualquer coisa: ‘Tão certo como vive o Senhor, que libertou o povo de Israel da terra do Egito!’ Mas dirão: ‘Tão certo como vive o Senhor que trouxe os israelitas para a sua terra, trazendo-os dos países para onde os tinha exilado!’ ” O meu coração está amachucado por causa dos falsos profetas. O meu coração está despedaçado e tremo todo; ando cambaleando como se estivesse embriagado, por causa do Senhor e das suas santas palavras. Porque a terra está cheia de adultérios e a maldição de Deus está sobre ela. A própria terra se lamenta e as pastagens estão secas, porque os profetas praticam o mal e usam o seu prestígio para coisas injustas. “Aliás, tanto os sacerdotes como os profetas andam longe de Deus; são gente ruim. Eu próprio vi os seus atos vis, praticados aqui mesmo no meu próprio templo, diz o Senhor. Por isso, o caminho que trilham se tornará escorregadio e cheio de trevas; serão empurrados e cairão. Trarei sobre eles o mal e terei cuidado em que, quando chegar o tempo, paguem completamente o castigo de todos os seus pecados. Certamente tive conhecimento da incrível maldade dos profetas de Samaria, pois chegaram a profetizar em nome de Baal e levaram o meu povo de Israel a pecar. No entanto, os profetas de Jerusalém são ainda piores! As coisas que fazem são horríveis; cometem adultério e comportam-se com desonestidade. Encorajam e elogiam até os que agem iniquamente, em vez de se converterem dos seus pecados. Esta gente é tão depravada como as gentes de Sodoma e de Gomorra.” Por isso, eis o que o Senhor dos exércitos diz contra os profetas: “Alimentá-los-ei com fel e dar-lhes-ei veneno a beber, pois é por sua causa que a terra se está a encher de maldade. Este é pois o meu aviso ao povo, diz o Senhor dos exércitos: Não ouçam esses falsos profetas, quando vos profetizarem, enchendo-vos com falsas esperanças. Eles dizem o que pensam, mas nunca, de maneira nenhuma, o que eu quero! Continuam a dizer a estes rebeldes que me desprezam: ‘Não se preocupem! Vai tudo bem!’ E aos que vivem como muito bem lhes agrada: ‘O Senhor já disse que vocês terão paz!’ Mas podem, ao menos, nomear um só desses profetas que viva bastante perto do Senhor para ouvir a sua palavra? Reparem bem, o Senhor há de enviar uma tremenda tempestade que levará para longe esta gente perversa. A grande ira do Senhor não esmorecerá antes de ter executado o castigo que decretou contra eles. Quando chegarem, por fim, esses tempos, quando Jerusalém tiver caído, hão de ver como as minhas palavras se realizarão. Não chamei nenhum desses profetas e, contudo, garantem que falam em meu nome; não lhes dei nenhuma mensagem a transmitir e, apesar disso, dizem que as palavras que proferem são as minhas. Se assim fosse, tentariam converter o meu povo dos seus caminhos maus. Serei eu um Deus que só pode estar num único lugar e que não tem possibilidade de ver tudo o que eles fazem? Poderia alguém esconder-se de mim? Não estou eu em toda a parte, nos céus e na Terra? Dizem eles: ‘Ouçam! Ouçam o sonho que tive da parte de Deus a noite passada!’ E então começam a dizer mentiras em meu nome. Até quando é que isto continuará assim? Se são profetas, são uma fraude, pois inventam tudo o que dizem. Ao contarem todos esses falsos sonhos, tentam levar o meu povo a esquecer-me, tal como fizeram os seus pais que me trocaram pelos ídolos de Baal. Que esses falsos profetas contem então os seus sonhos, mas que os meus mensageiros proclamem fielmente a minha palavra! Há uma grande diferença entre a palha e o trigo!” O Senhor diz: “Não é a minha palavra como o fogo e como um martelo que esmiuça uma rocha em pedaços? Dessa forma, estarei eu contra esses profetas que imitam as pregações uns dos outros; esses profetas que dizem, com uma voz adocicada: ‘Esta mensagem vem do Senhor!’ Os seus sonhos fabricados são mentiras petulantes que só servem para levar o meu povo a pecar. Não fui eu quem os nomeou e eles não têm nenhuma mensagem da minha parte para transmitir ao povo, diz o Senhor. Quando alguém do povo, ou um dos profetas ou algum sacerdote te perguntar: ‘Então, Jeremias, qual é o encargo que tens da parte do Senhor?’, deverás responder-lhe: ‘Encargo? O encargo é que o Senhor vos expulsa!’ E quanto a esses falsos profetas e sacerdotes e ao povo que também se mete contigo, dizendo-te: ‘Este é o encargo que tenho da parte do Senhor ’, castigá-los-ei, sem falhar, por falarem dessa maneira. Podem perguntar uns aos outros: ‘Qual é a mensagem do Senhor? Que tem ele a dizer-nos?’ Mas deixem de falar nestes termos: ‘Este é o encargo que tenho da parte do Senhor ’, porque as palavras que cada um proferir serão para essa pessoa um encargo. Vocês inventam mensagens e alteram as palavras do Deus vivo, do Senhor dos exércitos, o nosso Deus. Vocês podem, com seriedade, perguntar a Jeremias: ‘Qual é a mensagem do Senhor? Que te disse ele?’ Mas se lhe perguntarem ‘Qual é encargo que recebeste da parte do Senhor?’, assim declara o Senhor: vocês dizem: ‘Este é o encargo que tenho da parte do Senhor ’, quando eu vos adverti que não dissessem isso. Por isso lançar-vos-ei para longe da minha presença, a vocês e esta cidade que vos dei e aos vossos pais. Trarei um opróbrio infinito sobre vocês, o vosso nome será símbolo de coisa infame.” Depois de Nabucodonozor, o rei da Babilónia, ter capturado e levado como escravo Jeconias, filho de Joaquim, o rei de Judá, exilando-o na Babilónia, juntamente com os nobres de Judá e todos os artífices de madeira e metal, o Senhor deu-me esta visão. Vi dois cestos de figos, colocados em frente do templo em Jerusalém. Num deles havia figos frescos, apanhados recentemente, mas no outro os figos que lá havia não se podiam comer, pois estavam estragados. Então o Senhor perguntou-me: “Que vês tu, Jeremias?” Eu respondi: “Figos! Uns bons e outros maus! Tão maus que não se conseguem comer!” Então o Senhor disse-me: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Pois os bons representam os exilados que mandei para a Babilónia. Fiz isso para o bem deles. Velarei para que sejam bem tratados e tornarei a trazê-los para cá. Ajudá-los-ei e não os ferirei. Plantá-los-ei e não os arrancarei. Dar-lhes-ei corações capazes de reconhecer que eu sou o Senhor. Serão o meu povo e eu serei o seu Deus, porque voltarão para mim de todo o coração. Mas os figos maus representam Zedequias, rei de Judá, os seus ministros e todos os habitantes de Jerusalém que ficaram aqui nesta terra, e também aqueles que vivem no Egito. Tratá-los-ei como se faz a figos estragados que não prestam para nada. Tornarei essa gente repulsiva para todas as nações da Terra; tornar-se-ão num objeto de troça, serão escarnecidos e amaldiçoados para onde forem mandados. Enviarei massacres, fomes e epidemias entre eles, até que todos tenham desaparecido da terra de Israel, que eu lhes dera, a eles e aos seus antepassados.” Esta mensagem para o povo de Judá veio da parte do Senhor a Jeremias, durante o quarto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá. Este foi o ano em que Nabucodonozor, rei da Babilónia, começou a reinar. E Jeremias foi dizer aos habitantes de Judá e de Jerusalém: Há 23 anos, desde o ano treze do reinado de Josias, filho de Amom, rei de Judá, até agora, que o Senhor me tem mandado as suas mensagens, e sempre as comuniquei fielmente sem, contudo, me quererem ouvir. Persistentemente o Senhor vos tem enviado os seus profetas e, no entanto, têm-se recusado a dar-lhes ouvidos. A sua mensagem foi sempre: “Deixem esse caminho de maldade por onde vão e essas ações más que andam a fazer! Porque só assim poderão continuar a viver aqui nesta terra que o Senhor deu a vocês e aos vossos pais para sempre. Não provoquem a minha ira adorando ídolos feitos com as vossas próprias mãos e assim não vos castigarei! No entanto, recusaram-se a ouvir-me; continuaram no mesmo e inflamaram a minha cólera com os vossos ídolos. Foi dessa forma que trouxeram sobre vocês todo o mal que vos tem acontecido.” Agora o Senhor dos exércitos diz: “Porque não quiseram ouvir-me, farei com que se juntem todos os exércitos do norte, sob o comando de Nabucodonozor, rei da Babilónia, do qual fiz meu instrumento, e os trarei contra esta terra e este povo, e também contra as nações tuas vizinhas. Destruir-te-ei inteiramente e farei de ti um espanto, um provérbio de desprezo para sempre. Retirar-te-ei a alegria, os motivos de prazer, as festas, a euforia das bodas; os teus negócios falirão e sobre todas as tuas habitações cairá uma escuridão silenciosa. A terra inteira se tornará numa vasta desolação e ficará vazia; todo o mundo ficará abismado perante a calamidade que te sobreveio. Israel e os seus vizinhos servirão o rei da Babilónia durante 70 anos. Depois de terminar esse tempo de escravidão, castigarei então o rei da Babilónia e o seu povo, por causa dos seus pecados; farei da terra da Caldeia um ermo de ruínas para sempre. Também trarei sobre eles todos os terrores que estão prometidos neste livro, todos os castigos anunciados por Jeremias contra as nações. Porque muitas outras nações e grandes reis escravizarão, por sua vez, os caldeus, tal como estes fizeram com o meu povo; castigá-los-ei na mesma proporção do tratamento que lhes infligiram.” Disse-me o Senhor, o Deus de Israel: “Pega nesta taça que tenho aqui na mão, a transbordar com a minha ira, e dá a beber dela a todas as nações a que eu te mandar. Beberão dessa taça, cambalearão e enlouquecerão, até morrerem com a violência da guerra que farei cair sobre eles.” Tomei a taça da mão do Senhor e dei-a a beber a todas as nações às quais Deus me tinha mandado. Fui a Jerusalém e às cidades de Judá e os seus reis e nobres beberam da taça, de forma que desde esse dia até agora têm sido assoladas, odiadas e malditas, tal como se vê. Fui ao Egito e o Faraó, os seus servidores, os nobres e o povo também beberam dessa taça terrível. Também os estrangeiros imigrados que ali viviam dela beberam e o mesmo fizeram todos os reis da terra de Uz e todos os reis dos filisteus: os de Asquelom, Gaza e Ecrom, e o povo que ainda ficara em Asdode. Castiguei da mesma forma as nações de Edom, de Moabe e de Amon, assim como os reis de Tiro e de Sídon, e os das regiões do outro lado do mar; Dedã, Tema, Buz e os povos pagãos que ali vivem; e ainda os reis da Arábia e as tribos nómadas do deserto; todos os reis de Zimri, do Elão e da Média; tal como os das regiões do norte, de perto e de longe, uns após outros, todos os reis do mundo. Finalmente o rei da Babilónia, ele próprio, bebeu desta taça da ira de Deus. “Diz-lhes: O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Bebam desta taça da minha cólera, até se embebedarem e vomitarem, e caírem no chão para não mais se levantarem, porque vou enviar a espada sobre vocês. E se recusarem aceitar a taça e beber, diz-lhes: O Senhor dos exércitos diz que terão de beber, queiram ou não! Não podem escapar a isso! Já comecei a castigar o meu próprio povo e vocês haveriam de escapar? Não, vocês não poderão livrar-se do meu castigo! Mandarei vir a guerra sobre todos os povos da Terra, diz o Senhor dos exércitos! Por isso, profetiza contra eles. Diz-lhes que o Senhor dos exércitos clama desde a sua habitação, desde o seu santo templo nos céus, contra todos os que vivem na Terra. Fá-lo-á com a exaltação de quem pisa uvas no lagar. Essa voz de julgamento ecoará por toda a Terra, até aos seus confins, pois o Senhor tem um contencioso contra todos os povos, contra toda a humanidade. Quanto aos ímpios, ele os entregará à espada, diz o Senhor. Será a matança de todos os ímpios. Vejam, declara o Senhor dos exércitos, a punição irá de nação em nação! Será como uma colossal tempestade de cólera que se levanta contra os mais longínquos cantos da Terra.” Nesse tempo, a Terra ficará cheia com todos aqueles que o Senhor fez morrer, dum extremo ao outro. E ninguém chorará por eles, nem juntarão os seus corpos para os enterrar; serão como esterco nos campos. Chorem e lamentem-se, ó maus pastores! Que os chefes do rebanho se revolvam na cinza, porque o seu tempo chegou, a altura de serem mortos e aniquilados! Cairão como se fossem frágeis mulheres! Não encontrarão lugar onde se possam esconder para escapar! Ouçam os gritos frenéticos de desespero dos pastores e dos líderes, porque o Senhor lhes destruiu as pastagens. Gente que vive neste momento em sossego será desarraigada pela violência da cólera do Senhor. Ele deixou o seu covil como um leão feroz que vai atrás da presa; a sua terra foi devastada por batalhões bem armados e aguerridos, tudo por causa da tremenda cólera do Senhor. Esta mensagem foi dada a Jeremias, da parte do Senhor, no princípio do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: “Põe-te em frente do templo do Senhor e fala a todo o povo que ali veio para adorar, vindo de muitos sítios de Judá. Comunica-lhes a mensagem toda, sem deixares sequer uma palavra esquecida, de tudo o que pretendo que ouçam. Pode ser que ouçam e se convertam dos seus maus caminhos, e assim poderei suspender todos esses castigos que planeio e que estou pronto a derramar sobre eles, em consequência das suas más ações. Diz-lhes que o Senhor lhes transmite isto: Se recusarem ouvir-me e obedecer à Lei que vos dei, e se não quiserem ouvir os meus servos, os profetas, porque os tenho enviado vez após vez para vos advertirem, mas não quiseram ouvi-los, então destruirei este templo, tal como destruí o tabernáculo em Silo, e farei de Jerusalém uma palavra maldita para todas as gentes da Terra.” Os sacerdotes, os profetas e todo o povo ouviram Jeremias anunciar essas palavras na casa do Senhor. Quando Jeremias acabou a sua pregação, dizendo tudo o que o Senhor lhe tinha ordenado, os sacerdotes, os falsos profetas e todo o povo que ali estava no templo juntaram-se e levantaram um tumulto contra ele gritando: “Morra! Morra! Com que direito dizes que o Senhor irá destruir este templo como o de Silo?”, vociferavam. “Que dizes tu: ‘Jerusalém será destruída e não haverá sobreviventes?’ ” Quando os altos magistrados de Judá ouviram o que estava a acontecer, saíram a correr do palácio e vieram sentar-se junto à porta nova da casa do Senhor, à entrada do templo, para julgar aquele caso. Os sacerdotes e os falsos profetas apresentaram então as suas acusações aos magistrados perante o povo, dizendo: “Este homem devia morrer! Ouviram com os vossos próprios ouvidos como ele é traidor, pois tem profetizado contra esta cidade!” Então Jeremias falou em sua defesa. “O Senhor enviou-me para profetizar contra o seu templo e contra esta cidade. Foi ele quem me deu todas estas palavras que disse. Se pararem de pecar e obedecerem ao Senhor, vosso Deus, ele cancelará todos os castigos que anunciou contra vocês. Quanto a mim, não tenho quem me defenda e estou nas vossas mãos; façam de mim o que melhor entenderem! Em todo o caso, uma coisa é certa: se me matarem, matarão um inocente e a responsabilidade desse ato recairá inteiramente sobre os vossos ombros, sobre esta cidade e sobre os seus habitantes; pois é absolutamente verdade que foi o Senhor quem me enviou para vos falar todas as palavras que ouviram de mim.” Então os magistrados e o povo dirigiram-se aos sacerdotes e aos falsos profetas: “Este homem não merece a morte, visto que nos falou em nome do Senhor, nosso Deus.” Alguns dos anciãos e sábios levantaram-se e falaram a todo o povo que ali estava em pé à volta deles: “Esta decisão é correta, porque no passado, Miqueias, o morastita, profetizou nos dias do rei Ezequias de Judá e falou ao povo que o Senhor dos exércitos dissera: ‘Sião será lavrada por completo, como se fosse um campo aberto, e a cidade de Jerusalém será arrasada e feita num monte de entulho. Uma floresta crescerá no mesmo sítio onde agora se levanta o templo.’ E porventura o rei Ezequias ou o povo o mataram por ele ter dito isso? Não! Antes arrependeram-se da sua maldade e adoraram o Senhor, pedindo-lhe para ter misericórdia deles, e o Senhor suspendeu o terrível castigo que tinha pronunciado contra eles. Se matarmos Jeremias por nos ter dado uma mensagem de Deus, sabe-se lá o que Deus nos poderá fazer!” Houve um outro homem que profetizava em nome do Senhor, Urias, filho de Semaías, de Quiriate-Jearim, que também denunciou a cidade e a nação na mesma altura em que Jeremias o estava a fazer. Mas quando o rei Joaquim, os oficiais do exército e os altos funcionários da administração ouviram o que ele dizia, o rei mandou prendê-lo para o matar. Urias, ouvindo isso, fugiu para o Egito. O rei Joaquim enviou Elnatã, filho de Acbor, ao Egito, com mais alguns homens, para capturarem Urias. E trouxeram-no prisioneiro ao rei, que o matou à espada e o pôs numa sepultura comum do povo. Mas Aicão, filho de Safã, secretário do reino, protegeu Jeremias e persuadiu o tribunal a não o entregar àquela gente em tumulto, pronta a matá-lo. Foi no princípio do reinado de Zedequias, filho de Josias, rei de Judá, que esta mensagem veio a Jeremias da parte do Senhor. “Faz um jugo, ata-o ao pescoço com faixas de couro, tal como se põe num boi que vai lavrar. Depois envia mensagens aos reis de Edom, Moabe, Amon, Tiro e Sídon, através dos seus embaixadores em Jerusalém, dizendo: Transmitam aos chefes das vossas nações que o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, vos envia esta mensagem: Eu criei a Terra, toda a humanidade e toda a vida animal pelo meu grande poder, e dou essas minhas coisas a quem eu entendo. Por isso, também agora dei todos os vossos países ao rei Nabucodonozor da Babilónia, que é neste caso o meu delegado. Entreguei-lhe todo o vosso gado para seu uso. Todas as nações terão de o servir, a ele, ao seu filho e ao seu neto, até que se cumpra o tempo marcado e seja a vez de outras grandes nações e outros grandes reis conquistarem a Babilónia e a submeteram à escravidão. Submetam-se e ponham o vosso pescoço sob o jugo da Babilónia! Terei de castigar toda a nação que recusar ser sua escrava; enviarei guerra, fome e pestes sobre esse povo, até que ela o tenha conquistado. Não deem ouvidos aos vossos falsos profetas, aos vossos ledores de sinas e horóscopos, aos vossos videntes, médiuns e bruxos, que vos dizem que o rei da Babilónia não vos escravizará. São todos mentirosos! Se seguirem o que vos dizem, recusando submeterem-se ao rei da Babilónia, expulsar-vos-ei eu próprio da vossa terra e mandar-vos-ei para longe, para lá morrerem. Mas os povos que aceitarem submeter-se ao rei da Babilónia, deixarei que fiquem na sua terra, cultivando os campos como de costume.” Jeremias repetiu estas profecias ao rei Zedequias de Judá. “Se pretendes viver, submete-te ao rei da Babilónia!”, disse-lhe. “Porque insistes em querer morrer, tu e o teu povo? Porque haverias de optar pela guerra, pela fome e pelas pestilências que o Senhor promete a todas as nações que não se submetem ao rei da Babilónia? Não prestes atenção aos falsos profetas que continuam a dizer-te para não te submeteres ao rei da Babilónia, porque são mentirosos! Não fui eu quem os enviou, diz o Senhor; eles estão apenas a dizer mentiras em meu nome. Se insistires em tomá-los em consideração, serei eu a lançar-te fora desta terra, para que morras, tu e igualmente todos esses teus profetas.” Continuei a dirigir-me aos sacerdotes e a todo o povo e disse-lhes: “Esta é a palavra do Senhor: ‘Não ouçam os vossos profetas que vos dizem que em breve os utensílios que foram levados do templo voltarão da Babilónia para o seu lugar original. Isso é uma mentira. Não lhes deem atenção! Submetam-se ao rei da Babilónia para que possam viver, pois doutra forma esta cidade inteira será destruída! Se são realmente profetas de Deus, então que orem ao Senhor dos exércitos, para que os recipientes e utensílios deixados ainda aqui no templo, que não foram levados, assim como os do palácio do rei de Judá e dos outros palácios de Jerusalém, não sejam transportados para a Babilónia!’ Porque o Senhor dos exércitos vos diz: ‘Os pilares de bronze que estão em frente do templo e a grande bacia de bronze no pátio do templo, assim como as bases de metal, e os outros objetos de culto deixados aqui por Nabucodonozor, rei da Babilónia, quando fez transportar uma parte importante do povo de Judá e de Jerusalém para a Babilónia, com Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, Um dia, no final do verão desse mesmo ano, o quarto do reinado de Zedequias, rei de Judá, Hananias, filho de Azur, um falso profeta de Gibeão, dirigiu-se a mim publicamente, na frente dos sacerdotes e do povo, e disse: “O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, declara: ‘Já tirei o jugo do rei da Babilónia dos vossos pescoços! Dentro de dois anos trarei de novo para o templo os tesouros que Nabucodonozor transportou para a Babilónia! E farei voltar o rei Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, assim como todos os outros cativos exilados na Babilónia, diz o Senhor. É com toda a certeza que levantarei esse jugo posto sobre os vossos pescoços pelo rei da Babilónia.’ ” Então Jeremias disse a Hananias, ali mesmo, diante dos sacerdotes e de todas as pessoas que estavam no templo do Senhor: “Amém! Assim, as tuas profecias possam tornar-se realidade! O meu desejo seria, na verdade, que o Senhor trouxesse da Babilónia os tesouros deste templo, assim como todos os que amamos! Mas agora ouve bem as solenes palavras que tenho a dizer-te também na presença de todas estas pessoas. Os antigos profetas que nos precederam, a ti e a mim, falaram contra muitas nações, avisando sempre que haveria guerra, fome e pestes. Por isso, um profeta que prediz a paz tem a grande responsabilidade sobre si, que é provar que o Senhor realmente o enviou. Só quando essa mensagem acontecer se saberá que realmente ela vem de Deus.” Então Hananias, o falso profeta, pegou no jugo do pescoço de Jeremias e quebrou-o. Ao mesmo tempo que fazia isto, dirigiu-se outra vez à multidão que assistia: “O Senhor prometeu que dentro de dois anos libertará todos os povos agora escravizados por Nabucodonozor, rei da Babilónia!” Jeremias retirou-se. No entanto, pouco tempo depois, o Senhor comunicou a Jeremias esta mensagem: “Vai dizer a Hananias: Assim diz o Senhor, o que tu quebraste no outro dia foi apenas um jugo de madeira, mas em seu lugar esta gente terá sobre si um jugo de ferro! O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Porei um jugo de ferro sobre o pescoço de todas estas nações, o que as obrigará à escravidão de Nabucodonozor, rei da Babilónia. E nada alterará este decreto, até porque lhe dei igualmente todos os vossos rebanhos e o vosso gado.” Então Jeremias disse a Hananias, o falso profeta: “Ouve, Hananias, tu não foste enviado pelo Senhor e, contudo, o povo está a acreditar nas tuas mentiras. Por isso, o Senhor diz que deves morrer. Ainda neste mesmo ano, a tua vida se apagará, pois te rebelaste contra o Senhor.” Efetivamente, dois meses mais tarde, no sétimo mês do mesmo ano, Hananias morreu. Mandou a carta por intermédio de Elasá, filho de Safã, e de Gemarias, filho de Hilquias, quando estes foram à Babilónia como embaixadores do rei Zedequias junto de Nabucodonozor. Era este o conteúdo da carta: O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, envia esta mensagem a todos os cativos de Jerusalém que foram exilados para a Babilónia. “Construam as vossas casas, não tenham receio de fazer projetos a longo prazo; plantem pomares, pois hão de ficar aí muitos anos. Podem casar e ter filhos; procurem maridos e mulheres para estes últimos e façam-se rodear de netos. Multipliquem-se e não decaiam! Trabalhem para a paz e a prosperidade da Babilónia. Orem por ela, porque se a Babilónia tiver paz, vocês também terão.” Porque o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: “Não deixem os falsos profetas e os bruxos que estão no vosso meio enganar-vos. Não prestem atenção aos sonhos e visões que eles inventam. Pois profetizam mentiras em meu nome. Eu não os enviei, diz o Senhor.” Diz ainda o Senhor: “Quando passarem 70 anos na Babilónia, irei em vossa ajuda, cumprirei a minha promessa e vos trarei para casa. Porque não me esqueci dos planos que fiz a vosso respeito, planos de bem e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança. Nesses dias, quando orarem a mim, eu vos ouvirei. Encontrar-me-ão quando me buscarem de todo o vosso coração, com toda a diligência. Sim, diz o Senhor, serei achado por vocês e porei fim à vossa escravidão; restaurarei a vossa situação; juntar-vos-ei das nações para onde vos enviei e hei de trazer-vos de novo para a vossa terra natal. Mas agora, porque aceitam falsos profetas, no vosso meio, que dizem que o Senhor os enviou? Vou mandar guerra, fome e pestilências sobre o povo que aqui ficou em Jerusalém, sobre os vossos parentes que não foram exilados para a Babilónia e sobre o rei que se senta no trono de David. Farei com eles o que se faz a figos podres que já não se podem comer. Lançá-los-ei pelo mundo fora e em todas as nações onde os colocarei hão de ser amaldiçoados, desprezados e humilhados. Porque se recusaram ouvir-me, ainda que lhes tenha falado múltiplas vezes pela voz dos meus profetas.” Por isso, ouçam a palavra do Senhor, todos os habitantes de Jerusalém exilados na Babilónia! O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz isto acerca dos vossos falsos profetas, de Acabe, filho de Colaías, e Zedequias, filho de Maaseias: “Vos declaram mentiras em meu próprio nome. Vejam, entregá-los-ei a Nabucodonozor, rei da Babilónia, e ele os matará à vossa frente. O seu destino tornar-se-á num provérbio, significativo de todo o mal, de tal maneira que quem quiser amaldiçoar outra pessoa dirá: ‘O Senhor te faça como fez a Zedequias e a Acabe, a quem o rei da Babilónia queimou vivos!’ Porque estes homens fizeram uma coisa terrível entre o meu povo. Cometeram adultérios com as mulheres dos seus próximos e mentiram em meu nome. Sei tudo isto, porque vejo tudo o que acontece!, diz o Senhor.” E diz isto a Semaías, o neelamita: O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: Sei que escreveste uma carta ao sacerdote Sofonias, filho de Maaseias, e enviaste cópias a todos os outros sacerdotes, assim como a toda a gente em Jerusalém. Nessa carta dizias a Sofonias: O Senhor te designou sacerdote, para substituíres Jeoiada como responsável do templo do Senhor. Será da tua responsabilidade prender todo o louco que se considera profeta, encarcerá-lo e pô-lo incomunicável. Porque é que não fizeste nada com esse pretenso profeta que é Jeremias de Anatote? Porque ele escreveu-nos para aqui, para a Babilónia, dizendo que o nosso cativeiro seria longo e que devíamos construir casas com carácter permanente, e fazer planos a longo prazo para a nossa vida aqui, e que devíamos plantar pomares, porque haveríamos de comer dos seus frutos durante muito tempo. Sofonias levou, entretanto, esta mesma carta a Jeremias e leu-lha. Foi então que o Senhor deu a Jeremias esta mensagem: “Manda uma carta aberta a todos os exilados da Babilónia e diz-lhes: O Senhor diz que, visto que Semaías, o neelamita, profetizou, quando eu não lhe transmiti nada, e vos enganou, levando-vos a acreditar em mentiras, castigá-lo-ei, a ele e à sua família. Nenhum dos seus descendentes verá o bem que espero dar ao meu povo, porque vos ensinou a rebelarem-se contra o Senhor.” Eis outra mensagem do Senhor a Jeremias. “O Senhor, o Deus de Israel, diz: ‘Escreve, para que fique registado, tudo o que tenho dito. Porque virá o tempo em que restaurarei a prosperidade do meu povo, tanto de Israel como de Judá, e tornarei a trazê-los a esta terra que é a sua, que dei aos seus antepassados; possuí-la-ão e tornarão outra vez a viver aqui.’ ” Estas são as palavras que o Senhor falou com respeito a Israel e a Judá: “ ‘Onde encontraremos a paz?’, clamam eles. ‘Só vemos pavores e tremores.’ Procurem se é possível os homens comportarem-se como se estivessem a dar à luz? Andam por aí, pálidos, as mãos na barriga, como mulheres na hora do parto! Em toda a vossa história, quando foi que houve um tempo semelhante a esse que está a chegar? É um tempo de angústia para o meu povo, para Jacob, como nunca antes conheceu, mas ele será salvo! Porque nesse dia, diz o Senhor dos exércitos, quebrarei o jugo que pesa sobre os seus pescoços e quebrarei as suas correntes; não terão mais estrangeiros por senhores! Servirão unicamente o Senhor, o seu Deus, e a David, o seu rei, a quem farei levantar-se para eles, diz o Senhor. Por isso, não estejas receoso, Jacob, meu servo! Não desmaies, ó Israel! Porque tornarei a trazer-te para a tua terra, de lugares distantes, e aos teus filhos do exílio. Vocês hão de ter repouso e tranquilidade na vossa terra natal! Ninguém mais vos aterrorizará! Pois serei convosco e vos salvarei, diz o Senhor. Mesmo tendo de exterminar completamente as nações para onde vos espalhei, vocês serão poupados. Castigar-vos-ei, é verdade, não ficarão impunes. Porque o vosso pecado é uma chaga incurável, uma doença terrível. Não há ninguém para vos socorrer, para vos ligar e tratar, nem remédios que possam fazer-vos bem algum. Todos os vossos amantes vos abandonaram e não têm mais nenhum interesse em vocês, porque vos feri severamente, como se fosse um inimigo implacável; pois são muitos os vossos pecados e é grande a vossa culpa. Porque protestam contra o castigo que têm? O vosso pecado é tão escandaloso que a vossa tristeza e arrependimento não deveriam ter fim! É por ser muito grande a vossa culpa que tive de vos punir dessa forma. No entanto, nesse dia que há de vir, todos os que vos destroem serão destruídos e todos os vossos inimigos se tornarão escravos. Os que vos roubam serão roubados e os que vos atacam serão atacados. Tornarei a dar-vos prosperidade e sararei as vossas feridas. Atualmente, chamam-vos proscritos e Sião é um lugar que ninguém procura. Mas o Senhor diz: Eis que reconduzirei o meu povo à sua terra e terei misericórdia das suas moradas. A cidade será reconstruída sobre as ruínas, e o seu palácio colocado no seu devido lugar. As cidades estarão cheias de alegria e de manifestações de reconhecimento; multiplicarei o meu povo e farei dele uma grande e honrosa nação. Os seus filhos viverão bem, como nos tempos antigos, e as suas famílias estarão bem estabelecidas na minha presença; castigarei quem ousar ferir-vos de qualquer forma. Terão novamente o seu chefe e não será um estrangeiro. Convidá-lo-ei e poderá aproximar-se de mim, pois quem ousaria aproximar-se de mim? Isto diz o Senhor. Vocês serão o meu povo e eu serei o vosso Deus.” Repentinamente, uma tormenta devastadora da parte do Senhor rugirá com fúria, desabando sobre as cabeças dos ímpios. O Senhor não fará parar a violência da sua ira antes que tenha acabado toda a destruição que planeara. Mais tarde, hão de compreender o que vos estou a dizer! “Nesse tempo, diz o Senhor, serei o Deus de todas as famílias de Israel e elas serão o meu povo. Cuidarei deles, diz o Senhor, dos que escaparam da morte, a quem demonstrei as minhas misericórdias no deserto, quando Israel buscava descanso.” De longe, o Senhor apareceu-nos, dizendo: “Amei-te, ó meu povo, com um amor eterno! Foi com terna benignidade que te atraí a mim! Por isso, hei de reconstruir a tua nação, ó virgem de Israel. Tornarás assim a ser feliz, a dançar alegremente com as pandeiretas. Plantarás novamente as tuas vinhas sobre as colinas de Samaria e ali comerás os frutos dos teus próprios pomares. Porque haverá um dia em que os vigias sobre os outeiros de Efraim gritarão: ‘Levantem-se, vamos a Sião, ao Senhor, nosso Deus!’ ” Porque o Senhor diz: “Cantem de gozo por tudo aquilo que farei a Jacob, a maior das nações! Cantem de prazer e de alegria: ‘O Senhor salva o seu povo, os que restaram de Israel!’ Porque hei de trazê-los do norte e dos cantos mais remotos da Terra, sem esquecer os cegos, os aleijados e as mães à espera de bebés, ou com eles nos braços. Uma grande multidão que se apresentará. Lágrimas de felicidade correrão pelos seus rostos e eu os conduzirei de regresso com muito cuidado. Andarão junto aos ribeiros de águas e não tropeçarão, porque eu sou um Pai para Israel e Efraim é o meu filho mais velho. Ouçam esta mensagem, todas as nações da Terra, e levem-na bem longe: ‘O Senhor, que foi quem dispersou o seu povo, é ele mesmo agora que o torna a reunir de volta, velando por ele como um pastor pelo seu rebanho.’ Salvará a Jacob daqueles que o querem esmagar! O povo regressará à sua terra natal e cantará cânticos de alegria sobre as colinas de Sião; andará radiante por causa da bondade do Senhor, das boas colheitas, trigo, vinho novo e azeite, dos belos rebanhos, do belo gado, por tudo o que lhe deu! A sua vida será como um jardim plantado junto a correntes de água e todas as suas tristezas desaparecerão. As moças dançarão de alegria e os homens, velhos e moços, participarão dessas manifestações de satisfação. Mudarei tudo o que for lamentação em expressões de contentamento, confortá-los-ei e farei com que se sintam bem, visto que todo o seu cativeiro, com tudo o que representou de acabrunhamento, ficou para trás. Os sacerdotes andarão contentíssimos com a abundância de ofertas trazidas ao templo. O meu povo se fartará de boas coisas”, diz o Senhor. O Senhor falou-me novamente: “Ouve-se em Ramá um clamor, amargas lamentações e um pranto imenso; é Raquel chorando pelos seus filhos; e está absolutamente inconsolável, porque foram-se, definitivamente.” Mas o Senhor diz: “Não chores mais, pois ouvi as tuas orações e poderás vê-los novamente! Eles regressarão da terra do inimigo, diz o Senhor. Há esperança para o teu futuro, diz o Senhor. Os teus filhos regressarão à sua terra natal, à sua própria terra. Ouvi os gemidos de Efraim: ‘Fui pesadamente punido, mas mereci-o bem. Fui como um bezerro que teve de se habituar ao jugo. Agora faz-me voltar de novo para ti e restaura-me, pois só tu és o Senhor, meu Deus. Afastei-me de Deus, mas a minha tristeza foi grande. Depois bati com a mão na cabeça, espantado com a minha própria estupidez. Fiquei profundamente envergonhado com tudo aquilo que fiz antes.’ ” E o Senhor responde: “Efraim é ainda meu filho, meu filho querido. É verdade que tive de o castigar, mas ainda o amo. Lembro-me muito dele e terei misericórdia dele, quero-o na minha presença.” “Quando forem para o exílio, vão pondo marcas no caminho; marcas bem visíveis, para poderem reconhecer a via quando regressarem; porque tu hás de regressar, ó virgem de Israel, às tuas cidades. Até quando andarás vagueando, ó filha rebelde? Porque o Senhor fará acontecer algo diferente, como uma mulher que corteja um homem!” O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: “Quando os trouxer de volta, dirão em Judá e nas suas cidades: ‘O Senhor te abençoe, ó centro de justiça, ó santo monte!’ Tanto os habitantes da cidade como os que vivem no campo e os pastores viverão juntos em paz e felizes. Porque eu darei descanso a todos os cansados e alegria aos contristados.” Jeremias como que despertou e disse: “Que belo sonho que eu tive!” Diz o Senhor: “Virá o tempo em que aumentarei grandemente a população e multiplicarei o número de gado aqui em Israel. No passado, destruí meticulosamente toda a nação; mas agora com igual cuidado a reconstruirei. O povo não espalhará mais esse provérbio que diz: ‘Os pais comeram uvas azedas, mas foi nos dentes dos filhos que ficou o mau sabor.’ Porque cada um morrerá pelos pecados que comete; a pessoa que comer as uvas verdes, essa é que ficará com os dentes embotados. Virá o tempo, diz o Senhor, em que farei uma nova aliança com o povo de Israel e de Judá. Essa aliança não será como a que eu estabeleci com os seus pais, quando os tomei pela mão, a fim de os fazer sair da terra do Egito. Eles não cumpriram a sua obrigação nessa aliança, embora eu fosse como um marido para eles, diz o Senhor. Será assim a nova aliança que farei com o povo de Israel, depois daqueles dias: Porei a minha Lei nos seus entendimentos e vou escrevê-la nos seus corações. Nessa altura, eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Então não será mais necessário insistir com alguém para conhecer a Deus. Porque todos, tanto os grandes como os pequenos, me conhecerão realmente, diz o Senhor; perdoarei e esquecer-me-ei dos seus pecados.” O Senhor, que nos dá a luz do Sol durante o dia e da Lua e das estrelas para alumiar a noite, que provoca ele próprio a agitação do mar, de maneira a formarem-se as vagas alterosas, cujo nome é Senhor dos exércitos, diz assim: “Se estas leis da natureza puderem alterar-se, então eu também poderei rejeitar o meu povo de Israel! Enquanto não se puderem medir nem a altura do firmamento, nem a profundidade da Terra, eu não o rejeitarei para sempre pelos seus pecados! Porque virá o tempo, diz o Senhor, em que toda a Jerusalém será reconstruída para o Senhor, desde a torre de Hananel na extremidade nordeste, até à porta do Canto a noroeste; desde o outeiro de Garebe no sudoeste, até Goa no sudeste. E toda a cidade, incluindo o campo dos mortos e o terreno das cinzas, no vale, será santa para o Senhor, como também todos os campos até ao ribeiro de Cedron e até à porta dos Cavalos a oriente da cidade. Ela nunca mais será capturada nem destruída!” A seguinte mensagem foi dada a Jeremias, da parte do Senhor, no décimo ano do reinado de Zedequias, rei de Judá, que era também o décimo oitavo ano do reinado de Nabucodonozor. Nessa ocasião Jeremias estava encarcerado no calabouço da cave do palácio e durante esse tempo o exército da Babilónia cercava Jerusalém. O rei Zedequias tinha-o mandado prender, sob a acusação de ter profetizado: “O Senhor entregará a cidade nas mãos do rei da Babilónia e este a conquistará! O rei Zedequias será levado como prisioneiro à presença do rei da Babilónia, para ser julgado e sentenciado. Ele levará Zedequias para a Babilónia e o meterá na prisão por muitos anos, até que o Senhor se lembre dele. Porquê contestar factos? Vocês não poderão vencer!” Estas foram as palavras que Jeremias lhe falou repetidamente. Então veio esta mensagem do Senhor a Jeremias: “Teu primo Hanameel, filho de Salum, virá em breve ter contigo para te pedir que lhe compres a propriedade que tem em Anatote, porque pela Lei tens direito a adquiri-la, antes que outros se proponham transacioná-la.” Com efeito, Hanameel apareceu, como o Senhor tinha predito. Veio ver-me à prisão e disse-me: “Compra a minha propriedade de Anatote, na terra de Benjamim, porque tens o direito de a adquirires, perante a lei.” Foi assim que me dei conta de que efetivamente a mensagem que tinha recebido vinha do Senhor. E comprei-lhe o terreno, pagando-lhe 200 gramas de prata. Assinei e selei o contrato de compra perante testemunhas, tendo pesado a prata que lhe entreguei logo. Seguidamente, tomei o contrato de compra, já selado e contendo os termos e as condições da transação, e a sua cópia sem selo, e publicamente, na presença de todos, do meu primo Hanameel e das testemunhas que tinham também assinado o contrato, e igualmente perante os guardas da prisão, entreguei esses documentos a Baruque, filho de Nerias e neto de Maaseias. Depois disso, sendo que todos me escutavam, disse estas palavras: “O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: ‘Pega nesse contrato selado e na sua cópia e coloca-os num jarro, para que se conservem intactos durante muito tempo. Porque o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: No futuro, estes documentos serão de muita validade. Virão dias em que o povo tornará a adquirir propriedades nesta terra, em que comprará e venderá casas, vinhas e campos.’ Então, depois de ter dado os documentos a Baruque, orei assim: Ó Senhor Deus! Tu fizeste os céus e a Terra pelo teu grande e forte braço! Nada é demasiado difícil para ti! Tu és bom e misericordioso para milhares! Ainda que os filhos sofram pelos pecados dos pais, és o grande e poderoso Deus, o Senhor dos exércitos! Em ti está toda a sabedoria e fazes milagres espantosos, de grande alcance, pois os teus olhos estão abertos sobre todos os caminhos, todas as condutas dos filhos dos homens, e dás a cada um de acordo com a vida que tem e os atos que pratica. Fizeste coisas incríveis no Egito, coisas que continuam sempre a ser lembradas e celebradas. Aliás, continuas a fazer grandes milagres em Israel e em todo o mundo. Deste ao teu nome fama e prestígio, como hoje se vê. Trouxeste Israel para fora do Egito por meio de atos extraordinários, sobrenaturais, com demonstrações de grande poder e espanto. Deste depois a Israel esta terra que tinhas prometido aos seus antepassados muito tempo antes, uma terra maravilhosa onde jorra leite e mel. Nossos pais vieram, conquistaram-na e viveram aqui; contudo, recusaram obedecer-te e seguir a tua Lei; nada fizeram daquilo que lhes tinha ordenado e foi por isso que lhes enviaste todo este terrível mal. Vejam só estes baluartes com que o inimigo sitia a cidade e como se aproxima ofensivamente das muralhas! Os caldeus acabarão por conquistar a cidade pela espada, pela fome e pela peste! Desta forma, tudo aconteceu como tinhas dito e como estava determinado que acontecesse! Apesar de tudo isto, tu, Senhor Deus, disseste-me que comprasse o campo e que pagasse o dinheiro pedido por ele, perante testemunhas, num ato legal, embora a cidade esteja já praticamente entregue nas mãos dos nossos inimigos.” Então veio esta mensagem a Jeremias. “Eu sou o Senhor, o Deus de toda a humanidade! Haverá, por acaso, alguma coisa demasiado difícil de realizar para mim? Sim, com certeza que darei esta cidade aos caldeus, a Nabucodonozor, o seu rei e ele há de conquistá-la. Os soldados que estão de fora entrarão, porão fogo à cidade e queimarão todas esta habitações, cujos telhados serviram para oferecer incenso a Baal e para fazer libações a outros deuses, provocando assim a minha ira! Porque Israel e Judá só souberam praticar o mal, desde os primeiros tempos, e enfureceram-me com todos os seus atos pecaminosos. Desde o tempo em que esta cidade foi construída até agora, não têm feito senão suscitar a minha cólera, e por isso estou decidido a lançá-los fora da minha presença. O povo de Israel e de Judá têm provocado a minha ira devido a todo o pecado praticado, tanto o povo como os seus reis, governantes responsáveis pela administração pública, sacerdotes e até os seus profetas, assim como todas as pessoas de Judá e todos os habitantes de Jerusalém. Voltaram-me as costas e recusam converter-se; dia após dia, ano após ano, ensinei-os a distinguir o bem do mal, mas não querem ouvir-me e obedecer. Contaminam o meu próprio templo, prestando adoração, aqui mesmo, aos seus abomináveis ídolos. Edificaram enormes santuários pagãos a Baal no vale de Ben-Hinom. Ali queimaram os filhos em sacrifício ao deus Moloque, coisa que nunca os mandei fazer. Nem me passou pela mente que fizessem tal abominação. Que tremenda e incrível maldade, ter feito Judá pecar dessa maneira! Por isso, agora o Senhor Deus de Israel diz a respeito desta cidade que cairá nas mãos do rei da Babilónia, através da guerra, da fome e da pestilência. Contudo, tornará a trazer o povo de volta dos países para onde a sua cólera os dispersou. Tornarei a trazê-los para esta mesma cidade e farei com que vivam em paz e segurança. Serão o meu povo e eu serei o seu Deus. Dar-lhes-ei um só coração e uma só mente, para que me temam para sempre, para seu próprio bem e para a felicidade dos seus descendentes. Farei com eles uma aliança eterna em como nunca mais os abandonarei e que só lhes farei bem. Porei um só desejo no seu coração, o de me temer, e nunca mais me deixarão. Terei alegria em lhes fazer bem; tornarei a plantá-los nesta terra com grande alegria. Assim como lhes enviei todos estes terrores e males, assim também depois lhes farei todo o bem que prometi. As terras tornarão a ser compradas e vendidas, terras das quais vocês dizem: ‘Eis que a nossa terra, donde os homens e animais desapareceram, está agora desvastada pelos caldeus!’ Sim, os campos serão novamente transacionados e os respetivos contratos selados perante testemunhas, tanto na terra de Benjamim como aqui na zona de Jerusalém, nas cidades de Judá, na região das planícies; tanto na planície da Filisteia como no Negueve. Há de vir o tempo em que restaurarei a sua prosperidade.” Durante a estadia de Jeremias na prisão, o Senhor enviou-lhe uma segunda mensagem: “O Senhor, o Criador dos céus e da Terra, cujo nome é Senhor, diz assim: Pede-me e dir-te-ei alguns segredos notáveis que ignoras. Mesmo tendo derrubado casas, e até o palácio do rei, para obter materiais para fortalecer as muralhas contra os instrumentos de ataque com que o inimigo sitia a cidade, mesmo assim os caldeus entrarão e os homens desta cidade poderão considerar-se mortos, pois já determinei que sejam destruídos na minha tremenda cólera. Abandonei-os por causa da sua terrível maldade e não terei compaixão quando implorarem o meu socorro. Contudo, virá um tempo em que curarei Jerusalém dos males que lhe provoquei e em que lhe tornarei a dar prosperidade e paz. Reconstruirei tanto as cidades de Judá como de Israel e lhes darei novamente uma vida venturosa. Limpá-los-ei e perdoá-los-ei de todos os pecados que praticaram contra mim. Então esta cidade será uma honra para mim; dar-me-á alegria e será uma fonte de alegria e louvor aos olhos de todas as nações da Terra! Todo o mundo verá o bem que faço ao meu povo e tremerá de espanto!” Assim diz o Senhor: “Vocês afirmam que este lugar é como um deserto, que não há gente nem animais a viver aqui, e têm razão. As cidades de Judá e as ruas de Jerusalém estão desertas, ninguém lá vive. Mas nesses mesmos lugares ainda se ouvirá o som de festa e de alegria, as vozes do noivo e da noiva no banquete de casamento, e os alegres cânticos dos que trazem as suas ofertas de gratidão à casa do Senhor: ‘Deem graças ao Senhor dos exércitos, porque ele é bom, porque o seu amor é eterno!’ Pois farei esta terra mais feliz e mais próspera do que foi no passado, diz o Senhor.” Continua o Senhor dos exércitos: “Nesta terra, que agora está deserta, onde nem pessoas nem animais vivem, haverá de novo pastagens para onde os pastores poderão conduzir as suas ovelhas e cordeiros. Nas cidades das regiões montanhosas, nas da planície costeira, na região do Negueve, na terra de Benjamim, nos arredores de Jerusalém e nas cidades de Judá os pastores contarão de novo as suas cabeças de gado, diz o Senhor! Virá o tempo em que farei a Israel e a Judá todo o bem que lhes prometi. Nessa altura, porei sobre o trono um Renovo justo, da descendência de David, o qual governará com justiça. Nesse dia, o povo de Judá e de Jerusalém viverá em segurança e o seu lema será: ‘O Senhor é a nossa justiça!’ O Senhor declara que a partir de então, David terá sempre um herdeiro sentado no trono de Israel. E haverá sempre levitas para oferecer holocaustos e ofertas de manjares e sacrifícios.” Veio mais outra mensagem do Senhor a Jeremias. “Se puderem mudar as leis de alternância do dia e da noite, fazendo com que o dia e a noite não aconteçam como normalmente, então também a minha aliança com David, o meu servo, poderá vir a ser quebrada, de forma que não tenha um filho para se sentar no seu trono, e também a aliança que fiz com os meus sacerdotes, os meus ministros, será cancelada. Assim como as estrelas do firmamento não podem ser contadas, nem os grãos da areia do mar, assim também serão multiplicados os descendentes do meu servo David e igualmente a linhagem dos levitas que administram o meu culto.” O Senhor falou novamente a Jeremias, dizendo-lhe: “Ouviste que o meu povo está a dizer que o Senhor escolheu Judá e Israel para agora os abandonar? Andam a escarnecer e afirmam que Israel não merecia ser considerada uma nação. Eis a resposta do Senhor: não mais hei de rejeitar o meu povo, do mesmo modo que as leis de alternância do dia e da noite não podem ser mudadas, nem as leis que regulam o firmamento e a Terra. Nunca mais abandonarei os judeus, nem David, o meu servo, nem modificarei o plano do seu filho vir um dia a governar estes descendentes de Abraão, Isaque e Jacob. Hei de certamente restaurar a sua prosperidade e terei misericórdia desse povo.” A mensagem a seguir foi comunicada a Jeremias, da parte do Senhor, quando Nabucodonozor, rei da Babilónia, com todos os seus exércitos, formados por gente de todos os povos que dominava, vieram combater Jerusalém e as cidades de Judá: “Vai dizer a Zedequias, rei de Judá, que o Senhor, o Deus de Israel, lhe comunica o seguinte: Darei esta cidade ao rei da Babilónia e este a queimará. E tu não escaparás, mas serás capturado e levado à presença dele, que pronunciará a sua sentença contra ti, a tua deportação para a Babilónia.” Mas ouve bem isto, ó Zedequias, rei de Judá: “O Senhor diz que não serás morto na batalha durante a peleja. Morrerás antes sossegadamente, no meio do teu povo, que queimará incenso em memória de ti, tal como fizeram com os teus antepassados. Chorar-te-ão e dirão: ‘Ai de nós, que nos morreu o rei!’ Foi isto mesmo que eu decretei”, diz o Senhor. Jeremias entregou esta mensagem ao rei Zedequias em Jerusalém. Nessa altura, o exército babilónico estava justamente a sitiar Jerusalém, Laquis e Azeca, as únicas povoações muradas de Judá que ainda resistiam. O Senhor falou a Jeremias, depois que o rei Zedequias fez um pacto com todo o povo que estava em Jerusalém, a fim de proclamar a libertação dos cativos. Com efeito, Zedequias tinha dado ordens para que todos os que tivessem escravos hebreus, tanto homens como mulheres, os libertassem, alegando que nenhum judeu deveria ser senhor doutro judeu, porque eram irmãos. Os grandes senhores, assim como todos os povos, obedeceram à ordem do rei e deram liberdade aos escravos que tinham. Mas tratou-se de uma iniciativa temporária, porque ao fim de algum tempo tomaram coragem e recuperaram novamente os seus escravos. Então veio a palavra do Senhor a Jeremias. O Senhor, o Deus de Israel, diz: “Fiz uma aliança com os vossos antepassados, há muito tempo, quando os resgatei da escravidão do Egito. Disse-lhes então que todo o escravo hebreu deveria ser libertado ao fim de seis anos, mas isso não foi feito. Recentemente, vocês decidiram atuar com justiça, segundo o meu mandamento, e deram liberdade aos vossos escravos. Fizeram mesmo, solenemente, no meu templo, a promessa de pôr esse plano em execução. Porém, agora voltaram com a palavra atrás e sujaram o meu nome, tornando-se perjuros e recuperando os escravos que tinham.” Por isso, o Senhor vos diz: “Sendo que não querem ouvir-me e libertá-los, entregar-vos-ei ao poder da morte, pela guerra, fome e peste. Espalhar-vos-ei por todo o mundo como exilados. Visto que recusaram os termos da minha aliança, separar-vos-ei de mim, tal como separam as duas partes em que dividem o bezerro, ao passar entre elas, para formalizar solenemente os vossos votos. Sim, degolar-vos-ei, sejam quem forem, grandes senhores, altos magistrados, sacerdotes ou simples povo, pois quebraram o vosso juramento. Entregar-vos-ei aos vossos inimigos que vos liquidarão e darei os vossos cadáveres às aves de rapina e aos animais selvagens. Farei com que Zedequias, o rei de Judá, assim como os seus chefes militares se rendam ao exército do rei da Babilónia, ainda que este se tenha desviado da cidade por um certo tempo. Chamarei novamente as tropas da Babilónia, que tornarão a sitiá-la, a combatê-la, e a tomarão, queimando-a. Velarei para que todas as outras povoações de Judá sejam completamente destruídas, deixadas na mais completa desolação, sem vivalma!” Esta é a mensagem que o Senhor comunicou a Jeremias, quando Joaquim, filho de Josias, era rei de Judá: “Vai à zona em que se fixaram as famílias dos recabitas e convida-os a vir ao templo. Leva-os a uma das divisões interiores e oferece-lhes vinho a beber.” Então fui ter com Jazanias, filho de Jeremias e neto de Habazinias, e trouxe-o e a todos os seus irmãos e filhos, representando todas as famílias dos recabitas. Vieram até ao templo, à sala usada pelos filhos do profeta Hanã, filho de Jigdalias. Esta sala ficava ao lado da que utilizava o representante oficial do palácio, logo acima da sala de Maaseia, filho de Salum, que era o porteiro do templo. Pus taças e copos com vinho diante deles e convidei-os a beberem. Mas eles recusaram. “Não!”, disseram. “Nós não bebemos, porque Jonadabe, o nosso antepassado, filho de Recabe, ordenou-nos que nunca bebêssemos vinho, nem nós, nem os nossos filhos. Também nos disse para não construirmos casas, nem semearmos campos ou plantarmos vinhas, e que não possuíssemos terras, mas que vivêssemos sempre em tendas. Disse-nos ainda que, se obedecêssemos, viveríamos muito tempo e seríamos felizes na nossa terra. Nós temos obedecido em todas estas coisas e nunca bebemos vinho, a partir de então, nem nós nem as nossas mulheres, filhos e filhas. Também nunca construímos casas para nossa habitação, nem mesmo possuímos vinhas, campos ou sementes. Temos sempre vivido em tendas, obedecendo literalmente a tudo o que Jonadabe, o nosso pai, nos ordenou. Mas quando Nabucodonozor, rei da Babilónia, invadiu a terra, tivemos medo e decidimos vir para Jerusalém. É por isso que aqui estamos!” Então o Senhor deu a Jeremias esta mensagem: “O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz assim: Vai dizer a Jerusalém e a Judá: Porque não aprendem a lição das famílias de Recabe? Eles não bebem porque foi essa a ordem de seu pai. Mas vocês, quantas e quantas vezes vos tenho lembrado os meus mandamentos e não querem ouvi-los nem obedecer. Mandei-vos profetas atrás de profetas, para vos dizerem que se desviem dos vossos caminhos perversos, que parem de adorar ídolos; que, se me obedecerem, vos deixarei viver em paz aqui nesta terra que dei aos vossos antepassados. Mas continuam sempre sem querer ouvir-me e obedecer. As famílias dos recabitas obedeceram integralmente ao seu antecessor, mas vocês recusaram ouvir-me! Por isso, o Senhor Deus dos exércitos, o Deus de Israel, vos diz: Visto que recusam ouvir-me e responder, quando chamo a vossa atenção, enviarei sobre Jerusalém todo o mal com que a tenho ameaçado desde sempre.” Então Jeremias foi ter com os recabitas e disse-lhes: “O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz que, pelo facto de terem obedecido ao vosso pai em todos os aspetos, nunca faltará um descendente a Jonadabe, filho de Recabe, que me sirva!” No quarto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, o Senhor transmitiu esta mensagem a Jeremias: “Arranja um rolo para escrever e regista todas as mensagens que tenho dado contra Israel, Judá e as outras nações. Começa com a primeira mensagem, ainda nos tempos de Josias, e escreve todas elas. Talvez, quando o povo de Judá vir escritas todas as coisas terríveis que lhes farei, se arrependam. Nessa altura, perdoar-lhes-ei.” Por isso, Jeremias mandou chamar Baruque, filho de Nerias e fê-lo escrever todas as profecias. Depois de acabar, Jeremias disse a Baruque: “Visto que estou aqui como prisioneiro e já não tenho autorização para ir ao templo do Senhor, lê tu este rolo, no próximo dia de jejum, porque nesse dia haverá uma grande assembleia com o povo que há de vir de todas as partes de Judá. Talvez a sua súplica chegue diante do Senhor, e renunciem aos seus maus caminhos; porque grande é a ira e a fúria que o Senhor tem manifestado contra este povo.” Baruque fez como Jeremias lhe tinha dito e leu todas aquelas mensagens ao povo no templo. Isso ocorreu no dia de jejum que teve lugar no nono mês, no quinto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, no dia em que veio povo de toda a parte de Judá para assistir no templo às celebrações especiais desse dia. Baruque foi igualmente à sala de trabalho de Gemarias, o secretário, filho de Safã, para lhe ler o rolo. Essa sala ficava mesmo ao lado da entrada que dava para o átrio superior, junto à porta nova. Quando Micaías, filho de Gemarias e neto de Safã, ouviu aquelas mensagens do Senhor, desceu ao palácio, à câmara de conferências, onde estavam reunidos os chefes da administração pública, entre os quais Elisama, o secretário, Delaías, filho de Semaías, Elnatã, filho de Acbor, Gemarias, filho de Safã, Zedequias, filho de Hananias, assim como todos os que tinham responsabilidades similares. Quando Micaías os pôs ao corrente das mensagens que Baruque tinha lido ao povo, aqueles administradores enviaram Jeudi, filho de Netanias, filho de Selemias, filho de Cuchi, para que pedisse a Baruque, filho de Neria, para lhes vir ler também essas mensagens, e Baruque aceitou. Então disseram-lhe: “Senta-te e lê-nos esse rolo!” E Baruque leu-o diante de todos. Quando terminou a leitura, estavam extremamente aterrorizados. “Temos de contar ao rei!”, disseram eles. “Mas primeiro diz-nos como foi que obtiveste estas mensagens. Foi mesmo Jeremias quem as ditou a ti próprio?” Então Baruque explicou-lhes que fora Jeremias quem lhe ditara tudo, palavra por palavra, e que ele, Baruque, as escrevera com tinta no rolo. “Vocês, tu e Jeremias, têm de se esconder!”, disseram os administradores a Baruque. “E não digam a ninguém onde estão!” Aqueles magistrados esconderam o rolo nos aposentos de Elisama, o secretário, e foram contar tudo ao rei. Este mandou Jeudi ir buscar o rolo. Jeudi trouxe-o das dependências de Elisama e leu-o ao rei, na presença de todos os altos magistrados. Encontravam-se na parte do palácio que o rei usava durante o inverno. Havia um grande braseiro, diante do qual o rei estava sentado, porque era o nono mês e fazia frio. Depois de Jeudi ter lido umas três ou quatro colunas, o rei pegou numa faca e começou a rasgar o rolo; depois lançou-o no fogo e o rolo ficou todo queimado. Porém nem o rei nem os seus oficiais, que ouviram tudo isto, tiveram medo nem rasgaram as suas vestes em sinal de arrependimento. Ninguém abriu a boca em protesto, à exceção de Elnatã, Delaías e Gemarias. Estes ainda pediram ao rei para não o queimar, mas ele não quis ouvi-los. Depois o rei mandou Jerameel, membro da família real, Seraías, filho de Azriel, e Selemias, filho de Abdeel, prender Baruque e Jeremias. Mas o Senhor escondeu-os. Depois do rei ter queimado o rolo que continha as palavras que Jeremias tinha ditado a Baruque, o Senhor disse a Jeremias: “Arranja outro rolo! Escreve nele todas as palavras que estavam registadas no primeiro livro que Joaquim, o rei de Judá, queimou. E diz ao rei: ‘Assim diz o Senhor: tu queimaste o rolo, porque dizia que o rei da Babilónia iria destruir esta nação e matar os seus habitantes e animais. Pois agora, o Senhor acrescenta ainda, a respeito de ti, Joaquim, rei de Judá: Não terás quem te suceda no trono de David! O teu cadáver será exposto à torreira do Sol, às geadas das noites! Castigar-te-ei, a ti e à tua família, e administradores, por causa dos teus pecados. Derramarei todo o mal que prometi, sobre vocês e sobre todo o povo de Judá e Jerusalém, pois não querem prestar atenção aos meus avisos!’ ” Então Jeremias arranjou outro rolo e tornou a ditar a Baruque tudo o que tinha sido escrito antes. Só que desta vez Deus fê-lo acrescentar muitas outras palavras semelhantes. Nabucodonozor, o rei da Babilónia, não designou Conias, o filho do rei Joaquim, para ser o novo rei de Judá. Em vez dele, escolheu Zedequias, filho de Josias. Mas nem o rei Zedequias, nem os da sua corte, nem o povo quiseram prestar ouvidos ao que o Senhor tinha dito por intermédio de Jeremias. Contudo, o rei Zedequias mandou Jeucal, filho de Selemias, e Sofonias, filho de Maaseias, o sacerdote, ir ter com Jeremias e pedir-lhe que fizesse oração ao Senhor, nosso Deus, a favor deles. Jeremias ainda não tinha sido preso; portanto, podia deslocar-se em liberdade. Quando o exército do Faraó Hofra do Egito apareceu na fronteira do sul de Judá, para prestar auxílio à cidade de Jerusalém que estava a ser sitiada, o exército caldeu desviou-se de Jerusalém, para ir combater os egípcios. E foi nessa altura que o Senhor deu esta mensagem a Jeremias: “O Senhor, o Deus de Israel, diz: ‘Comunica ao rei de Judá, que te mandou perguntar o que iria acontecer, que o exército do Faraó, ainda que tenha vindo para te ajudar, em breve regressará apressadamente ao Egito. Os caldeus os derrotarão e os mandarão a correr para casa. Hão de capturar a cidade e deixá-la toda queimada, até aos seus fundamentos. Não se iludam, pensando que se estão a retirar definitivamente! Nada disso! Ainda que derrotassem completamente o exército da Babilónia, deixando apenas alguns sobreviventes feridos, nas suas tendas, estes viriam, mesmo cambaleando e vos venceriam, pondo a cidade a arder!’ ” Quando o exército caldeu se afastou de Jerusalém, para travar a batalha contra o Faraó, Jeremias preparou-se para deixar a cidade e ir para a terra de Benjamim, ver a propriedade que tinha adquirido. Mas, quando ia a passar a porta de Benjamim, uma sentinela deteve-o como traidor, alegando que ia juntar-se aos inimigos, as tropas dos caldeus. O guarda que o prendeu chamava-se Jerias, filho de Selemias e neto de Hananias. “Isso não é verdade!”, afirmou Jeremias. “Não tenho a mínima intenção de fazer coisa semelhante!” Mas Jerias não quis saber do que ele dizia e levou Jeremias à presença das autoridades da cidade. Estas estavam furiosas com o profeta; mandaram-no açoitar e puseram-no no calabouço, nas caves da casa de Jónatas, o secretário, que tinham sido transformadas em prisão. Jeremias esteve ali vários dias. Mas aconteceu que o rei Zedequias o mandou chamar ao palácio, secretamente, e perguntou-lhe se tinha havido recentemente alguma mensagem do Senhor. “Sim!”, respondeu Jeremias. “Há, sim! Serás entregue nas mãos do rei da Babilónia!” Então Jeremias abordou a questão da sua detenção. “Que foi que eu fiz que justifique uma medida destas?”, perguntou ele ao rei. “Qual foi o crime que eu cometi? Diz-me só o que eu fiz contra ti, contra os governantes ou contra o povo! Onde estão esses profetas que diziam por aí que o rei da Babilónia nunca haveria de vir cá? Ouve, ó rei, meu senhor! Peço-te que não permitas que eu torne para o calabouço, porque morreria ali!” Então o rei Zedequias deu ordens para que Jeremias não voltasse para o calabouço, e pô-lo numa cela da prisão do palácio, e que lhe fosse dado, cada dia, um pequeno pão fresco, na medida em que continuasse a haver pão na cidade. Assim, Jeremias ficou preso ali no palácio. Mas quando Sefatias, filho de Matã, e Gedalias, filho de Pasur, mais Jeucal, filho de Selemias, e Pasur, filho de Malquias, ouviram o que Jeremias estava a dizer ao povo, que todos os que ficassem em Jerusalém haveriam de morrer pela espada, pela fome e pela doença, e que todos os que se rendessem aos caldeus viveriam, e que a cidade de Jerusalém seria infalivelmente capturada pelo rei da Babilónia, foram ter com o rei e disseram-lhe: “Senhor, esse indivíduo tem de morrer! Esse tipo de discursos religiosos minam o moral dos poucos soldados que nos restam e também de todo o povo. Esse homem é um traidor!” O rei Zedequias concordou com eles: “Está certo! Façam como entenderem. Não posso impedir a vossa ação.” Foram então buscar Jeremias à sua cela e desceram-no, por meio de cordas, para uma cisterna vazia no pátio da prisão, poço esse que pertencia a Malquias, membro da família real. Não havia lá água, mas o fundo estava com uma espessa camada de lama, e Jeremias ficou atolado. Quando Ebede-Meleque, o cuchita, uma personalidade importante do palácio, soube que Jeremias estava no fundo da cisterna, foi a correr à porta de Benjamim, onde o rei estava reunido com a sua corte. Ebede-Meleque chegou junto do rei e disse-lhe: “Ó rei, meu senhor, essa gente fez uma coisa horrível, ao pôr Jeremias no fundo da cisterna. Ele vai acabar por morrer de fome, quando já não houver pão na cidade!” Então o rei ordenou-lhe que levasse consigo trinta homens e tirassem dali Jeremias, antes que morresse. Ebede-Meleque assim fez; arranjou trinta homens, foi ao depósito do palácio, que ficava por baixo da tesouraria, e levou de lá uma quantidade de roupa velha e trapos; dirigiram-se à cisterna e desceram aquilo a Jeremias, por meio duma corda. Ebede-Meleque chamou por Jeremias, lá para o fundo da cisterna e disse-lhe: “Põe esses trapos debaixo dos braços, para te protegerem das cordas!” Depois, quando Jeremias ficou preparado, puxaram-no para cima, tiraram-no dali e mandaram-no novamente para a prisão do palácio, onde permaneceu. Um dia, o rei Zedequias mandou buscar Jeremias, para se encontrar com ele, numa entrada lateral do templo. “Queria pedir-te uma coisa”, disse o rei. “Não tentes esconder-me a verdade.” Jeremias respondeu-lhe: “Se te disser a verdade, não me matarás? Dar-me-ás atenção, seja o que for que te disser?” O rei Zedequias jurou confidencialmente a Jeremias: “Tão certo como vive o Senhor, de quem recebemos a vida, que eu não te matarei nem te entregarei nas mãos daqueles que procuram tirar-te a vida!” E Jeremias disse a Zedequias: “O Senhor, o Deus dos exércitos, o Deus de Israel, diz assim: ‘Se te renderes à Babilónia, tanto tu como a tua família serão conservados com vida e a cidade não será queimada. Se, pelo contrário, recusares render-te, esta cidade será incendiada pelo exército caldeu e tu não escaparás.’ ” “Mas eu tenho receio de me render!”, disse o rei. “Que os caldeus me entreguem aos judeus, que fugiram para o seu lado, e quem sabe o que me poderão fazer!” Jeremias replicou-lhe: “Não cairás nas mãos deles! A questão está em que obedeças ao Senhor; neste caso, a tua vida será poupada e tudo te correrá bem. No entanto, se recusares render-te, o Senhor revelou-me o que irá acontecer. Até as mulheres do teu palácio serão entregues aos oficiais do exército babilónico; essas mulheres escarnecerão de ti dizendo: ‘Tomas por amigos esses egípcios que te traíram e te entregaram ao teu destino! Todas as tuas mulheres e filhos serão levados aos caldeus e não escaparás. Serás cativo do rei da Babilónia e a cidade posta a fogo.’ ” Então Zedequias disse a Jeremias: “Estás proibido, sob pena de morte, de repetir essas palavras! E se os da minha corte ouvirem dizer que falei contigo, e se chegarem a ameaçar-te de morte, por não lhes dizeres sobre o que falámos, conta-lhes que apenas me pediste que não te mandasse para o calabouço da casa de Jónatas, pois acabarias por morrer ali.” Com efeito, não passou muito tempo, até que os da corte e os administradores da cidade viessem ter com Jeremias, perguntando-lhe porque é que o rei o tinha mandado chamar. Então contou-lhes o que o rei lhe mandara dizer, e foram-se embora, pois a conversa mantida entre ele e o rei não tinha sido ouvida por mais ninguém. Jeremias permaneceu detido no pátio da guarda, na prisão do palácio, até ao dia em que Jerusalém foi novamente tomada pelos babilónios. Foi no décimo mês do nono ano do reinado de Zedequias, rei de Judá, que o rei Nabucodonozor e todo o seu exército veio de novo contra Jerusalém e a sitiou. No nono dia do quarto mês do décimo primeiro ano de Zedequias, conseguiram fazer uma brecha na muralha e a cidade caiu em poder deles. Todos os chefes militares babilónicos penetraram por ela e concentraram-se triunfalmente na porta do Meio. Nergal-Sarezer estava entre eles, como também Sangar-Nebo, Sarsequim, o chefe da casa militar do rei, assim como muitos outros. Quando o rei Zedequias e os seus militares se deram conta que a cidade estava perdida, fugiram durante a noite, pela porta que está entre as duas muralhas, nas traseiras dos jardins do palácio, e foram-se através dos campos em direção ao vale do Jordão. Mas os caldeus perseguiram o rei e apanharam-no nas planícies de Jericó, trazendo-o à presença de Nabucodonozor, rei da Babilónia, que se encontrava em Ribla, na terra de Hamate, e ali pronunciou a sentença sobre ele. O rei da Babilónia obrigou Zedequias a presenciar a morte dos seus próprios filhos e de todos os nobres de Judá. Depois arrancou-lhe os olhos e mandou-o, amarrado com cadeias de bronze, para a Babilónia. Entretanto, a tropa incendiava Jerusalém, incluindo o palácio, e deitava abaixo as muralhas da cidade. Depois disto, Nebuzaradão, o comandante da guarda, mandou para a Babilónia o resto da população que ficara, mais aqueles que se tinham passado para o seu lado. Mas na terra de Judá deixou ainda alguma gente do povo, dos mais pobres, dando-lhes campos e vinhas. Ao mesmo tempo, o rei Nabucodonozor tinha dado ordens a Nebuzaradão para ir buscar Jeremias. “Vê que não lhe aconteça nenhum mal!”, disse-lhe. “Trata bem dele e fornece-lhe tudo o que pretender!” Assim, Nebuzaradão, o comandante da guarda, Nebuchazebã, chefe dos eunucos, Nergal-Sarezer, conselheiro do rei, e todos os outros oficiais começaram a dar passos para cumprir a ordem do rei. Enviaram soldados para tirar Jeremias da prisão e puseram-no sob os cuidados de Gedalias, filho de Aicão e neto de Safã. Jeremias ficou a viver entre o povo deixado na terra. O Senhor tinha dado esta mensagem a Jeremias, antes dos babilónios terem chegado, quando ainda estava na prisão: “Manda este aviso a Ebede-Meleque, o cuchita: O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz assim: Hei de fazer com esta cidade tudo quanto tenho dito sobre ela; destruí-la-ei perante os vossos olhos. Mas a ti, livrar-te-ei e não te entregarei nas mãos dos homens de que tens medo. Como recompensa por teres confiado em mim, pouparei a tua vida e estarás em segurança.” O Senhor falou de novo a Jeremias, depois de Nebuzaradão, comandante da guarda, o ter levado para Ramá e ali o ter posto em liberdade. Jeremias fora conduzido até ele acorrentado, juntamente com o povo exilado de Jerusalém e Judá, que ia ser enviado para a Babilónia. O comandante da guarda chamou-o e disse-lhe: “Foi o Senhor, vosso Deus, quem trouxe estes desastres sobre a vossa terra, tal como tinha dito que haveria de fazer. Porque este povo não obedeceu à sua voz; foi por isso que estas coisas se deram. Agora vou soltar-te e deixar-te ir em liberdade. Se quiseres vir comigo para a Babilónia, muito bem; farei com que sejas tratado de forma a nada te faltar. No entanto, se não quiseres vir, não venhas. Tens toda a terra diante de ti; vai para onde bem entenderes. Se decidires ficar, volta para Gedalias, filho de Aicão e neto de Safã, que foi nomeado governador de Judá pelo rei da Babilónia, e fica com o resto do povo que ele governa. Quanto a ti, o assunto está arrumado; vai para onde quiseres.” Então Nebuzaradão deu-lhe algum alimento e dinheiro, deixando-o partir em liberdade. Jeremias voltou para Gedalias, filho de Aicão, em Mizpá, e passou a viver em Judá com o povo que tinha sido deixado na terra. Aconteceu que os chefes dos soldados judeus, que atuavam nos campos, ouvindo que o rei da Babilónia tinha nomeado Gedalias, filho de Aicão, como governador da terra, e que lhe tinha confiado homens, mulheres e crianças, os mais pobres da terra, que não foram exilados para a Babilónia, vieram ter com ele a Mizpá, o sítio onde se tinha fixado. São estes os nomes desses chefes de soldados que vieram ter com ele em Mizpá: Ismael, filho de Netanias, Joanã e Jónatas, filhos de Careá, Seraías, filho de Tanumete, os filhos de Efai, o netofatita, e Jezanias, filho dum indivíduo maacatita; vieram acompanhados dos seus homens. Gedalias assegurou-lhes que seria mais seguro submeterem-se aos caldeus. “Fiquem aqui, sirvam o rei da Babilónia e tudo o resto vos correrá bem. Quanto a mim, ficarei em Mizpá e intercederei a vosso favor junto dos caldeus que vierem controlar a minha administração. Estabeleçam-se na cidade que quiserem e vivam da terra. Recolham e armazenem o vinho e os frutos do verão, assim como o azeite, como desejarem.” Quando os judeus que estavam em Moabe, entre os amonitas, em Edom e noutras regiões vizinhas ouviram que alguns entre o povo tinham sido deixados em Judá, e que o rei da Babilónia não os tinha levado a todos, e sabendo que Gedalias era o governador da terra, começaram a voltar para Judá vindos dessas muitas terras para onde tinham fugido. Concentraram-se em Mizpá, para discutirem com Gedalias os planos de recuperação das terras; depois juntaram uma grande colheita de vinho e de muita fruta. Mas pouco depois, Joanã, filho de Careá, e outros oficiais do exército vieram a Mizpá avisar Gedalias de que Baalis, rei dos amonitas, tinha mandado Ismael, filho de Netanias, para o assassinar. Contudo, Gedalias não quis acreditar neles. Joanã conferenciou, em particular, com Gedalias e propôs-lhe ser ele que matasse Ismael secretamente. “Porque haveríamos de o deixar vir e tirar-te a vida?”, perguntava Joanã. “Que aconteceria então aos judeus retornados? Porque é que este povo que foi deixado cá haveria de ser espalhado e perdido?” Mas Gedalias respondeu-lhe: “Proíbo-te de fazeres uma coisa semelhante! O que estás a dizer de Ismael é simplesmente mentira!” Mas no sétimo mês daquele ano, Ismael, filho de Netanias e neto de Elisama, membro da família real, que tinha sido um dos membros mais evidentes do conselho do rei, chegou a Mizpá, acompanhado de dez homens. Gedalias convidou-o para uma refeição juntos. Enquanto comiam, Ismael e os dez homens, seus companheiros, saltaram-lhe repentinamente em cima e, puxando das espadas, mataram Gedalias. Seguidamente, saíram e assassinaram todos os judeus chefes da administração pública e os soldados caldeus que viviam ali em Mizpá com Gedalias. No dia seguinte, antes que toda a gente tomasse conhecimento do que tinha acontecido, oitenta homens aproximaram-se de Mizpá, vindos de Siquem, de Silo e de Samaria, dirigindo-se ao local onde estivera o templo do Senhor para o adorar. Todos eles tinham rapado a barba, rasgado os vestidos e também ferido a si mesmos; vinham com dádivas e com incenso para oferecerem. Ismael saiu da cidade e foi ao encontro deles, chorando à medida que se aproximavam. Quando chegaram junto dele, disse-lhes: “Oh! Venham até onde se encontra Gedalias!” Então, quando todos estavam dentro da povoação, Ismael e os seus homens mataram-nos, deixando apenas dez com vida; os corpos dos outros setenta atiraram-nos para dentro dum poço. Os dez que não foram mortos foi porque prometeram trazer-lhes grandes quantidades de trigo, cevada, azeite e mel que tinham escondido no campo. A cisterna em que Ismael lançou os corpos dos que foram assassinados tinha sido construída pelo rei Asa, quando este fortificou Mizpá, para se proteger contra os ataques de Bacha, rei de Israel. Ismael prendeu as filhas do rei, assim como o resto do povo que Nebuzaradão, o comandante da guarda, tinha deixado em Mizpá, ao cuidado de Gedalias. Pouco tempo depois, levou aquela gente consigo, quando decidiu ir para a terra dos amonitas. No entanto, Joanã, filho de Careá, e os outros oficiais do exército, ao saberem o que Ismael tinha feito, reuniram os seus homens e foram detê-lo, e apanharam-no no tanque que está junto de Gibeão. Entretanto, Ismael conseguiu escapar-se com oito dos seus homens para os amonitas. Eles tinham receio do que poderiam fazer os caldeus, quando soubessem da notícia que Ismael tinha matado Gedalias, o governador, pois este tinha sido escolhido e nomeado pelo próprio imperador da Babilónia. Então todos os capitães do exército, inclusive Joanã, filho de Careá e Jezanias, filho de Hosaías, e o povo, tanto grandes como pequenos, vieram ter com Jeremias e pediram-lhe: “Por favor, faz oração ao Senhor teu Deus, em nosso favor, pois como muito bem sabes, somos apenas um pequeno resto do povo que antes constituíamos. Pede ao Senhor teu Deus que nos mostre o que devemos fazer e para onde devemos ir.” “Pois sim!”, respondeu Jeremias. “Perguntar-lhe-ei e dir-vos-ei o que me for comunicado. Nada vos esconderei.” Disseram ainda a Jeremias: “Que o Senhor nos amaldiçoe se recusarmos fazer tudo de acordo com aquilo que o Senhor teu Deus nos ordenar, por intermédio da tua pessoa! Quer nos agrade ou não, obedeceremos ao Senhor, nosso Deus, a quem te enviamos com o nosso rogo. Sabemos que se lhe obedecermos tudo o resto nos correrá bem.” Dez dias depois o Senhor comunicou a Jeremias a sua resposta. Por isso, mandou chamar Joanã, os chefes militares e todo o povo, grandes e pequenos. E disse-lhes: “Vocês mandaram-me apresentar o vosso pedido ao Senhor, o Deus de Israel. É esta a sua resposta: ‘Fiquem aqui nesta terra! Se o fizerem, abençoar-vos-ei e ninguém vos fará mal! Estou triste por todo o castigo que tive de vos dar. Mas agora não tenham mais receio do rei da Babilónia, porque eu estou convosco, para vos salvar e livrar das suas mãos. Serei misericordioso para convosco, fazendo com que ele se compadeça e não vos mate nem faça de vocês escravos, mas vos deixe ficar aqui na vossa terra. No entanto, se recusarem obedecer ao Senhor, vosso Deus, e disserem: Não queremos ficar aqui! E se insistirem em ir para o Egito, onde julgam estar livres de guerra, fome e do som das trombetas, então esta é a resposta que o Senhor vos dá, ó resto do povo de Judá: O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz-vos que se insistirem em ir para o Egito, então a guerra e a fome, que tanto receiam, vos perseguirão e hão de morrer ali. Esse é o destino de cada um, se insistirem em querer ir viver para o Egito. Sim, morrerão pela espada, fome e pestes. Ninguém escapará desses males que trarei sobre vocês ali.’ Porque o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, vos diz: ‘Tal como a minha ira se derramou sobre o povo de Jerusalém, assim também a derramarei sobre vocês, se entrarem no Egito. Serão ali recebidos com repugnância e ódio; amaldiçoar-vos-ão e serão ultrajados; nunca mais verão a vossa terra natal.’ Portanto, o Senhor vos diz: ‘Ó povo restante de Judá, não vão para o Egito!’ ” Jeremias concluiu: “Nunca se esqueçam do aviso que vos dei hoje! Se forem para lá, isso custar-vos-á as vossas vidas. Vocês não foram honestos quando vieram ter comigo a pedir para orar por vocês e dizendo: ‘Comunica-nos tudo, seja o que for que o Senhor, nosso Deus, queira transmitir-nos, e nós o faremos!’ E agora, que vos disse exatamente tudo o que ele requer de vocês, não aceitam obedecer ao Senhor, o vosso Deus, à semelhança das outras vezes. Portanto, podem ter a certeza de que morrerão pela guerra, pela fome e pela doença no Egito, para onde insistem em ir.” Quando Jeremias acabou de transmitir ao povo tudo o que o Senhor, o seu Deus, lhe mandou dizer, Azarias, filho de Hosaías, Joanã, filho de Careá, e outros homens dos mais orgulhosos disseram a Jeremias: “Estás a mentir! Não é verdade que o Senhor, nosso Deus, te tenha mandado dizer-nos para não irmos para o Egito! Baruque, filho de Nerias, é que te incita contra nós e te disse para nos mandares cá ficar, para sermos mortos pelos caldeus ou levados como escravos.” Joanã e todos os oficiais do exército, assim como o povo, recusaram obedecer ao Senhor e ficar em Judá. Todos eles, incluindo os que tinham voltado das regiões limítrofes para onde tinham fugido, partiram para o Egito com Joanã e os outros capitães a comandá-los. No meio daquela gente estavam homens, mulheres e crianças, as filhas do rei e todos aqueles que Nebuzaradão, o comandante da guarda, tinha deixado sob o governo de Gedalias. E obrigaram mesmo Jeremias e Baruque a ir com eles. Chegaram assim ao Egito, à cidade de Tafnes, persistindo na desobediência ao Senhor. Ali em Tafnes, o Senhor tornou a falar a Jeremias, dizendo-lhe: “Chama os homens de Judá e, à frente deles, enterra umas grandes pedras entre o empedrado do chão, à entrada do palácio do Faraó aqui em Tafnes. E diz à gente de Judá: O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, vos diz: Hei de trazer Nabucodonozor, o rei da Babilónia, aqui ao Egito, porque ele cumpre o serviço que eu pretendo. Porei o seu trono sobre estas pedras que agora foram escondidas; a sua tenda real cobri-las-á. Quando chegar, destruirá a terra do Egito, matando todos aqueles que eu quiser que ele mate e capturando todos os que eu pretender que ele capture; e muitos outros morrerão também de pragas. Porá fogo aos templos dos deuses do Egito e queimará os seus ídolos, levando o povo para serem escravos. Despojará o Egito como um pastor que apanha pulgas na sua capa! Ele deixará o Egito sem a mais pequena beliscadura. Derrubará os obeliscos que se levantam na cidade de Heliopolis. Queimará e fará em ruínas os templos dos deuses do Egito.” Esta é a mensagem que Deus deu a Jeremias respeitante a todos os judeus que estavam a viver no norte do Egito, nas cidades de Migdol, Tafnes e Menfis, assim como também por todo o sul do Egito. “O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz assim: Viram o que fiz a Jerusalém e a todas as cidades de Judá. Por causa da sua maldade é que estão agora em ruínas, desfeitas em cinzas, sem vivalma. A minha cólera foi enorme por terem adorado outros deuses, deuses esses que nem eles nem os seus antepassados jamais tinham conhecido. Mandei os meus servos, os profetas, para que protestassem continuamente e insistissem com eles para não fazerem essa coisa tão má que reprovo. Mas eles não quiseram ouvir-me e converter-se dos seus caminhos perversos e continuaram a fazer o mesmo, a queimar incenso a esses deuses. Assim, a minha ira acendeu-se e caiu como fogo sobre as povoações de Judá, sobre as ruas de Jerusalém, que estão numa perfeita desolação até ao dia de hoje. Por isso, agora o Senhor, o Deus dos exércitos, o Deus de Israel, vos pergunta: Porque estão a destruir-se a vós mesmos? Nem um sequer dos que vieram de Judá viverá, seja homem, mulher ou criança, nem sequer os bebés de mama. Pois têm suscitado a minha cólera com os ídolos que têm feito aqui no Egito para adorarem, queimando-lhes incenso, fazendo com que vos destrua inteiramente, fazendo de vocês uma maldição e como um cheiro repelente para todas as nações da Terra. Já se esqueceram dos pecados dos vossos pais, dos reis e rainhas de Judá, dos vossos próprios pecados e dos das vossas mulheres, em Judá e nas ruas de Jerusalém? Até este preciso momento ainda não houve arrependimento da vossa parte; ninguém quis voltar para mim e seguir a Lei que dei aos vossos antepassados. Por isso, o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, vos diz: O meu rosto arde em cólera e destruirei por completo Judá! Tomarei esse remanescente que veio de Judá, que insistiu em vir aqui para o Egito, e consumi-lo-ei. Cairão aqui nesta terra, mortos pela fome e por causa de guerras; todos morrerão, do mais pequeno ao maior. Serão desprezados, detestados, amaldiçoados e odiados. Castigá-los-ei no Egito, tal como os castiguei em Jerusalém, pela guerra, pela fome e pelas pragas. Dos sobreviventes de Judá, que vieram viver para o Egito, nenhum escapará para poder voltar à terra de Judá, à qual tinham grande desejo de regressar; nenhum voltará senão um pequeno número de fugitivos.” Então, todas as mulheres presentes e todos os homens que sabiam que as suas mulheres tinham queimado incenso aos ídolos, responderam a Jeremias. E era grande a multidão dos judeus ali no sul do Egito. Disseram: “Não estamos interessados em dar ouvidos a essas mensagens que anunciaste em nome do Senhor! Faremos o que bem nos apetece. Queimaremos incenso à Rainha dos Céus. Apresentar-lhe-emos sacrifícios, tantos quanto quisermos, tal como já nós próprios fizemos e os nossos pais antes de nós, assim como os nossos reis e nobres sempre fizeram nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. E nesses dias até tínhamos abundância de comida, tudo nos corria bem e éramos felizes! Mas desde o momento em que parámos de queimar incenso à Rainha dos Céus e deixámos de a adorar temos estado em grande perturbação e fomos mesmo destruídos pela guerra e pela fome.” E acrescentaram as mulheres: “Julgas que nós adorávamos a Rainha dos Céus, lhe oferecíamos as nossas libações e fazíamos bolos com a sua imagem, tudo isso sem os nossos maridos soubessem e nos ajudassem? Com certeza que não!” Então Jeremias disse a todos, homens e mulheres, que lhe tinham dado aquela resposta: “Pensam que o Senhor não sabia que vocês e os vossos pais, os vossos reis e nobres e todo o povo estavam a queimar incenso aos ídolos nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém? Foi porque ele não podia suportar por mais tempo todas as maldades que faziam que transformou a vossa terra numas ruínas incríveis, numa desolação amaldiçoada e sem habitantes como hoje se vê. A verdadeira causa de todas essas coisas que vos aconteceram foi terem queimado incenso e pecado contra o Senhor, recusando obedecer-lhe.” Jeremias disse ainda a todos, incluindo as mulheres: “Ouçam a palavra do Senhor, todos os cidadãos de Judá que estão aqui no Egito! O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: ‘Tanto vocês como as vossas mulheres dizem que nunca hão de desistir das suas devoções e sacrifícios à Rainha dos Céus e têm-no provado através dos vossos atos.’ Pois então continuem e mantenham as promessas e os votos que lhe têm feito! Mas ouçam bem a palavra do Senhor Deus todos os judeus que vivem nesta terra do Egito: ‘Jurei pelo meu grande nome, diz o Senhor, que não adiantará continuarem a procurar a minha ajuda e a minha bênção, dizendo: “Tão certo como vive o Senhor, nosso Deus, ajuda-nos!” Porque na verdade estarei atento, mas não é para o vosso bem! Terei cuidado em que vos aconteça o mal e que sejam destruídos pela guerra e pela fome, até que sejam liquidados. Somente aqueles que voltarem para Judá, e serão apenas um pequeno resto de gente, escaparão à minha ira. Os outros, aqueles que recusaram voltar para lá e que insistem em viver no Egito, acabarão por verificar quem fala verdade, eu ou eles! E esta é a prova em como todo o mal que vos tenho prometido vos acontecerá e que vos castigarei aqui mesmo: entregarei o Faraó Hofra, rei de Egito, nas mãos dos que procuram tirar-lhe a vida, tal como entreguei Zedequias, rei de Judá, nas mãos de Nabucodonozor, rei da Babilónia.’ ” Esta é a mensagem que Jeremias transmitiu a Baruque, no quarto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, depois dele ter escrito todas as mensagens que Jeremias lhe tinha ditado. “Ó Baruque, o Senhor Deus de Israel diz: Disseste: ‘Ai de mim! Não tenho eu já bastantes tristezas? E agora o Senhor ainda me acrescenta mais! Já estou cansado do meu próprio gemido e não acho descanso!’ Portanto, diz assim a Baruque: O Senhor tem isto a dizer-te: Destruirei esta nação que eu próprio construí. Derrubarei o que eu próprio estabeleci. Estarás tu a procurar grandes coisas para ti mesmo? Não faças isso! Porque, ainda que venha a trazer grandes males sobre todo este povo, proteger-te-ei por onde quer que vás. Será esta a tua recompensa.” Seguem-se as mensagens que foram dadas a Jeremias, referentes a várias nações estrangeiras. Esta mensagem foi dada contra o Egito, por ocasião da batalha de Carquemis, quando o Faraó Neco, rei do Egito, com o seu exército, foi derrotado junto ao rio Eufrates por Nabucodonozor, rei da Babilónia, no quarto ano do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá. “Cinjam a vossa armadura, vocês egípcios, preparem-se para a peleja! Selem os cavalos e preparem-se para os montar; ponham os elmos, vistam as couraças, limpem as armas. Mas reparem! O exército egípcio está a fugir de terror; os melhores dos seus soldados correm sem sequer olhar para trás. Sim, o terror circunda-os de todos os lados!, diz o Senhor. O mais ligeiro não escapará, nem sequer o mais valente dos lutadores. Lá no norte, junto ao rio Eufrates, tropeçaram e caíram. Que poderoso exército é este que se levanta como o Nilo no tempo da cheia, alagando e ocupando a Terra toda? É o exército egípcio gabando-se de que cobrirá toda a Terra como um dilúvio, destruindo as cidades e os seus habitantes. Venham então, ó cavalos, carros de combate e valentes soldados do Egito! Venham de Cuche, Pute e Lude todos os que são hábeis a segurar no escudo e a atirar com o arco! Porque para Deus, o Senhor dos exércitos, este dia é o dia da vingança sobre os seus inimigos. A espada devorará até ficar saciada, sim, até ficar embriagada de sangue, porque Deus, o Senhor dos exércitos, irá receber um sacrifício, lá nas regiões do norte, junto ao rio Eufrates! Vai a Gileade à procura de medicamentos, ó virgem, filha do Egito, ainda que não haja cura para as tuas feridas. Apesar de já teres experimentado muitos remédios e tratamentos, não há cura para ti. Já as nações todas ouviram falar da tua vergonha. Toda a Terra está cheia dos teus gritos de desespero e derrota; os teus mais poderosos guerreiros tropeçarão uns nos outros e acabarão por cair juntos.” Então o Senhor deu a Jeremias mais esta mensagem referente à vinda de Nabucodonozor, rei da Babilónia, para atacar o Egito: “Grita bem alto ao Egito, publica-o nas cidades de Migdol, Menfis e Tafnes! Mobilizem-se para a guerra, porque a espada da destruição irá devorar tudo o que encontrar à sua volta. Por que razão caíram os vossos guerreiros? Eles não conseguem ficar de pé, porque o Senhor os abaterá. Vastas multidões cairão umas sobre as outras continuamente. Nessa altura, o povo restante dos judeus dirá: ‘Tornemos novamente para Judá, a terra onde nascemos, e fujamos daqui, desta carnificina!’ Deem outro nome ao Faraó Hofra; chamem-lhe ‘o homem sem poder mas muito barulhento’. Tão certo como eu vivo, diz o Rei, cujo nome é Senhor dos exércitos, que há de vir alguém como o monte Tabor ou o monte Carmelo, junto ao mar, para vos atacar! Preparem-se! Aprontem-se para irem para o exílio, cidadãos do Egito, pois a cidade de Menfis será completamente destruída e deixada sem vivalma. O Egito é elegante como uma bezerra, mas um moscardo o faz fugir a correr, um moscardo do norte! Até os seus famosos mercenários se tornaram semelhantes a bezerros cevados. Viram as costas e fogem, porque é um dia de grande calamidade para o Egito, um tempo de grande castigo. O povo do Egito está coberto de opróbrio; será entregue nas mãos desses homens do norte.” O Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: “Castigarei Amom, o deus de Tebes, e todos os outros deuses do Egito. Castigarei igualmente o Faraó e todos os que confiam nele. Entregá-los-ei nas mãos daqueles que procuram matá-los, nas mãos de Nabucodonozor, rei da Babilónia, e do seu exército. Depois disso a terra há de recompor-se das devastações da guerra. Não estejam atemorizados, ó meu povo! Vocês que estão a retornar à vossa própria terra, não se espantem! Porque vos salvarei, mesmo estando muito longe, e trarei os vossos filhos de uma terra bem distante. Sim, Israel há de voltar, encontrará descanso e nada o tornará receoso. Não temas, pois, ó Jacob meu servo, diz o Senhor, porque eu estou contigo! Destruirei todas as nações para onde vos exilei, mas a vocês não vos destruirei de maneira nenhuma! Castigar-vos-ei, mas só o necessário para vos corrigir!” Esta é a mensagem que o Senhor deu a Jeremias respeitante aos filisteus de Gaza, antes da cidade ter sido capturada pelo exército egípcio. Diz o Senhor: “Aproxima-se, vindo do norte, uma imensa cheia, que cobrirá toda a terra dos filisteus; destruirá as suas povoações com tudo o que nelas existe. O povo gritará de terror, e toda a terra chorará. Ouçam o ruído estrepitoso das patas dos cavalos, e o barulho das rodas dos carros de combate correndo velozmente. Até aqueles que são pais fugirão esbaforidos, sem deitar sequer um relance de olhos para trás, sobre os filhos, que ficam desprotegidos e sem ajuda. Porque chegou o tempo em que os filisteus e os seus aliados de Sídon e de Tiro serão arrasados. Pois o Senhor vai destruir os filisteus, esses colonos que vieram da ilha de Caftor. As cidades de Gaza e de Asquelom serão arrasadas, sem que nada fique de pé, assim como o resto do seu vale. Como se vão lamentar! ‘Ó espada do Senhor, quando ficarás tu novamente em repouso? Volta de novo para a bainha; descansa e mantém-te tranquila!’ Mas, de facto, como poderá ela manter-se tranquila quando foi o próprio Senhor quem lhe mandou fazer este recado? A cidade de Asquelom e os que vivem à beira mar serão destruídos.” Esta é a mensagem do Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, contra Moabe: “Ai da cidade de Nebo, porque há de ficar em ruínas! A cidade de Quiriataim e as suas fortalezas serão vencidas e capturadas. Ninguém mais se gabará de Moabe, porque existe uma conspiração contra a sua existência. Em Hesbom foram estudados planos para a destruir. ‘Venham!’, dizem eles. ‘Vamos fazer com que deixe de ser uma nação!’ Em Madmem tudo está silencioso, pois o inimigo atacou. Então ouvir-se-á o ruído da batalha contra Horonaim! Que grande destruição! Pois toda a Moabe será destruída. Ouve-se o clamor dos seus filhinhos, mesmo em Zoar. Os seus refugiados irão subindo as colinas de Luite, chorando de amargura, enquanto em baixo, na cidade, se ouvem os gritos de terror. Fujam para livrar a vida! Escondam-se no deserto! Confiaram no vosso bem-estar e nas vossas capacidades, por isso mesmo agora hão de perecer. O vosso deus Quemós com os seus sacerdotes e nobres serão levados para terras distantes! Todas as cidades e as aldeias que estejam em planícies ou em vales serão destruídas. Foi o Senhor quem o disse. Oh! Deem asas a Moabe, para que possa fugir a voar, pois as suas povoações serão deixadas sem uma só alma vivente. Maldito aquele que se recusar a banhar a sua espada no vosso sangue, recusando executar o trabalho que Deus lhe ordenou! Desde os primeiros tempos da sua história, Moabe tem vivido sem ser incomodada com invasões. Era semelhante ao vinho que não foi caldeado de vasilha para vasilha e que mantém a sua fragância e suavidade. Agora sim, terá de ser derramada para o exílio! Breve virá o tempo em que o Senhor, conforme já prometeu, lhe enviará agitadores que a farão passar de jarro para jarro e que, por fim, ainda partirão esses jarros! Moabe terá vergonha do seu ídolo Quemós, tal como Israel se envergonhou também do seu ídolo em forma de bezerro lá em Betel. Lembram-se da vossa gabarolice, ao dizerem: ‘Nós somos heróis, poderosos homens de guerra!’? Mas agora Moabe terá de ser destruída e o seu destruidor vem já a caminho; a sua melhor juventude está fatalmente ameaçada de ser degolada, diz o Rei, o Senhor dos exércitos. A calamidade está a vir rapidamente e em força a Moabe. Ó amigos de Moabe, chorem por ela; lamentem-na e digam: ‘Vejam como esse belo cetro foi esmigalhado!’ Desce da tua glória e senta-te no pó da terra, ó povo de Dibom, pois aqueles que vão destruir Moabe esmigalharão igualmente Dibom, deitando abaixo todas as suas torres. A gente de Aroer põe-se ansiosamente à beira da estrada à espera e grita alto para os que vão fugindo de Moabe: ‘O que foi que aconteceu lá?’ E a resposta é: ‘Moabe está em ruínas. Chorem e lastimem-se! Digam nas margens do Arnom que Moabe está arrasada!’ Todas as povoações do planalto estão igualmente desvastadas, porque o julgamento de Deus caiu também sobre elas, sobre Holom, Jaaz, Mefaate, Dibom, Nebo, Bete-Diblataim, Quiriataim, Bete-Gamul, Bete-Meom, Queriote, Bozra, e todas as outras localidades da terra de Moabe, de perto e de longe. Acabou-se a força de Moabe, o seu poder foi-lhe cortado; a eficácia dos seus braços foi-lhe quebrada, diz o Senhor. Façam-na embriagar-se, pois se rebelou contra o Senhor. Acabará por se espojar sobre o seu próprio vomitado; é objeto de escárnio de toda a gente. Pois Israel não foi também ridicularizado? Porventura não o trataste como se tivesse sido apanhado com um bando de ladrões e sacudido a cabeça em sinal de zombaria? Ó povo de Moabe, foge das povoações onde habitas e vai viver para as cavidades das rochas, para as grutas, como as pombas que fazem os ninhos nas fendas das ravinas. Todos ouvimos já falar do orgulho de Moabe, que é muito grande. Conhecemos bem a sua altivez, a sua arrogância, o seu coração enfatuado. Conheço perfeitamente a sua insolência, diz o Senhor, mas todas as suas gabarolices são falsas, não correspondem a nada, o seu desamparo é enorme. Sim, lamentarei Moabe, o meu coração confrange-se pela gente de Quir-Heres. Ó habitantes de Sibma, rica como é em vinhas, choro por vocês, mais ainda do que por Jazer. Porque o destruidor cortou-vos os primeiros rebentos, ceifou todos os cachos, todos os frutos do verão. Depenou-vos inteiramente, deixou-vos vazios. Já não há nem alegria, nem contentamento algum pelos frutos da terra de Moabe. Os lagares já não escorrem vinho nenhum; ninguém mais pisa uvas no meio da jovialidade. Em vez disso, só se ouvem berros horríveis de terror e de sofrimento por toda a terra, desde Hesbom até Eleale e até Jaaz; desde Zoar até Horonaim e até Eglate-Selichia. As pastagens de Nimrim já estão desertas.” Porque o Senhor diz assim: “Pus finalmente um travão à adoração de falsos deuses, que se fazia em Moabe, e ao queimar incenso a ídolos. O meu coração está triste, como o som triste da flauta dos pranteadores, por causa de Moabe e de Quir-Heres, porque toda a abundância que tinham chegado a juntar desapareceu. Já andam a rapar as cabeças e as barbas, por causa da angústia que os aperta; golpeiam as mãos e vestem-se de pano de serapilheira. Em cada casa, em cada rua moabita, ouve-se apenas choro e vozes de pesar, porque eu quebrei e esmigalhei Moabe como se fosse um pote de barro velho e inútil, diz o Senhor. Está em pedaços! Escutem os lamentos! Vejam a vergonha de Moabe! Tornou-se um símbolo de horror e ao mesmo tempo de troça para os vizinhos. Uma águia desce em círculos de mau agouro sobre Moabe, diz o Senhor. Foram tomadas as suas cidades, as fortalezas ocupadas. O coração dos mais valentes guerreiros desfalece de medo, como se fossem mulheres em ânsias para dar à luz. Moabe não será mais uma nação, porque se tornou ousada contra o Senhor. Temores, ciladas e enganos é o que te caberá em sorte, ó Moabe, diz o Senhor. Aquele que quiser escapar cairá numa armadilha e o que conseguir safar-se duma armadilha acabará por ser apanhado numa rede. Hei de estar atento para que não escapes, pois chegou a tua vez de seres julgada, diz o Senhor. Fogem para Hesbom, incapazes de ir mais longe, mas um fogo sai de Hesbom, o lar ancestral de Siom, que devora a terra, duma extremidade à outra, com todo o seu povo rebelde. Ai de ti, Moabe! Porque o povo de Quemós está destruído e os seus filhos e filhas são levados como escravos. Mas nos últimos dias, diz o Senhor, tornarei a restabelecer Moabe.” Aqui termina a profecia respeitante a Moabe. Eis o que o Senhor declara acerca de Amon: “O que é isso que estão a fazer? Porque vivem vocês nas cidades dos judeus? Não chegarão os judeus para as habitar plenamente? Não receberam eles essa posse de mim mesmo? Porque foi, então, que vocês, que adoram o deus Milcom, tomaram Gad e todas as suas cidades? Por isso, vos castigo, declara o Senhor, destruindo a vossa cidade de Rabá, a qual se tornará num montão de ruínas desoladas, ao mesmo tempo que as localidades circunvizinhas serão queimadas. Então virá Israel e recuperará de novo a terra que lhe pertence. Será a sua vez de desapossar quem o desapossou a ele, diz o Senhor. Grita bem alto, ó Hesbom, porque Ai está destruída! Chorem, filhas de Rabá! Vistam-se de luto, lamentem-se e gemam, vão-se esconder pelos valados, pois o vosso deus Milcom irá também para o cativeiro, com os seus nobres e sacerdotes. Vocês tinham orgulho nos vossos vales verdes que em breve se tornarão em terras secas e sem vida. Ó filha rebelde, confiaste na tua prosperidade e que ninguém te faria mal. Mas olha que hei de trazer o terror sobre ti, diz Deus, o Senhor dos exércitos. Todos os teus vizinhos te escorraçarão da tua terra e ninguém dará auxílio aos refugiados que pretendam escapar. Contudo, depois disso tudo, hei de restaurar o bem-estar dos amonitas”, diz o Senhor. O Senhor dos exércitos diz assim acerca de Edom: “Onde estão os teus sábios de antigamente? Nenhum deles ficou em Temã? Foge para as partes mais longínquas do deserto, ó povo de Dedã, porque quando eu castigar Edom, também te castigarei a ti! Aqueles que vindimam, costumam deixar uns cachos para os pobres, e até os que vão lá roubar não levam tudo. Mas eu hei de deixar a terra de Esaú completamente vazia, inteiramente pilhada; será uma região de tal forma desertificada que nem haverá lugar para alguém se esconder. Morrerão os seus filhos, os seus irmãos, os seus vizinhos; todos eles serão destruídos e, por fim, morrerá ela. No entanto, farei com que os seus órfãos sejam poupados e as suas viúvas serei eu quem as sustentará.” O Senhor diz a Edom: “Se os inocentes também têm de sofrer, quanto mais vocês! Não hão de ficar impunes! Terão de beber esta taça de julgamento! Pois jurei pelo meu próprio nome, diz o Senhor, que Bozra se tornará num amontoado de destroços; será amaldiçoada e arruinada; as suas povoações tornar-se-ão para sempre numa desolação.” Eu ouvi esta mensagem da parte do Senhor: “Foi enviado um mensageiro às nações para que formem uma coligação contra Edom, a fim de a destruir.” “Farei de ti a mais pequena de entre as nações, diz o Senhor. Foste engodado pelo teu próprio terror e pelo teu orgulho, tu que habitas nas montanhas de Petra, nos cimos dos rochedos. Mas ainda que vivas lá nos cimos, onde as águias fazem os ninhos, hei de fazer-te descer, diz o Senhor. O destino de Edom será horrível; todos os que passarem por ali ficarão espantados, boquiabertos, à vista daquilo. As vossas localidades se tornarão tão silenciosas como Sodoma e Gomorra e as povoações vizinhas, diz o Senhor. Ninguém mais ali viverá. Como o leão que sai dos matagais do Jordão, para caçar nas verdes pastagens, assim eu virei e atacarei Edom e dispersarei as ovelhas para todos os lados da pastagem. Edom será liquidada. Nomearei então a pessoa da minha confiança que ficará à frente dos edomitas. Porque, quem é semelhante a mim e quem é capaz de me pedir contas? Qual é o pastor que ousaria desafiar-me?” Tomem nota: O Senhor certamente fará isto que disse a Edom e também ao povo de Temã; até as criancinhas serão levadas como escravas! Será a coisa mais chocante alguma vez vista! Toda a Terra tremerá com a queda de Edom. Ouvir-se-á o clamor do povo até mesmo no mar Vermelho. Aquele que há de vir contra eles chegará voando com a rapidez duma águia e usará as suas asas para se lançar contra Bozra. E então se verá a coragem dos valentes guerreiros, a qual lhes há de desaparecer como se fossem mulheres na véspera do parto. Acerca de Damasco: “As cidades de Hamate e de Arpade estão desmaiadas de terror, porque lhes chegou aos ouvidos a notícia da sua condenação. Os seus corações agitam-se como o mar em fúria sob um vento tempestuoso. Damasco perdeu as forças e todo o seu povo começou a fugir. Medo, angústia e tristeza apossaram-se dela como de uma mulher que vai dar à luz. Ó famosa cidade, cidade de alegria, como tens sido esquecida agora! Os teus jovens jazem mortos nas ruas; todo o teu exército será destruído num só dia, diz o Senhor dos exércitos. Farei acender um fogo à beira de Damasco, que se pegará às fortalezas de Ben-Hadade.” Esta profecia refere-se a Quedar e aos reinos de Hazor que Nabucodonozor, o rei da Babilónia, irá destruir. Os seus rebanhos e as suas tendas serão tomados; tudo o que está dentro destas será levado: as lindas cortinas, os belos recipientes e vasos. Os camelos serão levados igualmente. À volta só se ouvirão gritos de pânico: “Estamos cercados de pavor! Já não nos podemos livrar!” Fujam, se querem ficar com vida, diz o Senhor. Vão para bem longe, lá para o fim do deserto, ó povo de Hazor, porque Nabucodonozor, o rei da Babilónia, já fez os seus planos para vos destruir. “Vai!, diz o Senhor ao rei Nabucodonozor. Ataca essas ricas tribos beduínas que vivem sozinhas no deserto, sem se preocuparem com o resto do mundo, gabando-se de que são auto-suficientes, de que não precisam nem de muralhas, nem de portões a protegerem-nas. Todos os seus camelos e rebanhos serão teus. Espalharei esses selvagens pelos quatro cantos da Terra. Trarei sobre eles, de todo o lado, toda a espécie de calamidades. Hazor tornar-se-á um refúgio de chacais do deserto. Ninguém mais viverá ali para sempre; será uma terra desolada, de solidão.” Esta mensagem do Senhor contra Elão veio a Jeremias no começo do reinado de Zedequias, o rei de Judá. O Senhor dos exércitos diz: “Destruirei o exército de Elão. Dispersarei o povo de Elão pelos quatro ventos; serão mandados exilados para todos os países do mundo. A minha severa ira trará grandes males a Elão, diz o Senhor, e farei com que os seus inimigos o risquem de sobre a face da Terra. Porei o meu trono em Elão, diz o Senhor. Destruirei o seu rei e os seus nobres. Mas nos últimos tempos hei de trazer de volta o seu povo”, diz o Senhor. Esta é a mensagem do Senhor contra a Babilónia e contra os caldeus, proferida por Jeremias, o profeta. “Diz a todo o mundo que a Babilónia será destruída; não façam segredo disso. O seu ídolo Bel foi humilhado, o seu deus Merodaque caiu totalmente em desgraça! Porque uma outra nação virá sobre ela do norte e com tal destruição que ninguém poderá continuar a viver ali; toda a gente partirá, homens e animais, todos fugirão. Então os povos de Israel e de Judá se juntarão e chorarão, buscando o Senhor, seu Deus. Perguntarão pelo caminho para Sião e começarão a regressar. ‘Vamos!’, dirão eles. ‘Unamo-nos ao Senhor, por meio duma aliança eterna que nunca mais será quebrado!’ O meu povo é como uma ovelha perdida. Os seus pastores fizeram-no errar no caminho, desviando-os para os montes. Perdeu-se e não sabe voltar atrás. Todos os que o encontram devoram-no e dizem: ‘Podemos atacá-lo à vontade, visto que pecou contra o Senhor, o Deus da justiça, a esperança dos seus antepassados.’ Mas agora, fujam da Babilónia, a terra dos caldeus! Que o meu povo volte para casa, como os bodes, sempre à frente do rebanho! Pois estou a levantar um exército de grandes nações do norte e vou trazê-lo contra a Babilónia, a qual será atacada e destruída. As setas deles, dos inimigos, não falharão o alvo, terão pontaria certeira! A Caldeia será saqueada até que cada combatente esteja saciado com o despojo que obteve, diz o Senhor. Ainda que tenham ficado bem contentes, ó caldeus, saqueadores do meu povo, e tenham engordado como bezerras pastando em verdes pradarias, e relinchando como cavalos vigorosos e fartos, mesmo assim a vossa mãe morrerá de vergonha, porque se tornarão na última das nações, num deserto, numa terra seca e abandonada. Por causa da cólera do Senhor, a Babilónia tornar-se-á num descampado estéril e todos os que por ali passarem ficarão atónitos e até se hão de rir das pragas que lhe sobrevieram. Sim, preparem-se para combater a Babilónia, ó nações suas vizinhas! Que os atiradores façam pontaria sobre ela, porque pecou contra o Senhor! Vejam! Ela já se rendeu! As suas muralhas cederam e estão a cair. O Senhor está-se a vingar. Façam-lhe como ela fez aos outros! Que os fazendeiros se vão todos embora! Que fujam rapidamente para os seus locais de origem, antes que o inimigo os apanhe! Os israelitas foram como cordeiros perseguidos por leões. Primeiro, foi o rei da Assíria a comê-los; depois foi Nabucodonozor, o rei da Babilónia, que se lançou sobre os seus ossos.” Por isso, o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz assim: “Agora chegou a altura de castigar o rei da Babilónia e a sua terra, da mesma forma que puni o rei da Assíria. E trarei Israel de novo para a sua terra natal, para se fartar com a abundância do Carmelo e de Basã, e para ser feliz, uma vez mais, nas colinas de Efraim e Gileade. Naqueles dias, diz o Senhor, não se encontrará pecado nem em Israel nem em Judá, porque perdoarei tudo ao restante povo que eu proteger. Subam, ó meus valentes guerreiros, contra a terra de Merataim e o povo de Pecode! Sim, avancem contra ela, terra de rebeldes, terra que eu hei de julgar! Aniquilem-na tal como vos mandei! Que se ouçam os brados de guerra nessa terra, gritos de grande destruição! A Babilónia, que foi um poderoso martelo sobre toda a Terra, jaz ela própria esmigalhada e feita em bocadinhos. A Babilónia está arruinada no meio de todas as outras nações. Ó Babilónia, armei-te um laço e foste apanhada, visto que lutaste contra o Senhor.” O Senhor abriu o seu arsenal e trouxe para fora as munições, para fazer explodir a sua ira sobre os inimigos. O terror que se há de abater sobre a Babilónia é obra de Deus, o Senhor dos exércitos. Sim, venham contra ela de terras distantes! Abram os seus celeiros e derrubem as suas muralhas e os seus edifícios, fazendo deles montões de ruínas, numa destruição absoluta! Que nada seja poupado! Nem sequer o gado! Matem tudo o que vive! Veio realmente o tempo em que a Babilónia terá de ser devastada. Mas o meu povo escapará; correrá para o seu próprio país, para contar como o Senhor, seu Deus, desencadeou a sua cólera sobre aqueles que antes tinham destruído o seu templo. “Convoquem todos os atiradores para que venham à Babilónia. Cerquem a cidade para que ninguém fuja. Façam com ela como ela fez com os outros, pois desafiou arrogantemente o Senhor, o Santo de Israel. Os seus jovens cairão no meio das ruas e morrerão; todos os seus guerreiros serão mortos, diz o Senhor. Compreendam, ó povo altivo, que estou contra vocês e que agora chegou a vossa vez de prestar contas. Terra orgulhosa, tropeçarás e cairás, sem que ninguém se incomode a procurar levantar-te. Deus, o Senhor dos exércitos, ele mesmo acenderá o lume de enormes incêndios nas cidades do reino da Babilónia, os quais chegarão a queimar tudo o que há em volta.” Diz o Senhor dos exércitos: “O povo de Israel e Judá foi injuriado. Os seus captores retiveram-nos; não os deixaram ir. Mas o seu Redentor é forte. O seu nome é Senhor dos exércitos. Intervirá a favor deles e tomará as medidas necessárias para que sejam soltos e possam ir viver de novo para o sossego do seu país.Quanto ao povo da Babilónia não haverá descanso para ele! A espada da destruição ferirá os caldeus, diz o Senhor; ferirá o povo da Babilónia, tanto os seus nobres como os sábios. Todos os sábios conselheiros se tornarão como loucos! Os valentes militares serão acometidos de pânico! A guerra devorará os cavalos e os carros de combate; os seus aliados de outras terras tornar-se-ão tão fracos como mulheres; os seus tesouros serão pilhados. Até as fontes de águas secarão. Tudo isso porquê? Porque toda a terra está cheia de imagens de ídolos e o povo está como que apaixonado por eles. Por isso, esta grande cidade da Babilónia há de ser habitada somente por corujas do deserto e por chacais; será o abrigo de todos os animais selvagens do deserto. Nunca mais tornará a ser habitada por seres humanos; ficará assim desolada para sempre. A Babilónia será destruída tal como foi Sodoma e Gomorra e as localidades vizinhas. Ninguém mais ali viveu, a partir de então, tal como nunca ninguém mais viverá na Babilónia. Assim diz o Senhor. Vejam-no aproximar-se! Esse grande exército que vem do norte! Vêm nele integrados muitos reis que Deus mandou vir de muitas terras. Estão armados e preparados para a matança; são cruéis e não se deve esperar deles uma centelha sequer de misericórdia; os seus gritos guerreiros rugem como o barulho das vagas rebentando contra a costa. Ó Babilónia, eles cavalgam contra ti, prestes a travar batalha! Quando o rei da Babilónia recebeu esta notícia, deixou cair os braços, desfalecido; a angústia apoderou-se dele como de uma mulher em trabalho de parto. Enviarei contra eles um invasor que os assolará repentinamente, como um leão que surge dos matagais do Jordão e que salta repentinamente sobre os cordeiros a pastar. Porei os seus defensores a fugir dali e nomearei outros, da minha escolha, do meu agrado. Porque quem é semelhante a mim? Qual é o governante que se poderia opor aos meus mandamentos? Quem ousaria pedir-me contas?” Deem atenção aos planos do Senhor contra a Babilónia, a terra dos caldeus, pois até as criancinhas serão arrastadas e levadas como escravos. Oh! Terror! Terror! Toda a Terra tremerá aquando da queda da Babilónia e o seu grito de desespero ouvir-se-á em todo o mundo. Diz o Senhor: “Suscitarei um destruidor contra a Babilónia, contra toda a terra dos caldeus, que será arruinada. Virão padejadores que a padejarão e a mandarão para bem longe; levantar-se-ão de toda a parte, nesse tempo de calamidade para ela. Os atiradores alvejarão certeiramente os frecheiros da Babilónia e perfurarão até as suas couraças. Nem os seus jovens serão poupados; todo o seu exército será liquidado. Cairão degolados na terra dos caldeus, fulminados no meio das suas ruas. Porque o Senhor dos exércitos não abandonou Israel e Judá. Continua a ser o seu Deus e a terra da Caldeia está cheia de pecado contra o Santo de Israel.” Fujam da Babilónia! Salvem-se! Não se deixem apanhar! Se se deixarem ficar, serão destruídos quando o Senhor tomar vingança dos pecados da Babilónia. Babilónia foi como uma taça de ouro nas mãos do Senhor, uma taça pela qual fez beber toda a Terra, tornando-a louca. Mas agora, repentinamente, a Babilónia também caiu. Chorem por ela! Deem-lhe consolação, deem-lhe remédios, talvez se cure! Ajudá-la-íamos se pudéssemos, mas agora já ninguém a pode salvar. Deixem-na! Abandonem-na e voltem para a vossa terra, porque os seus pecados se têm acumulado até ao céu! O Senhor vingou-nos! Venham, declaremos em Sião tudo o que o Senhor, nosso Deus, tem feito! Limpem as armas! Preparem a vossa defesa! Porque o Senhor despertou o espírito dos reis dos medos para marcharem sobre a Babilónia para a destruir. Este é o castigo daqueles que ultrajaram o seu povo e profanaram o seu templo. Prepara-te para a defesa, Babilónia! Põe muitas sentinelas a vigiar sobre as muralhas! Preparem emboscadas! O Senhor fará tudo o que prometeu contra a Babilónia. Para ti, que és um grande porto de comércio intenso entre as nações, chegou o teu fim; foi cortado o fio da tua vida. O Senhor dos exércitos deu a sua palavra, jurou pelo seu próprio nome: “As tuas cidades se encherão de inimigos, como campos cobertos por uma praga de gafanhotos, e subirão até aos céus os seus gritos de vitória.” Deus fez a Terra pelo seu poder e sabedoria; estendeu os céus segundo o seu conhecimento. É a sua voz que ecoa no meio do trovão, por entre as nuvens duma tempestade. Faz o vapor de água erguer-se sobre a Terra; manda os relâmpagos e traz a chuva; faz soprar o vento dos seus recantos. O homem tornou-se estúpido, não tem sabedoria. O ourives é ludibriado pelas imagens que fabrica; fica envergonhado porque tem consciência disso; não há nelas o mais pequeno sopro de vida. São coisas sem valor algum, inutilidades! Serão desfeitas quando Deus vier para destruí-las. Mas o Deus de Jacob não é como estes ídolos! Porque foi ele quem fez tudo o que existe. Israel é a sua nação, a sua herança, Senhor dos exércitos é o seu nome. “Babilónia, tu és o meu martelo, a minha arma de guerra. Vou usar-te para desfazer as nações em pedaços e para destruir muitos reinos. Contigo esmagarei muitos batalhões de soldados, destruindo tanto o cavalo como o seu cavaleiro, tanto o carro de combate como o seu condutor. Sim, velhos e novos, rapazes e raparigas, pastores e rebanhos, fazendeiros e bois, oficiais do exército e magistrados. Recompensarei a Babilónia, sob os vossos olhos, por todo o mal que fizeram ao meu povo, diz o Senhor. Eu sou contra ti, ó montanha poderosa, a Babilónia, a destruidora da Terra! Levantarei a minha mão e atirar-te-ei das alturas a que subiste, abandonar-te-ei como um monte incendiado. Tornar-te-ás desolada para sempre; nem as tuas pedras serão usadas por mais ninguém para a construção de edifícios. Serás completamente riscada do mapa! Mandem avisos de mobilização a muitas nações para virem fazer guerra à Babilónia. Toquem o sinal de convocação para a batalha; formem os exércitos de Ararat, Mini e Asquenaz. Nomeiem um general e tragam manadas de cavalos como pragas de gafanhotos! Tragam contra ela os exércitos dos reis dos medos e todos os seus generais, e ainda os exércitos de todos os países que governam. A Babilónia treme e torce-se com dores, porque tudo o que o Senhor planeou contra ela se está a cumprir rigorosamente. A Babilónia será deixada desolada, sem vivalma. Os seus poderosos guerreiros já não combatem; deixam-se ficar nas suas tendas no acampamento; foi-se toda a coragem; tornaram-se como mulheres. Os invasores queimaram as casas e até os portões das entradas da cidade deitaram abaixo. Mensageiros de toda a parte têm vindo a correr para dizer ao rei que tudo se perdeu! Todas as estradas de fuga estão bloqueadas; as fortificações foram incendiadas e o exército em peso entrou em pânico.” Porque o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, diz: “A Babilónia é como o trigo numa eira; dentro de muito pouco tempo começará a ser malhada!” Nabucodonozor, o rei da Babilónia, explorou-nos; reduziu-nos a nada; tirou-nos toda a força e energia; engoliu-nos como se fosse um monstro; encheu o ventre com os nossos bens; expulsou-nos da nossa própria terra! O povo de Sião exclama ainda: “Que a Babilónia seja castigada pela sua violência contra nós e nossos filhos!” Clama Jerusalém: “Que o nosso sangue caia sobre os moradores da Caldeia!” O Senhor respondeu-lhes: “Serei o vosso advogado; defenderei a vossa causa, vingar-vos-ei. Farei secar o seu rio e esgotarem-se as suas fontes. A Babilónia tornar-se-á num montão de ruínas, habitada somente por chacais, uma horrível terra de se ver, incrível mesmo, sem que lá viva uma só pessoa. Os homens da Babilónia rugem como leões, os seus urros são como os dos filhotes de leão. Pois agora, enquanto eles ainda jazem, cozendo as suas bebedeiras, prepararei uma espécie diferente de festa para eles; farei com que se embriaguem e fiquem eufóricos, acabando por adormecer, para nunca mais acordarem, diz o Senhor. Vou trazê-los como cordeiros para o matadouro, como carneiros e bodes. Como pôde a cidade da Babilónia ser tomada, a grande Babilónia admirada por toda a Terra! O mundo nem quer acreditar no que vê; custa-lhe crer que a Babilónia tenha caído! O mar levantou-se até à Babilónia e esta foi coberta pelas vagas. As suas cidades jazem em ruínas, são um deserto seco e árido onde ninguém vive ou passa. Darei a paga a Bel, o deus da Babilónia, e tirarei da sua boca o que tragou. Não mais virão povos para adorá-lo, pois as paredes da cidade terão sido derrubadas. Ó meu povo, foge da Babilónia, salvem a vida da cólera tremenda do Senhor! Não entres em pânico, quando ouvires os primeiros rumores das forças que se aproximam. Esses ruídos tornar-se-ão mais distintos de ano para ano, porque se vão chegando cada vez mais. Depois haverá uma guerra civil em que os governadores do reino se levantarão uns contra os outros. O tempo terá chegado, quando castigar em pleno esta grande cidade e todos os seus ídolos; os seus mortos jazerão estendidos pelas ruas. Os céus e a Terra se alegrarão, porque virão do norte exércitos destruidores contra a Babilónia, diz o Senhor. Eis que a Babilónia cairá por causa dos assassinatos que cometeu contra Israel e devido aos massacres que empreendeu contra muitos povos em toda Terra. Vão-se embora, vocês que escaparam à espada! Não fiquem aí a olhar! Fujam enquanto podem fazê-lo! Pensem no Senhor e lembrem-se de Jerusalém, lá longe!” Estamos envergonhados por causa do templo do Senhor ter sido profanado pelos estrangeiros vindos da Babilónia. “Sim, diz o Senhor, chegou o tempo da destruição dos ídolos da Babilónia! Por toda a Terra se ouvirão os gemidos dos feridos! Ainda que a Babilónia pretenda atingir o céu, ainda que a sua força aumente desmesuradamente, ela morrerá”, diz o Senhor. Escutem! Prestem atenção ao grande clamor resultante da destruição da Babilónia, a terra governada pelos caldeus! Porque o Senhor está a destruir a Babilónia, cuja voz altiva se vai calando, à medida que as ondas de violência se quebram. Exércitos exterminadores virão para assassinar os seus homens mais fortes; as próprias armas se quebrarão nas suas mãos, pois o Senhor Deus dá-lhes o castigo; a Babilónia está a receber aquilo que muito bem merece. “Os seus nobres ficarão como que embriagados, assim como os sábios, os legisladores, os generais e os seus militares mais valentes. Adormecerão, para não mais acordar! Assim diz o Rei, cujo nome é Senhor dos exércitos. Porque as largas e fortes muralhas da Babilónia serão abatidas até ao chão e as suas enormes portas queimadas; foi em vão que ali trabalharam construtores vindos de muitas terras; o seu trabalho será destruído pelo fogo!” Foi durante o quarto ano do reinado de Zedequias que esta mensagem veio a Jeremias, para que a desse a Seraías, filho de Nerias, neto de Maaseias, respeitante à captura de Seraías e ao seu exílio para a Babilónia com Zedequias, rei de Judá. (Seraías era comandante de batalhão no exército de Zedequias.) Jeremias escreveu todas estas terríveis coisas que Deus planeou contra a Babilónia, todas estas palavras que aqui estão acima, e deu o rolo a Seraías dizendo-lhe: “Quando fores para a Babilónia, lê tudo isto que escrevi. E dirás: ‘ Senhor, tu disseste que irás destruir a Babilónia, de tal forma que não ficará uma criatura humana viva aqui e será abandonada para sempre!’ Depois, quando tiveres acabado de ler todo o rolo, ata-o a uma pedra e lança-o no rio Eufrates. E dirás: ‘Assim será afundada a Babilónia, de tal forma que nunca mais emergerá com vida, por causa de todo o mal que Deus trará sobre ela!’ ” Aqui terminam as mensagens de Jeremias. Zedequias tinha 21 anos quando se tornou rei e reinou 11 anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era Hamutal, filha de Jeremias de Libna. Fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme os atos anteriormente praticados por Joaquim. As coisas tornaram-se muito más em Jerusalém e em Judá, por causa da ira do Senhor, e ele os baniu da sua presença. Zedequias revoltou-se contra o rei da Babilónia. O rei Nabucodonozor da Babilónia mobilizou todo o seu exército e pôs cerco a Jerusalém, chegando ali no dia 10 do décimo mês, do nono ano do reinado de Zedequias, rei de Judá. O cerco manteve-se até ao décimo primeiro ano do reinado de Zedequias. Finalmente, no dia 9 do quarto mês, daquele ano, quando a fome na cidade era já gravíssima, com as reservas de alimento inteiramente esgotadas, os soldados da cidade abriram um buraco na muralha e fugiram de noite; essa passagem foi feita entre as duas muralhas perto dos jardins do rei. Eles fizeram isso porque a cidade estava completamente cercada pelos caldeus. Assim procuraram fugir, através dos campos, em direção a Arabá. Mas os caldeus perseguiram-nos e apanharam o rei Zedequias nuns campos perto de Jericó; todos os seus soldados se tinham dispersado, abandonando-o. Trouxeram-no então à presença do rei da Babilónia, que se tinha instalado na cidade de Ribla, no reino de Hamate, e foi submetido a um julgamento. O rei da Babilónia obrigou Zedequias a presenciar a morte dos seus próprios filhos e de todos os nobres de Judá. Depois arrancou-lhe os olhos e mandou-o, amarrado com cadeias de bronze, para a Babilónia, pondo-o numa prisão para o resto da vida. No décimo dia do quinto mês, do décimo nono ano do reinado de Nabucodonozor, rei da Babilónia, Nebuzaradão, comandante da guarda, chegou a Jerusalém. Pôs fogo ao templo e ao palácio real, e a todas as casas de maior importância, e mandou os soldados deitar abaixo as muralhas da cidade. Depois levou para a Babilónia como cativos alguns dos mais pobres de entre o povo, com aqueles que tinham sobrevivido à destruição da cidade e os que tinham declarado a sua fidelidade ao rei da Babilónia e ainda os comerciantes. Mas Nebuzaradão, o comandante da guarda, deixou alguns outros, dos mais miseráveis do povo, para colherem os frutos dos campos, e como vinhateiros e lavradores. Os caldeus derrubaram os dois grandes pilares de bronze, que estavam à entrada do templo do Senhor, assim como as suas bases, mais o mar de bronze, e carregaram todo esse bronze para a Babilónia. Levaram igualmente todos os recipientes, pás, perfumadores e bacias, e outros utensílios de bronze usados no serviço do templo. Foram também retirados de lá os incensários, os castiçais de ouro e de prata, e também as bacias e taças de ouro puro e de prata maciça. O peso dos dois enormes pilares e do mar, assim como dos doze bois da base, era qualquer coisa de incalculável. Tinham sido feitos nos tempos do rei Salomão. Esses pilares tinham cada um 9 metros de altura e 6 metros de envergadura, ocos por dentro, sendo a espessura do metal de 8 centímetros. No alto de cada uma das colunas havia capitéis de 2,5 metros de altura, com figuras gravadas, uma composição de romãs também em bronze. Havia como que uma rede formada por 96 romãs, aos lados, e à volta havia mais 100 romãs. O comandante da guarda levou também consigo, como prisioneiros, Seraías, o sumo sacerdote, Sofonias, o seu assistente, os três chefes da guarda do templo, um comandante do exército, sete conselheiros especiais do rei, descobertos ainda na cidade, o secretário do comandante do exército judaico, que tinha a seu cargo o recrutamento militar, e ainda sessenta outras individualidades de relevo na vida judaica, que tinham sido encontradas escondidas. Levou-os ao rei da Babilónia, em Ribla, que os matou a todos na terra de Hamate. Assim, Judá foi exilado da sua terra. O número dos cativos levados para a Babilónia no sétimo ano do reinado de Nabucodonozor foi de 3023. Depois, no décimo oitavo ano, levou mais 832 cativos de Jerusalém. No vigésimo terceiro ano, Nabucodonozor enviou Nebuzaradão, seu comandante da guarda, e este levou mais 745. No total foram 4600 os cativos. No trigésimo sétimo ano, após a prisão na Babilónia de Jeconias, rei de Judá, Evil-Merodaque, que se tornou rei da Babilónia nesse ano, mostrou-se generoso para com o rei Jeconias e tirou-o da prisão no dia 25 do décimo segundo mês. Falou-lhe gentilmente e deu-lhe até preferência em relação a todos os outros reis que estavam na Babilónia. Foi ainda dada a Jeconias a possibilidade de trocar a sua rouba de prisioneiro, dando-lhe roupa nobre, e assim assentou-se à mesa do rei. E isso todo o resto do tempo da sua vida. O rei também lhe concedeu uma pensão diária, para que pudesse atender às necessidades quotidianas, até ao dia da sua morte. As ruas de Jerusalém, outrora tão movimentadas e cheias de gente, estão agora desertas, silenciosas. A cidade, como uma viúva abatida pelo peso do desgosto, senta-se desolada no meio da sua amargura. Ela que já foi a rainha das nações é agora uma escrava. Soluça a noite inteira, correm-lhe grossas lágrimas pelas faces. Entre os seus antigos aliados que a amaram não há um só que esteja disposto a ajudá-la. Todos os seus amigos são agora seus inimigos. Judá foi levada em cativeiro no meio de aflições e de pesados trabalhos. E agora ali está ela no exílio, bem longe. Não consegue encontrar descanso, porque todos os que a perseguiram apanharam-na no meio dos seus apertos. Os caminhos que conduzem a Sião estão tristes, abandonados. Já não se encontram cheios de alegres multidões que vinham participar nas celebrações festivas do templo; os portais da cidade estão silenciosos; os sacerdotes suspiram; as virgens estão enlutadas; agora chora amargamente. Os seus inimigos agora dominam-na, porque o Senhor castigou Jerusalém por todos os seus muitos pecados, os seus filhos foram capturados e levados como escravos para longe. Toda a sua beleza, a sua majestade, se foi; os seus nobres são como veados cheios de fome à procura de pastagens, demasiado fracos para poderem fugir do caçador. Agora, no meio da aflição, lembra-se dos dias felizes já passados. Recorda-se daqueles belos momentos de alegria que teve antes que os inimigos escarnecedores a tivessem ferido e ninguém houve que lhe desse ajuda. Jerusalém pecou horrivelmente e por isso, agora é posta de lado como um trapo sujo. Todos os que a honraram, agora desprezam-na, pois veem-na despida, humilhada, e ela lamenta-se e esconde o rosto. Cedeu à imoralidade e recusou encarar o facto de que o castigo não haveria de falhar. Agora jaz na valeta, sem que haja alguém para lhe estender a mão e a levantar. “Ó Senhor, vê a minha aflição!”, grita ela. “O inimigo triunfou!” Os seus adversários saquearam-na completamente, levando-lhe tudo o que tinha de precioso. Teve de ver nações estrangeiras violando o templo sagrado, estrangeiros que tu tinhas proibido até de lá entrar. O seu povo geme e clama por pão; venderam tudo quanto tinham para obter alimento que lhes desse algumas forças. “Vê, Senhor!”, roga ela. “Repara como estou abandonada!” Não vos comove isto, vocês que passam perto? Olhem e vejam se há aflição semelhante à minha, por causa de tudo o que o Senhor tem feito no dia da sua terrível cólera. Enviou fogo do céu que me arde ainda dentro dos ossos; estendeu uma rede no meu caminho e fez-me voltar atrás. Deixou-me doente e desolada todos os dias da minha vida. Ligou-me com cordas aos meus pecados e pôs-me ao pescoço como que um jugo de escravidão. Abateu a minha força e entregou-me aos inimigos; estou sem ajuda nas suas mãos. O Senhor calcou com os pés todos os meus homens fortes. Um grande exército veio, ao seu chamamento, para esmagar os mais nobres dos jovens. O Senhor pisou a sua cidade querida como cachos de uvas num lagar. É por isso que choro; lágrimas quentes rolam-me nas faces. O meu consolador está bem longe e só ele poderia ajudar-me. Os meus filhos não têm futuro; estamos numa terra conquistada. Jerusalém roga por socorro e ninguém lhe acode, porque o Senhor falou assim: “Que os seus vizinhos sejam os seus adversários! Que ela seja atirada fora, por eles, como trapos imundos!” O Senhor é justo, pois eu rebelei-me. Por isso, ó gentes de toda a parte, vejam a minha angústia e desespero, porque os meus filhos e filhas foram transportados para muito longe como escravos. Roguei aos meus aliados que me trouxessem auxílio. Esperança vã! Eles não estão, de forma alguma, dispostos a ajudar-me. Nem tão-pouco o poderiam os meus sacerdotes e anciãos, estes estão deitados nas ruas, morrendo de fome, vasculhando nas lixeiras à procura de restos de comida. Vê, ó Senhor, a minha angústia! Tenho o coração quebrantado e a alma oprimida, porque me rebelei terrivelmente. Espera-me nas ruas a espada e em casa a fome e a morte. Ouvem os meus gemidos e ninguém acorre para me dar auxílio. Todos os meus inimigos ouviram a minha angústia e até ficam contentes por verem o que fizeste. Apesar de tudo, ó Senhor, há de vir o tempo, com toda a certeza, porque foste tu quem o prometeu, em que lhes farás como me fizeste a mim. Olha também para os seus pecados, ó Senhor, e castiga-os como me castigaste a mim, porque passo a vida a suspirar e o meu coração desfalece! Uma nuvem de ira, da parte do Senhor, escureceu Sião. Aquela que era a mais bela cidade de Israel está agora estendida no pó da terra, expulsa das alturas do céu por ordem de Deus. No dia da sua tremenda cólera não houve sequer misericórdia para com o templo, o estrado dos seus pés. O Senhor destruiu sem piedade cada casa em Israel; na sua ira derribou cada fortaleza, cada muralha; levou o reino até ao pó, acompanhado dos governantes. Todas as energias de Israel se desvaneceram sob o seu terrível juízo; retirou-lhes totalmente a proteção na altura em que o inimigo atacou. Deus ardeu como um violento fogo através de todo o Israel. Retesa o arco na direção do seu povo, como se este fosse seu adversário. A sua força é usada contra ele, para liquidar a melhor juventude. O seu furor derrama-se como matéria inflamada sobre eles. Sim, o Senhor venceu Israel como se este fosse um inimigo; destruiu-lhe as fortificações, os palácios. Tristeza e lágrimas é a sorte que coube a Jerusalém. Fez abater violentamente o seu templo como se se tratasse meramente duma cabana feita de ramos e folhas de árvores. O povo não pode mais celebrar as santas festividades, os sábados. Reis e sacerdotes caíram sob a sua indignação. O Senhor rejeitou o seu próprio altar e rejeitou o seu santuário; deu as fortalezas deles aos inimigos, os quais fazem festas e se embebedam no templo do Senhor, tal como Israel costumava fazer nos dias de santas celebrações. O Senhor determinou destruir os muros de Sião. Ele estendeu a linha de nivelar e calculou com precisão a destruição em curso. Por isso, as muralhas e as fortalezas caíram na sua frente. As portas de Jerusalém já de nada servem; todas as fechaduras e cadeados estão violados e partidos; foi ele mesmo quem os arrombou. Os seus reis e os nobres estão escravizados em terras desconhecidas e afastadas, sem leis divinas para os governar, sem a visão do Senhor para guiar os profetas. Os anciãos da filha de Sião sentam-se no chão em silêncio, vestidos de serapilheira. Lançam pó sobre as cabeças em sinal de luto e amargura. As jovens de Jerusalém inclinam as cabeças até ao chão com vergonha. Tenho chorado até me secarem as lágrimas; o meu coração está quebrantado, tenho o espírito profundamente deprimido, por ver o que aconteceu ao meu povo; criancinhas e bebés desfalecem e morrem no meio das ruas. “Mãe, mãe, quero comer!”, gritam elas e ficam-se sem vida no seu colo. São vidas que partem como se fosse numa batalha. Alguma vez no mundo terá havido tristeza semelhante? Ó Jerusalém, com que poderei comparar a tua angústia? Como poderei eu confortar-te, Sião? Porque o teu mal é profundo como o fundo do mar. Quem poderá curar-te? As visões que os teus profetas te anunciaram, são mensagens enganosas e falsas. Nem sequer tentaram salvar-te da escravidão, denunciando os teus pecados, antes calmamente te diziam que tudo ia bem. Todos os que por ali passam abanam as cabeças, riem-se e dizem: “Vejam, a excelência da beleza e a alegria de toda a Terra, o estado em que ela ficou!” Todos os teus inimigos troçam de ti; torcem-se a rir, arreganham os dentes e dizem: “Até que enfim a destruímos! Fartámo-nos de esperar por este momento, mas acabou por chegar! Estamos a ver nós próprios a sua queda!” Foi o Senhor mesmo quem fez isto, como já tinha dito antes claramente; cumpriu as suas promessas de condenação feitas já há muito tempo; destruiu Jerusalém sem misericórdia e fez com que os seus inimigos se alegrassem e vangloriassem das suas próprias forças. O povo chora perante o Senhor. Ó gente de Jerusalém, deixem as lágrimas escorrer como um ribeiro; não deixem de chorar, não deem descanso aos vossos olhos noite e dia! Levanta-te de noite e clama a Deus; derrama o teu coração como se fosse água, perante o Senhor; levanta para ele as mãos e intercede pelos teus filhos que morrem de fome nas ruas. Ó Senhor, olha! É ao teu próprio povo que estás a fazer isto! Serão as mães obrigadas a comer os próprios filhinhos que adormeceram nos braços? Estarão os sacerdotes e os profetas destinados a morrer mesmo no templo do Senhor? Olha para eles, estendidos no meio das ruas, velhos e novos, rapazes e raparigas, mortos pelas armas inimigas. Mataste-os, Senhor, no teu furor, mataste-os sem piedade. Mandaste vir deliberadamente terrores de toda a parte contra mim, como se se tratasse de um dia de festa. No tempo da tua ira ninguém conseguiu escapar, ninguém ficou vivo. Todos os meus filhinhos jazem mortos pelas ruas por onde passou o inimigo. Sou um homem que viu as aflições que a vara do Senhor fez derramarem-se. Levou-me até às trevas profundas, tirou-me toda a luz. Voltou-se contra mim. Dia e noite a sua mão pesa sobre mim. A minha pele está envelhecida e a minha carne mirrada; quebrou-me os ossos todos. Construiu torres fortificadas contra mim; rodeou-me de angústia e de tormento. Meteu-me dentro de lugares tenebrosos, semelhante aos que dormem há muito o seu último sono. Emparedou-me; estou impossibilitado de fugir; agrilhoou-me com pesadas cadeias. Ainda que grite e clame, não ouvirá os meus rogos! Encarcerou-me num sítio rodeado de muros altos e espessos; encheu o meu caminho de emboscadas. Espia-me como um urso prestes a atacar e como um leão pronto a saltar sobre a presa. Fez-me extraviar do meu caminho; fez-me em pedaços e deixou-me a escorrer sangue, abandonado. Retesou o arco e apontou certeiramente contra mim. As suas setas entraram profundamente no meu coração. O meu próprio povo ri-se de mim. Cantam o dia inteiro as suas canções dissolutas. Encheu-me de amargura; deu-me a beber um copo cheio da mais profunda tristeza. Fez-me comer cascalho, de tal forma que até os dentes se me partiram; fez-me rolar no meio da cinza e da sujidade. Esqueci-me até do que significa prosperidade; perdi toda a tranquilidade na minha vida. Até já me esqueci da alegria que essas coisas provocam. Só sei dizer: A minha força foi-se. Não espero nada de Deus! Oh! Lembra-te da amargura e do sofrimento que lançaste sobre mim! Nunca mais esquecerei estes horríveis anos. A minha alma passará a viver numa completa vergonha. Mas há ainda um raio de esperança. É que as misericórdias do Senhor não têm fim; foram as misericórdias do Senhor que impediram que fôssemos consumidos em absoluto; grande é a sua fidelidade. A sua compaixão é sempre renovada em cada dia. O Senhor é aquilo de que preciso para viver; é a minha única riqueza, por isso, espero nele. O Senhor é bom para os que esperam nele, para os que o buscam. É bom ter esperança e aguardar calmamente a salvação do Senhor. É bom para um jovem estar sob disciplina. Porque fá-lo sentar-se solitário, em silêncio, sob o controlo do Senhor, inclinar o rosto para o chão, para o pó da terra; no fim, haverá esperança para ele. Que aprenda a dar a outra face a quem o fere, que saiba enfrentar a afronta. O Senhor não o abandonará para sempre. Ainda que Deus o faça sofrer, mostrar-lhe-á a sua compaixão, de acordo com a sua grande misericórdia. Porque não é do seu agrado afligir as pessoas, deixá-las tristes. Quando são espezinhados os prisioneiros da terra, e quando defraudam os direitos das pessoas, perante o Altíssimo, e recusam fazer-lhes justiça, não é de admirar que o Senhor os queira castigar. Quem poderá falar e fazer acontecer, se assim o Senhor não tiver orientado? Ora, não é pela vontade do Altíssimo que procedem tanto as desgraças como as bênçãos? Porque haveríamos então nós, meros seres humanos como somos, de murmurar e de nos lamentarmos, quando somos castigados por causa dos nossos pecados? Examinemo-nos a nós próprios, antes, e arrependamo-nos; voltemos para o Senhor. Levantemos os corações e as mãos para o Deus dos céus e digamos: “Nós pecámos e rebelámo-nos contra ti e tu não nos perdoaste! Cobriste-nos com a tua ira, Senhor, mataste-nos sem piedade. Cobriste-nos com uma nuvem, de forma que as nossas orações não te alcançam. Fizeste-nos como entulho e como lixo no meio das nações. Todos os nossos inimigos falaram mal de nós. Estamos cheios de terror porque fomos apanhados, desolados, destruídos.” Os meus olhos derramam torrentes de lágrimas de dia e de noite, por causa da destruição do meu povo. Os meus olhos são fontes inesgotáveis de choro, sem cessar e sem descanso, até que o Senhor olhe desde o céu e responda aos meus rogos! O meu coração confrange-se perante aquilo que aconteceu às mulheres da minha cidade. Os meus inimigos, a quem nunca fiz mal nenhum, enxotaram-me como se eu fosse uma ave de rapina. Lançaram-me num poço e atiraram pedras sobre mim. A água subiu acima da minha cabeça. Eu já pensava: É o fim! Apelei para o teu nome, Senhor, desde o fundo desse poço, e tu ouviste-me: “Não escondas os teus ouvidos ao meu choro e ao meu clamor!” Sim, atentaste para os meus gritos desesperados e disseste-me: “Não temas!” Ó Senhor, tu és o meu advogado! Defende a minha causa, porque redimiste a minha vida! Viste, Senhor, o mal que me fizeram; sê o meu juiz e julga a minha causa. Observaste as conspirações que os meus inimigos arquitetaram contra mim. Ouviste os nomes afrontosos que me chamaram, Senhor, e tudo o que dizem a meu respeito; as suas acusações e o seu murmurar contra mim o tempo todo. Observa-os quando se assentam e quando se levantam; eu sou o objeto da zombaria das suas canções. Ó Senhor, vinga todo o mal que eles têm feito! Que os seus corações se encham de desespero perante a tua maldição! Vai atrás deles, perseguindo-os na tua ira e varre-os da Terra, de sob os céus do Senhor! Como o ouro perdeu o seu brilho! O ouro fino tornou-se baço! As pedras do santuário estão espalhadas no chão, no meio da rua. A fina flor da tua juventude, esse ouro de maior quilate, é tratada como um vulgar jarro de barro. Até os chacais alimentam as suas crias, mas o meu povo de Israel não pode fazê-lo; é como as cruéis avestruzes do deserto, descuidadas com as suas crias. As línguas das crianças prendem-se ao céu-da-boca com a sede que têm, pois não conseguem encontrar uma gota de água. Os bebés choram por comida e ninguém consegue dar-lhes seja o que for. Aqueles que costumavam comer faustosamente andam agora pelos cantos das ruas estendendo as mãos a pedir esmola. Os que sempre viveram em palácios estão agora no meio da sujidade, coçando-se e mendigando. Porque o castigo do meu povo é maior do que o de Sodoma, a qual foi subvertida totalmente em momentos, por uma catástrofe, e sem que interviesse a mão do homem. Os seus nobres eram belos e elegantes, mais brilhantes que a neve ao Sol, mais alvos que o leite; tinham a pele mais rosada que finos rubis e sua aparência lembrava as mais lindas safiras. Mas agora estão com os rostos estragados e sujos como de fuligem; ninguém os reconhece; estão na pele e osso, secos e mirrados. Os que perdem a vida na guerra são considerados muito mais ditosos do que os que morrem de fome. Mulheres piedosas e sensíveis chegaram ao ponto de cozer e comer os próprios filhos, para conseguirem sobreviver ao cerco da cidade. Mas agora, enfim, a cólera do Senhor está satisfeita, a sua ira terrível foi derramada! Ele acendeu um fogo em Sião que ardeu até aos fundamentos. Não havia um rei sequer, nem ninguém em todo o mundo, que acreditasse que o inimigo poderia entrar pelas portas de Jerusalém! E Deus permitiu que isso acontecesse por causa dos pecados dos profetas e dos sacerdotes que sujaram a cidade, fazendo derramar-se sangue inocente. Agora esses mesmos homens andam cambaleando cegos, através das ruas, cobertos de sangue, tornando impuro tudo o que tocam. “Afastem-se!”, grita-lhes o povo. “Vocês são impuros!” E eles fogem para terras distantes e vagueiam por entre estrangeiros, mas ninguém lhes dá autorização de permanência. O Senhor mesmo, na sua ira, os dispersou; não os socorrerá mais, visto que não honram os sacerdotes nem os anciãos. Bem pedimos ajuda aos nossos aliados, para que venham salvar-nos, mas pedimos em vão. As nações com quem mais contávamos não mexem um dedo a nosso favor. Não podemos sair às ruas sem o risco de perder a vida. O nosso fim está perto, os nossos dias estão contados, estamos condenados. Os nossos inimigos são mais rápidos do que águias; se fugimos para as montanhas, apanham-nos lá; se nos escondemos no deserto, já lá estão à nossa espera. O nosso rei, que nos é tão precioso como o ar que respiramos, o ungido do Senhor, caiu nas armadilhas. E nós pensávamos que sob a sua proteção podíamos viver entre as nações! Ficaste feliz, ó povo de Edom, da terra de Uz! No entanto, também tu hás de beber o cálice amargo da ira de Deus que te embriagará e te deixará despida. O teu exílio, ó Sião, por causa dos teus pecados, terminará por fim! O Senhor não prolongará o teu cativeiro! Mas em relação a ti, ó Edom, ele punirá o teu pecado e colocará à vista de todos as tuas transgressões! Ó Senhor, lembra-te de tudo o que nos sobreveio! Vê quantas tristezas temos de aguentar! Os nossos lares, a nossa nação, estão cheios de estrangeiros. Somos órfãos; os nossos pais morreram; as nossas mães estão viúvas. Temos de pagar até a água que bebemos; a lenha é-nos vendida a preços astronómicos. Temos de dobrar os pescoços sob os pés daqueles que nos venceram; o nosso quinhão agora é executar trabalhos intermináveis. Vemo-nos na contingência de ter de pedir pão e estender as mãos aos egípcios e também aos assírios. Os nossos antepassados pecaram, mas morreram antes que a mão do julgamento caísse sobre eles. Fomos nós, afinal, que tivemos de suportar aquilo que eles também mereciam! Os nossos antigos servos tornaram-se os nossos senhores e ninguém ficou para nos salvar. Fomos para o deserto para caçar, à procura de alimento, arriscando ser mortos pelos inimigos. A fome faz-nos arder em febre; até a pele nos abrasa como um forno. Violaram as mulheres de Sião e as raparigas das cidades de Judá. Os nossos nobres foram pendurados pelas mãos e até os velhos foram desrespeitados, sem consideração pelos seus cabelos brancos. Levaram os moços para os obrigarem a moer o trigo e as criancinhas para as carregarem com fardos pesados, sob os quais cambaleiam sem forças. Os anciãos já não se sentam mais à entrada da cidade, junto aos portais, e os jovens já não cantam. Acabou tudo o que nos dava tanta alegria aos corações; os nossos bailados tornaram-se danças de carpideiras. Foi-se a nossa glória! Caiu-nos da cabeça a coroa, que era o nosso privilégio, o nosso orgulho! Ai de nós, porque pecámos! Temos os corações oprimidos e amargurados; os nossos olhos incham e vamos perdendo a vista. O monte Sião está deserto; foi abandonado por todos, menos pelos chacais que fazem a toca entre as ruínas. Ó Senhor, mas tu permaneces eternamente o mesmo! O teu trono subsiste de geração em geração! Porque haverias de nos esquecer para sempre? Será que nos vais desamparar por um tempo sem fim? Converte-nos, Senhor, faz-nos voltar de novo para ti! É essa a nossa esperança! Faz-nos viver de novo os bons dias antigos! Será que nos rejeitaste efetivamente para sempre? Será que a tua cólera contra nós não vai ter um termo? Eu, o sacerdote Ezequiel, filho de Buzi, vivia no meio dos judeus exilados nas proximidades do rio Quebar na Babilónia. No quinto dia do quarto mês do meu trigésimo ano, abriram-se os céus de repente, perante mim, e tive visões da parte de Deus. Era o quinto ano do cativeiro do rei Jeconias, no exílio babilónico, quando veio a palavra do Senhor, dirigida pessoalmente a mim, Ezequiel, filho de Buzi, na terra dos caldeus, e a sua mão esteve sobre mim. Houve um forte vento tempestuoso vindo do norte, empurrando uma nuvem enorme que ardia em fogo e que espalhava à sua volta uma luminosidade intensa; no meio havia algo que brilhava como bronze brilhante. Então, do centro da nuvem, saíram quatro criaturas que se pareciam com seres humanos, mas que tinham quatro rostos cada um e ainda dois pares de asas! Tinham pernas direitas, mas pés com cascos de bezerro que brilhavam como bronze polido. Debaixo das asas pude ver-lhes mãos humanas; os quatro tinham rostos e asas assim dispostas: estavam juntas, asa com asa, e voavam em frente, em linha reta, sem desvios. Para a frente do corpo tinham um rosto humano, para o lado direito da cabeça, um rosto de leão, para o lado esquerdo, um rosto de boi, e para trás, de águia. Os dois pares de asas saíam-lhes do meio das costas. Um par estendia-se até às asas da criatura que estava a seu lado e o outro par cobria-lhes o corpo. Cada um caminhava em frente; para onde quer que o Espírito se movia eles também iam e não se viravam quando se movimentavam. Entre eles havia outras formas que se deslocavam para cima e para baixo e que pareciam como relâmpagos ou como algo que ardesse intensamente. Um fogo movia-se entre esses seres, e brilhava intensamente, expelindo relâmpagos. Enquanto olhava para isto tudo, vi ainda quatro rodas no chão, debaixo das criaturas; uma roda sob cada uma. As rodas tinham a cor de um topázio, todas iguais, e cada uma delas tinha outra, na parte interior, atravessada. Podiam assim rodar para a frente e para os lados sem se virarem. As quatro rodas tinham aros e raios; os aros estavam cheios de olhos em toda a volta. Quando os quatro seres viventes se deslocavam para a frente, as rodas seguiam-nos; se se elevavam, as rodas também se levantavam; se paravam, também as rodas. Porque o espírito das criaturas estava também nas rodas. Por isso, para onde quer que o seu espírito fosse, tanto as rodas como os seres seguiam-no. Por cima das suas cabeças havia algo semelhante ao firmamento, que reluzia como cristal, estendido por cima deles. As asas de cada um dos seres estendiam-se direitas, até tocaram nas do outro ao lado; com o outro par de asas cobriam o corpo. Quando se deslocavam, as asas, ao baterem, faziam um ruído semelhante ao das vagas, rebentando na praia, ou à voz do Todo-Poderoso, ou ainda parecido com o tumulto de um grande exército. Quando paravam, baixavam as asas. E ouvia-se uma voz do firmamento de cristal por cima deles. Por cima desse firmamento estava algo semelhante a um trono, feito de belas pedras de safira azuis, e nele estava sentado alguém que parecia ser um homem. Da cintura para cima, parecia ser de bronze brilhante, luzindo como fogo; para baixo, dava a impressão de ser todo ele uma chama. Havia um resplendor em volta dele como um arco nas nuvens num dia de aguaceiros. Foi assim que me apareceu a glória do Senhor. Quando vi aquilo, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de alguém que me falava. E disse-me: “Levanta-te, homem mortal, e falarei contigo!” O Espírito entrou em mim, enquanto me dirigia a palavra, e pôs-me de pé: “Homem mortal, vou enviar-te à nação de Israel, nação rebelde contra mim. Tanto eles como seus pais têm continuado a pecar contra mim até ao momento presente. Têm um coração duro; são de carácter obstinado; mas eu envio-te junto deles para que lhes transmitas as minhas mensagens, as mensagens do Senhor Deus. Quer eles as ouçam ou não, não te esqueças que são gente rebelde; pelo menos, hão de ficar a saber que tiveram um profeta no meio deles. E tu, homem mortal, não tenhas medo deles; não receies as suas ameaças, ainda que façam doer e magoem como espinhos, como escorpiões. Não te assustes com as suas carrancas sombrias. Lembra-te de que são pessoas insubmissas! Deverás comunicar-lhes as minhas mensagens, quer as ouçam quer não; mas não quererão ouvi-las, porque são extremamente obstinados. Ouve pois, homem mortal, aquilo que te digo. Não sejas tu também contencioso. Abre a tua boca e come o que te dou!” Então vi uma mão segurando um livro em forma de rolo, escrito de ambos os lados, na frente e de trás. O livro foi desenrolado e reparei que estava cheio de avisos, de lamentações e condenações. “Homem mortal”, continuou a dizer-me, “come o que estou a dar-te, ingere este rolo! Depois vai e comunica a sua mensagem ao povo de Israel.” Peguei então no rolo e abri a boca para o comer. Então disse-me: “Filho do homem, come esse rolo que te dou e enche com ele o teu estômago.” Comi-o e era doce como o mel. “Homem mortal, envio-te ao povo de Israel com as minhas palavras. Não é a uma terra estrangeira e distante que te mando, a um povo cuja língua não entendas. Não vais ter com populações de fala difícil de decifrar; esses certamente te escutariam! É com o povo de Israel que vais ter e não hão de querer ouvir-te, tal como também recusaram dar-me ouvidos, porque são um povo endurecido e obstinado. Mas repara, dou-te autoridade e também te faço firme, tão resistente como eles. Tornei a tua fronte tão rija como um diamante. Não os temas, não tenhas medo dos seus ares soturnos, dos seus olhares sombrios, pois são pessoas indomáveis.” E acrescentou: “Homem mortal, mete todas as minhas palavras no teu coração primeiramente! Ouve-as atentamente, tu próprio! Depois vai então ter com o teu povo no exílio e, quer eles escutem quer não, diz-lhes: É isto que diz o Senhor Deus!” Seguidamente, o Espírito levantou-me e ouvi atrás de mim uma voz muito forte, com um grande eco, que dizia: “Bendita seja a glória do Senhor, lá onde ela permanece!” Ouvi também o barulho das asas das criaturas, que tocavam umas nas outras, e também das rodas que as seguiam. O Espírito tomou-me e levou-me. Eu estava muito triste e o meu espírito ardia; mas a mão do Senhor era forte sobre mim. Dirigi-me em seguida para Tel-Avive, outra colónia de exilados judeus, junto do rio Quebar. Sentei-me entre eles, durante sete dias, desolado. No fim desse tempo, o Senhor disse-me: “Homem mortal, designei-te como vigia de Israel; sempre que eu pretenda mandar um aviso ao meu povo, transmite-lho logo. Se recusares avisar o ímpio, quando eu pretender que lhe digas: ‘Estás condenado a morrer, por isso, arrepende-te e salva a tua vida!’, ele virá a morrer no seu pecado, mas a ti castigar-te-ei. Ficas responsável pela sua morte. Mas se os avisares e eles continuarem a pecar, recusando arrepender-se, morrerão no seu pecado, mas tu não terás culpa alguma nisso, pois fizeste tudo o que podias. E se uma pessoa que era justa se tornar ímpia, e se tu recusares avisá-la das consequências disso, esse indivíduo morrerá, sem que o seu comportamento anterior lhe sirva de alguma coisa; morrerá no seu pecado, mas tornar-te-ei responsável pela sua morte e castigar-te-ei. No entanto, se o avisares e ele se arrepender, viverá; quanto a ti, terás também salvo a tua própria vida.” A mão do Senhor estava sobre mim e ele me disse: “Vai para o vale e falarei lá contigo.” Logo me levantei, fui e vi ali a glória do Senhor, tal como na minha primeira visão, e inclinei-me até à terra perante ele. O Espírito entrou em mim, fez-me pôr de pé e disse-me: “Vai, fechar-te na tua própria casa! Serás ligado com cordas, de forma que não poderás sair de lá. Farei com que a língua se te cole ao céu-da-boca. Durante esse tempo não serás para eles o homem que os repreende, embora sejam uma gente rebelde. Quando te der uma mensagem, desprender-te-ei a língua e farei com que fales, e dir-lhes-ás: Assim diz o Senhor Deus! Quem quiser ouvir, que ouça! Quem quiser recusar, que recuse! Porque eles são um povo obstinado. E agora, homem mortal, pega num tijolo; põe-o diante de ti e desenha nele a planta da cidade de Jerusalém. Faz a seguir o desenho de um cerco, de toda uma instalação bélica de ataque à cidade, e acampamentos militares em volta das muralhas. Pega também numa placa de ferro, põe-na entre ti e a cidade, como se fosse uma muralha de ferro. Farás assim uma ilustração de como o exército inimigo tomará Jerusalém. Há um significado especial em cada detalhe daquilo que te disse para fazeres, pois trata-se de um aviso ao povo de Israel. Agora deita-te sobre o teu lado esquerdo e coloca assim sobre ti a iniquidade de Israel. Carregarás o seu pecado durante 390 dias. Cada um desses dias em que estiveres deitado representa um ano de castigo para Israel. Depois vira-te e deixa-te estar deitado para o lado direito, levando assim a iniquidade de Judá por 40 dias; um dia representa um ano. Entretanto, continua a tua ilustração do que será o cerco de Jerusalém; dirige o teu braço, descoberto, contra a cidade; isto será uma profecia da força com que será condenada. Também te paralisarei os movimentos, de forma a que não possas virar-te nem para um lado nem para o outro, até que se completem todos os dias do cerco. Durante os primeiros 390 dias, come pão feito de farinha misturada com trigo, cevada, favas, lentilhas, milho e centeio; mistura tudo num recipiente. Tomarás diariamente uma ração de 230 gramas, de cada vez, em horas determinadas do dia. Bebe cerca de 1 litro de água por dia, em horas determinadas do dia. Em cada dia pegarás a porção devida da mistura e prepará-la-ás como se fossem bolos de cevada. À vista de todo o povo, coze-a sobre um fogo, empregando esterco humano seco como carburante, e come a tua porção diária. Porque o Senhor declara que Israel comerá pão imundo nas terras bárbaras para onde será levado cativo.” Então eu disse: “Ó Senhor Deus, tenho de me tornar impuro, empregando assim uma imundície? Nunca antes me deixei contaminar dessa forma! Desde criança, até agora, nunca comi um animal morto por doença, encontrado ferido ou morto, nem sequer ingeri nenhuma espécie de animal proibido pela Lei!” Ele respondeu-me: “Está bem, podes então usar escremento de vaca, em vez de esterco humano.” Depois disse-me: “Homem mortal, o pão será estritamente racionado em Jerusalém. Será cuidadosamente pesado e comido a medo. A água será medida meticulosamente e as pessoas bebê-la-ão com profundo desânimo. Farei com que o povo venha a ter falta tanto de pão como de água, ficando a olhar surpreendidos uns para os outros, definhando sob a punição. Homem mortal, pega numa navalha bem afiada e rapa todo o cabelo da cabeça e a barba; depois pega numa balança e reparte o cabelo cortado em três partes iguais. Um terço desse cabelo coloca-o no centro do teu plano de Jerusalém; depois de simulado o cerco, queima-o ali mesmo. O outro terço do cabelo espalha-o sobre o mesmo plano da cidade e depois corta-o com uma faca. O último terço espalha-o ao vento, porque também perseguirei o meu povo com uma espada. Conserva apenas uma pequena parte desse cabelo e ata-o à borda da roupa que tens vestida. Por último, retira ainda uma pequena parte destes e lança-os no fogo, pois dali sairá um fogo contra toda a nação de Israel. Assim diz o Senhor Deus: Isto ilustra o que há de acontecer em Jerusalém, pois se desviou das minhas leis e se tornou ainda pior do que as outras nações à sua volta. Ouve, pois, ó Jerusalém, o que eu, o Senhor Deus, te vou dizer! Mostraste-te mais rebelde do que os países que te rodeiam. Não obedeceste às minhas leis, nem guardaste os meus mandamentos e nem sequer seguiste os costumes dos outros povos. Por isso, diz o Senhor Deus, eu próprio estou contra vocês e vos castigarei aos olhos de todo o mundo. Castigar-vos-ei como nunca fiz antes e como nunca mais farei, por causa dos terríveis pecados que cometeram. Pais haverá que comerão os seus próprios filhos e filhos que comerão os pais; os que sobreviverem serão espalhados por todo o mundo. Eis o que vos garanto, diz o Senhor Deus: Visto que profanaram o meu templo com ídolos e com sacrifícios abomináveis, não vos hei de poupar nem terei, de forma nenhuma, misericórdia. Uma terça parte de vocês morrerá de fome e doença; outra terça parte será exterminada pelo inimigo e o último terço será espalhado pelos quatro ventos da Terra, perseguidos pela espada desembainhada dos seus inimigos que os perseguirão. Só então a minha ira será satisfeita e todo o Israel ficará a saber que eu sou o Senhor, que vos avisei, pois exijo uma devoção exclusiva. É assim que se tornarão um exemplo aos olhos de todo o mundo e para todos os que passarem pelas ruínas da vossa terra. Tornar-se-ão, por um lado, um motivo de desprezo para toda a gente; por outro, um exemplo terrível daquilo que acontece quando executo a minha ira e os meus juízos contra ti. Eu, o Senhor, falei! Farei chover sobre vocês flechas mortais de fome que vos destruirão. A fome tornar-se-á cada vez mais intensa, até que tenha acabado, por fim, o último pedaço de pão. E não será apenas a fome que virá sobre vocês; também os animais selvagens vos atacarão e vos matarão, assim como às vossas famílias; as pestes e a guerra devastarão a vossa terra; as armas dos adversários liquidar-vos-ão. Eu, o Senhor, falei!” Depois recebi uma nova mensagem do Senhor: “Homem mortal, fala na direção das montanhas de Israel e profetiza contra elas. Diz-lhes assim: Ó montanhas de Israel, ouçam a palavra que o Senhor Deus dirige contra vocês, assim como contra os rios e vales! Eu, sim, eu mesmo, o Senhor, farei vir a guerra sobre vocês para destruir os vossos santuários pagãos sobre as colinas. Todas as vossas povoações serão arrasadas e queimadas, e os altares dos ídolos abandonados. As vossas colunas dedicadas aos deuses serão quebradas e lançarei os vossos mortos diante dos vossos ídolos. Espalharei os cadáveres dos próprios israelitas diante de todos os seus ídolos e os ossos dos seus adoradores serão espalhados por entre os restos dos altares. Em todos os vossos lugares habitáveis, as cidades serão arrasadas e os altares assolados; os vossos santuários pagãos serão esmigalhados e aniquilados e os vossos ídolos feitos em bocados; os vossos altares de incenso serão desfeitos e tudo o que o povo fez será desfeito. Os feridos à espada cairão em plena cidade e, então, saberão que eu sou o Senhor. Mas deixarei ficar um pequeno punhado do meu povo que escapará a tudo isso e que será espalhado por entre as nações do mundo. Depois, quando se encontrarem exilados pelo mundo inteiro, lembrar-se-ão de mim, pois tirarei deles esse coração adúltero, que está cheio de amor pelos ídolos, e mudarei os seus olhos lascivos que andam só à procura de novas imagens de ídolos. E acabarão por se sentir profundamente envergonhados, por causa da sua grande maldade. Hão de reconhecer que só eu sou o Senhor e que não estava a enganá-los, quando lhes garantia que tudo isto iria acontecer-lhes. Diz o Senhor Deus: Levanta as mãos em sinal de espanto, abana a cabeça em atitude de grande consternação e diz: ‘Ai de nós que praticámos tanta coisa má!’ E hão de perecer pela guerra, pela fome e pelas pestes. A doença ferirá os que escaparam para o exílio. A guerra destruirá os que ficaram na terra de Israel. E os que tiverem conseguido escapar morrerão pela fome e nos ataques dos inimigos. É assim que derramarei o meu furor contra eles. Quando virem os corpos mortos, jazendo espalhados por entre os restos dos ídolos e dos altares, no cimo de cada colina e de cada montanha, debaixo de cada árvore verde e de grandes carvalhos, os sítios onde oferecem incenso aos seus deuses, dar-se-ão conta de que só eu sou o Senhor. Então estenderei a minha mão forte contra eles e esmagá-los-ei; tornarei desoladas as suas cidades, desde o deserto do sul até às bandas de Ribla no norte. E saberão que eu sou o Senhor!” Mais tarde, veio até mim a palavra do Senhor: “Homem mortal, eis que eu, o Senhor Deus, digo o seguinte a Israel: Para onde quer que olhares, para norte, para sul, este ou oeste, a tua terra terá deixado de existir. Já não haverá esperança, pois farei cair sobre ti a minha ira, por causa dos vossos atos reprováveis. Desviarei os meus olhos e deixarei de ter piedade de ti; serás castigado plenamente e saberás que eu sou o Senhor!” Diz o Senhor Deus: “Com golpe sobre golpe, acabarei contigo! Chegou o fim, a tua condenação final espera-te! Já desponta o dia do teu julgamento, chegou o tempo, aproxima-se o dia da aflição. Será um dia de gritos de angústia e não de alegria, com toda a certeza! Em breve derramarei a minha ira e farei com que realize completamente o seu trabalho de punição sobre ti, devido aos teus atos reprováveis. Não te pouparei nem terei piedade de ti. Vou pedir-te contas pelo mal que fizeste e as tuas práticas reprováveis estarão no meio de ti, para que saibas que sou eu, o Senhor, quem faz isto. Chegou o dia do juízo, já alvorece a manhã, porque a vossa maldade e orgulho cresceram desmedidamente e já atingiram o seu ponto máximo A violência produziu mais maldade, mas deles nada ficará, nem da sua riqueza, nem do esplendor da sua glória. Sim, chegou o momento! Esse dia de julgamento desponta rapidamente! Já nada adiantará comprar nem vender seja o que for, porque a ira ardente de Deus já está a aplicar-se na terra. E mesmo que um determinado comerciante consiga sobreviver, o seu comércio desaparecerá, pois Deus falou já contra o povo de Israel; tudo será destruído; nenhum desses cujas vidas estão cheias de pecado poderá refazer a sua existência. Tocam já as trombetas entre o exército israelita: ‘Às armas!’ Mas ninguém escuta, porque a minha indignação caiu sobre eles todos. Se alguém ousa sair fora das muralhas, logo aparece o inimigo para o matar. Para os que se mantêm lá dentro é a peste e a fome que os devoram. Os poucos que conseguirem escapar sentir-se-ão tão sós como as pombas matinais que se escondem pelas montanhas; cada um farta-se de chorar os seus pecados. Todas as mãos se sentirão enfraquecidas e todos os joelhos inconsistentes como a água. Hão de vestir-se de saco; horror e vergonha os cobrirão; raparão a cabeça em sinal de tristeza e remorso. Lançarão a prata nas ruas e jogarão fora o ouro, como desperdício inútil, pois no dia do juízo do Senhor não servirá de nada. Não o poderão gastar para satisfazer os seus desejos nem para encher o estômago, pois o ouro e a prata é que os fizeram tropeçar. Tinham orgulho nas suas belas joias e usaram-nas para fazer ídolos abomináveis! Por isso, eu mesmo as transformei em algo imundo e nojento para eles. Por isso deixarei que os estrangeiros saqueiem as suas riquezas e que os ímpios lhes levem tudo, profanando a sua cidade. Virarei deles o meu rosto, enquanto eles levarão todos os tesouros do meu lugar secreto e deixarão este em ruínas. Preparem cadeias para o meu povo, porque a terra está cheia de crimes sangrentos e Jerusalém repleta de violência. Por isso, farei escravos dos seus habitantes. Esmagarei o seu orgulho, fazendo vir sobre Jerusalém a pior gente de entre os povos, para que ocupem as suas casas, destruam as fortificações de que tanto se gabam e profanem os seus santuários. Chegou a altura da destruição. Hão de procurar ansiosamente a paz, mas não a acharão. Serão atingidos por calamidades umas atrás das outras! Hão de desejar ter um profeta que os guie, mas tanto os sacerdotes como os anciãos, o rei e as altas entidades andarão desamparados, chorando de desespero. O povo tremerá de terror, porque darei a recompensa do mal que têm praticado, terão aquilo que merecem. Saberão, então, que eu sou o Senhor!” Então, no dia 5 do sexto mês, durante o sexto ano do cativeiro do rei Jeconias, enquanto falava com os anciãos de Judá em minha casa, o poder do Senhor Deus caiu sobre mim. Vi algo que parecia ser um homem. Da cintura para baixo era feito de fogo e para cima o seu aspeto era de bronze brilhante, luzindo como fogo. Estendeu aquilo que me pareceu ser uma mão e pegou-me pelos cabelos. O Espírito levantou-me entre o céu e a Terra e numa visão de Deus transportou-me a Jerusalém, até à entrada do portão norte, onde havia um grande ídolo que tinha provocado o ciúme do Senhor. De repente, a glória do Deus de Israel apareceu ali, tal como vira antes no vale. E disse-me: “Homem mortal, olha em direção ao norte!” Então olhei e, com efeito, a norte do portão do altar, à entrada, estava o ídolo. Acrescentou a seguir: “Homem mortal, estás a ver o que eles estão a fazer? Vês os grandes pecados que o povo de Israel está a praticar aqui mesmo, para me afastar do meu santuário? Vou mostrar-te pecados ainda mais abomináveis do que estes!” Levou-me até à porta do átrio do templo e havia um buraco na parede. “Abre ainda mais aquele buraco na parede!” Obedeci e apareceu uma porta. “Entra por essa porta e vê as coisas abomináveis que fazem aqui!” Entrei. As paredes estavam cobertas com pinturas de toda a espécie de serpentes, répteis e criaturas abomináveis, além dos vários ídolos adorados pelo povo de Israel. Setenta anciãos de Israel estavam ali de pé, diante das pinturas, e com eles Jazanias, filho de Safã, e todos adoravam aquilo. Cada um segurava um incensário, cujo fumo se elevava acima das cabeças. O Senhor disse-me: “Homem mortal, vês de que está cheia a mente dos anciãos de Israel? E dizem: ‘O Senhor não nos vê, já abandonou a terra!’ ” E acrescentou: “Vou mostrar-te pecados ainda mais abomináveis do que estes!” Levou-me ao portão norte do templo e estavam ali mulheres sentadas a chorar por Tamuz. “Reparaste bem nisto? Pois vou mostrar-te coisas ainda mais abomináveis!” Trouxe-me depois para o pátio interior do templo e ali à entrada, entre o pórtico e o altar de bronze, estavam cerca de 25 homens de pé, de costas voltadas para o templo do Senhor, virados para o oriente e adorando o Sol. “Estás a ver isto? Para o povo de Israel tudo isto é como se nada fosse e cometem estes terríveis pecados, levando a nação inteira para a idolatria, fazendo pouco de mim e acendendo a minha ira contra eles. Pelo que também procederei com furor. Não terei piedade nem pouparei seja quem for. Ainda que gritem por misericórdia, não os ouvirei!” Então, com grande voz, trovejou aos meus ouvidos, dizendo: “Que se cheguem os responsáveis da cidade, cada um com as suas armas na mão!” Responderam à chamada seis homens, vindos da porta mais ao norte, cada um com a sua arma; um deles, vestido de linho, trazia um tinteiro de escrivão à cintura. Entraram todos no templo e ficaram de pé junto do altar de bronze. E a glória do Deus de Israel levantou-se do querubim sobre o qual estava e pôs-se à entrada do templo. O Senhor disse ao que trazia o tinteiro de escrivão: “Passa pelas ruas de Jerusalém e põe um sinal nas testas daqueles que choram e gemem por causa de todos os pecados que veem à sua volta.” Ouvi o Senhor dizer para os outros: “Sigam através da cidade e matem todos os que não trazem o sinal nas frontes! Não os poupem, não tenham piedade deles! Matem-nos a todos, velhos e novos, moças, mulheres e crianças, mas não toquem em ninguém que traga o sinal! Comecem já por aqui, no templo!” E começaram por matar os 70 anciãos. E continuou dizendo: “Profanem o templo! Encham os pátios com os corpos dos que mataram! Comecem!” E foram através da cidade, fazendo como lhes tinha sido dito. Enquanto cumpriam as ordens, fiquei sozinho. Inclinei-me então a chorar e exclamei: “Ó Senhor Deus! Vais enfurecer-te contra Jerusalém, destruindo os que ficaram de Israel?” Mas disse-me: “Os pecados do povo de Israel e de Judá são muito grandes; toda a terra está cheia de assassínios e de injustiça, porque afirmam: ‘O Senhor não vê nada, já se desinteressou da terra!’ Por isso, não os pouparei nem terei piedade deles. Castigá-los-ei plenamente por tudo quanto têm praticado.” Nesse momento, o homem vestido de linho, que trazia o tinteiro, regressou e disse: “Terminei a missão que me deste!” De repente, um trono de um lindíssimo azul de safira apareceu no firmamento, acima das cabeças dos querubins. O Senhor dirigiu-se ao que trajava de linho: “Vai por entre as rodas, sob os querubins, pega num punhado de brasas acesas e espalha-as sobre a cidade.” Ele assim fez, enquanto eu olhava. Os querubins encontravam-se no extremo sul do templo, quando o homem entrou, e a nuvem de glória encheu o pátio interior. Depois a glória do Senhor ergueu-se sobre os querubins e encaminhou-se para a porta do templo, o qual se encheu com a nuvem de glória, e todo o pátio ficou repleto com o resplendor da glória do Senhor. O som das asas dos querubins era a voz do Deus Todo-Poderoso, quando fala, e podia ouvir-se nitidamente no átrio exterior. Quando o Senhor disse ao homem vestido de linho para avançar por entre os querubins e pegar nas brasas acesas entre as rodas, o homem foi e ficou ao lado de uma das rodas. Um dos querubins estendeu a mão, pegou em algumas das brasas das chamas entre os querubins e pô-las nas mãos do homem de linho, que se afastou depois. Vi que cada querubim tinha, sob as asas, algo semelhante a mãos humanas. Olhei e vi que cada um dos quatro querubins tinha uma roda junto de si e que as rodas brilhavam como topázios. Quanto ao seu aspeto, as quatro tinham a mesma aparência, como se uma roda estivesse perfeitamente entrosada na outra. Devido à construção dessas rodas, os querubins podiam andar sempre direitos, para a frente, para trás e para ambos os lados; não se viravam quando mudavam de direção. Cada conjunto de rodas estava coberto de olhos, incluindo os raios e os aros que as revestiam. Quanto às rodas, ouvi chamá-las de giratórias. Cada um dos quatro querubins tinham quatro faces; o primeiro, como a de um boi; o segundo, de um ser humano; o terceiro, de um leão; o quarto, de uma águia. Então os querubins se elevaram. Eram os mesmos seres que eu vira junto ao rio Quebar. Quando os querubins se moviam, as rodas também se erguiam e ficavam ao lado deles quando se deslocavam. Quando os querubins paravam, as rodas também paravam, porque o espírito dos querubins estava igualmente nas rodas. A glória do Senhor moveu-se desde a porta do templo e ficou por cima dos querubins. Enquanto eu olhava, os querubins foram, com as rodas junto a si, para a porta oriental do templo. A glória do Deus de Israel continuava sobre eles. Estes seres vivos eram os que eu vira debaixo do Deus de Israel junto ao rio Quebar. Verifiquei que eram os mesmos, porque cada um tinha quatro rostos e quatro asas, e aquilo que pareciam mãos, sob as asas. Também as faces eram idênticas às que vira no rio e voavam sem se virarem, tal como os outros. Então o Espírito ergueu-me e levou-me à porta oriental do templo, onde vi 25 das personalidades mais proeminentes da cidade, incluindo dois governadores, Jazanias, filho de Azur, e Pelatias, filho de Benaia. Disse-me o Espírito: “Homem mortal, são estes os responsáveis por todos os ímpios conselhos dados nesta cidade. Pois dizem à população: ‘É tempo de reconstruir Jerusalém, porque é como um escudo que nos protegerá de qualquer dano.’ Portanto, ó homem mortal, profetiza contra eles!” O Espírito do Senhor veio sobre mim e mandou-me dizer isto: “Assim diz o Senhor ao povo de Israel: É isto que vocês dizem? Sim, sei que é, porque conheço todos os vossos pensamentos! Vocês têm multiplicado os vossos assassínios e enchido as ruas com mortos. Por isso, o Senhor Deus diz: Pensam que esta cidade será como um escudo de ferro! Não, não será! Ela não vos protegerá! Aqueles que assassinaram ficaram lá dentro, mas vocês serão arrastados para fora e mortos. Deixar-vos-ei expostos à guerra que tanto temeram, diz o Senhor Deus. Levar-vos-ei de Jerusalém e entregar-vos-ei a estrangeiros que aplicarão as minhas sentenças. Serão abatidos, mesmo que seja junto às fronteiras de Israel, e saberão que eu sou o Senhor. Não, esta cidade não será para vocês como um escudo de ferro, guardando-vos com segurança lá dentro! Perseguir-vos-ei até aos limites extremos de Israel! E saberão que eu sou o Senhor, vocês que não me obedeceram, mas preferiram antes imitar todas as nações à vossa volta.” Enquanto eu estava ainda a falar, Pelatias, filho de Benaia, morreu repentinamente. Então prostrei-me com o rosto no chão e clamei: “ Senhor Deus, irás tu matar também o restante de Israel?” A palavra do Senhor veio de novo: “Homem mortal, o resto da gente que ficou em Jerusalém anda a dizer acerca dos teus próprios irmãos de raça que foram exilados: ‘Foi por causa da sua grande maldade que foram deportados pelo Senhor e agora o Senhor deu-nos a terra toda!’ Mas quanto a esses deportados, diz o Senhor Deus: Ainda que vos tenha espalhado por todas as regiões do mundo, eu mesmo vos servirei de santuário por algum tempo, nessas terras para onde foram. Irei trazer-vos de volta das nações por onde foram espalhados e dar-vos-ei de novo a terra de Israel. Quando regressarem, hão de fazer desaparecer todo e qualquer vestígio desta idolatria abominável. Dar-vos-ei um novo coração e um novo espírito; tirarei os vossos corações de pedra e vos darei corações embrandecidos de amor por Deus. Obedecerão sem dificuldade às minhas leis, serão o meu povo e eu serei o vosso Deus. Mas aos que estão agora em Jerusalém, que anseiam pelos seus abomináveis ídolos, dar-lhes-ei a paga inteira dos seus pecados”, diz o Senhor Deus. Então os querubins elevaram as asas, ergueram-se no ar, com as rodas junto de si, mantendo-se a glória do Deus de Israel acima deles. A glória do Senhor alçou-se de sobre a cidade e pôs-se sobre o monte que está a oriente. O Espírito de Deus transportou-me de novo à Babilónia, junto dos judeus deportados que lá estavam. E assim terminou a visão da minha visita a Jerusalém. Contei aos exilados tudo o que o Senhor me mostrara. A palavra do Senhor veio de novo até mim. “Homem mortal, vives no meio de gente obstinada que podia conhecer a verdade, se quisesse, mas eles não querem. Podiam ouvir-me, se desejassem, mas não estão interessados nisso, porque são rebeldes. Por isso, agora vais demonstrar-lhes o que significa ser exilado. Arruma tudo o que tens em casa, faz um fardo, põe o que puderes às costas e muda-te para outra localidade qualquer. Faz isso à luz do dia, para que todos vejam; pode ainda ser que reflitam sobre o significado do teu gesto, apesar de serem tão contenciosos. Põe tudo o que tens em casa na rua, em pleno dia, aos olhos de toda a gente, mas deixarás a tua casa de noite, como fazem os cativos ao iniciarem a sua longa marcha para terras distantes. Cava uma passagem subterrânea sob a muralha da cidade, à vista deles, e passa as tuas coisas por esse buraco. Sempre à vista deles, põe o fardo às costas e sai pela noite fora; cobre a cara, não olhes à tua volta. Tudo isto é um sinal para o povo de Israel do mal que virá sobre Jerusalém.” Fiz como me foi mandado. Trouxe o fardo das minhas coisas para fora de casa durante o dia, tudo o que podia levar para o exílio, e à noite escavei uma passagem, com as mãos, por debaixo do muro da cidade. Saí depois para o escuro da noite, com o meu fardo sobre os ombros, e o povo esteve a ver-me. Na manhã seguinte, veio até mim esta palavra do Senhor: “Homem mortal, estes rebeldes, o povo de Israel, perguntaram o que significa tudo isto. Comunica-lhes que o Senhor Deus diz que se trata de uma mensagem para o rei Zedequias, em Jerusalém, e para todo o povo de Israel. Explica-lhes que o que fizeste foi uma ilustração simbólica do que irá acontecer-lhes, pois serão levados dos seus lares e enviados para o exílio à força. Até o próprio rei Zedequias sairá de noite por um buraco na muralha, levando consigo apenas o que pode transportar, com o rosto encoberto, para não ser ele mesmo obrigado a ver o que se passa à sua volta. Hei de retê-lo na minha rede e trazê-lo para a Babilónia, a terra dos caldeus, mas não poderá ver essa terra, pois acabará por morrer ali. Dispersarei os seus servos e seus guardas pelos quatro cantos da terra, sem nunca terem descanso, pois serão sempre perseguidos. Quando eu fizer isto, quando os espalhar por entre as nações, hão de reconhecer que eu sou o Senhor. Pouparei, contudo, um punhado deles de morrerem, devido à guerra, fome ou pestes. Salvá-los-ei para que vão contar aos outros povos como as suas práticas foram destestáveis, e estes saberão que eu sou o Senhor.” Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: “Homem mortal, treme quando comeres; raciona a água que bebes como se fossem as últimas gotas em reserva. E diz ao povo que o Senhor Deus manda comunicar-lhes que o povo de Israel e de Jerusalém será obrigado a racionar o alimento e sorver as últimas gotas de água em profundo desespero, por causa de todos os seus pecados. As cidades que estão habitadas serão destruídas e todas a terras serão abandonadas. Então saberão que eu sou o Senhor!” Uma nova mensagem do Senhor veio até mim: “Homem mortal, que ditado é esse que andam a dizer em Israel: ‘Os dias vão passando e mentirosos aos profetas vão chamando!’? O Senhor Deus diz que em breve esse provérbio deixará de ser proferido e que as pessoas dirão antes: ‘Cumpridas serão agora as profecias. Não haverá mais falsas visões, nem profecias enganosas no meio da casa de Israel, porque eu, o Senhor, falarei, e o que eu disser vai cumprir-se sem demora. Não haverá mais tempo de tolerância, ó rebeldes de Israel! Isto acontecerá no tempo da vossa vida!’, diz o Senhor Deus.” Recebi ainda mais esta palavra do Senhor: “Homem mortal, o povo de Israel diz: ‘As suas visões dele só daqui a muito, muito tempo se realizarão.’ Por isso, diz-lhes: O Senhor Deus manda dizer-vos que terminou o prazo de tolerância! A minha palavra cumprir-se-á agora mesmo!” Recebi esta mensagem da parte do Senhor: “Homem mortal, profetiza contra os falsos profetas de Israel que andam a inventar as suas próprias visões, clamando que têm mensagens minhas. Ouçam a palavra do Senhor. Ai dos profetas insensatos que proclamam mensagens inventadas e fabricam as suas próprias visões! Ó Israel, estes vossos falsos profetas valem tanto como raposas para vos ajudarem a construir uma muralha! Ó infelizes profetas, que fizeram vocês para fortalecer os muros de Israel contra os seus inimigos, fortalecendo Israel no dia do Senhor? Ao invés, mentem quando se põem a dizer: ‘A minha mensagem é de Deus!’ Deus não vos enviou e ainda têm o descaramento de esperar que ele cumpra as profecias que inventam. Não neguem que têm dito que receberam visões que afinal nunca viram e que têm dito: ‘Esta mensagem vem de Deus!’, quando a verdade é que nunca vos dirigi a minha palavra! Por isso, diz o Senhor Deus: Destruir-vos-ei por causa dessas falsas visões e mentiras. A minha mão virar-se-á contra vocês e serão expulsos da convivência dos líderes de Israel. Os vossos nomes serão apagados dos registos e nunca mais tornarão a ver a terra. Saberão assim que eu sou o Senhor Deus. Porque estes homens perversos enganam o meu povo, dizendo: ‘Deus mandará paz, enfim!’ Quando não é nada disso que está nos meus planos! É como se o meu povo estivesse a levantar um muro de lama seca e todos esses profetas se pusessem a elogiá-lo, rebocando-o com cal! Diz a esses maus construtores que o muro deles não poderá aguentar; uma forte pancada de chuva deitará tudo ao chão; uma grande saraivada e ventos tempestuosos deitarão tudo abaixo. E quando esses muros se desfizerem, o povo gritará e chorará: ‘Porque é que não nos avisaram que esta matéria não era boa? Porque é que ainda se puseram a rebocar tudo e a cobrir a nossa falha? Sim, podem ter a certeza que o muro cairá!’ O Senhor Deus diz: Fá-lo-ei derrocar com uma tempestade de indignação, com um enorme dilúvio de ira, com saraivadas de cólera. Derrubarei a vossa parede caiada e será sobre vocês mesmos que ela cairá, esmagando-vos. E saberão que eu sou o Senhor. Então a minha cólera contra essa espécie de muralha será satisfeita. Quanto àqueles que a louvavam, direi: Muro e construtores, tudo se foi! Porque eram profetas mentirosos, clamando que Jerusalém terá paz, quando não há paz alguma, diz o Senhor Deus! Homem mortal, fala também contra as mulheres do teu povo, que se dizem profetisas. Denuncia-as e diz-lhes que o Senhor Deus lhes comunica o seguinte: Ai dessas mulheres que andam a destruir a alma do meu povo, tanto de velhos como de novos, atando-lhes adornos enfeitiçadores nos braços, fornecendo-lhes véus mágicos e vendendo-lhes indulgências! Até os auxílios que fornecem têm sempre em vista algum benefício pessoal! Por um punhado de cevada ou um bocado de pão irão afastar de mim o meu povo? Conduziram à morte aqueles que não estavam destinados a morrer! Por outro lado, prometeram a vida aos que não estavam destinados a viver, mentido ao meu povo que tão facilmente escuta a mentira! Portanto, assim diz o Senhor Deus: Esmagar-vos-ei, porque andam a ludibriar a alma do meu povo com vossas feitiçarias. Destruirei esses encantamentos e libertarei o meu povo como se fossem pássaros saindo duma gaiola. Rasgarei os véus mágicos e libertarei o meu povo da vossa influência; não mais serão vossas vítimas e saberão que eu sou o Senhor. As vossas mentiras desencorajaram os retos e eu não queria que isso acontecesse; por outro lado, encorajaram os ímpios, prometendo-lhes vida, ainda que continuem no seu pecado. Vocês não hão de mentir mais; não dirão mais ter tido visões que não tiveram, nem praticarão bruxarias, pois livrarei o meu povo das vossas mãos, destruindo-vos, e vocês saberão que eu sou o Senhor!” Então alguns dos anciãos de Israel vieram e sentaram-se diante de mim. Esta foi a palavra que Deus me enviou para lhes transmitir: “Homem mortal, estas pessoas adoram ídolos nos seus corações e puseram tropeços de maldade diante de si mesmos. Iria eu permitir que se dirijam a mim? Diz-lhes assim: O Senhor Deus comunica-vos o seguinte: Eu, o Senhor, tratarei pessoalmente com cada indivíduo em Israel que adora ídolos. Agirei assim, a fim de reconquistar o coração de todos os israelitas, pois desprezaram-me em troca dos seus ídolos inúteis. Por isso, avisa-os de que o Senhor Deus diz: Arrependam-se e destruam os ídolos, deixem de os adorar no vosso íntimo! Eu, o Senhor, castigarei pessoalmente seja quem for, povo de Israel ou mesmo estrangeiro vivendo no vosso meio, que me rejeita, preferindo ídolos, e que depois ainda vem ter com um profeta para pedir ajuda e conselho. Pôr-me-ei contra ele e farei dele um terrível exemplo da minha punição, e ficarão a saber que eu sou o Senhor. Se algum dos falsos profetas vos trouxer uma mensagem, é mentira. A sua profecia não se cumprirá, eu serei contra esse pretenso profeta e destruí-lo-ei de entre o meu povo de Israel. Falsos profetas e hipócritas, gente má que diz querer as minhas palavras, o que não é verdade, todos esses serão punidos pelos seus pecados. E assim o povo de Israel aprenderá a não me abandonar, a não se poluir com o pecado, mas a ser meu povo e eu o seu Deus. Isto diz o Senhor Deus!” Veio ainda a mim a palavra do Senhor: “Homem mortal, quando o povo desta terra pecar contra mim, eu o esmagarei com o meu punho, tornarei inviável o seu abastecimento de víveres e enviarei a fome para que tudo destrua, gentes e animais. Se Noé, Daniel e Job aqui estivessem hoje, apenas eles se salvariam pela sua justiça; o resto de Israel seria liquidado, diz o Senhor Deus! Se eu mandasse a esta terra uma invasão de animais selvagens que a devastassem, tornando a terra como um deserto que ninguém atravessasse, por medo dessas feras; se esses três homens lá estivessem, o Senhor Deus garante que eles não poderiam livrar os seus próprios filhos e filhas; apenas esses três homens seriam salvos, mas tudo o resto seria assolado. Se trouxesse guerras contra a terra, se mandasse os exércitos inimigos para destruir tudo, mesmo que esses três homens se encontrassem aí no meio, o Senhor Deus garante que eles não poderiam livrar os seus próprios filhos e filhas, mas só eles três seriam salvos. E se derramasse a minha cólera, enviando epidemias e doenças à terra, e essas pragas matassem tanto gente como animais; ainda que Noé, Daniel e Job estivessem a viver ali, o Senhor Deus garante que só eles seriam poupados, por serem justos; nem filhos, nem filhas seriam poupados. O Senhor Deus acrescenta: Quatro grandes castigos se preparam contra Jerusalém, que destruirão toda a vida: a guerra, a fome, os animais ferozes e as pragas. Entretanto, haverá sobreviventes; se eles conseguirem vir até cá para se juntarem a vocês, deportados na Babilónia, verão com os vossos próprios olhos essas pessoas que foram tão más, e saberão que eu tinha razão em destruir Jerusalém. Concordarão, quando os virem, que não terá sido sem razão que tudo isto aconteceu a Israel, diz o Senhor Deus!” Então veio até mim esta mensagem do Senhor: “Homem mortal, para que servem videiras selvagens? Serão úteis como árvores? Serão mais valiosas do que qualquer outro ramo das árvores dos bosques? Não, porque a madeira de videira não serve sequer para fazer estacas ou cabides! Tudo aquilo para que serve é arder, e mesmo para isso não é grande coisa! Portanto, é inútil, tanto antes como depois de ser queimada! Ora o que eu pretendo dizer com isto é o seguinte, diz o Senhor Deus: O povo de Jerusalém é como as videiras selvagens, sem utilidade nenhuma antes de ser queimado e também depois de arder! Eu estarei atento contra eles, para garantir que se escaparem dum fogo venham a cair noutro, e logo saberão que eu sou o Senhor. Arruinarei a terra, pois prestam culto a ídolos, diz o Senhor Deus!” Então veio a mim de novo a palavra do Senhor. “Homem mortal, expõe a Jerusalém os seus atos abomináveis. Fala-lhe que o Senhor Deus lhe diz o seguinte: Tu não és melhor que o povo de Canaã! O teu pai era amorreu e tua mãe hitita! Quando nasceste ninguém cuidou de ti. Quando te encontrei a primeira vez, o teu cordão umbilical não tinha sido cortado e não tinhas sido lavada nem esfregada com sal, nem envolta em panos. Ninguém tinha o menor interesse em ti, ninguém tinha pena de ti. Nesse dia em que nasceste, lançaram-te para o campo, onde te deixaram, indesejada. Mas eu passei por ali e vi-te, ainda coberta com o teu próprio sangue, e disse: Vive! Fiz-te crescer como uma planta no campo! Cresceste, desenvolveste-te, esbelta e elegante, pérola rara entre pérolas. Quando te tornaste rapariga formaram-se os seios, o teu cabelo era lindo, mas não tinhas roupa; andavas descoberta! Mais tarde, quando passei junto de ti e te vi novamente, tinhas já idade de casar; então estendi a minha capa sobre ti, declarando formalmente que casava contigo. Assinei uma aliança contigo e tornaste-te minha, diz o Senhor Deus. Então lavei-te com água, limpei o teu sangue e esfreguei a tua pele com óleo. Depois do casamento, dei-te belas roupas de linho e de seda bordada, sapatos de pele de couro fino. Ofereci-te belos adornos, pulseiras, colares, anéis, brincos, além de uma rica tiara para a testa. Tornaste-te assim uma beleza, coberta de ouro e de prata, de roupa ricamente bordada, de linho e de seda. Passaste a comer delicada comida e a tua beleza aumentou ainda. Parecias uma rainha, e eras, na verdade! Era grande a tua reputação entre os povos, por causa da tua beleza, a qual era perfeita, devido a tudo o que te dei, diz o Senhor Deus. Mas tu pensaste em livrar-te de mim; confiaste na tua formosura e começaste a corromper-te, prostituindo-te com todos os amantes que vinham ao teu encontro para te possuírem. Usaste as belas coisas que te concedi para fazeres santuários para ídolos e para decorar a tua cama de prostituição. Incrível! Nunca jamais se viu uma coisa assim! Pegaste nas joias e nos adornos de ouro e de prata que te dera e fizeste estátuas de figuras humanas, adorando-as, o que representava um grave adultério contra mim. Empregaste a esplêndida roupa bordada que te dei para cobrires os deuses! Até o meu óleo e incenso te serviu para lhes prestares culto! Puseste diante deles a fina farinha, o azeite e o mel que te tinha dado! Usaste isso como sacrifício de amor por eles, diz o Senhor Deus. Pegaste nos filhos e filhas que me tinhas gerado e sacrificaste-os aos teus deuses, consumindo-os no fogo. Não teria bastado que te tivesses prostituído? Tinhas ainda de degolar os meus filhos sobre fogos de estranhos altares? Em todos estes anos de adultério e de pecado, não pensaste uma só vez naqueles dias, que já vão longe, em que andavas nua e manchada do teu próprio sangue. Então, para cúmulo de todas as tuas maldades, e ai, ai de ti, diz o Senhor Deus, edificaste um espaçoso bordel e altares para ídolos em cada rua. Aí oferecias a tua beleza a qualquer que passasse, numa corrente infindável de prostituições. Juntaste-te ainda ao Egito, teu vizinho devasso, e nas tuas prostituições aliaste-te a ele, provocando assim a minha ira. Por isso, te esmaguei com a mão fechada; reduzi as tuas fronteiras e entreguei-te nas mãos dos que te odeiam, os filisteus, e até mesmo esses têm vergonha de ti. Adulteraste também com assírios; a ideia que se tem é que és insaciável, sempre na busca de novos deuses, e depois disso ainda não estavas satisfeita. Então foste prestar culto aos deuses dessa terra de grande comércio e consumo, que é a Babilónia, mas também não ficaste saciada. Que coração sujo tu tens, diz o Senhor Deus, para chegares a fazer semelhantes coisas! És uma meretriz impudica! Tens altares de culto a ídolos e os seus bordéis em cada rua, e foste até pior que uma prostituta! Foste tão sôfrega de pecado que até nem pedias dinheiro pelo amor que cedias! Sim, és como uma mulher descaradamente adúltera que vive com outros homens, desprezando o marido. As meretrizes fazem-se pagar, mas contigo é ao contrário; és tu quem lhes dá presentes para que venham de novo adulterar contigo. Por isso, és diferente de todas as outras; ninguém te forçou a teres a vida que levas; não te pagaram, tu é que lhes pagaste! Ó prostituta, ouve a palavra do Senhor! Diz o Senhor Deus: Perante todos os teus pecados abomináveis, os teus adultérios desbocados com os teus amantes, os cultos que prestas aos ídolos e os sacrifícios dos teus filhos a deuses, eis o que te vou fazer. Juntarei todos os teus aliados, esses amantes que pecaram contigo, tanto os que amaste, como os que odiaste, e despir-te-ei à frente deles, para que possam ver-te tal qual és. Julgar-te-ei como se julga uma assassina e uma mulher que quebrou o seu compromisso conjugal, vivendo com outros; na minha grande indignação castigar-te-ei com a morte. Entregar-te-ei aos teus amantes, essas muitas outras nações, para te destruírem; e destruirão os teus altares e os teus bordéis, despojar-te-ão, tirar-te-ão as belas joias, deixar-te-ão despida e vexada. Incitarão uma multidão contra ti, para te apedrejar e trespassar-te com as suas espadas. Incendiarão os teus lares, castigando-te aos olhos de muitas outras mulheres, e farei com que acabem os teus adultérios com outros deuses e os pagamentos aos teus aliados pelo amor que te dão. Por fim, a minha cólera contra ti cessará; terão fim os meus ciúmes a teu respeito; ficarei em descanso e não mais me encolerizarei contra ti. No entanto, tal não acontecerá sem que antes, devido ao facto de te teres esquecido da tua juventude e provocado a minha cólera com todas estas coisas perversas que praticas, recebas a paga completa dos teus pecados, diz o Senhor Deus. Porque é que, além das coisas degradantes que fizeste, ainda te entregaste a tal depravação? ‘Tal mãe, tal filha!’, é o que toda a gente diz de ti. A tua mãe teve nojo do marido e dos filhos e tu segues-lhe as pisadas. És precisamente como as tuas irmãs que igualmente desprezaram maridos e filhos. Está-se mesmo a ver que a tua mãe foi uma hitita e o teu pai um amorreu. A tua irmã mais velha é Samaria, que vive com suas filhas a norte; a tua irmã mais nova é Sodoma, com as filhas a sul. Tu não pecaste de uma forma vulgar, como elas fizeram! Não, isso para ti não era nada! Tu, em muito pouco tempo, ultrapassaste-as! Tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, que Sodoma e as suas filhas nunca foram tão iníquas como tu e as tuas filhas. Os pecados da tua irmã Sodoma foram o orgulho, a ociosidade, o amor à abundância de tudo, enquanto os pobres e os que sofriam jaziam à sua porta. Ela prestou insolentemente culto a muitos ídolos, à minha vista. Por isso, a esmaguei. Nem mesmo Samaria cometeu metade dos teus pecados. Adoraste muitos mais ídolos do que as tuas irmãs; elas quase que parecem retas quando comparadas contigo! Não te surpreendas, pois, com o castigo mais leve que elas recebem. Os teus pecados são tão tremendos que elas, ao teu lado, até parecem inocentes! Apesar de tudo, é verdade que hei de tornar a restabelecer a prosperidade de Sodoma, de Samaria e das aldeias que te rodeiam. Mas também a ti hei de dar prosperidade como a elas. Sentirás vergonha e humilhação, por causa de tudo o que fizeste, e a tua desgraça dará ânimo às tuas irmãs. Sim, repito, as tuas irmãs, Sodoma e Samaria, e todo o povo delas, será restaurado; e tu e as tuas filhas recuperarão a sua prosperidade naquele dia. Nos dias em que andavas cheia de orgulho, tinhas por Sodoma um desprezo indizível. Mas agora que a tua maldade, muito maior que a dela, é conhecida de toda a gente no mundo, és tu quem é escarnecida por Edom e seus vizinhos, e por todos os filisteus. Isto faz já parte do castigo devido aos teus pecados e às coisas abomináveis que praticaste, diz o Senhor. Porque o Senhor Deus diz: Dar-te-ei a paga de teres quebrado a aliança; com toda a ligeireza rompeste os votos solenes que me fizeste. Ainda que me mantenha fiel à aliança que fiz contigo na tua juventude, hei de estabelecer contigo uma aliança que durará para sempre. E lembrar-te-ás com vergonha de todo o mal que fizeste; serás vencida pela minha graça, quando fizer de tuas irmãs, Samaria e Sodoma, tuas filhas, embora tal não faça parte da minha aliança contigo. Restabelecerei, pois, a minha aliança contigo e saberás que eu sou o Senhor. Apesar de tudo quanto tens feito, serei de novo bom para contigo; ficarás em silêncio e humildade quando eu perdoar o que tens feito, diz o Senhor Deus.” Veio até mim a palavra do Senhor. “Homem mortal, expõe esta parábola ao povo de Israel. Assim diz o Senhor Deus: Uma grande águia, de asas largas e plumagem farta e colorida, veio até ao Líbano e arrancou um ramo da copa do mais alto cedro. Levou-o para uma cidade de comércio intenso e plantou-o ali. Num terreno fértil à beira dum rio, onde poderia crescer rapidamente, como acontece com os salgueiros. Esta ganhou raízes, cresceu e tornou-se numa videira, não muito alta, mas de ramos muito estendidos na direção da águia, produzindo ramos fortes e frutos luxuriantes. Mas quando outra águia muito grande, de asas largas e farta plumagem, igualmente se chegou, esta planta começou a estender as raízes e os ramos na direção desta última, ainda que estivesse num terreno bom e com água; o bastante para se tornar numa esplêndida videira, produzindo folhas e bons frutos. Pergunta o Senhor Deus: Deixarei esta videira desenvolver-se e prosperar? Não! A águia irá arrancá-la, com raízes e tudo! Corta-lhe os ramos e deixa as folhas murchar e morrer. Não é preciso um braço forte nem uma nação poderosa para arrancá-la pelas raízes. Ainda que essa videira tivesse começado muito bem, conseguirá prosperar? Não! Murchará completamente, quando o vento de leste lhe tocar, morrendo no próprio solo em que se dera tão bem.” Então veio até mim esta mensagem do Senhor: “Pergunta a esses rebeldes filhos de Judá: Não compreendem o que significa esta parábola? Pois vou dizer-vos. Nabucodonozor, rei de Babilónia, veio a Jerusalém, levou-lhe o rei e os nobres e trouxe-os para a Babilónia. Depois estabeleceu uma aliança com um membro da família real e fê-lo jurar lealdade. Levou consigo os indivíduos mais importantes, como reféns, para que a nação não voltasse a ser forte e não se revoltasse. Respeitando a sua aliança, Judá poderia ser respeitado e manter a sua identidade. Contudo, Zedequias rebelou-se contra a Babilónia, mandando embaixadores ao Egito, para obter um grande exército e muitos cavalos para combater contra Nabucodonozor. Poderá Judá alguma vez prosperar, depois de ter quebrado dessa forma todos os seus compromissos? Alguma vez se sairia bem? Não! Tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, o rei de Judá morrerá! Zedequias falecerá na Babilónia, onde vive o rei que lhe deu poder e com o qual estabeleceu o acordo que veio a quebrar. O Faraó e todo o seu poderoso exército não servirá de nada para ajudar, quando o rei da Babilónia cercar Jerusalém novamente e destruir muitas vidas. Visto que o rei rompeu as promessas que jurara, não escapará! O Senhor Deus diz: Tão certo como eu viver, castigá-lo-ei, sem falta, por ter desprezado uma aliança feita em meu nome. Lançarei sobre ele a minha rede, será apanhado no meu laço; hei de trazê-lo para a Babilónia e ajustarei contas com ele ali, por me ter traído. Todos os melhores soldados de Judá serão mortos na guerra; os que ficarem na cidade serão espalhados pelos quatro cantos da Terra. Então sim, hão de saber que fui eu, o Senhor, quem falou estas palavras. Diz o Senhor Deus: Eu próprio tomarei o rebento mais tenro do cimo do maior cedro e plantá-lo-ei na mais elevada montanha. No monte alto de Israel o plantarei. Tornar-se-á um cedro notável que dará ramos e frutos. Animais de toda a espécie abrigar-se-ão debaixo dele; os seus ramos servirão de poiso a toda a espécie de aves. E todas as árvores do campo saberão que sou eu, o Senhor, quem deita abaixo as altas árvores e eleva as pequenas, quem faz murchar as árvores verdes e torna verdes as que secavam. Eu, o Senhor, disse que o farei e hei de fazê-lo!” Então veio até mim a seguinte mensagem do Senhor. “Por que razão as pessoas usam este ditado a propósito da terra de Israel: ‘Os pais comeram uvas ácidas e os filhos ficaram com os dentes embotados’? Tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, não hão de dizer mais tal coisa em Israel! Porque todas as almas me pertencem e hão de ser julgadas, tanto pais como filhos, da mesma forma. É unicamente por causa dos seus pecados que uma pessoa morrerá. No entanto, se um indivíduo for justo, se fizer o que for justo e reto, se não andar pelas montanhas a prestar culto perante os ídolos de Israel, adorando-os, se não cometer adultério, se não se deitar com uma mulher durante o período da sua menstruação, se for paciente com os seus devedores, não ficando com os penhores que lhe deixaram os devedores mais pobres, se não roubar, mas antes pelo contrário matar a fome aos que comem mal e vestir os que não têm roupa suficiente, se fizer empréstimos sem usura e se se mantiver longe de tudo o que é pecado, se for reto e justo quando emitir juízos sobre o seu semelhante, se obedecer às minhas leis, então essa pessoa, que é justa, diz o Senhor Deus, certamente viverá. Contudo, se aquele homem tiver um filho que é ladrão ou assassino, crimes que o seu pai nunca cometeu, que recusa obedecer aos mandamentos de Deus, antes presta adoração aos deuses nos montes, comete adultério, oprime os pobres e necessitados, engana os seus devedores, recusando devolver o que lhe entregaram como penhor da dívida, se amar os ídolos e lhes prestar culto, se emprestar dinheiro com usura, poderá esse indivíduo, o filho desse homem, viver? Com certeza que não! Certamente há de morrer por sua própria culpa! Mas se este indivíduo pecador tiver um filho que, vendo toda a maldade do pai, vier a temer a Deus e recusar um tal tipo de vida, se não for para os montes fazer celebrações aos ídolos e adorá-los, se não cometer adultério, se for leal para com os que lhe devem alguma coisa e não os defraudar, se souber alimentar os que têm fome e cobrir os que não têm com que se vestir, se der ajuda aos pobres e não emprestar dinheiro com usura, se obedecer à minha palavra, não será por causa do pecado do seu pai que ele irá morrer, antes com toda a certeza viverá! No entanto, o seu pai sim, esse morrerá por causa da sua própria maldade, porque foi mau, roubou e praticou injustiças. ‘Como?’ perguntam vocês. ‘Então o filho não há de pagar pela maldade do pai?’ Não! Porque se fizer o que é reto e guardar os meus mandamentos, com toda a certeza que há de viver. Aquele que pecar, esse morrerá. O filho não será castigado em consequência da iniquidade dos pais, nem o pai por causa do pecado dos filhos. A pessoa que for reta terá a recompensa da sua retidão, tal como o pecador terá a paga da sua própria maldade. Mas se um pecador se arrepender do seu pecado e começar a cumprir as minhas leis, fazendo o que for justo, certamente que viverá; não morrerá. Todo o seu passado de pecado será esquecido e terá vida em consequência da sua retidão. Vocês julgam que eu tenho prazer em que o pecador morra?, pergunta o Senhor Deus. Com certeza que não! Aquilo que eu pretendo é unicamente que ele abandone os seus caminhos de maldade e viva. E então, se uma pessoa justa começar a pecar e a agir como um outro pecador qualquer, ser-lhe-á conservada a vida? Não, certamente! Toda a sua anterior retidão é esquecida e a morte será o salário do seu pecado. Mas vocês dizem ainda: ‘O Senhor não é justo!’ Ouçam-me, ó povo de Israel! Quem é que é justo afinal, eu ou vocês? Quando uma pessoa justa deixar de o ser e se puser a pecar, morre pelo mal que praticou. Um pecador que se desvia do mal e passa a guardar os meus mandamentos, praticando o que é justo, salvará a sua alma. Reconsiderou a sua vida, decidiu abandonar o pecado e passar a viver uma vida justa. Sem dúvida que há de viver e não morrer. Mas o povo de Israel continua a dizer que o Senhor não é justo! Ó povo de Israel, vocês é que são injustos, não eu. Julgarei cada um, ó povo de Israel, castigarei ou recompensarei cada um conforme as suas ações. Oh! Convertam-se dos vossos pecados, enquanto é tempo! Lancem-nos para bem longe e recebam um novo coração e um novo espírito. Porque haveriam de morrer, ó povo de Israel? Não tenho alegria nenhuma em que morram, diz o Senhor Deus. Convertam-se e vivam! Dirige esta lamentação aos chefes de Israel. Que tipo de mulher foi a vossa mãe? Foi como uma leoa que, deitada entre leões, alimentou e criou os seus filhotes. Um desses filhotes tornou-se um forte leão, aprendeu a lançar-se sobre a presa, fez-se um devorador de gente. Então as nações fizeram um apelo a caçadores que o apanharam e o fizeram cair numa cova armadilhada, trazendo-o depois em cadeias para o Egito. Quando a mãe do leão se deu conta de que todas as esperanças que tinha posto nele se esvaneciam, pegou noutro dos seus cachorrinhos e ensinou-o a ser um verdadeiro rei de feras. Tornou-se assim um chefe entre os leões, aprendeu a capturar as presas e também ele ficou sendo um autêntico devorador de gente. Demoliu os grandes palácios das nações circunvizinhas, arruinou-lhes as cidades, desolou-lhes as plantações, devastou searas. Não havia ninguém que não tremesse de terror ao ouvi-lo rugir. Foi então que os exércitos desses povos em volta o cercaram, lhe armaram uma cilada e o apanharam numa cova. Fizeram-no entrar numa jaula e levaram-no à presença do rei da Babilónia. No cativeiro a sua voz nunca mais ecoaria através das montanhas de Israel. A vossa mãe foi também como uma videira à beira dum rego de água. A sua rama aumentou e deu abundante fruto, por causa de toda aquela água. O ramo mais desenvolvido dessa videira tornou-se num cetro de governante, forte e temível, elevando-se distintamente acima dos outros, sendo visível à distância. No entanto, essa videira foi arrancada com fúria e deitada ao chão. Os seus ramos foram quebrados e secaram com a ajuda dum forte vento oriental. O seu fruto foi todo queimado com fogo. Essa videira está agora plantada num deserto, numa terra árida e seca. O fogo espalhou-se através dum dos seus ramos mais fortes e consumiu toda a ramagem e frutos. Não há nela mais nenhum ramo vigoroso para servir de cetro de governante.” O cumprimento desta lamentação já começou e vai, com toda a certeza, continuar. Aconteceu no dia 10 do quinto mês, no sétimo ano do nosso exílio que alguns anciãos de Israel vieram ter comigo, pedindo-me instruções do Senhor, e sentaram-se diante de mim à espera de resposta. Então o Senhor transmitiu-me esta mensagem: “Homem mortal, diz aos anciãos de Israel, assim diz o Senhor Deus: Como ousam vir consultar-me? Garanto-vos que não direi nada daquilo que esperam! Julga-os tu, homem mortal, condena-os. Lembra-lhes todos os pecados desta nação, desde o tempo dos seus pais até agora. Diz-lhes estas palavras do Senhor Deus: Quando escolhi Israel e me revelei à nação, no Egito, jurei-lhes com a mão erguida, ao povo e aos seus descendentes: Eu sou o Senhor, vosso Deus! Naquele dia jurei solenemente que os tiraria dali e os levaria para uma terra que escolhi especialmente para eles, uma esplêndida terra onde jorra leite e mel, uma terra ótima entre todas as outras. Disse-lhes: ‘Desfaçam-se de toda a espécie de abominações; não se contaminem com os deuses do Egito, porque sou eu o Senhor, vosso Deus!’ Mas eles rebelaram-se contra mim e não quiseram ouvir-me. Não abandonaram os abomináveis ídolos, nem puseram de parte os deuses do Egito. Pensei derramar a minha ira e fazê-los sentir a minha cólera, mesmo ainda quando estavam no Egito. No entanto, não o fiz, porque preferi preservar a honra do meu nome, visto que os egípcios haveriam de rir-se e dizer que o Deus de Israel não tinha sido capaz de os preservar do mal. Foi assim que acabei por tirar de lá o meu povo, mesmo na cara dos egípcios, levando-os para o deserto. Dei-lhes as minhas leis, com as quais, se as cumprissem, poderiam viver. Dei-lhes igualmente os meus sábados como sinal da relação que estabeleci com eles, para que se lembrassem de que sou eu, o Senhor, quem os santifica. Apesar disso, Israel tornou a virar-me as costas. Ali no deserto rejeitaram os meus mandamentos; não quiseram guardá-los, ainda que tal significasse para eles a vida, e desrespeitaram os meus sábados. Por isso, pensei derramar sobre eles a minha cólera e consumi-los totalmente ali mesmo no deserto. Mas novamente me detive, para manter a honra do meu nome, pois não queria que os povos que me viram trazê-los para fora do Egito dissessem que foi por não poder cuidar deles que os destruía. Jurei-lhes, no entanto, que não os levaria para a terra que lhes prometera, essa rica terra onde jorravam leite e mel, o melhor lugar da Terra. Porque se tinham rido das minhas leis, ignorando a minha vontade, abusando dos meus sábados; os seus corações continuavam a correr atrás dos ídolos. Porém, poupei-os e não acabei com eles ali no deserto. Dirigi-me depois aos seus filhos no deserto: ‘Não sigam as leis que os vossos antepassados fizeram, nem sigam as pisadas dos vossos pais; não se contaminem com os ídolos deles. Porque eu sou o Senhor, vosso Deus, sigam as minhas leis e cumpram fielmente os meus mandamentos. Santifiquem os meus sábados, que são um sinal da aliança estabelecida convosco, para vos recordar que eu sou o Senhor, vosso Deus.’ Mas também os filhos deles se revoltaram contra mim e recusaram obedecer às minhas leis, leis que significavam a vida para quem as guardasse, e profanaram os meus sábados. Então disse: ‘Agora sim, é que vou castigar-vos com toda a severidade, aqui no deserto.’ O certo é que novamente desisti da minha sentença contra eles, a fim de proteger o meu nome entre as nações que tinham sido testemunhas do meu poder ao tirá-los do Egito. Em todo o caso, fiz um juramento solene contra eles, enquanto estavam no deserto, que os dispersaria até aos confins da Terra, por não terem obedecido às minhas leis, por as terem desprezado, violado os meus sábados e corrido atrás dos ídolos dos seus pais. Deixei-os adotar costumes e princípios indignos e com essas coisas o destino deles nunca poderia ser a vida! Na esperança de que arrepiassem caminho, horrorizados com as coisas que faziam e que viessem a dar-se conta, enfim, que só eu sou o Senhor, permiti que se poluíssem até com os dons que lhes dera. Chegaram ao ponto de imolar pelo fogo os seus próprios filhos, como sacrifícios aos seus deuses! Homem mortal, dá-lhes a conhecer que o Senhor Deus lhes diz o seguinte: Os vossos pais continuaram a blasfemar de mim e a trair-me, mesmo depois de os ter trazido para a terra que lhes prometera, pois ofereceram sacrifícios e incenso sobre todas as colinas e debaixo das árvores, e suscitaram a minha ira, oferecendo sacrifícios a esses tais deuses. Trouxeram perfumes e incenso e derramaram perante eles as suas ofertas de vinho! Perguntei-lhes: ‘Que lugar de sacrifício é esse onde vão?’ E a partir daí começou a chamar-se lugares altos aos santuários pagãos. Portanto, declara aos israelitas: O Senhor Deus quer saber se vão continuar a contaminar-se, como o fizeram os vossos antepassados, se vão continuar a prostituir-se, entregando-vos a esses ídolos abomináveis? Porque quando lhes trazem ofertas e lhes oferecem em sacrifício as vossas crianças, para serem reduzidas a cinzas, como fazem ainda hoje, haveria eu de ouvir e ajudar-vos, ó Israel? Tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, não hão de receber qualquer outro tipo de mensagem, quando me procurarem. Aquilo que no íntimo desejam, isso não há de acontecer, que é serem como os outros povos à vossa volta e andarem a prestar culto a deuses de madeira e de pedra. Tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, dirigir-vos-ei com pulso de ferro no meio de grande rigor e poder. Com dominação e grande severidade vos trarei das terras para onde foram espalhados. Vou trazer-vos ao deserto do meu tribunal e ali vos julgarei face a face, tal como fiz nos primeiros tempos, também no deserto, após vos ter tirado do Egito, diz o Senhor Deus. Examinar-vos-ei cuidadosamente debaixo da minha vara e vos farei cumprir as obrigações da minha aliança. Os outros, os rebeldes, que pecaram contra mim, expurgá-los-ei do vosso meio. Hei de expusá-los, sim, das terras onde estiverem exilados, mas em Israel não hão de entrar. Quando tal acontecer vocês saberão que eu sou o Senhor! Ó Israel, o Senhor Deus diz: Se insistem em adorar ídolos, continuem. Contudo, mais tarde acabarão por me ouvir e não mais profanarão o meu santo nome com as vossas ofertas e com os vossos ídolos. Porque no meu santo monte, no alto monte de Israel, diz o Senhor Deus, que todo o Israel deverá adorar-me. É lá que aceito e peço que me tragam as vossas oferendas e o melhor dos vossos dons. Vocês mesmos serão para mim como uma oferta de incenso perfumado, quando vos trouxer do exílio, e os outros povos hão de ver a grande mudança do vosso coração. Nessa altura, quando vos tiver trazido para casa, para a terra que já prometera aos vossos antepassados, saberão que eu sou o Senhor. Então, ao considerarem o vosso passado e todos os vossos pecados, terão nojo de vós mesmos, por causa do mal que fizeram. Saberão que eu sou o Senhor, quando eu agir convosco por amor ao meu santo nome, abençoando-vos, a despeito da vossa maldade e atos corruptos, ó Israel, diz o Senhor Deus!” Chegou até mim esta mensagem do Senhor: “Homem mortal, olha em direção ao sul, a Jerusalém, e dirige estas palavras contra ela e contra as terras arborizadas do Negueve. Diz à floresta que fica a sul: Ouve a palavra do Senhor! Acenderei em ti um fogo, ó floresta, que consumirá todas as árvores, tanto as verdes como as que já estão a secar. As chamas ardentes que se levantarem não se extinguirão e estender-se-ão desde o Negueve até às fronteiras do norte. O mundo inteiro se dará conta de que fui eu, o Senhor, que ateei esse fogo, o qual não se apagará.” Então eu disse: “Ó Senhor Deus, eles dizem de mim que não passo de um contador de parábolas!” Foi-me dada esta mensagem da parte de Deus. “Homem mortal, volta-te para Jerusalém e profetiza contra Israel e contra os santuários! Diz o Senhor: eu sou contra ti, Israel; desembainharei a minha espada e destruirei o teu povo, tanto os melhores como os piores. Não pouparei nem o justo, nem o ímpio; farei uma limpeza completa, desde o Negueve até às fronteiras do norte. Todo o mundo saberá que eu sou o Senhor. A espada está na minha mão e não voltará ao seu lugar antes de ter terminado a sua tarefa. Suspira e geme perante o povo, homem mortal, na tua amarga angústia; geme de pesar com o coração partido. Quando te perguntarem a razão disso, responde-lhes que é devido às espantosas notícias que Deus te comunicou. Quando essas coisas vierem a realizar-se, até as pessoas de ânimo mais forte se derreterão de medo; não restará mais força em ninguém; coragem, nem se saberá o que é; os joelhos tremerão. O Senhor Deus diz: A vossa condenação aproxima-se; os meus juízos cumprir-se-ão!” A palavra do Senhor foi-me de novo dirigida: “Homem mortal, fala-lhes assim diz o Senhor: Há uma espada que está a ser afiada e polida. Haverá uma terrível matança, serão agora capazes de rir? Outros, muito mais fortes, já pereceram debaixo das suas cutiladas. Agora ela já está pronta para ser posta nas mãos do algoz. Homem mortal, bate no peito em sinal de profunda consternação, porque essa espada matará o meu povo e todos os seus chefes. Todos, por igual, morrerão. Serão assim submetidos a uma dura prova e que probabilidades terão de escapar, pergunta o Senhor Deus. Profetiza para eles desta maneira: bate palmas vigorosamente; pega numa espada e brande-a duas vezes, mesmo três, simbolizando o grande massacre que vão enfrentar por todos os lados. Os seus corações vão derreter-se de terror, porque uma espada faísca à porta de cada casa; cintila como um relâmpago; está devidamente afiada para executar a matança planeada. Ó espada, fere à direita, fere à esquerda, golpeia em todas as direções que quiseres. Também eu baterei palmas e satisfarei a minha indignação, diz o Senhor!” Veio até mim a palavra do Senhor: “Homem mortal, desenha um mapa e traça dois caminhos para o rei da Babilónia seguir; um para Jerusalém e outro para Rabá, na Transjordânia. No ponto em que essa estrada, que vem da Babilónia, bifurcar nas duas direções, porás um marco com a indicação de ambos os caminhos a seguir. O rei da Babilónia, ao chegar ali, ficará indeciso sobre se deverá atacar Jerusalém ou dirigir-se contra a cidade amonita de Rabá. Chamará os seus mágicos para que adivinhem o melhor caminho a tomar e procurarão tirar à sorte a resposta, agitando as flechas dentro de uma aljava; sacrificarão animais aos seus ídolos e examinarão os fígados. Decidirão tomar o caminho de Jerusalém e, chegando lá, arrombarão os portais da cidade à força de aríetes, clamando que venham todos à matança. Levantarão baluartes e tranqueiras para conseguirem entrar por cima das muralhas. Jerusalém ficará atónita com o que considera uma traição da Babilónia. Como foi, pensarão os habitantes de Jerusalém, que os adivinhos puderam enganar-se tanto? A Babilónia é aliada de Judá, dizem, e jurou defender Jerusalém! Mas para o rei da Babilónia só contam as vezes que o povo se rebelou. Por isso, irá atacá-la e derrotar a sua população.” Diz o Senhor Deus: “A vossa culpa clama insistentemente contra vocês, porque o vosso pecado toda a gente o conhece e é praticado descaradamente. Para onde quer que vão, e o que quer que façam, tudo leva a marca do pecado. Por isso, chegou a altura em que serão levados cativos. E tu, ó rei Zedequias, ímpio chefe de Israel, chegou o dia de prestar finalmente contas. Tira a tua coroa cravejada de joias, diz o Senhor Deus; a ordem antiga foi alterada; agora o pobre é exaltado e o soberbo é abatido. Derrubarei, derrubarei, sim, derrubarei o reino, e a nova ordem que daí advirá será efetivada quando se revelar o homem a quem pertence de direito e a quem será totalmente entregue. Homem mortal, profetiza igualmente para os amonitas, pois riram-se do meu povo, quando proferiram as suas maldições. Diz-lhes o seguinte: Assim diz o Senhor Deus: Contra vocês está também desembainhada a minha espada reluzente; foi afiada e polida; reluz como um relâmpago. Os vossos mágicos e falsos profetas disseram-vos mentiras sobre pretensa segurança e vitórias, afirmando que os vossos deuses vos protegeriam do rei da Babilónia. Foram eles a causa da vossa morte e de outra gente perversa, pois quando chegar o dia do ajuste de contas serão feridos de morte. Mete a espada na bainha! Destruir-te-ei aí mesmo no lugar onde foste criado, na terra onde nasceste. Derramarei a minha ira sobre vocês; soprarei sobre o fogo da minha cólera. Hão de ser entregues nas mãos de gente cruel, hábil em arruinar tudo. Vocês tornar-se-ão no carburante desse fogo; o vosso sangue será derramado na vossa própria terra, donde desaparecerá até a memória da vossa presença. Sou eu, o Senhor, quem disse isto!” Veio até mim outra mensagem do Senhor. “Homem mortal, podes aplicar a Jerusalém o nome de cidade sanguinária; denuncia publicamente as suas abominações. Mostra à cidade que o Senhor Deus diz: És cidade de assassínios, condenada e amaldiçoada, porque mataste tanta gente do teu povo e te contaminaste na adoração de ídolos. Chega agora o dia da tua condenação. És culpada dessas mortes e estás contaminada pelos ídolos que fizeste. Atingiste o limite da tolerância e fizeste aproximar-se o dia do teu julgamento; o teu fim está para breve; por isso permiti que sejas objeto de riso e de censura da parte de toda a gente do mundo. De perto e de longe, as nações se rirão de ti, ó cidade de confusão e discórdia! Cada chefe de Israel que vive dentro das tuas muralhas usa o seu poder e autoridade para cometer assassínios. Pais e mães são desdenhosamente desprezados; estrangeiros e visitantes são obrigados a pagar pela proteção que vocês lhes dão; órfãos e viúvas são explorados. Profanam-se as coisas sagradas; os meus sábados são disso um exemplo. Há gente denunciada falsamente e, nessa única base, condenada à morte. Cada cimo de montanha está coberto de ídolos. Só se vê lascívia por toda a parte. Há homens cometendo adultério com a mulher do seu próprio pai e que se deitam com mulheres durante o período da menstruação. O adultério com a mulher do próximo, com a nora, com a irmã de leite, isso então é coisa comum. Há por toda a parte gente que é paga para matar, gente que extorque e vigariza seja quem for, para obter dinheiro. Mas em mim, e nos meus mandamentos, ninguém pensa, diz o Senhor Deus. Chegou a altura de levantar a mão e impor uma paragem à vossa desonestidade e aos vossos crimes. Agora se verá verdadeiramente a coragem e a afoiteza que têm, quando for o dia de prestar contas. Eu, o Senhor, falei e cumprirei tudo quanto prometi. Espalhar-vos-ei por toda a parte; colocarei um ponto final às vossas práticas indecentes. Hão de ser desprezados no meio das outras nações e, então, saberão que eu sou o Senhor.” A palavra do Senhor tornou a mim nos seguintes termos: “Homem mortal, o povo de Israel é como a escória, sem valor nenhum, que fica no fundo do forno quando se derrete a prata. São como uma liga, que não presta para nada, feita de estanho, bronze, ferro e chumbo. Contudo, o Senhor Deus diz: Visto que são como uma escória que não vale nada, irei trazer-vos para o meio de Jerusalém. Pois da mesma maneira que a prata, o cobre, o ferro, o chumbo e o estanho se amontoam num forno, para serem purificados, com o calor ardente da minha ira os farei derreter como o fogo derrete o metal. Sim, eu mesmo vos reunirei e soprarei sobre vocês o fogo da minha ira, e derreter-se-ão no meio de Jerusalém. Como prata num forno ardente, assim serão derretidos dentro da vossa cidade; então dar-se-ão conta de que eu, o Senhor, derramei a minha ira sobre vocês.” A palavra do Senhor veio novamente a mim, dizendo: “Homem mortal, diz ao povo de Israel: No dia da minha indignação vocês serão como uma terra desértica e selvagem, ou como um deserto que nunca sabe o que é chuva. Os seus profetas conspiram contra o povo como leões preparando o salto sobre a presa. Devoram almas, apoderam-se de fortunas, extorquem tudo que é bom. Multiplicam as viúvas na terra. Os sacerdotes violam a minha Lei, profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o que é santo e o que é profano. As coisas de Deus não passam, para eles, de vulgares tarefas diárias. Não sabem discernir entre o que é cerimonialmente limpo e o que não é. Desprezam os meus sábados. E dessa forma o meu santo nome é profanado no meio deles. Os seus líderes são como lobos que arrebatam as vítimas; são capazes de destruir vidas só para conseguirem determinados lucros. Os seus pretensos profetas descrevem visões que nunca tiveram e pregam falsas mensagens que afirmam ter recebido do Senhor Deus, quando o Senhor, afinal, nunca lhes comunicou uma só palavra que fosse. É como se se pusessem a reparar um muro que está a cair, caiando-o! Oprimem mesmo os pobres e roubam os necessitados; exploram cruelmente os estrangeiros. Em vão procurei alguém que estivesse a tapar e a reconstruir o muro da justiça, que proteja a terra, que estivesse nas brechas, prevenindo-os das minhas justas intenções de os destruir, mas não encontrei ninguém! Por isso, diz o Senhor Deus: Derramarei a minha ira sobre eles; consumi-los-ei com o fogo da minha ira. Sobre eles recai o castigo completo de todos os seus pecados.” Veio a mim novamente a palavra do Senhor. “Homem mortal, havia duas irmãs, filhas da mesma mãe. Em novas tornaram-se prostitutas no Egito e naquelas terras viram seus corpos serem tocados lascivamente; ali os seus seios foram afagados e acariciados pela primeira vez. A mais velha chamava-se Oolá e a outra Oolibá. A primeira corresponde a Samaria e a segunda a Jerusalém. Casei com elas e deram-me filhos e filhas. Mas depois Oolá voltou-se para a prostituição e deixou-me; deu o seu amor aos soldados e oficiais assírios, seus vizinhos. Todos eles eram homens atraentes, jovens comandantes militares e magistrados, que se vestiam de um vistoso azul e pavoneavam nos seus cavalos. E assim ela pecou com eles, que eram a fina flor da Assíria, e adorou os seus ídolos; depravou-se inteiramente. Porque quando deixou o Egito, não abandonou a sua inclinação para a prostituição, antes se manteve tão licenciosa como em jovem, quando os egípcios a cobriam com toda a sua lascívia e a corrompiam moralmente. Por isso, entreguei-a nas mãos dos seus amantes assírios por quem ela tanto ardia de paixão. Então despiram-na, mataram-na e levaram-lhe os filhos como escravos. O nome dela ficou conhecido por todas as mulheres da Terra como o de uma pecadora que recebeu a justa recompensa do seu pecado. Oolibá, apesar de ter visto o que aconteceu à irmã, continuou a viver da mesmíssima maneira, e até pecou ainda mais do que ela. Também aliciou os soldados e oficiais assírios, os tais jovens elegantes, vestidos com primor, oficiais do exército e magistrados nos seus belos uniformes, tudo gente atraente. Vi então o caminho que ela seguia, indo precisamente atrás daquilo que fez a irmã perder-se. Na verdade, esta foi até mais impudica do que Samaria; chegou a ficar apaixonada por imagens que viu pintadas nas paredes! Pinturas de oficiais do exército caldeu, muito aprumados nos seus uniformes vermelhos; apertados nos seus cinturões, cobertos com belos turbantes militares; todos com aparência de príncipes, homens babilónios, nascidos na Caldeia. Quando viu aquelas figuras não teve outra ideia senão entregar-se completamente àqueles homens; e assim mandou mensageiros à Caldeia para os convidar a virem ter com ela. Os homens vieram e adulteraram com ela na sua cama de amores e contaminaram-na com a sua luxúria. Mas depois disso passou a odiá-los e cortou todas as relações com eles. Assim, abandonei-a tal como tinha já abandonado a irmã, por ter andado atrás daquela gente, entregando-se à luxúria. Mas parece que isso não a aborreceu; lançou-se em prostituições ainda maiores, como quando era uma jovem prostituta no Egito. Encheu-se de desejos por aqueles amantes sensuais, de membros desmesurados como os de jumentos e desenfreados como cavalos. E assim comemoraste esses dias passados em que, ainda uma rapariga, deste a tua virgindade a essa gente do Egito. Agora o Senhor Deus diz que levantará contra ti, Oolibá, essas mesmas nações de quem depois te desgostaste e elas te cercarão por todos os lados. Na verdade, os babilónios hão de vir, assim como os caldeus de Pecode, Soa, e Coa, e todos os filhos da Assíria com eles, mancebos atraentes de alta estirpe, montados garbosamente nos seus cavalos. Virão contra ti do lado do norte com carros de combate e um grande exército, completamente apetrechados para o combate. Cercar-te-ão por todos os lados com os seus soldados e deixarei que façam contigo o que bem entenderem. Tens contra ti a minha indignação e tratar-te-ei sem tolerância. Hão de cortar-te o nariz e as orelhas. Os que sobreviverem dessa matança acabarão por morrer com os outros. Os teus filhos serão levados como escravos. Tudo será destruído pelas chamas. Despojar-te-ão das tuas belas roupas e joias. Porei, enfim, um freio à lascívia e prostituição que trouxeste do Egito; não mais terás saudades do Egito e dos seus deuses. Porque o Senhor Deus diz: Certamente te entregarei aos teus inimigos, àqueles que detestavas. Tratar-te-ão com raiva, roubar-te-ão tudo o que tens e ficarás sem nada e nua. As vergonhas das tuas prostituições serão do conhecimento de todo o mundo. Tudo isto trouxeste tu própria sobre ti, por te teres prostituído com as nações à tua volta, corrompendo-te com todos os seus ídolos. Seguiste precisamente as pisadas da tua irmã, por isso, te darei a beber o mesmo cálice de castigo que dei a ela. Sim, as tragédias que caíram sobre ela também desabarão sobre ti, e essa taça que ela foi obrigada a beber era funda e estava cheia. O mundo inteiro se rirá de ti por causa dos teus males. Cambalearás como se estivesses embriagada sob tremendos golpes de amargura e de espanto, como aconteceu com tua irmã Samaria. Numa profunda angústia beberás até à última gota a taça de terror e rasgarás os teus próprios seios. Sou eu próprio quem o anuncia, diz o Senhor Deus! Portanto, assim diz o Senhor Deus: Visto que se esqueceram de mim e me voltaram as costas, terão de suportar totalmente as consequências do vosso pecado.” O Senhor disse-me ainda: “Homem mortal, terás de acusar Oolá e Oolibá de tudo o que de abominável praticaram. Cometeram adultérios e assassínios; adoraram ídolos e mataram os filhos que me tinham gerado, sacrificando-os pelo fogo nos seus altares. Ao mesmo tempo, profanaram o meu templo e ignoraram os meus sábados. Porque quando sacrificavam os seus filhos perante os ídolos, nessas mesmas ocasiões, iam ao meu templo para o profanarem! É esse o respeito que têm por mim! Chegaram a mandar emissários para chamar de terras distantes outros homens; eles vieram e foram muito bem recebidos! Para essa ocasião preparaste-te com toda a atenção, desde um banho cuidadoso, passando pelos cosméticos para te realçarem o rosto e os olhos, até às finas joias com que te adornaste. Sentaste-te numa cama luxuosa e perfumaste o quarto, pondo do meu incenso e do meu óleo sobre uma mesa. Quem estava do lado de fora ouvia sair do teu quarto a barulheira de grande festança; o barulho de gente licenciosa e devassa, que vinha lá do deserto, e que adornava com braceletes os braços das mulheres e colocava belas coroas nas suas cabeças. Então disse eu a respeito da que fora completamente destruída pelos adultérios aos quais se entregou, irão eles prostituir-se ainda mais com ela? Foram mesmo. Tomaram-nas, a Oolá e Oolibá, essas prostitutas desavergonhadas, com o à-vontade de homens devassos que visitam qualquer mulher infame. Pessoas retas, em toda a parte, julgá-las-ão por aquilo que realmente são, adúlteras e assassinas. Serão sentenciadas nos termos exatos da lei que transgrediram. Diz o Senhor Deus: Trarei contra elas um exército que as saqueará e esmagará. Os seus inimigos as apedrejarão e matarão à espada; os seus filhos e filhas serão cruelmente degolados e suas habitações feitas em cinza. Será assim que hei de pôr um fim a toda a devassidão e idolatria desta terra, para que todas as mulheres fiquem advertidas e não se deixem seduzir e influenciar pelo vosso mau exemplo. Serão castigados justamente por essa grande idolatria, por esse culto libertino aos ídolos. Receberão o castigo, sem a menor tolerância. E saberão que só eu sou o Senhor Deus!” No dia 10 do décimo mês, no nono ano do cativeiro do rei Jeconias, veio até mim outra mensagem do Senhor. “Homem mortal, grava a data em que nos encontramos, porque hoje o rei da Babilónia sitiou Jerusalém. Agora expõe esta parábola a Israel, esse povo rebelde. Diz-lhes o que o Senhor Deus lhes manda comunicar: Põe uma panela com água no fogo, a ferver. Enche-a com pedaços de carne do lombo e da perna; emprega só carne de primeira qualidade. Alimenta bem o fogo debaixo da panela e deixa cozer tudo muito bem, até que a carne se desfaça. Porque diz o Senhor Deus: Ai de Jerusalém, cidade de assassínios! És como uma panela já corroída pela ferrugem, pelo pecado. Por isso, tira para fora a carne, pedaço a pedaço, à toa; nenhum pedaço é melhor que outro. A sua maldade é evidente para toda a gente; sem pejo algum comete assassínios, deixando à vista o sangue das vítimas; nem lhe interessa minimamente fazer desaparecer os vestígios dos seus crimes. Por isso, também deixei todas essas marcas à luz do dia, para que fossem como que uma voz a clamar por mim contra ela, reclamando vingança. Portanto, assim diz o Senhor Deus: Ai de Jerusalém, cidade sanguinária! Hei de atear ao máximo o fogo debaixo dela! Amontoa bastante lenha; que o fogo esteja atiçado e a panela bem a ferver. A carne deverá ficar muito bem cozida; depois tira-a da panela e queima os ossos. Em seguida, coloca a panela vazia sobre as brasas para queimar a ferrugem e a corrosão; no entanto, isso de nada servirá. A ferrugem não desaparece assim, ainda que o fogo esteja a arder na sua máxima força. A luxúria e a devassidão fazem parte da vossa impureza! Visto que pretendi purificar-vos, mas recusaram, fiquem então cobertos de imundície, até que a minha ira seja satisfeita, derramando sobre vocês toda a espécie de terrores! Eu, o Senhor, o disse e cumprir-se-á: não voltarei atrás; não pouparei ninguém, nem desistirei dos meus intentos. Conforme o vosso comportamento, os vossos atos, assim serão julgados, diz o Senhor Deus.” De novo veio a mim a palavra do Senhor: “Homem mortal, vou tirar-te a tua mulher, que é o teu encanto. Morrerá de repente, mas não deverás mostrar pesar algum. Não chores; não deixes que te corram as lágrimas. Poderás lamentar-te, mas só em silêncio. Não deixes que haja gemidos à beira da sepultura. Não andes de cabeça destapada nem descalço; não aceites ofertas de comida que os amigos te possam trazer em sinal de simpatia.” Disse estas palavras de manhã ao povo e pela tarde a minha mulher morreu. Na manhã seguinte, fiz tudo como o Senhor me disse. Ouvi o povo que perguntava: “Mas o que é que isto tudo significa? O que pretendes tu dizer-nos com isso?” Respondi-lhes: “O Senhor mandou-me comunicar ao povo de Israel o seguinte: ‘Destruirei o meu belo e admirável santuário, a força da vossa nação. Os vossos filhos e filhas na Judeia serão mortos à espada. Vocês comportar-se-ão então da mesma forma que eu; não cobrirão o vosso rosto em lamentos, nem comerão alimentos que vos sejam trazidos pelos amigos em sinal de simpatia. Não poderão andar nem descalços nem de cabeça descoberta. Não gemerão nem chorarão. No entanto, hão de definhar de remorsos pelos vossos pecados, chorando às escondidas por todo o mal que praticaram. Ezequiel é um sinal para vocês; hão de fazer o mesmo que ele fez. E quando vier esse tempo, então saberão que eu sou o Senhor Deus.’ ” “Homem mortal, no dia em que eu tiver acabado de lhes tirar o templo, que é o seu orgulho, a alegria dos seus corações e glória na Terra, o grande prazer dos seus olhos, o maior desejo do seu coração e a presença feliz dos seus filhos e filhas, nesse dia um refugiado de Jerusalém meter-se-á a caminho para vir à Babilónia contar-te o que aconteceu. No dia em que chegar, far-se-á ouvir a tua voz e conversarás com ele. Serás assim um símbolo para este povo e saberão que eu sou o Senhor!” A palavra do Senhor veio até mim novamente. “Homem mortal, vira-te na direção da terra de Amon e profetiza contra eles: Visto que se riram quando o meu templo foi destruído e se divertiram quando Israel foi arrasada e Judá levado em cativeiro, permitirei que os beduínos do deserto a oriente vos ocupem a terra. Levantarão acampamentos entre vocês e ali habitarão; alimentar-se-ão fartamente da vossa fruta e beberão da vossa produção de leite. Farei com que a cidade de Rabá se torne um pasto para os seus camelos e todo o país dos amonitas numa terra onde apenas pastem rebanhos de carneiros. Então dar-se-ão conta de que eu sou o Senhor. Porque assim diz o Senhor Deus: Visto que aplaudiram e festejaram com barulho e com vivas a destruição do meu povo, assim também deixarei cair pesadamente a minha mão sobre vocês, entregando-vos a muitos outros povos para que vos destruam. Farei com que desapareçam e deixem de ser uma nação para sempre. Liquidar-vos-ei e, então, hão de saber que eu sou o Senhor!” Diz o Senhor Deus: “Devido ao facto dos moabitas terem dito que Judá não vale mais do que qualquer outra nação, abrirei o flanco oriental de Moabe e farei açoitar todas aquelas povoações fronteiriças que são o orgulho da nação, Bete-Jesimote, Baal-Meom e até Quiriataim. Deixarei que as tribos beduínas do lado oriental do deserto conquistem Moabe, juntamente com Amon, para que Moabe deixe de ser contada entre as nações. É assim que executarei o meu julgamento sobre os moabitas. E saberão que eu sou o Senhor!” Diz o Senhor Deus: “Como o povo de Edom pecou enormemente, vingando-se a si próprio do povo de Judá, esmagarei Edom com o meu punho fechado e açoitarei tanto o povo como o gado e rebanhos. A espada tudo destruirá, desde Temã até Dedã. E isto será feito pela mão do meu povo de Israel. Serão eles que executarão o meu castigo, afirma o Senhor Deus.” Diz o Senhor Deus: “Visto que os filisteus atuaram contra Judá, vingando-se raivosamente por si próprios, e com um ódio desmedido buscaram destruí-los, levantarei o meu punho ameaçador contra a terra dos filisteus e castigarei duramente os cretenses; destruirei completamente todos os que estão estabelecidos ao longo da costa marítima. Executarei tremendas sentenças sobre eles, para os repreender por terem feito o que fizeram. E quando tudo isso acontecer, hão de ver que eu sou o Senhor!” Recebi mais uma mensagem do Senhor, no primeiro dia do mês, durante o décimo primeiro ano após o cativeiro do rei Jeconias. “Homem mortal, Tiro regozijou-se com a queda de Jerusalém, dizendo: ‘Ah! Ah! Acabou por ser assolada aquela que era a porta das nações! Fiquei seu herdeiro! A sua perdição é a minha riqueza!’ Por essa razão, diz assim o Senhor Deus: Estou contra ti, Tiro! Trarei contra ti nações como se fossem marés vivas contra a costa. Destruirão os muros da cidade, derrubarão as torres; darei cabo do seu solo; torná-la-ei numa penha descalvada. As suas terras no meio do mar ficarão desabitadas, um lugar solitário para os pescadores consertarem as redes. Sou eu quem o promete, diz o Senhor Deus! Tiro virá a ser uma presa para muitas nações. A guerra fará desaparecer a sua grande cidade no continente e todos se darão conta, enfim, de que eu sou o Senhor! Diz o Senhor Deus: Trarei Nabucodonozor rei da Babilónia, o rei dos outros reis do norte, com cavalaria e carros de combate e todo o seu exército para atacar Tiro. Primeiro destruirá os teus subúrbios, depois a cidade em si, através dum cerco apertadíssimo e duma barreira de escudos sobre ela. Forçará as tuas muralhas com uma bateria de aríetes que as demolirão. As casas estremecerão com o galope dos cavalos irrompendo pela cidade e com o estrépito dos carros atravessando as ruas e os cascos dos cavalos levantando nuvens de pó. Todas as vias públicas estarão ocupadas com soldados, que degolarão os habitantes e demolirão os teus famosos e enormes pilares. Saquearão todas as riquezas e ricas mercadorias; arrasarão as belas construções. Lindas vivendas ficarão em pó e atirarão todo esse entulho para o mar. Farei com que não se ouça mais o eco de músicas e canções. Não serás mais do que uma rocha nua, árida; um lugar solitário para a gente do mar pôr as redes a secar. Nunca mais te reedificarão. Fui eu o Senhor Deus quem o disse! É a minha palavra! Toda aquela região estremecerá com o estrondo da tua queda. Os gritos dos feridos andarão no ar, à medida que a matança for avançando. E todos os governadores dos portos deixarão os seus palácios, despirão os fatos principescos, tirarão as insígnias de autoridade, sentar-se-ão no chão, tremendo com aquilo a assistem. E comporão uma lamentação com os seguintes dizeres: ‘Ó poderosa cidade marítima, com o teu poder naval que aterrorizou todos quantos vivem no interior, como foi que desapareceste do mar? Até as terras do outro lado do mar estremeceram no dia da tua queda! Ficaram estarrecidas ao receberem tal notícia.’ Diz o Senhor Deus: Tiro, tu serás arrasada e tornar-te-ás numa cidade deserta. Ficarás submersa sob as tremendas vagas. O mar te engolirá. Far-te-ei descer ao mais profundo abismo, para aí ficares com aqueles que já lá estão há muito tempo. A tua cidade ficará em ruínas, morta como os corpos daqueles que foram enterrados e que, desde há muito, penetraram nas profundezas do mundo da morte. Nunca mais serás habitada nem te revestirão de beleza aqui, na terra dos vivos. Dar-te-ei um fim horroroso; nunca mais te reencontrarão, diz o Senhor Deus!” Veio a mim a palavra do Senhor. “Homem mortal, dirige esta lamentação, em voz alta, a Tiro. Ó poderoso porto do mar, centro mundial de comércio, eis o que o Senhor Deus te diz: Clamas a toda a gente: ‘Sou a mais bela cidade do mundo!’ Na verdade, estendeste os teus limites para além do mar. Os teus arquitetos fizeram de ti uma glória. És como aqueles belos barcos da mais escolhida faia de Senir; trouxeram um cedro do Líbano para o teu mastro. Os teus remos são de carvalho de Basã, o convés é de pinho da costa do sul de Chipre, revestido do mais precioso mármore. As velas são do mais fino linho do Egito; as cobertas, no convés, esplendorosamente tingidas de escarlate e de púrpura de Elisá. Os teus marinheiros vêm de Sídon e de Arvade; ó Tiro, os teus pilotos são uma gente muito sábia. Hábeis e velhos carpinteiros de Gebal encarregavam-se das reparações. Marinheiros, barcos e gentes de toda a Terra viam-se no teu porto, com mercadorias, para negociar contigo. O teu exército incluía homens da Pérsia, de Lude e de Pute; era para ti uma honra teres os seus escudos e capacetes pendurados nas tuas paredes. As sentinelas eram escolhidas entre a gente de Arvade e Heleque, e os vigias das torres eram de Gamade. Lá estão os seus escudos, alinhados e pendurados nas paredes, para dar mais brilho à tua glória. De Társis vinha toda a espécie de mercadorias, para serem transacionadas nos teus mercados; prata, ferro, estanho e chumbo. Negociantes da Grécia, de Tubal e de Meseque traziam escravos, e também vasos de bronze. De Togarma vinham às tuas feiras com cavalos e com mulas. Também de Dedã vinham mercadores. Em muitas cidades costeiras tinhas o monopólio absoluto do comércio e pagavam-te com ébano e marfim. Aram enviava mercadores para negociarem as tuas mercadorias. Traziam, para te vender, esmeraldas e tinta de púrpura, bordados, linho fino, coral e rubis. Judá e a terra onde era antes o reino de Israel enviavam comerciantes com trigo de Minite e também com mel, azeite e bálsamo. Vinham também de Damasco, com vinho de Helbom e com branca lã de Saar, negociar contigo. Dan e Javã, da região de Uzal, trocaram pelos teus artigos ferro trabalhado, canela e cana-de-açúcar, enquanto Dedã exibia caríssimos panos para selas. Os árabes e os ricos príncipes mercadores de Quedar trouxeram-te cordeiros, carneiros e bodes. Os negociantes de Sabá e Ramá vinham com toda a espécie de especiarias, com joalharia e ouro. Gentes de Harã, Cané, Éden, Sabá, Assur e Quilmade eram marchantes nas tuas feiras. Negociavam contigo toda a sorte de artigos, tecidos de azul, bordados, carpetes de cores preciosas, tudo muito bem embalado em baús de madeira de cedro, seguramente amarrados com cordas. Os navios de Társis eram as tuas caravanas; tinhas armazéns, para além do mar, cheios até ao teto! Mas os teus governantes levaram o barco do governo para dentro dum furacão. O vosso poderoso navio anda à deriva, empurrado pelos fortes ventos orientais. Afundar-te-ás no coração dos mares! Tudo se perderá! Tesouros, riquezas, marinheiros e pilotos, construtores navais, mercadores, militares e todo o povo! Tudo se afundará no mar no dia da vossa vasta ruína! As povoações mais próximas estremecerão ao ouvirem os teus pilotos gritando de terror. Os teus marinheiros que andavam fora, em viagem no mar, ao chegar a terra, chorarão amargamente e atirarão pó sobre a cabeça, em sinal de desespero, e revolver-se-ão nas cinzas. Raparão as cabeças, em sinal de luto, e vestir-se-ão com pano de saco, chorando em voz alta e com coração partido. Isto é o que dirão ao lamentarem-se: ‘Onde é que no mundo houve uma cidade tão portentosa como esta cidade de Tiro, reduzida ao silêncio da morte, no meio dos mares? As tuas mercadorias davam satisfação às necessidades de muitas nações. Reis das extremidades da Terra alegravam-se com as coisas que lhes mandavas. Agora aí estás, jazendo morta no fundo do abismo. Todas as tuas mercadorias e toda a tua população pereceu contigo. Todos os habitantes das terras ao longo da costa ficam a meditar no que te aconteceu, ainda meio incrédulos. Os seus reis estão arrepiados e desfiguram o rosto com apreensão. Os homens de negócio das nações abanam a cabeça, constatando que tiveste um destino desgraçado e que nunca, nunca mais tornarás a ser o que foste!’ ” Eis aqui outra mensagem que me foi dada da parte do Senhor. “Homem mortal, diz ao governador de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: És tão orgulhoso que pensas que és um deus e que te sentas no trono de um deus no meio dos mares. Mas não passas de um mero ser humano; não és nenhum deus; de nada te vale andares a pretender seres como um deus. Julgas-te mais sábio do que Daniel e que não há segredo que não saibas. Na verdade, soubeste usar a tua sabedoria e o teu entendimento para obteres grandes fortunas em ouro, prata e muitos outros tesouros. Sim, a tua sabedoria tornou-te tão rico como orgulhoso! Por isso, te diz o Senhor Deus: Visto que andas a pretender ser tão sábio como um deus, um exército inimigo, terror das nações, repentinamente sacará das suas espadas contra a tua maravilhosa sabedoria e manchará o teu esplendor! Levar-te-á ao poço do inferno e morrerás como alguém ferido por golpes mortais, aí na tua ilha no meio dos oceanos. Continuarás depois a gabar-te que és um deus? Pelo menos, para esses invasores não és tido por um deus, não! Eles sabem que não passas de um simples homem! Morrerás como um pagão às mãos de estrangeiros. Sou eu, o Senhor Deus, quem diz isto!” Recebi ainda mais esta mensagem da parte do Senhor: “Homem mortal, chora pelo rei de Tiro. Diz-lhe estas palavras da parte do Senhor Deus: Eras a perfeição em sabedoria e beleza. Moravas no Éden, o jardim de Deus, e cobrias-te de toda a espécie de pedras preciosas, rubis, topázios, diamantes, berilos, ónix, jaspe, safiras, carbúnculos, esmeraldas, e ainda te cobrias de ouro. Tudo te foi dado quando foste criado. Nomeei-te querubim com a missão de proteger; tinhas acesso ao monte santo de Deus e deslocavas-te por entre pedras reluzentes como fogo. Eras perfeito em tudo o que fazias, desde o dia em que foste criado até à altura em que foi encontrado o mal em ti. A tua grande riqueza encheu o teu interior de violência e pecaste. Por isso, te expulsei da montanha de Deus, como qualquer pecador comum. Destruí-te, ó querubim protetor! Tirei-te para fora das pedras de fogo! O teu coração estava cheio de orgulho, por causa da tua beleza, e deixaste que a tua sabedoria se corrompesse com o esplendor que tinhas. Foi por essa razão que te derrubei e expus à curiosidade dos reis. Sujaste a tua santidade com a luxúria e a ganância. Então fiz sair fogo das tuas ações, que te consumiu a ti próprio e te reduziu a cinzas, à vista de toda a gente. Todos os que te conhecem estão espantados perante aquilo em que te tornaste. És uma ilustração do que pode ser o terror. Estás destruído para sempre!” Então recebi outra mensagem da parte do Senhor: “Homem mortal, volta-te na direção da cidade de Sídon e profetiza contra ela. Diz-lhes assim: Esta é a palavra do Senhor Deus: Sou teu inimigo, ó Sídon, e revelarei o meu poder sobre ti. Quando te destruir e der a conhecer o que é a minha santidade, ao castigar-te, todos os que assistirem a isso dar-se-ão conta de que eu sou o Senhor. Enviarei contra ti a peste mais um exército para te destruir; os feridos serão liquidados pelas tropas inimigas no meio das ruas, por toda a parte. Nessa altura, reconhecerás que eu sou o Senhor! Israel nunca mais terá vizinhos maldosos que a firam como espinheiros e silvas com os seus espinhos pontiagudos e dolorosos. E todos saberão que eu sou o Senhor Deus! Assim diz o Senhor Deus: O povo de Israel poderá de novo viver na sua própria terra, a terra que dei ao seu pai Jacob; hei de tornar a juntá-los das terras onde os espalhei e as nações de todo o mundo verão a minha santidade efetivada entre o meu povo. Este viverá seguro no seu país, construirá os seus lares, plantará as suas vinhas. Quando, enfim, castigar as nações vizinhas que tanto os desprezaram, então elas verificarão que eu sou realmente o Senhor, seu Deus!” No dia 12 do décimo mês, do décimo ano da prisão do rei Jeconias, veio até mim a mensagem do Senhor. “Homem mortal, vira-te para o Egito e profetiza contra o seu rei, o Faraó, e contra todo o seu povo. Comunica-lhes o que o Senhor Deus diz: Sou teu inimigo, ó Faraó, rei do Egito, poderoso monstro marinho que te estendes no meio dos teus rios. Tu disseste: ‘É meu, o Nilo! Criei-o para mim próprio!’ Por isso, te porei anzóis no nariz e tirar-te-ei para fora da terra com peixes colados às tuas escamas. Deixar-te-ei morrer no deserto, não só a ti, mas também a todo o teu peixe, sem mesmo serem enterrados. Servirás de alimento aos animais selvagens e aos pássaros. Então todos os habitantes do Egito saberão que eu sou o Senhor! A tua força, com a qual Israel contava, falhou. Israel apoiou-se em ti, mas eras um bordão já rachado. Ao pegar-te com a mão, acabaste por te partir, rasgaste-lhe o ombro, deixaste-o incapaz de se mexer. Por isso, te diz o Senhor Deus: Trarei um exército contra ti, ó Egito, que destruirá tanto as pessoas como os animais. A terra do Egito há de tornar-se numa região desolada e os seus habitantes dar-se-ão conta de que eu sou o Senhor, e que fiz tal coisa. Tu dizes: ‘O Nilo é meu! Fui eu quem o fiz!’ Por isso, estou contra ti e contra o teu rio; arrasarei completamente a tua terra, desde Migdol até Assuão e até aos confins de Cuche. Durante 40 anos não passará vivalma por lá, seja gente, sejam animais! Ninguém viverá ali! Farei do Egito uma desolação, rodeada de nações desoladas. As suas cidades manter-se-ão em ruínas durante 40 anos. Mandarei os egípcios exilados para outras terras. No entanto, o Senhor Deus diz: Passados esses 40 anos, tornarei a trazer os egípcios das nações para onde foram banidos. Restaurarei as riquezas do Egito e farei com que regressem à região de Patros, no sul do Egito, à sua terra natal. Contudo, não passará dum país de menor importância, sem projeção. Será apenas mais uma nação subdesenvolvida; nunca mais se levantará acima das outras; jamais atingirá a importância que tinha antes. Israel nunca mais esperará que lhes venha ajuda da parte do Egito. Sempre que pensar em tal coisa, logo se lembrará do pecado que antes cometeu, ao confiar em tal auxílio. E Israel saberá que só eu sou o Senhor Deus!” No vigésimo sétimo ano do cativeiro do rei Jeconias, no primeiro dia do primeiro mês, veio até mim esta mensagem da parte do Senhor: “Homem mortal, o exército do rei Nabucodonozor da Babilónia combateu duramente contra Tiro. As cabeças dos soldados tornaram-se calvas; os seus ombros esfolaram-se e empolaram. Nabucodonozor não recebeu por isso nenhuma compensação nem pôde pagar ao exército por todo esse trabalho. Por isso, diz o Senhor Deus, lhe será dada a terra do Egito. O rei Nabucodonozor levará consigo todas as riquezas egípcias como compensação, pois tem trabalhado para mim durante estes 13 anos em Tiro, diz o Senhor Deus. Naquele dia farei desabrochar o poder na casa de Israel e deixarei que tu, Ezequiel, lhe dirijas de novo a palavra. Então todos entenderão que eu sou o Senhor!” Eis aqui outra mensagem do Senhor. “Homem mortal, profetiza assim: Diz o Senhor Deus: Chora, porque aquele terrível dia está quase a chegar! O dia do Senhor, dia de obscuridade, carregado de nuvens, dia de desespero para muitas nações! Uma espada cairá sobre o Egito e grande angústia sobre Cuche, e os mortos cobrirão o chão; levarão para longe as riquezas dessa nação; os seus fundamentos serão destruídos. A terra de Cuche será devastada. Cuche, Pute, Lude, a Arábia e a Líbia, assim como todas as terras que se coligaram com elas, perecerão nessa guerra. Diz o Senhor: Todos os aliados do Egito perecerão e terminará a soberba da sua força. De Migdol até Assuão, todos serão mortos pela guerra, diz o Senhor Deus. Tornar-se-ão desoladas, rodeadas de outras tantas nações desoladas, com as suas cidades em ruínas, rodeadas de outras tantas cidades feitas em escombros. E reconhecerão que eu sou o Senhor, quando tiver posto o Egito a ferro e fogo; e não só o Egito mas até os seus aliados. Por esse tempo, enviarei mensageiros em barcos que levarão o pânico aos cuchitas, que se acham auto-suficientes; grande terror cairá sobre eles, nesse tempo de condenação para o Egito. Tudo isso acontecerá realmente. Assim diz o Senhor Deus: Nabucodonozor rei da Babilónia, destruirá as multidões do Egito. Tanto ele como os seus exércitos, o terror das nações, serão mandados para destruírem a terra. Combaterão e cobrirão o solo de mortos. Farei secar o Nilo e venderei a terra a gente má. Destruirei o Egito e tudo o que nele existe, e serão estrangeiros quem o fará. Sou eu, o Senhor, quem garante isso! Assim diz o Senhor Deus: Esmagarei os ídolos do Egito e as imagens de Menfis; deixará de haver um rei no Egito; será a anarquia absoluta, o desgoverno total! Ali espalharei o terror. Farei com que a região de Patros, no sul do Egito, fique num deserto, e Zoã e Tebes serão assoladas, incendiadas pela minha mão. Derramarei a minha fúria sobre Pelusium, a fortaleza mais inexpugnável do Egito, e exterminarei o povo de Tebes. Sim, atearei fogo ao Egito! Pelusium será torturada pela dor; Tebes será dilacerada; Menfis andará diariamente em terror. Os moços de Heliópolis e de Bubastis morrerão na guerra e as mulheres serão levadas como escravas. Quando eu vier para quebrar o poder do Egito, esse será um dia negro também para Tafnes; uma escura nuvem a cobrirá e as suas filhas serão levadas cativas. Será dessa forma que hei de castigar exemplarmente o Egito. E saberão que eu sou o Senhor!” Um ano mais tarde, no sétimo dia do primeiro mês, do décimo primeiro ano do cativeiro do rei Jeconias, recebi esta mensagem: “Homem mortal, eu quebrei o braço do Faraó, o rei do Egito, e não o puseram em gesso, não lhe ataram ligaduras para o curar, para que pudesse novamente pegar em armas. Porque o Senhor Deus diz: Eu sou contra o Faraó, o rei do Egito, e partir-lhe-ei ambos os braços, tanto o que ainda estava são, como o que já antes fora quebrado, e a arma que segurava cair-lhe-á no chão. Os egípcios serão deportados para muitas terras. Reforçarei os braços do rei da Babilónia, e colocar-lhe-ei a minha espada nas mãos. Os braços do rei do Egito ficarão, pois, inertes, e ele gemerá na presença do rei da Babilónia como alguém que foi ferido de morte. Fortalecerei as mãos do rei da Babilónia, enquanto os braços do Faraó lhe penderão inúteis ao longo do corpo. Sim, quando colocar a minha espada nas mãos do rei da Babilónia, e ele a fustigar sobre o Egito, este dar-se-á conta de que eu sou o Senhor. Espalharei os egípcios entre as nações; e então saberão que eu sou o Senhor.” No primeiro dia do terceiro mês, do décimo primeiro ano do cativeiro do rei Jeconias, recebi esta palavra do Senhor. “Homem mortal, diz o seguinte ao Faraó, rei do Egito, e a todo o seu povo: Quem se pode comparar contigo, na tua grandeza? Vocês são como a Assíria era, uma grande e poderosa nação, semelhante a um cedro do Líbano cheio de grossos ramos e frondosas ramagens, com o seu cimo a chegar às nuvens. As suas raízes penetraram profundamente na terra húmida; desenvolveu-se luxuriantemente; havia água para ela e ainda para as outras árvores à sua volta. Elevou-se acima de todas as outras; prosperou e desenvolveu em si esplêndidos ramos, por causa da fertilidade do terreno em que penetravam as raízes. As aves fizeram os ninhos nas suas ramagens e foi à sua fresca sombra que muitos animais do campo tiveram as crias. Aliás, poder-se-ia dizer que todas as grandes nações da Terra viveram à sua sombra. Tornou-se assim forte e admirável, por causa das águas que as raízes conseguiram ir buscar ao fundo da terra. Era mais alta do que todas as árvores do jardim de Deus; não havia cipreste que tivesse ramos como os seus; não havia plátanos com ramagem que se lhe comparasse, nem nada a igualava em beleza. Devido a toda aquela magnificência que lhe dei, tornou-se alvo de inveja de todas as árvores do Éden. Mas o Egito fez-se orgulhoso e arrogante, diz o Senhor Deus. Por isso, devido a ter-se posto tão acima das outras, chegando até às nuvens, entregá-lo-ei nas mãos de uma tremenda nação que a destruirá, tal como merece a sua maldade. Eu próprio o derrubarei. Um exército estrangeiro, o terror das nações, invadir-lhe-á a terra, derrubá-la-á e abandoná-la-á tombada no chão. Os seus ramos serão cortados e espalhados pelas montanhas, vales e ribeiros da terra. Todos os que se abrigavam à sua sombra partirão, não lhe ligando mais importância alguma. Os pássaros arrancarão os seus rebentos verdes; só os animais selvagens procurarão ainda abrigo no que lhe resta de ramos secos. Daqui em diante, nenhuma outra árvore próxima das águas chegará a erguer-se orgulhosamente tão alto, com a sua copa sobre ramos bem espessos; porque todos estão condenados a morrer, como os homens mortais, e a descer às profundezas da Terra, como os mortos descem ao sepulcro. Diz o Senhor Deus: Quando ele caiu, fiz os oceanos vestirem-se de luto por ele e refreei as suas correntes. Também o Líbano se pôs de luto e as suas árvores choraram. Fiz as nações tremerem de medo ao ouvirem a notícia da sua queda, pois mandei-o descer ao mundo dos mortos, e todos os que eram iguais a ele. Todas as outras orgulhosas árvores do Éden, as melhores e as mais excelentes que havia no Líbano, cujas raízes iam buscar bem fundo a água, ficam satisfeitas por vê-las também ali com elas. Também os seus aliados foram todos destruídos e pereceram com ele. Desceram juntamente ao mundo dos mortos aqueles povos que tinham vivido à sua sombra. Ó Egito, és glorioso e magnificente entre as outras árvores do jardim de Deus, as outras nações do mundo! Porém, serás abatido até às profundezas da Terra com todas essas nações! Serás atirado para o meio dos pagãos que foram mortos pela espada! É este o destino do Faraó e das multidões que constituem o seu povo, diz o Senhor Deus!” No primeiro dia do décimo segundo mês, no décimo segundo ano do cativeiro do rei Jeconias, veio a mim esta palavra do Senhor. “Homem mortal, chora por Faraó, o rei do Egito, e diz-lhe: Pensas que és tão forte como um leão novo, no meio dos povos, mas não passas dum mero monstro marinho arrastando-se nos bancos de areia do rio, fazendo borbulhar a água e remexendo o lodo. Diz o Senhor Deus: Mandarei um grande exército para te apanhar com a minha rede. Arrastar-te-ei e ficarás abandonado no chão até morreres. As aves dos céus voarão para ti e os animais selvagens de toda a Terra devorar-te-ão até estarem fartos e cheios. Cobrirei as colinas com a tua carne, atulharei os vales com os teus ossos. Ensoparei a terra com o teu sangue ainda a jorrar; as ravinas mais profundas encher-se-ão até ao cimo das montanhas. Desaparecerás totalmente. Cobrirei os céus, escurecerei as estrelas. O Sol deixará de se ver, escondido por uma espessa nuvem, e a Lua não mais brilhará. É verdade! Em toda a terra não haverá senão escuridão! Nem as estrelas no firmamente terão luz, diz o Senhor Deus! Quando te destruir, haverá uma sensação de abatimento no coração de muitos povos distantes que tu nunca viste. Sim, muitas terras serão sacudidas pelo terror! Muitos governantes ficarão tremendamente aflitos devido ao que te fiz. Estremecerão de pânico quando brandir a minha espada perante eles. Tremerão pelas suas vidas no dia da tua queda. Diz o Senhor Deus: Virá sobre vocês a espada do rei da Babilónia. Destruir-te-ei com o seu poderoso exército, o terror das nações, que esmigalhará o orgulho do Egito e todo o seu povo; todos perecerão. Liquidarei todos os teus rebanhos e todo o teu gado que pasta junto aos ribeiros; nem os homens nem os animais remexerão jamais essas águas. Por isso, as torrentes do Egito passarão a permanecer claras e fluídas como o azeite que se escoa aveludadamente, diz o Senhor Deus. Quando eu destruir o Egito e varrer da sua terra tudo o que lá existe, então ele saberá que fui eu, o Senhor, quem fez tal coisa. Sim, chorem por causa das angústias do Egito! Que todas as nações derramem lágrimas por ele e pelo seu povo! Diz o Senhor Deus.” No décimo segundo ano, no décimo quinto dia do mesmo mês, recebi outra mensagem do Senhor. “Homem mortal, chora pelo povo do Egito e também pelas outras poderosas nações. Serão mandadas para o mundo inferior, para junto dos residentes do inferno. Diz-lhes: Serás tu, ó Egito, mais favorecido do que os outros? Desce lá para o fundo; ali ficarás com os incircuncisos! Os egípcios morrerão com as multidões que foram trespassadas pela espada, porque uma espada está voltada na direção do Egito, e executará o juízo. Os poderosos guerreiros no mundo dos mortos o receberão, quando ali descer na companhia dos seus amigos, para lá ficarem junto das nações que tanto desprezaram; todos serão vítimas da espada. Os príncipes da Assíria jazem por lá, rodeados dos túmulos de todo o seu povo, daqueles que foram mortos na guerra. Os seus cadáveres foram parar às profundezas do inferno, juntamente com os dos seus aliados. Toda essa gente poderosa, que anteriormente lançara o terror em imensos corações, foi morta às mãos dos adversários. Lá estão os grandes reis do Elão com o seu povo. Espalharam o seu terror entre as nações, enquanto viveram, e agora estão nas profundezas do inferno. Tiveram o destino de todos os pagãos e levaram a sua vergonha para o sepulcro. Encontraram repouso, sim, mas no meio dos mortos, no meio dos sepulcros da sua gente. É verdade, sim, que aterrorizaram nações, enquanto viviam, e que agora foram parar vergonhosamente à cova, mortos na guerra. Lá estão os governantes de Meseque e Tubal, no meio das campas dos seus exércitos inteiros, todos eles idólatras, e que antes tinham aterrorizado o coração de imensa gente; agora ali estão, jazendo mortos. Enterraram-nos como gente comum e não como grandes senhores a quem se fazem pomposos funerais e se coloca as armas na campa, com a espada debaixo do corpo e o escudo a cobri-lo. Foram o terror das gentes, enquanto viveram. Agora serão despedaçados e esmagados, no meio dos incircuncisos, mortos pela espada da guerra. Ali está Edom com os seus governantes e altos magistrados. Poderosos como eram, ali estão agora entre toda essa gente abatida em combate, entre os incircuncisos que desceram à cova. Os príncipes do norte ali estão, mais os sidónios, todos trespassados pela espada. Antes, eram o terror de todos, mas agora estão cobertos de vergonha; levam a sua ignomínia para a cova, juntamente com os que foram mortos. Quando o Faraó vir aquilo, consolar-se-á por não ter sido o único a ver o seu exército desfeito, diz o Senhor Deus. Porque eu mandei o seu terror sobre todos os viventes. O Faraó e os seus exércitos jazerão igualmente entre os idólatras que a guerra liquidou, declara o Senhor Deus!” Mais uma vez recebi uma mensagem do Senhor que dizia assim: “Homem mortal, diz ao teu povo o seguinte: Quando trouxer um exército contra uma nação, e se o povo dessa terra tiver escolhido um homem para o constituir por vigia, quando este vir chegar as tropas inimigas e der o alarme, tocando a trombeta para avisar toda a gente, aquele que depois de a ouvir não lhe ligar importância, se vier a morrer, morrerá com a plena culpa que a sua atitude lhe trouxe. Porque ouviu o alarme e não quis prestar-lhe atenção. Tornou-se só ele culpado dos seus atos. Se tivesse dado ouvidos ao aviso, teria sido salvo. No entanto, se o vigia vir o inimigo chegar e não tocar a trombeta para avisar a população, será ele o responsável por todos os mortos que houver. Estes morrerão com a culpa dos seus pecados, mas pedirei contas dessas vidas ao vigia. Assim também é contigo, homem mortal. Nomeei-te vigia do povo de Israel; por isso, ouve o que te digo e avisa-os. Quando eu disser ao iníquo: Ó homem malvado, certamente morrerás! Se não lhe deres esse recado da minha parte, que o leve a arrepender-se, esse iníquo morrerá carregado com os seus pecados, mas é a ti que pedirei contas pela sua morte. Contudo, se o avisares para que arrepie caminho, e se ele recusar, essa pessoa morrerá com a culpa dos seus pecados, mas a responsabilidade não será mais tua. Ó povo de Israel, vocês dizem: ‘Os nossos pecados pesam sobre nós; desfalecemos debaixo da culpa que nos é imposta por causa deles. Como é que se pode viver assim?’ Responde-lhes então: Tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do pecador; o que eu pretendo é que ele se converta do seu mau caminho e que viva. Convertam-se, convertam-se da vossa vida de maldade! Porque haveriam de morrer, ó Israel? Por isso, homem mortal, diz aos teus compatriotas: Quando um homem reto peca, o bem que ele fez não o salvará. Se um homem mau deixa de praticar o mal, não será castigado; mas se um homem reto começar a pecar, a sua vida não será poupada. Eu disse que o homem reto com certeza viverá; mas se ele vier a pecar, esperando que a sua vida passada, de justiça, acabe por salvá-lo, está enganado, pois o que ele foi anteriormente não será tomado em consideração; será morto por causa dos seus pecados. Por outro lado, quando eu disser ao pecador que terá de morrer, se este se arrepender e passar a praticar a justiça e o bem, se restituir aquilo que extorquiu aos outros fraudulentamente, aquilo que roubou, se passar a andar pelos caminhos da justiça e não mais praticar desonestidades, com toda a certeza que viverá! Não morrerá! Nenhum dos seus anteriores pecados serão tomados em consideração contra ele; voltou-se para o caminho do bem; sem dúvida alguma que viverá. Mesmo assim o povo ainda diz que o Senhor não está a ser inteiramente justo, mas eles é que não são. Por isso, torno a repetir: alguém que é uma pessoa reta, se cair no pecado, terá mesmo de morrer. Uma pessoa perversa que abandona a sua vida má e começa a praticar o bem e a justiça, esse indubitavelmente viverá. Ainda que digam que o Senhor não está a ser justo dessa maneira, o facto é que eu terei de julgar cada um de acordo com os seus atos.” No décimo segundo ano do nosso exílio, no dia 5 do décimo mês, um daqueles que escapou de Jerusalém correu para mim a dizer-me: “A cidade foi tomada!” A mão do Senhor tinha estado sobre mim durante a tarde. Por isso, não me deixei abater e tive forças suficientes para falar nesse momento dramático. E foi esta mensagem que o Senhor me comunicou no momento: “Homem mortal, a pouca gente que ficou de Judá, e que está a viver no meio das cidades arruinadas, continua a dizer: ‘Abraão era um homem só e recebeu a posse desta terra toda! Nós somos muitos, não vamos com certeza abandoná-la!’ Mostra-lhes então o que eu, o Senhor Deus, tenho para lhes dizer: Vocês comem carne com sangue, adoram ídolos, praticam assassínios e pensam que, com essas coisas todas, eu iria dar-vos a terra? Matam gente, praticam a idolatria, adulteram e, ainda por cima, iriam ficar com a terra? Diz-lhes então: O Senhor Deus garante-vos, tão certo como ele ser um Deus vivo, que vocês, os que moram agora no meio de ruínas, acabarão por morrer na guerra; os que vivem no meio dos campos serão abatidos pelos animais selvagens; os que se abrigam nas cavernas, ou mesmo em construções de pedra, acabarão morrendo de doença. Tornarei essa terra numa assolação, o seu orgulho será abatido e cessará a fama da sua força. As povoações de Israel, construídas no cimo dos montes, ficarão tão destruídas que ninguém mais viverá nelas. Quando virem, enfim, a sua terra desfeita em ruínas, por causa dos seus pecados, então saberão que sou eu o Senhor! Homem mortal, o teu povo anda a conspirar nas tuas costas. Falam de ti quando estão em casa e murmuram a teu respeito à soleira das portas, dizendo: ‘Venham daí, vamo-nos divertir, ouvindo o que o Senhor tem hoje a dizer!’ Então aproximam-se, com o ar de quem é muito sincero, e sentam-se para ouvir, mas por dentro não têm a mínima intenção de fazer o que lhes é ordenado. Falam com hipocrisia sobre amar o Senhor, mas nos seus corações o que reina é o amor ao dinheiro. Tu, para eles, não passas duma diversão como outra qualquer; é como se alguém se pusesse a cantar-lhes lindas canções, com uma bela voz e acompanhado por um bonito instrumento. Ouvem o que dizes, é verdade, mas não ligam nenhuma importância! No entanto, quando todas estas terríveis coisas lhes acontecerem, e já estão para breve, nessa altura dar-se-ão conta de que realmente esteve no meio deles um profeta.” Recebi esta mensagem da parte do Senhor. “Homem mortal, profetiza contra os pastores, os líderes de Israel, e diz-lhes: Esta é a palavra que o Senhor Deus vos dirige: Ai dos pastores que se nutrem bem eles próprios e não os seus rebanhos. Não são os pastores que devem alimentar as ovelhas? Mas vocês comem da melhor comida, vestem-se com a melhor lã que há, matam as melhores ovelhas, mas não cuidam do rebanho. Não se preocupam com a que estava enfraquecida, não tratam daquela que está doente, não cuidam da ferida nem vão à procura da que se tinha extraviado e perdido. Pelo contrário, até as tratam com rigor e dureza. E a consequência foi que as ovelhas se espalharam, abandonadas; tornaram-se presa de qualquer animal selvagem que se aproximasse. O meu rebanho andou por aí vagueando, pelos montes e colinas, por toda a face da Terra, sem ninguém que fosse à procura das ovelhas, que se interessasse por elas. Por isso, ó pastores, ouçam a palavra do Senhor: É certo que eu sou Deus que vive, diz o Senhor Deus! No entanto, vocês abandonaram o meu rebanho, permitindo que fosse atacado e destruído. Não foram realmente pastores, de forma nenhuma, pois não cuidaram dele nem um bocadinho. Trataram-se a si mesmos e deixaram morrer as ovelhas. Por isso, tomem atenção à palavra do Senhor, ó pastores! Eis a razão por que estou contra os pastores e os torno responsáveis por tudo o que acontece ao meu rebanho. Hei de tirar-lhes o direito de se ocuparem dele e também o direito de se alimentarem a si mesmos; livrá-lo-ei de se tornar no alimento dos pastores. Porque assim diz o Senhor Deus: Irei procurar e hei de encontrar o meu rebanho. Eu serei como um verdadeiro pastor no encalço das minhas ovelhas. Encontrá-las-ei e as salvarei de todos os lugares para onde foram espalhadas, naquele dia escuro e nebuloso. Tornarei a trazê-las de entre os povos e nações onde se encontravam e regressarão a casa, à sua terra de Israel. Alimentá-las-ei sobre montes e vales, em toda a terra que é fértil e boa. Sim, dar-lhes-ei esplêndidas pastagens sobre outeiros de Israel! E ali repousarão em paz, pastando nas luxuriantes pastagens das montanhas. Eu próprio serei o pastor das minhas ovelhas; por isso, descansarão tranquilamente, diz o Senhor Deus. Irei à procura das que se perderam, das que se desviaram, e regressarei com elas em segurança. Porei talas e ligaduras nas que tiverem partido algum osso e tratarei da doente. Destruirei esses poderosos e gordos pastores. Alimentá-los-ei, sim, mas com a aplicação da justiça! Quanto a ti, ó meu rebanho, meu povo, o Senhor Deus diz: Farei distinção entre ovelhas e cabritos, entre carneiros e bodes! Será que é assim coisa de tão pouca importância que vocês, os pastores, não apenas tenham reservado para si mesmos as melhores pastagens como ainda tenham pisado e estragado o que restou? Que tenham desviado para si mesmos o melhor da água como ainda tenham sujado com a lama dos vossos pés a que sobrou? Tudo o que deixaram ficar para o meu rebanho foi o que calcaram; as ovelhas são obrigadas a beber a água lamacenta que vocês remexeram com os pés. Por isso, diz assim o Senhor Deus: Com toda a certeza que estabelecerei uma diferença, nos meus juízos, entre ovelhas gordas e ovelhas magras. Porque eles espantam, empurram, escorraçam o meu rebanho, já de si doente e esfomeado, fazendo com que as ovelhas fujam para longe e se espalhem. Portanto, serei eu próprio quem há de salvar o rebanho. Nunca mais as minhas ovelhas serão batidas e destruídas, pois atentarei para a que está enfraquecida, para a que está magra. Estabelecerei um pastor, sobre todo o meu povo, que será o meu servo David. Apascentá-lo-á e será para ele como um verdadeiro pastor. Quanto a mim, o Senhor, serei o seu Deus! O meu servo David será um príncipe, no meio do meu povo! Sou eu, o Senhor, quem diz isto! Farei uma aliança de paz com eles; afugentarei para longe os animais ferozes que andam nessa terra, para que o meu povo possa, com toda a segurança, fixar-se, ainda que seja nos lugares mais selvagens, e repousar descansadamente nas florestas. O meu povo e as suas casas se transformarão numa bênção em redor do meu outeiro. E haverá chuva de bênçãos que hão de cair sempre no tempo próprio. As árvores do campo darão belos frutos e toda a gente viverá em segurança. Quando, enfim, eu tiver quebrado as correntes que os escravizavam e os tiver libertado das mãos dos que viviam à custa deles, verão claramente que eu sou o Senhor. Não haverá mais nações estrangeiras que os dominem, nem animais selvagens que os ataquem. Viverão em paz e ninguém mais os aterrorizará. Dar-lhes-ei uma terra notavelmente fértil, de tal forma que o meu povo não mais passará fome na terra, nem passará pela humilhação dos povos estranhos. Assim se darão conta de que eu, o Senhor, seu Deus, estou com o povo de Israel e que este é o meu povo, diz o Senhor Deus. Vocês são o meu rebanho, as ovelhas do meu pasto, o povo que me pertence e eu sou o vosso Deus!, diz o Senhor Deus.” Recebi uma nova mensagem da parte do Senhor que dizia: “Homem mortal, volta-te para o monte de Seir e profetiza desta maneira contra o povo. Diz o Senhor Deus: Estou contra vocês e esmagar-vos-ei com o meu punho, destruir-vos-ei totalmente. Porque odeiam o meu povo de Israel, destruirei as vossas povoações e farei delas lugares totalmente assolados, de tal forma que se darão bem conta de que eu sou o Senhor. Vocês exterminaram o meu povo, foram o seu inimigo perpétuo, numa altura em que a calamidade lhes caiu em cima, visto que tinha chegado o tempo de os castigar, por causa dos seus pecados. Tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, que vos farei submergir num mar de sangue! Considerando que não rejeitaram o espírito da morte, ele vos alcançará! Liquidarei totalmente o povo do monte de Seir e serão abatidos tanto os que fogem dali como os que procurem correr para lá. Os vossos vales ficarão cheios de mortos, não só os vales, mas os montes e os ribeiros; tudo ficará repleto com os que morrem pela guerra. E será de tal forma que nunca mais tornarão a viver. Serão abandonados para sempre. As vossas cidades não mais serão reconstruídas. E nessa altura, saberão que eu sou o Senhor! Dizem vocês: ‘Tanto Israel como Judá são já nossos. Tomaremos posse deles. Que nos interessa a nós que Deus lá esteja?’ Então, tão certo como eu viver, diz o Senhor Deus, que lhes darei a recompensa dos seus atos malvados contra o meu povo. Castigar-vos-ei por tudo o que de ignominioso e odioso fizeram. Farei com que o meu nome seja honrado em Israel, por causa daquilo que vos farei. E dar-se-ão conta de que eu ouvi cada palavra que falaram contra o Senhor, dizendo: ‘O seu povo está desguarnecido! Eles são alimento para nós comermos!’ Diziam essas coisas e ao mesmo tempo vangloriavam-se contra mim. E eu ouvi tudo! Todo o mundo ficará contente, quando virem o que vos fiz, diz o Senhor Deus. Regozijaram-se com o triste destino de Israel. Agora serei eu quem ficará satisfeito com o vosso! Vocês serão açoitados, ó povo do monte Seir, e todos os que vivem em Edom. Depois verão que eu sou o Senhor! Homem mortal profetiza contra as montanhas de Israel. Diz-lhes assim: Ouçam esta mensagem do Senhor! Assim diz o Senhor Deus: Os vossos inimigos escarneceram e reclamaram as vossas antigas elevações como se lhes pertencessem. Devoraram-vos por todos os lados e mandaram-vos como escravos para muitos países. Troçaram de vocês e infamaram-vos, diz o Senhor Deus. Por isso, ó montes de Israel, ouçam a palavra do Senhor Deus, o que ele diz às colinas e às montanhas, às torrentes e aos vales, às propriedades destruídas e às cidades assoladas e devastadas, escarnecidas por gente de nações pagãs de todo o lado. A minha indignação está acendida contra estas nações, especialmente contra Edom, por se terem apropriado da minha terra jubilosamente, com todo o desprezo por mim, e por a terem tornado alvo de rapina, diz o Senhor Deus. Por isso, profetiza e diz às colinas e aos montes, às torrentes e aos vales de Israel: Diz o Senhor Deus, no meu zelo estou cheio de ira, por terem passado tanta vergonha perante as nações vizinhas. Por isso, jurei com a minha mão levantada que chegou a altura dessas nações serem elas mesmas cobertas de vergonha, diz o Senhor Deus. Quanto a vocês, montes de Israel, irão voltar a viver tempos felizes. Hão de ter abundantes colheitas à espera, quando regressarem, o que em breve há de acontecer! Vejam bem, eu estou do vosso lado! Hei de vir ajudar-vos, quando estiverem a preparar a terra e a semear. Aumentarei sensivelmente a vossa população em toda a terra de Israel; as cidades arruinadas serão reconstruídas e ficarão cheias de gente. Não será apenas a população a crescer em número; os rebanhos e as manadas também se multiplicarão. As montanhas de Israel hão de ficar de novo cheias de casas de habitação e farei por vocês ainda mais do que fiz anteriormente. E ficarão a saber que eu sou o Senhor. O meu povo percorrerá novamente toda a terra, porque se tornou outra vez a sua possessão; essa terra será sua herança, de novo, e nunca mais deixarão que os seus filhos morram de fome! Diz o Senhor Deus: Na verdade, as outras nações insultaram-vos dizendo: ‘Israel é uma terra que devora os seus filhos!’ Mas nunca mais tornarão a dizer isto. Hão de crescer as percentagens de natalidade e as taxas de mortalidade infantil diminuirão drasticamente, diz o Senhor Deus. Esses outros povos pagãos nunca mais hão de rir de vocês, porque vocês nunca mais farão tropeçar a vossa nação, diz o Senhor Deus.” Veio a mim mais esta palavra de Deus. “Homem mortal, quando o povo de Israel vivia na sua própria terra, sujou-a com os seus atos malvados; o culto que me prestava era tão sujo, tão impuro como uma mulher na menstruação. Poluíram a terra com assassínios e com idolatria. Por isso, derramei sobre eles o meu furor. Mandei-os exilados para muitas terras. Dessa maneira, castiguei-os por todo o mal que deixaram entrar nas suas vidas. Mas quando se espalharam entre as nações, tornaram-se num meio de profanação do meu santo nome, porque dizem, ao vê-los: ‘Cá está esse tal povo cujo Deus não foi capaz de proteger, quando se encontrava em aperto!’ Por isso, estou preocupado com o facto que meu povo arruinou a minha reputação por esse mundo fora. Portanto, dirige-te ao povo de Israel. Diz o Senhor Deus: Voltarei a trazer-vos de volta, mas não porque o tenham merecido. Faço isso para preservar o prestígio do meu santo nome que vocês profanaram entre as nações. Darei honra ao meu grande nome, que vocês mancharam, e todos os povos do mundo saberão que eu sou o Senhor. Serei exaltado perante eles pelo facto de vos ter trazido do exílio, diz o Senhor Deus. Sim, vou trazer-vos de novo para a vossa terra de Israel! Será como se vos tivesse aspergido com água pura. Ficarão limpos. A vossa imundícia e a vossa idolatria desaparecerá. Dar-vos-ei um novo coração e porei em vocês um novo espírito. Tirarei o vosso coração de pedra, de pecado, e porei no seu lugar um coração sensível. Porei em vocês o meu Espírito, de tal forma que obedecerão às minhas leis e farão tudo o que vos mandar. Viverão em Israel, a terra que dei aos vossos antepassados há muito tempo. Vocês serão o meu povo e eu serei o vosso Deus. Purificar-vos-ei dos vossos pecados. Eliminarei da vossa terra os maus anos de colheita de trigo e a fome. Multiplicarei as vossas searas, o fruto dos vossos pomares e dos vossos campos; nunca mais os povos vizinhos terão ocasião de zombar de vocês, por causa das fomes que vos assolaram. Hão de então lembrar-se dos vossos pecados do passado e chegarão a ter nojo de todo o mal que praticaram. No entanto, lembrem-se sempre disto: não é por causa daquilo que são ou não são que faço isso, mas por minha causa. Ó meu povo de Israel, envergonhem-se profundamente por aquilo que fizeram!, diz o Senhor Deus. O Senhor Deus diz: Quando vos limpar dos vossos pecados, vou trazer-vos de novo para a vossa terra, para Israel, e farei com que tudo seja reconstruído, a partir das ruínas que existem. Campos que permaneceram, durante anos a fio, completamente assolados como uma terra no deserto, serão outra vez cultivados. Todos os que por ali passavam ficavam chocados com a extensão das ruínas. Mas quando eu vos trouxer de novo para lá dirão: ‘Esta terra de que Deus se esqueceu, tornou-se como o jardim do Éden! As cidades arruinadas foram reconstruídas e estão cheias de habitantes!’ Essas nações dos arredores, aquelas que conseguiram permanecer, saberão que eu, o Senhor, reedifico sobre ruínas e planto em terras devastadas ricas searas. Eu, o Senhor, o prometi! Eu próprio o realizarei! Diz o Senhor Deus: Estou pronto a ouvir as orações de Israel, pedindo estas bênçãos e a responder-lhes, garantindo-lhes aquilo que pretendem. Basta apenas que peçam e multiplicá-los-ei como os imensos rebanhos que enchem as ruas de Jerusalém em dias de sacrifício. As cidades arruinadas tornarão a encher-se de multidões e toda a gente verificará que eu sou o Senhor!” A mão do Senhor desceu sobre mim e fui transportado pelo Espírito de Deus a um vale cheio de ossadas. Fez-me andar por ali, pelo meio duma quantidade enorme de ossos já extremamente ressequidos. E disse-me: “Homem mortal, poderão estes ossos tornar-se novamente em pessoas?” “ Senhor Deus, só tu sabes se isso é possível”, respondi. Então mandou que eu profetizasse para aqueles ossos o seguinte: “Ossos secos, ouçam a palavra de Deus! Porque o Senhor Deus vos diz: Vejam! Soprarei sobre vocês e tornarão a viver! Serão revestidos de carne, de nervos e cobertos com pele; soprarei sobre vocês o espírito e hão de viver e saber que eu sou o Senhor!” Falei-lhes pois essas palavras da parte de Deus, tal como me disse, e começou a ouvir-se um ruído por todo o vale, ainda enquanto eu falava. Tudo se agitava, os ossos juntando-se uns com os outros, de acordo com a estrutura do corpo. Continuei a olhar e vi que se iam revestindo de carne e de nervos; depois cobriram-se de pele. No entanto, faltava-lhes a vida. Por isso, disse-me que mandasse vir o espírito sobre eles, assim: “Diz o Senhor Deus: Vem dos quatro pontos cardiais, ó espírito, e sopra sobre estes corpos inertes para que vivam!” Disse então isso mesmo e os corpos puseram-se a mexer com vida; levantaram-se e formavam um exército imenso de gente. Disse-me Deus: “Estes ossos representam todo o povo de Israel. Eles falam assim: ‘Não passamos dum montão de ossos ressequidos; já não nos resta esperança de espécie alguma!’ No entanto, diz-lhe isto da parte do Senhor Deus: Povo meu, hei de abrir-vos as sepulturas e fazer com que se levantem e regressem à terra de Israel. Por fim, ó meu povo, hão de saber que eu sou o Senhor, quando abrir a vossa sepultura e vos fizer sair dela. Porei o meu Espírito sobre vocês, para que vivam, e hão de regressar à vossa terra natal. Dar-se-ão conta, nessa altura, de que eu, o Senhor, fiz aquilo que vos prometi.” Recebi novamente uma mensagem da parte do Senhor, dizendo: “Pega numa vara e grava nela os seguintes dizeres: ‘Esta vara representa Judá e as outras tribos suas aliadas.’ Pega depois noutra vara e escreve estas outras palavras: ‘Esta vara representa Efraim e todas as outras tribos de Israel.’ Seguidamente, junta-as na tua mão, como se fossem uma só. Quando o teu povo te perguntar: ‘Não nos explicarás o que tudo isto significa?’ Dirás aos filhos do teu povo, pegando nas varas, de forma que as vejam bem, o que o Senhor Deus lhes comunica: Tomarei as tribos de Israel e juntá-las-ei a Judá, de forma a que na minha mão se tornem numa só tribo. Segura firme e diante dos olhos do povo as duas varas de madeira sobre as quais escreveste. Diz-lhes em seguida o que o Senhor Deus diz: Estou a juntar o povo de Israel do meio de todas as nações e vou trazê-lo para casa; vou trazê-lo à sua terra natal de todas as partes do mundo. Unificarei o povo numa só nação e terão um só rei sobre eles. Nunca mais estarão divididos em duas nações. Deixarão de se contaminar a si próprios com idolatria e outros pecados. Purificá-los-ei de todas essas abominações. Então, serão o meu verdadeiro povo e eu serei o seu Deus. David, o meu servo será o seu rei, o seu único pastor. Obedecerão às minhas leis e a toda a minha vontade. Habitarão na terra de Israel, essa terra onde os seus pais moraram e que eu dei ao meu servo Jacob. Tal como eles, também os seus filhos e todos os seus descendentes, pelas gerações fora, viverão ali. O meu servo David será o seu chefe para sempre. Farei com eles uma aliança de paz, uma aliança eterna. Abençoá-los-ei e os multiplicarei. O meu templo levantar-se-á para sempre no meio deles. Sim, a minha casa ali estará entre eles. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Com o meu templo no meio deles, as nações verificarão que eu, o Senhor, elegi Israel para ser o alvo especial das minhas bênçãos.” Segue-se uma outra mensagem que o Senhor me deu. “Homem mortal, vira-te para o norte, para a terra de Magogue, e profetiza contra Gogue, rei de Meseque e de Tubal. Comunica-lhe o que o Senhor Deus lhe diz: Sou contra ti, Gogue. Vou pôr-te ganchos nos queixos e levar-te para a tua condenação. Mobilizarei as tuas tropas e toda a tua cavalaria militar; farei de ti um poderoso exército, perfeitamente apretrechado. A Pérsia, Cuche e Pute também se juntarão a ti, com todos os seus escudos e capacetes. O mesmo fará Gomer, com os seus soldados e ainda os exércitos de Togarma, das bandas longínquas do norte, assim como muitos outros. Prepara-te! Mantém-te de prevenção! Serás o chefe deles todos, ó Gogue! Muito tempo depois serás chamado a intervir. Passados longos anos cairás sobre a terra de Israel, que estará a repousar em paz, após o regresso do seu povo de muitas terras. Tu e todos os teus aliados, um vasto e terrível exército, abater-se-ão sobre eles como um furacão e cobrirão toda a terra como uma nuvem negra. Assim diz o Senhor Deus: Virão uns maus pensamentos ao teu espírito, nesse tempo. E dirás: ‘Israel é uma terra desprotegida, com povoações sem muralhas! Atacarei e destruirei esse povo que vive tão confiante! Levantar-me-ei contra todas essas cidades, antigamente desoladas e agora tão cheias de gente, gente que regressou das nações do mundo inteiro, e assim recolherei um saque enorme. Esse povo está cheio de gado, neste momento, e toda a terra como que se move em torno dele!’ Mas Sabá e Dedã e os grandes senhores do comércio de Társis dirão: ‘Porque vens roubar-lhes o ouro e a prata, levar-lhes o gado e tudo o que possuem, deixando-os na miséria?’ Assim, homem mortal, profetiza e declara a Gogue o que o Senhor Deus diz: Quando o meu povo estiver a viver em paz, levantar-te-ás! Virás então lá do extremo norte, tu e muitas nações na tua companhia, com as tuas numerosas e poderosas forças de cavalaria. Cobrirás a terra como uma nuvem. Isto acontecerá num futuro distante. Vou trazer-te contra a minha terra, mas a minha santidade será confirmada através da terrível destruição que sofrerás, perante os seus olhos. Todas as nações verão que eu sou Deus! Diz o Senhor Deus: Tu és aquele de quem eu falei, há já muito tempo, por meio dos profetas de Israel, dizendo que decorridos muitos anos haveria de te trazer contra o meu povo. No entanto, vindo tu para destruir a terra de Israel, a minha ira se levantará! No meu zelo, no meu furor inabalável, garanto que haverá um poderoso tremor em toda a terra de Israel, nessa ocasião. Tudo o que tem vida, no ar, na terra e no mar, estremecerá na minha presença; as montanhas se desfarão, os precipícios desmoronar-se-ão, grandes muralhas cairão desfeitas no chão. Mandarei vir contra ti toda a espécie de terrores, diz o Senhor Deus! Vocês acabarão por se destruir uns aos outros, numa guerra mortal e fratricida! Ferir-te-ei com guerra, pestes e enchentes destruidoras. Saraivadas mortíferas, fogo e enxofre cairão sobre ele e sobre o seu exército, sobre as muitas nações suas aliadas. Dessa forma, revelarei a minha grandeza e trarei grande prestígio ao meu nome. Todas as nações do mundo saberão o que eu realizei e verão que eu sou o Senhor! Homem mortal, profetiza o seguinte contra Gogue. Diz-lhe assim: Estou contra ti, Gogue, rei de Meseque e de Tubal, diz o Senhor Deus. Farei com que mudes de direção e conduzir-te-ei às montanhas de Israel, trazendo-te desse norte distante. Então, com um só golpe, tirarei o arco da tua mão esquerda e farei as tuas flechas cair da tua mão direita! Morrerás, tanto tu como todo o teu vasto exército, sobre aquelas montanhas. Dar-te-ei como alimento às aves de rapina e aos animais selvagens que te devorarão. Não chegarás a alcançar as cidades; cairás em campo aberto. Fui eu quem o disse! Eu, o Senhor Deus, falei! Farei com que chova fogo sobre Magogue e sobre os teus aliados que vivem sossegados na costa e saberão que eu sou o Senhor. É assim que tornarei conhecido o meu santo nome entre o povo de Israel; não mais permitirei que o meu nome seja profanado. Também as outras nações se darão conta de que eu sou o Senhor, o Santo de Israel. Esse dia de julgamento virá. Tudo há de acontecer como eu declarei, diz o Senhor Deus. Os habitantes das cidades de Israel irão aos campos e levarão os vossos escudos; ajuntarão as armas abandonadas para lhes deitar fogo. Farão fogueiras com escudos e couraças, arcos e flechas, lanças e bastões; tudo lhes servirá de lenha para queimar durante sete anos. Sim, durante sete anos não precisarão de mais nada para fazer fogo. Não necessitarão de ir cortar árvores ou de ir apanhar lenha; todo aquele material de guerra lhes servirá para isso; utilizarão o despojo daqueles que os queriam despojar, diz o Senhor Deus. Darei a Gogue e aos seus exércitos uma sepultura no vale dos Viajantes, a leste do mar Morto. Os viajantes deixarão de passar ali, pois ali serão enterrados Gogue e a multidão dos seus soldados. O nome daquele lugar mudará para vale do Exército de Gogue. O povo de Israel levará sete meses a enterrar todos aqueles cadáveres. Toda a gente em Israel colaborará nesse trabalho, pois se tratará duma vitória gloriosa, nesse dia em que demonstrarei a minha glória, diz o Senhor Deus. Ao fim de sete meses, ainda hão de nomear homens para procurar cuidadosamente em toda a terra algum cadáver esquecido, para o enterrar, a fim de que a terra fique limpa. Sempre que alguém encontre algum osso humano, porá uma marca ao lado para que os indivíduos encarregados de enterrar os cadáveres o encontrem e o levem com os outros para o vale do Exército de Gogue. E haverá ali uma cidade chamada Hamona, que significa Multidão. Dessa forma, a terra ficará definitivamente limpa. E agora, homem mortal, chama todas as aves e animais e diz-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Juntem-se e venham tomar parte num grandioso sacrifício! Venham de longe e de perto até às montanhas de Israel! Venham comer carne e beber sangue! A carne é a de homens poderosos; o sangue é o de príncipes; eles substituem os carneiros, as ovelhas, os bodes e os novilhos de Basã na minha festa sacrificial. Encham-se de carne até se fartarem! Bebam do sangue até se embriagarem! É este o grande sacrifício que vos preparei. Fartem-se, pois, à minha mesa! Banqueteiem-se com cavalos, com carros de combate e com os seus condutores, com valentes soldados, diz o Senhor Deus! Darei assim uma prova de força da minha glória às nações. Todos verão o castigo que Gogue sofreu e saberão que fui eu quem fiz isto. Daí em diante, o povo de Israel ficará bem certo de que eu sou o Senhor, o seu Deus! Os povos ficarão também a saber a razão por que Israel foi mandado para o exílio, como castigo dos seus pecados, pois foram rebeldes para com o seu Deus. Foi por isso que escondi deles a minha face e os entreguei nas mãos dos seus inimigos; caíram ao fio da espada. Desviei deles a minha face e castiguei-os na proporção da sua própria iniquidade e das suas transgressões. Mas agora, diz o Senhor Deus, porei fim ao cativeiro do meu povo! Terei misericórdia dele e restabelecerei a sua prosperidade, por causa da minha reputação! Esse tempo de rebeldia e vergonha ficará a pertencer ao passado. O povo regressará à sua terra natal em paz e segurança, sem que mais ninguém os incomode ou aterrorize. Hão de regressar vindos das terras dos seus adversários e a minha glória se tornará evidente para todas as nações, quando eu fizer com que isso aconteça. Através deles restabelecerei a grande fama da minha santidade aos olhos das nações do mundo. O meu povo, nessa altura, certificar-se-á de que eu sou o Senhor, seu Deus, e de que sou eu o responsável por os ter enviado para o exílio e por os ter trazido para casa. Não deixarei que fique nenhum entre as nações. Nunca mais esconderei deles o meu rosto, antes derramarei sobre eles o meu Espírito, diz o Senhor Deus.” No décimo dia do início do ano, durante o vigésimo quinto ano do nosso exílio, o décimo quarto depois de Jerusalém ter sido capturada, veio sobre mim a mão do Senhor. E numa visão levou-me até à terra de Israel e deixou-me sobre uma alta montanha, onde pude contemplar aquilo que me pareceu ser uma cidade em frente de mim. Ao aproximar-me vi um homem cuja aparência era como o bronze e que estava em pé diante do portão do templo, segurando na mão uma fita de linho para medir e uma vara, também para fazer medições. E disse-me assim: “Homem mortal, vê e escuta bem tudo o que te mostrar e grava-o no teu coração. Foste trazido até aqui para que te possa mostrar muitas coisas; depois regressarás ao povo de Israel e contar-lhe-ás tudo o que observaste.” O homem começou então a medir a parede, limitando a área exterior ao templo com a sua vara de medição, que tinha 3 metros de comprimento. Disse-me: “Esta parede tem 3 metros, tanto de altura como de largura.” Depois levou-me até à passagem que dá para o muro de leste. Subimos sete degraus até ao átrio de entrada e tinha 3 metros de largo. Depois mediu toda a largura exterior da porta, desde o telhado duma câmara até ao telhado da outra, e tinha 12,5 metros; fez a estimativa dos pilares de cada lado dos pórticos e mediam 10 metros de altura. Depois levou-me ao átrio exterior. Havia um pavimento de pedra em toda a volta, da parte de dentro das paredes, e viam-se 30 quartos construídos contra as paredes, dando para este pavimento. Era chamado o pavimento inferior. A distância das paredes até ao pavimento era a mesma da extensão da passagem da entrada. Mediu a parede do outro lado do átrio exterior do templo e achou a medida de 50 metros, tanto no lado leste como no lado norte. De seguida, deixou a passagem oriental e dirigiu-se para a passagem da parede do norte, medindo-a. Aqui também havia três câmaras de guarda de cada lado. Todas as medidas eram as mesmas da passagem anterior, de 25 metros de comprimento e 12,5 metros de lado a lado. Havia janelas, um átrio de entrada e decorações com palmeiras, tal como do lado oriental. Sete degraus conduziam ao vestíbulo interior. Aqui, na entrada do norte, tal como na do leste, se alguém entrasse através da passagem para o átrio e o atravessasse, encontrava um muro interior no qual havia um corredor que dava para outro átrio interior. A distância entre as duas passagens era de 50 metros. Depois levou-me de volta para o portão do sul, mediu as várias secções das suas passagens, verificando que eram as mesmas medidas das anteriores. Tinha também janelas nas paredes, tal como as outras, e um átrio de entrada. E também, à semelhança das outras, tinha 25 metros de comprimento e 12,5 metros de largura. Havia igualmente uma escada de sete degraus que levava até lá; viam-se decorações semelhantes, com palmeiras, nas paredes. Aqui também, quem caminhasse pela passagem para o átrio chegava a um muro interior, no qual encontrava uma abertura por onde se ia ter a um átrio interior. A distância entre as duas passagens era de 50 metros. Levou-me então ao átrio interior, pela porta do sul, e achou as mesmas medidas que anteriormente. As suas câmaras, pilares e vestíbulos eram idênticos aos outros. Tinham também janelas em volta e mediam igualmente 25 metros de comprimento por 12,5 metros de largo. A única diferença era que havia aqui oito degraus em vez dos sete das outras. Também se encontravam aqui decorações com palmeiras nos pilares. Depois levou-me ao átrio interior pelo caminho do oriente, fazendo as mesmas medidas, e encontrando os mesmos resultados. As câmaras, os pilares, os vestíbulos eram do mesmo tamanho. Viam-se as mesmas janelas nas paredes e media 25 metros de comprido e 12,5 metros de largo. Os seus vestíbulos estavam defronte do átrio exterior; havia decorações de palmeiras nas colunas, mas contavam-se oito e não sete degraus como antes, para chegar até à entrada. Guiou-me à porta do norte e fez as mesmas medições: As câmaras, os pilares e os vestíbulos eram semelhantes aos outros; a porta tinha 25 metros de comprimento e 12,5 metros de largura. O vestíbulo estava em frente do átrio exterior e tinha pinturas de palmeiras nas paredes de cada lado da passagem de acesso. Havia também oito degraus aqui para chegar até à entrada. Uma porta neste vestíbulo dava acesso a um espaço onde a carne para os holocaustos era lavada, antes de ser transportada para o altar. Havia de cada lado da passagem de acesso duas mesas onde os animais eram degolados, para serem apresentados em holocausto, como oferta pelo pecado e como oferta pelas culpas. Fora do átrio de entrada, de cada lado das escadas de acesso à entrada do norte, havia ainda mais duas mesas. Ao todo, viam-se oito mesas, quatro do lado de fora e quatro no interior, onde os sacrifícios eram preparados. Havia também quatro mesas de pedra onde se encontravam os instrumentos necessários para aquele serviço de preparação dos animais. Estas mesas tinham 75 centímetros de lado; eram quadradas e mediam 50 centímetros de altura. Viam-se ganchos de 9 centímetros de comprimento presos às paredes do átrio de entrada e nas mesas onde a carne devia ser posta. No átrio interior havia duas câmaras; uma junto à entrada do norte, virada para o sul, e outra junto à entrada do sul, virada para o norte. Disse-me depois: “A câmara junto à entrada do norte é para os sacerdotes que têm a responsabilidade de guardarem o templo. A outra, junto à entrada do sul, é para os sacerdotes que se ocupam do altar, os descendentes de Zadoque, porque só eles, de entre todos os levitas, podem chegar-se ao Senhor para o servir.” Depois mediu o átrio interior; era quadrado com 50 metros de largura; havia um altar no pátio, diante do templo. Levou-me ao vestíbulo do templo. As suas paredes formavam pilares, dois de cada lado, com 2,5 metros de espessura cada um. A entrada tinha 7 metros de largura e as suas paredes eram de 1,5 metros. O átrio de entrada tinha 10 metros de largura e 6 metros de comprimento. Seguidamente, levou-me à nave do templo, a parte mais espaçosa, e mediu os seus pilares. Eram quadrados com 3 metros de lado. A largura da entrada era de 5 metros e tinha 2,5 metros de fundo. A nave, só por si, tinha 20 metros de comprimento e 10 metros de largura. Depois entrou no compartimento ao fundo da nave e mediu os pilares de entrada que eram de 1 metro de espessura. A largura da entrada desse quarto era de 3 metros, com um vestíbulo de 3,5 metros de fundo por detrás. Esse compartimento era quadrado e tinha 10 metros de lado. “Este”, disse-me ele, “é o lugar santíssimo!” Mediu a parede do templo e constatou que tinha uma espessura de 3 metros com uma série de câmaras laterais em toda a volta. Cada uma dessas câmaras tinha 2 metros de largura. Estas câmaras estavam construídas em três fileiras que se sobrepunham; cada fileira tinha trinta câmaras; toda a estrutura estava suportada por vigas que não estavam presas à parede do templo. Cada fileira era mais larga do que a que estava por baixo, correspondendo à estrutura do templo em altura. Havia uma escada de acesso de andar para andar. Notei que o templo estava construído sobre uma plataforma e que a última fila de câmaras se sobrepunha 3 metros sobre essa plataforma. A parede exterior dessas câmaras tinha 2,5 metros de espessura e havia um espaço vazio entre as câmaras laterais do templo. De ambos os lados do templo, 10 metros afastada da plataforma, havia uma fila de câmaras, em baixo, no pátio interior. Duas portas abriam-se, da fileira de câmaras sobre a plataforma que tinha 2,5 metros de largura, uma delas virada para o norte e a outra para o sul. Havia um grande edifício que se erguia a ocidente, diante do átrio do templo, e que media 35 metros de largura por 45 metros de comprimento. As paredes tinham 2,5 metros de espessura. Então mediu o templo e também os espaços de separação em volta; era uma área com 50 metros quadrados. O pátio interior, a oriente do templo, tinha também 50 metros de largo. Igual a este era também o edifício a ocidente do templo, incluindo as suas duas paredes. A nave do templo, o lugar santíssimo e o átrio de entrada estavam cobertos de madeira e estes três lugares tinham igualmente janelas recuadas. Quanto às paredes interiores do templo, eram da mesma forma revestidas de madeira, tanto na parte de cima como na parte por baixo das janelas. O espaço acima da parte que conduzia até ao lugar santíssimo também estava revestido de madeira. As paredes eram decoradas com incrustações que representavam querubins, cada um deles com dois rostos intercalados com palmeiras. Um dos rostos, como um rosto humano, olhava para a palmeira que estava de um lado; o outro, como o rosto de um leão, estava virado para o lado da outra palmeira. E era assim em toda a volta da parede interior do templo. Havia ombreiras em todas as portas da nave do templo e em frente do lugar santíssimo encontrava-se algo que parecia um altar de madeira. Este altar era quadrado, com 1 metro de lado e 1,5 metros de altura; os seus cantos, a sua base e os lados eram de madeira. “Esta”, disse-me ele, “é a mesa que está sempre diante do Senhor.” Tanto a nave do templo como o lugar santíssimo tinham duplas portas, cada uma com dois batentes. As portas que conduziam à nave do templo tinham querubins como decoração, além das palmeiras, tal como as paredes. Uma trave grossa estava atravessada por cima do vestíbulo de entrada. Havia janelas recuadas e palmeiras trabalhadas na madeira, de ambos os lados do átrio de entrada, e também nos vestíbulos laterais do templo e nas grossas traves da entrada. Depois conduziu-me para fora do templo, para a parte de trás, para o pátio interior, até às câmaras do norte do pátio do templo, e até um outro edifício. Este conjunto de estruturas tinha 50 metros de comprimento por 25 metros de largura. As galerias de compartimentos que estavam por detrás desta construção, constituíam a parede do pátio. As câmaras distribuíam-se em três fileiras para o pátio exterior, de um lado, tendo uma galeria de 10 metros que dava para o pátio interior, do outro lado. Havia um passeio de 5 metros de largura e 50 metros de comprimento, que corria entre a galeria de quartos e o edifício, com as portas do edifício para o norte. As duas galerias superiores de compartimentos não eram tão largas como as de baixo, porque as passagens das galerias de cima eram mais largas. E como estes edifícios não eram construídos com vigas, como os dos átrios exteriores, os andares iam estreitando a partir do chão. A parede exterior em frente dos aposentos do lado do átrio exterior tinha 25 metros. Então disse-me: “Estas galerias de compartimentos do norte e do sul, diante do pátio do templo, são santas; é aí que os sacerdotes que oferecem os sacrifícios ao Senhor deverão comer desses santos sacrifícios e armazenar os que devem ser guardados, tal como a ofertas de cereais, as ofertas pelo pecado e pela culpa; porque este lugar é santo. Quando os sacerdotes deixarem este santo lugar, a nave do templo, deverão mudar de roupa antes de saírem para o pátio exterior. As vestimentas especiais com as quais administraram o serviço religioso devem ser despidas, porque se trata de uma roupa sagrada. Deverão, pois, vestir outros fatos antes de entrar nas partes do edifício abertas ao público.” Quando acabou de fazer estas medições, levou-me para fora, pela porta oriental, para medir toda a área exterior. Posteriormente levou-me até à passagem através da parede exterior que conduz à parte de leste. E de repente apareceu a glória do Deus de Israel do lado do oriente. O ruído da sua aparição foi semelhante ao rugido de uma grande torrente, e toda a região ficou iluminada com a sua glória. Era igual àquilo que tinha visto já noutras visões, primeiro junto ao rio Quebar e mais tarde em Jerusalém, quando veio para destruir a cidade. E caí perante ele com o meu rosto em terra. A glória do Senhor penetrou no templo pela porta oriental. O Espírito levantou-me e levou-me para o átrio interior. A glória do Senhor encheu todo o templo. Ouvi depois a voz do Senhor a falar-me do interior do templo. O homem que tinha estado a fazer as medições ainda se encontrava ao meu lado. Disse-me o Senhor: “Homem mortal, este é o lugar do meu trono, o sítio onde descansam os meus pés, onde permanecerei, vivendo entre o meu povo de Israel para sempre. Tanto ele como os seus reis não mais profanarão o meu santo nome através de cultos adúlteros a outros deuses ou adorando pedaços de pau erigidos como ídolos pelos seus reis. Edificaram casas de culto aos seus ídolos, mesmo ao lado do meu templo, apenas com uma simples parede a separar os dois lugares. Foi por terem sujado o meu nome santo com tamanhas maldades que os consumi na minha ira. Abandonem agora os ídolos e esses deuses representados por madeiras grosseiras, que os seus reis lhes apresentaram, e então viverei para sempre no meio deles! Homem mortal, descreve ao povo de Israel o templo que eu te mostrei. Diz-lhes como é o plano da sua construção, para que fiquem envergonhados de todos os seus pecados. E se eles se mostrarem verdadeiramente arrependidos do que praticaram, então explica-lhes todos os detalhes da construção, as diferentes passagens, as portas que ele tem, enfim, tudo que diz respeito a essa construção. Põe por escrito todas as diretivas e regulamentos que devem observar. O princípio fundamental do templo é este: santidade. Toda essa elevação sobre a qual está construído o templo é santíssima. Sim, essa é a lei básica a seu respeito. São estas as medidas que concernem o altar: a base tem uma altura de 50 centímetros com uma cercadura toda em volta de 25 centímetros de largura; essa base sobressai além das paredes do altar em 50 centímetros. O primeiro andar do altar consiste numa plataforma de pedra de 1 metro de altura. Depois continuou a dizer-me: “Homem mortal, diz assim o Senhor Deus: Estas são as medidas que terá o altar a construir no futuro, quando for erigido para nele se oferecerem os holocaustos e se fazer nele a aspersão do sangue. A família de Zadoque, da tribo de Levi, que são meus sacerdotes, deverá oferecer um novilho para a expiação do pecado. Tomarás parte do seu sangue e aspergi-lo-ás sobre os quatro cantos do altar, assim como nos quatro cantos da plataforma superior e também no rebordo em volta. Desta forma, ficará o altar purificado e expiado. Depois pega no novilho da expiação do pecado e queima-o, num lugar para tal ordenado, fora da área do templo. No segundo dia, sacrifica um bode, novo, sem qualquer defeito, sem doença nenhuma, nem deformidades, feridas ou cicatrizes, para sacrifício pelo pecado. Assim será purificado o altar, tal como foi feito com o novilho. Depois de terminar esta cerimónia de purificação, oferece um outro bode, também ele perfeito, e ainda um carneiro igualmente sem qualquer imperfeição, que tomarás do rebanho. Apresenta-os perante o Senhor e os sacerdotes salpicarão sal sobre eles como holocaustos. Durante sete dias, em cada dia, um bode, um novilho e um carneiro do rebanho serão sacrificados por expiação do pecado. Nenhum desses animais deverá ter qualquer defeito. Faz isso em cada um desses sete dias, para purificação e expiação do altar, consagrando-o desta forma. No oitavo dia, e em cada um dos dias seguintes, os sacerdotes sacrificarão sobre o altar os holocaustos e as ofertas de paz do povo, e eu vos aceitarei, diz o Senhor Deus!” Então o homem fez-me regressar à passagem oriental no muro exterior, mas que estava fechada. E o Senhor disse-me: “Esta porta permanecerá fechada; nunca será aberta. Ninguém passará por aqui, pois o Senhor, o Deus de Israel, entrou por este sítio; portanto, permanecerá encerrada. Apenas o príncipe, visto que se trata do príncipe, poderá sentar-se no interior dessa passagem, para fazer uma celebração perante o Senhor; mas só entrará e sairá por essa passagem.” Depois levou-me pelo caminho da passagem do norte, até defronte do templo. Vi então a glória do Senhor que enchia o templo do Senhor e caí com o rosto em terra. O Senhor disse-me: “Homem mortal, pondera cuidadosamente; vê e ouve com toda a tua atenção. Escuta bem tudo o que te disse respeitante às leis e aos regulamentos do templo do Senhor e toma nota de quem pode entrar no templo e de quem não pode. Diz a esses rebeldes, o povo de Israel, que assim fala o Senhor Deus: Ó Israel, pecaste grandemente! Permitiste que incircuncisos tivessem acesso ao meu santuário, gente cujo coração rejeita a Deus, nos momentos em que me ofereciam o alimento, a gordura e o sangue. Dessa forma, quebraram a minha aliança, acrescentando mais este a todas as vossas outras abominações. Não cumpriram as leis que vos tinha dado quanto a estas coisas sagradas, pois contrataram gente estranha para se encarregar do meu santuário! Diz o Senhor Deus: Nenhum estrangeiro, dos muitos que há no vosso meio, entrará no meu santuário, se não tiver sido circuncidado e se não amar o Senhor. E os homens da tribo de Levi que me abandonaram, quando Israel se extraviou para longe de Deus, correndo para os ídolos, deverão ser castigados por causa da sua infidelidade. Poderão ser guardas do templo e porteiros; poderão encarregar-se do abate dos animais que forem trazidos para holocaustos, e assim ajudar o povo. Contudo, pelo facto de terem encorajado o povo a prestar culto a outros deuses, levando Israel a cair num grande pecado, levantei contra eles a minha mão e garanti solenemente, diz o Senhor Deus, que hão de ser castigados. Não poderão aproximar-se de mim para administrar como sacerdotes; não lhes será permitido tocar em nada das minhas coisas santas; terão de carregar essa vergonha, por causa de todas as abominações que cometeram. No entanto, eu os encarregarei de zelar e cuidar do templo, mediante a execução de vários serviços diários. Os filhos de Zadoque, da tribo de Levi, esses é que continuaram como meus sacerdotes no templo, na altura em que Israel me trocou pelos ídolos. Esses homens serão, por isso, meus oficiantes; manter-se-ão na minha presença para oferecer a gordura e o sangue dos sacrifícios, diz o Senhor Deus. Entrarão no meu santuário, aproximar-se-ão da minha mesa, para me prestar culto; eles cumprirão os meus regulamentos. Usarão unicamente roupa de linho, quando entrarem no pátio interior; não poderão trazer sobre si nada de lã, enquanto estiverem em serviço no pátio interior, no templo. Terão as cabeças cobertas com um turbante de linho e uns calções interiores também de linho. Não usarão nada que os faça transpirar. Quando voltarem para o pátio exterior, deverão despir as roupas que usaram durante o serviço que me prestaram, deixando-os nas câmaras santas, para evitar que o povo seja consagrado ao tocar nessas vestiduras. Não deverão deixar crescer demasiado o cabelo, nem rapá-lo completamente. Deverão cortar o cabelo de uma forma regular e moderada. Nenhum sacerdote poderá beber vinho antes de vir para o pátio interior. Poderá casar-se, mas só com uma rapariga judia ou com a viúva de outro sacerdote; não se casará com uma mulher divorciada. Ensinará ao meu povo a diferença entre o que é santo e o que é secular, entre o que é puro e o que é impuro. Servirão como juízes para resolver desentendimentos entre o meu povo. As suas decisões deverão fundamentar-se em leis. Os próprios sacerdotes deverão obedecer aos regulamentos e estatutos para todas as minhas festas sagradas e santificar os meus sábados. Um sacerdote não se deve contaminar, aproximando-se dum corpo morto, a menos que se trate do pai, da mãe, de um filho seu, de um irmão ou uma irmã solteira. Em tais casos não há problema nenhum. Mas após se ter purificado terá de esperar sete dias antes de poder de novo cumprir os seus deveres no templo. No primeiro dia em que retomar ao trabalho no pátio interior e no santuário, terá de oferecer um sacrifício pelo pecado de si próprio, diz o Senhor Deus. Não têm o direito de possuir propriedades, pois eu sou tudo o que eles possuem. O seu alimento será constituído pelos dons e sacrifícios trazidos ao templo pelo povo, as ofertas de cereais, as ofertas pelo pecado e pela culpa. Tudo aquilo que é oferecido ao Senhor pertence aos sacerdotes. Os primeiros frutos apanhados, e de uma forma geral todos os dons que se oferecem, vão para os sacerdotes. Os primeiros frutos de tudo também serão dados aos sacerdotes, para que o Senhor abençoe os vossos lares. Os sacerdotes nunca comerão carne de nenhuma ave ou animal que tenha morrido de morte natural ou que tenha sido morto quando atacado por outros animais. Ao repartirem a terra pelas tribos de Israel, darão primeiramente uma área ao Senhor como sua porção sagrada. Esta zona deverá ter 12,5 quilómetros de comprimento por 10 quilómetros de largura. Esse solo será sagrado. Uma secção dessa terra, com 250 metros quadrados, será atribuída para edificação do templo. Acrescentar-se-lhe-á uma zona adicional de 25 metros em toda a volta que deverá ficar vazia. Metade dessa área, isto é, um terreno com 12,5 quilómetros de comprimento e 5 quilómetros de largura, deverá ser separado para o templo. Toda essa porção de solo será terra santíssima; será usada pelos sacerdotes que servem no santuário, para as suas casas, ao mesmo tempo que é o sítio do meu templo. A zona adstrita a esta, de 12,5 quilómetros de comprimento e de 5 quilómetros de largura, servirá de zona de residência para os levitas que trabalham no templo. Adjacente a esse local santo haverá uma secção de terreno de 12,5 quilómetros por 2,5 quilómetros que ficará aberta a toda a gente em Israel. Duas zonas especiais da terra serão postas de parte para o príncipe, uma de cada lado desse local santo e dessa secção aberta a todos; confinará com estas no seu comprimento; os seus limites, tanto a ocidente como a oriente, são os mesmos que os das zonas atribuídas às tribos. Este será o seu lote. Os meus príncipes não mais oprimirão nem defraudarão o povo. Deverão, portanto, atribuir tudo o que restar da terra do povo, dando uma porção a cada tribo. Diz o Senhor Deus aos governantes: Deixem de explorar e correr com o meu povo para fora da terra pela violência, despojando-o dos seus lares. Procurem sempre agir com justiça e honestidade. Apliquem a justiça em tudo o que seja medições, balanças ou escalas de medida. O homer será a vossa unidade de base, tanto para medir líquidos como sólidos. As medidas inferiores serão o efa para os sólidos e o bato para os líquidos. A unidade de peso será o siclo de prata e valerá sempre vinte geras, e não menos do que isso; cinco siclos valem mesmo cinco siclos e nunca menos; dez siclos são mesmo dez siclos; sessenta siclos equivalem a uma mina. As vossas ofertas deverão ser feitas da seguinte maneira: devem dar uma medida em cada sessenta das vossas colheitas de trigo e de cevada. Devem dar um por cento do vosso azeite; meçam o azeite com um bato, que é a décima parte do homer, e é igualmente a décima parte do coro. Quanto ao gado, por cada duzentas ovelhas dos vossos rebanhos em Israel darão uma. Estas são as ofertas de alimentos, holocaustos e ofertas de paz, para fazer a expiação por aqueles que as trouxerem, diz o Senhor Deus. Todo o povo de Israel deverá trazer as suas ofertas ao príncipe de Israel. O príncipe terá a obrigação de fornecer ao povo todos os sacrifícios necessários para as celebrações de adoração pública; ofertas pelo pecado, holocaustos, ofertas de vinho, de alimentos e de paz, para fazer expiação pelo povo de Israel. Isto será por altura das festas religiosas, das cerimónias da lua nova, dos sábados e de todas as outras ocasiões semelhantes. Diz o Senhor Deus: No primeiro dia de cada ano novo sacrifiquem um novilho, sem defeito, para purificar o templo. O sacerdote pegará em parte do sangue desta oferta pelo pecado e pô-lo-á nos umbrais da porta do templo e sobre os quatro cantos da base do altar, e ainda sobre as paredes da entrada do pátio interior. Façam isto também no sétimo dia desse mesmo primeiro mês por alguém que tenha pecado por erro ou ignorância; e assim o templo ficará purificado. No dia 14 do primeiro mês celebrarão a Páscoa. Durante sete dias comerão pão sem fermento. Nesses dias comer-se-á unicamente pão sem fermento. No dia de Páscoa o príncipe fornecerá um novilho para ser apresentado como oferta pelo pecado, por si próprio e pelo povo de Israel. E em cada um dos sete dias seguintes dessa celebração devem preparar um holocausto ao Senhor. Esta oferta diária consistirá em sete novilhos e sete carneiros sem qualquer defeito. Um bode será também ofertado diariamente por expiação do pecado. O príncipe fornecerá 3,8 litros de grão para oferta de cereais, 22 litros por cada um dos novilhos e carneiros, e 3,8 litros de azeite para acompanhar cada efa de grão. Durante os sete dias da festa dos tabernáculos, que se realiza no décimo quinto dia do sétimo mês, o príncipe fornecerá os mesmos sacrifícios para a expiação do pecado; os holocaustos, as ofertas de cereais e as ofertas de azeite. Diz o Senhor Deus: A entrada do lado da parede interior, a oriente, estará fechada durante os seis dias úteis e só se abrirá no sábado e nos dias das celebrações da lua nova. O príncipe entrará pela entrada exterior da passagem e permanecerá junto à ombreira da porta, enquanto o sacerdote oferece os seus holocaustos e ofertas de paz. Ele adorará no interior da passagem e depois regressará à entrada, a qual não será fechada antes do anoitecer. O povo adorará o Senhor em frente desta passagem, nos sábados e nos dias das celebrações da lua nova. Os holocaustos que o príncipe oferece ao Senhor nos dias de sábado consistirão em seis cordeiros e um carneiro, todos sem o mínimo defeito. Apresentará uma oferta de cereais de 22 litros de farinha, para acompanhar o carneiro, e também uma outra quantidade, desta vez conforme o que ele entender, para acompanhar cada cordeiro. Trará também 3,8 litros de azeite por cada 22 litros de farinha. Na celebração da lua nova trará um novilho perfeito, seis cordeiros e um carneiro sem qualquer imperfeição. Com o novilho trará 22 litros de farinha para uma oferta de cereais. Com o carneiro trará também 22 litros de farinha. Com o cordeiro trará aquilo que ele quiser dar. Por cada quantidade de 22 litros de farinha oferecerá 3,8 litros de azeite. O príncipe poderá entrar e sair pela passagem. Mas quando o povo entrar pela passagem do norte, para sacrificar durante as festas religiosas, deverá depois sair pelo lado sul. E os que entrarem pelo lado sul sairão pela passagem oposta, a do norte. Nunca sairão pelo sítio por onde entraram; deverão sempre utilizar a passagem oposta. O príncipe entrará e sairá juntamente com o povo nestas ocasiões. Para resumir: Nas celebrações especiais e nas festas sagradas, as ofertas de cereais serão constituídas por 22 litros de farinha a acompanhar o novilho; o mesmo para acompanhar o carneiro; tanto quanto ele quiser para acompanhar o cordeiro; 3,8 litros de azeite por cada quantidade de 22 litros de farinha. Sempre que o príncipe oferecer um holocausto ou uma oferta voluntária de paz, para serem sacrificados ao Senhor, o portão interior oriental será aberto para que possa entrar e oferecer os seus sacrifícios, como acontece aos sábados. Depois voltar-se-á e sairá, após o que a porta será fechada sobre ele. Todas as manhãs, um cordeiro de um ano será sacrificado como holocausto ao Senhor. Haverá também, todas as manhãs, uma oferta de cereais de 3,8 litros de farinha, com 1,3 litros de azeite misturados. Isto é um regulamento permanente. O cordeiro, a oferta de cereal e o azeite serão fornecidos em cada manhã para esse holocausto diário. Diz o Senhor Deus: Se o príncipe der uma oferta de terra a um dos seus filhos, pertencer-lhe-á sempre. Mas se der uma oferta de terra a um dos seus servos, este conservá-la-á até ao ano da liberdade, ano em que se tornará livre; nessa altura, a terra retornará ao seu primeiro possuidor, o príncipe. Apenas os dons concedidos aos seus filhos terão carácter permanente. Aliás, o príncipe nunca poderá subtrair a propriedade duma outra pessoa pela violência. Se der um presente de terra aos seus filhos, deverá ser das suas possessões privadas, pois não quero que o meu povo perca o que lhe pertence e que por isso tenha de abandonar a terra.” Depois disso, usando a porta através da parede do lado da passagem principal, conduziu-me pela entrada até ao bloco dos quartos sagrados, virados para o lado norte. Ali, no extremo oeste dessas câmaras, vi um lugar onde, pelo que me foi dito pelo homem que me guiava, os sacerdotes cozem o alimento do sacrifício de culpa e da oferta pelo pecado, e onde cozem o pão com a farinha das ofertas de cereais; fazem-no aqui para evitar ter de carregar os sacrifícios através do átrio exterior, para que o povo não toque naquilo que é sagrado. Tornou a trazer-me para o átrio exterior e levou-me a cada um dos quatro cantos do átrio. Vi que havia em cada canto uma câmara de 20 metros de comprimento por 15 metros de largura, rodeada por paredes. Debaixo das muralhas, em toda a volta, havia uma fila de fornos de tijolo. Explicou-me depois que esses fornos era onde os auxiliares do templo, os levitas, coziam os sacrifícios que o povo oferecia. Tornou a trazer-me de volta para a entrada do templo. Vi então uma nascente de água que corria para o oriente, vinda de sob o templo e que passava à direita do altar, pelo seu lado sul. Fez-me sair para o exterior da muralha, pela porta do norte, e dar a volta até à entrada do oriente, onde vi a torrente passando para o lado sul, o da passagem oriental. À medida que avançava, ia medindo e levou-me 500 metros para oriente, ao longo da torrente, mandando-me que a atravessasse. Nessa altura, a água dava-me pelos artelhos. Mediu mais 500 metros e mandou-me novamente que atravessasse; desta vez a água já me dava pelos joelhos. 500 metros depois, dava-me pela cintura e 500 metros a seguir já a água era tão profunda que eu não podia atravessar, a menos que o fizesse a nado. Disse-me que me lembrasse bem do que tinha visto e deu-me ordem para regressar à margem donde partira. Quando ali cheguei, reparei que havia muitas árvores que tinham crescido em ambas as margens deste rio. Falou-me assim: “Este rio corre para oriente, através do deserto e do vale do Jordão para o mar Morto, onde alterará as suas águas, tornando-se frescas e puras. Tudo que estas águas tocarem viverá. O peixe tornar-se-á abundante nas águas do mar Morto, porque as águas desse rio curarão as águas salgadas do mar Morto e as tornarão frescas e puras. Por tudo o que este rio passar, haverá vida. Haverá pescadores nas margens do mar Morto, pescando desde En-Gedi até En-Eglaim. As praias estarão cheias de redes secando ao sol. O mar Morto estará cheio de peixes de toda a qualidade como acontece no Mediterrâneo. No entanto, os seus charcos e os seus lamaceiros, esses não se tornarão doces; manter-se-ão salgados para serem fontes de sal. Além disso, toda a espécie de árvores de fruto crescerão nas margens deste rio, árvores cujas folhas serão sempre verdes e que nunca cairão; nelas sempre haverá fruto. Todos os meses se fará uma nova apanha de fruto, pois essas árvores são banhadas por um rio que corre desde o templo. O fruto servirá de alimento e as folhas usar-se-ão para fins terapêuticos.” Diz o Senhor Deus: “São estas as instruções respeitantes à divisão da terra pelas doze tribos de Israel; a tribo de José, Efraim e Manassés, receberá como duas tribos. As outras receberão, cada uma, uma parte. Prometi solenemente que daria a terra aos vossos pais e agora tomarão posse dela. A fronteira norte irá desde o Mediterrâneo em direção a Hetlom e depois até à entrada de Zedade; seguidamente, até Berotá e Sibraim, que estão na fronteira de Damasco e de Hamate; finalmente até Hazer-Haticom, junto à fronteira de Haurã. Portanto, a fronteira norte será desde o Mediterrâneo até Hazar-Enom, a oriente, e fará fronteira com Hamate e Damasco a norte. A fronteira oriental correrá para o sul, desde Hazar-Enom até ao monte Haurã, onde se inclinará para ocidente, para o Jordão e para a ponta sul do mar da Galileia, continuando depois para baixo, com o rio Jordão a separar Israel de Gileade, passando o mar Morto até Tamar. A fronteira sul irá desde o leste, de Tamar, até à fontes de Meribá-Cades; depois segue o curso do rio do Egito até ao Mediterrâneo. Do lado do ocidente, o próprio mar Mediterrâneo lhe servirá de fronteira, desde a fronteira sul até a entrada de Lebo-Hamate. Esse será o limite das terras a oeste. Dividam a terra, dentro destes limites, por entre as tribos de Israel. Distribuam a terra como se fosse uma herança, entre vocês e os estrangeiros que vivem convosco com as suas famílias. Todas as crianças nascidas na terra, filhas ou não de estrangeiros, devem ser consideradas como cidadãos com os mesmos direitos que os vossos próprios filhos. A todos estes estrangeiros será dada terra de acordo com a tribo onde vivem atualmente. Assim diz o Senhor Deus. Esta é a lista das tribos com o território que cada uma receberá. Dan: desde a fronteira do norte, no Mediterrâneo, através de Hetlom até Hamate, e depois até Hazar-Enã, na fronteira entre Damasco, a sul, e Hamate, a norte. São esses os limites a leste e a oeste da terra. Aser: o seu território fica a sul do território de Dan e tem as mesmas fronteiras a leste e a oeste. Naftali: fica a sul de Aser e tem também as mesmas fronteiras a leste e a oeste. Manassés: fica a sul de Naftali, com os mesmos limites a leste e a oeste. A seguir, junto a Manassés para o sul, fica Efraim, depois ficará Rúben e, por fim Judá, todos com as mesmas linhas de limite a leste e a oeste. No território de Judá, desde a fronteira oriental até ao mar Mediterrâneo, a ocidente, será reservado um território que terá a mesma extensão que o de cada tribo, ou seja, 12,5 quilómetros de extensão. O templo será estabelecido no centro desta área. Além disso, haverá uma faixa de território com 12,5 quilómetros de comprimento e 5 quilómetros de largura, É porção especial de terra que lhe é atribuída, a mais santíssima de todas. A seguir a essa área há outra onde viverão os levitas. Será do mesmo tamanho e com a mesma forma que a primeira. Juntas medirão 12,5 quilómetros por 5 quilómetros. Nenhuma parte desta terra especial poderá ser vendida, negociada ou arrendada, pois pertence ao Senhor, é santa. A faixa de terra de 12,5 quilómetros de comprimento por 2,5 quilómetros de largura, a sul da secção atribuída ao templo, será para uso público com a cidade no centro. A própria cidade será quadrada e terá 2,5 quilómetros de largura. Uma terra aberta para pastagens rodeará a cidade e terá 125 metros de extensão. No exterior da cidade, estendendo-se numa faixa de 5 quilómetros a leste e a oeste, na margem da terra sagrada, haverá um campo para a agricultura, pertencente à cidade, para uso público. Estará aberto a quem trabalhar na cidade, seja qual for a sua origem em Israel. Toda esta área, incluindo as terras sagradas e as terras da cidade, será um quadrado com 12,5 quilómetros de largo. As secções dadas às tribos restantes são as seguintes. Benjamim: estende-se através de todo o território de Israel, desde a fronteira do oriente até à do ocidente. Ao sul fica a de Simeão, estendendo-se igualmente entre estas as fronteiras oriental e ocidental. Depois é Issacar com os mesmos limites. A seguir vem Zebulão com a mesma forma. Gad também com os mesmos limites. Mas a sua fronteira a sul vai de Tamar até às fontes de Meribá-Cades, seguindo depois pela Ribeira do Egito até ao Mediterrâneo. É este o loteamento que se fará entre cada tribo, conforme a palavra do Senhor Deus. A leste, na muralha igualmente de 2,25 quilómetros, haverá também três portas, com os nomes de José, Benjamim e Dan. A sul, na muralha que terá o mesmo comprimento, haverá as portas de Simeão, Issacar e Zebulão. E a oeste, da mesma maneira, ver-se-ão as portas de Gad, Aser e Naftali. O perímetro total da cidade medirá 9 quilómetros e chamar-se-á: o Senhor está ali.” Três anos depois do rei Joaquim ter começado a reinar em Judá, o rei da Babilónia, Nabucodonozor, atacou Jerusalém com os seus exércitos. E o Senhor deu-lhe a vitória sobre Joaquim. Antes de regressar a Sinar (Babilónia), retirou algumas das taças sagradas do templo de Deus e pô-las depois no tesouro do seu deus. Então mandou a Aspenaz, que era o chefe do pessoal de serviço no palácio real, que selecionasse alguns dos jovens judeus trazidos como cativos; mancebos de linhagem real, pertencentes à nobreza de Judá, para lhes ensinar a língua dos caldeus e a sua cultura. “Escolham-me uns moços fortes, saudáveis e de bela aparência!”, disse ele. “Devem ser instruídos em todos os domínios do saber, com uma boa cultura geral, e estar preparados para viver no palácio.” O rei ordenou que lhes dessem do melhor alimento a comer e do melhor vinho a beber, de tudo aquilo que era servido a ele próprio; e isso durante três anos, para que no final desse período de preparação viessem a ser seus conselheiros. Daniel, Hananias, Misael e Azarias foram quatro dos jovens escolhidos de todas as tribos de Judá. O responsável pela sua formação pôs-lhes outros nomes, nomes babilónicos. A Daniel chamou Beltessazar, a Hananias, Sadraque, a Misael, Mesaque e a Azarias, Abednego. Mas Daniel assentou no seu coração não se contaminar com o alimento e o vinho que o rei lhes dava. Pediu então a esse responsável que lhes permitisse alimentarem-se de outras coisas. Aconteceu até que Deus fez com que esse homem tivesse uma certa simpatia especial por Daniel e usasse de uma certa tolerância. No entanto, ficou alarmado com a sugestão de Daniel: “Tenho receio que vocês fiquem com um aspeto mais débil, quando comparados com os outros da vossa idade, e que o rei me mande decapitar por ter negligenciado as minhas responsabilidades!” Daniel foi ter com o mordomo, a quem o responsável tinha encarregado de cuidar de Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Sugeriu-lhe que durante dez dias os deixasse submeterem-se a um regime apenas de vegetais e água. No final desse período, o mordomo poderia comparar a aparência deles com a dos outros que comiam da comida do rei e logo veria se continuariam com esse regime alimentar. O mordomo acabou por concordar. No fim dos dez dias, Daniel e os seus três amigos pareciam mais saudáveis e mais bem alimentados que os jovens que tinham comido a comida real. O mordomo passou a dar-lhes unicamente vegetais e água, retirando-lhes da alimentação os outros ricos pratos e os vinhos. Deus concedeu a estes quatro moços uma grande capacidade de aprendizagem, de tal forma que em breve dominavam os conhecimentos e a cultura daquele tempo. Deus deu mesmo a Daniel uma competência especial para compreender o significado de sonhos e visões. Quando aquele período de três anos de preparação e estudo se completou, o responsável nomeado pelo soberano trouxe todos os mancebos à presença deste, para serem examinados. O rei Nabucodonozor conversou longamente com cada um deles, mas aqueles que mais o impressionaram foram, sem dúvida, Daniel, Hananias, Misael e Azarias. E passaram a ocupar o seu lugar na equipa de conselheiros reais. Em todos os assuntos em que se requeria uma informação exata e a emissão de pareceres inteligentes, o rei achava os juízos destes jovens sempre dez vezes melhores que os dos magos e adivinhos do seu reino. Daniel manteve-se nesse lugar de conselheiro do rei até ao primeiro ano do reinado de Ciro. Uma certa noite, no segundo ano do seu reinado, Nabucodonozor teve um terrível pesadelo e acordou tremendo de terror. O seu espírito ficou tão aflito que não conseguia dormir. Chamou imediatamente todos os seus magos, astrólogos, encantadores, feiticeiros e ordenou-lhes que lhe lembrassem o sonho que tinha tido: “Tive um certo sonho”, disse-lhes, quando se apresentaram na sua presença, “e sinto-me muito incomodado sem saber o que significava.” Os outros, expressando-se em aramaico, disseram-lhe: “O rei que nos diga primeiro o sonho que teve e depois poderemos explicar-lhe o seu significado.” Mas o rei replicou: “Já vos disse que se não me disserem o que foi com que eu sonhei e não me explicarem o seu sentido, despedaçar-vos-ei e as vossas casas serão feitas num montão de ruínas! Se, pelo contrário, me contarem o sonho e o seu significado, encher-vos-ei de presentes, benefícios e honrarias. Portanto, fico à espera!” E aqueles homens tornaram a responder-lhe: “Mas como poderemos dizer o significado do sonho se não o contares previamente?” “Vocês estão a ver se ganham tempo, pois sabem que estou decidido a cumprir o que disse. Estão a preparar-se para me enganar com uma explicação qualquer, a ver se me esqueço do assunto e mudo de ideias. Mas não, digam-me com o que sonhei e só assim acreditarei na interpretação que me derem.” “Não há homem algum sobre a face da Terra que seja capaz de dizer que sonho é que tiveste! Como também não há rei algum do mundo que exija semelhante coisa dos seus súbditos! O que o rei exige é uma coisa impossível. Ninguém, exceto unicamente os deuses, podem dizer-te o sonho que tiveste, e eles não estão aqui para intervir.” Ao ouvir isto o rei ficou profundamente irado e deu ordens para que todos os sábios da Babilónia fossem executados. Foram então buscar Daniel e os seus companheiros para serem mortos. Mas quando Arioque, o chefe da guarda real, veio para os levar, com muita sabedoria e bom senso, Daniel dominou a situação, perguntando: “Porque é que o rei está assim tão zangado? O que é que se passou?” Arioque contou-lhe tudo o que acontecera. Daniel pediu uma audiência com o soberano e disse-lhe: “Dá-me só um pouco de tempo e contar-te-ei o sonho que tiveste e o seu significado.” Depois foi para casa e expôs a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, toda a situação. Pediram ao Deus do céu que lhes mostrasse misericórdia, dando-lhes a conhecer esse sonho misterioso, para que não tivessem de perder a vida juntamente com todos os outros. Nessa mesma noite, Deus contou a Daniel, numa visão, o que o rei tinha sonhado. Daniel louvou o Deus do céu: “Louvado seja o nome de Deus por toda a eternidade, porque só ele tem toda a sabedoria e todo o poder. Tudo o que se passa neste mundo está sob o seu controlo. Remove governantes dos seus lugares e põe outros no poder. É ele quem dá a sabedoria aos sábios e a inteligência aos homens cultos. Só ele pode revelar os mistérios que ultrapassam a compreensão humana. Conhece tudo o que não está revelado, porque ele é a luz; as trevas não são um obstáculo para ele. Eu te agradeço e te louvo, ó Deus dos meus antepassados, porque me deste inteligência e capacidade, e ainda me revelaste nesta visão o sonho do rei e o seu sentido.” Daniel foi ter com Arioque, que se mantinha obrigado a cumprir a ordem do rei de executar todos os sábios, e disse-lhe: “Suspende essa execução! Leva-me junto do rei e eu lhe revelarei aquilo que ele pretende saber!” Arioque apressou-se a levar Daniel até ao rei, dizendo: “Aquele tal, que é dos cativos de Judá, é capaz de te contar o sonho!” O rei perguntou a Daniel, também chamado Beltessazar: “É verdade? Podes dizer-me o sonho que eu tive e qual é o seu significado?” “Não há sábio, nem astrólogo, nem mago, nem adivinho algum que pudesse revelar-te semelhante coisa. Mas há um Deus no céu que revela os segredos; ele contou-te no sonho que tiveste o que acontecerá no futuro. O teu sonho foi como se segue. Sonhaste coisas que hão de vir a acontecer. Aquele que revela segredos esteve a falar contigo. Lembra-te de que não é por eu ser mais sábio do que qualquer outra pessoa que conheço o segredo do teu sonho; se Deus mo revelou foi para teu benefício. Ó rei, tu viste uma estátua descomunal que tinha um esplendor fantástico e tremendo. A cabeça da estátua era feita do mais puro ouro, o peito e os braços eram de prata, o ventre e as coxas de cobre; as pernas eram de ferro e os pés parte de ferro e parte de barro. Enquanto estavas a olhar, uma rocha foi retirada da montanha por um poder sobrenatural e foi arremessada contra a estátua e esmagou-lhe os pés de ferro e barro, fazendo-os em pedaços. Então deu-se a derrocada de toda a estátua e o ferro, o barro, o cobre, a prata e o ouro desfizeram-se em pedaços, de tal maneira esmiuçados que o vento os levou como se fossem palha e nunca mais se viram. Contudo, a rocha que feriu a estátua tornou-se ela própria uma grande montanha que ocupou a Terra inteira. Foi este o sonho que tiveste e este é o seu significado. Tu és rei sobre reis, porque foi Deus quem te deu o teu reino, o poder, a força e a glória. O teu domínio estende-se às regiões mais afastadas; mesmo os animais e as aves estão sob o teu controlo por vontade de Deus. Tu és essa cabeça de ouro da estátua. Mas quando o teu reino tiver chegado ao fim, um outro poder mundial se levantará e tomará o teu lugar. Esse império será inferior ao teu; depois de cair levantar-se-á um terceiro, representado pelo ventre de bronze da estátua, que regerá o mundo. Um quarto poder virá, tão forte como o ferro, que esmagará, destruirá e conquistará. Os pés que viste, parte de ferro e parte de barro, mostram que mais tarde este reino se dividirá. Uma parte tornar-se-á tão forte como o ferro e outra tão frágil como o barro. Esta mistura de ferro e de barro revela igualmente que estes reinos hão de tentar aumentar o seu poder através de alianças de casamentos entre os seus chefes; mas não resultará, porque o ferro e o barro não podem unir-se. Durante os reinados destes reis, o Deus do céu estabelecerá um reino que nunca mais será destruído; nunca ninguém o conquistará. Consumirá todos estes reinos e reduzi-los-á a nada; mas ele permanecerá para sempre indestrutível. Este é o sentido da rocha arrancada da montanha, sem ser por mãos humanas, a rocha que desfaz em poeira o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. Assim, o grande Deus revela o que acontecerá no futuro e esta interpretação do teu sonho é tão segura e certa como foi a descrição que dele fiz!” Nabucodonozor inclinou-se até ao chão perante Daniel, ordenando ao povo que lhe oferecesse sacrifícios e perfumes suaves. “Verdadeiramente, ó Daniel”, disse o rei, “o teu Deus é o Deus dos deuses, Senhor dos reis, revelador de mistérios, pois revelou-te este segredo!” Então o rei engrandeceu muito Daniel; deu-lhe uma grande quantidade de presentes de alto valor e nomeou-o governador de toda a província da Babilónia, assim como chefe de todos os sábios do país. Depois, a pedido de Daniel, o rei designou Sadraque, Mesaque e Abednego como seus adjuntos na administração da província da Babilónia. Daniel tinha a função de magistrado principal na corte do rei. O rei Nabucodonozor fez uma estátua de ouro, de 30 metros de altura e 3 metros de largura; mandou erguê-la na planície de Dura na província da Babilónia. Seguidamente mandou mensagens a todos os governantes, altas individualidades, chefes militares, juízes, administradores das finanças públicas, conselheiros, autarcas e governadores de províncias do seu império, convidando-os a estarem presentes na consagração da sua estátua. Depois dessas pessoas terem chegado, e quando estavam diante do monumento, um arauto proclamou: “Ó povos de todas as nações e línguas, esta é a ordem do rei. Quando ouvirem a música, o conjunto instrumental formado pelos clarins, flautas, harpas, sambucas, saltérios, gaitas-de-fole e toda a espécie de instrumentos, deverão prostrar-se até ao chão para adorar a estátua de ouro do rei Nabucodonozor. Seja quem for que recusar obedecer a esta ordem será imediatamente lançado numa fornalha ardente!” Assim, logo que a tal banda começou a tocar, toda a gente, de todas as nações, línguas e religiões se inclinou até à terra e adorou a estátua. Aconteceu, no entanto, que alguns funcionários foram ter com o rei, acusando certos judeus de terem recusado adorar. “Que vossa Majestade viva para sempre!”, disseram eles ao rei Nabucodonozor. “Fizeste uma lei ordenando que toda a gente deveria inclinar-se em adoração perante a tua estátua de ouro, no momento em que a banda começasse a tocar. E qualquer pessoa que recusasse fazê-lo seria lançada num forno de chamas ardentes. Há contudo uns judeus, chamados Sadraque, Mesaque e Abednego, a quem deste responsabilidades no governo da Babilónia, que te ofenderam, recusando servir o ídolo do teu deus ou adorar a estátua de ouro que ergueste.” Então Nabucodonozor, furioso e enraivecido, deu ordens para que esses três homens fossem trazidos à sua presença. “É verdade, Sadraque, Mesaque e Abednego”, perguntou-lhes, “que se recusaram servir os meus deuses e adorar a estátua de ouro que mandei erguer? Se assim é, vou dar-vos mais uma oportunidade. Quando a música começar a tocar, se se inclinarem para adorar a estátua, fica tudo bem, mas se recusarem fazê-lo serão lançados no forno flamejante, nessa mesma hora. Veremos se há algum outro deus que vos possa livrar das minhas mãos!” Os três homens responderam: “Ó Nabucodonozor, não precisamos de te responder sobre isso! Se formos lançados dentro da fornalha, o nosso Deus será capaz de nos libertar. Ele nos livrará das tuas mãos! Mas mesmo que não nos livre, fica sabendo, ó majestade, que nunca serviremos os teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que mandaste edificar!” Nabucodonozor encheu-se de furor, o seu rosto ficou vermelho de ira e mandou acender o forno e aquecê-lo sete vezes mais do que habitualmente. Fez vir uns homens dos mais fortes do seu exército, para atarem os três judeus, e deu ordem para que os lançassem na fornalha. E assim aconteceu, depois de serem ligados com cordas fortes foram deitados às chamas, completamente vestidos, com a própria roupa que traziam. Como o soberano, na sua fúria, tinha ordenado um aquecimento excecional do forno, as chamas saíam para o exterior e chegaram a matar os soldados, quando estes atiravam os três homens lá para dentro. Dessa forma, Sadraque, Mesaque e Abednego caíram atados dentro do forno de fogo ardente. Mas de repente, Nabucodonozor, que estava a olhar para a cena, deu um salto de espanto e exclamou para os seus conselheiros: “Não foram três os indivíduos que deitámos para dentro da fornalha?” “Sim, é claro, majestade!”, retorquiram. “Então olhem bem! Eu estou a ver quatro homens desatados, passeando no meio do fogo e as chamas nada lhes fazem! Reparem que o quarto tem o aspeto de um filho dos deuses!” Nabucodonozor aproximou-se da porta aberta do forno e gritou: “Sadraque, Mesaque e Abednego, servos do Deus altíssimo! Saiam daí! Venham cá!” E eles saíram do meio do fogo. Os príncipes, os governadores, os capitães e os conselheiros juntaram-se à volta dos três homens e constataram que o fogo em nada os tinha afetado; nem mesmo um cabelo da sua cabeça se tinha queimado; as suas roupas não estavam sequer chamuscadas e nem cheiravam a queimado. Disse o rei Nabucodonozor: “Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abednego, porque mandou o seu anjo para livrar os seus servos que confiaram nele e recusaram obedecer à ordem do rei, preferindo antes morrer do que servir e adorar qualquer outro deus além do seu Deus. Por isso, faço agora outro decreto pelo qual qualquer pessoa, seja de que nação, língua ou religião for, que disser qualquer frase ofensiva contra o Deus de Sadraque, de Mesaque e de Abednego será despedaçado e a sua casa feita num montão de ruínas, pois não há outro deus que possa livrar como este!” Então o rei fez prosperar estes três homens e promoveu-os a cargos superiores no governo da província da Babilónia. Esta foi a proclamação que o rei Nabucodonozor enviou aos povos de todas as línguas das nações do mundo. Paz vos seja multiplicada! Pareceu-me bem tornar conhecidos os sinais e maravilhas que o Deus altíssimo realizou. Foi qualquer coisa de incrível, um poderoso milagre! E agora sei, de certeza, que o seu reino é eterno; o seu domínio estende-se pelos séculos dos séculos. Eu, Nabucodonozor, vivia tranquilo no meu palácio, rodeado de prosperidade. Até que uma noite tive um sonho que verdadeiramente me aterrorizou. Chamei então todos os sábios da Babilónia, para que me esclarecessem sobre a interpretação do meu sonho. No entanto, quando se apresentaram os mágicos, astrólogos, adivinhos e feiticeiros, depois de lhes ter contado o sonho, não houve nenhum que fosse capaz de interpretá-lo. Por fim, apresentou-se Daniel, esse homem a quem dei o nome de Beltessazar, de acordo com o nome do meu deus e sobre quem está o espírito dos deuses santos, e descrevi-lhe o sonho. Ó Beltessazar, chefe dos magos, disse-lhe eu, sei que o espírito dos deuses santos está sobre ti e que nenhum segredo te é demasiado difícil de desvendar. Diz-me o significado do meu sonho. Vi uma árvore muito alta no meio dum campo. Esta ia-se tornando sempre cada vez mais alta, em direção aos céus, até que podia ser vista por toda a gente no mundo. As suas folhas eram frescas e verdes, os seus ramos vergavam sob o peso de frutos abundantes, frutos que podiam servir de alimento para toda a gente. Os animais selvagens descansavam à sua sombra e os pássaros faziam os ninhos nos seus ramos. Todo o mundo dependia dela. Durante o meu sono, vi um anjo, um vigilante santo que desceu do céu. E este gritou: “Derrubem a árvore; cortem-lhe os ramos, sacudam-lhe as folhas e espalhem os frutos. Espantem os animais que viviam à sua sombra e afugentem os pássaros das ramagens. Deixem, no entanto, o cepo e as raízes no chão, ligado com cadeias de ferro e bronze; deixem que a erva cresça em volta. Será molhado pelo orvalho e essa erva alimentará tanto os animais selvagens como ele próprio! Durante sete anos a sua natureza alterar-se-á; perderá o entendimento de homem ficando como um animal. Isto é decretado pelos vigilantes por mandado dos santos. O objetivo deste decreto é que toda a gente possa compreender que o Altíssimo tem o domínio dos estados do mundo e os dá a quem quer; até o menos notável dos homens pode constituir sobre eles para os governar!” Foi este o sonho que eu, o rei Nabucodonozor, tive. Tu, Beltessazar, podes certamente fazer aquilo que mais ninguém foi capaz, que é dar-me a explicação do sentido deste meu sonho, visto que há em ti o espírito dos deuses santos. Daniel ficou perplexo durante algum tempo e perturbado nos seus pensamentos. Por fim, o rei dirigiu-lhe de novo a palavra: Beltessazar, não fiques assim agastado com a interpretação deste sonho! E Daniel respondeu-lhe. “Meu senhor, eu bem desejaria que os acontecimentos que este sonho prevê pudessem acontecer antes aos teus inimigos! A árvore que viste crescer assim tão alto, atingindo os céus de forma que toda a gente podia vê-la, com as suas folhas verdes, carregada de frutos para alimento de todas as pessoas, com animais selvagens vivendo à sua sombra e as aves aninhando-se nos seus ramos, essa árvore és tu, majestade; tornaste-te grande e poderoso; a tua magnificência atingiu os céus e o teu domínio os confins da Terra. Então viste um anjo, um vigilante santo que veio dos céus dizer: ‘Cortem a árvore, derrubem-na, mas deixem o cepo e as raízes na terra, com a erva crescendo em torno e presa com cadeias de ferro e bronze! Que se cubra o orvalho dos céus! Que se alimente de erva, durante sete anos, como os animais do campo!’ Majestade, o Altíssimo decretou e certamente irá acontecer! Serás expulso do convívio com os seres humanos e viverás no campo como um animal, comendo erva como um boi; os teus lombos se cobrirão de orvalho. Durante sete anos viverás dessa forma, até aprenderes que o Deus altíssimo tem o domínio das nações deste mundo e dá o governo delas a quem entende. No entanto, o cepo e as raízes foram deixadas na terra! Isto significa que retomarás de novo o teu reino, depois de teres reconhecido o poder do céu. Ó rei Nabucodonozor, escuta-me e para de pecar! Pratica aquilo que sabes ser a justiça! Sê misericordioso para com os pobres. Talvez Deus te possa ainda poupar.” O certo é que todas estas coisas vieram a acontecer a Nabucodonozor. Doze meses depois de ter tido o sonho, passeava despreocupadamente no terraço do seu palácio, na Babilónia. Dizia assim: Foi pelo meu grande poderio que se construiu esta bela cidade para sede da minha corte e capital do meu império! Estava ainda proferindo estas palavras quando uma voz o chamou do céu: “Ó rei Nabucodonozor, esta mensagem é para ti! Não és mais o rei desta nação. Serás expulso do convívio com os seres humanos e viverás com os animais! Comerás erva como os bois, durante sete anos, até reconheceres que Deus tem domínio sobre as nações e dá o seu governo a quem entender!” Nessa mesma ocasião, cumpriu-se a palavra anunciada. Nabucodonozor foi lançado fora do convívio com os seres humanos e passou a comer erva; o seu corpo cobria-se de orvalho. Cresceu-lhe o cabelo, que parecia penas de águia, e apareceram-lhe garras como nas aves. Ao fim dos sete anos, eu, Nabucodonozor, levantei os olhos para o céu, retomei o meu entendimento normal, louvei e adorei o Deus altíssimo; honrei aquele que vive eternamente, cujo domínio não tem fim, cujo reino dura para sempre. Os povos da Terra são como nada comparados com ele. Faz o que entende por melhor com os habitantes do céu, tal como os moradores da Terra. Ninguém se lhe pode opor nem perguntar-lhe: “Para que serve o que fazes?” Quando readquiri as faculdades mentais, também me foi devolvida a honra e a glória do meu reino. Os meus conselheiros e ministros regressaram à corte e fui restabelecido como senhor do meu reino, com ainda maior magnificência do que antes. Agora, eu, Nabucodonozor, louvo, glorifico e honro o Rei do céu, o juiz da humanidade, cujas obras são sempre justas e boas. Ele pode humilhar os que se conduzem com soberba! O rei Belsazar convidou mil dos seus nobres para um grande banquete e o vinho correu a jorros. Numa altura em que Belsazar estava a beber, lembrou-se das taças de ouro e prata que tinham sido trazidas, havia já muito tempo, do templo de Jerusalém para a Babilónia, durante o reinado de Nabucodonozor. Deu então ordens que essas taças sagradas fossem trazidas ali, para o banquete; depois, beberam por elas os governantes, as suas mulheres e concubinas, erguendo-as em sinal de louvor aos seus ídolos feitos de ouro, prata, cobre, ferro, de madeira e de pedra. De repente, enquanto bebiam por aquelas taças, viram uns dedos de mão humana escrevendo no estuque da parede que estava em frente do castiçal. O próprio rei viu os dedos a escreverem. Ficou lívido de terror, de maneira que até os joelhos lhe começaram a tremer e não se aguentou mais nas pernas. “Tragam cá os magos e os astrólogos!”, gritou ele. “Tragam também os adivinhos! Quem for capaz de explicar o significado das palavras que ali estão na parede e de interpretar o sentido daquilo será vestido com roupa de púrpura de dignidade real, ser-lhe-á posto um colar de ouro ao pescoço e tornar-se-á o terceiro na hierarquia dos chefes do reino!” Mas quando os homens requeridos se apresentaram, nenhum foi capaz de compreender a frase escrita e de esclarecer o seu sentido. O rei estava cada vez mais assustado; o seu rosto refletia todo o terror que sentia; a sua corte estava igualmente extremamente perturbada. Quando a rainha-mãe ouviu o que se estava a passar, correu até ao local do banquete e disse a Belsazar: “Acalma-te, ó rei! Não fiques assim tão perturbado e com o rosto alterado. Porque há um homem no teu reino que tem nele o espírito dos deuses santos. Quando teu pai vivia, esse homem foi reconhecido como sendo cheio de sabedoria e de inteligência, como se fosse ele próprio um deus. No reinado de Nabucodonozor, teu antecessor, foi nomeado chefe dos magos, dos astrólogos, dos caldeus e dos adivinhos da Babilónia. Convoca agora esse homem, Daniel ou Beltessazar, como o rei lhe chamava, porque o seu espírito está cheio de conhecimento e de inteligência superiores. É capaz de interpretar sonhos, explicar enigmas e achar a solução para os problemas mais complexos. Ele dir-te-á qual o significado dessa frase!” Daniel foi trazido à presença do soberano que lhe perguntou: “És Daniel, aquele judeu que o rei Nabucodonozor trouxe de Israel como cativo? Ouvi dizer que tens o espírito dos deuses em ti e que estás cheio de entendimento e tens uma inteligência iluminada. Os meus sábios e os astrólogos tentaram perceber aquele escrito na parede, para me esclarecer sobre o seu sentido, e não foram capazes. Também me disseram que sabes explicar toda a espécie de mistérios. Se souberes interpretar aquelas palavras, vestir-te-ei com roupa de púrpura, por-te-ei um colar de ouro ao pescoço e serás o terceiro na hierarquia do poder na Babilónia.” Respondeu Daniel: “Não pretendo os teus dons, poderás dá-los a outra pessoa! Contudo, dir-te-ei o sentido daquela frase. Ó rei, o Deus altíssimo concedeu a Nabucodonozor, teu pai, um reino cheio de majestade, honra e glória. Concedeu-lhe tal majestade que todas as nações do mundo tremiam de medo perante ele. Matava quem lhe desagradava e favorecia aqueles de quem gostava. Conforme ele queria, engrandecia ou abatia. Mas quando o seu coração se exaltou e o seu espírito se endureceu de orgulho, Deus removeu-o do trono real e tirou-lhe todo o fausto de que se rodeava. Foi expulso do convívio com os seres humanos e mandado para os campos. Os seus pensamentos e sentidos tornaram-se nos de um animal e passou a viver entre jumentos monteses; comia erva como os bois e o seu corpo ficou húmido com o orvalho, até que reconheceu, por fim, que é o Altíssimo quem dirige os governos das nações; é ele quem designa quem quer para governar sobre elas. E tu, seu sucessor, ó Belsazar, sabes bem isto tudo, mas não te tornaste humilde. Tu ofendeste o Senhor dos céus, quando trouxeste para cá essas taças do seu templo; tu, os teus ministros, as suas mulheres e concubinas beberam vinho por elas, enquanto davam louvores a deuses de ouro, prata, cobre, ferro, madeira e pedra, deuses que nem veem, nem ouvem, nem sabem coisa nenhuma. Não deste louvores ao Deus que te dá a própria vida e controla o teu destino! E é este o significado: Mene quer dizer contado. Deus já determinou o número limite dos dias do teu reinado, que chegaram ao fim. Tequel quer dizer pesado. Foste pesado na balança de Deus e foste achado em falta. Parsin significa dividido. O teu reino será repartido e dado aos medos e aos persas.” Então Belsazar mandou que Daniel fosse vestido de púrpura, que lhe pusessem um colar de ouro no pescoço e que o proclamassem terceiro na hierarquia real. Nessa mesma noite, Belsazar, rei dos caldeus, foi morto; Dario, o medo, entrou na cidade e começou a reinar com a idade de 62 anos. Dario decidiu dividir o reino em 120 províncias, cada uma sob um governador. Estes governadores eram responsáveis perante três presidentes, sendo Daniel um deles. Desta forma o rei podia administrar a nação com mais eficiência. Daniel deu provas de ser mais competente do que os outros presidentes e governadores, pois tinha grandes capacidades. O rei começou assim a fazer planos para alargar a sua área de ação, pondo-o como seu colaborador na administração de todo o império. Isto fez com que os outros presidentes e governadores se sentissem despeitados e começassem à procura da mais pequena falta na forma como Daniel conduzia os negócios do reino, a fim de apresentarem logo queixa ao rei contra ele. Mas o certo é que não conseguiam encontrar nele motivo nenhum para ser criticado. Daniel era uma pessoa fiel, honesta e não cometia erros. Por isso, concluíram: “A nossa única hipótese está na sua própria religião!” Decidiram então ir falar ao rei nestes termos: “Rei Dario, vive para sempre! Nós, presidentes, governadores, conselheiros e deputados concordámos unanimemente que devíamos pedir-te para fazeres uma lei, irrevogável sob circunstância alguma, pela qual, nos próximos trinta dias, alguém que pedir um favor a um deus ou a algum homem, que não seja a ti, ó majestade, deverá ser lançado na cova dos leões. Pedimos-te que assines essa lei, para que não possa ser revogada nem alterada. Será uma lei dos medos e dos persas que não pode ser modificada.” Então Dario assinou a lei. Daniel tomou conhecimento disso tudo. Foi para casa e ajoelhou-se para orar, como sempre fazia, no seu quarto, com as janelas abertas, na direção de Jerusalém. Daniel costumava orar três vezes ao dia e dava graças ao seu Deus. Aqueles homens foram à casa de Daniel e acharam-no orando, pedindo favores ao seu Deus. Correram de novo para junto do soberano e lembraram-lhe a lei que acabara de fazer. “Não assinaste tu um decreto segundo o qual era proibido fazer qualquer petição a um deus ou a algum homem, que não fosse a ti, e isto durante trinta dias? E que se alguém desobedecesse a esta lei seria lançado na cova dos leões?” “Sim, é verdade, é uma lei dos medos e dos persas que se não pode revogar!” “Pois fica sabendo que esse Daniel, dos cativos judeus, não faz caso de ti nem das tuas leis! Pede favores ao seu Deus três vezes ao dia!” Ao ouvir isto, o rei ficou muito angustiado, por ter sido levado a assinar tal lei, e decidiu para consigo fazer tudo para salvar Daniel. Passou o resto do dia a pensar como haveria de livrá-lo. Ao anoitecer os homens voltaram de novo à presença do rei: “Majestade, não há nada que possas fazer! Assinaste a lei, não pode ser revogada!” O rei deu então ordem para prenderem Daniel e este foi levado para a cova dos leões. O rei ainda lhe disse: “Daniel! Que o teu Deus, a quem tu continuamente adoras, te livre!” Depois lançaram-no na cova. Trouxeram uma pedra que puseram sobre a entrada da cova e o rei selou-a com o seu próprio anel e com o da administração pública, para que ninguém pudesse tirar Daniel dali. O rei voltou para o palácio e foi deitar-se sem nada ter comido. Recusou o habitual serão de música e não conseguiu dormir a noite toda. Logo de manhã cedo foi a correr à cova dos leões. E chamou em tom angustiado: “Daniel, servo do Deus vivo, dar-se-á o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, te tenha podido salvar dos leões?” Então ouviu-se a voz de Daniel: “Ó rei, vive para sempre! O meu Deus enviou o seu anjo que fechou a boca dos leões e estes não puderam tocar-me. Porque estou inocente perante Deus e nunca cometi delito algum contra ti, ó rei!” O soberano não conteve a sua alegria e mandou logo que Daniel fosse dali tirado. Verificou-se que não sofrera a mais pequena beliscadura, porque creu no seu Deus. O rei mandou que fossem trazidos os acusadores de Daniel e lançou-os na cova dos leões, juntamente com as mulheres e os filhos. Os leões, mal as pessoas chegaram ao fundo da cova, já lhes estavam a esmagar os ossos. Posteriormente, o rei Dario dirigiu a seguinte mensagem a todos os povos do seu império: Que haja muita paz entre todos! Nesta mesma data vou decretar uma lei segundo a qual toda a gente no meu reino deverá respeitar e temer profundamente o Deus de Daniel. O seu Deus é vivo, é um Deus que não muda e cujo reino nunca será destruído; o seu poder não tem fim. Ele livra o seu povo, preserva-o do mal. Faz grandes milagres tanto na Terra como no céu. Foi ele quem livrou Daniel do poder dos leões. Desta forma, Daniel prosperou durante o reinado de Dario e também durante o reinado de Ciro, o persa. Uma noite, durante o primeiro ano do reinado de Belsazar, rei da Babilónia, Daniel teve um sonho e relatou-o por escrito. Foi assim: No meu sonho estava a assistir a uma tremenda tempestade num grande oceano, com fortes ventos soprando em todas as direções. Então quatro enormes animais saíram do mar, todos eles diferentes. O primeiro era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia; no entanto, estas encontravam-se arrancadas e, por isso, não podia mais voar; estava de pé, sobre duas patas, como um ser humano; foi-lhe mesmo dada uma mente humana. O segundo parecia-se com um urso, levantado sobre as suas patas traseiras. Vi-lhe três costelas entre os dentes e ouvi uma voz que lhe dizia: “Levanta-te! Devora muita gente!” O terceiro destes animais parecia-se com um leopardo, mas no seu dorso tinha asas como os pássaros, e quatro cabeças! Foi-lhe dado grande poder sobre o género humano. Enquanto continuava a olhar, no meu sonho, um quarto animal levantou-se das águas, terrível e espantoso. Devorava as vítimas, desfazendo-as primeiro em pedaços, com grandes dentes de ferro e pisando-as sob as patas. Era de longe muito mais brutal e feroz que os anteriores e tinha dez chifres. Atentando para esses chifres, reparei que nascia entre eles um outro mais pequeno e que, na sequência disso, três dos outros foram arrancados com a raiz e tudo, para lhe deixar espaço; essa ponta mais pequena tinha olhos humanos; tinha também uma boca, com a qual falava com grande arrogância. A certa altura, foram colocados uns tronos e um ancião de idade avançada sentou-se para julgar. A roupa que trazia vestida era da maior alvura e o seu cabelo era branquíssimo. Estava sentado num trono feito de chamas, o qual se deslocava sobre rodas de fogo; um rio de fogo jorrava dele; tinha milhões de anjos ao seu serviço; centenas de milhões de pessoas esperavam as suas ordens e serviam-no; então o tribunal começou a sua sessão e foram abertos os livros. Continuando eu a olhar, o quarto animal brutal foi morto e o seu corpo ligado para ser queimado, por causa da sua altivez para com o Deus poderoso e por causa da soberba do seu chifre mais pequeno. Quanto aos outros três animais, foi-lhes retirado o seu domínio; no entanto, a sua vida foi prolongada ainda durante algum tempo. Seguidamente, assisti ao aparecimento de um Filho de Homem, segundo me pareceu, trazido até ali sobre nuvens desde o céu; aproximou-se do ancião e foi-lhe apresentado. Deram-lhe poder para governar e para que fosse honrado em todas as nações do mundo, pelo que todos os povos da Terra lhe devem obedecer. O seu poder é eterno, nunca mais terá fim; o seu governo nunca será destruído. Eu estava confuso e perturbado com tudo o que tinha visto. Por isso, aproximei-me de um dos que estavam junto ao trono, para lhe perguntar o sentido de todas estas coisas. E explicou-me: “Estes quatro animais representam quatro reinos que um dia hão de governar a Terra. Mas por fim o povo do Deus altíssimo terá autoridade sobre os governos do mundo para sempre!” Depois perguntei acerca do quarto animal, que não era semelhante aos outros, aquele animal terrível e espantoso, com os seus dentes de ferro e garras de bronze, o animal que despedaçava e devorava as suas vítimas com facilidade, e depois pisava os restos que deixava para trás. Pretendi igualmente saber quanto aos dez chifres e sobre o que era mais pequeno, que apareceu depois e provocou o desaparecimento de três outros, o qual tinha olhos e boca, com a qual dizia coisas arrogantes, e que era mais forte que os outros. Pois eu tinha visto este chifre a fazer guerra contra o povo de Deus e vencê-lo, até à altura em que o ancião de idade avançada veio, abriu o tribunal e reabilitou o seu povo, dando-lhe poderes de governo sobre o mundo. “Este quarto animal”, disse-me, “representa o quarto poder mundial que governará a Terra. Será mais brutal que qualquer dos outros; devorará todo o mundo, destruindo tudo diante de si. Os seus dez chifres são dez reis que aparecerão saídos do seu império; depois outro rei aparecerá, ainda mais violento que os dez outros, e humilhará três deles. Desafiará o Deus altíssimo e consumirá os santos com perseguições, tentando alterar todas as leis, a moral e os costumes. O povo de Deus estará nas suas mãos por três anos e meio. Mas abrir-se-á o tribunal de justiça e retirará todo o poder a este rei corrompido, destruindo-o totalmente. Nessa altura, todas as nações debaixo dos céus e todo o poder será entregue ao povo santo do Deus altíssimo. E o reino de Deus será um reino sem fim e todos os governantes e domínios o adorarão, obedecerão e servirão eternamente.” Assim acabou a visão. Fiquei grandemente perturbado e com o rosto pálido de espanto, mas não disse a ninguém o que via. No terceiro ano do reinado de Belsazar, tive outra visão. Desta vez eu estava em Susã, a capital da província de Elão, e encontrava-me junto ao rio Ulai. Olhando eu em volta, vi um carneiro ali perto do rio que tinha dois chifres muito altos; um destes chifres era mais comprido que o outro; entretanto, o mais longo foi o último a nascer, dos dois. O carneiro marrava em tudo o que encontrava no caminho e ninguém era capaz de o impedir ou de lhe subtrair as vítimas. Fazia o que entendia e engrandeceu-se muito. Estando eu a considerar estas coisas, apareceu de repente um bode vindo do ocidente; aproximava-se de uma forma tal que nem tocava no chão. Este bode, que tinha um chifre no meio dos olhos, correu furiosamente para o carneiro que tinha as duas pontas. Caindo sobre o carneiro partiu-lhe ambas as hastes. Este último ficou sem nenhuma força e o bode abateu-o e pisou-o. Não havia mais salvação para ele. O animal vencedor tornou-se orgulhoso e ficou muito engrandecido. Contudo, quando estava no auge do seu poder, foi-lhe quebrado o único chifre que tinha e no seu lugar apareceram-lhe outros quatro chifres, também de tamanho considerável, apontando em todas as direções. Um destes, crescendo devagar ao princípio, depressa se tornou muito forte e começou a atacar para o sul e para o oriente, fazendo guerra contra a terra gloriosa de Israel. Tornou-se tão poderoso que chegou a atacar os exércitos celestiais. Chegou mesmo a desafiar o seu comandante, lançando por terra algumas das suas estrelas, pisando-as e fazendo cancelar os sacrifícios diários contínuos que se faziam em sua adoração, e profanando o seu santuário. Mas o exército dos santos e o sacrifício diário foi destruído por causa das transgressões; a verdade foi lançada por terra; fez o que lhe agradou e prosperou. Em seguida, ouvi dois dos santos anjos que dialogavam entre si: “Quando será novamente restabelecido o sacrifício contínuo? Quando será castigada a destruição do templo e o povo de Deus tornado de novo triunfante?” “Duas mil e trezentas tardes e manhãs deverão decorrer primeiro!”, respondeu-lhe o outro. “Depois o santuário será purificado!” Estava eu a tentar compreender o sentido desta visão, quando apareceu uma figura humana diante de mim. E ouvi a voz dum homem chamando do outro lado do rio: “Gabriel, diz a Daniel o significado deste sonho!” Então Gabriel veio para onde eu me encontrava. Mas quando se aproximou de mim fiquei muito perturbado e caí com o rosto em terra. “Homem mortal”, disse-me ele, “tens de perceber que estes acontecimentos que viste figurados nessa visão não terão lugar antes que venha o fim dos tempos.” Depois perdi os sentidos, estando com o rosto em terra, mas ele tocou-me, ergueu-me e ajudou-me a manter-me em pé. “Estou aqui para te dizer o que irá acontecer aquando da vinda dos tempos de ira, porque o que viste pertence ao fim dos tempos. Os dois chifres do carneiro que observaste são os reis da Média e da Pérsia. O bode peludo é a nação grega e o seu longo chifre representa o primeiro rei dessa nação. Quando viste que foi quebrado e substituído por quatro outros mais pequenos, isso significa que o império grego se repartirá em quatro partes, cada uma com seu rei, nenhum deles tão grande como o primeiro. Já no final desses reinados, quando a sua maldade atingir o seu máximo, um outro rei feroz se levantará com grande sagacidade e inteligência. O seu poder será grande e não virá de si próprio. Prosperará para onde quer que se voltar; destruirá todos os que se lhe opuserem, ainda que o façam com poderoso exército; desvastará o santo povo de Deus. Será mestre na arte do engano; muitos serão derrotados, ao serem apanhados desprevenidos, confiados numa falsa segurança. Sem pré-aviso destruí-los-á. Considerar-se-á tanto a si próprio que até será capaz de pretender travar batalha contra o Príncipe dos príncipes. Contudo, ao tentar fazê-lo, selará a sua própria condenação, pois será aniquilado pela mão de Deus, pois nenhum ser humano poderia vencê-lo. Na tua visão ouviste falar nas tardes e manhãs que passarão, antes que os direitos do culto sejam restabelecidos. A visão foi-te explicada e será cumprida. Contudo, guarda-a por agora em segredo, porque ainda falta muito tempo até que se torne realidade.” Eu fiquei exausto e doente por vários dias; mas restabeleci-me e continuei a dar execução aos meus deveres para com o rei. No entanto, fiquei muito impressionado com esse sonho que não entendi bem. Era agora o primeiro ano do reinado de Dario, filho de Assuero. Dario era medo e foi constituído rei dos caldeus. No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros sagrados, de acordo com a palavra do Senhor, concedida a Jeremias, que Jerusalém deveria ficar desolada por 70 anos. Por isso, voltei o meu rosto para o Senhor Deus; busquei-o mediante orações e súplicas, jejuei e vesti-me com sacos, pondo cinza sobre mim. Também confessei os meus pecados assim como os do meu povo. “Ó Senhor, meu Deus!” orava eu. “Tu és um grande e temível Deus! Sempre guardas a aliança e a tua misericórdia para com aqueles que amas e guardam as tuas leis. Mas nós pecámos muitíssimo; rebelámo-nos contra ti e tivemos em pouca conta os teus mandamentos. Recusámos prestar atenção aos teus servos, os profetas, que mandaste repetidas vezes através dos anos, com as tuas mensagens para os nossos reis e governantes, assim como para todo o povo. Ó Senhor, tu és justo! Quanto a nós, estamos sempre envergonhados com os nossos pecados, como hoje se vê. Sim, todos nós, a gente de Judá, o povo de Jerusalém, assim como todo o Israel, que espalhaste por toda a parte, perto e longe, por causa da nossa infidelidade para contigo. Ó Senhor, nós, os nossos reis, governantes e pais estamos profundamente abatidos por causa de todos os nossos pecados. Mas o Senhor, nosso Deus, é misericordioso e perdoa até mesmo aqueles que se rebelaram contra ele. Senhor, nosso Deus, nós desobedecemos-te, escarnecemos de todas as leis que nos deste através dos teus servos, os profetas. Todo o Israel transgrediu a tua Lei. Afastámo-nos de ti e recusámos continuar a ouvir-te. Foi assim que a tremenda maldição de Deus se descarregou sobre nós, a maldição escrita na Lei de Moisés, teu servo. Fizeste exatamente como avisaste que farias, pois nunca houve tal desastre como aquele que nos aconteceu em Jerusalém, a nós e aos nossos chefes. Cada uma das maldições contra nós, escritas na Lei de Moisés, se realizaram; todos os males preditos, todos eles aconteceram. Mesmo assim, não procurámos o favor do Senhor, nosso Deus, desviando-nos dos nossos pecados e praticando a justiça. E foi por isso que o Senhor deliberadamente nos esmagou com calamidades que tinha preparado. Pois o Senhor, nosso Deus, é justo em tudo o que executa; nós é que não queremos obedecer. Ó Senhor, nosso Deus, foi com grande poder e honra para ti que tiraste o teu povo do Egito! Senhor, faz agora algo de semelhante! Ainda que tenhamos pecado profundamente e que seja tão grande a nossa maldade, por causa de todas as tuas misericórdias, Senhor, retira, te pedimos, a tua ira de Jerusalém, a tua cidade, o teu santo monte! Porque os pagãos troçam de ti, por deixares a tua cidade em ruínas, devido aos nossos pecados. Ó nosso Deus, escuta a oração do teu servo! Ouve enquanto te rogo que o teu rosto se ilumine de novo com a paz e a alegria sobre o teu desolado santuário, que é a tua própria glória, Senhor! Meu Deus, inclina os teus ouvidos e ouve os meus rogos! Abre os teus olhos e vê a nossa miséria e como a tua cidade está em ruínas! Sim, porque toda a gente sabe que se trata da tua cidade. Não te pedimos isso porque pensamos que o merecemos, mas porque confiamos na tua bondade, a despeito da gravidade dos nossos pecados. Ó Senhor, ouve-nos! Ó Senhor, perdoa-nos! Ó Senhor, escuta e atua! Não te demores em defesa da tua própria causa, ó meu Deus, pois o teu povo e a tua cidade trazem o teu próprio nome!” Estive assim a orar e a confessar o meu pecado e o do meu povo, implorando fervorosamente ao Senhor, meu Deus, a favor de Jerusalém, o seu santo monte. Gabriel, que eu vira na minha primeira visão, deslocou-se entretanto rapidamente nos ares, até junto de mim; era a altura do sacrifício da tarde. E disse-me: “Daniel, encontro-me aqui para te ajudar a compreenderes os planos de Deus. No momento em que começaste a orar, foi dada uma ordem e eu aqui estou para te dizer qual foi, visto que Deus te ama muito. Escuta e procura compreender o sentido da visão que tiveste! Deus decretou um período de setenta vezes sete anos, para libertar o seu povo e a sua santa cidade do pecado e do mal, para que os pecados sejam perdoados e reine a justiça para sempre, para que a visão e a profecia se cumpram e o santuário seja de novo consagrado. Agora ouve bem! Passarão sete vezes sete anos, mais sete vezes sessenta e dois anos, desde a altura em que for dada ordem para a reconstrução de Jerusalém, até à vinda do Messias, o Príncipe! As ruas e os muros de Jerusalém serão reconstruídos, a despeito dos tempos perigosos que hão de acontecer. Depois deste período de sete vezes sessenta e dois anos, o Messias será morto. Levantar-se-á um rei cujos exércitos destruirão a cidade e o templo. Mas serão vencidos por uma tempestade; até ao fim haverá guerras com as suas desgraças. Este rei fará um acordo de sete anos com o povo; decorrido metade desse tempo, denunciará o tratado e proibirá os judeus de fazerem qualquer sacrifício ou oferta; posteriormente, como cúmulo das suas terríveis ações, o inimigo profanará completamente o santuário de Deus. Mas quando chegar o tempo determinado nos planos de Deus, o julgamento de Deus será derramado sobre esse assolador.” No terceiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, Daniel, também chamado Beltessazar, teve outra visão. Dizia igualmente respeito a acontecimentos a realizarem-se no futuro, tempos de guerra e angústias, e desta vez ele compreendeu o significado da visão. Quando tive esta visão, eu, Daniel, tinha estado de luto três semanas inteiras. Durante todo esse tempo não bebi vinho nem comi carne, nem qualquer comida saborosa. Também não lavei a cabeça, nem cortei o cabelo. Então, no vigésimo quarto dia do primeiro mês do ano, estando junto ao grande rio Tigre, reparei numa pessoa junto de mim, vestida de roupa de linho com um cinto de ouro puro de Ufaz à volta da cintura. Tinha a pele brilhante como topázio; saíam-lhe do rosto cintilações e os seus olhos eram como tochas de fogo; os braços e os pés brilhavam também como bronze; quando falava, a voz soava como se se tratasse duma vasta multidão. Só eu, Daniel, vi isto; as pessoas que estavam comigo nada viram. No entanto, sentiram repentinamente um terror inexplicável e foram a correr esconder-se. Apenas eu permaneci ali. Quando vi aquela figura impressionante fiquei sem forças, empalideci e perdi os sentidos. Ele dirigiu-me a palavra, o que fez com que eu caísse com o rosto no chão, desfalecido. Nessa altura, uma mão tocou-me e levantou-me; ainda a tremer fiquei de joelhos. E ouvi: “Daniel, homem muito amado de Deus, ergue-te e ouve atentamente o que tenho a dizer-te, porque foi Deus quem me mandou junto de ti!” Levantei-me, ainda a tremer, e ele continuou: “Não tenhas medo, Daniel, porque as tuas orações são atendidas nos céus e a resposta foi dada logo no primeiro dia em que começaste a jejuar perante o Senhor e a pedir-lhe esclarecimento; nesse mesmo dia fui mandado vir ter contigo. Mas durante vinte e um dias o príncipe que governa o reino da Pérsia opôs-me resistência. Então Miguel, um dos chefes do exército celestial, veio apoiar-me e consegui vencer os reis da Pérsia. Agora, aqui estou para te dizer o que há de acontecer ao teu povo no futuro, porque o cumprimento desta profecia será daqui a muito tempo.” Todo esse tempo, mantive-me de olhos baixos, incapaz de proferir uma palavra. Depois, alguém que me pareceu um homem, tocou-me nos lábios e pude dizer ao mensageiro do céu: “Senhor, estou extremamente perturbado com esta aparição e estou sem forças! Como é que uma pessoa como eu pode falar contigo? Estou desfalecido e até respiro com dificuldade!” Então, aquele que me pareceu ser um homem, tocou-me outra vez e senti as forças voltarem-me novamente. “Deus ama-te muito!”, disse ele. “Não tenhas receio! Acalma-te e anima-te! Sim, anima-te!” Enquanto me dizia isto, senti-me mais forte e respondi-lhe: “Podes falar, senhor, porque me fortaleceste!” “Sabes a razão por que vim? Quando regressar, enfrentarei de novo o príncipe da Pérsia e depois dele o príncipe da Grécia. Mas estou aqui para te dizer o que está registado na escritura da verdade. Só Miguel, o príncipe de Israel, estará ali para me ajudar. Eu fui mandado fortalecer e ajudar Dario, o medo, no primeiro ano do seu reinado. Mas agora vou mostrar-te o que o futuro tem guardado. Três outros reis persas governarão e um quarto suceder-lhes-á, muito mais próspero que os primeiros. Usando os recursos de que dispõe, irá obter vitórias políticas e desencadeará uma guerra total contra a Grécia. Depois levantar-se-á um poderoso rei na Grécia que governará um vasto reino e conseguirá tudo o que tiver planeado conquistar. Contudo, no auge do seu poder, o seu reino será repartido em quatro nações mais fracas, que nem sequer serão dirigidas pelos seus filhos. O seu império será dividido e entregue a outros. Um deles, o rei do Sul, há de conseguir aumentar bastante em força, mas um dos seus comandantes revoltar-se-á, tomará conta do poder, tornando-o ainda mais forte. Anos mais tarde formar-se-á uma aliança entre o rei do Norte e o do Sul. A filha deste será dada em casamento ao rei do Norte, num gesto de paz, mas ela perderá a sua influência sobre ele e as suas esperanças, assim como as do seu pai, o rei do Egito, serão frustradas. Contudo, quando o seu irmão subir ao trono, como rei do Sul, há de congregar um exército contra o rei do Norte e derrotá-lo-á. Quando regressar ao Egito trará consigo os ídolos da Síria e também artigos preciosos de ouro e prata. Durante muitos anos deixará o rei da Síria em paz. Entretanto, o rei do Norte invadirá o reino do Sul, por pouco tempo, pois depressa regressará à sua terra. Contudo, os filhos deste rei do Norte juntarão um poderoso exército que invadirá Israel, passará ao Egito e se fortificará ali. Depois o rei do Sul, com grande ira, concentrar-se-á contra as vastas forças do rei do Norte e as derrotará. Cheio de orgulho, após esta vitória retumbante, há de chegar a liquidar milhares dos seus inimigos. No entanto, o seu sucesso será de pouca duração. Alguns anos mais tarde o rei do Norte voltará com um exército completamente equipado, muito maior do que aquele que perdera antes. Outras nações se unirão a ele nessa cruzada contra o Egito; gente rebelde entre os judeus se juntará a ele, cumprindo assim a profecia; mas não serão bem sucedidos. Então o rei do Norte e os seus aliados sitiarão uma cidade fortificada do Egito, conquistá-la-ão e os altivos exércitos do Egito serão derrotados. O rei do Norte continuará sem ninguém que se lhe oponha; ninguém será capaz de o deter. Entrará também na terra gloriosa de Israel e a saqueará. Estabelecerá um plano para o domínio completo do Egito; acordará também o casamento duma filha com o rei do Sul, para que possa avançar melhor com os seus intentos, mas não conseguirá o que quer. Posteriormente, voltará a sua atenção para as cidades costeiras e tomará muitas delas. Contudo, haverá um comandante que o deterá e o fará retirar-se envergonhado. Regressará à sua terra, mas pelo caminho terá problemas e desaparecerá. O seu sucessor será lembrado como aquele que colocou impostos sobre Israel. Depois dum breve reinado, morrerá misteriosamente, nem em combate, nem em disputa nenhuma. O rei a seguir será um homem mau e não subirá ao trono por sucessão real. Tomará o poder através do engano e da intriga. Depois toda a oposição desaparecerá diante dele, incluindo o chefe do povo da aliança. As suas promessas serão sempre falsas. Desde o princípio que a sua forma de atuar será sempre a do engano; apenas com um punhado de seguidores, tornar-se-á poderoso. Entrará nas áreas mais prósperas da terra, sem aviso prévio, e fará aquilo que nunca tinha sido feito antes: tomará as propriedades dos ricos e dos abastados e distribuí-las-á pelo povo. Com grande sucesso irá atacar e capturar grandes fortalezas através das terras que controla, mas isto durará apenas um certo tempo. Conseguirá conjugar forças e levantar um exército contra o Egito; este também tentará fazer o mesmo, mas sem êxito, porque enormes conjuras se formarão contra ele. Os da sua própria casa irão depô-lo; o seu exército será dizimado e muitos serão mortos. Ambos estes reis conspirarão um contra o outro, mesmo à mesa das negociações, tentando enganar-se mutuamente, mas isso de pouco servirá, pois nem um nem outro serão bem sucedidos até que chegue o tempo indicado por Deus. O rei do Norte regressará então a casa com grandes riquezas, não sem antes marchar sobre Israel, o povo da santa aliança, e destruí-la; fará o que planeou e regressará à sua terra. No tempo previsto, voltará de novo as suas forças para o Sul, mas nessa altura será tudo diferente. Porque navios de guerra de Quitim virão atacá-lo, e isso vai atemorizá-lo. A seguir, furioso, ele tentará destruir a religião do povo da santa aliança. E atenderá aos que abandonaram essa aliança. Enfurecido por ter sido obrigado a fugir, vai levantar-se ferozmente, a fim de profanar o santuário, fazendo parar os sacrifícios diários e estabelecendo a abominação que causa a desolação. O rei usará o engano para ganhar o apoio dos que transgrediram os preceitos da aliança, para ganhá-los para o seu lado; mas os que reconhecem a Deus resistirão com firmeza e coragem e farão grandes coisas. Os que têm discernimento espiritual terão um largo ministério, ensinando, durante aquele tempo. Correrão constantemente perigo; muitos deles morrerão pelo fogo ou pelas armas, ou serão postos em cárceres, despojados do que possuem. No meio destas pressões, alguns homens descrentes apresentar-se-ão como que pretendendo oferecer socorro, mas só para tirar proveito dos que são perseguidos. Até alguns dos mais dotados nas coisas de Deus tropeçarão naquele dia e cairão; mas isto acabará por ser uma forma de os refinar e purificar, tornando-os mais limpos até ao fim de todas estas provações, até ao momento que Deus indicar. O rei fará só aquilo que lhe agrada, proclamando-se acima dos deuses, blasfemando até do Deus dos deuses e prosperando, mas só até quando o Senhor entender, porque os planos de Deus são inabaláveis. O rei não terá consideração alguma pelos deuses dos seus antepassados, nem pelo deus amado pelas mulheres, nem por nenhum outro, porque se gloriará como sendo ele o maior de todos. Em lugar desses deuses todos, adorará o deus das fortalezas, um deus que seus pais desconheciam, e será pródigo em ofertar-lhe donativos muito caros como ouro, prata, joias e outras riquezas. Dirá que é com a sua ajuda que há de atacar grandes fortalezas e conquistá-las. Dará honras aos que se lhe submetem, nomeando-os para posições de autoridade e repartindo entre eles a terra como recompensa. Chegando o tempo do fim, o rei do Sul tornará a atacá-lo e o do Norte reagirá com a violência e a fúria dum furacão; o seu vasto exército e a sua grande armada de navios de guerra sairão para invadi-lo com o seu poder. Dessa forma, conseguirá invadir vários países, incluindo Israel, a terra gloriosa, e derrubará o governo de muitas outras nações. Moabe, Edom e quase todo Amon escaparão. O Egito e muitas outra nações serão ocupadas. Tomará posse de todos os tesouros do Egito, tesouros de ouro e de prata, além doutras riquezas, e os líbios e os cuchitas tornar-se-ão seus servos. Nessa altura, notícias vindas tanto do norte como do oriente irão alarmá-lo e voltará em grande ira para destruir e aniquilar muitos. Deter-se-á entre a gloriosa montanha santa e o mar, armando ali as tendas reais. Enquanto permanece nesse sítio, o seu tempo chegará e não haverá ninguém que o apoie. Nesse tempo, se levantará Miguel, o poderoso príncipe que protege a tua nação. Haverá um tempo de angústia para os judeus, maior do que qualquer outro período de angústia na história de Israel. Mas todos aqueles cujos nomes estão escritos no livro serão libertados. Muitos daqueles cujos corpos jazem mortos, enterrados, ressuscitarão, uns para a vida eterna, outros para a vergonha e desprezo eternos. Os entendidos brilharão como o resplendor do Sol, no firmamento. Os que ensinam a muitos a justiça refulgirão como estrelas para sempre. Mas tu, Daniel, não dês esta profecia a conhecer a ninguém! Sela-a para que não seja revelada até ao tempo final, quando a deslocação de pessoas de uma para outra parte do mundo, assim como o conhecimento entre os homens, tiverem aumentado grandemente!” Então eu, Daniel, olhei e vi outros dois seres em cada margem do rio. Um deles perguntou àquele que estava vestido de linho e que se encontrava sobre as águas do rio: “Quanto tempo haverá até que se cumpram todas essas coisas espantosas?” O outro respondeu, levantando as mãos para os céus e jurando por aquele que vive por toda a eternidade, que estas coisas não serão cumpridas até que três anos e meio se completem, depois de terminar a perseguição contra o povo santo. Depois tudo estará terminado. Ouvi aquilo que ele disse, mas não percebi. Por isso, perguntei: “Senhor, como será que isto tudo vai acontecer?” “Podes retirar-te, Daniel, porque aquilo que expus não é para ser compreendido antes do tempo do fim. Muitos serão colocados à prova e assim purificados e aperfeiçoados. Contudo, os perversos continuarão na sua perversidade e não entenderão coisa nenhuma. Só os que desejam mesmo aprender virão a saber o significado disso. Desde o momento em que o sacrifício contínuo for proibido e instalada a abominação que causa a desolação, a fim de ser adorada, decorrerão 1290 dias. Felizes aqueles que esperam e chegam aos 1335 dias! Quanto a ti, persevera até ao fim da tua vida e depois repousarás. Porque ressuscitarás e terás a tua recompensa nos últimos dias.” Estas são as mensagens que o Senhor dirigiu a Oseias, filho de Beeri, durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, e também durante o reinado de Jeroboão, filho de Jeoás, rei de Israel. Foi esta a primeira mensagem que o Senhor comunicou a Oseias: “Casa-te com uma rapariga que seja prostituta e tem filhos com ela, de modo que sejam da mesma índole da mãe. Isto ilustrará a forma infiel como o meu povo se tem conduzido para comigo, cometendo abertamente adultério contra mim ao adorarem outros deuses.” Então Oseias casou com Gomer, filha de Diblaim, e ela concebeu e deu à luz um filho. O Senhor disse-lhe: “Põe-lhe o nome de Jezreel, porque no vale de Jezreel em breve castigarei a dinastia do rei Jeú, por causa dos assassínios que cometeu. Na verdade, em breve porei fim a Israel como reino independente, quebrando o arco de Israel, nesse vale de Jezreel.” Gomer tornou a conceber e teve outro filho, uma rapariga. Deus disse a Oseias: “Põe-lhe o nome de Lo-Ruama (sem misericórdia), porque não mais terei misericórdia de Israel para lhe perdoar. Contudo, da tribo de Judá, desta sim, terei misericórdia. Hei de salvá-los, porque sou o Senhor, seu Deus. E não os salvarei pelo arco ou pela espada, pela guerra ou pelos cavalos e cavaleiros.” Depois de ter desmamado Lo-Ruama, Gomer teve outro filho, um outro rapaz. E Deus mandou: “Chama-lhe Lo-Ami (não são meu povo), porque Israel não me pertence e eu não sou o seu Deus. Todavia, há de vir o tempo em que Israel se tornará uma grande e próspera nação. Nessa altura, o seu povo será demasiado numeroso para se poder contar; será como a areia do mar! E então, em vez de lhes dizer vocês não são meu povo, dir-lhes-ei, vocês são meus filhos, filhos do Deus vivo! O povo de Israel e de Judá unir-se-ão sob um único líder e regressarão juntos do exílio. Que grande dia será esse, em que Deus plantará novamente o seu povo no fértil solo da sua própria terra! Ó Jezreel, chama o teu irmão pelo nome de Ami (meu povo) e a tua irmã pelo nome de Ruama (tem misericórdia), porque agora Deus terá misericórdia dela! Contestem junto da vossa mãe, porque se tornou na mulher doutro homem; eu já não sou seu marido; peçam-lhe que pare com a sua vida de prostituição, que pare de se entregar a outros. Se não o fizer, deixá-la-ei inteiramente despida, como no dia em que nasceu, e fá-la-ei perder-se e morrer de sede, como numa terra desértica, assolada pela fome e pela seca. Não me compadecerei dos seus filhos como faria se fossem os meus próprios; eles pertencem a outra gente. A sua mãe cometeu adultério, conduziu-se torpemente quando disse: ‘Irei atrás doutros homens; vender-me-ei em troca de boa comida, bebida, e roupas de lã e de linho.’ Portanto, cercá-la-ei de espinhos e de sarças; bloquearei os seus caminhos para que se perca nas suas veredas. Assim, quando correr atrás dos seus amantes, não os apanhará. Irá à procura deles mas não os encontrará. Dirá então para consigo: ‘Tornarei para o meu primeiro marido, porque estava melhor com ele do que estou agora!’ Ela não se dá conta de que tudo o que possui veio de mim. Fui eu quem lhe deu o trigo, o vinho novo e o azeite, todo o ouro e a prata que usou no culto que prestou a Baal, o seu deus! Por isso, recuperarei o vinho e o trigo que constantemente lhe forneci e a roupa que lhe dei para cobrir a sua nudez; não mais lhe darei ricas colheitas na estação própria e vinho no tempo das vindimas. Exporei a sua nudez em público, para que a vejam todos os seus amantes, e ninguém poderá livrá-la das minhas mãos. Por todo o incenso que ela queimou a Baal, o seu ídolo, e por todas as vezes em que pôs brincos e gargantilhas e saiu à procura dos amantes, esquecendo-se de mim, por tudo isso a castigarei, diz o Senhor. Contudo, tornarei a atraí-la; hei de trazê-la para o deserto e falar-lhe ao coração. Devolver-lhe-ei as suas vinhas, transformarei o seu vale de Acor (vale da Desgraça) numa porta de esperança. Ela me responderá ali, cantando com alegria, como nos dias primeiros da sua juventude, depois que a libertei do cativeiro do Egito. Naquele dia que há de vir, Israel chamar-me-á ‘Meu marido’ em vez de ‘Meu mestre, Baal’. Ó Israel, farei com que te esqueças do nome do deus Baal! Os seus nomes nunca mais serão proferidos no meio de ti! Farei uma aliança entre ti e os animais selvagens, as aves, as serpentes, para que não tenham mais medo uns dos outros; destruirei tudo o que for armamento e as guerras acabarão. Tu descansarás em paz e em segurança, sem nada recear. Ligar-te-ei a mim para sempre com cadeias de justiça e retidão, de amor e misericórdia. Desposar-te-ei em fidelidade e amor; conhecer-me-ás como Senhor! Nesse dia, diz o Senhor, responderei aos rogos dirigidos ao céu, para que venham nuvens que derramem chuva sobre a terra, para que haja água. Então a terra poderá responder com trigo, vinho novo e azeite, e todos estes produtos responderão a Jezreel (sementeira de Deus)! Nesse tempo, farei uma sementeira de israelitas que há de crescer só para mim! Terei compaixão dos que estão sem misericórdia; direi àqueles que não são meus: Agora são meu povo! E estes responderão: ‘Tu és o nosso Deus!’ ” Disse-me o Senhor: “Vai ter novamente com a tua mulher, trá-la para junto de ti e ama-a, ainda que ela continue a amar o adultério. Porque o Senhor continua a amar Israel, ainda que se tenha voltado para outros deuses, oferecendo-lhes bolos de passas!” Então comprei-a de novo para mim, em troca de 170 gramas de prata e de 330 litros de cevada. E disse-lhe: “Deverás ficar aqui comigo por muito tempo. Não irás com outros homens nem te prostituirás! Também eu serei fiel!” Isto ilustra o facto de que Israel estará muito tempo sem rei nem governantes, e sem um altar, nem coluna sagrada, nem sacerdotes, nem mesmo ídolos! Posteriormente voltar-se-ão para o Senhor, seu Deus, para o descendente de David, o seu rei; virão tremendo e buscando o Senhor e as suas bênçãos, no fim dos tempos. Ouve a palavra do Senhor, ó povo de Israel! O Senhor tem contra ti um processo de acusação, com as seguintes denúncias: “Não há nem honestidade, nem bondade, nem conhecimento de Deus na tua terra. Juras, mentes, matas, roubas e cometes adultério. Vê-se violência por toda a parte; os homicídios sucedem-se uns após outros. É por isso que a tua terra está ressequida; está cheia de tristeza e tudo o que vive tem doença e acaba por morrer; quadrúpedes, aves e até os peixes começam a desaparecer. Não apontes para outros, tentando aliviar as culpas de cima de ti! Para ti, sacerdote, é que eu aponto o dedo. Em consequência dos vossos crimes, vocês, os sacerdotes, serão derrubados tanto em pleno dia como durante a noite, conjuntamente com os vossos falsos profetas; destruirei igualmente a vossa mãe, Israel. O meu povo é destruído porque não me conhece! E tudo por culpa vossa, sacerdotes, porque vocês mesmos não se interessam por me conhecer; por isso, recuso reconhecer-vos como meus sacerdotes. Visto que se esqueceram da Lei do vosso Deus, também me esquecerei de abençoar os vossos filhos. Quanto mais o meu povo se multiplicou, tanto mais pecou contra mim; trocou a glória de Deus pela vergonha dos ídolos. Os sacerdotes alimentam-se dos pecados do meu povo e intimamente desejam que o povo continue a pecar! Por isso, se pode dizer: Tal povo, tais sacerdotes! Se o povo é mau, os sacerdotes não lhe ficam atrás. Por isso, castigarei ambos, sacerdotes e povo, pelos seus atos perversos. Comerão e nunca se sentirão satisfeitos. Farão grande negócio com a prostituição e nunca terão filhos, porque me voltaram as costas e procuraram outros deuses. Vinho novo, mulheres e canções tiraram a inteligência ao meu povo. Consultam um pedaço de madeira sobre o que devem fazer. A divina resposta é-lhes dada pela maneira como uma vara cai, quando atirada ao chão. O correr atrás de outros deuses os corrompeu; o espírito de luxúria enganou-os e apartaram-se da sujeição ao seu Deus. Fazem sacrifícios no cimo das elevações; sobem aos montes para queimar incenso sob a sombra agradável dos carvalhos, choupos e olmeiros. Ali se prostituem as vossas filhas e as vossas mulheres adulteram. Mas não serão estas que eu castigarei; são vocês, os homens, os responsáveis por isso mesmo, adulterando com meretrizes e com as prostitutas dos templos. Loucos! A vossa condenação está decretada, pois recusaram ter inteligência! Mas se tu, Israel, te queres corromper, que Judá se mantenha afastado de uma tal vida! Ó Judá, não te corrompas juntamente com esses que hipocritamente me vão adorar em Gilgal e em Bete-Aven, e que dizem: ‘Tão certo como vive o Senhor!’ O culto que celebram é uma simples aparência. Não te faças semelhante a Israel, teimoso como uma novilha rebelde, resistindo ao Senhor que queria conduzi-lo para pastagens verdes. A gente de Efraim está toda entregue aos ídolos! Deixem-na! Os homens de Israel acabaram as suas rodadas de vinho; vão para a rua à procura de meretrizes. A sua atração pelo que é corrupto é muito maior do que o amor pela honra. Por isso, um vento ciclónico os varrerá com violência; morrerão no meio de vileza, por causa do culto da idolatria. Ouçam, sacerdotes e todos os líderes de Israel! Ouçam, todos os membros da família real! Vocês estão condenados, porque enganaram o povo com ídolos em Mizpá e Tabor; puseram-lhe uma cova profunda no caminho, como ratoeira, para o apanhar em Sitim. Não se esqueçam que irei ajustar contas com todos por aquilo que fizeram. Tenho observado as vossas más ações. Israel, tu deixaste-me tal como a prostituta que abandona o seu marido; vocês estão profundamente corrompidos. Não têm vontade, sequer, de se voltarem de novo para Deus, porque no vosso íntimo o espírito de adultério é muito forte e não vos deixa conhecer o Senhor. É a vossa própria soberba que testemunha contra vocês, perante mim. Israel cambaleará sob o fardo da sua culpa e Judá igualmente cairá. Por fim, acabarão por se chegar, com os seus rebanhos, com o seu gado, para sacrificarem a Deus, mas será demasiado tarde; não poderão encontrar o Senhor, que se esconderá deles e serão deixados sós. Traíram a honra do Senhor, gerando filhos que não são seus. Por isso, as festas da lua nova os consumirão juntamente com todos os seus bens e propriedades. Toquem o alarme! Façam soar as cornetas em Gibeá, Ramá e até Bete-Aven! Treme, terra de Benjamim! Efraim tornar-se-á numa terra assolada. Isto que anuncio entre as tribos de Israel é coisa certa! Os chefes de Israel são como aqueles que removem os marcos que limitam as terras. Por isso, derramarei a minha ira sobre eles como uma torrente de água. Efraim será esmagado e destruído pelo meu juízo, visto que preferiu seguir miragens, ou seja, ídolos inúteis. Serão destruídos como a traça faz com a lã. Farei desaparecer a força de Judá que se tornará como uma coisa podre. Quando Efraim e Judá virem o estado em que ficaram, Efraim voltar-se-á para a Assíria, para o seu grande rei; contudo, em nada o poderá ajudar. Dilacerarei Efraim e Judá como faz um leão com a sua presa. Mandá-los-ei para longe e impedirei que alguém venha em seu socorro. Abandoná-los-ei e voltarei para o meu lugar, até que admitam a sua culpa e me busquem, pedindo auxílio. Basta apenas que a angústia comece e buscar-me-ão.” “Venham, voltemos para o Senhor! Foi ele quem nos despedaçou e será ele quem nos há de curar. Fez a ferida e tratará dela. Daqui a dois dias, nos dará a vida; ao terceiro, nos ressuscitará e viveremos diante dele. Oh! Que possamos conhecer o Senhor! Apressemo-nos a conhecê-lo! Responder-nos-á tão seguramente como o aparecimento da alva todas as manhãs ou como a chuva da primavera que rega a terra.” “Ó Efraim e Judá, que hei de eu fazer convosco? Porque o teu amor desaparece como as nuvens pela manhã e como o orvalho com o nascer do Sol. Enviei os meus profetas para te advertirem da minha condenação; abati-te com as minhas palavras, ameaçando-te de morte. De repente, sem aviso, os meus juízos cairão sobre ti, tão certo como o dia seguir-se à noite. Mais do que os vossos sacrifícios, quero a vossa misericórdia; mais do que os vossos holocaustos quero o conhecimento de Deus. Mas, à semelhança de Adão, quebraste a minha aliança; recusaste o meu amor. Gileade é uma cidade de pecadores, cheia de vestígios de sangue. Os seus cidadãos são bandos de salteadores que armam ciladas às suas vítimas; magotes de sacerdotes põem-se ao longo do caminho para Siquem e praticam toda a espécie de abominações. Sim, vi uma coisa horrível em Israel, Efraim andando atrás dos ídolos, Israel contaminando-se. Ó Judá, para ti haverá igualmente uma abundante colheita de castigos, que espera por ti, e eu queria tanto abençoar-te! Eu queria perdoar Israel, mas os seus pecados são grandes demais! Ninguém consegue sequer viver em Samaria sem se tornar também ladrão, salteador, falsificador! O seu povo parece que não sabe reconhecer que os vigio. As suas ações pecaminosas cercam-nos por todos os lados; vejo-as a todas. O rei está satisfeito com a sua maldade; os governantes riem-se com as suas mentiras. São todos adúlteros! Tal como o forno do padeiro está constantemente aceso, exceto enquanto amassa a farinha e espera que levede, assim está esta gente acesa com a luxúria. No dia do aniversário do rei, os governantes embebedam-no; faz-se passar por idiota e bebe na companhia dos que troçam dele. Os seus corações incendeiam-se com as intrigas. As suas combinações tramam-se durante a noite e pela manhã ateiam-se como um fogo intenso. Todos eles ardem como um forno e devoram os seus governantes. Matam os seus reis, uns após outros, e ninguém clama a mim por socorro. Efraim mistura-se com gente pagã, copiando-lhes os maus caminhos; tornam-se assim uns inúteis, como um pão que não foi virado no forno! O prestar culto a deuses estranhos tirou-lhes a força e não se apercebem disso. Começam a aparecer cabelos brancos a Efraim e não se dá conta de como vai enfraquecendo e se torna decadente. O orgulho que tem noutros deuses condena-o abertamente; mesmo assim, não se volta para o Senhor, seu Deus, nem tenta sequer encontrá-lo. Efraim é como uma pomba sem juízo e tonta que procura o Egito e voa para a Assíria. Durante o seu voo, lançarei a rede sobre ela e a farei descer; castigá-la-ei por todos os seus atos pecaminosos. Ai do meu povo, que fugiu de mim! Sejam destruídos, pois pecaram contra mim! Quis redimi-los, mas os seus duros corações não aceitaram a verdade. Ali estão, o sono a fugir-lhes por causa da angústia, sem querer pedir-me auxílio. Em vez disso, adoram os ídolos dos povos pagãos, dirigindo-lhes orações a pedir vinho novo e boas searas. Socorri-os, fortaleci-os e agora voltam-se contra mim! Olham para todo o lado exceto para o céu, para o Deus altíssimo. São como um arco defeituoso que lança flechas errando sempre o alvo. Os seus chefes perecerão pela espada do inimigo, por causa da sua insolência para comigo, e todo o Egito se rirá deles. Toquem a trombeta de alarme! Eles aproximam-se! Como águia, o inimigo abate-se contra a casa do Senhor, porque quebrou a minha aliança e se revoltou contra a minha Lei. E agora Israel clama junto de mim dizendo: ‘Socorre-nos, porque és o nosso Deus!’ Mas é demasiado tarde! Israel rejeitou o bom momento com violência e agora serão os seus inimigos a persegui-lo. Designaram os reis e os governantes que haveriam de ter, tudo sem o meu consentimento. Prestaram culto aos deuses que fabricaram com prata e ouro, para sua própria destruição. Ó Samaria, rejeita em absoluto esse bezerro, esse ídolo, que fizeste! A minha ira acende-se contra ti. Quanto tempo haverá ainda até que se encontre no meio de ti um homem honesto? Quando será que reconheces, enfim, que esse bezerro não passa de um objeto feito por mãos humanas? Não é Deus! Por essa razão, terá de ser feito em pedaços. Semearam ventos, colherão tempestades. As suas searas não deram frutos nenhuns, não têm farinha; e se alguma se encontrar, serão os estrangeiros a comê-la. Israel está destruído; jaz no meio das nações como uma bilha de barro feita em cacos. É como um jumento solitário, selvagem, a vaguear. Os únicos amigos que tem são aqueles que compra e a Assíria é um deles. Ainda que consiga comprar amigos de várias regiões, mandá-los-ei para o exílio. Logo começarão a definhar debaixo da opressão do rei dos príncipes, o rei poderoso! Efraim construiu muitos altares, mas não são para me prestar culto! São altares de pecado! Escrevi-lhes, muitas vezes, ensinamentos da minha Lei, mas eram para eles coisas estranhas. Esse povo ama o ritual dos sacrifícios, mas para mim eles não têm significado! Farei um rol de todos os seus pecados e serão castigados; regressarão ao Egito. Israel construiu grandes palácios; Judá edificou grandes defesas para as suas cidades, contudo, esqueceu-se do grande construtor. Eis a razão por que mandarei fogo sobre esses palácios e queimarei essas fortalezas.” Ó Israel, não te regozijes mais, como os outros fazem, pois afastaste-te do teu Deus, prostituindo-te em todas as eiras de trigo. Eis que a eira e o lagar não vos sustentarão; o vinho novo vos faltará. Não poderão mais ficar nesta terra do Senhor; serão levados para o Egito e para a Assíria, passando a viver de restos de comida imunda. Ali, longe da pátria, não vos deixarão recolher vinho para os sacrifícios ao Senhor, porque nenhum sacrifício que seja oferecido ali pode agradar-lhe; são sítios poluídos, tal como o alimento dos pranteadores; seja quem for que coma disso ficará ritualmente impuro; poderão comer para si próprios, mas não para ofertas ao Senhor. Que farão no dia de celebrações santas, nos dias das festividades do Senhor? Eis que eles fogem da destruição, mas o Egito os recolherá; mas Menfis enterrá-los-á. Depois apenas se verão crescer espinhos e urtigas por entre as ruínas. Chegou o tempo do castigo de Israel; está quase aí, o dia da recompensa, e Israel conhecê-lo-á em toda a sua extensão. “Os profetas são gente louca, esses inspiradores estão doidos!”, dizem eles com ar de troça, mas toda a nação está carregada de pecado e só sabe mostrar ódio por aqueles que amam a Deus. O profeta é a sentinela de Deus em Efraim, mas esse povo está contra ele e a cada momento declara-lhe publicamente a sua raiva, até mesmo na casa do seu Deus. As coisas que o meu povo faz são tão depravadas como o que fizeram há tempos atrás em Gibeá. O Senhor não se esquece disso e com certeza que dará o castigo merecido. “Como recordo esses primeiros dias, deliciosos como cachos de uvas no deserto, quando eu, o Senhor, encontrei Israel! Como o vosso amor era refrescante como os primeiros figos no verão! Mas depois fugiram de mim para Baal-Peor, entregando-se a outros deuses, e tornaram-se tão abomináveis quanto aquilo que amaram. A glória de Efraim vai-se como se se tratasse dum pássaro; os seus filhos morrerão à nascença ou perecerão ainda no ventre da mãe; outros nunca chegarão a ser concebidos. E aqueles que conseguirem crescer, tirá-los-ei da sua guarda; todos estão condenados. Sim, será um dia bem triste, esse em que os deixarei e ficarão sozinhos. Vi Efraim, tal como Tiro, plantado num lugar aprazível, mas Efraim deixará os filhos serem levados para o matadouro.” Ó Senhor, o que darás a esse povo? Dá-lhe ventres maternos que não deem à luz, seios que não possam alimentar. “Toda a sua maldade começou em Gilgal; ali comecei a aborrecê-los. Expulsá-los-ei da minha casa por causa da sua idolatria. Não mais os amarei, porque os seus chefes são rebeldes. Efraim está condenado; a sua raiz está seca; não dará mais fruto; se chegar a dar à luz filhos, matarei esses seus filhos amados.” O meu Deus destruirá o povo de Israel, por não terem querido dar ouvidos e obedecer à sua voz. Andarão errantes sem pátria entre as nações. Como Israel prosperou! É uma vinha luxuriante, cheia de frutos! Mas quanto mais vitalidade tem, mais vida dá aos altares dos deuses pagãos; quanto mais ricas searas tem, mais belas são as estátuas que ergue em honra das colunas sagradas. O coração do povo é falso para com Deus. São pecadores e devem ser castigados. Deus derrubará os seus altares profanos e esmigalhará as suas colunas sagradas. Então dirão: “Não temos rei, porque não tememos ao Senhor. No entanto, ainda que tivéssemos um rei, o que poderia fazer por nós?” Fazem promessas que não têm intenção nenhuma de vir a cumprir. Por isso, o castigo surgirá entre eles como ervas venenosas nos regos dos campos. O povo de Samaria anda a tremer com medo que o seu deus-bezerro de Bete-Aven venha a ser ferido; os sacerdotes idólatras, juntamente com o povo, andam a lamentar-se por causa da glória que se apartou dali para o exílio. Esse tal ídolo, essa coisa que é um deus-bezerro, será levado com eles, quando partirem como escravos para a Assíria, como presente para o rei assírio. Efraim será alvo de risotas, por ter confiado num tal ídolo; Israel será alvo de ignomínia. Tal como Samaria, o seu rei desaparecerá, como um pedaço de espuma sobre as ondas do oceano. E os santuários pagãos dos ídolos de Bete-Aven, em Betel, onde Israel pecou, serão feitos em pedaços. Espinhos e urtigas crescerão por ali em volta. O povo clamará às montanhas: “Escondam-nos!” e às colinas: “Caiam sobre nós!” “Ó Israel, desde aquela tremenda noite em Gibeá apenas tem havido pecado e mais pecado! Não fizeste progressos nenhuns. Não terá sido justo que os homens de Gibeá tenham sido castigados? Serei então contra ti, por causa da tua desobediência; juntarei os exércitos das nações contra ti, para te castigar por causa das tuas transgressões. Efraim é como uma bezerra domada que gosta de trilhar o trigo; é um trabalho fácil que gosta de fazer. Eu pus-lhe o jugo, obriguei-o a estender o seu belo pescoço. Conduzirei Efraim mediante arreios; farei Judá lavrar a terra e Jacob se ocupará de fazer sulcos no solo. Plantem boas sementeiras de justiça e colherão searas do meu amor; lavrem o duro solo do vosso coração, porque chegou o tempo de buscar o Senhor, para que venha e derrame chuvas de justiça e salvação sobre vocês. Mas cultivaram antes a maldade e segaram abundância de pecado. Colheram a recompensa total de haverem confiado na mentira; julgaram que o poder militar e um grande exército poderia dar segurança a uma nação! Por isso, terrores de guerra levantar-se-ão entre o teu povo e todas as tuas fortificações cairão, tal como aconteceu em Bete-Arbel que Salmã destruiu; até as mães com os seus filhinhos foram esmagadas. Esse será igualmente o vosso destino, Betel, por causa da vossa grande maldade. Numa só manhã o rei de Israel será destruído. Quando Israel era uma criança, amei-o, e do Egito chamei o meu filho. Mas quanto mais chamava por ele mais rebelde se tornava, sacrificando a Baal e queimando incenso a ídolos. Eduquei a Efraim, desde a infância, ensinei-o a andar, segurei-o com os meus braços. Mas ele não se deu conta de que era eu quem curava e cuidava dele. Conduzi-o com laços de amor, com laços de muita humanidade. Fui como o dono dum animal que lhe tira o jugo, para que possa comer à vontade. Eu mesmo lhe dei de comer. Mas o meu povo acabará por voltar para o Egito e para a Assíria porque se recusou voltar para mim. A guerra rondará as suas cidades; os seus inimigos acabarão por cair em peso sobre os portões de entrada e fechá-los-ão nas suas próprias fortalezas. Porque o meu povo está decidido a deixar-me. Embora clamem ao Altíssimo, de maneira alguma me adoram. Oh! Mas como te poderia eu deixar, Efraim? Como poderei eu deixar-te ir embora? Como te poderia eu abandonar como a Admá e Zeboim? O meu coração chora dentro de mim. Como eu desejo socorrer-te! Não! Não te castigarei tanto quanto a minha ira me pede! Esta é a última vez que destruirei Efraim, porque eu sou Deus e não um homem. Eu sou o Deus santo que vive no meio de ti; não vim para destruir-te. O povo seguirá o Senhor. Rugirei como um leão sobre os seus inimigos e o meu povo regressará, tremendo, das bandas do poente. Como um bando de aves, virão do Egito, como pombas voando desde a Assíria. Instalá-los-ei de novo na sua pátria. Esta é uma promessa do Senhor. Israel cerca-me com mentiras e com engano e Judá mantém-se insubordinado contra Deus, contra o Deus santo e fiel.” Efraim anda ao sabor do vento; corre atrás do vento de leste o dia todo e multiplica enganos e violência. Envia azeite para o Egito e faz aliança com a Assíria para obter auxílio. Mas o Senhor também tem um contencioso com Judá. Jacob será igualmente castigado pelos seus maus caminhos. Ainda no ventre de sua mãe segurou o calcanhar do seu irmão, a fim de suplantá-lo, e depois de adulto lutou contra Deus. Sim, lutou com o Anjo e prevaleceu. Chorou e suplicou por uma bênção. Encontrou-se face a face com Deus em Betel e Deus falou-lhe; o Senhor, o Deus dos exércitos; Senhor é o seu nome. Oh! Volta para o teu Deus! Guia-te pelos princípios da justiça e do amor e coloca a tua dependência sempre no teu Deus. Mas não. O meu povo é como aqueles comerciantes desonestos que vendem com balanças falsificadas e que amam a fraude. Efraim vangloria-se: “Já estou rico, já fiz uma grande fortuna! Não encontrarão mal e pecado algum em mim, em todo o meu trabalho!” “Eu sou o mesmo Senhor, o vosso Deus que vos livrou da escravidão do Egito; mas também sou aquele que vos mandará habitar em tendas, como fazem em cada ano, na festa dos tabernáculos. Mandei-vos os meus profetas para vos advertirem com muitas visões, com muitas parábolas e sonhos.” Mas os pecados de Gilgal continuam a florescer da mesma maneira. Multiplicam-se os altares como sulcos abertos por charruas nos campos, os quais são usados para sacrifícios aos ídolos. Gileade também está cheia de loucos que adoram ídolos. Jacob fugiu para Aram e serviu como pastor para obter uma mulher. Então o Senhor tirou o seu povo do Egito por meio de um profeta que os conduziu e protegeu. Contudo, Efraim provocou amargamente a Deus. O Senhor condená-lo-á à morte, como paga dos seus pecados. Antigamente, quando Efraim falava, as pessoas costumavam tremer de medo; era como se fosse a voz de um poderoso chefe, mas começou a prestar culto a Baal e selou assim a sua condenação. Agora o povo desobedece cada vez mais. Derretem a prata que possuem para modelar ídolos com a habilidade de mãos humanas. “Sacrifiquem a estes!”, dizem eles, e é vê-los, seres humanos a beijarem um bezerro! Hão de desaparecer como o orvalho matinal e as nuvens passageiras que se vão logo pela manhã, como o folhelho que a tempestade varre num instante, como o fumo duma chaminé. “Só eu sou o Senhor, o vosso Deus, desde sempre, desde que vos tirei do Egito! Vocês não têm outro Deus além de mim, porque não há outro Salvador! Cuidei de vocês na travessia do deserto, nessa terra seca e sedenta. Mas depois de comerem e ficarem fartos tornaram-se orgulhosos e esqueceram-me. Por isso, virei sobre vocês como um leão ou como um leopardo que espera a presa à beira do caminho. Far-vos-ei em pedaços, como uma ursa a quem tenham roubado os filhotes; devorar-vos-ei como um leão. Ó Israel, tu foste destruído, porque te rebelaste contra mim, contra quem poderia socorrer-te! Onde está agora o vosso rei? Porque não procuram o seu socorro em todas as cidades? Onde estão todos os líderes da terra? Quiseram tê-los, agora que sejam eles a livrar-vos! Na minha ira dei-te reis e no meu furor retirei-tos novamente. Os pecados de Efraim estão ceifados e armazenados, visando o castigo. É-lhe oferecido um novo nascimento, mas ele é como uma criança que resiste ao nascimento, dentro do ventre materno. Que rebeldia! Que loucura! Redimi-lo-ei do mundo dos mortos. Resgatá-lo-ei da morte. Ó morte, onde estão as tuas pragas? Ó morte, onde está a tua perdição? O arrependimento está escondido dos meus olhos. Era considerado o mais frutuoso entre os seus irmãos, mas o vento de leste, um vento do Senhor vindo do deserto, soprará com dureza sobre ele e secará a sua terra. Secar-se-ão todas as fontes e todos os poços. Todos os seus tesouros serão saqueados dos seus depósitos. Samaria terá de carregar com a culpa do seu pecado, porque se rebelou contra o seu Deus. O seu povo será morto por um exército invasor, os seus bebés esmagados contra o solo, as mulheres grávidas abertas pelas espadas.” Ó Israel, volta-te para o Senhor, o teu Deus, porque foste desfeito pelos teus pecados. Apresenta a tua defesa, se quiseres. Vem até ao Senhor e diz-lhe: “Ó Senhor, tira a nossa iniquidade; sê misericordioso para connosco e recebe-nos; oferecer-te-emos sacrifícios de louvor. A Assíria não pode salvar-nos; tão-pouco o fará a nossa própria força na batalha; nunca mais oraremos aos ídolos dos quais fizemos nossos deuses, porque só em ti o órfão encontrará piedade.” “Então curar-vos-ei da idolatria e da infidelidade; o meu amor não terá limites; a minha ira desaparecerá para sempre! Refrescarei Israel como o orvalho que cai dos céus; florescerá como o lírio e aprofundará as suas raízes, tal como os cedros do Líbano. Os seus ramos estender-se-ão; serão como os das belas oliveiras; o seu odor será como o das florestas do Líbano. O seu povo regressará do exílio longínquo onde se encontrava e virá descansar sob a minha sombra. Tornar-se-ão como um jardim bem regado; florescerão como vinhas, terão a fragância do vinho do Líbano. Ó Efraim, afasta-te dos ídolos! Eu estou vivo e sou forte! Olho por ti e cuidarei de ti. Sou como uma árvore sempre verde, dando-te os meus frutos todo o ano. A minha misericórdia não terá fim.” Quem for sábio, que compreenda estas coisas. Quem é inteligente, que as ouça. Porque os caminhos do Senhor são retos e os justos andarão neles. Contudo, os pecadores neles cairão. Esta mensagem veio da parte do Senhor para Joel, filho de Petuel. Ouçam, anciãos de Israel! Que todos escutem! Em todo o tempo da vossa vida, sim, em todo o tempo da história do vosso país, alguma vez se ouviu coisa semelhante àquilo que vou dizer-vos? Nos anos vindouros, contem-no aos vossos filhos; que esta terrível narrativa passe de geração em geração. Depois da lagarta ter comido as vossas searas, veio o gafanhoto e comeu parte do que ficou; depois veio o saltão e por fim outros gafanhotos que comeram o que ficou dos anteriores. Despertem e chorem, ébrios, porque as vinhas estão destruídas e perdeu-se todo o mosto! Um vasto exército de gafanhotos cobre a terra; é demasiado numeroso para se poder contar; têm dentes tão pontiagudos como os do leão! Arruinaram as minhas vinhas e descascaram as figueiras, deixando os troncos e os ramos nus e brancos. Chorem de tristeza como a noiva que perdeu o seu jovem marido. Foram-se as oferendas de comida que deviam ser trazidas ao templo do Senhor; os sacerdotes perecem com fome; ouçam os clamores destes ministros do Senhor. Os campos não têm sementeiras. Por toda a parte apenas se vê tristeza e desolação. Perderam-se os cereais, o vinho novo e o azeite. É natural que os agricultores andem por aí desorientados e abatidos; é natural que os vinhateiros chorem de desespero. Chorem os que contavam com o trigo e a cevada, porque também se perderam. As vides secaram, as figueiras morreram e o mesmo aconteceu com as romãzeiras, as tamareiras, as macieiras, e com todas as árvores dos pomares; foi-se a alegria que elas traziam. Ó sacerdotes, vistam-se de saco! Ó ministros do meu Deus, inclinem-se durante toda a noite perante o altar, chorando, porque não haverá mais ofertas de cereais para vocês na casa do vosso Deus! Anunciem um jejum e convoquem uma solene assembleia. Reúnam os anciãos e todo o povo no templo do Senhor, vosso Deus, e chorem perante ele. Infelizmente, este terrível dia do Senhor está já próximo. Está quase a chegar a destruição decidida pelo Todo-Poderoso. O nosso alimento desaparecerá perante os nossos olhos; toda a alegria e contentamento no templo do nosso Deus terminarão. As sementes apodrecem debaixo do chão; os celeiros e os armazéns estão vazios; o trigo secou nos campos. O gado muge com fome; os pastores estão desorientados, porque não há pastagens para os animais; os rebanhos de ovelhas vão desaparecendo de miséria. A ti, Senhor, clamo, porque o fogo queimou as pastagens e as chamas destruíram todas as árvores. Até os animais selvagens pedem socorro, porque não acham água. Secaram os rios e as pastagens estão queimadas. Toquem as trombetas em sinal de alarme em Sião! Que se ouça o seu som sobre o meu santo monte! Que toda a gente trema de medo, porque o dia do Senhor se aproxima! Será um dia de escuridão e tristeza, de espessas nuvens e escuridão. Que poderoso exército cobre os montes como a noite! Quão grande e poderoso é este povo! A aparência dessas gentes nunca foi vista anteriormente e nunca será vista de novo pelas gerações que passarem na Terra! Corre fogo diante deles e as chamas queimam por trás. Têm na frente uma bela terra, como o jardim do Éden em toda a sua beleza. Depois de passarem, apenas ficou uma terra inteiramente destruída; nada lhes escapou. Parecem cavalos ligeiros correndo com muita rapidez. Vejam-nos saltando no cimo dos montes! Ouçam o barulho que fazem, semelhante ao ruído de carros de guerra e ao do fogo queimando tudo através dum campo, e também ao dum poderoso exército correndo para a batalha. O terror apodera-se dos povos que os esperam; empalidecem de medo. Estes soldados atacam como guerreiros destemidos. Escalam muros como tropa bem treinada. Avançam sem nada os deter. Não há ninguém a tolher os movimentos do companheiro. Cada um conhece bem aquilo que deve executar. Não há arma que possa detê-los. Carregam sobre a cidade; sobem às muralhas; trepam às casas, entrando como ladrões pelas janelas. A Terra treme perante eles e também os céus. O Sol e a Lua escurecem e as estrelas escondem o seu brilho. O Senhor conduz este exército com a sua voz. Este é o seu poderoso exército que segue as suas ordens. O dia do Senhor é algo de terrível, de tremendo. Quem poderá suportá-lo? É por isso que o Senhor diz: “Voltem-se agora para mim, enquanto é tempo! Deem-me todo o vosso coração! Aproximem-se com jejum, choro e lamentações!” Que o vosso remorso vos leve a dilacerar o coração e não a rasgar a roupa. Convertam-se ao Senhor, vosso Deus, porque é compassivo e misericordioso. Não é facilmente que se acende a sua ira; está cheio de mansidão e ansioso por não ter que castigar. Quem sabe se não desistirá das suas intenções a vosso respeito e se não acabará por vos abençoar em vez de vos punir severamente. Talvez vos abençoe de maneira que venham a ter novamente abundância de cereais e de vinho, para oferecerem ao Senhor, vosso Deus, como dantes! Toquem as trombetas em Sião! Convoquem um jejum e reúnam todo o povo para uma assembleia solene. Tragam todos! Os anciãos, as crianças e até os bebés! Tragam o noivo para fora dos seus aposentos, acompanhado da sua noiva! Os sacerdotes, os ministros do Senhor, pôr-se-ão entre o povo e o altar chorando e orarão desta forma: “Poupa, Senhor, o teu povo! Não permitas que os pagãos o dominem, pois pertence-te! Não permitas que seja alvo do desprezo dos pagãos que dizem: ‘Onde está esse Deus?’ ” Então o Senhor terá piedade de vocês, o seu povo, e terá zelo pela honra da sua terra. Responderá assim: “Vejam, estou a mandar-vos muito trigo, vinho novo e azeite, para satisfazer plenamente as vossas necessidades. Nunca mais deixarei que se tornem objeto de zombaria entre as nações. Farei partir esses exércitos que vêm do norte; enviá-los-ei para longe; irão para as terras desoladas donde vieram e ali morrerão; metade dirigir-se-á para o mar Morto e o resto para o Mediterrâneo; o seu mau cheiro subirá da terra.” O Senhor fez um poderoso milagre a vosso favor. Não tenham receio, meu povo! Alegrem-se e regozijem-se, porque o Senhor fez coisas maravilhosas a vosso favor! Não temam, ó animais do campo, pois as pastagens tornar-se-ão verdes de novo! As árvores darão o seu fruto; as figueiras e as vinhas florescerão uma vez mais. Alegra-te, ó povo de Sião, alegra-te no Senhor teu Deus! Porque ele faz descer as boas chuvas de outono com generosidade e justiça. Uma vez mais cairão as chuvas do outono, assim como as da primavera. As eiras terão novamente trigo empilhado e os lagares transbordarão de azeite e de vinho novo. “Vou compensar-vos dos anos em que as colheitas foram devoradas pelos gafanhotos, saltões, lagartas e outros insetos do grande exército que enviei contra vós. De novo terão toda a comida de que necessitarem. Louvem o Senhor, vosso Deus, que faz estes milagres para vocês! Nunca mais o meu povo experimentará desastres semelhantes. E saberão que estou aqui, entre o meu povo de Israel, e que só eu sou o Senhor, vosso Deus. O meu povo nunca mais será ferido com um golpe desta natureza. Depois derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos e os vossos jovens visões. Derramarei o meu Espírito, mesmo sobre os servos e servas, naqueles dias. Farei aparecerem maravilhas no céu e na Terra, sangue, fogo e colunas de fumo. O Sol escurecerá e a Lua ficará vermelha como o sangue, antes de vir o grande e terrível dia do Senhor. E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. No monte Sião, em Jerusalém, ficará um resto como o Senhor prometeu. Esses são os sobreviventes que o Senhor chama. Nesse tempo, restaurarei a prosperidade de Judá e de Jerusalém. Reunirei os exércitos do mundo no vale onde o Senhor julga, o vale de Jeosafá, e ali os castigarei por terem ferido o meu povo, por terem feito com que a minha possessão se tivesse espalhado entre as nações e por terem dividido entre si a minha terra. Dispuseram do meu povo como escravos; deram um rapaz em troca duma meretriz e uma rapariga em troca de vinho bastante para se embriagarem. Atenção, Tiro e Sídon, não tentem interferir! Estão a tentar vingar-se de mim, cidades da Filisteia? Cuidado! Em breve farei cair sobre as vossas cabeças a recompensa que merecem. Vocês levaram a minha prata e o meu ouro, assim como todos os tesouros preciosos que me pertenciam; levaram tudo para os vossos templos pagãos. Venderam o povo de Judá e Jerusalém aos gregos, que os levaram para longe, para as suas terras. Mas vou trazê-los de novo desses sítios para onde os venderam e dar-vos-ei a paga de tudo o que fizeram. Venderei os vossos filhos e filhas ao povo de Judá, que por sua vez os venderão aos sabeus, nação remota.” Trata-se duma promessa que o Senhor dá. Anuncia longe e perto: Aprontem-se para a guerra! Alistem os vossos melhores guerreiros! Façam a listagem de todas as armas que possuem! Forjem espadas das vossas enxadas e lanças das foices. Diga o fraco: “Sou forte!” Juntem-se e venham, povos de toda a parte! E agora, Senhor, faz descer ali os teus valentes. “Convoca as nações e trá-las ao vale de Jeosafá, porque será ali que pronunciarei a sentença sobre todos eles. Que a foice seja lançada! A seara está madura. Pisem nos lagares, pois estão repletos da maldade destes homens.” Multidões e multidões esperam neste vale, o vale da Decisão! Porque o dia do Senhor está perto! Será no vale da Decisão! O Sol e a Lua escurecerão e as estrelas apagarão a sua luz. O Senhor clama desde Sião e levantará a sua voz em Jerusalém; a Terra e os céus começam a tremer. Contudo, para este povo de Israel o Senhor será bom. Ele é o seu refúgio e a sua força. Então saberão, enfim, que eu sou o Senhor, vosso Deus, em Sião, no meu santo monte. Jerusalém será de novo santa. Virá o tempo em que nenhum exército estrangeiro a atravessará. Escorrerá mosto das montanhas e leite das colinas. Os rios já secos de Judá encher-se-ão de água e jorrará água do templo do Senhor que regará o vale de Sitim. O Egito será destruído e Edom também, por causa da sua violência contra os judeus, pois mataram gente inocente na sua própria terra. Contudo, Israel prosperará para sempre e Jerusalém permanecerá de geração em geração. Porque purificarei a sua culpa dos crimes que eu ainda não tinha perdoado. E o Senhor habitará em Sião! Estas são as mensagens de Amós, pastor de gado, que vivia na povoação de Tecoa. Um dia, numa visão, Deus contou-lhe algumas das coisas que haveriam de acontecer à nação de Israel. Sucedeu isto no tempo de Uzias, rei de Judá, no tempo em que Jeroboão, o filho de Jeoás, era rei em Israel; foi dois anos antes do terramoto. Eis o relato daquilo que ele viu e ouviu: A voz do Senhor fez-se ouvir como um bramido de um leão feroz; desde o seu templo, desde Sião, clamou. E de repente as luxuriantes pastagens do monte Carmelo secaram e morreram; todos os pastores se lamentaram. Diz o Senhor: “O povo de Damasco pecou repetidamente e não poderei perdoar-lhe. Não deixarei passar mais tempo sem o castigar. Trilharam o meu povo em Gileade como numa eira, fizeram-no com varas de ferro. Por isso, porei fogo ao palácio do rei Hazael e destruirei as fortalezas de Ben-Hadade. Quebrarei os ferrolhos que trancam as entradas de Damasco; matarei o morador do vale de Aven, o que tem o poder em Bete-Éden, e o povo de Aram voltará para Quir como escravos.” Assim falou o Senhor. Diz o Senhor: “Gaza pecou continuamente e não poderei perdoar-lhe. Não os deixarei mais tempo sem castigo, porque enviaram um povo inteiro para o exílio, vendendo-o como escravos para Edom. Por isso, porei fogo às muralhas de Gaza e todas as suas fortalezas serão destruídas. Matarei o povo de Asdode; destruirei Ecrom e o rei de Asquelom; todos os filisteus que tiverem ficado perecerão.” Isto disse o Senhor Deus! Diz o Senhor: “O povo de Tiro pecou repetidamente e não lhe perdoarei. Não os deixarei mais tempo sem castigo, porque quebraram a sua aliança de fraternidade; atacaram e levaram um povo inteiro para a escravidão em Edom. Por isso, porei fogo às muralhas de Tiro e todas as suas fortalezas e palácios arderão.” Diz o Senhor: “Edom pecou sem cessar; não lhe perdoarei. Não os deixarei continuar sem castigo. Perseguiram o seu irmão Israel com a espada; a sua ira foi sem descanso, não conheceram a piedade. Por isso, porei fogo a Temã que consumirá todas as fortalezas de Bozra.” Diz o Senhor: “O povo de Amon não tem parado de pecar e não lhe perdoarei. Não ficará mais tempo sem castigo. Porque nas suas guerras em Gileade, para alargar as suas fronteiras, cometeram crimes cruéis, dilacerando mulheres grávidas à espada. Por isso, porei fogo aos muros de Rabá que consumirá as suas fortalezas; ouvir-se-ão os brados de combate, como um redemoinho numa grande tempestade. O seu rei e os seus governantes irão juntamente para o exílio.” Isto disse o Senhor. Diz o Senhor: “O povo de Moabe pecou continuadamente e não lhe perdoarei. Não o deixarei por mais tempo impune, pois queimaram os ossos do rei de Edom, até reduzi-los a cal. Por isso, em recompensa, enviarei fogo sobre Moabe, que destruirá as fortalezas de Queriote. Moabe morrerá no meio de grande tumulto, enquanto os guerreiros gritam e as trombetas tocam. Destruirei o seu rei e matarei ao mesmo tempo os líderes.” Isto foi o que o Senhor falou. Diz o Senhor: “O povo de Judá não tem parado de pecar e não lhe perdoarei. Não ficarão por mais tempo sem castigo, porque rejeitaram a Lei do Senhor, recusando obedecer-lhe. Endureceram os seus corações e pecaram, à semelhança dos seus pais. Por isso, destruirei Judá com fogo. Queimarei as fortalezas de Jerusalém.” Diz o Senhor: “O povo de Israel tem pecado continuamente e não poderei esquecê-lo. Não deixarei por mais tempo esse povo sem castigo. Perverteram a justiça aceitando subornos, vendendo como escravos os pobres que não podiam pagar as dívidas contraídas; venderam-nos por um par de sapatos. Esmagam os pobres contra o pó do chão e enxotam com um pontapé os pacíficos. Um homem e o seu pai deitam-se com a mesma rapariga, desonrando o meu santo nome. Quando têm as suas festas religiosas, recostam-se preguiçosamente, deitando-se sobre roupas retidas sob penhor, e no meu próprio templo oferecem sacrifícios de vinho obtido como receita de multas. Mesmo assim, pensem em tudo o que fiz por eles! Limpei a terra dos amorreus diante deles, esses amorreus tão fortes como carvalhos e tão altos como cedros! Destruí-lhes o fruto e cortei-lhes por baixo as raízes. Tirei-vos do Egito, conduzindo-vos através do deserto por 40 anos, para que viessem a possuir, enfim, a terra dos amorreus. Escolhi os vossos filhos para se tornarem nazireus e profetas. Podem negá-lo, israelitas?, pergunta-vos o Senhor. Contudo, forçaram os nazireus a pecarem, obrigando-os a beberem vinho; reduziram ao silêncio os profetas, dizendo-lhes: ‘Calem-se!’ Por isso, vos carregarei como se carrega um carro com fardos. Os vossos mais ágeis guerreiros não conseguirão fugir; os mais fortes sucumbirão e aos mais altos de nada lhes servirá o tamanho. O atirador de arco falhará sistematicamente o alvo. Os especialistas em corrida serão sempre apanhados e os melhores cavaleiros desfalecerão, sem possibilidade de escapar. Os mais corajosos dos vossos guerreiros deixarão cair as armas na fuga, para pouparem as vidas nesse dia.” Isto foi o que o Senhor falou. Escutem! Esta é a vossa condenação! É o Senhor que fala contra Israel e contra Judá, contra toda a família que trouxe do Egito. De todos os povos da Terra, só a vocês eu escolhi. Por isso, tanto mais vos castigarei pelos vossos pecados. Porventura caminharão dois homens juntos se não estiverem de acordo? Porventura o leão solta rugidos na floresta sem primeiro ter encontrado uma presa? E rugirá o leão pequeno, na sua caverna, sem primeiro ter apanhado alguma coisa? Porventura o pássaro é apanhado numa armadilha escondida no chão, se a armadilha não tiver engodo? E tira-se a armadilha do chão, mesmo sem ter apanhado nada? Se a trombeta dá o alarme numa cidade, porventura o povo não fica assustado? Se uma catástrofe acontece numa cidade, porventura não foi o Senhor a agir? Pois também o Senhor Deus não faz nada sem primeiro revelar os seus planos aos seus servos, os profetas. Quando o leão ruge, quem é que não tem medo? Quando o Senhor Deus fala, quem não profetizará as suas palavras? Proclamem nas fortalezas de Asdode e nas fortalezas da terra do Egito, e digam: “Levem as vossas cadeiras para o cimo das montanhas de Samaria, para poderem testemunhar o escandaloso espetáculo dos crimes de Israel.” “O meu povo esqueceu-se do que quer dizer retidão, diz o Senhor. As suas belas fortalezas estão repletas com pilhagens, fruto das suas incursões de banditismo e roubo. Por isso, diz o Senhor Deus, um inimigo se aproxima! Está já a rodeá-los; derribará o seu poder e saqueará os seus palácios.” Diz o Senhor: “Um pastor tentou salvar uma ovelha das garras dum leão, mas não chegou a tempo. Apenas conseguiu tirar-lhe da boca duas pernas e um pedaço de orelha. Assim acontecerá com os israelitas, quando forem finalmente libertados de Samaria; tudo o que conseguirão levar será apenas uma cadeira meio partida e uma almofada já rasgada. Ouçam este anúncio e espalhem-no por todo o Israel, diz o Senhor, o Deus dos exércitos. No mesmo dia em que castigar Israel pelos seus pecados, também destruirei os altares dos ídolos de Betel. Os chifres do altar serão cortados e cairão no chão. Destruirei as belas casas dos ricos, as suas mansões de inverno, as suas vivendas de verão; demolirei os palácios de marfim”, diz o Senhor. Ouçam-me, vocês, gordas vacas de Basã que vivem na Samaria, vocês, mulheres que encorajam os maridos a roubar os pobres e a esmagar os explorados, vocês que nunca estão satisfeitas e que dizem aos maridos que querem beber mais e mais! O Senhor Deus jurou pela sua santidade: “Eis que virá o tempo em que vos porão ganchos nos narizes e vos levarão como gado; o último será igualmente levado com anzóis! Serão expulsos das vossas belas casas e lançados fora pelas fendas das paredes destruídas, na direção de Hermon.” É o Senhor quem o diz. “Venham então e continuem a fazer sacrifícios aos ídolos, em Betel e em Gilgal. Continuem a desobedecer que os vossos pecados se vão amontoando. Sacrifiquem cada manhã e tragam os dízimos duas vezes por semana. Prossigam nos ritos de louvor e deem ofertas voluntárias. Hão de sentir-se orgulhosos e falarão de tudo isso por toda a parte, diz o Senhor Deus. Fiz-vos passar fome, diz o Senhor Deus, mas não serviu de nada; nem mesmo assim se converteram a mim. Arruinei as vossas culturas, retendo as chuvas três meses antes das colheitas. Fiz chover numa cidade e não na outra. Enquanto um campo recebeu chuva, o outro ficou seco e as culturas morreram. Gentes de duas ou três cidades seriam capazes de fazer uma longa caminhada para obter uma gota de água, indo àquela onde tinha chovido, mas chegando lá não encontrarão nenhuma de sobra. Pois nem mesmo assim se convertem, diz o Senhor. Mandei-vos o míldio e outras doenças às vossas vinhas e às vossas culturas agrícolas; os gafanhotos comeram as figueiras e as oliveiras. E nem mesmo assim se voltaram para mim, diz o Senhor. Mandei-vos pragas, como as do Egito, há muito tempo. Matei os vossos mancebos na guerra e deixei que levassem os vossos cavalos. O mau cheiro dos mortos era terrível. E mesmo assim recusaram converter-se. Destruí algumas das vossas cidades, como tinha feito com Sodoma e com Gomorra; os que escaparam eram como pedaços de madeira meio queimados, tirados dum fogo. E mesmo assim não voltaram para mim, diz o Senhor. Por isso, trarei todos esses males de que vos tenho falado. Prepara-te, pois, para te encontrares com o teu Deus, ó Israel!” Foi ele quem formou as montanhas e fez os ventos; ele conhece todos os vossos pensamentos; faz da manhã trevas e esmaga as montanhas debaixo dos seus pés. Senhor, o Deus dos exércitos, é o seu nome. Ouçam esta canção que vou cantar, como lamentação sobre o povo de Israel. “A bela nação de Israel jaz alquebrada, esmagada sobre o chão e ninguém a pode levantar. Não há ninguém que a ajude. Deixam-na morrer sozinha.” Por isso, diz o Senhor Deus: “A cidade que enviar mil homens à guerra, apenas verá de volta cem. E a outra, dos cem que tiver enviado, apenas verá regressar dez com vida.” O Senhor diz ao povo de Israel: “Busquem-me e vivam! Não vão atrás dos ídolos de Betel e de Gilgal, ou de Berseba; o povo de Gilgal será levado em cativeiro, e o de Betel certamente que será desfeito em nada.” Procurem o Senhor e vivam! Doutra forma, lançar-se-á como um fogo sobre Israel e consumi-lo-á! Nenhum dos ídolos de Betel poderá impedir tal coisa. Ó gente pervertida! Fazem da justiça uma poção bem amarga que os pobres e oprimidos são obrigados a engolir; honestidade e retidão são ficções sem sentido algum para vocês! Procurem aquele que criou as constelações de Plêiades e Orion; que faz das trevas manhã e do dia noite; que chama as águas dos oceanos e as derrama em chuva sobre a Terra. O seu nome é Senhor. Faz vir súbita e violenta destruição sobre os poderosos, anulando todas as defesas. Como vocês odeiam os juízes retos! Como desprezam os que falam verdade! Pisam com os pés o pobre e roubam-no até ao mais pequeno tostão com as taxas iníquas da usura. É por isso que constroem vivendas luxuosas, construídas com pedras lavradas, que nunca chegarão a habitar; também não beberão o vinho das esplêndidas vinhas que plantaram. Muito graves são os vossos pecados; conheço-os todos muito bem. Vocês são inimigos de tudo o que seja o bem; respiram suborno por toda a parte; recusam fazer justiça aos pobres. Por isso, todo aquele que for sábio guardará silêncio, porque é um tempo muito hostil. Busquem o que é reto, fujam da injustiça e vivam! Nessa altura, o Senhor, o Deus dos exércitos, será verdadeiramente o vosso ajudador, como pretendem que seja. Odeiem o mal e amem o bem! Reformem os vossos tribunais, de forma a que se transformem em verdadeiros palácios de justiça! Talvez ainda o Senhor, o Deus dos exércitos, tenha misericórdia do resto do seu povo. Por essa razão, assim vos diz o Senhor, o Deus dos exércitos: “Haverá choro em todos os caminhos e em todas as ruas. Chamem os lavradores para chorar convosco; mandem vir pranteadores profissionais para também lamentarem. Haverá tristeza e choro em todas as vinhas, porque passarei por elas para as desfazer.” Se disserem: “Ah! Se viesse o dia do Senhor! Então Deus nos livraria de todos os nossos inimigos!” Mas não fazem sequer ideia do que desejam. Esse dia do Senhor não será de luz, mas antes de escuridão. Nesse dia, serão como alguém que é perseguido por um leão e que acaba por cair na frente dum urso esfomeado, ou como uma pessoa que está num quarto escuro, procurando a saída, e põe a mão sobre uma serpente. Sim, esse dia do Senhor será um dia de escuridão e sem esperança alguma. “Aborreço profundamente as vossas celebrações religiosas; também não suporto as vossas assembleias solenes. Não aceitarei os vossos holocaustos e sacrifícios de gratidão, nem sequer olharei para os vossos sacrifícios de paz. Calem os vossos hinos de louvor, pois não passam de mero barulho aos meus ouvidos. Não escutarei a vossa música, por muito bonita que possa ser. O que eu quero ver é a justiça correndo como o poderoso caudal de um rio, como uma torrente abundante de boas obras. Ofereceram-me sacrifícios durante 40 anos no deserto, ó casa de Israel, mas o que vos interessava eram os vossos deuses pagãos, as imagens de Sicute, vosso deus-rei, e Quium, o vosso deus das estrelas, e todas as imagens que fizeram para vós mesmos. Por isso, vou mandar-vos para o cativeiro, lá bem para o oriente de Damasco”, diz o Senhor, cujo nome é Deus dos exércitos. Ai dos que vivem tranquilos em Sião e seguros na região montanhosa da Samaria, que gozam de tanta popularidade entre o povo de Israel. Vão até Calné e vejam o que lá aconteceu; depois vão até à grande cidade de Hamate e desçam, por fim, a Gate dos filisteus. Porventura são melhores que estas nações? Ou a terra deles é maior do que a vossa? Vocês afastam todo o pensamento de castigo que possa esperar-vos, mas é pelas vossas ações que fazem aproximar-se o dia do julgamento. Vocês repousam em camas de marfim, estendem-se em belos sofás, comendo tenra carne de cordeiro e dos melhores bezerros. Cantam canções vãs ao som da harpa, imaginam que são grandes músicos, como era o rei David. Bebem vinho em várias taças e perfumam-se com inebriantes essências, sem se preocuparem minimamente com o facto de que Israel será arruinado. Essa é a razão por que hão de ser os primeiros levados para o cativeiro; dum momento para o outro cessarão os banquetes dos que vivem folgadamente. O Senhor, o Deus dos exércitos, jurou pela honra do seu próprio nome: “Abomino a soberba e a jactância de Jacob, desprezo as suas fortalezas! Entregarei esta cidade, e o que ela contém, aos seus inimigos!” Ainda que tenham restado dez homens e uma só casa, também esses perecerão. O parente de um homem será o único que há de ficar, para o enterrar e, quando for a levar o corpo para fora de casa, perguntará ao outro que ficou sozinho lá dentro com vida: “Há mais algum corpo aí dentro?” A resposta será: “Não!” E acrescentará: “Cuidado, não chamem a atenção do Senhor, mencionando o seu nome!” Porque o Senhor deu a seguinte ordem: “Serão destruídas todas as casas, tanto as grandes como as pequenas!” Os cavalos podem correr sobre as rochas? Os bois podem lavrar o mar? São situações absurdas. Mas é semelhante ao que vocês fizeram, que transformaram a justiça em atos desprezíveis; de tudo o que era bom e reto fizeram uma bebida amarga. Igualmente estúpida é a vossa satisfação, ao dizerem: “Não foi pelas nossas forças que nós conquistámos Carnaim?” “Ó Israel, hei de trazer contra ti uma nação que te oprimirá amargamente, de norte a sul do país, desde Hamate até ao ribeiro de Arabá”, diz o Senhor, o Deus dos exércitos. Isto é o que o Senhor Deus me mostrou numa visão: Estava a preparar uma vasta praga de gafanhotos para destruir as principais searas que cresceram depois da primeira ceifa e que tinham sido entregues como o imposto devido ao rei. Tudo comeram, completamente. Então disse: “Ó Senhor Deus, perdoa ao teu povo! Se te voltares contra Israel, que esperança poderá haver? Israel é tão pequeno!” Então o Senhor reteve-se e não deu cumprimento à visão. “Não o farei!”, disse-me. Depois o Senhor Deus mostrou-me um grande fogo que preparara para os castigar, o qual secava até as águas e queimava a terra inteira. Eu disse então: “Ó Senhor Deus, não faças tal coisa! Se te voltares contra eles, que outra esperança poderão ter? Jacob não tem força nenhuma!” O Senhor Deus desistiu também deste plano: “Também não farei isso!” Então fez-me ver o seguinte: o Senhor estava em pé junto dum muro, com um fio de prumo, verificando se estava perfeitamente direito. E o Senhor perguntou-me: “Amós, que vês tu?” “Um fio de prumo.” “Hei de testar o meu povo com um fio de prumo. E desta vez não hei de desistir do meu castigo. Os altares dos ídolos onde os descendentes de Isaque adoraram, assim como os santuários em Israel, hão de ser destruídos; destruirei igualmente a dinastia do rei Jeroboão por meio da guerra.” Mas quando Amazias, o sacerdote de Betel, ouviu o que Amós estava a dizer, mandou com urgência uma mensagem ao rei Jeroboão: “Amós é um traidor da nossa nação; está a conspirar a tua morte; isto é intolerável, pois suscitará a revolta em toda a terra. Ele diz que tu serás morto e que Israel será levado em cativeiro para o exílio.” Amazias ordenou a Amós: “Sai daqui para fora, tu, ó vidente! Vai lá para a terra de Judá fazer as tuas profecias e come ali o pão que ganhaste com as tuas palavras! Não nos incomodes mais com as tuas visões aqui, em Betel, onde está o templo do rei!” Mas Amós respondeu-lhe: “Eu não era um profeta. Eu não pertenço à família dos profetas. Eu guardava vacas e colhia das figueiras bravas figos silvestres. Contudo, o Senhor tirou-me de andar atrás dos rebanhos e disse-me: ‘Vai e profetiza ao meu povo de Israel!’ Por isso, ouve esta mensagem do Senhor para ti. Tu dizes: ‘Não profetizes contra Israel nem fales contra a casa de Isaque!’ Mas o Senhor responde: ‘A tua mulher se prostituirá nesta mesma cidade, os teus filhos e filhas serão mortos e a terra toda dividida. Tu próprio acabarás por morrer numa terra pagã; o povo de Israel será exilado, lá longe da sua terra.’ ” O Senhor Deus revelou-me numa visão um cesto de fruta madura. “Que vês tu, Amós?” “Um cesto de fruta madura”, respondi. Então o Senhor disse-me: “Esta fruta representa o povo de Israel, maduro para o castigo. Não alterarei o seu castigo. Os ruídos de cânticos devassos que se ouvem no templo tornar-se-ão em choro. Ver-se-ão cadáveres por toda a parte, que serão levados para fora da cidade, mas em silêncio!” Foi isto o que o Senhor Deus falou. Escutem, vocês os comerciantes que roubam o povo e espezinham os necessitados. Vocês que anseiam pelo fim do sábado e pelo término das festas religiosas, para poderem logo retomar as fraudes; o uso de dois tipos de pesos e medidas abaixo da bitola. Vocês que escravizam os pobres, comprando-os por uma peça de prata ou um par de sapatos, ou vendendo-lhes até palha por trigo. O Senhor, a glória de Israel, jurou: “Jamais me esquecerei dos vossos atos! A terra tremerá, enquanto espera a sua condenação, e todos chorarão; será como uma enchente do Nilo; será agitada e afundar-se-á. Eis que naquele dia farei com que o Sol desapareça ao meio-dia e a terra fique às escuras, diz o Senhor Deus. As vossas festanças mudá-las-ei em tempo de choro. As vossas canções alegres tornar-se-ão em gritos de desespero. Andarão vestidos de luto, rapando a cabeça em sinal de tristeza, como se tivessem perdido um filho único. Bem amargo será esse dia! Chegou certamente o tempo, diz o Senhor Deus, em que mandarei sobre a terra a fome; não fome de pão, nem sede de água, mas fome e sede de ouvir a palavra do Senhor. As pessoas atravessarão os oceanos à procura da palavra do Senhor, correndo de um lado para o outro, mas sem a encontrar. Formosas raparigas e belos moços ficarão enfraquecidos e sem cor, pela sede da palavra de Deus. Os que adoram ídolos em Samaria, Dan e Berseba cairão e nunca mais se levantarão.” Vi o Senhor em pé, junto do altar, e disse-me: “Esmaga o cimo dos pilares e abala o templo, até que as colunas se desmoronem e o teto se abata sobre o povo que está em baixo. Ainda que fujam a correr, não escaparão; todos morrerão. Ainda que cavem até ao mundo dos mortos, alcançá-los-ei e tirá-los-ei dali; se treparem até ao céu, farei com que desçam. Mesmo que se escondam entre rochas, no cimo do Carmelo, irei ali procurá-los e prendê-los. Podem esconder-se no fundo dos oceanos; mandarei contra eles a serpente marítima que os morderá e liquidará. Ainda que vão para o cativeiro na frente dos seus inimigos, mandarei a espada para os matar ali. Velarei para que lhes aconteça o mal e não o bem.” O Senhor, o Deus dos exércitos, toca a Terra e esta derrete-se; todos os seus habitantes chorarão de desespero. A Terra será avassalada como numa enchente do Nilo, no Egito, e depois afundar-se-á. Os últimos andares da sua moradia estão no céu, os seus fundamentos estão na Terra. Concentra a humidade tirada do oceano e derrama-a sobre a terra em chuva. Senhor é o seu nome. Ó povo de Israel, serão vocês para mim mais do que os cuchitas? Se vos tirei do Egito, também os filisteus tirei de Caftor e os arameus de Quir. Os olhos do Senhor Deus estão voltados para Israel, este reino pecaminoso; hei de desenraizá-los daqui e espalhá-los por todo o mundo. Mas não destruirei de todo a casa de Jacob, diz o Senhor. É verdade que dei ordens para que Israel seja sacudido pelas outras nações como se sacode o grão na peneira; mas sem que caia um grão no chão! No entanto, todos esses pecadores que dizem: “Deus não nos há de tocar”, esses morrerão pela espada. “Nesse tempo, reconstruirei o tabernáculo de David que agora está em ruínas; restaurá-lo-ei à sua glória primitiva. Israel possuirá o que ficou abandonado por Edom e por todas as nações que me pertencem.” Foi assim que falou o Senhor e ele realiza os seus planos. “Há de vir um tempo de tal abundância de searas que o tempo da ceifa será bem pouco para que o lavrador possa semear novamente. As vinhas sobre os outeiros darão vinho aromático! Restabelecerei a prosperidade do meu povo de Israel; reconstruirão as cidades em ruínas, viverão nelas novamente, plantarão vinhas e pomares; comerão das suas searas e beberão do vinho que é seu. Plantá-los-ei com segurança na terra que lhes dei! Não sairão dela nunca mais!”, diz o Senhor, o vosso Deus. Numa visão, o Senhor Deus revelou a Obadias o futuro da terra de Edom. Chegou a notícia da parte do Senhor, disse ele, que Deus enviou um embaixador às nações com a seguinte mensagem: “Atenção! Deverão enviar os vossos exércitos contra a terra de Edom para a destruir!” “Vou fazer-te pequeno entre as nações, Edom, tornando-te desprezível. És orgulhoso porque vives nas alturas, no cimo de falésias inacessíveis. ‘Quem é que pode chegar até aqui?’, gabaste-te tu. Não se enganem a vós próprios! Ainda que se elevem como águias e construam os ninhos nas estrelas, derrubar-vos-ei daí abaixo, diz o Senhor. Muito melhor teria sido que ladrões tivessem vindo de noite assaltar-vos, porque nunca chegariam a levar tudo o que vocês possuem! No caso das vossas vinhas serem roubadas, pelo menos deixariam ficar uns cachos mais desprezíveis. Mas o que há de acontecer, na verdade, é que cada recanto, cada lugar, por mais escondido que esteja, será vasculhado e roubado, e tudo o que valer alguma coisa será levado. Todos os teus aliados se voltarão contra ti e colaborarão na tua expulsão da terra. Prometer-te-ão paz, ao mesmo tempo que conspiram contra ti, para te destruir. Os teus amigos de confiança lançar-te-ão armadilhas e todas as tuas anti-estratégias falharão. Nesse dia, nem um só sábio será deixado em todo Edom, diz o Senhor. Antes encherei aqueles que eram considerados como tal, com estupidez. Os mais valentes soldados de Temã ficarão atrapalhados e paralisados, perante o exterminador. E isto porquê? Por causa do que fizeram ao vosso irmão Israel. Assim, os teus pecados serão expostos perante todos, para que os vejam. Envergonhado e sem defesa alguma, serás exterminado para sempre. Abandonaste Israel, quando ele mais precisava de auxílio. Mantiveste-te à distância, recusando levantar um dedo que fosse para o ajudar contra os invasores que vieram tirar-lhe o que possuía e repartir Jerusalém como despojo de guerra; portaste-te como um dos seus inimigos. Não devias ter feito isso. Não devias ter ficado satisfeito quando o vieram buscar para o levar para longe, para terras estranhas; não devias ter-te alegrado com o seu infortúnio; não devias ter-te rido dele, nesse tempo de desgraça. Tu próprio entraste na terra de Israel, nesses dias de calamidade, e a pilhaste. Tornaste-te rico à sua custa. Colocaste-te nos cruzamentos das estradas para apanhar os que fugiam; apanhaste os fugitivos e entregaste-os aos seus adversários, nesse tempo terrível de grande tragédia. Porque o dia do Senhor em breve cairá sobre todas as nações pagãs. Como fizeram com Israel assim vos será feito. Os vossos atos recairão sobre as vossas cabeças. Vocês beberam a minha taça de castigo sobre o meu santo monte e as nações todas beberão igualmente por ela. Sim, bebam e depois desapareçam da história como se nunca tivessem existido! Mas o monte Sião tornar-se-á um refúgio; o monte será santo e a descendência de Jacob possuirá a sua herança. Israel será como um fogo lançado sobre os campos ressequidos de Edom que tudo incendiará. Não haverá sobreviventes da casa de Esaú!” O Senhor assim falou. Então o povo que vive no Negueve ocupará a região das colinas de Edom; os que vivem nas planícies da Judeia possuirão as planuras dos filisteus e reapoderar-se-ão dos campos de Efraim e Samaria. O povo de Benjamim tornará a possuir Gileade. Os exilados israelitas regressarão e ocuparão toda a terra da costa cananita até Zarefate. Os que estavam cativos, em Sefarade, voltarão à sua terra natal e conquistarão as povoações remotas do Negueve. Levantar-se-ão salvadores que virão ao monte Sião e governarão a região montanhosa de Edom. O Senhor será Rei! O Senhor enviou uma mensagem a Jonas, filho de Amitai. “Vai à grande cidade de Nínive e prega contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença!” Mas Jonas resolveu ausentar-se para longe do Senhor. Desceu até à costa, até ao porto de Jope, onde achou um navio que partia para Társis. Comprou uma passagem, entrou no barco seguindo para Társis, fugindo assim do Senhor. Enquanto o barco navegava, o Senhor fez levantar-se uma terrível ventania e desencadear-se uma tempestade tal que o navio estava a ponto de se despedaçar. Temendo pelas suas vidas, os marinheiros desesperados gritavam cada um pelo seu deus e atiravam pela borda fora o carregamento, para tornar mais leve a embarcação. Enquanto isto se passava, Jonas dormia profundamente no porão do barco. O capitão mandou chamá-lo: “O que é que se passa contigo? Estás a dormir numa situação destas? Clama também ao teu Deus, para ver se tem misericórdia de nós e nos salva!” A tripulação resolveu tirar à sorte, a fim de verificarem quem é que, entre eles, ofendera os deuses e provocara tamanho temporal. E a sorte recaiu sobre Jonas. “Que foi que fizeste”, perguntaram-lhe, “para que este furacão tremendo caísse sobre nós? Quem és tu? O que fazes? Donde é que vens? De que nacionalidade és?” “Sou hebreu e temo o Senhor, o Deus dos céus, que fez a terra e os mares.” Depois contou-lhes que estava a fugir do Senhor. Os homens ficaram aterrorizados: “Oh! E porque é que fizeste uma coisa destas? O que é que havemos de te fazer para acabar com este temporal?” E o tempo piorava assustadoramente. “Deitem-me ao mar e tudo ficará calmo outra vez. Porque sei que esta tempestade aconteceu por minha causa.” Entretanto, os remadores tentavam em vão levar o barco para a costa; a tormenta era tal que se tornava impossível lutar contra ela. Então clamaram ao Senhor: “Ó Senhor, não nos tires a nós a vida, por causa do pecado deste homem! Não nos tornes culpados de derramar sangue inocente. Afinal, Senhor, tu procedeste o que te aprouve.” Pegaram depois em Jonas, lançaram-no pela borda fora e tudo se acalmou! Aquela gente temeu imenso o Senhor; ofereceu-lhe sacrifícios e fez votos de o servir. No entanto, o Senhor preparou um grande peixe para que engolisse Jonas e este ficou vivo no interior do peixe três dias e três noites. Jonas orou ao Senhor, seu Deus, dentro do peixe. “Na minha angústia clamei ao Senhor e ele respondeu-me; da profundidade da morte gritei e ele ouviu-me! Lançaste-me para o fundo do oceano; mergulhei nas vagas e fui coberto por ondas alterosas em fúria. Ó Senhor, expulsaste-me para longe de ti! Será que nunca mais verei o teu santo templo? Andei empurrado pelas vagas, cercado bem de perto pela morte. As ondas envolveram-me completamente, as algas enrolaram-se à minha cabeça. Desci à base das montanhas que se erguem do fundo do mar. Os ferrolhos da vida correram sobre mim e fiquei preso no país da morte. Mas tu, ó Senhor, meu Deus, tu livraste-me da perdição! Quando já tinha perdido toda a esperança, voltei os pensamentos uma vez mais para ti, Senhor. A minha oração chegou ao teu santo templo. Sem dúvida que quem adora deuses voltou as costas às misericórdias que Deus pode conceder! A mais ninguém prestarei culto senão a ti! Fá-lo-ei com um coração profundamente agradecido. Com certeza cumprirei as minhas promessas. Só do Senhor me vem salvação!” O Senhor mandou ao peixe que lançasse Jonas numa praia e ele assim fez. Então o Senhor falou novamente a Jonas. “Vai a essa grande cidade de Nínive e avisa-os da sua condenação, tal como já te mandei antes!” Jonas obedeceu e foi a Nínive. Era, na verdade, uma grande cidade com arredores muito vastos, tão extensa que levava três dias a percorrer. Entrando na cidade, Jonas começou a pregar. Jonas clamava ao povo que se juntava ao seu redor: “Mais quarenta dias e Nínive será destruída!” A multidão acreditou nas suas palavras e foi proclamado um jejum geral. Todas as pessoas, inclusive o rei, se vestiram de pano de saco em sinal de contrição. O rei da cidade, quando ouviu o que Jonas proclamava, desceu do seu trono, pôs de parte as roupagens reais, vestiu-se daquele pano grosseiro e sentou-se sobre cinza. Tanto ele como a sua corte mandaram por toda a cidade a seguinte mensagem: “Que ninguém, nem mesmo os animais, coma seja o que for nem beba água. Toda a gente deve vestir-se de pano de saco e clamar fervorosamente a Deus. Que todos se arrependam das suas más ações e das violências que têm praticado. Talvez Deus acabe por permitir que vivamos e desista da sua tremenda ira!” Quando Deus viu que estavam verdadeiramente decididos a pôr termo aos seus maus caminhos, desistiu da intenção de os destruir. Esta alteração dos planos de Deus deixou Jonas extremamente aborrecido. E lamentou-se perante o Senhor assim: “Era isto exatamente o que eu receava que fizesses, Senhor, quando me falaste, lá no meu país, para que viesse aqui. Por essa razão, fugi para Társis. Eu sabia que eras um Deus gracioso e misericordioso, lento em irares-te e cheio de bondade. Eu sabia que estavas desejoso de renunciar aos teus planos de destruir o povo. Peço-te, então, que me tires a vida! Preferia morrer a viver nestas circunstâncias!” E o Senhor respondeu-lhe: “Será razoável esse teu ressentimento?” Jonas saiu da cidade, foi para um sítio a oriente dela e ali ficou extremamente enfadado. Construiu uma cobertura de folhas e pôs-se à sombra, à espera de ver o que aconteceria à cidade. O Senhor Deus permitiu que uma planta de rícino crescesse rapidamente e espalhasse largas folhas que faziam sombra a Jonas. Isto fez com que ficasse muito satisfeito e agradecido. Mas na manhã seguinte Deus enviou um bicho que roeu a planta que murchou e morreu. Quando o Sol começou a aquecer, Deus permitiu que se levantasse um vento abrasador de leste que, juntamente com o Sol caindo a pique sobre Jonas, fez com que este desfalecesse e desejasse morrer. “Oh! Antes morrer do que viver nestas condições!” E Deus respondeu-lhe: “Será razoável que te enfades dessa maneira por causa duma planta?” “Sim, com certeza! É justo que me aborreça a ponto de desejar a morte!” “Ficaste amargurado por a planta ter morrido, ainda que nada tivesses feito para a fazer crescer, e tratava-se duma planta que teve uma vida muito curta! Não devia eu então ter compaixão desta grande cidade de Nínive, com os seus 120 000 habitantes, sem nenhuma compreensão espiritual, e onde vivem também muitos animais?” Estas são as mensagens que, da parte do Senhor, foram comunicadas a Miqueias, o morastita, durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá. Estas palavras dirigem-se a Samaria e a Judá. Miqueias recebeu-as na forma de visões. Prestem atenção! Que todos os povos do mundo ouçam! O Senhor Deus no seu santo templo tem acusações contra vocês! O Senhor está a chegar! Está a deixar o seu trono no céu e vem até à Terra, andando no cimo dos montes. Estes derretem-se sob os seus pés e escorrem em direção aos vales, como cera ante o fogo, como água jorrando duma encosta. Por que razão está isto a acontecer? Por causa dos pecados de Jacob e de Israel. Qual é o pecado de Jacob? Porventura não é Samaria? Qual é o altar idólatra de Judá? Não será Jerusalém? “Por isso, farei da cidade de Samaria um montão de ruínas. Será transformada num campo aberto; as suas ruas serão lavradas para se plantarem vinhas. Eu deitarei abaixo as muralhas, deixando os alicerces a descoberto; os blocos de pedra dessas construções rolarão até aos vales em baixo. Todas as imagens esculpidas que ali havia serão feitas em mil pedaços; os templos da idolatria, belamente decorados, erguidos com o dinheiro pago a prostitutas, também em templos de prostituição se tornarão.” Por isso, levanto este lamento que é semelhante ao uivo dum chacal, ao grito duma coruja do deserto, atravessando as areias dum deserto de noite. Andarei despido e descalço, na tristeza e na vergonha. Porque a ferida do meu povo é demasiado profunda para se curar; estendeu-se por Judá; chegou até à porta de Jerusalém. Não o declarem em Gate! Não chorem! Em Bete-Le-Afra revolve-te no pó com angústia e vergonha. Ali vão os moradores de Safir, levados como escravos, desamparados, nus, envergonhados. O povo de Zaanãa nem ousa sequer mostrar-se fora das suas muralhas. Os alicerces de Bete-Ezel foram descobertos e desapareceram; eram os únicos fundamentos sobre os quais se mantinha. O povo de Marote em vão esperou por melhores dias; mas é só a amargura que os espera, enquanto o Senhor se mantiver contra Jerusalém. Depressa! Preparem já os vossos carros mais rápidos e fujam neles, ó povo de Laquis! Porque vocês foram os primeiros, de todas as cidades de Sião, a seguir Israel no seu pecado de idolatria. Todas as outras cidades do sul foram depois atrás do vosso exemplo. Por isso, darás presentes de despedida a Moresete de Gate; não há esperança de salvação para eles. A cidade de Aczibe enganou os reis de Israel, pois prometeu uma ajuda que não pode dar. Vocês, gente de Maressa, tornar-se-ão um prémio para aqueles que vos tomarem. Aquele que é a glória de Israel virá até Adulão. Chorem, chorem pelas vossas criancinhas! Rapem os cabelos até ficarem calvos como a águia! Rapem as vossas cabeças em sinal de pesar, porque os vossos filhos foram levados para o exílio! Ai de ti que tens prazer em te levantares de noite, para tecer conspirações de maldade! Sais de madrugada para dar cumprimento aos esquemas que ardilaste; tens a oportunidade de o fazer e fazes mesmo. Pretendes um determinado pedaço de terra ou a casa de uma pessoa qualquer, ainda que seja tudo o que ela possui, e consegues obter o que queres, à força de falsidade e violência. Mas o Senhor diz-te: “Receberás maldade em recompensa da tua maldade; nada me poderá deter. Nunca mais tornarás a ser orgulhoso e altivo, pensando que eu estou do teu lado. Os teus adversários rir-se-ão de ti e zombarão do teu desespero. Vocês dirão: ‘Estamos perdidos, arruinados! Deus confiscou-nos a terra e mandou-nos para o fim do mundo, o que era nosso, deu-o a outros!’ ” Sim, com efeito serão outros que delimitarão as vossas fronteiras. O povo do Senhor passará a viver onde os outros quiserem. “Não digas essas coisas!”, clama o povo. “Não insistas com coisas semelhantes! É desagradável, uma conversa dessas! Nunca semelhantes males nos poderiam acontecer!” Será essa a resposta que se espera de vocês, ó descendência de Jacob? Terá o Espírito do Senhor perdido a paciência? É assim que ele procede? “Não! Eis que as minhas palavras fazem bem àquele que anda corretamente! Mesmo agora o meu povo levanta-se contra mim, porque roubam descaradamente daqueles que confiam em vocês, que caminham em paz. Expulsaram as mulheres do meu povo das suas casas; roubaram aos seus meninos os direitos que eu lhes dava. Levantem-se! Vão-se embora! Aqui já não é mais o vosso lar! Encheram isto tudo de corrupção! ‘Eu vos pregarei as alegrias do vinho, as alegrias da bebida!’ É essa a espécie de profecias que gostariam de ouvir dos vossos profetas beberrões e mentirosos! Mas há de vir o tempo, ó Israel, em que juntarei aqueles que restam, vos juntarei como cordeiros num rebanho, como um rebanho nas pastagens; será uma multidão barulhenta e feliz. Alguém irá adiante, abrindo o caminho, e seguirá atrás dele todo o rebanho, saindo pela porta da cidade. E o seu Rei, o Senhor, os conduzirá.” Disse eu: “Escutem, chefes de Israel! Pressupõe-se que sabem discernir o bem do mal. O certo é que são justamente quem mais odeia o bem e ama o mal; são vocês que exploram o meu povo, a ponto de ficar apenas pele e osso! Espancam-no, tiram-lhe a pele, partem-lhe os ossos, desfazem-no em pedaços, como carne dentro dum caldeirão e devoram-no!” Depois disso tudo, ainda ousam implorar ao Senhor que vos ajude em tempos de adversidade. Acham mesmo que Deus vos responderá? Com toda a certeza que antes virará a cara para o outro lado. O Senhor diz acerca dos maus profetas: “Vocês são falsos profetas! Fizeram desviar o meu povo do caminho justo! Gritam paz para aqueles que vos sustentam e ameaçam os que não vos pagam! Esta é a mensagem que vos dou: virá a noite sobre vocês, a qual porá um termo a todas as vossas visões; a escuridão vos cobrirá. Não perceberão mais uma só palavra do Senhor. O Sol pôr-se-á nas vossas vidas; será o fim do vosso dia. Por fim, hão de cobrir a cara de vergonha e admitirão que nunca transmitiram mensagem alguma vinda de Deus.” Quanto a mim, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, cheio de ânimo para anunciar a justiça de Deus sobre a rebeldia de Jacob e os pecados de Israel. Ouçam-me, líderes de Israel, vocês que odeiam a justiça e pervertem tudo o que é justo, vocês que enchem Sião com assassínios e Jerusalém com toda a espécie de pecados, vocês, chefes, que são os primeiros a deixarem-se comprar por suborno, vocês, sacerdotes e profetas, que recusam pregar e profetizar enquanto não forem pagos. E contudo pavoneiam-se perante o Senhor, dizendo: “Está tudo bem! O Senhor está no nosso meio!” É precisamente por vossa causa que Sião será lavrada por completo, como se fosse um campo aberto, e a cidade de Jerusalém será arrasada e feita num monte de entulho. Uma floresta crescerá no mesmo sítio onde agora se levanta o templo. Nos últimos dias, o monte sobre o qual está a casa do Senhor tornar-se-á no monte mais sublime, na mais célebre elevação do mundo. Gentes de todas as nações ali acorrerão. Muitos povos ali acorrerão e dirão: “Venham! Vamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacob! Ele nos ensinará o que fazer e nós o faremos.” Porque de Sião sairá a Lei e de Jerusalém a palavra do Senhor. Ele julgará entre as nações; será o árbitro nas disputas entre os povos. Os povos converterão o seu equipamento de guerra em instrumentos de trabalho, as suas armas em ferramentas. As nações não se levantarão mais umas contra as outras, nem haverá mais escolas ou treinos de guerra. Cada um sentar-se-á sossegadamente no seu lar, em paz e prosperidade, porque nada haverá a temer. É mesmo o Senhor dos exércitos quem o promete! Por essa razão, ainda que todos os povos vivam cada um de acordo com os seus deuses, nós viveremos para sempre de acordo com o Senhor, nosso Deus! Diz o Senhor: “Naquele dia que há de vir, reunirei os que tropeçam e ajuntarei os que sofreram o exílio e aqueles que eu mesmo castiguei duramente. Farei dos que tropeçam um remanescente fiel e dos dispersos uma nação forte. O Senhor reinará sobre todos no monte Sião, daquele dia em diante e para sempre! Ó povo de Sião, baluarte de vigia do povo de Deus, o teu poder real, a tua força, renascerá como dantes.” Para já, gritam de terror. Onde está o rei que vos dirige? Morreu! Onde estão os vossos sábios conselheiros? Foram-se todos embora! O sofrimento domina-vos, como uma mulher no parto. Torce-te e geme no teu terrível sofrimento, ó povo de Sião, porque terás de abandonar esta cidade e passar a viver nos campos; serás enviado para o exílio na Babilónia. Mas ali, o Senhor há de livrar-te das garras dos teus inimigos. É verdade que muitos povos se juntaram contra ti, exigindo o teu sangue, loucos por te destruir. Mas é que eles nada sabem dos pensamentos do Senhor; desconhecem inteiramente os seus planos. Há de vir o tempo em que o Senhor juntará todos os inimigos do seu povo como molhos na eira. Ficarão à mercê de Israel. “Levanta-te e esmaga as nações, ó filha de Sião! Dar-te-ei pontas de ferro e cascos de bronze, para poderes esmagar muita gente!”, diz o Senhor. As riquezas fraudulentamente obtidas por essas nações darás como ofertas ao Senhor; ao Deus de toda a Terra. Reúnam-se! O inimigo está pondo o cerco a Jerusalém! Ferirão o rosto do juiz de Israel com uma vara. “E tu, Belém Efrata, embora sejas apenas uma pequena aldeia de Judá, ainda assim serás o local de nascimento do governador do meu povo de Israel que vive desde a eternidade!” Portanto, Deus abandonará o seu povo aos inimigos até ao tempo em que a mulher que está de parto tiver dado à luz. Por fim, os que ainda ficaram no exílio virão juntar-se aos seus irmãos em Israel, a sua própria terra. Ele manter-se-á firme e pastoreará o seu rebanho no poder do Senhor, na majestade do nome do Senhor, seu Deus! O seu povo viverá em segurança, porque a grandeza dele será reconhecida até aos confins da Terra. Ele será a nossa paz, quando os assírios tentarem invadir a nossa terra e ocupar as nossas montanhas. Então, levantaremos sete pastores e oito líderes escolhidos, para zelarem pela nossa segurança. Estes acabarão por dominar a Assíria, com espadas desembainhadas, e entrarão pelas portas da terra de Nimrode. Assim seremos libertos dos assírios que atravessarem as nossas fronteiras e invadirem a nossa terra. O restante de Jacob, no meio de muitos povos, será como um orvalho refrescante que o Senhor envia, como as chuvas abundantes sobre a erva, que não dependem da vontade do homem. Israel estará entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão na selva, como um leão vigoroso entre rebanhos; quando passar por eles despedaçá-los-á, sem que haja quem os possa livrar. Vencerá os seus inimigos, aniquilando-os a todos. “Nesse mesmo tempo, diz o Senhor, destruirei os cavalos e os carros de combate que houver no meio de ti. Demolirei as cidades da vossa terra e destruirei todas as vossas fortalezas. Porei um fim a tudo o que for feitiçaria e deixar-vos-ei sem adivinhos. Ao mesmo tempo, destruirei todos os vossos ídolos. Nunca mais prestarão culto àquilo que fabricaram com as vossas mãos. Liquidarei os ídolos de Achera que se veem por aí; destruirei as cidades onde se erguem templos de idolatria. Recompensarei severamente todos os povos que recusarem obedecer-me.” Ouçam o que diz o Senhor: “Levanta-te e defende a tua causa perante mim! Que sejam chamadas por testemunhas as montanhas e os outeiros! Agora, ó montanhas, escutem a acusação do Senhor! Porque tem acusações a fazer contra o seu povo Israel e irá até ao fim com esse processo acusatório. Ó meu povo, que foi que eu fiz para me voltares as costas? Diz-me por que razão se esgotou a tua paciência? Responde-me! Trouxe-te do Egito, rompi as cadeias de escravidão que te prendiam. Dei-te Moisés, Aarão e Miriam que te ajudaram. Não te lembras, ó meu povo, como Balaque, o rei de Moabe, tentou destruir-te, amaldiçoando-te, e como Balaão, filho de Beor, respondeu, abençoando-te? Mostrei-te bondade continuamente. Não te recordas da travessia do Jordão entre Sitim e Gilgal, para te lembrares que os feitos do Senhor são justos?” Como me apresentarei diante do Senhor? Como adorarei o Deus exaltado? Com ofertas de bezerros de um ano em holocausto? Ainda que viesse com ofertas de milhares de carneiros e com dezenas de milhares de litros de azeite, isso não o satisfaria. Se lhe sacrificasse o meu filho primogénito em expiação pelos meus crimes e pecados, ainda assim recusá-lo-ia em absoluto! O Senhor já te declarou, ó homem, o que é certo. O que ele pretende de ti é que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes com humildade perante ele. É sábio escutar o Senhor com temor. Ele clama para a cidade. Ouve, ó povo que te congregas em Jerusalém: “Estão a chegar exércitos destruidores; sou eu quem os manda. As casas dos ímpios estão cheias de balanças e pesos falsificados. Eles utilizam medidas falsas, o que é detestável. Poderia eu considerar inocentes os que utilizam balanças e pesos falsos? Os vossos homens ricos estão cheios de prosperidade adquirida pela violência e usurpação. O povo está já tão viciado na mentira que nem sabe falar doutra maneira! É por isso tudo que começarei a ferir-vos, a assolar-vos por causa dos vossos pecados. Comerão, mas nunca se fartarão; a fome e a miséria permanecerão. Ainda que tentem esforçadamente poupar dinheiro, será sempre insuficiente; o pouco que conseguirem economizar, será dado aos que vos conquistarem com a espada. Plantarão sementeiras que nunca ceifarão; pisarão azeitonas para obter azeite, mas nunca obterão nenhum para vocês mesmos; pisarão uvas e nunca terão vinho novo. As únicas ordens a que obedecem são as de Omri; o único exemplo que seguem é o de Acabe. Por isso, farei de vocês um terrível exemplo para o mundo inteiro, destruir-vos-ei. Serão alvo de troça de toda a gente. Quando falarem de vocês será com ar de desprezo, de riso.” Ai de mim! É tão difícil encontrar uma pessoa justa como achar cachos de uvas e figos depois dos tempos da ceifa! Nem um bago se encontra, nem um só figo! Contudo, como desejo comê-los! Desaparecem os retos, não há nem uma só pessoa honesta! Todos os homens estão à espreita, armando ciladas para derramar sangue. Cada ser humano apanha o seu próprio irmão com um laço. Com ambas as mãos realizam os piores atos, e com que habilidade! Tanto o governante como o juiz, ambos se vendem por suborno. O rico paga-lhe e diz-lhe quem pretende arruinar; conspiram para torcer a justiça. O melhor entre eles é como um espinheiro; o mais reto tem um comportamento absolutamente distorcido. Mas vem chegando o vosso julgamento; o tempo do vosso castigo está mesmo aí; confusão, destruição e terror será o vosso quinhão. Não confiem em ninguém; nem no vosso melhor amigo, nem mesmo na vossa mulher! O filho despreza o pai, a filha, a mãe, e a nora diz mal da sogra. Sim, os inimigos dos homens encontrar-se-ão no seu próprio lar. Quanto a mim, esperarei pelo socorro do Senhor; esperarei no meu Deus, o meu Salvador. Ele me ouvirá. Não se alegrem por causa do que me sucede, ó meus inimigos! Aconteça o que me acontecer, levantar-me-ei! Se for envolvido pelas trevas, o Senhor será a minha luz. Serei paciente, se o Senhor me castigar, porque pequei contra ele. Mas ele julgará a minha causa e recompensará os meus adversários pelo mal que me têm feito. Deus me tirará das trevas para a luz e verei a sua justiça. O meu inimigo verá que Deus está a meu favor e acabará por se envergonhar de todo o mal que me fez. “Onde está o Senhor teu Deus?”, perguntavam eles. E agora vejo-os pisados nas ruas como lama. As tuas cidades, ó povo de Deus, serão reconstruídas; serão muito maiores e mais prósperas do que eram antes. Cidadãos de muitas terras diferentes virão prestar-te honra; da Assíria até ao Egito, e do Egito até ao rio Eufrates, dum oceano ao outro, desde as cordilheiras mais longínquas até às montanhas opostas. Contudo, antes disso, a Terra será destruída, por causa da grande maldade do seu povo. Ó Senhor, vem conduzir o teu povo, apascentar o teu rebanho! Fá-lo viver em paz e prosperidade, para que possam desfrutar das férteis pastagens de Basã e Gileade, como no passado. “Sim!”, responde o Senhor. “Farei poderosos milagres no meio de ti, semelhantes aos que fiz quando te tirei da escravidão do Egito.” Todo o mundo ficará espantado perante aquilo que farei por vocês e envergonhado pelo seu pouco poder. Toda a gente ficará muda de espanto. Os seus ouvidos não perceberão outra coisa, senão só isso! Constatarão que são iguais às serpentes, lambendo o pó como vermes, rastejando para dentro de buracos, donde sairão tremendo, para ir ao encontro do Senhor, nosso Deus. Temer-te-ão e ficarão espantados. Onde haverá outro deus semelhante a ti que perdoa os pecados dos sobreviventes do teu povo? Tu não poderás continuar voltado contra o teu povo, porque amas a misericórdia. Mais uma vez terás compaixão de nós. Esmagarás os nossos pecados debaixo dos pés, lançá-los-ás para o fundo dos oceanos! Abençoar-nos-ás, tal como prometeste a Jacob há muito tempo atrás! Derramarás o teu amor sobre nós, como prometeste ao nosso pai Abraão! Esta é a mensagem que Deus deu a Naum, que vivia em Elcos, respeitante à condenação de Nínive. O Senhor Deus é muito zeloso em relação àqueles que ama. Por isso, o Senhor recompensa severamente aqueles que os ferem e destrói com firmeza os seus inimigos. O Senhor é lento em irar-se, mas quando a sua ira se acende, o seu poder é enorme e não perdoa o culpado. Revela o seu poder nos terrores dum ciclone, na fúria duma tempestade. As nuvens são o pó que os seus pés pisam. A uma ordem sua, os mares e os rios ficam secos, as luxuriantes pastagens de Basã e do Carmelo ficam amarelentas e sem viço, e as verdes florestas do Líbano murcham. Na sua presença as montanhas tremem e as colinas derretem-se; a Terra é abalada e todos os que nela habitam. Quem poderá manter-se perante a ira de Deus? A sua ira é semelhante ao fogo; as cordilheiras desfazem-se perante o seu poder. O Senhor é bom! Quando vem a angústia, ele é o lugar seguro; conhece bem todos os que nele confiam. No entanto, varre para longe os seus inimigos, como uma enxurrada; persegue-os durante toda a noite. Que ideia é a tua, ó Nínive, desafiares o Senhor? Só com o seu sopro poderá deter-vos; nem precisa de fazê-lo duas vezes! Sacode os seus inimigos para dentro da fornalha como se fosse um monte de espinheiros; ardem nas chamas como palha. Foi de ti, ó Nínive, que saiu aquele com intenções perversas que procura o mal contra o Senhor. “Ainda que levante um exército de milhões, declara o Senhor, acabará por desaparecer. Ó meu povo, já te castiguei o suficiente! Agora, quebrarei as tuas cadeias e libertar-te-ei do jugo da escravidão a que te sujeitaram os assírios.” E quanto a ti, Nínive, declara o Senhor: “Já ordenei o fim da tua dinastia. Os teus filhos não se sentarão mais no teu trono. Destruirei os teus deuses e os templos e farei com que desças ao túmulo, porque o teu pecado é do mais vil que há!” Vejam, os mensageiros estão a chegar, descendo das montanhas, com alegres notícias! Os invasores foram escorraçados, já podemos estar seguros! Ó Judá, proclama um dia de ação de graças e adora só o Senhor, como prometeste solenemente, porque este inimigo, vindo de Nínive, nunca mais voltará. Será banido para sempre, nunca mais será visto! Nínive, chegou o teu fim! Estás já rodeado pelos exércitos inimigos! Soa o alarme! Fortalece as muralhas! Reforça as defesas e mantém uma vigilância apertada sobre todos os movimentos das forças inimigas que se preparam para o ataque. O Senhor restaurará a glória dos descendentes de Jacob, do povo de Israel, que os inimigos saquearam e deixaram como uma videira sem os seus ramos. Os escudos dos seus valentes guerreiros ficarão vermelhos. O ataque começa. Reparem nos seus uniformes escarlates! Vejam os seus carros cintilantes, avançando lado a lado, puxados por fogosos cavalos! Os teus próprios carros correm velozmente pelas ruas e praças da cidade, chispando faíscas e raios como tochas. O rei grita pelos seus oficiais que tropeçam na corrida em direção às muralhas, para reforçar as defesas. Mas é demasiado tarde! As portas do rio estão abertas! O inimigo já entrou e todo o palácio é destruído. A rainha de Nínive é trazida para as ruas, despida e levada como escrava, com as suas aias chorando atrás. Ouçam-na lamentando-se, gemendo como pombas, batendo no peito! Nínive é como um tanque esvaziando água. Os seus soldados fogem, abandonando-a; a cidade não pode retê-los. “Parem! Parem!”, gritam-lhes. Mas eles correm ainda mais. Saqueiem a prata! Saqueiem o ouro! Os tesouros parecem não ter fim! A sua vasta, imensa riqueza é toda levada. Em breve a cidade torna-se escombros. Os corações derretem-se de medo. Tremem os joelhos. O povo fica desfalecido, pálido, cambaleante. Onde está agora essa grande Nínive, o leão das nações, cheia de combatividade e de ousadia, onde até mesmo os velhos e os fracos, tal como os jovens e os meninos, viviam em segurança? Ó Nínive, sim, eras como um leão! Esmagavas os inimigos para dares de comer aos teus filhos e às tuas mulheres; enchias a cidade e as casas com mercadorias e com escravos. “Eis que estou contra ti, diz o Senhor dos exércitos. Queimarei os teus carros de combate. Os teus combatentes serão passados à espada. Arrancarei da terra a tua presa e não mais se ouvirá a voz dos teus mensageiros.” Ai de ti, Nínive, a cidade de sangue, onde impera a mentira, onde se pratica incessantemente a rapina! Ouve! Escuta o estrépito dos açoites, o estrondo dos carros de guerra correndo na tua direção, o barulho ensurdecedor das rodas no empedrado das ruas e os cascos dos cavalos a galope, atropelando a multidão! Os cavaleiros desembainham as espadas que flamejam à luz do Sol; erguem agressivamente as lanças reluzentes! Amontoam-se os mortos no meio das ruas; cadáveres desmembrados, pedaços de corpo humano é só o que se vê. Os vivos tropeçam neles, tentam levantar-se, tornam a cair mais adiante. Tudo isso porque Nínive escravizou nações com a sua prostituição. Como uma vistosa meretriz, mestra em feitiçarias, enfeitiçou os outros povos com a sua beleza e ensinou-lhes o culto da idolatria; vendeu nações a eito. “Não é pois de admirar que esteja contra ti, diz o Senhor dos exércitos. Agora todo o mundo verá a tua nudez e a tua vergonha. Cobrir-te-ei de imundície e mostrarei a toda a gente como és realmente vil. Todos os que te virem se afastarão com horror e dirão: ‘Que ruína, a desta grande cidade!’ Mas ninguém terá compaixão de ti!” Serias tu melhor do que Tebes, à beira do Nilo, protegida pelas águas por todos os lados? Cuche assim como o Egito eram seus poderosos aliados e podia reclamar incondicionalmente a ajuda deles; o mesmo acontecia com Pute e com a Líbia. Mas Tebes acabou por cair e a sua população foi escravizada; os meninos foram esmagados contra as pedras das ruas. Os soldados tiravam à sorte para saberem quem ficava com os oficiais derrotados como servos. Todos os seus líderes ficaram cativos. Nínive também cambaleará como um bêbedo e irá esconder-se de terror. Todas as tuas fortificações serão devoradas como se se tratassem de figos temporãos caindo diretamente na boca de alguém que abana a figueira. As tuas tropas ficarão tão fracas e desguarnecidas como mulheres. As portas da cidade abrir-se-ão de par em par ao inimigo; serão incendiadas e queimadas. Apronta-te para o cerco! Reforça as defesas! Prepara pedras para reforçar as partes da muralha destruídas. Armazena água, faz barro, deita-o nos moldes, acende os fornos! Contudo, no meio dessa preparação toda, o fogo apanhar-te-á e te devorará. A espada deitar-te-á abaixo. O inimigo consumir-te-á: serão como gafanhotos, devorando tudo o que veem na frente. Não há meio de fuga, ainda que se multipliquem os seus esforços. Os teus mercadores eram tão numerosos como as estrelas do céu e enchiam a cidade de abundantes riquezas; mas outros caem-lhes em cima e tudo levam. Os teus administradores amontoam-se como gafanhotos nas sebes ao vir o frio; mas todos eles acabarão por fugir e desaparecer como quando o Sol aquece a terra e faz os gafanhotos partirem. Ó rei assírio, os teus governantes jazem mortos no pó da terra; o povo espalhou-se através dos montes. Não há pastor que torne a juntá-los. Não há cura para a tua ferida; é demasiado profunda para ser tratada. Todos os que sabem do destino que levaste, até batem as palmas de contentamento, porque é difícil encontrar gente que não tenha sofrido com a tua crueldade! Esta é a mensagem que foi dirigida ao profeta Habacuque numa visão da parte de Deus. Ó Senhor, quanto tempo terei eu ainda de esperar até que me ouças? Até quando denunciarei diante de ti a violência, sem que nos venhas salvar? Porque me fazes ver a iniquidade e a injustiça? Para onde quer que me volte, apenas vejo destruição e violência, gente que só está satisfeita em contender, em contestar o que é justo. A lei não é acatada; não se respeita a justiça nos tribunais. Os maus prevalecem claramente sobre os retos. Predomina o suborno e a corrupção. Responde o Senhor: “Olhem para as nações! Vejam e maravilhem-se com o que veem, pois vou mostrar nos vossos dias uma obra tal que nem acreditariam, ainda que vo-la contassem. Suscitarei os caldeus, uma nação cruel, violenta, que atravessará o mundo, apoderando-se de tudo o que não é seu. São um povo terrível e espantoso. Fazem o que imaginam, sem que ninguém os impeça. Têm cavalos; são mais rápidos que leopardos, mais ferozes que lobos ao anoitecer. Avançam com a sua cavalaria vindo de terras afastadas. Como águias, em voo picado, caem sobre a presa. Todos os que se lhes opõem, só com o terror, derretem-se diante deles. Amontoam cativos como se fosse areia. Riem-se dos reis e dos governantes; troçam dos lugares fortificados. Amontoam simplesmente terra em rampas, junto às muralhas, e já estão capturadas! Contudo, passarão rapidamente como o vento. A sua culpa é enorme, visto atribuírem o poder que têm aos seus falsos deuses.” Ó Senhor, meu Deus, meu santo, tu que és eterno! Será que o teu plano a nosso respeito é dispersar-nos para longe? Com certeza que não! Ó Deus, nossa rocha, foste tu mesmo quem decretou o levantamento destes caldeus para nos ferirem e castigarem, por causa dos nossos terríveis pecados. Nós somos maus, mas eles são muito mais! Será que tu, que não suportas o pecado sob nenhuma forma, vais ficar indiferente enquanto nos engolem vivos? Ficarás silencioso enquanto uns malvados destroem aqueles que são melhores do que eles? Seremos nós como peixes, que servem para ser apanhados e comidos, que não têm quem os governe, ou como répteis que são apanhados e esmagados? Prendem-nos no seu anzol; somos apanhados nos seus ardis e depois ficam a rir-se de nós. Acabam por adorar as suas próprias redes e por lhes queimar incenso! “São estes os deuses que nos tornaram poderosos”, dizem eles. Vais permitir que continuem assim para sempre? Irão prosperar nessa guerra cruel? Subirei à minha torre de vigia, como sentinela, e esperarei para ouvir o que Deus irá dizer e que resposta irá dar à minha queixa. E o Senhor disse-me: “Escreve a minha resposta em tábuas de barro, de forma legível e clara, para que até aquele que passa a correr consiga ler. No entanto, ainda não chegou o tempo de se realizar esta visão; mas vai-se aproximando o tempo e, por fim, a visão se cumprirá. Espera mais um pouco, mesmo que pareça demorar, pois certamente virá e não demorará! Toma nota disto: o ímpio está cada vez mais arrogante; mas o justo pela sua fé viverá! Mais ainda, estes arrogantes caldeus são atraiçoados pelo vinho a que se entregam, que é uma bebida enganadora. Na sua voracidade conquistaram muitas nações, mas à semelhança da morte e do mundo dos mortos, nunca ficam satisfeitos. Virá o tempo em que todos os seus cativos os insultarão dizendo: ‘Ladrões! A justiça acabou por apanhar-vos! Hão de ser duramente recompensados pela opressão e pela rapina que praticaram!’ De repente, os vossos devedores levantar-se-ão com raiva contra vocês e levarão tudo o que possuem, enquanto vocês ficam isolados, tremendo. Arruinaram muitas nações; agora serão elas que vos destruirão, por causa do sangue que derramaram e da vossa violência contra a terra, a cidade e os seus habitantes. Ai de vocês, que se enriqueceram por processos fraudulentos, pensando que podiam viver sem riscos! Pelos assassínios que praticaram mancharam o vosso nome e fizeram perder-se as vossas almas. As próprias pedras das vossas casas clamam contra vocês e as traves do teto ecoam os mesmos dizeres. Ai de vocês que constroem cidades com o dinheiro obtido pelo assassinato e pelo roubo! Não decretou o Senhor dos exércitos que o trabalho das nações sem Deus se desfará em cinzas nas suas mãos? Trabalham duramente, mas tudo em vão! Há de vir o tempo em que a Terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, tal como as águas enchem o mar! Ai de vocês, que fazem os vossos vizinhos cambalear e cair como os bêbedos, sob os vossos golpes, e depois escarnecem da sua nudez! Em breve a vossa glória será substituída pelo opróbrio. Terão de beber o copo do julgamento do Senhor, até ficarem tontos e caírem! Fizeram violência contra o Líbano destruindo as suas florestas; com violência serão abatidos. Aterrorizaram os animais selvagens que prendiam nas vossas redes de armadilhas; agora será o terror que vos cairá em cima, em recompensa pela morte e violência que trouxeram a tantas partes do mundo. Que proveito tiveram em adorar todos esses ídolos feitos por mãos de homens? Que loucura pensarem que esses objetos de metal podiam ser de alguma ajuda! Que estupidez confiarem naquilo que vocês mesmos fabricaram, ídolos mudos e inúteis! Ai dos que dizem a ídolos sem vida, feitos de madeira, para se erguerem! Ai dos que clamam a pedaços de pedra, que não podem falar, para lhes dizer o que hão de fazer. Poderão imagens esculpidas falar em nome de Deus? Estão cobertas de ouro e de prata, mas não há espírito nelas!” O Senhor, sim, está no seu santo templo! Que toda a Terra se cale diante dele! Esta é a oração que o profeta Habacuque cantou, em forma de lamentação: Ó Senhor, agora ouvi a tua palavra e adoro-te pelas coisas tremendas que realizaste! Nestes tempos de profunda angústia, ajuda-nos novamente, como fizeste em anos passados. Mostra-nos o teu poder em nos socorrer! Na tua ira, lembra-te da misericórdia! Deus veio de Temã, do monte Parã veio o Deus santo. O seu brilho é como o de um relâmpago. A sua glória enche o céu. Tudo na Terra justifica o louvor que lhe é dado! Que Deus maravilhoso ele é! Da sua mão saem relâmpagos fulgurantes. Não conhecemos toda a extensão do seu imenso poder. Adiante dele vai a peste e a praga segue no seu encalço. Parou e a Terra estremeceu, ficou um momento fitando-a. Por um momento, olhou e fez tremer todas as nações; abalou as montanhas eternas e nivelou os outeiros. Os caminhos dele são eternos! Vejo o povo de Cuchan cheio de pavor e os habitantes de Midiã em terror mortal. Acaso é contra os rios, Senhor, e contra os ribeiros que estás irado? Estava contra o mar, o teu furor, quando cavalgaste nos teus cavalos sobre as nuvens, nos teus carros de vitória? Tu tiras o teu arco do saco e enches a aljava de flechas! As montanhas viram-no e tremeram. O mar ruge e as suas ondas levantam-se alto. O Sol e a Lua param a sua carreira perante os raios e relâmpagos da tua lança. Caminhaste pela Terra com indignação, pisaste as nações com a tua ira. Saíste para salvar o teu povo escolhido. Esmagaste a cabeça do ímpio, deixando-lhe só ossos dos pés à cabeça. Destruíste com as suas próprias armas os que vieram como um furacão sobre Israel, a fim de nos espalhar com maligno prazer, como se estivessem prestes a devorar o necessitado em seu abrigo. Os teus cavaleiros atravessaram o mar e tornaram as águas revoltas. Tremi quando ouvi tudo isso; os meus lábios tremeram de medo; as pernas foram-se abaixo e fiquei todo tremendo. No entanto, esperarei calmamente o dia da angústia, na esperança de que Deus se voltará contra o invasor. Ainda que na figueira tenham sido destruídos todos os figos, e na videira não haja fruto, ainda que a oliveira seque e os campos se tornem estéreis, ainda que os rebanhos morram no meio das pastagens e os currais fiquem vazios, contudo, eu me alegrarei no Senhor, serei feliz no Deus da minha salvação! O Senhor Deus é a minha força; torna os meus pés ligeiros como os da gazela e guarda-me em segurança nos lugares altos. Nota para o diretor de música: quando se cantar esta ode, o coro deve ser acompanhado de instrumentos de corda. Estas são as palavras do Senhor que foram transmitidas a Sofonias, filho de Cuchi, neto de Gedalias, bisneto de Amarias e trineto de Ezequias, durante o reinado de Josias, filho de Amom, rei de Judá. “Consumirei tudo na vossa terra, diz o Senhor. Arrasarei completamente tudo. Tanto homens como animais serão liquidados até ao último. Os seres vivos, mais os ídolos que eles adoram, tudo será varrido. Até os pássaros nos ares e os peixes nas águas, tudo perecerá! Esmagarei Judá e Jerusalém sob o meu punho fechado; destruirei o resto das gentes que adoram Baal. Porei um fim à sua idolatria e aos sacerdotes idólatras, de forma a que até a lembrança deles desapareça. Sobem aos telhados e inclinam-se perante o Sol, a Lua e as estrelas. Dizem que seguem o Senhor, mas prestam culto a Moloque ao mesmo tempo! Destruí-los-ei! Liquidarei os que começaram por adorar o Senhor e agora o abandonaram! Aqueles que nunca o amaram, que nunca quiseram saber dele!” Fiquem em silêncio perante o Senhor Deus, porque o terrível dia do Senhor está a chegar. Ele já preparou um sacrifício e consagrou os seus convidados. “Nesse dia de juízo, castigarei os governantes e os nobres de Judá e todos aqueles que se vestem à maneira pagã. Sim, castigarei os que seguem os costumes pagãos, os que roubam e matam para encherem as casas dos seus senhores com lucros fraudulentos obtidos pela violência! Começará a ouvir-se um grito de alarme, desde a Porta dos Peixes, que se aproximará cada vez mais. Haverá gente a chorar no bairro de Misné e um grande ruído sobre as colinas. Uivem de tristeza, vocês, os que vivem no bairro do comércio! Todos os vossos vorazes comerciantes serão arruinados e os cambistas desaparecerão! Procurarei minuciosamente, em todos os recantos escuros de Jerusalém, para punir aqueles que se sentam contentes com os seus pecados e que alegam: ‘Ora, o Senhor não intervém! Ele não faz o bem nem o mal!’ Todos esses terão as suas riquezas saqueadas pelo inimigo, as suas casas devassadas; construíram-nas, mas não habitarão nelas; plantaram vinhas, mas não provarão o vinho.” Esse grande e terrível dia do Senhor está próximo, está a chegar rapidamente. Será um dia em que os mais valentes chorarão amargamente. É o dia em que se derrama a ira de Deus; uma ocasião de terrível pesar e angústia, ruína e desolação, escuridão e nuvens negras. A trombeta soará, a batalha rugirá. Cairão as muralhas mais fortes e as construções mais bem edificadas. “Então lançarei os homens na miséria e caminharão como cegos, procurando o caminho certo, porque pecaram contra o Senhor. É por isso que o vosso sangue será derramado sobre o pó da terra e os vossos corpos jazerão no chão como estrume. A vossa prata e o vosso ouro não servirão de nada nesse dia do julgamento do Senhor. Não poderão resgatar-vos com isso.” Toda a Terra será devorada pelo fogo do seu zelo. Em breve todo os habitantes passarão por isso. Reúnam-se e orem, nação sem vergonha! Enquanto é tempo ainda, antes que comece esse juízo e a vossa última oportunidade de salvação desapareça como a palha ao vento; antes que a ira do Senhor caia e comece todo esse tempo de condenação. Busquem o Senhor, todos os humildes da terra, que cumprem os seus mandamentos. Procurem ser sempre justos e humildes; talvez sejam poupados no dia da ira do Senhor. Gaza será abandonada; Asquelom vai ser destruída; Asdode será desalojada em pleno dia; Ecrom será desarraigada. E ai de vocês, filisteus, gente originária de Creta, que vivem na costa e na terra de Canaã, porque esse julgamento também é contra vocês! O Senhor vos destruirá sem deixar um só com vida. Toda essa zona costeira tornar-se-á em terra de pastagem, lugar para pastores acamparem e currais para os rebanhos. Aí, o pequeno resto da tribo da Judá será alimentado. À tardinha descansarão nas casas abandonadas de Asquelom, porque o Senhor, o seu Deus, tornará a visitar o seu povo, revestido de benignidade, e restaurará a sua prosperidade. “Tenho prestado atenção à troça que faz a gente de Moabe e Amon, rindo-se do meu povo e tomando-lhe terras. Por isso, tão certo como eu viver, diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, Moabe e Amon serão destruídos como foram Sodoma e Gomorra; tornar-se-ão em campos de ortigas, em poços de sal, em lugares de desolação eterna. O resto que ficar do meu povo tomará a terra e ocupá-la-á.” Mas eles receberão o salário do seu orgulho, porque humilharam o povo do Senhor dos exércitos. O Senhor lhes fará coisas tremendas. Também aniquilará todos esses deuses das nações estrangeiras e todos o adorarão, cada um na sua terra, através de todo o mundo. Vocês, cuchitas, serão igualmente mortos na guerra. O mesmo sucederá a norte, pois ele estenderá a sua mão e destruirá a Assíria, e fará da sua grande capital, Nínive, um lugar desolado semelhante a um deserto. Essa capital tornar-se-á num mero sítio de pastagens de carneiros. Toda a espécie de animais selvagens ali viverá; a coruja do deserto terá ali um abrigo; os porcos-espinhos farão moradas nos recantos dos palácios, lançando os seus pios pelas janelas escancaradas; os corvos grasnarão no umbral das portas. Todos os belos revestimentos em cedro ficarão expostos ao vento e às intempéries. É este o destino da vasta e próspera cidade que vivia em tamanha segurança e que dizia de si própria: “Em todo o mundo não há cidade como eu!” Agora, vejam bem como se tornou num lugar de ruínas, um abrigo de animais selvagens! Todos os que por ali passam assobiam e fazem gestos de desprezo. Ai da impura e rebelde cidade de Jerusalém, cidade corrompida! No seu orgulho não dá sequer ouvidos à voz de Deus. Ninguém lhe pode dizer nada; recusa qualquer espécie de correção. Não confia no Senhor; não procura o seu Deus. Os seus chefes são como leões, rugindo à procura das suas vítimas; tudo lhes serve na sua gula. Os juízes são semelhantes a lobos esfomeados ao cair da noite; ao amanhecer nem vestígios deixam das suas matanças. Quanto aos profetas, esses vivem só de mentiras; só pensam nos seus interesses pessoais. Os sacerdotes profanam o templo, desobedecendo à Lei de Deus. Mas o Senhor, que é justo, está no meio da cidade e não comete iniquidade. Cada manhã a sua justiça se torna evidente, manifestando-a a toda a gente. Contudo, o perverso, esse não tem vergonha. “Exterminei muitas nações, deixando-as assoladas até ao limite das suas fronteiras; deixei as ruas num silêncio de ruínas; as cidades ficaram desertas, sem sobreviventes para contar como aquilo aconteceu. Dizia para comigo: ‘Agora, com certeza que vão ouvir-me e prestar atenção aos meus avisos; dessa forma não terei necessidade de os ferir novamente.’ Mas não! Por muito que castigue, continuam nos seus maus caminhos, desde a madrugada até à noite, e desde a noite até à manhã seguinte. Mas diz o Senhor: esperem por mim! Está a chegar o tempo em que me levantarei e julgarei estas nações malignas. Já decidi juntar os reis da Terra e derramar sobre eles a minha indignação e todo o ardor da minha ira. Toda a Terra será consumida pelo fogo do meu zelo. Então darei lábios puros aos povos, para que todos invoquem o nome do Senhor, para que sirvam com um mesmo espírito. Os meus adoradores que estão dispersos para além dos rios de Cuche virão trazer-me as suas ofertas. Naquele dia, não se envergonharão de vós mesmos, por causa da vossa rebelião contra mim. Tirarei do vosso meio todos os que se exaltam na sua soberba. Não haverá mais orgulho ou altivez no meu santo monte. No meio de ti ficarão os pobres e os humildes; esses confiarão no nome do Senhor. Não cometerão iniquidade, nem andarão no meio da mentira e do engano. Viverão sossegadamente, em paz, e deitar-se-ão em segurança; ninguém os aterrorizará. Canta alegremente, ó filha de Sião! Rejubila, ó Israel! Regozija-te e exulta de todo o teu coração, ó filha de Jerusalém! O Senhor afastará as mãos que deveriam exterminar-te e dispersará os exércitos dos teus inimigos. O Senhor mesmo, o Rei de Israel, viverá no meio de ti! Os teus males acabarão, não terás mais receios! Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: Alegra-te, não tenhas medo, ó Sião! Não deixes as tuas mãos desanimarem! O Senhor teu Deus veio para viver no meio de ti. Ele é um poderoso Salvador e far-te-á vencer; terá grande prazer em ti; amar-te-á e não mais te acusará. Ouço um alegre cântico que traduz a própria alegria que o Senhor sente em ti.” “Tornei a juntar os que lamentam a falta das festas solenes, os que se afastaram da vossa companhia, e fiz desaparecer a tua afronta. Tratarei severamente todos os que te oprimiram, salvarei os aleijados, reunirei os que foram expulsos. Honrarei novamente os expatriados que foram desprezados e aviltados. Nesse tempo, recolher-vos-ei; reunir-vos-ei e vos darei um nome honroso, um nome prestigioso entre as nações da Terra, as quais vos louvarão, quando constatarem que tornei a dar-vos prosperidade!”, diz o Senhor. No segundo ano do reinado de Dario I, no primeiro dia do sexto mês, a palavra do Senhor veio através do profeta Ageu a Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e também a Josué, filho de Jeozadaque, sumo sacerdote. O Senhor dos exércitos diz: “O povo está a dizer que esta não é a melhor altura para reconstruir o templo.” Por isso, o Senhor mandou esta mensagem através do profeta Ageu: “Será, no entanto, esta a melhor altura para se porem a viver como vivem, em vivendas luxuosas, deixando o templo continuar em ruínas? Reflitam cuidadosamente no vosso comportamento! O que acontece é que semeiam muito para colher pouco. Comem, mas não se fartam; bebem, mas não se saciam. A roupa que vestem não chega para vos aquecer. O vosso salário desaparece como se fosse metido em bolsos sem fundo. Pensem bem na vossa conduta, diz o Senhor dos exércitos! Pensem em como agiram e o que resultou disso! Subam às montanhas, tragam madeira para reconstruir o templo e agradar-me-ei dele, fazendo aparecer ali a minha glória, diz o Senhor. Esperam obter muito, mas alcançam muito pouco; e mesmo esse pouco, quando o trazem para casa, eu o faço desaparecer pelo meu sopro. Tudo isso porquê? Porque o meu templo permanece em ruínas e não lhe ligam. A vossa única preocupação são as vossas belas vivendas. Por isso, reterei as chuvas dos céus e a terra vos dará pobres frutos. Com efeito, fiz vir a seca sobre a terra, e até sobre as montanhas, uma seca que fará mirrar o trigo, as uvas, o azeite, tudo o que a terra produz; uma seca que vos matará à fome, vocês e os animais, que arruinará tudo o que tanto se esforçaram para obter.” Então Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e Josué, filho de Jeozadaque, sumo sacerdote, e ainda o resto do povo que ficou na terra obedeceu à mensagem de Ageu, vinda da parte do Senhor, seu Deus, e todo o povo temeu grandemente o Senhor. O Senhor disse-lhes pois, através de nova comunicação por meio do seu mensageiro Ageu: “Estou convosco!” O Senhor suscitou em Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, em Josué, filho de Jeozadaque, sumo sacerdote, e no resto do povo o forte desejo de reconstruir o templo do seu Deus, o Senhor dos exércitos. Dessa forma, reuniram-se no vigésimo quarto dia do sexto mês, do segundo ano do reinado de Dario, e ofereceram voluntariamente o seu trabalho. No dia 21 do sétimo mês, do segundo ano do rei Dario, o Senhor enviou novamente a sua palavra através de Ageu. “Pergunta ao governador e ao sumo sacerdote e a todos os que ficaram na terra: quem, entre vocês, se lembra de como era o templo antigamente? Como era glorioso em comparação com aquele que existe agora! Mas esforça-te, Zorobabel, e também tu, Josué, assim como todos os outros! Coragem e mãos à obra! Porque eu estou convosco, diz o Senhor dos exércitos. Quando deixaram o Egito, prometi que o meu Espírito habitaria no vosso meio. Portanto, nada receiem! Diz o Senhor dos exércitos: Dentro em pouco abalarei os céus e a Terra, tanto os oceanos como os continentes. Farei tremer todos os povos. E todas as nações virão àquele que é desejado por todas as nações, a este templo, e encherei este lugar com a minha glória, diz o Senhor dos exércitos. A prata é minha e o ouro é meu, diz o Senhor dos exércitos. O futuro esplendor deste templo será maior que a glória do passado, diz o Senhor dos exércitos, e neste lugar trarei paz. Eu, o Senhor dos exércitos, falei!” No vigésimo quarto dia do nono mês, no segundo ano do reinado de Dario, veio esta mensagem da parte do Senhor, pela boca do profeta Ageu. “Pergunta aos sacerdotes o significado da Lei: se algum de vocês carregar um sacrifício sagrado de carnes, segurando-o dentro das abas da sua vestimenta, e acontecer este embater em pão, vinho, azeite ou num guisado de carne, ficarão estes últimos também santificados?” “Não!”, responderam os sacerdotes. “A santidade não passa dessa maneira para outras coisas!” Então Ageu perguntou: “Mas se algum de vocês tocar num corpo morto, ficando dessa forma ritualmente impuro, e seguidamente embater contra outra coisa qualquer, será que essa coisa ficará nessa altura contaminada?” Os sacerdotes responderam: “Sim!” Ageu então esclareceu: “Assim é este povo, diz o Senhor, que contamina os seus sacrifícios, vivendo de forma egoísta, tendo corações impuros, e não apenas os seus sacrifícios, mas tudo aquilo que fazem como serviço para mim. Dessa forma, tudo o que têm feito tem sido errado. Mas agora as coisas serão diferentes, pois começaram a reconstruir o templo. Antes, esperavam uma colheita de 700 litros e colhiam apenas 350! Quando contavam com 200 litros de azeite no lagar, havia apenas 80! Feri-vos, compensando o vosso trabalho com o pulgão, com míldio, com saraiva. Mesmo assim, recusaram converter-se a mim, diz o Senhor. Outra mensagem veio a Ageu, da parte do Senhor, nesse mesmo dia. “Diz a Zorobabel, governador de Judá: Vou fazer tremer os ceús e a Terra. Derrubarei tronos e destruirei a força dos estados e dos povos; destruirei os carros e os que neles se sentam; morrerão os cavalos e os cavaleiros matar-se-ão uns aos outros. Nesse dia, quando isso acontecer, tomar-te-ei, ó Zorobabel, meu servo, e dar-te-ei a dignidade de um anel de selar, porque te escolhi de forma especial”, diz o Senhor dos exércitos! Estas mensagens da parte do Senhor foram comunicadas ao profeta Zacarias, filho de Berequias e neto de Ido, no oitavo mês do segundo ano de reinado de Dario. “O Senhor dos exércitos irou-se extremamente com vossos pais. Anuncia, pois, diante de todo o povo: Assim diz o Senhor dos exércitos: Retornem para mim e eu me voltarei para vocês, diz o Senhor dos exércitos! Não sejam como os vossos pais! Os primeiros profetas em vão insistiram com eles para que se arrependessem dos seus maus caminhos. Venham, tornem para mim, dizia o Senhor Deus. Mas não, não quiseram ouvir-me, não me deram ouvidos! Os vossos antepassados e os profetas há muito que faleceram. Lembrem-se, no entanto, da lição que eles tiveram de aprender, pois a palavra de Deus é persistente. Apanhou-os e castigou-os. Por fim, arrependeram-se: ‘Tivemos o que merecíamos!’, reconheceram eles. ‘O Senhor fez-nos aquilo que nos avisou que faria.’ ” No dia 24 do décimo primeiro mês, era ainda o segundo ano do reinado de Dario, o Senhor comunicou outra mensagem ao profeta Zacarias, filho de Berequias e neto de Ido, numa visão dada durante a noite, em que vi um homem sentado num cavalo vermelho, que estava parado entre murtas num vale. Atrás dele estavam outros cavalos, vermelhos, castanhos e brancos, cada um com o seu condutor. Um anjo pôs-se ao meu lado e perguntei-lhe: “Para que servem todos esses cavalos?” “Vou mostrar-te o que significa.” Então o homem que estava entre as murtas respondeu-me: “O Senhor enviou-os para patrulharem a Terra!” Nessa altura, os outros cavaleiros dirigiram-se ao anjo do Senhor que estava entre as murtas e disseram: “Acabámos de percorrer a Terra inteira; por toda a parte há prosperidade e paz.” Após ter ouvido isto, o anjo do Senhor exclamou: “Ó Senhor dos exércitos, durante 70 anos a tua ira se derramou sobre Jerusalém e sobre as cidades de Judá! Quando mostrarás, enfim, a tua misericórdia sobre elas?” O Senhor respondeu ao anjo que estava de pé ao meu lado, falando-lhe palavras de bondade e conforto. Então o anjo disse: “Proclama esta mensagem da parte do Senhor dos exércitos: ‘Sinto um grande zelo por Jerusalém e por Sião! É grande a minha ira contra os povos pagãos que as rodeiam e vivem desafogadamente. Eu estava apenas um pouco irado com o meu povo, mas outros afligiram-no mais do que deviam.’ Por isso, o Senhor declara: ‘Voltei-me para Jerusalém cheio de bondade. O meu templo tornará a ser reconstruído, diz o Senhor dos exércitos, e o mesmo acontecerá com Jerusalém. Diz ainda o seguinte: O Senhor dos exércitos declara que as minhas cidades tornarão a transbordar de prosperidade. Darei o meu conforto a Sião e darei a minha preferência a Jerusalém.’ ” Então reparei em quatro chifres. “O que significa isto?”, perguntei ao anjo que falava comigo. Respondeu-me: “Representam quatro forças mundiais que dispersaram Judá, Israel e Jerusalém.” Depois o Senhor mostrou-me quatro ferreiros. “Que vieram estes homens fazer?”, perguntei. Ele respondeu: “Vieram para derrubar as quatro forças que dispersaram Judá tão terrivelmente. Vieram para os triturar na bigorna e os lançar para longe.” Quando tornei a olhar em volta, vi um homem com uma fita métrica na mão. “Onde vais?”, perguntei-lhe. “Medir Jerusalém no seu comprimento e na sua largura.” O anjo que estava a falar comigo afastou-se e um outro anjo foi ao seu encontro. E disse-lhe: “Corre e diz a este jovem que Jerusalém vai ser de novo habitada como as aldeias sem muros. Serão tantos os seus habitantes e animais que já não poderá ter muralhas. Porque eu mesmo, diz o Senhor, serei um muro protetor de fogo ao seu redor e serei a glória no meio da cidade! Venham, fujam da terra do norte, da Babilónia, diz o Senhor a todos os exilados ali. Espalhei-vos aos quatro ventos da Terra, mas tornarei a trazer-vos à pátria, diz o Senhor. Foge, foge, Sião, tu que habitas na Babilónia! Porque isto é o que diz o Senhor dos exércitos: enviou-me para buscar a sua glória entre as nações que vos saquearam. Portanto, qualquer que vos tocar, fere a menina dos meus olhos! Esmagá-los-ei com o meu punho e os seus escravos tornar-se-ão os seus senhores! Saberão então que foi o Senhor dos exércitos quem me enviou. Vim para viver convosco, no vosso meio, diz o Senhor. Por isso, canta, ó filha de Sião, e alegra-te! Nessa altura, muitas nações se converterão ao Senhor e serão também meu povo; viverei no meio de ti. Saberão então que foi o Senhor dos exércitos quem me enviou a ti. Judá será a propriedade do Senhor na terra santa, visto que Deus mais uma vez decidirá escolher Jerusalém. Cale-se toda a humanidade perante o Senhor, porque ele se levantou da sua santa morada!” Então mostrou-me Josué, o sumo sacerdote, em pé perante o anjo do Senhor. Satanás também lá estava, à sua direita, acusando Josué de muitas coisas. O Senhor disse a Satanás: “O Senhor te repreende, Satanás! Sim, o Senhor que escolheu, Jerusalém, repreende-te! Decretou misericórdia para com Josué e a sua nação. Ele é como um tição tirado do fogo.” As roupas de Josué estavam sujas, enquanto se mantinha na presença do anjo. Então o anjo disse aos que ali estavam: “Mudem-lhe essa roupa suja!” E voltando-se para Josué: “Repara, tirei a tua iniquidade e agora dou-te uma roupa nova!” E disse eu: “Ponham-lhe um turbante limpo na cabeça.” Vestiram-no, pois, de novo e puseram-lhe na cabeça um turbante limpo, na presença do anjo do Senhor. O anjo do Senhor disse a Josué com solenidade: “O Senhor dos exércitos declara: ‘Se andares nos meus caminhos e obedeceres ao que te mando, dar-te-ei a responsabilidade do templo, para que o mantenhas santo. Também te darei um lugar entre estes que aqui estão. Escuta-me, Josué, sumo sacerdote, e todos os sacerdotes que se assentam diante de ti: Vocês são uma ilustração das boas coisas que hão de acontecer. Não estão a ver? Josué representa o meu servo, o Renovo que hei de enviar. Pus diante dele uma pedra única, que tem sete faces, e gravarei nela uma inscrição. Num só dia tirarei os pecados desta terra. Depois disso, declara o Senhor dos exércitos, viverão em paz e com prosperidade, cada um na sua casa, com a sua vinha e a sua figueira.’ ” O anjo que estivera a falar comigo tornou a despertar-me, como se eu tivesse estado a dormir: “Que vês tu agora?” Respondi: “Um candelabro todo em ouro e um reservatório de azeite para alimentar as luzes através de sete tubos. Vejo igualmente duas oliveiras, uma de cada lado.” Então perguntei ao anjo: “Meu senhor, qual será o significado disto?” “Não sabes o que simbolizam?”, perguntou o anjo. “Não, senhor, não sei!” Então ele disse-me: “Esta é a mensagem do Senhor para Zorobabel: Não pela força, nem pelo meu poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos. Por isso, nenhuma montanha, por mais alta que seja, poderá ficar de pé diante de Zorobabel! Será aplanada na sua frente! Zorobabel acabará por construir este templo, com altas exclamações de gratidão pela misericórdia de Deus, afirmando que tudo foi feito só pela sua graça.” Recebi outra mensagem da parte do Senhor. “Zorobabel pôs os alicerces deste templo e irá acabá-lo. Assim, saberão que foi o Senhor dos exércitos que me enviou. Não desprezem os pequenos começos, porque os homens se alegram vendo o início desta obra, vendo o prumo nas mãos de Zorobabel. Estas sete luzes simbolizam os olhos do Senhor que tudo veem, em todo o mundo.” Perguntei seguidamente quanto às duas oliveiras de cada lado do reservatório. Também lhe perguntei quanto aos dois ramos de oliveira que escorriam azeite para dentro do candelabro de ouro, através dos tubos de ouro. “Não sabes?”, inquiriu. “Não, senhor!”, respondi. Então disse-me: “Representam os dois ungidos que estão ao serviço do Senhor de toda a Terra.” Levantei novamente os olhos e vi um rolo que voava no ar. “Que estás a ver?”, o anjo perguntou-me. “Um rolo a deslocar-se no ar!”, respondi: “Tem 10 metros de comprimento e 5 de largura.” E ele disse-me: “Este rolo contém as palavras de Deus, amaldiçoando a Terra inteira, afirmando que todos os que roubam e mentem já foram degredados. ‘Envio esta maldição à casa de todo o que rouba e de todo o que jura falsamente pelo meu nome, diz o Senhor dos exércitos. E a minha maldição permanecerá sobre a sua casa, acabando por destruí-la inteiramente.’ ” O anjo deixou-me, por um momento, voltando depois para me dizer: “Repara nisso que se está a deslocar no ar!” “O que é?” perguntei. “É uma vasilha que se usa para medir grão, que está cheia com o pecado que prevalece por toda a parte.” De repente, uma pesada tampa de chumbo, que cobria o recipiente, foi tirada e pude ver uma mulher lá dentro. “Representa a maldade!”, disse ele. E empurrou-a para dentro do recipiente, tornando a pôr em cima a tampa. Depois vi duas mulheres voando, com asas semelhantes às de uma cegonha. Pegaram naquela vasilha e levaram-na com elas pelos ares. “Para onde levaram elas a vasilha?” perguntei ao anjo. “Para Sinar (Babilónia) ”, replicou-me, “onde vão construir-lhe um templo. Quando o templo estiver pronto, porão a vasilha no seu lugar próprio.” Ergui novamente os olhos e vi quatro carros que saíam de entre aquilo que parecia ser duas montanhas feitas de bronze. O primeiro era puxado por cavalos vermelhos; o segundo por cavalos pretos; o terceiro por brancos e o quarto por cinzentos malhados. “E estes, que simbolizam, senhor?”, perguntei ao anjo que estava a falar comigo. “São quatro espíritos celestes que estão perante o Senhor de toda a Terra. Estão a sair para fazer a sua obra. O carro puxado pelos cavalos pretos irá para o norte; o que é puxado pelos cavalos brancos seguirá atrás dele; o dos cavalos cizentos malhados dirigir-se-á para o sul.” E os cavalos fortes estavam impacientes por partir, prontos para patrulharem a Terra, duma ponta à outra. Por isso, o Senhor disse: “Vão! Comecem a percorrer a Terra!” E logo se foram embora. O Senhor chamou-me e disse: “Os que partiram para o norte executaram o meu julgamento e apaziguaram a minha ira.” Numa outra mensagem disse o Senhor: “Heldai, Tobias e Jedaías hão de trazer presentes de prata e de ouro da parte dos judeus exilados na Babilónia. No próprio dia em que chegarem, vai ao encontro deles, na casa de Josias, filho de Sofonias, onde ficarão instalados. Aceita os seus presentes e faz deles uma coroa de prata e ouro. Coloca seguidamente essa coroa na cabeça de Josué, filho de Jeozadaque, sumo sacerdote. Diz-lhe que o Senhor dos exércitos lhe faz saber o seguinte: ‘Tu representas o homem que há de vir, cujo nome é Renovo, e que brotará deste lugar e edificará o templo do Senhor. Pertence-lhe o título real. Governará como Rei e como Sacerdote, numa perfeita harmonia entre as duas funções!’ A coroa será dada a Heldai, Tobias, Jedaías e Hen, filho de Sofonias, como um memorial no templo do Senhor. E muitos virão de longe, vindos de terras longínquas, para edificar o templo do Senhor. Quando isto acontecer saberão que o Senhor dos exércitos me enviou a vocês. Mas nada disto acontecerá sem que obedeçam cuidadosamente às palavras do Senhor, vosso Deus.” Veio outra mensagem da parte do Senhor para mim, no quarto dia do nono mês, que é o mês de Quisleu, no quarto ano do reinado de Dario. Foi esta a resposta do Senhor dos exércitos: “Pergunta a todo o povo e aos sacerdotes o seguinte: Durante estes 70 anos de exílio, quando jejuaram e choraram no quinto e sétimo mês, estavam realmente a fazê-lo para mim? E mesmo agora, nas vossas santas festividades consagradas a Deus, estão a pensar em mim ou unicamente no que vão comer, nas pessoas com quem se vão encontrar e no prazer que vão ter? Foram estas mesmas palavras que o Senhor disse por meio dos antigos profetas, quando Jerusalém era próspera e habitada, com suas cidades ao redor, quando o Negueve, toda a região sul e as planícies costeiras eram habitadas.” Veio ainda a palavra do Senhor dos exércitos a Zacarias: “Diz-lhes que sejam honestos e justos, que não andem a meter cunhas a troco de dinheiro; que mostrem piedade e misericórdia cada um ao seu próximo. Que não oprimam a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre; que parem de tramar ciladas contra os outros. Os vossos pais não quiseram ouvir esta mensagem. Voltaram-me as costas; puseram os dedos nos ouvidos para poderem ficar descansados. Endureceram os corações como diamantes, só com medo de terem que aceitar a Lei que Deus, o Senhor dos exércitos, lhes tinha ordenado, que lhes revelara pelo seu Espírito através dos antigos profetas. Foi isso que fez cair sobre eles essa tamanha ira da parte de Deus. Chamei por eles, mas recusaram ouvir-me. Por isso, quando clamaram por mim, afastei-me. Espalhei-os, como se fosse um tornado, por entre as nações do mundo. A terra ficou desolada; já ninguém viaja sequer por ela. Aquela terra desejada está agora vazia, deserta!” Outra mensagem do Senhor dos exércitos. O Senhor dos exércitos diz assim: “Estou muito indignado! Sim, estou mesmo irado, por causa daquilo que todos os inimigos de Sião lhe fizeram! Agora voltar-me-ei para Sião e habitarei no meio de Jerusalém, a qual será chamada Cidade Fiel, a montanha do Senhor dos exércitos, o monte santo.” O Senhor dos exércitos declara: “As pessoas idosas, tanto homens como mulheres, voltarão a sentar-se nos seus lugares em Jerusalém, tendo cada um nas suas mãos a bengala em que se apoia, por causa da muita idade. Os rapazes e raparigas virão novamente em grande número às praças públicas para brincar.” Diz o Senhor dos exércitos: “Pode parecer inacreditável aos vossos olhos, um resto do povo, pequeno e desencorajado, mas para mim não é nada de mais! Com toda a certeza que resgatarei o meu povo das extremidades do Oriente ao Ocidente, seja para onde for que tenham sido espalhados. Hei de trazê-los de novo para viverem em Jerusalém; serão o meu povo e eu serei o seu Deus, guiando-os com justiça e com verdade!” O Senhor dos exércitos diz: “Trabalhem com coragem, vocês que ouvem agora as palavras dos profetas que vos falaram, quando se puseram os alicerces deste templo, a fim de que fosse edificado! Antes do empreendimento começar, não havia postos de trabalho, não havia salários, não havia segurança. Se tivessem de deixar a cidade, ninguém podia ter a certeza de regressar, porque cada um estava contra o seu semelhante. Agora, já não tratarei mais com o resto deste povo, como no passado, diz o Senhor dos exércitos. Semeio a paz no vosso meio. As vinhas darão o seu fruto. O chão será fértil e dos céus virá abundante orvalho. Todas estas bênçãos darei ao povo deixado na terra. Assim como eram uma maldição entre as nações, ó povo de Judá e de Israel, assim vos salvarei e serão uma bênção! Não tenham receio! Trabalhem com coragem! Fiz o que prometera, quando os vossos pais me enfureceram, e garanti-lhes que seriam castigados. Por isso, agora também decidi fazer o bem a Jerusalém e a Judá! Não tenham medo! Da vossa parte, é isto que devem fazer: falar a verdade e ser justos e honestos nos vossos tribunais. Não conspirem para fazer mal uns aos outros! Não amem o falso juramento, nem a mentira! Todas essas coisas repudio severamente!”, diz o Senhor. Aqui está outra mensagem que veio até mim da parte do Senhor dos exércitos. “Esses jejuns tradicionais e tempos de contrição coletiva, que realizam no quarto, quinto, sétimo e décimo mês, terminaram! Agora serão celebrações festivas, por isso, amem a verdade e a paz!” Assim diz o Senhor dos exércitos: “Povos de todo o mundo virão em peregrinação a Jerusalém, originários de muitas cidades estrangeiras, para assistir a estas celebrações. As pessoas escreverão umas às outras, dizendo: ‘Vamos todos a Jerusalém pedir ao Senhor a sua bênção sobre nós e que seja misericordioso para connosco. Venham todos já!’ Sim, muita gente, mesmo das nações mais fortes, se chegará ao Senhor dos exércitos em Jerusalém, para lhe rogar a sua bênção.” Assim diz o Senhor dos exércitos: “Nesses tempos, dez estrangeiros agarrar-se-ão às abas do casaco dum judeu, implorando-lhe: ‘Queremos ir com vocês, porque sabemos bem que Deus está convosco!’ ” Esta mensagem diz respeito à maldição que o Senhor faz cair sobre as terras de Hadraque e Damasco, porquanto os olhos da humanidade, incluindo as tribos de Israel, estão colocados no Senhor. Condenada está Hamate, perto de Damasco, e também Tiro e Sídon, por muito espertas que sejam! Tiro fortificou-se com um sistema de fortalezas e enriqueceu de tal forma que para ela a prata é como pó e o ouro fino como poeira do chão das ruas. Por isso, o Senhor a despojará e derrubará as suas fortificações no mar; será incendiada e arrasada. Asquelom verá isso e ficará cheia de terror; Gaza desfalecerá de desespero e também Ecrom, porque perderam a esperança de que Tiro servisse de barreira contra o avanço dos inimigos. Gaza será conquistada e o seu rei morto. Asquelom ficará deserta. Estrangeiros ocuparão a cidade de Asdode e anularei a soberba dos filisteus. Farei com que vomitem a idolatria da sua boca e não comerão mais carne com sangue, nem outras abominações. Todos aqueles que ficarem vivos passarão a adorar a Deus e adotarão Israel como a sua nova família. Os filisteus de Ecrom casar-se-ão com judeus, tal como fizeram os jebuseus há muitos anos. Rodearei o meu templo como um corpo de guarda, para guardar a entrada de exércitos invasores em Israel. Vigiarei estreitamente os seus movimentos, mantê-los-ei afastados. Não haverá mais opressores a dominar a terra do meu povo. Alegra-te intensamente, ó filha de Sião! Grita de contentamento! Vê, o teu Rei aproxima-se de ti! Justo e salvador, manso e montado numa cria de jumento, num pequeno jumentinho. Removerei os carros de combate de Israel e tirarei os cavalos de Jerusalém; os arcos de combate serão destruídos. Ele anunciará a paz às nações. O seu domínio estender-se-á de um mar ao outro; desde o rio Eufrates até às extremidades da Terra. Libertarei os teus prisioneiros dum poço sem água, por causa da aliança que fiz contigo, selada com sangue. Venham para o lugar de segurança, ó prisioneiros, porque ainda há esperança! Prometo que vos recompensarei a dobrar! Judá é o meu arco de atirar, Efraim a minha flecha! Ambos serão a minha espada, como a espada dum poderoso guerreiro brandida contra os filhos da Grécia. O Senhor manifestar-se-á ao seu povo! As suas flechas serão lançadas como relâmpagos! O Senhor Deus tocará a trombeta e sairá contra os seus inimigos como um furacão no deserto, vindo do sul. O Senhor dos exércitos defenderá o seu povo e eles subjugarão os guerreiros com fundas. Gritarão na batalha como ébrios e derramarão o sangue dos seus inimigos, como o sangue de um sacrifício sobre o altar. O Senhor, o seu Deus, salvará nesse dia o seu povo, como um pastor que vigia o rebanho. Brilharão na sua terra como joias numa coroa real. Como será belo e maravilhoso! O trigo e o vinho novo darão beleza à juventude! Peçam ao Senhor chuva na primavera. Ele, que faz os relâmpagos, vos dará bátegas de água. Os campos tornar-se-ão pastagens luxuriantes. Que loucura pedir a ídolos coisas como essa! As previsões dos adivinhos são todas um amontoado de mentiras. Que conforto poderá haver em coisas que sabemos não serem verdade? Judá e Israel têm vagueado como ovelhas perdidas; toda a gente os ataca, pois não têm pastor para os defender. “A minha ira se acende contra os vossos pastores, os vossos chefes, e castigarei esses bodes. O Senhor dos exércitos veio, enfim, socorrer o seu rebanho de Judá. Torná-los-ei fortes e gloriosos, semelhantes a cavalos de guerra na batalha. Deles sairá a pedra fundamental, a estaca principal que dá garantia, o arco da batalha; deles sairão os chefes. O povo de Judá será vitorioso como valentes guerreiros que pisam os inimigos na lama das ruas. O Senhor está com eles durante a luta; os seus adversários estão condenados. Fortalecerei a casa de Judá e salvarei a casa do José. Tornarei a estabelecê-las, porque as amo. Será como se nunca as tivesse afastado. Eu, o Senhor, seu Deus, ouvirei os seus clamores. Os efraimitas serão como valentes guerreiros. Estarão alegres como quem tenha bebido vinho! Os seus filhos verão isso acontecer e muito se alegrarão com aquilo que o Senhor fez. Assobiarei para eles e os ajuntarei, porque os resgatei. A partir do pequeno resto que ficou, tornarei a fazê-los crescer até à extensão anterior. Ainda que os tenha semeado pelas outras nações, eles se lembrarão de mim em terras remotas. Na companhia dos seus descendentes regressarão à sua pátria, a Israel. Farei com que voltem do Egito e da Assíria, para se radicarem novamente em Israel, em Gileade, no Líbano. Será até com dificuldade que todos encontrarão lugar para ficarem! Atravessarão em segurança o mar da angústia, as ondas do mar se retirarão para os deixar passar. O Nilo secará e o domínio da Assíria e do Egito sobre o meu povo terminará.” Diz assim o Senhor: “O meu povo será fortalecido com a força do meu poder! Irão onde quer que desejarem; para onde quer que forem, estarão sempre sob os meus cuidados.” Abre, ó Líbano, as tuas portas para que o fogo do julgamento consuma os teus cedros! Serão consumidos como por um fogo devastador que consome a floresta. Chorem, ciprestes, por causa da ruína desses cedros. Os mais belos, os mais altos, já caíram. Gritem de medo, carvalhos de Basã, ao ver essas florestas consumidas. Escutem o uivo dos líderes de Israel, todos esses maus pastores, porque desapareceu a sua prosperidade. Escutem o rugir dos pequenos leões, são os príncipes chorando, porque o seu glorioso vale do Jordão está uma ruína. Então o Senhor, meu Deus, disse-me: “Arranja trabalho como pastor dum rebanho que esteja a ser engordado para o matadouro. Isto ilustrará a forma como o meu povo foi comprado e morto por maus líderes, que continuam sem castigo. ‘Graças ao Senhor, agora estou rico!’, dizem os que os traíram, os seus próprios pastores que os venderam sem misericórdia. Eu não pouparei nem uns nem outros, diz o Senhor, pois deixarei que caiam nas garras dos seus líderes malvados, que os liquidarão. Farão da terra um deserto e não a protegerei das suas más ações.” Tornei-me então pastor das ovelhas separadas para a matança, as mais necessitadas e frágeis ovelhas do rebanho. Fui então buscar dois cajados e chamei a um Graça e ao outro União, e com eles apascentei todas as ovelhas. Num só mês liquidei os três maus pastores. Porém, tornei-me impaciente com estas ovelhas, com esta nação, e elas desgostaram-se de mim. Por isso, lhes disse: “Não quero mais ser o vosso pastor! Se tiverem de morrer, que morram! Se forem destruídas, não me importo! E as que ficarem, que se comam umas às outras!” Peguei no cajado a que chamara Graça e quebrei-o em dois, mostrando assim que tinha quebrado a minha aliança com todos os povos. Isto foi o fim do meu contrato. Então, os mercadores de ovelhas que estavam a observar compreenderam que Deus estava a dizer-lhes algo através daquilo que eu fiz. E eu disse aos seus líderes: “Se quiserem, deem-me a minha paga, aquilo que decidirem, se assim entenderem.” Fizeram então contas ao meu salário e deram-me trinta moedas de prata. Disse-me o Senhor: “Atira isso para dentro do cofre do templo, essa fortuna em que fui avaliado por eles!” Peguei nas trinta moedas e lancei-as lá para dentro. Quebrei também o meu outro cajado, União, para mostrar que o laço de união entre Judá e Israel estava igualmente quebrado. Seguidamente, o Senhor mandou-me de novo procurar trabalho como pastor. Desta vez o meu papel era servir como pastor insensato. E disse-me: “Isto é uma ilustração de como entregarei esta nação aos cuidados dum pastor que não se preocupará com as ovelhas que estão a morrer, nem com as que se desgarram, não tratará das que se ferirem, nem alimentará as saudáveis; pelo contrário, pegará nas mais gordas e comerá a sua carne e lhes partirá as patas. Ai desse pastor insensato que não se preocupa com o rebanho! A espada lhe ferirá o braço e trespassará o olho direito, de tal forma que nunca mais poderá recuperar desse braço e dessa vista ficará inteiramente cego.” Esta mensagem é referente a Israel, tal como a pronunciou o Senhor, que estendeu os céus e estabeleceu os fundamentos da Terra, formando dentro do ser humano o seu espírito. “Farei com que Jerusalém e Judá se tornem como uma taça, de onde as nações à sua volta beberão e cambalearão como ébrios; Judá será cercada, tal como Jerusalém. Esta tornar-se-á numa pesada pedra para o mundo. Ainda que todas as nações da Terra se unam para a demover, todas serão esmagadas. Nesse dia, diz o Senhor, os cavalos entrarão em pânico e seus cavaleiros enlouquecerão. Os meus olhos estarão sobre o povo de Judá, mas deixarei cegos os cavalos das outras nações. Os chefes de Judá dirão então: ‘Os habitantes de Jerusalém encontraram força no Senhor dos exércitos, no seu Deus!’ Nesse tempo, farei com que as famílias de Judá se tornem como tochas acesas dentro duma floresta cheia de ramos secos, ou como um fósforo aceso no meio da palha; incendiarão todas as nações vizinhas em redor, enquanto Jerusalém se manterá inabalável. Primeiramente, o Senhor salvará as tendas de Judá, antes de Jerusalém, para que o povo de Jerusalém e a linhagem real de David não se encham de orgulho com o seu sucesso. O Senhor defenderá o povo de Jerusalém; o mais fraco entre eles será como o poderoso rei David! E a linhagem real será como Deus, como o anjo do Senhor que vai à frente deles! Os meus planos são para destruir todas as nações que se levantam contra Jerusalém. Nessa altura, derramarei o espírito de graça e de oração sobre todo o povo de Jerusalém e me verão, a mim, aquele que trespassaram, e chorarão como por um filho único ou um primeiro filho que lhes tivesse morrido. A tristeza e o choro em Jerusalém, nesse dia, serão maiores do que a grande lamentação em Hadade-Rimom, pela morte do piedoso rei Josias, no vale de Megido. Toda a nação chorará de profunda tristeza. Cada família chorará separadamente; a família de David com suas mulheres; a família de Natã com suas mulheres; a família de Levi com suas mulheres; a família de Simei com suas mulheres; e todas as demais famílias com suas mulheres. Nesse tempo, haverá uma fonte aberta para todos os descendentes de David e para os habitantes de Jerusalém, uma fonte que os purificará da sua impureza e do seu pecado.” O Senhor do exércitos declara: “Nessa altura, farei desaparecer em absoluto qualquer vestígio de culto idólatra, em toda a terra, de tal forma que até o nome dos ídolos será esquecido. A terra será varrida de todos os falsos profetas e de leitores de sina. Se alguém recomeçar com falsas profecias, os seus próprios pais dir-lhe-ão: ‘Tens de morrer, porque estás a profetizar mentiras em nome do Senhor!’ E os seus pais, que o geraram, o trespassarão assim que profetizar. Ninguém se gabará do seu dom de profecia! Ninguém trará roupa de profeta tentando enganar o povo novamente. ‘Não!’, dirão eles. ‘Não sou profeta! Sou um trabalhador rural; a terra tem sido o meu trabalho desde a minha meninice.’ E se alguém lhe perguntar: ‘Então que cicatrizes são essas que tens no peito e nas costas?’, responderá: ‘São as feridas que me fizeram na casa dos meus amigos!’ Ergue-te, ó espada, contra o meu pastor, o homem que é meu companheiro, meu parceiro, diz o Senhor dos exércitos! Fere o pastor e espalhar-se-ão as ovelhas. Contudo, voltarei atrás e confortarei os cordeiros, tratando deles. Dois terços da nação de Israel expirarão, mas um terço ficará na terra. Farei passar essa terça parte pelo fogo, purificando-a tal como o ouro e a prata são refinados e purificados pelo fogo. Invocarão o meu nome e ouvi-los-ei. Direi: ‘São o meu povo!’ E eles dirão: ‘O Senhor é o nosso Deus!’ ” Eis que o dia do Senhor está a chegar, em que os teus bens serão repartidos no meio de ti! “Nesse dia, ajuntarei as nações para atacar Jerusalém. A cidade será tomada, as casas saqueadas, o despojo repartido e as mulheres violadas. Metade da população será levada para o cativeiro; a outra metade será deixada no que ficar em pé da cidade.” Então o Senhor sairá armado para a batalha, para combater essas nações. No dia em que os seus pés pousarem sobre o monte das Oliveiras, a oriente de Jerusalém, esse monte fender-se-á em dois, formando-se um largo vale no meio, correndo de leste para oeste, porque uma metade do monte afastar-se-á para o norte e a outra para o sul. Vocês escaparão através desse vale até Azal. Sim, escaparão tal como fez o vosso povo, há muitos séculos, aquando do terramoto nos dias de Uzias, rei de Judá. E o Senhor, meu Deus, virá, assim como todos os santos e os anjos com ele. Nesse dia, não haverá luz, nem frio, nem gelo. Só o Senhor sabe como é isso! Não haverá dia e noite como normalmente; chegada a hora da noite, ainda será dia. Águas vivas correrão de Jerusalém, metade para o mar Morto e metade para o mar Mediterrâneo, correndo continuamente, tanto de inverno como de verão. O Senhor será Rei em toda a Terra. Haverá um só Senhor, só o seu nome será adorado. Toda a terra, desde Geba, na fronteira norte de Judá, até Rimom, a sul de Jerusalém, tudo será uma vasta campina. Jerusalém será exaltada, cobrindo toda a área, desde a porta de Benjamim, até ao local da primeira porta, e daí até à porta da Esquina; desde a torre de Hananel até aos lagares do rei. Jerusalém será habitada finalmente em segurança e nunca mais será amaldiçoada nem destruída. O Senhor enviará pragas contra os povos que combateram Jerusalém. Tornar-se-ão como esqueletos ambulantes, sem vestígios de carne; os olhos encovados dentro do que não passa duma caveira; a língua apodrecida dentro da boca. Ficarão cativos de pânico; o Senhor lançará o terror nos seus corações; combaterão uns contra os outros, numa luta corpo a corpo. Judá combaterá em Jerusalém. A riqueza de todas as nações vizinhas será confiscada; grandes quantidades de ouro, prata e de ricas peças de roupa. Esta mesma praga ferirá também os cavalos, as mulas, os camelos, os burros, e todos os outros animais no campo inimigo. Por fim, os sobreviventes das nações, que tinham subido para atacar Jerusalém, virão cada ano, para prestar culto ao Rei, o Senhor dos exércitos, para celebrar a festa dos tabernáculos. Toda a nação, em qualquer parte do mundo, que recusar vir a Jerusalém para adorar o Rei, o Senhor dos exércitos, não beneficiará de chuva. Se o povo do Egito se recusar a subir e não vier, a chuva também não virá sobre ele e suas propriedades; mas a praga com que o Senhor ferir as nações que não subirem para comemorar a festa dos tabernáculos cairá sobre eles. Será assim que o Egito e todas as outras nações serão castigados se recusarem vir adorar. Nesse tempo, até as campainhas dos cavalos terão escritas estas palavras: santos ao Senhor. As panelas do templo do Senhor serão tão sagradas como as taças de serviço do altar. Com efeito, todos os recipientes em Jerusalém e em Judá serão consagrados ao Senhor dos exércitos; todos os que se apresentarem para o culto de adoração poderão usá-los livremente, para preparar os seus sacrifícios. Não haverá mais comerciantes exploradores no templo do Senhor dos exércitos! Esta é a mensagem do Senhor a Israel, comunicada pela boca do profeta Malaquias. “Eu amei-vos!”, diz o Senhor. Responderam vocês: “Como e quando é que nos amaste?” Disse o Senhor: “Não era Esaú irmão de Jacob? Porém mostrei-vos o meu amor amando a Jacob. Mas rejeitei o seu próprio irmão Esaú e destruí a montanha e a herança de Esaú, para a dar aos chacais no deserto.” Ainda que os seus descendentes digam: “Tornaremos a reconstruir sobre ruínas!”, o Senhor dos exércitos retorquir-lhes-á: “Tentem, se quiserem, mas tornarei a destruí-la. Porque a sua terra será chamada ‘Terra da Maldade’ e o povo chamar-se-á ‘Povo sob a ira eterna do Senhor ’. Ó Israel, levanta os olhos e vê o que Deus está a fazer em todo o mundo! Então vocês dirão: ‘Verdadeiramente o grande poder do Senhor manifestou-se para além das nossas fronteiras!’ Um filho honra o seu pai; um servo honra o seu senhor. Eu sou vosso Pai e vosso Senhor e, contudo, os sacerdotes não me prestam honra nenhuma, antes desprezam o meu nome. Dizem vocês: ‘Quando é que desprezámos o teu nome?’ Quando oferecem sacrifícios imundos no meu altar. ‘Sacrifícios imundos? Alguma vez fizemos uma coisa dessas?’ Sim, sempre que dizem: ‘Não se incomodem em trazer alguma coisa muito valiosa para oferecer ao Senhor!’ Quando oferecem em sacrifício um animal cego, não é isso errado? E quando oferecem animais aleijados ou doentes, isso também não é errado? Façam o mesmo com o vosso governador, tentem dar-lhe de presente um animal assim e verifiquem se fica satisfeito, diz o Senhor dos exércitos. ‘Deus tenha piedade de nós!’, suplicam vocês. ‘Seja a sua misericórdia sobre nós!’ Mas quando trazem ofertas desse tipo, como poderá mostrar-vos algum favor? Oh! Quem me dera encontrar no vosso meio um sacerdote que feche as portas e recuse aceitar esse tipo de sacrifício! Não tenho prazer em vocês, diz o Senhor dos exércitos, e não aceitarei as vossas ofertas! Mas o meu nome será honrado pelas nações, do Oriente ao Ocidente. Em todo o mundo se oferecerão sacrifícios agradáveis de incenso e ofertas puras em honra do meu nome, o qual se tornará grande entre nações, diz o Senhor dos exércitos. Mas vocês desonram-no, dizendo que o meu altar não é digno de muita importância, e encorajam o meu povo a trazer-me animais aleijados e doentes para ali me oferecer. Dizem vocês: ‘Oh! É tão difícil servir o Senhor e fazer o que ele pede!’ E viram a cara aos mandamentos que vos dei para cumprirem. Ponderem! Animais roubados, coxos e doentes, oferecidos a Deus! Poderia eu aceitar tais ofertas?, pergunta o Senhor. Maldito o homem que promete um belo animal do seu rebanho e acaba por substituí-lo por outro, doente, para o sacrificar ao Senhor. Eu sou um grande Rei, diz o Senhor dos exércitos! O meu nome deve ser profundamente reverenciado entre os gentios! Repreenderei os vossos filhos e espalharei sobre as vossas faces o esterco desses animais que me oferecem. Afastar-vos-ei como se faz ao estrume. Por fim, saberão que fui eu quem vos mandou este aviso, a fim de que a minha aliança com Levi permaneça, diz o Senhor dos exércitos. A minha aliança com Levi era dar vida e paz, e mostrar reverência e temor. E ele, na verdade, temeu o meu santo nome. Ele passou ao povo toda a verdade que recebeu de mim. Não mentiu, não enganou; andou na minha presença, vivendo de forma justa e reta, desviando muitos dos caminhos do pecado. Dos lábios dos sacerdotes deveria escorrer o conhecimento de Deus, de forma a que o povo aprendesse a Lei do Senhor. Os sacerdotes são mensageiros do Senhor dos exércitos; os homens deveriam vir ter com eles para receberem diretivas. Mas não é assim que vocês fazem! Abandonaram os caminhos de Deus. As vossas diretivas levaram muitos a cair em pecado. Distorceram a aliança com Levi e tornaram-na numa farsa grotesca, diz o Senhor dos exércitos. Por isso, vos fiz desprezíveis aos olhos do povo todo; porque não quiseram obedecer-me; usaram de parcialidade com os vossos favoritos que quebraram a Lei sem serem castigados.” Somos filhos do mesmo pai, Abraão; fomos criados pelo mesmo Deus. Apesar disso, somos desleais uns com os outros, violando a aliança que os nossos pais celebraram! O povo de Judá foi infiel a Deus e cometeram-se ações horríveis em Jerusalém e em Israel. Desrespeitaram o santuário que o Senhor tanto ama; casaram-se com mulheres gentias adoradoras de ídolos. Que o Senhor elimine completamente das tendas de Jacob todos aqueles, sacerdotes ou não, que tenham feito tal coisa, mesmo que tenham apresentado ofertas ao Senhor dos exércitos! E ainda cobrem o altar com lágrimas, porque o Senhor não dá mais atenção às vossas ofertas, e não recebem dele nenhuma bênção. “Porque é que nos abandonou?”, gritam vocês. Dir-vos-ei porquê. É porque o Senhor tem sido testemunha da vossa deslealdade para com as mulheres que vos tinham sido fiéis ao longo dos anos, as companheiras a quem prometeram cuidados e fidelidade, pois eram as mulheres da tua aliança. Nos justos planos de Deus, quando casaram, os dois tornaram-se num só, aos seus olhos. E porquê? Para que os filhos nascidos da vossa união andem nos seus caminhos. Por isso, guardem as vossas paixonetas! Sejam fiéis à mulher da vossa mocidade! Porque eu, o Senhor, o Deus de Israel, repudio o divórcio assim como aquele que se cobre de violência como duma roupa. Portanto, tenham cuidado e não sejam infiéis às vossas mulheres, diz o Senhor dos exércitos! Têm desgostado o Senhor com as vossas palavras. “Desgostado, nós? Como é que o desgostámos?” Quando dizem que praticar o mal, aos olhos do Senhor, vem a dar no mesmo que praticar o bem, e que é dos que fazem o mal que o Senhor, no fundo, se agrada. E ainda dizem: “Onde está o Deus da justiça?” “Escutem! Enviarei o meu mensageiro perante mim, para me preparar o caminho. O Senhor, a quem buscam, virá de repente ao seu templo; o mensageiro da aliança que vocês desejam. Sim, ele virá com toda a certeza!”, diz o Senhor dos exércitos. Mas quem poderá sobreviver quando ele aparecer? Quem poderá suportar a sua vinda? Porque é como um fogo flamejante, refinando o metal precioso e branqueando o mais sujo vestuário! Tal como um perito em refinar a prata, sentar-se-á a observar, enquanto a escória vai escorrendo. Purificará os levitas, os ministros de Deus, purificando-os como o ouro e a prata, e eles passarão a apresentar diante do Senhor ofertas com justiça. Então, uma vez mais, o Senhor terá prazer nas ofertas que lhe forem trazidas pelo povo de Judá e Jerusalém, tal como antes. “Nesse tempo, os meus castigos serão rápidos e certos. Mover-me-ei destramente contra os que praticam bruxarias, contra os adúlteros, contra os mentirosos, contra todos os que enganam os seus empregados, que oprimem as viúvas e os órfãos, que desfraudam os estrangeiros e que não me temem”, diz o Senhor dos exércitos. “Eu sou o Senhor e não mudo! Por isso, é que vocês ainda não foram totalmente destruídos. Ainda que tenham feito troça das minhas leis, logo desde os primeiros tempos, mesmo assim, ainda podem voltar para mim, diz o Senhor dos exércitos. Venham e vos perdoarei! Mas vocês dizem: ‘Nós nunca te abandonámos!’ Roubará o homem a Deus? Mas vocês roubam-me! ‘Que quer isso dizer? Como é que te roubámos?’ Nos dízimos e nas ofertas que me devem. E assim a terrível maldição de Deus recai sobre vocês, porque toda a nação me tem roubado. Tragam todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja alimento suficiente no meu templo. Se assim fizerem, abrirei as janelas do céu e derramarei uma bênção tão abundante sobre vocês que nem sequer arranjarão espaço para a receber! Experimentem! Deixem que vos dê prova disso! As searas serão abundantes, porque as preservarei dos insetos e das pragas. As vinhas não secarão antes das vindimas, diz o Senhor dos exércitos. Todas as nações vos chamarão abençoados, porque a terra espalhará felicidade. Isto é o que vos promete o Senhor dos exércitos. A vossa atitude para comigo tem sido de altivez e arrogância, diz o Senhor. Mas vocês dizem: ‘Que queres dizer com isso? O que é que foi que dissemos contra ti?’ Prestem atenção! Vocês dizem assim: ‘É uma coisa inútil e sem sentido adorar a Deus e obedecer-lhe. Para que serve cumprir os seus mandamentos, lamentarmo-nos e arrependermo-nos diante do Senhor dos exércitos? Portanto, daqui em diante, diremos: Abençoados os soberbos! Porque os que praticam o mal prosperam e os que ousam enfrentar os castigos divinos, escapam.’ ” Então, os que temiam o Senhor falaram uns com os outros. E diante do Senhor foi escrito um memorial sobre os que o temem e centram nele o seu pensamento. “Serão meus, diz o Senhor dos exércitos! Nesse dia, serão como o meu tesouro particular. Poupá-los-ei como um homem poupa o seu filho obediente e fiel. Verão então a diferença que Deus faz entre os justos e os ímpios, entre os que o servem e os que não o servem.” “Atenção, diz o Senhor dos exércitos! O dia do juízo está a chegar, ardendo como uma fornalha. O soberbo e o malvado arderão como palha, consumidos como uma árvore em labaredas; raízes e tudo arderá. Mas para os que reverenciam o meu nome nascerá o Sol da justiça, que trará cura nos seus raios. Sairão, saltando como bezerros pastando, libertos do estábulo. Nesse dia que estou a preparar, pisarão os ímpios como cinzas debaixo dos pés, diz o Senhor dos exércitos. Lembrem-se de obedecer à Lei que dei a todo o Israel por intermédio de Moisés, o meu servo, no monte Horebe, com todos os seus preceitos e mandamentos. Mandarei-vos o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. A sua pregação fará com que os pais se reconciliem com os filhos e os filhos com os pais. E saberão que, se não se arrependerem, virei e a sua terra será completamente destruída pela maldição.” São estes os antepassados de Jesus Cristo, descendente do rei David e de Abraão. Os descendentes de Abraão foram sucessivamente Isaque, Jacob, Judá e os seus irmãos. Judá foi pai de Perez e de Zera. Tamar foi a mãe de ambos. Depois de Perez vieram Hezrom, Rão, Aminadabe, Nassom, Salmom, Boaz, cuja mãe foi Raabe, Obede, que teve por mãe Rute, Jessé e o rei David. Os descendentes de David foram Salomão, cuja mãe tinha sido mulher de Urias, Roboão, Abias, Asa, Jeosafá, Jorão, Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, Manassés, Amom, Josias, Jeconias e seus irmãos, que nasceram quando os judeus foram deportados para a Babilónia. Depois desse exílio, a linha de descendência continuou sucessivamente com Jeconias, Sealtiel, Zorobabel, Abiude, Eliaquim, Azor, Zadoque, Aquim, Eliude, Eleazar, Matã, Jacob e por fim José, marido de Maria, mãe de Jesus, chamado Cristo. São catorze gerações desde Abraão até ao rei David; catorze desde o tempo do rei David até ao exílio na Babilónia; e catorze do exílio até Cristo. Eis o que se passou antes do nascimento de Jesus Cristo. Maria, sua mãe, estava noiva de José mas, embora fosse virgem, ficou grávida pelo Espírito Santo. José, o seu noivo, homem justo, decidiu pôr termo à promessa de casamento, querendo porém fazê-lo de modo que ela não ficasse com má fama entre o povo. Estando ele a pensar no caso, teve um sonho em que viu um anjo de pé, ao seu lado, que lhe dizia: “José, filho de David, não tenhas medo de aceitar Maria como tua mulher! A criança que ela traz no ventre foi gerada pelo Espírito Santo. Ela terá um filho a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” Assim se cumpriu a mensagem de Deus através dos seus profetas: “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e pôr-lhe-ão o nome de Emanuel.” Emanuel quer dizer: Deus está connosco. Quando acordou, José fez o que o anjo lhe mandara e levou Maria para casa como sua mulher. Mas ela continuou virgem até nascer o seu filho. José pôs-lhe o nome de Jesus. Jesus nasceu na cidade de Belém na Judeia, durante o reinado de Herodes. Por aquela altura, chegaram a Jerusalém, vindos de terras do Oriente, uns homens sábios que inquiriram: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Pois vimos a sua estrela lá no Oriente e viemos para o adorar.” O rei Herodes ficou muito preocupado ao ouvir isto e toda a cidade de Jerusalém também. Então o rei mandou reunir os principais sacerdotes judaicos e os especialistas na Lei e perguntou-lhes onde haveria de nascer o Cristo. “Em Belém”, responderam-lhe, “pois o profeta Miqueias escreveu o seguinte: ‘Tu, Belém, na terra de Judá, não és de forma alguma a menor entre as localidades principais de Judá; porque sairá de ti um governador para conduzir o meu povo de Israel.’ ” Então Herodes enviou um recado secreto àqueles sábios do Oriente, pedindo que lhe fossem falar; e soube pela boca deles a altura exata em que tinham visto a estrela pela primeira vez. “Vão a Belém e procurem cuidadosamente esse menino. Quando o encontrarem, venham dizer-me, para que também possa ir adorá-lo!” Terminado o encontro, os sábios retomaram o caminho. A estrela que tinham visto no oriente ia adiante deles, parando sobre o lugar em que estava o menino. Ao tornar a ver a estrela, a alegria deles foi grande. Entrando na casa onde estavam o bebé e Maria, sua mãe, inclinaram-se diante dele em adoração e seguidamente ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra. Contudo, quando regressaram à sua terra, não passaram por Jerusalém para informar Herodes, visto que Deus os avisara, por meio de um sonho, de que deveriam voltar por outro caminho. Depois de terem partido, um anjo do Senhor avisou José em sonhos: “Levanta-te e foge para o Egito com o menino e sua mãe, e fica por lá até eu te dizer que voltes, pois o rei Herodes vai procurar matá-lo.” Naquela mesma noite José partiu para o Egito com Maria e o menino, e ficou lá até à morte do rei Herodes, cumprindo-se assim as palavras do profeta: “Do Egito chamei o meu filho.” Herodes ficou furioso ao saber que os sábios o tinham enganado. Mandou então soldados a Belém com ordem para matar todas as crianças até aos dois anos de idade, tanto na cidade como nos arredores, visto terem passado dois anos desde que os sábios tinham dito que a estrela lhes aparecera pela primeira vez. Este ato deu cumprimento à profecia de Jeremias: “Ouve-se em Ramá um clamor, amargas lamentações e um pranto imenso; é Raquel chorando pelos seus filhos; e está absolutamente inconsolável, porque foram-se definitivamente.” Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu de novo em sonhos a José, no Egito: “Levanta-te e leva outra vez a criança e a sua mãe para Israel, pois já morreram aqueles que procuravam a morte do menino.” José voltou então para Israel com Jesus e a mãe. Já a caminho, assustou-se ao saber que o novo rei era Arquelau, filho de Herodes. Contudo, num outro sonho, foi avisado de que não se dirigisse para a Judeia, mas seguisse antes para a Galileia. Ficou a morar em Nazaré e cumpriu-se, assim, a predição dos profetas acerca do Cristo: “Chamar-se-á nazareno.” Por esses dias, apareceu João Batista a pregar no deserto da Judeia: “Arrependam-se! O reino dos céus está próximo!” Já o profeta Isaías tinha anunciado este trabalho de João: “A voz gritando no deserto: ‘Façam um caminho para o Senhor. Façam-lhe um caminho direito.’ ” A roupa dele era feita de pelo de camelo tecido, usava um cinto de cabedal e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Gente de Jerusalém e de todo o vale do Jordão, e até de todas as partes da Judeia, iam ao deserto para o ver e ouvir. Confessavam os seus pecados e João batizava-os no rio Jordão. Ao ver muitos fariseus e saduceus que queriam também ser batizados, dizia-lhes: “Raça de víboras! Quem vos avisou para fugir do julgamento de Deus que há de vir? Têm de provar que abandonaram o pecado, praticando obras que mostrem arrependimento. E não pensem que estão em segurança por descenderem de Abraão; isso não basta. Pois digo-vos que até destas pedras do deserto Deus pode fazer nascer filhos de Abraão! O machado do seu julgamento está suspenso sobre as vossas vidas, prestes a cortar as raízes e a derrubar-vos. Sim, toda a árvore que não dá bom fruto será abatida e lançada no fogo. Eu batizo com água quem se arrepende; mas vem aí outro, muito maior do que eu, tão grande que nem sou digno de lhe levar as sandálias. Ele vai batizar-vos com o Espírito Santo e com fogo. Na sua mão tem a pá e limpará a eira. Arrecadará o grão no celeiro; mas queimará a palha com fogo que jamais se apaga.” Jesus veio da Galileia e foi até ao rio Jordão, para que João aí o batizasse. Contudo, João não queria fazê-lo: “Não está certo. Eu é que preciso de ser batizado por ti.” “Aceita teres de me batizar, porque convém que eu faça tudo o que a justiça de Deus manda.” Então, João batizou-o. Depois do seu batismo, logo que Jesus saiu da água, os céus abriram-se e viu o Espírito de Deus descendo sob a forma de uma pomba. E uma voz do céu disse: “Este é o meu Filho amado, em quem tenho grande prazer.” Depois disto, Jesus foi levado pelo Espírito Santo ao deserto para ser tentado pelo Diabo. Durante quarenta dias e quarenta noites nada comeu; por fim, sentiu fome. Então o Tentador instigou-o a arranjar alimento, dizendo: “Se és o Filho de Deus, manda a estas pedras que se transformem em pão.” Mas Jesus respondeu: “Não! Porque as Escrituras dizem: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.’ ” Depois o Diabo levou-o à cidade santa, ao telhado do templo: “Se és o Filho de Deus, salta! Pois, segundo as Escrituras: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito. Eles te susterão com as suas mãos, para que não tropeces nas pedras do caminho.’ ” Jesus retorquiu-lhe: “Mas as Escrituras também dizem: ‘Não deves provocar o Senhor, teu Deus.’ ” Por fim, o Diabo levou-o a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória: “Tudo isto te darei se te ajoelhares e me adorares.” “Vai-te, Satanás! As Escrituras dizem: ‘Adorarás o Senhor, teu Deus. Só a ele servirás.’ ” Então o Diabo foi-se embora e os anjos vieram e serviam-no. Quando Jesus soube que João tinha sido preso, saiu da Judeia e voltou para casa, em Nazaré na Galileia. Porém, cedo deixou Nazaré e mudou-se para Cafarnaum, junto ao mar da Galileia, perto de Zebulão e Naftali. Assim, cumpriu-se a profecia de Isaías: “A terra de Zebulão e de Naftali, uma estrada para o mar, além do Jordão, na Galileia onde vivem tantos gentios, o povo que anda nas trevas viu uma grande luz, uma luz que brilhou sobre todos os que vivem na terra da sombra da morte.” Dali em diante, Jesus começou a pregar: “Deixem os vossos pecados e voltem-se para Deus, pois o reino dos céus está próximo.” Certo dia, caminhando ao longo da costa do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos; Simão, também chamado Pedro, e André, que num barco pescavam com uma rede, pois eram pescadores por ofício. Então chamou-os: “Venham e sigam-me. Farei de vocês pescadores de pessoas!” No mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no. Avançando dali, viu na praia outros dois irmãos, Tiago e João, num barco a remendar as redes, na companhia de Zebedeu seu pai. Também chamou estes para o seguirem. Logo pararam o trabalho e, deixando o pai, foram com Jesus. Jesus andava por toda a Galileia ensinando nas sinagogas e pregando as boas novas do reino dos céus. E curava toda a casta de doenças e enfermidades entre o povo. A fama dos seus milagres espalhou-se para lá dos limites da Galileia, de tal modo que em breve começaram a aparecer muitos enfermos em busca de cura, vindo mesmo de regiões tão distantes como a Síria. Qualquer que fosse a doença ou mal, mesmo os possessos dos demónios, os loucos e os paralíticos, a todos curava. Multidões enormes seguiam-no, vindas da Galileia, das Dez Cidades, de Jerusalém e da Judeia, e até do outro lado do Jordão. Um dia, enquanto as multidões se reuniam, Jesus subiu a encosta do monte com os discípulos, sentou-se e começou a ensinar-lhes estas coisas: “Felizes os que no seu espírito são como pobres, porque é deles o reino dos céus! Felizes os que se lamentam, porque serão consolados! Felizes os mansos, porque herdarão a Terra! Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos! Felizes os misericordiosos, porque receberão misericórdia! Felizes aqueles cujo coração é puro, porque verão a Deus! Felizes aqueles que se esforçam pela paz, porque serão chamados filhos de Deus! Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque é deles o reino dos céus! Felizes serão quando forem insultados, perseguidos e quando proferirem todo o mal a vosso respeito, com mentira, por serem meus discípulos! Alegrem-se com isso! Sim, regozijem-se, porque vos espera lá no céu uma enorme recompensa! Lembrem-se que também os profetas de antigamente foram assim perseguidos. Vocês são o sal da Terra. Se o sal perder o seu sabor como o recuperará? Será lançado fora e espezinhado como coisa sem valor. Vocês são a luz do mundo. Toda a gente vê uma cidade construída no topo dum monte. Não se acende uma lâmpada para ser colocada debaixo duma caixa, mas num candeeiro, para dar luz a todos quantos estão na casa. Deste modo, não ocultem a vossa luz; deixem que ela brilhe diante de todos. Que as vossas boas obras brilhem também para serem vistas por todos, de tal maneira que glorifiquem o vosso Pai celestial. Não julguem erradamente a razão da minha vinda. Não vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os avisos dos profetas. Vim antes para os cumprir. É realmente como vos digo: nenhuma letra ou acento das Escrituras desaparecerá, enquanto o céu e a Terra durarem. Portanto, quem quebrar um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar outros a fazer o mesmo, esse será indigno do reino dos céus. Mas quem obedecer à Lei e a ensinar será grande no reino dos céus. É como vos digo: a não ser que a vossa justiça ultrapasse a dos especialistas na Lei e dos fariseus, não poderão entrar no reino dos céus! Ouviram que foi dito aos antigos: ‘Não mates; quem matar será sujeito a julgamento.’ Mas é realmente como vos digo: basta o sentimento de ira contra alguém para se cair sob julgamento! Se chamarem estúpido a um amigo, correm o risco de serem levados ao conselho judaico para serem julgados. E se o amaldiçoarem, arriscam-se às chamas do inferno. Portanto, se estiveres diante do altar do templo, a oferecer um sacrifício a Deus, e te lembrares de que uma pessoa tem qualquer razão de queixa contra ti, deixa o teu sacrifício sobre o altar, vai e pede-lhe perdão e faz as pazes com ela; depois volta e oferece o teu sacrifício a Deus. Chega depressa a acordo com o teu adversário, antes que seja tarde e te arraste para um tribunal e sejas lançado na cadeia como devedor. É realmente como te digo: ali ficarás até pagares a última moeda. Ouviram o que foi dito: ‘Não adulteres.’ Eu, porém, digo: quem olhar para uma mulher com cobiça, já cometeu adultério com ela no seu coração. Portanto, se o teu olho direito te leva à cobiça, tira-o e arremessa-o para longe de ti! Melhor é que seja destruída uma parte do teu corpo do que seres lançado todo inteiro no inferno. E se a tua mão, mesmo que seja a direita, te fizer pecar, corta-a e arremessa-a para longe de ti! Mais vale ficares privado de parte do teu corpo do que ires parar inteiro ao inferno. Também foi dito: ‘Se um homem quiser livrar-se da sua mulher dar-lhe-á uma declaração de divórcio.’ Mas eu digo que quem se divorciar da sua mulher, salvo em caso de imoralidade sexual, faz com que ela cometa adultério. E quem com ela casar comete adultério também. Ouviram ainda que foi dito aos antigos: ‘Não faltes aos teus juramentos, antes cumprirás perante o Senhor o que juraste.’ Eu, porém, digo: não façam juramentos de espécie alguma. Mesmo dizer, ‘Pelo céu!’ é já um voto sagrado feito a Deus, porque os céus são a sua habitação. E se disserem, ‘Pela Terra!’, também isso é um voto sagrado, porque a Terra é o estrado dos seus pés. E não jurem, ‘Por Jerusalém!’ porque Jerusalém é a capital do grande Rei. Não jurem nem mesmo pela vossa cabeça, porque não podem fazer com que um cabelo fique branco ou preto. Digam simplesmente: ‘Sim!’ ou ‘Não!’ O que passa daí vem do Maligno. Ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho, dente por dente.’ Eu, porém, digo: não oponham violência com violência. Se te derem uma bofetada numa das faces, oferece também a outra! Se fores levado a tribunal e te tirarem a camisa, dá-lhes também o casaco. Se um soldado te obrigar a carregar a mochila um quilómetro, leva-a dois quilómetros. Dá a quem te pedir e não fujas de quem te quiser pedir emprestado. Ouviram o que foi dito: ‘Ama o teu próximo, despreza o teu inimigo.’ Eu, porém, digo: Amem os vossos inimigos. Bendigam os que vos maldizem. Façam o bem aos que vos odeiam. Orem por quem vos persegue! Assim procederão como verdadeiros filhos do vosso Pai que está no céu, porque faz brilhar o Sol tanto sobre os maus como sobre os bons e manda a chuva cair tanto sobre justos como injustos. Se amarem só quem vos ama, de que vale isso? Até os cobradores de impostos o fazem. Se forem amigos só dos vossos amigos, em que serão diferentes de qualquer outro? Até os gentios o fazem. Vocês, porém, devem ser perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” “Cuidado, não pratiquem as boas obras com ostentação, só para serem admirados, porque se o fizerem, perderão a recompensa que o vosso Pai que está nos céus vos dá. Quando derem alguma coisa a um pobre, nada de alarde, como fazem os fingidos, tocando trombeta nas sinagogas e nas ruas para serem glorificados pelos homens. É realmente como vos digo: esses já receberam toda a recompensa que poderiam ter. Quando fizerem um favor a alguém, façam-no em segredo, sem dizerem à mão esquerda o que faz a direita. Vosso Pai que conhece todos os segredos vos recompensará. Quando orarem, não devem ser como os fingidos que se mostram piedosos, orando publicamente nas esquinas das ruas e nas sinagogas, onde toda a gente os pode observar. É realmente como vos digo: já receberam a sua recompensa. Quando orares, fecha-te em casa e ora secretamente ao teu Pai, e ele que conhece os teus segredos te dará o galardão. Não estejam sempre a recitar a mesma oração como fazem os gentios, julgando que as orações são mais atendidas pela sua repetição constante. Lembrem-se que o vosso Pai bem sabe aquilo de que necessitam ainda antes de lho pedirem! Devem orar assim: ‘Nosso Pai que estás nos céus, que o teu santo nome seja honrado. Venha o teu reino. Que a tua vontade seja feita aqui na Terra, tal como é feita no céu. Dá-nos o pão para o nosso alimento de hoje. Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como perdoamos os que nos ofendem. E não deixes que caiamos em tentação, mas livra-nos do Maligno.’ Pois se perdoarem aos homens as suas transgressões, o vosso Pai celestial também vos perdoará as vossas; mas, se não as perdoarem aos homens, ele não vos perdoará as vossas. Quando jejuarem, não o façam publicamente como os fingidos que procuram parecer abatidos para despertar admiração. É realmente como vos digo: é a única recompensa que receberão. Mas, quando jejuarem, unjam a cabeça e lavem o rosto, de modo que ninguém desconfie que não ingeriram alimentos, sabendo-o apenas o vosso Pai que conhece todos os segredos. Ele vos recompensará. Não arrecadem os vossos lucros aqui na Terra, onde a traça e a ferrugem os consomem e os ladrões minam e roubam. Antes, arrecadem-nos no céu, onde a traça e a ferrugem não os destroem e os ladrões não os minam nem roubam. Pois onde estiver o vosso tesouro ali estará também o vosso coração. Os olhos são a luz do teu corpo. Se forem puros, o teu corpo terá luz. Mas se o teu olhar for mau, viverás em trevas. E como essas trevas podem ser profundas! Ninguém pode servir dois patrões: Deus e o dinheiro. Porque, ao desprezar um, acaba por preferir o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro. Portanto, aconselho-vos que não se preocupem com o ter ou não comida suficiente e roupa para vestir. Não é a vida muito mais do que o comer ou o vestir? Olhem os passarinhos: não se preocupam com o alimento, não precisam de semear, nem de colher ou de armazenar comida, pois o vosso Pai celestial é quem os sustenta. E, para ele, vocês têm muito mais valor do que os passarinhos. As vossas preocupações poderão porventura acrescentar um só momento ao tempo da vossa vida? E para quê preocuparem-se com o vestuário? Olhem os lírios do campo que não têm cuidados com isso! Contudo, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu tão bem como eles. E se Deus veste a erva do campo, que hoje é viçosa e amanhã é lançada no fogo, não acham que vos dará também o necessário, almas com tão pouca fé? Portanto, não se preocupem com a comida e a roupa para vestir. Os gentios é que se afadigam com estas coisas, mas o vosso Pai celestial sabe perfeitamente que precisam de tudo isso. Deem pois prioridade ao reino de Deus e à sua justiça e ele dar-vos-á todas estas coisas. Não se preocupem com o dia de amanhã. O dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal! Não julguem e não serão julgados. Porque a maneira como julgarem e a medida que usarem para medir será usada também para vos medir. E porque te hás de preocupar com uma palha no olho do vizinho, quando tens uma tábua no teu próprio olho? Como poderias dizer: ‘Irmão, deixa-me ajudar-te a tirar essa palha do teu olho’ quando, afinal, tu mesmo tens uma trave no teu? Isso é hipocrisia! Liberta-te primeiro do que tens na vista e então poderás ver para ajudar o teu irmão. Não deem aos cães as coisas santas; eles podem virar-se contra vocês. Não deitem pérolas a porcos, porque as desprezarão, pisando-as. Peçam e receberão o que pedirem. Procurem que hão de achar. Batam que a porta há de abrir-se. Porque todo aquele que pede recebe. Quem procura acha. Se baterem, a porta abrir-se-á. Quem de entre vocês, se o seu filho lhe pedir um pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir peixe, lhe dará uma serpente? Se vocês, que são pecadores, sabem dar coisas boas aos vossos filhos, porventura não dará muito mais o vosso Pai, que está nos céus, coisas boas a quem lhas pedir? Façam aos outros o que querem que vos façam. É isto que ensinam a Lei e os profetas. Só pela porta estreita se pode entrar no céu. A via para o inferno é larga e a sua porta é suficientemente ampla para as multidões que escolherem esse caminho fácil. Mas a porta da vida é pequena, o seu caminho é estreito e poucos o encontram. Cuidado com os falsos profetas que se disfarçam de ovelhas mansas, mas que afinal são lobos que querem devorar-vos. Vocês reconhecê-los-ão pelos frutos que eles dão. Será que se colhem uvas dos espinheiros, ou figos dos cardos? Assim, toda a árvore boa dá frutos de boa qualidade, e toda a árvore de má qualidade dá frutos maus. Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore de má qualidade pode dar frutos de boa qualidade! Toda a árvore que não dá bons frutos acaba por ser cortada e lançada no fogo. Sim, é pelos frutos que eles dão que vocês reconhecerão esses falsos profetas. Nem todos os que me chamam ‘Senhor! Senhor!’ entrarão no reino dos céus. Porque o que importa é saber se obedecem ao meu Pai que está nos céus. No dia do juízo muitos me dirão: ‘Senhor! Senhor! Profetizámos em teu nome e servimo-nos do teu nome para expulsar demónios e para operar muitos outros milagres.’ Mas eu responderei: ‘Nunca vos conheci. Afastem-se da minha presença, pois praticam transgressões.’ Todos os que escutam as minhas palavras e as seguem são sábios, como o homem que constrói a sua casa sobre uma rocha sólida. Pode a chuva cair em bátegas, podem vir enchentes, ventos tempestuosos embater na casa que ela não desabará, porque se encontra edificada sobre a rocha. Mas quem ouve as minhas palavras e as despreza é tão insensato como aquele que constrói a sua casa sobre a areia. Pois quando vierem as chuvas e as enchentes, quando a ventania se abater sobre a sua casa, esta desabará inteiramente.” Quando Jesus acabou de dizer estas coisas, as multidões estavam admiradas com o seu ensino, pois falava com autoridade, ao contrário dos especialistas na Lei. Enquanto Jesus descia o monte, seguiam-no grandes multidões. Nisto um leproso chegou-se em adoração, rogando-lhe: “Senhor, se quiseres, podes curar-me!” Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe e disse: “Sim, quero, sê curado!” E ficou imediatamente curado da lepra. Jesus disse-lhe: “Presta atenção: não fales com ninguém e vai apresentar-te ao sacerdote. Leva contigo a oferta que Moisés estabeleceu, para que lhes sirva de testemunho.” Quando Jesus chegou a Cafarnaum, aproximou-se um oficial romano, suplicando-lhe: “Senhor, o meu servo está de cama, paralítico e cheio de dores.” Jesus respondeu-lhe: “Está bem, irei curá-lo.” O oficial retorquiu: “Senhor, não mereço que entres na minha casa! Se somente disseres: ‘Fica curado’, o meu servo ficará bom! Eu sei, porque também recebo ordens dos meus superiores e mando nos meus soldados. Digo a este: ‘Vai’ e ele vai. E àquele: ‘Vem’ e ele vem. E ao meu servo: ‘Faz isto ou aquilo’ e ele faz.” Ao ouvir estas palavras, Jesus ficou tão impressionado que disse para os que o seguiam: “É realmente como vos digo: ainda não encontrei ninguém na terra de Israel com uma fé assim! E digo-vos que muitos virão do Este e do Oeste e sentar-se-ão no reino dos céus com Abraão, Isaque e Jacob; enquanto aqueles para quem o reino foi preparado serão lançados na escuridão exterior, onde haverá choro e ranger de dentes.” E voltando-se para o oficial romano: “Vai para casa. Aquilo em que tinhas fé já se realizou!” O servo ficou curado naquele momento. Quando Jesus chegou a casa de Pedro, encontraram a sogra deste de cama e com febre. Ao tocar-lhe na mão, a febre desapareceu. Então ela levantou-se e foi servi-lo. Ao cair da tarde, trouxeram a Jesus várias pessoas possuídas por demónios. Com uma só palavra expulsou os espíritos e curou todos os que sofriam. Assim se cumpriu a profecia de Isaías: “Ele levou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças.” Ao reparar que se reunia uma multidão à sua volta, Jesus mandou os discípulos atravessarem para a outra margem do lago. Chegou-se ao pé dele um especialista na Lei que lhe disse: “Mestre, seguir-te-ei aonde quer que fores.” Mas Jesus respondeu: “As raposas têm tocas e as aves têm ninhos; eu, porém, o Filho do Homem, não possuo lar próprio nem sítio onde repousar a cabeça.” Outro dos seus discípulos disse-lhe: “Senhor, deixa-me primeiro enterrar o meu pai.” Jesus respondeu-lhe: “Segue-me agora! Os mortos de espírito que cuidem dos seus mortos.” Depois entrou no barco e começou a atravessar o lago com os discípulos. De repente, levantou-se uma tempestade tão grande no mar que as ondas cobriam o barco. Mas Jesus dormia. Os discípulos foram acordá-lo, gritando: “Senhor, salva-nos, que estamos quase a morrer!” Ele disse-lhes: “Homens de pouca fé, porque estavam com medo?” E levantando-se repreendeu o vento e o mar e fez-se uma grande calma. Os discípulos ficaram admirados e perguntavam: “Que homem é este, a quem os próprios ventos e o mar obedecem?” Chegados ao outro lado do lago, à região dos Gadarenos, dois homens possuídos por demónios foram ao seu encontro. Viviam num cemitério e eram tão perigosos que ninguém era capaz de passar por ali. Começaram a gritar: “Que queres tu de nós, Filho de Deus? Não tens direito de nos atormentar ainda.” A certa distância, andava uma vara de porcos a pastar e os demónios rogaram-lhe: “Se nos vais expulsar, manda-nos para aquela vara de porcos.” “Está bem, vão!” Eles saíram daqueles homens e entraram nos porcos. Logo a vara inteira se precipitou, caindo no mar por um despenhadeiro e morrendo nas águas. Os porqueiros fugiram para a cidade, espalhando as notícias e o que tinha acontecido aos endemoninhados; toda a cidade se dirigiu ao encontro de Jesus, chegando até a pedir-lhe que se fosse embora da região. Depois, Jesus meteu-se num barco e atravessou o lago para Cafarnaum que era a sua cidade. Logo alguns homens lhe trouxeram, numa esteira, um paralítico. Quando Jesus viu a fé de que davam provas, disse ao doente: “Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados!” Alguns dos especialistas na Lei que ali estavam diziam no seu íntimo: “Ele está a blasfemar!” Jesus soube o que eles pensavam: “Porque são tão ruins os vossos pensamentos? O que é mais fácil dizer: ‘os teus pecados são perdoados’ ou ‘levanta-te e anda?’ Portanto, vou provar-vos que o Filho do Homem tem autoridade para perdoar os pecados.” E voltando-se para o paralítico disse-lhe: “Levanta-te, enrola a tua esteira e vai para casa!” O homem pôs-se em pé e foi para casa. Ao ver isto acontecer, um clamor de espanto percorreu a multidão que glorificava Deus por ter dado tal autoridade aos homens. Ia Jesus a passar quando viu um cobrador de impostos chamado Mateus, sentado num balcão de cobrança: “Vem comigo e sê meu discípulo!” Mateus levantou-se e seguiu-o. Mais tarde, estava Jesus a comer em casa dele, veio também sentar-se à mesa com ele e os seus discípulos um bom número de cobradores de impostos e outros pecadores. Os fariseus, ao verem aquilo, perguntaram aos discípulos: “Porque come o vosso mestre com cobradores de impostos e outros pecadores?” Ao ouvi-los, Jesus respondeu: “Quem precisa de médico são os doentes, não os que têm saúde! Têm de aprender o que significam estas palavras: ‘Mais do que os vossos sacrifícios, quero a vossa misericórdia.’ Não vim chamar os justos, mas os pecadores.” Um dia, os discípulos de João Batista foram ter com Jesus: “Por que razão é que os teus discípulos não jejuam como nós fazemos e como fazem também os fariseus?” Jesus respondeu: “Podem os convidados do noivo ficar tristes enquanto o noivo ainda está com eles? Lá virá o tempo em que lhes será tirado. Então, sim, jejuarão. É como remendar roupa velha com um pedaço de pano que ainda não encolheu. O remendo repuxa o tecido e o buraco fica pior do que antes. Sabem que não convém pôr vinho novo em odres velhos, se não estes rebentam. O vinho espalha-se e os odres ficam estragados. Para vinho novo, odres novos. Assim ambos se conservam.” Enquanto falava deste modo, um dos líderes da sinagoga local aproximou-se e adorou-o: “A minha filha acaba de morrer, mas se vieres impor-lhe as mãos, ela ficará viva!” Jesus levantou-se e acompanhou-o, e com ele os seus discípulos. Uma mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia contínua, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe na borda do manto, pois dizia consigo própria: “Se ao menos eu lhe tocar no manto, ficarei curada.” Jesus voltou-se e disse à mulher: “Filha, está tudo bem; a tua fé te curou!” E a mulher ficou boa a partir daquele momento. Quando chegou a casa do líder da sinagoga, viu a multidão agitada e ouviu a música fúnebre, ordenou: “Saiam todos lá para fora, porque a menina não está morta; apenas dorme!” Mas riram-se dele. Quando toda aquela gente saiu, Jesus entrou no aposento onde a menina estava deitada, pegou-lhe na mão e ela levantou-se. A notícia deste milagre correu toda a região. Ia Jesus a sair da casa da menina, quando dois cegos se puseram a segui-lo, clamando: “Filho de David, tem misericórdia de nós!” E entraram mesmo na casa onde ele ficava, até que Jesus lhes perguntou: “Creem que vos posso dar de novo a vista?” E responderam: “Sim, Senhor, cremos.” Então, pousando a mão sobre os seus olhos, Jesus disse: “Assim será, pela fé de que deram provas!” E no mesmo instante os olhos deles se abriram. Jesus, no entanto, recomendou-lhes rigorosamente: “Olhem, não contem nada a ninguém.” Mas eles espalharam a sua fama por toda a região. Deixando aquele lugar, trouxeram a Jesus um homem mudo possuído de um demónio. Tendo Jesus expulsado o demónio, o mudo recuperou a fala e as multidões ficaram maravilhadas: “Nunca se viu uma coisa assim em Israel!” Mas os fariseus diziam: “É pelo líder dos demónios que ele expulsa os demónios.” Jesus andava por todas as cidades e aldeias da região, ensinando nas sinagogas e pregando as boas novas do reino. E curava toda a casta de doenças e enfermidades. Ao ver as multidões, sentiu grande compaixão, pois não sabiam o que fazer nem onde procurar auxílio. Eram como ovelhas sem pastor. Então disse aos seus discípulos: “A seara é vasta e os trabalhadores são poucos. Roguem ao Senhor da seara que envie trabalhadores para ela.” Chamando os doze discípulos, deu-lhes autoridade para expulsar os espíritos impuros e curar toda a espécie de doenças e enfermidades. Estes são os nomes dos doze apóstolos: Simão, também chamado Pedro; André, irmão de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu; João, irmão de Tiago; Filipe; Bartolomeu; Tomé; Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o zelote e Judas Iscariotes que viria a traí-lo. Jesus enviou os doze com as seguintes instruções: “Não vão aos gentios nem aos samaritanos, mas só às ovelhas perdidas de Israel. Vão e anunciem-lhes que o reino dos céus está próximo. Curem os doentes, deem vida aos mortos, sarem os leprosos e expulsem os demónios. Deem gratuitamente, tal como gratuitamente receberam! Não prendam a bolsa à cintura com ouro prata ou cobre, nem saco de viagem com uma muda de roupa e calçado, nem sequer um bordão. Porque digno é o trabalhador do seu sustento. Na cidade ou aldeia em que entrarem, procurem uma pessoa digna e fiquem na sua casa até à vossa partida. Ao entrarem na casa, saúdem os presentes. Se de facto for uma casa digna da vossa saudação, deixem-lhe a vossa paz; se não for digna, que a vossa paz volte para vocês. Se uma qualquer cidade ou casa não vos receber, quando saírem, sacudam até o pó que se pegou aos vossos pés. É realmente como vos digo: as cidades ímpias de Sodoma e Gomorra estarão em melhor situação no dia do juízo do que essa cidade! Agora envio-vos como ovelhas para o meio de lobos. Sejam cautelosos como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens. Levar-vos-ão aos tribunais e açoitar-vos-ão nas suas sinagogas. Conduzir-vos-ão diante de governadores e reis, por minha causa, para darem testemunho a eles e aos gentios. Quando vos entregarem, não se preocupem com o que vão dizer, porque vos serão inspiradas as palavras a dizer naquele momento. Pois não serão vocês quem falará, mas o Espírito do vosso Pai celestial, falará pela vossa boca! Um irmão entregará outro irmão à morte e os pais aos próprios filhos. Os filhos levantar-se-ão contra os pais e os farão morrer. Todos vos odiarão por causa do meu nome, mas quem resistir até ao fim será salvo! Quando forem perseguidos numa cidade, fujam para a seguinte. É realmente como vos digo: voltarei antes de terem passado por todas as cidades de Israel. O discípulo não é mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo como o seu senhor! E se a mim, que sou dono da casa, me chamam Belzebu quanto mais não o farão a vocês! Não tenham medo de quem vos ameaça, pois nada há escondido que não venha a revelar-se, nem há nada oculto que não venha a ser conhecido. O que agora vos digo nas trevas gritem-no à luz e o que vos for dito ao ouvido proclamem-no pelos telhados! Não temam os que podem matar-vos o corpo, sem poderem matar-vos a alma! Temam antes Deus, que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo. Não se vendem dois pardais por uma moedinha? E nem um só deles cairá no chão sem que o vosso Pai o saiba. Os próprios cabelos da vossa cabeça estão contados. Portanto, não se preocupem! Para ele, vocês valem mais do que muitos pardais juntos. Quem me reconhecer diante dos homens, também eu o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus. Mas quem me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus. Não julguem que vim trazer paz à Terra! Pelo contrário, vim trazer conflitos. De facto, vim para lançar o homem contra o seu pai, a filha contra a mãe, a nora contra a sogra. Os piores inimigos de um homem estarão justamente dentro da sua própria casa! Quem amar mais pai e mãe do que a mim não merece ser meu; quem amar o filho ou filha mais do que a mim não merece ser meu. Quem não levar a sua cruz para me seguir não merece ser meu. Quem encontrar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por minha causa encontrá-la-á. Quem vos receber é a mim que recebe. E quem me receber, recebe quem me enviou. Quem receber um profeta na qualidade de profeta receberá a recompensa devida a um profeta. Quem receber uma pessoa justa na qualidade de justa receberá a recompensa devida a uma tal pessoa. E quem der, nem que seja um copo de água a um dos mais pequenos dos meus discípulos, é realmente como vos digo, não deixará, de modo algum, de ter a sua recompensa.” Dadas estas instruções aos doze discípulos, Jesus saiu a ensinar nas suas cidades. João, que estava na prisão, ao ouvir falar daquilo que Cristo andava a realizar, mandou os seus discípulos perguntar-lhe: “És tu aquele que havia de vir ou devemos aguardar outro?” Jesus disse-lhes: “Voltem para João e contem-lhe o que estão a ouvir e a ver: ‘cegos veem e coxos andam, leprosos são curados, surdos voltam a ouvir, mortos regressam à vida e os pobres ouvem o evangelho. Feliz é aquele que não se escandaliza em mim.’ ” Depois dos discípulos de João terem partido, Jesus começou a falar à multidão acerca João: “O que foram ver no deserto? Um caniço ao sabor do vento? Mas então o que foram lá ver? Um homem vestido de roupas caras? Reparem: quem se veste de roupa cara é nos palácios reais que se encontra. Terá sido antes um profeta que foram encontrar? Sim, digo eu! E mais do que um profeta. É a João que as Escrituras se referem ao dizerem: ‘Envio o meu mensageiro diante de ti, para preparar o caminho à tua frente.’ É realmente como vos digo: de homens nascidos de um ventre materno, nenhum é maior do que João Batista. E, contudo, até o menor no reino dos céus é maior do que ele! Desde o tempo de João Batista até aos dias de hoje, o reino dos céus está debaixo de força e os fortes apoderam-se dele. Todos os profetas e a própria Lei profetizaram até que João apareceu. E se estão dispostos a compreender, dir-vos-ei que ele é o Elias, aquele cuja vinda foi anunciada. Quem tem ouvidos, ouça! Que posso dizer acerca das pessoas desta geração? Esta gente é como as crianças que se queixam aos seus amigos: ‘Brincámos aos casamentos e ninguém se quis alegrar; então brincámos aos funerais, e também ninguém quis ficar triste.’ Veio João, e lá porque não bebe vinho e jejua vocês dizem: ‘Tem demónio!’ Vim eu, o Filho do Homem, e porque aceito ir a uma festa e beber o vinho que me é oferecido, logo se queixam de que sou comilão e beberrão e de que sou amigo de cobradores de impostos e pecadores! Mas a sabedoria foi justificada pelas suas obras.” Então, começou a censurar as cidades onde tinha realizado a maior parte dos seus milagres por, apesar disso, não se terem voltado para Deus. “Ai de ti, Corazim, e ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que vos fiz tivessem sido realizados nas cidades de Tiro e Sídon, o seu povo ter-se-ia sentado, há muito, em profundo arrependimento, vestindo pano de saco e deitando cinzas sobre a cabeça em sinal de remorso. Contudo, eu vos digo: Tiro e Sídon estarão em melhor situação do que vocês no dia do juízo! E tu, povo de Cafarnaum, serás tu levantado até ao céu? Serás antes mergulhado no inferno! Porque, se os milagres espantosos que operei em ti tivessem tido lugar em Sodoma, ainda hoje ela aqui estaria. Contudo, eu vos digo: Sodoma estará em melhor situação do que tu no dia do juízo!” E Jesus orou assim: “Pai, Senhor do céu e da Terra, graças te dou por teres escondido estas coisas aos instruídos e aos sábios e as revelares às criancinhas. Sim, obrigado, Pai, pois foi assim que quiseste! O meu Pai deu-me autoridade sobre todas as coisas; e ninguém conhece verdadeiramente o Filho a não ser o Pai; e ninguém conhece verdadeiramente o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho tiver por bem revelá-lo. Venham a mim todos os que estão cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Levem o meu jugo e aprendam de mim, porque sou brando e humilde, e acharão descanso para as vossas almas; pois só vos imponho cargas suaves e leves.” Sucedeu por aquela altura que Jesus atravessava umas searas com os seus discípulos. Era sábado e, como os discípulos sentiam fome, começaram a arrancar espigas de trigo e a comer o grão. Mas os fariseus, ao vê-los fazer isso, protestaram: “Os teus discípulos estão a fazer o que não é permitido no dia de sábado!” Jesus disse-lhes: “Nunca leram o que o rei David fez quando ele e os companheiros estavam com fome, como entraram na casa de Deus, ele e os seus companheiros, e comeram os pães da Presença, que apenas aos sacerdotes era permitido comer? E nunca leram na Lei que os sacerdotes de serviço no templo podem trabalhar ao sábado, ficando isentos de culpa? Pois aqui está um que é maior do que o templo! Se soubessem o que quer dizer esta passagem das Escrituras: ‘Mais do que os vossos sacrifícios, quero a vossa misericórdia’, não teriam condenado quem não tem culpa. Porque eu, o Filho do Homem, sou o Senhor do próprio sábado.” Depois foi para a sinagoga. E viu ali um homem com uma das mãos aleijadas. Os fariseus perguntaram-lhe: “A Lei permite fazer curas no dia de sábado?” Fizeram-no para terem de que o acusar. A sua resposta foi: “Qual de vocês, se tivesse apenas uma ovelha e ela caísse numa vala num sábado não iria tratar de tirá-la de lá? Quanto mais não vale uma pessoa do que uma ovelha! Evidentemente que é justo fazer o bem num sábado.” E disse ao homem: “Estende o braço!” Ele assim fez e imediatamente a sua mão ficou completamente normal, tal como a outra. Os fariseus saíram, a fim de combinarem como haveriam de o matar. Jesus, sabendo o que tramavam, partiu dali, seguido por grandes multidões. Curou todos os doentes e advertiu-os que não revelassem quem ele era. Assim se cumpriu a profecia de Isaías a seu respeito: “Aqui está o meu Servo, a quem escolhi. Ele é o meu amado, em quem a minha alma tem prazer. Porei o meu Espírito sobre ele e proclamará a minha justiça às nações. Não discutirá nem gritará; nem se porá a discutir alto nas praças públicas. Não esmagará a cana trilhada, nem apagará o pavio que ainda fumega, até fazer triunfar a justiça. No seu nome as nações têm a sua esperança.” Então um cego e mudo, cativo de demónios, foi trazido a Jesus que o curou, de modo que o homem já falava e via. A multidão, cheia de espanto, exclamava: “Não será este o Filho de David, o Cristo?” Mas, quando os fariseus souberam do milagre, puseram-se a dizer: “Expulsa os demónios pelo poder de Belzebu, líder dos demónios.” Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu: “Todo o reino dividido fica deserto. E toda a cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Ora, se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si próprio. Então, como subsistirá o seu reino? E se expulso os demónios pelo poder de Belzebu, a que poder recorrem os vossos, quando fazem o mesmo? Por esta razão, eles serão os vossos juízes! Mas, se expulso os demónios pelo Espírito de Deus, então é porque o reino de Deus já está no vosso meio. Como pode alguém entrar na casa do homem forte e levar os seus bens, sem antes amarrá-lo? Só então poderá roubar-lhe a casa. Quem não é por mim é contra mim; quem não ajunta comigo, espalha. Portanto, digo-vos: todo o pecado ou blasfémia pode ser perdoado, exceto a blasfémia contra o Espírito Santo, a qual nunca será perdoada. Até o dizer mal do Filho do Homem pode ser perdoado, mas há um pecado: falar contra o Espírito Santo, que jamais terá perdão, seja neste mundo seja no futuro. Uma árvore de boa qualidade dá fruto de boa qualidade e uma árvore de má qualidade dá fruto de má qualidade. Com efeito, uma árvore conhece-se pela qualidade do fruto que dá. Raça de serpentes! Como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? O que está em abundância no coração vem à superfície no falar. Um homem bom produz coisas boas do seu bom tesouro interior; e um homem mau produz, do tesouro da sua maldade, coisas más. E garanto-vos: no dia do juízo hão de dar conta de cada palavra leviana que tiverem dito. Pelas tuas palavras serás justificado e também por elas serás condenado.” Então, alguns especialistas na Lei e fariseus foram pedir a Jesus: “Mestre, queremos ver um sinal.” Jesus respondeu-lhes: “Pede esta geração má e adúltera um sinal, mas não receberá nenhum, a não ser o do profeta Jonas! Pois assim como Jonas passou três dias e três noites dentro daquele grande peixe, assim também o Filho do Homem estará nas entranhas da Terra três dias e três noites. Também os homens de Nínive se levantarão para condenar esta geração, porque se arrependeram ao ouvir a pregação de Jonas. E agora está aqui alguém que é superior a Jonas. No dia do juízo, a rainha, de Sabá há de levantar-se e condenar esta geração, porque fez uma viagem longa e difícil para escutar a sabedoria de Salomão. Mas aqui está quem é superior a Salomão. Quando um espírito impuro é expulso de um homem vai para lugares áridos, procurando onde ficar; não encontrando lugar, diz: ‘Vou voltar para a morada que deixei.’ E descobre que a sua antiga morada está desocupada, varrida e arranjada. Então, o demónio vai buscar outros sete espíritos, ainda piores do que ele, e todos entram na tal pessoa para morar nela. E, deste modo, fica pior do que antes. Assim acontecerá a esta geração perversa.” Jesus estava a ensinar às multidões quando apareceram a sua mãe e irmãos à entrada da casa onde ele estava, procurando falar com ele. Alguém lhe disse: “A tua mãe e irmãos estão lá fora e querem falar contigo.” Jesus respondeu: “Quem é a minha mãe, e quem são os meus irmãos?” E, apontando para os seus discípulos, acrescentou: “Estes é que são a minha mãe e os meus irmãos! Todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Mais tarde, naquele mesmo dia, Jesus saiu de casa e desceu até ao mar. Logo se juntou uma multidão imensa, pelo que entrou num barco e se sentou nele, enquanto a multidão ficava na praia. E explicou-lhes muitas coisas por meio de parábolas como esta: “Certo homem foi semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em solo pedregoso e com pouca terra; como o solo não tinha profundidade cresceram logo. Mas quando o sol rompeu, murcharam; e como não ganharam raízes, acabaram por secar. Outras caíram entre espinhos que, em pouco tempo, sufocaram os rebentos. Outras, porém, caíram em bom solo e deram uma colheita de cem, sessenta ou trinta vezes mais. Quem tem ouvidos, ouça!” Os discípulos foram ter com ele e perguntaram-lhe: “Porque falas às pessoas por parábolas?” Ele respondeu-lhes: “É-vos concedido conhecer os mistérios do reino dos céus, mas não a eles. Quem tiver receberá e terá em abundância; mas, a quem não tem, até o que tiver lhe será tirado. Por isso, lhes falo por parábolas, porque veem, mas ficam sem ver, ouvem e ficam sem ouvir nem entender. Assim se cumpre a profecia de Isaías: ‘Ainda que ouçam com os vossos ouvidos, não entenderão. Ainda que vejam e vejam, não perceberão. Que o coração deste povo se embruteça, e se lhes fechem os ouvidos e os olhos. Não estou empenhado em que os seus olhos vejam, os seus ouvidos ouçam e os seus corações compreendam, nem em que se arrependam, para que os cure.’ Felizes são os vossos olhos por verem, e os vossos ouvidos por ouvirem! É realmente como vos digo: muitos profetas e muitos justos desejaram ver o que vocês veem e não o viram; ouvir o que vocês ouvem e não o ouviram! Prestem atenção à parábola do homem que andava a semear. A todo aquele que ouve a palavra do reino e não a percebe, vem o Maligno e arranca a semente que tinha sido semeada no seu coração. Esta é a semente que cai à beira do caminho. A semeada em solo pedregoso é o que ouve a palavra e a recebe com alegria. Todavia, não deita raízes, antes dura pouco; aparecem dificuldades ou perseguições por causa da palavra, e logo essa pessoa se escandaliza. A semeada entre os espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações desta vida e a ambição da riqueza abafam a palavra, pelo que fica sem fruto. A semente plantada em bom solo é aquele que ouve a palavra e a entende e produz fruto: cem, sessenta ou trinta vezes mais.” Jesus contou outra parábola: “O reino dos céus é como um lavrador que semeou boa semente no seu campo. Mas uma noite, enquanto os servos dormiam, veio o seu inimigo que semeou joio entre o trigo. Quando a seara começou a crescer, o joio cresceu também. Os servos daquele lavrador vieram dizer-lhe: ‘Senhor, aquela semente não era de boa qualidade? Como é que o campo está cheio de joio?’ ‘Foi obra de algum inimigo’, explicou ele. ‘Queres que arranquemos o joio?’, perguntaram os servos. ‘Não. Se fizerem isso, arrancam também o trigo. Deixem ambos crescer juntos até à colheita e direi aos ceifeiros que tirem primeiro o joio e o queimem, mas guardem o trigo no celeiro.’ ” Ainda outra parábola: “O reino dos céus é como uma semente de mostarda que um homem planta no seu campo; embora seja a menor de todas as sementes, ao crescer é a maior das plantas e transforma-se num arbusto em cujos ramos as aves do céu vêm fazer os seus ninhos.” Jesus contou também esta parábola: “O reino dos céus pode ser comparado ao fermento que uma mulher misturou em três medidas de farinha, até toda ela levedar.” Tudo isto Jesus anunciava às multidões por meio de parábolas. Aliás, nunca o fazia sem lhes contar uma parábola. Assim se cumpriu o que tinha sido anunciado pelo profeta: “Falarei por parábolas; explicarei mistérios escondidos desde o princípio do mundo.” Então entrou em casa, depois de despedir o povo, e os discípulos pediram-lhe que explicasse a parábola do joio do campo. “É assim: aquele que lança a semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo e a semente representa o povo do reino; o joio é o povo que pertence ao Maligno. O inimigo que semeou o joio entre o trigo é o Diabo; a colheita é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é apartado e queimado, assim também será no fim do mundo. Mandarei os meus anjos que apartarão do reino tudo o que provoca escândalos e todos os que praticam transgressões; e os lançarão na fornalha que os queimará. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o Sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça! O reino dos céus é como um tesouro escondido no campo; um homem descobriu-o e voltou a escondê-lo. Todo entusiasmado, vendeu todos os seus bens para comprar aquele campo! O reino dos céus é ainda como um negociante que procura pérolas de alta qualidade. Ao descobrir um bom negócio, uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui para adquiri-la. O reino dos céus também pode comparar-se a um pescador que lança a rede e apanha peixes de toda a espécie. Quando a rede está cheia, arrasta-a para a praia, senta-se e seleciona os peixes que são bons para comer, deitando fora os de má qualidade. Assim será também no fim do mundo; os anjos virão para separar os maus dos justos, lançando os maus no fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. E perguntou-lhes: Compreendem agora?” Responderam: “Sim, compreendemos.” Então acrescentou: “Todo o especialista na Lei que for instruído acerca do reino dos céus é semelhante ao chefe de família que tira do seu tesouro coisas que pertencem à nova aliança e também à antiga!” Quando Jesus acabou de contar estas parábolas, voltou para a sua terra e ensinava o povo na sinagoga, para espanto deles. E diziam: “Como é isto possível? De onde lhe veio toda esta sabedoria e tais milagres? Não é ele o filho de um carpinteiro? E a sua mãe não se chama Maria? E os seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãs não moram todas aqui? Como é que arranjou esta capacidade?” E estavam escandalizados com ele. Então, Jesus disse-lhes: “Um profeta é honrado em qualquer lugar menos na sua terra e na sua própria casa.” Por isso, fez ali poucos milagres, por causa da falta de fé deles. Quando o governador Herodes ouviu falar da fama de Jesus, disse aos seus homens: “Deve ser João Batista que voltou à vida; por isso, faz tais milagres.” Com efeito, Herodes tinha prendido João, acorrentando-o no cárcere, por causa de Herodíade, que era mulher de seu irmão Filipe. Visto que João lhe dizia com insistência: “Não te é lícito tomá-la por mulher.” Por sua vontade, teria matado João, mas receava que houvesse tumultos, pois o povo inteiro tinha João na conta de profeta. Todavia, numa festa de anos de Herodes, a filha de Herodíade agradou-lhe muito pela forma como dançou. Então jurou dar-lhe o que ela quisesse. A jovem, incitada pela mãe, pediu: “Dá-me a cabeça de João Batista numa bandeja!” O rei ficou triste com o pedido mas, comprometido pelo juramento feito diante dos convidados, ordenou que lhe fosse dado o que ela pedira. Assim João foi degolado no cárcere; a sua cabeça foi trazida numa bandeja e entregue à jovem, que a levou à mãe. Os discípulos de João foram buscar o corpo e sepultaram-no, contando a Jesus o sucedido. Depois de ter recebido a notícia, Jesus saiu sozinho num barco para uma região deserta, a fim de ficar a sós. O povo, vendo para onde se tinha dirigido, seguiu-o por terra, vindo de muitas vilas. Quando Jesus saiu do barco, já lá se encontrava uma enorme multidão; teve compaixão deles e curou os que estavam doentes. Ao cair da tarde, os discípulos foram ter com ele e disseram-lhe: “Este lugar é deserto e a hora já vai avançada. Manda o povo retirar-se, para ir às aldeias comprar o que comer.” Jesus, porém, respondeu: “Não é preciso serem eles a ir. Deem-lhes vocês de comer!” E disseram: “Mas como? Temos só cinco pães e dois peixes!” Ao que respondeu: “Tragam-mos aqui!” Então mandou o povo sentar-se sobre a erva e, tomando os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e abençoou-os. Depois, partiu os pães em pedaços e deu-os aos discípulos, para que os levassem à multidão. Todos comeram até ficar satisfeitos. E quando as sobras foram recolhidas enchiam doze cestos. Nesse dia, a multidão era de uns 5000 homens, não falando em mulheres e crianças. Logo a seguir, Jesus mandou os discípulos voltar para o barco e partir à sua frente para a outra margem do lago, enquanto ele tratava de mandar as multidões embora. Depois subiu à montanha para orar a sós. Caiu a noite e ele ainda ali se encontrava sozinho. No lago, o barco já se tinha afastado muito da terra e passava dificuldades por causa das ondas, pois o vento soprava em sentido contrário. Por volta das quatro horas da madrugada, Jesus foi ter com eles, a caminhar sobre a água. Os discípulos, ao verem-no caminhar sobre a água, ficaram assustados, dizendo ser um fantasma. E gritaram com medo. Imediatamente Jesus lhes disse: “Está tudo bem, sou eu, não tenham medo!” Então Pedro gritou-lhe: “Senhor, se realmente és tu, manda-me ir ter contigo caminhando sobre a água.” Jesus disse-lhe: “Vem!” Pedro saiu do barco e caminhou por cima da água em direção a Jesus. Mas, ao olhar em torno de si sentindo o vento forte, ficou apavorado e começou a afundar-se. “Senhor, salva-me!” Jesus estendeu-lhe logo a mão e socorreu-o: “Homem de pequena fé, porque duvidaste?” Quando subiram para o barco, o vento cessou. Os outros prostraram-se diante de Jesus, dizendo: “És realmente o Filho de Deus!” Quando chegaram a Genezaré, do outro lado do lago, os habitantes daquela terra reconheceram-no, espalharam a notícia da sua chegada por toda a região e trouxeram-lhe todos os doentes. Estes pediam-lhe que os deixasse tocar nem que fosse na borda da sua roupa. E todos os que lhe tocavam ficavam curados. Chegaram então de Jerusalém uns fariseus e especialistas na Lei para falarem com Jesus, perguntando-lhe: “Porque desobedecem os teus discípulos aos costumes dos antigos? Não acatam o nosso ritual de lavagem das mãos antes de comer.” Ao que Jesus respondeu: “E porque será que as vossas próprias tradições vão contra os mandamentos bem claros de Deus? Por exemplo, Deus ordenou: ‘Honra o teu pai e a tua mãe’, acrescentando que ‘todo aquele que falar contra o pai ou a mãe deverá ser morto.’ Mas vocês dizem: ‘Quem disser ao pai ou à mãe que aquilo que deveria dar-lhes é para dar a Deus, está dispensado de honrar os seus pais.’ Assim ofendem a Lei divina para defender as vossas tradições criadas por homens. Fingidos! Bem falou Isaías, o profeta, a vosso respeito: ‘Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Os seus atos de adoração são vazios, porque ensinam doutrinas criadas por homens.’ ” Então chamou de novo a multidão e disse-lhe: “Escutem o que vos digo e procurem entender. O que entra pela boca não torna o homem impuro; antes o que sai da sua boca é que o torna impuro.” Os discípulos disseram-lhe: “Escandalizaste os fariseus com aquela observação.” E Jesus respondeu: “Toda a planta não plantada por meu Pai do Céu será arrancada. Portanto, não se preocupem com eles. São cegos condutores de cegos. Quando um cego guia outro cego, acabam ambos por cair numa vala.” Pedro pediu a Jesus: “Explica-nos o que quer dizer esta parábola.” “Então não compreendem?”, perguntou-lhe Jesus. “Não percebem que tudo o que entra pela boca, vai para o estômago e é lançado na latrina? Mas o que sai da boca provém do coração e é isso que torna o homem impuro. Porque do coração vêm os maus pensamentos, homicídios, adultérios, imoralidades sexuais, roubos, falsos testemunhos e calúnias. Estas coisas é que tornam o homem impuro. Mas este não fica impuro só por comer sem lavar as mãos.” Jesus deixou então aquela parte do país e foi para a zona de Tiro e Sídon. Uma mulher de Canaã que ali residia veio ter com ele e clamava: “Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho do rei David! Porque a minha filha tem dentro dela um demónio que a trata terrivelmente!” Jesus não lhe deu resposta. Os discípulos aproximaram-se e instaram com ele: “Diz-lhe que se vá embora; ela não deixa de andar a gritar atrás de nós.” Jesus disse então à mulher: “Fui mandado a socorrer somente as ovelhas perdidas de Israel.” Ela aproximou-se dele e adorou-o, suplicando novamente: “Senhor, ajuda-me!” “Não está certo tirar o pão aos filhos e lançá-lo aos cães”, disse-lhe ele. Ela retorquiu: “Isso é verdade, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.” “Mulher, a tua fé é grande; o teu pedido foi satisfeito.” E a filha ficou curada a partir daquele momento. Jesus deixou aquele lugar e voltou para o mar da Galileia; subindo a uma montanha, sentou-se ali. Uma enorme multidão trouxe-lhe os coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, pondo-os aos pés dele, que os curou a todos. A multidão ficou admirada ao ver que os mudos podiam agora falar, que os aleijados recuperavam a saúde, os coxos andavam e os cegos recuperavam a visão! E dava glória ao Deus de Israel. Então Jesus chamou os discípulos para perto de si e disse: “Sinto compaixão desta gente, porque estão comigo há três dias e não têm com que se alimentar. E não quero mandá-los embora com fome para não desfalecerem pelo caminho.” Os discípulos responderam-lhe: “E onde arranjaremos aqui num deserto pão em quantidade suficiente para sustentar tanta gente?” “Quantos pães têm?”, perguntou-lhes. “Sete, e mais uns poucos peixinhos”, responderam. Jesus ordenou a todo o povo que se sentasse no chão. Então, tomando os sete pães e os peixes, deu graças a Deus, partiu-os em pedaços e entregou-os aos discípulos, que os distribuíram pela multidão. Toda a gente comeu até ficar satisfeita. Recolhidas as sobras, ainda sobejaram sete cestos cheios. Foram 4000 os homens que comeram, não contando mulheres e crianças. Depois Jesus mandou a multidão embora, entrou no barco e atravessou para Magadã. Um dia, os fariseus e os saduceus foram ter com Jesus para o porem à prova, e pediram-lhe que lhes mostrasse um sinal do céu. Mas ele respondeu: “Vocês sabem que um céu vermelho à tardinha significa bom tempo para a manhã seguinte. Céu vermelho pela manhã é mau tempo para o dia inteiro. Contudo, não sabem ler os sinais dos tempos! Pede esta geração má e adúltera um sinal, mas não receberá nenhum, a não ser o de Jonas! Então deixou-os e foi-se embora.” Chegados ao outro lado do lago, os discípulos notaram que se tinham esquecido de levar comida. “Cuidado!”, avisou Jesus. “Prestem atenção, tenham cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus.” E julgaram que dissesse isto por se terem esquecido de levar pão. Jesus, porém, lendo os seus pensamentos, disse-lhes: “Homens de pouca fé! Porque se preocupam tanto por não terem pão? Nunca chegaram a compreender? Já não se lembram dos 5000 que alimentei com cinco pães e dos cestos cheios que sobraram? Ou dos 4000 que sustentei e do que ainda sobejou? Como é que não compreenderam que não me estava a referir à comida? Uma vez mais vos digo: acautelem-se do fermento dos fariseus e dos saduceus.” Só então perceberam que, ao falar em fermento, se referia às doutrinas dos fariseus e dos saduceus. Quando chegou a Cesareia de Filipe, Jesus perguntou aos discípulos: “Quem diz o povo que é o Filho do Homem?” “Bem, alguns dizem que és João Batista, outros que és Elias, outros ainda que és Jeremias ou um dos outros profetas.” Então perguntou-lhes: “E vocês, quem pensam que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque quem te revelou isso foi o meu Pai que está nos céus; não é pensamento humano. Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; as forças todas do inferno nada poderão fazer contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; tudo o que proibires na Terra será proibido no céu e tudo o que permitires na Terra será permitido nos céus.” Então avisou os discípulos de que não deveriam divulgar ainda que ele era o Cristo. A partir daí, começou a explicar aos discípulos que estava destinado a ir para Jerusalém e a passar por muitos sofrimentos, ser rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos especialistas na Lei e ser morto, mas três dias depois ressuscitaria. Pedro chamou-o à parte e começou a repreendê-lo: “Deus o não permita, Senhor! Isso não te há de acontecer!” Mas Jesus, voltando-se para ele, respondeu: “Vai para trás de mim, Satanás! És um motivo de escândalo para mim. Vês as coisas do ponto de vista humano e não do ponto de vista de Deus.” E disse aos discípulos: “Se alguém quiser ser meu seguidor tem de esquecer-se de si próprio, tomar a sua cruz e seguir-me. Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por minha causa encontrá-la-á. Que lucro terá o homem em ganhar o mundo inteiro e causar dano à própria vida? Haverá alguma coisa mais valiosa do que a própria vida da pessoa? Porque eu, o Filho do Homem, virei com os meus anjos na glória de meu Pai e julgarei cada qual conforme as suas obras. É realmente como vos digo: alguns dos que estão aqui agora não morrerão sem ver o Filho do Homem chegar no seu reino!” Passados seis dias, Jesus levou Pedro, Tiago e seu irmão João ao cimo de um alto monte. Não havia ali mais ninguém. E o aspeto de Jesus mudou de tal maneira que o seu rosto brilhava como o Sol e as suas vestes ficaram de uma brancura deslumbrante. De súbito, Moisés e Elias apareceram e puseram-se a falar com ele. Pedro disse: “Senhor, que bom é estarmos aqui! Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias!” Enquanto falava, uma nuvem brilhante desceu sobre eles e uma voz que dela saía disse: “Este é o meu Filho amado, em quem tenho grande prazer. Ouçam-no!” Ao ouvirem isto, os discípulos curvaram-se e inclinaram o rosto, muito assustados. Jesus aproximou-se e tocou-lhes. “Levantem-se, não tenham medo!” Quando tornaram a olhar, não viram mais ninguém, a não ser apenas o próprio Jesus. Enquanto desciam do monte, Jesus recomendou-lhes: “Não contem a ninguém o que viram até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.” E os discípulos perguntaram-lhe: “Então, porque é que os especialistas na Lei insistem que Elias deve vir antes?” Jesus respondeu: “Elias, de facto, vem para pôr tudo em ordem. Mas digo-vos: Elias já veio e fizeram dele tudo o que quiseram. Do mesmo modo, também o Filho do Homem será maltratado às mãos deles.” Então os discípulos perceberam que se referia a João Batista. Quando chegaram junto da multidão, um homem ajoelhou-se diante dele e disse: “Senhor, tem misericórdia do meu filho que tem ataques e anda em grande aflição, pois muitas vezes cai no lume e muitas outras na água. Já o trouxe aos teus discípulos, mas não conseguiram curá-lo.” Jesus respondeu: “Ó povo sem fé e obstinado! Até quando terei de andar convosco? Até quando terei de suportar-vos? Tragam-me cá o rapaz!” Jesus repreendeu o demónio que estava dentro do rapaz e ele deixou-o, ficando bom a partir daquele momento. Os discípulos perguntaram a Jesus, quando já estavam a sós: “Porque não conseguimos expulsar aquele demónio?” “Por causa da vossa pouca fé. É realmente como vos digo: se tivessem fé como um grão de mostarda, poderiam dizer a este monte: ‘Sai daqui!’, e ela sairia. Nada vos seria impossível. Porém, esta casta de demónios não sai senão à força de oração e jejum.” Um dia, estavam ainda na Galileia, Jesus disse-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, hão de matá-lo mas, ao terceiro dia, ressuscitará.” E os discípulos encheram-se de tristeza. Ao chegarem a Cafarnaum, os cobradores de impostos do templo procuraram Pedro e perguntaram-lhe: “O vosso mestre não paga impostos?” Ele respondeu: “Claro que paga!” Entrando em casa para discutir o assunto com Jesus, antes que Pedro começasse a falar, Jesus perguntou-lhe: “Que achas, Simão? Os reis lançam impostos sobre o seu povo ou sobre os estrangeiros?” Pedro respondeu: “Sobre os estrangeiros.” Jesus continuou: “Se assim é, os nacionais não têm de pagar. Contudo, não vamos contrariá-los. Vai ao mar, lança a linha e abre a boca do primeiro peixe que apanhares. Encontrarás uma moeda que vale o bastante para pagar o imposto por ambos; leva-a e paga-lhes.” Naquele momento, os discípulos perguntaram a Jesus qual deles seria o mais importante no reino dos céus. Chamando uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse: “É realmente como vos digo: se não mudarem totalmente a direção das vossas vidas e não se tornarem como crianças, jamais entrarão no reino dos céus. Pois aquele que se tornar pequeno e simples como esta criança será como o maior de todos no reino dos céus. E quem receber uma criancinha como esta, em meu nome, é a mim que recebe. Quem fizer tropeçar na fé um destes pequeninos que creem em mim, melhor seria que fosse atirado ao mar com uma mó amarrada ao pescoço. Ai do mundo por causa dos tropeções na fé! Forçosamente, tropeções na fé sempre existirão, mas ai daquele que os provocar! Se a tua mão ou o teu pé te fizerem pecar, corta-os e arremessa-os para longe de ti! Mais vale entrar na vida aleijado ou coxo do que ser lançado com ambas as mãos e pés no fogo do inferno, que dura para sempre. E se o teu olho te fizer pecar, arranca-o e arremessa-o para longe de ti! Mais vale entrar com um só olho na vida do que ser lançado com ambos no fogo no inferno. Cuidado, não desprezem nem somente uma destas crianças. Porque vos digo que, no céu, os seus anjos podem sempre ver o meu Pai. Eu, o Filho do Homem, vim para salvar os perdidos. O que acham? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se desgarrar, não deixará as outras noventa e nove para ir pelos montes em busca da que se desgarrou? E se a encontrar, é realmente como vos digo: alegrar-se-á mais por ela do que pelas outras noventa e nove que se não desgarraram! Assim, também, o vosso Pai, que está nos céus, não quer que nenhum destes pequeninos se perca. Se um irmão pecar contra ti, vai ter com ele e mostra-lhe a sua falta. Se te ouvir, e confessar a sua falta, terás ganhado outra vez um irmão. Mas se não te ouvir, então leva contigo alguém, para que toda a acusação seja confirmada por duas ou três testemunhas. Se, mesmo assim, não lhes der atenção, leva o caso diante da assembleia de crentes. Mas se também não der atenção à assembleia, esta deve considerá-lo como gentio e cobrador de impostos. É realmente como vos digo: tudo o que proibirem na Terra será proibido no céu e tudo o que permitirem na Terra será permitido no céu. É ainda realmente como vos digo: se dois de vocês concordarem aqui na Terra, acerca de alguma coisa que queiram pedir, meu Pai que está no céu irá concedê-la. Pois onde dois ou três pessoas se juntarem, em meu nome, eu estarei no meio delas.” Então Pedro foi ter com ele e perguntou-lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar um irmão que pecar contra mim? Sete vezes, talvez?” “Não apenas sete”, respondeu Jesus, “mas setenta vezes sete!” “Por isto, o reino dos céus pode comparar-se a um rei que resolveu pôr as contas em dia com os seus servos. Para começar, foi-lhe trazido um que lhe devia 10 000 talentos. Como não pudesse pagar a dívida, o senhor mandou que ele, a sua mulher, os filhos, e todos os seus bens, fossem vendidos para liquidá-la. Mas o servo ajoelhou-se diante do rei e implorou-lhe: ‘Senhor, tem paciência que eu pago-te tudo.’ O rei, sentindo compaixão dele, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Contudo, mal saiu da presença do rei, o servo encontrou um colega que lhe devia algum dinheiro e, agarrando-o pelo pescoço, exigiu-lhe: ‘Paga-me o que me deves!’ O outro ajoelhou-se, pediu-lhe muito que lhe desse mais algum tempo. ‘Tem paciência que eu pago’, prometeu. Mas o credor não queria esperar e mandou o homem ser metido na prisão até pagar toda a dívida. Os colegas, ao verem isto, foram ter com o rei e contaram-lhe o que se tinha passado. O senhor mandou chamar o homem a quem tinha perdoado e disse-lhe: ‘Servo miserável! Perdoei-te a tua enorme dívida porque me pediste. Não devias tu ter compaixão dos outros como eu tive de ti?’ O rei, muito zangado, mandou o homem para a cadeia até pagar o último cêntimo que devia. O mesmo fará o meu Pai celestial convosco, se cada um não perdoar, de coração, o seu irmão.” Após ter dado estes ensinos, Jesus saiu da Galileia e dirigiu-se à região da Judeia, na outra margem do Jordão. Grandes multidões o seguiam e curou os doentes. Alguns fariseus foram ter com Jesus, para o pôr à prova, e perguntaram-lhe se era lícito um marido divorciar-se da mulher por todo e qualquer motivo. “Não leem as Escrituras? Nelas está escrito que, desde o princípio, o Criador criou o homem e a mulher. Assim, ‘o homem deve deixar o pai e a mãe, para se unir com a sua mulher, e serão os dois como um só’. Por conseguinte, não mais serão dois, mas como um só. E nenhum homem separe o que Deus juntou.” “Então”, perguntaram os fariseus, “porque é que Moisés mandou dar uma declaração de divórcio à mulher e mandá-la embora?” Jesus respondeu-lhes: “Moisés permitiu-vos que mandem embora as vossas mulheres por causa da dureza do vosso coração, mas no início não era assim que sucedia. E digo-vos que quem se divorciar da sua mulher, salvo em caso de imoralidade sexual, e se casar com outra, comete adultério.” Os discípulos disseram-lhe: “Sendo assim o melhor é não casar!” “Nem todos podem aceitar isso; só aqueles a quem Deus ajuda. Alguns nascem já incapazes para o casamento e outros são incapacitados pelos homens; alguns outros, ainda, não querem casar-se por causa do reino dos céus. Quem puder aceitar que aceite.” Traziam crianças a Jesus para que colocasse sobre elas as mãos e orasse, mas os discípulos diziam-lhes que fossem embora. Jesus disse-lhes: “Deixem as crianças vir a mim! Não as devem impedir, porque o reino dos céus pertence aos que são como estas crianças.” E, colocando as mãos sobre elas, abençoou-as e foi-se embora. Um jovem aproximou-se e fez esta pergunta: “Mestre, que farei de bom para alcançar a vida eterna?” “Porque me perguntas acerca do que é bom?”, perguntou-lhe Jesus. “Bom só há um. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos.” “Quais?”, perguntou o jovem. E Jesus respondeu: “Não mates, não adulteres, não roubes, não profiras uma falsa acusação contra outra pessoa, honra o teu pai e a tua mãe e ama o teu próximo como a ti mesmo.” “Tenho obedecido a todos estes mandamentos”, respondeu o jovem. “Que mais preciso de fazer?” “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro nos céus. Vem e segue-me!” Ao ouvir isto, o rapaz foi-se embora triste, porque era muito rico. Jesus disse aos discípulos: “É realmente como vos digo: é quase impossível um rico entrar no reino dos céus! É mesmo mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha do que um rico entrar no reino de Deus!” Os discípulos, porém, ao ouvirem isto, ficaram grandemente admirados, dizendo: “Então quem é que neste mundo poderá salvar-se?” Jesus olhou para eles e respondeu: “Humanamente falando, ninguém. Mas a Deus tudo é possível.” Então, em resposta, Pedro retorquiu-lhe: “Nós deixámos tudo para te seguir. Que proveito tiramos disso?” Respondeu-lhe Jesus: “É realmente como vos digo: aqueles de vocês que me seguirem, quando o Filho do Homem se sentar no seu glorioso trono no reino, sentar-se-ão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. Todo aquele que abandonar a sua casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos e terras por minha causa, receberá em recompensa cem vezes tanto, e terá a vida eterna. Porém, muitos primeiros virão a ser últimos, e os últimos virão a ser primeiros.” “O reino dos céus é como o dono de uma propriedade que saiu cedo, certa manhã, para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou pagar-lhes uma moeda por dia e mandou-os trabalhar. Às nove horas, passando por uma praça, viu ali alguns homens à procura de trabalho. Então mandou-os ir também para os seus campos, dizendo-lhes: ‘Vão vocês também trabalhar para a vinha, que vos pagarei o que for justo.’ Ao meio-dia, e também perto das três da tarde, fez o mesmo. Às cinco horas daquela tarde, outra vez na cidade, viu mais alguns por ali e perguntou-lhes: ‘Porque estiveram sem fazer nada o dia inteiro?’ Responderam-lhe: ‘Porque ninguém nos contratou.’ O dono da propriedade disse-lhes: ‘Então vão juntar-se aos outros na minha vinha.’ Naquela noite disse ao seu administrador que reunisse os homens e lhes pagasse, começando pelos últimos. Quando os homens contratados às cinco horas da tarde foram pagos, cada um recebeu uma moeda. Os contratados mais cedo, quando foram receber o seu salário, julgavam que lhes seria pago mais, mas também receberam a mesma quantia. Puseram-se então a refilar: ‘Aqueles só trabalharam uma hora e tu pagaste-lhes o mesmo que a nós, que trabalhámos o dia inteiro sob a torreira do sol.’ ‘Amigo’, respondeu o lavrador a um deles, ‘não fui injusto contigo! Não aceitaste trabalhar o dia inteiro por uma moeda? Toma-a e vai-te, porque resolvi pagar o mesmo a todos. Não tenho eu o direito de dar o meu dinheiro como quiser? Ou vês com maus olhos que eu seja bondoso?’ Assim, os últimos virão a ser primeiros, e os primeiros virão a ser últimos.” De subida a caminho de Jerusalém, Jesus tomou os doze discípulos à parte e falou-lhes pelo caminho. “Ouçam: vamos para Jerusalém. Lá o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e especialistas na Lei que o condenarão à morte. Entregá-lo-ão aos gentios, que farão troça dele, o açoitarão e crucificarão; mas ao terceiro dia ressuscitará.” Nisto, chegou a mulher de Zebedeu, com os filhos que, inclinando-se, pediu um favor. “Que queres?”, perguntou Jesus. Ela adiantou: “Que ordenes que, no teu reino, um dos meus dois filhos se sente à tua direita e o outro à tua esquerda.” “Não sabem o que pedem!”, disse-lhes Jesus. E perguntou-lhes: “São capazes de beber do cálice de que vou beber daqui a pouco tempo?” Retorquiram: “Somos, sim!” Jesus respondeu-lhes: “É certo que beberão do meu cálice, mas não me compete dizer quem se sentará à minha direita ou à minha esquerda. Esses lugares são para aqueles para quem eles foram preparados pelo meu Pai.” Quando os outros dez discípulos souberam disto, ficaram indignados com os dois irmãos. Mas Jesus reuniu-os e disse: “Como sabem, os líderes entre os gentios dominam sobre eles e os grandes tratam-nos autoritariamente. No vosso meio, porém, não será assim. Quem quiser ser grande no vosso meio será vosso servo. E quem quiser ser o primeiro no vosso meio será como vosso escravo. A vossa maneira de proceder deve ser a mesma do Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgate de muitos.” Quando Jesus e os discípulos deixavam a cidade de Jericó, foram seguidos por uma enorme multidão. Dois cegos estavam sentados à beira da estrada. Ouvindo dizer que Jesus ia a passar, clamaram: “Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!” A multidão repreendeu-os para que se calassem, mas eles clamavam cada vez mais alto: “Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!” Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: “Que querem que eu vos faça?” “Senhor, queremos que os nossos olhos se abram!” Jesus sentiu compaixão deles, tocou-lhes nos olhos e no mesmo instante ficaram a ver. E seguiam-no. Quando se aproximavam de Jerusalém e chegavam perto de Betfagé, ao monte das Oliveiras, Jesus então enviou dois dos discípulos à frente. Disse-lhes: “Vão até àquela aldeia além e logo à entrada encontrarão uma jumenta amarrada com a sua cria. Soltem-nas e tragam-mas. Se alguém vos perguntar alguma coisa, respondam-lhe: ‘O Senhor precisa delas e em breve as devolverá.’ ” Assim ia cumprir-se a antiga profecia: “Digam à filha de Sião: ‘Vê, o teu Rei aproxima-se de ti! Manso, montado numa cria de jumento, num pequeno jumentinho.’ ” Os dois discípulos fizeram como Jesus lhes ordenou. Trouxeram-lhe a jumenta e a cria. Puseram os mantos sobre o lombo dos animais e ele sentou-se em cima. Muita gente estendeu os seus mantos no caminho, enquanto outros cortaram ramos das árvores e os espalharam no caminho. As multidões iam tanto à frente como atrás, exclamando: “Hossana ao Filho de David! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!” Entrou em Jerusalém e toda a cidade ficou em alvoroço. E perguntavam: “Quem é este?” E o povo respondia: “É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia!” Jesus entrou no templo e expulsou todos os negociantes e compradores que ali havia; derrubou as mesas dos cambistas e as bancas dos vendedores de pombos. E disse-lhes: “As Escrituras afirmam: ‘O meu templo será chamado casa de oração’, mas vocês transformaram-no num covil de ladrões!” Entretanto, os cegos e os aleijados vinham ter com ele e curava-os ali no templo. Mas quando os principais sacerdotes e especialistas na Lei viram aqueles milagres espantosos, e ouviram as próprias crianças a gritar no templo, “Hossana ao Filho do rei David!”, ficaram inquietos e indignados. E perguntaram-lhe: “Ouves o que dizem estas crianças?” “Ouço, sim. Nunca leram as Escrituras que dizem: ‘Da boca dos pequenos e das criancinhas de peito tirarei o louvor?’ ” Depois disto, voltou para Betânia, onde passou a noite. De manhã, quando ia de novo para Jerusalém, sentiu fome. Vendo uma figueira à beira da estrada, aproximou-se dela e nada achou nela, senão folhas. E disse à figueira: “Nunca mais nasça fruto de ti, para sempre!” E logo secou. Os discípulos ficaram pasmados: “Como foi que a figueira secou tão depressa?” Respondeu-lhes Jesus: “É realmente como vos digo: se tiverem fé e não duvidarem, farão não só o que se fez a esta figueira, como dirão a este monte: ‘Levanta-te e atira-te ao mar!’, e assim sucederá. Podem pedir seja o que for em oração que, se crerem, recebê-lo-ão.” Tendo ele entrado no templo, os principais sacerdotes e outros anciãos do povo foram ter com ele, enquanto estava a ensinar, e perguntaram-lhe: “Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu tal autoridade?” Em resposta, retorquiu-lhes: “Di-lo-ei, se me responderem a uma pergunta: O batismo de João é de inspiração celeste ou humana?” Eles puseram-se a falar entre si: “Se dissermos que é de inspiração celeste, ele perguntará: ‘Então, porque não acreditaram nele?’ Mas se dissermos que é de inspiração humana, temos receio da multidão, pois todos têm João na conta de um profeta.” Por fim, responderam: “Não sabemos!” E Jesus respondeu: “Então também não respondo à vossa pergunta! Que acham disto? Um homem que tinha dois filhos disse ao mais velho: ‘Filho, vai trabalhar hoje na herdade.’ ‘Não vou’, respondeu. Mas pensando melhor, acabou por ir. Depois, disse ao mais novo: ‘Vai tu também!’ E ele respondeu: ‘Sim senhor, vou já’, acabando por não ir. Qual dos dois obedeceu ao pai?” Responderam: “O primeiro, sem dúvida.” Jesus disse-lhes: “É realmente como vos digo: os cobradores de impostos e as mulheres de má vida entrarão antes de vocês no reino de Deus. Porque João Batista disse-vos para se arrependerem e se voltarem para Deus, e não quiseram; no entanto, muitos cobradores de impostos e mulheres mal afamadas arrependeram-se. Apesar de terem visto estas coisas, não se arrependeram e nunca chegaram a crer. Agora ouçam outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, erigiu um muro em volta e construiu um lagar. Construiu também uma torre, arrendou a vinha a uns lavradores e partiu em viagem. Quando chegou a época das vindimas, enviou os seus servos ir ter com os lavradores e receber a sua parte da colheita. Mas os lavradores assaltaram-nos; espancaram um, mataram outro e apedrejaram um terceiro. Então o dono enviou um grupo ainda maior do que o primeiro, mas trataram-nos do mesmo modo. Por fim, mandou o filho. Dizia ele: ‘Hão de respeitar o meu filho.’ Os lavradores, porém, ao verem o filho aproximar-se, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e a herança será nossa!’ Agarraram-no, mataram-no e arrastaram-no para fora da vinha. Quando o dono voltar, que acham vocês que fará àqueles lavradores?” Os anciãos responderam: “Dará uma morte severa a esses malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe paguem pontualmente a parte que lhe cabe dos frutos.” Jesus perguntou-lhes: “Não se lembram de ler esta frase nas Escrituras? ‘A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício! Isto foi outra obra que o Senhor fez, e é espantosa aos nossos olhos! ’ Por isso, garanto que o reino de Deus vos será tirado e entregue a um povo que dê a sua parte da colheita. Quem tropeçar nesta pedra será feito em pedaços e aqueles sobre quem ela cair serão esmagados.” Quando os principais sacerdotes e os fariseus perceberam que a parábola que Jesus contara se referia a eles procuraram prendê-lo, mas tiveram medo das multidões que tinham Jesus como profeta. Jesus usou mais uma parábola: “O reino dos céus pode ser compreendido com o que aconteceu a certo rei que preparou uma grande festa de casamento para o filho. Mandou os seus servos chamar os convidados para a festa de casamento mas estes não quiseram vir. Então mandou outros servos com a seguinte instrução: ‘Digam aos convidados: “O banquete está pronto! Já mandei matar os bois. Está tudo pronto! Apressem-se, venham para a festa!” ’ Mas os convidados não fizeram caso e não foram, indo cada um tratar dos seus negócios; um para o campo, o outro para a loja. Outros bateram nos servos do rei e trataram-nos vergonhosamente, chegando a matar alguns. O monarca, muito zangado, mandou as tropas, matou os assassinos e incendiou-lhes a cidade. E disse aos seus servos: ‘A festa de casamento está pronta e aqueles que convidei não merecem tal honra. Vão pelos caminhos e convidem todos os que encontrarem.’ Os servos assim fizeram, mandando entrar as pessoas que encontravam e aceitavam o convite, fossem boas ou más, até que o salão do banquete ficou repleto. Quando o rei entrou para conhecer os convidados, reparou que certo homem não usava o traje de cerimónia. ‘Amigo, como é possível teres vindo sem traje de casamento?’ E o homem não teve resposta que desse. Então o monarca disse aos seus súbditos: ‘Atem-lhe os pés e as mãos e lancem-no lá fora na escuridão, onde há choro e ranger de dentes.’ Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” Os fariseus juntaram-se para arranjar maneira de apanhar Jesus em falso, fazendo-o dizer qualquer coisa que lhes desse motivo para o prenderem. Resolveram mandar alguns dos seus homens, juntamente com os herodianos, para lhe fazer esta pergunta: “Mestre, sabemos que dizes a verdade sem hesitações, e que não te deixas arrastar pelas opiniões dos homens. Ora diz-nos o que achas: estará certo ou não pagarmos impostos a César?” Jesus percebeu a sua intenção e exclamou: “Fingidos! Porque é que querem experimentar-me? Mostrem-me uma moeda!” E eles entregram-lhe uma moeda pequena. “De quem é a figura nela cunhada? E de quem é este nome por baixo?” Responderam: “De César.” E disse-lhe: “Pois bem, deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” Esta resposta apanhou-os de surpresa e, admirados, foram-se embora. Naquele mesmo dia, alguns dos saduceus, que não acreditam que os mortos tornem a viver, foram ter com ele e perguntaram-lhe: “Mestre, Moisés disse que se um homem morrer sem deixar filhos, seu irmão deve casar com a viúva e gerar um filho, de modo a garantir descendência ao irmão defunto. Houve entre nós uma família de sete irmãos. O mais velho casou-se, morrendo sem descendência, pelo que a viúva casou com o segundo irmão. Também este morreu sem deixar filhos e a viúva casou com o irmão seguinte, e assim por diante. Acabou por ser mulher de todos eles, um após outro. Por fim, morreu também ela. Portanto, de qual dos sete irmãos será esposa na ressurreição, visto ter sido casada com cada um deles?” Jesus respondeu: “O vosso erro deve-se à vossa ignorância das Escrituras e do poder de Deus. Porque quando os mortos ressuscitarem não se casarão, antes serão como os anjos do céu. E quanto a haver ou não ressurreição dos mortos, nunca leram o que Deus vos diz nas Escrituras? ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacob.’ Portanto, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.” O povo ficava muito impressionado com as suas respostas. Os fariseus, ao saberem que tinha tapado assim a boca aos saduceus, imaginaram outra pergunta para lhe fazer. Um deles, que era especialista na Lei judaica, perguntou: “Mestre, qual é o mandamento mais importante na Lei de Moisés?” Ao que Jesus respondeu: “ ‘Ama o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento.’ Este é o primeiro e o maior dos mandamentos. O segundo é parecido: ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo. ’ Todos os outros mandamentos e preceitos da Lei e dos profetas nascem destes dois.” Depois, com os fariseus à sua volta, fez-lhes uma pergunta: “Que acham vocês do Cristo? De quem é ele filho?” Responderam: “De David!” “Então porque é que David, inspirado pelo Espírito Santo, lhe chama Senhor? Pois são de David estas palavras: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: “Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. ” ’ Uma vez que David lhe chamou Senhor, como pode ser seu filho?” Eles não conseguiram dar resposta. Depois disto, ninguém se atrevia a fazer-lhe qualquer outra pergunta. Então Jesus disse ao povo e aos seus discípulos: “Os especialistas na Lei e os fariseus assumem autoridade sobre a Lei, como se fossem o próprio Moisés. Pode estar certo fazer o que eles dizem, mas não devem fazer o que eles fazem! Porque eles próprios não fazem o que vos ensinam. Sobrecarregam e põem sobre os ombros das pessoas fardos pesados e insuportáveis que eles próprios nem sequer com um só dos seus dedos estão dispostos a transportar. Tudo o que fazem é para dar nas vistas. Fingem-se santos, trazendo nos braços grandes caixas de orações com versículos das Escrituras e alongam as franjas dos seus mantos. Mas gostam dos lugares de honra nos banquetes, dos assentos presidenciais nas sinagogas, das saudações que lhes dirigem nas praças e que os tratem por ‘mestres’. Não deixem que alguém vos trate assim. Só Deus é o vosso Mestre e todos vocês são iguais, como irmãos. E não tratem ninguém aqui na Terra por Pai, pois há um só Pai, que é Deus que está no céu. E não se chamem mestres a vós mesmos, pois um só é o vosso mestre, a saber, o Cristo. O maior de todos vocês será servo. Mas todo aquele que procura elevar-se será humilhado e todo aquele que se humilhar a si mesmo será elevado. Sim, ai de vocês, especialistas na Lei e fariseus, fingidos, porque fazem tudo para converter alguém e depois tornam essa pessoa duas vezes mais filha do inferno do que vocês mesmos! Guias cegos! Ai de vocês! Porque afirmam que jurar pelo templo de Deus não tem validade, enquanto um juramento feito pelo ouro de templo é de cumprimento obrigatório! Cegos e loucos! Que é maior? O ouro, ou o templo que torna esse ouro santo? E dizem que um juramento pelo altar não tem grande validade, enquanto que um juramento pelas ofertas que estão sobre o altar é de cumprimento obrigatório! Cegos! Pois que é maior? A oferta que está sobre o altar ou o próprio altar que a torna santa? Quando se jura pelo altar, jura-se por ele e por tudo o que sobre ele está. E quando se jura pelo templo, jura-se por ele e por aquele que nele habita. E quando se jura pelos céus, jura-se pelo trono de Deus e por aquele que nele se senta. Sim, ai de vocês, especialistas na Lei e fariseus, fingidos! Pois dão o dízimo da última folha de hortelã do vosso quintal, mas esquecem as coisas importantes, como a justiça, a misericórdia e a fé. Sim, devem dar o dízimo, mas não devem esquecer as coisas mais importantes. Guias cegos! Coam um mosquito, mas seriam capazes de engolir um camelo! Ai de vocês, especialistas na Lei e fariseus, fingidos! Lavam o copo e o prato por fora, enquanto por dentro estão cheios de roubo e falta de domínio próprio! Fariseus cegos! Limpem primeiro o interior do copo e então todo ele ficará limpo. Ai de vocês, especialistas na Lei e fariseus, hipócritas! São como jazigos; belos por fora, mas cheios de ossadas de mortos e de toda a corrupção. Procuram parecer justos aos olhos das pessoas, mas por baixo dos vossos mantos de piedade escondem-se corações manchados por toda a espécie de hipocrisia e transgressão. Ai de vocês, especialistas na Lei e fariseus, fingidos! Pois levantam monumentos aos profetas que os vossos pais mataram, põem flores nos túmulos dos justos que eles destruíram, e dizem: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos antepassados não seríamos seus cúmplices na morte dos profetas.’ Falando assim, testemunham que são realmente filhos dos assassinos dos profetas. Mas pior ainda, seguem as suas pisadas, enchendo a medida completa da maldade deles! Serpentes, filhos de víboras! Como escaparão à condenação do inferno? Mandar-vos-ei profetas, sábios e especialistas na Lei, mas vocês matarão alguns deles pela crucificação e, nas vossas sinagogas, abrirão as costas de outros com chicotes, perseguindo-os sem descanso, de cidade em cidade. Pelo que vocês serão culpados de todo o sangue dos homens crentes que foram assassinados, desde o justo Abel até Zacarias, filho de Baraquias, que mataram no templo, entre o altar e o santuário. É realmente como vos digo: todas estas condenações recairão sobre esta geração. Jerusalém, Jerusalém, cidade que mata os profetas de Deus e apedreja todos aqueles que ele lhe envia! Quantas vezes quis juntar os teus filhos como uma galinha junta os pintainhos debaixo das asas, mas vocês não me deixaram. Agora, a vossa casa fica ao abandono. Lembrem-se do que vos digo: nunca mais me tornarão a ver senão quando disserem, ‘bendito aquele que vem em nome do Senhor!’ ” Quando Jesus ia a sair do recinto do templo, vieram os discípulos que queriam chamar-lhe a atenção para todas aquelas edificações. Porém, disse-lhes: “Não estão a ver tudo isto? É realmente como vos digo: não será deixada aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.” “E quando é que vai acontecer semelhante coisa?”, quiseram saber os discípulos mais tarde, estando ele sentado na encosta do monte das Oliveiras. “Que sinal há que anuncie o teu regresso e o fim do mundo?” Ao que Jesus respondeu: “Cuidado! Não deixem que ninguém vos engane. Porque virão muitos apresentando-se em meu nome, dizendo que são o Cristo, e enganarão a muitos. Quando ouvirem falar de guerras e notícias de guerras, não fiquem inquietos. Isto tem de acontecer, mas ainda não é o fim. As nações levantar-se-ão umas contra as outras, reino contra reino e haverá fomes e terramotos em muitos sítios. Mas tudo isso será apenas o começo dos horrores que hão de vir. Então entregar-vos-ão para serem torturados, matar-vos-ão e todos vos odiarão por causa do meu nome. E muitos voltarão para o pecado, trair-se-ão e odiar-se-ão uns aos outros; aparecerão falsos profetas que arrastarão muitos para o erro. E crescerá de tal maneira a transgressão que o amor de muitos arrefecerá. Mas quem resistir até ao fim será salvo! As boas novas do reino serão pregadas no mundo inteiro, para que todas as nações as ouçam, e então virá o fim. Portanto, quando virem a abominação desoladora de que o profeta Daniel falou, instalada no lugar santo (quem ler isto preste muita atenção), então aqueles que estiverem na Judeia fujam para as montanhas! Quem estiver no terraço não entre sequer de novo em casa. Quem estiver nos campos não volte para ir buscar roupa. Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orem para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem num sábado. Porque serão dias de horror, como o mundo jamais viu em toda a sua história, nem nunca mais se tornará a ver coisa igual. Se aqueles dias não fossem encurtados, toda a humanidade se perderia. Mas aqueles dias serão encurtados por amor dos seus escolhidos. Então, se alguém vos disser: ‘O Cristo apareceu aqui ou está além, naquela vila’, não acreditem. Porque haverá muitos falsos Cristos e falsos profetas cujos grandes sinais enganariam, se possível, os próprios escolhidos de Deus. Tenham cuidado, porque já vos avisei. Portanto, se alguém vos disser que o Cristo voltou e está no deserto, não se deem ao trabalho de ir ver; ou que ele está escondido em determinado sítio, não creiam em tal! Porque, assim como o relâmpago ilumina o céu do nascente ao poente, assim será o regresso do Filho do Homem. Onde estiver o cadáver, aí se juntarão os abutres! Logo depois da aflição que naqueles dias haverá, o Sol ficará escuro, a Lua negra, as estrelas cairão do céu e as forças que suportam o universo serão sacudidas. Por fim, aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu. Todas as tribos da Terra chorarão e verão o Filho do Homem, vindo no meio de nuvens, com poder e grande glória. E enviará os seus anjos com forte toque de trombeta, para juntarem os seus escolhidos, de um extremo ao outro do céu. Aprendam agora com esta parábola sobre a figueira: quando o ramo está tenro e as folhas começam a romper, sabem que o verão está perto. E quando virem acontecer todas estas coisas que vos contei, podem estar certos de que o meu regresso está muito próximo e que me encontro às portas. É realmente como vos digo: esta geração não passará sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a Terra desaparecerão, mas as minhas palavras permanecem para sempre. Contudo, ninguém sabe a data e a hora em que o fim virá, nem mesmo os anjos, nem sequer o Filho de Deus. Só o Pai o sabe. Assim como foi nos dias de Noé, assim será no dia do regresso do Filho do Homem. Com efeito, assim acontecia nos dias que precederam o dilúvio: as pessoas comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; as pessoas não se deram conta do que se avizinhava, até que o dilúvio veio e os levou a todos. Assim também será a vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão juntos nos campos; um será levado e o outro ficará. Duas mulheres estarão ocupadas no seu trabalho no moinho; uma será levada e a outra deixada. Portanto, vigiem bem, porque não sabem quando vem o vosso Senhor. Saibam isto: se o senhor da casa soubesse exatamente quando o ladrão vem ficaria de vigilância, e não permitiria que a casa fosse arrombada. Por isso, também devem estar prontos em todo o tempo, porque o Filho do Homem virá quando menos o esperarem. Quem é o servo fiel e sensato, a quem o seu senhor confiou a responsabilidade sobre a criadagem, para lhes dar o alimento à hora certa? Feliz é o servo cujo senhor, no seu regresso, encontrar a fazer um bom trabalho. É realmente como vos digo: o senhor porá tal servo sobre tudo o que tem. Mas se o mau servo disser consigo próprio: ‘O meu senhor não voltará tão cedo’, e começar a maltratar os seus companheiros e a fazer uma vida de comezainas e bebedeiras, o seu senhor, ao voltar sem aviso, num dia e numa hora em que não é esperado, castigá-lo-á severamente e dar-lhe-á a condenação reservada aos fingidos, mandando-o para onde haverá choro e ranger de dentes.” “O reino dos céus pode ser também explicado pela situação daquelas dez jovens que pegaram nas suas lâmpadas e foram ao encontro do noivo. Como o noivo se demorasse, deitaram-se para descansar. À meia-noite foram despertadas por alguém que gritou: ‘Vem aí o noivo! Saiam a recebê-lo!’ Todas se levantaram logo e prepararam as lâmpadas. Então, as cinco que não tinham azeite, pediram às outras que lhes dessem algum, porque as suas lâmpadas estavam a apagar-se. Mas as outras responderam: ‘Não, porque depois não chega para todas. Vão comprá-lo.’ Enquanto foram, o noivo chegou; as que estavam prontas entraram com ele para a festa de casamento e a porta foi trancada. Mais tarde, quando as outras cinco voltaram, ficaram na rua, chamando: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta!’ Mas ele respondeu: ‘É realmente como vos digo: não vos conheço.’ Portanto, conservem-se despertos e estejam preparados, pois não sabem a data nem o momento do meu regresso. O reino dos céus pode também ser comparado ao caso de um homem que ia para outro país e que, reunindo os servos, lhes entregou os seus bens. Entregou cinco talentos a um, dois a outro e um ao último, conforme as capacidades de cada um, e depois partiu. O homem que recebeu cinco talentos começou logo a comprar e a vender com eles, e depressa ganhou outros cinco. O que tinha dois talentos deitou-se também ao trabalho e ganhou outros dois. Mas o que recebera um cavou um buraco no chão e escondeu-o ali. Passado muito tempo, o patrão voltou da viagem e chamou-os, para que dessem contas do dinheiro. Aquele a quem tinha confiado cinco talentos trouxe-lhe dez, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos e dobrei a quantia.’ O homem gabou-o pelo seu bom trabalho: ‘Óptimo, servo bom e fiel! Foste fiel com o pouco que te confiei, vou entregar-te mais responsabilidades. Entretanto, poderás participar da satisfação do teu senhor.’ Depois veio o que tinha recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos. Olha, dobrei a quantia.’ ‘Bom trabalho’, observou o senhor. ‘És um servo capaz e de confiança. Foste fiel com essa pequena soma, por isso agora dou-te muito mais.’ Então veio o homem que recebera um talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem duro, ceifando onde não semeaste e colhendo onde não cultivaste. Tive medo de perder o teu dinheiro, portanto escondi-o na terra; aqui o tens.’ Mas o patrão respondeu: ‘Foste um servo mau e preguiçoso! Sabias que ceifo onde não semeio e colho onde não cultivo, devias ao menos ter depositado o meu dinheiro no banco para que eu recuperasse o que é meu acrescido de juros. Tirem o dinheiro a este homem e deem-no ao dos dez talentos! Porque quem tiver receberá e terá em abundância; mas a quem não tem até o que tiver lhe será tirado. E mandem esse servo inútil lá para fora, para a escuridão, onde há choro e ranger de dentes.’ Quando eu, o Filho do Homem, vier na minha glória com todos os anjos, então sentar-me-ei no meu trono glorioso, e todas as nações serão reunidas diante de mim. Separarei o povo como um pastor aparta as ovelhas das cabras, e porei as ovelhas à minha direita e as cabras à minha esquerda. Então eu, o rei, direi aos que estiverem à minha direita: ‘Venham, filhos felizes do meu Pai, para o reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo. Porque tive fome e deram-me de comer; tive sede e deram-me água; era estranho e convidaram-me para vossas casas; andava nu e vestiram-me; estive doente e cuidaram de mim; estive na prisão e visitaram-me.’ Esses homens justos perguntarão: ‘Senhor, quando foi que alguma vez te vimos com fome e te demos de comer ou com sede e te demos de beber? Ou, sendo um estranho, te hospedámos ou, estando nu, te vestimos? Quando te vimos alguma vez doente ou na prisão e te visitámos?’ E eu, o rei, lhes direi: ‘É realmente como vos digo: quando fizeram isso a um destes meus mais insignificantes irmãos, a mim o fizeram!’ Voltar-me-ei para os que estiverem à minha esquerda e lhes direi: ‘Saiam daqui, malditos, para o fogo eterno preparado para o Diabo e seus demónios; porque tive fome e não me deram de comer, tive sede e não me deram de beber; fui um estranho e não me deram hospedagem, andava nu e não quiseram vestir-me; estive doente e na prisão e não me visitaram.’ Então responderão: ‘Senhor, quando foi que alguma vez te vimos com fome ou com sede, ou sendo tu estranho ou andando nu, ou estando doente ou na prisão e não te socorremos?’ E responderei: ‘É realmente como vos digo: quando não quiseram socorrer o mais insignificante destes meus irmãos, foi a mim que recusavam ajuda.’ Estes irão para o castigo eterno, mas os justos irão para a vida eterna.” Quando Jesus acabou esta conversa com os discípulos, disse-lhes: “Como sabem, a festa da Páscoa começa dentro de dois dias e serei traído e crucificado.” Naquela mesma altura, os principais sacerdotes e os anciãos estavam reunidos na residência de Caifás, o sumo sacerdote, para combinar como poderiam prender Jesus sem dar nas vistas e como matá-lo: “Não o façamos, porém, durante a festa da Páscoa, porque haveria tumulto.” Entretanto, Jesus encontrava-se em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Enquanto comia, entrou uma mulher com um vaso de alabastro com um perfume muito caro e derramou-lho sobre a cabeça. “Que desperdício de dinheiro!”, disseram os discípulos, zangados. “Mais valia tê-lo vendido por bom preço e dado o produto aos pobres!” Jesus percebeu os seus pensamentos e disse: “Porque estão a causar problemas a esta mulher, se ela me fez uma boa ação? É que os pobres sempre os terão convosco, mas a mim nem sempre me terão. Ela derramou este perfume sobre mim para preparar o meu corpo para a sepultura. É realmente como vos digo: em qualquer parte do mundo em que este evangelho seja pregado, o gesto dela será lembrado e elogiado.” Então Judas Iscariotes, um dos doze discípulos, foi ter com os principais sacerdotes e perguntou: “Quanto estão dispostos a pagar-me para vos entregar Jesus?” Deram-lhe trinta moedas de prata. A partir dali, Judas mantinha-se atento, à espera de ocasião para entregar Jesus. No primeiro dia da celebração dos pães sem fermento, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram: “Onde queres que te preparemos a refeição da Páscoa?” “Vão à cidade, procurem um certo homem e deem-lhe este recado: ‘O Mestre diz: Chegou a minha hora e pretendo tomar a refeição da Páscoa em tua casa com os meus discípulos.’ ” Então os discípulos fizeram como mandou e prepararam a ceia da Páscoa. Ao anoitecer, Jesus sentou-se a comer com os doze discípulos. Estavam a comer quando lhes disse: “É realmente como vos digo: um de vocês vai trair-me!” Eles ficaram muitíssimo tristes e cada qual começou a perguntar: “Serei eu, Senhor?” Ele respondeu: “Aquele que molhou comigo o pão no prato é quem me vai trair. O Filho do Homem tem de morrer, tal como as Escrituras disseram há muito. Mas ai do homem que me vai trair! Mais valia nunca ter nascido!” Também Judas, o que haveria de o trair, lhe perguntara: “Mestre, serei eu?” E Jesus respondera: “Tu próprio o disseste.” Quando estavam a comer, Jesus pegou no pão e, dando igualmente graças a Deus por ele, partiu-o e deu-o aos discípulos: “Tomem e comam; este é o meu corpo.” E levantando um cálice de vinho, agradeceu a Deus por ele, distribuiu-o pelos discípulos, e disse: “Bebam todos dele; porque isto é o meu sangue que sela a aliança e é derramado para perdoar os pecados de muitos. Prestem atenção às minhas palavras: não beberei outra vez deste vinho senão no dia em que o beber de novo convosco no reino do meu Pai.” Depois de cantarem um hino, foram até ao monte das Oliveiras. Então Jesus disse-lhes: “Esta noite todos irão abandonar-me, porque as Escrituras dizem: ‘Ferirei o pastor e espalhar-se-ão as ovelhas.’ Mas depois de eu ressuscitar, irei para a Galileia e lá me encontrarei convosco.” Pedro disse-lhe: “Façam os outros o que fizerem, nunca te abandonarei!” Mas Jesus retorquiu-lhe: “A verdade é que esta mesma noite, antes que o galo cante pela madrugada, negar-me-ás três vezes!” Mas Pedro declarou: “Nem que tenha de morrer contigo, nunca te negarei!” E todos os outros discípulos garantiram o mesmo. Jesus levou-os a um lugar chamado Getsemane, onde disse aos discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou ali orar.” Levou consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, e começou a sentir tristeza e angústia. E disse-lhes: “A minha alma está cheia de uma tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo.” Avançou um pouco e, prostando-se com o rosto em terra, orou: “Meu Pai, se é possível, que este cálice seja afastado de mim. Todavia, desejo a tua vontade e não a minha.” Voltou depois para junto dos três discípulos, mas encontrou-os a dormir. “Pedro, será que não podem velar comigo nem por uma hora? Vigiem e orem para não serem vencidos pela tentação, pois embora o espírito seja corajoso o corpo é fraco!” E retirou-se outra vez para orar: “Meu Pai, se este cálice não puder ser evitado, enquanto não o beber, cumpra-se a tua vontade.” Voltou de novo para junto dos discípulos e encontrou-os outra vez a dormir, porque tinham os olhos pesados de sono. Tornou a orar pela terceira vez, dizendo a mesma coisa. Então foi ter com os discípulos: “Ainda estão a dormir e a descansar? Chegou a hora! Vou ser entregue nas mãos dos pecadores! Levantem-se, vamos andando! Olhem, já aí vem aquele que me traiu!” Naquele momento, enquanto assim falava, Judas, um dos doze, chegou com muito povo armado de espadas e paus, enviado pelos principais sacerdotes e pelos anciãos do povo. Judas tinha-lhes dito que o entregaria com um sinal: “Saberão quem é quando o cumprimentar com um beijo. Então podem prendê-lo.” Judas aproximou-se logo de Jesus, exclamando: “Eu te saúdo, Mestre!” E beijou-o. “Amigo, faz já o que tens a fazer.” Então prenderam Jesus, segurando-o bem. Um dos discípulos puxou de uma espada e cortou a orelha do servo do sumo sacerdote. Então Jesus disse-lhe: “Guarda a espada no lugar dela! Pois todos quantos puxam da espada morrerão pela espada. Não percebes que bastava eu pedir ao meu Pai doze exércitos de anjos para nos protegerem, para os mandar imediatamente? Mas se o fizesse, como se cumpririam as Escrituras que há muito anunciaram o que está a acontecer agora?” Naquele momento, Jesus falou à multidão: “Sou algum assaltante perigoso para que venham assim prender-me, armados desta maneira com espadas e paus para me levarem preso? Todos os dias estava a ensinar no templo e não me prenderam. Mas tudo isto acontece para dar cumprimento às palavras dos profetas de que falam as Escrituras.” Naquela altura, todos os discípulos o abandonaram e fugiram. Aqueles que prenderam Jesus levaram-no à residência do sumo sacerdote Caifás, onde os especialistas na Lei e os anciãos já se juntavam. Pedro seguia-o de longe. Entrando pelo portão da casa do sumo sacerdote, sentou-se com os criados, à espera de ver o que fariam a Jesus. Os principais sacerdotes e todo o conselho dos anciãos reuniram-se ali e, em vão, tentavam encontrar alguma acusação falsa contra Jesus, que bastasse para o condenar à morte. Embora achassem muitos dispostos a testemunharem, todos acabaram por se revelarem falsas testemunhas. Por fim, encontraram dois homens que afirmaram: “Este disse que era capaz de destruir o templo de Deus e construí-lo outra vez em três dias.” O sumo sacerdote levantou-se e perguntou a Jesus: “Recusas responder a esta acusação? Que tens a dizer em tua defesa?” Jesus continuou calado, pelo que o sumo sacerdote ordenou: “Em nome do Deus vivo, declara-nos se afirmas ou não ser o Cristo, o Filho de Deus.” Jesus replicou: “Sim, sou! E hão de ver o Filho do Homem sentado à direita de Deus Todo-Poderoso, voltando nas nuvens do céu.” Então o sumo sacerdote rasgou as suas roupas e gritou: “Ofensa a Deus! Para que precisamos nós de outras testemunhas? Ouviram a sua blasfémia! Qual é a vossa sentença?” E gritaram: “A morte! Tem de morrer!” Cuspiram-lhe na cara e bateram-lhe, e outros até lhe deram bofetadas, dizendo: “Profetiza-nos, Cristo, quem foi que te bateu agora?” Entretanto, Pedro continuava sentado no pátio e uma criada disse-lhe: “Tu estavas com Jesus; tu e ele são da Galileia.” Mas Pedro negou, zangado: “Não faço ideia do que dizes.” Pouco depois, fora da porta, outra criada reparou nele e comentou com os que ali se encontravam: “Este também estava com Jesus de Nazaré.” Mas Pedro tornou a negar, jurando: “Eu nem sequer o conheço!” Decorrido algum tempo, os homens que tinham estado ali aproximaram-se dele e disseram: “Sabemos que és um deles por causa do teu sotaque galileu.” Pedro então começou a jurar e a praguejar: “Eu nem sequer conheço esse homem!”, repetia. E imediatamente o galo cantou. Pedro lembrou-se de que Jesus lhe tinha dito: “Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes.” E saindo dali chorou amargamente. Quando veio a manhã, os principais sacerdotes e os anciãos reuniram-se de novo para discutir como iriam convencer o governo romano a condenar Jesus à morte. Mandaram-no, pois, manietado, a Pilatos, o governador romano. Por essa altura, Judas, que o traiu, sabendo que Jesus tinha sido condenado à morte, lamentou o que tinha feito, e devolveu o dinheiro aos principais sacerdotes e aos anciãos. “Pequei, porque traí um inocente.” Replicaram-lhe: “Isso é contigo!” Então, atirando com o dinheiro para o lajeado do templo, saiu e enforcou-se. Os principais sacerdotes apanharam o dinheiro, dizendo: “Não podemos pô-lo nas ofertas visto ser contra as nossas leis aceitar dinheiro pago por assassínio.” Discutido o caso, resolveram comprar um campo onde os oleiros iam buscar barro e fazer ali um cemitério para os estrangeiros que morressem em Jerusalém. Por isso, o cemitério ainda tem o nome de Campo de Sangue. Assim se cumpriu a profecia de Jeremias em como tomariam as trinta moedas de prata, o preço pelo qual seria avaliado pelo povo de Israel, e as dariam por um campo do oleiro, como o Senhor ordenara. Jesus estava agora diante de Pilatos, o governador romano, que lhe perguntou: “És o rei dos judeus?” Respondeu-lhe: “Sim, é como tu dizes.” Às acusações dos principais sacerdotes e dos anciãos contra ele, Jesus não deu qualquer resposta. “Não ouves o que dizem?”, perguntou Pilatos. Mas Jesus continuou em silêncio, para grande espanto do governador. Ora o governador tinha por costume soltar todos os anos, por altura da Páscoa, um preso judeu, aquele que a multidão quisesse. Nesse ano encontrava-se encarcerado um criminoso muito conhecido chamado Barrabás. Quando o povo se juntou diante da casa de Pilatos naquela manhã, ele perguntou: “Quem querem que vos solte, Barrabás ou Jesus, chamado o Cristo?” Porque ele sabia que tinham prendido Jesus por inveja. Enquanto Pilatos presidia à sessão do tribunal, a mulher dele mandou-lhe este recado: “Deixa esse homem justo em paz, porque esta noite tive um pesadelo horrível por sua causa.” Entretanto, os principais sacerdotes e anciãos convenceram o povo a pedir a libertação de Barrabás e a condenação de Jesus à morte. E quando o governador tornou a perguntar: “Qual destes dois querem que vos solte?.” A multidão respondeu em grande gritaria: “Barrabás!” Pilatos tornou a perguntar: “Então que farei de Jesus, chamado o Cristo?” Eles gritaram: “Que ele seja crucificado!” “Porquê? Que mal fez ele?” E o povo rugia cada vez mais alto: “Que ele seja crucificado!” Quando Pilatos viu que não saíam daquilo e que começava a levantar-se tumulto, mandou buscar uma bacia de água e lavou as mãos diante da multidão, dizendo: “Estou inocente do sangue deste homem. A culpa é vossa!” E a multidão gritou: “Que a responsabilidade da sua morte recaia sobre nós e os nossos filhos!” Então Pilatos soltou Barrabás, mandou açoitar Jesus e entregou-o para ser crucificado. Assim, os soldados de Pilatos levaram Jesus para o palácio do governador e reuniram toda a guarnição em redor dele. Tirando-lhe a roupa, vestiram-lhe um manto vermelho escuro, fizeram uma coroa de espinhos e puseram-lha na cabeça, meteram-lhe uma vara na mão direita como se fosse o bastão de um rei e, ajoelhando-se diante dele, faziam troça, gritando: “Viva, ó rei dos judeus!” Cuspiam-lhe e, tirando-lhe a vara da mão, batiam-lhe com ela na cabeça. Quando acabaram toda aquela troça, tiraram-lhe o manto, vestiram-no novamente com as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. Quando iam a caminho do local da execução, encontraram-se com um homem de Cirene, que se chamava Simão, a quem obrigaram a carregar a cruz de Jesus. Foram pois para o local a que chamavam Gólgota, que significa “Lugar da Caveira”. Aí, os soldados deram-lhe a beber vinho misturado com fel mas, quando experimentou, não quis tomá-lo. Depois de o terem pregado na cruz, lançaram sortes para ver quem ficaria com as suas roupas. Sentaram-se à volta, montando guarda, enquanto ele ali estava pendurado. Por cima da sua cabeça, puseram uma tabuleta com a acusação contra ele: este é jesus, o rei dos judeus. Com Jesus foram crucificados dois malfeitores, ficando um à direita e outro à esquerda. As pessoas que passavam insultavam-no, sacudindo a cabeça e dizendo: “És capaz de destruir o templo e construí-lo de novo em três dias, não és? Então, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!” Também os principais sacerdotes, os especialistas na Lei e os anciãos troçavam dele: “Salvou os outros, mas não pode salvar-se a si próprio. É o Rei de Israel? Então desça da cruz e acreditaremos nele! Confiou em Deus? Então que o livre se, de facto, tem prazer nele. Não disse que era o Filho de Deus?” Até os malfeitores que com ele ali foram crucificados o amaldiçoavam. Ao meio-dia, a terra inteira ficou em trevas, que duraram até às três horas daquela tarde. Às três da tarde Jesus exclamou em voz muito alta: “Eli, Eli, lema sabactani?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Alguns dos que ali se encontravam pensaram que chamava por Elias. Um homem correu, ensopou uma esponja e, embebendo-a em vinho azedo, elevou-a até ele num pau. Mas os outros diziam: “Espera, para vermos se Elias vem salvá-lo!” Jesus deu outro clamor, entregou o espírito e morreu. Nesse instante, o véu do templo rasgou-se em dois pedaços, de cima a baixo. A terra tremeu, as rochas fenderam-se. Os túmulos abriram-se e muitos homens e mulheres santos que tinham morrido voltaram à vida. Deixando o cemitério, depois da ressurreição de Jesus, entraram em Jerusalém, onde apareceram a muita gente. O oficial romano e os soldados escolhidos para estarem de serviço na crucificação ficaram cheios de medo com o terramoto e com tudo o que acontecera, e eles próprios confessaram: “Verdadeiramente era o Filho de Deus!” Muitas mulheres que tinham vindo da Galileia com Jesus, para tratar dele, estavam à distância, assistindo à cena. Entre elas achavam-se Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José, e a mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu. Quando caiu a noite, um homem rico de Arimateia, chamado José, seguidor de Jesus, foi ter com Pilatos e pediu o seu corpo. Pilatos deu ordem para que lho entregassem. José levou o corpo e envolveu-o num grande lençol de puro linho. Colocou-o no seu túmulo novo que tinha sido escavado na rocha. Ao sair, rolou uma grande pedra para tapar a entrada. Tanto Maria Madalena como a outra Maria estavam sentadas diante do túmulo, a olhar. No dia seguinte, o primeiro dia das celebrações da Páscoa, os principais sacerdotes e os fariseus foram ter com Pilatos e disseram-lhe: “Senhor, aquele mentiroso disse certa vez: ‘Depois de três dias voltarei a viver.’ Portanto, pedimos-te que dês ordens para selar o túmulo até ao terceiro dia, não vão os seus discípulos roubar o corpo e dizer depois a toda a gente que ele tornou a viver. Pois esta mentira seria pior do que a primeira!” Ao que Pilatos respondeu: “Chamem a própria guarda do templo e guardem o túmulo o melhor que puderem.” Selaram, pois, a pedra e puseram guardas para a defender de qualquer estranho. Na madrugada de domingo, quando nascia o novo dia, Maria Madalena e a outra Maria foram ao túmulo. E houve um grande terramoto, porque um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra para um lado e sentou-se sobre ela. O seu rosto brilhava como um clarão e tinha vestes muito brancas. Quando o viram, os guardas tremeram de medo, ficando como mortos. Então, o anjo falou às mulheres: “Não tenham medo! Sei que procuram Jesus, que foi crucificado. Mas ele não está aqui, porque tornou a viver, conforme tinha dito. Entrem e vejam onde o seu corpo estava deitado. E agora vão depressa e contem aos discípulos que ele ressuscitou e que vai adiante de vocês para a Galileia e ali o verão. É esta a mensagem que tenho para vos dar.” As mulheres, muito amedrontadas, mas também cheias de alegria, afastaram-se a correr do túmulo e apressaram-se a procurar os discípulos para lhes dar o recado do anjo. Iam a caminho, quando Jesus surgiu de súbito à sua frente e as saudou. Elas, abraçando-lhe os pés, adoraram-no. Jesus disse-lhes: “Não tenham medo! Vão dizer aos meus irmãos que partam já para a Galileia para se encontrarem ali comigo.” Enquanto as mulheres iam para a cidade, alguns dos que estavam de guarda ao túmulo foram ter com os principais sacerdotes e contaram-lhes o sucedido. Fez-se uma reunião de todos os anciãos e decidiu-se dar dinheiro aos guardas, para que dissessem que, estando todos a dormir, os discípulos de Jesus tinham vindo durante a noite e roubado o corpo. “Se o governador souber disto, defender-vos-emos e tudo ficará em bem”, prometeram os sacerdotes aos soldados. Assim, os guardas aceitaram o dinheiro e falaram conforme lhes tinha sido dito. A sua mentira espalhou-se entre os judeus, que ainda hoje acreditam nela. Então os onze discípulos partiram para a Galileia e foram para a montanha onde Jesus tinha dito que o encontrariam. Ali o acharam e o adoraram; mesmo assim, havia alguns que não tinham a certeza de ser Jesus. “Toda a autoridade no céu e na Terra me foi dada”, disse aos discípulos. “Portanto, vão e façam discípulos em todas as nações. Batizem-nos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinem-os a obedecer a todos os mandamentos que vos dei. E fiquem certos de que estou sempre convosco, até ao fim do mundo.” Aqui começa a boa nova de Jesus o Cristo, o Filho de Deus. No livro escrito pelo profeta Isaías, Deus anunciou a seu respeito: “Envio o meu mensageiro diante de ti, para preparar o caminho à tua frente.” “Este mensageiro é a voz gritando no deserto: ‘Façam um caminho direito para o Senhor. Façam-lhe um caminho direito.’ ” Este mensageiro foi João Batista, que apareceu no deserto a pregar que as pessoas deviam batizar-se, como sinal de se terem arrependido dos seus pecados, a fim de serem perdoadas. Gente de Jerusalém e de toda a Judeia ia até aos lugares afastados da Judeia para o ver e ouvir; e, quando confessavam os seus pecados, batizava-os no rio Jordão. A roupa dele era feita de pelo de camelo tecido e usava um cinto de cabedal; e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Este é um exemplo da sua pregação: “Em breve chegará alguém que é muito maior do que eu, tanto assim que nem sou digno de me ajoelhar para lhe descalçar as sandálias. Eu batizo-vos com água, mas ele vai batizar-vos com o Espírito Santo.” Um dia, Jesus veio de Nazaré, na região da Galileia, e foi batizado por João no rio Jordão. No momento em que saía da água, viu os céus abertos e o Espírito Santo que descia sobre si, na forma de uma pomba. E uma voz do céu disse: “Tu és o meu Filho amado, em ti tenho grande prazer.” Logo o Espírito Santo levou Jesus para o deserto. Ali, durante quarenta dias, acompanhado pelos animais do deserto, sofreu tentações de Satanás. E os anjos serviam-no. Mais tarde, depois de João ter sido preso pelo rei Herodes, Jesus foi para a Galileia, a fim de pregar as boas novas de Deus: “Chegou finalmente o tempo!”, anunciou ele. “O reino de Deus está próximo! Deixem os vossos pecados e creiam nesta boa nova!” Um dia, ia Jesus caminhando ao longo da costa do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, a pescar com uma rede, pois eram pescadores por ofício. Jesus chamou-os: “Venham e sigam-me. Farei de vocês pescadores de pessoas!” No mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no. Avançando um pouco mais, viu na praia os filhos de Zebedeu, Tiago e João, num barco a remendar as redes. Chamou-os também e logo o seguiram, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados. Jesus e os companheiros chegaram a Cafarnaum no sábado, foram à sinagoga e ali ensinava. As pessoas ficaram admiradas com o seu ensino, pois falava com autoridade, ao contrário dos especialistas na Lei. Achava-se ali presente um homem dominado por um espírito impuro, que começou a gritar: “Porque nos vens inquietar, Jesus de Nazaré? Vieste destruir-nos? Sei quem és: és o santo Filho de Deus!” Jesus, porém, impediu-o de falar. “Cala-te!”, disse ao demónio. “Sai dele!” O espírito impuro soltou um grito muito forte e, com uma convulsão violenta, deixou o homem. As pessoas ficaram todas tão pasmadas que se puseram a discutir o sucedido. “Que novo ensino será este, apresentado com autoridade?”, perguntavam. “Pois até os espíritos impuros lhe obedecem!” A notícia do que ele tinha feito depressa se espalhou por toda a região da Galileia. Quando saiu da sinagoga com os discípulos, foram a casa de Simão e André, e Tiago e João estavam com eles. A sogra de Simão estava deitada com febre e contaram-no a Jesus; e foi levantá-la da cama. Ao pegar-lhe na mão, a febre desapareceu e ela foi servi-lo. Ao cair da tarde, à hora do pôr-do-sol, trouxeram a Jesus todos os que sofriam e os possuídos de demónios. E toda a população da a cidade se juntou do lado de fora da porta a observar. E curou muitos que sofriam de várias doenças e expulsou os demónios. Mas não deixava os demónios falar, pois sabiam quem ele era. Na manhã seguinte, levantou-se de madrugada e foi sozinho até um lugar deserto para orar. Mais tarde, Simão e os outros saíram à sua procura e disseram-lhe: “Toda a gente pergunta por ti.” Mas ele respondeu: “Devemos seguir também para outras localidades e apresentar ali a minha mensagem, pois foi para isso que vim.” Percorria, assim, toda a província da Galileia, pregando nas sinagogas e livrando muitos do poder dos demónios. Um leproso chegou-se e ajoelhou-se, rogando-lhe: “Se quiseres, podes curar-me!” Então Jesus, cheio de compaixão e estendendo a mão, tocou-lhe e disse: “Sim, quero; sê curado!” Logo a lepra o deixou e o homem ficou curado. Então Jesus, falando com firmeza, despediu-o: “Presta atenção: não digas nada a ninguém. Vai apresentar-te ao sacerdote e leva contigo a oferta que Moisés estabeleceu para a cura, para que lhes sirva de testemunho.” Mas o homem começou a gritar pelo caminho a boa notícia de que estava curado. E tão grande foi a multidão que rodeou Jesus que em nenhuma região ou cidade podia entrar discretamente, vendo-se obrigado a ficar de fora, nos sítios isolados, onde de toda a parte vinha gente procurá-lo. Passados vários dias, voltou a Cafarnaum e a notícia da sua chegada depressa se espalhou pela cidade. Logo a casa onde estava ficou tão cheia de visitantes que não havia espaço para mais ninguém, nem sequer do lado de fora. E Jesus anunciava-lhes a mensagem de Deus. Logo quatro homens lhe trouxeram, numa esteira, um rapaz paralítico. Como não pudessem chegar junto de Jesus por causa da multidão, abriram o teto por cima do lugar onde se encontrava, e por ali baixaram o doente deitado na cama, bem na sua frente. Vendo a fé de que davam provas, Jesus disse ao doente: “Filho, os teus pecados estão perdoados!” Alguns dos especialistas na Lei que ali estavam sentados diziam no seu coração: “Mas porque fala ele assim? Ele está a blasfemar! Só Deus pode perdoar os pecados!” E Jesus, de imediato percebendo no seu espírito o que eles estavam a pensar consigo mesmos, disse-lhes: “Porque estão a pensar isso nos vossos corações? O que é mais fácil dizer: ‘os teus pecados são perdoados’ ou ‘levanta-te, pega na tua enxerga e anda?’ Portanto, vou provar-vos que o Filho do Homem tem autoridade para perdoar os pecados.” E voltando-se para o paralítico, disse-lhe: “A ti digo: Levanta-te, enrola a tua esteira e vai para casa!” O homem pôs-se em pé. E apanhando a esteira, abriu caminho à vista de toda a gente que ali se encontrava, de forma que toda a gente ficou admirada e glorificava a Deus. “Nunca vimos nada assim!”, diziam. Depois, foi de novo para a praia, ensinando o povo reunido à sua volta. Ia Jesus a passar quando viu Levi, filho de Alfeu, sentado num balcão de cobrança, e disse-lhe: “Vem comigo e sê meu discípulo!” Levi levantou-se e seguiu-o. Mais tarde, estava Jesus a comer em casa dele, veio também sentar-se à mesa com este e os seus discípulos um bom número de cobradores de impostos e outros pecadores. Aliás, havia muitos homens desta espécie entre o povo que seguia a Jesus. Quando alguns especialistas na Lei que pertenciam ao grupo dos fariseus o viram comer com pecadores e cobradores de impostos, perguntaram aos discípulos: “Porque come o vosso mestre com cobradores de impostos e outros pecadores?” Ao ouvi-los, Jesus respondeu-lhes: “Quem precisa de médico são os doentes, não os que têm saúde! Não vim chamar os justos, mas os pecadores.” Os discípulos de João e os fariseus jejuavam. Certo dia, foram ter com Jesus e perguntaram-lhe porque não faziam os seus discípulos o mesmo que eles. Jesus replicou: “Podem os convidados do noivo jejuar, enquanto o noivo ainda está com eles? Enquanto tiverem o noivo com eles, não podem jejuar. Lá virá o tempo em que lhes será tirado. Então, sim, jejuarão. É como remendar roupa velha com um pedaço de pano que ainda não encolheu. De outro modo, o remendo novo repuxa o tecido velho e o buraco fica pior do que antes. Sabem que não convém pôr vinho novo em odres velhos, se não estes rebentam, o vinho espalha-se e os odres ficam estragados. Para vinho novo, odres novos.” Noutra ocasião, num sábado, enquanto Jesus e os seus discípulos atravessavam umas searas, estes começaram a caminhar, a arrancar espigas de trigo e a comer o grão. Alguns dos fariseus disseram então a Jesus: “Porque estão a fazer o que não é permitido no dia de sábado?” “Nunca leram o que o rei David fez quando ele e os companheiros estavam necessitados e com fome, como entrou na casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, comeu os pães da Presença, que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e os deu também aos seus companheiros? O sábado foi feito em benefício do homem e não o homem por causa do sábado. Eu, o Filho do Homem, sou o Senhor do próprio sábado.” Jesus foi de novo à sinagoga e aí reparou num homem que tinha uma mão aleijada. E vigiavam atentamente Jesus, para ver se ele curaria o homem no dia de sábado, para terem de que o acusar. Jesus pediu ao homem com a mão paralisada: “Levanta-te e vem aqui ao meio.” Então, voltando-se para os que o observavam, perguntou: “É legítimo praticar o bem num sábado ou praticar o mal? É dia para salvar vidas ou para destruí-las?” Mas eles não foram capazes de lhe responder. Olhando indignado em volta, e profundamente triste, por causa dos seus corações endurecidos, Jesus disse ao homem: “Estende o braço!” Ele assim fez e imediatamente a sua mão ficou completamente normal. Os fariseus saíram e tiveram um encontro com os herodianos, a fim de combinarem como haveriam de o matar. Entretanto, Jesus e os discípulos foram para a beira-mar e uma enorme massa de gente o seguia, vinda da Galileia, da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, de além do rio Jordão e até do outro lado de Tiro e Sídon. Ao ouvirem falar do que ele fizera, muita gente acorreu para o ver. Jesus disse aos discípulos que tivessem um bote pronto para o recolher se a multidão na praia o apertasse. Com efeito, tinha realizado muitas curas, de modo que todos os que tinham males o comprimiam, procurando tocar-lhe. E onde quer que os possuídos de espíritos impuros o vissem, caíam à sua frente, clamando: “És o Filho de Deus!” Contudo, advertia-os expressamente que não revelassem quem ele era. Jesus subiu a uma montanha, reuniu aqueles que entendeu e estes foram juntar-se a ele. Nomeou então doze, a quem designou apóstolos, para o acompanharem, enviá-los a pregar e a expulsar demónios. Assim se chamavam os doze que escolheu: Simão (a quem pôs o nome de Pedro); Tiago e João, filhos de Zebedeu, a quem Jesus chamou filhos do Trovão; André; Filipe; Bartolomeu; Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o zelote; e Judas Iscariotes que viria a traí-lo. Quando Jesus voltou para a casa, o povo começou a juntar-se outra vez. E não tardou que ficasse tão cheia que nem Jesus, nem os discípulos, tinham tempo para comer. Quando os seus familiares souberam o que estava a acontecer tentaram levá-lo dali e diziam: “Está fora de si!” Porém, os especialistas na Lei que tinham chegado de Jerusalém diziam: “Ele está mas é dominado por Belzebu; por isso expulsa os demónios pelo líder dos demónios.” Jesus chamou então estes homens e perguntou-lhes por meio de uma parábola: “Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino está dividido contra si mesmo não pode subsistir. E se uma está dividida contra si mesma também não poderá subsistir. Ora, se Satanás luta contra si próprio e está dividido, não pode subsistir; antes é o seu fim. Ninguém pode entrar na casa do homem forte e levar os seus bens, sem antes amarrá-lo. Só então poderá roubar-lhe a casa. É realmente como vos digo: qualquer pecado dos homens pode ser perdoado, incluindo a blasfémia. Mas a ofensa contra o Espírito Santo, essa não pode nunca ser perdoada. É um pecado que fica para sempre.” Disse-lhes isto porque afirmavam que os seus milagres eram feitos por um espírito impuro. Entretanto, sua mãe e irmãos apareceram do lado de fora da casa onde ele estava e mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada à volta dele. E disseram-lhe: “A tua mãe, irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura!” Jesus respondeu: “Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?” E, olhando para os que o rodeavam, acrescentou: “Estes é que são a minha mãe e os meus irmãos! Todo aquele que faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Uma vez mais, logo se juntou uma multidão imensa, pelo que entrou num barco e se sentou nele. O barco estava na água, enquanto a multidão ficava à beira-mar, mas em terra. E ensinava as pessoas por meio de parábolas. Numa delas, deu-lhes este ensino: “Ouçam bem: certo homem foi semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em solo pedregoso com pouca terra; como o solo não tinha profundidade cresceram logo. Mas quando o sol rompeu, murcharam; e como não ganharam raízes, acabaram por secar. Outras caíram entre espinhos que em pouco tempo sufocaram os rebentos, pelo que não deram grão. Outras, porém, outras caíram em bom solo, cresceram, desenvolveram-se e deram trinta, sessenta ou cem vezes mais. Quem tem ouvidos, ouça!” E logo que se achou a sós, os que o acompanhavam, juntamente com os doze discípulos, pediram-lhe a explicação das parábolas. Ele respondeu-lhes: “É-vos concedido conhecer o mistério do reino de Deus; mas àqueles que estão fora, tudo se expõe por parábolas. ‘De modo que, ainda que vejam e vejam, não percebam, e ainda que ouçam e ouçam, não entendem. Não estou empenhado em que se arrependam, nem em perdoá-los.’ ” E acrescenta: “Se não entenderem esta parábola, como compreenderão todas as outras? O homem vai semear a palavra. As sementes que ficam à beira do caminho são aqueles que receberam a palavra; mal a ouvem, logo vem Satanás tirar-lhes a palavra que neles tinha sido semeada. As semeadas em solo pedregoso são os que ouvem a palavra e a recebem com alegria. Todavia, não deitam raízes, antes duram pouco; depois, aparecem dificuldades ou perseguições por causa da palavra, e logo essa pessoa se escandaliza. As semeadas entre os espinhos são os que ouvem a palavra, mas as preocupações desta vida, a ambição da riqueza e os outros desejos surgem e abafam a palavra, pelo que fica sem fruto. Mas as sementes plantadas em solo bom são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, e produzem uma colheita trinta, sessenta ou até cem vezes maior!” Jesus perguntou-lhes: “Quando alguém acende uma lâmpada, será que a coloca debaixo duma caixa ou da cama? Não a coloca antes num candeeiro? Pois nada há oculto que não venha a mostrar-se, nem nada encoberto que não venha a manifestar-se. Quem tem ouvidos, ouça! Cuidado com o que ouvem! A medida que usarem para medir será usada também para vos medir e ainda vos será aumentada. Quem tiver receberá; mas a quem não tem até o que tiver lhe será tirado. Vou explicar-vos de outra maneira o reino de Deus: Um lavrador semeou o seu campo e foi embora. Com o passar dos dias, as sementes foram crescendo sem a sua ajuda, pois era a terra que fazia as sementes crescerem. Primeiro, apareceu uma folha, mais tarde, formaram-se as espigas de trigo, até que por fim o grão amadureceu. O lavrador veio logo com a foice e tratou de colhê-lo. A que compararei o reino de Deus? Que parábola contarei para o explicar? É como uma semente de mostarda; ao ser plantada na terra, embora seja a menor de todas as sementes que existem, cresce e transforma-se na maior de todas as plantas, e dá grandes ramos, em cuja sombra as aves do céu podem fazer os seus ninhos.” Por meio de muitas parábolas como esta anunciava a palavra ao povo, até onde este podia entendê-la. Aliás, nunca o fazia sem lhes contar uma parábola; mas quando estava a sós com os discípulos, explicava-lhes o que queria dizer. Ao cair da tarde desse dia, Jesus disse aos discípulos: “Vamos atravessar para a outra margem do lago.” Deixando a multidão para trás, entraram no barco onde ele já estava e começaram a travessia, embora outros barcos os seguissem. Mas logo se levantou um tão grande temporal, com vendaval e ondas rebentando contra o barco, que este já estava cheio de água. Entretanto, Jesus dormia deitado na popa, com a cabeça numa almofada. Inquietos, acordaram-no, gritando: “Mestre, não te preocupa que estejamos quase a morrer?” Ele, levantando-se, repreendeu o vento e disse ao mar: “Aquieta-te!” O vento parou e fez-se uma grande calma. E disse-lhes: “Porque estavam com tanto medo? Ainda não têm fé?” E tomados de grande espanto, perguntavam uns aos outros: “Mas quem é este, a quem o próprio vento e o mar obedecem?” Chegaram ao outro lado do lago, à terra dos Gerasenos. Ao desambarcar, um homem vindo dum cemitério, possuído por um espírito impuro, veio ao seu encontro. Este homem morava entre os túmulos e ninguém conseguia prendê-lo nem sequer com correntes. Pois muitas vezes o tentaram prender com grilhões e correntes, mas ele partia os grilhões dos pulsos e despedaçava as correntes, sem que ninguém conseguisse dominá-lo. Durante o dia e pela noite dentro, errava entre os túmulos e pelos montes desertos, dando gritos e ferindo-se com pedras. Mal viu Jesus, vinha este ainda longe, correu ao seu encontro. E deitando-se no chão à sua frente, soltou um grito forte: “Que queres tu de mim, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Peço-te por Deus que não me atormentes!” Jesus falou ao demónio que existia dentro dele: “Sai deste homem, espírito impuro!” “Como te chamas?” perguntou Jesus. “Exército, porque somos muitos.” E pedia com insistência a Jesus que não os expulsasse para fora da região. Ora, andava ali perto, no monte acima do lago, uma grande vara de porcos a pastar, e os demónios rogaram-lhe: “Manda-nos para aqueles porcos.” Jesus concordou. Então, os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. A vara de 2000 porcos precipitou-se, caindo por um despenhadeiro no mar, onde se afogou. Os porqueiros fugiram para a cidade e campos, espalhando a notícia, e as pessoas vieram ver o que tinha sucedido. As pessoas dirigiram-se ao encontro de Jesus e viram o endemoninhado ali sentado, agora vestido e em seu perfeito juízo, e ficaram com medo. Aqueles que tinham assistido ao que tinha acontecido ao endemoninhado contavam aos outros. E a multidão chegou até a pedir a Jesus que fosse embora da região. Assim, voltou para o barco e o homem que tinha andado possuído dos demónios pediu a Jesus que o deixasse acompanhá-los. Mas Jesus não quis: “Volta para a tua família e conta-lhe as maravilhas que o Senhor te fez e como foi tão bondoso contigo.” O homem partiu, para percorrer as Dez Cidades, e contava a toda a gente as grandes coisas que Jesus lhe tinha feito, e todos ficavam pasmados a ouvi-lo. Quando Jesus atravessou de barco para a outra margem do lago, uma enorme multidão juntou-se à sua volta na praia. O líder da sinagoga daquele lugar, cujo nome era Jairo, veio e prostrou-se a seus pés, suplicando-lhe com insistência: “A minha filha está às portas da morte. Vem colocar as mãos sobre ela para ser curada, e ela ficará viva!” Jesus foi com ele. Uma grande multidão o acompanhava e comprimia. Entre todo aquele povo encontrava-se uma mulher que sofria, havia doze anos, de uma perda de sangue. Durante esse tempo padecera bastante às mãos de muitos médicos, e tinha gasto tanto com eles que ficara pobre, sem ver quaisquer melhoras; antes piorara. Ouvira falar tanto nos espantosos milagres de Jesus que; aproximou-se no meio da multidão por trás e tocou-lhe no manto, pois dizia: “Se ao menos eu lhe tocar no manto, ficarei curada.” De facto, logo que lhe tocou, o sangue parou de correr e percebeu que estava curada. Jesus de imediato sentiu que saíra de si poder e, olhando para trás, perguntou: “Quem foi que me tocou na roupa?” Os discípulos disseram-lhe: “Com toda esta gente à tua volta, ainda perguntas quem te tocou?” Ele continuou a olhar à sua volta para encontrar quem fizera aquilo. Então a mulher, amedrontada e a tremer, sabedora do que lhe tinha acontecido, chegou-se, pôs-se de joelhos diante dele e declarou o que tinha feito. Jesus disse-lhe: “Filha, a tua fé te curou! Vai em paz, estás livre do teu mal!” Jesus falava ainda com ela, quando chegaram uns mensageiros da casa de Jairo, líder da sinagoga, com a notícia: “A tua filha já morreu. Porque estás ainda a incomodar o Mestre?” Jesus, contudo, não fez caso do que diziam e disse para o líder da sinagoga: “Não tenhas medo, crê somente!” Jesus não deixou ninguém acompanhá-lo a não ser Pedro, Tiago e João. Quando chegaram, havia uma grande confusão, ouvindo-se choro e lamentações. E dirigiu-se aos que ali estavam: “Para que é todo este choro e alvoroço? A menina não está morta, apenas dorme!” E riram-se de troça. Mas Jesus mandou todos saírem e, acompanhado do pai e da mãe da criança e dos três discípulos, entrou no quarto onde estava deitada. E segurando-lhe na mão, disse: “Talita kum!” (Que quer dizer: “Menina, levanta-te!”) E a menina, que tinha doze anos de idade, pôs-se imediatamente de pé e começou a andar. Os pais ficaram pasmados. Jesus recomendou-lhes muito que não contassem aquilo a ninguém e mandou que dessem de comer à filha. Logo depois disto, Jesus saiu daquela parte do país e voltou com os discípulos para a sua terra. No sábado seguinte, foi à sinagoga e começou a ensinar. Ao ouvirem-no, muitos ficaram admirados com a sua sabedoria e milagres. E diziam: “De onde lhe veio toda esta sabedoria? Como pode realizar tais milagres com as próprias mãos? Não é ele o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E as suas irmãs não moram aqui mesmo, nesta localidade?” E estavam escandalizados com ele. Então Jesus disse-lhes: “Um profeta é honrado em qualquer lugar menos na sua terra, entre o seus parentes e no meio da própria casa.” Por não acreditarem nele, Jesus não pôde fazer ali nenhum grande milagre, a não ser colocar as mãos sobre alguns doentes e curá-los. Jesus estava admirado por causa da falta de fé deles. E andava pelas aldeias em redor a ensinar. Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. Disse-lhes: “Nada levem convosco a não ser o bordão; nem comida, nem saco de viagem, nem dinheiro de cobre à cintura; sandálias, só as que tiverem nos pés, e nem mesmo uma muda de roupa.” E acrescentou: “Sempre que entrarem numa casa, fiquem nela até à vossa partida. Se uma qualquer localidade não vos receber nem ouvir, sacudam a poeira dos vossos pés, quando saírem, como testemunho de que abandonaram essa terra à sua própria sorte.” Então os discípulos partiram, incitando todos os que encontravam a abandonarem o pecado. Expulsaram muitos demónios e curaram muitos doentes, ungindo-os com azeite. Não tardou que o rei Herodes ouvisse falar de Jesus, cujos milagres eram contados com espanto em toda a parte. Algumas pessoas declaravam que era João Batista que tinha voltado à vida. Por isso, diziam: “Não admira que possa fazer tais milagres!” Havia gente também que pensava que Jesus fosse Elias; outros, ainda, afirmavam que era um novo profeta igual aos do passado. Herodes, ao tomar conhecimento destes factos, disse: “Não! É João, a quem degolei. Ressuscitou dentre os mortos!” Porque Herodes respeitava João, sabendo que era um homem justo e santo e protegia-o. Sempre que falava com João, Herodes ficava preocupado, mas gostava de ouvi-lo. Até que, por fim, chegou a oportunidade que Herodíade esperava. Herodes fazia anos e dera uma festa para a gente do palácio, para os oficiais do exército e para as pessoas importantes da Galileia. A certa altura, entrou a filha de Herodíade que dançou na presença dos convidados e agradou a todos. “Pede-me o que quiseres”, prometeu o rei, “que eu dou-te nem que seja metade do meu reino.” Ouvindo isto, ela saiu para se aconselhar junto da mãe, que lhe disse: “Pede-lhe a cabeça de João Batista!” Então voltou à presença do rei: “Dá-me a cabeça de João Batista numa bandeja!” O rei ficou muito triste com o pedido, mas teve vergonha de quebrar o juramento diante dos convidados. Mandou então um membro da sua guarda pessoal à prisão cortar a cabeça de João e trazê-la. O soldado matou João no cárcere e trouxe a sua cabeça numa bandeja, entregando-a à jovem, que a levou à mãe. Quando os discípulos de João souberam o que tinha acontecido, foram buscar o corpo e sepultaram-no num túmulo. Por fim, os apóstolos voltaram da sua viagem. Foram ter com Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e como tinham falado às populações visitadas. Jesus disse-lhes: “Saiamos por um pouco do meio do povo para descansar.” Pois era tanta a gente que ia e vinha que mal tinham tempo para comer. E saíram de barco para um sítio mais sossegado. Contudo, muitos aperceberam-se disso e, correndo pela praia, foram esperá-los no ponto de desembarque. Quando Jesus saiu do barco, já lá se encontrava uma enorme multidão; teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor e ensinou-lhes muitas coisas que precisavam de saber. Como a hora já fosse bastante avançada, os discípulos foram ter com Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já vai avançada. Manda o povo retirar-se, para ir às aldeias e campos dos arredores comprar alguma coisa para comer.” Jesus respondeu: “Deem-lhes vocês de comer.” Responderam: “Como? Seria preciso duzentas moedas de prata para comprar comida para tanta gente!” “Quanta comida temos? Vão ver.” Eles voltaram, dizendo que havia cinco pães e dois peixes. Então Jesus disse à multidão que se sentasse. E sentaram-se, na erva verde, em grupos de cinquenta ou cem. E tomando os cinco pães e os dois peixes, Jesus ergueu os olhos para o céu e abençoou-os. Depois, partiu os pães em pedaços e deu-os aos discípulos, para que os oferecessem ao povo. E distribuiu também os dois peixes entre todos. Todos comeram até ficarem satisfeitos. E quando os sobejos foram recolhidos, as sobras dos peixes enchiam doze cestos. O número de homens que comeu foi de 5000. Logo a seguir, Jesus mandou os discípulos voltar para o barco e partir à sua frente, atravessando o lago até Betsaida, enquanto ele tratava de mandar a multidão embora. Depois disto, Jesus subiu à montanha para orar. Caiu a noite, o barco já estava no meio do lago e ele ainda se encontrava sozinho em terra. Jesus viu que remavam com dificuldades, pois o vento soprava em sentido contrário. Por volta das quatro horas da madrugada, foi ter com eles, a caminhar sobre a água, e ia passar-lhes adiante. Ao verem-no caminhar sobre a água, gritaram de terror, pensando que fosse um fantasma. Todos o viam e ficaram inquietos. Imediatamente ele lhes disse: “Está tudo bem, sou eu, não tenham medo!” Então subiu para o barco e o vento cessou. Os discípulos ficaram ali sentados, de boca aberta, sem compreender o que se passara. Porque ainda não tinham percebido quem Jesus realmente era, nem mesmo depois do milagre da tarde anterior. Os seus corações estavam endurecidos. Quando chegaram a Genezaré, do outro lado do lago, amarraram o barco. Mal desembarcaram, os habitantes reconheceram-no logo. Percorriam toda a região, começando a trazer-lhe os doentes em esteiras e padiolas. Aonde quer que fosse, aldeias, cidades e campo, punham os doentes nas praças e ruas, pedindo que os deixasse ao menos tocar na borda da sua roupa. E todos os que lhe tocavam ficavam curados. Um dia, chegaram de Jerusalém uns fariseus e especialistas na Lei para falarem com Jesus. E notaram que alguns dos seus discípulos comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavarem. (Porque os judeus, sobretudo os que são fariseus, nunca comem sem lavar ritualmente as mãos, conforme o exigem as antigas tradições. E quando voltam da rua para casa, devem sempre lavar-se deste modo antes de tocar em qualquer comida. Este é apenas um entre os muitos exemplos das leis a que se agarraram, tais como o ritual de purificação de vasilhas, panelas e pratos.) Os fariseus e especialistas na Lei perguntaram-lhe: “Porque não seguem os teus discípulos os costumes dos antigos e comem com as mãos impuras?” Jesus respondeu: “Fingidos! Bem falou Isaías, o profeta, a vosso respeito: ‘Este povo honra-me de mim com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Os seus atos de adoração são vazios, porque ensinam doutrinas criadas por homens.’ Isaías bem tinha razão! Porque vocês desprezam as ordens expressas de Deus para porem no seu lugar as vossas próprias tradições. Rejeitam os mandamentos bem claros de Deus para manter as vossas próprias tradições. Por exemplo: Moisés ordenou-vos da parte de Deus: ‘Honra o teu pai e a tua mãe’, acrescentando que ‘todo aquele que falar contra o pai ou a mãe deverá ser morto.’ Assim ofendem a Lei divina para defender as vossas tradições criadas por homens. E isto é só um exemplo, porque há muitos mais.” Então chamou de novo a multidão e disse-lhe: “Escutem todos o que vos digo e procurem entender. Não há nada exterior ao homem que ao entrar nele o torne impuro; antes o que sai dele é que o torna impuro.” Quem tem ouvidos para ouvir ouça. Depois de deixar aquele povo, entrou numa casa e os discípulos perguntaram-lhe o que queria dizer com a parábola que acabara de contar. “Então não entendem?”, perguntou-lhes. “Não percebem que nada do que vem do exterior e entra no homem pode torná-lo impuro? Pois não vai para o coração, mas para o estômago e é lançado na latrina.” Com estas palavras, Jesus queria dizer que todos os alimentos ficam puros, independentemente de se lavarem as mãos. E acrescentou: “O que sai do homem é que o torna impuro. Porque do seu íntimo, do seu coração, vêm os maus pensamentos, imoralidades sexuais, roubos, homicídios, adultérios, cobiça, maldades, engano, indecências, inveja, calúnia, orgulho e coisas insensatas. Todas essas coisas más procedem do íntimo da pessoa; são elas que tornam o homem impuro.” Depois, saiu da Galileia e foi para a região de Tiro e Sídon, mas não conseguiu esconder que estava ali. Como de costume, a notícia da sua chegada depressa se espalhou. Imediatamente foi procurado por uma mulher cuja filha estava possuída por um espírito impuro. Como tinha já ouvido falar em Jesus, aproximou-se dele e prostrou-se aos seus pés, pedindo-lhe muito que livrasse a filha do poder do demónio. Tratava-se de uma siro-fenícia, uma estrangeira, e por isso desprezada pelos judeus. Jesus disse-lhe: “Primeiro tenho que ajudar os da minha família, os judeus. Não está certo tirar o pão aos filhos e lançá-la aos cães.” Ela replicou: “Senhor, até os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, das migalhas dos filhos.” “Estás certa! Respondeste tão bem que já curei a tua filhinha!” E quando chegou a casa, encontrou a filha sossegada, na cama; o demónio tinha-a deixado. De Tiro foi para Sídon, voltando em seguida ao mar da Galileia pelo caminho das Dez Cidades. E trouxeram-lhe um surdo que tinha um defeito na fala e todos lhe pediam que pusesse as mãos sobre o homem e o curasse. Então Jesus, afastando-o da multidão, pôs os dedos nos ouvidos do homem e, cuspindo, tocou-lhe na língua com a sua saliva. Levantando os olhos para o céu, suspirou e ordenou: “Effata!”, que significa “Abram-se!” No mesmo instante, o homem começou a ouvir e a falar perfeitamente. Jesus recomendou à multidão que não espalhasse a notícia; mas quanto mais proibia, mais o facto se divulgava. Porque toda a gente sentia enorme espanto, dizendo a cada instante: “Tudo o que faz é maravilhoso! Os surdos ouvem e os mudos falam!” Naquele tempo, estando outra grande multidão reunida, o povo ficou novamente sem provisões. Jesus chamou os discípulos para perto de si e disse: “Sinto compaixão desta gente, porque estão comigo há três dias e não têm com que se alimentar. Se os mandar embora com fome, desfalecem pelo caminho, pois alguns vêm de muito longe.” Os discípulos responderam-lhe: “E onde se poderá aqui num deserto arranjar pão para alimentá-los?” “Quantos pães têm?”, inquiriu. “Sete”, responderam. Mandou então que todos se sentassem no chão. E tomando os sete pães, deu graças a Deus, partiu-os em pedaços e entregou-os aos discípulos, para os levarem à multidão; e estes assim fizeram. Encontraram também alguns peixinhos que Jesus igualmente abençoou e mandou os discípulos servir. E a multidão comeu até ficar satisfeita. Recolhidas as sobras, ainda sobejaram sete cestos. Havia cerca de 4000 homens. Então mandou-os embora. Logo a seguir entrou num barco com os discípulos e foi para a região de Dalmanuta. Quando os fariseus daquela terra souberam da sua chegada, vieram e começaram a discutir com ele, pedindo-lhe que fizesse um sinal do céu, para o porem à prova. Ao ouvir estas palavras, sentiu-se profundamente triste no seu espírito e disse: “Porque pede esta geração um sinal? É realmente como vos digo: não receberá nenhum sinal!” Então deixou-os e voltou para o barco, atravessando para a outra margem do lago. Os discípulos, contudo, tinham-se esquecido de fazer provisão de comida antes de partirem, pelo que só tinham um pão a bordo. Durante a travessia, Jesus disse-lhes muito solenemente: “Prestem atenção, tenham cuidado com o fermento do rei Herodes e dos fariseus.” “Que quererá dizer?”, perguntavam os discípulos uns aos outros. E chegaram à conclusão de que devia referir-se ao facto de se terem esquecido de levar pão. Jesus percebeu o que discutiam entre si: “Porque se preocupam tanto por não terem pão? Nunca chegaram a compreender? Será porventura o vosso coração demasiado duro para entender isto? Se têm olhos, porque não veem? Se têm ouvidos, porque não ouvem? Já não se lembram? E os 5000 homens que alimentei só com cinco pães? Quantos cestos cheios de sobras recolheram depois?” Disseram: “Doze.” “E quando alimentei os 4000 com sete pães, quanto sobejou?” Responderam: “Sete cestos cheios.” Jesus disse-lhes: “Não perceberam ainda?” Quando chegaram a Betsaida, algumas pessoas trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que tocasse nele e o curasse. Jesus tomou o cego pela mão e levou-o para fora da aldeia. Aí, cuspiu-lhe nos olhos e pôs as mãos em cima deles. “Já vês alguma coisa?”, perguntou a seguir. O homem olhou em volta: “Sim! Vejo homens mas não os distingo bem; parecem troncos de árvore a andar de um lado para o outro.” Então pôs outra vez as mãos em cima dos olhos do homem e, quando olhou bem, tinha recuperado completamente a visão e via claramente o que se passava à sua volta. Jesus mandou-o para casa, para junto da família. “Não passes sequer pela aldeia”, recomendou-lhe. Jesus e os discípulos saíram da Galileia e foram para as vilas de Cesareia de Filipe. Enquanto caminhavam, perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” “Há quem diga que és João Batista. Outros afirmam que és Elias ou um dos outros profetas.” Então perguntou-lhes: “E vocês, quem pensam que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Cristo!” Jesus recomendou-lhes que não o dissessem a ninguém. E começou a ensiná-los: “O Filho do Homem está destinado a passar por muitos sofrimentos, ser rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos especialistas na Lei e ser morto, mas três dias depois ressuscitará.” Falando com eles abertamente, Pedro chamou-o à parte e começou a repreendê-lo. Jesus voltou-se, e depois de olhar para os discípulos, disse severamente a Pedro: “Vai para trás de mim, Satanás! Vês as coisas do ponto de vista humano e não do ponto de vista de Deus.” Chamando os discípulos e o povo para o ouvirem, falou-lhes assim: “Se alguém quiser ser meu seguidor, tem de esquecer-se de si próprio, tomar a sua cruz e seguir-me. Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por minha causa e por causa do evangelho salvá-la-á. Que lucro terá o homem em ganhar o mundo inteiro e causar dano à própria vida? Haverá alguma coisa mais valiosa do que a própria vida da pessoa? Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, no meio desta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará desse, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.” Falando ainda com os discípulos, Jesus continuou: “É realmente como vos digo: alguns dos que estão aqui agora não morrerão sem ver o reino de Deus chegar com grande poder!” Passados seis dias, Jesus levou Pedro, Tiago e João ao cimo de um alto monte. Não havia ali mais ninguém. O aspeto de Jesus mudou e a sua roupa ficou de uma brancura deslumbrante que nenhum processo humano conseguiria alcançar. Então apareceram Elias e Moisés e puseram-se a falar com Jesus. “Mestre, que bom é estarmos aqui!”, exclamou Pedro. “Façamos três tendas: um para ti, outro para Moisés e outro para Elias!” Falava assim por nada mais lhe vir à ideia. Estavam cheios de espanto. Então uma nuvem cobriu-os e dela saiu uma voz que disse: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!” Nesse momento olharam em torno, não viram mais ninguém com eles, senão apenas Jesus. Enquanto desciam do monte, Jesus recomendou-lhes que não relatassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. Por isso, guardaram o sucedido para si mesmos. Contudo, muitas vezes falavam a respeito disso, perguntando entre si o que quereria ele dizer com “levantar-se de entre os mortos.” E perguntaram-lhe: “Porque é que os especialistas na Lei insistem que Elias deve vir antes?” Jesus respondeu: “Elias, de facto, vem primeiro para pôr tudo em ordem. Então porque está escrito que o Filho do Homem deve sofrer e ser rejeitado? Digo-vos: Elias já veio e fizeram dele tudo o que quiseram, como as Escrituras previam.” Quando chegaram lá abaixo, encontraram uma grande multidão que rodeava os outros discípulos, enquanto alguns especialistas na Lei discutiam com eles. A multidão olhou com admiração para Jesus, ao vê-lo aproximar-se, e correu a cumprimentá-lo. “Que se passa?”, perguntou. Alguém respondeu do meio da multidão: “Mestre, trouxe o meu filho para que o curasses, pois está dominado por um espírito que não fala. Sempre que o demónio se apodera dele, atira-o ao chão e fá-lo espumar pela boca e ranger os dentes; e assim vai definhando. Pedi aos teus discípulos que expulsassem o demónio, mas não conseguiram.” Jesus disse aos discípulos: “Ó povo sem fé! Até quando terei de andar convosco? Até quando terei de suportar-vos? Tragam-me cá o rapaz!” Trouxeram-lhe o menino, mas ao ver Jesus, o demónio sacudiu em convulsões a criança, que caiu no chão, contorcendo-se e espumando. “Há quanto tempo está ele assim?”, perguntou ao pai. “Desde pequenino. O demónio fá-lo cair muitas vezes no fogo e na água, para o matar. Tem compaixão de nós e, se puderes, faz alguma coisa!” “Se eu puder?”, perguntou Jesus. “Tudo é possível a quem tem fé!” Ao que o pai respondeu logo: “Eu tenho fé! Ajuda-me a ter mais fé!” Quando Jesus viu que a multidão aumentava, ordenou ao espírito impuro: “Espírito de surdez e mudez, ordeno-te que saias desse menino e não entres mais nele!” Então o espírito soltou um grito terrível, tornou a sacudi-lo e deixou-o em seguida. O menino ficou caído, sem forças, sem se mexer, como se estivesse morto. A multidão começou a dizer à boca pequena: “Morreu!” Mas Jesus tomou-o pela mão, ajudou-o a pôr-se de pé e ele ergueu-se. Mais tarde, estando Jesus sozinho em casa com os discípulos, estes perguntaram-lhe: “Porque não conseguimos expulsar aquele demónio?” “Para casos como este é preciso orar”, respondeu. Deixando aquela região, percorreram a Galileia, onde Jesus procurava evitar toda e qualquer atividade pública, para poder dedicar mais tempo a ensinar os discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, hão de matá-lo mas, três dias depois de ser morto, ressuscitará.” Eles, porém, não compreendiam e tinham medo de lhe fazer perguntas. Chegaram a Cafarnaum. Quando se encontravam instalados na casa onde iam ficar, perguntou-lhes: “Que vinham a discutir pelo caminho?” Mas tinham vergonha de responder, porque a discussão era sobre qual deles seria o mais importante. Então sentou-se e, chamando-os para junto de si disse: “Quem quiser ser o primeiro será o último e o servo de todos.” Tomando uma criancinha, colocou-a no meio deles, acolheu-a nos braços e disse-lhes: “Quem receber uma criancinha como esta, em meu nome, é a mim que recebe. E quem me receber não é a mim que recebe, mas aquele que me enviou.” João, um dos seus discípulos, disse-lhe: “Mestre, vimos alguém que se servia do teu nome para expulsar demónios, mas dissemos-lhe que não o fizesse, por não pertencer ao nosso grupo.” “Não o proíbam! Porque ninguém que faça milagres em meu nome vai logo falar mal de mim. Quem não é contra nós está do nosso lado. Se alguém vos der nem que seja um copo de água, por serem de Cristo, é realmente como vos digo, não deixará de ter a sua recompensa. Quem fizer tropeçar na fé um destes pequeninos que creem em mim, mais valia a esse homem amarrarem-lhe uma mó ao pescoço e ser atirado ao mar. E se o teu olho te fizer pecar, arranca-o! Melhor é entrar no reino de Deus só com um olho do que ser lançado com ambos no inferno, onde os bichos nunca morrem e o fogo nunca se apaga. Porque todos serão como que temperados pelo fogo. O sal é bom para temperar, mas se perder o sabor como pode tornar-se de novo salgado? Vocês devem ter as qualidades do sal e viver em paz uns com os outros.” Dali, Jesus dirigiu-se à região da Judeia, na outra margem do Jordão. Acorreram multidões a ouvi-lo e, como sempre, ele as ensinava. Alguns fariseus foram ter com Jesus, para o pôr à prova, e perguntaram-lhe se era lícito um marido divorciar-se da mulher. “Que disse Moisés sobre o divórcio?”, perguntou-lhes Jesus. “Disse que era permitido; que um homem pode escrever uma declaração de divórcio, entregá-la à mulher e mandá-la embora.” Jesus disse-lhes: “Ele deixou-vos escrito este mandamento por causa da dureza do vosso coração. No entanto, não foi assim que Deus estabeleceu, porque desde o princípio da criação criou o homem e a mulher. Assim, ‘o homem deve deixar o seu pai e a sua mãe, para se unir com a sua mulher, e serão os dois como um só.’ Por conseguinte, não mais serão dois, mas como um só. E nenhum homem separe o que Deus juntou.” Mais tarde, estando sozinho com os discípulos em casa, tornaram-lhe a falar naquele assunto. E disse-lhes: “Quem se divorciar da sua mulher para se casar com outra, comete adultério contra ela. E se a mulher se divorciar do marido e se casar outra vez, também comete adultério.” E traziam-lhe crianças para que as abençoasse, mas os discípulos diziam-lhes que fossem embora. Ao ver isto, Jesus ficou muito descontente: “Deixem as crianças vir a mim! Não as devem impedir, porque o reino de Deus pertence aos que são como estas crianças. É realmente como vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança nunca entrará nele.” E, acolhendo as crianças nos braços, colocou as mãos sobre elas e abençoou-as. Quando Jesus ir a sair dali, um homem correu para ele, ajoelhou-se e fez-lhe esta pergunta: “Bom Mestre, que farei para obter a vida eterna?” “Porque me chamas bom?”, perguntou-lhe Jesus. “Não há ninguém que seja bom, a não ser Deus. Sabes o que dizem os mandamentos: ‘Não mates, não adulteres, não roubes, não faças uma falsa acusação contra outra pessoa, não enganes, honra o teu pai e a tua mãe.’ ” “Mestre”, respondeu o homem, “desde criança que tenho obedecido a todos estes mandamentos.” Ao olhar para aquele homem, Jesus sentiu uma afeição profunda por ele: “Falta-te uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Vem e segue-me!” Desanimado com estas palavras, foi-se embora triste, porque era muito rico. Jesus, voltando-se, disse aos discípulos: “É quase impossível um rico entrar no reino de Deus!” Os discípulos ficaram admirados com as suas palavras. Jesus, em resposta, de novo lhes explicou: “Meus queridos filhos, é muito difícil, para quem confia nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha do que um rico entrar no reino de Deus!” Os discípulos, porém, ficaram muito admirados, dizendo uns aos outros: “Então quem é que neste mundo poderá salvar-se?” Jesus olhou para eles e respondeu: “Humanamente falando, ninguém, mas não no que toca a Deus. Na verdade, a Deus tudo é possível.” Pedro começou a dizer-lhe: “Nós deixámos tudo para te seguir.” E Jesus respondeu: “É realmente como vos digo: não há ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e terras por minha causa e do evangelho, que não venha a receber em recompensa cem vezes mais em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, mas com perseguições, e no mundo futuro terá a vida eterna. Porém, muitos primeiros virão a ser os últimos, e os últimos virão a ser primeiros.” De subida a caminho de Jerusalém, Jesus ia andando à frente. Os discípulos estavam espantados e as pessoas que seguiam atrás estavam cheias de medo. Então, Jesus tomou os doze à parte e começou a falar-lhes no que ia acontecer-lhe: “Ouçam: vamos para Jerusalém. Lá o Filho do Homem será entregue aos principais sacerdotes e especialistas na Lei que o condenarão à morte. Entregá-lo-ão aos gentios, que farão troça dele, cuspirão nele, o açoitarão e matarão; mas três dias depois ressuscitará.” Tiago e João, filhos de Zebedeu, disseram-lhe: “Mestre, queremos pedir-te um favor.” “O que querem que vos faça?”, perguntou-lhes. Responderam-lhe eles: “Concede-nos que, na tua glória, um de nós se sente à tua direita e o outro à tua esquerda.” “Não sabem o que pedem!”, disse-lhes Jesus. “São capazes de beber do cálice de que vou beber ou de receber o batismo com que devo ser batizado?” “Somos, sim!”, disseram. Jesus respondeu-lhes: “Beberão do meu cálice e serão batizados com o meu batismo, mas não me compete dizer quem se sentará à minha direita ou à minha esquerda. Esses lugares são para quem eles foram preparados.” Quando os outros dez discípulos souberam disto, ficaram indignados com Tiago e João. Mas Jesus reuniu-os e disse: “Como sabem, os que são considerados líderes entre os gentios dominam sobre eles e os que entre eles são grandes tratam-nos autoritariamente. No vosso meio, porém, não é assim. Quem quiser ser grande no vosso meio será vosso servo. E quem quiser ser o primeiro no vosso meio será como o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgate de muitos.” Entretanto, chegaram a Jericó. Quando, mais tarde, ele e os discípulos deixavam a cidade, seguia-os grande multidão. E aconteceu que um pedinte cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado junto à estrada. Ouvindo dizer que era Jesus de Nazaré, começou a clamar: “Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!” Muita gente repreendia-o para que se calasse, mas ele clamava cada vez mais alto: “Filho de David, tem misericórdia de mim!” Jesus parou e disse: “Chamem-no.” E chamaram-no. “És um homem com sorte; vai que ele te chamou.” Bartimeu despiu a capa que trazia, atirou-a para um lado, pôs-se de pé de um salto e encaminhou-se na direção de Jesus. “Que queres que te faça?”, perguntou Jesus. “Mestre, quero ver!” “Está bem. A tua fé curou-te!” E no mesmo instante o cego ficou a ver. E foi atrás de Jesus pela estrada fora. Quando se aproximavam de Jerusalém, de Betfagé e Betânia, perto do monte das Oliveiras, enviou dois dos discípulos à frente. “Vão àquela aldeia além e logo à entrada encontrarão uma cria de jumento amarrada, que ninguém montou ainda. Soltem-na e tragam-na. Se alguém vos perguntar: ‘Porque estão a fazer isso?’, respondam, ‘O Senhor precisa dela e em breve a devolverá.’ ” Os dois homens foram e encontraram a cria de jumento na rua, amarrada do lado de fora de uma casa. E soltaram-no. Algumas pessoas que ali se encontravam perguntaram: “Porque estão a soltar o jumentinho?” Responderam conforme Jesus lhes tinha dito e os homens consentiram. E levaram o jumentinho a Jesus. Puseram os mantos sobre o lombo do animal e ele montou-o. Muita gente estendeu os seus mantos pelo caminho, enquanto outros cortaram ramos dos campos. As pessoas iam tanto à frente como atrás, exclamando: “Hossana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem estabelecer, o reino do nosso pai David! Hossana nas alturas!” Entrou em Jerusalém e dirigiu-se para o templo. Reparou atentamente em tudo à sua volta e foi embora, pois a hora já ia adiantada, retirando-se para Betânia com os doze discípulos. No outro dia de manhã, ao saírem de Betânia, Jesus sentiu fome. Vendo ao longe uma figueira coberta de folhas, foi ver se achava algum fruto nela. E aproximando-se, nada achou nela, senão folhas. Aliás, não era a estação de dar figos. Então disse àquela árvore: “Nunca mais ninguém coma fruto de ti, para sempre!” Palavras que os discípulos ouviram. Voltou a Jerusalém e, ao entrar no templo, começou a expulsar os negociantes e compradores que ali havia; derrubou as mesas dos cambistas e as bancas dos vendedores de pombos; e não deixou entrar mais mercadorias. E explicava-lhes: “As Escrituras afirmam: ‘O meu templo será chamado casa de oração para todas as nações’, mas vocês transformaram-no num covil de ladrões!” Quando os principais sacerdotes e especialistas na Lei souberam o que tinha feito, começaram a estudar a melhor maneira de acabarem com ele. Todavia, tinham medo dele, e que houvesse algum tumulto, porque o ensino de Jesus entusiasmava o povo. Naquela tarde, Jesus e os discípulos deixaram a cidade. Na manhã seguinte, indo a passar pela figueira que tinha amaldiçoado, os discípulos repararam que estava seca desde a raiz! Pedro, lembrando-se do que Jesus dissera àquela árvore na véspera, exclamou: “Olha, Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou!” Respondeu-lhes Jesus: “Tenham fé em Deus! É realmente como vos digo: quem disser a este monte: ‘Levanta-te e atira-te ao mar!’, não duvidar no seu coração e crer que acontece conforme as suas palavras, assim sucederá. Por isso, podem pedir seja o que for em oração que, se crerem que já o receberam, assim acontecerá. Mas, quando estiverem a orar, perdoem primeiro a toda e qualquer pessoa, para que o vosso Pai que está no céu também vos perdoe as vossas transgressões. Mas, se não perdoarem, o vosso Pai que está nos céus não vos perdoará.” Entretanto, chegaram de novo a Jerusalém. Enquanto passava no recinto do templo, os principais sacerdotes, os especialistas na Lei e os outros anciãos foram ter com ele e perguntaram-lhe: “Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?” Jesus retorquiu-lhes: “Di-lo-ei, se me responderem a uma pergunta: O batismo de João é de inspiração celeste ou humana?” Eles puseram-se a falar entre si: “Se dissermos que é de inspiração celeste, ele perguntará: ‘Então porque não acreditaram nele?’ Mas se dissermos que é de inspiração humana, temos receio da multidão, pois todos têm João na conta de um profeta.” Por fim, responderam: “Não sabemos!” E Jesus respondeu: “Então também não respondo à vossa pergunta!” E começou a falar-lhes por meio de parábolas: “Um homem plantou uma vinha, erigiu um muro em volta e construiu um lagar. Construiu também uma torre, arrendou a vinha a uns lavradores e foi de viagem para uma terra distante. Na época devida, enviou um dos servos para receber a sua parte da colheita da vinha. Mas os lavradores espancaram o homem e mandaram-no embora de mãos vazias. Então o dono enviou outro dos seus servos, mas feriram-no na cabeça e trataram-no mal. Outro homem, que mandou depois, foi assassinado; outros ainda foram espancados ou mortos. Até que só restava um, o seu filho querido. Finalmente enviou-o. Dizia ele: ‘Hão de respeitar o meu filho.’ Contudo, quando os lavradores o viram chegar, disseram: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e a herança será nossa!’ Agarraram-no, mataram-no e arrastaram-no para fora da vinha. Que fará o dono da vinha? Digo-vos que virá e matará os lavradores e arrendará a vinha a outros. Não se lembram de ler esta frase nas Escrituras? ‘A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício! Isto foi outra obra que o Senhor fez, e é espantosa aos nossos olhos!’ ” Os líderes procuraram prender Jesus, pois perceberam que a parábola que contara se referia a eles, mas tinham medo da multidão. E deixaram-no e foram embora. Todavia, enviaram fariseus e herodianos para tentar apanhá-lo em alguma coisa que dissesse e pela qual pudesse ser preso. “Mestre”, disseram, “sabemos que dizes a verdade sem hesitações e que não te deixas arrastar pelas opiniões dos homens; antes ensinas com fidelidade os caminhos de Deus. Então diz-nos: estará certo ou não pagarmos impostos a César?” Percebendo a sua hipocrisia, Jesus disse: “Porque estão a tentar apanhar-me numa armadilha? Mostrem-me uma moeda e vos direi.” Quando lhe puseram a moeda na mão, perguntou: “De quem é esta figura e esta inscrição na moeda?” Responderam: “De César.” “Muito bem, deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” E ficaram muito admirados com semelhante resposta. Aproximaram-se então os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e perguntaram: “Mestre, Moisés deixou-nos uma Lei segundo a qual, quando um homem morre sem deixar filhos, o seu irmão deve casar com a viúva e gerar um filho, de modo a garantir descendência ao irmão defunto. Ora, havia sete irmãos. O mais velho casou-se, morrendo sem descendência. O segundo irmão casou com a viúva, mas também morreu sem deixar filhos. Então o irmão seguinte casou-se com ela e morreu igualmente sem descendência. E assim por diante até que todos morreram sem que houvesse filhos; por fim, a mulher morreu também. Agora queríamos saber: na ressurreição, quando se levantarem dos mortos, de quem será ela esposa, uma vez que foi casada com todos os sete?” Jesus disse: “Não se deverá o vosso erro à vossa ignorância das Escrituras e do poder de Deus? Porque quando os mortos ressuscitarem não se casarão, antes serão como os anjos do céu. E quanto a haver ou não ressurreição dos mortos, nunca leram o que Deus vos diz nas Escrituras? Até os escritos do próprio Moisés provam que sim, porque quando Deus apareceu na sarça ardente, disse a Moisés: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacob.’ Portanto, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos. Vocês cometeram um erro grave.” Um dos especialistas na Lei que ouviam a discussão compreendeu que Jesus tinha respondido bem e perguntou-lhe: “Qual é o mandamento mais importante na Lei de Moisés?” Jesus respondeu: “O primeiro mandamento é: ‘Ouve, Israel: Só o Senhor e apenas ele é o nosso Deus. Ama o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força!’ O segundo é: ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo.’ Não há mandamentos maiores do que estes.” O especialista na Lei respondeu-lhe: “Falaste com verdade, Senhor, ao dizeres que só há um Deus e não existe outro. E sei que amá-lo com todo o meu coração, com todo o meu entendimento e com toda a minha força, e amar o próximo como a mim mesmo, é muito mais importante do que oferecer sacrifícios no altar do templo.” Apercebendo-se da compreensão daquele homem, Jesus disse-lhe: “Não andas longe do reino de Deus.” Depois disso, ninguém se atrevia a fazer-lhe qualquer outra pergunta. Mais tarde, quando ensinava ao povo no recinto do templo, fez-lhes esta pergunta: “Porque afirmam os especialistas na Lei que o Cristo é descendente de David? Pois o próprio David, inspirado pelo Espírito Santo que falava através dele, disse: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: “Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.” ’ Se David lhe chamou Senhor, como pode ser seu filho?” Este género de raciocínio agradou à multidão que o ouvia com grande interesse. E outras coisas lhes ensinou nessa ocasião: “Cuidado com os especialistas na Lei, desejosos de pavonear-se em trajes dignos e de receber saudações nas praças, e de ter os assentos presidenciais nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes; que roubam as casas das viúvas e se cobrem para fazer longas orações. Estes receberão um castigo ainda maior.” Depois passou para o lugar onde estavam a caixa das ofertas para o templo e sentou-se ali, observando como o povo dava o dinheiro. Alguns, que eram ricos, punham grandes quantias. Mas veio uma viúva pobre e deixou ficar duas pequenas moedas. Chamando os discípulos, disse: “É realmente como vos digo: aquela pobre viúva foi quem deitou mais no recipiente das ofertas do que todos os outros! De facto, todos eles ofereceram um pouco da sua abundância, mas ela deu todo o dinheiro que lhe restava.” Ia a sair do templo naquele dia e um dos discípulos observou: “Mestre, que belas edificações estas! Olha para estas pedras!” Jesus respondeu: “Estás a ver estes magníficos edifícios? Não será deixada aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.” Quando se sentou na encosta do monte das Oliveiras do outro lado do vale, defronte de Jerusalém, Pedro, Tiago, João e André ficaram sozinhos com ele e perguntaram-lhe: “Quando acontecerá isso ao templo e que há algum sinal que anuncie que isso está para acontecer?” A esta pergunta, Jesus respondeu desta forma: “Tenham cuidado que ninguém vos engane. Porque virão muitos, apresentando-se em meu nome como sendo o Cristo, e enganarão a muitos. Quando ouvirem falar de guerras e notícias de guerras, não fiquem inquietos. Isto tem de acontecer, mas ainda não é o fim. As nações levantar-se-ão umas contra as outras e reino contra reino, e haverá fomes e terramotos em muitos sítios. Isso será apenas o começo dos horrores que hão de vir. Tenham cuidado convosco. Levar-vos-ão aos tribunais e espancar-vos-ão nas sinagogas. Terão de comparecer perante governadores e reis por minha causa, para lhes darem testemunho. Porque este evangelho deverá primeiro ser pregado a todas as nações. Quando vos levarem e vos entregarem, não se preocupem com o que vão dizer, antes digam as palavras que vos forem inspiradas naquele momento. Pois não falarão vocês, mas o Espírito Santo. Um irmão entregará outro irmão à morte e os pais aos próprios filhos. Os filhos levantar-se-ão contra os pais e os farão morrer. Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas quem resistir até ao fim será salvo! Quando virem a abominação desoladora instalada onde não deve estar (quem ler isto preste muita atenção ), então aqueles que estiverem na Judeia fujam para as montanhas! Quem estiver no terraço não entre sequer de novo em casa. Quem estiver nos campos não volte para ir buscar roupa. Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orem para que estas coisas não aconteçam no inverno. Porque serão dias de horror, como nunca houve desde o começo da criação de Deus, nem nunca mais se tornará a ver coisa igual. Se o Senhor não encurtasse aqueles dias, toda a humanidade se perderia. Mas por amor dos seus escolhidos, encurtará aqueles dias. E se então alguém vos disser: ‘O Cristo apareceu aqui ou está além, naquela vila’, não acreditem. Porque haverá muitos falsos Cristos e falsos profetas cujos sinais enganariam, se possível, os próprios escolhidos de Deus. Tenham cuidado, porque já vos avisei sobre tudo. Mas naqueles dias, acabada a aflição, o Sol ficará escuro, a Lua negra, as estrelas cairão do céu e as forças que suportam o universo serão sacudidas. E então os povos da Terra verão o Filho do Homem, vindo no meio de nuvens com grande poder e glória. E enviará os anjos, para juntarem os seus escolhidos de todos os cantos do mundo, dos extremos da Terra aos extremos do céu. Aprendam agora com esta parábola sobre a figueira: quando o ramo está tenro e as folhas começam a romper, sabem que o verão está perto. Quando virem acontecer estas coisas que vos contei, podem estar certos de que o meu regresso está muito próximo e que me encontro às portas. É realmente como vos digo: esta geração não passará sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a Terra desaparecerão, mas as minhas palavras permanecem para sempre. Contudo, ninguém sabe a data e a hora em que o fim virá, nem mesmo os anjos, nem sequer o Filho de Deus. Só o Pai o sabe. Portanto, conservem-se alerta, vigilantes, pois não sabem quando isto se passará. A minha vinda pode ser comparada com a de um homem que foi de viagem para outro país e que, distribuindo as tarefas que os servos deveriam fazer durante a sua ausência, disse ao porteiro que vigiasse o que se passava à sua volta. Portanto, vigiem bem, porque não sabem quando o Senhor da casa virá; se ao anoitecer, se à meia-noite, se ao cantar do galo ou de manhã. Que eu não vos encontre a dormir! Estejam atentos ao meu regresso é a minha recomendação para vocês e para todos os demais.” Dois dias depois começava a festejar-se a Páscoa, celebração durante a qual não se comia pão que levasse fermento. Os principais sacerdotes e os especialistas na Lei não desistiam de procurar ocasião para prender Jesus secretamente e entregá-lo à morte. “Todavia, não o poderemos fazer durante a festa da Páscoa”, diziam, “para que não haja tumulto.” Entretanto, Jesus encontrava-se em Betânia em casa de Simão, o leproso. Durante a ceia, entrou uma mulher com um belo vaso de alabastro com um perfume muito caro feito de nardo puro, a qual, quebrando o selo, lhe derramou o perfume sobre a cabeça. Alguns dos que estavam à mesa ficaram zangados por aquilo a que chamavam um desperdício. “Mais valia tê-lo vendido por 300 moedas de prata e dado o produto aos pobres!”, murmuravam, condenando-a com dureza. Mas Jesus respondeu: “Deixem-na em paz! Porque estão a causar-lhe problemas, se ela me fez uma boa ação? É que os pobres sempre os terão convosco, e quando o desejarem poderão fazer-lhes o bem. Mas a mim nem sempre me terão. Ela fez o que lhe foi possível e perfumou antecipadamente o meu corpo para a sepultura. É realmente como vos digo: onde quer que o evangelho seja pregado no mundo inteiro, este gesto será lembrado e elogiado.” Então Judas Iscariotes, um dos discípulos, foi ter com os principais sacerdotes, para combinar a melhor forma de lhes entregar Jesus. Quando esses sacerdotes souberam o motivo da sua vinda, ficaram alvoroçados e radiantes, e prometeram-lhe uma recompensa. Então começou a preparar o momento e o local certos para trair Jesus. No primeiro dia da celebração dos pães sem fermento, em que se matava o cordeiro da Páscoa, os seus discípulos perguntaram: “Onde queres que te vamos preparar a refeição da Páscoa?” Jesus mandou dois dos discípulos à cidade fazer os preparativos: “No caminho, passarão por um homem transportando um cântaro de água. Sigam-no. E na casa onde entrar digam ao dono: ‘O Mestre pergunta: “Onde fica a sala onde irei comer a refeição da Páscoa com os meus discípulos?” ’ Ele vos levará ao andar de cima, a uma sala grande, toda arranjada e preparada. É ali que devem preparar a nossa ceia.” Os discípulos partiram, entraram na cidade e, tendo encontrado tudo como Jesus tinha dito, prepararam a ceia da Páscoa. Ao anoitecer, Jesus chegou com os doze discípulos. Quando estavam sentados, a comer em volta da mesa, Jesus revelou-lhes: “É realmente como vos digo: um de vocês, um dos que está aqui a comer comigo, vai trair-me!” Eles começaram a ficar tristes e a perguntar-lhe um após outro: “Serei eu?” Ele respondeu: “É um dos doze, que está agora a molhar comigo o pão no prato. O Filho do Homem tem de morrer, tal como as Escrituras disseram há muito. Mas ai do homem que me vai trair! Mais valia nunca ter nascido!” Enquanto comiam, Jesus pegou no pão e, dando graças a Deus por ele, partiu-o e deu-o aos discípulos: “Tomem; este é o meu corpo.” E levantando um cálice de vinho, agradeceu a Deus por ele, distribuiu-o pelos discípulos e todos beberam dele. E disse-lhes: “Isto é o meu sangue que sela a aliança e que é derramado em favor de muitos. É realmente como vos digo: não beberei outra vez vinho senão no dia em que o beber de novo no reino de Deus.” Depois de cantarem um hino, foram até ao monte das Oliveiras. Então Jesus disse-lhes: “Todos irão abandonar-me, porque as Escrituras dizem: ‘Ferirei o pastor e espalhar-se-ão as ovelhas.’ Mas depois de eu ressuscitar, irei para a Galileia e lá me encontrarei convosco.” Pedro disse-lhe: “Façam os outros o que fizerem, nunca te abandonarei!” Mas Jesus disse: “A verdade é que esta mesma noite, antes que o galo cante pela segunda vez, negar-me-ás três vezes!” “Não!”, insistiu Pedro. “Nem que tenha de morrer contigo, nunca te negarei!” E todos garantiram o mesmo. Entretanto, chegaram ao lugar chamado Getsemane, onde disse aos discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou orar.” Levando consigo Pedro, Tiago e João, começou a encher-se de pavor e angústia. E disse-lhes: “A minha alma está cheia de uma tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem.” Indo um pouco mais adiante, prostrou-se na terra e orou para que, se fosse possível, não chegasse a terrível hora que o esperava: “Pai, a ti tudo é possível! Afasta de mim este cálice. Todavia, desejo a tua vontade e não a minha.” Voltando então para junto dos três discípulos, encontrou-os a dormir: “Simão! Adormeceste? Nem mesmo uma hora pudeste velar comigo? Vigiem e orem para não serem vencidos pela tentação, pois embora o espírito seja corajoso o corpo é fraco!” E retirou-se outra vez para orar, repetindo as suas súplicas. Voltou de novo para junto dos discípulos e encontrou-os outra vez a dormir, porque tinham os olhos pesados de sono. E não sabiam o que dizer. Na terceira vez que voltou a ir ter com eles, disse: “Ainda estão a dormir e a descansar? Basta! Chegou a hora! Vou ser entregue nas mãos dos pecadores! Levantem-se, vamos andando! Olhem, já aí vem aquele que me traiu!” Naquele momento, enquanto assim falava, Judas, um dos doze, chegou com muito povo armado de espadas e paus, enviado pelos principais sacerdotes, pelos especialistas na Lei e pelos anciãos. Judas tinha-lhes dito que o entregaria com um sinal: “Saberão quem é quando o cumprimentar com um beijo. Então podem prendê-lo e levá-lo em segurança.” Judas chegou e aproximou-se logo de Jesus, exclamando: “Mestre!” E beijou-o. Então prenderam Jesus, segurando-o bem. Alguém, contudo, puxou de uma espada e, atacando o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe a orelha. Jesus perguntou-lhes: “Sou algum assaltante perigoso para que venham assim prender-me armados desta maneira com espadas e paus para me levarem preso? Todos os dias estava convosco a ensinar no templo e não me prenderam. Mas estas coisas estão a acontecer para que se cumpra o que está escrito a meu respeito.” Naquela altura, todos o abandonaram e fugiram. Havia, contudo, um jovem que o seguia à distância, envolvido apenas num lençol. Quando a multidão tentou agarrá-lo, ele escapou, largando o lençol, e fugiu nu. Jesus foi conduzido à residência do sumo sacerdote, onde todos os principais sacerdotes, outros líderes e os especialistas na Lei já se juntavam. Pedro seguia-o de longe e, entrando pelo portão da casa do sumo sacerdote, sentou-se junto a uma fogueira entre os criados para se esquentar. Os principais sacerdotes e todo o conselho dos anciãos reuniram-se ali e em vão tentavam encontrar alguma acusação contra Jesus que bastasse para o condenar à morte. Apresentaram-se voluntariamente muitas falsas testemunhas, mas contradiziam-se umas às outras. Por fim, levantaram-se uns homens que, mentindo, afirmaram: “Ouvimo-lo dizer: ‘Destruirei este templo erguido por mãos humanas e em três dias construirei outro, feito sem ser por mãos humanas.’ ” Mesmo assim, não conseguiam fazer acertar as declarações! Então o sumo sacerdote levantou-se diante do tribunal e perguntou a Jesus: “Recusas responder a esta acusação? Que tens a dizer em tua defesa?” Jesus nada disse, pelo que o sumo sacerdote lhe perguntou: “És o Cristo, o Filho do Deus bendito?” Jesus respondeu: “Sou e hão de ver o Filho do Homem sentado à direita de Deus Todo-Poderoso, voltando nas nuvens do céu.” Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: “Para que precisamos nós de outras testemunhas? Ouviram a sua blasfémia! Qual é a vossa sentença?” A uma voz, votaram pela sentença de morte. Então alguns começaram a cuspir nele e, vendando-lhe os olhos, davam-lhe socos na cara. “Profetiza-nos, quem foi que te bateu agora?”, zombavam. E até os guardas o agrediam a murro enquanto o levavam para fora. Entretanto, Pedro continuava lá em baixo no pátio. Uma das criadas do sumo sacerdote, reparando nele, enquanto se aquecia na fogueira, olhou-o e exclamou: “Tu estavas com Jesus, o nazareno.” Mas Pedro negou: “Não entendo o que queres dizer.” E saiu para o fundo do pátio. Nesse momento, um galo cantou. A criada reparou de novo nele ali em pé e começou a dizer: “Lá está ele, o discípulo de Jesus!” Pedro tornou a negar. Um pouco depois, outros que se encontravam em volta da fogueira começaram a dizer a Pedro: “Tu és um deles, porque vens da Galileia.” Ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: “Eu nem sequer conheço esse homem de que estão a falar.” E imediatamente um galo cantou pela segunda vez. De súbito, Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: “Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás.” E não aguentando mais começou a chorar. De manhã cedo, os principais sacerdotes, os anciãos do povo, os especialistas na Lei e todo o conselho reuniram-se para discutir qual a medida a tomar de seguida. A sua decisão foi mandar Jesus amarrado a Pilatos, o governador romano. Pilatos perguntou-lhe: “És o rei dos judeus?” Jesus respondeu: “Sim, é como tu dizes.” Então os principais sacerdotes começaram a acusá-lo de muitos crimes. Pilatos perguntou-lhe: “Porque não dizes nada? Que respondes a todas estas acusações que te são feitas?” Mas Jesus não adiantou palavra, para grande espanto de Pilatos. Ora Pilatos tinha por costume soltar todos os anos, por altura da Páscoa, um preso judeu, aquele que lhe fosse pedido. Naquela altura estava preso um tal Barrabás, condenado juntamente com outros por assassínio durante uma revolta. Então começou a juntar-se uma multidão diante de Pilatos pedindo-lhe que soltasse um preso, como era habitual. “Querem que vos solte o rei dos judeus?”, perguntou Pilatos. Porque ele sabia que os principais sacerdotes tinham prendido Jesus por inveja. Os principais sacerdotes então atiçaram o povo para que exigisse a libertação de Barrabás em vez da de Jesus. “Se eu soltar Barrabás”, perguntou novamente Pilatos, “que farei deste homem a quem chamam o rei dos judeus?” E eles responderam em grande gritaria: “Crucifica-o!” “Porquê?”, insistiu Pilatos. “Que mal fez ele?” E o povo rugia cada vez mais alto: “Crucifica-o!” Pilatos, com medo de um tumulto e desejoso de agradar ao povo, soltou Barrabás e depois de mandar açoitar Jesus, entregou-o para ser crucificado. Assim, os soldados levaram-no para o pátio interno do palácio do governador e chamaram toda a guarnição. Vestindo Jesus com um manto de púrpura, fizeram uma coroa de espinhos, que lhe colocaram na cabeça. E saudavam-no, gritando: “Viva, ó rei dos judeus!” E batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam nele e punham-se de joelhos, fingindo que o adoravam. Quando acabaram toda aquela troça, tiraram-lhe o manto de púrpura, vestiram-no novamente com as suas roupas e levaram-no para ser crucificado. Um certo Simão, cireneu, que passava por ali vindo dos campos, foi forçado a carregar a cruz de Jesus. (Este Simão era o pai de Alexandre e de Rufo.) Levando Jesus para um lugar chamado Gólgota, que significa “Lugar da Caveira”, ofereceram-lhe vinho misturado com ervas amargas, mas recusou. Então pregaram-no na cruz. E lançaram sortes para ver quem ficaria com as suas roupas. A crucificação teve lugar cerca das nove horas da manhã. Puseram na cruz uma tabuleta por cima da sua cabeça, com aquele que diziam ser o seu crime: o rei dos judeus. Naquela mesma manhã foram crucificados com ele dois malfeitores, ficando um à direita e outro à esquerda. Assim se cumpriu a Escritura que dizia: “Foi contado entre os malfeitores.” As pessoas que passavam insultavam-no, sacudindo a cabeça e dizendo: “És capaz de destruir o templo e construí-lo de novo em três dias, não és? Então, salva-te a ti mesmo e desce da cruz!” Também os principais sacerdotes e os especialistas na Lei que estavam ali troçavam de Jesus: “Salvou os outros, mas não pode salvar-se a si próprio. É o Cristo, o Rei de Israel? Então desça da cruz para que o vejamos e creiamos!” E até os malfeitores que ali foram crucificados com ele o amaldiçoavam. Ao meio-dia, a terra inteira ficou em trevas, que duraram até às três horas daquela tarde. Às três da tarde Jesus exclamou em voz muito alta: “Eli, Eli, lema sabactani?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Alguns dos que ali se encontravam pensaram que chamava por Elias. Um homem correu, ensopou uma esponja e, embebendo-a em vinho azedo, elevou-a num pau. “Vejamos se Elias virá para descê-lo!”, disse. Então Jesus deu outro grande brado e morreu. O véu do templo rasgou-se em dois pedaços, de cima a baixo. Quando o oficial romano que estava junto à cruz viu como Jesus morrera, exclamou: “Verdadeiramente era o Filho de Deus!” Estavam ali algumas mulheres vendo a cena à distância, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o mais novo, e de José, e ainda Salomé, assim como outras. Estas e muitas mais mulheres da Galileia, que eram seguidoras de Jesus, tinham cuidado dele quando andara por aquela província, e tinham-no acompanhado até Jerusalém. Tudo isto aconteceu na véspera do sábado. Ao final da tarde, José de Arimateia, membro respeitado do supremo tribunal, e que aguardava com ansiedade a vinda do reino de Deus, encheu-se de coragem e pediu a Pilatos o corpo de Jesus. Pilatos não acreditava que Jesus já tivesse morrido. Por isso, chamando o oficial romano, perguntou-lhe se era verdade. O oficial respondeu que sim, e Pilatos deixou José levar o corpo. José comprou então um lençol de linho. E descendo o corpo de Jesus, embrulhou-o nele e depositou-o num túmulo escavado numa rocha. Em seguida, rolou uma pedra para tapar a entrada. Maria Madalena e Maria, mãe de José, viram onde o corpo de Jesus foi colocado. Quando terminou o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, foram comprar perfumes para pôr no corpo de Jesus. No domingo de manhã, ao nascer do sol, elas foram ao túmulo. Pelo caminho, interrogavam-se como poderiam afastar a enorme pedra da entrada. Mas quando chegaram, viram que a pedra, muito pesada, já tinha sido removida e que a entrada estava aberta. Entraram no túmulo e viram, sentado do lado direito, um jovem vestido de branco e assustaram-se. Então ele disse-lhes: “Não fiquem atemorizadas. É Jesus, o nazareno que foi crucificado, que procuram? Não está aqui, ressuscitou! Vejam, era aqui que o seu corpo se encontrava. Vão e deem este recado aos seus discípulos, incluindo Pedro: ‘Jesus vai adiante de vocês para a Galileia e ali o verão, tal como vos disse antes de morrer.’ ” Trémulas e confusas, demasiado amedrontadas para falar, as mulheres saíram do túmulo em fuga. E não disseram nada uma à outra, porque estavam assustadas. Na madrugada de domingo Jesus ressuscitou e a primeira pessoa que o viu foi Maria Madalena, de quem tinha expulsado sete demónios. Ela veio ter com os discípulos que estavam tristes e chorosos. E anunciou-lhes que tinha visto Jesus que se encontrava vivo. Mas eles não acreditaram. Naquele dia, mais tarde, Jesus apareceu de outra forma a dois deles que iam de Jerusalém para os campos. Estes voltaram correndo para Jerusalém, para dar a notícia aos outros, mas ninguém acreditou neles. Mais tarde, Jesus apareceu aos onze discípulos, quando estavam a comer juntos, e censurou-os pela sua incredulidade, pela sua dureza de coração em acreditar nos testemunhos daqueles que o tinham visto depois de ter ressuscitado dentre os mortos. Então disse-lhes: “Vão por todo o mundo e preguem a boa nova a todos e em toda a parte. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não quiser crer será condenado. E darei a quem crer os seguintes sinais: em meu nome expulsará demónios e falará novas línguas. Poderá até pegar em serpentes e se beber alguma coisa venenosa não lhe fará mal. Poderá colocar as mãos sobre os doentes e curá-los.” Quando acabou de falar-lhes, Jesus foi levado para o céu e sentou-se à direita de Deus. Os discípulos foram pregando por toda a parte e o Senhor estava com eles, comprovando o que diziam com os sinais que acompanhavam a sua mensagem. para fortalecer a tua confiança na verdade de tudo o que te foi ensinado. No tempo em que Herodes era rei da Judeia, viveu um sacerdote judaico chamado Zacarias, que pertencia ao turno de Abias no serviço do templo. Tal como ele próprio, também sua mulher Isabel pertencia à tribo sacerdotal, sendo descendente de Aarão. Zacarias e Isabel eram justos e observavam cuidadosamente todas as leis e preceitos de Deus. Sucedia que não tinham filhos, pois Isabel era estéril e ambos já eram muito velhos. Certo dia, encontrando-se Zacarias ocupado no seu cargo no templo, porque naquela semana era o turno em que estava de serviço, coube-lhe por sorteio entrar no santuário interior e queimar incenso perante o Senhor. Entretanto, uma grande multidão orava lá fora, no pátio do templo, como se fazia sempre que se queimava incenso. Achava-se Zacarias no santuário quando, de súbito, lhe apareceu um anjo de pé à direita do altar do incenso! Zacarias ficou perturbado e cheio de medo. Mas o anjo disse-lhe: “Não receies, Zacarias, porque vim dizer-te que Deus ouviu as tuas orações e que a tua mulher Isabel vai dar à luz um filho, ao qual porás o nome de João! O seu nascimento trará grande prazer e contentamento e muitos se alegrarão convosco, pois ele será grande diante do Senhor. Nunca deverá beber vinho ou cerveja e será cheio do Espírito Santo antes mesmo do seu nascimento. Convencerá muitos judeus a voltarem-se para o Senhor seu Deus. Será um homem forte de espírito e dotado de grande poder, tal como o profeta Elias, preparando o povo para receber o Senhor. Porá o coração dos pais de acordo com o dos filhos e mudará as mentes desobedientes para que respeitem e obedeçam a Deus.” Zacarias disse ao anjo: “Como posso ter a certeza de que isso vai acontecer? Já sou velho e a minha mulher também é de idade bastante avançada.” Então o anjo disse: “Eu sou Gabriel! O meu lugar é na presença de Deus. Foi ele quem me enviou para trazer-te esta boa notícia! Contudo, como não creste no que te disse, ficarás mudo e não poderás falar até que a criança nasça. As minhas palavras irão cumprir-se no devido tempo.” Entretanto, o povo esperava que Zacarias aparecesse e admirava-se por se demorar tanto. Quando finalmente saiu, não conseguia falar e perceberam pelos seus gestos que devia ter tido uma visão no templo. Zacarias ficou ali durante os dias que lhe restavam de serviço. Depois voltou para casa. Passado pouco tempo, sua mulher Isabel ficou grávida e viveu recolhida durante cinco meses. “Como o Senhor é bom”, exclamava, “livrando-me da tristeza de não ter filhos!” Passados seis meses, Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, uma localidade da Galileia, a uma virgem que se chamava Maria, que estava prometida em casamento a um homem chamado José, descendente do rei David. Gabriel apareceu-lhe e disse: “Eu te saúdo, mulher favorecida! O Senhor está contigo!” Confusa e perturbada, Maria perguntava a si própria o que quereria o anjo dizer com aquelas palavras. “Não tenhas medo, Maria”, continuou o anjo, “porque Deus vai conceder-te uma bênção maravilhosa! Muito em breve ficarás grávida e terás um menino, a quem chamarás Jesus. Será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono do seu antepassado, o rei David. Governará sobre a descendência de Jacob para sempre. O seu reino jamais terá fim!” Maria, então, perguntou ao anjo: “Mas como posso ter um filho se sou virgem?” O anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Deus altíssimo cobrir-te-á como uma sombra; por isso, o menino que de ti vai nascer será santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel, que toda a gente considerava estéril, ficou grávida há seis meses, apesar da sua velhice! Porque nada é impossível para Deus.” E Maria respondeu: “Dependo só do Senhor. Que aconteça comigo tudo o que disseste.” Então o anjo desapareceu. Alguns dias mais tarde, Maria foi apressadamente às terras montanhosas da Judeia, à vila onde Zacarias morava, para visitar Isabel. Quando Maria saudou a prima, o menino de Isabel saltou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com grande contentamento, Isabel exclamou, dirigindo-se a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o filho que estás a gerar. É uma grande honra ser visitada pela mãe do meu Senhor! Quando me deste a tua saudação, no momento em que ouvi a tua voz, o menino saltou de alegria dentro de mim! És feliz por teres acreditado que Deus cumpriria as coisas que te foram ditas.” E Maria respondeu: “Oh, como eu louvo o Senhor! E quanto me alegro em Deus, meu Salvador! Porque reparou na sua humilde servidora, e agora, por todas as gerações, serei chamada bendita de Deus. Pois ele, o Deus santo e poderoso, fez-me grandes coisas. A sua misericórdia estende-se para sempre a todos os que o temem. Como é poderoso o seu forte braço! Como faz fugir os orgulhosos e os arrogantes! Arrancou os príncipes dos seus tronos e exaltou os humildes. Fartou os famintos com coisas boas e mandou embora os ricos de mãos vazias. Socorreu o povo de Israel, que o serve! Não esqueceu a sua promessa de se mostrar compassivo. Porque prometeu aos nossos pais, Abraão e seus filhos, ser misericordioso com eles para sempre.” Maria ficou com Isabel cerca de três meses e depois voltou para casa. Entretanto, o período de espera de Isabel chegou ao seu termo, e veio a hora da criança nascer. Era um menino. A notícia de como o Senhor tinha sido bondoso para ela espalhou-se rapidamente entre vizinhos e parentes, e todos se alegraram com ela. Oito dias depois de nascer, parentes e amigos vieram para a cerimónia da circuncisão. Todos julgavam que a criança se chamaria Zacarias, como o pai. Mas Isabel disse: “Não, ele vai chamar-se João!” E exclamaram: “João? Em toda a tua família não há ninguém que se chame assim.” Então perguntaram por gestos ao pai da criança como iria ela chamar-se. Ele pediu por sinais uma pequena placa e, com grande espanto de todos, escreveu: “O nome dele é João.” E logo Zacarias conseguiu falar de novo, começando a louvar Deus. O pasmo espalhou-se por toda a vizinhança e a notícia do sucedido correu pelos montes da Judeia. Todos quantos ouviam falar no caso pensavam demoradamente e perguntavam: “Quem virá a ser este menino no futuro? Porque, de facto, a mão do Senhor está sobre ele de maneira muito especial.” Então seu pai, Zacarias, cheio do Espírito Santo, falou em nome de Deus: “Louvem o Senhor, o Deus de Israel, porque veio dar auxílio ao seu povo e o salvou. Agora manda-nos um Salvador poderoso, da descendência do seu servo, o rei David, conforme prometeu através dos santos profetas, há muito tempo, alguém que nos livre dos nossos inimigos, de todos os que nos odeiam. dando-nos o privilégio de servir a Deus sem receio, libertos dos nossos inimigos, tornando-nos santos e aceitáveis, aptos para estar na sua presença para sempre. E tu, meu filho, serás chamado profeta do Altíssimo, porque prepararás o caminho para o Senhor. Dirás ao seu povo como achar a salvação, através do perdão dos pecados. Tudo isto porque a misericórdia do nosso Deus é muito grande, e porque o sol divino está prestes a brilhar sobre nós, para dar luz aos que se encontram sentados na escuridão, na noite da morte, e guiar-nos pelo caminho da paz.” O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se. Mais tarde viveu no deserto, até começar o seu trabalho público em Israel. Por esse tempo, César Augusto, o imperador romano, mandou que se fizesse um registo geral dos habitantes de todo o império. Este recenseamento foi feito sendo Cirénio governador da Síria. Todos tinham de voltar à terra natal para registarem os seus nomes. E como José era da descendência real, teve de ir a Belém, na Judeia, a terra natal do rei David, desde a cidade de Nazaré na Galileia. Levou consigo Maria, a sua noiva, cuja gravidez nessa altura já estava avançada. Enquanto ali se encontravam, chegou a hora de dar à luz. E nasceu-lhe o seu primeiro filho, que envolveu em panos e deitou na manjedoura de um estábulo, onde se viram obrigados a recolher, por não haver lugar na hospedaria. Naquela noite, encontravam-se nos campos fora da vila alguns pastores que guardavam os seus rebanhos. De súbito, apareceu-lhes um anjo; o campo ficou iluminado com a glória do Senhor e eles sentiram muito medo. Mas o anjo sossegou-os: “Não tenham medo; trago-vos uma notícia muito feliz que se destina a toda a gente! Esta noite, em Belém, na Cidade de David, nasceu o Salvador. Sim, o Cristo, o Senhor! E este é o sinal pelo qual o reconhecerão: encontrarão a criança envolvida em panos, deitada numa manjedoura.” E de repente, juntou-se outro grande grupo de anjos, louvando a Deus: “Glória ao Senhor, nos mais altos céus! Paz na Terra aos homens a quem Deus quer bem!” Depois deste grande número de anjos ter voltado para os céus, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos falou.” Correndo à aldeia, encontraram Maria e José, com a criança deitada na manjedoura de um estábulo. Os pastores falavam a toda a gente no que tinha acontecido e no que o anjo dissera acerca daquele menino. Todos os que ouviam a história dos pastores mostravam-se espantados. Maria, porém, guardava estas coisas no seu coração, meditando cuidadosamente nelas. Por fim, os pastores voltaram para os campos e rebanhos, glorificando Deus pela visita dos anjos e por terem visto o menino tal como o anjo dissera. Passados oito dias, na cerimónia da sua circuncisão, puseram ao menino o nome de Jesus, o nome que o anjo dissera antes de ter sido gerado. Quando chegou a altura de levar ao templo a oferta da cerimónia da purificação, como a Lei de Moisés exigia, seus pais levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor. Porque nessa mesma Lei Deus tinha dito: “Se o primeiro filho de uma mulher for rapaz, será dedicado ao Senhor.” Nessa mesma ocasião, os pais de Jesus ofereceram também o sacrifício pela sua purificação: um par de rolas ou dois pombinhos, de acordo com a Lei. Naquele dia, estava justamente no templo um homem chamado Simeão, morador em Jerusalém, um crente dedicado ao Senhor, cheio do Espírito Santo e que vivia constantemente na esperança do breve aparecimento do Consolo de Israel. O Espírito Santo tinha-lhe revelado que não morreria sem ver primeiro aquele que tinha sido designado por Deus. O Espírito Santo inspirou-o a ir ao templo naquele dia. Assim, quando Maria e José chegaram para apresentar o menino Jesus ao Senhor, em obediência à Lei, Simeão estava lá. E tomando a criança nos braços louvou a Deus: “Senhor, agora posso morrer satisfeito, pois vi aquele que tu me prometeste que veria! Vi o Salvador que deste ao mundo. José e Maria admiravam-se do que se dizia a respeito de Jesus. Naquele mesmo dia estava também no templo uma profetisa de Deus chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, de oitenta e quatro anos de idade. Era viúva, pois o seu marido tinha morrido após sete anos de casados. Nunca saía do templo, antes permanecia ali dia e noite, adorando a Deus com jejuns e oração. Nesse preciso momento, ela aproximou-se e começou também a dar graças a Deus e a anunciar publicamente, a todos quantos em Jerusalém esperavam a chegada do Salvador, que o Cristo tinha finalmente chegado. Depois de terem cumprido todas as exigências da Lei de Deus, os pais de Jesus voltaram para Nazaré da Galileia. Ali o menino ia crescendo, fortalecendo-se fisicamente e em sabedoria, e Deus derramava sobre ele a sua graça. Todos os anos os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando ele atingiu a idade de doze anos, a família foi à festa, como era hábito. Terminada a comemoração, tomaram o caminho de volta para Nazaré, mas Jesus ficou para trás em Jerusalém. No primeiro dia os pais não deram pela sua falta, porque julgavam que estivesse com amigos ou entre os outros viajantes. Mas quando não apareceu naquela noite, começaram a procurá-lo entre os parentes e amigos. Não o encontrando, voltaram a Jerusalém, continuando a procurá-lo. Três dias depois, encontraram-no. Achava-se no templo, sentado entre os especialistas na Lei, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas, deixando toda a gente admirada com a sua inteligência e respostas. Os pais não sabiam o que pensar quando o viram ali sentado. “Filho”, disse-lhe a mãe, “porque nos fizeste isto? Teu pai e eu estávamos desesperados, à tua procura!” “Mas que necessidade tinham de procurar-me?”, disse-lhes. “Não calcularam que estaria aqui no templo, na casa do meu Pai, pois preciso tratar dos seus assuntos?” Mas eles não entenderam o que lhes dizia. Jesus voltou com os pais para Nazaré e era-lhes obediente. E a sua mãe guardava todas estas coisas no coração. Assim Jesus crescia, tanto em tamanho como em sabedoria, achando graça aos olhos de Deus e dos homens. Era agora o décimo quinto ano do reinado do imperador romano Tibério César. Pôncio Pilatos era o governador da Judeia e Herodes governava a Galileia. Filipe, seu irmão, governava a Itureia e Traconites. Lisânias governava a Abilínia. Anás e Caifás eram os sumos sacerdotes judaicos. Nesse tempo veio uma mensagem de Deus a João, filho de Zacarias, enquanto vivia no deserto. João andou de terra em terra, em ambas as margens do Jordão, a pregar que as pessoas deviam batizar-se, como sinal de se terem arrependido dos seus pecados, a fim de serem perdoadas. João era, como tinha dito o profeta Isaías nas Escrituras: “A voz gritando no deserto: ‘Façam um caminho para o Senhor. Façam-lhe um caminho direito. Todos os vales se encherão, e todos os montes e colinas serão abaixados; as veredas tortuosas serão endireitadas, e os caminhos duros tornar-se-ão suaves. E toda a raça humana verá a salvação de Deus.’ ” Era assim que João pregava às multidões que vinham para batizar-se: “Raça de víboras! Quem vos avisou para fugir do julgamento de Deus que há de vir? Têm de provar que abandonaram o pecado, praticando obras que mostrem arrependimento. E não comecem a dizer que estão em segurança por descenderem de Abraão; isso não basta. Pois digo-vos que até destas pedras do deserto Deus pode fazer nascer filhos de Abraão! O machado do seu julgamento está suspenso sobre as vossas vidas, prestes a cortar as raízes e a derrubar-vos. Sim, toda a árvore que não dá bom fruto será abatida e lançada no fogo.” E a multidão perguntava: “Que devemos fazer?” “Se alguém tiver dois casacos dê um aos pobres. Quem tiver comida de sobra dê a quem tem fome.” E até os cobradores de impostos, conhecidos pela sua falta de escrúpulos, vinham para serem batizados e perguntavam: “O que devemos fazer?” “Sejam honestos, não cobrando mais impostos do que o que é exigido.” “E nós”, perguntavam uns soldados, “como faremos?” E João respondia: “Não devem tirar dinheiro com ameaças ou pela força, nem acusar ninguém que sabem estar inocente. Contentem-se com o vosso soldo!” Todos aguardavam o aparecimento do enviado de Deus e andavam impacientes por saber se João seria ou não o Cristo. A essa questão respondeu João: “Eu batizo apenas com água, mas em breve virá alguém muito maior do que eu e de quem não sou digno sequer de lhe descalçar as sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Na sua mão tem a pá e limpará a eira. Arrecadará o grão no celeiro; mas queimará a palha com fogo que jamais se apaga.” Ao anunciar estas boas novas ao povo, João fazia muitos avisos deste género. Contudo, depois de ter censurado publicamente Herodes, governador da Galileia, por se ter casado com Herodíade, mulher do seu próprio irmão, e por muitas outras coisas más que tinha feito, Herodes meteu João na cadeia, acrescentando mais este pecado a muitos outros. Um dia, o próprio Jesus juntou-se ao povo que ia ser batizado por João. E depois do seu batismo, estando a orar, os céus abriram-se. O Espírito Santo desceu sobre ele na forma de uma pomba e uma voz do céu disse: “Tu és o meu Filho amado, em ti tenho grande prazer.” Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou a sua atividade pública. Era conhecido como filho de José. E os pais deste, em linha direta, sucessivamente de filho para pai foram: Elí, Matate, Levi, Melqui, Janai, José, Matatias, Amós, Naum, Esli, Nagai, Maate, Matatias, Semei, Joseque, Jodá, Joanã, Resa, Zorobabel, Sealtiel, Neri, Melqui, Adi, Cosão, Elmadã, Er, Josué, Eliezer, Jorim, Matate, Levi, Simeão, Judá, José, Jonã, Eliaquim, Meleá, Mená, Matatá, Natã, David. E os pais de David foram sucessivamente: Jessé, Obede, Boaz, Salmom, Nassom, Aminadabe, Admin, Arni, Hezrom, Perez, Judá. Os pais de Judá foram: Jacob, Isaque, Abraão. Os pais de Abraão foram: Tera, Naor, Serugue, Reu, Pelegue, Eber, Sala, Cainã, Arfaxade, Sem, Noé. E os pais de Noé foram: Lameque, Matusalém, Enoque, Jarede, Mahalel, Quenã, Enos, Sete e Adão. E Adão veio de Deus. Então Jesus, cheio do Espírito Santo, deixou o rio Jordão e foi impelido pelo Espírito para as terras áridas e desertas da Judeia, onde o Diabo o tentou durante quarenta dias. No decurso de todo este tempo, não comeu; por fim sentiu fome. E o Diabo disse-lhe: “Se és o Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão.” Mas Jesus respondeu-lhe: “Está escrito nas Escrituras: ‘Nem só de pão viverá o homem.’ ” Então o Diabo levou-o a um alto sítio e mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo, e disse-lhe: “Dar-te-ei toda a autoridade sobre eles e a sua glória, porque, como me pertencem, posso dá-los a quem eu quiser. Será tudo teu se me adorares.” Ao que Jesus retorquiu: “ ‘Adorarás o Senhor teu Deus. Só a Ele servirás.’ É assim que vem nas Escrituras.” Então o Diabo levou-o até Jerusalém, ao telhado do templo e disse-lhe: “Se és o Filho de Deus, salta! Pois, segundo as Escrituras: ‘Deus dará ordens aos seus anjos para que te guardem a teu respeito. Eles te susterão com as suas mãos, para que não tropeces nas pedras do caminho.’ ” Jesus respondeu: “As Escrituras também dizem: ‘Não deves provocar o Senhor, teu Deus.’ ” Quando o Diabo pôs fim a todas estas tentações, deixou-o por algum tempo e foi embora. Então Jesus voltou para a Galileia, cheio do poder do Espírito Santo, e em breve era conhecido em toda aquela região. Ensinava nas sinagogas e todos o glorificavam. Quando foi à aldeia de Nazaré, a terra da sua infância, dirigiu-se como de costume à sinagoga, no sábado, e levantou-se para ler as Escrituras. Deram-lhe o livro do profeta Isaías e abriu-o no lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para levar boas novas aos pobres. Enviou-me para anunciar a liberdade aos cativos restituir a vista aos cegos, pôr em liberdade os que estão oprimidos, e para proclamar o tempo do favor de Deus.” Fechando o livro, tornou a dá-lo ao assistente e sentou-se, enquanto todos na sinagoga o miravam atentamente. E começou por dizer: “Hoje se cumpriram estas Escrituras!” Os que ali se achavam louvaram-no, admirados com as belas palavras que lhe saíam dos lábios. “Como pode ser isto?”, perguntavam. “Não é o filho de José?” E ele disse mais: “Com certeza que me contarão aquele provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo!’ Como quem diz: ‘Porque não fazes aqui na tua própria cidade milagres iguais aos que fizeste em Cafarnaum?’ É realmente como vos digo: nenhum profeta é aceite na sua própria terra. Digo-vos com toda a verdade que havia muitas judias viúvas necessitadas em Israel, no tempo de Elias, porque havia três anos e meio que não chovia e a fome alastrava pela terra. E Elias não foi enviado por Deus a socorrer nenhuma outra viúva, senão a Zarefate, na terra de Sídon. E o profeta Eliseu apenas curou Naamã, o arameu, e não os muitos judeus leprosos que necessitavam de ajuda.” Estas palavras provocaram a ira do auditório. Levantando-se, atacaram Jesus, levando-o até à beira do monte, sobre o qual a cidade se erguia, a fim de o empurrarem para o precipício. Ele, porém, atravessando pelo meio da multidão, deixou-os. Então Jesus foi para Cafarnaum, cidade da Galileia, e ensinava na sinagoga local todos os sábados. Também ali o povo se admirava do seu ensino, porque falava com autoridade. Certa vez, estando a ensinar na sinagoga, estava ali presente um homem dominado pelo espírito de um demónio impuro, que começou a gritar: “Vai-te embora! Porque nos vens inquietar, Jesus de Nazaré? Vieste destruir-nos? Sei quem és: és o santo Filho de Deus!” Jesus, porém, impediu-o de falar. “Cala-te!”, disse ao demónio. “Sai dele!” O demónio atirou o homem ao chão, à vista da multidão, e deixou o homem, sem lhe fazer mais nenhum mal. Tomados todos de pasmo, debatiam o sucedido uns com os outros. “Que há nas suas palavras que lhe dá autoridade e poder para que até os espíritos impuros lhe obedeçam e vão embora?”, perguntavam. A notícia do que ele tinha feito depressa se espalhou por toda a região. Levantou-se, deixou a sinagoga e dirigiu-se a casa de Simão. A sogra deste estava doente e com febre alta. E pediram-lhe que a curasse. Chegando junto dela, Jesus mandou que a febre baixasse e esta logo desapareceu. Então ela levantou-se e foi servi-lo. Ao pôr-do-sol, todos os que tinham doentes com várias doenças trouxeram-nos a Jesus. Ele, tocando-os com as suas mãos, curava-os. De muitos saíam demónios aos gritos, dizendo: “Tu és o Filho de Deus!” Ele repreendia os demónios e não os deixava falar, pois sabiam que era o Cristo. No dia seguinte, de manhã cedo, Jesus saiu para um lugar deserto e o povo procurou-o. Quando o encontraram, pediram-lhe muito que não os deixasse. Porém, ele respondeu: “Tenho de pregar as boas novas do reino de Deus também noutros lugares, pois para isso fui enviado.” E andava de terra em terra, pregando nas sinagogas de toda a Judeia. Em certa ocasião, estando a pregar na praia do mar da Galileia, rodearam-no grandes multidões para ouvir a palavra de Deus. Notando que havia dois botes vazios à beira da água, enquanto os pescadores lavavam as redes, Jesus entrou num deles e pediu a Simão, o dono, que o empurrasse um pouco para o largo, para que dali pudesse falar ao povo. Quando acabou de falar, Jesus disse a Simão: “Agora saiam para onde o lago é mais fundo e lancem as redes, pois apanharão muito peixe.” “Senhor”, respondeu Simão, “fartámo-nos de trabalhar toda a noite sem conseguirmos apanhar nada. Mas, já que assim o dizes, vamos tentar de novo.” E desta vez as redes ficaram tão cheias que começaram a rasgar-se! Ao ouvirem-nos gritar pedindo ajuda, os companheiros vieram noutro bote, e em breve as duas embarcações estavam em risco de se afundarem com a carga de peixe. Quando Simão Pedro percebeu o que tinha acontecido, caiu de joelhos diante de Jesus e disse: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou tão pecador!” Pois estava pasmado com a abundância de peixe, tal como os companheiros e também os seus sócios, Tiago e João, filhos de Zebedeu. Jesus disse a Simão: “Não te preocupes, porque daqui em diante serás pescador de pessoas!” Eles puxaram os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram-no. Sucedeu numa localidade, que Jesus estava a visitar, que um homem coberto de lepra, ao ver Jesus, prostou-se com o rosto no chão, rogando-lhe: “Senhor, se quiseres, podes curar-me!” Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe e disse: “Sim, quero, sê curado!” E logo a lepra o deixou. Jesus então ordenou-lhe com firmeza: “Não fales com ninguém e vai apresentar-te ao sacerdote. Leva contigo a oferta que Moisés estabeleceu para a cura, para que lhes sirva de testemunho.” Apesar das recomendações de Jesus, a notícia do seu poder espalhava-se ainda mais. Enormes multidões vinham para o ouvir pregar e ser curadas das suas enfermidades. Muitas vezes, porém, dirigia-se para um lugar isolado, a fim de orar. Uma vez, estava a ensinar e encontravam-se ali sentados alguns fariseus e os professores da Lei. Estes homens vinham de todas as localidades da Galileia e da Judeia, bem como de Jerusalém. E o poder curador do Senhor estava sobre Jesus. De repente, chegaram umas pessoas com um paralítico deitado numa esteira, as quais tentaram abrir passagem através da multidão até junto de Jesus; mas, não descobrindo por onde pudessem introduzi-lo em casa por causa da multidão, subiram ao telhado e, retirando algumas telhas, desceram o doente colocando-o em frente a Jesus. Vendo a fé de que davam provas, Jesus disse ao homem: “Amigo, os teus pecados estão perdoados!” Os especialistas na Lei e os fariseus começaram a dizer para si mesmos: “Mas quem imagina ele que é para se pôr a blasfemar? Só Deus pode perdoar os pecados!” Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou: “O que estão a pensar nos vossos corações? É mais fácil dizer ‘os teus pecados são perdoados’ ou ‘levanta-te e anda?’ Portanto, vou provar-vos que o Filho do Homem tem autoridade para perdoar os pecados.” E voltando-se para o paralítico disse-lhe: “A ti eu digo: Levanta-te, enrola a tua esteira e vai para casa!” Logo, à vista do povo, o homem pôs-se em pé, agarrou na esteira e foi para casa, dando glória a Deus. Toda a gente ali, admirada, dava glória a Deus, tomada de espanto: “Hoje, realmente, vimos coisas extraordinárias!”, diziam. Mais tarde, indo a sair da vila, Jesus viu um cobrador de impostos chamado Levi, sentado no balcão de cobranças. Jesus disse-lhe: “Segue-me!” Levi, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o. Passado pouco tempo, Levi deu uma festa em sua casa, sendo Jesus o convidado de honra. Foram também e sentaram-se à mesa um bom número de cobradores de impostos e outros convidados. Os especialistas na Lei e os fariseus, que pertenciam ao seu grupo, queixavam-se porém, em voz baixa, aos discípulos de Jesus: “Porque comem e bebem com cobradores de impostos e outros pecadores?” Em resposta, Jesus disse-lhes: “Quem precisa de médico são os doentes, não os que têm saúde! Não vim chamar os justos, mas os pecadores a se arrependerem.” Puseram ainda outra questão a Jesus: “Os discípulos de João Batista estão sempre a jejuar e a orar e os discípulos dos fariseus fazem o mesmo. Porque é que os teus comem e bebem?” Jesus explicou: “Podem fazer com que os convidados do noivo jejuem, enquanto o noivo está com eles? Virá o tempo em que lhes será tirado. Então, sim, jejuarão.” Jesus serviu-se depois desta parábola: “Ninguém vai tirar um pedaço de tecido duma roupa nova para fazer um remendo numa peça velha; pois não só estragaria a nova, mas a velha também pareceria pior com o remendo novo. E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o vinho novo rebenta com eles, os odres estragam-se e o vinho perde-se. O vinho novo deve ser posto em odres novos. Depois de beber o vinho velho, ninguém parece querer o vinho fresco e novo, porque dizem: ‘O velho é melhor.’ ” Certo sábado, atravessando Jesus e os seus discípulos umas searas, iam arrancando espigas de trigo, que esfregavam entre as mãos para comer os grãos. Alguns fariseus, porém, disseram: “Porque estão a fazer o que não é permitido no dia de sábado?” Ao que Jesus respondeu: “Vocês não leram o que o rei David fez quando ele e os companheiros estavam com fome, como entrou na casa de Deus, comeu e deu a comer também aos seus companheiros os pães da Presença, que apenas aos sacerdotes era permitido comer? ” Jesus acrescentou “Eu, o Filho do Homem, sou o Senhor do próprio sábado.” Num outro sábado, estando a ensinar na sinagoga, encontrava-se ali um homem que tinha a mão direita aleijada. Os especialistas na Lei e os fariseus vigiavam-no atentamente, para ver se Jesus curaria o homem no dia de sábado, para encontrarem de que o acusar. Jesus conhecia bem os seus pensamentos, por isso, disse ao aleijado: “Levanta-te e vem pôr-te aqui ao meio.” Ele assim fez. Então disse aos fariseus e aos especialistas na Lei: “Tenho uma pergunta a fazer-vos: É legítimo praticar o bem num sábado ou praticar o mal? Salvar a vida ou destruí-la?” E, olhando em volta, fitou-os um por um. Então disse ao homem: “Estende o braço!” Ele assim fez e imediatamente a sua mão ficou completamente normal. Os inimigos de Jesus ficaram furiosos e começaram a tramar a sua morte. Por aqueles dias, Jesus subiu a uma montanha para orar e passou toda a noite em oração a Deus. Ao amanhecer, reuniu os seus discípulos e escolheu doze, a quem designou apóstolos. Eram estes os seus nomes: Simão, a quem chamou também Pedro; André, irmão de Simão; Tiago; João; Filipe; Bartolomeu; Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Simão, também chamado Zelota; Judas, filho de Tiago; e Judas Iscariotes que viria a traí-lo. Quando desceram a encosta, estando numa região plana, foram rodeados por uma grande multidão de discípulos e uma enorme massa de gente do povo, vinda de toda a Judeia, de Jerusalém e de lugares tão a norte como do litoral de Tiro e Sídon, tinha vindo gente para o ouvir e ser curada. E os que eram atormentados por espíritos impuros eram curados. Toda a multidão procurava tocar-lhe, porque saía dele poder e todos eram curados. Então, voltando-se para os discípulos, Jesus disse: “Felizes os que são pobres, porque é deles o reino de Deus! Felizes os que agora têm fome, porque serão fartos! Felizes os que agora choram, porque chegará o tempo em que hão de rir de alegria! Felizes os que são odiados, e rejeitados, e insultados e enxovalhados no seu nome, por serem meus discípulos! Alegrem-se nesse dia! Sim, pulem de contentamento, porque vos espera no céu uma enorme recompensa. Pois também os profetas foram assim tratados pelos vossos antepassados. Ai de vocês os ricos, porque já tiveram o vosso consolo. Ai de vocês os que são fartos e prósperos agora, porque vos espera um tempo de fome horrível! Ai de vocês os foliões, porque o vosso riso transformar-se-á em tristeza e luto! Ai de vocês os que são enaltecidos pelas multidões, porque os vossos antepassados também elogiaram os falsos profetas! Ouçam todos. Amem os vossos inimigos. Façam o bem aos que vos odeiam. Orem pela felicidade dos que vos amaldiçoam. Bendigam os que vos maldizem e orem a Deus a favor daqueles que vos maltratam. Se te derem uma bofetada numa das faces, oferece também a outra! Se alguém te exigir o casaco, dá-lhe também a camisa. Dá a todo aquele que te pedir, e se te tiraram o que te pertence não o reclames de volta. Façam aos outros o que querem que vos façam. Pensam que merecem elogios só por amarem os que vos amam? Isso até as pessoas más o fazem! E se fizerem bem somente aos que vos fazem bem, o que tem isso de extraordinário? Até os pecadores procedem assim. E se emprestarem dinheiro só a quem vos puder pagar, que bondade há nisso? Até os mais perversos emprestam aos da sua espécie para depois receberem tudo de volta. Amem os vossos inimigos! Tratem-nos bem! Emprestem e não se preocupem se não vos pagarem, porque assim a recompensa que receberem do céu será grande e estarão a proceder verdadeiramente como filhos do Altíssimo. Porque é bondoso também com os ingratos e os perversos. Sejam compassivos como o vosso Pai é compassivo. Não julguem e não serão julgados. Não condenem e não serão condenados. Perdoem e serão perdoados. Se derem, receberão! A vossa dádiva será devolvida em medida atestada e sacudida, para caber um pouco mais até deitar por fora. A medida que usarem será usada também para vos medir.” Jesus usava frequentemente parábolas, como esta: “De que serve um cego guiar outro cego? Acabam ambos por cair numa vala. O discípulo não é mais do que o mestre. Se souber, porém, transformar a sua vida de acordo com o ensino perfeito que lhe é dado, poderá ser como ele. E porque te hás de preocupar com uma palha no olho do vizinho, quando tens uma tábua no teu próprio olho? Como poderias dizer: ‘Irmão, deixa-me ajudar-te a tirar essa palha do teu olho’, quando afinal tu mesmo não estás a ver uma trave no teu? Isso é hipocrisia! Liberta-te primeiro do que tens na vista e depois então poderás ver para ajudar o teu irmão. De facto, uma árvore de boa qualidade não pode dar fruto de má qualidade, nem uma árvore de má qualidade dar fruto de boa qualidade. Com efeito, cada árvore conhece-se pela qualidade do fruto que dá. Pois nem dos espinheiros se colhem figos, nem dos cardos uvas. Um homem bom produz o bem do bom tesouro do seu coração; e um homem mau produz, da sua maldade escondida, o que é mau. O que está em abundância no coração vem à superfície no falar. Portanto, porque me chamam ‘Senhor! Senhor!’, se não me querem obedecer? Todos aqueles, porém, que vêm ter comigo, me ouvem e me obedecem são como o homem que constrói uma casa sobre alicerces sólidos em cima da rocha. Quando as cheias sobem e embatem na casa, esta fica firme por estar solidamente construída. Aqueles, porém, que ouvem e não me obedecem são como o homem que constrói uma casa sem alicerces. Quando as cheias se lançam contra ela, a casa desmorona-se e fica em ruínas.” Terminando estas palavras, Jesus voltou para a cidade de Cafarnaum. Havia um oficial romano que tinha um servo que estimava muito e se encontrava mal, quase à morte. Quando o oficial ouviu falar de Jesus, mandou alguns anciãos do povo pedir-lhe que viesse curar o seu servo. Começaram, pois, a rogar-lhe que fosse com eles e socorresse o homem: “Se alguém merece ajuda é ele”, diziam. “Porque gosta da nossa gente e até pagou do seu próprio bolso a construção de uma sinagoga.” Jesus foi com eles. Mas pouco antes de chegar à casa do oficial romano, este mandou uns amigos para lhe dizer: “Senhor, não mereço que entres na minha casa! Nem me julgo digno de ir ao teu encontro! Mas se disseres somente: ‘Fica curado’, o meu servo ficará bom! Eu sei, porque também recebo ordens dos meus superiores e mando nos meus soldados. Digo a este: ‘Vai’ e ele vai. E àquele: ‘Vem’ e ele vem. E ao meu servo: ‘Faz isto ou aquilo’ e ele faz.” Ao ouvir estas palavras, Jesus ficou tão impressionado que disse para a multidão que o seguia: “Ainda não encontrei ninguém na terra de Israel com uma fé assim!” Quando os amigos do oficial regressaram, encontraram o servo completamente curado! Passado pouco tempo, Jesus foi com os discípulos à aldeia de Naim, com grande multidão atrás de si. Quando chegou perto da aldeia, vinha a sair um funeral. O morto era um rapaz, filho único de uma viúva, e havia muita gente da aldeia a acompanhá-la. Ao vê-la, o coração do Senhor encheu-se de compaixão. “Não chores!”, disse-lhe. E dirigindo-se para o caixão tocou nele, e os que o levavam pararam: “Filho, levanta-te!”, ordenou. Então o rapaz sentou-se e começou a falar com os que estavam à sua volta. E Jesus entregou-o a sua mãe. A multidão sentiu grande temor e todos, glorificando Deus, exclamavam: “Levantou-se entre nós um poderoso profeta. Hoje vimos atuar a mão de Deus!” A notícia do que tinha feito naquele dia correu a Judeia de uma ponta à outra, e saiu até mesmo para lá das suas fronteiras. Os discípulos de João contaram-lhe tudo. Ele então chamou dois dos seus discípulos e mandou-os perguntar ao Senhor: “És tu aquele que havia de vir ou devemos aguardar outro?” Ao chegarem junto de Jesus, disseram-lhe: “João Batista mandou-nos ter contigo para te perguntar: ‘És tu aquele que havia de vir ou devemos aguardar outro?’ ” Naquele momento, Jesus curou muita gente que sofria de várias doenças e males, expulsou os espíritos maus e deu vista aos cegos. Em resposta, Jesus disse-lhes: “Voltem para João e contem-lhe o que viram e ouviram: ‘cegos veem e coxos andam, leprosos são curados, surdos voltam a ouvir, mortos regressam à vida e os pobres ouvem o evangelho. Feliz é aquele que não se escandaliza em mim.’ ” Depois de os enviados de João se terem ido embora, Jesus começou a falar à multidão acerca de João: “O que foram ver no deserto: um caniço ao sabor do vento? Mas então o que foram lá ver? Um homem vestido de roupas caras? Reparem: quem se veste de roupa cara é nos palácios reais que se encontra. Terá sido antes um profeta que foram encontrar? Sim, digo eu! E mais do que um profeta. É a João que as Escrituras se referem ao dizerem: ‘Envio o meu mensageiro diante de ti, para preparar o caminho à tua frente.’ É como vos digo: de homens nascidos de um ventre materno, nenhum é maior do que João! E contudo até o menor no reino de Deus é maior do que ele!” E todos os que ouviam João pregar, mesmo os corruptos cobradores de impostos, achavam certo o que Deus lhes exigia e deixavam-se batizar por ele; menos os fariseus e os especialistas na Lei, que rejeitavam o plano de Deus e recusavam o batismo de João. “Que posso dizer acerca das pessoas desta geração?”, perguntou Jesus. “Com quem as compararei? São como as crianças que se queixam aos seus amigos: ‘Brincámos aos casamentos e ninguém se quis alegrar; então brincámos aos funerais, e também ninguém quis ficar triste.’ Veio João Batista, e lá porque não bebe vinho e jejua vocês dizem: ‘Tem demónio!’ Vim eu, o Filho do Homem, e porque aceito ir a uma festa e beber o vinho que me é oferecido, logo se queixam de que sou comilão e beberrão, e de que sou amigo de cobradores de impostos e pecadores! Mas a sabedoria foi justificada por todos aqueles que a praticam.” Um dos fariseus convidou Jesus para almoçar em sua casa. Quando se sentaram para comer, uma mulher de má vida soube que ele se encontrava ali, pelo que trouxe um vaso de alabastro de muito valor, cheio de um perfume caro. Esta ajoelhou-se por detrás dele, aos seus pés, e tanto chorou que os pés de Jesus ficaram molhados de lágrimas. Porém, enxugava-os com os cabelos e beijando-os deitava perfume sobre eles. Quando o dono da casa, que convidara Jesus, viu o que se passava, e de que género de mulher se tratava, disse consigo próprio: “Aqui está a prova de que Jesus não é um profeta; porque se Deus o tivesse realmente enviado, saberia que espécie de mulher é esta.” Então, Jesus respondeu aos pensamentos daquele homem observando: “Simão, queria dizer-te uma coisa.” Retorquiu ele: “Diz, Mestre.” E Jesus contou-lhe o seguinte: “Certo homem emprestou dinheiro a duas pessoas; quinhentas moedas a uma e cinquenta a outra. Como nenhuma das duas lhe pudesse pagar, ele, que era generoso, perdoou a ambas, cancelando a sua dívida. Qual destas pessoas achas que lhe ficou mais agradecida, depois disto?” “Acho que terá sido quem mais lhe devia!” Jesus concordou: “Tens razão!” E voltando-se para aquela mulher, disse a Simão: “Olha para esta mulher aqui de joelhos! Quando entrei na tua casa, não te preocupaste em trazer-me água para lavar a poeira dos pés, mas ela lavou-os com lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos! Não me deste um beijo de saudação, mas desde que aqui entrei ela não deixou de me beijar os pés. Não tiveste a delicadeza de trazer azeite para me ungir a cabeça, mas ela ungiu-me os pés com um perfume raro. Os pecados dela, que são muitos, foram-lhe perdoados! Daí toda a sua gratidão e amor para comigo! Aquele, porém, a quem pouco é perdoado pouco amor mostra.” E disse à mulher: “Os teus pecados estão perdoados!” Os homens que estavam à mesa murmuraram entre si: “Quem imagina ele que é, para se pôr a perdoar pecados?” Jesus disse à mulher: “A tua fé te salvou! Vai em paz!” Passado não muito tempo, Jesus começou a percorrer as cidades e vilas para anunciar as boas novas do reino de Deus. Fazia-se acompanhar dos doze discípulos. Com ele iam algumas mulheres que ele tinha curado de espíritos maus e de doenças; entre elas contavam-se Maria Madalena, a quem tinha livrado de sete demónios; Joana, mulher de Cuza (encarregado de negócios de Herodes); Susana e muitas outras que, com os seus próprios meios, contribuíam para o sustento de Jesus e dos discípulos. Uma imensa multidão, oriunda de todas as cidades, veio ter com ele. Ele falou-lhes por meio de uma parábola: “Certo homem foi semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho e foram pisadas; vieram as aves do céu e comeram-nas. Outras caíram em solo pedregoso e cresceram. Mas murcharam, por falta de humidade. Outras caíram no meio de espinhos que em pouco tempo sufocaram os rebentos. Mas outras caíram em solo fértil e quando cresceram deram uma colheita cem vezes maior.” Tendo dito isto, exclamou em alta voz: “Quem tem ouvidos, ouça!” Os discípulos perguntaram-lhe o que queria dizer aquela parábola. Ele respondeu: “É-vos concedido conhecer os mistérios do reino de Deus; mas aos outros somente por parábolas, de modo que veem, mas ficam sem ver, ouvem, mas não entendem. O que a parábola quer dizer é o seguinte: A semente é a mensagem de Deus. Os que estão à beira do caminho são os que a ouviram, mas depois vem o Diabo e tira-lhes a palavra do coração, não deixando que as pessoas creiam e sejam salvas. As semeadas em solo pedregoso são os que ouvem a palavra com alegria. Todavia, não deitam raízes; têm fé por algum momento, mas quando chega o momento da tentação desfalecem. As semeadas entre os espinhos são aqueles que ouvem, mas que no meio das preocupações, da riqueza e dos prazeres da vida, deixam que seja abafada, pelo que fica sem fruto. Mas o bom solo são aqueles que, com coração bom e honesto, ouvem a palavra e dão fruto com perseverança.” “Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la num recipiente ou debaixo da cama, mas coloca-a num candeeiro, para que aqueles que entrarem em casa vejam a luz. Pois nada há oculto que não venha a mostrar-se, nem há nada encoberto que não venha a ser conhecido e a manifestar-se. Tomem cuidado como ouvem, pois quem tiver receberá; mas a quem não tem até o que tiver lhe será tirado.” Uma vez, a mãe e os irmãos de Jesus foram ter com ele, mas por causa da multidão não conseguiram entrar na casa onde ele estava. Alguém disse-lhe: “A tua mãe e irmãos estão lá fora e querem ver-te.” Jesus respondeu-lhes: “A minha mãe e os meus irmãos são todos aqueles que ouvem a mensagem de Deus e lhe obedecem.” Certo dia, Jesus entrou num barco com os discípulos e disse-lhes: “Vamos atravessar para a outra margem do lago.” Durante a travessia ele adormeceu. Entretanto, levantou-se uma tempestade e um vendaval no lago, o barco começou a meter água e corriam grande perigo. Logo os discípulos foram acordá-lo, gritando: “Mestre, Mestre, estamos quase a morrer!” Levantando-se, ele repreendeu o vento e as vagas e fez-se uma grande calma. Depois perguntou-lhes: “Onde está a vossa fé?” Eles, tomados de medo e admiração, perguntavam uns aos outros: “Mas quem é este que dá ordens aos próprios ventos e à água que lhe obedecem?” Chegaram à terra dos Gerasenos que fica na outra banda do mar da Galileia. Quando Jesus saía do barco, veio-lhe ao encontro um homem que havia muito tempo estava possuído por demónios. Não tendo casa, vivia, sem roupas, no cemitério entre as sepulturas. Mal viu Jesus, deitando-se no chão à sua frente, soltou um grito forte: “Que queres tu de mim, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Peço-te que não me atormentes!” Pois Jesus ordenava já ao espírito impuro que abandonasse o homem. Este, muitas vezes tinha-se apoderado daquele homem, de tal modo que, mesmo acorrentado, partia as correntes e fugia para o deserto, inteiramente sob o poder do demónio. “Como te chamas?”, perguntou Jesus. “Exército”, foi a resposta. Porque tinha entrado dentro dele um grande número de demónios. E pediam com insistência a Jesus que não os mandasse para o abismo. Andava ali perto uma vara de porcos a pastar no monte e os demónios rogaram-lhe que os deixasse entrar nos animais. Jesus consentiu. Deixaram o homem e entraram nos porcos. A vara precipitou-se, caindo por um despenhadeiro no lago, onde se afogou. Os porqueiros, ao verem aquilo, fugiram para a cidade e campos, espalhando a notícia. As pessoas vieram ver o que tinha sucedido dirigindo-se ao encontro de Jesus. E encontraram aquele homem, do qual tinham saído os demónios, agora vestido e em seu perfeito juízo, sentado aos pés de Jesus, e tiveram receio. Os que tinham assistido contavam como o endemoninhado tinha sido curado. A multidão chegou até a pedir a Jesus que fosse embora, porque se espalhara entre eles uma onda de medo. Assim, Jesus voltou para o barco e foi para a outra margem do lago. O homem que tinha estado dominado por demónios pediu para ir também, mas Jesus não o deixou: “Volta para a tua família e conta-lhes aquilo que de tão maravilhoso Deus fez contigo.” Então foi pela cidade anunciando as grandes coisas que Jesus tinha feito por ele. Do outro lado do lago, o povo recebeu Jesus de braços abertos, pois já o esperava. Um homem chamado Jairo, líder da sinagoga, veio ter com Jesus e, prostrando-se aos seus pés, pediu-lhe que fosse a sua casa, porque tinha uma filha única, uma menina de cerca de doze anos, que estava à morte. Jesus acompanhou-o, abrindo caminho através do povo. Enquanto caminhavam, uma mulher veio por detrás e tocou-lhe, porque havia doze anos que tinha um mal que a fazia perder sangue, e não tinha conseguido encontrar cura, embora tivesse gasto tudo o que tinha com médicos. Ela aproximou-se dele por trás e tocou-lhe na borda do manto, e num ápice a perda de sangue estancou. “Quem me tocou?”, perguntou Jesus. Todos negaram, e Pedro até acrescentou: “Mestre, são tantos os que te apertam de todos os lados.” “Alguém me tocou de propósito, porque senti sair de mim poder.” Sabedora de que não podia esconder-se, a tremer, a mulher aproximou-se, pôs-se de joelhos diante dele e contou à frente de todo o povo o motivo porque lhe tinha tocado, afirmando que num ápice ficara boa. Jesus disse-lhe: “Filha, a tua fé te curou! Vai em paz.” Enquanto falava ainda com a mulher, chegou um mensageiro da casa de Jairo, líder da sinagoga, com a notícia: “A tua filha já está morta. Não incomodes mais o Mestre.” Quando Jesus soube o que tinha acontecido, disse a Jairo: “Não tenhas medo! Crê somente e ela ficará boa.” Quando chegaram à casa, Jesus não consentiu que ninguém entrasse com ele, excetuando Pedro, Tiago, João e os pais da menina. A casa estava cheia de pessoas que lamentavam o sucedido, mas ele ordenou: “Parem de chorar! Ela não está morta, apenas dorme!” Esta frase provocou zombaria, porque todos sabiam que a jovem estava morta. Então Jesus, tomando-a pela mão, exclamou: “Levanta-te, menina!” E naquele instante o espírito dela voltou e ela levantou-se. “Deem-lhe de comer!”, disse. Os pais ficaram maravilhados, mas Jesus insistiu com eles para que não contassem a ninguém o que tinha acontecido. Reunindo os doze discípulos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demónios e para curar as enfermidades. Em seguida, enviou-os a pregar a toda a gente o reino de Deus e a curar os doentes. “Não levem convosco nem sequer um bordão”, recomendou-lhes, “nem saco de viagem, nem comida, nem dinheiro de prata, nem mesmo uma muda de roupa. Na casa em que entrarem, fiquem nela até à vossa partida. Se o povo de qualquer povoação não vos receber, sacudam a poeira dos vossos pés quando saírem, como testemunho de que abandonaram essa terra à sua própria sorte.” Começaram então essa digressão pelas povoações, pregando as boas novas e curando os doentes. Quando soube dos milagres de Jesus, o governador Herodes ficou preocupado, pois já havia quem dissesse: “É João Batista que voltou à vida.” E outros: “É Elias ou outro antigo profeta que ressuscitou dos mortos.” “Degolei João”, dizia Herodes, “quem será este homem de quem me contam tais histórias?” E procurava ver Jesus. Quando os apóstolos voltaram para contar a Jesus o que tinham feito, este saiu com eles para um sítio isolado, para os lados da povoação de Betsaida. O povo, porém, descobriu para onde se dirigia e seguiu-o. Ele acolheu-os, ensinando-os acerca do reino de Deus e curando os doentes. No fim da tarde, os doze discípulos vieram recomendar-lhe: “Manda o povo retirar-se, para ir às aldeias e campos dos arredores arranjar abrigo para a noite e encontrar comida, porque o lugar em que estamos é deserto.” Mas Jesus respondeu: “Deem-lhes vocês de comer.” “Como, se temos apenas cinco pães e dois peixes?”, protestaram. “Onde é que iríamos agora arranjar alimento suficiente para toda esta multidão?” É que estavam ali uns 5000 homens. “Digam-lhes que se sentem no chão em grupos de cerca de cinquenta cada”, ordenou Jesus aos discípulos. E assim fizeram. Tomando os cinco pães e os dois peixes, Jesus ergueu os olhos para o céu e abençoou-os. Depois, partiu-os em pedaços e deu-os aos discípulos, para que os oferecessem à multidão. Todos comeram até ficarem satisfeitos. E quando as sobras foram recolhidas enchiam doze cestos. Um dia, estando sozinho a orar e encontrando-se os discípulos ali perto, Jesus aproximou-se e perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” Responderam-lhe: “João Batista, ou talvez Elias, ou outro dos antigos profetas que terá ressuscitado.” Então perguntou-lhes: “E vocês, quem pensam que eu sou?” E Pedro respondeu: “Tu és o Cristo de Deus!” Jesus deu-lhes ordens rigorosas para não falarem nisso a ninguém. Disse-lhes ele: “O Filho do Homem está destinado a passar por muitos sofrimentos, ser rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos especialistas na Lei e ser morto, mas três dias depois ressuscitará.” Então disse a todos: “Se alguém quiser ser meu seguidor, tem de esquecer-se de si próprio, tomar a sua cruz todos os dias e seguir-me. Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por minha causa salvá-la-á. Que lucro terá o homem em ganhar o mundo inteiro e causar dano a si mesmo? Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também eu, o Filho do Homem, me envergonharei desse, quando vier na minha glória e na do Pai e dos santos anjos. Porém, a verdade é que alguns dos que estão aqui agora não morrerão sem ver o reino de Deus!” Aproximadamente oito dias depois de proferir estas palavras, levou consigo Pedro, Tiago e João e subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o seu rosto começou a brilhar e o seu vestuário ficou de uma brancura resplandecente. De súbito, dois homens, Moisés e Elias, puseram-se a falar com ele. O aspeto deles era glorioso e falavam da sua morte que iria ocorrer em Jerusalém. Pedro e os outros, de tão cheios de sono que estavam, adormeceram. Ao acordarem, viram Jesus cheio de esplendor e glória, e os dois homens que estavam com ele. Quando Moisés e Elias se iam retirar, Pedro, não sabendo o que dizer, exclamou: “Mestre, que bom é estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias!” No momento em que dizia isto, uma nuvem formou-se por cima deles e encheram-se de terror, quando a nuvem os envolveu. Uma voz que saía da nuvem disse: “Este é o meu Filho, a quem escolhi. Ouçam-no!” Quando a voz se calou, ficou apenas Jesus. Os discípulos guardaram silêncio e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto. No outro dia, quando desceram do monte, veio ao seu encontro uma grande multidão. Um homem gritou-lhe: “Mestre, este menino que aqui está é o meu único filho. E há um demónio que se apodera dele e o faz gritar, abanando-o com violência, a ponto de espumar pela boca. Esse demónio fá-lo ferir-se constantemente e não o deixa em paz. Já roguei aos teus discípulos que o expulsassem, mas não foram capazes.” Jesus respondeu: “Ó povo sem fé e obstinado! Até quando terei de andar convosco e de vos suportar? Traz-me cá o teu filho!” Quando a criança se aproximava, o espírito impuro atirou-a ao chão numa violenta agitação. Mas Jesus, ordenando-lhe que saísse, curou o menino e entregou-o ao pai. O espanto apoderou-se do povo ao ver esta manifestação do poder de Deus. Entretanto, enquanto se admiravam das coisas maravilhosas que fazia, Jesus disse aos discípulos: “Ouçam-me e lembrem-se do que vos vou dizer. O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens.” Eles, porém, não compreendiam o que ele dizia; tal estava-lhes velado, de modo a não o perceberem, e tinham medo de lhe fazer perguntas sobre isso. Surgiu então entre eles uma discussão sobre qual dos discípulos seria o mais importante. Jesus, contudo, conhecendo-lhes os pensamentos, colocou uma criancinha ao seu lado e disse-lhes: “Quem receber uma criancinha como esta, em meu nome, é a mim que recebe. E quem me receber recebe aquele que me enviou. O mais insignificante entre vós, esse é o maior.” João disse-lhe: “Mestre, vimos alguém que se servia do teu nome para expulsar demónios, mas dissemos-lhe que não o fizesse, por não pertencer ao nosso grupo.” Mas Jesus disse-lhe: “Não o proíbam! Porque quem não está contra vós está do vosso lado.” À medida que se aproximava o momento de regressar ao céu, Jesus mostrava-se decidido a ir a Jerusalém. Um dia, enviou mensageiros à sua frente, a fim de reservar hospedagem numa localidade samaritana. Todavia, mandaram-nos embora. O povo daquele lugar não quis nada com eles, porque viram que se dirigiam para Jerusalém. Quando chegou a notícia do que tinha acontecido, os discípulos Tiago e João perguntaram a Jesus: “Mestre, devíamos pedir que caia fogo do céu para os queimar?” Mas Jesus voltou-se e repreendeu-os. E prosseguiram até chegarem a outra aldeia. Quando iam a passar, alguém disse a Jesus: “Seguir-te-ei aonde quer que fores.” Mas Jesus respondeu: “As raposas têm tocas e as aves têm ninhos; eu, porém, o Filho do Homem, não possuo lar próprio nem sítio onde repousar a cabeça.” Ele disse a outro homem: “Segue-me.” Este disse-lhe: “Senhor, deixa-me primeiro enterrar o meu pai.” Jesus respondeu: “Os mortos de espírito que cuidem dos seus mortos. Tu deves ir anunciar o reino de Deus.” Outro disse-lhe: “Sim, Senhor, irei, mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família.” “Aquele que lança mão do arado e depois olha para trás não está pronto para o reino de Deus!”, replicou-lhe Jesus. Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e enviou-os à sua frente, dois a dois, a todas as localidades, vilas e aldeias que tencionava visitar mais tarde. Foram estas as instruções que lhes deu: “A seara é vasta e os trabalhadores são poucos. Roguem ao Senhor da seara que envie trabalhadores para ela. Agora vão, envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. Não levem bolsa com dinheiro convosco, nem saco de viagem, nem mesmo calçado de reserva. E não percam tempo a cumprimentar as pessoas pelo caminho. Na casa em que entrarem, primeiramente declarem a paz sobre ela. Se o residente for digno de paz, deixem-lhe a vossa paz; se não, para vocês voltará. Na casa em que entrarem, fiquem nela e comam e bebam do que vos puserem à frente. Porque digno é o trabalhador do seu salário. Se uma cidade vos receber, comam do que vos oferecerem. Curem os enfermos e digam: ‘O reino de Deus chegou até vós!’ Se, porém, na cidade em que entrarem não vos receberem, saiam para as ruas e digam: ‘Limpamos o pó desta povoação que se tiver incrustado aos nossos pés em protesto contra vós. Nunca se esqueçam de que o reino de Deus chegou!’ Eu vos digo: Sodoma estará em melhor situação no dia do juízo do que essa cidade! Ai de ti, Corazim, e ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que vos fiz tivessem sido realizados nas cidades de Tiro e Sídon, o seu povo ter-se-ia sentado, há muito, em profundo arrependimento, vestindo pano de saco e deitando cinzas sobre a cabeça em sinal de remorso. Contudo, Tiro e Sídon estarão em melhor situação no dia do juízo do que vocês! E tu, povo de Cafarnaum, serás tu levantado até ao céu? Serás antes mergulhado no inferno!” Depois disse aos discípulos: “Quem vos ouve é a mim que ouve e quem vos rejeita é a mim que rejeita. E quem me rejeitar rejeita quem me enviou.” Quando os setenta e dois discípulos voltaram, cheios de alegria, contaram: “Senhor, os próprios demónios nos obedecem quando nos servimos do teu nome.” Disse-lhes Jesus: “Sim, eu próprio vi Satanás cair dos céus como um raio! Dei-vos autoridade sobre os poderes do inimigo e para pisar serpentes e escorpiões. Nada vos fará mal. Todavia, não se alegrem porque os demónios vos obedecem. Alegrem-se por os vossos nomes estarem registados nos céus!” Naquele momento, Jesus, cheio da alegria do Espírito Santo, disse: “Pai, Senhor do céu e da Terra, graças te dou por teres escondido estas coisas aos instruídos e aos sábios e as revelares às criancinhas. Sim, obrigado, Pai, pois foi assim que quiseste! O meu Pai deu-me autoridade sobre todas as coisas; e ninguém conhece verdadeiramente o Filho a não ser o Pai; e ninguém conhece verdadeiramente o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho tiver por bem revelá-lo.” Voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: “Felizes são os olhos que veem o que estão a ver! Muitos profetas e reis desejaram ver o que vocês veem e não o viram; ouvir o que vocês ouvem e não o ouviram!” Certo dia, um especialista na Lei judaica quis pôr Jesus à prova fazendo-lhe esta pergunta: “Mestre, que farei para obter a vida eterna?” Jesus respondeu: “Que diz a Lei sobre o assunto?” “Diz assim: ‘Ama o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento. E ama o teu próximo como a ti mesmo.’ ” “Estás certo”, respondeu-lhe Jesus. “Faz isso e terás a vida eterna!” O homem, querendo justificar-se, perguntou: “E quem é o meu próximo?” Jesus respondeu-lhe com esta parábola: “Um judeu que viajava de Jerusalém para Jericó viu-se atacado por salteadores. Estes, depois de lhe tirarem todas as roupas e o dinheiro, espancaram-no e deixaram-no como morto na berma da estrada. Por acaso, passou por ali um sacerdote que, ao ver o homem tombado, se afastou para o outro lado da estrada e passou de largo. Um outro, que era levita, fez o mesmo, deixando também o homem ali caído. Porém, surgiu um samaritano que, ao vê-lo, teve muita compaixão dele. Ajoelhando-se, tratou-lhe as feridas com azeite e vinho e pôs-lhe ligaduras. Depois, colocando o homem sobre o seu jumento, foi caminhando ao lado até chegarem a uma hospedaria, onde cuidou dele durante a noite. No dia seguinte, entregou ao dono da hospedaria uma certa importância, recomendando-lhe que cuidasse do homem. ‘Se a despesa for além disto, pago a diferença na próxima vez que por aqui passar’, disse-lhe. Ora, qual destes três homens dirias tu que foi o semelhante da vítima dos salteadores?” Ao que o homem respondeu: “Foi aquele que mostrou compaixão por ele.” Jesus disse-lhe: “É isso mesmo. Vai e faz o mesmo.” A caminho de Jerusalém, Jesus e os discípulos chegaram a um sítio onde uma mulher chamada Marta os recebeu em casa. Maria, sua irmã, sentou-se no chão ao pé de Jesus, ouvindo o que ele dizia. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços. E, indo ter com Jesus, observou: “Senhor, achas bem que minha irmã me deixe sozinha a fazer o trabalho todo? Diz-lhe que venha ajudar-me.” “Marta, Marta, como tu te deixas prender por tantas coisas! Há só uma que é necessária. Maria escolheu bem e isso não lhe será tirado!” Numa ocasião em que Jesus se tinha retirado para orar, um dos discípulos, quando ele terminou, disse-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar, como João fez com os seus discípulos.” Foi assim que Jesus os ensinou a orar: “Pai, que o teu santo nome seja honrado. Venha o teu reino. Dá-nos o pão para o nosso alimento diário. Perdoa-nos os nossos pecados, pois nós próprios perdoamos os que nos ofendem. E não deixes que caiamos em tentação.” Ensinou-lhes mais: “Quem dentre vocês pode imaginar uma situação como a que vos vou contar? Alguém vai a casa de um amigo à meia-noite e diz-lhe: ‘Amigo, cede-me três pães, pois acaba de chegar um amigo e não tenho nada para lhe dar a comer.’ Não responderia ele lá de dentro: ‘Não me incomodes agora. A porta da rua já está trancada e eu e os meus filhos já estamos deitados. Não posso levantar-me para te valer!’? Digo-vos que ele acabará por levantar-se e dar o que o outro quiser, embora não o faça por amizade, mas por causa do incómodo. O mesmo se passa com a oração: Peçam e receberão o que pedirem. Procurem que hão de achar. Batam que a porta há de abrir-se. Porque todo aquele que pede recebe. Quem procura acha. Se baterem, a porta abrir-se-á. Quem de entre vocês que seja pai, se o seu filho lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente em vez do peixe? Se pedir um ovo, dão-lhe um escorpião? Se vocês, que são pecadores, sabem dar coisas boas aos vossos filhos, porventura não dará muito mais o vosso Pai, que está nos céus, o Espírito Santo àqueles que lho pedirem!” Certa vez, estava Jesus a expulsar de um homem um demónio que era mudo. Depois de o demónio ter saído, o mudo recuperou a fala e as multidões ficaram maravilhadas. Mas houve entre eles quem dissesse: “Expulsa os demónios pelo poder de Belzebu, líder dos demónios.” Outros, para o porem à prova, pediram-lhe que fizesse um sinal do céu. Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu: “Todo o reino dividido fica deserto. E uma casa dividida contra si mesma desabará. Ora, se Satanás está dividido contra si próprio, como subsistirá o seu reino? Pois vocês dizem que expulso os demónios pelo poder de Belzebu. E se expulso os demónios pelo poder de Belzebu, a que poder recorrem os vossos, quando fazem o mesmo? Por esta razão, eles serão os vossos juízes! Mas, se expulso os demónios pelo dedo de Deus, então é porque o reino de Deus já está no vosso meio. Pois quando o homem forte e bem armado guarda a sua casa o seu domínio está seguro, até que alguém ainda mais forte o ataque e derrote, lhe tire as armas em que confiava e leve os seus bens. Quem não é por mim é contra mim; quem não ajunta comigo espalha. Quando um espírito impuro é expulso de um homem, vai para lugares áridos, procurando onde ficar; não encontrando lugar, diz: ‘Vou voltar para a morada que deixei.’ E descobre que a sua antiga morada está varrida e arranjada. Então, o demónio vai buscar outros sete espíritos, ainda piores do que ele próprio, e todos entram na tal pessoa para morar dentro dela. E deste modo fica pior do que antes.” Enquanto falava, uma mulher de entre a multidão gritou: “Bendita seja a tua mãe, o ventre de que nasceste e o peito que te deu leite!” Ao que ele respondeu: “Benditos são antes todos aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática!” Jesus expôs os seguintes ensinamentos: “Esta geração é uma má geração; pede um sinal, mas não receberá nenhum, a não ser o de Jonas! Pois como Jonas foi um sinal de Deus para o povo de Nínive, assim também o Filho do Homem o será para esta geração. No dia do juízo dos homens a rainha de Sabá há de levantar-se e condenar esta geração, porque fez uma viagem longa e difícil para escutar a sabedoria de Salomão. Mas aqui está quem é superior a Salomão. Também os homens de Nínive se levantarão para condenar esta geração, porque se arrependeram ao ouvir a pregação de Jonas. E agora está aqui alguém que é superior a Jonas. Ninguém acende uma lâmpada para escondê-la, mas coloca-a num candeeiro, para que aqueles que entrarem em casa vejam a luz. Os olhos são a luz do teu corpo. Se forem puros, o teu corpo terá luz. Se forem maus, haverá escuridão. Vigiem, pois, para que nada impeça a luz de brilhar em vocês. Se estiverem cheios de luz interior, sem recantos escuros, então também todo o vosso íntimo ficará na luz como se o clarão duma lâmpada vos iluminasse.” Enquanto falava, um fariseu pediu-lhe que fosse comer a sua casa. Quando Jesus chegou, acomodou-se para a refeição. Mas o fariseu surpreendeu-se que eles não cumprissem o ritual da lavagem das mãos. Mas o Senhor disse-lhe: “Ora, vocês, fariseus, lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de roubo e maldade. Loucos! Não foi Deus que fez tanto o interior como o exterior? Uma forma de mostrar pureza é exercer generosidade para com os pobres. Mas ai de vocês, fariseus! Porque, embora tenham o cuidado de dar a Deus o dízimo da hortelã, da arruda e de todos os vegetais, esquecem por completo a justiça e o amor de Deus. Vocês devem praticar o dízimo, sim, mas sem pôr de parte as coisas mais importantes. Como vos lamento, fariseus! Amam tanto os assentos presidenciais nas sinagogas e as saudações que vos dirigem nas praças! Ai de vocês, porque são como as sepulturas escondidas: as pessoas caminham por cima delas sem o saberem.” “Mestre”, observou um especialista na Lei que se encontrava ali, “insultaste também a minha atividade com o que acabaste de dizer.” “Sim”, replicou-lhe Jesus, “Ai de vocês, peritos na Lei, porque sobrecarregam as pessoas com fardos insuportáveis em que vocês próprios nem sequer com um só dos vossos dedos estão dispostos a tocar! Ai de vocês, pois levantam monumentos aos profetas que os vossos pais mataram. Vocês próprios são testemunhas de como concordam com eles, porque levantam os túmulos dos mesmos profetas que os nossos pais mataram. Isto é o que Deus diz na sua sabedoria: ‘Mandar-vos-ei profetas e apóstolos, mas vocês matarão alguns deles, a outros expulsá-los-ão.’ Esta geração será considerada responsável pelo assassínio dos profetas desde a fundação do mundo; desde o assassínio de Abel ao de Zacarias, que foi morto no templo, entre o altar e o santuário. Sim, digo-vos que serão pedidas contas a esta geração. Ai de vocês, que são tidos como peritos na Lei! Esconderam do povo a chave do conhecimento e não entram nem deixam entrar os outros.” Os especialistas na Lei e os fariseus ficaram furiosos. A partir dali atacavam-no ferozmente com toda a espécie de perguntas. E tentavam fazê-lo tropeçar e dizer algo que servisse para o mandarem prender. Entretanto, a multidão crescia até haver milhares de pessoas que se atropelavam. Voltando-se primeiro para os discípulos, avisou-os: “Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a sua hipocrisia. Porém, não há nada escondido que não venha a revelar-se, nem nada oculto que não venha a ser conhecido. Tudo o que disserem nas trevas será escutado à luz e o que segredarem ao ouvido num quarto será proclamado pelos telhados! Meus amigos, não temam os que podem matar-vos o corpo, mas que não têm para vos fazer mais do que isso. Dir-vos-ei quem devem temer: temam Deus, que tem autoridade para matar e lançar no inferno. Sim, é a ele que devem temer. Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? E nem um só deles passará despercebido aos olhos de Deus. Os próprios cabelos da vossa cabeça estão contados. Portanto, não se preocupem! Para ele, vocês valem mais do que muitos pardais juntos. E garanto-vos: quem me reconhecer diante dos homens, também o Filho do Homem o reconhecerá diante dos anjos de Deus. Porém, quem me negar na presença dos homens, também eu o negarei na presença dos anjos de Deus. Até o dizer mal do Filho do Homem pode ser perdoado, mas nunca quem falar mal do Espírito Santo. E quando forem levados às sinagogas, aos governantes e autoridades, não se preocupem com a vossa defesa ou com o que vão dizer, porque o Espírito Santo vos ensinará naquele momento as palavras a dizer.” Foi então que alguém exclamou do meio da multidão: “Senhor, peço-te que digas ao meu irmão que reparta comigo a herança do meu pai!” Jesus respondeu: “Não sou juiz para decidir sobre essas questões legais entre vocês. A questão de fundo é que não se deixem dominar pela avareza. Porque a vida verdadeira não está garantida pelos bens que cada um possa ter.” E contou-lhe uma parábola: “Certo homem rico possuía uma propriedade fértil que dava boas colheitas. Os seus celeiros transbordavam e não podia guardar tudo lá dentro. O homem pôs-se a pensar no problema. Por fim, concluiu: ‘Já sei, vou deitar abaixo os celeiros e construir outros maiores. Assim terei espaço suficiente. Depois direi comigo mesmo: “Amigo, armazenaste o bastante para os anos futuros. Agora, repousa e come, bebe e diverte-te!” ’ Mas Deus disse-lhe: ‘Louco! Esta noite vais morrer e para quem fica tudo isso?’ Sim, louco é quem acumula riquezas na Terra, mas não é rico em relação a Deus.” E voltando-se para os discípulos: “Portanto, aconselho-vos que não se preocupem com o ter ou não comida suficiente e roupa para vestir. Porque a vida é muito mais do que o comer ou o vestir. Olhem os corvos que não plantam, não colhem, não têm celeiros para armazenar alimento, e mesmo assim vivem, porque é Deus quem os sustenta. E vocês valem muito mais do que as aves! As vossas preocupações poderão porventura acrescentar um só momento ao tempo da vossa vida? Claro que não! E se a preocupação não ajuda nem sequer a realizar coisas pequenas, qual é a vantagem de nos preocuparmos com coisas maiores? Olhem os lírios do campo, que não trabalham nem tecem! E contudo nem Salomão em toda a sua glória se vestiu tão bem como eles. E se Deus veste a erva do campo, que hoje é viçosa e amanhã é lançada no fogo, não acham que vos dará também o necessário, almas com tão pouca fé? E não se preocupem com o que comer e o que beber; que isso não vos cause ansiedade. Os gentios é que se afadigam com estas coisas, mas o vosso Pai sabe perfeitamente que precisam delas. Deem pois prioridade ao seu reino e ele dar-vos-á estas coisas. Portanto, não tenhas medo, pequeno rebanho, porque o vosso Pai se alegra em dar-vos o reino. Vendam o que têm e deem aos que estão em necessidade. Preparem bolsas que não envelhecem e nos céus um tesouro inesgotável, onde o ladrão não o alcança nem a traça o corrói. Pois onde estiver o vosso tesouro ali estará também o vosso coração. Estejam preparados, com os vossos lombos cingidos e as vossas candeias acesas, como se esperassem o vosso Senhor regressando da festa de casamento. Assim, estarão preparados para lhe abrir a porta e deixá-lo entrar quando chegar e bater. Felizes os servos que estiverem vigiando assim. É realmente como vos digo: ele mesmo os sentará à mesa e os servirá! Poderá vir às nove da noite ou talvez à meia-noite. Porém, seja qual for a hora, felizes os que estiverem prontos. Saibam isto: se o senhor da casa soubesse exatamente quando o ladrão vem, ficaria de vigilância e não deixaria que a casa fosse arrombada. Também vocês devem estar prontos em todo o tempo, porque o Filho do Homem virá quando menos o esperarem.” Pedro perguntou: “Senhor, essa parábola que contas é só para nós ou é também para toda a gente?” O Senhor respondeu: “Quem é o gerente fiel e sensato, a quem o seu senhor confiará a responsabilidade sobre os empregados, para lhes dar o sustento à hora certa? Feliz é o servo cujo senhor, no seu regresso, encontrar a fazer um bom trabalho. É realmente como vos digo: tal servo o senhor porá sobre tudo o que tem. Mas se esse servo disser consigo próprio: ‘O meu senhor não voltará tão cedo’, e começar a maltratar os servos e as servas, e a fazer uma vida de comezainas e bebedeiras, o seu senhor, ao voltar sem aviso, num dia e numa hora em que não é esperado, castigá-lo-á severamente e dar-lhe-á a condenação reservada aos infiéis. Será severamente castigado por se recusar a cumprir a sua obrigação, ainda que sabendo bem qual era. Mas aquele que por desconhecimento não se apercebe do seu mau comportamento será castigado com maior brandura. A quem muito se dá muito se exige, pois a sua responsabilidade é maior; e a quem muito foi confiado muito mais se lhe pede. Vim trazer fogo à Terra e desejava que essa tarefa estivesse já completada! Aguarda-me um batismo terrível e sinto-me bem oprimido até que chegue! Julgam que vim trazer a paz à Terra? Pelo contrário, vim trazer contendas! Daqui em diante as famílias se dividirão, três a meu favor, dois contra, ou o inverso. O pai estará dividido contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e esta contra aquela.” E voltando-se para o povo, Jesus disse: “Quando veem as nuvens a formar-se no poente, sabem dizer: ‘Vem aí chuva!’, e têm razão. Quando sopra o vento sul, comentam: ‘Hoje vai fazer calor!’, e assim é. Que hipocrisia! Sabem interpretar os sinais da Terra e do céu, mas como não sabem interpretar os do tempo em que vivem. Porque é que não veem por vós próprios o que é justo? Se te encontrares com o teu adversário diante da autoridade judicial, procura resolver o conflito antes que chegue ao juiz, não vá este condenar-te à prisão. Porque, se tal acontecer, ali ficarás até pagares a última moeda.” Por esse tempo, contaram a Jesus que Pilatos tinha mandado matar alguns judeus da Galileia, enquanto ofereciam sacrifícios no templo em Jerusalém. “Pensam, por acaso, que esses eram mais pecadores do que os outros homens da Galileia?”, perguntou-lhes. “E que foi por isso que sofreram a morte? Não perceberam que também vocês se perderão se não se arrependerem? E os dezoito homens que morreram quando a torre de Siloé desabou sobre eles? Terá sido porque seriam os piores pecadores que havia em Jerusalém? Sem dúvida que não! Também vocês se perderão se não se arrependerem!” Jesus apresentou-lhes então a seguinte parábola: “Certo homem plantou uma figueira na sua quinta e muitas vezes ia ver se tinha fruto, ficando sempre desapontado. Por fim, disse ao empregado que a cortasse: ‘Há três anos que espero e não brotou um único figo! Para que me hei de ralar mais com esta figueira? O espaço que ocupa podemos nós utilizar para qualquer outra coisa.’ ‘Dá-lhe uma nova oportunidade’, respondeu o empregado. ‘Deixa-a ficar mais um ano que eu vou dedicar-lhe cuidados especiais e pôr-lhe adubo com abundância. Se conseguirmos figos no próximo ano, tanto melhor; se não, então corto-a.’ ” Um sábado, estava Jesus a ensinar numa sinagoga, quando viu uma mulher que andava curvada, sem se poder endireitar, havia dezoito anos, por estar possuída por um espírito maligno. Jesus chamou-a para junto de si. “Mulher, estás curada da tua doença!” Tocou-a e imediatamente pôde endireitar-se. E ela glorificava e agradecia a Deus. Todavia, o líder da sinagoga local ficou muito zangado, porque Jesus tinha efetuado aquela cura no sábado. “Há seis dias da semana para trabalhar”, bradou ele à multidão. “Nesses dias e não no sábado é que se deve vir em busca de cura!” Mas o Senhor respondeu: “És um hipócrita! Tu trabalhas ao sábado! Ao sábado não desatas o gado no estábulo e não o levas a beber? E será condenável que, lá porque é sábado, eu liberte, após dezoito anos de cativeiro de Satanás, esta filha de Abraão?” Isto envergonhou os seus inimigos. E todo o povo se alegrava com as maravilhas que fazia. Começou então novamente a instruí-los acerca do reino de Deus: “Com que se parece o reino e como posso explicá-lo? É como uma semente de mostarda que um homem planta na sua horta; depois cresce e transforma-se num arbusto em cujos ramos as aves do céu fazem os seus ninhos.” Outra vez ele perguntou: “A que compararei o reino de Deus? Pode ser comparado ao fermento que uma mulher misturou em três medidas de farinha, até toda ela levedar.” Jesus ia de cidade em cidade e de localidade em localidade, ensinando pelo caminho e avançando sempre para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “É verdade que só poucos é que serão salvos?” Ele respondeu: “É estreita a porta do céu. Esforcem-se por entrar, porque muitos tentarão fazê-lo. Mas quando o dono da casa tiver trancado a porta, será já tarde. Se ficarem do lado de fora, ainda que batendo e suplicando: ‘Senhor, abre-nos a porta!’, ele contudo responderá: ‘Não vos conheço nem sei de onde vêm!’ E dir-lhe-ão: ‘Mas nós comemos contigo e ensinaste nas nossas ruas.’ Tornará a responder: ‘Não vos conheço nem sei de onde vêm. Afastem-se da minha presença, pois todos vocês são praticantes da injustiça!’ E haverá choro e ranger de dentes, ao verem Abraão, Isaque, Jacob e todos os profetas dentro do reino de Deus, mas vocês são lançados fora. Então virá gente do Este e do Oeste, do Norte e do Sul e sentar-se-ão no reino de Deus. E notem que há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que virão a ser últimos.” Nesse momento, alguns fariseus disserem-lhe: “Retira-te daqui se queres continuar vivo, porque Herodes anda à tua procura!” Ao que Jesus respondeu: “Digam a essa raposa que continuarei a expulsar demónios e a operar curas milagrosas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao meu destino. Sim, hoje, amanhã e depois de amanhã devo prosseguir o meu caminho! Porque não ficaria bem a um profeta de Deus ser morto noutro local que não em Jerusalém! Jerusalém, Jerusalém, cidade que mata os profetas de Deus e apedreja todos aqueles que ele lhe envia! Quantas vezes quis juntar os teus filhos como uma galinha junta os pintainhos debaixo das asas, mas vocês não me deixaram. Agora a vossa casa fica ao abandono. Lembrem-se do que vos digo: nunca mais me tornarão a ver senão quando disserem, ‘bendito aquele que vem em nome do Senhor!’ ” Jesus foi comer a casa de um dos líderes dos fariseus num certo sábado; e eles vigiavam-no, para ver se curaria um dos presentes, que sofria de uma doença que o fazia inchar. Então Jesus dirigiu-se aos fariseus e especialistas na Lei que se achavam em volta: “A Lei permite ou não curar um homem num dia de sábado?” E visto que se recusavam a responder, Jesus, tomando o doente pela mão, curou-o e mandou-o embora. Depois, voltando-se para eles disse: “Qual de vocês, que tivesse um filho ou um boi, e se este caísse num poço, não iria logo tirá-lo, num dia de sábado?” Uma vez mais, não encontraram resposta que lhe dessem. Quando reparou que todos os convidados procuravam o lugar de honra, perto do topo da mesa, contou-lhes a seguinte parábola: “Se fores convidado para uma festa de casamento, não procures ocupar o melhor lugar, pois, se aparecer alguém de posição superior à tua, o dono da casa levá-lo-á para o sítio onde te encontras sentado e dir-te-á: ‘Deixa que esta pessoa se sente no lugar em que estavas.’ E tu ficarás humilhado e terás de aceitar qualquer lugar que reste, ao fundo da mesa. Em vez disso, começa pelo fim. E quando aquele que te convidou te vir, dirá: ‘Amigo, temos para ti um lugar melhor do que esse!’ E assim serás honrado perante todos os outros convidados! Porque todo aquele que procura elevar-se será humilhado e todo aquele que se humilhar a si mesmo será elevado.” Voltou-se então para o seu hospedeiro: “Quando ofereceres um jantar, não convides amigos, irmãos, parentes e vizinhos ricos, porque esses retribuirão o convite. Em vez disso, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Na ressurreição dos justos Deus recompensar-te-á por teres convidado aqueles que não podem retribuir-te.” Ouvindo isto, alguém que estava à mesa com Jesus exclamou: “Feliz aquele que tiver o privilégio de cear no reino de Deus!” Ao que Jesus respondeu com a seguinte parábola: “Um homem preparou uma grande festa e enviou muitos convites. Chegada a hora do banquete, mandou o seu servo dizer aos convidados: ‘Venham, pois já está pronto.’ Todos, porém, começaram com desculpas: um porque acabara de comprar um campo e queria vê-lo, pedindo, portanto, que dispensasse a sua presença. Outro porque tinha acabado de comprar cinco juntas de bois e queria experimentá-los. Outro ainda, porque acabara de casar-se, não podia ir. O servo voltou e transmitiu ao seu senhor as respostas. Este, indignado, disse ao seu servo que fosse depressa pelas ruas e becos da cidade e convidasse os mendigos, paralíticos, coxos e cegos. Ele foi e, mesmo assim, ainda havia lugar. Então disse o senhor ao servo: ‘Vai por aí fora, pelos caminhos e por todos esses lugares; insiste para que venham, de modo que a casa fique cheia. Quanto aos que primeiro convidei, ninguém provará dos manjares que eu tinha preparado!’ ” Grandes multidões seguiam Jesus, que lhes falou assim: “Todo aquele que quiser ser meu seguidor e não odiar o seu próprio pai, mãe, esposa, filhos, irmãos ou irmãs e a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carregar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo. Contudo, não deve começar a seguir-me enquanto não tiver pensado no custo que isso implica. Pois quem começaria a construir um edifício sem primeiro fazer cálculos e verificar se tem dinheiro suficiente para pagar as contas? De outro modo, arriscar-se-ia a só poder lançar os alicerces, por se terem esgotado os recursos. E então toda a gente troçaria dele! ‘Veem aquele homem?’, diriam então em tom de zombaria. ‘Começou uma casa e ficou sem dinheiro antes de a terminar!’ E qual é o rei que se dispõe a iniciar uma guerra sem primeiro consultar os seus conselheiros e verificar se com 10 000 homens terá força suficiente para derrotar os 20 000 que marcham contra ele? E se vir que não, enquanto as tropas inimigas ainda vêm longe, enviará uma comissão de tréguas para discutir as condições de paz. Semelhantemente, ninguém pode tornar-se meu discípulo sem ter primeiro calculado bem o que isso representa, e sem ter renunciado a tudo por amor a mim. O sal é bom para temperar, mas se perder o sabor como pode tornar-se outra vez salgado? O sal sem sabor não presta para nada, nem mesmo para adubo. É lançado fora. Quem tem ouvidos, ouça!” Muitas vezes vinham cobradores de impostos, e outras pessoas de conduta reprovável, para ouvirem Jesus. Isto, porém, dava origem a queixas por parte dos fariseus e especialistas na Lei, por se misturar com gente condenável, chegando até a comer com eles! Jesus então recorreu à seguinte parábola: “Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se perder, não deixará as outras noventa e nove no deserto para ir em busca da que se perdeu, até a encontrar? E ao encontrá-la, carregá-la-á, com alegria, aos ombros. Quando chegar, reunirá amigos e vizinhos para se regozijarem com eles, por a sua ovelha perdida ter sido achada. É realmente como vos digo: haverá mais alegria no céu por causa de um pecador perdido que se arrependeu do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento! Ou ainda: Uma mulher, por exemplo, tem dez moedas valiosas e perde uma delas em casa. Porventura não acenderá uma luz e não procurará por toda a parte, varrendo cada recanto até a achar? E depois de encontrá-la não chamará as amigas e vizinhas para que se regozijem com ela? Assim também há alegria entre os anjos de Deus quando um pecador se arrepende.” E contou-lhes o seguinte: “Certo homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Dá-me agora a minha parte da herança a que tenho direito!’ O pai concordou então em dividir a fortuna entre os filhos. Poucos dias depois, este filho, já na posse de tudo o que lhe pertencia, partiu para uma terra distante, onde desperdiçou o dinheiro em pândegas e na má vida. Ao mesmo tempo que o dinheiro se acabava, a terra foi assolada por uma grande fome e ele começou a passar privações. Foi então ter com um lavrador que o contratou para lhe tomar conta dos porcos. O jovem sentia tanta fome que até as bolotas que dava aos porcos lhe apetecia comer. Mas nem isso lhe davam. Quando, por fim, caiu em si, disse consigo mesmo: ‘Na casa de meu pai, até os trabalhadores têm comida em abundância e eu estou aqui a morrer de fome! Vou voltar para o meu pai e dizer-lhe: “Pai, pequei contra o céu e contra ti, e já nem mereço ser chamado teu filho. Peço-te que me contrates como trabalhador.” ’ Pôs-se então a caminho de casa. E ainda vinha longe, quando o seu pai, vendo-o aproximar-se, e cheio de compaixão, correu ao seu encontro, abraçou-o e beijou-o. O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti e já nem mereço ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos servos: ‘Depressa, tragam o melhor manto que houver em casa e vistam-lho; e ponham-lhe um anel no dedo e calçado novo! Matem o bezerro que estamos a engordar; porque vai haver grande festa! Pois este meu filho estava como morto e voltou à vida; estava perdido e tornou a ser achado!’ Com isto começou o banquete. Entretanto, o filho mais velho, que estava no campo a trabalhar, ao voltar para casa ouviu a música da festa e das danças. E perguntou a um dos criados o que se passava. ‘Foi o teu irmão que voltou’, respondeu-lhe. ‘O teu pai matou o bezerro que estávamos a engordar e preparou uma grande festa para celebrar o regresso dele são e salvo ao lar.’ O filho mais velho ficou zangado e não queria entrar, mas o pai saiu e insistiu que o fizesse. Ele, porém, respondeu: ‘Todos estes anos tenho trabalhado duramente para ti sem nunca me recusar a fazer fosse o que fosse que me mandasses, e em todo este tempo nunca me deste nem sequer um cabrito para que festejasse com os meus amigos. Agora volta este teu filho, depois de te gastar o dinheiro na má vida, e celebras o seu regresso matando o melhor bezerro!’ ‘Meu querido filho, eu e tu continuamos ligados e tudo o que possuo é teu! É justo, porém, festejarmos, pois o teu irmão estava como morto e tornou a viver; estava perdido e foi achado!’ ” Jesus contou ainda aos discípulos: “Um homem rico contratou um feitor para lhe administrar os negócios, mas logo começou a constatar que o indivíduo era esbanjador. Então o patrão chamou-o e disse-lhe: ‘Que é isto que me contam? Põe as tuas contas em ordem porque estás despedido.’ O feitor pensou consigo: ‘E agora? Estou liquidado. Para cavar não tenho força e de mendigar tenho vergonha. Já sei como arranjar muitos amigos que cuidem de mim quando me for embora!’ Convocou os devedores do patrão e perguntou ao primeiro: ‘Quanto lhe deves?’ ‘Três mil litros de azeite.’ ‘Aqui está o contrato que assinaste’, disse o administrador. ‘Rasga-o e escreve outro por metade disso.’ ‘E tu, quanto lhe deves?’, perguntou ao segundo. ‘35 000 litros de trigo.’ ‘Vá, toma o teu compromisso e troca-o por outro de apenas 28 000 litros!’ O homem rico não pôde deixar de admirar a astúcia daquele homem desonesto. As pessoas deste mundo são mais espertas nos negócios do que os crentes. Por isso, digo-vos, usem a riqueza deste mundo injusto para ajudar outros e fazer amigos. Desta maneira, serão acolhidos nas habitações eternas. Quem for fiel nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes; e quem for desonesto nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes. Por conseguinte, se forem fiéis nas riquezas injustas, as deste mundo, quem vos confiará a verdadeira riqueza, a do céu? Se não são fiéis com o dinheiro dos outros, porque vos há de ser confiado o vosso próprio? Pois nenhum servo pode servir dois patrões: Deus e o dinheiro. Porque, ao desprezar um, acaba por preferir o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro.” Os fariseus, que eram avarentos, ridicularizavam-no por tudo isto. Então Jesus disse-lhes: “Vocês são daqueles que se justificam a si mesmos diante dos outros, mas Deus conhece o vosso coração. O que é altamente avaliado entre as pessoas é cotado de maneira inteiramente diferente por Deus. Até João Batista começar a pregar, vigoravam a Lei de Moisés e as mensagens dos profetas. Agora as boas novas do reino de Deus são anunciadas e todos exercem força para entrar nele. É mais fácil que o céu e a Terra passem do que cair um só traço da Lei.” Disse ainda: “Quem se divorciar da sua mulher e se casar com outra comete adultério; e quem casar com uma mulher divorciada comete adultério também.” “Havia um certo homem rico”, contou Jesus, “que se vestia elegantemente e vivia todos os dias no prazer e no luxo. Um mendigo, chamado Lázaro, cheio de doenças, costumava estar deitado à sua porta. Desejava comer ao menos as sobras da mesa desse rico, mas só tinha cachorros que vinham lamber-lhe as feridas. Um dia, o mendigo faleceu e foi levado pelos anjos para junto de Abraão. Também o rico morreu e foi sepultado. Ali, no inferno, viu Lázaro lá longe com Abraão. ‘Pai Abraão’, gritou, ‘tem misericórdia de mim! Manda Lázaro vir ter comigo, nem que seja para molhar a ponta do dedo em água e refrescar-me a língua, pois estou atormentado nestas chamas!’ ‘Filho’, respondeu-lhe Abraão, ‘lembra-te de que durante a tua vida tiveste tudo quanto querias, enquanto Lázaro nada teve! Ele está aqui a ser consolado e tu estás em tormentos. Além disso, há um grande abismo que nos separa e que ninguém pode transpor.’ ‘Ó pai Abraão, manda-o a casa de meu pai’, retorquiu o rico, ‘pois tenho cinco irmãos e é preciso avisá-los para que não venham para este lugar de sofrimento quando morrerem.’ Mas Abraão declarou-lhe: ‘Têm as Escrituras de Moisés e dos profetas. Ouçam os seus avisos!’ ‘Não, pai Abraão! Se alguém de entre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão.’ ‘Se eles não ouvem Moisés e os profetas, não ouvirão nem mesmo alguém que se levante de entre os mortos.’ ” “É impossível que não haja tropeções na fé”, disse Jesus aos discípulos. “Mas ai daquele que os provocar! Melhor seria ser atirado ao mar com uma mó amarrada ao pescoço do que fazer tropeçar na fé um só destes pequeninos. Deem atenção! Repreende o teu irmão se ele pecar e perdoa-lhe se se arrepender. Mesmo que te ofenda sete vezes num dia, se cada vez voltar e te pedir perdão, perdoa-lhe sempre!” Então, os apóstolos pediram ao Senhor: “Aumenta-nos a fé!” Jesus respondeu-lhes: “Se tivessem fé como um grão de mostarda, poderiam dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e planta-te no mar!’, e ela vos obedeceria. Um servo quando regressa do serviço nos campos ou de tratar do gado não se senta logo à mesa. Prepara primeiro a refeição do senhor e serve-lhe o jantar antes de ele próprio comer. E nem por isso lhe agradecem, porque está a fazer o que se espera dele. Igualmente, quando me obedecem, digam: ‘Somos uns servos inúteis, porque cumprimos simplesmente o nosso dever!’ ” Prosseguindo no seu caminho para Jerusalém, chegaram aos limites da Galileia com Samaria. Quando entraram numa aldeia, dez leprosos pararam à distância, bradando: “Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!” Olhando para eles, Jesus disse: “Vão mostrar-se ao sacerdote.” Enquanto iam a caminho, constataram que a lepra desaparecera. Então Jesus perguntou: “Não eram dez os homens que curei? Onde estão os outros nove? Só este estrangeiro é que volta para dar glória a Deus?” E disse ao homem: “Levanta-te, podes ir. A tua fé te salvou!” Um dia, os fariseus perguntaram a Jesus: “Quando irá começar o reino de Deus?” E Jesus respondeu: “O reino de Deus não é anunciado por sinais visíveis. Nem se poderá dizer que começou aqui ou acolá, porque está entre vós.” Mais tarde, tornou a falar no assunto com os discípulos: “Lá virá o tempo em que hão de desejar que eu estivesse convosco, nem que fosse um só dia, mas já cá não estarei. Dirão que voltei e que estou neste ou naquele lugar; mas não acreditem nem saiam à minha procura. Porque, assim como o brilho do relâmpago ilumina o céu de um lado ao outro, assim será com o Filho do Homem, no dia próprio para ele regressar. Todavia, antes disso deverei sofrer muito e ser rejeitado pelas pessoas deste tempo. Assim como foi nos dias de Noé, assim será no dia do regresso do Filho do Homem. Naqueles dias antes do dilúvio, as pessoas comiam e bebiam e celebravam casamentos, até ao dia em que Noé entrou na arca e o dilúvio veio e destruiu a todos. O mundo estará como nos tempos de Lot. As pessoas continuavam atarefadas nos seus negócios diários, comendo e bebendo, comprando e vendendo, cultivando e construindo, até chegar aquela manhã em que Lot saiu de Sodoma e choveu do céu fogo e enxofre que destruiu toda a gente. Assim será o dia em que o Filho do Homem se revelar. Quem estiver fora de casa naquele dia não deve voltar para preparar bagagem; quem estiver nos campos não deve voltar para a cidade. Lembrem-se do que aconteceu à mulher de Lot! Quem procurar salvar a sua vida perdê-la-á. E quem a perder mantê-la-á. Digo-vos que naquela noite duas pessoas estarão a dormir no mesmo quarto; uma será levada e a outra deixada. Duas mulheres estarão a moer grão no mesmo moinho; uma será levada e a outra deixada. Do mesmo modo, dois homens estarão a trabalhar no campo e um será levado e o outro ficará.” “Senhor, para onde serão eles levados?”, inquiriram os discípulos. Jesus respondeu: “Onde estiver o cadáver, aí se juntarão os abutres!” Um dia, Jesus contou-lhes uma parábola para ilustrar a necessidade de orarem constantemente, sem desfalecerem. “Havia numa cidade um juiz que não respeitava a Deus e que desprezava toda a gente. Certa viúva daquela cidade procurava-o com frequência, pedindo-lhe justiça contra alguém que a acusava. Durante algum tempo o juiz não fez caso dela, mas por fim a sua presença começou a enervá-lo. ‘Eu não respeito nem a Deus nem aos homens’, disse consigo próprio. ‘Mas esta mulher está a aborrecer-me. Vou tratar de lhe fazer justiça porque a sua insistência constante já me impacienta!’ ” E o Senhor acrescentou: “Se mesmo um juiz injusto acabou por agir assim, não acham que Deus fará certamente justiça aos seus escolhidos que lhe dirigem as suas orações dia e noite. Demorará a responder-lhes? Com certeza pois que lhes dará uma resposta rápida! Mas a questão é esta: Quando eu, o Filho do Homem, voltar, quantas pessoas encontrarei que tenham fé?” Contou então a seguinte parábola, a propósito daqueles que se gabam de serem justos, mas que desprezam os outros: “Dois homens foram orar ao templo; um fariseu e um cobrador de impostos. O fariseu orou assim: ‘Eu te agradeço, ó Deus, porque não sou pecador como as outras pessoas, desonestas, injustas, adúlteras. Nem sou como aquele cobrador de impostos ali! Jejuo duas vezes por semana e dou a Deus um décimo de tudo o que ganho!’ O cobrador de impostos mantinha-se à distância e, enquanto orava, não ousava sequer erguer os olhos para o céu; antes batia no peito, exclamando: ‘Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.’ Digo-vos, quem voltou para casa perdoado foi este pecador e não o fariseu! Porque todo aquele que procura elevar-se será humilhado e todo aquele que se humilhar a si mesmo será elevado.” Traziam-lhe crianças para que as abençoasse. Ao verem isso, os discípulos diziam-lhes que fossem embora. Então Jesus chamou as crianças para junto de si e disse aos discípulos: “Deixem as crianças vir a mim! Não as devem impedir, porque o reino de Deus pertence aos que são como estas crianças. É realmente como vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança nunca entrará nele.” Certa vez, um líder fez-lhe esta pergunta: “Bom Mestre, que farei para obter a vida eterna?” “Porque me chamas bom?”, perguntou-lhe Jesus. “Não há ninguém que seja bom, a não ser Deus. Sabes o que dizem os mandamentos: ‘Não adulteres, não mates, não roubes, não faças uma falsa acusação contra outra pessoa, honra o teu pai e tua mãe.’ ” “Desde criança que tenho obedecido a todos estes mandamentos”, respondeu o homem. Jesus ouviu-o e retorquiu: “Falta-te ainda uma coisa: vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro nos céus. Vem e segue-me!” Ao ouvir isto, o homem ficou triste, porque era muito rico. Jesus, ao vê-lo assim triste, disse: “Como é difícil os ricos entrarem no reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha do que um rico entrar reino de Deus!” Os que o ouviram dizer isto questionaram: “Então quem é que neste mundo poderá salvar-se?” “O que humanamente falando é impossível, a Deus é possível”, respondeu-lhes. Pedro disse: “Nós deixámos tudo para te seguir.” Ele replicou-lhes: “É realmente como vos digo: não há ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais ou filhos por causa do reino de Deus, que não venha a receber em recompensa muito mais neste mundo, e no mundo futuro terá a vida eterna.” Tomando os doze à parte, disse-lhes: “Ouçam: subamos para Jerusalém e lá cumprir-se-á tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do Homem. Será entregue aos gentios, que farão troça dele, o insultarão e cuspirão nele, o açoitarão e matarão; mas ao terceiro dia ressuscitará.” Eles, porém, não compreenderam o que Jesus dizia. O significado daquelas palavras estava escondido, de maneira que não conseguiram apanhar o sentido da conversa. Ao aproximarem-se de Jericó, encontraram um cego sentado à beira da estrada que pedia esmola. Ouvindo o rumor da multidão, perguntou o que era aquilo. Ao responderem-lhe que Jesus de Nazaré ia a passar, clamou: “Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim!” Os que caminhavam à frente repreendiam-no para que se calasse, mas ele clamava cada vez mais alto: “Filho de David, tem misericórdia de mim!” Jesus parou e mandou que lhe trouxessem o cego. E perguntou-lhe: “Que queres que te faça?” Respondeu-lhe: “Senhor, quero ver!” “Vê! A tua fé curou-te!” Num instante ficou a ver. E seguia Jesus, dando glória a Deus. E o mesmo faziam todos quantos assistiram a isto. Quando Jesus ia a atravessar Jericó, um homem muito rico, chamado Zaqueu, que era chefe dos que cobravam impostos, procurou ver Jesus. Mas como era de estatura baixa e não conseguia espreitar por cima da multidão, correu à frente e trepou a uma árvore junto à estrada para dali o ver. Quando Jesus ia a passar, olhou para cima e, vendo Zaqueu, chamou-o pelo nome: “Zaqueu, desce depressa, porque convém-me visitar-te hoje!” Ele saltou para o chão e, satisfeito, levou Jesus para a sua casa. Mas a multidão ficou descontente. “Afinal, vai ser hóspede de um conhecido pecador”, murmuravam. Entretanto, Zaqueu levantou-se e disse-lhe: “Senhor, darei metade da minha fortuna aos pobres. E se tenho cobrado a mais nos impostos, restituirei quatro vezes esse valor!” Jesus disse: “A salvação entrou hoje neste lar! Este homem é como um filho fiel de Abraão! O Filho do Homem veio buscar e salvar pessoas perdidas como este homem!” A multidão ouvia tudo o que Jesus lhes dizia. Como se aproximava de Jerusalém, Jesus contou-lhes uma parábola para desfazer a ideia de que o reino de Deus ia começar imediatamente. “Um certo homem nobre foi chamado a uma terra distante para aí ser coroado rei e depois regressar. Antes de partir, chamou dez servos, deu-lhes dez minas para investirem e porem a render e disse-lhes: ‘Façam negócio com este dinheiro durante a minha ausência.’ Porém, alguns dos seus compatriotas odiavam-no e, passado algum tempo, mandaram-lhe uma declaração de independência, dizendo que se tinham revoltado e que já não o aceitavam como rei. Ao regressar investido da autoridade de rei, tornou a chamar os servos a quem dera o dinheiro, para saber o que tinham feito com ele e que lucros tinham colhido. O primeiro homem apareceu com um bom lucro, dizendo: ‘Senhor, ganhei dez vezes a tua mina.’ ‘Ótimo, servo bom!’ exclamou. ‘Fizeste bem. Foste fiel com o pouco que te confiei, em recompensa serás governador de dez cidades.’ O segundo também apareceu com lucros, e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu outras cinco.’ ‘Muito bem! Serás governador de cinco cidades!’, disse-lhe o rei. Mas o terceiro trouxe apenas o dinheiro que lhe fora entregue: ‘Senhor, guardei-o embrulhado num pano porque tive medo, pois és um homem rigoroso nos negócios, tirando proveito do que não investiste e ceifando o que não semeaste!’ ‘Foste um servo mau! Sabias que sou um homem rigoroso que tira proventos do que não investiu e ceifa o que não semeou? Então porque não depositaste o meu dinheiro no banco para que eu o recebesse acrescido de juros?’ E voltando-se para os outros que ali estavam, ordenou: ‘Tirem o dinheiro a este homem e deem-no ao das dez minas!’ E disseram-lhe: ‘Mas Senhor, ele já tem dez minas!’ Digo-vos que todo aquele que tiver receberá; mas a quem não tem até o que tiver lhe será tirado. E quanto a esses meus inimigos que se revoltaram, tragam-nos e matem-nos na minha presença.” Depois disto, Jesus prosseguiu para Jerusalém, caminhando à frente dos discípulos. Quando se aproximavam das vilas de Betfagé e Betânia, perto do monte das Oliveiras, enviou dois dos discípulos à frente. Disse-lhes: “Vão até àquela aldeia além e, logo à entrada, encontrarão uma cria de jumento amarrada, que ninguém montou ainda. Soltem-na e tragam-na. Se alguém vos perguntar ‘Porque estão a soltá-la?’, respondam: ‘O Senhor precisa dela.’ ” Encontraram o jumento, como Jesus lhes tinha dito. Quando estavam a soltá-lo, os donos pediram uma explicação: “Porque estão a soltar o jumentinho?” Os discípulos responderam: “O Senhor precisa dele.” Assim, levaram o jumento a Jesus. Puseram os mantos sobre o lombo do animal e ele montou-o. Enquanto ele avançava, as gentes estendiam os seus mantos no caminho. Ao chegarem à descida para o monte das Oliveiras, todo o cortejo de discípulos louvava Deus com alegria por todos os milagres que viam, e exclamavam: “Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu! Glória nas alturas!” Mas alguns dos fariseus que seguiam entre a multidão disseram: “Mestre, avisa os teus discípulos que não digam essas coisas!” Jesus respondeu: “Se eles se calassem, até as pedras ao longo da estrada começariam a aclamar-me!” Já mais perto de Jerusalém, quando viu a cidade à sua frente, Jesus começou a chorar e disse: “Se tu compreendesses, ao menos neste dia, o que poderia trazer-te a paz! Mas agora não consegues entender. Os teus inimigos farão um plano para te conquistar, cercando-te e atacando-te. Serás esmagada até ao chão juntamente com os teus filhos dentro de ti. Os teus inimigos não deixarão pedra sobre pedra, pois rejeitaste a oportunidade que Deus te ofereceu.” Depois, ao entrar no templo, Jesus começou a expulsar os negociantes. Disse-lhes: “As Escrituras afirmam: ‘O meu templo será chamado casa de oração’, mas vocês transformaram-no num covil de ladrões!” A partir dali, ensinava diariamente no templo, mas já os principais sacerdotes, os especialistas na Lei e os anciãos procuravam arranjar maneira de acabarem com ele. E não achavam forma de o fazer, pois Jesus atraía muito povo que bebia as suas palavras. Num daqueles dias em que Jesus estava a ensinar o povo e a pregar o evangelho no templo, foi interrogado pelos principais sacerdotes, pelos especialistas na Lei e pelos anciãos. Estes perguntavam-lhe: “Diz-nos com que autoridade fazes essas coisas. Quem te deu tal autoridade?” Em resposta, Jesus retorquiu-lhes: “Também eu tenho uma pergunta para vos fazer. Ora digam-me: O batismo de João é de inspiração celeste ou humana?” Eles discutiram o caso entre si. “Se dissermos que é de inspiração celeste, ele perguntará: ‘Então porque não acreditaram nele?’ Mas se dissermos que é de inspiração humana, todo o povo nos apedrejará, pois está convencido de que ele era um profeta.” Por fim, responderam: “Não sabemos!” Jesus disse: “Então também não respondo à vossa pergunta!” E começou a contar ao povo a seguinte parábola: “Um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns lavradores e partiu em viagem por longo tempo. Na época devida, enviou um dos seus servos ir receber a sua parte da colheita da vinha. Os rendeiros, porém, espancaram-no e mandaram-no embora de mãos vazias. Então enviou outro, mas espancaram-no e trataram-no mal; espancado e insultado, viu-se expulso sem nada receber. Enviou ainda um terceiro homem; eles feriram-no e escorraçaram-no. Dizia o dono da vinha: ‘Que farei agora? Vou enviar o meu filho querido; certamente hão de respeitá-lo.’ Mas quando os lavradores viram o filho, disseram: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e a herança será nossa!’ Arrastaram-no para fora da vinha e mataram-no. Que fará o dono da vinha? Digo-vos que virá e matará os lavradores e arrendará a vinha a outros.” “Esses homens nunca fariam uma coisas dessas!”, protestaram os ouvintes. Jesus olhou-os e respondeu: “Então que quererão dizer as Escrituras ao afirmarem o sequinte? ‘A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício!’ Quem tropeçar nessa pedra será feito em pedaços e aqueles sobre quem ela cair serão esmagados.” Os especialistas na Lei e os principais sacerdotes procuraram prendê-lo nesse preciso momento, pois perceberam que aquela parábola se referia a eles. Mas tinham medo do povo. Assim, mantinham-no sob vigilância. Acharam preferível levá-lo a dizer alguma coisa que servisse para se queixarem ao governador romano e fosse motivo para o prender. Enviaram pois delegados que se fingiam justos: “Mestre, sabemos que ensinas com honestidade e que dizes a verdade sem temer o que os outros pensam, antes ensinas com fidelidade os caminhos de Deus. Ora explica-nos: estará certo ou não pagarmos impostos a César?” Vendo a sua astúcia, disse: “Mostrem-me uma moeda. De quem é esta figura aqui? E a quem se refere a inscrição que está por baixo?” Responderam: “De César.” Jesus disse-lhes: “Sendo assim, deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” Falhou assim aquela tentativa de o fazer tropeçar diante do povo. Maravilhados com a sua resposta, conservaram-se silenciosos. Então alguns saduceus, um grupo de judeus que afirmavam não haver ressurreição, foram ter com Jesus e disseram-lhe: “Mestre, Moisés deixou-nos uma Lei segundo a qual, quando um homem morre sem deixar filhos, o seu irmão deve casar com a viúva e gerar um filho, de modo a garantir descendência ao irmão defunto. Ora, havia sete irmãos. O mais velho casou-se, morrendo sem deixar filhos. O segundo irmão casou com a viúva, mas também ele morreu. Continuava a não haver descendência. E assim por diante, um após outro, até que cada um dos sete tinha casado com ela e morrido sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. Portanto, de quem será ela esposa, uma vez que foi casada com todos os sete?” Jesus respondeu: “O casamento é para as pessoas enquanto estão aqui na Terra. Quando os que forem considerados dignos de ressuscitarem dentre os mortos forem para o céu não se casarão e não podem morrer. São como os anjos e também são filhos de Deus, por terem renascido de entre os mortos para uma nova vida. Quanto à vossa verdadeira pergunta, se se torna a viver ou não, até os escritos do próprio Moisés provam que sim, porque quando Deus lhe apareceu na sarça ardente, refere-se a si próprio como sendo ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacob’. Dizer que o Senhor é o Deus de alguém significa que essa pessoa está viva e não morta! Assim, aos olhos de Deus, eles estão vivos.” “Bem respondido!”, comentaram alguns dos especialistas na Lei judaica que se encontravam ali. E isto pôs fim às suas tentativas, porque não se atreviam a perguntar-lhe mais nada. Depois foi Jesus quem lhes fez uma pergunta. “Porque será que se diz que Cristo é descendente de David? Pois o próprio David escreveu no Livro dos Salmos: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: “Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.” ’ Uma vez que David lhe chamou Senhor, como pode ser seu filho?” Então com a multidão a escutar, voltou-se para os discípulos e disse: “Ponham-se em guarda contra os especialistas na Lei, desejosos de pavonear-se em trajes dignos e gostando de receber as saudações nas praças, e de ter os assentos presidenciais nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes; que roubam as casas das viúvas e se cobrem para fazer longas orações. Estes receberão um castigo ainda maior.” Enquanto estava no templo, observava os ricos a porem as ofertas na caixa das ofertas. Em certo momento, apareceu uma viúva pobre que deitou nela duas pequenas moedas. Jesus disse: “É realmente como vos digo: aquela pobre viúva foi quem deu mais! De facto, todos eles ofereceram um pouco da sua abundância, mas ela deu todo o dinheiro que lhe restava.” Alguns dos discípulos começaram a falar-lhe acerca da bela construção que era o templo e das dádivas comemorativas que ornamentavam os seus muros. Jesus, porém, disse-lhes: “Isto que estão a ver, virá o tempo em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada.” Eles perguntaram-lhe: “Mestre! Quando será? Haverá algum sinal que o anuncie?” Jesus respondeu: “Cuidado! Que ninguém vos engane. Porque virão muitos apresentando-se em meu nome como sendo o Cristo e dizendo: ‘Chegou a hora!’ Não lhes deem crédito! Quando ouvirem falar em guerras e insurreições, que o pânico não se apodere de vocês. De facto, estas coisas têm de acontecer, mas o fim não chegará imediatamente. As nações levantar-se-ão umas contra as outras e reino contra reino. E haverá grandes terramotos e fomes em muitos sítios e epidemias, e ver-se-ão grandes sinais vindos dos céus. Mas, antes disto tudo, prender-vos-ão e perseguir-vos-ão. Levar-vos-ão às sinagogas e prisões e conduzir-vos-ão à presença de reis e governantes por causa do meu nome. Isto servir-vos-á para darem testemunho. Portanto, ponham isto nos vossos corações: não se preocupem com a vossa defesa, porque vos darei as palavras e sabedoria a que nenhum dos vossos inimigos poderá resistir nem refutar. Mesmo aqueles que vos são mais próximos, os vossos pais, irmãos, parentes e amigos, vos entregarão; farão morrer alguns de vocês. E todos vos odiarão por serem meus e por causa do meu nome. Mas nem um único cabelo da vossa cabeça cairá. Se permanecerem firmes, salvarão as vossas almas. Mas, quando virem Jerusalém cercada por exércitos, saberão que chegou a hora da sua destruição. Então aqueles que estiverem na Judeia fujam para as montanhas! Quem estiver em Jerusalém trate de fugir e quem estiver fora da cidade não tente voltar. Porque aqueles serão os dias do juízo de Deus, em que as Escrituras serão totalmente cumpridas. Ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande angústia nesta nação e cólera sobre este povo. Serão brutalmente mortos ou enviados como exilados e cativos para todas as nações do mundo. E Jerusalém será conquistada e pisada pelos gentios, até que se cumpra o tempo destes. Haverá então sinais no Sol, Lua e estrelas. Aqui na Terra as nações andarão perturbadas e perplexas com o rugir dos mares e com estranhas marés. A coragem de muitos ficará enfraquecida ao verem o destino terrível que se aproxima da Terra, porque as forças que suportam o universo serão sacudidas. E então os povos da Terra verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com poder e grande glória. Quando todas estas coisas começarem a acontecer, ergam o olhar e levantem a cabeça, porque a vossa salvação está próxima!” E deu-lhes esta parábola: “Reparem nas figueiras ou em quaisquer outras árvores. Quando rebentam as folhas, não é preciso que vos digam que o verão está perto. E quando virem acontecer estas coisas que vos contei, podem estar certos de que o reino de Deus está próximo. É realmente como vos digo: esta geração não passará sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a Terra desaparecerão, mas as minhas palavras permanecem para sempre. Vigiem, para que a minha vinda súbita não vos apanhe desprevenidos! Que esse dia não vos encontre vivendo descuidados, obcecados com a comida e a bebida e com os problemas desta vida! Pois ele virá como uma armadilha sobre toda a Terra. Mantenham uma vigilância constante e orem para que cheguem firmes à presença do Filho do Homem sem ter de passar por estes horrores.” Durante o dia Jesus ia ao templo ensinar, voltando ao monte, conhecido como monte das Oliveiras, para aí passar a noite. E as multidões começavam a juntar-se logo pela manhã para o ouvir. Aproximava-se já a celebração da Páscoa, a festa judaica durante a qual só se comia pão feito sem fermento. Os principais sacerdotes e especialistas na Lei tramavam ativamente o assassínio de Jesus, pensando na maneira de o matar sem provocar tumulto, perigo que muito receavam. Então Satanás entrou em Judas, o chamado Iscariotes, um dos doze discípulos, o qual foi ter com os principais sacerdotes e com os capitães da guarda do templo, a fim de combinar a melhor maneira de lhes entregar Jesus. Eles ficaram muito satisfeitos ao saberem que Judas estava pronto a auxiliá-los e prometeram-lhe uma recompensa. Assim, começou a aguardar qualquer oportunidade para lhes entregar Jesus sem dar nas vistas. Ao chegar o dia da celebração dos pães sem fermento, em que se matava o cordeiro da Páscoa, Jesus enviou Pedro e João à frente para que arranjassem um lugar onde preparar a sua refeição da Páscoa. “Onde queres que a preparemos?”, perguntaram. “Logo que entrarem na cidade encontrarão um homem transportando um cântaro de água. Sigam-no até à casa onde entrar e digam ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: “Onde fica a sala onde irei comer a refeição da Páscoa com os meus discípulos?” ’ Ele vos levará ao andar de cima, a uma sala grande, toda arranjada. É ali que devem preparar a ceia.” Eles partiram e, tendo encontrado tudo como Jesus tinha dito, prepararam a ceia da Páscoa. Então chegou Jesus com os discípulos e, no momento devido, todos se sentaram à mesa. Jesus disse: “Desejei muito comer esta Páscoa convosco antes de começar o meu sofrimento. Porque vos digo que não comerei outra vez assim, na vossa companhia, senão quando o que esta refeição representa se realizar no reino de Deus.” Pegou então num cálice de vinho e, depois de ter dado graças, disse: “Tomem e repartam entre vós, porque só tornarei a beber vinho quando tiver chegado o reino de Deus.” Depois pegou no pão e, dando igualmente graças a Deus por ele, partiu-o e deu-o aos discípulos: “Este é o meu corpo que é dado em vosso favor. Façam isto em memória de mim.” Depois da ceia serviu-lhes de novo o cálice de vinho, e disse: “Este cálice é a nova aliança, selada com o meu sangue que é derramado em vosso favor. Mas aqui sentado comigo a esta mesa está também quem me vai trair. O Filho do Homem tem de morrer, porque isso faz parte do plano de Deus. Mas ai do homem que me vai trair!” Os discípulos puseram-se a perguntar entre si quem, de entre eles, seria capaz de fazer semelhante coisa. Depois começaram também a discutir qual deles seria o mais importante. Jesus disse-lhes: “Os reis entre os gentios dominam sobre eles e aos que exercem autoridade sobre eles chamam-lhes benfeitores! No vosso meio, porém, não seja assim. O mais velho no vosso meio seja como o mais novo e o soberano será como aquele que serve. O senhor senta-se à mesa e é servido pelos criados. Mas aqui, não! Porque sou eu quem vos serve. Porque vocês têm continuado comigo nestes tempos de aflição; e como o meu Pai me deu o reino, eu concedo-vos o direito de comer e beber à minha mesa nesse reino. E sentar-se-ão em tronos para julgar as doze tribos de Israel. Simão, Simão, Satanás pediu para vos peneirar a todos como o trigo. Mas eu intercedi por ti para que a tua fé não enfraqueça. Assim, quando te tiveres voltado para mim, fortalece os teus irmãos.” Simão disse: “Senhor, estou pronto até a ir para a prisão e a morrer contigo!” Jesus respondeu: “Pedro, deixa-me dizer-te uma coisa: Até o galo cantar, esta madrugada, três vezes dirás que não me conheces!” Então Jesus perguntou-lhes: “Quando vos enviei a pregar as boas novas e não tinham dinheiro, nem bagagem, nem vestuário de muda, como é que se governaram?” Responderam: “Bem. Nada nos faltou!” “Mas agora”, Jesus disse, “se tiverem um saco ou um bolsa com dinheiro, levem-nos! E se não possuírem uma espada, vendam a roupa e comprem uma! Porque chegou a altura de se cumprir isto que está escrito a meu respeito: ‘Ele foi contado entre os transgressores.’ Sim, o que se escreveu acerca de mim se cumprirá.” “Mestre, temos aqui duas espadas!” Jesus retorquiu: “Basta!” Então, acompanhado dos discípulos, deixou aquela sala e foi, como de costume, para o monte das Oliveiras. Ali disse-lhes: “Orem para não serem vencidos pela tentação!” Afastou-se à distância de cerca de um tiro de pedra e, ajoelhando-se, orou assim: “Pai, se quiseres, peço-te que leves de mim este cálice. Mas que se cumpra a tua vontade e não a minha.” Então apareceu um anjo vindo do céu que o confortava. Porque estava em tal agonia de espírito que o seu suor era de sangue, caindo em gotas no chão, enquanto orava com fervor cada vez maior. Por fim, tornou a levantar-se e voltou para junto dos discípulos, encontrando-os a dormir, exaustos de tristeza. “Estão a dormir!”, exclamou. “Levantem-se! Orem para não serem vencidos pela tentação!” No próprio momento em que dizia isto, acercou-se uma multidão conduzida por Judas, um dos doze, o qual foi direito a Jesus para o beijar, numa saudação amistosa. Jesus disse-lhe: “Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?” Quando os outros discípulos viram o que ia acontecer, exclamaram: “Mestre, queres que lutemos? Temos as espadas!” E um deles chegou a desferir um golpe contra um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus respondeu: “Não resistam.” E, tocando no sítio da orelha do homem, restituiu-lha. Então, dirigindo-se aos principais sacerdotes, aos capitães da guarda do templo e aos anciãos que conduziam a multidão, Jesus perguntou: “Sou algum assaltante perigoso para que venham com espadas e paus? Todos os dias estava convosco a ensinar no templo e não me prenderam. Mas este momento é vosso; é a hora em que domina o poder das trevas.” Agarraram-no e levaram-no à residência do sumo sacerdote. Pedro seguia-o à distância. Acenderam uma fogueira no pátio e as pessoas sentaram-se em volta para se aquecerem. Pedro juntou-se a eles. Reparando na sua presença, uma criada pôs-se a olhá-lo e disse: “Esse estava com Jesus!” Pedro negou: “Mulher, nem sequer o conheço!” Dali a pouco, mais alguém olhou para ele e exclamou: “Também tu deves ser um dos tais!” Pedro respondeu: “Não, não sou!” Decorrida cerca de uma hora, ainda outra pessoa afirmou abertamente: “Sei que este é um dos discípulos de Jesus, até porque ambos são da Galileia.” Mas Pedro disse: “Homem, não sei o que estás para aí a dizer.” E enquanto pronunciava estas palavras, cantou um galo. Naquele instante, Jesus voltou-se e olhou para Pedro. Então lembrou-se do que lhe dissera: “Hoje, antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes.” E saindo dali chorou amargamente. Os guardas que estavam a tomar conta de Jesus começaram a fazer pouco dele. Tapando-lhe os olhos, batiam-lhe e davam-lhe socos, perguntando-lhe: “Profetiza-nos quem foi que te bateu agora?” E insultavam-no de muitas outras maneiras. Ao romper do dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, os principais sacerdotes e os especialistas na Lei. Jesus foi conduzido perante o conselho dos anciãos e intimado a responder. “Diz lá, tu és o Cristo?” Ele respondeu: “Se o disser, não acreditarão em mim nem me deixarão defender-me. Mas em breve o Filho do Homem estará sentado à direita de Deus Todo-Poderoso.” Logo todos gritaram: “Afirmas, então, que és o Filho de Deus?” E Jesus respondeu: “Estão certos em dizer que sou!” “Que necessidade temos nós de outras testemunhas?”, perguntaram. “Nós próprios ouvimos o que ele disse.” Então levaram Jesus à presença de Pilatos, o governador. E começaram a acusá-lo: “Este homem tem manipulado o povo dizendo-lhe que não pague impostos a César e afirmando que é Cristo, o rei.” Pilatos perguntou-lhe: “És o rei dos judeus?” Jesus respondeu: “Sim, é como tu dizes.” Pilatos voltou-se para os principais sacerdotes e para a multidão e disse: “Mas isto não constitiui um crime!” E insistiram: “É que ele anda também a provocar tumultos contra o governo, para onde quer que vá, por toda a Judeia, desde a Galileia até Jerusalém.” “Então ele é galileu?”, perguntou Pilatos ouvindo falar na Galileia. Quando lhe disseram que sim, Pilatos mandou-o a Herodes, porque a Galileia achava-se sob a jurisdição deste; além de que Herodes se encontrava em Jerusalém naquela altura. Herodes ficou muito satisfeito com esta oportunidade de ver Jesus, porque ouvira falar muito nele e esperava vê-lo realizar qualquer sinal. Todavia, embora fizesse a Jesus muitas perguntas, não obteve resposta. Entretanto, os principais sacerdotes e os especialistas na Lei não arredavam pé, continuando a gritar acusações. Herodes e os seus soldados começaram também a troçar de Jesus. E vestindo-lhe um traje a fingir de rei, devolveram-no a Pilatos. Naquele dia, Herodes e Pilatos, que antes não se davam, tornaram-se bons amigos. Então Pilatos reuniu os principais sacerdotes, os magistrados e o povo, e disse-lhes: “Vocês trouxeram-me este homem acusando-o de chefiar uma revolta contra o governo romano. Examinei-o demoradamente sobre este ponto e verifico que está inocente. Também Herodes chegou à mesma conclusão e mandou-o de novo para mim, pois nada do que fez exige a pena de morte. Portanto, vou mandá-lo castigar e soltá-lo.” Ele era obrigado a soltar-lhes um preso durante a festa. Nesse instante, ouviu-se um clamor da multidão, que a uma só voz gritou: “Mata-o e solta-nos Barrabás!” Barrabás encontrava-se preso, acusado de provocar uma revolta em Jerusalém e também por homicídio. Pilatos ainda discutiu com eles, pois queria soltar Jesus. Mas eles gritavam: “Crucifica-o! Crucifica-o!” De novo, pela terceira vez, Pilatos perguntou: “Mas porquê? Que mal fez ele? Não encontrei qualquer motivo para o condenar à morte! Portanto, vou açoitá-lo e pô-lo em liberdade.” Mas eles gritavam sempre mais alto, reclamando que Jesus fosse crucificado, e a sua vontade prevaleceu. Por fim, Pilatos condenou Jesus à morte, tal como lho exigiam. A pedido deles soltou-lhes Barrabás, o homem que estava preso, acusado de insurreição e homicídio. Mas entregou Jesus à multidão para que fizesse dele o que lhe apetecesse. Quando levavam Jesus para ser morto, Simão, um cireneu que acabava de entrar em Jerusalém vindo do campo, foi forçado a acompanhá-los, transportando a cruz de Jesus. Atrás seguia um grande cortejo, incluindo muitas mulheres vergadas pelo desgosto. Mas Jesus voltou-se e disse-lhes: “Filhas de Jerusalém, não chorem por mim, mas por vocês e pelos vossos filhos. Porque vêm aí dias em que as mulheres sem filhos serão consideradas felizes. As pessoas começarão a clamar às montanhas: ‘Caiam sobre nós!’, e às colinas: ‘Escondam-nos!’ Porque se a mim, a árvore viva, me tratam assim, o que não farão a vocês?” E dois criminosos foram levados para serem executados no mesmo local, chamado “A Caveira”. Aí foram crucificados os três; Jesus ao centro e os dois criminosos um de cada lado. E Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!” Entretanto, os soldados lançavam sortes para ver quem ficaria com as suas roupas. A multidão assistia à cena e os líderes judaicos riam-se e faziam troça. “Ajudava tanto os outros”, diziam. “Vamos a ver se se salva a si mesmo, se é realmente o Cristo, o escolhido de Deus.” Também os soldados troçavam dele. E deram-lhe vinho azedo a beber, gritando-lhe: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!” Por cima dele estava esta inscrição: este é o rei dos judeus. Um dos malfeitores pendurados ao seu lado também zombava: “Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e também a nós!” Mas o outro criminoso repreendeu-o: “Não tens temor de Deus, nem mesmo sofrendo a mesma condenação? Nós merecemos a morte pelos maus atos que cometemos, mas este homem nada fez de mal.” E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.” E Jesus respondeu: “Garanto-te que hoje estarás comigo no paraíso.” Era quase por volta do meio-dia e a terra inteira ficou em trevas, que duraram até às três horas daquela tarde. A luz do sol desapareceu e o véu do templo rasgou-se em dois. Jesus disse com voz forte: “Pai, entrego-te o meu espírito.” E com estas palavras morreu. Quando o oficial romano viu o que sucedera, deu glória a Deus e disse: “Não há dúvida de que este homem estava inocente!” A multidão que tinha vindo para assistir à crucificação, depois de Jesus ter morrido, voltou para casa profundamente triste. Entretanto, os amigos de Jesus, incluindo as mulheres que o tinham seguido desde a Galileia, encontravam-se à distância a observar a cena. Um homem chamado José, membro do supremo tribunal, homem de bem e justo, vindo da cidade de Arimateia, na Judeia, não concordara com as decisões e medidas dos outros judeus, mas esperava a vinda do reino de Deus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Assim, desceu o corpo de Jesus e envolveu-o num lençol de linho, colocando-o num túmulo ainda por estrear, escavado numa rocha. Isto aconteceu ao fim de uma tarde de sexta-feira, o dia de preparação para o sábado. Enquanto o corpo era levado, as mulheres da Galileia acompanharam-no e viram-no ser transportado para dentro do túmulo. Depois, voltando para casa, prepararam os produtos e perfumes necessários para o ungirem. Quando terminaram, era já sábado, pelo que descansaram todo aquele dia, com exigia a Lei judaica. Contudo, na madrugada de domingo, ao levarem os perfumes para o túmulo, verificaram que a enorme pedra que tapava a entrada tinha sido removida. Entraram, mas o corpo do Senhor Jesus tinha desaparecido. Ficaram perplexas! De súbito, apareceram dois homens vestidos de roupas reluzentes. As mulheres ficaram cheias de medo, com os olhos postos no chão, e aqueles homens perguntaram-lhes: “Porque procuram no túmulo quem afinal está vivo? Ele não está aqui, ressuscitou! Não se lembram do que vos disse na Galileia, que o Filho do Homem seria traído, entregue a gente má e crucificado, e que tornaria a viver ao terceiro dia?” Então elas lembraram-se! Tudo aquilo, porém, parecia uma história sem sentido e não acreditaram. Mesmo assim, Pedro foi a correr até ao túmulo para averiguar o que se passava. Curvando-se, espreitou e, ao ver os lençóis abandonados, voltou para casa, interrogando-se sobre o teria sucedido. Naquele mesmo dia, dois dos discípulos de Jesus iam a caminho da aldeia de Emaús que ficava a uns 11 quilómetros de distância de Jerusalém. E comentavam entre si tudo o que acontecera. De repente Jesus apareceu e juntou-se a eles, caminhando ao seu lado. Mas os seus olhos estavam impossibilitados de o reconhecer. “O que é que vão aí a discutir pelo caminho?” perguntou-lhes. E eles pararam de caminhar; estavam tristes. Um deles, Cleopas, respondeu: “Deves ser a única pessoa em toda a cidade de Jerusalém que não sabe das terríveis coisas que ali sucederam nestes últimos dias.” “Que coisas?”, perguntou Jesus. Eles retorquiram: “O que aconteceu a Jesus de Nazaré, um profeta de Deus que fez milagres poderosos. Era um grande ensinador e altamente considerado tanto por Deus como pelos homens. Mas os principais sacerdotes e os nossos líderes prenderam-no e entregaram-no ao governador romano para ser condenado à morte e crucificaram-no. E nós pensávamos que ele era o Cristo que vinha para resgatar Israel! Além disto que aconteceu há três dias, umas mulheres do nosso grupo dos seus discípulos foram de manhã cedo ao túmulo, onde ele foi colocado, e regressaram com a notícia de que o seu corpo desaparecera e de que tinham visto lá uns anjos que lhes disseram que Jesus se encontrava vivo! Alguns dos nossos homens foram a correr ver o que se teria passado e não há dúvida de que o corpo de Jesus desapareceu, tal como as mulheres contaram.” Então Jesus disse-lhes: “Vocês não estão a ser sensatos! É assim tão difícil crer em tudo o que os profetas escreveram nas Escrituras? Não foi claramente predito por eles que o Cristo teria de sofrer todas estas coisas antes de entrar na sua glória?” E fez-lhes compreender as Escrituras, começando com os livros de Moisés e dos profetas, explicando o que esses textos diziam a seu respeito. Entretanto, aproximavam-se da localidade para onde iam. Jesus parecia querer prosseguir no caminho, mas pediram-lhe que ficasse com eles, porque se estava a fazer tarde, e ele acedeu. Quando se sentaram para comer, ele pediu a bênção de Deus sobre o alimento e, pegando num pequeno pão, partiu-o e distribuiu-o por eles. Foi então que, de repente, os seus olhos se abriram e o reconheceram. E naquele preciso momento ele desapareceu. Começaram, pois, a lembrar-se de como os seus corações se tinham animado, enquanto lhes falava, explicando-lhes as Escrituras pela estrada fora. Levantaram-se nesse momento e voltaram a Jerusalém, para se encontrarem com os onze discípulos e os companheiros destes que os receberam com estas palavras: “Não há dúvida de que o Senhor ressuscitou! Apareceu a Simão!” Os dois de Emaús contaram como Jesus lhes aparecera também, enquanto seguiam pela estrada, e como o tinham reconhecido quando partiu o pão. Enquanto assim falavam, o próprio Jesus surgiu no meio deles, saudando-os: “A paz seja convosco!” Mas todo o grupo ficou muito assustado, pensando que via um fantasma. “Porque se assustam?”, perguntou ele. “Porque é que duvidam que seja realmente eu? Olhem as minhas mãos; olhem para os meus pés! Estão a ver que sou eu mesmo. Toquem-me e verifiquem que não sou nenhum fantasma. Porque os fantasmas não têm carne nem ossos, como veem que eu tenho!” Depois de lhe dizer isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. Ainda indecisos, eles contemplavam-no, cheios de espanto e alegria. Então Jesus perguntou-lhes: “Têm aqui alguma coisa que se possa comer?” Deram-lhe um pedaço de peixe assado. E pôs-se a comê-lo enquanto o observavam. Então disse-lhes: “Quando andava convosco, não se lembram de vos ter dito que tudo o que se escreveu acerca de mim, nos livros de Moisés, nos escritos dos profetas e nos Salmos, teria de realizar-se?” Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: “Estava escrito que o Cristo deveria sofrer, morrer e ressuscitar ao terceiro dia. E que em seu nome se pregaria o arrependimento e o perdão dos pecados em todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês viram como esses escritos sagrados se cumpriram. Agora vou mandar-vos a promessa que o meu Pai vos fez. Permaneçam aqui na cidade até que vocês sejam revestidos de poder do céu!” Jesus levou-os pelo caminho de Betânia. E levantando as mãos para o céu, abençoou-os. Então afastou-se deles e elevou-se até ao céu. Eles adoraram-no e regressaram a Jerusalém, cheios de alegria. E estavam continuamente no templo, louvando a Deus. No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus. Aquele que é a Palavra sempre esteve com Deus. Criou tudo o que existe e nada existe que não tenha sido feito por ele. Nele está a vida eterna e essa vida dá luz a toda a humanidade. A sua vida é a luz que brilha nas trevas e estas nunca poderão pôr fim a essa luz. Apareceu um homem, enviado por Deus, chamado João. Este homem veio como testemunha, para testemunhar da luz, a fim de que todos cressem através dele. João não era a luz, mas apenas uma testemunha para que essa luz pudesse ser conhecida. Mais tarde, veio aquele que é a verdadeira luz para brilhar sobre todo o ser humano. Esteve neste mundo, que foi criado por ele, mas não o conheceram. Veio para o seu povo e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus. Bastava confiarem nele como Salvador. Esses nascem de novo, não no corpo nem de geração humana, mas pela vontade de Deus. A Palavra tornou-se homem e viveu aqui na Terra entre nós, cheio de amor e perdão, cheio de verdade. E vimos a sua glória, a glória do Filho único do Pai. João deu testemunho dele clamando à multidão: “Eis aquele de quem eu falava quando disse: ‘Esse que vem depois de mim é muito maior do que eu, porque existia antes de mim.’ ” Todos nós recebemos da abundância dos seus bens e a sua graça contínua. A Lei foi-nos dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Nunca ninguém viu a Deus, mas o seu Filho único, que vive na intimidade do Pai, esse o revelou. Este foi o testemunho dado por João, quando os judeus lhe enviaram sacerdotes e levitas de Jerusalém para lhe perguntarem: “Quem és tu?” E ele afirmou-lhes claramente: “Eu não sou o Cristo!” “Então quem és?”, repetiram. “Serás Elias?” E respondeu: “Não!” E novamente: “Serás o profeta?” Respondeu: “Não!” “Então quem és? É preciso que nos digas para que possamos responder aos que nos enviaram. O que tens a dizer de ti mesmo?” João respondeu: “Sou como anunciou o profeta Isaías: ‘A voz gritando no deserto: “Façam um caminho direito para o Senhor.” ’ ” Então os enviados, que eram fariseus, perguntaram a João Batista: “Se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta, porque batizas tu?” “Eu batizo com água, mas aqui nesta multidão está alguém que não conhecem. Em breve começará a sua obra no vosso meio e eu nem sequer sou digno de lhe descalçar as sandálias.” Deu-se isto em Betânia, uma localidade do outro lado do Jordão, onde João batizava. No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se e disse: “Olhem, ali está o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. É ele de quem eu falava quando disse: ‘Esse que vem depois de mim é muito maior do que eu, porque existia antes de mim.’ Eu não sabia que era ele, mas tenho estado a batizar com água, a fim de o revelar ao povo de Israel.” Então João contou como vira o Espírito Santo descer do céu com a forma de uma pomba e pousar sobre Jesus. “Não sabia que era ele!” repetiu João. “Mas, quando Deus me enviou para batizar, disse-me: ‘Quando vires o Espírito Santo descer e pousar sobre alguém, esse é aquele que batizará com o Espírito Santo.’ Eu vi isso acontecer e dou testemunho de que é o Filho de Deus!” No dia seguinte, estando João com dois dos seus discípulos, Jesus passou junto deles e João disse: “Aqui está o cordeiro de Deus!” Então os dois discípulos de João voltaram-se e seguiram Jesus. Olhando para trás, Jesus viu que o seguiam: “Que querem?”, perguntou-lhes. “Mestre, onde vives?” “Venham ver.” Assim, foram até ao lugar onde morava e com ele ficaram desde cerca das quatro horas daquela tarde até ao final do dia. Um destes homens era André, irmão de Simão Pedro. Então André foi à procura de seu irmão Simão e disse-lhe: “Encontrámos o Messias!” (Que quer dizer o Cristo.) E levou-o para conhecer Jesus. Este olhou para Pedro por um instante e disse: “Tu és Simão, filho de João, mas serás chamado Cefas!” (Que quer dizer Pedro.) Um dia depois, Jesus resolveu ir para a Galileia e, encontrando Filipe, disse-lhe: “Vem comigo!” Filipe era de Betsaida, a terra natal de André e de Pedro. Filipe, por sua vez, foi ter com Natanael e contou-lhe: “Encontrámos aquele acerca de quem Moisés na Lei e os profetas escreveram! O seu nome é Jesus, filho de José, de Nazaré.” “De Nazaré?”, perguntou Natanael admirado. “Poderá vir daí alguma coisa boa?” Filipe disse-lhe: “Vem e vê!” Ao aproximarem-se, Jesus disse: “Aí vem um homem honesto, um verdadeiro filho de Israel!” “Como sabes o que sou?”, perguntou Natanael. Jesus respondeu-lhe: “Vi-te debaixo da figueira, ainda antes de Filipe te ter encontrado.” Então Natanael replicou: “Mestre, tu és o Filho de Deus, o Rei de Israel!” Jesus perguntou-lhe: “Acreditas nisso só por eu te dizer que te tinha visto debaixo da figueira? Terás provas muito mais fortes do que esta. É realmente como vos digo: hão de ver o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem até mim, o Filho do Homem.” Passados dois dias, a mãe de Jesus foi convidada para um casamento na aldeia de Caná, na Galileia. Jesus e os seus discípulos também foram convidados. A certa altura da festa, o vinho acabou-se e a mãe de Jesus procurou-o para resolver o problema. “As tuas preocupações não são as minhas”, respondeu-lhe. “Aliás, ainda não chegou a minha hora.” A sua mãe recomendou aos criados: “Façam tudo o que ele vos disser.” Encontravam-se ali seis jarros de pedra que eram utilizados para as cerimónias de purificação dos judeus e que levavam entre 75 e 115 litros cada. Jesus disse aos criados que os enchessem até acima com água. Feito isto, ordenou: “Tirem algum e levem-no ao mestre de cerimónias.” Assim o fizeram. Quando este provou a água transformada em vinho, e não sabendo qual a sua origem (embora os criados soubessem), chamou o noivo: “É costume o dono da casa gastar primeiro o melhor vinho e depois, quando todos já se fartaram, apresentar o vinho inferior. Mas vocês guardaram o melhor para o fim.” Este sinal de Caná da Galileia foi a primeira manifestação pública que Jesus fez do seu poder divino. E os seus discípulos acreditaram que era realmente o Cristo. Depois deste banquete de casamento, foi para Cafarnaum com a mãe, os irmãos e os discípulos, onde permaneceram alguns dias. Veio a festa da Páscoa judaica e Jesus foi a Jerusalém. No templo, encontrou os negociantes que vendiam gado, ovelhas e rolas para os sacrifícios, e outros que trocavam dinheiro sentados atrás de bancas. Com cordas, Jesus fez um chicote e expulsou-os do templo, assim como os bois e ovelhas, espalhou o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas. Dirigindo-se aos vendedores de rolas, ordenou: “Tirem isto daqui! Não façam da casa de meu Pai uma feira!” Os discípulos lembraram-se então disto que as Escrituras diziam: “Arde em mim um grande zelo pela tua casa.” “Que sinal tens para nos mostrar que podes fazer isto?” “Está bem! Este será o sinal que vos darei: destruam este templo que em três dias o porei novamente de pé!” “O quê!”, exclamaram. “O templo levou quarenta e seis anos a construir e tu poderás refazê-lo em três dias?” Mas o templo de que ele falava era o seu corpo. Depois de ter ressuscitado, os discípulos lembraram-se destas palavras e creram nas Escrituras e na declaração de Jesus a respeito a si próprio. Por causa dos sinais que fez em Jerusalém, durante a festa da Páscoa, muitas pessoas creram nele. Jesus, porém, não confiava nelas, pois conhecia bem as pessoas. Não era preciso ninguém dizer-lhe como é a natureza humana nem o que está dentro dela. Havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um líder dos judeus. Este foi ter com Jesus de noite e disse-lhe: “Mestre, todos sabemos que Deus te enviou para nos ensinares e bastam os teus sinais para o provar.” Jesus retorquiu: “É realmente como te digo: quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus.” “Que queres dizer com isso?”, perguntou Nicodemos. “Como pode uma pessoa voltar para o ventre da sua mãe e nascer outra vez?” Jesus respondeu: “É realmente como te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. Os homens só conseguem reproduzir vida humana, mas o Espírito Santo dá vida espiritual. Por isso, não te admires de te ter dito que precisas nascer de novo. Assim como ouves o vento, mas não sabes donde vem nem para onde vai, assim se passa com aquele que é nascido do Espírito.” “Como é que isso pode ser?”, perguntou Nicodemos. Jesus respondeu: “Então tu, um respeitado mestre de Israel, não compreendes estas coisas? Estou a dizer-te aquilo que sei e vi e, contudo, não queres acreditar. Se não acreditas em mim, quando te falo destas coisas que acontecem aqui entre os homens, como poderás crer se te falar de coisas celestiais? Pois só eu, o Filho do Homem, desci à Terra e voltarei novamente para o céu. Assim como Moisés ergueu no deserto a figura de uma serpente, assim também eu irei ser levantado, para que todo aquele que crer em mim tenha a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. Deus não mandou o seu Filho para condenar o mundo, mas para o salvar. Para os que confiam nele como Salvador não há condenação eterna. Mas os que não confiam nele já estão julgados e condenados, por não crerem no Filho único de Deus. E são condenados por a luz do céu ter vindo ao mundo, mas preferirem as trevas à luz, pois só fazem o mal. Eles odeiam a luz celestial porque querem pecar nas trevas. Afastam-se da luz com medo dos seus pecados serem postos às claras e sofrerem castigo. Mas aqueles que vivem conforme a verdade procuram a luz para que todos vejam que estão a fazer o que Deus deseja.” Depois disto, Jesus e os discípulos saíram de Jerusalém e ficaram durante algum tempo na Judeia, batizando ali. João batizava em Enom, perto de Salim, porque ali havia água em abundância; e as pessoas vinham ter com ele para ser batizadas. Nessa altura, João Batista não estava ainda preso. Um dia, um judeu começou a discutir com os discípulos de João questões relacionadas com a purificação. Foram então ter com João e informaram-no: “Mestre, o homem que conheceste do outro lado do rio Jordão, aquele que afirmaste ser o enviado de Deus, anda também a batizar, e toda a gente vai ter com ele.” João esclareceu: “Uma pessoa só pode receber o que lhe for dado do céu. Vocês próprios sabem que eu sempre disse que não sou o Cristo! Estou aqui para lhe preparar o caminho. As pessoas procuram, naturalmente, aquilo que mais as atrai: a noiva vai para junto do noivo e os amigos do noivo alegram-se com ele. Ora, eu sou o amigo do noivo e o seu triunfo enche-me de alegria! Ele deve tornar-se cada vez maior e eu cada vez mais pequeno. Ele veio do céu e é maior do que ninguém. Eu sou da Terra e o meu entendimento limita-se às coisas terrenas. Ele fala do que viu e ouviu, mas são poucos os que acreditam nas suas palavras! Os que nele creem descobrem que Deus é a fonte da verdade. Pois esse, o enviado de Deus, fala as palavras de Deus, porque o Espírito de Deus está sobre ele sem medida nem limite. O Pai ama o Filho e deu-lhe autoridade sobre tudo o que existe. E todos os que creem nele, no Filho de Deus, têm a vida eterna. Os que não creem nunca participarão da vida eterna, antes a ira de Deus permanece sobre eles.” Os fariseus ouviram dizer que Jesus estava a batizar e a fazer mais discípulos que João. Embora, de facto, não era Jesus quem batizava, mas os seus discípulos. Quando o Senhor constatou isso, deixou a Judeia e voltou para a província da Galileia. Para isso, tinha de atravessar a Samaria. Apareceu uma samaritana para tirar água e Jesus pediu-lhe: “Dá-me de beber.” Os discípulos tinham ido à aldeia comprar comida. A mulher estava admirada, pois os judeus não convivem com os samaritanos, e disse-lhe: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?” Jesus respondeu: “Se ao menos compreendesses o dom maravilhoso que Deus tem para ti e quem eu sou, serias tu a pedir-me que te desse água viva!” “Mas tu não tens com que a tirar!”, tornou ela. “E o poço é fundo! Onde irias buscar essa água viva? Serás maior que o nosso antepassado Jacob? Como poderás oferecer água melhor do que esta, que ele, os seus filhos e o seu gado beberam?” Jesus respondeu: “As pessoas que bebem desta água depressa ficam outra vez com sede. Mas a água que eu lhes der torna-se uma fonte sem fim dentro delas, dando-lhes vida eterna.” “Senhor, dá-me dessa água, para não sentir mais sede e não ter de vir aqui tirar água!” “Vai chamar o teu marido”, disse-lhe Jesus. “Senhor, deves ser profeta!”, exclamou ela. “Mas diz-me: porque é que vocês, judeus, teimam que Jerusalém é o único sítio de adoração? Para nós, samaritanos, esse sítio é aqui no monte Gerizim, onde os nossos antepassados adoravam.” Jesus esclareceu-a: “Acredita em mim, mulher. Vem o momento em que já não teremos de nos preocupar se o Pai deve ser adorado aqui ou em Jerusalém. Vocês adoram o que desconhecem, ao passo que nós conhecemos, pois é através dos judeus que a salvação vem ao mundo. Mas chega a hora, e é agora mesmo, em que os que verdadeiramente o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade. É assim que o Pai quer que o adoremos. Deus é espírito e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade!” A mulher disse: “Eu sei que há de vir o Messias, chamado Cristo, e que quando vier nos explicará tudo.” Então Jesus disse-lhe: “Sou eu o Cristo!” Nesse momento chegaram os discípulos, que ficaram espantados por encontrá-lo a falar com aquela mulher; mas ninguém lhe perguntou porquê. A mulher deixou o balde junto ao poço. E voltando para a aldeia disse a toda a gente: “Venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será ele o Cristo?” Então o povo veio a correr da localidade para o ver. Entretanto, os discípulos insistiam com Jesus para que comesse. “Não!” disse-lhes. “Eu tenho um alimento que vocês não conhecem.” E os discípulos puseram-se a perguntar uns aos outros quem lhe teria trazido comida. Jesus explicou: “O meu alimento é fazer a vontade de Deus, que me enviou, e terminar a sua obra. Pensam, porventura, que a ceifa só começará quando o verão acabar daqui a quatro meses? Olhem à vossa volta! Em torno de nós amadurecem vastos campos, já prontos para a ceifa. Os ceifeiros recebem o seu salário e o fruto que colhem são pessoas trazidas para a vida eterna. E que alegria, tanto daquele que semeia como daquele que colhe! Pois é bem verdade que um semeia o que outro irá colher. Mandei-vos colher onde não semearam; outros tiveram o trabalho e vocês receberam a colheita.” Muitos dos habitantes daquela terra samaritana creram em Jesus, levados por aquilo que a mulher afirmara: “Disse-me tudo o que fiz!” Os que foram vê-lo junto ao poço pediram-lhe que ficasse na sua aldeia. E Jesus assim fez durante dois dias. O suficiente para que muitos outros cressem depois de o ouvirem. Então disseram à mulher: “Agora acreditamos porque nós próprios o ouvimos e não apenas pelo que nos contaste. É, de facto, o Salvador do mundo!” Depois de ter ficado ali dois dias, seguiu para a Galileia, embora ele próprio tivesse dito que um profeta tem honras em toda a parte menos na sua própria terra. Mas os galileus receberam-no de braços abertos, pois tinham estado em Jerusalém durante a festa da Páscoa e assistido aos seus milagres. Regressou a Caná da Galileia, onde tinha transformado a água em vinho. Havia ali um homem, funcionário do governo, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Este homem, ao ouvir dizer que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ao seu encontro para lhe pedir que o acompanhasse e lhe curasse o filho que estava quase à morte. Jesus perguntou-lhe: “Então nenhum de vocês acredita em mim a não ser vendo-me fazer sinais e maravilhas?” Mas o homem rogou-lhe: “Senhor, vem já, antes que o meu filho morra!” “Volta para casa porque o teu filho vai sobreviver!” O homem, crendo em Jesus, voltou para casa. Ainda ia a caminho, quando vieram ao encontro alguns servos com a notícia de que o filho já estava bom. Perguntou-lhes quando fora que o jovem se sentira curado e responderam: “Ontem à tarde, por volta da uma hora, a febre desapareceu.” Então aquele pai compreendeu que isso sucedera no preciso momento em que Jesus lhe dissera: “O teu filho vai sobreviver.” Ele e toda a sua casa creram. Foi este o segundo sinal de Jesus na Galileia depois de ter vindo da Judeia. Mais tarde, Jesus subiu a Jerusalém para uma das festas religiosas judaicas. Dentro da cidade, próximo da porta das Ovelhas, ficava o tanque que, em hebraico, se chama Betesda, com cinco alpendres cobertos em volta. Multidões de doentes, coxos, cegos e paralíticos, estavam ali deitados à espera dum certo movimento da água. Pois de vez em quando vinha um anjo do Senhor que a agitava e a primeira pessoa que nela entrasse, logo depois, ficava curada. Um dos homens que ali se encontravam estava aleijado havia trinta e oito anos. Quando Jesus o viu e soube há quanto tempo estava doente, perguntou-lhe: “Queres ficar curado?” “Sim”, disse o doente, “mas não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque logo que a água se agita. Enquanto estou a tentar entrar, há sempre outro que se mete à minha frente.” Jesus disse-lhe: “Levanta-te, enrola a tua esteira e vai para casa!” Imediatamente aquele homem ficou bom e enrolando a esteira começou a andar. Ora, este milagre foi realizado num sábado. E os líderes religiosos judaicos começaram a dizer ao homem que fora curado: “Não se pode trabalhar em dia de sábado! É ilegal carregares hoje com essa esteira!” Mas ele respondeu: “Aquele que me curou é que me disse para o fazer.” “E quem foi que te mandou fazer uma coisa dessas?”, perguntaram-lhe. O homem não sabia, pois entretanto Jesus desaparecera na multidão. Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: “Agora que estás curado, deixa de pecar, para que não te aconteça alguma coisa ainda pior.” O homem foi ter com os judeus e disse-lhes que Jesus é que o curara. Os judeus começaram a fazer uma campanha contra Jesus, dizendo que transgredia a lei de descanso no dia de sábado. Mas Jesus respondeu: “Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também.” Por causa disto, os judeus sentiam ainda maior desejo de o matar, pois além de desobedecer à suas leis acerca do sábado, chamara a Deus seu Pai, pondo-se assim em igualdade com Deus. Jesus acrescentou, em resposta: “É realmente como vos digo: o Filho nada pode fazer por si só. Faz unicamente o que vê o Pai fazer e do mesmo modo. Pois o Pai ama o Filho e diz-lhe tudo o que faz. E o Filho realizará obras maiores do que a cura deste homem, de forma que hão de ficar maravilhados. Tal como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim também o Filho dará a vida a quem entender. É realmente como vos digo: quem ouve a minha mensagem e crê em Deus, que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado pelos seus pecados, antes passou já da morte para a vida. É realmente como vos digo: vem o momento, e já chegou, em que os mortos ouvirão a minha voz, a voz do Filho de Deus; e os que a escutarem viverão. O Pai tem vida em si mesmo e do mesmo modo concedeu ao Filho que também ele tenha vida em si mesmo. E deu-lhe autoridade para julgar toda a humanidade, por ser o Filho do Homem. Não se admirem! Vem até o momento em que todos os mortos ouvirão nas suas sepulturas a voz do Filho de Deus. E levantar-se-ão de novo; os que praticaram o bem, para a vida eterna, e os que continuaram no mal, para o julgamento. Mas eu não pronuncio sentença sem falar com o Pai. Julgo segundo ele me manda. E o meu julgamento é justo, pois está de acordo com a vontade de Deus, que me enviou, e não é só meu. Se dou testemunho de mim próprio, o meu testemunho não é aceite. Mas há um outro que dá testemunho a meu respeito, e sei que o testemunho que dá ele a meu respeito é verdadeiro. Vocês foram escutar as pregações de João Batista, e posso garantir que tudo o que diz acerca de mim é verdadeiro. Mas o testemunho mais verdadeiro que tenho não provém de um homem, embora vos tenha lembrado o testemunho de João para crerem em mim e serem salvos. João brilhou durante algum tempo e vocês, que tiraram proveito disso, alegraram-se. Mas eu tenho um testemunho maior do que o de João: os milagres que faço; esses foram-me confiados pelo Pai e provam que foi ele que me enviou. E o próprio Pai deu testemunho acerca de mim, embora sem vos aparecer pessoalmente nem vos falar de forma direta. Contudo, vocês não me escutam, porque não querem crer em mim, que fui enviado para vos dar a mensagem de Deus. Examinam as Escrituras, porque creem que vos trarão a vida eterna, e são elas que apontam para mim. No entanto, não querem vir a mim para que vos dê essa mesma vida eterna. A vossa aprovação nada significa para mim, porque sei que não têm em vós o amor de Deus. Vim em nome do meu Pai e não querem receber-me, embora recebam aqueles que não são enviados por ele, e que se representam a si próprios. Não admira que não possam crer! Porque de bom grado se honram uns aos outros, mas não cuidam da honra que provém do único Deus! No entanto, não sou eu quem vos acusará disto diante do Pai, mas sim Moisés; esse em cujas leis vão buscar a vossa esperança do céu! Porque também não querem crer em Moisés. Ele escreveu acerca de mim, mas recusam crer nele e, portanto, não querem crer em mim. Uma vez que não acreditam no que ele escreveu, não admira que também não me deem crédito!” Depois disso, Jesus atravessou o mar da Galileia, também conhecido como mar de Tiberíades. Uma multidão enorme seguia-o, pois via os sinais que fazia curando os doentes. Assim, Jesus subiu ao monte e sentou-se com os discípulos à sua volta. Estava próxima a Páscoa, a festa anual judaica. Em breve viu que um grande grupo de pessoas subia também a colina à sua procura. Voltando-se para Filipe, perguntou: “Filipe, onde poderemos comprar pão para alimentarmos esta gente toda?” Estava a experimentá-lo, pois já sabia o que ia fazer. Filipe respondeu-lhe: “Nem com duzentas moedas de prata se comprava pão suficiente para dar um pedaço a cada pessoa.” Um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro, acrescentou: “Está aqui um rapaz com cinco pães de cevada e alguns peixes! Mas de que serve para uma multidão tão numerosa?” “Digam a toda a gente que se sente”, ordenou Jesus. E todos se sentaram na colina relvada; só homens eram aproximadamente 5000. Jesus, pegando nos pães, deu graças a Deus e distribuiu-os entre o povo. Depois fez o mesmo com os peixes. E toda a gente comeu até estar satisfeita. “Agora juntem os sobejos”, disse Jesus aos discípulos, “para que nada se estrague.” E encheram-se doze cestos, só de sobras. Quando o povo se deu conta daquele grande sinal, exclamou: “Sem dúvida é este o Profeta cuja vinda temos esperado!” Jesus percebeu que estavam a ponto de o levar para fazer dele o seu rei. Por isso, subiu o monte, ainda mais para o alto, ficando sozinho. Ao cair da noite, os discípulos desceram à praia para o esperar. Como estava escuro e Jesus ainda não tinha voltado, meteram-se no barco e remaram para Cafarnaum, do outro lado do lago. Em breve, porém, se abateu um vendaval sobre eles, enquanto remavam, e o mar ficou bravo. Encontravam-se a cinco ou seis quilómetros de terra quando viram Jesus a caminhar sobre o mar e perto do barco, e ficaram cheios de medo. Mas ele disse-lhes: “Sou eu! Não tenham medo!” Fizeram-no entrar e logo o barco chegou ao destino desejado. Na manhã seguinte, de novo no outro lado, as multidões começaram a juntar-se na praia, pois sabiam que ele e os discípulos tinham atravessado juntos e que estes últimos tinham partido no barco, deixando-o em terra. Encontravam-se ali perto várias embarcações pequenas de Tiberíades, perto do local onde tinham comido o pão pelo qual o Senhor tinha dado graças. Quando o povo viu que nem Jesus nem os discípulos estavam ali, meteu-se nas embarcações e atravessou para Cafarnaum, a fim de o procurar. Quando chegaram e o encontraram, disseram: “Mestre, quando chegaste aqui?” Jesus retorquiu: “É realmente como vos digo: vieram ter comigo não porque viram sinais, mas porque vos alimentei e ficaram satisfeitos. Mas não se devem preocupar tanto com coisas que se acabam, tal como o alimento. Trabalhem antes pelo alimento que dura para a vida eterna, que o Filho do Homem vos há de dar, pois disso mesmo o Pai o encarregou.” Perguntaram-lhe então: “Que devemos fazer para obedecer à vontade de Deus?” “A vontade de Deus é que creiam naquele que ele enviou.” Eles responderam: “Que sinal fazes para que creiamos em ti? Os nossos pais comeram do maná, no deserto, como dizem as Escrituras: ‘deu-lhes pão do céu, para se alimentarem.’ ” Jesus disse: “É realmente como vos digo: não foi Moisés quem lho deu, mas meu Pai. Mas agora ele oferece-vos o verdadeiro pão do céu. O pão verdadeiro é aquele que foi enviado do céu por Deus e que dá a vida ao mundo.” “Senhor, dá-nos sempre desse pão!” “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá fome. Quem crê em mim nunca terá sede. O pior, como vos disse, é não acreditarem, mesmo depois de me terem visto. Mas alguns virão ter comigo, aqueles que o Pai me deu, e a esses jamais mandarei embora. Eu vim do céu para fazer a vontade de Deus, que me enviou, e não a minha. E a vontade de Deus é esta: que eu não perca nem um só daqueles que ele me deu, antes os faça viver de novo para a vida eterna, no último dia. Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que vê o Filho, e nele crê, tenha a vida eterna, para que lhe torne a dar vida no último dia.” Então os judeus começaram a murmurar contra ele por dizer que era o pão do céu. “O quê?”, interrogavam-se. “Ele não é outro senão Jesus, filho de José, cujo pai e a mãe conhecemos. Que é isto que diz agora, que veio do céu?” Mas Jesus respondeu: “Não murmurem por eu ter dito isto. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, o não atrair a mim, e no último dia os trarei a todos de novo para a vida. Como dizem as Escrituras, ‘Todos eles serão ensinados por Deus.’ Aqueles que escutam o Pai e que dele aprendem serão atraídos para mim. Aliás, ninguém realmente vê o Pai; só eu o vi. É realmente como vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna! Eu sou o pão da vida! Os vossos antepassados, no deserto, comeram o maná e morreram. Mas aqui está o pão que veio do céu e que dá a vida a todo aquele que o come. Eu sou o pão da vida que veio do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. A minha carne é esse pão que darei para dar vida à humanidade.” Então os judeus começaram a discutir entre si acerca do que queriam dizer as suas palavras. “Como nos pode este homem dar a sua carne a comer?” E Jesus repetiu: “É realmente como vos digo: a não ser que comam a carne do Filho do Homem e bebam o seu sangue, não têm vida em vocês mesmos. Mas quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é o alimento verdadeiro e o meu sangue é a bebida verdadeira. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue está em mim e eu nele. Assim como eu vivo pelo Pai, que me enviou e vive eternamente, do mesmo modo, aqueles que se alimentam de mim por mim viverão. Eu sou o pão vindo do céu; todo aquele que comer deste pão viverá para sempre e não morrerá. Não é o caso dos vossos antepassados que comeram o maná e morreram.” Estas coisas ele disse enquanto ensinava na sinagoga em Cafarnaum. Muitos dos seus discípulos diziam: “Isto é muito difícil de compreender. Quem é que pode aceitar estas coisas?” Jesus sabia que os seus discípulos se queixavam e disse-lhes: “Estas coisas chocam-vos? Então o que pensarão quando me virem, a mim, o Filho do Homem, voltar de novo para o céu? Só o Espírito Santo dá a vida eterna. Pelo poder humano jamais se receberá este dom. As palavras que eu vos disse são espírito e vida. Alguns de vocês, porém, não creem em mim.” Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem não cria e quem o ia trair. “Era isto que eu queria dizer quando revelei que ninguém pode vir a mim a não ser que o Pai o traga.” Nesta altura muitos dos seus discípulos afastaram-se e abandonaram-no. Jesus voltou-se para os doze e perguntou-lhes: “Também se querem ir embora?” Simão Pedro respondeu: “Mestre, para quem iremos nós? Só tu tens as palavras que dão a vida eterna! Nós acreditamos nelas e sabemos que és o Santo de Deus.” Então Jesus informou: “Escolhi-vos a todos, mas um é um diabo.” Falava-lhes de Judas, filho de Simão Iscariotes, um dos doze, que o iria trair. Depois disto, Jesus ficou na Galileia, andando de terra em terra, pois queria conservar-se fora da Judeia, onde os anciãos tramavam a sua morte. Em breve, porém, teria lugar a Festa dos Tabernáculos. E os irmãos de Jesus disseram-lhe que fosse para a Judeia: “Vai para onde os teus discípulos possam ver os teus milagres. Não podes tornar-te conhecido se te esconderes assim. Já que fazes estas coisas, mostra-te ao mundo!” Pois os seus irmãos não acreditavam nele. Jesus respondeu: “Ainda não chegou o meu tempo. Mas o vosso tempo sempre está presente. O mundo não vos pode querer mal; mas a mim aborrece-me, porque o acuso do pecado e das obras más. Vão, pois, que eu seguirei mais tarde, quando chegar a altura.” E assim ficou na Galileia. Todavia, depois de os seus irmãos terem partido para a celebração, foi também, embora em segredo, conservando-se longe dos olhares do público. Os judeus procuravam-no na festa, perguntando se alguém o teria visto. Entre a multidão, Jesus era assunto de muitas discussões, dizendo alguns: “É um homem de bem!” Enquanto que outros afirmavam: “Anda mas é a enganar o povo!” Ninguém, aliás, tinha a coragem de falar abertamente acerca dele, com medo dos líderes. A meio da celebração religiosa, Jesus foi ao templo e começou a ensinar o povo. Os anciãos ouviam-no com espanto. “Como pode saber tanta coisa, se não andou nas nossas escolas?” Então Jesus disse-lhes: “O que vos ensino não são os meus pensamentos, mas os de Deus, que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, saberá de certeza se o meu ensino vem de Deus ou se é só meu. Todo aquele que apresenta as suas próprias ideias procura ser louvado, mas quem se esforça por honrar quem o enviou é verdadeiro e está a agir com justiça. Não vos deu Moisés a Lei? Contudo, nenhum de vocês cumpre a Lei. Porque procuram matar-me?” A multidão respondeu: “Tens um demónio dentro de ti! Quem procura matar-te?” “Trabalhei num sábado para curar um homem e ficaram espantados. Mas vocês também trabalham ao sábado, quando é para cumprir a Lei de Moisés da circuncisão. Aliás, esta tradição da circuncisão é mais antiga do que a Lei mosaica, pois remonta a Abraão. Se o dia de circuncidar os vossos filhos calha a um sábado, não hesitam em fazê-lo, para não quebrar a Lei de Moisés. Então porque serei eu condenado por curar um homem num sábado? Não devem julgar segundo a aparência, mas segundo a verdadeira justiça!” Algumas das pessoas que viviam ali em Jerusalém diziam entre si: “Não é este o homem que querem matar? Mas ele está aqui, a falar em público, e não lhe dizem nada. Será que os líderes descobriram que é, de facto, o Cristo? Mas como pode ser? Sabemos onde ele nasceu. Quando o Cristo vier, limitar-se-á a aparecer sem que ninguém saiba donde vem.” Então Jesus, enquanto ensinava no templo, disse: “Sim, conhecem-me e sabem onde nasci e fui criado, mas aquele que me enviou, que expressa a verdade, vocês não o conhecem. Eu conheço-o, porque sou dele, e foi ele que me enviou.” Procuraram prendê-lo, mas ninguém lhe pôs a mão, pois não chegara ainda a hora marcada por Deus. Muitas pessoas, entre as multidões que acorriam ao templo, criam nele: “Quando o Cristo voltar, esperam que ele faça mais sinais do que aqueles que este tem já feito?” Quando souberam o que a multidão pensava, os fariseus e os principais sacerdotes enviaram guardas para prendê-lo. Mas Jesus disse-lhes: “Deverei estar convosco mais algum tempo e depois voltarei para aquele que me enviou. Procurar-me-ão, mas não me acharão. Para onde eu vou não podem vocês ir.” Os judeus ficaram intrigados com esta afirmação: “Para onde tenciona ele ir? Talvez pense ir aos judeus doutras terras ou ensinar os não-judeus. O que quererá ele dizer com aquilo: ‘Procurar-me-ão, mas não me acharão. Para onde eu vou não podem vocês ir.’?” No último dia, o momento mais importante da festa, Jesus clamou às multidões: “Se alguém tem sede venha a mim e beba. Pois as Escrituras dizem que do mais íntimo de todo aquele que crê em mim sairão rios de água viva.” Referia-se ao Espírito Santo que seria dado a todos quantos cressem nele. Mas o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus não voltara ainda à sua glória no céu. Quando a multidão o ouviu dizer isto, muitos entre eles afirmavam: “Não há dúvida de que este homem é o Profeta!” Outros diziam: “É o Cristo!” E outros ainda: “Mas é impossível que o seja! Porventura virá o Cristo da Galileia? Pois as Escrituras dizem claramente que o Cristo nascerá da família real de David, em Belém, a terra onde David nasceu.” A multidão tinha opiniões diferentes acerca dele. Havia quem quisesse que fosse preso, mas ninguém se atrevia a tocar-lhe. A guarda do templo, que fora mandada para o prender, voltou para os principais sacerdotes e para os fariseus. “Porque não o trouxeram?”, perguntaram. Os guardas responderam: “Nunca ninguém falou como este homem!” “Também vocês foram desencaminhados?”, retorquiram os fariseus. “Porventura algum dos líderes judaicos ou dos fariseus creu nele? A multidão ignorante da Lei, essa sim, é gente maldita!” Então Nicodemos, que era um deles, aquele que anteriormente tivera uma entrevista secreta com Jesus, falou: “Será legal condenar um homem antes de ser julgado?” E responderam: “Também tu és um desses galileus? Investiga e verás que da Galileia nunca veio qualquer profeta!” E foram todos para casa. Jesus voltou para o monte das Oliveiras. Contudo, logo no dia seguinte, de manhã cedo, encontrava-se de novo no templo. Em breve se juntou uma multidão e, sentando-se, começou a falar-lhes. Enquanto falava, os especialistas na Lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério e puseram-na diante do povo: “Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. A Lei de Moisés ordena que a apedrejemos. Que dizes?” Procuravam, assim, levá-lo a afirmar alguma coisa que pudessem usar contra ele. Jesus, baixando-se, pôs-se a escrever na terra com a ponta do dedo. Eles teimavam em ter uma resposta. Então, endireitando-se, disse: “Está bem, apedrejem-na, mas que a primeira pedra seja lançada por aquele que nunca tenha pecado!” E curvando-se de novo continuou a escrever no pó do chão. E começaram a afastar-se um a um, principiando pelos mais velhos, até que ficou só Jesus com aquela mulher. Tornando a erguer-se, e vendo apenas a mulher, perguntou-lhe: “Onde estão os teus acusadores? Nem um sequer te condenou?” “Não, Senhor!” Jesus disse-lhe: “Também eu não te condeno. Vai e não tornes a pecar!” Numa outra ocasião, Jesus disse ao povo: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” Os fariseus exclamaram: “Falas de ti próprio, por isso, o teu testemunho não tem valor!” Jesus disse-lhes: “O que afirmo acerca de mim mesmo é verdadeiro, embora seja eu a dizê-lo, pois sei donde vim e para onde vou, e isso não sabem vocês acerca de mim. Julgam-me, mas de uma forma humana. Contudo, eu não julgo ninguém. Mesmo que eu julgue, o meu julgamento é justo, pois tenho comigo o Pai que me enviou. Na vossa Lei está escrito que, se dois homens concordarem um com o outro acerca de qualquer coisa, o seu testemunho é aceite como verdadeiro. Pois bem: Eu sou uma testemunha e a outra é o meu Pai que me enviou!” “Onde está o teu Pai?”, perguntaram. Jesus respondeu: “Não sabem quem sou, portanto, não conhecem o meu Pai. Se me conhecessem, conhecê-lo-iam também a ele.” Jesus disse estas coisas no local do templo onde eram recolhidas as ofertas. Ninguém o prendeu, porque não tinha chegado a sua hora. Disse-lhes outra vez: “Vou-me embora. Procurar-me-ão e morrerão nos vossos pecados. Para onde eu vou não podem vocês ir.” Os judeus perguntaram: “Acaso pensa em matar-se? Que quer dizer com aquilo, ‘para onde vou não podem vocês ir?’ ” Ele disse-lhes: “Vocês são cá de baixo e eu sou de cima. Vocês são do mundo e eu não. Por isso, é que disse que haveriam de morrer nos vossos pecados; porque, se não crerem que eu sou quem sou, morrerão nos vossos pecados.” “Declara-nos quem és”, insistiram. Jesus respondeu: “Eu sou aquele que sempre disse que era. Poderia condenar-vos por muitas coisas; mas eu digo aquilo que me transmite aquele que me enviou; e ele é a verdade.” No entanto, continuavam sem perceber que era de Deus, o Pai, que lhes falava. Então Jesus disse: “Quando tiverem levantado na cruz o Filho do Homem, compreenderão quem eu sou e que não tenho estado a dar-vos as minhas próprias ideias; antes transmiti-vos o que o Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo; não me abandonou, pois faço sempre o que lhe agrada.” Muitos que o ouviram declarar estas coisas começaram a acreditar que era ele o Cristo. A estes Jesus dizia: “Serão verdadeiramente meus discípulos se viverem obedecendo aos meus ensinos. E conhecerão a verdade e a verdade vos tornará livres.” “Mas nós somos descendentes de Abraão”, tornaram eles, “e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que dizes que seremos livres?” Jesus respondeu: “É realmente como vos digo: todo aquele que viva na prática do pecado é um escravo do pecado. E os escravos não pertencem à família. Mas um filho está ligado para sempre à família. Assim, se o Filho vos libertar, ficarão livres, de verdade. Sim, bem sei que são descendentes de Abraão! Contudo, alguns de vocês tentam matar-me, porque a minha mensagem não encontra abrigo nos vossos corações. O que eu vos digo é aquilo que vi junto de meu Pai; mas é o conselho do vosso pai que vocês seguem.” “O nosso pai é Abraão”, declararam. “Não!”, respondeu Jesus. “Se fossem filhos de Abraão, seguiriam o seu exemplo! Em vez disso, procuram matar-me, apenas por vos ter dito a verdade que ouvi de Deus. Abraão jamais faria uma coisa dessas! Procedendo assim, é ao vosso verdadeiro pai que obedecem.” Protestaram: “Nós não nascemos de imoralidade sexual; temos um verdadeiro pai que é o próprio Deus.” Jesus disse-lhes: “Se Deus fosse o vosso pai, amar-me-iam, porque é da parte de Deus que eu vim. Não estou aqui por resolução minha, antes foi ele que me enviou. Porque não entendem o que vos digo? Porque não podem compreender. Vocês são filhos do vosso pai, o Diabo, e querem praticar a maldade que ele pratica. Desde o princípio ele tem sido homicida e inimigo da verdade; nele não há nada de verdadeiro. Quando ele mente, faz o que lhe é próprio, porque é o pai da mentira. Assim, quando vos digo a verdade, é natural que não acreditem. Qual de vocês me pode acusar com verdade de um único pecado que seja? E, uma vez que vos digo a verdade, porque não acreditam em mim? Todo aquele cujo Pai é Deus escuta as palavras que vêm de Deus. Uma vez que o não fazem, isso só prova que não são de Deus.” O povo retorquiu: “Bem dizemos nós que és samaritano e que tens demónio!” “Não”, disse Jesus, “não tenho demónio, porque honro o meu Pai, mas vocês desonram-me. E, embora não procure a minha glória, há quem a procure e quem julgue. É realmente como vos digo: quem guarda as minhas palavras não verá a morte!” Os judeus exclamaram: “Agora sabemos que estás possuído por um demónio. Até Abraão e os profetas morreram e, contudo, dizes que obedecer-te faz com que uma pessoa não morra. Serás porventura maior do que o nosso pai Abraão que morreu? E do que os profetas que morreram? Quem julgas tu que és?” Jesus respondeu: “Se estivesse simplesmente a glorificar-me a mim próprio, isso não contaria. O meu Pai, a quem chamam vosso Deus, é quem me honra. Mas nem sequer o conhecem; no entanto, eu conheço-o. Se dissesse qualquer outra coisa, seria tão mentiroso como vocês. Mas, na verdade, eu conheço-o e obedeço-lhe. O vosso pai Abraão alegrou-se ao ver o meu dia. Sabia que eu viria e ficou satisfeito!” Os judeus disseram: “Não tens ainda cinquenta anos e viste Abraão?” Jesus replicou: “É realmente como vos digo: ainda antes de Abraão nascer já eu sou! ” Naquela altura, pegaram em pedras para o matar. Contudo, Jesus escondeu-se e, passando por eles, saiu do templo. Enquanto Jesus caminhava, viu um homem que era cego de nascença. “Mestre”, perguntaram-lhe os discípulos, “porque foi que este homem nasceu cego? Por causa dos seus pecados ou por causa dos pecados de seus pais?” “Nem uma coisa nem outra”, disse Jesus, “mas para nele se mostrar o poder de Deus. Temos todos de fazer as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. A noite desce e todo o trabalho cessa. Enquanto estiver aqui neste mundo, sou a luz do mundo!” Então, cuspiu no chão e, fazendo lama com saliva, espalhou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: “Vai lavar-te ao tanque de Siloé!” (Siloé significa “enviado”.) O homem assim fez e depois de se lavar voltou, vendo. Os vizinhos e outros que o tinham conhecido ainda cego perguntavam: “Será o mesmo homem, o tal pedinte?” Uns diziam que sim e outros: “Não há dúvida de que se parece com ele!” O cego dizia: “Sou eu mesmo!” Então perguntaram-lhe como fora possível ter sido curado da cegueira. Que acontecera? E ele contou: “Um homem, a quem chamam Jesus, fez lama e aplicou-a nos meus olhos. Depois disse-me que fosse ao tanque de Siloé para me lavar. Assim fiz, e fiquei a ver!” “Onde está ele agora?”, perguntaram. “Não sei!”, foi a resposta. Então levaram o homem aos fariseus. Ora, tudo isto se passou num dia de sábado. Os fariseus interrogaram-no e ele contou-lhes como Jesus lhe espalhara lama sobre os olhos e como, depois de os lavar, já via. Alguns dos fariseus disseram: “Esse tal Jesus não pode ser um homem de Deus, porque trabalha num sábado.” Outros diziam: “Mas como pode um pecador vulgar fazer sinais assim?” E havia grandes discussões entre eles por causa disto. Os fariseus voltaram-se para o antigo cego e perguntaram-lhe: “Esse homem que te abriu os olhos, quem achas tu que é?” O homem respondeu: “É um profeta.” Os judeus não queriam crer que tivesse sido cego. Por fim, chamaram os pais: “Esse homem é o vosso filho? Nasceu cego? Se nasceu, como é que agora vê?” E os pais responderam: “Sabemos que este é o nosso filho, cego de nascença. No entanto, ignoramos o que aconteceu para que agora veja, ou quem o teria feito. Já tem idade, perguntem-lhe. Ele que vos explique!” Diziam isto com medo dos judeus, que tinham avisado que quem quer que afirmasse que Jesus era o Cristo seria expulso da sinagoga. Por isso, os pais disseram: “Ele tem idade suficiente para falar por si. Perguntem-lhe.” Pela segunda vez, os fariseus mandaram vir o que tinha sido cego e disseram-lhe: “Dá glória a Deus, porque sabemos que esse homem é um pecador!” Ele respondeu: “Se é pecador, não sei; o que sei é que era cego e agora vejo!” “Mas que te fez ele? Como é que te curou?”, perguntaram-lhe. O homem exclamou: “Já vos expliquei uma vez e não me ouviram! Porque é que querem ouvir outra vez a mesma coisa? Também querem ser seus discípulos?” Eles injuriaram-no: “Discípulo dele sejas tu! Nós somos discípulos de Moisés! Sabemos que Deus falou a Moisés, mas quanto a este nada sabemos.” Tornou o homem: “Que estranho! Ele curou-me e vocês nada sabem acerca dele. Deus não escuta os pecadores, mas sim os que o honram e fazem a sua vontade. Desde que o mundo é mundo, ninguém conseguiu abrir os olhos a um cego de nascença. Se este homem não viesse de Deus não conseguiria fazê-lo!” “Tu nasceste em pecado”, responderam, “e queres ensinar-nos?” E expulsaram-no da sinagoga. Quando Jesus soube do sucedido, e tendo encontrado o homem, perguntou-lhe: “Crês no Filho do Homem?” “Quem é ele, Senhor, para que creia nele?” “Já o viste”, disse Jesus. “É aquele que fala contigo!” O homem disse: “Sim, Senhor, creio!” E adorou-o. Jesus explicou: “Vim para julgar o mundo. Vim para dar vista aos cegos e para mostrar àqueles que julgam ver que, afinal, são eles os cegos.” Os fariseus que ali estavam perguntaram: “Queres dizer com isso que somos cegos?” “Se fossem realmente cegos, não teriam culpa”, respondeu Jesus. “Mas a vossa culpa mantém-se, pois afirmam que podem ver.” “É realmente como vos digo: quem recusa entrar no estábulo pela porta e prefere esgueirar-se por cima do muro é certamente ladrão. Porque o pastor, esse entra pela porta. O guarda abre a porta, as ovelhas ouvem a sua voz e aproximam-se dele; ele chama as ovelhas pelo seu nome e leva-as para fora. Depois de as ajuntar, caminha à sua frente e elas seguem-no, porque reconhecem a sua voz. Se fosse um estranho, não o seguiriam; antes fugiriam dele, por não lhe conhecerem a voz.” Aqueles que ouviram esta parábola não compreenderam o que queria dizer. E assim Jesus explicou: “É realmente como vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por mim salvar-se-á. E entrará, sairá e encontrará pastagens. O ladrão só quer roubar, matar e destruir. Mas eu vim para dar vida, e com abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor sacrifica a vida pelas ovelhas. Quem é assalariado para guardar o rebanho foge quando vê vir um lobo. Ele abandona o rebanho, porque não lhe pertence e por não ser verdadeiramente o seu pastor. Assim o lobo salta sobre elas e espalha o rebanho. Tal homem foge, porque é contratado e não se preocupa realmente com as ovelhas. Eu sou o bom pastor e conheço as minhas ovelhas, e elas conhecem-me também, assim como o meu Pai me conhece e eu conheço o meu Pai. E sacrifico a minha vida pelas ovelhas. Tenho ainda mais ovelhas que não estão neste curral. Preciso de as agregar também, e ouvirão a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor. O Pai ama-me porque dou a minha vida para poder tornar a recebê-la. Ninguém me pode matar sem o meu consentimento. É de livre vontade que dou a vida. Porque tenho o direito e o poder de a sacrificar, quando quiser, e também o direito e o poder de a tornar a receber. Porque esse direito foi o Pai quem mo deu.” Quando disse estas coisas, os judeus ficaram novamente divididos nas suas opiniões acerca dele. Alguns comentavam: “Ou tem demónio ou está doido. Para que serve dar-lhe ouvidos?” Outros, porém, diziam: “Estas palavras não são de um homem dominado pelo demónio. Poderá um demónio abrir os olhos aos cegos?” Era agora inverno e Jesus encontrava-se em Jerusalém na altura das cerimónias da dedicação. Quando atravessava a parte do templo a que chamavam o Alpendre de Salomão, os judeus rodearam-no e perguntaram-lhe: “Durante quanto tempo mais nos vais manter nesta incerteza? Se és o Cristo, o enviado de Deus, di-lo claramente.” Jesus respondeu: “Já vos disse e não acreditaram. A prova está nos milagres que faço em nome de meu Pai. Mas vocês não creem em mim, porque não pertencem ao meu rebanho. As minhas ovelhas conhecem a minha voz, e eu conheço-as, e elas seguem-me. Dou-lhes a vida eterna e jamais perecerão. Ninguém as arrancará de mim, porque meu Pai é quem mas deu. E sendo ele mais poderoso do que ninguém, ninguém as pode roubar. Eu e o Pai somos um.” Então os anciãos tornaram a pegar em pedras para o apedrejar. Jesus perguntou: “Por ordem de Deus fiz muitas obras boas. Por qual dessas obras querem agora matar-me?” E responderam: “Não é por qualquer obra boa, mas por ofensa a Deus; pois tu, um simples homem, afirmas ser Deus.” Jesus replicou: “Mas na vossa Lei está escrito que Deus disse: ‘Vocês são deuses.’ Então, se as Escrituras, que não podem ser anuladas, dizem serem deuses aqueles a quem foi enviada a mensagem de Deus, como é que agora afirmam que aquele que foi santificado e enviado ao mundo pelo Pai está a ofender a Deus ao declarar: ‘Sou o Filho de Deus’? Compreende-se que não acreditem em mim a não ser que faça as obras do meu Pai. Já que as realizo, acreditem nelas, mesmo que não creiam em mim. Então ficarão convencidos de que o Pai está em mim e eu no Pai.” Uma vez mais procuravam prendê-lo. Ele, porém, afastou-se e deixou-os. Atravessou o rio Jordão até ao local onde João andara primeiro a batizar e aí permaneceu. E muitos o seguiam. “João não fez nenhum sinal”, diziam entre si, “mas realizaram-se todas as suas predições acerca deste homem.” E ali muitos creram nele. Havia em Betânia um homem chamado Lázaro, que vivia com suas irmãs, Maria e Marta. Maria foi aquela que deitou o perfume muito caro sobre os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. Lázaro adoeceu. E as duas irmãs mandaram recado a Jesus, dizendo: “Senhor, o nosso irmão está muito mal.” Contudo, quando Jesus soube disso, observou: “Essa doença não é para morte, mas para a glória de Deus. Eu, o Filho de Deus, receberei glória em resultado desta enfermidade.” Embora Jesus fosse muito amigo de Marta, de Maria e de Lázaro, ficou onde estava durante mais dois dias, sem nada fazer para ir ter com eles. Por fim, passados esses dois dias, disse aos discípulos: “Vamos para a Judeia!” Mas os discípulos opuseram-se. “Mestre, ainda há uns dias atrás os judeus procuraram matar-te e queres voltar para lá?” Jesus respondeu: “Há doze horas de luz em cada dia em que uma pessoa pode caminhar sem tropeçar. Só de noite é que há perigo de se dar um passo em falso por causa da escuridão.” E acrescentou: “O nosso amigo Lázaro adormeceu, mas agora vou acordá-lo!” Os discípulos, pensando que Jesus quisesse dizer que Lázaro estava a dormir normalmente, comentaram: “Isso significa que está melhor!” Mas o que Jesus queria dizer era que Lázaro tinha morrido. Então disse-lhes abertamente: “Lázaro morreu! E por vossa causa estou satisfeito, por não ter estado ali nessa altura, pois isto dar-vos-á outra oportunidade de confirmarem a vossa fé. Vamos ter com Lázaro.” Tomé, que também era chamado o Gémeo, disse aos outros discípulos: “Vamos nós também, para morrer com Jesus.” Quando chegaram a Betânia, souberam que Lázaro já estava sepultado havia quatro dias. Betânia ficava perto, a três quilómetros, na estrada para Jerusalém. E muitos judeus tinham ido para consolar Marta e Maria na sua perda. Quando Marta soube que Jesus vinha a caminho, foi ao seu encontro; mas Maria ficou em casa. Marta disse a Jesus: “Senhor, se cá estivesses, o meu irmão não teria morrido! Mas eu sei que mesmo agora não é tarde demais, pois tudo o que pedires a Deus ele te dará.” Jesus respondeu-lhe: “O teu irmão ressuscitará.” “Sim”, tornou Marta, “quando toda a gente ressuscitar no dia da ressurreição.” Jesus disse-lhe: “Eu sou a ressurreição e a vida! Quem crer em mim viverá, mesmo que morra! É-lhe dada a vida eterna por crer em mim e nunca mais morrerá. Crês nisto, Marta?” “Sim, Mestre. Creio que és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que há tanto tempo esperávamos.” Então ela retirou-se e foi chamar Maria: “O Mestre já chegou e quer ver-te.” Esta foi logo ter com ele. Ora, Jesus parara fora da aldeia, no local onde Marta se encontrara com ele. Quando os judeus que estavam na casa, para confortar Maria, a viram sair tão apressadamente, pensaram que fosse ao túmulo de Lázaro para chorar e seguiram-na. Chegada ao sítio onde Jesus se encontrava, Maria caiu a seus pés, dizendo: “Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido!” Ao vê-la chorar acompanhada no seu pranto pelas pessoas da terra, Jesus comoveu-se e sentiu forte emoção: “Onde está ele sepultado?”, perguntou-lhes. “Vem ver!”, disseram-lhe. E Jesus chorou. “Vejam como era amigo de Lázaro!”, comentaram as pessoas. Mas outros disseram: “Se pôde curar cegos, porque não evitou a morte de Lázaro?” Jesus comoveu-se muito outra vez. Entretanto, chegaram ao sepulcro. Era uma gruta com uma pesada pedra a tapar a entrada. “Retirem a pedra!”, ordenou Jesus. Mas Marta, irmã de Lázaro, observou: “Já deve cheirar muito mal, porque há quatro dias que morreu.” Jesus respondeu: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” Rolaram pois a pedra. Jesus ergueu o olhar para o céu e disse: “Pai, graças te dou por me ouvires. Tu ouves-me sempre, mas digo isto por causa de toda a gente que aqui está, para que creiam que me enviaste.” Então Jesus ordenou, em voz muito forte: “Lázaro, sai!” Lázaro surgiu, ainda todo envolvido em panos e o rosto tapado com uma toalha. Jesus ordenou-lhes: “Desliguem-no e deixem-no ir!” E foi assim que muitos judeus que se encontravam com Maria, e viram isto acontecer, creram nele. Alguns, porém, foram ter com os fariseus e contaram-lhes o sucedido. Os principais sacerdotes e os fariseus convocaram o conselho para discutir o caso. “Que vamos fazer?”, perguntavam-se uns aos outros. “Não há dúvida de que este homem faz grandes sinais. Se não interviermos, toda a gente crerá nele, e o exército romano virá e destruirá tanto o nosso templo como a nossa nação.” Um deles, Caifás, que naquele ano era sumo sacerdote, disse: “Vocês não percebem nada. Nem entendem que vos é preferível que morra um único homem pelo povo. Porque é que se há de perder toda a nação?” Esta revelação de que Jesus deveria morrer por todo o povo veio da boca de Caifás, no seu cargo de sumo sacerdote; não foi coisa que tivesse pensado por si próprio, mas foi uma profecia. Era uma predição de que a morte de Jesus não seria só por Israel, mas para reunir todos os filhos de Deus espalhados pelo mundo. A partir daí, começaram a planear a morte de Jesus. Jesus já não andava manifestamente em público. Saindo de Jerusalém, dirigiu-se para a proximidade do deserto, para a localidade de Efraim, onde ficou com os discípulos. A Páscoa dos judeus estava próxima e muitos daquela província entraram em Jerusalém, antes da data para poderem proceder à cerimónia da purificação. Queriam ver Jesus e enquanto estavam no templo perguntavam uns aos outros: “O que é que acham? Virá ele à festa da Páscoa?” Entretanto, os principais sacerdotes e fariseus tinham anunciado publicamente que, se alguém visse Jesus, devia participar imediatamente o facto para que o pudessem prender. Seis dias antes do começo das cerimónias da Páscoa, Jesus chegou a Betânia, onde morava Lázaro, a quem tornara a dar vida. Fizeram um jantar em honra de Jesus e Marta servia à mesa e Lázaro estava ali sentado com ele. Então Maria pegou num vaso com três decilitros de perfume caro, feito de essência de nardo, e deitou-o sobre os pés de Jesus, enxugando-os com o cabelo. E toda a casa se encheu daquele belo cheiro. Mas Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que o iria trair, comentou: “Porque não se vendeu o perfume por trezentas moedas de prata para dar o produto aos pobres?” Falava assim, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque estava encarregado do dinheiro dos discípulos e costumava servir-se dele em benefício próprio. Jesus respondeu-lhe: “Deixem-na em paz! Ela fez isto como preparação para o dia em que irei para a sepultura. É que os pobres sempre os terão convosco, mas a mim nem sempre me terão.” Quando muitos judeus de Jerusalém souberam da sua chegada, acorreram a vê-lo, a ele e a Lázaro, o ressuscitado. Então os principais sacerdotes decidiram matar Lázaro também, pois fora por causa dele que muitos judeus o tinham seguido, crendo ser Jesus o seu Cristo. No dia seguinte, uma multidão enorme que tinha ido para celebrar a Páscoa soube que Jesus ia a caminho de Jerusalém. Pegaram em ramos de palmeira e vieram ao seu encontro, exclamando: “Hossana! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor, que é o Rei de Israel!” Jesus ia montado num jumento novo, dando cumprimento ao que na Escritura estava escrito: “Não receies, ó filha de Sião. Vê, o teu Rei aproxima-se, sentado numa cria de jumento.” Naquela altura, os discípulos não compreenderam que era o cumprimento duma profecia. Somente depois de Jesus ter voltado para a sua glória no céu é que repararam no cumprimento das profecias das Escrituras a seu respeito. E aqueles da multidão que tinham visto Jesus chamar Lázaro de novo à vida contavam o que tinha acontecido. Foi esse o principal motivo que levou tantos a saírem ao seu encontro, por terem ouvido dizer que se fizera um tal sinal. Os fariseus disseram entre si: “Perdemos! Olhem como todo o povo vai atrás dele!” Alguns dos gregos que tinham ido a Jerusalém para adorar Deus na Páscoa vieram ter com Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e pediram: “Nós queríamos conhecer Jesus!” Filipe falou neste pedido a André e foram juntos ter com Jesus. Jesus esclareceu que chegara a hora de voltar para a sua glória no céu e acrescentou: “É realmente como vos digo: se um grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, ficará apenas uma semente isolada. Mas se morrer, produzirá muitos grãos. Quem amar a sua vida perdê-la-á. E quem desprezar a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer ser meu discípulo, que venha e me siga, pois os meus servos deverão estar onde eu estiver. E se me seguirem, o Pai os honrará. Agora a minha alma está perturbada. Deverei eu orar para que o Pai me livre desta hora? Mas se foi para isso mesmo que vim! Pai, traz honra ao teu nome!” E ouviu-se uma voz vinda do céu que disse: “Já o honrei, e glorificá-lo-ei outra vez.” Quando a multidão ouviu a voz, alguns julgaram que fosse um trovão, enquanto que outros afirmavam que um anjo lhe tinha falado. Jesus explicou-lhes: “A voz que ouviram foi para o vosso bem e não para o meu. Chegou a hora do mundo ser julgado; a hora também em que o soberano deste mundo será expulso. E quando eu for erguido da Terra atrairei todos a mim.” Disse isto indicando a maneira como iria morrer. A multidão perguntou: “A Lei ensina-nos que o Cristo vive para sempre. Porque dizes que o Filho do Homem deverá ser levantado? De quem falas tu?” Jesus respondeu: “A minha luz brilhará para vocês mais algum tempo. Caminhem enquanto têm a luz, para que as trevas não vos apanhem; quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Acreditem na luz, enquanto ainda há tempo e então tornar-se-ão filhos da luz.” Depois de dizer estas coisas, Jesus retirou-se e ocultou-se deles. Apesar de todos os sinais que tinha feito, havia muita gente que não cria nele; exatamente como Isaías, o profeta, tinha dito: “Senhor, quem creu na nossa pregação? A quem foi revelado o poder do Senhor? ” Por isso, não podiam crer. Porque como Isaías também disse: “São cegos e têm o coração fechado, de modo que não verão com os seus olhos, nem entenderão com os seus corações, nem se arrependerão, para que os cure.” Isaías, ao fazer esta revelação, referia-se a Jesus, pois tinha tido uma visão da sua glória. Por outro lado, muitos dos líderes judeus acreditavam nele, sem contudo o confessarem, receosos de que os fariseus os expulsassem da sinagoga. Porquanto davam mais apreço ao louvor dos homens do que ao louvor a Deus. Jesus clamou à multidão: “Quem crê em mim crê naquele que me enviou! E quem me vê a mim vê aquele que me enviou! Vim como a luz que veio ao mundo para que todo o que crê em mim não fique nas trevas. Se alguém ouvir as minhas palavras e não crer, não sou eu quem o julga, pois vim para salvar o mundo e não para julgá-lo. Mas todos quantos me rejeitam, a mim e as minhas palavras, serão julgados no dia do julgamento pelas próprias palavras que lhes falei. Porque o que tenho falado não é de mim mesmo. Apenas vos disse o que o Pai me mandou que vos comunicasse. Os seus preceitos conduzem à vida eterna. Por isso, digo tudo o que ele me mandou dizer.” Antes da festa da Páscoa, Jesus já sabia que aquela seria a sua última noite neste mundo antes de voltar para junto do Pai. Quanto aos discípulos que tinha no mundo, amou-os sempre da forma mais perfeita até ao fim! Decorria o jantar e o Diabo já convencera Judas Iscariotes, filho de Simão, a traí-lo. Jesus sabia que o Pai colocara tudo nas suas mãos e que viera de Deus e para Deus voltaria. Depois da ceia, levantou-se da mesa, despiu a túnica e pôs uma toalha à volta da cintura. E, deitando água numa bacia, começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha. Quando chegou a vez de Simão Pedro, este observou: “Mestre, não devias lavar-me os pés.” Jesus retorquiu: “Agora não entendes o que faço, mas virá o dia em que compreenderás.” “Não!”, protestou Pedro. “Não consinto que me laves os pés!” “Se não deixares, não poderás ter parte comigo.” Simão Pedro respondeu: “Senhor, então não só os pés, mas as mãos e a cabeça!” Jesus respondeu: “Aquele que se lavou por completo só precisa de lavar os pés para se manter limpo. Agora estás limpo, mas nem todos aqui estão limpos.” Pois Jesus sabia quem o ia trair. Por isso, disse: “Nem todos estão limpos.” Depois de lhes ter lavado os pés, tornou a vestir a túnica, sentou-se e perguntou-lhes: “Compreendem o que eu fiz? Chamam-me Mestre e Senhor, e fazem bem, porque é verdade. E uma vez que eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também devem lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo! Façam como eu vos fiz! É realmente como vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro maior do que quem o enviou! Agora que sabem estas coisas, serão felizes se as praticarem. Ao dizer estas coisas, não me refiro a todos sem exceção, porque vos conheço bem. Eu próprio vos escolhi! As Escrituras dizem: ‘O que comia do meu pão, até esse me trai’. Isto cumprir-se-á. Digo-vos isto agora para que, quando acontecer, possam crer que eu sou quem sou. É realmente como vos digo: quem receber quem eu enviar é a mim que recebe. E quem me receber recebe quem me enviou.” Nesse momento, Jesus começou a angustiar-se e exclamou: “É realmente como vos digo: um de vocês vai trair-me!” Os discípulos entreolharam-se sem saberem a quem se referia. Um deles, que estava à mesa, ao lado de Jesus, era o seu amigo mais íntimo. Simão Pedro fez-lhe sinal para que lhe perguntasse de quem falava. Então inclinando-se para Jesus, perguntou-lhe: “Senhor, quem é?” Jesus disse: “Aquele a quem eu der o pão ensopado no molho.” Depois de ter molhado um pedaço de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que Judas o comeu, Satanás entrou nele e Jesus disse-lhe: “O que pretendes fazer fá-lo já.” Nenhum dos outros que estavam à mesa percebeu com que propósito Jesus lhe dissera aquilo. Alguns pensavam que, como Judas era o tesoureiro, Jesus o mandara pagar a refeição ou dar dinheiro aos pobres. Judas saiu imediatamente e desapareceu na noite. Logo depois, Jesus disse: “Chegou a hora da glória do Filho do Homem e Deus receberá glória por ele. E se a glória de Deus é manifestada pelo seu Filho, Deus glorificá-lo-á em si próprio e glorificá-lo-á em breve. Meus queridos filhos, vou estar convosco por pouco tempo mais! E então, apesar de me procurarem, para onde eu vou não podem vocês ir, tal como disse aos judeus. Assim, dou-vos agora um novo mandamento: que se amem uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim devem amar-se uns aos outros. O vosso amor uns pelos outros provará ao mundo que são meus discípulos.” Simão Pedro perguntou: “Senhor, para onde vais?” E Jesus replicou: “Agora não podes ir comigo, mas seguir-me-ás mais tarde.” “Porque é que não posso ir agora, se estou pronto a morrer por ti?” Jesus respondeu: “Morrer por mim? Antes que o galo cante de madrugada, três vezes negarás que me conheces!” “Que o vosso coração não se aflija. Creem em Deus, creiam também em mim. Há muitas moradas onde vive o meu Pai e vou aprontá-las para a vossa chegada. Quando tudo estiver pronto, então virei para vos levar, para que possam estar sempre comigo onde eu estiver. Se assim não fosse, eu próprio vos teria dito claramente. Aliás, vocês sabem para onde vou e como se vai para lá.” “Não, não sabemos!”, interrompeu Tomé. “Se não fazemos a menor ideia para onde vais, como podemos conhecer o caminho?” Jesus disse-lhe: “Sou eu o caminho. Sim, e a verdade e a vida. Ninguém pode chegar ao Pai sem ser através de mim. Se tivessem sabido quem sou, então saberiam também quem é o meu Pai. A partir de agora, já o conhecem e o têm visto!” Filipe disse: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.” Jesus respondeu: “Ainda não sabes quem eu sou, Filipe, mesmo depois de todo este tempo que passei convosco? Todo aquele que me viu, viu também o Pai. Então, porque me pedes para o veres? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que digo não são minhas, mas vêm do meu Pai, que vive em mim. E é através de mim que ele realiza as suas obras. Creiam somente que estou no Pai e que o Pai está em mim. Ou então acreditem por causa das obras que me viram fazer. É realmente como vos digo: quem crer em mim fará as mesmas obras que eu, e maiores até, porque vou para junto do Pai. Podem pedir-lhe tudo, em meu nome, que eu o farei, pois isso contribuirá para a glória do Pai, por causa daquilo que eu, o Filho, farei por vocês. Se pedirem qualquer coisa em meu nome, eu o farei. Se me amam, obedeçam-me. E eu pedirei ao Pai que vos envie outro Consolador e este nunca vos abandonará. Ele é o Espírito Santo, o Espírito que conduz a toda a verdade. O mundo não o pode receber, porque não o procura nem o reconhece. Mas vocês, sim, pois ele vive convosco e estará mesmo no vosso íntimo. Não, não vos abandonarei nem vos deixarei órfãos; antes virei até vós. Mais um pouco e terei saído do mundo, mas continuarei convosco. Pois tornarei a viver e vocês também. Quando eu voltar à vida, hão de saber que eu estou no meu Pai, e vocês em mim e eu em vocês. Aquele que tem os meus mandamentos e lhes obedece é aquele que me ama. E, por ele me amar, meu Pai o amará; e também eu o amarei e me revelarei a ele.” Judas (não o Judas Iscariotes) perguntou-lhe: “Senhor, porque é que te revelarás unicamente a nós e não a todo o mundo?” Jesus respondeu: “Só me revelarei àqueles que me amam e me obedecem. Também o Pai os amará e viremos para eles e com eles viveremos. Aquele que não me obedece não me ama. Esta resposta à vossa pergunta não é imaginação minha! É a resposta dada pelo Pai que me enviou. Digo-vos estas coisas enquanto estou ainda convosco. Mas o Pai mandará o conselheiro em meu nome, esse Consolador é o Espírito Santo, e ele vos ensinará todas as coisas e vos lembrará tudo o que eu próprio vos tenho dito. Deixo-vos a minha paz. E a paz que eu dou não é como aquela que o mundo dá. Por isso, não se aflijam nem tenham receio. Lembrem-se do que vos disse: Retiro-me, mas voltarei de novo para vocês. Se realmente me amam, sentir-se-ão felizes, pois agora posso ir para o Pai, que é maior do que eu. Disse-vos estas coisas antes de acontecerem para que, quando se realizarem, possam crer. Não tenho muito mais tempo para falar convosco, pois aproxima-se o chefe deste mundo. Ele não tem poder sobre mim. Mas o mundo deve saber que amo o Pai e que faço exatamente aquilo que o meu Pai me mandou fazer. Levantem-se! Vamos!” “Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o lavrador. Ele corta todos os ramos que não produzem fruto. E, aos que produzem, poda-os para que frutifiquem ainda mais. Ele já cuidou de vocês, podando-vos para que tenham mais vigor e utilidade, graças aos ensinamentos que vos dei. Tenham o cuidado de viver em mim e deixem-me viver em vocês. Porque um ramo não pode dar fruto quando separado da videira. Por isso, não poderão dar fruto afastados de mim. Sim, eu sou a videira e vocês são os ramos. Aquele que viver em mim e eu nele produzirá muito fruto. Pois sem mim nada podem fazer. Se alguém se separar de mim, será lançado fora por ser um ramo inútil; seca e é posto com todos os outros que serão depois queimados. Mas se continuarem em mim e obedecerem aos meus mandamentos, poderão pedir o que quiserem, que vos será concedido. Os meus verdadeiros discípulos produzem muito fruto, o que traz grande glória ao meu Pai. Amei-vos como o Pai me amou. Vivam no meu amor. Se guardarem os meus mandamentos estarão a viver no meu amor, assim como eu obedeço ao meu Pai e vivo no seu amor. Disse-vos isto para que possam encher-se da minha alegria. Sim, a vossa taça de alegria transbordará! Mando-vos que se amem uns aos outros como eu vos amei. E é esta a medida: o maior amor é mostrado quando alguém dá a vida pelos seus amigos. E vocês serão meus amigos se fizerem o que vos mando. Já não vos chamo criados, pois estes não acompanham o que faz o patrão. Vocês são meus amigos, e a prova disso é o facto de vos ter revelado tudo o que o Pai me disse. Não foram vocês que me escolheram, mas fui que vos escolhi e vos nomeei para irem e produzirem fruto, e fruto que perdure, para que o Pai vos dê tudo o que lhe pedirem em meu nome. É pois isto o que vos mando: que se amem uns aos outros! Se o mundo vos aborrece, primeiro me aborreceu a mim. O mundo amar-vos-ia se lhe pertencessem; mas vocês não lhe pertencem. Eu vos escolhi para sairem do mundo, e por isso o mundo vos odeia. Lembrem-se do que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor! Assim, visto que me perseguiram, também vos perseguirão. Se me tivessem escutado, também vos escutariam. A gente do mundo perseguir-vos-á por me pertencerem, pois não conhecem a Deus que me enviou. Se eu não tivesse vindo e não lhes tivesse falado, não seriam culpados. Mas agora o seu pecado não tem desculpa. Qualquer que me repudia, repudia também o meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles as coisas que mais ninguém fez, não seriam considerados culpados. Mas eles viram esses milagres, e mesmo assim aborreceram-nos, a mim e ao meu Pai. Assim se cumpriu o que está escrito na sua Lei: ‘Odeiam-me sem motivo.’ Contudo, mandar-vos-ei o Consolador, o Espírito da verdade. Ele virá desde o Pai e vos dirá tudo a meu respeito. E também vocês devem testemunhar de mim, porque têm estado comigo desde o princípio.” “Disse-vos estas coisas para que não se desviem. Porque serão expulsos das sinagogas. Aproxima-se o momento em que aqueles que vos matarem julgarão ter feito um serviço a Deus. Porque nunca conheceram nem o Pai nem a mim. Sim, digo-vos estas coisas agora para que, quando chegar o momento, se lembrem de que vos avisei. Não vos disse mais cedo, porque ia ainda estar convosco mais algum tempo. Agora, volto para aquele que me enviou, mas nenhum de vocês me pergunta para onde vou. Em vez disso, sentem apenas tristeza. Na verdade, é melhor que eu vá, porque se eu não for não virá o Consolador. Se eu for, ele virá, pois vou enviá-lo. E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, de que têm de contar com a justiça de Deus e de que haverá um juízo. O pecado do mundo é não crer em mim. Haverá justiça porque eu vou para o Pai e vocês não me verão mais. O juízo virá porque o chefe deste mundo já foi julgado. Ficam ainda tantas outras coisas que vos queria dizer, mas agora não as podem suportar! Mas quando o Espírito da verdade vier, ele vos guiará em toda a verdade. Ele não apresentará as suas próprias ideias, mas irá transmitir aquilo que ouviu. Ele vos revelará o futuro. Glorificar-me-á, pois recebê-la-á de mim e vo-la mostrará. Tudo quanto o Pai tem é meu e é isto que vos quero dizer ao afirmar que a receberá de mim e vo-la mostrará. Mais um pouco de tempo e terei partido, e não me tornarão a ver! Mais um pouco de tempo ainda e ver-me-ão de novo!” “Mas o que está ele a dizer?”, interrogavam-se os discípulos. “Que é isto quando ele diz: ‘Não me verão, mas mais tarde hão de ver-me’? Que quer dizer: ‘Eu vou para o Pai’? E o que significa: ‘Um pouco mais tarde’? Não entendemos!” Jesus percebeu que pretendiam que se explicasse melhor e disse: “Interrogam-se sobre o que quero dizer? É realmente como vos digo: num breve tempo partirei e não me verão mais. Então um pouco mais tarde, vocês me verão de novo. O mundo ficará feliz com o que me vai acontecer e vocês chorarão. Mas o vosso choro se transformará de súbito em alegria. É a mesma alegria que tem uma mulher quando nasce o seu filho, pois ao medo segue-se o encanto, e a dor fica esquecida. Agora estão desgostosos, mas eu tornarei a ver-vos, e então alegrar-se-ão; e essa alegria ninguém a poderá roubar. E naquele dia não precisarão de me pedir nada. É realmente como vos digo, para que o Pai vos dê tudo o que lhe pedirem em meu nome. Ainda não experimentaram fazê-lo; mas peçam, invocando o meu nome, e receberão, e terão alegria abundante. Falei-vos destas coisas por meio de parábolas, mas virá o momento em que isso não será necessário e de forma bem clara vos revelarei o Pai. Então poderão apresentar os vossos pedidos em meu nome. E não será preciso eu pedir ao Pai por vós; pois o Pai ama-vos muito por me amarem e crerem que venho dele. Sim, vim do Pai a este mundo e deixarei o mundo para voltar para o Pai!” “Até que enfim falas claramente e não por parábolas!”, reconheceram os discípulos. “Agora compreendemos que sabes tudo e sabes até o que precisamos de conhecer, sem te interrogarmos. Por isso, acreditamos que foi de Deus que vieste.” Jesus disse: “Acreditam finalmente? Mas virá o momento, e é agora, em que serão espalhados, cada um seguindo o seu próprio caminho, deixando-me só. No entanto, não estarei sozinho, porque o Pai está comigo! Disse-vos tudo isto para que tenham paz. Aqui na Terra terão muitos sofrimentos. Mas tenham coragem, porque eu venci o mundo!” Depois de ter falado em todas estas coisas, Jesus levantou o olhar para o céu e disse: “Pai, chegou a hora. Revela a glória do teu Filho para que ele te possa dar também glória a ti. Porque lhe deste autoridade sobre cada ser humano em toda a terra. Ele dá a vida eterna a todo aquele que tu lhe confiaste. E a vida eterna significa conhecer-te a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste ao mundo. Trouxe-te glória aqui na Terra fazendo o que me deste a fazer. E agora, Pai, dá-me a glória que eu tinha junto de ti, antes do mundo existir. Revelei-te a estes homens. Eles estavam no mundo, mas depois deste-mos. Foram sempre teus e tu deste-mos e têm obedecido à tua palavra. Agora sabem que tudo o que tenho provém de ti. Porque lhes transmiti as ordens que me deste; e eles aceitaram-nas e sabem de certeza que eu desci à Terra vindo de ti, e creem que me enviaste. Peço, não pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque te pertencem. E todos eles, uma vez que são meus, pertencem a ti também; e tu mos tornaste a dar com tudo o mais que é teu, e assim eles são a minha glória. Agora vou deixar o mundo e deixá-los também, para ir para junto de ti. Pai Santo, guarda sob o teu cuidado todos aqueles que me deste, para que permaneçam unidos, como nós estamos unidos. Durante o tempo que aqui estive, tenho conservado seguros em teu nome todos estes que me deste, guardando-os de modo que nenhum se perdeu, exceto aquele que tinha de perder-se, conforme predisseram as Escrituras. E agora vou para junto de ti. Disse-lhes muitas coisas, enquanto estive com eles, para que ficassem cheios da minha alegria. Dei-lhes a tua palavra. E o mundo quer-lhes mal, porque não se adaptam ao mundo, como eu também nele não tenho lugar. Não te peço que os tires do mundo, mas que os conserves a salvo do Maligno. Eles não são parte deste mundo, como também eu o não sou. Torna-os santos, ensinando-lhes as tuas palavras da verdade. Assim como me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo. E em benefício deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade. Não oro só por estes, mas também por todos os futuros crentes que venham a mim pelo testemunho que estes derem. E a minha oração por todos eles é que estejam unidos, como tu e eu o estamos, Pai. Para que, assim como estás em mim e eu em ti, também eles estejam em nós, para que o mundo acredite que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que possam ser um, como nós o somos. Eu neles e tu em mim, e tudo perfeito num só, para que o mundo saiba que me enviaste e compreenda que os amas tanto como tu me amas a mim. Pai, quero tê-los comigo, aqueles que me deste, para que possam ver a minha glória. Essa glória que tu me deste, por me amares antes do princípio do mundo. Pai justo, o mundo não te conhece, mas eu conheço-te e estes discípulos sabem que me enviaste. Revelei-lhes o teu nome e continuarei a revelar-lho, para que o amor que tens por mim esteja neles e eu neles esteja também.” Depois de dizer estas coisas, Jesus atravessou o vale de Cedron com os discípulos e entrou num olival. Um local conhecido de Judas, o traidor, por Jesus ali ter ido muitas vezes com os discípulos. Os principais sacerdotes e fariseus tinham dado a Judas um destacamento de soldados e guardas que o acompanharam. Chegaram ao olival à luz de archotes e lanternas, e de armas na mão. Jesus sabia bem tudo o que lhe ia acontecer e, avançando ao encontro deles, perguntou: “Quem procuram?” “Jesus de Nazaré”, responderam. “Sou eu!”, disse Jesus. Judas estava ali com eles quando Jesus se identificou. Quando Jesus disse: “Sou eu!”, todos recuaram e caíram por terra. Uma vez mais lhes perguntou: “Quem procuram?” “Jesus de Nazaré.” “Já vos disse que sou eu”, disse-lhes Jesus. “Uma vez que é a mim que procuram, deixem estes outros ir embora.” Procedeu assim em cumprimento daquilo que tinha dito, havia pouco tempo, quando orava: “Não perdi um único daqueles que me deste.” Então Simão Pedro puxou de uma espada e cortou a orelha direita de Malco, servo do sumo sacerdote. Porém, Jesus disse a Pedro: “Guarda a espada! Não devo eu beber o cálice que o meu Pai me deu?” Os guardas dos judeus e os soldados, mais o comandante, prenderam Jesus e amarraram-no. E levaram-no primeiro a Anás, sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano. Fora Caifás quem dissera aos outros anciãos: “É preferível que morra um único homem pelo povo.” Simão Pedro seguiu-os, assim como um outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote. Por isso, esse outro discípulo foi autorizado a entrar no pátio juntamente com Jesus, enquanto que Pedro ficou fora do portão. O outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, voltou e falou à criada que guardava o portão, e esta deixou Pedro entrar. A criada perguntou a Pedro: “Não és um dos discípulos de Jesus?” “Não, não sou!”, respondeu. Os guardas e os criados estavam à volta de uma fogueira que tinham feito, pois o tempo ia frio. Pedro encontrava-se com eles, a aquecer-se. Lá dentro, o sumo sacerdote começou a interrogar Jesus acerca dos seus discípulos e do que lhes andara a ensinar. Jesus respondeu: “O que tenho ensinado é bem conhecido, pois preguei com regularidade nas sinagogas e no templo. Todos os judeus me ouviram e nada ensinei em particular que não tivesse já dito em público. Aliás, porque me fazes tal pergunta? Interroga aqueles que me ouviram. Alguns estão aqui e sabem o que eu disse.” Um dos soldados que ali se encontrava deu-lhe uma bofetada: “É assim que respondes ao sumo sacerdote?” “Se menti, prova-o!”, replicou Jesus. “Se não, porque me feres?” Então Anás enviou Jesus amarrado, a Caifás, o sumo sacerdote. Entretanto, estando Simão Pedro junto à fogueira, tornaram a perguntar-lhe: “Não és um dos seus discípulos?” “Não sou, não!”, disse Pedro. Mas um dos criados da casa do sumo sacerdote, parente do homem cuja orelha Pedro tinha cortado, perguntou: “Não foi a ti que eu vi no olival com Jesus?” Uma vez mais, Pedro negou. E imediatamente cantou um galo. O julgamento de Jesus na presença de Caifás só acabou de madrugada. Levaram-no em seguida para o palácio do governador romano. Os seus acusadores não podiam entrar, porque isso os tornaria impuros, segundo diziam, impedindo-os de comer o cordeiro pascal. Assim, Pilatos, que era o governador, saiu ao encontro deles e perguntou: “Que queixa têm contra este homem?” “Se não fosse malfeitor não to teríamos trazido”, retorquiram. “Pois então levem-no e julguem-no vocês mesmos de acordo com a vossa Lei!”, tornou-lhes Pilatos. “Mas queremos que seja morto e nós não podemos fazê-lo”, replicaram os judeus. Assim se cumpriu a predição de Jesus acerca do modo como haveria de morrer. Pilatos voltou para dentro do palácio e mandou que lhe levassem Jesus. “És o rei dos judeus?”, perguntou-lhe. Jesus replicou: “Perguntas isso de ti mesmo ou são outros que o querem saber?” “Sou porventura judeu?”, replicou Pilatos. “O teu povo e os principais sacerdotes é que te trouxeram aqui. Que fizeste?” Então Jesus respondeu: “Não sou um rei terreno. Se o fosse, os meus discípulos teriam lutado, quando os judeus me prenderam. Mas o meu reino não é deste mundo.” “Então és rei?”, perguntou Pilatos. Jesus respondeu: “Tens razão em dizer que sou rei. De facto, foi para isso que nasci. E vim para trazer a verdade ao mundo. Todos os que amam a verdade escutam a minha voz.” “O que é a verdade?”, perguntou Pilatos. Tornando a sair ao povo, anunciou: “Ele não é culpado de crime algum. Todavia, é vosso costume pedir-me que solte alguém da prisão todos os anos pela Páscoa.” E perguntou: “Então, não querem que vos solte o rei dos judeus?” Mas eles, em alta gritaria, responderam: “Não! Não soltes este, mas sim Barrabás!” Barrabás era um salteador. Então Pilatos mandou açoitar Jesus. Os soldados fizeram uma coroa de espinhos e colocaram-lha na cabeça, vestindo-lhe um manto cor de púrpura. “Viva, ó rei dos judeus!” E batiam-lhe. Pilatos apareceu de novo: “Vou tornar a trazê-lo, mas que fique bem entendido que não o acho culpado de coisa nenhuma.” Jesus surgiu com uma coroa de espinhos e uma túnica cor de púrpura. Pilatos disse: “Eis o Homem!” Ao vê-lo, os principais sacerdotes e os guardas do templo começaram a gritar: “Crucifica-o! Crucifica-o!” “Levem-no e crucifiquem-no vocês”, disse Pilatos, “que eu não acho que seja culpado de nada.” Os judeus responderam-lhe: “Pela nossa Lei deve morrer, porque se intitulou Filho de Deus.” Quando Pilatos ouviu isto, ficou mais assustado do que nunca. Tornando a levar Jesus para dentro do palácio, perguntou-lhe: “De onde és tu?” Mas Jesus não deu resposta. “Não queres dizer nada?”, insistiu Pilatos. “Não compreendes que tenho poder para te soltar ou para te crucificar?” Jesus disse: “Não terias poder nenhum sobre mim se não te tivesse sido dado do alto. Por isso, ainda maior é o pecado de quem me trouxe aqui.” Pilatos tentou ainda soltá-lo, mas os judeus avisaram-no: “Se soltares esse homem, não és amigo de César. Quem se proclama rei é culpado de rebelião contra César!” Perante estas palavras, Pilatos tornou a levar-lhes Jesus e presidiu à sessão do tribunal, na plataforma de lajes, que em hebraico se chama Gabatá. Era agora cerca do meio-dia da véspera da Páscoa. E Pilatos disse aos judeus: “Aqui têm o vosso rei!” “Fora com ele!”, clamavam. “Fora com ele! Crucifica-o!” “O quê? Crucificar o vosso rei?”, perguntou Pilatos. “Não temos outro rei senão o César”, gritaram os principais sacerdotes. Então Pilatos entregou-lhes Jesus para ser crucificado. Pegaram nele e levaram-no para fora da cidade. Carregando a cruz, Jesus foi para o local a que chamavam “Lugar da Caveira” (em hebraico, Gólgota). Ali o crucificaram na companhia de dois outros homens, um de cada lado. E Pilatos pôs por cima dele uma tabuleta que dizia: jesus de nazaré, rei dos judeus. Muitos judeus puderam ler estes dizeres, porque o sítio onde Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. A tabuleta estava escrita em hebraico, latim e grego. Os principais sacerdotes disseram a Pilatos. “Muda a frase de modo que, em vez de ‘rei dos Judeus’, fique o que ele disse de si: ‘Eu sou o rei dos Judeus.’ ” Mas Pilatos respondeu: “O que escrevi, escrevi.” Depois de crucificarem Jesus, os soldados fizeram quatro lotes com a sua roupa, um para cada um deles. Mas disseram: “Não rasguemos a túnica!”, porque não tinha costura. “Lancemos sortes para ver quem fica com ela.” Assim se cumpriu a profecia das Escrituras: “Repartem a minha roupa entre si e tiram à sorte a minha túnica.” Ora, assim fizeram os soldados. Junto à cruz, estavam a mãe de Jesus, a sua tia Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu a sua mãe ali de pé, junto ao discípulo a quem ele amava, disse-lhe: “Ele é teu filho!” E ao discípulo: “Ela é tua mãe!” E a partir daquele momento este discípulo recolheu-a em sua casa. Jesus sabia que estava já tudo acabado e, para cumprir as Escrituras, disse: “Tenho sede!” Encontrava-se ali pousado um recipiente com vinho azedo; mergulharam nele uma esponja e, colocando-a num hissopo, aproximaram-lha dos lábios. Depois de o ter provado, Jesus disse: “Está acabado!” E curvando a cabeça, entregou o espírito. Os anciãos não queriam que as vítimas continuassem ali penduradas no dia seguinte, que era sábado, mas um sábado especial, por ser o da Páscoa. Por isso, pediram a Pilatos que lhes mandasse partir as pernas e já poderiam ser apeados. Assim os soldados vieram e partiram as pernas dos dois que tinham sido crucificados com Jesus. Mas quando se aproximaram dele, viram que já estava morto e não lhas quebraram. Mesmo assim, um dos soldados ainda lhe atravessou o lado com uma lança, saindo sangue e água da ferida. Eu próprio assisti a tudo isto e escrevi este relato exato, para que também vocês possam crer. Os soldados fizeram isto em cumprimento da passagem das Escrituras que diz: “Nem um dos seus ossos será quebrado.” E também: “Olharão para aquele a quem trespassaram.” Depois disto, José de Arimateia, que fora discípulo secreto de Jesus, com medo dos judeus, pediu a Pilatos que autorizasse a descida do corpo. Pilatos deixou e ele levou o corpo. Nicodemos, o homem que procurara Jesus de noite, veio também, trazendo uns trinta e cinco quilos de unguento feito de mirra e aloés. Os dois envolveram o corpo de Jesus em lençóis de linho embebidos em perfumes, de acordo com o costume judaico de enterramento. O local da crucificação ficava perto de um jardim onde havia um túmulo novo que nunca fora usado. E assim, devido à necessidade de se apressarem antes que chegasse o sábado, e também por o túmulo ficar perto, colocaram ali o corpo. Na madrugada de domingo, fazendo ainda escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e viu que a pedra tinha sido afastada da entrada. Correu logo a buscar Simão Pedro e o outro discípulo, por quem Jesus tinha muita afeição, e disse: “Levaram do túmulo o corpo do Senhor e não sei onde o puseram!” Pedro e o outro discípulo correram ao túmulo para ver. O companheiro, mais veloz do que Pedro, chegou primeiro. Curvando-se, espreitou e viu os lençóis abandonados, mas não entrou. Depois, chegou Simão Pedro e entrou no túmulo, reparando também no lençol ali caído. No entanto, a ligadura que cobrira a cabeça de Jesus encontrava-se dobrada a um canto. Então, também o outro discípulo entrou e creu. Porque até ali não se tinham apercebido de que as Escrituras diziam que ele tornaria a viver. E os discípulos voltaram para casa. Maria regressou ao túmulo, ficando do lado de fora a chorar. Enquanto chorava, espreitou para dentro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados à cabeceira e aos pés do local onde estivera o corpo de Jesus. “Porque choras?”, perguntaram-lhe os anjos. “Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram!” Então reparou que alguém estava atrás de si. Era Jesus, mas não o reconheceu. “Porque choras?”, perguntou ele. “Quem procuras?” Ela pensava que fosse o jardineiro: “Se foste tu que o levaste, mostra-me onde o puseste que eu vou buscá-lo.” “Maria!”, disse Jesus. Ela voltou-se para ele: “Raboni!”, que quer dizer: “Meu Mestre!” “Não me toques”, disse Jesus, “porque ainda não subi para meu Pai. Mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” Maria Madalena procurou os discípulos e disse-lhes: “Vi o Senhor!”, dando-lhes em seguida este recado. Naquela noite, encontravam-se os discípulos reunidos à porta fechada, com medo dos judeus, quando Jesus surgiu no meio deles, saudando-os: “A paz seja convosco!” Depois de saudar os discípulos, mostrou-lhes as mãos e o lado. E qual não foi a alegria deles ao verem o Senhor! Ele tornou a falar-lhes: “A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio!” E soprando sobre eles, acrescentou: “Recebam o Espírito Santo! Se perdoarem a alguém os seus pecados, perdoados ficam. Se se recusarem a perdoá-los, ficarão por perdoar.” Um dos discípulos, Tomé (o Gémeo), não se encontrava ali com os outros. Mais tarde, quando os outros discípulos lhe contaram: “Vimos o Senhor!”, ele replicou: “Não acredito, a não ser que veja as feridas dos pregos nas suas mãos, ponha nelas os meus dedos e toque com a minha mão na ferida do seu lado.” Passados oito dias, os discípulos estavam outra vez juntos. Nessa ocasião encontrava-se Tomé também presente. As portas estavam fechadas mas, tal como antes, Jesus apareceu no meio deles e disse: “Paz seja convosco!” Depois disse a Tomé: “Coloca o dedo nas feridas das minhas mãos e a tua mão no meu lado. Não sejas descrente. Acredita!” “Meu Senhor e meu Deus!”, exclamou Tomé. Então Jesus observou: “Crês porque me viste! Felizes os que não me viram e, mesmo assim, creem.” Os discípulos de Jesus viram-no realizar muitos outros sinais além dos registados neste livro. Estes vêm aqui descritos para que creiam que ele é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida em seu nome. Mais tarde, Jesus tornou a aparecer aos discípulos junto ao Tiberíades. Eis como tudo se passou: Estava lá um grupo formado por Simão Pedro, Tomé (o Gémeo), Natanael de Caná na Galileia, os filhos de Zebedeu, e outros dois discípulos. Simão Pedro disse: “Vou à pesca.” “Também nós!”, responderam todos. Assim fizeram, mas nada apanharam toda a noite. Ao romper do dia, avistaram um homem de pé na praia, mas os discípulos não conseguiram ver quem seria. “Amigos, apanharam algum peixe?”, perguntou-lhes. “Não!”, responderam. Então ele disse: “Lancem a rede do lado direito do barco e apanharão bastante!” Assim foi e nem sequer conseguiam puxar a rede, devido ao peso do peixe, pela sua abundância. Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” Ao ouvir isto, Simão Pedro vestiu a roupa que tinha despido e saltou para dentro da água. Os outros discípulos continuaram no barco e puxaram a rede carregada até à praia, a cerca de cem metros de distância. Quando lá chegaram, viram uma fogueira com peixe em cima; também havia pão. “Tragam-me do peixe que acabaram de apanhar”, disse-lhe Jesus. Simão Pedro foi e puxou a rede para terra. Pela sua contagem, havia cento e cinquenta e três peixes grandes, sem que, contudo, a rede se tivesse rompido. “Agora venham comer!” E nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-lhe se era realmente ele, o Senhor, pois no fundo sabíamos bem que sim. Jesus começou então a servir-lhes pão e peixe. Foi esta a terceira vez que Jesus apareceu aos discípulos depois da sua ressurreição. Terminando a refeição, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?” “Sim!”, respondeu Pedro. “Sabes que eu te amo!” Jesus disse-lhe: “Então alimenta os meus cordeiros.” Jesus repetiu a mesma pergunta: “Simão, filho de João, amas-me?” “Sim, Senhor!”, disse Pedro. “Sabes que eu te amo!” “Então, pastoreia as minhas ovelhas.” Uma vez mais lhe perguntou: “Simão, filho de João, amas-me?” Pedro sentiu-se magoado por Jesus o ter questionado pela terceira vez: “Senhor, tu conheces tudo e sabes que eu te amo.” Jesus insistiu: “Toma conta das minhas ovelhas. Presta bem atenção: Quando eras novo, fazias o que te apetecia e ias para onde querias. Porém, quando fores velho, estenderás as mãos e outros te guiarão e levarão para onde não queres ir.” Jesus disse-lhe isto para que soubesse como iria morrer para glória de Deus. Depois acrescentou: “Segue-me!” Pedro voltou-se e viu que os seguia o discípulo que Jesus amava; aquele que se curvara na ceia para perguntar a Jesus: “Mestre, quem é aquele que te vai trair?” Pedro perguntou a Jesus: “E que será deste, Senhor?” Jesus respondeu: “Se eu quiser que ele viva até ao meu regresso, que te importa isso? Segue-me tu!” Foi assim que se espalhou entre os crentes a ideia de que esse discípulo jamais morreria. No entanto, não foi o que Jesus disse, mas apenas: “Se eu quiser que ele viva até que eu venha, que te importa isso?” Esse discípulo sou eu! Assisti a estes acontecimentos que aqui vos deixo registados. E todos sabem que o meu relato é exato. Suponho porém que, se todos os outros acontecimentos da vida de Jesus fossem escritos, nem no mundo inteiro caberiam todos os livros que se escrevessem! Teófilo, No meu primeiro livro, falei-te de tudo quanto Jesus começou a fazer e a ensinar, até ao dia em que, depois de ter dado instruções pelo Espírito Santo aos apóstolos que escolheu, foi levado para o céu. Durante os quarenta dias que se seguiram à sua crucificação, apareceu diversas vezes, vivo, sem sombra de dúvida, aos apóstolos, a quem provou de muitas maneiras ser realmente ele aquele que viam. E nessas ocasiões falou-lhes no reino de Deus. Num desses encontros, enquanto tomava uma refeição com eles, Jesus disse-lhes: “Não saiam de Jerusalém, mas esperem o cumprimento da promessa do Pai, de que vocês me ouviram falar. João batizou-vos com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias.” Então, os que se encontravam com ele perguntaram-lhe: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino de Israel?” “É o Pai quem determina os tempos e as ocasiões”, respondeu-lhe, “e não vos compete conhecê-los. Mas quando o Espírito Santo tiver descido sobre vocês, receberão poder e serão minhas testemunhas ao povo de Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos extremos da Terra.” Dito isto, Jesus foi elevado e uma nuvem o tomou, à vista deles. E estavam eles a segui-lo com os olhos enquanto subia ao céu quando, de súbito, apareceram no meio deles dois homens vestidos de branco, que disseram: “Homens da Galileia, porque estão aí de olhos postos no céu? Jesus foi para o céu e um dia voltará tal como o viram partir!” Isto aconteceu quando se encontravam no monte das Oliveiras. Regressando a Jerusalém, que ficava quase a um quilómetro de distância, foram para uma sala no andar superior da casa onde estavam a ficar. Estavam ali: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão (a quem também chamavam o Zelota) e Judas, filho de Tiago. Todos se reuniam constantemente em oração e no mesmo espírito, juntamente com Maria, a mãe de Jesus, várias outras mulheres e os irmãos de Jesus. Por esta altura, numa ocasião em que estavam presentes cerca de cento e vinte pessoas, Pedro levantou-se no meio dos irmãos e disse-lhes o seguinte: “Irmãos, era necessário que se cumprissem as Escrituras acerca de Judas, que servia de guia para aqueles que prenderam Jesus, pois isso já tinha sido anunciado há muito pelo Espírito Santo, falando através do rei David. Judas foi um dos nossos e, como nós, escolhido para ser apóstolo. (Com o dinheiro que recebeu como paga da traição, comprou um campo, onde se suicidou, rompendo-se-lhe as entranhas. A notícia da sua morte depressa se espalhou por Jerusalém, tanto que o povo deu ao local o nome de Alcedamá, que na sua língua significa Campo de Sangue.) A predição do rei David acerca deste acontecimento vem no Livro dos Salmos, onde se diz: ‘Que a sua casa fique deserta, sem ninguém que nela habite’, e ainda: ‘que venha outro tirar-lhe o trabalho.’ Agora temos de escolher, em lugar de Judas, um homem dentre aqueles que estiveram connosco todo o tempo em que o Senhor Jesus andou entre nós, desde o seu batismo, por João, até ao dia em que foi levado do nosso meio para o céu. Esse homem deve juntar-se a nós, para ser testemunha da sua ressurreição.” A assembleia apontou dois homens: José Justo (também chamado Barsabás) e Matias. Depois oraram: “Senhor, tu conheces os corações de todos; indica-nos qual destes dois homens escolheste como apóstolo para substituir Judas, que foi para o lugar que merecia.” Tiraram então sortes, tendo estas caído sobre Matias, que passou a ser apóstolo com os outros onze. Chegado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, vindo dos céus, ouviu-se um som semelhante ao rugido de um furacão, que encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram então línguas como que de fogo que pousaram sobre as suas cabeças. E todos os presentes ficaram cheios do Espírito Santo, começando a falar línguas que desconheciam, conforme o poder que o Espírito Santo lhes dava. Encontravam-se naquele dia em Jerusalém, para assistir às celebrações religiosas, muitos judeus piedosos vindos de todas as nações do mundo. Ao ouvir-se aquele rugido, o povo acorreu para ver o que se passava, e todos ficaram pasmados, pois cada um ouvia os discípulos falar na sua própria língua. Atónitos e admirados, interrogavam-se: “Como é que isto pode ser? Estes homens não são da Galileia? Como é que os ouvimos falar nas línguas dos países onde nascemos? Estamos aqui, partos, medos, elamitas, gente da Mesopotâmia, Judeia, Capadócia, Ponto, Ásia, Frígia, Panfília, Egito, terras da Líbia perto de Cirene, forasteiros vindos de Roma, (tanto judeus como convertidos ao judaísmo), cretenses e árabes. Todos ouvimos estes homens contar nas nossas diversas línguas os poderosos milagres de Deus!” E ficaram atónitos, sem saber o que pensar, perguntando uns aos outros: “Que quer isto dizer?” Mas também havia quem troçasse: “Beberam demais!” Então Pedro, avançando com os onze apóstolos, falou à multidão: “Escutem, homens da Judeia e moradores de Jerusalém! Há quem esteja por aí a dizer que estes homens se embriagaram! Não é verdade! São apenas nove horas da manhã! Aquilo a que acabam de assistir foi predito há séculos pelo profeta Joel: ‘Nos últimos dias, disse Deus, derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões e os vossos velhos sonhos. Derramarei o meu Espírito, mesmo sobre os meus servos e servas, naqueles dias, e profetizarão. Farei aparecer maravilhas no céu, lá no alto e sinais na Terra, cá em baixo, sangue, fogo e colunas de fumo. O Sol escurecerá e a Lua ficará vermelha como o sangue, antes de vir o grande e terrível dia do Senhor. E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.’ Gente de Israel, ouçam! Deus deu testemunho público de Jesus de Nazaré com os espantosos milagres que através dele realizou, como bem sabem. Mas, de acordo com o seu plano, deixou que se servissem de mãos de injustos para o pregarem na cruz e o assassinarem. Porém, Deus libertou-o dos horrores da morte, trazendo-o de novo à vida, pois a morte não poderia ter prendido este homem. Já o rei David tinha dito estas palavras referindo-se a Jesus: ‘Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim. E, visto que ele está ao meu lado, não serei movido. Portanto o meu coração está alegre e a minha alma está satisfeita. O meu corpo repousará em esperança. Porque sei que não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo conheça a corrupção. Deste-me a conhecer os caminhos da vida e as abundantes alegrias que há na tua presença.’ Irmãos, permitam que vos diga isto com toda a clareza: o nosso antepassado David não se referia a si próprio, pois morreu e foi sepultado, e o seu túmulo ainda está entre nós! Mas era profeta e sabia que Deus tinha prometido com juramento que um dos seus descendentes seria o Cristo e se sentaria no seu trono. David previa e anunciava a ressurreição de Cristo, dizendo dele que a sua alma não seria deixada no inferno e que o seu corpo não conheceria a corrupção. Referia-se, pois, a Jesus, e todos nós somos testemunhas de que Deus o ressuscitou dos mortos; encontrando-se agora à direita de Deus. E cumprindo a promessa que fizera, o Pai deu-lhe autoridade para enviar o Espírito Santo, com os resultados que hoje estão a ver e a ouvir. Não, David nunca subiu aos céus. Ele próprio afirmou: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: “Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.” ’ Portanto, declaro a todos em Israel que Deus fez deste Jesus, que vocês crucificaram, o Senhor e o Cristo!” Estas palavras de Pedro causaram tão grande convicção que o povo lhe disse a ele e aos outros apóstolos: “Irmãos, que devemos fazer?” E Pedro respondeu: “Cada um deve arrepender-se do seu pecado, converter-se a Deus e ser batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E então receberão também este dom do Espírito Santo. Pois Cristo prometeu-o a todos quantos ouvirem a chamada do Senhor nosso Deus, tanto vocês como os vossos filhos, e até os que estão em terras distantes!” Pedro continuou com persuasão a falar-lhes de Jesus, e insistia para que se salvassem, se livrassem dos males do seu tempo. Aqueles que creram nas palavras de Pedro foram batizados; cerca de três mil ao todo. E juntaram-se aos outros crentes, participando regularmente no ensino administrado pelos apóstolos, na união fraterna, no partir do pão e nas orações. Todos sentiam profundo temor e respeito e os apóstolos faziam muitos sinais. Os crentes encontravam-se constantemente e repartiam tudo uns com os outros, vendendo os seus bens e pertences, e partilhavam o produto por todos, segundo a necessidade de cada um. Cada dia adoravam juntos no templo; reuniam-se em pequenos grupos familiares para celebrar a comunhão, e tomavam as refeições juntos, com grande alegria e gratidão, louvando Deus. A cidade inteira via-os com bons olhos e todos os dias Deus ia acrescentando ao seu número aqueles que se salvavam. Certa tarde, Pedro e João foram ao templo para a oração, às três horas da tarde. E viram um homem coxo de nascença transportado por outros para ser deixado junto de uma porta do templo, chamada porta Formosa, como acontecia todos os dias, para pedir esmola. Quando Pedro e João iam a passar, o homem pediu-lhes esmola. Eles olharam-no com atenção e Pedro, por fim, disse-lhe: “Olha para nós!” O coxo fitou-os, na esperança da esmola. Mas Pedro continuou: “Não tenho prata nem ouro para te dar! Mas aquilo que tenho te dou: em nome de Jesus Cristo de Nazaré, levanta-te e anda!” E pegando no coxo pela mão direita ajudou-o a levantar-se. Ao fazê-lo, os ossos dos pés e artelhos fortaleceram-se. Erguendo-se de um salto, ficando de pé, o homem começou a caminhar! E andando, saltando e dando louvores a Deus, entrou no templo com eles. Quando o povo o viu andar, o ouviu louvar Deus, e se apercebeu de que era o mesmo pedinte coxo que tantas vezes encontravam na porta Formosa, a surpresa foi enorme. Todos correram ao Alpendre de Salomão, onde se conservava junto de Pedro e João, e não houve quem não ficasse pasmado com aquilo que de tão maravilhoso acontecera. Aproveitando a oportunidade, Pedro dirigiu-se à multidão: “Homens de Israel, que tem isto assim de tão espantoso? E porque nos olham como se tivéssemos sido nós que, pelo nosso poder ou santidade, tivéssemos feito com que este homem andasse? Foi o Deus de Abraão, de Isaque, de Jacob e de todos os nossos antepassados quem trouxe glória ao seu servo Jesus através deste ato. Estou a falar daquele a quem rejeitaram perante Pilatos, apesar de este ter decidido pô-lo em liberdade. Mas vocês não queriam liberto esse homem santo e justo; em vez disso, pediram que fosse solto um assassino. Mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou. Somos testemunhas disso! Foi o nome de Jesus que curou este homem e sabem como dantes era coxo. A fé no nome de Jesus, fé que nos vem de Deus, é que produziu esta cura perfeita. Irmãos, compreendo que aquilo que fizeram a Jesus foi por ignorância e o mesmo se pode dizer dos vossos líderes. Mas Deus estava a dar cumprimento ao que fora predito por intermédio dos profetas, segundo as quais o Cristo teria de padecer todas estas coisas. Agora, porém, arrependam-se e voltem-se para ele, para que vos purifique dos vossos pecados e vos mande tempos de renovação pela presença do Senhor, e para que vos envie Jesus Cristo. Ele deverá continuar no céu até que chegue o tempo de Deus restaurar todas as coisas, de acordo com o que ele declarou desde os tempos antigos, por intermédio dos seus santos profetas. Moisés disse há muito: ‘O Senhor, vosso Deus, levantará entre os vossos irmãos um profeta semelhante a mim. Ouçam tudo o que ele vos disser. Toda a pessoa que não escutar esse profeta perecerá, excluída do povo.’ Samuel e todos os profetas que lhe sucederam falaram do que está a acontecer hoje. Vocês são os filhos destes mesmos profetas e estão abrangidos pela aliança que Deus fez aos vossos antepassados, ao dizer a Abraão: ‘Na tua descendência todas as nações da Terra serão abençoadas.’ Quando Deus elegeu o seu Servo, enviou-o em primeiro lugar a vocês, homens de Israel, para vos abençoar, desviando-vos das vossas maldades.” Enquanto assim falavam ao povo, chegaram os sacerdotes, o comandante da guarda do templo e os saduceus, muito preocupados por Pedro e João ensinarem o povo, pela autoridade de Jesus, que há ressurreição dos mortos. Prenderam-nos e, uma vez que já era noite, meteram-nos na cadeia, aguardando o dia seguinte. Mas muitas das pessoas que tinham ouvido a sua mensagem acreditaram nela. Em consequência, o número de crentes passou para cerca de 5000, contando só os homens! No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém os líderes, os anciãos e especialistas na Lei, Anás o sumo sacerdote, Caifás, João, Alexandre e todos quantos havia da linhagem do sumo sacerdote. E, pondo-os no meio, perguntaram: “Com que poder ou com que autoridade fizeram uma coisa destas?” Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: “Líderes e anciãos do povo: se se referem ao bem praticado naquele coxo que foi curado, deixem que vos diga claramente, a vós e a todo o povo de Israel que tal ato foi feito em nome e pelo poder de Jesus de Nazaré, o Cristo, o homem que crucificaram, mas que Deus ressuscitou. É pela sua autoridade que este se encontra aqui curado! Pois Jesus é: ‘A pedra que vocês, os construtores, rejeitaram veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício!’ Em mais ninguém há salvação! Debaixo do céu não há outro nome que as pessoas possam invocar para serem salvas.” Quando os membros do conselho viram a coragem de Pedro e João, e perceberam que eram pessoas sem instrução, ficaram pasmados, reconhecendo que tinham realmente estado com Jesus. E como poderiam pôr em dúvida aquela cura quando o antigo coxo se encontrava ali de pé? Mandaram-nos então sair da sala do conselho e puseram-se a discutir o caso entre si. “Que vamos fazer com estes homens?”, perguntavam uns aos outros. “Não podemos negar que realizaram um sinal assinalável e toda a gente em Jerusalém tem conhecimento dele. Mesmo assim, talvez possamos impedi-los de espalhar a sua propaganda. Vamos ameaçá-los, para que não tornem a falar do nome de Jesus a ninguém.” Assim, voltaram a chamá-los e ordenaram-lhes que nunca mais mencionassem nem ensinassem no nome de Jesus. Contudo, Pedro e João responderam: “Acham justo que obedeçamos antes às vossas ordens do que às de Deus? Não podemos deixar de falar no que Jesus fez e disse na nossa presença.” O conselho ameaçou-os ainda mais, mas por fim deixou-os ir embora, porque não sabia como castigá-los sem provocar uma revolta, pois toda a gente glorificava Deus pelo que tinha acontecido. O homem que fora curado por meio daquele sinal tinha mais de quarenta anos. Logo que se viram em liberdade, Pedro e João foram ter com os outros discípulos e contaram-lhes o que lhes disseram os principais sacerdotes e os anciãos. Então todos os crentes, unidos, fizeram esta oração: “Ó soberano, que fizeste o céu, a Terra, o mar e tudo quanto há neles, falaste há muito tempo pelo Espírito Santo, por meio do nosso antepassado, o rei David, teu servo, dizendo: ‘Porque se revoltam os povos? Porque elaboram eles planos vãos? Os reis da Terra reúnem-se com os líderes, para conspirarem contra o Senhor e contra o seu Messias!’ Foi o que verdadeiramente aconteceu, pois o rei Herodes e Pôncio Pilatos e as nações, além do povo de Israel, reuniram-se nesta cidade contra Jesus, o teu santo Servo, que tu ungiste. Mas não fizeram mais do que aquilo que, no teu poder e vontade, determinaste que fizessem. Agora, Senhor, escuta as suas ameaças e concede aos teus servos ousadia na pregação. Estende a tua mão para curar e realizar sinais e maravilhas pelo nome do teu santo Servo Jesus!” Depois desta oração o edifício em que se encontravam reunidos estremeceu e todos foram cheios do Espírito Santo, pregando corajosamente a palavra de Deus. Todos os crentes tinham um só coração e um só espírito, e ninguém considerava seu o que lhe pertencia, repartindo os haveres uns com os outros. Os apóstolos davam testemunhos poderosos acerca da ressurreição do Senhor Jesus. Havia, sob a bênção de Deus, uma atitude de grande estima da parte de todos para com eles. Não se sabia o que era a pobreza, pois quem tinha terras ou casas vendia-as, levando o produto da venda para o entregarem aos apóstolos, e distribuíam-no segundo a necessidade de cada um. Foi o caso de José, um levita de Chipre, a quem os apóstolos puseram o nome de Barnabé, que quer dizer “filho do consolo”. Este vendeu um campo e entregou o dinheiro obtido aos apóstolos. Houve também um homem chamado Ananias que, com sua mulher Safira, vendeu uns bens que possuía. E só entregou parte do dinheiro aos apóstolos, dizendo que era o seu preço total, e isto com a cumplicidade da mulher. Mas Pedro disse-lhe: “Ananias, porque entrou Satanás no teu coração? Quando disseste que este era o preço total, estavas a mentir ao Espírito Santo. A propriedade que tinhas podias vendê-la ou não, conforme quisesses. E depois de a vender, o dinheiro era teu. Porque determinaste no teu coração fazer uma coisa destas? Não foi a nós que mentiste, mas a Deus!” Ao ouvir estas palavras, Ananias caiu morto no chão. Toda a gente que soube disto ficou atemorizada. Então alguns jovens cobriram-no com um lençol e levaram-no para o enterrar. Passadas cerca de três horas, chegou a mulher, que não sabia do sucedido. Pedro perguntou-lhe: “Diz-me: foi por este preço assim que venderam o vosso terreno?” “Sim, foi!”, respondeu-lhe ela. E Pedro disse: “Porque puderam então, tu e o teu marido, fazer uma coisa destas para tentar o Espírito Santo? Olha, ali mesmo à porta estão os jovens que foram enterrar o teu marido e que te vão levar a ti também.” Imediatamente tombou morta no chão. Os mesmos jovens entraram e, vendo que tinha morrido, levaram-na e enterraram-na ao lado do marido. Um grande temor se apossou da igreja inteira e de todos os que souberam do sucedido. Entretanto, os apóstolos faziam muitos sinais e maravilhas entre o povo e os crentes reuniam-se regularmente no templo, no local conhecido como Alpendre de Salomão. Ninguém mais se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo tinha-os na maior consideração. E cada vez mais pessoas criam no Senhor, uma multidão de homens e mulheres. Como resultado do trabalho dos apóstolos, chegavam a levar os doentes para a rua deitados em camas e esteiras, para que ao menos a sombra de Pedro lhes tocasse, quando o apóstolo por ali passasse! E também dos arredores de Jerusalém vinham pessoas que traziam os enfermos e os possessos pelos espíritos impuros, e todos eram curados. O sumo sacerdote, mais os seus amigos, que eram saduceus, sentiam tanta inveja que acabaram por prender os apóstolos, metendo-os na prisão. De noite, porém, veio um anjo do Senhor que, abrindo os portões da cadeia e trazendo os presos para a rua, lhes disse: “Vão para o templo e preguem ao povo tudo acerca desta vida nova.” Os apóstolos obedeceram e dirigiram-se de madrugada para o templo, onde se puseram a ensinar. Entretanto, o sumo sacerdote e a sua comitiva chegaram e convocaram o conselho judaico, juntamente com a assembleia dos anciãos de Israel, e mandaram que os apóstolos fossem trazidos da prisão, a fim de serem julgados. Mas, quando os guardas chegaram ao cárcere, os presos já lá não estavam, pelo que, regressando ao conselho, disseram: “Encontrámos as portas da prisão fechadas com toda a segurança e os guardas vigiando no exterior, mas quando abrimos os portões não havia ninguém lá dentro!” Ao ouvir isto, o chefe da guarda do templo e os principais sacerdotes ficaram perplexos, sem saber o que acontecera, nem no que tudo aquilo iria dar. Até que chegou alguém com a notícia: “Os homens que os senhores meteram na prisão encontram-se aqui mesmo, no templo, e estão a ensinar o povo!” O comandante da guarda foi então com os seus oficiais e prendeu-os, mas sem violência, pois receavam que o povo os apedrejasse. E assim os levaram à presença do conselho, onde foram interrogados pelo sumo sacerdote. “Não vos dissemos que nunca mais ensinassem no nome desse tal Jesus?”, perguntou o sumo sacerdote. “Em vez disso, encheram toda a Jerusalém com o vosso ensino e pretendem lançar sobre nós a culpa da morte desse homem!” Mas Pedro e os apóstolos responderam: “Devemos mais obedecer a Deus do que aos homens. O Deus dos nossos antepassados trouxe Jesus de novo à vida após o terem matado, pendurando-o numa cruz. Depois, com enorme poder, Deus glorificou-o, dando-lhe o lugar à sua direita, como Príncipe e Salvador, para que o povo de Israel tivesse uma oportunidade de arrependimento e de perdão para os seus pecados. Somos testemunhas destas coisas como também o Espírito Santo dado por Deus a todos quantos lhe obedecem.” Ao ouvir estas palavras, o conselho ficou encolerizado e resolveu matá-los. Mas um dos membros, um fariseu chamado Gamaliel, professor da Lei e muito popular entre o povo, levantou-se no conselho e pediu que mandassem os apóstolos sair da sala por um pouco. Disse então: “Homens de Israel, cuidado! Vejam bem o que vão fazer com estas pessoas! Há algum tempo apareceu esse tal Teudas que se julgava alguém importante. Juntaram-se a ele cerca de 400 partidários, mas acabou por ser morto e os que o seguiram foram facilmente dispersos. Depois dele, na altura do recenseamento, apareceu Judas da Galileia, que arrastou atrás de si uma multidão, mas também morreu e os que depositavam fé nele foram igualmente dispersos. Por isso, o meu conselho neste caso é que deixem estes homens em paz e libertem-nos. Se o plano deles e aquilo que fazem é meramente humano, em breve desaparecerão. Mas se for obra de Deus não poderão impedi-los, não vá acontecer estarem a lutar contra o próprio Deus.” O conselho aceitou esta opinião. Chamados os apóstolos, mandaram-nos açoitar e disseram-lhes que nunca mais falassem no nome de Jesus, deixando-os finalmente ir embora. Os apóstolos saíram da sala do conselho contentes por Deus os ter considerado dignos de sofrer desonra pelo seu nome. E todos os dias, no templo e de casa em casa, continuavam a ensinar e a pregar que Jesus era o Cristo. Com os discípulos a aumentar tão rapidamente em número, havia no seu meio murmúrios de descontentamento. Os que só falavam grego queixavam-se de que as suas viúvas eram postas à margem e de que não lhes davam tanta comida na distribuição diária como às viúvas que falavam hebraico. Então os doze combinaram uma reunião com a assembleia dos discípulos: “Nós, os apóstolos, devíamos gastar o nosso tempo a pregar e não a distribuir comida”, disseram. “Por isso, irmãos, escolham entre vós mesmos sete homens de quem haja um bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, e encarregá-los-emos deste importante trabalho. Só assim poderemos dedicar tempo à oração, pregação e ensino.” Isto pareceu razoável a toda a assembleia que escolheu as seguintes pessoas: Estêvão, homem de fé extraordinária e cheio do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Parmenas e Nicolau de Antioquia, um gentio que se convertera à fé judaica, e mais tarde ao cristianismo. Estes sete foram apresentados aos apóstolos, que oraram por eles e os abençoaram, pondo sobre eles as mãos. A palavra de Deus era pregada a um auditório cada vez maior e o número dos discípulos aumentava enormemente em Jerusalém, tendo-se convertido à fé também muitos sacerdotes. Estêvão, cheio da graça e do poder de Deus, realizava grandes maravilhas e sinais entre o povo. Um dia, alguns homens da chamada Sinagoga dos Homens Livres, começaram a discutir com Estêvão. Eram judeus de Cirene, de Alexandria, no Egito, das províncias da Cilícia e da província da Ásia. Mas nenhum deles podia resistir à sabedoria e ao Espírito pelo qual Estêvão falava. Então arranjaram falsas testemunhas para declararem: “Ouvimo-lo proferir blasfémias contra Moisés e o próprio Deus.” Esta acusação provocou a fúria da multidão, dos anciãos do povo e dos especialistas na Lei contra Estêvão, que o prenderam e levaram perante o conselho. As testemunhas falsas tornaram a afirmar: “Este homem não cessa de falar constantemente contra este santo lugar e contra a Lei. Ouvimo-lo mesmo dizer que esse tal Jesus de Nazaré há de destruir o templo e abolir os costumes que nos foram transmitidos por Moisés.” Naquele momento, todos os que estavam na sala do conselho viram o rosto de Estêvão ficar como o de um anjo. Então o sumo sacerdote perguntou-lhe: “São verdadeiras estas acusações?” E Estêvão respondeu: “Irmãos e líderes, ouçam: O Deus glorioso apareceu ao nosso antepassado Abraão, na Mesopotâmia, antes de vir viver para Harã. Disse-lhe: ‘Deixa a tua terra e a tua família, e vai para a terra que te vou mostrar.’ Saiu, pois, da terra dos caldeus e viveu em Harã até seu pai morrer. Dali, Deus trouxe-o para a terra onde habitam hoje, mas não lhe deu bens, nem um só palmo de terra que fosse. Todavia, Deus tinha prometido que todo o país lhe viria a pertencer, a si e aos seus descendentes, embora naquela altura não tivesse ainda um filho. Disse-lhe Deus também que os seus descendentes virão a ser oprimidos e explorados como escravos numa terra estrangeira durante 400 anos. ‘Mas eu castigarei a nação que os vai escravizar’, disse Deus, ‘e depois eles acabarão por sair livres e adorar-me-ão aqui mesmo!’ Deus estabeleceu também com Abraão, naquela altura, a aliança da circuncisão. E assim, Isaque, filho de Abraão, foi circuncidado com oito dias de idade. Isaque viria a ser o pai de Jacob, e Jacob, por seu turno, o pai dos doze patriarcas fundadores da nação judaica. Estes homens tinham muita inveja do seu irmão José e venderam-no para que fosse escravo no Egito. Mas Deus estava com ele e libertou-o de todas as suas aflições, fazendo com que o rei do Egito, o Faraó, ganhasse simpatia por ele. Deus dotou também José duma sabedoria invulgar, pelo que o Faraó o nomeou governador de todo o Egito, além de o encarregar de todos os assuntos do palácio. Houve uma fome no Egito e em Canaã. A aflição era grande, de forma que os nossos antepassados não encontravam alimentos. Jacob, ouvindo dizer que ainda havia cereais no Egito, mandou seus filhos irem ali comprá-los. Da segunda vez que isso aconteceu, José revelou aos irmãos quem realmente era e apresentou-os ao Faraó. Mandou então chamar para o Egito o seu pai, Jacob, e as famílias dos irmãos, setenta e cinco pessoas ao todo. Assim, Jacob foi para o Egito, onde ele e todos os nossos antepassados morreram, sendo levados para Siquem e sepultados no túmulo que Abraão adquirira aos filhos de Hamor, pai de Siquem. Ao aproximar-se o tempo em que Deus iria cumprir a promessa feita a Abraão de libertar os seus descendentes da escravatura, o povo judaico tinha-se já multiplicado grandemente no Egito. Até que apareceu um outro rei, que não conhecia José. Este rei oprimiu o nosso povo, obrigando os nossos antepassados a abandonar os seus recém-nascidos para que não sobrevivessem. Por essa altura, nasceu Moisés que era uma criança formosa aos olhos de Deus. Seus pais esconderam-no em casa durante três meses. Quando por fim já não podiam tê-lo escondido mais tempo, e se viram forçados a abandoná-lo, a filha do Faraó encontrou-o e adotou-o como seu próprio filho. Moisés foi ensinado em toda a sabedoria dos egípcios e tornou-se poderoso nas palavras e nas obras. Certo dia, estando quase a fazer quarenta anos, pretendeu visitar os seus irmãos, o povo de Israel. Durante esta visita, vendo que um egípcio maltratava um israelita, matou o egípcio. Supunha ele que os seus irmãos de raça compreenderiam que Deus o enviara para os salvar. Mas não, eles não compreenderam. No dia seguinte tornou a visitá-los e viu dois israelitas que lutavam um com o outro. Procurou reconciliá-los, dizendo-lhes: ‘Acabem com isso! Vocês são irmãos e não devem lutar assim!’ Mas o homem que estava a tratar mal o colega afastou Moisés. ‘Quem te nomeou chefe e juiz sobre nós?’, perguntou. ‘Queres matar-me como mataste ontem aquele egípcio?’ Ao ouvir isto, Moisés fugiu do país, passando a viver na terra de Midiã, onde nasceram os seus dois filhos. Quarenta anos mais tarde, no deserto perto do monte Sinai, apareceu-lhe um anjo numa chama de fogo dentro de uma sarça. Moisés, vendo aquilo, perguntou a si próprio o que se passaria. E ao aproximar-se ouviu a voz do Senhor: ‘Eu sou o Deus dos teus antepassados; de Abraão, Isaque e Jacob.’ Moisés tremia e não se atrevia a olhar. O Senhor disse-lhe: ‘Descalça-te, porque estás em terreno sagrado. Vi a aflição do meu povo no Egito, ouvi os seus gritos e desci para livrá-lo. Vou mandar-te ao Egito.’ Foi assim que Deus tornou a enviar o mesmo homem que o seu povo anteriormente rejeitara ao perguntar-lhe: ‘Quem te nomeou chefe e juiz sobre nós?’ Moisés foi enviado por Deus, através do anjo que lhe apareceu na sarça ardente, para ser seu chefe e libertador. E com muitos sinais conduziu-os para fora do Egito, atravessando o mar Vermelho e percorrendo o deserto durante quarenta anos. O próprio Moisés disse ao povo de Israel: ‘Deus levantará entre os vossos irmãos um profeta semelhante a mim.’ E com efeito, no deserto, Moisés foi o intermediário entre o povo de Israel e o anjo que lhe falou no monte Sinai; foi ele que recebeu palavras de vida para nós. Mas os nossos pais recusaram-se a obedecer a Moisés, antes o rejeitaram e, no seu coração, voltaram para o Egito. Disseram, pois, a Aarão: ‘Faz-nos ídolos, para que tenhamos deuses que nos guiem, pois não sabemos o que foi feito desse Moisés que nos tirou do Egito.’ Fizeram então um bezerro, ao qual ofereceram sacrifícios, muito satisfeitos com a sua ação. Então Deus desviou-se deles, abandonando-os e deixando-os adorar o exército celestial! No livro das profecias de Amós, Deus pergunta: ‘Foi a mim que ofereceste vítimas e sacrifícios durante quarenta anos no deserto, ó casa de Israel? Não. O que vos interessava eram os vossos deuses pagãos, Moloque e a estrela do deus Refã, e todas as imagens que fizeram para vós mesmos, para se prostrarem diante delas. Por isso, vou mandar-vos para o cativeiro, para muito longe daqui, para além da Babilónia.’ Os nossos antepassados traziam consigo um tabernáculo para lhes servir de testemunho no deserto. Ele fora construído tal como lho ordenara aquele que falava por intermédio de Moisés, de acordo com o modelo que este tinha observado. Anos mais tarde, quando Josué chefiava as batalhas contra as nações gentias, levaram o santuário para o seu novo território, utilizando-o até ao tempo do rei David. Deus abençoou este rei grandemente e David pediu-lhe a graça de construir um templo permanente para o Deus de Jacob. Mas foi Salomão quem o construiu. Todavia, o Altíssimo não vive em templos feitos por mãos humanas. Como diz o profeta: ‘O céu é o meu trono, e a Terra é o estrado dos meus pés. Que casa me poderiam vocês construir?, diz o Senhor. Ou que lugar para o meu descanso? Não foi a minha mão que fez todas essas coisas?’ Oh, gente obstinada! Vocês são pagãos de coração e surdos à verdade. Irão resistir para sempre ao Espírito Santo? Já os vossos pais o fizeram e vocês também! Indiquem um só profeta que os vossos antepassados não tenham perseguido! Mataram até aqueles que anunciavam a vinda do Justo, o Cristo, a quem vocês agora traíram e assassinaram. Sim, e deliberadamente desobedeceram à Lei de Deus, embora a tenham recebido das mãos dos anjos.” Ao ouvirem estas palavras, os líderes dos judeus, espicaçados até à fúria pela acusação de Estêvão, rangiam os dentes. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, pôs os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à sua direita: “Olhem, vejo os céus abertos e o Filho do Homem de pé junto a Deus, à sua direita!”, disse-lhes. Então, tapando os ouvidos com as mãos e abafando-lhe a voz com gritos, atacaram-no. E arrastaram-no para fora da cidade para o apedrejar. As pessoas que serviram como testemunhas tiraram as vestes e deixaram-nas ao cuidado de um jovem chamado Saulo. E quando as pedras caíam já para o matar, Estêvão orava: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito!” E tombou de joelhos, clamando: “Senhor, não os culpes deste pecado!” E dizendo isto morreu. Saulo concordara com a morte de Estêvão. Naquele dia, começou uma grande onda de perseguição contra os crentes, onda essa que varreu a igreja em Jerusalém. E todos, exceto os apóstolos, fugiram para a Judeia e Samaria. Alguns homens piedosos, com grande desgosto, foram enterrar Estêvão. Saulo excedia-se andando por toda a parte para destruir a igreja, chegando a entrar em casas particulares, arrastando para fora homens e mulheres e metendo-os na prisão. Mas os que tinham fugido de Jerusalém pregavam em todo o lado a palavra de Jesus. Filipe, por exemplo, foi para a cidade de Samaria onde falou de Cristo ao povo. As multidões escutavam atentas aquilo que ele dizia por causa dos sinais que fazia. Espíritos impuros foram expulsos de muita gente, soltando grandes gritos, e paralíticos e coxos foram curados. Pelo que era grande a alegria naquela cidade! Havia ali um homem chamado Simão que era feiticeiro. Gozava de grande influência entre o povo samaritano e gabava-se de ser um grande homem. Toda a gente, desde os que vinham de um estrato social inferior ao de mais elevado, afirmava: “Este homem é o poder de Deus”, a que chamam o “Grande Poder”. E seguia-o, pois durante muito tempo ele tinham-os iludido com as suas artes de feitiçaria. Mas agora esse mesmo povo acreditava antes na mensagem de Filipe, que lhes anunciava Jesus Cristo e o reino de Deus. Como resultado, muitos homens e mulheres foram batizados. O próprio Simão creu e foi batizado, começando a acompanhar Filipe por onde quer que andasse, assistindo com pasmo aos sinais que realizava. Quando os apóstolos em Jerusalém souberam que o povo de Samaria aceitara a mensagem de Deus, mandaram Pedro e João até lá. Estes desceram até lá e começaram a orar pelos novos crentes para que recebessem o Espírito Santo, pois o Espírito não descera ainda sobre nenhum deles; tinham sido batizados apenas em nome do Senhor Jesus. Então Pedro e João puseram as mãos sobre esses crentes e receberam o Espírito Santo. Quando Simão viu isto, que o Espírito Santo era dado quando os apóstolos colocavam as mãos sobre a cabeça das pessoas, ofereceu dinheiro para adquirir esse poder: “Quero tê-lo também para que, quando eu puser as minhas mãos sobre as pessoas, elas recebam o Espírito Santo!” Mas Pedro respondeu: “Que o teu dinheiro morra contigo por pensares que o dom de Deus se pode comprar! Não podes ter parte nisto, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te dessa perversidade e ora, talvez Deus ainda perdoe o pensamento do teu coração; pois vejo que tens ira e amargura e estás amarrado pela injustiça.” “Orem por mim ao Senhor”, exclamou Simão, “para que essas coisas terríveis não me aconteçam!” Depois de darem testemunho e de pregarem a palavra do Senhor na Samaria, Pedro e João voltaram para Jerusalém, parando em várias aldeias samaritanas ao longo do caminho, para aí pregarem também as boas novas. E quanto a Filipe, um anjo do Senhor disse-lhe: “Vai até à estrada que sai de Jerusalém e que atravessa o deserto de Gaza na direção do sul.” Filipe assim fez e encontrou, viajando naquela estrada, um administrador do reino da Etiópia, um eunuco que era alto funcionário da rainha Candace. Fora a Jerusalém adorar no templo. Voltava agora no seu carro, lendo em voz alta no livro do profeta Isaías. O Espírito Santo disse a Filipe: “Vai e caminha ao lado do carro!” Filipe aproximou-se a correr e, ouvindo o que lia, perguntou-lhe: “Compreendes o que lês?” “Claro que não!”, exclamou o homem. “Como posso compreender se não há quem me ensine?” E pediu a Filipe que entrasse no carro e se sentasse ao seu lado. A passagem das Escrituras que o eunuco lia era: “Levaram-no como uma ovelha para o matadouro, e assim como um cordeiro se mantém calado diante dos que o tosquiam, assim também ele não abriu a sua boca. Foi humilhado, negaram-lhe justiça; quem pode descrever a sua geração? Pois a sua vida foi tirada da Terra.” O eunuco perguntou a Filipe: “Peço-te que me digas, por favor: Isaías falava acerca de si próprio ou de outra pessoa?” Então Filipe, começando com este mesmo texto da Escritura e, usando muitas outras passagens, falou-lhe de Jesus. Entretanto, prosseguindo eles pelo caminho, chegaram a um local onde havia água e o eunuco disse: “Água já aqui temos! Porque é que eu não hei de ser batizado?” “Com certeza que sim”, respondeu Filipe, “se creres de todo o teu coração.” E o eunuco disse: “Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus!” Parou o carro e, descendo ambos para dentro da água, Filipe batizou-o. Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, e o eunuco, que nunca mais o viu, continuou alegremente a sua viagem. Filipe deu por si em Azoto. Aí pregou as boas novas. Não só aí como também em todas as cidades no caminho até Cesareia. Entretanto, Saulo, ameaçador e desejoso de destruir todos os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote, em Jerusalém, pedindo-lhe que lhe fosse passada uma credencial dirigida às sinagogas de Damasco, exigindo a sua cooperação na perseguição de quaisquer seguidores do Caminho, que ali encontrasse, tanto homens como mulheres, para que pudesse levá-los acorrentados para Jerusalém. Ao aproximar-se de Damasco, no cumprimento desta missão, uma luz brilhante vinda do céu fixou-se, de súbito, sobre ele. Caindo no chão, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” “Quem és tu, Senhor?”, perguntou. “Sou Jesus, aquele a quem tu persegues. Levanta-te, vai para a cidade e espera as minhas instruções.” Os homens que acompanhavam Saulo ficaram mudos de surpresa, pois ouviam uma voz, mas não viam ninguém. Quando Saulo se levantou, verificou que deixara de ver. Tiveram de o levar pela mão até Damasco, onde ficou três dias sem poder ver, e em que não comeu nem bebeu. Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias, a quem o Senhor falou numa visão: “Ananias!” “Aqui estou, Senhor!”, respondeu. O Senhor disse: “Vai à rua Direita, procura em casa de Judas um homem chamado Saulo de Tarso. Neste momento está ele a orar. Mostrei-lhe em visão alguém chamado Ananias que deverá procurá-lo e que porá as mãos sobre ele para que torne a ver!” “Mas, Senhor”, exclamou Ananias, “contaram-me coisas terríveis que este homem fez aos crentes de Jerusalém! E consta que tem mandatos de prisão, passados pelos principais sacerdotes, autorizando-o a prender, em Damasco, todos os que invocam o teu nome!” O Senhor insistiu: “Vai, pois Saulo é o meu instrumento escolhido para levar a minha mensagem às nações e à presença dos reis, bem como ao povo de Israel. E mostrar-lhe-ei quanto ele deverá sofrer por minha causa.” Ananias partiu dali, entrou na casa em que estava Saulo, pôs as mãos sobre ele e disse-lhe: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho, enviou-me para que sejas cheio do Espírito Santo e tornes a ver.” Imediatamente, caindo-lhe como que umas escamas dos olhos, Saulo recuperou a vista; e levantando-se foi batizado. E depois de comer as suas forças foram renovadas. Saulo ficou com os discípulos de Damasco durante alguns dias. E logo começou a ir à sinagoga anunciar as boas novas a respeito de Jesus, afirmando que ele era na verdade o Filho de Deus! E todos quantos o escutavam ficavam pasmados: “Não é este o homem que em Jerusalém perseguia os que invocavam esse nome? E consta que veio cá para os prender e levá-los acorrentados aos principais sacerdotes!” As pregações de Saulo eram cada vez mais fervorosas e os judeus de Damasco não conseguiam refutar as provas que apresentava de como Jesus era o Cristo. Um considerável tempo depois, os judeus resolveram matá-lo. Contudo, Saulo foi informado dos seus planos e de que vigiavam as portas da cidade dia e noite, prontos a tirar-lhe a vida. Assim, durante a noite, os discípulos passaram-no para fora, baixando-o numa cesta pela muralha da cidade. Chegando a Jerusalém, tentou pôr-se em contacto com os discípulos, mas todos tinham medo dele, pensando que fosse um impostor. Barnabé conduziu-o junto dos apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor, na estrada de Damasco, e o que o Senhor lhe dissera, mencionando também as suas poderosas pregações em nome de Jesus, em Damasco. Aceitaram-no então, e a partir daí Saulo andava sempre com os crentes por todo o lado em Jerusalém, pregando com coragem em nome do Senhor. Mas alguns judeus de língua grega, com os quais discutira, combinaram assassiná-lo. Quando os outros crentes souberam do perigo que corria, levaram-no para Cesareia, enviando-o depois para a sua terra, Tarso. Entretanto, a igreja vivia em paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria, crescendo em força e em número. Os crentes aprendiam a caminhar no temor do Senhor e no consolo do Espírito Santo. Pedro viajava de terra em terra e foi visitar os santos da cidade de Lida. Aí encontrou um homem chamado Eneias, paralisado e incapaz de sair do leito havia oito anos. Pedro disse-lhe: “Eneias, Jesus Cristo dá-te saúde. Levanta-te e arruma a tua cama!” O homem de imediato se pôs de pé. E toda a população de Lida e Sarona voltou-se para o Senhor ao ver Eneias andar normalmente. Havia na cidade de Jope uma discípula chamada Tabita (que significa gazela), uma crente que estava sempre a fazer o bem e a dar aos pobres. Por esta altura, Tabita adoeceu e morreu. As pessoas suas amigas prepararam-na para o funeral e puseram-na num quarto num andar superior. Ao saberem que Pedro se encontrava ali perto, em Lida, mandaram dois homens pedir-lhe que fosse com eles a Jope. Pedro assim fez e logo que chegou levaram-no ao quarto onde Tabita se encontrava. O compartimento estava cheio de viúvas que choravam e mostravam as túnicas e outras roupas que Tabita lhes fizera. Pedro, pedindo a todos que saíssem do quarto, ajoelhou-se e orou; e voltando-se para o corpo disse: “Levanta-te, Tabita!”, e ela abriu os olhos. Quando viu Pedro, sentou-se. Pedro estendeu-lhe a mão, ajudou-a a pôr-se de pé e, chamando os crentes e as viúvas, apresentou-lha ressuscitada. A notícia espalhou-se rapidamente pela cidade e foram muitos os que creram no Senhor. Pedro ficou ainda muito tempo em Jope, vivendo com Simão, o curtidor. Vivia em Cesareia um homem chamado Cornélio, oficial de um regimento do exército romano chamado “Italiano”. Era um homem piedoso e temente a Deus, como também toda a sua casa. Dava generosamente aos pobres e orava com regularidade a Deus. Certa tarde, seriam umas três horas, teve claramente uma visão em que um anjo de Deus se aproximava dele. “Cornélio!”, disse-lhe o anjo. Cornélio olhou-o cheio de medo: “Que queres, Senhor?” O anjo respondeu: “As tuas orações e a tua generosidade não têm passado despercebidas a Deus! Pois agora envia alguns homens a Jope, para procurarem Simão Pedro, que está com Simão, o curtidor, perto do mar, e pede-lhe que venha visitar-te.” Logo que o anjo se foi embora, Cornélio chamou dois dos seus servos e um soldado, também ele piedoso, que pertencia à sua guarda pessoal. E contando-lhes o que acontecera, enviou-os a Jope. No dia seguinte, quando eles se aproximavam da cidade, Pedro subiu ao terraço para orar; era meio-dia. Tinha fome e, enquanto lhe preparavam o almoço, teve uma visão. Viu o céu aberto e um grande pano, pendurado pelos quatro cantos, pousar no chão. Dentro havia toda a espécie de animais da terra, répteis e aves do céu. Uma voz disse-lhe: “Levanta-te, Pedro, mata e come!” “Nunca, Senhor!”, declarou Pedro. “Jamais comi na minha vida qualquer coisa que fosse impura ou imunda.” E a voz tornou a dizer-lhe: “Não consideres impuro o que Deus tornou limpo!” A mesma visão se repetiu três vezes, até que o pano foi de novo puxado para o céu. Pedro ficou a pensar naquilo. Que queria dizer semelhante visão? Que deveria ele fazer? Nesse momento os homens mandados por Cornélio, tendo encontrado a casa, chegavam à porta perguntando se era ali que estava Simão Pedro. Entretanto, enquanto Pedro cismava na visão, o Espírito Santo disse-lhe: “Vieram três homens à tua procura. Desce, vai ao encontro deles e acompanha-os. Não receies; fui eu que os mandei.” Pedro desceu e apresentou-se: “Sou o homem que procuram. Que querem de mim?” Eles disseram-lhe: “Cornélio, o oficial romano, homem justo e temente a Deus, que granjeou um bom testemunho junto de toda a nação judaica, recebeu instruções de um santo anjo para te convidar a ir a sua casa e ouvir o que tiveres para lhe dizer.” Pedro convidou-os a entrar e passaram a noite em sua casa. No dia seguinte foi com eles, acompanhado por alguns outros crentes de Jope. Chegaram a Cesareia no outro dia. Cornélio esperava-o já na companhia de parentes e amigos íntimos. Logo que Pedro entrou na sua casa, Cornélio lançou-se aos seus pés para o adorar. Mas Pedro impediu-o: “Levanta-te, que sou um homem como tu!” Pedro ia a conversar com ele e entrou; e encontrou muita gente aí reunida. Pedro disse-lhes: “Sabem que é contra as leis judaicas eu relacionar-me com um estrangeiro ou entrar no seu lar. Contudo, Deus mostrou-me numa visão que nunca deveria considerar alguém impuro ou imundo. Apressei-me pois a vir. Digam-me: porque me mandaram vir?” Cornélio respondeu: “Há quatro dias, estava eu a orar, como de costume às três horas da tarde, quando me apareceu um homem com roupas brilhantes, que me disse: ‘Cornélio, as tuas orações e a tua generosidade foram ouvidas e Deus reparou nos teus atos de generosidade. Envia alguns homens a Jope e manda vir Simão Pedro, que está hospedado em casa de Simão, o curtidor, que mora perto do mar.’ Assim, mandei-te chamar imediatamente e fizeste bem em vir depressa. Agora estamos todos presentes diante de Deus, ansiosos por ouvir o que ele te mandou dizer-nos!” E Pedro respondeu: “Agora verdadeiramente vejo que Deus não é parcial! Ele aceita pessoas de todas as nações que o temem e fazem o que é justo. Estou certo de que ouviram as boas novas dirigidas ao povo de Israel: que há paz com Deus por Jesus Cristo, Senhor de toda a criação. Esta mensagem espalhou-se por toda a Judeia, começando na Galileia depois do batismo que João pregou. E sabem, sem dúvida, como Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, andando por toda a parte a praticar o bem e a curar os que estavam sob o poder do Diabo, pois Deus estava com ele. Nós, apóstolos, somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra da Judeia e em Jerusalém, onde o mataram num madeiro. Mas Deus tornou a dar-lhe a vida três dias mais tarde e mostrou-o a certas testemunhas, que tinha já escolhido; não ao povo em geral, mas a nós que comemos e bebemos com ele depois de ter ressuscitado dos mortos. Mandou-nos pregar as boas novas e dar testemunho de que Jesus foi enviado por Deus para ser juiz dos vivos e dos mortos. E todos os profetas escreveram a seu respeito, dizendo que quem nele crê terá perdoados os pecados, pelo seu nome.” Enquanto Pedro dizia estas coisas, o Espírito Santo desceu sobre quantos o escutavam. Os crentes oriundos da circuncisão que tinham ido com Pedro ficaram pasmados ao verem que o dom do Espírito Santo tinha sido derramado também sobre os gentios. De facto, ouviam-nos falar em línguas diferentes, magnificando a Deus. Pedro perguntou então: “Poderá alguém opor-se a que sejam batizados na água, agora que receberam o Espírito Santo tal como nós?” E assim deu ordem que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Depois Cornélio pediu-lhe que ficasse em sua casa durante alguns dias. Em breve os apóstolos e outros irmãos na Judeia souberam que também os gentios se estavam a converter. Contudo, quando Pedro voltou para Jerusalém, os crentes oriundos da circuncisão discutiram com ele, acusando-o: “Estiveste com os que não são circuncidados e chegaste a comer na sua companhia!” Pedro, então, começou a contar-lhes tudo: “Um dia, estando eu a orar em Jope, tive uma visão: um pano enorme que descia do céu pendurado pelos quatro cantos. Dentro estavam animais da terra e selvagens, répteis e aves do céu. E ouvi uma voz dizer: ‘Levanta-te, Pedro, mata e come!’ ‘Nunca, Senhor!’, respondi. ‘Jamais comi na minha vida qualquer coisa impura ou imunda.’ Mas a voz veio do céu uma segunda vez: ‘Não consideres impuro o que Deus tornou limpo!’ Isto aconteceu três vezes, antes que o pano e tudo o que continha fosse recolhido no céu. Nesse mesmo instante, chegaram à casa onde me encontrava os três homens que iriam acompanhar-me a Cesareia. O Espírito Santo disse-me para ir com eles, sem me preocupar com o facto de serem gentios. Estes seis irmãos acompanharam-me e chegámos a casa do homem que enviara os mensageiros. Contou-nos que lhe tinha aparecido um anjo em casa que lhe disse: ‘Envia mensageiros a Jope, a fim de procurar Simão Pedro. Ele vos ensinará como tu e toda a tua casa se poderão salvar’, tinha-lhe dito o anjo. Anunciei-lhes então o evangelho da salvação e, justamente quando começava a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, tal como aconteceu connosco no princípio. Lembrei-me então das palavras do Senhor: ‘Sim, João batizou com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo.’ Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, aqueles que cremos no Senhor Jesus Cristo, quem seria eu para impedir Deus de agir?” Quando ouviram isto, os ânimos de todos os que tinham tido uma opinião contrária serenaram e glorificaram Deus: “Sim, Deus deu também aos gentios o privilégio de se voltarem para ele e receberem a vida eterna.” Entretanto, os crentes que tinham fugido de Jerusalém, durante a perseguição que se seguiu à morte de Estêvão, viajaram para longe até à Fenícia, Chipre e Antioquia, espalhando o evangelho, mas só entre os judeus. Mesmo assim, alguns dos crentes que, idos de Chipre e Cirene foram para Antioquia, partilharam também a sua mensagem acerca do Senhor Jesus a alguns gregos. E a mão do Senhor estava com eles, de tal modo que o grande número dos que creram se converteu ao Senhor. Quando a igreja de Jerusalém soube do que acontecera, mandou Barnabé a Antioquia para conhecer a situação. Ao chegar e ver a graça exercida por Deus, ficou cheio de alegria e animou os crentes a manterem-se fiéis ao Senhor, custasse o que custasse. Barnabé era um homem bondoso, cheio do Espírito Santo e de fé. Em resultado disso, grande número de pessoas se uniu ao Senhor. Depois Barnabé seguiu para Tarso em busca de Saulo. Quando o encontrou, levou-o consigo outra vez para Antioquia, em cuja igreja ambos ficaram um ano inteiro a ensinar os novos convertidos, que eram numerosos. E foi ali em Antioquia que os discípulos foram chamados cristãos pela primeira vez. Durante esta época, vieram de Jerusalém a Antioquia alguns profetas. Um deles, chamado Ágabo, levantou-se numa das reuniões, anunciando pelo Espírito que haveria uma grande fome em todo o mundo romano. (Essa profecia cumpriu-se durante o governo de Cláudio.) Assim os discípulos resolveram mandar ajuda aos cristãos da Judeia, dando cada qual o mais que podia. Fizeram isto e entregaram as suas ofertas a Barnabé e Saulo, para que as levassem aos anciãos da igreja em Jerusalém. Por aquele tempo, o rei Herodes tomou medidas contra alguns da igreja. E matou Tiago, irmão de João, pela espada. Vendo que isto tinha agradado aos anciãos, Herodes prendeu Pedro durante a festa da Páscoa. E meteu-o na cadeia guardado por quatro grupos de quatro soldados cada. A intenção de Herodes era entregar Pedro aos judeus para que fosse julgado depois da Páscoa. Mas durante todo o tempo que passou na prisão, a igreja orava fervorosamente a Deus, rogando pela sua vida. Na noite anterior ao seu julgamento, Pedro dormia preso com correntes duplas, entre dois soldados; havia ainda outros guardas à porta da prisão. De súbito, fez-se uma luz na cela e junto dele apareceu um anjo do Senhor que, tocando-lhe para o acordar, disse: “Levanta-te depressa!” Logo as correntes lhe caíram dos pulsos. E continuou: “Veste-te e calça-te.” Pedro obedeceu. “Agora embrulha-te na capa e segue-me!” Saiu da cela atrás do anjo, mas sem saber que aquilo que o anjo estava a fazer era real, antes pensava que se tratava de uma visão. Passaram pelo primeiro e segundo postos da guarda e chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade, o qual se abriu por si mesmo à frente deles! Cruzaram-no e caminharam juntos pelo espaço de um quarteirão. E então repentinamente o anjo desapareceu. Só nessa altura é que Pedro compreendeu o que tinha acontecido. “É realmente verdade!”, disse consigo próprio. “O Senhor mandou o seu anjo salvar-me das mãos de Herodes e do que os judeus queriam fazer-me!” Depois de pensar um pouco, dirigiu-se a casa de Maria, mãe de João Marcos, onde muitos se encontravam reunidos para orar. Bateu no portão da entrada e quem o abriu foi uma rapariga chamada Rode. Esta, ao reconhecer a voz de Pedro, ficou tão contente que voltou a correr para dentro de casa dizendo quem estava à porta da rua; mas não acreditavam nas suas palavras. “Não estás boa da cabeça!”, diziam. Mas como insistisse, julgaram: “Deve ser o seu anjo!” Entretanto, Pedro continuava a bater à porta. Quando, por fim, a abriram, a surpresa não podia ser maior. Pedro fez-lhes sinal para que se acalmassem e contou-lhes o que sucedera e como o Senhor o tirara da cadeia. “Contem também a Tiago e aos outros o que aconteceu”, disse, saindo em seguida para um local mais seguro. Chegada a manhã, houve um grande alarido na prisão. Que era feito de Pedro? Quando Herodes o mandou buscar e soube que não estava lá, prendeu os guardas que foram condenados à morte. Depois disto, Herodes deixou a Judeia e foi para Cesareia durante algum tempo. Ali, procurou-o uma delegação chegada de Tiro e Sídon. Herodes estava em conflito com o povo daquelas duas cidades, mas os enviados, travando amizade com Blasto, o secretário do rei, pediram a paz, pois as suas cidades dependiam do rei para alimento. Combinada uma entrevista com o rei, no dia marcado, Herodes, nas suas vestes reais, sentou-se no trono e fez um discurso. No fim, o povo gritou com grandes aplausos: “Isto não é um homem a falar! É a voz de um deus!” Imediatamente um anjo do Senhor feriu Herodes com uma doença, de tal modo que se encheu de bichos e morreu, por ter aceitado a adoração do povo, em vez de dar glória a Deus. As boas novas de Deus, porém, espalhavam-se rapidamente e havia muitos novos crentes. Barnabé e Saulo acabaram a sua missão em Jerusalém e regressaram a Antioquia, levando João Marcos com eles. Entre os profetas e professores da igreja em Antioquia contavam-se Barnabé e Simeão (a quem também chamavam o Negro), Lúcio de Cirene, Manaem, irmão de leite do governador Herodes, e Saulo. Um dia, estando eles a adorar e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: “Separem Barnabé e Saulo para uma missão especial que tenho para eles.” Assim, depois de jejuarem e orarem de novo, colocaram as mãos sobre eles e enviaram-nos para a sua missão. Dirigidos pelo Espírito Santo, foram até Seleucia, onde embarcaram para Chipre. Aí, na cidade de Salamina, foram às sinagogas pregar a palavra de Deus, acompanhados de João Marcos como colaborador. Depois disto, pregaram de cidade em cidade, por toda a ilha, até finalmente chegarem a Pafos, onde encontraram um feiticeiro judeu, um falso profeta chamado Bar-Jesus. Este andava sempre com o governador Sérgio Paulo, homem de muito bom senso. O governador convidou Barnabé e Saulo a fazer-lhe uma visita, pois queria ouvir a mensagem de Deus. Mas o feiticeiro, Elimas, que era o seu nome em grego, meteu-se no meio e teimou com o governador para que não desse atenção às palavras de Saulo e Barnabé, procurando impedi-lo de confiar no Senhor. Então Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo, olhou para o feiticeiro e disse-lhe: “Filho do Diabo, cheio de toda a espécie de fingimentos e maldade, inimigo de tudo o que é justo, quando deixarás de perverter os caminhos direitos do Senhor? Pois agora a mão de Deus veio sobre ti para te castigar e ficarás cego durante algum tempo.” Imediatamente desceu sobre aquele homem uma névoa de escuridão e começou a caminhar às apalpadelas, pedindo que alguém lhe pegasse na mão e o conduzisse. Ao ver o que tinha acontecido, o governador creu, pasmado com o ensino do Senhor. Paulo e os que o acompanhavam embarcaram de Pafos para Panfília, desembarcando na cidade marítima de Perge. Aí, João deixou-os e regressou a Jerusalém, Mas Barnabé e Paulo seguiram para Antioquia, uma cidade na província da Pisídia. No sábado, foram à sinagoga assistir ao culto e sentaram-se. Depois das leituras dos livros de Moisés e dos profetas, os que dirigiam o culto mandaram-lhes este recado: “Irmãos, se têm algumas palavras de consolo a dirigir-nos, venham e digam-nas!” Paulo, levantando-se e fazendo-lhes um gesto a pedir silêncio, começou a falar. “Homens de Israel, e todos os que aqui são tementes a Deus, ouçam! O Deus do povo de Israel escolheu os nossos antepassados e honrou-os no Egito, retirando-os de lá por meio do seu imenso poder e suportando-os durante os quarenta anos em que erraram pelo deserto. Depois, destruiu sete nações em Canaã e deu a Israel a sua terra como herança. Tudo isso levou 450 anos. Depois disso, o país foi governado por juízes, até ao profeta Samuel. O povo começou então a pedir um rei e Deus deu-lhe Saul, filho de Cis, da tribo de Benjamim, que reinou quarenta anos. Mas Deus retirou-o e substituiu-o pelo rei David, acerca do qual disse: ‘David, filho de Jessé, é um homem como o meu coração deseja, pois obedecer-me-á.’ Ora o Salvador que Deus concedeu a Israel é justamente um dos descendentes do rei David conforme tinha prometido. Esse Salvador é Jesus! Antes de ele vir, João Batista pregou acerca da necessidade que todos em Israel tinham de abandonarem o pecado e de se voltarem para Deus. Quando João estava prestes a terminar a sua missão, perguntou: ‘Pensam que sou o Cristo? Não! Mas esse virá em breve e nem sou digno de lhe desatar as sandálias.’ Irmãos, vocês que são filhos de Abraão e também os gentios aqui presentes que temem a Deus: Esta salvação é para todos nós! Os habitantes de Jerusalém e os seus líderes cumpriram afinal as profecias, condenando Jesus, pois não o reconheceram nem perceberam que foi acerca dele que os profetas escreveram, embora todos os sábados escutassem a leitura das palavras desses mesmos profetas. Apesar de não encontrarem justa causa para o matar, pediram a Pilatos que o fizesse. Depois de se terem cumprido assim todas as profecias acerca da sua morte, Jesus foi tirado da cruz e posto num túmulo. Mas Deus ressuscitou-o da morte! E foi visto muitas vezes, nos dias que se seguiram, pelos homens que o tinham acompanhado a Jerusalém desde a Galileia; homens que disso têm dado constante e público testemunho. Nós, portanto, estamos aqui para vos anunciar a boa nova prometida por Deus aos nossos antepassados. Deus cumpriu-a plenamente connosco, seus filhos, ao ressuscitar Jesus, tal como se referia no Salmo 2: ‘Tu és meu Filho; hoje tornei-me teu Pai.’ Porque Deus prometeu ressuscitá-lo para nunca mais morrer. Isto é afirmado nas Escrituras que dizem: ‘Realizarei a vosso favor todas as promessas sagradas e maravilhosas que garanti a David.’ E noutro Salmo explica mais pormenorizadamente, dizendo: ‘Não permitirás que o teu Santo conheça a corrupção.’ Ora, isto não era uma referência a David, porque este, depois de ter servido a sua geração de acordo com a vontade de Deus, morreu e foi sepultado junto dos seus antepassados e o seu corpo conheceu a corrupção. Tratava-se sim de alguém que Deus ressuscitou e cujo corpo não conheceu a corrupção. Escutem, irmãos! Fiquem a saber que é graças a este Homem, Jesus, que vos anunciamos o perdão para os vossos pecados e a vossa justificação de tudo aquilo que a Lei de Moisés vos não podia justificar. Todo aquele que nele crer será declarado como justo. Tenham cuidado, não deixem que vos sejam aplicadas as palavras dos profetas, que disseram: ‘Vocês que desprezam estas coisas, pasmem e desapareçam. Porque estou a realizar nos vossos dias uma obra tal que nem acreditariam, ainda que vo-la contassem.’ ” Ao saírem da sinagoga naquele dia, as pessoas pediram-lhes que voltassem para lhes tornar a falar na semana seguinte. Finda a reunião na sinagoga, muitos judeus e gentios piedosos, que adoravam na sinagoga, acompanharam Paulo e Barnabé pela cidade, enquanto estes os incitavam a perseverar na graça de Deus. Na semana seguinte, quase toda a cidade foi ouvi-los pregar a palavra de Deus. Mas quando os judeus viram tanta gente, encheram-se de inveja e puseram-se a dizer injúrias e a contradizer tudo o que Paulo afirmava. Então, Paulo e Barnabé afirmaram corajosamente: “Era preciso que estas boas novas fossem primeiro anunciadas a vocês, judeus. Contudo, uma vez que as não querem receber e se mostram indignos da vida eterna, vamos anunciá-las aos gentios. Foi isso que o Senhor nos ordenou, ao dizer: ‘Fiz de ti uma luz para as nações do mundo, para levares a minha salvação até aos recantos mais longínquos da Terra.’ ” Quando os gentios ouviram isto, ficaram felizes e deram glória à palavra do Senhor, e creram todos os que Deus destinou para a vida eterna. Assim, a mensagem de Deus se espalhou por toda aquela região. Então os judeus agitaram algumas mulheres religiosas, muito consideradas e autoridades da cidade, incitando o povo contra Paulo e Barnabé, acabando por expulsá-los da cidade. Eles, porém, sacudiram a poeira dos seus pés, em protesto contra eles, e prosseguiram para Icónio. Os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo. Em Icónio, Paulo e Barnabé foram juntos à sinagoga e pregaram com tal poder que foi grande o número de pessoas que creram, tanto judeus como gentios. Mas aqueles judeus que não acreditaram incitaram e indispuseram os gentios contra os irmãos. Contudo, Paulo e Barnabé ficaram ali muito tempo, pregando com coragem sobre o Senhor, que ia testemunhando a mensagem da graça, dando-lhes poder para pelas suas mãos se realizarem sinais e maravilhas. E a multidão da cidade dividiu-se: alguns concordavam com os judeus, outros apoiavam os apóstolos. Quando Paulo e Barnabé souberam da conspiração que os gentios e os judeus, juntamente com os seus líderes, tramavam contra eles, para os atacarem e apedrejarem, refugiaram-se nas cidades de Listra e Derbe, na Licaónia, e em toda aquela zona em volta, pregando ali o evangelho. Em Listra encontraram um homem que era aleijado dos pés de nascença, nunca tendo andado na sua vida. O homem escutou com atenção a pregação de Paulo que, reparando nele, se deu conta que o aleijado tinha fé para ser curado. Então ordenou-lhe, em alta voz: “Levanta-te! Ergue-te nos teus próprios pés!” O homem deu um salto e começou a andar. Quando a multidão que escutava Paulo viu o que fizera, gritou na sua língua, a licaónia: “Estes homens são deuses em forma humana descidos até nós!” Pensando que Barnabé fosse o deus grego Zeus e que Paulo, por ser o orador principal, fosse Hermes. O sacerdote local do templo de Zeus, à entrada da localidade, trouxe-lhes carroças carregadas de flores e matou bois em sua honra, junto às portas da cidade na presença da multidão. Contudo, quando Barnabé e Paulo viram aquilo, rasgaram desgostosos a roupa que traziam vestida e correram por entre o povo, clamando: “Escutem! Que estão a fazer? Nós somos seres humanos como vocês! Viemos dizer-vos que deixem de adorar essas coisas insensatas e que, em vez disso, devem adorar o Deus vivo e converter-se a ele, que fez o céu, a Terra, o mar e tudo quanto há neles. Nos tempos antigos permitiu que todos os povos seguissem o estilo de vida que melhor lhes parecia; mas nunca deixou de dar provas da sua existência e de quem é realmente, por meio de atos de bondade, tais como mandar-vos chuva, boas colheitas, alimento e alegria de coração.” Apesar de lhes falarem nestes termos, Paulo e Barnabé só a custo impediram que o povo lhes oferecesse sacrifícios. Entretanto, chegavam judeus de Antioquia e Icónio que, agitando a multidão, conseguiram que apedrejassem Paulo e o arrastassem para fora da cidade, aparentemente morto. Mas quando os discípulos se reuniram à sua volta, Paulo levantou-se e voltou para a cidade. No dia seguinte, Paulo partiu com Barnabé para Derbe. Após terem pregado ali o evangelho e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, Icónio e Antioquia da Pisídia, onde fortaleceram os discípulos, encorajando-os a perseverar na fé, lembrando-lhes que para entrar no reino de Deus teriam de passar por muitas tribulações. Paulo e Barnabé nomearam também anciãos em todas as igrejas, orando por eles com jejum e entregando-os ao cuidado do Senhor, em quem tinham posto a sua fé. Regressando através da Pisídia para a Panfília, tornaram a pregar em Perge e continuaram para Atália. Finalmente, voltaram por mar para Antioquia da Síria, onde tinham começado a viagem e onde tinham sido entregues a Deus para realizarem a obra agora completada. Quando chegaram, reuniram a igreja, a quem relataram a viagem e como Deus abrira também a porta da fé aos gentios. E ficaram com os discípulos em Antioquia durante muito tempo. Chegaram ali alguns homens da Judeia que começaram a ensinar aos irmãos: “Se não obedecerem ao costume da circuncisão ensinado por Moisés, não podem ser salvos.” Gerou-se entre eles e Paulo e Barnabé uma não pequena contenda e discussão acerca deste assunto. Finalmente foi determinado que Paulo, Barnabé e alguns outros fossem ter com os apóstolos e anciãos para tratar desse problema. A igreja enviou esses delegados a Jerusalém. Pelo caminho, pararam em várias cidades da Fenícia e da Samaria para visitar os crentes, informando-os, para grande alegria de todos, que também os gentios se estavam a converter. Chegados a Jerusalém, foram recebidos por toda a igreja, estando presentes todos os apóstolos e anciãos. Paulo e Barnabé contaram o que Deus tinha feito através do seu trabalho. Mas alguns dos que tinham sido fariseus, e que tinham crido, puseram-se de pé e afirmaram que todos os convertidos gentios deveriam ser circuncidados e obrigados a guardar a Lei de Moisés. Então os apóstolos e os anciãos da igreja marcaram nova reunião para resolver o assunto. Nesta reunião, após longas discussões, Pedro levantou-se e falou aos presentes do seguinte modo: “Irmãos, todos sabem que Deus me escolheu há muito, de entre vós, para pregar o evangelho aos gentios, a fim de que também eles possam crer. Deus, que conhece os corações dos homens, mostrou que aceitava os gentios ao conceder-lhes o dom do Espírito Santo, tal como fez connosco, sem distinguir entre eles e nós, pois purificou a sua vida pela fé, como pela fé tinha purificado a nossa. Por que razão é que pretendem agora corrigir a Deus, pondo sobre os discípulos uma carga que nem nós nem os nossos pais conseguimos suportar? Nós acreditamos que todos são salvos da mesma maneira, pela graça do Senhor Jesus!” A discussão acabou, passando todos a ouvir Barnabé e Paulo que relatavam os sinais que Deus fizera por seu intermédio entre os gentios. Quando terminaram, começou Tiago: “Irmãos, escutem-me. Pedro falou-vos do tempo em que Deus primeiro visitou os gentios para de entre eles levantar um povo que honrasse o seu nome. E este facto da conversão dos gentios está de acordo com as predições dos profetas, como está escrito: ‘Nesse tempo reconstruirei o tabernáculo de David, que agora está em ruínas; restaurá-lo-ei à sua glória primitiva, para que o resto dos homens busque o Senhor, e todas as nações sobre as quais é invocado o meu nome. É isto que diz o Senhor, e ele realiza os seus planos, conhecidos desde a eternidade.’ Assim, na minha opinião, não devemos causar dificuldades aos gentios que se voltam para Deus. Devemos escrever-lhes, sim, que se abstenham de coisas consagradas aos ídolos, da prática da imoralidade sexual, de carne de animais estrangulados e de sangue. Porque a Lei de Moisés tem sido pregada em todas as cidades, sábado após sábado, desde as antigas gerações.” Então os apóstolos, os anciãos e toda a congregação em Jerusalém decidiram que se mandassem delegados a Antioquia, com Paulo e Barnabé, para anunciarem esta decisão. Os escolhidos eram dois pastores da igreja: Judas (a quem chamavam também Barsabás) e Silas. A carta que levaram consigo dizia o que a seguir se lê. Dos apóstolos, anciãos e irmãos em Jerusalém, para os irmãos gentios em Antioquia, Síria e Cilícia. Saudações! Constou-nos que alguns crentes daqui vos perturbaram, lançando dúvidas sobre a vossa salvação; mas eles não tinham instruções nossas para o fazer. Pareceu-nos sensato, depois de termos chegado todos a uma mesma decisão, enviar-vos representantes nossos, que acompanharão Barnabé e Paulo, irmãos a quem amamos e que arriscaram a vida por amor do nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, enviamo-vos Judas e Silas, a fim de confirmarem pessoalmente e de viva voz o que resolvemos acerca do vosso caso. Porquanto pareceu bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos mandar outra recomendação que não seja a de se absterem de carne sacrificada aos ídolos, de sangue, da carne de animais estrangulados e da prática de imoralidade sexual. Se isto fizerem, bastará. Com as nossas saudações. Os mensageiros partiram imediatamente para Antioquia, onde fizeram uma reunião geral dos cristãos, a quem entregaram a carta. A leitura desta mensagem de consolo causou grande alegria em toda a igreja. Então Judas e Silas, que eram ambos profetas, exortaram longamente os crentes, fortalecendo a sua fé. Ficaram ali algum tempo e depois Judas e Silas regressaram a Jerusalém, levando saudações àqueles que os tinham enviado. Mas Silas decidiu ficar ali. Paulo e Barnabé continuaram em Antioquia a ensinar e pregar a palavra do Senhor, na companhia de muitos outros irmãos. Alguns dias depois, Paulo sugeriu a Barnabé: “Voltemos de novo à província da Ásia e visitemos os irmãos em todas as cidades onde pregámos a palavra do Senhor, a fim de vermos como eles vão.” Barnabé concordou e queria levar João Marcos com eles. Mas Paulo não achou razoável que levassem consigo alguém que os tinha deixado na Panfília e não os tinha acompanhado no trabalho. E não conseguiram entender-se. Resolveram então separar-se. Barnabé seguiu com Marcos e embarcou para Chipre, enquanto Paulo escolheu Silas e, confiado pelos irmãos à graça do Senhor, partiu para a Síria e Cilícia para fortalecer as igrejas ali existentes. Paulo e Silas foram primeiro a Derbe e depois a Listra, onde encontraram Timóteo, um discípulo que era filho de mãe judaica cristã e de pai grego. Timóteo era muito considerado pelos irmãos em Listra e Icónio; pelo que Paulo lhe pediu que se juntasse a eles na viagem. Atendendo aos judeus daquela região, circuncidou Timóteo antes da partida, pois toda a gente sabia que o pai dele era grego. Depois, indo de cidade em cidade, tornaram conhecida a decisão relativa aos gentios dada pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. E assim as igrejas cresciam diariamente em fé e em número. Seguidamente Paulo e Silas percorreram a Frígia e a Galácia, pois o Espírito Santo impedira-os de ir à província da Ásia naquela altura. Chegando à fronteira da Mísia, encaminharam-se para a província da Bitínia, mas uma vez mais o Espírito de Jesus os impediu. Em alternativa, prosseguiram viagem através da província da Mísia até à cidade de Tróade. Naquela noite Paulo teve uma visão. Viu um homem da Macedónia, que lhe pedia: “Vem à Macedónia, vem ajudar-nos!” Depois de ter esta visão, logo procurámos seguir para a Macedónia, concluindo que era Deus quem nos enviara a pregar ali o evangelho. Embarcámos em Tróade, atravessámos para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis. Chegámos finalmente a Filipos, colónia romana e capital do distrito da Macedónia. Ficámos ali vários dias. No sábado, saímos da cidade para a beira do rio, onde julgávamos que algumas pessoas se reuniriam para oração. Encontrámos ali algumas mulheres e fomos falar-lhes. Uma delas era Lídia, vendedora de púrpura, natural de Tiatira. Ela já adorava a Deus e, enquanto nos ouvia, o Senhor abriu-lhe o coração e aceitou tudo o que Paulo dizia. Foi batizada com todos os seus familiares e pediu-nos que fôssemos seus hóspedes: “Se acham que sou fiel ao Senhor, venham e fiquem na minha casa!” E tanto teimou que acabámos por aceitar. Certo dia, indo nós a caminho do local de oração junto ao rio, encontrámos uma rapariga escrava, possuída por demónios, e que ganhava muito dinheiro para os seus senhores prevendo o futuro. Pôs-se então a seguir-nos e a gritar: “Estes homens são servos do Deus altíssimo e vieram ensinar-nos o caminho da salvação!” Isto repetiu-se dia após dia, até que Paulo, bastante perturbado com o caso, se voltou e falou ao demónio que estava dentro dela: “Ordeno-te, em nome de Jesus Cristo, que saias do seu corpo!” E imediatamente assim foi. Destruídas as suas esperanças de fazer fortuna, os senhores desta escrava agarraram em Paulo e Silas e levaram-nos à praça pública, à presença dos líderes. “Estes judeus andam a corromper a cidade!”, gritavam. “Andam a ensinar ao povo a fazer coisas contrárias às leis romanas.” Depressa se formou uma multidão ameaçadora contra Paulo e Silas. E os juízes mandaram que os despissem e açoitassem. Repetidas vezes as varas caíram sobre as suas costas nuas; depois meteram-nos na cadeia e o carcereiro recebeu ordem para os guardar com toda a segurança. Por isso, meteu-os numa cela interior e prendeu-lhes os pés ao tronco de madeira. Cerca da meia-noite, quando Paulo e Silas oravam e cantavam hinos ao Senhor, escutados pelos outros presos, deu-se de súbito um grande terramoto; a prisão foi abalada até aos alicerces, as portas abriram-se e as cadeias de todos os presos cairam! O carcereiro acordou, viu as portas da prisão abertas e, julgando que os presos tinham escapado, puxou da espada para pôr fim à vida. Mas Paulo gritou-lhe: “Não faças isso! Estamos todos aqui!” Tremendo de terror, o carcereiro mandou vir luzes e, correndo à cela, prostrou-se no chão diante de Paulo e Silas. Trazendo-os para fora, perguntou-lhes: “Meus senhores, que devo fazer para ser salvo?” Eles responderam: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa.” Anunciaram-lhe então, a ele e a todos os seus familiares, as boas novas do Senhor. Naquela mesma hora, o carcereiro lavou-lhes os ferimentos e, com toda a sua família, foi batizado. Depois, levando-os à casa onde morava, serviu-lhes uma refeição. Tanto ele como os seus estavam cheios de alegria por serem agora todos crentes em Deus! Na manhã seguinte, os juízes mandaram guardas dizer ao carcereiro: “Ponham esses homens em liberdade!” O carcereiro disse a Paulo: “Podem sair quando quiserem! Vão em paz!” Mas Paulo respondeu: “Não! Castigaram-nos publicamente, sem julgamento, encarceraram-nos, a nós que somos cidadãos romanos, e agora querem que saiamos em segredo? Que venham eles mesmos soltar-nos!” Os guardas levaram a resposta aos juízes que ficaram receosos ao saberem que Paulo e Silas eram cidadãos romanos. Dirigiram-se então à prisão e pediram-lhes desculpas. Puseram-nos fora, rogando-lhes que abandonassem a cidade. Paulo e Silas voltaram a casa de Lídia, onde se encontraram com os crentes e os encorajaram uma vez mais antes de deixarem a cidade. Percorriam agora as cidades de Anfípolis e Apolónia e chegaram, por fim, a Tessalónica, onde havia uma sinagoga judaica. Como era seu costume, Paulo entrou na sinagoga, e durante três sábados seguidos expôs as Escrituras ao povo, explicando-lhes as profecias acerca dos sofrimentos do Cristo, da sua ressurreição, e provando que o Cristo era, justamente, Jesus. Alguns dos ouvintes ficaram convencidos e juntaram-se a Paulo e Silas, incluindo um grande número de gregos piedosos, e também muitas mulheres importantes da cidade. No entanto, os judeus, cheios de inveja, incitaram uns quantos arruaceiros para provocarem uma agitação. Estes assaltaram a casa de Jasão na ideia de levarem Paulo e Silas perante a assembleia do povo, a fim de serem castigados. Como não os encontrassem ali, arrastaram Jasão e alguns outros crentes à presença dos juízes. “Paulo e Silas têm andado a virar do avesso todo o mundo e agora vieram aqui a perturbar a paz na nossa cidade!”, clamaram. “E Jasão abriu-lhes as portas da sua própria casa. Agem contra os decretos de César e dizem existir outro rei, Jesus!” O povo da cidade e também os juízes ficaram alarmados com esta acusação. E só deixaram partir Jasão e os demais depois de estes terem pago uma caução. Naquela noite, os crentes enviaram Paulo e Silas à pressa para Bereia. Estes, quando ali chegaram, foram à sinagoga judaica. O povo de Bereia tinha um espírito mais aberto que o de Tessalónica, ouvindo de boa mente a mensagem e examinando dia após dia as Escrituras, para ver se o que Paulo e Silas diziam era exato. O resultado foi que muitos creram, incluindo várias senhoras gregas muito respeitadas, e também não poucos homens. Quando, porém, os judeus de Tessalónica souberam que Paulo pregava a palavra de Deus em Bereia, foram lá para provocar distúrbios. Os crentes atuaram imediatamente, enviando Paulo para a costa, enquanto Silas e Timóteo ficavam em Bereia. Os que acompanhavam Paulo levaram-no a Atenas, regressando depois a Bereia com um recado para Silas e Timóteo se apressarem a ir ter com ele. Enquanto Paulo os esperava em Atenas, ficou perturbado com o grande número de ídolos que via por toda a cidade. Foi à sinagoga discutir com os judeus e com os gentios piedosos e falava diariamente na praça pública para quem o quisesse ouvir. Teve também um debate com alguns filósofos epicuristas e estóicos. Mas quando lhes falou em Jesus e na ressurreição, a reação foi: “Mas o que quer dizer este fala-barato? Parece que anda aí a fazer propaganda duma religião estrangeira.” Isto porque estava a pregar a boa nova de Jesus e da ressurreição. Então, convidaram-no a ir ao Areópago. E disseram-lhe: “Podemos saber que nova doutrina é que estás a divulgar? Pois andas a dizer coisas espantosas para os nossos ouvidos. Desejamos saber de que se trata.” (Convém explicar que todos os atenienses, e também os estrangeiros residentes em Atenas, passavam o tempo a discutir as novas ideias que iam aparecendo.) Paulo, pondo-se de pé diante deles no Areópago, falou-lhes assim: “Gente de Atenas, vejo que são muito religiosos, pois ao passar pela cidade reparei em muitos altares, um deles tinha até a inscrição ao deus desconhecido. Afinal, têm andado a adorá-lo sem saber quem ele é e, por isso, quero falar-vos agora acerca desse mesmo Deus. Foi ele quem fez o mundo e tudo quanto há nele e, uma vez que é Senhor do céu e da Terra, não vive em templos feitos por mãos humanas. E nem sequer precisa que seres humanos lhe façam seja o que for! Ele próprio é quem dá a todos a vida, o ar que respiramos e tudo o resto de que precisamos. Criou toda a população do mundo, a partir de um só homem, e espalhou as nações por toda a face da Terra, fixando os tempos do mundo e as fronteiras da sua área de habitação. O que ele pretende é que o procurem e que se esforcem por encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós. ‘Pois nele vivemos e nos movemos e existimos.’ Como disse outro dos vossos poetas, ‘somos de descendência divina’. Se isto é verdade, não devemos imaginar Deus como um ídolo que os homens fizeram de ouro, ou de prata, ou de pedra, pela sua arte e imaginação. Deus tem tolerado a ignorância do homem acerca destas coisas, mas agora ordena a todos, e em toda a parte, que se arrependam e o adorem só a ele. Pois marcou um dia para julgar o mundo com justiça através do Homem que para isso designou. E deu a todos uma sólida razão para crerem nele, ressuscitando-o da morte.” Quando ouviram Paulo falar na ressurreição de mortos, houve quem se risse, contudo houve também quem dissesse: “Queremos tornar a ouvir-te acerca disto, mas mais tarde.” Assim terminou a exposição de Paulo. Alguns juntaram-se a ele e creram, como por exemplo Dionísio, membro do Areópago, uma mulher chamada Dâmaris, e outras pessoas. Depois disto, Paulo saiu de Atenas e foi para Corinto, onde conheceu um judeu chamado Áquila, nascido no Ponto e que chegara recentemente da Itália com a sua mulher, Priscila. Tinham sido expulsos da Itália, quando Cláudio César ordenou que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo vivia e trabalhava com eles, pois, como ele próprio, tinham o ofício de fazer tendas. Todos os sábados Paulo ia para a sinagoga, tentando convencer tanto judeus como gregos. Depois de Silas e Timóteo chegarem da Macedónia, Paulo passava o seu tempo a pregar e a provar aos judeus que Jesus era o Cristo. Mas quando os judeus se lhe opuseram e o insultaram, Paulo sacudiu a sua capa em sinal de protesto e disse: “Vocês recusam-se a aceitar e permanecem perdidos! Pois agora a responsabilidade é inteiramente vossa. Quanto a mim, estou inocente do que vier a acontecer-vos e passarei a ir pregar aos gentios.” Depois disto, ficou em casa de Tito Justo, que adorava a Deus e vivia ao lado da sinagoga. Crispo, líder da sinagoga, e toda a sua casa creram no Senhor. E muitas outras pessoas em Corinto que o ouviram creram e foram batizadas. Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Nada receies! Fala! Não desistas! Estou contigo e ninguém te pode fazer mal. Há nesta cidade muita gente que me pertence.” Assim, Paulo ficou ali mais um ano e meio, ensinando a palavra de Deus. Contudo, quando Gálio se tornou governador da Acaia, os judeus uniram-se contra Paulo e levaram-no à presença do governador para ser julgado, acusando-o: “Este convence os homens a adorarem a Deus de uma forma contrária à lei.” Todavia, justamente quando Paulo ia começar a sua defesa, Gálion voltou-se para os acusadores e disse-lhes: “Escutem, judeus! Se neste caso houvesse matéria de crime, ver-me-ia obrigado a ouvir-vos. Mas uma vez que se trata de uma questão de palavras e nomes, e da vossa Lei judaica, encarreguem-se vocês do caso. Não estou interessado em ser juiz dessas coisas.” E expulsou-os do tribunal. Então agarraram em Sóstenes, o líder da sinagoga, e espancaram-no diante do tribunal, mas Gálion não ligou a menor importância. Paulo ficou na cidade de Corinto ainda vários dias e, despedindo-se dos cristãos, embarcou para a costa da Síria, levando consigo Priscila e Áquila. Em Cencreia tinha rapado a cabeça, de acordo com o costume judaico, pois fizera um voto. Chegado ao porto de Éfeso, deixou os outros em Éfeso, foi à sinagoga e ali argumentou com os judeus sobre o evangelho. Estes pediram-lhe que ficasse mais alguns dias, mas Paulo não aceitou a proposta. “Tenho forçosamente de estar em Jerusalém para as festas”, disse. No entanto, prometeu regressar mais tarde a Éfeso, se Deus o permitisse. E assim continuou a viagem. A próxima paragem foi no porto de Cesareia. Dali, foi visitar a igreja em Jerusalém, seguindo depois para Antioquia. Após passar ali algum tempo, tornou a partir para a província da Ásia, atravessando a Galácia e a Frígia, visitando todos os discípulos, animando-os. Sucedeu que acabara de chegar a Éfeso, vindo de Alexandria no Egito, um judeu chamado Apolo, que conhecia bem as Escrituras. Tinha sido instruído sobre o caminho do Senhor e falava e ensinava os outros com grande entusiasmo no espírito e com exatidão acerca de Jesus. Contudo, conhecia apenas o batismo de João. Quando Priscila e Áquila o ouviram pregar com ousadia na sinagoga, convidaram-no para a sua casa e explicaram-lhe mais exatamente o caminho de Deus. Apolo tinha a intenção de ir à Acaia, ideia que os discípulos encorajaram. Escreveram, até, aos cristãos dessa região, recomendando-lhes que o aceitassem com agrado. Chegado à Acaia, Apolo ajudou grandemente os que tinham recebido a fé através da graça, pois derrubava com poder todos os argumentos dos judeus em debate público, mostrando pelas Escrituras que Jesus era, de facto, o Cristo. Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo percorreu a província da Ásia e chegou a Éfeso, onde encontrou vários discípulos. “Receberam o Espírito Santo quando creram?”, perguntou-lhes. “Não, nem entendemos o que seja o Espírito Santo!” “Mas em que doutrina é que creram quando foram batizados?”, perguntou-lhes. “Naquilo que João Batista ensinou.” Paulo explicou-lhes então que o batismo de João servia para manifestar o desejo de nos desviarmos do pecado e nos voltarmos para Deus, mas que os que recebiam esse batismo tinham de dar um passo em frente e crer em Jesus, aquele que João dissera que viria mais tarde. Logo que souberam disto, foram batizados no nome do Senhor Jesus. Quando Paulo lhes colocou as mãos sobre a cabeça, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar noutras línguas e a profetizar. Eram cerca de doze homens. Depois disto, Paulo foi à sinagoga, onde pregou livremente durante três meses, discorrendo e argumentado acerca do reino de Deus. Alguns, porém, resistiram a esta mensagem e recusaram-se a crer nela, denegrindo publicamente o caminho cristão. Paulo então retirou-se da sinagoga. Levando os discípulos consigo, começou com reuniões separadas na escola de Tirano, onde discorria diariamente. Isto continuou durante dois anos, de modo que toda a gente da província da Ásia, tanto judeus como gregos, ouviu a palavra do Senhor. E Deus fazia milagres por intermédio de Paulo, de tal modo que, quando se pousavam lenços seus ou peças do seu vestuário sobre os doentes estes ficavam curados e saíam deles quaisquer espíritos maus de que estivessem possuídos. Um grupo de judeus que viajavam de terra em terra expulsando espíritos maus tentou servir-se do nome do Senhor Jesus dizendo: “Conjuro-te por Jesus, a quem Paulo prega, que saias!” Os homens que faziam isto eram sete filhos de Ceva, sumo sacerdote judeu. Mas quando experimentaram fazê-lo num homem possuído por um espírito mau, este último respondeu: “Conheço Jesus e conheço Paulo, mas vocês quem são?” E saltando sobre dois deles o homem que tinha o espírito mau, espancou-os, de tal modo que fugiram daquela casa nus e muito magoados. A notícia do que tinha acontecido espalhou-se rapidamente por toda a cidade de Éfeso, tanto entre os judeus como entre os gregos. Sobre a cidade desceu um medo solene e o nome do Senhor Jesus era grandemente honrado. Muitos dos crentes que outrora praticavam bruxarias confessaram os seus atos. Trazendo os seus livros sobre aquelas coisas, queimaram-nos em fogueira pública. Calculou-se que aquilo tudo valia umas 50.000 peças de prata. A ação exercida pela mensagem de Deus era poderosa e estendia-se cada vez mais. Depois disto, Paulo sentiu-se impelido pelo Espírito Santo a atravessar a Macedónia e a Acaia, antes de regressar a Jerusalém. “E depois”, afirmou, “tenho de seguir para Roma!” Assim, mandou à frente os seus dois auxiliares, Timóteo e Erasto, para a Macedónia, enquanto permanecia mais algum tempo na província da Ásia. Por essa altura, houve um grande tumulto em Éfeso, por causa dos que andavam no caminho do Senhor. Começou com Demétrio, um ourives de prata que fazia templos de prata para Ártemis que fazia e proporcionava aos artesãos um nada pequeno rendimento. Reunindo esses trabalhadores e outros que se ocupavam em ofícios semelhantes, dirigiu-lhes as seguintes palavras: “Companheiros, este trabalho é a fonte dos nossos proventos. Como bem sabem, pelo que já viram e ouviram, este homem, Paulo, tem convencido inúmeras pessoas que os deuses feitos por mãos humanas não são deuses. Isto está a tornar-se evidente não só aqui em Éfeso, mas também em toda a província. É claro que não me preocupo apenas com o descrédito da nossa atividade, mas penso também no perigo do templo da grande Ártemis perder a sua influência e a deusa magnífica, adorada não só nesta parte da província da Ásia como também no mundo inteiro, cair no esquecimento.” Ao ouvirem estas palavras, a fúria daqueles homens despertou e começaram a gritar: “Grande é a Ártemis dos efésios!” Juntou-se uma multidão e em breve a cidade se amotinava. Todos correram ao anfiteatro, arrastando Gaio e Aristarco, companheiros de viagem de Paulo, da Macedónia. Paulo queria entrar também, mas os discípulos não lho permitiram. Até algumas autoridades da província, amigos de Paulo, lhe mandaram recado pedindo-lhe que não entrasse no anfiteatro. Lá dentro, toda a gente gritava; uns uma coisa, outros outra; uma confusão. A maior parte das pessoas nem sequer sabia por que razão se encontravam ali. Alguns dos judeus descobriram Alexandre entre a multidão e arrastaram-no para a frente. Ele então, acenando com a mão, pediu silêncio e procurou falar. Mas a multidão, vendo que era judeu, começou outra vez a gritar, clamando durante duas horas: “Grande é a Ártemis dos efésios!” Por fim, o administrador da cidade conseguiu acalmar a multidão com as seguintes palavras: “Homens de Éfeso, toda a gente sabe que Éfeso é o centro da religião da grande Ártemis, cuja imagem caiu dos céus neste local. Uma vez que se trata de um facto inegável, não devem deixar-se perturbar, nem fazer nada de precipitado. No entanto, trouxeram aqui estes homens, que nada roubaram no templo da deusa nem a ofenderam. Se Demétrio e os artífices têm alguma coisa contra eles, os tribunais estão a funcionar e os juízes podem pronunciar-se sobre o caso. Se há outras queixas, podem ser examinadas numa assembleia legal; pois corremos o perigo de ter de prestar contas ao governo romano pelos motins de hoje, sem que haja qualquer motivo que possamos dar para justificar este tumulto.” Assim os despediu e encerrou a assembleia. Acabada a confusão, Paulo reuniu os discípulos, dirigiu-lhes uma mensagem de encorajamento, despediu-se e partiu para a Macedónia. Viajou através dessa região, encorajando os crentes em todas as vilas e cidades. Depois chegou à Grécia, ficando ali durante três meses. Preparava-se para embarcar para a Síria, quando descobriu que os judeus conspiravam contra a sua vida. Resolveu então ir primeiro ao norte, à Macedónia. Acompanharam-no: Sópatro, filho de Pirro, de Bereia; Aristarco e Segundo de Tessalónica; Gaio de Derbe; Timóteo; Tíquico e Trófimo que eram da província da Ásia. Estes últimos, tendo partido à frente, esperaram-nos em Tróade. Mal terminaram as cerimónias da Páscoa, embarcámos em Filipos e passados cinco dias chegávamos a Tróade, na província da Ásia, onde ficámos uma semana. No domingo, reunimo-nos para cear juntos. Paulo pregou nesse encontro e, porque ia partir no dia seguinte, alongou o seu discurso até à meia-noite. A sala no andar onde nos reunimos estava iluminada com muitas lâmpadas a óleo. E como Paulo prolongasse muito o seu sermão, um jovem chamado Êutico, que estava sentado no parapeito duma janela, adormeceu e caiu da altura de três andares, tendo morrido. Paulo desceu e, levantando-o nos braços, disse: “Não se preocupem; ele está vivo!” Voltaram todos para cima e tomaram juntos uma refeição. Paulo ainda lhes falou longamente e já era madrugada quando partiu. Levaram o rapaz dali vivo, o que os deixou não pouco consolados. Nós seguimos à frente de barco e navegámos até Asson, onde ficámos de receber Paulo, pois assim ele no-lo ordenara, ponde-se ele a caminho por terra. Ali, reuniu-se connosco e embarcámos juntos para Mitilene. No dia seguinte passámos junto a Quio; no outro aproámos a Samos; um dia mais tarde chegámos a Mileto. Paulo resolvera não parar em Éfeso desta vez, para evitar passar tempo na província da Ásia, visto ter pressa em chegar a Jerusalém, se possível para celebrar o Pentecostes. Por isso, quando desembarcámos em Mileto, mandou recado aos anciãos da igreja de Éfeso, pedindo-lhes para virem ter com ele. Quando chegaram, disse-lhes: “Desde o dia em que desembarquei na província da Ásia, até agora, sabem de que modo tenho passado todo o tempo na vossa companhia servindo humildemente o Senhor, no meio de lágrimas e grandes perigos, devido às conspirações dos judeus contra a minha vida. No entanto, nunca deixei de dizer-vos nem de ensinar-vos tudo o que vos fosse útil, quer publicamente quer em vossas casas. O meu testemunho tanto para os judeus como para gentios tem sido o mesmo: que é preciso arrependerem-se do pecado, converterem-se a Deus e crerem no nosso Senhor Jesus Cristo. Agora sigo para Jerusalém, levado pelo Espírito Santo, sem saber o que me espera, a não ser que o Espírito Santo me tem dito que me esperam a prisão e o sofrimento, de cidade em cidade. Porém, não atribuo à minha vida valor algum se não completar a carreira e cumprir a tarefa que me foi confiada pelo Senhor Jesus, ou seja, dar testemunho do evangelho da graça de Deus. Sei bem que nenhum de vocês, junto de quem estive a pregar o reino de Deus, nunca mais tornará a ver-me. Por isso, vos testemunho solenemente, hoje mesmo, que estou inocente da perdição eterna seja de quem for; pois nunca deixei de vos anunciar integralmente a vontade de Deus. Olhem agora por vocês próprios e pelo rebanho de Deus, sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu líderes, para alimentar a igreja que Jesus comprou com o seu próprio sangue. Sei muito bem que, quando vos deixar, hão de aparecer no vosso meio mestres que, como lobos ferozes, não pouparão o rebanho. Mesmo alguns de vocês hão de torcer a verdade só para arranjar discípulos. Cuidado e vigiem! Lembrem-se dos três anos que convosco passei, do meu constante cuidado noite e dia, aconselhando-vos e avisando-vos, até com lágrimas. E agora confio-vos a Deus, ao seu cuidado e à palavra da sua graça. É esta palavra que pode construir a vossa fé e garantir-vos a herança que vos reserva, a vocês e a todos os que são santificados. Nunca cobicei nem prata nem ouro, nem o vestuário, nem as riquezas de ninguém. Sabem que estas minhas mãos trabalharam para me sustentar, e até para atender às necessidades dos que estavam comigo. Em tudo, quis mostrar-vos como, trabalhando esforçadamente, devemos auxiliar os fracos e lembrar-nos das palavras do Senhor Jesus: ‘É mais feliz dar do que receber!’ ” Quando acabou de falar, ajoelhou-se e orou com todos os crentes. Todos choravam copiosamente, abraçando e beijando Paulo, entristecendo-se, sobretudo, por ele ter dito que nunca mais eles haveriam de o ver. Seguidamente, acompanharam-no até ao navio. Depois de nos termos separado dos pastores de Éfeso, velejámos diretamente para Cós. No dia seguinte, chegámos a Rodes, prosseguindo para Pátara. Ali, tomámos um navio que ia partir para a província da Fenícia. Avistámos a ilha de Chipre, que deixámos à nossa esquerda, e desembarcámos no porto de Tiro, na Síria, onde o barco foi descarregado. Entrámos então em contacto com os discípulos da terra, ficando com eles durante uma semana. Estes discípulos aconselharam Paulo, da parte do Espírito, a não se dirigir para Jerusalém. No fim da semana, quando voltámos para bordo, todos os crentes, incluindo mulheres e crianças, acompanharam-nos para fora da cidade; fomos até à praia, onde orámos ajoelhados e nos despedimos. Depois embarcámos e eles voltaram para casa. A paragem seguinte, depois de sairmos de Tiro, foi Ptolemaida, onde saudámos os crentes, demorando-nos junto deles, porém, só um dia. Seguimos então para Cesareia e ficámos em casa de Filipe, o evangelista, um dos primeiros sete diáconos. Ele tinha quatro filhas solteiras que possuíam o dom da profecia. Durante a nossa estada de vários dias, fomos visitados por um profeta chamado Ágabo, vindo da Judeia. Dirigindo-se a nós, pegou no cinto de Paulo, amarrou os seus próprios pés e mãos com ele e disse: “Assim diz o Espírito Santo: ‘O homem a quem este cinto pertence será semelhantemente amarrado pelos judeus em Jerusalém e entregue aos gentios.’ ” Ao ouvirmos isto, todos nós, os crentes locais e os companheiros de Paulo, pedimos ao apóstolo que não continuasse viagem para Jerusalém. Mas ele respondeu: “Para que é todo este pranto? Magoam-me o coração, pois estou pronto não só a ser amarrado como também a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.” Quando não havia dúvidas de que era impossível desviar Paulo da sua decisão, desistimos e dissemos: “Faça-se a vontade do Senhor!” Assim, passado pouco tempo, juntámos a bagagem e partimos para Jerusalém. Alguns discípulos de Cesareia acompanharam-nos e levaram-nos à casa de Mnasom, natural de Chipre e um dos primeiros discípulos. E todos os irmãos em Jerusalém nos acolheram cordialmente. No segundo dia, Paulo levou-nos consigo para nos encontrarmos com Tiago e com os anciãos da igreja de Jerusalém. Trocadas saudações, Paulo contou as muitas coisas que Deus fizera entre os gentios através do seu trabalho. Eles glorificaram Deus, mas disseram: “Sabes, irmão, quantos milhares de judeus creram também, e todos eles observam zelosamente a Lei. Eles foram informados de que ensinas todos os judeus que vivem no meio dos gentios a afastarem-se da Lei de Moisés, instruindo-os a não circuncidarem os filhos e a não seguirem os costumes judaicos. O que vamos fazer? Sem dúvida que lhes constará que estás de volta. Faz então o que te estamos a dizer: temos aqui quatro homens que se preparam para rapar a cabeça e fazer um voto. Vai com eles ao templo, rapa também a cabeça e paga para que a deles também seja rapada. Assim, todos ficarão a saber que não é verdade o que andam a dizer de ti e que respeitas a Lei. Quanto aos convertidos oriundos dos gentios, comunicamos-lhe a nossa decisão: que se abstenham das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne não sangrada de animais estrangulados e da imoralidade sexual.” No dia seguinte, Paulo foi com os tais homens ao templo para a referida cerimónia, anunciando assim publicamente o cumprimento dos dias de purificação até que fosse levantada a oferta a favor de cada um deles. Os sete dias tinham quase acabado, quando alguns judeus da província da Ásia o viram no templo e, incitando a multidão contra ele, agarraram-no, gritando: “Gente de Israel, venham cá todos! É este o homem que ensina toda a gente em toda a parte contra o nosso povo, contra a Lei e este lugar. Chegou a introduzir gentios no templo e contaminou este lugar santo!” (É que, naquele mesmo dia, tinham-no visto na cidade com Trófimo, gentio de Éfeso, julgando que Paulo o tivesse levado ao templo.) Toda a população da cidade ficou alvoroçada com estas acusações e juntou-se uma multidão. Paulo foi arrastado para fora do templo, cujos portões logo se fecharam. Enquanto procuravam matá-lo, o comandante da guarnição romana foi informado de que toda a Jerusalém estava agitada. Imediatamente mandou aos seus soldados e oficiais que saíssem e ele próprio veio verificar o que se passava. Ao ver que as tropas se aproximavam, a multidão parou de espancar Paulo. O comandante prendeu-o, mandou que o acorrentassem com cadeias dobradas e perguntou à multidão quem era e o que fizera. No meio da multidão, uns gritavam uma coisa, outros outra. Vendo que, naquele tumulto e confusão, não conseguia entender nada, ordenou que o levassem para a fortaleza. Ao chegarem às escadas, a multidão mostrou-se tão violenta que os soldados colocaram Paulo aos ombros para o proteger, enquanto o povo seguia atrás, gritando: “Matem-no!” Ao ser levado para dentro, Paulo perguntou ao comandante: “Posso dizer-te uma coisa?” “Sabes grego?”, perguntou, por sua vez, o comandante. “Não és aquele egípcio que chefiou a revolta há uns tempos e levou consigo 4000 terroristas para o deserto?” “Não!”, respondeu Paulo. “Sou judeu de Tarso, na Cilícia, uma cidade bastante importante, e peço autorização para falar a esta gente.” O comandante concordou. Paulo de pé, nos degraus, fez um gesto ao povo para que se acalmasse. Em breve houve silêncio e Paulo disse, em hebraico, o seguinte: “Irmãos e pais, escutem-me no que vou dizer-vos em minha defesa.” Quando o ouviram falar em hebraico, o silêncio tornou-se ainda maior. “Sou judeu, nascido em Tarso, cidade da Cilícia, mas educado aqui em Jerusalém sob o ensino de Gamaliel, a cujos pés aprendi a seguir com muito cuidado a nossa Lei e costumes. O meu anseio era honrar a Deus em tudo o que fazia, tal como vocês procuram fazer hoje. Assim, persegui os seguidores do Caminho até à morte, prendendo e entregando à prisão tanto homens como mulheres. O sumo sacerdote pode confirmá-lo, ou até qualquer membro do conselho judaico, pois pedi-lhes que passassem cartas para os irmãos em Damasco, com instruções para me deixarem trazer acorrentado para Jerusalém qualquer cristão que encontrasse, para ser castigado. Seguia eu pela estrada, já perto de Damasco, quando subitamente, cerca do meio-dia, brilhou em torno de mim uma luz muito forte vinda do céu. Caí e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues?’ ‘Quem és tu, Senhor?’, perguntei. ‘Sou Jesus de Nazaré, aquele a quem persegues.’ Os homens que estavam comigo viram a luz, mas não compreenderam as palavras. E eu disse: ‘Que devo eu fazer, Senhor?’ E o Senhor disse-me: ‘Levanta-te, entra em Damasco e aí te será dito o que deves fazer.’ A luz era tão forte que deixei de ver e tive de ser conduzido para Damasco pelos meus companheiros. Aí, Ananias, homem obediente a Deus, devoto à Lei e que gozava da consideração de todos os judeus de Damasco, veio ver-me e, chegando-se junto de mim, disse-me: ‘Irmão Saulo, recupera a vista!’ E naquele momento consegui vê-lo. Então disse-me: ‘O Deus de nossos pais escolheu-te para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvi-lo falar. Deverás testemunhar diante de todos os homens aquilo que viste e ouviste. Agora, não te demores. Levanta-te, vai batizar-te e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.’ Um dia depois do meu regresso a Jerusalém, quando orava no templo, tive uma visão em que Jesus me disse: ‘Apressa-te, sai de Jerusalém, pois não acreditarão em ti, quando lhes falares acerca de mim.’ ‘Senhor’, respondi, ‘eles sabem, sem dúvida, que meti na prisão e espanquei os membros de todas as sinagogas que criam em ti. E quando a tua testemunha, Estêvão, foi morta, lá estava eu manifestando a minha aprovação ao tomar conta da roupa dos que o apedrejavam.’ Mas o Senhor disse-me: ‘Sai de Jerusalém, pois vou mandar-te para longe, para os gentios!’ ” A multidão escutou Paulo até ele dizer aquela palavra; mas, ao ouvi-la, todos gritaram a uma só voz: “Fora com esse homem! Matem-no! Não é digno de viver!” Clamando eles e lançando ao ar a túnica, misturada com terra, o comandante levou-o para dentro e ordenou que fosse açoitado, para que confessasse o crime, pois pretendia descobrir por que motivo a multidão se enfurecera daquela maneira. Quando estavam a amarrar Paulo para o açoitar, este disse a um oficial que se encontrava perto: “Será legal chicotear um cidadão romano que nem sequer foi julgado?” O oficial, ao ouvir isto, falou com o comandante e avisou-o: “Vê lá o que vais fazer! Trata-se de um cidadão romano!” O comandante foi ter com Paulo e perguntou-lhe: “Diz-me, és cidadão romano?” “Sou, sim!”, respondeu Paulo. “Também eu”, murmurou o comandante, “e esse direito custou-me muito dinheiro!” Paulo, por seu turno, respondeu: “Mas eu sou cidadão romano por nascimento!” Os soldados que se preparavam para interrogar Paulo foram-se logo embora, quando souberam que era cidadão romano, e o próprio comandante ficou assustado por Paulo ser cidadão romano e por o ter amarrado. No dia seguinte, o comandante, desejoso de saber ao certo por que razão Paulo estava a ser acusado pelos judeus, tirou-lhe as cadeias e, mandando convocar os principais sacerdotes para uma sessão com o conselho, trouxe Paulo e apresentou-o. Fitando o conselho, Paulo começou por dizer: “Irmãos, tenho sempre vivido diante de Deus com a consciência limpa!” Logo Ananias, o sumo sacerdote, mandou aos que se encontravam junto de Paulo que lhe batessem na boca. Paulo disse-lhe então: “Deus te castigará, hipócrita! Que espécie de juiz és, para me julgares segundo a Lei, mas violares a Lei ordenando que me batam?” Os que estavam perto de Paulo disseram-lhe: “É assim que falas ao sumo sacerdote de Deus?” “Não sabia que era o sumo sacerdote, irmãos!”, respondeu Paulo. “Pois as Escrituras dizem: ‘Nunca fales mal de um líder do teu povo!’ ” Entretanto, Paulo sabendo que o conselho era formado em parte por saduceus e em parte por fariseus, disse bem alto: “Irmãos, sou fariseu, como o foram todos os meus antepassados. E se hoje estou aqui a ser julgado é porque acredito na ressurreição dos mortos!” Com estas palavras, imediatamente se dividiu o tribunal, fariseus contra saduceus; pois estes últimos dizem que não há ressurreição, nem anjos, nem espírito, mas os fariseus acreditam em todas estas coisas. Houve, pois, grande confusão e alguns dos especialistas na Lei, do partido dos fariseus, levantaram uma forte contestação, dizendo: “Nada vemos de culpa nele!”, gritavam. “Pode muito bem ser que um espírito ou um anjo lhe tenha falado!” O tumulto foi tal que o comandante, receoso que o despedaçassem, ordenou aos soldados que o tirassem dali pela força e o levassem novamente para a fortaleza. Naquela noite, o Senhor apareceu junto de Paulo e disse-lhe: “Nada receies, Paulo! Assim como me anunciaste ao povo aqui em Jerusalém, também o farás em Roma.” Na manhã seguinte, os judeus juntaram-se e fizeram um juramento de não comer nem beber até que tivessem matado Paulo. Os que participaram na conspiração eram mais de quarenta homens. Seguidamente, foram ter com os principais sacerdotes e com os anciãos do povo, dizendo-lhes o que tinham feito. “Fizemos um juramento, sob pena de maldição, de não comer até termos matado Paulo. Portanto, peçam ao comandante que torne a trazer Paulo à vossa presença, sob pretexto de colher informações mais precisas sobre ele”, rogaram. “Quanto a nós, trataremos de matá-lo no caminho antes de aqui chegar.” Contudo, o filho da irmã de Paulo teve conhecimento deste plano e foi à fortaleza avisar o tio. Paulo, chamando um dos oficiais, disse: “Leva este rapaz ao comandante, porque tem uma coisa importante a revelar-lhe.” O oficial assim fez, explicando: “Paulo, o prisioneiro, chamou-me e pediu-me para trazer aqui este jovem que tem qualquer coisa a revelar.” O comandante pegou no rapaz pela mão e, levando-o à parte, perguntou-lhe: “Que me queres dizer?” O sobrinho de Paulo disse-lhe: “Amanhã os judeus planeiam pedir-lhe que conduzas Paulo à presença do conselho dos anciãos com o pretexto de obterem mais algumas informações. Mas não te deixes convencer por isso! Há mais de quarenta homens, numa emboscada no caminho, prontos para o matar. Juraram não comer nem beber sem o liquidar primeiro. Já lá estão, esperando que o seu pedido seja atendido.” “Que ninguém saiba que me contaste isto!”, avisou o comandante, mandando o rapaz embora. Seguidamente, chamou dois dos seus oficiais e ordenou: “Destaquem duzentos soldados, mais duzentos lanceiros e setenta homens de cavalaria, para que estejam prontos para partir para Cesareia às nove horas da noite! Deem uma montada a Paulo e conduzam-no em segurança ao governador Félix.” Escreveu também uma carta ao governador. Cláudio Lísias, para Sua Excelência, o Governador Félix. Saudações! Este homem foi detido pelos judeus. Estavam a ponto de o matar quando enviei soldados para o livrar, pois soube que era cidadão romano. Depois, levei-o perante o conselho dos anciãos para procurar saber qual o delito de que o acusavam. Descobri que se tratava de questões respeitantes à Lei judaica, sem haver nenhuma acusação que merecesse prisão ou morte. Quando, porém, fui informado duma conspiração para o matar, resolvi mandá-lo à tua presença, para que os acusadores apresentem a sua queixa. Naquela noite, de acordo com as ordens dadas, os soldados levaram Paulo para Antipátride. Na manhã seguinte, permitiram que a cavalaria partisse com ele e regressaram à fortaleza. Quando chegaram a Cesareia, entregaram a carta ao governador e apresentaram-lhe Paulo. Depois de a ler, este perguntou a Paulo de onde era. “Da Cilícia”, respondeu. “Quando os teus acusadores chegarem, estudarei o caso a fundo”, disse-lhe o governador, mandando que o metessem na prisão no palácio do rei Herodes. Cinco dias depois chegava Ananias, o sumo sacerdote, acompanhado de alguns dos anciãos do povo e de um certo Tertulo, advogado, para apresentarem as suas acusações contra Paulo. Quando Paulo foi trazido, Tertulo expôs as acusações que eram feitas a Paulo, no seguinte discurso dirigido ao governador. “Excelentíssimo Félix, graças à tua pessoa e à tua sábia administração, muita coisa boa e muita paz tem tido este povo. E tudo isto é com imensa gratidão que o reconhecemos. Todavia, para que não te enfades, solicito a tua atenção durante um instante, enquanto exponho em resumo as nossas acusações contra este homem. É que verificámos tratar-se de um agitador, um homem que constantemente incita os judeus no mundo inteiro a tumultos e rebeliões contra o governo romano. É ele o cabecilha da seita conhecida pelo nome de Nazarenos. Além disso, tentava profanar o templo quando o prendemos. E quisemos julgá-lo segundo a nossa Lei, mas Lísias, comandante da guarnição, apareceu e arrancou-o violentamente das nossas mãos, ordenando aos seus acusadores que se apresentasse perante ele. Basta interrogá-lo para comprovar a verdade das nossas acusações contra ele.” Logo os outros judeus fizeram coro, afirmando ser verdade tudo quanto Tertulo acabara de dizer. Era a vez de Paulo falar. O governador, com um gesto, mandou-lhe que falasse. Paulo começou: “Sei que desde há muitos anos como governador és o juiz desta nação; por isso, com mais confiança faço a minha defesa. Poderás facilmente averiguar que há apenas doze dias cheguei a Jerusalém para adorar no templo, sem nunca ter provocado tumultos nem no templo, nem em quaisquer sinagogas ou nas ruas de qualquer cidade. E estes homens não poderão provar as acusações que têm contra mim. Mas uma coisa confesso: é que conforme o Caminho a que eles chamam seita, sirvo o Deus dos nossos antepassados, acredito em tudo o que está escrito na Lei e nos profetas, e, tal como eles, acredito na ressurreição de justos e injustos. Por isso, procuro em tudo ter uma consciência limpa perante Deus e os homens. Depois de diversos anos de ausência, voltei a Jerusalém com dinheiro para auxiliar os judeus e para oferecer um sacrifício a Deus. Os meus acusadores viram-me no templo fazendo isso. Tinha terminado o ritual da santificação e não havia nenhuma multidão à minha volta, nenhum motim! Estavam lá, porém, alguns judeus da província da Ásia que também aqui deveriam estar, se têm alguma coisa de que me acusar. Pergunte-se aos homens que estão presentes de que delitos o seu conselho me considera réu, a não ser estas palavras que ali proferi: ‘Estou aqui hoje perante o conselho sob a acusação de acreditar na ressurreição dos mortos!’ ” Félix, que estava bem informado acerca do Caminho, suspendeu a audiência e disse: “Assim que Lísias, o comandante da guarnição, chegar, decidirei o caso.” Deu instruções ao comandante da guarda para manter Paulo sob custódia, mas que lhe fosse dada alguma liberdade de movimentos e não se impedisse qualquer dos seus amigos de o visitar ou de lhe levar ajuda. Alguns dias decorridos, veio Félix com Drusila, sua esposa, que era judia. Esta mandou chamar Paulo e escutou-o acerca da fé em Jesus Cristo. E enquanto Paulo discorria acerca da justiça, da temperança e do julgamento futuro, Félix, aterrorizado, respondeu: “Podes ir embora, por agora; tornarei a ouvi-te numa altura mais conveniente.” Esperava ainda que Paulo lhe desse dinheiro para sair em liberdade e, por isso, chamava-o muitas vezes para conversarem. Assim se passaram dois anos, até que Félix foi substituído por Pórcio Festo. Este, como queria conquistar as boas graças dos judeus, deixou Paulo preso. Três dias depois de ter chegado a Cesareia, para começar a desempenhar o seu novo cargo, Festo partiu daí para Jerusalém, onde os principais sacerdotes e outros líderes judaicos logo o procuraram, para tornarem a acusar Paulo, rogando-lhe que o trouxesse imediatamente para Jerusalém. Queriam sair-lhe ao caminho e matá-lo. Festo, contudo, respondeu que uma vez que Paulo estava sob custódia em Cesareia, ele próprio voltaria muito cedo para essa cidade. “Os mais competentes de entre vocês”, disse, “venham comigo para apresentar as acusações que tiverem contra este homem, se alguma irregularidade ele cometeu.” Oito a dez dias depois, regressou a Cesareia e logo no dia imediato tomou o seu lugar na barra do tribunal e mandou trazer Paulo. Quando Paulo entrou no tribunal, os judeus de Jerusalém começaram a pressionar o governador, proferindo muitas e graves acusações contra Paulo, que não podiam provar. Este, em sua defesa, disse: “Estou inocente; não me opus à Lei judaica, não profanei o templo, nem me revoltei contra César.” Festo, desejoso de agradar aos judeus, perguntou-lhe: “Estás disposto a ir a Jerusalém para ali seres julgado por mim?” Mas Paulo respondeu: “Não! Estou num tribunal romano; é aqui que devo ser julgado. Não cometi nenhuma injustiça contra os judeus, como tu sabes muito bem. Se alguma coisa fiz que mereça a morte, não me recuso a morrer! Mas se estou inocente ninguém tem autoridade para me entregar a estes homens para que me matem. Apelo para César!” Festo conversou com os seus conselheiros e respondeu: “Está bem! Apelou para César, perante César comparecerá!” Alguns dias depois, chegava o rei Agripa com Berenice para visitar Festo. Durante a estadia de vários dias, Festo discutiu o caso de Paulo com o rei. “Temos aqui um homem”, disse, “que Félix deixou sob custódia. Quando estive em Jerusalém, os principais sacerdotes e os anciãos dos judeus deram-me a sua história dos acontecimentos e pediram-me que o condenasse à morte. Disse-lhes logo que a lei romana não condena um homem sem primeiro o julgar e lhe dar a oportunidade de enfrentar os seus acusadores e se defender da acusação que lhe fazem. Quando vieram cá para o julgamento, não protelei a audiência, mas marquei-a para o dia seguinte e mandei que trouxessem o acusado. Todavia, o que os acusadores tinham contra ele não era nada do que eu esperava. Tratava-se de qualquer coisa acerca da sua religião e de um tal Jesus que morreu, mas que Paulo teimava estar vivo! Fiquei hesitante perante um caso deste género e perguntei-lhe se estava disposto a ser julgado em Jerusalém, para responder por estas mesmas acusações. Mas Paulo apelou para que fosse mantido em custódia até à decisão do Imperador. Por isso, mantive-o nessa condição até poder enviá-lo ao Imperador.” “Gostava de escutar o homem”, disse Agripa. “Amanhã ouvi-lo-ás”, respondeu Festo. No dia seguinte, depois de o rei e Berenice terem chegado ao tribunal com grande pompa, acompanhados por oficiais do exército e pessoas importantes da cidade, Festo mandou que trouxessem Paulo. Festo dirigiu-se então ao auditório: “Rei Agripa e todos os presentes, está aqui o homem cuja morte é exigida pelos judeus, tanto daqui como de Jerusalém. Contudo, no meu entender, ele nada fez digno de morte. Mas, como apelou para César, não tenho outro remédio senão mandá-lo para Roma. Não tenho uma verdadeira acusação contra ele de que dê conta ao Imperador. Por isso, trouxe-o perante todos, especialmente perante ti, ó rei Agripa, de modo que, feito o inquérito, me digas o que devo escrever. De facto, parece-me insensato mandar um prisioneiro sem que haja uma acusação devidamente formada.” Agripa dirigiu-se então a Paulo: “Diz-nos o que tens a declarar!” Paulo, estendendo a mão, apresentou a sua defesa. “Considero-me feliz, rei Agripa, por poder responder na tua presença por tudo aquilo de que sou acusado pelos judeus. Sabendo eu que és conhecedor dos costumes e questões judaicas, rogo-te que me ouças com paciência! Os judeus conhecem a educação judaica que recebi desde a minha mocidade em Jerusalém. Eles já me conheciam desde o início e, se desejarem, podem testemunhar que vivi segundo as leis e costumes dos fariseus, a seita mais rigorosa da nossa religião. E agora, por eu esperar o cumprimento da promessa de Deus aos nossos antepassados, estou a ser aqui julgado. As doze tribos de Israel lutam noite e dia para alcançar esta esperança que eu tenho! No entanto, Majestade, é essa a acusação que os judeus me fazem! Pois quê? Será assim tão difícil crer na ressurreição dos mortos? Eu antes julgava ser um dever fazer muita coisa contra os seguidores de Jesus de Nazaré. E foi o que fiz em Jerusalém. Autorizado pelos principais sacerdotes, coloquei muitos dos crentes nas prisões; e quando eram condenados à morte, votava contra eles. Servi-me da tortura para tentar obrigar os cristãos, por todas as sinagogas, a amaldiçoarem o nome de Cristo. Era tão forte o ódio que lhes tinha que cheguei a persegui-los em cidades de países estrangeiros. Uma missão dessas levou-me a Damasco, tendo recebido autoridade e ordens dos principais sacerdotes. De caminho, cerca do meio-dia, Majestade, brilhou sobre mim e os meus companheiros uma luz do céu, luz essa mais forte do que a do próprio Sol. Caímos todos por terra e ouvi uma voz que me dizia em hebraico: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues? Não é bom seres obstinado!’ ‘Quem és tu, Senhor?’, perguntei. E o Senhor respondeu: ‘Sou Jesus, aquele a quem persegues. Levanta-te, põe-te de pé, pois apareci-te para te nomear meu servo e testemunha. Deverás contar ao mundo isto que agora te acontece. No futuro, ainda hei de aparecer-te mais vezes e anunciarás o que te for mostrado. Proteger-te-ei tanto dos teus compatriotas como daqueles que não são judeus. Sim, vou enviar-te até aos gentios, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e do poder de Satanás para Deus, de modo que recebam o perdão dos seus pecados e tenham um lugar entre o povo de Deus que está santificado pela sua fé em mim.’ E assim, ó rei Agripa, não fui desobediente a essa visão celestial! Preguei primeiro em Damasco, depois em Jerusalém e em toda a Judeia, e também aos gentios, anunciando-lhes que todos devem abandonar os seus pecados e converter-se a Deus, provando o arrependimento com a prática de boas obras. Os judeus prenderam-me no templo, por causa disto, e tentaram matar-me. Mas Deus protegeu-me, pelo que hoje estou aqui vivo, para contar estes factos a toda a gente, a grandes e a pequenos. Só ensino o que os profetas e Moisés disseram: que o Cristo haveria de sofrer e ser o primeiro a ressuscitar da morte, para levar a luz tanto aos judeus como aos gentios.” De repente Festo gritou: “Paulo, estás louco! Tanto estudo fez-te perder o juízo!” Paulo respondeu: “Não estou louco, não, Excelência. Falo a linguagem da verdade e do bom senso. E o rei Agripa conhece estas coisas. Falo com ousadia porque estou certo de que estas coisas te são familiares. Estas coisas não foram feitas às escondidas. Rei Agripa, crês nos profetas? Sei que crês.” Agripa, porém, replicou a Paulo: “Por mais um pouco convencias-me a tornar-me cristão!” E Paulo respondeu: “O que eu peço a Deus é que, por pouco ou por muito, tanto o rei como todos quantos aqui estão a ouvir-me sejam como eu, mas sem estas correntes.” Então o rei, o governador, Berenice e todos os outros ali presentes levantaram-se e saíram. Conversando depois sobre o caso, concordaram: “Este homem nada fez que mereça morte ou prisão.” E Agripa disse a Festo: “Bem podia ser posto em liberdade se não tivesse apelado para César!” Finalmente, ao ficar decidido que viajaríamos por mar até Itália, Paulo e diversos outros presos foram confiados à vigilância de um oficial chamado Júlio, pertencente ao Regimento Imperial. Partimos num barco que ia para Adramítio e que tocaria em vários portos da costa da província da Ásia. Estávamos acompanhados de Aristarco, um macedónio de Tessalónica. No dia seguinte, quando atracámos em Sídon, Júlio mostrou-se muito amável com Paulo, permitindo-lhe que fosse a terra visitar amigos e receber a ajuda que precisasse. Quando dali partimos, apanhámos ventos contrários que tornavam difícil conservar o navio no rumo; assim, seguimos pelo norte de Chipre, entre a ilha e o continente, e costeámos as províncias da Cilícia e Panfília, desembarcando em Mirra na província da Lícia. Ali, o oficial encontrou um barco egípcio, vindo de Alexandria e que se dirigia à Itália, e fez-nos embarcar nele. Após vários dias de navegação difícil, aproximámo-nos, por fim, de Cnido, mas o vento era demasiado forte e atravessámos para Creta, passando o porto de Salmona. Navegando com grande dificuldade, e avançando lentamente ao longo da costa sul, chegámos a Bons Portos, perto da cidade de Laseia. Ali nos demorámos vários dias. O tempo estava já a ficar perigoso para viagens de longo curso, porque a época do jejum já tinha passado e se aproximava o inverno, e Paulo falou nisso à tripulação: “Meus senhores, vejo que sofreremos um desastre se prosseguirmos viagem, e que podemos até perder a carga e as nossas vidas.” Mas os oficiais encarregados de vigiarem os presos davam mais ouvidos ao piloto e ao dono do navio do que a Paulo. Como aquele porto não tivesse boas condições para passar o inverno, a maior parte da tripulação achava melhor tentar subir mais pela costa até Fénix, que era outro porto, mas abrigado, aberto só a sudoeste e noroeste, e onde se podia passar melhor o inverno. Nesse instante começou a soprar brandamente um vento do sul, parecendo-lhes ter as condições que desejavam; assim, levantaram ferro e foram navegando ao longo da costa de Creta. Pouco depois, porém, um vento muito forte abateu-se sobre o navio, empurrando-o para o mar; era “o nordeste”, como lhe chamavam. E não conseguindo navegar, demos mão de tudo e deixámos o navio ir à deriva do vento. Finalmente, viemos parar atrás duma pequena ilha chamada Cauda, onde com grande dificuldade içámos para bordo o bote que trazíamos a reboque, amarrando depois o barco com cordas para reforçar o casco. Os marinheiros tinham medo de ser atirados para os bancos de areia de Sirte, na costa africana, baixaram a vela grande e continuaram assim, impelidos pelo vento. No dia seguinte, como o temporal nos afligisse ainda mais, a tripulação começou a deitar a carga pela borda fora. No outro dia, atiraram ao mar com as próprias mãos os aprestos. Esta terrível tempestade continuou durante muitos dias sem abrandar, não sendo possível a orientação nem pelo Sol nem pelas estrelas. Por fim, todas as esperanças de salvação se perderam. Ninguém comia havia já muito tempo, até que Paulo, reunindo a tripulação, disse: “Deviam ter-me dado ouvidos e não sair de Bons Portos; ter-se-ia evitado todo este estrago e perda! Mas agora, coragem! O navio afundará, mas nenhum de nós perderá a vida. Porque a noite passada um anjo do Deus a quem pertenço e sirvo surgiu perante mim e disse: ‘Nada receies, Paulo, porque serás julgado diante de César! E mais ainda: Deus, na sua graça, concedeu o teu pedido e salvará a vida de todos os que contigo viajam.’ Por isso, animem-se! Creio em Deus. Estou certo de que será tal como ele disse. Todavia, teremos de naufragar nalguma ilha.” Perto de meia-noite, a décima quarta da tempestade, andávamos nós perdidos no Adriático, quando os marinheiros desconfiaram que havia terra ali perto. Lançaram a sonda e encontraram 37 metros de fundo. Pouco depois, já eram só 28 metros. E com medo de encalhar em rochedos, lançaram quatro âncoras pela ré, orando para que chegasse a manhã. Alguns dos marinheiros resolveram escapar-se do barco e arrearam o escaler de emergência, sob o pretexto de lançar âncoras pela proa. Paulo, porém, disse aos soldados e ao comandante: “Ninguém se poderá salvar se estes homens não ficarem a bordo.” Então os soldados cortaram os cabos e deixaram o escaler tombar na água. Quando veio a luz da madrugada, Paulo pediu a todos que comessem: “Há duas semanas que ninguém se alimenta. Por favor, e para vosso bem, comam agora qualquer coisa, porque nem um cabelo das vossas cabeças se perderá.” Ele próprio pegou num pão, agradeceu a Deus na presença de todos, partiu um pedaço e comeu-o. Toda a gente se sentiu mais animada e começou a comer. Éramos duzentos e setenta e seis pessoas a bordo. Depois de comer, os tripulantes tornaram a aliviar o navio, deitando todo o trigo pela borda fora. Quando se fez dia, não reconheceram a costa, mas repararam numa baía com uma praia, para a qual decidiram tentar conduzir o navio. Cortando os cabos às âncoras, e deixando-as no fundo, desprenderam os lemes, içaram a vela grande e apontaram à praia. O barco, porém, encalhou num banco de areia. A proa enterrou-se, enquanto a popa ficou exposta à erosão da força das ondas. Os soldados aconselharam o seu comandante a deixá-los matar os presos, não fosse algum nadar para terra e escapar. Mas Júlio, desejando poupar a vida a Paulo, disse que não. Mandou então a todos os que soubessem nadar que saltassem pela amurada e fossem para terra, enquanto os restantes tentariam fazê-lo agarrados a pranchas e destroços do navio. E foi assim que todos chegaram a salvo a terra. Uma vez sãos e salvos, soubemos que aquela ilha era Malta. O seu povo tratou-nos com muita bondade, acendendo uma fogueira na praia, para nos dar as boas-vindas e nos aquecermos da chuva e do frio. Estava Paulo a apanhar um braçado de gravetos para pôr no fogo, quando se lhe agarrou à mão uma cobra venenosa que fugia do calor. O povo da ilha, ao ver a cobra assim pendurada, disse entre si: “É assassino, não há dúvida! Escapou ao mar, mas o destino não o deixa viver!” Paulo, porém, sacudiu a cobra para dentro do lume e não lhe aconteceu nada. As pessoas esperavam que começasse a inchar ou caísse vitimado por morte repentina; mas quando, depois de esperarem muito tempo, viram que nada lhe sucedia, mudaram de opinião e convenceram-se de que era um deus. Perto da praia onde desembarcámos havia uma herdade que pertencia a Públio, o governador da ilha. Este homem acolheu-nos com muita bondade e sustentou-nos durante três dias. E o pai de Públio estava doente, com febre e disenteria. Paulo foi a sua casa, orou pelo enfermo, colocou as mãos sobre ele e curou-o. Todos os outros doentes que havia na ilha procuraram Paulo e foram curados. Como resultado, recebemos muitas atenções. E chegada a altura de nos retirarmos, puseram-nos a bordo tudo aquilo de que precisávamos para a viagem. Tinham já passado três meses desde o naufrágio, quando nos fizemos de novo ao mar, desta vez num barco de Alexandria, ornado com a efígie dos Gémeos, que invernara na ilha. O nosso primeiro porto de paragem foi Siracusa, onde ficámos três dias. Dali, navegámos ao longo da costa até Régio; no dia seguinte começou a soprar um vento do sul, de forma que chegámos a Putéolos no dia imediato. Ali encontrámos alguns crentes que nos pediram que ficássemos com eles durante os sete dias seguintes. Depois retomámos a viagem até Roma. Os irmãos de Roma tinham sabido que a nossa chegada estava próxima e vieram encontrar-se connosco na Praça de Ápio e em Três Tabernas. Ao vê-los, Paulo deu graças a Deus e sentiu-se muito animado. Quando chegámos a Roma, Paulo teve autorização para aí permanecer por sua própria conta, mas sempre guardado por um soldado. Três dias depois da sua chegada, reuniu os líderes locais dos judeus e disse-lhes: “Irmãos, embora não tenha feito mal ao nosso povo nem ofendido os costumes dos nossos antepassados, fui preso em Jerusalém e entregue às autoridades romanas. Os romanos julgaram-me e queriam libertar-me, pois não viam razão para a sentença de morte exigida para mim. Contudo, quando os judeus protestaram contra esta decisão, vi-me na necessidade de apelar para César, embora sem querer acusar a minha nação. Pedi-lhes que viessem hoje aqui para nos conhecermos e para vos dizer que, se estou preso por esta corrente, é por crer na esperança de Israel.” Ao que eles responderam: “Nada ouvimos contra ti! Não recebemos quaisquer cartas da Judeia ou informações a teu respeito por parte de algum irmão dizendo mal de ti. Mas interessa-nos ouvir o que tu pensas, porque a única coisa que sabemos acerca desta seita é que são acusados em toda a parte!” Combinaram uma data e um grande número de judeus foi à casa onde Paulo vivia. Paulo falou-lhes no reino de Deus e, baseando-se nos livros de Moisés e dos profetas, procurou convencê-los acerca de Jesus, em conversas que iam da manhã até à noite. Alguns acreditavam no que ele dizia, mas outros não. Depois de muito discutirem entre si, Paulo disse-lhes, antes de se irem embora: “O Espírito Santo tinha razão quando disse aos nossos antepassados, por intermédio do profeta Isaías: ‘Vai então e diz o seguinte ao meu povo: “Com efeito, ainda que ouçam com os vossos ouvidos, não entenderão. Ainda que vejam e vejam, não perceberão. Que o coração deste povo se embruteça, e se lhes fechem os ouvidos e os olhos. Não estou empenhado em que os seus olhos vejam, os seus ouvidos ouçam e os seus corações compreendam, nem em que se arrependam, para que os cure.” ’ Quero que saibam que esta salvação de Deus é também para os gentios e que eles a aceitarão.” E quando disse estas palavras, os judeus retiraram-se, e havia grande dissensão entre eles. Paulo passou os dois anos seguintes na casa que arrendara e recebia todos os que o visitavam. Proclamava o reino de Deus com ousadia e ensinava acerca do Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e sem impedimento algum. Saúda-vos Paulo, servo de Jesus Cristo, escolhido por Deus para ser apóstolo, separado para pregar as boas novas de Deus, as quais já tinham sido prometidas por Deus, nas santas Escrituras, há muito tempo, através dos seus profetas. Estas boas novas são acerca de seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor, o qual tomou uma forma humana ao nascer na descendência do rei David. E Jesus Cristo nosso Senhor foi declarado Filho de Deus quando Deus poderosamente o ressuscitou da morte por meio do Espírito Santo. Através de Cristo, Deus deu-nos o privilégio e a autoridade de anunciar aos gentios em toda a parte o que Deus fez por eles, para que possam crer e obedecer-lhe, trazendo glória ao seu nome. E vocês também fazem parte do número daqueles que são chamados para pertencer a Jesus Cristo. A todos vocês que estão em Roma, a quem Deus ama e que foram chamados para fazer parte do número dos santos, que vos sejam concedidas a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor. Antes de mais, gostaria de vos dizer como me sinto grato a Deus, através de Jesus Cristo, por todos vocês, porque a vossa fé se vai tornando conhecida em todo o mundo! Deus, a quem sirvo com todo o meu espírito, declarando aos outros as boas novas de seu Filho, é testemunha de quão frequentemente vos lembro nas minhas constantes orações. Também peço a Deus que, se for a sua vontade, me apareça uma boa oportunidade de ir ver-vos. Porque desejo visitar-vos para vos transmitir algum dom espiritual, de modo a ajudar-vos a ser fortes no Senhor, para ao mesmo tempo ser também encorajado pela nossa fé comum. Não quero que ignorem, irmãos, que já muitas vezes fiz planos para ir ter convosco, mas tenho sido impedido. Queria também obter no vosso meio os mesmos bons resultados que entre outros gentios. Porque tenho uma dívida para com toda a gente, tanto gregos como bárbaros, tanto pessoas cultas como incultas. Portanto, no que estiver ao meu alcance, estou pronto a ir também a Roma pregar-vos as boas novas. Porque não me envergonho das boas novas de Cristo, pois são o poder de Deus para salvação de todos os que creem. Esta mensagem dirigiu-se primeiramente aos judeus, mas agora igualmente aos gregos. Este evangelho revela-nos a justiça que Deus nos atribui. Esta justiça nasce e completa-se através da fé. Tal como está escrito: “O justo pela fé viverá.” Mas Deus mostra, dos céus, a sua ira contra todo o pecado e a injustiça dos homens que impedem a revelação da verdade pela sua perversidade. Porque o que acerca de Deus se pode conhecer, eles sabem-no manifestamente, pois Deus lho manifestou. Desde a criação do mundo que os homens entendem e claramente veem, através de tudo o que Deus fez, as suas qualidades invisíveis: o seu eterno poder e a sua natureza divina. Não terão, portanto, desculpa de não conhecer a Deus. Pois ainda que tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus e nem sequer foram agradecidos. Antes começaram a formar ideias absurdas. O resultado foi que as suas mentes insensatas se tornaram obscuras. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E então, em vez de adorarem o Deus glorioso e eterno, fizeram para si próprios ídolos com a forma de homens mortais, de aves, de quadrúpedes e de répteis. Por isso, Deus os abandonou a si mesmos, deixando-os entregar-se a toda a espécie de perversões dos seus instintos, fazendo até coisas indignas com os corpos uns dos outros. Em vez de aceitarem a verdade de Deus, preferiram a mentira. Honraram e serviram coisas que são criadas em vez do próprio Criador, que é para sempre bendito! Amém! Foi por isso que Deus se afastou deles e os deixou entregues a paixões infames. Até as mulheres mudaram o uso natural que Deus destinou ao seu corpo e entregaram-se a práticas sexuais entre si mesmas. E os homens, deixando as relações sexuais normais com mulheres, inflamaram-se em paixões sensuais, homens com homens, recebendo em si mesmos o devido castigo pela sua perversão. Visto terem achado inútil conhecer a Deus, ele deixou-os fazer tudo o que não convém e as suas mentes malignas pudessem imaginar. As suas vidas encheram-se de todo o tipo de delitos, perversidade, ganância, maldade, inveja, assassínios, contendas, enganos, comportamentos perversos e intrigas. Tornaram-se maldizentes, cheios de ódio contra Deus, arrogantes, orgulhosos, presunçosos, imaginando constantemente novas práticas de maldade, sem respeito pelo pai ou pela mãe; são falhos de bom senso, infiéis à palavra dada, sem saber o que é a afeição natural, sem capacidade de ter misericórdia. Conhecendo a justiça de Deus e o castigo de morte que as suas condutas merecem, continuaram na mesma, encorajando até outros a viver assim. E tu, quem quer que sejas, quando começas a julgá-los, não tens desculpa! Fazendo juízo sobre o comportamento deles, no fundo estás a condenar-te a ti mesmo, pois és capaz de fazer as mesmas coisas. E sabemos que o juízo de Deus contra os que praticarem tais coisas é de acordo com a verdade. Tu, ser humano, que julgas os que praticam tais coisas mas que também as praticas, pensas então que ficarás isento do juízo de Deus? Não te apercebes da rica bondade, tolerância e paciência que ele tem para contigo? Não és capaz de ver que a bondade de Deus procura levar-te ao arrependimento? Mas devido à tua teimosia em recusares que o teu coração se arrependa, estás a acumular sobre ti mesmo a cólera de Deus, para o dia em que ela se manifestar e em que o seu justo juízo se revelar. Recompensará então cada um segundo as suas obras. Dará a vida eterna àqueles que, com perseverança na prática das boas obras, procuram a glória, a honra e a vida imortal que ele oferece. Mas a ira e a cólera de Deus serão derramadas sobre aqueles que por ambição egoísta desobedecem à verdade e obedecem à injustiça. Haverá tribulação e sofrimento para os que continuam a praticar o mal, primeiro para os judeus e depois para os gentios. Mas haverá glória, honra e paz para todos os que praticam o bem, primeiro para os judeus e depois para os gentios. Porque ele a todos trata da mesma maneira. Todos os que pecaram sem terem conhecido a Lei de Deus serão destruídos sem que a Lei se lhes aplique; porém, aqueles que pecaram conhecendo a Lei serão julgados de acordo com ela. Com efeito, não são os que ouvem a Lei que são justos aos olhos de Deus, mas somente os que cumprem a Lei é que serão declarados justos. Até os gentios, que não têm a Lei escrita de Deus, mostram conhecer alguns aspetos da Lei, quando por instinto lhe obedecem, apesar de nunca a terem ouvido. Mostram assim que a Lei de Deus está escrita no fundo dos seus corações, pois as suas próprias consciências e pensamentos íntimos lhes servem de testemunhas, ora de acusação, ora de defesa. O dia virá em que Deus, por intermédio de Jesus Cristo, julgará a vida íntima de cada um. Tudo isto faz parte do evangelho de Deus que eu anuncio. Tu, que te chamas judeu, pensas que tudo está em ordem entre ti e Deus, porque ele te deu a sua Lei e te sentes orgulhoso disso. É certo, sim, que tu sabes qual é a sua vontade; aprovas coisas excelentes porque foste instruído na sua Lei. Pensas até poder guiar os que são como cegos; consideras-te como uma luz dos que vivem nas trevas. Julgas-te um mestre de ignorantes e um professor de crianças, por teres na Lei uma forma de sabedoria e de verdade. Pois então, se tu ensinas os outros, porque não te ensinas a ti próprio? Pregas aos outros que não roubem e tu roubas? Afirmas que não se deve cometer adultério e comete-lo? Abominas os ídolos, mas roubas templos? Tens tanto orgulho na Lei de Deus e desonras Deus transgredindo-a. Não admira pois que, tal como dizem as Escrituras: “O meu nome é constantemente blasfemado diante dos gentios por vossa causa.” Ser circuncidado vale alguma coisa se obedeceres à Lei de Deus; caso contrário, mesmo sendo circundado, é como se o não fosses. E se os não circuncidados guardam os preceitos da Lei de Deus, não os considerará ele em consequência como se fossem circuncisos? De facto, aqueles que não são naturalmente circuncidados, ao cumprirem a Lei de Deus, hão de julgar-te como transgressor, apesar de teres a letra da Lei e de seres circuncidado. Não é pela aparência exterior nem porque se passa pela cerimónia da circuncisão que se pode ser considerado realmente judeu! Judeu é aquele que o é interiormente. A verdadeira circuncisão não é uma cirurgia no corpo, mas uma mudança de coração produzida pelo Espírito Santo, não por uma lei escrita. Esse receberá o louvor do Senhor, ainda que não receba o vosso. Ser judeu não terá então nenhum benefício? Terá algum valor a circuncisão? Ser judeu tem muitas vantagens. Sobretudo, porque foi aos judeus que Deus confiou a revelação da sua mensagem. É verdade que muitos foram infiéis; mas não é que Deus não cumprisse as suas promessas. De maneira nenhuma! Ainda que todo o mundo seja mentiroso, Deus nunca o será. Como está escrito: “As tuas palavras são verdadeiras e o teu julgamento é justo.” “Mas”, dirá alguém, “se a nossa injustiça serve para estabelecer a justiça de Deus, que havemos de dizer? Não será Deus injusto ao exercer a sua ira?” (Estou a expressar-me de um ponto de vista humano.) De forma alguma! Como poderia ele assim julgar o mundo? E se a verdade divina abundou por causa da minha mentira, a fim de ele ser glorificado, por que razão sou condenado como pecador? Nessa ordem de ideias, poderíamos dizer, como alguns: “Pratiquemos o mal, para que resulte o bem.” Os que dizem tais coisas certamente não escaparão à justa condenação. Seremos nós os judeus melhores do que os outros? Certamente que não, pois já demonstrámos que todos são pecadores, sejam judeus ou gentios. Tal como dizem as Escrituras: “Não há ninguém que seja justo, absolutamente ninguém! Não há ninguém que saiba conduzir-se com sabedoria, e busque a Deus. Todos se desviaram e juntamente se corromperam. Não há quem faça o bem, absolutamente ninguém! A sua garganta é um sepulcro aberto, a sua língua enganadora; só há veneno de víbora nos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés precipitam-se para derramar sangue; há ruína e miséria nos seus caminhos. Ignoram o que seja a verdadeira paz. Para eles não há temor de Deus.” Nós sabemos que a Lei se aplica apenas àqueles a quem foi dada. E nem um só tem desculpa. Com efeito, até o mundo inteiro está sujeito ao julgamento de Deus. Como veem, ninguém pode ser declarado justo aos olhos de Deus por fazer o que a Lei ordena. Porque quanto mais conhecemos a Lei de Deus, mais a sua Lei nos faz ver que somos pecadores. Mas agora Deus mostrou-nos como ser justos aos seus olhos, não por obedecermos à Lei, mas pela maneira prometida pela Lei e pelos profetas há muito tempo. Esta justiça de Deus vem pela fé em Jesus Cristo a todos os que creem. Pois não há distinção. Porque todos pecaram, tendo perdido o direito de acesso à glória de Deus. E pela sua graça, que não merecemos, nos declara justos, pela obra redentora de Jesus Cristo, sem nada pagarmos para dela beneficiarmos. Na verdade Deus enviou Jesus Cristo para propiciação pelos nossos pecados, pela fé no sangue que Jesus derramou por nós. Deus mostrou a sua justiça ao redimir os pecados antigos. Ele agiu na sua paciência, a fim de mostrar a sua justiça nos tempos de hoje: ele é justo e justifica os que têm fé em Jesus. Poderemos nós então gabarmo-nos de ter feito alguma coisa para ganhar essa salvação? Com certeza que não. E com base em que lei? Na das obras? Não, antes na da fé. É pois assim que somos declarados justos pela fé em Cristo e não por obras da Lei. E será Deus apenas para os judeus? Não será igualmente Deus para os gentios? Sim, também é para os gentios. Há um só Deus e uma única maneira de ser aceite por ele. Deus torna as pessoas justas apenas pela fé, sejam ou não circuncidadas. Se somos salvos pela fé quer isso dizer que abolimos a Lei de Deus? É justamente o contrário! Quando temos fé estamos a confirmar o valor da Lei. Quais foram as experiências de Abraão, o fundador da nossa nação judaica, com respeito a esta questão de ser salvo pela fé? Terá sido por causa das suas obras que Deus o declarou justo? Se assim fosse, teria alguma coisa de que se gabar. Contudo, do ponto de vista de Deus, Abraão não tinha nenhum motivo para se orgulhar. O que as Escrituras nos dizem é: “Abraão creu em Deus e este declarou-o como justo.” Quando uma pessoa realiza uma obra, o seu salário não é uma oferta, mas um dívida que se tem para com ela. No entanto, uma pessoa que não realiza qualquer obra, mas crê em Deus que justifica o ímpio, será declarada justa por causa da sua fé. O rei David falou a este respeito, descrevendo a felicidade da pessoa que é declarada justa por Deus, sem que para isso tenha praticado qualquer obra: “Felizes são aqueles cujas transgressões foram perdoadas e cujos pecados são cobertos! Feliz é aquele cujo pecado não é tido em conta pelo Senhor!” E essa felicidade é dada somente aos judeus ou também aos que não são circuncidados? Com efeito, afirmamos, quanto a Abraão que, em razão da sua fé, Deus declarou-o como justo. Quando foi que Deus deu esta bênção a Abraão? Foi antes ou depois de se submeter ao rito da circuncisão? Não foi depois, mas antes! Essa cerimónia, que cumpriu mais tarde, foi um sinal, um selo de que Deus já o declarara perdoado e justificado aos seus olhos, antes de passar pela circuncisão. Assim, Abraão é o pai espiritual de todos os que creem e foram declarados justos, mesmo que não sejam circuncidados. Mas é também o pai espiritual dos judeus, os quais são circuncidados. Eles podem ver por este exemplo que não é esse rito que os salva, porque Abraão alcançou a misericórdia de Deus só pela fé, antes de ter sido circuncidado. É claro que a promessa de Deus dar o mundo em herança a Abraão e aos seus descendentes não foi por Abraão ter guardado a Lei, mas porque creu que Deus cumpriria a sua promessa. Portanto, os que ainda pretendem que a herança se destina aos cumpridores da Lei, é como se afirmassem que a fé é inútil e que a promessa de Deus não tem validade. Porém o facto é este: a Lei traz-nos a ira de Deus, porque não conseguimos obedecer-lhe sem nunca falhar. A única maneira de não falhar seria não haver Lei! Assim, a promessa de Deus é-nos dada pela fé, como uma oferta gratuita. E todos os que são descendentes de Abraão podem estar certos de obtê-la, não apenas os que vivem de acordo com a Lei, mas também os que têm uma fé semelhante à de Abraão. Porque em relação à fé, Abraão é pai de todos nós. É esse o significado das Escrituras quando dizem: “Por pai de muitas nações te constituí.” Esta promessa é feita por Deus, em quem creu e em cuja presença viveu, o qual faz com que os mortos vivam de novo, e chama as coisas que não são como se já fossem! Portanto, quando já não havia esperança, Abraão teve fé e esperança de que se tornaria “pai de muitas nações”, conforme o que lhe fora dito por Deus, “assim será a tua descendência.” E porque a sua fé se manteve firme Abraão não se preocupou com o facto de estar quase sem vida, já com cem anos de idade, e que Sara fosse também estéril. Mas Abraão nunca duvidou. Ele acreditava na promessa de Deus e a sua fé foi até fortalecida; e pôde dar glória a Deus por essa bênção antes ainda de esta se concretizar. Ele estava completamente convencido de que Deus era poderoso para cumprir tudo o que tinha prometido. E porque teve fé foi declarado justo. Acontece que esta afirmação de ser aceite por meio da fé não foi feita só em benefício de Abraão. Ela é também para nós, os que cremos em Deus, que ressuscitou Jesus, nosso Senhor, dentre os mortos. O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e foi reerguido para que pudéssemos ser considerados justos aos olhos de Deus. Sendo, pois, declarados justos pela fé, temos paz com Deus, por causa daquilo que o nosso Senhor Jesus Cristo fez por nós. Pois em razão da nossa fé, temos direito a esta graça, e em confiança nos regozijamos pelo dia em que partilharemos da glória de Deus. E também nos regozijamos nas tribulações, porque sabemos que nos ensinam a persistência. Depois a persistência fortalece-nos o carácter e ajuda-nos para que a nossa esperança se torne forte. E nessa esperança não ficaremos desiludidos, pois sentimos o amor de Deus nos nossos corações pelo Espírito Santo, que ele nos deu. Quando nos encontrávamos sem possibilidades de sair da situação de pecadores culpados, Cristo veio, no momento oportuno, e morreu por nós, pecadores. Mesmo que fôssemos justos, poderia acontecer que talvez alguém viesse a morrer por nós; não é vulgar que alguém morra por uma pessoa boa. Mas Deus prova o seu amor para connosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. E visto que pelo sangue de Cristo fomos declarados justos aos seus olhos, quanto mais não fará ele agora em nosso favor, salvando-nos da ira divina que há de vir. E se, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, quanto mais, tendo sido reconciliados com ele, seremos salvos do castigo eterno pela sua vida. E agora alegramo-nos intensamente na relação que Deus estabeleceu connosco. Tudo por causa daquilo que o nosso Senhor Jesus Cristo fez, morrendo pelos nossos pecados e reconciliando-nos com Deus. Quando Adão pecou, o pecado transmitiu-se a toda a raça humana e trouxe, como consequência, a morte a todos; e todos foram contados como pecadores. Contudo, desde Adão até Moisés, e embora naturalmente as pessoas pecassem, o pecado não era tido em conta, justamente porque Deus ainda não lhes tinha dado a sua Lei. Assim essas pessoas morreram em consequência do pecado desde o tempo de Adão até ao de Moisés, ainda que não tivessem desobedecido a uma determinada lei de Deus tal como Adão, o qual é uma figura em contraste com Cristo, que ainda haveria de vir! Há uma grande diferença entre a transgressão do homem e a dádiva de Deus! Um só homem, Adão, trouxe a morte a muitos, por causa da sua transgressão. Mas muito mais foi dado a muita gente pela abundância da graça de Deus e do dom que vem da graça, por intermédio de um só homem, Jesus Cristo. E o resultado da oferta graciosa de Deus é muito diferente do resultado do pecado daquele único homem. Porque o julgamento de um só pecado de Adão trouxe a condenação, enquanto o dom gratuito de Deus nos dá a justificação de muitas transgressões. A transgressão de um só homem, Adão, fez com que a morte dominasse toda a natureza humana, mas todos os que receberam a maravilhosa graça e a justificação de Deus terão, agora, o domínio da vida, através do ato também de um só, Jesus Cristo. É verdade que a transgressão de Adão trouxe a todos o castigo, mas a justiça de Deus tornou possível que os homens se tornem justos perante Deus, para que possam viver. Adão, porque desobedeceu a Deus, fez com que muitos se tornassem pecadores, mas Cristo, porque lhe obedeceu, fez que muitos também fossem considerados justos por Deus. A Lei foi dada para aumentar a quantidade de transgressões. Mas se o nosso pecado é grande, muito maior e mais abundante é a graça de Deus que nos perdoa. Antes, o pecado governava sem limites todos os homens, levando-os à morte; mas agora é a misericórdia de Deus, que não merecíamos, que governa, colocando-nos numa posição de justiça perante Deus e de acesso à vida eterna por Jesus Cristo nosso Senhor. Pois que diremos então, continuaremos a pecar para que Deus nos vá mostrando sempre mais graça? De modo nenhum! Como continuaríamos a pecar se para com o pecado é como se estivéssemos mortos! Ou vocês ignoram que ao nos tornarmos participantes da vida de Jesus Cristo, fomos batizados para sermos um com ele, e que isto é um símbolo da nossa união com ele na sua morte? Do mesmo modo, pelo batismo, fomos como que enterrados com Cristo. E quando Deus o Pai, com a sua glória, o ressuscitou dos mortos, também nos foi concedida uma vida nova para desfrutar. Porque foi como se tivéssemos morrido com ele e agora partilhamos da sua nova vida, na ressurreição. Estamos cientes de que a nossa velha natureza foi pregada com ele na cruz; tudo aquilo que em nós servia de alimento ao pecado foi como que destruído, de forma que não mais fiquemos sujeitos ao domínio do pecado. Porque quem morre para o pecado fica justificado em relação ao seu poder. Portanto, sendo que já morremos com Cristo, acreditamos por consequência que partilhamos da sua vida. Sabemos que Cristo ressuscitou dos mortos e viverá eternamente. A morte não mais tem poder sobre ele. Ele morreu, uma vez por todas, para acabar com o poder do pecado, e vive agora numa comunhão contínua com Deus. Por isso, considerem a vossa velha natureza como que morta, sem reação perante o pecado, mas em contrapartida viva para Deus, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor. Portanto não deixem que o pecado tenha domínio sobre o vosso corpo corruptível; não cedam aos desejos que sejam fruto do pecado. Que nenhuma parte do vosso corpo seja usado como instrumento da injustiça para servir o pecado. Deem-se antes a Deus como alguém que vive de novo, saído da morte, a fim de que o vosso ser se torne um instrumento da justiça de Deus. O pecado não terá mais domínio sobre vocês, porque já não estão sujeitos à Lei que vos prende ao pecado. Em vez disso, estão sujeitos à graça de Deus. Que temos pois nós aqui? Uma vez que já não estamos sujeitos à Lei, mas à graça, quer isso dizer que agora vamos continuar a pecar? Com certeza que não! Não estão a ver que depende de vocês escolher aquele que vos há de dominar? Podem escolher o pecado, com a consequente morte, ou a obediência a Deus, com a respetiva justiça. Graças a Deus porque, tendo sido escravos do pecado, obedeceram de todo o coração ao estilo de ensinamento que Deus vos entregou e encontram-se livres do pecado, para se tornarem escravos de um novo domínio, o da justiça. Falo assim desta maneira humana devido à vossa limitada capacidade de entendimento. Repito, assim como antes eram escravos de toda a sujidade e de toda a corrupção para praticarem a iniquidade, agora devem tornar-se escravos, sim, mas de tudo o que é justo e santo. No tempo em que eram escravos do pecado, estavam livres da justiça de Deus. E qual era o fruto das coisas de que agora até têm vergonha? O fim dessas coisas é morte. Mas agora, libertados do poder do pecado, são escravos de Deus, tendo como fruto a santidade e como objetivo último a vida eterna. Porque o salário que o pecado paga é a morte, mas de Deus recebemos a dádiva gratuita da vida eterna, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor. Vocês, que conhecem a Lei, não sabem que a Lei se aplica a uma pessoa somente enquanto ela está viva? Depois de morta, a Lei não tem mais domínio sobre ela. Vou explicar com uma imagem: Quando uma mulher se casa, está ligada ao marido enquanto ele viver. Mas se o marido morrer fica desligada de qualquer responsabilidade legal perante as leis referentes ao casamento. Então, durante a vida do marido, ela seria adúltera se se casasse com outro homem. Porém, depois de ele morrer, ela fica livre dessas leis, podendo casar-se com outro homem sem cair em adultério. Meus irmãos, vocês morreram para a Lei judaica, através da morte de Cristo na cruz. Passaram a pertencer a outro, aquele que ressuscitou dos mortos, para que possam dar frutos para Deus. Quando a vossa velha natureza ainda estava ativa, as paixões pecaminosas foram suscitadas pela Lei, produzindo como resultado o fruto da morte. Agora pois já fomos libertos deste poder da Lei, porque morremos para aquilo de que éramos escravos, e podemos servir a Deus, não segundo a velha maneira, a da letra da Lei, mas pelo Espírito duma forma inteiramente nova. Pois bem, mas será que essa Lei, que afinal foi dada por Deus, é má? Com certeza que não! Mas foi pela Lei que eu conheci o pecado. Eu nunca teria sabido o que é a cobiça se a Lei não dissesse: “Não cobices o que os outros têm.” Mas o pecado usou esta Lei para que me desse conta de que existe em mim toda a espécie de desejos ilícitos! Se não houvesse Lei o pecado estaria morto. Por essa razão, se eu vivo sem Lei, não há conflito na minha consciência. Mas desde o momento em que aprendi a verdade, tomo consciência de que quebrei a Lei e de que sou um pecador, condenado a morrer. Portanto a Lei, ainda que tendo sido feita para me mostrar o caminho da vida, resultou num meio de me aplicar a pena de morte. O pecado enganou-me: através do mandamento de Deus, fez com que eu fosse morto. Contudo, a Lei, em si mesma, continua santa, justa e boa. Mas como pode a Lei ser boa e causar a minha morte? É porque não é propriamente ela, mas sim o pecado, maligno como é, que por meio de algo que é bom serviu para me condenar. Através do mandamento o pecado revela-se extremamente perverso. Pois sabemos que a Lei é pois espiritual, mas o mal está em mim; eu sou vendido para a escravidão pelo pecado que é o meu dono. Não me compreendo: porque na realidade o que faço, sei que não é bom, e aquilo que reconheço ser reto não consigo fazer. E venho a fazer até aquilo que, no íntimo, repudio. E se a minha consciência reconhece como errado aquilo que faço, ela própria é minha testemunha de que é boa a Lei de Deus a que desobedeço. Mas não posso evitá-lo, porque já não sou eu mesmo quem faz isso; é o pecado dentro de mim. Eu reconheço que em mim, ou seja, na minha natureza pecaminosa, não existe nada de bom. Quero fazer o que é reto, mas não posso. Quando quero fazer o bem, não o faço; e o mal que não quero venho sempre a fazê-lo. Portanto, se estou afinal a fazer o que não quero, é simples de ver onde está a causa: o pecado que habita em mim. É portanto como uma força natural em mim; quando quero fazer o que é justo, faço inevitavelmente o mal. A minha consciência faz-me querer de todo o meu coração praticar a Lei de Deus. Contudo, existe algo no meu íntimo que está em guerra com o meu querer e me torna escravo do pecado que ainda está em mim. Que miserável eu sou! Quem me libertará deste corpo dominado pelo pecado? Pois bem, que se deem graças a Deus, porque isso foi justamente feito por Jesus Cristo nosso Senhor! Eu mesmo, com a minha mente, quero obedecer à Lei de Deus, mas por causa da minha natureza pecaminosa sou escravo da lei do pecado. Portanto agora nenhuma condenação há para os que pertencem a Cristo Jesus. Porquanto o poder do Espírito doador de vida, por meio de Cristo Jesus, me libertou da lei do pecado e da morte. Na verdade, como a Lei mosaica nada podia fazer devido à fraqueza da nossa natureza, Deus, mandando o seu próprio Filho com um corpo semelhante ao dum ser humano pecador, destruiu o poder que o pecado tem sobre as nossas vidas. Assim a retidão da Lei de Deus manifesta-se em nós que nos deixamos conduzir pelo Espírito Santo e não nos colocamos em sujeição à velha natureza. Aqueles que se deixam levar pela sua natureza humana pensam apenas em dar prazer a si mesmos, mas aqueles que seguem o Espírito fazem o que agrada ao Espírito. Com efeito, pensar conforme a natureza humana conduz à morte, ao passo que pensar segundo o Espírito leva à vida e à paz; porque o pensamento humano é inimigo de Deus. De facto, nunca obedeceu à Lei de Deus nem pode fazê-lo. É por isso que os que ainda estão sob o controlo da sua natureza humana nunca podem agradar a Deus. Mas vocês não são controlados pela vossa natureza humana, mas pelo Espírito, se é que o Espírito de Deus vive em vós. E se alguém não tem na sua vida o Espírito de Cristo, essa pessoa não pertence a Cristo. E se Cristo vive em vós, o vosso corpo está morto por causa do pecado, mas o Espírito é a vossa vida, porque Cristo vos justificou. E se o Espírito de Deus, que ressuscitou Jesus dentre os mortos, vive na vossa vida, aquele que ressuscitou Cristo dentre os mortos vivificará o vosso corpo mortal pela ação desse mesmo Espírito Santo que vive em vocês. Assim, irmãos, não há razão para satisfazerem a velha natureza pecaminosa fazendo o que ela vos pede. Porque se continuarem a segui-la, morrerão; mas se, pelo poder do Espírito, a rejeitarem, hão de viver. Porque todos os filhos de Deus se deixam conduzir pelo Espírito de Deus. Com efeito, não receberam um espírito que vos torna escravos e temerosos, mas sim o Espírito de verdadeiros filhos de Deus, que vos acolhe no seio da sua família e chamando-lhe realmente Pai querido. Porque o seu Santo Espírito é testemunha, no nosso entendimento, de que somos filhos de Deus. E uma vez que somos seus filhos, somos herdeiros, isto é, herdeiros de Deus e também herdeiros em conjunto com Cristo. Contudo, se é certo que participaremos da sua glória, também é certo que teremos de participar dos seus sofrimentos. Com efeito, considero que aquilo que somos chamados a sofrer agora nada é comparado com a glória que ele nos dará mais tarde. Porque toda a criação espera com ardente esperança esse dia futuro em que Deus dará a conhecer os seus filhos. Nesse dia, tudo aquilo a que o mundo ficou sujeito por causa do pecado desaparecerá. E todo o mundo à nossa volta participará da gloriosa liberdade que os filhos de Deus hão de desfrutar em relação ao pecado. Porque sabemos que a própria natureza espera até agora esse tão grande acontecimento, como se estivesse com dores de parto. E até nós, os cristãos, ainda que tenhamos em nós o Espírito Santo como um antegozo dessa glória futura, também como que gememos para ser libertados da dor e do sofrimento. Nós também esperamos ansiosamente por esse dia em que Deus nos concederá, enfim, todos os direitos como seus filhos, incluindo novos corpos. Nós somos salvos em esperança. Quando se está a ver aquilo que se espera isso não é esperança, pois que esperança existe em estar já a ver aquilo que se espera? Mas quando esperamos o que ainda não vemos, esperamo-lo com paciência. Semelhantemente, o Espírito nos ajuda na nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir, nem como pedir, mas o Espírito pede por nós, com gemidos tais que não há palavras que os possam exprimir. E o Pai, que conhece todos os corações, sabe na verdade o que o Espírito pretende ao interceder em nosso favor, em harmonia com a vontade de Deus. E sabemos que tudo o que nos acontece contribui para o nosso bem, nós que amamos a Deus e fomos chamados de acordo com os seus planos. Porque desde o princípio de tudo Deus conheceu os seus e decidiu escolhê-los para se tornarem semelhantes ao seu Filho, a fim de que este fosse o primeiro entre muitos irmãos. E aqueles que decidiu escolher, chamou-os para si; e aqueles que chamou para si, declarou-os justos; e àqueles que declarou justos, concedeu-lhes o direito à sua glória. Que poderemos comentar perante coisas tão maravilhosas? Se Deus está ao nosso lado, quem prevalecerá contra nós? Se ele nem o seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, não nos dará, com Cristo, tudo o mais de que precisarmos? Quem ousará acusar-nos, a nós que Deus escolheu para si mesmo? Porque é Deus mesmo quem nos declara justos. Quem pois nos condenaria? Ninguém o poderia fazer, visto que foi Cristo quem morreu e ressuscitou por nós, e se encontra sentado à direita de Deus, ali intercedendo em nosso favor. O que poderia interpor-se entre nós e o amor de Cristo? Seria a tribulação ou a aflição, a perseguição, a fome, a falta do que vestir, o perigo ou a espada? Não! As próprias Escrituras dizem: “Antes por amor a ti, Senhor, enfrentamos a morte em qualquer momento; somos como ovelhas a ser abatidas no matadouro.” Mas a nossa vitória é total no meio de todas essas coisas, e isso devido a Cristo, o qual nos amou. Porque eu estou certo de que nem a vida nem a morte, nem anjos nem autoridades, nem a atualidade nem o futuro, nem poderes, nem as alturas nem os profundos abismos, nada nem ninguém nos poderá separar do amor que Deus nos deu em Jesus Cristo, nosso Senhor. Digo a verdade em Cristo, não estou a mentir. A minha consciência é minha testemunha e o Espírito Santo o confirma. O meu coração está profundamente abatido dentro de mim e entristeço dia após dia. Pois eu até preferia ser separado de Cristo, se isso pudesse ser condição para a salvação dos meus irmãos, da gente do meu povo. Eles são os Israelitas. Deus adotou-os como filhos e revelou-lhes a sua glória. Com eles fez alianças e deu-lhes a sua Lei; ensinou-os a adorá-lo e deu-lhes promessas. A este povo pertencem os patriarcas e o próprio Cristo, no que diz respeito à sua natureza humana, ele que é Deus sobre tudo, para sempre louvado! Amém! Pois bem, terá Deus falhado no cumprimento da sua promessa aos judeus? Naturalmente que não! O que acontece é que nem todos os que descendem de Israel pertencem a Israel. O simples facto de serem da descendência de Abraão não os torna filhos de Abraão. As Escrituras dizem: “Só através de Isaque é que a minha promessa terá cumprimento”, embora Abraão tivesse outros filhos. Isto significa que nem todos os filhos de Abraão são necessariamente filhos de Deus. São os filhos da promessa que são considerados filhos de Abraão. Porque Deus prometeu: “No próximo ano virei e Sara terá um filho.” Não foi caso único. Este filho é Isaque, nosso pai. A sua mulher, Rebeca, estava para ter dois gémeos. Ainda antes que as crianças tivessem nascido e feito fosse o que fosse, bem ou mal, e para que o propósito de Deus prevalecesse, na escolha que ele próprio fez, sem depender de obras, mas daquele que chama, foi dito a Rebeca: “o mais velho terá de submeter-se ao mais novo.” Como está escrito: “Mostrei-vos o meu amor amando o vosso pai Jacob. Rejeitei o seu próprio irmão Esaú.” Haverá então injustiça da parte de Deus? Claro que não! Porque Deus tinha dito a Moisés: “Terei compaixão de quem eu quiser e serei misericordioso para com quem eu entender.” Assim pois as bênçãos de Deus não são dadas só porque alguém decide recebê-las, ou porque tenha feito muitas obras para as alcançar. Elas dependem de Deus que tem misericórdia de quem quiser. O Faraó, o rei do Egito, é um exemplo desse facto. Deus disse: “Para isto te levantei como rei do Egito, para por ti mostrar o meu poder, a fim de que em toda a Terra seja honrado o meu nome.” Como veem, Deus é benigno para com uns, mas endurece o coração de outros, conforme a sua vontade. Bem, podem perguntar: “Por que razão Deus culpa as pessoas por não o ouvirem? Não estão elas a fazer simplesmente o que ele manda?” Não, não digam isso! Quem é o homem, um pobre mortal, para criticar Deus? Um objeto fabricado dirá àquele que o fabricou: “Porque me fizeste desta forma?” Quando um oleiro faz um jarro de barro não terá o direito de usar o mesmo barro para fazer um belo objeto de ornamentação e um outro para uso corrente? Então não teria Deus o direito de manifestar a sua cólera e dar a conhecer o seu poder contra aqueles que estão debaixo da sua cólera e que se encaminham para a perdição, mas cuja maldade ele tem suportado com paciência? Ele fez isto para dar a conhecer as riquezas da sua glória àqueles de quem ele tem misericórdia e que ele previamente preparou para receberem a sua glória. Somos nós aqueles que ele chamou, quer sejamos judeus ou gentios. Lembram-se do que está escrito no profeta Oseias: “Direi àqueles que não são meus: agora são meu povo; e amarei aqueles que estavam fora do meu amor”? E diz ainda: “Em vez de lhes dizer: ‘Não são meu povo’, serão chamados ‘filhos do Deus vivo.’ ” E Isaías, o profeta, proclamava, acerca de Israel: “Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia das praias, apenas um pequeno número será salvo. Porque o Senhor dará execução à sua palavra na Terra, de uma forma integral, e no seu devido momento, sem alterações.” E noutro lugar o mesmo profeta já havia dito: “Se não fosse a misericórdia do Senhor dos exércitos, poupando descendência, teríamos sido destruídos, tal como aconteceu com as cidades de Sodoma e Gomorra.” Que diremos então destas coisas? Só isto: que Deus deu a justiça aos gentios, que antes não procuravam a justiça. E foi uma justiça obtida pela fé. Israel, que tinha procurado observar a Lei de Deus, não conseguiu fazê-lo. E porque não? Porque tentava ser salvo através do cumprimento da Lei, em vez de fazer depender da fé a sua salvação. Tropeçou na pedra de que fala a Escritura: “Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha que os fará cair. Aquele que nele crer não será envergonhado.” Meus irmãos, o grande desejo do meu coração e a minha oração é que Israel possa ser salvo. Eu sei como eles defendem fervorosamente a honra de Deus, mas é um zelo sem entendimento. Eles não entendem que Cristo morreu para os tornar justos. Por isso, continuam a procurar tornar-se justos por si mesmos, tentando guardar a Lei, e não se sujeitam à justiça de Deus. Pois o propósito da Lei é conduzir-nos a Cristo para a justificação de todo o crente. Porque Moisés escreveu: “Quem cumprir estas prescrições viverá por elas.” Esta é a maneira de a Lei tornar uma pessoa justa. Porém, da justiça baseada na fé escreveu o seguinte: “Não digas no teu coração: ‘Quem pode subir aos céus?’ ” (Ou seja, para trazer Cristo à Terra). E ainda: “Quem descerá ao abismo?” (Ou seja, para ressuscitar Cristo dentre os mortos). Mas o passo seguinte mostra o que pregamos acerca da fé: “A mensagem está mesmo à mão; na tua boca e no teu coração.” Se com a tua boca confessares que Jesus Cristo é o Senhor e no teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque é crendo que uma pessoa é declarada justa por Deus; e é declarando, em voz clara, que a salvação se afirma. Porque a Escritura diz: “Mas aquele que nele crer não será envergonhado.” E nisto, entre judeus e os gentios não há diferença: todos têm o mesmo Senhor que concede generosamente as suas riquezas aos que o invocarem. Porque: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” Mas como chamarão por ele aqueles que ainda não creem nele? E como hão de crer nele se nunca ouviram falar dele? E como ouvirão a seu respeito se ninguém lhes falar dele? E como irá alguém falar-lhes se não for enviado? É disso que falam as Escrituras quando dizem: “Como são belos os pés daqueles que anunciam boas novas.” Mas nem todos responderam a essa voz do evangelho, porque Isaías, o profeta, disse: “Senhor, quem creu na nossa pregação?” Na verdade, a fé vem por ouvir, e o que se ouve é a palavra de Cristo. Mas pergunto: não terão eles ouvido? Sim, decerto: “A sua mensagem foi por toda a Terra, até às suas extremidades.” E ainda pergunto: não terá Israel tomado conhecimento? Sobre isto, Moisés declarou da parte de Deus: “Suscitar-vos-ei ciúmes de gente que não é o meu povo, e contra um povo que não tem conhecimento provocar-vos-ei à ira.” Mais tarde Isaías também dirá ousadamente da parte de Deus: “Fui procurado pelos que nunca antes tinham inquirido sobre mim. Os que nunca antes me tinham buscado agora me acham.” Quanto a Israel, Deus disse: “Continuamente estendi as minhas mãos a um povo rebelde e desobediente.” Pergunto então: Terá Deus rejeitado o seu povo? Nada disso. Lembrem-se de que eu próprio sou israelita, descendente de Abraão e membro da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu próprio povo que escolheu logo desde o princípio. Lembram-se certamente daquele passo em que o profeta Elias se queixou a Deus dos israelitas: “Senhor, mataram os teus profetas e derrubaram os teus altares. Só eu fiquei e ainda procuram matar-me.” Lembram-se do que Deus lhe replicou então? “Tenho ainda 7000 que não se inclinaram para adorar Baal.” O mesmo acontece agora. Nem todos os judeus viraram as costas a Deus. Há ainda um determinado número que Deus escolheu pela sua graça. E se tal depende da graça de Deus não pode ser pelas boas obras. Porque nesse caso não seria uma oferta gratuita. Esta é pois a situação: A maioria de Israel não encontrou o favor que buscava de Deus; mas uns quantos, que Deus escolheu para si, alcançaram-no; aos outros Deus permitiu o seu endurecimento. A isto se referem as Escrituras: “Deus os adormeceu, fechando os seus olhos e os seus ouvidos para nada perceberem, até ao dia de hoje.” E o rei David disse: “Que os seus banquetes se tornem para eles numa armadilha e numa rede, em tropeço e em retribuição pelo seu mal! Que os seus olhos se turvem para que não vejam; que vivam esmagados sob um pesado fardo!” Repito: Terão tropeçado e caído? De novo dizemos não! Contudo, por meio da transgressão dos judeus, Deus, como já vimos, tornou a salvação também acessível aos gentios, para que os judeus, estimulados por um sentimento de ciúme, começassem a procurar a salvação de Deus para si mesmos. Mas se o mundo recebe riqueza espiritual em consequência da transgressão dos judeus, e se em consequência do seu fracasso os gentios recebem essa mesma riqueza, pensem só como será quando o número completo dos judeus tiver vindo a Cristo! Estou a dizer isto especialmente aos gentios. Como sabem, Deus designou-me como apóstolo para os gentios, e é para mim motivo de glória esta missão que Deus me atribuiu. Insisto muito nisto para de algum modo provocar ciúmes vossos ao meu próprio povo, e desta maneira salvar alguns deles. Pois se a rejeição deles trouxe a reconciliação ao mundo, o que trará a sua aceitação, senão a nova vida dentre os mortos? Se Abraão e os demais patriarcas eram santos, os seus descendentes também o são. Se a raiz da árvore é santa, os ramos também são, pois o todo é santificado pela oferta de uma só parte. Mas alguns desses ramos da árvore de Abraão, portanto alguns judeus, foram quebrados. E tu, gentio, que eras como ramo de uma oliveira brava, foste enxertado naquela outra e agora também partilhas a mesma raiz da oliveira de boa qualidade. Deves, contudo, ter cuidado para não cair no orgulho, pelo facto de teres sido posto no lugar dos ramos quebrados. Lembra-te de que a tua posição e privilégio vêm unicamente de não seres tu quem sustenta a raiz, mas ela a ti. “Bom”, podes estar a dizer, “esses ramos foram quebrados para me ceder o lugar.” Está certo! Lembra-te de que esses ramos, os judeus, foram tirados por não terem crido na mensagem sobre Jesus e que tu te encontras no lugar deles porque creste. Não caias no orgulho; tem cuidado! Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, não tenhas dúvida de que agirá contigo da mesma maneira. Repara como Deus é ao mesmo tempo tão bondoso e tão rigoroso. Ele é rigoroso para com os que lhe desobedecem, mas de extrema bondade para contigo se permaneceres na sua bondade. Senão, sem dúvida que também serás quebrado. Por outro lado, se os judeus deixarem a sua incredulidade, serão enxertados. Pois Deus é poderoso para os enxertar de novo na árvore. Porque se Deus aceitou tomar-te a ti, que vivias tão afastado e eras por natureza ramo de uma oliveira brava, e te enxertou na oliveira mansa, é evidente que será mais fácil colocar de novo os judeus na sua própria oliveira. Quero, irmãos, que tomem bem nota desta verdade de Deus, irmãos, para que não caiam no orgulho e comecem a gabar-se. Na realidade Israel experimentou um endurecimento parcial, mas isto acontecerá somente até que o número completo dos gentios tenha vindo a Cristo. Nessa altura todo o Israel será salvo. Lembram-se do que os profetas disseram a esse respeito? “De Sião sairá o libertador que afastará Israel de toda a impiedade.” “Esta é a aliança que faço com eles: naquele tempo tirarei os seus pecados.” Muitos judeus são inimigos do evangelho e isto tem sido um benefício para vocês, gentios. Mas, ao terem sido escolhidos por Deus, os judeus ainda são amados por Deus, por causa da sua promessa aos seus antepassados. As dádivas de Deus e a sua chamada nunca poderão ser anuladas. Antigamente também vocês eram rebeldes contra Deus, mas como os judeus recusaram as suas dádivas, Deus estendeu-vos a sua misericórdia. Agora os judeus não creram na mensagem, para que vocês pudessem experimentar a sua misericórdia, mas virá o dia em que eles também participarão dela. Porque Deus englobou todos os homens por serem desobedientes, a fim de poder demonstrar igualmente a todos a sua misericórdia. Como a sua sabedoria e a sua inteligência são riquezas ilimitadas! Como é impossível entender as suas decisões, a sua maneira de agir! Pois “quem conheceu o pensamento do Senhor ou quem é o seu conselheiro?” Alguém lhe terá dado primeiramente dádivas, de forma a esperar agora a retribuição? Com certeza que não, pois todas as coisas vêm dele! Tudo é por ele e para ele. Glória lhe seja dada para sempre! Amém! E assim, irmãos, peço-vos, através do amor de Deus, que entreguem as vossas vidas a Deus. Que elas sejam como que um sacrifício vivo e santo, o tipo de sacrifício que ele aceitará. Quando pensamos em tudo o que fez por nós, será pedir muito? Não se conformem com os padrões e costumes deste mundo, mas sejam pessoas diferentes, através da renovação da vossa maneira de pensar. Dessa forma conhecerão o que Deus deseja que façam e verão como a sua vontade é realmente boa, agradável e perfeita. Pois digo-vos, pela graça que me foi concedida, a todos os que estão no vosso meio, que não pensem para além daquilo que devem pensar, mas que pensem na justa medida, de acordo com a medida de fé que Deus concedeu a cada um. Porque assim como o nosso corpo é formado de várias partes, e cada uma tem uma função própria, o mesmo acontece com o corpo de Cristo. Nele somos todos partes dum só corpo, e cada um tem uma função diferente a executar. Por isso, também precisamos uns dos outros e pertencemos uns aos outros. Deus pela sua graça ofereceu dons diferentes para realizar bem certas tarefas. Assim se ele a uns deu a capacidade de profetizar, então façam-no de acordo com a sua fé. E se a outros deu a capacidade de servir de uma forma prática os seus semelhantes, que o façam num verdadeiro espírito de serviço. Se alguém tiver o dom de ensinar, que o faça com toda a dedicação. Se um outro tem o dom de consolo, que a sua pregação seja de molde realmente a consolar. Se for uma pessoa com posses, reparta com liberalidade. Se Deus lhe deu a habilidade de governar, faça-o responsavelmente. E se tiver o dom de ser bondoso para com os necessitados, deve fazê-lo com alegria. Que o amor que mostrarem pelos outros seja autêntico. Tenham horror ao mal. Tomem sempre posição do lado do bem. Amem-se uns aos outros com uma afeição verdadeira. Ponham os outros sempre em primeiro lugar. Não sejam nunca preguiçosos no vosso trabalho; sirvam o Senhor com todo o fervor. Alegrem-se na esperança de tudo aquilo que Deus tem planeado para vocês. Sejam pacientes nas dificuldades, orando a Deus de forma constante. Quando os filhos de Deus estiverem em necessidade, ajudem-nos. Sejam hospitaleiros. Abençoem quem vos persegue por serem cristãos, não o amaldiçoem; orem para que Deus venha a abençoar essa pessoa. Quando os outros são felizes, participem da sua felicidade. Se estão tristes, compartilhem a sua tristeza. Vivam em harmonia uns com os outros. Não sejam ambiciosos de grandezas; acomodem-se às coisas modestas. Não se julguem sabendo mais do que na verdade sabem. Não paguem o mal com o mal. Preocupem-se em fazer o que é bom à vista de todos. Sempre que possível e na medida em que isso dependa de vocês, tenham boas relações com toda a gente. Queridos amigos, não procurem vingar-se a vós mesmos, pois diz o Senhor na Escritura: “Minha é a vingança. Pertence-me e hei de exercê-la.” Pelo contrário, e como está escrito: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. E assim amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça.” Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem. Submetam-se todos aos poderes instituídos. Porque a autoridade que possuem é-vos concedida por Deus. Por isso, os que se recusam obedecer às leis do país revoltam-se contra uma ordem que Deus estabeleceu, e trarão sobre si o seu juízo. Porque os líderes não metem medo a quem faça o bem, mas sim a quem pratica o mal. Portanto, se não quiseres ter nada a temer dos líderes, faz o bem e terás o elogio das autoridades. A autoridade está ao serviço dessa ordem instituída por Deus, que existe para teu bem. Mas se fizeres algo de condenável, então com razão terás que recear, pois é portadora de espada, sinal de poder para punir. Deus a instituiu para esse exato fim, de castigar quem pratica o mal. Portanto, deves obedecer às autoridades por duas razões: para evitares ser castigado e para teres uma consciência limpa. Pelas mesmas razões, também devem pagar os impostos, porque as autoridades estão ao serviço de Deus, de quem receberam a missão de zelar pela sua cobrança. Devem pois dar a cada um o que é devido: os impostos e as contribuições a quem tem o direito de os exigir, o respeito e honra a quem os deve receber. Não contraiam dívidas com ninguém, a não ser a dívida do amor uns para com os outros; porque quem ama os outros satisfaz naturalmente todas as exigências da Lei. Com efeito, não adulteres, não mates, não roubes, não cobices o que é do próximo. Na verdade, qualquer outro mandamento se resume num só mandamento: “Ama o teu próximo como a ti mesmo.” O amor ao próximo não prejudica ninguém. É essa a razão pela qual ele satisfaz toda a Lei de Deus. Digo-vos isto tudo porque sabemos o tempo em que vivemos. Despertemos, porque a hora da vinda do nosso Salvador está agora já mais próxima do que na altura em que cremos. A noite está a passar e o dia do seu regresso começa a despontar. Eis porque devemos abandonar as obras más das trevas e armar-nos de uma vida reta, como é próprio de quem vive na luz. Sejam honestos e verdadeiros em tudo o que fizerem, como é próprio de quem vive de dia, para que toda a gente aprove a vossa conduta. Não se metam em festanças, rejeitem as bebedeiras e tudo em que reine a imoralidade, o adultério, ou ainda as rivalidades e a inveja. Devem revestir-se da vida nova do Senhor Jesus Cristo e não pensem de maneira a dar lugar aos vossos maus desejos. Recebam sempre o melhor possível qualquer irmão, ainda que fraco na sua fé. Não discutam com ele sobre os seus escrúpulos. Uns creem que se pode comer de tudo; mas outros há que pensarão que isso não está certo e irão ao ponto de comer só legumes. E aqueles que não acham mal comer de tudo não devem desprezar os que apenas comem certas coisas, tal como também estes últimos não devem julgar os primeiros, porque Deus os aceitou como filhos. Quem és tu para julgar um servo alheio? É ao seu senhor que ele dará contas, não a ti. Por isso, deixa que seja Deus a dizer-lhe se ele permanece de pé ou cai. Mas permanecerá de pé, pois o Senhor é poderoso para o fortalecer. Há também pessoas que pensam que os cristãos deveriam respeitar dias de festa dos judeus, como ocasiões especiais de adoração a Deus. Mas outras não prestam especial atenção a esses dias. Cada pessoa deve ter a sua convicção sobre este assunto. Afinal, aqueles que querem assinalar de forma especial determinados dias fazem-no para adorar a Deus. Da mesma forma, quem come de tudo, sem escrúpulos de consciência, fá-lo também para o Senhor; a prova é que dá graças a Deus por aquilo que come. A pessoa que recusa certos alimentos, se o faz é também porque está desejosa de agradar ao Senhor, estando igualmente grata a Deus. Nós não somos donos de nós mesmos, de forma a vivermos ou morrermos segundo a nossa vontade ou conveniência. Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor, dependemos da sua vontade. Quando morrermos, iremos estar com o Senhor. Por isso, tanto na vida como na morte, pertencemos ao Senhor. Foi para isto mesmo que Cristo morreu e ressuscitou, para ser Senhor das nossas vidas, quer vivamos, quer morramos. Vocês não têm o direito de julgar os vossos irmãos ou de criticá-los com superioridade. Lembrem-se de que cada um de nós terá de prestar contas perante o tribunal de Deus. Porque está escrito: “Tão certo como eu viver, diz o Senhor, todo o joelho se dobrará perante mim e toda a língua confessará que sou Deus.” Sim, cada um dará contas de si mesmo a Deus. Por isso, não nos critiquemos mais uns aos outros. Em vez disso, procurem viver de tal modo que nada do que fazem possa levar o vosso irmão a pecar, ou a ficar perturbado na sua consciência. Quanto a mim, pessoalmente, estou certo, porque assim mo ensinou o Senhor Jesus, de que não há nada de mal em comer comida considerada impura pela Lei. Contudo, se alguém pensa o contrário deverá fazer segundo a sua consciência, porque para ele é mal. E se o teu irmão ficar perturbado na sua consciência por aquilo que tu comes, não estarás a dar provas do amor de Deus em ti, se continuares a comer disso. Não faças com que aquilo que comes leve a perder-se aquele por quem Cristo morreu. Não faças nada que te leve a ser criticado, ainda que por coisas que sabes que estão certas. Porque o reino de Deus não é uma questão daquilo que comemos ou bebemos, mas de vivermos uma vida de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Porque quem serve a Cristo desta maneira dará alegria a Deus e será estimado pelos homens. Tenham sempre como objetivo a paz uns com os outros, assim como o progresso da vida espiritual de cada um. Não desfaçam a obra de Deus na vida de um irmão por uma questão de comida. Lembrem-se que não há nenhum mal naquilo que se come; o mal é quando aquilo que se come pode afetar a vida espiritual de alguém. Então o melhor a fazer será deixar de comer carne, ou de beber bebidas alcoólicas, ou de fazer seja o que for que possa vir a afetar o vosso irmão e até levá-lo a pecar. Estás convencido de que perante Deus não há mal naquilo que fazes? Pois reserva essa tua convicção entre ti e Deus. Feliz é o homem, na verdade, que não se sente condenado quando faz o que sabe estar certo. Mas se alguém tem dúvidas sobre se deve ou não comer alguma coisa, não deve comer. Seria condenado por não agir com fé perante Deus. Se fizer alguma coisa que julga não estar certa, está a pecar. Ainda que acreditemos que para o Senhor é indiferente que façamos ou não essas coisas, nós os que somos fortes não podemos contudo continuar a praticá-las para agradarmos a nós mesmos; porque temos de ter em consideração as dúvidas e os receios dos outros. Procuremos agradar aos outros, não a nós próprios; façamos aquilo que pode contribuir para a edificação da sua vida espiritual. Nem Cristo procurou o seu próprio prazer. Como disse o Salmista: “Os insultos dos teus inimigos têm caído sobre mim.” Porque tudo o que anteriormente foi escrito, é para nos ensinar, para que pela paciência e pelo consolo das Escrituras, aguardemos com esperança as promessas de Deus. Possa Deus, que vos dá paciência e consolo, ajudar-vos a viver em harmonia uns com os outros, na mesma atitude que Cristo Jesus teve. E então todos podem, a uma só voz, dar glória a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo assim, recebam-se afetuosamente uns aos outros, tal como Cristo vos recebeu, e assim Deus será glorificado. E lembrem-se de que Cristo veio como um servo dos judeus, a fim de mostrar que Deus é verdadeiro e confirma as promessas que fez aos nossos antepassados. Ele veio também para que os gentios possam dar glória a Deus pela misericórdia que lhes manifestou. É isto o que está escrito: “Por isso, dar-te-ei graças entre as nações, e cantarei louvores ao teu nome.” E noutra passagem: “Alegrem-se, ó nações, com o povo de Deus!” E ainda noutro local: “Louvem o Senhor, todas as nações! Que todos os povos lhe deem louvores!” E o profeta Isaías disse: “Haverá uma raiz para a família de Jessé, que será rei sobre as nações; estes porão nele as suas esperanças.” Que Deus, que vos deu esperança, vos mantenha felizes e cheios da paz que nasce pela fé, através do poder do Espírito Santo nas vossas vidas. Eu estou certo, irmãos, de que estão cheios de bondade, para que com o conhecimento que já têm possam aconselhar-se uns aos outros. Apesar disso, tive a ousadia para vos escrever sobre estes pontos, convencido de que o que vos falta é sobretudo que estes assuntos estejam sempre bem presentes na vossa mente. Pois, pela graça de Deus, fui chamado a ser ministro de Jesus Cristo junto de vocês, os gentios, servindo-o como sacerdote do evangelho, para que sejam apresentados a Deus como um sacrifício inteiramente aceite por ele, santificado pelo Espírito Santo. Por isso, me é lícito ter esta grande satisfação, por tudo aquilo que Cristo Jesus fez por meu intermédio no meu serviço para Deus. Porque nem sequer ousaria abrir a boca, se Cristo não tivesse usado a minha vida para levar os gentios a Deus, ganhando-os através da minha mensagem e da forma como vivi diante deles; e ainda pelos milagres feitos por meu intermédio como sinais vindos de Deus, tudo isto pelo poder do Espírito Santo. E desta maneira tenho pregado o evangelho de Cristo, por toda a parte, desde Jerusalém até ao Ilírico. O meu grande desejo tem sido ir sempre mais longe, pregando de preferência onde o nome de Cristo ainda não tenha sido ouvido, e não edificando sobre um fundamento posto por outro. Tenho seguido o plano de que falam as Escrituras, onde Isaías diz: “Aqueles que nunca antes tinham ouvido falar dele agora o verão e compreenderão.” Eis no fundo a verdadeira razão porque não pude ir visitar-vos mais cedo. Mas agora acabei, enfim, o meu trabalho nestas regiões e estou desejoso de ir ter convosco, após todos estes longos anos de espera. Porque estou a fazer planos para uma viagem a Espanha e de caminho tenciono ficar em Roma um tempo, para gozar da vossa convivência, depois do que alguns de vocês poderão até ajudar-me no prosseguimento da minha viagem. Mas antes disso tenho de ir a Jerusalém levar uma oferta para os santos dali. Pois pareceu bem aos cristãos da Macedónia e da Acaia enviar um donativo para os seus irmãos de Jerusalém, que têm atravessado tempos bem difíceis. Eles tiveram muita alegria em fazê-lo, porque sentem que têm como que uma dívida para com os cristãos de Jerusalém, pois os gentios foram participantes das bênçãos espirituais dos judeus. E sentem que o mínimo que poderão fazer em retribuição será enviar à igreja de Jerusalém uma ajuda material. Portanto, logo que tenha executado essa tarefa, entregando o fruto da sua gratidão, irei ver-vos no meu caminho para Espanha. Estou certo de que nessa visita que vos farei hei de levar-vos todas as riquezas espirituais da bênção de Cristo. E peço-vos muito, meus irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo e pela afeição com que o Espírito Santo nos une, que participem comigo, pela oração, no combate que irei travar. Orem para que eu fique livre dos que na Judeia se recusam a crer em Cristo. E também que os cristãos de Jerusalém aceitem bem a minha missão junto deles. E assim, se for a vontade de Deus, poderei então ir ter convosco mais feliz, para juntos nos encorajarmos uns aos outros. Que Deus, a fonte da verdadeira paz, esteja com todos. Amém! Recomendo-vos Febe, nossa irmã, que tem servido na igreja de Cencreia. Recebam-na com toda a afeição cristã, como deve ser entre crentes. Ajudem-na em tudo o que puderem, porque ela própria prestou o seu auxílio a muita gente na necessidade, incluindo eu próprio. Transmitam as minhas saudações a Priscila e a Áquila, meus colaboradores na obra de Jesus Cristo, que puseram em risco as suas vidas por minha causa. E não só eu, mas também todas as igrejas dos gentios lhes estão agradecidas. Peço-vos que deem as nossas saudações a todos aqueles que se reúnem na sua casa para o culto a Deus. Deem cumprimentos ao meu querido amigo Epéneto que foi o primeiro, da província da Ásia, a converter-se a Cristo. Deem também lembranças minhas a Maria que tanto trabalhou para vos ajudar. O mesmo também a Andrónico e Júnia, meus parentes, que estiveram comigo na prisão. Eles gozam da consideração dos apóstolos e tornaram-se cristãos mesmo antes de mim. Transmitam a minha sincera amizade a Ampliato, a quem eu muito quero, no Senhor. Igualmente a Urbano, nosso colaborador, e a Estáquio, meu querido amigo. E há também Apeles, um homem que tem resistido, pelo poder de Cristo, a todas as provas; deem-lhe toda a minha estima. O mesmo peço que façam junto dos que trabalham na casa de Aristóbulo. Deem lembranças minhas a Herodião, também meu parente. E aos da casa de Narciso, que pertencem ao Senhor. Saudades a Trifena e a Trifosa, que trabalham para o Senhor fielmente. Também à estimada Pérsida que tanto se tem esforçado na obra de Deus. Saudações da minha parte a Rufo, esse cristão distinto, e a sua mãe, a qual foi igualmente uma mãe para mim. Peço também que deem lembranças minhas a Asíncrito, a Flegonte, a Hermes, a Patrobas, a Hermas e aos outros irmãos que estão com eles. Transmitam a minha amizade a Filólogo, a Júlia e a Nereu, assim como à sua irmã, e a Olimpas, tal como a todos os cristãos que com eles estão. Entre vocês, saúdem-se também uns aos outros com um beijo de irmãos crentes. Todas as igrejas daqui vos saúdam. Peço-vos que se afastem daqueles que andam a provocar divisões e a perturbar a fé das pessoas, ensinando coisas contrárias às que ouviram. Tal gente não está ao serviço do nosso Senhor Jesus Cristo; servem-se antes a si mesmos. Em geral, sabem falar muito bem e as pessoas simples são enganadas por eles. Mas todos conhecem a vossa obediência a Cristo e isso muito me alegra. Queria que permanecessem esclarecidos no que respeita ao que é justo e de sobreaviso em relação ao mal. O Deus de paz não tardará a esmagar Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Que assim seja! Timóteo, meu colaborador, e Lúcio, Jason e Sosípatro, meus parentes, mandam-vos saudações. E eu, Tércio, que fui quem escreveu esta carta, também vos mando as minhas melhores saudações, como vosso irmão no Senhor. Gaio manda-vos lembranças. Estou instalado em sua casa, onde aliás se reúne a igreja aqui. Erasto, tesoureiro municipal, envia-vos cumprimentos tal como o irmão Quarto. Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos. Amém! Deus é poderoso para vos tornar firmes em toda a palavra do evangelho e na doutrina de Jesus Cristo. O plano de Deus para a salvação dos não-judeus manteve-se secreto desde o princípio dos tempos. Mas agora, tal como as Escrituras dos profetas previram, e como o Deus eterno tinha ordenado, esta mensagem é anunciada a todas nações para que possam crer e obedecer a Cristo. Ao único Deus, que possui toda a sabedoria, seja dada glória para sempre através de Jesus Cristo. Amém! Paulo, escolhido por Deus para ser o apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes. Escrevemos esta carta à igreja de Deus em Corinto, aos chamados por Deus para serem o seu povo santo, e a todos os que em toda a parte invocam o nome de Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo vos deem a sua graça e a sua paz. Agradeço continuamente ao meu Deus a vosso respeito, pela graça de Deus que vos foi concedida através de Cristo Jesus. Ele enriqueceu toda a vossa vida, toda a vossa maneira de falar e todo o vosso conhecimento. O testemunho que vos dei acerca de Cristo foi confirmado nas vossas vidas. Deste modo, não vos faltará nenhum dos dons espirituais, durante este tempo em que esperam a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. Deus também garante que vos manterá firmes até ao fim e que serão por ele considerados isentos de culpa no dia em que Cristo voltar. Porque Deus, que vos chamou para um relacionamento maravilhoso com o seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor, sempre cumpre aquilo que diz. Irmãos, suplico-vos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que tenham todos uma mesma palavra, que não se criem divisões no vosso meio e que sejam unidos numa só maneira de pensar, num só propósito. Porque, meus irmãos, alguns dos membros da família de Cloé contaram-me das vossas disputas. Alguns dentre vocês andam dizendo: “Eu sou adepto de Paulo!” Outros, por seu lado, afirmam ser seguidores de Apolo. Outros ainda de Pedro. E uma parte diz serem só eles os verdadeiros seguidores de Cristo. Estará Cristo dividido em muitos pedaços? Terei sido eu, Paulo, por acaso, quem morreu pelos vossos pecados? Foi algum de vocês batizado em meu próprio nome? Agradeço a Deus por não ter batizado nenhum de vocês, com exceção de Crispo e Gaio. Porque ninguém poderá dizer que foi batizado em meu nome. Lembro-me ainda que batizei a família de Estéfanas, mas creio que não batizei mais ninguém. Porque Cristo não me enviou para fazer batismos, mas a pregar o evangelho. E a minha pregação nem sequer é feita com palavras inspiradas em sabedoria humana, para não tirar poder à mensagem da cruz de Cristo. Eu sei bem como parece loucura, para os que estão perdidos, dizer que Jesus morreu na cruz para os salvar. Contudo, para nós que estamos salvos, isso é a expressão do poder de Deus. Porque está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios, frustrarei a inteligência dos inteligentes.” O que dizer então desses sábios, desses especialistas na Lei, desses comentadores das grandes questões mundiais? Deus tornou a sua sabedoria em loucura. Porque Deus, na sua sabedoria, determinou que o homem não o encontraria por meio da sua inteligência, mas que haveria de salvar todos os que cressem nele mediante a loucura da pregação. Os judeus pedem sinais milagrosos e os gentios procuram sabedoria. Mas, quanto a nós, pregamos que Cristo foi crucificado, os judeus escandalizam-se e os gentios dizem que é loucura. Mas para aqueles que foram chamados para a salvação, tanto judeus como gentios, Cristo é a força poderosa e a sabedoria de Deus. O plano de Deus, considerado louco, é afinal bem mais inteligente do que o mais sábio dos planos construídos pelos homens. E Deus, naquilo que os homens podem considerar como fraqueza, é bem mais forte do que qualquer força humana. Reparem, irmãos, que mesmo no vosso meio, entre os que seguem a Cristo, são poucos os sábios segundo critérios humanos, os que pertencem a altos estratos sociais ou têm poder e riquezas. Pelo contrário, pois Deus escolheu de propósito as coisas que o mundo considera loucas para envergonhar aqueles que pensam ser sábios e escolheu as pessoas fracas para envergonhar as que têm poder. Deus escolheu as coisas que no mundo são insignificantes, as desprezíveis e as que não são nada, e usou-as para aniquilar as que são alguma coisa, para que ninguém se orgulhe seja do que for na presença de Deus. É por ele que vocês estão em Jesus Cristo. Ele tornou-se a sabedoria de Deus para nosso benefício. Foi ele quem cumpriu para nós a justiça de Deus; tornou-nos santos e deu-se a si próprio para nossa redenção. Tal como dizem as Escrituras: “Quem se quiser gloriar, glorie-se no Senhor.” Caros irmãos, quando estive convosco, não empreguei palavras caras nem sábias para vos transmitir o misterioso plano de Deus. Decidi que falaria apenas de Jesus Cristo e da sua morte na cruz. Aliás, apresentei-me consciente da minha fraqueza; eu ia cauteloso e com receio. A minha pregação foi muito simples; nada de retórica nem de sabedoria humana, mas o poder do Espírito Santo atuava, provando que a mensagem era de Deus. Para que a vossa fé se apoiasse no poder de Deus e não em sabedoria meramente humana. É claro que entre os crentes com maturidade espiritual, exprimo-me com palavras de sabedoria divina, mas não daquelas que são características dos líderes deste mundo, e que afinal estão destinadas a desaparecer. Toda a sabedoria de que falamos é um mistério oriundo de Deus; é a expressão do seu sábio plano, oculto nos tempos antigos, ainda que tivesse sido elaborado em nosso benefício, desde sempre. Mas os líderes deste mundo não o compreenderam; caso contrário, não teriam crucificado o Senhor da glória. É esse o sentido das Escrituras quando dizem: “As coisas que as pessoas jamais viram, nem ouviram, nem sequer puderam imaginar, foram as que Deus preparou para os que o amam.” E nós conhecemo-las porque Deus enviou o seu Espírito para no-las revelar. O seu Espírito perscruta e revela-nos os pensamentos mais profundos de Deus. Quem pode conhecer o que uma pessoa está a pensar e como é realmente no seu íntimo, senão a própria pessoa? Também ninguém pode conhecer os pensamentos de Deus, se não for pelo seu próprio Espírito. Deus deu-nos o seu Espírito, e não o espírito característico deste mundo, para nos revelar as dádivas que ele graciosamente nos concede. Ao dizer-vos isto não usamos palavras de sabedoria humana. Nós falamos palavras que nos são dadas pelo Espírito e assim usamos as palavras do Espírito para explicar verdades espirituais. Uma pessoa que não tenha o Espírito de Deus não pode compreender as coisas que o Espírito Santo nos ensina. Parecem-lhe loucura, pois só pelo Espírito Santo se podem perceber. Uma pessoa espiritual tem a perceção de todas as coisas, mas os que são deste mundo não podem entendê-las. Como poderiam? Porque está escrito: “Porque quem conheceu o pensamento do Senhor ou quem é o seu conselheiro?” Mas nós compreendemos estas coisas porque temos a mente de Cristo. Meus irmãos, quando estive convosco, não pude falar-vos como se fossem cristãos maduros, mas como a pessoas controladas pelos seus próprios desejos. Tive de falar-vos como se fossem ainda criancinhas na vida cristã. Tive necessidade de vos alimentar com leite, em vez de alimento sólido, porque não teriam podido digeri-lo. Nem ainda podem. Porque são ainda cristãos controlados pelos vossos próprios desejos e não pelos de Deus. Quando têm inveja uns dos outros e se dividem em grupos desavindos, não é isso prova de que ainda só querem fazer a vossa vontade, e de que se comportam como gente que ainda não pertence ao Senhor? Quando um de vocês diz: “Eu sou um seguidor de Paulo”, e outro diz: “Eu prefiro Apolo”, não estão a agir como descrentes? Afinal quem sou eu e quem é Apolo? Não somos apenas servos de Deus, cada um com a capacidade que o Senhor lhe concedeu, e por intermédio de quem se tornaram crentes? A minha missão consistiu em plantar a semente nos vossos corações e Apolo regou-a. No fim de contas, foi Deus, e não nós, quem fez crescer essa sementeira. A pessoa mais importante não é aquela que semeia ou rega. Deus, sim, é importante, porque só ele produz o crescimento. Tanto o que semeia como o que rega são iguais, ainda que cada um venha a ser recompensado segundo o seu próprio trabalho. Nós não somos mais do que cooperadores de Deus. Vocês são o campo de Deus. Vocês são o edifício construído por Deus e não por nós. Deus, na sua bondade, ensinou-me a ser um bom arquiteto, e eu coloquei os fundamentos, e agora outro continua a construção. Que cada um veja bem como edifica! Ninguém pode colocar outro alicerce que não seja aquele que já está posto: Jesus Cristo. Contudo, a verdade é que há muitas espécies de materiais que podem ser usados para construir sobre esse fundamento. Uns usam ouro, prata e pedras preciosas; mas outros empregam madeira e feno, ou até mesmo palha! Está a chegar a ocasião em que perante o tribunal de Cristo será posto à prova o material que cada construtor usou. O trabalho de cada um passará como que pelo fogo, para que se possa provar a sua resistência. Então quem trabalhou construindo sobre o bom alicerce e com o material conveniente, se a sua obra se tiver mantido, receberá a justa paga. Mas se o edifício arder, grande será o prejuízo do seu construtor. Contudo, ele próprio será salvo; mas como um homem que tivesse escapado de um incêndio. Não se dão conta de que constituem o templo de Deus e que o Espírito de Deus vive em vocês? Se alguém estragar a casa de Deus, Deus o destruirá. Porque a habitação de Deus é santa e cada um de vocês é o seu templo. Não se enganem a vós próprios. Se alguém se tem por muito sábio, neste mundo, faria melhor deixar que o considerem louco, para aceder à verdadeira sabedoria. Porque a sabedoria deste mundo não é mais do que loucura perante Deus. Como está escrito: “Deus apanha os sábios na sua própria astúcia.” E também: “O Senhor conhece os pensamentos dos sábios e como os seus esforços são vãos.” Por isso, que ninguém sinta orgulho em seguir uma outra pessoa. Porque Deus já vos deu tudo aquilo de que precisam. Têm Paulo, Apolo e Pedro para vos ajudarem. Deus deu-vos o mundo inteiro para dele usarem, a vida e a própria morte, o presente e o futuro. Tudo é vosso. E vocês pertencem a Cristo e Cristo pertence a Deus. Que as pessoas nos encarem como estando ao serviço de Cristo e tendo ao nosso encargo os seus mistérios. É evidente que se exige a alguém que presta serviços que faça exatamente o que lhe dizem para fazer. Vocês sabem que eu não me deixo afetar pelo que poderão pensar a esse respeito; vocês ou seja quem for. Nem pelo meu próprio juízo a este respeito me deixo influenciar. Aliás, a minha consciência em nada me acusa; mas nem isso me serve de justificação. É o próprio Senhor quem me examinará e me julgará. Por isso, não se precipitem em juízos, antes da vinda do Senhor. Quando o Senhor vier, trará luz sobre todas as coisas, e não apenas as escondidas, para que se veja exatamente o que cada um de nós é no íntimo do coração. E Deus dará a cada um o louvor que merecer. Meus irmãos, tomei-me a mim próprio e a Apolo como exemplos, para ilustrar aquilo que tenho vindo a dizer: o que cada um pensa deve ser submetido ao que dizem as Escrituras. Em relação àqueles que vos ensinam as coisas de Deus, não devem envaidecer-se a respeito de um e mostrar desfavor por outro. Donde vos vem essa presunção de fazer diferenças? Afinal que sabem vocês que não vos tenha sido revelado por Deus? E se tudo o que têm vem de Deus, por que razão atuam como se tivessem realizado algo por vós mesmos? Pensam que já têm tudo de que precisam! Já são ricos! Sem nós, tornaram-se reis! Eu desejaria que estivessem já nos vossos tronos, porque significaria que nós estaríamos a reinar também. Com efeito, por vezes penso que Deus nos colocou a nós, os apóstolos, no lugar mais baixo da escala social, a par dos condenados à morte. Como prisioneiros que vão ser executados, expostos em espetáculo ao mundo inteiro e também aos anjos. Nós tornámo-nos loucos pela causa de Cristo, mas vocês são sábios em Cristo. Nós somos os fracos e vocês os fortes! Vocês são considerados por toda a gente, mas de nós as pessoas riem-se. Até este momento temos passado fome e sede, sem ter sequer roupa suficiente para nos agasalharmos, somos maltratados e perseguidos, e nem temos morada certa. Temos trabalhado duramente com nossas próprias mãos para ganhar a vida. Abençoamos quem nos amaldiçoa. Somos pacientes para quem nos fere. Respondemos com calma aos insultos. Até agora temos sido tratados como a sujeira das valetas, o lixo do mundo. Não estou a escrever-vos estas coisas para vos chocar, mas para vos avisar como a filhos queridos. Porque ainda que tivessem tido milhares de pessoas a ensinar-vos sobre Cristo, lembrem-se que só a mim tiveram como pai espiritual; pois fui eu quem vos conduziu a Cristo, quando vos anunciei o evangelho. Por isso, peço-vos que sejam meus imitadores, fazendo o que eu faço. Eis a razão por que vos envio Timóteo: para vos ajudar nesse sentido. Porque é também um daqueles que eu ganhei para Cristo, um querido filho espiritual, digno de toda a confiança. Ele vai lembrar-vos tudo o que tenho ensinado acerca de Cristo nas igrejas por onde tenho passado. Sei que alguns se tornaram arrogantes, pensando que estou hesitante em ir tratar pessoalmente destes assuntos convosco. Mas o certo é que irei, e em breve, se o Senhor permitir. Então verei se por detrás do orgulho dessas pessoas haverá algum poder espiritual ou se tudo não passa de palavras. Porque o reino de Deus não é só discursos, mas sobretudo o viver pelo poder de Deus. O que é que preferem? Que eu vá repreender-vos com vara ou com amor e bondade? Fala-se muito por toda a parte da imoralidade sexual tolerada no vosso meio, tão má que nem sequer entre os gentios se encontra: um homem na vossa congregação está a viver em pecado com a mulher de seu pai. Como se justifica então a vossa presunção? Não seria antes caso para chorar de tristeza e tirar esse indivíduo do vosso meio? Ainda que não esteja convosco, contudo, estou espiritualmente presente. E em nome do nosso Senhor Jesus Cristo já decidi o que deverá fazer-se. Devem convocar a assembleia da igreja, o poder do Senhor Jesus estará nessa reunião, e eu mesmo, em espírito, também estarei junto. E então entreguem esse homem a Satanás, para este o levar à beira da morte e assim haver a esperança de ele buscar a salvação, no dia em que o nosso Senhor Jesus Cristo voltar. Não é bom que se gabem da vossa espiritualidade e que uma tal situação se mantenha. Não se dão conta que, ao tolerar-se que uma só pessoa continue a pecar, em breve todas as outras serão afetadas? Como é costume dizer-se: basta um pouco de levedura para fermentar toda a massa. Limpem-se pois de toda essa velha levedura; tornem-se uma massa sem fermento, para que todos se mantenham incontaminados. Cristo, o cordeiro da nossa Páscoa, foi sacrificado em nosso lugar. Celebremos pois essa festa espiritual, deixando para trás o fermento da maldade, a antiga vida, podre de tanto vício, de tanto pecado. Em vez disso, participemos nessa festa espiritual com o pão da sinceridade e da verdade. Já antes vos tinha escrito que não se misturassem com gente imoral. Mas não me estava a referir aos descrentes que vivem na imoralidade sexual, que são gananciosos, ladrões e que se entregam à idolatria, porque então seria necessário sairem do mundo. O que eu queria dizer é que não devem associar-se com alguém que, dizendo-se cristão, continua a viver na imoralidade, na avareza, na idolatria, na maledicência, em bebedeiras e no roubo. Nem sequer comam com tais pessoas. Não nos compete a nós julgar os de fora, mas é sem dúvida nossa obrigação julgar os que estão dentro da igreja e que estão a pecar dessa maneira. Deus julgará os que estão de fora. E as Escrituras dizem: “Tirem o mau do vosso meio.” Quando têm alguma coisa contra outro cristão esperam que seja um tribunal secular a decidir a questão, em vez de a resolverem entre crentes? Não sabem que nós, os cristãos, haveremos de julgar o mundo? Como é que não são capazes de encontrar solução para essas pequenas divergências no vosso meio? Não compreendem que nós, os cristãos, julgaremos até os anjos? Por isso, deveriam ser capazes de resolver no vosso meio os problemas desta vida. Se têm questões legais para resolver, porque vão procurar juízes lá fora que não são respeitados pela igreja? Digo isto para vossa vergonha. Será que em toda a igreja não há ninguém capaz de resolver tais diferendos? É assim tão necessário que um cristão chegue ao ponto de meter um processo contra o outro e acusar o seu irmão na presença de descrentes? Que tais processos possam existir já é uma derrota para vocês como cristãos. Porque não receber simplesmente a ofensa sem reagir? Seria melhor ficarem prejudicados. Em vez disso, vocês mesmos cometem injustiças e chegam a defraudar até os próprios irmãos na fé. Não sabem que os injustos não podem participar no reino de Deus? Não se deixem enganar; ninguém que viva na imoralidade sexual, que pratique a idolatria ou o adultério ou a homossexualidade terá parte no seu reino. Nem tão-pouco os roubadores, os avarentos, os bêbedos, os caluniadores, os violentadores. E houve um tempo em que alguns de vocês foram como eles. Mas agora os vossos pecados foram lavados e foram separados para Deus, o qual vos justificou em razão daquilo que o Senhor Jesus Cristo e o Espírito do nosso Deus fizeram por vocês. “Tudo me é permitido”, mas nem tudo convém. “Tudo me é permitido”, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma. Por exemplo, a comida: Deus deu-nos apetite para o alimento e um estômago para o digerir. Mas um dia Deus acabará tanto com o estômago como com o alimento. Já com a imoralidade sexual o caso não é o mesmo, porque não foi para tal que os nossos corpos foram feitos, mas para Deus, que quer enchê-los de si mesmo. Deus, pelo seu poder, ressuscitará os nossos corpos dentre os mortos, tal como ressuscitou o nosso Senhor Jesus Cristo. Não estão a perceber que os vossos corpos são membros de Cristo? Sendo assim poderia eu tomar uma dessas partes de Cristo e uni-la a uma prostituta? Nunca! Não sabem que aquele que se une com uma prostituta se torna parte dela e ela dele? Porque Deus diz-nos na Escritura: “E serão os dois como um só.” Mas aquele que se une ao Senhor torna-se um só espírito com ele. Fujam de toda a imoralidade sexual! Nenhum outro pecado atinge tanto o corpo como este; é um pecado contra o nosso próprio corpo. Não aprenderam já que o vosso corpo é um templo do Espírito Santo, que Deus vos deu e que, portanto, vive em vocês? Por isso, o vosso corpo não vos pertence. Porque Deus comprou-vos por um preço elevado. Sendo assim, usem todo o vosso ser, tanto o corpo como o espírito, para a glória de Deus, porque lhe pertencem. Quanto àquele assunto sobre o qual me escreveram: “É bom para o homem não ter relações sexuais com uma mulher”, essa visão está errada. Visto que há tanta imoralidade sexual, o marido deve ter relações com a sua mulher e a mulher com o seu marido. O homem deve dar à sua mulher tudo a que ela tem direito como mulher casada e o mesmo deverá fazer a mulher. Uma mulher que casa deixa de ter direitos exclusivos sobre o seu próprio corpo, porque o marido passa também a ter direitos sobre ele. O mesmo acontece com o marido que deixa de ter direitos absolutos sobre o seu corpo e passa também a pertencer à sua mulher. Não recusem pois esses direitos um ao outro, a não ser por acordo mútuo, por tempo limitado, para poderem entregar-se mais completamente à oração. Depois devem juntar-se novamente, para que Satanás não possa tentar-vos por falta de domínio próprio. Não estou a dizer isto como uma ordem, mas como uma concessão em relação ao casamento. Eu, pessoalmente, gostaria que os homens fossem como eu. Mas não somos todos iguais. A uns Deus dá o dom de se casarem e a outros dá-lhes o dom de poderem ser felizes sem casar. Agora eu digo aos que não casaram e às viúvas que é melhor se ficarem sem casar, como eu. Contudo, se não puderem dominar-se então que se casem. É melhor casarem do que arderem em paixões. Quanto aos casados, tenho uma ordem a dar-lhes, que nem sequer é minha, mas algo que o Senhor mesmo estabelece. A esposa não deve abandonar o seu marido. Mas se ela se separar dele, então que fique assim, sem tornar a casar, ou então que volte para o marido. E o marido não deve divorciar-se da mulher. E aqui gostaria de acrescentar algumas sugestões minhas, embora não se trate de ordens diretas do Senhor. Se um cristão tem uma mulher que não é crente, e ela quiser ficar com ele, não deve deixá-la. E se uma mulher cristã tiver um marido que não é crente, e ele quiser que ela permaneça com ele, não se divorcie. Porque a esposa crente traz santidade ao seu casamento e o marido crente traz também santidade ao seu casamento. De outra maneira, os seus filhos não teriam uma boa influência, mas assim estão santificados. Mas se o marido ou a mulher que não forem cristãos estiverem realmente decididos a separar-se, pois que o façam. Em casos desses, o marido ou a mulher cristãos não devem insistir para que o outro fique, porque Deus quer que vivamos em paz. Contudo, vocês mulheres não sabem se os vossos maridos virão a salvar-se se ficarem e o mesmo para os maridos em relação às mulheres que queiram afastar-se. Acima de tudo, é preciso que tenham a certeza de estar a viver como Deus pretende, casando-se ou não. Este é o meu critério para todas as igrejas. Por exemplo, um homem que tenha sido submetido ao rito da circuncisão não procure tentar desfazer essa marca. Se, ao contrário, ainda não tiver sido circuncidado, também não deve fazê-lo agora. Porque é indiferente que um cristão tenha ou não sido circuncidado. O que é importante é que ele procure fazer a vontade de Deus. De um modo geral uma pessoa deve manter-se no estado em que Deus a chamou. Se é escravo, que isso não se torne causa de aflição. Naturalmente, se tiver oportunidade de ficar livre, que a aproveite. Aquele a quem o Senhor chama na condição de escravo, lembre-se que o Senhor o libertou da escravidão ao pecado. E aqueles que ele chamou sendo livres lembrem-se de que agora são como escravos de Cristo. Porque foram comprados por Cristo, e por um alto preço, não se tornem agora escravos dos homens. Queridos irmãos, seja qual for a situação em que alguém esteja ao tornar-se cristão, fique assim na sua nova relação com Deus. Quanto às jovens que ainda não casaram, não tenho nenhum mandamento especial do Senhor. No entanto, o Senhor deu-me, na sua misericórdia, sabedoria na qual podem confiar e que partilho convosco. Nós, os cristãos, enfrentamos grandes dificuldades nos tempos atuais; por isso, penso que é melhor para uma pessoa não casar. Naturalmente que se alguém já estiver casado não vai, por isso, separar-se. Caso contrário, não se apresse a fazê-lo. Entretanto, se um homem decidir ir para a frente com a sua decisão de casar, estará certo; e se uma rapariga casar, claro que não peca. Contudo, o casamento vai trazer-vos outros problemas que eu gostaria que não precisassem de enfrentar justamente agora. O que é importante, irmãos, é lembrarem-se que o tempo que nos resta vai-se reduzindo. Por essa razão, aqueles que têm esposas deveriam manter-se tão livres quanto possível para o Senhor. A tristeza, a felicidade e o poder de adquirir bens não deveriam impedir nunca ninguém de fazer o trabalho de Deus. Aqueles que usufruem das coisas boas que a vida oferece devem usar delas, mas sem se deixar prender por elas; porque o mundo na sua forma atual acabará. Em tudo o que fizerem gostaria que estivessem livres de preocupações. O solteiro dedica-se ao trabalho do Senhor e pensa em como agradar-lhe. O que for casado cuida das suas responsabilidades terrenas e em como agradar à sua mulher. Os seus interesses estão divididos. O mesmo acontece com uma rapariga que se casa. Quando solteira está desejosa de agradar ao Senhor em tudo o que pensa e faz. Mas uma mulher casada terá de considerar outras coisas, as tarefas terrenas e o dedicar-se ao seu marido. Eu digo isto para vosso benefício e não para vos impor obrigações. O que eu quero no fundo é que tudo o que fizerem possa ajudar-vos a servir melhor o Senhor, com o mínimo de coisas que distraiam a vossa atenção dele. Porque se alguém sentir que está a tratar com desrespeito a sua noiva e que deve casar, por razões de idade ou de necessidade, pois está certo, não peca; deve casar. Por outro lado, se um homem tem suficiente domínio sobre a sua própria natureza para não casar, e decide então não casar, terá tomado uma decisão ajuizada. Assim uma pessoa que casa faz bem e uma pessoa que não casa fará melhor. A mulher está ligada ao seu marido todo o tempo que ele viva. Se ele morrer, fica então livre para se tornar a casar, mas só se o fizer com um homem que ame o Senhor. Mas na minha opinião ela será mais feliz se não tornar a casar. E penso que ao dizer isto estou a dar-vos um conselho da parte do Espírito de Deus. E agora, no que diz respeito ao assunto de comer alimentos que tenham sido sacrificados aos ídolos, todos parecemos saber o que está certo. Ainda que a fama de muita sabedoria torne as pessoas importantes, o que é realmente construtivo é o amor. Se alguém pensa que tem a resposta para todas as questões não está mais do que a revelar a sua ignorância. A pessoa que ama a Deus é aquela que Deus conhece. Portanto, quanto a esse assunto, se devemos comer carne sacrificada previamente aos ídolos, nós sabemos que um ídolo não é coisa nenhuma. Só existe um Deus e nenhum outro. Segundo muita gente, existe uma quantidade de deuses, tanto nos céus como na Terra. Contudo, sabemos bem que há um só Deus, o Pai, a quem pertencem todas as coisas, e que nos fez para sermos dele. Também há um só Senhor, Jesus Cristo, que criou igualmente todas as coisas e nos dá a vida. No entanto, alguns cristãos não compreendem isto. Durante toda a sua vida habituaram-se a pensar que a comida oferecida aos ídolos é realmente consagrada a deuses reais. E agora ao comerem tais alimentos isso perturba-os e fere a sua consciência sensível. É verdade que não alcançamos o favor de Deus por aquilo que comemos. Não nos tornamos piores por não comermos, nem melhores por comermos. Mas tenham cuidado ao usarem dessa liberdade de comerem seja do que for, para que não levem a pecar algum irmão cristão cuja consciência seja mais fraca. Vejam o que pode acontecer se um crente fraco, que pensa ser mal comer desse tal alimento, vos vir a comer num templo de ídolos. No fundo, vocês sabem que não há mal nisso, mas ele será encorajado a violar a sua consciência, comendo aquilo que foi sacrificado a um ídolo, embora continuando a sentir que está a agir mal. Dessa maneira, vocês que sabem não haver mal nisso, tornam-se responsáveis pelo dano espiritual causado a esse irmão cuja consciência é fraca, mas por quem Cristo, afinal, também morreu. E pecar contra um irmão vosso, dando-lhe ocasião de fazer algo que pensa ser errado, é pecar contra Cristo. Portanto, se o comer carne que tenha sido consagrada aos ídolos fizer com que o meu irmão em Cristo venha a pecar, nunca mais tomarei desse alimento para não ser uma razão de ele cair. Não sou eu livre? Eu sou um apóstolo. Não é pois a meros homens que tenho de prestar contas. Eu vi Jesus Cristo, nosso Senhor, com os meus próprios olhos. E as vossas vidas transformadas são o resultado do meu trabalho para Deus. Se, na opinião de outros, eu não sou apóstolo, certamente que o sou para vocês, porque foram ganhos para Cristo por meu intermédio. Esta é a minha resposta àqueles que questionam a minha autoridade como apóstolo. Será que não temos o direito de ir comer e beber nas vossas casas? Não temos nós o direito de levar connosco uma irmã na fé nas viagens que fazemos, tal como os outros apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Pedro? Ou só eu e Barnabé não temos o direito de não trabalhar? Qual é o soldado no exército que paga as suas próprias despesas? Já alguma vez ouviram de algum agricultor que tenha plantado uma vinha e não tenha o direito de comer do seu fruto? Qual é o pastor que não tem o direito de beber do leite do seu rebanho? O que eu estou aqui a dizer não são meras considerações humanas. Trata-se daquilo que diz a própria Lei de Deus. Porque na Lei que Deus deu a Moisés está escrito: “Não ates a boca ao boi, quando faz a debulha do trigo.” Acham que Deus estava a pensar apenas nos bois quando disse isto? Não se referia também a nós? Com certeza que sim! Tal como aqueles que lavram a terra e debulham o trigo devem contar em receber parte da colheita, os obreiros cristãos devem ser pagos pelos crentes a quem servem. Nós plantámos a semente espiritual nas vossas almas. Será pois muito esperar em troca apoio material? Se já o fizeram com outros que têm pregado no vosso meio, não deveríamos nós também ter esse direito, ainda mais do que eles? E no entanto nunca o reclamámos, mas sempre suprimos nós próprios as nossas necessidades. E isto para não levantar qualquer obstáculo à ação do evangelho de Cristo no vosso meio. Vocês bem sabem que Deus ordenou que os que servissem no seu templo tomassem para seu próprio sustento parte dos produtos alimentares que eram trazidos como oferta. Igualmente os que se ocupavam do altar de Deus recebiam para si uma porção dos alimentos que ali eram oferecidos. Da mesma forma, o Senhor manda que aqueles que pregam as boas novas sejam mantidos pelos que a aceitam. E contudo nunca vos pedi fosse o que fosse. Nem tão-pouco estou a escrever estas coisas para dar a entender que gostaria que se começasse agora a fazer assim comigo. A verdade é que preferiria morrer de fome a perder a satisfação que me dá o facto de vos ter pregado sem nunca ter recebido nada vosso. Por pregar as boas novas não me posso vangloriar. É Deus quem me obriga a pregar e ai de mim se não o fizer! Se eu estivesse a fazer isso de minha livre vontade, então receberia um salário. Mas foi Deus quem me impôs este dever. Sendo assim, qual será a minha paga? É o sentimento de profunda satisfação em anunciar as boas novas, sem encargos seja para quem for, sem reclamar aquilo que seria meu por direito. Assim, estando livre em relação a quem fosse, tornei-me servo de todos, para que possa levar muitos a Cristo. Quando estou com os judeus torno-me um deles, para que possa conduzi-los a Cristo. Quando estou entre aqueles que seguem as Lei, faço o mesmo, embora eu não esteja sujeito à Lei, para que possa conduzi-los a Cristo. Quando estou entre os gentios, ligo-me com eles tanto quanto posso. Desta maneira, ganho a sua confiança e levo-os a Cristo. Não rejeito a Lei de Deus, obedeço, sim, à Lei de Cristo. Com os fracos procedi como um fraco, para ganhá-los. Desse modo, torno-me tudo para com todos, a fim de conseguir, por todo e qualquer meio, salvar alguns. Faço-o não só para lhes levar o evangelho, mas também para ser tomar parte de Cristo. Numa corrida, são vários os que correm, mas um só ganha o prémio. Que cada um de vocês corra como se fosse aquele que vai ganhar. Os atletas renunciam a tudo para vir a ganhar um prémio corruptível, mas nós fazemo-lo por um prémio divino que nunca perderá o seu valor. Portanto, corro direto ao alvo, não às cegas. Neste combate eu luto para ganhar. Não luto contra figuras imaginárias. Contudo, sujeito o corpo a uma dura disciplina e a um tratamento rude. De outra maneira receio que, depois de ter pregado Cristo aos outros, eu próprio venha a ser desclassificado. Porque não esqueçamos, irmãos, o que aconteceu aos nossos antepassados israelitas, no deserto, onde Deus os guiou, enviando uma nuvem que se movia à frente deles, e assim os conduziu com segurança através do mar Vermelho. Isto poderia ser considerado o seu batismo, um batismo tanto na água como na nuvem, na qualidade de seguidores de Moisés. Mesmo assim, muitos não obtiveram a aprovação de Deus e foram destruídos no deserto. A lição que daqui tiramos é que não devemos desejar coisas más, como eles fizeram, nem cair na idolatria, como alguns deles caíram. As Escrituras dizem-nos que “o povo descansou a comer e a beber e levantou-se para se divertir.” Outra lição para nós é o que aconteceu quando alguns deles cometeram imoralidade sexual, com mulheres de outro povo, e num só dia morreram 23.000. E não ponham à prova a paciência de Cristo, como eles ousaram fazer, e pereceram mordidos por serpentes. E não protestem contra Deus como alguns deles fizeram, porque foi por isso que Deus enviou o seu anjo e eles foram mortos. Todas essas coisas que lhes aconteceram são para nós lições e foram postas por escrito para nosso aviso, nós que vivemos nestes tempos em que todas as coisas convergem para o fim que se aproxima. Por isso, tenham cuidado. Se estão a pensar que estão firmes, olhem que podem também cair nos mesmos pecados. Lembrem-se que as tentações que vêm às vossas vidas não são diferentes daquelas que outros experimentam. E Deus é fiel. Ele não deixará que a tentação seja tão forte que não a possam enfrentar. Quando forem tentados, ele vai mostrar uma saída para que a possam suportar. Por isso, queridos amigos, fujam da idolatria. Falo-vos como a pessoas que sabem entender as coisas. Vejam vocês mesmos se o que vou dizer-vos está certo ou não. Quando pedimos a bênção de Deus para o cálice de vinho que tomamos na ceia do Senhor, isso significa que todos os que bebem dele partilham juntos da bênção do sangue de Cristo. De igual forma, quando na mesma ocasião se reparte o pão, para ser comido por todos, isso manifesta que participamos juntamente nos benefícios espirituais do corpo de Cristo. E todos comemos do mesmo pão, mostrando assim que somos parte do corpo único de Cristo. O mesmo acontecia com o povo de Israel; todos os que comiam dos sacrifícios oferecidos ao Senhor estavam unidos por esse mesmo ato. Que quero eu então dizer com isto? É que os ídolos não têm em si vida alguma, não são realmente deuses nenhuns, e que os sacrifícios que lhes são trazidos não têm qualquer valor. Contudo, esses sacrifícios são oferecidos aos demónios e não a Deus. E eu não queria que algum de vocês tivesse qualquer espécie de comunhão com os demónios. Não podem beber, ao mesmo tempo, do cálice do Senhor e do cálice dos demónios. Não podem comer o pão da mesa do Senhor, e depois ir comer dos alimentos dos demónios. Pois quê? Iríamos levar o Senhor a irritar-se contra nós como fez Israel? Pensamos nós que poderíamos teimar com ele? Podem dizer: “Tudo me é permitido”, mas nem tudo me convém. “Tudo me é permitido”, mas nem tudo é bom para a minha formação. E não procurem unicamente as vossas conveniências. Pensem também no que é o melhor para os outros. Portanto, devem fazer assim: no mercado, levem de qualquer carne que ali esteja a ser vendida, sem perguntar se foi ou não consagrada aos ídolos, sem levantar questões de consciência. Porque “a Terra toda e tudo o que nela há pertence ao Senhor.” Se alguém que não é cristão vos convida para comer, podem muito bem aceitar, se assim o desejarem. E então comam de tudo o que for servido, sem levantar questões de consciência. Mas se alguém vos avisar que essa carne foi consagrada a um ídolo, então nesse caso não a comam, por causa da pessoa que vos avisou e da consciência dela. Porque nessa altura o que está em causa não é o que vocês pensam, mas o que ela pode pensar do assunto. Contudo, alguém poderá perguntar: “Se eu posso dar graças a Deus por esse alimento, porque hei de deixar que alguém me venha perturbar só porque julga que estou errado?” É porque tudo o que fazemos deve ser para a glória de Deus, mesmo o comer ou o beber. Não sejam vocês um meio de fazer tropeçar o vosso próximo, seja judeu, gentio ou cristão. É assim que eu faço também. Procuro agradar a toda a gente naquilo que faço, não atuando segundo o que mais me agrada, mas segundo o que mais convém aos outros, a fim de que sejam salvos. Vocês devem seguir o meu exemplo, tal como eu sigo o de Cristo. Estou muito contente, irmãos, por me terem sempre no vosso pensamento e por fazerem tudo quanto vos tenho ensinado. Mas há um assunto que quero que saibam: é que Cristo é a cabeça de todos os homens. O marido é a fonte da mulher. Deus é a fonte de Cristo. Todo o homem que, quando está a orar ou a profetizar, cobre a cabeça desonra a Cristo. E uma mulher que, em público, ora ou profetiza com a cabeça descoberta desconsidera o seu marido, porque é como se tivesse a cabeça rapada. E se ela recusar cobrir-se, então que rape o cabelo. Mas se é uma vergonha uma mulher ter a cabeça rapada, então que a cubra. Mas um homem não deverá ter nada na cabeça enquanto está a cultuar. O homem, feito à imagem de Deus, reflete a sua honra, e a mulher é o reflexo da honra do homem. Com efeito, o primeiro homem não foi tirado da mulher, mas a primeira mulher foi tirada do homem. E Adão, o primeiro homem, não foi feito para benefício de Eva, mas Eva, sim, foi feita para Adão. Assim, a mulher deve cobrir a cabeça com um sinal de autoridade, por causa dos anjos. Mas nos relacionamentos entre o povo do Senhor, o homem e a mulher precisam um do outro. Porque se é verdade que a primeira mulher veio do homem, contudo todos os homens, desde então, nasceram de mulheres, e ambos, homens e mulheres, foram criados por Deus. Vejam vocês mesmos: na vossa opinião será certo que uma mulher ore em público com a cabeça descoberta? E a quem quiser continuar a levantar discussões nós dizemos que é assim que pensamos; nós e também as igrejas de Deus. E agora há um outro assunto em que não vos posso elogiar. Consta que quando se reúnem é maior o prejuízo do que a bênção recebida. Ouço falar nas divisões que se manifestam nas vossas reuniões, e em parte acredito. Mas eu até creio que é importante que isso aconteça para que sejam conhecidos os que estão certos. Afinal quando se juntam, não é para participar na ceia do Senhor; é para tomarem a vossa própria refeição. E assim cada um procura servir-se sem esperar para repartir com os outros, de tal forma que uns não comem o suficiente e outros excedem-se! Não poderiam comer e beber cada um na sua casa, segundo a fome que tiverem, de forma a evitar esta vergonha para a igreja e a humilhação que representa para o pobre ter de retirar-se sem comer? Que esperam vocês que eu diga sobre isto? Não contem que venha elogiar-vos! Eu recebi do Senhor o que já antes vos tinha transmitido. Na noite em que foi traído, o Senhor Jesus tomou o pão. E depois de ter dado graças, partiu-o dizendo: “Tomem e comam; este é o meu corpo que é dado em vosso favor. Façam isto em memória de mim.” De igual modo, pegou no cálice do vinho, no fim da ceia, e disse: “Este cálice é a nova aliança selada com o meu sangue. Façam isto, todas as vezes que beberem, em lembrança de mim.” Porque cada vez que comerem este pão e beberem este cálice estão a anunciar a mensagem da morte do Senhor. Façam pois isto até que ele volte. Por isso, se alguém come deste pão e bebe deste cálice do Senhor de uma maneira indigna, torna-se culpado de pecado contra o corpo e o sangue do Senhor. É por isso que cada um se deve examinar cuidadosamente antes de tomar este pão e de beber deste cálice. Porque se o fizer indignamente, não distinguindo o corpo do Senhor, está a comer e a beber para sua própria condenação. É por isso que há no vosso meio muitos fracos e doentes e muitos já morreram. Mas se cada um se examinar cuidadosamente evitará que seja julgado por Deus. Contudo, quando somos julgados e castigados pelo Senhor, é para não sermos condenados com o resto do mundo. Sendo assim, irmãos, quando se juntarem à mesa do Senhor, esperem uns pelos outros. Se alguém tem realmente fome, deve comer em casa, para não atrair castigo sobre si próprio, quando estiverem todos reunidos. Quanto aos outros assuntos, falarei sobre eles convosco quando aí chegar. E agora, irmãos, quero escrever-vos acerca dos dons espirituais que o Espírito Santo dá a cada um, pois é preciso que não haja qualquer confusão a esse respeito. Lembrem-se que antes de se tornarem cristãos eram levados a adorar ídolos que nunca puderam dizer-vos uma palavra. Portanto quero que saibam como discernir o que é verdadeiramente de Deus. Pois é desta maneira: ninguém que fale pelo Espírito de Deus poderá dizer: “Jesus é maldito!” E ninguém pode dizer conscientemente: “Jesus é o Senhor!”, se não for impulsionado pelo Espírito Santo. Ora há diferentes espécies de dons espirituais, mas é do mesmo Espírito Santo que procedem. Há várias espécies de serviço para Deus, mas é ao mesmo Senhor que estamos a servir. Há muitas formas de Deus trabalhar nas nossas vidas, mas é sempre o mesmo Deus quem faz o trabalho em nós. O Espírito Santo manifesta-se por intermédio de cada um de nós, para o que for útil à igreja. A uma pessoa, o Espírito concede o dom de falar com sabedoria; a outro, o dom de falar com conhecimento, e tudo isto vem do mesmo Espírito. A um outro, dá uma fé especial, e a outro, ainda, o poder de curar doentes. Um tem a capacidade de fazer milagres, outro o de profetizar. A outra pessoa, dá a capacidade de distinguir os espíritos. A uma pessoa, a de falar línguas que nunca aprendeu e, a outra pessoa, a de ser capaz de interpretar o que aquela outra diz. E é sempre o mesmo e único Espírito Santo que dá todos estes dons, decidindo aquilo que deve ser atribuído a cada um. O nosso corpo tem muitas partes, mas o conjunto constitui um só corpo. Assim é também o corpo de Cristo: cada um de nós é uma parte do corpo. Uns são judeus, outros gentios; uns são escravos, outros são livres. Mas todos nós fomos batizados no corpo de Cristo por um Espírito e todos nós recebemos o mesmo Espírito. Sim, o corpo tem muitas partes; não é constituído só por uma parte. Se o pé disser: “Eu não faço parte do corpo, porque não sou mão”, não é por isso que deixa de ser parte do corpo. E se o ouvido se pusesse a dizer: “Não pertenço ao corpo, porque podia ser um olho, e afinal não passo de uma orelha.” Seria por isso que faria menos parte do corpo? Vamos supor que todo o corpo era olho; como é que se podia ouvir? Ou então se todo ele fosse um enorme ouvido, como se poderia cheirar? Mas Deus formou-nos com muitas partes e cada uma com a sua função própria. E que coisa estranha seria um corpo humano com uma só parte! Mas não, são muitas as partes, mas um só o corpo. O olho nunca poderá dizer para a mão: “Não preciso de ti.” Nem a cabeça poderá dizer aos pés: “Vocês são-me inúteis.” De facto, algumas partes que parecem mais fracas e menos importantes são realmente as mais necessárias. E as partes que consideramos menos dignas são aquelas que vestimos com o maior cuidado. Protegemos cuidadosamente do olhar dos outros aquelas partes que não deveriam ser vistas; enquanto há outras partes que não precisam deste cuidado especial. Assim Deus juntou o corpo de tal maneira que são dadas honras extras às partes que têm menos dignidade. Assim é criada uma harmonia entre os membros, de maneira que todos os membros cuidam uns dos outros igualmente. Se uma parte sofre, todas as partes sofrem com ela, e se uma parte é honrada, todas as partes ficam satisfeitas. Ora vocês formam o corpo de Cristo e cada um separadamente constitui uma parte necessária desse corpo. Por isso, na igreja Deus colocou em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, ensinadores; e depois os que fazem milagres, os que têm o dom de curar, outros com o dom de ajudar o semelhante, outros que sabem administrar a igreja, e outros ainda que falam línguas que nunca aprenderam. Deverão ser todos apóstolos? Serão todos pregadores ou profetas? Tornar-se-ão todos ensinadores? Poderão todos fazer milagres? Podem todos curar os doentes? Dá-nos Deus a todos a capacidade de falar línguas que não conhecemos? Pode qualquer pessoa interpretar o que aqueles que têm esse dom dizem? Claro que não. Contudo, esforcem-se por serem capacitados com os dons mais importantes. Mas deixem-me mostar-vos o caminho mais excelente! Ainda que eu falasse as línguas dos homens ou até mesmo dos anjos, mas não fosse capaz de amar os outros, não seria mais do que um sino que badala ou um chocalho barulhento. Se eu tivesse o dom de profetizar, e se soubesse os mistérios do futuro, e se conhecesse tudo acerca de tudo, mas não amasse os outros, de que me serviria? E até mesmo que tivesse fé, de forma a poder falar a uma montanha e fazê-la deslocar-se, isso não teria valor algum sem o amor. Ainda que desse tudo aos pobres, e ainda que deixasse que me queimassem vivo, mas não amasse os outros, eu não teria nenhum valor. O amor é paciente e bondoso. Não é invejoso, nem orgulhoso; não é arrogante, nem grosseiro. O amor não exige que se faça o que ele quer. Não é irritadiço e dificilmente suspeita do mal que os outros lhe possam fazer. Nunca fica satisfeito com a injustiça, mas alegra-se com a verdade. O amor nunca desiste, nunca perde a fé, tem sempre esperança e persevera em todas as circunstâncias. Todos os dons e capacidades especiais que vêm de Deus terminarão um dia, porém o amor há de sempre continuar. Um dia, tanto a profecia, como o falar línguas desconhecidas, como o conhecimento, todos esses dons desaparecerão. Nós agora sabemos muito pouco, mesmo com a ajuda desses dons especiais, e até a profecia mais inspirada é ainda muito imperfeita. Mas quando chegar o que é perfeito estes dons especiais desaparecerão. Quando eu era criança falava, pensava e raciocinava como uma criança. Mas quando me tornei adulto deixei as coisas de criança. Da mesma maneira, nós agora compreendemos imperfeitamente as coisas como se estivéssemos a ver um reflexo num espelho de má qualidade. Mas um dia virá em que veremos de uma forma completa, face a face. Tudo quanto sei agora é parcial, mas depois verei tudo com clareza, como Deus conhece o interior do meu coração. Há três coisas que hão de perdurar: a fé, a esperança e o amor. E destas, a principal é o amor. Que o amor seja o vosso fundamental objetivo; mas aspirem também com zelo aos dons que o Espírito Santo vos dá, especialmente o dom de profetizar. Aquele que fala línguas fala com Deus, mas não com os outros, visto que os outros não poderão entendê-lo. É verdade que poderá estar a falar pelo poder do Espírito, mas será como algo misterioso. Aquele que profetizar estará a ajudar os outros a crescerem no Senhor, consolando-os e encorajando-os. Uma pessoa que fala línguas estará a ajudar-se a si própria a crescer espiritualmente, mas aquele que profetiza ajuda toda a igreja a crescer. Gostaria que todos falassem línguas, mas muito mais ainda que todos fossem capacitados a profetizar, porque isso tem mais importância do que falar línguas desconhecidas, a não ser que alguém interprete o que está a ser dito, para que os outros possam obter algum proveito espiritual. Queridos irmãos, ainda que eu próprio viesse ter convosco falando-vos numa língua que não percebessem, como poderia ajudar-vos? Mas se vos disser com toda a simplicidade o que Deus me revelou, algum conhecimento, uma profecia, isso poderá ajudar-vos. Até os instrumentos de música, a flauta, por exemplo, ou a harpa, demonstram a necessidade de que tudo o que se exprime seja com clareza, com nitidez. Ninguém reconhecerá a melodia que o instrumento estiver a tocar, se cada nota não soar com clareza. E se no exército o corneteiro não tocar as notas certas, como é que os soldados saberão que estão a ser chamados para a batalha? De igual forma, se falarmos com alguém numa linguagem que ele não perceba, como há de saber o que lhe estão a dizer? Seria a mesma coisa que falar numa sala sem ninguém. Suponho que haverá centenas de línguas diferentes neste mundo e que todas elas exprimem bem o pensamento daqueles que as falam. Mas se eu não souber o sentido daquilo que dizem, alguém que me fale numa dessas línguas será sempre para mim um estrangeiro, assim como eu para ele. Visto que desejam ter dons do Espírito Santo, peçam para ter os que serão de real utilidade para toda a igreja. Se a alguém é concedido o dom de falar línguas desconhecidas, deve também orar para que lhe seja dado o dom de interpretação, a fim de que possa depois transmitir explicitamente aos outros o que estava a falar. Porque se eu orar em línguas, o meu espírito está a orar, mas no meu pensamento não sei o que estou a dizer. Pois bem, que devo então fazer? As duas coisas: orarei no Espírito e orarei com palavras que eu entendo; cantarei no Espírito e cantarei com palavras que eu entendo. Porque se louvarem a Deus de uma forma espiritual, sem que o entendimento acompanhe o que estão a dizer numa língua desconhecida, como é que aqueles que estão presentes vos podem acompanhar no louvor a Deus, se não sabem o que vocês estão a dizer? Podem até estar a dizer coisas muito belas, mas que não serão de ajuda nenhuma para quem ali está. Eu dou graças a Deus porque falo em outras línguas mais do que qualquer um de vocês. Mas num culto público preferiria muito mais dizer uma frase apenas, cinco palavras que fosse, mas que todos compreendessem e que a todos ajudasse, do que fazer um discurso de milhares de palavras numa língua desconhecida. Queridos irmãos, não sejam infantis quanto à compreensão destas coisas. Quando se trata de imaginar o mal, nessa altura sim, convém que sejam como meninos inocentes; mas procurem entender as coisas desta natureza com a maturidade de pessoas adultas. As Escrituras dizem-nos: “Enviarei homens de outra língua a falar por lábios estranhos a este povo, diz o Senhor, mas mesmo assim não quererão ouvir.” Veem então que o falar outras línguas pode ser um sinal para os descrentes. Enquanto que o profetizar é para os crentes. Com efeito, se um descrente vem à igreja e vos ouve falar noutras línguas, poderá pensar que estão todos fora do seu perfeito juízo. Mas se estiverem a profetizar e um estranho entrar na igreja, ou alguém que ainda não compreenda tudo, tem a possibilidade de ser convencido e a sua consciência será sensibilizada por tudo aquilo que ouvir. À medida que for ouvindo, os seus pensamentos mais íntimos serão postos a nu perante Deus e no seu espírito prostrar-se-á perante o Senhor, adorando-o e confessando que Deus está na verdade no vosso meio. Pois bem, irmãos, resumamos o que já se disse. Quando se reúnem, um canta um hino, outro tem um ensinamento, um outro tem algo especial que Deus lhe revelou, outro fala numa língua desconhecida, enquanto outro interpreta o que foi dito por aquele. Mas tudo o que for feito deve ser de utilidade para todos e seu crescimento no Senhor. Não deveriam falar mais do que dois ou três em línguas desconhecidas, e que fale um de cada vez, havendo sempre alguém para interpretar. Mas se não houver ninguém que interprete, devem ficar em silêncio, na reunião da igreja, e falar só entre si e Deus. Também dois ou três profetas podem falar a mensagem de Deus, cada um por sua vez, se tiverem o dom para tal, enquanto os outros devem ouvir atentamente. E se, enquanto alguém está a transmitir a palavra de Deus, outra pessoa receber uma revelação do Senhor, aquele que está a falar deve terminar. Assim, todos os que têm uma profecia podem falar, mas um após o outro; dessa forma todos aprenderão e serão ajudados. Lembrem-se de que uma pessoa que profetiza deve ser capaz de se conter a si próprio e de esperar pela sua vez. Deus não pode aceitar a desordem. Deus ama a harmonia e é isso que deseja encontrar em todas as igrejas. As mulheres devem ficar em silêncio durante as reuniões na igreja. Não devem tomar parte nas discussões. Sejam submissas, tal como mandam as Escrituras. Se tiverem questões a apresentar que o façam aos maridos em casa; não é próprio para as mulheres falarem nos cultos da igreja. Será que pensam que o conhecimento da palavra de Deus começa e acaba unicamente em vocês, coríntios? Se alguém julga ser profeta e ter outras capacidades da parte do Espírito Santo deveria ser o primeiro a perceber que aquilo que estou a dizer é um mandamento da parte do Senhor. Mas se alguém continuar a discordar não temos mais do que deixá-lo na sua ignorância. Portanto, meus irmãos na fé, procurem ansiosamente profetizar e não impeçam alguém de falar noutras línguas. Certifiquem-se de que tudo é feito com ordem e sempre da forma mais conveniente. Agora, irmãos, permitam-me que vos lembre o evangelho que vos preguei desde o princípio, que aceitaram e no qual permanecem! São essas boas novas que vos salvam, se nelas crerem firmemente. Doutra maneira, terão crido em vão. Eu transmiti-vos no princípio o que era mais importante e que também me foi transmitido: que Cristo morreu pelos nossos pecados, conforme as Escrituras, foi sepultado e três dias depois ressuscitou dos mortos, conforme as Escrituras. Foi visto por Pedro e mais tarde pelo resto dos Doze. Depois disso foi visto também por mais de quinhentos irmãos numa ocasião, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham morrido. Depois foi Tiago quem o viu e mais tarde todos os apóstolos. Por último, também apareceu-me a mim, muito depois de aos outros; é como se eu tivesse nascido fora do tempo. Porque eu sou o menos merecedor de todos os apóstolos, e nem deveria ser digno de ser considerado apóstolo pela maneira como tratei a igreja de Deus. Mas o que agora sou devo-o à grande bondade de Deus e à sua graça sobre mim, o que não deixou de dar resultado. Porque tenho trabalhado mais duramente que todos os apóstolos, embora não seja efetivamente eu quem o faz, mas Deus que opera na minha vida pela sua graça. Nem interessa se sou eu ou eles quem tem pregado; o mais importante é que vos anunciámos as boas novas e vocês creram. Mas se pregamos que Cristo ressuscitou da morte, porque é que alguns de vocês andam a dizer que não há ressurreição dos mortos? Porque se não há ressurreição dos mortos, então Cristo ainda deve estar morto. E se ele ainda está morto, então toda a nossa pregação é inútil e a vossa fé em Deus é em vão. E nós, os apóstolos, seremos todos mentirosos, porque dissemos que Deus ressuscitou a Cristo, e isso não seria verdade, se os mortos não tornassem à vida. Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou então a vossa fé é inútil e vocês ainda estão sob a condenação por causa dos vossos pecados. Nesse caso, todos quantos morreram crendo em Cristo estão perdidos! E se a nossa esperança em Cristo é unicamente para esta vida nós somos as pessoas mais miseráveis no mundo. Mas o facto é que Cristo ressuscitou mesmo dentre os mortos e se tornou o primeiro entre os milhões que um dia voltarão a viver! Tal como a morte apareceu neste mundo por causa daquilo que um homem fez, assim também é por causa do que um outro Homem realizou que agora há a possibilidade da ressurreição. Cada um de nós morre porque pertence à descendência pecadora de Adão. Mas todos os que estão ligados a Cristo voltarão de novo à vida. Contudo, cada um na sua ordem: Cristo foi o primeiro a ressuscitar; depois, quando ele voltar, todo o seu povo tornará a viver. Então virá o fim, quando Cristo entregará o reino a Deus, o Pai, tendo derrubado todos os domínios, autoridades e poderes. Porque Cristo reinará até que tenha derrotado todos os seus inimigos, incluindo o último, que será a morte. Porque ele pôs tudo sob os seus pés. Com efeito, ao dizer que tudo está posto sob os seus pés, é óbvio que isso exclui aquele que lhe sujeitou esse tudo, isto é, o seu próprio Pai. Quando Cristo tiver finalmente ganho a batalha contra os seus inimigos, então ele, o Filho de Deus, colocar-se-á também a si próprio sob a autoridade do Pai, para que Deus, que lhe deu a vitória sobre tudo, seja absolutamente supremo. Se os mortos não voltarem a viver, que razão haveria para aquilo que certas pessoas fazem, batizando-se em lugar de outros que já partiram? Porquê tudo isso, se não se crê que os mortos ressuscitarão? E porque haveremos nós próprios de arriscar constantemente as nossas vidas, enfrentado a morte hora a hora? Porque é um facto que eu enfrento diariamente a morte; mas se isso é verdade, também não é menor a minha satisfação no vosso crescimento no Senhor. E que valor teria eu ter lutado com feras, em Éfeso, se não houver ressurreição dos mortos? Se não tornamos a viver: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos!” Não se deixem enganar pelos que dizem tais coisas. As más companhias corrompem os bons costumes. Despertem e parem de pecar! Porque para vossa vergonha o digo: alguns de vocês ainda não conheceram realmente a Deus. Mas alguém poderá perguntar: “Como é que os mortos vão ressuscitar? Que espécie de corpo terão?” Não é uma pergunta sensata. Quando se enterra uma semente, ela não se transforma em planta enquanto não morrer primeiro. Porque o que se semeia não é a planta, mas apenas um pequeno grão de trigo ou de outra planta qualquer. E então Deus dá-lhe um corpo da espécie que destinou; cada espécie de semente dará naturalmente uma diferente espécie de planta. Assim como há diferentes espécies de sementes e plantas, assim também há diferentes espécies de corpos. O homem tem uma espécie de corpo, os animais outra, as aves outra e os peixes outra. Há corpos no céu e há corpos na Terra. A glória dos corpos celestiais é diferente da beleza dos corpos terrenos. O Sol, a Lua e as estrelas, cada um tem o seu próprio esplendor. E até as estrelas diferem em brilho e em grandeza entre si. Da mesma forma, os nossos corpos humanos, que hão de morrer e desaparecer, são diferentes dos corpos que teremos quando ressuscitarmos, pois estes não morrerão. Os corpos que agora temos acabam na corrupção da morte; mas quando ressuscitarmos serão corpos gloriosos. É verdade, sim, que agora são corpos mortais, mas quando voltarmos à vida serão corpos cheios de energia. Ao morrerem não passam de meros corpos humanos, mas na ressurreição serão corpos espirituais. Porque assim como há corpos de natureza humana, também há corpos espirituais. As Escrituras dizem-nos que o primeiro homem, Adão, se tornou um ser vivo, mas o último Adão, isto é, Cristo, é um Espírito que dá vida. Temos primeiramente estes corpos humanos, mas depois Deus dar-nos-á corpos celestiais. Adão foi feito da terra, mas Cristo veio do céu. Todo o ser humano tem um corpo como o de Adão, feito da terra, mas os que são de Cristo terão como ele um corpo celestial. E se agora cada um de nós ainda tem um corpo como o de Adão, um dia viremos a ter um corpo semelhante ao de Cristo. Uma coisa vos garanto, irmãos: é que um corpo terreno, feito de carne e sangue, não pode entrar no reino de Deus. Estes nossos corpos mortais não têm uma natureza que lhes permita viver para sempre. Mas posso revelar-vos um mistério: é que nem todos morreremos; contudo, todos receberemos novos corpos! E tudo acontecerá num abrir e fechar de olhos, quando a última trombeta soar. Porque haverá no céu um toque de trombeta e todos os cristãos que já morreram tornarão à vida com novos corpos que nunca mais hão de morrer. Então nós, os que estivermos vivos ainda, seremos igualmente revestidos de novos corpos. Pois os nossos corpos terrenos, sujeitos à morte, serão transformados em corpos celestiais que não podem morrer, mas que viverão para sempre. Quando isto acontecer (quando os nossos perecíveis corpos terrenos forem transformados em corpos celestiais que nunca morrerão), então se cumprirá o que diz a Escritura: “A morte foi tragada na vitória.” “Onde está pois, ó morte, a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?” Porque o aguilhão da morte reside no pecado e o poder do pecado está na Lei. Como estamos gratos a Deus por tudo isso! Foi ele quem nos tornou vitoriosos por meio de Jesus Cristo nosso Senhor! Assim, meus queridos irmãos, sejam firmes e constantes, trabalhando com entusiasmo na obra do Senhor, pois sabem que nada do que fizerem para Deus será em vão. E agora eis as instruções com respeito à coleta de dinheiro que estão a fazer para enviar aos crentes em Jerusalém. Aliás, são as mesmas instruções que dei às igrejas da Galácia. Todos os domingos, cada um ponha de parte uma quantia daquilo que ganhou durante a semana, destinada a esta oferta. Não esperem que eu chegue, para fazer a coleta de uma só vez. Então, quando eu aí estiver, enviarei essa vossa oferta de amor fraternal a Jerusalém, acompanhada de uma carta, por intermédio de pessoas escolhidas por vocês. E se for conveniente que eu vá também, poderemos fazer juntos, eles e eu, essa viagem. A minha ida ocorrerá depois de ter passado primeiro na Macedónia. Possivelmente será convosco que estarei mais tempo, talvez até todo o inverno, e então poderão deixar-me partir para o destino seguinte. Na verdade, desta vez não quero fazer-vos apenas uma visita de passagem; desta vez hei de ficar uma temporada, se Deus o permitir. No entanto, ficarei aqui em Éfeso até à celebração do Pentecostes. Porque existe uma porta bem aberta para fazer um grande trabalho aqui e muitas pessoas estão a corresponder, o que não impede que haja muitos inimigos. Se Timóteo aí for, recebam-no o melhor que puderem, porque tem trabalhado na obra do Senhor tal como eu. Que ninguém tenha menos consideração por ele, mas que regresse feliz. Fico à sua espera e dos outros que o acompanham. Pedi também a Apolo que vos visitasse na companhia de outros irmãos, mas achou que não devia fazê-lo agora; irá visitar-vos mais tarde, quando tiver uma oportunidade. Mantenham-se vigilantes; permaneçam fiéis ao Senhor; sejam firmes e corajosos; que a vossa vida espiritual seja forte e enérgica. E tudo o que fizerem que seja com bondade e amor. Como sabem, Estéfanas e a sua família foram os primeiros a tornarem-se cristãos na Acaia, consagrando as suas vidas ao serviço dos filhos de Deus. Sigam as suas diretivas e as de todos os outros que trabalham no vosso meio com verdadeira dedicação. Estou muito contente por Estéfanas, Fortunato e Acaico nos terem vindo visitar. Fizeram por mim o que vocês não puderam em virtude de estarem longe. Serviram-me de maravilhoso estímulo e estou certo de que também o foram para vocês. Espero que apreciem, no seu justo valor, o trabalho de homens como estes. Aqui, da província da Ásia, as igrejas enviam-vos as suas melhores saudações. Áquila e Priscila mandam-vos toda a sua afeição, assim como os que se reúnem na sua casa para o culto. Todos os crentes daqui vos enviam recomendações. E vocês mesmos saúdem-se com um beijo fraterno. E agora sou eu mesmo, Paulo, a escrever com a minha própria mão. Se alguém não ama o Senhor que seja objeto do seu julgamento. O Senhor Jesus vem! Que a graça do Senhor Jesus Cristo seja convosco! Envio-vos toda a minha afeição, na comunhão de todos os que pertencem a Cristo Jesus. Que assim seja! Esta carta é enviada por mim, Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e também pelo irmão Timóteo, à igreja de Deus em Corinto e a todos os santos na Acaia. Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo vos deem a sua graça e a sua paz. Louvado seja o nosso Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte de toda a misericórdia e consolo! É ele quem nos consola nas nossas tribulações, e isto para que também possamos ajudar outros que estejam aflitos, com a mesma ajuda e conforto que Deus nos concedeu. Podem ter a certeza de que quanto mais sofrermos por causa de Cristo, tanto mais ele mostrará o seu consolo para connosco através de Cristo. Tem sido através de tribulações que vos temos levado o consolo e a salvação de Deus. Mas no meio dessas provações Deus nos consolou, o que reverteu em vosso benefício, pois pudemos mostrar-vos pela nossa experiência pessoal a maneira como Deus ajuda todos os que passam pelos mesmos sofrimentos. Ele vos dará, pois, a força para suportá-los igualmente. Penso que é justo, queridos irmãos, que estejam ao corrente de todas as lutas que temos atravessado na província da Ásia. Fomos extremamente maltratados; receámos mesmo não conseguir sobreviver. Era como se nos sentíssemos já condenados a morrer, dando-nos bem conta da pouca confiança que mereciam as nossas próprias forças. E isso levou-nos a pôr tudo nas mãos de Deus, o único que pode ressuscitar os mortos. E com efeito ele livrou-nos de morte terrível, e esperamos que assim nos livrará no futuro. Mas vocês também podem ajudar-nos com as vossas orações. E muitos louvores serão dados a Deus, em resultado das respostas às muitas orações pela nossa segurança! Estamos muito satisfeitos porque a nossa consciência nos é testemunha de que temos sido puros e sinceros, dependendo em absoluto da graça do Senhor para nos ajudar, e não das nossas capacidades. E isso é verdade especialmente em relação a vocês. Nas minhas cartas tenho sido direto; não há nada escrito nas entrelinhas e nada que não possam entender. Tenho esperança de que um dia hão de compreender-nos perfeitamente, apesar de agora ainda não acontecer. Então, no dia em que o Senhor Jesus voltar, terão orgulho de nós da mesma maneira que nós teremos orgulho de vocês. Então porque mudei de ideias, poderão perguntar? Terá sido por leviandade ou porque agi com um espírito mundano, dizendo sim, estando a pensar que era não? De forma alguma! Tão certo como Deus ser verdadeiro, quando digo sim, quero mesmo dizer sim. Timóteo, Silas e eu vos temos falado de Jesus Cristo, o Filho de Deus que quando diz “sim” não quer dizer “não”. Pelo contrário, o seu “sim” é absoluto, pois é a verdade. Ele cumpre todas as suas promessas, porquanto é fiel. E com isto damos glória ao seu nome. Amém! Foi este Deus quem nos fez em Cristo e nos ungiu. Ele gravou em nós a sua marca de garantia, o seu sinal de propriedade, que é o seu Santo Espírito. E Deus sabe que é verdade quando afirmo que se ainda não fui visitar-vos é porque tenho querido poupar-vos a severas repreensões. Não é que tenhamos domínio sobre a vossa fé que, aliás, já é bastante forte. No fundo, o que queremos é contribuir para a vossa alegria. Contudo, disse para mim mesmo que não iria fazer-vos uma nova visita em que tivesse de vos entristecer. E se eu vos deixar tristes, quem me fará a mim feliz, senão aqueles a quem entristeci? Foi por essa razão que vos escrevi daquela maneira na minha última carta, para que possam pôr as coisas em ordem, antes que eu chegue. Assim não serei entristecido justamente por aqueles que deveriam ser os primeiros a dar-me grande satisfação. Sinto a vossa felicidade tão ligada à minha que estou certo que só poderão sentir-se felizes se for ter convosco com alegria. Podem crer que me foi extremamente penoso escrever-vos aquela carta! Foi com o coração apertado que o fiz, e cheguei a chorar. Não queria ferir-vos; queria que sentissem a profunda afeição que vos tenho. Lembrem-se que o homem que causou aquela perturbação não foi tanto a mim que afligiu, mas sobretudo a vocês todos. Aliás, ele já foi bastante castigado com a reprovação unânime. É pois agora o momento de perdoá-lo e de lhe mostrar simpatia. Pois de contrário a amargura e o desânimo podem até impedi-lo de se reabilitar. Por isso, peço-vos que lhe testemunhem o vosso amor. Se vos escrevi daquela maneira foi também para verificar até que ponto iria a vossa obediência. Quando perdoaram aquele homem, eu perdoei-o também. E quando lhe perdoei tudo que havia para perdoar, fi-lo com a autoridade de Cristo para vosso bem, e para que Satanás não tome vantagem de tal situação, pois não ignoramos os seus processos. Pois bem, quando cheguei à cidade de Tróade, o Senhor deparou-me esplêndidas oportunidades de pregar o evangelho. Mas o irmão Tito não estava ali, como combinado, e eu não podia descansar sem saber dele. Por isso, despedi-me dos crentes e parti para a Macedónia. Graças a Deus, porque seguimos a carreira triunfal de Cristo e, seja por onde for que passemos, se espalha o perfume do conhecimento dele, por intermédio do nosso testemunho. E para Deus sobe, das nossas vidas, o saudável perfume da presença de Cristo em nós, que é notado por todos, tanto pelos salvos como pelos inconvertidos. Para estes últimos é um cheiro de morte, da condenação de Deus; mas para os outros esse cheiro é um perfume que lembra a vida. E quem afinal é competente para uma tarefa como esta? Nós não somos como negociantes, e há muitos por aí que pregam para ganhar dinheiro. Nós pregamos a mensagem de Deus com sinceridade e com a autoridade que Cristo nos dá, pois sabemos que Deus nos observa. Mas será que com isto começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Precisamos, como outros fazem, de trazer cartas de recomendação para convosco ou que nos recomendem da vossa parte? Porque a única carta de que precisamos são vocês mesmos, que são como uma carta que toda a gente pode conhecer e ler, escrita nos nossos corações. É evidente que vocês são uma carta de Cristo que nos foi confiada. Foi escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo. Não uma carta gravada em pedras, mas em corações humanos. Se ousamos dizer estas coisas sobre nós mesmos é pela grande confiança que temos em Deus através de Jesus Cristo. Não porque pensamos que podemos fazer alguma coisa por nós próprios. O único poder que possuímos vem de Deus. Foi ele quem nos tornou aptos para estar ao serviço do seu plano da nova aliança. E essa nossa mensagem não se baseia num código de leis a que se deva obedecer ou morrer; a mensagem que anunciamos é que existe uma vida nova através do Espírito Santo. Aquele velho sistema da Lei, gravado em pedras e que não podia senão conduzir à morte, teve início com uma grande manifestação de esplendor, que se revelou até no brilho do rosto de Moisés, e que era tanto que o povo nem podia olhar para ele. E contudo esse brilho era apenas passageiro. Não devemos nós, portanto, esperar uma manifestação de glória muito maior no tempo atual em que o Espírito Santo nos comunica a vida divina? Se a antiga aliança que traz a condenação era gloriosa, muito mais gloriosa é a aliança que torna os homens justos perante Deus. Com efeito, aquela primeira glória, que se manifestou no brilho do rosto de Moisés, não é nada em comparação com a deslumbrante glória do novo plano de Deus. E se o velho sistema, que se tornou inútil, porque fora destinado a ser transitório, estava cheio de glória celestial, a glória da nova ordem divina para a nossa salvação é certamente muito maior, porque essa sim é eterna. E já que sabemos que esta nova glória nunca acabará, é com muito mais ousadia que pregamos. Não somos como Moisés que colocou um véu sobre a sua face, porque os israelitas não podiam suportar o brilho daquela glória, que era afinal transitória. E não era só a face de Moisés que estava encoberta, mas as próprias mentes do povo estavam como que vendadas e obscurecidas. E ainda hoje a mente dos judeus está encoberta por um véu, pois não podem compreender o sentido real das Escrituras da antiga aliança que lhes são lidas. Esse véu só lhes é tirado ao crerem em Cristo. É verdade que ainda hoje, quando leem os escritos de Moisés, os seus corações permanecem obscurecidos. Mas no momento em que se voltarem para o Senhor, então esse véu sobre os seus corações cairá. O Senhor é o Espírito, e onde ele estiver reina a liberdade. E nós cristãos, sem véu de espécie alguma sobre os nossos rostos, somos como espelhos que refletem a glória de Deus. E vamo-nos tornando cada vez mais semelhantes à imagem do Senhor, a qual refletimos também cada vez mais fielmente. Foi Deus mesmo quem, na sua misericórdia, nos deu a missão de anunciar as boas novas e é por isso que nunca desanimamos. Rejeitamos tudo o que seja processos dissimulados e vergonhosos; também não tentamos alterar o sentido da palavra de Deus. Antes expomos toda a verdade, na presença de Deus, de tal forma que ninguém de consciência honesta poderá ter alguma coisa a dizer de nós. Se o evangelho que pregamos é ainda coisa velada e obscura, certamente que o é para os que se encontram no caminho da perdição, pois que o recusam. Satanás, que é o deus deste mundo, foi quem os cegou, quem os tornou incapazes de verem a luz gloriosa das boas novas e de compreender a maravilhosa mensagem da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não andamos a fazer propaganda de nós próprios, antes anunciamos Cristo Jesus como Senhor. Nós somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que mandou a luz resplandecer nas trevas, foi quem iluminou os nossos corações, a fim de conhecermos a glória divina que resplandece na face de Jesus Cristo. E este precioso tesouro está contido como que num recipiente de barro, ou seja, os nossos corpos fracos. E assim toda a gente pode ver que esse maravilhoso poder é mesmo de Deus, não vem de nós. Somos atribulados de toda a maneira, mas não definitivamente esmagados; perplexos mas não desanimados. Somos perseguidos, mas não desamparados por Deus. Somos derrubados, mas levantamo-nos e prosseguimos. Tal como o Senhor Jesus, o nosso corpo enfrenta constantemente a morte, a fim de que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos. Sim, vivemos em constante perigo de vida por servirmos o Senhor, mas isso dá-nos constantes oportunidades da vida de Jesus Cristo se manifestar nos nossos corpos mortais. É certo que enfrentamos a morte, mas daí resulta que a vida eterna vos é oferecida. Estamos animados do mesmo espírito de fé que o Salmista, que dizia: “Acreditei e por isso falei.” Nós também cremos, por isso falamos. Sabemos que o mesmo Deus que ressuscitou o Senhor Jesus nos conduzirá também à vida junto de Jesus, e nos fará comparecer convosco na sua presença. Assim, tudo aquilo por que passamos contribui para o vosso bem. E quantos forem ganhos pela graça de Cristo, tantos mais serão aqueles que lhe darão graças pela sua bondade, e tanto mais será Deus glorificado. Por isso, nunca desanimamos. E ainda que o nosso corpo fisicamente envelheça, interiormente, contudo, renova-se com novas forças, dia após dia. Estas tribulações por que passamos, afinal relativamente leves e passageiras, resultam numa abundância de glória de Deus, agora e aqui, e para toda a eternidade. E assim não nos prendemos com as coisas do tempo em que vivemos, mas procuramos fixarmo-nos naquelas que ainda não vemos. Porque as coisas desta vida passarão um dia, mas as realidades de Deus permanecem eternamente. Sabemos bem que quando o nosso corpo, que é como que uma tenda onde vivemos, se desfizer, teremos no céu uma nova habitação e um corpo eterno, habitação essa preparada por Deus e não por homens. E é por isso que esperamos com ansiedade pelo dia em que seremos revestidos de corpos celestiais. Porque não seremos apenas espírito sem corpo. Com efeito, enquanto vivemos neste corpo terreno sentimo-nos oprimidos e carregados. Até gostaríamos de, sem ter que despir este revestimento atual que é o nosso corpo, passar a viver na nova habitação, de forma que o que é mortal fosse como que absorvido pela vida eterna. Foi Deus quem nos preparou um tal destino, dando-nos como garantia o seu Espírito Santo. E assim estamos sempre de bom ânimo, embora sabendo que o tempo que passamos neste corpo material é tempo que deixamos de passar com o Senhor no céu. Estes sentimentos são o resultado de vivermos pela fé e não daquilo que vemos à nossa volta. E é com confiança que desejamos deixar este corpo e com satisfação enfrentamos a expectativa de habitar, enfim, com o Senhor. Por isso, o nosso alvo é agradar-lhe sempre, quer vivamos aqui neste corpo, quer tenhamos que o deixar para estar com Deus no céu. Pois todos devemos comparecer diante do tribunal de Cristo; e aí cada um receberá segundo o que tiver feito de bem ou mal, enquanto viveu no corpo. Conscientes assim do temor solene que é devido ao Senhor, procuramos persuadir as pessoas. E Deus bem conhece os nossos corações; vocês também sabem qual a pureza das nossas intenções. Não é que estejamos novamente a elogiarmo-nos a nós próprios; estamos apenas a dar-vos razões para estarem satisfeitos com as nossas vidas, e também para poderem responder aos que se apoiam mais em vantagens meramente exteriores do que numa vida interior consequente e verdadeira perante Deus. Estaremos a dizer disparates? Se for assim, é para que Deus seja servido. E se estamos corretos no nosso entendimento, vocês são quem mais beneficiará. O que quer que façamos ou sejamos é o resultado do amor de Cristo, que nos pressiona, levando-nos a concluir que se Cristo morreu por todos nós, logo todos morremos com ele. E se ele morreu por todos é para que todos os que agora vivem não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo que por eles morreu e ressuscitou. Por isso, agora não avaliamos mais as pessoas por aquilo que possam parecer do ponto de vista humano. Antigamente, eu pensava em Cristo como um simples ser humano. Mas agora já não é dessa forma que o conheço! Se alguém está ligado a Cristo transforma-se numa nova criatura; as coisas antigas passaram; tudo nele se fez novo! Tudo isso é obra de Deus que nos reconciliou consigo mesmo, através daquilo que Cristo fez por nós, e nos confiou a missão de anunciar essa mesma reconciliação. Porque Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo mesmo, não mais considerando os pecados dos homens como razão de acusação contra eles. Eis pois a mensagem que pregamos. Somos então como embaixadores de Cristo. E é como se Deus por nosso meio lançasse um apelo aos homens. Nós vos suplicamos então, da parte de Cristo, que se reconciliem com Deus! Deus carregou todo o nosso pecado sobre Cristo, que estava isento de qualquer pecado, para que nele fôssemos revestidos da justiça de Deus. Nós, cooperando portanto com Deus, vos exortamos a que não deixem que a sua graça vos seja anunciada em vão. Porque ele diz pela boca do profeta Isaías: “Ouvi-te, em tempo oportuno, e socorri-te no dia da salvação.” Pois agora é esse tempo oportuno, é agora o dia da salvação. Assim sendo, procuramos viver de maneira que nunca ninguém se sinta chocado por causa da nossa conduta, de forma que a nossa atividade para Deus nunca venha a ser censurada. De facto, em tudo o que fazemos procuramos mostrar que somos servos de Deus, suportando tudo com muita paciência: as aflições, as necessidades, os sofrimentos. Fomos já açoitados, postos na prisão, enfrentámos multidões furiosas, sabemos o que é o trabalho esgotante, noites sem dormir, fome. Demonstrámos integridade nas nossas vidas, mostrámos conhecimento e demos provas de paciência. Temos sido bondosos, com uma afeição verdadeira inspirada pelo Espírito Santo. Proclamámos a palavra da verdade e o poder de Deus se tem manifestado; temos combatido com as armas ofensivas e defensivas da justiça. Permanecemos leais ao Senhor, quer os outros nos honrem ou nos desprezem, quer nos censurem ou nos elogiem. Somos verdadeiros, embora nos tratem como impostores. O mundo ignora-nos, mas Deus conhece-nos. Dizem que não poderemos continuar a viver por muito tempo, e eis que continuamos vivendo. É verdade que temos sido bastante maltratados, mas não morremos. Temos sido entristecidos, mas nunca perdemos a alegria do Senhor. Somos pobres, mas enriquecemos os outros espiritualmente. Nada nos pertence, mas temos tudo. Ó queridos coríntios, falámos agora convosco com toda a franqueza; abrimos o nosso coração. E se, da vossa parte, os vossos sentimentos não correspondem aos nossos será certamente por culpa vossa. Falo-vos como a verdadeiros filhos: abram-nos igualmente os corações. Não se associem com os descrentes. Com efeito, como seria possível conciliar a justiça com a iniquidade? E que haverá de comum entre a luz e as trevas? Que harmonia poderia haver entre Cristo e o Diabo? Que parte têm em comum um crente e um descrente? Que aliança poderia estabelecer-se entre o templo de Deus e os ídolos? Porque vocês são o templo do Deus vivo. Tal como Deus disse: “Neles habitarei e andarei no meio deles. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” E foi por isso que também o Senhor lhes disse: “Saiam do meio deles. Afastem-se. Não tenham contactos com aquilo que eu repudio, e eu vos receberei.” “Serei para vocês um Pai, e vocês serão para mim filhos e filhas, disse o Senhor Todo-Poderoso.” Pois que temos tais promessas, meus queridos amigos, purifiquemo-nos de tudo o que é moralmente imundo e errado, tanto no domínio do nosso corpo como do nosso espírito, e procuremos aperfeiçoarmo-nos e santificarmo-nos, vivendo no temor de Deus. Mais uma vez vos pedimos: Façam lugar para nós no vosso coração. Nunca prejudicámos ninguém. Nunca enganámos fosse quem fosse. E nunca explorámos ninguém vivendo à sua custa. Não estou a dizer isto para censurar alguém pois, como já vos disse, vocês estão nos nossos corações para a vida e para a morte. Temos grande confiança e orgulho em vocês. Encorajaram-nos e consolaram-nos muito e, apesar das provas, vocês têm-nos dado muita alegria. Quando chegámos à Macedónia nem pudemos descansar. As dificuldades apareceram de todos os lados; à nossa volta, lutas de toda a espécie, e no íntimo, inquietação. Mas Deus, que consola os abatidos, revigorou-nos com a chegada de Tito. Foi uma alegria para nós a sua chegada, bem como a notícia que trouxe do encorajamento que recebeu quando esteve no vosso meio. Deu-me imensa satisfação saber como esperavam a minha visita, e verificar a vossa lealdade para comigo. Já não estou arrependido de vos ter escrito aquela carta, embora tivesse chegado a estar ao ver como vos trouxe tristeza, ainda que momentânea. Estou mesmo contente por a ter enviado, não pela tristeza que vos causou, mas porque essa tristeza fez com que se arrependessem. Foi a espécie de tristeza que Deus espera que os seus filhos tenham. E assim podemos concluir que essa carta não vos foi prejudicial. Porque Deus pode usar a tristeza nas nossas vidas para nos ajudar a desviar do pecado e a procurar salvação. Não temos que lamentar este tipo de tristeza. Contudo, a tristeza sem arrependimento é do género que provoca a morte. Vejam então quanto bem não produziu esta tristeza enviada por Deus. Com quanto fervor e sinceridade repudiaram o pecado sobre o qual vos tinha escrito. Ficaram temerosos quanto ao que sucedera e ansiosos para que eu fosse ajudar-vos. Logo tomaram medidas para a resolução do problema e para o castigo daquele que pecara. Tudo fizeram para corrigir a situação. Se vos escrevi não foi tanto por causa daquele que ofendeu, ou do que foi ofendido, mas para vos dar ocasião para, diante do Senhor, provarem quanto nos amam. Mas além do consolo que a vossa atitude nos transmitiu, foi também o contentamento de Tito, pela simpatia com que o receberam e acalmaram as suas preocupações, que muito nos alegrou. Antes de Tito partir, garanti-lhe a vossa boa receção, e falei-lhe mesmo no orgulho que sentia por vocês. Não tive pois razão para ficar desapontado. Provou-se assim que não só aquilo que mandei Tito dizer-vos era verdade, como também que era verdade aquilo que eu disse a Tito a vosso respeito. Ele sente agora mais estima do que nunca por vocês, lembrando-se da forma pronta como o escutaram e receberam o que vos disse, com o maior interesse e solicitude. Sinto-me bem feliz por poder agora ter plena confiança em vocês. Agora quero contar-vos o que Deus na sua graça tem feito pelas igrejas da Macedónia. Ainda que tenham passado por muitas dificuldades e apertos, nunca perderam a sua abundante alegria espiritual. E apesar da extrema pobreza arranjaram maneira de se tornarem ricos em generosidade para com os outros. Eles deram não só aquilo que podiam, mas até muito mais, e voluntariamente; disso sou testemunha. Pediram-nos com muita insistência que com esse dinheiro pudessem participar da alegria de ajudar outros crentes. Ultrapassaram até todas as nossas expectativas. Porque primeiramente se consagraram a si mesmos ao Senhor e depois puseram-se à nossa disposição para fazer a vontade de Deus. Isso encorajou-nos a pedir a Tito, que já antes tinha começado esta obra no vosso meio, animando-vos à beneficência, que vos visitasse e entusiasmasse a também completarem a vossa participação. Vocês que são tão ricos em tantos domínios: na fé, na exposição da palavra de Deus e no conhecimento das coisas espirituais, no entusiasmo e na dedicação para connosco, também o devem ser neste privilégio de contribuir com alegria. Não digo isto como uma espécie de imposição. Mas para que o exemplo dos outros vos dê ocasião de provarem que o vosso amor vai além das simples palavras. Vocês conhecem o amor de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, tornou-se pobre por amor de vocês, a fim de que pela sua pobreza pudessem enriquecer. Queria sugerir-vos que fossem até ao fim com o que começaram há um ano, pois foram não só os primeiros a propor essa ideia, mas também os primeiros a fazer alguma coisa nesse sentido. Tendo, portanto, começado tão prontamente, é justo que vão até ao fim com a mesma alegria, dando tudo o que estiver nas vossas possibilidades. Quando se dá de boa vontade, a quantidade tem menos importância. Porque no fundo, Deus quer que se dê o que se tem, não o que se não tem. Não se trata, evidentemente, de levar outros a viver desafogados, para vocês passarem a ter necessidades. É antes uma questão de procurar tornar iguais as condições de vida de uns e outros. Presentemente, o vosso nível de vida permite ajudá-los; noutra altura poderá ser o contrário, e assim haverá uma justa repartição. Lembrem-se do que diz a Escritura sobre isto: “O que recolheu muito não teve demais e o que colheu pouco também nada lhe faltou.” Estou muito grato a Deus porque deu a Tito o mesmo interesse e cuidado que eu tenho convosco. Ele aceitou o meu pedido de vos visitar de novo e tomou logo a iniciativa de partir. Com ele enviamos também outro irmão bem conhecido de todas as igrejas pela sua atividade como proclamador do evangelho. Foi até escolhido pelas igrejas para me acompanhar na minha deslocação a Jerusalém, a fim de levar o resultado destas ofertas, as quais, ao mesmo tempo que servem para glorificar o Senhor, mostram a prontidão da vossa beneficência. Indo assim acompanhado, procuro pôr-me ao abrigo de qualquer crítica quanto à maneira como nos responsabilizamos por esta importante soma. Deus bem conhece a nossa honestidade, mas queremos que os outros tenham plena confiança em nós. Estamos a enviar com eles um outro irmão que sabemos, por experiência, ser um cristão fervoroso. Desde que teve conhecimento da vossa prontidão em ajudar materialmente os cristãos, é com particular interesse que se prepara para essa viagem. Portanto vão os três: Tito, como meu colaborador e companheiro, e os outros dois irmãos como apóstolos das igrejas daqui, como homens que honram o Senhor. Portanto, demonstrem-lhes o vosso amor e provem a todas as igrejas que o nosso orgulho a vosso respeito tem razão de ser. Na verdade, não preciso de escrever-vos acerca desta oferta para os crentes em Jerusalém. Bem sei como estão prontos a ajudar e foi com grande satisfação que disse aos crentes na Macedónia que desde o ano passado, os da Acaia, estão prontos a enviar uma oferta. E o vosso entusiasmo tem estimulado muitos outros. Mas envio estes irmãos, tal como disse, para que se tenha a certeza daquilo que afirmei a vosso respeito, que estão prontos e com a coleta feita. Seria grande a nossa deceção, e vossa também certamente, se alguns destes irmãos macedónios viessem comigo e verificassem que, afinal, nada tinham preparado, depois de tudo o que eu lhes disse. Por isso, achei necessário que estes três irmãos fossem à minha frente e tudo preparassem, de forma a estar já em mãos a contribuição que prometeram, a fim de que se veja que é uma oferta voluntária e não forçada. Lembrem-se disto: o que semeia pouco, pouco também ceifará; o que semeia em abundância, em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração. Não como uma obrigação, porque Deus ama quem dá com alegria. Deus pode bem abençoar-vos de tal maneira que tendo sempre, aquilo que vos é preciso, possam ainda ajudar generosamente os outros. É como dizem as Escrituras: “Repartiu liberalmente os seus bens com os necessitados. A justiça que ele praticou terá efeitos que nunca mais passarão.” Porque Deus, que dá a semente para o lavrador plantar, e depois o fruto para se alimentar, também vos dará os meios para que a vossa sementeira se multiplique em frutos de justiça. Sim, Deus vos dará muito para que possam dar muito, para que pela vossa liberalidade, posta em ação por nosso intermédio, sejam dados louvores de gratidão a Deus. São assim dois os bons resultados da vossa generosidade: contribuir para a satisfação das necessidades dos crentes em Jerusalém e suscitar louvores a Deus. Vocês darão glória a Deus através das vossas ofertas generosas. Porque a vossa generosidade para com eles prova que obedecem ao evangelho de Cristo. E eles orarão por vocês com profunda afeição, por causa da graça maravilhosa de Deus mostrada por vosso intermédio. Graças pois a Deus pela dádiva de seu Filho e que não há palavras que a possam descrever! E agora eu, Paulo, queria fazer-vos um pedido: é uma exortação feita com bondade e mansidão como Cristo faria. Alguns dizem de mim que por carta me torno bem ousado no que digo, mas que na vossa presença já aparento humildade. O que vos peço é que na vossa presença não seja mesmo obrigado a mostar-me severo, sobretudo com alguns que, segundo parece, nos julgam como se nos conduzíssemos como as pessoas do mundo. É verdade que somos seres como todos os outros, mas o nosso combate é bem diferente do deste mundo. As armas do nosso combate não são humanas; são armas de Deus, poderosas para a destruição das fortalezas contra Deus. Estas armas podem derrubar os argumentos daqueles que se levantem, com orgulho, contra o conhecimento de Deus. Estas armas espirituais são capazes de levar o entendimento à obediência voluntária a Cristo. E estamos prontos a usá-las eficazmente contra todos os que são rebeldes a Cristo, mas só depois de vocês mesmos terem decidido obedecer plenamente. Não devem formar juízos baseados apenas na aparência das coisas. Se alguém pode reivindicar para si a autoridade de Cristo, eu serei um desses. Talvez pensem que me estou a gabar da minha autoridade, ainda que seja uma autoridade espiritual para vossa edificação na fé e não, evidentemente, para vos abater. Contudo, não quero que pensem que as minhas cartas servem apenas para vos intimidar e mais nada. Há até quem diga que as minhas cartas parecem severas e enérgicas, mas que à vista sou de fraca aparência física e fraco orador. Mas quem diz isso tome nota de que somos tão rigorosos em ação, na vossa presença, como o somos por carta. Certamente que não nos vamos comparar com alguns outros que se classificam em função da própria propaganda que fazem de si mesmos; essas pessoas medem-se pelos seus próprios conceitos e não dão provas de sensatez. Mas nós não nos estamos a gabar de uma autoridade que não temos; estamos antes na linha de conduta que Deus traçou para o nosso trabalho no vosso meio. Não estamos a sair dessa linha, até porque fomos os primeiros a levar-vos as boas novas de Cristo. Nem nos orgulhamos do trabalho que foi feito por outros. Em vez disso, esperamos que a vossa fé cresça e que o nosso trabalho seja largamente ampliado. Então poderemos ir e pregar o evangelho noutros lugares além do vosso, onde mais ninguém está a trabalhar. Assim não se levantará a questão de estarmos em território pertencente a outro. Como as Escrituras dizem: “Quem se quiser gloriar, glorie-se no Senhor.” Porque não tem valor quando alguém se honra a si mesmo, mas sim quando é o Senhor quem o honra. Espero que sejam pacientes comigo e me deixem dizer ainda um pouco mais, embora pareça tolice. Eu preocupo-me convosco, mas com um cuidado que vem de Deus. Quero que as vossas vidas sejam inteiramente para Cristo, tal como uma moça, virgem e pura, reserva todo o seu amor para o seu noivo. O meu receio é que, de alguma forma, o vosso espírito seja enganado e se afaste da devoção sincera a Cristo, tal como Eva foi enganada pela serpente no jardim do Éden. Sei que se alguém vos for pregar outro Jesus diferente daquele que vos anunciámos, ou com um outro espírito que não seja o Espírito Santo que já receberam, anunciando-vos um outro evangelho além daquele que já aceitaram, na vossa ingenuidade, facilmente acreditarão em tudo. E contudo não me considero em nada inferior a esses sublimes apóstolos. Se sou fraco orador, em todo o caso sei bem do que estou a falar, e disso já têm tido repetidamente a prova, pois nos temos dado a conhecer inteiramente. Terei errado desvalorizando aos vossos olhos o nosso serviço, pelo facto de vos ter anunciado o evangelho sem nada ter recebido da vossa parte, pensando contribuir para a vossa edificação no caminho de Deus? E o facto é que empobreci, por assim dizer, outras igrejas, recebendo delas aquilo de que precisava regularmente para o meu sustento enquanto aí estava, a fim de me não tornar pesado a ninguém. Quando comecei a padecer certas necessidades, mesmo assim nada vos pedi, pois os irmãos da Macedónia levaram-me outra oferta. E desta forma nunca vos sobrecarreguei. E farei que seja assim também no futuro. Tão certo como Cristo habitar em mim, hei de continuar a fazer de forma a não perder este mérito na minha obra junto de todas as igrejas da Acaia. E isto porquê? Porque não vos amo? Deus bem sabe o quanto vos amo! Mas procurarei sempre agir assim para evitar que outros, inchados no seu orgulho, finjam que estão a trabalhar da mesma forma que nós. Tais homens não são enviados de Deus; são gente desonesta que vos engana, fazendo-se passar por apóstolos de Cristo. E nada me admiro, visto que o próprio Satanás se pode transformar em anjo de luz. Portanto, não me surpreende que os seus servidores possam fazer o mesmo, parecendo que são ministros de Deus. Mas no fim receberão o castigo que merecem as suas más obras. Outra vez vos digo: não pensem que perdi o juízo por vos falar assim; mas ainda que o pensem, ouçam-me na mesma, agora que me vou gabar um pouco, também. Tal gabarolice não é coisa que o Senhor deseje, mas vou falar como se eu estivesse louco. Andam aí tantos a gabar-se, pois agora é a minha vez. Vocês consideram-se tão sensatos e no fim de contas ouvem tão facilmente essa gente insensata. Não se importam que vos escravizem, tirando-vos tudo o que têm, explorando-vos, tratando-vos até com arrogância e esbofeteando-vos. Tenho talvez mesmo uma certa vergonha, humanamente falando, em dizê-lo, mas o certo é que não seria capaz de ter tanta ousadia como eles. E na verdade posso gabar-me de tudo o que eles também se gabam. Falo de novo como se tivesse ficado louco. Eles gabam-se de serem hebreus? Eu também o sou. Dizem ser israelitas? Também eu sou. São descendentes de Abraão? Pois eu também. Dizem que servem a Cristo? Muito mais o tenho servido eu. (É como se estivesse fora de mim ao dizer isto.) Tenho trabalhado muito mais e também tenho sido muitas mais vezes preso e açoitado, e enfrentado a cada instante a morte, muitas mais vezes do que eles. Em cinco ocasiões diferentes os judeus aplicaram-me os seus quarenta açoites menos um. Três vezes recebi o castigo da vara. Fui uma vez apedrejado. Passei por três naufrágios. Numa ocasião cheguei a ficar uma noite e um dia à deriva, em pleno mar alto. Tenho viajado quilómetros e quilómetros, arriscando-me, ao atravessar perigosas torrentes e também zonas infestadas de salteadores. Sei o que é estar em perigo, tanto entre o meu próprio povo, os judeus, como entre os gentios. Conheço o perigo das multidões amotinadas nas grandes cidades, o perigo da morte no deserto e no mar, assim como o perigo entre os falsos irmãos. Tenho suportado canseiras, sofrimentos e noites sem dormir. Tenho passado frequentemente fome e sede, e sei o que é ter frio e não ter roupa para me agasalhar. E além disto tudo, tenho, interiormente, o cuidado constante sobre o progresso de cada igreja. Quem enfraquece espiritualmente que eu não me enfraqueça também? Quem tropeça na sua fé que eu também não sofra? Mas se tiver de falar em mérito, realmente prefiro então referir-me àquele que diz respeito à minha fraqueza. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, louvado seja para sempre, sabe que não minto. Em Damasco, o que governava ali, sob a ordem do rei Aretas, chegou ao ponto de mandar guardar todas as saídas da cidade para poder prender-me. Fui porém descido numa cesta, por uma abertura na muralha, e assim escapei! Não é bom, claro está, que eu esteja a enaltecer-me. Mas vou continuar ainda com as visões que tive e as revelações do Senhor. Conheço um homem que há catorze anos foi levado ao terceiro céu. Eu mesmo não sei se o meu próprio corpo também lá esteve ou se foi apenas o meu espírito. Deus o sabe. Mas de qualquer maneira estive no paraíso e ouvi coisas que ultrapassam as capacidades humanas descrevê-las, e até nem é lícito fazê-lo. Uma tal experiência é certamente assinalável. E nem é disso que me gabo, mas antes da minha própria fraqueza. Não me faltariam pois razões para me enaltecer; mas não quero que ninguém pense de mim mais do que aquilo que pode ver através da minha vida e da minha mensagem. E para que estas excecionais revelações não me exaltassem, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para me atormentar, a fim de que não caia no orgulho. Por três vezes implorei ao Senhor que me livrasse. De cada vez ele me disse: “A minha graça te basta! É na fraqueza que o meu poder melhor se revela!” E assim sinto-me feliz nas fraquezas, para que o poder de Cristo possa trabalhar através de mim. Tenho pois alegria nas fraquezas, nos insultos, nas privações, nas perseguições, nas dificuldades; pois que as suporto por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, é então que sou forte. Fui insensato em vos ter falado de tudo isto, mas foram vocês que me levaram a fazê-lo. Porque vocês é que deviam mostrar a vossa apreciação por mim. Em coisa alguma fui inferior a esses tais grandes pseudo-apóstolos, ainda que por mim mesmo nada seja. Quando aí estive no vosso meio, realizei os sinais próprios de um apóstolo, enviado por Deus mesmo; constantemente puderam verificá-lo através de milagres, sinais e obras poderosas. A única coisa que realmente não fiz no vosso meio, e que faço nas outras igrejas, foi ser-vos materialmente pesado em coisa alguma. Perdoem-me, se considerarem isso uma ofensa! E agora é a terceira vez que vou visitar-vos e de novo sem vos ser pesado; porque não são os bens materiais que procuro em vocês, meus filhos: é o bem para as vossas vidas! Normalmente não são os filhos que ganham para os pais, são os pais quem ajuntam para os filhos. E eu sinto-me feliz em me dar totalmente a mim mesmo, e tudo quanto tenho, para o vosso bem espiritual, embora pareça que quanto mais vos amo, menos vocês me amam. Alguns pensam que em nada vos fui pesado, mas que, de alguma maneira, com astúcia, algum proveito material devo ter tirado disso. Mas como? Tive eu algum benefício material por intermédio das pessoas que vos enviei? Quando pedi a Tito que vos visitasse, acompanhado de outro irmão, tiraram eles também para si algum proveito? Naturalmente que não. Porque eles e eu agimos no mesmo espírito, fazendo as coisas do mesmo modo. Não são desculpas que estamos a apresentar. Diante de Deus vos garanto que foi para vos edificar em Cristo que vos escrevi estas coisas. Pois receio que, quando for de novo visitar-vos, me venha a desgostar do vosso estado espiritual e que a minha forma de atuar, em consequência, se torne desagradável aos vossos olhos. Tenho medo de vos encontrar em desavenças, invejas, zangas, disputas, ofendendo-se uns aos outros, perdendo energias com mexericos, reivindicações e discussões. Sim, é isso que eu queria evitar: que Deus me humilhe no vosso meio e me entristeça profundamente por esses que têm pecado, sem se terem ainda arrependido da impureza, do vício e da imoralidade sexual que praticaram. Esta é pois a terceira vez que vou visitar-vos. Irei acompanhado, porque as Escrituras dizem que “toda a acusação deve ser confirmada por duas ou três testemunhas.” Já antes tinha avisado aqueles que tinham pecado, quando aí estive pela última vez. E agora aviso-os de novo, assim como a todos os outros, tal como fiz nessa ocasião, de que agora irei pronto a castigar com severidade. Dar-vos-ei todas as provas que desejarem de que Cristo fala por meu intermédio. E hão de ver que Cristo não resolverá esses assuntos superficialmente, antes há de manifestar-se enérgico e em toda a sua força. Porque ainda que tenha morrido crucificado e o seu corpo tivesse sido enfraquecido, contudo agora vive, pelo poder de Deus. E nós também, em consequência disso, sendo fracos, vivemos agora com Cristo pelo poder de Deus que utilizaremos no vosso meio. Examinem-se a vocês mesmos para verem se realmente permanecem na fé. Façam o vosso exame de consciência: reconhecem que Cristo habita verdadeiramente na vossa vida? Caso contrário, o vosso cristianismo é falso. Quanto a nós, espero bem que reconheçam que num tal exame não ficaríamos reprovados. A minha oração a Deus é pois que se abstenham de todo o mal, não pelo mérito que isso venha a trazer ao nosso serviço, mas porque procuramos que a vossa conduta cristã seja reta. Porque, quanto ao nosso serviço, se os homens não lhe derem valor, não é isso que conta. Portanto, se a vossa conduta for de acordo com a verdade do evangelho, nada teremos que julgar, pois o nosso único desejo é apoiar-vos no caminho da verdade. Se dermos a impressão de fraqueza, até ficaremos contentes, se isso representar o vosso fortalecimento. O nosso desejo é o vosso aperfeiçoamento. Digo-vos estas coisas aqui, por carta, para depois na vossa presença não ter de vos corrigir com severidade. Porque a autoridade que o Senhor nos deu é para vos edificar e não para vos abater. E agora, irmãos, termino. Alegrem-se e aperfeiçoem-se em Cristo. Encorajem-se uns aos outros. Vivam em harmonia e paz e o Deus de amor e de paz será convosco. Saúdem-se uns aos outros com um beijo fraterno. Todos os cristãos daqui vos mandam saudações. Que a graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus seja convosco. E que o Espírito Santo comunique com o vosso íntimo. Eu, Paulo, chamado para ser apóstolo, não por qualquer organização ou autoridade humana, mas por Jesus Cristo e por Deus o Pai, que ressuscitou Jesus da morte, dirijo esta carta às igrejas da Galácia, na companhia de todos os cristãos daqui, nossos irmãos na mesma fé. Desejo que recebam a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo, sofrendo o castigo dos nossos pecados, de acordo com o plano de Deus, para nos livrar deste mundo mau. Assim, damos toda a glória a Deus para todo o sempre. Amém! Estou muito admirado da rapidez com que se desviaram de Deus, que na sua graça chamou a participar da vida eterna através de Cristo. Afinal, estão a seguir outro evangelho. Aliás, nem sequer é evangelho algum. Há algumas pessoas que andam a perturbar-vos e a querer torcer o sentido do evangelho de Cristo. Se alguém, ainda que seja eu próprio ou mesmo um anjo do céu, vier pregar-vos, sob o nome de evangelho, outra mensagem além daquela que já vos temos anunciado, seja maldito. Disse e volto a repetir: se alguém vier pregar-vos outro evangelho diferente daquele que já uma vez aceitaram, seja maldito. Se falo assim, lembrem-se que é porque procuro agradar não a pessoas, mas a Deus. Se procurasse conformar-me às opiniões de homens não poderia ser servo de Cristo. Posso garantir-vos, irmãos, que o evangelho, que vos tenho anunciado, não é de origem humana; não foi arquitetado pelo pensamento humano. Também nem sequer foi de homens que o recebi; foi Jesus Cristo mesmo quem mo revelou. Sabem como eu era quando seguia a religião judaica e como perseguia, sem misericórdia, a igreja de Deus, procurando destruí-la. Na prática da religião judaica ultrapassava muitos da minha idade, meus compatriotas, e era extremamente zeloso no respeito pelas tradições de meus pais. Mas a vontade de Deus era outra! Mesmo antes de nascer, Deus já me tinha escolhido e designado, com uma bondade que eu não merecia, para revelar o seu Filho em mim, a fim de que o pregasse entre os gentios. Quando chegou o momento de cumprir esse mandato, não fui imediatamente procurar a opinião de ninguém; nem sequer voltei a Jerusalém encontrar-me com os que já antes de mim eram apóstolos. Antes parti para a Arábia, regressando depois a Damasco. Foi só passados três anos que tornei a ir a Jerusalém para contactar pessoalmente com Pedro, tendo ficado com ele durante quinze dias. E não vi nenhum outro dos apóstolos, senão Tiago, irmão do Senhor. Acreditem que aquilo que vos escrevo é a verdade; Deus é testemunha disso. E depois dessa visita parti para a Síria e para a Cilícia. Entretanto os crentes das igrejas da Judeia continuavam sem me conhecer pessoalmente; apenas tinham ouvido dizer que aquele que perseguia os cristãos anunciava agora a fé que antes procurava destruir. E davam glória a Deus por minha causa. Depois, passados catorze anos, voltei a Jerusalém na companhia de Barnabé, levando também Tito comigo. Fiz essa viagem por uma ordem expressa de Deus. E foi assim que expus àqueles irmãos a mensagem de salvação que estava a pregar aos gentios. Sobre isto lhes falei, em especial aos que no meio deles tinham mais responsabilidades. Esperava que compreendessem e aceitassem a minha posição, se não o meu ministério teria sido em vão. E eles concordaram comigo. De facto, nem sequer Tito, meu companheiro, foi obrigado a circuncidar-se, embora fosse grego. Aliás essa questão não teria surgido se alguns falsos cristãos não tivessem ali aparecido para espiar a nossa conduta, procurando pôr em causa a liberdade de que gozamos em Jesus Cristo e fazer-nos prisioneiros de regras e mandamentos judaicos. Mas nem por um momento cedemos, nem nos sujeitámos às suas imposições, porque convinha que a mensagem do evangelho, na sua verdade total, fosse bem compreendida por vocês. E quanto àqueles que gozavam de mais consideração entre eles (aliás, o que essas pessoas tenham sido não me interessa, visto que perante Deus somos todos iguais) o facto é que esses nada tiveram a dizer em relação à mensagem que eu estava a pregar. Antes pelo contrário, perceberam que me fora confiada a pregação do evangelho aos que não são circuncidados, tal como a Pedro também, por seu lado, lhe tinha sido confiada a sua pregação aos que o são. Porque o mesmo Deus que trabalhou para que Pedro estivesse ao serviço dos judeus trabalhou para que eu fosse posto ao serviço dos não-judeus. Então, Tiago, Pedro e João, considerados como as colunas da igreja, reconhecendo a atribuição que me fora confiada, deram-nos as mãos, a mim e a Barnabé, em demonstração de concordância. Ficou então assente que nós continuaríamos a nossa missão junto dos não-judeus e eles no meio dos judeus. Recomendando-nos, em todo o caso, que nos lembrássemos dos mais desfavorecidos, o que sempre procurei fazer com toda a dedicação. Contudo, quando Pedro veio depois a Antioquia, tive de tomar posição contra ele, com firmeza, porque estava a agir de uma forma censurável. Pois ao chegar lá, a princípio comia com os cristãos não-judeus. Mas depois que chegaram também certas pessoas das relações de Tiago, começou a evitar esses contactos, afastando-se deles, com receio desses cristãos partidários da circuncisão. E foi de tal forma que até os outros judeus convertidos começaram também a andar com hipocrisia, a ponto de mesmo Barnabé se deixar levar por eles. Quando vi que não era correta essa maneira de proceder, nem era uma forma honesta de se conformarem com a verdade do evangelho, disse a Pedro, na presença de todos, que se ele, sendo judeu, tinha já posto de parte os costumes judaicos e vivia praticamente como um gentio, não era justo que obrigasse os não-judeus a viverem como judeus. É verdade que somos judeus de nascimento, e não fazemos parte daqueles a que chamam os pecadores gentios. No entanto, sabemos muito bem que uma pessoa não se torna justa diante de Deus pela obediência às obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo. Assim, confiando e entregando-nos a Cristo, somos perdoados e aceites por Deus. Mas isso não é devido à obediência à Lei, pois ninguém poderá ser justificado por observar a Lei. Se viessem agora dizer-nos (a nós que confiamos em Cristo para nos perdoar e salvar) que errámos, e que não podemos tornar-nos justos diante de Deus se não for pela obediência à Lei, teríamos de concluir que Cristo afinal é promotor do pecado? Seria uma conclusão completamente absurda. Evidentemente que se me ponho a construir de novo um sistema de justificação, o qual antes tinha sido destruído, torno-me transgressor. Foi através da Lei que eu fui levado a reconhecer que estava morto perante ela; consequentemente fiquei livre para viver para Deus. Eu estou crucificado com Cristo; e apesar de continuar a viver, já não é o meu eu que domina, mas é Cristo que vive em mim. E o resto da minha existência nesta terra é o resultado da fé que eu tenho no Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim. Se pudéssemos ser salvos da culpa do nosso pecado pela obediência à Lei, é claro que a morte de Cristo teria sido inútil. Se eu seguisse este pensamento estaria a desprezar a dádiva de Deus. Ó Gálatas insensatos! Quem foi que vos fascinou, a vocês a quem Cristo crucificado foi apresentado, como se tivesse sido pregado na cruz mesmo sob os vossos olhos? Só queria que me respondessem a isto: receberam o Espírito Santo através do cumprimento dos mandamentos da Lei? Não, porque o Espírito Santo veio sobre vocês somente depois de terem crido na mensagem do evangelho que ouviram e receberam com fé. Falta-vos assim tanto a compreensão espiritual destas coisas que, tendo começado pelo Espírito de Deus, pensem agora aperfeiçoá-la através dos vossos esforços humanos? Será que tudo aquilo que já sofreram por causa do evangelho foi inútil? Certamente que não. Deus, que vos dá o Espírito Santo, atuando com milagres no vosso meio, faz isso em consequência da vossa obediência à Lei judaica? Claro que não! É sim em resultado da fé com que aceitaram a pregação do evangelho. Assim como Abraão “creu em Deus e este declarou-o como justo”, da mesma forma, só os que têm a mesma fé em Deus é que são os verdadeiros filhos de Abraão. E as Escrituras previram que Deus haveria de declarar os gentios justos em resultado da sua fé, quando dizem que Deus se dirigiu a Abraão com estas palavras: “Por teu intermédio serão abençoados todos os povos.” Por isso, todos os que põem a sua fé em Cristo beneficiam da mesma bênção que Abraão recebeu, graças à sua fé. Por outro lado, todos aqueles que se apoiam nas suas próprias obras, em obediência à Lei judaica, estão debaixo da maldição, porque está escrito: “Maldito é quem não cumpre tudo o que está escrito neste livro da Lei.” É portanto evidente que pela Lei ninguém poderá ser aceite por Deus. Porque a Escritura diz: “O justo pela fé viverá.” Ora a Lei e a fé são duas coisas incompatíveis. Pois a Lei diz: “Quem cumprir estas prescrições viverá por elas.” Mas Cristo pagou o preço necessário para nos libertar desse sistema legal, que nos mantinha debaixo da maldição, e colocou-se ele próprio sob a maldição divina, tomando sobre si a culpa dos nossos pecados. Até porque também diz na Escritura: “Maldito todo aquele que for pendurado no poste de madeira.” E assim a bênção que Deus prometeu a Abraão pode chegar também até aos gentios por meio do sacrifício de Jesus Cristo. E nós, os cristãos, podemos receber o Espírito Santo prometido aos que têm fé. Irmãos, mesmo na vida corrente, se alguém prometer seja o que for a outra pessoa, e essa promessa estiver escrita e assinada, ninguém a poderá alterar nem anular. Ora Deus fez promessas a Abraão e a Escritura diz que foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz “às tuas descendências”, como seria se estivesse a falar de muitas. Mas fala no singular, “à tua descendência”, referindo-se a Cristo. O que estou a dizer é isto: a aliança que Deus fez com Abraão não podia ser anulada 430 anos mais tarde, quando Deus deu a Lei a Moisés. Isso seria Deus a quebrar a sua promessa. Se a herança de vida dependesse do cumprimento desse código legal, deixaria de ser, como é evidente, uma promessa de Deus em que os crentes apoiassem a sua fé. Mas não, ela é algo que Deus garantiu a Moisés, gratuitamente, sem lhe pedir em troca submissão a uma lei. Então para que serve a Lei? Ela teve de ser acrescentada por causa das transgressões. Mas esse sistema vigorava apenas até à vinda do descendente de Abraão (ou seja Cristo), a quem a promessa dizia respeito. E há uma outra diferença: Deus deu a sua Lei aos anjos para a dar a Moisés, que foi o mediador entre Deus e o povo. Ora, um mediador é necessário se duas pessoas entram num acordo; mas Deus agiu por si próprio quando fez a sua promessa a Abraão. Então a Lei é contra as promessas divinas? De maneira nenhuma! Porque se uma Lei tivesse sido dada que pudesse transmitir vida, então a justificação viria certamente pela observância da Lei. Contudo, as Escrituras declaram que todos nós somos prisioneiros do pecado. Sendo assim, a única saída para a nossa salvação é a fé em Jesus Cristo. Por ele é que a promessa de vida, da parte de Deus, foi dada aos crentes. Mas antes que chegasse esse tempo em que a fé em Cristo nos abriu a entrada junto de Deus, nós estávamos como que guardados e vigiados pela Lei, esperando o momento em que, pela fé, pudéssemos crer no Salvador que haveria de vir. Dito de outra maneira: a Lei foi como que um aio que nos conduziu a Cristo. Então, por meio da fé, pudemos estabelecer a nossa relação com Deus. E agora que Cristo já veio, já não há mais razão para continuarmos a viver sob esse educador, pois agora somos muito mais do que alunos. Somos filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. E todos quantos fomos batizados em nome de Cristo, identificados com a sua morte, ficámos assim revestidos dele. E aqui não há lugar para diferenças: tanto judeus, como gregos, escravos e livres, homens ou mulheres, em Cristo Jesus todos formam um só povo. Se somos de Cristo, somos então descendência de Abraão e herdeiros da mesma promessa. Pensem assim: um herdeiro, enquanto for criança, não tem vantagens, em relação aos criados da casa, no que diz respeito às riquezas que virá a receber mais tarde. Na realidade ele continua dependente da autoridade dos administradores dos bens e dos seus educadores, até ao tempo determinado pelo pai. Assim acontecia connosco quando éramos como essa criança: estávamos submetidos à força das leis e cerimónias judaicas e àqueles princípios rudimentares pelos quais se regem os que não são cristãos. Contudo, quando chegou o tempo determinado, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, e sujeito à Lei judaica, para comprar a liberdade para nós que estávamos sob as imposições dessa Lei, a fim de poder adotar-nos como filhos. E visto que agora somos seus filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, pelo qual temos o direito de nos dirigirmos a Deus e de lhe falar como a um Pai que amamos. Assim já não somos como meros servos, mas somos filhos. E toda a herança de Deus nos pertence. Antes de conhecerem a Deus, vocês, os gentios, serviam como escravos aqueles que por natureza não são deuses. Agora que conhecem o verdadeiro Deus (ou melhor, que Deus vos reconhece como seus filhos), como é possível que queiram voltar atrás e tornar-se novamente escravos desses princípios rudimentares, fracos e sem valor? Respeitam determinados dias e meses, períodos lunares e anos. Receio bem que todo o meu trabalho em vosso benefício tenha sido em vão! Irmãos, peço-vos que se libertem, como eu, que também fui como vocês. Sempre nos entendemos bem. Lembram-se que nessa altura me encontrava muito doente, quando vos anunciei o evangelho pela primeira vez. E até podiam ter sido levados a não se interessarem e a afastarem-se de uma pessoa enfraquecida, como era o meu caso; mas não. Antes me receberam e cuidaram de mim como se eu fosse um anjo de Deus, como se fosse Jesus Cristo mesmo. E então, que é feito desses tempos felizes que vivemos juntos? Não estou a exagerar! Naquela altura senti que me teriam dado até os vossos próprios olhos, se isso fosse possível. Seria então agora que iriam considerar-me vosso inimigo pelo facto de vos dizer a verdade? Podem ter a certeza que essa gente que anda a fazer tudo para ganhar a vossa simpatia não está a agir para o vosso bem. No fundo, o que pretendem é fazer com que se afastem de mim e que o vosso zelo se concentre neles enquanto pessoas. Na verdade, é bom serem zelosos em fazer o bem, especialmente quando eu não estou presente. Eu estou a sofrer de novo por vossa causa, meus filhos, como uma mãe que espera o seu filho que vai nascer; pois desejo ardentemente que Cristo viva na vossa vida. Bem que gostaria de estar agora junto de vocês e aí saberia encontrar a melhor maneira de vos falar. Porque na verdade eu nem sei o que pensar a vosso respeito. Digam-me, os que insistem em submeter-se à obediência à Lei judaica: não compreendem o seu verdadeiro significado? Diz lá que Abraão teve dois filhos: um da escrava e outro de sua mulher que era livre. Mas houve uma diferença entre o nascimento do filho desta última e o da escrava: o filho da mulher escrava nasceu duma tentativa humana de fazer cumprir a promessa de Deus. Mas o filho da mulher livre nasceu em cumprimento do propósito de Deus, da sua promessa. Ora estas duas mulheres representam duas alianças. Uma é a do monte Sinai, o tipo de aliança feita com Agar, que dá à luz filhos para a escravidão. Ora, Agar é o monte Sinai na Arábia e representa a Jerusalém existente agora, pois tanto ela como os seus filhos vivem na escravidão. Mas Sara, a mulher livre, representa a Jerusalém celestial. Ela é a nossa mãe. Isto é o que Isaías escreveu: “Alegra-te tu, mulher que não tiveste filhos. Expande a tua alegria com cânticos, tu que não estás de parto! Porque tu que foste abandonada terás mais filhos do que a que tem marido.” Pois vocês, irmãos, são esses filhos prometidos por Deus, tal como Isaque. E tal como acontecia naquele tempo, em que o filho nascido segundo a ordem natural perseguia aquele que veio ao mundo segundo o Espírito de Deus, assim é também agora. Mas que diz a Escritura? “Manda embora essa escrava e o seu filho, pois este não será herdeiro juntamente com o filho da mulher livre!” Portanto, meus irmãos, nós não somos filhos da escrava, mas da mulher livre. Procurem então, com firmeza, permanecer livres, beneficiando da liberdade com que Cristo nos libertou, e não se deixem prender de novo a cadeias de sujeição. Eu, Paulo, solenemente vos declaro que, se confiarem na circuncisão para serem aceites por Deus, o que Cristo fez de nada vos pode valer. E insisto também no seguinte: quando alguém se sujeita a esse rito, fica automaticamente obrigado a obedecer a toda a Lei. E se confiam no vosso cumprimento da Lei para terem uma relação justa com Deus, então excluem-se a si mesmos do benefício da sua graça. Mas nós é por meio da fé, e através do poder do Espírito Santo, que contamos tornar-nos justos diante de Deus. Para nós, que recebemos Jesus Cristo, não faz diferença para Deus estar circuncidado ou não. O que importa é a fé que se traduz por atos realizados com o amor de Deus. Vocês estavam a correr bem. Quem é que vos tem impedido de obedecer à verdade? Essa influência não vem de Deus que foi quem vos chamou à liberdade. E um pouco de fermento é o suficiente para levedar toda a massa. Mas estou convencido de que, com a ajuda do Senhor, vão compreender as coisas da forma correta. E seja quem for que vos está a perturbar, certamente que não há de escapar à condenação. Meus irmãos, se ainda estivesse a pregar que nos devíamos circuncidar, como alguns dizem que eu faço, porque é que os judeus me perseguem? O facto de continuar a ser perseguido prova que ainda estou a pregar a salvação somente através da cruz de Cristo. Oxalá aqueles que vos andam a incomodar fossem castrados! Sim, meus irmãos, vocês foram chamados por Deus para viverem na liberdade. Não deixem então que essa liberdade seja um pretexto para que a vossa natureza carnal vos leve à prática do mal; antes pelo contrário, que ela vos incite a trabalhar, por amor, em favor dos outros. Porque afinal toda a Lei se resume num só mandamento: “Ama o teu próximo como a ti mesmo.” Mas, se pelo contrário, se andam a criticar e a insultar, tenham cuidado, porque dessa maneira podem chegar a destruir totalmente a vida espiritual uns dos outros. Eis o conselho que vos dou: andem debaixo da direção do Espírito e, dessa forma, não darão satisfação aos apelos da vossa natureza pecaminosa. Porque a nossa natureza humana é oposta à vida do Espírito e vice-versa; o Espírito opõe-se à nossa natureza pecaminosa. Estas duas forças estão a lutar uma contra a outra e, por isso, não fazemos o que gostaríamos. Mas se nos deixarmos guiar pelo Espírito, já não estamos sujeitados à Lei. Porque os resultados de uma vida que se entrega à sua natureza pecaminosa são bem conhecidos: a imoralidade sexual e a sensualidade, a ânsia insaciável de prazeres carnais; também o culto a ídolos, a prática de bruxarias; inimizades, disputas, invejas, irritações, ambições egoístas, sectarismos, falsas doutrinas; críticas e ódios que trazem a morte e o assassínio, bebedeiras e glutonarias, e outras coisas semelhantes, sobre as quais já vos disse, e repito, que os que as praticam e se entregam a elas nunca poderão herdar o reino de Deus. Mas o fruto que o Espírito produz em nós é: o amor, a alegria, a paz, a paciência, a bondade, a delicadeza no trato com os outros, a fidelidade, a brandura, o domínio de si próprio. Para aqueles que vivem desta maneira, a Lei nem sequer tem necessidade de existir. A razão é que os que pertencem a Cristo crucificaram com ele a sua velha natureza pecaminosa com as suas paixões e maus instintos. Portanto, se realmente vivemos sob a ação do Espírito, sigamos fielmente as suas indicações, a sua inspiração. Não sejamos egoístas, nem nos irritemos uns aos outros, nem tenhamos inveja uns dos outros. Meus irmãos, se alguém vier a cometer pecado, aqueles de entre vocês que possuem uma mente espiritual procurem encaminhá-lo com bondade; e sem qualquer sentimento de superioridade, pois cada um de nós está sujeito a ser tentado. Partilhem uns com os outros o peso das vossas dificuldades e assim cumprirão o mandamento de Cristo. Se alguém se julga importante demais para ajudar a levar os fardos dos outros, está a iludir-se a si próprio. Que cada um verifique a sua própria conduta; e se houver razão para estar satisfeito, guarde esse sentimento para si, sem se comparar com os outros. Cada um terá de suportar as suas próprias responsabilidades. Aqueles que recebem instrução sobre a palavra de Deus devem repartir os seus recursos com aqueles que os instruem. Não se iludam: Deus não se deixa enganar! Toda a gente virá a ceifar aquilo que tiver semeado. Os que semeiam atos que resultam apenas de desejos e ambições humanas, virão a ceifar a corrupção. Mas os que semeiam coisas do domínio do Espírito, receberão do Espírito a vida eterna. Não nos cansemos então de fazer o bem, porque a seu tempo viremos a recolher muitas bênçãos, se formos perseverantes. E assim, sempre que tenhamos oportunidade, pratiquemos o bem para com todos, mas primeiramente para com os que têm a mesma fé que nós. Estas palavras sou eu próprio agora que as escrevo com estas grandes letras. Repito: esses que querem obrigar-vos a cumprir a circuncisão, fazem-no só por uma razão. Eles não querem ser perseguidos por ensinarem que só a cruz de Cristo pode salvar. Pois a verdade é que nem esses que se circuncidam conseguem guardar a Lei. Pretendem marcar-vos, no vosso corpo, com um sinal de que são seus discípulos. Quanto a mim, bem longe esteja a ideia de ter satisfação noutra coisa que não seja a cruz do nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual eu morri para o mundo e o mundo deixou de ter qualquer valor para mim. Em Cristo, mais uma vez o digo, não interessa estar ou não circuncidado; o que conta é ser uma nova criatura. A todos os que andarem segundo esta regra de vida, que Deus lhes conceda a sua paz e misericórdia, bem como ao Israel de Deus. Peço-vos então que, daqui para o futuro, não tenha mais que me incomodar com dificuldades semelhantes a estas. Lembrem-se que trago no meu corpo as marcas daquilo que tenho sofrido pela causa de Jesus. Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre com o vosso espírito, meus irmãos. Amém! Eu, Paulo, escolhido pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, escrevo esta carta aos santos em Éfeso, os que são fiéis a Jesus Cristo. Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo vos deem graça e paz. Louvor seja dado a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nos encheu de todas as bênçãos nos lugares celestiais, a nós que vivemos em comunhão espiritual com Cristo. Antes de ter criado o mundo, Deus escolheu-nos para lhe pertencermos e passarmos a viver de uma forma santa e irrepreensível, em amor. No seu plano, propôs-se tornar-nos seus filhos. É por isso que lhe dirigimos louvor e honra pela sua graça para connosco, através da pessoa do seu amado Filho. Tão rica é a generosidade da sua graça, que ele pagou a nossa redenção, através do sangue do seu Filho, e as nossas transgressões foram perdoadas. Graça essa que se traduziu abundantemente nas nossas vidas em sabedoria e compreensão; tornando assim possível termos conhecimento do plano que Deus tinha arquitetado a favor da humanidade, mas que mantivera por revelar até ao momento por ele determinado. E o objetivo final desse plano é, quando chegar o tempo oportuno disso acontecer, juntar sob o governo de Cristo todas as coisas, no céu e na Terra. Através de Cristo nós recebemos a herança de Deus e fomos escolhidos para lhe pertencermos, segundo a resolução por ele previamente estabelecida. O propósito de Deus, para o qual fomos destinados, é celebrarmos a sua grandeza, nós os que primeiro esperámos em Cristo. E vocês igualmente, depois de terem ouvido a mensagem da verdade, as boas novas da vossa salvação, e tendo crido em Cristo, foram selados com o Espírito Santo, já anteriormente prometido. A presença do Espírito em nós é a prova de que Deus nos dará a herança que nos prometeu, para nos redimir como uma aquisição muito sua, para louvarmos a glória de Deus. Pelo que, ouvindo falar da vossa fé no Senhor Jesus e do vosso amor por todos os irmãos crentes, não me canso de agradecer a Deus por vocês. E nas minhas orações peço-lhe, a ele que é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual possui toda a glória do céu, que através do conhecimento cada vez mais profundo de si mesmo vos dê sabedoria para poderem claramente compreender o que Deus vos revela. E que os vossos entendimentos sejam iluminados para poderem ter uma ideia nítida dessa esperança para a qual vos chamou, e para perceberem a extensão gloriosa de tudo aquilo que está reservado para aqueles que são seus santos filhos. E, mais ainda, para se darem conta do ilimitado poder que dispõe a nosso favor, nós os que cremos em resultado da ação dessa força divina que nos transformou. Esse poder grandioso foi também o que ressuscitou a Cristo, levantando-o dentre os mortos e colocando-o à direita de Deus nos domínios celestiais e acima de todo e qualquer chefe e autoridade, acima de todo o poder e governo que possa existir. O nome de Jesus ultrapassa em autoridade não só todos os que dominam neste mundo atual, como no mundo que há de vir. Deus colocou tudo o que existe no universo sob a autoridade de Cristo, e fez dele a cabeça de todas as coisas, para benefício da igreja, a qual é o seu corpo; é ele que a enche com a sua presença, como também enche todas as coisas em todo o lugar. Vocês estavam mortos por causa das vossas transgressões e dos vossos pecados. Essa era a vossa conduta na vida, antigamente, seguindo as correntes do mundo à vossa volta, e seguindo até aquele que é líder da autoridade dos ares, do espírito que atua, ainda hoje, naqueles que recusam sujeitar-se a Deus. E nós também éramos como eles, vivendo apenas segundo os desejos da nossa natureza pecaminosa, os impulsos primários dos nossos sentidos e dos nossos pensamentos. Éramos, por natureza, objeto da severa justiça de Deus, tal como o resto da humanidade. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, em consequência do seu sublime amor por nós, e estando nós ainda mortos devido às transgressões, deu-nos uma vida nova ao ressuscitar Cristo da morte. Foi somente pela graça de Deus que fomos salvos. Nós ressuscitámos com Cristo e foi-nos concedido, por isso, o direito de pertença espiritual, pela fé, aos domínios celestiais em que Cristo habita. A fim de que, para sempre, todos constatem como é rica e generosa essa sua graça, que Deus revelou em tudo o que fez por nós através de Jesus Cristo. Porque pela sua graça é que somos salvos, por meio da fé que temos em Cristo. Portanto, a salvação não é algo que se possa adquirir pelos nossos próprios meios: é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pelas nossas boas obras. Ninguém pode reclamar mérito algum nisso. Somos a obra-prima de Deus. Ele criou-nos de novo em Cristo Jesus, para que possamos realizar todas as boas obras que planeou para nós. Não se esqueçam de que antigamente vocês, gentios por nascimento, eram estrangeiros e chamados incircuncisos pelos judeus, que se orgulhavam na sua circuncisão, apesar dela somente afetar os seus corpos e não os seus corações. Vocês, com efeito, viviam nesse tempo sem Cristo, privados da cidadania com Israel, nem das promessas das alianças que Deus fizera. Viviam sem Deus e sem esperança neste mundo. Mas agora pertencem a Jesus. Embora tivessem estado afastados de Deus, foram agora trazidos para junto dele, por causa do sangue de Cristo. Porque Cristo fez a paz entre nós, os judeus, e vocês, os gentios, tornando-nos um só povo. Ao derrubar o muro de separação que nos opunha, Cristo, pela sua morte física, aboliu o sistema inteiro da Lei judaica que excluía os gentios. Ele recriou uma nova humanidade, trazendo a paz. Na cruz, Cristo igualmente reconciliou as duas partes, não só com Deus, mas também ambas entre si. E assim na cruz desapareceu a inimizade que entre elas havia. Foram estas as boas novas que Cristo veio anunciar: a paz, tanto aos que viviam longe como aos que viviam perto. Com efeito, por ele, tanto uns como outros temos agora pleno direito de acesso ao Pai, através de um mesmo Espírito. E assim vocês, gentios, já não são mais estranhos, mas membros da família de Deus, concidadãos do próprio povo de Deus; esse povo que é como um edifício construído sobre o alicerce dos profetas e dos apóstolos, e do qual Jesus Cristo é a pedra principal de esquina, pela qual todo o edifício se alinha. Em Cristo essa construção cresce, porque cada pedra se adapta perfeitamente ao conjunto, a fim de se tornar um templo consagrado ao Senhor. Vocês estão também integrados nesse conjunto, para formarem a morada onde Deus habita pelo seu Espírito. É por anunciar aos gentios a mensagem de Jesus Cristo que me encontro atualmente na prisão. Já devem saber que Deus me entregou esta missão especial de mostrar a sua graça para convosco. E como mencionei nesta carta, o próprio Deus me revelou o seu plano secreto. Podem assim perceber a razão do meu conhecimento particular de todas estas coisas referentes a Cristo e que eram como que um mistério, em tempos passados, para toda a gente, mas que Deus desvendou agora aos seus apóstolos e profetas. Esse mistério é o seguinte: que os não-judeus têm participação igual aos judeus na herança dos filhos de Deus, e que são membros de um mesmo corpo, usufruindo das promessas em Jesus Cristo que passaram também a dizer-lhes respeito, ao aceitarem o evangelho. Essas foram as boas novas de cujo anúncio Deus me pôs ao serviço, segundo o privilégio que a sua graça me concedeu, para o que me deu a capacidade pela ação do seu poder em mim. Eu, contudo, que sou o mais insignificante de todos os santos, recebi este favor de Deus de anunciar aos gentios as riquezas de Cristo, que o espírito humano nunca poderá compreender no seu inteiro e profundo significado. Fui assim encarregado de desvendar esse mistério de Deus, que se encontrava por revelar, desde que ele criara todas as coisas. Presentemente, através da igreja, os governos e autoridades espirituais que estão nos domínios celestiais podem conhecer a infinita e variada sabedoria de Deus, segundo o plano que ele concebeu desde a eternidade, e que Cristo Jesus, nosso Senhor, veio realizar. A fé e a confiança que temos em Cristo permitem-nos aproximarmo-nos de Deus com toda a ousadia e entrar na sua presença com toda a liberdade. Por isso, não se deixem desencorajar com todos estes sofrimentos por que estou a passar. Tudo isto é afinal em vosso benefício; devem até sentir-se honrados por isso. Quando penso na grandeza e na importância deste plano, não posso deixar de me ajoelhar perante o Pai, e de adorar esse que é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e Pai também de toda a grande família de Deus, tanto no céu, como em baixo na Terra. E o pedido que lhe faço é que, segundo os seus recursos gloriosos, vos fortaleça poderosamente no vosso interior pelo seu Espírito; e que Cristo, devido à vossa fé nele, habite cada vez mais nos vossos corações. E então, bem estabelecidos e enraizados no amor de Deus, poderão, em comunhão com todos os outros crentes, compreender com clareza o significado do amor de Cristo para convosco, em toda a sua dimensão: extensão, profundidade, vastidão e altura. Que possam experimentar esse amor, ainda que ultrapasse toda a compreensão. E assim ficarão cheios de toda a plenitude da presença de Deus. Àquele que, pelo poder que atua em nós, é capaz de tudo realizar muito para além do que pedimos ou pensamos, a ele seja dada glória na igreja, e em Cristo Jesus, através de todas as gerações, para todo o sempre! Amém! Suplico-vos pois, eu que sou prisioneiro por causa do meu serviço ao Senhor, que se conduzam de uma maneira digna da chamada que receberam de Deus. Comportem-se com toda a humildade, delicadeza e paciência uns com os outros, numa base de amor. Procurem conservar entre vocês a unidade que o Espírito Santo produziu com laços de paz. Somos todos um só corpo e temos todos o mesmo Espírito e fomos todos chamados para uma mesma esperança. Existe um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Temos um só Deus, que é Pai de todos nós, que está acima de todos e que vive em nós e através de nós. Contudo, ele concedeu a cada um de nós um dom especial de acordo com a generosidade de Cristo. É o que dizem as Escrituras: “Tendo subido ao céu, levou consigo os que estavam cativos, e deu dons aos homens.” Ora quando diz que ele subiu, significa que antes desceu das alturas até às profundidades da Terra. Mas aquele que desceu também subiu às partes celestiais para encher o universo com a sua presença. Foi ele quem deu estes dons à igreja: os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores e os ensinadores. A responsabilidade deles é o aperfeiçoamento dos crentes para fazerem o trabalho de Deus e edificar a igreja, o corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade na fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, atingindo a maturidade completa conforme o modelo da pessoa de Cristo! Então não seremos mais como crianças instáveis, variando com facilidade de ideias e de sentimentos, influenciados pelos ventos de doutrinas várias que nos empurram ora para um lado ora para o outro, ao sabor de pessoas sem escrúpulos que astuciosamente procuram arrastar as almas para o erro. Em vez disso, seguindo a verdade em amor, possamos crescer em todos os aspetos da nossa vida, segundo Cristo, que é a cabeça da igreja. Sob a sua orientação, o corpo inteiro é perfeitamente ligado entre si. À medida que cada parte faz o seu trabalho específico, isso ajudará as outras partes a crescer, para que todo o corpo seja saudável e edificado em amor. Por isso, quero avisar-vos, em nome do Senhor, que não andem mais como os gentios que deambulam em pensamentos ilusórios. Os seus entendimentos estão obscurecidos; a sua ignorância das coisas espirituais e a sua insensibilidade à voz divina afastou-os da vida de Deus. Tendo feito calar a voz das suas consciências, entregaram-se a tudo o que é imoralidade, procurando com avidez satisfazer os seus desejos corruptos. Mas esse não é o caminho que Cristo vos ensinou! Se prestaram ouvidos à sua voz, sabem bem como em Jesus está a verdade, e foi nela que foram instruídos. Vocês foram ensinados, relativamente à forma de vida que levavam anteriormente, que se devem desfazer dessa velha natureza que vai apodrecendo na sua própria imoralidade, nas suas ilusões. E que o vosso entendimento se deve renovar nas atitudes a tomar na vida. Devem revestir-se do novo homem que é criado por Deus e que se manifesta na verdadeira justiça e na santidade. Por isso, deixem a mentira e falem verdade uns com os outros, porque somos membros de um só corpo. Não pequem, deixando que a ira vos domine. Antes que o dia acabe, coloquem um fim à vossa irritação. Não deem ocasião para que o Diabo encontre meio de vos fazer cair. Aquele que roubava ou explorava fraudulentamente pare com isso de uma vez. Trabalhe e ganhe a vida pelos seus próprios meios, honestamente, de forma até a poder ajudar outros menos favorecidos. Não saia da vossa boca nenhuma palavra suja; que tudo o que for dito sirva de ajuda e encorajamento para aqueles que vos ouvem. Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, o qual vos marcou com um selo, como garantia da vossa redenção. Façam desaparecer do vosso meio todo o mau humor, assim como a cólera, a ira, as discussões, tal como as injúrias e as revoltas rancorosas. Em vez disso, sejam amáveis e compassivos uns para com os outros, perdoando-vos mutuamente, como Cristo também vos perdoou. Portanto, como filhos amados por Deus, imitem-no. Andem no amor de Deus, esse amor com que Cristo nos amou e pelo qual se entregou em vosso lugar, num sacrifício cujo perfume subiu agradavelmente até à presença de Deus. Que ninguém tenha de vos acusar seja de imoralidade sexual, de impureza ou ganância; que nem sequer essas coisas se tornem assunto de conversa no vosso meio, como é próprio de santos que vocês são. O mesmo em relação a historietas picantes, anedotas de sentido equívoco e troca de parvoíces: nada disso convém a crentes. Pelo contrário, possam sempre expressar a vossa gratidão em relação ao Senhor. Sabem bem que nunca terá parte no reino de Cristo e de Deus alguém que viva na imoralidade sexual ou na impureza, ou que seja dominado pela avareza, que é uma forma de idolatria. Não se deixem enganar com argumentos habilidosos; é por coisas como essas que a justiça de Deus se exerce severamente sobre todos os que lhe desobedecem. Portanto, com tais pessoas evitem associar-se. Se é verdade que antes eram trevas, agora, contudo, são luz do Senhor. Andem então como filhos da luz! E a vossa vida produzirá frutos espirituais consistindo em bondade, justiça e verdade. Vivam de forma agradável ao Senhor. Não participem em nada que diga respeito às coisas corruptas das trevas; antes pelo contrário, devem denunciá-las. Porque o que nesse domínio se faz, sem que se saiba, até o dizê-lo se torna indecente. Mas tudo isso, quando é trazido para a luz e denunciado publicamente, mostra o verdadeiro carácter. Porque a luz revela a real natureza de todas as coisas. Por isso, se diz: “Desperta, tu que dormes, e levanta-te do meio dos que estão como mortos; e Cristo te iluminará.” Cuidado pois como é que se conduzem: não como gente insensata, antes como pessoas espiritualmente esclarecidas, num mundo que é dominado pelas forças do mal; por isso, devem aproveitar melhor o tempo. Fujam, portanto, de uma conduta irresponsável; procurem compreender a vontade do Senhor. O excesso de bebidas alcoólicas produz a embriaguez e conduz à ruína. Pelo contrário, encham-se do Espírito Santo. Que a vossa devoção se exprima através de salmos, hinos e cânticos espirituais, pelos quais louvem o Senhor com o coração. E sempre, por todas as coisas, deem graças a Deus, o Pai, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Respeitem-se uns aos outros, porque assim estarão a respeitar Cristo. Da mesma forma, também vocês, esposas, devem sujeitar-se aos vossos maridos, como fazem em relação ao Senhor. Porque o marido é responsável pela sua mulher, tal como Cristo é a cabeça da igreja, ao mesmo tempo que também é o seu Salvador. Assim como a igreja se sujeita voluntariamente a Cristo, assim devem as mulheres sujeitar-se em tudo aos seus maridos. E vocês, maridos, amem as vossas mulheres da mesma forma que Cristo amou a igreja e deu a sua vida por ela, para a tornar santa e pura, pela ação da sua palavra que, como água, a lava, a fim de poder trazê-la para junto de si, sem uma nódoa, sem uma ruga, sem qualquer defeito, mas irrepreensível, santa, gloriosa. É assim que os maridos devem amar as suas esposas, como uma parte do seu próprio corpo, como a si próprios. Ninguém despreza o seu próprio corpo, antes o alimenta e cuida dele. E é isso que Cristo faz com a igreja, o seu corpo, de que fazemos parte integrante. Por isso, as próprias Escrituras afirmam: “O homem deve deixar o pai e a sua mãe, para se unir com a sua mulher, e serão os dois como um só.” Sem dúvida, há aqui algo de muito profundo com referência à relação entre Cristo e a igreja. Ora, torno a dizer: o marido deve amar a sua mulher como a si mesmo e a esposa deve respeitar o marido. Vocês, filhos, porque são do Senhor, obedeçam aos vossos pais, pois essa é a atitude correta. “Honra o teu pai e a tua mãe.” Dos dez mandamentos de Deus este é o primeiro que tem uma promessa: “Para que tenhas uma longa vida na Terra.” Vocês, os pais, não exasperem os vossos filhos. Antes eduquem-nos seguindo os conselhos e a doutrina do Senhor. E vocês, escravos, obedeçam aos vossos senhores aqui na Terra, executando conscienciosamente as vossas tarefas, com respeito e temor, como se fosse para Cristo. Trabalhem bem; não o façam só para agradar aos patrões, quando estes vos estão a ver, mas antes como trabalhando para Cristo e como quem está a executar de coração a vontade de Deus; sabendo também que cada um receberá do Senhor a recompensa por todo o bem que fizer, quer se trate de escravo ou livre. Quanto a vocês, os patrões, façam a mesma coisa, segundo o mesmo princípio, sem abusar da vossa autoridade, pois lembrem-se de que Deus no céu é Senhor tanto deles como vosso, e que não faz distinção entre pessoas. Por último, quero recomendar-vos que procurem fortalecer-se através da comunhão com o Senhor e com a energia do seu poder. Estejam equipados com todas as armas de Deus para que possam permanecer firmes sem cair nas astutas ciladas do Diabo. Pois na verdade o nosso combate não é contra seres humanos, mas sim contra governos e autoridades, contra ditaduras que atuam nas trevas, contra verdadeiros exércitos de espíritos do mal nos domínios celestiais. Por isso, utilizem todas as armas de Deus para que possam resistir, no dia em que algo de maligno vier à vossa vida, e para que depois de terem vencido tudo continuem firmes. Mantenham-se pois firmes, cingidos com o cinturão da verdade e protegidos com o colete da justiça de Deus. Que os vossos pés estejam firmados no solo do evangelho da paz. Tenham sobretudo a fé, pois é um escudo que vos protege contra as flechas incendiárias disparadas pelo Maligno sobre as vossas vidas. Também vos é necessário o capacete da salvação, assim como a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orem a Deus com toda a perseverança, em toda a ocasião, de acordo com o Espírito Santo. Sejam vigilantes no emprego persistente desta arma da oração, apresentando também a Deus as necessidades dos outros crentes. O mesmo peço que façam por mim, para que Deus, quando falo em seu nome, me dê a possibilidade de o fazer ousadamente, a fim de tornar claro o sentido mais profundo do evangelho. E é por pregar esta mensagem, pela qual sou como um embaixador, que me encontro aqui nesta prisão. Mas peçam a Deus que eu possa continuar a falar corajosamente, pois convém que ela seja conhecida. Tíquico, nosso querido irmão na fé e fiel companheiro no serviço do Senhor, vos porá ao corrente da minha situação, da minha saúde, dos meus projetos. Ele vai aí para que saibam como nós vamos, para vos dar notícias e assim fiquem mais animados. Que a paz de Deus habite no vosso meio, assim como o amor cristão e a fé comunicada por Deus Pai e pelo Senhor Jesus Cristo. Que a graça do Senhor esteja com aqueles que amam o nosso Senhor Jesus Cristo perseverantemente. Amém! Paulo e Timóteo, ao serviço de Jesus Cristo, saúdam todos os santos na cidade de Filipos, cujas vidas estão unidas a Cristo Jesus. Saúdam também os líderes e os diáconos. Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo vos deem graça e paz. Sempre que penso em vocês, louvo e expresso a Deus o meu reconhecimento pelas boas recordações que me deixaram. E quando faço oração, é com alegria que sempre vos menciono, por causa da vossa participação ativa na difusão do evangelho, desde o primeiro dia até agora. E tenho a certeza de que Deus, que começou essa boa obra na vossa vida, vai completá-la até ao momento em que Jesus Cristo voltar. E é justo que sinta isto a vosso respeito, porque têm um lugar muito especial no meu coração: participámos juntos das bênçãos de Deus, tanto quando estava na prisão como em liberdade, defendendo a verdade e proclamando o evangelho. Deus sabe como sinto saudades de todos, no verdadeiro amor de Cristo Jesus. E peço a Deus que o vosso amor cristão aumente cada vez mais e se enriqueça de conhecimento e compreensão. Pois assim saberão dar o verdadeiro valor às coisas essenciais e a vossa conduta será marcada pela sinceridade, de forma a que nunca haja razão de censura, até ao dia em que Jesus há de voltar. E a vossa atividade dará frutos de justiça, os quais são produzidos por Jesus Cristo, do que resultará honra e louvores a Deus. Gostava que ficassem a saber, meus irmãos, que tudo o que me tem acontecido serviu para uma maior divulgação do evangelho, de tal maneira que todos os guardas da prisão, e muitos outros, sabem a verdadeira razão por que estou preso. E até muitos cristãos, por causa disso, têm sido encorajados no seu testemunho e falam com mais ousadia aos outros sobre a palavra de Deus. É verdade que alguns pregam a Cristo só para se porem em pé de igualdade comigo. Contudo, muitos outros fazem-no com boas intenções. Estes fazem-no por amor, sabendo que fui aqui posto para defender o evangelho. Outros, contudo, falam de Cristo, mas num espírito de disputa e sem sinceridade, pensando até com isso aumentar as aflições do meu cárcere. Mas isso que importa? Desde que Cristo se torne conhecido, seja de que maneira for, com segundos intentos ou com honestidade, fico e sempre hei de ficar satisfeito. Porque sei que disto virá a resultar a minha libertação, com a ajuda das vossas orações e com o socorro do Espírito de Jesus Cristo. É que eu vivo numa intensa expectativa e esperança, e sei que em nada ficarei dececionado, antes pelo contrário, de acordo com a confiança que sinto, Cristo será honrado pela minha pessoa, agora como sempre, continue eu com vida ou venha a ser executado. Porque Cristo é a única razão da minha existência e a morte representa para mim um ganho! E se o viver me der oportunidades de obter frutos do meu trabalho, então nem sei o que é melhor. As duas coisas me atraem: por um lado, desejo partir e estar com Cristo, isto ainda seria o melhor. Por outro, é necessário que eu fique para poder ajudar-vos. E é isso que me leva a pensar que não morrerei já; que ainda viverei aqui na Terra mais algum tempo, para ajudar-vos a crescer espiritualmente e a experimentar a alegria da vossa fé. E para que, quando puder ir visitar-vos, a vossa alegria em Jesus Cristo abunde por aquilo que ele fez por mim. Contudo, devem conduzir-se sempre conforme o evangelho de Cristo. E, quer possa ou não ir visitar-vos, que aquilo que se diz a vosso respeito seja que continuam unidos espiritualmente, combatendo juntos num mesmo propósito de espalhar a fé que nos vem pelo evangelho de Cristo. Não tenham receio dos que resistem: esse é o sinal de que caminham para a perdição; mas para vocês é a indicação de que da parte de Deus vos é concedida a salvação. Porque vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele! Estamos, vocês e eu, empenhados no mesmo combate; combate que me viram sustentar no passado e que, como sabem, continuo a travar. Portanto, se é realmente precioso o consolo que podemos obter em Cristo, se me transmite coragem a sincera afeição que vos tenho, se significa alguma coisa a comunhão espiritual que existe entre nós, através do Espírito de Deus, assim como aquele afeto que se estabelece entre crentes com a mesma fé, então que tudo isto, que já me faz tão feliz, seja como que completado pela existência de uma relação perfeita, amando-vos uns aos outros, num sentimento igualmente sincero, concordando nos mesmos propósitos. Não façam nada motivados por despique, nem por interesses pessoais, mas sejam humildes: que cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não pensem unicamente nos vossos interesses, mas procurem também aquilo que interessa aos outros. Que haja em vocês a mesma atitude que houve em Cristo Jesus. Sendo por natureza Deus, no entanto, não reivindicou para si o ser igual a Deus, mas desfez-se das suas regalias próprias, assumindo a forma de um escravo e a semelhança humana. E, encontrando-se nessa condição, humilhou-se a ponto de se sujeitar voluntariamente à morte; não a uma morte vulgar, mas à morte da cruz. Por isso mesmo, Deus o elevou às posições mais altas e lhe deu um nome que é superior a todos os nomes, de tal forma que, em honra desse nome, virão a ajoelhar-se todas as criaturas tanto no céu, como na Terra, como ainda debaixo da Terra. E todos, igualmente, reconhecerão que Jesus Cristo é Senhor, o que será mais uma glória para Deus, o Pai! Queridos irmãos, sempre seguiram cuidadosamente as minhas instruções, quando me encontrava no vosso meio. E agora, que estou ausente, devem ainda com maior cuidado desenvolver nas vossas vidas a salvação de Deus, obedecendo-lhe com profunda reverência e temor. Porque é Deus quem trabalha em vocês, dando-vos o desejo de lhe obedecer e o poder de fazer o que lhe agrada. Em tudo o que fizerem, evitem as queixas constantes, assim como os conflitos, para que ninguém tenha nada a censurar-vos. Vivam vidas puras e sinceras como filhos de Deus, embora vivam no meio de uma humanidade corrompida e perversa, mas na qual resplandecem como os astros no firmamento. Atenham-se à palavra da vida. Então, quando Cristo voltar, grande será a minha satisfação, verificando que não foi em vão o meu esforço, o meu trabalho no vosso meio. E ainda que o meu sangue deva ser derramado, como fazendo parte do mesmo sacrifício a Deus que constitui o serviço da vossa fé, sinto-me feliz e quero compartilhar convosco a minha alegria. Alegrem-se também comigo e participem da minha felicidade! Espero, se for da vontade do Senhor Jesus, em breve poder enviar-vos Timóteo, para que, dando-me notícias vossas, isso me encoraje. Porque não tenho aqui mais ninguém que tenha, como ele, um real interesse por vocês. Pois em geral todos buscam os seus próprios interesses e não os de Cristo. Quanto a Timóteo, conhecem-no bem e como tem colaborado comigo ao serviço do evangelho, com a dedicação de um filho para com o seu pai. Espero poder enviá-lo logo que saiba melhor o que me vai acontecer aqui. E confio no Senhor que também eu mesmo em breve irei ter convosco. Para já, julguei necessário mandar-vos de volta o irmão Epafrodito, cooperador e companheiro nas lutas, comissionado por vós para suprir as minhas necessidades. Ele sentia muitas saudades vossas. Também estava muito preocupado que tivessem ouvido que ele adoecera. E de facto esteve mal, quase à morte, mas Deus teve misericórdia dele. E não só dele, mas também de mim, para que não fosse sobrecarregado com desgostos. Por isso, apresso-me a enviá-lo, para que ao vê-lo de novo se sintam felizes, o que certamente irá diminuir as minhas preocupações. Recebam-no, pois, com regozijo cristão. Tenham em grande estima pessoas como ele, pois pela obra de Cristo chegou a estar bem próximo da morte. E se arriscou assim a vida, foi para fazer por mim aquilo que vos era impossível, por estarem longe. Haja pois o que houver, meus irmãos, tenham alegria no Senhor. É verdade que estou sempre a dizer-vos a mesma coisa, mas não me importo, pois isso representa uma segurança para vocês. Cuidado com os cães, cuidado com esses homens que fazem o mal, cuidado com os que querem obrigar-vos à mutilação da carne. Porque nós, que adoramos a Deus em Espírito, somos os únicos que são verdadeiramente circuncidados, confiando em Jesus Cristo, e não no que é meramente humano. Eu bem poderia confiar nas minhas qualificações pessoais; não me faltam vantagens humanas. Fui circuncidado ao oitavo dia. Pertenço ao povo de Israel pela linha de geração da tribo de Benjamim, portanto, dos hebreus cem por cento. Além disso fui, no tocante à Lei, fariseu. Quanto a zelo, bem o manifestei na perseguição que empreendi contra a igreja. Na minha vida pessoal fui irrepreensível na obediência à justiça da Lei. Contudo, tudo isso, que para mim era uma razão de orgulho, agora considero-o desperdício, devido ao que Cristo fez na minha vida. E vou até mais longe: nada há que se possa comparar com o valor imenso que representa o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele é que desprezei todas essas coisas e as considero como lixo, na certeza de ganhar Cristo. Não confio mais na minha justiça ou na minha capacidade para obedecer à Lei de Deus, antes confio em Cristo para minha salvação. Porque a maneira de Deus nos tornar justos diante dele depende da fé. Assim, eu posso realmente conhecer a Cristo e experimentar o grande poder que o ressuscitou da morte. Posso aprender o que significa sofrer com ele, participar da sua morte, para que, como quer que tal venha a acontecer, possa também experimentar a ressurreição. Bem sei que não sou perfeito que não cheguei ainda a essa meta. Mas prossigo na minha carreira, fazendo tudo o que é preciso até chegar a essa meta, pois foi para isso mesmo que Cristo me cativou. Repito, irmãos, não penso que tenha atingido esse alvo, mas uma só coisa me interessa, é que, esquecendo as dificuldades do passado, avanço para o fim que está proposto diante de mim. Prossigo assim para o alvo, tendo em vista a recompensa a receber no céu, por Cristo Jesus. Todos nós que já somos adultos na fé vamos concordar nestas coisas. E se num ponto ou noutro a vossa opinião for diferente, Deus vos manifestará a sua vontade. Contudo, em relação às convicções que nos são comuns, avancemos juntos. Peço-vos também, irmãos, que sejam meus imitadores e aprendam daqueles que conduzem as suas vidas de acordo com a nossa. Porque já vos disse e agora repito-o com lágrimas nos olhos: há muitos que se conduzem como inimigos da cruz de Cristo. O futuro deles é a perdição eterna. Têm por deus os seus próprios apetites. Têm orgulho naquilo de que deveriam até envergonhar-se. Todos os seus pensamentos giram à volta do que é terreno. Quanto a nós, a nossa pátria está no céu, donde esperamos que há de voltar o nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual, nessa altura, transformará os nossos fracos corpos mortais, para torná-los semelhantes ao seu próprio corpo glorioso. Ele tem o poder necessário para isso, devido à sua capacidade de sujeitar a si mesmo todas as coisas. Portanto, meus queridos irmãos em Cristo e meus amigos, vocês que são a minha alegria, vocês que são como uma recompensa do meu trabalho, peço-vos que se mantenham firmes no Senhor. Também quero suplicar, em particular, a Evódia e a Síntique, que procurem viver em boa harmonia no Senhor. Peço-te também a ti, meu fiel companheiro, que ajudes essas mulheres, pois trabalharam comigo pela causa do evangelho, assim como Clemente e outros meus colaboradores, cujos nomes estão escritos no livro da vida. Que a vossa alegria seja constante no Senhor! E mais uma vez vos digo: alegrem-se! Mostrem bondade em tudo o que fazem. Lembrem-se que o Senhor está perto. Não alimentem preocupações seja pelo que for, antes apresentem os vossos cuidados em oração e súplicas perante Deus. Exponham-lhe todas as vossas necessidades, sem esquecer de lhe expressar o vosso agradecimento. Então, a paz de Deus, que ultrapassa tudo o que a mente humana pode naturalmente compreender, conservará o vosso espírito e os vossos sentimentos em Cristo Jesus. Por fim, meus irmãos, deixem-me dizer-vos mais uma coisa. Concentrem os vossos pensamentos em tudo que é verdadeiro, em tudo o que é honesto, em tudo o que é justo, em tudo o que é puro, em tudo o que é amável e admirável; em tudo aquilo em que há virtude e verdadeiro valor. Em resumo, tudo o que aprenderam, receberam e ouviram de mim, tudo o que observaram na minha maneira de viver, ponham isso em prática. E o Deus de paz será convosco. Fiquei muito contente e muito grato ao Senhor por constatar que se lembraram de novo de mim. Sei bem que não me tinham esquecido, que foi só uma questão de não terem tido oportunidade de me enviar a vossa ajuda. Não digo isto porque tenha receio de me ver na pobreza. Já aprendi a contentar-me com o que tenho de momento. Sei o que é passar necessidades e sei também o que é ter em abundância. Aprendi já a viver em todas as circunstâncias: tanto na fartura como na fome; tanto no conforto como nas privações. Posso suportar todas as coisas com a ajuda de Cristo, que é a fonte da minha força. Contudo, fizeram bem em me terem ajudado nesta difícil situação. Aliás, vocês, filipenses, bem sabem que, quando parti da Macedónia e o vosso conhecimento do evangelho estava no princípio, nenhuma outra igreja se associou comigo quanto a dar ou a receber, senão somente a vossa. Mesmo quando estava em Tessalónica, enviaram-me mais do que uma vez aquilo que me era necessário. Não é que esteja a fazer apelo a donativos; procuro antes que produzam frutos que tornem maior a vossa recompensa. De momento tenho o que me é preciso; tenho mesmo mais do que o suficiente, desde que Epafrodito me trouxe o que me enviaram, e que é como que o perfume de um sacrifício que Deus aceita e que o satisfaz. E o mesmo Deus, que cuida de mim, satisfará todas as vossas necessidades, segundo as suas riquezas através de Cristo Jesus. Que ao nosso Deus e Pai seja dada a glória para todo o sempre. Amém. Saúdem todos os que pertencem a Cristo Jesus. Os crentes que aqui estão comigo também vos saúdam. Todos os cristãos aqui de Roma vos mandam saudações, principalmente os da casa de César. Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito! Eu, Paulo, escolhido por Deus como apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo. Dirigimo-nos aos santos em Colossos, irmãos fiéis em Cristo, desejando-lhes a graça e a paz de Deus nosso Pai. Sempre que oramos por vocês, exprimimos a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, a nossa gratidão. Pois temos sabido da vossa fé em Cristo Jesus e do vosso amor cristão para com todos os irmãos crentes, por causa da esperança que vos está reservado no céu. Essa esperança brotou depois que ouviram a mensagem de verdade do evangelho. A qual tem sido espalhada por todo o mundo, dando frutos, tal como aconteceu no vosso meio, desde que ouviram e conheceram o verdadeiro significado da graça de Deus. É o que vos pregou Epafras, nosso querido colaborador e um fiel diácono de Cristo. Ele contou-nos todo o amor que o Espírito vos tem inspirado. E por isso mesmo, nós também, desde o dia em que ouvimos falar a vosso respeito, pela primeira vez, não temos cessado de orar por vocês e de pedir que tenham um conhecimento cada vez mais completo da vontade de Deus, através de uma clara compreensão e sabedoria das coisas espirituais. A fim de que a vossa conduta seja digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, dando frutos, praticando toda a espécie de bons atos e crescendo no conhecimento de Deus. E sejam fortalecidos pelo seu poder glorioso, para poderem suportar tudo com paciência e alegria. E saibam agradecer ao Pai, que nos fez dignos de participar da herança que reserva aos crentes que vivem na sua luz. Porque foi Deus quem nos livrou do império das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho amado; o qual pagou para nós a redenção e o perdão dos pecados. Cristo é a imagem do Deus invisível. Ele existe antes de Deus ter criado todas as coisas e é a fonte de toda a criação. Na verdade, foi através dele que Deus criou tudo o que há nos céus e sobre a Terra; tudo o que se vê e o que não se vê; até os governantes, as autoridades, os que têm o poder e a força. Tudo foi estabelecido por Cristo e para Cristo. Antes que tudo tivesse sido criado, já ele tinha existência e todo o universo se mantém graças a ele. Cristo é a cabeça da igreja que é o seu corpo, e é o princípio, a fonte entre os mortos e, consequentemente, o primeiro em tudo e sobre todas as coisas! Porque Deus em toda a sua plenitude decidiu estar presente em Cristo. E por ele Deus reconciliou todas as coisas consigo mesmo. Cristo estabeleceu a paz com tudo que existe na Terra e no céu, por meio do seu sangue na cruz. Portanto, também estão incluídos nesta obra de reconciliação, vocês que antes eram estranhos, que até eram seus inimigos nos vossos pensamentos e nas vossas obras más. Contudo, agora Deus tornou-vos seus amigos, através da morte de Cristo. E agora podem apresentar-se santos perante Deus, sem culpa, irrepreensíveis, na condição de permanecerem firmemente estabelecidos nos fundamentos da fé, sem se afastarem da esperança que o evangelho fez nascer em vocês, o qual vos tem sido pregado, assim como a toda a gente em todo o mundo, e do qual eu, Paulo, me tornei diácono. E esta é a minha alegria: que esteja a sofrer por vossa causa. Estou assim a cumprir os sofrimentos que Cristo me disse para assumir pela causa do seu corpo, que é a igreja. É esta igreja que sirvo, segundo o encargo que Deus colocou sobre mim, para proclamar a sua mensagem plena aos gentios. Essa mensagem era o plano que esteve oculto desde sempre, através dos séculos, e que foi agora revelado aos crentes. Aos quais quis dar a conhecer toda a riqueza e a glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo ocupando todo o vosso ser, o que é já garantia total da vida eterna passada na glória de Deus, que é agora a nossa esperança. É pois Cristo que anunciamos, ensinando e aconselhando toda a gente, com toda a sabedoria, para que possamos trazer à presença de Deus todo o ser humano, tornado maduro em Cristo. Este é o meu trabalho e é também um combate que travo com a energia de Deus que atua em mim poderosamente. Quero que saibam como luto muito por vocês, os crentes de Laodiceia, e em geral por todos os que até nem me conhecem pessoalmente. O meu alvo é que estejam consolados, unidos no amor cristão e enriquecidos com uma compreensão perfeita desse tal plano de Deus agora descoberto, que é Cristo; em quem estão como que armazenados todos os tesouros da ciência e da sabedoria. E se digo isto é para que ninguém vos engane com palavras sedutoras. Porque ainda que esteja longe, contudo em espírito estou convosco, alegrando-me por constatar que estão a viver como devem e também pela firmeza da vossa fé em Cristo. Uma vez que receberam Jesus Cristo como vosso Senhor, procurem agora caminhar nele. Que as raízes do vosso ser se implantem em Cristo; que Cristo seja o alicerce sobre o qual a vossa vida é construída com solidez, através da fé nele, fiéis ao que vos foi ensinado e abundando em gratidão a Deus, por tudo o que ele tem feito. Tenham cuidado para que ninguém vos domine por meio de filosofias engenhosas e enganadoras, baseadas em tradições humanas e refletindo os princípios rudimentares deste mundo, mas que não corresponde à doutrina de Cristo. Com efeito, na própria pessoa de Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Portanto, estando em comunhão com Cristo, temos tudo através dele, que é a cabeça de todo o governo e autoridade. É em Cristo que participamos na verdadeira circuncisão que consiste, não num corte físico feito no corpo humano, mas na circuncisão de Cristo, que nos liberta da nossa natureza pecadora. Quando se batizaram, foram como que sepultados com Cristo e, pela fé no poder de Deus que o ressuscitou dos mortos, também renasceram. Estando mortos devido às transgressões e à incircuncisão da vossa natureza pecaminosa, Deus deu-vos uma nova vida juntamente com Cristo, perdoando-vos todos os pecados. O nosso cadastro, que nos servia de acusação, foi como que apagado, com todo o rol das nossas transgressões da Lei de Deus, e foi pregado na cruz. Ali forças e poderes foram despojados e denunciados perante o mundo inteiro. Cristo, por si mesmo, triunfou sobre eles. Portanto ninguém tem o direito de vos julgar quanto ao que comem ou bebem, nem quanto a comemorações de festas religiosas, ou cerimónias de luas novas ou de sábados. Todas essas coisas não são mais do que sombras dos benefícios que estavam por vir; mas o corpo é Cristo. Que ninguém vos domine sob pretexto de um falso culto de anjos e de formas exteriores de humildade, apoiando-se em visões que afinal nunca tiveram; é gente inchada pela sua própria esperteza; mas a verdade é que não estão ligados à cabeça, à qual todos estamos unidos como um corpo estruturado e mantido através dos seus ligamentos, o qual vai crescendo e se desenvolve segundo Deus lhe concede. Se já estão mortos com Cristo, porque vos carregam ainda de princípios rudimentares, mandamentos como se nada tivesse mudado em relação à velha maneira de viver? E continuam a subjugar-vos com regras como: “Não toques nisto, não comas disso, não uses aquilo!” Tudo isso não passa de meros preceitos e doutrinas humanas que perdem a validade com o tempo. Podem ter uma certa aparência de sabedoria, pela devoção, pela falsa humildade e pela severidade para com o corpo, mas não têm qualquer valor no domínio dos instintos carnais. Portanto, visto que já ressuscitaram com Cristo, busquem as coisas que são de cima, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Que as coisas celestiais encham o vosso pensamento e não as terrenas. Porque já morreram com Cristo e agora a vossa vida está escondida com ele em Deus. E quando Cristo, que é a nossa vida, vier de novo ao mundo, então participaremos da sua glória. Portanto, mortifiquem os impulsos da vossa natureza pecaminosa, tais como a imoralidade sexual, os pensamentos impuros, os apetites descontrolados, os maus desejos e a avareza, que é uma forma de idolatria. A severa justiça de Deus cairá sobre todos os que praticam tais coisas. E vocês antes eram desses, vivendo nesse mundo de coisas vis. Mas agora deixem tudo isso para trás: a ira, a cólera, a maldade, a crítica maldosa, o vocabulário indecente. E não mintam uns aos outros! Porque já se despiram da vida passada com tudo o que lhe era próprio. Agora estão revestidos duma nova vida que se vai renovando no conhecimento, segundo a imagem daquele que a criou. Nesta vida nova não conta o ser grego ou ser judeu; tão-pouco se faz discriminação entre os que são circuncidados e os que não são, bárbaros, citas, escravos ou livres. Mas, sim, que Cristo ocupe todo o lugar na vida de todos! Assim, como pessoas escolhidas e separadas para Deus que vos amou, revistam-se de profunda compaixão, amabilidade, humildade, delicadeza e paciência uns com os outros. Se um irmão tiver alguma razão de queixa contra outro, devem perdoar-se mutuamente, tal como também Cristo vos perdoou. E sobretudo deixem que toda a vossa vida seja dirigida pelo amor que é a força capaz de nos unir no caminho da perfeição. E que a paz de Cristo domine os vossos corações, pois foi para isso que foram chamados, a viver como membros de um só corpo. E que haja gratidão em vós. Que a palavra de Cristo habite permanentemente nas vossas vidas, enriquecendo os vossos espíritos de sabedoria, de forma a poderem comunicá-la uns aos outros, e a poderem aconselhar-se mutuamente, mesmo através de salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com alegria e com gratidão nos vossos corações. E tudo quanto fizerem ou disserem que seja como representantes do Senhor Jesus. É através dele que o vosso agradecimento é dado a Deus Pai. Esposas, sujeitem-se aos vossos maridos, como convém a mulheres que pertencem ao Senhor. Maridos, amem as vossas mulheres e não as tratem com dureza. Filhos, sejam obedientes aos vossos pais, porque assim darão alegria ao Senhor. Pais, não exasperem os vossos filhos, o que poderá levá-los ao desânimo. Vocês, escravos, devem obedecer aos vossos senhores em tudo o que fazem. Tentem agradar-lhes sempre e não apenas quando estão a ser observados. Obedeçam de boa vontade por causa do vosso temor reverente para com o Senhor. Trabalhem bem e com agrado em tudo que fazem, como se estivessem a trabalhar para o Senhor e não para as pessoas. Lembrem-se que o Senhor vos dará uma herança por recompensa e que o mestre que estão a servir é Cristo. Mas se fizerem o que é mau, serão retribuídos pelo mal que fizerem. Porque Deus não faz diferenciação entre as pessoas. Quanto aos senhores, pratiquem a justiça e a imparcialidade, sem se esquecerem que acima também existe um Senhor, nos céus. Persistam na oração, vigiando numa atitude de gratidão. Não se esqueçam também de orar por nós, para que Deus nos dê novas oportunidades de anunciar a sua palavra e de revelarmos o significado da obra de Cristo, pela qual me encontro preso. Que eu possa pregar esta mensagem tão claramente como é meu dever! Conduzam-se sempre com sabedoria em relação aos descrentes, procurando aproveitar o tempo. E aquilo que disserem seja agradável, como que temperado com sal, para saberem responder a cada um. Tíquico, nosso querido irmão na fé, e fiel companheiro no serviço do Senhor, vos dará a conhecer como estou a passar. Ele vai aí para que saibam como nós vamos, para vos dar notícias e assim fiquem mais animados. Com ele vai também Onésimo, um homem fiel, a quem muito queremos, e que é um dos vossos. Eles vos darão notícias de tudo o que por aqui se passa. Aristarco, que aqui está também preso comigo, manda-vos cumprimentos, assim como Marcos, primo de Barnabé, acerca do qual já vos mandei indicações. Se ele for visitar-vos, preparem-lhe uma boa receção. Também Jesus, mais conhecido por Justo, vos envia recomendações. Estes três são os únicos cristãos judeus que trabalham comigo no avanço do reino de Deus e que têm sido para mim de grande apoio. Também Epafras, da vossa cidade e agora aqui ao serviço de Cristo Jesus, vos manda saudações. Ele tem combatido, sem desfalecer, em oração em vosso favor, para que se conservem firmes, através do conhecimento de toda a vontade de Deus. Posso garantir-vos do seu grande interesse por vocês, assim como pelos crentes de Laodiceia e de Hierápolis. Também Lucas, o médico que tanto estimamos, e Demas vos cumprimentam. Deem as nossas saudações aos cristãos de Laodiceia, assim como a Ninfa e à igreja que se reúne em sua casa. Depois de terem lido esta carta passem-na aos crentes de Laodiceia. E a que enviei para Laodiceia, leiam-na vocês também. Em especial para Arquipo aqui vai um conselho: tem cuidado quanto ao serviço que o Senhor te mandou fazer, pois deves cumpri-lo. A minha saudação vai escrita pelo meu próprio punho. Lembrem-se de mim, aqui na prisão. Que a graça de Deus seja convosco! Paulo, Silas e Timóteo, à igreja de Tessalónica, em comunhão com Deus o Pai e com o Senhor Jesus Cristo, fazem votos de que a graça e a paz sejam convosco. Vocês todos são para nós um motivo de constante gratidão a Deus e sempre vos nomeamos nas nossas orações. Em oração a Deus lembramos a atividade que a fé vos inspira, de todo o vosso trabalho feito por amor cristão, da vossa persistência na esperança no nosso Senhor Jesus Cristo. Nós sabemos, queridos irmãos, que foi Deus quem vos escolheu. E o evangelho que vos anunciámos não vos foi comunicado apenas por meio de simples palavras, mas com poder e pelo Espírito Santo, produzindo uma grande certeza no vosso espírito. Sabem como vivemos no vosso meio e por amor de vocês. Consequentemente, tornaram-se nossos imitadores, seguindo o modelo de vida que o Senhor vos comunicou. Foi no meio de muitas tribulações que receberam a palavra com a alegria do Espírito Santo, de tal forma que se tornaram num exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Na verdade, por vosso intermédio a palavra do Senhor espalhou-se por estas duas regiões. Também em muitos outros sítios a vossa fé em Deus se tornou conhecida que nem precisamos de falar dela às pessoas, pois elas próprias testemunham de como fomos recebidos por vocês e como se converteram a Deus e abandonaram os ídolos para servirem o Deus vivo e verdadeiro. E falam da vossa esperança no regresso dos céus do Filho de Deus, Jesus, a quem o Pai ressuscitou da morte. Foi ele quem nos livrou do julgamento futuro. Vocês bem sabem, irmãos, que a nossa passagem no vosso meio não foi de forma alguma inútil. Embora tenhamos sofrido e sido maltratados em Filipos, como se lembram, Deus deu-nos ousadia para vos pregar as boas novas, apesar da oposição que se levantava. E a nossa mensagem de consolo não foi dada com segundas intenções, nem por motivos ardilosos ou com o desejo de tirar proveitos pessoais. Nós fomos considerados por Deus como sendo dignos de transmitir a mensagem do evangelho que nos foi confiada. E isso fazemos sem procurar agradar às pessoas, mas sim a Deus, que conhece os nossos corações. Puderam verificar como nunca usámos de palavras lisonjeiras, a fim de beneficiarmos de ajudas em nosso proveito. Deus é testemunha disso. E nunca procurámos os louvores do público que nos ouvia, fossem vocês ou outros. É verdade que, como apóstolos de Cristo, teríamos direito a exigir alguma coisa. Mas não! No vosso meio, fomos como uma mãe com os seus filhos, cheios de cuidados. De tal forma queríamos o vosso bem que até, além de vos darmos a boa nova de Deus, vos daríamos também as nossas próprias vidas, pois vocês nos eram muito queridos. Recordam-se, irmãos, de todo o nosso trabalho e canseira? Trabalhámos noite e dia a fim de não nos tornarmos pesados a ninguém, enquanto vos anunciávamos o evangelho de Deus. Vocês, e Deus também, são testemunhas da forma santa, justa e irrepreensível como nos comportámos para convosco os que creram. Sabem que fomos para cada um como um pai para com os seus próprios filhos; que vos exortámos, encorajámos e testemunhámos sobre como honrar a Deus com a vossa conduta, ele que vos levará para o seu reino para partilharem da sua glória. Por isso, não deixamos de dar a Deus o nosso agradecimento pelo facto de terem recebido a mensagem de Deus, que vos pregámos, não como teorias humanas, mas como a palavra de Deus, que realmente é, e que age profundamente na vossa vida como crentes. Na realidade, irmãos, tem-vos acontecido o mesmo que às igrejas de Deus na Judeia, fiéis a Jesus Cristo. Porque também sofreram dos vossos próprios compatriotas a mesma perseguição que lhes moveram os judeus. Estes foram os que, depois de matarem os seus próprios profetas, levaram à morte o Senhor Jesus, e nos têm perseguido também a nós. Estão contra Deus e são, afinal, inimigos da humanidade. Impedem-nos de anunciar aos gentios a mensagem da salvação, conseguindo apenas com isso aumentar ainda mais os seus pecados. Contudo, a severidade da justiça de Deus atingiu-os finalmente com todo o seu rigor. Quanto a nós, irmãos, tendo estado, por um certo momento, longe da vossa vista, mas não do coração, com tanto mais vontade procurámos tornar a ver-vos. E assim, por mais que uma vez, tentámos ir ter convosco, pelo menos eu, Paulo, mas sempre fomos impedidos por Satanás. Afinal não são vocês o objeto das nossas expectativas? Não são vocês que fazem toda a nossa alegria e que serão a nossa coroa perante o nosso Senhor Jesus Cristo, quando ele voltar? Vocês são a nossa alegria e a nossa glória! Por isso, tendo decidido não continuar sem notícias vossas, preferi ficar sozinho em Atenas. E enviei o irmão Timóteo, nosso cooperador na obra do evangelho, ao serviço de Deus, a fim de que vos encoraje e vos dê conselhos que fortaleçam a vossa fé, e para que ninguém se deixe perturbar por essas aflições por que têm passado. Bem sabem que isso faz parte dos planos de Deus para nós, os cristãos. E até, quando ainda estávamos no vosso meio, vos dizíamos que haveriam de passar por sofrimentos. E foi o que aconteceu. Por isso, não querendo esperar mais sem saber de vocês, mandei Timóteo para que eu recebesse notícias sobre a vossa fé. Tinha receio que o Tentador vos tivesse feito cair, durante essas provas, e que todo o nosso trabalho tivesse sido inútil. Mas agora Timóteo já regressou, contando-nos muita coisa boa em relação à vossa fé e ao vosso amor cristão, afirmando também que nunca nos esqueceram, e que tinham muito desejo de nos tornar a ver, tal como nós a vocês. Por isso, ficámos mais descansados a vosso respeito. Essas notícias compensaram as tribulações e as pressões que temos vivido. Dá-nos novas forças saber que continuam firmes no Senhor. Acho até que nunca poderemos estar suficientemente gratos a Deus por toda a alegria espiritual que nos têm dado. E assim, a todo o momento, oramos a Deus pedindo-lhe que nos proporcione uma ocasião de vos ir ver e vos ajudar a aperfeiçoar a vossa fé. Que seja então o próprio Deus, nosso Pai, e nosso Senhor Jesus Cristo que conduzam as circunstâncias no sentido dessa visita. E que o Senhor vos faça crescer num amor cristão cada vez mais abundante uns para com os outros, tal como o nosso amor para convosco. Para tornar-vos mais ousados e sem falha na vossa santidade, diante do nosso Deus e Pai, quando nosso Senhor Jesus Cristo vier, na companhia de todos os seus santos. Amém. Ainda quero, irmãos, suplicar-vos e aconselhar-vos, em nome do Senhor Jesus, que conformem a vossa vida às instruções que vos temos dado sobre a forma de viver e de agradar a Deus, o que, aliás, já estão a fazer; mas continuem a progredir cada vez mais. E vocês bem conhecem esses mandamentos que vos temos dado da parte do Senhor Jesus. A vontade de Deus é que levem uma vida santa; que se afastem da imoralidade sexual. Que cada um saiba manter a santidade na conduta sexual. Que não se deixem arrastar pelas paixões sensuais como os pagãos que não conhecem a Deus. Que ninguém engane o seu irmão nesta matéria, roubando-lhe a sua mulher, porque o Senhor não deixará certamente de castigar severamente esses comportamentos. Também já antes vos tínhamos garantido isso. Porque Deus não nos chamou para vivermos na imoralidade, mas na pureza. Portanto, quem despreza estas normas, não é a homens que está a desobedecer, mas a Deus que vos dá o seu Espírito Santo. Quanto ao amor fraterno, não é preciso que me alongue a escrever-vos, visto que vocês mesmos têm recebido instrução da parte de Deus para se amarem uns aos outros. E já têm dado provas de que o fazem, até em relação aos nossos irmãos espalhados por toda a Macedónia. Assim, queremos animar-vos a que esse sentimento aumente cada vez mais no vosso meio. Procurem viver em paz com toda a gente, cada um ocupando-se do que lhe diz respeito, vivendo do seu próprio trabalho. Também isso já antes vos tinha recomendado. Dessa maneira, a vossa vida se desenrolará com honestidade, em relação àqueles que não são cristãos, e manterão a vossa independência. Não quero, irmãos, que ignorem o que se passa com os crentes que já dormem o seu último sono, para que não caiam na tristeza, como aqueles que vivem sem esperança. Porque se cremos que Jesus, depois de morrer, ressuscitou, também devemos crer que todos os que morreram, fiéis a Jesus, Deus os tornará a trazer à vida, na companhia de Jesus. E isto vos dizemos, apoiando-nos na palavra do Senhor, que aqueles que estiverem vivos, quando da vinda do Senhor, não serão esses que primeiro irão juntar-se ao Senhor. Antes, o Senhor descerá do céu, acompanhado de um potente clamor, com brado de arcanjo e com o toque da trombeta de Deus. Então os crentes em Cristo ressuscitarão nessa altura. Depois, aqueles que estiverem vivos serão levados juntamente com eles nas nuvens, ao encontro do Senhor, nos ares. E assim ficaremos unidos a ele para sempre. Que estas palavras sirvam para se animarem uns aos outros. Quanto à época e ao momento em que isto acontecerá, irmãos, não preciso de vos escrever a esse respeito. Porque sabem bem que esse grande dia virá inesperadamente, como um ladrão na noite. Na verdade, quando as pessoas disserem “Agora há paz e segurança!”, então virá, de súbito, a catástrofe. Será como quando uma grávida começa sentindo as dores do parto. Não poderão escapar, de forma alguma. Mas vocês, irmãos, já não vivem mais nas trevas, para que venham a ser surpreendidos por esse momento como por um ladrão. Pois são todos filhos da luz, filhos do dia. Não pertencemos ao domínio da noite e das trevas. Estejamos então vigilantes e não adormecidos como o resto das gentes. Estejamos alerta e sejamos sóbrios. Em geral, é de noite que as pessoas dormem e também que se embebedam. Mas nós vivemos na luz do dia e é por isso que devemos ser moderados, revestindo-nos da couraça da fé e do amor, tendo como capacete a esperança da salvação. Porque Deus não nos destina à condenação, mas à posse da salvação, através de nosso Senhor Jesus Cristo; o qual morreu por nós para que, quer estejamos vivos, quer estejamos já mortos, quando ele vier, possamos viver juntamente com ele. Por isso, animem-se uns aos outros, contribuindo mutuamente para o fortalecimento da fé, como têm vindo a fazer. Pedimos, irmãos, que respeitem aqueles que trabalham no vosso meio, ao serviço do Senhor, que vos dirigem e aconselham. Mostrem-lhes toda a vossa estima e afeição, porque é justo, em razão das funções que desempenham na obra de Deus. Vivam em paz uns com os outros. Admoestem os que são preguiçosos; animem os que se desencorajam facilmente; fortaleçam os que estão fracos; sejam pacientes com todos. Que ninguém retribua o mal com o mal. Que o bem seja a regra da vossa vida, não só entre crentes, mas para com todos. Conservem em todo momento a vossa alegria. Orem sem cessar. Em todas as coisas expressem o vosso reconhecimento a Deus. Esta é a vontade de Deus para os que vivem em Cristo Jesus. Não deixem apagar-se a ação do Espírito de Deus. Não desprezem as profecias, mas examinem tudo o que é dito. Guardem o que for bom. Evitem qualquer espécie de mal. E que o Deus de paz, ele próprio, vos torne puros de uma forma integral. E que todo o vosso ser (espírito, alma e corpo), se mantenha plenamente sem culpa, até ao dia em que o nosso Senhor Jesus Cristo voltar. Deus, que vos chamou, é fiel, e tudo fará por vocês. Orem por nós, irmãos. Deem a todos os crentes um beijo fraterno. Em nome do Senhor peço-vos que, sem falta, façam ler esta carta a todos os irmãos, os filhos de Deus. O meu desejo é que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Paulo, Silas e Timóteo, à igreja de Tessalónica, aos que pertencem a Deus, nosso Pai, e ao Senhor Jesus Cristo. Desejamos que a graça e a paz de Deus, o Pai, e do Senhor Jesus Cristo sejam convosco. Irmãos, sempre damos graças a Deus por vocês, como é devido, pois a vossa fé está a frutificar e estão a crescer em amor uns para com os outros. É com muita satisfação que falamos a outras igrejas de Deus da vossa perseverança e fé no meio das perseguições e das aflições que têm tido que suportar. É a prova clara de que Deus é justo em tudo o que permite e vos considera dignos do reino de Deus, pelo qual estão a sofrer. Deus é justo e retribuirá com aflição àqueles que agora vos afligem. E quanto aos que têm sido atribulados, tal como nós também, Deus nos dará descanso, quando o Senhor Jesus se manifestar, descendo do céu com os anjos, cheio de poder, como labareda de um fogo, castigando os que não conhecem a Deus e recusam obedecer ao evangelho de nosso Senhor Jesus. O castigo destes será a perdição eterna, privados da presença do Senhor, assim como do seu glorioso poder. Quando Cristo vier de novo todos os que são seus lhe darão louvores. E vocês estarão entre esses, porque creram no testemunho que temos dado de Deus. É por isso que sempre oramos a Deus por vós, pedindo-lhe que vos faça dignos do destino para o qual vos chamou; que cumpra tudo aquilo que na sua bondade decidiu a vosso favor e vos ajude a realizar, através do seu poder, a obra da vossa fé. Oramos assim para que o nome do nosso Senhor Jesus Cristo seja honrado através das vossas vidas e para que também recebam honra juntamente com ele. E isso será possível pela graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. Agora, irmãos, voltando ao assunto do regresso do nosso Senhor Jesus Cristo e da nossa reunião com ele, vos rogamos que não se deixem influenciar tão facilmente no vosso entendimento nem perturbarem-se, quer por pretensas revelações espirituais, quer por mensagens ou cartas que vos digam terem sido enviadas por nós, e que têm como objetivo levar-vos a acreditar que o dia de Cristo já terá acontecido. Que ninguém de forma alguma vos engane; pois isso não acontecerá sem que antes ocorra uma grande revolta contra Deus e se revele aquele homem que encarnará em si mesmo a iniquidade, o filho da perdição. Ele se oporá e levantará acima de tudo quanto se chame divino e digno de adoração. E pretenderá, mesmo, tomar o lugar de Deus no próprio templo de Deus, fazendo-se passar por Deus. Não se lembram de que vos falei de tudo isto quando ainda me encontrava convosco? Também sabem o que, de momento, impede esse homem maligno de aparecer. É verdade que essa força de iniquidade já vai atuando, mas há um que o impede até que seja retirado. Só nessa altura se revelará aquele ser mau que o Senhor desfará pelo sopro da sua boca e que será destruído pelo esplendor com que Cristo aparecerá. Esse homem de pecado atuará segundo o poder de Satanás, através de manifestações de força, milagres e prodígios, com o fim de darem apoio às suas mentiras. Ele usará todo o poder da injustiça para enganar aqueles que estão no caminho da perdição, porque se recusam a acreditar na verdade que os conduziria à salvação. Por isso, Deus permitirá que neles atue uma influência de engano que os levará a crer na mentira. E assim serão julgados todos os que não creram na verdade e ficaram satisfeitos com a maldade. Contudo, devemos sem cessar agradecer a Deus por vós, queridos irmãos, a quem o Senhor ama, por vos ter escolhido desde o princípio, para obterem a salvação, purificando-vos da ação do pecado, pelo Espírito Santo e pela vossa fé na verdade. Ele chamou-vos à salvação, por intermédio do evangelho que levámos ao vosso conhecimento, para que participassem da glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo assim, irmãos, permaneçam firmes e bem apegados aos ensinamentos que sempre vos temos dado, seja de viva voz, seja por carta. Que o Senhor Jesus Cristo e o nosso Deus e Pai, que nos amou sem que o tenhamos merecido, e que sempre nos consola e nos enche de boa esperança, encoraje os vossos corações e renove as vossas forças em tudo o que fizerem, seja por boas palavras, seja por bons atos. Finalmente, irmãos, peço-vos que orem por nós, para que a palavra do Senhor se espalhe livremente e seja glorificada onde quer que chegue, como aconteceu convosco. Orem também para que sejamos livres de homens corruptos e maus; porque a fé não atinge todas as consciências. Mas o Senhor é fiel e vos fortalecerá e guardará dos ataques do Maligno. Confiamos em Deus que estão e continuarão a fazer aquilo que vos mandámos. Que o Senhor dirija os vossos corações no amor de Deus e na perseverança em Cristo. Com toda a firmeza vos mandamos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que não acompanhem aquele que, sendo cristão, levar uma vida desregrada, e não segundo as instruções que vos demos. Quando aí estivemos, não foi assim que vivemos, ociosos. E vocês sabem que devem imitar-nos. Nem nunca comemos de graça o pão de ninguém; antes, trabalhando noite e dia, procurámos ganhar o nosso sustento, de forma a não nos tornarmos pesados a ninguém. Não é que não tivéssemos direito a isso, mas para, através do nosso exemplo, mostrar como deveriam viver. Quando aí estivemos, uma das nossas regras de conduta era que quem não trabalha também não tem direito a comer. O certo é que ouvimos dizer que alguns no vosso meio levam uma vida desregrada, ocupando-se com futilidades. A esses mandamos, é uma ordem que damos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo, que trabalhem sossegadamente, comendo do pão ganho com o trabalho das suas próprias mãos. Irmãos, não se cansem de fazer o bem. E se alguém não se conformar com as instruções desta carta, chamem-no à atenção e suspendam-no de toda a colaboração convosco, para que se envergonhe. Não quer isto dizer que passem a considerá-lo como inimigo; mas devem aconselhá-lo como irmão. Que o Senhor da paz, ele próprio, vos dê sempre a sua paz. Que o Senhor seja com todos vós. E agora a minha saudação pessoal, pelo meu próprio punho: Paulo. Este é, em todas as cartas que envio, o sinal de que são minhas. Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo seja com cada um! Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, por ordem de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus que é a nossa esperança. Dirijo esta carta a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé. Que a graça, a misericórdia e a paz de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor, se manifestem na tua vida. Tal como te pedi, quando parti para a Macedónia, espero que fiques em Éfeso para avisares algumas pessoas que não ensinem outra doutrina. E que não se deixem ir atrás de lendas, nem de genealogias intermináveis. Essas coisas só servem para levantar discussões; não ajudam os crentes a crescer espiritualmente, o que só pode acontecer através da fé. O objetivo deste aviso é que se desenvolva o amor que nasce de um coração puro, de uma consciência limpa e de uma fé autêntica. Mas alguns, desviando-se dessa linha de conduta, perdem-se em discussões inúteis. Pretendem, por um lado, passar por professores da Lei; por outro, não entendem nem o sentido das palavras que empregam, nem aquilo que afirmam. No que respeita à Lei de Moisés, sabemos que é boa, na condição de ser usada como Deus tencionava. Mas é preciso ter em conta que a Lei não foi feita para os justos, mas para os que vivem na injustiça, para os que se mantêm obstinados nas suas próprias condutas, para os que desprezam a Deus, para os pecadores, para os que não dão valor às coisas divinas, para os que não hesitam em matar e que seriam até capazes de matar o pai e a mãe. A Lei destina-se também aos que vivem na imoralidade sexual, aos homossexuais, aos raptores de gente, aos que são falsos e que não têm honra. Ela opõe-se a tudo o que for contrário à sã doutrina divina; ao que for contrário à boa nova que revela a glória de Deus, ao bendito evangelho, esse de que fui considerado digno. Estou muito reconhecido a Cristo Jesus nosso Senhor, que me tem dado forças, porque me considerou digno de estar ao seu serviço. A mim que antigamente cheguei a blasfemar, que persegui os cristãos e os caluniei. Mas Deus teve misericórdia de mim, porque eu fazia isso por ignorância e incredulidade. Contudo, Deus favoreceu grandemente a minha vida, enchendo-a de fé e do amor de Jesus Cristo. Eis uma verdade inegável e que todo o mundo deve aceitar: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu considero-me o pior de todos. Mas Deus ofereceu-me a sua misericórdia, para que em mim, que sou dos mais culpados, Jesus Cristo mostrasse até onde ia o seu perdão, e a minha vida fosse um exemplo que encorajasse outros a crer nele, a fim de alcançarem a vida eterna. Por isso, honra e glória sejam dadas através de todos os tempos, ao único Deus, Rei eterno, invisível e imortal! Amém! Timóteo, meu filho, recomendo-te que, segundo as profecias que o Senhor enviou a teu respeito, sejas um combatente das batalhas justas. Conserva a fé. Conserva igualmente uma consciência limpa. Porque alguns, fazendo calar a voz da consciência, provocaram o naufrágio da sua vida espiritual, perdendo a fé. Entre esses estão Himeneu e Alexandre, que tive de entregar a Satanás, e isto para que aprendam a não blasfemar. Aconselho antes de tudo, que se ore, suplique e agradeça a Deus, intercedendo a favor de toda a gente. Não se esqueçam de orar pelos que governam e estão investidos de autoridade, a fim de que possamos viver em paz e sossego, conformando a nossa conduta com toda a devoção e dignidade. Isto é bom e agrada a Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade. Porque existe um só Deus. E entre ele e os homens há um só mediador, que é Jesus Cristo, seu Filho, que é homem. O qual se deu a si mesmo como o preço da salvação de toda a humanidade. Esta é a mensagem que Deus trouxe ao mundo no momento oportuno. E foi para falar dessa mensagem que eu próprio fui constituído pregador e apóstolo de Deus, e fui encarregado de ensinar esta verdade aos gentios, levando-os ao conhecimento da fé. Não estou a mentir; estou a falar a verdade. É por isso que desejo que, por toda a parte, haja homens que orem a Deus, erguendo para os céus mãos sem pecado, sem ira nem discussão. As mulheres também que se vistam de uma maneira decente, com modéstia, sem procurar dar nas vistas, fugindo aos penteados elaborados, ao ouro, às joias e ao vestuário aparatoso. Porque as mulheres que se dizem dedicadas a Deus devem tornar-se notadas pelas boas obras que praticam. As mulheres devem escutar e aprender em sossego e submissão. Não lhes permito que ensinem ou que exerçam domínio sobre os homens; que elas se mantenham em sossego. Porque Deus formou Adão primeiro e só depois fez Eva. E foi a mulher, não Adão, que foi enganada por Satanás e daí resultou a transgressão. Contudo, ainda que a mulher tenha sido punida com um parto doloroso, será salva se levar uma vida de fé, amor, santidade e modéstia. Costuma dizer-se, e com verdade, que se alguém pretende ser líder numa assembleia cristã, esse é um excelente desejo. O líder tem de ser uma pessoa irrepreensível; deve ser marido de uma só mulher, deve ser vigilante, sério, moderado e equilibrado; deve ser hospitaleiro e capaz de ensinar. Também não deverá exagerar nas bebidas alcoólicas, nem ter comportamentos violentos, mas calmo. Tão-pouco deve ser conflituoso, nem ganancioso. Deve governar bem a sua casa e educar os filhos na disciplina e no respeito. Porque se uma pessoa não sabe governar a sua própria casa como poderá ter um cargo na igreja de Deus? Não convém que seja convertido há pouco tempo, pois pode deixar-se levar pelo orgulho e cair na mesma condenação em que incorreu o Diabo. Deve também ser uma pessoa com boa reputação entre os que não são cristãos; de outro modo, arrisca-se a ser vítima de desonra e a cair em laços do Diabo. Também os diáconos terão de ser pessoas dignas, sem dissimulação no que dizem; devem ser sóbrios no uso de bebidas alcoólicas e não se deixar levar pela ganância. Devem preservar as verdades profundas da fé com uma consciência limpa. Devem primeiro ser postos à prova e, se nada tiverem digno de censura, então que os responsabilizem no serviço a que se destinam. De igual modo, as suas mulheres sejam pessoas dignas, não dadas a mexericos, nem se deixando levar por excessos de tipo algum, merecendo confiança em tudo. Os diáconos também deverão ser maridos de uma só mulher, governar bem as suas casas e educar convenientemente os seus filhos. Porque, se derem boas provas no cumprimento deste serviço, ganharão o respeito dos outros e terão maior confiança na sua fé em Cristo Jesus. Estou a escrever-te estas coisas, mas espero poder ir ver-te brevemente. Se demorar, ficam aqui estas recomendações para que saibas como deves agir na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, o sustento e apoio da verdade. Com efeito, é uma profunda verdade aquela que a nossa devoção revela: Cristo veio à Terra como homem, recebeu o testemunho do Espírito em como era justo, foi contemplado pelos anjos, anunciado entre os gentios, acreditado no mundo, e recebido na glória. O Espírito de Deus diz claramente que nos últimos tempos alguns se desviarão do caminho da fé, passando a dar ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demónios. Estes dizem-lhes mentiras com o maior descaramento e a sua própria consciência se tornou insensível. Serão contra o casamento, dirão que é preciso absterem-se de certos alimentos, embora Deus os tenha criado também para os que conhecem a verdade, para beneficiarem deles e dizerem a Deus o seu obrigado. Pois tudo o que Deus criou é bom e para ser aproveitado com agradecimento. Porque assim esses alimentos, por meio da oração feita de acordo com a palavra de Deus, são dedicados a Deus. Se explicares estas coisas aos teus irmãos, estarás a ser um bom elemento ao serviço de Jesus Cristo, mostrando que te tens fortalecido com a palavra da fé e a verdadeira doutrina que tens seguido. Não percas o teu tempo com fábulas e velhas histórias profanas. Exercita-te antes no caminho da piedade. O exercício físico tem algum valor, mas o desenvolvimento da vida espiritual é útil em tudo, nesta vida e também na futura. Esta é uma palavra digna de confiança que merece ser aceite por toda a gente. Com efeito, se trabalhamos e lutamos, é porque a nossa esperança está no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, dos crentes. É esta a mensagem que deves comunicar e ensinar. Que ninguém te desconsidere por seres jovem, mas sê um exemplo para os crentes pela forma como falas e no modo como vives, pelo amor cristão, pela fé, pela pureza. Enquanto eu aí não chegar, continua a ler as Escrituras, a consolar e a ensinar. Não te desinteresses pelo dom que possuis e que te foi dado a partir do momento em que os anciãos da igreja, em nome de Deus, colocaram sobre ti as mãos. Medita nestas coisas; ocupa-te e entrega-te inteiramente a elas, e os teus progressos serão certamente constatados por toda a gente. Mantém-te vigilante acerca de ti mesmo e daquilo que ensinas. Mantém-te fiel nestas coisas e assim te salvarás tanto a ti próprio como aos que te ouvem. Nunca censures com dureza um crente mais velho. Avisa-o como se fosse teu pai. Da mesma forma, aos jovens fala-lhes como a irmãos. As mulheres mais velhas trata-as como mães e as jovens como irmãs, com as mais puras intenções. Dá toda a atenção às viúvas que não têm ninguém que cuide delas. Se tiverem filhos ou netos, a primeira coisa que devem aprender é a respeitar o seu próprio lar e a recompensar os pais, cuidando deles. Isto agrada a Deus. A viúva que verdadeiramente está sozinha no mundo coloca a sua esperança em Deus e gasta muito tempo em orações e súplicas. Mas a viúva que viva somente para o prazer está espiritualmente morta. Dá estas instruções à igreja para que as viúvas não sejam censuradas. Portanto, se alguém não tem cuidado dos seus parentes, principalmente daqueles com quem vive no seu próprio lar, está a contradizer a sua fé; está mesmo a ser pior do que muitos infiéis. Aquela que pretenda estar incluída na lista de viúvas deverá ter pelo menos uns sessenta anos e ter sido fiel ao seu marido. Deve gozar de estima em razão do bem que tiver praticado: se soube criar bem os filhos, se praticou a hospitalidade, se foi capaz de se tornar útil aos outros crentes, se socorreu os aflitos; enfim, se soube praticar toda a espécie de boas obras. As viúvas mais novas, porém, não deves incorporá-las em tal lista, porque os seus desejos físicos naturais ultrapassarão a sua devoção a Cristo e desejarão casar de novo. Sujeitam-se assim à crítica, pelo facto de não terem sabido manter-se fiéis a Deus. Além disso, depressa se habituam a andar de casa em casa em mexericos, além de se tornarem ociosas, metendo-se onde não são chamadas e falando do que não convém. Portanto, quanto a essas mais novas, o melhor é que casem, tenham filhos e se ocupem das suas casas. E assim não darão aos inimigos do evangelho ocasião para dizerem mal. Porque algumas até já se desviaram, tornando-se presa de Satanás. Se algum crente tem uma viúva na sua família, deve cuidar dela e não deixar a igreja sobrecarregada com isso. Deste modo, a igreja poderá tomar a seu cargo outras que vivem realmente sem o amparo de ninguém. Os anciãos da igreja, que cumprem zelosamente a sua missão, devem ser bem recompensados, principalmente os que se empenham no ensino da palavra de Deus. Porque as Escrituras dizem: “Não ates a boca ao boi, quando faz a debulha do trigo.” E noutro lugar: “Digno é o trabalhador do seu salário.” Não aceites queixas contra um ancião, a não ser que seja confirmada por duas ou três testemunhas. Se realmente houve pecado, que seja repreendido na presença de toda a igreja, para que os outros também tenham o temor devido a Deus. Com toda a solenidade te mando, diante de Deus, de Jesus Cristo e dos seus santos anjos, que observes todos estes preceitos que aqui te exponho, nunca usando de favoritismos. Não te decidas precipitadamente na escolha dum líder, impondo-lhe as mãos. Não participes dos pecados dos outros. Conserva-te sempre afastado do mal. Não bebas unicamente água; bebe também um pouco de vinho, pois faz-te bem às tuas frequentes indisposições. Há pessoas cujos pecados são evidentes, mesmo antes de serem julgados. Mas há outros que só se manifestam mais tarde. Do mesmo modo, também as boas ações, normalmente, tornam-se logo conhecidas. Ainda que não sejam, não ficarão ocultas. Todos os servos que estiverem sob jugo devem respeitar os seus superiores, para que o nome de Deus e a sua doutrina não sejam desprezados. Aqueles cujos superiores são crentes, não devem, por essa razão, ter menos consideração por eles. Pelo contrário, devem até trabalhar melhor ainda, porque aqueles que recebem o benefício do vosso trabalho são crentes a quem Deus e vocês amam. São estas coisas que deves ensinar e encorajar a fazer. Se alguém vier ensinar qualquer doutrina falsa e não seguir este ensino, baseado nas salutares palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e na doutrina que é o alicerce de uma vida de piedade, então é porque é soberbo. São pessoas vítimas da ignorância; não fazem mais do que delirar sobre questões inúteis, provocando guerras de palavras, que provocam invejas, discórdias, difamações e calúnias. São disputas entre pessoas de entendimento corrompido, fugindo à verdade, pensando que a piedade poderia ser um meio de obter lucros. Contudo, a devoção, acompanhada de satisfação, traz grande enriquecimento. Porque nada trouxemos para este mundo e é evidente que nada levaremos dele. Por isso, estejamos satisfeitos se tivermos alimento e com o que nos resguardarmos. Mas aqueles que querem a todo o custo enriquecer, sujeitam-se às armadilhas do pecado e às tentações para o mal. Tornam-se vítimas de paixões tão loucas como prejudiciais e que sempre precipitam as pessoas na ruína e perdição. O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males e por causa disso já muitos se desviaram do caminho da fé, trazendo às suas vidas muitas aflições e sofrimentos. Mas tu, que és um homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a vida da fé, o amor cristão; aprende a ser perseverante e bondoso. Empenha-te a fundo no combate pela fé, vive plenamente a posse da vida eterna. É para isso que Deus te convoca e isso já o confessaste claramente. Muitos foram os que tiveram ocasião de o testemunhar. Seriamente te recomendo, diante de Deus, fonte universal de toda a vida, e diante de Jesus Cristo que deu aquele tão bom testemunho perante Pôncio Pilatos, que obedeças aos seus mandamentos, de forma que nunca ninguém te ache em falta ou possa criticar-te, até à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Esse momento nos dará a revelação final de Deus, fonte de felicidade, que tem ele só todo o poder, Rei dos reis e Senhor dos senhores. O único que possui a imortalidade e que vive numa glória a que nenhuma criatura mortal tem acesso. Esse Deus nunca ninguém viu, nem pode ver. Que toda a honra e todo o poder lhe sejam dedicados eternamente, é o nosso intenso desejo. Amém! Diz aos ricos deste mundo que não sejam altivos, que não ponham a sua esperança nas riquezas, que são coisas instáveis, mas que ponham a sua confiança no Deus vivo, que tudo nos dá generosamente para nossa satisfação. Que pratiquem antes o bem! Que enriqueçam, mas em obras de justiça! Que aceitem de boa vontade repartir com os necessitados os ganhos de que beneficiam! Que sejam generosos! Ao fazer isto, estarão a armazenar o seu tesouro como uma boa garantia para o futuro, a fim de poderem alcançar a vida real. Ó Timóteo, guarda a fortuna espiritual que te foi confiada! Foge decididamente das discussões inúteis e sem conteúdo. Evita a contestação daquilo a que se chama falsamente ciência. Alguns, por se terem deixado levar por ela, desinteressaram-se da vida cristã. Que a graça de Deus seja com todos! Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus, enviado para anunciar a vida que Deus promete através da fé em Cristo Jesus. Escrevo esta carta a Timóteo. A ti, meu querido filho espiritual, desejo que a graça de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor, assim como a sua misericórdia e paz sejam manifestadas na tua vida. Sempre que me lembro de ti nas minhas orações, o que acontece frequentemente, de noite e de dia, expresso o meu agradecimento a Deus. Este é o Deus dos meus antepassados a quem tenho servido com uma consciência limpa. Desejo muito tornar a ver-te o que dar-me-ia uma imensa alegria, pois lembro-me das tuas lágrimas quando nos separámos. Lembro-me da tua fé sincera, fé que a tua avó Loide e a tua mãe Eunice também tiveram, e que também domina a tua vida. Por isso, recordo-te que deves tornar mais vivo o dom espiritual que Deus te deu, quando impus sobre ti as minhas mãos. Porque Deus não nos deu um espírito de medo e timidez, mas um espírito de poder, de amor e de autodomínio. Portanto, não tenhas vergonha de falar aos outros de nosso Senhor, nem de mostrar que estás ligado a mim, apesar de estar preso justamente por anunciar o nome de Cristo. Deves participar antes nos sofrimentos que o evangelho possa trazer-nos, apoiando-te no poder de Deus. Foi Deus quem nos salvou e nos escolheu para uma vida santa. Não porque o merecêssemos, mas por sua vontade e misericórdia, que manifestou através de Cristo Jesus e segundo um plano estabelecido já antes da criação do mundo. Plano esse dado a conhecer agora ao mundo, na pessoa do nosso Salvador Jesus Cristo, o qual quebrou o poder da morte e nos mostrou o caminho da vida incorruptível e eterna, através do evangelho. E foi para isso que fui constituído pregador, apóstolo e mestre. É essa a razão destes meus sofrimentos. Mas não me envergonho disso, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o que eu lhe confiei até àquele dia. Conserva a lembrança exata das boas palavras que de mim tens ouvido; retém-nas com a fé e com o amor de Cristo Jesus. Guarda bem aquilo que te foi confiado, com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós. Como bem sabes, todos aqueles que vivem na província da Ásia me deixaram, até Figelo e Hermógenes. Que o Senhor abençoe a família de Onesíforo porque muitas vezes me animou, sem se envergonhar de que eu estivesse na prisão. De facto, quando veio a Roma, procurou-me por toda a parte até que me encontrou. Que o Senhor lhe conceda uma bênção especial naquele dia. Aliás, tudo o que fez por mim em Éfeso, melhor o sabes tu. Tu pois, meu filho, fortalece-te na graça que Deus te dá em Cristo Jesus. E o que tens ouvido de mim e que tem sido confirmado por muitas outras testemunhas, transmite-o a pessoas capazes de as comunicar a outros. Aceita as dificuldades como um bom combatente de Jesus Cristo, tal como eu faço. Nenhum militar se deixa prender com problemas que digam respeito aos negócios desta vida, a fim de poder agradar a quem o comanda. Da mesma forma, ninguém que entra numa competição desportiva poderá obter a coroa da vitória, se não tiver respeitado as regras. Também os agricultores se dedicam ao seu trabalho pensando na boa colheita que os recompensará. Considera bem isto e o Senhor te dará entendimento em tudo. Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente do rei David, ressuscitou da morte! Este é o tema central da mensagem evangélica que eu prego. E é por isso que tenho sofrido e sido preso, como se fosse um malfeitor. Mas a palavra de Deus, essa não se deixa prender. Eis a razão por que tenho suportado todas estas coisas, por amor daqueles que hão de ouvir a chamada de Deus, para que possam beneficiar da salvação em Cristo Jesus e da eternidade na glória de Deus. Esta é uma verdade segura: Se morrermos com Cristo, renasceremos para uma vida nova com ele. Se sofrermos por causa de Cristo, também depois seremos participantes da sua autoridade na glória. Mas se o negarmos, ele também nos negará. Se formos infiéis, ele permanecerá sempre fiel, porque Cristo nunca se negaria a si mesmo! É isto que deves lembrar aos crentes, ordenando-lhes, em nome do Senhor, que não se metam nunca em discussões sobre meras palavras, que de nada servem senão para corromper o entendimento daqueles que ouvem essas disputas. Procura trabalhar de forma a que Deus te aprove, como um trabalhador que de nada tem que se envergonhar, que proclama com exatidão a palavra da verdade. Mas foge desses debates inúteis a que Deus é estranho, e que só fazem é aumentar a descrença. Os pensamentos dessa gente são como gangrena que, à medida que se alastra, vai destruindo. É o caso de Himeneu e de Fileto, que se desviaram da verdade, pondo-se a dizer que a ressurreição já se deu, e assim perverteram a fé de alguns. Mas a verdade de Deus mantém-se firme como uma rocha onde se lê: “O Senhor conhece os que são seus.” E ainda: “Quem se chama cristão, afaste-se da injustiça.” Nas casas mais abastadas há, a par de peças de ouro e de prata, outras de madeira e de barro. As primeiras são, em geral, empregadas nas ocasiões especiais; as outras são para uso corrente. Portanto, quem se mantiver afastado do mal será como esses objetos de uso especial. Será um elemento santo, digno de ser usado pelo Senhor, apto para toda a boa obra. Foge às paixões próprias da juventude. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz, juntamente com aqueles que, com um coração puro, se aproximam do Senhor e se lhe dirigem. Repito, rejeita as questões absurdas, sem profundidade, pois como sabes só levantam contendas. No serviço de Deus, não convém levantar contendas. Deve-se antes ser bondoso para toda a gente, estar prontos a ensinar, ser pacientes nas tribulações. Deve-se procurar esclarecer com brandura os que resistem, para ver se, com a ajuda do Senhor, virão a arrepender-se e a conhecer plenamente a verdade, desprendendo-os assim dos laços com que o Diabo os prende e os sujeita à sua vontade. Há uma coisa que é preciso que saibas: é que nos últimos dias sobrevirão grandes dificuldades. Haverá gente amante de si própria, tendo a paixão da avareza, pessoas presunçosas e arrogantes, insultuosas, desobedientes aos seus pais, sem sentimentos de gratidão, sem consideração pelas coisas espirituais; sem ter sequer aquela afeição que existe naturalmente nos seres humanos, incapazes de se reconciliarem com os adversários; caluniadores, incapazes de dominar os instintos; cruéis, inimigos do bem, traidores, obstinados, orgulhosos, deixando que os deleites tomem, no seu íntimo, o lugar que Deus queria ocupar. Serão capazes de manter uma aparência de religião, mas sem acreditar na sua força. Afasta-te deles! É este género de pessoas que se introduzem nas casas, de boa fé, e chegam mesmo a atrair mulheres de espírito fraco, com vidas carregadas de pecado, que se deixam levar pela sua sensualidade. É gente que está sempre a aprender, mas nunca chega ao conhecimento da verdade. Portanto, tal como Janes e Jambres, que resistiram a Moisés, assim também essas pessoas resistem à verdade, porque são de entendimento corrompido, incapazes de compreenderem a fé. Mas não poderão iludir por muito tempo a justiça de Deus. A sua loucura torna-se visível aos olhos de toda a gente, como também aconteceu com aqueles dois feiticeiros do tempo de Moisés. Todavia, tu tens seguido o meu ensino, tens observado o meu modo de viver, as minhas intenções, a minha fé, a capacidade de suportar as aflições, o amor cristão, a persistência. Tens visto as perseguições e angústias que tive em Antioquia, em Icónio e em Listra. Sabes quantos tormentos aí passei e que o Senhor me livrou de todos eles. Todos os que queiram levar uma vida devota terão de suportar perseguições. Mas as pessoas más e enganadoras irão de mal a pior, enganando e sendo enganadas. Tu, porém, permanece nas coisas que aprendeste e aceitaste. Sabes que são verdade e que podes confiar naqueles que te ensinaram, e que desde pequenino conheces as santas Escrituras. São elas que te dão a verdadeira sabedoria e conduzem à salvação pela fé em Cristo Jesus. Porque toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil para nos ensinar, para nos repreender, para nos corrigir, para nos instruir no caminho da justiça. Para que todo aquele que pertence a Deus seja reto e perfeitamente habilitado a executar o que é bom. Por isso, insisto solenemente, diante de Deus e Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, quando vier outra vez para estabelecer o seu reino aqui na Terra: que anuncies a palavra de Deus; que insistas nessa pregação, não só nas ocasiões consagradas, mas também fora delas; que corrijas e repreendas, que encorajes com toda a paciência os que são fracos, dando-lhes o ensino de que necessitam. Porque há de vir uma época em que as pessoas não hão de querer mais ouvir a sã doutrina e procurarão rodear-se de mestres que lhes ensinarão apenas aquilo que vai de encontro aos seus desejos e que seja agradável aos seus ouvidos. Recusando-se a ouvir a verdade, voltarão a seguir tradições supersticiosas. Tu, porém, mantém-te capaz de controlar, em todas as circunstâncias, o teu próprio carácter, pronto a suportar as aflições, fazendo o trabalho de um evangelista. E assim cumprirás o cargo para o qual foste responsabilizado. Porque, naquilo que me diz respeito, a minha vida já tem sido entregue como uma oferta a Deus. Já está próximo o tempo da minha morte. Combati o bom combate, acabei a carreira da minha vida, guardei a fé. Está já preparada por Deus a coroa da justiça que o Senhor, o justo juiz, me dará naquele dia que há de vir. E não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda. Procura vir ter comigo o mais depressa possível. Porque Demas abandonou-me, pois o amor pelas coisas deste mundo foi mais forte e partiu para Tessalónica. Crescente foi para a Galácia e Tito para a Dalmácia. Só Lucas está comigo. Traz também Marcos contigo, pois ser-me-á muito útil no serviço de Deus. Quanto a Tíquico, mandei-o a Éfeso. Quando vieres traz a capa que deixei em Tróade, em casa de Carpo, assim como os livros, mas especialmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males. O Senhor o castigará, segundo o que merece. E tu também tem cuidado com ele, pois foi alguém que sempre se opôs decididamente às nossas palavras. Na minha primeira defesa em tribunal, ninguém me apoiou, antes todos me desampararam. Que Deus não os castigue por isso. Mas o Senhor assistiu-me e deu-me forças para poder anunciar integralmente a mensagem de Deus, de forma que toda aquela assistência de gentios pôde ouvir o evangelho. E assim o Senhor me livrou da boca do leão. Sim, ele me livrará de todo o mal e me guardará para o seu reino celestial. Toda a glória lhe seja dada, para sempre, é o nosso desejo profundo! Saúda Priscila e Áquila, assim como a família de Onesíforo. Erasto ficou em Corinto. Deixei Trófimo doente em Mileto. Procura vir antes do inverno. Éubulo, Pudens, Lino, Cláudia e todos os irmãos crentes te enviam saudações. Que o Senhor Jesus Cristo viva no teu espírito. Que a graça de Deus enriqueça as vossas vidas! Esta carta é escrita por Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para trazer à fé aqueles que Deus escolheu, e para lhes dar a conhecer a verdade que os conduz a uma vida de piedade, e que faz nascer a esperança da vida eterna, a qual Deus, que não mente, prometeu desde os tempos de origem de tudo. E agora, no tempo próprio, essas boas novas foram dadas a conhecer através da pregação que me foi confiada por ordem de Deus nosso Salvador. A Tito, que é para mim um verdadeiro filho espiritual, pois que lhe comuniquei a fé que nos é comum, desejo que lhe seja concedida graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador. Quando te deixei em Creta foi para que pusesses em ordem as questões que ficaram em suspenso e que em cada localidade estabelecesses anciãos, segundo as instruções que te tinha dado. Devem ser escolhidos homens irrepreensíveis, casados com uma só mulher; que os seus filhos sejam crentes e não tenham fama de dissolutos, nem de desobedientes. Convém, com efeito, que o líder seja irrepreensível, visto que é um responsável da casa de Deus. Não deve ser altivo, nem irritar-se facilmente; não deve ser dado a bebidas alcoólicas, nem meter-se em disputas violentas ou entregar-se à ganância e a especulações desonestas. Deve antes ser dado à hospitalidade, zeloso por tudo o que é bom. Deve ser equilibrado e justo, sabendo dominar os seus sentidos. Deve ter uma forte convicção na palavra digna de crédito que lhe foi ensinada, para que se torne capaz de encorajar os outros pelo ensino da reta doutrina, e ao mesmo tempo convencer os que se lhe opõem. Porque há muitas pessoas rebeldes contra a verdadeira doutrina, gente que fala muito e consegue enganar as pessoas. Desse número fazem parte, em especial, os da circuncisão. É preciso fazer calar essas pessoas, pois já perturbaram famílias inteiras, ensinando o erro, levadas por um desonesto interesse por dinheiro. Um deles, seu próprio profeta, disse: “Os cretenses foram sempre mentirosos; são como animais indolentes, vivendo só para encher a barriga.” E isto é bem verdade! Portanto, avisa severamente os crentes para que se mantenham sãos nas questões da fé. E que não deem ouvidos às tradições fantasiosas judaicas, nem a exigências de homens que se desviam da verdade. Uma pessoa cujo coração é puro tem todas as coisas por puras; mas para os corruptos e incrédulos, tudo é impuro, devido à impureza que têm nas mentes e na consciência Dizem conhecer a Deus, mas renegam-no pelas obras que praticam. São criaturas detestáveis e desobedientes, incapazes de fazer seja o que for de bom. Tu, porém, ensina aquilo que é conforme a pura doutrina de Deus. Os mais velhos que sejam sóbrios, dignos, prudentes, com uma fé forte, inspirada na palavra do Senhor; que o seu amor cristão seja sincero e que sejam perseverantes. As mulheres mais idosas que sejam, igualmente, dignas na sua maneira de viver; que não se tornem maldizentes; que não se deem a excessos de bebida; que sejam mestras do bem. E isto de forma a que possam ensinar as mais novas a serem sensatas e a amarem os seus maridos e os seus filhos; a serem equilibradas, puras, boas donas de casa, bondosas, submissas aos seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja desprezada. Do mesmo modo, aconselha os jovens a que sejam moderados. E que em todas as coisas possas ser um exemplo para eles de uma vida justa. Quando ensinares, mantém-te intransigentemente fiel à doutrina de Deus, sincero e profundo nas ideias que exprimes. Que a tua linguagem seja perfeitamente correta e apropriada, para que aqueles que são inimigos do evangelho sejam convencidos e que nunca tenham nada de mal a censurar-nos. Persuade também os que são servos a acatarem as ordens dos seus senhores, procurando dar satisfação em tudo, sem má vontade; procurando não defraudar e mostrando até uma perfeita lealdade. Porque dessa maneira esses cristãos, pela sua conduta, farão com que a doutrina de Deus, nosso Salvador, seja honrada. Porque a graça de Deus se manifestou trazendo a toda a gente a salvação; ensinando-nos a viver com domínio de nós próprios, com justiça e piedade, renunciando às paixões da vida humana. E dessa forma aguardamos, numa esperança feliz, o momento em que há de aparecer, revestido da sua glória, o grande Deus e Salvador Jesus Cristo. Ele deu-se a si mesmo por nós, pagando o preço que nos resgata de toda a iniquidade e purifica para si próprio um povo que lhe pertence inteiramente, um povo empenhado em praticar o bem. É pois isto que deves ensinar, encorajando por um lado, corrigindo por outro, com toda a autoridade. Não deixes que ninguém te tenha em menos consideração. Lembra a todos que devem sujeitar-se aos governantes e autoridades instituídas, e obedecer às leis, estando prontos a participar em qualquer obra boa. Não devem falar mal de ninguém, nem meter-se em disputas; devem antes ser amáveis, mostrando simpatia para com toda a gente. Porque nós também, noutro tempo, éramos insensatos e revoltados. Andávamos ao sabor da opinião de outras pessoas, dominados por paixões variadas e por deleites dos sentidos. Vivíamos sob a lei da maldade, da inveja e do ódio e, por isso, nos odiávamos uns aos outros. Mas quando a bondade e o amor divino de Deus nosso Salvador se manifestaram para com a humanidade, ele salvou-nos pela lavagem purificadora do Espírito Santo, da qual emergimos como novamente nascidos, não por causa de atos justos que tivéssemos praticado, mas por causa da sua misericórdia. Esse Espírito Santo, Deus o derramou abundantemente sobre nós, através de Jesus Cristo, nosso Salvador. E desta forma, sendo declarados justos pela sua graça, tornámo-nos herdeiros da esperança da vida eterna. O que te tenho dito merece toda a confiança. Quero que insistas nisto com firmeza, para que os que creem em Deus procurem dedicar-se à prática do bem. Uma vida assim é reta e torna-se proveitosa para toda a gente. E não te deixes envolver em discussões insensatas de genealogias e contendas sobre a obediência à Lei. São coisas inúteis e sem verdadeiro significado. Se alguém estiver a causar divisões avisa-o uma primeira e segunda vez; mas se não se convencer, afasta-te dele. O seu entendimento está pervertido; por isso, peca, e já tem a sua própria condenação. Assim que te tiver enviado Artemas e Tíquico, procura vir ter comigo a Nicópolis, porque decidi passar aí o inverno. Peço-te que ajudes Zenas, o jurista, e Apolo, na sua viagem, para que nada lhes falte. É preciso que os cristãos das nossas congregações saibam o que é praticar o bem e ajudar os outros em caso de necessidade. Só assim as suas vidas não ficarão improdutivas. Todos os que aqui estão comigo te mandam saudações. E tu saúda os que nos amam na fé. Que a graça de Deus seja com todos! Paulo, prisioneiro por pregar o evangelho de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo dirigimos esta carta a Filémon, nosso muito querido colaborador no serviço de Deus, assim como a Ápia, nossa irmã na fé, e a Arquipo, nosso companheiro na luta, assim como à igreja que se reúne em sua casa. Que Deus, nosso Pai, e o Senhor Jesus Cristo vos deem graça e paz. Continuo sempre a dar a Deus o meu agradecimento e a orar por ti, porque ouço falar da fé que tens no Senhor Jesus Cristo e do teu amor para com ele e para com todo o povo de Deus. O meu pedido a Deus é que a tua fé seja comunicada aos outros, para que possas ter um conhecimento pleno de todo o bem que temos em Cristo. Tive muita alegria e fui muito consolado em saber que o teu amor cristão é posto em prática e como, por teu intermédio, meu irmão, o coração de muitos crentes tem sido alegrado. Por isso, sinto-me levado a pedir-te um favor, ainda que, estando ao serviço de Cristo, teria autoridade para te ordenar aquilo que é mais conveniente. Mas prefiro falar-te nisso como um pedido, por causa dos laços de verdadeira afeição cristã que nos unem. Lembra-te que sou o velho Paulo, que agora está preso por ser um embaixador de Jesus Cristo. Queria pedir-te pelo meu filho espiritual, Onésimo, a quem levei a nascer de novo na minha prisão. É verdade que noutro tempo a sua vida te foi inútil. Mas agora vai tornar-se, tanto para ti como para mim, muito útil. Por isso, o envio de volta, pedindo-te que o recebas como se fosse eu mesmo em pessoa. Aliás, bem gostaria de o conservar comigo, para que me ajudasse, em teu lugar, enquanto me encontro preso por causa do evangelho. Mas não quis tomar essa decisão sem o teu parecer. Se realmente quiseres fazer-me esse benefício, que não seja como que forçado a isso, mas voluntariamente. Também pode ser que, apesar de ter estado fugido durante algum tempo, agora o recuperes definitivamente. Não já como escravo, mas muito mais como um irmão na fé em Deus, que me é especialmente querido, mas a quem tu ainda mais te afeiçoarás, visto que tornará a ficar ligado à tua casa como trabalhador e como irmão no Senhor. Assim pois, se me consideras teu companheiro, recebe-o como se fosse eu mesmo. E se te causou algum prejuízo ou te deve alguma coisa, põe isso na minha conta. Eu, Paulo, o escrevo pela minha mão: eu o pagarei. Mas olha que no fundo tu mesmo me deves aquilo que és espiritualmente. Sim, irmão, o teu gesto dar-me-á muita alegria e ficarei muito animado por aquilo que o Senhor te inspirar. Ao escrever-te, estou convencido de que farás o que te digo e até mesmo mais. Queria ao mesmo tempo pedir-te que me preparasses alojamento, porque espero, em resposta às vossas orações, poder visitar-vos. Daqui mandam-te cumprimentos Epafras, que também está preso comigo, por causa de Cristo Jesus, e ainda Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, todos meus colaboradores. Peço a nosso Senhor Jesus Cristo que a sua graça esteja com o vosso espírito. Anteriormente Deus falou aos nossos antepassados de muitas maneiras por intermédio dos profetas. Agora, nos tempos em que vivemos, falou-nos através do seu Filho, a quem deu todas as coisas e por meio de quem criou tudo o que existe. Este reflete a glória de seu Pai e é a imagem perfeita da sua pessoa. Ele mantém todo o universo pela autoridade da sua palavra. Tendo morrido para nos purificar da culpa dos nossos pecados, sentou-se à direita do Deus glorioso, nos lugares celestiais. É assim muito superior aos anjos, como prova o nome excelso que Deus lhe deu. Deus nunca disse a nenhum anjo: “Tu és meu Filho; hoje tornei-me teu Pai.” Também não se referia a nenhum anjo quando disse: “Eu serei para ele Pai e ele será meu Filho.” E doutra vez, quando Deus trouxe o seu Filho primogénito à Terra, disse: “Que todos os anjos de Deus o adorem.” É verdade que Deus alude aos anjos dizendo: “É ele que faz dos seus anjos espíritos e os seus ministros eficazes como fogo.” Mas referindo-se ao Filho diz: “O teu trono, ó Deus, dura para sempre. A justiça é aquilo que faz a força do teu reino. Tu amas a justiça e aborreces o mal. Por isso Deus, o teu Deus, derramou sobre ti mais óleo de alegria do que sobre os teus companheiros.” E ainda: “Senhor, foste tu quem fundou a Terra. Fizeste o universo com as tuas mãos. Contudo, isso um dia desaparecerá, mas tu ficas para sempre. E todos acabarão, como roupa velha. Tu os enrolarás como vestuário; e eles serão trocados, como se faz com uma peça de roupa. Tu, porém, és sempre o mesmo; os teus anos não têm fim.” Deus nunca disse a um anjo: “Senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés.” É que os anjos são apenas espíritos enviados para servir a favor daqueles que vão receber a salvação. Por isso, devemos prestar muita atenção à verdade que já temos ouvido. Se não, corremos o risco de nos desviarmos dela. Porque se a palavra da Lei vinda por intermédio de anjos se mostrou tão válida que todos os que lhe desobedeceram foram castigados, como escaparemos nós se ficarmos indiferentes a essa tão grande salvação, que nos foi anunciada pelo próprio Senhor, e depois transmitida por aqueles que a ouviram? Além disso, Deus mesmo tem apoiado esses testemunhos através de sinais, de milagres e de várias manifestações do seu poder, e por dons da parte do Espírito Santo, concedidos segundo a sua vontade. Além disso, o mundo futuro, de que falamos nas nossas pregações, não é pelos anjos que há de ser dirigido. Porque há uma passagem das Escrituras em que se diz: “Que é o homem, para que te preocupes com ele? E quem é o filho do homem, para que te lembres dele? E apesar disso, fizeste-o um pouco mais baixo que os anjos, e coroaste-o de honra e glória, puseste tudo sob os seus pés.” Contudo, não vemos que essas coisas estejam, de facto, realizadas e que tudo esteja submetido ao ser humano. Vemos, sim, Jesus, o qual por um pouco de tempo foi mesmo inferior aos anjos, dignificado agora com toda a glória e honra, por causa de ter sofrido a morte por nós; morte essa que, pela bondade de Deus, experimentou a favor de toda a humanidade. Porque Deus tinha planeado permitir que Jesus sofresse e por esse meio levasse muitos filhos a Deus, a quem pertence tudo, pois tudo criou. Esse sofrimento tornou Jesus o seu perfeito Salvador. Nós que fomos purificados por Jesus temos agora o mesmo Pai que ele. E é por isso que ele não se envergonha de nos chamar irmãos, dizendo: “Declararei o teu nome perante os meus irmãos; falarei de ti perante a assembleia do povo.” E noutra ocasião disse também: “Porei a minha confiança em Deus.” E disse também: “Aqui estou eu, com os filhos que Deus me deu.” E visto que nós, seus filhos, somos seres humanos, também ele se tornou carne e sangue. Pois só como ser humano poderia passar pela morte e esmagar a força daquele que tinha o poder da morte, o Diabo, libertando todos aqueles que tinham a sua vida inteiramente subjugada pelo medo da morte. Todos sabemos que não é aos anjos que ele ajuda, mas aos da descendência de Abraão. Por isso, era necessário que Jesus fosse em tudo semelhante aos seus irmãos e que, por consequência, pudesse ser nosso fiel sumo sacerdote, cheio de compaixão. Assim, ele pôde oferecer um sacrifício que tira os pecados do povo. Tendo ele mesmo sido sujeitado à tentação, e passado pelo sofrimento, pode assim socorrer aqueles que passam pela prova da tentação! Portanto, meus irmãos, a quem Deus separou para si e a quem chamou para participarem da vida celestial, atentem para o enviado de Deus, o sumo sacerdote da fé que proclamamos, o qual cumpriu fielmente a missão que Deus lhe designou, tal como Moisés serviu fielmente na casa de Deus. Mas Jesus é muito superior a Moisés, da mesma maneira que o homem que constrói uma casa tem mais mérito do que a própria casa. Se é verdade que não há casa que não tenha sido construída por alguém, não menos verdade é que quem construiu tudo o que existe foi Deus. É bem certo que Moisés serviu com toda a fidelidade na casa de Deus, mas o que ele fez foi um serviço, o de anunciar aquilo que haveria de ser revelado mais tarde. Mas Cristo é fiel e responsável como Filho sobre a sua própria casa, a qual casa somos nós próprios, se conservarmos a nossa confiança até ao fim, assim como a exultação da esperança nele. Portanto, o Espírito Santo nos avisa, como está escrito: “Se hoje ouvirem a sua voz, não endureçam os vossos corações, como fizeram na rebelião, durante o tempo de prova no deserto. Ali os vossos pais tentaram a minha paciência e duvidaram de mim, mesmo depois de terem visto tudo o que eu fiz. Durante quarenta anos andei desgostoso com esta geração. É um povo que erra constantemente; eles não conheceram os meus caminhos. Por isso, jurei, na minha cólera: não entrarão no meu descanso.” Tomem então cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês se afaste para longe do Deus vivo, levado pelo seu coração mau e incrédulo. Pelo contrário, procurem encorajar-se uns aos outros, enquanto dura esse tempo de “hoje”, a fim de que ninguém endureça o seu coração pelo engano do pecado. Porque se mantivermos firmemente, até ao fim, a nossa confiança no Senhor, como quando nos tornámos cristãos, participamos de tudo o que pertence a Cristo. Então, não esqueçamos este aviso: “Se hoje ouvirem a sua voz, não endureçam os vossos corações, como fizeram na rebelião.” E quem foram esses que, depois de ouvirem Deus falar-lhes, o provocaram? Não foram porventura os que por meio de Moisés saíram do Egito? E não foram esses que durante quarenta anos tanto exasperaram a Deus e pecaram, tendo os seus cadáveres ficado ali no deserto? E não foi a eles que Deus declarou, com juramento, que não haveriam de entrar no seu descanso? Pois foram esses mesmos que lhe desobedeceram. Vemos pois que não puderam entrar por causa da sua incredulidade. Embora a promessa de Deus, de entrarmos no seu lugar de descanso, continue de pé, devemos ter muito cuidado, quando alguns derem mostras de ficar para trás. Porque essas boas novas foram-nos anunciadas também a nós, tal como a eles. Mas se de nada lhes serviu, é porque não creram nelas, quando as ouviram. Quanto a nós, visto que cremos, temos a certeza de entrar no descanso de Deus. Quanto aos que não creem, o Senhor disse: “Por isso, jurei, na minha cólera: não entrarão no meu descanso.” Isto apesar de este lugar de descanso estar pronto desde a criação do mundo. E sabemo-lo porque as Escrituras mencionam o sétimo dia, dizendo: “E descansou Deus de toda a sua obra no sétimo dia.” E é assim que fixa outra ocasião para entrar e essa ocasião é hoje. E isto diz Deus, pela boca de David, muito depois: “Se hoje ouvirem a sua voz, não endureçam os vossos corações.” Porque, se esse descanso tivesse sido aquele para onde Josué conduziu o povo de Israel, Deus não teria falado mais tarde numa nova ocasião. Portanto, é porque há ainda um descanso para o povo de Deus. Ora quem já entrou no descanso de Deus, também já descansou das suas obras, tal como Deus também das suas. Busquemos então tudo o que é necessário para entrar nesse descanso. Procuremos que ninguém, à semelhança do povo de Israel, caia na mesma incredulidade. A palavra de Deus é viva e eficaz. É mais penetrante do que uma espada de dois gumes, chegando à divisão da alma e do espírito, como que à junção de osso e medula. Ela é capaz de distinguir os pensamentos, as intenções do coração. Não há nada em toda a criação que esteja escondido aos olhos de Deus; pelo contrário, tudo está patente e descoberto perante aquele a quem temos de prestar contas. Portanto, visto que temos um tão excelente sumo sacerdote, que é Jesus o Filho de Deus, que penetrou nos céus, mantenhamo-nos firmemente fiéis à fé que confessamos ter. Este nosso sumo sacerdote não é um simples homem que não possa compreender as nossas fraquezas. Pelo contrário, ele foi tentado em tudo como nós, mas sem ter pecado. Portanto, cheguemo-nos com confiança ao trono de Deus, para podermos receber misericórdia e graça, e sermos ajudados sempre que tivermos necessidade. E ninguém se torna sumo sacerdote somente porque deseja tal honra. Tem de ser chamado por Deus, tal como Aarão. Assim Cristo, da mesma maneira, não se glorificou a si próprio como sumo sacerdote, mas foi Deus quem o instituiu nessa dignidade, dizendo-lhe: “Tu és meu Filho; hoje tornei-me teu Pai.” E lemos ainda noutro lugar: “Tu és sacerdote para sempre, à semelhança de Melquisedeque.” Cristo, enquanto ainda estava na Terra, numa agonia de alma, apresentou orações e súplicas a Deus, que o poderia ter livrado daquela morte. E Deus ouviu-o, atendendo à sua submissão. Jesus, ainda que sendo o Filho, ele próprio experimentou o que era a obediência por aquilo que padeceu. E foi por Deus qualificado como perfeita fonte de eterna salvação para todos os que lhe obedecem. Deus mesmo o reconhece como sumo sacerdote, à semelhança de Melquisedeque. Muito mais teríamos a dizer sobre isto. Contudo, não é fácil explicar-vos estas coisas, pois têm-se tornado preguiçosos na vossa compreensão. Porque, pelo tempo, já deviam até poder ensinar outros. Em vez disso, precisam de quem vos ensine as primeiras coisas da revelação de Deus. Fizeram-se como criancinhas que só podem tomar leite e não alimento sólido. Quando uma pessoa se alimenta só de leite é como um bebé e ainda não está capaz de experimentar as coisas que a justiça de Deus exige. Mas o alimento sólido é para os que adquiriram maturidade e que, em resultado do exercício das suas faculdades, são capazes de distinguir o bem do mal. Por isso, deixemos as noções elementares da doutrina cristã e avancemos no sentido do amadurecimento. Não fiquemos como que a lançar de novo os mesmos alicerces, do arrependimento do pecado e das obras que levam à morte, da necessidade da fé em Deus, do ensino referente às lavagens, da imposição das mãos, da ressurreição dos mortos e do julgamento eterno. Mas, com a ajuda de Deus, avancemos para um conhecimento mais perfeito. De facto, é impossível que alguém que já tenha recebido a luz de Deus, que provou das coisas celestiais, que participou do Espírito Santo, viu como é boa a palavra de Deus e conheceu o poder do mundo que há de vir e, depois disto tudo, se transviaram, sejam renovados para o arrependimento. É como se crucificassem novamente o Filho de Deus, expondo-o publicamente à afronta. Quando a terra lavrada recebe chuvas que caem com frequência e produz boas colheitas para os que a cultivam, tem a bênção de Deus. Se uma terra produz espinhos e cardos é porque não presta e será queimada. Mas de vocês, meus queridos amigos, ainda que falemos assim, contamos que as vossas vidas produzam sempre os melhores frutos, que devem ser o resultado normal da vossa salvação. Deus não é injusto. Ele não se esquece do vosso trabalho e do amor que têm mostrado pelo Senhor, pelos serviços que têm prestado e continuam a prestar aos crentes. E o nosso desejo é que cada um continue a mostrar o mesmo zelo até ao fim da vida, até ao momento em que verão completamente realizada a vossa esperança. Não se tornem descuidados, mas procurem seguir o exemplo de todos aqueles que pela fé, e pela sua persistência, têm recebido o cumprimento das promessas de Deus. Quando Deus fez a promessa a Abraão, garantiu-a com um juramento feito em seu próprio nome, visto que não havia ninguém maior do que ele. E disse: “Garanto-te que te abençoarei efetivamente e que terás uma descendência abundantíssima.” Abraão esperou com paciência e viu a promessa concretizar-se. É evidente que os homens, quando prestam juramento, procuram fazê-lo por alguém que lhes seja superior, que sirva de garantia, para que não haja desentendimento. Assim também Deus confirmou o que disse com um juramento, a fim de que aqueles que iriam receber a promessa tivessem a certeza de que nunca mudaria os seus planos. Assim, por dois fatores imutáveis, a promessa e o juramento, podemos encontrar um forte consolo nele. É pois impossível que Deus diga uma coisa que afinal não cumpre. E isso dá-nos muita segurança, a nós para quem a esperança da vida eterna é como um refúgio. Esta esperança é para a nossa alma como uma âncora segura e firme que nos garante a entrada no interior do véu, onde Cristo entrou antes de nós e em nosso favor, na sua dignidade de sumo sacerdote para sempre, à semelhança de Melquisedeque. Este Melquisedeque era rei da cidade de Salém e também sacerdote do Deus altíssimo. Quando Abraão regressava vitorioso de uma grande batalha contra vários reis, Melquisedeque saiu-lhe ao encontro e abençoou-o. Então Abraão deu-lhe o dízimo de tudo o que trouxera. Melquisedeque significa rei de justiça; além disso é também rei de Salém, que significa rei de paz. Aparecendo sem que seja mencionado pai ou mãe, nem existindo nenhuma menção dos seus antepassados, ou indicação sobre o seu nascimento ou morte, a sua vida torna-se, assim, semelhante à do Filho de Deus, que é sacerdote para sempre. Notem como este Melquisedeque foi uma figura importante: Foi a ele que o patriarca Abraão deu a décima parte dos despojos. Agora, aos sacerdotes descendentes de Levi é-lhes ordenado, pela Lei de Moisés, cobrar a décima parte de tudo ao povo, mesmo que sejam descendentes de Abraão. Contudo, Melquisedeque que nem tinha nada a ver com Levi, recebeu o dízimo de Abraão e abençoou-o, sendo este quem tinha já recebido as promessas de Deus. Sem sombra de dúvida, a pessoa que tem o poder de abençoar é sempre maior do que a pessoa que é abençoada. Lembremos que os sacerdotes judaicos, que recebiam os dízimos do povo, eram simples mortais; porém de Melquisedeque não nos é dito que tenha morrido. Poderemos ainda dizer que o próprio Levi, o antecessor dos sacerdotes que cobram os dízimos, pagou ele próprio o dízimo a Melquisedeque na pessoa de Abraão, seu antecessor. Pois, embora Levi não fosse ainda nascido, a semente dele estava nos lombos de Abraão, quando Melquisedeque lhe cobrou o dízimo. Se os sacerdotes levitas fossem capazes de nos salvar, pois foi através deles que o povo recebeu a Lei, que necessidade haveria que aparecesse outro sacerdote à semelhança de Melquisedeque e não da descendência de Aarão? Se houve uma mudança de sacerdote é porque houve também, necessariamente, uma mudança de Lei. Fica assim claro que foi instituído um novo sacerdote, à semelhança de Melquisedeque, que se tornou sacerdote, não segundo a sucessão da tribo de Levi, mas segundo o poder que deriva da vida que jamais findará! E o Salmista salienta este facto quando diz a respeito de Cristo: “Tu és sacerdote para sempre, à semelhança de Melquisedeque.” Portanto, o antigo sistema de sacerdócio foi anulado, porque era inútil e sem capacidade para salvar. Na verdade, a Lei nunca tornou ninguém justo. Mas agora é bem melhor a nossa esperança de chegar a Deus. Além disso, é preciso não esquecer que foi com um juramento que Deus fez de Cristo um sacerdote eterno. E isso não aconteceu com nenhum dos sacerdotes levitas. Só de Cristo está escrito: “O Senhor jurou e nunca há de alterar o seu intento: ‘Tu és sacerdote para sempre.’ ” Eis a razão por que Cristo nos pode garantir uma aliança com o seu Pai muito melhor do que a anterior. No sistema antigo foi preciso que muitos sacerdotes se sucedessem; a morte impedia-os de permanecer para sempre. Mas Jesus vive para sempre e, por isso, é permanentemente sacerdote. Portanto, pode salvar perfeitamente todos os que por ele se chegam a Deus, vivendo eternamente para interceder junto de seu Pai a favor deles. Era um sumo sacerdote assim que nos convinha: santo, irrepreensível, sem nunca ter sido manchado pelo pecado, separado dos pecadores; e foi-lhe dado o lugar de maior honra no céu. Ele não precisa, como os outros sacerdotes, de oferecer sacrifícios diários, primeiro pelos seus próprios pecados e depois pelos do povo, como os outros sumos sacerdotes. Mas Jesus sacrificou-se pelos pecados do povo, uma vez por todas, quando se ofereceu a si mesmo em sacrifício na cruz. Os sumos sacerdotes instituídos pelo antigo sistema da Lei eram homens imperfeitos, mas aquele que Deus mais tarde nomeou com um juramento solene é o seu Filho, perfeito para sempre. Portanto, em resumo, o que temos estado a dizer é que temos um sumo sacerdote, Cristo, que está no céu, sentado à direita do trono de Deus majestoso. Aí ele exerce as suas funções no verdadeiro templo celestial, que é um tabernáculo construído pelo Senhor e não pelos homens. E visto que todo o sumo sacerdote é nomeado para apresentar a Deus ofertas e sacrifícios, Cristo fez também uma oferta. E o certo é que, aqui na Terra, ele não podia ter sido sacerdote, pois já havia outros sacerdotes para oferecer sacrifícios, de acordo com a Lei. Estes servem num lugar de adoração que é somente uma cópia, uma sombra, do verdadeiro santuário nos domínios celestiais. Porque quando Moisés se preparava para construir o tabernáculo, o Senhor avisou-o de que devia seguir exatamente o modelo que lhe tinha sido mostrado no monte Sinai. Mas a Cristo foi confiado um serviço muito mais importante, até porque a nova aliança, para o qual serviu de mediador, se fundamenta em promessas muito mais excelentes. Evidentemente que se a primeira aliança tivesse sido perfeita não teria havido razão para ser substituída por outra aliança. Mas Deus chamou a atenção para a imperfeição da velha aliança quando disse: “Há de vir o tempo em que farei uma nova aliança com o povo de Israel e de Judá. Essa aliança não será como a que eu estabeleci com os seus pais, quando os tomei pela mão, a fim de os fazer sair da terra do Egito. Ora, como eles não cumpriram a sua obrigação nessa aliança, eu por minha parte virei-lhes as costas, diz o Senhor. Contudo, esta é a aliança que farei com o povo de Israel, diz o Senhor: Porei as minhas leis nos seus entendimentos, vou escrevê-las nos seus corações. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E então ninguém terá de dizer ao seu vizinho, nem ao seu irmão: ‘Precisas de conhecer o Senhor!’ Porque todos, grandes e pequenos, já me conhecerão nesse tempo. Pois terei misericórdia deles e perdoarei as suas injustiças; não me lembrarei mais dos seus pecados.” Portanto, se Deus fala de uma nova aliança é porque considera a anterior caducada. E, se prescreveu, por antiguidade, está posta de lado. A primeira aliança tinha as suas normas de adoração e um tabernáculo terreno. Nesse santuário havia dois compartimentos. O primeiro que continha um castiçal e uma mesa com os pães sagrados. Esta parte do tabernáculo chamava-se lugar santo. Para lá de um véu, havia o segundo compartimento que era o lugar santíssimo. O incensário de ouro estava associado ao lugar santíssimo e à arca da aliança, toda revestida de ouro. Dentro dela estava um recipiente de ouro com uma amostra do maná, a vara de Aarão que tinha florescido e as placas de pedra da aliança. Sobre esta arca havia dois querubins, da glória de Deus, cujas asas se estendiam por cima do propiciatório. Mas não vamos agora falar dessas coisas em pormenor. Ora, de acordo com esta disposição, os sacerdotes entravam no primeiro compartimento as vezes que fosse necessário para o cumprimento das suas funções. Mas no segundo compartimento já somente o sumo sacerdote entrava, e apenas uma vez por ano. Precisava até de trazer o sangue de um animal sacrificado para o apresentar diante de Deus, pelos pecados que ele mesmo e o povo tivessem cometido por ignorância. O Espírito Santo dava a entender com isto que o caminho ainda não estava aberto para o santuário celeste enquanto estivesse de pé o primeiro tabernáculo. Há aqui ensinamento importante para nós, hoje: é que nesse primeiro santuário se ofereciam sacrifícios e faziam ofertas que afinal não conseguiam purificar a consciência dos que assim prestavam culto. Na verdade, aquele sistema baseava-se em alimentos a tomar e a beber, em regulamentos sobre a maneira de se lavarem para os atos de culto, tudo coisas que diziam respeito à vida do corpo. Até ao tempo em que Deus deveria reformar tudo isso. E assim, Cristo veio como sumo sacerdote, mas de um sistema melhor. Ele entrou no santuário celestial, através do tabernáculo maior e mais perfeito, que não é feito por mãos de homens, que não faz parte deste mundo material. E uma vez por todas, não com sangue de bodes e bezerros, mas com o seu próprio sangue, garantiu-nos uma salvação eterna. Porque se, anteriormente, o sangue de bois e de bodes e as cinzas de um bezerro derramado sobre aqueles que eram considerados impuros os santificava, mas de uma maneira exterior, quanto mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a Deus, sem mancha, purificará as nossas consciências das obras que levam à morte, para podermos servir o Deus vivo. É por isso que Cristo é o mediador de uma nova aliança (ou testamento); porque tendo morrido para redimir as pessoas da culpa dos pecados, até os cometidos sob a primeira aliança, faz agora com que todos aqueles que são chamados possam entrar na posse dos bens eternos que lhes foram prometidos. Quando alguém deixa um testamento, só depois de essa pessoa ter efetivamente morrido é que esse testamento é válido. Só depois da sua morte, e não durante o tempo de vida, é que o testamento tem validade. Também por essa mesma razão é que a antiga aliança exigia o derramamento de sangue como prova de morte. Com efeito, Moisés, depois de ter exposto ao povo inteiro todos os mandamentos que se encontravam na Lei de Deus, lançou simbolicamente sobre o texto que acabava de ler, e também sobre todo o povo, sangue dos bezerros e dos bodes, misturado com água, por meio de um pedaço de lã escarlate e de um ramo de hissopo, tendo dito então: “Este é o sangue que confirma a aliança que Deus vos mandou cumprir.” E da mesma forma lançou desse sangue sobre o tabernáculo e sobre todos os utensílios usados no culto. Na verdade, podemos dizer que quase tudo, segundo o ritual do antigo sistema, era purificado assim, com sangue. E, na realidade, sem sangue derramado não há perdão dos pecados. Por isso, era absolutamente necessário que todas as coisas que se achavam na tenda do santuário, que eram símbolos do que está no céu, também fossem purificadas dessa maneira. Mas as coisas que estão no céu são tornadas efetivas por meio de um sacrifício muito mais excelente: Cristo, entrou no próprio céu, a fim de se apresentar perante Deus a nosso favor. Não entrou, claro está, num santuário terreno, feito por homens, imagem do verdadeiro que está no céu. Também Cristo não precisa de se oferecer repetidamente em sacrifício, tal como o sumo sacerdote, que tinha de entrar no lugar santíssimo do tabernáculo uma vez por ano, com sangue que não era evidentemente o seu próprio, mas o dos animais sacrificados. Se isso fosse necessário, então Cristo teria que morrer vez após vez desde o princípio do mundo. Mas, não! Quando chegou o tempo marcado, Cristo se manifestou uma vez por todas para destruir o poder do pecado através do seu sacrifício por nós. E assim como está determinado que os seres humanos morram uma só vez e depois sejam julgados por Deus, da mesma forma, também Cristo morreu uma só vez, oferecendo-se a si mesmo em sacrifício pelos pecados de muitos. E virá de novo, não para tratar do pecado, mas para trazer salvação a todos aqueles que ansiosamente esperam por ele. Sendo o antigo sistema da Lei judaica apenas uma sombra dos benefícios que ainda estavam para vir, que não transmitiam a imagem exata das realidades espirituais, é evidente que esses sacrifícios, que se repetiam continuamente ano após ano, não podiam purificar perfeitamente os que se chegavam a Deus. Se assim fosse, um só sacrifício teria bastado. Os participantes no ato de adoração teriam sido purificados de uma só vez e nunca mais teriam tido o sentimento de culpa nas suas consciências. Esses sacrifícios, pelo contrário, vêm lembrar-lhes continuamente, todos os anos, o seu pecado. Porque é impossível que o sangue de bois e de bodes tire a culpa dos pecados. Foi por isso que Cristo, quando veio ao mundo, disse: “Sacrifícios nem ofertas quiseste, mas formaste-me um corpo. Não são animais queimados em oferta pelo pecado que tu reclamas. Então eu disse: ‘Aqui venho, ó Deus, para fazer a tua vontade, tal como está escrito a meu respeito no livro do Senhor.’ ” Repare-se que diz: “Não quiseste sacrifícios nem ofertas nem animais queimados pelo pecado, isso não te agrada” (embora seja exigido pela Lei de Moisés). E acrescenta depois: “Aqui venho, ó Deus, para fazer a tua vontade.” Isso significa que aboliu o primeiro sistema para instituir um segundo. E foi porque Jesus Cristo executou a vontade de Deus, oferecendo uma só vez o seu próprio corpo em sacrifício, que nós somos limpos do pecado. Segundo a antiga aliança, os sacerdotes iam todos os dias executar, muitas vezes, os mesmos sacrifícios que nunca podiam apagar os pecados. Mas Cristo, tendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, válido para sempre, está sentado no lugar de maior honra, à direita de Deus, onde espera até que ponha os seus inimigos debaixo dos seus pés. Por meio daquela única oferta da sua própria vida, Cristo tornou perfeitos para sempre aqueles que são santificados. E o Espírito Santo confirma que isto é assim, quando inspirou estas palavras: “Esta é a aliança que farei com o povo de Israel, diz o Senhor: Porei as minhas leis nos seus entendimentos, vou escrevê-las nos seus corações.” E diz ainda: “Não me lembrarei mais dos seus pecados, nem das suas más ações.” É evidente que, para pecados que já tenham sido perdoados, não há mais necessidade de fazer sacrifícios para os apagar. Assim, meus irmãos, devido ao sangue de Jesus podemos entrar, com ousadia, no lugar santíssimo. Este é o caminho novo e cheio de vida que Cristo nos abriu, ao rasgar o véu de separação, por meio da sua morte. E visto que temos um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com um coração verdadeiro, na certeza confiante da fé, tendo as nossas consciências purificadas e o nosso corpo lavado com água pura. Mantenhamos firmemente a nossa esperança, porque Deus é fiel e nada falhará ao que promete. Procuremos desenvolver entre nós o amor fraternal e estimulemo-nos a fazer o bem. Não descuidemos a nossa participação na comunidade dos crentes, como muitos fazem. Pelo contrário, animemo-nos uns aos outros, tanto mais que vemos aproximar-se o grande momento da sua segunda vinda. Se, depois de ter tido o pleno conhecimento daquilo que é a verdade, continuarmos deliberadamente a pecar, não haverá nenhum sacrifício que possa cobrir esses pecados. Aí não resta mais do que aguardar o julgamento de Deus e o fogo intenso que consumirá todos os que se levantam contra ele. Alguém que desobedecesse à Lei de Moisés era morto sem apelo, apenas na base do testemunho de duas ou três pessoas. Portanto, imaginem de quanto maior castigo não será considerado merecedor aquele que desprezar o Filho de Deus, e considerar profano o sangue que ele derramou, com o qual ficou confirmada a nova aliança, e ofender o Espírito da graça! Porque bem conhecemos aquele que disse: “Minha é a vingança e hei de exercê-la.” E logo a seguir: “O Senhor julgará o seu povo.” É terrível ficar sob o castigo do Deus vivo. Lembrem-se daqueles primeiros tempos, depois de terem sido iluminados, em que tiveram de suportar o sofrimento de grandes combates. Por vezes foram expostos ao escárnio e ao sofrimento, outras vezes foram vocês que apoiaram outros que padeceram as mesmas coisas. Padeceram igualmente com aqueles que foram lançados na prisão e aceitaram com alegria que vos fosse tirado o que possuíam, sabendo que riquezas bem melhores e permanentes vos esperam no céu. Não deixem, pois, enfraquecer a vossa confiança no Senhor; ela será abundantemente recompensada. É preciso continuar com perseverança a fazer a vontade de Deus, se quiserem depois alcançar o que ele vos prometeu. Está escrito: “Ainda mais um pouco e aquele que há de vir virá e não se demorará! O meu justo pela fé viverá, e se ele recuar a minha alma não terá prazer nele.” Nós, porém, não somos daqueles que recuam e são destruídos, mas daqueles cuja fé assegura a nossa salvação. A fé é a firme certeza das coisas que se esperam; é a evidência daquilo que ainda não vemos. Foi porque tiveram essa fé que os antigos homens de Deus receberam o testemunho da sua aprovação. É a fé que nos dá a entender que o mundo inteiro foi criado pela palavra de Deus; que o que existe foi criado a partir do que se não vê! Foi a fé que inspirou Abel a oferecer a Deus um sacrifício mais agradável do que o de Caim. Aceitando a sua oferta, Deus mostrou a Abel que era declarado justo. Ainda que já esteja morto, Abel continua a falar-nos. Pela fé, Enoque foi levado para o céu sem experimentar a morte. Um dia deixaram de o ver porque Deus o tinha levado. Sobre ele foi escrito que agradou a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar a Deus. É necessário que quem se aproximar dele creia que ele existe e que recompensa os que sinceramente o buscam. Pela fé, Noé creu, quando Deus o avisou de coisas que ainda estavam para acontecer e, consciente da sua gravidade, começou a construir a arca na qual salvou a sua família. Esse ato de fé foi como a condenação dos que não quiseram aceitar aquele aviso. E assim Noé obteve o direito de ser justificado pela fé. Pela fé, Abraão obedeceu, quando Deus o chamou, e partiu para uma terra que lhe prometia dar como uma herança. E foi sem saber para onde ia. Sempre em resultado da sua fé, aceitou habitar nessa outra terra como um estrangeiro, vivendo em tendas, tal como Isaque e Jacob, aos quais Deus fez também a mesma promessa. É que Abraão esperava aquela cidade solidamente estabelecida, cujo arquiteto e construtor é Deus. Pela fé, Sara, mulher de Abraão, pôde ter um filho, apesar da sua idade avançada, pois teve por digno de fé aquele que o tinha prometido. E foi assim que uma nação inteira veio de Abraão, velho demais para ter filhos. E o facto é que dele descenderam tantos milhões quantas as estrelas do firmamento, ou os grãos de areia à beira mar! Todas estas pessoas viveram na fé e morreram sem terem visto o cumprimento das promessas; mas foi como se as vissem de longe e, crendo nelas, aceitaram-nas. Reconheciam que aqui na Terra eram estrangeiros, vivendo de passagem. E os que reconhecem isto mostram claramente que buscam a sua verdadeira pátria. Se tivessem querido, teriam podido voltar à terra donde tinham saído. Mas não. Tinham em vista uma terra muito melhor, um país celestial. Por isso, Deus não se envergonha de ser considerado o seu Deus, porque lhes preparou uma cidade. Pela fé, Abraão ofereceu em sacrifício o seu filho Isaque, quando Deus quis provar a sua fé a obediência. É verdade! Ele tomou o seu único filho, que era o cumprimento da promessa de Deus, para o oferecer em sacrifício. De facto, Deus tinha-lhe dito: “Só através de Isaque é que a minha promessa terá cumprimento.” Mas Abraão sabia que Deus era poderoso até para o ressuscitar! E, metaforicamente, foi isso que aconteceu: foi como se o ressuscitasse. Pela fé, Isaque abençoou Jacob e Esaú, garantindo-lhes coisas que diziam respeito ao futuro. Pela fé, Jacob, já próximo de morrer, abençoou cada um dos filhos de José. E, apoiado ao seu bordão, adorou a Deus. Pela fé, José, igualmente no final da sua vida, falou da saída do povo de Israel do Egito, dando ordens sobre os seus restos mortais. Pela fé, os pais de Moisés esconderam-no durante três meses, depois de nascer. Viram que era uma criança formosa e não temeram a ordem do rei. Pela fé, o mesmo Moisés, já homem feito, renunciou ao título de filho da filha do Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que, por um tempo limitado, gozar de uma vivência onde reinava o pecado. Preferiu sofrer o desprezo, por amor a Cristo, achando que isso era um bem superior às riquezas do Egito, porque tinha em vista a recompensa. Pela fé, deixou o Egito sem temer a ira do rei, mantendo-se firme, como vendo aquele que é invisível. Pela fé, celebrou a Páscoa e mandou aspergir o sangue do animal para que, quando o anjo destruidor viesse matar os filhos mais velhos, fossem poupados os das famílias de Israel. Pela fé, atravessaram os israelitas o mar Vermelho como se fosse terra seca. E quando os egípcios tentaram fazer o mesmo, morreram afogados. Pela fé, caíram as muralhas de Jericó, depois do povo de Israel ter marchado à volta delas por sete dias. Pela fé, Raabe, que era meretriz, recebeu em paz os israelitas enviados para espiar a cidade, e não morreu com os que não acreditavam no Senhor. De quem hei de falar mais? Faltar-me-ia o tempo se quisesse ainda falar de Gedeão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de David, de Samuel, dos profetas. São pessoas que pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram a realização das promessas, fecharam a boca de leões, anularam a força do fogo, escaparam de morrer à espada, da fraqueza tiraram forças, foram valentes nas batalhas, fizeram recuar exércitos estrangeiros. Houve mulheres que receberam os seus entes queridos ressuscitados. Outros foram torturados, preferindo morrer a ficarem livres, porque esperavam, pela ressurreição, alcançar uma vida melhor. Outros foram ridicularizados, açoitados, acorrentados em prisões. Todos estes, apesar do testemunho de que tiveram fé, não receberam o que lhes tinha sido prometido. Porque Deus tinha reservado para nós coisas melhores e queria que eles viessem também a participar delas juntamente connosco. Portanto, nós também, visto que estamos rodeados por uma tão grande multidão de testemunhas, vidas que são exemplos da fé, deixemos tudo aquilo que nos embaraça, e o pecado que nos envolve tão de perto, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta. Olhemos para Jesus. Ele é a fonte da nossa fé e aquele que a aperfeiçoa. O qual, pela alegria que lhe estava reservada, suportou a cruz, aceitando a humilhação, vindo a sentar-se à direita do trono de Deus. Pensem bem em tudo aquilo que ele suportou da parte dos pecadores, para que não venham a enfraquecer, perdendo a coragem. Afinal, ainda não chegaram, como ele, a verter o vosso sangue na luta contra o pecado. Não se esqueçam das palavras de consolo que Deus vos dirige como a filhos: “Meu filho, não desprezes a correção do Senhor, e não desanimes quando ele te mostrar que estás errado. Porque o Senhor repreende quem ama, e castiga aqueles que reconhece como seus filhos.” Deixem, pois, que Deus vos discipline; isso só prova que vos trata como filhos. Pois não é normal que um pai corrija o seu filho? Se Deus não vos corrigisse, isso poderia ser sinal de que, afinal, não seriam seus filhos; seriam como filhos ilegítimos. Se respeitamos os nossos pais, aqui na terra, que nos educaram, não deveremos muito mais submetermo-nos ao nosso Pai espiritual, para aprendermos verdadeiramente a viver? Os nossos pais terrenos só por um curto espaço de tempo nos educam, procurando fazer o melhor que sabem. Porém, a correção de Deus é para o nosso bem, para participarmos da sua santidade. Com certeza que nunca é agradável ser castigado; no momento em que somos corrigidos isso custa-nos muito. Mas depois veem-se os resultados nos que foram disciplinados: uma vida justa e de paz. Portanto, tornem a levantar as mãos caídas de cansaço e firmem bem os joelhos já enfraquecidos. Dirijam os vossos passos por caminhos direitos, para que aqueles que coxeiam não acabem por se afastar de todo, mas aprendam a andar firmes. Procurem viver em paz com toda a gente e levar uma vida santa, porque sem santidade ninguém poderá chegar a ver o Senhor. Tenham cuidado para que ninguém deixe de beneficiar da graça de Deus, e também que nenhuma amargura crie raízes que, ao brotar, venham a causar-vos perturbações, e depois, por contaminação, também a muitos outros. Que ninguém se deixe arrastar pela imoralidade sexual ou perca o respeito pelas coisas divinas como Esaú que, por um bom prato de comida, vendeu os seus direitos de filho mais velho. E quando mais tarde quis recuperar esses direitos não conseguiu; de nada lhe serviram as suas lágrimas. Vocês não tiveram de aproximar-se de uma montanha de verdade, ardendo em chamas, no meio de escuridão, de trevas, e de uma tempestade, como aconteceu com Israel no monte Sinai. E não ouviram aquele som de trombeta, e a voz poderosa com uma mensagem que os israelitas pediram que parasse porque não podiam ouvi-la mais. Eles não podiam suportar a ordem: “Se até um animal tocar na montanha deverá ser apedrejado!” Aquele espetáculo era de tal forma aterrador que o próprio Moisés declarou: “Estou a tremer de espanto!” Em vez disso, vocês chegaram ao monte Sião, que é a cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e aos milhares de anjos. Chegaram à assembleia, a igreja dos primeiros filhos de Deus cujos nomes estão inscritos no céu. Chegaram a Deus, que é o juiz de todos, e aos espíritos daqueles que foram justificados e que já alcançaram a perfeição. E chegaram a Jesus, o mediador da nova aliança, que derramou o seu sangue, que graciosamente perdoa, ao contrário do sangue de Abel. Não fechem pois os ouvidos a quem vos fala. Porque se não escaparam aqueles que recusaram ouvir aquele que os advertia aqui na Terra, muito menos escaparemos nós se recusarmos ouvir aquele que é do céu. Quando Deus falou do monte Sinai, a sua voz fez tremer essa terra. Mas Deus diz-nos: “Ainda abalarei os céus e a Terra.” Com estas palavras Deus mostra a fragilidade do mundo material, que pode ser sacudido, para que só fiquem as coisas inabaláveis. Visto que recebemos um reino que não pode ser destruído, sejamos agradecidos e agrademos a Deus, adorando-o com profunda e santa reverência, porque o nosso Deus é como um fogo devorador. Não deixem nunca de se amar com amor fraterno. Não se esqueçam da hospitalidade, porque foi assim que alguns hospedaram anjos, sem o saber. Lembrem-se dos presos, como se estivessem presos com eles, e dos que são maltratados como se fossem vocês mesmos a sofrer. Que o casamento seja por todos respeitado, assim como a fidelidade entre marido e mulher. Deus castigará sem falta os que se entregam à imoralidade sexual e cometem adultério. Fujam do amor ao dinheiro; contentem-se com o que têm, porque Deus disse: “Não te deixarei, nem te abandonarei.” É por isso que podemos afirmar com toda a segurança: “O Senhor é aquele que me ajuda. Não terei medo do que o homem me possa fazer.” Lembrem-se dos vossos líderes, que vos têm ensinado a palavra de Deus. Procurem imitar a sua fé, observando a sua maneira de viver. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Não se deixem levar por doutrinas várias e estranhas, pois a vossa força espiritual é uma dádiva de Deus e não o resultado de rituais sobre alimentos, que de nada aproveitam aos que se submetem a eles. Temos um altar no qual os que servem no tabernáculo não têm direito de participar. No sistema das leis judaicas, o sumo sacerdote trazia o sangue dos animais sacrificados para o santuário, como um sacrifício pelo pecado, e depois os corpos desses mesmos animais eram queimados fora do acampamento. Foi por isso que Jesus também sofreu, vertendo o seu próprio sangue para nos santificar, mas fora de porta. Vamos então ter com ele, lá fora, para com ele partilhar do desprezo que o mundo lhe oferece. Porque não é neste mundo que temos a nossa verdadeira pátria, mas buscamos a futura. Ofereçamos então continuamente a Deus, por intermédio de Jesus, sacrifícios de louvor, que consistem essencialmente no fruto de bocas que proclamam a glória do seu nome. Não se esqueçam também de fazer o bem e de repartir com outros, pois com esses sacrifícios Deus se agrada. Obedeçam aos vossos líderes, aceitando as suas diretivas; porque procuram estar atentos às vossas almas, tendo de dar contas a Deus. Que eles o possam fazer com alegria, não a custo, pois isso não vos seria útil. Orem por nós. Sabemos que a nossa consciência está limpa, pois em tudo nos temos conduzidos com honestidade. Peço-vos com insistência que continuem a orar por mim, para que possa ir ter convosco o mais brevemente possível. Que o Deus de paz, que ressuscitou o nosso Senhor Jesus Cristo, o grande pastor do rebanho, o qual selou com o seu sangue a aliança eterna, vos aperfeiçoe em tudo, para fazerem a sua vontade, fazendo surgir nas vossas vidas tudo o que lhe é agradável, através de Cristo Jesus. A ele seja dada glória para todo o sempre. Que assim seja! Rogo-vos, irmãos, que atentem cuidadosamente para as palavras de consolo desta carta, que vos escrevi abreviadamente. Dou-vos a conhecer que o irmão Timóteo já saiu da prisão, com o qual, se vier a tempo, vos irei visitar. Deem saudações a todos os vossos líderes e a todos os crentes em geral. Os cristãos da Itália saúdam-vos. Que a graça de Deus seja com todos. Tiago, ao serviço de Deus e do Senhor Jesus Cristo, saúda as doze tribos de Israel espalhadas por diversas partes do mundo. Meus irmãos, considerem-se felizes, quando tiverem de passar por diversas provações. Porque se a vossa fé for posta à prova, tornar-se-á mais perseverante. Que ela resista pois até ao fim, e assim a vossa formação se completará, com uma conduta íntegra, e serão maduros espiritualmente. E se alguém tem falta da sabedoria necessária, peça-a a Deus, que está sempre pronto a dar generosamente, sem a menor censura, e lhe será dada. Mas que esse pedido seja feito com fé, na certeza da resposta. Porque quem se dirige a Deus duvidando é semelhante às ondas do mar levadas pelos ventos, lançadas de um lado para o outro. Quanto aos crentes de condição social mais humilde, sintam-se contentes porque Deus os tem exaltado. Por outro lado, o rico deve sentir-se animado quando o Senhor o reduz à sua justa condição humana, pois ele passará como a flor do campo. Quando o Sol aquece na força, ela seca e cai, e a sua beleza desaparece. Assim são os ricos no seu luxo. Feliz aquele que resiste à prova, porque depois receberá a coroa da vida que o Senhor promete aos que o amam. Que ninguém, perante a tentação, diga que é Deus quem o está a tentar. Porque Deus não está sujeito à ação do mal e, por isso, nunca poderia tentar ninguém. Quando uma pessoa é tentada, são os seus próprios desejos maus que a seduzem. Depois, essa maldade, se lhe cedemos, gera o pecado que, por sua vez, produz a morte. Portanto, não se deixem enganar, queridos irmãos. É de Deus que nos vem tudo o que é bom e perfeito. Ele que é o Criador de toda a luz e nele não há sombra, nem mudança. E foi por um ato da sua vontade que nos fez renascer, por meio da palavra da verdade, e nos tornámos os primeiros frutos da sua nova criação. Saibam isto, irmãos: é melhor ouvir muito e falar pouco e também ser lento a irritar-se. Porque não é com irritação que se cumpre a justiça de Deus. Por isso, desembaracem-se de tudo o que é sujo e mau e recebam, com um espírito dócil, a palavra que foi semeada nos vossos corações e que pode salvar as vossas almas. Cumpram, efetivamente, o que a palavra vos diz e não se limitem a ouvi-la. De outra forma, correm o risco de se iludirem. Porque quem se contenta em ouvir a palavra de Deus e não procura pô-la em ação é como alguém que se observa ao espelho. Assim que se afasta, esquece-se de como era a sua imagem. Aquele, porém, que presta atenção à lei perfeita de Deus, que nos torna livres, não sendo um ouvinte que facilmente esquece, mas que cumpre o que esta lhe diz, esse será feliz naquilo que faz. Se alguém diz ser religioso, mas não é capaz de travar a sua língua, engana-se a si mesmo. A sua religião não lhe vale de nada. A verdadeira religião, aos olhos de Deus, pura e sem falhas, consiste em amparar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações. Consiste também em não se deixar influenciar pela corrupção do mundo. Meus irmãos, a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, é incompatível com atitudes de parcialidade em relação às pessoas. Se, no vosso local de reunião, entrar uma pessoa muito bem vestida e com joias nos dedos, e ao mesmo tempo chegar alguém que é pobre e mal vestido; se, considerando a aparência vistosa do primeiro, lhe derem preferência, dizendo-lhe para se sentar no lugar de mais destaque, e se disserem ao pobre para ficar mesmo de pé ou num canto da sala, não estarão a estabelecer diferenças e a fazer juízos determinados por pensamentos condenáveis? Ouçam, queridos irmãos: Deus tem escolhido gente pobre nesta Terra para serem ricos na fé, garantindo-lhes a entrada no reino do céu, que Deus prometeu aos que o amam. Mas daquela maneira desonraram o pobre. E não são geralmente os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? Não são eles também que blasfemam o honroso nome de Cristo, que vos identifica enquanto cristãos? Se cumprirem a mais importante Lei de Deus, contida na sua palavra, que é: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, então fazem bem. Mas, ao fazer distinção entre pessoas, estão a pecar, e tornam-se culpados de transgredir essa Lei de Deus. E o facto é que se alguém pretende cumprir cada um dos mandamentos, e depois vier a tropeçar, desobedecendo a um só, torna-se culpado em relação a toda a Lei. Porque o mesmo Deus que disse: “Não adulteres”, também disse: “Não mates.” Portanto, se realmente não adulterares, mas se matares, és culpado perante a Lei. Que as vossas palavras e os vossos atos sejam os de quem será julgado pela lei da liberdade. E esse julgamento será exercido sem compaixão sobre quem não teve misericórdia. Mas quem mostrar benignidade não terá receio do julgamento. Meus irmãos, que interessa se alguém disser que tem fé em Deus e não fizer prova disso através de obras? Esse tipo de fé não salva ninguém. Se um irmão ou irmã sofrer por falta de vestuário, ou por passar fome, e lhe disserem: “Procura viver pacificamente e vai-te aquecendo e comendo como puderes”, e não lhe derem aquilo de que precisa para viver, uma tal resposta fará algum bem? Assim também a fé, se não se traduzir em obras, é morta em si mesma. Poderão até dizer: “Tu tens a fé, mas eu tenho as obras. Mostra-me então a tua fé sem as obras. Porque eu dou-te a prova da minha fé através das minhas boas obras!” Crês que há um só Deus? Estás muito certo. Mas lembra-te que os demónios também creem e tremem! És uma pessoa bem insensata se não conseguires compreender que a fé sem obras não vale de nada. Não mostrou o nosso pai Abraão que era justo através dos seus atos, ao oferecer a Deus o seu filho, Isaque, sobre um altar? Como vês, na sua vida a fé e as obras atuaram conjuntamente. A fé completou-se através das obras. Por isso, as Escrituras dizem: “Abraão creu em Deus e este declarou-o como justo.” E foi chamado o amigo de Deus. Estão a ver então que a pessoa é considerada justa aos olhos de Deus pelo que faz e não só por crer. Outro exemplo é Raabe, aquela mulher que era meretriz. Ela foi declarada justa por aquilo que fez, pois não teve medo de esconder os espias e ajudou-os a escaparem-se por outro caminho. Tal como o corpo está morto se não há espírito nele, assim também a fé sem obras está morta. Meus irmãos, pensem bem antes de querer ser professores. Não se esqueçam que quem ensina será sujeito a um julgamento mais rigoroso de Deus. Todos nós cometemos erros. Quem puder dominar perfeitamente o seu falar poderá considerar-se perfeito e capaz de controlar todo o seu ser. Podemos dominar um possante cavalo por meio dum pequeno freio na sua boca. E um pequeno leme faz um grande navio virar para onde o piloto quiser, mesmo quando há forte vento. O mesmo se passa com a língua: um membro bem pequeno, mas que pode gabar-se de grandes coisas! Uma floresta inteira pode ser incendiada por uma simples faísca. Pois também a língua é como um fogo. Ela é mesmo um mundo de injustiça e é capaz de contaminar todo o nosso ser. Alimentada com o fogo do inferno, é capaz de inflamar a nossa existência. Toda a espécie de animais se podem subjugar: animais ferozes, répteis, aves e até peixes; todos se podem domar. Mas ninguém consegue dominar a sua língua. É um mal que não se pode controlar. Está sempre pronta a expelir veneno mortal. Com ela damos louvores ao Senhor, nosso Pai, e outras vezes dizemos as piores coisas contra os homens, que são feitos à semelhança de Deus. Assim, a mesma boca emite bênçãos e roga pragas. Meus irmãos, não está certo que seja assim. Será que da mesma fonte pode sair água doce e água salobra? E uma figueira pode produzir azeitonas ou uma videira figos? A mesma fonte também não pode dar água boa e má ao mesmo tempo. Quem no vosso meio tem sabedoria e bom entendimento? Então que o mostre pela sua conduta e através da sua maneira de ser sensata e humana. Mas se no vosso coração houver inveja e espírito de intriga, então é que não poderá haver razão para se gabarem de uma sabedoria que não possuem, mentindo contra a verdade. Essa pseudo-sabedoria não vem certamente do céu. Mas é mundana, não espiritual e diabólica. Porque onde houver inveja e rivalidade aí há de, certamente, reinar a discórdia, e tudo o que possa existir de mal. Contudo, a sabedoria que vem de Deus é, acima de tudo, isenta de toda a maldade. Além disso, é amante da paz, sóbria, tolerante e compreensiva, cheia de misericórdia e de boas ações, imparcial e sem hipocrisia. Aqueles que promovem a paz estão como que a lançar sementes que darão como fruto a justiça. Donde vêm as guerras e os conflitos entre vocês? Não vêm justamente das paixões que no vosso ser se confrontam? Cobiçam, mas não alcançam. Matam e desejam o que os outros têm, mas que não conseguem obtê-lo. Daí as lutas e as guerras. Não têm porque não pedem a Deus. Ou então, quando pedem, não recebem, porque fazem-no com más intenções; pedem com o fim de satisfazer os vossos apetites. Vocês são desleais como adúlteros! Não veem que gostar do mundo é estar contra Deus? Quem quiser ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus. Ou julgam sem razão aquela escritura que diz que o espírito que ele colocou dentro de nós tem ciúmes? Por isso, tanto maior é o seu auxílio. E também está escrito que “Deus opõe-se aos orgulhosos, mas favorece os humildes.” Sujeitem-se pois a Deus, resistam ao Diabo e ele fugirá de vocês. Cheguem-se a Deus e ele se chegará a vocês. Lavem as mãos da maldade, pecadores! E aqueles cuja vida não está decididamente com Deus, revejam os vossos intentos. Pensem na vossa miséria moral e lamentem o que fizeram, arrependidos. Que o vosso riso se transforme em tristeza e a vossa alegria em choro. Humilhem-se perante o Senhor que ele vos elevará. Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão é como se fosse seu juiz. Coloca-se no lugar da Lei e está também a criticá-la. E se criticas a Lei, já não estás a segui-la, mas a substituí-la como juiz. Só Deus, que fez a Lei, tem poder para nos julgar, para nos salvar ou para nos condenar. Portanto, quem és tu que julgas o teu próximo? E quanto àqueles que dizem: “Hoje ou amanhã iremos a tal e tal sítio e aí passaremos um tempo, e negociaremos e ganharemos”, como é que sabem o que vai acontecer amanhã? A vossa vida não passa de um vapor que se forma e logo se esvai. O que deveriam dizer é: “Se o Senhor quiser, e se estivermos vivos, haveremos de fazer isto e aquilo.” Em vez disso, continuam a orgulhar-se das vossas capacidades, esquecendo-se de que essa segurança orgulhosa é um mal. Quem sabe fazer o bem e não o pratica está a pecar. E agora vocês, os ricos: deviam chorar e lamentar-se por causa das desgraças que hão de vir às vossas vidas. As vossas riquezas apodrecem de inutilidade. A vossa roupa vai sendo comida pela traça. O vosso ouro e a vossa prata são corroídos. As próprias riquezas em que confiavam consumirão como fogo a vossa carne. Os bens que têm acumulado serão evidências contra vocês nos últimos dias. Não pagaram o salário justo aos que trabalharam nas vossas terras. O protesto desses trabalhadores sobe até aos ouvidos do Senhor dos exércitos! Têm vivido aqui na Terra no meio de luxo e na satisfação dos vossos próprios desejos. Têm engordado os vossos corações, como um animal para o dia da matança. Condenaram e mataram o inocente, o qual não conseguiu resistir-vos! Mas vocês, irmãos, sejam pacientes, aguardando a vinda do Senhor. O lavrador também espera com paciência o precioso fruto da terra, assim como as primeiras e as últimas chuvas. Sejam então perseverantes, enchendo o coração de força, porque a vinda do Senhor aproxima-se. Irmãos, não andem sempre em queixas uns contra os outros para que não sejam condenados pelo Senhor. E não se esqueçam de que o grande Juiz está à porta. Tomem como exemplo de resistência e coragem os profetas, aqueles que vos falaram em nome do Senhor. Sempre temos considerado felizes aqueles que resistem perante as provações. Ouviram da paciência de Job e viram o que, por fim, o Senhor lhe concedeu. Porque o Senhor é cheio de bondade e de compaixão. Sobretudo, nunca façam juras, meus irmãos; nem pelo céu, nem pela Terra, ou por outra coisa qualquer. Quando tiverem que dizer sim, digam simplesmente “sim”, e quando for não, digam “não”, para que não venham a ser condenados. Se alguém no vosso meio estiver aflito ore a Deus. Quem estiver contente, louve a Deus. Se alguém estiver doente chame os anciãos da igreja, os quais orarão por ele e derramarão sobre ele azeite, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente e o Senhor o levantará. Se tiver cometido pecados ser-lhe-ão perdoados. Confessem as vossas faltas uns aos outros e orem também uns pelos outros; assim serão curados. A oração feita por um justo alcançará resultados muito grandes. Elias, por exemplo, era um homem com a mesma natureza que nós e, orando, pediu com fervor que não chovesse. E durante três anos e meio não choveu sobre a terra. Depois, tornou a orar e o céu deu chuva e a terra voltou a produzir os seus frutos. Se algum de vocês se tiver desviado da verdade e outro o ajudar a voltar, irmãos, lembrem-se disto: aquele que ajuda qualquer pecador a deixar o seu erro salvará essa alma da morte e contribuirá para o perdão de muitos pecados. Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos que vivem como estrangeiros no mundo, espalhados pelo Ponto, Galácia, Capadócia, província da Ásia e Bitínia. Deus o Pai escolheu-vos, sabendo que haveriam de tornar-se seus. E o Espírito Santo tem-vos santificado, pelo sangue de Jesus Cristo, tornando-vos capazes de lhe obedecer. Que Deus vos dê a sua graça e a sua paz em abundância. Toda a honra seja dada a Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois foi a sua grande misericórdia que nos fez nascer de novo para uma esperança viva, pela ressurreição de Cristo de entre os mortos, para a posse da herança que Deus vos reservou nos céus, que não poderá nem alterar-se, nem deteriorar-se, nem desaparecer. Por meio da fé, Deus guarda-vos pelo seu poder para a salvação que há de manisfestar-se antes do fim dos tempos. É caso para estarem bem alegres com isso, ainda que por algum tempo sofram provações diversas. Estas tribulações são apenas para provar a vossa fé, para mostrar que é forte e genuína. Está a ser testada como ouro que é purificado pelo fogo. Mas a vossa fé é muito mais preciosa do que o simples ouro. Por isso, se a vossa fé permanecer forte, depois de testada pelo fogo, resultará em louvor, glória e honra no dia da vinda de Jesus Cristo. Vocês amam a Cristo sem nunca o terem visto. Mesmo agora, não o vendo, mas crendo nele, alegram-se com uma felicidade indescritível e cheia de glória, porque estão a receber a salvação das vossas almas, que é o resultado da vossa fé nele. Esta salvação foi algo que os profetas investigaram e procuraram conhecer, ao referir-se à graça que vos é dada, interrogando-se sobre o tempo e a que circunstâncias o Espírito de Cristo, que estava neles, se referia. Porque os levava a escrever sobre acontecimentos que haveriam de ter lugar com Cristo, os seus sofrimentos e a glória que haveria de seguir-se. Foi-lhes assim revelado que essas coisas não teriam lugar naquele tempo, mas nos nossos dias. E agora estas boas novas têm-vos sido anunciadas por aqueles que vos pregaram pelo Espírito Santo enviado do céu. Para elas os anjos no céu desejam bem atentar. Portanto, com um espírito alerta e com sobriedade, coloquem a vossa esperança na graça que será vossa quando Jesus Cristo voltar. Como filhos obedientes de Deus, não se conformem com a maldade de quando viviam na ignorância. Mas tal como é santo aquele que vos chamou sejam também santos em toda a vossa maneira de viver. Porque ele próprio disse: “Sejam santos, porque eu sou santo.” E lembrem-se de que o vosso Pai divino, a quem oram, não julga com favoritismos. Ele vos julgará com perfeita justiça por tudo o que tiverem feito. Por isso, conduzam-se com temor reverente para com Deus, durante a vossa passagem aqui na Terra. Sabem que Deus pagou um preço para vos resgatar daquela forma inútil de vida que receberam, por tradição, dos vossos pais. E esse resgate pagou-o não com ouro ou prata, mas com o precioso sangue de Cristo, o cordeiro de Deus, sem pecado e sem mancha. Deus designou-o com esse propósito, ainda antes da criação do mundo, mas foi agora manifestado, nesta fase final da história, para vosso bem. Por seu intermédio, confiam em Deus que o ressuscitou da morte e o glorificou, para que a vossa fé e esperança descansem em Deus. Agora podem sentir um amor fraterno, não fingido, porque as vossas almas foram purificadas pela obediência à verdade. Amem-se pois uns aos outros de todo o coração. Porque nasceram de novo, não de uma semente perecível, mas de uma semente imortal, pela palavra de Deus viva e que permanece para sempre. Como o profeta diz: “O ser humano é como a erva, e todo o seu esplendor é como as flores que morrem. A erva seca e as flores caem, mas a palavra do Senhor permanece para sempre.” E esta palavra é a boa nova que vos foi anunciada. Portanto, deixem toda a maldade e todo o engano. Ponham de parte a falta de sinceridade, o ciúme, o falar mal uns dos outros. Cheguem-se a Cristo que é a rocha viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas de grande valor para Deus que a escolheu. Vocês também se tornaram pedras vivas para Deus usar na edificação da sua casa espiritual. E são seus santos sacerdotes para através de Jesus Cristo lhe apresentar ofertas do seu agrado. Como a Escritura o declara: “Eis que ponho em Sião a principal pedra da construção, pedra de muito valor, cuidadosamente escolhida. Aquele que nele crer não será envergonhado.” Sim, ele é, para vocês que creem, algo de muito precioso; mas para os que o rejeitam: “A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício.” E as Escrituras dizem também noutra parte: “Ele é uma pedra de tropeço, e uma rocha que os fará cair.” Eles tropeçam porque não dão ouvidos à palavra de Deus, nem lhe obedecem, e assim terão o fim para que foram destinados. Mas vocês são uma família escolhida por Deus, são sacerdotes ao serviço do Rei, são uma nação santa, um povo que Deus adquiriu para que possam mostrar aos outros a grandeza de Deus que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Antes, não eram considerados povo de Deus; agora sim. Antes, não conheciam a misericórdia de Deus; agora as vossas vidas foram alcançadas por essa misericórdia. Irmãos, aqui nesta Terra vivem apenas de passagem, como estrangeiros; por isso, peço-vos que se mantenham afastados dos prazeres corruptos, pois combatem a vossa própria alma. Tenham cuidado quanto à maneira como se comportam no meio dos gentios; porque assim, mesmo que vos caluniem como malfeitores, acabarão por dar glória a Deus, quando Cristo voltar, por causa das vossas boas obras. Por amor do Senhor, obedeçam às autoridades, seja o rei, por ser a maior autoridade, ou aqueles que, a mando dele, governam e estão encarregados de reprimir os que praticam o mal e louvar os que fazem o bem. É a vontade de Deus que, praticando o bem, tapem a boca aos homens ignorantes nas suas conversas loucas. Vocês são pessoas livres, mas isso não representa liberdade para fazer o mal, antes sim para servirem a Deus. Respeitem toda a gente. Amem os vossos irmãos na mesma fé. Temam a Deus. Honrem o chefe da vossa nação. Vocês, servos, devem respeitar a autoridade dos vossos senhores; não só dos bons e humanos, como daqueles que têm um carácter duro. Porque é coisa apreciável se sofrerem e suportarem contrariedades injustamente, por terem agido conforme a vossa consciência para com Deus! Contudo, nenhum mérito há em suportar o sofrimento e a oposição, quando se praticou o mal. Mas se fizerem o que é justo e sofrerem com isso, suportando as contrariedades, isso é agradável a Deus. É para isto que foram chamados, pois também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos o exemplo, para que sigam os seus passos. Ele nunca cometeu pecado, e nunca enganou; nunca replicou aos que o insultavam e sofrendo nunca ameaçou; tudo entregava àquele que julga com justiça. Levou ele mesmo no seu corpo os nossos pecados sobre a cruz, para que mortos para o pecado pudéssemos viver para a justiça. Pelas suas feridas fomos sarados. Vocês eram como ovelhas desgarradas; mas voltaram agora para o pastor, o guarda das vossas almas. Quanto às esposas, aceitem a autoridade dos seus maridos. Porque se alguns recusarem ouvir a palavra do Senhor, serão ganhos pelo comportamento digno das suas mulheres, ainda que sem palavras, considerando a vossa conduta pura e reverente. Não estejam preocupadas quanto à beleza exterior que consiste no arranjo dos cabelos, nas modas de vestuário ou no ouro. Que a vossa beleza seja sobretudo interior, feita do encanto permanente de um carácter terno e sossegado, o que é precioso diante de Deus. Esse era o tipo de beleza das santas mulheres que confiavam em Deus e que eram submissas aos seus maridos. Sara, por exemplo, sujeitava-se a Abraão, respeitando-o como chefe da casa. Se fizerem o mesmo, estão a ser verdadeiramente suas filhas, e não terão de temer nenhuma intimidação. Vocês, maridos, devem tratar as vossas mulheres igualmente com consideração e respeito, tendo em conta a sua condição feminina. Lembrem-se que partilharão com elas o privilégio da vida eterna. Caso contrário, as vossas orações não serão eficazes. Finalmente, sejam todos unânimes, tendo os mesmos sentimentos, fraternos, cheios de compaixão e de humildade. Não paguem o mal com o mal, nem a injúria com a injúria. Pelo contrário, peçam que Deus abençoe esses que vos ferem, pois fomos chamados a sermos bons para os outros, e Deus nos abençoará com o que nos prometeu. “Se alguém ama a vida e pretende ter muitos anos para ser feliz, então evite dizer más palavras, e que se guarde da mentira; que se afaste do mal, que pratique o bem, que procure a paz e que seja constante nesse caminho. Porque os olhos do Senhor estão sempre a vigiar para proteger a vida dos que se conduzem com justiça; os seus ouvidos estão atentos quando chamam por ele. Mas o Senhor vira a sua cara aos que praticam o mal.” Que mal vos poderá ser feito, se forem zelosos na prática do bem? Mesmo que sofram por causa da justiça, isso tornar-vos-á felizes. Portanto não tenham medo desses tais, nem se perturbem. Deixem Cristo ser o Senhor exclusivo dos vossos corações. E se alguém vos perguntar a razão da vossa esperança, estejam sempre preparados para responder, com delicadeza e respeito. Tenham uma boa consciência. Se os homens falarem mal de vocês, virão eles próprios a ficar envergonhados por vos terem acusado falsamente, ao verificarem a vossa boa conduta em Cristo. Lembrem-se que, se Deus quiser que sofram, é melhor sofrer fazendo o bem do que fazendo o mal. Cristo também sofreu. Ele morreu uma vez pelos pecados, o justo pelos pecadores, para levar-nos a Deus. Foi morto fisicamente e tornou a viver pelo Espírito. E foi no Espírito que visitou e pregou aos espíritos em prisão, daqueles que já antes recusaram obedecer a Deus, apesar da paciência com que Deus esperava, enquanto Noé construía a arca, na qual apenas oito pessoas se salvaram da morte no dilúvio. Isto é uma figura do batismo que agora vos salva pelo poder da ressurreição de Jesus Cristo. Não se trata de uma lavagem física do corpo pela água, mas sim voltarmo-nos para Deus, pedindo-lhe que limpe as nossas consciências do pecado. Portanto, agora Cristo está sentado no céu, no lugar de honra à direita de Deus, onde todos os anjos, autoridades e poderes celestiais lhe estão sujeitos. Uma vez que Cristo padeceu fisicamente por nós, também devem estar dispostos a sofrer, porque aquele que sofreu no seu corpo, rompeu com o pecado. Não devem gastar o resto da vossa vida terrena andando atrás de desejos meramente humanos, mas devem desejar fazer a vontade de Deus. Bem basta que no passado tenham seguido o estilo de vida dos gentios: o comportamento sexual libertino, o deboche, a embriaguez, as orgias, os vícios, as abomináveis idolatrias. Eles estranham que já não acompanhem com eles na mesma corrida desenfreada de dissolução e injuriam-vos. Mas terão de dar contas ao juiz de todos, dos vivos e dos mortos. Por isso, as boas novas foram pregadas mesmo aos que morreram, para que, ainda que os seus corpos tivessem recebido a sentença da morte, como toda a gente, os seus espíritos vivessem segundo o juízo de Deus. O fim de todas as coisas aproxima-se. Portanto sejam sóbrios, vigiando, para que possam orar. E acima de tudo continuem a mostrar um intenso amor uns pelos outros, porque o amor cobre uma imensidão de pecados. Abram, sem se queixarem, as portas do vosso lar aos que precisarem. Deus deu dons a cada um de vocês. Certifiquem-se de que utilizam com sabedoria a variedade de bênçãos de Deus, para servir os outros. Alguém é chamado a falar em público? Que o faça como se Deus mesmo falasse por ele. Alguém é chamado a prestar serviços aos outros? Que o faça com as forças que Deus lhe concede, para que Deus seja glorificado em tudo, por meio de Jesus Cristo. A ele seja dada a glória e o poder para todo o sempre. Que assim seja! Queridos amigos, não se admirem quando vierem a passar por provas ardentes como se algo de estranho vos sucedesse. Pelo contrário, alegrem-se por essas provações vos tornarem companheiros de Cristo nos seus sofrimentos; depois terão o gozo e o privilégio de participar na manifestação da sua glória. Considerem-se felizes se são insultados por serem cristãos, porque o glorioso Espírito de Deus repousa sobre vocês. Que ninguém padeça por homicídio ou roubo ou desacato, ou por se meter na vida dos outros. Mas sofrer por ser cristão não é, de forma alguma, uma vergonha. Glorifiquem a Deus por isso! Chegou o tempo do julgamento, e ele deve começar pela casa de Deus. E se até os crentes devem ser julgados, que terrível destino aguarda aqueles que nunca creram nas boas novas de Deus! Como diz a Escritura: “Se os justos se salvam à justa, que será dos ímpios e pecadores?” Portanto, se estiverem a sofrer de acordo com a vontade de Deus, continuem a fazer o que é justo, entregando-vos ao Deus criador, digno da nossa confiança. E agora uma palavra para os que são anciãos entre vocês. Também eu sou ancião com eles e sou testemunha dos sofrimentos de Cristo. E serei participante da sua glória quando ele voltar. Alimentem o rebanho de Deus que está a vosso cargo. Cuidem dele de boa vontade, não contrariados, não pelo que podem vir a ganhar com isso, mas por zelo em servir o Senhor. Não dominem aqueles que vos foram confiados, mas conduzam-nos pelo vosso bom exemplo. E quando o supremo Pastor vier, ele vos recompensará com uma coroa perpétua na sua glória. Os mais novos, aceitem a autoridade dos anciãos e sujeitem-se todos uns aos outros, com humildade, porque “Deus opõe-se aos orgulhosos, mas favorece os humildes.” Portanto, se se humilharem sob a poderosa mão de Deus, ele a seu tempo vos elevará. Entreguem-lhe toda a vossa ansiedade, porque ele cuida de vocês. Vivam sobriamente. Estejam vigilantes quanto aos ataques do Diabo, o vosso inimigo que vos cerca, rugindo como um leão, buscando a quem possa tragar. Resistam-lhe firmes na fé. E lembrem-se de que outros cristãos, por todo o mundo, passam pelas mesmas aflições. Depois de terem sofrido um pouco de tempo, o nosso Deus, que é fonte de imensa bondade, e que vos dará a sua eterna glória em Cristo Jesus, virá pessoalmente para vos aperfeiçoar, confirmar e fortificar. Seja-lhe pois dada a glória e o poder para sempre. Amém! Escrevi-vos esta pequena carta com a ajuda de Silas, que considero um irmão fiel. Espero ter-vos encorajado com estas linhas, pois dei-vos o testemunho de como a graça de Deus está convosco, seja o que for que aconteça. Permaneçam firmes nele. A igreja-irmã em Babilónia manda-vos saudações, tal como o meu filho Marcos. Saúdem-se uns aos outros com um beijo de amor fraterno. A paz seja com todos os que estão em Cristo Jesus. Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, a todos os que têm a mesma fé preciosa que nós temos, e que nos foi dada pela justiça de Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador. Que através de um melhor conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor, a sua graça e a sua paz vos sejam multiplicadas. Conhecendo plenamente aquele que nos chamou pela sua própria grandeza e virtude, é-nos dado, através do seu poder divino, tudo o que necessitamos para a vida e piedade. Pelo mesmo grande poder, deu-nos as suas preciosas e grandes promessas, para por elas participarmos da natureza divina e escaparmos à corrupção do mundo causada por desejos maus. Sendo assim, esforcem-se diligentemente por acrescentar à vossa fé uma boa conduta, além do conhecimento. Depois aprendam o que é o domínio próprio. Acrescentem-lhe a perseverança e ainda a piedade. E não se esqueçam da afeição fraterna e do amor. Porque se estas qualidades abundarem na vossa vida, elas não vos deixarão ociosos nem estéreis, antes frutuosos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Quem falhar nestas coisas é como um cego ou como alguém que não vê ao longe, tendo-se certamente esquecido de que Deus o livrou do pecado da sua vida passada. Portanto, irmãos, procurem de forma ativa estar firmes na chamada e escolha de Deus, porque assim não hão de tropeçar, nem desviar-se. E Deus vos abrirá de par em par a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Tenho pois a intenção de continuar a lembrar-vos estas coisas, ainda que já as saibam e estejam firmes na verdade que alcançaram. Enquanto aqui estiver, penso que é justo mandar-vos estes avisos. Sabendo que em breve deixarei esta vida como o nosso Senhor Jesus Cristo me mostrou. Contudo, esforço-me para que depois de eu ter partido se lembrem sempre deles. Porque não foi com narrativas imaginadas engenhosamente que vos fizemos conhecer o poder de nosso Senhor Jesus Cristo e da sua vinda. É que nós próprios vimos a sua majestade. Ele recebeu de Deus, o seu Pai, honra e glória, quando da gloriosa majestade uma voz se ouviu: “Este é o meu Filho amado, em quem tenho grande prazer.” Nós estávamos com ele, naquele monte, quando essa voz se ouviu, vinda do céu. Vimos assim reforçada a palavra dos profetas, aos quais fazem bem prestar toda a atenção, como uma luz iluminando um sítio escuro, até que o dia surja e a sua luz brilhante ilumine os vossos corações. Sobretudo, devem entender que nenhuma profecia da Escritura proveio dos próprios profetas. Isto é, a profecia nunca foi originada pela vontade humana. Foi o Espírito Santo quem inspirou os profetas para falarem da parte de Deus. Entre o povo judeu também houve falsos profetas, tal como no vosso meio também haverá falsos mestres que, com habilidade, introduzirão doutrinas erradas e devastadoras, voltando-se contra o Senhor que pagou o preço da sua salvação. O seu fim será uma repentina destruição. Muitos seguirão os seus ensinos corruptos e por causa deles o caminho da verdade será escarnecido. Estes, na sua ganância, dirão toda a espécie de mentiras para vos ficar com o dinheiro. Mas o Senhor já há muito os condenou e a sua destruição é inevitável. Porque Deus não poupou sequer os anjos que pecaram, mas lançou-os acorrentados no mundo das trevas, até ao dia do juízo. E não poupou os que viveram nos tempos antigos antes do dilúvio, mas guardou Noé, o único a pregar a justiça, ele e mais outras sete pessoas. Nesse tempo, Deus destruiu com o dilúvio aquela gente que desprezava a Deus. Mais tarde, condenou as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas, colocando-as como exemplo para todos os homens que vivem sem Deus. Ao mesmo tempo, salvou Lot, um homem justo, que se angustiava com a terrível maldade que via e ouvia à sua volta. Ele que era justo, habitando entre eles, sentia dia após dia aflição na sua alma, por causa da perversidade daquela gente. Como veem o Senhor pode salvar da tentação os santos, reservando o castigo dos injustos para o dia futuro do juízo final. Ele é especialmente rigoroso com aqueles que seguem desejos imundos e desprezam toda a autoridade, e com aqueles que são irreverentes e orgulhosos, atrevendo-se mesmo a difamar os poderes celestiais. Contudo, nem os próprios anjos no céu, que são muito maiores em poder e força, falam injuriosamente contra esses poderes diante do Senhor. Mas esses falsos mestres são como animais irracionais, nascidos só para serem apanhados e mortos, difamando aquilo que, aliás, desconhecem. Virão a ser destruídos na sua corrupção. Esta é a recompensa que terão pela sua injustiça. Porque vivem à luz do dia em prazeres de luxúria. São como nódoas que causam impureza, ao viverem deleitados na sua conduta enganosa, enquanto vão frequentando os vossos encontros de fraternidade. Nenhuma mulher escapa aos seus olhares pecaminosos e nunca se fartam de adultério. Sabem enganar as pessoas de carácter inconstante. São peritos na ganância; vivem sob constante maldição. Desprezaram o caminho da retidão e tornaram-se como Balaão, filho de Beor, que se deixou enganar pelo amor à recompensa da injustiça. Mas o profeta Balaão foi impedido de dar seguimento ao seu louco intento quando o animal que montava o repreendeu com voz humana. Estes homens são tão inúteis como fontes sem água. São instáveis como nuvens levadas pela força do vento. Estão condenados à escuridão das trevas. Falam com arrogância de coisas sem valor e usam a luxúria como isca para fazer voltar ao pecado aqueles que se tinham libertado de uma tal vida. Prometem liberdade, enquanto eles mesmos são escravos da corrupção. Porque uma pessoa é escrava daquilo que a domina. E quando alguém escapa dos caminhos de maldade deste mundo, através do conhecimento que teve de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e se deixa depois novamente envolver e vencer pelo pecado, fica pior do que antes. Teria sido melhor não ter conhecido o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviar-se do santo mandamento que lhe foi entregue. É como a velha parábola: “O cachorro volta a farejar o que vomitou, e a porca, depois de lavada, volta à lama em que se espoja.” Esta é a minha segunda carta, queridos irmãos. Em ambas tentei que recordassem factos de que já tiveram conhecimento. Quero que lembrem e compreendam as palavras que antes foram ditas pelos santos profetas e pelos vossos apóstolos, que vos trouxeram os mandamentos do Senhor e Salvador. Antes de mais, quero que se lembrem de que nos últimos dias haverá escarnecedores cheios de zombarias, andando segundo as suas próprias paixões. E argumentarão assim: “Que é feito da promessa de Jesus em como voltaria? Porque tanto quanto se pode conhecer do passado, tudo permanece na mesma desde o princípio da criação.” E Deus, pela mesma palavra, mandou que a Terra e os céus se reservem para o fogo no dia do juízo, quando todos os homens ímpios perecerão. E não se esqueçam disto, queridos irmãos, que um dia para o Senhor é como mil anos e mil anos como um dia. Ele não está a adiar a promessa do seu regresso, ainda que para alguns assim pareça, mas é paciente convosco, não querendo que ninguém se perca, mas que todos venham a arrepender-se. O dia do Senhor virá inesperadamente como um ladrão. Então os céus desaparecerão com grande estrondo, os corpos celestes se desfarão em fogo e a Terra e tudo o que nela existe se queimará. Sendo que tudo deverá desaparecer assim, como deveriam ser santas e piedosas as vossas vidas! Devem pois aguardar esse dia, apressando a vinda desse dia de Deus, em que os céus em fogo serão destruídos, e os elementos, ardendo, se fundirão. Porém nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova Terra, um mundo de justiça. Queridos amigos, enquanto aguardamos estas coisas, procurem diligentemente que ele vos encontre vivendo retamente, sem pecar e em paz com Deus. Se o nosso Senhor é paciente é para que muitos tenham ainda a oportunidade da salvação. O nosso querido irmão Paulo já vos falou das mesmas coisas em todas as suas cartas, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Há nelas pontos que não são fáceis de entender e que certas pessoas ignorantes ou superficiais distorcem, tal como as outras Escrituras, e isso para sua própria ruína espiritual. Sabendo isto de antemão, queridos amigos, guardem-se de serem levados pelo engano de homens perversos, ficando vocês mesmos também abalados na vossa firmeza. Cresçam antes na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, agora como eternamente. Amém! Aquele que é desde o princípio, nós mesmos o ouvimos e vimos. Nós o vimos com os nossos olhos e tocámos-lhe com as nossas próprias mãos. Ele é Jesus Cristo, a palavra da vida. Ele é a vida manifestada. Ele, a vida eterna que estava com o Pai, foi-nos revelado, e somos testemunhas de que o vimos. Isso vos anunciamos. Estamos a comunicar-vos aquilo que realmente vimos e ouvimos, para que possam participar connosco da comunhão que temos com o Pai e com Jesus Cristo, seu Filho. Portanto, se vos escrevemos é para que o nosso gozo seja completo. Esta é a mensagem que Deus nos deu para vos transmitir: que Deus é luz e não há nele trevas nenhumas. Por isso, se dissermos que somos seus amigos e continuarmos a viver em trevas, estamos a mentir e não expressamos a verdade. Mas se vivermos na luz da presença de Deus, então existirá fraternidade uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, purifica-nos de todo o pecado. Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e estamos a rejeitar a verdade. Mas se lhe confessarmos os nossos pecados, podemos confiar que ele é fiel e justo e nos perdoará e purificará de toda a injustiça. Se afirmarmos que não pecámos, chamamos mentiroso a Deus, e a sua palavra não tem lugar nos nossos corações. Meus filhinhos, digo-vos isto para que se mantenham longe do pecado. Mas se pecarem, existe um advogado a nosso favor junto do Pai. É Jesus Cristo, o justo. Ele tornou possível a nossa relação com Deus, pois por ele foram expiados não só os nossos pecados, mas os de todo o mundo. E saberemos que conhecemos a Deus se guardarmos os seus mandamentos. Se alguém disser: “Eu conheço a Deus”, mas não segue os seus mandamentos, é um mentiroso; nele não habita a verdade. Queridos irmãos, ao escrever-vos isto não estou a dar-vos um novo mandamento. Estou antes a repetir o que desde o princípio ouviram. E este é o mandamento que sempre vos foi anunciado. E contudo, é sempre como que um novo mandamento que já provou ser verdadeiro tanto em Cristo como em vocês. Porque vão desaparecendo as trevas, começando a brilhar a verdadeira luz. Aquele que diz que vive na luz e aborrece o seu irmão na fé continua ainda em trevas. Mas quem ama o seu irmão está na luz e não é tropeço para ninguém. Mas aquele que detesta o seu irmão é como se andasse em trevas, sem saber para onde vai, pois a própria escuridão o cega. Estou a escrever-vos estas coisas, meus queridos filhos, porque os vossos pecados vos são perdoados pelo nome de Jesus. Também vos escrevo, pais, porque conhecem aquele que existia desde o princípio. Escrevo-vos, jovens, porque venceram o Maligno. Enfim, meus filhos, se vos escrevi é porque têm conhecido a Deus, o Pai. Por isso, escrevi aos pais, que conhecem aquele que existia desde o princípio. E aos jovens, fortes com são, que a palavra de Deus está em vocês, e venceram o Maligno. Deixem de amar este mundo mau e tudo quanto ele vos oferece. Porque se amamos o mundo mostramos que não temos o amor do Pai em nós. Porque tudo isto que existe no mundo, os desejos corruptos da natureza carnal, a sede de ter o que atrai o olhar, assim como o orgulho da posse e do poder, não vêm de Deus, mas faz parte da própria vida no mundo. E este mundo passará, com toda a sua corrupção, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre. Queridos filhos, estamos no fim da história deste mundo. Ouviram que se aproxima o Anticristo e já muitos como ele têm aparecido. E assim conhecemos que se aproxima a última hora Estes viviam no nosso meio, mas não eram dos nossos, porque se não teriam ficado connosco. Ao deixarem-nos, provou-se que não pertenciam aos nossos. Mas vocês não são assim, porque receberam o Espírito Santo e têm conhecimento da verdade. Não estou a escrever-vos como a alguém que precisa de conhecer a verdade. No entanto, deixo o aviso porque, sabendo a verdade, devem ser capazes de discernir a diferença entre a verdade e a mentira. E quem é o mentiroso? É aquele que nega que Jesus é o Cristo. Toda a pessoa que não crê em Deus, o Pai, e no seu Filho, é um anticristo. Porque uma pessoa que não crê em Cristo, o Filho de Deus, rejeita igualmente a Deus, o Pai. Mas aquele que confessa ter Cristo no seu coração tem também o Pai. Continuem, portanto, a guardar cuidadosamente aquilo que ouviram desde o princípio. Se assim fizerem, a vossa comunhão com Deus, o Pai, e com o Filho será permanente. Foi ele próprio quem nos prometeu a vida eterna. Tudo isto vos escrevi por causa daqueles que vos enganam. Mas vocês receberam o Espírito Santo, o qual vive no vosso íntimo, de tal forma que nem é preciso que alguém venha dar-vos instruções. Ele ensina-vos tudo. E o que ele ensina é a verdade e não a mentira. Assim, segundo o que ele já vos ensinou, permaneçam em Cristo. E agora, meus queridos filhos, mantenham-se em comunhão com o Senhor, para que, quando ele vier, estejam confiantes e não tenham que se envergonhar na sua presença. Visto que sabemos que Deus é justo, é lícito concluirmos que todo aquele que pratica a justiça é seu filho. Vejam como o nosso Pai celestial nos ama, a ponto de permitir que sejamos chamados seus filhos! Mas o mundo não compreende que realmente sejamos seus filhos, porque não conhece a Deus. Sim, queridos amigos, agora somos filhos de Deus, mas ainda não foi revelado como haveremos de ser mais tarde. Mas isto sabemos: quando ele vier, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como é. Todo aquele que tem esta esperança procura permanecer puro, tal como Cristo é puro. Quem peca desobedece à Lei, porque todo o pecado é uma violação da Lei de Deus. Vocês bem sabem que ele se manifestou sem pecado, a fim de tirar os nossos pecados. Assim, se permanecermos em Cristo, não continuaremos a viver em pecado. Aqueles que continuam em pecado demonstram que não o conheceram, nem lhe pertencem. Meus queridos filhos, que ninguém vos engane: quem pratica a justiça é porque é justo, tal como Cristo é justo. Mas quem pratica o pecado mostra que pertence ao Diabo, pois este está na origem de todo o pecado. Contudo, o Filho de Deus veio para destruir as obras do Diabo. Quem é nascido de Deus não faz do pecado uma prática, porque nele permanece a semente de Deus. Não pode continuar a viver em pecado, porque nasceu de Deus. E é assim que se manifestam os filhos de Deus e os filhos do Diabo. Quem não anda no caminho da justiça e não ama o seu irmão na fé, mostra que não é de Deus. A mensagem que ouvimos desde o princípio é que nos amemos uns aos outros. Não devemos ser como Caim que pertencia ao Maligno e matou o seu irmão. E porque é que o matou? Porque as suas ações eram más e as do seu irmão eram justas. Por isso, meus irmãos, não se admirem se o mundo vos detesta. A prova de que passámos da morte para a vida é que amamos os outros cristãos. Quem não ama os seus irmãos permanece na morte. Quem aborrece o seu irmão é, no fundo, como um homicida. E sabem bem que nenhum homicida tem em si a vida eterna. O verdadeiro amor conhece-se por aquilo que Cristo fez, morrendo por nós. Por isso, devemos também dar a vida a favor dos irmãos. Se alguém for abastado em recursos materiais e, vendo o seu irmão em necessidade, não o ajudar, como poderá estar nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos só de palavra ou de aparência, mas em verdade, mostrando-o pelas nossas ações. Assim reconheceremos que nos conduzimos de acordo com a verdadeira mensagem cristã e a nossa consciência estará tranquila, na presença de Deus. Mas se a nossa consciência nos acusar, maior é Deus do que a nossa consciência, pois ele tudo conhece. Meus queridos, se a nossa consciência não nos condena, podemos aproximar-nos do Senhor com toda a confiança, e tudo o que pedirmos obteremos dele, visto que guardamos a sua palavra e fazemos o que lhe agrada. E este é o mandamento que nos dá: crer no nome do seu Filho Jesus Cristo e amarmo-nos uns aos outros. Aquele que faz a vontade do Senhor vive em Deus e Deus vive nele. E sabemos que ele vive em nós porque o Espírito Santo nos dá testemunho disso, em nós mesmos. Queridos amigos, não creiam em todos que dizem falar pelo Espírito de Deus: examinem primeiro. Porque há muitos falsos profetas por aí no mundo. A maneira de verificar se as suas mensagens são de Deus é saber se confessam que Jesus Cristo se tornou homem de verdade. Todo aquele que não reconhecer esta verdade, essa pessoa não é de Deus, mas representa o espírito do Anticristo, acerca do qual já ouviram que haveria de vir, e até já se encontra no mundo. Meus queridos amigos, vocês pertencem a Deus e já está ganha a vossa luta contra aqueles que se opõem a Cristo, porque o Espírito que vive no vosso coração é maior que o espírito que vive nas pessoas do mundo. Esses tais pertencem a este mundo, por isso falam à maneira do mundo, e este os ouve. Mas nós somos de Deus. Por isso, só aqueles que conhecem a Deus nos ouvem; os outros não. É dessa maneira que reconhecemos se alguém tem o Espírito da verdade ou o espírito do erro. Meus queridos amigos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus e aquele que ama mostra que é de Deus, nascido de novo, e que conhece a Deus. Mas aquele que não ama, não conhece a Deus; porque Deus é amor. Deus mostrou o seu amor para connosco enviando o seu único Filho ao mundo para que por ele vivamos. E neste ato ele revela o que é o verdadeiro amor: não por causa do amor que tivéssemos por Deus, mas porque ele nos amou a nós e enviou o seu Filho, o qual expiou o castigo dos nossos pecados para que fôssemos perdoados. Queridos amigos, se Deus nos amou assim, também nos devemos amar uns aos outros. Nunca ninguém viu a Deus. Se nos amarmos uns aos outros, Deus vive em nós e o seu amor em nós se completa. E é pelo Espírito Santo, que ele colocou nos nossos corações, que temos a prova de que vivemos em Deus e ele em nós. Além disso, nós vimos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho ao mundo para ser o seu Salvador. Quem crê e diz que Jesus é o Filho de Deus prova que Deus está a viver em si e que ele vive em Deus. Nós sabemos o quanto Deus nos ama e pomos nele a nossa confiança. Deus é amor e aquele que vive em amor permanece em Deus e Deus permanece nele. Nesta comunhão com ele, o amor em nós torna-se completo. E assim não recearemos o dia do juízo, mas encararemos com confiança o Senhor, porque vivemos neste mundo tal como ele viveu. Onde há amor não há medo. Na verdade, o perfeito amor elimina toda a espécie de receio, porque o medo traz consigo a ideia de culpa e mostra que não estamos absolutamente convencidos de que ele nos ama perfeitamente. A verdade é que nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas continuar a detestar o seu irmão na fé, é um mentiroso. Porque se não amar o seu irmão, que está ali diante dos seus olhos, como poderá amar a Deus que nunca viu? E Deus mesmo nos dá este mandamento: que quem ama a Deus deve também amar o seu irmão. Aquele que crê que Jesus é o Cristo tem a Deus por Pai. E todo aquele que ama o Pai ama também os que são igualmente filhos dele. E é desta maneira que se prova que amamos os filhos de Deus: pelo nosso amor a Deus e pela obediência aos seus mandamentos. Até porque o verdadeiro amor a Deus significa fazer o que ele nos diz e na realidade isso não é difícil. Porque todo o filho de Deus vence neste mundo. É pela fé que ele tem essa vitória. E quem na realidade ganha essa batalha contra o mundo? Somente aqueles que creem que Jesus é o Filho de Deus. Jesus Cristo revelado Filho de Deus através da água e do derramamento do seu sangue, não apenas pela água, mas pela água e sangue. O Espírito Santo mesmo nos dá testemunho disso e o Espírito é a verdade. É assim que temos três testemunhos: o do Espírito Santo, o do batismo de Cristo nas águas e o da sua morte na cruz. E os três dizem a mesma coisa. Se recebemos o testemunho de homens, muito mais devemos aceitar tudo o que Deus declara. E Deus declara-nos que Jesus é seu Filho. Todos os que creem no Filho de Deus sabem, nos seus corações, que este testemunho é verdadeiro. E quem não crê em Deus, torna-o mentiroso, pois recusa-se a aceitar o próprio testemunho de Deus a favor de seu Filho. E diz mais esse testemunho: que Deus nos dá a vida eterna. E esta vida está em seu Filho. Por isso, quem tem o Filho de Deus tem a vida; mas quem não tem o Filho não tem a vida. Escrevo estas coisas para que vocês, que creem no nome do Filho de Deus, saibam que têm a vida eterna. E é esta a confiança que temos nele: se lhe pedirmos alguma coisa que esteja de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. E se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, então podemos estar certos de o obter. Se virem um cristão pecar, de uma maneira que não leve à morte, devem orar e Deus lhe dará vida. Mas se o seu pecado for fatal, não digo para intercederem por um caso desses. Toda a injustiça é pecado. Mas nem todo o pecado traz necessariamente, como consequência, a morte. Nós sabemos que aquele que é nascido de Deus não permanece no pecado, mas o Filho de Deus o guarda e o Maligno não lhe toca. Nós sabemos que pertencemos a Deus, e que todo o mundo está sob o Maligno. E sabemos também que o Filho de Deus veio abrir-nos os olhos para que conheçamos o verdadeiro Deus. Estamos assim em comunhão com o Deus verdadeiro, visto que vivemos em seu Filho Jesus Cristo, que é, ele próprio, o verdadeiro Deus e a vida eterna. Meus queridos filhos, guardem-se de qualquer coisa que possa tomar o lugar de Deus nos vossos corações. De João, o ancião, àquela que é eleita de Deus, e aos seus filhos, a quem amo na verdade. E não só eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade. Pois a verdade está em nossos corações para sempre. Deus, o Pai, e Jesus Cristo, seu Filho, nos abençoe, por meio da verdade e do amor, com a sua graça, misericórdia e paz. Tenho muita alegria em constatar que alguns dos teus filhos andam segundo a verdade, de acordo com os mandamentos que recebemos de Deus. E agora rogo-te, com insistência, que nos amemos uns aos outros. Este não é um mandamento novo, mas é um mandamento que temos desde o princípio. O verdadeiro amor revela-se na nossa obediência ao que Deus nos diz. Este é pois o mandamento que desde sempre nos deu: que nos amemos uns aos outros. É que muitos andam já por todo o mundo a enganar, os quais não aceitam que Jesus Cristo tenha vindo com um corpo igual ao nosso. Tal gente é falsa e contra Cristo. Estejam bem vigilantes, para que não venham a perder aquilo que já alcançaram, mas que possam receber a recompensa total dada pelo Senhor. Porque aquele que se desvia dos ensinos de Cristo é como se abandonasse a Deus mesmo. Mas quem permanece fiel à sua doutrina está unido tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco com uma doutrina diferente desta, não o recebam sequer em casa, nem o saúdem. Porque se o fizerem é como se se identificassem com ele e se tornassem participantes da sua maldade. Tinha muito para vos dizer, mas não quero fazê-lo por carta. Espero ir visitar-vos e falar convosco pessoalmente, para que a nossa alegria seja completa. Enviam-te saudações os filhos da tua irmã, a qual Deus também escolheu para si. De João, o ancião, ao querido Gaio, que eu amo verdadeiramente. Querido amigo, a minha oração é que a saúde do teu corpo seja tão robusta como a da tua alma. Pois tive muita alegria quando os irmãos que aí estiveram me falaram da tua fidelidade e de como te conduzes conforme a verdade do evangelho. Não poderia ter maior alegria do que saber que os meus filhos vivem de acordo com a verdade. Meu querido amigo, é uma boa obra que fazes para Deus, quando recebes carinhosamente os irmãos que viajam e por aí passam, mesmo aqueles que não conheces. Eles deram aqui, na presença da igreja, testemunho da tua generosidade. Fazes bem em continuar a prover ao prosseguimento das suas viagens de uma forma que dignifica a Deus. Porque é para anunciar o nome do Senhor que viajam, sem nada receber dos gentios. Devemos, portanto, nós próprios tomá-los a nosso cargo, para que sejamos cooperantes na expansão da verdade. Escrevi sobre certos assuntos à igreja, mas Diótrefes, que tudo faz para ter o primeiro lugar entre os cristãos, recusa aceitar as nossas diretivas. Pelo que, quando aí for, hei de lembrar-lhe todo o mal que tem feito e toda a linguagem imprópria que profere contra mim. E não contente com isto, recusa receber os irmãos que chegam de viagem, indo ao ponto de impedir aqueles que querem recebê-los, excluindo-os da igreja. Querido amigo, não imites o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus, mas quem continua praticando o que é mau não conhece a Deus. Quanto a Demétrio, toda a gente testemunha muito favoravelmente a seu respeito e a própria verdade o apoia. Nós próprios também dizemos o mesmo e sabes bem que falamos a verdade. Teria muito mais a dizer, mas não quero fazê-lo por meio de tinta e cálamo. Espero ver-te em breve e então falaremos pessoalmente. Que a paz esteja na tua vida! Os amigos daqui enviam-te saudações. Peço-te que dês as minhas saudações pessoais a cada um dos amigos daí. Judas, irmão de Tiago, ao serviço de Jesus Cristo, dirijo esta carta aos que Deus Pai chamou e ama, e que Jesus Cristo tem guardado. Desejando que a misericórdia, a paz e o amor se multipliquem nas vossas vidas. Meus queridos amigos, tenho tido muita vontade de vos escrever acerca da salvação que Deus a todos concedeu. Mas agora senti-me levado a encorajar-vos a combaterem pela fé que foi dada de uma vez para sempre aos santos. Digo isto, porque alguns indivíduos incrédulos se introduziram no vosso meio, dizendo que o perdão de Deus permite-nos viver na imoralidade. Desprezam o nosso único Soberano e Senhor, que é Jesus Cristo. A sua condenação está predita desde há muito. E queria lembrar-vos o que já sabem: que o Senhor, quando salvou o povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu mais tarde todos os que não creram. O mesmo aconteceu com os anjos que não permaneceram dentro dos limites de autoridade que Deus lhes concedeu, mas deixaram o lugar onde pertenciam. Deus guarda-os em cadeias perpetuamente, para o grande dia do seu julgamento. Também Sodoma e Gomorra e as cidades vizinhas se corromperam como eles e se entregaram à imoralidade sexual. Essas cidades foram destruídas pelo fogo e são um aviso do fogo eterno que há de punir todos os maus. E assim, as imaginações de tais indivíduos levam-nos a desonrarem os próprios corpos, não reconhecendo nenhuma autoridade e insultando os poderes celestiais. Contudo, nem o arcanjo Miguel, quando se opunha ao Diabo, disputando o corpo de Moisés, se atreveu a amaldiçoá-lo, mas disse: “Que o Senhor te repreenda.” Mas estes dizem mal do que não compreendem. E mesmo aquilo que conhecem por mero instinto, como os animais irracionais, só lhes serve para se corromperem. Ai deles! Porque seguem o exemplo de Caim. E deixaram-se seduzir pela ganância do dinheiro, como aconteceu a Balaão. E também, como Coré, a sua ruína será o resultado da sua desobediência. A presença dessas pessoas nas vossas reuniões de confraternização são como nódoas. Satisfazem-se a si próprios, sem receio de nada. São como nuvens que não dão chuva, que os ventos empurram de um lado para o outro. São como árvores sem folhas e que nenhum fruto apresentam, e que se tornam assim completamente mortas porque lhes morreram as raízes. Tudo o que deixam atrás de si é desonra, tal como a espuma que deixam as vagas agitadas do mar. Vagueiam como estrelas errantes que desaparecem depois nas trevas infinitas, que é também o seu destino. Foi desses que profetizou Enoque, o sétimo descendente de Adão, dizendo: “Olhem que o Senhor há de vir, acompanhado de multidões dos seus santos, para exercer o seu julgamento sobre toda a gente e condenar aqueles que desprezam a Deus, por todas as obras más que cometeram na sua rebeldia, e que proferem, como pecadores que são, toda a sorte de palavras ofensivas contra Deus.” Essas pessoas estão sempre descontentes e insatisfeitas, deixando-se constantemente arrastar pelas paixões carnais. Gostam de exibir um vocabulário espalhafatoso, elogiando pessoas, mas unicamente por interesse. Mas vocês, meus queridos amigos, lembrem-se das palavras que vos disseram os apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo. Que nos últimos tempos haveriam de aparecer indivíduos escarnecedores, vivendo ao sabor dos seus maus desejos. Eles já chegaram e são aqueles que estão a criar divisões no vosso meio. São levados pelos seus instintos naturais, porque não têm neles o Espírito de Deus. Vocês, contudo, queridos irmãos, construam a vossa vida espiritual sobre o alicerce da vossa fé santa, orando conforme o Espírito Santo vos dirigir. Conservem-se no amor de Deus, esperando a chegada do dia em que o nosso Senhor Jesus Cristo vier e manifestar a sua misericórdia, dando-vos a vida eterna. Procurem mostrar compreensão para com aqueles cuja fé está vacilante. Ajudem-nos, arranquem-nos do fogo. Para com outros mostrem compaixão, mas tenham cuidado para não serem contaminados pelos seus pecados. Toda a glória seja dada a Deus, aquele que é capaz de vos guardar de tropeçar e de vos trazer à sua gloriosa presença, inocentes de pecado e cheios de alegria. Toda a glória seja dada àquele que é o único Deus, nosso Salvador, através de Jesus Cristo, nosso Senhor, ao qual pertence a glória, a majestade, o poder e a autoridade, desde sempre, agora e por toda a eternidade. Amém! Este livro revela acontecimentos que se hão de dar num futuro próximo, dizendo respeito a Jesus Cristo, e que Deus revelou por intermédio de João, seu servo, a quem foi enviado um anjo para lhe explicar o significado dessas coisas. E João dá aqui testemunho das palavras de Deus, do que lhe foi revelado por Jesus Cristo, e do que viu e ouviu. Felizes aqueles que lerem o conteúdo desta profecia, e também os que ouvirem e aceitarem tudo o que nela está escrito, porque está próximo o tempo. João, às sete igrejas da província da Ásia. Que vos sejam concedidas a graça e a paz daquele que é, que era e que há de vir, e também dos sete espíritos que se acham diante do seu trono, assim como da parte de Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primeiro dos ressuscitados, o soberano dos reis da Terra. A esse que nos ama e nos lavou dos nossos pecados pelo seu sangue, nos reuniu no seu reino e nos fez sacerdotes de Deus, seu Pai, seja dada toda a honra e reconhecido o seu poder para sempre. Que assim seja! Eis que ele vem rodeado de nuvens, e toda a gente o verá, até mesmo aqueles que o trespassaram. E as nações se lamentarão por causa dele. Sim, isso é que há de acontecer! “Eu sou o Alfa e o Ómega”, diz o Senhor Deus, Todo-Poderoso, que é, que era, e que virá! Eu, João, sou vosso irmão em Jesus e companheiro nos sofrimentos, na paciência e no reino. Estava eu exilado na ilha de Patmos, por ter pregado a palavra de Deus e falado sobre Jesus Cristo, quando, no dia do Senhor, fui tomado pelo Espírito e ouvi uma voz muito forte por detrás de mim, com um timbre semelhante ao de uma trombeta. E dizia: “Põe por escrito aquilo que vires e envia-o às sete igrejas que estão na província da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardo, Filadélfia e Laodiceia.” Na altura em que me virei para saber quem é que estava a falar comigo, vi sete castiçais de ouro. E no meio deles estava o Filho do Homem. Trazia um manto que lhe chegava aos pés e uma faixa de ouro em volta do peito. Os seus cabelos eram brancos como a lã, ou como a neve, e os olhos brilhavam como chamas ardentes. Os pés reluziam como bronze polido e a sua voz tinha a majestade das grandes vagas. Segurava na mão direita sete estrelas e na boca uma afiada espada de dois fios; o esplendor do seu rosto era como o do Sol na sua maior força. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele pôs sobre mim a mão direita e disse-me: “Não tenhas medo! Sou eu, o primeiro e o último! Sou aquele que está vivo! Que foi morto, mas agora vive eternamente. Eu tenho as chaves da morte e do inferno. Escreve o que tens visto e que diz respeito tanto ao tempo presente como ao futuro. Este é o significado das sete estrelas que viste na minha mão direita, assim como dos sete castiçais de ouro: as sete estrelas são os mensageiros das sete igrejas e os sete castiçais são as próprias igrejas. Ao mensageiro da igreja em Éfeso escreve: Isto é o que te diz aquele que anda entre os sete castiçais de ouro, sustentando as sete estrelas com a mão direita. Eu conheço as coisas que tens feito. Observei o teu trabalho e a tua perseverança. Sei que não podes tolerar os maus e que soubeste pôr à prova os que se dizem apóstolos e não o são, verificando que são mentirosos. Tens perseverança e tens sofrido por minha causa sem te cansares. Há contudo uma coisa que tenho contra ti: o teu amor já não é como no princípio. Lembra-te, pois, desses primeiros tempos, arrepende-te e trabalha como fazias antes; caso contrário, brevemente virei e tirarei o teu castiçal do seu lugar se não te arrependeres. Há porém isto de bom a teu respeito: é que detestas as obras dos nicolaítas, como eu também. Quem pode ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer, darei a comer do fruto da árvore da vida que está no paraíso de Deus. Ao mensageiro da igreja em Esmirna escreve: Isto é o que diz aquele que é o primeiro e o último, que foi morto e voltou à vida. Eu sei tudo o que tens sofrido. Conheço a tua pobreza e, contudo, és rico! Estou ao corrente das calúnias dos que se dizem judeus, mas não o são; são antes uma congregação de Satanás. Não receies aquilo que virás a sofrer. O Diabo vai lançar alguns de vocês na prisão, para vos pôr à prova. Hão de ser perseguidos durante dez dias. Sê fiel até à morte e eu te darei a coroa da vida. Quem pode ouvir, que ouça o que o Espírito está a dizer às igrejas. O que vencer não terá de sofrer a segunda morte. Ao mensageiro da igreja em Pérgamo escreve: Isto é o que te diz aquele que tem a espada aguda de dois fios. Eu sei onde vives, que é onde está o trono de Satanás. Apesar disso, permaneces fiel e recusaste negar-me, quando Antipas, minha testemunha fiel, foi martirizado no vosso meio, onde Satanás domina. Contudo, tenho umas quantas coisas contra ti. Toleras no teu meio uma gente que faz como Balaão, quando ensinou Balaque a seduzir o povo de Israel, convidando-o a comer dos sacrifícios aos ídolos e a entregar-se à imoralidade sexual. Tu também tens seguidores do ensino dos nicolaítas. Arrepende-te! Caso contrário, em breve virei e lutarei contra eles com a espada da minha boca. Quem pode ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que vencer comerá do maná escondido e a cada um darei uma pedra branca em que estará gravado um nome novo que ninguém mais conhece a não ser aquele que o recebe. Ao mensageiro da igreja em Tiatira escreve: Isto diz o Filho de Deus, cujos olhos são como labaredas de fogo, cujos pés são como bronze polido. Conheço as tuas obras, o teu amor, o teu serviço, a tua fé e a tua paciência. Vejo que tem havido progresso em todas estas coisas. Mas tenho isto contra ti: permites que essa mulher, Jezabel, que se considera ela própria profetiza, engane os meus servos ensinando-os a praticar a imoralidade sexual e a comerem dos sacrifícios oferecidos aos ídolos. Dei-lhe tempo para se arrepender, mas recusou. Não quer converter-se da sua imoralidade sexual. Eu a porei numa cama e trarei sobre todos os que adulteram com ela uma grande tribulação, a menos que se arrependam das suas obras. E ferirei de morte os seus filhos. E todas as igrejas saberão que eu conheço a mente e o coração dos homens. Darei a cada um aquilo que merece, segundo as suas obras. Quanto aos restantes membros da igreja em Tiatira, que não seguiram estes falsos ensinos (que não são mais do que profundezas de Satanás), nada mais vos pedirei, além do que já pedi. Aquilo que já têm retenham-no, porém, até que eu venha. E ao que vencer, que fizer até ao fim o que me agrada, dar-lhe-ei autoridade sobre as nações, para governá-las com uma vara de ferro, segundo a autoridade que também recebi de meu Pai, e poderá destruí-las como se quebra um vaso de barro. E dar-lhe-ei a estrela da manhã! Os que podem ouvir, que ouçam o que o Espírito diz às igrejas. Ao mensageiro da igreja em Sardo escreve: Isto é o que te diz aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas. Eu conheço as tuas obras e a reputação de que estás vivo, mas o facto é que estás morto. Portanto desperta! Reanima os que restam e que estão a ponto de morrer. Porque as tuas obras não satisfazem a exigência do meu Deus. Lembra-te daquilo que ouviste e aceitaste no princípio. Guarda-o e arrepende-te! Porque se não estiveres atento, aparecer-te-ei, subitamente, como um assaltante. Tu não sabes a que hora virei. Mas aí mesmo em Sardo tens alguns que não mancharam as suas roupas; esses andarão comigo vestidos de branco, pois são dignos disso. O que vencer será vestido de branco e nunca mais apagarei o seu nome do livro da vida. Pelo contrário, hei de reconhecê-lo como meu diante de meu Pai e dos seus anjos. Todo aquele que puder ouvir, que ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao mensageiro da igreja em Filadélfia escreve: Isto é o que te diz aquele que é santo e verdadeiro, e que tem a chave de David, para abrir sem que mais ninguém venha a fechar e fechar sem que mais ninguém possa vir a abrir. Conheço toda a tua atividade. Abri diante de ti uma porta que ninguém poderá fechar. É verdade que tens pouca força, mas obedeceste à minha palavra e não negaste o meu nome. Obrigarei todos os que sustentam a causa de Satanás, que se consideram judeus e não o são, pois são mentirosos, a curvarem-se a teus pés e a reconhecerem que é a ti que eu amo. Visto que obedeceste à minha palavra para perseverar pacientemente, também te livrarei da hora da tribulação que há de vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na Terra. Em breve virei. Conserva firmemente o que tens, para que ninguém te roube o coroa da vitória. Ao que vencer, farei dele uma coluna do templo do meu Deus. E nunca mais de lá sairá! Nele escreverei o nome do meu Deus e da sua cidade, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda de Deus, e da qual será cidadão. E também terá nele gravado o meu novo nome. Quem puder ouvir, que ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao mensageiro da igreja em Laodiceia escreve: Isto é o que te diz aquele que cumpre firmemente tudo o que diz, a testemunha fiel da verdade, aquele que governa a criação de Deus. Conheço tudo o que fazes. Sei que nem és frio nem quente. Antes fosses uma coisa ou outra. Mas visto que és apenas morno (nem quente nem frio), hei de vomitar-te da minha boca! Dizes: ‘Sou rico, tenho tudo o que é preciso, não me falta nada!’ E não te dás conta que és um desgraçado, um miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de mim ouro puro, ouro purificado pelo fogo (só assim serás realmente rico) e que obtenhas de mim vestes brancas, para que não fiques nu e envergonhado; e que adquiras o meu remédio para te curar os olhos e para que possas ver com clareza. Eu corrijo e castigo todos quantos amo. Arrepende-te, abandona a tua indiferença e torna-te zeloso! Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e tomaremos juntos uma refeição, em íntima companhia. Concederei que todo aquele que vencer se sente ao meu lado no meu trono, tal como eu me sentei com o meu Pai no seu trono, quando me tornei vencedor. Quem pode ouvir, que ouça o que o Espírito está a dizer às igrejas.” Depois disto olhei e vi uma porta aberta no céu. E a primeira voz que ouvi, semelhante ao toque de uma trombeta, falou comigo e disse: “Sobe aqui e eu te mostrarei o que há de acontecer no futuro.” E logo me encontrei em espírito no céu e ali, diante dos meus olhos, deparei com um trono e alguém sentado sobre ele. E jorravam cintilações daquele que estava sentado no trono, como de um diamante ou de um rubi, e um arco-íris fulgurante como uma esmeralda envolvia esse trono. E outros vinte e quatro tronos estavam à volta do primeiro, e vinte e quatro anciãos se sentavam neles, todos vestidos de branco com coroas de ouro nas suas cabeças. E saíam relâmpagos e trovões do trono e misturados com eles ouviam-se vozes. Diante do trono estavam sete fachos acesos, que são os sete espíritos de Deus. Na parte da frente do trono estendia-se um mar de vidro cuja superfície brilhava como cristal. Diante e em volta do trono havia quatro seres viventes, cheios de olhos à frente e atrás. O primeiro desses seres tinha a forma de um leão; o segundo parecia um bezerro; o terceiro tinha o rosto de um homem; e o quarto a forma de uma águia, com as asas abertas como se estivesse a voar. Cada um destes seres viventes tinha seis asas e estavam totalmente cobertos de olhos, mesmo debaixo das asas. E de dia e de noite, sem descanso, diziam: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus, que tem todo o poder, que era, que é, e que há de vir.” E quando os seres viventes davam glória, honra e graças àquele que está sentado no trono e que vive para todo o sempre, os vinte e quatro anciãos lançaram-se aos seus pés e adoraram esse cuja vida não tem limite de tempo, e lançaram as suas coroas diante do trono dizendo: “Tu, nosso Senhor e nosso Deus, és digno de receber glória, honra e poder porque criaste todas as coisas. É por tua vontade que elas existem.” E vi um livro na mão direita daquele que estava sentado no trono, livro esse escrito por dentro e por fora, mas fechado com sete selos. E um anjo poderoso bradou em alta voz: “Quem é digno de quebrar os selos deste livro e abri-lo?” Mas ninguém houve, nem no céu, nem na Terra, nem debaixo da terra, que tivesse o direito de abrir o livro e de ver o que estava lá escrito. Chorei então abundantemente pelo facto de em parte alguma se achar alguém digno de o abrir e o ler. Mas um dos vinte e quatro anciãos disse-me: “Não chores mais; aqui está o Leão da tribo de Judá, a própria raiz de David, que venceu e mostrou ser digno de quebrar os sete selos e de abrir o livro.” Olhei e vi um Cordeiro de pé, no meio do trono, com os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos à volta, e trazia sinais de ter sido morto. Tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados por toda a Terra. Então avançou e tomou o livro da mão direita do que estava sentado no trono. E depois de ter ficado com o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos inclinaram-se até à terra, na frente do Cordeiro, tendo cada um uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações do povo de Deus. E cantavam um cântico, que antes ainda não fora cantado, que tinha as seguintes palavras: “Só tu és digno de tomar o livro, de quebrar os selos e de o abrir; porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus gente de todas as nações, raças e línguas. E os reuniste num reino, fizeste deles sacerdotes do nosso Deus e um dia governarão na Terra.” Depois, olhei de novo e ouvi o canto de uma multidão de milhões e milhões de anjos que rodeavam o trono, os seres viventes e os anciãos. E cantavam com voz forte: “O Cordeiro, que foi imolado, é o único que é digno de receber o poder, a riqueza, a força, a sabedoria, a honra, a glória, e o louvor.” Então ouvi todas as criaturas que existem no céu, na Terra, debaixo da Terra e no mar exclamar: “O louvor, a honra, a glória e o poder pertencem àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro para sempre e sempre.” E os quatro seres viventes respondiam: “Que assim seja!” E os vinte e quatro anciãos inclinaram-se e adoraram. Vi então o Cordeiro quebrar o primeiro dos sete selos. E um dos quatro seres viventes gritou com uma voz de trovão: “Põe-te a caminho!” Olhei e vi um cavalo branco. Aquele que o montava tinha um arco e puseram-lhe uma coroa e partiu vitorioso, para mais vitórias. Depois o Cordeiro quebrou o segundo selo e ouvi o segundo ser vivente dizer: “Vem!” Desta vez surgiu um cavalo vermelho e ao seu cavaleiro foi-lhe dada uma espada e autoridade para tirar a paz da Terra, de forma a que os homens se matassem uns aos outros. E quando o Cordeiro quebrou o terceiro selo ouvi a mesma ordem dada pelo terceiro ser vivente: “Vem!” E vi um cavalo preto montado por alguém que segurava uma balança na sua mão. Uma voz saindo do grupo dos quatro seres viventes disse: “Um quilo de trigo, ou três quilos de cevada, pelo salário de um dia; e há que não desperdiçar nem azeite nem vinho!” E quando o Cordeiro quebrou o quarto selo, de novo a ordem foi dada, desta vez pelo quarto ser vivente: “Vem!” E saiu um cavalo amarelo e quem o montava chamava-se Morte e era seguido de perto pelo inferno. E receberam o domínio sobre a quarta parte da Terra, a fim de matar com a guerra, fome, pestes, e por meio de animais ferozes. E quando o Cordeiro quebrou o quinto selo vi um altar debaixo do qual estavam todas as almas dos que foram martirizados por anunciarem a palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamavam em alta voz ao Senhor dizendo: “Ó soberano Senhor, santo e verdadeiro, até quando ficarão por julgar os habitantes da Terra por aquilo que nos fizeram e pelo sangue que derramámos por causa deles?” E foi dada uma túnica branca a cada um deles. E foi-lhes dito que tivessem paciência ainda durante mais um pouco de tempo, até que se completasse o número dos seus irmãos e companheiros no serviço de Deus, que deviam sofrer também o martírio na Terra. E na altura de quebrar o sexto selo houve um grande terramoto. O Sol ficou tão escuro como um pano preto e a Lua tornou-se da cor do sangue. As estrelas do céu caíram sobre a Terra; eram como uma figueira, batida por um forte vento, que deixasse cair os seus figos ainda verdes. E o céu desapareceu como um rolo que se enrola e as montanhas e as ilhas deslocaram-se. Então os reis das nações, os grandes políticos, os grandes chefes militares, os de grande poder e todos os escravos e livres, se escondiam nas cavernas e nas rochas das montanhas. E gritavam às montanhas e aos rochedos: “Caiam sobre nós! Escondam-nos daquele que está sentado no trono e da cólera do Cordeiro. Porque chegou o dia de ele fazer justiça com rigor. E quem poderá resistir e ficar vivo diante dele?” Depois vi quatro anjos que estavam nos quatro cantos da Terra, impedindo os quatro ventos de soprarem, de modo que a superfície das águas dos mares estava lisa e nem uma folha se movia nas árvores. E vi surgir do oriente um anjo que trazia o selo do Deus vivo. E gritou para os quatro anjos que tinham recebido poder para fazer grandes danos na terra e no mar: “Esperem! Não façam ainda nenhum mal, nem à terra, nem ao mar, nem a nenhuma árvore! É preciso que antes tenhamos marcado na testa aqueles que são os servos de Deus.” E disseram-me o número dos que foram assinalados dessa maneira: e foram 144 000, das doze tribos do povo de Israel; Vi a seguir uma enorme multidão, impossível de contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, diante do trono e do Cordeiro, com roupas brancas e folhas de palmeira nas mãos. E diziam em alta voz: “A salvação vem do nosso Deus, que está no trono, e do Cordeiro!” E todos os anjos, nessa altura, se encontravam em volta do trono, em volta dos anciãos e dos quatro seres viventes. E inclinando-se até à terra adoraram a Deus. E diziam: “Que assim seja! Louvor e glória e sabedoria e graças e honra e poder e força pertencem ao nosso Deus por toda a eternidade. Amém!” Nessa altura, um dos vinte e quatro anciãos perguntou-me: “Sabes quem são estes, com roupas brancas, e donde vêm?” “Não!”, respondi. “Peço-te que mo digas, pois és tu quem deve sabê-lo.” E ele disse-me: “Estes são os que vêm da grande tribulação e que lavaram as suas roupas e as tornaram brancas no sangue do Cordeiro. É por isso que aqui estão diante do trono de Deus, servindo noite e dia no seu templo. Aquele que está sentado no trono os acolherá. E nunca mais terão nem fome, nem sede, e nunca mais sofrerão os ardores do Sol escaldante. Porque o Cordeiro que está diante do trono será o seu pastor e os conduzirá às fontes de água da vida. E Deus limpará as lágrimas dos seus olhos.” Quando o Cordeiro quebrou o sétimo selo fez-se silêncio no céu por um período aproximadamente de meia hora. E vi que aos sete anjos que se mantêm continuamente diante de Deus foram dadas sete trombetas. Então veio um outro anjo com um incensário de ouro e colocou-se junto do altar. E deram-lhe uma grande quantidade de incenso para que o misturasse com as orações do povo de Deus e o oferecesse sobre o altar de ouro diante do trono. E o fumo perfumado do incenso, misturado com as orações dos santos, subiu desde o altar, onde o anjo o tinha derramado, até à presença de Deus. Então o anjo encheu o incensário com fogo do altar e lançou-o sobre a Terra. E ouviu-se o ribombar de trovões no meio de grandes clamores e de relâmpagos que faiscavam, tudo isso acompanhado de terramotos. E os sete anjos prepararam-se para tocar as suas trombetas. Quando o primeiro anjo tocou a sua trombeta, foram lançados sobre a Terra fogo e chuva de pedra misturada com sangue. E ardeu uma terça parte da Terra; um terço das árvores e de toda a vegetação foi assim consumida pelo fogo. Chegou a vez do segundo anjo tocar e algo como uma enorme montanha em fogo foi lançado no mar, destruindo uma terça parte de todos os navios que circulavam nas águas; um terço das águas do mar ficaram como que em sangue, morrendo também um terço de tudo o que nelas havia com vida. Depois do terceiro anjo tocar, uma grande estrela, ardendo em chamas, caiu do céu sobre um terço dos rios e das fontes. Essa estrela foi chamada Amargura, porque fez com que um terço das águas da Terra ficassem envenenadas; e muita gente morreu. Logo que o quarto anjo tocou, a terça parte do Sol, da Lua e das estrelas foi atingida e tudo escureceu, de tal forma que a luz do dia perdeu um terço da sua intensidade e a noite ficou mais escura. E olhei para cima e vi uma águia voando, sozinha, através do céu, dizendo em alta voz: “Ai, ai, ai! Desgraçados habitantes da Terra! Coisas terríveis vão em breve acontecer, quando os outros três anjos tocarem as suas trombetas.” Tocou então a sua trombeta o quinto anjo. E vi uma estrela que caíra do céu sobre a Terra e foi-lhe dada a chave do abismo insondável. E quando o abriu, saiu dali fumo, como se fosse de uma imensa fornalha, a ponto de escurecer completamente o ar e o Sol. E saíram gafanhotos, do meio daquele grande fumo, que desceram sobre a Terra. E deram-lhes poder para ferroar como os escorpiões. Foi-lhes dito que poupassem a vegetação da Terra, a erva, os arbustos, as árvores, e que atacassem somente as pessoas que não tinham nas suas testas a marca de Deus. Não deviam matá-las, mas sim torturá-las, durante cinco meses, com um sofrimento semelhante ao que provoca a picada do escorpião. Durante esse tempo os homens hão de querer morrer, procurando matar-se e não serão capazes de o fazer: a morte não lhes virá, fugirá deles! Esses gafanhotos pareciam cavalos aparelhados para a guerra. Traziam na cabeça algo como coroas de ouro e o seu focinho assemelhava-se ao rosto de homens. Tinham na cabeça cabelos compridos, como as mulheres, e viam-se-lhes dentes como de leão. Traziam o peito protegido por uma couraça de ferro e quando batiam as asas faziam barulho como um batalhão de carros de combate avançando para a guerra. Tinham caudas armadas de um ferrão, tal como os escorpiões, e era com isso que podiam ferir as pessoas, durante cinco meses, como lhes tinha sido ordenado. O seu comandante é o anjo do abismo profundo, cujo nome em hebraico é Abadom, e em grego é Apolion, que quer dizer “Destruidor”. Assim terminou o primeiro “ai”, mas ainda hão de vir mais dois. O sexto anjo tocou a sua trombeta e ouvi uma voz que falava a partir dos quatro chifres do altar de ouro diante de Deus. Dirigia-se ao sexto anjo que tinha a trombeta, dizendo: “Solta os quatro anjos que estão amarrados junto do grande rio Eufrates.” Eles tinham sido mantidos prontos para aquele momento exato, precisamente para aquela hora, dia, mês e ano. Foram então soltos para que matassem uma terça parte da humanidade. E dirigiam um exército de 200 milhões de militares, segundo o número que ouvi anunciar. Os cavalos desse exército eram montados por cavaleiros com couraças cor de fogo umas, e outras azuis e amarelas. As cabeças dos cavalos assemelhavam-se às de leões, e saía fogo, enxofre incandescente e fumo das suas bocas. Assim mataram uma terça parte de toda a humanidade. O poder que tinham para matar estava nas suas bocas e também nas caudas, porque estas eram semelhantes a cabeças de serpentes que podiam ferir mortalmente. E os seres humanos que não foram mortos por essas pragas, mesmo assim não se arrependeram das suas obras más! Não quiseram abandonar o culto aos demónios, nem deixar os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, que não podem ver, nem ouvir, nem andar! Não quiseram arrepender-se dos seus assassínios, das suas bruxarias, dos seus atos de imoralidade sexual e dos seus roubos. Vi a seguir outro anjo poderoso, descendo do céu, envolvido numa nuvem e com um arco em volta da cabeça. O seu rosto brilhava como o Sol e as suas pernas eram como pilares de fogo. Segurava na mão um pequeno livro, aberto. Pôs o pé direito no mar e o esquerdo na terra. E deu um grande brado; foi como o rugido dum leão, ao que responderam sete trovões por entre o barulho do seu próprio ribombar. Eu ia a escrever o que os trovões disseram, quando uma voz no céu me falou: “Não escrevas isso! As suas palavras não devem ainda ser reveladas!” Então o anjo que tinha aquele aspeto poderoso e estava de pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o céu. E jurou por aquele que vive para sempre, eternamente, e que criou o céu e tudo o que nele existe, assim como a Terra e o mar, com tudo o que neles existe. Jurou que não haveria mais demora, mas que, quando o sétimo anjo tocasse a sua trombeta, Deus daria cumprimento ao seu plano, cujo conteúdo fora mantido em segredo, de acordo com aquilo que anunciou aos profetas que estavam ao seu serviço. De novo a voz do céu me falou: “Vai e toma o livrinho da mão do anjo poderoso que está de pé sobre o mar e sobre a terra.” Aproximei-me e pedi-lhe que me desse o pequeno livro. “Sim, toma e come-o!”, disse-me. “No princípio vai saber a mel, mas depois de o engolires há de fazer-te mal ao estômago!” Tomei pois o livrinho da sua mão e comi-o e, tal como me dissera, na boca tinha um gosto doce como o mel, mas amargou-me no estômago. Então disse-me: “É necessário que continues ainda a profetizar e a anunciar a sua palavra a muitos povos e nações de muitas línguas, e até aos seus governantes.” Recebi, depois disto, uma espécie de vara que servia para medir. E o anjo disse-me que medisse o templo de Deus, incluindo o altar, e que contasse também quantos é que nele adoram. “Mas não meças o pátio exterior!”, foi-me dito. “Porque foi entregue às nações gentias, que pisarão o chão da cidade santa durante quarenta e dois meses. E darei poder às minhas duas testemunhas, que se vestirão com panos de saco, para profetizarem durante 1260 dias. Estas duas testemunhas são as duas oliveiras e os dois castiçais que se encontram na presença do Deus de toda a Terra. Se alguém lhes quiser fazer mal, será morto por fogo que sairá das suas bocas. Têm poder mesmo para impedir que chova durante os três anos e meio e profetizarão em meu nome, para transformar os cursos de água em sangue, e para enviar sobre a Terra toda a espécie de pragas, tantas vezes quantas quiserem. E quando terminarem o seu testemunho, o monstro que sai do insondável abismo virá fazer-lhes guerra, e há de vencê-los e matá-los. E por três dias e meio os seus corpos estarão expostos nas ruas da grande cidade que simbolicamente se chama Sodoma ou Egito, aí mesmo onde o seu Senhor foi crucificado! Ninguém terá licença de os levar para uma sepultura e gente de muitas origens e línguas se concentrarão ali para os ver. E por toda a Terra haverá uma onda de regozijo pela sua morte, e até enviarão presentes uns aos outros, felicitando-se entre si pelo desaparecimento desses dois profetas de Deus que tanto os tinham atormentado. Mas passados esses três dias e meio o espírito de vida, da parte de Deus, entrou neles e levantaram-se. E toda a gente ficou cheia de medo. E uma voz lhes gritou do céu: ‘Subam aqui!’ E à vista dos seus inimigos subiram ao céu envolvidos numa nuvem. E naquele preciso momento houve um tremendo abalo de terra que destruiu a décima parte da cidade e fez 7000 mortos. Os que ficaram vivos, cheios de temor e respeito, deram enfim louvores, adorando o Deus do céu. Esta é a segunda desgraça; mas logo a seguir virá a terceira.” Com efeito, assim que o sétimo anjo tocou a sua trombeta, vozes fortíssimas clamaram do céu: “O reino do mundo passou agora a pertencer ao nosso Senhor, e a Cristo, que reinará para todo o sempre!” E os vinte e quatro anciãos que estão sentados nos seus tronos, diante de Deus, inclinaram-se até ao chão e adoraram-no. E disseram: “Agradecemos-te, Senhor Deus, Todo-Poderoso, aquele que é, e que era, porque tomaste enfim o domínio que te competia e agora começaste a reinar. As nações irritaram-se e a tua ira manifestou-se. Chegou o tempo de julgares os mortos e de recompensares os que têm trabalhado ao teu serviço. Recompensarás os teus profetas e o teu santo povo, todos os que temem o teu nome, desde o menor ao maior. E destruirás todos aqueles que têm causado devastação na Terra.” E no céu apareceu o templo de Deus aberto de par em par. E podia ver-se no interior a arca da sua aliança. E houve relâmpagos e trovões acompanhados de grandes brados. Houve chuva de pedra e um violento terramoto. Então apareceu no céu um grande sinal: era uma mulher vestida de Sol, com os pés pousados sobre a Lua e com uma coroa formada por doze estrelas na cabeça. Estava grávida, e já com as dores de parto, e gritava na ânsia de dar à luz. E apareceu um outro sinal em que um dragão vermelho se apresentava com sete cabeças e dez chifres; e em cada cabeça tinha uma coroa. Com a cauda arrastou para trás de si um terço das estrelas do céu, lançando-as sobre a Terra. E colocou-se na frente da mulher que ia dar à luz, pronto para devorar a criança logo que nascesse. Ela teve, com efeito, um filho, o qual mais tarde haveria de governar todas as nações com uma vara de ferro. E o menino foi logo arrebatado para Deus, para junto do seu trono. Quanto à mulher, fugiu para o deserto, onde Deus lhe preparou um lugar, cuidando dela durante 1260 dias. E deu-se uma guerra no céu. Miguel e os anjos sob a sua responsabilidade lutaram contra o dragão e contra o seu exército de anjos. O dragão perdeu a batalha e foi expulso do céu. Ele é a antiga serpente, conhecida com o nome de Diabo, ou Satanás, aquele que engana o mundo inteiro. E foi assim lançado para a Terra, mais os seus demónios. Ouvi depois uma voz clamando através do céu: “Aconteceu enfim! A salvação final, o poder e o reino de Deus, assim como a autoridade de Cristo manifestaram-se. O acusador dos nossos irmãos foi atirado do céu para a Terra, esse que os acusava dia e noite. Mas eles venceram-no pelo sangue do Cordeiro, e com o poder do seu testemunho; pois puseram de lado o amor às suas próprias vidas a ponto de morrerem. Alegrem-se pois, habitantes do céu! Contudo, são de lamentar os que vivem no mundo, porque o Diabo desceu para o vosso meio com grande ira, com muito ódio, pois sabe que já não dispõe de muito tempo.” Quando o dragão se viu expulso para a Terra, perseguiu a mulher que tinha dado à luz o menino. Mas deram à mulher as duas asas de uma grande águia, a fim de que pudesse voar para o deserto, onde lhe tinha sido preparado o lugar para se proteger da serpente, durante três anos e meio. E a serpente lançou da sua boca um rio com um grande caudal de água, com a intenção de fazer com que ela fosse arrastada por essa grande torrente e assim se perdesse. Mas a Terra ajudou a mulher, porque abriu fendas que absorveram as águas que o dragão tinha lançado da boca. Este então, furioso, desfechou um ataque contra o resto dos filhos da mulher, os que obedecem à palavra de Deus e confessam e provam que pertencem a Jesus Cristo. Então, ele pôs-se em pé à beira do mar. E vi um monstro levantando-se do mar. Tinha sete cabeças e dez chifres e em cada um destes uma coroa. Em cada cabeça estavam escritos nomes que eram insultos a Deus. Este monstro parecia um leopardo, mas tinha as patas como as dos ursos e focinho de leão. E o dragão deu-lhe o seu próprio poder, cedeu-lhe o seu trono e grande autoridade. E reparei que uma das cabeças do monstro tinha uma ferida que parecia mortal; mas afinal a ferida veio a sarar! O mundo inteiro se maravilhou com esse milagre e começou a seguir esse monstro. Todos adoraram o dragão, por ter dado ao monstro o seu poder, assim como adoraram o próprio monstro, dizendo: “Quem poderá igualar-se a ele e lutar contra ele?” E foi concedido ao monstro o poder de dizer grandes injúrias contra o Senhor Deus. E pôde exercer a sua influência durante quarenta e dois meses. Durante todo esse tempo, sempre que abria a boca era para dizer coisas ofensivas contra Deus e para desprezar o seu nome, a sua morada celestial e todos os que vivem no céu. Foi-lhe igualmente dado poder para combater o povo de Deus, e mesmo para o vencer, assim como autoridade sobre todas as tribos, povos, línguas e nações. E todas as pessoas que pertencem a este mundo adoraram o monstro; essas cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro, que foi sacrificado antes da fundação do mundo. Quem for capaz de ouvir, que ouça atentamente: O povo de Deus destinado às prisões será levado em cativeiro; os que são destinados à morte serão mortos. Mas não desanimem, porque é agora a vossa oportunidade de demonstrar a vossa perseverança e fé. Depois vi outro monstro, este agora subindo da terra, com dois chifres, semelhantes aos de um cordeiro, mas que falava como o dragão. Este monstro exerce o mesmo poder que o primeiro cuja ferida mortal foi sarada. E fez com que todos os habitantes da Terra lhe prestassem culto. Fez igualmente grandes sinais, tais como mandar descer fogo do céu à vista de toda a gente. Por meio destas coisas espantosas que fez, sempre na presença do primeiro monstro, conseguiu enganar toda a gente. E ordenou a todos os habitantes da Terra que fizessem uma estátua ao monstro que fora ferido de morte, mas que recuperara a vida. E foi-lhe mesmo permitido que desse vida a esta estátua e a fizesse falar, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem essa estátua do monstro. Conseguiu obrigar toda a gente, de toda a condição social, ricos e pobres, livres e escravos, a ser marcada com um sinal na mão direita ou na testa, de forma a que ninguém pudesse nem comprar nem vender, se não tivesse essa marca, que consistia ou no nome do monstro ou no número de código do seu nome. Aqui é preciso muita sabedoria. Aqueles que têm capacidade vejam se são capazes de decifrar esse código: esse número representa o nome de um homem, e é 666. Depois vi o Cordeiro em pé sobre o monte Sião e com ele estavam 144 000 que tinham escrito nas suas testas o nome dele e de seu Pai. E ouvi um som vindo do céu como o ruído duma grande catarata ou como o estrondo de um enorme trovão. Era como se fosse o som de muitas harpas tocando ao mesmo tempo. Este grande coro cantava um novo cântico maravilhoso, diante do trono de Deus, dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos. E ninguém podia entender este cântico exceto aqueles 144 000 que tinham sido resgatados da Terra. Estes são espiritualmente limpos, puros como virgens, e seguem o Cordeiro para onde quer que ele vá. Foram comprados de entre o povo na Terra como uma oferta especial para Deus e para o Cordeiro. Não podiam ser acusados de mentira; são irrepreensíveis. E vi outro anjo voando pelos céus, levando as boas novas eternas, pregando a todos os que estão na Terra, de toda a nação, tribo, língua e povo. “Temam a Deus!”, dizia numa voz muito forte. “Louvem a sua grandeza! Porque chegou o momento de ele fazer justiça. Adorem pois aquele que criou o céu, a Terra, o mar e todas as fontes!” E um outro anjo seguiu-o, através dos céus, dizendo: “Caiu, caiu a grande Babilónia, porque seduziu todas as nações, e as fez beber o vinho do frenesi da sua imoralidade sexual.” Veio ainda um terceiro anjo clamando: “Todo aquele que adorar o monstro e a sua estátua, e aceitar a sua marca na testa ou na mão, terá de beber o vinho da ira de Deus. Este lhe será dado a beber, sem mistura, na taça da severidade de Deus. E serão atormentados com fogo e enxofre incandescente, na presença dos santos anjos e do Cordeiro. O fumo desse suplício subirá para todo o sempre, pois que o tormento é eterno; nem de noite, nem de dia terão alívio esses que adoraram o monstro e a sua estátua, e que aceitaram receber o código do seu nome. Que isto sirva para animar o povo de Deus a suportar com perseverança todas as provações e perseguições; esse povo santo são os que permanecem firmes na obediência à vontade de Deus, e nunca enfraquecem na sua fé em Jesus.” Ouvi então uma voz do céu que me dizia: “Escreve o seguinte: Felizes aqueles que, daqui em diante, morrem fiéis ao Senhor, pois poderão receber a plena recompensa que lhes é reservada! Sim, diz o Espírito de Deus, eles poderão enfim descansar de todas as fadigas e provações, porque as suas obras justas acompanham-nos!” Depois vi uma nuvem branca sobre a qual estava o Filho do Homem, com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice bem afiada na mão. Um outro anjo saiu do templo e dirigiu-se a ele clamando: “Começa a usar a tua foice, porque chegou o momento de ceifares, pois a colheita da Terra está madura.” Então, aquele que estava sentado na nuvem fez passar a foice sobre a Terra e foi feita a colheita. A seguir veio outro anjo do templo no céu que trazia também uma foice afiada. Nessa altura um anjo que tinha a seu cargo a utilização do fogo saiu do altar e gritou para o anjo que tinha a foice: “Usa agora a tua foice para cortar os cachos de uvas das vinhas da Terra, pois estão maduros.” O anjo passou a foice sobre a Terra e encheu de uvas o grande lagar da ira de Deus. As uvas foram esmagadas nesse lagar, que era fora da cidade. E o sangue que daí saiu formou uma torrente de uns 300 quilómetros de comprimento, e tão alta que chegava até aos freios dos cavalos. Vi a seguir um outro sinal grande e admirável no céu. Eram sete anjos designados para lançarem as sete últimas pragas, depois das quais ficava satisfeita a ira de Deus. Na minha frente estendia-se como que um mar de vidro misturado com fogo. Junto desse mar estavam todos os que saíram vitoriosos da perseguição que o monstro lhes tinha feito, que não se inclinaram perante a sua estátua e não se deixaram marcar pelo tal código do seu nome. Todos traziam harpas que Deus lhes tinha dado. E cantavam o cântico de Moisés, o servo de Deus, assim como o cântico do Cordeiro, e diziam: “Grandes e maravilhosos são os teus feitos, Senhor Deus Todo-Poderoso. É justa e segundo a verdade a forma como fazes as coisas, ó Rei das nações. Como haverá alguém que não te tema, Senhor, e não glorifique o teu nome? Só tu és perfeitamente santo! Todas as nações hão de vir inclinar-se perante ti, porque os teus juízos revelaram-se justos aos olhos de todo o mundo.” Vi depois que o santuário do tabernáculo do testemunho no céu estava aberto. Saíram então do templo os sete anjos que tinham o cargo de lançar as sete pragas. Estavam vestidos com roupas de linho, de um branco puríssimo que resplandecia, e traziam uns cintos de ouro. Um dos quatro seres viventes deu a cada um uma taça de ouro cheia da terrível ira de Deus, que vive para toda a eternidade. A glória e o poder de Deus encheram todo o templo sob a forma de um fumo, de maneira que ninguém podia entrar enquanto os sete anjos não tivessem lançado as sete pragas. E ouvi uma voz poderosa vinda do templo e bradando muito alto aos sete anjos: “Vão agora, lancem sobre a Terra as sete taças com a ira divina!” Assim, o primeiro anjo saiu e derramou sobre a Terra a sua taça. E rebentaram feridas horríveis e malignas em todos aqueles que tinham o sinal do monstro e adoravam a sua estátua. O segundo anjo derramou a sua taça sobre os mares, que se tornaram como sangue; parecia até sangue de um morto. E morreu tudo o que vive no mar. O terceiro anjo lançou a sua taça sobre as fontes e rios, que também se tornaram em sangue. E ouvi este anjo dizer: “Tu, Senhor, que és e que sempre eras, tu és justo e santo, ao enviares este castigo; visto que foi derramado o sangue dos santos, teu povo, e dos profetas. É justo que os seus assassinos, quando quiserem beber água, encontrem sangue.” E ouvi uma voz, vinda do altar, dizendo: “Sim, Senhor Deus, que tens todo o poder, o teu julgamento é feito segundo a verdade e segundo a justiça.” Foi a vez do quarto anjo esvaziar a sua taça, agora sobre o Sol, fazendo com que este abrasasse a humanidade inteira, queimando como fogo. De tal forma que todos foram abrasados e receberam queimaduras com esses grandes calores que se abateram sobre a Terra. Chegaram a amaldiçoar o nome de Deus por ter deixado que essas pragas fossem enviadas à Terra. Contudo, nem por isso se arrependeram mudando de atitude e abandonando o pecado, e passando a honrar a Deus e a reconhecer a sua glória. O quinto anjo lançou a sua taça sobre o trono do monstro e o seu reino cobriu-se de trevas. Os que o serviam e lhe eram subordinados mordiam as línguas, enraivecidos e loucos de dor. E também clamavam maldições e palavras ofensivas contra Deus, por causa do sofrimento e das chagas que lhes apareciam; mas recusaram arrepender-se das suas obras más. A praga que o sexto anjo derramou da sua taça caiu sobre o grande rio Eufrates, que secou inteiramente, de forma a permitir a invasão dos exércitos dos reis que vinham do Oriente. Vi então três espíritos imundos, em forma de rãs, saltarem da boca do dragão, do monstro e do seu falso profeta. São na verdade espíritos de demónios capazes de fazerem sinais; e vão reunir os governantes de todo o mundo com vista a concentrarem as suas forças para a batalha, no grande dia do Deus Todo-Poderoso. Diz o Senhor: “Atenção, eu hei de vir tão inesperadamente como um ladrão! Feliz aquele que me espera, desperto e atento, que se mantém vestido, que conserva o seu vestuário limpo e pronto, para que não tenha que vir a andar despido, com vergonha.” Esses espíritos diabólicos juntaram todos os exércitos do mundo perto de um lugar que em hebraico se chama Armagedom. Por fim, o sétimo anjo entornou a sua taça sobre os ares. E do templo ouviu-se uma voz fortíssima, que vinha do trono, dizendo: “Está terminado!” E houve relâmpagos e trovões e um terramoto tal como nunca acontecera desde que o homem apareceu sobre a Terra. E a grande cidade da Babilónia ficou como que fendida em três zonas e todas as outras grandes cidades e capitais ficaram em ruínas. Deus não se esqueceu da profunda maldade da grande Babilónia, a qual teve de beber até à última gota o vinho da justa ira de Deus contra o seu pecado. Até as ilhas desapareceram e as montanhas se desfizeram, tornando-se em planícies. Houve também uma tremenda saraivada, com pedras caindo do céu com o peso aproximado de um talento. E os homens, por causa dessa extraordinária chuva, amaldiçoaram a Deus. Um dos sete anjos que tinha derramado as pragas sobre a Terra dirigiu-se a mim e disse: “Vem comigo, para que te mostre o que vai acontecer à grande prostituta, que está sentada sobre muitas águas. Os governantes juntaram-se a ela violando a obediência e fidelidade que deviam a Deus e os habitantes da Terra embriagaram-se com o vinho da sua corrupção e imoralidade sexual.” O anjo levou-me em espírito a um deserto. E vi uma mulher sentada num monstro vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres; e todo ele estava coberto de insultos contra Deus. A roupa que a mulher vestia era de púrpura e vermelha; trazia joias de ouro com pérolas e pedras preciosas. Segurava na mão um cálice de ouro cujo conteúdo, que a enchia completamente, representava todo o tipo de sujidade da sua vida de imoralidade sexual. Na testa tinha uma inscrição cujo real significado ainda não foi revelado: “A grande Babilónia, mãe de toda a espécie de prostituição, a fonte de todo o tipo de sujidade sobre a Terra.” Constatei que a mulher estava embriagada; mas era com o sangue dos santos e dos mártires de Jesus. Fiquei cheio de espanto e maravilhado com o que via. Perguntou-me o anjo: “Porque estás assim tão admirado? Eu vou dizer-te o que representa a mulher e o monstro em que ela está sentada, o qual tem sete cabeças e dez chifres. Este monstro era e deixou de ser, e virá do abismo insondável, para ir depois para a destruição eterna. E os habitantes da Terra, cujos nomes não estão inscritos no livro da vida, desde que o mundo foi criado, ficarão admirados por ver que o monstro que era e deixou de ser está a reaparecer. Para interpretar o sentido destas imagens é preciso inteligência e sabedoria: as sete cabeças são sete colinas sobre as quais a mulher se estabeleceu. Mas também representam sete reinos. Cinco deles já foram derrubados, um existe atualmente e o último ainda está para vir, mas o seu reinado deverá ser curto. O próprio monstro vermelho será ele também um oitavo rei que virá na sequência dos outros sete e é um deles, e depois será destruído. Os seus dez chifres são dez reis que ainda não subiram ao poder, mas que recebem a autoridade para reinar com o monstro, embora durante um espaço de tempo muito curto. Aliás, não reinarão a não ser durante um breve momento. E todos esses reis assinarão um tratado com o monstro, entregando-lhe o poder e a autoridade que detêm. Farão juntos guerra ao Cordeiro, que os vencerá, porque é Senhor, dominando todos os senhores, e Rei, acima de todos os reis. Aqueles que lhe são fiéis, que foram chamados e escolhidos por ele, esses participarão da sua vitória.” O anjo continuou a explicar-me: “Todos aqueles mares sobre os quais a mulher está sentada representam povos, multidões, nações e línguas. Mas o monstro vermelho e os seus dez chifres, que representam dez reis que reinarão com ele, todos eles têm ódio à mulher. Vão atacá-la, tirar-lhe-ão as roupas que veste, comerão a sua carne e queimá-la-ão no fogo. Porque Deus pôs nas suas mentes a intenção de executarem precisamente o seu plano; e assim concordarão todos em dar o seu poder ao monstro, até que se cumpra a palavra de Deus. A mulher que viste representa a grande cidade que tem sob o seu poder todos os governantes da Terra.” Depois de tudo isto vi um outro anjo descer do céu. E tinha uma grande autoridade, de tal maneira que toda a Terra ficou iluminada com o seu esplendor. E gritou com uma voz muito forte: “Caiu, caiu a grande Babilónia! Ela tornou-se num refúgio de demónios e espíritos impuros, um ninho de toda a ave imunda e repugnante. Porque todas as nações beberam o vinho mortal do frenesi da sua imoralidade sexual. Os governantes da Terra tiveram com ela relações ilícitas; o comércio de todo o mundo tornou-se florescente só à custa do luxo faustoso que nela havia.” Então ouvi outra voz do céu que dizia: “Sai dela, meu povo, para não tomares parte nos seus pecados e para não vires a ser castigado juntamente com ela com as mesmas pragas. Porque os seus pecados se têm acumulado até ao céu. Deus está pronto a julgá-la pelos seus crimes. Tratem-na como ela vos tratou, e que o seu castigo seja duplicado em relação àquilo que merecem os seus pecados. Na taça em que vos fez beber maldade e desgraça, que ela seja obrigada agora a beber do mesmo duas vezes mais. Viveu na glória e no soberba; que agora saiba, na mesma medida, o que é o sofrimento e a tristeza. Gaba-se dizendo: ‘Sou rainha no meu trono! Não sou como qualquer viúva desamparada e nem sequer saberei o que é o luto!’ Pois por isso mesmo é que num só dia tudo lhe cairá em cima: a tristeza da morte, o choro, a fome; será destruída pelo fogo e reduzida a cinzas. Porque é poderoso o Senhor Deus que a julga.” E os governantes deste mundo que se juntaram a ela nas suas imoralidades sexuais hão de lamentá-la, quando virem que dela só fica o fumo que sobe das suas cinzas. Hão de colocar-se de longe, com medo daquele grande tormento, e lamentar: “Ai da Babilónia, aquela poderosa cidade! Um momento só bastou para que fosse executada a sua condenação!” Os comerciantes da Terra choram e lamentam-se por causa dela, pois desapareceu aquele grande mercado. Ela lhes comprava grandes quantidades de ouro, prata, joias com pedras preciosas e pérolas, rico vestuário de linho fino e sedas de púrpura e escarlate; belas peças de imensas variedades de madeira perfumada e de marfim; e tudo o que poderia fabricar-se, como utensílios ou objetos de ornamentação, nas madeiras mais preciosas e em bronze, ferro e mármore; e ainda requintadas especiarias e temperos, produtos de beleza, perfumes, óleos e cremes; assim como vinhos, azeite, finas farinhas e também gado variado, ovelhas e cavalos em abundância; carruagens e corpos e almas de homens! “Todas as coisas finas e extravagantes de que tanto gostavas desapareceram!”, choravam eles. “O luxo e a vida faustosa nunca mais serão teus. Foram-se para sempre!” Os comerciantes que tinham enriquecido com a venda de tudo aquilo ficarão à distância com medo daquele grande tormento, e chorando lamentarão: “Que desgraça! Aquela grande cidade, tão bela como uma mulher vestida da púrpura mais fina e de fino linho escarlate, e com belas joias de ouro, pedras preciosas e pérolas! Num momento, todas essas riquezas se foram!” E todos os que navegam e trabalham no mar, comandantes e tripulações, hão de colocar-se de longe, chorando enquanto contemplam o fumo a subir do incêndio, dizendo: “Que cidade haveria, no mundo inteiro, semelhante a esta?” E na sua tristeza e desespero lançarão pó sobre as suas cabeças e lamentarão: “Ai daquela enorme cidade! A sua prosperidade tinha-nos enriquecido a todos nós que dependíamos do comércio dos mares e agora, num só momento, desapareceu!” Mas tu, ó céu, e vocês, todos os santos, seus apóstolos e profetas, alegrem-se porque, ao condená-la, Deus fez-nos justiça e vingou-vos. E um anjo, de aspeto muito vigoroso, pegou numa pedra do tamanho de uma grande mó, lançou-a ao mar e disse: “É assim que é lançada fora a Babilónia, essa grande cidade, de tal forma que nem sequer deixará vestígios! Nunca mais ali se ouvirá o som de música, nem harpas, cânticos, flautas ou trombetas. Também se deixarão ali de ver, para sempre, operários seja de que atividade for. Nunca mais se moerá farinha; nunca mais se acenderá uma luz; nunca mais ali se verá a alegria de um casamento e a felicidade de um casal de noivos! Os teus comerciantes tinham-se tornado grandes senhores da terra. E todas as nações se deixaram enfeitiçar pelos teus atrativos. Foi também ali que correu o sangue dos profetas, dos santos e de todos os que foram assassinados na Terra!” A seguir ouvi a alta voz de uma enorme multidão no céu, clamando: “Louvem o Senhor! Só nele há salvação! Pertencem-lhe, só a ele, toda a honra, todo o poder! Porque as suas sentenças são justas e conforme a verdade. Castigou essa grande prostituta que corrompia a Terra com a sua imoralidade sexual. E foi assim que lhe pediu conta do sangue daqueles que serviam a Deus, e que foram assassinados no meio dela.” E repetiam sempre: “Louvem o Senhor! Para sempre há de subir o fumo do seu incêndio!” Então os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes inclinaram-se até ao chão e adoraram a Deus, que estava sentado no trono, com estas palavras: “É essa a verdade! Louvem o Senhor!” Veio uma voz do trono que dizia: “Louvem o nosso Deus, todos os que o servem e o temem, tanto grandes como pequenos.” E ouvi de novo um clamor enorme como o de uma multidão imensa, como o de muitas vagas de um mar agitado ou como o de sucessivos trovões: “Louvem o Senhor! Porque o Senhor, nosso Deus, que tem todo o poder, é quem reina. Alegremo-nos, com intenso júbilo, prestemos-lhe a nossa profunda homenagem. Chegou a altura do Cordeiro receber a sua noiva, a qual já se aprontou. Ela tem o direito de se vestir do linho mais fino e mais branco.” Esse linho representa as obras justas e boas que praticam os filhos de Deus. E foi-me dito por um anjo que escrevesse o seguinte: “Felizes aqueles que são convidados para a festa de casamento do Cordeiro.” E ainda: “Foi Deus mesmo quem declarou isto.” Então lancei-me aos pés do anjo para o adorar, mas ele disse-me: “Não! Não faças isso! Só a Deus deves adorar! Eu estou ao serviço de Deus, tal como tu e os teus irmãos, que são testemunhas de Jesus. Adora a Deus. O motivo da profecia é para dar um testemunho claro de Jesus.” Vi então o céu aberto e aparecer um cavalo branco montado por alguém que se chamava Fiel e Verdadeiro; aquele que julga e combate com justiça. Os seus olhos eram como labaredas e na cabeça tinha muitas coroas. E tinha um nome escrito nela que só ele sabia. A roupa que vestia tinha marcas de sangue; o seu nome é a Palavra de Deus. Os exércitos do céu, vestidos de linho fino, do mais branco e puro, seguiam-no em cavalos igualmente brancos. Na sua boca segurava uma espada afiada para com ela vencer as nações. Ele as governará com uma vara de ferro; será ele próprio quem há de pisar no lagar de Deus Todo-Poderoso o vinho da sua justa cólera contra o pecado. No manto que trazia, e abaixo da cintura, tinha escrito este título: rei dos reis e senhor dos senhores. Vi então um anjo que recebia a luz que vinha do Sol e que bradava em alta voz a todas as aves de rapina que cruzam os ares: “Venham! Juntem-se para comer aquilo que o grande Deus vos dá; a carne dos que governam e a carne dos reis, generais e dos grandes guerreiros, a carne dos cavalos e dos que os montavam; enfim, a carne de todos, livres e escravos, grandes e pequenos.” Depois vi o monstro reunindo os governantes da Terra e os seus exércitos para lutarem contra aquele que está montado no cavalo e contra o seu exército. E o monstro foi feito prisioneiro e com ele o falso profeta; aquele que tinha podido fazer sinais na presença do monstro e com os quais enganava aqueles que tinham aceitado ser marcados com o sinal e adoravam a sua estátua. Ambos foram jogados vivos no lago de fogo que queima com enxofre ardente. E todos os soldados daqueles exércitos foram mortos com a espada afiada que estava na boca do que montava o cavalo, e todas as aves de rapina se fartaram com aquela carne humana. Vi nessa altura descer do céu um anjo com a chave do abismo e uma pesada corrente na mão. E prendeu o dragão, a velha serpente, o Diabo, Satanás, e amarrou-o durante mil anos. E lançou-o dentro do abismo, que fechou e selou por fora. De modo que não podia mais enganar as nações antes dos mil anos terem terminado. Depois disso deverá ser solto por um pouco de tempo ainda. E vi tronos onde estavam sentados os que receberam o direito de julgar. Vi também as almas daqueles que foram degolados por causa do testemunho que deram de Jesus e da palavra de Deus; estes não adoraram o monstro, nem a sua estátua, nem aceitaram a sua marca nas testas ou na mão. Voltaram de novo a viver e, durante aqueles mil anos, partilharam com Cristo da sua própria autoridade e do seu governo. Esta é a primeira ressurreição. (O restante dos mortos não voltou à vida enquanto os mil anos não acabaram.) Felizes aqueles que tomam parte na primeira ressurreição, esses são os santos que não terão de recear a segunda morte. Serão sacerdotes de Deus e participarão no governo de Cristo, que durará mil anos. E quando esses mil anos terminarem Satanás será solto da sua prisão. E irá seduzir todas as nações do mundo, Gogue e Magogue. Ele irá reunir as nações para a batalha; uma multidão incontável, tal como a areia do mar! E atravessou todo o mundo e cercou os santos de Deus e Jerusalém, a sua tão querida cidade. Mas virá fogo do céu sobre esses exércitos atacantes que os consumirá. Então o Diabo, que os enganou, será lançado no lago de fogo, ardendo com enxofre, onde já estão o monstro e o falso profeta. E ali serão atormentados dia e noite, por toda a eternidade! E vi um grande trono branco. Nele estava sentado alguém diante do qual a Terra e o céu fugiram, sem deixar vestígios. Os mortos compareceram todos diante do trono, grandes e pequenos. E abriram-se os livros, incluindo também o livro da vida. Os mortos foram julgados de acordo com as coisas que estavam escritas nesses livros, cada um segundo as suas obras. Os sepulcros tinham-se aberto. Até o mar devolvera os que nele tinham morrido. Todo o inferno se despovoou. E cada um foi julgado conforme os seus atos. A própria morte e o inferno foram igualmente lançados no lago de fogo, que é a segunda morte. Todos aqueles cujos nomes não foram achados no livro da vida foram lançados no lago de fogo. Então vi um novo céu e uma nova Terra, porque o velho céu e a velha Terra tinham desaparecido, e o mar também já não existe. E depois vi, eu próprio, a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, esplendidamente bela, como uma noiva no dia do casamento. E ouvi uma voz muito forte, que vinha do trono, dizendo: “Eis que a morada de Deus é agora entre o seu povo! Ele habitará com eles e eles serão o seu povo. Deus mesmo estará com eles. Limpará de seus olhos toda a lágrima e não haverá mais morte; nem haverá tristeza, nem choro nem dor. Tudo isto pertence, para sempre, ao passado.” E o que estava sentado sobre o trono disse: “Estou a fazer tudo de novo!” E dirigindo-se a mim acrescentou: “Escreve o que te vou dizer, porque são palavras verdadeiras e dignas de toda a confiança.” E depois disse: “Está tudo cumprido! Eu sou o Alfa e o Ómega, a origem e o fim. Àquele que tem sede, darei de graça a beber da fonte da água da vida! O que vencer receberá o benefício de todas estas coisas. E eu serei o seu Deus e ele será meu filho. Mas quanto aos cobardes e aos incrédulos, quanto aos corruptos e aos assassinos, aos que praticam a imoralidade, aos que se entregam a bruxarias, aos que se dão à idolatria, e a todos os que falam mentira, o seu destino será o lago que arde com fogo e enxofre. Isso é a segunda morte.” Então um dos sete anjos que tinham derramado as taças que continham as sete últimas pragas dirigiu-se a mim e disse: “Vem comigo para que te mostre a noiva, a esposa do Cordeiro.” E levou-me, em espírito, a uma montanha muito alta. De lá vi aquela magnífica cidade, a santa Jerusalém. E vinha descendo do céu, de junto de Deus, com a glória do Senhor; cintilava com o fulgor de uma pedra muito preciosa, como o jaspe, transparente como o mais puro cristal. Tinha muralhas largas e altas e doze entradas guardadas por doze anjos. E em cada porta de entrada estava escrito o nome de uma das doze tribos de Israel. E em cada um dos lados da cidade havia três portas, a norte, a sul, a leste e a oeste. As suas muralhas repousavam sobre doze alicerces, nos quais estavam escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. O anjo que falava comigo tinha na mão uma vara de ouro e com ela mediu a cidade, as portas e a muralha. E como era um quadrado, tinha todos os seus lados de igual medida; aliás, tinha de facto a forma de um cubo, porque o seu comprimento e largura e altura eram os mesmos: 12 000 estádios. Mediu também a espessura das muralhas, que era de 144 côvados. O anjo utilizou as medidas vulgares usadas entre os homens. A própria cidade era de ouro puro e transparente como o vidro mais cristalino! As muralhas eram de jaspe e os fundamentos sobre os quais assentavam estavam incrustados com toda a espécie de pedras preciosas: o primeiro era de jaspe, o segundo de safira, o terceiro de calcedónia, o quarto de esmeralda, o quinto de sardónica, o sexto de sárdio, o sétimo de crisólito, o oitavo de berilo, o nono de topázio, o décimo de crisópraso, o décimo primeiro de jacinto e o décimo segundo de ametista. E as doze portas eram feitas de pérolas; cada porta era de uma só pérola! A praça principal da cidade era toda ela de ouro puro, cintilante como vidro de cristal. Não vi nela templo nenhum, porque o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro, sempre ali presentes, e são o seu templo. A cidade não precisa nem de Sol nem de Lua, porque a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua luz. Essa luz da cidade iluminará as nações da Terra e os governantes virão entregar-lhe as suas honrarias. As suas portas nunca se fecharão, porque lá nunca haverá noite! E a glória e a honra das nações serão ali trazidas. Nada de impuro entrará nela; ninguém que cometa todo o tipo de sujidade e sirva a mentira será admitido. Só terão acesso a ela aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro. Finalmente o anjo mostrou-me o rio da água da vida, limpa e cristalina, que saía do trono de Deus e do Cordeiro, e que fluía pelo meio da rua principal da cidade. De cada lado do rio crescia a árvore da vida que produz doze colheitas de frutos, uma em cada mês do ano; as suas folhas são utilizadas para curar as nações. Ali não haverá mais maldição porque o trono de Deus e do Cordeiro ali estarão. Os seus servos o adorarão, e verão diretamente o seu rosto. Terão gravado nas testas o nome de Deus. Ali nunca mais haverá noite e não serão precisos candeeiros. E tão-pouco o Sol é necessário, porque o Senhor Deus é a sua luz. E eles reinarão com o seu Deus para sempre. O anjo disse-me: “Estas palavras são inteiramente dignas de confiança e verdadeiras. Deus, o Senhor, que inspirou os profetas que falaram em seu nome, foi quem enviou agora o seu anjo para mostrar, a todos aqueles que põem as suas vidas ao seu serviço, as coisas que hão de acontecer brevemente.” “Atenção, porque o meu regresso está próximo! Feliz é aquele que guarda no coração as palavras proféticas deste livro.” Eu, João, sou aquele que vi e ouvi todas estas coisas. E quando as vi e ouvi, lancei-me ao chão para adorar o anjo que me tinha mostrado tudo aquilo. Mas ele impediu-me: “Não, não faças tal coisa! Porque eu sou teu companheiro de serviço, assim como dos teus irmãos, os profetas, e de todos os que aceitam o que está revelado neste livro. Só a Deus deves adorar. Não mantenhas em segredo as palavras proféticas deste livro”, disse-me ele. “Porque já está próximo o tempo em que elas se vão cumprir. O que pratica a injustiça continue a praticá-la. O que é mau continue a ser mau. O que é justo continue a ser justo. O que é santo continue a santificar-se.” “Eu virei em breve, trazendo a recompensa que cada um merece de acordo com as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o primeiro e o último, a origem e o fim.” Felizes são todos os que lavam as suas roupas, para que tenham direito a entrar na cidade pelas portas e comer do fruto da árvore da vida. Mas ficarão de fora os cães (os impuros e inimigos de Deus), assim como os que se dedicam à feitiçaria e ao ocultismo, e os que praticam imoralidade sexual, e os assassinos, e os que praticam idolatria, e todos os que mentem e amam a mentira. “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos revelar todas estas coisas destinadas às igrejas. Eu sou a própria raiz e descendência de David! Eu sou a radiosa estrela da manhã!” O Espírito Santo e a esposa dizem: “Vem!” E quem ouvir este apelo diga também: “Vem!” Quem tem sede, que se aproxime. Que todo aquele que quiser beba de graça da água da vida. Eu declaro solenemente a todo aquele que ouvir as palavras proféticas deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus o castigará com as pragas que nele estão escritas. E se alguém tirar, seja o que for, às palavras proféticas deste livro, Deus lhe retirará a sua participação na árvore da vida e na cidade santa, que estão descritas neste livro. Aquele que revelou estas coisas afirma: “Sim, em breve voltarei!” Que assim seja! Pois vem, Senhor Jesus! Que Jesus Cristo, o Senhor, vos conceda a todos a sua graça. Amém!